Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Rio de Janeiro
2016
MIGUEL FERNANDO ITURRALDE MAYA – Ten Cel Cav
Rio de Janeiro
2016
M466i Maya, Miguel Fernando Iturralde
CDD 355.4
Dedico este trabalho a minha esposa
Lorena, meu amor e minha razão de vida,
a meus filhos, minha motivação constante,
a minha mãe, por seu afeto eterno, e aos
soldados que mudaram a história do seu
país.
AGRADECIMENTOS
A Deus, pelo dom da vida, pela tranquilidade e pela saúde, não só minha, mas dos
entes próximos.
A meus pais, pela dedicação integral, desde o meu primeiro dia de vida, pelo
exemplo e pela referência de ser humano.
Ao meu orientador, não apenas pela orientação, como também pelo incentivo e pela
confiança demonstrados em inumeráveis circunstâncias.
“O que vem primeiro ao campo de batalha
aguarda a chegada do inimigo fresco para
lutar. Quem chega atrasado ao campo de
batalha tem que se apressar e fica exausto
para lutar.”
(Sun Tzu)
RESUMO
The present thesis aims to establish all the possible links between the Ecuadorian army’s
jungle training, with the results of the armed conflicts during the Cenepa War (1995) against
Peru. The main objective is to determine qualitatively and quantitatively if the specific jungle
training allowed the troops to fulfill their objectives, and provided them with knowledge to
obtain measurable reports which include: number of death and wounded and the
performance during the raids developed or received. The study stars with a historical analysis
of Ecuador, its territorial loses and, a bibliographic review of the conflict.
It also identifies the increase of capabilities of the Ecuadorian army with the creation of the
Special Operation Units, and native units formed by local indigenous groups. Primary
information sources where used to establish the formation of officers and troops, and their
performance in combat. This information tries to verify which factors influenced on the
performance of the troops during the Cenepa War. Finally, there is an analysis of the lessons
learned and how did the Cenepa War propelled the army’s institutional transformation
process, which aims to maintain the jungle operational capability, required to defend the
country.
Key Words: Combat Efficiency; Jungle Training; Cenepa War; Jungle forest; Ecuador.
LISTA DE FIGURAS
4 CAPÍTULO IV – ANÁLISES................................................................... 62
4.1.1 Integração............................................................................................... 64
4.1.2 A resposta.............................................................................................. 66
4.1.3 A Destreza.............................................................................................. 68
4.1.3.1 Forças empregadas no Conflito do Cenepa........................................... 68
4.1.4 Qualidade............................................................................................... 76
5 CAP V – CONCLUSÕES....................................................................... 92
REFERÊNCIAS............................................................................................ 94
14•
•
1 INTRODUÇÃO E NOTAS METODOLÓGICAS
1
Uti Possidets é um princípio de direito internacional segundo o qual os que de fato ocupam um
território possuem direito sobre este.
19•
•
O Estado Latino-americano era incapaz de se organizar, fato que o
caracterizou não foi sua concentração de poder, mas sim a diluição deste
(CENTENO, 2012, p. 14). A sentença anterior descreve plenamente como Equador
republicano; um país frágil, sem planos, nem objetivos, incapaz de desenvolver uma
capacidade dissuasiva, se expôs e não pode enfrentar a cobiça e a ambição dos
outros países. A história do Equador está marcada como temos visto incontáveis
desdobramentos territoriais causados pelos interesses de seus vizinhos, devido à
ausência de uma visão e de uma clara política internacional.
2
A última guerra no continente americano, Guerra do Cenepa, em 1995.
27•
•
(MONCAYO, 2011, p. 77). Ainda foi construído outro destacamento, que foi
chamado de Etza nesta área, em 1991.
Com o objetivo de evitar confrontos, no mês de agosto foram iniciadas
conversações a nível diplomático para que se fixasse um acordo em favor do “Pacto
de Caballeros”, que determinava uma separação de forças de 2 km para cada lado,
para assim evitar o confronto militar. O acordo foi cumprido parcialmente, pois
persistia a ameaça de ataque ao Destacamento Ten Ortiz, “a negativa dos militares
peruanos em acatar o Acordo de Distensão foi um dos fatos que provocaram o
conflito armado de 1995” (MONCAYO, 2011, p. 78).
Foi estabelecida uma cartilha de segurança para evitar o enfrentamento e
entre outras coisas estabeleceu ainda que a Cueva de los Tayos fosse ponto de
coordenação até que se estabelecem os limites das partes da jurisdição
correspondente.
Testemunhei os acordos telefônicos ocorridos entre os generais
Carlomagno Andrade e Nicolas Hermoza, sobre manter a Cueva de los
Taylos, como um local de encontro, para se aplicar as normas de
comportamento e evitar conflitos. Tempos depois o presidente Fujimori
declarou que sua estratégia foi a de manter congelado o problema sobre o
Cenepa até que os assuntos internos estivessem sob controle. Já teria
tempo para se expulsar os equatorianos que, segundo ele, estavam
infiltrados nos territórios peruanos. (MONCAYO, 2011, p. 97)
3
Cabanas de apoio, construídas com material da área para descanso das tropas.
4
Posto de vigilância n° 1 Soldado Pastor - Peru.
5
Base assim denominada pelo Exército equatoriano para identificação.
6
Destacamento peruano na Zona do Cenepa.
29•
•
equatorianas, por não ser um mediador benevolente para os países.
(MONCAYO, 2011, p.119).
7
Denominado assim em homenagem ao Comandante do Exército morto um mês antes em um
acidente aéreo, enquanto visitava os destacamentos de fronteira.
8
Referência do livro de meu pai. OJO.
30•
•
permanentes, prontos para o confronto, como aconteceu logo depois (CHIABRA,
1995, p. 33). No final do mês de dezembro o General López da Divisão de Selva do
Peru reforça os PPV, com o objetivo de detectar as prováveis tropas equatorianas
infiltradas no território peruano.
No início do novo ano a região do Cenepa recebeu soldados equatorianos e
peruanos cada um deles liderado por seus comandantes e estavam motivados em
cumprir suas respectivas missões, que neste momento se encontrava no centro das
atenções continentais e internacionais, destacando o Valle do Cenepa.
Na primeira semana do mês de janeiro foram identificados vários
movimentos das tropas peruanas, visando fazer o reconhecimento da área. No dia
11 de janeiro ocorreu o primeiro combate entre as patrulhas equatorianas e
peruanas na área “Y”, a patrulha peruana é derrotada e se retrai voltando para o
PV1.
No dia 7 de janeiro foi descoberta a construção de instalações peruanas na
área da bacia de los Tayos, esta base possuía todas as condições para que
pudessem cumprir futuras missões, ocupação acima da Cordilheira do Cóndor,
estabelece-se como fronteira, assim como tinha ocorrido na área de Cuzumasa
Bumbuíza, como posto de vigilância em Pachacutes (HERNANDEZ, 1997).
No dia 9 de janeiro uma patrulha peruana identificou tropas equatorianas
com um efetivo superior que os cercaram e depois foram acompanhados até a bacia
de los Tayos (CHIABRA, 1995).
Em 11 de janeiro ocorreu um encontro entre as patrulhas envolvidas, onde
se evidencia que o Peru estava infiltrado na área de conflito (HERNANDEZ, 1997).
Para o Peru “as operações se iniciaram quando as tropas equatorianas violaram as
normas atribuídas na Cartilha de Segurança, quando atacaram a patrulha do BIS
‘Callao’ N° 25” (CHIABRA, 1995, p.15).
No dia 16 de janeiro o comandante do Teatro de Operações (TO) General
Moncayo recomenda ao comandante do AGMI que não ocorra uma guerra por
posições, mas que sejam empregadas as bases clandestinas para que se tenha
uma maior flexibilidade (HERNANDEZ, 1997, p. 76).
A partir do dia 17 de janeiro o Peru reforça suas unidades e avança
conseguindo no dia 18 de janeiro infiltrar uma patrulha e construir um heliporto entre
a Base Sur e Coangos (HERNANDEZ, 1997). Existe uma discrepância de data com
o autor peruano que informa que a patrulha Tormenta foi emboscada no dia 11 de
31•
•
janeiro, mas no desenrolar da situação, foi constatado que causou baixa para o
inimigo e que lhe conduziu a elevação de 1274 lugares com a criação do heliporto
de Tormenta, dando condições de controla as operações aéreas de Coagos
(CHIABRA, 1995, pg.45).
O comandante do AGMI comenta que uma das limitações impostas pela
missão era que não queriam desencadear o conflito, foi o de restringir os
reconhecimentos aéreos, “o não poder usar os helicópteros para reconhecimentos
aéreos, como atitude de não provocar, se constitui numa limitação que o Peru
aproveitou para infiltrar suas tropas” (HERNANDEZ, 1997, p. 89). A outra limitação
era a de não atacar com fogo de artilharia os destacamentos peruanos PV1.
Em 23 de janeiro ocorreu a última comunicação entre o General López e o
Coronel Grijalva. O Peru, não aceita o Status Quo. O Coronel Grijalva informa que a
partir de então se ocorrem sobrevoos, serão repelidos sob fogo. Então neste mesmo
dia a patrulha peruana s infiltra nas nascentes do rio Cenepa, designando esta área
como Base Norte.
No dia 24 de janeiro foi ordenado a evacuação do AGMI, que possui 4
equipes de combates (ECO). Imediatamente foi ordenado o planejamento e a
preparação do ataque. Tropas e operações a cargo da patrulha Zafiro se infiltraram e
assim puderam reescrever a história do Equador. O Tenente Tello comandante de
um da equipe de combate narra como ocorreram os fatos no dia 26 de janeiro:
As 17:55 horas o subtenente Jaramillo disparou a bengalas, dando início ao
ataque. Sob fogo de morteiros, fuzis e foguetes LAW, que se concentrou na
base da coluna da luma, o combate se estendeu aproximadamente por 11
minutos, durante os quais as tropas peruanas foram totalmente
surpreendidas e assim não puderam ter nenhum tipo de resistência,
optando pela luta de uma desesperada retira selva adentro (MONCAYO,
2011, p. 125).
9
O General Mauro Barroso tinha a função de Adido Militar do Brasil no Equador e foi uma
testemunha da Guerra do Cenepa, atuando também como coordenador do grupo percursor da
Missão de Observadores Militares do Equador e Peru (MOMEP). Atuou como fiscal do cessar fogo
estabelecido pelos fiadores do Acordo.
10
Arutam, soldado nativos, que possuíam destrezas especiais para operar na selva.
35•
•
No dia 21 de fevereiro com a chegada do grupo precursor os observadores
militares liderados pelo General brasileiro Ariel Pereira da Fonseca, neste mesmo
dia o General Moncayo apresenta um áudio, onde o comandante da Divisão de
Selva o General López Trigoso, determinava a conquista de Tiwintza neste dia.
Membros da missão avançada entraram em Coangos em 22 de fevereiro,
foram enviados pelos países fiadores do Acordo, para se certificar do cumprimento
do cessar fogo. Contrário ao esperado se encontrou uma luta acalorada na somente
uma selva espessa poderia esconder. Em plena Declaração de Paz, na qual se
comprometeram em cessar fogo durante as operações militares, de maneira
traiçoeira e desleal as tropas peruanas atacaram com todos seus meios Tiwintza, El
Maizal, Base Norte e a “Y”. O resultado foi: 13 mortes e 20 feridos sacrificados numa
jornada vergonhosa para os comandos peruanos.
No dia 27 de fevereiro, dia que para o Exército Equatoriano em 1995, foi
muito especial, isto porque celebraram as trincheiras. O comandante do AGMI
argumentava que “em outras regiões do mundo onde existem conflitos, os
observadores auxiliam imediatamente a fim de evitar o derramamento de sangue.
Neste caso levaram muito tempo. Definitivamente cada país tem que possuir seus
meios de defesa” (HERNANDEZ, 1997, p. 153). O cessar fogo dependia da vontade
dos dois países “um cessar fogo sempre será decisivo, e assim continuar a
intransigência equatoriana” (FOURNIER, 1995, p. 73).
Ao longo do conflito o Equador manteve a transparência de informação que
foi difundida, fato que permitiu alcançar uma vitória também de informação no campo
de combate.
O Equador derrubou novos dispositivos aéreos peruanos, quatro fixas (dois
Sukhoi-Su22, uma 37, um bombardeio Camberra e cinco helicópteros,
outros relatos indicam dois helicópteros derrubados (antes das cinco)
através de uma combinação de armas antiaéreas automáticas, mísseis
terrestres-aéreos disparados desde ombro ou aviões Kfir, o Equador teve
um A37 avariado. As perdas da equipe e o número de baixas de
combatentes peruanos chegam a trezentos, indicando que o Peru não
estava preparado para o acontecimento, enquanto o Equador estava muito
melhor preparado (MARCELLA, 2013, p. 7).
11
O capítulo da revisão bibliográfica foi submetido na forma de artigo para uma revista acadêmica da área.
39•
•
conflito do Cenepa, buscam compreender a complexidade deste fenômeno, como a
última guerra interestatal ocorrida América do Sul.
Iniciaremos a análise pelas obras que fazem uma abordagem histórica,
passando as visões do alto comando de cada país e as abordagens de autores
internacionais, para finalmente encerrar com os testemunhos de oficiais e soldados
envolvidos. Adrián Bonilla12 publicou o artigo Processo Político e Interesses
Nacionais do Conflito Equador – Peru (BONILLA, 1996) onde realiza uma “análise
dos atores e seus interesses, destacando a ausência de uma interdependência,
fundamental para a escalada do conflito, finalmente apresenta várias perspectivas
das negociações”. Ele afirma que em 1995 prevaleceu a opção bélica, pois todas as
condições diplomáticas foram restringidas em função da manutenção do Status quo,
além disso, o antagonismo de políticas exteriores existentes entre os países, os
baixos níveis de interdependência e a falta de uma intervenção internacional,
contribuíram para esta situação.
Posteriormente Bonilla, em 1997, publicou: As Imagens Nacionais e a Guerra:
Uma Leitura crítica sobre o Conflito Equador e Peru (BONILLA, 1997), quando trata
as categorias teóricas que envolvem os discursos nacionalistas em relação a suas
fronteiras e a percepção de cada um deles sobre o conflito. Permitindo identificar
claramente a representação da imagem nacional baseada em cada história. O
emprego da competência narrativa como política, que acaba evidenciando a imagem
de políticas exteriores contraditórias, isto em um conflito que envolve ambas as
sociedades.
Em 1999, Bonilla, publica: Força, Conflito e Negociação: Processo Político da
Relação entre Equador e Peru (BONILLA, 1999), onde aborda a importância da
fronteira para as duas nações, descreve os antecedentes e as implicações políticas
da guerra de 1995 e trata ainda da agenda de negociações até a assinatura do
acordo de paz.
Carlos Espinoza13 escreveu: A Negociação como Terapia: Memória,
Identidade e honra nacional no Processo de Paz entre Equador e Peru (ESPINOZA,
1999), que estabelece na colônia a origem da disputa centrada na área da “banda
do Alto Amazonas”, situada entre Putumayo e Marañon, essa zona é conhecida
como Mainas, tendo uma influência direta na população de Quito desde século XVIII.
12
Adrián Bonilla pesquisador do Flacso, em Quito.
13
Phd da universidade de Chicago especialista em temas latino-americanos.
40•
•
O escritor Ronald Bruce St John14, analista de temas andinos, publicou um
artigo denominado: As Relações Equador e Peru: Uma Perspectiva Histórica
(BRUCE, 1999), onde realiza uma análise sobre as raízes do conflito, chegando à
conclusão que a disputa fronteiriça entre Equador e Peru é um legado da
administração colonial espanhola e da falta de imprecisos limites fronteiriços
herdados desde sua independência. O autor destaca que na assinatura do Protocolo
do Rio de Janeiro (1942), existiu uma falta de interesse dos Estados Unidos sobre as
aspirações dos países envolvidos na disputa, “Washington não se importou com a
realidade onde foram traçadas as linhas fronteiriças, mas, sim que se obtivesse um
convênio” (WOOD, 1966, p. 338), devido sua preocupação com a Segunda Guerra
Mundial.
Por sua vez, o historiador equatoriano Jorge Nuñez15 em seu artigo: A
Imagem Nacional do Equador e Peru (NUÑEZ, 1999), suporta o argumento que em
todos os povos coexistem elementos positivos e negativos, de afirmação e/ou
negação do outro, de supervalorização do próprio e subestimação do estrangeiro. A
partir desta ótica é que analisa o conflito de 1995. Onde aponta que existem nas
histórias nacionais de cada país interpretações diferentes, misturando fatos com
argumentos jurídicos que desvirtuam muitos dos eventos históricos, tendo como tela
de fundo os interesses nacionais de cada um. Para o autor “O território é um legado
histórico de uma geração que a torna subsequente”, (NUÑEZ, 1999, p.160). A
imagem nacional baseia-se em suas aspirações e frustrações, contidas em mapas
oficiais, que apresentam limites irreais e não definidos. Esses limites separam povos
que tem as mesmas culturas, os mesmos ritmos, idiomas, línguas e formas
semelhantes de vida. Por exemplo, o Tratado Pedemonte Mosquera (1830), que
estabelecia como limite o Rio Marañón. Os mapas oficiais do Equador estabeleciam
como áreas não delimitadas e essa realidade forjaram a nacionalidade da história de
um país com uma constituição que mantinha uma concepção sem limites
conhecidos.
Percy Cayo, historiador peruano, em seu livro: “Peru e Equador:
Antecedentes de um longo Conflicto” (CAYO, 1995), concorda que o conflito limítrofe
surge por discrepâncias e versões diferentes de fatos históricos, como o
descobrimento do rio Amazonas, que vem desde Cuzco e não desde Quito. A
16
Sociólogo, Professor Pesquisador da Flacso Equador.
42•
•
identifica a existência de ideias nacionalistas inseridas em textos que vão gerar a
atitude. Em cima dos resultados ele argumenta que para se consolidar a paz deve
ocorrer uma reforma escolar e de conhecimentos que são ensinados.
Os pedagogos peruanos Malpica e Gonzales, escreveram sobre as “Imagens
Internacionais do Peru e Equador” (MALPICA CARLOS, GONZÁLEZ ALVARO,
1999), relação está existente entre as imagens que se tem uma nação da outra,
atitudes e condutas concretas que conduzem ao fortalecimento e cooperação ou ao
conflito. Mediante pesquisas são determinadas a existência de hostilidades entre os
povos das nações, uma atitude rejeição mutua, fato que será um obstáculo para a
construção da cultura de paz.
Luisa Pinto escreveu sobre: “Os Conteúdos Históricos Escolares e a
Possibilidade da Construção de uma Cultura de paz” (PINTO, 1999), isto porque os
sistemas de educação atribuem ao ensino da história a grande responsabilidade
pela formação da identidade nacional e para que seja possível se consolidar da paz
deve existir sempre uma reflexão sobre as imagens que transmitem os textos
escolares sobre o “outro”, fato importante, pois fomentam o desenvolvimento e a
paz.
David Mares17, no ano de 2012, junto com David Scott Palmer publicou o livro:
“Poder, Instituições e Liderança na Paz e na Guerra. Aprendizagem sobre Peru e
Equador (1995-1998)” (MARES DAVID, SCOTT PALMER, 2012), onde explica como
ocorrem os conflitos interestatais e a importância da existência das instituições na
obtenção de soluções. Posteriormente foi feita uma detalhada análise histórica sobre
o conflito, onde são descritas as decisões presidenciais que foram tomadas, as
pressões sofridas neste contexto, conclui evidenciando a importância da diplomacia
hemisférica, da política de solução e ainda apresenta vários desejos sobre
aprendizagens deixadas por está guerra.
O histórico conflito entre Equador e Peru, também é analisado por Edison
Macías18 em: A Campanha de 1941 e o Pós-Guerra (MACIAS, 2008) , apresentando
detalhes como o nível profissional e medidas de previsão para os dois exércitos
rivais, a organização das unidades e especialmente o detalhe das operações no
17
David Mares Chefe de assuntos Inter americanos da Universidade da Califórnia. Enfoca as relações internacionais da América Latina, a
política energética, política contra as drogas, assuntos civis e militares.
18
Edison Macías militar retirado, historiador dedicado a aprofundar o estudo da história nacional e suas Forças Armadas. Escreveu vários
volumes sobre a História General do Exército.
43•
•
oriente e o progresso das tropas peruanas, ante a falta de uma organizada
resistência das forças equatorianas.
Dobronski publicou no Boletim da Academia de História Militar: A Campanha
de 1941: Derrota Militar ou Política? (DOBRONSKI, 2015), referindo-se as
negociações do Protocolo do Rio de Janeiro, onde dá ênfase a Fórmula Aranha.
Também expõe claramente a falta de uma visão política equatoriana, que não se
preocupou em desenvolver fronteiras vivas que permitiriam a ocupação estratégica
de fato, evitando assim novos progressos, materializando o abandono do território
amazônico, por estar envolvidos em lutas internas. No Arroyo del Río, o presidente
do Equador em 1940, fortaleceu sua guarda pretoriana por ter suprimida sua guarda
pessoal no Ministério da Defesa, apesar das claras evidências de uma futura
agressão no Peru. Em 1941, o Peru optou pela invasão armada contra o Equador e
assim consolidar as posições obtidas desde 1829 pelo território em disputa. Neste
artigo descreve o avanço pelo oriente da província de El Oro.
O pesquisador peruano Alberto Adrianzén em seu artigo: Peru e Equador:
Inimigos Íntimos (ADRIANZÉN, 1999), apresenta a revolta equatoriana contra o
Protocolo o Rio de Janeiro, de 1942, este protocolo declara que o Peru deve
reconhecer que os problemas com o vizinho são também problemas nacionais e não
resultados internos do país, necessitando então de uma solução global, ampla que
permita a integração entre os dois países.
Posteriormente Macías, escreveu: Antes e depois do Conflito da Cordilheira
do Condor de 1981 (MACIAS, 2008), descreve os incidentes fronteiriços, relatando
os fatos ocorridos, as operações conduzidas, dando maior destaque às operações
do Grupamento Condor, e a sua capacidade de desenvolvimento. Consta também
uma lista dos mortos em combate.
A Academia de História Militar do Equador publicou seu primeiro livro sobre
este assunto com o título: História Militar do Equador, onde o General José Gallardo
escreveu: “De Paquisha a Cenepa” (GALLARDO, 2010), neste artigo realiza uma
viagem muito interessante sobre o posicionamento equatoriano em relação ao
Protocolo do Rio de Janeiro, o conflito da Cordilheira do Condor de 1981, a
instalação do destacamento de Pachacutec em 1991, o conflito do Cenepa, os
resultados da última guerra dando uma explicação do porque não atacaram os
destacamentos peruanos na guerra. Finaliza ressaltando que a vitória militar é uma
façanha do povo equatoriano.
44•
•
A Academia de História Militar também emitiu Boletins de História de forma
anual, Gallardo publicou: As Forças Armadas do Equador entre 1960-1999,
(GALLARDO, 2014), onde explica como nos anos 30 a instabilidade política gerou
graves problemas internos, razão pela qual as forças armadas não puderam ser
atendidas em suas reivindicações causando a falta de condições pra enfrentar e
impedir o avanço das tropas peruanas que invadiram o país em 1941, para
dominarem a navegação dos cursos de todos os rios que nascem no Equador.
Sobre o conflito de 1941 o texto de Leslie Bethell (2002) em The Cambridge History
of Latin-america (2002), analisa que os melhores recursos militares equatorianos
estavam dedicados à repressão interna.
O General peruano Mercado Jarrin escreve no livro Geopolítica Terceiro
Milênio (1995), aborda os conflitos fronteiriços com o Equador e Peru, onde analisa
os resultados diplomáticos, firmados após as ações militares. O autor aborda a
“estratégia de peça territorial” na que aponta que para se sentar e negociar antes de
um problema de fronteira é conveniente para forçar a contrapartida por uma
ocupação territorial. A partir desta perspectiva uma guerra entre Equador e Peru,
poderia desestabilizar a região, se deve manter as estruturas militares e capacidade
de dissuasão eficaz para o eventual desafio de expandir um vizinho.
A existência do Sistema Fluvial do Rio Cenepa, novamente, foi ignorada no
Protocolo do Rio de Janeiro, por um erro geográfico essencial, este protocolo então
procurou buscar uma solução para o problema existente, devido a negado do Peru a
existência deste sistema de forma sistemática. Em 1995 o enfrentamento militar se
deu na Cordilheira do Condor, ocorreu ao contrário de todos os conflitos anteriores,
quando cessavam os combates às tropas equatorianas conservavam suas posições.
Gallardo manifesta que:
A vitória do Cenepa foi o lógico resultado do esforço de muitas gerações de
oficiais e das tropas das três armas das Forças Armadas, baseadas no
treinamento cotidiano, severa disciplina consciente, de uma hierarquia
racional, cumprimento de ordens em todos os níveis de comando, cultivo de
um espírito de corpo, baseados na vontade de cumprir o dever a custa da
vida (GALLARDO, 2014, p. 223).
19
Pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos de Buenos Aires.
20
David Scott Palmer es Professor de Ciências Políticas e Relações Internacionais da Universidade de Boston, publicado artígos sobre
política do Peru.
48•
•
do Rio de Janeiro, linhas de tempo das hostilidades históricas e outra da guerra do
Cenepa.
A visão da atuação da MOMEP pode ser percebida também por meio dos
relatos dos observadores diretamente envolvidos. O Norte-americano Kevon Higgins
escreve “Military Observer Mission Ecuador Peru” (1998). Onde advoga que as
missões de paz regionais têm vantagens sobre missões multinacionais, e “são mais
eficazes se o suporte é a mobilidade centralizada e disponível e comunicação e
envolvimento dos países em observadora disputa” (HIGGINS, 1997).
Apresentando a organização da MOMEP e a logistíca à cargo das forças
armadas brasileiras esta o artigo do major Nilton José dos Batista Moreno Júnior A
Participação do Brasil no processod e paz Equador-Peru (2005). Uma visão mais
elaborada, com um histórico do conflito, apresentando as perdas territorias do
Equador, os motivos da guerra e o cotidiano das ações da MOMEP é o livro do
Coronel Mauro Barroso, Cenepa: a última guerra Sul-americana (2007).
Em texto recente, El Conflicto del Cenepa: Su camino hacia la Paz, Cristian
Valdivieso (VALDIVIESO 2015), analisa o conflito à partir de sua intensidade e
fatalidade, bem como das negociações entre os países envolvidos e os países
garantes do Protocolo do Rio (1942). Ele fecha trazendo uma visão da atuação da
MOMEP na consolidação da paz.
Posteriormente Scott Palmer escreveu: O Conflito Equador-Peru: O papel dos
fiadores (SCOTT PALMER, 1999), desde Protocolo do Rio de Janeiro ocorreu mais
de 21 confrontações militares neste conflito. Com a intervenção dos fiadores, a
missão MOMEP, estabeleceram-se procedimentos que asseguram a reativação do
conflito, levando a discussões a fim de uma solução definitiva, conseguidas através
de iniciativas diplomáticas múltiplas, tais como: conferências acadêmicas criando um
ambiente para uma solução pacífica.
O livro Tiwintsa de Rafael Padam (1995) aborda a questão indígena sobre
duas óticas: a participação dos indígenas Shuar e Achuar nas unidades
equatorianas que combaterem em 1995; e como fixação dos limites não levou em
consideração as áreas que os povos indígenas já residiam há séculos.
Gabriel Marcella21 apresentou seu estudo sobre: “a Guerra e a Paz no
Amazonas e as Implicações do conflito no vale do Cenepa” (MARCELLA, 2013),
21
Gabriel Marcella es Doctor investigador del Departamento de Seguridad Nacional y Estrategia, del Colegio de Guerra del Ejército de los
Estados Unidos.
49•
•
onde apresenta uma análise histórica inicial do conflito e as implicações políticas e
estratégicas da guerra. De igual maneira, expõe algumas perspectivas sobre a
resolução do conflito. Este artigo fala sobre os níveis de preparação das tropas para
o encontro, também estabelece o número de baixas e perdas das tropas peruanas.
O ponto de vista das negociações de paz é abordado de forma especifica nas
obras: de NOVAK e NAMIHAS, Perú ecuador: una experiência exitosa de paz y
buena vecindad (2010); e Territorial disputes and their resolution: the case of
Ecuador and Peru (1999) de Beth Simmons.
Paula Lenkanda22 escreveu: “O conflito territorial entre Equador e Peru no Rio
Cenepa (1995): Entre uma Mediação falida e outra bem-sucedida” (LEKANDA,
2009), este artigo foi publicado na Revista Pléyade 23 que realiza uma abordagem
inicial onde evidencia a complexidade do antigo conflito, o que não foi conseguido
pelo Protocolo do Rio de Janeiro, devido ao Cenepa, gerando sentimentos
contraditórios nos dois países. Incorpora ainda, uma análise baseada no conceito de
BATNA’s24, melhores alternativas para a resolução dos conflitos.
Jimmy López no seu livro: Equador-Peru Antagonismo, negociação e
interesses nacionais (LOPEZ, 2014), estabelece claramente a influência que teve os
Estados Unidos na solução do conflito como parte de sua política externa. Apresenta
também uma análise sobre o conflito, baseada nas teorias de relações
internacionais.
Claudia Donoso no seu livro: Equador-Peru: Evolução de uma década de paz
e desenvolvimento (DONOSO, 2009), ressalta a importância da diplomacia dos
acordos internacionais, que procura respeitar a identidade cultural dos povos e seus
Estados, a necessidade da integração fronteiriça como ferramenta de
desenvolvimento e progresso nas condições de segurança.
David Mares apresenta como foi transmitida a informação do conflito a nível
internacional, isto em seu artigo: Uma análise do conteúdo da cobertura dada pelos
mais importantes diários dos Estados Unidos e Reino Unido entre 1994 e 1998
(MARES, 1999), apoiado na resposta de três perguntas relacionadas aos interesses
dos países, os antecedentes do conflito e as possíveis soluções que devem se
considerar a imprensa dos países mais desenvolvidos do mundo, não tratam o
22
Historiadora e Licenciada em Ciências Políticas da Universidade Católica do Chile.
23
Revista do Centro de Análise e Investigação Política do Chile
24 El concepto de Best Alternative to a Negotiated Agreement (BATNA) desenvuelto na Fisher et.al. Batna e a melhor r alternativa para
negociar um acordo,”. E uma orinetção para atoma de desições si se negocia o não um acordo
50•
•
conflito como importante, este fato nos permite evidenciar a realidade, problemas na
América do Sul são problemas menores, limitado a América e assim podemos
concluir que repetiu o que foi exposto no Wood 1966, para Washington não importa
por onde passe a linha, somente importa que haja um limite. Baseado neste conceito
foi que garantiram o Protocolo do Rio e 50 anos depois segue sem importância para
eles.
Francisco Rojas Aravena25 escreveu: Um Desafio a Segurança Hemisférica
(ROJAS ARAVENA, 1999), fazendo referência a que o conflito deve ser analisado
sob uma ótica baseada no conceito da crise internacional, que “aparece como a
caracterização mais adequada já que possibilita uma melhor compreensão das
diversas etapas que evolui a disputa bilateral onde participam outros atores
extremos, assim como permite organizar respostas projetadas para desativar a
situação de tensão”.
Freddy Rivera26 escreveu: Algumas dimensões prospectivas a ser
considerada para que se materialize a paz (RIVERA, 1999). A análise determina que
devesse levar em conta as dimensões, políticas e os cenários que se apresentam e
a intervenção dos atores, os impactos que geraram a integração com a existência
dos problemas regionais em cada um dos países, a identidade nacional que deve
fortalecer-se com valores como a tolerância e o respeito. Finalmente, recomenda
que se faça uma análise do conceito de soberania e a vigência de seu significado.
Para a historiadora peruana Susana Aldana, em seu artigo: “O norte do Peru
e o sul do Equador” (ALDANA, 1999), existe beligerância social, especialmente nos
lugares onde houve confronto direto. Porém, o principal problema atualmente se
apresenta através de uma agenda conjunta de desenvolvimento, sua
complementariedade de cultura e sociedade, assim como os interesses econômicos
devem ser reconhecidos e assumidos com empenho pelos atores nacionais e locais
para que se obtenha em fim o desenvolvimento regional.
Beth Simmons27 em 1999 no seu livro: Disputas territoriais e sua resolução. O
caso do Equador e do Peru (SIMMONS, 1999), estabelece o método de apoio de um
terceiro ator sobre a resolução do conflito interestatal. Realiza uma análise dos
aspectos históricos aprofundando-se na solução diplomática do conflito, cita como
dado especial que as baixas estão entre 200 e 1500 mortes como produto do
25
Francisco Rojas Aravena eol Direitor da Flacso Chile.
26
Rivera Fredy Sociólogo, Professor pesquisador da Flacso Ecuador
27
Beth Simmons e pesquisadora do Instituto da Paz nos Estados Unidos da América.,
51•
•
conflito. Comenta ainda sobre os fatores que ajudaram na resolução do conflito.
Conclui enfatizando a importância da presença dos aliados para a resolução do
conflito.
Recentemente a Academia de Guerra do Exército do Equador publicou fontes
primárias relativas a Guerra do Cenepa. Os documentos estão consolidados em
cinco volumes e que se encontram na Biblioteca da Academia de Guerra do Exército
do Equador, como fonte de consulta, (AGFT, 2015), estando os mesmos abertos a
pesquisadores. Cada volume compila um tipo de informação diferente que pode ser
resumida da seguinte forma:
Em 1994, o Equador foi governado por Sixto Durán Ballen arquiteto que
enfrentou as consequências de uma situação económica complexa. Sixto, de
personalidade calma, mas determinado, e apesar de sua saúde por causa de sua
idade, liderou a defesa nacional com grande entusiasmo e motivação. No Peru, o
presidente Alberto Fujimori estava terminando o seu mandato e buscou a reeleição.
O governo Furimori foi classificado como autoritário por causa de sua decisão de
enfrentar as guerrilhas do Sendero Luminoso, durante os quais a segurança interna
é priorizada, passando ao segundo plano os problemas fronteiriços com o Equador.
(CHIABRA, 1995). A personalidade do presidente Fujimori também foi demonstrada
em várias ocasiões, que geraram confusão especialmente em suas visitas à
Cenepa, que foram considerados provocações por parte da OEA, porque inclumplía
o Acordo Itamaraty. (ROSPIGLIOSI, 1995).
Também é preciso lembrar que o Peru estava às portas de um processo
eleitoral no Fujimori estava buscando a reeleição. Esta informação é confirmada “A
Campanha eleitoral para reeleição do presidente Fujimori no Peru estava em
andamento e o desencadeamento das operações militares serviu para assegurar
sua vitória” (BARROSO, 2007, p. 49).
No Equador, após o retorno à democracia, em 1979, ele aplicou o sistema
de segurança nacional, que permitiu necessidades de defesa por parte dos governos
são suportados apesar das restrições orçamentais. O Objectivo Nacional
Permanente para manter a integridade territorial expressa através do Conceito
Estratégico Nacional e do Objectivo Político Territorial de alcançar uma saída
soberana e contínua ao rio Marañon foi estabelecido. Equador favoreceu a
negociação e Peru, por seu turno argumentou que não havia nenhum problema
territorial com o Equador (MONCAYO, 2011).
No Equador, a possibilidade de enfrentar novamente para o Peru foi
realizada com a unidade nacional expressa maciçamente em concentrações de
apoio para ações do Estado, como poucos antes visto o país inteiro foi mobilizada
motivado pelo slogan "Nem um passo para trás" gerado a partir do Palácio do
Governo, espalhou-se por todos os cantos e gritou muito patriótica naqueles
momentos. As pessoas aceitaram o desafio de sustentar as suas forças armadas em
54•
•
guerra. Enquanto isso Peru, a atmosfera foi tranquila. O General Barroso expressou
"Ou clima vivido em contraste Quito agitação militar e política, e em Lima era
absolutamente normal e tranquila (BARROSO, 2007, p. 52). Este ambiente de
instabilidade social e económica foi o quadro de fundo para a Guerra do Cenepa.
FONTE: Informe de Rendición de Cuentas de las Fuerzas Armadas (2013), Informe de Gestión de las
Fuerzas Armadas (2013) y pagina web COMACO Ecuador.
Esta divisão não se articula com a clássica separação das regiões naturais
do Equador (ver figura 2), mas está conectada com as dinâmicas das fronteiras e
desafios à segurança e defesa de cada uma delas. Como, por exemplo, CO1-Norte,
que ocupa toda a fronteira com a Colômbia e parte da fronteira com o Peru, estando
responsável pelo combate as ações das Forças Armadas Revolucionais da
Colômbia (FARC), e opera 3 diferentes regiões naturais: Costa, Andes e Amazônia.
No caso do Brasil:
30
OG N° 136, de 3 ago 1981, assinado pelo General – Comandante Geral Medardo Salazar Navas.
61•
•
menta:
Para que um país tenha Forças Armadas profissionais, significa não
somente que tenha obtido uma alta competência militar de combate como a
Guerra do Cenepa demonstrou, com a condução de operações conjuntas
nas que oficiais, tropa, reservas treinadas como os Arutam, uma das mais
mobilizadas e que, empregando civis, esses responderam com heroísmo a
decisão política da soberania nacional (JARRÍN, 2014).
4.1.2 A resposta
4.1.3 A Destreza
A Preparação das tropas faz parte da habilidade, é a preparação das unidades que
lhe permite atender e missões de combate em ambientes exigentes.
Em geral os soldados peruanos possuíam qualidade superior aos soldados
equatorianos, o fracasso ocorreu não por falta de treinamento, mas sim por
falta de experiência. A maioria dos oficias e muitos da tropa peruana já
haviam estado em combate com as guerrilhas do MRTA - o Sendero
Luminoso, muitas vezes em terrenos similares a do conflito. (SPENCER,
1998, p. 149)
Iwias
Pumas 20 semanas
Total 32 100%
FONTE: Quadro elaborado pelo pesquisador, baseado em AGFT, 2015. * MAIZAL (Posição do morteiro
81mm atacado na Quarta Feira Preta Trueno II).
73•
•
Baseado no quadro 8, podemos observar que existe uma relação entre
os mortos e a falta de treinamento, pois dos 32 mortos, 8 foram do Grupamento
Alfaro, no qual apenas 42,36% (C.f. Quadro 2) do efetivo possuía treinamento
de selva. Estas oito baixas ocorreram na “quarta-feira preta”, em o MAIZAL
(Trueno II), quando foram surpreendidos pela infiltração inimiga na posição dos
morteiros. Eram aspirantes que se encontravam em processo de formação
militar e não tinham ainda cumprido seu período de treinamento em selva,
também não dispunham de experiência. Este único ataque foi responsável por
25,81% do total das baixas oficiais do Equador durante o conflito e se pode
estabelecer uma relação entre o número de baixas e o pouco treinamento e
número das operações conduzidas.
Pelo contrário, unidades especiais com melhor treinamento têm um
número variável de vítimas, em contrapartida estiveram em um maior número de
operações, estando desta forma mais expostos. Que é o caso GFE No 26 até 08
de fevereiro tinha cumprido mais de 22 ações de combate. (MONCAYO, 2011,
p 130). O GFE 24 suportou tudos os confrontos em Tiwintza, seus soldados
defenderam as suas posições e 6 deles morreram nessas missões. O nível de
treinamento superior a 90%, esta unidade sofreu vários ataques em fevereiro e
baixos representam apenas 22,58 do total de mortos do Equador.
A análise identificou que 13 de 20 unidades equatorianas envolvidas no
conflito tinham em média mais de 80% de seus efetivos com cursos de
formação voltados para operações em ambientes de selva. Apenas 5 unidades
possuíam uma média inferior a 50% de pessoal treinado neste tipo de combate.
As unidades de Forças Especiais apresentavam uma média de 93,48% de
treinamento na selva e eles foram utilizados desde o início das hostilidades, e
marcarão uma diferença significativa nas operações iniciais. Os resultados
mostram que os Batalhões de Selva têm uma média de 32,33% de treinamento
na selva, este resultado é porque estas unidades são na sua maioria composta
de recrutas (conscritos) e praças, que só tinham cursos de formação militar
básica.
A partir de fevereiro, o Peru mobiliza as unidades de tropas especiais
que ocasionaram um aumento no número das maiores baixas equatorianas já
no final das operações.
74•
•
4.1.4 Qualidade
Quadro 16 – Comparação I
Objetivo: É a meta; o fim da manobra; é a razão pela qual se atua.
Equador Peru
Conseguiu manter o território em sua Não estabeleceu um objetivo físico, que lhe
posição. O centro de gravidade da operação permitisse conquistar uma vantagem
passou a ser Tiwintza, que não foi alcançado estratégica que facilitasse o
pelas tropas peruanas. As unidades desenvolvimento das ações subsequentes.
mantiveram suas posições. “Foi induzida a assinatura de uma paz sem
expulsar as tropas, sem ter cumprido a
missão, sem atingir o objetivo”.
FONTE: SPENCER, 1998, p. 150. MACIAS, 2010, p 76
Quadro 17 – Comparação II
Unidade de Comando: este princípio assegura que todos os esforços estejam direcionados
a um fim comum.
Equador Peru
A cadeia de comando foi estabelecida pelo Empregou uma comunicação via
TO com as grandes unidades Forças de mensageiros para evitar serem detectados e
Tarefa ATMI, ATCA, BS 21 “Cóndor” assim as ordens eram emitidas1.
Troca de comando: O General López Trigoso
Foi estabelecida uma liderança permanente comandou as operações até 10 de fevereiro
com os comandantes e oficiais. e a partir desta data assumiu o comando das
operações o General Chiabra2.
Apenas um general comandou toda a Para piorar a situação, Hermoza deu Lopez
campanha (Gen. Moncayo) Trigoso comandante do T.O.
83•
•
responsabilidades administrativas, ele se
tornou um comandante de logística de
retaguarda, em vez de acompanhar as suas
tropas para a área combate localizada 270
quilómetros a norte. (Erros da guerra)
FONTE: CHIABRA, 1995, p. 57, 64, 155, VARGAS, 1995
Quadro 19 – Comparação IV
Liberdade de Ação: Significa manter a iniciativa, obrigando o inimigo a se submeter.
Equador Peru
As patrulhas deviam operar com liberdade a Buscaram ações que os levariam a resultados
fim de manter suas posições1. decisivos e assim poderiam escolher quando e
As tropas não faziam frente; atacavam e iam onde atacar;
ocupando posições em profundidade para Patrulha que pudessem atuar com maior poder
segui desgastando o inimigo. Conservaram de fogo de forma independente2.
sua capacidade de combate, procurando não A forma de combate das Forças equatorianas
sofrer baixas e ocasionar um maior desgaste acabou afetando o ritmo de avançar e a
possível para o inimigo2. possibilidade de se obter resultados em menor
tempo3.
FONTE: HERNANDEZ, 1997. GALLARDO, 2010. CHIABRA, 1995, p. 63.
Nós não nos aprofundamos nas operações e com isso concedemos uma
grande vantagem para o exército equatoriano, devido a esta atitude eles
tiveram livre iniciativa e liberdade de manobra sob fogo e também puderam
dizimar nossas naves e nossos combatentes (LEDESMA, 1995).
Quadro 20 – Comparação V
Massa e Economia de Forças: Dosagem adequada e aplicação oportuna.
Equador Peru
Princípios utilizados de forma efetiva As operações começou sem ter mobiliado
demonstrado através da reorganização da todos os meios e recursos para empregar.
85•
•
Frente com a criação da Força de Tarefa Com o progresso das operações foram
Carlomagno Andrade (ATCA), tento como incorporadas unidades improvisadamente.
objetivo manter uma organização flexível
com capacidade de operação, fato que
conduziu um alívio para o local1.
FONTE: MONCAYO, 2011. MACIAS, 2009. p. 142
Quadro 21 – Comparação VI
Manobra: Colocou o inimigo em posição de desvantagem, por possuir uma aplicação
flexível do poder de combate.
Equador Peru
O ataque a Base Norte foi uma As manobras empregaram forças de
demonstração da forma como operou o fixação, desborda mento, uma de suporte e
Equador, decisiva direta e frontal. As uma de reserva.
manobras geralmente foram contra-ataques Nem sempre contaram com um suporte que
das forças peruanas1. permitisse uma sincronização efetiva.
É uma força convencional que se utiliza de
pequenos elementos para se infiltrar,
apoiados por elementos com alta tecnologia.
FONTE: MACIAS, 2009. LEDESMA, 1996.
Quadro 24 – Comparação IX
Moral: O contínuo aprimoramento e a manutenção da moral elevada são essenciais para o
êxito da guerra.
Equador Peru
A moral foi a base de exemplo dos comandos Apesar da “dolorosa verdade” já citada
em todos os níveis, a férrea disciplina, a anteriormente, temos também que citar que
decisão patriótica de enfrentar o inimigo, os soldados peruanos combateram com
somado a grande Unidade Nacional, suporte valentia e decisão. Haviam soldados com
das forças militares, foram os fatores mais experiência de combate que se revelaram
importantes para o êxito das operações 1. no campo de batalha2.
FONTE: AGFT, 2015 SPENCER, 1998, p. 149.
Quadro 25 – Comparação X
Exploração: Aproveitar as oportunidades e empregar a capacidade de suas forças para
obter os efeitos desejados e que facilitassem a consecução do objetivo.
Equador Peru
Ataque a Base Norte; O CCFFAA, não implementou a surpresa, a
Emprego de artilharia de foguetes cobrindo rapidez, a manobra, nem uma ação
88•
•
áreas; decisiva para expulsar as tropas
Uso de misseis Igla inibindo a presença de equatorianas, isto porque não trouxe para
helicópteros peruanos na área. área de combate uma artilharia de longo
alcance, suas tropas não possuía uma
mobilidade exigida pelas operações
aerotransportadas, não houve a
concentração da força e a utilização do
fogo armado em momento e em lugar
decisivo1.
FONTE: MONCAYO, 2011. DEDAZO, 1995.
Quadro 26 – Comparação XI
Surpresa: A surpresa consiste em expor o adversário a uma situação inesperada e mesmo
que esteja pronto, que não tenha oportunidade de reagir adequadamente.
Equador Peru
Possuía informação e inteligência, Perdeu o momento surpresa a nível
interceptação das comunicações; o Equador estratégico operacional porque o Equador
investiu no preparo do terreno (engenharia), contava com o observatório do Cóndor
incorporou Forças Especiais no combate2. Mirador.
Enviaram as tropas para o combate sem
calcular que a resistência do invasor.
Problemas de logística dificultaram o
abastecimento das tropas1.
ALDANA, Susana. “El Norte del Perú y el Sur del Ecuador, Entre la región y la
nación.” Em Horizontes de Negociacion y Conflicto, por BONILLA Adrian, 169-189.
Quito: Flacso, 1999.
BONILLA, Adrian. “Las imagenes nacionales y la guerra: Una lectura crítica del
conflicto entre Ecuador y Perú.” Journal Colombia Internacional. Vol 40 (1997).
BORJA, Ivan “Cronicas Del Cenepa.” Em La Gesta Del Cenepa, Por Ejercito
Ecuatoriano. Quito, 2005.
BROOKS, R. The impact of culutre, society, and institutions and international forces
on military effectiveness. In: CREATING MILITARY POWER: The sources of Military
Effectiveness. [S.l.]: Standford Scholarship Online, 2007. p. 1, 26.
BRUCE, Ronald. Las relaciones Ecuador y Peru: Una perspectiva histórica. Vol. 1,
cáp. 5 em Ecuador Peru Horizontes de la Negociacion y el Conflcito, por BONILLA
Adrian, edição:: RISPERGRAF. Quito, 1999.
DURAN, Sixto. “Ni Un Paso Atrás.” Em La gesta del Cenepa, Por Ejército
ecuatoriano. 2005.
FOURNIER, Eduardo. Tiwinza con Zeta. toda la Verdad. Lima: FIMART, 1995.
96•
•
GALLARDO, JOSÉ. De Paquisha al Cenepa. Vol. 1, em Historia Militar del Ecuador,
Por MDN, edição: David Andrade, 335. Quito, 2010.
GALLARDO, José. “Las Fuerzas Armadas Del Ecuador 1960 - 1999.” Em Boletin
De La Academia De Historia Militar Del Ecuador Volumen No 7, Por Academia Militar
De Historia Militar Del Ecuador, 221, 279. Quito: Colección Histórica, 2014.
GALLARDO, JOSE. “La defensa militar del Alto Cenepa.” Em Tiwintsa. Quito: El
Conejo, 1995.
HIGGINS, Kevin. “Military Observer Mission Ecuador Peru: Doing A Lot With A
Little.” U.S. Army War College, Monterrey, California, 1997.
LEKANDA, Paula. “El conflicto territorial entre Ecuaddor y Perú por el Río
Cenepa (1995): Entre una mediación fallida y otra exitosa.” Revista Pléyade No 4,
Jul-Dic 2009.
—. La campaña del Cenepa. Vol. Historia General Del Ejercito Volumen 7. Quito,
2009.
—. Siglo XX. Evolución de una tragaedia para vivir en paz. 1. Quito: CEHE, 2013.
MALPICA Carlos, GONZÁLEZ Alvaro. “Imágenes Internacionales Perú-Ecuador.”
Em Horizontes de negociacion y conflicto, Por Bonilla Adrian, 255-237. Quito: Flacso,
1999.
97•
•
MARCELLA, Gabriel. “Guerra y paz en el Amazonas: Implicancias politicas del
conflicto Ecuador-Peru, para los EEUU y América Latina.” Por War College Us Army.
Washington, 2013.
MARES, David. “Un análisis del contenido de la cobertura dada por los mas
importantes diarios de Estados Unidos y Reino Unido, entre 1994 y 1998.” Em
Horizontes De Negociacion Y Conflicto, Por Bonilla Adrian, 203-223. Quito: Flacso,
1999.
NOVAK Fabián, NAMIHAS Sandra. Perú Ecuador: Una experiencia exitosa de paz
y buena vecindad. 1. Vol. 1. Lima: Konrad Adenauer, 2010.
SIMMONS, Beht. Territorial disputes and their resolution: The case of Ecuador
and Peru. Vol. Paeceworks No 27. Washington: Paceworks, 1999.
SPENCER, David. Peru-Ecuador 1995: the evolution of military tactics from the
conflict of 1981. Small Wars & Insurgencies, 9:3, p.129-151.