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Base industrial de defesa do Brasil: alguns aspectos de sua história recente.

Marcelo Rocha Silva1.

Introdução

Nesse texto apresentaremos alguns aspectos da história recente da Base


industrial de defesa no Brasil (BID). Segue uma descrição de uma proposta de modelo
para a BID e uma breve revisão da literatura dedicada à história da BID do Brasil.

Os temas concernentes à segurança e defesa tem sido objeto de crescente


preocupação por parte dos governos durante os séculos XX e XXI. Os meios
empregados para a defesa nacional são essenciais para a garantia de segurança nos
âmbitos nacional e internacional, e o domínio a respeito desse tipo de conhecimento se
tornou indispensável.
Contudo, na academia brasileira ainda são raros os esforços para compreender
as especificidades do setor produtor dos materiais destinados a garantir a segurança de
toda a sociedade. Nosso trabalho, ainda em andamento, pretende contribuir para a
expansão dessa área de conhecimento.

Algumas características da Base Industrial de Defesa (BID)

À BID compete desempenhar o papel de satisfazer os requisitos logísticos


internos de bens, tecnologias e serviços, por entre as diversas fases do ciclo operacional
dos sistemas de armas, subsistemas e componentes, para o reequipamento ou ao serviço
das forças armadas. Deste modo, a BID deve estar apta a atuar nas seguintes áreas:
pesquisa e desenvolvimento, produção, modernização, reparação e modificação,
eliminação do produto no final do ciclo de operação.

1
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Estudos Estratégicos da Defesa e da Segurança
(PPGEST) da Universidade Federal Fluminense. O presente trabalho foi realizado com o apoio da
CAPES, entidade do Governo Brasileiro voltada para a formação de recursos humanos.

1
Basicamente, entende-se como BID o conjunto das empresas e das entidades
do sistema científico e tecnológico, estatais e/ou privadas, com habilidades para
participar de uma ou mais etapas do ciclo logístico daqueles produtos de defesa.
A BID deve constituir o universo de oferta e criação tecnológica com
competências para o domínio do conhecimento para a produção dos meios da defesa
nacional. Nesse contexto é estimulada a participação da indústria e do sistema nacional
de ciência e tecnologia nas diferentes fases do ciclo de vida dos sistemas e
equipamentos das Forças Armadas (FA). É importante que a oferta industrial e
tecnológica nacional se capacite e se oriente para disputar também os mercados além da
fronteira nacional, onde se localiza muitas oportunidades de negócio.

Recentemente, a BID brasileira tem uma dimensão reduzida em comparação a


décadas anteriores e encontra-se dispersa num conjunto de entidades, de pequenas e
médias empresas, que atuam no mercado de defesa, em segmentos relacionados com a
produção de componentes e subsistemas e à logística de manutenção relacionada aos
sistemas e equipamentos militares. Em geral, as entidades que formam a BID nacional
são fornecedores de serviços e especialistas em processos.
A articulação entre os atores da BID, sendo estes a indústria, empresas de
engenharia, academia e os centros de pesquisa e desenvolvimento (P&D) ainda é de
difícil dedução. Esta realidade pode conduzir a duplicações e dispersão de esforços e
menor eficácia e eficiência de resultados, nomeadamente em relação à competição,
sobretudo no cenário internacional.
No entanto, há um esforço recente em resgatar, consolidar e reforçar as
competências da BID nacional, com a publicação da Política de Defesa Nacional
(PND), da Estratégia Nacional de Defesa (END) e da Política Nacional da Indústria de
Defesa (PNID), pretende-se incentivar e organizar a área defesa delineando com clareza
as aspirações nacionais nessa matéria, bem como definindo meios para realizá-las.
Na definição elaborada pelo Ministério da Defesa do Brasil, Base Industrial de
2
Defesa (BID) é:
o conjunto das empresas estatais e privadas, bem como organizações civis
e militares, que participam de uma ou mais das etapas de pesquisa, desenvolvimento,
produção, distribuição e manutenção de produtos estratégicos de defesa (bens e
serviços).
2
BRASIL. Portaria Normativa nº 899/MD, de 19 de julho de 2005. Aprova a Política Nacional da
Indústria de Defesa (PNID). Disponível em: <https://www.defesa.gov.br>. Acesso em: 05 dez. 2009.

2
Esses produtos são bens e serviços que, pelas peculiaridades de obtenção,
produção, distribuição, armazenagem, manutenção ou emprego, possam
comprometer, direta ou indiretamente, a consecução de objetivos relacionados à
segurança ou à defesa do País.

Apesar de dar uma noção do que é considerada como Base industrial de


Defesa para o MD, o texto pertencente aos documentos políticos e estratégicos de
defesa nacionais não explica com clareza as características atinentes à BID.
Para caracterizar e esclarecer o conceito de Base Industrial de Defesa
utilizaremos também o modelo proposto por Amarante3, por detalhar a estrutura da BID
e ajudar na compreensão desse objeto de estudo. Na proposição deste estudioso para a
Base Industrial de Defesa encontram-se elementos fundamentais para a descrição desse
objeto de estudo. Caracteriza-se por ser um modelo teórico que sobrepõe a BID à
estrutura de Ciência e Tecnologia nacional. Nessa estrutura observam-se divisões que
demonstram uma complexidade vai além das empresas fabricantes dos
produtos/serviços finais (figura 1).
Deste modo, a parte mais perceptível ao público é a mais próxima das etapas
que envolvem o produto acabado ou comercialização dos produtos da BID, o topo do
Iceberg Científico-Tecnológico Militar. Entretanto, existe no alicerce desse modelo
ramos menos conhecidos pelo público e que são essenciais para o funcionamento do
todo, como os centros de pesquisa básica e aplicada e institutos de pesquisa e
desenvolvimento (P&D).

Figura 1 - O Iceberg Científico-Tecnológico Militar ou a Base Industrial de Defesa.

PRODUTO
PRODUTO
ÓRGÃOS
EMPRESAS LOGÍSTICA
EMPRESAS UTILIZAÇÃO
DE SERVIÇOS
DE SERVIÇOS
EMPRESAS INDUSTRIAIS PRODUÇÃO
EMPRESAS INDUSTRIAIS PROJETO

EMPRESAS DE ENGENHARIA PROJETO


EMPRESAS DE ENGENHARIA PRODUÇÃO

CENTROS DE P&D P&D


CENTROS DE P&D P&D
UNIVERSIDADE ENSINO E
UNIVERSIDADE ENSI NO E
PESQUISA
PESQUISA
ATIVIDADES DE C&T
ATIVIDADES DE C&T
ENSINO E CAPACITAÇÃO; P&D
ENSI NO E CAPACITAÇÃO; P&D
SERVIÇOS TÉCNICO-CIENTÍFICOS
SERVIÇOS TÉCNICO-CIENTÍFICOS

3
AMARANTE, José Carlos Albano do. Estratificação do poder e a Bases Industriais de Defesa. In:
CARVALHO, Leonardo Arquimino de (Coord.). Segurança e Defesa na América Latina. Curitiba, Juruá,
2009. p87. Ver também: AMARANTE, José Carlos Albano do. O Fazedor de Ferramentas. In: O Vôo da
Humanidade: e 101 tecnologias que mudaram a face da terra. Rio de Janeiro, Bibliex, 2009. p.25-32.

3
Nesta proposta são níveis cinco instâncias para se alcançar o produto final
empregado pelas Forças Armadas. Estas etapas são: a universidade, os centros de
pesquisa e desenvolvimento, empresas de engenharia, empresas industriais, empresas de
serviço. E está representada graficamente a seguinte lógica: quanto mais próximo da
base maior o grau de ciência e quanto mais próxima ao topo da pirâmide mais
tecnologia é percebida4.
Assim, no nível da base do Iceberg que representa a BID está a universidade.
Ela tem a função de criar conhecimento e torná-lo público. Aqui devem acontecer
também as pesquisas básicas e o ensino/divulgação da ciência. O ambiente acadêmico é
o instrumento criado para expandir a base do conhecimento científico universal. Essa
função essencial da universidade não exclui que ocorra pesquisa aplicada.
Podem ser citados alguns centros universitários brasileiros que exemplificam o
campo científico e tecnológico nacional: o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA),
desenvolvendo tecnologias militares nas áreas da aeronáutica e aeroespacial; o Instituto
Militar de Engenharia (IME), responsável pelas tecnologias militares da força terrestre;
e no nível das tecnologias navais temos o Departamento de Engenharia Naval da Escola
Politécnica de São Paulo5.
No degrau acima ao da universidade estão os centros de pesquisa e
desenvolvimento (P&D) que tem a função preferencial de tratar da pesquisa aplicada e o
desenvolvimento experimental. Segundo Amarante, esses centros de P&D não realizam
o ensino, contudo essa atividade ocorre sempre quando é útil ao centro de pesquisa. Os
conhecimentos utilizados nessa fase são provenientes das universidades, sendo função
do centro de pesquisa tornar aplicável esse conhecimento, tornando disponíveis assim
produtos de Defesa (bens e serviços). “No centro de P&D realiza-se um trabalho
sistemático visando tanto o desenvolvimento de novos materiais e produtos e o

4
LONGO, W.P. “Impactos do desenvolvimento científico e tecnológico na Defesa Nacional” In: Política,
Ciência & Tecnologia e Defesa Nacional, Coleção UNIFA, p. 27-63, Rio de janeiro, RJ, (2009). Ciência
poder se a atividade dirigida à aquisição e ao uso de novos conhecimentos sobre o Universo,
compreendendo metodologia, meios de comunicação e critérios de sucesso próprios. A Ciência também
pode ser considerada o conjunto organizado dos conhecimentos relativos ao Universo, envolvendo seus
fenômenos naturais, ambientais e comportamentais. Enquanto que a Tecnologia é o conjunto organizado
de todos os conhecimentos científicos, empíricos ou intuitivos empregados na produção e
comercialização de bens e serviços.
5
Nossos exemplos não esgotam as possibilidades de acréscimo de outras entidades.

4
estabelecimento de novos processos, sistemas e serviços específicos, quanto o
melhoramento técnico ou operacional daqueles já existentes”6.
Temos no Brasil os seguintes exemplos de centros de P&D: o Centro
Tecnológico do Exercito (CTEx), no desenvolvimento das tecnologias para a força
terrestre; o Centro Técnico Aeroespacial (CTA ou Comando-Geral da Tecnologia
Aeroespacial), responsável pelo desenvolvimento de soluções tecnológicas militares
aeroespaciais; e o Instituto de Pesquisa da Marinha (IPqM), desenvolvendo tecnologias
para a força naval.
Nesse ínterim, o Centro de Avaliações do Exército e o Instituto de Fomento e
Coordenação Industrial da Aeronáutica avaliam os produtos militares que devem
atender os requisitos técnicos fornecidos pelos Estados-Maiores das Forças Armadas.
Na escala acima ao dos centros de pesquisa encontra-se a empresa de
engenharia. Ela se utiliza do conhecimento da etapa de pesquisa e desenvolvimento para
construir rodovias e ferrovias, fábricas, portos e aeroportos. Aqui se realiza o alicerce
para que as empresas industriais e de serviço funcionem. Também permitem que as
Forças Armadas atuem, disponibilizando os meios para que os combatentes operem em
ambientes variados. Aqui é fornecida a infra-estrutura.
São exemplos desse nível, nos âmbitos de Exército, Marinha e Aeronáutica,
respectivamente: Departamento de Engenharia e Construções e os seus Batalhões de
Engenharia de Construções; o Centro de Hidrografia da Marinha; e a Infraero. Os
mesmos serviços realizados por esses centros podem ser contratados junto à iniciativa
privada.
No próximo nível encontra-se a indústria de defesa, que é responsável pela
fabricação de meios de defesa (produtos e serviços). Para Amarante, nessa esfera é
fundamental a “participação conjunta da iniciativa privada e de instituições públicas”7.
São citados como exemplos, segundo o catálogo da Associação Brasileira de Indústrias
de Materiais de Defesa e Segurança (ABIMDE): a Indústria de Material Bélico do
Brasil (IMBEL), os Arsenais de Guerra do Rio de Janeiro e de São Paulo, a Empresa
Gerencial de Projetos Navais (ENGEPRON), o Arsenal de Marinha, a Embraer,
Avibras, Mectron, Agrale, Atech, Condor, Forjas Taurus, Helibras, dentre outras.
Alem disso, estando produto de defesa disponível, surge a necessidade de sua
distribuição, utilização, manutenção, etc. Tem-se então a necessidade do setor de

6
AMARANTE, opcit, p.25-32.
7
AMARANTE, opcit, p88.

5
serviços que opera toda a logística. São exemplos: Departamento de Logística e os
Parques de Manutenção Regionais, o Departamento de Material de Marinha, o Arsenal
de Marinha, Departamento de Material de Força Aérea, etc.

Breve histórico da BID do Brasil.

A BID no Brasil se caracterizou, em período recente, por representar um setor


econômico significativo e responsável por suprir parte das necessidades das Forças
Armadas brasileiras, das forças públicas de segurança e, principalmente, representar
importante setor de exportação, ou seja, fonte de divisas em moeda forte para o país.
Data dos anos 1960 a instalação de diversas indústrias de material bélico que,
se fizeram uso do parque industrial-tecnológico construído anos antes. Em pouco tempo
conseguiram alcançar níveis invejáveis de produção e exportação. “No esteio da
excelência alcançada pelo ITA, ao longo desses promissores anos, organizaram-se a
AVIBRÁS (Aeroespacial S/A), em 1961; a ENGESA (Engenheiros Especializados
S/A), em 1965, e a EMBRAER (Empresa Brasileira de Aeronáutica S/A), em 1969”8.
Brigagão9 argumenta que os principais projetos brasileiros no “setor bélico”
foram influenciados por uma confluência de diversos interesses, principalmente pelo
apoio contínuo de sucessivos governos, mediante investimentos e com a busca por
parcerias dentro e fora do país. Destaca-se que na fase preliminar (décadas de 1960 e
1970) a conquista de conhecimentos tecnológicos para a produção endógena foi
fundamental para a produção nacional e para se alcançar a etapa da exportação.
Brigagão também relata que a “indústria bélica brasileira” (expressão do autor)
foi um resultado da conversão de empresas nacionais em empresas produtoras e
fornecedoras de materiais às Forças Armadas, respeitando uma lógica de redução e
substituição das importações e pela preferência do Governo Federal por comprar de
produtos nacionais.

8
MATHIAS, Suzeley K.; CRUZ, Eduardo V. Segurança e Desenvolvimento: O caso da indústria bélica.
Strategic Evaluation. P.271.
9
BRIGAGÃO, Clóvis. A Corrida para a Morte. Uma denúncia contundente do poder das armas no
mundo contemporâneo e seus reflexos no Brasil. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1983. E “O Mercado da
Segurança: ensaios sobre política de defesa”. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1984.

6
Focando a compreensão do processo que culminou no fortalecimento do setor
produtor e exportador de “materiais bélicos”, o autor acima citado, em geral, concorda
com a existência das seguintes etapas, que podem ter acontecido sucessivamente:
1- Mobilização nacional para o aproveitamento da capacidade ociosa
(inclusive do setor civil) para o reequipamento das forças armadas, utilizando-se de
parques fabris subutilizados pelas Forças Armadas e aproveitando-se da demanda
interna;
2- Ações para o Brasil se tornar independente do fornecimento externo de
armamento, buscando produzir nacionalmente os materiais requeridos pelas forças
armadas, favorecendo empresas nacionais como produtoras de materiais bélicos;
3- Penetração no mercado do “terceiro mundo” receptivo ao tipo de
armamento fabricado pelo Brasil, com o aproveitamento dos resultados das etapas
anteriores e de parcerias com empresas e governos estrangeiros na produção dos
produtos.

Após a etapa de instalação, na década de 1970, a BID nacional atingiu um


patamar nunca antes alcançado, com a ENGESA, IMBEL, EMBRAER, AVIBRAS, e
outras empresas de pequeno e médio porte, algumas com origem em universidades e
centros de pesquisa brasileiros. Os desenvolvimentos atingidos permitiram a produção
de material bélico e não-bélico, entre outras, nas seguintes áreas: sistema de
comunicações, eletrônica, navegação, veículos blindados, foguetes, mísseis e aviões.
Esse processo teve como conseqüência o desenvolvimento tecnológico, a melhoria das
condições de produção industrial, a geração de emprego e reflexos econômicos, em
especial nas exportações.

Em decorrência do progresso dos negócios das empresas nacionais em


produzir e exportar artigos militares, o Brasil apresentou, na década de 1980, uma
considerável capacidade de produção desses artigos, envolvendo carros de combate,
aviões, explosivos, mísseis, dentre outros itens militares. Empresas como a ENGESA, a
EMBRAER, a AVIBRAS, a IMBEL e a BERNARDINI, apresentaram expressivos
resultados nas vendas de produtos de defesa, apoiadas por demandas provenientes,
externamente, do Oriente Médio, e internamente, com a garantia de compras das Forças

7
Armadas. O Exército brasileiro teria chegado a ter 90% de suas compras feitas a
empresas nacionais 10.

Conforme Dagnino11, a exportação de armamentos ocupava o terceiro ou


quarto lugar da pauta brasileira de exportações, depois da soja, minério de ferro e café
em meados da década de 1980. Na difícil situação de comércio exterior enfrentada pelo
País nesse período, as receitas provenientes da exportação de armamentos foram
suficientemente importantes para reforçar e legitimar o empenho que os militares e os
empresários do setor vinham fazendo no sentido de torná-lo ainda maior12.

Contudo, a BID nacional teve dificuldades em se manter, e identifica-se que


existiu na década de 1990 a necessidade brasileira de importar material de defesa para
as suas próprias Forças Armadas, ao invés de produzir internamente. Ainda, em função
da crise do fim da década de 1980 as empresas nacionais que atuavam neste setor foram
obrigadas a transferir sua produção para produtos alternativos, de modo a minimizar os
prejuízos e a se manterem ativas. A conseqüência dessa situação foi a dependência de
aquisição de material de defesa no exterior13, sendo que esse padrão marcou a última
década do século XX e o início do século XXI.

Evolução das exportações de produtos de defesa brasileiros. (1980-2000)


275
250
225
200
Milhões US$

175
150
125
100
75
50
25
0
Ano 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000
Anos

Gráfico 1 - Fonte: SIPRI - Stockholm International Peace Research Institute - Arms Transfers Database
(milhões de dólares de 1990). http://www.sipri.org/. Acessado em: 10/11/2009.

10
AMARANTE, José C. Albano do. Indústria Brasileira de Defesa: Uma questão de Soberania e
autodeterminação. In: PINTO, J. R. de Almeida. Et all (Org.) As Forças Armadas e o desenvolvimento
científico e tecnológico do País. Brasília: MD, 2004. P27.
11
DAGNINO, Renato P. A indústria de armamentos brasileira: sua importância para a avaliação da
relação militares - estado e sociedade. Em: OLIVEIRA, Eliézer Rizzo de (org.). Militares: pensamento e
ação política. Campinas, Papirus, 1987.
12
Ibidem, p126.
13
BAGATELLE. Indústria Nacional de Defesa. Em: Strategic Evaluation: International Journal on
Defense and Conflict Analysis. Rianxo (Galiza): Instituto Galego de Estudos de Segurança Internacional
e da Paz, 2007.

8
Observa-se no gráfico 1 a tendência decrescente das exportações brasileiras de
produtos de defesa desde 1984. Ainda se vê um curto período de sucesso seguido de
acentuada queda das vendas. De acordo com os dados do Stockholm International Peace
Research Institute (SIPRI), pode-se observar que países do Oriente Médio contribuíram
para aumento das vendas das empresas brasileiras, também contribuíram na redução do
volume das vendas ao exterior14.

Assim, em um período relativamente curto, empresas como a Engesa, a


Embraer e a Avibras se destacaram. Os carros de combate “cascavel”, o veículo
blindado de transporte de tropas “URUTU”, o Lançador múltiplo de Foguetes “Astros
II”, o avião de treinamento militar “T-27 tucano”, o caça subsônico “AMX” (em
consorcio com a Itália), assim como munição e armamento leve, são exemplos de
produtos citados por estudiosos.
Aliado à perda dos principais clientes, identifica-se, ainda, em meados da
década de 1980, uma difícil situação localizada nas áreas econômica e política
brasileiras, com possíveis reflexos na evolução da Base Industrial de Defesa do Brasil.
Externamente, o fim da Guerra Fria também trouxe novos atores de peso no competitivo
mercado de exportação de material de defesa. A presença dos Estados Unidos, da
Rússia, além de outros importantes fabricantes de material de defesa, agravaram ainda
mais a situação das exportações de material bélico realizados pelo Brasil15.
Amarante indica que existiam fatores agravantes, na década de 1990, que
culminaram no quase “aniquilamento da base industrial de defesa no Brasil”.
Internamente, o autor indica que havia uma disposição nacional de baixo interesse em
investimentos na BID. Os centros de Pesquisa e Desenvolvimento brasileiros,
particularmente aqueles que compunham a base científica e tecnológica de defesa foram
afetados pela diminuição de investimentos no setor, e conseqüentemente, reduziram
suas atividades16. Externamente, a tendência de diminuição das tensões do conflito entre
EUA e a União Soviética indicaram a menor necessidade de grandes arsenais. Dessa
maneira, empresas da área de defesa fecharam e outras, a fim de superar a fase difícil, se
estabeleceram em outros setores.

14
SIPRI - Stockholm International Peace Research Institute. Arms Transfers Database (milhões de
dólares de 1990). http://www.sipri.org/. Acessado em: 10/11/2009.
15
PROENÇA JÚNIOR, Domício (org.) Uma Avaliação da Indústria Bélica Brasileira – Defesa, Indústria
e Tecnologia. Rio de Janeiro: Grupo de Estudos Estratégicos - UFRJ, 1993. Ver especialmente os artigos
de Ken Conca e Patrice Franko-Jones.
16
AMARANTE, José Carlos Albanos do. Op cit. P.27.

9
De maneira sintética, apresenta-se assim algumas causas do sucesso das
indústrias de defesa do Brasil no passado17: conjuntura internacional favorável;
capacidade industrial instalada no Brasil nas décadas de 1970-1980; Geração de
tecnologia; exploração de nichos de mercado; apoio às exportações. E sintetizamos
assim causas para o fracasso na década de 1990: Forte dependência em relação às
exportações (Oriente Médio); Altos custos envolvidos para o desenvolvimento de novos
produtos; concentração da produção; problemas macroeconômicos internos; redução
prolongada dos orçamentos das forças armadas; barreiras levantadas por países
desenvolvidos; surgimento de equipamentos mais sofisticados; o final da Guerra Fria e
a entrada de outros fornecedores de equipamentos.

Considerações Finais.

O período em que as empresas brasileiras que formam a BID conseguiram


resultados expressivos foi relativamente curto, mas mostra que o Brasil pode se destacar
nesse ramo se houver a confluência de interesses e esforços entre as empresas privadas,
o Governo Federal e as instituições militares, especialmente as entidades produtoras de
ciência e tecnologia. O fomento estatal não é só desejável, é fundamental, assim como o
comprometimento de todos os níveis do Iceberg Tecnológico. Uma nova mobilização
para dar à BID brasileira dimensões respeitáveis envolve a superação da situação
desfavorável instalada desde os anos 90.

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AMARANTE, José Carlos Albano do. Estratificação do poder e a Bases Industriais de Defesa. In:
CARVALHO, Leonardo Arquimino de (Coord.). Segurança e Defesa na América Latina. Curitiba, Juruá,
2009. p.83-92.
____________________. Capítulo 1 – O Fazedor de Ferramentas. In: O Vôo da Humanidade: e 101
tecnologias que mudaram a face da terra. Rio de Janeiro, Bibliex, 2009. p.25-32.
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Estudo de Problemas Brasileiros. Ano XC, nº 800. Rio de Janeiro: set/out/nov/dez. 2004. p. 55-64.

17
RODRIGUES (2002) apud LANGE, Valério Luiz. O relacionamento entre o Exército Brasileiro e a
Base Industrial de Defesa: um Modelo para auxiliar a sua integração. Rio de Janeiro: Tese de Doutorado,
ECEME. 2007.

10
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