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JULIO BENTIVOGLIO
LUCAS FIOREZI
ORGS.
PASSADOS
EM TRANSE
M E T A - H I S T Ó R I A
E O BRASIL 50 ANOS DEPOIS
EDITORA MILFONTES
PASSADOS
EM TRANSE
M E T A - H I S T Ó R I A
E O BRASIL 50 ANOS DEPOIS
APOIO:
Passados em Transe
Copyright © 2023, Julio Bentivoglio [et. al.].
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Brasil
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Passados em Transe
Meta-História e o Brasil
50 anos depois
Editora Milfontes
Vitória, 2023
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida
ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico ou mecânico,
incluindo fotocópia e gravação digital) sem a permissão prévia da editora.
Revisão
De responsabilidade exclusiva dos autores
Capa
Detalhe de Último Baluarte, 1942 (Cândido Portinari), disponível em:
https://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra3335/ultimo-baluarte-painel-tupi-sp
Julio Bentivoglio - aspectos
Impressão e Acabamento
Maxi Gráfica e Editora
ISBN: 978-65-5389-071-8
CDD 907
Sumário
Um sonho, se é que existiu (1771) de Louis-Sébastien Mercier �������������7
Anelise Dambroz Spinassé
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Camila Massi, Julio Bentivoglio & Lucas Fiorezi
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3 Tradução própria.
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Camila Massi, Julio Bentivoglio & Lucas Fiorezi
4 Tradução própria.
5 Tradução própria.
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Referências Bibliográficas
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O trauma presente na narrativa do
Fogo de 1951
Uma análise dos jornais O momento e Imprensa
Popular e da obra Barra Velha, o último refúgio (1978)
Camila Margon Massi1
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O trauma presente na narrativa das fontes impressas
Nesse contexto, uma abordagem acerca da memória presente
nos relatos da obra Barra Velha: o último refúgio é relevante. De
acordo com o historiador francês Henry Rousso (Rousso, 2006,
p. 94) a memória enquanto conceito é uma reconstrução seletiva
de um passado que nunca é somente daquele indivíduo, mas
deste inserido em um contexto familiar, social e nacional. Dessa
forma, a memória é um elemento fundamental da identidade e da
percepção de si e dos outros seres (Rousso, 2006, p. 96). A discussão
acerca da coletividade da memória argumenta que a história da
memória tem sido quase sempre uma história das feridas abertas,
aquelas palpitações e interrogações acerca de certos períodos
(Rousso, 2006, p. 95). A realidade do debate acerca do Fogo de
1951, de uma constante rememoração e um luto extenso acerca do
acontecimento ajudam a compreender a concepção da memória
como uma história das feridas abertas, defendida por Rousso.
(Rousso, 2006).
Considera-se, nesse aspecto, que a memória é uma construção
coletiva, onde “as nossas lembranças se fortificam graças às
narrativas coletivas que, por sua vez, se reforçam por meio das
comemorações públicas de acontecimentos que marcaram a memória
coletiva” (Ricoeur, 1996, p. 248). Porém não está não é imune a
construção individual: rememoração, é um processo de elaboração
individual e, a comemoração, é um trabalho de construção de uma
memória coletiva (Ricoeur, 1996) Nesse sentido, vale destacar
que as comemorações não dizem a respeito apenas às festividades
nacionais, mas também, no caso da etnia Pataxó, os rituais Awê que
são realizados nas comunidades indígenas e possuem um caráter de
rememoração. (Vieira, 2016).
Trata-se de uma construção coletiva acerca de um episódio
que ocorreu na aldeia de Barra Velha e que foi sistematizado na obra
Barra Velha: o último refúgio (1978). Além dessa produção coletiva, os
jornais constituem uma construção de uma narrativa pela imprensa
jornalística do período, seja em concordância ou discordância com
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4 Nesse caso, considera-se como memórias coletivas oficiais aquelas que foram
aceitas e implementadas pelos detentores de poder, como a memória da escravidão, da
colonização, da independência etc. São narrativas postas e amplamente utilizadas pela
sociedade comum.
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Conclusão
A produção de conhecimento histórico acerca dessa população
é comumente realizada por meio de análise de documentos
exteriores a eles, que possuem sua cultura enraizada na oralidade.
Nesse trabalho inicial, ao acessar a sistematização de relatos em
uma obra por Cornélio Vieira Oliveira, abriu-se um leque de
possibilidades de análise e de produção de conhecimento pautado
na vivência desses próprios indígenas. A resistência do povo Pataxó
é caracterizada, principalmente, pelo fato de terem se mantido na
região. Muitos migraram para outras regiões, outros se integraram
vivendo uma vida urbana, mas os que permaneceram resistem e
lutam pelos seus direitos.
Vítimas de um processo falho de aculturação e invisibilidade,
essa população hoje passa por uma tentativa de valorização cultural.
Essa mudança no cenário de desvalorização para uma reafirmação
de seus direitos e de sua ancestralidade é marcada por uma iniciativa
dos próprios indígenas de produzir um conhecimento histórico os
colocando como atores históricos e políticos. Essa corrente que tem
sido acompanhada também por pesquisadores não-indígenas que
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Referências Bibliográficas
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fontes e métodos em perspectiva interdisciplinar. In: REIS, Tiago
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CANELA, Francisco. História dos Pataxó no Extremo Sul da Bahia:
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A imaginação histórica moderna acerca
da África Romana
O caso de René Cagnat (1852-1937)
Edjalma Nepomoceno Pina1
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de marcar seus túmulos com seus nomes, o que fez com que eles
deixassem menos resquícios de memória; ou 2) os povos locais
podem ter adotado nomes romanos devido ao convívio, portanto
os indivíduos enterrados não seriam de origem romana, mas apenas
teriam adotado os nomes por uma série de razões possíveis.
Essas alternativas não poderiam estar na mente de Cagnat,
pois a finalidade de sua narrativa já estava enunciada: reforçar a
tese de conquista e colonização aos moldes modernos, baseados na
repressão dos costumes tradicionais e na aculturação. No século
XIX, esse processo era entendido como romanização das regiões
provinciais. Deste então o conceito passou por uma série de críticas
ao longo das décadas, mas, apesar de suas origens no mínimo
problemáticas, o termo ainda é utilizado, ainda que seu sentido
tenha sido atualizado. Hoje, romanização é entendida muito mais
como uma relação dialógica entre os modelos culturais greco-
romanos e a diversidade cultural das províncias, em um processo
de intercâmbios de símbolos, práticas e crenças que possibilitou
identidades multifacetadas tanto no centro do Império quanto em
sua periferia (Bustamante; Davidson; Mendes, 2005, p. 25).
Certamente que a leitura de autores antigos como Tácito,
Estrabão, Pomponio Mela e outros também induziu a essa percepção
de que a população local era inferior em cultura. (Pomponius Mela,
2001; Tácito, 2015, [libros I-IV]; Estrabón, 2015, [libros XV-
XVII]) Esses autores viam os povos que não viviam em cidades do
modelo greco-romano, e em especial aqueles habitantes nas regiões
interioranas, como bárbaros e hostis. Entretanto, os romanos
nunca alimentaram a ilusão de estarem colonizando a África com a
população da Itália. Pelo contrário, reconheciam a autonomia nas
diversas cidades que já existiam na região, de origem fenícia, dando
a cada uma um grau de cidadania diferente. Grosso modo, havia
as coloniae, que eram cidades de status elevado. Essas poderiam
ser tanto ex novum, ou seja, fundadas do zero à luz de Roma, ou
cidades autóctones refundadas com nome romano após instalarem
o modelo de organização latino. Abaixo dessa estava o municipium,
categoria no qual se inserem as cidades nativas que, em geral,
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Considerações finais
Portanto, as próprias fontes averiguadas por René Cagnat
contradizem suas interpretações. Os autores greco-romanos não
falam em uma colonização em larga escala do Norte da África, e
evidências como os nomes latinos nas tumbas poderiam ter outras
explicações: como uma escolha consciente das elites que nomearam
seus filhos com nomes latinos com vias de se aproximar do poder
imperial. Essa mesma elite, como sabemos, frequentemente enviava
seus herdeiros para estudar em Roma e Atenas, vide os exemplos de
Apuleio e Tertuliano. Desta forma, podemos nos perguntar como
Cagnat e outros acadêmicos chegaram a conclusões tão destoantes
das que temos hoje?
Entre as diversas variáveis possíveis, uma delas é de que
não havia em Cagnat um quadro mental capaz de conceber um
passado diferente do presente. Como alertou Hayden White, a
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Referências Bibliográficas
Fontes
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CAGNAT, R.; SALADIN, H. Voyage en Tunisie. Paris: Librairie
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Historiografias oitocentistas em análise
Interpretações de Hayden White sobre
Burckhardt e Droysen
Edmo Videira Neto1
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Considerações Finais
Proferir palavras definitivas sobre qualquer terma que envolva
a obra de Hayden White seria uma tarefa não só presunçosa, mas
também praticamente impossível. Entretanto, faz-se necessário
apontarmos algumas questões com o intuito de finalizarmos nosso
texto. Sendo assim, é importante destacarmos que a abordagem
proposta por nós que buscou analisar as interpretações de White
sobre Burckhardt e Droysen foi apenas uma das diversas leituras
possíveis de White a respeito desses historiadores. O ponto central
que gostaríamos de salientar nessa conclusão é que, ao olhar para o
século XIX, tanto em seu Meta-história quanto em artigos posteriores,
White buscava projetos concorrentes para perceber como os
pensadores desse período entendiam o conhecimento histórico e
como essa disciplina deveria se constituir cientificamente na visão
deles. Por isso a diversidade de leituras e autores escolhidos pelo
norte-americano.
Acreditamos que para o projeto empreendido por White nos
anos posteriores à publicação de Meta-história, uma historiografia
focada na compreensão, como aquela elaborada e defendida por
Droysen faria mais sentido em suas aspirações, suas ideias de
representação e seu contínuo compromisso ético/político com
narrativas históricas e sujeitos que as experienciam. Portanto,
colocar em oposição os conceitos de contemplação e compreensão
também serve para entendermos que as elaborações narrativas
sobre o passado podem e devem ser distintas, a depender é claro,
da perspectiva utilizada por aquele que escreve sobre o passado.
Além disso, a questão que se apresenta não se refere somente à
elaboração ou à forma com que essas narrativas foram moldadas e
representadas, mas fundamentalmente, às implicações éticas para
o tempo presente que estes historiadores fundamentaram a partir
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Referências bibliográficas
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DROYSEN, Johann Gustav. Histórica: Lecciones sobre la
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FERNANDES, Cássio da Silva. Jacob Burckhardt e a preparação
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KOSELLECK, Reinhardt. História de conceitos: estudos sobre a
semântica e a pragmática da linguagem política e social. Rio de
Janeiro: Contraponto, 2020.
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A construção da memória de si e
reflexões sobre gênero em A Verdade
Nua, De Luz Del Fuego
Gabriela Loureiro Barcelos1
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Imagem 1: Fotografias de Luz del Fuego mobilizados pelo APEES. Fonte: A Verdade Nua,
1948.
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Imagem 2: Composição fotográfica da primeira página da obra. Fonte: A Verdade Nua,
1948.
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O relato e a exposição de si como exercício de
reconhecimento
Para melhor compreendermos essa disputa de narrativas
para a construção da memória, é preciso um exercício imaginativo,
visualizando a memória a partir de sua mobilização, flexível,
apreendida por diferentes agentes, em diferentes espaços,
despertando reações diversas. Jan Assmann (2016) discute essas
operações da memória em três níveis -individual, social e cultural
–, é a operação da memória dentro desses níveis que nos permite
capacitar à uma formação de consciência de identidade, pessoal ou
coletiva.
A obra de Luz del Fuego saiu em uma tiragem pequena,
não tem páginas ou sumário. A escrita não seguiu o modelo
autobiográfico clássico. Luz não relata sua infância, adolescência
ou juventude. A artista escreve como um manifesto, uma defesa
de opinião. Para isso, ela distribui suas reflexões em seções, com
títulos que se relacionam aos temas discutidos. Luz utiliza as
seções de sua obra - ao Sol, o Espírito, as Serpentes, Religião, ou os
Bailados- para divagar sobre vários assuntos e dentro de cada um
deles, encontramos justificativas, explicações e reflexões sobre a sua
personalidade e sobre o seu mundo.
A partir disso, entendo que a construção de um relato de
si em A Verdade Nua, se constituiu como uma reinvindicação de
identidade, reconhecimento, a partir do espaço e tempo, onde
encontramos normas sociais que atravessam os sujeitos. Ao relatar a
si mesma, a artista realiza um movimento individual a fim de causar
algum impacta ao outro que fala sobre ela, pois
ao falar com o outro, e a pedido do outro, sobre como vivemos,
estamos respondendo a um pedido e tentando estabelecer ou
restabelecer determinado vínculo, honrar o fato de que fomos
interpelados desde outro lugar. [...] Fazer um relato si, portanto,
é um tipo de exposição de si, uma exposição com o propósito de
testar se o relato parece correto, se é compreensível pelo outro,
que o ‘recebe’ por meio de um conjunto de normas (Butler, 2019,
p. 165-166).
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Considerações Finais
A obra de Luz del Fuego é uma materialização escrita da busca
pelo reconhecimento e este processo, que constitui pelo olhar do
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Referências Bibliográficas
ASSMANN, Aleida. Espaços da recordação: formas e transformações
da memória cultura. Tradução: Paulo Soethe. Campinas: Editora da
Unicamp, 2011.
ASSMANN, J. Memória comunicativa e memória cultural. História
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BUTLER, Judith. Problemas de gênero: feminismos e subversão da
identidade. 11 ed. Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 2016.
BUTLER, Judith. Atos Performáticos e a formação dos gêneros: um
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Os “Entre-Lugares” na história
intelectual das mulheres iranianas
Júlia Carolina de Amorim Benfica1
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2 Em 1967, o Irã adotou uma série de leis progressistas em relação a família, o Family
Protect Act. Em 1975, o documento foi expandido e concedeu mais direitos às mulheres,
chamando-se, a partir de então, Family Protect Law. Após a Revolução Iraniana de 1979,
ele foi anulado e a sharia foi reintroduzida como parâmetro legislativo para questões
familiares e relacionadas às mulheres.
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Considerações Finais
Ao utilizar o conceito de “entre-lugares”, Bhabha salienta que
quando o imaginário da distância espacial é usado como argumento
para definir duas comunidades diferentes, esquece-se de pensar nos
hibridismos incidem sobre um internacionalismo histórico. Ao
longo do século XX, pode-se perceber o surgimento de escolas, de
organizações que focavam no desenvolvimento de mulheres no Irã,
influenciadas muitas vezes pela presença estrangeira no país.
O imaginário da distância espacial [...] dá relevo a diferenças
sociais, temporais, que interrompem nossa noção conspiratória
da contemporaneidade cultural. O presente não pode mais ser
encarado simplesmente como uma ruptura ou um vínculo com o
passado e o futuro (Bhabha, 2013, p. 23).
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Referências Bibliográficas
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Iranian Studies. Bathesda, p. [s. n.], 2002. Disponível em: https://fis-
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AFSHAR, Haleh. Islam and feminisms: an Iranian case-study. New
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AHMAD, Jalal Al-i [et. al.] Occidentosis: a plague from the West.
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A melancolia como expressão da
experiência moderna em Blissful Agony
de Amylton de Almeida (1972)
Kelly Alves Andrade
1 Na obra Melancolia: Literatura, Luiz Costa Lima explica que editores recentes
atribuem a escrita da Problemata à Teofrasto, sucessor de Aristóteles na escola peripatética.
Devido a divergências sobre a autoria, Costa Lima considera a hipótese de que a obra pode
ter sido escrita por diferentes autores (Costa Lima, 2017, p. 22).
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2 Em seu livro sobre o drama barroco alemão, Benjamin oferece uma visão do gênero
e da época através de sua interpretação dessa gravura [...] Na folha de Dürer pode-se
descobrir todo um repertório de formas que Benjamin utilizou em suas siglas: pontos
como os que representam o olhar da Melancolia ou o traçado do instrumento que ela segura
nas mãos e que pode servir ao mesmo tempo para escrever, desenhar e medir: servir, em
suma, à criação; linhas como as da perspectiva ou as que se cruzam na ampulheta como
representação do tempo, ou ainda as linhas onduladas configurando o corpo do cão que
dorme e sonha ou do demônio nefasto flutuando na atmosfera; planos como o círculo que
representa a esfera, emblema da concentração; o quadrado mágico e o enquadramento
da cidade no fundo; ou enfim; no centro, o enigmático emblema da pedra, com sua
combinação de triângulos (Bolle, 2019, p. 49).
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7 Davi Arrigucci Jr. argumenta sobre uma possível escrita alegórica em romances de
Antônio Callado, José Louzeiro e Paulo Francis, entretanto, com ressalvas, se levar em
consideração as tensões do realismo e alegoria.
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que não poderia ser narrada em sua totalidade pela derrota política
na literatura:
a alegoria seria então uma forma desesperada, a própria expressão
estética da desesperança. O florescimento da alegoria em tempos
de reação política nada teria a ver, então, com a difundida
explicação de que para escapar à censura a literatura construiria
formas 'alegóricas' de dizer coisas que em outras condições
poderiam ser expressas 'diretamente'. A alegoria é a face estética
da derrota política – veja-se a relação entre o barroco e a contra-
reforma, a poesia alegórica de Baudelaire e o Segundo Império, a
relevância atual da alegoria na pós-modernidade – não por causa
de algum agente extrínseco, controlador, mas porque as imagens
petrificadas das ruínas, em sua imanência, oferecem a única
possibilidade de narrar a derrota. As ruínas são a única matéria-
prima que a alegoria tem a sua disposição (Avelar, 2003, p. 85).
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Hemerson Alves Batista. São Paulo: Brasiliense, 1989.
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A falsificação do conceito de
materialismo histórico na obra A
Ideologia Alemã durante o período
stalinista
Luiza Santana Locatel Araujo1
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Conclusões
da concepção
materialista
da história:
continuidade do Origem do Estado volume 1, capítulo
processo histórico, volume 2, capítulo e relação do Estado 2, tópico 1:
transformação 6 com a sociedade Rascunho das
da história em civil páginas 1 a 29
história mundial,
a necessidade de
uma revolução
comunista
Resumo da Origem do Estado volume 1, capítulo
concepção volume 2, capítulo e relação do Estado 2, tópico 1:
materialista da 7 com a sociedade Rascunho das
história civil páginas 1 a 29
Fonte: Produção da própria autora.
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reconhecer que, por mais que antigas edições recorram a tal termo,
há um descompasso entre tais concepções e as idéias de Marx, e isso
fica muito visível quando observamos seus escritos.
É importante ressaltar o interesse soviético por trás do
expurgo de Riazanov e das falsificações feitas por Adoratski, seguiam
a um interesse político. Era relevante para o partido legitimar uma
concepção política da história, que legitimasse a revolução e as
escolhas do partido naquele momento. Para Ximenes
era absolutamente claro para Adorastkii e ele o confessa
diretamente nas páginas introdutórias da MEGA-1. Tratava-se
de disseminar as obras de Marx e Engels em vistas de preparar
os trabalhadores do mundo para a revolução comunista (Ximenes,
2022, p. 121).
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HUBMANN, Gerald; PAGEL, Ulrich. A ‘Ideologia alemã’ não é um
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Tempo e temporalidades em Além do
apenas moderno e O brasileiro entre os
outros hispanos, de Gilberto Freyre
(1973 e 1975)
Messias Araujo Cardozo1
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3 Nesse sentido, o historiador José Carlos Reis afirmou: “Freyre considera o brasileiro
dominado por um tempo lento e lúdico, preguiçoso. O ritmo brasileiro de atividade é uma
combinação de trabalho e lazer [...]. O tempo de Freyre é ibérico: sem pressa, sem relógio,
sem preço, sem dinheiro a ganhar.” (Reis, 2006, p. 79-81).
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pensa José Carlos Reis (Reis, 2006, p. 81). De todo modo, essas
reflexões freyrianas datadas dos anos 1970, em torno de um tempo
ibérico, apresentam complexidades que merecem pesquisas mais
aprofundadas sobre a temática.
Considerações Finais
Trabalhou-se, ao longo deste artigo, com duas obras de
um significativo personagem da história intelectual brasileira.
Abordaram-se essas obras como documentos históricos. Buscou-se
apontar como Gilberto Freyre definiu o tempo e a temporalidade
em duas de suas obras publicadas na década de 1970. Ao se
apresentar as reflexões de Freyre em torno do tempo histórico e
das temporalidades, foi objetivado argumentar que essas reflexões
são significativas para o campo da teoria da história e da história
da historiografia. A investigação realiza um esforço de pensar
questões relacionadas ao tempo histórico, a partir das formas pelas
quais um importante representante do pensamento social brasileiro
conceituou tempo e refletiu sobre as temporalidades.
Na primeira parte do trabalho, o objetivo foi indicar como
Freyre, no livro Além do apenas moderno (1973), refletiu sobre
o que ele denominou de “tempo tríbio”, argumentando que
passado, presente e futuro seriam temporalidades que não são
tão separadas como usualmente se pensa, de modo que o homem
viveria simultaneamente em três temporalidades. Ainda nessa
seção do texto, fez-se menção as reflexões freyrianas em torno do
moderno, pós-moderno e do que ele chamou de “além do apenas
moderno”, reflexões essas que apontavam para o conceito de
tempo e das temporalidades como da ordem do fluido, maleável
e sincrético.
Na segunda parte do ensaio, o foco residiu na análise do
“iberian concepto of time” que se encontra no livro O brasileiro
entre os outros hispanos (1975). Segundo Freyre, um aspecto central
a se considerar quanto ao estudo sobre a formação social brasileira é
a sua raiz ibérica. Dessa raiz, uma concepção de tempo hispânica se
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fazia presente, com seus ritmos morosos e lúdicos, de modo que seria
pertinente indicar a existência de um “tempo hispano-tropical”.
Esse tempo ibérico, segundo pensava Freyre, poderia ser
pedagógico para a resolução dos crescentes problemas do homem
moderno diante do tempo, problemas trazidos pela automação
industrial, criadora de tempos crescentemente livres – nos quais
um lazer para além do consumismo deveria ser pensado – se
configuravam em problemáticas as quais o sentido ibérico do
tempo, que valorizava o lúdico e o ócio, poderia contribuir.
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FREYRE, Gilberto. O brasileiro entre os outros hispanos: afinidades,
contrastes e possíveis futuros nas suas inter-relações. 1 Ed. Rio de
Janeiro: Livraria José Olympio Editora; Instituto Nacional do Livro,
1975.
HARTOG, François. Régimes d’historicité, Présentisme et expériences
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Aventuras e desventuras na
modernidade
Uma análise de O Hobbit, de J. R. R. Tolkien
(1930-1937)
Roney Marcos Pavani
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Uma realidade inverossímil
No clássico ensaio de Roman Jakobson (1896-1982) – Do
realismo artístico, define-se “realismo” da seguinte forma: “uma
corrente artística que propôs como seu objetivo reproduzir a
realidade o mais fielmente possível e que aspira ao máximo de
verossimilhança” (Jakobson, 2010, p. 120). Em termos mais simples,
são realistas todas as obras que parecem verossímeis. Pausa. Eis aí o
primeiro problema para o pensador russo: para quem se direciona
esse “parecer verossímil”? Para quem escreve ou para quem lê? A
confusão se amplifica, uma vez que todos os movimentos literários,
dos românticos aos futuristas, claro está, se pretendem o máximo de
verossimilhança.
Jakobson experimenta, então, outra definição: “realismo
diz respeito, especificamente, àquela escola artística do século
XIX”. Seriam, pois, as obras dessa escola as mais verossímeis, por
tratarem de temas do cotidiano e da vida das pessoas comuns. Ivan
Jablonka (Jablonka, 2017, p. 11-12), já em tempos mais recentes,
concorda com essa proposição: o “realismo” se refere a romances
publicados entre 1830 e 1914, na tentativa de fazer uma pintura
fiel da realidade, de sondar as feridas da sociedade, as devastações
provocadas pela industrialização, e todas as transformações que a
envolveram.
Ambos os autores, no entanto, são cirúrgicos ao apontar
que a tentativa de retratar, na prosa ficcional, a realidade tal qual
ela é, ou mais próximo das camadas populares, não passa de uma
falácia. Em primeiro lugar, porque buscar uma verossimilhança
“natural” em textos literários é algo problemático. Não nos
esqueçamos do trivial: a forma da mensagem faz parte do seu
conteúdo:
a língua cotidiana conhece vários eufemismos, fórmulas de
cortesia, palavras veladas, alusões, aparências convencionais.
Quando pedimos ao discurso para ser franco, natural, expressivo,
rejeitamos os acessórios que são postos num salão, chamamos os
objetos por seu próprio nome e estes chamados têm uma nova
ressonância (Jakobson, 2010, p. 121).
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O fantástico emerge
A realidade é um absurdo; o realismo não passa de um
oxímoro. Os artistas do mundo moderno, os literatos em particular,
eram conscientes disso. A escrita do século XX estava embebida do
desejo de transcender o real para compreendê-lo. Não é coincidência
que, como afirmou Tom Shippey (SHIPPEY, 2002, p. vii): “o modo
literário dominante no século XX foi o fantástico”. Dão testemunho
disso obras significativas, tais como: O Hobbit e O Senhor dos Anéis
(Tolkien), A Revolução dos Bichos e 1984 (Orwell), O Senhor das
Moscas (W. Golding), A Guerra dos Mundos e A Ilha do Dr. Moreau (H.
G. Wells):
those authors of the twentieth century who have spoken most powerfully
to and for their contemporaries have for some reason found it necessary to
use the metaphoric mode of fantasy, to write about worlds and creatures
which we now do not exist, whether Tolkien’s 'Middle-earth', Orwell’s
'Ingsoc', the remote islands of Golding and Wells, or the Martians and
Tralfamadorians who burst into peaceful English or American suburbia
in Wells and Vonnegut (Shippey, 2002, p. viii).1
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que boa parte dos autores citados esteve diretamente envolvida nos
eventos traumáticos do século XX (como a Primeira Guerra ou os
expurgos de Stalin), e não virou as costas diante deles.
Que Tolkien tenha apelado para esse gênero ao longo de toda a
sua vida, portanto, não era mero capricho pessoal. Ele simplesmente
se dedicou a abordar temas oportunos: a origem e a natureza do
mal, ou a condição humana sem o suporte da Revelação Divina,
por exemplo. Como vimos, a prosa realística não dava conta deles,
diferentemente da fantasia.
Já dizia Ivan Jablonka (Jablonka, 2017, p. 16), que um
romance ajuda a esclarecer a realidade não por ser verossímil, mas
pela qualidade de sua abordagem. Nesse sentido, Marcel Proust
(1871-1922) é mais útil que um mau sociólogo, 1984 é melhor do
que historiadores enfadonhos do stalinismo, O Hobbit e O Senhor dos
Anéis são mais envolventes do que compêndios como A história do
século XX para quem tem pressa.
Esse deslumbramento possui uma explicação. No caso de O
Hobbit, tem-se a primeira tentativa de J. R. R. Tolkien de unir várias
facetas de seus escritos – poesia, arte, mitologia, contos de fadas,
além do conhecimento da língua e da literatura medievais – em uma
única história (Tolkien; Anderson, 2021, p. 20).
Essa história “de muito tempo atrás” (Tolkien; Anderson,
2021, p. 41) se passa em um cenário, em linhas gerais, pré-moderno
e rural, como é típico da fantasia. Não há grandes centros urbanos,
automóveis ou eletricidade. Algo imerso “na quietude do mundo,
quando havia menos barulho e mais verde” (Tolkien; Anderson,
2021, p. 46-47), e que foi destruído, entre outras coisas, pela
Revolução Industrial e pela Grande Guerra. Aliás, os sinais dessa
decadência, e de que o mundo está desprovido de valores, como
coragem e encantamento, podem já ser notados nas seguintes
passagens:
os guerreiros estão ocupados lutando uns contra os outros em
terras distantes, e nesta vizinhança os heróis são escassos, ou
simplesmente não existem. As espadas nestas partes em geral estão
sem gume, e os machados são usados em árvores, e os escudos como
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Viver é sofrer
Desde o Aufklärung kantiano (Kant, 2005), ventilou-se nas
chamadas sociedades ocidentais a crença de que há um ímpeto dentro
de todos nós que nos impulsiona à criatividade e ao desenvolvimento
individual. É possível (e desejável) nos tornarmos pessoas livres,
autônomas, maduras e, por conseguinte, mais felizes. No entanto, as
catástrofes do século XX mostraram da pior maneira possível como
essa ideia, se não passava de um desvario, uma quimera, ao menos
deveria ser tratada com um pouco mais de ceticismo. Em outras
3 Uma questão filológica: Tom Shippey percebeu que Tolkien, propositalmente,
utilizou a palavra burglar (“arrombador”, “gatuno”), e não thief ou robber (termos mais
usuais), para se referir ao papel que Bilbo Bolseiro teria na aventura. Burglar (às vezes,
burgler) vem da raiz germânica burh (“mansão”, “castelo”), da qual também descende
bourgeois (“burguês”). Ou seja, há uma mesma origem para quem “habita em mansões” e
para quem “arromba mansões”. A missão de Gandalf, assim, é impulsionar Bilbo de um
estágio para outro. (Shippey, 2002, p. 10).
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Considerações finais
Os seres humanos sempre fizeram literatura. É uma marca que
os torna ímpares diante de outras criaturas, ou melhor, é uma forma
de recordar que são mais divinos do que bestiais em sua condição.
Mais do que um atestado de humanidade (e sim, ele é necessário),
o fazer literário é uma forma de conhecimento acerca do indivíduo
e da realidade que o cerca. Claro que se trata de um conhecimento
bastante peculiar, distinto das ciências ou da filosofia. Peculiar pelos
seus métodos e pelos seus resultados, já que a relação estabelecida
com a realidade é indireta, tangencial, subterrânea, por isso, precisa
ser explorada com cuidado. Seja como for, pode ser encarado como
um documento histórico, uma vez que o ato de imaginar e de
construir ficções é historicamente datado, condicionado por uma
série de contingências sociais, culturais, etc., de quem escreve.
Encarar o texto literário como uma transfiguração da
realidade e não como simples cópia é um caminho salutar. Afinal de
contas, sabe-se que o positivismo é um erro, e que os fatos não falam
por si mesmos. Ao redigir um texto literário, essa pretensa realidade
atravessa uma espécie de Prisma de Newton, sendo decomposta em
muitos tons de real a partir das escolhas (temáticas e estilísticas)
do autor. Como dissemos, o realismo enquanto pretensão é um
paradoxo. Além disso, as múltiplas transformações do mundo
moderno, sua velocidade incontrolável, seus desdobramentos nos
mais diversos campos mostraram uma realidade fluida, dinâmica,
e não estática. Absolutamente impossível de ser apreendida,
quanto mais de ser transmitida. Assim, as catástrofes do século XX
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Desafíos y reflexiones en el escenario
político peruano
Un análisis comparativo entre Gramsci y Benda
Yasmani Esquivel Caballero
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Las epistemologías del Sur, impulsadas por Boaventura de Sousa Santos, siempre
han tenido como objetivo criticar la tríada dominante del capitalismo, la colonización
y el patriarcado en la humanidad. Sin embargo, es importante aclarar que debido a los
recientes escándalos de acoso sexual en los que el autor se ha visto involucrado, existe
una falta de coherencia entre su postura anti-patriarcal y sus acciones dentro del ámbito
académico. Es importante mencionar que este trabajo ya se había completado antes de
conocerse las noticias sobre estos problemas, por lo que resultó difícil desestructurar las
herramientas teóricas que se habían abordado en este artículo. (De Sousa Santos, 2019).
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7 “Por isso, seria possível dizer que todos os homens são intelectuais, mas nem todos
os homens têm na sociedade a função de intelectuais (assim, o fato de que alguém possa,
em determinado momento, fritar dois ovos ou costurar um rasgão no paletó não significa
que todos sejam cozinheiros ou alfaiates). Formam-se assim, historicamente, categorias
especializadas para o exercício da função intelectual; formam-se em conexão com todos
os grupos sociais, mas sobretudo em conexão com os grupos sociais mais importantes, e
sofrem elaborações mais amplas e complexas em ligação com o grupo social dominante”
(Gramsci, 2014, pág., 18-19)
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Consideraciones finales
Se insta a los políticos y a la sociedad en su conjunto a superar
el cinismo y la falsa conciencia que perpetúan prácticas corruptas
y deshonestas. Es necesario que los actores políticos asuman
la responsabilidad de sus acciones y actúen con integridad en
beneficio del bien común. el análisis comparativo de las perspectivas
de Gramsci y Benda sobre el papel de los intelectuales en la
política, junto con la identificación de los desafíos en el escenario
político peruano, resalta la urgente necesidad de descolonizar las
instituciones arraigadas en patrones eurocéntricos para lograr una
visión más pluriversal y justa de la realidad peruana. Es fundamental
que los intelectuales que ocupan cargos políticos mantengan su
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Referências bibliográficas
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modernidade e intelectuais. Trad. R. Aguiar. [s. l.]: Jorge Zahar
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MARX, K. O Capital. Crítica da Economía Política. Livro I. Trad. R.
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Terror à negritude, amor ao seu sangue:
Diop e o Senegal na Primeira Guerra
Mundial
Hiasmim da Silva Do Espírito Santo1
Introdução
Este trabalho visa discutir a obra literária de ficção baseada
na história senegalesa, Irmão de Alma de David Diop e sua relação
com o complexo de inferioridade descrito por Frantz Fanon. Nesse
sentido, o trabalho tem três pontos a serem examinados: o primeiro
é entender como a França atuava no território do Senegal; o segundo
é analisar como essa obra literária se relaciona com a administração
da França, ou seja, destacar as proximidades históricas exploradas
pelo autor e as possíveis distâncias entre elas. Além disso, o
terceiro ponto visa compreender se há a presença do complexo de
inferioridade na relação do senegalês com as tropas francesas, à luz
do pensamento de Frantz Fanon.
Acredito que ao discutir a condição de trabalho e o
reconhecimento do trabalho realizado por pessoas racializadas,
o campo dos estudos anticoloniais pode ser uma ferramenta
imprescindível para se compreender dinâmicas e tensões sociais em
uma sociedade polarizada entre metropolitanos e colonizados, pois
viabiliza o destaque que nem todos estavam igualmente protegidos
de forma ratificada legalmente. Nesse sentido, a promessa francesa
era de que os soldados vitoriosos seriam laureados com a cidadania
francesa, e a história escrita por Diop narra essa trajetória do
1 Graduanda no curso de História - UFES. Participante do Núcleo de
Estudos e Pesquisas em Educação, Filosofia e Linguagem (NEPEFIL) e integrante
do Laboratório de Teoria da História e História da Historiografia (LETHIS).
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8 Acredito que seja válido lembrar que essa habilidade política não estava
associada a querer bem os colonizados. Menciono aqui uma reportagem em
francês que inclusive, o chama de cão dos franceses. Disponível em:<https://www.
nofi.media/2023/01/lenrolement-force-tirailleurs-senegalais-trahison-de-blaise-
diagne/32488>. Data de acesso: 30/04/2023.
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fiz por Mademba Diop, faço por meu inimigo de olhos azuis. Por
humanidade reencontrada (DIOP, 2020, p.47)
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Considerações Finais
Alfa Ndiaye e Mademba Diop não mereciam apoio? Eles
não precisavam que a França os reconhecesse como cidadãos antes
de irem à guerra, para viverem no campo ou terem liberdade de
comércio? O apoio custava a exploração da força de trabalho
e do sangue que eles estavam dispostos a oferecer à França. Os
cidadãos franceses e a França colonial tinham certeza disso. Fazer
mal aos inimigos de olhos azuis era para Ndiaye recuperar o que
lhe foi tirado, algo que nunca lhe foi oferecido: o direito de ser
um cidadão, de pensar e agir por si. Ndiaye só foi levado para um
hospital porque os inimigos mortos, brutalmente, tinham olhos
azuis.
O complexo de inferioridade está infiltrado em todos os
aspectos nesse cenário dado que ele se alavanca com a situação
econômica provocada pela França nas comunidades do Senegal. O
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Referências Bibliográficas
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MOBILIZAÇÃO, n.1, 2009, p. 105.
DIOP, David. Irmão de Alma. 1.ed. São Paulo: Editora NÓS, 2020.
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