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2º Sgt Inf nº 081 Felipe Dias Machado

2º Sgt Inf nº 082 Rodrigo da Luz Benites


2º Sgt Inf nº 083 Vinícius Rodrigues Guimarães
2º Sgt Inf nº 084 Marco Antonio Fernandes de Albuquerque
2º Sgt Inf nº 085 Paulo Vitor Barreto de Queiroz
2º Sgt Inf nº 086 Thiago José de Moraes Pereira
2º Sgt Inf nº 087 Marcos Raimundo Alves Rodrigues
2º Sgt Inf nº 088 Diego Balan

AS MEMÓRIAS E O APRENDIZADO NAS EXPERIÊNCIAS DE GUERRA DO


EXÉRCITO BRASILEIRO

Projeto Interdisciplinar apresentado à


Escola de Aperfeiçoamento de Sargentos
das Armas (EASA), como parte das
exigências do CAS para a obtenção do
título de Sargento Aperfeiçoado.

Orientador: 1º Ten Inf Gustavo de Freitas


Araújo

CRUZ ALTA – RS
2016
ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE SARGENTO DAS ARMAS

2º Sgt Inf nº 081 Felipe Dias Machado


2º Sgt Inf nº 082 Rodrigo da Luz Benites
2º Sgt Inf nº 083 Vinícius Rodrigues Guimarães
2º Sgt Inf nº 084 Marco Antonio Fernandes de Albuquerque
2º Sgt Inf nº 085 Paulo Vitor Barreto de Queiroz
2º Sgt Inf nº 086 Thiago José de Moraes Pereira
2º Sgt Inf nº 087 Marcos Raimundo Alves Rodrigues
2º Sgt Inf nº 088 Diego Balan

AS MEMÓRIAS E O APRENDIZADO NAS EXPERIÊNCIAS DE GUERRA DO


EXÉRCITO BRASILEIRO

Projeto Interdisciplinar

CRUZ ALTA – RS
2016
Dedicamos este trabalho aos nossos
familiares que nos deram suporte moral e
emocional e, mesmo à distância, nos
auxiliaram na conclusão deste curso de
aperfeiçoamento.
AGRADECIMENTOS

Aos instrutores, aos monitores e à EASA, instituição de ensino singular em


nosso Exército, por ter direcionado e aperfeiçoado o nosso conhecimento para a
carreira militar e complementar a formação de todos os sargentos combatentes do
Exército.

Ao orientador, pela paciência e tempo dedicado, e que, mesmo fora dos


períodos de expediente, nos guiou de maneira substancial.

Ao coordenador de turma, Sgt Hammarstron, e ao instrutor, Sgt Vilas Boas,


pelo conhecimento, orientações e suporte que nos auxiliaram para um bom
desenvolvimento do trabalho.
“O sucesso é
ir de fracasso em fracasso
sem perder entusiasmo”

Winston Churchill
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Duque de Caxias........................................................................................11


Figura 2 - Tomada da Fortaleza de Humaitá..............................................................12
Figura 3 - Operações das Forças Aliadas para a Passagem de Humaitá.................15
Figura 4 - Força Expedicionária Brasileira em Monte Castelo...................................20
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...........................................................................................................7
2 A GUERRA DO PARAGUAI.....................................................................................9
2.1 Memórias..........................................................................................................13
2.2 Aprendizado.....................................................................................................15
3 A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL.........................................................................17
3.1 Força Expedicionária Brasileira.....................................................................17
3.2 Memórias..........................................................................................................19
3.3 Aprendizado.....................................................................................................20
4. CONCLUSÃO.........................................................................................................23
REFERÊNCIAS...........................................................................................................25
7

1 INTRODUÇÃO

Em um processo de crescimento, é natural o transcurso de experiências


positivas e negativas. Ao lograrmos êxito em determinado feito, repetimo-lo com
segurança. De maneira oposta, compreendemos que vivências negativas não
devem ser repetidas, sendo necessário refazer os passos para identificar a origem
da falta e assim aprender com o erro. A memória tem papel fundamental nesse
processo, mantendo-nos conectado com as experiências passadas e permitindo-nos
aplicar no presente o que foi assimilado.

De fundamental importância para o Exército Brasileiro, as experiências


vivenciadas servem de sustentáculo para a estrutura doutrinária vigente, desde a
participação decisiva na Guerra do Paraguai, palco das maiores batalhas campais
travadas na América Latina, onde o Brasil, Argentina e Uruguai uniram-se contra as
ameaças de expansão territorial do ditador paraguaio Solano Lopes até a ufanista
presença brasileira em solo italiano, com a tomada de Monte Castelo pelos
pracinhas da FEB, na Segunda Guerra Mundial, em que o Brasil participa
diretamente, enviando para a Itália cerca de 25 mil soldados, os pracinhas da Força
Expedicionária Brasileira.

Assim o Exército Brasileiro vem acumulando experiências enriquecedoras,


em consonância com o desenvolvimento militar tecnológico, o que lhe permite
acompanhar as mudanças que ocorrem cada vez mais rápidas no mundo. Não
menos importante, a memória, que traz à tona os valores cultuados, plasmados na
firmeza de caráter, nos feitos dos heróis militares e no sacrifício daqueles que
lutaram em nome dos ideais de liberdade e democracia.

Para isso, a coleta de dados e informações, necessárias para o


desenvolvimento do tema, foi efetuada por meio de extensa pesquisa bibliográfica,
com a leitura de inúmeras publicações de autores nacionais, de modo a permitir uma
visão abrangente de todo o contexto. A pesquisa foi realizada em bibliotecas e
espaços culturais do Exército Brasileiro, em razão do grande acervo de obras
militares de que dispõem, e também em diversos sítios eletrônicos encontrados na
8

rede mundial de computadores, devido à possibilidade de acesso a vários artigos e


estudos voltados sobre o assunto.

Diante do exposto, o objetivo geral estabelecido para este estudo foi explicar
em ordem cronológica, os feitos realizados pelo Exército Brasileiro em combate e o
aprendizado adquirido ao longo dos séculos. Em especial, apresentaremos algumas
passagens ocorridas na Guerra da Tríplice Aliança e na Segunda Guerra Mundial.
Para tanto, o presente trabalho está estruturado apresentando uma breve
contextualização desses eventos seguidos dos aprendizados pautados sobre as
memórias.
9

2 A GUERRA DO PARAGUAI

A Guerra do Paraguai teve início no ano de 1864, por conta da ganância do


ditador Francisco Solano Lopes, que tinha como intenção aumentar os limites
paraguaios e conquistar uma saída para o Oceano Atlântico, por meio dos rios da
Bacia do Prata. O ditador paraguaio impôs inúmeros obstáculos às embarcações
brasileiras que navegavam em águas paraguaias, resultando na captura do navio
brasileiro que conduzia o presidente da província de Mato Grosso, Frederico
Carneiro de Campos. Após esse episódio, o Brasil rompeu as relações diplomáticas
com o Paraguai, dando início ao conflito. A Argentina exigiu neutralidade no conflito
e não deixou as tropas paraguaias atravessarem seu território para chegarem ao
império brasileiro. Solano López ignorou os pedidos de neutralidade da Argentina,
invadiu Corrientes e o Uruguai, onde esperava o apoio do Partido Blanco. Porém ele
não sabia que o Partido Colorado tinha sido instaurado no governo Uruguaio pelo
governo imperial brasileiro.

Nesse grande contexto histórico, o Brasil, a Argentina e o Uruguai se uniram


e lutaram contra o Paraguai na maior guerra da América do Sul. Entre o final de
1864 e o início de 1865, as forças paraguaias invadiram e dominaram várias cidades
da província do Mato Grosso, entre elas o Forte de Nova Coimbra, Albuquerque,
Corumbá e Dourados foram rapidamente dominados. Nessa fase, a superioridade
numérica dos invasores permitiu-lhes realizar uma campanha bem-sucedida, mas o
verdadeiro objetivo com essa invasão era distrair o governo imperial brasileiro
enquanto o objetivo principal era o Rio Grande do Sul. Ao conquistar a cidade de
Uruguaiana, os países aliados, Argentina, Brasil e Uruguai ainda estavam
despreparados e o número de baixas apenas aumentava.

Nesse início da guerra, o Exército Brasileiro não era muito poderoso,


contava com aproximadamente 18 mil homens bem treinados para o combate,
porém a grande vantagem estava na marinha imperial. Enquanto Solano López
dispunha de pouco mais 5 navios próprios para o combate, Dom Pedro II tinha 40
navios como peças de manobra, Argentina e Uruguai tinham poucos soldados e
quase nenhuma unidade naval.
10

Nesse início de conflito, o Império brasileiro tinha um exército muito mal


organizado, pois o serviço militar era visto como um castigo pela sociedade e isso
dificultava a formação de tropas disciplinadas e patriotas. Tínhamos soldados
treinados para a guerra, mas boa parte era formada por escravos que foram
enviados pelos fazendeiros, também foi ordenada a participação da Guarda
Nacional nesse período de conflito.

Depois de diversas batalhas perdidas pelo império, uma expedição com


mais de 72 mil homens saiu de Minas Gerais para combater na Província Mato-
grossense. A guerra parecia ganha pela tropa de Solano, porém tudo muda com a
ofensiva do Brasil através da conquista da Bacia do Prata, região sensível, na qual
foi determinante a Batalha do Riachuelo. Foi conquistado o principal ponto de
comunicação da América do Sul, os aliados estavam prontos para contra-atacar e
causar a maior derrota da história do Paraguai.

Após a gloriosa vitória na Batalha do Riachuelo, a Tríplice aliança estava


fortalecida com um efetivo com mais de 50 mil homens, e sob o comando do
General Osório o exército aliado deu início a invasão ao território paraguaio.

No início de 1866, vários municípios, fortalezas e bases militares paraguaias


foram tomadas. O exército da Tríplice Aliança estava forte, mas uma campanha mal
sucedida, comandada por Bartolomeu Mitre e pelo Barão de Porto Alegre, causou a
morte de muitos soldados brasileiros e argentinos em setembro de 1866, sendo essa
a única vitória da defensa de Solano Lopez. Nesse momento uma crise se instalou
no alto comando aliado atrapalhando a continuidade da invasão. Porém alguns
personagens passam a ter decisivo destaque pelas conquistas alcançadas, que
foram o General José Luiz Mena Barreto, o Brigadeiro Antônio de Sampaio, o
Tenente Coronel Emilio Luiz Mallet, Manoel Luiz Osório e João Carlos de Villagran
Cabrita.

No Exército Brasileiro, internamente, surgiam as discórdias. Em outubro de


1866, o Partido Conservador, na oposição, responsabilizava o Partido Liberal, no
poder, pelos rumos incertos tomados pelo conflito. É neste contexto que o General
Luís Alves de Lima e Silva, que também era Senador pelo Partido Conservador,
11

assume, muito prestigiado, o comando das tropas do Império. Na frente de batalha


no Paraguai a situação do Exército era complexa. A tropa estava desanimada
contando com um efetivo insuficiente e despreparado. Rareava a apresentação de
voluntários, o que fez com que se intensificasse o recrutamento obrigatório, com isso
a maior parte do efetivo era negra. Críticas ferozes se avolumavam na imprensa,
que chegou a classificar a guerra como "açougue do Paraguai". Segundo a
historiadora Lília Moritz Schwarcz, esta mudança na coloração do Exército fez com
que os jornais paraguaios passassem a, ironicamente, chamar os soldados
brasileiros de "los macaquitos", apelido que depois se estendeu aos Generais, ao
Imperador e à Imperatriz. Esta denominação pejorativa talvez explique o motivo que
levou D. Pedro II a mover uma perseguição implacável a Solano López.

A crise se instala e um desentendimento entre os comandantes das tropas


uruguaias e argentinas acaba causando a paralisação do avanço aliado. Surge,
nesse momento, a figura de Luís Alves de Lima e Silva, o Marques de Caxias, que
assume o comando supremo das forças aliadas, proporcionando uma restruturação
gigantesca no exército imperial brasileiro.

Figura 1 - Duque de Caxias

Fonte: Jornal Opção

Lima e Silva, futuro duque de Caxias, depois de um longo período de


preparação e reorganização do Exército, reiniciou as manobras militares. Entre as
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inúmeras batalhas destacou-se a ofensiva à fortaleza de Humaitá, no Paraguai, que


capitulou em agosto de 1868. Ao se iniciar 1869, as tropas do Império entraram em
Assunção sem encontrar resistência.

Figura 2 - Tomada da Fortaleza de Humaitá

Fonte: MULTIRIO

Caxias deu a guerra por encerrada, embora não tivesse conseguido capturar
ou matar López. Apesar de não ser o desejo do Imperador, retirou-se do comando.
Retornando à Corte, não foi recebido com festejos. Entretanto, conferiu-lhe D. Pedro
II - certamente enfatizando a importância, naquele momento de tanta oposição,
daqueles que lideravam a Guerra do Paraguai - o Grão-Colar da Ordem de D. Pedro
I, honraria que ninguém havia ainda recebido, e o mais alto grau nobiliárquico do
Império: o título de duque, aliás, o único que existiu no Brasil.

Já sob o comando do Conde D’eu, após conquistarem inúmeras cidades


inimigas, as tropas aliadas enviaram uma intimação a Solano Lopez para que se
rendesse, mas o líder paraguaio acabou fugindo. Em 1º de março de 1870, as tropas
do General brasileiro José Antônio Correia da Câmara, o Visconde de Pelotas,
encontraram o acampamento do homem que iniciou a Guerra do Paraguai. Houve
um conflito armado onde o soldado José Francisco Lacerda, conhecido como “Chico
Diabo”, atirou e matou Solano Lopez.

Com o fim da guerra, o império brasileiro passou a ter livre acesso ao rio
Paraguai, onde obteve fronteiras que foram reivindicadas antes da guerra e ainda 90
13

quilômetros quadrados de território paraguaio. Na conferência de Buenos Aires, em


1876, a paz foi estabelecida definitivamente entre as quatro nações sul americanas.

2.1 Memórias

Caxias mostrou a que viera. Por solicitação do Ministro da Guerra do Império,


Henrique Pedro Carlos de Beaurepaire Rohan, a 25 de janeiro de 1865, Caxias
elaborou Plano para a Campanha, que pode assim ser resumido:

Atuando por Passo da Pátria, na direção Humaitá - Assunção, conquistar


Humaitá (objetivo militar) e Assunção (objetivo político). Atuar também na
direção São Paulo - Miranda - Apa, para expulsar o inimigo e cerrar sobre o
Rio Apa; posteriormente, por aí atuar, em apoio do Grupamento da Força do
Sul, na direção de Assunção. Fixar o inimigo numa das regiões de S.
Cosme, Itapua ou S. Carlos, em condições de atuar na direção de
Assunção, ou mesmo de, em caso de insucesso na ação principal,
assegurar a sua retirada pelo Passo da Pátria. Realizar o esforço na direção
Humaitá - Assunção. A operação principal deveria ser realizada com a
cooperação da Esquadra (AHIMTB1).

Sua liderança e seu senso estratégico, aliados à preocupação em dotar o


exército de equipamentos modernos, foram decisivos para o significativo avanço que
teve as tropas em território paraguaio. O uso de balões de observação e as
instalações de telégrafos, implementados por Caxias, não só deram mais agilidade
às comunicações, como também possibilitaram o avanço das tropas em território
inimigo. Em 21 de fevereiro de 1867, o marquês inicia as operações ofensivas com a
marcha de flanco por Tuiu-Cuê, esmagando, uma por uma, as resistências com que
o general paraguaio pontilhava seu itinerário.

Tuiu-Cuê, Paré-Cuê, Tataíba, Passo de Curupaiti, Pedro Gonzalez, São


Solano, Nembucu, Pilar, Potrero Obela, Taii; Humaitá, objetivo das operações em
curso, cai a 25 de julho de 1868, após prolongada resistência e ao peso do terceiro
ataque das Forças terrestres e navais aliadas.

Termina uma fase das operações.


14

Com o prosseguir da Campanha, Solano Lopez se concentra com seu grosso a


coberto da linha do Tebicuari, que a seguir evacua, rompendo o contato com os
aliados.

Ganha tempo e se instala fortemente em Vileta e Angustura, sobre o rio


Paraguai, coberto pela posição fortificada de Piquisiri, ao sul, e pelas linhas
sucessivas dos riachos de Itororó e Avaí, ao norte, fortemente defendidas.

Caxias estabelece contato com a posição de Pisiquiri e lança sobre ela


numerosos reconhecimentos ofensivos e emite a seguinte Ordem do Dia, em 14 de
janeiro de 1869:

Desde que me convenci, pelos reconhecimentos a que mandei proceder, e


a alguns dos quais pessoalmente assisti, de que o inimigo nas suas
trincheiras da extensa linha do Piquisiri, onde se colocara, não podia ser
atacado de frente e pelo flanco direito, em consequência das dificuldades
invencíveis que se opunham à marcha do exército, provenientes de um
banhado a transpor de légua e meia de extensão e cujas águas eram
abastecidas pela lagoa Ipoá, tratei de levar a efeito o plano que concebera
de contorná-lo pelo flanco esquerdo, sendo a base das operações ulteriores
o Grão-Chaco (EXÉRCITO BRASILEIRO).

Dessa Ordem do Dia resulta uma das mais brilhantes manobras militares do
continente. Para atacar Angustura e Vileta pela retaguarda, Caxias: fez com que
fosse construída a estrada do Chaco, ao longo da pantanosa margem direita do rio
Paraguai; transpôs, com 19.000 homens das três Armas, cavalhada e material
pesado, o grande rio, em Santa Teresa; marchou com seu exército para o norte, por
terra e por água, utilizando, com maestria, todas as possibilidades da esquadra;
transpôs, novamente, o rio Paraguai, desembarcando na margem esquerda, em
Santo Antônio (EXÉRCITO BRASILEIRO).

As tropas aliadas participaram de várias operações sob o comando de


Caxias, cabe ressaltar as seguintes:
Humaitá;
Itororó;
Avaí; e
Piquisiri.
15

Figura 3 - Operações das Forças Aliadas para a Passagem de Humaitá

Fonte: Wikipédia1

2.2 Aprendizado

Assumindo o comando das tropas aliadas, unificou de uma vez por todas
suas forças, uma vez abalada pela crise instaurada no alto comando.
Não apenas ajustando o comando das forças aliadas, mas demonstrando
espírito visionário, Duque de Caxias permitiu a ele transcender o seu tempo, ao
fazer uso dos balões de ar quente para realizar reconhecimentos, o que lhe
proporcionou significativa vantagem no combate em solo paraguaio, demonstrado na
manobra de contorno da posição defensiva inimiga fortificada de Piquisiri, ordenando
para isso, a construção da estrada do Chaco, às margens do rio Paraguai, onde
através desta, sua tropa deslocou-se para o norte até a localidade de Santo Antônio,
quando reorganiza suas tropas e marcha para o sul em direção à retaguarda
profunda das linhas de Lopez.

Informações privilegiadas, acerca da área de combate, são de vital


importância para o alcanço do êxito em qualquer operação militar, e Duque de
Caxias, a frente de seu tempo nos mostrou a sua relevância, sendo um dos fatores
16

decisórios nas diversas conquistas auferidas ao longo de sua brilhante participação


no conflito.
17

3 A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

O motivo da entrada do Brasil na 2ª Guerra Mundial culminou dos ataques


submarinos realizados pelos alemães nas embarcações brasileiras em águas
internacionais. Isso causou um sentimento de revolta na população contra o Eixo,
grupo formado pela Alemanha, Itália e Japão. Esses fatos marcaram a entrada do
Brasil na 2ª Guerra Mundial, o único país da América Latina a participar no conflito e
enviar tropas para lutar junto aos aliados (FELIPE, 2014).

O presidente Getúlio Vargas, pressionado pela população, declarou estado


de beligerância contra o Eixo, no dia 22 de agosto de 1942, e declarou guerra no dia
30 do mesmo mês. Um ano depois, para formar o contingente brasileiro para esse
combate, foi criada a FEB, Força Expedicionária Brasileira.

3.1 Força Expedicionária Brasileira

A FEB, constituída em 9 de agosto de 1943, foi criada para lutar na Europa


ao lado dos países Aliados, contra os países do Eixo, na Segunda Guerra Mundial.
Integrada inicialmente por uma divisão de infantaria, a FEB acabou por abranger
todas as tropas brasileiras envolvidas no conflito (WIKIPEDIA 2).

Em 2 de julho de 1944, teve início o transporte rumo ao front do primeiro


contingente da Força Expedicionária Brasileira, sob o comando do general Zenóbio
da Costa. O General João Batista Mascarenhas de Morais assumiria oficial e
posteriormente o comando da FEB, quando esta já estivesse em sua formação
completa (WIKIPEDIA2).

Ao desembarcar em território italiano, a tropa deparou-se com condições


meteorológicas completamente diferentes da encontrada no Brasil. O soldado
brasileiro, oriundo das terras quentes e amenas, foi-se adaptando ao clima e ao
terreno e aprendeu a conviver com a adversidade do frio intenso, a neve, a chuva e
a lama (MAB, 2005).
18

O Exército não estava preparado para o tipo de guerra que iria empreender,
pois necessitava rever os métodos, processos, sistemas e técnicas. Era necessário
alterar radicalmente não só a formação, mas também o aperfeiçoamento dos oficiais
e da tropa, substituindo o ecletismo profissional pela técnica de especialização.

Naquela época, o Exército não possuía material bélico moderno, a infantaria


estava estruturada segundo a doutrina militar de 1914, tinha instrução tática e
espírito voltados para a guerra estática, não dispunha de meios motorizados, nem
compreendia a guerra de movimento como geradora da ação decisiva. A artilharia,
além das carências do material adequado, estava com a técnica, os conceitos e os
processos de tiro superados. A cavalaria, ainda hipomóvel, assemelhava-se muito a
tão heroica quanto ineficiente cavalaria polonesa, dizimada no primeiro confronto
com as modernas formações blindadas nazistas. E as premências mais se agravam
no setor de comunicações e de apoio logístico, vitais na guerra moderna (MAB,
2005).

Dessa forma, os militares que embarcaram para o Teatro de Operações


foram submetidos a um intenso e rigoroso período de adestramento, diuturnamente,
com três semanas de duração, privilegiando-se os exercícios táticos com tiro real,
inclusive de artilharia e morteiros. Conforme citado pelo General Mascarenhas de
Moraes (2014, p. 156):

Os expedicionários brasileiros, mal preparados psicologicamente, sofreram


e venceram, mais que quaisquer outros, desde a travessia do Atlântico até a
frente de batalha, situações difíceis e vexatórias, que se sucediam
continuamente diante do desconhecido da guerra. As autoridades
americanas se decepcionaram com o insuficiente estado sanitário da
primeira tropa brasileira desembarcada em território italiano e continuaram a
se decepcionar com a imprestabilidade dos uniformes, agasalhos e
calçados dos brasileiros. Devido a isso as tropas brasileiras receberam o
armamento, munição, calçados, agasalhos e alimentação dos americanos.

Em contrapartida os brasileiros possuíam como características os valores, a


vontade, as crenças e a enorme capacidade de improvisação. Assim, os brasileiros
se adaptaram rapidamente aos novos armamentos, aos materiais diversificados e
foram destaques em várias operações.
19

3.2 Memórias

As tropas brasileiras participaram de várias operações durante a guerra,


cabe ressaltar as seguintes:
As Operações no Vale do Serchio e no Vale do Reno;
A Retomada da Ofensiva e o “Plano Encore”;
A Conquista de Monte Castelo;
A Conquista de Castelnuovo;
A Conquista de Montese; dentre outras.

Na Itália, a FEB pagou elevado tributo para que a liberdade e a democracia,


valores tão caros a nossa gente, viessem a prevalecer. Para isso, os pracinhas
vivenciaram inúmeras situações durante os combates, a exemplo da citada pelo pai
do vocalista da Banda Paralamas do Sucesso, João Barone (2013, p. 10):

Mal os tímpanos se recuperam do barulho e os gritos do sargento Oca


mandam a tropa alcançar. Era difícil correr, atirar e pensar ao mesmo
tempo, pois agora outro tipo de assovio passava pelos ares por entre a
tropa. Ao longe, o conhecido som de pano sendo rasgado da metralhadora
alemã “Lurdinha” - a MG42 – assustava menos que suas balas zunindo,
acertando o chão, galhos e pedras ao redor. Quem conseguiu se protegeu;
cada um pulou para um lado, saltando por cima de valas e pousando atrás
de troncos ou dentro de crateras de bombas.

Experiências como essa fizeram parte da vida dos nossos heróis da FEB,
mas conforme MORAES (2014, p. 222):
A conduta de nossa tropa foi admirável no campo da luta. E não precisa
reafirmar a confiança que deposita em todos, do mais graduado dos oficiais
ao mais simples dos soldados, certo de que, com valor, tenacidade,
disciplina e bravura, cumpriremos honrosamente a missão confiada à FEB,
no teatro de operações da Itália. É necessário, porém, ter bem presente, em
todos os instantes, que subestimar o inimigo é o mesmo que lhe dar a arma
com que inevitável e implacavelmente nos poderá ferir. Lancemo-nos para
frente, em busca dos objetivos que nos forem designados. Combatamos
com toda a energia o inimigo que nos defronta, mas não nos esqueçamos
dos preceitos regulamentares, nem alimentemos um exagerado otimismo,
porque isso nos poderá causar males irremediáveis.

Quem analisar os fatos e refletir serenamente há de concluir que nossa


divisão, tão improvisadamente organizada no Brasil, cumpriu missões superiores as
suas possibilidades materiais. Assim o soldado brasileiro constitui a maior riqueza da
Nação e o mais valioso patrimônio das Forças Armadas.
20

A conquista de Monte Castelo demonstrou o valor do soldado brasileiro, sua


versatilidade, sua persistência e sua coragem. Foi a vitória da superação e da raça.
Com isso o soldado brasileiro, admirado e respeitado pela sua coragem e pela sua
cordialidade, ganhou notoriedade e passou a ser requisitado para compor as Forças
de Paz da ONU e da OEA.

Figura 4 - Força Expedicionária Brasileira em Monte Castelo

Fonte: disponível em: <https://www. http://www.forte.jor.br/>. Acesso em 21 out. 2016.

3.3 Aprendizado

No campo do ensino e da instrução militar, o Exército Brasileiro


experimentava, antes da 2ª Guerra Mundial, as doutrinas francesas, com a finalidade
de modernizar a doutrina brasileira difundindo, principalmente nos bancos
acadêmicos, novos conceitos fundamentados pelas lições aprendidas com o êxito
Francês na 1ª Guerra Mundial. Tal doutrina apresentava bases alicerçadas na
21

guerra defensiva e na concentração de grandes divisões de infantaria sem fazer


menção à guerra de mobilidade, com deslocamentos rápidos, como foi empregado
por ocasião da 2ª Guerra Mundial.

A Segunda Guerra Mundial trouxe mudanças significativas na arte da guerra


e a participação da Força Expedicionária Brasileira representou uma grande
mudança de pensamento na Força Terrestre, transformando o Exército Brasileiro no
que tange aos seus conceitos de organização, preparação e emprego doutrinários. A
Doutrina Militar Brasileira se beneficiou dos ensinamentos adquiridos para o seu
progresso e aperfeiçoamento, consolidando-os por meio dos estudos realizados nos
bancos acadêmicos militares e pelas diversas experiências vivenciadas pelo
Exército Brasileiro no período pós-guerra (DEINA, 2015).

Assim, as lições aprendidas e testadas nos campos de batalha do Teatro de


Operações Mediterrâneo continuam sendo importantes fontes no estudo da
evolução doutrinária militar brasileira, tornando-se material didático fundamental
para o estudo das ciências militares e para o amadurecimento e a evolução da Força
Terrestre.

A partir daí, houve a formulação da Doutrina Militar Terrestre. Doutrina esta


que se define conforme transcrição do manual EB20-MF-10.102 (2014, p.11):
A Doutrina Militar Terrestre (DMT) é o conjunto de valores, fundamentos,
conceitos, concepções, táticas, técnicas, normas e procedimentos da força
terrestre, estabelecido com a finalidade de orientar a Força no preparo de
seus meios, considerando o modo de emprego mais provável, em
operações terrestres e conjuntas. A DMT estabelece um enquadramento
comum para ser empregado por seus quadros como referência na solução
de problemas militares.

Essas experiências provocaram mudanças às características da Força


Terrestre, já nos anos que antecederam o conflito, conforme apresentado pelo
AHIMTB2:
Já em 1939, depois da visita do general George Marshall ao Brasil, a
Missão Militar Francesa do Exército foi substituída por Missão Militar
Americana, para que o Exército se atualizasse a fim de ficar em condições
de lutar com a doutrina militar e material bélico dos EUA, pois lhe faltavam
os meios de operacionalidade para o tipo de guerra em curso na Europa.
22

Experiências pressupõem lições aprendidas, conforme consta nas


Instruções Reguladoras para a Gestão do Conhecimento Doutrinário (2014, p. 25),
abaixo transcrita:
Experiência é a habilidade, a perícia e a percepção intelectual adquiridas
com o exercício de funções ao longo da carreira militar, acrescidas de
estudos didáticos direcionados que permitem o acúmulo de conhecimentos
balizados sobre determinados assuntos. As experiências podem ser
transformadas em Melhores Práticas ou Lições Aprendidas. As lições
aprendidas são o produto do processo de coleta, registro e tratamento de
experiências (individuais e coletivas) e de relatórios de análises pós-ação
e/ou de operações que possam contribuir para a evolução da Doutrina
Militar Terrestre. As Lições Aprendidas pressupõem inovação, tendo
reflexos sobre a Doutrina Militar Terrestre vigente.

Portanto, verifica-se que o estudo da atuação do Exército Brasileiro na FEB


revestiu-se de inúmeras lições aprendidas que vieram agregar fundamentos
importantes à Doutrina Militar Terrestre Brasileira.
23

4. CONCLUSÃO

Em um mundo globalizado, tornou-se possível a amplificação de ideias e


recursos entre as pessoas e entre as nações, independentemente da sua
localização geográfica, e isso ocorre em virtude do avanço da tecnologia da
informação.

Essas modificações no modo de relacionar-se também interferiram no modo


de combater. A guerra tem uma nova cara, calcada, sobretudo, na capacidade de
produzir conhecimento e de organizá-lo, de modo a influenciar no processo
decisório. Nunca a vanguarda e o comando estiveram tão próximos, onde as ordens
podem ser emitidas em tempo hábil à tropa, levando em consideração o princípio da
oportunidade.

Entretanto, para o Exército Brasileiro alcançar essa revolução tecnológica,


foi necessário transpor toda sorte de experiências, situadas cada qual num contexto
histórico, condicionada aos meios disponíveis, onde, adaptando-se e extraindo o
máximo de conhecimento seguiu intrépida na sua missão: defender a pátria,
garantindo sua soberania, os poderes constitucionais a lei e a ordem.

Nesse ínterim, o trabalho ora delineado procurou analisar as memórias dos


conflitos mais relevantes em que o Exército Brasileiro participou e extrair os
ensinamentos auferidos.

Buscou-se trazer à tona, pelo exame dos casos apresentados, as memórias


vivenciadas, bem como os ensinamentos colhidos, de maneira que essas
experiências constituíram a base da reformulação da doutrina militar terrestre, que
ainda utilizada, permite situar-nos no atual contexto bélico-militar mundial.

Essas poucas participações da força em conflitos faz com que as doutrinas


que utilizamos sejam calcadas em conhecimentos explorados pelos combates
modernos que outros países vivenciam e na trajetória dos aprendizados colhidos no
passado em grandes eventos da nossa história. Dessa forma o assunto tende a ser
tema para a coleta de uma grande quantidade de conhecimento que ainda pode ser
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analisado.

Assim, o Exército Brasileiro sintetiza o velho e o novo, abrindo as suas


portas para novas doutrinas sem perder a sua essência, ancorado nos valores
balizadores da conduta militar. Que as façanhas dos nossos patronos sirvam de
guia, não só para aquele que envergar um uniforme, mas para todos os brasileiros
no exercício de sua cidadania, como disse Rui Barbosa “O Exército pode passar
cem anos sem ser usado, mas não pode passar um minuto sem estar preparado”.
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REFERÊNCIAS

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