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ESCOLA DE COMANDO E ESTADO MAIOR DO EXÉRCITO

ESCOLA MARECHAL CASTELLO BRANCO

MIGUEL FERNANDO ITURRALDE MAYA – Ten Cel Cav

A Influência do Treinamento de Selva do Exército Equatoriano no Resultado


do Conflito do Cenepa (1995).

Rio de Janeiro
2016
MIGUEL FERNANDO ITURRALDE MAYA – Ten Cel Cav

A Influência do Treinamento de Selva do Exército Equatoriano no Resultado do


Conflito do Cenepa (1995).

Dissertação do Programa de Post-


Graduação apresentado à Escola de
Comando e Estado-Maior do Exército,
Escola Marechal Castelo Branca, como
requisito para obtenção do título de
Mestre em Ciências Militares.

Orientador: TÁSSIO FRANCHI – Professor Dr.

Rio de Janeiro
2016
M466i Maya, Miguel Fernando Iturralde

A influência do treinamento de selva do exército equatoriano no resultado do


Conflito do Cenepa. / Miguel Fernando Iturralde Maya. ୍2016.
98 f. ; il. ; 30 cm.

Orientação: Franchi, Tássio.


Dissertação (Mestrado em Ciências Militares)୍Escola de Comando e Estado-Maior
do Exército, Rio de Janeiro, 2016.
Bibliografia: f. 94-98.

1. EFICIÊNCIA EM COMBATE. 2. TREINAMENTO EM SELVA. 3. GUERRA DO


CENEPA. 4 . AMAZÔNIA; EQUADOR. I. Título.

CDD 355.4
Dedico este trabalho a minha esposa
Lorena, meu amor e minha razão de vida,
a meus filhos, minha motivação constante,
a minha mãe, por seu afeto eterno, e aos
soldados que mudaram a história do seu
país.
AGRADECIMENTOS

A Deus, pelo dom da vida, pela tranquilidade e pela saúde, não só minha, mas dos
entes próximos.

À minha esposa e família, pelo apoio, incentivo, carinho e compreensão em todos os


momentos, sendo fundamentais no sucesso da conclusão deste trabalho.

A meus pais, pela dedicação integral, desde o meu primeiro dia de vida, pelo
exemplo e pela referência de ser humano.

Ao Exército Brasileiro, pelas experiências profissionais e pessoais, que tanto me


ajudam nessa árdua caminhada profissional.

Ao meu orientador, não apenas pela orientação, como também pelo incentivo e pela
confiança demonstrados em inumeráveis circunstâncias.
“O que vem primeiro ao campo de batalha
aguarda a chegada do inimigo fresco para
lutar. Quem chega atrasado ao campo de
batalha tem que se apressar e fica exausto
para lutar.”

(Sun Tzu)
RESUMO

O presente trabalho busca estabelecer uma relação entre o treinamento de selva do


Exército Equatoriano, e os resultados observados nos combates durante a Guerra
da CENEPA (1995) entre Equador e Peru. O objetivo é perceber de forma qualitativa
e quantitativa se o adestramento específico em selva cumpriu seu papel, propiciando
as tropas empregadas resultados mensuráveis, tais como: número de baixas e
feridos; desempenhos durantes ataques realizados ou recebidos. Iniciamos com
uma análise histórica do Equador e seus grandes desmembramentos territoriais e
uma revisão bibliográfica sobre o conflito.

Avançamos identificando o incremento das capacitações do Exército equatoriano por


meio da criação das Unidades Especiais, apoiados por convênios internacionais ou
com a utilização de nativos em meio à tropa. Analisamos os dados primários de
formação de praças e oficiais e seu desempenho em ação. Agregando estes dados
buscamos verificar quais fatores podem ter influenciado o desempenho das tropas
durante os combates do Cenepa. Analisaremos também as lições aprendidas e
como o conflito impulsionou o processo de transformação institucional de modo a
manter a capacitação operacional em selva necessária à defesa do país em espacial
da região da Amazônia equatoriana.

Palavras-chave: Eficiência em Combate; Treinamento em Selva; Guerra do


CENEPA; Amazônia; Equador.
ABSTRACT

The present thesis aims to establish all the possible links between the Ecuadorian army’s
jungle training, with the results of the armed conflicts during the Cenepa War (1995) against
Peru. The main objective is to determine qualitatively and quantitatively if the specific jungle
training allowed the troops to fulfill their objectives, and provided them with knowledge to
obtain measurable reports which include: number of death and wounded and the
performance during the raids developed or received. The study stars with a historical analysis
of Ecuador, its territorial loses and, a bibliographic review of the conflict.

It also identifies the increase of capabilities of the Ecuadorian army with the creation of the
Special Operation Units, and native units formed by local indigenous groups. Primary
information sources where used to establish the formation of officers and troops, and their
performance in combat. This information tries to verify which factors influenced on the
performance of the troops during the Cenepa War. Finally, there is an analysis of the lessons
learned and how did the Cenepa War propelled the army’s institutional transformation
process, which aims to maintain the jungle operational capability, required to defend the
country.

Key Words: Combat Efficiency; Jungle Training; Cenepa War; Jungle forest; Ecuador.
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Comandos Operacionais das Forças Armadas equatorianas.... 54


Figura 2 Divisão política administrativa do Equador............................. 57
LISTA DE QUADROS

Quadro 1 Principais eventos com o impacto na História sobre os


limites do Equador................................................................ 19
Quadro 2 Resumo das fontes e documentos empregados – uso e
abordagem............................................................................. 37
Quadro 3 Divisão territorial dos Comandos Operacionais.................... 56
Quadro 4 Variáveis da Efetividade Militar.............................................. 63

Quadro 5 Unidades militares empregadas no conflito do CENEPA*..... 69

Quadro 6 Comparativo de cursos nos exércitos equatoriano e


peruano.................................................................................. 70

Quadro 7 Porcentagem de pessoal militar com curso de selva


(Equador)............................................................................... 71

Quadro 8 Relação de pessoal mortos por grupo, treinamento e


operação................................................................................. 72

Quadro 9 Número de mortos por unidades............................................ 74

Quadro 10 Estimativas de mortos e feridos de Equador e Peru


segundo autores..................................................................... 75

Quadro 11 Projeção de mortos e feridos, adaptado ao método Spencer.... 76

Quadro 12 Armamento empregado......................................................... 77

Quadro 13 Equipamentos individuais de empregado.............................. 78

Quadro 14 Perdas aéreas na Guerra do Cenepa................................... 79

Quadro 15 Perdas aéreas na Guerra do Cenepa................................... 80

Quadro 16 Comparação I......................................................................... 82

Quadro 17 Comparação II........................................................................ 82


Quadro 18 Comparação III....................................................................... 83
Quadro 19 Comparação IV....................................................................... 84
Quadro 20 Comparação V........................................................................ 84
Quadro 21 Comparação VI....................................................................... 85
Quadro 22 Comparação VII...................................................................... 86
Quadro 23 Comparação VIII..................................................................... 86
Quadro 24 Comparação IX....................................................................... 87
Quadro 25 Comparação X........................................................................ 87
Quadro 26 Comparação XI....................................................................... 88
Quadro 27 Comparação XII...................................................................... 89
Quadro 28 Comparação XIII..................................................................... 89
LISTA E SIGLAS DE ABREVIATURAS

19 BS NAPO Brigada de Selva No 19 “NAPO”


AGCA Grupamento Tático “Carlomagno Andrade”
AGEA Grupamento Tático “Eloy Alfaro”
AGMI Grupamento Tático “Miguel Iturralde”
ARUTAM Unidade dos Nativos Reserva Mobiliada
BIS Batalhão de Infantaria de Selva
C.O. Comando Operacional
CCFFAA Comando Conjunto das Forças Armadas do Equador
COE-19 “NAPO” Comando de Operações Especiais No 19 “NAPO”
EEM Estudo de Estado Maior
ESCIFT Escola de Selva e Contra guerrilha da Força Terrestre
ESFORSE Escola de Formação de Soldados do Exército
FAE Força Aérea Equatoriana
GFE 53 “RAYO” Grupe de Forças Especiais No 53 “Rayo”
GRAE General do Exército
IGM Instituto Geográfico Militar
IWIAS Soldados Nativos (Demônios da Guerra)
MOMEP Missão de Observação Militar Equador Peru
PV 1 Posto de Vigilancia No 1
SHYRI Indígenas aborígenes dos Andes.
TEN Tenente
TO Teatro de Operações
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO E NOTAS METODOLÓGICAS....................................... 14

1.1 Resumo da História Territorial do Equador........................................ 17

1.2 Os Conflitos do Século XX: 1941, 1981 e CENEPA........................... 20

1.2.1 A Invasão Peruana de 1941................................................................... 21

1.2.2 A Guerra de Paquisha de 1981.............................................................. 23

1.2.3 A Guerra do Cenepa de 1995................................................................ 24

1.3 Notas Metodológicas........................................................................... 35

1.3.1 Fontes, documentos e dados................................................................. 36

2 CAPÍTULO II – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA......................................... 38

3 CAPÍTULO III – ENTORNO POLÍTICO E MILITAR............................... 53

3.1 A Situação Política............................................................................... 53

3.2 Os Militares Equatorianos................................................................... 54

3.2.1 Estrutura e capacidades das Forças Armadas....................................... 54

3.2.2 Estrutura do Exército.............................................................................. 55

3.3 O Ambiente do Conflito e o Treinamento........................................... 57

3.4 Influência da Formação no Estrangeiro............................................. 59

4 CAPÍTULO IV – ANÁLISES................................................................... 62

4.1 Atributos da Efetividade...................................................................... 63

4.1.1 Integração............................................................................................... 64

4.1.2 A resposta.............................................................................................. 66

4.1.2.1 Técnicas e táticas de combate usadas.................................................. 67

4.1.3 A Destreza.............................................................................................. 68
4.1.3.1 Forças empregadas no Conflito do Cenepa........................................... 68

4.1.3.2 Preparação das tropas........................................................................... 70

4.1.3.3 Projeção das baixas equatorianas e peruanas....................................... 74

4.1.4 Qualidade............................................................................................... 76

4.1.4.1 Potência Relativa de Combate (PRC).................................................... 79

4.2 Os princípios da guerra....................................................................... 81

5 CAP V – CONCLUSÕES....................................................................... 92

REFERÊNCIAS............................................................................................ 94
14•

1 INTRODUÇÃO E NOTAS METODOLÓGICAS

O atual território do Equador foi constituído após uma série de perdas


territoriais nos últimos séculos após sua independência da coroa espanhola. Partes
destas perdas ocorreram no século XX, causadas pelos interesses dos países
vizinhos, talvez, pela ausência de uma visão política ciosa da manutenção das
fronteiras, e mesmo pela ineficiência estatal prover meios capazes de defender seu
território.
No ano de 1995, as Repúblicas do Equador e do Peru se enfrentaram, numa
guerra que foi a última ocorrida na América do Sul. Este conflito se concentrou na
área do Vale do rio Cenepa. Onde havia uma questão de limites pendentes devido
ao fato de que não era possível se aplicar o estabelecido pelo Protocolo do Rio de
Janeiro (1942) que estabelecia a fronteira sobre um dado divisor de águas, devido à
presença do Rio Cenepa. Como consequência desta guerra, foi determinado
definitivamente as fronteiras entre os dois países, terminando assim com o conflito
centenário que manteve toda a região durante esse tempo uma fronteira instável, o
que acabou por afetar seu progresso e desenvolvimento.
Esta pesquisa foi motivada por interesses pessoais e profissionais. O
primeiro em razão da participação do autor na linha frente do conflito, como
comandante da equipe de combate. O segundo em razão de tentar compreender a
importância do treinamento em selva para o desenvolvimento das operações neste
ambiente. Acreditamos que analise deste conflito possa gerar novos conhecimentos
a respeito da eficiência dos treinamentos em tempos de paz, o que pode permitir
melhorar para as futuras operações do Exército Equatoriano.
Da ótica social, o impacto do conflito do Cenepa, no Equador, foi
significativo, isto em razão da coesão nacional que foi fundamental para a
consecução dos objetivos determinados. O apoio nacional as instituições armadas,
transmitiu para as Forças Armadas uma mensagem de confiança e amparo para o
cumprimento de sua missão.
Procuramos realizar um estudo sobre os antecedentes históricos do conflito
entre Equador e Peru, concentrados nas atividades desenvolvidas na Guerra do
Cenepa. Para isso nos apoiamos na História Militar do Equador (2010); Centro de
Estudos Históricos do Exército do Equador (2008); Boletins da ACNH nº 1,2,4,6,8;
AHME (2014); Moncayo (2011); Marcella (2013); Mares (2209), (2012); Gallardo
15•

(2014), Dovronsky (2014); Ayala (2008); Barroso (2008); Chacón (2012); a análise
historigráfica será realizada com bases em abordagens usados pelo Jornal Histórica.
As relações sobre o treinamento em selva e eficiência de combate foram
estabelecidas através do conceito de alguns autores tais como: Fournier (1995);
Chiabra (1995), Hernández (1997); Moncayo (2010); Gallardo (1995); Donoso
(1995); Centro de Estudos Históricos do Exército do Equador (2008); Boletim n° 8
AHME (2014); Moncayo (2011); Marcella (2013); Mares (2012); Barroso (2007).
Já na relação de apoio aos Cursos de CIGS do Brasil e as Escolas de Selva
e Forças Especiais do Equador usaremos os conceitos dos seguintes autores:
Moncayo (2011); Macías (2010); Macias (2012); Dovronsky (2014); Gallardo (2014);
Barroso(2007).
A revisão bibliográfica se baseou na literatura disponível, em periódicos
acadêmicos e profissionais de fontes open access, ou do portal de periódicos
CAPES. O trabalho está estruturado em cinco peças. A primeira e uma introdução
abrangente sobre questões históricas e notas metodológicas, muita ênfase é
colocada na parte histórica na introdução para permitir uma melhor compreensão da
análise.
No primeiro capítulo o objetivo é fazer uma revisão bibliográfica das
principais obras produzidas nestas duas décadas. A Guerra do Cenepa foi a última
guerra interestatal lutada no continente sul-americano. Acreditamos que a investigas
ajuda a compreender o motivo que originam conflitos armados, acordos e
resoluções, a condução das operações e as táticas empregadas. O texto está
organizado da seguinte forma. Diferenciamos atores equatorianos, peruanos e de
outras nacionalidades, bem como civis e militares, testemunhos do conflito escritos
por militares de diferentes patentes e de ambos os países, que fazem uma descrição
do cotidiano e dos fatos, além do que, quando cruzados os dados, fornecem pontos
de vista diferentes sobre determinados eventos e operações e possibilitam comparar
as versões. Algumas destas obras ainda trazem documentos primários que se
referenciam.
O segundo capítulo parte da análise do entorno político, das Forças
Armadas do Equador e seu Exército são apresentados, sua missão fundamental e
sua preocupação pôr o treinamento em selva, e os acordos de cooperação que
permitiram que os conhecimentos da Escola de CIGS do Brasil, sejam passados
para os soldados equatorianos que participaram da guerra do Cenepa.
16•

O terceiro capítulo e a análise dos dados da pesquisa, e pretende destacar a
importância da manutenção do treinamento de tropas para garantir a defesa dos
Estados Nacionais. Sendo assim, esse trabalho utilizou a teoria da eficiência militar
apresentada pela pesquisadora Risa Brooks, no conflito do Alto Cenepa. Para isso,
este trabalho adotou as seguintes as variáveis: (1) integração, (2) resposta, (3)
capacidade e (4) qualidade.
A metodologia dessa pesquisa é do tipo qualitativa e tomou como base de
estudo, fontes primárias e secundárias disponíveis no Equador e no Peru. A principal
fonte primária utilizada foram os relatórios no Teatro de Operações, compilado em
cinco volumes na Academia de Guerra do Equador. Esse trabalho realizou o
cruzamento dos seguintes dados existentes nesses relatórios: (1) informações
referentes à preparação anterior dos 5520 soldados equatorianos empregados no
conflito, (2) a Unidade em que esses soldados serviam, (3) o número de soldados
feridos e (4) o número de soldados mortos.
Além disso, essa pesquisa incorporou mais uma variável complementar: (5)
os princípios de guerra empregados no Alto Cenepa. Foi feito uma confrontação das
literaturas existentes de dois países: Peru e Equador. Do lado peruano, foi utilizado
um estudo realizado pela Academia de Guerra do Peru, chamado de: "Um estudo de
caso com os princípios de guerra". Do lado equatoriano, essa pesquisa se apoiou na
própria literatura empregada pelo pesquisador.
A última peça neste trabalho são as conclusões. O resultado desse estudo
verificou que para cada soldado equatoriano morto ou ferido x 2,38 soldados
peruanos foram mortos ou feridos nesse conflito. Ressalta-se o fator experiência de
combate como sendo determinante no litígio. Vários autores peruanos e
internacionais ressaltam a experiência das Forças Peruanas no combate à
insurgência no país. Mas não pode deixar de ser considerado que após 1981, os
equatorianos se preocuparam em corrigir todos os erros cometidos e estavam
melhores preparados. Há que se considerar o desejo do Peru em desencadear uma
operação rápida e violenta no Alto Cenepa, pois estava confiante no que havia
ocorrido em 1981.
A experiência dos peruanos na luta contra a subversão permitiu-lhe adquirir
certas habilidades, mas não todas as necessárias para uma guerra convencional,
tais como o uso eficaz de Engenharia, Artilharia de campo e antiaérea, e da
Logística da Guerra, foi o grande calcanhar de Aquiles das Tropas Peruanas. No
17•

lado equatoriano do conflito, o conhecimento do terreno tornou-se a sua principal
ferramenta para o desenrolar das Operações. Seus soldados treinados em tropas da
selva eram muito familiarizados com o ambiente de selva e as características
especiais desse conflito.

1.1 Resumo da História Territorial do Equador

Para Hans Kelsen o Estado é formado por três elementos: População,


Território e Poder, do ponto de vista político, o espaço geográfico dos Estados se
apresenta como uma característica essencial para o aspecto soberano.
Todos os Estados cuidam com muito esmero de seu território. A história tem
registrado em todas as épocas esse modo de agir insuperável dos Estados pela
preservação e defesa de seus direitos territoriais. Este zelo exige respeito aos limites
e tem sido a principal razão da maioria dos conflitos internacionais, as fronteiras são
sempre áreas sensíveis (MATTOS, 2011, p. 13).
Segundo Max Weber “o Estado é o único que exerce o uso legítimo da força
física dentro de território determinado”. O monopólio da violência é exercido através
das instituições estatais como as Forças Armadas e os organismos de segurança,
que assumem funções de defesa e segurança no cumprimento das políticas a fim de
alcançar o desenvolvimento nacional e manter as relações exteriores.
Dos conceitos expostos observarmos claramente a importância e a
responsabilidade dos governantes que exercem o poder em estabelecer políticas
estatais para cada uma das Expressões do Poder e assim manter a estreita relação
Estado-População-Poder.
O Estado é um organismo vivo, diz Ratzel e a fronteira é a epiderme do
corpo estatal e expande e morre quando o corpo morre. Esta visão gera o
“Determinismo geográfico”, que estabelece que o homem é produto do meio, ou
seja, as condições naturais que determinam sua vida em sociedade. O homem será
escravo de seu próprio espaço e realidade, sendo ele que irá determinar se um país
fragilidade do país, quando escolhe líderes incapazes de preparar uma defesa
adequada de seus direitos levando-os a perda do território.
O atual território equatoriano tem como base o antigo “Reino de Quito”. A
conquista espanhola reconhece esta situação e cria em Quito uma governabilidade,
18•

que foi o centro de novos descobrimentos e conquistas, entres esses
acontecimentos podemos citar o descobrimento do Amazonas em 1542, por
Francisco de Orellana. Em 1563, pela Real Audiência de Quito, o território dispunha
de uma extensão de 1.037.890 Km2 e através dos anos esse mesmo território foi se
reduzido chegando a 272.045 km2 de extensão.
A colônia espanhola projetou suas cidades como instrumento de dominação
e se caracterizou por aplicação insistente para assegurar o predomínio militar,
econômico e político da metrópole sobre as terras conquistadas, mediante a criação
de núcleos populacionais estáveis e bem organizados (HOLANDA, 1995, p. 95),
entretanto, a falta de um espírito impetuoso que lhes impulsionassem a avançar, os
aventureiros portugueses denominavam de “bandeirantes” (MONCAYO, 2001, p.
24), mas o Equador republicano não tem se preparado no sentido de fortalecer suas
fronteiras, nem com presença militar nem com organismos estatais que gerem um
desenvolvimento populacional, em fim negligenciaram no trato com as fronteiras.
Dos Estados Nacionais surgiu a América do Sul no século XIX, com
territórios e limites incertos quando foi aplicado o Uti Possidetis juris1, baseado na
divisão territorial administrativa colonial estabelecidas nas Cédulas Reais,
ocasionado pela ambição territorial dos vizinhos, se vendo obrigados a empregarem
a força e a diplomacia para alcançar avanços significativos sobre sua soberania
territorial. A “consciência histórica do outro” fomentado pelos textos de história da
cada país, segundo Luna (1999), fundamentou a ideologia e a defesa do território do
Estado Nação, e também consolidou as visões ultranacionalistas prepotentes,
expansionistas e guerreiras nesses Estados. A Tabela 2 mostra uma cronologia do
conflito Equador Peru.
Os países Latino-americanos contrários aos europeus são basicamente
territoriais, a Nação hispano-americana foi dividida especialmente pelos
colonizadores que com a colonização e a independência se fragmentou em vários
Estados; as razões pelos problemas entre esses países são territoriais. As fronteiras
perderam com o passar dos anos valor geográficos e simbólicos que tiveram no
passado e é importante que haja uma transição de um confronto geográfico para
uma integração ou ao menos uma intenção de cooperação (Barroso, 2007, p. 91).

1
Uti Possidets é um princípio de direito internacional segundo o qual os que de fato ocupam um
território possuem direito sobre este.
19•

O Estado Latino-americano era incapaz de se organizar, fato que o
caracterizou não foi sua concentração de poder, mas sim a diluição deste
(CENTENO, 2012, p. 14). A sentença anterior descreve plenamente como Equador
republicano; um país frágil, sem planos, nem objetivos, incapaz de desenvolver uma
capacidade dissuasiva, se expôs e não pode enfrentar a cobiça e a ambição dos
outros países. A história do Equador está marcada como temos visto incontáveis
desdobramentos territoriais causados pelos interesses de seus vizinhos, devido à
ausência de uma visão e de uma clara política internacional.

Quadro 1 Principais Eventos com o Impacto na História sobre os Limites do Equador


ANO EVENTO HISTÓRICO
1563 Criação da Real Audiência de Quito com 1.037.890 km 2 de extensão.
1802 Cédula (edição) do Rei da Espanha. De caráter religiosos e militar, não é territorial.
Transfere a responsabilidade do Vice-Rei de Nova Granada ao Vice-Rei do Peru.
1809 Aplicação do Uti Possidetis Juris.
1822 Batalha do Pichincha, independência do Equador (como parte da Grande
Colômbia).
1824 Batalha de Ayacucho, independência do Peru.
1829 27 de fevereiro, Batalha de Tarqui, as forças da Grande Colômbia derrotam o Peru.
Assinatura do Tratado de Guayaqui, que estabelece fronteiras “iguais para os Vice-
Reis da Nova Granada e Peru existentes antes da independência”.
1830 Protocolo Pedemonte-Mosquera, estabelece o Marañon (Solimões) como fronteira
entre Equador e Peru, nunca foi ratificado pelos Congressos dos países citados.
1832 – Tratado Pando-Noboa, que reconhece as fronteiras existentes. Jaen e
Mainas que estavam ocupadas pelo Peru.
1859 Ocupação de Guayaquil por parte do Peru na guerra com o Equador.
1860 Tratado de Mapasingue do Equador, que reconhece direitos territoriais do Peru sob
a Cédula de 1802. O tratado foi cancelado pelo Congresso dos dois países citados.
1890 Tratado García-Herrera, assumir o compromisso sobre as fronteiras ao desenhar
uma fronteira que aproxime os territórios que por tradição que estejam sob
jurisdição de cada país; ratificado pelo Equador, mas mantida pelo Peru.
1936 Ata de Lima, reafirma o compromisso do Acordo de 1924, onde se mantém o status
quo das fronteiras “sem reconhecimento dos direitos territoriais” durante o tempo.
1941 Invasão peruana ao Equador (julho-setembro).
1942 Protocolo do Rio (29 de janeiro): Tratado de Paz, Amizade e Limites, assinado pelo
Peru e Equador apoiado pelos Estados Unidos, Argentina, Brasil e Chile, aprovado
pelos Congressos do Peru e Equador em 26 de fevereiro. Comissão Binacional para
estabelecer os limites.
1945 O julgamento de Brás Dias de Aguiar ante as divergências. Em 1947 foi feito um
mapa aéreo, complementado pela força aérea norte americano que entregou os
mapas dos países.
1960 O presidente José Maria Velasco Ibarra declara que “o Tratado do Rio não tem
validade” (agosto)
1981 Hostilidade entre Equador e Peru na Cordilheira do Cóndor.
1991 Instalação do destacamento de Pachacutec, é assinado o “Acordo de Caballeros”
20•

entre os ministros das Relações Exteriores do Equador e Peru, foi desaprovado pelo
Peru.
1995 Conflito no Cenepa devido as disputas na área fronteiriça. A solução foi obtida
através da intervenção dos dois países e que foram garantidas pelo Protocolo do
Rio.
1998 Resolução final oferecida pelos fiadores; Acordos de Paz firmados pelos
presidentes Mahuad e Fujimori, em Brasília (26 de outubro)
FONTE: Dados obtidos com base nos livros analisados por Mares, 2009, p. 71; Moncayo, 2011, p. 24;
Scott, 1997, p. 135.

Os grandes desdobramentos territoriais que ocorreram no território


equatoriano foram ocasionados devido a não existência de líderes capazes de
enfrentar com interesse e coragem a responsabilidade das ações nos momentos
decisivos de sua história. Nesta oportunidade, muitas das autoridades equatorianas
preferiram o elogio e a comodidade do poder, a velar pelos interesses nacionais.
Não se estruturam pela uma pátria forte, não projetaram planos de desenvolvimento,
não compreenderam a necessidade de se fortalecer a presença das Forças
Armadas como “coluna vertebral” do Estado. Nos momentos mais críticos
podemos sentir a ausência de uma visão geopolítica e geoestratégica nacional,
que venha permitir e estabelecer com clareza os objetivos nacionais. Nesse
momento foi notória a falta da Unidade Nacional minada pelo regionalismo
separatista, prevaleceu a distorção sobre a interpretação de uma vocação pacifista,
que acabou gerando a debilidade dos planejamentos diplomáticos, devido
principalmente ao abandono e a desatenção com as Forças Armadas.
Os problemas limítrofes “a disputa fronteiriça entre Equador e Peru é
processo vinda da administração colonial espanhola e imposta pelos limites
imprecisos que os Estados Latino-americanos herdaram desde tempos de sua
independência” (BRUCE, 1999). Uma longa história de confrontações e tratados
deram origem a numerosos desdobramentos territoriais no Equador, estando
gravado então, plenamente nas mentes e nos espíritos de todos os equatorianos,
especialmente nos soldados que tinham como missão honrar com suas ações de
combate as aspirações de não dar nem um passo atrás pela defesa do território
nacional já tão manchada ao longo de toda a história do Equador e não seriam eles
que iriam permitir a ocorrência um novo ultraje que afetasse o solo nacional.

1.2 Os Conflitos do Século XX: 1941, 1981 e CENEPA


21•

É importante ressaltar que cada país conta sua história sob sua ótica e
visão. A presente análise procurará incorporar versões equatorianas, peruanas e
visões internacionais sobre os três últimos conflitos.

1.2.1 A Invasão Peruana de 1941

A situação política equatoriana na década de 30 continuava sendo instável e


os militares se enfraqueciam nas lutas políticas domésticas. Diferentemente o Peru,
iniciava a saída da era ditatorial. Os oficiais peruanos culpam a politização de suas
instituições durante os dias de autoritarismo pela derrota contra a Colômbia. Em
seguida, as Forças Armadas se profissionalizaram para poder cumprir sua missão: a
defesa do território nacional. Esta assimetria do desenvolvimento político sofreria
dramáticas consequências (MARES, 2009, p. 55).
O presidente peruano Dr. Manuel Prado, em 1941, possuía um absoluto e
claro planejamento para atacar o Equador, planejamento este que vinha sendo
desenvolvido desde janeiro de 1941, tendo como suporte as Forças Armadas,
através da criação do Agrupamento do Norte preenchendo as vagas até o mês de
abril.
Uma impressão da guerra de 1941 é fundamental para a valorização da
disputa. Nesta guerra o Peru venceu sem muita dificuldade, as Forças peruanas, sob
o comando do General Eloy Urreta, invadiram o Equador com 15.000 homens contra
3.000 soldados equatorianos pobremente conduzidos e equipados (MARCELLA,
2013, p. 3).
O plano seria desenvolvido por cinco grandes operações, uma naval para
bloquear o porto de Guayaquil - bloqueio o litoral equatoriano, operação combinada
para capturar o Porto Bolívar e Guayaquil, as ilhas Galápagos. Estas operações sob
o comando do general Eloy Urreta. As informações do EEM peruano expunham que
a situação do exército peruano era medíocre e que existia uma grande diferença em
comparação com o potencial peruano.
O propósito desta invasão foi solucionar de forma definitiva a disputa pela
fronteira, em fim o Equador não tinha condições nenhuma para esta guerra,
enquanto o Peru se encontrava totalmente preparado. Assim, as posteriores
expressões de temor em relação à ameaça do militarismo peruano, se
22•

fundamentaram na conduta do general Urreta e outros elementos de liderança
militar. O principal erudito dos Estados Unidos sobre a evolução das Forças
Armadas modernas do Peru se manifestou: Urreta recebeu ordens em junho de
somente manter as posições atuais e repelir qualquer ataque equatoriano, entretanto
o general estava relutante em cumprir essas instruções, e entregou um ultimato a
Prado (Manuel, presidente do Peru), quando anuncia que se não permitisse dar
andamento nas operações contra as Forças Armadas equatorianas na região de.
Tumbes, este fato produziria uma revolta militar contra o Governo Peruano
(MARCELLA, 2013, p. 4).
Durante o mês de junho de 1941, se desenvolviam vários conflitos e um
ataque à patrulha equatoriana, evidenciando a existência de um grande movimento
por parte das Forças peruanas ao longo da fronteira na província de El Oro. Em 15
de junho, no Peru, foi ordenado o fechamento da fronteira com o Equador. Mas, as
autoridades militares equatorianas somente agora compreendem a gravidade do
problema e buscam de alguma maneira solucionar as grandes necessidades de
suas Forças.
O leste do Peru logo após o cessar fogo em 31 de julho, nos primeiros dias
de agosto utilizando todos os meios da V Divisão, atacaram os destacamentos de
Yaupi, Santiago, Tarqui, Rocafuerte, Montalvo, Huachi, Corrientes. Com essas
ações heróicas em defesa do território equatoriano temos ainda as ações de
Porotillo, em 11 de setembro, Panupali, em 18 de setembro, quando as unidades
peruanas sofreram uma emboscada e seguiam avançando no território equatoriano.
Em 12 de outubro de 1942, foi assinado o Acordo de Talara, patrocinada pelos
países que apoiavam uma solução para o conflito como a Argentina, Brasil e
Estados Unidos, junto a representantes do Equador e Peru.
Em 29 de janeiro de 1942 foi assinado o Protocolo do Rio de Janeiro,
aproveitando a reunião de chanceleres que pressionaram para que se efetuasse a
assinatura do Protocolo e assim fossem estabelecidos os limites fronteiriços, sob
penas que o Peru continue avançando pelo território equatoriano, aqui é deixado de
lado constância das tropas peruanas em manterem a ocupação no território
equatoriano, já que a delegação equatoriana se utiliza de três formas de coação
nesse momento: invasão, ameaça e a necessidade de uma Unidade Continental.
Em razão da complicada geografia da Cordilheira do Cóndor apresentam-se
problemas para a demarcação da fronteira nesta área com alto grau de dificuldade
23•

para solucioná-los e assim determinar com clareza, tendo como limite divisor as
águas entre os rios Zamora e Santiago, tornou-se necessário solicitar ao Governo
dos Estados Unidos que dispunham de organismos técnicos e assim fazer uma
fotografia aérea da área envolvida. O pedido foi aceito e entregue em 27 de fevereiro
de 1947. O conhecimento desses documentos permitiu estabelecer a realidade
geográfica da Cordilheira do Cóndor, a verdadeira extensão e importância do rio
Cenepa e consequentemente a inexistência do divisor de águas indicado no
Protocolo do Rio de Janeiro. Em lugar de um, existiam vários divisores de águas
entre os rios Santiago e Cenepa, neste último o ainda o rio Zamora, assunto
desconhecido em 1942 (MONCAYO, 2011, p. 40).
Em 30 de janeiro de 1995, o diário El Clarín, publicou o artigo de Rogelio
García Lupo, que retrata com lucidez o que ocorreu no Rio de Janeiro, quando
novamente os dois países estavam em conflito:

O conflito armado de 1941, em plena Segunda Guerra Mundial, o qual o


mundo apenas tomou nota de que o Exército peruano estava dizimando o
Exército equatoriano. Em 1942 os dois países foram arrastados para uma
conferência de para no Rio de Janeiro e forçados a assinarem um acordo
que privou o Equador de quase 200.000 km2 de seu território. A rivalidade
entre o Peru e Equador foi varrida para debaixo do tapete, durante os
cinquenta anos para que seguissem com a paz que os Estados Unidos,
Brasil, Chile e Argentina impuseram. (MONCAYO, 2011, p. 38)

1.2.2 A Guerra de Paquisha de 1981

Em 22 de janeiro de 1981, o Peru ataca helicópteros equatorianos que eram


abastecidos em Paquisha, Mayaycu e Machinaza. Logo após, lança uma ofensiva
traiçoeira sobre o novo território, em 28 de janeiro, através de bombardeio aero ao
destacamento de Paquisha.
Durante os 10 anos de conflito em Paquisha, o incidente de Cusumaza entre
julho e agosto de 1991, gerou uma série de acontecimentos políticos-diplomáticos
que tiveram muita importância neste momento, tais como:
1. Pacto de Caballeros – 20 de agosto de 1991;
2. A Proposta de Julgamento na Assembléia das Nações Unidas – 30 de
setembro de 1991, ofertado pelo presidente Dr. Rodrigo Borja; e
3. Visita do presidente ing. Alberto Fujimori a Quito – em 9 de novembro de
1992 e entrega da proposta do perito.
24•

A partir dos fins de 1994, ocorreram várias infiltrações de patrulhas peruanas
na área do conflito. Mais importantes que podemos citar estarão mencionadas
abaixo.

1.2.3 A Guerra do Cenepa de 1995

A última guerra do Continente Americano e do ocidente, completou 21 anos


e ocorreu na selava limítrofe entre Equador e Peru. As Forças Armadas dos países
envolvidos recordam esta data acadêmica que resultaram em ações desenvolvidas
por seus soldados e que os expôs a lições aprendidas na Guerra do Cenepa. A
Academia de Guerra do Exército equatoriano possui uma coleção de cinco volumes
de documentos sobre o início do conflito, que requerem ser analisados e estudados
como fonte de consulta para estudos sobre esta guerra.
Os resultados militares desta guerra são descritos pelas operações que
foram desenvolvidas e estão baseados nas batalhas que foram vivenciadas dia a
dia. Tive a oportunidade de comandar uma equipe de Combate em Cenepa e assim
participar diretamente da execução das operações de contra-ataque em “Quarta-
feira Preta” em setor de Trueno dois de Maizal em Tiwintza.
Os relatos das ações efetuadas dia a dia se encontram nos arquivos do
Estado-Maior das unidades envolvidas, nos livros produtos das sínteses das versões
dos atores, nos informes e partes de objetos da guerra, nas memórias de cada um
dos combatentes que correram riscos de serem esquecidos ao longo do tempo.
“A limitada vitória do Equador na área denominada de Cenepa, alcança um novo limiar
ao antigo conflito: o Equador infringiu uma derrota militar ao Peru pela primeira vez desde
a batalha de Tarqui, de 1829” (MARCELLA, 2013, p. 4)
Em homenagem aos 20 anos pela guerra do Cenepa, a Academia de Guerra
do Exército equatoriano produziu uma síntese em cinco volumes, dos documentos
sobre as primeiras informações relacionadas a guerra, que se encontra disponível
para pesquisa na biblioteca da mesma. Através destes documentos podemos
desenvolver esta revisão bibliográfica, buscando conhecer os estudos que foram
efetuados sobre o tema, analisar os posicionamentos históricos, diplomáticos e
militares de cada país e seu ambiente e aprofundar minha investigação sobre a
importância do treinamento especial para as unidades que operam em ambientes de
selva.
25•

Os conflitos interestatais têm várias origens, no caso dos vizinhos do
Equador e Peru existem conflitos que ocorrem desde surgimento dos povos
indígenas nos Andes.
Estes problemas se incrementaram com o nascimento dos Estados
Nacionais na América do Sul, que seguiram “a solução determinada por Simón
Boliviar de aplicar o Uti Possidetis” baseado na divisão territorial administrativa
colonial, estabelecida na Cédulas Reais” (MONCAYO, 2011, p. 19). Os documentos
foram elaborados em outro continente distante da realidade local, fato que gerou
diferentes interpretações pela ambiguidade de seu conteúdo provocando dificuldade
na aplicação das disposições políticas, econômicas, religiosas e militares.
A maneira como esta história foi passada para as crianças tanto no Equador
quanto Peru aprofundou a problemática levando ao extremo, uma solução política
através do emprego de armas. As diferentes óticas da história territorial foram
transmitidas pelos livros de cada país e assim formaram a identidade nacional de
cada Estado e povo. Uma história de discórdias, muitos ressentimentos, temores,
interesses geopolíticos, militares identificados, todos esses fatores se transformaram
numa verdadeira ideológica ultranacionalista, que se difundiu através de inúmeros
meios, sendo a educação um dos mais fundamentais (LUNA, 1999). Alguns autores
falam de um ódio doentio, da existência de um inimigo natural (FOURNIER, 1995),
quando se cultivou um nacionalismo doentio (MONCAYO, 2011), relações bilaterais
caracterizadas pela desconfiança e conflitos (CHIABRA, 1995).
No meio militar também existem sentimentos nacionalistas, mas claro que as
Forças Armadas são o elemento vertebral do Estado, como herdeiros de nossos
ancestrais, entre os membros das Forças Armadas, o conhecimento da imensa
perda territorial de nossos pais, acabou criando um sentimento que levou a decisão
de que nunca mais o país seria vítima mais de desapropriação territorial ou de
agressão contra a dignidade e honra (MARCELLA, 2013, p. 5), em todas as
atividades cotidianas das diversas Instituições Militares das Forças Armadas
equatorianas é relembrado o desmembramento territorial sofrido pelo país que foi
“causado pela obstinada ocupação ao longo da história, realizado pelo Peru na
Amazônia, valendo de seu poder militar, que eram absolutamente desproporcionais
em relação a do Equador” (BARROSO, 2007, p. 39). Esta história jamais poderá se
repetir, escreve atualmente a história.
26•

A consciência dos povos de um e de outro lado está sendo cultiva
fundamentalmente sob um forte sentimento de desconfiança e preocupação estatal
constante sobre sua segurança e defesa, a isto esta sendo incorporado como
objetivos prioritários a manutenção de elevados níveis de operabilidade militar,
prontas para serem utilizadas a qualquer momento, se mantendo distante das
relações com os países vizinhos.
A dificuldade da aplicação do Protocolo do Rio de Janeiro, de 1942,
utilizado como resultado da intervenção dos países como garantia da paz, após
a invasão peruana de 1941 no território equatoriano, acabou gerando várias
disputas e cinquenta anos depois ocasionou a última guerra do ocidente 2. Para
o Peru, “os cinco volumes sobre o conflito armado do século XX (1910, 1941, 1981,
1991, 1995), foram em território peruano segundo a linha estabelecida pelo
Protocolo de Rio de Janeiro” (FOURNIER, 1995, p. 40).
A Guerra do Cenepa e a intervenção posterior a missão de observação
militar dos fiadores permitiu que fossem estabelecidos os limites definitivos, gerando
um conflito centenário entre países irmãos que não tiveram alternativa se não
conviver e desenvolve-las juntas.
O Protocolo do Rio de Janeiro gerou várias interpretações, não pôde ser
aplicado em 74 km do Valle do Cenepa, várias áreas não foram identificadas, fatos
esses que geraram vários impasses. O Peru sempre deixou claro que não existia
problema relacionado aos territórios do equador e que todos os problemas
existentes foram produzidos pelo Protocolo do Rio de Janeiro, expressam que “a
atitude equatoriana de respeito ao Protocolo do Rio de Janeiro não tem sido
consistente ao longo do tempo” (CHIABRA, 1995), enquanto o lado equatoriano
determina que “somente depois da vitória do Cenepa se conseguiu que o Peru
aceitasse a existência do impasse subsistente e assim admitisse a negociação”
(MONCAYO, 2011).
Ocorreram vários acontecimentos que antecederam a Guerra do Cenepa
tais como: estabelecimento do destacamento peruano de Pachacutec nos fins de
1990, em razão do questionamento sobre a presença do destacamento equatoriano
na área da foz do rio Yaupi e do rio Santiago, “Equador construiu em 1977 um
destacamento batizado com o nome de Ten Ortiz, herói da guerra de 1941”

2
A última guerra no continente americano, Guerra do Cenepa, em 1995.
27•

(MONCAYO, 2011, p. 77). Ainda foi construído outro destacamento, que foi
chamado de Etza nesta área, em 1991.
Com o objetivo de evitar confrontos, no mês de agosto foram iniciadas
conversações a nível diplomático para que se fixasse um acordo em favor do “Pacto
de Caballeros”, que determinava uma separação de forças de 2 km para cada lado,
para assim evitar o confronto militar. O acordo foi cumprido parcialmente, pois
persistia a ameaça de ataque ao Destacamento Ten Ortiz, “a negativa dos militares
peruanos em acatar o Acordo de Distensão foi um dos fatos que provocaram o
conflito armado de 1995” (MONCAYO, 2011, p. 78).
Foi estabelecida uma cartilha de segurança para evitar o enfrentamento e
entre outras coisas estabeleceu ainda que a Cueva de los Tayos fosse ponto de
coordenação até que se estabelecem os limites das partes da jurisdição
correspondente.
Testemunhei os acordos telefônicos ocorridos entre os generais
Carlomagno Andrade e Nicolas Hermoza, sobre manter a Cueva de los
Taylos, como um local de encontro, para se aplicar as normas de
comportamento e evitar conflitos. Tempos depois o presidente Fujimori
declarou que sua estratégia foi a de manter congelado o problema sobre o
Cenepa até que os assuntos internos estivessem sob controle. Já teria
tempo para se expulsar os equatorianos que, segundo ele, estavam
infiltrados nos territórios peruanos. (MONCAYO, 2011, p. 97)

A partir de 1991, vários acontecimentos mostram a atitude de não


cumprimento ao acordo firmado, em 1993 o Peru realizou reconhecimentos, através
de contato com tropas equatorianas de Cueva de los Tayos, Base sul, onde sempre
se encontravam patrulhas equatorianas. A partir de 1994 os militares peruanos
insinuaram que bases equatorianas estariam em seu território, no mês de setembro
deram início ao patrulhamento até as áreas do Destacamento de Coangos
(MONCAYO, 2011), no entanto as relações eram cordiais, as patrulhas eram
orientadas e acompanhadas até retornarem de Cueva de los Tayos.
Durante o mês de outubro de 1994 foram efetuadas várias patrulhas de
reconhecimento, de busca e manutenção de trilhas constatou-se a presença de
barracões e área de semeação de milho, isto em territórios ocupados por tropas
equatorianas.
No mês de novembro as tropas de reconhecimento aéreo e terrestre ainda
são feitas por cada exército envolvido e as tropas peruanas relatam que as bases,
28•

barracões3 e fazendas equatorianas estavam em território peruano. (FOURNIER,
1995), (MONCAYO, 2015).
Em dezembro as atividades foram intensificadas e tropas peruanas do “PV
14 informou a presença de tropas equatorianas ao norte de sua posição” (CHIABRA,
1995), movimentos estes que contribuíram para que no dia 12 de dezembro s realize
uma reunião na área de Base Sul 5, os nomes dos comandantes das unidades no
nível de batalhão estavam o TC César Aguirre, Comandante do BS n° 63
“Gualaquiza”, o Comandante Manuel Lazarte, Comandante do BIS “Callao” N° 25
quem adverte que a tropas equatorianas deveriam sair desta área (CHIABRA, 1995),
ele escreve no informe equatoriano, onde apresenta uma carta que diz:
O limite Político Internacional abrange toda a conta e cabeceira do rio
Cenepa, por conseguinte, a Base Sul, Base Tiwintza e Cueva de los Taylos,
estão em território peruano. Também o comandante do BIS-25 comentou
que no mês de janeiro de 1995 se iniciaram uma campanha de reeleição
presidencial, onde um problema sobre a disputa por limites poderia ser
positivo para ganhar as eleições. (MONCAYO, 2011, p. 104)

No dia 13 de dezembro ocorreu uma reunião no destacamento Cahuide 6


entre os comandantes das Brigadas General Vladimiro López, comandante da 5-DIS
(Divisão de Selva) e o Coronel José Grijalva, comandante da 21-BS “Condor”
(Brigada de Selva). Logo após as saudações protocolares iniciou-se a reunião que
tratou dos seguintes pontos:
O General Lopéz do Peru expôs entre outros pontos o seguinte:
- A falha de Braz Dias de Aguiar quando considera a cordilheira do Cóndor
como uma fronteira natural na área do San Francisco e Yaupi, com este
marco a bacia do Cenepa é peruana em sua totalidade e a bacia do
Coangos é equatoriana, neste contexto foi determinado que a presença
das tropas equatorianas em Tiwintza-Base Sur, a bacia dos Tayos,
constituem-se numa infiltração ao território peruano.
- Não foi aceito o Statu Quo atual, pois sendo estes territórios
historicamente peruanos, por este motivo foi orientado a saída das tropas
equatorianas das áreas mencionadas.
O Coronel Grijalva, do Equador expôs que:
- Levando-se em conta que a bacia de Tayos, Tiwintza e Base Sur estão
sob seu controle por muitos anos, que se mantenha assim, até que os
organismos competentes definam sua posição.
- Que continue sendo mantida a bacia de Taylos como ponto natural de
encontro a ser respeitado pelas duas partes e que não seja considerado a
bacia de Tayos como limite.
- Que não seja aceito o Rio Cenepa como delimitação, já que ele não é
considerado em nenhum laudo do acordo, recomendando-se ainda que os
78 km delimitados não sejam revisados e definidos pelas comissões

3
Cabanas de apoio, construídas com material da área para descanso das tropas.
4
Posto de vigilância n° 1 Soldado Pastor - Peru.
5
Base assim denominada pelo Exército equatoriano para identificação.
6
Destacamento peruano na Zona do Cenepa.
29•

equatorianas, por não ser um mediador benevolente para os países.
(MONCAYO, 2011, p.119).

A reunião se resume no seguinte parágrafo e todos os autores concordam


mesmos os com visão opostas:
Cel Grijalva: durante muitos anos temos considerado a bacia do Tayos
como um ponto de encontro a ser respeitado pelos dois países.
Gen López: Olha para você e lamento em dizer que não há acordo, neste
caso ou em qualquer outro, é uma interpretação unilateral por parte de
vocês. (MONCAYO, 2011, p. 116/FOURNIER, 1995, p.57)

Os últimos dias do mês de dezembro de 1994, Equador e Peru viveram de


formas diferentes e intensidades, quanto ao conflito bélico, enquanto em Lima existia
uma passividade que lhes permitia seguir desfrutando do verão, devido a confiança
sobre os resultados anteriores aos confrontos (CHIABRA, 1995), em Quito se
reforçavam as unidades dispostas na cabeceira do Cenepa, quando se formou um
Agrupamento Tático Geral Miguel Iturralde 7, baseado no Grupo de Forças Especiais
n° 26, o Batalhão de Selva n° 63 “Gualaquiza” e a Companhia de Operações
Especiais n° 21.
Estas novas unidades tinham como missão defender a cabeceira do
Cenepa, sem ceder ao General Coangos, Base Sur, bacia de los Tayos, Cóndor
Mirador. Como já era previsto pelo General Iturralde um mês antes, da guerra, era
eminente que ocorresse a preparação das unidades para que fosse reescrita a
história de nosso país 8.
A partir de 17 de dezembro o Agrupamento Miguel Iturralde (AGMI), iniciou o
controle no Valle do Cenepa, dando-se início pela preparação do terreno e do
pessoal. Ao contrário de 1981, os combates foram enfrentados desde início sob o
comando das Forças Especiais. As unidades que estavam de frente e, portanto, se
esforçam mais estavam constituídas por elementos da elite, que possuíam um longo
e esforçado treinamento e que desempenharam muito bem junto às forças orgânicas
da brigada (MONCAYO, 2011, p. 113).
As tropas peruanas relataram estes acontecimentos assim: no final do mês
de dezembro voltaram a encontrar patrulhas equatorianas ao norte do PV1 com
motosserras, que evidenciava sua disposição para estabelecer posições

7
Denominado assim em homenagem ao Comandante do Exército morto um mês antes em um
acidente aéreo, enquanto visitava os destacamentos de fronteira.
8
Referência do livro de meu pai. OJO.
30•

permanentes, prontos para o confronto, como aconteceu logo depois (CHIABRA,
1995, p. 33). No final do mês de dezembro o General López da Divisão de Selva do
Peru reforça os PPV, com o objetivo de detectar as prováveis tropas equatorianas
infiltradas no território peruano.
No início do novo ano a região do Cenepa recebeu soldados equatorianos e
peruanos cada um deles liderado por seus comandantes e estavam motivados em
cumprir suas respectivas missões, que neste momento se encontrava no centro das
atenções continentais e internacionais, destacando o Valle do Cenepa.
Na primeira semana do mês de janeiro foram identificados vários
movimentos das tropas peruanas, visando fazer o reconhecimento da área. No dia
11 de janeiro ocorreu o primeiro combate entre as patrulhas equatorianas e
peruanas na área “Y”, a patrulha peruana é derrotada e se retrai voltando para o
PV1.
No dia 7 de janeiro foi descoberta a construção de instalações peruanas na
área da bacia de los Tayos, esta base possuía todas as condições para que
pudessem cumprir futuras missões, ocupação acima da Cordilheira do Cóndor,
estabelece-se como fronteira, assim como tinha ocorrido na área de Cuzumasa
Bumbuíza, como posto de vigilância em Pachacutes (HERNANDEZ, 1997).
No dia 9 de janeiro uma patrulha peruana identificou tropas equatorianas
com um efetivo superior que os cercaram e depois foram acompanhados até a bacia
de los Tayos (CHIABRA, 1995).
Em 11 de janeiro ocorreu um encontro entre as patrulhas envolvidas, onde
se evidencia que o Peru estava infiltrado na área de conflito (HERNANDEZ, 1997).
Para o Peru “as operações se iniciaram quando as tropas equatorianas violaram as
normas atribuídas na Cartilha de Segurança, quando atacaram a patrulha do BIS
‘Callao’ N° 25” (CHIABRA, 1995, p.15).
No dia 16 de janeiro o comandante do Teatro de Operações (TO) General
Moncayo recomenda ao comandante do AGMI que não ocorra uma guerra por
posições, mas que sejam empregadas as bases clandestinas para que se tenha
uma maior flexibilidade (HERNANDEZ, 1997, p. 76).
A partir do dia 17 de janeiro o Peru reforça suas unidades e avança
conseguindo no dia 18 de janeiro infiltrar uma patrulha e construir um heliporto entre
a Base Sur e Coangos (HERNANDEZ, 1997). Existe uma discrepância de data com
o autor peruano que informa que a patrulha Tormenta foi emboscada no dia 11 de
31•

janeiro, mas no desenrolar da situação, foi constatado que causou baixa para o
inimigo e que lhe conduziu a elevação de 1274 lugares com a criação do heliporto
de Tormenta, dando condições de controla as operações aéreas de Coagos
(CHIABRA, 1995, pg.45).
O comandante do AGMI comenta que uma das limitações impostas pela
missão era que não queriam desencadear o conflito, foi o de restringir os
reconhecimentos aéreos, “o não poder usar os helicópteros para reconhecimentos
aéreos, como atitude de não provocar, se constitui numa limitação que o Peru
aproveitou para infiltrar suas tropas” (HERNANDEZ, 1997, p. 89). A outra limitação
era a de não atacar com fogo de artilharia os destacamentos peruanos PV1.
Em 23 de janeiro ocorreu a última comunicação entre o General López e o
Coronel Grijalva. O Peru, não aceita o Status Quo. O Coronel Grijalva informa que a
partir de então se ocorrem sobrevoos, serão repelidos sob fogo. Então neste mesmo
dia a patrulha peruana s infiltra nas nascentes do rio Cenepa, designando esta área
como Base Norte.
No dia 24 de janeiro foi ordenado a evacuação do AGMI, que possui 4
equipes de combates (ECO). Imediatamente foi ordenado o planejamento e a
preparação do ataque. Tropas e operações a cargo da patrulha Zafiro se infiltraram e
assim puderam reescrever a história do Equador. O Tenente Tello comandante de
um da equipe de combate narra como ocorreram os fatos no dia 26 de janeiro:
As 17:55 horas o subtenente Jaramillo disparou a bengalas, dando início ao
ataque. Sob fogo de morteiros, fuzis e foguetes LAW, que se concentrou na
base da coluna da luma, o combate se estendeu aproximadamente por 11
minutos, durante os quais as tropas peruanas foram totalmente
surpreendidas e assim não puderam ter nenhum tipo de resistência,
optando pela luta de uma desesperada retira selva adentro (MONCAYO,
2011, p. 125).

A versão peruana é totalmente diferente:


Em 26 de janeiro as 18:00 horas, de 1995, o Exército equatoriano ataca
uma pequena patrulha, formada por 13 soldados que construíam um
heliporto no barranco Fashion, para o ataque foi empregando primeiramente
5 helicópteros Superpuma de artilharia, morteiros de 81mm e 120mm
durante três horas, atacando finalmente por terra com 150 fuzis além de
uma companhia das Forças Especiais. Apesar da patrulha sofrer uma perda
de 7 do efetivo ainda era maior a superioridade adversária, 13 soldados
mantiveram durante 5 dias a posição, consta na lista equatoriana, retirando-
se somente depois de ter terminado o abastecimento de munições, pois os
13 soldados da patrulha peruana acabaram com essa atitude ganhando o
apelido de “gigantes do Cenepa” (CHIABRA; FOURNIER, 1995, p. 58).
32•

No dia 27 de janeiro, o Peru iniciou uma ofensiva geral de ataque sobre o
destacamento de Coangos, Ten Ortiz, Etza, Soldado Monge e Bacia de Los Tayos,
para isso empregou bombardeios aéreos, fogo de morteiros e tentativas de ataques
terrestres, onde ocorre grande derrota com muitas baixas (BARROSO, 2007, p. 54),
pois estavam fortalecidas por campos minados. Devida a esta ação lá pela noite o
presidente do Equador, declara estado de emergência nacional.
Em contraposição os autores peruanos falam em uma fraca resistência,
causada pelo fantasma dos conflitos anteriores. Do mesmo modo, informam um
número de baixas inexistente, apenas 9 baixas equatorianas., incluindo a morte do
Soldado Barrera, em seguida promovido a Sub tenente Robert Barrera, atualmente é
Tenente Coronel, comandante de uma Unidade de Comunicações, em Quito
(FOURNIER, 1995).
Em 28 de Janeiro o Peru ataca o destacamento equatoriano de Soldado
Monge, Ten Ortiz e a Bacia de los Tayos, sem êxito. No dia 29 de janeiro, as Forças
peruanas promoveram um ataque em massa, principalmente na Bacia de los Tayos,
Coangos, Ten Ortiz Etza e Soldado Monge. Durante o ataque, assim como nos dias
anteriores com o apoio da aviação com helicópteros de artilharia e armas de tiro
curvo. A Força Aérea equatoriana derrotou o ataque e neste dia são abatidos dois
helicópteros peruanos em Tenente Ortiz e na Bacia de los Tayos.
No dia 31 de janeiro ficou evidenciado a importância de se cultiva um
espírito nacionalista que vai dar sustentação ao tripé que falava Clausewitz –
Governo, Povo e Forças Armadas. Bem, os ataques continuam no dia 1° de
fevereiro a Cóndor Mirador, a Bacia de los Tayos e ao destacamento de Machinaza,
os peruanos sofrem baixas ao cair no campo minado (BARROSO, 2007, p. 55).
Nos dias 3, 4, e 5 continuaram os ataques, mas não obtiveram êxito diante
as posições defensivas de Coangos, Bacia de los Tayos, Base Sul e Tiwintza. No
relato do Comando Conjunto das Forças Armadas equatorianas, mencionam até 5
de fevereiro as 12:00 horas, a seguinte relação: 08 mortos, 16 feridos, 02
desaparecidos. Foram capturados dois soldados peruanos (BARROSO, 2007, p.55).
O Comandante do AGMI, Coronel Hernández, recebeu uma determinação do
Conselho de Estado-Maior para colocar as Baterias de Lançadores Múltiplos de
Foguetes na Cordilheira do Cóndor, isto devido à falta da Força Aérea.
No dia 5 de fevereiro, o Conselho de Estado-Maior sob o comando de TO
Gral Moncayo, reorganizou as forças do dispositivo defensivo, dividindo a atual
33•

unidade que passou de Brigada Reforçada a constituísse em dois Agrupamentos d
Selva, um deles seria chamado de “Miguel Iturralde” e o outro Carlomagno Andrade,
mantendo a mesma estrutura de uma Brigada.
Durante os dias 8 e 9 de fevereiro, continuam o ataque a Bases
equatorianas, mas sem êxito; no dia 8 de fevereiro um helicóptero peruano foi
derrubado, quando atacava a Base Sul e Coangos com mísseis Igla.
No dia 9 de fevereiro ocorreu um acontecimento muito importante e que
deve ser analisado. A designação e incorporação como comandante das operações
do Comandante Roberto Chiabra, que no livro “Missão de Horror”, narra que foi
designado a assumir o comando das operações em PV1. Chegou no dia 9 de
fevereiro e o General López depois de sua apresentação parecia apático,
evidenciando seu incomodo com sua presença, representava que outro oficial
estava ali para comandar as operações. O mesmo sentimento despertou no Estado-
Maior do General López quando foi questionado sobre o planejamento das
operações (CHIABRA, 1995, p. 57).
No dia 10 de fevereiro, os aviões da Força Aérea equatoriana (FAE)
derrubaram dois Sukhoi e um A-37b, as tripulações do Sukhoi morreram, fato que
não aconteceu com a tripulação do A-37b, que injetaram. Este dia pode ser
consagrado como o dia da “Aviação de Combate”, por ter sido executado o primeiro
combate aéreo ocorrido na América, “mais ainda o emprego de parte da Força
Armada do Equador sobre a doutrina ‘defesa ativa’, a Bacia do Cenepa parece ser
uma adaptação da ‘doutrina terra-ar’ nas Forças Armadas norte-americanas”.
(MARCELLA, 2013, p.7)
No dia 11 de fevereiro ocorreram vários confrontos no triângulo formado
pelas Bases da Bacia de los Tayos, Base Sul e Tiwintza, os ataques são afastados.
Aviões da Força Aérea peruana (FAP) bombardearam os postos equatorianos de
Banderas e Numbatakaime, situados fora d área de conflito (BARROSO, 2007, p.
56). Uma patrulha peruana foi emboscada, porém a situação se desenvolveu e
acabou causando baixas ao inimigo, colocado na cota dos 1274, onde se criou o
heliporto de Tormenta, que dá condições de controlar as operações aéreas de
Coangos. (CHIABRA, 1995)
Nos dias 12 e 13 de fevereiro, fortes combates são realizados na Base Sul,
na Bacia de los Tayos e Tiwintza, a fim de conquistar toda costa, porém não
conseguiram alcançar seu objetivo. O presidente peruano assegura ter capturado
34•

Tiwintza e declara unilateralmente sob alto fogo, esta situação, no entanto é
desmentida, através da visita da imprensa nacional e internacional.

O Equador aceita o cessar fogo que é proposto pelos países fiadores do


Acordo de Paz, que estabelece a presença imediata de observadores para
constatar o cumprimento do acordo por ambas as partes. O comandante do
AGMI se mostra indignado com esta situação. Fujimori declara cessar fogo
e diz ter conquistado Tiwintza (HERNADEZ, 1997, p,123).

De 14 a 21 de fevereiro o cessar fogo aceito pelo Equador se iniciou a 12


horas, isto no dia 14 de fevereiro. Imediatamente o Ministério da Defesa Nacional
autorizou a entrada da imprensa nacional e internacional a Tiwintza e assim
evidenciarem que a Base seguia sob poder das tropas equatorianas. Pode-se
verificar no local que as coordenadas da posição coincidiam com as que foram
comunicadas pelo Equador aos países fiadores do acordo (BARROSO, 2007, p.
56)9. Por outro lado, o Peru não permitiu a entrada dos jornalistas para fizessem as
verificações, estabelecendo a dúvida na opinião pública sobre seu país.
Aos olhos do comandante do AGMI, o braço diplomático peruano tinha vindo
apoiar também como braço militar. O objetivo era realizar uma parada nas
operações para assim permitir que as tropas peruanas se infiltrassem nas áreas que
não controlavam (HERNANDEZ, 1997, p. 128).
Nos dias subsequentes o Peru amparado pelo cessar fogo, aproveita para
aproximar suas Forças, reorganizar sua disposição e ocupar posições. Apesar de
continuarem acontecendo combates esporádicos. As tropas equatorianas se
incorporam ao Arutam10 as unidades de primeira linha.
No dia 17 de fevereiro o Peru aceita assinar o Acordo de Paz proposto pelos
fiadores do mesmo, considerando que o Equador já tinha aceitado. Este Acordo
estabelece que as tropas do Equador e Peru devessem concentrar-se em Coangos
e o PV 1 respectivamente ficariam sob supervisão dos observadores.
Durante os dias 18, 19, 20 e 21 de fevereiro o Peru intensificou os combates
devido a eventual chegada dos observadores militares, quando ocorreram os mais
duros confrontos em Tiwintza, tendo como objetivo levar o Peru a alcançar o
planejamento que o presidente Fujimori queria apresentar ao povo.

9
O General Mauro Barroso tinha a função de Adido Militar do Brasil no Equador e foi uma
testemunha da Guerra do Cenepa, atuando também como coordenador do grupo percursor da
Missão de Observadores Militares do Equador e Peru (MOMEP). Atuou como fiscal do cessar fogo
estabelecido pelos fiadores do Acordo.
10
Arutam, soldado nativos, que possuíam destrezas especiais para operar na selva.
35•

No dia 21 de fevereiro com a chegada do grupo precursor os observadores
militares liderados pelo General brasileiro Ariel Pereira da Fonseca, neste mesmo
dia o General Moncayo apresenta um áudio, onde o comandante da Divisão de
Selva o General López Trigoso, determinava a conquista de Tiwintza neste dia.
Membros da missão avançada entraram em Coangos em 22 de fevereiro,
foram enviados pelos países fiadores do Acordo, para se certificar do cumprimento
do cessar fogo. Contrário ao esperado se encontrou uma luta acalorada na somente
uma selva espessa poderia esconder. Em plena Declaração de Paz, na qual se
comprometeram em cessar fogo durante as operações militares, de maneira
traiçoeira e desleal as tropas peruanas atacaram com todos seus meios Tiwintza, El
Maizal, Base Norte e a “Y”. O resultado foi: 13 mortes e 20 feridos sacrificados numa
jornada vergonhosa para os comandos peruanos.
No dia 27 de fevereiro, dia que para o Exército Equatoriano em 1995, foi
muito especial, isto porque celebraram as trincheiras. O comandante do AGMI
argumentava que “em outras regiões do mundo onde existem conflitos, os
observadores auxiliam imediatamente a fim de evitar o derramamento de sangue.
Neste caso levaram muito tempo. Definitivamente cada país tem que possuir seus
meios de defesa” (HERNANDEZ, 1997, p. 153). O cessar fogo dependia da vontade
dos dois países “um cessar fogo sempre será decisivo, e assim continuar a
intransigência equatoriana” (FOURNIER, 1995, p. 73).
Ao longo do conflito o Equador manteve a transparência de informação que
foi difundida, fato que permitiu alcançar uma vitória também de informação no campo
de combate.
O Equador derrubou novos dispositivos aéreos peruanos, quatro fixas (dois
Sukhoi-Su22, uma 37, um bombardeio Camberra e cinco helicópteros,
outros relatos indicam dois helicópteros derrubados (antes das cinco)
através de uma combinação de armas antiaéreas automáticas, mísseis
terrestres-aéreos disparados desde ombro ou aviões Kfir, o Equador teve
um A37 avariado. As perdas da equipe e o número de baixas de
combatentes peruanos chegam a trezentos, indicando que o Peru não
estava preparado para o acontecimento, enquanto o Equador estava muito
melhor preparado (MARCELLA, 2013, p. 7).

1.3 Notas Metodológicas

A metodologia adotada neste trabalho foi guiada pelo estudo da história


política do conflito entre Equador e Peru, e se apoiou em várias ferramentas e
procurou seguir os seguintes passos.
36•

(i) Inicialmente, como parte da abordagem qualitativa para a revisão da


literatura do conflito apoiada por autores como (Mares, Marcella,
Moncayo, Gallardo, Bonilla, Ayala Mora, Fournier, Chiabra) a fim de
construir uma visão equatoriana, peruana e internacional do conflito;
A coletânea de documentos primários da Guerra do Cenepa,
compilado em 5 volumes da Academia de Guerra do Exército do
Equador (AGFT, 2015), será mais uma base da pesquisa;
(ii) A abordagem qualitativa foi utilizada para analisar a documentação
disponível, entrevistas com ex-combatentes e comandantes sobre o
desempenho das tropas durante as ações do Cenepa, serão
analisados sob a teoria de Risa Brooks com base em quatro variáveis
para estabelecer a eficiência de combate. São incorporados a teoria
da Brooks os princípios da guerra como um plug adicional, que
permite compreender a complexidade de medir a eficiência do
combate no ambiente da selva. As variáveis levantadas por Brooks
são: integração, resposta, habilidade, qualidade;
(iii) Para a gestão de informações sobre baixas, feridos em combate,
formação dos efetivos, origens, e demais dados utilizados para testar
a hipótese de que os militares com cursos de selva tiveram um
desempenho melhor durante os combates. Estes dados, e os
resultados das análises estatísticas, também serão tratados de forma
qualitativa. A estatística descritiva foi utilizada para analisar dados
brutos e testar a eficiência hipótese de combate das tropas;
(iv) O estudo de caso permitirá analisar a eficiência das tropas de combate
a partir da experiência do Equador nas unidades Cenepa. Vamos
seguir as orientações do Kathleen Eisenhardt que estabelece
claramente a importância do seu trabalho, quando descreveu como
"uma estratégia da investigação sobre a compreensão da dinâmica
presente em contextos únicos" (EISENHARDT, 1989, pág. 534).

1.3.1 Fontes, documentos e dados

Descreveremos os principais documentos que serão analisados, o tipo de


informação que contenha e como vão ser utilizadas. A quantidade de documentos
que passaram por esta análise, as entrevistas realizadas também está exposta no
quadro a seguir.

O estudo é baseado em uma documentação ostensiva que permitiu


estabelecer a importância da formação na selva em ambiente nacional do Equador e
a importância do emprego de unidades especiais, e de pessoal nativos da área de
37•

combate. A Tabela 1 mostra os principais documentos utilizados, bem como a
quantidade, o tipo de informação que contém e quem o produziu. A abordagem
sobre estes documentos foi sempre qualitativa.

Quadro 2 – Resumo das fontes e documentos empregados – uso e abordagem


Documento analisado Autor Uso Quantidade
Informe Final da Companhia Exército 32
Alto Cenepa Equatoriano Emprego das unidades e
Apreciações, Boletins, T.O. do Cenepa desenvolvimento das 100
Ordens de Operações operações
Partes de Guerra das Exército 82
Unidades de Combate Equatoriano
Transcrições das reuniões Estado-Maior do Desenvolvimento das 96
de Estado-Maior TO Cenepa operações e decisões do
Estado-Maior
Informação sobre as baixas Exército Identificar a relação 10
e feridos Equatoriano entre treinamento,
eficiência do combate
Informação das Escolas de ESCIFT; Formação dos 20
Selva e Escola de IWIAS ESIWIAS combatentes, e as
operações

Entrevistas com os atores Moncayo, 2


Barroso História oral
Testemunhos em vídeos 20 anos Cenepa 2
FONTE: Bases de dados gerais, baseadas em bibliografias disponíveis de autores.
38•

2 CAPÍTULO II – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA11

Já se passaram mais de vinte anos do fim do conflito na cabeceira do rio


Cenepa (1995) quando Peru e Equador se enfrentaram por questões fronteiriças.
Neste período inúmeros autores produziram livros e artigos (open access)
abordando diferentes aspectos e pontos de vista, que vão desde testemunhos da
frente de combate, passando por avaliações políticas de observadores
internacionais, até análises acadêmicas posteriores. O objetivo deste capítulo é fazer
uma revisão bibliográfica das principais obras produzidas nestas duas décadas. A
Guerra do Cenepa foi a última guerra interestatal lutada no continente sul-
americano. Acreditamos que investiga-la ajuda à compreender temas clássicos dos
estudos da Ciência Política e Relações Internacionais como o motivo que originam
conflitos armados, acordos e resoluções, bem como temas mais afeitos à área das
Ciências Militares como a condução das operações e as táticas empregadas.
O texto esta organizado da seguinte forma. Diferenciamos atores
equatorianos, peruanos e de outras nacionalidades, bem como civis e militares. As
obras também foram separadas entre as que abordam o cotidiano militar,
importantes para os estudos mais específicos da História Militar das Ciências
Militares e áreas afins; e aquelas com abordagem mais histórica e política,
explicando os antecedentes e analisando os contextos que levaram os países ao
confronto, mais úteis as áreas da História, Ciência Política, Relações Internacionais
e outras.
Existe uma série de testemunhos do conflito escritos por militares de
diferentes patentes e de ambos os países. Embora, cada texto tenha a tendência de
enaltecer um dos lados no conjunto, estas obras são importantes pela descrição do
cotidiano e dos fatos, além do que, quando cruzados os dados, fornecem pontos de
vista diferentes sobre determinados eventos e operações e possibilitam comparar as
versões. Algumas destas obras ainda trazem documentos primários publicados
como anexos.
Os resultados de análises posteriores outro conjunto de obras aborda
antecedentes políticos, a escalada da crise e de preparações militares anteriores a
1995. Escritas por acadêmicos de diversas formações seus trabalhos sobre o

11
O capítulo da revisão bibliográfica foi submetido na forma de artigo para uma revista acadêmica da área.
39•

conflito do Cenepa, buscam compreender a complexidade deste fenômeno, como a
última guerra interestatal ocorrida América do Sul.
Iniciaremos a análise pelas obras que fazem uma abordagem histórica,
passando as visões do alto comando de cada país e as abordagens de autores
internacionais, para finalmente encerrar com os testemunhos de oficiais e soldados
envolvidos. Adrián Bonilla12 publicou o artigo Processo Político e Interesses
Nacionais do Conflito Equador – Peru (BONILLA, 1996) onde realiza uma “análise
dos atores e seus interesses, destacando a ausência de uma interdependência,
fundamental para a escalada do conflito, finalmente apresenta várias perspectivas
das negociações”. Ele afirma que em 1995 prevaleceu a opção bélica, pois todas as
condições diplomáticas foram restringidas em função da manutenção do Status quo,
além disso, o antagonismo de políticas exteriores existentes entre os países, os
baixos níveis de interdependência e a falta de uma intervenção internacional,
contribuíram para esta situação.
Posteriormente Bonilla, em 1997, publicou: As Imagens Nacionais e a Guerra:
Uma Leitura crítica sobre o Conflito Equador e Peru (BONILLA, 1997), quando trata
as categorias teóricas que envolvem os discursos nacionalistas em relação a suas
fronteiras e a percepção de cada um deles sobre o conflito. Permitindo identificar
claramente a representação da imagem nacional baseada em cada história. O
emprego da competência narrativa como política, que acaba evidenciando a imagem
de políticas exteriores contraditórias, isto em um conflito que envolve ambas as
sociedades.
Em 1999, Bonilla, publica: Força, Conflito e Negociação: Processo Político da
Relação entre Equador e Peru (BONILLA, 1999), onde aborda a importância da
fronteira para as duas nações, descreve os antecedentes e as implicações políticas
da guerra de 1995 e trata ainda da agenda de negociações até a assinatura do
acordo de paz.
Carlos Espinoza13 escreveu: A Negociação como Terapia: Memória,
Identidade e honra nacional no Processo de Paz entre Equador e Peru (ESPINOZA,
1999), que estabelece na colônia a origem da disputa centrada na área da “banda
do Alto Amazonas”, situada entre Putumayo e Marañon, essa zona é conhecida
como Mainas, tendo uma influência direta na população de Quito desde século XVIII.

12
Adrián Bonilla pesquisador do Flacso, em Quito.
13
Phd da universidade de Chicago especialista em temas latino-americanos.
40•

O escritor Ronald Bruce St John14, analista de temas andinos, publicou um
artigo denominado: As Relações Equador e Peru: Uma Perspectiva Histórica
(BRUCE, 1999), onde realiza uma análise sobre as raízes do conflito, chegando à
conclusão que a disputa fronteiriça entre Equador e Peru é um legado da
administração colonial espanhola e da falta de imprecisos limites fronteiriços
herdados desde sua independência. O autor destaca que na assinatura do Protocolo
do Rio de Janeiro (1942), existiu uma falta de interesse dos Estados Unidos sobre as
aspirações dos países envolvidos na disputa, “Washington não se importou com a
realidade onde foram traçadas as linhas fronteiriças, mas, sim que se obtivesse um
convênio” (WOOD, 1966, p. 338), devido sua preocupação com a Segunda Guerra
Mundial.
Por sua vez, o historiador equatoriano Jorge Nuñez15 em seu artigo: A
Imagem Nacional do Equador e Peru (NUÑEZ, 1999), suporta o argumento que em
todos os povos coexistem elementos positivos e negativos, de afirmação e/ou
negação do outro, de supervalorização do próprio e subestimação do estrangeiro. A
partir desta ótica é que analisa o conflito de 1995. Onde aponta que existem nas
histórias nacionais de cada país interpretações diferentes, misturando fatos com
argumentos jurídicos que desvirtuam muitos dos eventos históricos, tendo como tela
de fundo os interesses nacionais de cada um. Para o autor “O território é um legado
histórico de uma geração que a torna subsequente”, (NUÑEZ, 1999, p.160). A
imagem nacional baseia-se em suas aspirações e frustrações, contidas em mapas
oficiais, que apresentam limites irreais e não definidos. Esses limites separam povos
que tem as mesmas culturas, os mesmos ritmos, idiomas, línguas e formas
semelhantes de vida. Por exemplo, o Tratado Pedemonte Mosquera (1830), que
estabelecia como limite o Rio Marañón. Os mapas oficiais do Equador estabeleciam
como áreas não delimitadas e essa realidade forjaram a nacionalidade da história de
um país com uma constituição que mantinha uma concepção sem limites
conhecidos.
Percy Cayo, historiador peruano, em seu livro: “Peru e Equador:
Antecedentes de um longo Conflicto” (CAYO, 1995), concorda que o conflito limítrofe
surge por discrepâncias e versões diferentes de fatos históricos, como o
descobrimento do rio Amazonas, que vem desde Cuzco e não desde Quito. A

14 Phd da Escola de Estudos Internacionais da Universidade


de Denver.
15
Jorge Núñez membro de número da Academia da Historia do Equador
41•

colônia e a independência também têm eventos com leituras diferentes, como a
interpretação dada aos informes de Francisco Requena, que foram fundamentais
para a elaboração da Cédula Real de 1802. Também passa informação sobre o
Protocolo Pedemonte Mosquera, que estabeleceu como limite o rio Amazonas, no
entanto ele afirma que nunca foi ratificado nem entrou em vigência pela eliminação
da Grande Colômbia.
Fielden Torres escreveu: Tiwintza: O Fim de um Conflito (TORRES, 2000),
apresenta duas visões sobre o conflito da tese peruana, a tese equatoriana tem um
ponto vista internacional. Dispõe de igual forma com informações da invasão
peruana de 1941, do Protocolo do Rio de Janeiro e da fórmula Aranha. Apresenta
ainda informações sobre a invasão a Paquisha, a Guerra do Cenepa e os acordos
finais. Tendo como anexos quadros comparativos entre as Forças Armadas do
Equador e do Peru, em 1995; um mapa com os desmembramentos territoriais
sofridos pelo Equador.
O General Fernando Dobronski (DOBRONSKI, 2014), em seu livro: “O
Equador: o feito mais importante de sua história”, apresenta o passado aborígene, a
conquista, colônia, independência, a grande Colômbia, e a república. No Capítulo VII
expõe um estudo detalhado sobre os direitos territoriais do Equador até assinatura
da Ata de Brasília, documenta que conduz a paz.
Milton Luna, historiador equatoriano divulga uma leitura comparada do
“Discurso Nacionalista de Textos da História do Equador e Peru (LUNA, 2000),”
onde faz uma análise de como a história territorial sobre ópticas diferentes tem sido
o fundamento para a construção da identidade nacional dos povos e Estados
envolvidos, as discórdias geradas por ressentimentos, podendo ser mesmo até
consideradas como ideologias ultranacionalistas, encontradas impressas em textos
de história que cumprem um papel de protagonista pela construção de uma
consciência histórica sobre o “outro” que nos foi condicionado para o
desenvolvimento de projetos guerrilheiros, alimentos da discórdia e do revanchismo,
da intolerância, da guerra. São atos que podem ser facilmente utilizados por uma
liderança popular.
Juan Samaniego16 analisou textos escolares (SAMANIEGO, 1999), como uma
forma de termômetro do grau de desenvolvimento da identidade de um povo. Ele

16
Sociólogo, Professor Pesquisador da Flacso Equador.
42•

identifica a existência de ideias nacionalistas inseridas em textos que vão gerar a
atitude. Em cima dos resultados ele argumenta que para se consolidar a paz deve
ocorrer uma reforma escolar e de conhecimentos que são ensinados.
Os pedagogos peruanos Malpica e Gonzales, escreveram sobre as “Imagens
Internacionais do Peru e Equador” (MALPICA CARLOS, GONZÁLEZ ALVARO,
1999), relação está existente entre as imagens que se tem uma nação da outra,
atitudes e condutas concretas que conduzem ao fortalecimento e cooperação ou ao
conflito. Mediante pesquisas são determinadas a existência de hostilidades entre os
povos das nações, uma atitude rejeição mutua, fato que será um obstáculo para a
construção da cultura de paz.
Luisa Pinto escreveu sobre: “Os Conteúdos Históricos Escolares e a
Possibilidade da Construção de uma Cultura de paz” (PINTO, 1999), isto porque os
sistemas de educação atribuem ao ensino da história a grande responsabilidade
pela formação da identidade nacional e para que seja possível se consolidar da paz
deve existir sempre uma reflexão sobre as imagens que transmitem os textos
escolares sobre o “outro”, fato importante, pois fomentam o desenvolvimento e a
paz.
David Mares17, no ano de 2012, junto com David Scott Palmer publicou o livro:
“Poder, Instituições e Liderança na Paz e na Guerra. Aprendizagem sobre Peru e
Equador (1995-1998)” (MARES DAVID, SCOTT PALMER, 2012), onde explica como
ocorrem os conflitos interestatais e a importância da existência das instituições na
obtenção de soluções. Posteriormente foi feita uma detalhada análise histórica sobre
o conflito, onde são descritas as decisões presidenciais que foram tomadas, as
pressões sofridas neste contexto, conclui evidenciando a importância da diplomacia
hemisférica, da política de solução e ainda apresenta vários desejos sobre
aprendizagens deixadas por está guerra.
O histórico conflito entre Equador e Peru, também é analisado por Edison
Macías18 em: A Campanha de 1941 e o Pós-Guerra (MACIAS, 2008) , apresentando
detalhes como o nível profissional e medidas de previsão para os dois exércitos
rivais, a organização das unidades e especialmente o detalhe das operações no

17
David Mares Chefe de assuntos Inter americanos da Universidade da Califórnia. Enfoca as relações internacionais da América Latina, a
política energética, política contra as drogas, assuntos civis e militares.
18
Edison Macías militar retirado, historiador dedicado a aprofundar o estudo da história nacional e suas Forças Armadas. Escreveu vários
volumes sobre a História General do Exército.
43•

oriente e o progresso das tropas peruanas, ante a falta de uma organizada
resistência das forças equatorianas.
Dobronski publicou no Boletim da Academia de História Militar: A Campanha
de 1941: Derrota Militar ou Política? (DOBRONSKI, 2015), referindo-se as
negociações do Protocolo do Rio de Janeiro, onde dá ênfase a Fórmula Aranha.
Também expõe claramente a falta de uma visão política equatoriana, que não se
preocupou em desenvolver fronteiras vivas que permitiriam a ocupação estratégica
de fato, evitando assim novos progressos, materializando o abandono do território
amazônico, por estar envolvidos em lutas internas. No Arroyo del Río, o presidente
do Equador em 1940, fortaleceu sua guarda pretoriana por ter suprimida sua guarda
pessoal no Ministério da Defesa, apesar das claras evidências de uma futura
agressão no Peru. Em 1941, o Peru optou pela invasão armada contra o Equador e
assim consolidar as posições obtidas desde 1829 pelo território em disputa. Neste
artigo descreve o avanço pelo oriente da província de El Oro.
O pesquisador peruano Alberto Adrianzén em seu artigo: Peru e Equador:
Inimigos Íntimos (ADRIANZÉN, 1999), apresenta a revolta equatoriana contra o
Protocolo o Rio de Janeiro, de 1942, este protocolo declara que o Peru deve
reconhecer que os problemas com o vizinho são também problemas nacionais e não
resultados internos do país, necessitando então de uma solução global, ampla que
permita a integração entre os dois países.
Posteriormente Macías, escreveu: Antes e depois do Conflito da Cordilheira
do Condor de 1981 (MACIAS, 2008), descreve os incidentes fronteiriços, relatando
os fatos ocorridos, as operações conduzidas, dando maior destaque às operações
do Grupamento Condor, e a sua capacidade de desenvolvimento. Consta também
uma lista dos mortos em combate.
A Academia de História Militar do Equador publicou seu primeiro livro sobre
este assunto com o título: História Militar do Equador, onde o General José Gallardo
escreveu: “De Paquisha a Cenepa” (GALLARDO, 2010), neste artigo realiza uma
viagem muito interessante sobre o posicionamento equatoriano em relação ao
Protocolo do Rio de Janeiro, o conflito da Cordilheira do Condor de 1981, a
instalação do destacamento de Pachacutec em 1991, o conflito do Cenepa, os
resultados da última guerra dando uma explicação do porque não atacaram os
destacamentos peruanos na guerra. Finaliza ressaltando que a vitória militar é uma
façanha do povo equatoriano.
44•

A Academia de História Militar também emitiu Boletins de História de forma
anual, Gallardo publicou: As Forças Armadas do Equador entre 1960-1999,
(GALLARDO, 2014), onde explica como nos anos 30 a instabilidade política gerou
graves problemas internos, razão pela qual as forças armadas não puderam ser
atendidas em suas reivindicações causando a falta de condições pra enfrentar e
impedir o avanço das tropas peruanas que invadiram o país em 1941, para
dominarem a navegação dos cursos de todos os rios que nascem no Equador.
Sobre o conflito de 1941 o texto de Leslie Bethell (2002) em The Cambridge History
of Latin-america (2002), analisa que os melhores recursos militares equatorianos
estavam dedicados à repressão interna.
O General peruano Mercado Jarrin escreve no livro Geopolítica Terceiro
Milênio (1995), aborda os conflitos fronteiriços com o Equador e Peru, onde analisa
os resultados diplomáticos, firmados após as ações militares. O autor aborda a
“estratégia de peça territorial” na que aponta que para se sentar e negociar antes de
um problema de fronteira é conveniente para forçar a contrapartida por uma
ocupação territorial. A partir desta perspectiva uma guerra entre Equador e Peru,
poderia desestabilizar a região, se deve manter as estruturas militares e capacidade
de dissuasão eficaz para o eventual desafio de expandir um vizinho.
A existência do Sistema Fluvial do Rio Cenepa, novamente, foi ignorada no
Protocolo do Rio de Janeiro, por um erro geográfico essencial, este protocolo então
procurou buscar uma solução para o problema existente, devido a negado do Peru a
existência deste sistema de forma sistemática. Em 1995 o enfrentamento militar se
deu na Cordilheira do Condor, ocorreu ao contrário de todos os conflitos anteriores,
quando cessavam os combates às tropas equatorianas conservavam suas posições.
Gallardo manifesta que:
A vitória do Cenepa foi o lógico resultado do esforço de muitas gerações de
oficiais e das tropas das três armas das Forças Armadas, baseadas no
treinamento cotidiano, severa disciplina consciente, de uma hierarquia
racional, cumprimento de ordens em todos os níveis de comando, cultivo de
um espírito de corpo, baseados na vontade de cumprir o dever a custa da
vida (GALLARDO, 2014, p. 223).

É muito interessado na reflexão que se fez sobre a necessidade das Forças


Armadas na defesa da República, como elemento insubstituível do Estado.
No livro “Tiwintsa” Gallardo descreve a ideia operacional das forças armadas
equatorianas que procuraram o desgaste das forças peruanas, “mantendo sua
45•

capacidade operacional, afetando o moral e capacidade militar peruana”
(GALLARDO, 1995). Outro estudo que observa as táticas empregadas em 1995 é o
artigo do norte-americano David Spencer, Peru-Ecuador 1995: the evolution of
military tactics from the conflict of 1981 (2007). Nele o autor apresenta a mudança
das táticas, experiências e os armamentos empregados entre 1981 e 1995,
levantando argumentos do porque o desempenho equatoriano teria sido superior ao
peruano naquele momento.
No ano de 2009 Macías escreveu sobre: A Campanha do Cenepa (MACIAS,
2009) descreve de forma cronológica os detalhes dos eventos suscitados na área de
combate, apresentam também informações dos Iwias, Aturmas, Churubias, Terça
Feira Preta, procura analisar os erros peruanos, a criação da Sexta Região Militar,
os pilares da vitória por quilômetro quadrado do heroísmo em Tiwintza.
O general Juan Francisco Donoso Game, oficial aposentado do Exército
equatoriano, escreveu: O Diário de um combatente em Tiwintza (DONOSO, 1995),
com base na versão de vários combatentes, relata a vivência do Major Edgar
Narváez, comandante da COE-19 “NAPO”, (Papá Oso, no livro Pato Negro), onde
narra as atividades da patrulha, datas, lugares, nomes, eventos e operações que
foram executadas sob seu comando. É uma obra rica em detalhes a nível tático e
operativo, permite conhecer como era o convívio diário dos soldados em campanha.
O texto também permite ter conhecimento sobre o misticismo dos soldados que
estavam em combate, se um grande número de soldados fazia parte do treinamento
em selva ou se eram do comando de paraquedistas da Brigada Pátria. Estas
unidades e as unidades de selva da Brigada 21 Cóndor foram a base dos
Agrupamentos organizados para defender a Cordilheira Amazónica.
O Coronel Luis Hernández, comandou o Agrupamento Miguel Iturralde,
unidade criada pelo Exército equatoriano para defender o vale do Cenepa, escreveu:
A guerra do Cenepa, Diário de um Comandante (HERNANDEZ, 1997). Nesta obra o
autor relata em seu diário detalhadamente as atividades mais relevantes de seu
comando, o dia a dia, as principais operações e as unidades que foram empregadas.
Apresentando toda dinâmica do conflito, mediante a interação permanente com as
unidades subordinadas, sempre com o respaldo do escalão superior.
Este livro salienta a importância da preparação das Forças equatorianas na
utilização do emprego, apoiadas pelo conhecimento do terreno, na organização das
unidades, o emprego coordenado e adequadamente sustentado. Todas as
46•

informações são apresentadas de forma clara, baseadas em fatos e resultados que
são firmados numa detalhada cronologia dos eventos. A transparência das
informações e o cumprimento dos acordos de paz são enfaticamente ressaltados. O
livro dispõe de esboços das operações, listas oficiais dos militares mortos e feridos
durante o conflito do Cenepa.
O coronel peruano Eduardo Fournier, escreveu Tiwinza con Z (1995) onde
narra as ações peruanas ilustrando-as com uma serie de depoimentos curtos de
soldados e oficiais. O abro se apoia também em uma série de mapas e arquivos
gráficos para ilustrar a narrativa dos acontecimentos.
Um livro para entender as questões e decisões do alto comando militar sob o
viés equatoriano de Cenepa é: Antecedentes, o Conflito e a paz (MONCAYO, 2011),
go General Paco Moncayo, que foi comandante do Teatro de Operações do Exército
equatoriano no conflito do Cenepa. Moncayo descreve sobre os antecedentes
históricos do conflito com o Peru, os problemas territoriais dando ênfase ao
Protocolo do Rio de Janeiro, que acabou levando os países a guerra. Expõe
detalhadamente as operações desenvolvidas desde início até o fim das operações
militares, a separação das forças, o longo processo de negociações para se chegar
à paz.
Em 2010 Macías escreveu: Depoimentos para a História, a Vitória do Cenepa
(MACIAS, 2010), onde detalha o conflito bélico, que inclui uma análise histórica e
mostra a evolução do Exército, detalhando os pormenores do conflito sob a ótica dos
soldados equatorianos e apresenta um estudo minucioso sobre as unidades
equatorianas que participaram do conflito, também faz uma breve resenha de sua
participação e da história dessa unidade. Finalmente, conclui com uma breve
biografia de cada um dos soldados equatorianos mortos no Cenepa.
Também Macías publicou um artigo intitulado: Reconhecendo o fracasso
militar do Peru, (MACIAS, 2009), especificamente analisa um documento gerado por
oficiais peruanos, denominado: Os princípios da Guerra, um Estudo do Caso,
executado por oficiais peruanos depois do conflito do Cenepa, que nos leva a
conclusões tais como: “O epilogo de todos isto foi a CCFFAA, apesar de não haver
conseguido o objetivo da missão, que levou ao Governo ao cessar-fogo, mesmo sem
alcançar o êxito almejado”. “A alocação de tropas e de recursos foi um acúmulo de
improvisações que questionam da decisão do CCFFAA, em ter iniciado as
operações militares no momento em que fizeram”. Finalmente, faz-se referência: “as
47•

tremendas perdas impostas a tropa em combate e as aeronaves derrubadas.
(MACIAS, 2009. p 224) O Coronel Iván Borja foi o coordenador do Centro de
Informações durante a guerra em 1995. Uma década depois, 2005, integrou um
grupo de especialistas que escreveram o livro sobre a façanha do Cenepa, o artigo:
Crônicas do Cenepa” (BORJA, 2005) permite compreender como foram organizadas
as Forças Armadas equatorianas no cumprimento de sua missão. Analisa também a
vinculação da instituição armada com a sociedade civil equatoriana, considerada
fundamental para o emprego das Forças Armadas. Conclui expondo as razões e
motivos argumentados pelos militares equatorianos, pelos que alcançaram a vitória
militar no Cenepa.
O presidente d do Equador Sixto Durán Ballén escreveu: Nem um passo atrás
(DURAN, 2005), onde descreve todo o processo sobre o conflito desde os eventos
iniciais até a solução do conflito e o início das conversações em 1996. Neste relato
especifica o momento e a circunstância que surgiu o lema: “nem um passo atrás”,
que se constituiu no slogan de união nacional.
Posteriormente Macías publica: Século XX Evolução de uma Tragédia para se
viver em Paz (MACIAS, 2013), este livro faz uma descrição detalhada sobre as
guerras de 1941, 1981 e a do Cenepa. Inclui informações relacionadas às
evidências da derrota militar peruana, baseada em documentos fornecidos por
oficiais peruanos, onde se fala sobre uma “vitoriosa derrota”.
Santiago Ezpeleta19 publicou: A Guerra entre Equador e Peru no ano de 1995
(EZPELETA, 2010), seguido de uma análise sobre o conflito ressalta que a
intervenção da Missão de Observadores Militares do Equador-Peru (MOMEP), foi
fundamental para que se materializassem os acordos de paz e assim chegar a uma
solução definitiva sobre um conflito centenário.
David Scott Palmer20 divulga o artigo: Peru-Equador Conflito Border:
oportunidades perdidas, Nacionalismo deslocado e Manutenção da Paz Multilateral
(SCOTT, 1997) e cita o conflito como o mais problemático da América devido sua
frequente reativação e esforços para solucioná-lo. Apresenta o procedimento
estabelecido para as operações da MOMEP, as lições que deixou esta missão, os
mapas dos impasses permanecendo dentro dos limites estabelecidos no Protocolo

19
Pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos de Buenos Aires.
20
David Scott Palmer es Professor de Ciências Políticas e Relações Internacionais da Universidade de Boston, publicado artígos sobre
política do Peru.
48•

do Rio de Janeiro, linhas de tempo das hostilidades históricas e outra da guerra do
Cenepa.
A visão da atuação da MOMEP pode ser percebida também por meio dos
relatos dos observadores diretamente envolvidos. O Norte-americano Kevon Higgins
escreve “Military Observer Mission Ecuador Peru” (1998). Onde advoga que as
missões de paz regionais têm vantagens sobre missões multinacionais, e “são mais
eficazes se o suporte é a mobilidade centralizada e disponível e comunicação e
envolvimento dos países em observadora disputa” (HIGGINS, 1997).
Apresentando a organização da MOMEP e a logistíca à cargo das forças
armadas brasileiras esta o artigo do major Nilton José dos Batista Moreno Júnior A
Participação do Brasil no processod e paz Equador-Peru (2005). Uma visão mais
elaborada, com um histórico do conflito, apresentando as perdas territorias do
Equador, os motivos da guerra e o cotidiano das ações da MOMEP é o livro do
Coronel Mauro Barroso, Cenepa: a última guerra Sul-americana (2007).
Em texto recente, El Conflicto del Cenepa: Su camino hacia la Paz, Cristian
Valdivieso (VALDIVIESO 2015), analisa o conflito à partir de sua intensidade e
fatalidade, bem como das negociações entre os países envolvidos e os países
garantes do Protocolo do Rio (1942). Ele fecha trazendo uma visão da atuação da
MOMEP na consolidação da paz.
Posteriormente Scott Palmer escreveu: O Conflito Equador-Peru: O papel dos
fiadores (SCOTT PALMER, 1999), desde Protocolo do Rio de Janeiro ocorreu mais
de 21 confrontações militares neste conflito. Com a intervenção dos fiadores, a
missão MOMEP, estabeleceram-se procedimentos que asseguram a reativação do
conflito, levando a discussões a fim de uma solução definitiva, conseguidas através
de iniciativas diplomáticas múltiplas, tais como: conferências acadêmicas criando um
ambiente para uma solução pacífica.
O livro Tiwintsa de Rafael Padam (1995) aborda a questão indígena sobre
duas óticas: a participação dos indígenas Shuar e Achuar nas unidades
equatorianas que combaterem em 1995; e como fixação dos limites não levou em
consideração as áreas que os povos indígenas já residiam há séculos.
Gabriel Marcella21 apresentou seu estudo sobre: “a Guerra e a Paz no
Amazonas e as Implicações do conflito no vale do Cenepa” (MARCELLA, 2013),

21
Gabriel Marcella es Doctor investigador del Departamento de Seguridad Nacional y Estrategia, del Colegio de Guerra del Ejército de los
Estados Unidos.
49•

onde apresenta uma análise histórica inicial do conflito e as implicações políticas e
estratégicas da guerra. De igual maneira, expõe algumas perspectivas sobre a
resolução do conflito. Este artigo fala sobre os níveis de preparação das tropas para
o encontro, também estabelece o número de baixas e perdas das tropas peruanas.
O ponto de vista das negociações de paz é abordado de forma especifica nas
obras: de NOVAK e NAMIHAS, Perú ecuador: una experiência exitosa de paz y
buena vecindad (2010); e Territorial disputes and their resolution: the case of
Ecuador and Peru (1999) de Beth Simmons.
Paula Lenkanda22 escreveu: “O conflito territorial entre Equador e Peru no Rio
Cenepa (1995): Entre uma Mediação falida e outra bem-sucedida” (LEKANDA,
2009), este artigo foi publicado na Revista Pléyade 23 que realiza uma abordagem
inicial onde evidencia a complexidade do antigo conflito, o que não foi conseguido
pelo Protocolo do Rio de Janeiro, devido ao Cenepa, gerando sentimentos
contraditórios nos dois países. Incorpora ainda, uma análise baseada no conceito de
BATNA’s24, melhores alternativas para a resolução dos conflitos.
Jimmy López no seu livro: Equador-Peru Antagonismo, negociação e
interesses nacionais (LOPEZ, 2014), estabelece claramente a influência que teve os
Estados Unidos na solução do conflito como parte de sua política externa. Apresenta
também uma análise sobre o conflito, baseada nas teorias de relações
internacionais.
Claudia Donoso no seu livro: Equador-Peru: Evolução de uma década de paz
e desenvolvimento (DONOSO, 2009), ressalta a importância da diplomacia dos
acordos internacionais, que procura respeitar a identidade cultural dos povos e seus
Estados, a necessidade da integração fronteiriça como ferramenta de
desenvolvimento e progresso nas condições de segurança.
David Mares apresenta como foi transmitida a informação do conflito a nível
internacional, isto em seu artigo: Uma análise do conteúdo da cobertura dada pelos
mais importantes diários dos Estados Unidos e Reino Unido entre 1994 e 1998
(MARES, 1999), apoiado na resposta de três perguntas relacionadas aos interesses
dos países, os antecedentes do conflito e as possíveis soluções que devem se
considerar a imprensa dos países mais desenvolvidos do mundo, não tratam o

22
Historiadora e Licenciada em Ciências Políticas da Universidade Católica do Chile.
23
Revista do Centro de Análise e Investigação Política do Chile
24 El concepto de Best Alternative to a Negotiated Agreement (BATNA) desenvuelto na Fisher et.al. Batna e a melhor r alternativa para
negociar um acordo,”. E uma orinetção para atoma de desições si se negocia o não um acordo
50•

conflito como importante, este fato nos permite evidenciar a realidade, problemas na
América do Sul são problemas menores, limitado a América e assim podemos
concluir que repetiu o que foi exposto no Wood 1966, para Washington não importa
por onde passe a linha, somente importa que haja um limite. Baseado neste conceito
foi que garantiram o Protocolo do Rio e 50 anos depois segue sem importância para
eles.
Francisco Rojas Aravena25 escreveu: Um Desafio a Segurança Hemisférica
(ROJAS ARAVENA, 1999), fazendo referência a que o conflito deve ser analisado
sob uma ótica baseada no conceito da crise internacional, que “aparece como a
caracterização mais adequada já que possibilita uma melhor compreensão das
diversas etapas que evolui a disputa bilateral onde participam outros atores
extremos, assim como permite organizar respostas projetadas para desativar a
situação de tensão”.
Freddy Rivera26 escreveu: Algumas dimensões prospectivas a ser
considerada para que se materialize a paz (RIVERA, 1999). A análise determina que
devesse levar em conta as dimensões, políticas e os cenários que se apresentam e
a intervenção dos atores, os impactos que geraram a integração com a existência
dos problemas regionais em cada um dos países, a identidade nacional que deve
fortalecer-se com valores como a tolerância e o respeito. Finalmente, recomenda
que se faça uma análise do conceito de soberania e a vigência de seu significado.
Para a historiadora peruana Susana Aldana, em seu artigo: “O norte do Peru
e o sul do Equador” (ALDANA, 1999), existe beligerância social, especialmente nos
lugares onde houve confronto direto. Porém, o principal problema atualmente se
apresenta através de uma agenda conjunta de desenvolvimento, sua
complementariedade de cultura e sociedade, assim como os interesses econômicos
devem ser reconhecidos e assumidos com empenho pelos atores nacionais e locais
para que se obtenha em fim o desenvolvimento regional.
Beth Simmons27 em 1999 no seu livro: Disputas territoriais e sua resolução. O
caso do Equador e do Peru (SIMMONS, 1999), estabelece o método de apoio de um
terceiro ator sobre a resolução do conflito interestatal. Realiza uma análise dos
aspectos históricos aprofundando-se na solução diplomática do conflito, cita como
dado especial que as baixas estão entre 200 e 1500 mortes como produto do
25
Francisco Rojas Aravena eol Direitor da Flacso Chile.
26
Rivera Fredy Sociólogo, Professor pesquisador da Flacso Ecuador
27
Beth Simmons e pesquisadora do Instituto da Paz nos Estados Unidos da América.,
51•

conflito. Comenta ainda sobre os fatores que ajudaram na resolução do conflito.
Conclui enfatizando a importância da presença dos aliados para a resolução do
conflito.
Recentemente a Academia de Guerra do Exército do Equador publicou fontes
primárias relativas a Guerra do Cenepa. Os documentos estão consolidados em
cinco volumes e que se encontram na Biblioteca da Academia de Guerra do Exército
do Equador, como fonte de consulta, (AGFT, 2015), estando os mesmos abertos a
pesquisadores. Cada volume compila um tipo de informação diferente que pode ser
resumida da seguinte forma:

· Volume I – análise do conflito Equador e Peru, Ordens das operações


das unidades de diferentes níveis. Informe final da Campanha do Alto
Cenepa, incluindo anexos, todos os sistemas operacionais e as
unidades empregadas. Informe de feridos e mortos;
· Volume II – Apreciações e Informação final de Inteligência, os Boletins
das Operações e a mobilização efetuada no conflito;
· Volume III – Boletins de inteligência, partes da guerra de todas as
unidades de combate;
· Volume IV – as transcrições de todas as reuniões de Estado-Maior do
Teatro de Guerra de todas as fases do conflito;
· Volume V – Informes das unidades GFE 24, da Escola de Selva, do
Agrupamento Tático Miguel Iturralde, do Agrupamento Tático Carlos
Magno Andrade, lições apreendidas e conclusões.

Embora exista a limitação de estarem disponíveis apenas para consulta in


loco, o fato de já estarem agrupadas diversas fontes primárias facilita o trabalho de
um pesquisador dedicado ao tema. Não existe obra similar no Peru. Esta revisão
tem um limite, não foram levantadas teses e dissertações sobre o tema que não
tenham sido publicadas na forma de livros. Sendo esta uma oportunidade futura.
Acreditamos que qualquer pesquisa sobre o conflito deve iniciar pelas obras
do General Moncayo, Cenepa (2011), e Tiwintsa (2000), organizado por Torres e
que conta com a contribuição de vários autores. Nestas duas obras o leitor pode
tomar contato tanto com a preparação e estratégias políticas, quanto detalhes do
cotidiano do conflito sob a ótica do Equador. Abordando o conflito desde a visão
peruana uma obra fundamental é Cenepa: Mission of Honor, do General Chiabra.
Uma apreciação a partir da perspectiva externa pode ser obtida pelas obras de
observadores internacionais da MOMEP, Barroso (2007) e Higgins (1997). Sendo
52•

que Barroso estava na quando o conflito foi deflagrado e que permaneceu como
membro da missão de internacional.
A visão acadêmica é essencial a leitura dos escritos de David Mares, Scott
Plamer e GabrielMarcella. Sendo que seus texto são citados por outros autores
como referências.
Sabemos que esta revisão não dá conta da totalidade de material produzido
direto e indiretamente sobre o caso do Cenepa em 1995. Todavia acreditamos que
os principais autores e relatos de atores que estiveram em pontos chaves para
explicar das decições político-estrategicas quando do cotidiano da linha de frente
estão aquí relacionados. Desde modo possibilita a um novo pesquisador do tema,
encontrar um conjunto de refências que o levem a compreender a Guerra do
Cenepa sob óticas distintas.
53•

3 CAPÍTULO III – ENTORNO POLÍTICO E MILITAR

3.1 A Situação Política

Em 1994, o Equador foi governado por Sixto Durán Ballen arquiteto que
enfrentou as consequências de uma situação económica complexa. Sixto, de
personalidade calma, mas determinado, e apesar de sua saúde por causa de sua
idade, liderou a defesa nacional com grande entusiasmo e motivação. No Peru, o
presidente Alberto Fujimori estava terminando o seu mandato e buscou a reeleição.
O governo Furimori foi classificado como autoritário por causa de sua decisão de
enfrentar as guerrilhas do Sendero Luminoso, durante os quais a segurança interna
é priorizada, passando ao segundo plano os problemas fronteiriços com o Equador.
(CHIABRA, 1995). A personalidade do presidente Fujimori também foi demonstrada
em várias ocasiões, que geraram confusão especialmente em suas visitas à
Cenepa, que foram considerados provocações por parte da OEA, porque inclumplía
o Acordo Itamaraty. (ROSPIGLIOSI, 1995).
Também é preciso lembrar que o Peru estava às portas de um processo
eleitoral no Fujimori estava buscando a reeleição. Esta informação é confirmada “A
Campanha eleitoral para reeleição do presidente Fujimori no Peru estava em
andamento e o desencadeamento das operações militares serviu para assegurar
sua vitória” (BARROSO, 2007, p. 49).
No Equador, após o retorno à democracia, em 1979, ele aplicou o sistema
de segurança nacional, que permitiu necessidades de defesa por parte dos governos
são suportados apesar das restrições orçamentais. O Objectivo Nacional
Permanente para manter a integridade territorial expressa através do Conceito
Estratégico Nacional e do Objectivo Político Territorial de alcançar uma saída
soberana e contínua ao rio Marañon foi estabelecido. Equador favoreceu a
negociação e Peru, por seu turno argumentou que não havia nenhum problema
territorial com o Equador (MONCAYO, 2011).
No Equador, a possibilidade de enfrentar novamente para o Peru foi
realizada com a unidade nacional expressa maciçamente em concentrações de
apoio para ações do Estado, como poucos antes visto o país inteiro foi mobilizada
motivado pelo slogan "Nem um passo para trás" gerado a partir do Palácio do
Governo, espalhou-se por todos os cantos e gritou muito patriótica naqueles
momentos. As pessoas aceitaram o desafio de sustentar as suas forças armadas em
54•

guerra. Enquanto isso Peru, a atmosfera foi tranquila. O General Barroso expressou
"Ou clima vivido em contraste Quito agitação militar e política, e em Lima era
absolutamente normal e tranquila (BARROSO, 2007, p. 52). Este ambiente de
instabilidade social e económica foi o quadro de fundo para a Guerra do Cenepa.

3.2 Os Militares Equatorianos

3.2.1. Estrutura e capacidades das Forças Armadas

As Forças Armadas do Equador mantém a mesma organização da época do


conflito do Cenepa. Atualmente, as Forças Armadas do Equador tem 40.242
militares. Sendo 24.726 no Exército; 9.127 na Marinha e 6.389 na Aeronáutica.
Estes efetivos são distribuídos no território nacional em cinco Comandos
Operacionais (C.O.) (ver figura 1).

Figura 1 – Comandos Operacionais das Forças Armadas Equatorianas

FONTE: Informe de Rendición de Cuentas de las Fuerzas Armadas (2013), Informe de Gestión de las
Fuerzas Armadas (2013) y pagina web COMACO Ecuador.

Sua missão fundamental está descrita no artigo 158 da Constituição da


República do Equador, que é a defesa da soberania e da integridade territorial
(DONADIO, 2014).
55•

Art. 158.- As Forças Armadas e da Polícia Nacional são instituições de


proteção dos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos. As Forças
Armadas têm a missão fundamental de defender a soberania e a
integridade territorial. A proteção interna e manutenção da ordem pública
são funções do Estado privativas de liberdade e responsabilidade da Polícia
Nacional. Os funcionários e agentes das Forças Armadas e da Polícia
Nacional serão formados sob as bases da democracia e dos direitos
humanos, e respeitar a dignidade e os direitos das pessoas, sem
discriminação e com estrita observância à lei (CF-2008).

A subordinação ao poder civil está determinada no artigo 159 da Constituição.


No Equador o Ministério Coordenador de Segurança e o Ministério da Defesa (MD) é
o órgão político que emitem diretrizes para as Forças Armadas. O Ministério da
Defesa é responsável pela execução da política de defesa estabelecida na Agenda
Política de Defesa Nacional28. O MD tem ligação direta com o Comando Conjunto
das Forças Armadas do Equador (CC.FF.AA.)29, que é responsável pela formação e
preparação de tropas das três Forças. É o CC.FF.AA que conduz as operações em
caso de emprego das FFAA.

3.2.2 Estrutura do Exército

As origens do Exército do Equador remontam à Falange do Quito, a unidade


criada durante a primeira tentativa de independência em 10 de agosto de 1809. Mais
tarde, ele participou nas campanhas de libertação em Pichincha (1822) e em Tarqui
(1829), permitindo o estabelecimento do Estado do Equador, em 1830.
O conflito entre Equador e Peru foi o último ocorrido na América do Sul tem
grande importância por interferir diretamente nas relações e na soberania dos dois
países, e na própria estabilidade do subcontinente. A paz serviu de base para se
projetar o desenvolvimento nacional e restabelecer as relações bilaterais. No campo
militar, as lições aprendidas com a invasão de 1941 e o ataque de 1981, levaram as
Forças Armadas Equatorianas, em especial o Exército, a projetarem uma
transformação institucional, renovando sua organização, estrutura, meios, doutrina,
educação e treinamento. Como fala (MONCAYO, 2011), a partir da década de 70, e
após a guerra de 1981, 1995 impulsionou uma série de mudanças visando preparo
de uma Força Armada profissional e pronta para enfrentar o século XXI que foi
efetivada e confirmada pelo (MACIAS, 2009), (GALLARDO, 1995). No Cenepa
28
Está en vigor a Agenda Política da Defensa (2014-2017).
29
O Comandante do CCFFAA é um militar da ativa, da mais alta classificação nas Forças Armadas do Equador.
56•

Equador combateu com uma força treinada, constituída por Unidades Especiais,
com soldados profissionais, em sua maioria com treinamento ou estágios em
Escolas de Selva mostrou que as Forças Armadas que se reinventaram.
(HERNANDEZ, 1997)

Atualmente o Exército é composto por 24.000 militares. À época do conflito


do Cenepa o Exército Equatoriano dispunha um número semelhante em serviço
ativo, mas foram mobilizados um total de 6000 militares. A mobilização deste
demonstra estado de alerta em que a nação foi colocada mediante o conflito.
Atualmente, o Exército do Equador como parte do Comando Conjunto tem a
seguinte divisão territorial:

Quadro 3 Divisão Territorial dos Comandos Operacionais


Comando Setor Brigadas
Operacional
C.O 1 “Norte” Esmeraldas, Sucumbíos, Napo, 17 B.S “PASTAZA”
Carchi, Imbabura, 19 B.S “NAPO”
23 B.I “ANDES”
C.O 2 “Marítimo” Guayas, Manabí, Los Ríos, 5 B.I “GUAYAS”
Galápagos
C.O 3 “Sur” El Oro, Loja, Azuay, Morona 1 B.I “EL ORO”
Santiago, Zamora Chinchipe. 7 B.I “LOJA”
21 B.S “CONDOR”
C.O 4 “Central” Pichincha, Cotopaxi, Chimborazo, 9 B.F.E “PATRIA”
Tungurahua, 11 B.C.B. “GALAPAGOS”
13 B.I “PICHINCHA”
15 B.A.E “CENEPA”
C.O 5 “Aéreo” Todo o espaço aéreo nacional,
continental e insular.
FONTE: (DONADIO, 2014)

Esta divisão não se articula com a clássica separação das regiões naturais
do Equador (ver figura 2), mas está conectada com as dinâmicas das fronteiras e
desafios à segurança e defesa de cada uma delas. Como, por exemplo, CO1-Norte,
que ocupa toda a fronteira com a Colômbia e parte da fronteira com o Peru, estando
responsável pelo combate as ações das Forças Armadas Revolucionais da
Colômbia (FARC), e opera 3 diferentes regiões naturais: Costa, Andes e Amazônia.

Figura 2 – Divisão política admirativa do Equador


57•

FONTE: Instituto Geográfico Militar IGM Equador

A área em destaque na figura 2 está sob a responsabilidade do Comando


Operacional No 3 TARQUI (CO3 SUR), a grande unidade de frente para no conflito
do Cenepa. A subunidade orgânica neste Comando Operacional se agregou o
Grupo de Forças Especiais No 26 e progressivamente as unidades da Brigada No 9
“PATRIA’, para formar as Forças de Tarefa empregadas no conflito. A Guerra
concentrou-se no Valle do Cenepa, “Nenhum dos lados queria que o conflito para
escalar fora dos limites do Cenepa, mas não queria abandonar as suas posições”.
(HIGGINS, 1997, p. 7). Equador preparou as unidades para a defesa do território
nacional. As primeiras unidades utilizadas foram a Brigada de Selva No 21
“CONDOR” com base no Patuca, e o Grupo das Forças Especiais No 26 com base
no Quevedo. Acordo com Hernandez (1997), eles reforçaram as posições desde
dezembro 1994.

3.3 O Ambiente do Conflito e o Treinamento

O Equador está dividido em 3 grandes regiões territorial (a Costa, os Andes


e a Amazônia) mais as ilhas Galápagos A região amazónica corresponde a uma
58•

área de 120.000 km2, o que constitui cerca de 50% do território nacional. A
vegetação é formada por florestas tropicais húmidas e servida de um bom sistema
hidrográfico. Pelos rios Santiago, Pastaza e Napo se atinge o território peruano e o
Brasil (rio Marañon/Solimões). Sendo um corredor de logístico para exportação.
Nesta região vivem cerca de 750.000 milhões de habitantes, distribuídos em seis
províncias (Morona-Santiago, Napo, Pastaza, Zamora-Chinchipe, Sucumbíos,
Orellana).
Tal como ocorre em outros países a região da Amazônia equatoriana “É uma
área rica em recursos naturais, com depósitos minerais metálicos de ouro, prata,
zinco, cobre, chumbo, e até mesmo de urânio, dos quais apenas o ouro é explorada
na Cordilheira do Condor, nas minas Nambija, Chinapintza e Guasimi. Nesta região,
o óleo é explorada desde 1967” (MDN, 1992, p. 153). Desta forma, os recursos
naturais explorados, ou não na região representam parte importante parcela do
produto interno bruto do estado equatoriano, e uma reserva futura.
A falta de limites definidos tem sido uma das causas de conflitos históricos
entre Equador e Peru. Os conflitos recentes concentraram-se no sopé da Cordilheira
do Condor, uma fronteira mal delimitada no Vale do Rio Cenepa. Esta é uma área de
selve com características especiais pelo seu relevo, vegetação, hidrografia e clima,
exigem um cuidado militar especial no emprego de forças, focalizado principalmente
na formação e experiência das tropas ali empregadas. "Nas imediações dos vales,
limitado por escarpas com declives contamina que a maioria está acima de 50%.
Alguns desses pequenos vales permanecem pantanosos durante todo o ano"
(FOURNIER, 1995, p. 50). Os Exércitos equatoriano e brasileiro entendem que
devido às características naturais e climáticas da região:

Formação visa treinar tropas para mover através do campo, dando-lhes


confiança em seus conhecimentos para o combate e produzir homens de
grande iniciativa, capazes de utilizar todos os recursos, considerando a
floresta como um aliado (EXÉRCITO, 2005, p. 180).

No caso do Brasil:

Estas operações na selva têm um impacto direto sobre o combatente, sua


equipe e sua mobilidade. Ao conduzir operações em ambiente selvático
acaba por gerar um grande desgaste físico, estão condicionados às
condições climáticas e a umidade exige um processo de adaptação, um
duro treinamento que irá permitir alcançar um elevado nível de eficiência ao
combate (EXÉRCITO, 1997, p. 9).
59•

Essa experiência e formação no ambiente de selva é um diferencial
significativo do poder relativo de combate. O Equador tem dois centros de
treinamento em Selva, que são a Escola de Selva e Contrainsurgência do Exército
(ESCIFT), e a escola de IWIAS.
A ESCIFT com sede en Porto Francisco de Orellana (El Coca), onde os
cursos de TIGRES e SELVA são feitos, que são cursos de promoção obrigatórios
para os oficiais e voluntários no posto de segundo-tenente e um soldado. Ou curso
tem duração de três meses e forma em torno de 100 oficiais, e 200 praças por ano.
Escola Iwias, tem sede em Shell Mera (Puyo), lugar onde os soldados
nativos do exército treinam. Os IWIAS são índios das comunidades Shuar e Ashuar
região das províncias de Morona Santiago e Zamora Chinchipe incorporados ao
Exército para servirem em sua maioria nos Batalhões de Selva e Batalhões de
Operações Especiais No 54 y No 43. Por serem nativos da região amazônica, eles
possuem uma vasta experiência na utilização dos cursos de água; das da fauna e
flora; dos caminhos terrestres e fluviais utilizados para seus movimentos e
sobrevivência. Além de combaterem em suas unidades, membros destas etnias já
retirados das Forças Armadas foram convocados durante a Guerra do Cenepa e
utilizados como guias das tropas regulares.

3.4 Influência da Formação no Estrangeiro

A capacitação de oficiais no exterior foi uma realidade do Exército


Equatoriano desde 1950. Estados Unidos, Brasil, Colômbia, Chile são alguns dos
países que receberam oficiais equatorianos. A criação do curso de Tigres e IWIAS
está ligada a estes intercâmbios e aos egressos de cursos no exterior que o
fundaram.
A partir de 1951, vários oficiais são indicados para realizarem cursos de
capacitação no exterior, “especialmente no Brasil, Curso de Aperfeiçoamento de
Oficiais, na ESAO, em Realengo. O Curso da ECEME, onde os primeiros alunos
participaram a partir de 1955; O Curso da CIGS, em 1977, tendo como primeiro
aluno indicado o Ten Cel Eduardo Patrício Haro Ayerve, destacado oficial
equatoriano, atual acadêmico do país” (MACIAS, 2013, p. 229).
Os oficiais e voluntários do Equador realizaram cursos e receberam
assessoramento dos oficiais estrangeiros, para incorporar novos conhecimentos as
60•

Escolas de Formação e Aperfeiçoamento Especialização. Parte deste efetivo ajudou
posteriormente na criação da Escola de Selva, através da Ordem Geral do Exército
número 136, de 3 de agosto de 198130, em atenção a necessidade de capacitar o
pessoal para combater em selva.
A Escola de Selva teve sua base inicialmente em Montalvo (Província de
Pastaza). Em 1982 mudou-se para o Porto Francisco de Orellana, em Coca, onde
desenvolve e consolida suas atividades e sua base de treinamento atualmente.
Nesta escola são ofertados os cursos de TIGRES, JAGUAR e SELVA. Sendo que o
curso Tigres é um curso obrigatório parta a promoção de subtenente a tenentes, e o
curso SELVA é obrigatório, como parte para a promoção de voluntários a soldados e
cabos. Adicionalmente a “fase selva” também é dirigida a cadete das Escolas
Militares e a aspirante a soldados, durante três semanas (ESCIFT, 2010, p. 7).
Complementarmente é importante analisar a unidade de nativos chamada
“IWIAS”, origem da Brigada N° 17, Pastaza, em Shell Mera. Onde inspiram os
primeiros cursos a grupos de soldados nativos na região para que se
complementassem os organismos das Unidades à frente. Esta unidade em 1992
passa a ser então a Escola de Formação e Aperfeiçoamento de Nativos do Exército
(EFYPNE). Estes nativos indígenas se juntaram ao exército para "defender seus
territórios ancestrais para a vida e para a direita histórica ter pertencido a eles”
(PANDAM, 1995). As comunidades Shuar e Ashuar têm características especiais
que lhes permitam adaptar-se rapidamente às operações militares.
Durante o conflito do Alto Cenepa a Unidade de Reservistas Nativos,
chamada de Companhia “ARUTAM”, foi mobilizada se engajando em combates onde
teve destaque. Esta participação será analisada de forma mais profunda.
Também analisaremos a participação do Grupamento Tático Miguel Iturralde
(AGMI), Grupamento Tático Carlomagno Andrade (AGCA), Grupamento Tático Eloy
Alfaro (AGEA), y das Unidades que das Forças Especiais no conflito, GFE 24, GFE
25, GFE 26, GFE 27, GEO, COE 19, COE 21, e Batalhões de Selva No 43, 47,
Escola de Selva, ESFORSE, procurando evidenciar que as unidades empregadas
eram fundamentalmente de militares profissionais.
O general Oswaldo Jarrin (ex-ministro de Defesa do Equador), responsável
pela elaboração do Livro Branco de Defesa do Equador, apresentado em 2006, co-

30
OG N° 136, de 3 ago 1981, assinado pelo General – Comandante Geral Medardo Salazar Navas.
61•

menta:
Para que um país tenha Forças Armadas profissionais, significa não
somente que tenha obtido uma alta competência militar de combate como a
Guerra do Cenepa demonstrou, com a condução de operações conjuntas
nas que oficiais, tropa, reservas treinadas como os Arutam, uma das mais
mobilizadas e que, empregando civis, esses responderam com heroísmo a
decisão política da soberania nacional (JARRÍN, 2014).

Os soldados nativos são uma parte importante das unidades na Amazônia e


eles permitem potenciar as capacidades das unidades que alimentam com sua
contribuição. “Eles têm grande conhecimento da vida na selva, sobrevivendo a
alimentação de seus recursos; Eles são tropas específicas de apoio à outros
soldados que executam suas tarefas e missões especiais” (MACIAS, 2009, p. 93).
62•

4 CAPÍTULO IV – ANÁLISES

Para que possamos analisar a efetividade militar vamos nos apoiar na


teoria desenvolvida por Risa Brooks, uma pesquisadora de Ciências Políticas da
Universidade de Marquette, em San Diego, nos Estados Unidos. Ela elaborou um
estudo profundo sobre o impacto da cultura, da sociedade, das instituições e Forças
internacionais sobre este tema, que foi publicado no livro Creating Military Power, em
2007.
O Manual de Estratégia Geral do Exército Equatoriano estabelece que o
Poder do Estado deve ser expresso através de seus componentes político,
econômico, psicossocial e militar (Exército, 2010, p. 40). Para Brooks a Expressão
do Poder Militar se reforça pelo emprego de recursos básicos, tais como: o PIB, a
tecnologia disponível, a base industrial do país e o capital humano. “A efetividade
militar vem a ser a capacidade de criar Poder Militar a partir dos recursos, da
riqueza, tecnologia, o índice populacional e o capital humano” (Brooks, 2007, p. 9).
O modelo teórico da Efetividade Militar de Brooks se evidencia de acordo
com os seguintes atributos: “Integração, Resposta, Destreza e Qualidade”, que
devem ser características do efetivo militar. Para ela: “os Estados em que os
soldados demonstram claramente estes atributos vão permitir um melhor uso dos
recursos que irão evidenciar o Poder Militar” (Brooks, 2007, p. 10).
As informações apresentadas neste estudo estão baseadas no modelo
teórico de Brooks aplicado para a Guerra do Cenepa. A pesquisa e complementada
com uma comparação das variáveis que estão relacionadas aos princípios da
Guerra e que foram aplicados pelo Equador e Peru, consagrados historicamente e
que é fundamental para o êxito e/ou fracasso no campo de batalha. A incorporação
destas variáveis a esta análise complementa o estudo envolvendo a estratégia e o
ambiente operacional, especificamente na selva Amazônica. Somados aos oitos
princípios de guerra empregados pela doutrina equatoriana e peruana, incorporar-se
uma análise sobre cinco novos princípios que estão incluídos na doutrina brasileira e
que vão ampliar a análise sobre desta informação que está disponível juntamente
com outras óticas e variáveis, tais como: Manobra, Prontidão, Legitimidade, Moral e
Exploração.
63•

As variáveis da efetividade militar, os tipos de indicadores e as fontes
onde as informações foram coletadas para alimentar as análises estão apresentadas
no quadro 1.

Quadro 4 – Variáveis da Efetividade Militar


Atributos da Indicadores de Brooks Fontes para alimentar os
efetividade Indicadores
- Integração dos Objetivos Políticos,
Estratégicos e Táticos. - Ordens de Operações por nível.
Integração - Integração do treinamento dos Conceitos de Operação.
conceitos operacionais. - Ordens logísticas.
- Apoio logístico, sistema e planos.
- Executar as atividades, com
- Criação dos Agrupamentos
capacidades estatais, considerando
Táticos.
os adversários e o meio externo.
Resposta - Táticas Especiais de Combate
- Aproveitar as fraquezas do inimigo.
em Selva.
- Possuir processos de avaliação
- Resultados das Operações.
internos.
- Assimilação fluente de tecnologia.
- Preparação das Tropas e
- Motivação dos soldados e das
técnicas.
Destreza unidades.
- Integração dos Sistemas
Sincronização da execução das
Operativos no campo de batalha.
operações.
- Natureza das armas empregadas.
- Uso de armamento moderno.
- Habilidade para minimizar as
Qualidade Equipe e tecnologia BM-21, AA,
deficiências na mobilidade, potência
Visão noturna, minas.
de fogo etc.
FONTE: Elaborado pelo pesquisador, baseado em Brooks, 2007; Brasil. Manual da AGFT.

No Quadro nº 1 identificou-se os atributos concebidos pelo modelo de


Brooks, os indicadores obtidos a partir de bibliografia com fontes primárias e
secundárias sobre a Guerra do Cenepa. Somado a isto, se incorpora os princípios
da guerra que estão alinhados a cada atributo em que demonstram o emprego das
operações militares. Devemos compreender que os princípios da guerra não estão
focados em único atributo, participam mais de um, mas sim, deve ser considerado o
que mais se evidenciou durante o processo. Esta informação permitirá identificar a
observância dos atributos e assim determinar a efetividade dos militares.

4.1 Atributos da Efetividade

Em seguida, apresentaremos uma análise de cada atributo, o


cumprimento dos indicadores e dos princípios da guerra que evidenciam a
efetividade dos soldados.
64•

4.1.1 Integração

O atributo Integração verifica “a coordenação e a integração entre os


diferentes níveis – político, estratégico e tático” (Brooks, 2007, p. 16), e é avaliado
através da constatação do uso efetivo da cadeia de comando, mantendo um fluxo de
disposições e resultados, garantindo que a visão do nível estratégico chegue ao
nível tático e alcance o estado final desejado para os diferentes níveis tático,
operativo e estratégico.
Quando neste estudo se deflagra a iminente ameaça na fronteira sul, em
1995, é declarado “Estado de Emergência”, entra em vigência o Plano de Defesa
Nacional sendo formando imediatamente o Teatro de Operações Terrestres (TOT),
que passa a atribuir responsabilidade territorial, denominando assim comandante e
membros do Estado-Maior. Posteriormente organizam-se as Unidades e são
designados os comandantes e os meios, apoiado pelas Unidades da Brigada de
Selva Nº 21 “Condor”, este processo dá origem ao Plano de Campanha Soberania I,
tendo como atribuição a defesa do território nacional (AGFT, 2015, p. 131).
A estruturação e vigência de um Comando e de um Estado-Maior de TOT
simplificaram o planejamento e a condução da Campanha, agilizando com sua
presença na zona de conflito uma atenção a pedidos urgentes de recursos
logísticos, de unidades para reforço, unidades de apoio, que devam condições de
executar ações oportunas e assim neutralizar os inimigos.
As ordens de operações foram elaboradas e distribuídas em diferentes
níveis, pois as Unidades do Teatro de Operações dispunham de uma boa cadeia de
comando e de meios para exercer o controle fundamental de suas funções
correspondentes. Um exemplo claro disso foi a operações de relevo que foram
executadas entre 7 e 11 de fevereiro, quando o Grupo de Forças Especiais No 26 foi
substituído pelo Grupo de Forças Especiais No 25, e pela Escola de Selva. “É muito
difícil para executar operações em planícies fase de relé, montanhas ou deserto;
exige planos completos e pormenorizados, coordenados entre as unidades que
entram e saem. Se isso é difícil nestes cenários, fazem na selva foi um desafio que
teve de enfrentar” (MONCAYO, 2011, p 149)
Todo o conceito operacional equatoriano se baseou no desgaste sofrido
pelas forças peruanas, que por esse motivo teve sua moral e sua capacidade militar
afetada, com isso a força equatoriana pode manter boa capacidade operativa
65•

(GALLARDO, 2010, p. 335). O Comandante do TO aprovou o Comandante do
Agrupamiento Tactico Miguel Iturralde (ATMI) Ten Cel Luis Hernández que ficou
responsável pelas bases clandestinas mantendo a flexibilidade necessária para a
operação (HERNANDEZ, 1997, p. 33).
No relatório final sobre as Operações da Campanha do Alto Cenepa,
foram incorporadas como anexos: Ordens de Operações e Diretrizes, elaboradas
pela Campanha do Cenepa envolvendo o Equador. Entre outras se incluem:

- Plano de Campanha Soberania I do TOT;


- Plano de Operações CONDOR III da 21 BS “CONDOR” 15-dic-1994;
- Organização da Campanha. Reestruturação do TOT;
- Ordem de Operações nº 1 de 4 fev 1995;
- Ordem de Operações “OMEGA” de 16 fev 1995;
- Ordem de Operações Fragmentada “CENEPA” de 22 fev 1995;
- Ordem de Operações nº1, de 23 fev 1995;
- Plano de Operações “PRECAUÇÃO”, de 1º mar 1995;
- Plano de Operações Desconfiança, da 21 BS “CONDOR”;
- Ordem de Operações nº 02-95 para a Separação de Forças da ZOSE;
- Plano de Retorno das Unidades do TOT;
- Plano MOMEP (AGFT, 2015, p. 131-407).

Por outro lado, as tropas peruanas do General Lopez Trigoso não


estavam preparadas para o combate. Eles não contavam com os planos
empregados “aqui não há nada”, relacionada com a atualização da situação ao
plano de operações (CHIABRA, 1995, p. 57). “Aqui nesta fase não formulamos
documentos”, foi o que afirmou o General López ao ser perguntado pelos planos
(CHIABRA, 1995, p. 58), pois a base de abastecimento mais próxima estava cerca
de oito horas de vôo da zona de conflito e a maior parte das tropas aquarteladas era
constituída de soldados conscritos e a maioria das unidades era administrativa
(CANO, 2016, p. 47).
No que diz respeito ao abastecimento logístico é importante destacar que
o tamanho e a forma do Equador, a curta distância entre as áreas do conflito, e as
instalações logísticas, centros de apoio, zonas de produção, facilitaram o apoio
logístico que permitiu manter o dimensionamento e a eficiência do combate. Além
66•

disto, a existência de estradas na área de conflito, que foram utilizadas para o
movimento das tropas e meios logísticos, foi um diferencial “Os equatorianos tinham
linhas de comunicação e de abastecimento curtas e seguras e desfrutavam de maior
número de munições e alimentos” (Spencer, 1998, p. 149).
Em relação à logística peruana o artigo “Dolorosa Verdade”, publicado na
Revista Caretas, do Peru, cita o seguinte:
É verdade, nossos homens passaram fome, porque não tinha rações
suficientes; porque as pessoas responsáveis pelo transporte eram
emboscadas; porque nos infiltramos no terreno ocupado pelo inimigo, com
isso nossas tropas foram isoladas, em fim, porque não tínhamos
helicópteros para levar as rações; o Presidente e os jornalistas utilizaram
em várias ocasiões três destes precários helicópteros, cada vez que vinham
fazer seu show (VALENZUELA, 1995).

Esta informação foi confirmada pelo General Chiabra ao expressar que


“se alongou o eixo de abastecimento dificultando o apoio das Unidades e a
evacuação de feridos” (CHIABRA, 1995. p._).
De acordo com os relatos existiam problemas logísticos no lado peruano.
Esses problemas que marcariam a diferença quanto ao abastecimento eficiente de
todas as classes de material e equipes de combate, assim como também na
evacuação de feridos.
O atributo de integração, em conclusão, se estabeleceu de forma efetiva, por
meio do estabelecimento do posto de Comando do TOT, das linhas de
comunicações e das vias de abastecimento. O Equador explorou sua vantagem no
preparo da organização para a defesa e na infraestrutura já instalada de estradas,
que assegurou a execução da tarefa no prazo determinado, quando os esforços
foram realizados.

4.1.2 A resposta

O atributo Resposta “é a capacidade de ajustar as atividades militares em


base as capacidades adversárias e o ambiente externo” (BROOKS, 2007, p. 11).
O poder de uma Nação em termos militares depende também da qualidade
de homens e armas disponíveis, de sua distribuição entre os vários ramos
do estabelecimento militar (MORGENTHAU 2003, p. 242).

Os conceitos aplicados identificam a importância do treinamento no uso do


material pela consecução dos objetivos planejados. Devemos considerar também
67•

que o cenário de operações demanda uma preparação especial tanto como técnico
profissional, física e mental para se poder enfrentar os desafios da guerra na selva.
Os equatorianos usaram Grupamentos Táticos, cuja flexibilidade permitiu a
integração dos sistemas operativos no campo de batalha. A base destes
Grupamentos Táticos foram as Brigadas de Selva do setor, as Forças Especiais,
apoiados pela Artilharia, Engenharia e a aviação do Exército.
De igual forma se ordenou a aplicação de táticas especiais de selva para se
obter uma vantagem sobre o inimigo, e assim explorar suas fraquezas e
potencializar o efeito das operações (HERNANDEZ, 1997).

4.1.2.1 Técnicas e táticas de combate usadas

As Técnicas e Táticas de Combate estão relacionadas com as


capacidades das tropas adquiridas por meio de seu emprego no combate. A
resposta especialmente nas escaramuças, no caso do conflito do Cenepa o
ambiente é selvático precisam de reações instintivas, rápidas e violentas.
As Forças equatorianas possuíam treinamento em táticas de combate na
selva, estando por isso preparadas para operarem na região do conflito. As forças
peruanas possuíam experiência de combate de contra-insurgência, devido aos anos
combatendo o grupo Sendero Luminoso, mas não tinham cursos específicos para
operações em selva naquele período. Este fato que ocasionou problemas para as
tropas peruanas, pois os equatorianos efetuavam ataques e emboscadas surpresas,
defendiam temporariamente as posições, permitindo que se infiltrassem e assim
conseguissem conduzir os peruanos para armadilhas. Estas áreas estavam sob fogo
cerrado obrigando que fossem abandonadas e novamente mais tarde fosse
ocupadas (SPENCER, 1998, p. 149). Os peruanos entraram no conflito com a
mesma mentalidade do conflito anterior, pois eles assumiram que poderiam entrar
com um helicóptero em posições estratégicas e obter o sucesso alcançado em 1981,
apoiado por uma operação aérea sem muitos meios e em pouco tempo. “Mas,
receberam um forte golpe”. (SPENCER, 1998, p. 150)
O Equador posicionou uma bateria de lançadores de foguetes BM-21, na
Cordilheira do Cóndor. Para isso o Batalhão de Engenheiros No 68 “Cotopaxi”,
construiu em 4 de fevereiro, uma estrada de acesso, com 12 km em 8 dias,
permitindo ao comandante do T.O. um desequilíbrio na potência de combate. O que
68•

afetou principalmente a concentração e o abastecimento das tropas peruanas. A
defesa antiaérea equatoriana estava armada com mísseis “Igla” e posicionada nos
principais corredores aéreos.
A preparação técnica (adestramento) e eficiência tática proporcionada
pelo equipamento ficaram evidentes coma derrubada de 4 helicópteros peruanos. O
intuito de negar o acesso a área de aeronaves de asas rotativas foi alcançado. Essa
havia sido uma aprendizagem com os erros cometidos no conflito passado.
As Forças equatorianas assumiram uma “atitude defensiva e isto não foi
obstáculo para que também atuassem ofensivamente no aconselhamento diante de
situação diplomática ou militar” (GALLARDO, 1995, p. 28). “As operações mais
importantes se desenvolveram na Base Norte, Cueva de Los Tayos, Base Sul, La Y
e Tiwintza” (CHIABRA, 1995, p. 17).

4.1.3 A Destreza

O atributo destreza se evidencia através de uma assimilação advinda da


tecnologia pela motivação e competência básica dos soldados e das unidades, da
sincronização na execução das operações. Para Brooks a “destreza é medida pelo
pessoal militar e suas unidades, baseado na capacidade de cumprirem ordens e
alcançarem os objetivos” (BROOKS, 2007, p.12).
Pelo que já foi exposto anteriormente pelos autores evidenciou a
necessidade do treinamento principalmente quando for para combater em ambientes
especiais, como é caso da selva. O resultado das operações e sua relação com as
baixa e feridos serão analisados em seguida.

4.1.3.1 Forças empregadas no Conflito do Cenepa

As Forças são o elemento mais dinâmico da condução operativa. O


Equador no início do conflito declarou estado de emergência e deu origem a
Mobilização Nacional. Já no Peru a realidade foi outra, inicialmente empregou só as
unidades permanentes no setor norte do país, com o tempo sua percepção do
conflito mudou e então passou a mobilizar várias unidades do interior do país,
principalmente as unidades especiais e combate contra a subversão, do exército e
da marinha.
69•

O Equador ocupou o dispositivo de guerra em toda a fronteira, quando ativou todos
os Teatros de Operações. A Zona de Operações Sul Leste (ZOSE), cobriu a área do
Cenepa resguardada pela unidade histórica sob responsabilidade da 21 Brigada de
Selva “Cóndor” e suas subunidades do Batalhão de Selva-61 (BS-61), BS-62 e BS-
63; e assim enfrentar a ameaça baseada na Unidades Orgânicas da 21 BS, que
formaram os Forças de Tarefa (Agrupamento Táctico Miguel Iturralde ATMI, e
Agrupamento Táctico Carlomagno Andrade ATCA) incorporando unidades das
Forças Especiais. O Peru inicialmente empregou as Unidades Orgânicas da Quinta
Divisão de Infantaria de Selva (V DIS) e com a progressão das operações
incorporou-se aos Batalhões Contra subversivos (BCS), Batalhões de Comandos
(BC), e Companhia Especial Comandos (CEC), que mobilizaram o interior do país e
assim incorporarem as operações.

Quadro 5 - Unidades militares empregadas no conflito do CENEPA*


EQUADOR PERU
21 Brigada de Selva 5 Divisão de Infantaria de Selva
- BS-61 "SANTIAGO"
- BS-62 "ZAMORA"
- BS-51 "PUTUMAYO" Regimento de Cavalaria blindada 113
- CIA. "PITIUR" 25 BIS
- GFE-24 85 BIS
- GFE-25 16 CS
- COE 5 COE 17. COE 19 28 BCS
- ESICIFT-19 30 BCS
- BFE "ALFARO" 32 BCS
- CIA. Reservistas 314 BCS
- SECCION ARUTAM 39 BIP
- FF.RR. 61 BIP
A.T."Miguel Iturralde" BATERIA de Paraquedista Bravo
. BS-63 "GUALAQUIZA" 5 B Porters
. GFE-26 19 BC
. EAE-21 115 CE Comandos
. CT-21 (-) Comandos Navais
. COE-21 31 Batalhão de Infantaria de Marinha
. CES-21 32 Batalhão de Infantaria de Marinha
. CIA. Reservistas Operadores de misseis antiaéreos
A.T."Carlomagno Andrade"
. BS-63 "GUALAQUIZA" (-)
. GFE-27 (-)
. BIA. IGLA
. CIA. Reservistas
FONTE: Informe final de missão, (AGFT, 2015, p. 474) (SPENCER, 1998, p. 146).
* Estas unidades correspondiam a 5.552 militares equatorianos e estimava-se que 8.000
peruanos, sendo em média uma relação de 1,4 peruano para cada equatoriano.
70•

Como podemos ver no quadro 5 Equador a criação de Forças Tarefa,
estabeleceu três grandes unidades subordinados ao comandante do Teatro de
Operações. Unidades autossuficientes com todos os elementos de manobrar de
forma independente. Por seu lado as tropas peruanas da V DS foram incorporadas
às forças improvisadas, criando desorganização no emprego.

4.1.3.2 Preparação das tropas

A Preparação das tropas faz parte da habilidade, é a preparação das unidades que
lhe permite atender e missões de combate em ambientes exigentes.
Em geral os soldados peruanos possuíam qualidade superior aos soldados
equatorianos, o fracasso ocorreu não por falta de treinamento, mas sim por
falta de experiência. A maioria dos oficias e muitos da tropa peruana já
haviam estado em combate com as guerrilhas do MRTA - o Sendero
Luminoso, muitas vezes em terrenos similares a do conflito. (SPENCER,
1998, p. 149)

A experiência de combate real é importante, pois que incrementa a capacidade de


uma unidade na medida em que seus membros já passam a conhecer a batalha
verdadeiramente como ela é.
O Quadro 6 os cursos que ambos exércitos dispunham na época da
guerra do Cenepa. Podemos verificar que três tipos de especialidades
(treinamentos): Selva, contra guerrilhas; e operações espaciais (nas quais se
incluem os paraquedistas)

Quadro 6 - Comparativo de cursos nos exércitos equatoriano e peruano


Especialidade Equador Peru

Selva Tigres 12 semanas Contra insurgência 12 semanas

Contra Selva, 7 semanas


guerrilhas
Jaguar 4 semanas

Iwias

Operações Comando 20 semanas Comando 20 semanas*


Especiais
Paraquedismo 5 semanas Paraquedismo 5 semanas

Pumas 20 semanas

FONTE: CGFT 2016. * Atualmente duração 9 meses


71•

Os cursos apresentados no Quadro 6 tem características distintas. No
Equador, há cursos de Forças Especiais como Comando e Pumas para oficiais e
praças, a contraparte no Peru e o de Comando. Mais no Equador o curso de Tigres
e um curso de especialização em selva voltado para oficias. Os cursos de Selva,
Jaguar e Iwias são para formação de soldados, cabos e sargentos. Ambos são
focados em prover capacidades aos soldados para combaterem em ambientes
selváticos. No Peru tem o curso contra subversão para oficiais e praças.
Nesta pesquisa contamos com as informações dos 5.553 soldados
implantados na área de operações, por parte do Equador, a partir destas
informações foram estabelecidos os relatórios de cada uma das unidades, em
relação ao treinamento de cada indivíduo foi possível se chegar a porcentagens de
pessoal que possuíam Curso Especial de Selva ou treinamento de Forças Especiais.
Na sequência apresentaremos um quadro resumido das porcentagens de
treinamento das unidades.

Quadro 7 - Porcentagem de pessoal militar com curso de selva. (Equador)

FONTE: Lista de combatentes, Cursos da Escola de Selva, Pessoal do Exército Equatoriano

No Quadro 7 podemos identificar claramente os elevados níveis de


treinamento das Companhias de Operações Especiais (COE), dos Grupos de Forças
72•

Especiais onde constatamos que cerca de 90% do pessoal é formada por pessoal
profissional. Identificamos também facilmente a falta de treinamento em selva no
Grupo Alfaro que era composta principalmente por Aspirantes da Escola de
Soldados. De mesmo modo, pode-se identificar uma baixa porcentagem entre os
BS, isto em razão destas unidades terem recrutas que não cursaram Cursos
Especializados em Selva.
Bem, 11 Unidades apresentam mais de 90% de treinamento em selva e
apenas 5 Unidades apresentam 50% do pessoal treinado especialmente o BS e a
Companhia Pitiur composta por reservistas. Podemos notar a importância deste
treinamento para estas Unidades, isto porque permite identifiquemos o grau do
treinamento que essas forças possuem e as operações que foram desenvolvidas,
também podem observar se existe uma relação entre o treinamento, o número de
baixas ocorridas durante o conflito. A tabela abaixo permite que visualizemos a
relação entre o nível de treinamento, o número de baixas, o lugar que combateram e
as unidades.

Quadro 8 - Relação de pessoal mortos por grupo, treinamento e operação.


Operações em que houveram
Ord Unidade Curso selva # mortos % mortos
baixas.
TIWINTZA (1)
1 G ALFARO 42,36 8 25,81
MAIZAL* (7)
GFE 24 TIWINTZA (6)
2 90,08 7 22,58
LA Y (1)
3 GFE 26 89,07 4 12,9 C. DE LOS TAYOS
4 COE 21 97,85 3 9,68 C. DE LOS TAYOS
5 GFE 25 89,19 2 6,45 BASE SUR
6 GFE 27 96 2 6,45 CENEPA
7 BS 63 16,01 2 6,45 CENEPA

9 COE 19 95,71 1 3,23 C. DE LOS TAYOS

10 ESCIE 94,12 1 3,23 TIWINTZA


11 BS 61 25,23 1 3,23 TEN ORTIZ
17,39
12 BS 62 1 3,23 C. DE LOS TAYOS

Total 32 100%
FONTE: Quadro elaborado pelo pesquisador, baseado em AGFT, 2015. * MAIZAL (Posição do morteiro
81mm atacado na Quarta Feira Preta Trueno II).
73•

Baseado no quadro 8, podemos observar que existe uma relação entre
os mortos e a falta de treinamento, pois dos 32 mortos, 8 foram do Grupamento
Alfaro, no qual apenas 42,36% (C.f. Quadro 2) do efetivo possuía treinamento
de selva. Estas oito baixas ocorreram na “quarta-feira preta”, em o MAIZAL
(Trueno II), quando foram surpreendidos pela infiltração inimiga na posição dos
morteiros. Eram aspirantes que se encontravam em processo de formação
militar e não tinham ainda cumprido seu período de treinamento em selva,
também não dispunham de experiência. Este único ataque foi responsável por
25,81% do total das baixas oficiais do Equador durante o conflito e se pode
estabelecer uma relação entre o número de baixas e o pouco treinamento e
número das operações conduzidas.
Pelo contrário, unidades especiais com melhor treinamento têm um
número variável de vítimas, em contrapartida estiveram em um maior número de
operações, estando desta forma mais expostos. Que é o caso GFE No 26 até 08
de fevereiro tinha cumprido mais de 22 ações de combate. (MONCAYO, 2011,
p 130). O GFE 24 suportou tudos os confrontos em Tiwintza, seus soldados
defenderam as suas posições e 6 deles morreram nessas missões. O nível de
treinamento superior a 90%, esta unidade sofreu vários ataques em fevereiro e
baixos representam apenas 22,58 do total de mortos do Equador.
A análise identificou que 13 de 20 unidades equatorianas envolvidas no
conflito tinham em média mais de 80% de seus efetivos com cursos de
formação voltados para operações em ambientes de selva. Apenas 5 unidades
possuíam uma média inferior a 50% de pessoal treinado neste tipo de combate.
As unidades de Forças Especiais apresentavam uma média de 93,48% de
treinamento na selva e eles foram utilizados desde o início das hostilidades, e
marcarão uma diferença significativa nas operações iniciais. Os resultados
mostram que os Batalhões de Selva têm uma média de 32,33% de treinamento
na selva, este resultado é porque estas unidades são na sua maioria composta
de recrutas (conscritos) e praças, que só tinham cursos de formação militar
básica.
A partir de fevereiro, o Peru mobiliza as unidades de tropas especiais
que ocasionaram um aumento no número das maiores baixas equatorianas já
no final das operações.
74•

Quadro 9 - Número de mortos por unidades


Funções Combatentes % Mortos % Feridos % Total %
Oficiáis 392 7,06 1 3,12 16 8,21 17 7,49
Suboficial 17 0,30 1 3,12 3 1,54 4 1,76
Sargento 1ro 156 2,80 3 9,38 10 5,13 13 5,73
Sargento 2do 466 8,39 8 25 32 16,41 40 17,62
Cabo 1ro 1046 18,84 5 15,63 45 23,08 50 22,03
Cabo 2do 795 14,31 1 3,12 20 10,25 21 9,25
Soldados 882 15,88 5 15,63 25 12,81 30 13,22
Aspirantes 327 5,88 8 25 18 9,23 26 11,45
Reservistas 668 12,03 - - 16 8,21 16 7,05
Conscriptos 772 13,90 - - 9 4,62 9 3,96
Civis 31 0,55 - - 1 0,51 1 0,44
5552 100 32 100 195 100 227 100,00
FONTE: Lista de Falecidos do Conflito no Cenepa, (AGFT, 2015, p. 473)

Dos 5552 combatentes equatorianos 393 eram oficiais, ou 7,06%, e um


deles morreu. 3689 eram praças, ou 66,44%, 327 estavam em treinamento (aspirantes)
5,88%, 772 eram recrutas, ou 13,90%, reservistas foram 668, ou 12,03%, e 35 eram
civis, 0,55 %. Dos 32 mortos 1 foi oficial, 3,13%, e os sargentos 2do e os Aspirantes
tinham o maior número de mortes 50% do total. Os sargentos em varios combates e
os aspirantes na Quarta-feira preta. O maior número de mortes no pessoal mais
jovem menos antiguidade, enquanto o maior número de feridos, 60,35%, estão entre
as sargentos e os cabos e so os 7,49 % dos feridos foram oficiais. É importante
notar que 16 reservistas foram feridos durante as operações. Os procedimentos de
evacuação impedido como aumento vítimas.

4.1.3.3 Projeção das baixas equatorianas e peruanas

Os relatos apresentados são dados oficiais das Forças Armadas do


Equador, constantes do informe do Teatro de Operações que contem informes
diários dos mortos e feridos na condução das operações. Por não possuímos
informações oficiais do Peru em relação ao número de baixas e feridos,
apresentaremos a seguir uma estimativa de baixas baseada em uma coletânea de
dados colhidos em diversos textos e autores. O objetivo disto é estimar a letalidade
da guerra do Cenepa, e se relacionam com a eficácia das operações.
75•

Quadro 10 Estimativas de mortos e feridos de Equador e Peru segundo autores


Autor Estimativas de Baixa Livro
Beth Simmons 200 a 1500 baixas Disputa Territorial e Resoluções -
Ano
Carlos Espinoza 500 mortos entre Equador e Peru A negociação como Terapia
Scott Palmer 200 a 300 mortos Peru e Equador disputa pela fronteira
BBC Mundo Peru reconheceu a norte de 60 Assim foi a última guerra
Gallardo Peru tem 1000 baixas entre De Paqisha ao Cenepa
mortos e feridos
David Mares 100 Equador 300 o 400 baixas Poder, instituições, êxito militar
Peru não estabelece
Marcella 300 baixas Guerra e Paz na Amazônia;
MOMEP Informe Equador 27 (mortos) e 89
Higgins (feridos) Peru 46 (mortos) e 214
(feridos)
David Spencer Equador 95 (mortos) e 285 A evolução das táticas militares do
(feridos) Peru 225 (mortos) e conflito de 1981.
675 (feridos)
Associação Mais de 500 (mortos)
Latinoamericana de
Direitos Humanos
FONTE: AGFT, 2015, p. 46. (SCOTT, 1997), (GALLARDO, 2010), (MARCELLA, 2013), (HIGGINS, 1997),
(SPENCER, 1998),

No quadro 10 vários autores apresentarem estimações e dados os que são


recopilados para estabelecer uma comparação. Não existem dados oficias do Peru
em relação a mortos e feridos. Equador apresentou dados de forma diária os foram
expostos publicamente aos médios internacionais.
A ausência de números oficias de mortos e feridos levou David Spencer a
levantar informações e projetar esses números. Segundo o autor, o Equador poderia
ter 95 mortos e o Peru em torno de 225. Os números de feridos seriam alcançados
por uma relação de 3 feridos por cada baixa, ficando assim o Equador com 285
feridos e o Peru 675.
Entretanto, partindo dos números oficiais divulgados pelo Equador (31
mortos e 195 feridos) observamos que a razão entre mortos e feridos foi de 6,2
feridos para cada baixa no conflito.
Desta forma optamos por fazer uma projeção baseada em Spencer, mas
calibrada a partir dos dados equatorianos. Com este método pode se estabelecer
que a relação entre baixas e feridos é de 6 feridos por cada baixa, este número é
muito alto, porém evidencia a dificuldade do ambiente e o tipo de combate corpo a
76•

corpo desenvolvido na selva. Considerando esta variável foi possível elaborar o
seguinte quadro:

Quadro 11 – Projeção de mortos e feridos, adaptado ao método Spencer


Equador Peru Total
Oficial Spencer Projeção Oficial Spencer Projeção Spencer Projeção
Mortos 31 80 - - 200 74 280 105
Feridos 195 240 - - 720 465 960 660
Total de 226 320 - - 930 539 1240 765
Baixas
Fonte: (SPENCER, 1998, p. 147), Projeçaõ do pesquisador.

A ausência de dados oficiais de mortos e feridos por parte do Peru encoraja-


nos a testar uma projeção de resultados em torno dos acidentes e lesões com base
nos dados de David Spencer (SPENCER, 1998). O número projetado de baixas é de
765, baseado nos números oficiais apresentados pelo Equador, enquanto a projeção
de Spencer seriam 1240 baixas. Todavia, o ideal seria trabalhar com dados oficias
de ambos os países, e para fazer uma comparação com os dados oficiais dos dois
países.
É importante citar que um dos fatores que teve uma incidência direta para o
incremento do número de feridos e de mortos foi o uso de minas terrestres por parte
dos dois países. No Quadro 11 observamos uma relação projetada das perdas, no
qual teriam 2,38 baixas peruanas por cada equatoriano.

4.1.4 Qualidade

O atributo Qualidade, para Brooks (2007), mostra a natureza das armas


empregadas e a potência de fogo que dispunham as forças na área do conflito e o
equipamento que usaram.
A tecnologia é um fator que deve ser considerado em termos de qualidade,
por causa do tipo de equipamento e armamento à disposição dos países. A arma
tem um tempo de vida. O armamento com a nova tecnologia melhora o desempenho
e a eficácia dos soldados que usam. Então, nós incluímos essa informação nas
análises.
Embora o fator humano seja essencial, o tipo, disponibilidade e qualidade do
armamento podem influenciar nos combates. O Quadro 12 apresenta os tipos de
armamentos empregados no conflito por cada força. Já podemos observar os
77•

diferentes tipos de armas e as classes, além dos anos de fabricação e os calibres de
cada tipo. Empregam-se principalmente armas 7,62 mm no Perú e 5,56mm no
Equador.

Quadro 12 - Armamento Empregado


Armamento PERU EQUADOR
Tipo Ano Tipo Ano
FN FAL C 7,62mm 1972 FN FAL c 7,62mm 1975
FN FAP C 7,62mm 1972 HK -33 c 5,56mm 1994
AUG c 5,56mm 1987
Fuzis e Lançador de AT Mle F 1 1961 M-203 1990
granadas Instalaza M61 1975 MGL-16A2 1987
CIS 40 GL 1980 HK -79 1994
GALIL,R-4 c 7,62mm 1980 M16 - A 2 c 5,56mm 1987
AGS 17 1990
FN MAG c 7,62mm 1972 FN MAG c7,62mm 1975
Metralhadora
HK -23E c 5,56mm 1994
RPG 7 1980 M72A2 LAW 1981
Lança granadas
RPG 7 1990
Granadas de mão Type 86 1975 M26A1 / M61 1980
60mm Tampella 1960
Thomson 60 mm 1975

Morteiros M6C-210 60 mm 1990


M1 Thomson Brandt
1970 M-64 Soltam 81mm 1970
81mm
120mm Brandt 1940 120mm Brandt 1950
105 mm Otto Melara 1950 105 mm Otto Melara
Artilharia Lançador múltiplo de
105 mm Czekalsky 1970 foguetes BM-21 1990
Misséis AA SA - 7 Strela -2 1966 SA - 16 Igla 1990
Equipamento de visão
Não muitos Bem equipados
notuna
FONTE: SPENCER, 1998, (AGFT, 2015)

As aquisições do material Russo que se comprou de Nicarágua em 1990, e


os fuzis HK 5,56mm forneceu novo material para as tropas equatorianas. Grande
parte deste material veio das adegas para a área de combate. Os materiais em boas
condições permitiram um bom desempenho de soldados
Deficiência em equipamentos militares e improvisações geraram grandes
problemas operacionais. Na fala de Jorge Camet o Ministro das Finanças do Peru no
governo Fujimori, expõe a complexa situação das Forças Armadas peruanas na
78•

época da guerra. “Nossos canhões antiaéreos não funcionaram e tivemos que levar
os outros a partir de Bolívia”. (CAMET, 2002)

Quadro 13 - Equipamentos individuais de empregado


Equipamento / Pais Peru Equador

Uniformes Vários tipos, shorts, camisa Farda completa


Armadura Corporal - Vários Tipos
Capacetes Fiber Helmets M-1
Arnes H Arnes Y Arnes, Chaleco
FONTE: SPENCER, 1998.

A equipe entregue os soldados lhes permitir melhor cumprir as suas


missões. Uma boa equipe, leve, facilita o movimento. No ambiente de selva o
material especial, deve ser impermeável e leve . Em grande parte dos relatórios
gráficos de guerra, a variedade de roupas usadas por soldados peruanos e falta
de uniformidade de sua equipe observou. (FOURNIER, 1995).
Equipamentos, armas, suprimentos, manutenção, alimentação e
atenção médica imediata são uma preocupação permanente do comandante
que usou seu logpistica para dar o melhor aos seus soldados na frente.
Logística oportuna é crítica em combate.
A realidade vivida por tropas peruanas é contada a part ir da frente de
batalha, em um documento pessoal que o Peru imprensa torna público.

Deus, o Comando do Exército, nossos homens conhecem as


condições incríveis em que tivemos de lutar contra uma força armada
preparado, educado, treinado e equipado com arma s e tecnologia de
ponta; parece residir, nossos homens, de todas as armas tinha de
aproveitar os antigos fuzis FAL argentinos que tiveram problemas
durante anos 75, quando foram comprados; com essas armas e
algumas RPG, sem apoio de fogos, sem artilharia, sem apoio aéreo,
sem inteligência, estamos diante de uma força moderna, que tinha tudo
a seu favor (artilharia, morteiros de 81, 120 e 160, helicópteros
atiravam a seu exclusivo critério, aviões de combate, minas, fuzis
modernos, exército bem alimentado, com o campo organizado, etc,
etc.), isto é, tudo em seu favor. (VALENZUELA, 1995)

O moderno equipamento, treinamento e aprendizado dos ensinamentos da


última Guerra ajudaram a preparar para a próxima guerra. As perdas materiais
afetam a operabilidade, mas a perda de aeronaves faz a diferença, pois permite que
a superioridade aérea ganhe, fornecendo às unidades terrestres uma maior
flexibilidade.
79•

Quadro 14 - Perdas Aéreas Na Guerra Do Cenepa


Derrubadas Danificado
País Aereonaves Danificado Acidente
combate fora / área
PERU SUKOI SU-22 2
PERU A-37 Dragonfly 1
PERU Canberra 1 X
PERU Helicópteros (modelo) 4
PERU 1 helicóptero (modelo) Logística
EQUADOR T-33 1
EQUADOR A-37 1 Combate

FONTE: (GALLARDO, 2010)

O Quadro 14 resume a informação sobre as baixas aéreas no conflito.


Embora não seja o mote desta pesquisa, negar o uso do espaço aéreo é um fator
que pesa nos conflitos modernos. Deste modo apresentamos tais dados que
mostram uma perda significativa de aeronaves peruanas em relação às
equatorianas. Principalmente no que toca as aeronaves de asas rotativas,
empregadas em diversas ações de apoio as tropas em terra, se observa a perda de
4 unidades e mais uma tento sido avariada. Os helicópteros se prestam a infiltração,
extrair as tropas especiais, evacuação de feridos, suporte logístico e reconhecimento
das posições do inimigo, em alguns casos.

4.1.4.1 Potência Relativa de Combate (PRC)

A Potência Relativa de Combate permite fazer uma comparação entre as


forças matematicamente. Incluído no atributo da qualidade uma variável mesurada
pelas forças militares no conflito do Cenepa, que estabelece as relações entre as
tropas.
O cálculo desta potência foi efetuado para identificar a capacidade de um
inimigo em determinado momento. O procedimento matemático pode subsidiar a
tomada de decisão do comandante de um T.O. a executar uma operação, bem como
apontar em que condições deve ser executada. Por exemplo, ao conduzir uma
operação de ataque pode-se estabelecer uma relação de 3 a 1; e se será conduzida
uma defesa de área pode-se estabelecer uma relação de 1 a 3. Realizar estas
80•

operações com relações menores eleva o nível do risco da operação falhar e
consequentemente o eleva o número de baixas.

Quadro 15 - Potência relativa de combate entre Equador e Perú


Fuerza Terrestre Equador Peru Fuerza Naval Ecuador Peru
Efetivos 1 2,01 Fuerza de 1 2,50
Superfície
Elem de manobra 1 2,20 Submarinos 1 3,70
Tanques 1 4,50 Aeronaval 1 3,0
Veículos 1 3,82 Inf. de Marina 1 2,20
Blindados
Artilharia 1 1,60 Antiaéreos 1 ---
Morteiros 1 1,26 Anti superfície 1 2,27
Engenharia 1 3,12 Anti submarinos 1 1,39
Aviação do 1 2,14
Exército
Apoio e Serviços 1 1,50
Balanço 1: 2,46 Perú Balanço 1: 2,28 Peru
Fuerza Aérea Ecuador Peru Relación Global Ecuador Peru
Personal 1 1,21 F. Terrestre 1 2,26
Aviões 1 4,45 F. Naval 1 2,28
Radares 1 3,10 F. Aérea 1 2,70
Sistemas AAA 1 1,78
Fatos Adicionais 1 3,0
Balanço 1: 2,48 Peru Balanço Geral 1: 2,7 Perú
FONTE: (GALLARDO, 2010, p 32)

Identificamos que os cálculos sobre a potência de combate segundo os


oficiais de inteligência estabelecem uma clara assimetria entre as forças em disputa.
Mais o emprego adequado em alguns momentos da batalha se igualava a PRC 1:1
ou se alterava a favor das Forças equatorianas em certos momentos, entre 5 e 30 de
janeiro de 1995 (CANO, 2016), gerando um grande desequilíbrio e surpresa para as
tropas peruanas.
As forças equatorianas foram obrigadas a combaterem com um potencial
médio de 1,5 a 1 na linha de operações da Cordilheira do Cóndor, contando com
uma superioridade aérea local-temporal, a partir de 10 de fevereiro, quando
derrubou dois aviões Sukhoi-22, conquistaram uma vitória localizada (CANO, 2016) .
A Potência Relativa de Combate leva em conta o (i) tipo de unidade, (ii) o número do
efetivo, (iii) o tipo de material, (iv) armas de apoio de fogo que dispõem os
adversários e que vão permitir obter dados aproximados sobre a situação do campo
de batalha.
81•

Sobre a análise dos atributos, podemos determinar que foi aplicado pelos
soldados equatorianos o que foi evidenciado no método de cada um dos fatores
estudados. Onde podemos concluir também que o adequado emprego da artilharia
com seus lançadores múltiplos e as armas antiaéreas, a engenharia da contra-
mobilização e o treinamento em selva, táticas especiais de combate foram o
diferencial no combate. Podemos concluir citando a frase do General peruano
Ledesma:

A tecnologia marcou a diferença do uso do material, com maior efetivo de


alcance e precisão, equipamentos sofisticados com bons resultados. Onde
os métodos, os princípios, as técnicas e todo que contribui para a vitória
numa guerra não podem permanecer estático, isto porque na próxima
guerra tudo já está ultrapassado. (LEDESMA, 1995)

O atributo de qualidade mostrou a importância da capacitação no uso


eficiente dos equipamentos disponíveis, demonstrando alto nível de
operacionalidade e operacionalidade (Material novo, com tecnologia e empregado).
O material, a sua resistência às condições e seu tempo de vida também foi um fator
importante para o resultado das operações.

4.2 Os princípios da guerra

Os princípios da guerra são preceitos são ou regras gerais aplicáveis à


liderança e condução militar, que foram aplicadas pelos grandes capitães, deduzido
e analisados por pensadores, os estudiosos da guerra e autores militares ao longo
do tempo, para serem princípios com o fundamento de que a História Militar tem
demostrado que a sua utilización repetida e correta levaram exércitos à vitória
normalmente. (EXÉRCITO, 2010, p 104).
Estes princípios variam de país para país. No Equador se adotam 10, no
Peru 9 e no Brasil se somam à estes 10 mais 3
Os princípios da guerra que adotamos para análise são 13, a saber: (i)
Objetivo (ii) Unidade de Comando (iii) Ofensiva (iv) Liberdade de Ação (v) Massa (vi)
Economia de Forças (vii) Manobra (viii) Prontidão (ix) Legitimidade (x) Moral (xi)
Exploração (xii) Surpresa, (xiii) Segurança, (xiv) Simplicidade.
A seguir observamos, por meio da impressão de autores militares civis que
se debruçaram sobre o tema, buscando construir como cada lado satisfez os
princípios da guerra. Nas operações do Peru na guerra do Cenepa foi analisado, seu
82•

produto "Os princípios da guerra. Análise Casuística", eles vão ser comparados com
informações da literatura investigada.

Quadro 16 – Comparação I
Objetivo: É a meta; o fim da manobra; é a razão pela qual se atua.
Equador Peru
Conseguiu manter o território em sua Não estabeleceu um objetivo físico, que lhe
posição. O centro de gravidade da operação permitisse conquistar uma vantagem
passou a ser Tiwintza, que não foi alcançado estratégica que facilitasse o
pelas tropas peruanas. As unidades desenvolvimento das ações subsequentes.
mantiveram suas posições. “Foi induzida a assinatura de uma paz sem
expulsar as tropas, sem ter cumprido a
missão, sem atingir o objetivo”.
FONTE: SPENCER, 1998, p. 150. MACIAS, 2010, p 76

O Equador tinha como objetivo político ter acesso soberano a Amazônia e


para alcançar esta situação estabeleceu um Objetivo Estratégico que lhe permitiria
manter vigente o problema limítrofe e com apoio internacional negociar a fronteira.
Na sequência viria o Objetivo Militar que teria como finalidade manter a presença
militar na área não demarcada e o objetivo da Campanha Terrestre seria manter as
cabeceiras do rio Cenepa.
As cabeceiras do rio Cenepa foram mantidas pelas forças equatorianas
assim como a integridade territorial, a soberania nacional, quando foram negociados
o estabelecimento de portos e a livre navegação no rio Amazonas. Já da parte
equatoriana podemos afirmar que obtiveram a vitória neste conflito, quando
mantiveram o terreno e causaram grandes baixas a um custo muito baixo para eles.
(SPENCER, 1998, p. 150)

Quadro 17 – Comparação II
Unidade de Comando: este princípio assegura que todos os esforços estejam direcionados
a um fim comum.
Equador Peru
A cadeia de comando foi estabelecida pelo Empregou uma comunicação via
TO com as grandes unidades Forças de mensageiros para evitar serem detectados e
Tarefa ATMI, ATCA, BS 21 “Cóndor” assim as ordens eram emitidas1.
Troca de comando: O General López Trigoso
Foi estabelecida uma liderança permanente comandou as operações até 10 de fevereiro
com os comandantes e oficiais. e a partir desta data assumiu o comando das
operações o General Chiabra2.
Apenas um general comandou toda a Para piorar a situação, Hermoza deu Lopez
campanha (Gen. Moncayo) Trigoso comandante do T.O.
83•

responsabilidades administrativas, ele se
tornou um comandante de logística de
retaguarda, em vez de acompanhar as suas
tropas para a área combate localizada 270
quilómetros a norte. (Erros da guerra)
FONTE: CHIABRA, 1995, p. 57, 64, 155, VARGAS, 1995

O Posto de comando do TOT inicialmente foi estabelecido em Cuenca, para


incrementar a coordenação e controle da movimentação para Patuca, lugar onde
permaneceu sob o comando do General Paco Moncayo, acompanhando todo o
processo da preparação, o conflito e a negociação pela paz nos anos subsequentes.
Já no lado peruano houve uma substituição no comandante do T.O. o que
demonstra uma descontinuidade na unidade de comando.

Quadro 18 – Comparação III


Ofensiva: Atividade que estabelece o procedimento mais efetivo para se obter uma decisão
Equador Peru
Um desenvolvimento estratégico defensivo Empregaram atitudes claramente
baseado nos pontos fortes desgastou o ofensivas para expulsar as forças
inimigo, ocasionando baixas na tropa e de infiltradas.
aeronaves. Não empregou os meios de forma
sincronizada com as forças de combate.
Linhas curtas de comunicação foram Bombardeava enquanto ainda possuiam
exploradas, a altura da coordillera Condor tropas em terra.
para dirigir o fogo de morteiros, mísseis A infantaria não possuia apoio da artilharia
foram usadas para reforçar posições. e serviços de combate;
Helicópteros não tinham autoproteção;
Não destruíram ao inimigo devido a forma
de atuação, quando foi rompida sua
coesão causando a dispersão2.
FONTE:. MARCELLA, 2013. p. 1. LEDESMA, 1995.

O Vale do Cenepa é uma área selvática com características especiais de


relevo, vegetação e clima, que exige um planejamento detalhado e também o
emprego de Forças Especiais que possuam treinamento adequado para este
ambiente. (ITURRALDE, 2016)
O Peru conduziu operações exclusivamente ofensivas na tentativa de
destruir as Forças equatorianas, fato que gerou grande frustração por não poder
enfrentá-los utilizando-se somente de táticas convencionais. “Os equatorianos
usavam táticas e técnicas de contraguerrilha, combates coordenados, ataques de
perseguição e de emboscadas” (SPENCER, 1998, p. 149).
84•

Apesar de ter operações defensivas realizadas, o uso de técnicas especiais
no combate de selva efetivamente permitido a afetar as forças atacantes vestindo
suas tropas, reduzindo sua capacidade de luta.

Quadro 19 – Comparação IV
Liberdade de Ação: Significa manter a iniciativa, obrigando o inimigo a se submeter.
Equador Peru
As patrulhas deviam operar com liberdade a Buscaram ações que os levariam a resultados
fim de manter suas posições1. decisivos e assim poderiam escolher quando e
As tropas não faziam frente; atacavam e iam onde atacar;
ocupando posições em profundidade para Patrulha que pudessem atuar com maior poder
segui desgastando o inimigo. Conservaram de fogo de forma independente2.
sua capacidade de combate, procurando não A forma de combate das Forças equatorianas
sofrer baixas e ocasionar um maior desgaste acabou afetando o ritmo de avançar e a
possível para o inimigo2. possibilidade de se obter resultados em menor
tempo3.
FONTE: HERNANDEZ, 1997. GALLARDO, 2010. CHIABRA, 1995, p. 63.

As palavras do General peruano Ledesma, em 1996, sobre o conflito do


Cenepa numa entrevista descrevem seu ponto de vista sobre a forma de como as
operações foram conduzidas no conflito:

Nós não nos aprofundamos nas operações e com isso concedemos uma
grande vantagem para o exército equatoriano, devido a esta atitude eles
tiveram livre iniciativa e liberdade de manobra sob fogo e também puderam
dizimar nossas naves e nossos combatentes (LEDESMA, 1995).

Num ambiente selvático deve se empregar um “combate coordenado”, que


exige muita capacidade para reagir ante os brancos que se apresentam, por isso é
importante que as unidades tenham uma liberdade de ação suficiente de
capacitação e assim poderem cumprir com a intenção dos comandantes. É muito
importante, também, ter alternativas para apoiar as unidades que os impedem de ser
isolado. O uso de artilharia, aviação do Exército e da Força Aérea deve ser usado
para garantir a liberdade de ação de tropas terrestres.

Quadro 20 – Comparação V
Massa e Economia de Forças: Dosagem adequada e aplicação oportuna.
Equador Peru
Princípios utilizados de forma efetiva As operações começou sem ter mobiliado
demonstrado através da reorganização da todos os meios e recursos para empregar.
85•

Frente com a criação da Força de Tarefa Com o progresso das operações foram
Carlomagno Andrade (ATCA), tento como incorporadas unidades improvisadamente.
objetivo manter uma organização flexível
com capacidade de operação, fato que
conduziu um alívio para o local1.
FONTE: MONCAYO, 2011. MACIAS, 2009. p. 142

O conflito se manteve focado no setor do Alto Cenepa e no setor de


responsabilidade do Batalhão de Selva-61, fato que permitiu ao Comando do TO
fazer uma concentração maior dos meios de acordo com a situação, usando essa
unidade como base de apoio e projeção.
O TO foi reduzido e em ambiente selvático obriga o desenvolvimento
de um combate próximo é bem-sucedido aquele está adaptado a selva e as
condições de combate com características próprias. Aqui fatores como a
surpresa, a economia de meios, a rapidez e o apoio administrativo, o
objetivo, a superioridade aérea. Estes fatores orientam a estratégia utilizada
condicionado a ideia de manobra, tratando de tomar a decisão no momento
e no lugar para o combate. (LEDESMA, 1995)

As operações de selva exigem plena integração de todos os sistemas que


operam no campo de batalha. A eficiência é alcançada através das ações
coordenadas de todos os sistemas. A soma de pequenas ações com as vitórias de
pequenas unidades nas batalhas permitem alcançar o sucesso na guerra.

Quadro 21 – Comparação VI
Manobra: Colocou o inimigo em posição de desvantagem, por possuir uma aplicação
flexível do poder de combate.
Equador Peru
O ataque a Base Norte foi uma As manobras empregaram forças de
demonstração da forma como operou o fixação, desborda mento, uma de suporte e
Equador, decisiva direta e frontal. As uma de reserva.
manobras geralmente foram contra-ataques Nem sempre contaram com um suporte que
das forças peruanas1. permitisse uma sincronização efetiva.
É uma força convencional que se utiliza de
pequenos elementos para se infiltrar,
apoiados por elementos com alta tecnologia.
FONTE: MACIAS, 2009. LEDESMA, 1996.

Em dezembro de 1994 as Forças equatorianas se mobilizaram para a área


de operações no Cenepa e iniciou a apresentação de suas posições defensivas, a
mensagem do Comandante do Grupamento era conscientizar-se em todos os níveis
da guerra e da utilização do tempo que dispunham aproveitando para aplicá-lo no
momento de enfrentar o inimigo (HERNANDEZ, 1997, p. 19).
86•

A guerra “no Amazonas serviu de preparação superior no campo de batalha
que os conduziu ao sucesso no emprego das táticas realizadas e que proporcionou
a popularidade dos militares equatorianos” (MARCELLA, 2013, p. 8).
Os soldados equatorianos escolheram um cenário favorável e assim
desgastaram constantemente o inimigo, não dando dianteira, procurando evitar
serem afetados por seus ataques. A Zona de Operações Sul Leste (ZOSE), engloba
um cenário de ambiente selvático que exige que se faça uma análise detalhada e o
emprego de tropas especializadas neste tipo de ambiente.

Quadro 22 – Comparação VII


Prontidão: As forças fornecem os meios essenciais e organiza as condições para as
operações de combate, isto envolve a preparação diante de hostilidades e
transcurso contínuo da guerra.
Equador Peru
A organização do Grupamento, a Não contavam com o suporte aéreo. Apoio de
reorganização das forças e do dispositivo a fogo de morteiros e artilharia limitada.
partir do emprego dos ECO’s1. Grandes problemas com o abastecimento,
tratamento médico e evacuação, ligação com
Cada vez que eu falar com os oficiais, digo os comandantes2.
que o conflito é um fato e lutaremos pelo O resultado foi que havia um lado que mudou
nosso honor e dignidade. seus procedimentos, enquanto o outro lado
foi ao campo de batalha com os
procedimentos utilizados no conflito anterior e
esse lado era nosso.
FONTE: ENRIQUEZ, 1997; 1995, p. 63. HERNADEZ, 1997,p.56 LEDESMA, 1995.

Identificar escalada da crise pode tomar as decisões corretas. Em


dezembro de unidades mobilizando para o setor de defesa do Cenepa. “Eu podia ver
claramente que a guerra estava vindo” (HERNADEZ, 1997,p.56).
Quadro 23 – Comparação VIII
Legitimidade: Respeito a norma estabelecida e combinada.
Equador Peru
O Equador sempre buscou uma sólida O Protocolo do Rio de Janeiro resolveu todos
soberania no Amazonas como aspiração os problemas com Equador contando com
nacional voltada para uma justa aspiração ferramentas que solucionaram os
Amazônica1. incovenientes2.
Observamos que sempre são os eles que
invadem nosso território, e, no entanto,
denunciam o Peru, acusando-nos de sermos
os agressores. Aparentemente estão em
atitude defensiva, porém na realidade sua
atitude é ofensiva. Seu objetivo é debilitar a
resistência do Peru.
FONTE: ITURRALDE, 1994. MERCADO-JARRIN, 1995. .LEDESMA, 1996.
87•

Deve-se sempre buscar a causa justa e devido a isto houve o respaldo do
povo equatoriano e da Unidade Nacional que sustentaram o emprego da Força para
defender a soberania nacional. Em seguida apresentaremos a transcrição da
entrevista do General Ledesma do Peru em 1996:

O Equador para chegar a este delineamento sobre uma guerra


prolongada desenvolveu estratégias baseadas na perseverança, na
persistência, em defesa de um objetivo nacional. Para isso capacitaram
seus quadros de uma maneira muito especial Os equatorianos enviaram
seus melhores coronéis para países chaves, que possuíam tecnologias de
ponta de materiais para a aplicação na guerra... Esse referencial, adaptado
as condições próprias de um país como Equador que através dos tempos
educa de geração em geração a diferentes núcleos de sua sociedade a
reclamarem o que chamam “de seus direitos” violados pelo Peru e é o
fundamento de sua estratégia militar. (LEDESMA, 1996).

A saída soberana do Amazonas foi um dos objetivos permanentes do


Equador que está enraizado em todas as instituições militares (BARROSO, 2007).
As ações militares executadas tiveram apoio nacional era um objetivo de estabelecer
definitivamente o limite. Sem dúvida, os resultados das ações militares felxibilizaram
posições diplomáticas.

Quadro 24 – Comparação IX
Moral: O contínuo aprimoramento e a manutenção da moral elevada são essenciais para o
êxito da guerra.
Equador Peru
A moral foi a base de exemplo dos comandos Apesar da “dolorosa verdade” já citada
em todos os níveis, a férrea disciplina, a anteriormente, temos também que citar que
decisão patriótica de enfrentar o inimigo, os soldados peruanos combateram com
somado a grande Unidade Nacional, suporte valentia e decisão. Haviam soldados com
das forças militares, foram os fatores mais experiência de combate que se revelaram
importantes para o êxito das operações 1. no campo de batalha2.
FONTE: AGFT, 2015 SPENCER, 1998, p. 149.

O moral dos soldados em guerra baseia-se no apoio de seu povo a


ações. O slogan "Nem um passo para trás", emitido pelo nível político aos soldados
foi a mensagem que inspirou a mobilização nacional em apoio as ações militares.

Quadro 25 – Comparação X
Exploração: Aproveitar as oportunidades e empregar a capacidade de suas forças para
obter os efeitos desejados e que facilitassem a consecução do objetivo.
Equador Peru
Ataque a Base Norte; O CCFFAA, não implementou a surpresa, a
Emprego de artilharia de foguetes cobrindo rapidez, a manobra, nem uma ação
88•

áreas; decisiva para expulsar as tropas
Uso de misseis Igla inibindo a presença de equatorianas, isto porque não trouxe para
helicópteros peruanos na área. área de combate uma artilharia de longo
alcance, suas tropas não possuía uma
mobilidade exigida pelas operações
aerotransportadas, não houve a
concentração da força e a utilização do
fogo armado em momento e em lugar
decisivo1.
FONTE: MONCAYO, 2011. DEDAZO, 1995.

O uso de todos os recursos disponíveis, auto Agrupamentos, adereços de


artilharia, engenharia, aviação, logística e resultados regresso atempado deu
positivo. Em ambientes especiais muitas contingências ocorrer e apenas uma
estrutura flexível e robusto pode abordar essas contingências.

Quadro 26 – Comparação XI
Surpresa: A surpresa consiste em expor o adversário a uma situação inesperada e mesmo
que esteja pronto, que não tenha oportunidade de reagir adequadamente.
Equador Peru
Possuía informação e inteligência, Perdeu o momento surpresa a nível
interceptação das comunicações; o Equador estratégico operacional porque o Equador
investiu no preparo do terreno (engenharia), contava com o observatório do Cóndor
incorporou Forças Especiais no combate2. Mirador.
Enviaram as tropas para o combate sem
calcular que a resistência do invasor.
Problemas de logística dificultaram o
abastecimento das tropas1.

Não foi implementada surpresa, velocidade


de manobra, ou uma ação decisiva, não
trouxe artilharia na área de combate, não
teve concentração de forças e fogos no
momento decisivo.
FONTE: DEDAZO, 1995; HERNADEZ, 1997.

O ataque à base Norte marcou o início do Conflito do Cenepa, e foi uma


demonstração clara do que estava vindo em sequência. Informações em tempo real
permite a realização de operações e acções planeadas sejam forçados a reacções
automáticas, muitas vezes em um alto custo em vidas. Para alcançar surpresa, deve
ser planejado o que se vai fazer.
89•

Quadro 27 – Comparação XII
Segurança: Busca não permitir que o inimigo adquira vantagem que não tenhamos
antecipado.
Equador Peru
Possuía informação e inteligência; A segurança foi aplicada para evitar a ação
1
Interceptação das comunicações ; Emprego das minas.
do terreno de forma apropriada e incorporou Pouca eficácia no uso de aeronaves de
os soldados das Forças Especiais ao combate, condições atmosféricas ruins, a
combate. falta de informações do objetivos, baixa
relação custo-eficácia, alto custo pelas
perdas peruanas.
FONTE: (MACIAS, 2009, p. 142. AGFT, 2015.

O combate em selva privilegia as operações especiais o combate de econtro


e escaramuças. Unidades treinadas podem reagir melhor, aproveitando-se da selva
e diminuindo o efeito de armas inimigas.

Quadro 28 – Comparação XIII


Simplicidade: Busca preparar planos e ordens claras e consisas para evitar confusão.
Equador Peru
As ordens de operações foram elaboradas Iniciar uma ofensiva, sem as Forças
e distribuídas em diferentes níveis, pois as Armadas foram aconselhados nem
Unidades do Teatro de Operações mobilizadas criou uma tremenda confusão.
dispunham de uma boa cadeia de
comando e de meios para exercer o
controle fundamental de suas funções
correspondentes
FONTE: MONCAYO, 2011. MACIAS, 2009.p 142

Segundo os autores equatorianos: Moncayo, Gallardo, Dovronsky, Donoso e


autores peruanos tais como: Chiabra, Ledesma, Raspigliosi e autores internacionais
como: Mares, Marcella etc., para eles além dos princípios da guerra analisados,
existem outros fatores que enfatizaram a guerra do Cenepa, tais como: Liderança e
presença do comandante no T.O.; a organização; preparação e estratégia
empregada; o uso das Forças Especiais; soldados treinados e soldados nativos; as
táticas especiais em selva; uma boa mobilidade e a proximidade do TO; um eficiente
apoio logístico e administrativo; o apoio de fogo dos lançadores múltiplos BM-21, Art
AA; uso de estradas e minas; emprego da Força Aérea; uma boa gestão informativa;
as OPSIC; a presença permanente da imprensa; a vontade política que permitiu que
ocorresse uma mobilização nacional apoiando as tropas na linha de frente.
90•

O Exército peruano conduziu um Seminário chamado por eles de “Os
Princípios da Guerra, uma análise casuístico”, onde posteriormente seus líderes o
General Chiabria e Ledesma expressam suas conclusões sobre a guerra do
Cenepa. Quando identificam que os seus principais inimigos foram: a natureza, as
minas terrestres e a dupla toponímia31 (Chiabra, 1995, p. 37). Podemos observar na
autoanalise do general peruano que a natureza é o primeiro ponto citado, ou seja a
ambiente selvático foi um fator que impactou negativamente as tropas peruanas.
Esse ponto não era um problema para as tropas equatorianas que possuíam cerca
de 70% dos efetivos com algum tipo de treinamento especifico para este tipo de
ambiente. Exemplo pontual, no caso equatoriano, de como falta de treinamento em
selva pode gerar efeitos negativos, foi a perda de 8 militares em um mesmo ataque.
O fato de não terem cursos de selva (ou similares) e de estarem em um grupamento
onde o índice de efetivos com treinamento ser baixo se mostrou fatal. Embora outros
grupos com treinamento de selva tenham sofrido perdas estas foram dispersas
geográfica e temporalmente.
O segundo ponto abordado pelo General Chiabra é com relação as minas
terrestres, a quais aparecem também com um ponto de insegurança para as tropas.
A questão da dupla toponímia tem um viés político, o qual não foi foco deste
trabalho, ligado à necessidade do governo peruano em apresentar vitórias na
medida em que a campanha militar avançava.
A questão relativa à experiência de combate dos lados beligerantes é um
ponto que merece atenção. Equatorianos e peruanos já havia se enfrentado por
várias vezes no passado e que a experiência levou a mudanças doutrinárias e
modernizações de ambos os lados. Alguns pesquisadores afirmam que a
experiência de combate adquirida pelas Forças Armadas do Peru na luta interna de
contra insurgência foi um diferencial. Esta experiência não pode ser negada, mas é
discutível. Pois a experiência adquirida pelos peruanos foi de combate a movimentos
de guerrilha internos (MRTA, Sendero luminoso), e não de combate contra um
exército convencional, onde o uso de armas de artilharia, antiaérea e aviação são
comuns nas campanhas (assim como o uso eficiente de logística, comunicações e
engenharia), e contra os quais é necessária toda uma série de estratégias, doutrinas
31
Segundo o General Chiabra (peruano) foram designados dois pontos com o mesmo nome e que
eram ocupados de acordo com conveniência. Essa situação que foi descartada com a visita da
imprensa internacional a Tiwintza (BARROSO, 2007).
91•

e táticas de combate diferente daqueles empregados contra pequenos grupos
guerrilheiros. Deste modo a guerra do Cenepa obrigou as tropas peruanas a
enfrentarem uma realidade de combate diferente daquela na qual possuíam
experiência. Pois havia uma simetria de forças e não uma assimetria como no caso
das guerras contra movimentos guerrilheiros.
Com a criação da Escola de Selva (1984) e Iwias (1987) os cursos de selva
passaram a ser obrigatórios para progressão na carreira dos militares equatorianos.
Essas mudanças tornaram obrigatório para oficiais o curso de Tigres; e voluntários e
praças o curso de Selva. Como resultado disto, na guerra do Cenepa, 74% dos
soldados equatorianos possuía algum dos treinamentos em combate na selva
(Tigres, Selva, Jaguares ou Puma). Entretanto, a hipótese de que as baixas teriam
ocorrido por falta de treinamento não se confirmou, pois, várias unidades com um
alto índice de treinamento sofreram perdas proporcionalmente consideráveis. O
diferencial, no desempenho frente aos combates e emboscadas, como mostra o
exemplo dos ataques a Maizal, Tiwintza e Cova de los Tayos, foi o menor número de
baixas frente ao adversário, apenas 31 no total. A formação dos combatentes não
pode ser improvisada, ou substituída pelo entusiasmo.
De modo geral podemos observar que o resultado militar foi consequência de
uma seria de fatores, dentre os quais o treinamento em selva das tropas
equatorianas, ou a falta dele no caso dos peruanos, foi um diferencial nas
escaramuças. Os números apontam que as técnicas de selva, as operações de
contraguerrilhas usadas e o rendimento das Unidades em treinamento foram melhor
que a das Unidades que não possuíam esse treinamento.

O inimigo subestimou nossa capacidade de combate, o que o induziu a


cometer sérios erros de valorização que ao final do conflito determinaram
seu fracasso, pois estavam preparados para o combate com doutrina
utilizada na guerra passada e a realidade enfrentada era uma realidade
diferente (AGFT, 2015).

O cenario físico da guerra, o terreno é um fator decisivo e quase sempre


permanente, mas os outros atores mudam ao longo do tempo, a tecnologia, a
doutrina, a mídia e opinião pública, os homens e conjuntura mudam. Não se pode
conceber que a doutrina de ontem serva hoje pior amanhã.
92•

5 CAP V – CONCLUSÕES

Considerando a história política do Equador e do Peru, a necessidade de


uma real capacidade de dissuasão com uma força militar que lhe permita cumprir
sua missão constitucional de defesa é relevante. Embora, os acordos de paz tenham
selado as disputas limítrofes, o histórico de conflitos militares com o Peru e a
assimetria entre as duas nações é um fato concreto. Desta forma o Equador,
necessita ter uma força militar capaz de apoiar a sua política externa, defender seus
interesses, além de defender, por meio de uma dissuasão efetiva, o país de futuras
ameaças.
O estudo mostrou que existe uma literatura desenvolvida sobre o conflito do
Cenepa, bem como fontes primárias, principalmente no Equador (Compêndios de
documentos da Academia de Guerra), disponíveis para investigações. Uma revisão
da literatura identificou diferentes perspectivas e visões equatorianas, peruanas e de
acadêmicos e militares oriundos de outros países.
Este estudo procurou estabelecer a importância do treinamento de selva no
resultado de operações realizadas durante a guerra do Cenepa, em 1995. Para isto
a análise de eficiência militar e nos princípios da guerra, adotados por cada país e
nos dados levantados.
A partir dos resultados encontrados podemos concluir que: (i) As tropas de
Selva foram um elemento importante no conflito, mas não o decidiram. Uma serie de
capacidades, equipamentos e usos conjuntos possibilitou o resultado militar
(engenharia, antiaérea, artilharia de foguetes, aviação, dentre outros); (ii) as tropas
equatorianas possuíam um alto nível de treinamento de selva, tanto para oficiais
quanto para soldados distribuídos nas diversas modalidades de cursos (Tigres,
Pumas, Selva, Jaguares); (iii) O treinamento de selva foi eficaz nos encontros diretos
com o inimigo. O número de baixas de unidades que ficaram diversos dias em
contato direto com o inimigo e mesmo o alto número de baixas em um evento onde
poucos equatorianos possuíam cursos de selva ratifica tal afirmação. Desta forma,
respondendo a questão inicial se o treinamento (e as tropas) de selva foi importante
para o resultado do conflito, podemos afirmar que sim. Os conhecimentos, táticas,
técnicas e doutrinas de operações em ambiente selvático equatoriano possibilitaram
as tropas realizarem ações ofensivas, defensivas e suprimento na zona de combate
93•

de forma que mantiveram o controle de posições estratégicas quando o cessar fogo
foi declarado.
Uma importante lição da guerra de Paquisha (1981), cujos resultados
observamos na campanha do Cenepa (1995), foi a consciência por parte dos
governos sobre a importância de manter forças armadas equipadas, prontas e
treinadas para cumprir a sua missão. Para além de uma força de dissuasão as
capacidades efetivas garantiram um resultado diferente no campo militar, o que
permitiu uma vantagem no momento dos diálogos políticos para se alcançar a paz.
As ameaças futuras ao estado são desconhecidas, mas a manutenção de forças
armadas profissionais, flexíveis e versáteis é uma ferramenta valiosa para enfrentar
as contingências.
94•

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