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Comandante do Exército
General de exército Enzo Martins Peri
Conselho Editorial
Presidente
General de brigada Aricildes de Moraes Motta
Beneméritos
General de divisão Ulisses Lisboa Perazzo Lannes
Coronel Nilson Vieira Ferreira de Mello
Professor Arno Wehling
Membros Efetivos
General de exército Gleuber Vieira
General de exército Pedro Luís de Araújo Braga
Embaixador Marcos Henrique Camillo Côrtes
General de brigada Geraldo Luiz Nery da Silva
General de brigada Sergio Roberto Dentino Morgado
Coronel de artilharia César Augusto Araripe de Almeida Lacerda
Coronel de artilharia Luiz Sérgio Melucci Salgueiro
Professor Guilherme de Andrea Frota
Professor Paulo André Leira Parente
Professor Wallace de Oliveira Guirelli
Biblioteca do Exército
Palácio Duque de Caxias, 25 – Ala Marcílio Dias – 3o andar
20221-260 – Rio de Janeiro, RJ – Brasil
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Paulo Sérgio da S ilva Maia
Aviação no
xérci t o
Euma visão histórica
1a edição
BIBLIOTECA DO EXÉRCITO
Rio de Janeiro
2014
BIBLIOTECA DO EXÉRCITO Publicação 905
Coleção General Benício Volume 507
Coordenação Editorial:
Paulino Machado Bandeira e Rogério Luiz Nery da Silva
Revisão:
Marcio Costa e Suzana de França
Capa e Diagramação:
Leonardo Dessandes
ISBN 978-85-7011-543-0
CDD 358.400981
viagem, pela mesma estrada, dessa vez com uma amiga. Estando ago-
ra ao volante, ela se surpreendeu, pois do lado esquerdo o córrego era
realmente feio e poluído, como seu pai havia descrito, ao contrário do
belo córrego que ficava do lado direito da pista. E uma tristeza profunda
se abateu sobre ela por não ter levado em consideração o comentário
que seu pai, já falecido, fizera outrora. Infelizmente, episódios como esse
acontecem todo o dia. Via de regra, as pessoas só têm olhos para o que
mostra a sua janela, nunca a do outro. O que a gente vê é o que vale, não
importa que alguém bem perto esteja vendo algo diferente. A mesma es-
trada para uns é infinita; para outros, curta. Para uns, o pedágio sai caro;
para outros, não pesa no bolso. Boa parte dos brasileiros acredita que o
País está melhorando, enquanto a outra perdeu totalmente a esperan-
ça. Alguns celebram a tecnologia como um fator evolutivo da sociedade;
outros lamentam que as relações humanas estejam tão frias. Uns enxer-
gam nossa cultura estagnada; outros aplaudem a crescente diversidade.
Cada um gruda o nariz na sua janela, na sua própria paisagem. Antes
de as pessoas cunharem as suas verdades e emitirem as suas críticas, é
impositivo dar uma espiada pela janela do vizinho.
pesquisa, não conseguiria fazê-lo pelo simples fato de que não há fontes nas
quais se possa pesquisar uma história que até agora não foi contada. Além
disso, os atores diretamente envolvidos em todo o processo ainda em vida
são poucos. O que me move ao tecer estas linhas, reafirmo, é colaborar para
divulgar fatos que não foram objeto de maior divulgação e, dessa forma, in-
seri-los na história da nossa instituição.
A despeito de um longo período na 3ª Subchefia do EME, onde,
como integrante da Seção de Evolução da Doutrina, tive a oportunida-
de de revisar e atualizar manuais, traduzir documentos doutrinários
de exércitos estrangeiros, consultar grande quantidade de publicações
internacionais, elaborar propostas de Requisitos Operacionais Básicos
(ROB), realizar a relatoria de manuais e outras atividades que me exi-
giam uma correta redação, não me considero em nenhuma hipótese
como um escritor, volto a frisar. Logo, fruto de minha inexperiência e
entusiasmo, os leitores se depararão com redundâncias e alguns textos
nos quais a clareza e a concisão poderiam ter sido mais bem esgrimidas.
Perdoem-me de antemão, e, de pronto, agradeço a compreensão.
Ao longo de minha narrativa, mesmo correndo o risco de tor-
nar-me repetitivo quando me referir a alguma organização militar vou
citá-la, em grande parte das ocasiões, por extenso restringindo ao máxi-
mo a utilização de siglas que levam o leitor, principalmente aqueles não
acostumados à terminologia militar, à incômoda necessidade de inter-
romper a leitura para dirigir-se a um glossário. É algo que me incomoda
quando leio um livro e quero poupar os leitores, na medida do possível,
dessa desagradável tarefa.
O título
A pesquisa
Resolvi abrir este tópico exclusivamente para abordar minha
sofrida busca por documentos que me proporcionassem maiores
informações sobre a implantação, considerando que minha memória,
ainda que em bom estado a despeito de meus 68 anos, não teria a
capacidade de armazenar todos os eventos ocorridos ao longo de um
processo de praticamente sete anos, entre 1985 e 1991. Além disso, os
36 Aviação no Exército - uma visão histórica
Experiência anterior
Generalidades
Os antecedentes
Segundo as fontes consultadas, as primeiras utilizações de
meios aéreos para fins militares no Brasil teriam origem nos campos de
batalha de Humaitá e Curupaiti, na Guerra da Tríplice Aliança.
Ao patrono do Exército, Duque de Caxias, coube o pioneirismo
de empregar balões cativos em operações militares para observação das
linhas inimigas. Após a guerra, foi criado o Serviço de Aerostação Militar,
cujas atividades se desenvolveram por mais 40 anos.
Em 1910, a aviação já era uma atividade largamente difundida
na Europa. Nesse ano, fábricas francesas aperfeiçoaram seus aeroplanos
e os vendiam a particulares. Paralelamente, dois cursos de pilotagem
destacavam-se: na École d’Aviation Farman, na cidade de Étampes, ao
norte da França, e na de Blériot. Elas se limitavam à formação de pilotos
civis.
No Brasil, a aviação começava a dar seus primeiros passos. Em
1911, alguns estrangeiros já se exibiam nos céus do País. Parte dessas
apresentações aéreas era incentivada pelo recém-criado jornal carioca
A Noite. Foi por meio desse vespertino que se idealizou o Aeroclube Bra-
sileiro, criado em 14 de outubro, o qual tempos depois se tornaria Ae-
roclube do Brasil, largamente apoiado pelos militares da Marinha e do
Exército. Entre os objetivos do Aeroclube, estavam a fundação de uma
escola de aviação e a dotação de “aparelhos de voar” para o Exército e a
Experiência anterior 47
Outras considerações
O site do Comando da Aviação do Exército apresenta o tenen-
te Ricardo Kirk como o maior herói e patrono da Aviação do Exército,
fato que gera discordância entre aqueles que consideram a inexistência
de liame entre a Aviação Militar e a Aviação do Exército, identificando
uma grande distinção entre ambas. Primeiramente, pela diversidade do
meio utilizado; no passado, aviões; no presente, helicópteros. Em segun-
do lugar, argumentam que a Aviação Militar, de curta existência, jamais
conseguiu estruturar-se completamente e limitou sua atuação a voos in-
dividuais. Julgam que a Aviação Militar é uma predecessora da FAB, pois
foi daquela que esta surgiu.
A participação do tenente Kirk em operação de caráter militar
ocorreu em época na qual não se estabelecera ainda uma doutrina de
emprego para a Aviação Militar. Em consequência desse aspecto, depre-
endem alguns que o emprego de aeronaves na campanha do Contestado
foi uma iniciativa de cunho pessoal do general Setembrino, na qual se
utilizou também um piloto civil que, como o tenente Kirk, não estava
60 Aviação no Exército - uma visão histórica
Nossos chefes
Mais uma vez, o general deixou bem claro que sua atuação se
deu em âmbito estratégico, macro. A operacionalização das ações no ní-
vel que denominou de tático foi do EME e do Departamento de Material
Nossos chefes 71
Estrutura do Estado-Maior do
Exército
A 1ª Subchefia
Ela tratava de Estratégia. Tinha como responsabilidade a
avaliação da conjuntura nacional e internacional e, por meio de aná-
lise prospectiva, orientava o planejamento estratégico do Exército,
fixando objetivos para a Força Terrestre coerentes com os Objeti-
vos Nacionais. Era a guardiã do SIPLEx, e nela se originou o Plano
de Reestruturação da Força Terrestre, a FT-90, que desencadeou as
ações de modernização, entre as quais se incluía a Aviação do Exér-
cito. O SIPLEx, publicado em 1984, era uma metodologia completa
de planejamento, indispensável para a manutenção da unidade de
pensamento e ação no âmbito da Força, que ia desde a interpretação
da missão do Exército, passando pelos seus objetivos, concepções
estratégicas e diretrizes, até os planos de execução dos diferentes
sistemas.
O SIPLEx tinha por objetivo manter e aprimorar a tão necessá-
ria unidade de pensamento e ação, sendo essencial, nesse sentido, o en-
tendimento de que todas as ações desenvolvidas no Exército deveriam
estar condicionadas:
– à Missão do Exército;
– à Doutrina Militar Terrestre (DMT);
– aos objetivos estabelecidos na Política Militar Terrestre
(PMT); e
– à consequente Concepção Estratégica do Exército.
80 Aviação no Exército - uma visão histórica
A 2ª Subchefia
Esta era dedicada ao planejamento operacional. Orientava, co-
ordenava e controlava o planejamento para emprego da Força Terrestre
em operações militares futuras, nas ações de defesa interna e externa.
A participação da subchefia ocorreu com a designação de um integrante
da comissão que teve como encargo a elaboração do plano de implanta-
ção da Aviação do Exército.
Estrutura do Estado-Maior do Exército 81
A 3ª Subchefia
A 3ª Subchefia reunia a Doutrina, a Ciência e a Tecnologia.
Orientava seus estudos permanentemente para responder a três ques-
tões principais:
Como o Exército deve se organizar para combater?
Como o Exército deve ser equipado?
Quais os materiais a desenvolver ou adquirir para que o Exér-
cito possa combater?
A 4ª Subchefia
A 4ª Subchefia tratava de Pessoal e Legislação. Depois da inclu-
são no planejamento da FT-90 da implantação da Aviação do Exército,
ainda sob a forma de esquadrilhas articuladas pelos Comandos Milita-
res de Área, a 4ª Subchefia solicitou à 3ª Subchefia o Quadro de Organi-
zação das ditas unidades aéreas de modo que ela pudesse estabelecer as
necessidades em pessoal para atendimento da nova demanda. Cabia à
subchefia, após o recebimento dos Quadros de Organização elaborados
pela 3ª Subchefia, tomar as providências relativas à formação de pessoal
para o atendimento das novas necessidades.
A 5ª Subchefia
A 5ª Subchefia respondia pelo planejamento corrente. Teve um
papel de grande importância na criação da Aviação do Exército à medida
84 Aviação no Exército - uma visão histórica
A 6ª Subchefia
À 6ª Subchefia cabia o Planejamento Diretor e a Modernização
Administrativa. Entre suas atribuições, constavam a elaboração, a im-
plementação e a atualização do Plano Diretor do Exército, cuja gerência
da execução era realizada por intermédio do acompanhamento físico-
financeiro.
Esperamos ter dado, ainda que de modo sucinto, uma visão ge-
ral da estrutura do EME e sua sistemática de funcionamento. A descri-
ção um pouco mais detalhada da 3ª Subchefia é compreensível à medida
que servi nela durante todo o período no qual passei no Estado-Maior e
por sua participação destacada em todo o processo de implantação da
Aviação do Exército.
Todas as subchefias estiveram representadas na comissão ini-
cialmente designada para estudar a implantação da Aviação do Exército.
Capítulo 6
O Plano de Estruturação da
Força Terrestre (FT-90)
Antecedentes
Exército; caso contrário, ela teria o mesmo destino das propostas ante-
riores, isto é, o esquecimento.
Manifestações contrárias
Contrariando o suposto “consenso no âmbito do Exército sobre
a implantação de uma Aviação Leve”, constantes nos estudos anterior-
mente comentados, as reações contrárias à implantação partiram inclu-
sive do âmbito do próprio EME.
“Nós não possuímos recursos para manter nossas viaturas em
funcionamento; como iremos fazer a manutenção dos helicópteros?
Olha, lá em cima não existe acostamento. Na hora em que ocorrer uma
pane, vai cair.” Esse era um dos comentários que provocava a notícia
da intenção da criação da Aviação do Exército. Não posso classificá-los
como descabidos se considerar que na época o Exército realmente anda-
va às voltas com a imperiosa necessidade de renovar seus equipamen-
tos e se deparava, como sempre ocorreu, e como se sucede hoje, com
dificuldades orçamentárias.
Em agosto de 1985, solicitada a emitir parecer sobre a criação
de uma Unidade de Aviação Leve para apoio exclusivo à Força Terrestre,
a 5ª Subchefia ressaltou como necessário, antes da emissão de parecer,
examinar detida e profundamente os encargos associados que a cria-
ção do novo organismo acarretaria para a estrutura vigente, particular-
mente no que dizia respeito à manutenção, suprimento e atividades de
custeio. Referia-se à difícil situação que o Exército se encontrava, nota-
damente em relação à gestão do material, ou seja, suprimento e manu-
tenção. Acrescentava que a criação de uma Aviação Leve no Exército,
mesmo por meio da obtenção de recursos extraorçamentários, repre-
sentaria considerável acréscimo nas despesas e desequilibraria ainda
mais o perfil orçamentário.
com outro oficial ouviu deste a afirmação, com sentido crítico: “Um
helicóptero de vocês caiu.” O oficial da DMAvEx, um militar normalmente
calmo e ponderado, justificadamente irritado, lhe respondeu: “Coronel,
em primeiro lugar o helicóptero que caiu era da Força Aérea, e não do
Exército; em segundo lugar, se fosse do Exército, não é ‘helicóptero de
vocês’, coronel, é ‘nosso helicóptero’; em terceiro lugar, eu gostaria de
saber em que lado o senhor está.” O coronel achando-se desrespeitado
disse que se dirigiria ao diretor da DMAvEx para se queixar do oficial,
o que fez em seguida. Depois de expor o fato ao diretor, ouviu deste os
argumentos que demonstravam que sua atitude crítica era lamentável e
injustificável e deu-se o caso por encerrado.
No entanto, por uma questão de justiça, volto a enfatizar a minha
convicção de que se não fosse o general Leonidas, ministro do Exército, e
não estivesse ele imbuído da férrea vontade de trazer o Exército ao pre-
sente e abrir-lhe uma porta para o futuro, nada teria acontecido.
Alguns podem aproveitar a oportunidade para pensar em baju-
lação, tantos os elogios que tenho feito ao ministro Leonidas. Tenham a
certeza de que tal sentimento não me move e nunca me moveu. Só devo
ao ministro a eterna gratidão por sua atitude corajosa. Minha posterior
designação para missão no exterior, como chefe da comissão encarre-
gada de receber os helicópteros adquiridos, deveu-se exclusivamente
ao empenho do general Bulcão, que empreendeu esforços para a minha
nomeação, sabendo que eu estava preparado e tinha a competência e o
conhecimento suficientes para exercer a missão com êxito. O comentá-
rio é endereçado aos maledicentes de plantão.
Segundo o general Leonidas, durante entrevista a mim concedi-
da, mesmo no âmbito do Alto-Comando havia reações à implantação. Ele
soube enfrentá-las e transformar em realidade seus antigos sonhos, que
eram também nossos e de muitos companheiros que nos precederam.
É importante ressaltar que os comentários contrários realizados
à época não eram generalizados nem realizados de forma irresponsável.
O Exército tradicionalmente passava por inúmeras dificuldades, fruto dos
parcos recursos e do material totalmente desatualizado. Aliás, em toda a
minha carreira militar, jamais vi o Exército em situação distinta. A nossa
querida e inatacável instituição, a despeito de sua importância para o nos-
so país, esteve sempre às voltas com a administração de escassos créditos.
Nossas viaturas, em particular as blindadas, só funcionavam porque sempre
Proposta de inclusão da criação da Aviação do Exército no planejamento da FT-90 99
Generalidades
1º escalão – de pista;
2º escalão – de hangar;
3º escalão – de base; e
4º escalão – de parque.
O Plano de Implantação da
Aviação do Exército
– implantação gradual;
– centralização inicial dos meios;
– formação do pessoal desde já;
– aproveitamento das estruturas das demais Forças Armadas
e de outros exércitos;
– empenho para se evitar a diversificação do material.
relatório. Por sua importância histórica e para que, como ocorreu com
um grande número de documentos produzidos na época da implantação,
ele não permaneça desconhecido e vá, como aconteceu com outros do-
cumentos de plena importância, para o fundo de um saco de lixo ou uma
trituradora de papéis, resolvi reproduzi-lo na íntegra. Tal procedimento
serve também para ratificar que as decisões adotadas no processo de im-
plantação da Aviação do Exército foram fruto de diligente maturação de
todas as informações disponíveis e análise criteriosa do vasto cabedal de
informações colhidas. Nada foi feito ao acaso.
Corro o risco de ser repetitivo, mas não posso falsear com a his-
tória da Aviação do Exército e permitir que mais um registro se apague.
Segue-se a transcrição integral do corpo do relatório com o espí-
rito de informar e de preservar a memória da documentação elaborada na
ocasião. Ele possuía três anexos nas áreas de pessoal, doutrina e material.
A abordagem deles neste momento será procedida sob a forma de comen-
tários. A minudência adotada na apreciação das áreas referidas anterior-
mente, justificada pela importância que se revestiam para nossa Aviação,
indicou ser mais apropriada uma síntese deles. A íntegra dos anexos ao
relatório é apresentada no Anexo 1 a este livro. Lá, os interessados pode-
rão conhecê-los com maior profundidade, em seu inteiro teor.
MINISTÉRIO DO EXÉRCITO
ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO
COMISSÃO DE ESTUDO PARA IMPLANTAÇÃO DA
AVIAÇÃO DO EXÉRCITO
RELATÓRIO FINAL
1. FINALIDADE
Apresentar as atividades desenvolvidas pela Comissão, no pe-
ríodo de 24 Set a 14 Nov, relativas aos estudos e trabalhos por ela reali-
zados, com vistas à apresentação de uma proposta para a implantação
da Aviação do Exército.
2. COMISSÃO
a. Presidente: Gen Div ANGELO BARATTA FILHO
b. Vice-Presidente: Cel Cav QEMA JOÃO LUIZ SARAIVA DE
CASTRO – 3ª Sch
c. Membros:
– Cel Cav QEMA Pedro Arnóbio de Medeiros – 2ª Sch
O Plano de Implantação da Aviação do Exército 141
3. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS
a. Início das Atividades – 24 Set
1) Reunião inicial, quando foi caracterizado o objetivo da Co-
missão e apresentado um Cronograma de Trabalho a ser seguido, com
vistas ao cumprimento de sua missão.
2) Os Oficiais integrantes foram distribuídos por três equipes:
Equipe de Doutrina
– Cel MEDEIROS
– Cel PETITO
– TC TELLES
Equipe de Pessoal
– Cel MARCELLO
– Cel VALPORTO
– TC SILVA MAIA
Equipe de Material
– TC MACHADO
– TC LORIATO
– Maj WANDERLEY
– simples;
– econômica;
– exequível;
– baseada na experiência de outras Forças;
– adaptada à estrutura atualmente existente no Exército;
– levando em conta os recursos disponíveis e a conjuntura do
momento.
Sabemos que este trabalho não está completo e que não
esgotou todo o assunto. Representa, apenas, o primeiro e decisivo
passo para a implantação da Aviação do Exército, havendo necessi-
dade de que os estudos tenham prosseguimento para sua real efe-
tivação.
Gen Div ANGELO BARATTA FILHO
3º Subchefe EME
ANEXO A – DOUTRINA
Apresentava o resultado do trabalho da equipe relativo ao tema. Os
estudos buscaram definir a missão geral, as missões básicas e as missões es-
peciais, inseridas no largo espectro da missão a ser cumprida pela Aviação
do Exército, que foram explicitadas levando-se em conta dois aspectos fun-
damentais, a saber: o aumento da capacidade operacional da Força Terrestre
quando dotada de aeromobilidade e a necessária integração às ações da força
apoiada. Definida a missão geral, foram estabelecidas as demais, que se en-
contram detalhadas no Anexo 1. Julgo importante destacar a missão geral, ou
seja, “Proporcionar aeromobilidade à Força Terrestre, nas ações de combate,
de apoio ao combate e de apoio administrativo, aumentando sua capacidade
operacional”, que deixa bem claro que a Aviação do Exército foi criada para
atuar em proveito da manobra terrestre. Faço essa observação em especial
por considerar equivocada a visão hoje defendida de que ela pode realizar
suas missões de modo independente, como uma força autônoma.
O anexo apontava uma proposta de estrutura geral, observados os
aspectos de adequação àquela do então Ministério do Exército sem introdu-
zir sensíveis modificações; organização inicial reduzida; implantação gradati-
va; vinculação com a estrutura departamental e subordinação do BAvEx a um
Comando Militar de Área; apoio da FAB e da Marinha e centralização inicial
dos meios. Institui as condicionantes que levaram à criação do BAvEx, define
suas missões e a estrutura organizacional. Estabelecia ainda as condicionan-
tes doutrinárias e operacionais que iriam orientar a elaboração dos objetivos
básicos operacionais para os helicópteros a serem adquiridos. Nas condicio-
nantes doutrinárias, destacamos os aspectos abaixo, que caracterizavam com
clareza a atuação da unidade aérea que se pretendia criar:
[...]
b) Dentre as missões atribuídas a esse Btl, avultam de im-
portância as de Assalto Aeromóvel e de Reconhecimento e
Ataque, nesta ordem de prioridade.
c) A realização do Assalto Aeromóvel pressupõe a disposi-
ção de Hlcp de manobra com capacidade de transportar um
Grupo de Combate (GC) completamente equipado.
d) No Assalto Aeromóvel, é importante que seja mantida a
integridade do GC, da mesma forma que num mesmo Hlcp
não sejam transportados GC de Pel distintos.
148 Aviação no Exército - uma visão histórica
ANEXO B – PESSOAL
O relatório se iniciava, e essa era uma convicção de todos, afir-
mando que “A componente ‘PESSOAL’ constitui-se na de maior criticida-
de para a Implantação da Aviação do Exército (Av Ex)”.
Acrescia que:
Propunha que:
ANEXO C – MATERIAL
No anexo, foram listados inicialmente todos os helicópteros em
uso por outras Forças Armadas e factíveis de adoção segundo as missões
previstas para serem realizadas pela Aviação do Exército.
Ressaltava que:
Fundamentos da doutrina
A explicitação dos fundamentos da doutrina de emprego já no
Plano de Implantação mostra o grau de conhecimento dos integrantes da
comissão e a consciência de que, antes da efetiva criação, era preciso de-
finir para que o Exército necessitava de uma aviação orgânica, bem como
estabelecer o farol orientador das demais considerações – “a missão”. Esse
era o marco primacial que iria servir de bússola para as demais ações.
O Plano de Implantação da Aviação do Exército 159
Desenvolvimento da implantação
No que concerne ao desenvolvimento das atividades previstas
no âmbito do plano, propõe a criação de uma Comissão de Implantação da
Aviação do Exército. A ela atribuía a responsabilidade de implementar to-
das as metas definidas pelo plano, o que efetivamente ocorreu com compro-
vado sucesso. A comissão mais tarde foi transformada em Seção de Aviação
do Exército e funcionou na 3ª Subchefia do EME e a ela subordinada.
As aeronaves
Em decorrência dos conhecimentos adquiridos, a comissão
pôde estabelecer no plano orientações para a aquisição das aeronaves.
Foram propostas as condicionantes doutrinárias e operacionais, bem
como alguns requisitos que mais tarde instruiriam a elaboração dos
OOB das aeronaves de manobra e de reconhecimento e ataque. Os co-
nhecimentos amealhados pela comissão já lhe permitiam propor carac-
terísticas de um equipamento que até então não integrava o inventário
do Exército Brasileiro.
Em razão das especificações sugeridas para as aeronaves, o pla-
no apresentava uma relação das empresas fabricantes de helicópteros
que possuíam equipamentos com características as quais atendiam às
160 Aviação no Exército - uma visão histórica
A segunda etapa
A segunda etapa da implantação, a partir de 1996, ficou para ser
regulada em planejamento específico do qual não nos ocuparemos neste
livro.
Depois de sua aprovação pelo chefe do Estado-Maior do Exército,
o plano foi encaminhado ao ministro do Exército. Destacava o chefe do EME
que o documento previa a implantação de uma estrutura em pessoal, a
montagem de uma infraestrutura de instalações e material, o prosseguimento
do processo de aquisição de experiência e a necessidade de recursos
extraorçamentários suficientes. Enfatizava ainda que a proposta baseava-
se em planejamento flexível, simples e exequível e previa a implantação de
modo gradual e seguro, permitindo que ao mesmo tempo que se implantasse
a infraestrutura em pessoal e material o Exército pudesse adquirir a
necessária experiência. Destacava que a implantação representaria um
passo decisivo para um aumento significativo da capacidade operacional e
para elevação do moral de toda a Força.
Como consequência da aprovação do plano e para efetivação
das ações propostas, foi criada a Comissão de Implantação, a quem se
atribuiu a adoção das medidas concretas, a proposta dos atos adminis-
trativos e dos diplomas legais decorrentes, como veremos no capítulo
seguinte.
Capítulo 10
A Comissão de Implantação da
Aviação do Exército
Reprodução estilizada da
portaria de nomeação da
Comissão de Implantação
162 Aviação no Exército - uma visão histórica
Os Requisitos Operacionais
Básicos dos helicópteros de
manobra e de reconhecimento e
ataque
Apoio da Marinha e da
Força Aérea
Seleção e especialização
do pessoal
e para esposa com quem casara não havia dois anos. Pensou nas dificulda-
des que sua opção pela aviação impusera a sua recém-criada família. A casa
apesar de nova ficava em meio a um grande canteiro de obras. A poeira e
o barro faziam parte do dia a dia, sem contar os animais peçonhentos que,
vez por outra, eram encontrados no quintal ou mesmo dentro da casa. A
base ficava longe da cidade, e o transporte era uma dificuldade. Sorte que as
outras famílias estavam sempre dispostas a acudir, em caso de necessidade.
Mais uma vez ele olha para o painel da aeronave, tudo está bem. Lá fora,
no horizonte, algo que parece uma clareira, na verdade uma oca. Aponta
o local para o outro piloto que confirma com um aceno. Volta a pensar em
Taubaté, o canteiro de obras, no hangar recentemente construído, ao qual
nos dias de chuva só se chegava de caminhão, nas mesas de trabalho que
eram na verdade caixotes de peças de aeronaves. Quantas dificuldades. Fal-
tava quase tudo, mas todo começo tende a ser difícil. Pensou nos compa-
nheiros de labuta, oficiais e praças, aqueles pioneiros, quanta gente boa e
de qualidade, todos comprometidos com a nascente Aviação. Lembrou-se,
então, do pouso que fizera horas atrás em um pelotão de fronteira. Um sol-
dado perguntara: “O senhor é da Aeronáutica?” E ele respondeu: “Não, nós
somos do Exército Brasileiro.” Na face do soldado viu um misto de espanto e
contentamento, pois era uma novidade o Exército ter seus próprios helicóp-
teros e pilotos. De repente o seu peito se encheu de orgulho. Sua mente foi
tomada pela sensação única de fazer parte de algo grandioso, pois aquele
jovem pioneiro era integrante de um vetor de modernidade, uma verda-
deira expressão do desenvolvimento do Exército Brasileiro do século XXI e
estava ajudando a escrever uma bela página da história da Força Terrestre:
a criação da Aviação do Exército.
H-13
Em pé, da esquerda para a direita, Ten Bassoli, Ten Avellar, Cap Marcos,
Ten Ygor, Ten Mauro Marques e Ten Alvair; agachados, Ten Albuquerque,
Ten Contreiras, Ten Bispo, Ten Cauduro, Ten Marcilio e Ten Franklin
Gerentes
Tão importante como a função de voar executada pelos pilo-
tos é a de fazer voar, responsabilidade de gerentes e mecânicos. A eles
compete a nobre missão de manter as aeronaves em condições de ope-
ração de modo que os pilotos possam explorar todas as suas capacida-
des com segurança.
278 Aviação no Exército - uma visão histórica
Mecânicos
Como já realçamos, manutenção de aeronaves é uma atividade
que envolve grande complexidade e que, antes da sua execução, neces-
sita de um planejamento minucioso com vistas a prover, durante a sua
realização, todos os meios em pessoal, ferramental e suprimentos ne-
cessários. No entanto, o sucesso dessa atividade depende antes de tudo
de mecânicos altamente capacitados, motivados e cônscios da impor-
tância que representam para a operacionalidade da Aviação. Sua mis-
são de “fazer voar” é tão nobre quanto a de “voar”. Considera-se que um
mecânico só alcança um grau adequado de proficiência após oito anos
do exercício ininterrupto de sua atividade, em decorrência do alto grau
de complexidade da função.
Estive em Taubaté durante o período de elaboração deste livro
na tentativa de colher novos depoimentos e fiquei agradavelmente im-
pressionado no meu contato com oficiais e praças do Batalhão de Ma-
nutenção. A competência e vibração como aqueles militares suplantam
as dificuldades para o desempenho de suas missões, realizando-as com
invejável eficiência, me deixaram entusiasmado.
Os estágios
Ao término dos cursos, as instalações do BAvEx não se
encontravam prontas, e as primeiras aeronaves não tinham sido
recebidas. O afastamento dos militares formados do contato com as
atividades aéreas, seja na operação, seja na manutenção, criaria um
sério incômodo pela impossibilidade de aplicação dos conhecimentos
adquiridos, com a consequente desatualização e a exigência, em particular,
no caso dos pilotos, de uma requalificação O assunto foi resolvido graças
ao excelente clima de entendimento reinante entre os ministros das três
Forças, ao qual já nos referimos ao longo deste livro. Em ligação direta
com os ministros da Marinha e da Aeronáutica, o general Leonidas
obteve a concordância de ambos para a permanência do nosso pessoal
em unidades daquelas Forças até que o 1º Batalhão de Aviação do
Exército tivesse condição de absorvê-los.
Os estágios nas organizações militares operacionais da Mari-
nha do Brasil e da FAB permitiram aos pilotos, gerentes e mecânicos
adquirirem experiência e vivência aeronáutica. No período, o nosso pes-
soal pôde expandir os conhecimentos adquiridos, aprender as rotinas
e as atividades de operações, consolidando inclusive a mentalidade de
segurança de aviação. Foi uma fase importante para o amadurecimento
298 Aviação no Exército - uma visão histórica
Destacou ainda:
Aviação do Exército
Aduziu que:
Amigavelmente
Kerrand
Deixarei para falar mais sobre ele quando me referir às diversas etapas
que culminaram com a celebração do contrato.
Durante minha permanência na diretoria, tive a oportunidade
de ser indicado para realizar o curso de gerente, à semelhança do que
ocorreu com outros oficiais. Seria a oportunidade de obter um tão so-
nhado brevê da Aviação do Exército. No entanto, as minhas atividades
eram de tal monta que solicitei a dispensa de realizar o curso. Pena,
pois gostaria de tê-lo entre as recordações de minha passagem pela
Aviação do Exército.
Em 24 de setembro de 1986, o ministro do Exército, general
Leonidas Pires Gonçalves, em Portaria Ministerial nº 1.039 aprovava a
criação dos distintivos da Aviação do Exército, de piloto do Exército, dos
cursos de especialização e das insígnias de comando da Diretoria de Ma-
terial de Aviação, bem como do 1º Batalhão de Aviação do Exército.
Capítulo 20
O processo de aquisição
das aeronaves
O edital de aquisição
das aeronaves
A concorrência internacional
para aquisição das aeronaves
b. Autonomias
1) Máxima quantidade de combustível utilizável:
– sem tanques auxiliares (em kg ou litros);
– com tanques auxiliares (em kg ou litros).
2) Quantidade de combustível não utilizável;
3) Consumo de combustível (com peso máximo, ao nível do
mar, ISA + 20oC, velocidade de cruzeiro);
4) Autonomia máxima (com peso máximo, ao nível do mar, ISA
+ 20o, sem reserva de combustível);
5) Autonomia máxima (com peso máximo, ao nível do mar, ISA
+ 20oC, com reserva de combustível).
d. Transporte de tropa
Número de assentos para transporte de tropas (não incluir os as-
sentos para os dois pilotos e mecânico de voo).
p. Gancho
1) a capacidade de carga no gancho permitida para os modelos;
354 Aviação no Exército - uma visão histórica
q. Guincho
1) a capacidade de carga no guincho permitida para os mode-
los;
2) o comprimento do cabo do guincho;
3) o tipo de acionamento do guincho (elétrico, hidráulico).
s. Manobrabilidade
1) Capacidade de realização de voos NOE; a razão de su-
bida máxima (com peso máximo, ao nível do mar, ISA +
202C); os limites da faixa de “G” que os modelos podem
suportar e o tipo do rotor principal (semirrígido, rígido,
articulado).
No tocante à “Tecnologia”, foram apreciados, entre outros, os
seguites aspectos:
a. Grau de atualização dos modelos apresentados, indicando a
data de início e previsão de encerramento da fabricação em
série dos referidos modelos.
b. Tecnologia adotada na fabricação da estrutura, equipamen-
tos, componentes e demais itens principais dos modelos
apresentados.
No aspecto “Grau de Confiabilidade e Manutenção”, foram
solicitados para avaliação:
a. Características gerais do sistema de comandos, citando se
são duplos e independentes.
b. Redundância dos sistemas essenciais dos modelos apresen-
tados.
c. Mean Time Between Failure – MTBF (tempo médio entre pa-
nes) dos modelos apresentados, bem como de seus princi-
pais componentes, equipamentos e demais itens essenciais.
A concorrência internacional para aquisição das aeronaves 355
d. “Programa de Manutenção”
a) relação homem/hora necessária para substituição dos
principais equipamentos, componentes e demais itens de
porte;
b) o intervalo de Overhaul (revisão geral) da (o):
– transmissão principal; transmissão intermediária;
transmissão do rotor de cauda; cabeça do rotor princi-
pal; pás do rotor principal e de cauda; servos primários
e auxiliares; motor e seus acessórios; demais itens prin-
cipais dos modelos.
c) características gerais do motor (se modular, intervalo de
inspeção etc.);
2) Programa de manutenção da aeronave (calendárica, horá-
ria etc).
3) Assistência técnica no Brasil.
O objeto do contrato
O objeto do contrato celebrado entre o Exército Brasileiro e
o Consórcio Engesa-Helibras-Aerospatiale envolveu a aquisição de 16
aeronaves Esquilo HB 350 L1, monomotor; 36 aeronaves Panthers AS
365K, bimotor; equipamentos de navegação e comunicações para todas
as aeronaves; ferramental até 3º escalão; documentação técnica; meios
A concorrência internacional para aquisição das aeronaves 365
O contrato
quando poderá ocorrer uma falha. Quanto maior for esse índice, maior
será a confiabilidade do componente e do conjunto. Normalmente, é
medido em horas.
Modificação Mandatória – É a modificação cuja não aplicação
acarreta a imediata interdição de voo do helicóptero. As empresas
são extremamente ciosas em relação à segurança de voo. Seus
departamentos de controle de qualidade funcionam incansavelmente
para a pesquisa dos materiais em uso e de novos materiais que
possam melhorar a segurança de voo. Além disso, todo e qualquer
acidente relatado é pesquisado a fundo, e, se for identificado algum
componente como responsável por ele, a empresa poderá emitir
um boletim de modificação de caráter mandatório. As modificações
mandatórias se originavam do contratado ou eram emanadas por
órgãos oficiais franceses com responsabilidade na homologação de
produtos aeronáuticos. Em caso de ocorrência antes da entrega da
aeronave, ela deveria ser obrigatoriamente incorporada pelo contra-
tado. Via de regra, o ônus da modificação é da empresa fornecedora
do equipamento.
Modificação recomendada – É qualquer modificação sugerida
pelo fabricante que não esteja classificada como mandatória. Ficará a
critério do operador incorporá-la.
Offset – Também denominado de compensação. Estabelece a
aquisição no país comprador de itens em valor igual ao do montante
total do contrato assinado com o país vendedor.
Part Number – Código alfanumérico de referência dado pelo fa-
bricante a determinado item para sua identificação. É a carteira de iden-
tidade do item. Durante a recepção das aeronaves, tive a oportunidade de
fazer com o sargento Borck o que denominávamos o releve (checagem)
dos motores das aeronaves. De cada peça, verificávamos a coincidência
do Part Number com o descrito na documentação da aeronave. Ao todo,
72 motores foram verificados. Ao major Sardo coube a ingrata e complexa
missão de conferir o PN, em quantidade considerável, dos itens de supri-
mentos. Eram tantos que não me atrevo a falar em números.
Recebimento definitivo – Ato em que o Exército, por meio de cer-
tificado específico, reconhecia que os produtos constantes do lote apresen-
tado preenchiam os requisitos técnicos contratuais, dando ao contratado a
quitação da sua entrega. Era antecedido pelo recebimento provisório.
O contrato 377
O contrato
Na sequência, apresentaremos algumas das cláusulas do con-
trato nos limitando a breve comentário sobre o conteúdo de cada uma
delas. Dependendo da área que disciplinavam, elas remetiam aos anexos
nos quais o nível de detalhamento necessário era realizado.
Cláusula de manutenção
Nessa cláusula, ficaram estabelecidas garantias de que o con-
sórcio vencedor proporcionaria a prestação de serviços de manuten-
ção necessários em todos os escalões durante no mínimo o prazo de
vigência do contrato. Aludia ainda ao fornecimento de material e do-
cumentação técnica, bem como ao treinamento de pessoal, os quais
permitissem ao 1º BAvEx executar a manutenção de 1º e 2º escalões e
mesmo algumas intervenções de 3º escalão. Incluía a garantia de que
alguns meios de manutenção seriam nacionalizados progressivamen-
te com apoio de empresas nacionais do ramo aeronáutico e permitia
a manutenção de determinados componentes até o 4º escalão. Este,
também denominado de nível parque, envolvia a recuperação de ma-
terial que necessitasse de ampla revisão ou completa reconstrução de
parte, conjunto ou subconjunto.
Cláusula de garantia
Estabelecia o prazo de duas mil horas de voo ou dois anos de opera-
ção a partir da data do recebimento definitivo das aeronaves pelo 1º BAvEx,
em Taubaté. A garantia envolvia todos os itens componentes da aeronave,
inclusive os fabricados por terceiros. Definia, igualmente, os prazos para
correção ou substituição de item defeituoso e as penalidades que incorre-
ria o contratado em caso de não atendimento aos prazos estabelecidos. Pela
sua importância, a cláusula possuía um alto nível de detalhamento.
A aquisição feita da aeronave totalmente equipada permitia
que em situações de exigência de garantia, mesmo que envolvesse equi-
pamentos diversos, só houvesse um único interlocutor.
Cláusula de qualificação e
treinamento do pessoal
A cláusula de qualificação e treinamento de pessoal teve como
objetivo, além da adaptação aos helicópteros adquiridos, permitir ao
maior número de militares da Aviação do Exército, oficiais e sargentos, pi-
lotos, gerentes e mecânicos, a oportunidade de realizar curso no exterior,
na certeza de que tal medida teria impacto extremamente positivo na ca-
pacitação e na motivação do pessoal envolvido. Isso efetivamente ocorreu.
O curso de pilotos compreendia três semanas dedicadas à parte
teórica (Ground School) e duas semanas de parte prática, nas quais eram
realizadas 10 horas de voo. Previa a qualificação de 72 pilotos. Todos
realizaram a parte do Ground School em Marignane. A parte de voo na
França ficou restrita a 20; 12 foram qualificados como pilotos e 8 como
instrutores. A estes, os instrutores, era prevista a carga de 18 horas de
voo; os demais foram qualificados em voo no 1º BAvEx, em curso minis-
trado pela Aerospatiale.
Trinta e seis mecânicos de voo realizaram o curso em Ma-
rignane, dos quais somente seis concluíram a fase de pista e voo na
França, sendo a complementação dos demais feita em Taubaté. Foram
ainda qualificados em Marignane 18 mecânicos de motores, 12 de es-
trutura e metalurgia, 12 de hidráulica, 8 de eletricidade, 8 inspetores
384 Aviação no Exército - uma visão histórica
Cláusula de transferência de
tecnologia e nacionalização
A cláusula de transferência de tecnologia e nacionalização,
conforme ficou bem demonstrada no discurso do general Leoni-
das, ministro do Exército, por ocasião da cerimônia de assinatura
do contrato, era, e é ainda hoje, uma necessidade que se impunha.
Não era mais o momento de aceitar “caixas-pretas”. A adoção dessa
cláusula era uma forma de o Exército apoiar a indústria aeronáutica
O contrato 385
Cláusula de fiscalização
Pormenorizava as condições gerais para a fiscalização do de-
senvolvimento do contrato pelo Exército. Abordava, com minúcia, as
ações que seriam realizadas por ocasião dos recebimentos provisório
e definitivo.
A cláusula de financiamento
Como já vimos anteriormente, o coronel de Artilharia QEMA
Valentim Angelo Teixeira desempenhou como chefe da Assessoria Ad-
ministrativa (A/5) e ordenador de despesa do Departamento de Mate-
rial Bélico papel de capital importância na elaboração, discussão e ges-
tão da parte financeira do contrato da Aviação do Exército.
As discussões e a elaboração do “contrato” econômico-finan-
ceiro foram complexas e exigiram um grande esforço de todos os envol-
vidos. Conforme a proposta do Consórcio Helibras-Aerospatiale, a em-
presa francesa garantia o financiamento de somente 80% do valor total
da compra e concedia um prazo de carência de dois anos para o início
do pagamento, devendo o down payement (entrada), no valor de 20%,
ser pago com recursos do próprio Exército. No entanto, o ministro do
Exército não pretendia utilizar os recursos do Fundo do Exército para fa-
zer esses pagamentos e determinou que fosse encontrada outra fonte de
390 Aviação no Exército - uma visão histórica
falar com o tal diretor. Eram mais de cinco horas da tarde e dirigi-
me, sem perda de tempo, ao BC, comunicando antes ao vice-chefe
do DMB, Gen Décio, a ordem que recebera do ministro. Chegando
ao BC, fui diretamente para o gabinete do dito diretor, sendo
informado pela secretária que ele estava numa reunião e que
não havia hora certa para terminar, mas que ele ainda retornaria
ao seu gabinete antes de deixar o BC. Informei-lhe que eu havia
recebido ordens do ministro do Exército para não voltar sem falar
com o dito diretor e que eu também não tinha hora para sair de
lá e iria esperar até que a reunião terminasse. Passadas quase
uma hora e meia, adentrou na sala um funcionário do BC que
eu já conhecia de outras oportunidades e com quem mantinha
um ótimo relacionamento. Por feliz coincidência, ele agora era
o chefe de Gabinete do diretor com quem eu precisava falar.
Perguntou-me porque eu estava ali àquela hora, acrescentando
que só podia ser algum ‘pepino’. Disse-lhe do que se tratava e
quais as consequências advindas da indefinição do BC. O Exército
estava prestes a se tornar inadimplente por falta de recursos para
saldar compromissos que se venceriam a curto prazo. Expliquei-
lhe que, mesmo após a solução, ainda demandaria alguns dias
para a formalização do contrato de financiamento e a liberação
dos recursos e que o prazo estava se esgotando. A solução teria
que ser urgentíssima. Após ouvir todas as minhas ponderações
sobre o assunto, ele virou-se para mim e disse: ‘Deixe comigo,
o assunto está resolvido; eu me entendo com o diretor; pode
informar isso ao Min Leonidas.’ Pedi-lhe, então, que sendo assim
me fornecesse um documento qualquer, mesmo que fosse uma
carta, confirmando a aceitação das condições do financiamento
propostas e que o BC avalizaria o contrato de financiamento. De
posse de uma carta, redigida na hora pela secretária, voltei ao
QG do Ex e fui diretamente ao Gabinete do ministro, que ainda
se encontrava lá, apesar de já serem mais de oito horas da noite.
Dei-lhe ciência de que o assunto estava resolvido, que os recursos
estavam assegurados e mostrei-lhe a carta do BC com essa
afirmação. Recebi seus agradecimentos pelo cumprimento da
missão, que ele afirmou saber ter sido difícil, e fui para casa, com
menos uma preocupação, pelo menos por enquanto.
394 Aviação no Exército - uma visão histórica
A Comissão de Fiscalização
e Recebimento de Material
no Exterior
Constituição da comissão
Já nos referimos anteriormente à missão contratualmente es-
tabelecida para a COMFIREMEX quando fizemos uma rápida digressão
a respeito das principais cláusulas do contrato. Abordaremos a seguir
como ela foi estruturada e como se desincumbiu de sua missão.
As atividades
As atividades da COMFIREMEX, em Marignane, se iniciavam
diariamente às 8h e prosseguiam normalmente até as 18h. Tendo em
vista a defasagem de até cinco horas em relação ao horário brasileiro, o
expediente sofria as alterações que se fizessem necessárias, atendendo
às determinações da Diretoria de Material de Aviação do Exército.
Os testes de estanqueidade
A verificação da estanqueidade das aeronaves, ou seja, da sua
vedação contra a penetração de líquidos no interior da célula e do radar
era outra atividade de fiscalização e estava compreendida entre os itens
de verificação no solo. O teste era realizado em instalação específica onde
a aeronave era submetida a jatos de água sob pressão, simulando uma
precipitação em condições de voo. A cabine de testes de estanqueidade
era semelhante a um lava a jato. O helicóptero era posicionado no centro
A Comissão de Fiscalização e Recebimento de Material no Exterior 423
O acompanhamento da produção
O acompanhamento da produção era mais uma atividade
da comissão e tinha como objetivo verificar se o ritmo de fabricação
de cada aeronave indicava que os prazos estabelecidos no contrato
seriam cumpridos. A presença de representantes do cliente na linha
de montagem não era um procedimento usual. No entanto, objeti-
vando inclusive a melhor capacitação do nosso pessoal, acordamos
com a direção da empresa um plano de acompanhamento envol-
vendo a presença do tenente-coronel Albernaz e do sargento Borck
pela manhã na linha de produção. A bem da verdade, é importante
que se diga que jamais fui obstado de, quando julgasse necessário,
me fazer presente no acompanhamento da produção com meus au-
xiliares.
A DMAVEX era constantemente informada sobre a progres-
são da produção e a respeito dos problemas porventura identifica-
dos. A atividade permitia que aprofundássemos os conhecimentos
sobre as aeronaves e suas partes constitutivas. Permitia-nos ainda
estabelecer um convívio amigável com o pessoal envolvido na produ-
ção, o qual é sempre desejável, pois tornam a busca de informações
menos trabalhosa.
O voo de recebimento
O voo de recebimento tinha a finalidade de verificar a confor-
midade do helicóptero com as performances previamente estabelecidas
no contrato e no respectivo manual. No caso de identificada quaisquer
discrepâncias, a aeronave deveria passar pelos ajustes que se fizessem
necessários. Aquelas identificadas em voo, à medida que vão sendo sa-
nadas, permitem que a aeronave atinja as condições de operação previs-
tas nos manuais do equipamento. Também se constituía um elo impor-
tante na segurança da operação do equipamento.
vez falei para o Bispo que responder que: ‘Se existem tra-
vestis brasileiro em Paris, é porque os franceses gostam.’
O dono do hotel onde os casais se hospedavam emprestou
a coberta de mesa para fazermos a ceia. O Bispo perguntou
se tinha vinho para vender, e ele respondeu que não podia
vender vinho. Ele foi simpático e ficou conversando, mas
ao saber da nossa nacionalidade, fez o comentário que me
referi. O Bispo respondeu utilizando o meu comentário. O
francês, percebendo a indelicadeza, se retirou rapidamen-
te, mas voltou alguns minutos depois com uma garrafa de
vinho, falando que não podia vender, mas podia dar. As-
sim, comemoramos a chegada dos anos 90 e a minha pro-
moção a capitão.
Fazíamos as refeições na fábrica sem custo, com direito a
uma garrafa de vinho. Infelizmente, alguns brasileiros pega-
vam o vinho e não tomavam, com o objetivo de trazer para o
Brasil. Uma funcionária que controlava o caixa uma vez co-
mentou, irônica, vendo uma mesa de brasileiros com várias
garrafas sobre a mesa: ‘Beaucoup des boutteiles.’’
Sou muito agradecido ao Exército por essa oportunidade.
Aprendi muito viajando para o Primeiro Mundo.
Voo de recebimento do Av Ex 01
A solenidade de entrega do Av Ex 01
A Comissão de Fiscalização e Recebimento de Material no Exterior 441
Os relatórios periódicos
Os relatórios transmitiam uma síntese das atividades ocorridas
no período, que já haviam sido detalhadas em ofícios e fax enviados ao
nosso escalão superior. Eles eram normalmente de periodicidade tri-
mestral, podendo de acordo com o vulto das atividades serem elabora-
dos em prazo menor, como ocorreu no nosso primeiro ano de funciona-
mento quando praticamente a cada mês emitíamos um relatório.
As discrepâncias verificadas ao longo do processo de recebimento
dos lotes de suprimentos, ferramental, meios auxiliares de instrução, trei-
namento de pessoal e de aeronaves farão parte dos nossos comentários
que se seguem e estavam presentes em todos os relatórios. Algumas delas
requeriam reiteradas discussões até a definição das responsabilidades e a
tomada das providências para a introdução das correções, que, em algumas
ocasiões, envolviam um ciclo longo até que o problema fosse resolvido.
Na maioria das vezes, faremos comentários sobre as situações
abordadas nos relatórios originais, evitando simplesmente de reprodu-
zi-las na integralidade, o que daria uma visão mais detalhada do nosso
trabalho, mas que, certamente, cansaria nossos leitores. Por essa razão,
faremos sempre que possível uma síntese da síntese, visando tornar a
leitura mais “palatável”. Condensá-los foi uma tarefa difícil e que me exigiu
A Comissão de Fiscalização e Recebimento de Material no Exterior 451
´
Teste de abastecimento em campanha. Nas duas fotos da esquerda, aparecem o
coronel Roberto, 1º subcomandante do 1º BAvEx, e o coronel Wanderley, na época,
na DMAvEx
decisão é sua.” E assim foi feito, e o fato não mais se repetiu. Se não fosse
um assunto tão sério esse “conflito de cabine” dava para a gente rir. Foi
o que ocorreu quando relembramos o fato.
O vulto das atividades ocorridas durante a nossa permanência
na chefia da comissão efetivamente foi muito maior do que as aqui ex-
postas. Precisaríamos de um outro livro para comentar todos os eventos
ocorridos. O que apresentamos, após uma grande depuração dos dados
constantes dos relatórios, permite uma pálida visão do nosso trabalho.
No entanto, nosso objetivo era dar um ideia geral dos problemas enfren-
tados, de como funcionava a comissão e, em particular, de demonstrar
a necessidade de mantê-la, quando se tratar da aquisição de material
aeronáutico.
Capítulo 25
Cerimônias e visitas
As cerimônias e visitas foram outras ocasiões que se inseriram no
extenso quadro de atividades da comissão. As solenidades davam a exata
dimensão da importância da parceria que se iniciava entre a Aerospatiale e
o Exército Brasileiro. As visitas se dividiam em duas categorias, isto é, as re-
cebidas pela comissão, que tinham como intuito a verificação do nosso fun-
cionamento, e aquelas realizadas pela comissão, cujo objetivo era buscar in-
formações de interesse da Aviação do Exército. Vamos colocar em destaque
somente as mais significativas; as demais já fizemos alusão anteriormente.
Da esquerda para a direita, Cel Masi, adido militar do Exército; O Sr. Bigay, PDG da Aeros-
patiale Helicópteros; Ten Cel Silva Maia; o Sr. Lordereau, diretor comercial da Aerospatiale
Solenidade de concessão da
Medalha do Pacificador a integrantes do SIAR
Outro evento significativo foi a solenidade de concessão da Me-
dalha do Pacificador aos representantes do SIAR, em Marignane. Em li-
nhas gerais, a Surveillance Industrielle pour l’Armement (SIAR) era um
organismo da Delegation Generale pour l’Armement (DGA), órgão do
Ministério da Defesa da França, e tinha entre outras responsabilidades
fiscalizar a qualidade dos produtos da área de Defesa fabricados pelas
empresas francesas, assegurando a efetividade deles, identificando possíveis
492 Aviação no Exército - uma visão histórica
Conclusão da missão
Os franceses
Tenho escutado muitos comentários desabonadores a respeito
dos franceses, normalmente provenientes de pessoas que jamais se re-
lacionaram estreitamente com eles ou só tiveram contatos esporádicos,
sem maior profundidade, e que emitem um juízo açodado. Não comungo
dessas opiniões.
Tive a oportunidade de conviver profissionalmente com repre-
sentantes da Aerospatiale por praticamente três anos, se forem consi-
derados os contatos estabelecidos por ocasião da apresentação das pro-
postas e aqueles decorrentes das reuniões de discussão para elaboração
do contrato. Além disso, estabeleci um grande círculo de amizades na
cidade onde morei. Conheci franceses de todos os níveis.
Ao longo de todo o período de minha chefia da COMFIREMEX,
jamais tive recusada uma solicitação, mesmo que algumas delas tives-
sem sido antecedidas de acaloradas discussões, e as soluções não tives-
sem sido obtidas com a presteza desejada. Os contratos aeronáuticos
envolvem grande complexidade e grandes custos. É normal que a defesa
dos interesses de cada instituição pelos profissionais que as representam
sejam feitas com entusiasmo.
No tocante às atividades das quais participei diretamente, volto
a comentar, a despeito de enfrentar situações de extremo stress, jamais
vi negado ou desrespeitado um direito adquirido pelo contrato cele-
brado. Houve ocasião em que, os leitores devem lembrar, solicitamos
a troca de quatro trens de pouso na mesma aeronave, o que foi feito,
apesar dos custos envolvidos e do atraso decorrente para a recepção da
aeronave. No meu círculo pessoal, incluindo o grande número de amigos
de meus filhos, sempre tive provas de amizade e simpatia. Resolvi fazer
essas considerações por me parecer um dever de justiça tentar desfazer
uma visão, de alguns, que julgo equivocada e, a meu ver, preconceituosa.
O retorno
Retornei ao País em setembro de 1991 com grande desejo e espe-
rança em poder continuar prestando meus serviços à Aviação do Exército,
atividade que ajudei a criar. No entanto, já era, como dizemos, coronel full e
Conclusão da missão 503
ainda não havia comandado. Dessa forma, fui designado para o COTER, onde
desempenhei função sem qualquer correlação com a Aviação, na qual eu
gostaria de ter continuado a ser útil como havia ocorrido até aquela opor-
tunidade. Todavia, uma leva de novos companheiros de grande competên-
cia se encarregava de dar sequência, com o mesmo entusiasmo e dedica-
ção, ao trabalho pioneiro que fora brilhantemente realizado.
Meus laços com a inesquecível Aviação do Exército não se rom-
peram nessa ocasião. Após a conclusão do comando do 1º Regimento de
Cavalaria Mecanizado, situado em Itaqui, no Rio Grande do Sul, unidade
de minha Arma de origem, retornei ao Estado-Maior do Exército para a
mesma 3ª Subchefia em que outrora passei a época mais profícua da mi-
nha vida profissional e onde iniciei minha história com a querida Aviação.
Na ocasião, tive a oportunidade de participar da elaboração da Diretriz
para Prosseguimento da Implantação da Aviação do Exército. Esse foi o
último evento que me ligou à Aviação do Exército. Dessa forma, termina a
minha longa trajetória com a Aviação do Exército. Gostaria que ela tivesse
sido muito mais extensa.
Em 29 de março de 1999, o presidente da República francesa,
Grande Mestre da Ordem Nacional do Mérito, me proporcionou uma
grande honra ao conceder-me o Grau de Cavaleiro. O ato ocorreu oito
anos após o término de minha missão e me provocou enorme surpresa e
orgulho, pois foi uma honraria fruto de trabalho e do respeito profissio-
nal. As minhas relações com o SIAR sempre foram norteadas pelo mais
alto grau de profissionalismo, entendimento e respeito. A concessão da
honraria atesta que nosso trabalho contribuiu de algum modo para o
estreitamento das relações entre o Exército Brasileiro e as Forças Arma-
das francesas.
Sempre fugi dos elogios, mas passei toda a minha vida militar
tentando merecê-los dando o máximo de minha capacidade para o inte-
gral cumprimento de minhas responsabilidades.
Capítulo 27
Necessidade do estabelecimento
de um plano de carreira para a
Aviação do Exército
disse: “Silva Maia, vocês não podem deixar que a Aviação se torne uma
casta.” Concordo plenamente. Isso somente poderá ocorrer caso a Avia-
ção do Exército permaneça na situação em que se encontra, uma “espe-
cialidade” que transcende totalmente o conceito que temos a respeito
desse assunto. A criação de uma Arma de Aviação é uma necessidade
decorrente de sua peculiaridade. Parece-me já existir uma anuência tá-
cita do Exército uma vez que que se admite a existência de patrono para
uma atividade que é considerada especialização. Além disso, as unida-
des hoje são denominadas “de Aviação do Exército”, a exemplo das OM
de Infantaria, Cavalaria etc. Talvez se considere que os efetivos atuais
nas OM de Aviação do Exército, que no futuro se expandirão em virtude
de necessidade operacional, não são compatíveis com uma nova Arma.
Lembro, no entanto, que todos os comandos apoiados, a partir do esca-
lão brigada, precisam ter em seus respectivos estados-maiores especia-
listas no emprego das aeronaves, no caso pessoal de Aviação, para o pla-
nejamento das operações nas quais se insira o emprego de helicópteros.
Outro fato a considerar é que o piloto precisa ter certas carac-
terísticas particulares que podem não ser suficientemente trabalhadas
durante os atuais cursos de formação na AMAN.
Também se precisa levar em conta que o militar selecionado para
tornar-se piloto após sua formação não deverá frequentar cursos que lhe
desenvolvam áreas não muito adequados à pilotagem de aeronaves.
A criação da Arma de Aviação no Exército é um assunto contro-
verso e apresenta na atualidade vantagens e desvantagens. Minha afir-
mação considera o fato de que no futuro, com o crescimento das unida-
des de helicópteros, o que me parece inexorável, a nova Arma, em razão
do aumento dos efetivos, se tornará impositiva. Entre as vantagens da
criação da Arma de Aviação, avulta a importância de se entregar às uni-
dades de helicópteros pessoal, oficiais e sargentos, preparado ao longo
do curso de formação para o exercício de suas atividades específicas,
com reflexos positivos na operacionalidade das unidades aéreas. Além
disso, permitirá que o militar de Aviação permaneça em sua atividade
durante toda a sua carreira, evitando-se transferi-lo, como ocorre hoje,
para organismo sem ligação com a atividade, provocando sua desatuali-
zação e a perda de qualificação.
O detalhe a considerar é que as potencialidades a serem de-
senvolvidas em pilotos e mecânicos não são exatamente as mesmas que
Necessidade do estabelecimento de um plano de carreira para a Aviação do Exército 507
As consequências da adoção da
Aviação do Exército nas atividades
operacionais e administrativas do
Exército
Conclusão
ANEXO A – DOUTRINA
1. FINALIDADE
Apresentar, de forma conclusiva, o resultado do trabalho da
equipe, relativo aos aspectos doutrinários para a implantação da Avia-
ção do Exército.
2. DESENVOLVIMENTO
a. Consideração geral
1) Preliminarmente, a equipe realizou intensa pesquisa bibliográ-
fica em variadas fontes de consulta nacional (monografias e trabalhos do
EME) e estrangeira (manuais e publicações especializadas) sobre o assunto.
2) A viagem de estudos, realizada às bases aéreas da FAB de
SANTA MARIA e de SANTOS e à Base Aeronaval de S. PEDRO DA ALDEIA,
propiciou a insubstituível oportunidade de aquisição de ensinamentos,
aumentando a soma de conhecimentos na área em estudo.
b. Missão da Aviação do Exército
1) Estudos iniciais induziram à necessidade de se definir a Mis-
são Geral, as Missões Básicas e as Missões Especiais, inseridas no largo
espectro da missão a ser cumprida pela Aviação do Exército.
516 Aviação no Exército - uma visão histórica
1) Missão
Apoiar o Grande Comando, principalmente na execução de
ações de assalto aeromóvel, comando e controle, ações anticarro, ata-
que ao solo reconhecimento e segurança, observação e limitado Ap Log.
2) Possibilidades
– Proporcionar meios aéreos para a execução do assalto aero-
móvel com valor de um BI, em uma só vaga;
– Realizar o combate anticarro em ações independentes ou com
frações de tropa anticarro;
– Proporcionar escolta armada e apoio de fogo aéreo limitado
às operações aeromóveis;
– Realizar o reconhecimento e a segurança em ações indepen-
dentes ou em combinação com unidades de Cavalaria;
– Vigiar extensas áreas, como elemento de economia de forças;
– Proporcionar meios aéreos para as ações de comando e controle;
– Proporcionar meios aéreos para a execução de golpes de mão,
infiltração e exfiltração;
– Proporcionar meios aéreos para uma reação rápida da F Ter,
deslocando reservas e limitados meios de apoio de fogo;
– Proporcionar limitado apoio aéreo para os trabalhos de en-
genharia;
– Realizar, de forma limitada, o apoio logístico;
– Realizar evacuação aeromédica;
– Quando dotado de equipamento adequado, participar de ope-
rações de Guerra Eletrônica;
– Participar de operações de Defesa Interna, particularmente
nas ações contraguerrilha;
– Proporcionar meios aéreos para operações psicológicas;
– Realizar de forma limitada, a. manutenção, ressuprimento e
recuperação de suas aeronaves;
– Instalar e operar um aeródromo de campanha para Hlcp;
– Realizar a defesa imediata de suas instalações.
3) Limitações
– Atuação dependente das condições meteorológicas adversas;
– Elevado consumo de combustível;
– Necessidade de pessoal e equipamento altamente especiali-
zado para operar e manutenir os helicópteros;
Anexo 1 519
1. FINALIDADE
Apresentar, sob a forma de trabalho de estado-maior os estudos so-
bre a área de PESSOAL, para a implantação da Aviação do Exército (Av Ex).
2. IMPORTÂNCIA
A componente “PESSOAL” constitui-se na de maior preocupa-
ção para a Implantação da Aviação do Exército (Av Ex).
Os altos custos envolvidos, o caráter eminentemente técnico da ati-
vidade, a necessidade do profundo conhecimento do emprego do material
e da Força a ser apoiada, a exigência da “criação” de uma “mentalidade de
aviação” intimamente compromissada com a segurança colocam o setor de
PESSOAL em evidência, quanto à qualidade do desempenho futuro da AvEx.
A variada gama de missões a serem desempenhadas e o relevo
das funções daqueles que, em terra, “fazem voar” – mecânicos, contro-
ladores de voo etc. –, permitindo o eficiente desempenho operacional,
indicam a necessidade de formar um todo homogêneo, direcionado a
um único objetivo:
– “ALÇAR, COM EFICIÊNCIA E SEGURANÇA, A F TER À 3ª DI-
MENSÃO DO MODERNO CAMPO DE BATALHA.”
3. GENERALIDADES
A preparação do “PESSOAL” para atendimento às necessidades
da implantação da Av Ex compreende as ações de:
524 Aviação no Exército - uma visão histórica
– RECRUTAMENTO
– SELEÇÃO
– FORMAÇÃO
– ADESTRAMENTO
Desenvolver-se-á, a princípio, em duas fases:
Exército
1ª fase Marinha Mar
Exército Marinha
1986-1991 FAé FAé
Força Aérea
2ª fase
Exército Exército Exército Exército
1992-1995
Voluntário Compulsório
Vantagens: Vantagens:
– Comunhão de interesse entre a instituição – Não visualizadas
e o candidato com o consequente
comprometimento de desempenho pelo último.
Anexo B – Pessoal 525
b) Proposta
Adotar o recrutamento em caráter “VOLUNTÁRIO”.
2) Universo a recrutar
Carreira Temporário
Vantagens: Vantagens:
– Mentalidade militar; – Menor custo na formação do
– Homogeneidade na formação Piloto “não operacional”;
militar; – Evitar a ocorrência de claros
– Vivência no emprego da F Ter de oficiais da ativa;
pelo – Grande contingente disponível;
exercício da carreira na tropa; – Preparação de reserva.
– Possibilidade de permanência Desvantagens:
maior no serviço ativo, compensando – Formação militar heterogênea;
os altos custos de formação; – Menor conhecimento do
– Possibilidade de acesso à EsAO e emprego da F Ter;
ECEME, fundamental ao – Necessidade de curso específico
conhecimento do emprego dos para nivelamento de
diversos escalões da Força; conhecimentos doutrinários;
– Possibilidade de exercício, na – Tempo de permanência em serviço
AvEx, de cargos de Of Sup e General; ativo reduzido;
– Facilidade de recrutamento; – Baixa relação custo x benefício
Desvantagens: quando confrontada com o
– Torna necessária a compatibil- tempo de permanência em Sv ativo;
idade dos efetivos formados pela – O conhecimento de pilotagem
AMAN para atendimento às novas civil anterior não exclui a necessidade
necessidades; de curso de formação de piloto
– Inicialmente, acarretará claros militar;
em OM de tropa. – Constatação pelas demais forças
da deficiência como piloto operacional;
526 Aviação no Exército - uma visão histórica
c) Civil
Como os oficiais temporários são oriundos do meio “civil”, con-
sidera-se esta categoria já analisada.
d) Quadro Complementar
O quadro ainda não foi objeto de regulamentação, o que impe-
de sua análise nesta fase.
e) Proposta
O universo da ativa satisfaz às necessidades da AvEx, principal-
mente na fase de implantação. Apresenta vantagens significativas em
relação às demais possibilidades de recrutamento.
Considere-se, ainda, que o temporário, no caso do oficial, conforme
declarações obtidas nas demais F Sing, somente tem se mostrado eficiente
no desempenho da atividade de instrutor de pilotagem. O interesse de voar
o máximo possível, visando à formação de currículo que o habilite ao exercí-
cio de atividade civil posteriormente, é característico no oficial temporário.
Sua atuação no emprego operacional tem sido passível de restrições. Acres-
ça-se, em relação aos oficiais temporários, que a habilitação técnica em pilo-
tagem não exclui a necessidade de formação tática, que envolve altos custos
e representa período significativo na formação do piloto operacional.
3) Responsabilidade de Execução.
A responsabilidade exclusiva pelo recrutamento caberá ao
Exército. A sistemática a ser adotada deverá ser aquela atualmente
aplicável para o recrutamento de pessoal aos cursos de especialização na
F Ter, consideradas as peculiaridades e exigências da atividade da Aviação
do Exército (Av Ex) em seus múltiplos aspectos.
b. Seleção
1) Premissa Básica
O recrutamento far-se-á em torno, exclusivamente, do universo
de “militares de CARREIRA”.
2) Responsabilidade
Anexo B – Pessoal 527
– Semicondutores (praças)
– Inglês Técnico (Of e praças)
– Solda em aeronaves (praças)
– Metalurgia básica em aviação (Of e praças)
– Controle de corrosão em aeronaves (Of e praças)
– Segurança de aviação (Of e praças)
(4) Conclusão Parcial quanto à Formação na Marinha
(a) O curso de formação de oficiais pilotos na Marinha, à seme-
lhança do que ocorrerá em relação ao pessoal destinado à Aviação do
Exército, habilita militares sem quaisquer conhecimentos anteriores em
operação de helicópteros (teórica ou prática). O aproveitamento pelo
Exército é perfeitamente pertinente e exequível na medida em que não
exigirá adaptação significativa do currículo do CIAAN.
O recebimento pela Marinha de novos helicópteros, em 1986, e
a atual disponibilidade em instrutores deixa antever a possibilidade de
aquele Centro apoiar o Ex na formação de pilotos.
(b) No tocante à formação de graduados mecânicos, ressaltam os
dois níveis de formação; o primeiro, destinado a habilitar marinheiros às
funções de auxiliar de manutenção e de mecânico de 1º escalão (fiel); o
segundo, com caráter complementar, aperfeiçoa o marinheiro especialis-
ta, alçado à graduação de 3º Sgt, habilitando-o ao exercício da função de
mecânico nos escalões da Força Aeronaval. Os cursos de Subespecializa-
ção e expeditos completam as necessidades de técnicos para apoio ao voo.
Esta sistemática constitui-se adequada às necessidades da F Ter.
b) Força Aérea Brasileira (FAB)
(1) Pilotos
(a) OM formadora: 1º/11º GAv (Santos/SP)
(b) Desenvolvimento da formação
A formação de piloto de helicóptero na FAB é dividida em duas
etapas, envolvendo conhecimentos de caráter técnico e tático.
Em função de sua formação acadêmica, o oficial da FAB, futuro
piloto de helicóptero, ao iniciar o curso leva em sua “bagagem” profissio-
nal qualificações sobre ambientação aérea, voo por instrumentos e no-
ções teóricas sobre aviação que correspondem no curso similar realizado
na Marinha (CIAAN) à fase teórico-prática, com duração de 26 semanas.
(c) Conclusão Parcial
(1.1) O curso de formação de pilotos na FAB encontra-se
532 Aviação no Exército - uma visão histórica
– Empresas civis;
– Exterior;
– No próprio EB
Combinação de duas ou mais hipóteses.
a) Peculiaridades da formação de pilotos e graduados especia-
listas na MB e FAB
A Marinha e a Força Aérea apresentam algumas peculiaridades
que as tornam distintas, na formação de pessoal para operação (pilotos)
e manutenção (especialistas) de helicópteros.
Adoção de uma só
Simultâneo
estrutura
(1) Piloto
30 semanas (Estimado. Ainda objeto de confirmação)
(2) Graduados especialistas
Formação: 52 semanas
Especialização: 12 semanas
c) Prazo mínimo a considerar
Pela adoção simultânea das estruturas de formação da FAB e
da Marinha:
(1) Piloto
52 semanas
(2) Graduados especialistas
64 semanas
Com vistas a evitar a postergação do recebimento do 1º lote de
aeronaves, caso tal medida se faça necessária, a adoção da estrutura da
Marinha para a preparação de pessoal, para o recebimento da 1ª aquisi-
ção, é a mais aconselhada por:
– desenvolver-se em períodos semelhantes para oficiais e sar-
gentos (52 semanas e 44 semanas);
– permitir a realização de estágio entre o término da formação
e o 1º recebimento das aeronaves;
– homogeneizar a formação de pilotos e mecânicos;
– formar quadros especificamente para atuação na área de he-
licópteros.
5) Início da formação de pilotos e graduados especialistas
A qualificação de pilotos e graduados especialistas deverá pre-
ceder o desenvolvimento de quaisquer atividades na implantação, con-
siderando que:
– a eficiência da manutenção e operação dos equipamentos é
consequência direta da aptidão pessoal do pessoal;
– é necessário, à época do recebimento do material, possuir
pessoal altamente qualificado, desde o início do efetivo emprego da
AvEx.
d. Qualificação de pessoal de apoio de terra
Foram consideradas como atividades de apoio de terra:
– Segurança (de instalações, equipamento e de voo);
– Apoio ao comando (atividades relacionadas com pessoal, in-
formações, operações e apoio logístico).
1) Segurança
538 Aviação no Exército - uma visão histórica
a) De instalações
Constituída de pessoal de guarda, destinado a prover seguran-
ça ao espaço físico na sede do Batalhão e às suas instalações.
Para prover segurança às aeronaves estacionadas em campanha.
O recrutamento, seleção e formação desenvolver-se-ão segun-
do a atual sistemática em vigor no Exército, para as demais OM de tropa.
b) De equipamento
Nesta categoria, inclui-se, somente, o pessoal especializado em
combate a incêndio de aviação.
O recrutamento e seleção far-se-ão da mesma maneira como
ocorre, atualmente, nas demais OM de tropa.
A formação será procedida com auxílio das outras F Sing. e Cor-
po de Bombeiros.
c) De voo
Através de cursos específicos a serem realizados nas outras
Forças Singulares, segundo as necessidades identificadas por ocasião da
implantação da AvEx.
2) De apoio ao comando
A atividade de apoio ao comando na AvEx, em linhas gerais,
será desenvolvida de modo semelhante às ações desenvolvidas em OM
de tropa. Logo, as atividades de recrutamento, seleção e formação são
aquelas em desenvolvimento na F Ter.
e. Qualificação de pessoal para o desempenho de função em ór-
gão de apoio à Av Ex
Considerando a necessidade da criação de órgão de apoio especí-
fico – Diretoria de Aviação –, destinado ao provimento de necessidade da
Av Ex e, por serem altamente técnicas as atividades a serem desenvolvidas
naquele órgão, propõe-se que:
– os cargos a serem desempenhados por oficiais, nas diversas
assessorias da futura diretoria, sejam ocupados preferentemente por
habilitados em pilotagem de helicópteros;
– os cargos de graduados, nas áreas de manutenção e supri-
mento, sejam exercidos por militares especialistas (mecânicos).
Não há necessidade de ser piloto ou mecânico, basta um es-
tágio em órgãos afins na MB e na FAB, como foi previsto no quadro
abaixo.
f. Efetivos a formar
Anexo B – Pessoal 539
c) Graduados e especialistas
Necessidade mínima de 50 (cinquenta) especialistas/ano a
partir de 1986, distribuídos pela Marinha e FAB
2) Estágios
a) Na Marinha e Força Aérea
Para pilotos e graduados em sequência à conclusão da formação.
b) Na indústria fornecedora de helicópteros
Precedendo o recebimento das aeronaves, para pilotos e mecâ-
nicos, inclusive a preparação de instrutores e monitores.
c) No exterior
Para o comando do BAvEx
c. Adestramento
1) No exterior
Junto aos exércitos de nações amigas que possuam aviações orgâ-
nicas.
Somente para pilotos já formados.
d. Recrutamento, seleção e formação de outros recursos humanos
1) Recrutamento e seleção
De acordo com a atual sistemática de recrutamento e seleção de
graduados e soldados
2) Formação
a) Para atividades não especializadas
Conforme os programas de formação e adestramento em vigor
b) Para atividades especializadas
Através de cursos expeditos fora do Exército, em espe-
cialidades tais como:
Combate a incêndio, combustíveis de aviação, solda em aerona-
ves, controle de corrosão, segurança de aviação e outros
e. Providências exigidas
1) Ligação com as demais Forças Singulares (MB e FAB), no
sentido de:
– detalhar as condições de apoio;
– proporcionar facilidades à realização de contatos do pessoal
responsável pela implantação da Av Ex com órgãos daqueles ministérios;
– solicitar oficiais de ligação daquelas Forças para assessora-
mento à Comissão de Implantação.
2) Aumento dos efetivos do Exército para o atendimento das
necessidades da Aviação do Exército.
542 Aviação no Exército - uma visão histórica
Adendo 1
Pilotos
Total: 10 Total: 10
2. Graduados especialistas
Semicondutores (praças)
Meteorologia básica
(Of e praças)
Controle de corrosão
(Of e praças)
l. FINALIDADE
Apresentar uma proposta para a implantação da Aviação do
Exército (Av Ex) no tocante aos aspectos da área de material.
2. DESENVOLVIMENTO
a. Tipos de aeronaves
1) Inicialmente, a equipe realizou uma pesquisa bibliográfica,
coletando os principais modelos de helicópteros utilizados nas forças
armadas nacionais e estrangeiras.
De posse da definição das missões e dos requisitos operacio-
nais para atendê-las, foram selecionados, basicamente, dois tipos de he-
licópteros:
a) De Manobra
(1) Estados Unidos
– Bell 205/UH-1H
– Bell UH-1N (212)
– Bell 214 ST-Sikorsky UH-60A Black Hawk
– Sikorsky AUH-76
(2) França
– Aerospatiale AS 332B Aerospatiale Super Puma
– Aerospatiale AS 365F Dauphin 2
(3) Itália
546 Aviação no Exército - uma visão histórica
Marinha
f) Ensaios em voo
– ensaios mecânicos, funcionamento geral da aeronave, verifi-
cações de performances (Anexo 6);
– ensaios de equipamentos opcionais (Anexo 7);
– voo noturno (Anexo 8);
– verificações do funcionamento dos equipamentos rádio e de
navegação (Anexo 9);
– ensaio específico para verificação do piloto automático (Ane-
xo 10);
– ensaio específico para verificação de vazamentos de óleo
(Anexo 11).
b) Execução
1) Verificação no solo
Consideram-se neste item as observações realizadas pela Co-
missão antes e durante o período contratual, de recebimento da aero-
nave:
a) Degraus de Comando
Face ao acordo industrial do Consórcio, os degraus de coman-
do constituem-se em responsabilidade da Helibras. Em consequência,
serão os mesmos montados por aquela empresa no Brasil. Os degraus
montados, por solicitação desta Comissão, serão mais longos que os
efetivamente previstos no Contrato. A modificação, de conhecimento da
Bda AvEx, teve como escopo a melhoria das condições de acesso à aero-
nave, permitindo a utilização das portas corrediças e basculantes.
b) Gancho
O equipamento quando instalado guarda, em relação ao solo,
uma distância de 15 cm, o que implica no estabelecimento de procedi-
mento padrão para o táxi de aeronave dotada do referido material. Os
procedimentos normais com relação a transporte de carga externa e às
precauções a serem tomadas estão contidos no Manual de Voo.
c) Peso e Balanceamento
A ficha original de pesagem consta do Anexo 5. A Comissão jul-
ga importante a adoção no painel da aeronave de autocolante que per-
mita a inscrição do peso e CG (centro de gravidade) de cada aeronave.
Os dados contidos no PMV (Cap. 6.1, p. 3) constituem-se em exemplo. A
observação se faz por possuir cada aeronave seu próprio peso.
d) Acesso à cabine de pilotagem
558 Aviação no Exército - uma visão histórica
Relatório
HB 350 L1 Esquilo – Helicóptero de Reconhecimento e Ataque
ABSOLUTOS
Conforme já aludido anteriormente os requisitos absolutos são
aqueles a que a aeronave deve imperativamente satisfazer.
l) Transportar, no mínimo, uma tripulação de dois homens, am-
bos os pilotos, e um deles exercendo a função de observador e/ou ati-
rador.
R – Sim, o helicóptero é capaz de transportar 02 pilotos e mais
04 passageiros.
2) Possuir estabilidade, particularmente, no voo estacionário,
que lhe possibilite servir como plataforma para emprego, eficiente, com
um ou mais dos seguintes armamentos:
– Foguetes;
– Mísseis anticarro;
– Mtr axial e laterais.
R – Sim, o helicóptero possui boa estabilidade, mesmo no voo
pairado, porém não pode ser avaliado quanto ao emprego do armamento,
566 Aviação no Exército - uma visão histórica
ESSENCIAIS
Os objetivos essenciais são aqueles que permitem uma flexibi-
lidade em relação às características que definem.
1) Possuir elevado grau de estabilidade, particularmente no voo
estacionário, qualquer que seja a direção do vento (Vel. de até 50km/h),
de modo a satisfazer as exigências relativas ao tiro de seu armamento.
(Peso seis).
R – O helicóptero é bastante estável no voo estacionário.
Limitações do vento:
– dianteiro e lateral esquerdos 55km/h
– traseiro 50km/h
– lateral direito 36km/h
2) Possuir velocidades aproximadas de:
– 300km/h (VNE);
– 250km/h (Vel. Cruzeiro). (Peso cinco).
R – A VNE é 287km/h (155Kt) a zero ft (Zp).
Em altitude a velocidade decresce 3 Kt para cada 1.000 pés.
– A velocidade de cruzeiro, com peso máximo, é 243km/h.
3) Ser dotado de duas turbinas. (Peso seis).
R – O helicóptero é monomotor e está equipado com uma tur-
bina ARRIEL 1D1.
4) Possuir elevado grau de sobrevivência, apresentando:
– condições de receber dispositivos alerta laser/radar, disper-
sador “chaff” e geradores de ponto quente (“flares”), a fim de evitar ser
atingido, se detectado. (Peso cinco).
R – O helicóptero na atual configuração não possui elevado
grau de sobrevivência. Nenhum dispositivo foi encomendado no contra-
to. Através de aperfeiçoamentos na pintura externa, tenta-se pelo me-
nos diminuir seu reconhecimento visual.
5) Possuir elevado grau de sobrevivência, apresentando:
– tolerância balística para os componentes essenciais, possibi-
litando o prosseguimento de voo e pouso de emergência, mesmo após
os rotores (cabeça e pás), motor e transmissão principal terem sido atin-
gidos por projéteis até o calibre 7,62mm. (Peso seis).
R – As pás principais e traseiras são construídas de material
composto, o que lhe dá certo grau de sobrevivência.
Anexo 3 571
DESEJÁVEIS
Estes são objetivos orientadores de pesquisa. A aeronave não
precisa atendê-los.
1) Ter possibilidade de ele ser dotado de radar meteorológico.
(Peso três).
R – Não está previsto nos opcionais da linha de produção este
tipo de equipamento.
2) Ser facilmente transportável em aeronaves do tipo C-130.
(Peso um).
R – Existe um plano de embarque do helicóptero em aeronave
C-130, com os tempos de desmontagem, carregamento etc., porém não
pode ser avaliado.
3) Ser dotado de piloto automático transparente aos comandos
do piloto, permitindo a sua intervenção, a qualquer momento, mesmo
com esse equipamento ligado. (Peso três).
R – O helicóptero pode ser equipado com este tipo de opcional,
porém não está previsto em contrato.
4) Possuir equipamento que possibilite o voo pairado sem a in-
tervenção do piloto (Peso dois).
R – Não é possível realizar voo pairado sem intervenção dos
pilotos.
5) Em caso de pouso forçado em curso de água ou no mar, a
flutuabilidade do helicóptero deve ser suficiente para permitir a saí-
da de emergência dos ocupantes do aparelho. Esta capacidade deverá,
eventualmente, ser aumentada para o caso de cumprimento de missões
especiais. (Peso dois).
Anexo 3 577
Relatório periódico nº 2
Recebimento do HB 350 L1 Esquilo 01
1) 27 Jan 89
Reunião preliminar com o Service Industrielle de l’ Armement
(SIAR), organismo do Ministério da Defesa francês, responsável pelo
controle do material de interesse militar.
a) Assunto – Transmissão à Comissão de detalhes envolvendo
derrogação, relativa ao cárter da aeronave. Entende-se por “derrogação”
quaisquer modificações impostas à aeronave que não estejam de acordo
com as condições estabelecidas em contrato ou que difiram da aeronave
padrão.
b) Motivo da derrogação – Com a adoção dos servos SAMM,
em substituição aos da DUNLOP, anteriormente, previsto em contrato,
conforme já aludido em documentação endereçada à DMAvEx por esta
Comissão, não se conseguiu em um deles a folga de l mm prevista na TO.
c) Opções para resolução da discrepância:
(1) Retoque (reusinagem) de uma das orelhas do cárter permi-
tindo que se produza a folga prevista (desenhos elucidativos em anexo),
a ser realizado na Aerospatiale.
580 Aviação no Exército - uma visão histórica
para a posição de 90° (través) toda a vez que há uma emissão HF. A
solução foi considerada satisfatória. Ressalve-se que o normal seria
que, apesar da transmissão de HF, o ponteiro do ADF se direcionasse
para a transmissora e, somente para o través, quando a estação esti-
vesse nesta direção;
(d) Interferência da transmissão de HF no ARC 182
A emissão de HF provocava ruídos no VUHF ARC 182. A solu-
ção adotada pela Aerospatiale foi a de interromper automaticamente
a recepção VUHF quando da emissão HF. A recepção do VUHF tem
retorno automático quando interrompida a transmissão HF. A solu-
ção foi considerada boa, no entanto, consubstancia uma interferência
rádio anormal;
(e) Interferência da transmissão do VHF 20B no ARC 182
Devido à potência do VHF 20B produzia-se interferência na re-
cepção do ARC 182. A solução encontrada foi a dessensibilização auto-
mática de 10 decibéis no áudio do ARC 182, tornando desnecessária a
atuação do piloto para diminuição do volume;
(f) Supressão do interruptor ON/OFF das agulhas do horizonte
artificial.
Considerada como muito boa a solução do aparecimento auto-
mático das agulhas do horizonte artificial assim que sintonizada a fre-
quência ILS no VIR 31. O desaparecimento ocorre também automatica-
mente;
(g) O VOR entrou em pane por ocasião da execução de manobra
de autorrotação;
(h) A aeronave apresentou bom comportamento em autorro-
tação;
(i) Pane do Klaxon
O sistema de alarme (Klaxon) não funcionou durante o corte do
motor nem por ocasião de simulação de pane hidráulica.
5) Conclusões
Foram transmitidos todos os dados coligidos à Aerospatiale,
bem como solicitadas as correções das panes apresentadas e o estudo
para solucionamento das interferências rádio.
b) Recepção da documentação.
(1) Horário: 15:00h
(2) Local: Depto de Controle de Qualidade
Anexo 4 583
(3) Considerações:
(a) Foram constatadas as faltas do Livro da Aeronave (Livret
d’Aeronef), do “Carnet de Route” (lista todos os voos realizados, com a
identificação das equipagens etc) e das curvas de performance do motor
no PMV (Manual de voo – Parte 5).
(b) O certificado de homologação de tipo não foi assinado pelo
SIAR.
(c) Na oportunidade foi identificada a dificuldade de leitura
das inscrições referentes aos interruptores de comando dos sistemas
no console. A má visibilidade decorre de proteção de plástico que en-
volve os referidos interruptores. Segundo a Aerospatiale a proteção em
questão faz parte do kit antiareia. Como soluções possíveis a retirada da
proteção de plástico ou a utilização do console sempre com iluminação,
mesmo de dia, o que contorna o problema em pauta. Ambas as soluções
deverão fazer parte de normas de padronização a serem instituídas a
nível batalhão.
c) 3o voo de recepção – voo noturno
(1) Duração: 0h30min.
(2) Equipamento rádio: Funcionamento normal.
(3) Aproximação por instrumento: Boa precisão na aproxima-
ção ILS.
(4) Iluminação do painel.
A iluminação é deficiente dificultando a leitura dos instrumen-
tos de bordo. O sistema de iluminação de segurança (emergência) tam-
bém é deficiente.
6) Dia 03 Fev 89
Face às discrepâncias encontradas, obteve-se o consenso so-
bre a necessidade da permanência da aeronave, na fábrica, atrasan-
do-se o recebimento provisório deste prazo. A decisão levou em con-
sideração o fato de que na Aerospatiale a busca das soluções sobre
os problemas detectados se faria em menor prazo e melhores condi-
ções que na Helibras. Em vista do exposto, retornou o helicóptero à
fábrica. O processo se reiniciará quando recolocado o helicóptero à
disposição da Comissão.
quanto a tecnologia que ele envolve. O nosso leitor leigo poderia se indagar
como um equipamento que já vinha sendo fabricado anteriormente
pode apresentar uma quantidade tão grande de problemas. Deve-se
considerar que a personalização do helicóptero com a introdução de
itens não previstos na versão standard, o que era o nosso caso, gera uma
nova aeronave com novas peculiaridades.
Anexo 5
Diretriz Ministerial
Memória ao 3º Sch/ propondo a 13 Fev 85 Memória da Seção
criação da de Evolução da
AvEx e de comissão para estudar o Doutrina ao 3º Sch/
assunto. EME
Proposta da 3º Sch ao V Ch do EME 04 Mar 85 **********
592 Aviação no Exército - uma visão histórica
Documentos oficiais
Noticiários do Exército
Boletins do Exército
Revista Rotores, da Diretoria de Material da Aviação do Exército
598 Aviação no Exército - uma visão histórica
Informativo Águia
Site do Comando de Aviação do Exército
Revista Guardião, da Aviação do Batalhão de Manutenção de
Aviação do Exército
História do Estado-Maior do Exército