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REVOLUÇÃO FARROUPILHA – UMA VERSÃO

Setembro é um mês especial para o Rio Grande do Sul, um mês especial


para nós gaúchos de todas as querências.

Comemoramos a Independência do Brasil. Sim somos brasileiros e muito


brasileiros, afinal mantivemos estas fronteiras no lombo dos cavalos e na
ponta das espadas e lanças, a ferro e fogo... Sofremos mais do que
qualquer outra Província... Na verdade, lutamos para ser ou continuar
sendo brasileiros... E se o somos brasileiros, foi por nossa opção.

Setembro também é um mês especial porque resgatamos o nosso maior


feito: A Revolução Farroupilha. A Revolução que nos une, nos identifica e
nos distingue.

Antes da Revolução Farroupilha o gaúcho era um ser errante que vagava


pelos pampas sem destino, sem paragem e que tinha como seu apenas as
suas rudes vestes, chapéu, adaga e lança e o seu cavalo. Seu destino era
percorrer o horizonte sem fim do Continente, como era chamada a
Provincia de São Pedro, de maneira errante sempre envolto em lutas e
peleias...

Com a Revolução Farroupilha a figura do gaúcho logrou ganhar nobreza de


ideais, princípios, ideologia... O gaúcho passou a ser um baluarte da
liberdade, da justiça, da coragem, da ousadia... O Brasil passou a ver o
gaúcho de uma forma diferente... A Provincia de São Pedro deixou de ser
a periferia esquecida do Império e nos tornamos uma Provincia valorosa,
briosa, respeitada...

SIRVAM NOSSAS FAÇANHAS DE MODELO A TODA TERRA!!!!!

E a tal da Revolução Farroupilha, como foi?

Foi o 20 de setembro o precursor da liberdade


Após várias manobras políticas que não surtiram o efeito desejado, ou
melhor, não surtiram efeito nenhum, o grupo político dos liberais
exaltados do Rio Grande do Sul, os farroupilhas, maioria na assembleia
provincial gaúcha, liderados por Bento Gonçalves, como forma de chamar
a atenção do Império para as suas justas reivindicações, ocupam Porto
Alegre, capital da Provincia. O governador da Provincia Antônio Braga
foge, a cidade fica em polvorosa

Os farroupilhas traziam consigo mais do que justas reivindicações, traziam


no peito ideais vindo do além mar, ideais iluministas...

Batalha da Ponte da Azenha... A bem da verdade a tomada de Porto


Alegre aconteceu na noite de 19 de setembro de 1835 e não no dia 20 de
setembro.

A tropa farroupilha, constituída por cerca de 200 cavalarianos


estacionaram no hoje bairro da Azenha e se preparam para ocupar Porto
Alegre no dia seguinte. Por precaução, naquela noite, os farroupilhas
estabeleceram postos de segurança, deixado uma esquadra de cavalaria
(7 homens) a comando de um cabo, na Ponte da Azenha. O Governador
Antônio Braga enviou o Major José Barbuda (Visconde de Caramuru) com
um piquete de 20 homens para fazer um reconhecimento no dispositivo
farroupilha. Como não tinham experiência em combate, principalmente
em combate noturno, quando chegaram na Ponte da Azenha os vigias
farroupilhas abriram fogo e eles deitaram os cabelos achando que os
farroupilhas já estavam invadindo a cidade... Bem foi uma debandada só –
o pessoal se trancou em casa e no dia seguinte a tropa acampada na
Azenha entrou na cidade sem disparar um único tiro. O governador
Antônio Braga fugiu da cidade.

Um Cb comandava a tropa... Olha o que um cabo pode fazer... STF que se


cuide....

Naquele momento eles queriam a separação? Não, não queriam... Ainda


não...

Pois bem, o Regente Feijó em vez de procurar entender o que estava


acontecendo naquela Provincia longínqua e esquecida, abrir negociações
e buscar um acordo que atendesse os interesses de ambas as partes,
responde enviando tropas para a Provincia de São Pedro. Bem gente, ai
foi um convite para guerra e o gaúcho nunca foi de fugir de uma boa luta,
ainda mais quando ela é justa. A partir daquele momento, sem volta e
com a guerra declarada, a ideia de separação passa a ser vista como
solução para muito e não apenas para os mais exaltados dos liberais
exaltados... Muitos já não viam outra opção: Era continuar a luta para ver
onde ia dar, ou enfrentar uma prisão dos imperialistas. A bem da verdade,
fomos arrastados para uma guerra.

Todos conhecemos as quais eram as reivindicações dos farroupilhas...


Alguém se lembra?

- Diminuição do imposto sobre o charque


- Diminuição do imposto da Légua de campo
- Poder de escolha do governador da província
- Não esqueçamos os farroupilhas tinha a maioria na assembleia
provincial mas não tinha nenhum poder de mando na província –
eles queriam alguém que não apenas fosse gaúcho, mas alguém que
estivesse conectado com os interesses da Província – Leia-se
interesse das classes dominantes.
- Mais atenção para a Província.
- Não tínhamos uma única estrada, ponte ou escola
- Em 1835 a Provincia arrecadou 950 mil Réis e enviou para a corte,
a título de imposto a quantia de 800 mil Réis.
- Mais autonomia para a Provincia.
- Indenização aos pecuaristas pelas perdas de gado em virtude de uma
praga de carrapato.
- Os cafeicultores do Centro da Provincia sempre eram indenizados
quando tinha problemas nas safras de café.
- Melhores condições para a tropa.
-Na verdade a Provincia e os estancieiro arcavam com a defesa do
território.

Bem, como vimos as pautas eram todas reivindicações de uma classe


dominante, não vemos aqui uma pauta para beneficiar o povo – Pauta
puramente eletista – Por isto o mais correto seria chamar de Revolta
Farroupilha e não Revolução Farroupilha – Revolução remete a mudança,
transformação drástica da sociedade.
Outro aspecto importante para analisarmos: O Rio Grande do Sul estava
unido, estava coeso em torno dos ideais farroupilhas? Lutamos juntos
ombro a ombro?

Não estávamos divididos, cada qual com seus ideais e principalmente com
os seus interesses.

- Charqueadores – Incialmente favoráveis a revolta como meio de


pressionar o governo central – contrários a independência – Pelotas, Rio
Grande apoiam os imperialistas.
- Os charqueadores de Pelotas, que estavam insatisfeito com o imposto
do charque que estava salgado, logo que iniciou a guerra passaram para o
lado dos caramurus, como eram chamados os imperialistas... Eles não
queriam a independência do Rio Grande, queriam apenas impostos
menores – Queriam uma concorrência menor com o charque da Argentina
e Uruguai - Estar unidos ao Império lhes era vantajoso... Quem ia comprar
o charque deles se não o Brasil? Rio Grande – Pelotas passam a apoiar os
imperialistas

Porto Alegre – favorável aos imperialistas – sitiada por 1200 dias –


Comerciantes - funcionários públicos.
- Estancieiros e alguns Intelectuais da classe média: iluministas – a
maioria liberal exaltado – eram Farroupilhas.
- Povo: Conduzido - Difícil imaginar o gaúcho, principalmente do campo,
com ideologia iluminista – temos que considerar a condição
socio/econômica, cultural e de conhecimento intelectual – O gaúcho, o
homem do campo – o soldado farrapo era grande maioria rude analfabeto
– iam para onde iam os seus patrões/coronéis – relações de total
dependência - lealdade – servidão.

Como era a maçonaria na Provincia?


De que lado estávamos?
Estávamos unidos?

Nós maçons também divididos, cada um com a sua interpretação dos


preceitos maçônicos...

Naquela época quando se fundava uma loja, ela já tinha uma orientação
política. A primeira Loja Maçônica do Rio Grande do Sul foi a Filantropia e
Liberdade de Porto Alegre, fundada em 1833 nos fundos da Sociedade
Literária Correntino, local de reunião de intelectuais, políticos com
ideologia iluminista e que de onde vieram a maioria dos maçons da
Filantropia e Liberdade. A partir dali mais oito Lojas Maçônicas foram
criadas ao longo da Revolução Farroupilha, umas formadas maçons
ligados aos farroupilhas outra por maçons ligados aos imperialistas.
Osório, por exemplo foi iniciado nesta época em uma Loja de Pelotas
ligada aos imperialistas.

Não se tem dúvida que a maçonaria teve um papel importante para a


difusão dos ideais iluministas e que muitos dos lideres farroupilhas eram
ou se tornaram maçons no decorrer do conflito. Temos que considerar
também que a atividade maçonaria incipiente, muito nova, as Lojas recém
sendo criadas e enfrentavam sérias dificuldades para desenvolver seus
trabalhos em tempo de guerra.

Sobre a guerra

A guerra se arrastou por 10 anos, mais precisamente 3496 dias.

Tivemos 3270 mortos, entre federalistas e caramurus, quase metade de


cada lado.

Foram travadas 56 batalhas, destas poucas com grandes efetivos e baixas


expressivas. Na grande maioria dos confrontos os efetivos empregados
foram pequenos.

Se analisarmos, 10 anos de guerra nos dá em torno de 327 mortes por


anos, ou um pouco menos que 28 mortes por mês... Para uma guerra não
é muito.

Só na Sabinada, revolta separatista que ocorreu em Pernambuco entre


1837 a 1838 e que durou aproximadamente 4 meses, foram
contabilizados 30 mil mortos, o que dá 7.500 mortos por mês, bem mais
que as 3270 mortes nos 10 anos de guerra da revolução farroupilha.

Sobre as tropas envolvidas

Estima-se que os farroupilhas arregimentaram um efetivo de 10 mil


homens e os imperialistas um efetivo de 20 mil homens.
A tropa imperialista eram melhor equipada, dispunha de melhor
armamento, tinha uma marinha poderosa, seu efetivo, como vimos era
bem maior e dispunham de maiores recursos financeiros.

Os farroupilhas dispunham de uma excelente tropa de cavalaria,


fundamental neste tipo de teatro de operações, seus homens tinham mais
experiência em combate, pois o gaúcho a anos defendia estas terras a
ferro e fogo. A tropa farroupilha tinha maior conhecimento do terreno e
estava acostumada a este tipo de combate.

Vencemos algumas batalhas importantes, o que por vezes nos fez pensar
que poderíamos ir mais longe.

10 Set 36 Seival Bagé


Farroupilha Imperialistas
Antônio de Souza Silva Tavares Declaração
Neto independência
430 – 180 mortos 565 – 293 Mortos

30 Abr 38 Barro Vermelho Rio Pardo


Farroupilha Imperialistas
David Canabarro Andrade Neves Maestro Medanha
preso
3000 – 17 mortos 1700 - 370 mortos - 870
presos

30 Abr 38 Ponche Verde Dom Pedrito


Farroupilha Imperialistas
Neto – Bento Bento Manuel
Gonçalves
2800 1425 - 50 mortos - 300
extraviados

Também tivemos nossas derrotas

03 Out 36 Fanfa Ilha do Fanfa


Farroupilha Imperialistas
Bento Gonçalves Bento Manuel – John
Grenfell
1100 – 900 presos 1000 – 1 vapor 4
canhoneiras

14 Nov 44 Porongos Pinheiro Machado


Farroupilha Imperialistas
David Canabarro Francisco de Abreu
150 – 96 mortos 260 – 55 mortos

Guerra de Guerrilha Farrapa

O exército farroupilha, muito especialmente a partir de 1843, desenvolveu


com muita maestria a chamada guerra de guerrilha.

A guerra de guerrilha aqui nos pampas foi uma estratégia de combate que
tem raízes lá na guerra guaranítica (1754/1756).

Comandados por Sepé Tiarajú os índios guaranis levaram a efeito uma


guerra de desgaste contra os exércitos da Espanha e de Portugal.

Na invasão de Salcedo em 1774, Manoel Pinto Bandeira também usou


esta estratégia contra os espanhóis.

Neste tipo de guerra não há um engajamento decisivo contra o inimigo, é


uma guerra de movimento. São executadas também algumas ações
preventivas para remover dos possíveis caminhos de invasão do inimigo
tudo que ele possa aproveitar, especialmente cavalos e gado, bem como
são feitos ataques surpresas para arrebatar seus cavalos e gado afetando
a sua mobilidade e alimentação.
Exemplo da Batalha do Barro Vermelho

E ai vou pelo viés dos princípios da estratégia militar – 5 tipos básicos –


não vou me ater a apenas um, o que nos interessa neste conflito.
Se teu inimigo é mais forte que você... Se você não tem condição de
vencer o inimigo... Então o conduza ele a uma guerra de desgaste... Uma
guerra onde ele não possa te vencer... O peso político, social e econômico
para será muito grande, maior do que para você, assim ele irá buscar um
acordo, que por certo será vantajoso para você, um acordo muito melhor
do que o firmado depois de uma derrota em campo de batalha.

Eu creio que os farroupilhas sempre tiveram a ideia de que vencer a


guerra seria muito difícil. Capitular seria fatal para eles, o mínimo que os
esperava era uma prisão imperial ou uma morte desonrosa. O próprio tipo
de estratégia atotado pelas tropas farroupilhas indica isto... Nunca
houve um engajamento decisivo contra tropa imperialista, poucas
batalhas tiveram um efetivo mais expressivo.

Adotaram a tática de guerrilha ciente das vantagens de terem um exército


altamente móvel e conhecedor do terreno... Eles tinham o tempo a seu
lado. Adotaram uma estratégia para não serem derrotados, para
durarem mais na ação e assim atingirem os seus objetivos político ... Não
venço mais não perco. Um dia o inimigo negocia nas minhas condições...

Caxias percebeu isto...

E um perigo chamado Rosas que rondava a fronteira Sul apressou as


coisas... Uma investida argentina, nesta hora, seria fatal. O Império jamais
os venceria argentinos sem o poio da tropa gaúcha. A perda do Uruguai
ainda estava bem viva na memória de todos... O Império não ia arriscar
perder a Província de São Pedro para os argentinos. A paz se fazia
necessária.

E isto aconteceu.

Bem, a primeira coisa que morre em uma guerra é a verdade – com a


Revolução Farroupilha não foi diferente – as várias releituras,
intepretações fizeram isto.
É importante percebermos este fato, sim. Mas é importante também
entendermos a necessidade e a importância destas releituras - Todos os
povos fazem isto (americanos, paulistas)

A Revolução Farroupilha como vemos hoje é fruto de uma fabricação, de


uma mitificação, de uma fabulação feita lá nos idos de 1935 por Getúlio
Vargas e outros importantes políticos gaúchos como Alberto Binz,
Osvaldo Aranha, Flores da Cunha.

Neste contexto foi feita uma grande exposição agropecuária na Redenção,


que passou a ser chamada de Parque Farroupilha – Para comemorar os
100 anos da Revolução Farroupilha e principalmente para mostrar a
pujança, força e grandeza do Rio Grande do Sul e do gaúcho para o Brasil
- Foi uma festa para ninguém botar defeito – Dizem que o espeto corrido
nasceu ai.

Assim esta Revolução Farroupilha que comemoramos não aconteceu, em


muitos aspectos ela não é verdadeira, que não corresponde com os fatos
– Não tem base histórica real.

Mais que a história... Mais que a verdade... As vezes o que importa é a


LENDA, o IMAGINÁRIO.

A história na maioria das vezes é simbólica, na maioria das vezes é uma


fabulação

Esta LENDA, este IMAGINÁRIO da Revolução Farroupilha é legal... Ele


forjou a nossa identidade regional, nos enche de orgulho, criou uma
imagem positiva para o Rio Grande, para o Gaúcho.

É uma lenda que nos distingue, nos une e nos identifica... Sendo assim
SALVE A REVOLUÇÃO FARROUPILHA.

Há... Não esqueçam: NÓS NÃO PERDEMOS A GUERRA – APENAS NÃO A


GANHAMOS.

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