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ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS

Cap Inf Gabriel Carlos Fagundes

“DEZEMBRADA”: SESQUICENTENÁRIO DA SÉRIE DE COMBATES QUE


DESLOCOU O CENTRO DE GRAVIDADE DA GUERRA DA TRÍPLICE ALIANÇA,
SUA IMPORTÂNCIA PARA O DESFECHO DO CONFLITO E INFLUÊNCIAS
PARA A DOUTRINA DO EXÉRCITO BRASILEIRO

Rio de Janeiro

2019
ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS

Cap Inf GABRIEL CARLOS FAGUNDES

“DEZEMBRADA”: SESQUICENTENÁRIO DA SÉRIE DE COMBATES QUE


DESLOCOU O CENTRO DE GRAVIDADE DA GUERRA DA TRÍPLICE ALIANÇA, SUA
IMPORTÂNCIA PARA O DESFECHO DO CONFLITO E INFLUÊNCIAS PARA A
DOUTRINA DO EXÉRCITO BRASILEIRO

Dissertação de Mestrado apresentada


à Escola de Aperfeiçoamento de
Oficiais, como requisito parcial para a
obtenção do Grau de Mestre em
Ciências Militares com ênfase em
Gestão Operacional.

Orientador: Sérgio Luiz Augusto de


Andrade de Almeida -TC

Rio de Janeiro

2019
Cap Inf GABRIEL CARLOS FAGUNDES

“DEZEMBRADA”: SESQUICENTENÁRIO DA SÉRIE DE COMBATES QUE


DESLOCOU O CENTRO DE GRAVIDADE DA GUERRA DA TRÍPLICE ALIANÇA,
SUA IMPORTÂNCIA PARA O DESFECHO DO CONFLITO E INFLUÊNCIAS PARA A
DOUTRINA DO EXÉRCITO BRASILEIRO

Dissertação de Mestrado apresentada à


Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais
como requisito parcial para a obtenção do
Grau de Mestre em Ciências Militares com
ênfase em Gestão Operacional.

Aprovado em __/__/ 2019

__________________________________________
JÚLIO CÉSAR DE SALES– Cel
Doutor em Ciências Militares
Presidente/ EsAO

__________________________________________
ANDRÉ CEZAR SIQUEIRA – Cel
Doutor em Ciências Militares
1º Membro / EsAO

__________________________________________
SÉRGIO LUIZ A. DE ANDRADE DE ALMEIDA – TC
Doutor em Ciências Militares
2º Membro (orientador) / EsAO
DEDICATÓRIA

A Deus, por iluminar meus caminhos e


decisões. A minha esposa Vanessa e minha
filha Mariane, por serem meu suporte e porto
seguro.
AGRADECIMENTOS

A Deus, por me dar vida, saúde, paz de espírito e serenidade para enfrentar os
desafios que se apresentam diuturnamente.
À minha esposa Vanessa e à nossa filha Mariane, pela motivação, paciência e
compreensão diante das longas horas dedicadas à pesquisa e aos estudos.
Aos meus pais e irmão por sempre acreditarem em meu potencial e por sempre
estarem presentes, seja nos bons ou maus momentos.
Ao meu orientador, Tenente-Coronel Andrade, pelas orientações precisas, pelo
incentivo e pelo apoio irrestrito prestado durante todo o processo de realização da
pesquisa.
A todo o efetivo do Arquivo Histórico do Exército, em especial ao Capitão Mauro,
pelos incentivos e por propiciar o acesso e contato com fontes primárias
importantíssimas para a conclusão da pesquisa.
A todos os inúmeros companheiros de labuta e caserna que auxiliaram o
corrente trabalho com fontes, contatos, sugestões e ideias que vieram a somar
sobremaneira para a consecução dos objetivos propostos pela presente Dissertação de
Mestrado.
A História é êmulo do tempo, repositório de
fatos, testemunha do passado, exemplo e aviso
do presente, advertência do porvir.

(Dom Quixote, Miguel de Cervantes – 1605)


RESUMO

Em Dezembro de 1868, quatro anos após o início da Guerra da Tríplice Aliança, as


tropas Aliadas, lideradas pelo Duque de Caxias, enfrentaram em Itororó, Avaí e Lomas
Valentinas uma série de intensos e duros combates, com a finalidade de derrotar o
aguerrido exército de Solano López, além de conquistar o centro de gravidade
paraguaio: sua capital Assunção, almejando pôr fim a uma guerra que já vinha
onerando muitos recursos, vidas e tempo por parte de todos os contendores. A história
convencionou nominar tal série de combates como Dezembrada. Passados 150 anos
da supracitada série de contendas, o presente estudo procurou analisar em que medida
a Dezembrada teve papel decisivo para a vitória Aliada na Guerra da Tríplice Aliança,
bem como se a mesma gerou influências doutrinárias para o Exército Brasileiro. Para
alcançar as metas propostas, essa dissertação foi desenvolvida de agosto de 2018 a
setembro de 2019, por meio de uma pesquisa bibliográfica e documental (com acesso a
fontes primárias do Arquivo Histórico do Exército), empregando-se o método de leitura
exploratória e seletiva do material pesquisado e realizando-se uma revisão integrativa
do mesmo. A fim de atingir os objetivos específicos da pesquisa, foram consultadas
fontes do meio acadêmico e militar, bem como fontes dos países envolvidos no conflito,
obtendo-se o máximo de neutralidade e isenção. Por fim, para dialogar as lições táticas
visualizadas nas manobras militares ocorridas em 1868, com a Doutrina Militar
Terrestre vigente, foram utilizados os mais recentes manuais e publicações doutrinárias
da Força Terrestre e do Ministério da Defesa.

Palavras-chave: Guerra do Paraguai. Doutrina Militar. Dezembrada.


RESUMEN

En diciembre de 1868, cuatro años después del comienzo de la Guerra de la Triple


Alianza, las tropas aliadas, lideradas por el Duque de Caxias, enfrentaron en Itororó,
Avaí y Lomas Valentinas una serie de intensos y duros combates, con el propósito de
derrotar al feroz ejército de Solano López, además de conquistar el centro de gravedad
paraguayo: su capital Asunción, con el objetivo de poner fin a una guerra que ya había
cargado muchos recursos, vidas y tiempo por parte de todos los contendientes. La
historia ha acordado nombrar esa serie de batallas como Decembrada. Después de 150
años de la serie de disputas antes mencionada, el presente estudio buscó analizar en
qué medida la Decembrada tuvo un papel decisivo en la victoria aliada en la Guerra de
la Triple Alianza, así como si generó influencias doctrinales para el Ejército Brasileño.
Para lograr los objetivos propuestos, esta disertación se desarrolló desde agosto de
2018 hasta septiembre de 2019, a través de una investigación bibliográfica y
documental (con acceso a fuentes primarias del Archivo Histórico del Ejército),
utilizando el método de lectura exploratoria y selectiva del material investigado, y
realizando una revisión integradora del mismo. Para lograr los objetivos específicos de
la investigación, se consultaron fuentes de los círculos académicos y militares, así como
fuentes de los países involucrados en el conflicto, obteniendo la máxima neutralidad y
exención. Finalmente, para dialogar las lecciones tácticas visualizadas en las maniobras
militares que ocurrieron en 1868, con la Doctrina Militar Terrestre actual, se utilizaron
los manuales y publicaciones doctrinales más recientes de la Fuerza Terrestre y el
Ministerio de Defensa.
Palabras Clave: Guerra del Paraguay. Doctrina Militar. Decembrada.
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Navio Marquês de Olinda ......................................................................... 16


Figura 2 – Passagem do Chaco ................................................................................ 17
Figura 3 – Juan Manuel Rosas.................................................................................. 33
Figura 4 – Carlos Solano López ................................................................................ 35
Figura 5 – Bartolomé Mitre ........................................................................................ 37
Figura 6 – “Sistema Zagalo” ...................................................................................... 42
Figura 7 – Granadas empregadas pela Artilharia ...................................................... 43
Figura 8 – Ofensiva paraguaia contra Brasil e Argentina .......................................... 45
Figura 9 – Batalha naval do Riachuelo ...................................................................... 47
Figura 10 – General Osório ....................................................................................... 53
Figura 11 – Esquema de manobra da batalha de Tuiuti.............................................55
Figura 12 – Uso de balão para monitoramento das posições paraguaias ................. 58
Figura 13 – Avanços aliados em território paraguaio ................................................ 61
Figura 14 – Marcha para Palmas .............................................................................. 64
Figura 15 – Teatro de operações da Dezembrada .................................................... 65
Figura 16 – Linha defensiva do Piquissiri .................................................................. 66
Figura 17 – Baterias de Angostura ............................................................................ 67
Figura 18 – Detalhes das trincheiras e sistemas de represas de Piquissiri............... 68
Figura 19 – Planta da estrada do Chaco ................................................................... 70
Figura 20 – Esboço original do ponto de embarque para a retravessia do Rio
Paraguai, concluída a marcha pelo Chaco ................................................................ 71
Figura 21 – Controle de efetivos nas operações ....................................................... 77
Figura 22 – Esboço original do dispositivo na batalha de Itororó .............................. 78
Figura 23 – Comparação das forças aliadas e paraguaias envolvidas em Itororó .... 79
Figura 24 – Dias que antecederam e culminaram na batalha do Avaí.......................83
Figura 25 – Disposição das tropas na batalha do Avaí ............................................. 84
Figura 26 – Localização relativa de Lomas Valentinas..............................................87
Figura 27 – Esboço original de Lomas Valentinas .................................................... 88
Figura 28 – Organização das forças em Lomas Valentinas.......................................90
Figura 29 – Controle de efetivos nas operações ....................................................... 92
Figura 30 – Dispostivo do ataque em Lomas Valentinas.. ....................................... 94
LISTA DE QUADROS E ORGANOGRAMAS

Quadro 1 – Cronologia da Guerra ............................................................................. 30


Quadro 2 – Baixas brasileiras em Itororó .................................................................. 82
Quadro 3 – Baixas brasileiras em Avaí ..................................................................... 86
Quadro 4 – Princípios de Guerra na Manobra do Piquissiri ...................................... 98
Organograma 1 – 1º Corpo de Exército .................................................................... 72
Organograma 2 – 2º Corpo de Exército .................................................................... 73
Organograma 3 – 3º Corpo de Exército .................................................................... 74
LISTA DE ABREVIATURAS

AHEx Arquivo Histórico do Exército


Bda Brigada
Btl Batalhão
CAO Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais
Cel Coronel
CEx Corpo de Exército
CG Centro de Gravidade
CS Comando Supremo
DOU Diário Oficial da União
DC Divisão de Cavalaria
DMT Doutrina Militar Terrestre
EsAO Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais
ECEME Escola de Comando e Estado-Maior do Exército
EME Estado-Maior do Exército
EB Exército Brasileiro
F Ter Força Terrestre
Gen General
GTA Guerra da Tríplice Aliança
IES Institutos de Educação Superior
LA Linha de Ação
MD Ministério da Defesa
QG Quartel-General
TTP Técnicas, Táticas e Procedimentos
VA Via de Acesso
VP Voluntários da Pátria
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 15
1.1 PROBLEMA ........................................................................................................ 18
1.2 OBJETIVO......................................................................................................... ..19
1.3 QUESTÕES DE ESTUDO................................................................................... 20
1.4 JUSTIFICATIVA .................................................................................................. 20
2 METODOLOGIA .................................................................................................... 25
2.1 OBJETO FORMAL DE ESTUDO ........................................................................ 25
2.2 DELINEAMENTO DA PESQUISA ....................................................................... 26
2.2.1 Procedimentos para revisão da literatura ......................................................... 26
2.2.2 Instrumentos..................................................................................................... 27
2.2.3 Procedimentos metodológicos ......................................................................... 28
2.2.4 Análise dos dados ............................................................................................ 28
3 REVISÃO DE LITERATURA ................................................................................. 30
3.1 ANTECEDENTES E CAUSAS DA GUERRA ...................................................... 32
3.2 DOUTRINA DO EXÉRCITO ANTES E DURANTE A GUERRA...........................38
3.3 A INICIATIVA PARAGUAIA – INVASÃO DE MT E CORRIENTES......................44
3.4 A ASSINATURA DO TRATADO DA TRÍPLICE ALIANÇA .............................. ....45
3.5 BATALHA NAVAL DO RIACHUELO E INVASÃO DO RS....................................47
3.6 O AVANÇO ALIADO NO SUL E O RECUO PARAGUAIO .................................. 50
3.7 OS ANOS DE 1866 E 1867 E SUAS GUERRAS DE POSIÇÕES ...................... 50
3.7.1 A invasão do Paraguai ..................................................................................... 52
3.7.2 Tuiuti................................................................................................................. 54
3.7.3 Curupaiti ........................................................................................................... 56
3.7.4 Caxias entra em cena....................................................................................... 57
3.7.5 Humaitá ............................................................................................................ 59
3.8 DEZEMBRADA ................................................................................................... 64
3.8.1 A manobra do Piquissiri.....................................................................................64
3.8.2 A decisão de Caxias..........................................................................................68
3.8.3 A marcha pelo Chaco........................................................................................75
3.8.4 A batalha de Itororó...........................................................................................76
3.8.5 A batalha do Avaí...............................................................................................82
3.8.6 As batalhas de Lomas Valentinas......................................................................87
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES.. ........................................................................ 97
4.1 PRINCÍPIOS DE GUERRA NA MANOBRA DO PIQUISSIRI...............................97
4.2 A BATALHA DE ITORORÓ E SEUS ASPECTOS DOUTRINÁRIOS..................102
4.3 A BATALHA DO AVAÍ E SEUS ASPECTOS DOUTRINÁRIOS..........................104
4.4 AS BATALHAS DE LOMAS VALENTINAS E SEUS ASPECTOS DOUTRINÁRIOS.
...................................................................................................................................106
5 CONCLUSÃO......................................................................................................... 111
REFERÊNCIAS......................................................................................................... 115
15

1 INTRODUÇÃO

A Guerra da Tríplice Aliança contra Solano López (1827-1870) foi o maior conflito
bélico da América do Sul (envolvendo, de um lado, Brasil, Argentina e Uruguai, e, do
outro, o Paraguai) e ocorreu entre 12 de novembro de 1864, com o aprisionamento do
vapor Marquês de Olinda, e 20 de junho de 1870, quando Brasil e Paraguai assinaram
um acordo preliminar de Paz (DONATO, 2001). Como qualquer conflito, apresenta
causas remotas e imediatas, e os personagens principais são fatores determinantes na
eclosão e na condução da guerra (FARIA, 2015).
Na primeira metade da década de 1860, o governo paraguaio buscou ter
participação ativa nos acontecimentos platinos, apoiando o governo uruguaio
hostilizado pela Argentina e pelo Império Brasileiro. Desse modo, o Paraguai entrou em
uma situação de antagonismo com seus dois maiores vizinhos e Solano López acabou
por ordenar a invasão de Mato Grosso e Corrientes, iniciando uma guerra que se
estenderia por cinco anos (MOTA, 1995). Segundo Doratioto (2002, p.23), a guerra foi,
na verdade, “resultado do processo de construção dos Estados Nacionais no Rio da
Prata e, ao mesmo tempo, marco nas suas consolidações”.
Na madrugada de 11 de novembro de 1864, chegou à Assunção o navio
brasileiro Marquês de Olinda. A embarcação levava a bordo, o novo presidente da
província do Mato Grosso, o coronel Francisco Carneiro de Campos (1800- 1867).
Horas após partir de Assunção, o Marquês de Olinda foi alcançado pela canhoneira
paraguaia Tacuarí e obrigado a retornar ao porto da capital. López entendia que o
Brasil havia declarado guerra ao Paraguai, ao invadir, meses antes, o Uruguai, seu
aliado (SALLES, 1990).
16

FIGURA 1- Navio Marquês de Olinda, 1864


Fonte: Blog Guerra do Paraguai (2018) Acesso em: 13 out 2018

Como consequência, López decidiu, em 15 de novembro, iniciar operações


bélicas contra o Mato Grosso, o mais rápido possível. O passo seguinte seria invadir o
Rio Grande do Sul por São Borja, com as tropas que estavam concentradas em
Encarnación, às margens do rio Paraná (MOURA, 1996).
Os ataques paraguaios a Mato Grosso e Corrientes viabilizaram a formalização
da aliança argentino-brasileira, à qual aderiu o Uruguai governado por Venâncio Flores
(1808-1868). Em 1º de maio de 1865 foi assinado, em Buenos Aires, o Tratado da
Tríplice Aliança, contra Solano López, que estabelecia as condições da paz e também
deveria servir de base para o estabelecimento para uma aliança calcada na “justiça e
na razão” (CARDOZO, 1965).
Somente em abril de 1866, os aliados invadiram o território guarani, obrigando
Solano López a recuar suas tropas, que instalaram-se em sólidas posições defensivas,
atrás de terrenos alagados que dificultariam o acesso do inimigo (TASSO FRAGOSO,
2012).
Luís Alves de Lima e Silva (1803-1870), o Duque de Caxias, assumiu o posto de
comandante-em-chefe das forças brasileiras em 19 de novembro de 1866. O momento
era difícil, pois o Exército aliado se encontrava desarticulado e sem ânimo. Ademais,
Caxias tinha que reorganizar o Exército Brasileiro e pôr fim às disputas políticas entre
seus chefes, de modo a criar condições de vencer o conflito. Para isso, tornou mais
17

eficientes as tropas brasileiras, fortaleceu a posição do Exército e ampliou sua


autonomia em relação ao governo imperial, de modo a ter agilidade na ação
(IZECKSON, 1997).
A Dezembrada, série de batalhas decisivas, desenvolvidas a norte da Bateria de
Angostura, vencidas pela Tríplice Aliança em dezembro de 1868 e que abriram o
acesso dos aliados à capital Assunção, é um dos exemplos mais significativos de uma
operação ofensiva de envergadura. O envolvimento do inimigo pelo Chaco, as
dificuldades de construção da estrada, as más condições meteorológicas, os
deslocamentos em terrrenos pantanosos e a travessia do Rio Paraguai, demonstram a
obstinação ofensiva, não medindo esforços para buscar o combate decisivo. Após o
desembarque aliado em Santo Antônio, López foi destacando seus efetivos
estacionados ao norte do Piquissiri, sendo batido em Itororó, Avaí e Lomas Valentinas
(GRALA, 1986).

FIGURA 2- Passagem do Chaco- óleo sobre tela de Pedro Américo


Fonte: museus.gov.br Acesso em: 15 out 2018

Em artigo versando sobre a Doutrina Militar Terrestre na Guerra do Paraguai,


Bento (1982), assim descreve as consequências e resultados da manobra do Piquissiri:
18

Prosseguindo rumo a Assunção, os aliados se defrontaram com fortificações


apoiadas no arroio Piquissiri. Para ultrapassá-las, Caxias concebeu o plano de
abordá-las através de estrada a construir sobre o Chaco, para cair de surpresa
sobre a retaguarda do adversário, cortando a ligação que este mantinha com
Assunção. Seu plano implicava em correr o Risco Calculado. Ou seja: sacrificar o
princípio de guerra Segurança, ao atravessar com o grosso de suas tropas uma
região sujeita a inundações repentinas. Isto, em benefício do princípio de guerra
Surpresa. No caso, desembarcar na retaguarda adversária, sem lá ser esperado,
e colher assim todas as vantagens militares decorrentes (BENTO, 1982, p. 4).

Os combates ocorridos no mês de dezembro de 1868 revestem-se de extrema


importância para o desfecho da guerra, fato comprovado pela ordem do dia número
272, de 14 de janeiro de 1869, assinada pelo Duque de Caxias, que após narrar
sinteticamente os acontecimentos daquele mês conclui: “A guerra chegou a seu termo,
e o Exército e a esquadra brasileira podem ufanar-se de haver combatido pela mais
justa e santa de todas as causas” (COSTA, 1974).
Decorrido o sesquicentenário da série de combates de dezembro de 1868, viu-se
a necessidade de relembrar e analisar tal momento sob o prisma da tática e da Doutrina
Militar Terrestre, com a finalidade de sedimentar possíveis lições aprendidas em um
teatro de operações, apesar de longínquo no tempo, muito próximo no contexto
espacial e geopolítico.
Para um melhor entendimento desta seção, a introdução será dividida em:
problema, objetivo, questões de estudo e justificativa.

1.1 PROBLEMA

Entre 1866 e meados de 1867, a Guerra do Paraguai foi uma guerra de


posições. Foi um período em que o Exército que esteve na defensiva (paraguaio) levou
grande vantagem sobre a ofensiva durante os combates travados (SALLES, 2015).
O ano de 1868 foi decisivo para a evolução da guerra. Com recursos bélicos
suficientes, livre de qualquer outra hierarquia superior a não ser o governo brasileiro e
sofrendo a cobrança pública brasileira por ações bélicas que terminassem a guerra,
Caxias comandou o isolamento total de Humaitá, causou sua evacuação e ocupou a
fortaleza. Em seguida, marchou em perseguição a Solano López e elaborou eficiente
19

estratégia para economizar vidas aliadas, ao atacar o inimigo, entrincheirado em Lomas


Valentinas, pela retaguarda (DORATIOTO, 2002).
Doratioto (2002, p.309) conclui afirmando que “ao terminar 1868, o Exército
aliado destruíra o poder militar paraguaio e se preparava para entrar na capital inimiga”.
Ao refletir a respeito dos combates travados em dezembro de 1868, que permitiram às
tropas aliadas selar a irreversível derrocada de Solano López, tal historiador conclui
que, “desde o dia 6 de dezembro o Exército paraguaio havia perdido quase 20 mil
combatentes, ou seja, fora destruído” (2002, p.374).
Hodiernamente, decorridos 150 anos da série de combates que a História
convencionou chamar “Dezembrada”, em que medida é possível concluir que esta teve
papel decisivo para a vitória aliada na Guerra da Tríplice Aliança, gerando influências
para a Doutrina do Exército Brasileiro?

1.2 OBJETIVO

Este trabalho pretende analisar os combates travados por ocasião da


“Dezembrada” e suas influências para a doutrina do Exército Brasileiro, a fim de
verificar se tais contendas foram cruciais para o êxito aliado na Guerra da Tríplice
Aliança.
Visando a atingir o objetivo geral de estudo, foram formulados os objetivos
específicos, abaixo relacionados, que permitirão o encadeamento lógico do raciocínio
descritivo apresentado neste estudo:
a. Identificar os antecedentes históricos e a geopolítica platina do século XIX;
b. Analisar a Manobra do Piquissiri;
c. Analisar a Batalha do Itororó;
d. Analisar a Batalha do Avaí;
e. Analisar as Batalhas de Lomas Valentinas;
f. Analisar os ganhos militares das batalhas de dezembro de 1868; e
g. Identificar as evoluções doutrinárias do Exército Brasileiro advindas das
experiências de combate adquiridas durante a “Dezembrada”.
20

1.3 QUESTÕES DE ESTUDO

Não há necessidade do processo de construção de hipóteses quando um


trabalho surge a partir das indagações do pesquisador sobre um determinado assunto e
o objetivo geral é descrever um evento ou processo. Nessa situação, trabalha se com
questões de estudo (NEVES; DOMINGUES, 2007).
Seguindo esse conceito teórico, o presente projeto apresenta as seguintes
questões de estudo:
a) Como se encontrava a geopolítica na região platina antes e durante o
conflito, quais ações provocaram o desencadear da Guerra da Tríplice
Aliança e quais as principais ações militares desencadeadas até
dezembro de 1868?;
b) Em que consistiu a “Manobra do Piquissiri?;
c) Quais foram as causas/antecedentes da Batalha de Itororó e suas
consequências?;
d) Quais foram as causas/antecedentes da Batalha de Avaí e suas
consequências?;
e) Quais foram as causas/antecedentes das Batalhas de Lomas Valentinas
e suas consequências?;
f) De que maneira os combates de dezembro de 1868 conseguiram
promover ganhos militares significativos a ponto de decidir a Guerra da
Tríplice Aliança? e
g) Quais as evoluções doutrinárias para o Exército Brasileiro oriundas dos
combates desencadeados em solo paraguaio em dezembro de 1868?

1.4 JUSTIFICATIVA

No Manual de História Militar Geral, usado pela Academia Militar das Agulhas
Negras na formação dos futuros chefes e líderes militares, o historiador militar brasileiro
Cláudio Moreira Bento produz uma definição sensata, atual e profissional a respeito do
conceito de História Militar:
21

História Militar é a parte da História da Humanidade que nos permite reconstituir a


História da Doutrina Militar. E Doutrina Militar são os princípios pelos quais os
exércitos têm se preparado (organizado, equipado, instruído e desenvolvido as
forças morais) para a eventualidade de conflitos e se empregados em guerras.
(Apud. SAVIAN; LACERDA, 2009, p. 8).

Do ponto de vista militar, o estudo da História Militar tem caráter


fundamentalmente utilitário. É uma ferramenta para aprender com o passado,
facilitando a compreensão de conceitos militares teóricos por meio de exemplos
históricos de sua aplicação. Auxilia a aprendizagem do emprego de forças militares nos
níveis estratégico, operacional e tático, bem como a compreensão da evolução da
doutrina militar, servindo como uma ponte entre a teoria militar e a aplicação dessa
teoria (VELÔZO, 2011).
Consoante Clausewitz (1979, p.153): “Os exemplos históricos esclarecem tudo;
possuem, além disso, um poder demonstrativo de primeira categoria [...]. Isto verifica-se
na arte da guerra mais do que em qualquer outro campo.”
Tradicionalmente, a História Militar também tem desempenhado as funções de
ferramenta de simulação de combate, por meio da vivência e análise de experiências
militares passadas. Essa função tem sido substituída em grande parte pelos “jogos de
guerra”, introduzidos nas escolas de estado-maior no século XIX, e fortemente
expandida com os instrumentos da tecnologia da informação após a 2ª Guerra Mundial.
Até o surgimento desses jogos de guerra, a leitura de obras de História Militar era o
único meio disponível aos comandantes e oficiais de estado-maior para vivenciar,
durante os períodos de paz, a experiência de estar em combate (VELÔZO, 2011).
Alinhado com o escopo da presente dissertação de mestrado, em seu Prefácio, o
Manual de Doutrina Militar Terrestre do Exército Brasileiro (2014, p. 11), afirma que
“Apesar das mudanças observadas na Arte da Guerra, mesmo que ocorram assimetrias
semelhantes às observadas em conflitos recentes, ressalta-se que o combate de alta
intensidade não perdeu a importância”, o que respalda a relevância da presente
pesquisa, que apesar de tratar de um conflito ocorrido há 150 anos, evidencia os
rudimentos e conceitos que permeiam o campo de batalha até os nossos dias atuais de
guerra assimétrica e de 4ª geração.
22

A História Militar é o repositório da memória das instituições militares, sob a


forma de práticas, valores e tradições. As instituições militares são essencialmente
realistas e conservadoras, como observou Samuel Huntington, em O Soldado e o
Estado (1996). Segundo Huntington, esse conservadorismo é fruto de uma ética que

enfatiza a imutabilidade, a irracionalidade, a fraqueza e a maldade da natureza


humana... [que] proclama a supremacia da sociedade sobre o indivíduo e a
importância da ordem, da hierarquia e da divisão de funções... [que] salienta a
continuidade e o valor da história (1996, p. 96).

A Guerra da Tríplice Aliança influenciou o Exército Brasileiro em uma diversa


gama de aspectos. Há teses, livros, artigos científicos, artigos de revistas, e
dissertações a seu respeito. Tal bibliografia contribuiu para a confecção da presente
dissertação de mestrado. Estudos específicos, recentes, sobre as contribuições efetivas
da “Dezembrada” para o êxito aliado, bem como sua influência para a Doutrina do EB,
entretanto, não foram encontrados, fato que realça a relevância e pertinência da
presente pesquisa, que beneficiará não só a Força Terrestre e seus integrantes, bem
como todos aqueles múltiplos atores envolvidos na arte da guerra, cada vez mais
abrangente e multidimensional.
Visando a busca de possíveis inovações, a presente pesquisa buscou
contextualizar os fatos táticos e históricos ocorridos em dezembro de 1868 durante a
GTA, com manuais da Força Terrestre atuais e recentemente publicados, como por
exemplo o Manual de Doutrina Militar Terrestre do Exército Brasileiro (2014).
O editorial da Revista do Exército Brasileiro (2016, p. 3), publicação bastante
atual, contextualizada e colimada com a busca do estado da arte, aborda a importância
e a motivação para a escolha do tema da presente dissertação de mestrado. Além
disso, corrobora plenamente com a consciência e mentalidade que se busca
desenvolver e reforçar por ocasião da dissertação em questão:

Estamos em pleno século XXI. Estão decorrendo 150 anos daquela tempestade;
as questões que levaram à tragédia estão superadas; os fatos são rememorados
e servem de ensinamento. Mas, e agora? Grandes indagações nos inquietam no
presente, quanto ao futuro do nosso País, frutos de novos óbices. As lições do
passado somente terão serventia se forem absorvidas e aplicadas nos
procedimentos atuais, para evitar a repetição de problemas e canalizar esforços
benéficos. Fazemos isso? Temos cultura de planejamento estratégico? O Brasil
está preparado? Fazemos (nós, estudiosos) a nossa parte? Os desafios ao
23

desenvolvimento são portentosos. É imprescindível direcionar esforços para


objetivos econômicos, de infraestrutura, de saúde, de segurança, de educação e
pesquisa, perfeitamente delineados, e cooperar para a paz e o entendimento
entre as nações. Contudo, para se conquistar e manter a paz, é necessário
estarmos preparados para a guerra. E a melhor forma de se conseguir isso é,
além de fazer investimentos permanentes em pessoas e em meios materiais,
estudá-la profundamente. Não se esquecendo, nunca, de fortalecer o poderio
militar. A guerra, que ninguém deseja, mas que faz parte da vida humana, é uma
responsabilidade de toda a nação, tanto sua prevenção quanto sua execução. O
único defensor da soberania nacional é o povo.

Figura importante no estudo da História Militar aliado à preocupação com a


evolução doutrinária e tática, novamente o historiador e militar Cláudio Moreira Bento é
categórico e evidencia as contribuições para a Doutrina Militar Terrestre que são
advindas de estudos da história militar como a presente pesquisa:

Acreditamos que muitas daquelas soluções, se estudadas criticamente por


chefes, pensadores, planejadores e historiadores militares brasileiros, servirão de
ferramentas para alicerçar o Exército Brasileiro do futuro. Um Exército possuidor
de Poder Militar Defensivo Dissuasório Compatível, para proteger as riquezas
minerais da Amazônia Verde, o Povo e a Integridade e a Soberania do Brasil [...]
Militarmente seguro ao dispor de um Exército, como braço armado do povo e
dotado de uma Doutrina Militar com expressiva nacionalização. Fruto de análise
crítica do seu passado, do entendimento do seu presente e desenvolvimentos
das capacidades de estimar o seu futuro militar e de formular e praticar Doutrina
Militar dinâmica e coerente com este futuro, conforme procederam os Exércitos
das grandes potências e potências militares (1982, p. 2).

Diante dos supracitados fatos e com a chegada do sesquicentenário da


“Dezembrada”, a presente dissertação de mestrado reveste-se de importância e
justifica-se por atender à Diretriz para as comemorações para o Sesquicentenário do
Conflito da Tríplice Aliança (1864-1870) no âmbito do Exército Brasileiro (EB10-D-
09.004), publicada através da Portaria Nº 1.783, de 8 de dezembro de 2015, que em
seu item 3. OBJETIVOS, elenca 4 metas, todas perfeitamente exequíveis por ocasião
da realização da presente dissertação, quais sejam:

a) Preservar e divulgar o patrimônio imaterial do Exército, expresso em suas


tradições, celebrações e nos valores militares.
b) Estimular, na sociedade brasileira, o culto aos grandes vultos nacionais.
c) Rememorar a GTA, como evento político e militar marcante para a História de
todos os países envolvidos, desenvolvendo atividades culturais que resultem
24

numa compreensão profunda, precisa e isenta a respeito das causas, desenrolar


e consequências do conflito.
d) Do ponto de vista do Brasil, proporcionar visibilidade social e acadêmica ao EB,
posicionando-o como elemento central da solução militar do conflito e como
instituição comprometida com os destinos da Pátria e da sociedade (BRASIL,
2015, p. 7).

Além de corresponder à portaria supracitada, a presente dissertação também


atende e almeja responder a objetivos elencados no Plano Estratégico do Exército,
PEEx, 2016-2019 (Portaria 1.507, de 15 de dezembro de 2014 do Cmt Exército), que,
entre outros, elenca como ação estratégica o “ Incentivo à pesquisa sobre História
Militar” , à portaria 255 do EME , de 4 de julho de 2016, que aprova a Diretriz para a
Implantação do projeto Raízes, valores e tradições do Exército Brasileiro, que , entre
outros objetivos, elenca: “Realçar o ensino da História Militar nos Estabelecimentos de
Ensino”, bem como à Diretriz do Cmt do EB de 2019, que, entre outros, enfatiza o “culto
às tradições e aos valores militares de forma a fortalecer a coesão e o espírito de
corpo.”
Dessa maneira, gerando o diálogo entre fatos fundamentais e indiscutíveis da
História Militar Brasileira, com o cenário cada vez mais multifacetado, complexo e difuso
no qual a Força Terrestre está imersa e encontra seus desafios, a presente pesquisa
situa-se. Buscando ser um vetor de contribuição para a DMT e a vasta gama de atores
envolvidos em todo o amplo espectro da Arte da Guerra, a presente dissertação de
mestrado soma esforços na constante busca de evolução do Exército de Caxias, que
garantiu nos campos de batalha, em dezembro de 1868, o arremate para a vitória
Aliada na maior guerra travada em toda história da América do Sul .
25

2 METODOLOGIA

Consoante Barros (2012), a metodologia significa o modo de trabalhar algo, de


escolher ou constituir materiais, de extrair algo destes, vinculando-se a ações
concretas, com o intuito de solucionar um problema. Posto isso, a presente seção
apresentará em pormenores a metodologia que foi desenvolvida para solucionar o
problema de pesquisa. O trabalho é uma pesquisa histórica, calcada em pesquisa
bibliográfica e documental (FORTE, 2004).
A presente pesquisa é um trabalho de revisão de literatura. Trata-se de uma
pesquisa aplicada, dentro das Ciências Militares, com ênfase na História Militar.
Conforme Minayo (2011), é uma pesquisa que tem o foco em seu pesquisador, pois ele
pretende criar um vínculo entre o mundo objetivo e a subjetividade. Segundo o
supracitado autor, esse processo não comporta métodos e técnicas estatísticas.
Esta pesquisa é classificada como qualitativa, já que inexistem cálculos,
ocorrendo uma predominância de classificações, como também de análises mais
dissertativas. No que tange ao objetivo e ao grau do problema, a corrente pesquisa é
considerada como descritiva (FORTE, 2004).
Dessa maneira, para um melhor encadeamento de ideias, esta seção foi dividida
nos seguintes tópicos: Objeto Formal de Estudo e Delineamento de Pesquisa.

2.1 OBJETO FORMAL DE ESTUDO

Este trabalho é uma pesquisa documental e bibliográfica e buscou solucionar o


seguinte problema: Hodiernamente, decorridos 150 anos da série de combates que a
História convencionou chamar “Dezembrada”, em que medida é possível concluir que
esta teve papel decisivo para a vitória aliada na Guerra da Tríplice Aliança, gerando
influências para a Doutrina do Exército Brasileiro?
O presente trabalho foi dividido em duas partes: pesquisa documental e
bibliográfica. Foram utilizadas como fontes, a biblioteca da EsAO, Escola de Comando
e Estado-Maior do Exército (ECEME), Instituições de Ensino Superior (IES), Arquivo
Histórico do Exército e biblioteca do Senado Federal, sendo estes 2 últimos com
26

fornecimento e acesso a fontes primárias. Também foi utilizada a Base de dados EB


Conhecer, mantida pelo DPHCEx, e diversos livros nacionais e estrangeiros, na busca
da solução para o problema supracitado.

2.2 DELINEAMENTO DA PESQUISA

No tocante à natureza, a pesquisa é classificada como uma pesquisa aplicada, já


que objetivou a produção de conhecimento acerca de um problema específico (GIL,
2008).
A abordagem da dissertação foi qualitativa, pois dedicou-se à interpretação de
fenômenos relacionados às questões de estudo e à consequente atribuição de
significados. O método que norteou a dissertação foi o indutivo, a partir da
generalização resultante da observação de casos particulares. (NEVES; DOMINGUES,
2007).
No que concerne ao objetivo geral, trata-se de uma pesquisa descritiva. No que
tange aos procedimentos para a coleta de dados, foi realizada uma pesquisa
bibliográfica e uma coleta documental. Consultas a livros, publicações de autores de
reconhecida importância no meio acadêmico, artigos científicos e fontes primárias como
os Diários do Exército em operações no Paraguai, mapas, croquis e relatórios diversos,
ricos em dados e informações, permitiram um entendimento pormenorizado para a
discussão dos resultados.
Foram seguidas as seguintes formas de pesquisa: pesquisa bibliográfica e
pesquisa documental.

2.2.1 Procedimentos para revisão da literatura

Conforme detalhado no delineamento de pesquisa, o presente estudo é uma


pesquisa descritiva qualitativa, realizada a partir de pesquisa bibliográfica e documental.
Segundo Gil (1999), a pesquisa bibliográfica tem a vantagem de permitir ao
pesquisador explorar uma gama de episódios maior do que em uma pesquisa direta. É
imprescindível em estudos históricos, pela impossibilidade de se voltar ao passado, a
não ser pelo estudo da bibliografia.
27

Para a definição de termos, redação da Revisão da Literatura e estruturação de


um modelo teórico de análise que viabilizasse a solução do problema de pesquisa, foi
realizada a revisão de literatura nos seguintes moldes:

a) Fontes de busca

- Artigos científicos das bases de dados da Escola de Comando e Estado-Maior


do Exército (ECEME), da EsAO e de Instituições de Ensino Superior (IES);
- Pesquisa documental do Arquivo Histórico do Exército (AHEx), Biblioteca do
Senado Federal e Museus Militares;
- Livros acerca da temática envolvida, produzidos no Brasil e no exterior, escritos
por autores que estiveram presentes em diferentes lados do conflito e/ou que detêm
profundo conhecimento na área do tema proposto na dissertação;
- Artigos científicos das principais revistas nacionais e internacionais de assuntos
militares;
- Monografias do Sistema de Monografias e Teses do Exército Brasileiro;

b) Estratégia de busca para as bases de dados eletrônicas

Utilizaram-se os seguintes descritores: “Dezembrada”, “Guerra do Paraguai”,


“Doutrina Exército Brasileiro”, “Guerra de la Triple Alianza”, “Itororó”, “Avaí”, “Lomas
Valentinas”, “Angostura”, “Guerra Grande”, “Guerra Guazú”, “Manobra do Piquissiri” e
“Piquissiri Maneuver”, respeitando as peculiaridades de cada base de dados.
Após a pesquisa eletrônica, as referências bibliográficas dos estudos
considerados relevantes foram revisadas, no sentido de encontrar artigos não
localizados na referida pesquisa.

2.2.2 Instrumentos

Os instrumentos empregados por ocasião das investigações científicas


realizadas na presente pesquisa foram os seguintes: a análise de documentos e a
interpretação das diversas bibliografias sobre o tema.
28

2.2.3 Procedimentos metodológicos

Com o intuito de atingir o objetivo da pesquisa, foi iniciada uma ampla busca de
literatura acerca do assunto. As fontes de obtenção de dados foram apresentadas no
subitem “2.2.1 Procedimentos para revisão da literatura”.
Segundo Gil (2010), a revisão bibliográfica deve ser organizada e metódica. A
presente Dissertação de Mestrado seguiu o seguinte protocolo:
a) levantamento bibliográfico preliminar;
b) elaboração do plano provisório de assunto;
c) busca das fontes;
d) leitura do material;
e) fichamento;
f) organização lógica do assunto

A seguir, apresentam-se os critérios de inclusão e exclusão das fontes


bibliográficas:

a) Critérios de inclusão
- Estudos publicados em português, espanhol, inglês ou francês;
- Estudos publicados de 1860 a 2019;
- Estudos qualitativos que descrevam as operações e doutrinas empregadas
durante a Guerra da Tríplice Aliança;

b) Critérios de exclusão
- Estudos que abordem o tema com viés ideológico ou com emprego de
personagens fictícios na Guerra da Tríplice Aliança, não se comprometendo com
o rigor dos fatos históricos ocorridos.

2.2.4 Análise dos dados

No tocante à apresentação e à análise dos dados obtidos, foram realizados


procedimentos sequenciais que permitiram a compreensão mais adequada acerca da
documentação oriunda dos diversos tipos de fontes que foram utilizadas. Dessa
29

maneira, primeiramente o documento foi identificado no que tange à sua natureza, aos
aspectos referentes ao seu autor, à data de publicação e ao local ou região onde foi
produzido.
Em um segundo momento, foi realizada a análise do conteúdo através da
identificação do tema tratado, distinguindo a informação principal das acessórias, e da
identificação do contexto histórico. Também foi feita a Interpretação do documento,
esclarecendo expressões ou frases cujo sentido suscitasse dúvidas.
A terceira etapa foi a avaliação da importância histórica da fonte, que ocorreu por
meio da identificação do interesse histórico do documento para o estudo do assunto em
questão, ou seja, a finalidade da sua produção, a relação do autor com o assunto em
pauta e a ocorrência de erros ou omissões.
Para a análise dos dados, foram utilizadas comparações entre os autores, bem
como a análise subjetiva da bibliografia e documentos primários obtidos. A dissertação
de mestrado foi produzida a partir do estudo comparativo da bibliografia estudada, e os
dados coletados foram confrontados, propiciando a consecução do objetivo proposto.
A apresentação dos resultados foi mediante texto descritivo e teve como objetivo
principal analisar os combates travados por ocasião da “Dezembrada” e suas
influências para a doutrina do Exército Brasileiro, a fim de verificar se tais combates
tiveram papel decisivo para o êxito aliado na Guerra da Tríplice Aliança.
30

3 REVISÃO DE LITERATURA

A finalidade do presente capítulo é apresentar os aspectos históricos e


doutrinários que permearam os períodos antecedentes e referentes ao desenrolar da
Guerra da Tríplice Aliança, em especial aos fatos desenrolados em Dezembro de 1868,
no período compreendido entre os dias 6 e 27, onde foi desencadeada uma série de
combates que culminou com a neutralização de aproximadamente 20 mil combatentes
paraguaios, a fuga de Solano López (1827-1870) para a região da Cordilheira, a
ocupação aliada de Assunção, capital do Paraguai, e a desestabilização do poder de
combate das tropas Lopistas. Para uma melhor ambientação cronológica, é
apresentado o seguinte quadro:

QUADRO 1- Cronologia dos principais acontecimentos da Guerra


Fonte: Revista do Exército Brasileiro (2017)

A Guerra da Tríplice Aliança, também conhecida como Grande Guerra e Guerra


do Paraguai, maior conflito armado internacional ocorrido na América do Sul, é um
assunto que tem gerado celeumas na historiografia brasileira. Segundo Mota (1995,
31

p.48), na historiografia de tal guerra, “reside um nó histórico de nosso passado que,


uma vez desatado, permitirá o arranque para um futuro crítico e democrático, no qual as
disputas sejam equacionadas em fóruns internacionais legítimos, abertos e modernos”.
Conforme De Castro (2015), a Guerra do Paraguai é colocada junto com outras
do mesmo período- a Guerra Franco-Prussiana e a Guerra Civil Americana- como um
conflito de transição, em que aspectos antigos, do século XVIII e da época napoleônica,
tais como táticas arcaicas, uniformes elaborados e antigas noções de honra militar,
conviviam com encouraçados, transportes ferroviários, armas de repetição e outras
necessidades de uma guerra total, especialmente o recrutamento em massa e os
combates indo muito além dos costumes cavalheirescos e ritualísticos do século XVIII.
Conclui afirmando que, nesses últimos, a colocação de um exército em uma situação
insustentável ou a simples ocupação da capital resultavam na rendição do país. Afirma,
ainda, que as guerras modernas são mais penosas, sendo conduzidas até a destruição
ou incapacitação total do inimigo, com a rendição incondicional e ocupação de seu
território, como seria a norma da maior parte dos conflitos do século XX.
A bibliografia sobre a Guerra da Tríplice Aliança teve várias fases. Logo após o
conflito, Francisco Solano López (1826- 1870) foi retratado como um ditador de um país
agrícola, que cometeu erros militares e queria dominar extensa área na bacia do Prata
(CUNNINGHAME GRAHAM, 1943), enquanto os comandantes aliados do Brasil,
Argentina e Uruguai eram exaltados como heróis nacionais (LIMA, 2016).
Posteriormente, no Paraguai, interesses políticos e econômicos materializaram Solano
López como um grande herói da nação. Na década de sessenta do século XX, os
intelectuais de esquerda transformaram o ditador em herói anti-imperialista (FARIA,
2015).
Prosseguindo na análise das diversas abordagens que o ditador paraguaio
recebeu ao longo do tempo, Doratioto afirma que:

“a partir dos fins dos anos 60, intelectuais nacionalistas e de esquerda do Rio da
Prata, revisando os fatos concretos e a História da guerra, promoveram Solano
López a líder anti-imperialista. Esse revisionismo apresenta o Paraguai pré-guerra
como um país progressista, onde o Estado teria proporcionado a modernização do
país e o bem-estar de sua população, fugindo à inserção na economia capitalista e
à subordinação à Inglaterra. Por tal explicação, Brasil e Argentina teriam sido
manipulados por interesses britânicos para aniquilar o desenvolvimento autônomo
paraguaio” (2002, p.19).
32

Salles (2015) atesta que o livro mais marcante de tal revisionismo


provavelmente seja La Guerra Del Paraguay: gran negocio!, publicado em 1968 pelo
historiador argentino León Pomer. Prossegue afirmando que no Brasil, o maior
representando da vertente revisionista foi o escritor Julio José Chiavennato, que em
1979 publicou a obra Genocídio americano: a Guerra do Paraguai.
A abordagem de Chiavennato pressupõe como motivação para a Guerra a
relevância das causas econômicas, oriundas do capitalismo internacional:

Os pretextos serão vários, a mentira será usada largamente e prevalece até


nossos dias. As causas fundamentais para a destruição do Paraguai, é bom
ressaltar, são nitidamente econômicas. O que não impede que surjam outros
motivos paralelos que determinaram a guerra de extermínio à república guarani
como: questões de limites, acidentes políticos e diplomáticos forjados, calúnias
manipuladas dentro das embaixadas e até uma grotesca cruzada civilizatória
para “libertar” o Paraguai dos seus tiranos (CHIAVENATTO, 1983, p. 35).

Segundo Faria (2015), em meados da década de 1980, nos centros de produção


do conhecimento histórico, começou a emergir uma nova perspectiva historiográfica
para tratar do assunto. Tal perspectiva aglutinou diversas pesquisas acadêmicas, com
variados enfoques sobre a Guerra do Paraguai, mas que apresentam algumas
características em comum: questionam a participação e responsabilidade inglesa no
conflito; questionam o desenvolvimento econômico do Paraguai; e apresentam como
razões para a Guerra os conflitos e interesses regionais. Conclui afirmando que um dos
principais representantes de tal perspectiva é Francisco Doratioto, autor que constata:

A interpretação imperialista apresentava a sociedade paraguaia do pré-guerra


como avançada, liderada por Francisco Solano López, governante autoritário,
mas preocupado como o bem-estar do seu povo. Nada mais distante da
realidade. O Paraguai tinha uma economia agrícola, atrasada; nela havia
escravidão africana, embora diminuta, e López era movido apenas pela lógica de
todos os ditadores, a de se manter no poder (DORATIOTO, 2004, p. 18).

3.1 ANTECEDENTES E CAUSAS DA GUERRA

A respeito dos países envolvidos no conflito, verifica-se que, de um lado,


estavam o Brasil, a Argentina e o Uruguai, e do outro, o Paraguai. Conforme Bueno
33

(2010), o Brasil à época constituía um Império independente, centralizado e com


estabilidade política relativamente superior à dos demais envolvidos. A Argentina era
um país com uma organização política instável, pois a capital Buenos Aires e o interior
disputavam o poder central. No Uruguai, facções disputavam o poder, sofrendo a
influência de outros governos; e por fim, o Paraguai, que era governado por ditadores
desde sua independência e, portanto, quase sem resistências internas.
Linhares (1990) afirma que o Paraguai se isolou após a sua independência, em
1811, como fim de evitar uma possível dominação pela Argentina, que se declarava
sucessora do Vice-reinado do Prata. Esse isolamento, que durou até a década de 1840,
e também, sua abertura e inserção internacional, conforme Faria (2015), se explicam,
em parte, pela situação política da região. Após sua abertura política, o Paraguai
manteve boas relações com o Império do Brasil. No entanto, no início da década de
1860, o governo paraguaio buscou uma participação ativa nos acontecimentos platinos,
apoiando o governo uruguaio, hostilizado pela Argentina e pelo Império Brasileiro.
Vianna (1972), afirma que na década de 1850, a necessidade do Paraguai em
ampliar contato com o exterior para se modernizar, encontrava um obstáculo no
governador da província de Buenos Aires, Juan Manuel de Rosas (1793-1877), que se
recusava a reconhecer independência paraguaia e dificultava seu comércio exterior, ao
controlar a navegação do rio Paraná. A aproximação brasileira com o Paraguai atendia
à política do governo imperial de buscar isolar Rosas, no Prata.

FIGURA 3- Juan Manuel Rosas, governador de Buenos Aires de 1835 a 1852


Fonte: www.iese.edu.ar Acesso em: 12 de novembro de 2018
34

Faria (2015) atesta que a questão da liberdade de navegação na região do Prata


era essencial ao Império Brasileiro, por ser acesso, por via fluvial, ao Mato Grosso. A
navegação era feita com barcos que penetravam no estuário do Prata, subiam pelos
rios Paraná e Paraguai, passavam por Assunção até chegarem a Cuiabá, capital mato-
grossense. Assim, para consolidar a liberdade de navegação, o Império Brasileiro tinha
como pressupostos as independências do Paraguai e Uruguai e a não ampliação da
fronteira argentina (BARROSO, 1935).
Segundo Salles (2015), em 1854, o presidente paraguaio Carlos Solano López
(1792-1862) mandou seu filho, Francisco Solano López (1826-1870) à Europa como
ministro plenipotenciário1 para comprar armamentos e estabelecer contatos comerciais.
Na Inglaterra, ele entrou em contato com a empresa Blyth&Co, uma das companhias
mais avançadas do mundo em tecnologia.
Por intermédio dessa companhia, o Paraguai passou a comprar armamento, a
enviar jovens paraguaios para receberem treinamento e, ainda, recrutou cerca de 250
técnicos estrangeiros (dentre os quais 200 ingleses) para modernizar o país. Segundo
Bueno (2010), é equivocada, portanto, a imagem de que o Paraguai, antes de 1865,
teria promovido sua industrialização com seus próprios recursos sem depender dos
centros capitalistas, a ponto de tornar-se uma ameaça para os interesses ingleses no
Prata. Os projetos de infraestrutura guarani foram atendidos por capitais ingleses, e a
maioria dos especialistas estrangeiros que os implementaram era britânica (LIMA,
2016).

____________________________
1 Agente diplomático investido de plenos poderes, em relação a uma missão especial.
35

.
FIGURA 4 - Carlos Solano López, presidente paraguaio de 1844 a 1862
Fonte: Portal Guarani.com Acesso em: 12 de novembro de 2018

Em abril de 1856, o governo paraguaio assinou com o Império Brasileiro, um


tratado que garantia a livre navegação e postergou, por seis anos, a discussão das
fronteiras, mantendo o status quo da área litigiosa entre os rios Apa e Branco. Apesar
disso, as autoridades paraguaias continuaram a dificultar, por meio de regulamentos, a
passagem de navios brasileiros que rumavam para o Mato Grosso. Carlos López (1792-
1862) era dominado pela ideia de que, com a livre navegação, o Império fortaleceria
militarmente essa província e ameaçaria seu país. A falta de definição de limites era o
elemento visível de tensão entre o Paraguai e o Império (BARROSO, 1935).
Prosseguindo no desenrolar dos fatos que ocorreram até a eclosão da guerra,
Doratioto atesta que:

Para os Estados platinos, o ano de 1862 foi um marco, quer para as respectivas
políticas internas, quer para as relações entre eles. No Paraguai, Francisco
Solano López ascendeu ao poder; na Argentina, houve a reunificação nacional
sob a liderança de Buenos Aires e, no Brasil, o Partido Liberal substituiu o
Conservador no governo. Nesse ano, também teve fim a moratória para a
definição dos limites, estabelecida pelo Paraguai com o Império e a
Confederação Argentina na década anterior. As relações do novo governo
paraguaio deterioraram a partir de 1864 de forma acelerada, tanto com o Império
como com a República Argentina, levando o Paraguai à guerra contra esses dois
países que, juntamente com o Uruguai, constituíram a Tríplice Aliança para
enfrentar Solano López (2002, p. 39-40).
36

Consoante Lima (2016), os acontecimentos não se processaram como esperado


por Assunção. O Império do Brasil, na questão uruguaia de 1864, aproximou-se da
Argentina e apoiou o partido Colorado, que conseguiu a mudança de governo no
Uruguai levando ao poder Venâncio Flores (1808-1868). O governo imperial entendia
que o Paraguai apenas protestaria diplomaticamente sobre a situação de fato no
Uruguai e não acreditava que este iria à guerra. A notícia da entrada de tropas
brasileiras no Uruguai chegou à Assunção em 25 de outubro de 1864, na forma de
rumor. O representante uruguaio solicitou, então, a Solano López, o prometido auxílio
ao governo Atanásio Aguirre (1804-1857), e não obteve resposta conclusiva do
governante paraguaio (SAVIAN; LACERDA, 2009).
Faria (2015) conclui que a Guerra da Tríplice Aliança, portanto, foi fruto das
contradições regionais, tendo como objetivo de cada país a consolidação dos seus
Estados Nacionais: para Solano López era a oportunidade de colocar o Paraguai como
potência regional e ter acesso ao mar pelo porto de Montevidéu, fruto da aliança com
os blancos uruguaios e federalistas argentinos, representados por Urquiza (1801-1870);
para o presidente argentino Bartolomé Mitre (1821-1906) era a forma de consolidar o
Estado centralizado argentino e eliminar os apoios externos aos federalistas
proporcionado pelos blancos e paraguaios; para os blancos, o apoio militar paraguaio
contra argentinos e brasileiros, impediria quaisquer intervenções no Uruguai. Para o
Império Brasileiro, a guerra contra o ditador paraguaio não era esperada, nem
desejada, mas, iniciada, pensou-se que a vitória brasileira seria rápida e poria fim ao
litígio fronteiriço entre os dois países e às ameaças à livre navegação (SALLES, 2015).
37

FIGURA 5 - Bartolomé Mitre, presidente argentino de 1862 a 1868


Fonte: Educar Chile (2018). Acesso em: 13 nov de 2018

Na madrugada de 11 de novembro, chegou à Assunção o navio brasileiro


Marquês de Olinda. A embarcação levava a bordo, o novo presidente da província do
Mato Grosso, o coronel Carneiro Campos (1800-1867). Horas após partir de Assunção,
o Marquês de Olinda foi alcançado pela canhoneira paraguaia Tacuarí e obrigado a
retornar ao porto da capital. López entendia que o Brasil havia declarado guerra ao
Paraguai, ao invadir, meses antes, o Uruguai, seu aliado (SALLES, 1990).
Como consequência, López decidiu, em 15 de novembro, iniciar operações
bélicas contra o Mato Grosso, o mais rápido possível. O passo seguinte seria invadir o
Rio Grande do Sul por São Borja, com as tropas que estavam concentradas em
Encarnación, às margens do rio Paraná (MOURA, 1996).
38

3.2 DOUTRINA DO EXÉRCITO BRASILEIRO ANTES E DURANTE A GUERRA

Tendo em vista ser um dos pilares da presente pesquisa, faz-se necessária a


correta conceituação de Doutrina, com a intenção de obter-se uma melhor
compreensão do trabalho e alinhamento de percepções. O Manual de Doutrina Militar
Terrestre do Exército Brasileiro define que:

A doutrina em seu significado mais amplo é o conjunto de princípios, conceitos,


normas e procedimentos, fundamentadas principalmente na experiência,
destinada a estabelecer linhas de pensamentos e a orientar ações, expostos de
forma integrada e harmônica (BRASIL, 2014, p. 1).

Já ambientado no século XXI e colimado com as novas tendências da Era do


Conhecimento, o manual faz a seguinte definição, a qual, apesar de ter sido produzida
em 2014, se aplica à Força Terrestre desde seus tempos mais ancestrais e
rudimentares:

A Doutrina Militar Terrestre (DMT) é o conjunto de valores, fundamentos,


conceitos, concepções, táticas, técnicas, normas e procedimentos da F Ter,
estabelecido com a finalidade de orientar a Força no preparo dos seus meios,
considerando o modo de emprego mais provável, em operações terrestres e
conjuntas. A DMT estabelece um enquadramento comum para ser empregado
por seus quadros como referência na solução de problemas militares (BRASIL,
2014, p. 2).

Refletindo um pouco mais sobre o conceito de doutrina militar, de maneira geral,


pode-se entendê-la como um conjunto de preceitos que norteiam a preparação dos
exércitos, em toda a sua complexidade, para as situações de conflito, caso haja
necessidade do emprego do poder militar.
Realizada a presente conceituação de Doutrina, será retomado o panorama do
Exército Brasileiro por ocasião da eclosão da Guerra e abordados aspectos relativos à
doutrina empregada por nossas forças por ocasião daquele momento.
Segundo Moura (1996), no decorrer dos séculos XVII, XVIII e XIX, a arte da
guerra foi progressivamente assimilando os efeitos da Revolução Industrial, baseando-
se nos avanços tecnológicos da metalurgia e siderurgia. Desde o Período Colonial, por
não dispor de uma forte economia, o Brasil não teve condições de evoluir
adequadamente no meio militar. Sua indústria bélica ateve-se à produção de munições
39

e armamentos leves, mesmo assim em pequenas quantidades. Consequência disso,


sua evolução doutrinária permaneceu estática, em função das limitações da própria
indústria nacional e da falta de recursos para importação de material moderno.
A “Guerra Brasílica” e a “Guerra Gaúcha” foram exemplos claros da forma de
combater do soldado brasileiro. A primeira, surgida como coroamento das lutas contra
os holandeses em Guararapes e contra as invasões piratas do século XVII. A segunda,
nascida da necessidade de defesa do território sul do País, nas lutas fronteiriças, onde
o cavalo e o boi serviam de montaria, transporte e alimento (MOURA, 1996).
Em meados do século XVIII, com a Guerra dos Sete Anos em andamento na
Europa, o Marques de Pombal (1699- 1782) contratou o Conde Reynante de
Schamsberg Lippe (1720-1787) para reorganizar o Exército Português. Este, por sua
vez, enviou o general alemão Henrique Böher (1715-1770) para o Brasil, onde
introduziu treze regulamentos, sendo um de Corpo Doutrinário, do próprio Lippe
(Regulamento de Lippe)2. Na oportunidade, procurou organizar o Exército Regular com
tropa portuguesa, trazendo para a Colônia três regimentos de infantaria (CASTRO,
2002).
Oliveira (2017) afirma que, no que tange à doutrina militar brasileira, ao longo do
século XIX ocorreram grandes transformações, especialmente a partir da chegada da
Família Real portuguesa, no ano de 1808. Essas mudanças abarcaram aspectos como
a centralização do comando e reorganização das tropas, regulamentação acerca de
uniformes, criação de vários órgãos referentes à defesa e a aplicação de novas formas
de recrutamento.
Ao chegar ao Brasil, fugindo das tropas de Napoleão Bonaparte (1769-1821),
Dom João VI (1767-1826), observou prontamente a necessidade de que fosse
centralizado o poder militar. “A instalação da corte no Rio de Janeiro propiciou, como
consequência político-militar imediata, a unificação do governo e daquele exército,
dividido e repartido pelas capitanias gerais [...]” (BRASIL, 1972, p. 383).

____________________________
2 Conjunto de regulamentos que versavam desde temas regulamentares, administrativos e disciplinares,
até temáticas doutrinárias e táticas, implementados pelo Conde de Lippe na intenção de reestruturar e
reorganizar o Exército Português no século XVIII.
40

Com a criação, em 1810, da Academia Real Militar, deu-se um largo passo para
a estruturação das forças militares no Brasil. Esta Academia, entretanto, objetivava
mais construir o Brasil do que defendê-lo, tanto que sua elite era de engenheiros,
enquanto que a infantaria e a cavalaria eram subprodutos. Em 1855, com experiência
mais baseada nas lutas internas ocorridas em várias regiões do país, o Exército
Brasileiro, por determinação de Caxias (1803-1880), então Ministro da Guerra, procurou
renovar a tática vigente e enquadrá-la às exigências necessárias. Eram lançadas as
bases para uma nova escola da doutrina brasileira, ainda com influência portuguesa,
inglesa e francesa (MOURA, 1996).
Conforme Oliveira (2017), ocorreu também a unificação das forças milicianas e o
fim do antigo sistema de ordenanças, oriundo da organização sebástica de 1570 3, que
foi o alicerce da estrutura militar do Reino e do Brasil por mais de dois séculos. Além
desses fatos, houve uma série de medidas com o objetivo de reorganizar as forças
militares. Segundo Barroso:

O príncipe [...] regularizou o corpo da Brigada Real de Marinha, tornando-o


Regimento de Artilharia de Marinha [...] desdobrou mais a Brigada de cavalaria
de milícias em dois regimentos e aumentou o batalhão de Caçadores-Henriques,
tornando-o regimento [...] Em São Paulo, havia a sua célebre Legião[...] Dom
João deu nova organização a essas tropas. A legião passou a ter 3 batalhões de
Infantaria, 4 esquadrões de cavalaria, 2 baterias de artilharia a cavalo e uma
companhia de artilheiros-cavaleiros. [...] instituiu-se um regimento de cavalaria de
milícias, com estado-maior e quatro esquadrões formados por destacamentos
dos três regimentos de cavalaria de milícias da capitania (1935, p. 27, 28 e 29).

Relativo aos uniformes militares, com a finalidade de melhorar a apresentação da


tropa, elaborou-se um novo plano de uniformes, inspirado no fardamento francês. Faria
(2015) afirma que, em relação ao presente tema, cabe ressaltar que não havia uma
homogeneidade, sendo observadas diferentes fardas dependendo da tropa e região.
Foram criados também, além da Academia Real Militar, novos órgãos relacionados à
defesa, tais como: Ministério da Marinha e Ultramar, Ministério da Guerra e
estrangeiros, Conselho Superior Militar do Brasil, Casa das Armas, Hospitais Militares,
dentre outros.
_________________________
3
Em 1570, a obra jesuítica era composta por cinco escolas de instrução elementar (Porto Seguro, Ilhéus,
São Vicente, Espírito Santo e São Paulo) e três Colégios (Rio de Janeiro, Pernambuco e Bahia).
41

Conforme Oliveira (2017), pode-se mencionar também o surgimento de


inovações no processo de mobilização das praças, que passou a ocorrer das seguintes
maneiras: recrutamento à força, no qual era necessário servir durante 16 anos; o
recrutamento voluntário, com duração de 08 anos de serviço; e, o chamado
“semestreiro”. Em relação ao semestreiro, no primeiro ano os militares serviam ao
exército por seis meses. Nos anos seguintes, os militares serviam por um período de
três meses a cada ano. Por fim, constata que todas essas mudanças vieram a contribuir
para a solidificação dos fundamentos do Exército Brasileiro.
Oliveira (2017) complementa afirmando que a partir de 1850, no contexto
histórico do Império Brasileiro, houve um despertar, por parte das autoridades militares,
da necessidade da profissionalização e modernização do exército. Diante dos avanços
tecnológicos e militares dos países industrializados, as lideranças militares brasileiras
procuraram modernizar e profissionalizar o exército, buscando implementar alterações
no ensino, na organização e na estruturação de suas tropas.
Oliveira (2017) conclui que, na década de 1850, ainda houve a criação de uma
segunda Academia Militar do Império, situada na então província do Rio Grande do Sul
- RS. Outra ação importante foi a transferência das atividades militares práticas que
ocorriam na Academia Militar do Rio de Janeiro para a região da Praia Vermelha - RJ.
No tocante às armas diretamente empregadas no conflito, foi observada uma
vasta gama de doutrinas, com as mais variadas origens e matizes.
Moura (1996) atesta que a Infantaria passou a adotar o sistema de instrução
preconizado pelo Coronel do Exército Português Bernardo Antônio Zagalo (1780-1841),
sistema que perdurou até 1892. “Sistema Zagalo”, como era denominado, preconizava
o domínio da ordem-unida no campo de batalha, regulando evoluções de pelotão e de
batalhão, já que não havia escola de companhia. Tal ordem-unida visava,
particularmente, à realização do tiro nas melhores condições, seja avançando ou
recuando, e podia ser realizado a pé firme, em conjunto ou por atirador.
42

FIGURA 6- Tática de Infantaria preconizada pelo “Sistema Zagalo”


Fonte: Cadeira de História Militar da AMAN (2001)

O pelotão era a unidade de tiro e o batalhão era a unidade de emprego. A


baioneta era utilizada como arma ofensiva no assalto e na defensiva era empregada
nos quadrados contra a cavalaria (MOURA, 1996).
Conforme Doratioto (2002), para o emprego da cavalaria adotou-se o
regulamento “Beresford”4, que preconizava o combate a cavalo, tirando partido da
potência de choque da arma e empregando-a ofensivamente. Para Beresford (1768-
1854), o ataque era a principal finalidade da cavalaria, pois esta usufruía da velocidade
e regularidade; porém, deveria contar sempre com uma reserva. A artilharia montada
passou a usar o regulamento de tática rudimentar da Guarda Francesa, tendo como
alvos principais as formações de infantaria e de cavalaria inimigas.
Moura (1996), constata que não havia na época uma arma de engenharia, mas
elementos encarregados de organizar o terreno e proporcionar a transposição de
pequenos cursos de água. Quanto à logística, existia um serviço sanitário organizado
com hospitais fixos, ambulâncias e hospitais de sangue (um meio termo entre os postos
de socorro e triagem atuais)

_________________________
4 General inglês que, durante a invasão de Portugal por Napoleão, comandou o Exército Português
contra as tropas francesas de Junot.
43

FIGURA 7- Granadas empregadas pela Artilharia, de origem francesa


Fonte: Cadeira de História Militar da AMAN (2001)

Na organização do Exército do Sul, há referências ao Hospital Militar de Bagé,


às Pagadorias de Bagé e São Gabriel, bem como à aquisição de suprimentos de
fardamento, equipamento, munição e compra de pequena quantidade de cavalos para a
Guarda Nacional. O transporte de pessoal e suprimentos oriundos da Corte para a
região de operações platinas era realizado inicialmente por navios até o Rio da Prata.
Após o desembarque em terra, prosseguia-se no deslocamento, fazendo uso de
carroções e carros de boi (DORATIOTO, 2002).
No tocante a operações conjuntas entre a Marinha de guerra e o Exército
Brasileiro, Moura afirma que:

Até então, no Brasil, nunca houvera uma doutrina de operações combinadas


entre o Exército e a Marinha. Tamandaré, precavido, já vinha alertando o governo
por diversas vezes, quanto à possibilidade do emprego desse tipo de operação
na região platina. Na realidade, o que havia à época, era uma pequena
experiência em transportes marítimos e fluviais, adquirida em conflitos anteriores
naquela mesma região (1996, p. 11).

Encerrada a presente ambientação/retrospectiva a respeito da evolução da


Doutrina do Exército Brasileiro, até chegar aos combates da Guerra da Tríplice Aliança,
é interessante citar a afirmação do Coronel Cláudio Moreira Bento, a qual se alinha aos
objetivos propostos pela presente pesquisa:
44

Acreditamos que a Guerra do Paraguai, o maior e mais marcante conflito


enfrentado pelo Brasil, ainda se constitua em importante laboratório, com vistas
ao desenvolvimento das Doutrinas Militares. Não só a do Brasil, como a de
nossos irmãos uruguaios, argentinos e paraguaios. Temos convicção de que
estes estudos possam contribuir para o desenvolvimento de uma Doutrina Militar
do Mercosul para enfrentar o insondável 3º milênio (1982, p. 3).

3.3 A INICIATIVA PARAGUAIA – INVASÃO DE MATO GROSSO E CORRIENTES

Entre dezembro de 1864 e meados de setembro de 1865, o Paraguai esteve na


ofensiva militar, ao invadir o território brasileiro e o argentino. Solano López planejou
uma guerra rápida e fulminante que, fosse bem sucedida, resultaria em novo equilíbrio
de poder no Prata. O plano, no entanto, foi frustrado por uma série de fatores. As forças
invasoras de Corrientes e do Rio Grande do Sul não se aproveitaram do princípio de
guerra da surpresa; os blancos saíram do poder no Uruguai e, nas províncias
argentinas de Corrientes e Entre Ríos, a população não aderiu à força invasora (FARIA,
2015).
Doratioto relata que “envolvido por uma guerra inesperada, o Império do Brasil foi
surpreendido com o Exército despreparado a ponto de, seis meses depois de iniciada a
luta, não ter conseguido tomar a ofensiva. Mato Grosso era a província mais isolada e
indefesa do Brasil e tornou-se alvo fácil para a invasão paraguaia” (2002, p.97). O
historiador prossegue atestando que:

“o ataque paraguaio a Mato Grosso causou indignação no Brasil, visto como ato
traiçoeiro e injustificável, pois eram normais as relações entre os dois países,
bem como pelo fato de o Marquês de Olinda ter sido aprisionado sem declaração
de guerra. Por todo o país houve, de início, entusiasmo popular e voluntários se
apresentaram para o campo de batalha. O mesmo ardor não foi demonstrado
pela Guarda Nacional, milícia controlada pelas elites regionais” (2002, p.111).

O teatro de operações de Mato Grosso foi secundário e não influenciou o


resultado da guerra, embora as armas e munições apreendidas pelos invasores
reforçassem o poder bélico do Exército paraguaio. Com a ocupação de Mato Grosso,
Solano López garantiu sua retaguarda e pôde voltar-se para o Rio da Prata (CASTRO,
2002).
45

FIGURA 8 - As iniciativas paraguaias contra Brasil e Argentina


Fonte: Cadeira de História Militar da AMAN (2001)

Segundo Lima (1967), ocupado o Sul de Mato Grosso, o passo seguinte de


Solano López seria invadir o Rio Grande do Sul, visando atacar o Exército Brasileiro no
Uruguai. Para isso, contava com a garantia de Urquiza de que a Argentina se manteria
neutra no conflito. Desejoso de manter respeito pelo governo argentino, López pediu
permissão para passar com suas tropas pelo território de Missiones, para atacar o Rio
Grande do Sul. Mitre recusou a autorização, respaldando-se na neutralidade da
Argentina, o que o tornou o próximo alvo do ditador paraguaio (BARROSO, 1935).

3.4 A ASSINATURA DO TRATADO DA TRÍPLICE ALIANÇA

A invasão de Corrientes levou à assinatura, em 1º de maio de 1865, do Tratado


da Tríplice Aliança, entre a Argentina, o Brasil e o Uruguai. Representantes da
Argentina, Brasil e Uruguai, respectivamente, Rufino de Elizalde (1822-1887), Almeida
Rosa (1825-1889) e Carlos de Castro (1835-1911), assinaram o Tratado da Tríplice
Aliança contra o Paraguai. O texto do acordo era secreto e estabelecia, além da aliança
46

militar, os pré-requisitos para o estabelecimento da paz. Também as fronteiras entre o


país guarani e os vizinhos argentino e brasileiro foram previamente determinadas no
tratado (MOURA, 1996).
Doratioto (2002) relata que no plano bélico, a aliança era uma forma de suplantar
as respectivas falhas de organização militar e viabilizar as futuras operações contra o
Paraguai. Acrescentavam-se ao poderio do Brasil tropas argentinas que, embora em
número pequeno, eram combativas, por serem veteranas. O Império ampliava, também,
sua capacidade operacional e tática, dificultada pela distância do teatro de operações,
ao poder utilizar como base o território da República aliada e seus recursos materiais. A
Argentina, por sua vez, passou a contar com a numerosa esquadra imperial, elemento
indispensável para conduta do conflito, pois os rios Paraguai e Uruguai constituiriam
linhas obrigatórias de comunicações nas operações que se seguiriam. O governo
argentino teve, ainda, acesso aos recursos do Tesouro Brasileiro que, logo no início da
guerra, concedeu um empréstimo de cerca de 400 mil libras esterlinas à Argentina e
200 mil ao Uruguai (FARIA, 2015).
Lima (2016) relata que o governo argentino não queria nenhuma cláusula no
Tratado a respeito da soberania paraguaia no pós-guerra, mas a posição de Almeida
Rosa foi vitoriosa, e o artigo 9º do Tratado da Tríplice Aliança determinou que, finda a
guerra, seriam garantidas a independência, a soberania e a integridade territorial
paraguaias. O Tratado declarava que a guerra era contra o governo do Paraguai e não
contra seu povo. Os aliados comprometiam-se a não depor armas senão em comum
acordo e depois da derrubada de Solano López, ficando proibida qualquer iniciativa
separada de paz por um dos aliados. No mesmo dia, foi elaborado o plano de
operações militares aliado, em conselho de guerra composto pelos Generais Bartolomé
Mitre, Justo José Urquiza, Venancio Flores, Manuel Luís Osório e o Contra-Almirante
Tamandaré (ROLLA, 1995).
A biblioteca do Senado Federal Brasileiro publicou em 2002 um compilado de
diversos documentos originais, entre os quais encontra-se uma transcrição do Tratado
da Tríplice Aliança original, datado de 1º de maio de 1865 e assinado pelos
representantes dos 3 países aliados, onde podemos destacar o seguinte parágrafo:
47

“Persuadidos que a paz, segurança e prosperidade de suas respectivas nações


tornaram-se impossíveis enquanto existir o atual governo do Paraguai e que é
uma necessidade imperiosa, reclamada pelos mais elevados interesses, fazer
desaparecer aquele governo, respeitando-se a soberania, independência e
integridade territorial da República do Paraguai; resolveram, com esta intenção,
celebrar um tratado de aliança, ofensiva e defensiva” (2002, p.431).

3.5 BATALHA NAVAL DO RIACHUELO E INVASÃO DO RIO GRANDE DO SUL

A Batalha de Riachuelo teve início em 11 de junho de 1865, um domingo, e se


deu, principalmente, ao longo da curva do rio Paraná, em frente à foz do riacho de
Riachuelo, em uma área de seis quilômetros de extensão e dois de largura. Nesse
local, na margem esquerda do Paraná, existiam barrancas elevadas em Santa Catalina,
onde os paraguaios colocaram trinta canhões (AZEVEDO PIMENTEL, 1978).

FIGURA 9 - Navios da esquadra brasileira na batalha do Riachuelo


Fonte: Marinha do Brasil (2018) Acesso em: 16 nov de 2018

Consoante Pernidji (2010), o domínio da calha do rio Paraná, com a vitória naval
brasileira no Riachuelo, inviabilizou a continuidade da invasão paraguaia, ao dar aos
aliados o controle da navegação do rio Paraná, caminho estratégico para o envio de
tropas e suprimentos aos invasores de Corrientes. A batalha do Riachuelo foi decisiva
em relação à destruição da força fluvial paraguaia, mas não em relação às fortalezas
inimigas sobre o rio Paraguai, que impediram o domínio dessa via fluvial pela esquadra
48

brasileira, situação que perdurou até 1868, ano em que ocorreu a Dezembrada (objeto
de estudo da presente Dissertação de Mestrado). A vitória brasileira permitiu, porém,
consolidar o bloqueio do contato marítimo do Paraguai com outros países, o que
inviabilizou a obtenção de armamentos e mercadorias pelo Prata, e, ainda pôs fim ao
avanço da coluna paraguaia invasora em Corrientes (DONATO, 2001).
Consoante Doratioto (2002), na Batalha do Riachuelo esteve presente a conduta
padrão do governo paraguaio de então. Neste contexto, ponderação, moderação, senso
de equilíbrio, o respeito ao inimigo e a economia de vidas não eram características
valorizadas pelos oficiais e pelo comandante paraguaio, mas sim sua ousadia, suas
bravatas, seu desprezo pelo inimigo, sua valentia em atacar forças muito superiores e,
ainda, desconsiderar um resultado adverso.
De acordo com Lima (2016), existem indícios de que Solano López já planejava
invadir o Rio Grande do Sul antes da intervenção brasileira no Uruguai, fato este
comprovado pela grande mobilização em Encarnación. O plano de López era de que o
Exército de Estigarribia5, dividido em duas colunas, marchasse para o sul, utilizando-se
de ambas as margens do rio Uruguai. Pela margem esquerda, brasileira, desceria a
maior parte do efetivo, enquanto pelo oeste argentino, iria uma pequena força, do Major
Pedro Duarte. Uma coluna estaria sempre à vista da outra, de modo a se auxiliarem
quando necessário. Com a coluna invasora descendo pelas margens do rio Uruguai,
esperava-se que o governo argentino desviasse sua ação militar para esse lado,
favorecendo as operações das forças do General Robles. As tropas de Robles e
Estigarribia se uniriam ao sul, no rio Uruguai, para, então, marcharem para enfrentar o
Exército Imperial (Brasileiro) no Estado Oriental (Uruguai). O pré-requisito para a
unificação dos exércitos invasores paraguaios era a apreensão, ou destruição, da
esquadra brasileira, garantindo o controle paraguaio da navegação dos rios Paraguai e
Paraná (FARIA, 2015).

_________________________
5 Fração militar a comando do General Estigarribia que deveria invadir o sul do Brasil.
49

Os invasores de San Tomé, na Argentina, atravessaram o rio, utilizando-se de


canoas trazidas em carretas, e desembarcaram em território brasileiro, próximo a São
Borja, em 10 de junho de 1865. Os paraguaios venceram o obstáculo representado
pelas guardas nacionais existentes na margem do Uruguai e avançaram para São
Borja, onde haviam infiltrado espiões. Nesta localidade, enfrentaram uma tropa
composta de apenas 370 guardas nacionais (SALLES, 2015).
Em São Borja, Estigarribia recebeu novas ordens de Solano López. Elas eram
para que a coluna invasora acampasse em Itaqui e estudasse o inimigo e que
esperasse nesse local a chegada do Exército principal sob o comando do próprio
Marechal Solano López. Estigarribia, porém, violou essas instruções e, desejoso de
repetir a vitória inicial, decidiu marchar para Uruguaiana, deixando apreensivo Solano
López, que enviou mais quinhentos homens para reforçar a coluna invasora (LIMA,
1967).
Conforme Schwarz (1998), ao entrincheirar-se em Uruguaiana, Estigarribia
desobedeceu de novo às ordens de Solano López, que eram para se retirar do caminho
de São Miguel. O clima de inércia em que se encontrava o Rio Grande do Sul e o sul do
país, como um todo, levou Dom Pedro II a decidir-se por ir àquela Província. Segundo a
historiadora, às objeções apresentadas pelo Conselho de Estado a essa viagem, o
monarca respondeu: "se me podem impedir que siga como Imperador, não me
impedirão que abdique e siga como voluntário da pátria". Conclui afirmando que, se
dependesse exclusivamente dos chefes militares do Rio Grande do Sul, os paraguaios
permaneceriam na Província o tempo que desejassem.
O Imperador partiu em 10 de julho, no navio Santa Maria, desembarcou em Rio
Grande e percorreu o interior da Província. A viagem impulsionou o esforço de guerra,
pôs fim à inércia militar brasileira, restabeleceu a ordem administrativa e militar no Rio
Grande do Sul e adquiriu uma dimensão simbólica, com a presença do monarca em
uma província com antecedente republicano. A partir de agosto começou o cerco a
Uruguaiana. Em 18 de setembro de 1865, os aliados realizaram os preparativos para o
ataque. Antes do ataque, o comandante brasileiro, Porto Alegre, ofereceu a rendição,
que foi aceita por Estigarríbia (SCHWARZ, 1998).
50

A compilação de textos políticos do Senado Brasileiro (2002) publica a


proclamação proferida pelo Imperador Dom Pedro II por ocasião da rendição de
Uruguaiana:

“Soldados- o território desta província acha-se livre graças à simples atitude das
forças brasileiras e aliados. Os invasores renderam-se; mas não está terminada a
nossa tarefa; a honra e dignidade nacional não foram de todo vingadas; parte da
província de Mato Grosso e do território da Confederação Argentina jazem ainda
em poder do nosso esforço. Avante, pois, que a Divina Providência e a justiça da
causa, que defendemos, coroarão nossos esforços. Viva a nação brasileira”
(2002, p.439).

3.6 O AVANÇO ALIADO NO SUL E O RECUO PARAGUAIO

Faria (2015), atesta que com a rendição de Uruguaiana, os aliados dispunham


de duas forças, uma nesse local e outra em Concórdia. Era necessário reuni-las e
marchar por mais de duzentos quilômetros, até alcançar Corrientes, para atacar os
paraguaios. Este movimento iniciou se em 19 de setembro de 1865.
As campanhas ofensivas de Solano López em Uruguaiana e em Corrientes
fracassaram. Perderam-se tropas bem treinadas e as que voltaram da Argentina
encontravam-se desmoralizadas. O plano original de López fora ousado, mas estava
calcado em premissas falsas - os apoios dos blancos e, principalmente, de Corrientes e
Entre Ríos – e contava com dois comandantes, Estigarríbia e Robles, que se mostraram
incapazes para as missões recebidas. Todavia, a responsabilidade do fracasso cabe a
Solano López por não ter comandado as operações no campo de batalha
(THOMPSON, 1992).

3.7 OS ANOS DE 1866 E 1867 E SUAS GUERRAS DE POSIÇÕES

Faria (2015) afirma que, do desembarque aliado em Passo da Pátria até a


ocupação de Humaitá, distante vinte quilômetros, a guerra foi basicamente de posições,
travada nos limites da confluência entre os rios Paraná e Paraguai e a linha de defesa
construída por Solano López. Era uma realidade nova, pois até então se travavam, na
51

Europa e no rio da Prata, guerras rápidas de movimento, com uso predominante de


cavalaria e artilharia e de batalhas campais. Segundo Doratioto

A guerra civil americana (1860-1865) iniciou a mudança na forma de guerrear,


pois foi longa, exigiu a mobilização de vastos recursos de toda a sociedade, e
tornou-se, portanto, uma “guerra total”, novo conceito para uma nova realidade
na tecnologia de armamentos. Na luta norte-americana utilizaram-se trincheiras e
armas novas, como rifles de repetição, encouraçados, balões de observação e
até um rudimentar submarino, características que implicavam maior mortandade
e duração dos conflitos. A Guerra do Paraguai foi a segunda “guerra total” da
época contemporânea e a ela tiveram dificuldades de adaptação os chefes
militares aliados, que fizeram carreira combatendo em conflitos rápidos, nos
quais o fator decisivo era a cavalaria, e o armamento principal, espadas e lanças.
Esses Comandantes não tiveram tempo – e grande parte não teria, também,
condições intelectuais- para assimilar as lições da Guerra Civil norte-americana,
que terminou quando a luta contra o Paraguai se iniciava (2002, p.195).

Conforme Castro (2002), a segunda metade do século XIX trouxe rápidas


mudanças no âmbito dos equipamentos bélicos, fazendo com que o material de
emprego militar ficasse obsoleto. A artilharia brasileira da Guerra da Tríplice Aliança foi
armada durante o conflito, principalmente, com canhões do sistema La Hitte e
Whitworth, com a maior parte das peças importadas da França e da Espanha, mas
também havia nacionais. Ela teve importante atuação durante o conflito, já que, em
várias batalhas, desempenhou relevante papel, sendo mais conhecida a artilharia de
Mallet na Batalha do Tuiuti, em que empregou suas trinta bocas de fogo LaHitte de 4, 6
e 12 libras, contra tropas de cavalaria paraguaias (LIMA, 1967).
Entre 1866 e meados de 1867, a Guerra do Paraguai foi uma guerra de
posições. Foi um período em que o Exército que esteve na defensiva (Paraguai) levou
grande vantagem sobre a ofensiva em todos os combates travados (SALLES, 2015).
Segundo Tasso Fragoso (2012), com a retirada paraguaia do solo argentino,
invertia-se o sentido da guerra. O Paraguai seria invadido, cabendo aos aliados
escolherem o lugar da invasão, o que deveria ser feito com muita cautela, por não
disporem de mapas do Paraguai. O interior paraguaio era, em virtude de seu
isolacionismo, um imenso desconhecido para os estrangeiros, e esse foi um fator que,
até o final da guerra, seria um obstáculo para as ações aliadas. Somente em abril de
1866, os aliados invadiram o território paraguaio, obrigando Solano López a recuar suas
52

tropas, que se instalaram em posições defensivas sólidas, atrás de terrenos alagados


que dificultariam o avanço aliado (ROLLA, 1995).
Segundo Moura (1996), o sistema defensivo paraguaio estava localizado no
espaço de cerca de sessenta quilômetros de comprimento por uns vinte de largura,
entre a confluência dos rios Paraná e Paraguai, ao sul, até o Tebicuarí, ao norte. A
primeira posição paraguaia era Itapiru; mais ao norte, na margem esquerda do rio
Paraguai, encontravam-se sucessivamente, as fortificações de Curuzú, Curupaiti e
Humaitá, que dominavam o rio com artilharia e eram de difícil acesso por terra, pois
estavam cercadas de vegetação cerrada. Entre Humaitá e Assunção foram erigidas
duas posições fortificadas, uma à direita do rio Timbó e outra à esquerda do Tahí. A
sequência de posições fortificadas, tendo como epicentro Humaitá, protegia a capital
paraguaia contra a ação fluvial, enquanto, por terra, a maior defesa da cidade era a
natureza. O território entre Assunção e Passo da Pátria era selvagem, coberto por
densa vegetação, cortado por um verdadeiro labirinto de riachos, charcos, pântanos e
lagoas, infestados de cobras e insetos; estes, particularmente, infernizavam os
soldados aliados, suas montarias e seus animais de tração (DONATO, 2001).

3.7.1 A invasão do Paraguai

Em 16 de abril de 1866, as tropas aliadas atravessaram o rio Paraná, em


embarcações de transporte, inclusive particulares alugadas, protegidas pelos navios da
esquadra imperial, para invadir o Paraguai. Forte bombardeio foi feito na praia de
Itapiru, enquanto a 3ª Divisão Naval realizava o desembarque em outra região. Osório
foi o primeiro a pôr o pé em terra no território paraguaio, às nove horas da manhã, a
cerca de 2 quilômetros ao norte da confluência entre os rios Paraguai e Paraná, na
região de Três Bocas (AZEVEDO PIMENTEL, 1978).
53

FIGURA 10 - Osório, primeiro brasileiro a pisar em solo paraguaio durante a guerra


Fonte: História do Cone Sul.com (2009) Acesso em: 18 nov de 2018

Foi na referida ocasião que o Marquês de Herval fez uma das declarações que
entraram para a história militar brasileira:

Soldados! É fácil a missão de comandar homens livres; basta mostrar-lhes o


caminho do dever. O nosso caminho está ali em frente. Não tenho necessidade
de recordar-vos que o inimigo vencido e o paraguaio desarmado ou pacífico
devem ser sagrados para um exército composto de homens de honra e de
coração. Ainda uma vez mostraremos ao mundo que as legiões brasileiras no
Prata só combatem o despotismo e fraternizam com os povos. Avante soldados!
Viva o Brasil! Viva o Imperador! Viva os Exércitos aliados! (MAGALHÃES, 1978,
p.133)

Em 17 de abril, as forças aliadas, mais de 65 mil soldados, começaram a cruzar


o Rio Paraná, pelo Passo da Pátria, em frente ao forte de Itapiru, para enfrentar os 30
mil homens do Exército organizado por Solano López (THOMPSON, 1992).
À época, uma força atacante deveria ser duas ou três vezes superior para
superar a vantagem defensiva. Segundo Doratioto (2002, p. 205), durante toda a
Guerra do Paraguai, “as forças aliadas jamais chegaram a ter, operacionalmente, mais
do que o dobro de homens do Exército de Solano López, o que explica, em parte, a
longa duração do conflito”.
54

Doratioto (2002) conclui afirmando que, com o desembarque aliado em terras


paraguaias, caracteriza-se o término da 1ª fase da Guerra do Paraguai. López
fracassou em seus planos e perdeu a capacidade de ditar os rumos futuros da guerra,
restando ao mesmo adotar posturas defensivas. Caberia aos aliados tomar as
iniciativas militares a partir desse momento.

3.7.2 Tuiuti

Após a conquista do Passo da Pátria e de Estero Bellaco, as Forças Aliadas, sob


o comando do General Bartolomeu Mitre, avançaram cautelosamente em território
paraguaio. A cautela de Mitre conflitava com as disposições dos comandantes das
forças brasileiras, que propunham maior rapidez no avanço, pois entendiam que a
lentidão era ruim para o moral dos soldados e poderia comprometer o prestígio das
tropas em marcha perante o inimigo (FARIA, 2015).
Durante dois anos, os aliados ficaram imobilizados em Tuiuti, emboscados pelos
paraguaios, tateando em meio ao matagal e a pântanos, na busca de uma alternativa
para alcançar Humaitá. Eles sofriam a mortandade decorrente do local insalubre em
que o acampamento estava instalado, e a desmoralização da tropa, em decorrência da
imobilidade (DORATIOTO, 2002).
No amanhecer de 24 de maio de 1866, no acampamento aliado em Tuiuti, a
cerração logo foi substituída pela fumaça negra e asfixiante resultante dos tiros de
canhão, das bombas incendiárias e dos foguetes. Com o ataque surpresa paraguaio,
iniciava-se a batalha de Tuiuti, a maior travada até então na América do Sul. A batalha
durou cinco horas e meia e dela participaram cerca de 24 mil paraguaios, que
enfrentaram 32 mil aliados, compostos de 21000 brasileiros, 9700 argentinos e 1300
uruguaios (DONATO, 2001).
Consoante Lima (1967), para os aliados houve surpresa, confusão, ausência do
comandante em chefe (General Mitre), imprevidência e risco de derrota em vários
momentos da luta. Porém, com o recrudescer dos combates e a iniciativa dos diversos
escalões (companhias, batalhões, regimentos e brigadas) - aos poucos a batalha
adquiriu personalidade própria e se transformou de quase derrota em expressiva vitória,
55

na medida em que o General Osório, assumindo o comando geral das forças, interveio
diretamente na luta.

FIGURA 11- Esquema de manobra da batalha de Tuiuti


Fonte: Cadeira de História Militar da AMAN (2015)

O General Osório, à frente de alguns batalhões brasileiros, se aproximou em


auxílio aos argentinos, mas verificou que o inimigo já havia fugido em debandada. Às
16h30, a maior batalha campal da América do Sul estava terminada e constituía uma
expressiva vitória dos Aliados. A defesa, coordenada de maneira dinâmica por Osório,
não permitiu ao inimigo nenhum êxito no ataque, quer na ruptura ou nas ações de
desbordamento (CASTRO, 2002).
Conforme Doratioto (2008), durante a batalha, Osório demonstrou seu valor
como comandante e tático. O seu dispositivo racional em profundidade, a rapidez com
que os escalões foram utilizados para manter a posição e a utilização de contra-
ataques salvou-o da derrota; tendo infundido coragem, determinação e exibido bravura
e valentia para estimular as energias. A batalha culminou com uma expressiva vitória
dos Aliados. As avaliações sobre as perdas paraguaias variam de fonte para fonte,
sendo estimadas em seis mil mortos, dentre oficiais e soldados. Os feridos e capturados
56

ascenderam a mais seis mil homens. Nos Aliados, as perdas estimadas ultrapassaram
os quatro mil homens (FARIA, 2015).

3.7.3 Curupaiti

Segundo Azevedo Pimentel (1978), cerca de um mês depois da batalha de


Tuiuti, em fins de junho, Solano López conseguira reunir um exército de 20 mil homens,
profissionalmente inferior ao perdido em Tuiuti, mas com a mesma coragem e
determinação de luta. Barroso (1935), complementa afirmando que ainda em junho,
ocorreram duelos de artilharia e escaramuças entre soldados paraguaios e aliados,
que, nos postos avançados, estavam próximos uns dos outros. Ambos se observavam
a partir de mangrulhos (estrutura de observação criada pelos aliados, de 25 metros de
altura, com um posto de observação no alto).
Em 1º e 2 de setembro de 1866, a esquadra imperial bombardeou Curuzú e
Curupaiti. Os homens do General Porto Alegre desembarcaram na tarde do dia 2, a
cerca de quatro quilômetros de Curuzú, e avançaram até essa posição, fixando-a e
atirando contra os paraguaios. No dia 3, a esquadra bombardeou, por longo tempo, a
trincheira paraguaia. Em seguida, a tropa de Porto Alegre iniciou o ataque, feito
frontalmente e, ainda, pelo flanco esquerdo. Os brasileiros avançaram sob fogo
contínuo de artilharia, marchando, em alguns casos, com água quase até o pescoço,
flanquearam a extremidade da trincheira e atacaram pela retaguarda (DONATO, 2001).
Os paraguaios retiraram-se em desordem e foram perseguidos, até as baterias
de Curupaiti, por um punhado de brasileiros. Estes constataram que Curupaiti não tinha
trincheiras pelo flanco esquerda e podia ser tomada. Faria (2015) conclui que, caso
Porto Alegre tivesse avançado sobre a posição, poderia, pelo menos, ter destruído o
parapeito e atirado os canhões no rio, facilitando um ataque posterior.
Após uma breve trégua nas beligerâncias, em 22 de setembro de 1866 iniciou-se
o ataque aliado a Curupaiti. Sob o comando de Bartolomeu Mitre, as tropas aliadas
enfrentaram inúmeras dificuldades contra as tropas paraguaias, que fizeram um
judicioso emprego do terreno, através de um engenhoso sistema de fossos duplos. A
57

descoordenação entre a esquadra e o Exército também viria a ter um peso grande para
o desfecho trágico para as tropas aliadas (DONATO, 2001).
Faria (2015) atesta que a derrota também produziu péssimo efeito no Brasil e,
em círculos políticos no Rio de Janeiro, chegou-se a levantar a ideia de estabelecer a
paz com Solano López. A iniciativa não prosperou devido à oposição de D. Pedro II,
que, segundo os representantes britânico e português no Rio de Janeiro, se mostrou
disposto a abdicar do trono, se os deputados não atendessem a seu desejo de
continuar a guerra. O Imperador estava disposto a levar a guerra até a última
consequência. A partir de fins de 1866, coube, sobretudo, ao Brasil continuar a luta do
lado aliado, com participação menor de efetivos argentinos e simbólica presença de
tropas uruguaias (SCHWARCZ, 1998).
A percepção supracitada é respaldada, entre outras, pela observação de Lima
(2016):

A derrota na ação de Curupaiti, que custou tantas vidas de seus companheiros,


abalou fortemente o moral dos combatentes da Aliança, afetando também o
apoio popular à guerra em Buenos Aires e Montevidéu. Após a batalha, o
presidente Venâncio Flores retirou-se para a capital uruguaia e, dali em diante,
manteve uma representação quase simbólica de seu país no conflito, em cujas
frentes permaneceram pouco mais de seiscentos soldados orientais (2016, p.
251).

3.7.4 Caxias entra em cena

Para pôr fim às intrigas e discórdias existentes entre os generais brasileiros e


unificar o comando, um decreto imperial, de 10 de outubro de 1866, nomeou o Marquês
De Caxias para o cargo de Comandante-em-chefe do Exército Brasileiro no Paraguai. A
Ninguém se podia confiar tanta autoridade, a não ser a Caxias, por ser o militar
brasileiro mais importante, tanto com respeito à patente, como pelo prestígio de que
gozava (COSTA, 1974).

Lima e Silva tratou rapidamente dos preparativos de viagem, despediu-se da


mulher, das filhas e embarcou para a região do Prata, sem saber se e quando
estaria de volta ao Rio de Janeiro. No dia 17 de novembro chegou a Itapirú e n
dia seguinte assumiu o posto de comandante em chefe das forças brasileiras. Um
dos primeiros desafios que encontrou não foi de ordem militar, mas de saúde.
58

Além dos desfalques provocados pelo alto número de feridos, uma epidemia de
cólera começava a assolar todas as frentes de batalha. Como os soldados se
movimentavam quase todo o tempo em terrenos alagados e os próprios
acampamentos eram insalubres, a disseminação da doença era rápida e muitas
vezes letal (LIMA, 2016, p. 251).

A atividade de Caxias para reorganizar o Exército, era intensa: comprava cavalos


e mulas, vitais para as operações militares, e melhorava a alimentação destes.
Realizaram-se obras adicionais de defesa, que transformaram o acampamento de Tuiuti
em uma forte posição defensiva. Caxias tentava organizar melhor as tropas, ao treiná-
las, e, enquanto aguardava a chegada do reforço do 3º Corpo de Exército de Osório,
padronizava os outros dois. Também buscou mapear a região em volta de Tuiuti e
identificar as posições inimigas. Com essa finalidade, tomou a iniciativa pioneira, antes
só promovida durante a Guerra de Secessão norte-americana, de utilizar-se de balões
de observação (DORATIOTO, 2002).

FIGURA 12 - Uso de balão para monitorar as posições paraguaias em Humaitá-1868


Fonte: Altave (2018). Acesso em: 1 de maio de 2019

Em um estudo focado nas contribuições de Caxias à nossa doutrina militar,


Raposo Filho (1959) assim escreve:

A atuação de Caxias como chefe militar é precioso acervo de ensinamentos


concernentes ao preparo e à utilização das forças disponíveis para a Guerra,
notadamente para nós brasileiros. A meditação sobre suas atividades práticas, no
ambiente nacional e sulamericano, ensina-nos a reagir de conformidade com o
59

que se vem criando no processo evolutivo da civilização. Ensina-nos a assimilar


convenientemente o que há de novo e a utilizá-lo de conformidade com as
circunstâncias nacionais (1959, p.8).

Conforme Tasso Fragoso (2012), em meados de julho de 1867, chegou a Tuiuti o


3º Corpo de Exército, comandado pelo General Osório, coincidindo tal chegada com o
fim da epidemia de cólera. As Forças Brasileiras tinham, então, razoáveis condições de
combate e, no dia 22 desse mês, Caxias iniciou o movimento de flanco, com a intenção
de contornar a fortaleza de Humaitá.

3.7.5 Humaitá

Conforme Faria (2015), o Exército sob Caxias oferecia uma boa impressão da
tropa, para qualquer pessoa, autoridade ou não, que visitasse o teatro de operações. O
acampamento brasileiro era extremamente limpo, devido às rigorosas ordens de Caxias
nesse sentido. Ao contar com o reforço do 3º Corpo de Exército de Osório e com o fim
da epidemia de cólera, Caxias iniciou, em 22 de julho de 1867, pela madrugada, o
movimento de flanco, contornando Humaitá. Ao contrário do que Caxias planejara, a
marcha aliada não levou à retaguarda do inimigo, e descobriu-se que os paraguaios, na
extrema esquerda das trincheiras de Rojas e Humaitá, estavam defendidos por uma
linha contínua de fortificações. Estas formavam um grande entrincheirado, que
contornava os pontos de Curupaiti e Humaitá. No dia 29 de julho, a vanguarda aliada
ocupou a pequena povoação de Tuiú-Cuê, abandonada pelos paraguaios, à vista de
Humaitá (DORATIOTO, 2002).
Lima (2016) relata que em Tuiú-Cuê, Mitre mandou proceder reconhecimentos e
confirmou que a extensa trincheira inimiga que partia de Tuiuti se unia com a de
Humaitá. Deu conta que as tropas aliadas tinham realizado um cerco, ao tentarem
achar uma brecha nas posições inimigas que permitisse um ataque à retaguarda dessa
fortaleza. Ao perceber a importância desse fato, Mitre ordenou que a cavalaria aliada
agisse à direita de Tuiú-Cuê, em direção à margem do rio Paraguai. Em 3 de agosto, 3
mil cavalarianos, sob o comando do General uruguaio Enrique Castro, bateram o
inimigo em San Solano, causaram pouco mais de 150 mortos e capturaram 600
60

cabeças de gado bovino, 360 cavalos, além de duas carretas de munição e 400 armas,
conforme narrado nos Diários do Exército em operações, do Marquês de Caxias:

Pouco depois, principiou-se a ouvir tiroteiro, seguido do lado por quê se havia
dirigido a força sob comando do general Castro. S. Exc. (Caxias), mandando
imediatamente comunicar essa ocorrência ao general Mitre, foi até a extrema
esquerda de nossas avançadas, e dali observou por algum tempo as posições do
inimigo[...] Às duas horas, veio ter com S. Exc., um oficial que fez parte da
referida força expedicionária, declarando que as do inimigo haviam sido
inteiramente destroçadas, com perda de cento e tantos mortos, e 30
prisioneiros[...] Que a nossa força havia também aprisionado deles o seguinte:
duas carretas, 600 rezes, algum gado manso, éguas, rebanhos de carneiros, uma
grande quantidade de armamento e munições, que foram inutilizados pelos
nossos soldados, e bem assim que haviam cortado o fio telegráfico, de que o
mesmo oficial trazia uma porção (CAXIAS, 1877, p.6).

Com a tomada, pelos brasileiros, em 2 de novembro, da posição paraguaia de


Tahí, às margens daquele rio, Humaitá foi isolada, por terra, do restante do país
(AZEVEDO PIMENTEL, 1978).
Em 21 de dezembro de 1867, chegou ao Paraguai o reforço à Marinha Brasileira:
os navios-monitor (classe de navios couraçados) Pará e outros dois, Alagoas e Rio
Grande do Norte. Em 14 de janeiro de 1868, Mitre se retirou da guerra definitivamente,
passando o comando para o Marquês de Caxias. Em fevereiro de 1868, Caxias impôs à
Marinha a obrigação de ultrapassar a posição de Humaitá (FARIA, 2015).

Arrancaram da base de Curuzu, forçaram a passagem da fortaleza de Curupaiti e


postaram-se com o resto da esquadra a meia distância de Humaitá. Os navios
monitores davam maior mobilidade à esquadra do que os pesados
encouraçados. Tinham agora que romper a maior artilharia fluvial fixa do século,
assim como as pesadas cadeias de ferro que López havia estendido para
bloquear a passagem do rio. No dia 19 de fevereiro, a esquadra avançou. O
Barroso liderava a subida do rio, cada couraçado com um monitor de reboque.
Os canhões de parte da esquadra, estacionados em Curuzu. Os do inimigo, em
Curupaiti. [...] Os canais, cheios de tortuosidades, tornam o avanço difícil e a
esquadra alvo fácil. Porém, as couraças resistem aos balaços. A passagem
demorou 42 minutos (PERNIDJI, 2010, p.119).

Conforme Doratioto (2002), do lado aliado, apertou-se o cerco a Humaitá. O 2º


Corpo de Exército, sob o comando do General Argolo, rompeu a linha de Rojas,
constituindo-se na primeira força aliada a penetrar na área inimiga. Enquanto isso,
durante a noite de 23 de março de 1868, grande parte dos defensores de Humaitá
61

passaram para o Chaco e seguiram para San Fernando. Ficaram na fortaleza cerca de
3 mil homens, que dispunham de duzentas peças de artilharia de diferentes calibres e
de grandes depósitos de alimentos. Do lado aliado, o General Argolo que, desde 23 de
janeiro, assumira o comando do 2º Corpo, posicionou suas tropas entre Curupaiti e
Hermosa; a tropa argentina, comandada pelo General Gelly y Obes, encarregou-se de
Paso Pucú, e Osório deslocou-se com o 3º Corpo até Pare-Cuê (TASSO FRAGOSO,
2012).

FIGURA 13 - Avanços aliados em território paraguaio até a chegada em Humaitá


Fonte: Atlas Histórico do Brasil – CPDOC FGV (2016)
62

Donato (2001) relata que, escasseando os recursos em Humaitá, os paraguaios


receberam ordens de Solano López para a evacuação da fortaleza entre 24 e 25 de
julho de 1868. Na madrugada de 25, os sentinelas aliados perceberam algo anormal em
Humaitá, ao avistarem apenas um ou outro soldado inimigo na posição. Osório, seguido
do Coronel Corrêa da Câmara, fez um novo reconhecimento e, dessa vez, entrou na
fortaleza, levando os últimos paraguaios à fuga, sobre canoas, rumo ao Chaco. Quase
simultaneamente entraram em Humaitá as tropas dos Generais Argolo e Gelly y Obes
(GRALA, 1986).

Onze dias e dez noites, sem descanso , sem intervalo, durou tão medonha luta
em que os homens unidos , corpo a corpo, braço a braço, pendiam das bordas
dos escaleres, para irem terminá-la no fundo lodoso da lagoa, onde achavam a
morte dos heróis, a fim de elevarem bem alto a glória de suas pátrias. Renderam-
se finalmente à fome. O quadro era horrível. Mil trezentos e vinte e sete homens
depuseram as armas por não terem mais forças para as manejar, nem mais
couros secos para nutrirem. O orgulho de nossos soldados foi legítimo.
(AZEVEDO PIMENTEL, 1978, p.73).

Uma das referências contemporâneas sobre a Guerra do Paraguai e um dos


principais pesquisadores da atualidade, Doratioto assim conclui sobre a queda da
fortaleza de Humaitá:

A queda de Humaitá abriu uma nova fase na guerra. Solano López, mesmo mal
informado e subestimando o inimigo, não poderia ter outra percepção senão a da
impossibilidade de conseguir uma paz honrosa. Ainda assim, persistiu em sua
resistência e, com isso, vitimou não só os aliados, mas os próprios paraguaios.
Para os aliados, por sua vez, ocupar Humaitá não significava o fim da guerra.
Pragmático, Caxias acreditava ser o momento de fazer a paz, para poupar vidas
aliadas e recursos financeiros do Brasil. D.Pedro II, porém, persistiu na posição
de que só a derrota de Solano López, com sua prisão e expulsão do Paraguai,
garantiria, verdadeiramente, a paz futura. Por isso, a guerra continuou, em nova
fase, ultrapassando os quase dois anos dedicados à Humaitá (2002, p.332).

Consoante Grala (1986), com a queda de Humaitá, Solano López ordenou a


evacuação de San Fernando e recuou para Piquissirí, onde se instalou em meados de
setembro de 1868. Mandou erguer, na barranca da desembocadura desse rio no
Paraguai, a fortaleza de Angustura, cercada por terreno úmido e bosques. Essas
fortificações poderiam tornar-se instrumento imobilizador dos aliados, tal qual fora
Humaitá, mas Caxias implementou uma estratégia para contorná-las e atacá-las pela
retaguarda (RAPOSO FILHO, 1959).
63

Da estratégia de Caxias resultou a manobra do Piquiciri, ou Piquissiri, objeto de


estudo da presente dissertação de mestrado.
64

3.8 DEZEMBRADA

Realizada uma revisão a respeito dos antecedentes da guerra, bem como uma
visão geral dos acontecimentos do conflito, dentro de sua linha cronológica, chega-se
na parte central e nevrálgica do trabalho, onde são analisados com profundidade ,
através de todas as ferramentas e procedimentos metodológicos descritos no capítulo 2
da presente dissertação de mestrado, os combates travados em dezembro de 1868,
durante a Guerra da Tríplice Aliança.

3.8.1 A manobra do Piquissiri

De acordo com Grala (1986), após a conquista de Humaitá o exército aliado


prosseguiu para o Norte, em 19 de agosto de 1868, em busca do combate decisivo com
o inimigo paraguaio. Três combates de pequena envergadura ocorreram no
deslocamento, entre a vanguarda e os elementos avançados do inimigo, no Arroio
Yacaré, no reduto do Rio Tebicuari e na ponte do Arroio Surubi-y (MORGADO, 2010).

FIGURA 14 - Marcha em direção a Palmas


Fonte: Revista Da Cultura – FUNCEB (2010)
65

Conforme Doratioto (2002), no dia 14 de setembro de 1868 o Exército Aliado


retomou a marcha em direção a Palmas, próxima do fortim de Angostura. Os Aliados,
quando do deslocamento para o norte, na direção de Assunção, se defrontaram com
uma posição fortificada paraguaia no corte do rio Piquissiri. Esta posição defensiva era
constituída por uma linha contínua de trincheiras, desde a margem do rio Paraguai até
as lagoas de Ipoá. Havia, após Piquissiri, as baterias de Angustura, que tinham a
finalidade de impedir a circulação de forças navais ao longo do rio Paraguai. A nordeste
da posição do Piquissiri ficava a coxilha Ita-Ivaté, onde López instalou seu quartel-
general (FARIA, 2015).

FIGURA 15 - Teatro de operações onde se desenvolveram todas as atividades da Dezembrada


Fonte: A Guerra do Paraguai – Lima (2016)
66

Foi obtido contato e apoio no AHEx- Arquivo Histórico do Exército, onde foi
facilitado o acesso a esboços, mapas e croquis originais da manobra do Piquissiri, nos
quais pode-se observar em detalhes as peculiaridades do sistema defensivo do
Piquissiri, Angostura e Lomas Valentinas

FIGURA 16 - Linha defensiva do Piquissiri


Fonte: AHEx

George Thompson (1839-1878), foi um engenheiro inglês que exerceu seus


serviços a Carlos e Solano López. Ficou especialmente conhecido por sua participação
na construção de boa parte do sistema defensivo paraguaio, em especial o sistema
defensivo de Curupaity e Piquissiri. Escreveu suas memórias sobre a GTA em uma
obra chamada La Guerra del Paraguay, onde oferece uma rica fonte de consulta sobre
a Guerra do ponto de vista paraguaio. Em sua obra, descreve o terreno onde seria
desdobrado o sistema defensivo de Piquissiri:

Pode dizer-se que imediatamente ao norte de Piquiciri, recém começa a parte


habitável do Paraguai, pois às margens daquele arroio tem nascimento as
primeiras colinas. Para defender o Piquiciri, era necessário estabelecer uma linha
de seis milhas. A posição não podia ser flanqueada, a menos que fosse utilizado
o território de Misiones ou o Chaco, caso no qual poderia ser atacado pela
retaguarda. Angostura era o único lugar em uma extensão de muitas léguas onde
poderia estabelecer-se uma bateria sobre o rio, porque se configurava em uma
67

barranca côncava, em forma de ferradura (THOMPSON, 1992, p.192, tradução


nossa).

FIGURA 17 - Baterias de Angostura


Fonte: AHEx

Ao deparar-se com o complexo defensivo apoiado no arroio do Piquissiri, Caxias


se viu obrigado a realizar um complexo estudo de situação.

Caxias convenceu-se de que tinha diante de si uma forte posição defensiva, difícil
de ser tomada em ataque frontal, pois dispunha de cerca de nove quilômetros de
trincheiras, protegidas atrás de águas provenientes da lagoa Ypoá, não havendo
caminho por onde os aliados pudessem marchar. Colocavam-se três opções:
sustentar as posições, como se fizera em Humaitá, e arrastar a guerra sem
previsão de término; contornar Angostura pela direita, onde, porém, havia uma
barreira insuperável de um terreno inundado ou, por último, utilizar o lado
esquerdo, o território do Chaco, para o qual navios da Marinha transportariam os
soldados brasileiros, que marchariam acima de Angostura, pela margem oposta
do rio Paraguai, e seriam transportados de volta, por essas belonaves, para um
ponto atrás dessa posição. Para surpreender o inimigo pela retaguarda, o
comandante brasileiro optou pela medida ousada, mas que tivera precedente do
próprio Solano López. De utilizar o Chaco. Ordenou a construção de uma estrada
pelo terreno chaquenho, encharcado, pela qual o grosso do Exército Brasileiro
pudesse passar. Após um árduo trabalho de 23 dias, realizado por 3554 homens,
o caminho de onze quilômetros ficou pronto. A essa altura, os aliados eram 31 mil
soldados- 25 mil brasileiros, 5 mil argentinos e mil uruguaios- contra não mais do
que 18 mil paraguaios. (DORATIOTO, 2002, p. 354-355).
68

FIGURA 18- Detalhes das trincheiras e sistemas de represas que compunham Piquissiri
Fonte: AHEx

3.8.2 A decisão de Caxias

De acordo com Lima (2016), para realizar seu plano de contornar a posição por
oeste, era necessária a construção de uma estrada pelo Chaco: seria um risco
calculado, pois existiam poucas estradas aproveitáveis na região e havia, ainda, o
perigo das cheias do rio Paraguai. Caxias pretendia atingir a região de Santo Antônio,
ao norte, mantendo o máximo sigilo sobre os locais do desembarque e da transposição,
para atuar na retaguarda da posição do Piquissiri, com a finalidade de conquistar
Angustura e Ita-Ivaté e destruir as forças paraguaias na região.
Em uma das fontes primárias utilizadas na presente dissertação, intitulada
Resumo Histórico das Operações Militares dirigidas pelo marechal-de-exército Marquez
de Caxias na Campanha do Paraguay (1872), encontram-se numerosas informações,
entre as quais destaca-se a presente, a qual justifica a tomada de Decisão de Caxias
para em empregar a manobra de envolvimento pelo Chaco:

Ninguém por certo dirá que o Exército Aliado perseguia em Piquiciri uma visão,
um fantasma, uma sombra, porque seria absurdo dizer que a força de 13 mil
homens com 50 bocas de fogo que o inimigo tinha naquela posição, e que podia
ser facilmente levada ao número de 16 ou 18 mil, se concentrasse em seu campo
os destacamentos que se encontravam dispersos no interior do País, não era
uma força respeitável. Para acometer um exército em tais condições, era preciso
manobrar como manobrou o general em chefe, isto é, com toda a prudência e
69

conforme prescrevem as regras da Guerra. Operar por um movimento de colunas


isoladas, quando o inimigo tinha reunido todas as suas forças em uma posição
inexpugnável, era (como já dissemos) expor essas colunas a serem parcialmente
batidas à medida que fossem chegando a seu ponto de concentração (CAXIAS,
1872, p. 67).

Dionísio Cerqueira (1847-1910) possui uma das obras mais profundas a respeito
da GTA. Ainda como cadete, ingressou na campanha e pôde acompanhá-la em toda
sua extensão, de 1865 a 1870. Fruto de sua vivência particular, escreveu suas
“Reminiscências da Campanha do Paraguai”, onde oferece ao leitor uma narrativa em
1ª pessoa, rica em detalhes e informações. Em sua obra são encontradas citações
sobre a construção da Estrada do Chaco, como em:

O Coronel Rufino Galvão, os Capitães Frota, Lassance e outros esforçados


engenheiros, auxiliados pela tropa patriótica, fizeram prodígios de firmeza e
tenacidade, construindo pontes sobre pontes, à medida que as águas iam
subindo e estendendo a imensa e memorável estiva de mais de trinta mil
espiques de carandá sobre aquele solo movediço e pérfido formado de uma
crosta pouco espessa, mal endurecida pelo sol e repousando sobre um leito
insondável de tremedais (CERQUEIRA, 1980, p. 266).

Para construir uma estrada pelo Chaco, Caxias escolheu o 2º Corpo de Exército,
comandado pelo general Argolo. Depois de cerca de um mês de trabalho, em 15 de
novembro de 1868, estava pronta uma estrada, construída com troncos de palmeiras e
com 10.714 metros de extensão, um dos feitos mais notáveis da Engenharia Militar
Brasileira (TASSO FRAGOSO, 2012).
Tasso Fragoso oferece em sua série de 4 volumes intitulada “História da Guerra
entre a Tríplice Aliança e o Paraguai” um robusto conteúdo, o qual forneceu farto
material para a presente pesquisa:

Oficiou-lhe no dia 10 de outubro, chamando-o com o seu corpo de exército.


Nesse mesmo dia fez seguir para Humaitá o coronel Agostinho Marinho Piquet,
que ali deveria substituí-lo, dispondo de uma guarnição de 1500 homens. Fez
também passar para o lado do Chaco, como medida preparatória, um
destacamento de dois batalhões de infantaria (o 16º e o 4º ), um esquadrão de
cavalaria (Capitão Fialho) e uma ala do Batalhão de Engenheiros, tudo sob o
comando do tenente-coronel Tibúrcio [...] Tibúrcio começou sem demora os
trabalhos de reconhecimento ao longo do rio. Argolo embarcou em Humaitá, com
o seu corpo de Exército, às 9 h de 13 de outubro. Às 10h de 15, chegava à
barranca de Palmas. Logo depois atravessou o rio e foi desembarcar as suas
tropas no Chaco. Ao porto de desembarque denominou Porto de Santa Teresa,
por ser aquele dia o consagrado a essa santa (TASSO FRAGOSO, 2012, p.40-
42).
70

FIGURA 19 - Planta da estrada do Chaco


Fonte: Grala – ECEME (1986)

O tempo passava na sua marcha fatal; as águas do rio subiam e subiam sempre
com crescente ameaça; e a estrada memorável do Chaco avançava a cada hora,
demonstrando a tenacidade do general e a resistência do nosso soldado, que
não tem quem o exceda no valor, na abnegação e no estoicismo. [...]
Aproximava-se a hora de passagem do exército para a outra margem, onde o
Ditador nos esperava com as suas hostes aguerridas e fiéis e a espada do
Marquês ia escrever a epopeia da “Dezembrada” resplendente de luz e rubra de
sangue. Disseram que Lopez afirmava que o Exército brasileiro teria a mesma
sorte do exército do Faraó afogado pelo mar Vermelho, quando perseguia os
Hebreus de Moisés. É que a manobra, além de arriscada, parecia, a Lopez,
inexequível, por ser tentada naquele terreno falso e traiçoeiro e na época das
cheias do rio Paraguai, que submergeriam todos aqueles lezírias. O Marquês
seguiu o conselho de Machiavel: “É preciso ousar empreender aquilo que o
adversário julga impossível”. Mais uma vez a audácia foi coroada pela fortuna
(CERQUEIRA, 1980, p. 269).
71

FIGURA 20 - Esboço original do ponto de embarque para a retravessia do Rio Paraguai,


concluída a marcha pelo Chaco
Fonte: AHEx

Segundo Faria (2015), Caxias dividiu seu Exército em: um grupamento principal,
composto pelos 1°, 2º e 3º Corpos de Exército, mais elementos de Cavalaria, Artilharia
e Pontoneiros, que seguiriam pelo Chaco, e um grupamento secundário, composto de
uma brigada brasileira, um Contingente Argentino (4.400 homens) e um Contingente
Uruguaio (300 homens) que ficaria em Palmas, ao sul de Piquissiri, frente à posição
defensiva paraguaia . Consoante Tasso Fragoso (2012), no dia 3 de dezembro, Caxias
fez algumas alterações na composição do seu Exército, que ficou com a seguinte
ordem de batalha:
72

1º CORPO DE EXÉRCITO (Gen Jacinto Machado Bittencourt)

25º Corpo de Voluntários


4ª Brigada
(Cel Faria 29º Corpo de Voluntários
Rocha)
33º Corpo de Voluntários
41º Corpo de
Voluntários
5ª Divisão 42º Corpo de
(Cel 9ª Brigada (Cel Voluntários
Betbezé de Lourenço de
Araújo) 46º Corpo de
Oliveira) Voluntários
54º Corpo de
10ª Brigada Voluntários
(Cel Luís
Maranhão) 23º Corpo de Voluntários

47º Corpo de Voluntários

50º Corpo de Voluntários

ORGANOGRAMA 1 - 1º Corpo de Exército


Fonte: Tasso Fragoso (2012, p. 52)
73

2º CORPO DE EXÉRCITO (Gen Argolo)

4º Btl de Linha
1ª Bda (Cel
Miranda 12º Btl de Linha
Reis)
16º Btl de Linha

8º Btl de Linha
1ª 8ª Bda (Cel
Hermes da 10º Btl de Linha
Divisão
(Gen Fonseca) 32º Corpo de
Gurjão) Voluntários
38º Corpo de
13ª Bda (Cel Voluntários
Barros de
24º Corpo de Voluntários
Vasconcelos)
28º Corpo de Voluntários

51º Corpo de Voluntários

2º Btl de Linha
2ª Brigada
(Cel
26º Corpo de Voluntários
Rodrigues
Seixas)
2ª Divisão 40º Corpo de Voluntários
(Gen
Salustiano 1º Btl de Linha
dos Reis)
5ª Brigada (Cel 13º Btl de Linha
Fernando
Machado) 34º Corpo de
Voluntários
48º Corpo de
Voluntários

ORGANOGRAMA 2 - 2º Corpo de Exército


Fonte: Tasso Fragoso (2012, p. 53)
74

3º CORPO DE EXÉRCITO (Gen Osório)

3º Btl de Linha

3ª Bda (Cel 9º Btl de Linha


Pereira de
Carvalho) 14º Btl de Linha

3ª Divisão 35º Corpo de Voluntários


(José Silva
Guimarães) 5º (?)
7ª Bda (Cel 39º Corpo de
Frederico de Voluntários
Mesquita) 31º Corpo de
Voluntários
55º Corpo de
Voluntários

11º Btl de Linha

27º Corpo de Voluntários


11ª Bda (Cel
Oliveira Bueno)
32º Corpo de Voluntários
4ª Divisão
(Cel 34º Corpo de Voluntários
Herculano 36º Corpo de
Pedra) Voluntários
12ª Bda (Cel 44º Corpo de
Francisco Voluntários
Caldas) 47º Corpo de
Voluntários
49º Corpo de
Voluntários
ORGANOGRAMA 3 - 3º Corpo de Exército
Fonte: Tasso Fragoso (2012, p. 53)
75

3.8.3 A Marcha pelo Chaco

O Resumo Histórico das Operações Militares dirigidas pelo marechal-de-exército


Marquez de Caxias na Campanha do Paraguay (1872), assim justifica a supracitada
organização dar forças executada por Caxias:

Viu-se o Marquez de Caxias, quando tomou posse do comando em Chefe das


nossas forças, organizar o Exército em três grandes frações, que não eram iguais
entre si, porque não é conveniente que os Corpos de Exército sejam todos de
igual força. Consequente pois o seu sistema de organização, sistema fundado na
experiência e em uma longa prática. Ele não quis alterar a organização primitiva
do Exército quando marchou de Surubihy. Foi em virtude dessa resolução que
que conservou no comando de sua direita (3º corpo), ao Visconde de Herval; no
seu centro (1º corpo), ao general Bittencourt; no de sua esquerda (2º corpo), ao
marechal Argolo; incorporou naqueles corpos os recrutas das últimas levas que
não tinham tomado parte nas operações da campanha; pôs o comandante de sua
esquerda no caso de poder tomar a ofensiva, se por ventura o inimigo o fosse
atacar na margem direita do Paraguai; organizou em Surubihy e Palmas uma
reserva respeitável (de 8 mil homens) sob o comando do general Gelly y Obes;
finalmente guarneceu com forças suficientes os pontos da margem esquerda que
o Exército havia conquistado, e tirou dos arsenais do Cerrito e de Humaitá o
material necessário para as operações que projetava. Ele chegou a levar assim
as suas forças ao número de 28 mil homens; mas não pôde reunir mais de 4 a 5
mil cavalos. (CAXIAS, 1872, p.87).

Consoante Morgado (2010), a Infantaria, a Artilharia e todo equipamento


passaram pela estrada do Chaco e em 4 de dezembro toda a tropa já se encontrava
frente à Villeta, pronta para o embarque na esquadra e desembarque em Santo
Antônio. No final do dia seguinte, a esquadra havia transportado um total de 17.000
homens até a margem oposta. Doratioto (2002), atesta que as Divisões de Cavalaria de
Menna Barreto e Andrade Neves ficaram aguardando transporte que as levaria até
Porto Ipané para o desembarque. O terreno entre a região de Santo Antônio e a
posição do Piquissiri, pela existência dos cortes dos arroios Itororó e Avaí, prestava-se
às ações retardadoras por parte do inimigo (RAPOSO FILHO, 1959).

Na madrugada de 5 de dezembro, a Marinha Imperial fez a passagem do


Exército Brasileiro do Chaco para San Antonio; ao pôr do sol desse dia foram
transportados 17 mil soldados, dos quais uns mil de cavalaria. De 6 a 9 de
dezembro os navios transportaram mais tropas do território chaquenho para San
Antonio; permaneceram no Chaco quatro divisões de cavalaria brasileira. Caxias
podia, então, executar sua inteligente estratégia de atacar a retaguarda de
Solana López (DORATIOTO, 2002, p.360).
76

De acordo com Dionísio Cerqueira (1980), terminado com pleno êxito o


movimento envolvente pelo Chaco, o grosso das Forças Aliadas estava em situação
privilegiada para iniciar suas ações ofensivas. Por outro lado, López, surpreendido pela
manobra de Caxias, determinou que o general Caballero (1839-1912) ocupasse,
imediatamente, a ponte existente sobre o arroio Itororó, com 5.000 homens e 12
canhões, mantendo o grosso de suas tropas no interior das posições do Piquissiri e
contando, ainda, com um contingente de 6.000 homens em Assunção (AZEVEDO
PIMENTEL, 1978).

3.8.4 A batalha de Itororó

Solano López, ao desconfiar que o desembarque brasileiro seria em Villeta e não


em Santo Antônio, mandou cavar trincheiras em torno dessa primeira cidade e
deixou em alerta uma forte coluna móvel, comandada pelo general Caballero, seu
melhor chefe militar. A coluna de Caballero deveria enfrentar os brasileiros onde
eles desembarcassem e foi ela que combateu em Itororó e em Avaí. Os
combates em Itororó começaram às 8 horas e cessaram às 13 horas, com perdas
de 1200 paraguaios -seiscentos mortos-, enquanto os brasileiros, vitoriosos,
perderam 1806 combatentes, entre mortos e feridos; morreram, inclusive, dois
generais, Argolo e Gurjão. O terreno era favorável à defesa, não havia espaço
para os atacantes manobrarem a ponto de, em determinado momento, a
cavalaria brasileira, ao recuar de um ataque, atropelar a infantaria que estava
logo atrás (DORATIOTO, 2002, p.360).

Conforme Tasso Fragoso (2012), gastou-se todo o dia 5 de dezembro de 1868


nas operações de transporte e desembarque das tropas que haviam infiltrado pela
estrada do Chaco. O efetivo dos três corpos de exército que se transladou para a
margem esquerda do Rio Paraguai era o seguinte, conforme fonte primária obtida no
Arquivo Histórico do Exército (Resumo Histórico das Operações Militares dirigidas pelo
Marquez de Caxias na Campanha do Paraguay – 1872):
77

FIGURA 21 - Controle de efetivos nas operações


Fonte: AHEx (1872)

Conforme Soares (1986), o 2º CEx, o primeiro a chegar em Santo Antônio, tinha


por missão, assim que desembarcasse, reconhecer a ponte sobre o arroio Itororó e
ocupá-la para permitir a passagem daquele arroio por todas as forças do Exército. Tal
medida era vista por Caxias como de vital importância para o prosseguimento das
ações contra López, visto que a ponte, se ocupada pelo inimigo, forçaria os aliados a
um combate em situação desvantajosa, pois o arroio, embora de pouca profundidade,
corria entre rochedos íngremes e elevados (TASSO FRAGOSO, 2012).
No Resumo Histórico de 1872, o acontecimento em questão é relatado da
seguinte maneira:

A esse tempo, já o general Argolo tinha encarregado ao coronel Niederaurer de


proceder ao reconhecimento que Ihe fora ordenado; mas não lhe dando ordem
nem forças de infantaria para occupar o ponto que ia reconhecer, e esqueceu-se
das recomendações que lhe havia feito o general, e assumiu com isso uma
grande responsabilidade. Foi na tarde do dia 5 que o valente Niederaurer, pondo-
se à frente de alguns esquadrões de cavallaria, se dirigiu para Itororó, onde o
inimigo tinha apenas uma pequena força, que se retirou precipitadamente logo
que avistou os nossos denodados lanceiros. Vendo a importância da posição,
mas não tendo ordem nem infantaria para a occupar, teve aqueIle incansável
official de regressar para o acampamento, e dar parte ao seu general do
78

reconhecimento que lhe linha sido confiado. Consta que elle dissera nessa
ocasião a Argolo (pelo menos assim correu), que se o inimigo se fortificasse no
terreno que acabava de reconhecer, o Exército não se apossaria delle senão com
muitos sacrifícios, e muito derramamento de sangue (CAXIAS, 1872, p. 86).

Soares (1986) conclui a respeito do supracitado fato da seguinte maneira em sua


dissertação da ECEME:

E assim, deixou-se para o inimigo a incumbência de consertar o erro e ocupar a


ponte e, com isso, forçar os aliados a travar mais um combate que custou 2.400
baixas, entre mortos e feridos. Ao saber que a ponte não fora ocupada, Caxias,
imediatamente, mandou ocupá-la com a cavalaria que dispunha e dois batalhões
de infantaria. Mas já era tarde demais, o inimigo já lá estava em posição. Só
restava agora, travar o combate para retomar a ponte, o que Caxias decidiu fazer
no dia seguinte (1986, p. 26).

Segundo Dionísio Cerqueira (1980), ao raiar do dia 6 de dezembro de 1868, as


tropas brasileiras iniciaram o movimento para o sul. A vanguarda era composta de um
esquadrão de cavalaria da Brigada de Niederauer, da 5ª Brigada de Infantaria, de
Fernando Machado e do restante do 2° Corpo de Exército, e seguida pelos 1° e o 3°
Corpos de Exército que constituíam o grosso. O Arroio Itororó tinha as margens
bastante íngremes com largura de 3 a 4 metros e profundidade de 4 a 5 metros. Havia
uma estrada, protegida por mata, que levava ao arroio. A cerca de 200 metros deste,
começava uma descida até a ponte madeira sobre o arroio (FARIA, 2015).

FIGURA 22 - Esboço original do dispositivo na batalha de Itororó


Fonte: AHEx
79

De acordo com Morgado (2010), a sul desta posição, se colocaram as forças


paraguaias, em um terreno elevado e com uma clareira rodeada por mata.
Complementa descrevendo o cenário por ocasião da batalha:

Nesse anfiteatro, Bernardino Caballero dispôs seus meios. Colocou quatro


canhões de cada lado da ponte, cruzando fogos com tiros diretos; na colina, os
quatro restantes, batendo frontalmente. Seus 3 mil infantes foram colocados em
atiradores, aproveitando o terreno e a proteção da vegetação. Sua cavalaria ficou
à retaguarda da colina, concentrada e igualmente protegida das vistas e dos
fogos dos brasileiros. A ponte, tosca e de madeira, com três metros de largura, só
permitia a passagem de linhas de quatro a seis homens emassados ombro a
ombro, donde se deduz que o escoamento da tropa nessa travessia foi realizado
em coluna de pelotões. Embora o poder relativo de combate favorecesse Caxias
– eram 17 mil homens contra 5 mil, o terreno foi o fator preponderante que
conduziu as ações. Imaginemos o desembocar do ataque nessas condições e
teremos as explicações para a carnificina que se seguiu. O gargalo criado não
permitia a colocação de massa suficiente para atacar com sucesso o dispositivo
paraguaio. Do lado brasileiro, a conformação do terreno não permitia o
posicionamento das peças de artilharia para apoiar as ações. O uso da cavalaria
também não contribuiu para o êxito, pois, além de disputar com a infantaria o
espaço existente para manobrar, não encontrou espaço adequado para o seu
emprego. Durante cinco horas, colunas de homens reforçavam o insucesso, e a
confusão se estabelecia entre as tropas que desembocavam da ponte e as que
retraíam sob o fogo de canhões e fuzis, além das cargas da cavalaria paraguaia
e ainda da presença nesse espaço da cavalaria brasileira (MORGADO, 2010,
p.19).

FIGURA 23 - Comparação das forças aliadas e paraguaias envolvidas em Itororó


Fonte: Revista Da Cultura (2010)

Tal descrição da batalha é corroborada por Tasso Fragoso (2010), que atesta
que os brasileiros, na sua marcha, ao alcançarem o alto da colina ao norte da ponte
foram recebidos por uma barragem de fogo da artilharia inimiga. A 5ª Brigada,
80

encarregada do reconhecimento e da conquista da ponte, avançou na direção da


passagem do rio, mas foi impedida pelo inimigo que saía da mata, e a atacava de
surpresa. Caxias determinou a abertura de fogo de artilharia contra o inimigo. A
vanguarda abriu picadas à direita e à esquerda, da estrada até a barranca do rio para
melhor bater o inimigo. O general Argolo, comandante do 2º Corpo, ordenou novas
cargas com o apoio da cavalaria de Niederauer. Os batalhões avançaram para frente,
repelindo o inimigo até as suas baterias; este carregava de volta, rechaçando os
brasileiros (DONATO, 2001).
Consoante Faria (2015), enquanto se desenrolavam esses acontecimentos,
Caxias foi informado da existência de um passo a leste da posição, por onde as tropas
poderiam chegar à outra margem do arroio. O Comandante-em-chefe decidiu fixar o
inimigo frontalmente e desbordá-lo com o 3.º Corpo de Exército de Osório. Enquanto
Osório empreendia o movimento desbordante, novas ações ocorriam sobre a ponte
(MORGADO, 2010).

É provavelmente nessa conjuntura que o major paraguaio Céspedes, vaqueano


de Caxias, o informa da existência de um caminho à esquerda, por onde também
se pode ir ao Passo de Itororó. O generalíssimo brasileiro compreende logo a
vantagem de aproveitá-lo para cair de modo simultâneo sobre o flanco direito e a
retaguarda dos inimigos. Encarrega dessa missão a Osorio com seu Corpo de
Exército (3º) (TASSO FRAGOSO, 2012, p.64).

Nesse ínterim, conforme Azevedo Pimentel (1978), Argolo foi ferido gravemente
e as tropas brasileiras sofreram violentos contra-ataques, sendo obrigadas a
retrocederem para a margem norte. Donato (2001) complementa atestando que, como
não recebesse sinais de que Osório havia atingido o flanco esquerdo do inimigo, Caxias
não hesitou em lançar o 1º Corpo de Exército na ação. Este, também, sofreu um terrível
e maciço contra-ataque inimigo. Caxias vislumbrou a repercussão negativa desse último
lance para o resultado final da jornada e, buscando infundir coragem à tropa, decidiu
conduzi-la diretamente. Conforme Grala (1986), desembainhou, então, sua espada e
bradou: "SIGAM-ME OS QUE FOREM BRASILEIROS!" e, atravessando a ponte de
espada à mão, arrebatou os subordinados. O inimigo foi levado de roldão, tendo
recuando na direção de Vileta. O presente momento é descrito em detalhes por
Dionísio Cerqueira (1980), testemunha ocular dos fatos:
81

Passou pela nossa frente animado, ereto no cavalo, o boné de capa branca com
tapanuca, de pala levantada e preso ao queixo, pela jugular, a espada curva
desembainhada, empunhada com vigor, e presa pelo fiador de ouro, o velho
general-chefe, que parecia ter recuperado a energia e o fogo dos vinte anos.
Estava realmente belo. Perfilamo-nos como uma centelha elétrica tivesse
passado por todos nós. Apertávamos o punho das espadas, e ouvia-se num
murmúrio de bravos ao grande marechal. O batalhão mexia-se agitado e atraído
pela nobre figura que a baixou a espada em ligeira saudação aos seus soldados.
O comandante deu a voz de firme. Dali a pouco, o maior dos nossos generais
arrojava-se impávido sobre a ponte, acompanhado dos batalhões galvanizados
pela irradiação da sua glória. Houve quem visse moribundos, quando ele passou,
erguerem-se brandindo espadas ou carabinas para caírem mortos adiante. A
carga foi irresistível e o inimigo completamente feito em pedaços. As bandas
tocaram o hino nacional, cujas notas sugestivas se mesclaram com a alvorada
alegre, repetida pelos corneteiros que ainda viviam (1980, p. 272 e 273).

De acordo com Costa (1974), meia hora após a conquista da ponte, Osório
chegou com seu Corpo de Exército, após haver percorrido três léguas para contornar o
inimigo e não apenas uma e meia, como havia sido informado. Terminado o combate, a
perseguição, no entanto, só se fez sentir num pequeno raio de ação, por estarem as
tropas fatigadas e a maioria, composta pela cavalaria, ainda estar na margem direita do
Paraguai à espera do embarque (CAXIAS, 1872). Derrotado em Itororó, Caballero e
suas forças remanescentes se retiraram para Villeta, situada a aproximadamente 6
quilômetros de distância (DORATIOTO, 2002).
Ao relatar as decisões de Caxias em Itororó, as quais poderiam ter mudado o
rumo da Guerra, como por exemplo a exposição e risco de vida que o Duque sofreu ao
liderar a famosa carga sobre a ponte, Dionísio Cerqueira (1980) defende Caxias com
uma frase que viria a marcar a historiografia sobre a GTA:

A crítica, porém, aos grandes mestres é sempre fácil. A arte da guerra é aquela
em que mais erros se comete. Os maiores capitães cochilaram, como o divino
Homero. A guerra, na frase de um ilustre oficial francês, é uma série de erros e
vence o que menos erra (1980, p. 274).

Segundo Tasso Fragoso (2010), os paraguaios tiveram 1200 homens fora de


combate e as perdas brasileiras foram as seguintes:
82

Oficiais Praças
Mortos 29 212
Feridos 81 1262
Contusos 22 108
Extraviados 0 92
Parcial 132 1674
Total 1806
QUADRO 2 - Baixas Brasileiras em Itororó
Fonte: Tasso Fragoso (2010)

3.8.5 A batalha do Avaí

Conforme Morgado (2010), no dia seguinte ao combate de Itororó, Caxias,


mantendo o 2° Corpo de Exército (sob comando do Gen Menna Barreto, substituto do
Gen Argolo) na região da ponte conquistada, marchou com o 1º e 3º Corpos de Exército
para Cerro Ipané, posição elevada e dominante que lhe proporcionava segurança
contra possíveis surpresas. Como só se haviam distribuído munição e víveres para três
dias, naquela noite a ração foi de espigas de milho, colhidas nas redondezas do
bivaque (DORATIOTO, 2002). Conforme Dionísio Cerqueira (1980), Caxias e seu
estado-maior delas se alimentaram, dando exemplo de companheirismo e servidão.
No dia 8, choveu torrencialmente e o exército só se moveu no dia seguinte, na
direção do rio Paraguai, para receber suprimentos e munição da esquadra, abicada em
Porto de Ipané, uma barranca na foz desse arroio junto ao Rio Paraguai. Caxias
mandou atravessar o grosso da cavalaria, que havia permanecido no Chaco, ao
comando de Andrade Neves. Eram quatro divisões, cerca de 4 mil homens (TASSO
FRAGOSO, 2010).
De acordo com Thompson (1992), Caballero furtava-se à perseguição e instalava
posições retardadoras a cavaleiro da estrada entre Itororó e Vileta. No dia 9, o Exército
estacionou na região entre os arroios Santa Rosa e Avaí, onde foram incorporadas as
divisões de cavalaria que desembarcaram em Porto Ipané (DONATO, 2001).
83

FIGURA 24 - Dias que antecederam e culminaram na batalha do Avaí


Fonte: Revista Da Cultura (2010)

Consoante Morgado (2010), em 11 de dezembro, Caxias retomou o movimento


na direção sudeste, a fim de atacar Vileta. Para tanto, tinha que passar pelo corte do
arroio Avaí. Caballero tendo abandonado Potreiro Valdovino, onde estacionara, entrou
em posição onde existiam duas colinas que margeavam aquele arroio. Os brasileiros,
para atacar Caballero teriam que descer até o Avaí, transpô-lo e subir a colina oposta.
Os paraguaios contavam com 6.000 homens em linha no alto da colina e dispostos a
travar combate, em ótimas condições para repelir as forças de Caxias, durante a
aproximação e o ataque (LIMA, 1967).
De acordo com as memórias de Centurión (1987), Caballero, respondendo a
uma indagação sobre as possibilidades da posição do Arroio Avaí para enfrentar o
exército imperial, disse que não era boa, por ser acessível de qualquer lugar, e propôs
a López concentrar seus meios nas Lomas Valentinas. O ditador mandou dizer-lhe que:
“se eles não se animavam a fazer frente ao inimigo nessa posição, tinha outros chefes
que fariam as suas vezes” (1987, p.208), ao que Caballero replicou que: “ele e seus
companheiros se consideravam muito capazes de realizar a defesa até sucumbirem
todos ou conseguirem o triunfo” (1987,p.208). Três coxilhas e dois arroios compunham
o cenário da batalha. Na do centro, dominando o corte do Avaí por oeste, Bernardino
84

Caballero dispôs seus meios. Eram 5600 homens, infantaria no centro, apoiada por 18
canhões, e a cavalaria nos flancos (CENTURION, 1987).
De acordo com Faria (2015), Osório à frente do 3º Corpo de Exército avançou e
ao aproximar-se do arroio Avaí, deparou-se com o inimigo em posição. Caxias
concebeu uma manobra que visava romper o dispositivo inimigo e ao mesmo tempo
atuar nos seus dois flancos, tendo em vista cortar a sua retaguarda. Com esta intenção,
ordenou a Osório que atuasse frontalmente com o 3º Corpo de Exército, reforçado pela
5ª DC, de Câmara. Simultaneamente, lançou, pela esquerda, Andrade Neves com as 2ª
e 3ª DC e, pela direita, Menna Barreto com a 1ª DC (DONATO, 2001).

FIGURA 25 - Disposição das tropas na batalha do Avaí


Fonte: Cadeira de História Militar- AMAN (2015)

De acordo com Lima (2016), quando a batalha já havia sido iniciada ocorreu uma
violenta chuva que fez subir as águas do arroio, alagar o terreno e provocar a perda de
uma grande quantidade de munição. Osório, com dificuldade, atacou a ala esquerda de
Caballero. Este, perigando ser ultrapassado, usou suas reservas naquele setor
ameaçado, conseguindo, com isso, flanquear alguns batalhões brasileiros à direita da
linha de ataque do 3º Corpo (MORGADO, 2010).
Consoante Tasso Fragoso (2010), Caxias ordenou a Osório que usasse o
restante de sua infantaria contra o centro e a esquerda inimiga, enquanto ele próprio
85

interviria com o 2º Corpo na direita do dispositivo adversário. Durante o ataque do 3º


Corpo, Osório foi ferido no rosto por um projétil de fuzil, sendo afastando da luta por
determinação de Caxias. Dionísio Cerqueira apresenta uma visão detalhada do cenário
encontrado na Batalha do Avaí:

Tivemos ordem de avançar em acelerado. No caminho, vimos o general Osório, o


nosso ídolo, ferido no rosto. Estávamos no campo do Avaí. Borrasca tremenda de
trovões e chuva, açoitada por vento violento desabou sobre nós e molhou-nos até
os ossos [...] O dezesseis fez alto numa eminência à margem direita do arroio e,
pela primeira vez, foi-me dado presenciar, como espectador, em toda sua
esplêndida grandeza, o espetáculo de uma batalha campal [...] A coxilha, onde
estávamos, tinha ao sopé o Avaí, correndo para a nossa direita com o caudal
aumentado pela chuva que lhe dera os tons vermelhos da argila arrastada, que
podiam ser também do sangue derramado. O Marquês comandava em pessoa a
batalha. A nossa artilharia, troando nas alturas, abria avenidas nas colunas
inimigas. Dois batalhões nossos, o 9º e o 15º, foram acutilados à nossa vista pela
cavalaria do Ditador. O Câmara vingou-os, varrendo-a do campo de batalha
(1980, p. 276 e 277).

Consoante Soares (1986), por medida de segurança, uma das Brigadas do 1º


Corpo de Exército, que estava na reserva, realizou a cobertura das cabeceiras do
Ipané, contra possíveis forças vindas de Assunção. Como as unidades do 3° Corpo de
Exército fizessem grande esforço para manter as posições conquistadas, Caxias lançou
à frente as divisões de infantaria do 2º Corpo de Exército e as reservas do 3º Corpo de
Exército, engajando estas últimas no flanco esquerdo do inimigo (Grala,1986).
Donato (2001) relata que, com o ímpeto renovado, os brasileiros conquistaram o
alto da colina, onde se apossaram de quase todos os canhões do inimigo. Este recuou
para a encosta das elevações a noroeste. Sem perda de tempo, Caxias mandou atacá-
lo, pela retaguarda, com 5ª DC, quando se fechava o movimento duplamente
desbordante da cavalaria brasileira. Andrade Neves caiu com suas duas divisões sobre
o flanco direito do derradeiro núcleo paraguaio, enquanto Menna Barreto fechava o
cerco no outro flanco (Grala, 1986).
Thompson (1992) relata a intensidade e destruição impostas aos paraguaios
durante a batalha do Avaí:

O General Caballero comandava os paraguaios nesse combate, em que todos


lutaram como Leões. Mantiveram o combate por quatro horas, no meio de um
terrível aguaceiro, contra os assaltos contínuos dos brasileiros, até que a
cavalaria os cercou e atacou por todos os lados. Então foram totalmente
aniquilados, e apenas se salvou um homem. O general Caballero foi arrancado
86

de seu cavalo e lhe foi tirado seu poncho e suas esporas de prata, mas não foi
reconhecido pelo inimigo e no dia seguinte se apresentou a López. Os coronéis
Serrano e Gonzalez foram tomados prisioneiros, e, em geral, todos os que não
morreram, caíram em poder do inimigo (THOMPSON, 1992, p.203, tradução
nossa).

Vendo que o cerco se fechava sobre o adversário, Caxias determinou um último


esforço aos seus infantes e cavalarianos, impelindo-os, de novo, para frente. O grosso
do 1º Corpo de Exército, na reserva, também avançou, a fim de apoiar a divisão de
João Menna Barreto (TASSO FRAGOSO, 2010). De acordo com o mesmo autor, as
perdas brasileiras em Avaí foram as seguintes:

Oficiais Praças
Mortos 13 153
Feridos 22 451
Contusos 14 49
Extraviados 0 27
Parcial 49 680
Total 729
QUADRO 3 - Baixas Brasileiras em Avaí
Fonte: Tasso Fragoso (2010)

Doratioto (2002) possui uma estimativa mais elevada das perdas brasileiras e
contabiliza o saldo final da Batalha do Avaí da seguinte maneira:

Caballero salvou menos de 200 dos 5 mil homens que comandava, tendo os
brasileiros sepultado 3 mil cadáveres paraguaios, enquanto as perdas das forças
imperiais, entre mortos e feridos, foram de dois mil soldados. Foram feitos 1200
prisioneiros paraguaios e, também, trezentas mulheres que os acompanhavam.
Elas foram, segundo Garmendia, vítimas sexuais da soldadesca e sofreram “os
ultrajes da luxúria na noite mais negra de suas penas”, enquanto os adolescentes
que compunham a tropa paraguaia não tiveram suas vidas poupadas. (2002,
p.276 e 277).

Consoante Morgado (2010), terminada a batalha, Caxias encaminhou todas as


suas tropas para Villeta, que estava perto, e junto dela acampou, cobrindo-se
convenientemente do lado do inimigo. Tasso Fragoso (2010) atesta que Caxias achara
87

oportuno dar um pequeno descanso ao seu Exército e reaprovisioná-lo de víveres e


munições. Possuía, também, a urgente necessidade de providenciar sobre o tratamento
dos enfermos e feridos, além das evacuações possíveis para os hospitais de Palmas e
Humaitá. Conclui afirmando que Villeta prestava-se admiravelmente a estes misteres e
em frente dela estava fundeada a esquadra imperial brasileira, à espera dos
companheiros do Exército.

3.8.6 As batalhas de Lomas Valentinas

De acordo com Tasso Fragoso (2010), era de grande importância para Caxias
saber o que se passava na sua frente e qual a situação do flanco direito da posição de
López. Dessa maneira, a 1ª DC foi lançada em 17 de dezembro, com a missão de
exploração no rumo leste e a 2ª DC, na direção das colinas de Lomas Valentinas, onde
ficava a coxilha Ita-Ivaté, na qual López instalou seu quartel-general. Foi nas encostas
oeste e norte dessa coxilha que López estabeleceu uma linha de trincheiras ao verificar
que o inimigo atacaria do norte para o sul (MORGADO, 2010).

FIGURA 26 - Localização relativa de Lomas Valentinas


Fonte: Revista Da Cultura (2010)
88

A respeito da coxilha de Ita-Ivaté, Tasso Fragoso (2010) faz a seguinte


descrição:

Uma feição topográfica dessa coxilha, que o leitor não deve perder de vista para
bem interpretar os acontecimentos que ali vão ocorrer, é que ela avança para o
norte apresentando uma espécie de degrau. Depois do planalto existente no
cume, o terreno descia nessa direção, deixava-se cruzar por um filete d´água (ao
que parece uma cabeceira da sanga Branca), apresentava outro planalto ou
degrau, e depois descia novamente até prender-se aos terrenos convizinhos. Foi
na borda deste primeiro degrau que López estabeleceu uma linha de trincheiras,
quando se deu conta de que o inimigo o ia atacar vindo de norte (2010, p.89).

FIGURA 27 - Esboço original de Lomas Valentinas


Fonte: AHEx
89

De acordo com Faria (2015), para o acesso a Ita-Ivaté, pelo norte, havia dois
caminhos, de difícil deslocamento e por leste o acesso era mais fácil por qualquer
ponto. Pelo sul, embora a posição estivesse apoiada em vegetação densa, o acesso
era aberto devido ao grande descampado do Potreiro Marmol; por oeste, somente por
Cumbariti, o terreno permitia o acesso à região. Conforme Tasso Fragoso (2010), para
sua defesa, Solano López dispunha de cerca de 9.800 homens em Ita-Ivaté, 3.000 em
Piquiciri e 900 em Angostura. Os brasileiros concentrados em Villeta, por sua vez,
contavam com um efetivo no entorno de 19.500 homens, sem contar com as tropas,
brasileiras, argentinas e uruguaia, deixadas em Palmas (DORATIOTO, 2002).
Para Morgado (2010), Ita-Ivaté constituía na visão de Caxias o Objetivo, uma vez
que conquistado permitiria a destruição do mais importante grupamento de forças
inimigas e facilitaria a conquista de Angostura e da linha do Piquissiri e cortaria a
possível rota de escape das forças de López por leste, pelo Potreiro Marmol. Para
conquistar Lomas Valentinas, Caxias planejou um ataque partindo de Villeta na direção
de Palmas, devendo cobrir-se na região de Angostura e fixar o inimigo na direção
Palmas-Villeta (GRALA, 1986).

O reconhecimento feito por Caxias foi realizado no dia 17 de dezembro e ele


decidiu atacar a posição paraguaia no dia 19. O plano de operações determinava
uma ação principal sobre Ita-Ibaté, ao comando do marquês, e duas ações
secundárias: a primeira, a cargo de João Manoel com a sua 1a Divisão de
Cavalaria reforçada por infantaria e artilharia; a segunda, atribuída ao Coronel
Câmara e sua 5a Divisão de Cavalaria, era vigiar Angostura. Para a conquista
das Lomas, Caxias organizou duas colunas. A primeira, ao comando do
Brigadeiro Machado Bittencourt, tendo por base o 1o Corpo, era composta por
seis brigadas com 16 batalhões e atacaria o flanco esquerdo da posição.
Somavam 6786 infantes. A segunda, comandada por Jose Luís Mena Barreto,
tendo por base o 2o Corpo, era composta por outras seis Brigadas com 17
batalhões e atacaria o flanco direito. Somavam 7904 infantes. Na reorganização
realizada em Villeta, o 3o Corpo foi dissolvido e suas unidades, distribuídas aos
outros dois. O corpo de cavalaria de Andrade Neves, composto pelas 2a e 3a
Divisões, recebeu a missão de contornar por oeste as Lomas Valentinas e
explorar o Potreiro Marmol, arrebanhando todo o gado que ali encontrasse,
batendo o inimigo que pudesse alcançar e impedindo a comunicação de López
com as forças do Piquiciri ou quaisquer outras do interior. Era composto por seis
brigadas com 13 corpos de cavalaria. A 1a Divisão, de João Manoel, era
composta por duas Brigadas com três corpos – cedeu um corpo para a 2a Coluna
e foi reforçado por duas brigadas de infantaria com seis batalhões. Recebeu,
ainda, uma bateria de canhões. A 5a Divisão de Cavalaria era composta por duas
Brigadas com quatro corpos, tendo, durante a batalha, entregue um corpo para
João Manoel (MORGADO, 2010, p. 26).
90

FIGURA 28 - Organização das Forças para as batalhas de Lomas Valentinas


Fonte: Revista Da Cultura (2010)

Conforme Doratioto (2002), no primeiro ataque a Ita-Ivaté, em 21 de dezembro,


os batalhões das diferentes brigadas estendidos em linhas de atiradores investiram
contra as trincheiras inimigas, subiram a escarpa do fosso em passo-de-marcha, com
as baionetas caladas, transpuseram as posições inimigas, lutando contra os defensores
paraguaios. A Cavalaria brasileira, apesar de combater num terreno completamente
desfavorável, conseguiu penetrar no interior das trincheiras e auxiliar a ação,
carregando contra os infantes ou cavalarianos adversários (DONATO, 2001).
91

De acordo com Dionísio Cerqueira (1980), o grupamento de ataque, mesmo de


posse da primeira linha de trincheira e de 13 canhões paraguaios, não pôde manter a
posição conquistada, pois os paraguaios contra-atacavam de todos os lados,
aproveitando-se do desconhecimento que os aliados tinham do terreno (AZEVEDO
PIMENTEL, 1978).
Consoante Tasso Fragoso (2010), Caxias ainda dispunha de forças para efetuar
um contra-ataque de conjunto e reconquistar o terreno perdido, mas, como a noite caía
rapidamente, era necessário cuidar dos feridos e restabelecer a ordem nas diferentes
unidades. Buscou, então, aferrar-se ao terreno e guardar uma excelente base de
partida para novos ataques. A cavalaria de João Manoel atirava-se contra a retaguarda
das trincheiras do Piquissiri, com pleno êxito, obtendo, com sua ação, duas vantagens
inestimáveis: o isolamento de Angostura e a abertura das comunicações com Palmas
(DORATIOTO, 2002).
No final do dia 21 de dezembro, as forças estacionadas em Palmas fizeram a
junção com forças que atuavam em Piquissiri. As ações ofensivas desse dia, causaram
muitas baixas, em torno de 1310 homens nos aliados e de 8.000 baixas no lado
paraguaio, dentre mortos, feridos e prisioneiros (DONATO, 2001).
De acordo com o Resumo Histórico das Operações Militares dirigidas pelo
marechal-de-exército Marquez de Caxias na Campanha do Paraguay (1872), os
efetivos que realizaram os ataques do dia 21 de dezembro de 1868 eram os seguintes:
92

FIGURA 29 - Controle de efetivos nas operações


Fonte: AHEx (1872)

Thompson (1992) nos proporciona a oportunidade de visualizar a dinâmica das


operações sob o ponto de vista das tropas de López:

O dia 22 e 23 foram empregados pelos brasileiros em fazer fogo de rifle dia e


noite sobre o quartel general de López e pelos argentinos em avançar e reunir-se
com Caxias, que fez vir de Palmas sua artilharia de campanha. Dia 23 chegou de
Cerro León um batalhão paraguaio, com 500 homens, e dia 25 chegaram novos
reforços de Caapucú, a saber: um batalhão de infantaria e um regimento de
cavalaria. O batalhão 40, assim como o famoso batalhão de rifleiros, havia sido
completamente aniquilado no dia 21. Os marinheiros dos vapores também foram
desembarcados, deixando-se a bordo somente o número suficiente de homens
para manejá-los. Quase todos os artilheiros haviam perecido no dia 21
(THOMPSON, 1992, p.206, tradução nossa).

Segundo Doratioto (2002), no dia 24 de dezembro, contando com 24 mil


soldados e convencidos, ante a desproporção de forças, da vitória, Caxias e Gelly y
Obes, para evitar uma carnificina, intimaram Solano López à rendição em doze horas, a
contar do recebimento da nota.

Um emissário adentrou o acampamento de Lomas Valentinas trazendo uma


mensagem dos integrantes da Aliança. Que propunham ao Mariscal que
depusesse as armas e se rendesse, “como forma de poupar muitas vidas de
ambos os lados”. O documento que foi encaminhado à Lopez levava as
93

assinaturas de Caxias, representando o Brasil, a do general Gelly y Obes, em


nome da Argentina, e a do general Enrique Castro, do Uruguai. Solano López
desconsiderou a oferta e mandou o mensageiro de volta. Ainda assim, o soldado
pôde confirmar algo que Caxias desconfiava, com base em informações de seus
subordinados: que a defesa paraguaia estava aberta em dois pontos, duas
passagens estreitas diante da trilha que dividias colinas (LIMA, 2016, p. 310).

Grala (1986), afirma que o segundo ataque a Ita-Ivaté ocorreu no dia 27 de


dezembro. O Exército Aliado contava, para este ataque, com cerca de 23.450 homens,
efetivo muito superior ao do adversário. López contava com um efetivo que não
ultrapassava a 4.000 homens e pouca artilharia disponível. Nesse dia, o ataque foi
desferido simultaneamente por várias colunas, após uma poderosa preparação de
artilharia (MORGADO, 2010).
Dionísio Cerqueira (1980) relata o estado de espírito das tropas em combate nas
Lomas Valentinas:

Íamos atacar o ditador e todo o seu exército concentrado nas fortes posições de
Piquissiri, Angostura e Lomas Valentinas. O nosso objetivo nessa guerra foi
sempre o exército inimigo. A capital do país era ponto secundário. Fazia-se a
guerra ao governo do Paraguai. O governo era o ditador e este estava sempre
com o seu exército... no Passo da Pátria, Tuiuti, Humaitá, Piquiciri e Lomas
Valentinas, Cordilheiras e finalmente em Aquidabã, onde pereceu com ele (1980,
p. 280).

Tasso Fragoso (2012), prossegue desenhando a manobra e relata que o


grupamento de sul, sob o comando de Gelly Y Obes atacou o reduto por oeste. O
grupamento do centro, sob o comando de Caxias e subdividido em duas colunas: a da
direita, comandada por Bitencourt, atacou por noroeste; a da esquerda, comandada por
José Luiz Menna Barreto, atacou por nordeste. O grupamento de leste, formado pela
cavalaria brasileira, sob o comando de Vasco Alves, tinha como missão cobrir o flanco
esquerdo de José Luiz Menna Barreto e cortar a retaguarda do inimigo, interceptando-
o, caso fugisse na direção Ita-Ivaté - Cerro Leon (SOARES, 1986).
94

FIGURA 30 - Dispositivo do Ataque em Lomas Valentinas


Fonte: Revista Da Cultura (2010)

Thompson (1992) relata em detalhes a derrocada do Exército paraguaio em suas


últimas tentativas de reação:

Muito cedo na manhã os brasileiros romperam um furioso fogo com 46 peças.


Esta foi a concentração mais nutrida de toda a guerra e teve por resultado partir a
haste da bandeira do quartel general e uma viga da casa de López. Como
sempre, as espoletas estavam mal calculadas e o ar estava cheio de bombas que
explodiam durante sua trajetória; se lançaram também muitos foguetes. A
munição estava também quase toda esgotada. Na mesma tarde, vendo López
alguma cavalaria a sua retaguarda, mandou combate-la com seu regimento de
dragões, que até então havia sofrido muito pouco; a princípio repeliram os
brasileiros, mas rapidamente foram cercados por grandes massas de cavalaria e
completamente aniquilados, voltando somente uns 50 homens para onde estava
López, que os observava, mas já não tinha tropas para fazer sua proteção.
Enquanto isso a fuzilaria não cessava. As forças de López ficaram reduzidas a
apenas mil homens, enquanto aos brasileiros ainda restavam uns 20 mil sanos,
dos 32 mil que tinham no início de dezembro (THOMPSON, 1992, p.209-210,
tradução nossa).

Doratioto (2002), faz um apanhado dos momentos finais vividos em Lomas


Valentinas no mês de dezembro de 1868:

No dia 27, às 6 horas da manhã, iniciou-se o assalto ao quartel-general de


Solano López. Dele participaram, além dos brasileiros, e, vindos de Palmas, após
conquistarem as trincheiras inimigas do Piquissiri, argentinos e a pequena força
uruguaia, que atacaram a retaguarda de Itá- Ivaté. Atacados pela frente, pelos
flancos e pela retaguarda, os paraguaios resistiram com grande bravura, o que
95

não os impediu de serem aniquilados. Três dias depois, em 30 de dezembro,


renderam-se os 1300 soldados de Angostura, comandados por George
Thompson, o último reduto do complexo defensivo de Piquissirí (2002, p. 373-
374).

De acordo com Morgado (2010), López, vendo seu Exército em debandada e


perdido, conseguiu, na confusão, fugir por Potreiro Marmol para Cerro Leon, onde iria
apresentar novas resistências. A fuga de López gera, ainda nos dias hoje, diversas
interpretações. Segundo Lima (2016),

A situação que permitiu a fuga de Solano López deu margem a todo tipo de
críticas por parte da imprensa e da classe política no Brasil e na Argentina,
ganhando versões variadas dos historiadores. Alguns destes acreditam ter havido
falta de empenho de Caxias para fazer a captura do adversário. Outros, que
houve uma questão de honra entre generais. Foram feitas até especulações de
que houvera um gesto de misericórdia do general brasileiro pelo irmão maçom.
Mas é preciso lembrar que López não costumava se expor ao combate e, durante
a batalha, já devia estar em retirada com seu grupo familiar (2016, p. 310).

Ao descrever os últimos momentos da Dezembrada, Doratioto (2002, p.374)


afirma que “Desde o dia 6 de dezembro o Exército paraguaio havia perdido quase 20
mil combatentes, ou seja, fora destruído”. Complementa afirmando que:

Do lado aliado quase metade do efetivo brasileiro foi posto fora de combate, num
total de 10079 homens, dos quais 2099 mortos e 7980 feridos. Os argentinos
tiveram 99 mortos e 464 feridos. Os mortos ficaram espalhados em uma área de
quatro quilômetros quadrados e grande parte dos cadáveres paraguaios era de
crianças e velhos (DORATIOTO, 2002, p. 374).

Com a rendição de Angostura em 30 de dezembro, terminava a série de


operações empreendidas por Caxias e seu exército durante o mês de dezembro de
1868. Tasso Fragoso (2010) assim resume os acontecimentos daquele mês:

O avanço decisivo de Caxias para o norte , através de zona desconhecida,


sempre inquietado por um inimigo bravo, destemido e hábil aproveitador dos
acidentes topográficos locais; o modo por que ele evita a formidável barreira
organizada à margem do Piquissiri, graças a um movimento torneante pelo
Chaco, que é transposto com celeridade apesar dos múltiplos embaraços que
oferece; o seu aparecimento subitâneo na retaguarda das linhas de Lomas,
depois de cruzar o rio Paraguai; a afoiteza e energia que desenvolve
encaminhando-se prestemente para sul, quebrando a resistência dos inimigos na
ponte do Itororó e na batalha de Avaí; as operações secundárias que executa
para concentrar os derradeiros adversários nas posições de Piquissiri e depois o
96

modo por que aí os acomete e aniquila, forçando López a escapar-se


sorrateiramente, tudo isso forma um conjunto de acontecimentos militares de
relevo excepcional, que bastam para alçá-lo à altura dos grandes capitães. A sua
manobra de Piquissiri ou de Lomas tem indubitavelmente o sainete inconfundível
das concepções napoleônicas e enaltece-lhe o mérito guerreiro (2010, p. 132).

Após a rendição de Angostura, Caxias decidiu encaminhar o Exército à capital


Paraguaia, Assunção. Tasso Fragoso (2010, p.136) afirma que “A medida era judiciosa;
a ocupação da capital inimiga afirmava solenemente a vitória militar e facultava dar
descanso às tropas, de há muito sujeitas a privações pelos recontros de dezembro”.
Conforme Thompson (1992), em relação a Solano López, de Lomas Valentinas
fugiu para Cerro León e, depois, para a cordilheira de Ascurra. Doratioto (2002) afirma
que:

Parecia difícil que ele conseguisse se recuperar militarmente e reorganizasse


uma tropa que permitisse algum tipo de resistência aos aliados. Nos primeiros
dias de janeiro foram vagas as notícias sobre o ditador, mas aos poucos, graças
ao interrogatório de prisioneiros paraguaios, delineou-se o quadro de que os
aliados teriam que retomar as operações militares (2002, p. 382).

A fuga de Solano López fez a guerra estender-se por mais quinze meses (até 1
de março de 1870, em Cerro Corá) ao preço de alguns milhares de mortos adicionais e
um rastro de flagelos e destruições para todos os envolvidos, aí incluídas as
populações civis da área deflagrada.
97

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Esta seção tem por objetivo principal apresentar e discutir os resultados obtidos
por meio da revisão bibliográfica e documental, com a finalidade de analisar em que
medida é possível concluir que a série de combates de dezembro de 1868 (Itororó, Avaí
e Lomas Valentinas) teve papel decisivo para a vitória aliada na Guerra da Tríplice
Aliança, gerando influências para a Doutrina do Exército Brasileiro.
Por intermédio de uma acurada revisão de literatura, foram reunidas as principais
fontes, inclusive primárias, que abordam os aspectos mais relevantes relacionados à
importância da Dezembrada para a vitória aliada na Guerra do Paraguai. Em função
disso, foi possível alcançar uma visão teórica ordenada sobre o tema em estudo e
sobre as questões que o envolvem.
Nos trabalhos acadêmicos da EsAO e da ECEME, nas fontes primárias, nos
artigos científicos, livros nacionais e estrangeiros, manuais, relatórios e documentos
oficiais pesquisados, foram encontradas fontes autênticas e fiéis, suficientes para dar
suporte à discussão, que teve como foco solucionar os aspectos relevantes do
problema apresentado e responder às questões de estudo propostas. Sendo assim, as
informações aqui expostas servirão como base para futuras conclusões, solucionando o
problema de pesquisa proposto e sugerindo futuras pesquisas.
Após a apresentação dos antecedentes e causas, além da sequência
cronológica de todos os momentos de vulto da guerra anteriores a dezembro de 1868,
feitas no capítulo 3 -Revisão da Literatura, será dado destaque ao tema central da
dissertação: os combates de dezembro de 1868.

4.1 PRINCÍPIOS DE GUERRA NA MANOBRA DO PIQUISSIRI

Antes da discussão dos detalhes táticos e doutrinários observados durante as


batalhas ocorridas durante a Dezembrada, faz-se necessária a identificação de alguns
princípios de Guerra evidenciados durante a manobra do Piquissiri. Foi produzido um
quadro comparativo utilizando como referência o Manual de Doutrina Militar Terrestre
98

do Exército Brasileiro (2014), dialogando com os fatos e acontecimentos descritos


durante o capítulo 3 – Revisão da Literatura.
Cabe ressaltar que, segundo o supracitado manual, os princípios de guerra são:
“preceitos filosóficos decorrentes de estudos de campanhas militares ao longo da
história e apresentam variações no espaço e no tempo. São pontos de referência que
orientam e subsidiam os chefes militares no planejamento e na condução da guerra
sem, no entanto, condicionar suas decisões” (2014, p. 5-1).

Definição do
Princípio Manual Características observadas na manobra do
de Guerra Doutrina Militar Piquissiri
Terrestre

Caxias empreendeu a manobra do Piquissiri, um


envolvimento estratégico pelo Chaco, caindo
sobre a retaguarda paraguaia, com o corte de
Dirija cada operação suas vias de suprimento e retirada, obrigando-os
militar para um a combater em condições extremamente
Objetivo objetivo claramente desfavoráveis. Observa-se a presença do
definido, decisivo e princípio do OBJETIVO na manobra do Piquissiri
tangível (2014, p.5- ao observarmos que a principal diretriz do
3). comando aliado possuía ações táticas práticas e
exequíveis: neutralizar as resistências paraguaias
e conquistar sua capital, Assunção.

A Dezembrada é um dos exemplos mais


significativos de uma operação ofensiva de
envergadura. O envolvimento do inimigo pelo
Pela ofensiva Chaco, as dificuldades de construção da estrada,
conquiste, mantenha as péssimas condições meteorológicas e os
e explore a iniciativa deslocamentos em terrenos alagadiços,
Ofensiva das ações (2014, demonstram a obstinação ofensiva dos aliados,
p.5-3). vencendo os obstáculos, não medindo esforços
para tomar a iniciativa das ações e buscar o
combate decisivo. Após o desembarque aliado
em Santo Antônio, o inimigo foi destacando aos
poucos seus efetivos estacionados ao norte de
Piquissiri para conter o avanço dos aliados,
99

sendo batido por partes em ITORORÓ, AVAÍ e


LOMAS VALENTINAS. Os aliados, mantendo a
liberdade de ação, manobrando à retaguarda do
inimigo, com superioridade numérica e maior
poder relativo de combate, puderam impor sua
vontade, estabelecendo e determinando o ritmo
do combate (GRALA, 1986).

Foi mantido o contato com a tropa de López no


arroio Piquissiri com os exércitos argentino,
uruguaio e uma brigada brasileira, totalizando
8.000 homens. O grosso das tropas (23.000
combatentes), constituindo o esforço principal,
deslocou-se pela margem direita do rio Paraguai,
para apossar-se de Santo Antônio e continuar
progredindo para o Sul, à retaguarda do inimigo.
As tropas envolventes, sempre reunidas,
Emasse um poder
somaram esforços com a finalidade de derrotar o
de combate
inimigo. López não soube utilizar o princípio da
Massa esmagador no
massa. Quando do desembarque das tropas
momento e local
brasileiras na sua retaguarda, cumpria-lhe
decisivos (2014, p.5-
enfrentá-las sem demora, mesmo surpreendido e
3).
com a frente invertida. Poderia, ainda, organizar
uma posição defensiva, a fim de compensar com
o terreno a sua inferioridade numérica. Seria até
compreensível que disputasse com uma
vanguarda a ponte de Itororó, para trocar espaço
por tempo, numa ação retardadora. Porém, nada
justifica enfrentar as tropas brasileiras em Avaí,
praticamente em campo aberto, numa relação de
um para três.

Bastante utilizado por Caxias durante a manobra


Empregue todo o do Piquissiri. Foi empregado um efetivo
poder de combate equivalente a três quartos do total para o ataque
disponível, de principal de envolvimento do inimigo pelo Chaco.
Economia maneira mais eficaz Em Palmas, na frente secundária, ficou
de forças ou possível, destine o estacionado um quarto do efetivo, para manter o
de meios indispensável de contato e iludir o inimigo quanto ao verdadeiro
poder de combate local do ataque principal. Do mesmo modo, nas
para as ações batalhas de Itororó, Avaí e Lomas Valentinas,
secundárias (2014, Caxias manobrou fixando o inimigo em ações
p.5-4). secundárias e lançou o grosso do efetivo em
ações desbordantes para destruí-lo.
100

No Plano de Operações dos aliados para a


conquista de Piquissiri, destaca-se o princípio da
manobra, tanto no campo estratégico como no
tático.
No campo estratégico, o envolvimento pelo
Chaco, surpreendendo o inimigo com o
desembarque das tropas brasileiras à sua
Coloque o inimigo
retaguarda, cortando suas vias de suprimento e
numa posição
comunicações, colocando-o em uma posição
desvantajosa, pela
desvantajosa e causando o aniquilamento do seu
Manobra aplicação flexível do
exército.
poder de combate
No campo tático, em Itororó, foi executado um
(2014, p.5-4).
desbordamento, em Avaí um duplo
desbordamento e, na batalha final de Piquissiri,
repetia-se o duplo desbordamento da posição
principal de Itá-Ivaté, aniquilando o inimigo ao
estilo característico de uma “manobra
napoleônica” (GRALA, 1986, p.21).

Para cada operação, A ação de comando de Caxias e a sua notável


a obtenção da atuação à frente das tropas aliadas, a par de sua
Unidade de unidade de comando experiência militar, personalidade e liderança,
comando e unidade de deixam claro a evidência do princípio de guerra
esforços é condição quanto à unidade de comando e conjugação de
essencial para o esforços existentes nas operações no Piquissiri.
êxito (2014, p.5-5).

Caxias atribuía grande relevância à segurança. A


Nunca permita que o
busca de informações sobre o inimigo e terreno,
inimigo obtenha uma além dos reconhecimentos à viva força contra as
posições inimigas, eram medidas preliminares
vantagem
para o planejamento de seus ataques. Destaca-
Segurança inesperada (2014, se nesta fase, os reconhecimentos pessoais
realizados para a escolha do local de
p.5-4).
desembarque das tropas brasileiras.
A Manobra de Piquissiri só foi visualizada após
intensos reconhecimentos da posição inimiga,
comprovando-se a impossibilidade
de êxito do ataque frontal.
101

Thompson, assessor paraguaio que planejou o


sistema defensivo do Piquissiri, após a guerra
escreveu:
"A manobra de Caxias, contornando pelo Chaco
e vindo depois atacá-lo na retaguarda, baldava-
lhe o esforço e anulara a posição que ele (López)
havia construído ao Norte do Piquissiri, com tanta
habilidade e senso tático. Agora, embora
Atinja o inimigo num
quisesse, já não dispunha de tempo para levantar
tempo, local ou
construção idêntica na mesma região e com
maneira para os
frente para o lado oposto. A linha contínua da
Surpresa quais ele esteja
margem direita estava convertida em posição
despreparado (2014,
aberta, de que os aliados se iriam apossar com
p.5-3).
extrema facilidade". (1992, p.201).
Tais palavras, ditas pelo próprio oponente,
caracterizam o emprego do princípio da surpresa
na Manobra de Piquissiri. López não poderia
imaginar que o Exército sob o comando de
Caxias fosse capaz de, em 23 dias, construir uma
estrada pelo Chaco, para proporcionar seu
deslocamento. Ficou completamente iludido com
as demonstrações dos aliados executadas em
sua frente defensiva. Quanto ao local de
desembarque, a surpresa foi total. Cerca de
18.000 combatentes apossaram-se de Santo
Antônio no dia 5 de dezembro de 1868.

Prepare planos A Manobra de Piquissiri era simples, com ordens


claros e claras e precisas, porém correndo certos riscos,
descomplicados e que teriam de ser assumidos como única
ordens concisas alternativa válida a ser tentada para evitar o
para garantir seu grande número de baixas, que certamente
Simplicidade ocorreriam no ataque frontal a uma posição bem
completo
entendimento (2014, organizada, apoiada em obstáculos de vulto,
p.5-3). como era o caso da linha do Piquissiri.

QUADRO 4- Princípios de Guerra na manobra do Piquissiri


Fonte: O autor (2019)
102

4.2 A BATALHA DE ITORORÓ E SEUS ASPECTOS DOUTRINÁRIOS

Apresentados os princípios de guerra evidenciados na manobra de


envolvimento6 do Piquissiri, será feita a análise tática de cada batalha que compôs a
Dezembrada, em sua sequência cronológica.
A 1ª lição aprendida em Itororó apresenta-se antes mesmo do início da batalha
e, inclusive, segundo grande parte das bibliografias, pode ter sido a responsável pela
ocorrência de tal combate: a importância da interpretação da intenção do Comandante.
No dia 4 de dezembro, Caxias ordenou ao general Argolo que realizasse um
reconhecimento na ponte de Itororó e, caso não houvesse presença inimiga, ocupasse
a região. Argolo enviou para tal missão o coronel Niederauer, mas não repassou
integralmente a ordem, bem como não forneceu tropas de infantaria para ocupar tal
posição. Niederaurer realizou o reconhecimento no dia 5 sem grandes óbices, porém
não materializou no terreno a ordem de Caxias. O resultado de tal confusão de
informação foi a renhida batalha ocorrida no dia 6 na ponte sobre o arroio Itororó.
O manual de campanha do EB, Batalhões de Infantaria (C7-20, 2007) destaca a
importância vital de que se tenha conhecimento da Intenção do Cmt:

O comandante, de qualquer escalão, não pode prescindir do conhecimento da


intenção dos comandantes de dois escalões acima. Isso fará com que ele saiba
como conduzir as operações até o final da missão, mesmo que haja a interrupção
do sistema de comando e controle das tropas amigas ou surjam oportunidades
inopinadas. Em outras palavras, significa estar em condições de operar
independentemente em ambiente hostil e cumprir, com êxito, a missão recebida,
a despeito de qualquer óbice que possa surgir (BRASIL, 2007, p.2-27).

Durante o estudo da batalha do Itororó, observou-se também que, apesar da


mesma ter ocorrido em um ponto de passagem obrigatória (ponte do Itororó), não foi
realizado um judicioso estudo de situação no tocante ao terreno e ao espaço para
manobra, que é definido da seguinte maneira pelo Manual de Ensino Trabalho de
Estado- Maior: “ a identificação dos corredores de mobilidade e das VA permite a visua-

_________________________
6
Conforme o Manual de Operações do EB (2017), manobra na qual a força atacante contorna, por terra
e/ou pelo ar, a principal força inimiga, para conquistar objetivos profundos em sua retaguarda, forçando-
a a abandonar sua posição ou a deslocar forças ponderáveis para fazer face à ameaça envolvente. O
inimigo é, então, destruído em local e em ocasião de escolha do atacante.
103

lização do movimento ao longo das faixas e a dedução do grau de liberdade de


manobra possível na VA e, inversamente, as restrições, as canalizações e os pontos de
estrangulamento” (2016, p. 3-20).
Apesar de grande parte da Doutrina e tática militar naquela época ainda se
apresentarem de forma empírica e dedutiva, nota-se, pelos fatos relatados nas fontes
utilizadas pela presente pesquisa, que a cavalaria e a artilharia tiveram bastante
dificuldade em ser empregadas em Itororó, gerando inclusive o fratricídio, devido ao
restrito espaço para a manobra.
Outro fator doutrinário fundamental observado em Itororó, foi a tomada de
decisão de Caxias entre um ataque frontal e um desbordamento. Em 1868, Caxias
planejou o que seria preconizado quase um século e meio após no Manual Batalhões
de Infantaria (C 7-20):

Quando a situação permitir a escolha da forma de manobra, o desbordamento


será preferível face às vantagens por ele proporcionadas na aplicação do poder
de combate. A abordagem do dispositivo inimigo pelo flanco multiplica o poder de
combate do ataque principal. O inimigo é forçado a combater simultaneamente
em duas ou mais direções, provocando o engajamento de suas forças no contato
e em profundidade ao mesmo tempo (BRASIL, 2007, p.4-26).

No entanto, a execução do ataque ocorreu diferente do planejado por Caxias.


Apesar de lançar uma força desbordante sob o comando de Osório, tal desbordamento
atrasou devido a um erro de cálculo de distância e Caxias, devido às constantes
investidas paraguaias, indecisões por parte de alguns de seus comandados e falta de
ímpeto de boa parte das tropas aliadas, decidiu por lançar a tropa a um ataque frontal,
o que resultou em uma perda incalculável de tropas.
Dentro de tal contexto, ocorreu outro fato de relevância tática que deve ser
abordado: após lançado o ataque frontal contra a ponte, as tropas brasileiras
começaram a esmorecer e recuar diante da constante pressão e ímpeto paraguaios.
Pressentindo a iminente derrota, Caxias resolveu intervir com a última ferramenta que
dispunha no momento: a presença do comandante. No historicamente famoso
momento do “Sigam-me os que forem Brasileiros”, Caxias, em um ápice de liderança,
mas também de temeridade, lançou-se sobre a ponte com uma pequena quantidade de
homens, muitos dos quais morreram no momento, incluído aí seu próprio cavalo,
104

atingido por diversos estilhaços e disparos. Os registros sobre o momento tratam a


sobrevivência de Caxias no citado episódio como pura sorte e coincidência, diante da
altíssima probabilidade de que pudesse ser neutralizado na referida investida.
Diante do cenário de falta de liderança, incertezas e descoordenações nos
escalões inferiores, a morte de Caxias no momento em que transpunha a ponte,
poderia ter gerado consequências devastadoras para o destino das tropas aliadas na
Guerra do Paraguai, incluindo aí, até mesmo, uma possível derrota aliada e
reestabelecimento de posições por parte de Solano López, fato que só reforça a
importância da Batalha de Itororó para o destino e resultado final da Guerra do
Paraguai.
Por fim, outro aspecto doutrinário, que, se tivesse sido empregado, poderia ter
posto fim à guerra do Paraguai com maior brevidade, poupando meios, recursos, e,
principalmente vidas, seria a execução de uma perseguição, assim descrita no Manual
de Operações: “A perseguição é a operação destinada a cercar e destruir uma força
inimiga que está em processo de desengajamento do combate ou tenta fugir. Sua
finalidade principal é a de completar a destruição da força inimiga” (2017, p. 3-5).
Apesar de ainda possuir cerca de 5 mil homens relativamente descansados em
condições de ser empregados (3º Corpo de Exército, sob o comando de Osório), Caxias
optou por não realizar a perseguição, alegando a exaustão física e psicológica de suas
tropas. Tal decisão propiciou às tropas de López o tempo necessário de reorganizar-se
para um novo embate, 5 dias após, na região do arroio do Avaí.

4.3 A BATALHA DO AVAÍ E SEUS ASPECTOS DOUTRINÁRIOS

A primeira observação doutrinária a respeito da batalha do Avaí diz respeito à


função logística suprimento7. Ao imaginar que alcançaria Villeta rapidamente, Caxias
partiu com suas tropas de Santo Antônio no dia 4 com provisões e víveres apenas para

_________________________
7 Suprimento é a atividade logística que trata da previsão e da provisão do material necessário às
organizações e forças militares. O termo suprimento pode, também, ser empregado com o sentido geral
de item, artigo ou material necessário para equipar, manter e operar uma organização militar (BRASIL,
2007, p. 10-22).
105

três dias, o que se mostrou insuficiente. A sobrevivência e manutenção da higidez


mínima da tropa só foi possível graças aos meios de fortuna encontrados no local,
compostos por um vasto milharal.
Apesar dos fatos relatados terem ocorrido em 1868, época em que ainda não se
dispunha totalmente de ferramentas e estruturas físicas favoráveis ao desdobramento
logístico, observa-se que a preocupação com o tema logística era muito exígua e
incipiente, sendo tal função de combate na maior parte das vezes terceirizada a
empresas civis, que aproveitavam para lucrar com as dificuldades das tropas. A
advertência em relação à importância do planejamento e execução logística nas
operações militares não foi totalmente assimilada e, em 1896, o Exército se viu envolto
em dificuldades novamente em Canudos, por não priorizar esse tema nevrálgico e
fundamental.
Nos dias de hoje, a Força Terrestre encara o assunto com a devida importância e
meticulosidade, prevendo planejamentos prévios e complexos para que seja provido o
apoio logístico em sua plenitude, como pode ser observado no manual de Doutrina
Militar Terrestre:

“A dispersão de meios em zonas de ação muitas vezes não contíguas, aliada à


permanência do apoio ao Território Nacional (TN) e na Zona do Interior (ZI),
impõe a necessidade de prévia centralização do apoio e da descentralização
seletiva de recursos consoante às necessidades específicas da força apoiada,
que materializa a máxima da “logística na medida certa” (BRASIL, 2014, p.8-1).

Na batalha do Avaí observou-se o inegável acréscimo de poder de combate


provido pelo emprego da cavalaria, que segundo o manual de DMT (2014, p.6-2),
resulta “das características do emprego da arma: flexibilidade, ação de choque,
capacidade de manobra, capacidade de combater, de durar na ação, de informar e de
cobrir-se”. O grosso da cavalaria brasileira transpôs o rio Paraguai no dia 8 de
dezembro e incorporou-se aos efetivos disponíveis para Caxias, o qual fez um judicioso
emprego da Arma, através do maciço emprego das cargas no duplo envolvimento que
neutralizou as tropas de López, na batalha do Avaí.

Observou-se também uma grande vulnerabilidade no tocante ao material


empregado: a chuva torrencial que caiu durante o conflito inutilizou grande parte da
106

munição e de fuzis, retirando da tropa uma boa parte de seu poder de fogo e gerando
uma grande desorganização, na qual repetiu-se a necessidade da intervenção dos
comandantes para conter recuos e indecisões da tropa. Dessa vez, Osório recebeu um
grave ferimento no maxilar, o qual o tiraria das frentes de batalha.
Na batalha do Avaí, López evidenciou um erro tático fundamental: a coluna
móvel do general Caballero estava realizando um movimento retrógrado, assim descrito
no manual Batalhões de Infantaria: “procura-se evitar o combate decisivo sob condições
desfavoráveis, seja rompendo o contato com o inimigo, seja retardando-o a fim de
trocar espaço por tempo, evitando sempre empenhar-se em ações que possam
comprometer a integridade da força” (BRASIL , 2007, p. 5-2). Além disso, histórica e
doutrinariamente, cabe ao defensor escolher o melhor local para desenvolver o
combate, forçando o inimigo a reagir de acordo com seu plano defensivo.
A decisão de López de travar um combate no terreno do Avaí foi um erro de
grande relevância, observado tanto pelas tropas Aliadas, quanto por seus próprios
comandantes. Segundo o coronel Garmendia, oficial argentino que vivenciou os
combates, “a opção de López por travar essa batalha foi um erro, pois era um local sem
importância militar que podia ser facilmente contornado e cercado por um inimigo com
força numérica maior” (1890, p.337). O próprio coronel paraguaio Centurión (1987) faz
críticas à “mania” do ditador paraguaio em dividir seu Exército em batalhas secundárias,
o que o enfraquecia. Centurión reconhece que, apesar de estarem em inferioridade
numérica, os paraguaios contavam com a vantagem defensiva, na qual poderiam
“escolher o terreno para uma batalha campal decisiva, o que seria suficiente para
vencer o inimigo” (1987, p.191).

4.4 AS BATALHAS DE LOMAS VALENTINAS E SEUS ASPECTOS DOUTRINÁRIOS

O quartel-general de Solano López, localizado em Lomas Valentinas, pode ser


considerado como o objetivo final da manobra do Piquissiri, planejada por Caxias.
Segundo o C 7-20, os objetivos “consistem em um ou mais acidentes capitais do
terreno, que proporcionem observação, bloqueiem VA e facilitem o desdobramento de
forças, bem como a continuação do ataque. Quando definidos em relação ao inimigo,
107

devem caracterizar sua destruição total ou parcial” (BRASIL, 2007, p.4-41). Diante da
supracitada definição, observa-se que as colinas de Lomas Valentinas se enquadravam
corretamente no conceito de objetivo.
O 1º ataque às posições paraguaias ocorreu em 21 de dezembro, embate no
qual são observadas duas lições aprendidas, as quais, entre outras, contribuíram para o
insucesso da primeira investida contra Lomas Valentinas.
A 1ª observação doutrinária diz respeito à sobrecarga que Caxias impôs às
tropas Brasileiras. Apesar de possuir tropas argentinas e uruguaias em reserva na
região de Palmas, em condições de serem empregadas e relativamente próximas ao
objetivo final, Caxias preferiu empregar somente as tropas brasileiras, já bastante
desgastadas pelos combates anteriores, o que contribui para uma menor combatividade
e efetividade no ataque do dia 21. Há interpretações na literatura, como a do
combatente argentino José Garmendia (1890), de que Caxias estava focado em
encerrar a Guerra o mais rápido possível, para “tentar monopolizar a glória da esperada
vitória final” (p.366). A preocupação com a função logística recursos humanos, aliada a
um judicioso emprego da reserva, poderia ter antecipado o fim da Dezembrada.
O 2º erro tático cometido foi a realização de um reconhecimento superficial da
posição inimiga. Caxias não conseguiu descobrir que a posição era acessível por
diversos pontos e que, se a desbordasse, poderia atacá-la em posições sem nenhuma
rede de obstáculos e fortificações. Dessa maneira, o ataque através de dois
desfiladeiros de frente para a posição com melhor fortificação inimiga, contribuiu para o
insucesso do combate do dia 21.
Apesar de Caxias mais uma vez se expor a sacrifícios extremos e ao fogo
inimigo, na tentativa de impulsionar e motivar suas tropas para um desfecho decisivo no
ataque a Lomas Valentinas, evidenciando mais uma vez o que hoje é considerado um
dos Elementos de Poder de Combate Terrestre, a liderança8, seu suplício não foi
suficiente para desequilibrar o combate em favor dos brasileiros no dia 21 de dezembro.

_______________________
8
É definida como uma competência individual que confere ao indivíduo a capacidade de dirigir e
influenciar outros militares, por meio de motivação, objetividade e exemplo. Comandantes competentes,
informados e dotados de iniciativa e coragem física e moral são capazes de extrair o melhor resultado
do pessoal e dos sistemas de combate colocados sob seu comando. (BRASIL, 2014, p.5-8)
108

Após a dificuldade logística, devido principalmente a suprimentos, após a


Batalha do Avaí, Caxias teve a flexibilidade e o reflexo de priorizar a função de combate
logística. Dessa maneira cerrou à frente, na já conquistada localidade de Villeta seus
depósitos e armazéns, com a finalidade de prover as melhores condições de
suprimento para as tropas empenhadas. Dessa maneira, em 1868 era cumprido o
princípio 1) de Logística, segundo o C 7-20, que preconiza que “as atividades logísticas
devem antecipar-se às necessidades do elemento apoiado e ser desdobradas o mais à
frente possível” (BRASIL, 2007, p. 10-6).
A situação se alongou por alguns dias, com ressuprimentos e recebimento de
reforços em ambos os lados. No dia 24 ocorreu também uma incitação à rendição de
Solano López, a qual foi veementemente negada pelo Chefe paraguaio. Na manhã do
dia 27 iniciou-se o combate que iria encerrar a jornada vitoriosa de Caxias em
dezembro de 1868 no Piquissiri. Caxias empreendeu uma ação ofensiva avassaladora
sobre os paraguaios, atuando em sua frente, retaguarda e pelos flancos, agora já
reforçado pelas tropas argentinas e uruguaias, em uma verdadeira demonstração de
Interoperabilidade, que cento e cinquenta anos depois, assim seria definida no manual
do Ministério da Defesa de operações interagências:

Capacidade de forças militares nacionais ou aliadas operarem, efetivamente, de


acordo com a estrutura de comando estabelecida, na execução de uma missão
de natureza estratégica ou tática, de combate ou logística, em adestramento ou
instrução. O desenvolvimento da interoperabilidade busca otimizar o emprego
dos recursos humanos e materiais, assim como aprimorar a doutrina de emprego
das Forças Armadas. A consecução de um alto grau de interoperabilidade está
ligada diretamente ao maior ou menor nível de padronização de doutrina,
procedimentos, documentação e de material das Forças Armadas (BRASIL,
2017, p.58).

Verifica-se na definição do manual do MD a importância e o papel central


desempenhado pela Doutrina, nos mais diversos tipos e naturezas de operações, o que
reforça a preocupação da presente pesquisa em levantar as melhores práticas, lições
aprendidas e conhecimentos doutrinários.
109

Grande parte do êxito da investida final do dia 27 de dezembro deveu-se à muito


bem realizada sincronização e coordenação dos fogos de artilharia, a qual ofereceu o
máximo de volume de fogos no interior da posição inimiga, agregando um poder de
combate imensurável para que a Infantaria e Cavalaria executassem seu ataque
coordenado, aniquilando as últimas resistências paraguaias. Grande relevância também
teve o trabalho realizado pelos pontoneiros, que abriram brechas fundamentais para
que o grosso das tropas penetrasse no dispositivo inimigo e ultimasse a consolidação
do objetivo.
No momento em que se ultimava a conquista de Lomas Valentinas, percebeu-se
que Solano López havia fugido com sua família e um pequeno efetivo que provia sua
segurança, deixando para trás grande parte de suas bagagens e pertences. Tal fuga
gerou um fato controverso até hoje não esclarecido pela História. Apesar de existir uma
vertente que defenda que a fuga ocorreu devido a uma falha de Caxias no
planejamento do cerco ao quartel-general de López, figuram outras versões, muitas das
quais se fundamentam em aspectos que extrapolam a análise doutrinária dos fatos,
fugindo do escopo da presente pesquisa, constituindo-se em uma lacuna ainda aberta,
a qual poderá motivar futuras pesquisas históricas.
No dia 30 de dezembro ocorreu, sem o disparo de nenhum tiro, a rendição do
forte de Angostura, com 1300 homens sob o comando do engenheiro inglês George
Thompson e no dia 1º de janeiro de 1869 a capital paraguaia, Assunção, era ocupada
por tropas aliadas. Estava encerrado o sangrento e vitorioso mês de dezembro de
1868, que, apesar de neutralizar e eliminar qualquer possibilidade de vitória do
Paraguai na Guerra da Tríplice Aliança, não pôs um ponto final na já longa guerra que
se arrastava desde dezembro de 1864, data das primeiras invasões paraguaias em
território brasileiro. Tal esperado ponto final só seria colocado na História no dia 1º de
março de 1870, em Cerro Corá, com a conquista do novo centro de gravidade9
paraguaio: a morte e consequente neutralização de Francisco Solano López e seu
governo.
________________________
9
O Manual de Ensino O Trabalho de Estado-Maior define o Centro de Gravidade como um componente
específico de concentração de forças que ao ser conquistado acarretará a provável destruição,
conduzindo o oponente à vitória final. A essência de um Ex Sit é identificar o que é decisivo no
combate. Assim, é preciso identificar o CG (pode ser mais de um CG) do Ini e concentrar poder de
110

combate superior para explorá-los; e os próprios para serem protegidos. Os CG (próprios e do inimigo)
existirão em todo nível de comando. Para tanto, deverão ser identificados os que oferecem resistência
para o cumprimento da missão dos diversos níveis de decisão (político, estratégico, operacional e tático
(BRASIL, 2016, p.3-33)
111

5 CONCLUSÃO

A presente pesquisa foi desenvolvida com o intuito de solucionar o seguinte


problema: Hodiernamente, decorridos 150 anos da série de combates que a História
convencionou chamar “Dezembrada”, em que medida é possível concluir que esta teve
papel decisivo para a vitória aliada na Guerra da Tríplice Aliança, gerando influências
para a Doutrina do Exército Brasileiro?
Tendo em vista alcançar a meta proposta, foi estabelecido como objetivo geral
do trabalho a realização da análise da manobra do Piquissiri, com todos os combates
travados durante a “Dezembrada” e suas influências para a Doutrina do Exército
Brasileiro, a fim de verificar se tais contendas foram cruciais para o êxito aliado na
Guerra da Tríplice Aliança.
Os resultados obtidos no presente estudo são expressivos e relevantes. A
coleta de dados no Arquivo Histórico do Exército permitiu um contato direto entre o
autor e a história da Força Terrestre e do Brasil, devido à existência de fontes primárias
de consulta. O contato com fontes de relevância, oriundas dos outros países envolvidos
no conflito, também permitiu uma visão ampla e imparcial a respeito da Guerra da
Tríplice Aliança.
Atendendo à Diretriz do Cmt do EB/2015 que versa sobre as comemorações
para o Sesquicentenário do Conflito da Tríplice Aliança (1864-1870) no âmbito do
Exército Brasileiro; à Diretriz do Cmt do EB/2019; ao Plano Estratégico do Exército,
PEEx 2016, que arbitra como ação estratégica o “ Incentivo à pesquisa sobre História
Militar”; bem como à portaria 255 do EME/2016, que aprova a Diretriz para a
Implantação do projeto Raízes, valores e tradições do EB, que , entre outros objetivos,
elenca: “Realçar o ensino da História Militar nos Estabelecimentos de Ensino”, a
pesquisa aprofundou-se no tema, valendo-se do que há de mais próximo do Estado da
Arte no tocante a publicações doutrinárias tanto do Ministério da Defesa quanto do
Exército Brasileiro, buscando realizar o diálogo entre as ações táticas realizadas nos
antológicos combates de dezembro de 1868 e a linguagem/doutrina utilizadas nos dias
de hoje para o desencadeamento de operações militares.
Investigando sobre os antecedentes históricos, tendo na consolidação das
Nações Platinas o ponto de partida, passando pela chegada de Solano López ao
112

comando do Paraguai em 1862, pela sensível e truncada situação geopolítica dos


Estados platinos, e pela presença política e militar do Império Brasileiro na Guerra do
Uruguai em 1864, pôde-se compreender com riqueza de detalhes a conjuntura
geopolítica vivida na complexa região do Prata durante esse período. Sendo assim,
verificou-se um incremento na capacidade bélica paraguaia, promovida por López, que
almejava alçar sua Nação a um status de liderança da região Platina. Para tal projeto
desenvolvimentista, necessitava do porto de Montevidéu, no Uruguai, País que se
encontrava em uma guerra civil entre blancos, apoiados por López e colorados, aliados
do Império Brasileiro. Tal conflito de interesses contribuiu para o acirramento dos
ânimos e posterior início de hostilidades paraguaias.

Averiguando a evolução dos acontecimentos dos combates, percebeu-se que em


um primeiro momento, utilizando-se do princípio da surpresa, os Paraguaios obtiveram
uma relativa vantagem, a qual foi parcialmente revertida após a batalha Naval do
Riachuelo, que bloqueou sua saída marítima, e após a invasão do território paraguaio
pelas forças Aliadas. A partir daí, observou-se uma longa, custosa e, em alguns
momentos, indefinida guerra em relação a qual lado seria o vitorioso. Grandes
combates ficaram eternizados na história e foram abordados no estudo cronológico
realizado na presente pesquisa: Tuiuti, Curupaiti, Humaitá, entre outros, com resultados
que tornavam o desfecho da guerra um dado difícil de ser estimado.
Nesse ínterim, um personagem crucial para o resultado Aliado nos campos de
batalha paraguaios surge: o Duque de Caxias. Em um esforço ordenado, metódico e
planejado, Caxias almeja alcançar a capital paraguaia ainda em 1868 e pôr fim a uma
guerra que já vinha se prolongando há 4 anos, com um custo imensurável de vidas,
recursos financeiros e materiais. É nesse contexto que Caxias se defronta com a
posição do Piquissiri, na qual teve que realizar um estudo de situação arrojado e
ousado: construir a estrada do Chaco e envolver Solano López pela sua retaguarda, em
um estratagema inovador, obrigando-o a inverter sua frente de defesa, movimento para
o qual o paraguaio não teve tempo, recursos nem mão de obra suficiente para levar a
cabo.
O supracitado movimento ficou conhecido como Manobra do Piquissiri, e dentro
de seu contexto ocorreram as 3 batalhas que ensejaram a presente pesquisa: Itororó,
113

Avaí e Lomas Valentinas. Através de pesquisas bibliográficas e documentais, foram


buscados pormenores que evidenciassem o caráter decisivo de tais batalhas, bem
como se houve lições aprendidas e experiências doutrinárias que pudessem ser
assimiladas pela Força Terrestre para emprego em campanhas futuras.
O estudo detalhado e individualizado de cada uma das batalhas que
compuseram a Dezembrada revelou momentos cruciais, nos quais as decisões
tomadas e ações táticas executadas foram fundamentais para garantir a vitória Aliada.
Apesar de um estudo histórico não se constituir de um exercício de especulação, é
inevitável que surjam dúvidas sobre qual seria o destino da Guerra caso Caxias não
houvesse se arrojado sobre a Ponte do Itororó, reavivando suas tropas que
encontravam-se em completa desordem e em prenúncio de retirada; qual seria a
capacidade de reorganização do exército de López caso não tivesse sido aniquilado no
duplo envolvimento protagonizado pela cavalaria no Avaí ou qual a possibilidade da
capital paraguaia ter sido conquistada em 1º de janeiro de 1869, caso Caxias não
tivesse realizado um ataque coordenado com todas as suas peças de manobra,
sincronizado com a artilharia e reforçado com as tropas argentinas e uruguaias, num
exemplo de interoperabilidade, para o desfecho da Dezembrada em Lomas Valentinas.
Desta maneira, a presente pesquisa científica concluiu que houve influência
direta entre as vitórias militares obtidas nos campos de batalha paraguaios em
dezembro de 1868 e a obtenção do Estado Final Desejado pela Tríplice Aliança: a
neutralização e retirada de poder de Solano López. Os números levantados deixam
claro o impacto que a Dezembrada teve sobre as fileiras paraguaias: foram retirados de
combate entre Itororó e Lomas Valentinas, de 6 a 27 de dezembro, quase 20 mil
combatentes paraguaios, entre mortos e feridos, de um exército que envidava seus
últimos esforços de resistência.
Também observou-se que a pesquisa resolve o problema proposto, na medida
em que foi constatado, por intermédio de análise bibliográfica, dos documentos
encontrados e das publicações acadêmicas e científicas consultadas, que as refregas
vividas em campo de batalha geraram uma série de influências e contribuições
doutrinárias ao EB, apesar das mesmas não terem sido absorvidas e implementadas
com oportunidade. Apesar de retornar dos campos de batalha com uma grande
114

bagagem e experiência em combate, o Exército viu-se envolto em um ambiente


conturbado politicamente, no qual havia uma vertente que se via ameaçada pelo
retorno triunfal das tropas e sua consequente influência política. Dessa maneira, iniciou-
se um período com bastantes antagonismos e instabilidades, que culminou com a
proclamação da República, em 1889.

Já inserido no contexto republicano, surgiu a conhecida questão dos tarimbeiros


versus bacharéis, na qual os segundos foram privilegiados, surgindo uma crescente
tendência e até estímulo para um cenário científico e acadêmico, em detrimento da
manutenção do adestramento da tropa e constante evolução tática e doutrinária. Tal
quadro de perda de capacidade operacional, esquecendo as lições aprendidas em
combates recentes, como a GTA, culminou em Canudos, onde o Exército evidenciou
um dos níveis operacionais mais baixos de sua história, chegando à proximidade de
uma derrota e desmoralização nacional. O estudo em detalhes, de como deu-se tal
perda de capacidade de manobra, poucos anos após uma imensa imersão nos
combates da GTA, constitui-se em um tema relevante, que poderá ensejar novas
pesquisas.

Dessa maneira, a metodologia escolhida para a presente dissertação foi


adequada, o objetivo estabelecido foi plenamente alcançado e as questões de estudo
estabelecidas foram respondidas em sua plenitude. Finalizando, foi possível dar uma
resposta ao problema proposto na pesquisa e pôde-se obter uma visão adequada sobre
em que medida os combates da Dezembrada tiveram papel decisivo para a vitória
Aliada na GTA, gerando influências para a Doutrina do Exército Brasileiro.
A presente pesquisa evidenciou, em última análise, que seja em Itororó, Avaí ou
Lomas Valentinas, seja nos complexos e difusos dias atuais, o Exército de Caxias
segue invicto e em busca do constante aperfeiçoamento e evolução, tanto no campo
tático/doutrinário, quanto no essencial campo humano.

________________________________________

GABRIEL CARLOS FAGUNDES – CAP INF


115

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