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Rio de Janeiro
2008
Maj Inf MARCO ANTONIO GUIMARÃES INNECCO
Rio de Janeiro
2008
I 58 Innecco, Marco Antonio Guimarães.
A Importância do Combate em Ambiente Urbano nos
Conflitos Modernos e seu Emprego no Exército Brasileiro. /
Marco Antonio Guimarães Innecco. 2008.
64f.: 30 cm..
CDD 355
Maj Inf MARCO ANTONIO GUIMARÃES INNECCO
Aprovado em
COMISSÃO AVALIADORA
______________________________________________
Ricardo Célio Chagas Bezerra – Cel Inf – Dr Presidente
Escola de Comando e Estado-Maior do Exército
______________________________________________
João Alcides Loureiro Lima – Cel Inf – Dr Membro
Escola de Comando e Estado-Maior do Exército
_____________________________________________
Helder de Freitas Braga – Maj Inf – Dr Membro
Escola de Comando e Estado-Maior do Exército
À minha esposa Jacira e aos meus
filhos Guilherme e Gustavo, o meu sincero
reconhecimento pela paciência e dedicação que
me dispensaram durante a execução deste
trabalho.
AGRADECIMENTOS
A Deus, pela saúde e paz de espírito que desfrutei nesse período, o que me deu a
tema estudado.
Aos meus pais, Antonio Innecco Filho e Inácia Guimarães Innecco, pela educação,
Ao Coronel Ricardo Célio Chagas Bezerra, meu ilustre orientador, não só pelas
trabalho acadêmico.
Por fim, à minha esposa, Jacira Torres de Almeida Innecco, e aos meus dois filhos,
não apenas pela dedicação e apoio que me dedicaram neste período, mas
aos meus entes queridos, mais do que uma formalidade, é uma obrigação e uma
de que forma que minha tarefa nesta empreitada fosse a mais suave possível.
RESUMO
bélicos mais recentes têm se desenvolvido em grande parte nos centros urbanos e
nas suas vizinhanças. Coerente com este cenário surgiram novos fatores a se
más reciente conflicto se han desarrollado en gran medida en los centros urbanos y
adquirida de otros países. Con el fin de estandarizar la forma en que las operaciones
urbanas a través de sus peculiaridades más importantes, que merecen una atención
doctrina militar de los combates en la ciudad brasileña, con el fin de determinar las
Ejército brasileño está siempre listo para ser usado en un conflicto de esta
naturaleza.
CC Carro de Combate
C2 Comando e Controle
EB Exército Brasileiro
FT Força-Tarefa
Fuz Fuzileiro
IP Instrução Provisória
1 INTRODUÇÃO.........................................................................................12
2 CARACTERIZAÇÃO DO AMBIENTE URBANO....................................22
3 CASOS HISTÓRICOS.............................................................................29
3.1 COMBATE EM GROZNY........................................................................29
3.1.1 Antecedentes.........................................................................................29
3.1.2 Operações..............................................................................................30
3.1.3 Ensinamentos........................................................................................34
3.2 COMBATE EM BAGDÁ...........................................................................35
3.2.1 Antecedentes.........................................................................................35
3.2.2 Operações..............................................................................................36
3.2.3 Ensinamentos........................................................................................38
3.3 COMBATE EM FALLUJAH.....................................................................39
3.3.1 Antecedentes.........................................................................................39
3.3.2 Operações..............................................................................................40
3.3.3 Ensinamentos........................................................................................41
4 A DOUTRINA NACIONAL DE GUERRA URBANA...............................43
4.1 DOCUMENTAÇÃO EXISTENTE.............................................................44
4.2 I SIMPÓSIO DE COMBATE EM ÁREA EDIFICADA...............................49
4.3 OPERAÇÕES DE GARANTIA DA LEI E DA ORDEM.............................51
4.4 OPERAÇÕES DE MANUTENÇÃO DA PAZ............................................54
4.5 AS ESCOLAS MILITARES......................................................................57
5 CONCLUSÃO..........................................................................................58
REFERÊNCIAS.......................................................................................61
13
1 INTRODUÇÃO
Terrestre já ter dado maior ênfase a esse tema, principalmente no momento em que
ocorre a participação brasileira na missão de paz da Organização das Nações
Unidas (ONU) para estabilização no Haiti (MINUSTAH).
Dessa forma, essa pesquisa é valorizada por colocar em evidência um
assunto sensível e atual que, ao ser pesquisado pode contribuir para o
aperfeiçoamento da doutrina de emprego do Exército Brasileiro em operações
ofensivas de combate urbano.
Pretende-se que esta pesquisa possa contribuir para o aperfeiçoamento e
atualização da doutrina militar brasileira, no que diz respeito às operações em
ambiente urbano.
Assim sendo, ao final do estudo, o trabalho deve fornecer uma análise das
operações mais recentes ocorridas no mundo, estabelecer uma relação com a
doutrina militar nacional e, assim, propiciar subsídios para um aperfeiçoamento ou
reorientação da Força Terrestre para a atuação em operações de combate urbano.
O aperfeiçoamento da doutrina, com base na observação de erros e acertos
de outros exércitos, irá contribuir para aprimorar o planejamento dos chefes
militares, bem como pode colaborar com o ensino militar nas diversas escolas de
formação, aperfeiçoamento e especialização do Exército Brasileiro.
O referencial teórico que embasará a questão a ser estudada, bem como
contribuirá para a solução do problema está composto por obras nacionais e
estrangeiras a respeito do assunto. Serão abordados conceitos doutrinários iniciais
que versem sobre o estudo do poder de combate, as características que envolvem
as operações urbanas e dados coletados de operações recentes.
O conceito de poder de combate e suas particularidades deve ser a base para
o estudo do tema proposto. O manual de campanha C 100-5 Operações (BRASIL,
1997) assim o define:
O poder de combate é a capacidade de combate existente em determinada
força, resultante da combinação dos meios físicos à disposição e do valor
moral da tropa que a compõe, aliados à liderança do comandante da tropa.
O poder de combate depende, em larga escala, das qualidades de chefia e
da competência profissional do comandante, traduzidas na organização,
adestramento, disciplina, espírito de corpo, estado do equipamento e
emprego engenhoso das forças. Depende, também, das características e
possibilidades dos meios que compõem essas forças.
“O general Paulus falou pessoalmente, por rádio, com Hitler em 25 de outubro e garantiu ao
Führer que Stalingrado estaria tomada até 10 de novembro. Já na cidade, lutando casa a casa, os
alemães não se deram conta de que estavam entrando numa imensa armadilha”
Pedro Tota
desafio até mesmo para unidades bem equipadas e treinadas.” (GRAU, MILITARY
REVIEW, 3º Trim 2004)
Nos dias atuais há uma grande diversidade de tipos de localidades e o
planejador militar necessita conhecer detalhadamente o terreno no qual irá operar,
pois só desta forma poderá, após seu minucioso estudo de situação, decidir pela
melhor forma de manobra a ser adotada, bem como os meios adequados para o
cumprimento de sua missão.
Dessa forma, torna-se imperativo estabelecer um padrão para as localidades,
que se fundamente principalmente em sua área e no efetivo de sua população. O
manual norte-americano FM 3-06 (ESTADOS UNIDOS, 2001) adota uma
classificação quanto ao tamanho geral da população:
- vilas – até 3000 habitantes;
- pequenas cidades – entre 3000 e 100.000 habitantes;
- cidades – entre 100.000 e 1.000.000 de habitantes;
- metrópole – entre um e dez milhões de habitantes; e
- megalópole – acima de um milhão de habitantes.
Segundo BASTO (2003), para fins militares ficaria mais adequada a
classificação que se segue:
- vilas – população menor que 3000 habitantes;
- cidades pequenas – população abaixo de 100.000 habitantes;
- cidades médias – população entre 100.000 e 800.000 habitantes;
- cidades grandes (ou metrópoles) – população acima de 800.000 habitantes;
- megacidades – população acima de 10.000.000 de habitantes; e
- cidades globais – aquelas que, independente de população, tem grande
valor estratégico no contexto mundial, fruto do fenômeno da globalização. Sendo
assim, corre o risco político (não o militar) de uma operação, já que provavelmente a
mesma terá grande repercussão na mídia.
O mesmo manual norte-americano FM 3-06 estabelece dois tipos de modelos
para as áreas urbanas, só que desta vez utiliza as dimensões da localidade como
parâmetro, bem como o formato da disposição das ruas, prédios e demais acidentes
naturais e artificiais presentes na localidade. Assim, o supracitado manual define
quatro modelos de áreas urbanas extensas: satélite, rede, linear e segmentado
(Figura 2); e três modelos urbanos menores: radial, grade e irregular (Figura 3).
27
Além disso, nos dias atuais há que se considerar também dois tipos
específicos de localidade, as cidades históricas, ou seja, aquelas tombadas por
serem patrimônios históricos da humanidade, ou ainda, as cidades ditas sagradas
para determinado povo, como Jerusalém, em Israel, e, além dessas, as
comunidades carentes, também designadas como favelas, aqui no Brasil. As
28
3 CASOS HISTÓRICOS
“Os tolos dizem que aprendem com seus próprios erros; eu prefiro aprender com o erro dos
outros.”
Otto Von Bismarck
3.1.1 Antecedentes
31
3.1.2 Operações
O comando das forças armadas russas esperava um combate rápido e fácil
na Chechênia, entretanto o que ocorreu foi exatamente o inverso, até porque o
próprio exército russo encontrava-se de certa forma desorganizado, também como
conseqüência do momento político vivido pelo país. Isso fica claro na assertiva de
GEIBEL:
A invasão da Chechênia pelo Exército russo em dezembro de 1994 foi
caracterizada por uma confusão generalizada desde o princípio. Aquele não
foi o Exército devotado do período da Guerra Fria, e tampouco compunha-
se de unidades calejadas dos campos de batalha do Afeganistão. Dezenas
de milhares de combatentes veteranos foram dispensados do Exército e
muitas unidades encontravam-se com seus efetivos criticamente
incompletos. (GEIBEL, 1997)
32
Assim, pode-se prever que os combates não seriam tão fáceis quanto
esperavam os comandantes e políticos russos. A tropa atacante russa, para esta
invasão era composta por jovens recrutas convocados. Além disso, a estrutura de
comando estava sobrecarregada por excesso de níveis, o sistema de suprimento era
ineficaz e a inteligência de combate russa encontrava-se defasada. Em suma, o
quadro não era totalmente favorável à Rússia, quanto imaginavam seus líderes, o
que iria ser comprovado nos enfrentamentos que ocorreriam a partir de 31 de
dezembro de 1994.
A força de ataque russa, composta por três colunas sofreu um revés antes
mesmo de iniciar o combate, pois duas dessas colunas foram atacadas assim que
abandonaram suas zonas de reunião, causando grande desorganização e algumas
baixas não previstas nesta fase inicial da operação.
No entanto, esses problemas foram apenas o início de uma série, pois mais
ao norte os chechenos lançaram diversos contra-ataques, valor companhia e
batalhão, ocasionando baixas consideráveis nos efetivos russos. Além disso, o frio
rigoroso era outro óbice a ser enfrentado pelos russos, agravado principalmente
devido à supracitada deficiência logística.
Já os rebeldes estavam combatendo em seu território, operando em um
ambiente amistoso da população, e bem supridos de alimentos, armamento e
munição, além de serem ex-integrantes do exército russo, ou seja, com pleno
conhecimento da doutrina, da tática e das técnicas individuais de combate do
inimigo, só que desta vez estariam utilizando as táticas de guerrilha, dentro do
ambiente operacional urbano. Todo esse cenário conferia um quadro de moral
elevada nos guerrilheiros chechenos, ao mesmo tempo em que abalava a moral da
tropa do lado russo.
Ainda assim, o poder relativo de combate era bastante favorável ao exército
invasor, pois os rebeldes não dispunham de apoio aéreo, e a proporção entre os
combatentes era de 4 para 1 em favor dos russos, o que fica exemplificado pela
citação do site www.midiasemmascara.com.br, em um de seus editoriais:
Os rebeldes chechenos, com um número menor de homens, equipados com
lança-foguetes antitanque portáteis, coquetéis molotov, metralhadoras e
fuzis, transformaram as ruas da cidade numa imensa armadilha para as
forças russas, que além de tudo, eram compostas em sua maior parte de
recrutas desmotivados e pessimamente lideradas. (ZAMBONI, 2004)
33
3.1.3 Ensinamentos
Com o fim dos conflitos entre russos e chechenos faz-se necessário uma
observação detalhada dos erros e acertos de ambos os lados da batalha, entretanto,
dentro do enfoque das operações ofensivas, objeto do presente trabalho acadêmico,
serão abordadas apenas as lições tiradas da ofensiva russa.
As principais deficiências russas observadas no ataque à cidade de Grozny,
fruto da doutrina e adestramento defasados da extinta União Soviética, da década
de 1980, foram as seguintes:
- pontaria individual deficiente, tanto embarcada, quanto desembarcada;
- falta de iniciativa nas pequenas frações, o que é crítico numa operação de
guerra urbana;
- lenta reação individual à surpresa;
- falha no adestramento das tropas de Infantaria, em seus níveis mais
básicos;
- desconhecimento ou pouca informação sobre o inimigo, principalmente sua
perícia e sua vontade de lutar; e
- falta de coordenação nas manobras, principalmente entre as tropas
mecanizadas e pára-quedistas.
As principais decisões acertadas advindas do comando das tropas federais
foram as seguintes:
- emprego de tropas aeromóveis e aeroterrestres em pontos decisivos e
afastados da localidade; e
- emprego de tropas de operações especiais (Spetsnaz) em missões
específicas.
Dessa forma, com base nesses erros e acertos, alguns ensinamentos podem
ser extraídos para emprego em futuras operações urbanas. As tropas federais
deveriam ter procedido com mais paciência, ao contrário do “assalto relâmpago”
pretendido, assim como as barragens de Artilharia e os ataques aéreos, que muito
importantes neste tipo de operação, deveriam ter sido postergados para serem
desencadeados somente quando os grupos de assalto de Infantaria estivessem em
condições de realizar o avanço no interior da localidade, pois assim, segundo
GEIBEL, a “concentração de fogo teria sido curta e violenta, confundindo os
defensores e reduzindo sua capacidade de obter vantagem dos escombros
decorrentes.”
36
3.2.1 Antecedentes
No início do ano de 2003, os Estados Unidos, apoiados por sua aliada mais
tradicional, a Inglaterra, invadiu militarmente o Iraque sob a alegação de que o
regime do ditador Saddam Hussein estava produzindo e armazenando Armas de
Destruição em Massa, que segundo o presidente norte-americano George W Bush,
ameaçavam diretamente o seu país. Outro motivo para a deflagração do conflito,
mesmo sem a autorização da ONU, era uma possível ligação do presidente Saddam
com a organização terrorista Al-Qaeda, de Osama Bin Laden, principal responsável
pelo atentado terrorista ao complexo de edifícios do World Trade Center, de 11 de
setembro de 2001 nos EUA.
Cabe ressaltar, no entanto, que nenhuma das duas alegações foi comprovada
nem no decurso dos combates e nem após o fim do conflito, em particular sobre as
Armas de Destruição em Massa, pois não foi encontrada nenhuma prova concreta
que justificasse a invasão do Iraque. Apesar disto, o objetivo político de guerra da
campanha foi alcançado, que se constituía em efetuar a deposição do regime
ditatorial de Saddam Hussein e sua captura.
37
3.2.2 Operações
Sendo Bagdá o centro do poder iraquiano, americanos, britânicos e demais
nações integrantes da coalizão previram um combate duro e prolongado pelo
controle da cidade, enfrentando as tropas bem adestradas da Guarda Republicana
de Saddam Hussein, além de grupos paramilitares, entretanto esta previsão acabou
não se confirmando e a cidade foi conquistada com certa rapidez.
A captura anterior de alguns planos e documentos iraquianos fizeram com
que as forças de coalizão presumissem que iriam encontrar um esquema de defesa
da cidade semelhante ao adotado pelos rebeldes chechenos na cidade de Grozny,
na Chechênia, abordado anteriormente neste trabalho. Dois objetivos em particular
eram fundamentais para o êxito da ocupação de Bagdá, o palácio presidencial e o
Aeroporto Internacional de Bagdá, porque permitiriam o estabelecimento de uma
base de operações praticamente dentro de Bagdá, facilitando o apoio logístico às
operações, assim como serviria também, como fator psicológico positivo aos
atacantes.
O isolamento de Bagdá teve início logo após as ações de reconhecimento,
com o Comando Combinado empregando o V Corpo de Exército, a cavaleiro da
Rodovia 8, com a 3ª Divisão de Infantaria Mecanizada na vanguarda pelo sul e pelo
38
3.2.3 Ensinamentos
O Iraque continua nos dias atuais como um problema ainda não resolvido,
tanto para os EUA, como para toda a comunidade internacional, entretanto, o
combate em localidade empregado em Bagdá foi repleto de êxito, permitindo que
alguns ensinamentos bastante relevantes ao sucesso da operação possam ser
considerados para o enriquecimento da Doutrina Militar Brasileira.
Diversas lições foram extraídas desse combate para o Exército Brasileiro,
como a conquista de objetivos emblemáticos para o inimigo como o Aeroporto
Internacional de Bagdá, pois além de ser um importante ponto de apoio às
operações, na orla da localidade, representou também um forte choque psicológico
contra os iraquianos.
Como ensinamento tem-se ainda o emprego da manobra de isolamento da
localidade, associado à execução de rápidas penetrações com forças blindadas
apoiadas por helicópteros. Uma nova tática para emprego urbano que rompeu com o
tradicional faseamento desse tipo de operação, na qual se previa, para depois do
isolamento, uma fase de avanço coordenado de unidades e outra de limpeza. Esse
novo modelo tático buscou alcançar um rápido domínio da cidade, fazendo com que
a Força Terrestre ganhasse mobilidade e agressividade compatível à “nova
blitzkrieg”.
40
3.3.1 Antecedentes
Eufrates. Essa cidade emblemática possuía cerca de 350 mil habitantes na época
imediatamente anterior à ofensiva norte-americana.
É importante salientar que a retirada dos marines de Fallujah em abril daquele
ano, deixando a cidade sob o controle dos habitantes locais, permitiu que os
rebeldes insurgentes assumissem o poder na localidade e passassem a se organizar
contra a administração do Iraque.
Dessa forma, antes do ataque propriamente dito, Fallujah sofreu durante
várias semanas com os bombardeios aéreos e terrestres que tinham a finalidade de
inibir e eliminar as ações dos guerrilheiros, assim como preparar uma ofensiva que
propiciasse a retomada do controle sobre essa importante cidade iraquiana. A
campanha de reocupação das cidades em poder dos insurgentes começou ao
primeiro dia de outubro com o assalto a Samarra.
3.3.2 Operações
A localidade de Fallujah tinha prédios com altura máxima de três andares,
porém pelo tempo de preparação que dispuseram, os rebeldes estabeleceram suas
posições defensivas com barricadas e túneis, estando assim muito bem preparados
e organizados para o combate. O inimigo se apresentava sob a forma de
guerrilheiros com um efetivo aproximado de 3000 homens, sob a liderança do
jordaniano Abu Musab al Zarqawi.
O isolamento da cidade de Fallujah foi feito da forma clássica, com a
conquista de objetivos na orla anterior da localidade, precedidos por um intenso
bombardeio. O eficiente cerco americano, que tinha como meta principal impedir a
saída de guerrilheiros dispersos no meio da população local, deixou a cidade sem
abastecimento regular de água e eletricidade.
Ao longo do mês de outubro os combates foram intensos em torno de Ar-
Ramadi, a capital da província de Al-Anbar, situada a oeste de Fallujah. Para o
investimento na localidade a coligação contava com uma força de cerca de 12000
homens, sendo 10000 americanos e 2000 integrantes das forças de segurança do
Iraque.
A campanha militar terrestre teve início no dia 08 de novembro, com os
marines e tropas do Exército dos EUA entrando na cidade pela sua região nordeste.
Como os rebeldes esperavam o ataque pelo sul, a exemplo do que ocorrera na
primeira campanha, os americanos fizeram uma dissimulação tática para iludir o
42
inimigo quanto à real direção de ataque e fizeram o investimento de norte para o sul.
Essa manobra diversionária permitiu a obtenção do Princípio de Guerra da Surpresa,
apesar de o ataque já ser previsto pelos rebeldes.
O combate no interior da cidade foi muito intenso, principalmente nos
primeiros dias, chegando a ocorrer quarteirão por quarteirão, casa a casa. A
utilização de veículos blindados foi de grande importância, em particular nesta fase
da luta. Os rebeldes, com a intenção de aliviar a pressão sobre Fallujah, tentaram
outros focos de batalha com os marines na província de Al-Anbar, abrindo assim
uma segunda frente de combate, no entanto, ainda assim os americanos obtiveram
novamente o controle da situação, conquistando a cidade sunita no dia 16 de
novembro de 2004.
3.3.3 Ensinamentos
A retomada da cidade de Fallujah foi uma das mais sangrentas etapas da
campanha das forças de coalizão na Operação Liberdade do Iraque, iniciada em
2003. Segundo informações do próprio Exército norte-americano, nessa batalha
foram travados os combates urbanos mais duros desde a batalha da cidade de Hue,
no Vietnã. Ao final da guerra, a localidade encontrava-se em um estado de grande
devastação, com cerca de 60% dos prédios danificados, sendo que 20% deles
totalmente destruídos, incluindo sessenta mesquitas.
No investimento sobre Fallujah os americanos recorreram desde técnicas e
táticas tradicionais de uma guerra urbana, bem como às ações características de
Operações de Garantia da Lei e da Ordem e de guerra convencional.
Assim, alguns ensinamentos merecem ser destacados para fins de
contribuição com a evolução da Doutrina Militar Brasileira. O prolongado bombardeio
desencadeado sobre a cidade com bastante antecedência e intensificado às
vésperas do ataque terrestre, apesar de não ter resolvido o conflito isoladamente,
contribuiu de forma decisiva para o prosseguimento das ações. Outro ponto que
deve ser ressaltado foi o eficiente cerco imposto à cidade, impedindo ou pelo menos
restringindo a evasão dos guerrilheiros rebeldes.
Uma inovação colocada em prática, com resultados expressivos foi a
utilização de uma via férrea pelas tropas, com a finalidade de evitar os artefatos
explosivos instalados nas margens das estradas rodoviárias.
43
Como conclusão parcial dessa subdivisão pode-se afirmar que o êxito das
tropas da coalizão na retomada de Fallujah se deveu a uma conjunção de vários
fatores, em particular à obtenção da surpresa tática no início do investimento, além
do cerco eficaz e do combate aproximado, respaldado por um potente apoio de fogo.
Por outro lado, os americanos se arriscaram perder sua liberdade de ação ao
atingirem diversas mesquitas, correndo o risco de atrair a ira de outros países da
região, devido ao sentido religioso da cidade de Fallujah.
44
Ainda nesse sentido, com base no inimigo e nos aspectos jurídicos de cada
situação que se apresente, podem-se citar as seguintes afirmações:
Como “base para emprego” do EB, pode-se citar que a Lei Complementar
Nr 97, de 9 de junho de 1999, estabelece em seu artigo 15, que dispõe
sobre a organização, preparo e emprego das Forças Armadas, que o
mesmo se dará [...] na defesa da Pátria e na garantia dos poderes
constitucionais, da lei e da ordem, e na participação em operações de
paz. (ROCHA, 2005, p. 34)
Para facilitar o entendimento de como se dará esse emprego e, também,
para uma melhor compreensão dos possíveis espectros de atuação da
Força Terrestre Brasileira, pode-se dizer que as atuações em áreas urbanas
poderão ocorrer: em um quadro de defesa externa, em um quadro de
Operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) ou em um quadro de
operações de paz. (ROCHA, 2005, p. 35)
No primeiro caso, cabe ressaltar que bastante evidente e claro, quando se
analisam os casos históricos ou mesmos os mais atuais, que em operações
ditas “convencionais” passa a adquirir papel quase que fundamental o
controle de áreas urbanas de alguma importância política, econômica ou
mesmo cultural. Estas localidades poderão vir a representar o sucesso no
estabelecimento de um objetivo político de guerra, ou pelo menos colaborar
decisivamente para tal. (ROCHA, 2005, p. 35)
seqüência o relatório faz uma rápida análise do emprego dos blindados nos
combates urbanos.
Por fim, faz um estudo dos aspectos doutrinários do combate urbano, dentro
das três fases já discriminadas neste trabalho e se encerra fazendo uma prospecção
de futuro, visualizando o combate urbano no próximo milênio:
Os comandantes do próximo milênio deverão passar a levar em conta no
planejamento de suas operações militares os reflexos causados junto à
opinião pública mundial, devido às baixas, principalmente da população
civil, pois está comprovado que os exércitos democráticos, atualmente não
podem ganhar as guerras sem o apoio popular. Além disso, os novos chefes
militares deverão se preocupar ao máximo com a formação de seus
soldados que terão que estar aptos a operar equipamentos e armamentos
mais sofisticados. (BRASIL, 1999, p. 26 e 27)
investiram contra Cité Soleil, com o objetivo de desalojar as gangues armadas que
dominavam aquela comunidade.
Da análise desta operação, dentro de um contexto de imposição da paz, e
sob as leis e diretrizes das Nações Unidas, alguns ensinamentos podem ser
extraídos para futuras operações de combate urbano, em uma comunidade carente
e sob determinadas restrições. Dessa forma, merecem destaque as seguintes
observações:
- planejamento centralizado e execução descentralizada, com grandes
iniciativas nos menores escalões;
- emprego da inteligência de combate, baseada em informantes locais e
reconhecimentos do terreno;
- a combinação de tropas a pé – palmilhando o terreno – com o apoio de
blindados e atiradores de elite;
- vasto emprego das operações de cerco e vasculhamento; e
- a obtenção do apoio da população.
Convém destacar que essas observações, apesar de serem executadas num
quadro de operação de paz, estão de acordo com as técnicas e táticas de um
cenário de guerra urbana. Isto vem ao encontro da denominação dada pelos
integrantes do 3º Contingente do Batalhão Haiti, que classificaram a missão como de
imposição da paz.
57
5 CONCLUSÃO
Após percorrer alguns casos recentes da história militar e realizar uma
pesquisa mais acurada na bibliografia militar brasileira sobre as operações de
combate em ambiente urbano cumpre ao autor deste trabalho algumas conclusões a
respeito dos ensinamentos extraídos do assunto, realçando a sua fundamental
importância nos dias atuais.
Nesse intuito, seguiu-se uma seqüência lógica, estabelecendo-se inicialmente
alguns conceitos e parâmetros a fim de delimitar o campo de pesquisa. Após esta
ambientação, se definiu e se caracterizou o cenário urbano moderno em suas várias
modalidades e, a partir daí, já com as condicionantes e premissas básicas bem
delineadas, passou-se ao estudo pormenorizado de três casos históricos de
combate urbano, com o intuito de se obter subsídios para a atualização da doutrina
militar terrestre brasileira.
As batalhas decisivas nos conflitos modernos têm sido travadas dentro de
cidades. Essa constatação transmite a certeza de que os centros de gravidade nas
guerras da atualidade estarão quase que invariavelmente ligadas a um centro
urbano, ainda que não seja ele propriamente dito. Isto foi devidamente comprovado
no estudo em questão por meio do exame dos casos históricos, conduzido no item
Nr 3 deste trabalho acadêmico.
Além dos casos estudados, Grozny, Bagdá e Fallujah, o fato é que fica muito
difícil a visualização de um conflito bélico internacional sem a ocorrência de
combates em ambientes operacionais urbanos, basta que se faça um
acompanhamento das principais guerras ocorridas a partir do fim da II Guerra
Mundial.
Não se pode negligenciar as lições extraídas das guerras envolvendo nações
com mais experiência neste tipo de operação, a fim de não se repetir erros como o
dos russos em Grozny, pela insuficiência de informações sobre o inimigo e de sua
vontade de lutar, erro este que, por sua vez, não foi cometido pelos norte-
americanos na conquista de Bagdá, pois a atividade de Inteligência foi fundamental
para a conquista da capital iraquiana. Além disso, também serve para se absorver
inovações, como a utilização das vias férreas pelos americanos na cidade de
Fallujah, a fim de se evitar as estradas com explosivos.
Dessa forma, o estudo desses conflitos bélicos não pode ser negligenciado,
mas ao contrário deve ser considerado para fins de correlação, por ocasião de uma
60
Assim como conclusão deste trabalho científico, este autor tem a obrigação
de alertar sobre a carência doutrinária que envolve este significativo tema no
âmbito do Exército Brasileiro, com a finalidade de despertar e motivar o público
interno na busca de uma doutrina nacional coerente com as mudanças
constantes pelas quais passa o mundo moderno.
Por fim, este trabalho procura contribuir com essa atualização doutrinária,
provocando a discussão do combate em áreas edificadas e reafirmando sua certeza
na real necessidade de se retomar esse tema de grande relevância para a F Ter,
principalmente ao se considerar o crescimento urbano brasileiro e de toda a América
Latina, assim como a maior participação do País em missões de paz, sob a égide da
ONU, ocasiões nas quais podemos nos deparar com situações que se aproximem
de um combate em localidade.
________________________________________________
MARCO ANTONIO GUIMARÃES INNECCO – MAJ INF
62
REFERÊNCIAS
DI MARCO, Lou. Attacking the Heart and Guts: Urban Operations through the
Ages Combat Studies Institute Command & General Staff College. Fort
Leavenworth, Kansas, 2002
THOMAS, Timothy L. The 31 December 1994 -8 February 1995 Battle for Grozny.
Combat Studies Institute Command & General Staff College. Fort Leavenworth,
Kansas, 2002.