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A REVOLUÇÃO FARROUPILHA (1835-1845)

Marcos Emílio Ekman Faber

A Revolução Farroupilha foi a mais longa guerra civil da


história brasileira, durando de 1835 até 1845. Foram dez anos de
batalhas entre Imperialistas e Republicanos, os primeiros defendiam
a manutenção do império e os segundos lutavam pela proclamação
da república brasileira.

Mas será que a Revolução Farroupilha realmente foi uma


revolução? Ou foi apenas mais uma entre tantas rebeliões que
ocorreram neste período. Para saber mais sobre este debate clique
aqui.

Porque a Revolução Farroupilha aconteceu...

No final do século XVIII, os ideais iluministas e liberais eram


apresentados ao mundo. Na Europa a burguesia chegava ao poder
após a Revolução Francesa, e na América, os norte-americanos
conheciam a independência, após uma longa Guerra Civil.

Os iluministas e os revolucionários franceses defendiam a


liberdade e a igualdade de todos perante a lei, a livre iniciativa e o
direito à propriedade privada.

Quando essas ideias chegaram ao Brasil, no início do século


XIX, a monarquia brasileira passou a ser vista como um atraso ao
desenvolvimento econômico do país, principalmente pela burguesia
que se formava.

Devido a isso, diversas revoltas - denominadas de Rebeliões


Regenciais - estouraram em todo o país. No Rio Grande do Sul
iniciava a Revolução Farroupilha.

Como começou a Revolução...

As ideias de autonomia e federalismo, encantam a elite


brasileira e ganham força ao natural na província de Rio Grande de
São Pedro do Sul.

A distância do poder central, a condição de produtor de


alimentos, os elevados impostos pagos ao Império e a recente
vivência de guerras impulsionaram o estado gaúcho a não aceitar a
submissão que lhe era imposta.

Para piorar o governo central resolveu baixar o imposto sobre


a importação de charque estrangeiro. Medida que afetava
diretamente as oligarquias gaúchas, já que na época o Rio Grande do
Sul era um grande produtor deste item.

Isto somado ao fato da elite rural gaúcha estar cansada dos


desmandos do centro do país e do descaso político com o estado,
decidiu se rebelar contra o Império.

A Revolução

No dia 20 de setembro de 1835 tropas farroupilhas marcham


sobre Porto Alegre, tomando o poder da cidade. No dia seguinte
Bento Gonçalves, líder do levante, entrou triunfante na capital. Bento
deu posse ao vice-presidente da província, Marciano Ribeiro, e
acalmou a população declarando: "Em nossas mãos, a oliveira
substitui a espada".

Alguns dias depois praticamente todo o estado estava em


mãos farroupilhas. Somente as cidades de Rio Pardo, São Gabriel e
Rio Grande ficaram em poder do Império.

No dia 15 de julho de 1836, os imperialistas reconquistaram


Porto Alegre. Bento Gonçalves, líder dos farrapos, tentou a
reconquista da capital mas foi frustrado após três horas de luta. A
perda de Porto Alegre foi uma derrota decisiva, pois a capital nunca
seria reconquistada pelos revolucionários.

Em 09 de setembro de 1836, ocorreu a primeira grande


batalha. Antônio de Souza Netto, a figura mais respeitada das forças
farroupilhas depois de Bento Gonçalves, venceu as tropas imperiais
na Batalha do Seival.

A vitória foi tão entusiasmante, que Netto, instigado pelos


republicanos radicais, proclamou a República Rio-Grandense. A
decisão emancipava o estado gaúcho do restante do Brasil. A medida
deu novos rumos ao levante, configurando o caráter revolucionário do
movimento farroupilha.

"Camaradas! Nós, que compomos a Primeira Brigada do


exército liberal, devemos ser os primeiros a proclamar, como
proclamamos, a independência dessa província, a qual fica
desligada das demais do Império e forma um Estado livre e
independente, com o título de República Rio-Grandense, e
cujo manifesto às nações civilizadas se fará oportunamente.
Camaradas! Gritemos pela primeira vez: Viva a República
Rio-Grandense! Viva a independência! Viva o exército
republicano rio-grandense!" Discurso de Antônio de Souza
Netto ao proclamar a República.

Outra medida muito importante foi que todos os escravos que se


alistassem nas tropas farrapas seriam libertos. Com isso, o número de soldados
farroupilhas dobrava de tamanho.

Contudo, em outubro do mesmo ano, na Batalha do Fanfa, os


farroupilhas foram derrotados pelas forças imperialitas. Bento Gonçalves e
outros oficiais farroupilhas foram presos e enviados para o Rio de Janeiro,
capital do Império.

Na capital, Bento Gonçalves acaba conhecendo o revolucionário italiano


Giuseppe Garibaldi. O italiano resolve aderir ao movimento farroupilha.
Garibaldi e seus seguidores navegam em direção a o sul do Brasil onde são
recebidos como reforços ao exército revolucionário.

As forças imperiais, acreditando que a revolta havia sido sufocada,


oferece anistia aos derrotados. Mas Antônio de Souza Netto, agora líder
absoluto do movimento, mantém-se rebelado.

Em 05 de novembro de 1836, a câmara municipal da cidade de Piratini


oficializa a proclamação da República Rio-Grandense. Mesmo feito prisioneiro,
Bento Gonçalves é declarado presidente do novo país, como vice-presidente é
nomeado José Gomes Jardim, que assume a presidência interinamente.

Em outubro de 1837, Bento Gonçalves foge da prisão, dois meses


depois chega ao Rio Grande do Sul onde assume a presidência da República.

O ano seguinte foi péssimo para os rebelados. Os farroupilhas não


tiveram sucesso na reconquista de Porto Alegre e Rio Grande, além disso,
sofrem importantes baixas militares.

Em 1839, Giuseppe Garibaldi e Davi Canabarro conquistam as cidades


catarinenses de Laguna e Lages, e proclamam a "República Catarinense" ou
"República Juliana".

Entretanto, poucos meses depois da conquista de Santa Catarina, os


farrapos foram surpreendidos e Laguna voltou para o controle do Império. As
embarcações farroupilhas foram destruídas, somente Garibaldi escapou. A
cavalaria de Canabarro foge pelo litoral, escondendo-se na cidade de Torres.

De 1840 em diante, dois terços do exército brasileiro passou a lutar em


território gaúcho. Em sua ofensiva final, o exército imperial contava com
11.400 combatentes, números elevadíssimos para a época. Para se ter uma
ideia da expressividade deste contingente, basta lembrar que a população total
do Rio Grande do Sul era de 70 mil habitantes aproximadamente.

Em primeiro de março de 1845, os imperialistas, liderados por Duque


de Caxias e os republicanos farroupilhas assinam um tratado de paz, o "Tratado
de Poncho Verde". Oficialmente a guerra está terminada.

Principais pontos assinados no Tratado de Poncho Verde:


 O império pagaria as dívidas do governo republicano;
 Os oficiais republicanos seriam incorporados ao exército brasileiro;
 Eram declarados livres todos os escravos que haviam lutado nas tropas
republicanas;
 Seriam devolvidos todos os prisioneiros de guerra;
 Foram elevadas as taxas alfandegárias para importação do charque
estrangeiro, o que favoreceu ao charque gaúcho.

Pós Guerra

 Antônio de Souza Netto muda-se para o Uruguai;


 Davi Canabarro luta ao lado das forças brasileiras na Guerra do
Paraguai;
 Após deixar o Rio Grande do Sul, Giuseppe Garibaldi voltou à Itália onde foi um
dos grandes heróis da unificação deste país.
 Bento Gonçalves morre dois anos após a guerra.

Conclusão

A assinatura do Tratado de Poncho Verde trouxe benefícios para ambos


os lados. Por isso, não podemos afirmar que os farroupilhas venceram a guerra.
Por outro lado, também não podemos dizer que foram derrotados. A verdade é
que os dois lados alcançaram parte de seus objetivos. Se o Império Brasileiro
não perdeu sua importante província fronteiriça, os farrapos também lucravam
com o aumento do imposto sobre o charque importado.

Entretanto o mais importante e polêmico sobre o final da Guerra dos


Farrapos está na discussão que envolve o seu desfecho. Afinal, podemos
afirmar que a revolução Farroupilha foi um sucesso?

Pois o que tornava a Guerra dos Farrapos diferente das outras


Rebeliões Regenciais que ocorreram na mesma época foi seu caráter
revolucionário. Isto é, o rompimento com o Império e a luta pela República e
pela abolição da escravatura. Fatores que tornavam o levante gaúcho
uma revolução.

Contudo, quanto a este caráter revolucionário, os farroupilhas não


obtiveram sucesso. Pois o Brasil manteve-se uma monarquia e o Rio Grande do
Sul voltou a condição de província brasileira. Mas o pior de tudo foi que a
escravidão foi mantida. Mesmo os que haviam lutado na guerra, poucos foram
os que mantiveram sua liberdade após a declaração de paz.

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