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O RESTO DA VERDADE

. UNICA DISTRIBUIDORA PARA TODO BRASIL

,~:
EMPRESA EDITORA

19 2 5
DO MESMO AUTOR

O RESERVISTA DE MANOBRAS ,- --: tiragem 5000 exemplares {eàl-


ç!lo exgotaaaJ.
DIRECTIVAS PARA A INSTRUCÇÃO DAS TROPAS - brochura de 209
paginas, trabalho reservado, impresso na Imprensa Mi-
litar.
NARRANDO A VERDADE - (contribuição para a historia da re-
volta em S. Paulo) - tiragem 30. 000 exemplares.
AOS LEAES AMIGOS QUE NUNCA DUVIDARAM
DA RECTIDÃO DO MEU CARACTER, QUE MELE-
VARAM O CONFORTO DURANTE OS AMARGU-
RADOS DIAS QUE PAS~EI LOGO_ APO'S A RE-
VOLTA, OS MEUS SINCEROS AGRADECIMENTOS
COM A DEDICAÇÃO DESI'E MODESTO LIVRO.

S. PA_ULO, JUNHO DE 1925.

GENERAL ABILIO DE NORONHA


,;,. .

PROLOGO

Neste livro, escripto sem pretenções de erzzdi-


ç[ío, sem a paresa do _vernaculo dos philologos;
abordo alguns assumptos de _ palp/tante interesse
neste momento, esclareço factos e situações, des-
trúo certas accusações tendenciosas contra a minha
classe, digo mais verdades e, depois, para termi-
11ar, publico tudo que se relacio11a com o meu papel
11a revolta que explodiu em S. Paulo.
Comq acabo de ser impro11u11ciado, visto ter f i-
cado plename11te provado 11ão ter eu a menor par-
ticipação na revolta e, ao contrdrio, tudo haver f ei-
to para suffo cal-a, isso de accordo com a promoção
do Sr. Dr. Procurador Criminal da Republica, que,
por dever de sã justiça, p'ediu a mi11ha impronun-
cia, este livro não póde ser um brado de ·desespero
de um despeitado, mas a exposição serena de quem
tem a consciencia tranquilla, e portanto, de queim :
póde com imparcialidade exp.e nder opiniões.
Neste momento em que atravessamos um pe-
ríodo agitado da nossa vida política e mesmo eco-
nomica, o silencio é signal de pusillanimidade.
Cada qual deve escrever ou falar sem rebuço, afim
de que, desse conjuncto de op,iniões, possa resultar
algµma cousa util para orientar os nossos guias e,
na peior das hypotheses, servÍI' de lição á juventu-
de que amanhã será chamada a dirigir os destinos
desta nossa grande e amada patria.
S. Paulo, Junho de 1925
GENERAL ABILIO DE NORONHA
OS POLITICOS E AS REVOLTAS NA REPUBLICA

ERBONEA OPINIÃO SOBRE AS CLASSES ARMADAS -


DEODORO E O CONGRESSO - FACTOS QUE CONCOR-
RERAM PARA O GOLPE DE ESTADO - A DEPOSI-
ÇÃO · DE DEODORO - A DERRUBADA DOS GOVER-
NADORES - COMO FOI DEPOSTO EM S. PAULO O
DR. AMERICO BRASILIENSE - A REVOLTA DA FOR-
'.(ALEZA DE SANTA CRUZ - O MANIFESTO DOS
TREZE GENERAES - A TENTATIVA DA DEPOSIÇÃO
DE FLORIANO A 10 DE ABRIL - A REVOLUÇÃO FE-
DERALISTA E SUAS CAUSAS - A REVOLTA DA AR-
MADA E OS FACTOS QUE A ANTECEDERAM - A
CAMPANHA DE CANUDOS, ONDE O EXERCITO SE
SACRIFICOU - o ATTEN'TADO CONTRA o bR. PRU-
DENTE DE MORAES A 5 DE NOVEMBRO DE 1897,
TRAMADO POR POLITICOS - A REVOLTA CONTRA
A VACCINA OBRIGATORIA, RESULTADO DE UM CON-
LUIO DE POLITICOS - MOTJM DA ARMADA PELO
MARINHEIRO JOÃO CANDIDO - O' EXERCITO MAIS
UMA VEZ SACRIFICADO NA CAMPANHA DO CON-
TESTADO - A TENTATIVA DE REVOLTA DOS SAR-
GENTOS TRAMADA PELOS POLITICOS - A CAMPA-
NHA POLITICA CHEFIADA PELA REACÇÃO REPU-
BLICANA E CONSEQUENTE REVOLTA · DE 1922 -
EXEMPLO DE COMO SÃO FEITAS AS REVOLTAS NOS
ESTADOS PELOS POLITICOS MASHORQUEIROS -
CONSIDERAÇÕES FINAES.

Toda a vez que uma pequena fracção de militares se dei-


:i;:a facilmente explorar por civis habeis que se veem privados
de seus postos de destaque na politica nacional, toda a vez
que os salvadores improvisados da Republica com ineguala-
vel astucia conseguem implantar a indisciplina em alguns qaar-
teis e, no momento azado, vão convidar os soldados de prom-
ptidão e os trazem pelo ' braço á rua para serem oi; agentés
8 General Abilio de Noronha

executores dos seus ,planos de assalto ao poder legalmente cons-


tituido, não falta quem esquecendo-se dos inestimaveis servi-
ços prestados á nação pelas classes armadas, tanto no Imperio
como na Republica, não tenha esta estulta expressão: :__ "E'
preciso dissolver o · Exercito para a completa tranquillidade
do paiz."
Ha quem vae além, propondo a dissolução do Exercito e
a substituição deste p-or tropas mercenarias das policias es-
taduaes, sem levar em conta que isso póde alimentar e forti-
ficar as idéas separatistas de alguns Estados e o consequente
desmembram.ento do paiz.
O mais curioso nisso tudo é que, em regra geral, os maio~
res inimigos do Exercito são justamente aquelles que lhe de 0

vem a estabilidade das suas posições elevadas na politica, de-


vido ao facto desse mesmo Exercito, que accusam desapieda-
damente, ter sempre sabido combater os demolidores das n_os-
sas instituições, os maus patriotas que procuram. por meios
violentos arrebatar o poder das · mãos de quem o det~m em
virtude de um acto legal.
Em nenhuma conectividade humana os erros e mesmo os
crimes de uma pequena parte dessa collectividade, em nada
póde affectar o todo, o conjuncto. Porque então afastam-se
desse principio e, cont~ariando os ensinamentos da n.o ssa his-
toria, querem que o Exercito em peso JJossa ser éondemrtado
pelos desmandos de alguns officiaes que, esquecendo os seus
deveres, facilmente se deixam arrastar pelos políticos insufla-
dores de rnashorcas?
Para contrariar esse malevolo conceito que, á viva força
querem fazer do Exercito, basta uma resumida recapitulação
dos factos que a partir de _1889, se deram no nosso paiz.
E' isso o que justamente vou tentar fazer nas paginas que
se seguem.

Depois da proclamação da Republica, o episodio mais


importante da nossa historia, foi sem duvida o golpe de Esta-
do dado pelo marechal Deodoro.
A 9uem cabe a maior culpa nesse facto?
O Resto da Verdade 9,
(
Certamente aos politicos que, desde os primeiros dias da
Republica, iniciaram uma campanha sordida contra a prin-
cipal figura da revoluçáo victoriosa de 15 de Novembro de 1889.
· Aberto a 15 de Novembro de 1890 o Congresso Constituin-
te, começaram os seus membros a cabalar em torno da eleição
do presidente e vice-presidente d-a Republica. Encabeçados
pelo general José .Simeão, senador por Pernambuco, pelo con-
tra-almirante Custodio José de Mello, deputado pela Bahia e
mais pelo ' dr. Demetrio Ribeiro, representante na Camara ,do
· Rio Grande do Sul, os politicos iniciaram na Co)lstituinte uma
forte opposição á eleição de Deodoro. Assim agind<;>, levanta-
ram a candidatura do dr. Prudente de Moraes á presidencia e
a dó 'marechal Floriano Peixoto á vice-presidencia, ao passo
qu!') o dr. Manoel Ferraz de Campos Salles e seus. amigos da
deputação · paulista resolviam adoptar a de Deodoro.
Os que combatiam a candidatura ·"âe Deodoro esperavam
poder attrahir os paulistas a favor dos seus candidatos e desse
modo obterem a victoria, dado o facto qo dr. Prudente de Mo-
raes ser filho de S. Paulo. Mas Campos Salles, Bernardino de
Campos, Francisco Glycerio e outros políticos, trataram de de -
niover o dr. Prudente de Moraes de acceitar a sua candidatu-
ra, afim de evitar uma luta que podia ·acarretar consequencias
graves para o novo regimen.
Não desanimaram, apezar disso, os inimigos de Deodoro,
que chegaram a declarar não poderem retroceder, porque seus
passos já estavam muito acleantados. Tudo levava a prever que
Deodoro seria derrotado, mas a 25 de Fevereiro de 1891, quan-
do se reuniu a Constituinte para se proceder a eleição, sahin
·triumphante a candidatura Deodoro, sendo eleito vice--presi-
dente o marechal Floriano Peixoto.
Porém, quando Deodoro penetrou no recinto onde estava
reunida a Constituinte, afim de tomar posse solemne do alto
cargo para o qual tinha ·sido eleito, foi recebido com a mais
fria r.e serva, emquanto que Floriano era saudado com vivas
acclamaçôes. Isso era o prenuncio da luta formidavel e de
consequencias funestas que ia se iniciar entre o Poder Exe-
cutivo, representado por Deodoro, e o Legislativo pelo Con-
gresso,
10 General Abilio de Noronha

Abertà a 15 de Julho de 1891 a primeira sessão ordinar.ià


do Congresso, os dois poderes olháram-se com reciproca des-
co"nfiança e cada um delles presumia que estava sendo syste-
maticarilente hostilizado pelo outro. Era, portanto, im.p ossivel
que entre os dois se estabelecesse uma alliança benefica, base
de uma cóoP,eração harrp.onica e simultanea, que é a mais
efficaz garantia de todo o_ governo. Pouco a pouco, foram
surgindo os attritos, cada vez mais pr,onunciados entre Deodo-
ro e os politicos que ahi o combatiam. De um lado, eram o.s
senadores e deputados insuflados contra Deodoro por Simeão,
Custodio, Demetrio Ribeiro e P,elo proprio marechal Floriano.
Por sua vez, o Barão de Luc~na, compadre e ministro de Deo-
doro, atirava-o contra aquelles que no Congressó faziam-lhe
systematica opposição. Alguns -congressistas mais modera-dos
tentaram então uma reconciliação entre Deodoro e o Congres-
so, mas já era tarde, porque, de parte a parte, os animos
estavam muito exaltados.
No dia 3 de Novembro de 1891, o glorioso soldado que foi
Deodoro, deu o golpe de Estado dissolvendo o Congresso_. Para
isso, batalhões do Exercito foram collocados á frente dos .edi-
ficios em que as duas 'camaras funccionavam, afim de impedir
que nelles penetrassem os membros do Poder Legislativo. Nes-
se mesmo dia, Deodoro publicou um manifesto no qual rela-
tou as suas queixas a resP,eito do Congresso, declarou que ga-
rantia a liberdade e os direitos de todos e prometteu que
opportunamente convocaria o novo Congresso.
Não tardou a reacção do Congresso dissolvido, apezar , da
grande maioria dos governadores dos Estados ter adheri-
do ao golpe de Deodmo. Deputados e senadores, chefiados por
Prudente de Moraes, Campos Salles, Francisco Glycerio e ou-
tros politicos, entraram a conspirar com alguns militares . enca-
beçados pelo marechal Floriano Peixoto, visconde de Pelotas,
general José Simeão, almirantes W•andenkolk e Custodio de
Mello.
Tramaram a revolução geral contra o acto de Deodoro. A
12 de Novembro sublevaram as guarnições militares do Rio
Grande do Sul, juntamente com os batalhões da Guarda Na-
cional, e ameaçaram marchar para a Ca_p ital Federal, atravez
O_ Resto - da Verdade 11

Santa Catharina, Paraná e S. Paulo, _ond-a contavam com o


ap-oio de civis e militares. Por fim, a esquadra nacional revol-
tou-se na bahia de Guanabara a 23 de Novembro, ao mando
qe Custodio de Mello, fazendo alguns disparos ·para a terra,
um dos quaes attingiu a cupola da igreja Candelaria. ·
Tendo Deodoro recebido na noite de 22 para _23 um tele-
gramma de seu amigo Lauro Müller, então governador de San-
ta Catharina, no qual em termos delicados mas em tom firme
declarava-lhe negar apoio, o que queria _dizer· que estava fran-
queada a passagem ás forças revoltadas do Rio Grande do Sul,
sentindo-se quasi sem nenhum recurso para enfrentar, d·e um
lado a Armada sob as ordens de Custodio de Mello e, de ou-
_tro, . as tropas de terra dirigidas por Floriano e Simeão, reu-
niu Deodoro o ministerio e após essa reunião, resolveu renun-
ciar o poder e entregai-o ao seu substituto legal que, nesse
caso, . era o vice-presidente, marechal Floriano Peixoto.
Após ess_e acto, publicou o grande soldado da Republica
que foi Deodoro, um manifesto ao povo, exemplo vivo de
inexcedivel amôr á paz e ao bem estar da sua patria, assim
redigido:
Brasileiros!

"Ao sol de 15 de Novembro de 1889 dei-vos,


com meus companheiros de armas, uma patria li-
vre e descortinei-lhe novos e grandiosos horizontes,
dignificando-a e engrandecendo-a aos olhos dos po-
vos todos do mundo. Esse acontecimento de eleva-
diss_imo quilate patriotico applaudido pela Nação,
fazendo-a entrar em nova phase na altura de seus
destinos historicos, é para mim e será sempre mo-
tivo de mais nobre e justo orgulho."
"Circumstancias extraordinarias, para as quaes
não concorri, perante Deus o d~claro, encaminha-
ram os factos a uma situação excepcional e não
prevista. Julguei conjurar tão temerosa crise pela
dissolução do Congresso, medida que muito me cus-
tou a mim, mas de cuja responsabilidade não me
e:x:imo."
12 , General A b ili o de No r o n.Ji a

"Pensei encarreirar a governação do Estado


por via segura e n'o sentido de salvar tão anomàla
situação."
"As condições em que nestes ultimas dias, po-
rém, se acha o paiz, a ingratidão daquelles . -para
quem mais me sacrifiquei, e o desejo de não atear-
se a guerra civil em minha cara patria, atonselha-
ram-me a resignar o poder nas mãos do funcciona~
rio a quem incumbe substituir-me." _
"E fazendo-o despeço-me dos meus ,bons com-
panheiros e amigos que sempre me conservaram
fieis e dedicados, e dirijo os meus votos ao Todo~
Poderoso pela perpetua prosperidade e sempre
crescente florescimento do meu amado Brasil."

Subindo á presidencia da Republica o vice-pr,e sidente ma-


rechal Floriano Peixoto, a situação podia resolver-se pacifi-
camente pelos meios legaes, sem mais violencias e sangü e.
Bastaria que o poder competente decretasse a intervenção fe~
deral nos Estados que tinham adherido ao golpe de Estado e
que declarasse findos os governos que assim tinham agido.
Mas, que se fez?
Os politicos victoriosos, os florianistas, iniciaram a derru-
bada dos governadores por meio de mashorcas promovidas com
a participação das tropas de terra e mar. Quasi todos os Esta-
dos foram assim ensanguentados e com isso novos odios fo-
ram semeados.
A tftulo de exemplo, narro aqui o qu e se passou em S.
P aulo nessa epoca. \ ·
P ara tramar o movimento em S. Paulo, reuniram-se na
r edacção do "Correio Paulistww," na noite de 8 de Dezembro
de 1891 , os chefes republicanos paulistas - Prudente de Mo-
r aes, Campos Salles, Bernardino de Campos e outros. Nessa
reu nião resolveram effectuar a r evolução no interior do Es-
tado , levando-a depois ao centro. O dr. Alfredo Ellis, nesse
tempo deputado federal, ficou incumbido de insurreccionar 0
\\ o Resto da Verdade 13
'
nordeste do Estado, com os chefes políticos de Limeira, Rio
Claro e outras localidades . . O dr. Alvaro de Carvalho encarre-
gou-se do levantamento da zona de Dois Corregos, Brotas e
Jahú.
O principal fóco da sedição foi Rio Claro, onde estavam
os drs. Alfredo Ellis e Manoel Pessôa de Siqueira Campos.
Além dos civis armados, os revolucionaríos conseguiram ahi
o apoio do tenente Baptista da Luz, que depois foi comman-
dante :g eral da Força Publica e tinha entãó ás suas ordens for-
te contingente policial.
Nessa occasião foi mandado a S. Paulo o . coronel Solon,
em .caracter particular, com instrucções do Governo Federal,
para auxiliar o movimento sedicioso. Ao que . constou, esse
official trouxe do Rio 300 praças á paizana, destinadas a forta-
lecer os revolucionari<os.
Depois · de uma conferencia do coronel Solon com os drs.
Campo~ Salles, Bernardino de Campos e Prudente de Moraes,
assentaram conflagar a Capital, onde o presidente Americo
Brasiliense contava com a maior parte da policia, commanda-
da pelo major do Exercito, Castello Branco. Houve correrias,
tiroteios e cargas de cavallaria nas ruas da cidade. Afinal,
AriJ.erfoo Brasiliense vendo-se trahido pela policia, sentindo-
se impotente para vencer, entregou o governo ao major Cas-
tello Branco e este o passou ao vice-presidente legal dr. J. A.
Cerqueira Cezar, que tinha recusado adherir ao golpe de Es-
tàdo desferid~ pelo marechal Deodoro.
A quem cabe a responsabilidade principal de todos esses
acontecimentos, por vezes sangrentos? Certo, aos politicos, que
agiram com a "mão do gato" e ficaram com os melhores pro-
ventos. Os militares foram meros instrumentos e lucraram so-
bretudo . accusações odiosas.
A proposito, vem-me á memoria um episodio historico.
Nos primeiros mezes da Republica houve um levante no 2.º
regimento de artilharia de campanha, destacado 'na Capital
Federal. Apurou-se que um personagem anonymo, conhecido
como o "homem de chapeu de chi/e", fôra Q intermediario
entre os soldados e varios monarchistas de destaque, um dos
quaes era o conselhe.i ro Basson.
14 General Abílio de Noronha

Em nossas sedições militares sempre tem havido "mn cha-


peu de chile" por traz dos kepis, isso para não contrariar as
tradições historicas. ,
Mas, continuemos a fazer historia. Ha ainda muito que
contar.

Floriano no poder, "quebrada a machina das emissões de


papel moeda," no dizer de Campos Salles em pleno · Senado,
entraram os deodoristas privados de seus postos de destaque_
na política, alliados aos jogadores de Bolsa, a conspirar fran-
camente contra o governo · que tinha subido pela revolução
victoriosa de ~3 de Novembro. Em varias reuniões presididas
quasi todas pelo barão de Lucena, assentavam detalhes do pla-
no _subversivo, com a ·p articipação de diversos militares.
Na madrugada de 18 para 19 de Janeiro de 1892, explodiu
uma revolta na fortaleza de Santa Cruz e depois extendida á
de Lage e ao forte do Pico e chefiada pelo 2.º sargento do ba-
talhão de engenharia, Silvino Honorio de Macedo.
Serfam mais ou menos 5 e meia da manhã de 19, quando
rompeu a sedição, que logo encontrou apoio da parte de todos
os sentenciados recolhidos aos cubículos da fortaleza de San-
ta Cruz, os quaes tinham sido postos em -liberdade pelos prin-
cipaes cabeças da revolta, e tambem por uma grande parte
de soldados do 1.º batalhão de artilharia de posição que guar-
neciam esse forte. Preso o commandante, coronel- Bezerra Ca-
valcante e demais officiaes, os amotinados por meio de uma
_embarcação se transportaram á fortaleza da Lage, cujo desta-
camento- foi sublevado pelo almoxarife desse forte, de nome
João da Costa Medeiros Sobrinho. Outro grupo de sediciosos
dirigiu-se, por sua vez, ao forte do Pico, o qual tambem cahiu
em poder dos que obedeciam ás ordens do sargento Silvino.
Em vão procurou o Governo chamar ao caminho da dis-
ciplina os rebeldes, por meio do coronel Callado, que, para
cumprir a sua missão, se transportou do Arsenal de Guerra á
fortaleza de Santa Cruz em uma lancha e ahi entendeu-se com
o sargento chefe da sedição.
O Resto da Verdade 15

Diante da improficna missão do coronel Callado e dando


_ os amotinados constantes provas ·de que se conservavam irre-
ductiveis, tanto assim que faziam disparos de canhões contra
qualquer embarcação que se approximasse das ·fortalezas onde
se achavam, resolveu o Governo agir com a maxima energia
para debellar -a re.-olta.
Para isso, o- 7.º batalhão de infantaria sob o -commando do
tenente-coronel Carlos Olympio Ferraz embarcou no · Arsenal
•de , Guerra em úma barca da Companhia Cantareira, transpoz
a bahia de Guanabara e desembarcou na ponte de S. Domin-
·gos, dahi seguiu por terra para Jurujúbà, o mesmo tendo feito
o 10,º batalhão de infantaria sob o · commando do tei;iente-co-
ro_nel Silvestre Travassos.
Por sua vez, os navios da esquadra tomaram posição, que
foi a seguinte: _entre - as fortalezas de Lage e Santa Cruz, o
cruzador Parnahyba; entre . Lage e Willegaignon, o encoura-
çado Bahia; entre Santa Cruz· e Jurujú:ba, o encouraçado Aqui-
daban. Mais tarde, ainda se transportararp. para as proximida-
des dos ponJos occupados pelos sediciosos os encouraçados
Riach•u elo e Solimões e o cruzador Orion.
Atacados por terra pela infantaria do Exercito e por mar
pelos navios da esquadra, após alguma resistencia, resolveram
os amotinados levantar bandeira branca, ces·sando desse modo
o fogo da esquadra .. Momentos depois, entraram as forças le-
gaes nas fortalezas sublevadas aos gritos de vivas ao mare-
chal Floriano Peixoto.
A revolta que acabo de narrar, foi apenas o resultado da
indisciplina de um sargento desequillibrado, de um desses
indivíduos que constituem um typo de alienados que de vez
em quando surge em toda a parte?
Absolutamente não.
Pelas declarações que o sargento Silvino fez ao coronel
Callado · e a,o capitão Miranda, pelas discussões que no dia
immediato á ·suffocação dessa revolta se deram no Congress0
e pelos factos desenrolados na Capital Federal nos · dias 7 e
10 de Abril do mesmo anuo, provado fica que o referido sar-
gento fazia parte de um complot de políticos visando depôr
Floriano.
16 General A.bilia de Noronha

: Ao tentar na manhã de 19 penetrar na fortaleza d~ Santa


Cruz o capitão de engenheiros Miranda, que ahi estava fazen•
do um serviço attinente á sua profissão, o chefe da revolta,
sargento Silvino, e o seu immediato, cabo Manoel Domiciano,
solicitaram os seus bons officios afim de que fizesse chegar
ás mãos do marechal Florian·o uma intimação para que o
governo fosse entregue a Deodoro no prazo improrogavel de
duas horas, sob p_ena de bombardearem a cidade. Ao co,ronel
Callado que, como já vimos, tinha ido em nome do governo;
chamar os amotinados ao caminho da disciplina, respondeu
o sargento Silvino que - "elle estava fzrme no seu posto, obe-
decendo aos seus Ji..rincipios políticos; que em uma reunião ha-
vida na Capital Federal, tinha sido acclamado governador ·ao-
soluto daquella praça de guerra, e que estava admirado de que
seus alliados não se houvessem revoltado em terra, -como Se
havian1 compromettido." "Ou Deodoro assume o poder, ou
nós vanws até o fim," foram -as ultimas palavras do chefe dos
amotinados ao coronel Callado.
Na Camara· dos Deputados, ao ser apresentada -em 21 de
Janeiro uma moção de confiança ao governo do marechal
Floriano pelo deputado Serzedello Corrêa, ainda _mais p_atente
ficou que a sedição de Santa Cruz tinha sido o re:;,ultado de
um plano subversivo da -ordem publica tramado por alguns ele-
mentos da opposição, pois o referido deputado em linguagem
um tanto velada, mas ql).e provocou vehementes prçitestos da mi-
noria, não vacillou em jogar toda a responsabilidade da re-
volta "aos maus consellieiros dos galês, aos ,ambiciosos de po-
sições de destaque na polilica." Nessa mesma sessão, ·o deputa-
do Marciano de Magalhães estava tão convencido de que exis-
tiam elementos políticos envolvidos no motim, que não te-
meu propôr que se suspendessem as immunidades parlamenta-
res de quem q,uer que fosse, uma vez que estas podessem criar
embaraços para ser apurada a responsabilidade dos culpados
na revolta de Santa Cruz. Muito se salientou nessa occasião
combatendo a mo,cão de confiança ao governo de Floriano, o
deputado dr. J. J. Seabra, que, a uma certa altura do seu dis-
curso, foi interrompido p_or um aparte do grande prop_agaú-
D Resto da Verdade 17

dista da republica, Aristides Lobo, o qual declarou de modo


claro .que a opposição conspirava.
No mesmo dia em que· na , Camara se davam· taes factos,
Campos Salles da tribuna do Senado .ironicamente falava de
revolução planejada pelos jogadores da Bolsa, dos especulado-
res que queriam assaltar o poder.
Ainda desta vez, na revolta da fortaleza de Sant.a Cruz, a
historia apenas aponta como insufladores certps ho1'nens de
ch,apeu. de chile,

*
:1::1:

Insinuados pelos políticos deodoristas que conspiravam


contra Floriano, que procuravam "tirar a castanha com a mão
do gato", -treze o:fficiaes, generaes do Exercito e da Armada,
publicaram em 7 de Abril, com data de 31 de Março~ um
manifesto conhecido na historia por "manifesto dos treze ge-
neraes," assim r edigldo:

"Exmo. Sr. marechal vice-presidente da Republica.


"Os abaixo-assignados, offic~aes generaes do
Exercito e da Armada, não querendo, pelo silencio,
comparticipar da responsabilidade moral da actual
desorganização em que se acham os Estados, devi-
do á. intervenção da força armada nas deposições
dos respectivos governadores, dando em resultado
a morte de innumeros cida.d ãos, implantando o ter-
ror, a duvida e o luto no seio das familias, appellam
para vós, marechal, para que façaes cessar tão la-
- mentavel situação/ '
"A continuar por mais tempo semelhante es-
tado de desorganização geral do paiz, será conver-
tida a obra de 15 de Novembro de 1889 na mais
completa anarchia."
"E os abaixo-assignados, crentes, como estão,
que só a eleição do presidente da Republica, feita
quanto antes como _d eterminam· a Constituição Fe-
18 General Abilio de Noronha

deral e a lei eleitoral, feita, porém, livremente sem


a pressão da forç.a armada, poderá restabele~er
promptamente a confiança, o socego e a tranquil-
lidade da familia brazileira, e bem assim o con-
ceito da Republica no exteri-or, hoje tão abalado,
esperam e contam · que neste sentido dareis ·as vos-
sas acertadas ordens, e que não vacillareis em reu-
nir este importante serviço civico aos muito·s que
nos campos de batalha já prestastes a esta patria."
(Assigriados) Marechal José de Almeida Barreto,
vice-almirante Eduardo Walidenkolk, general de di-
visão José Clarindo de Queiroz, general de divisão
Antonio Maria CoeÍho, general . de divisão Candido
José da Costa, contra-almirante José Marques Gui-
marães, general de brigada João Nep-omuceno de ·
Medeiros Mallet, contra-almirante Dionisio Manhães
Barreto, general de brigada João Severino da Fon-
seca, contra-almirante Manoel Ricardo da Cunha '
Couto, general de brigada José Cerqueira de Aguiar
Lima, general de brigada João José de Bruce, ge-
neral de brigada graduado João Luiz de Andrade
Vasconcellos.

A esse manifesto, resi)ondeu Floriano com um outro, de-


clarando que a · deposição violenta dos governadores era ape-
nas a consequencia logica da revolução victoriosa cj.e 23 de
Novembro e que só ao Congresso competia resolver sobre si
era legal ou não a eleição do presidente da Republica aventada
pelos treze generaes. Com essa proclamação á nação, baixou
por sua vez _Floriano um decreto pelo qual foram reformados
onze dos citados treze generaes. -
Quem poderia lucrar com a cessação das derrubadas dos
governadores que tinham adherido ao golpe de Deodor o, com
a eleição do presidente da Republica?
Certamente, não eram os signatarios do- manifesto de 31
de Março ...
O . Resto da Verdade 19
. -
Ao mesmo tempo que os - deodoristas assim pro.c ediam,
arrastando os militares para uma campanha contra Floriano,
intensificavam a campanha sediciosa na imprensa, José do Pa-
trocinio pela "Cidade
~ - · do Rio" e Pardal Mallet pelo
. "O Com-
.
bate."
Na tarde do dia 10 de Abril de 1892, distribuíram-se bo-
letins_ convocando o povo para uma manifestação ao marechal
Deodoro, que regressára de Petropolis . . Partindo do largo da
Lapa, os manifestantes, ao som de musicas, gritos sediciosos e
vivas enthusiasticos, encaminharam-se para a rua Senador Ver-
gueiro, onde morava o grande · soldado. Deodoro, atacado de
forte dyspnea, não os recebeu pessoalmente, incumbindo o de-
putado J. J. Seàbra de agradecer-lhes as manifestações. O ar-
doróso político bahiáno pronunciou violentíssimo discurso,
ruidosamente applaudido.
_O bando de manifestantes, desapontado com o estado de
Deodoro, desceu para a praça da Republica. Debalde esperou,
ao passar pela base do morro · de Santo Antonio, que 0 7.º ba-
talhão viesse engrossai-o, sahindo do seu quartel.
Na praça da Republica, na qual se achavam concentrados
vadÓs corpos, o coronel Adolpho Menna Barreto, destacando-
se do grupo, tentou revoltar o 10.º batalhão. Mas nenhum sol-
dado se mexeu e esse officiql foi immediatamente · preso.
O marechal Floriano; que estava na estação de Piedade,
desceu em trem especial, sendo acclamado pelas tropas.
Decretado . o estado de sitio por 72 horas, effectuaram-se
logo ·numerosas prisões de politicos e militares. O governo,
porém, resalvou a liberdade de -imprensa, declarando que os
jornalistas presos "não o foram por quaesquer abusos que hou-
vessem commettido na imprensa, mas por actos positivos de
conspiração e sedição."
Em consequencia desse · acontecimento, por decreto de 12
de Abril foram desterrados: para S. Joaquim, no Rio Branco,
Estado do Amazonas os militares José Clarindo de Queiroz,
Adolpho da Fontoura Menna Barreto, Gregorio Thaumaturgo
de Azevedo e os civis Antonio Joaquim Bandeira Junior, José
Elysio dos Reis, José Joaquim Ferreira Junior, Egas · Muniz
Barreto de Aragão e Menezes e lgnacio Alves Corrêa Carnei-
20 General Ab(lio- de Noronha

ro; para Cucuhy, os militares José de · Almeida Barreto, Ja-


cques Ouriques, Sebastião Bandeira, os civis Antqnio R. Mi-
mnda de Carvalho, José Joaquim Seabra, José Carlos do Pa-
trocinio, Placido de Abreu, Manoel Lavrador, dr. Arthur F.
Campos da Paz e o conde de Leopoldina; para Tabatin:ga, os
militares Eduardo Wandenkolk, Felisberto Piá de Andrade,
José Carlos da Silva Piragibe, Carlos Jansen Junior, os ci-
vis José Carlos Pardal de M~deiros Mallet, e Sabino lgnacío
Nogueira da Gai:na, Ficaram detidos: na fortaleza · da Lage,
dr. Climaco Barbosa, o poeta Olavo Bilac, o deputado Silva
Retumba e dr. Antonio Pinheiro Guedes; em Villegaignon, ge-
neral Antonio Maria Coelho, Domingos Jesuíno de .Albuquer-
que, Bento José Manso Sayão, Francisco Gomes Machado e dr.
Francisco Antonio de Almeida; na fortaleza de Santa Cruz,
capitão-tenente reformado João Nepomuceno Baptista; na for-
taleza de S. João, vice-almirante Dyonisio Manhães Barreto,
dr. Dermeval da Fonseca, coronel João Soares Neiva, Duarte
Huet Bacellar Pinto Guedes, João da Malta Machado e Fran-
cisco Portella (ex-governador do Estado do Rio).
Ainda aqui, nota-se o conluio de civis, alguns de alta ca-
thegoria social e política, com os militares. Si não obtiveram
exito na tentativa de revolta, explica-se isto pelo facto de lhes .
serem adversos a maioria dos officiaes do Exercito, que apoia-
vam o governo constituído a 23 de Novembro.
Acaso as medidas energicas reclamadas nessa occasião
pela situação de desordem em que se encontrava a Republica
e tomadas por Floriano, arrefeceram o animo dos políticos
que costumam antepôr aos altos interesses da patria, cohve-
niencias pessoaes?
E' o que vamos ver.

Derrubado o governo de Julio de Castilhos em Novembro


de 1891 por ter adherido ao golpe de Estado de Deodoro, tor-
nou-se instavel e anarchica a administração do Estado do Rio
Grande do Sul n as mãos de grupo s de políticos ambiciosos,
· que não se entendiam. Em -princípios de Junho de 1892, o
O Resto · da Verdade 21

governador general Barreto Leite passou. o poder ao marechal


Visconde de Pelotas. E, no mesmo mez, · este não tardou em ·
· resignar deante de uma sedição provocada pelos seus inimi-
gos políticos com a cumplicidade' da brigada policial.
A 17 de Junho o tenente Chachá Pereira dirigiu-se ao quar-
tel de policia e sublevou a tropa. Depois, foi á cadeia e liber-
tou todos os presos que lá estavam. Piquetes de policiaes fo-
ram .á redacção do jornal "A Federação'' e ahi reuniram-se a
populares armados, com o dr. Julio de Castilhos á frente. Em
seguida, niarch,aram para o palacio do governo, depuzeram o
Visconde de Pelotas e empossaram o dr. Castilhos. Este -re-
. signou acto continÚo e nomeou vice-governador o dr. Victori-
no Monteiro, quei ficou governando.
Embora o partido castilhista lhe fizesse opposição, o ma-
rechal .Floriano Peixoto conservou-se n\eutro deante dess•e s_
acontecimentos. E' que temia a restauração do predomínio dos
conselheiros Silveira Martins e Antunes Maciel, ambos suspei-
tos á Republica.
Antes de abandonar o palacio de Porto Alegre, o Visconde
de Pelotas havia transmittido o poder ao general Jóca Tava-
res, nomeado vice-governador. Este assumiu as funcções do
cargo eni Bagé, ficando desse modo o Rio Grande do Sul cmn
dualidade de governo: um em Porto AlegÍ·e e outro em Bagé.
Procura·n do depôr o dr. Victorino Monteiro, de mãos da-
das com Jóca Tavares, o .dr. Barros Cassal, que tinha feito par-
te de ·uma junta governativa do Estado, embarcou na canho-
neira Marajá, surta nas aguas de Porto Alegre e commandada
pelo capitão-tenente Candido dos Santos Lara. Uma vez neste
barco de guerra, intimou o general Bernardo Vasques, com-
mandante do districto militar, a manter-se neutro, deante dos
acontecimentos. Mas, não sendo attendido, abriu fogo de fuzi-
laria e canhão contra a cidade, cuja população tomou-se de
panico~
Nada conseguindo na luta · com as forças de terra, a Ma-
rajó zarpou para a cidade do Rio Grande, ond.e lhe assumiu o
commando o capitão-tenente Garnier,
A esse tempo deram-se varios combates no interior do Es-
tado. Em S. Gabriel o coronel Portugal derrotou as forças fe -
2.2 General Abílio de Noronha

deralistas que, em auxílio de Jóca Tavares, se dh:igi;m para


Bagé e que depuzeram as armas mediante garantias. Em Sant'-·
Anna do Livramento a cavallaria federalista era derrotada por
400 castilhistas. Por fim, em • Bagé, o proprio general J óca Ta-
vares, a conselho de Silveira Martins, dissolveu suas tropas e
emigrou para a fronteira com numerosos partidarios.
Passados alguns mezes, os chefes federalistas organizaram
na fronteira a invasão geral do Rio Grande do Sul, então gover-
nado pelo dr. Fernando Abbot. A 2 de Fevereiro de 1893, Gu-
mercindo Saraiva e Vasco Martins, á testa de 600 homens,
transpuzeram a fronteira e passaram a acampar em Aceguá.
No dia 11 acceitaram em Salcinho o combate com os castilhis- -
tas ao mando do coronel Manoel Pedroso de Oliveira, o qual,
bem que derrotado ahi, fez juncção no dia 14 co~ as forças
do coronel Elias Amaro e, juntos, perseguiram a columna in- -
vasora. Não se demorou a entrar em campanha o general Jóca
Tavares, que, collocando-se á frente dos federalistas é unindo-
se a Gumercindo, viu-se logo perseguido pela columna legal,
de que fazia eu parte, commandada pelo General Arthur Os-
car, a quem coube, mais tarde, no governo do dr. Prudente de
Moraes, bater os jagunços. Fugindo ao combate com as tro-
pas onde eu servia, Jóca Tavares operou um rapido movimen-
to sobre D. Pedrito, de cuja localidade se apoderou no dia 23
de Fevereiro em seguida ao mortifero combate da Lagôa Bran-
ca, cêrca de 60 kilometrôs distante de Alegrete. Tendo Jogo em
seguida Jóca Tavares recebido uni reforço, marchou sobre Sant'-
Anna do Livramento, que desd~ o dia 20 estava sendo sitiada
pelos federalistas. Era desejo deste chefe ir apertar o cerco
de Sant'Anna, mas informado de que o general João '.I'elles, á
frente de forte columna marchava de Bagé . em soccorro dos
sitiados, resolveu ir atacar outros pontos da fronteira, com o
intuito de distrahir, cançar e mesmo enfraquecer os que de-
fendiam Julio de Castilhos. Simulando voltar para Bagé, con-
tramarchou para D. · Pedrito, onde acampou. Tomavam, entre-
ta.rto, o rumo d e Alegrete diversos grupos de federalistas que
haviam transposto o Quarahim e outros formados na serra do
Caverá. A 27 de Março, na restinga da Jararaca, a 3 kilometros
da cidade de Alegrete, foi derrotado e feito prisioneiro o co-
O Resto da Verdade 23

ronel Santos Filho, que, de Cacequy, marchava á testa de mil


castilhistas. Depois desta victo_ria, os federalistas passaram a
barra do Quarehim afim de receber -nesse logar o armamento
eaviado pelo comité revolucionario. Assumiu então o com-
màndo dos. federalistas o coronel Salgado que, desgostoso, ha-
via abandonado as fileiras das forças legaes. Novamente en-
trou em acção o general Jóca Tavares, que se dirigiu para Ale-
grete, mas que no dia 5 de Maio de 1893, assistiu em' lnhandu-
hy á derrota de suas tropas pelas forças do general José Go-
mes Pinheiro Machado .. No dia seguinte os federalistas retira-
ram-se em trés colui:nnas e por differentes rumos. Informados
de que o general Telles marchava contra elles pela estrada de
Sant' Anna, seguiram para a serra de Caverá e no dia 12 de
Maio foram batidos em Vpàmarety e internaram-se pela fron-
teira no Uruguay. Todavia, Gumercindo Saraiva á frente dos
• seus 600 homens, avançou contra Caçapava, bateu-se em Pira-
hy e Cerrilhada contra as forças legaes e depois, vendo-se per-
seguido pelos generaes Rodrigues Lima e Pinheiro Mªchado,
regressou afinal para Lavras.
Estava assim iniciada a longa e sangrenta campanha nos
pampas do Rio Grande do Sul, cuja origem prendia-se unica e
exclusivamente a uma questão politica: a disputa do poder en-
ti:e dois partidos que se sentiam cadã qual mais forte é com
mais direito.
Em Junho de 1893 o almirante Eduardo Wandenkolk par-
tiu da Capital Federal no vapor Brésil para Montevideo e Bue-
nos Ayres. Entendeu-se nessas cidades com os chefes federalis-
tas e d' ahi sahiu num pequeno barco. Em aguas brasileiras as-
saltou o vapor nacional Jup__iter, assumiu-lhe o commando e
forçou a barra do Rio Grande. Achou ahi o auxilio do coro-
nel federalista Laurentino Pinto Filho, que se occultára na
cidade e occupou S. José do Norte com pequenos contingentes
de federalistas. O almirante apoderou-se então da canhoneira
Camocim e dos rebocadores Lima Duarte e S, Leopoldo. Ar-
mado em guerra sahiu o Jup__iter para o Norte, com o intuito
de provocar um movimento na esquadra. Veiu-lhe ao encontro ,:
o cruzador Reppblica, que, no dia 13, aprisionou o almirante
e seus companheiros. Conduzido â Capital Federál e condem-
24 Ge n 1\ r a l A bili o de N o ,r o n h a

nado em conselho de guerra, Wandenkolk foi eleito presidente


do Club Naval, como desaggravo, por seus camaradas. Isso
era o prenuilcio da revolta que, mezes depois, em Setembro,
havia de explodir na Armada, como havemos de ver mais _
adiante.
Antes de proseguir na narração da revolução federalista,
quero aqui abrir um parenthese, uma vez que fiz ligeira refe-
rencia á revolta da Armada. Si é verdade que Custodio de Mel-
lo concorreu para incorporar-se ao movimento sul-riogranden-
se um regulár numero de militares, não deixa de ser verídico
que tal facto não tirou em absoluto o cunho essencialmente po-
lítico da- revolução, que, desde o principio o adquirira com a
orieiitação suprema do conselheiro Silveira Martíns, refugiado
no Uruguay.
Em Agosto de 1893, prepararam os federalistas a segunda
invasão do Rio Grande do Sul. Tr,anspondo a fronteira em 10
de Agosto á testa de 10.00 gaúchos - e unindo-se em Lavras a
Gumercindo Saraiva, iniciou ci coronel Salgado a sua marcha,
· judo Gumercindo para Caçapava até São Sepé e d'abi retro-
cedendo e unindo-se ao coronel Salgado para: juntos travarem
a 27 de Agosto o sangrento combate do Cêrro de Ouro, onde
foram batidos os castilbistas commandados pelo coronel Po1:-
tugal. Em seguida a esta victoria e tendo os federalistas rece--
bido a noticia da revolta da Armada, resolveu Gumercindo
transpor o Ibicuhy~ atacar Itaquy e ligar-se á flotilha do alto
Urugu;y, Nada conseguindo este caudilho e perseguido pelos
generaes Rodrigues Lima e Pinheiro Machado, seguiu até Po-
vinho. Com o intuito de alcançar o Estado de Santa Catharina
que diziam em p_oder dos que directamente obedeciam ao al-
mirante Custodio de Mello, dirigiram-se Gumercindo Saraiva_
e o coronel Salgad-o, a II].arcbas forçadas para o Norte, pas-
sando por Cruz Alta, Carasinho, Passo Fundo, 'Matto Castelha-
no, Matto Portuguez, Lagôa Vermelha, Vaccaria e Bom Fim,
chegando finalmente a 7 de Novembro _ao Estado de Santa Ca-
tbarina onde encontraram um governo provisorio, á testa do
qual estavam os officiaes de marinha que tinham adherido á
r~volta da Armada, e mais o dr. Barros Cassai, Laurentino
Pinto e outro políticos. Seguiu o coronel S,a lgado para Lagu-
O Resto da Verdade 25
'
na e Gu~ercindo 1para o Paraná. Este invadiu o Paraná :pelos
Ambrosios e a 20 de Fevereiro derr-otou o tenente-coronel Is-
mael do Lago. Por sua vez, o coronel Antonio Carlos da Silva
Piragibe, á frente de _forte columna federalista, dirigia as ope-
raçõ{ls contra a cidade da Lapa, defendida pelo bravo general
Antonio Ernesto ' Gomes Carneiro. Desde 14 de Janeiro que o
general .Carneiro batia-se como um heróe contra Piragibe, que
continuamente recebia reforços, apezar de não contar com a
esperança de nenhum soccorro. Só a 7 de Fevereiro foi o ge-
neral _Carneiro v~ncido e morto em combate. Após essa victo- ,
ria, os chefes que obedeciam ao conselheiro Si_lveira J\lartins,
entre elles Piragibe, Gumercindo e Juca Tigre, emprehenderam
a invasão do Estado de S_. Paulo e a 14 de Março attingiam
Jaguarahyva. Visavam Itararé, mas 9 Governo, com a resisten-
cia do general Carneiro, na Lapa, tivera tempo de concentar
naquella cidade da fronteira paulista numerosa tropa. Diante·
disso, resolveram os federalistas retroceder para o Sul. Parte
dessas forças demandaram Santa Catharina e outras o- rio Pa-
raná, emquanto que uma col11mna retirava-se marchando pelo
centro. A 31 dé Maio foi Gumercindo derrotado nas margens
do rio Pelotas e teve que sustentar pequenos combates no Bar-
-ração e nas margens do •a rroio Forquilhas contra a columna na
qual eµ servj.a sob as qrde,ns do general Arthur Oscar e as for-
ças do ·general Menna Barreto. Já no Rio Grande do Sul, en-
tre Umbú e Mello, a pouca distancia de Passo Fundo, foram os
feder,al-istas derrotados pelo general Rodrigues Li~a e perse-
guidos sempre de perto pelas forças legaes, até que em Carouy,
no dia 10 de Agosto de 1894, após um combate, morria o cau-
dilho_e habil guerrilheiro Gumercindo Saraiva. Ainda assim, os
federalistas combateram a 27 de Agosto em Cruz Alta, conse-
guindo transpor · no dia 5 de Setembro o rio Uruguay.
Em seguida á niorte de Gumercindo Saraiva, as forças fe-
deralistas ficàram - divididas entre seu irmão Apparicio Sarai-
va, Guerreiro Victoria e Saldanha- da Gama, cuja entrada na
revolução havemos . de ver em outra parte quando tratarmos
da revo1ta da Armada.
Depois de muita demora, a 22 de Abril de 1895, invadiu
Saldanha da Gama o Rio Grande do Sul pelo Quarahim á ·fren-
26 General Abílio de Noronha

te de forte columna. Todavia, porque a discordia lavrasse en-


tre os chefes, achava-se Saldanha em frente da barra do Qua-
rahim Chico, no logar chamado Campo Osorio, á frente de 400
combatentes, quando a 24 de Junho foi atacado, derrotado e
morto pelas forças do coronel João Francisco Pereira de
Souza.
A 10 de Julho de 1895 era assignada a pacificação na ci-
dade de Pelotas pelo general Innocencio Galvão, como dele-
·gado do Governo Federal, e Jóca Tavares, pelos federalistas,
{erminando assim essa luta civil que tantas vidas preciosas
ceifou. No Congresso, depois de algumas discussões, foi appro-
vada a ãmnistia ampla aos federalistas e aos que a eÚes se ti-
nham unido, sendo a 19 de Setembro de 18~5 sancoionada a
lei pelo presidente da Republica que, nessa epoca, era o dr.
Prudente José de Moraes Barros.

Adepto da deposição violenta dos governadores que ti-


nham adherido ao golpe' de Estado de Deodoro, o contra-almi-
rante Custodio José de Mello não viu" com bons olhos a restau-
ração dos castilhistas no Rio Grande do Sul. Suspeita-se mesmo
que a attitude do capitão-tenente Candido Lara a bordo da
Marajó contra o governo do dr. Victorino Monteiro teve a
sympathia ou a cumplicidade do Ministro da Marinha do
marechal Floriano. O certo é que aquelie official general da
Armada, ainda ministro, entrára em confabulações com os fe-
deralistas e lhes tomara a defeza no seio do Governo._
Dimittindo-se do cargo de ministro, Custodio de Mello as-
sim se declarou à favor dos federalistas, em carta dirigida ao
marechal Floriano :
"Tenho em meu espírito a convicção inabala-
vel de que o movimento reyolucionario do Sul, não
tem intuito restaurador. A' frente delle acham-se re-
publicanos historicos, cuja tradição política exclue
qualquer susp:eita de attentado contra as institui-
ções políticas do paiz. Muitos delles combateram
O Resto da Verdade 27

depois do golpe de Estado de 3 de Novembro, pela


reivindicação da honra e do brio nacional, coope-,
rando no grande movimento de reacção em favor
da legalidade".
"Em taes condições seria uma injuria fazer
crer que _o s revolucionarios combatem por outra
causa hoje, que não seja a garantia de direitos e
de liberdades que lhes foram conculcados/'

Custodio de Mello, defen.d endo os federalistas, ipso facto


defendia aquelles que tinham deposto Julio de Castilhos por
ter este politico adherido ao golpe de Estado dado por Deodo-
ro. No entanto, foram os deodoristas, os que protestaram con-
tra a .derrubada violenta dos governadores realizada com a par-
ticipação de Custodio, àquellês que logo cerraram fileiras ao
seu lado e bem assim os jogadores da Bolsa que queriam a
'todo o transe promover para elles um periodo de rehabilitação
financeira. E' que os poli:ticos d'aqi;rella epoca, como os da
actualidade, quando sentem bem proximo o naufragio do seu
prestigio, agarram qualquer tabôa de salvação. Uniram-se nes-
sa occasião ao seu rancoroso inimigo que era Custodio, !obri-
gando com a revolta por este planejada a probabilidade da de-
posição do · marechal Floriano e . consequentemente a posse de
cargos políticos, que ambicionavam.
A revolta da Armada em 1893, quer pelo fim por ella vi-
sado, quer · pelos elementos a ella . filiados, tem todo o cunho
de uma sedição previamente preparada e combinada com in-
tuitos ~xclusivamente politi~os.
Vejamos em synthese o seu desenrolar..
A 6 de Setembro de 1893, emquanto rebentava uma gréve
na Estrada de Ferro Central do Brasil, sáhiu o contra-almi-
rante Custodio José de Mello, do Theatro Lyrico, juntamente
com o capitão de mar e guerra Frederico de Lorena e embar-
. cou em uma lancha no c-áes dos Mineiros, seguido do capi-
tão de fragata Alexandrino de Alencar, capitães-tenentes Gan-
dido Lara e Pinto de Sá, bem como dos politicos deputados fe-
deraes J. J. Seabra, Anfriso Fialho, Augusto Vinhaes, Fran~is-
co de Mattos e Jacques Ouriques, da opposição deodorista,
28 General Abilio àe Noronha

abordando · o encouraçado Aqizidaban, onde hasteou o pavilhão


de almirante e o symbolo da revolta - uma bandeira branca
- que pela manhã já tremulava nos mastros dos outros navios
da esquadra e nos vapores das compalihias Lloyd Brasileiro,
Lage e Frigorif ica, os quaes foram armados em guerra e in-
corporados á esquadra revoltada. O batalhão naval, aquarte-
lado na Ilha das Cobras e sob o commando do capitão de mar
e guerra Eliezar Coutinho Tavares, por sua vez adheriil. a re-
volta e foi guarnecer os vasos de guerra ao mando de Cus-
todio.
Depois de tentar no dia 8 occupar Nitheroy e apó~ ter bom-
bardeado no dia 12 a Armação e a 13 a cidade, resolveu o al-
mirante Mello mandar sahir barra a fór-a em demanda do Sul
uma expedição formada pelo cruzador Republica, vapor Palias
e torpedeiros Marcilio Dias~ sob o comma".ndo em . chefe do
capitão de mar e guerra Frederico de Lorena. Transpuzeram
a b;:trra estes navios a 17 de Setembro e seguiram até Santa
Catharina, onde no dia 27 surgiram deante de Desterro, hoje
Florianopolis. ·
Uma vez em Desterro e tendo adherido á revolta o gover-
nador de Santa Catharina, o tenente Manoel Machado, foi cons-
tituido então um governo revolucionaria presidido pelo chefe
da expedição naval, capitão de mar e guerra Frederico Lo-
rena, tendo como secretarios os tenentes João C. Mourão dos
Santos e Annibal Cardoso.
Emquanto taes factos se passavam no Sul, continua~am
na bàhia de Guanabara os bombardeios entre os · navios - forta-
lezas e baterias de terra, quasi· sem resultados militares. Avul-
tou, porém, o numero de victimas civis em Nitheroy e na Ca-
pital Federal, até. que, por intervenção dos diplomatas es-
trangeiros, se convencionou não atirar rn•a is com os canhões de
medio e grosso calibre, comprómettendo-se o Governo a não
artilhar os morros localisados dentro da cidade.
A fortaleza de Villegaignon, guarnecida por marinheiros,
adheriu á revolta no dia 9 de Outubro, deix'ando a neutralida..
de em que se mantinha. Ganharam assim os sediciosos um po-
deroso auxilio, q1;1er em combatentes, quer em artilharia de
grosso cal~bre.
O Resto da V e r ,d a d e - 29

A 12 de Outubro mais um navio revoltosó, o vapor. Meleóro,


conseguiu atravessar a barra, embora bastante avariado pelo
fogo das fortalezas. Esse vapor chegou a Desterro no dia 17
com . mais de uma dezen·a de feridos. · ""
. Durante o mez de Outubro, deram-se quasi que diariamen-
te duellos de artilharia entre a fortaleza de Villegaignon, San-
ta Cruz, S. João; Lage e Cragoatá, que eram assistidos pela po-
pulaç_ão que se agglomerava nas praias. Todavia os bombar-
deios mais terríveis nesse mez foram aquelles dos dias 14, 16,
20 e 22.
No mez de Novembro as operações correram cpm desas-
tres para os revo1tosos. No dia 3 explodiram os paióes de pol-
·vora ,que elles tinham na ponta do Mattoso na Ilha do Gover-
nador. A 12 submergia devido aos tiros da fortaleza de S.
João o coui·açãdo Ja1vary, apezar das infructiferas tentativas
dos _revoltosos para salval-o. No dia 27, apezar de pr,otegidos
pelo Aquidaban, Trajano e Jupiter, não foi possível aos sedi-
ciosos •assaltar a Armação e impédir que as tropas legaes reali-
zassem o transporte de um pesado canhão Withworth.
Na madrugada do dia 1.º de Dezembro o Aq11idaban, acom-
panhado pelo vapor Esperança, sahiu barra fóra, travando
violento combate com as fortalezas. Dirigiu-se ·para Santa Ca-
tharina, on.de desembarcou Custodio de Mello, que, embarcan-
do no Republica, tomou o rumo do Paraná. Isso feito, voltou o
Aquidaban sob o commando do capitão de fragata Alexandri-
no de Alencar a 12 de Janeiro de 1894 para a bahia de - Gua-
nabara onde entrou sem grande opposição dos legalistas, indo
se pôr á disposição do contra-almirante Saldanha da Gama,
que tinha à 9 de Dezembro de 1893 assumido o commando em
chefe da esquadra revoltosa em . operações na citada bahia.
Inimigo pessoal de Custo4io de Mello, Saldanha da Gama
conservou-se neutro, desde que rompeu a revolta. Sentindo, po-
rém, que _ tal posição se tornára insustentavel, trouxe sua
adhesão aos revoltosos, juntamente com a da Escola Naval,
que commandava. Em manifesto procurou justificar seu pro-
cedimento,. mostrando sympathias pela causa monarchica. E
deste modo fez antes mal do que bem á revolta, alienando-lhe
de todo o apoio dos republicanos, senão · do paiz inteiro.
'
30 General Abilio de Noronha

Assumindo o commando dos reyoltosos, Saldanha soffreu


grande revez. no assalto á Armação a 9 :de Fevereiro de 1894.
No primeiro impeto apoderou-se da posição com ci:t;ico coluni-
nas de marinheiros. Mas, pouco depoi~, foi repellido com nu-
merosas baixas.
A' noite de 21 de Fevereiro o couraçaqo Aquidaban sahiu
barra fórn, pela terceira vez, indo reunir-se ao Republica, que
estava cruzando naquellas alturas. Ao que consta, ambÓs deviam
atacar a esquadra legal ,que se reunia no Norte, mas desisti-
ram da empreza, mercê de se terem desarranjado as machinas
dos dois vasos de guerra, então sob -0 commando •do Almirante
.Custodio de Mello. ·
A esse tempo o Gov-e rno do marechal Floriano Peixoto con-
. c:entrava na Bahia a esquadra que formára com navios _adquiri-
dos .na Europa e nos Estados Unidos. Neste paiz haviam sido
comprados e armados dois navios mercantes, que receberam
os nomes de Nitheroy e Andrada. De estaleiros allemães vieram
cinco torpedeiras e dos inglezes o caça-torpedeiro Gustávo Sam-
paio. Vapores nacionaes armados e o velho monitor Bahia com-
pletaram a frota legal, cujo commando foi dado ao almirante
reformado Jeronymo Gonçalves,. veterano do Paraguay.
Sahindo da Bahia a 1.º de Março, surgiu .a es_q uadra em
frente á barra do Rio de Janeiro no dia 10. Preparava-se, para
f.tacar os revoltosos de coricerto com as fortalezas, . quando
soube terem elles se Tefugiado nas corvetas portuguezas Min-
dello e Affonso de .Albuquerque, onde pediram asylo.
Animada por 8Sse feliz resultado,. a esquadra do almirante
Gonçalves, com 11 navios, levantou ferro da bahia de Guana-
bara no dia 8 de Abril de 1894, rumo ao sul. No porto dé Des-
terro ~ncontrou o Aquidaban, que foi torpedeado pela Gustavo
Sampaio e abandonado. pela sua tripulação. A seguir occupou
·Desterro, no dia 17 desse mez, sem mais r.esistencia.
Antes desse acontecimento, Custodio de Mello resolyeu
tentar uma derradeira aventura. A 6 de Abril deixou Paranaguá
com o Republica e alguns navios mercantes, n_os quaes embar-
cou 2. 000 homens do coronel Salgado. A 9 atacou por mar
e ter-ra a cidade do Rio Grande, que resistiu e foi soccorrida
pela columna do coronel · Carlos Telles.
O Restó da Verdade 31

Repellido desse ponto e em desavença com o coronel Sal-


gado, Custodio reembar.cou sua gente, levou a tropa do referi-
do coronel paril a costa do Uruguay e foi com o Republica en-
tregar-se ás auctoridades argentinas na iJha de Martin Garcia.
Enfado~ho seria enumerar aqui o papel que os politicos
desempenharam durante . a revolta em favor da victoria dos
sediciosos. Apenas accrescento que, quando ia accesa a luta,
o dr. Ruy Barbosa, que tanto malsinou o militarismo ent-re nós,
foi incumbido de obter a belligerancia para os revoltosos em
Lopdres. Ao passar pela Bahia, em cum:primento de tal missão,
o marechal Floriano ordenou a .prisão dq illustre parlamentar,
que viajava- num paquete inglez. O general Galvão de Queiroz,
porém; não quiz cumprir a ordem e permittiu ·que o embai-xa-
dor dos rebeldes cGntinuasse a viagem até á Inglaterra, onde
a custo lhe contrariaram os planos os diplomatas brasileiros.
Não foi essa: aliás, a unica occasião em que a futura Aguia
de Haya se mostr-o u em contradicção com suas famosas doutri-
nas anti-militaristas. Durante a campanha abolicionista, em
1887, o apaixonado politico realizou meetings em frente ao
Quartel General do Exercito, cóncitando os militares a des-
obedecerem ao governo. E na questão militar, chegou a plane- _
jar · com o Visconde de Pelotas e o marechal Déodoro uma
sedição contra o ministerio Cotegipe.,

Embora tivesse eu tomado parte na Campanha de Canudos,


seria grande audacia da minha parte querer com detalhes nar-
rar os episodios dessa luta, uma v-ez que Euclydes da Cunha,
meu companheiro de barraca nessa epoca, enriqueceu a nossa
historia, a nossa geographi,a -ethnographica e mesmo . a nossa
geologia, com essa obra prima que é ·"Os Sertões".
Por outro lado, Canudos não, tem ligação -alguma com as re-
voltas visando sempre rim . fim politico, assumpto principal,
sinão unico destas despretenciosas narrações historicas. Por
isso, muito de incl'µstria, limito-me a uma simples synopse, em se
tratando de tal campanha.
32 _ General Abílio de No .ronha

O analphabetismo d:o nosso s~rtanejo e a falta de repres-


são .aos criminosos, deram origem a se concentrar em uma anti-
ga fazenda de gado, nas margens do alto Vasa-Barris, um eleva-
do numero .de individuas supersticiosos e cheios de horripi-
lantes crimes, que facilmente fanatizados por um doente mental
de nome Antonio Vicente Mendes Maciel, por alcunha Antonio
Consellleiro, praticavam toda a sorte de banditismo nos ser-
tões bahianos.
Para dispersar esse agrupamento de jagunços, em 1895; as-
sentou o governador da Bahia enviar o capuchinho frei João
Evangelista de Monte Marciano, que~ como mensageiro da paz
estando em Canudos, nada conseguiu dos fanaticos.
Organizou-se então em 1896 ~a primeira expedição contra
o Conselheiro. A' frente de cem praças do Exercito, no dia 12
de Novembro, o tenente Manoel da Silva Pires Ferreira par-
tiu de Joazeiro indo no dia 18 acampar no arraial de Uaúa,
distante de Canudos approximadamente 114 kilometros. No dia
20, á noite, quasi todos os habitantes do arraial retiraram-se
furtivamente. E' .que elles, segundo todas as apparencias, tinham
mandado emissarios a Canudos e estavam informados do que ia ,
acontecer. De facto, pela manhã do dia 21 os adeptos ·do Con-
selheiro accommetteram de surpreza o destacamento, que, na
_refrega, teve muitas baixas. Apezar de incendiar essa .localida-
de, teve o 'tenente Ferreira de bater em retirada precipitada,
abandonando na fuga os soldados e todo o armamento.
Tornava~se urgente a dispersão dos jagunços, fosse isso
do modo que fosse. Organizaram então segunda expedição com
um effectivo de 543 praças, dois canhões l{;rupp, calibre 75, e
duas metralhadoras Nordenfelt, cujo commando foi confiado
ao major do 9.o batalhão de infantaria de nome Febronio de
Brito. No dia 25 de Novembro de 1896, a expedição abalou da
Bahia e attingiu Queimadas e ahi foi informado o major Fe-
bronio de que os jag~mços não passavam no maximo de 1.000,
porém muito bem armados, municiados 'e habilmente entrichei-
rados. De Queimadas, seguiu -a columna para Monte Santo, de
onde retrogradou e dahi partiu novamente, visando Canudos,
a 12 de Janeiro de 1897, pela estrada do Cambaio. No dia 16,
deu-se o primeiro contacto entre as tropas do major Febronio
O Resto da Verdade

e os Jagunços e no dia 17 a gente do Conselheiro -0ccupava po-


sição defensiva e magnifica; o que levou a tropa no dia 18 a um
ataque contra essa posição, que, após ·um combate encarniçado,
foi tomada. Nesse mesmo dfa, âs 3 horas da tarde, a colurnna
acampou a seis kilometros de Canudos, mas no -dia ,19, quando
continuava a marcha, ficou de um inomento para outro com-
pletamente envolvida por um grande numero de fanaticos,
D-e1;de esse momento, o combate tornou-se violehtissimo e ccm-
tinuo. O_ major Febronio, diante de tanta resistencia e con-
vencido de que não podia em hypothese alguma bater os jagun-
ços, resolveu a retirada, o que fez debaixo d·e intens·o fogo.
Com o resto da expedição batida, conseguiu P.ebronio attingir
_Monte Santo, de onde regressou para a Bahia. ·
Derrotada a segu.n da expedição, s~m previamente estudarem
todós os detalhes para vencer os jagunços, nada indagando sobre
o numer•o exacto d'elles, qualidade de armamento e munições de
-que dispunham, incumbiram o coronel Moreira Cezar de chefiar
a terceira expedição, que, contando com perto de mil e tre-
zentos combat,entes e quatro canhões Krupp, no dia 8 de Feve-
reiro chegou em Queimadas. Deixando nessa localidade. pe-
quena guarnição, marchou para Monte Santo, onde no dia 20 o
grosso da columna já -e stava prompto para investida sobre Ca-
nudos, Comquanto o coronel Moreira Cezar no diá 1~ tivesse
.t ido um ataque de· epilensia e os medicos pr,evissem que elle ia
repetir~se, ficou resolvido que a expedição seguisse para o seu
destino -0 mais cedô possivel. Todavia ninguetn se lembrou da
hypothese de um _revez, nem da difficuldad.e de atravessar longos
trechos de caatingas e quarenta kilometros de areal, da falta de
agua e munições, bem como do perigo de ser aggredido durante
a marcha. Fixára · Moreira Cezar a partida de Monte Santo para
o dia 2~ de Fevereiro, porém na tarde de 21 mandou seguissem
sem demora na direcção de Cumbe, onde a vanguarda da columna
chegou em tres dias, mas o resto da força teve que parar, em
conseguencia de um novo ataque de epilepsia que teve o chere
da expedição, No dia 26 continuou a marcha da tropa no meio
de mil difficuldades causadas- principalmente pelo calor abrit,.
zador e · pela falta de agua. Chegando a Rosario, ahi ponde a
columna encontrar agua e fazer portanto um alto. No ·dia se-
34 Genera1 ··· Abilio a·e Noronha

gúinte, logo pela madrugada, · iniciara~ a marcha e pelas 11 ·


horas toda a expedição fez novamente um grande alto, manifes-
tando Moreira Cez:i.r a segurança absoluta que tinha na victoria.
-J?ahi tomou a columna a 'direcção de Angico, onde pernoitou. No
dia 4 de Março marchou Moreir-a Cez~r com a sua força én di-
.recção a Pitombas, onde uma de·s carga certeira dos jagunços
abateu mortalmente feridos um officinl e seis praças. A resposta
foi prompta,. mas os fa.naticos haviam fugido. Isso elevqú o moral
da tropa e _desde então o que todos lastimavam era ir encontrar
Canudos ab.andà nada. Não mais se pensou em dar· repouso aos
soldad-os e, num marche-marche, a exredição avistou o arraial do
Conselheiro. Iniciou-se· o ataque por uma carga de cavaliaria,
mas esta n.ão deu resultado, porque os cavallos, espantados com
os disparos, não· quiz~rám obedecer as redeas. Então a infan-
taria penetrando pelas vielas de Canudos_, desorganizou-se e
11ão pódia attender a vózes de commando dos officiaes. Ao prin-
cipio em grupos, depois aos pares e por fim isoladamente, os
soldados combatiam por conta propria, cada qual procurando
salvar a .sua proprl.a vida. Não era o panico mas era a desordem.
Nessa altura, enteJ?,deu o coronel Moreira Cezar que devia ir
em pessôa procurar restabelecer a ordem, mas quando descia
o espigão dos Pellados, a meio caminho, foi mortalmente feri-
do no v entre. Com a rapidez do raio, espalhou-se a noticia
desse desastre e o desanimo então apoderou-se de toda · a ex-
pedição. No dia seguinte, ás 5 horas da manhã, mofria o· ·coro-
nel Moreira Cezar e assumia o comm·ando o .coronel Pedro
Nunes Tamarindo. Era tarde para teµ_tar qualquer reacção, Reu-
nidos os officiaes em conselho, ficou estabelé.cido a retfrada,
mas esta se transformou n'umf,l verdadeira debandada debai-
. xo sempre do tiroteio certeiro dos jagunços. A artilharia foi
atac.a da · diversas vezes _durante a retirada ç por varias vezes
repelliu os ' jagunços, até que cercada· inteiramente por um
elevado numero de fanaticos, morreram lutando todos os arti-
lheiros inclusive o commandante, capitão Salomão da Rocha. O
coronel Tamarindo portou-se como um bravo, mas a uma certa
altura da marcha e quando procurava dar ordens, . cahiu da
montada D1ortalmente ferido. Sem chefe, batida e cheia de fome
e sede, chegou a desimada expedição a Monte · Santo.
O ,Resto da Ver d a d s 35

A noticia dessa derrota encheu de receio o Governo, não só


pelo vulto do revéz, mas tambem p-orque ahegarai:n a attribuir
aos monarchisfas a cumplicidade de fornecerem armas, muni-
. 'ÇÕes e até dinheiro ao Conselheiro.
Foi então organiza.da a quarta e ultima expedição, cujo
commando . em chefe foi confiado ao meu grande e saudoso
_ amigo, general Arthur Oscar de Andrade Guimarães. Compu-
nha-se de duas columnas. A primeira, junto a qual ireguiu o ge- •"
neral Arthur Oscar, era commandada pelo general João qa Silva
Barbo_s a e tomou mais ou menos o mesmo itinerario das ante-
riores expedições e a segunda commandadà pelo general · Clau-
dio do Amaral Savaget, penetrou pelo Estado de Sergipe visan-
do fazer juncção com a columna do general Barbosa, nas pro-
ximidades de Canudos.
Vejamos à marcha das duas columna1,.
· Dà capital da Bahia, seguiu o general .Barbosa para Queima-
das, onde a 5 de Abril de 1897 tinha a sua tropa prompta para
iniciar a marcha atravez dos sertões; mas, co_m o faltasse muni-
ção de boccà e de guerra e como os soldados fo~sem quasi todos .
bisonhos por 'serem ·novatos, foi, necessario uma grande demora
em Monte Santo para o abastecimento da columna e instrucção
militar dos soldados. Assim, só a 19 de Junho, foi que os gene-
raes- Arthur Oscar e Silva Barbosa á frente de perto de 3.000
combatentes,· com artilharia, iniciaram a mai'cha pela estrada
do Caldeirão, Joã, Jueté, etc. visando o arraial dõ Conselheiro.
Continuando a marcha, chegou a co.lumna no dia 27 em Pi-
to.mbas, onde teve contacto com os jagunç·os que ahi foram re-
pellidos e desse modo attingido o alto da Favella.
A segunda colurnna ás ordens do general Savaget, partiu de
Arabajú em princípios de Abril marchando em brigadas isola-
das até Geremoabo, de onde a 16 de Junho partiu unida para as
cercanias de Canudos com um -e ffectivo de 2.350 soldados· e
artilharia_. Seguindo as margens do rio Vasa Barris, ao chegar
á serra Vermelha em 25 desse mesmo mez, nas proximidades do
riacho Macambira, foi a columna fortemente atacada pelos ja-
gunços, originando-s~ um combate mortífero conhecido por ba-
talha de Coc.orobó e que terminou por sei;em os f.anaticos des-
alojados das posições magnificas que occupavam, por meio de um
36 General Abilio de - Noronha

assalto á bayoneta. No dia 27,_avançando na direcção de Canu-


dos,. foi . Savaget inopinadamente atacado de modo violento
pelos jagunços, mas, . mesmo assim, no dia seguinte, conseguiu
tomar posse de uma elevação de terreno e dahi inicia-r o bom-
bardeio do arraial.
Depois de combates sangrentos, as duas columnas com muita
difficuldade conseguiram unir-se, mas em realidade a situação ·
era desanimadora, pois as baixas já montavam a perto de 1.000
combatentes, entre os quaes officiaes superiores, como o bravo
coronel Thompson Flores e o tenente-cor-onel Tristão Sucupi-
ra, mortos á frente do 7.º e 12.0 batalhões de ·infantaria. A fome
já invadia com todos os seus horro_res a tropa. Um déstacamen-
to enviado dias depois para Monte Santo, voltava com a triste
noticia de· que lá não existia ·cousa alguma de alimentação. Co- ·
meçaram, portanto, o·s soldados a dispersarem-se, mesmo sem
licença, ora em pequenos grupos, ora isoladamente, eni busca
ele comida, quer talando algumas pequenas roças de milho ou de
mandioca que por lá existiam, .quer cortando raízes de mnl:)u
c-om as quaes matavam a fome, quer caçando cabritos •quasi
selvagens que viviam nas caatingas, isso tudo debaixo sempre
do tiro certeiro dos jagunços abrigados em tocainas, ou raste-
jando pe\o sólo com guizo ao pescoço, para fingindo-se de ca-
brito, melhor att:i:ahir para os logares ermos os incautos sol-
dados.
Com a noticia, mais tarde, de que ,estava para chegar um
grande comboio de viveres, reanimou-se a tropa no fim da se-
. gunda quinzena de Julho, mas no dia 13 desse inez deu entrada
o tal comboio, que era muito mesquinho. Diante a.isso, ficou re-
solvido dar um assalto contra Canudos, assalto esse que se reii-
lizou no dia 18 pelas 7 horas da manhã, c•om o. sacrificio d·e
94 7 baixas e com resultados quasi que insignificantes, pois
apenas uma quinta parte do arraial tinha sido tomado.
Como a situação fosse a mesma, como a fome ainda per-
durasse, pois havia .apenas um litro de farinha p~ra sete praças
e um boi para cada batalhão, re,s olveu o general Arthur Oscar
pedir um urgente reforço de 5.000 homens. Attendendo em parte
ao pedido do commandante em chefe da expedição, organizou-
se uma columna de 1.042 sold_?.dos e 68. officiaes, cujo comman-
O Resto da Verdade 37

do foi confiado ao general José Maria Girard. Esse reforço,


depois de muita demora, devido ao facto de ter sido atacado
pela varíola, chegou a Canudos tão reduzido que em nada veio
alterar a situação premente da tropa. ·
Reconhecida a insufficiencia dos reforços enviados, o Go-
verno tratou d_e organizar um novo contigente, que, forte de
_2.914 homens, no mez de Agost-0 partíu para o theatro das ope-
r ações. Com o serviço de reabastecimento da tropa qúe foi en-
tão o~ganizado, em Monte Santo, pelo marechal Carlos Machado
Bitencourt, nessa-epoca Mintstro da Guerra, elevado ficou a mo-
-ral dos soldados e iniciaram-se os ataques contra os jagunços.
Mesmo assim,..mortiferos foram os combates que se seguiram;
sendo de notar que no dia 1.º de Outubro, ao se realizar ·úm
assalto geral contra uma pequena parte do arraial, em p-oder dos
fanaticos, as baixas subiram a 567 entre mortos e feridos. To-
davia, apertado o cerco, no dia 5 de Outubro de 1897, Canudos
cahiu em poder das forças legaes _e as suas 5.200 casas foram
arrasadas.
Em que pese a opinião dos pretensos críticos, Canudos não
constitue uma -pagina de descredito para o Exercito, si se ·le-
var em conta os innumeros factores· que criaram os mais
serios obstaculos a essa cam1>anha.
A zona· do· alto Vasa Barris onde . se erguia Canudos, devido
á aridez do sólo, nunca fôra devidamente explorada, quer nos
tempos coloniaes·pelas bandeiras do Norte, quer nos nossos dias
pelos viajantes natturalistas que percorreram os sertões estu-
dando a nossa faun.a e flora. De modo que não se possuiu, não
digo folha topograpliica, mas uma simples carta geographica
em reduzida escala, onde estivessem assignalados com precisiio
os traços physicos desse quasi deserto ·encravado no Norte da
Bahia e fechado pelo semi-circulo . que o rio S. Francisco des-
creve antes de desaguar no Atlantico. Tudo era ignorado p ara
o Exercito . que penetrava nesse territorio ás apalpadelas, sem
nada saber ao certo da sua orographia, potamographia, flora
e climatologia.
Região com todos os caracteristicos de um mar extincto,
· as serras, serrotes e montes desnudos de vegetação, ahi se em-
baralham num altear e ar riar de modo abrupto que impressio~
38 Gene r a l -A bili o áe No r o n h «

na quem pela primeira vez a palmilha; systema potamogr.aphico


typico das zonas assoladas pelas seccas prolongadas, ribeirões
que só no tempo de chuva dão signal de ephemera existencia
e uni unico rio, o Vasa Barris, que devido á conformação geo~
logica do terreno que atravessa e o · seu grande declive para · o
oceano, em poucas semanas vasa neste as aguas barrentas dos
seus minusculos e periodicos affluentes; vegetação retratando fl.
ingratidão do terreno; a impenetravel caatinga com seus innu-
meros espinhos, natural e extensa rêde de arame farpado da
grande guerra européa; clima abrazador, ar immovel, queda
brusca de temperatura, atniosphera secca que mumifica- qual-
quer cadaver insepulto.
Som1ne-se a tudo isso a absoluta falta de vias faceis de com-
munic,a ção e consequente fallencia do serviço de reabasteci-
mento, factor primordial para o feliz exito de uma campanha,
ter-se-a o Exercito lutando nesse sertão contra diversos inimi-
gos invenciveis oppostos pela natureza, além do atilado jagun-
ço conhecedor palmo . a palmo do terreno e agindo de modo in-
v-isivel, de tocaina, num continuo combate onde a · tactica se
remmia n'uma caçada systematica de officiaes.
Nessa campanha, onde "o Exercito não me_diu sacrifícios
para cumprir o seu dever de obediencia ás ordens do Go;v crno,
para restabelecer a paz e a tranquillidade n'uma parte quas_i
que desertá do territorio nacional, perto de 5.000 baixas foram
registradas, entre as quaes um elevado numero de bravos e c,Jm-
petenies officiaes. ·
Os accusadores impenitentes do Exercito, _talvez não se
recordem mais do que foi Canudos, mas ,a historia não poderá
apagar de suas paginas os nomes daquelles meus camaradas que
tombaram para sempre, no campo da luta, em defesa da ordem e
quiçá da propria estabilidade da Republica.

O attentado de 5 de Novembro de 1897 contra a vida do


Presidente da. Republica, sr. dr. Prudente de Moraes, pren-
deu-se a uma propagand!'l ~ubversiva da ordem publica chefia-
da pelo então vice-presidente da Republica sr. dr. Manoel Vi-
o. Resto da Verdade · 39

ctonino Pereira, pelo senado1; João Cordeiro e pelos deputados


Francisco Clycerio, Barbosa Lima, · Torquato Moreira, Alcindo.
Guanabara e Irineu Machado, todos filiados ,a o denominado Par-
tido Republicano Federal, verdadeiro consorcio de radicaes ex-
tremados que .t raziam tambem como bandeira o jacobinismo
estulto.
Tendo o Governo, como medida de ordem, determinado
que fosse recolhida a munição da Escola Militar, rebentou no
dia 26 de Maio de 1897 uma revolta nesse estabelecimento de
ens1no, a · qual foi promptamente abafada. Das investigações
fejtas, provado ficou que essa rebellião tinha por fim depôr
o Presidente da Republica, não senl10 a ella extranha as prin-
cipa~s figuras do mencionado partido. De f.acfo, apresentada
em 29 de Maio desse mesmo anno á Camara dos Deputados uma
moção de ·congratulação ao Governo por ter sido suffocada essa
sedi9ão, .foi ella comb~tida . ten:azmel\te pelo deputado Francisco
Glyc-erio e l!emais politicos pertencentes ao Partido .Republica-
no Federal, ·o mesmo succedéndo no Senado, onde o dr. Manoel
Victorino Pereira impugnou identica moção apresentada pelo
senador· Bernardo de Mendonça.
A luta nos sertões da Bahia, em Canudos, contra os fanati-
cos de Antonio .Conselheiro, alguns revézes sÓffridos pelas tro-
pas legaes devido a topographia do · terreno, serviu de pretex-
to para esses políticos atacarem vehementemente o Governo da
tribuna do Parlamento e pelas columnas de seus jorn.aes. Diri-
gido pelo deputado Alcindo Guanabara , o jornal "A Republica"
atacou rudemente o Presidente da Republica e todos os seus
actos. Era i:;ecundado esse jornal pelo "O Paiz" e "Jacobino,", que
não trepidaram em fomentar toda a sorte de intrigas contra o
sr. dr. Prudente de Moraes, chegando ao cumulo de apontar a
porta do Palacio Presidencial .ao P,r esidente.
A discussão, nessa epoca, de um tratado com a França, ques-
tão delicada cÔmo são as pendencias internacionaes, tambem
offereceu ensejo para que os jornaes desses politicos assestassem
as suas baterias contra o Governo. A these que então desenvol-
viam era que ''O Brasil estava abaixo de San Marino". Não satis-
feitos com isso, projectaram um meeting, demonstrando com isso
que,r erem levar a discussão de um assumpto tão d.elicado, á
General Abilio. de Noronha

P.ràça publica . .Da tribuna da Camara, ·o deputado Barbosa Lima,


promofor desse meeting, o annunciou de modo violento. Para
evitar que a ordem publica fosse perturbada, prohibiu a policia
o meeting annunciado, mas com isso não arrefeceu o animo dos
adeptos do Partido Re,pziblicano Federal, tanto assim que de
uma das janellas da redacção do jornal "A Republica", isso em
Agosto, o dr. Manoel Victorino- Pereira, os deputados Francisco
Glycerio, Alcindo Guanabara, Barbosa Lima e outros, proferi-
ram discursos violentissimos contra o Presidente da -Republica.
Porém, a audacia desses politicos culminou a 5 de Novem-
bro, por um atten1ado previamente preparado e· combinado, que
teve p,or theatro o Arsenal de Guerra. -
Acompanhado de sua casa civil e militar, o dr. Prudente
.
de Moraes dirigiuase para bordo do vapor Esp:irito Santo, afim<
de da,r uma prova de apreço ao·s soldados que, após a tomada
de Canudos, voltavam da Bahia.
O Arsenal de Guerra ponto do ·embarque e desembarque, es-
tava repleto de povo. O presidente chegou e dirigiu-se . ao em-
barcadouro, sendo que na sua passagem recebeu respeitosa cop-
tinencia de um anspeçada do Exercito que estava fardado e àr-
mado, anspeçada e.ste de nome Marcellino Bispo .de Mello.
Satisfeito •O objectivo de suà ida a bordo, ·.regressou o sr·.
dr. Prudente de Moraes ladeado pelo marechal Machado Bit-
tencourt e general Luiz Mendes ile Moraes, aquelle Ministro da
Guerra e esle chefe da casa militar do Presidente.
Ao sahir o Presidente da Republica do embarcadouro e ao
voltair para a alameda central,. bem em frente ao portão Miner-
va, cerca de 1 hora da tarde, surgiu do meio do povo ·e do
lado direito da comitiva presidencial, e como impellido, o mesmo
anspeçada que momentos antes havia saudado o sr. dr. Pru- t
dente de Moraes. ·
Rapido, esse anspeçada atirou-se á frente do Presidente e,
de garrucha em punho, apontando-a contra o sr. dr. Prudente,
esforçou-se para executar o crime, mas a arma negou fogo por
duas vezes.
Diante disso, o sr. marechal Carlos Machado Bittencourt,
que se achava ao lado do Presidente, avançou contra o anspeça-
df!., com quem tr.avou luta corporal, procura,ndo desarmai-o.
O Resto da Vel'dade 41

Acctidiram outras pessôas, entre as quaes o sr. general Luiz


Mendes de Moraes e alguns dos seus ajudantes de · ordens, que
·tudo fizeram por p'aralysar as T,epetidas • investidas do anspe-
ça•d a.
Travou-se então rapido e terrível conflicto, d•o qual sa-
hiram feridos, o sr. marechal Bittencourt com cinco facadas e o
sr. general Mendes dé Moraes com uma no abdomen.
Tão graves foram os ferimentos recebidos pelo ·Marechal,
que -expirou e1le mortientos depois em uma das salas do pavi- -
mento terreo do Arsena.l,. para onde. tinha sido conduzido.
· O sr. general .Mendes de Moraes, depois_ de ter acompanha-
do o Presidente da Hepublica até o portão, - onde se achava a
carruagem presidencial, foi medicado no Arsenal e logo depois
levado em padiola para a sua residencia.
Logo após a sahida do Presidente, e quando ainda era la-
tente ,a sensação que tão grave attentado produziu, surgiu entre
acclamações do popúlacho o sr. dr. Manoel Victorino Pereira,
vice-presidente da Republica, que regressava de bordo ·uo Es-
pírito Santo, onde tambem tinha ido em companhia do deputa-
do . Barbosa Lima, sendo que este, momentos antes do .attenta-
do, tinha feHo um vfolento d~scurso a bordo do referido navio
contra 0 dr. Prudente de Moraes, discurso esse applaudid_o pelo
dr. Victorino Pereira.
Marcellino Bispo, uma vez preso e interrogado, negou-se a
descrever toda a trama do attent,a do e denunciar ,os seu~ cum-
~lices. Porém, proseguindo a policia nas suas investigações,
pouco a ·pouco foi derramada lttz completa sobre o revoltante
crime.
,O inquerito policial então concluído; apurou a responsa-
bilidade das seguintes pessôas: anspeçada Marcellin,o Bispo, Deo-
cleciano Martyr, José Rodrigues Cabral Noya, Manoel Fran-
cisco Moreira, Servilio Jos·é Gonçalves, Marcos Curius · Mariano
. de Campos, UmbelÍino Pacheco, Rodolpho Lopes da Cruz, Je-
ronymo Teixeira França, Antonio Evaristo d.a Rocha, José de
Souza Velloso, Fortunado de Campos Medeiros, ·Joaquim Au-
.gusto Freire, dr. Manoel Victorino Pereira, Joã,o Cordeiro, Fran-
cisco Glycerio, Barbosa Lima, Irineu Machad<;>, Torquato Mor~i-
ra e Alcindo Guanabara.
Generai' Abilio de Nor_onha '

Com relação aos politicos, o inquerito _policial apurou: ( *)


A responsabilidade do vice-presidente da Republica, dr.
Manoel Victorino Pereira, ficou provada pelos. depoimentos de·
todos os cumplices, notadamente pelo de Deocleciano Martyr,
o maior reponsavel pelo attentado, exclusão feita do anspeça-
da Marcellino Bispo, o executor do crime. De facto, · o dr.
Victorino teve innumeras conferencias reservadas con;i. Deocl:e-
ciano e deste recebeu cartas sobr e o a11damento do plano vi-
sando eliminar o sr. dr. Prudente de Moraes. '
O senador Jo'ãé> Cordeiro foi procurádo varias v-ezes por ·
Deocleciano, no Senado, com quem conversou em segredo. Por
sua_ vez, Deocleciano declarou no seu depoimento, qu~ esse
senador estava sciente de todo o plano visando o assassinato do
Presidente da Republica e o denunciado Cabral' Noya, por sua
vez disse ' que, ouviu de Umbellino Pacheco, a deélaração de
que o senador João Cordeiro fazia parte do complot.
Com relação ao deputado Francisco Glycerio, o co-autor
José de Souza Velloso declarou,. que foi o portador de· cartas
de Deocleciano a esse político. Evaristo d'a Rocha, tambem
apontado como cumpiice no attentado, disse .no seu depoimen-
to que Deocleciano lhe tinha mostrado uma carta do ·deputado
Francisco Glycerio, pela qual se via o apoio que esse político .
dava ao plano de àssassinato do Presidente, carta essa que Deo-
cleci ano queimou na presença do capitão Servilio. Gonçalves,
isso na noite do aftentado e ·no quartel do 1.0 regimento de ca- ,
vallaria.
Quánto ao deputado ·B arbosa Lima, ficou apurado que di-
versas vezes foi procurado no Congresso por Deocleciano Mar-
tyr, a alma damnada de todo o attentado, com quem co.nversou
sempre em logar reservado e de quem confessou ter ouvido a ·
declaração de que se tramava ó assassinato do Preside1,1te da
Üepublica. No dia 3 de Novembro, portanto nas vesperas do
attentado, o sr. Barbosa Lima pronunciou um discurso violen-
to, que terminou comparando o dr. Prudente de Moraes com o
f.anatico Antonio Conselheiro. Poucos momentos antes do cr-ime
· de Marcellino . Bispo, esse político, estando a bordo do Espirita
Santo, ahi mais uma vez discursou atacando rudemente · o Go-

( • ) Vide " Diario Offlcial" da União d e 12 de Janeiro de 18~8.


'
_\
O R'- plo da Verdade 43
\

verrto.' Após -o attentado, o dej5utado Barbosa Lima occultou-se e


d_epois refugfou~se no Instituto Profissionai e d'ahi sahiu h oc-
cultas,' com o nome de Ildefonso de Barros, para tomar passagem
para_Montevideu, em companhia do deputado Alcindo Guanaba-
ra, sendo então preso.
Ficou provado que o deputado Irineu Machado recebeu
carta.s de Deocleciano por intermedio do cumplice José de
Souza :Velloso. Por sua vez, o ·capitão Manoel Francisco Moreira,
envolvido .no processo, declarou que sobre o plano do attenta-
flo conversou com esse politico na r.edacção do _jornal "O Jaco-
bino", conversa essa assistida por Deocleciano. A pedido deste
criminoso, o deputado Irineu Machádo forneceu o dinheiro
par,a â ·compra da garr~cha destinada a Marcellino Bispo.
O deputado Torquato Moreira, . primo-irmão
,, do capitão
· Manoel Fran'cisco Moreira, cnmplice do attentado, e na r esi-
den cia deste, teve conferencias reservadas com Deocleciano,
Lógo após a decretàção do estado de sitio e sem que tivesse
sido incommndado pela policia, apressadamente retirou-se no
dia 13 de Novembro -para o Estado de· Espírito Santo, não mais
v~Hando a tomar parte nos trabalhos da Camara.
A .respeHo do deputado Alcindo Guanabar1a, ficou patente
que 'era o autor dos artigos incendiarios publicados no jornal
"A Republica", inclusive o que sahiu no numero do - dia do at-
tentado, onde a virulencia tocou as raias. Sem que houvesse
contr,a esse político medida alguma -da _a uctoridade policial, ·
em companhia do deputado Barbosa Lima, tentou fugir para
Montevideu, sendo preso nessa occasião.
Quanto ao anspeçada Marcellino Bispo, a·ntes que fosse jul-
gà<fo; uma certa m:a nhã appareceu enforcado na grade da prisão
em que se achava no ántigo Arsenal de Guerra, apesar de estai',
dia e noite, sempre vigiado por sentinella a vista, ..

A revolta de 11 a 14 de Novembro dé° 1904, conhecida ge-


ralmente por Revolta Contra a Vacclna Obrzgatoria; teve sua
origem . nas desmedidas ambições de alguns politicos, os qnaes
não vacillaram em desviar do bom. caminho alguns officiaes do
44- General Abilio de Noronha

Exercito e, o que ê peior ai:p.da, exploraram a bôa fé dos jovens


e inexperientes alumnos das nossas escolas militares.
Já em Hns de 1903, o Governo da Republica vinha sendo
fortemente atacado nó Congresso Nacional por certos impeni-
tentes mashorqueiros e alguns jornaes como "O CommerciQ do
·Brasil" e o "C.orr.eio da Manhã", não tinham diques para· os
sê11s insultos ao Presidente da Republica. O Dr. Alfredo Varella,
deputado pelo Rio Grande do Sul e redactor-chefe d'"O Com-
mercio do Brasil", tinha declarado em pleno recit0 da Camara
dos Deputados que, "não ·estava ainda conspirando, mas que
não negava que, se estivesse em suas mãos o fazer chegar o fogo
á mecha para o incendio da mina, · não hesitaria em prestar
mais esse serviço á Republica". O senador Lauro S.odré, de par-
ceria com o d·eputa-do Varella, ia pouco a pouco fazendo o seu
trabalho machiavelico presidindo reuniões -de operarfos, confa-
bulando com alguns officiaes do .E xercito, pois alimentava o
s0nho dourado de ser um dictador por meio de um go1pe de
anàacià le:Yado a effeito _com o concurso da classe operaria
apoiad-a por algumas unidades do Exercito, contra o governo
legalmente constituido da Re-p ublica.
Em 1904, deante do quadro .desolador de uma epidemià .rle
variola que, como nunca, levou · a morte e o luto a tantos lares,
vicUmando cruelmente a população da Capitál Federal ê, na
obrigação em que -estava de acudir com providencias urgentes
e energica's, afim de evi:tan tanta mortandade, resolveu o 'Go-
verno pedir ao Congresso· a votação- de uma lei humanHaria,
qual a -da vaccina obrigatoria.
Estavam os sediciosos á espreita de um pretex.to que expli-
casse uma •certa agitação do espirito publico p.or elles reputadn
necessari; como ipeio _para attingir os fins do tenebroso plàno
de ha muito concertado nos conciliabulos co.ntra o Governo.
Aproveitaram então da lei que era discutida. no Congresso
sobre a vaccinação, para incentivar a revolta e peJ.os seus orgãos,
. na imprensa e no Parlamento, abriram uma rt!de cnm-panha de
descredito contra esse projecto de le-i, atacando-o . nos mínimos
detalhes, em longas orações, com um desusado vigor de phras~,
como se tratasse de algumâ medida de lesa-pa-tria. .
\ \
Q\
'
R esto d a V e r d a d-e 45
\
. ' \Desse · duello, que par,ecia interminavel, entre o poder pu-
blicci que procur;ava zelar pelá vida do povo, e os agitadores da
ordein qµe encontravam tÕdo o pretexto para atacar os actos do
Goverho, resultou ser votada a lei que tornava obriga.faria a
vaccirlação. PaÍ·ecia que tudo ia .voltar .á calina com esse des-
feçho,' quando ,os politicos adeptos da ·sedição e que . não pude-
ram em 17 de Outubro, data do anniversario natalicio •do sena-
dor L'l).Uro Sodré, levar à effeito a r:.ebellião, devido as vigilan-
cias da :policia, resolveram por em pratica as. suas idéas sub-
versivas ·da ordem publica a pa-rtir de 11 de Novembro,.
lnkiou-se a revolta por meio de bandos de indivíduos edu-
cados na escola de todos O$ vicios, malandros, criminosos,
vagabundos, desorde'iros profissionaes, dirigidos pelo ex-di-
rector da Casa da Moeda, dr. Vicente de Souza e por Pinto de
Andrade, os quaes commettiarn toda a sorte . dos mais graves
.attentados, ora atacando üS transeuntes a pedradas e a ,tiros,
· ora invadindo casas de negocios e saqueando-as, ora embara-
çando, difficultando e impedindo 'o transito de vehiculos e
delles se apropriando para inutilizal-0s , a golpe de machado e
pelas charmnas do incendio, ora queorando os combustores da
i,lluminação ,publica e , deixando.- em ,trEivas as ru.a s e ·praças,
OI'a fazen4o barricadas, que os amparassem e protegessem de
qualquer acçãp da força publica, ,ora entrando em luta · com
os a@ntes das auctoridades e com a propria tropa, a ·que
davam combates a pedradas e tiros, ora tentando repetidas
vezes· assaltar os gazométros, ora atacando os postos ·policiaes
e até os · quarteis. O c6mmercio foi obrigado .a fechar suas
p'Ortas e os bondes foram recolhidos aos depositos, tal a ins.e-
gurança que reinava.
Afigurou-se, então, nesse · momento aos chefes da mashor-
ca; que o Governo já estava em condições de n}ío mais se
poder d·e fender, visto que a ordem .não . tinha sido restabele-
cida nas ruas e a tropa dava signal de grande fadiga. Assim
pensando, resolveram ,p or em execução o resto do plano sub-
versivo anteriormente ~elineado.
Para isso, re.a 1izáram no dia 14 uma reunião no · Club Mi-
litar, á qual comparecera•r h: senado.r Lauro Sodré, deputado
Alfredo Varella, generaes Sylves~re Travassos, Olympio da Sil-
I
46 G .e n e r a l A b ili o de N ·o r o n 1/ a
f

veira e Marciano de Magalpães, hiajor _Agostinho Raym{ndo


Gomes de Castro, eapitão Antonio Augusto de Moraes, 'civil
dr. Vicente de Souza e outros elementos compromettid,os no
plano subversivo. /
F icou nessa reunião combinado todo o detalhe da ultima
phase _da rebe1li,ão. A cargo do dr. Vicente de Souza es1tava' 8
agitação do po[l)ulacho; o general Sylvestre Tr-a vassos iria '
levantar .a Escola Militar da Praia Vermelha; o general Olym -
pio g.a Silveira assumiria o commando das forças ,do Exercito
na Praça da Republica, forças essas constituidas pelo alumnos ,
da Escola de Tactica do Realengo, 20.• batalhão de infanta-
ria e 5.º regimento de artilharia; o gener.a l Marciano de Maga-
lhães assumiria o commando da Escola de Tactica do ReaJen-
go, sendo encarregado de sublevai-a o major Gomes ~e Castro.
Tudo muito be:ilJ. _calculado e _sem contar com nenhum im-
previsto, começaram ·ii. desenvolver;
.
a por em pratica
.
a trama.
O major Agostinho Raymundo Gomes de Castro seguiu di- ·
rectamente para _a Estação Central da Estrada de Ferro Cen-
tral do Brasil, afim de tomar o trem das 4,10 da tarde com des-
tino ao Realengo. Acompanhava-o o capitão Antonio Augusto
de Moraes, Pinto de Andrade e Arthur Rodrigues da Silva\
Ao chegar ao Realengo, encontrou-se çom o então general
Hermes da Fonseca, commandante da Escola, a quem pro curou
disfarçar a sua presença naquella localidade, allega_n do ter
I
ido a passeio em visita a um amigo.
O então general Hermes, justamente alarmado com o es-
tranho visitante e desconfiando que este e os demais compa-
nheiros achavam-se naquella estação com o intuito de suble-
var a Escola, dirigiu-se para esta, onde mandou tocar a reu-
nir e f.ez ver aos seus com-mandados a presença do major Gomes
de Castro no Realengo, e disse-lhes quaes as -suas àpprehensões.
O major Gomes. de Castro, sabendo que o então general
Hermes disistira da viagem para a cidade e partira para a
Escola, dirigiu-se para o quartel do 20. 0 batalhão de infanta-
ria, onde, depois de se entender com o major fiscal Joaquim
Elesbão dos Reis, e de haver tomado uma tunica de sua pa-
tente e um kepi de oleado, e montando n'um cavallo do bri-
gada desse · batalhão, p artiu a galope para a Escola .
,' d\' Resto da Verdade
\
· \ Ouvind~ toque_ de reunir do 20.º batalhão, os alumnos da
Esco\a correram a se armar, gritándo que esse batalhão vinha
prender o general com-mandante. ·
o11então general Hermes chegou á janella do seu gabinete.
e, verificoi1 que o major Gomes de Castro se dirigia, fardado
e' a . galope, á Escola. E vendo-o , entrar, desceu rap ido, indo
em p Jrseguição do major, e procurando alcançal-o já o en-
controu cercado de alumnos.
Deu-lhe vóz de prisão, que ' foi cumprida por grande nu-
, mero de alumnos os quaes, acto continuo, se apoqeraram desse
. · major, que então empunhava um revolver.
, · Desarmadq, foi o major Gomes de Castro recolhido pres-o ao
gabinete do general commandante da Escola.
Quando isso se passou, nma scena mais _violenta occorreu
. no saguão da Escola com · Pinto de Andrade, o qual, entrando
armàd·o de espadim, após o major Gomes de Castro, gritou:
"prenda o geí1eral! mata o general!" · '
Embargados os passos de Pinto de Andrade . pelo então
alferes Affonso Pinho de Castilho, ·que lhe applicou muitas.
·e spaldeiradas, ,s endo nisto secundado pelos alumnos que, a couce
d'armas, subjugaram aquelle malfeitor, e quando o. secretario
da Escola, tenente João Manoel de Araujo, que acompanhava
o general director da Escola, providenciava para o fechainento
do portão,' • eis que deste se approximou o capÚão - Antonio-
-Augusto , de Moraes, que, de revolver em punho, procurou
entrar. Advertido este capitão para que se retirasse e não se
compromettesse mais, a resposta foi um tiro, que attingui u
aqu~lle t_enente, o qual, buscando se defender com a espada,
foi agarrado por Pinto de· Andrade, que pediu 'misedcordia.
Nesse acto, o capitão Antonio de Moraes desfechou novamen-
te o revolver sobre o. tenente secretario da Escola: a bala
errou o alvo e foi attingir as costas de Pinto de Andrade. Fugiu
ent€io o capitão Antonio de Moraes em companhia de Arthur
Rodrigues da Silva, e foi até ao quartel do 20.º batalhão de
infantaria, 01Íde assegurou ao major Elesbão dos Reis que a.
Escola .ia sahir e só aguardava a chegada do batalhão; e em , se-
guida retirou-se, caminhando a pé até Cascadura, onàe tomou
i
f/
Í
48 G e n. e r a l Abili o de N 0 r o n h/

o treni em direcção a cidade, ahi chegando cerca de


noite, recolhendo-se á sua residencia. · J ·
m
ia
Ao tempo em que isso se dava na Escola de Tactic.i do
Realengo, com tamanho insuccesso para os sediciosos, ruhitos
officiaes alumnos passavam fardados em outra zona corrÍ des-
tino ~ Escola Militar da Praia Vermelha, e ás 6 horas elmeia
da tarde entravam nessa Escola, um após outro, o senador
Lauro Sodré, o deputa:do Alfredo Var-ella, o general Syl;vestre
Travassos, este a perguntar pelo commandante, general /\-lipio
da Fontoura Costallat. ·
Factos extraordinarios occorreram então na · Escola Mili-
tar da Praia Vermelha.
O commandante general Costallat, que para ahi se dirigiu
momentos antes, em consequencia de receios, a elle communi-
cados pelo seu ajudante de ordens1 _a visado pelo capitão Leite ,
de Castro, de que alguma cousa de anormal passava nesse es-
tabelecimento, teve noticia pelo superior do dia que rnuitQs
alumnos falavam acaloradamente, sendo o mais - exaltado o
então alferes Sebastião Pinto da Silva. Em segui-da, informou '
o superior de dia que esses alumnos se movimentavam para o
lado da arrecadação e que a atacavam. ·
Foram improficuas as providencias tomadas pelo general
Costallat para restabelecer a ordem. · Formal foi a desobedien-
..,cia. Os alumnos dispararam tiros para o ar e deram vivas a
Lauro Sodré.
Como ultima tentativa, ordenou o ·general éommandante da
Escola .a formatura da guarda do portão para obstar a sahida
dos alumnos, no que foi desobedecido. Quando se dirigia para
esse portão o gl)neral Costallat, encontrou-se com o general
Travassos, sendo ambos nessa occasião .cercados por alumnos
armados.
O commandante da Escoia interpéllou o general Travassos,
sob que pretexto estava elle na Escola. Respondeu-lhe o gene-
ral Travassos que, "como chefe do movimento revoluciona-
rio, em nome do Exercito revoltado, e acclamado pela mocida-
de das escolas, vinha assumir o commando da Escola".
Retorquiu ,-0 general Costallat; "o commancwnte desta Es-
cola sou eu; para este commando fui nomeado pelo governo
"\ \

O R\·, sto da Verdade

legàl, ~\~ó
Ih'o entrego á vista da força, por não ter meios· de
resistir. Considere-me seu prisioneiro".
~ " Q sr. general é livre e será acatado; sei que jogo a
_ cabeça, dias saber__ei _cqmprir o meu -dever. O sr. general cum-
p-ra o seu\' ---; disse o_general Travassos.
-~enhor da Escola -Militar, e ao tempo em -que d'elia se
retirava, pela violencia dos acontecimentos, o generai Costal-
la·t, tratou logo _o general Travassos de organizar a columna
expedicio~aria com direção, ao . palado do Cattete._
Formada a Escola, o general Travassos deu vóz de com-
mando e os ' alumnos desfilaram em columna de pelotão até
a rua da Passagem, canto da rua general Polydoro, onde fi-
zeram àlto. Eram 10 e meia horas da noite de 14 de Novembro
de 1904.
Seguiu c!}m a tropa rebelde, cujo effectivo era de cerca
de 300 homens, o sepador Laur-o Sodré e o deputado Al•
fredo Varella, ambos armados. _
O Governo, ,a cujo conhecimento havia chegado o facto
da sublevação -dá Escola Militar, deu-se pressa em agir como
o caso imperiosamente reclamava. Pelo MinistrÓ do Interior e
Justiça, foi ·determinag.o que a Brigada Policial e o Corp·o de
Bombeiros, partissem sem demora para o · Cattete. Moveu-se
tambem com o mesmo destino forças do Exercito e da Marinha.
Organizada a brigada de ataque aos . sediciosos composta
do 1.0 batalhão de infantaria do Exercito e de dois batalhões
da Brigada Policial, sob o commando do general Carlos Pi-
ragibe, marcharam estas forças ao encontro dos alumnos re-
voltados, aos quáes já se havia incorporado, formando a sua
retaguarda, o piquete· do 1.º regimento de cavallaria comman-
dado pelo tenente _V irgílio de Carvalho, que foi avisar o ge-
neral Travassos da approximação das forças legaes, pondo-se
acto. continuo ás ordens deste general. -
Defroiitand-o os alumnos, _ ordenou o general Piragibe . que
fosse feito fogo, fogo este immediatamente respondido pelos
sediciosos. Como era natural, devido a curta distancia entre
os .adversarios, essa primeira descargâ de parte a- parte oc-
casionou mortes e ferimentos. Diante disso, o combate foi
suspens~. A noite estava escura e concorria pa.ra auimentar
50 Gen e r a l A b i ·1 i o de

a escuridão a falta de illuminação pela destruição dos com-


bustores pelos arruaceiros. As forças legaes não podeii'do dis-
tinguir bem os amotinados e julgando-os numerosos, f~i presá
de panico e retirou-se apressadamente em direcção aô1 Catteté.
Por outro Jado, o general Travassos tinha sido gr,avemente
ferido na perna esquerda e o cavallo
'
que montava estava
.1
morto.
Desmontado e cahido na rua, o general Travassos foi cercado por
alguns · officiaes que procuraram ver-lhe o feririle~to, sendo
nesse momento conduzido para a residencia de um. seu filho
de nome Juliano, alferes · do Exercito que estava ao seu lado.
O ferimento do general Travassos occasionou d desanimo
entre os alumnos que debalde pr_ o curaram, . para assumir o
commando d'elles, o senador Lauro Sodré, tenenté-.c oronel do
Exercito, a alma da revolta, que não foi encontrado, pois ha-
via fugido. Sem quem os orientasse, em debandada, os alumnos
regressaram á Escola Militar cuja séde era na Praia-.Vermelha. '
. 1
Ao regressar a tropa do general Piragibe ao' Catiete: e
quando tudo parecia indicar, na ignora.ncia em que estavam
de haverem retroéedidos para a Escola Militar os . alrimnos, e ·
na supposição de que estes com mais àlguns elementos marcha-
vam sobre o Palacio do Governo, e que o combate ia se dar
ali mesmo com forças de se empenharem vantajos:..mente em
luta igual com as tropas leg·a es que então guarneciam o P~l✓-
cio; quando, pois, em wna palavra, a ordem ConstituciÓnal
via-se desta formá ameaçada, na imminenci_a de um ·combate
decisivo, foi para notar, e cumpre dizel-o eiil homenagem a
virtude patriotica do eminente Presidente da Republica, sr.
conselheiro Francisco qe Paula Rodrigues Alves, que j'amais
se lhe enfraqueceu o animo em presença do perigo, confiante
em que a Republica seria salva, ou quando o não fosse, por
um desastre irreparavel das forças que a defendiam, em outro
lagar não _encontral-o-hiam os sediciosos sinão ali, na séde do
Governo, para a defesa, com o sacrificio da propria vida, da
Constj,tuição e das leis.
A revolta foi previamente preparada ,e combinada entre
os que d'ella pariiciparam, e attingiu proporç.ões de um ver-
dadeiro plano revolucionario destinado a substituir ,o Go·v erno
legal por uma dictadura militar, pois coiucidiu com ella o
\
\
\ ·
O R,e
,, s to da Ver d a d e '51

levante do 9.º Batalhão de infantaria aquartelado em S. Sal-


v;dor da Bahia e uma linguagem violenta dos . jornaes do P.ará
e Pernambuco acqnselhando abertamente a rebellião. ·
Do relatorio do Chefe de Policia do Districto Federal, sr. '
dr. Cardoso de Castro, ficou patentemente provado pelo · depoi-
mente dos indiciados e de innumeras testemunhas, que os prin-
.éipaes factoreh dessa sedição foram: senador Lauro Sodré,
deputado Alfredo Varella, civis Vicente de Souza, Pinto de
Andrade, · Arthur Rodrigues da Silva e Pedro Leão Velloso, re-
dador-chefe do "Correio da Manhã".
Com relação ao deputado Barbosa Lima, provado ficou (*)
que compareceu as varias reuniões dos conspiradores, segun-
. do depoimento de Antonio ·Faustino da Silva, official reforma-
do do E~ercito. Tambein todos os jornaes da Capital Federal,
noticiaram que esse politico na , noite de 12 de Novembro,
quando já a cidade estava perturbada pelas arruaças, em com-
panhia do ·senador Lauro Sodré e Vicente de Souzá, presidiu
uma. reunião no Centro das Classes Operarias, onde foram pro-
feridos disc;-qrsos incendiarios. Segundo narrou o "Correio. da
Af.anhã" em seu numero de 13 de Novembro çle 1904, de- o
putado Barbosa Lima nessa reunião, "depois de atacar vehe-
mentemente a lei da vaccina obrigatoria, declarou que o povo já
não devia supportar o pesad0 jugo do governo dos fazendeiros,
que, 'após haver explorado os pobres escravós, ·p resentemente ex-
plorava a Republica". "Disse mais - que o governo que tin_h a-
mos era um governo ·de monjolos, de satrapias, de coiváras e
de senzalas".
Referipdo-se, no seu relatorio, ao deputado Barbosa Lima,
disse o então Chefe de Policia, "que a sua acção foi damnosa
a ordem social e se revelou de modo iQequivoco nos momentos
mais agitados dos dias 13 e 14 de Novembro nos crimes que
precederam e prepararam a . sublevação da · Escola Mi-
litar". Parece-me que não houve excesso de linguagem nas
referencias feitas então nessa _e poca pelo dr. Cardoso de Castro,
ao deputado Barbosa Lima, aliás baseadas em provas colhidas
no inquerito policial," tanto assim que, apezar de ter sido en-

( *) Vide "Dlario Offic!al" da União de 23 de Dezeml.Jro de 1904.


. Í
5:2 General Abílio de Noronha

viada a 16 de Novembro uma mensagem presidencial ao Con-


gresso, pedindo permissão pará ser processado o referido de-
putado, .a. 27 de Dezembro, por intermedio do Chefe do Estado
Maior do Exercito, esse pedido de licença era reiterado ao Par-
lamento.

Sete dias após a posse do marechal Hermes Rodrigues da


Fonseca no cargo de presidente . da Republica, isto é, a 22 de
Novembo de 1910, explodiu na bahia de Guanabara um mo-
tim que, embora chefiado pelo marinheiro de nome João Cart-
dido, o Àlmirante, como foi cognominado pelos seús compa-
nheiros de aventura, assumiu gravidade por estarem os · amo-
tinados de posse do encouraçado Deodoro, explorador B(Jlhfa e:
dos dreadnoughts Minas Geraes e S. Paulo.
Ao povo ·e ao presidente da Republica, deram os rebeldes
\ conhecimento do seguinte manifesto: (*) ·
"Os marinheiros do Minas deraes, do S. Pàulo,
"scout" Bahia, Deodoro e mais navios de guerra
vistos no porto com a bandeira encarnada não têm
outro intuito que não seja o de ver abolido ·das
nossas corporações armadas o uso infamante da
chibata que avilta -q cidadão e abate os caracteres.
A resolução · de içarmos no mastro dos navios
a bandeira encarnada e de se revoltarem contra o
procedimento de alguns commandantes e officiaes,
só foi levado a effeito depois de terem reclamado
por vezes insistentemente contra _esses maus ' tratos,
contra o excesso de trabalho a bordo e :pela mais
absoluta falta de consideração com que sempre fo-
ram tratados.
Do Chefe da Nação, o illustre marechal Her-
mes da Fonseca, cujo ·governo os marinheiros dese-
jam seja coroado pela paz e pelo mais inexcedível
brilho, só desejam os reclamantes a amnistia ge-
ral, a abolição completa dos castigos corporaes pa- ·
(*) Como está no orlginal
O Resto da Verdade 53

ra engrandecimento moral das nossas classes ar-


madas.
Os -marinheiros lamentam que este aconteci-
mento se houvesse dado no começo da presidencia
de S. Excia. o sr. ínarech'a.l Hermes da Fonseca, a
quem a guarnição do S. Paulo é especialmente sym-
>'pathica.
Ao povo brasileiro os marinheiros pedem que
ólhem a sua causa com sympathia que merecem,
pois nunca foi seu intuito tentar contra a vida da
pop11lação laboriosa do Rio de Janeiro.
Só em ultima emergencia, quand0 atacados ou
de .todo perdidos, os marinheiros agirão em sua
defesa.
Esperam, entretanto, que o governo da Repu-
bJica se resolva agir com humanidade e justiça."

Sciénte o governo das causas que concorrer-aro para esse


motim .e bem assim do fim que o mesmo visava, encarregou o
contra-almirante José Carlos de Carvalho de ir negociar com
os marinheiros a capitulação.
. E, · verdade que diversos officiaes de marinha, revoltados
com o assassinato pelos amotinados do comfnandante do Mi-
nas Geraes, capitão de mar e guerra BapÜsta das Neves e tam-
bem pela grande indisciplina dos marinheiros, se promptifi-
carí).m ao governo para com os contra-torpedeiros irem atacar
os navios revoltados, o que não passava de uma temeridade.
Cumprindo a sua missão, o commandante José Carlos de Car-
valho se transportou em uma lancha para bordo do Minas Geraes,
onde com rara habilidade conseguiu acalmar o animo dos amo-
tinados, promettendo por sua vez obter p ara elles a amnistia
que reclamavam, reconhecendo como aliás todos reconhece-
ram, que de facto eram eJles sobrecarregados de serviços e
castigados de modÓ sev.ero pelas faltas que praticavam.
No dia 25 desse mesmo mez de Novembro, após ter sido
votado pelo Congresso, era pelo governo sanccionada a reso•
lução· dando amnistia aos amotinados ._que, antes de entregar
os navios aos officiaes, sahira.m barra a .fóra para · procederem
54. General Abil -io de Nbronlia

a limpeza nos mesmos, visto que d·e sejavam entregar essas uni-
dades completamente em ordem, o que em realidade fi zeram.
\ ...
Descrevo aqui em synthese esse episodio, apenas _em obe-
diencia a ordem cronologica dos acontecimentos qu e se des-
enrolaram n~ Republi~a, pois· ' a revolta chefiada por João-
Candido, foi a unica _q ue desde 1889 . até hoje, não teve çunho
vo1itico.

Em 1914 assumiu certa gravidade a luta que ha annos


vinha sústentandõ o -Exercito contra _os fanaticos que · in-festa- ,
varo a região contestaç.a pelos Estados de Paraná e Santa Ca~
tharina, na velha , e - debatida questão de limites.
Multiplas foram as causas que concorreram para favorecer ·
a localisação de um numeroso bando de fanaticos e ban'dolei-
ros nesse territqrio, sendo todavia as principaes as seguint_es:
., ' ~ 1 • • J_ •

-o analphabetismo e consequente propensão dos habitantes para


o crime e para o fanatism0 religioso; o despotismo dos chefe-
tes politicos locaes; a falta de vias faceis de ~ommunicações
entre o sertão e os centros civilisados; o abandono em que
o terrftorio jazia ha longos annos por parte do_s governos dos
dois Estadcs litigantes; a falta de recursos dos mesmos Es-
tados para combater os primeiros agrup~mentos dos fana-
ticos.
Essa luta ficou conhecida na nossa historia por Campanha
do Contestado e embóra pela conformação geographica mes e 0

mo pela flora e clima, este riovo theatro de oti'erações_contra


fanaticos em nada se assemelhe aos sertões bahfanos, pode•se
dizer que o Contestado foi o Canudos do Sul do Brasil..· Ahi
houve, como no arid-o sertão desconhecido do Nor_te, lirn -
pseudo-monge de nome ioão Maria de Jesus, que, á sem e-
lhança do Conselheiro, era o chefe semi-devino dos fanati~o s
e, Santa Maria foi o reducto que, como o arraial de Canudos,
offereceu as mais formidaveis resistencias ás forças do Ex er ~
cito.
Antes da expedição chefiada pelo então general, hoje ma-
rechal Sr. Setembrino de Carvalho, que conseguiu dominar os
. fanaticos e desse modo restabelecer a tranquillidade no terri-
. . .

O Resto dp. V ·e rdade 55

. torio em litígio, treze foram as que · improficuamente tentaram


dispersar audaciosos, sertanejos que culminavam nos saques e
nos demais crimes contra a 15rop'riedad~ particular.
Dessas expedições, convem destacar as seguirites :,
A do coronel João Gualberto que, cbínmandando a policia
do Estado de Paraná, foi batida em 22 de Outubro de 1912 nos
· campos d.e Irany, morrendo ahi de _modo heroico o seu chefe.
A do coronel Brasílio Pyrrho que, em fins -ae Outubro ue-
1912; com trqpas do Exercito ' e dispondo de urna s;cção de
artilharia Krupp de campanha, marchou em perseguição dos
fanaticos, entrou em Palmas, dura_n te dois mezes explorou os / :
arredores dessa cidade em P,rocura dÓs bandoleiros. e depois·
, .Í , .
~-
voltou sem ter encontrado o m~nor vestigio dos rebeldes ser-
tanejos.
Dos capitães Adalberto de · Meneze,s e Esperidião, que em
fins de 1913 seguiu para o logar denominado Taquarussú, nas
proxünidades de Campos Novos e teve que retroceder diante
da ten'az resistencia dos fanaticos.
Com~nandada,· pelo tenente-coronel Alleluia Pires · que, com .
o effectivo de 7~0 combatentes, marchou em tres columnas e
no dia 8 .de Fevereiro de 1914, atacou o foducto de Taquarus-
sú e após ter obrigado os fanaticos á abandonarem essa posi- ·
ção, -voltou e deu por finda a sua missão.
·- Chefiada pelo tenente~coronel Gameiro contra Caragoatá,
em Março de 1914, que, fortemente atacada, teve de . retirar-se ·
sem poder attingir o seu objectivo.
A do general Mesquita, cujo effectivo era superior a 1. 700
hom~ns e que dividida em tres columnas, no dia 16 · de Maio
de 1914, após serio combate com os fanaticos, occupou o re~ ·
dueto de S~I)to Antonio e ahi não se poude manter, pel~ que
se retirou no dia 19 para União da Victoria.
Não comporta. o programma deste livro descrever com to-
dos os detalhes a Campanha do Colltestado, visto que não viso
narrar a historia militar da Republica, mas apenas occupar-
me das revoltas que com o cunho essencialmente político, ex-
plodiram no nosso paiz a partir de 1889. E' por essa razão,
que não me detenho em analysar a brilhante acção da expe-
dição chefiada pelo então general Setembrino de Carva_Iho.
5.6 General Abilio de Noro.nha

Apenas quero salientar aqui, que nos sertões do Paraná


e de Santa Catharina, mais uma vez o Exercito soube se sa-
crificar p_ara restabelecer a tranquillidade no territorio nacio-
nal, para obedecer as ordens do · Gõverno da Republica.

Em 1915, os políticos insufladores de revoltas, resolveram


mudar de tactica. Pensando, com justa razão, que a maioria
·dos officiaes do Exercito difficilmente se deixariam arrastar
pelo mau caminho da iJ;1discipli1ia, que não mais se prestavam
a servir de _seus joguetes, resolveram recorrer aos sargentos,
vi.sto a facilidade com a .qual .esperavam conseguir nessa elas-
' se, grande numero de adeptos para a realização dos seus
patrioticos intentos visando mudar por meios violentos ~ fór-
ma de governo.
Para captar a sympathia dos irlferiores · do Exercito, Ar-
mada e Brigada Policial, em proveito de seu plano révolucio-
n::}rio de implantar por um golp_e de audacia o goverl'l.o uni-
tario parlamentar, os politicos apresentaram e defenderam
com ardor no Congresso Federal, um projecto prenhe de be-
neficios á classe dos sargentos.
Visando a realização de seu criminoso plano, activa e te-
naz propaganda fizeram nessa epoca os politicos nos -quarteis
e innumeras . reuniões .r ealizaram na Capital Federal para a
elaboração de todos os detalhes dessa revolta. Não foi esque-
ci do a distribuição dos commandos de unidades, do modo
como quebrar certas resistencias previstas e de aprisionar o
Presidente da Republica e seus ministros.
A data da explosão da revolta estava marcada para 24 de
Dezembro, mas desconfiados coi:n a . desco:õerta da - conspira-
ção, resolveram os políticos ·nella compromettidos, antecipar
o golpe para o dia 18 do mesmo mez, mostrando com isso uma
audacia inaudita, que bem patenteia a certeza que tinham no
exito do plano subversivo.
Estavam as cousas n·esse pé, quando o Governo, sciente de
toda a trama, deu um goipe feliz e conseguiu que n essa occa-
sião não fosse pútubada a ord em publica por aquell es que,
O Resto d -~ Verdade 57

pela suas posições de destaque na politica nacional, deviam


ser os primeiros a zelar pela estabilidade do governo legal-
mente co·n stituido.
Por determinação - do Governo, abri nessa epoca um in-
querito militar para apurar a- responsabilidade dos sargentos
culpados. Pelos depoimentos prestados por um elevado - nu-
mero de indiciados e mesmo por testemunhas imparciaes, fi- -
cou provado que_ os chefes dessa conspiração eram os depu-
tados Maurício de Lacerda · e Agt ippino Nazareth; secundados
p elos politicos Vicente l?iragibe, Pedro Moacyr, Georgh10 Ave-
lino, Ráphael Cabeda, Barbosa Lima;_ Caio _Monteiro de Bar-
ros, Campos de Medeir.os -e Maurício de --Medeiros.
· Diante desse inquerito, cujos autos estão archivados no
Mülisterià da Guerra á d'ispos_ição de quem quizer se scienti-
ficar da verdade, foram os s_a rgentos criminosos expulsos das
fileiras do E x ercito, Marinha e B1.1igada- Poljcial e, os políti-
cos culpados, tratados com toda a clemencia, por motivos que
até hoje ignoro.

*
:!oi<

A revolta que explodiu em Julho de 1922 na Capital Fe-


deÍ'al -e que teve reperc9-são na guarnição feder al em Matto-
Grosso, ainda uma vez veio provar quanto póde conseguir -o
trabalho de sapa p.os politicos insufladores de mashbrcas. F_a -
çamos uma resumida recapitulação historica dos factos que
antecederam a essa r~bellião.
A 8 d ê Junho d e 1921, os elementos que constituiam a
•fo1~ça politica _n acional, reuniram-se em convenção n'~ Capital
Federal e apresentaram as candidaturas dos Srs. Drs_. Arthur
Bernardes, nessa epoca presidente do Estado de l\'1inas Geraes,
e Urbano dos Santos, governador do Maranhão, pa-ra os car-
gos ele presidente e vice-presidente da Republica no quatrien-
nio de 1922 a 1926. ·
Anterio-rment~ a essa convenção, as mais importantes cor-
rentes políticas haviam adoptado, sem a menor desentilligen-
cia-, o nome do Sr. Dr. Arthur· Bernardes á successão do Sr.
Dr. EpitaciQ__ Pessôa, A questão da vice-presidencia scindiu,
58 Gene!al Abílio - de .Noronha

p0rém, -as bancadas de. . Pernambuco e Bahia, porque a primei-


ra trabalhava pela victoria da candidatura do Sr. Dr. José
Bezerra, e a segunda pela do Sr. Dr. J. J. Séabra, respectiva-
mente governadores daquelles Estados, · Foi por · esse motivo
que a con".e·n ção, querendo en.eontrar uma solução conciHato- .
ria, tomou a iniciativa de sustentar a candidatura do Sr:· Dr.
Urbano dos Santos.
Deu origem a isso a cliainada Reacção Republicana, cons-
tituída dos politicos que apoiavam a situação dominante em
Pernambuco, Bahia, Rio Grande do Sul e Rio çle Janeiro, a
qual resolveu -contrapôr as candidaturas dos Srs. Drs. Nilo
Peçanlrn e J. J. Seabra, ás dos Srs. Drs. Arthur Bernardes e
Urbano dos Santos.
Para a Reacção - Repúblicanà, que · desejava triumphar, to-
dos os meios de luta foram considerados licitas. Para isso, á
custa do dinheiro dos cofres publicas dos Estado_s que consti-
tuíam esse agrupamento político, foram subvencionados va-
rias jornaes- da Capital Federal notadamente "O Correio da
Manhã" e, mesmo de alguns Estados, os quaes iniciaram a mais
formidavel campanha de diffamaçã0 de que . temos memoria,
contra os candidatos escolhidos pela convenção de 8 de Ju-
nho e especialmente contra o Sr, Dr. Arthur Bernardes.
A uma certa altura da campanha, julgando a partida per-
dida, si ella se re~umisse ao preliÓ soberano das urnas, a
Reacção Republicana machiavelicamente entendeu jogar a ul-
tima cartada e, desse' modo, procuroú attrahir o adio . do Exer- .
cito contra o Sr. Dr. Arthur Bernardes, lançando , mão . para
isso de um falsario de nome Odemar de Lacerda, 'a quem de_-
ram a incumbencia diabolica de, imitando a calligraphia e a
firma do Sr. Dr, Arthur Bernardes, escrever uma carta -insul-
tuosa aos brios do Exercito na pessôa de sua mais alta · patenc
te, o Sr. marechal Hermes Rodrigues da Fonseca.
Estampada essa carta por meio de cliché no "Correio da
Manhã" e insuflado com habilidade o Exercito, reuniu-se o
Club Militar e resolveu mandar fazer o exame pericial da re-
ferida carta. Os peritos, nesse caso divergiram, como mais
tarde tambem divergiram 011 que na Europa examinaram esse
documento apocrypho,
O ,Resto da Verdade . 59

O fogo tinha, pois, sido _po~to no rastilho e, · dia ·a di'a, a


agitação no seio do Exercito e mesmo da Marinha, tomava
vulto contra o Sr. Dr. Arthm· Bernardes. Este politico, para
ver si serenavam os animos, ·entendeu oppôr formal desmen-
tido . a essa calumnia, o que de certo bastaria para restabele-
-cer a paz, si não fosse a exploração que em torno da carta fal-
sificada faziam os principaes chefes da Rea,cção Republicana.
Tendo fallecido· a 1.º de Março de 1922 o Sr. José Bezerra,
governador de Pernambuc~, as forças políticas deste I
Estado-
scindiram-se, pois um grupo susteiít:õl'va a candidatura do Sr.
· Dr. José )'Ienrique e outro a do Sr. coronel Lima Castro.
·Uma das fracções de Pernambuco entendeu que o Gover-
.no da Republica· procurava intervir no Estado parà favorecer
um dos c::+'n didatos ,e, e~sa falsa opinião,_ levou o Governo a
publicar no dia- 25 de Junho uma nqta clesmentindo tal con.-
ceito, assim redigida:

"Para que a _ Nação possa bem julgar da po-


siçã,o do Governo em face da questão que ora se
agita no Estado de Pernambuco, publica-se em se-
guida o telegramma que, em data de ~O .deste mez,
o sr. Presidente da Rep_ublic~ dirigiu ao sr. sena-
dor José Henrique candidato da actual situação po- _
litica" ·do Estado, ao cargo de Governador:
"Respondo ao telegramma em que V. Excia. me
pede. interponha minha auctoridade no sentido CÍe
trànquillizar Pernambuco, onde ha prespectivas de
lutas na proxima apuração do pleito de governado-
. res. Só no intuito de um accordo entre os dois ·gru-
pos que ahi · disputam a cadeira de governador, se
e~plicaria a interposição da minha auctoridade;
mas, as suggestões · que antes ila eleição fiz com es-
. te proposito, me foram recusadas, não - seriam i·a-
zoaveis agora, depois que a eleição se realizou,
além de que, dos termos ,do telegramma qe V. Excia.,
depreende não ser este o servi_ço que , de mim re-
clama. E não sendo este, não sei• qual possa ser.
O Governo da União nada tem que ver com a apu-
60 Gen e r aI A b i Ii o d e N o ·r o n 1t a

ração . da eleição de governador do Estado. Nelfa


não intervirá. Neste senÜdo têm sido todas as or-
dens dadas aos seus representantes. Se, pois, ha
receio de luta, esta não será promovida por agen-
tes da União. As forças federaes só se moverão se
ellas proprias, funccionaribs ou repartições da
União forem aggredidos ou se tiverem fundai:nento
as informações chegadas com insistencía ao , meu
Governo de que elementos poHticos de Pernambu-
co, de combinação com outros desta Capital, pen-
sam em utilizar com9 pretexto, uma supposta in-
tervenção federal no caso <;j.a apuração, para porem
em pratica o plano tantas vezes annunciado de con-
'flagar esse e outros Estados, com o fim de annul-
larem pela força, o voto <;la Nação, relativo á elei-
ção de Presidente da Republica. Nestes casos, sim;,
as forças da ·g uarnição sahirão dos quarteis para s_e
defenderem, para garantirem os serviços federaes,
ou para manterem a ordem constitucional. Por cau-
sa da eleição de governador, não; as forças do Exer 0

cito são , neutras e, para continuarem a sel-o, não


ha mistér interpor a _minha auctoridade. · Parece-
me que, neste terreno, é ao Governo do Estado que
V. Excia. se deve dirigir. Contra as forças fede-
raes, não se formulou mais nenhuma reclamação . .
Ha reclamações da imprensa partidaria; mas nã_o
se _articulam factos ·concretos. As forças estão reco-
lhidas a quarteis desde . a manhã de 29 de Maio.
Isto não impediu que scenas lamentaveis de ata-
ques a pessoas e prop_riedades de adversarios do
Governo loca1 se desenrolassem ahi, na noite d~
29 e no correr do dia 30, em que o dr. Thomaz
Coelho foi assassinado. por balas de chumbo, não
usadas pela tropa federal, e o tenente-coronel do
Exercito, .Cesario de Mello, ferido por aggressores
que ninguem se ;mimará a d-izer que são praças do
Exercito. O impedimento das forças da União nos
quarteis não tem sido obstaculo a que o Governo
O Resto da Verdade 61

do Estado, segundo informações officiaes, em meu


poder, esteja criando batalhões, aliciando canga-
ceiros no interior desse Estado e no de Alagôas,
co_m prando armamentos, munições e explosivos.
Agora mesmo recebo telegramma dahi, communi-
cando-me que auctoridades locaes · estão fazendo oc-
cupar, por bandoleiros armados de riqes e dyua-
mite, sobrados situados nas adjacencias dos quar-
teis da força federal; que em varios pontos da ci-
dade ha predios occupados por indivíduos em nu-
mero que excede . de 3. 000, contractados no ser-
~ tão e mantidos pelos cofres de Pernambuco; qu·e a
casa commercial .W ilson confessou ao Commandail-
te da Região ter vendido ao Estado 121 caixas de
·dynamite. Contra quem se arma deste modo o Go-
verno do Estado? Contra os seus adversarios não,
ppis os amigos de V. Excia. allegam que venceram
a eleição por extra'o rdinaria maioria, e como po-
derá ser imp_edida pela força material si Õs adver-
sarios de V. Ex.das. não têm nem são accusados de ·
ter elementos de força accumuladas na Capital e
se os quizesse reunir, a policia não cons-entiria. Con-
tra quem, pois, se arma o Governo de Pernambu-·
co.? Contra .as forças federaes, por causa da ap~
ração eleitoral, tambem não, porque taes · forças,
como já foi officialmente _publicado, têm ordem de
não intervir nessa questão, e nada faz· presumir que
,des-obedeçam a essa ordem. Será contra as delibe-
rações do Congresso Nacional, a respeito da eleição
de Presidente da Republica? Os factos dirão. Seja co-
_m o fôr, o que é certo é que b panico de que V.
Excla. fala, as afflicções da Cápital, o exodo das,
familias, só podem ter por causa as medidas extra-
nhas que o Governo do Estado está tomando, e é,
por conseguinte, a elle que .V. Excia. cujo amor á .
sua terra e cujo espírito de tolerancia e modelação
tanto se recommendam á estima publica·, ,deve le-
var as suas solicitações".
62 General Abi[io de Norohha

.A estê telegramma o Governo só tem a accres-


cen tar que o Governador de Pernambuco, em des-
pacho de 21 contestou a occupação de sobrados pe-
los b àndoleiros, que enchem a capital; mas o com-
mandante da Região, informado dis:to, ,manteve em
termos perempforios, a cuja informação que,. aliás
é reforçada com indicação de ruas e ,numeras por -
outros delegados da União naquelle Estado.
Seja como fôr, o que é certo, quanto á ques-
tão politica, é que o Governador de Pernambuco
conh ec·e desde muito tempo as recommendações
feitas á troP,a, federal pelos srs. Presidente dà Re-
publica e . Ministro da Guerra de conservar-se alheia
áquella questão.
Em data de 26 de Maio, antes mesmo da elei-
ção, em telegramma cá publica.do, dizia o sr. Mi-
nistro da Guerra, ao commandante da Região:
"Recommendo a maior prudencia, afim ·de não-
parecer existir por parte do Govérno Federal qual-
quer p_roposito de intervir em assumptos da econo-
mia do Estado."
E insistia:
"Fio. da vossa prudencia e criterio, não ser
praticado acto_ algum que possa parecer interven-
ção indebita do Governo da União, na questão p_ro-
priàmente eleitoral." ·
Em notas officiaes publicadas, depois disto,
na imp_rensa desta capital e reproduzidas nà de Re~
cife, o Governo reaffirmou este proposito.
No telegramma dirigido ao senador José Hen-
rique, e ora transcripto, o sr. Presidente da Repu-
blica declarou : •
"O Governo da União nada tem que ver com
a apuração da eleição de governador do Estado.
NeBa não intervirá. Neste sentido têm sido todas
as ordens dadas aos seus representantes. Se, pois,
h a r eceio de luta, esta não será promovida por
agentes da União."
CT R e s lo . d a Verdade . 6S

E ainda: ·
"As forças federaes têm ordem de n~o .intervir
nessa .questão, e nada faz presumir que desobe-
deçam a essa ordem."
Antes dessa data, no dia i 9 deste mez, o sr.
Presidente da Republica f_a zia- telegra1)har áo co-
ronel Jayme Pessôa:
"0 sr. Presidente reitér.a a · recommendação de
que as forças fed·eraes só tenham acção em defesa
propria, ou repartições_ federaes, e nã9 se envol-
vam em questões propriamente da politica local."
Resulta do exposto:
1.º) - Que as forças federaes têm ordens, re-
petidas e insistentes, de ·n ão intervir . em assumptos
d·e natureza local, sejam · poJiticos ou não;
2.º) ·_ Que -ellas estão impedidas nos •quarteis,
.desde o dia 29 de Maio;
3.º) --'- Que o Governador de Pernambuco tem
perfeito conhecimento de unia e_de outra cousa.
Entretanto, os ·ataques a pessôas e bens parti-
-- culares continuam a alarmar a capital daquelle Es-
tado, de onde as familias se estão retirando apavo-
radas. Entre as victim·as, não ha uma praça de po-
licia, nenhum dos bandoleiros attrahido·s á cidade;
mas, ha varias praças do Ex·e rcito.
No dia 22 o •commandante dá Região telegra-
phava ao Governo nestes termos:
"Communico a V. Excia. que hontem, pel?s 21
horas, uma patrulha de 4 praças do 22.º batalhão
de caçadores, armada a sabre, foi á rua buscar um
soldado que fazia desordens num botequim da rua
das Trincheiras, sendo atacada a tiros por can-
gaceiros e agentes policiaes, ficando feridos duas
praças, uma gravemente.
"Recebi um telegramma urgente do presidente
da Junta de Alistamento de Pesqueira, communi-
cando a partida pelo trem de hoje, para esta Capi-
tal, de 180 cangaceiros e 20 praças de policia. Es-
General Abilio de Nqtonha

ses cangaceiros chegaram -a esta cidade ás 18 ho-


ras e foram alojados no Gymnasio Pernambucano,
onde já se acham perto de 500, além de outros pon-
tos da cidade que se acham infestados deste mau
elemento. Tenho tido todo o cuidado em evitar
conflictos, conservando a tropa em quarteis."
Hontem recebi:,i o Governo ainda este tele-

"Communico a V. Exia. ql'!_e, hontem a-·noite,


cangaceiros e policia militar e civil atacaram o
povo na rua Nove e na praça Joaquim Nabuco. A
situação- é de verdadeiro panico. O Exercito tem
mantido rigorosa promptidão nos _quarteis. Canga-
ceiros com agentes de policia tomam violentamen-
, te sobrados de propriedade particular e os occu-
p·am. E' computado em mais dé 4. 000 o numero de
bandoleiros que infestam a cidade. · O povo tem
abandonado a cidade e muitas pessôas procuram
este Quartel General, pedindo asyl'o." · ·
Ahi tem a Nação elementos para ir formando o
seu juizo, fóra do ambiente apaixonado dos jornaes
partidarios, acerca dos successos de Pernambuco.
O Governo Federal nã;; intêrvem em assumptos
políticos dos Estados; mas não se deixará surpre-
hender pelos inimigos da ordem constitucional, se
elles tiverem a audacia de procurar pertubal-a."

As cousas estavam nesse pé, bem grave era a situação,


quando surgiu um · telegramma inconveniente do sr. dr. Borges
de Medeiros, governador do Estado do Rio Grande do Sul e
endereçado ao senador Vespucio de Abreu, assim redigido:
"A' vista antecedentes factos mencionados vos-
so cifrado 24, parece indispensavel assentardes des-
de já seguintes normas de acção: 1.º - combater-
des, tot.us virib.us, na trihuna e na imprensa, a in-
tervenção federal nos _ Estados, Particularmente a
que estâ imminente em Pernambuco, inaximé quan-
O Resto da Verdade 65

do essa intervenção, àberta ou - disfarçada, directa


ou indirecta, mas . em qualquer éaso extra-constitu-
cional, constituirá um dos mais graves attentados
ao regímen federativo; 2. • - por meio de manifes-
to publicado opportunamente, bancadas dissiden-
tes deverão formular ·energic-o protesto contra taes
violencias e - aconselhar a resiste.n cia material; 3.º
- conseguir na mesma occasiãó que _o Club Militar
, ou os chefes militares aconselhem o Exercito a res-
peitar a autonomia dos Estados e a não s€rvil' de
instrumento de oppressão; 4.º - promover quanto
antes um pacto ou liga de defesa commum entre
Estados dissidentes, para que se auxiliem mutua-
mente, por todos os meios que forem praticaveis,
·ouvidos a respeito os leaders dissidentes. Commu-
nicai o que houverem deliberado."
;~rg~r~? !~Y'"if'\~~-;?.~;2::~?~l~~~~:!_i·;.(;·~:•,t J''~t~~~~f'Y-4-f":"::·~r>l'°':"•?ó";'~"):',';r',... • >-

'"· Segundo - as instrucções contidas nesse telegramma - do sr.


dr. Borges de Medeiros, o sr. marechal Hermes Rodrigues da
Fonseca, presidente do Club Militar, apezar da nota do Go-
verno publicada em 25 de Junho_ e atraz transcripta, decla-
rando de modo peremptorio que não se daria em hypothese
alguma a intervenção federal em Pernambuco, reuniu em ses-
·são secreta o Club Militar a 29 de Junho e, após essa reunião,
passou ao commandante da ·Região Militar, com séde em Re-
cife, o seguinte telegramma, que deixa bem transparecer a rea-.
lização dos ,desejos contidos no telégramma do dr. Borges de
Medeiros:
"O Club Militar, contristado pela situação an-
gustiosa em que se encontra o Estado de' Pernam•
buco, o que. é narrado por fontes insuspeitas,- que
dão ao noss-o glorioso Exercito a odiosa posição de
algoz do povo pernambucano, vem fraternalmente
lembrar-vos que mediteis . nos termos dos artigos 6
e 14 da Consituição para isentardes o vosso e o
nome da classe a que pertencemos ,da maldição dos
nossos patrícios. ·
• I

66 General Abilio de Noronha

0 appello que ora dirijo ao nosso illustre ci:m-


socio é para satisfazer · a instantes pedidos de ca-
marádas nossos dahi no sentido de os apoiar nessa
critica emergencia em que se procura desviar ' a for-
ça armad~ do seu alto destino.
Confiante no vosso patriotismo e zelo, pela per-
petuidade do amor ao Exercito pelo povo da nossa
terra é que vos falo neste grave momento.
Não vos esqueçaes de que as sittrnções 'politi-
cas passam, ao passo que o Exercito fica. Sauda-
ções - Marechal Hermes, Presidente do Club Mi-
litar."

Respondendo a esse despacho, o coronel Jayme Pessoa,


commandante da Região Militar, declarou que o seu intuito
não seria outro a não ser a obediencia ás leis e ás auctorida-
des constituídas.
O Governo tendo conhecimento do telegramma enviado á
guarnição ·de Recife pelo mar~chal Hermes, mandóu-o inter-
pellar si de facto era de sua autOria o referido despacho di-
vulgado pela imprensa.
Antes essa energia do Governo, o Clab Militar ·reuniu-se a
1.° de Julho sob a presidencia do Marechal, tendo a respectiva
directoria fornecido á imprensa a seguinte nota:
"A Directoria do Club Militar declara a seus
consocios que o telegramina passado pelo 'Exmo.
Sr. marechal Hermes Rodrigues -da Fonseca ao co-
ronel Jayme Pessoa resultou de delibera~ão unani-
me, tomada em sessão realizada a 28 do rp.ez findo.
Secretaria do Club Militar, 1.° de Julho de 1922
- tenente-coronel José Osorio, director-secretario."

Ao mesmo tempo, recebia o Presidente da ·R epublica uma


carta do marechal Hermes, · na qual este declarava que o tele-
gramma em questão era da sua autoria e que assumia inteira
responsabilidade do mesmo.
Diante disso, baixou o Governo um aviso reprehendendo
severamente o marechal Hermes por ter dado prova de indis-
O Resto da Verdade 67

ciplina e tambem baixando um decreto, mandou fechar por 6


mezes o Club Militar.
No dia 2 de Julho, o Marechal, coração grande de solda-
do, mas pouco conhecedor das manhas dos pol'iticos, talvez in-
suflado por estes, escreveu · uma carta ao Presidente da Repu-
bl~ca, na qual depois de uma serie de considerações em que
deixava transparecer dar credito ás invencionices dos que
diziam qÜe a intervenção_federal ia se dar em Pernambuco, de-
clarava não acceitar a reprehensão que lhe tinha sido iropos- .
ta, por julgai-a injusta e illegal.
Tomando conhecimento dessa carta do marechal Hermes
e depois de ter conferenciado com o Ministro da Guerra, . o
Presidente da Republica determino'u a prisão dp Marechal por
24 hóras no Estado Maior do 3. º regimento de infantaria, pri-
, são esta que se tornou effectiva por intermedio do marechal
Botafo'go.
No dia seguinte, ás 12 horas, era o marechal Hermes da
Fonseca restituido a liberdade,' enviando á imprensa o Gover-
no uma nota na qual declarava que: .

"0 Presidente da Republica determinou, como


;Iiás era desde hontem seu pensamento, que o ma-
rechal Hermes Rodrigues · da Fonseca fosse resti-
tuído á liberdade ao meio dia.
, O Pnisidente a~sim procedeu, não só por se
tratar de uma alta patente do Exercito, como tam-
bem porque era intuito do Governo, no caso ·dessa
prisão, resalvar o principio da auctoridade consti-
tuída".

Ao mesmo tempo que taes factos se passavam, que o ho-


rizonte cobria-se de nuvens negras, prenuncio de proxima tem-
pestade a .se desencadear sobre o paiz, as principaes figuras
da J:(eacção Republicana, por meio da imprensa por ellas sub-·
vencionada e tambem por ibtermedio dos seus porta-vozes
no Congresso Nacional, atacavam com virulencia, o Governo
da Republica, aconselhando abertamente a revolta.
68 General Abilio de Noronha

Da tribuna do Senado Federal, no dia 4 de .fülho, termina-


va o ·senador Irineu Machado um discurso incendiario com
estas palavras:
"Si os. braços dos homens · são ,fracos para ar-
rancar a nossa patria desse lodaçal em que se afun-
da, ainda espero dos acontecimentos e da historia-
os grandes dias em que arrancaremos desse pan-
tano mephitico a nossa nacionalidade.
Será essa, ainda uma vez, a obra grandiosa do
Exercito!"

Orandb da tribuna da Camara Federal, nesse mesmo dia


4 de Julho, vespera da revolta, assim terminava o seu discurso
o deputado Octavio · Rocha, leader da bancada sul riogran-
dense:
"Só os monarchas absolutos como o P iiesidente
actual, podem sonhar com semelhante absurdo · no
regimen republicano e nos Estados Unidos do Bra-
sil.
Censurou illegalmente o marechal Hermes, pren-
deu illegalmente o Marechal, fechou o Club Militar
como uma sociedade de dynamiteiros anarchistas
ou cajtens, e sobre tudo isso tripudia c-omo um
Cezar a sonhar que o seu Tigellino atice o incendio
nas ruas de Romà.
Desta triburia, que o povo livre que não conhe-
ce cobardia me confiou, eu lanço o meu protesto
contra os arreganhos do tyranno, devolvendo-lhe
este decreto, como devolvi aquelle outro ·em que
elle atirou ás faces do Parlamento os maiores in-
sultos contra a sua honra e a sua capacidade,
De joelhos nunca, De pé e de frente eu encaro
o dictador para dizer-lhe: continúa na tua faina
infeliz de suffocar toda a liberdade, . que has de ser
maldito pela historia, porque essa se faz longe dos
interesses e do medo e é implacavel.
Manda tambem fechar este Congresso, calar a
nossa vóz, para que possas mais livremente estalai:
O Rplo da Verdade 69

o chicote do teu poderio, mas lembra-te que hoje


ha, além da justiça .divina e da terra, que faz com
que entrem, como hymnos de toda a gente, pela
. historia os martyres da liberdade, e fique para to-
do o sempre maldito os . que a afogaram e, por ins-
tantes, no tempo e no espaço, tiveram a illusão de
que os Cezares eram eternos e o poderio da Terra
o supremo bem."

E foi assim, cada vez mais envenenando os factos, cada ·


vez mais insuí'lando a revolta, cada vez mais procm,:ando d.és-
. '
viar o Exercito da sã disciplina, que os salvadol'es da patria
com a bandeira enchovalhada de um partido ao qual deram o
falso nome de Reacção Republicana, arrastaram parte d_a s for-
ças · armadas· do paiz e viram em parte os seus · planos subver-
sivos da · ordem publica se transformar em realidade na madru-
gada fria de 5 de Julho de 1922.
Com relação a revolta que em 1923 ensanguentou os fer-
íeis campos do Rio Grande do Sul, não se póde presentemente
indicar com_ imparcialidade os nomes dos principaes respon-
s:aveis, como extemporaneo, ~eria, agora, quando as paixões
estão extremadas, apontar os maiores criminosos pela que
em J úlho de 1924, explodiu na laboriosa cidade de S. Paulo.
Mais tarde, quando o odio tiver desertado da familia bra-
sileira, su rgirá a voz da historia para serenamente apontar . ao
povo esses maus brasileiros que não trepidaram em sacrificar
a paz, o bem estar da sua patria, para satisfazerem seus ca-
prichos p essoaes.

E' preciso frizar que o campo de' acção dos politicos in-
. sufladores de revoltas, -não tem se limitado unica e exclusiva-
mente ao da Capj,tal Federal. Tambern n.os Estados, exercem
esses maus elementos a sua nefasta influencia para o descredi-
to do conceito que no extrangeiro devemos gozar de nação cul-
ta e ordeira. _Não comporta o programma deste livro, narrar as
mashorcas que nos- Estados, principalmente nos do Norte, têm
provocad-o depois de 1889 os políticos poucos escrupulosos. A
70 General Abilio de Nor0nha

titulo de exemplo, descreverei aqui, em synthese, a que teve


por theatro .o meu Estado natal, o Pará, eni Dezemb110 de 1916.
Afim de evitar uma intervenção fe.deral nesse Estado, isso
em ccinsequencia de.· uma mashorca ·chefiad'a pelo · senador
Lauro Sodré ·e que explodiu em 29 de Agosto de 1912, resol-
veram os altos dirigentes da politica nacional, chefiados pelo
então Présidente da · Republica, Dr. Wenceslau Braz, indicar
o iiome do Sr. Dr. Enéas Martins, nessa epoca sub-secretario
do Ministerio ·das Relações Exteriores, para o cargo de gover-
nador do Pará, no periodo de 1913 a 1917.
O Sr. Dr. Enéas Martins, muito relutou em acceitar esse
alvitre para, segundo declara~ão textual do Presidente da Re-
publica, evitar a intervenção federal no seu Estado natal. To-
davia, pondo de lado os seus interesses particulares, visando a
paz e o socego do povo do Pará, ,acceitpu o Dr.' Eiiéas a indi-
cação do seu nome. e a eleição se 1realizou na mais perfeita o,r-
dem, tomando elle posse do cargo para o qual tinha sido elei-
to por unanimidade de votos. '
Em 1916, cogitava-se, como era natural, da eleição do sub-
stituto do Dr. Enéas Martins e, assim sendo, surgiram dois can-
didatos: de um lado o illustre medico Dr. , Antonio J. da Silva
Rosado e de outro o senador Lauro Sodré.
Feriu-se o pleito a 3 de Dezembro de J916, e o resultado
foi a eleição do Dr. Rosado por uma differença de 17 . 525 vo-
tos, pois ao passo que este medico obteve · 29. 412 votos, o se-
nador Lauro Sodré apenas conseguiu alcançar 11.887. Em que
pese, nessa epoca, toda a celeu~a dos particlarios do senador
Lauro Sodré, o pleito foi liberrimo e reinou em todas as sec-
ções a maior ordem.
Porém, não quiz o senador Lauro Sodré acceitar a derro-
ta como lhe era imposta pela sua alta posição de destaque na
politica naci011al. Resolveu·, pois, recorrer aos meios violentos
para se apoderar do poder, lançando mão da mashorca, pe-
netrando em PGSSÔa e por jntermedio de s~us adeptos nos
quarteis da brigada policial, minando tudo muito bem e, quan-
do viu terminado o 1seu trabalho de sapa, deu o g~lpe de auda-
cia a 27 de Dezembro de 1916 usurpando o cargo de iOVerna-
.,

O Resto da Verdade 71

dor, para isso depondo por meios mais violentos o Dr. Enéas
Martins. '
Segundo um livro publicado no Pará; em 1917, por Agnello
Neves, livro esse que constitue uma homenagem ao senador
Lauro Sodré, portanto fonte insuspeita, os factos vergonhosos
occorridos em Belém,. na noite de 27 de Dezembro de 1916,
são assim descriptos :
"Teve inicio a revolta no quartel do .1 .º corpo· da brigada
policial. Após a revista das 20 horas, as praças tiveram ordem
de dispersar e o não .fizeram, prorompendo, em vivas a Lau-
ro Sodré. O commandante, tenente-co,ronel Orvacio Marreca,
julgou dispôr de elementos para a reaççâo e saccou de um
revolver, disparando-o contra um cabo. Foi preciso que, para
salval-o, o tenente Mergulhão fizesse-o recolher a arma e lhe
garantisse a vida, colloca.ndo-se deante delle, conduzindo-o
para um gabinete 1
e pedindo aos seus camaradas .
que o pou-
.?Jassem.
O movimento foi annunciado, entãó, com tiros de carabi-
nas e metralhadoras.
O commandante geral da brigada policial, ordenára, á
tardé, que o 2º corpo aquartelasse.
O batalhão ficou, pois, de promptidão, estando no quartel
toda a officialidade.
As 20 e / meia horas chegou ao quartel a noticia de que o
1.0 batalhão se havia revoltado. •
- Os soldaqos foram logo presos de ·e nthusiasmo. O 2º tenente
Mario Magalhães ergueu um viva a Lauro Sodré, sendo por todos
correspondido.
Todos estav'am promptos a defender a causa que era a aspi-
ração do povo, de ver o Estado salvo por ·Lauro Sodré.
O 2.º tenente Magalhães, prompto a assumir o commando do
batalhão cumpl'indo a disciplina, dirigiu-se ao tenente-coronel
Raymundo de Oliveira Coutinho, commandante do corpo, · e
explicando-lhe a attitude deste, perguntou-lhe se estava de ac-
cordo com o movimento e se queria assumir o c-ommando.
O tenente-coronel Coutinho fez ver que estava d~ accordo
com as idéas de seus camáradas, assumini;lo, então, o com-
72 G.entral Abilio de Noronha

_ma-ndo. O batalhão foi rigorosamente municiado, srndo guar-


necido o quartel .
Nesse interim, o major Moreira de Carva1.ho e Silva, o ca-
pitão João Freifas, e o: tenente Raymundo Nonnato Gaspar, uni-
.cos que se mostraram favbraveis ao governo, tentaram aba-
far o movimento. Procurando o ultimo dj~parar o revoiver -
contra um sargento, foi immediatamente impedido de o fa.
zer, recebendo um tiro de carabina na face e cahindo morto .
ü capitão Freitas foi attingtdo por uma bala no braç,o di-
reito, que ficou quasi decepado.
O major Carvalho recebeu um ferimento na perna e ou-
tro num braço.
Tambem sahiram feridos o 2.º sargento José de Souza
Vieira, da 3." companhia; o soldado Cicero Rodrigues do Ama-
' ral, da mesma campanhia e um musico.
Mais tarde chegou ao quartel do 2.º, em automovel, o coro-
nel Fontelles, co_mmandante geral da brigada, que foi ' recebid,o
com todas as honras do seu posto.
O coronel Fontelles, em frente ao batalhão em fórma, fez
uma prelecção, procurando convencel-o· a ficar obediente ao
governo. Vendo,' porém, que eram infructiferos· os seus esfor-
ços, retirou-se, sem nada conseguir.
Os feridos foram todos transportados para o hospital mi-
litar aimexo á Santa Casa de Misericordia: para cujo necrote-
rio lambem foi conduzido o corpo do tenente Gaspar.
A cavallaria sahiu á rua para confraternizar com os seus
camaradas insurrectos. Ficou no quartel apenas uma pequena
parte, que, mais tarde, foi o,l:irigada a render-se pelos seus pro-
prios collegas de infantaria, depois de urn curto tiroteio, sen-
do presos o_s insubmissos.
Os bombeiros municipaes tambem. l;).dheriram_ briosamente
ao movimento. Estavam todos formados, em promptidão, quan-
do, ao aproximar-se um grupo de populares, erguendo vivas
a Lauro S-odré,. irmanaram-se ao povo, acclamando com enthu-
siasmo o nome do eminente brasileiro. Contra a vontade do
commandante, major Custodio Barriga, que se obstinava em
manter · a promptidão, aguardando ordens superiores, os bra,.
O Reslo da V e' r d a d e 7S

vos bombeiros arrombaram a an·ecadação para prov·e rem-se de


munições.
Á estaçãó central de policia foi tomada pelos revolucio-
narios tendo sido restituídos á liberdade todos os presos, in-
clusive os lauristas e cinco ex-agentes."
Assim, sem garantias, refogiou-se o D.r. E)1éas Martins no
quartel do 47.º batalhão de caçadores, onde · encontrou cari-
nh,o so abrigo, e de onde se transferiu, mais tarde, para o Ar~
senal de Marinha, alli permanecendo até o dia . de seu em-
barque para a Capital Federal.
; ·Acephalo o governo, por meio de uma verdadeira panto-
mina rptulada de Congresso, foí reconhecido eleito e tomou
pos_se · do governo do meu Estado, o senador Lauro Sodré.

Si, como fica plenamente provado, as revoltas qüe perio-


dicamente explodem no nosso paiz são os resultados das man-
communações de politiqueiros ambiciosos, ·os quaes apenas re-
fletem os _enraizados vicios da nossa estropiada educação ci- ,
vica, forçoso' é reconhecer que não hasta - combater os effeitos
mas sim as causas que dão origem a essas situações anarchicas
como a que ora atravessamos.
Pri~cipalmente no analpl~abetismo do povo e no regim~n
eleitoral antiquado o chaotico que possuimos, residem as causas
mais fortes da nossa quasi fallencia que redunda em ambições
impatrioticas tentando usurpar o poder.
E' necessa:rio levar a instrucção a todos os recantos da
nação, tirar a nossa população, principalmente a rural, 'das
trevas em que vive e fazel-a participar consciente das discus-
sões e resoluções dos nossos magnos problemas sociaes. A ins-
trucção prim~ria deve ser obrigatoria, não · e_m theoria mas na
pratica, ~mbora com grandes sacrificios para os cofres publi-
cos, poi;_gue hoje em dia é pelo maior ou menor numero de anal-
phabetos que se avalia o grau de civilisação de um paiz e mesmo
as suas apticj.ões em todos os ramos da actividade humana. Si
o corpo exige pã~, a parte que delibera no homem requer ins-
.: .

74 General Abilio de Noronha

trucção, •e ssa luz que illumina todas as estradas que vão ter ao
amôr á ordem e ao trabalho fecundo que ennobrece.
Por outro lado, precisamos quebrar com 'urgencia e sem
peias as retortas onde os chimicos politicos realizam ás escan-
'caras suas combinações vergonhosas, as fraudes· eleitoraes que
se resumem no ludibrio do povo. E' preciso a organização de
partidos com programmas definidos, sem que sejam elles olha-
dos como rancor pelos detentores do poder, porém como uma
necessidade imperiosa para estimular a pureza do regimen de-
mpcratico . que aspiramos e mesmo par.a estabelecer esse choque
benefico de idéas e em terreno elevado~ que assistimos nas
nações cultas. ·
Mas, parn que os partidos politicos não tenham vida ephe-
mera entre nós, forçoso se torna modificar radicalmente o nosso ·
regimen eleitor.a! de censo baixo por um outro que traga a se-
lecção do eleitorado, de modo que o voto possa ser ·a expressão
consciente de quem tem de facto capacidade moral e intellectual
e não essa farsa que assistimos continuamente, onde qualquer .
individuo que apenas sabe pintar o nome, deita mechanicamen.,_
te na urna a cedula fechada que lhe dã o seu_tutor mental.
.No dia em que o numero de analphabetos -tiver diminuido
no nosso paiz e estiver em vigor um regimen eleitoral que es-
tabeleça o expurgo daquelles que não têm capacidade de voto,
é minha despretenciosa opinião, as revolta~ estarão extinctas
sem que para isso tenhamos necessidade de lançar mão de l,uàl-
quer recurso por mais acertado que elle seja.

\
1 'd

PAGINAS AVULSAS

A RETIRADA INESPERADA DOS REBELDES - FREGOLI DE


FANCARIA - DIOGENES Pl):LAS RUAS DE S. PAULO -
UM DYNAMITISTA ELEVADO A MINISTRO - Il.ETIRADA
APPLAUDIDA E ORA CONDEMNADA - RETIRADA ESTRA~
TEGICA E NÃO ABANDONO DE ·c oMMANDO - TRABALHO
DOS PSEUDOS SHERLOCKS - O VIRUS DA MASHORCA
NÃO PENETRA so· NOS QUAR'.I'EIS DO EXERCITO - CON-
FRONTO ENTRE DOIS GRANDES ORADORES - ERRONEA
INTERPRETAÇÃO DOS GRANDES PRINCIPIOS TACTICOS E
ESTRATEGICOS - CORONEL TAP.TUFO DESM\ASCARADO -
PRETENSA SUMl\UDADE EM ARTILHARIA ,- RETIFI<<:ANDO
UM TOPICO DO "NARRANDO A VERDADE" - O BO'DE ES-
PIA TORIO DE TUDO - DEIXARAM O PASSARO FUGIR -
COMO SE FAZ UM CHEFE DE POLICIA - UM ' GRANDE PRO-
,I
PAGANDISTA DA REPUBLICA QUE DESINTERESSADAMEN-
TE DÉFENDE O EXERCITO.

Porque os rebeldes se retiraram de S. Paulo de um momen-


to para outro, inesperadamente? Essa pergunta é feita insisten-
teme.nte por todos e cada qual procura dar uma explicação,
conforme o seu modo de raciocinar.
Deixando de parte o humanitario procedimento do gene-
ral Isidoro que, segundo dizem, se retirou para evitar que a
luta se generalizasse pelas ruas de S. Paulo 'e que, portanto, a
população inerme fosse victirtia innocen'te de uma revolta que
não provocou n·e m participou; não levando em conta a retirada
dos 1.200 homens· sob o eommando do Sr:. general Martins Pe-
reira, quando em marcha para Campinas se viram . atacados
pelos 18Q_ homens da "Columna da Morte" chdiados pelo fran-
zino tenente Cabanas; resta apenas analysar, com animo sereno,
a apregoada pressão exercida pelas forças sob o commando em
chefe ·· do Sr. general Eduardo Socrates. ·
76 Ueneral A b .i lio de Noronha

•Quando o inimigo não nos da tregua, quando de facto se


esta- debaixo de uma formidavel pressão, quando a todo . o mo-
mento o adversario nos impõe as .suas vontades e tem assim a
iniciativa dos ataques; não se póde em absoluto fazer uma re-
tirada em ordem, porque para procurar deter todos os. progres-
sos do in,imigo superior em numero e em material bellico, for-
çosamente tererpos necessidade .a:e empregar toda a tropa dis-
ponível, nota-damente a infantaria, cuja retirada, uma. vez em-
penhada em combate, é bem difficil ·d e ser feita.
Ora, ningµem ignora que os revoltosos se retiraram de S.
Paulo na mais perfeita ordern, apenas deixando nas denonii-
nadas trincheiras de .primeira linha, um insignific.ante numero
de combatentes ao lado de kepis habilmente collocados· em
- cima das pilhas de parallelepipedos como espantalhos, afim de
poder illudir as forças legaes. Levaram os revoltosos em varios
comlfoios que partiram · calmamente da estação da Luz,. os seus
feridos, todo o material bellico inclusive artilharia, c~valhada,
abundante munição, generos alimentícios, forragens, gazolina
para aut-omoveis, innumeras caixas de leite condensado para ,
uso dos feridos, retiradas da Delegacia Fiscal e até v'i_vandeira!s .
par.a confortarem nos_ momentos de tedio os officiaes.
. Quando os revo)tosos abandonaram S. Paulo, o avanço, das
· tropas sob o commando do Sr. general Socrate·s tinha sido
muito moroso, pois a linha de combate passava pelo Belemzi-
nho, alto da Moóca, alto do Camhucy, Acclimação e Villa Ma-
rianna, •pontos estes muito distantes do quartel da Luz, justa-
mente onde o·s rebeldes tinham o seu quartel general. Si o avan-
ço se mantivesse nas mesmas proporç.ões que ·manteve até 27
de Julho, só após mais algumas dezenas de dias, ter.iam as
tropas legaes attingido a avenida T~r.adentes e desalojados os
sediciosos das suas mais fortes posições.
Quero dar a Cezar o que é de Cezar.
Para mill)., quem de facto obrigou os revoltosos a uma reti-
rada, embóra em ordem, mas inesperada, foi a aproximação da
denominado Columna do Sul, sob as ordens do Sr. general Aze-
ve90 Costa.
De facto, procedente do Paraná e augmentada com ele-
mentos dos ba·t alhões patriotas orgànizados no Sul- do Estado
O Resto a.a Verdade 77

pelo Sr. coronel Fernando Prestes, vice-presidente do E's tado


e pelos senadores srs. drs. Washington Luiz e Ataliba Leonel,
a Columna do Sul marchou com grande rapidez sobre a Capital.
A uma certa altura da marcha, foi a columna subdivida em duas:
uma tómou o rumo de Itú, oc<:úpou essa cidade e continuou a
avançar visando attingir Jundiahy e desse modo cortar a reti-
rada dos rebeldes pela Estrada de Ferro Paulista; outra, mais
forte, 'partindo de Sorocaba e tendo derrotado contingentes
re·b eldes em Pantojo e Mayrink, visava dois objectivos bem
distinctos: cortar a retirada dos revoltosos pela Estrada de
Ferro Sorocabana a ata cal-os pela . retaguarda. Percebendo o
general Isidoro que era questão de mais um dia, menos um dia,
para que o sr. gene·r al Azevedo Costa realizasse de modo o mais
brilhante todo o seu habil plano, .'vendo sériamente ameaçada
a suã retaguarda e em vespera de ter a sua retirada cortada
tanto p,ela Estrada Paulista como pela Sorocabana, poz em
execução o seu plano que, certamente já havia traçado no caso
de um insuccesso: retirou-se.
Uma pequena demora por parte do general Isidoro em
reaÍizar a sua retirada teria talvez prejudicado seriamente o
seu plano, porque ás 12 horas do dia 28 de Julho a vanguarda
da columna do general Azevedo Costa que marchava sobre .Tun-
diahy, attingiu esta cidade:

Depondo no summario de culpa dos indiciados como au-


tores e co-autores da revolta que explodiu em S. Paulo, o ca-
pitão, hoje major da Força Publica, de nome Antonio Gonçal-
ves Barbosa e Silva, revelou-se um verdadeiro Fregoli de fan-
caria.
As scen-as que nessa occasião representou, perante um nu-
meroso e selecto auditorio, resentiram-se de todas as exigen-
cias indispensaveis -p ara o feliz exito do artista. Vistuarios
apropriados, entrada em scena no momento opportuno, tim-
bre de voz suave, modo .airoso de pisar no tablado, gesticula-
ção sem affectação, tudo falhou, inclusive o ponto qne atrasa-
'I

78 , , General Abilio de ' Nqronha

va a cada passo o transformista, o .mestre consummado na arte


de jogar com pau de dois bicos.
Vejamos algumas das principaes scenas em que o referido
artista se esforçou. para realçar os seus pretensos dotes de
emulo · de Fregoli. '
A que diz respeito · á sua prisão pelos rebeldes, é cheia de
graves deslises, pois um -d'elles foi o transformista deixar cahir
em pleno palco a sua cabelleira postiça, fic'ando assim cqm
a calva á mostra. Foi preso sem _procurar resistir, estando ~orno
estava no Corpo · Escola, rod'eado de centenas de soldados sob
o seu commando. Isso succedido, foi levado á presença do
major Miguel Costa, a quem no seu depoimento empresta as
qualidades de "um dos of{iciaes mais distinctos. da Força Pu-
blica .como official de conducta exemplar", e este, de revq_Iver
encostado ao seu peito, exigiu-lhe que adherisse á revolta.
Isso deixà tra'nspa'recer, que Barbosa era tido e havido como
ó mais competente e valoroso official da Força Publica,. tanto
assim que a sua adhesão á revolta tinha sido disputada:. Os seus
innumeros. camaradas que cahiram prisioneiros do general Isi-
doro, nenhum d'elles teve a honra de soffr'e r tanta ameaça,
como elle, para' adherir, ne·m _ mesmo aquelles que deram as
maiores provas de heroismo, os bravos 'defensores do 4.º bat a-
lhão da Força Publica e da estação transformadora da Light,
sita á rua Paula Souza. Não 1 é original tud.o isso que se deu
com Barbosa?
Continuando o seu depoimento, disse ó artista que
diante d ,o cano do revolver de Miguel Costa, começou a
prestar auxilio directo aos rebeldes, mas que, no intimo, con-
tinuou fiel á legalidade, esperand·o o momento para a fuga.
Esta tão almejada opportunidade chegou e o proprio Barbosa
declarou que, ,estando fardado, ,sem ser importunado pelos re-
voltosos que estavam de posse da estação "-< de Tamanduatehy,
do Tramway da Cantareira, tomou o comboio e partiu para
Guapira. Esta localidade, como tambem declarou, não estava
em poder dos rebeldes, nem . .as estradas de, rodagem que a
ligam com innumeros bairros da Capital. Podia, pois, aprovei-
- tar dessas circumstancias para livrar-se o quanto antes de,
sendo legalista, , ser obrigado a prestar auxilio aos sediciosos.
O Resto da Verdade 79
l
Mas, assim não entendeu fazer: e, novamente, tomou o tramway
e 'regressou á estação de Tamanduatehy, porque não era seu
intuito continuar a auxiliar os rebeldes, mas sim . .. ir se apre-
sentar ao Governo no palacio dos Campos Elyseos. Chi:gando
a estação de Tamanduatehy, foi novamente preso e levado á
presença de Mig~el Costa. Para- ser severamente castigado? Não.
Para ser restituído á liberdade, para receber a prova mais
patente dJ. confiança que merecia deste chefe rebelde, para
assumir o commando 'de 50 praças! Não é para causar admira-
ção a illimitada confiança que Miguel Costa depositava em quem
· tinha adherid.o, por ter visto o cano de um revolver ao pei-to?
. Não é pyraÍnidal esta scena, n'ella não estão seriamente com-
promettidos. . . os dotes do artista?
Quando já passava das. 24 horas do dia 5 de Julho, portai1-
to .na madrugada do dia 6, como uma odalisca, vae pé ante pé
Barbosa fazer uma visita de despedida á minha pessôa, pois ia
se retirar para o palacio dos Campos Elyseos. Aproximou-se
cauteloso da sentinella que montava guarda á porta do quarto
' onde me achava preso com os meus officiaes, segredou-lhe no
ouvido qualquer éousa e esta deixou-o entrar onde me achava,
signal evi'dente de que Barbosa era conheci.do como rebelde
até pelos soldados. Entrando, com , voz natural, portanto sem
estar· apressado ,(9 artista está representando o seu papel),
disse-me' que estava com 50 praças promptas pa·ra me ,acompa-
nhar ao palacio dos Campos Elyseos. Isso feito, e como a sen-
tinel!a não 'lhe desse permissão para falar com os presos (mas
o convite diz ell~ que o pode fazer), sahiu, mandou tocar a
reunir a abalou para os Campos Elyseos. Nesta altura da re-
presentação, o ponto, atacado de pigarro, falhou. Então, o ar-
tista Barbosa, um tanto atrapalhado, continuou, dizendo que
quando entrou no quarto . que servia de minha prisão, não
ponde explicar conveniente'mente á minha pessôa qual era a sua
altitude nesse momento, isto é, si era de um legalista ou de um
revoltoso e que de facto eu tive toda a razão em não acceitar
o seu co!!_vite, porque elle Barbosa tinha durante todo o dia
5 fingido de r evoltoso. Como remendo, serve. Todavia, não
fui só eu quem não ouviu o celebre convite para me transp01:-
tar aos Campos Ely~eos'. No seu depoimento, tamb'e m. declarou
80 Gerieral Abil 'io de Noronha

de modo formal · o sr. capitão Euclydes ~spindola do Na1>ci-


·mento, que estava bem acordado é de olhos bem abertos nessa
occasião, que Barbosa em absoluto não me convidou para o
acompanhar ao local onde se achava. o Exmo. Sr. Dr. Presidén-
te do Estado.
Deixando cahi_r -o · veu diaphano que trazia envolto ao
rosto quando, - desempenhando o papel de odalisca, declarou
ter me convidado para -o acompanhar aos Campos Elyseos,
apezar dessa circumst-ancia toda favoravel · para ver tudo
muito bem, não viu Barhosa ao seu lado o tenente Nitrini, com-
-mand_a nte da guarda que me conservava preso bem como aos
meus ,officiaes. Não viu, não viu e affirma que Nitrini absolu-
tamente não estava presente nessa ciccasião. Mas eu, o coro-
nel Martins Cruz, e o capitão Euclydes Espindola do Nasci-
·mento, vimos em carne e osso o tenente Nitrini nesse momei;ito,"
por signal que apalpamos o seu corpo para scíentificarmos da
verdade, á semelhança de S. Thomé. Depois, o proprio Nitrini
no seu depoimento affirma, que estava presente quando Bar-
bosa penetrou na minha prisão. Porque negou o artista Bar-
bosa a presença do tenente Nitrini na celebre scena do convi-
te? , P-0rque, si désse Nitrini como presente; não podia fanta-
siar como fantasiou a verdade, não podia declarar no seu de-
poimento que me convidou de mo.do claro para o acompanhàr .
aos Campo_s Elyseos. Uma vez provado que Nitrini estava pre-
sente, quando Barbosa na ma._drugada de 6 de Julho foi á
minha prisão, não é admissível que este tivesse a coragem de
fazer-me o convite _d e que fala. Si tal fizesse, Nitrini que era
e foi revolto_so até o fim, que nunca trahiu a causa dos rebel-
des, daria alarme e elle, pobre artista, seria preso e punido
severamente como o maior dos trahidores.
Quando na tarde do dia 5. de Julho os rebeldes tiveram
sciencia de que as tropas da Capital Federal se conservavam
fieis ao Governo, de que tinham, sido illudidos com as promes-
sas de um levante simultaneo no Rio, quando perceberam que
o seu plano da tomada rapida da cidade de S. Paulo e conse-
quente marcha para a Capital Federal tinha falhado com as
resistencias inesperadas que surgiram no quartel do 4. 0 bata-
·1hão da Força Pub!ica, Palacio 'dos Campos Elyseos. O@rtel
·o Resto da Ver dad e 81

General da Região Militar e Secretaria' da Justiça, os princi-


paes cabeças foram dominados de um grande desanimo que
se percebia atravez do movimento titubiante dos officiaes e
praças na Avenida Tiradentes e proximidades, pelas physio-
nomias combalidas das inais importantes figuras da rebellião.
Não estará assim explicada a razão porque resolveu Bar-
bosa na madrugada do dia 6 abandonar os sediciosos, deixar
:de prestar-lhes auxilio e retirar.-se para onde retirou-se?
Ninguem poderá deixar de extranhar a promoção de Bar-
bosa ao posto de major, como um premio a sua dedicação á
Íegalidade. Ml;ls Barbosa tem uma qualidade. . . é easad9 com
uma sobrinha do coronel Pedro Dias de Campos.

Quando, após a retirada dos reb_e ldes, os homens sensatos


_d e S. PaulQ, qual Diogenes pelas ruas de Athenas, ~ndavam em
pleno dia de lanterna em punho a pro·cura de um genuino heróe,
certos indivíduos que o_ vulgo co~tuma chamar de picaretas,
com a maior facilidade faziam surgir em cada episodio, .como
cogumelos, ,os emulos de Joffre, Foch, Ludendorff, Hinden-
burg e outros grandes cabos de guerra da conflagração européa,
entre os officiaes e até entre os civis que prestaram serviços
á causa da legaliaade. Era inte~sa a azafama dos que; tendo
se conservado heroiçamente nos ·porões, á custa de fanfarr,o-
nadas, dis-p utávam corôas de louro. Os jornaes diariamente
vinham com columnas e mais columnas de elogios, geralmente
com ,e stes títulos espalhafatosos. "Perfil de um · grande solda-
do". "Um _heróe da 1,egaiidade", "O Joffre Brasileiro", "Um
grande cabo de gue_rra", etc.
Alguem, surprehendido com o elevado numero de heróes
que ameaçava até fazer tremer ê m serus alicerces a grande P.Y-
ramide do Egypto, lembrou-se de publicar um suggestivo ar-
tigo que, -por occasião de ser abafada a revolta da fortaleza
de Santa Cruz em 1892 chefiada pelo sargento Silvino, publicou
o grande propagandista da republica, padre João Manuel, sa-
cerdote este que, em plenó Parlamento na sessão .de 11 d~
82 Genera-1 ~lbilio de Noronha

Junho de 1889, fez um discurso violento contra a monarchia


e terminou dizendo: "Abaixá a monarchia, uiva á republica".
Com fina ironia, nesse artigo, o padre João Manuel fez a
mais severa critica aos heróes que nessa epoca surgiram por
ter sido abafada uma revolta de uma centena d e miseros galés,
graças á entrarla em .acção de toda a Armada . naêionàl e de
todas as forças de terra existentes na Capital Federal.
Lendo-se o ql!le o illustre sacerdote escreveu em 1892, fica-
se a· meditar si de facto fez elle uma critica sobre o Diodo como
foi suffocad-o o motim chefiado pelo sargento Silvino, ou
sobre a revolta que ora explodiu em S. Paulo, taes as coinoi-
dencias dos episodios, taes as fanfarronadas dos lieróes . que
surgiram · nessa epoca por terem conseguido derrotar um sim-
ples sargento, que se deix,o u. corromper . pelos politicos que
pretendiam repôr Deodoro no poder.
Mas, reflectindo bem, devemos dar toda a razão aos que
endeusaram aquelles que combateram nas redondesas de S.
Paulo o general Isidoro.
A historia se repete; dizem os doutos.

*
:!<:!<

Quem será capaz de admittir que um individuo que tenha


tentado assassinar Úm chefe de Estado, possa seis mezes depois
exercer o alto cargo de ministro desse mesmo chefe de Estado?
Pois vejam o que acaba ,de declarar da tribuna ' da C:i.mara
Fe·deral, o Snr. Vicente Piragibe:
"Tempos depois, fui convidado, por um político flumi-
nense, já fallecido, P?,ra me encarregar ,de cortar a luz e a
agua do Dístricto Federal, na mesma occasião em que. esse
poÜtico se il).cumbia de collocàr uma bomba de dynamite na
li nha ferrea, por onde devia passar o trem que conduziria o
presidente da Republica, vind,o de Petropolis. Immediatamen-
te declarei que não acceitava esses processos de luta, que os
considerava cobardes e miserave'is e que, se · esse politico per-
sistisse nos s_eus propositos, eu iria denuncial-o á policia
como €ulpado. Seis m ezes de·p ois eu ara preso e conduzido para
O RestC'J da l'erdade S-3

bordo do "Santa Calharina" , e o politico fluminense, que me


havia convidado, era, nada mais, nada menos, do que ministro
de Estado".
Porque , será que o Snr. Vicente Piragibe, só agora, nos
faz essa confissão que envolve tanta gravidade? Porque, como
dever de lealdade, repellindo, como diz, esses processos co-
bardes e miseraveis de luta, não foi nessa occasião _d enunciar,
o dynamitista?
Não será porque , os políticos mutuamente se defendem e
ca:cta qual trata de ser mais, camaleão do que o outro,?

No "Narran.do a _Verdade", ultimo càpitulo, escrevi:


"Condemno por principio a retirada das forças legaes de
S. Paulo sob o fundamento, como querem, de que era inutil
qualquer resistencia. Já tive occasião de demonstrar que as
forças _revoltosas até a retirada do Exmo. Sr. Dr. Carlos de
Campos, da Ca,pital, não tinham superioridade numerica tão
grande sobre as legaes. Ás quatr,o ,p eças -dé artilharia dos se-
diciosos, tinha o Governo, para oppôr, outras quatro peças
trazidas pelo contigente da Marinha e major Backer, na manhã
do dia 7 e, nucleos importantes de re's istencia, repelliam ga-
lliardamenfo as 'investidas dos rebeldes abatendo-lhes o moral, ·
taes c,omo o quartel do 4. 0 batalhão da Força Publica, a esta-
ção da Light, sita á rua Paula Souza e o Quartel General da
Divisão. Si a tropa estava sendo alvejada pela artilharia dos
revoltosos, tambem desde a manhã de 7 até a tarde desse dia
e logo pela manhã de 8, os dois· canhões da Marinha, assesta-
dos na Travessa do Mercado e a bateria do 3.~ grupo de arti-
lharia de c,osta, localizada na esplanada do Carmo, faziam con-
tínuos ' disparos contra o quartel da Luz, disparos estes feli-
zes, como observei da minha prisão, devido a _ter como obser-
vador um tenente de reserva do Exercito, que conhecia muito
bem a topographia do bairro da Luz. Os disparos contra as
Secretarias de Estado e principalmente contra a da Justiça,
na tarde de 8, pelos revoltosos; e a causualidade de um desses
1

84 Gener'al Abílio de Noronha

disparos ter atti'ngido justamente a janella do gabinete do Sr.


Dr. Secretario, não deviam impressionar officiaes que, com ·
noções de balistiça, tinham a obrigação de conhecer a lei da
dispersão do 'tiro e concluir que a artilharia sediciosa não
podia, em absoluto, bater este ou aquelle ponto de um edifí-
cio. Si a '-d efesa da Secretaria da Justiça e proximidades era
impraticavel, o deslocamento da , tropa para um outro ponto
não muito distante, como fizera o coronel Christiano Klinge -
lhoefer, não sacrificaria em absoluto o fim que devia ser visa-
do: a posse do centro da cidade".
Esse t{)pico do meu livro foi alvo dos mais forn;iaes des-
mentidos, dos mais vehementes protestos, isso por parte d'a-
quelles - que·, para bajular, não trepidam em adulterar a verda-
de . .Até no Congresso Federal ve_io á baila essa passagem' do
meu trabalho e não faltou -quem me accusasse de ter escdpto
o meu livro com impressões fornecidas pelos revoltosos.
Li todos esses desinentidos, todos esses protestos, todas
essas accusações e calei-me, na persuasão de que com o dec-or-
rer do tempo, a justiça me seria feita. Porém, confess-o, não · es-
perava que tão cedo, que logo ao iniciar-se o summario de
culpa dos indiciados, viesse uma testemunha de grande res-
ponsabilidade e que representou papel saliente na defesa da
legalidade, confirmar- de modo claro essa minha temeraria af-
firmativa.
Dep-ondo no summarió de culpa dos denunciados como au-
tores e co-autores da revolta em S. Paulo, o.sr. coronel Pedro
Dias de Campos, com a responsabilidade do seu elevado cargo
de commandante geral da Força Publica do Estado, declar-ou
textualmente: "que na noite de 8 de Julho, no Corpo de Bom-
beiros, disse alto e bom som. ás pessôas presentes, que achava
desnece·ssario ,que as tropas legaes se retirassem da cidade, pois
as mesmas estavam em condições de resistir e de bater os re-
voltosos; que nessa occasião, com o intuito de evitar a retira-
da das tropas legaes, telephonou à o general Santa Cruz, chefe
do Estado Maior do Presidente da Republica, não tendo con-
seguido communicar-se com aquelle general; que então alvi-
trou que se consultasse os generaes Cft!.e deviam estar no p a-
lacio dos Campos Elyseos, mas o seu alvitre não poude ser ac-
d a Ver d a d e
0

O Resto 85

ceíto, porque o coronei Kfüigelhoefer informou que todas · as


. tropas d'aquélle palacio já tinham sabido ás '10 horas da noite" .
.Todayia, cumpre-me ' declarar a bem da verdade, que ·na
manhã do dia 9 de Julho, quando o sr. c-oronel Klingelhoefer
tratava da retirada dos elementos da Força Publica fieis ao
Governo e que se achavam no quartel do Corpo de Bombeiros
e proximidades, não encontr-ou nessa occasião o Sr. coronel
Pedro. Dias de Campos, pois S. S. já se havia retirado em di-
recção ao Cambucy, abandonando assim a força que comman-
dava. ' ··, ,•; ',,J::;'.:'.{,f~l;
Não sei, francamente, como é que o . sr. coronel Pedr,o Dias
de Campos tflve a coragem de afrontar tanta gente que justi-
ficou· e até defendeu com ardor a retirada das forças legaes da
cidade na manhã de 9 de Julho.

'· .. ..... 1
1
Dev1do á minha pnsao pelos rebeldes na manhã do dia
5 de Julho, assumiu ,o commando em chefe das forças legaes
em S. Paulo o sr. general Estanislau Pamplona, que, como já
declarei no "Narrando a Verdade", preferiu as macias poltro-
nas dos Campos Elyseos ao contacto directo com a sua tropa.
Este general .,nã-0 devia, em hypothes'e alguma acompanhar
o Exmo. Sr. Dr. Carlos de Campos na sua retirada para Guayaú-
na na farde do dia 8, · mas, dando-se de barato que circumstan-
cías especiaes a isso o obrigassem; para que não ficasse paten-
temente provado o abandono do commando, falta grave punida
pelas leis militares, estava elle na estricta obrigação de passar
o mesmo a alguem. ·
Tal porém não se deu, pois o sr. general Estanislau Pam-
plona, CO!ll o disparo de artilharia que attingira a Secretaria i
da Justiça na tarde de 8, apressou~se em abandonar a cidade
sem a-0 menos deixar um simples recado verbal sobre ~uern
o devia substituir durante a sua definitiva ausencia.

Em Dezembro do anno proximo findo, quando corria com


insistencia a noticia de que aqui em S. Paulo se tramava uma
' 86 Gen e ral Ab ilio de N o rp n h a

nova revolta, quando alguns officiaes desertores do Exercito


e um peqmmo numero de civis eram presos, sob a acéusação
de que procuravam assaltar a Hospedaria de Immfgrantes para
dar liberdade aos presos políticos que ahi se achavam ' detidos
e respondendo a processo por crime de rebellião, recebi ines-
peradamente ordem urgente de embarcar para a Capital Fe-
deral e de me apresentar ao Exmo. Sr. Ministro da Guerra, de-
terminação essa que cumpri immediatamente. Uma vez no Rio,
apresentei-me ao Exmo. Sr. marechal Setembrino de Carvalho,
que, após me receber com toda a gentileza de um bom cama.:
rada, dias depois, declarou-me que eu podia regressar a S.
Paulo afim ile ficar á disposição da justiça federal e responder
ao processo como co-autor da revolta que explodiu em S.
Paulo, segundo a denuncia do Sr. Dr. Procurador Criminal 'da ,
Republica . .
Em fins de Maio do corrente anno (1925), após ter estado
em S. Paulo a serviço das suas funcções o delegado Carlos Reis,
pessôa de inteira confiança d.o Sr. marechal Carneiro da Fo).1-
toura, chefe de policia do ' Districto Federal, após terem •s ido
presas varias i>essôas em S. Paulo como envolvidas em uma
nova conspiração tendente a perturbar por meios ~iolentos a
ordem publica, recebi outra vez determinaçã,o urgente de me
apresentar ao Exmo. Sr. Ministro da Guerra, ordem e.ssa qu~
cumpri incontinente, apezar de estar á disposição da justiça
federal respondendo a processo crime. Apresentando-me ao
Ex.mo. Sr. marechal Setembrino de Carvalho, disse-me S. Excia.
que mandara me chamar, porque desejava dar-me . uma oom-
missão, ao que ponderei que não tendo o meretissirno juiz · fe-
deral da secção deste Estadp da~o a sentença impronunciando-
me do crime a que estava respondendo, não podia eu julgar-
me desembaraçado ~o processo e ipso facto acceitar qualquer
commissão. Diante dessas minhas justas allegações, o Exmo.
Sr. marechal Setembrino concordou que eu devia regressar a
S. Paulo e aguardar a sentença do integro magistrado, que é
o Exmo. Sr. Dr. Washington de Oliveira, o · que de facto fiz.
Só um ingenuo não perceberá que o facto de coincidir
sempre a minha chamada urgente á Capital Federal com as no-
O Resto da Verda<i.e 87

ticias de que em S. Paulo se tramam revoltas, com as prisões de


indivíduos suspeitos á ordem publica, fica patente a existen-
ciá de uma certa desconfiança com relação á minha pessôa,
collocam-me, com esse proceder, no ról dos indivíduos peri-
gosos, dos indesejaveis.
Longe de mim querer culpar o meu iHusfre e distincto ca-
marada, Exmo. Sr. marechal Setembrino de Carvalho, de ali-
menta.r esse juízo temérario que fazem da minha pessôa certos
puritanos, longe de mim protest'ar contra essas chamadas ex-
temporaneas á Capital Federal, porque a minha vida te~n sido
sempre de' um verdadeiro apostolo ,da legalidade. Bem sei de
onde partem esses màlevolos ·conceitos que fazem da minha
obscura pessôa. São os Sherlocks de fancaria que, de ventas
ao ar, tudo {arejando como cão de fila, chegam por mei,o
de deduções absurdas que fazem corar · de vergonha os mais
bisonho1> dos agentes de policia, a ver phantasrilas po,r toda
a p'a rte e, assim raciocinando cretinamente, a't tribuem a mim
a possível qualidade de réles mashorqueiro, de partidario de
revoltas em prestações, não trepidando em transmittir, orgu-
_lhosos dos seus dotes de detectives, essas toliées engendradas
em seus bestuntos, ao Governo da Republica. (
Pobres Sherlocks, que julgam que pela simples leitura das
novella~ de Conan Doyle, podem arvorar-se em ver'dàdeiros
' \
emulos de um Pinkerton. \ \

A pista está errada, porque em hypothese alguma desvia-


rei -do caminho que- tracei desde o dia em que' e-9-verguei a
farda de soldado.

Toda a vez que explode uma mashorca, não falta quem


por muito zelar pelos altos interesses do paiz, não proponha
a dissolução do Exercito, como o unico meio de pôr um para-
deiro ás revoltas que periodicamente rompem nci seio das
classes armadas e, de ao mesmo tempo, advoear com ardor, o
augm.ento das policias estaduaes.
88 General 1lbilio de Noronha

Admittindo-se, por absurdo, que as policias podem per-


feitamente desempe1ihar com todas as vantagens as altas mis-
. sões que incubem ao Exercito e que a dissolução deste não im-
porta em absoluto no e_nfraquecimento da nossa defesa no
caso de um conflicto armado com qualquer nação, resta sab.er
si com essa m~dida extrema, estará de uma vez para sempre
garantida a estabilidade da ordem publica.
Si o virus da rebellião só encontrasse um meio . amb.i ente
favoravel nos quarteis das tropas d,o Exercito, si o niicrobfo
pernicioso das mashorcas não fosse o resultado de pacientes
·, · culturas feitas em laboratorios de politic_Ós sem -escrupulos '
que, no momento asád-0, vão procurar aquelles que dispõem ·
de . fuzis, metralhadoras, canhões, etc. e com habilidade est;1-
belecem o contagio dá perigosa praga, ou de modo mais claro,
si os políticos não fossem acordar nos quarteis os soldados . e
arrastai-os com as suas falsas lamentações, com os seus .tra-
balhos vulpinos á rua, como os unicos salvadores do moment,o,
·certamente •que o magno problema estaria resolvido com a
dissolução do Exercito, isso com o meu incondicional. apoio.
Mas, não é isso o que se deduz dos factos que a nossa histo-
ria registra, ,o que se póde apalpar e ver a olho nú. Dissolvido
·o· Exercito e augmentado o ' effectivo das policias~ serão estas,
como já se tem dado inais •de uma vez em varias Estados, no-
tadamente uos do Norte, contaminadas do mesmo modo que o
Exercito, pelo microbio da mashorca habilmente introduzido
nos quarteis pelos politicos que não querem em hypothese_
alguma se sujeitar ao triste papel de vencidos. Para o político
insuflador de rev.,oltas, o principal é arrastar .a força para o
mau caminho, seja essa força da especie que' fôr, contanto · que
os seus planos machiavelicos se transformem em realidade.
Nada de illusões. Só a bôa educação política do nosso povo,
só quando os politicos se c.9nvencerem de que devem acceitar
a derrota oomo o resultado de uma luta leal, teremos extinctas
as mashorcas. A não ser assim, ExercHo ou policias, continua-
rão a ser o bóde espiatorio de todos os nossos erros políticos.
A Força Publica de S. Paulo, por occasião do golpe de
Estado dado por Deodoro, não se manteve fiel ao governo le-
galmente constituído do Esta_do. Grande pãrte d'ella se revol-
O R e s to ,d a Ver d a d ~ 89

tou contra o então Presidente, sr. dr. Amerfoo Brasiliense, que


desse modo se viu na dura obrigação de abandonar o poder.
Em 1910, fosuflada pelos maus politicos que tramavam uma inter-
venç'ã o federal em S. Paulo, essa mesma policia estava prompta
parâ iniciar a sedição, quando uma alta madrugada partiu
para o Quartel da Luz o Sr. Dr. Washington Luiz, então Se-
cretario da Justiça do governo do sr. dr. Alburquerque Lins,
· e. ahi predeu os principaes cabeças do planejado movimento
suJ:iversivo da ordem publica. Em 1922, por occasiã-o da cele-
bre campanha da Reacção Republicana, a Força Publica de
S. Paulo se deixou contaminar pelo vírus da revolta e tinha re-
presentante que confabulava .,com os elementos que na Capital
Federal tramavam a rebellião. Portanto, a propria Força Pu-
blica, màis de uma vez, tem ~ido elemento pertubador da
ordem publica.
Oxalá qµe não se repita em S. Paulo ou em outro Estado,
o triste episodio que assistimos em Julho de 1924, de ver .um
governo estadual gastar por espaço de mais ele' uma dezena de
annos avultadas sommas afim de instruir a suà policia e até
doptal-a de uma missão militar franceza, para mais tardé ter
o· grande desgosto de assistir o prolongamento de uma revolta,
justamente devido ao facto dessa policia assim tão bem instrui-
da e armada, ter dado máo forte aos revoltosos.
Queira Deus que a Força Publica de S. Paulo, que vae ter
um effectivo ' de 14.000 homens, que será brevemente dotada
de aoundante armas automaticas, de moderna artilharia, de
esquadrilhas de áviões, em fim, de tudo que é necessario para
ser na America do Sul, com excepção do nosso Exercito e d'a-
quelles da .Argentina -e Chile, o mais numeroso poder militar;
repito, queira Deus qµe não se deixe corromper, como agora
pelos falsos patriotas e que em vez de 23 dias de angustia p-or
que passou a pacata e laboriosa população de S. Paulo, nã,o
tenhamos que assistir a um periodo de élôr e de luto muito mais
prolongado.

Algnem, referindo~se ao político sr. Barbosa Lima, c•omo


- f~rça de expressão, qualificou-o do moderno orador 'athenien-
90 General Abílio de Noronha

se, o Demosthenes do Parlamento nacional, tal a eloquencia


dos seus discursos, tal o poder que tem de com a sua palavra
arrebatar o auditoria.
Demosthenes empregou todo o seu talento e eloquencia
em c-ombater os projectos anibicioios de Filippe, rei da Mace-
donia, que queria reduzir a Grecia á se-rvidão, e depois da morte
de Alexandre, lutou ainda em favor dos gregos confederados,
mas, vendo a inutilidade dos seus esforços, envenenou-se para
escapar a Antipater.
1
O Sr. Barbosa Lima tem feito uso dos seus d-ates de elo-
quencia para atacar com virulencia os governos da Republica,
para ,incentivar arruaças e mashorcas, em resur~o, p~ra directa e
, indireotamente humilhar a nossa patria perante os olhos do
extrangeiro.
Dos 61 discursos, 65 -exórdios e 6 cartas que c-onhecemos
de Demostheries, se conclue que o celebre orador atheniense
sempre trabalhou pela .g randesa da Grecia, sua patria amada.
Dos annaes do nosso Congresso, dos discursos que ahi encon- ·
tramos pr-oferidos pelo Sr. Barbosa Lima, triste é confessar,
· só se deduz a intenção premeditada do orador em redicula•,
risàr tudo que fazem os nos-s os governos em beneficio do
povo.
Si Demosthenes foi o batalhador formidavel pela unificação
de· toda a Grecia, o sr. Barbosa Lima tem sido o demolidor da
sua patría.

Agradecendo ás manifestações a si feitas pelo povo de Ca-


çapava e respondend-o a uma saudação do Sr. José do Ama.ral
Gurgel que o chamou de divino, (vide "Correio Paulistano" de
14 de Agosto de 1924 e o livro dos Snrs. Eurico de Góes e Cyro
Costa - Sob a Metralha - paginas .19.1 e 192), o commanda_n -
te em chefe das forças legaes que agiu ao redor de S. Paulo
disse que, visando esgotar a resistencia dos rebeldes, tinha
adaptado o process-o de combates parciaes, pois os conheci-
mentos theoricos e praticas que adquirira nas lições dos gran-
des cabos de guerra, nas manobras, nos ensinamentos da mis-
são franceza, lhe aconselhavam a assim proceder.
O Resto da Verdade

Houve quem lhe suggensse. a idéa de mudar de tactica, mas


o general resistiu a taes suggestões, pois sabia as responsabi-
lidades que pesavam s0bre seµs hombros. Sob o titulo attrahen-
te de "Perfil de um grande soldado," em 19 de Agosto de 1924,
o "Correio Paulistano" publica um artigo firmado por, Spar-
tacus, ,o qual declara, por sua -vez, que o commandante em chefe
das forças legaes resistiu a todas as suggestões que lhe foram
feitas e ordenóu offensi~a :i;Jarciaes. . ·
O tenente-coronel F. Culmann, no seu "Cours de Tactique
Générale d'ápres l'exP.,erience. de la grande guerre", ás pagi-
nas 259, diz justamente o .contrario do que disse esse general
V
e condemna formalmente. os ataques parciaes, dizendo que a
experiencfa ·da graµde guerra ensina: "L'opportunité de re-
·noncer. aux petites attaques, tres couteuses, vouées a de·s éches
1
des qu'elle.s progressaient, parÚ que, fOrmant alors une sail-
lie, elles étaient exposées à des feux convergents .e t â des co!ll-
tre-attaques enveloppantes".
Foi justamente o que se deu com a brigada sob o com-
mando do sr. general Potyguara que, fazendo um ataque par-
cial sem que as tropas a sua direita e a sua esquerda a acom-
panhasse no seu avanç0, formou uma saliencia e ficou sob os
fogos convergentes dos rebeldes, soffrendo um contra-ataque
envolvente_que não se realisou, devido ao recúo feito a tempo
de toda a brigada.
O Snr. ,g eneral Gamelin, na sua primeira conferencia so-
bre a grande guerra, ás paginas 5 diz que, "só o equilíbrio de
forças justifica o prolongamento da guerra" e, . ás paginas 23
e:içplica, " que -só se deve recorrer á usura, quando queremos
romper uma frente defendida por um numero de combateptes
equivalente ao nosso."
Portantp, o cqmm::Í:ndante em chefe das forças legaes que
dispunha de mais de 15. 000 homens, não devia recorrer á
usura para bater apenas 3.500 rebeldes, no· maximo, não de-
via insistir em ordenar ataques parciaes. Não tinham os re-
voltosos carros de assalto, esquadrilhas completa de aviões es-
pecialmente construidos para acçoes militares, não dispunham
de artilharia de 155 de calibre, de 75 St. Chamond, tiro lon,go,
de uma dotação enorme de artilharia e de muniçã-o ·em abun-

"
.92 Ge n e r al A ú iIi o de N o r -o n h a

danda, como tinham as tropas legaes. Bem sei que "não se


luta com homens contra material," mas esse principio da guer-
ra moderna levantado pelo marechal Foch, não podia ser in-
vocado pelo_ commandante em chefe das forças legaes _ A ser
ellé invocadn, certamente que quem tinha o direito de assim
proceder, seria o general Isidoro.
, Assim, pois, o esgotamento dos re_b eldes por meio de at-
ques pàrciaes, visando a u~ura, estava de ante-mão· cori_d em-
nado 'pelos ensinamentos da grande guerra e pelas jwoprias
lições da missão franceza.
· A arte da guerr a, diz o marechal Foch - "é de se mover
no domínio do desconhecido, mas de não se mover sem lan-
terna."
o· alto commando das forças legaés tinha a tal lanterna de
que nos fala o marechal Foch?
Si tinha, estava apagada.

O Sr. ooronel Martim Fr-ancisco Cruz, por mim denun-


cia-do á Justiça Militar como calumniador, não podia em abso-
luto contrariar, em seu depoimênto no summario de culpa dos ·
indiciados como autores e co-autores dá revolta em S. Paulo,
. o conceito que de si fazem os meus camaradas, de . refinado
tartufo. ·
Nos episodios da revolta · em S. Paulo, nos quaes esteve ao
meu lado ·quando eu agia para i,uffocal-a, o coronel Martim
Cruz, por uma vaidade tola, fez resaltar o seu papel e deixou
transparecer no seu depoimento, que quem tu do tentou para
restabelecer a ordem foi elle, representando eu o medíocre pa-
pel de um mero expectador dos seus rasgos de energia e abne-
gação. Foi ,elle quem tomou as providencias acertadas e que
tão bons resultados deram no 4. 0 batalhão da Força Publica,
quem de fado concorreu para a resistencia desse quartel. No
Corpo Escola, _foi ainda elle quem estava organizando a resis-
tencia, quem procurava apossar-se de duas metralhadoras,
quando foi preso em minha companhia e do capitão Euc1ydes
Es•p indola do Nascimento, de m9do irresistível pelos rebeldes.

.,
O, Resj o da Verda ·de 93

Mesmo preso, continuou a agir com a mais admiravel calma


e _deve-se a sua pessoa innumeras providencias que redunda-
ram no desconjuncto do plano subversivo. Si o restante do 4.•
batalhão de caçadores poude seguir são e salv9 para os Campos·
Elyseos e reforçar desse modo · a defesa do palacio preside;i-
ciat isso fói devido a astucia com que transmittiu· ordens para
' o quartel em Sant' Anna, pois at,é traçou o itinerario que a tro-
pa devia fazer para evitar contacto com os rebeldes. E, com
' e~sa fanfarronada de um authentico ferrabraz, tudo enfrentou
com indomita ·coragem, , tudo providenciou e calculm,i ' com a
precisão _de_ um chronometro.
Seria . enfadonho escarpelar, reduzir á expressão mais sim-
ples, o depoimento tendenciosamente feito pelo coronel Mar-
tim Cruz. Apenas vou pôr em relevo alguns factos, afim de
que possam avaliar até que ponto póde· chegar a audacia de um
pantomineiro.
Durante o tempo em que o coronel ,M artim Cruz esteve
preso commigo no -corpo EscÓla; por varfas vezes, sem ser
acompanhado de -uma guarda, atravessou a avenida Tiradentes,
fo~ ~o -' quart;i" do 1.º batalhão da Força Publica e ahi teve con-
ferencias com o- general Isidoro. No seu depoimento, o coro-
nel Martim C1~uz procurou explicar esse enigma, declarando que
assim procedeu: para. reclamar do chefe dos revoltosos a in-
vasão de sua propriedade em Sant'Anna, pelo capitão Dou-
guet Leitão. Contestando ó depoimento do coronel Cruz, de-
clarou textualmente ,o capitão Douguet que "o depoimento da
testemunha na parte referente á invasão da sua propriedade er,a
calumniosa". Parece-me, salvo melhor juízo, que o pr,e texto de
que diz ter lançado mão o coronel Cruz , para se aproxima_r
amiudadas vezes do general Isidoro, não era tão forte como
elle julgou. Para reclamar, o que diz que foi reclamar, bastava
que escrevesse uma carta a quem tivesse competencia para to-
mar as providencias que desejava.
No seu depoimento visando collocar-me em má situação
perante o Juiz Julgador, declarou que ouviu o major Antonio
Gonçalves Barbosa e ' Silva, da Força Publica, convidar-me na
madrugada do dia 6 de Julho, para o acompanhar ao palacio ·
dos Campos _Elyseos e que eu recusei attenrler a esse ·convite,
94 General AbU-io de Noronha

por entender que se tratava de um_a cilada. Continuando o seu


depoimento, ·d eclarou o coronel Cruz textualmente, "que elle
entretanto não interpretou o convite do major Barbosa como
o general Abilio, isto é, con'!.o uma cilada." Si assim foi, si o
coronel Cruz estava crente de · qué o major Barbosa falava
com toda a lealdade, devia então dizer nessa occ~sião a mim:
- meu general, si V. Excia. entende de ficar aqui pre::;o, eu
não p·enso do mesmo modo, vou acompanhar este official que
merece toda a minha confiança e que facilitará a opportuni-
dàde para unir-me ás forças legaes. - Tal; porém, não fez o
c-oronel Cruz e no seu depoimento declarou textualmente, (ve-
jam que ingenuo) "que não acompanhou o referido -official
(major Barbosa) nem se offereceu p_ara acceitàr essa possibi-
lidade ae reunir-se ás forças legaes, simplesmente (vejam só,
simplesmente), porque o convite foi feito exclusivamente ao
general Abilio, tendo o depoente attendido se o convite fos~e
feito a elle depoente." No entanto, como a mentira tem as per-
nas curtas, logo em seguida, o coronel Cruz tamb.e m declarou
textualmente, "que elle depoente não conhecia o alludido of-
ficial (major Barbosa) e ignorava qize elle tivesse o proposito
de r,eunir-se as forças legaes e que para isso tivesse organisa-
do à força de 50 homens por elle referida". Fica assim prova'do
qae, Martim Cruz coronel, contesta Martim Cruz testemunha;
A r esponsabilidade moral do coronel Martim Francisco
Cruz na r evolta que explodiu em S. Paulo, resulta do seu pro-
prio dep oimento perante o meretissimo . Juiz Federal. Decla- .
rou •elle que, "no mez de Maio de 1924, o capitão Grimualdo
Teixeira Favilla e o 1.º tenente Amílcar Salgado dos Santos, am-
bos do 4.º batalhão de caçadores de que o depoent(1_ era eom-
mandante, o avisaram que no Rio commentava-se a possibili-
dade ;de uma revolução que se preparava em S. Paulo, ao que
respondeu não acreditar por não ser revolucionaria a indole
dos soldados paulistas." D-e um seu parente empregado na po-
licia do Estado, conforme depoimento do capitão Grimualdo
Te'ixeira Favilla, -ouviu o coronel Martim Cruz, "que de facto
havia qualquer cousa sobre revolta em S. Paulo e se deprehen-
dia estar a Força Publica como participante no proprio niovi-
mento". Que fez, que providencias tomou junto á sua unidade,
O Resto da Verti_ade 95

no 4.º batalhão de caçador.es, o coronel Cruz? Não me procu-


rou, corno era de sua obrigação, para dar-me aviso da •g rave
denuncia e combinarmos os meios de evitar qualquer pertur-
, bação da ordem. Não organizou, como devia fazer, um serviço
de severa vigilancia nó seu quartel, nem disso incumbiu ne-
nhum de seus officiaes. As provas estão ao alcance de tod0s e
ninguem ignora que a revolta foi iniciada por ' soldados 'da
unidade do coronel Martim Cruz, a qual foi arrasta-
1
da ao mau caminho pelo tenente Guayer e por officiaes de-
sertores do Exercito que, na noite de 4 para 5 de Julho dor-
miram no quartel de Sant' Anna. Por soldados do 4.º de c,aça-
dores, foram tomados todos os ·q uarteis da Força Publicá lo-
caiisados no bairro da Luz :e, embora o coronel Cruz tente
p·or todos os processos negar essas verdades, corno fez no seu
d~poirnento, nada póde conseguir. Contestando o depoimento
do coronel Cruz na parte que diz respeito a quem cabe a res-
p_o nsabilidade do inicio da revolta, o indiciado sr. 1.º tenente
do Exercito, Eduardo Gomes, declarou que "contestavà o de-
poimento da testemunha (coronel Martim Cruz) na parte em
que de_clara que o regimento de cavallaria áa policia se suble- -
vou antes do 4.º batalhão de caçadores, porque tendo auxilia-
do o leva11te deste batalhão, póde affirmar de sciencia proprfa.
que o major Miguel Costa aguardou em · sua residencia a corn-
municação de que o segundo e quarto batalh~o da policia e o
Corpq Esc-ola se achavam cercados por destacamentos do 4.º
batalhão de caçadores, para se dirigir ao regimento de caval-
laria de policia afim de levantai-o."
Adulterar a ve,rdade, calumniar, pôr sem a menor ceri-
monia a mascara da bypocresia no rosto, é velho habito do .
. coronel Martim Cruz, pois quando era capitão, soffreu a pena
de 15 dias de prisão por ter faltado com a ~erdade ao _seu
superior hierarchico, calumniando um seu camarada, confor-
me póde ser verificado pela ordem do dia n.º 103, de 6 de Maio
de 1913, do sr. general Cardoso, 'nessa epoca inspector perma-
nente da 10.ª região militar, ·c om séde em S. Paulo. O p_roprio
Sr .. Dr, Procurador Criminal da Republica, na sua promoção
sobre -a revolta em S. Paulo, não poude deixar de condemnar a
96 General Abilio de Noronh«

altitude desleal do coronel Martim Cruz, prestando um depoi-


mento "que não póde inspirar confiança á justiça."
Tem toda a applicação aqui a locução latina - "Oleum
perdidisti," pois o coronel Martim Cruz de facto perdeu o ·s eu
azeite. -

O Snr. Armando Burlamaqui, pretensa summidade em ar-


tilharia, entendeu de pôr as suas manguinhas de fóra é criti-
car de modo ironico o que escrevi em synthese, ·sobre o em-
prego da artilharia divisionaria contra a cidade de S. Paulo.
· Quando da tribuna da Camara Federal, o Snr. Dr. Azeve-
do Lima, em 3 de Dezembro de 1924, justificava, baseando-se
no meu livro, o seu discurso de . 21 agosto e no qual condemnot1
o bombardeio, feito a esmo, da bella Paulicéa, o Snr. Burlama-:
qui, em aparte, declarou que eu era calouro em artilharia e
que q.:ialquer sargento estava habilitado a me reprovar, quan-
to ao emprego dessa arma.
Porém, quem assim · falava com tanta convicção, Iógo. em
seguida, tambem em aparte, disse "que todos os tiros .dados
pela artilharia legálista, estavam dentro da zon.a perigosa."
Doutrinando sobre o emprego da artilharia em casos se-
melhantes ao de S. Paulo, disse o abalisado coronel Pascal,
da Missã-0 · Franceza, na sua 8.ª conferencia sobre artilharia,
para o curso da Escola de Estado Maior do nosso Exercito:
"on ne tire pas sur l' ensemble d'un village, mais sur des pa:r-
ties qui en sont nettement determinées: celles ·q ue fon _veut
aborder ou qui flanquent les objectifs á atteindre."
Disse isso o illustre official francez, encarando o lado hu-
manitario do emprego da artílharia contra localidades, con-
doído da sorte dos habitantes? Certamente que não. Foram as
lições da grande guerra que o levaram a assim se exprimir.
Ora, uma vez que - "não se deve atirar sobre o conjun-
cto de uma localidade, mas sobre os pontos nitidamente de-
terminados da mesma, naquelles que desejamos abordar ou
que flanqueam os objectivos a attingir," - é fóra de duvida
que cahimos no emprego dos tiros de efficiencia, os quaes
exigem continuas e rigorosas observações te.r;restres (postos de
O 'R e s to da Ver, d a d e 97

observações, e - aéreas (aviação), pois a variação da pressão


almospherica, a temperatura, a direcção e a velocidade do
vento e o proprio aquecimento da arma com os disparos, tudo
isso influe poderosamente para ~iminuir a precisão dos tiros.
Os tiros de efficacia · comprehendem ·duas modalidades a
saber: tiros de 'precisão e tiros sobre zona .
. , Nos tiros de precisão, procura-se manter o ponto médio
êto tiro de cada peça; na vizinhança immediata do seu objeti-
vo particular.
, Os tiros sobre zona, tem por effeito repartir os tiros, de
modo mais ou menos regular, em uma zona ·que comprehende
o objectivo. · ·
Portanto, o proprio tiro sobre zona, · visa sempre um obje-
tivo de antemão escolhido ou determinado.
Será possível _que,. si a artilharia legalista fizesse tiros so-
bre zona, no sentido technico da. expressão, attingisse por
exemplo, como attingiu, o Theatro Olympia, casa de diversão
publica muito distante dos pontos occupados pelos rebeldes e
escolhida como .seguro abrigo pela população espavorída com
o bompardeio desordenado~
Não é tudo. Si os tiros da artilharia divisionaria fossem
bem efficazes, deviam ferir e matar um grande numero de sol-
dados rebeldes e um insignificante de civis, pois não é admis-
sivel que estes; não procurassem se afastar, como medida pre-
ventiva, dos pontos guarnecidos pelos revoltosos e ipso facto,
de preferencia visados pelo bombardeio das forças legaes.
Consultando-se os dados estatísticos sobre o movimento
da Santa Casa de Misericordia de S. Paulo, transformada du-
rante os pavorosos dias de Julho em hospital de sangue, uma
unica conclusão se tira: o numero de civis victimas do bom-
bardeio é muito elevado e aquelle de rebeldes insignificante.
Dos 802 feridos internados nesse hospital, 161 eram do sexo
feminino e 641 do masculino. Dos 641 homens, 441 eram civis
e apenas 200 eram militares. Falleceram nesse 'hospital 110
feridos, assim discriminados pelo sexo: masculino 87 e femi-
nino 23. Dos homens, 61 eram civis e apenas 26 eram milita-
res. Foram conduzidos ao hospital, já mortas, 153 pessôas,
Deste numero, 114 eram do sexo masculino e 39 do feminino.
98 General Abilio de Noronha

Dos 114· homens, eram civis 78 e militares 36. Esta grande dis-
paridade que se observa entre o ·e lemento civil e o militar vi-
ctima dp bombardeiq, em se tratando do movimento da Santa
Casa de Misericordia, é patente nos demais hospitaes de san-
gue improvisados pela humanitaria Cruz Vermelha.
Assim, pois, o Snr. Burlamaqui revela-se um archaico co-
nhecedor do emprego ' da artilharia, mistura alhos eom b-qga-
lhos, não sabe diliferenciar o emprego da artilharia em campo
aberto e em cidade; confunde tiro sobr,e zona, que é uma elas
modalidades dos tiros de efficacia," com disparos sem · a me-
nor observação, sem r.e gulação, portanto a esmo; dá _ mostras
de não ter acompanhado, como devia, a evolução pela qual
tem passado nestes ultimos annos o emprego da arma qire, no
dizer feliz de um géneral illustre, ,é a ossatura das batalhas.
Para o Snr. Burlama:qui, tiros sobre zona, não exigein obser-
vação alguma nem a menor regulação. Tiros sobre zona, · para
esse official de marinha, são aquelles que cahem dentro de
uma zona onde se suppõe ser perigosa, o,n de -se presume que
o in~migo se movimente.
Com ess·a logica, o nosso nec plzzs z.zltra da balística, Snr.
Burlamaqui, si algum dia estiver á bqrdo de -qm encouraçado
e tomar parte numa batalha naval, em vez de procurar con7
centra-r os fogos de sua posante ünidade contra uma das do
adversaria, contentar-se-ha "com que os tiros dados estejam
dentro da zona perigosa," isto é, dentro do espaço onde ma-
nobre a _esquadr2 inimiga.
Isso não é de sargento, mas .. ·. de cabo de esquadra.
O emprego da artilharia do abàlisado· official, de marinha,
Snr. Burlamaqui, é comparavel aquelle de um caçador cuja
aventura passo a narrar: ,
Certo caçador, que se gabava de ' ser bom atirador, resol-
veu uma bella manhã ir caçar veados. Mal tinha entrado no
campo, deparou com um lindo veado que pastava tranquilla-
ménte. Carr egou a espingarda, apontou-a, deu o primeiro tiro
que errou o alvo. Novo carregamento da arma, nova pontaria,
novo disparo, o ruminante no mesmo logar. Assim fez pela
terceira e pela quarta vez, sem que o veado ao menos ficasse
espantado. Isso feito, todo radiante de alegria, regressou o
/
O Resto da Verdade 99

riosso heróe para casa e, lá chegando, contou a sua singular


aventura. Os tiros da sua espingarda tinham attingido toda a
zona que julgava perigosa para o veado. Alguem maliciosamen-
te per~untou a esse caçado~, qual seria a sua aÚitude, si por
acaso attingisse com os ·disparos da sua espingarda algum ani-
mal domestico. MMi fleumaticamente, respondeu elle que quan-
do atirava sobre a zona perigosa, a unica cousa que ~ interes-
sava era o veado e que si tal succedesse, si matasse um animal
domestico ou mesmo uma pessôa. . . isso seria cousa de pouca
importancia.
Appliquem o conto.

*
:1::1:

No "Narrando a Verdade", ao tratar da revolta de 1922,


na parte que diz respeito aos factos occorridos no 1.º regi-
mento de infantaria, escrevi:
"Cercado, co'rno foi, traiçoeira:mente o casino, ali penetrou
acompanhado de alguns soldados, pela porta do centro, o te-
nente Buys e, defrontando logo á entrada com o capitão José
Barbosa Monteiro, deu voz de fogo, de que resultou cahir cri-
vado de balas, e sem ;vida o corpo desse infeliz official."
Ha um lamentavel equivoco nesse topico por mim escri-
pto e que a verdade manda desfazer. O tenente Buys não esta-
va presente· no momento em que, alguns soldados disparando ·
os seus fuzis . em direcção do casino, occasi.o naram a morte
do capitão José Barbosa Monteiro. Portanto, não tem a menor
culpa no assassinato desse official. ·

Commandava em 1922 a primeira Região Militar, com


séde na Capital Federal, o sr. marechal Carneiro da Fontou-
ra, actual Chefe de Policia do Districto Federal. '
Ninguem poderá negar que este militar, com todo o
seu prestigio e com todas as suas acertadas provid1encias,
não poude evitar que alguns militares exaltados com a cele-
bre campanha presidencial, habilmente explorada pelos p_oli-

r:
100 General Abilio de Noronlia

ticos interessados em alijar a cari.diâatura do Exrµo. Sr. Dr.


Arthur Bernardes, levassem a effeito uma revolta, cuja pro-
paganda era feita ás escancaras. Si a revolta de 1922 não to-
mou as proporções ,da que se deu ern S. Paulo, isso se explica
pelos poucos elementos que nella iomaram parte. Pe)a ex-
plosão da revoltá de 1922, não foi punido o commandante da
primeira Regiao Militar, com o que aliás estou de pleno ac-
côrdo. -
Recebendo eu noticias de que aqui em S. Paulo se trama-
va uma revolta, agia nessa occasião de accordo com as medi-
das que estavam ao meu alcance. Avisava os commandantes
de unidades com insistencias, dava conhecimento de tudo aos
comniandantes de brigadas e~ ·ao Governo do Estado, chega-
va a exhibir em original os coinmunicados que do Governo Fe-
deral recebia sobre tão palpitante assumpto. Devo accrescen-
tar ainda, que enviado especialmente pelo Sr. marechal Fon-
toura, Chefe de Policia do Districto Federal, esteve em S.
Paulo o delegado auxiliar Sr. Carlos Reis, que communicou
ao Governo do Estado a existencia \ie uma conspiração em
S. Paulo visando perturbar a ordem publica, co:i:nmunicação
esta de que não tive conhecimento por parte desse delegado -;
que o Sr. marechal Setembrino de Carvalho, Ministro da Guer-
ra, enviou, por sua vez o seu official de Gabinete, Dr. Cypriano
Lage e Silva com. o fim especial de scientificar o Governo do
Estado do andamento da conspiração, enviado este que lam-
bem não me procurou para dizer cousa alguma; que dez dias
antes de explodir a revolta, o Sr. Dr. Thyrso Martins, depu-
tado estadual, avisou o Governo de S. Paulo de que aqui se
tramava uma mashorca com o apoio de elementos da Força
Publica, visando depôr o Governo :da Republica.
Os commandantes de batalhões e de· regimentos da minha
Divisão interrogados, repetiam verbalmente e em cartas, que
as st1as unidades eram inteiramente dedicadas e leaes e me
affirmavam "que as tinham nas mãos, acontecesse o que acon-
tecesse:" os generaes de · brigadas, de posse de identicas infor-
mações de seus commandados, com justa razão me tranquilli-
zavam de tudo; o Governo do Estado não admiHia a hypothe-
se de uma revolta com o apoio da Força Publica, diante da ·
.O Resto da Verdade 101

illimitada confiança que depositava nessa sua disciplinada mi-


licia, e na sagacidade da sua modelar policia.
Em 5 de Julho explodiu a revolta. A apregoada lealdade
garantida pelos commandantes das unidades da minha Dívi-
. são, não passava de uma illusão de que elles e eu fomos vícti-
mas, o que não q.üero esconder. Mas tambem é preciso frizar
que a illimitada confiança que o Governo do Estado deposi-
tava na sua Força Publica, não passava de um mytho, não es-
tava assentada em terreno firme, mas em monte de movedi0a
areia. Houve o inquerito policial, surgiu a denuncia do Sr.
Dr. Procurador da Republica e ficou provado, por sua vez,
que- a policia com todos os . seus gabinetes de investigações e
capturas, nada inYesJigou, -nada capturou.
Como diz o Sr. Dr. Procurador da Republica em sua de-
nuncia, ''era intensa a azafama dos conspfradores e ás escan-
çaras." "Na rua Vautier n.º 27, onde o tenente Custodio de Oli-
veira, do 2.º Grup.o Independente de Artilharia Pesada, aquar-
telado em Quitaún,a, mantinha uma especie de "republica", '
assiduamente frequentada, ou· eventualmente habitada pelos
organizadores do plano subversivo; na rua da Fabrica n. 6
onde residia o tenente Henrique Ricardo Hall, e se hospeda-
vam ou se reuniam os capitães Octavio Muniz Guimarães, Joa-
_quim e Juarez do Nascimento Fernandes Tavora e os tenentes
Victor C~sar da Cunha Cruz, Granville Bellerophonte de Lima
e Eduardo Gomes, toq.os desertores do exercito, foragidos da
justiça; no escriptorio do dentista José Paulo de Macedo Soa-
res, á rua da Quitanda n. 14; na casa do individuo Waldomiro
Rosa, á travessa Frederico Alvarenga n. 46; na casa do major
Miguel Costa, fiscal do Regimento de Cavallaria da Força Pu-
blica, e nesse proprio Regimento, as reuniõés dos conspirado- ~
res se succediam, e o estudo dos planos da mashorca proseguia
com uma perfeição de calculas a que não esc · · ·.,.,..,,,
significante minucia na prevü:ão das p,PQ:15:IBi'
tencia ,,
• .
,"''º: <,·'li:,
._<>:,,.:··, ':,C:ê\'•,.!'
l:\ ,., . -,~•·, '
"Mappas de ~oc.alisação _ dos _J?Pn,ws , a a~tN,~f),:, coin _os
calculos mathematicos das d1stanciasi -tdemonst,:aço.es,Jdesen
. ! . l .~.,y.i,
,. t- D.
'.:,.•-'_,,'.: : ·. ~

das de estradas e percursos a fazer:,'.


preeisãcf~'ch~htatica . .···• ' .-14,,.
di1s
guarnições federaes compromet.t idas com. os _- ro ,,}\5.1)\ºr~u.efr, ,.: .'
"ª~·t il·i ,, .,li),,,
.
-~., :: .':'. ,;;,~~;..,-..
102 General .4bilio de Noronha

meticuloso estudo da maneira por' que cada corpo deveria


movimentar-se no inicio da acção, p_revisão estrategica ' da ·
actuação das forças rebeldes nesta cap_ital, com resoluções
escriptas de varios themas previamente formutados, codigos
secretos de communicações p_or carta ou pelo telegrapho, for-
ml!llas truculentas de intimaçó.es '. de rendição, manifestos sub-
versivos, proclamações incendiarias, p_romessas de vantagens · e
melhorias, programmas de governo, tudo foi largamente estu-
dado, amplamente discutido e profundamente calculado antes
da definitiva approvação, que era sempre feita, de proprio pa-
nho e nos prop_rios originaes dos :map_pas, pelo ·general refor-
mado Isidoro Dias Lopes, o homem que os transviados escolhe-
ram para o commando geral do movimento."
. "Os officiaes desertores do · exercito, aqui homisiados, pro-
curaram no subterfugio da troca de nomes uma valvufa de se-
gurança para o tranquillo ·e pleno e'xito de ~ua ininterrupta e
tenaz actividade subvei•siva."
"O tenente Henrique Ricardo Hall passou a explorar · appa-
relhos de radiotelephonia na pelle do supposto engenheiro dr.
Ricardo Fischer Junior, associando-se com o dono da Casa
Stolze; o tenente Eduardo Gomes, homisiado em Matto Grosso,
numa fazenda da familia do marechal Bento Ribeiro, era alli
o dr. Eugenio Guimarães, em funcções de professor primarid;
o capitão Juarez do Nascimento Fernandes Tavora transfor-
mou-se no electricista Octavio Fernandes e morava com o dr.
Ricardo Fischer Junior, na travessa da Fabrica n, 6, altos da
officina da Casa Stolze, onde trabalhava com rara habilidade;
o seu irmão, capitão Joaquim Tavora era simplesmente conhe-
cido por J. Fernandes; o tenente Victor Cesar da Cunha Cruz,
tambem hospede do dr. Fischer, passou a chamar-se dr. Victor
da Silveira, encarregando-se de estabelecer ligações entre os
elementos compromettidos do Rio e os desta capital, com pas-
sagens fornecidas pelo capitão Newton Estilac Leal, então di-
rector do Material Bellico do .Quartel General da 2.a Região;
finalmente o tenente Granville Bellerophonte de Lima, agia em
Goyaz sob o pseudonymo de dr. Cabriel G. de Lima, transfun-
dido em "explorador de chrystaes, mica e pelles."
O Resto da Verdad· e 103

No entanto, parece que todos esses factos aqui narrados


com detalhes, ·não ·passam de mera fantasia para impresionar
os incautos. Ninguem foi illudido, ninguem foi desidioso, a ex-
cepção de minha pessôa. Portanto, a culpa de explosão da re-
volta cabe unica ' e exclusivamente ao então commandante da
Região Militar que, sem çlispôr de recursos pecuniarios para
manter um corpo de agentes seyretos, devia tudo ver,, tudo sa·-
ber e tudo . informar, a semelhanç;;i. de um Pathé Jornal.
Nã.o viso fazer agóra a minha defeza, porque já fui julga-
do . isento de qualquer culpa nos factoi: relacionados /com a
revolta., Apenas estoU recordando certos episodios, entrando
em alguns detalhes, afim de que o leitor possa avaliar do
modo como entre nós se costuma fugir ,das responsabilidades
e jogal-as de uma feita para ·os hombros de uma unica pessôa,
de antemão escolhida para ser o bóde espiat-orio de tudo .
E' o caso de se dizer como Ovídio:
~

"Donec eris felix, · multas numerabis amicoll,"


"Tempora si fuerint nubila, solus eris."

.Si a guerra é ,antes de tudo um conflicto de vontades, a ba-


talha é a luta de dois chefes, ,
Para vencer, é ~e'cessario quebrar pela fdrça a vontade do
adversa1do, romper os seus dispositivos, portanto destruir o
inimigo. Bater o adversaria é apenas meia victoria. Para ven-
cer, r épito, ·é necessario d.estruir.
Para destruir, diz Montaigne, a manobra ideal é aquella de
cortar ao inimigo todas as vias de retirada, · de lhe fechar as
portas da salvação; é o ataque real, brutal e cego contra a li-
nha de retirada .com a firme resolução de barra.r ao ' inimig-o
o caminho da sabida, colloca'ndo-se em angulo recto sobre suas ·
retaguardas e sem receio de cousa alguma.
As ultimas guerras, como a Russo-Japoneza, provaram que
os ataques frontaes .não dão r esultado. A tendencia moderna
é · o alongamento da frente de batalha, a procura obstinada da
decisão pelo envol:vimento. E' · preciso manobrar e para mano-
· 10/í. ' General Abilio de Noronha

brar, fixar o inimigo s,obre a sua . frente por meio de ataques


continuas . .Como bem salienta o marechal Foch, "na batalha
/ de Moukden, o exercito japonez sob o commando do general
Nogi, não procurou esmagar a ala direita russa por um ataque
de flanco, mas ganhar ,a· sua retaguarda."
Na guerra mundial de 1914-18, os processos de combate
soffreram modificações, mas os grandes princípios tacticos e
estrategicos, ficaram de pé. "O assalto a arma branca com o
apoio da granada, coritinúa a ser sempre o fim supremo do
combate, mas a man~bra pelo · flanco e pela retaguarda do ini~
mi[Jo, assumiu peculiar importancia."
Portanto, o Alto Comma_n do das forças legaes, devia ma-
no}irar, devia desde o começo da acção procurar ,envolver os
f evoltosos, cahir sobre a sua retaguarda, fechar, como ' diz
Montaigne, -as portas da salvação. Mas assim não procedeu,
porque nenhum ataque envoivente tentou. Não se diga que a
bdgada Norte do Tieté, sob o commando do sr. coronel, hoje
gel' \)ral, João Gomes Ribeiro, tenha tentado o envolvimento dos
reb e_ldes. Isso seria a maior das heresias em assumpfos mili~
tar0s. Quando muito, ei:;sa brigada apenas prolongou a ala 9i-
rei1a das forças legues.
Para que a acção da brigada Norte do Tieté tivesse todos
os earacferisticos de um movimento envolvente, era n·ecessa-
rio que ella tivesse se encaminhado desde longe, pe]a direcção
de sua marcha, contra o flanco esquerdo dos sediciosos e não
th , ,:;se agido ·pelo deslocamento lateral das tropas d-a primei-
ra i.inha, como fez, deslocamento este feito com ,g rave erro,
pois se deu sob as vistas dos rebeldes.
Dispunha o Alto Commando de cavallaria e até de arti-
lharia a cavallo, arma. esta desti nada a acompanhar_em seus d,es-
loi:'::meritos rapidos a cavallaria, augmentando-lhe poderosamen-
te o seu poder offensivo e defensivo; Porque não tentou, ao
mt.:os, por meio de raids das armas montadas, cahir de sur-
pr..::~a sobre a retaguarda dos rebeldes, arrancar trilhos e des-
truir as pontes sobre os rios Tieté e Pinheir-os, por onde pas-
sam os comboios da S. P'aulo Railway Company e da Estrada
de Ferro Sorocabana, impedindo desse modo qualquer retira-
da r apida dos revolucionarios '! Acaso não era de se prever a
O Resto âa Verdade 105

retirada do general Isidoro, náo ' estava patente que aos Sfcldi-
ciosos só restava uma unica solução: a retirada'?
Não houve, pois, victoria no sentido militar da exp_ressão,
porque os revoltosos não foram aniquilados, .como era de se
esperar. Sahindo de S. Paulo na mais perfeita ordem, como
sahiram, puderam offerecer prolongada resistencia 1ío Estado
d·à Paraná e d'ahi, violando o -territorio _do Paraguay, con-
seguiram penetrar no Estado de Matto Grosso e deste passar
para o de · Goyaz.

Preparava-me para, no dia 20 de Outubr-o de 1922, rece-.


ber em S. Paulo o Exmo. Sr. Dr. Epitacio Pessôa, presidente
da Republica, que vinha especialmente para inaugurar os edi-
ficios dos correios, telegrapho e Delegacia Fiscal, quando re-
éebi no dia 18 do referido mez um telephonema chamando-me
com a maxima urgencia á Ç.a:pital · Federal. Embarquei na
noite desse m_e smo dia, chegando ao Rio pela manhã do dia 19:
Encontrei na estação da Central o Sr. J.. Machado, socio da
firma commercial Machado, Gama & Cia. que me declarou ne-
céssitar o Sr. Dr. João Luiz Alves, nessa epoca senador federal, '
ter commigo uma conferencia urgente . Declarou-me mais o
Sr. Machado que, melhor seria, de onde estavamas, seguir eu
directaménte para a residencia do alludido senador, pois - o
assumpto da conferencia exigia solução immediata.
Como ,o Sr. Machado fosse compadre do Exmo. Sr. Dr.
Arthur Bernardes e insinuasse ser meu amigo, acceitei o seu
alvitre e de , automovel dirigi-me á residencia -do Sr. Dr. João
Luiz Alves, que de facto esiava me esperando para a tal con-
Jerencia. Declarou-me nessa occasião o Sr. João Luiz Alves,
que necessitava dos meus hons officios junto o meu particulm·
amigo marechal Manoel Lopes Carneiro da Fontoura, então
general de divisão, c-ommandante da 1.ª Região Militar, para
que eU conseguisse do mesmo acceitar a sua nomeação para
o cargo de Chefe de Policia d-o Districto Federal no futuro
governo do Exnio. Sr. Dr. Arthur Bérnardes, uma vez que o
cargo de Ministro da Guerra já estava proniettido :10· m eu il-
106 Gene 'r a l Abil _i o de No r o nJi. a

lustre e digno camarada Exmo. Sr. marechal Setembrino de -


Carvalho, por meio de compromisso anterior.
Manifestando-n;ie deveras surprehendido com essa decla-
ração do Sr. Dr. João Luiz Alves, visto que o car:go que offere-
ciam ao meu amigo Fontoura era inconÍpativel c-om a sua pro-
fissão, -pois a lei só permittia' exercer o cargo de Chefe de Po-
licia quem fosse bacharel em dir•e ito, retrucou-me o iUustre se-
nador que, si o marechal Fontoura acceitasse o carg-o, seria
nomeado interinamente um delegado para exer,cer a c~ef:ia de ,·
policia até que o C~mgresso se ,a brisse em 1923 e, isso realiza-
do, seria modificada a lei para que o marechal Fontoura pu- ,
desse assumir a direcçã-o suprema da policia na capital da Re- ·
publica.
Não tive necessidade de fazer ver ao Sr. Dr. João Luiz
Alves a minha surpresa pelo grande empenho que fazia 0 novo _
governo em dar uma posição de destaque ao sr. marechal Fon-
toura, porque, sem que eu perguntasse, o nobre senad-or foi
logo me declarando _q ue ha muitos -dias vinham os políticos
amigos do ·Exmo. Sr. Dr. Arthur Bernardes notando o 1;etrahi-
mento do sr. marechal Fontoura para com elles, notadamente
após o banquete que a este militar foi ofÍerecido por . alguns
officiaes da guarnição do Rio, e no qual o major Philadelpho
da Rocha declarára, alto e bom som, que a elle marechal Fon-
toura competia o cargo de Ministro da Guerra no futuro gover-
no, mesmo que para isso fosse necessario fazer uma revolta.
Compr_e hendi então que a nossa conferencia, de facto, tinha
importancia: não se tratava ·ap'enas de ser gentil para com uma
certa e determinada pessôa, ·mas de ·evitar uma ...
Continuando, .disse-me o Sr. -Dr. João Luiz Alves que eu
podia declarar ao sr. marechal Fontoura que elle teria o mais
elevado cargo de confiança do futuro governo, pois que em seu
poder ficariam as chaves do Cattete, á sua disposição estaria
consideravel verba secreta e, para Aacommodar ' os amigos des-
gostosos, seria creaqa uma quarta delegacia de policia. Antes
de dar por terminada a nossa conferlncia, o Sr. Dr. João Luiz
Alves appellou para o meu patriotismo, para os meus reaes ser-
viços prestados á Republica e especialmente para os bons ser-
viços prestá.dos ao seu Estado, solicitando-me que, -após ter
O Resto da Verdade 107

conferenciado com o marechal 'Fontoura, lhe desse uma noti-


cia pelo telephone.
,Com o intuito de evitar futura perturbação da ordem pu-
blica, acceitei a incumbencia que ' me déra o Sr. Dr. João Luiz
Alves e pedi uma conferencia, nesse mesmo dia 19, ao sr. ma-
rechal Fontoura, a qual se realizou ás 18 horas, pois necessi-
tava · eu nessa mesma noite embarcar para S. Paulo pelo no-
cturno de luxo, afim de poder chegar a essa capital antes do
Exmo. Sr. Dr. Epitacio Pessôa, que embarcava em trem espe-
cial ás 22 horas.·
Transmittindo eu o convite de que era portador ao mare-
chal Fontoura, disse-me este que, para poder dar uma solução~
te~ia ne~essidade de consultar um seu amigo. Fiz-lhe ver que
era urgente a ·solução do caso, ponderei varias cousas, até que,
após alguns momentos de in_d ecisão, auctorisou-me a declarar
ao Sr. Dr. João Luiz Alves que acceitava a offerta. Immediata-
. mente dei disso sciencia a este senador, pelo tel~-p hone, e na
estação da Central, quando tomava o tr.em para S. Paulo, d~
viv:a voz lhe .c ommuniquei o resultado da minha conferencia
com o sr. marechal Fori.toura, estando ptesente e tendo ouvido
a -minha conversa com o Sr. Dr. Joãq Luiz A'l ves o senador sr.
Bueno Brandão. Após terem manifestado grande alegria pelo
successo por mim obtido, declararam-me estes dois politicos de
des'taque iriam pessoalmente agradecer ào sr. marechal Fon-
toura o ter elle .acceito o convite de ser um dos collaborado-
'
res, do futuro governo.
A 15 de Novembro de 1922 assumia indirectamente o sr.
rn !J.rechal Fontoura o cargo de Chefe de Policia da Capital 'Fe-
deral e, mais tarde, como o combinado, a lei era modificada
pelo Congresso e S. S. era effectivado no cargo. Olvidou logo
o sr. marechal Fontoura os meus bons serviços á Republica,
para não falar nos que -lhe prestei e, após ter procurado astu-
ciosamente envolver o meu nome na memoravel c·ampanha de
diffamação que iniciára contra o caracter illibado do meu ca-
marada, Exmo. Sr. marech al Setembrino de Carvalh o, tramou
as intrigas que deram como resultado a minha demissão do
commando da Segun da Região Militar, a minha prisão sob pa-
108 General Abi -lio de Noronha ·

lavra e a denuncia co1no' co-autor da revolta que a 5 dé Julho


de · 1924 explodiu em ,S. Pulo.
Nar-ro os factos. '
Quando, após ter 'pacificado o Rio Grande dei Sul, se ach~-
va de volta deste Estado, no Rio, o Exmo. Sr. marechal Setem-
}>rino de Carvalho, fui lev.ar-lhe os ·- meus applausos , pelo exito
da sua missão e ao mesmo temp-o tratar de assumptos relacio-
nados com .- o commando da minha divtsão~ Nessa .. occasião,
aproveitei .da opportunidade para fazer uma visita ao sr. ma-
rechal Fontoura, então exercendo ,o cargo que ora , exerce, de
Chef~ de Policia. Disse:me n essa occàsião o sr. marechal Fon-
toura que -o Exmo. Sr. marechal Setei:nbrino de Carvalho era ·
um revoltoso e que tinha em seu podér documentos valiosos
para apresentar ao Exmo. Sr. Dr. Presidente da Republica e
promover desse modo a sua · exoneração do cargo de Ministro
da Guerra. Accrescentou mais o sr. marechà:I Fontoura, ter
para o cargo em questão dois candidatos: eu e o meu camarada
sr. general Alfredo Ribeiro da Costa, mas - dava · pref~r-encia á
minha pessôa, porque o sr. general Ribeiro da Costa era pouco
energico, ao \ >asso que eu mais de uma vez tinha dado provas
de não vufga-r energia. Repelli com tdda a altivez a malev-ola
insinuação do sr. marechal Fontoura, declarando-lhe , nessa ,
occasião, de modo peremptorio, que em hypothese alguma
podia acceitar a sua proposta de conc-orrer para deslocar um
camarada e que havia manifesto engano da sua parte com re-
, lação ao Exmo. Sr. marechal Setembril)o, sendo este meu il"
lustre amigo incapaz de um procedimento tão baixo, como era
aquelle que, elle Fontoura, queria emprestar-lhe . Infelizmente,
aq que se deduz dos acontedmentos posteriores, ,i1ão agiu do
m esmo modo que eu o sr. general Ribeiro ·da Costa, que se
deixou levar pelos cantos .. . da sereia.
Chamado certa vez ã' Capital Federal pelo Exmo Sr. mare-
chal Setembrino de Carvalho para tratar com S. Excia. sobre
as noticias que corriam de que em S. Paulo se tramava uma
revolta, resolvi, como medida de maior segurança, ent~nder-
me com o sr. marechal Fontoura afim de · solicitar-lhe algumas
pr-ovidencias que não estavam aó meu 'alcance, espe cialmente
aquella da vigilan cía dos. falados conspir adores . Eu sabia que
O ResLo da Verdade 109

o sr. mãrechal Fontoura não podia ser mais meu amigo, por-
que não me tinha prestado ao triste papel de servir de
seu instrumento para guerrear o Exmo. Sr. marechal Setembri-
no, mas o que eu ia s-olicitar-lhe envolvia a segurança do go-
verno; pelo qual elle tinha toda a obrigação de zelar e defen-
de~: Lembrei-lhe então o alvitre de fornecer-mé S. S. alguns
agentes dé policia para o citado serviço de vigilancia eIJl S.
Pauío e chE;guei afé a indicar-lhe o nome de um official re-
formado de minha confiança para ser o chefe dos agentes. O
Sr. marechal Fontoura prometteu attender ao meu pedido,
ach.ou muito acertadas as minhas ponderações1 mas protelou
tudo e,,. afinal, poucos dias_ antes de explodir a revolta em S.
Paulo, telegraphou-me ·dizendo que não podia· attender ao meu
pedido ... por falta de verba.
Apontados como elemento suspeito de conspir-ar c-ontra a
ordem publica, vigiados pelos secretas do sr. marechal . Fon-
toura, ·eram - no Rio o general Isidoro Dias Lopes e -o coronel
'Paulo de Oliveira. No entanto, estes dois chefés da revolta que
explodiu em S. Paulo conseguiram illudir a vigilancia da po-
licia da Capital Federal, tomaram o comboio e desembarcaram
ás 20 horas do dia 4 de Julho de 1924 em S. Paulo. Apezar desse
grande desleixo da' policia do sr. marechal Fontoura, permit-
tiu S~ S. que um d?s seus delegados auxiliares tivesse a pe-
tulancia de, no r:ecinto da sua Repartição, para exi_mir-se da
responsabilidade do descaso que tivera perdendo a pista do
general Isidoro e ·flo coronel Paulo de Oliveira, emprestar a
um general .de divisão, a um seu camarada, a minha pessôa, o
labeu de trahidor.
Surgirão os protestos, os desmentidos formaes a esta
minha narração, mas eu em absoluto não retiro uma só virgula
do que aqui está escripto, porque este livro encerra o resto da
verdade.

O grande propagandista da . republica, aquelle caracter


llem jaça que foi Rangel Pestana, -escreveu na' "Gazeta de Noti-
cias" de 7 de Junho de 1897, um luminoso artigo que r 'e spon-
·- I
110 General Abi'l'io de Noronha

de em todos os tempos aos aceusadores impenitentes das clas-


ses arma das do nosso paiz, assim . redigido: ·
"Appareoe intermittentemente ·ao governo 'da Republica
um duende para assustar os republicanos, como lobishomem
assombrando os -ingenuos, victirnas de crendices, De uma cou-
sa quasi invisivel faz-se um vulto de amedrontar e muita gente
· affirma ser real a cousa com taes proporções, que ella é vista ·
todas as noites, que é horrivel, sobre.n atural."
"Temos atravessado os sete annos encontrando duendes
no caminho da Republica."
"Nos primeiros dias era a reacção dos quarteis; depois o
marechal Deodoro com · "o seu gen10 impetuoso, com a febre
do monarchismo a ameaçar com a entrega da · casa o seu anti-
go dono"; mais tarde, o marechal Floriano Peixoto com "a
dictadura de um tyranno perfido e sanguinario."
"Mortos os dois soldados patriotas, que se mostraram de
grande valor civico, um resignando o cargo de p,r esidente e
outro passando-o ao seu substituto no prazo legal, ahi ficou·
um monstro _horrível, sempre crescendo na imaginação dos
credulos pelo 'trabalho do convenci-onalismo intrigante. do1: ini- •
migos da Republica, de neo-republicànos sem fé e sem dedica-
ção ao novo regímen e de velhos republicanos · contagjados. pe-
los vícios d'essa politica anarchica com presumpção de 'aucto-
ritaria, que em nome da lei e da ordem só leva ao desespero
os radicaes de todas as nações."
"O militarismo é o espectro que por ahi levantam em
grosseiras ·pernas de páo, envolvido em largo e branco lençol,
segundo a estrategia de pífios conquistadores em torno de casa
de mulheres bonitas nas antigas aldeias."
"Grotesco espectro, esse que foge constantemente diante
da opinião com receio de ser ~econhecido,"
"E' admiravel, excepcional, o 'militarismo com que nos
ameaçam."
"Victorioso no imperi-0,. onde pateou comedias párlamen-
tares, negou ao Exercito brasileiro o papel de capitão do matto
para apanhar negros fugidos e .ar.r anhou ministros poderosos,
um dia, unido, forte e prestigiado deu com o throno dos Bra-
O Resto da Verdade 111

ganças em terra, fez surgir a Republica da podridão do imP,e-


rio e entregou a sua direcção aos civis."
"Reconhecida a nova fór'ma · de gov_erno dentro e fóra do
paiz e firmada pelo prestigio das classes armadas, os militares
foram-se afastãndo _pouco a pouco das posições políticas go-
vern~tivas e con'.tinuaram a. garantir en'thusiasticamente a Re-
publica." ,, • l:b , ,1; ,,jtf.irJ
1

"Como colleçtividade, Exercito e Marinha nunca abando-


naram o governo constituído e defenderam sempre as institui-
ções organ'icas e· a Constituição de 24 de Fevereiro."
"Se alguns militares têm entradq em revoltas, é fóra de
duvida fa_z erem-n'o sem o valimento de classe."
"Aqui, o militarismo não obriga a criar éar.gos publicas e
empregos lucrativo& para os seus; os · não impõe para provi-
mento de empregos já existentes, não revela preoccupação de
~e apossar, se~ concurrrencia, dos p·o deres publicas."
·~'Onde está os verdadeiros caracteristicos do militarismo?"
"O . novo duen,d e não passa de producto da imaginação de .
politicos, verdadeiros noctiva:gos a espreitarem as ruas nas
horas mortas da noite para · as suas conquistas."
"Meigo e complacente militarismo I Toma a si o encargo
de defender a Repub'1ica, deve ter consciencia do proprio va-
lor no trabalho ainda não acabado de consolidal-a, e emtanto
não se apresenta árrogante em suas pretenções de domínio,
nã'o dieta a lei á sociedade em proveito da sua classe, que no
nosso meio social bem podia ser uma oligarchia terrível."
"Não ha de certo verdade na acusação que ás vezes surge
em grita incomrnoda e insistentemente se rnurmurn com o fim
de se formar opini'ão contraria á influencia dó Exercito e da
Marinha na Republica." '
"O que se nota nas classes armadas é grande en_thusiasmo
pelas instituições republicanas, o reConhecimentcr de sua res-
ponsabilidade na mudança da fórma de governo, e, na moci-
dade a ellas ligadas, inexcedível amor á Republica e exagge-
rado mas desculpavel receio de ·q ue ella venha a perigar por
faltas proprias dos homens. desorientados que sup:i)Õem ser a
política arte de enganar os outros."
112 Geaeral Abílio de Noronlia

"E não é este tambem o receio da mocidade das escolas


civis?"
"A grandeza do amor, o excesso do enthusfasmo e a cren-
ça do perigo . levantam nos animos juvenis a exaltação e o
desgosto que se transfo-rmam em actos irreflectidos, em ma-
nifestações que' os velhos condemnam e . os moços applau- ·
dem."
"A gritaria a que alludimos acima seria justific~vel par-
tindo dos que viram acovardados cahir o imperio; não se
acham, p_orém, no - mesmo caso os que tomam parte nella, ten-
do-se ligado a _fracções das classes armadas para depôr gover-
nadores e desrespeitar os poderes constituídos."
"Os monarchistas, os despeitados naturalmente porque
mediram o valor da acção dessas classes nos ultimos annos -do
velho regímen e o viram derrocar sem defesa, com razão se
podem queixar do.· Exercito e da Ma,r inha, que bem compre-
henderam o sentimento nacional. Não assim os republicanos,
que devem ser mais jústos, precatados e verdadeiros no Julga-
mento da influencia militar no momento historico,"
"-O Exercito que se procura atacar- como elemento peri-
goso á ordem na Rep_ublicà · tem sido uma força real; perma-
nente, em que ella se tem apoiado."
"Aos que cumprem seu dever sem attender a sacrificios e
se deixam arrebatar -·por nobres estiqmlos ·nada dóe ,mais que
a injustiça no julgar o seu procedimento."
"Os republicanos que ,proclamaram a Republica ,depois da
revolução de 15 de Novembro, com o concurso efficaz dos mi-
litares, e de resultado seguro, não revelariam talento politico
se abrissem lucta systematica com o Exercito a pretexto de
arredal-o completamente da política, mas com o proposito de
annullar a sua influencia no desdobramento das instituições
vigentes."
"A política republicana, por alguns annos ao menos, não
poderá deixar de fazer das classes armadas u111 elemento be-
nefico no aperfeiçoamento e consolidação das novas institui-
ções."
\
·o R e s t O- d d . Ver d_a d e \ 11S

. "Quaesquer que sejam os vícios de sua educação, e 1n-


contestavel' que os das classes civis são maiores e mais pertu-
badóres da ordem- e do · progresso da patria." ;
"Observemos ..bem os factos: á proporção que os milita-
res se afastam da politica e se collocam em posição de obe~
dientes aos poderes constituidos, tem-se tornado menos sensí-
vel a desorientação, .a anarchia na vida constitucional .de Re-
publica,?" ·
"Eis ahi uma questão digna de estudo."
- "São constantes , os actos de indisciplina :_ diz-se e
accrescenta~se :_ é grave o procedimento de insubordinação da
Escola Militar."
"E q1!ando, e em que paiz não se notam actôs singulares
de indisciplina?"
"Ainda ha pouco tempo na propria Allemanha houve um
n'uma escola militar."
"Mas esses actos corrigem~se convenientemente, e com isso
nad·a sofrem · as classes mj.litares."
"O que é preçiso, porém, é saber punir com prudencia e
justi ça, porque se trata de julgar moços de uma escola."
"Entre nós falia-se muito em prestigio de auctoridade e
disciplina, mas confunde-se quasi sempre o prestigio de aucto-
ridade com a prepotencia de superior na jerarchia civil ou
µiilitar; a disciplina como sujeição humilhante a todos os ·abu-
. sos, a todas as violencias que partem dos superiores."
" A disciplina não se obtem p ela coacção dos. anin;ios,
pelo constrangimento physico, pela oppressão odiosa, em n-ome
da lei e do presumido inter esse da sociedade. Uma tal disci-
plina não póde determinar a ordem moral e garantir a paz
dos espíritos."
"A disciplina, como regra moral traduzida na lei, nos · tem-
pos modernos, é bem diversa: nasce da cofrelação de sentimen-
tos, a comprehensão reciproca de d everes, da subordinação
consciente pelo reconhecimento da sup erioridade moral e p ela
obediencia reflectida do inferior ao superior legitimo."
"A metaphysica dos politicos, na condemnavel confusão
das cousas, pretende fazer crer que simples investidura lega),
da :ao in,dividuo a auctorida de qu e ell c não tem moralm ente."
114 General Abílio ' de Noronha

'
"Dahi vem esta situação dos espiritos que , mais particular-
mente chamam a indisciplina das classes militares, hoje , com
um pessoal de educação philosophiç:a superior .ao de algumas
outi;as clas,ses civis." '
"Não se l,eva tambem em cont::i que atravessamos um pe-
riodo revolucion.ario que ainda ha de prolongar esse estado dé
cousas que motivou o desapr>arecimento da monarchia· e a
fundação dá Republica; e, para terminal-o em hêas condições,
precisamos desse pessoal com a mesma educação quê elle re-
cebeu."
"Dizemos isto com animo sereno, sem ambições, com ver-
dadeira despreoccupação de iHteresses politicos no momento,
mas medindo bem a responsabilidade, dos republicanos n}'>
concurso das forças armadas para a proclamação da Repu-
blica."
"Ao fechar estas tristes considerações, vem-nos á lembran-
ça estes versos de Corneille :
"Que sert e.e grande courage ou l'on est sans pou-,,oir'?·
"Forcez l'avéuglement dont vous êtes séduite,
"Pour voir en quel état le sort vous a réduite.
"Nqtre pays vous hait, votre epoux est sans foi;
"Dans un si grande revers que vous rest-t-il?

"E a quem tocaria responder aqui cemfiante:rnente como


Medéa á su_a confidente:
"Moi,
"Moi, dis-je, et c'est assez ... "
PERANTE O TRIBUNAL DA OPINIÃO PUBLICA

A DENUNCIA DO SR. DR. PROCURADOR CRIMINAL


. DA REPUBLICA - DEPOIMENTOS DAS TESTEMU-
NHAS ARROLADAS NO SUMMARIO DE CULPA PELO
DR. PROCURADOR CRIMINAL - A DEFESA P11,0-
DUZIDA PELO MEU ADVOGADO - A PROMOÇÃO
DO DR. PROCURADOP, CRIMINAL - A SE.'ITENÇA
DO INTEGRO JUiz" FEDERAL.
A DENUNCIA DO SR. DR. PROCURADOR CRIMINAL DA RE-
. PUBLICA SOBRE A REVOLTA DE JULHO DE 1924 EM
S. PAULO, NA PARTE QUE DIZ RESPEITO A MINHA
'PESSôA.

"Nesta capital, nos locaes já mencionados, 'recrudesceu nos mezes


de Maio e Junho e nos primeiros dias _de Julho, com ass9mbrósa intensidade,
o ti;-abalho .para ultim;,ção I das providencias tendentes a assegurar o exito
do movimento.
Era tão intensa a azafama dos conspiradores e tão -ás escancaras a
,acção delles que até transv~ou das discreções dos -concluios, resvaiando
para o gaMnete das altas autoridades da R.epublica, onde ecoou com tal
nitidez, que ao extremo desceu de provocar verdadeiro alarme.
Os telegramm_a s do ministro da Guerra e do chefe · de policia ao
general Abilio de Noronha, prevenindo-o claramente, sem subterfugios, de
qµe nesta capital elementos civis e militares conspiraram contra o gover-
no da Republica, dão exacta co.! l)prehensão da extrema gravidade a que
chegou a situação.
A existencia, só agora revelada, desses reiterados avisos das altas
· autoridades, federaes ao commandante da Região. e à investigação dos autos
esclarecem como e porque se escolheu a capital de São_ 'Paulo para alvo
do inominavel attentado.
O general Abílio de Noronha foi, - pela sua inexplicavel condescenden-
cia e criminosa tolerancia, o grande incentivo dos conspiradores aqui em
São Paulo,
Da sua tortúosá attitude ha nos autos farta documentação.
Com effeito em 28 de Março deste anno, o chefe da policia da capi-
tal federal o avisava, por carta, que o general Villeroy seguira para São
Paulo com intuitos declaradamente subversivos.
Dias depois igual aviso da mesma autoridade o ·prevenia da vinda,
com o mesmo objectivo do ex-deputado José Eduardo Macedo .Soares.
Em 8· de Abril, um telegramma cifrado do ministro da Guerra nova-
mente o prevehia - .de que elementos civis e militares conspiravam aqui
contra o governo da Republica.
Poucos dias anteJ da explosão do ~ovimento, era elle chamado ao
Rio e alli pessoalmente notificado da continuação doi conluios subver-
sivos na zona do seu commando.
118 General Abilio de Noronha

Em face de tão graves , communicações, já alarmantes pela precisão


e lnslstencia com que eram repetidas, que fez o alto chefe das tropar
federaes aqui aquarteladas?
Respondem, com suggestiva eloquencia, os autos do inquerlto: estrei-
tou com os ~rmãos Macedo Soares, que elle sabia comproinettidos na cons-
piração, os làços de Intimidade, e com elles confabulava diariamente, a
ponto de haver confess_ado a · um official seu commandado que ouvira , im-
passivel, da propria bocca do ex-deputado José ·Eduardo de Macedo Soares,
na casa de seu irmão José Carlos, a estranlp de~lara_ção de que já fizera,
com resultado, um trabalho de sapa nas tropas da sua guarnição,_ exhor-
tando-o até a que acceitasse a ·ehefia do movimento.
A extrema gravidade desse inqualificav,el Incidente, sobretudo diante
das reiteradas communicações cjue lhe vinl1am do , Rio, di~pensa quaesquer
_comm,entarios.
Mas não é só. Em Campos de Jordão, onde chegara já nas vespeFas
da mashorca, a· 2 de Julho, em uma commi~s_ão da qual faziam parte,
para a escolha da região de m anobras, os officiae~ da missão franceza,
foi seu , primeiro cuidado communicar-se, no proprio telephone da estação,
com o sr. -José Carlos de Macedo So_a res, que alli então se acllava.
Momentos após a conversa pelo telephone, foi elle procuradp pelo
sr. José Carlos na casa do engenheiro Roberto John Reid, onde repousavam
os membros da comitiva, e alli, emquanto aguardavam o almoço,. .confa-
bulou a sós, reserva damentle, por eS1)a'ç o de mais d1e urna hora , no fundo
do pomar, ~om aquelle cidadão.
Finda a conferencia, manifestou o general Abilio grande pressa em
regressar a São Paulo, negando-se a pernoitar alli com seus collegas de
comitiva, dos quaes se separou, sob pretexto qe pre~isar, em absoluto, se-
guir naquella mesrn.a noite, pelo primeiro nocturno procedente do Rio, o
que fez, depois de haver até r~quisitado run trem especial, do- 'q ual afinal
tlesistiu, porque a, sua composição exi?ia runa espera de quatr o horas.
Aqui em S. Paulo, na manhan do dia 5,. emquanto o _com1na·n dante
e varias officiaes da Força Publica er8!11 presos em suas proprias resi-
dencias, teve elle livres todos os seus moviroentos até que se deixou pren-
der, em condições que multo o com.p romettem, no corpo escola da Força
Publfoa, para onde se dirigiu 'ªº invés de organisar no proprio quartel
1.
general da r egião a resistencia aos rebeldes.
No corpo escola, durante os dias da luta, ·· a sua attitude se tornou
francamente subversiva.
Com effeito, convidado na noite de 5 para !i pelo capitão Barbosa,
para, á frente ·de 50 praças sob seu cpmmando, transferlr-&e para o pala-
elo dos Campos Elyseos, onde se encontravam resistindo aos rebeldes o
presidente do Estado e · vario5· officlaes do ~erclto, (l'ecusou 'terminan-
t emente .acompanhai-os com a d eclaração . textual de que "se sentia bem
alli".
O Resto da Verdade 119

Não havendo insistencia que o demov,esse q.o prudente proposito, par-


tiu afinal o capitão Barbosa á frente da sua força para o palacio dos Cam-
pos Elyseos, onde pr~stou relevantes serviços á causa da legalidade.
l'fo corpo escola, após esse estranho e injustificavel procedimento,
completa.mente deturpado no li,v ro que escreveu em sua defesa, a sua con-
nivencia com . os rebeldes foi-se tornando cada vez mais patente.
O capitão , rebelde Indio do Brasil, na p1·esença . de varias officiaes pri-
sioneiros, manifestou-lhe o seu guande espanto por não o ver chefiando
o mov,imento subversivo, como ficara unanimamente deliberado numa das
reuniões ,que os conspiradores realisaram no regimento de cavallaria 1
Emquanto isso acontecia, ·deixando estupefactos os circumstru1tes, -
veiu á tona um incidente a.inda mais grave.
O capitão Euclydes Espindola do Nascimento, seu dedicado • amigo,
tendo tido ,conhecimento do incidente com o capitão Indio, resolveu · commu-
nicar-lhe que ouvira do capitão Othelo Franco a declaração de que José
Paulo de Macedo Soares disse;a q~e, 'por 200 contos para prevenir a even-
tualidade de um iiisuccesso seria elle o chefe do movim/mto_
Pois embora ço~hecedor da ignominiosa referencia, continuou o ge-
neral Abílio a, receber no corpo escola amiudadas visitas do alluâido José
Paulo e com elle mantém, ainda agora, segundo se vê nas propri_as decla-
rações deste, a mais estreita camaradag,em.
O futil pretexto de não convii realisar-se na prisão UIU.a explicação
de consequencias possivelmente desagradaveis, é sym)Ptomatico.
Mas não ficou nesse IILanso incidente a fria impassibilida.de com qua
o general :Abílio ouvira na prisão pejorativas referencias , á sua attitude.
\ O seu sobrinµo Carlos de Oliv;eira, filho do coronel Paulo de Oli-
veira, arvorado em capitão dos rebeldes, ia f,requentemente visitai-o no
Corpo Esc~la, e alli, sem reservas e com 'a IILaior displicencia, á frente
de . todos os prisioneiros, m,ais de uma vez in&istiu para 'que elle se deci-
disse a chefiar o movimento, accrescentando que, de bom ·grado, o gene-
ral Isidoro The ·passaria o · commando das tropas rebeldes.
Como comtpensação da extrema tol-erancia com que ouvira tan1anhas
ousadias, · emquanto os demais prisioneiros permaneciam sujeitos a um ri-
·g oroso regimen de fiscalisação, gosa.va elle, excepcionalmente, de especiaes
regalias, · quer confabulando a sós, rep.e tidamente, com os irmãos José Paulo
e José Carlos de Macedo Soares, os civis de maior influencia junto aos
chefes ·rebeldes, quer recebendo amiudadas visitas de mulheres, ou então,
chegando ao extriemo de sahir, por muitas horas, do Corpo Escola, na ex-
clusiva companhia de ' seu sobrinho rebelde, para ir ao Quartel General
da Região buscar papeis e objectos que lhe pertenciam, um dos quaes .
até confiou á guarda do carcereiro da Cadeia Publica.
Por ultimo, pa_ra não deixar que pairasse a menor sombra de du-
vida sobre a sua connivencia com os . rebeldes, entrou com os chefes des-
tes em pleno entendimento, directallliente ou atravé? do sr. José Carlos de
Macedo Soares, para servir de intermediario no sentido de obter do Go-
verno Federal um acco1·de ou armistício, exactam:ente qU>lJJ.clo, acosso1d.oa
120 General Abilio de Noro;;_ha

pela intensificaçã o elo ataque, pr eparanun · os transviados da disciplina a


·sua fuga.
Affirmando reitel'adamente, nas suas declarações e no livro que escte-
veu em sua defesã, que os rebeldes não triumphariam de nenhum moela
em s. Paulo, só II}esmo por connivencia com elles poderia o Gener.a l Abí-
lio prestar-se a ser o intermediaria de um pedido de acc,ordo ou de ar-

ja era insustentavel.
.-
místicio, tanto · mais quanto. sua intervenção se d eu quando a situação d elles
-
Como quer 'que seja, o's . actos• do general Abílio ,de Noronha, antes
e durante a rebellião, são, por omissão, uns, por comn1iissão outr9s, ·de
franco auxilio á , causa subver~iva, e, portanto, , de conscient e co-autoria no
delicto". ,

DEPOIMENTOS DAS TESTEMUNHAS DE ACCUSAÇÃO


Depoimento do l.º tenente Aguinaldo Caiado de Castro.
Edmo Freire, esc1;ivão ad-hoc no processo crime a que respondem o
general Isidoro Dias Lopes e outros.

CERTIFICO que revendo os autos do processo crim,c ~: n,o.v ldo pelá, Justiça
Federal contra o general Isidoro Dias Lopes e outros delles, do volu-
me cento e quatorze de folhas sessenta ·e uma a folhas s·etenta e quatro o
depoimento da testemunha primeiro tenente Agninaldo Caiado d<e Castro,
excluidas as assfgnaturas das· pessoas presentes, o qual é do têo1- seguiii-
te: "Priineira testem:u nha.' Prim,eiro t enente Aguinaldo Caiado de Castro,
natw·al do Districto Federal, com vinte e cinco annos de idade, militar,
residente no quartel do quarto batalhão de caçadores, sabendo ler e es-
crever. Aos costumes disse nada e prestou o c01npromisso l egal. E sendo
inquerido sobre os factos narrados na denw1cia, disse: Que , pertencia à u
quarto batalhão de caçadores e sêrvia
~ ,
ás ordens do general AbÍ!io
'
de No-1
ronha, no sen Estado-Maior; que tem conhecimento dos factos qne se deram
no quartel do 'p rimeir?~-batalhão da Força Publica e no Corpo Jj:scola . de
onde foi conduzido preso para o pr~ne.i ro batalhão; que seiil saber estava
a pequena distancia do Corpo Escola onde estavam forças do Exercito e
da policia; que ahi chegando v.erificou qu,e as forças do exer~ito estavam
commandadas pelo tenente Gwyer; que ao chegar ao portão, . o capitão
Juarez Tavora perguntou-lhe se era ·solidaria com elle, ao que respqndeu
que ignorava aquella r evolta, exercia um cargo de confiança do ·general
, Abilio de Noronha com quem era inteiramente sotidario; que á vista disso
o capitão Juarez Tavora declarou que coin muito pesar era obrigado a
prendel-o, o que effectivaménte fez, tendo o depoente reagido e travado
lucta corporal com o capitão Tavora, rendendo-se afinal pela força; que
no Corpo Escola encontrou já pr.esos, o g·eneral Ahilio de Noronha, cor,o-
nel Martim Francisco Cr uz e o capitãÕ Euclydea do Na•cilnento, " catando
uma fila de soldado• de armas . apontadas p ara. eees officlaes"; que foi
transportado para o p1•imeiJ.•o batalhão de 1,olicia, tendo o.• capitão Jm,rez
0 Rés to da V\: rd a d e
Tavora · lhe offerecido a liberdade , sob palavra o que· recusou; que foi -
apresentado .. ao general Isidoro Dias Lopes, no quartel da Luz, onde che-
garam presos mais tarde o doutor Antonio Lobo e doutor Pelagio Lobo, .
além de varios offlciaes da ,F orça ·Publica; que o genieral Isidoro Dias Lo- :
pes poz em liberdade o doutor Antonio Lobo e offereceu tamlbem a liber-
dade ao depoente que lhe declarou entretanto que solto iria combater por-
ser contrario a révolta; que apesar disso · foi posto em liberdade; ·que a
pedido do doutor Antonio Lobo, o general Isidoro deu dois soldados, para
os escoltarem até ·sahil,em da linha dos revoltosos, ficando o depoente
na Rua Brigadeiro. Tobias esquina Mauá; onde foi, novamente preso pefo
càpitão Estillac Leal; que r ·e cebendo confirmação que o general Isidoro o
tinha posto em liberdade mandou acompanhar o depoente até ao Hotel
Terminus, ultima linha dos rev9ltosos, indo o depoente apresentar-se ao
Quartel-General da Região; que do Quartel-General, por ordem superior
foi aos · Campos Elyseos em companhia do capitão Guedes de Abreu onde
ficou á disposição do general · Pam:plona até () dia oito de Julho; que
iiesse dia pela manhã sahiu no coµimando de uma tropa para atacar a
artiÍhai·ia :t'.evoltosa que se · achava na altura do cemitério Araçá, tendo
regressado por ordem · do doutor Bento Bueno á polici-a central; que ahi
estava · quando rompeu rim forte bombardeio, . retirando-se então em com-
panhia do Presidente do ·Estado, doutor Bento Bueno, general Carlos Ar-
lindo e ·Estanislau Pamplona com destino a . Guayaúna, via São Bernai-do,
onde permaneceu ao lado das forças legaes; que de sei a consignar que foi
multo bem tratado pelos officiaes do exercito• e da Força Publica em.-
quanto esteve preso, _c om excepção por parte do coronel ,João Francisco e
Miguel Costa ; @e ten'do estado no Rio, em Dezembro de mil novecentos
e vinte e tres, ouviu fallar em preparativos de unta revolta em São Paulo,
1nas aqui chegando informou-se de diverso~ éollegas e todos lhe assegura-
ram que nada 1!avia, ignorando por isso os factos que procederam a re-
volta bem como ·os meios de propaganda empregados nos diversos Corpos
do Exercito; qtie depois de iniciado o movi-mento, verificou que o ·chefe
era o . general Isidoro Dias Lopes; que ao seu lado , como pessoa influente
na revolta, estava o coronel Paulo Oliv.eira que determinou o bombardeio
dos Campos Elyseos, o qual nãó se effectuou n'aquella occasião por 'não
ter consentido o general Isidoro , qu,e ponderou que o Palacio dos Cam-
pos . Elyseos era residencia do Presidente onde devia estar · a· sua familia e
por isso não consentia no , bombardeio; que na policia quem tudo orde-
nava era 'o major Miguel Costa; que o coronel João Francisco tambem
lá estava e mandoii que o depoente · fosse ao quarto batalhão propor uma·
troca de prisioneiros o que o depoente recusou; "que o coronel Paulo de
Oliveira conhecendo o prestigio de que gosava o general Abilio de Noronha,
e quanto · era elle estimado pelos ·officiaes e praças dessa Região, propa•
lava systhematicamente que o ge11eral Abilio era o chefe da revolta; que
essa declaração foi feita ao depoente pelo coronel Paulo de Oliveira como
meio de convenc-e r a elle depoente, dando isso lugar 11. um attricto que ti-
veram; qüe o depoente tem: absoluta certesa como official do' seu estado-
122 General A,bilfo de Noronha

maior que o general Abillo de Noronha ~ra absolutamente extranho a tal


movimento; ·que havia empenho em, transferir o general Abilio do Corpo
Escola para o quartel general dos -revoltosos para dar a . impressão que elle
al_Ii estava commandando"; que quando aos demais que tom'aram parte
na revolta nada pode mencionar porque esteve preso; que' lá se 1/-Presew-
tavam muitos civis cujos nomes ignora. A' perguntas do doutor Procurador
Criminl/-1 em Commiissão neste Estado, disse: que effectivamente no · dia
cincQ de Julho, pela manhã, encontrou no Jardim da Luz uma força de
policia de cerca de duzentos homens des.a rmados e vinte e cinco do exer- ·
cito armados e um piquete de cavallaria de policia taro.b em armado,' haven-
do .um fusil metralhadora no portão do jardim; que essa tro.p a era revol-
tosa e o depoente foi recebido por um sargento de policia ql]íe suppondo-o
um dos commandantes do movimento, fez-lhe a continencia e ·deu vivas á
revolta ·; que o depoente o prendeu e fez apear o piquete de cavallaria
que se poz em forma jun\amente com as tropas desarmadas; que nessa
occasião appareceu o tenente Thales Marcondes, da Força Publica e disse
ao depoente que elle estava anarchisando o serviço e que elle . tenente
Thales não admittia isso; que o d ~poente o interpellou então sobre qual
era a sua altitude respondendo o tenente Thales que absolutamente não
era revoltoso nem a Força Publica'; "que a vista dessa resposta as praças
da policia e do '.exercito romperam aos vJvas ;,,o general Abilio de Noron:ha, ,
ao Presidente do Estado e ao Exercito''; que o tenente Thales prol)oz en-;
tão que lhe f0sse entregue a . força -desarmada para que elle arin:asse no
Corpo Escola, ao que annuiu o depoente por ter se convencido da sua
sinceridade. a vista da demonstração que acabavam de fazer; que além
das pessoas já referidas estavam tamhem no quartel o capitão Newton Estil-
lac Leal, o tenente Henrique Ricardo Hall, estando á frente de uma força
que commandava o tenente Afilhado; que o tenente Henrique Ricardo
Hall declarou ao depoente ' que recebera ordem do coronel Paulo de Oliveira
para bombardear o quartel do quarto batalhão de policia; ordem, espedida
contra a vontade e a orientação do general Isidoro, por estarem Já pre-
sos officiaes seus amigos e haver familias nas proximidades; que ,p on-
derou ao tenente Rieardo Hall essa circumstancia ao coronel Paulo de
Oliveira o qual reiterou a ordem para que elle fizesse os tiros contra o
quartel, declarando o mesmo coronel Paulo de Oliveira ao depoente, .. que
o general Isidoro estava com muito bom coração e que essas cousas tinham
que _ ser feitas com a vialencia; á vista dessa l'eiteração de· ordens, foram
feitos uns dois ou tres dispar os, não tendo sido: feito bombardeio propria-
mente dito; que na ausencia do general Isidoro e perante o coronel João
Francisco e uma e outra pessoa, disse o coronel Paulo de Oliveira ao de-
poente que o · objectivo da ' revolta era a deposição do Presidente da Repu-
blic\l e uma limpesa no Exercito, o que f9i dito aliás em ar de troça; que
como já referiu depois que foi posto em liberdade pelo general Isidoro,
1
encontrou-se com o capitão Estillac que o deteve novamente até receber
a confirmação da ordem de soltura dada pelo general Isidoro; que _tendo'-lÍ
recebid~, foram juntos ao ~otel Roma onde o capitão ,Estillac lhe ·: disse
O Resto da Verdade 123

ao sahir, depois de abraçal-o, desejando-lhe felicidade, q111e, "em materia


de asneira ainda não tinha visto cousa tão grande", referindo-se ao facto
do general Isidoro, ter posto em liberdade . o doutor An(onio Lobo, Presi-
dente da ca'm ara dos ,Deputados e a elle depoente, sendo aquel!e um excel-
lente refem e este um, adversaria que elle sabia ir combatel-o e levar
informações da, situação no momento, Dada a palavra aos curadores e
advogados, á pergw1ta do advogado Alexandl·e Coelho, respondeu a teste-
munha que quanto aos factos occoridos no interior do Estado só tinha co-
nheciinento por noticias dos jornaes, nada sabendo de sciencia propria. A'
perguntas do advogado doutor Elpidio Veiga, diss.e: que não se recorda
de ter assistido no portão do Corpo Escola onde foi preso, a prisão do te-
nente Maria Augusto Brandão, embora não conteste que ella se tivesse ef-
i'ectuado nessa occasião. A' perguntas do advogado dÕutor José Francisco
da Silveira por parte do capitão doutor Maria Maciel Wanderley, disse:
que não tem ábsolutamente conhecimento de <p1alquer acto de participaç:io
diuecta ou indirecta em favor do movimento revolucionaria antes ou duran-
te a, revolta, poí: ventura praticado pelo capitão doutor Mario · Maciel Wan-
derley.; que sabe, ao contrario, que elle era chefe da prllllíeira secção do
Estado-Maior, onde tambem. servia o depoente e que sempre se manifestou
'contrario a toda .e qualquer revolta; que emr relação ~os deveres dos :mili-
.táres seus subordinados, sempre os guiou para a mais perfeita observancia
da ordem legal, tendo procedido sempre de modo irreprehensivel como :mili-
tar. A' perguntas do advogado doutor Francisco Morato por parte do
doutor Firrniano Pinto, disse: que não s~be se o doutor Presidente do Estado
fez alguma communicação sobre a sua sahida da cidade; que na hora do
bombardeio, na Secretaria da Justiça nenhuma commu,nicação viu fazer,
mesmp porque não havia tempo; que não sabe se ficou alguma pessoa· in-
cumibida do Governo da cidade, mesmo porque não era o caso, porque aqui
se achava o Prefeito imcumbido desse , Governo. A' perguntas do advogado
doutor Atugasmin Mediei por parte dos seus curatelados, general Isidoro
Dias Lopes e outros, disse; que as noticias qllie tem, do m.ovimento revolu-
cionaria sobre que versa o processo, são as pubUcadas pela ilnprensa, estan-
do nesse particular.. nas · mesmas condições do advogado que faz a pergunta;
que tem conhecimento de que o Governo da Republica nomeou .o general
Rondon comrnandante de uma Divisão em Operações no Sul do paiz; que
as referencias que sabia a respeito dó major Costa eram as de ser elle um
official muito distincto e muito trabalhador, e .mais tarde ouviu dizer nos
Campos Elyseos que elle era argentino. A' perguntas do advogado ,doqtor
P}inio Barreto, disse: "que não houve no seu modo de ver, uma derrota
militar que e~igisse a retirada do Governo na occasião", achando entretanto
que seria prudente a retirada do mesmo, "sem entretanto ser acompanhado
pelas tropas que defendiam a cidade;. que está elle depoente plenamente
convencido da victoria da legalidade nesta cidade em dois ou tres dias, se
estivesse o general Abilio de Noronha á frente das tropas legalistas; que
· forma o melhor conceito possivel dos officiaes capitães Estillac Leal, Juarez
Tavora, tenentes Orlando Leite Ribeiro e Asdrubal Gwyer de· Azevedo, todos
1'24 General Abílio de 'N oronha ·

elles incapa1.es. de praticar qu~quer acto rneno5 digno, A' perguntas do


advogado doutor Antonio de Mendonça, - disse: que ao chegar 'no - quartel-
general da ·Segunda Região, ao a noit<)_cer de cinco de Julho, lá encontrou
entre outros officiaes o capitão Arthur Guecles de Abreu, com quem foi
a policia cen_tral e depois , ao Palacio dos Camu;,os Elyseos; que por ordem
do general Estanislau Parnplona tanilJ·em o capi:tào Guedes de Abreu ficou
naquelle Palació á disposição do referido general; que recebeu juntamente
coip. o capitão Guedes de Abreu um salvo conducto do doutor Bento Bueno
para irem aos Campos Elyseos. A' perguntas elo advogado doutor José AdrÍa-
no Marrey Junfor, disse: que "<lt;ran.te o tempo que serviu na Região com-
mandada pelo general , Abílio de . Noronha, não _teve absolutamente conhe-
cimento de qualquer campanha subversiva entre os officiaes da Região ou
que para aqui viessem e de que tivesse conhecir:Íl:ento o general Abílio, de
Noronha e a tolerasse"; que teve conhecilnento da revolução por intermedio
do primeiro tenente _Inimá Siqueka que lhe telephon.ou em nome do general
Abílio de Noronha, com a recommendação de seguir para o quartel -general,
armádo, visto haver rebentado uma ·revolução; "que mais ou menos, ha dez
annos o general Abílio de Noronha cortou relaçõ es com o coronel Paulo de
Oliveira, facto de que o depoente teve conhecim.ento em mil nm,eceptos e
vinte ·ê tres, de modo que pode affirmar que o gener;l Abílio · de N~ronha
por occasião desta revolta não estava, com.o não pod"ia estar, · em contacto
com o referido coronel, assim como elle não t in11a relações ~o:m o ·filho do·
coronel Paulo de Oliveira que acompanllava o pae por essa occasião e que
lhe parece chamar-se Car!os; que pelo conhecilnento _pessoal que tem dp
general Abílio, co1no o fficial valente e de iniciativa, pelo continuo respeito
a legalidàde, assim com.o pelos .actos que -elle· praticou no dia cinco de Julho,
pode elle depoente affirmar que o general Abílio não era conhecedor do
movimento e que _ seria incap·a z de ter um procedimento de com
elle pactuar; que entre os , factos praticados pelo general Abilio,
refere o de ter dado conhecim.cnto aos officiaes da Região e
, ao Governo do . Estado para que fossem tomadas as primeiras
providencias, .o de ter ido em pessoa ao quarto batalhão da Força Publ~ca,
desarmando as praças do exercito que o guarda-varo, promovendo a soltura
de officiaes desse Corpo e . determ}nando-lhes a prisão dos officiaes do Pxcr-
cito que alli apparecessem ou de outros que fossem favoraveis ao· Hiovi-
n1cnto, com.o de facto foram presos os capitàes Tavora e Indio do Ilrasil, ·
tenente Afilhado, facultando áquelles a resistencia que elles realisaram; que
o depoente soube desses factos não só no quartel general do exercito como
no quartel do prin1eiro batalhão; que o depoente assistiu a resistencia que
o general Abílio organisou no Corpo Escola, onde foi preso tendo contra si
praças apontando armas em attitucie decisiva sobre a intenção com que ' Con-
tra elle se dirigiam; que o depoente pode ainda dizer que o general Abílio
manifestou-se francamente neste momento contra o movhnento, usando de
linguagem violenta contra os officiaes insubordinados e especialmente contra
o capitão Joaquim Tavora; que quando o depoente foi · removido para o
p rih1cirn hatalh:io, ainda viu o i:eneral Abilio assruÚir a mesm.a 11ttitude
,o R esto da Verda d e 125

para com os ditos officiaes insubordinados, ante o desejo que elle mani-
. l'estaram . de le;al-o igualmente para aquelle b,üalhão e isso porque per-
cebeu que esse desejo se prendia · ao1 plano de apresental-o como connivente
no movimento, o que se darià com a sua presença naquelle Corpo da Força.
Publica e accre;centando que vivo não· sahiria do Corpo Escola; que final-
mente o .general Abilio demonstrando a sua não connivencia no 1novimento,
interveio em, defeza do depoente quando este luctava com o capitão Juarez
para, libertar-se da prisão; que o general Abílio era impossivel resistir a
prisão, dadas as circnmstancias em que esta foi feita". A' perguntas do
denúnciado primeiro tenente Roberto Drnmmond, disse: que se recorda
ter visto no Palacio dos Campos Ely,seos, no dia sete, se bem se lembra, os
tenentes Roberto Druminond , e Newton Franklin do Nascimento vindos de ·
Hú; que os referidos tenentes estavrun apenas acompanhados . pelo· capitão
Brasílio Carneiro d.e Castro e que se recorda que 'o general Estanislau l'am-
plona se recusou a ordenar a prisão desses dois tenentes, a qual fora pedida
não se leinbra por quem; que os referii:los te1~entes se achavam armados
e em uniforme de campanha, tendo\ ambos sabido acom,panhados apenas do
· capitão Brasilio; que assistiu o gelleral Pamplona, na occasião en1 que re-
cusou ordenar a prisão desses officiaes, d eclarar que assim procecli.a porque
, confiava nos mesmos e que por uma simples suspeita não os queria pren-
der. A' perguntas do denunciado Octavio Garcia Feijó: disse: que tendo
estado no quartel general apenas por momentos, na manhã, lá não se achava
o · denunciado e que ao anoitecer não viu o m ;e smo, não contestando entre-
tanto que lá elle estivesse. A' pergunta do denuncjado Carlos Ferreira,
disse: que quando chegou ao Palacio dos C~nljPOS Elyseos, lá. encontrou o
denunciado não se recordando até em que data lá permaneceu; que não se
recorda se viu o doutor- Carlos Ferreira no quartel general do . exercito, ou
se no primeiro batalhão de policia onde esteve preso o depoente no dia
cinco de Julho; que não se" achava no quartel general da região quando se
deu o incidente entre os capitães Othelo Rodrigues Franco e Brasílio Car-
neiro de Castro. A' perguntas do denunciado capitão Raul da Veiga Machado,
disse: que não yiu esse official ' durante o movlmento 11evolucionarh> de
Julho e pelo que tem ouvido dizer, esse official ficou em Rio Claro onde
se achava aquartellado o seu batalhão. A' ·p ~rguntas do denunciado tenente
Irineu Rangel de -carvalho, disse: que não :;;iu esse denunciado em São
Paulo. E nada _mais havendo :qiandou o doutor Juiz encerrar este depoimento
qUe assignam. Eu, Edmo Freire, escrivão ad-hoc, o escrevi. Washington Osorio
de Oliveira - Aguinaldo Caiado de Castro - Carlos da Silva Costa. "Nada
mais se continha nem se d,eclaravam em o dito depoimento aqui liem e
. fie'lmente extrahido por certidão e aos proprios autos, me reporto e dou fé,
nesta cidade de São Paulo aos desoito dias do mez de Abril de rriil nove-
centos e vinte e ~inca. Eu, Edmo Freire, escrivão ad-hoc, o escrevi.
126 Genera'l Abílio de Noronha

TE;STEMUNHA MAJOR ANTONIO GONÇALVES E SILVA


Edmo Freire, escrivão ad-hbc no processo crime a que respondem d
general Isidoro Dias Lopes e outros.
CERTIFICO que revendo em cartorio · os autos de "Processo Crime"
movido pela Justiça Federal contra o general Isidoro Dias Lopes e outros
delles consta no volume cento e de:1iesete de folhas sessenta e seis a setenta
e cinco o depoimento do major Antonio Gonçalves Barbosa e Silva, excluidas
as assignaturas dos denunciados p~esentes, o qual é do teõr seguinte: major
Antonio Gonçalves Barbosa e Silva natural do Estado do Rio de Ja1;1eiro,
com quarenta e seis annos, de idade, casado, militar, residente a rua Itapo-'
ronga numero sete, digo numero trinta e q.ois, sabendo ler e escrever. Aos
costumes disse nada e prestou o comtpromisso legal. E senqo inquerido sobre
sobre os factos narrados na denuncia, disse que na manhã de cinco de
Julho do armo findo ao chegar ao quartel do Corpo Escola em companhia
do capitão Luiz Faria de Souza, dirigiu-se o depoente com. este capitão para
1
a gerencia do rancho; que momentos depois ouviram o toque de reunir,
tendo o capitão · Faria procurado saber do que se tratava; que immecliata-
mente foi chamado pelo referido official Faria que havia ' verificado qual-
quer cousa de anormal; que dirigindo-se ao local onde se achava o capitão
Faria ahi encontrou juntamente com elles os tenentes Arlindo de Oliveira
e Domingos Ramos _e tamibem o tenente. Gwy,er e um paisano el;).volvido
em uma ·c apa, cujo nmne· mais tarde soube ser Tavora, não sahendo qual
delles, que esse official Tavora conrmunicou-lhe então que havia rebentado
uma_ revolução em todo o Brasil com o fim de depôr o Presidente- da Repu-
blica e para isso · contavam com cincoenta e ·tantos corpos do Exercito,
com forças policiaes dos Estados e eni São Paulo contavam com o apoio do
Regimento de Cavallaria e Primeiro e Segundo Batalhão de Infantaria da
Força Publica, que estavam já presos o Commandante Geral da Força Pu-
blica, Secretario da Justiça e oufras autoridades dó Estado e que contav am
çom o apoio do d epoente e dos of-ficiaes presentes; que tinham cinco minu-
tos para responder e seria inutil qualquer resistencia porq'ue · as providen-
cias estavam tom:adas e os armamentos aprehendidos o que verificou ser
verdade, pois tentando ir ao interior do quartel foi impedido por praças
de armas embaladas; que nessa occasião foi preso por um official cujo
nome não se recorda, acompanhado de duas praças e levado ao quartel do
Primeiro Batalhão da Policia e apresentando ao major Miguel Costa, "que
exigiu de revolver ei:n punho que adherisse ao movimento"; que diante da·
exaltação de Miguel Costa "o depoente fingiu que adheria ao movimento
e assim obteve permissão para voltar ao 0orpo Escola", que encontrou guar-
dado por tropa revolucionaria; que foi então que soube da pri~ão do gene-
ral Abílio de Noronha "o qual resistiu á prisão só cedendo deante d a força,
pois teve armas apontadas ao peito por alguns officiaes do Exercito"; que
no Corpo Escola estavam tambem detidos os tenentes Juventino e Mario
Brandão que lembraram ao depoente, thezoureiro do Corpo Escola, a conve-
niencia de retirar o dinheiro alli depositado, o que fez, sendo-lhe facilitada
a sabida p elo tenente Ma rio Drandão; que l evou esse dinheiro p ara .sua
O Resto da Verdade 127

casa em Guàpira de onde ao regressar foi preso na estação de Tamandua-


tehy e novamente conduzido á presença do major Çosta "que o clei:wn em
lib~rdade, mandando-o nóvamente para o Corpo Escola; que tend,J captado
a confiança elo major Costa", ·aprov.eitou-se dessa circmnstancia parn reunir
no qu·a rtel do C~r:i3ó E.s cola cincoenta .,praças·, mais ou menos, que conseguiu
armar e mu:µiciar com o que encontrou no deposito occnl!o, pois a Illflior
nnrte do armamento havia sid.o retirado; que reuntn essas praças com a
intenção de se apresentar ao Governo e com ellas prestar serviços; "que
sabendo que o general Abilio estava preso e que tinha resistido á prisão",
antes de partir para os Cam\pos Elyseos foi á sala ,mele estava preso o gene-
ral Abilio sob a vigilancia do tenente Nitrini. com quinze prnc;as; devia ser
meia . noite, a guarda 'estava adormecida, inclusive ~ tenente Nitrini e a
sentinella não creou obstaculo a que fosse até o compartimento aonde estava
o general, as luzes estavam apagadas; que chamou pelo general que riscou
um phosphoro pari. reconhecei-o, e disse-lhe que tinha . cincoenta praças á
sua disposição · e o convidava a partir para ,os Campos Elyseos; que o gene-
, ral ,respondeu que se sentia hem onde estava, e como não havia tempo a
perder, o depoente seguia irnmediatamente com as suas praças para os
Campos Elyseos çmde incorporou-se ás forç.a s legaes; "que o depoente não
teve opportuP-idade de explicar ao general Abilio qual era a sua attitude,
porque os guardas impediam q_e fallar a quálquer prisioneiro;' que o de-.
p~ente ,está convencido de que a recusa do general Abílio foi devido ao
facto de não saber elle qual era a attitude do depoente, isto é, se estava ao
serviço da legalidade ou da revolução"; que de manhã e á tarde do dia
cinco, durante o tempo em que esteve no quartel, notou que prestava servi-
ços aos revolucionarios com muita actividade e dedicação, diversos off!-
ciaes da policia entre os quaes recorda dos nomes dos tenentes Arlindo, Octa-
v'iano, Ary, França e Gordiano e tarn'bem o ' coronel \io Exercito Paulo de
Oliveira e uns civis que lhe informaram se11em o coronel João Francisco e
· o general Isidoro Dias Lopes. Pelo doutor Procurador Crirn,i nal nada foi
perguntado. À ' perguntas do doutor Alexandre Coelho, disse: @e a revolu-
ção teve inicio no dia cinco de Julho e terminou nesta Capital no dia vinte
é oito com a ·r etirada dos revoltosos, continuando o movimento com os mes-
mos chefes noutros pontos do paiz; que ouvira do official que o prendeu,
como já referiu, ·que o fim da revolução era depôr o Presidente da_ Repu-
e
blica não sabe se tinha outros fins; que esteve prestando serviços nas
linhas legaes fóra da cidade e por isso não sabe se os denunciados c01:net-
teram crimes de homicídio e roubo narrados na dentu1cia; que nada sal,e
do que se passou no interior do Estado, À' perguntas do doutor Elpidio
Veiga, disse: que o tenente Maria Brandão foi -seilllPre um official discipli-
nado e c1ynpridor de deveres; quando vortou ao Col"[Po Es~ola conforme já
· depoz, já encontrou preso esse tenente que lhe suggeriu a idéa de retirar
o dinheiro da tl1ezouraria, facilitando-lhe a sahida; que o tenente, Mario
Brandão, após o restabelecimento da legalidade, reassumiu o seu posto, fa-
zendo avultados pagamentos ás praças da companhia sob o seu com.mando,
gozando da mesma confiança do depo,e nte que era commandante Interino
128 Geiieral Abilio ele Nor·o.nha

do Corpo Es-cola; que o referido tenente tomou parte na paràda de quinze de


Novembro, commandando tropas; que aó depoente. apenas consta que <i
tenente Brandão foi ao posto policial de Casa Verde acompanhado ou escol-
tado por praças revolucionrurias,- sendo cer~o que disso só teve conhecimento
depois que aqui chegou. A' perguntas do do.utor José Adriano Marrey Junior,
di:sse: · que ell~ depoente cliegou ao Corpo Escola ás cinco e meia · mais ou
meno~, ·do dia cinco de Julho; que logo depois ,foi condÚzido ao Primeiro
·B atalhão por um official do Exercito que não , reconheceu e alli após o
incidente já narrado com o major Costa, foi posto em liberdade .sob à con-
dição de voltar ao quartel do Corpo Escola, o que fez, e111contra1,-do este
quartel já entregue ás forças i;evolucionarias e sabendo que alli estavi;im
presps o general Abilio e dois officiaes do Exercito; que não pediu licen\a
ao major Miguel Costa para ir á Guapira, tendo feito a viagem á Guapira
nas condições já indicadas nes\e depoimento;- "que elie depoente era então
capitão e estava- fardado; que em Guapira não havia nessa occasião · forças
revolucionarias nem no trajecto até . essa localidade; que regressóu pela Es-
trada de Ferro Cantareira e na estação inicial da cidade, Tamanduatehy,
dois soldados de cavallaria de armas embaladas o prenderam, "e não obstan-
t_e a declaração do depoente de ter adherido ao movimenfo'.', ' ditos soldados
o conduziram: â presença do major Miguel Costa que o pôz em liberdade
com:o já disse; que durante o dia o depoente por varias vezes, á tarde do
dia, foi do Corpo Escola ao Primeiro Batalhão e vice-versa, conduzind~ do
Primeiro Batalhão ao, Corpo Escola, de duas em duas ou de tres· em tres,
praças, com as quaes cons~guiu reunir o numero já alludido municiando-as
"com munição que o· sargento revoltoso do Corpo ·-de Cavallaria de nome
Berga, lhe forneceu", no quartel do Corpo Escola, cuja guarda commandava;
que · essa guarda estava a uns duzentos metros afastada da guarda chefiada
pelo tenente Nitrini; que é possivel que o general Abilio tenha visto o
depoente circular por alli conduzindo as praças; que affirma que o tenente
Nitrini estava dormindo quando elle depoente entrou com as cincoenta
praças no, Corpo Escola e que os graduados acornpanha~run o depoente até
o cornmodo em que estavai o general podendo ser que algum destes tivesse
-observado a conversa com o general; que um dos seus sargentos lhe contou
nos Campos Elyseos que o tenente- Nitrini acordára com o barulho feito
pelas praças e perguntáiia por elle depoente respondendo o sargento, sem
maior explicação, que elle depoente ia adeante; que não sabe se os dois
officiaes do Exercito que estavam no mesmo commado ouviram o convite
feito· ao General, rapidamente, , em voz natural põr elle depoente; que o
depoente, reunidas essas praças, á toque de corneta, com ellas subiu ao
Corpo Escola, sem- obstaculos por parte da sentinella; ignorando todas as
praças o proposito do · depoente, do quel só tiveram conhecimento prevlo
os sargentos Alvim e Plúlogonio, sendo que este mais tarde foi preso pelas
forças revolucionarias, quando . volt4ra em uma patrulha; que na ponte
da alatneda Nothrnan deu a todos conhecimento de que iam para os Campos
Elyseos; que no dia cinco de Julho até o momento em que foi para o5
Campos Elyseos, "era ellc depoente tido e havido como revoltoso pélos actos
\
O R esto da V e r-<f.. a d e 129

que praticou", eD;lbora intlm.amente se mantivesse fiel â legalidade, "que


só praticou' taes actos,
\
fingindo-se revoltoso", como meio de poder em dado
'

momento incorporar-se ás forças legaes; "que sabe que o general Abilio até
ser p·reso deu ·providencias para debellar a revolta e que a resistencia do
'í)uarto Batalhão foi devido as suas providencias"; que notou tambem no
Corpo Escola que havia des.e jo de se levar o general Abilio pará' o Primeiro
Batalhão, o que elle recusou terminantemente; "que o major Costa era um
dos officiaes mais distinctos da Força Publica como official de conducta
exe1nplar": A' perguntas do doutor Paulo Duarte, disse: que não viu no dia
cinco de Julho o tenente João Baptista N~trini, que commandava a guarda
que mantinha vigilancia ao general Abilio e outros officiacs, tomar parte em
em nenhum acto violento inherente á revolução e depois do dia cinco ignora
qual foi a actuação do mesmo militar; qué viu o tenente Arlindo de OÜvelrn,
n~ Quartel da Luz, unicamente pela manhã do dia cinco de Julho; que
conhece o sargento Benedicto de Olival Monteiro, bem como seu irmão
tambem sargento, não· tendo porém, trocado nenhuma palavra com o, mes-
mos quanto ao commando de metralhadoras ; que é casado com uma so-
brinha do coronel Pedro Dias de Canwos, actuãl Commancfanle <lá Força
Publica. A• pergunta,s do denunciado José de Oliveira Franç4, disse: que o
depoente · como já disse esteve 'preso e foi escoltado por duas praças "e qufl
effectivamente disse ao major Miguel Costa que prestaria serviços á revolta",
mas o fez fingirido-s'e revoltoso como já disse e não na presença do den"un-
ciado José de Oliveira França; que tendo ido á sua residencia em Guaplra
r_e gressou á cidade onde foi preso como já declarou, com o proposito de -
realisar o seu intento de incorporar-se ás forças legaes; que não com mandou
tropas e não viu o inquerente ao seu lado tendo-o apenas visto duas vezes,
uma no pateo do quartel e outra fallando ao coronel Paulo de Oliveira
no mesmo pateo; que o depoente estava afastado do commando do Corpo •
Escola, confiado ao capitão Faria e .Souza e nenhuma providencia tomou
porque o quartel já tinhà, sido tolillldo por praças do Exercito e cavallaria
da Policia; que , Domingos e José d'Olivàl Monteiro fora~ effectivamente
promovidos ppr não ficar provado -que" elles tivessem tomado parte na
revolta, isto é, não terem prestado serviço efficiente á revoltá , tendo sido
apenas envoh,ido. A' pergunt_a s do denunciado Romulo Antonelli, · disse:
que depois de conferenciar com o major Miguel Costa não recebeu nem en•
tregou metralhad_oras do 'Corpo Escola. P elo denunciado José de Oliveira
França foi dito que contestava o depoimento da testemunha por ser par~nte
do coronel Pedro Dias, "po~ ter C$tado ao lado da revolta no dia cinco e
por conhecimento da mesma, negando no seu depoim,e nto esta circumstan-
c!a"; igualmente contestou o depoimento da testemunha o dennnclaclo Romulo
Antonelli por não considerar verdadeiro o que relatou. Pela testemunha foi ·
dito que confirma: e mantem o seu depoimento por ser a expressão da ver-
dade e nada mais havendo mandou o doutor Juiz encerrar este depoimento,
que assignam, depois de lido e achado conforme. Eu, Edmo Freire, escrivão
o escrevi. Washington Ozorio de Oliveira. Antonio Gonçalves Barbosa e
Silva.
130 Gen e r aI A bi l i o ·d e N 0 ro 11 h a •.

TESTEMUNHA - CAPITÃO OTHELO R:01:>RlGUES FRANCO


Na parte que diz respeito a minha pessôa
"lj:m relação ao denunciado José Paulo de Macedo Soares, sabe que
uns oito rnezes antes da revolução, estando o depoente em companhia deste
e de José Eduardo de Macedo Soares, de quem, foi amigo, em frente á
Brasserie, nesta capital, no rnom.e nto em que José Eduardo se retfrou, ficou
conversando com José Paulo sobre a situação geral do paiz; que nesta occasião
o mesmo José Paulo disse-lhe 'que precisavam sabir deste estado de coisas,
o que só se conseguiria por meio de uma revolução e quem estava em
condições de chefiar esse movimento era o general 'Abilio d~ Noronha, ma~
para isso ·era necessario a quantia de duzentos contos ,p ara pôr o general
Abilio ao abrigo de qualquer eventualidade; "que José Paulo declarou isso
como ju!zo proprio, sem manifestar ter tido qualquer entendimento com o
general Abilio de Noronha"; que só referiu esse facto ao general Abilio,
d,epois de ser feito prisioneiro · pelo general Isidoro; que ao ouvir de José
Paulo a, phrase acima referida, a essa phrase não ligou importancia porque
conhecia José Paulo corno um rapaz leviano e o que elle havia dito não
passava de méra conjectura". (Volum;e 118, pagina &7 e 87 verso\.

TESTEMUNHA CAPITÃO EUCL YD.ÉS ESPINDOLA DQ


\ NASCIMENTO
Edmo Freire, escrivão ad-hoc no processo crime a que respondem o
general Isidoro Dias Lopes e outros. CERTIFICO que revendo em cartorio
os autos d'e processo crime movido pela. Justiça Federal contra o general
Isidoro Dias Lopes ·e outros, delles consta de folhas desesete a vinte e oito
o depoimento do capitão Euclydes .Espindola do Nascimento, exclu!das as
assignaturas dos denunciados presentes, do teôr seguinte: "Quarta · teste•
munha. Capitão Euclydes Espindola do Nascimento, natural de Santa Ca-
tharina, com quarenta e dois annos de idade, casado, militar residente a
rua do Bispo nuinero sete, nesta Capital, sabendo ler e escrever. Aos cos-
tumes disse nada e prestou o compromisso legal. E sendo inquerido sobre (!S
factos narrados na denuncia, disse: que no dia cinco 'de Julho do anno findo,
cerca das quatro ,; horas e trinta minutos da manhã foi' elle depoente ·chan1ado
em sua residencia a rua do Bispo numero sete, pelo capitão Grimualdo
Teixeira Favilla, de ordem do ~enhor general Abi!io de Noronha, commandan-
te da Região de quem era o depoente seu ' chefe do Estado-Maior; que e1n
caminho para o quartel general soube pelo capitão . Favllla que qualquer
coµsa de anormal se passava no quartel de Sant' Anna, certamente uma
sublevação das praças; que chegando ao quartel general encontrou ç senhor
general Abilio prompto para tomar um automovel com destino a Sant' Anna;
que indagando do depoente, o general Abilio se já sabia do que occorria,
respondeu o depoente affirmativamente pe~o que lhe declarara o capitão
Fav1lla; que já no automovcl deu ordem o general Abílio ao tenente
Inlmá Siqueira que se achava ao lado, para que pedisse ligação ao Rio e
O Re,çte da Verdade 131

em seu nome communicasse ao senhor Ministro d que se vinha passando; e


ao · depoente declarou com o automovel já em movÍIIllento que já havia dado
sciencia ao senhor doutor Presidente do Estado p011 intermeclio de seu · chefe
da Casa J\,filitar Major Marcilio; que em cam1inho para Sant' Anua, tendo
o ~pitão Favilla, que tambem acoxppanhava elle depoente e o general
Ab!lio, lernbrado que as praças do quarto batalhão de Sant' Arma, lhe
·· parecera se terem. dirigido para Quitaúna, o depoente occorreu ao general
Abüio ser tomado esse r~o; que relenrbrado o teffiJ?O em ·que as praças
haviam deixado o quartel, foi consultada a impossibilidade de ainda al-
cançal-as, pelo que o senhor general Abílio reso1veu continuar a marcha
para Sant' Anua; que chegado neste lugar aonde fica,. situado o quartel, 'lá
encontraram o senhor coronel Cruz commandande da unidade e o tenente
Amlilcar Salgado; que interpellado ' este coronel pelo General, lhe foi infor-
mado que as praças · de seu batalhão com os officiaes Joaquim Tavora,
tenentes Gwyer e Afilhado se haviam dirigido para os quarteis da policia
da Luz; que em vista da informação o senhor general Abilio, determinou ao
capitão Favilla que ficasse no quartel afirni de reunir as praças que se
fossem apresentando e determinou ao coronel Cruz que o acompanhasse no
seu automovel, visto como era elle o commandante da unidade cujas pra-
ças se haviam sublevado; que tomado o rum.o da Luz e tenchJ o chauffeur
tomado o transito da frente da cadeia, aconteceu · que o primeiro quartel
de policia encontrado foi o do quarto batalhão de infantaria da Força
:Pµhlica, onde o depoente· que vinha ao lado dd chauffeur, por haver cedido
o lugar ao coronel Cruz, viu uma sentinella do quarto batalhtio de , caca-
0

dores postada' no portão daquelle 'quartel; que saltando todos do automovel


enquanto o depoente interpellava a sentinella para ·sondar a sua attitude,
o senhor general Abílio e o senhor coronel Cruz entravam no· quartel; que
ahi se encontrava~ varias officiaes da Ff'ça, Publica e muitas praças, todo11
desarmados e dommados por ce~·ca de trmta praças do quarto de caçadores
àrmadas e municiadas e montando sentinella em diversas dependencias;
que a ilttitude dessas praças era a mesma de sentinella, isto é, a de nenhu-
ma hostilidade; "que em 'acto continuo o senhor 'general Abilio determinou
que essas praças ,fossem · desarmadas", o que foi feito pelo depoente e pelo
eoi;onel Cruz, enquanto que ordenava a um dos officiaes da Força Publica
que fechasse os portões armasse o seu pessoal e prend·e sse qualquer offi-
cial que lá tentasse entrar; que em seguida foi retomado o automovel e
proseguido o cailiinho até encontrar o Corpo Escola, onde o depoente viu
outra s'entinella do quarto batalhão de caçadores; que procedendo da mes-
ma forma do que se· havia feito no quarto batalhão da Força Publica, já
deixavam este quartel pel9 portão dos fundos, o general Abilio, o coronel
Cruz e o depoente, quando surgiu o capitão Joaquim; Tavora "de revolver
em punho; acompanhado de uma escolta de poli:cia, outra de cavallaria da
mesma milícia e outra de infantaria do quarto de caçadores, as quaes es-
coltas envolveram os tres officiaes, isto é, o general Abilio, o coronel Cruz
u o depoente, de armas apontadas aguardavam· qualquer 01,dem de exe-
111u1,1ão do capitão que as commandava; que esse eapitão Joaquim Tavora de
182 G e'n e r ·a I A l> i l i o d e N o r o n lt a

revolver ao peito do. general Abilio, deu-lhe ordem de prisão o que não
acceitou o general Abílio exprobando este gesto", além de que não se dera
a conhecer, pois que não tinha indicio de autoridade; qqe protestando o
general contra essa attitud,c, surgiram o general Isidoro e João Francisco,
o primeiro dos quaes deu ordem. d·e prisão ao general Api!io; que durante
esse momento o general Abílio "protestava com vehemencia, advertia o
general Isidoro daquena' sua attitude, enquanto que exhota.va ás praças,
valendo-se dos seus bordados de general e serviços prestados á Patria, com
o fim de talvez modificar a situação, mas que na realidade nenhuma alte-
ração apresentava; que er·a assim de todo impossivel luctarem tres offi-
ciaes com cerca de trinta praças e mais officiaes sublevados;· que o de-
. poente não julga que de uma lucta de todo incom,prehensivel re.s ultassc -
qualqu.er gloria para qualquer dos officiaes ou para a Nação, bem ao con-
trar.io talvez uma mancha ficaria a mais na nossa historia, resultante de
um assassinato"; que · como se vê, o doutor Procurador da Republica, em
sua denuncia entendeu possível a resistencia, não o era entretanto; que
obrigado pelo general Isidoro ficaram os tres officiaes presos no n1esmo
lugar, pois que o senhor general Abílio declarara que preso sob palavra
não ficaria, · conservaram.-se na 1nesma situação até o d.ia e111 que os revol-
tosos deixaram São l'aulo; que nesse ·m.esmo dia cinco diversas foram as
vezes que se apresentou ora o capitão Joaquim Tavora ora o tenen'te .Afilhado,
acompanhados de - escoltas para que os presos fossem transferidos do quar- ·
tel onde se achavam para o primeiro batalhão onde se encontrava o chefe
revolucionaria; que repellida essa idéa sempre pelo · general Abílio, por
filn já. se tornara iinpertinente a insistencia do chefe revolucionario trans-
mittida por interm-e dio do capitão Tavora e foi assim a altas horas da
noite, quando descançavarn. das attribulações de espírito o general Abílio,
o coronel Cruz, o depoente, "que surgiu um capitão da Força Publicá
acompanhado pelo tenente Nitrini commandante da guarda dos pr.esos e
entrou no quarto onde estavam os tres officiaes e ainda as _escuras, por-
g:ue tinha sido córtada a illuminação electrica, perguntou pelo general Abilio;
que o tenente Nitrini accendendo um phosphoro, o depoente indicou onde se
e~contrava o general, aliás junto ao depoente; que esse capitão do mesmo
lugar onde se achava disse em voz alta dirigindo-se ao senhor general; que se
achava com cincoenta homens a sua disposição e po_r m _e do ou. ig_norancia
nada mais esclareceu; que o general Abílio como tambem o depoente, jul-
gando que se tratava da transferencla ainda e , tão insistente durante o
dia, respondeu-lhe que dalli não sabia, a mesma resposta que dera as
outras tentativas"; que em relação as confabulações em casa do · doutor
José Carlos Macedo So'olres · com o seu irmão José Eduardo Macedo Soares
tem a declarar que o general Abilio contara ao depoente que numa con-
versa amistosa com seu amigo José Carlos de Mac'edo Soares, em casa deste,
ouvira de José Eduardo de Macedo Soares, por acaso lá encontrado, "uma
exposição de visionaria, a que o general Abílio não dera importancia d&
monta e julgou mesmo mais opportuno dar-lhes conselhos paternae-$ de
permeio duma conversa de ~,migas, com plena approvação de José
O Res t o da ·verdade 133

Carlos de Macep.o Soares", que no m.omento adianiou ao general Abílio que


já se achava cançado de dar os mesmos conselhos a José Edu,;rdo; "que
tudo dito entre phrases de amisade e · em c,;sa de=arriigo, não podia ser to-
mada de insultuosa nem tendenciosa e bem a proposito o depoente, quando
expunha esses factos ao Presidente do inquerito no Rio de Janeiro, general
Sezefrcdo dos Passos, apreciou digo, após ~prehendido o depoimento da
testemunha, arrematou e1n apreciação propria. "Que si não ~ôra as circllills-
tancias de ter sido uma conversa entre amigos e em casa de amigo, poderia
o general Abilio tomar como· insultuosa as expressões de José Edua,,do";
que em vista do exiposto o depoimento que prestoti no inquerito militar não
foi bem interpretado pela procuradoria na sua denuncia"; que detalhes
. m;aiores ou menores outros, sobre ip.cidentes e .phrases do 'período da revo- ·
lução e âo que a antecedeu se encontram no inquerito militar já alludido
no seu depoimento; que elle depoente não tem conhecimento algum de facto
anterior qu~ reyelasse a existencia de qualquer CO!Il\Plot ou conspiração;
que durante o · tempo em que esteve •pres,o pelos revolucionarias, só co-
nheceu os objectivos destes pela correspondencia · trocada entre elles e o
general Abilio a proposito da deposição das armas; que esse objectivo era
a deposição do Presidente da Republica. Pelo doutor Procurador Criminal
da Republica, nada foi perguntado. A' perguntas do doutor Plinio Bar-
reto, disse: que durante o te,;npo em . que 'e steve preso ern companhia do
general Abílio e coronel Martins Cruz não viu em, occasião alguma entre
as forças revolucionaria o capitão Arthur Guedes de Abreu. A' perguntas
do doutor Vicente Ráo, disse: que sabe que o tenente Nitrini sempre
conunandou a guarda dos officiaes presos até as seis horas da tarde mais
ou menos, do dia vinte e sete de Julho, tendo assumido o cominando da
guarda o sargento seu substituto;. que o tenente Nitrini conservou sempre
uma attit.ide respeitosa ' para com os officiaes · presos, sem contudo deixar
de ser rigo1·0s0 na sua vigilancia; que com relação a transf erencia doa
prisioneiros· para lugar mais seguro em vista do bombardeamento da pri-
são em que se achavam, o tenente Nitrini acceitou as ponderações do ge-
neral Abilio sobre essa situação e · mandou que_ seu sargento da guarda
fosse dar conhecin:\ento dellas ao general Isidoro; que o tenente Nitr~ni
não teve gesto ou palavra de opposição ao capitão da :força publica que
na noite de cinco appareceu no quarto onde estavam os prisioneiros para
dizer ao general Abilio que, tinha cincoenta ·homens a sua d!sposiçãó; A'
·perguntas do doutor Elpidio Veiga, µisse: que sabe que além1 dos officines
presos no Corpo Escola outros se_ achavam. no primeiro batalhão. A' per-
guntas do doutor José Franco da Silveira, disse: que não tem conheci-
mento de acto algum, directo ou indirecto, antes ou durante o movimento
revolucionario que desse lugar á suspeita do capitão Maria Maciel \Van-
derley; que esse official foi auxiliar do depoente no serviço do Estado-
.Maior da Região e sempre o teve no melhor conceito e . seinpre se mostrou
contrario · a qualquer movimento subversivo; que sempre foi correcto no
cumprimento dos seus deveres e digno da confiança, _depositada· pelos seu11
cb.efqs. A' pergun!a~ d.o . ,doutor .José Adriano Marrey Junior, dis•e: que
134 Ge n e r a l A b i ·L i o da N o r o n h .a

elle depoente confirma em todos os seus termos o depoimento que pres-


tou no dia tres de Agosto do anno passado, no ·ruo de Janeiro, no in•
querito militar presidido pelo general Nestor Sezefredo dos Passos cons-
tantes de folhas quatro a vinte e um do prim,eiro volwne do dito inque-
rito e oitavo dos que instruem a denuncia, depoimenJo que deu com in-.
leira liberdade; ,que o general Abílio de Noroµha, como chefe da Região
Militar, "mostrou-se sempre respeitador das autor-idades constituidas prestan-
do-lhes por vezes homenagens e sendo até o intermediaria n;is relaçõe11
entre o Governo do Estado e o Governo da União"; que não conhecia o
official da Força Publica que · offereceu a noite cincoenta praças ao gene-
ral Abílio e que ha pouco tempo soube, chamar-se Barbosa, só o tendo
visto nessa occasião, "sendo certo que o seu g·e sto foi interpretado pelo'
ge!l'eral Abilio, pelo coronel Cruz, e pelo depoente como selÍdo de de$ejo
de transferir o general para o primeiro batalhão consoante as manifes-
tações .continuas anteriores no sentido de ser conduz-ido o general Abilio
para esse batalhão"; que os conselhos dados pelo general Abílio a José
Eduardo Macedo Soares, deram resultado segundo disse José Paulo de Macedo
Soares, agradecido ·ao genéral Abílio, pois o irmão havia abandonado aquel-
las idéas de revoltas e partira· para o Rio de Janeiro para fundar um jor-
nal de opposição, procurando por esse meio por em pratica os seus intuitos
e modificações políticas; que é exacto que o capitã~ Waldomir~ Pereira
da Cunha desde· uns oito dias antes ·do dia cinco de Julho se encontrava
fora da ' Capital em serviço particular, tendo daqui sahido com o conhe-
cimento do depoente e do major Horta Barbosa, chefe do Serviço de Enge-
nharia a qÚe pertencia; que durante o tempo em que esteve pl)eso não
viu o referido capitão entre officiaes que tomaram parte no movimento e
transitavam pela frente do quartel em que estava o depoente; que forma
desse official bom; juízo como cumpridor de seus deveres que sempre foi,
e teve posteriormente noticia que elle chegara á São Paulo num dos ulti-
mas dias de Julho; que viú por alli o capitão Luzo Alves Garrido do quin-
to batalhão de caçadores, mas não tem conhecimento de acto algum por
elle por' ventum praticado em bem do movimento; qµe não viu por all;i
o major Miguel Costa, que aliás não conhece; que o denunciado Francisco
Gonçalves do Nascimento então carcereiro da Cadeia Publica foi, pode-se
dizer, um bem feitor dos prisioneiros do tenente Nitrini, os quaes corriam
riscos de morrer a fome ou de adoecerem pela má qualidade da pouca
comida que lhe forneciam; que esse denunciado foi quem solicitadamente lhes
accudiu, dando-lhes alilnentação especial, feita na Cadeia; que esse denunciado
é um homem bonachão, de bom sentimentos; que dada a atmosphera do
terror que reinava naquella praça, inteiramente dominada pelos revolu-
cionarias, a _e lle depoente parece que o alludido denunciado não podia re-
sistir a ordem de entrega dos presos da Cadeia, que de facto foram postos
em liberdade, occorrendo ainda que a guarda da Cadeia era feita por
forças revolucionarias. E nada mais havendo mandou o doutor Juiz encerrar
este depoime;nto que asai11p.am, depois de lido e acbad<> conforme. · Bu, Bdm11
O Resto da Verdade 135

Freire escrivã• ad-hac o Mcrevi. 'Washingtoa 8anio de 8livei.a. Gapitie


F;uc!ydes Espi,n dola do Nascimento.

TESTEMUNHA - CORONEL MARTIM FRANCISCO CRUZ


1

Edmo Freire, escrivão ad-hÓc no processo crime a que respondem o


general Isidoro Dias Lopes e outros.
Certifico que dos autos de folhas quatro a folhas vinte e tres, do
volume cento e dezoito, const a o depoimento do coronel Martim Francisco
Cr.uz excluídas as assignaturas dos denunciados presentes, o qual é do teôr
seguinte: "Coronel Martim Francisco Cruz,_ natural do Estado de São Paulo,
com cincoenta e um annó de idade, _casado, militar, residente rua Rodrigo
de Barros numero· quatro, nesfa Capital, sabendo ler e escrever. Aos cos-
tumes disse nada e prestou o compromisso legal. E sendo inquerido sobre
os fact9s narrados na denuncia disse: que no ·mez de Maio de .mil nove-
centos e vinte e quatro, "o capitão Grimualdo Teixeira· Favilla e o pri-
meito tenente Amílcar Salgado dos Santos, ambos do quarto batalhão de
caçadores de que o depoente era commandante, o avisaram que no Rio
comentava-se a possibilidade de um·a :i:evolução que se preparava em São
Paulo, no que respondeu· não acreditar por não ser revoluciónaria a indole
dos soldados paulistl!ts" aos quaes faltal).dO apen.a s noventa dias para obte-
rem a sua baixa por terminação de tempo não tinham razão para se
envolverem num movimento revolucionario; que o capitão FaviJJa declarou
então que tinha em sua companhia ·q ue commandava, soldados de sua inteira
confiança que ficariam de sobre · aviso para communicar qualqu~r facto
estranho que notassem; que no m.ez de Junho comentou-se entre . officiaes
. do quarto batalhão éle caçadores o facto de ter sido o general Abílio de
Noronha chamado ao Rio e avisado de que em "São Paulo se tramava um
movimento revolucionaria; que de então em deante nada mais se fallou
a respeito do movimeBto suspeitado; que no dia cinco de Juiho, ás tres
horas e meia da manhã, mais ou menos, chégou a residencia do depoente
·á rua Rodrigo de Barros numero quatro, distante cerca de quatro Jrilom·etro·s
do quartel do quarto B." C., o capitão Favilla que participou ter recl.ebido
aviso de praças d.e sua companhia que off!claes estranhos ao Batalhão,
que não pudérâ reconhecer devido á escuridão, estavam no quartel arru-
mando soldados para sahirem á rua sob pretexto de que havia uma revolta
da policia; que mandou que o capitão Favilla deixasse o auto á sua dis-;
posição e tomasse um; outro na estação da Luz para ir avisar o general
Abilio de Noronha, na · rua Candido Espinheiro, Perdizes, e aos Campos
Elyseos, em caminho; que dirigiu-se o depoente ao quartel o;nde chegou ás
quatrp horas mais ou menos, verificando terem sabido sessenta praças,
mais ou menos, uma viatura com munição e metralhadoras, sendo infor-
mado peia sentinella de nome Espirito Santo que havia reconhecido apenas
dois offlciaes: Os tenentes Gwyer e Afilhado que tinham em sua companhia
,dois outros officiaes que não pouqe reconhecer; que a~ providencias que
deu hnm.ediatamente foram as seguintes: chamou o sargento Amaro e man-
136 General A bili o de Noronha ,/

dou que seguisse com o seu piquete para o Quartel General da Região;
mandou o cabo Sebastião de Lima avisar o ajudante de ordens · do general
Carlos Arlindo, tenente Pargas para que telegraphasse a este general af.i m
de regressar de Ribeirão Preto; fez. retirar cerca de cincoenta contos que , se
achavam no cofre do batalhãÕ e entregou ao tenente Cornelio Queirnz para
guardar em sua residencia; Pelo empregado civil do quartel, Oliveira, màn-
dou chamar o capitão Sampaio, capitão Abílio de Rezende e tenente Arco-
verde, que residiam na cidade, e por soldados mandou chamar os tenentes
Cornelio de Queiroz, Amílcar Salgado <\ Fernando Cesar que moravam rias
immediações do quartel para que viessem com urgencia, e em.quanto isso,
mandou eis sargentos Faria e .Rocha municiar e pôr em; forma as praças,
que estavam no quartel e as..- que alli fossem chegando, conseguindo na-
quella occa~ião reunir cerca de cem homens; que fez seguir disfarçado
para o· quartel da Luz o tenente Fernando Cesar para observar o que ·
occorria, estando já então no quartel cinco officiaes com Ó depoente e ás
cinco e meia horas, mais ou menos, chegaram o general Abílio e os capi-
tães Espindola e Favllla; que commnnicou ao general Abilio todo o occor-
rido e as providencias adoptadas, fazendo-lhe ver a' ·conveniencia , de uma
rea cção immediata; que determinou então o general Abilio que o depoente
seguisse em sua compaiJ.hia, ficando o capitão F;:tvilla com as forças de
promptidão aguardando ordens; que em companhia do general Abilio foi
ao quarto batalhão da Força Publica, onde encontrou urna sentinella do
Exercito que declarou estar alli por ordem do tenente Gwyer; que penetrou
no quartel e mandou ao sargento Xavier que reunisse as vinte e cinco
praças do quarto B. C. que alli se achavam e. com ellas se recolhesse ao
quartel de Sant' Anua, ordem que foi immediatamente _c umprida; "que o
general Abílio mandou então fechar o portão do quartel e recommendou ao
capitão Pedro de Moraes Pinto, da Força Publica, e com'mandante do quar-
tel, que prendesse todo e qu'alquer official do , Exercito que fbsse lá e
preparasse a reação"; que sabendo que havia tambcm forças do Exercito
no Corpo Escola na rua Ribeiro de Lima, para ahi sê dirigiram ponderando
o depoente ao general que era tem',erario irem os tres officiaes sós ao quar-
tel onde estavam forças revoltosas; "que o general insistiu dizendo que
,d alli ainda iria ao quartel do primeiro batalhão da policia"; que no C'1rpo
Escola tambe:rµ encontrou um:a sentinella que declarou ter sido alli collo-
cada pelo tenente Gwyer com mais dez ou doze praças do Exercito e duas
rr,:etralhadoras pesadas assestadas em direcção ao portão, as quaes o de-
poente em companhia dos capitães Genesio e Espindola desmontou para
conduzir o que entretanto não o fez, "porque chegou neste momento o te-
nente Gwyer a quem o general deu ordem. de prisão secundada pelo de-
poente, sendo filTilbos desobedecidos: o tenente Gwyer puxou de um revolver
com que os ameaçou" e chamou com a mão dos lados da estação da
Luz, pedindo soccorro ao capitão ,Joaquim Tavora que logo chegou "com-
mandando cincoenta praças de policia de armas embaladas, as · quaes cir-
cundaram o depoente e· seus companheiros que receberam ord~m. de prisão,
a qual resistiram declarando o general Abílio que elle capitão Tavora é
O Resto d ·a Verdade 137

que estava preso por ser um çlesertor do Exercito~ seguindo-se uma forte
altera~.ão, sendo o depoente e seus compa.nheiros insultados pelas praças
embi'iagadas"; que o general Abílio disse aos que o prendiam que elle e
seus companheiros dalH não sabiriam senãp arrastados ou mortos; que ,
appareceram neste interim o general Isidoro Dias Lopes e o coronel João
Francisco os quaes dissera,n que a revolta estava declarada e que conta-
vam com di,v'ersas guarnições do Norte e do Sul do paiz, que o general
Abílio se considerasse preso e que fosse para a sua residencia; que o gene-
ral Abilio recusou dizendo que tinha tres generaes seus amigos nessa Re-
gião e que o Goven10 contava com elementos para a reacção ·inunediata;
que a vista disso o general Isidoro tornou effectiva a prisão dos tres e os
recolheu a uma sala do Corpo Escola indicada pelo capitão Genesio, man-
dando logo depois o marechal reformado Qdilio Bacellar para fazer com-
panhia; que esse nl)arechal esteve effectivamente no Corpo -Escola cerca de
um quarto de hora e retirou-se não o tendo tornado a ver o depoente; que
pelo telephone do Corpo Escola ponde o depoente avisar o seu batalhão
qual era a sua situação e determinou ao sargento ajudante Gomes de Faria
( que transmittisse ao capitão Favilla) que fizesse seguir uma companhia
para os Crunpos Elyseos, via Casa Verde, afiln de evitar a passagem em
frente ao quartel da Luz que estava revoltado e outra para o Quartel Ge-
neral, ordem que 'suppõe ter sido cumprida; que pennaneceram no Cól'po
Escola até o dia vinte e quatro de Julho e dessa data em diante foram
transferidos para o Quartel General da Regiã~ em poder dos revoltosos,
transferencia devida ao general Abilio que reclamou pór intermedio do
capitão revoitoso Carlos de Oliveira · contra o facto de ·estarem a,neaçados
de morte pelas 'granadas que cahiam; frequentemente naquella zona; que
ficaram no quartel general até o dia vinte e · oito quande se retirararn os
revoltosos e penetrarrun na cidade as forças legaes; que do Co:cpo Escola
onde 'se achava ponde observar o movilnento revolucionario e reconhecer rnui-
tás das pessoas que o dirigiam ou que nelle t01naram parte, considerando
como' pl'incipaes dirigentes ou cabeças o general Isidoi-o Dias Lopes que
era o chefe do movimento, o · marechal Odilio · Baccellar; João Francisco,
tenente-coronel Olyntho de Mesquita, coronel Padilha, major Miguel Costa,
major Mendes Teixeira, capitão Douguet Leitão, major Cabral Velho, capi-
tão ' Faustino Candido Gomes, capitão Luzo Alves de Garrido, Fe!into lvluller,
Orlando Leite Ribeiro, tenente Castro Afilha_do, tenente Gwyer, capitão Ar-
thur Guedes de Abreu e outros já mencionados no seu depoimento corno os
capitães Waldomiro da Cunha e Estillac_ Leal; que além desses muitos
outros to1naram parte no movimento cooperando para a sua efficiencia; que
entre os dirigentes pode ainda mencionar o capitão Juare.z Tavora e os te-
nentes Octavio Muniz Guimarães e Granville Bellorophante; que diversos
officiaes da Força Publica tambem tomarmn parte ria revolta 1nas o de-
poente ignora o~ seus nomes a não ser o tenente Nitriui que guardava a
prisão em que se achava; que o general Isidoro Dias Lopes teve occasião
de declarar que o· objectivo da revolução não era São Paulo, onde forrun, obri 0
gados a pern1anecer por circumstancias extraordinarias, ,cndc!) a ama. jn-
G tt R e r al A b i Ii o ,d e N • r o n lt a

tenção seguir immediatamente :Para o Rio,; que nunca ouviu declarar qual
era o fim da revolução pelo,s revoltosos com quem esteve em éontacto, . não
sabendo porisso senão pelo manifesto que teve occasião de ler, publicado
pelos revoltosos que estes pretendiam depor o Presidente da Republica, insti-
tuir uma junta governativa e reformar pontos da Constituição. A' perguntas
do doutor Procurador Criminai, disse: que além dos nomes já mencionados
recorda-se ainda de terem tomado parte acliva .no movimento revolucio-
nario o capitão João Rodrigues de Jesus, tenente A1·y Pires, tenente Henrique
Ricardo Hall, tenente Calimerio Nestor dos Santos, e tenente Albuquerque
Fr'ança; que no dia -cinco de Julho, digo, que na madrugada de seis -de
Julho · estando o depoente, o general Abílio, capitão Espindola da Nasêi-
mento, foi o , general Abílio de~pertado por um . capitão de policia que . pene-
trou no comrnodo em que estavam "acompanhado por João Nitrini" comman-
dante da guarda; que esse capitão riscava phosphoros para poder caminhar
na escuridão, pois tinha sido interrompida ,a luz electrica, de sorte que na
occasião não o poude reconhecer,. sabendo mais tarde tratar-sê de um capi-
tão Barbosa; que disse 'o capitão ao general Abílio estarem a sua dispo-
sição cincoenta praças sob seu commando para acompanhal-o aos Campos
Elyseos; "que o general Abílio recusou dizendo que estava bem alli por en-
tender que se tratava de uma cilada para retiral-o para outro ponto que
suppõe ser o quartel da Luz pois havia insistencia dos revoltosos para le-
val-o para esse quartel" o ~ue já tinha sido recusado anteriorinenté pelo
mesmo; que o ~apitão Othelo Franco quando chegou ao 'Corp_o Es~ola pre-
sos pelos revoltosos e conduzido pelo capitão Faustino Gomes, vindo do
quartel' da Luz, declarou muito excitado e indignado, atirando ·o bonet
para 1cima de uma cadeira, que "se ifosse Intrigante teria contado ao .gene-
ral Abílio que José Paulo de Macedo Soares lhe disséra em um café ou bar
. que para o general Abílio tomar parte na revolução era apenas questão da
duzentos contos de réis"; que assistiram a essa declaração o capitão Espin-
dola do Nascimento e o tenente Nitrini; que · o general Abílio declarou
nessa occasião que tal declaração era falsa e perguntaria a José Paulo de
Macedo Soares. A' perguntas do doutor José Adriano Marrey Junior, disse:
que · conhece o denunciado Francisco Gonçalves do Nascimento, carcereiJo
da. Cadeia Publica desta Capital em cujo, exercicio se encontrava quando
se iniciou o movimento e se manteve durante o tempo em que o depoente
esteve p:reso no Corpo Escola; que no dia vinte · e quatro de Julho dito
denunciado foi em companhia dos officiaes presos para o Q . .· G. da Região
que se· achava em poder dos revoltosos e alli permaneceu até a entrada
das forças !egaes e isso pela mesma razão, isto é, por causa do bombardeio
do Corpo Escola e da Cadeia Publica; que nesse dia vinte e quatro, com
o bombardeio, houve uma gritaria enorme na ,Cadeia, da parte das mulheres
que estavam pre~as e co~ o intuito de as salvar esse denunciado mandou
que ellas fossem postas em liberdade; que estava dirigindo a Cadeia não
porque fosse investido dessà funcção pelos chefes do movimento, mas por-
que, o director havia abandonado o estabelecimento e elle era o funccio-
1111rio de mais elevada cathegoria dos qur ficaram; qu,; ant es de vinte e
O lf e sfo dn V e r d a d ·e

qu11tro os presos homens validos, tinham sido requisitados pelo mnjor Men-
des Teixeira, contra cuja requisição parece a elle depoente que elle n!'io
poderia reaglr por. não ter força, ,Ignorando em absoluto que elle exponta~
neamente tenha posto em liberdade qualquer dos presos validos· pois isto ·
não constou ao depoente; que elle estava armado e sabia diariamente de
automovel, duas vezes por dia, mas com Intuito de providenciar sobre os
allinenios para os presos da Cadeia e do Corpo Escola, sendo de nofar que
aquelles eram em grande ' quantidade; que foi elle quem providenciou para
ads presos, officiaes, do Corpo Escola fosse .f ornecido melhor alimenfação,
feita que passou a ser na Cadeia Publica; que não viu nem soube qne elle
tivesse tomado parte no movimento revolucionaria, quer directamente, quer
por meio de apoio moral; que elle depoente recebeu um serviço desse de-
nunciado qual fosse a comrounica~ão de que a chacara de resiclencia do
depoente no Chona Menino havia sido Invadida • por dois revolucionarias,
capitão D'ouguct Leitão e sargento Joaquim Dias o que motivou um pedido
de providencias do depoente ao general Isidoro, que attendeu. mandando o
sargento , Julie do Prado Neves fazer o desi:ie.io dos invasores; que não ·pode
precisar a data em que viu o capitão Wahiomiro da Cunha tr!)nsltar por
frente do Corpo Escola em direcção ao quartel da Luz, uma' vez em comp:'i-
nhla do capitão Joaquim Tavora e desse offlcial só pode affirmar. o · que
!\Caba de dizer e mais pela leitura dos ,iornaes que e]le fora nomearia rll-
rector da Sorocahana em substituição ao doutor Góes Artigas: que viu che-
, gar o quinto B. C. _de Rio Claro, não se lembrando da ' dafa, e com esse
batalhão o capitão Luiz Garrido que elle depoente ,tambem viu circular por
alli ignorando se elle tinha entrado em acção e sabendo pelos jornae~ que
elle tinha sido nomeado auxillar do chefe de policia, ma.lar Cabral Velho:
-que não sabe qual foi a acção do capitão Faustino Gomes durante a revolta
,de mil novecentos e vinte e dois, pois nessa época era o depoente commar.
1!ante dd dedmo sexto B. C. em Culabá e· dessa revolta só tem conhecimento
pela leitura dos jornaes; que viu o capiti'ío Faustino Gomes, do a lluclldo
quinto B. C. circular pela frente do Corpo Escola durante tres ou quatro
dias, · ignorando para onde elle se retirou depois e qual tenha sido a sua
acção; que só vlu uma vez o tenente Granville Bellero~)honte de Lima, no
c:omeço do movimento e elle até o cum1Primentou e ouviu dizer, que elle se
retirava -desse movimento em c~mmentario~ feitos por officiacs revoÍ.ucio-
narios no Corpo Éscola; que não conhecia o officfal da Força Publica que
pela madrugada convidara o general Abilio a retirar-se para os Campos
E!yseos ·e por isso não póde dizer se esse officíal tinha, sido revoltoso e
lambem circulara pela frente do quartel; ~e acresce ter esse officinl en-
trado no Corpo Escola as escuras e riscava phosphoros para poder aproxl-
mar'-se do general, podendo ser qÚe esse m;is ligado a Força Publica conhe-
cesse dito officlal. "que el!e depoente aff!rma ter feito o convite em com-
panhia e na presença do tenente Nítrini, guarda dos officlaes presos; que
elle deooente não · interpretou o convite do official que no dia seguinte soube
ser O ;apltão Barbosa, corno interpretou o gener'a1, Isto é, como uma cllnda;
que elle depoente entretanto não acompanhou o referido offlclal nem se of-
1'40 6 en e r ar A bili o · d e' Noronha

fereceu para acceitar essa pos's ibilidade de reunir-se as forças !egaes sim-
plesmente porque o convite foi feito exclusivamente ao general Abil!o tendo
o depoente attendido se o convite fosse feito a elle depoente",'; que dito
official aproximou-se do general que estava dormindo, ao contrario elo que
se passava com o depoente que estava acordado e disse rapidament~ essas
palavras: "General, tenho cíncoenta homens a sua dispoBição para acom-
panhai-o aos Campos Elyseos", que o general respondeu immediatamente
que alli estava bem e não iria "e o capitão · sem mais palavra retirou-se;
que elle depoente não conhecia o alludido capitão ~ ignorava que elle tivesse
o proposito de reunir-se as forças legaes e que para isso tivesse organisado
a força de cincoenta homens por elle referida" e disse que acreditou na
serieqade do con,,ite porque entende que com esse ·c onvite elle 'depoente se
livraria da prisão e por conta dclle depoente assim' livre se reuniria as ·
tropas legaes; q~e nunca soube que o quartel do quarto B. C. tivesse .ser.:'.
vida de ponto de acantonamento de officiaes extranhos a unidade, jamais
disso soube por qualquer official do seu commando; que sabe que o gene-
ral Abilio respondeu a algumas cartas recebi das do general !sidero,
"mas não se lembra se leu essas cartas" antes de serem entre-
gues ao general Isidoro nem collab·orou na redação das mesmas, que foram
escriptas pelo capitão Espindola; que affirm'a que não viu essas carta~
cujo contendo ficou entretanto sciente pelos comm.entarios que a respe.ito
dellas fazia o general, o capitão Espindola e o •·capitão Othelo, •sem que
elle depoente tomasse parte nesses commentarios. A' perguntas do , doutor
Antonio de Mendonça, disse: que viu o capitão Arthur Guedes de Abreu
entrar cinco ou seis vezes no quartel general das forças revolucionarias,
vindo sempre de ·automovel, de todas -as vezes, mais ou meno~, _as !\ove ou
dez horas da manhã; que essas visitas do capitão Abreu ao quartel ·revo-
Iuc!onario se, deram no dia dez o_u doze de ;Julho, mais ou menos, em diante,
não podendo o depoente precisar se ellas foram d.iarias nem: os dias que se
realisaram; que disse ao capitão Espindola e ao capitão Othelo, por dive1·-
sas vezes que tinha visto o capitão Abreu passar de automovel para o
quartel revoltoso; "que não foi no quarto batalhão de caçadores, do . qual
· o depoente era commandante que teve inicio o movimento revolucionario",
pois quando o tenente Gwyer juntamente com o tenente Afilhado e mais
dois officiaes que o depoente não sabe quem eram, mas que sabe que eram
extranhos a unidade desceram daquelle batalhão á frente de· sessenta h~-
mens, ,iá os quarteis d.a policia estavam revoltados e tin.h am sido effectua-
das diversas prisões; que logo que chegou ao quartel do quarto B. C. teve
a informação immediata de que os tenentes Gwyer e Castro · Afilhado e
mais dois officiaes desconhecidos tinham sabido do quartel a ,frente de
sessenta homens; que não salliu no encalço 'aessa for,.a por n5.o saber a
direcção que a mesma tinha tomado e porque estava - preparando as forças
que lhe ficaram fiei~, pois não queria ir atraz daquella gente com mão
abandonado, e não deixaria de seguil-os, com a força que tivesse, se o gene-
ral Ahilio não o tivesse requisitado para acompanhai-o. Perguntado se
respondeu ou responde n um, processo ou inquerito, no Rio de Jalleiro por
O Resto da Verdade 141

cnlu~nias 'levantadas, pelo ,general Abilio, pelo doutor Julz foi dito que
in1eferia essa pergunta por não se relacionar com, os factos da denuncia;
po~endo o advogado fazer a prova por outros meios legaes· se a julgar con-
ve11iente á defesa dos seus constit'uintes. A' perguntas do doutor Vicente.
Ráo, disse: que o teneúte Nitrini outra acção não_teve desde o dia cinco de
Ju!Iio até vinte e sete a noite do mesmo mez, senão o commando da guarda
dos l·officiaes 'p resos; que o tenente tratava os presos com muita attenção,
procurando dar-lhes o maior conforto e até fornecendo praças para buscarem
objectos de uso nas respectivas residencias; que ajudou os presos a abrir
4ª passagem no muro do Corpo Escola com a Cadeia Publica, para garan-
til,os e acom.p anhal-os até com o sacrifí cio da propria vida, em caso de
uma invasiío ou derrota da,s forças revolucionarfos: que n iio teve scien-
ci ~ de qunlquer acto · ou pafavra do tenente Nitrini em, onposição . a
o{ferta feita ao general Abllio afim de seguir parai os Campos Elyseos como
já depoz; que cnnhece José Paulo de Macedo Soares apenas' de apresentacão,
tenrlo-o visto, quando esteve preso no Corpo Escola, em visita ao general
,Abilio: que ignora porém, quaes sejam os p ensa.mentas delle a res,p eito do
movimento rcvoluc!onarlo, visto que com elle nui:ica teve intimi<lade; que
ouviu dizer que o general Isidoro Lopes não obri gou n em coagiu officiaes
ou Inferiores a pegar em armf\S ao seu lado, de sorte que os serviços pres-
tados por elles a _revolução foi acto expontaneo. A' perguntas dQ doutor
1 Góes Nobre, disse: que não conhecendo o doutor Ascanlo Accloly Garcia,
nem o tenente-coronel reformado, isto é, conhecen<lo esse coronel reform ad o
Carvalho .Sobrinho e não conhecendo taml1rm o ten~nte Iríne~r fl9ngel de
Carvalho nem o segunilo sargento Arclllmedes de Cnrvalho B 0 ••n•. ignora
por completo que os mesmos tenham praticado os delictos m,~. Jl, e ~fio at-
trU:n.'!dos pelo senµor doutor Procurador Criminal da Republica nn denun-
cla que apresentou a esse juizo, A' perguntas do denunciado tenente E1uardo
Gomes, disse: que sabe que o regimento de .cavallaria de policia se revol-
tou antes· da i'orça do quarto batalhão de caçadores porque as quatro hnras
da madrugada um piquete desse regimento estava guardando a bateria de
obuseiros do tenente Custodio, vinda de Quitaúna, no carnno de Marte, PTn
Sant' Anna. A' perguntas do denunciado José de Oliveira França, disse: que,
digo, pelo denunciado José de Oliveira França foi feita a seguinte pergunta:
"Porque motivo sendo a testemunha prisioneira de guerra no Corpo Escola
dirigiu-se varias vezes ao primeiro batalhão onde teve varias e reiteradas
conferencias com o general Isidoro"? Respondeu a testemunha que tendo
sclencla por Francisco, carcereiro da Cadeia que a sua propriedade em
Sant' Anna tlnho sido invadida pelo capitão Douguet Leitão e sargento Joa-
quim Dias foi reclamar do general Isidoro a retirada d essas pes~oas da
sua referida propriedade no que foi immediatamente attendido, sendo esta
a unica vez que foi a presença do general Isidoro, escoltado pelo capitão
Carlos de Oliveira e praças. A' perguntas do denunciado Capitão Raul da
Veiga Machado, disse: qÚe esse denunciado serviu em mll novecentos e
vinte e dois sob o seu commando no deseseis batalhão de caçadores em
1
142 Gen.eral Abilio de N0ronh«

Matto Grosso; que o mesmo denunciado não se envolveu nos aeontec1mento5


de mH novecentos e vinte e dois ; que em mil nove~entos e vinte e dois o tenen-
/
te Octavio Guimarães sublevou-se em Tres Lagôas. "Pelo den;,_nciado teneHte
Eduardo Gomes foi dito que contestava o depoimento da · testemunha ha
parte em que declara que o regimento de cavallaria da policia se sublef ou
antes do quarto batalhão de caçadores porque tendo auxiliado o levante
deste batalhão pode affirmar de sciencia propria que o major Miguel Cdsta
aguardou em sua 'residencia a communicação de .que os segundo e q11Jrto
batalhão d.e policia e· o Corpo Escola se achavam cercados por dest~ca-
mentos do quarto batalhão de caçadores para se dirigir então ao regimento
de cavallaria de policia afim de levantai-o" e na parte relativa ;o capit~o
Arthur Guedes de Abreu porquanto affirma Com toda a segurança e sób
palavra de honra, que este official nunca esteve com os revoltosos nem
com os mesmos teve entendimento algum. Pelo dutor Antonio de Mendonça
foi dito que por parte do capitão Arthur Guedes · de Abreu, contestava o
depoimento da testemunha por ser o mesmo contradictorio e pouco verda•
deiro. Pelo denunciado capiti'í,o Luzo Alves Garrido foi dito· que contestavn\
o depoimento da testemunha por não ser o mesmo a expressão da verdade.
Pelo denunciado major Raymundo· Nonato Lopes de Menezes foi dito que contes-
tava o depoimento da testemunha na parte relativa a o capitão Arthur Gue-
des de Abreu, porque desde o dia doze de Julho em que se ai:>resentou o
contestante expontaneamente ao general Isidoro até o dia vinte e sete,
jamajg viu o cai:>itão Guedes de Abreu, quer no quartel general onde traba-
lhava no abastecimento, quer · n a rua, accrescentando ainda que d~ cinco '
a nove de Julho esteve preso o contestante no quartel general como sus-
peito de revoltoso e ahi viu o capitão Guedes de Abr,m prestando ~erviços e
conduzindo munições para o palacio dos Campos Elyseos. Pelo denunciado
pri~eiro tenente Jonathas de Moraes Corrêa foi dito que contestava ·o depoi-
mento da testemunha por não ser absolutamente verda\l,eiro na parte refe-
rente ao capitão Guedes de Abreu. Pelo denunciado Faustino Candido Gomes ,
foi dito que contestava o depoimento da testemunha na parte em que a
testemunha affirma ser o contestante um dos principaes cabeças. Pelo de-
nunciado capitão Honorato Douguet Leitão f~i dito que contestava o depoi-
mento da testemunha na parte 'referente "a invasão da sua propriedade
por ser calumniosa essa affirmação". Pelos, rlenunciados capitão Jayme de
Almeida, tenente Arlindo de Castro Carvalho e tenente José de Souza Car-
valho foi dito que contestavam o depoimento da testemunha na parte rela-
tiva ao capitão Guedes de Abreu pelos motivos já expostos. Pela teste-
munha foi dito que confirma o seu depoimento em todos os seus pontos
por ser a .expressão absoluta_· da verdade. E nada mais havendo mandou o
doutor Juiz encerrar este depoimento, que assignain, depois de lido e achado
conforme. Eu, Edmo Freire, escrivão ad-hoc, o escrevi. Nada . mais se con-
tinha n em se declarava em os dit os depoimentos aqui hem e fielmente
extrahidos por certidão e aos proprios .autos em meu poder e cartorio me
reporto aos deses eis de Março de mil n ovecento ~ e vin t e ~ cl.nco. E u , F.dm<>
F r eire, esci·ivão, ad-hoc, o escrevi,
O R e ,ç to d a Ver d a d e 143

\ ESTEMUNHA - CAPITÃO BRASILIO CARNEIRO DE CASTRO


Edmo Freire, escrivão ad-hoc no processo crinie a que respondem o
general Isidoro Dias Lopes e outros.
f Certifi;o que do volume cento e desesete de folha.s setenta e oito a folhas
oiienta e sete consta o depoimento do capitão Brasilio Carneiro de Castro, ex-
cluídas as assignaturas dos denunciados presentes, o qual é do t eôr seguinte:
" 0itava testemunha capitão Brasílio Carneiro de Castro, natural do Estado de
1
filo Paulo, com quarenta annos de idade, casado, militar, residente á Avenida ·
'Jiradentes numero cinco, sabendo ler e escrever. Aos costumes disse nada
e prestou o compromisso legal. E sendo inquerido sobre os fiactos narrados na
dem:mcia disse: que na manhã 'de 5 de Julho foi despertado pelo'. telephone,
ilido attender verificou ser do Palacio do~ Campos Elyseos, do ei'itã<;> ma,ior
1
Marcilio chefe da Casa Militar do senhor Presidente do Estado, que lhe
perguntou se sabia do que se estava passando; que surprehendido por
/ essa interrogação respondeu o depoente que nada sabia, quando então o
senhor major Marcilio lhe communicou o levante de tropas da policia e do
exercito; que possivehnente aquella hora estaria preso o senhor general
I Abilio de Noronha, co=andante da Região; que lamentando essa comm.uni-
cação ai:to continuo desligou o apparelho, preparando-se seguiu para o quar-
/. tel-general da ·Região e lá chegando teve conhecimento da r eclusão do se u
1 chefe, senhor general Abilio e· cmno substituto · do mes1r10 general o senhor
1 general Pamplona que havia estabelecido o seu P. C. no palacio dos CaIBJ.)o~
Elyseos; que notando no Quartel General da Região grande conf usão, pois,
,q ue não tinha wn só chefe, tratando dei modo pro.p rio de tomar certas · pro-
videncias, como telephonando para o Forte de Itaipú em Santos, servindo-se
1 para isso do nome. do general, ao senhor major Becker então com1nand ante
do Forte que marchasse co1n a sua artilharia movel para esta Capital,
llOndo-lhe ao corrente do que . se passava; que se communicou tamb em com
j Qultaúna, entendendo-se com o commandante do quarto R. I. e o capitão
Pacheco Chaves, pondo-lhe ao corrente do que se passava e em seguida a
1 todos esses actos, connn unicou ao general Pam!l)lona pelo telephone as p r o-
1 videncias acima ; que durante o tempo que permaneceu no qua rtel general
exerceu as funcções 9-e agente de ligação entre o quartel genera l e o pala-
cio dos digo, e o palacio da presidencia, sendo que no dia nove de Julho
findo quando só existia nesta Capital de forças legalista s est e qua rtel gene-

! ral, assumiu o co1Ill11ando da trincheira organisada na espla nada do Thea-


tro Municipal até a rendição da força desse mesmo comrr,iando, retirando-se
em seguida, indo se apresentar ao doutor Juiz Federal por julgai-o unica
autoridade federal legalista; que apoz esse acto tentou por diversas vezes
1 ligar-se a força legalista não o conseguindo entretanto, permanecendo assim
na residencia de Ullla familia antiga até a oppovtunidade de apresefrtar-se
cm Guayauna ao senhor general . Eduardo Socrates. A' perguntas do doutor
/
Procurador Criminal, disse: que c erca de duas horas da tarde do referido
r dia sete, recebeu ordem do senhor m.ajor Horta Barbosa, então comman-
clant e do Quartel General parn conduzir os dois teneates I•'ranltl.in a Drum-
144 Gen ·eral Abílio de Noronha

mond até a presença do senhor general Pamplona; que esses officiaes dese-
javam esclarecer o motivo da sua presença nesta Capital pois 'que pir-
tenciam ao quarto regimento, em Itú; cumprindo , esta determinação, c~n-
duzio-os até o palacio dos Campos Elysêos em presP.nça do senhor gencl-al
Pamplona que depois de certa hesitação, resolveu emfim ordenar a retjm-
dq.cção dos officiaes até a séde da região e que pelo telephone se dm-
municaria com o senhor majClr Horta Barbosa a respeito· da situação ~os
mesmos tenentes; que ' perpetuou no espírito do major Horta Barbosa ~sa.
desconfiança porisso que, seria natural que esses officiaes ausentes il.a
sua guarnição e ' em missão especial deveriam se fazer acompanhar de h-
gum officio ou cousa equivalente; que quinze ou vinte dias antes da revol!a,
viajando ein um bond de Villa Marianna quando teve opportunidade de ikr
saudado por seu co!lega tenente Granville que descia em direcção a Po1ie
Granel~; que por conhecer de vista o senhor José Eduardo Macedo Soar~.s
via-o constantemente nas ruas desta Capital; que no 'd ia sete, mais o\i.
menos achando-se na trincheira do Quartel , General a ':lle depoente apre~,.
sentou-se o tenente França, que desilludido por haver sido trahido ·pelo
senhor major Co~ta, se não lhe falha a m .e nrnria, abandonando as armas
alli se apresentou; acto continuo o depoente conduziu-o até a presença do
comnrnndante que tomou providencias a respeito; que viu o denunciado
Carlos Ferreira no quarter' general e no palacio dos Campcis Elyseos, tendo
este denunciado referido a testemunha que levara a presença do coronel
João -Francisco, no automovel do palacio, o aviador Edú Chaves, 'd izendo-
lhe: " Coronel. trago-lhe o prim;eiro aviador brasileiro"; que ao coronel
João 1•·rancisco, seu grande amigo, o mesmo denunciado explicou que havia
forçado o chauffeu1· do palacio a levai-o ao quartel general das forças 1·evo-
lucionarias, retirando-se em seguida para Sant' Anna, sempre no mesmo au-
tomovel. A' perguntas do doutor Theophilo Benedícto de Souza Carvalho,
disse: que conhece desde a sua infancia como alumno do Collegio São Luj.z,
de ltú, onde o depoente era instructor militar, o ora denunciado Pagé de
Souza Carvall10; que pelo conhecimento que teve desse denunciado não o
julga capaz de commetter actos menos digno e muito menos de roubo de
alfafa e assassinatos; que no dia seis de Julho viu sempre, ora nas trin-
cheiras, ora em um "restaurant" nas visinhanças do Quartel General da
Região, em palestras amistosas com os officiaes que compunham a resís-
tencia dessa força, o referido indiciado Pagé de Souza Carvalho e isso
desde a madrugada até a tarde deste dia seis de Julho do anuo passado.
A' perguntas dci doutor Antonio de :Mendonça, disse: que os tenentes Fran-
klin e Drumm.ond conduzidos até a presença do general Pamplona pelo
depoente, seguiram e i-egressaram sem que tenham, sido presos; que essa
viagem tanto de ida como de volta, se fez estando o depoente e os dois
officiaes referidos arm.ados de revolvers; que o senhor Horta Barbosa ex-
tranhou a presença dos tenentes Franklin e Drummond nesta Capital, sem
wn documento do seu com.mandante a autoridad_e legal; que não conhece
nenhum facto que autorísasse qualquer desconfiança contra aquelles offi-
ciaes quando os mesmos se apresentaram nesta Capital para terom noticiaa
O .R e s t-o da Ver d a d e 145

do que se passava; que no dià cinco de Julho viu · o eapitão Arthur Guedes
de Abreu elll franca actividade do desempenho de funcções para bem ser-
vir a legalidade, quer nos Campos Elyseos, quer no commando da região,
actividade essa extensiva até o dia nove p·ela madrugada; que conhece o
referido capitão Arthur Guedes de' Abreu desde os tempos de Escola Mili~
tar de quem tem. impressão ser um distinctol official incapaz portanto de
praticar actos menos digno, como sejam por-se ao lad~ do governo para
servir a causa dos revoltosos. A ' perguntas do doutor José Adriano Marrey
Junior, disse: qu~ sabe que o doutor José Eduardo Macedo Soares tem
_irn1ãos residentes nesta cidade; que tendo-o visto diversas vezes nesta
Capital não sabe a que fim elle aqui vinha; que o depoente; apenas . viu
uma só vez em São Paulo o tenente Granvi!le Bellerophonte e ignora se o
general Abilio tinha conhecimento deste facto; que absolutamente nunca
ouviu no quartel general da região falla,r-se n'uma possível sublevação da
ordem por parte .das forças armadas; "que viu sempre · no senhor general
Abílio um dos maiores esteios da legalidade, por actos e lllesmo por escri-
pto; as suas ordens do dia que transmittia aos seus c01nmandados deixava
transparecer a sua lealdade de soldado, um general consciente no seu cuin-
primento do dever, acata,ndo sempre com dignidade as ordens que rec~-
bia do governo federal; que elle depoente é testemunha presencial no
passado governo estadoal solicitar a cada passo em n01ne de sua Excel-
_lencia audiencia ao Excellentissimo Senhor Presidente do Estado para tra~
tar de assumpto attinentes a · força de seu commando e não raro ouvia do
chefe do exe.c utivo estadoal palavras anim,a doras com relação a segurança
publica; que a sua policia estava vigilante portanto tranquil!isasse o velho
soldado sobre esse assun1pto"; que sabe por ter ouvido pessoallnente do
senhor general que elle pretendia levar a eHeito uma festa em homena-
gem ao doutor Carlos de Ca1npos n 1 un1 dos quarteis da região '·e a quem
constantemente com1nunicava n.oticias recebidas das autoridades do Rio
de Janeiro com relação a ordem publica" .. A' perguntas do denunciado,
Carlos Ferreira, çl.isse: que conheceu por occasião dos successos de Julho,
nos Crunpos Elyseos, e lambem no Quartel General da Regüio o senhor
Carlos F erreira, que sabe que no dia oito a noite viu o senhor Carlos Ferreira
em companhia do capitão Olhelo sahir do interior do Quartel General da
Hegião com destino a Telephonica afim. de se entender. o denunciado com o
senhor Presidente da Republica d e que1n se dizia amigo; que ouviu do
senhor Cárlos Ferreira palavras de animação ás praças que compunham .a
trincheira da rua Chrispiniano no sentido de se 111anterem, em verdadeira
resistensia aos ataques inimigos; que presenciou a chegada no Quartel
General em aufomovel do palacio do senhor Carlos Feneii:a trazendo mu-
nições de. guena e carne para a alimentação da força do Q'uartel General;
que os factos narrados com rela ção ao senhor Carlos Ferreira elle teste-
mimha ouviu primeiramente do capitão Othelo H.odrigues Franco e depois
confirmados pelo proprio denunciado; que indagou esses fact os por não
poder attribuir a Edú Chaves a pratica de actos de pusillanimidade. A'
pe~guntas do denunciado Hoberto Drm=ond, disse: que sabe por ouvir
146 General A.bilia de Noronha

dizer· terem· os tenentes Franklin e Drwnmond se apresentado . de um modo


expontaneo ao Quartel General da Região no dia oito 1de Julho; que sabe
mais que o senbor tenente Drurnmond comparecia assiduamente ao com-
mando da segunda região militar no desem1>enho de um;i commissão que
lhe fora confiada relativamente á festas sportivas levadas a effeito na séde
do seu regimento, em Itú. A' perguntas do denunciado Rornuío Antonelli,
disse: que sabe que todas as cidades de São· Paulo soffreram alteração na
sua ordem corno reflexo dos successos da Cap_ital; que só tem conheci-
mento desses factos de um modo geral não podendo particularisal: os. A'
perguntas do denunciado doutor Francisco Giraldes Filho, disse: que sabe
da continuação do movimento revolucionario pela leitura dos jornaes; que
entende que o objectivo da rev.olução · erà a deposição do Presidente da
Republica. Pelo denunciado Carlos Ferreira foi dito que contesfa".a o depoi-
mento da testem.unha na parte em que declara ter o denunciado conduzido
preso o aviador Edú Chaves' a presença do coronel João Francisco' e na
parte em que declara ser o denunciado an:iigo pesfoal do Presidente da
Republica que não conhece. Pelo denunciado José de Oliveira França foi
dito que contestava o depoimento da testemunha na parte em. que diz ter
o denunciado declarado haver sido trahido pelo roaj'or Costa, quando o que
disse foi apenas que ignorava a orientação poJitica por elle impr.imida ao
movimento. Pela tesremunha foi dito que mantinha o seu depoimento por
ser a expressão _da verdade. Quanto· a· prim.eira contestação do · do~tor Car-
los Ferreira, porque o que referiu ouviu do capitão Othelo como do pro-
prio denunciado. Quanto a segunda contestação do denunciado França, re-
corda-se bem de ter ouvido a expressão ',' trahido" e1D1Pregada no seu depoi-
mento. E nada mais hav endo mandou o doutor Juiz eQ.cerrar este depoi-
mento, que assignarn, depois de lido e achado conformei, Eu, Bruno Freire,
escrivão ad-hoc, o escrevi. Washington Osorio de Oliveira - Bra•ilio Car-
müro de Castro.

TESTEMUNHA - ULYSSES ·m.AGOSO


Edmo Freire, e5crivão ad-hoc no processo crime a que responde111 o
,icneral Isidoro Dias Lopes e outro's.
CERTIFICO finalmente, que · dos mesmos autos, no volume cento o
desoito, de folhas cincoenta verso á folhas cincoenta e duas, consta o depoi-
mento do teõr seguinte: "Decima _terceira testemunhá. Ulysses Fragoso,
natural do Estado do Rio Grande do Sul, com quarenta e seis annos de
idade, casado, inspector de seguranç.a, residente a rua Joly numero cento
e trinta e tres, nesta Capital, sabendo ler e escrever. Aos costun1es disse
nada e prestou o compromisso legal. E sendo inquerido sobre os factos nar-
rados na d enuncia e referentes ao denunciado ausente José Eduardo de
Macedo Soares, disse: que elle depoente é inspector de segurança e no
exercicio dessas fúncções estava no dia cinco de Juiho findo, na Esta ção
do · Braz, as sete horas, mais ou menos, quando viu n'um trem com · destino
ao Hio o cx -official el e marinha Jos é Eduardo ivfacodo Soa1·cs; que ne:.sa
@ Rest• da Verdade 14'1

oecasião ell~ depoente mostrou ao seu cellel!a Man9e1 Joaquim e referido


José Eduardo de Macedo Soares; que conhece ha muito tempo o doutor
José Eduardo desde o tempo em que era redactor do Imparcial. Pelo dou-
tor , Procurador Criminal nada foi pergunta do. A' perguntas do doutor
Abrahão Ribeiro, Curador do denunciado ausente José Eduardo de Ma cedo
Soares, disse: · _que ainda exerce as funcções de inspector de segurança da
policia do Estado; "que na occasião acima referida estava encarregado pelo
general Abilio de Noronha e com conhecimento do delegado doutor Bandeira
de Mello, de vigiar a chegada e a partida de pessoas sus-p eitas, ·especial-
ment_e de officiaes do exercito, entre elles o general Ximeno de Villeroy;
que o general Abilio de Noronha lhe havia até recommendado que caso
verificasse . a exist~ncia de ~lgum viajante suspeito lhe t elephonasse imme-·
diatamente e caso não o encontrasse, telephona sse ao doutor ' Barn;l.eira de
Mello"; que tendo visto o den unciado como acima referiu, deixou de tele-
phonar ao general Noronha, dando aviso apenas ao delegado Bandeira de
Mello; que_ viu o denunciado José Eduardo inas nãf chegou a fallar com
elle; que não conhece o irmão do • denunciado de nomll José Fernando Mace-
do Soar~s. E nada mais havendo mandou o Doutor Juiz encerrar este de-
poimento, que assignam, depois de lido e achado conforme. Eu, Edmo
Freire, escrivão a d_hoc o escrevi. Washington O.sorio de Oliveira - Ulysses
Fragoso - Pelo denunciado, Abrahão Ribeiro - Carlos da Silva Costa".
Nada mais se continha nem se declarava em os ditos depoimentos, aqui hem
e fielmente extrahidos por certidão e aos proprios autos em meu poder e
. oartorio, m ·e reporto, nesta cidade de São Paulo aos desenove de Março de
mil novecentos e vinte e ,cinco. Eu, Edmo Freire, escrivão ad-hoc, o· escrevi.

A DEFESA (* )
Meritissimo Juiz.

1.•) - o p rofessor argentino Ramon Melgar, escrevendo "A Virtude


do Silencio", dâ~nos estes admiraveis p eriodos que tão bem synthetisam
a oonsciencia que _temos dos inconvenientes da loqua cidade :

"O prazer de form a r bella s tira das oratoria s, a inda qu e de


efficacia duvid osa, se põe d e man üesto nos parlamentos lati-
nos, onde a forma é tudo, sendo questão secundaria o fundo
do assumpto.
O mesmo acontece nas reuniões gremiaes, nos congres so,
scientlficos e nas a ssembléas d e diversas ind ol es; o p rurido
de falar., de di!cutlr, b rilhar com elegantes phr ases e giros

. (~) _ Pelo dr . J osé Adriano Marrey Junior.


148 General Abilio de Noronha

de rhetorlca, com ' ó animo ·de impressionar, se põe em eviden-


cia a cada passo, sem pensar que mais de uma brilhante op-
portunidade de calar-se se perde só com o abrir da bocca".

Pura verdade. O general Abilio de Noronha preoccupar-se-á, porém,


diante de um Magistrado da estatura 1noral de V. Excia., exclusivamente
com o fundo do assumpto e1n que o procuram envolvér para a sua appa•
rição, no final de sua cxistencia de militar, no campo dos infractores da
lei penal, por desidia ou :negligencia. Não póde, entretanto, deixar de re-
clan'ar para esses (excluiclo é claro, o brilhante e digno representante do
Mlnisterio Puhllco cuja inclusão poderia parecer feita nesse meio), o coii-
ceito do escriptor de que muitas vezes se perde uma brilhante opportun~-
dade de calar-se só com o a,brir da bocca. . . "E' que nas Injustiças se occul-
ta sem;pre a inaptidão dos vencidos".
2. 0 ) - Enfrentemos, desde logo, a imputação. A denuncia faz refe-
rencias ao ex-commandante da Segunda Região Militar em varias capl-
tulos e essas referncias para aqui são transladadas em fiel resumo:

a) - a irrupção do movimento de 5 de Julho de 1924, do


confronto dos documentos apprehendidos pela policia e do es-
tado das , circum~tancias da acção criminosa, foi ol;ra de l~n-
ga, activa e tenaz propaganda subversiva criminosamente
tolerada pelo general Abil!o de Noronha.
b) - O ex-deputado José Eduardo de Macedo Soares, com-
parsa dos conspiradores, vinha sempre a S. Paulo e vivendo
aqui na intimidade do general Abilio de Noronha, ao extre-
mo chegou, certa vez, de confessar-lhe que o trabalho de sapa
proseguia com _efficiencia nas tropas da. sua_- guarnição,- pes-
pegando-lhe de frente, sem :rebúços, um convite para diri-
gir o movimento.
c) - O general Abilio de Noronha foi, pela sua lnexpll-
cavel condescencia e criminosa tolerancia, o grande incen-
tivo dos conspiradores aqui em S. Paulo.
d) - Da sua tortuosa attitude ha nos autos farta docu-
mentação. Avisado da vinda do general Villeroy, com intui-
tos declaradamente subversivos, da ,do ,!x-depufado José
Eduardo Macedo Soares, com o mesmo objectivo, de que
elementos civis e m _illtares aqui• conspiravam contra o Goverrao
da Republica, chamado ao Rio e ali notificado da éontinua-
ção dos conluios, que fez o ex-commandante da Região?
e) - Estreitou relações com os Macedo Soares; ouviu
impassivel a extranha affirmação do ex-deputado José Eduar-
do acima referida; confabulou a sós, por mais ·de uma hora,
em Campos do Jordão com o dr. José Carlos de Macedo
Soares; na manhã de 5 de Julho, deixou-se prender, em cir-
cumstancias que multo o compromettem; preso no Corpo Es•
O Resto' âa Verdade 149

cola, a sua attltude de !nacção passou a ser francamentP.


subversiva, tanto que se recusou a acompanhar o capitão
Barbosa aos Campos Elyseos e, no livro que publicou, detu,r -
pou esse seu procedim:ento,, tanto que o capitão Indio do Bra-
sil extranhou não o vendo na chefia do movimento.
f) - Entrementes, recebia no Corpo Escola, amiudadas
yezes, José Paulo de Macedo Soares, apesar de ter sabido que
esse senhor entendia,. que, mediante 200 :000$000, elle seria o
chefe da insurreição; o seu sobrinho Carlos de Oliveira In-
sistia, sem reserva, com elle, para que assumisse o commando
das forças ora pertencentes ao general Isidoro; falava fre-
quentemente com os irmãos Macedo Soares; ia com o seu
alludido sobrinho ao Quartel General durante o dia; rece-
bia visitas de mulheres; entrou com os chefes do movimento
em pleno entendimentcl para uin accordo com o Governo Fe-
deral, apezar de reconhecer que os "rebeldes" não triumpha-
riam de nenhum modo em S. Paulo e accrescendo que sua in-
tervenção se deu, quando a situação delles já era lnsusten-
tavel. Em fim, os seus actos foram, por ommissão e por com"
missão, de franco auxilio á causa subversiva e, portanto, de
. consciente co-autoria no delicto.

3.0 ) - Releve o illustre Dr. Procurador Criminal da R epublica con-


signar-se aqui, desde já, a incoherencia d.e que não ponde escapar o seu
atllado espirito: - é que, no capitulo seguinte á11uelle d.e que constam
as transcÍ-ipções ar.ima, dedicado á acção do Dr. ;rosé Carlos de Macedo
Soares, S. Excia. se serve jnteiran1ente, para a accusn~~ão a esse illustre
brasileiro, do juízo do general Abilio, revelador da inexistencia do alle•
gado conluio entre am.bos; ,iuizo a que S. Excia. se aprouve denominar
graves accusações . . . _,
4. 0 ) - O déllcto considerado ser jurid.ico por Carrara, resultante da
contradicção entre um facto e a lei, não póde existir, na opinião desse crirnl-
Dt1,lista, e segundo o assentiniento geral, se a lei não fôr materialmente of-
.fendida por um facto.
O Codigo Penal diz, no artigo · 2. 0 , que a violação d.a lei penal con-
1 siste em acção ou ommissão; e no artigq 24, de que elem~ntos devem com-

pôr-se as acções e omrni ssões contrarias á lei penal para serem: passiveis
de pena. - ,.
O delicto, em regra, é um acto, é um movimento. A maior parte das
lnfracções, são delictos de acção. Contudo, ás vezes, acontece que o delicto
seja de inacção. A culpabilidade então consiste, não no abster-se simples-
mente de agir, mas em abster-se de fa::rnr a acção precisa, que em virtud~
da lei $C tem o dever de fazer. Non facere qnod debet fn;cere. (íA.,. Prins,
citado á fl~ . 264 elo 1. 0 vol. elas Lições de Direito Criminal, de Fernando
Nery). Por exemplo: - morre uma criança á mingua d eJ cuida,clos ma ter- ·
naes. Está ahi o crime omissivo, pelo não cumprimento de um. dever juri-
tão General AbiUt> de Nf!lronhn

dieo exigivel. Caso' ha em que o não cumprimento de um dever Incide ape-


nai no domlnlo da moral, por exemplo, quando não se soccor r.e o proxim•<>
necessitado, porque esse dever não é jurldico.
5. 0 ) . - Destas noções, aliás rudimentares, chegámos á conclusão de
que o crime do artigo 107, do Codlgo Penal, é crime de acção e não omis-
dvo.
"Tentar, directamente, e pc;ir factos", diz o texto. E' autor do crime
quem, para a sua realização, tenha cooperado efficazmente. · Não basta
querel-o, pois se assim fosse, o Dr. Procurador Criminal teria de denun-
ciar noventa e nove por .cento da população do Palz, anciosa por uma re-
forma de costumes políticos e pela selecção dos homens publicas. . . A par-
ticipação não póde ser por inacção ou omissão. E' impossl.vel a cumplicida-
de negativa, de que falâ m os escriptores, e que certamente não é confun-
dida com a cumplicidade por actos negativos, forma admissível. (Galdino
de · Siqueira, Direito Penal Brasileiro, parte geral, pag. 211 in fine).
6. 0 ) - Entretanto, a denuncia conclue pela consciente co-autoria por
omissão e não por netos negaHvos, visto que, para a affirmação destes, teria
o honrado denunciante de appellar para o conluio, para o concerto previa,
ca~o em que seria forçoso passar o denunciado para a classe dos cabeças ...
7. 0 ) ~ Mesmo assim, e igualmente na parte em que atribúe ac,:ii'o
ao denunciado, não ficou a denuncia provada, nem tem razão o seu pre-
claro autor.
Teve o general Abílio a ventura de µma completa defeza na prova
produzida no summarlo e de absoluta confirmação da verdade, que elle,
anteriormente, estampara nessa brochura que todo o m11mdo leu e que
tantos arrepios provocou áquelles já alludidos que nunca souberam fazer
da justiça um culto "como a melhor obra da solidariedade social".
8. 0 ) - Uma por uma das arguições apontadas teve a sua· lmmediata
e radlcaJ contradicta ou explicação nas testemunhas ouvidas, quer no pro-
eesao, quer na justifl'cação promovida neste ·Juizo. Assim que:

"Durante o tempo em que serviu na Região, não teve o te-


nente Caiado de Castro absolutamente conhecimento de qualquer
campanha subversiva entre os officiaes da Região ou que
para aqui viessem e de que iivesse conhecimento o general
Abilio e a tõlerasse". (1.• testemunha do summw-lo).
"O general Abílio mostrou-se sempre respeitador das au-
ctoridades constituídas, prestando-lhe pqr vezes homenagens
e sendo até o intermediario entre os governos do Estado de
S. Paulo e n União". (de.p oimento do capitão Euclydes Espin-
dola do Nascimento).
"Absolutamente nunca ouviu no Quartel General da Região
fa,lar-se numa passive! sublevação ela ordem por parte das for-
ças armadas. V~u sempre no general Abilio um doe maiores es-
teio& da legalidade. As suas ordens do dia deixavam trn,nspare.
cer a sua lealdade d e soldado, um i•neral conedentb ,n u nmpri-
O Resto d.a Verdade 151

mento do seu deve,r". (depoimento ' do capitão Brasilio Car-


neiro de Castro).
"Pelo conhecimento pessoal que tem do general Abilio,
cmno official vaiente e de iniciativa, pelo continuo respeito á
leiralidade, assim como pelós actos que elle praticou no dia
5 de Julh·o, póde affirmar que o general Abílio ·não era co-
nhecedor do movimento e que seria incapaz de ter o proce-
dimento de com clle pactuar". (depoim:ento do tenente Caiado
de Castro) •
. . . . "Por ter a firme convicção da fidelidade do irencral Abilio
ao Governo, é que me determinei. entre outros motivos, a
sei/vir a causa do mesmo Governo". (depoimento do capitão
Othelo Franco).
,

9. ) - A testemµnha, capitão Euclydes Espindola do Nascimento ex-


0

plicou satisfactoriamente o que narrára, no inquerito militar, com relação


á conversa do ex-deputa.do .Tosé Eduardo Maocclo Soares, e desfez a má
interpretação que ás suas palavras déra o Dr. Procurador Criminal. Aliás,
no depoimento de fls. 778 do vol. 14, esse official não declara ter feitq
a affirmação, que o Dr. Procurador Criminal allega ter o denunciado ou-
vido Impassível, mas accentúa que, nessa conversação, o general Abílio
mostrou possuir grande confiança no amor á legalidade por parte dos of-
ficiaes sob o seu commando e dos das outras guarnições. Accrescentou o
.capitão Espindola que os conselho~ do general Abílio ao sr. José Eduardo
Macedo Soares haviam dado resultado, pela disposição em que este ficou
·de propagar suas idéas- pela imprensa.
10. 0 ) - ,Frequentemente, o general Abílio levava ao conhecimento do
Presidente do Estado, sr. dr. Washington Luiz, como levou ao do sr. dr.
Carlos de Campos, as noticias e informações que recebia sobre projectados
movimentos, e do primeiro recebia a invariavel resposta de que a.o tempo
de seu governo não haveria revolta, uma das cousas em que acertou, e do
segundo de que tudo era mero boato... (vide depoim,entos do capitão Eu-
clydes Espindola do Nascimento, sobretudo o do inquerito militar coni"ir-
mado expressamente no summario, e do capitão Brasilio Car neiro de Castro).
E' opportuno lemb1:ar que a testemunha especial, decima terceira.,
Ulysses Fra,goso, declarou que na qualidade ' de inspector de segurança,
receb_era do general Abílio a incum bencia de vigiar a chegada e partida'
de pessôas suspeitas, notadamente de officiaes do Exercito e dentre elles
o general :x;imeno Villeroy,
11.0 ) - As suas relações com os Macedo Soares eram antigas. Não
lhe pareceu que tratasse com conspiradores, nem lhe consta que sol;)rc o
dr. José Carlos, até hoje, se haja apurado mais do que a verdadeira con-
sagração publica pelos actos por clle pratica,dos em beneficio da ·cidade, Se,
de' facto, ao general Abílio pareceram suspeitas as relaçõ.e s por elle man-
tidas com o general Isidoro, dahi não lhe póde ndvir resJ?onsahilidade
ariund11 àe nnterior amizade, que lhe, 1>ennitti a toda a ~orle d e muni-
152 General Abílio de Noronha

festações, que só poderiam merecer outra. int erpretação, como merecera,m,


numa epoca de exacerbação de paixões, como a que se seguiu á desoccupa~
ção da cidade pelas forças do general Isidoro.
12. 0 ) - O episodio occorrido no Corpo Escola, pela 1nadrugada de 6
de Julho, não foi mal narrado no livc·o do denunciado. Quem, o contou mal
foi o major Barbosa, ao tempo capitão da For•ç a Publica. A leitura do de-
poimento desse official evidenciará a affirmação do· denunciado. O major
·Barbosa foi revoltoso, e confessou-se tal, durante tod,, o dia 5 de Julho. Só-
mente como revoltosot notoriamente, poderia reunir 50 praças armadas e
municiadas, Procurou o General. Diz elle que o commandante da guarda
dos presos, tenente Nitrini, não viu o seu procedimento, porque dor1nia. Con-
testam-n ' o o coronel Martim Cruz, o capitão Euclydes Espindola do Nasci-
mento e o proprio Nitrini, á fls. 150 v. do vai. 11. O major Barbosa não lhe
disse que se destinasse aos Campos Elyscos. Neste partjcular, como em tan-
tos outros, mais vale o depoimento do capitão Euclydes Espindola. O do
coronel ll~!artim Cruz está evidentemente influenciado por um sentimento
menos nobre do que o que liga aquelle capitão ao denunciado. O ' coronel
Martim Cruz é evidentemente suspeito, pela confessada inimizade para com
o General. Mas, pouco importa tenha ou não o major' Barbosa indicado o
destino que projectava com as praças, pois é elle proprio quem reconhece,
não ter havido razão para o general acredita~ na seriedade do convite,
ante o fact;o de ser, até então\, revoltoso, elle maior e do outrO\ facto; que cr,i;
a notavel ínsistencia do general Isidoro para que o denunciado! ~-e trans•
portasse para o quartel do 1.0 batailhã,o da Policia. Acrediitou no convite,
entretanto, o coronel Martim Cruz, mas sendo. igualmente obrigado a não
perder qualquer opportunidade para a defesa da lei, preferiu esse coron el
permanecer no dormito rio do Corpo E'scola ...
13. 0 ) - Nenhum inconveniente viu o general Abilio em receber a
visita do sr. José Paulo de Macedo Soares, nem que só -por isso se possa
acoimal-o de revoltoso, pois, embora o procedim:ento desse senhor merecesse
severa censura, n1al não havia em que esta ali se não fizesse. Accresce que,
como outros o julgavam, o denunciado não podia dar maior importancia á le-
viandade do mencionado senhor. Foi iguallnente esta a opinião do capitão
Othelo Franco, á fls . 87 v. do vol. 118.
14,0 ) - Consta claramente dos depoimentos, notadamente dos do te-
nente Caiado de Castro e Dr. Antonio Lobo, este presidente da Gamara dos
Deputados Estaduaes, que o denunciado não mantinha relações com o co-1
ronel Paulo de Oliveira e com seu sobrinho, filho dess~ coronel, de inodiei
que não é crível pudesse levar-se a serio qualquer expansão desse moço
contraria ao tio.
Aliás, refere com precisão o sr. dr. Antonio Lobo, o vehemente pro-
testo do tenente Caiado á affirmação de que o denunciado conhecia o mo-
vimento, dandó-se assim a entender que . o era- nelle connivente. Convem
repetir as palavras então proferidas pelo tenente Caiado de Castro
. e que foram as de que "o ~eneràl Abilio era um official honrado e incapaz
d-e t e r tal proced"imonto".
.O Resto da Verdade 15.,

15.0 ) - O incidente da prisão do · denunciado vinha desde o inquerito


descripto como se encontra no summario. Escusado será rel embral-o, para
não tornar fastidiosa esta exposição, mas bom será deixar patente que os
officiaes, aella presenciaes, disseram ter sido impossível qualquer reacção.
As palavras do tenente Caiado foram estas: "Ao general Abilio era im possi-
vel resis~ir a prisão dadas as circumstancias em que esta foi feita". Igual-
mente a descreve, com os menores detalhes, o capitão Es[lindola. Neste
ponto ;,ão destoou da verdade o .coronel Martim Cruz. Não é, pois exact~
que não tivesse havido a m .enor resistencia.
16,0 ) - · Antes da prisão, o general Ab'ilio pudera dar as providencias,
de que as testemunhas dão noticias, no quartel do 4. 0 batalhão da Força
Publica, libertando os officiaes detidos, desarmando as praças revoltadas
do 4. 0 batalhão de caçadores que; encontrara de sentinella, ordenando a pri-
são de todo e qualquer official do Exerd!to que por ahi a)pparecesse, em
unta palavra, organis'ando a resistencia nesse quartel. ·Das sua5i ordens dadas
com toda a energia, resultaram a~ prisões dos capitães Tavora. '. (Joaquim e
Juarez) Indio _do Brasil e tenente Afilhado de Castro, prisões que facultaram
aquella. estupenda resistencia a que allude a denuncia, organisada 110 · 4. 0 bata-
lhão e que desarticulou de certo modo a actuação das forças rebeldes,
como ainda a,l'fírma< o Dr. · Procurador Criminal. Iguaes providencias 'dava
o general Abilio no Corpo Escola, quando for preso de modo irresl.stivel.
Estes factos foram, confirmados no summario por todas as testemunhas .
arroladas pelo Dr. Procurador Criminal, inclusive o major Pedro de Moraea
Pinto, o commandante da defesa do 4. 0 batalhão da Força, Publica.
17. 0 ) ' - Na madrugada do dia 5 de Julho, entretanto, elle houvéra
reunido todos os officiaes do seu commando no Quartel General, communi-
cára o rompimento d9, movimento ao Ministro da Guerra, e, dando delle
noticias ao major Marcilio Franco, chefe da casa m'ilitar do Presidente do
Estado, facilitou a primeira reacção aos ataques ao Palacio dos Cam11oa:
Elyseos: quiçá salvado tenha a p_ropria pessôa do sr. Presidente do E•-
tado. (vide depoimento do major, hoje tenente-coronel Marcilio Franco, á
f!s. 938 do volume 15).
18. 0 ) - No Corpo Escola, foi procurado para intervir junto ao Governo
Federal para a cessação da luta, mas recusou-se a transmittir cl)ndições como
· as que o general Isido,r o impunha, no tôpo das quaes se encontrava a :re-
nuncia do sr. Presidente da Republica. Seu livro "Narrando a Verdade"
desenvolve conveniente e convincentemente o ca pitulo attinente á corres-
pondencia então trocada, e _n ada no processo se oppõe ao relato que fez.
19. 0 ) - Que importa que o capitão Indio d·o Brasil d'issésse ter sido
o denunciado escolhido para chefe do mov imento! O que mais nos deveria
chamar a attenção seria a admiração daquelie capitão eIIli vel-o preso. E'
que, na hypothese peior, -o denunciado não teria querido assumir essa po-
sição e 11ão se comprehenderia a sua· adhesão sem que ella lhe coubesse.
Da denurtcia do Dr. Procurador Criminal, dos documentos existentes dos
autos e aprehendidos pela policia, correspondencla trocada pelos "rebeldes",
154 Ge·neral Abit10 de N0ronha

evidenciado fica que o chefe dt1 movimento era, ·eomo de facto . foi, o ri:ene-
ral Isidoro.
20. 0 ) - Ainda no Corpo Escola, a altitude do denunciado fôra bem
outra do que a que lhe attribue a denuncia. Intransigentemente contrario
no movimento, com frequencia assim se 'manifestava. Disso dão testemunho
o capitão Euclydes Espindola do Nascimento e a propria corres'pondencia
· trocada com o general Isidorp. Após a evacuação da, cidade e a sua ·.Jiber-
tação, promoveu a intervenção do Pro~otor da Justiça Militar para o de-
vido processo aos offiçiaes que effectuaram a sua prisão. (Vide o depoi-
mento do dr. Ademaro de Iiaria Lobato na Justificação).
21. 0 ) - Finalme,;,_te todos os actos do , denunciado foram contrarias
a insurreição. A sua acção, na manhã del 5 de Julho, evidencia a inexisten-
cia de qualquer conhecimento prev'io do movimento e, portanto, de ~ccordo
ou méra tolerancia.
Não. foi, por conseguinte, o denunciado co-autor no crime. Nenhum
auxilio prestou aos cabeças nem aos demais implicados. Ao contrario, pro-
curou impedir a propagação do movimento, e tel-o-ia con's eguido se não
occorrresse a sua prisão,
O tenente Caiado de Castro declarou-se_ plenamente convencido da
victoria da legalidade, em 2 ou 3 dias, se o denunciado estivesse íi frente
das tropas legalistas.
E' a opinião de uni denodado militar, que levou á temeridade . a reac-
ção opposta ao cr.i me. E' opinião respeitavel portanto. E ser1a sufficicnte
para, de uma vel!i por todas, estancar essa fonte de onde surgem as imputa-
ções ao denunciado, servindo uma grande inveja do seu renome de militar
e de cavalhe'iro. Felizmente tem elle sabido reagir a semelhantes · embates
e ha de encontrar espiritos suffici.entemente pr'o bos, que reconheçam os seus
relevantes serviços á Republica e garantam os seus direitos, um ·aos quaea
é incontestavel o de proclamar altiv/lmente ,a sua innocenc!a, não sünples-
mente presumida, mas convenientemente provada; para satisfação de •cu
justo oruulho e opportunidade de se lhe fazer justiça".

Trecho da promoção do Sr. Dr. Procurador Criminal da Repu~


blica, com relação á revolta que explodiu em São Paulo, em
Julho de 1924, na parte que diz respeito a minha pessôa.
"A denuncia envolve como dos co-autores do delicto o general Abilio
de Noronha e . cita os varias factos que induziram e_sta Procuradoria a
proceder dessa maneira contra o referido officiaJ.
"Acontece, porém, que dos documentos por elle ~presentados e prin-
cipalmente dos depoimentos . produziclos na formação da culpa ficou per-
feitamente esclarecido que esse official foz tlido quanto •atava ao seu al-
cance em defesa da legalidade.
O Res/o da Verdade 156

"Os officiaes_ da guaÍ'Iliçil.o de São Paulo que depuzeram . no swnma-


rio de culpa affirmam ter sido sempre insuspeitavel a fidelidade do gene-
ral Abilio ás auctoridades constituídas e, ainda, que sabem ter eué, semprB.
communicado ás altas auctoridades do Estado os avisos das auctoridades
,Ia Capital Federal sobre a existencia de uma trama subversiva em São
Paulo. :-.; - !d:·~·.i ;1s~
"Por outro lado o major Pedro de Moraes Pinto, que com tanta bra-
vura defendeu o 4.0 batalhão, affirma ter sido o g-eneral Abilio quem; poz
em debandada a tropa rebellada do exercito, que havia tomado e occupado
aquelle batalhão, e quem lhe -deu ordem para organizar ali a resistencia
aos rebeldes.
"0 tenente Caiado de Castro e capitão Euclydes Espindola do Nasci-
mento, testemunhas presenciaes da pr1sao do general Abílio, affirmam que,
nas condições em que esta se· realizou, era-lhe humanamente impos•ivel
resistir. ~ ;·; ,: ~ . , 1 ;i·( ~~!~
, "O incidente mais grave referido na denuncia contra o general Abílio
foi, sem duvida, o da sua recusa em se transferir para o palacio dos Cam-
pos Elyseos, quando, para isso, convidado pelo maj,or Antonio Barbosa..
'" As testemunhas presenciaes desse incidente esclarecem que o gene-
ral Abílio não percebeu, porque ellea tamb.em, não perceberam, que o oon~
vite era para uma fuga com destino ao palacio dos Campos E!yseos.
"Demais, o proprio major Barbosa confessou, no summario de culpa.
que a sua actuação, durante todo o dia 5, foi de franco e intenso auxilio
aos rebeldes, não ignorando o genera,l Abílio essa circumstancia.
"Dahl a relutancia em conversar sobre apresentação ás forças legaes
Q(!ID o . seu suspeito inter locutor.
"Explicou o major Barbosa que se fizera passar por adepto da rebel-
Jião com. o intuito de :rilellíÓr conseguir a sua fuga, mas não podia, na oc•
"asião em que interpellou o i:eneral Abilio, ·explicar-lhe es~e seu elltrata-
ge,ma.
' 'Como quer que seja, o incidente que no inquer:ito cresceu de vulto
por ignorar esta Procuradoria a situação de rlebelde do major Barbosa: na
occasião em que·· interpellou o general AbHio, se transfor~ou, conhecidos os
seus precedentes, em argumento · a favor da defesa do denunciado, tão cer-
to é que não lhe era licito confiar, no seu interlocutor para mna tão arris-
cada tentativa.
"Av,urado fiéou tambem, que o general Abílio, vendo, nas propostas
de armísticio, um ardil para afastar do poder o Presidente da Republica,
não se prestou · a servir de intermediario dos chefes rebeldes ,iunto ao go-
verno legal. ,
"Por estes fundam,entos que esta . Procuradoria reputa destruidores
da sua accusação, requer, como medida de sã justiça, seja a, denuncia
julgada improcedente contra o general Abilio
156 General Abilio de Noronha

A SENTENÇA DO MERETISSIMO JUIZ


'Publico aqui a sentença do integro magistrado, exmo. sr. dr.
Washington Osorio de Oliveira, Juiz F,ederal da 1." Vara, na
(parte que me diz respeito:

Com o criterio e á luz düs principias e:<epostos, será examinada a


acção dos indiciados e a prova de accusação e de _defesa relativa a cada
um, para discriminar aquelles cujos actos provados não constituem crime:
os que tiverem motivos legaes que os isentem de responsabiltdade criminal;
aquelles contra os quaes não se haja produzido prova de participação no
delicto; e finalmente - aquelles cujos actos revistam; o caracter delictuoso,
contra os quaes haja indícios vehementes que autorisem a pronuncia.
Preliminarmente é de notar-se o acerto com que procedeu o integro
dr. Procurador Criminal da Republica incluindo na denuncia pessoas de
responsabilidade e de elevada posiçãQ social e política como o dr. Firmiano
Pinto, Prefeito da Capital: general Abilio de N\oronha, ex-commandante da
2.• Região Militar; dr. José Carlos de Macedo Soares, presidente eia Asso-
ciação Commercial, os juízes de direito de Jahú; Barretos, S. Roque e ou-_
tros cujos actos interpretados de m,odos diversos levantaram em torno
dellas u.m;a atmosphera de suspeição. Para legitin:,:ar a denuncia não se
exigem necessariamente razões de convicção: basta a simples presmnpção,
comõ' é expresso no art. 42, letra C, parte II do de-e, n. 30&4, de 5 de Novem-
bro de 1898.
Num regirn,em em que todos s!io iguaes perante a lei, a denuncia não
envolve violação de prerogativas nem offensai a qualquer cidadão. Não é
um prejulgamento: é apenas o ingresso da acção penal onde se apuram
dignamente as responsabilidades perante o poder comiP_e tente. Não ha pois
motivo para a estranheza manifestada.
E' muito digno o cidadão, justa ou injustamente suspeitado, qual-
quer que seja a sua posição, submetter seus~ ~ctos ao julgamento da. ju&ti ..
ça de seu paiz, assumindo a responsabilidade delles, para soffrer a pen:il
legal ~rn que haja incorrido, ou simplesmente para poder impor definitivo
silencio a infundada suspeito de uma conducta menos eorrecta, elevander
se no conceito e na estima de seus concidadãos. A denuncia nada mais fez
que abrir essa _porta ampla e digna aos accusados. A exclusão injustifi-
cada em caso dessa natureza, é que causaria duplo damno moral: mn aos
que, injustamente suspeitados, se vissem privados dru unica opportunidade
legal de defesa completa e digna de seus actos, jamais se libertando, prin-
cipalmente na vida publica, da elva que a maledicencia se inclllllbirla de
ampliar, de terem sido, effectivamente, delinquentes acobertados pelo·
prestigio de suas posições; outro, ao_ proprio orgam da ju:.tiça pi J.bllca fe.
O Resto da Verdade 157

dera!, que se não mostraria á altura que sua funcção social se vaclllasse
ante os mais fortes, reservando redobrados rigores para os fracos e des-
protegidos.

Não ba nos autos elementos para a pronuncia dos seguintes indi-


ciados:

4) General Abílio de Noronha (Defesa vol. 135 fls. 2 a 11).


O dr . Procurador Criminal examinm1do a prova do summario re·que-
reu como medida de sua justiça, fosse a denuncia julgada improceder1te
contra o general _Abilio de Noronha, ex-commandante desta Região.
Effectivamente, o summario demonstra a correção desse officlal,
que se manteve sempr.; fiel á legalido.de, sendo. as medidas por elle ado-
ptadas das mais efficazes para com bater o 1no·v im:ento subversivo. Se não
fosse preso em condições de se tornar impossível a resistencia teria segura-
mente dominado a revolta dentro de pouco tempo, como affirmam teste-
munlias do summario/ A defesa produzida pelo illustrado dr. José Adriano
Marrey {unlor e os documenlos offerecidos afastam qualquer duvida so-
bre sua conducta não se lhe podendo attr.ibuir nem m •esm,o eul!pà ou ne-
irHzencia no desempellho de suas altas funcções.

- FIM -
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