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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

CENTRO DE ESTUDOS GERAIS


INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E FILOSOFIA
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA POLÍTICA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA
MESTRADO EM CIÊNCIA POLÍTICA

MAURO BARBOSA SIQUEIRA

A FORMAÇÃO ACADÊMICO-PROFISSIONAL DO OFICIAL DE


ESTADO-MAIOR DA AERONÁUTICA BRASILEIRA E AS
CONCEPÇÕES TEÓRICAS SOBRE O PODER AÉREO: uma análise
temporal entre 2005 e 2008

NITERÓI
2008
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MAURO BARBOSA SIQUEIRA

A FORMAÇÃO ACADÊMICO-PROFISSIONAL DO OFICIAL DE ESTADO-MAIOR


DA AERONÁUTICA BRASILEIRA E AS CONCEPÇÕES TEÓRICAS SOBRE O
PODER AÉREO: uma análise temporal entre 2005 e 2008

Dissertação apresentada ao Curso de


Pós-Graduação em Ciência Política da
Universidade Federal Fluminense, como
requisito parcial para a obtenção do Grau
de Mestre. Área de Concentração:
Estudos Estratégicos.

Orientador: Prof. Dr. VÁGNER CAMILO ALVES.

Niterói
2008
MAURO BARBOSA SIQUEIRA

A FORMAÇÃO ACADÊMICO-PROFISSIONAL DO OFICIAL DE ESTADO-MAIOR


DA AERONÁUTICA BRASILEIRA E AS CONCEPÇÕES TEÓRICAS SOBRE O
PODER AÉREO: uma análise temporal entre 2005 e 2008

Dissertação apresentada ao Curso de


Pós-Graduação em Ciência Política da
Universidade Federal Fluminense, como
requisito parcial para a obtenção do Grau
de Mestre. Área de Concentração:
Estudos Estratégicos.

Aprovada em dezembro de 2008.

BANCA EXAMINADORA

______________________________________________________________
Prof. Dr. VÁGNER CAMILO ALVES – Orientador
UFF
______________________________________________________________
Prof. Dr. THOMAS FERDINAND HEYE
UFF
______________________________________________________________
Prof. Dr. JORGE CALVARIO DOS SANTOS
Escola Superior de Guerra (ESG)

Niterói
2008
À minha esposa e aos nossos gêmeos, o
primogênito varão Mikhael e o nosso anjo
de candura, a Victoria, cujo nome é uma
homenagem ao Deus Todo-Poderoso, em
face do amor e da união presentes em
nossa família, verdadeira dádiva de Deus,
vocês são as minhas fontes de inspiração;
a todos vocês dedico este trabalho e
externo, sinceramente, a minha especial
gratidão pelo constante apoio e pela
incondicional tolerância naqueles
momentos de ausência, ao longo do
tempo destinado, a par de todos os
obstáculos, na busca de conhecimentos
para comporem este estudo.
Peculiarmente, ao meu saudoso pai,
Alfredo Siqueira, que não pôde
compartilhar comigo, graças à vontade
divina, da realização deste
empreendimento intelectual.
AGRADECIMENTOS

Agradecer torna-se árdua e, às vezes, injusta tarefa, pois muitas pessoas e

inúmeras Instituições contribuíram para a consecução deste trabalho acadêmico.

Elas colaboraram com esta dissertação das formas mais distintas e em momentos

muito diversos. Sobretudo, todas fizeram aportes valiosos. Espero e desejo,

sinceramente, não vir a esquecer de nenhuma delas, pois já cometi o grave

equívoco de não tê-lo feito oportuna e pessoalmente a todas que me apoiaram.

Aos meus filhos, Mikhael e Victoria, quero agradecer pela inocência e, ademais, a

paciência com os finais de semana e noites “ocupados” e todos os momentos que

deixamos de viver juntos, para que eu pudesse continuar e concretizar esta labuta.

À mãe exemplar, Cristina, agradeço pela amizade, pela dedicação à família e por

todas as vezes que foi minha consultora, na busca por “aquela frase”, “aquela

palavra”, que emperravam e queriam de mim escapar. Minha fiel companheira, muito

obrigado pela vibração e pela tolerância por tudo aquilo que, por horas, deixamos de

fazer ao me debruçar sobre o teclado do computador ou em infindáveis leituras.

Aos meus pais, pelo ânimo e pela força que me deram alento para prosseguir.

Aos colegas de turma, em especial ao Leite, pelo salutar convívio, o qual me trouxe

desenvolvimento acadêmico e enriquecimento que dinheiro nenhum pode conceder.

Aos professores do Curso, pela amizade e pelo amor ao trabalho, que denotaram

um real sacerdócio por nós alunos. Em especial, Thomas e Vagner, por “polirem”

meu espírito investigativo. Renato Lessa, que me ensinou a ser um melhor ouvinte.

Ao pessoal de apoio, especialmente à amiga Graça (UFF) e ao Suboficial Ronaldo

de Paula Malheiros (UNIFA), pelas inúmeras ajudas e gentilezas a mim ofertadas.


À Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior –

CAPES, que firmou relevante convênio, em parceria com o Ministério da Defesa,

para fomentar a pesquisa em Defesa, no âmbito do Programa de Apoio ao Ensino e

à Pesquisa Científica e Tecnológica em Defesa Nacional – PRÓ-DEFESA, cujas

linhas mestras, formulam a premissa do mister intercâmbio com instituições de

ensino civis no Brasil e escolas militares de altos estudos, visando ao bem-comum.

Ao Ministério da Defesa, que, no âmbito da Defesa Nacional, desenvolve uma

Política Militar de Defesa cristalizada no conjunto de diretrizes militares, as quais

realçam, com veemência, que se deve incentivar o interesse e o crescimento de

núcleos de produção de conhecimentos em assuntos de defesa, sobretudo no setor

acadêmico e dar ênfase, notadamente, à capacitação dos recursos humanos, tendo

como propósito básico o elemento humano bem qualificado e bem capacitado.

À Universidade Federal Fluminense, ao Centro de Estudos Gerais, ao Instituto de

Ciências Humanas e Filosofia e ao Departamento de Ciência Política, por me terem

acolhido na situação de aluno. Sinto-me lisonjeado.

À Diretoria, pelo grau de excelência na organização do Programa de Pós-graduação

em Ciência Política da UFF, em especial, ao Prof. Eurico de Lima Figueiredo.

Ao Comando da Universidade da Força Aérea, que me indicou para representar o

COMAER, junto com meus outros dois colegas de farda, e me concedeu autorização

para realizar, sem prejuízo do serviço, um curso stricto sensu na UFF.

Aos Excelentíssimos Senhores oficiais-generais do Comando da Aeronáutica,

Tenente-Brigadeiro-do-Ar Paulo Roberto Borges Bastos, Tenente-Brigadeiro-do-Ar

Antonio Pinto Macedo (Diretor-Geral do Departamento de Ensino da Aeronáutica),

Major-Brigadeiro-do-Ar Louis Jackson Josuá Costa (atual Comandante da UNIFA) e

aos Brigadeiros-do-Ar Cláudio Alves da Silva e Lucio Alves Ângelo (Comandantes da


Escola de Comando e Estado-Maior da Aeronáutica, do anterior e do atual

comando), pela fidalguia e pela consideração prestadas a mim, durante as

pesquisas de campo, na condição de especialistas em Ensino Militar.

Aos Ilustríssimos Senhores Instrutores da Escola de Comando e Estado-Maior da

Aeronáutica pela compreensão e pelo profissionalismo demonstrados durante as

minhas pesquisas de campo. Em especial, ao Coronel Aviador Siaudzionis.

Aos instrutores da Subdivisão de Doutrina Militar da ECEMAR e, em especial, ao ex-

chefe daquele setor, Coronel Aviador Antonio Ricardo Pinheiro Vieira, pelo tempo

reservado à extensa entrevista. Ao meu colega de turma e amigo, Enio Beal Junior,

que muito contribuiu, com seu intrínseco altruísmo, para a consecução deste estudo.

Ao Major Couto e à Profª Luciana do CIEAR pela dedicação em traduzir o resumo

deste estudo, com presteza e com credibilidade, para o vernáculo da língua inglesa.

In memorium, aos Excelentíssimos Senhores Doutor Joaquim Pedro Salgado Filho,

primeiro Ministro da Aeronáutica, e ao Tenente-Brigadeiro-do-Ar Murillo Santos, que

demonstraram dedicação exclusiva à causa de uma moderna Força Aérea Brasileira

e, principalmente, se preocuparam, com muita visão estratégica, com a área da

Educação Militar Profissional do oficial de Estado-Maior e com o aperfeiçoamento do

Sistema de Ensino na Aeronáutica Brasileira.

Ao Excelentíssimo Senhor Brigadeiro Intendente Araguarino Cabrero do Reis, que

sempre me incentivou à leitura de importantes publicações, em áreas afetas à teoria

de guerra e ao poder aéreo, as quais embasaram este estudo.

Ao meu ex-chefe imediato, Coronel Aviador Antônio Carlos Marins Pedroso, e ao

meu ex-comandante, Coronel Aviador Ricardo de Moraes Ramos, pelo total apoio a

mim fornecido, em 2006, dispensando-me do dia-a-dia da seção para assistir às

aulas e para efetuar os trabalhos escolares previstos. Agradeço de coração.


Ao meu amigo e “guru” intelectual, Coronel Aviador Ubirajara Carvalho da Cruz, pela

inspiração que me proporcionou com o termo de sua lavra: o Homem Aeroespacial.

Agradeço ao meu ex-chefe imediato, Coronel R1 Marcio Rocha, pela contribuição

profícua durante entrevista, que abonou credibilidade à pesquisa de campo.

Ao chefe imediato, Brigadeiro-do-Ar Delano Teixeira Menezes, pela confiança em

mim depositada ao me recomendar para realizar curso de Doutorado na UFF, em

2009, e pelo apoio irrestrito na fase derradeira do desenvolvimento desta pesquisa.

Aos oficiais de Estado-Maior da Aeronáutica Brasileira, sujeitos da pesquisa, haja

vista, ao responderem o teste, terem demonstrado conhecimento, coragem,

aceitabilidade, senso crítico, interesse, companheirismo e espírito científico.

À memória do amigo e irmão, Almerisio Braga Lopes, ex-editor do periódico Air and

Space Power Journal em português, por averiguar a fidelidade de tradução

apresentada pelo autor deste trabalho dissertativo e por me enviar dos Estados

Unidos da América livros publicados pela Air University Press daquela Força Aérea.

Ao Prof Dr Thomas Heye, pelo apoio nas questões técnicas e metodológicas,

porquanto teve valor incomensurável neste caminhar como pesquisador-iniciante.

Ao Prof Dr Jorge Calvario dos Santos, pela disposição em dar suporte à definição do

projeto e angariar especialistas para as entrevistas. Também, pelas críticas

proferidas que muito me engrandeceram para aperfeiçoar este trabalho.

Ao meu orientador neste trabalho, Prof Dr Vágner Camilo Alves, pela disponibilidade,

pela gentileza e por sempre ter uma solução plausível aos meus problemas.

Aos companheiros da Loja Maçônica Olegário Maciel, pela tolerância durante o

período que me afastei dos trabalhos da Arte Real em virtude desta pesquisa.

Ao Grande Arquiteto do Universo, que é o Onisciente, o Onipresente e o Onipotente

Deus Todo-Poderoso, sou grato por tudo que tenho e que sou.
EPÍGRAFE

“O ensino que lhes ofereço é bom; por isso não abandonem a minha
instrução.”
Bíblia Sagrada – Provérbios de Salomão: capítulo 4, versículo 2.
RESUMO

Neste trabalho, foram perquiridas as relações existentes entre teoria do poder aéreo,
educação militar acadêmica e desempenho profissional de oficiais de Estado-Maior.
O estudo empírico foi consumado em dois diferentes tipos de etapas de pesquisa,
uma qualitativa e outra quantitativa. O objetivo da pesquisa foi analisar o nível de
conhecimento, acerca dos principais pensadores do poder aéreo, apreendido pelos
oficiais da Força Aérea Brasileira com o Curso de Comando e Estado-Maior. Iniciou-
se pela síntese das concepções teóricas de pensadores, clássicos e
contemporâneos, do poder aéreo, enfatizando-se as idéias básicas de Giulio
Douhet, John Warden III e Robert Pape. Perscrutou-se a Educação Militar
Profissional, as características do perfil desejado para o oficial de Estado-Maior e o
Sistema de Ensino Superior Aeronáutico Militar no Brasil. Visualizou-se a utilização
de um método aplicado em função dos resultados obtidos. O trabalho foi realizado
por meio de pesquisa de campo, documental e bibliográfica. As ferramentas usadas
na pesquisa de campo englobaram o questionário com os sujeitos da pesquisa
(oficiais da Força Aérea Brasileira com o Curso de Comando e Estado-Maior) e a
entrevista com especialistas no campo do Ensino Superior Militar. O objeto de
investigação da pesquisa foi a Educação Militar Profissional do oficial de Estado-
Maior da Aeronáutica e realizou-se no nível de pesquisa exploratória e descritiva. A
fundamentação teórica abarcou a Educação Militar Profissional da Força Aérea dos
Estados Unidos, as concepções teóricas de Giulio Douhet e, também, a teoria de
guerra de Carl von Clausewitz. Os resultados obtidos evidenciaram que, embora os
especialistas considerem importante o ensinamento de teorias afetas ao poder
aéreo, o conhecimento apresentado pelos sujeitos da pesquisa aponta ser pouco e
insuficiente. A fase conclusiva introduziu considerações acerca das relações entre
poder, política, estratégia, teoria e ensino superior militar. A relevância do estudo das
teorias do poder aéreo para a formação profissional de oficiais de Estado-Maior no
exercício das funções de estrategista, planejador militar, assessor e gestor da arte
operacional foi o foco da conclusão, que trouxe sugestões a futuras pesquisas na
mesma área do conhecimento.

Palavras-chave: Ciência Política. Ciências Aeroespaciais. Teorias do Poder Aéreo.


Educação Militar Profissional. Ensino Superior Militar.
ABSTRACT

In this dissertation the existing relations among Air Power Theory, academic military
education and the professional performance of the Staff Officers were investigated.
The empirical study was accomplished following two different types of research, one
qualitative and the other quantitative. The aim of the research was to analyze the
level of knowledge concerning the Brazilian Air Force Staff Officers' understanding of
the major thinkers of Air Power. It was initiated by showing the theoretical
conceptions’ synthesis from both classical and contemporaneous air power thinkers,
with its focus on Giulio Douhet, John Warden III and Robert Pape’s basic ideas. The
Military Professional Education, the Staff Officers’ desired profile characteristics and
the Superior Aeronautical Military Education System in Brazil were scrutinized. The
use of an applied method was visualized in relation to the obtained results. The
dissertation was accomplished by means of bibliographical, documental and field
researches. The field research tools which were used included survey with the
research objects (Brazilian Air Force Staff Officers) and interviews with experts in this
field of study. The study had as the object of survey the Brazilian Air Force Staff
Officers’ professional military education and was executed at an exploratory and
descriptive research level. The theoretical basis embraced the Professional Military
Education of the United States Air Force, Giulio Douhet’s conceptions and, moreover,
Clausewitz’s theory of war. The obtained results evidenced that, although specialists
find the teaching of Air Power theories important, the knowledge presented by the
individuals surveyed seems to be little and insufficient. The conclusive phase
introduced considerations about the relationship between power, politics, strategy,
and Superior Military theory and teaching. The relevance of the study of aerial power
theories for the professional formation of Staff Officers exercising the functions of
strategist, military planner, assistant and manager of the operational art was the
focus of the conclusion, which brought suggestions to future research in the same
field of study.

Keywords: Political Science. Aerospace Sciences. Air Power Theories. Professional


Military Education. Superior Military Teaching.
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO, f. 18
1 AS TEORIAS DO PODER AÉREO, f. 30
1.1 DEFINIÇÕES E CONCEITOS FUNDAMENTAIS, f. 30
1.2 RELAÇÃO ENTRE DOUTRINA E TEORIA, f. 34
1.3 O PRECURSOR DA TEORIA DO PODER AÉREO, f. 38
1.4 A TEORIA DOS CINCO ANÉIS DE JOHN WARDEN III, f. 45
1.5 ROBERT PAPE E A CONCEPÇÃO DO REAL VALOR DO PODER AÉREO, f. 58
1.6 A INFLUÊNCIA DO PODER AÉREO NA CONDUÇÃO DA GUERRA, f. 65
2 A EDUCAÇÃO DO OFICIAL DE ESTADO-MAIOR DA AERONÁUTICA, f. 87
2.1 O HOMEM AEROESPACIAL BRASILEIRO, f. 87
2.2 O OFICIAL DE ESTADO-MAIOR, f. 91
2.3 A EDUCAÇÃO MILITAR PROFISSIONAL, f. 99
2.4 EDUCAÇÃO MILITAR PROFISSIONAL NA AERONÁUTICA BRASILEIRA, f. 107
3 METODOLOGIA DA PESQUISA, f. 111
3.1 CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS,
f. 112
4 APRESENTAÇÃO DOS DADOS E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS, f. 121
4.1 COLETA DOS DADOS, f. 121
4.2 ANÁLISE DOS DADOS ADVINDOS DOS QUESTIONÁRIOS-TESTE, f. 123
4.3 INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS DOS QUESTIONÁRIOS, f. 132
4.4 INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS DAS ENTREVISTAS COM OS
ESPECIALISTAS EM ENSINO AERONÁUTICO MILITAR, f. 138
4.5 INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS DA PESQUISA DOCUMENTAL, f. 149
5 CONCLUSÃO, f. 157
6 OBRAS CITADAS, f. 164
7 OBRAS CONSULTADAS, f. 173
8 APÊNDICES, f. 180
8.1 QUESTIONÁRIO PARA OS OFICIAIS DA AERONÁUTICA BRASILEIRA COM O
CURSO DE COMANDO E ESTADO-MAIOR, f. 181
8.2 ROTEIRO PARA ENTREVISTA PESSOAL COM ESPECIALISTAS EM ENSINO
AERONÁUTICO MILITAR, f. 185
8.3 RESPOSTAS DOS ESPECIALISTAS À PERGUNTA UM, f. 188
8.4 RESPOSTAS DOS ESPECIALISTAS À PERGUNTA QUATRO, f. 189
8.5 RESPOSTAS DOS ESPECIALISTAS À PERGUNTA CINCO, f. 192
8.6 RESPOSTAS DOS ESPECIALISTAS À PERGUNTA SEIS, f. 195
8.7 RESPOSTAS DOS ESPECIALISTAS À PERGUNTA SETE, f. 197
LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Fig. 1 O modelo básico da Teoria dos Cinco Anéis de John WARDEN III, f. 51

Fig. 2 O modelo dos seis anéis com a inserção da connectivity, f. 52

Fig. 3 Os efeitos indiretos do ataque em paralelo, f. 53

Fig. 4 Os Centros de Gravidade (COG) de acordo com a DCA 1-1, f. 54

Quadro 1 Modelo esquemático e comparativo da Teoria dos Cinco Anéis, f. 57

Fig. 5 O mapa mundial com as áreas de domínio soviético e estadunidense e a

“área de decisão”, segundo Seversky, f. 81

Quadro 2 Sujeitos da pesquisa em número de oficiais-alunos nos CCEM 2005,

2006, 2007 e 2008, f. 123

Gráfico 1 Média do questionário-teste aplicado oficiais-alunos do Curso de

Comando e Estado-Maior dos anos de 2005, 2006, 2007 e 2008, f. 124

Quadro 3 Sujeitos da pesquisa em número de oficiais-alunos nos CCEM 2005,

2006 e 2007, f. 126

Gráfico 2 Média do questionário-teste aplicado oficiais-alunos do Curso de

Comando e Estado-Maior dos anos de 2005, 2006, e 2007, f. 127

Quadro 4 Sujeitos da pesquisa em número de oficiais-alunos do CCEM 2008

distribuídos por quadros, f. 128

Gráfico 3 Média do questionário-teste aplicado oficiais-alunos do Curso de

Comando e Estado-Maior do ano de 2008, f. 129


LISTA DE TABELAS

TABELA 1 ─ Porcentagem média de acertos dos oficiais-alunos do CCEM 2005,

2006, 2007 e 2008, distribuídos por quadros, no questionário-teste, f. 124

TABELA 2 ─ Porcentagem média de acertos dos oficiais-alunos do CCEM 2005,

2006, e 2007, distribuídos por quadros, no questionário-teste, f. 126

TABELA 3 ─ Porcentagem média de acertos dos oficiais-alunos do CCEM 2008,

distribuídos por quadros, no questionário-teste, f. 128


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

a. C. Antes de Cristo (antes do nascimento de Jesus Cristo).


ACSC Air Command and Staff College (Escola de Comando e Estado-
Maior da Força Aérea dos EUA).
AE Aula Expositiva.
AFA Academia da Força Aérea.
AFDC Air Force Doctrine Center (Centro de Doutrina da Força Aérea
dos EUA).
AFDD Air Force Doctrine Document (Documento de Doutrina da Força
Aérea dos EUA).
AFDD 1 Air Force Basic Doctrine (Doutrina Básica da Força Aérea dos
EUA).
AFDD 1-2 Air Force Glossary (Glossário da Força Aérea dos EUA).
ASPJ Air and Space Power Journal (Periódico sobre Poder Aéreo e
Espacial).
AU Air University (Universidade da Força Aérea dos EUA).
AWC Air War College (Escola de Guerra Aérea da Força Aérea dos
EUA).
C2 Comando e Controle.
C&T Ciência e Tecnologia.
CADRE College of Aerospace Doctrine, Research and Education (Escola
de Doutrina, Pesquisa e Educação Aeroespaciais).
CAP Curso de Aperfeiçoamento no Módulo Presencial.
CBA Curso Básico de Admissão (ao CCEM).
C Cbn Comando Combinado.
CCEM Curso de Comando e Estado-Maior.
CIEAR Centro de Instrução Especializada da Aeronáutica.
CM Currículo Mínimo.
Cmt Comandante.
COMAER Comando da Aeronáutica.
COMDABRA Comando de Defesa Aeroespacial Brasileiro.
COMGAR Comando-Geral de Operações Aéreas.
COMGEP Comando-Geral de Pessoal.
CPEA Curso de Política e Estratégia Aeroespaciais.
CW Cyber Warfare; Cybernetic War; Cyberwar (Guerra Cibernética).
DCA Diretriz do Comando da Aeronáutica.
DCA 1-1 Doutrina Básica da FAB (trata-se da vigente diretriz).
DEPENS Departamento de Ensino da Aeronáutica.
DMA Diretriz do Ministério da Aeronáutica.
DMA 1-1 Doutrina Básica da FAB (trata-se da diretriz anterior).
Dr Doutor.
EAOAR Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais da Aeronáutica.
EB Exército Brasileiro.
ECEMAR Escola de Comando e Estado-Maior da Aeronáutica.
ECEME Escola de Comando e Estado-Maior do Exército.
EEAER Escola de Especialistas da Aeronáutica.
EM Estado-Maior.
EMAER Estado-Maior da Aeronáutica.
EMD Estrutura Militar de Defesa.
EMP Educação Militar Profissional.
EO Exposição Oral.
EPCAR Escola Preparatória de Cadetes do Ar.
ESG Escola Superior de Guerra.
EU European Union (União Européia).
EUA Estados Unidos da América.
FAB Força Aérea Brasileira.
FAC Força Aérea Componente.
IW Information Warfare (guerra de informação).
MBA Master in Business Administration (Mestrado em
Administração).
MD Ministério da Defesa.
NAFTA North American Free Trade Agreement (Acordo de Livre
Comércio das Américas).
NATO North American Trade Organization (Organização do Tratado do
Atlântico Norte).
NCW Network-Centric Warfare (guerra centrada em redes).
OM Organização Militar.
ONU Organização das Nações Unidas.
Op Cbn Operações Combinadas.
PDE Padrão de Desempenho de Especialidade.
PDN Política de Defesa Nacional.
PME Professional Military Education (Educação Militar Profissional).
PPC Processo de Planejamento de Comando.
PUD Plano de Unidades Didáticas.
RAF Royal Air Force (Real Força Aérea do Reino Unido).
RH Recursos Humanos.
RMA Revolution in Military Affairs (Revolução nos Assuntos
Militares).
SAASS School of Advanced Air Power and Space Studies (Escola de
Altos Estudos do Poder Aéreo e Espacial).
SDDM Subdivisão de Doutrina Militar.
Si Síntese.
SOS Squadron Officer School (Escola de Oficiais de Esquadrão).
TG Trabalho de Grupo.
TO Teatro de Operações.
USAAF United States Army Air Force (Força Aérea do Exército dos
Estados Unidos).
USAF United States Air Force (Força Aérea dos Estados Unidos).
US Army United States Army (Exército dos Estados Unidos).
INTRODUÇÃO

Tudo flui (panta rei), nada persiste, nem permanece o mesmo. Heráclito

O filósofo Heráclito de Éfeso pode ser considerado o mais eminente pensador


pré-socrático. Numa série de aforismos, enfatizou o caráter mutável da realidade.
Para Heráclito, a noção de fluxo universal tornou-se um mote: “tu não podes descer
duas vezes no mesmo rio, porque novas águas correm sempre sobre ti”1.
Resumidamente, o pensamento “heraclítico” entende que a essência é mudar.
Assim sendo, Heráclito tornou-se célebre por fundamentar suas dialéticas
idéias filosóficas numa lei racional que ditaria o movimento ininterrupto do mundo.
Ele estabeleceu a existência do Lógos: uma lei universal e fixa. Lei regedora
de todos os acontecimentos particulares. Fundamento da harmonia universal, o
Lógos seria feito de tensões. O Lógos traz a idéia de que nenhum termo ou
expressão é capaz de exaurir a totalidade de mudanças sucessivas que a realidade
prestaria à experiência humana. Portanto, o Lógos constitui-se, para Heráclito, na
razão universal ou no próprio pensamento, elemento dinâmico capaz de harmonizar
a fluidez das alterações da realidade dando a elas uma atitude não aleatória.
No mundo hodierno, estudos e análises têm-se baseado na observação de
frações da realidade com o escopo de torná-las passíveis de generalização. Nesta
forma oposta ao pensar “heraclítico”, evidencia-se um pensamento puramente
indutivo, que ao estrategista não se torna tão útil quanto o raciocínio dedutivo.
Segundo John Warden III2, esse fenômeno ocorre, na mesma dimensão, no
campo das Ciências Militares, especificamente, no que concerne ao estrategista:

1
PRÉ-SOCRÁTICOS. São Paulo: Nova Cultural, 2005, p, 25.
2
WARDEN III, John A. O inimigo como sistema. Airpower Journal, Alabama, p. 44-59, 3. trim. 1995.
Edição brasileira, p. 45-46.
[...] a guerra estratégica é um animal diferente da guerra que conhecemos
através da história. Não é fácil entender porque temos que lançar fora
muitas das nossas idéias acerca da guerra. Além disso, para processá-la é
necessário pensar do geral para o particular - pensar do cenário mais amplo
para o mais estreito -, em vez do pensamento do particular para o geral que
nos serve tão bem quando tratamos de questões táticas. Há basicamente
duas maneiras de pensar: a indutiva e a dedutiva. A primeira consiste em
reunir muitos fatos pequenos para ver o que se pode fazer com eles. A
segunda começa com princípios gerais a partir dos quais se podem
aprender as minúcias. O primeiro é tático, o segundo é estratégico. Na
Força Aérea, a maior parte de nosso treinamento inicial nos envolve
com processos indutivos. Entretanto, para que nos tornemos bons
artífices operacionais e estrategistas, temos que aprender a pensar
dedutivamente. Um bom exemplo, tirado do mundo civil, é o da
comparação entre arquitetos e pedreiros. (grifos nossos)

Pode-se inferir a valorização de um processo dedutivo de pensamento, ao


serem observados os arquitetos trabalhando, que têm uma função similar à do
stratego3. No caso específico dos oficiais de Estado-Maior (EM) da Aeronáutica
Brasileira, trata-se, evidentemente, do Planejamento Estratégico da Força Aérea
Brasileira (FAB) e do assessoramento de alto nível ao tomador de decisão político.
Se o emprego eficaz do poder aéreo pode ser considerado como um fator de
extrema relevância em um Planejamento Estratégico de qualquer Força Aérea, a
eficácia do poder aéreo torna-se problema crucial à pesquisa. Induz a questão de
qual é a melhor estratégia de emprego do poder aéreo e quais os fatores críticos de
sucesso4, na guerra aérea contemporânea, para se obter o estado final desejado.
Os pedreiros valorizam a experiência, o empirismo (o empírico) e o
treinamento rotineiro para, partindo do particular para o geral, buscar resgatar uma
visão globalizante, até incorreta, o que demonstra uma maneira tática de raciocinar.
3
Cf. PROENÇA JÚNIOR, Domício; DINIZ, Eugenio; RAZA, Salvador Ghelfi. Guia de estudos de
estratégia. Rio de Janeiro: Zahar, 1999, p .56. Nesta página, efetua-se uma referência à estratégia:
“O termo estratégia é produto do final do século XVIII e início do século XIX. Até então, utilizava-se
Arte da Guerra. O grego antigo e o latim não tinham um termo equivalente; os derivados de
strategos (general) − tais como strategikon e strategema − referiam-se ao aprendizado da arte da
guerra ou a seus ardis e não à gestão da guerra”. Na Antigüidade Clássica, o termo stratego teve
raiz etimológica no grego antigo e denotava a idéia de general ou de generalíssimo. A partir da Era
Napoleônica, a palavra stratego passou a transmitir uma concepção diferente daquela utilizada nas
Eras Helênica e Romana: é a imagem moderna do estrategista militar. Neste estudo, emprega-se a
hodierna cognição de estrategista. Especialmente, no que se refere às nuanças do poder aéreo.
4
Segundo ROCHA (2006, p. 85) “Os fatores de sucesso são competências que a Força Aérea deve
possuir para cumprir com eficácia a missão em uma situação de conflito armado”.“Os fatores
críticos (fatores-chave) de sucesso na guerra aérea são: lideranças, doutrina de emprego,
inteligência, comando e controle, logística, preparo da Força Aérea, estratégia e tecnologia”. Um
importante papel atribuído ao oficial de Estado-Maior, em qualquer força aérea moderna do mundo,
equivale ao do “arquiteto” da analogia realizada por Warden III e redunda na confecção do plano
(documento formal escrito e assinado), que advém de passos previstos no planejamento
estratégico da Força Aérea Brasileira, o qual se aplica a um ambiente de incerteza.
Sob essa ótica, oficiais de Estado-Maior deveriam desenvolver, nas funções
de artífices operacionais, de assessores, de planejadores e de futuros estrategistas
militares, um raciocínio dedutivo, cuja tônica incorpora um pensar teórico e reflexivo.
A teoria constitui-se em uma das bases de qualquer ciência e é essencial, no
exercício de definido ofício, à prática humana. No caso específico das Ciências
Aeroespaciais5, tem-se, nas teorias do poder aéreo, um dos subsídios fundamentais.
Como Heráclito de Éfeso afiançou, o mundo real que nos envolve é mutável
e evolui rapidamente. Assim, apenas nomenclaturas dinâmicas captam a essência
da mutabilidade vivenciada nos tempos modernos; a essência seria o devir6: mudar.
No entanto, a unicidade do ser humano permanece inviolável, a par da fluidez
dos eventos circunvizinhos que lhe circundam. Incontestavelmente, este trabalho se
ampara na concepção filosófica dialética, que advém desse filósofo pré-socrático.
Há cerca de cem anos, o advento das aeronaves mais pesadas do que o ar
extrapolou os limites das conformações conservadoras, no fenômeno guerra, para
os ares sobrejacentes à superfície em que interagiam os Exércitos e as Marinhas. A
partir de então, esse novo cenário de guerra, no qual os homens do ar7 passaram a
atuar, configurou-se em campo para pensadores recém-incorporados à arma aérea.
O Poder Aéreo, expressão difundida e mais usada para representar esse
centenário fenômeno da beligerância, ainda carece de amplo arcabouço de teorias
ou, até mesmo, de mais estratégias que lhe capturem a essência e o seu indiscutível
valor. Torna-se notória a parca quantidade de teorias, principalmente, quando se
efetua uma comparação com os outros dois poderes militares: o terrestre e o naval.
No Ancien Régime, teóricos, como Guibert, Bülow ou Vauban, conheciam as
nuanças da guerra terrestre (ou guerra da primeira geração8). Os poderes naval e
aéreo (uma sedutora força militar9) são adventos mais recentes no âmbito do bélico;
malgrado, não foram raros os estrategistas dedicados ao sedutor “domínio do ar”.

5
Trata-se de área do conhecimento com definição epistemológica ainda irresoluta, cuja atribuição
pode abarcar o estudo dos aspectos inerentes ao emprego de plataformas orbitais e suborbitais
como armas de guerra e, também, a formação e o aperfeiçoamento de RH envolvidos nessa área.
6
Devir seria um “fluxo permanente, movimento ininterrupto, atuante como uma lei geral do universo,
que dissolve, cria e transforma todas as realidades existentes”. PRÉ-SOCRÁTICOS, 2005, passim.
7
Vid Air and Space Power Journal, em português, quarto trimestre de 2004, p. 3, para averiguar a
tradução apresentada pelo Sr Almerisio Braga Lopes, editor daquele periódico, para o termo airman
(Cf., também, com o documento: AFDD 1-2 Air Force Glossary, de 24/08/2004 p. 19).
8
“A primeira geração da guerra moderna, guerra de linha e coluna (line-and-column) onde as
batalhas eram formais e o campo de batalha era ordenado, durou, aproximadamente, entre 1648 a
1860.”. LIND, William S. Compreendendo a guerra de quarta geração. Military Review. Fort
Leavenworth, Kansas, p. 12-17, jan./fev. 2005. Edição Brasileira, p. 12.
9
Cf. COHEN, Eliot A., apud KAN, Paul Rexton. Air & Space Power Journal, 4. trim. 2004, p. 71.
David MacIsaac* faz referência ao poder aéreo como um “termo genérico”
adotado para identificar esse fenômeno recente da guerra moderna. Decorrida
somente uma centena de anos, o autor lembra que, de fato, “sua influência tem sido
limitada num campo onde os efeitos da tecnologia e as proezas dos agentes têm,
desde o início, desempenhado maior papel do que despertado idéias”10.
A capacidade operacional de uma Força Aérea depende, na medida direta, de
seus meios materiais e, ainda, dos recursos humanos que compõem suas fileiras.
Portanto, não basta a uma força aérea possuir vetores aéreos modernos. Precisa-se
aperfeiçoar, acima de tudo, o elo mais forte da Instituição Aeronáutica, que são os
recursos humanos educados, adestrados e aprestados em grau de excelência e com
“engenho e arte”. A ação de educar perpassa a idéia de que a eficácia da arma
aérea depende de homens pós-formados com qualidade. Educação é primordial.
O aluno-militar convive, ao longo da carreira, tanto como cadete quanto como
oficial, com o processo11 educativo, que consiste no desenvolvimento de idéias e de
atividades voltadas ao conhecimento do ambiente aeroespacial e à utilização
racional de recursos materiais e humanos do Sistema de Ensino Militar.
Contudo, ao oficial de Estado-Maior se exige um saber que engloba uma
gama de informações teóricas e técnicas12, a fim de que adquira as competências
necessárias ao desempenho de determinadas funções. Essas exigências
profissionais o tornam, no nível de decisão da guerra no qual está previsto que atue,
um especialista em temas do poder aéreo.
Portanto, um oficial de Estado-Maior da Aeronáutica deve ser formado,
profissional e academicamente, para o exercício de encargos futuros como um
gerente no nível operacional da guerra moderna, assessor de altos escalões
militares e civis, planejador da guerra e como estrategista da arma aérea.

*
Pesquisador-associado sênior do CADRE da AU. É autor de Strategic Bombing in World War II.
10
MacISAAC, David. Vozes do azul: teóricos do poder aéreo. In: PARET, Peter. (Ed.) Construtores
da moderna estratégia: de Maquiavel à era nuclear. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora,
2003. t. 2, p. 211.
11
A etimologia do termo processo advém do latim processus e significa “ação de adiantar-se,
movimento para diante, o andar, andamento, marcha; acontecimento, êxito”. No livro O processo
nosso de cada dia, Mauriti Maranhão diz que processo é o “conjunto de atividades, funções ou
tarefas identificadas, que ocorrem em um período de tempo e que produzem algum resultado”. O
Glossário da Aeronáutica conceitua processo como “a ação ou o conjunto de ações capaz de
transformar insumo (entrada) em produto (saída)”.
12
Entre essas técnicas específicas, tem-se o método, a ser aplicado no nível operacional da guerra,
nomeado de Processo de Planejamento de Comando (PPC). O oficial de Estado-Maior da
Aeronáutica deve conhecer (e dominar), tanto o método do Ministério da Defesa, o Processo de
Planejamento para Operações Combinadas (PPC Op Cbn), quanto o método da Aeronáutica.
A respeito de um parâmetro para o processo educacional na FAB, o coronel
Dennis M. Drew* cita a Professional Military Education (PME)13 de cunho formal:

A Escola de Comando e Estado-Maior da United States Air Force (USAF) e


o Air War College dividiram seus currículos (em proporções variáveis) entre
os assuntos mais estreitamente relacionados com o emprego do poder
aéreo (doutrina, estratégia, história, etc.) e assuntos mais estreitamente
relacionados com a administração de uma Força Aérea em tempos de paz
(planejamento, programação, orçamento, gerência de pessoal, etc.). Ambas
as áreas merecem estudos e cada uma delas pode, com proveito, justificar
o rigoroso currículo de um ano. Tomadas juntas, porém, o currículo dividido
dá credibilidade à crítica que se faz mais freqüentemente a ambas as
escolas, isto é: os currículos têm amplitude de uma milha e profundidade de
uma polegada. Simplesmente não há tempo suficiente para explorar
ambas as áreas em profundidade. (grifos nossos)

Durante vinte anos, Drew observou a elite do corpo de oficiais da Força Aérea
chegar às escolas Air Command and Staff College (ACSC) e Air War College (AWC)
da Air University (AU). Em sua maior parte14, esses oficiais eram assustadoramente
“ignorantes” nos fundamentos do pensamento do poder aéreo, virtualmente
desconhecedores da teoria do poder aéreo e do seu desenvolvimento e sem
qualquer apreciação da evolução histórica do poder aéreo e do seu significado.
Segundo Drew15, esses oficiais eram “produtos de um sistema da Força
Aérea que não recompensava o aperfeiçoamento pessoal profissional e promovia
educação acadêmica irrelevante”, sendo assim, assentava-se, “sobre o sistema de
educação militar profissional, uma carga insuportável”.

*
O Cel Drew (Bacharelado, Willamette University; Mestrado, University of Wyoming; Mestrado em
Artes, University of Alabama) foi professor e diretor-adjunto da SAAS, Universidade da Força Aérea
dos EUA (AU), Base Aérea Maxwell, Alabama. Exerceu anteriormente as funções de diretor do
Instituto de Pesquisa do Poder Aéreo na AU, chefe da Seção de Estratégia e Doutrina e da Divisão
de Estudos de Guerra, ambas da Escola de Comando e Estado-Maior da USAF, na AU,
comandante de tripulação de combate de mísseis, oficial de estado-maior de operações de mísseis
e chefe de divisão de estado-maior no QG do Comando Aeroestratégico (SAC). Tem artigos
publicados no Airpower Journal e é o autor de diversas publicações sobre temas militares.
13
DREW, Dennis M. A Educação de Oficiais da Força Aérea - Observação após 20 anos na Air
University. Airpower Journal, Alabama, p. 53-61, 4. trim. 1997, p. 56. “A PME fornece indivíduos
com as habilidades, o conhecimento, o entendimento e a apreciação que os capacite a tomar
decisões sólidas, progressivamente, nas posições requeridas de Comando e Estado-Maior no
contexto do ambiente da Segurança Nacional”. (Military Education Policy Document, 23 Mar 93).
Tradução livre do autor.
14
Ibid. “É justo perguntar o que eu quero dizer por ´na maior parte`. Minhas melhores estimativas,
baseadas em anos de observação, conversa e ensino são de que 80-90% dos oficiais que entram
na ACSC e 50-60% dos oficiais que entram no AWC são essencialmente ignorantes dos
fundamentos intelectuais de sua profissão”. (grifos nossos). Este estudo se interessou em
investigar a situação nos EUA há cerca de dez anos atrás e se a atual condição dos oficiais de
Estado-Maior da Força Aérea Brasileira acerca do mesmo tema pode ser congruente com aquela.
15
DREW, loc. cit.
No mesmo ensaio, Drew comentou sobre preparo e emprego do poder aéreo:

O ex-chefe do Estado-Maior da Força Aérea, Gen Michael Dugan, uma vez


me disse que a Força Aérea está produzindo uma geração de motoristas de
caminhão analfabetos. Ele estava preocupado com o fato de oficiais que
aspiravam a posições de chefia de maior hierarquia saberem muito a respeito
de aeroplanos e incrivelmente pouco a respeito de poder aéreo. Eles
podem falar habilidosamente com as mãos a respeito de tática aeronáutica,
mas estão mal preparados para pensar com a cabeça a respeito de
Estratégia Aeronáutica. Hipérbole? Talvez um pouco, mas há mais verdade
na afirmativa do que qualquer um de nós gostaria de admitir.16(grifos nossos).

O militar da United States Air Force aborda o tema que se constitui no fulcro
da preocupação deste trabalho. Este estudo aborda a questão do Ensino
Aeronáutico Militar Brasileiro na ECEMAR, escola militar de altos estudos similar à
ACSC e ao AWC. Assim, a pesquisa visa a examinar questões, que podem (e
devem) ser motivo de apreensão para a política e para a estratégia de ensino de
qualquer instituição militar, principalmente, no que tange a cursos de carreira.
Para Drew17, os currículos dos cursos regulamentares de carreira,
especialmente os de pós-formação, deveriam ter maior profundidade em temas
como as teorias do poder aéreo, estratégia militar e a doutrina de emprego.
Portando do pensamento do coronel norte-americano ao atual contexto
vivenciado no Sistema de Ensino do Comando da Aeronáutica, advém a primordial
justificativa da presente pesquisa, que se configura na investigação dos
pormenores da formação educacional do profissional da guerra aérea: o oficial de
Estado-Maior da Aeronáutica Brasileira.
Este trabalho preenche uma lacuna na pesquisa a respeito da Educação
Militar Profissional, no âmbito das Forças Armadas Brasileiras, e transmuta uma
realidade que pode ser posta à prova durante um conflito armado. Isso revela,
prioritariamente, uma face do aporte advindo do presente estudo. Há contribuições
às áreas do conhecimento que concernem à instrução das teorias do poder aéreo e,
conseqüentemente, da doutrina militar formal (não é afeto à doutrina informal).
Sob essa ótica, reconhece-se que a EMP como um sistema inovador da
educação nas forças armadas dos Estados Unidos (EUA). Atualmente, aquele país
verifica a aplicabilidade e valida a pertinência dessa revolução em áreas militares.

16
DREW, 1997, p. 56.
17
DREW, 1997, p. 53 et seq.
A pesquisa examina a atual situação da educação no âmbito do Comando da
Aeronáutica. O interesse despertado pelo tema em epígrafe aumenta a
responsabilidade gerencial em administrá-lo com eficiência e eficácia.
Dessa forma, espera-se fornecer uma contribuição para o aperfeiçoamento do
processo de ensino-aprendizagem na Aeronáutica e proporcionar condições de
adequar a Educação Militar Profissional ao desempenho do planejador estratégico
da Força Aérea do porvir: o oficial de Estado-Maior.
Pode-se inferir que a importância do tema em apreço, para o Comando da
Aeronáutica, foi observada com muita propriedade por Teixeira18, à medida que
distinguiu: “o processo de tomada de decisão é da própria natureza humana e o ser
humano é o maior patrimônio da instituição”.
A História Militar, a evolução das teorias do poder aéreo, a experiência em
campanhas militares, as simulações de guerra, que trazem novas lições
identificadas, e a contínua absorção de tecnologia no estado da arte traduzem-se na
premência de atualização da doutrina militar, seja ela a doutrina documental (formal
ou explícita) ou a doutrina de emprego (informal ou implícita).
Sem dúvida, os resultados desta pesquisa podem extrapolar os limites do
Comando da Aeronáutica e alcançar as demais Forças Singulares, viabilizando a
construção de pensamento unificado sobre Educação Militar Profissional, teorias de
guerra e doutrina de comando combinado. Por intermédio de informações
intercambiáveis entre as três forças armadas do Brasil, pode-se tornar possível a
criação de cenários combinados, em tempo real, na Estrutura Militar de Defesa.
A inquietação que deu causa a este estudo surgiu quando o pesquisador era
instrutor na Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais da Aeronáutica Brasileira
(EAOAR). Àquela época, interessou-se em verificar as conseqüências que o
desconhecimento de certos temas acarretam às funções inerentes à carreira do
oficial da Aeronáutica. A história militar, a evolução do pensamento dos estrategistas
do poder aéreo, a aplicação de teorias do poder aéreo à doutrina de emprego e a
estratégia militar são exemplos pertinentes à pesquisa que foi realizada.
Após essa contextualização inicial, formula-se o problema de pesquisa: qual
é o nível de conhecimento, acerca dos clássicos e dos modernos pensadores do

18
TEIXEIRA, David de Andrade. Aspectos do perfil decisor de oficiais de Estado-Maior na
Aeronáutica e sua compatibilidade com a doutrina institucional. Dissertação (Mestrado em
Ciências Aeroespaciais) - Universidade da Força Aérea, Rio de Janeiro, 2005, f. 17-18.
poder aéreo, apreendido pelos oficiais da Força Aérea Brasileira (FAB) que possuem
o Curso de Comando e Estado-Maior (CCEM) da Aeronáutica Brasileira?
O professor Mauriti Maranhão19 diz que “só podemos gerenciar aquilo que
medimos [...] e para medir é preciso ter um padrão de comparação”.
A ora não mais vigente Política de Defesa Nacional de 199620 afirmava:
“diante do novo quadro mundial de desafios e oportunidades, é necessário promover
no Brasil o desenvolvimento de modalidades próprias, flexíveis e criativas de
pensamento estratégico, aptas a atender às necessidades de defesa do País.”
Esse excerto nos induz à reflexão sobre o valor do estudo das teorias do
poder aéreo na formação acadêmico-profissional dos oficiais de Estado-Maior da
Aeronáutica, que são os atuais e os futuros estrategistas do poder aéreo e irão
assessorar os dirigentes políticos do Brasil em casos de crise e de conflito armado.
O problema de pesquisa formulado neste estudo foi suscitado, ainda, por uma
inquietação relativa ao fato do oficial de Estado-Maior poder assumir
responsabilidades e funções de relevo no escopo da guerra contemporânea.
O oficial de Estado-Maior deve desempenhar as funções de planejador militar,
de artífice operacional, de assessor de alto nível e de estrategista do poder aéreo.
Caberia ao Ensino Aeronáutico Militar proporcionar ao oficial de Estado-Maior
da Aeronáutica, no curso de pós-formação de Comando e Estado-Maior, além de
outras disciplinas,21 o suficiente grau de conhecimento acerca das concepções22
teóricas de clássicos e de modernos estrategistas23 do poder aéreo para que sejam
melhor capacitados ao exercício de atividades laborais inerentes à profissão.

19
MARANHÃO, Mauriti. ISO Série 9000, versão 2000: manual de implementação. Rio de Janeiro:
Qualitymark, 2005, p. 14.
20
BRASIL. Exposição de Motivos nº 01/CREDEN, de 7 de novembro de 1996. Política de defesa
nacional. Brasília, DF, 1996, p. 2.
21
Há um sem-número de conhecimentos que devem ser ministrados, ao longo do Curso de Comando
e Estado-Maior, visando à formação, em grau de excelência, desses assessores de alto gabarito.
22
Assunções, idéias e pensamentos são sinônimos que também refletem a noção de concepções.
23
Os principais sinônimos encontrados, na literatura especializada em assuntos de aeronáutica e de
poder aéreo, para os idealizadores das idéias básicas concernentes ao poder aéreo, diz respeito a:
pensadores, profetas, teóricos (tradução para o termo da língua inglesa theorists), advogados,
formuladores, etc. Esses estrategistas são aqueles pensadores teoréticos (o termo pode significar,
no campo de atuação profissional, conceder valor científico aos princípios e à teoria de uma arte),
militares e civis, que advogaram e formularam as clássicas e modernas (contemporâneas)
concepções teóricas sobre o hoje intitulado: Poder Aéreo. Entre eles, têm-se, não exaustivamente,
os seguintes nomes: Giulio Douhet, William “Billy” Mitchell, Alexander de Seversky, Sir Hugh
Trenchard, Air Marshal Sir Arthur “Lord” Tedder, Sir John Slessor, Bernard Brodie, John Boyd, John
Warden III e Robert Pape.
Respeitando o rigor cientificista, este trabalho investigativo teve delimitações
definidas sob três aspectos distintos: em termos do enfoque conceitual e nos limites
espacial e temporal.
Sob o enfoque conceitual, o estudo abarcou a análise de documentos oficiais,
a avaliação de metodologias de ensino, a Educação Militar Profissional (EMP)24,
especificamente acerca das teorias do poder aéreo, as quais são uma das fontes da
doutrina formal e têm influência sobre a informal (ambas, são básicas ao emprego
de qualquer força aérea do mundo moderno). Outros assuntos ministrados ao oficial
de Estado-Maior, tão importantes quanto o focalizado nesta pesquisa, foram
deixados para futuros pesquisadores, que venham a se interessar pelo mesmo tema.
O limite espacial implicou pesquisa adstrita ao Ensino Militar Aeronáutico, dito
de pós-formação e de altos estudos, e investigação que englobou, como objeto de
estudo, os oficiais de Estado-Maior da Aeronáutica Brasileira.
Visando a oferecer um cenário o mais atual possível, o limite temporal
abrangeu do ano de 2005 até o segundo semestre de 2008.
O objetivo final do trabalho constituiu-se em investigar como se encontra o
nível de conhecimento, acerca das concepções teóricas dos principais pensadores
do poder aéreo, detido pelos oficiais de Estado-Maior da Aeronáutica Brasileira.
Os objetivos intermediários25, “desdobramentos dos objetivos gerais e que
levam àqueles”, foram as ferramentas imprescindíveis à consecução do objetivo final
colimado por esta pesquisa. O estudo se propôs a perseguir uma seqüência lógica
de trabalho, que será pormenorizada pelos objetivos específicos:

1. Analisar o atual processo de ensino-aprendizagem da ECEMAR26, no


Curso de Comando e Estado-Maior, atinente à Educação Militar Profissional,

24
A EMP é a aquisição sistemática de conhecimento teórico e aplicado, os quais são de significância
extraordinária à profissão das armas. Para oficiais, a PME é direcionada ao perfeito entendimento
dos objetivos nacionais, métodos, propósitos e meios de utilização da força militar para atingi-los.
Ela é separada e distinta de educação especializada e de treinamento. (Tradução nossa). DAVIS,
Richard L; DONNINI, Frank P. Professional Military Education for Air Force Officers: comments and
criticisms. Maxwell Air Force Base: Air University Press, Alabama, June 1991, p. 5-6.
25
GOMES, Maria Paulina. Construindo soluções acadêmicas. Rio de Janeiro: UNIFA, 2007. p. 28.
26
A ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DA AERONÁUTICA (ECEMAR) é uma escola
militar do Sistema de Ensino Aeronáutico. A ECEMAR é a organização militar de ensino superior
do Comando da Aeronáutica que tem por finalidade ministrar cursos de altos estudos militares
a oficiais da Força Aérea Brasileira e de Nações Amigas. Atualmente, funcionam na
ECEMAR cursos e estágios. Os atuais cursos têm caráter permanente e preliminar. O curso
preliminar denomina-se Exame de Seleção ao Curso de Comando e Estado-Maior (ESCCEM).
Esses cursos permanentes são o Curso de Política e Estratégia Aeroespaciais (CPEA) e o Curso
especialmente no que tange às concepções teóricas dos principais
pensadores do poder aéreo, avaliando como são ensinadas naquela Escola;

2. Investigar a metodologia, o currículo e a carga horária, do Curso de


Comando e Estado-Maior, no que tange às teorias do poder aéreo; e

3. Inferir o grau de importância de se ensinar o conhecimento


concernente às idéias e ao pensamento dos pensadores do poder aéreo, no
Curso de Comando e Estado-Maior da Aeronáutica.

Portanto, os propostos objetivos intermediários suscitaram as respectivas


questões norteadoras27 a serem respondidas durante a pesquisa:

1. Que concepções teóricas do poder aéreo importariam à formação


acadêmico-profissional do oficial de Estado-Maior, poderiam ser
contempladas no currículo do Curso de Comando e Estado-Maior e poderiam
ser ministradas como ensinamentos válidos para o exercício das funções
exercidas, tanto na paz quanto na guerra, por oficiais de Estado-Maior?

2. Como se depara o processo de ensino-aprendizagem da ECEMAR, em


especial no Curso de Comando e Estado-Maior da Aeronáutica Brasileira, no
que diz respeito à Educação Militar Profissional, especialmente no que tange
às concepções teóricas dos principais pensadores do poder aéreo?

3. Qual é a metodologia de ensino usada, o currículo abarcado e a carga


horária alocada, no Curso de Comando e Estado-Maior, no que concerne,
especificamente, às teorias do poder aéreo?

de Comando e Estado-Maior (CCEM). Quanto aos estágios, têm-se o Estágio de Atualização


Doutrinária (EAD) e o Estágio de Atualização à Política e Estratégia da Aeronáutica (EAPEA).
Desde sua criação até o ano de 2003, a Escola de Comando e Estado-Maior da Aeronáutica
formou, em seus diversos cursos, 5.914 oficiais-superiores, sendo 225 oficiais das Nações
Amigas. Disponível em: <http://www.unifa.aer.mil.br/ecemar/index.htm>. Acesso em: 19 maio 2007.
27
As questões norteadoras representam questionamentos que balizam os passos necessários para
se atingir, plenamente, o objetivo final (ou geral) da pesquisa. São perguntas a serem respondidas
durante a execução dos procedimentos metodológicos selecionados pelo pesquisador.
A metodologia utilizada respaldou-se na taxionomia adotada por Gil28.
Referenciou-se na obra de Michel Beaud29 e no livro de Evera30, além da formalística
preconizada pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e pelo Manual
para Apresentação de Trabalhos Monográficos de Conclusão de Curso da EdUFF.
Quanto aos fins, o tipo de pesquisa usada foi exploratória, pois objetivou
explicitar, basicamente, o pensamento dos fundamentais advogados do poder aéreo.
Ademais, visou a fornecer maior familiaridade com os tópicos relacionados ao
problema levantado: a correlação entre Educação Militar Profissional e desempenho
de oficiais de Estado-Maior da Aeronáutica Brasileira em suas áreas afetas.
Em face do fato deste estudo ter efetuado um levantamento situacional da
formação educacional de recursos humanos (RH), ao comparar diferentes
fenômenos observados nessa educação militar, e lidar com a cultura organizacional
da Força Aérea sobre teoria (especificamente, neste desenho, acerca das teorias do
poder aéreo), o trabalho se constitui, também, em pesquisa descritiva.
Sob o enfoque relacionado aos meios (ou técnicas), fez-se uma pesquisa
documental com fontes primárias. O estudo alicerçou-se, também, em uma pesquisa
bibliográfica com o emprego de fontes secundárias.
Utilizou-se de uma pesquisa de campo com o emprego de duas ferramentas
metodológicas complementares: o questionário e a entrevista.
Primeiro, por meio de investigação realizada nas entrevistas junto a
especialistas, os quais trabalham em seções voltadas ao Ensino Aeronáutico,
chefiam e chefiaram a Subdivisão de Doutrina Militar da ECEMAR.
Paralelamente, foi aplicado um questionário (do tipo teste de avaliação de
conhecimentos) para os oficiais-alunos dos Cursos de Comando e Estado-Maior
(CCEM), que freqüentaram a ECEMAR nos anos de 2005, 2006, 2007 e 2008.
Sob esse enfoque, adotou-se neste estudo um procedimento metodológico de
cunho comparativo, com o qual se evidenciaram as diferenças, em porcentagem,
entre duas amostragens de sujeitos da pesquisa testados.

28
Cf. GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1987 e
Métodos e técnicas de pesquisa social. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1999.
29
Cf. BEAUD, Michel. Arte da Tese: como preparar e redigir uma tese de mestrado, uma monografia
ou qualquer outro trabalho universitário. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002.
30
Cf. EVERA, Stephen Van. Guide method for students of political science. Ithaca: Cornell University
Press, 1997.
Distribuiu-se o teste para os oficiais com o Curso de Estado-Maior do campus
da Universidade da Força Aérea (UNIFA), do Campo dos Afonsos, da Base Aérea
do Galeão, de Santa Cruz, de São José dos Campos, de Natal, de Brasília, etc.
Além disso, os testes foram atribuídos, por intermédio de mensagens
eletrônicas, por e-mail e pela Internet, para oficiais com o Curso de Comando e
Estado-Maior, totalizando-se uma amostra aproximada de cinqüenta por cento da
população, a qual é a totalidade de oficiais dos quatro anos supracitados.
No primeiro capítulo, conceituou-se teoria e poder, apresentou a evolução no
pensamento dos principais pensadores do poder aéreo, enfatizando, na
fundamentação teórica, a influência das idéias centrais de três desses pensadores e,
por último, salientou a relação intrínseca entre a teoria e a doutrina militar.
Após isso, elucidou-se uma revisão literária do tema Educação Militar
Profissional, abordou-se a idéia do Homem Aeroespacial31 Brasileiro, inserido no
contexto de uma nova dimensão, e reputou-se o oficial de EM como planejador, ator
operacional, assessor de alto nível e estrategista do poder aéreo. Apresentou-se o
processo ensino-aprendizagem, no contexto do Ensino Militar Aeronáutico, relativo à
formação acadêmica do oficial de Estado-Maior.
Então, detalhou-se a metodologia empregada nas ações de sondagem,
coleta, tratamento e interpretação de dados, ressaltou-se o tipo de pesquisa e o
método utilizado e salientaram-se a pertinência da aplicação das ferramentas de
pesquisa de campo como o questionário e a entrevista com especialistas.
A última fase do trabalho relatou a análise dos dados obtidos com os
resultados coletados nos questionários e na pesquisa de campo com especialistas.
Fez-se um estudo interpretativo dos elementos e das informações advindas da
pesquisa, para corroborá-la ou refutá-la. Esse fato permitiu responder às questões
norteadoras argüidas – momento central de discussão dos dados obtidos.
A conclusão teceu apreciações que muniram o encerro do trabalho, sumariou
o significado do estudo, proporcionou a absorção do conteúdo explorado e ofereceu
recomendações para trabalhos futuros na mesma área do conhecimento.

31
ALMEIDA, 2005, p. 41. Diz que o termo Homem Aeroespacial foi cunhado por Ubirajara Carvalho
da Cruz para “designar o ser humano que, a partir de 1906, com a invenção do avião, começou a
galgar o espaço e, com isso, adquiriu uma nova dimensão filosófica”. Ele usou o vocábulo em
dissertação de Mestrado em Ciências Aeroespaciais, apresentada à Universidade da Força Aérea,
no Rio de Janeiro, em 2004, sob o título: O Homem Aeroespacial: um estudo axiológico.
1 AS TEORIAS DO PODER AÉREO

Lá no alto, a energia a e bravura de nossos pilotos de combate mantiveram-


se indomáveis e supremas. E assim se salvou a Grã-Bretanha. Bem que
pude dizer na Câmara dos Comuns: nunca, no campo dos conflitos huma-
nos, tantos deveram tanto a tão poucos. Sir Winston Spencer Churchill

1.1 DEFINIÇÕES E CONCEITOS32 FUNDAMENTAIS

No que tange à questão central deste estudo, esclarecer significados ou expor


idéias acerca do poder não clarificam seus atributos essenciais. A relevância de um
estudo sobre as teorias do poder advém das características centrais desse
instrumento da política, em especial, aquelas referentes às da moderna arma aérea.
Em sua acepção mais genérica, o poder significa, na análise de Bobbio33, “a
capacidade ou a possibilidade de agir, de produzir efeitos”.
Ademais, o poder abarca desde processos naturais até fenômenos político-
sociais e, de artefatos a homens.
Na visão da Escola Superior de Guerra34, o poder personifica-se pela:

Conjugação interdependente de vontades e de meios, que visam ao alcance


de uma finalidade. A vontade, por ser um elemento imprescindível à
manifestação do Poder, torna-o um fenômeno essencialmente humano,
característico de um indivíduo ou de qualquer grupamento de indivíduos.

32
Em “A arte de pensar”, Pascal Ide (1999, p. IX) afirma que conceito “vem de concepção. [...] é
portanto o fruto da atividade da inteligência. [...] Hoje, é sinônimo de idéia”. Entretanto, definição é
“uma operação ou um instrumento da inteligência pela qual ela diz distintamente o que é a coisa”.
33
BOBBIO, Norberto. Poder. In: BOBBIO, N.; MATTUECCI, N.; PASQUINO, G. Dicionário de política.
Brasília: Universidade de Brasília, 2007, p. 933.
34
BRASIL. Escola Superior de Guerra. Manual básico. Rio de Janeiro, 2006, v. I, p. 21.
A vontade nacional não é, meramente, a vontade de indivíduos ou de
coletividades não representativas do hodierno Estado Brasileiro. Essa vontade
nacional deve ser unívoca e se encontrar aliada à capacidade desse poder nacional.
Para Russell35, “o poder pode ser definido como a produção dos resultados
pretendidos. É, pois, um conceito quantitativo”. Então, o poder pode ser mensurado.
Bobbio encerra uma maneira de se medir o poder por meio de “determinar as
diversas dimensões que pode ter o comportamento em causa”36.
Norberto Bobbio37 acusa, sucintamente, que o poder possui o caráter do
dimensionamento, do qual provêem a sua aplicação à realidade de uma sociedade
multifacetada e, por conseguinte, se denota a existência de relações de poder.
Em Economia e sociedade, clássico das ciências sociais, Max Weber38 diz
que o termo poder é conceito “sociologicamente amorfo” e designa “toda
probabilidade de impor a própria vontade numa relação social, mesmo contra
resistências, seja qual for o fundamento dessa probabilidade”. Às vezes, também
pode ser denominado, de “o caráter antagônico das relações de poder”39.
Conseqüentemente, emerge a reflexão de que o poder tem caráter dialético.
Clausewitz definiu a guerra como uma dialética de vontades. É um
antagonismo entre dois oponentes com objetivos contrários, apesar de comuns, pois
ambos visam à vitória – derrotar o inimigo. Sob essa ótica, tem-se uma clarificadora
investigação, no campo da Ciência Política, na qual se aspira à preocupação
intrínseca com o fenômeno da guerra. Na esfera da estratégia militar, concebe-se a
possibilidade do emprego de força bruta para o atendimento dos fins políticos.
Este estudo referencia-se na teoria de guerra clausewitziana, cuja definição
do acontecimento bélico trouxe luz à ótica de que “a guerra não é meramente um ato
político, mas um verdadeiro instrumento da política, a continuação das relações
políticas, levadas adiante com o intercurso de outros meios”40.
Por um enfoque conceitual, Bobbio41 assevera que “a área do conhecimento
na qual o poder incorpora seu papel mais importante é a da política”.

35
RUSSELL, Bertrand . O poder: uma nova análise social. Rio de Janeiro: Zahar, 1979, p. 24.
36
BOBBIO, 2007, p. 940.
37
Ibid., p. 939-940.
38
WEBER, Max. Economia e sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. Brasília, DF:
Editora Universidade de Brasília; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 1999, p. 33.
39
BOBBIO, op. cit., p. 940.
40
CLAUSEWITZ, Carl von. On war. Peter Paret e Michael Howard. 8th ed. New York: Princeton
University Press, 1984, p. 87.
41
BOBBIO, op. cit., p. 940.
Darc Costa42 fornece conceitos atinentes à política, à estratégia e ao poder:

Política, estratégia e poder estão sempre conjugadas em qualquer ação


humana. A política é a arte de estabelecer objetivos. A estratégia é a arte de
se empregar o poder para se alcançar os objetivos colocados pela política.
O poder é a conjunção dos meios que se dispõe para se atingir os objetivos.
O poder não é senão uma forte influência. Uma influência tão vigorosa, que
aquele sobre a qual ela se aplica, comporta-se da maneira desejada por
quem a aplicou. Uma demonstração de poder visa a convencer os
adversários, de não ser possível eles impedirem aquele (sic) que o
demonstrou, de alcançar seus objetivos.

Se o poder retrata a revelação de um grupo e, por si só, constitui-se numa


unívoca combinação de partes coordenadas para formar um conjunto, então, pode-
se admitir que haja uma divisão, nesse poder, para fins da análise dos efeitos
advindos de seu efetivo emprego em escalas diversas da sociedade, que é
entendida, neste estudo, como um todo unívoco e indivisível.
Segundo Luciano Gruppi, a vontade nacional impulsiona o povo à
implantação e à manutenção da sobrevivência do ente político estatal:

A Nação recomenda, ao se organizar politicamente, um modo de


condensar, propagar, empregar e concentrar o seu poder de maneira mais
eficaz, mediante a criação de uma macroinstituição ímpar – o Estado – a
quem delega a faculdade de instituir e pôr em execução o processo político-
jurídico, a coordenação da vontade coletiva e a aplicação de parte
43
substancial de seu poder político .

Decerto, Morgenthau44 percebe um “jogo de interesses entre os Estados” em


termos de ânsia por poder. A luta pelo e para o poder, no âmbito da “Sociedade
Internacional Anárquica”45, envolveria a busca pela designada hegemonia mundial.
À semelhança, Mearsheimer46, cita que, “na busca por mais poder”, uma
grande potência “defenderá o equilíbrio de poder em seu favor” e que grandes
potências estão, de certa forma, “sempre preparadas para a ofensiva”.

42
COSTA, Darc. Guerra Assimétrica. Escola Superior de Guerra. Cadernos de estudos estratégicos.
Rio de Janeiro, p. 99-164, abril, 2002, p. 100.
43
GRUPPI, Luciano. Tudo começou com Maquiavel: as concepções de Estado de Marx, Engels,
Lênin e Gramsci. Porto Alegre: L&PM, 1980, p. 7.
44
MORGENTHAU, Hans. A política entre as nações: a luta pelo poder e pela paz. Brasília: Editora
Universidade de Brasília, 2003, 1. ed. 1948. Parte II, cap. 3; p. 49.
45
BULL, Hedley. A Sociedade Anárquica. Brasília: Universidade de Brasília-UnB, 2002.
46
MEARSHEIMER, John. The tragedy of great power politics. New York: W. W. Norton & Company,
2001.
Por sua vez, Gruppi47 incorpora, no início de seu livro, uma importada
definição de Estado, que se coaduna com o ponto focal deste estudo:

Na Enciclopédia Treccani se lê: ’Com a palavra Estado, indica-se


modernamente a maior organização política que a humanidade conhece;
ela se refere quer ao complexo territorial e demográfico sobre o qual se
exerce a dominação (isto é, o poder político), quer à relação de coexistência
e de coesão das leis e dos órgãos que dominam sobre esse complexo’.

O poder militar constitui-se em uma das subdivisões do poder e costuma ser


chamado de Expressão Militar48 do Poder Nacional e, ele mesmo, pode ser dividido.
As teorias dos Poderes Terrestre, Naval e Aéreo, como elementos
constitutivos do Poder Militar de um Estado, somente constituem foco central da
Política quando tratam dos aspectos geoestratégicos desses poderes. Essa foi a
acepção idealizada por Mahan e Corbett para o Poder Naval; por Mackinder,
Spykman e por alguns geopolíticos alemães para o Poder Terrestre; e por Douhet,
Trenchard, Mitchell e Seversky para o Poder Aéreo.
Portanto, os instrumentos bélicos encontram-se a serviço do Poder Político,
quando esse opta pelo uso da “força bruta”, a qual é sinônimo de força armada.
As definições de Poder Aéreo evoluíram desde o surgimento do avião e o
desenvolvimento bélico da arma aérea. Não há conceitos unívocos que ofereçam
consenso para se poder definir o termo com perfeição ou achar a idéia mais correta.
Armitage e Mason49 esquadrinharam uma definição de poder aéreo, a qual
pode se coadunar com o presente estudo: “a habilidade de projetar força militar por
ou de uma plataforma, na terceira dimensão, acima da superfície da Terra”.
Para Santos50, a Doutrina Básica da Força Aérea Brasileira de 1958
apresentava uma conceituação “deveras bem formulada”:

O corolário de todo o esforço teórico então desenvolvido está


consubstanciado na Doutrina Básica da Força Aérea Brasileira, cuja
elaboração se concluiu ao longo do ano de 1958 [...] contém uma definição
clara do emprego da aviação militar e conceitua o Poder Aéreo em seus
múltiplos aspectos [...] o Poder Aéreo, que abrange toda a capacidade

47
GRUPPI, 1980, p. 7.
48
BRASIL, 2006, p. 27.
49
ARMITAGE, Sir Michael; MASON, “Tony” R. A. Air power in the nuclear age, 1945-84. London, The
Macmillan Press, 1985, p. 2. Air power is the ability to project military force by or from a platform in
the third dimension above the surface of the earth (no original). Tradução livre do autor.
50
SANTOS, Murillo. Evolução do poder aéreo. Belo Horizonte: Itatiaia; Rio de Janeiro: Instituto
Histórico-Cultural da Aeronáutica, 1989. p. 161.
aeronáutica nacional, é conceituado na Doutrina como a capacidade de
‘controlar e utilizar o espaço aéreo com propósitos definidos’.

Por essa razão, este estudo fez o exame das concepções clássicas e
modernas de pensadores teoréticos, que originaram a formulação do atual
arcabouço de teorias do poder aéreo e as associa às idéias dos seus principais
formuladores51, dentro da cronologia dos fatos históricos e da influência da evolução
tecnológica ─ principalmente na doutrina ─ e das ciências aplicadas à guerra.

1.2 RELAÇÃO52 ENTRE DOUTRINA E TEORIA

Qualquer Força Aérea que não coloque suas doutrinas à frente de seu
equipamento e de sua visão de futuro dará à Nação um falso sentido de
segurança. Gal Henry Arnold, Cmt da USAAF na Segunda Guerra Mundial.

O General Curtis E. LeMay, herói de guerra norte-americano e ex-chefe do


Estado-Maior da USAF, expressou-se a respeito do conceito de doutrina:

Nas profundezas da arte da guerra repousa a doutrina. Representa as


convicções centrais para se empreender a guerra, a fim de se obter a
vitória. Doutrina é, na mente, uma rede de fé e de conhecimento reforçada
pela experiência, na qual se assenta o modelo para a utilização de homens,
equipamentos e táticas. É o material para a construção da estratégia. É vital
53
para julgamentos perfeitos. (tradução nossa).

A doutrina de guerra está sujeita, entre outros fatores, à capacidade do Poder


Nacional (PN) e ao Potencial Nacional. Define a atitude e o modo como a Nação irá
engajar-se em face das hipóteses de emprego (HE) admitidas e listadas na
Estratégia Militar de Defesa (EMiD). A doutrina de guerra baseia-se na concepção
política nacional e na doutrina de defesa nacional. O seu item capital é a concepção
geral da guerra, que define como a Nação se comporta quando concretizada uma
51
Os principais sinônimos encontrados, na literatura especializada em assuntos de aeronáutica e de
poder aéreo, para os idealizadores do poder aéreo, diz respeito a: pensadores, profetas, teóricos
(tradução para o termo da língua inglesa theorists), advogados, formuladores, etc.
52
Em suma, a teoria é especulação pura e a doutrina é a essência teórica adaptada à realidade, a
qual há de reger os distintos atos da guerra e orientar os procedimentos e a ação nos
planejamentos militares, nas manobras e nos combates.
53
Lemay, [s.d.], apud, EUA, 2003, p. 1. At the very heart of warfare lies doctrine. It represents the
central beliefs for waging war in order to achieve victory. Doctrine is of the mind, a network of faith
and knowledge reinforced by experience which lays the pattern for the utilization of men,
equipment, and tactics. It is the building material for strategy. It is fundamental to sound judgment.
HE, estabelece as linhas mestras da estratégia a ser adotada e abarca as
expressões do PN. A doutrina de guerra fundamenta as doutrinas militares.
A doutrina militar não cerceia a iniciativa nem a imaginação, pois não impõe
nenhum esquema. Formando os espíritos na mesma orientação, ela os habitua a
encarar as questões do mesmo modo e cria os reflexos que asseguram a ação
rápida e justa no campo de batalha. Sem menosprezar a decisão advinda do “gênio
do líder”54 militar e sem desvalorizar a força da criatividade, a doutrina procura
orientar a ação. “Doutrina deriva de teoria e experiência militar e indica como melhor
usar o poder militar”55 (tradução nossa). A doutrina não pode ser uma Diretriz:

Doutrina militar apresenta considerações sobre como um trabalho deve ser


realizado para se alcançar objetivos militares. É um depósito de sabedoria e
experiência. Doutrina militar é válida, mas não é diretiva. Comandantes
56
devem considerar não só o que consta na doutrina [...]. (tradução nossa).

A doutrina militar tem por finalidade primordial assegurar a indispensável


disciplina intelectual entre todos os participantes de uma operação militar. No campo
militar, a concepção doutrinária desenvolve uma estrutura mental que facilita a
tomada de decisões convergentes e possibilita a conquista do objetivo comum.
A doutrina se subdivide em formal (doutrina escrita ou explícita) e informal
(implícita ou denominada, também, doutrina de emprego). Na medida em que é
escrita, formalizada e legalizada, a doutrina formal é um documento tangível e
palpável, todavia é episódica. A palavra manual é utilizada como sinônimo para
doutrina formal nas Forças Armadas, tal como se emprega no Exército Brasileiro.
Por sua vez, a doutrina de emprego torna-se intangível e tem seu substrato
na mente daqueles que a incorporam como orientadora das ações bélicas.
Há características essenciais à doutrina de emprego de uma Força Armada.
Sob a ótica processual, o arcabouço doutrinário deve ser prático, objetivo e concreto.
Além disso, a doutrina militar sofre influência de fatores57, logo, necessita ser

54
Clausewitz valorizava deveras o coup d’oeil. Aron (1986, p. 207, v. 1), interpreta o coup d’oeil
como termo que designaria o olhar rápido; a apreensão rápida; o “golpe de vista” do líder militar.
55
ESTADOS UNIDOS. Department of the Air Force. Air force basic doctrine. [S.l: s.n.], 2003. p. 12.
Doctrine evolves from military experience and theory and addresses how best to use military power.
56
Ibidem, p. 11. Military doctrine presents considerations on how a job should be done to accomplish
military goals. It is a storehouse of analyzed experience and wisdom. Military doctrine is
authoritative, but is not directive. Therefore, commanders need to consider not only the contents of
this AFDD, but also the particular situation when accomplishing their missions.
57
Política, estratégia, novas teorias, novas experiências incorporadas, novos ensinamentos colhidos
(lições identificadas) e, principalmente, tecnologia são fatores influenciadores à doutrina militar.
dinâmica, conjetural, adaptativa, e, sobretudo, precisa. Para Ash58, da estrita noção
de doutrina precisa advém que “precisão é originada no conceito de acurácia. A
diferença entre vida ou morte na profissão d’armas”.
Comparada à bússola magnética, a doutrina deve sempre fornecer exatidão,
sob pena de encaminhar e direcionar, quem a usa, para um rumo errôneo.
Drew59 discorre sobre a relação intrínseca entre teoria e doutrina:

O mundo não se queda inerte entre duas publicações da doutrina.


Acrescentam-se, constantemente, novas experiências. [...] novas
tecnologias surgem e amadurecem. Novas teorias e novas interpretações
das teorias existentes são o adubo constante da comunidade
acadêmica militar. Assim, o processo intelectual do desenvolvimento da
doutrina deve ser constante. (Grifos nossos).

Da mesma maneira, o presente trabalho aborda o assunto citado por Drew e


busca mensurar qual a importância do tema para os âmbitos científico-acadêmico e
aeronáutico militar. Ela visa a investigar a relação entre a doutrina militar e a arte
operacional, em tempo de guerra, e teorias de guerra e educação em tempo de paz.
O estudo de doutrinas de emprego das diversas forças armadas evidencia a
importância da instrução das teorias de guerra, afetas aos poderes aéreo, terrestre e
naval, que são indispensáveis à compreensão de estratégias específicas. A ciência
da guerra elabora teorias para explicar a natureza, as causas e os efeitos da guerra
e, de acordo com as teorias, estabelece as leis da guerra. Tanto a teoria quanto a
doutrina de guerra têm os fundamentos no conhecimento mais profundo da guerra.
Para Cervo e Bervian60, “o emprego usual do termo teoria opõe-se ao da
prática. Nesse sentido a teoria refere-se ao conhecimento (=saber, conhecer) em
oposição à prática como ação (=agir, fazer)”.
Entretanto, o vocábulo teoria foi explorado, neste trabalho, com o intuito de
dar sentido a um objetivo ao qual se propõem as ciências. Estas não se restringem
somente à elaboração de axiomas ou de postulados, mas sim, ditadas as leis, as
ciências procuram explaná-las ou dar-lhes explicação racional.

58
ASH, Eric. Aeroespace Power Journal. Precision doctrine. Alabama, spr. 2001, p. 3.
59
DREW, Dennis M. Invenção de um processo de desenvolvimento da doutrina. Airpower Journal,
Alabama, p. 66-76, 2. trim. 1996. p. 71. Edição brasileira.
60
CERVO, Amado Luiz; BERVIAN, Pedro Alcino. Metodologia científica. 4. ed. São Paulo: MAKRON
books, 1977, p. 33.
Segundo Popper61, “as ciências empíricas são sistemas de teorias. A lógica
do conhecimento científico pode, portanto, ser apresentada como uma teoria de
teorias”. Considerando uma independência de prévia empiria, a teoria constitui-se
em conhecimento especulativo, enquanto que a doutrina de emprego se mostra
como um saber prático, visando à concreta aplicação. Ambas são, em essência,
concepções inerentes à natureza da guerra, porém com alcance diverso.
Segundo a concepção teórico-estratégica do general prussiano Carl von
Clausewitz: “a teoria existe para que as pessoas não precisem estar
permanentemente pondo as coisas em ordem e traçando caminhos, mas para que
encontrem as coisas ordenadas e esclarecidas”.62
A teoria especula para saber; a doutrina efetua a adequação desse saber
especulativo às possibilidades reais de aplicação prática e às circunstâncias
mutáveis da guerra – o verdadeiro “camaleão” da analogia criada por Clausewitz.
A teoria alicerça toda concepção política, estratégica, militar, naval ou aérea,
enquanto a doutrina de emprego tem validade e atua em todos os momentos (antes,
durante e depois do conflito armado), pois é o conhecimento fruto de experiências e
ensinamentos adquiridos em combate. A doutrina de emprego alimenta as mentes e
é uma maneira muito própria de se levar a termo técnicas, táticas e procedimentos.
Para Popper63, “As teorias são redes. Lançadas para capturar aquilo que
denominamos ‘o mundo’: para racionalizá-lo, explicá-lo, dominá-lo”.
A eficácia de uma doutrina depende de dois elementos fundamentais. Estar
apoiada em uma teoria correta e ter a realidade como referência concreta.
Uma das origens da doutrina militar pode ser a teoria. Entretanto, uma
doutrina deve ser conformada a uma determinada realidade, de modo a organizar e
a preparar as forças armadas para guerra (ou conflito armado), segundo as
hipóteses de emprego admitidas e as conseqüentes ações militares previstas.
Em contrapartida, a eficácia de uma determinada teoria depende apenas de
se aproximar à realidade factual que pretende representar.
Segundo Evera64, as teorias podem ser conceituadas como:

61
POPPER, Raimund. A lógica da pesquisa científica. São Paulo: Pensamento-Cultrix, 1993, p. 61.
62
CLAUSEWITZ, Carl von. Da guerra. São Paulo: Martins Fontes, 1996, p. 114.
63
POPPER, loc. cit.
64
EVERA, 1997, p. 7-8; p. 10.
[...] Enunciados genéricos que descrevem e explicam causas ou efeitos de
classes de fenômenos. São compostas de leis causais ou de hipóteses, de
explanações e de condições antecedentes [...] Teoria, então, não é nada
mais que um conjunto conectado de leis causais ou hipóteses.

O professor e cientista político Kenneth Waltz fornece um julgamento raro e


traça uma apreciação relevante. Para Waltz65, “Teoria é fundamental à ciência, e
teorias são originadas em idéias”. Mas, o autor lembra: “uma teoria nasce da
conjectura e é viável se essa conjectura se confirma.”.
Na concepção de Evera66, “a utilidade de uma teoria pode ser afetada pela
validade de suas conjecturas” (pressupostos, suposições, hipóteses, assunções,
etc). Nessa ótica, “as teorias mais úteis são aquelas cujas conjecturas se equiparam
a, pelo menos, certa quantidade de casos importantes na área de estudo”.

1.3 O PRECURSOR DA TEORIA DO PODER AÉREO

Só num sentido muito limitado é possível se falar com precisão literal das teorias relativas ao poder
aéreo. Edward Warner

Assim começa o ensaio de Edward Warner67, publicado pela primeira vez em


1943, “Douhet, Mitchell, Seversky: Theories of Air Warfare", cujo amplo uso nas
escolas militares tem-lhe outorgado significado especial. As concepções teóricas de
expoentes dos poderes naval, como Mahan e Corbett, e terrestre, como Mackinder e
Haushofer, foram expostas aos dirigentes políticos das suas respectivas épocas
para apresentar a visão estratégica dos seus idealizadores.
À semelhança do que aconteceu com os poderes terrestre e naval, o
aparecimento da arma aérea gerou o desenvolvimento de teorias de emprego de um
recurso, à época, recente e inusitado, o qual possuía características próprias.
Citando Michael Eliot Howard68, “foi do conceito de poder marítimo que se
desenvolveu todo pensamento sobre poder aéreo”. Os pensadores pioneiros do

65
WALTZ, Kenneth Neal. Teoría de la política internacional. Buenos Aires: Grupo Editor
Latinoamericano, 1988, p. 11.
66
EVERA, 1997, p. 7 et seq.
67
WARNER, Edward. Douhet, Mitchell, Seversky: Theories of Air Warfare. In: EARLE, Edward Mead.
Makers of modern strategy: military thought from Machiavelli to Hitler. Princeton: Princeton
University Press, 1973. 2nd printing. Esta pesquisa não tem como objetivo julgar e, até mesmo,
proferir juízo de valor acerca da existência de teorias do poder aéreo ou se não as há.
68
HOWARD, Michael Eliot. O conceito de poder aéreo: uma avaliação histórica. Airpower Journal.
Alabama, p. 59-69, 4. trim. 1996, p. 60. Edição brasileira. O ensaio escrito para a Airpower Journal
poder aéreo “assumiram, impensadamente e sem qualquer crítica, muitas idéias que
haviam sido desenvolvidas por pensadores do poder marítimo; algumas eram boas,
algumas eram más”. Deveras, Howard fez uma analogia pertinente e lógica.
A partir do vôo de Alberto Santos Dumont, em 1906, e da travessia do Canal
da Mancha, em 1909, desenvolveram-se correntes de pensamento que tiveram
como precursor um general italiano, Giulio Douhet, homem com uma formação
terrestre, mas senhor de uma capacidade de análise notável e que cedo se
apercebeu das grandes potencialidades das máquinas voadoras.
Uma terceira teoria amalgamou-se às demais quando, pela primeira vez na
História Militar, Douhet reuniu estudos que serviram de base à primeira teoria sobre
o poder aéreo e alavancaram a influência da arma aérea no contexto da guerra.
Douhet originou essa análise, do emprego do avião como uma revolucionária
arma de combate, inicialmente no apoio à artilharia e em missões de observação e,
posteriormente, em missões de reconhecimento, de bombardeio e de caça.
Dois acontecimentos da Primeira Grande Guerra podem ter impressionado
Douhet. O longo período de estabilização na Frente Ocidental, que gerou um
impasse na Guerra de Trincheiras, e a capacidade quase sem limites da nova arma
que acabava de se afirmar no campo da luta – o avião.
Ao prepararem as forças armadas do seu país para a guerra, chefes militares
têm superestimado o seu poder de ataque e subestimado a capacidade de defesa
do adversário, inclusive da população civil e de potenciais países aliados. Quando
os poderes dos antagonistas se equivalem é quase impossível uma decisão rápida.
Mesmo que o agressor se beneficie do princípio da surpresa ou realize uma
agressão brutal, contando com a máxima potência das armas.
Durante a ofensiva de 1914 na frente ocidental, os alemães chegaram às
portas de Paris e quase decidiram a guerra. Àquela época, a capital francesa sofreu
seus primeiros bombardeios levados a efeito por aviões e dirigíveis.
Seguiu-se a célebre "corrida para o mar" com a conseqüente estabilização
numa frente ininterrupta que se estendeu da fronteira suíça ao litoral belga do mar
do Norte. A frente de mais de setecentos quilômetros transformou-se num conjunto
contínuo de fortificações, que anulou a capacidade ofensiva dos dois adversários.

foi traduzido da publicação de inverno, ano de1995, da Air Power History, revista publicadas pela
Air Force Historical Society.
Com justiça, Douhet69 é considerado, nos dias de hoje, o primeiro filósofo, o
precursor e o “profeta” do Poder Aéreo. Ele desfruta, a esse respeito, de uma
ascendência comparável à de Alfredo Thayer Mahan, no campo do Poder Naval.
Conforme Edward Warner70 esboçou, a teoria de guerra de Douhet, sobre o
valor do poder aéreo, desmembrava-se em alguns pontos-chave:

A guerra moderna não permite qualquer distinção entre combatentes e não-


combatentes; as ofensivas bem-sucedidas por força de superfície não são
mais exeqüíveis; as vantagens de velocidade e altura na arena
tridimensional da guerra aérea inviabilizaram as medidas defensivas contra
uma estratégia aérea ofensiva; portanto, a nação deverá estar sempre
preparada para desencadear bombardeios maciços contra centros
populacionais, governamentais e industriais inimigos – atacar primeiro e
atacar duro para aniquilar o moral do inimigo civil deixando o governo
adversário sem outra opção a não ser propor a paz; para isso obter, é
requisito primordial constituir uma Força Aérea independente, dotada de
aeronaves de bombardeio de longo alcance, mantidas em permanente esta-
do de prontidão.

Em 1921, Douhet71 já afiançava com visão estratégica: “Atualmente nós


temos plena consciência da importância do domínio do mar. Muito em breve não
será menos importante conquistar o domínio do ar. Combater-se-á por ele”.
Aplicando os princípios fundamentais da guerra, Douhet (1988), procurou
determinar de que forma ela deveria ser conduzida, tendo concluído que, no século
XX, ela seria uma Guerra Total, cabendo ao poder aéreo uma tarefa fundamental –
aumentar a profundidade do campo de batalha, estendendo-o a todo o território e
tornando-o assim vulnerável em qualquer ponto.
No emprego do poder aéreo, Douhet (1988) considerava, essencialmente,
dois tipos de fatores – os técnicos e os de emprego. Nessa última categoria,
englobava a velocidade, o teto de utilização, o raio de ação e a carga de armamento
útil, associando esse último aspecto à capacidade de destruição, defendendo a

69
MEILINGER, Phillip S.. Airmen and air theory: a review of the sources. Maxwell Air Force Base: Air
University Press, 1997, p. 103; Q.v., MEILINGER, Phillip S.. Giulio Douhet and the origins of
airpower theory. In: ______. The paths of heaven: the evolution of airpower theory. Maxwell Air
Force Base: Air University Press, 2004, p. 1; Vid. METS, David R.. The air campaign: John Warden
and the classical theorists. Maxwell Air Force Base: Air University Press, 1999, p. 11-18; Cf.
MACISAAC, David. Vozes do azul: teóricos do poder aéreo. In: PARET, Peter. (Ed.). Construtores
da moderna estratégia: de Maquiavel à era nuclear. Rio de Janeiro: Bibliex, 2003. t. 2, p. 221.
70
WARNER, 1973, p. 313.
71
DOUHET, Giulio. La guerre de l'air. Paris: Journal ”Les Ailes”, 1932, p. 60, (la maîtrise de l’air).
construção de um aparelho apto a desempenhar, simultaneamente, operações de
combate e ações de bombardeamento – o “avião de batalha” ou “cruzador aéreo”72.
O pensador italiano defendia que o avião agiria além do alcance das armas
de superfície e em qualquer ponto, maximizando o ponto de aplicação da força,
causando grau de incerteza e diminuindo a liberdade de ação do antagonista. Para
Douhet73, “conquistar o domínio do ar é vencer, e ser batido no ar é ser vencido e
obrigado a aceitar todas as condições que ao inimigo aprouver impor”.
Segundo Douhet (1988), conquistar o “domínio do ar” seria, portanto, uma
questão de Defesa Nacional. Para ele, significava destruir o poder aéreo inimigo, tão
perto da sua origem quanto possível. Na opinião do General italiano, esse esforço
implicava uma força aérea independente, em cujo aprestamento a Nação se deveria
empenhar, pondo à disposição todos os recursos de ordem material e humana.
Por conseguinte, essa premissa era a idéia basilar do pensar douhetiano.
Constituíam-se, basicamente, em pontos cruciais expressos por Douhet74:

Os aviões representam um instrumento ofensivo de incomparável poder e,


contra os quais, nenhuma defesa eficaz pode ser prevista. O moral da
população civil pode ser abalado por meio de bombardeios aéreos dos
diferentes adensamentos humanos. Com o emprego do avião militar, o
combate não ficava mais limitado ao campo de batalha, pois a ação aérea
poderia ser executada muito além do alcance das armas de fogo terrestres
e navais. Uma frente fortificada não protegia mais o interior do país; o avião
poderia atuar na retaguarda da linha de combate, sem necessidade de
rompimento do front. Por estarem diretamente ameaçadas, todas as
criaturas passariam, portanto, a ser combatentes, e o moral da população
inimiga, por sua vulnerabilidade, deveria constituir o primeiro objetivo. O
avião pode deslocar-se em todas as direções – com mobilidade e com
velocidade superiores às de qualquer outro meio militar – e ameaça,
igualmente, toda a superfície limitada pela circunferência de raio igual ao
raio de ação da aeronave. [...] as forças aéreas ameaçam igualmente todo o
território dentro do seu raio de ação e podem, partindo de pontos diferentes,
agir em massa sobre um ponto escolhido.

Os pontos fundamentais da “Teoria Douhetiana” são calcados nas grandes


possibilidades ofensivas da aviação e no impacto que os ataques aéreos causariam
sobre a população civil, que se localizasse distante das frentes de batalha.

72
Segundo o pensamento de Douhet, o avião de batalha deveria ter um grande raio de ação,
velocidade elevada e proteção que lhe permitisse sobreviver em cenários muito desfavoráveis.
Deveria estar preparado para o combate aéreo e para ações anti-superfície.
73
DOUHET, 1932, p. 60. II Dominio dell'Aria, o original em italiano, foi escrito em 1921.
74
DOUHET, Giulio. O domínio do ar. Rio de Janeiro: Belo Horizonte: Itatiaia; Rio de Janeiro: Instituto
Histórico-Cultural da Aeronáutica, 1988, passim.
Essas inerentes possibilidades do avião militar conduziram ao emprego em
massa da arma aérea contra órgãos vitais situados na retaguarda do inimigo. O
bombardeio estratégico constitui-se em um exemplo disso, visto que visava à
destruição de determinados recursos econômicos, políticos, tecnológicos e,
ocasionalmente, à eliminação da vontade de resistir do oponente (fator psicossocial),
a fim de tornar inteiramente impossível a manutenção da luta.
Douhet75 visualizou essas intrínsecas características da arma aérea e fixou
algumas premissas básicas que deram suporte à nova forma de combate pelo
emprego das aeronaves militares. Essas idéias fundamentais se resumem em:

A garantia de adequada defesa nacional é assegurada, em caso de guerra,


pela possibilidade de conquistar o domínio do ar (antes do inimigo obtê-la).
Os objetivos principais dos ataques aéreos não serão os estritamente
militares, mas as instalações industriais e os centros populacionais
localizados bem distantes da faixa de contato das forças de superfície. A
destruição da força aérea inimiga será buscada, não através do contato no
ar, mas, e principalmente, pela destruição das instalações de terra, dos
campos de pouso e das fábricas supridoras de material aeronáutico. O
papel das forças de superfície será defensivo, apenas destinado a sustentar
uma frente de batalha, impedindo o avanço das tropas congêneres
adversas; em particular, a ação contra as comunicações, indústrias e o
estabelecimento de uma força aérea, enquanto se desenvolver a ação
ofensiva pelo ar, com o objetivo de paralisar a capacidade do inimigo de
manter seus exércitos e desgastar o moral da população. No intento de
obter economia de forças para o esforço total, o uso de aviões especiais de
caça para a defesa contra a aviação adversa de bombardeio deve ser
evitado. O equipamento básico deve ser o avião de combate, apto para
bombardeios e, ao mesmo tempo, elemento defensivo, ou, o que possa,
alternadamente, ser usado nas missões de combate.

Para ele, se a nação dominasse o ar, a luta se apresentaria muito vantajosa,


pois tornaria cegos o Exército e a Marinha do inimigo e ficaria em condições de
fornecer os “olhos” com os quais seu próprio Exército e Marinha poderiam ver muito
longe. Além disso, a força aérea da nação estaria em condições de desencadear
ataques que, embora não chegassem a quebrar completamente a resistência do
adversário, poderiam causar graves prejuízos à sua “máquina” de guerra.
Mesmo que fosse atendida apenas a primeira das condições, o emprego de
uma força aérea teria influência preponderante na decisão de uma guerra.
Na visão de Douhet, não fazia sentido manter as denominadas aviações
auxiliares, considerando-as inúteis, supérfluas e até mesmo prejudiciais.
Considerava igualmente dispensáveis a defesa aérea local e tudo o que se
75
DOUHET, 1988, passim.
relacionasse com a guerra antiaérea. Defendia a utilização de meios de destruição
que simultaneamente revelassem uma capacidade tóxica, incendiária e explosiva.
Assim, a bomba atômica iria realizar em mega-escala a idéia de Douhet. Esse
fato se concretizou no sopro demolidor e na altíssima temperatura, mais do que
incendiária, na letalidade e persistência das radiações, dificultando as ações de
socorro. De fato, Douhet não esqueceu a aviação civil – considerou a uso desse tipo
como complemento à aviação militar, pressupondo, no entanto, algumas medidas.
Todavia, Douhet não estava sozinho na apologia ao emprego do poder aéreo.
Outros “advogados”, como Mitchell e Trenchard76, contemporâneos de
Douhet, partilharam as suas idéias no essencial, desenvolvendo, porém, linhas de
pensamento um pouco diferenciadas em relação às do General italiano.
O vantajoso emprego militar do avião na Primeira Guerra Mundial permitiu
que Douhet e outros clássicos teóricos do poder aéreo formulassem impressões que
serviram de alicerce às atuais doutrinas de emprego das forças aéreas do mundo.
Para o General italiano, os acontecimentos da guerra testemunharam uma
nítida preponderância da defensiva no combate terrestre. Admitia Douhet, que as
forças terrestres, quando suficientemente abrigadas, poderiam proteger o país
contra a agressão de um adversário terrestre mais poderoso. Todavia, no embate
aéreo, a ofensiva, além de ser a forma mais poderosa de luta, também é a única
forma válida de combate. Além disso, as forças aéreas são particularmente aptas
para a ofensiva, pois deixam o adversário, até o último momento, na incerteza da
sua intenção e não lhe concedem tempo hábil para levar reforços ao ponto atacado.
Sob esse prisma, Douhet77 profetizou: “O aeroplano, abrindo um novo campo
de ação, o campo aéreo, estava destinado a levar a humanidade a lutar também no
ar, porque, onde quer que dois homens se encontrem, a luta torna-se inevitável”.
Fundamentado nessas idéias, Douhet firmou um primeiro princípio. Seria o de
resistir em terra, a fim de se concentrar no ar. Isto é, os recursos militares da nação
devem ser concentrados no poder aéreo e todo seu potencial no ar deve ser
concentrado obrigatoriamente na constituição de uma força aérea independente, ao
invés de dispersar-se em forças aéreas do Exército e da Marinha. Com o emprego
do avião militar, o combate não ficou limitado ao campo de batalha. A ação aérea
pôde ser executada muito além do alcance das armas de fogo terrestres e navais.

76
Cf. capítulo 2, item 2.6, deste. A INFLUÊNCIA DO PODER AÉREO NA CONDUÇÃO DA GUERRA.
77
DOUHET, 1932, p. 61.
Uma frente fortificada não protegia mais o interior do seu país; o avião pode
atuar à retaguarda da linha de combate sem necessidade de rompimento do front.
Todas as criaturas terão que ser combatentes por estarem diretamente
ameaçadas e o moral da população inimiga, por sua vulnerabilidade, deve constituir
o primeiro objetivo. O avião pode se deslocar em todas as direções com uma
mobilidade e velocidade superiores às de qualquer outro meio militar.
Um avião situado num ponto "A" ameaça igualmente toda a superfície limitada
por circunferência de raio igual ao raio de ação desse avião. Aviões espalhados pela
superfície do mesmo círculo podem, em dado momento, concentrar-se no ponto "A".
Por conseguinte, as forças aéreas ameaçam igualmente todo o território que
esteja dentro do raio de ação de vetores aéreos e podem, partindo de pontos
diferentes, agir em massa sobre um ponto específico previamente escolhido.
Essas possibilidades do avião militar conduziram ao emprego, em massa, de
aeronaves contra órgãos vitais do inimigo situados à retaguarda – pelo bombardeio
estratégico – que visava à destruição de determinados recursos econômicos e,
ocasionalmente, à eliminação da vontade de resistir, o que poderia tornar
inteiramente inviável a manutenção da luta. Alcançar esse escopo estratégico sem
destruir a parte da indústria indispensável à manutenção da guerra, seria ineficaz.
Após a Primeira Guerra, o bombardeio estratégico adquiriu importância e se
conceituou o Poder Aéreo como "a Força que leva a efeito o que se tornou
conhecido como bombardeio estratégico"78. A nova forma de agressão passou a ser
estudada como um novo método de guerra que justificaria o estabelecimento de
uma doutrina de operações, inteiramente independente das doutrinas pertinentes às
operações em superfície, e relativa a uma nova forma de Poder: o Aéreo.
Para Douhet, a superfície da Terra representaria, em relação ao oceano
atmosférico, o papel que o litoral desempenha em relação ao mar. As condições são
de todo semelhantes. A proteção da superfície terrestre contra os ataques aéreos
não ficaria assegurada com canhões e aviões de defesa, mas só poderia ser
estabelecida se o inimigo fosse impedido de voar pela conquista do “Domínio do Ar”.
Para conquistar o domínio do ar seria necessário privar o inimigo de todos os seus
meios de vôo, destruindo-os, seja nas fábricas onde são produzidos, seja nas bases
onde se abrigam, sejam no ar onde se deslocam. Como essa destruição no ar ou no
território inimigo só pode ser confiada aos meios aéreos, então, Douhet conclui que
78
ARMITAGE; MASON, 1985, p. 2.
o Domínio do Ar só pode ser assegurado por uma força aérea adequada e
preparada à ameaça, em potencial ou iminente, que se deve redargüir.
Por outro lado, as forças aéreas do inimigo devem ser destruídas onde mais
facilmente puderem ser encontradas e onde forem mais vulneráveis. Só pela
destruição das forças aéreas inimigas é possível evitar o ataque dessas forças e
assegurar o domínio do ar, que passou a constituir um dos princípios essenciais de
emprego do Poder Aéreo. Para Douhet (1988), uma força aérea apta à conquista do
domínio do ar deve ter organização e emprego independentes das forças de terra e
de mar. Essa era a premissa basilar de todo o pensamento estratégico de Douhet.
O avião militar foi empregado, na Primeira Guerra, em proveito das forças de
superfície com ênfase. Todavia, os primeiros teóricos do poder aéreo consideraram
essas missões secundárias. A execução implicava uma evidente subordinação tática
às forças de superfície e esse emprego não apresentava resultados considerados
decisivos como os do bombardeio estratégico. Na Segunda Guerra, os advogados
do poder aéreo teorizaram que, ao invés do emprego restrito na Guerra de 1914-
1918, a aeronave poderia atingir os centros de gravidade do inimigo.

1.4 A TEORIA DOS CINCO ANÉIS DE JOHN WARDEN III79

O estrategista deve pensar em termos de paralisar, não de destruir. Liddell Hart

Nos anos do Pós-Guerra Fria, forças aéreas travaram embates contra


Estados e grupos paraestatais, todos com restrita capacidade para se aventurar e,
muito menos, sustentar um conflito armado por período de tempo prolongado80. As
vitórias sobre esses atores, estatais ou não, ocorreram a um custo essencialmente
menor à população civil, ainda mais, quando comparado ao imposto pelas
campanhas aéreas da Segunda Guerra Mundial. A primeira Guerra do Golfo (1990-
91) elucida o juízo de valor, pois o planejamento militar foi eficazmente executado.
79
É coronel da reserva da USAF; cursou o National War College; tem Mestrado em Artes, Texas
Tech University; foi o Comandante da Escola de Comando e Estado-Maior da Força Aérea dos
EUA; assistente especial do Vice-Presidente dos Estados Unidos e subdiretor da Diretoria de
Combate, QG da USAF. O Cel Warden é o autor de The Air Campaign: Planning for Combat.
80
A guerra hodierna impõe, cada vez mais, custos vultosos e exige ações rápidas e precisas. A
decisão final e o sucesso na guerra podem se voltar, portanto, para quem primeiro detiver o
gerenciamento do tempo em época de crise ou conflito armado pelo domínio do Ciclo decisório do
“observar, orientar, decidir e agir” e, conseqüentemente, vier a suplantar, em eficiência, o ciclo
OODA do oponente, conforme concebe a teoria do OODA LOOP de John Boyd.
O supracitado trecho de Liddell Hart faz uma descrição diferente daquela
oriunda do pensamento clausewitziano do século XIX e similar às idéias dos homens
do ar. Analogamente, a citação difere da concepção clausewitziana de recontro81 e
de guerra absoluta, pois se aplica à moderna guerra aeroestratégica.
Segundo Popper82, é necessário “pensar dedutivamente”; “raciocinar do
cenário mais amplo para o mais estreito”. O método do pensar dedutivo se aplica ao
nível estratégico, em vez do pensamento indutivo usado ao se inserir no nível tático
ou no campo da arte operacional. Isso significa comportar-se estrategicamente.
Há, essencialmente, duas possibilidades de pensamento: a indutiva e a
dedutiva. A primeira consiste em reunir muitos dados menores para se assimilar o
todo. A segunda começa com a totalidade, a partir da qual se podem apreender as
minúcias. Assim, a primeira maneira de pensar é tática, a segunda, é estratégica.
O treinamento inicial de pilotos militares envolve, normalmente, processos
indutivos de pensar. Porém, para que se tornem artífices da guerra e estrategistas
eficazes, devem “aprender a apreender” a pensar dedutivamente. Nesse caso,
comparar arquitetos e pedreiros pode, talvez, ser um bom exemplo dessa dicotomia.
O Coronel John A. Warden III e sua equipe de trabalho83 arquitetaram toda a
campanha aérea na guerra contra o Iraque, em 1991. Ele idealizou a Teoria dos
Cinco Anéis para explicar e fundamentar que se deve distinguir todo e qualquer
inimigo como um sistema composto de elementos menores – os subsistemas:

Para pensar de maneira estratégica, devemos pensar o inimigo como um


sistema composto de muitos subsistemas. Pensar o inimigo em termos de
um sistema, nos dá uma chance muito melhor de forçá-lo ou de induzi-lo a
fazer de nossos objetivos os objetivos dele e fazer isso com um esforço
mínimo e uma probabilidade de sucesso máxima.84

Além disso, John Warden III85 frisa que “como estrategistas e artífices
operacionais, precisamos nos livrar da idéia de que a característica central da guerra
é o embate de forças militares”.

81
Recontro seria uma idéia clausewitziana para o combate que abarcasse todas as tropas militares.
82
POPPER, Karl R. A lógica da pesquisa científica. São Paulo: Pensamento-Cultrix, 1978. p. 30.
83
John A. Warden III chefiou a Checkmate Division do Pentágono e arquitetou a campanha aérea
que guiou os esforços aliados durante a Operação Tempestade no Deserto.
84
WARDEN III, John A. O inimigo como sistema. Airpower Journal, Alabama, p. 44-59, 3. trim. , 1995.
Edição brasileira, p. 46.
85
WARDEN III, loc. cit. Ele fez referência a Clausewitz, que via o recontro como o principal elemento.
A guerra estratégica pode forçar um embate, mas nem sempre o confronto de
forças militares faz-se mister. Em geral, deve ser evitado e é quase sempre
instrumento ao objetivo maior, em regra político, e não um fim em si mesmo.
Sob esse enfoque, o autor enfatiza o poder estratégico da arma aérea86:

Os objetivos são fundamentais para o sucesso na guerra estratégica. Indo à


guerra com um Estado ou com qualquer ente estratégico87, precisamos (ou,
certamente, deveríamos) ter objetivos, e esses objetivos, para terem
utilidade, têm que estar muito além de coisas como meramente vencer o
inimigo ou estragar suas forças militares. (Não há duvida que esta última
coisa pode ser, exatamente, o que não queremos fazer. Lembre-se que a
guerra no nível estratégico não é o mesmo que no nível tático, em que a
derrota das forças táticas do inimigo é exigida quase que por definição.)
Afinal, não se vai à guerra apenas para ter um bom combate; vamos à
guerra para conseguir algo que é politicamente valioso para nossa
organização.

Portanto, o que se colima alcançar pode ser tão extremo quanto a aniquilação
de um Estado ou colonizá-lo. Em contrapartida, pode-se querer que o inimigo não
nos aniquile. Entre esses extremos há um espectro enorme de possibilidades, como
a seguinte: na Guerra do Golfo os Estados Unidos queriam que o Iraque saísse do
Kuwait e que o poder iraquiano diminuísse a um nível em que não fosse mais uma
ameaça para seus vizinhos no Oriente Médio.
No nível estratégico, atingir os objetivos é produzir as mudanças em uma ou
em mais partes do sistema material inimigo. Pela persuasão ou pela coerção, o
oponente decide adotar nossos objetivos. Pela paralisia estratégica, torna-se
materialmente impossível para o inimigo opor-se ao adversário. A isso se denomina
seleção utilitarista de alvos. No entanto, resta a pergunta: que itens do sistema
inimigo serão atacados? Warden anota, a seguir, o lado moral. Na idéia de Warden,
depende de quais sejam nossos objetivos, de quanto o inimigo queira resistir a nós,
de quão capaz disso ele seja e de quanto esforço sejamos nós capazes de exercitar,

86
WARDEN III, 1995, p. 47.
87
Um ente estratégico é qualquer organização que pode operar de um modo autônomo, quer dizer,
que dirige a si própria e que se sustenta. Um estado é um ente estratégico, como o é uma
organização criminosa como a Máfia ou organizações empresariais como a General Motors. Nem
um exército nem uma força aérea, ao contrário, são entes estratégicos porque nem dirigem a si
próprios nem se sustentam. Esta é uma diferença essencialmente importante. Mais importante
aqui, porém, é que nossa discussão dos centros de gravidade estratégicos e da guerra estratégica
é aplicável tanto a organizações guerrilheiras quanto aos estados industriais modernos.
dos pontos de vista material, moral e político. Com respeito à relação entre aspectos
morais e materiais, também enfocada por Clausewitz, Warden88 afirma que:

O advento do poder aéreo e de armamento preciso tornou possível destruir


o lado material do inimigo. Isto não quer dizer que, moral, atrito e
nebulosidade tenham desaparecido. Quer dizer, porém, que agora podemos
colocá-los numa categoria distinta, separada do material. Em conseqüência,
podemos pensar, em termos gerais, na seguinte forma de equação para a
guerra: (material) x (moral) = resultado.

A avaliação, a seleção, a identificação e a destruição de alvos fornecidos


pelos estrategistas aos pilotos de força aérea são etapas essenciais nas campanhas
aéreas modernas, pois ditam a eficácia do emprego do poder aéreo.
Por isso que o Modelo dos Cinco Anéis foi idealizado por John Warden III.
Para tornar inteligível a idéia do sistema do inimigo e facilitar o entendimento de sua
teoria. Ele afirma: “os melhores modelos no nível estratégico são os que nos dão a
representação mais simples possível do quadro geral”.89
Entretanto, desenvolvem-se porções do modelo, à medida que se precisa de
maior minúcia, de modo que se possam perceber aspectos cada vez mais refinados.
É importante, porém, que, ao construir o modelo e ao usá-lo, comece-se sempre do
geral e se trabalhe, dedutivamente, para obter o particular.
Segundo Warden,90 seria capital para se obter sucesso a consciência de que
“os estrategistas e os artífices operacionais começam com o ente amplo - o sistema
inimigo - e então vão trabalhando para compreender os aspectos menores à medida
que isso se exige”. A essência da guerra estratégica é forçar o Estado – ou a
organização – inimigo a fazer o que se quer que ele faça. No extremo, a ênfase
pode chegar a ser uma guerra para destruir o Estado ou a organização.
Entretanto, é o sistema todo que é o alvo, não somente suas forças militares.
Por exemplo, se a ação sobre o sistema for adequada, suas forças militares ficarão
como um apêndice inútil, já não mais apoiadas pela liderança, pelos elementos
orgânicos essenciais, pela infra-estrutura ou pela população – pessoas, civis.
Para Warden91, “isso não quer dizer que não se pense em como derrotar
diretamente as forças militares do inimigo. Não há dúvida que há ocasiões em que a

88
WARDEN III, 1995, p. 47.
89
Ibid., p. 48.
90
Ibidem, p. 51.
91
Ibid., p. 52.
derrota delas é o único modo de privar os centros estratégicos de seus guardas”. Há
casos em que não há a opção de infringir danos em pontos estratégicos do opositor.
Warden de baseia em Clausewitz, que descreveu a guerra como uma
“trindade esquisita”. Formada de violência primordial, ódio e inimizade, que podem
ser tratados como uma força natural, cega; do jogo do acaso e de probabilidades,
onde o espírito criativo pode enveredar livremente; e do elemento de subordinação
aos objetivos políticos, de instrumento político, que a faz subordinada só à razão.
Portanto, o primeiro dos três aspectos diz respeito, principalmente, ao povo e
suas ardentes paixões; o segundo ao comandante e às forças armadas; o terceiro
ao governo e à racionalidade. Os sentimentos que devem ser inflamados na guerra
já devem estar presentes no povo; o alcance que a coragem e o talento92 terão no
campo das probabilidades e do acaso depende do caráter particular do líder-militar e
do emprego da força bruta; os fins políticos são província peculiar do governo.
O entendimento da guerra como uma “trindade esquisita” concede
compreender que o objetivo da guerra necessário para o propósito político,
correspondente à vitória na guerra, pode não estar contido nas forças do inimigo.
Pode-se apreender que o recontro é um choque de forças morais e físicas por
intermédio destas últimas. O ponto é golpear no alvo que mais afete a coesão e a
vontade do inimigo. É mister se atingir as suas forças morais, tanto quanto as físicas.
Há Centros de Gravidade93, “pontos ótimos de aplicação da força, que
correspondem aos núcleos de poder e movimento, coesão e direção de que tudo
depende”, cuja compreensão advém da “trindade extraordinária”. Ela permite
conceber que, embora a destruição das forças armadas do inimigo seja um início e
tenha influência no desenrolar da campanha, é possível identificar CG do esforço de
combate em outros pontos que não pertencem apenas ao poder militar.
O Centro de Gravidade pode estar na força principal, ou na força de um aliado
mais poderoso, ou na capital, ou, como no caso de movimentos guerrilheiros, em
sua liderança. O fator crucial é afetar o equilíbrio das forças inimigas de modo que
esse efeito não possa ser revertido. Ademais, selecionar CG do inimigo eficazmente
é uma das mais importantes tarefas de um comandante, tanto no nível estratégico
quanto no operacional. Isso sinaliza a direção geral dos esforços em prol de um

92
Raymond Aron, que foi um estudioso de Clausewitz, afirma ser “gênio do líder” o melhor termo;
Aron interpreta esse caráter genial da liderança como a “virtude de inteligência do chefe de guerra”.
93
CLAUSEWITZ, 1996, p. 595-596.
resultado final pretendido. Os centros de gravidade apenas podem se relacionar
indiretamente com a capacidade do inimigo de conduzir operações militares reais.
Para Warden94, a idéia clausewitziana de “Centro de Gravidade” (CG) é “um
conceito simples, mas como ele mesmo afirmava, de difícil aplicação”.
Ao importar esse conceito clausewitziano para elaborar uma teoria, John
Warden define centro de gravidade de modo distinto: “ponto onde o inimigo é mais
vulnerável e o ponto onde um ataque terá a maior chance de ser decisivo”95.
Segundo diz Warden III96, “a exigência mais importante do ataque estratégico
é entender o sistema inimigo. Entendido o sistema, o problema seguinte se torna o
de como submetê-lo no nível desejado, ou como paralisá-lo se isto for exigido”.
Por conseguinte, como se conduz a estratégia da “paralisia estratégica”?
Assevera Warden, que o “ataque em paralelo será normalmente o tratamento
preferido, a menos que haja uma razão cogente para prolongar a guerra”.97 Portanto,
um “ataque em paralelo” eficaz parece se coadunar com o Princípio de Guerra da
“economia de forças” (também nomeado de “economia de esforços” ou “de meios”).
Compare-se esse “ataque em paralelo” com o ataque em série, no qual só um
ou dois alvos são atacados num determinado dia (ou até por mais tempo). O inimigo
pode minorar os efeitos de ataques em série pela dispersão no tempo, aumentando
as defesas dos alvos que têm probabilidade de serem atacados, concentrando seus
recursos para reparar os danos de ataques singulares e pelas contra-ofensivas.
O “ataque em paralelo” o priva da capacidade de responder eficazmente, e
quanto maior a percentagem de alvos golpeados num único ataque, mais a resposta
do inimigo se torna dificultada. O ataque em paralelo não foi possível, em qualquer
escala apreciável, no passado, porque o comandante tinha que concentrar suas
forças a fim de prevalecer contra uma parte única vulnerável das forças do inimigo.
Se vencesse, poderia reconcentrar-se e deslocar-se para atacar outro ponto nas
defesas do inimigo. Esse processo tornou-se entendido como uma “guerra em série”.
Permitia manobra e contramanobra, ataque e contra-ataque, movimento e pausa  é
a dicotomia clausewitziana defesa versus ataque, onde o mais forte seria a defesa.
A guerra serial cedeu ao fenômeno nomeado por Clausewitz como “ponto
culminante” da batalha  aquele ponto da campanha em que há um aparente

94
WARDEN III, 1995, p. 52.
95
WARDEN III, The air campaign: planning for combat. New York: Pergamon-Brassey’s, 1989, p. 7.
96
WARDEN III, op. cit., p. 48.
97
Ibid., p. 58.
equilíbrio e, repentinamente, com o esforço correto de qualquer um dos lados pode
haver um efeito significativo e decisivo na ação final. A clássica noção da guerra
enxergava-a como um fenômeno de efeitos seriais  “enchente e vazante”. Todavia,
a moderna capacidade do poder aéreo de executar a “guerra paralela” (ou ataque
em paralelo), torna o pensamento dos pensadores clássicos, em parte, obsoleto.
A batalha decisiva da “estratégia de aniquilação” concertava princípios de
guerra com a intuição de Napoleão. Combinados, esses princípios e a intuição
napoleônica forneciam os instrumentos necessários e suficientes para as
esmagadoras vitórias de Bonaparte. Assemelhavam-se em muito às concepções de
Clausewitz sobre o embate total de exércitos inimigos.
As máximas de Napoleão denotam, friamente, como o corso enxergava a
batalha decisiva da estratégia de aniquilação, pois ele dizia que “na arte da guerra,
assim como na mecânica, o tempo é o grande elemento entre o peso e a força”98.
Na consecução da “estratégia de paralisia”, John Warden III abona a idéia de
que “os alvos vitais dos Estados, no nível estratégico, tendem a ser pequenos, muito
caros, ter pouca possibilidade de reposição e ser de difícil reparo. Se uma
percentagem significativa for atingida em paralelo, o dano se torna irrecuperável”.99

Direção ou Liderança central

Elementos orgânicos essenciais

Infra-estrutura

População

Forças militares em campo

Figura 1: O modelo básico da Teoria dos Cinco Anéis de John A. WARDEN III. Adaptado pelo autor.
Fonte: WARDEN III, John. O inimigo como sistema. Airpower Journal, Alabama, p. 51, 3. trim. 1995.

98
As máximas de Napoleão Bonaparte não se constituem, a rigor, em teorias de guerra.
99
WARDEN III, 1995, p. 58.
A Teoria de Warden preconiza que, em cada anel haveria um ou mais de um
“Centro de Gravidade”. Para Clausewitz, esses “Centro de Gravidade” eram “pontos
focais” dos quais tudo dependeria e seria sobre esses pontos-chave do inimigo que
se deveria infringir força máxima (se possível, aplicar sob a forma de golpe único).
No “Modelo dos Cinco Anéis”, Warden hierarquiza os itens em ordem de
importância, cuja seqüência decrescente é: liderança, direção ou comando (está em
primeiro lugar; é o anel capital), elementos orgânicos essenciais, infra-estrutura, a
população civil e, por último lugar, forças militares em campo de batalha (figura 1).
Os sistemas apresentam, por essência, apropriadas e coerentes
peculiaridades de vinculação e influência de valor relativo entre seus elementos
componentes. Mormente, nos sistemas sociais ou abertos (organizações, estados,
etc), os sistemas podem interagir e se interconectar entre si por alianças (figura 2).
A Air Warfare Doctrine apresenta um modelo evoluído da Teoria de Warden
(idealiza seis anéis). Há a inclusão de um sexto anel: da interação ou conectividade.
Trata-se do anel mais externo e “indica a interação entre várias nações, grupos ou
outros atores”, que poderiam ser interpretados como os prováveis aliados ou
alianças políticas de determinado ente estratégico (como um estado-nação).

Figura 2: O modelo dos seis anéis com a inserção da connectivity.


Fonte: USAF, AFDD 2-1, Air Warfare, 2000, p. 99.
A par da inovação feita pela USAF, ressalte-se que Clausewitz já admitia, no
On War, os aliados políticos (ou alianças) como um provável centro de gravidade. O
“Modelo dos Cinco Anéis” segue o mesmo rumo, pois Warden explica o esquema
inicial passível de transformações, por exemplo, convertendo os círculos em elipses.
No entanto, essas modificações auxiliam-nos a desvendar que o modelo
concebe sistemas dinâmicos de natureza não-linear e que nem sempre existe a
mesma inter-relação concêntrica entre os cinco anéis e seus subsistemas (fig. 3). A
causa disso repousa na interdependência e/ou preponderância que possa
desempenhar um anel sobre o outro. Esse fenômeno está em função de variáveis
internas e/ou externas ao sistema. Têm-se as variáveis conexas: a tecnologia do
inimigo, sua capacidade industrial, quantidade de reservas de combustíveis, matriz
energética, infra-estruturas (estradas, portos e aeroportos), tamanho, aprestamento
e adestramento de suas forças armadas, o moral de sua população, opinião pública
interna e internacional favorável ou não, apoio militar externo, alianças políticas, etc.
Por exemplo, a capacidade bélico-tecnológica tornou possível o ataque,
quase simultâneo, a toda vulnerabilidade do inimigo nos níveis estratégico e
operacional. A “Guerra em Paralelo” efetiva a clausewitziana forma ideal de guerra: o
ataque concomitante e em todo lugar vital ao esforço de guerra inimigo.
Como pode haver um (ou mais de um) Centro de Gravidade nos respectivos
anéis do modelo, Warden afirma que a melhor solução seria acometer, ao mesmo
tempo e em paralelo (ataques paralelos e simultâneos), diversos anéis e múltiplos
CG para majorar o efeito sinérgico da paralisia estratégica (conforme figura abaixo).

Efeitos indiretos

Figura 3: Os efeitos indiretos do ataque em paralelo. Adaptado pelo autor.


Fonte: WARDEN III, John A. O inimigo como sistema. Airpower Journal, Alabama, p. 52, 3. trim. 1995.
A “estratégia de paralisia” visa a fazer a continuação da resistência
impraticável ao líder inimigo. De maneira total e simultânea, incapacita o conjunto,
do seu interior para o exterior. A paralisia completa do sistema concede liberdade de
ação para alterar a política inicial da liderança opositora e a faz rever suas posições.

Figura 4: Os Centros de Gravidade (CG) de acordo com a DCA 1-1.


Fonte: Doutrina Básica da Força Aérea Brasileira: DCA 1-1, 2005, p.13.

A atual Doutrina Básica da Força Aérea Brasileira traz cinco tipos de CG:
forças posicionadas; população; infra-estrutura nacional; funções vitais; e lideranças.
Logo, induz-se à conclusão de que a vigente Doutrina Básica da Força Aérea
Brasileira (FAB) incorporou as concepções teórico-estratégicas de Warden (figura 4).
Há idéias contrárias, no âmago da FAB, que contestam a eficácia da teoria de John
Warden III devido ao aparato bélico necessário para a consecução dessa paralisia.
O “Método Conexionista (ou Método Axiológico)”, de autoria do Coronel
Aviador Narcelio Ramos Ribeiro, poderia ser mais apropriado para uma “força aérea
de terceiro mundo” (informação verbal).100
Nos processos de análise de CG busca-se conectar ações a centros de
gravidade e esses aos objetivos políticos da guerra. Para isso, pode-se optar pela
seleção axiológica de alvos (nas ações militares), ao invés do desperdício de tempo,
recursos, energia e homens inerentes aos “Modelos Utilitaristas” de planejamento.

100
Comunicação feita por Coronel Narcélio, na ECEMAR-2005, em nota de aula. Em vez de terceiro
mundo, usam-se países periféricos, de industrialização retardatária ou de baixo desenvolvimento.
A seleção utilitarista de alvos militares destina-se a atacar todos os meios que
os adversários utilizam para empreender a guerra. Soldados, aeródromos, bases,
navios, trens, carros de combate, aeronaves e sistemas de comando e controle (C2)
são exemplos de alvos passíveis de serem atacados diretamente em campanhas
militares. É apropriada a uma força que possui recursos materiais “inesgotáveis”.
O Modelo Conexionista de planejamento segue uma linha axiológica, por ser
mais adequada às forças que não possuem muitos recursos de ordem material,
tampouco capacidade bélico-tecnológica de última geração (o denominado “estado
da arte”) e, portanto, não podem arcar com altos custos operacionais.
Um exemplo notório da eficácia do Método Conexionista (axiológico) de
planejamento e emprego de ações militares foi a campanha aérea da Organização
do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), contra a Sérvia, em 1999. Os objetivos eram
obrigar os líderes sérvios a interromper as agressões sangrentas contra os civis
inocentes em Kosovo e, se necessário, reduzir significativamente a capacidade
militar da Sérvia.
Desde o início, os líderes políticos selecionaram o poder aéreo como
instrumento militar descartaram qualquer uso de tropas terrestres da OTAN. As
ações aéreas foram conduzidas contra os “centros de gravidade” estratégicos e
operacionais e conseguiram dobrar a vontade do líder sérvio Slobodan Milosevic.
O teórico da guerra Clausewitz dizia que a doutrina só serve para o Exército
que a formulou. Pode ser temerário incorporar conceitos prontos de outros países.
As Forças Armadas Brasileiras utilizam estratégias militares e princípios de
guerra como fundamentos para o seu emprego.
Portanto, para cumprirem sua destinação constitucional e as atribuições
subsidiárias que lhes são afetas, incorporam novos recursos humanos, a cada ano
corrente, nos diversos níveis hierárquicos.
Faz-se mister que esses homens e mulheres estejam preparados para o
“sacrifício da própria vida”, sob a égide de doutrina com precisão e com acurácia. Do
contrário, esse lapso pode significar, no campo de batalha, a tênue, porém
sugestiva, diferença entre “vida ou morte na profissão d’armas”101.
Na ótica doutrinária da Escola Superior de Guerra (ESG)102:

101
ASH, Eric. Aeroespace Power Journal. Precision doctrine. Alabama, spr. 2001, p. 3.
102
BRASIL. Escola Superior de Guerra. Manual básico. Rio de Janeiro, 2006, v. 2, p. 68.
A Doutrina Militar não deve ser importada nem, tampouco, improvisada,
porque a validade dos elementos e das idéias nela contidas depende do
respeito às particularidades de cada Nação e, ainda, do contexto em que
ela se inscreve. É de citar-se, também, a imperiosa necessidade de
vinculação da Doutrina Militar às aspirações da Nação e às suas
características psicossociais, para que, em realidade, mereça ampla
confiança e apoio de toda a sociedade nacional.

A DCA 1-1103 aborda importante aspecto sobre os “centros de gravidade”104:

Todos os níveis da guerra possuem esses centros, que poderão estar ou


não vulneráveis a uma ação militar. [...] guerras e outros conflitos tendem a
ser perdidos se os centros de gravidade do inimigo são incorretamente
identificados, abordados de forma inadequada, ou se os próprios centros de
gravidade não são adequadamente protegidos.

Conseqüentemente, esses “centros de gravidade” podem ser estratégicos,


operacionais, táticos e, até mesmo, políticos. No entanto, o nível político não se
insere no contexto do planejamento estratégico da guerra.
Ao invés disso, a guerra é que se constitui, em elemento da política:105

A guerra em geral e o comandante em qualquer instância específica, tem o


direito de solicitar que a tendência e os projetos da política não sejam
inconsistentes com esses meios. Esta não é uma demanda trivial; mas por
mais que possa afetar os objetivos políticos num determinado caso, nunca
irá mais longe do que apenas modificá-los. O objetivo político é o fim, a
guerra é o meio de se obtê-lo, e o meio nunca pode ser considerado de
forma isolada de seu fim.

O quadro abaixo apresenta um modelo esquemático da Teoria de Warden, no


qual ele enxerga o inimigo como um animado sistema multidisciplinar, no qual
subsistemas são interdependentes e intercomunicáveis. Por intermédio dessa ilação,
Warden visualiza o oponente racional como se fosse um complexo ser vivo.
Por analogia, o sistema inimigo é traduzido para o próprio corpo humano,
numa linguagem de entendimento comum, a qual visa à compreensão facilitada do
supracitado modelo, que foi idealizado e esquematizado por John Warden III.

103
BRASIL. Comando da Aeronáutica. Estado-Maior da Aeronáutica. DCA 1-1. Brasília, 2005, p. 13.
104
A correta identificação dos COG do inimigo é uma das mais importantes tarefas de um
comandante no nível estratégico, pois sinaliza a direção geral dos esforços em prol de resultados
pretendidos.
105
CLAUSEWITZ, 1996, p. 87.
SISTEMAS

ANÉIS CORPO ESTADO CARTEL DE REDE ELÉTRICA


DROGAS

LIDERANÇA CÉREBRO GOVERNO CHEFE CONTROLE


● olhos ● comunicações ● comunicações CENTRAL
● nervos ● segurança ● segurança

ELEMENTOS ALIMENTO
E ENERGIA FONTE DE COCA ENTRADA
ORGÂNICOS OXIGÊNIO
(ELETRICIDADE, MAIS
ESSENCIAIS PETRÓLEO), TRANSFORMAÇÃO
DINHEIRO
INFRA- VASOS ESTRADAS, ESTRADAS, LINHAS DE
ESTRUTURA SANGÜÍNEOS, AERÓDROMOS, ROTAS AÉREAS E TRANSMISSÃO
OSSOS FÁBRICAS MARÍTIMAS
MÚSCULOS
POPULAÇÃO CÉLULAS PESSOAS PLANTADORES, TRABALHADORES
DISTRIBUIDORES,
PROCESSADORES

MECANISMO LEUCÓCITOS FORÇAS ‘SEGURANÇAS’ TRABALHADORES


DE ARMADAS EM REPAROS
COMBATE

Quadro 1: Modelo esquemático e comparativo da Teoria dos Cinco Anéis. Adaptado pelo autor.
Fonte: WARDEN III, John A. O inimigo como sistema. Airpower Journal, Alabama, p. 49, 3. trim. 1995.

Na comparação, Warden106 visualiza, por uma abstração, a liderança, a


direção ou o comando (o anel central) como o cérebro do corpo de um ser humano:

Exatamente no centro - o centro estratégico pessoal - está o cérebro. O


corpo pode existir sem um cérebro que funcione, mas nessas circunstâncias
o corpo já não é um ser humano ou um ente estratégico. (Um ente
estratégico é algo que pode funcionar por sua própria conta e é livre e
capaz de tomar decisões como onde ir e o que fazer.) O cérebro fornece a
liderança e a diretriz para o corpo como um todo e para todas as suas
partes. Ele, e apenas ele, é absolutamente essencial no sentido de que não
pode haver substituto para ele e de que sem ele o corpo, mesmo que esteja
vivo tecnicamente, já não opera num nível estratégico. Junto com o cérebro
estão os canais de informação que permitem a ele reunir e difundir a
informação interna e externamente. Os olhos e outros órgãos estão nesta
categoria.

106
WARDEN III, 1995, p. 48.
1.5 ROBERT PAPE∗ E A CONCEPÇÃO DO REAL VALOR DO PODER AÉREO

Para o bem ou para o mal, a Força Aérea é atualmente a expressão máxima do poderio militar, e as
Esquadras e Exércitos, ainda que necessários, terão que aceitar uma posição subordinada. Churchill.

Se a Teoria dos Anéis de Warden III pode ser a sinopse da seleção de alvos
de utilidade militar (“Teoria Utilitarista”), então a síntese dessa seleção como prática
foram as campanhas aéreas da Guerra do Golfo de 1990-1991. Os alvos associados
à liderança eram de interesse primordial para os planejadores, pois, ao "decapitar" o
regime iraquiano, a coalizão poderia evitar a resistência das forças militares de
Saddam. De fato, a coalizão paralisou o regime ao selecionar como alvos líderes
inimigos, sistemas de comunicação e infra-estrutura das principais cidades.
Em contrapartida, a seleção axiológica107 de alvos pertence à escola de
pensamento do poder aéreo coercitivo, a qual reputa à arma aérea, por essência, a
eficaz capacidade para forçar um adversário a aceitar as imposições do atacante.
A seleção axiológica de alvos torna-se uma extensão lógica das teorias do
poder aéreo do período entre as duas grandes guerras. Identificando o conjunto
correto de alvos no âmbito de um centro de gravidade, os homens do ar podem fazer
uso do referido conjunto como alavanca no sentido de modificar a postura e o
comportamento de um adversário pelo uso do poder aéreo coercitivo.
Na concepção de Pape, o poder aéreo seria, na comparação com os demais
poderes militares, “a mais importante ferramenta da moderna coerção militar”108.
Dessa forma, o cientista político norte-americano assenta um desafio aceito
pela escola axiológica, cujos alvos prioritários diferem daqueles assinalados por
John Warden III 109 e pelos advogados da Escola afeta à Teoria Utilitarista.
No entanto, o poder aéreo coercitivo possui desvantagens significativas,
porquanto "o problema fundamental da coerção é a validade dos mecanismos que
supostamente deveriam traduzir efeitos militares específicos em desfechos
políticos.”110.


Cientista político norte-americano, PhD e professor da Universidade de Chicago nos EUA.
107
O termo axiologia combina duas palavras gregas: axios (ponderável, valioso, digno, que merece) e
logos (razão ou teoria). É o estudo ou teoria dos valores, o que são e onde são colocados.
108
PAPE, Robert A. Bombing to win: air power and coercion in war. Ithaca: Cornell University, 1996,
p. 55. Uma estratégia coercitiva se baseia no conjunto de valores importantes ao oponente.
109
Pape é cientista político e tem uma abordagem acadêmica. Warden é militar da reserva da USAF
e piloto de caça, o qual faz uma peculiar análise operacional do emprego do poder aéreo.
110
Ibid., p. 329.
A coerção prevê a destruição de alvos, ainda na fase de crise, mas não
requer o total aniquilamento do adversário ou da totalidade dos meios de resistência.
Byman e Waxman111 remetem à elucidação do significado de coerção e
embutem o poder aéreo na idéia de “ameaça do uso de força e, às vezes, uso
limitado de força real para mover para trás a ameaça, para induzir um adversário a
mudar seu comportamento”. Sob esse aspecto o poder aéreo tem vantagens.
Certamente, seria vantajoso usar apenas o poder aéreo, e até mesmo
econômico, em termos políticos e, da mesma forma, no campo logístico-militar.
Porém, a idéia inicial é a de que, aparentemente, a coerção “deveria ser fácil
[...] porém coerção permanece difícil”112. E o emprego eficaz da coerção continua
intricado até para as mais bem equipadas forças armadas do mundo: as dos
Estados Unidos da América.
Robert Pape113 define coerção militar como “uma tentativa de atingir
objetivos políticos de forma mais econômica, caso comparado com o alcance de
uma vitória militar total sobre um inimigo”. Usam-se os princípios da eficiência e da
eficácia, os quais somados fornecem a idéia de efetividade, que traz no seu bojo a
importante questão de relevância social, pois com essa opção se evita o uso de
força ilimitada.
Se o uso de força coercitiva se aproxima do nível necessário para,
militarmente, derrotar o adversário, então essa alternativa (pelo emprego limitado de
força bruta) não mais é econômica. No exato e crucial momento onde uma vitória
militar é obtida, a coerção, portanto, falhou completamente e não foi efetiva.
Por sua vez, a opção por uma estratégia de custo imposto (ou estratégia de
coerção) visa à transformação de uma resistência continuada e exorbitantemente
onerosa à liderança inimiga. Procura-se, dessa forma, realizá-la por intermédio da
avaliação do limite de sacrifício que o inimigo está disposto a suportar.
Genericamente, uma estratégia coercitiva preconiza o emprego de ataques
simultâneos ou paralelos a um conjunto planejado de alvos, de modo amplo, intenso
e momentâneo, visando a suplantar essa fronteira aceitável pelo adversário.
Em tese, esses ataques coagiriam a liderança hostil a acolher nossas
reivindicações e a modificar sua política ou, pelo menos, revê-la. O fato induz esses

111
BYMAN, Daniel L.; WAXMAN, Matthew C. The dynamics of coercion: american foreign policy and
the limits of military might. Cambridge: Cambridge University Press, 2002, p. 1.
112
Ibid.
113
Pape, 1996, p. 13.
líderes políticos mediante a consignação real de certa paralisia ao sistema, além da
possível determinação de estagná-lo totalmente ou, ainda, a mera ameaça da
ocorrência de completa paralisia do conjunto (o ente sistêmico).
O Doutor Robert Pape expressa e define, matematicamente, a lógica
coercitiva na seguinte equação:

R = B p(B) – C p(C) .................................................(1)


Onde:

R é a resistência do inimigo;

B é o benefício da resistência;

C é o custo da resistência; e

p ( ) é a probabilidade de angariar benefícios ou suportar custos.

Robert Pape infere da fórmula acima representada e obtém a conclusão:


“Uma vez que os custos são distinguidos como sendo maiores do que os benefícios
(R<0), por conseguinte pode ser presumido que o inimigo promoverá
concessões”.114
Por isso, pode-se reconhecer uma campanha de coerção por meio do exame
da retórica utilizada pelos líderes políticos do estado atacante. As campanhas de
bombardeio aéreo destinam-se a "enviar uma mensagem à liderança" ou
"intensificar a pressão" na perspectiva de que o rival ceda às demandas do atacante.
Em sua essência, o poder aéreo de muitas forças armadas ocidentais tornou-
se lapidado à estratégia de coerção militar. De fato, os adversários pouco podem
fazer para infligir baixas substanciais às armas aéreas. Aeronaves modernas
evadem-se das redes de artilharia antiaérea por meio da supressão de defesa aérea
inimiga. Ademais, a “Revolução em Assuntos Militares” trouxe as armamentos e as
munições guiadas de precisão e majorou a eficácia de emprego do poder aéreo.
Além disso, tem-se, por exemplo, o caso da Força Aérea dos Estados Unidos
(USAF), que consegue deslocar e aprestar, rapidamente, um enorme e sustentável
114
Pape, 1996, p. 16. Entretanto, o autor demonstra que houve casos, nos quais a coerção falhou.
poder de fogo, em particular, por intermédio da Rapid Deployment Force (Força de
Deslocamento Rápido) e do esplendor logístico de qual dispõe.
Segundo Byman et al115 a coerção “é uma função crucial ao militarismo dos
Estados Unidos [...] mesmo assim os Estados Unidos freqüentemente falharam em
usar medidas coercitivas, bem sucedidamente ou perfeitamente, contra adversários”.
As particularidades inerentes do poder aéreo, como a ubiqüidade, concedem-
lhe um papel fundamental no desempenho das futuras operações coercitivas.
Portanto, o poder aéreo constitui-se em parcela substancial no cálculo das
alternativas políticas, pois pode solucionar uma situação de crise quando há
condições adversas para invasão por terra ou por mar. A Força Aérea detém
vantagens coercitivas sobre as demais forças armadas. Uma equivale à capacidade
de deter invasões terrestres ou limitar agressões antes que se tornem fait accomplis
(fato consumado). De fato, o poder aéreo tem características intrínsecas à coerção.
Para Byman et al116 “os atributos do poder aéreo, incluindo flexibilidade e
precisão, permitem que os elaboradores de políticas minorem as limitações como a
intolerância a perdas humanas que freqüentemente dificultam estratégias
coercitivas”. Essas características intrínsecas à arma aérea a tornam versátil mesmo
em teatro de operações sem a prévia conquista da superioridade aérea.
Além disso, as capacidades de logística e de mobilização da nação podem
aumentar (ou diminuir), exponencialmente, os fatores da equação acima.
Concebem-se, assim, diferentes níveis de ameaça e de real aplicação da
força. Em face dos objetivos políticos pretendidos e do estado final desejado, deve-
se selecionar uma eficaz alternativa, para cada caso concreto, ao longo de um
contínuo de estratégias possíveis.
No livro Bombing to Win: Air Power and Coercion in War, Pape faz rara
análise, por meio de quarenta estudos de caso e com ênfase em cinco campanhas
aéreas117, onde lista quatro estratégias de emprego coercitivo do poder aéreo:
Punishment (punição), Risk (similar à de punição, mas expõe ao risco de modo
gradual), Decapitation (decapitação) e Denial (negação).

115
BYMAN, Daniel L.; WAXMAN, Matthew C.; LARSON, Eric. Air power as a coercive instrument.
Santa Monica, CA: RAND, 1999, p. xiii.
116
Ibid.
117
Japão (1944-45), Alemanha (1942-45), Coréia (1950-53), Vietnã (1965-72) e Iraque (1991).
Segundo Pape (1996), só a estratégia da Negação de fato funcionaria e essa
seria o único caminho ao sucesso. Para o cientista político, o ataque aéreo com
cunho estratégico não é eficaz para coagir o inimigo.
A Estratégia da Coerção por Decapitação  que visa a atingir as lideranças 
não tem obtido o sucesso desejado. Pape118 usa os exemplos das operações
Eldorado Canyon (tentativa da USAF, em 1986, de atingir o Coronel Muammar
Kadafi com o bombardeio de Trípoli e de Benghazi), Allied Force (tentativa da USAF
e seus aliados na OTAN, em 1999, de matar o Presidente sérvio Slobodan
Milosevic) e Desert Storm (tentativa da USAF e da coalizão, em 1990-1991, de
neutralizar o Presidente iraquiano Saddam Hussein, que somente foi encontrado, em
2003, por forças especiais dos EUA). O líder político ou militar sobreviveu aos
ataques aéreos em todas as situações exemplificadas pelo cientista político.
A Estratégia por Punição visa levar o caos e o horror à população civil, como
previa Douhet. Não obstante, há casos típicos de uma Blitzkrieg aérea, como na
Batalha da Inglaterra com ataques à cidade de Londres e no Japão, em que não se
angariou esse intuito, visto que o moral do povo não foi abalado como se presumia.
A Estratégia da Coerção por Negação opera pelo uso dos meios militares
para prevenir que o inimigo obtenha seus objetivos políticos e suas metas territoriais.
A Estratégia por Risco gradual objetiva a mudança de comportamento do
opositor. Conduzem-se as operações militares de modo a modificar, paulatinamente,
a posição inicial das lideranças nacionais do oponente, mediante a submissão do
elemento psicossocial do Poder Nacional à ação eficaz do poder aéreo.
O cientista político alerta para o risco de se creditar o total sucesso ao
emprego estratégico do poder aéreo coercitivo, isoladamente, a fim de atingir os fins
políticos. Empregar as forças armadas, combinadamente, é a forma ideal para Pape.
Na suposição de Pape, a eficácia reside na união sinérgica de esforços e na
interoperabilidade entre as Forças Armadas, visando a persuadir o inimigo a não
realizar um ato hostil ou a coagi-lo a retroagir depois de tê-lo começado. Há duas
facetas na coerção militar, sendo um aspecto ativo, no qual se há a explícita
imposição da vontade de quem coage, e outro de negar uma ação antes de ocorrer.

118
PAPE, Robert. The True Worth of Air Power, 2004, passim.
Então, Robert Pape119 formula proposições e faz inferências sobre o sucesso
das estratégias de coerção e conclui que “nenhuma estratégia coercitiva
provavelmente terá êxito sob todas as circunstâncias”.
É possível que apenas a combinação de duas ou mais estratégias possa
trazer a eficácia necessária para se alcançar o estado final desejado.
Portanto, Pape120 alude à atual visão norte-americana sobre a Defesa
Nacional e afirma: “o fim da Guerra Fria reduziu as ameaças à segurança nacional
dos EUA e de outros países ocidentais”. O cientista político de Universidade de
Chicago assevera que: “o problema da Guerra Fria era a dissuasão”, enquanto “na
era do pós-Guerra Fria é a coerção”, pelo menos, para os Estados Unidos e seus
aliados.
Enfim, os atentados do onze de setembro poderiam levar Pape à reflexão
acerca do “conflito assimétrico” e questionar o real valor coercitivo do poder aéreo.
Se o Coronel John Warden III valoriza a estratégia coercitiva da Decapitação,
pois enfatiza que o “anel da liderança” é o mais importante na guerra moderna, por
sua vez, o Doutor Pape incorpora a idéia de que a melhor estratégia coerciva é
aquela concretizada pela Negação, a qual diz ser a única que conduz ao sucesso na
guerra. Além disso, ele não esquece que a combinação de duas ou mais estratégias
 e outros poderes, como o terrestre, naval, econômico, diplomático  pode produzir,
sinergicamente, incremento à eficácia do poder aéreo.
Conforme Pape demonstra por evidências históricas, o poder militar não
atinge, por si só, a vitória final com o uso único e independente do poder aéreo. As
operações devem ser combinadas para, por meio da sinergia, se delinear de modo
eficaz o emprego bélico. De fato, o poder aéreo conquista a superioridade aérea e
concede subsídios e apoio de fogo aéreo às tropas terrestres e anfíbias121 para
concretizarem a lide da beligerância, conquistando e mantendo o terreno invadido.
Metaforicamente, no famoso aforismo do martelo e da bigorna, o poder aéreo
se aproxima mais do primeiro, devido às suas inerentes características: flexibilidade,
penetração, alcance, pronta-resposta, velocidade e mobilidade.
Conseqüentemente, os vetores aéreos têm as capacidades de atingirem
qualquer ponto do território inimigo, a partir de bases aéreas originais ou de

119
Pape, 1996, p. 19.
120
Pape, 1996, p. 329.
121
É a missão de cobertura. Prevê o apoio aéreo próximo às unidades da Força Terrestre e aos
fuzileiros navais em um desembarque anfíbio. É o close air support ou o apoyo aéreo cerrado.
desdobramento, e de forma mais rápida do que a imprimida pelas plataformas
terrestres e navais; de sobrepujarem a rede de defesa aérea e antiaérea do inimigo,
para atingir alvos táticos e objetivos de cunho estratégico e, até mesmo, político; e
de atingirem grandes distâncias em curto espaço de tempo.
Ademais, a ubiqüidade da arma aérea constitui-se em outro atributo primordial
para levar a termo estratégias coercitivas, pois há a compressão do fator tempo em
épocas de manobra de crise e uma ação eficaz do poder aéreo pode evitar a
escalada da violência.
Para Pape, o poder aéreo adquire um real valor estratégico, visando à
eficácia política na guerra, se atuar, em interoperabilidade com os demais poderes
militares, por operações combinadas e não por ataques cirúrgicos ou, menos
eficazes ainda, por bombardeios estratégicos como se fez na Guerra do Vietnã.
Sob esse enfoque, há ensinamentos colhidos em recentes conflitos armados
que corroboram esse juízo de valor. Têm-se as lições identificadas nos Bálcãs,
principalmente na Campanha do Kosovo, no Afeganistão, em 2001, e na segunda
Guerra do Golfo: a Operação Liberdade para o Iraque. Nesses conflitos armados, os
planejadores militares idealizaram o emprego eficaz do poder aéreo como
instrumento para minimizar custos, vítimas civis e danos à infra-estrutura inimiga.
No Kosovo, os estrategistas enfatizaram a arma aérea e previram uma guerra
relâmpago, sem tropas de terra. Preteriram de elemento-chave ao sucesso na
guerra: a sinergia advinda da interoperabilidade em operações combinadas.
Como advogados da arma aérea, tanto John Warden III quanto Robert Pape
realçam a importância de se pensar estrategicamente a respeito do mais apropriado
emprego do poder aéreo, visando à máxima eficácia da arma aérea na busca
incessante dos fins políticos.
Portanto, qual o melhor emprego do poder aéreo, visando à consecução dos
propósitos da guerra, que, segundo Clausewitz, são sempre os fins políticos? O
cientista político norte-americano Robert Pape afiança ser o uso tático-operacional,
por intermédio de operações combinadas; enquanto, Warden III postula: é o
estratégico e coercitivo, visando à paralisia do oponente pela guerra em paralelo.
As teorias da guerra admitem, decerto, diversos desdobramentos, como a
apreensão das campanhas militares e as conseqüências de sua condução; ou ainda
uma proposta metodológica e uma análise crítica do fenômeno do bélico, que é o
substrato epistemológico dos Estudos Estratégicos.
Qual a real validade do poder aéreo e que relevância prática ele tem em um
contexto de guerra moderna? Para buscar respostas a esse questionamento, faz-se
mister, então, uma análise da evolução histórica da arma aérea e o entendimento de
como ela pode influenciar a conduta bélica e abreviar a decisão final da guerra.

1.6 A INFLUÊNCIA DO PODER AÉREO NA CONDUÇÃO DA GUERRA

A mera descrição dos equipamentos mecânicos e do seu gradual


aperfeiçoamento não faz por si só a história da aviação. O espírito e a
idéia que lhes estão subjacentes é que contam. A idéia ela própria
significa tudo. (Berthold Laufer - antropólogo e professor) (grifos nossos).

Decerto, o célebre antropólogo de Chicago, Berthold Laufer, proferiu palavras


paradigmáticas, que refletem uma aspiração histórica permanente dos homens,
consubstanciada numa vontade de voar para conquistar, a qual prevaleceu no seu
âmago, desde as épocas mais remotas, para apenas se realizar, concretamente, no
início do século XX. A geração desse século consagrou-se, entre outros esforços
vultosos, por ter efetuado progressos na esfera da aviação em geral. Esses esforços
continuados representaram uma paulatina evolução de idéias, que foram o efeito de
um conjunto de experiências, triunfos e derrotas de épocas passadas.
“Indo eles andando e conversando, de repente um carro de fogo, com cavalos
de fogo, os separou um do outro e Elias subiu ao Céu num redemoinho”122. A Bíblia
Sagrada narra este e outros episódios, como no Apocalipse, referindo-se ao
constante desejo do homem de imitar os pássaros e voar pelos céus afora.
Na pré-concepção do poder aéreo é possível distinguir três períodos:
mitológico, pré-científico e científico propriamente dito.
As mitologias egípcia e grega são abundantes em exemplos bem elucidativos.
São várias as referências a divindades que atravessavam o ar sem precisarem de
asas, bem como ao aparecimento de homens que se revestiam de asas para
enfrentar os perigos. O período mitológico é também abundante em referências de
matriz militar. Há cavalos alados, naves aéreas e carros puxados por pássaros
gigantes. A partir do século V a.C. são os papagaios, utilizados principalmente pelos

122
THOMPSON, Frank Charles. Bíblia Thompson de referência com versículos em cadeia temática.
Deerfield: Vida, 1996. Segundo Livro de Reis, capítulo 2, versículo 11, p. 335.
chineses, que suscitam as maiores atenções, remontando ao século II a.C. a
primeira referência à utilização do papagaio na guerra.
Saindo do período mitológico e passando ao pré-científico, que se prolonga
pela Idade Média, é interessante notar a curiosidade do homem por tudo quanto se
relacionasse com o estudo do vôo das aves, procurando incessantemente imitá-las.
Porém, só na Renascença teve início o período científico propriamente dito, tendo
como grande impulsionador Leonardo da Vinci, que pode ser considerado o
verdadeiro precursor do primeiro vôo humano.
Outro homem igualmente importante foi o “padre italiano Francisco Lana que,
em 1670, esboçou o desenho de uma nave munida de quatro esferas e uma vela”.123
O padre “Voador”, Bartolomeu Lourenço de Gusmão, merece ser citado por
seu trabalho com a “Passarola” e por ser um brasileiro124.
No século seguinte, o Aeróstato125 constituiu-se em importante descoberta.
A idéia catalisadora do mais leve do que o ar foi o estopim, um século depois,
para o balão dos irmãos Joseph e Etienne de Montegolfier. Os ensaios efetuados
constituíram em êxito, tendo sido realçada a importância do balão nas operações
militares. Foi dado, dessa forma, o primeiro passo a uma das mais importantes
missões militares de todos os tempos – o reconhecimento aéreo.
Do balão cativo passou-se para o balão livre, cujo primeiro vôo teve lugar em
21 de Novembro de 1783 e deste para o dirigível, o único que permitia operar com
alguma precisão. O balão cativo estava preso a uma plataforma e o balão livre era
dependente das correntes atmosféricas, não possuindo qualquer sistema de direção.
O desenvolvimento de estudos confirmava que o interesse por tudo quanto se
pautasse com a arte de voar não parava de crescer.
Depois de uma observação minuciosa dos movimentos das asas dos
pássaros, concluiu-se que o vôo planado desenvolvido pelas aves de grandes
dimensões era mais eficiente que o dos pequenos pássaros, feito à custa de
movimentos ortogonais e oblíquos das asas.

123
CARDOSO, Edgar Pereira da Costa. A História da Força Aérea Portuguesa. Estado-Maior da
Força Aérea, [1984?], v. 1. p. 24.
124
“A representação do projeto do jovem padre brasileiro, como uma barca em forma de pássaro,
valeu ao aparelho o apelido de “Passarola” e, ao seu idealizador, a alcunha de ‘Voador’”, ibid..
125
Aeróstato é sinônimo de balão. Artefato de papel fino, de variado feitio, que sobe por força do ar
interno aquecido pelo fogo de uma tocha acesa na boca de arame. Advém do termo Aeroestação.
No século XVIII, “Isaac Newton e Euler fizeram um estudo matemático de vôo
e, em 1809, Sir George Cayley desenvolveu uma teoria sobre o aeroplano, a qual
viria a ser comprovada, na prática, pelos planadores de Lillienthal”.126
Do outro lado do Atlântico, Octave Chanute, engenheiro francês radicado nos
Estados Unidos, prosseguiu os estudos de Lillienthal desenhando e construindo
planadores notáveis.
Assim, os irmãos Orville e Wilbur Wright desenvolveram o seu próprio
protótipo, o “Flyer”, com base nos modelos de Chanute, que teve a realização
anunciada por telegrama. Segundo Sodré127, o feito foi uma “farsa” e repercutiu,
pois:

Em 23 de outubro de 1906, todos voltaram a aparecer no Bois de Boulogne,


inclusive a imprensa e os fotógrafos. Alberto avisara na véspera que iria
tentar um vôo de 25 metros. O “14-bis” voara aproximadamente 60 metros a
uma altura de 2 a 3 metros acima do solo. Santos Dumont apresentou um
avião de rodas independentes, obtendo os primeiros recordes de
velocidade, altura, distância e permanência no ar. [...] O “14-bis” era um
aeroplano diferente do “Flyer” dos Wright, que decolou com o apoio de um
carril (uma catapulta). Tecnicamente, o que os irmãos Wright tinham era um
planador que faziam correr sobre uma plataforma de madeira e ferro. [...]
Devemos reconhecer que esse planador biplano, após inúmeras alterações
e melhoramentos, se transformou em um avião a partir de 1908.

A evolução dos meios aéreos, ao longo da história conhecida, e sua posterior


aplicação militar requerem um olhar atento e crítico. As grandes descobertas, feitas
pelo homem ao longo dos séculos, têm sido empregadas, de uma forma quase
sistemática, para fazer a guerra, atividade à qual afeta geralmente os seus melhores
recursos materiais e espirituais. Assim sucedeu na terra e no mar, mas apenas muito
tardiamente na história da civilização o conseguiria fazer no ar.
Os feitos operacionais demonstraram, nos séculos XVIII e XIX, o interesse por
engenhos que, de uma forma mais consistente, vieram não só satisfazer uma
aspiração de séculos como permitiram ao homem uma avaliação mais correta de
forças tangíveis antagônicas e uma melhor gestão da sua própria força.
Apenas no limiar do século XX, com a primeira travessia aérea do canal da
Mancha, políticos e militares se aperceberam da real capacidade da arma aérea.

126
CARDOSO, loc. cit.
127
SODRÉ, Antonio. Santos Dumont, um herói brasileiro: 1906-2006: centenário do primeiro vôo do
14-bis, a Demoiselle a sua obra prima. São Paulo: Arindiuva, 2006, p. 121-122, 130-133.
A par de uma aerostação bastante desenvolvida, assistiu-se ao emergir de
uma aviação que permitiu antes da I Guerra Mundial fazer simulações de emprego,
que não teriam, no entanto, a projeção esperada, em face dos quantitativos
envolvidos e ao tipo de ações desenvolvidas.
Segundo assegura Murillo Santos∗ , antes de novembro de 1911
“pouquíssimas pessoas enxergavam o aeroplano como um instrumento bélico
propriamente dito”128. Santos percebe o advento do avião, no início do século XX,
como um inédito engenho bélico, que foi agregado ao demais poderes militares
quando “durante o conflito ítalo-turco, na Líbia, nove aviões italianos, em operações
bélicas, haviam despejado granadas de dois quilos sobre tropas turcas”129.
Durante a Primeira Guerra, o avião foi empregado, desde 1914, mormente
nas operações de observação, reconhecimento e orientação do tiro de artilharia.
Converteu-se em engenho de caça com a utilização do Fokker armado de
metralhadora. A partir de 1917, os combates aéreos já não são mais travados por
aviões isolados, mas por formações de cinqüenta a sessenta aparelhos. Em 1918, o
avião passou a ser empregado também contra tropas no solo.
Embora o bombardeio aéreo já tivesse sido empregado contra as linhas de
comunicações, os aeródromos e os depósitos, os resultados foram ainda bem
medíocres devido ao pequeno número de aparelhos em ação.
Durante a Primeira Grande Guerra, o primeiro apologista do poder aéreo,
General Giulio Douhet, pronunciou severa crítica ao Estado-Maior italiano devido aos
métodos utilizados na condução das operações, foi processado e julgado por um
tribunal de guerra que o condenou a um ano de prisão e o transferiu para a reserva.
A séria derrota italiana de Caporeto justificou, plenamente, a crítica de Douhet e
permitiu a sua reversão ao serviço ativo como Chefe do Departamento de Aviação.
Somado à participação em manobras e em exercícios na Alemanha, na
França e na Grã-Bretanha, pode-se frisar que “o avião foi empregado, em missões
de bombardeio e reconhecimento, pela primeira vez, em 1911, [...]”130.
Essa primeira e inicial experiência operacional permitiu que os primeiros
estrategistas colhessem ensinamentos e verificassem algumas lacunas. Em primeiro


O Tenente-Brigadeiro-do-Ar Murillo Santos foi instrutor da ECEMAR e Comandante da EAOAR.
128
SANTOS, Murillo. Evolução do poder aéreo. Belo Horizonte: Itatiaia; Rio de Janeiro: Instituto
Histórico-Cultural da Aeronáutica, 1989, p. 24.
129
Ibid.
130
SANTOS, op. cit., p. 24.
lugar, constatou-se ser muito reduzido o número de aviões envolvidos, o que, tendo
em conta a taxa de indisponibilidade, baixava o índice de eficiência da arma aérea.
Por outro lado, o treinamento dos pilotos e o material necessário ao
desenrolar das operações aéreas, como, por exemplo, os mapas, não eram em
quantidade suficiente. A guerra na Líbia, principalmente a análise dos aspectos
negativos, veio conscientizar os italianos para a imprescindibilidade do
reconhecimento aéreo, para a necessidade de tornar o bombardeio mais preciso,
para as limitações em equipamento e para os perigos do tiro terra-ar. A guerra em
Tripoli veio mostrar as potencialidades do poder aéreo, mas demonstrou,
igualmente, que as suas capacidades no momento não aconselhavam o seu
empenho em operações independentes.
Além dos resultados obtidos, dos esforços desenvolvidos e até de alguns
êxitos alcançados, poucas pessoas vislumbraram o avião numa esfera de interesse
militar. Na realidade, a “Era da Aviação” tinha sido inaugurada há bem poucos anos
e as capacidades operacionais evidenciadas pelas aeronaves, em geral, levaram a
encarar o seu emprego de uma forma limitada. Em 1914, o avião militar “não excedia
os cento e vinte quilômetros por hora, tendo um reduzido raio de ação e um teto de
utilização máximo de três mil metros”131. Essas restrições não tardariam em mudar.
Todo esse ambiente potencialmente limitativo não se constituiu em óbice ao
desenvolvimento do poder aéreo, gerando “assimetrias”, que teriam repercussões no
início do Primeiro Conflito Mundial e que se concretizariam, de pleno, no Segundo.
No eclodir da Primeira Guerra, potências como a Alemanha, a França e a
Inglaterra dispunham de apreciáveis contingentes de “Aerostação” (Balonismo, em
geral, empregado para o reconhecimento) e de Aviação Militar, de uma estrutura em
estado embrionário e de alguma experiência em exercícios e manobras.
O emprego da arma aérea teve reflexos palpáveis na manobra das forças de
superfície logo nas primeiras semanas do conflito, como na Batalha do Marne, por
meio do reconhecimento em profundidade. Esse fato contribuiu, sobretudo, para que
o raciocínio de emprego da força, até então essencialmente intuitivo ou apoiado em
hipóteses decorrentes de exercícios de lógica, passasse a ser apoiado em
informações mais rigorosas sobre as movimentações das forças inimigas.
A partir de 1915, com a estabilidade da frente, as missões atribuídas à
aviação francesa foram, essencialmente, o reconhecimento, a regulagem do tiro de
131
SANTOS, 1989, p. 24.
artilharia (ainda incipiente) e algumas missões de bombardeio estratégico a
instalações industriais na Alemanha.
A oposição aérea inimiga era praticamente inexistente. Então, as missões
eram desempenhadas, inicialmente, com liberdade de ação. Porém, os alemães
verificaram ser imprescindível negar o uso do espaço aéreo ao antagonista, sob
pena de se agravar, de modo irreversível, o desequilíbrio de forças que principiava.
Os aviões desarmados de 1914 começaram a ter dificuldade em atuar,
primeiro pelos ataques com “tiros de pistola ou rifles”132, depois pela metralhadora
manuseada pelo atirador. Foram várias as soluções apresentadas no tocante à
instalação de uma arma para autodefesa. Em 1915, Anthony Fokker aperfeiçoou um
sistema de tiro hélico-sincrono que permitiu aos alemães obter e manter uma
situação aérea favorável e imprescindível ao emprego com sucesso do poder aéreo.
“Em 1914, a Alemanha Imperial era a mais poderosa em termos de aviação
militar”133. Não obstante a vantagem alemã, os britânicos conquistaram o “controle
do ar”, entre 1914 e 1918, não apenas devido aos novos aviões, mas porque
optaram pela ofensiva estratégica, combatendo e subjugando o inimigo no ar.
Quanto aos franceses, a sua opção recaiu igualmente numa postura ofensiva,
cujo objetivo era a destruição sistemática dos aviões alemães. Essa ação era
complementada por um bombardeamento além das linhas inimigas. Essa ofensiva
estratégica foi proposta por Trenchard e permitiu aos aliados readquirirem a
superioridade aérea. Originou-se uma reviravolta na conquista do domínio do ar, que
teve influência na redução do ânimo alemão. No entanto, não impediu que, “a partir
de 1915, os alemães obtivessem novamente uma situação aérea favorável”134. Os
aliados responderam, então, com “novos aviões, como o Dolphin e o Camel”135,
readquirindo novamente a superioridade aérea que nunca mais viriam a perder.
À medida que a guerra decorria, os antagonistas cada vez mais sentiam a
necessidade de negar mutuamente o uso do espaço aéreo. Essa ação nem sempre
era bem sucedida, em virtude do avanço tecnológico e a técnica utilizada.
Como conseqüência, verificou-se um aperfeiçoamento significativo das
técnicas de combate, com a substituição do emprego de aviões isolados por

132
SANTOS, 1989, p. 25.
133
Ibidem.
134
SANTOS, op. cit., p. 26.
135
Ibid., p. 25.
formações de dimensão variável, com inovações tecnológicas relativas ao
armamento, que se tornou item decisivo no emprego eficaz do avião de combate.
Pode-se afirmar que o general italiano Giulio Douhet foi o primeiro profeta,
apologista, teórico e estrategista do poder aéreo. Todavia, ele não estava sozinho na
apologia ao emprego do poder aéreo.
Àquela época, mais um teórico italiano do Poder Aéreo, Nino Salvaneshi,
preconizou o bombardeio estratégico como um meio de pôr fim à guerra.
Outros homens, como o norte-americano Mitchell e o britânico Trenchard,
contemporâneos do italiano, partilharam de suas idéias no essencial,
desenvolvendo, porém, linhas de pensamento um pouco diferenciadas. Surgiram
outros proeminentes pensadores do poder aéreo como John Slessor, Arthur Tedder,
e Seversky, que foi um seguidor do pensamento de Mitchell e, em parte, de Douhet.
As idéias de Douhet influenciaram na formação e desenvolvimento do Poder
Aéreo de vários países, especialmente da Grã-Bretanha e dos EUA.
As concepções teóricas dos precursores do poder aéreo, Giulio Douhet e Sir
Hugh Trenchard, demonstravam a preocupação precípua com o “Domínio do Ar”136.
Esse mote do Marechal-do-Ar Trenchard desvenda que ele conferia a devida
seriedade à aquisição e à custosa sustentação da inicial condição aérea vantajosa,
semelhante àquela concepção teórica de Douhet, antes que o inimigo a obtivesse.
No entanto, cabe um ponto crucial com relação às idéias de Trenchard137:

As teses do Marechal-do-Ar da RAF revelam a importância atribuída à


obtenção e à manutenção de uma situação aérea favorável. Entretanto, um
ponto é importante reter e enfatizar: Trenchard foi, em 1917, o único dos
pensadores da primeira geração que considerou, abertamente, a
cooperação do poder aéreo com os poderes terrestre e naval.

Ao contrário de Giulio Douhet, Trenchard reputava importantíssima a


“cooperação” do poder aéreo com os demais poderes militares (terrestre e naval).
No entanto, essa cooperação, segundo Trenchard138:
136
Por analogia, o termo designa, hoje, a superioridade aérea prevista na Doutrina Básica da Força
Aérea Brasileira. As doutrinas da Força Aérea Norte-americana apresentam o termo air supremacy
(supremacia aérea). Em oposição às idéias dessas doutrinas e aos axiomas de Trenchard, Douhet,
Mitchell e de Seversky, há um artigo intitulado: “Nem sempre é imprescindível lutar pela
superioridade aérea”, de autoria do Comodoro (Reformado) José C. D’Odorico, Força Aérea
Argentina, que foi publicado na Air & Space Power Journal, em Português, terceiro trimestre 2005.
137
TRENCHARD, Hugh Montague. As três mensagens (“papers”) de Trenchard. Trad.: Eurípedes
Coelho de Magalhães, João Vieira de Sousa e Álvaro Luiz de Souza Gomes. Idéias em destaque.
Rio de Janeiro: INCAER, n. 2, p. 7-56, ago. 1989, p. 51-52.
Deveria ser estudada na forma e no conteúdo, sem paixões sectárias, mas
com pragmatismo, ressalvando a necessidade de um comando e controle
centralizado dos meios, maximizando a flexibilidade que lhes está
subjacente, evitando o seu desvio para tarefas sem significado. Apesar de
enfatizar a filosofia de cooperação, ele não deixa qualquer margem para
dúvidas quando defende que os recursos aéreos devem estar agrupados
num ramo independente sob a alçada do Ministro da Defesa.

Na precursora geração de pensadores, o primeiro Marechal-do-Ar da Royal


Air Force, Hugh Trenchard, então General-de-Divisão, comandante do Corpo Real
Aéreo, aceitou aquelas idéias avançadas à época e influenciou o desenvolvimento
da primeira Força Aérea independente do mundo: a Força Aérea Britânica.
O Air Marshall Sir Hugh Montague Trenchard comandou unidades aéreas na I
Guerra Mundial. Defendia com ardor o lema de que “o ar é único e indivisível”.
Em 1919, foi chamado por Churchill, então Ministro da Guerra e do Ar, para
organizar a Força Aérea. Por dez anos, consolidou sua reputação de “Pai” da RAF.
Retirou-se em 1929. Durante sua vida, viu confirmado o seu pensamento. A obra de
Trenchard foi traduzida mais em atos do que em documentos escritos. As suas teses
exerceram influência sobre Mitchell, tendo sido construídas com base nas
experiências vividas no decorrer da Primeira Grande Guerra.
Em seus papers, Trenchard139 desenvolveu um inovador pensamento à época
com base em quatro princípios que deveriam reger o uso do poder aéreo:

Obter e manter o domínio do ar é o objetivo, exigindo que se lute


continuamente por ele; As forças de bombardeamento estratégico devem
ser empregadas na destruição dos meios de produção inimigos e linhas de
comunicação; Manter o esforço de combate na frente, através de um fluxo
contínuo de abastecimentos, evitando que o inimigo o interrompa; e Evitar
que o inimigo mantenha o esforço de combate, desencadeando ações que
impeçam o normal fluxo de abastecimentos para os seus exércitos,
marinhas e forças aéreas.

As teses de Trenchard deixam transparecer a importância que atribuía à


obtenção e à manutenção de uma situação aérea favorável.
Na Segunda Guerra Mundial, teve oportunidade de observar de perto os
acontecimentos e meditar sobre eles. É um dos poucos, senão, o único pensador do
Poder Aéreo que teve a oportunidade de viver duas Guerras Mundiais, em situações
que lhe deram perspectivas mais adequadas e amplas para uma avaliação realista

138
Ibidem, passim.
139
TRENCHARD, Hugh Montague. Air power: three papers. Londres: Directorate of Staff Studies, Air
Ministry, 1946, passim.
do Poder Aéreo. Nesse sentido, escreveu os seus famosos Three Papers,
divulgados pelo Ministério do Ar da Grã-Bretanha em 1946. Eles contêm
pensamentos que nortearam as Forças Aéreas de todo o Mundo; e até hoje são de
grande valia para os chamados pensadores do Poder Aéreo.
A priori, Trenchard foi quem influenciou Mitchell140. Em 1915, William Mitchell
ingressou na seção de aviação do Serviço de Comunicações. Ele serviu como
aviador nas forças expedicionárias americanas, tendo-se celebrizado na “liderança
de combates aéreos e em formações de até duzentos aviões para bombardeio em
massa de objetivos inimigos”141. Em 1918, comandou, como General-de-Brigada, a
Força Aérea Franco-Americana de quase 1.500 aviões, a maior concentração de
poder aéreo até então organizada.. Após a guerra regressou aos Estados Unidos e,
na qualidade de subchefe da Aviação, passou a defender a organização de uma
Força Aérea Americana independente e o controle de poder aéreo unificado.
Para provar que a Marinha de Guerra já não apresentava mais condições
para constituir a primeira linha de defesa do país, Mitchell142, “em julho de 1921,
realizou demonstrações de bombardeio aéreo a obsoletas belonaves”. O poder
aéreo demonstrou sua capacidade “ao conseguir ‘botar a pique’, em pouco mais de
vinte e um minutos, o Ostfriesland, um antigo couraçado alemão”. O teste concorreu
para o futuro emprego do porta-aviões na organização das forças navais.
Convencido de que os chefes militares dos EUA não davam o devido apreço
à força aérea, passou a criticar as Secretarias de Marinha e do Exército. Acusou-as
de incompetência, negligência criminosa e quase pérfida administração da Defesa
Nacional. Condenado por insubordinação, foi suspenso do posto e do serviço por
cinco anos. Em 1926, demitiu-se do Exército dedicando os restantes anos da sua
vida à divulgação de trabalhos como escritor e ensaísta. O general Mitchell foi autor
de nove livros, além de ter publicado cerca de cem artigos sobre aviação.
Mitchell não foi um verdadeiro teórico da estratégia aérea como o foi Douhet.
O norte-americano foi, sem dúvida, um grande tático que, com sua experiência e

140
HURLEY, Alfred F.. Billy Mitchell: crusader for air power. Indiana University Press: Bloomington,
1975, p. 25-26. Cf. WEIGLEY, op. cit., p. 225.
141
Ibid., p. 34.
142
WEIGLEY, Russell Frank. The american way of war: a history of United States military strategy and
policy. New York: Macmillan, 1977, p. 228.
dedicação, muito concorreu para o reconhecimento do avião militar. As linhas que
expressam o pensamento teórico de Mitchell143 podem, em síntese, resumirem-se:

O avião tem capacidade para atingir qualquer ponto do globo, visto que a
morfologia das terras e dos mares não constitui a isso obstáculo maior. Em
caso de guerra, qualquer lugar estará indiferenciadamente exposto, dado
que todo o objetivo visto do ar é possível de ser atacado. O poder aéreo
deve ser empregado em ações ofensivas, com a finalidade de destruir os
centros de produção inimigos. A única defesa eficaz contra um avião é outro
avião. Não é possível ter mais do que um terço dos recursos aéreos
simultaneamente no ar e mesmo para tal é necessário um grau de prontidão
elevado. Só assim será possível obter uma vitória rápida. É necessário
centralizar os esforços, evitando duplicação de tarefas e custos acrescidos.
É assim premente a criação de um ramo que congregue todos os meios
aéreos. Nem todas as Nações têm capacidade para criar uma Força Aérea
eficiente. São necessárias uma moral nacional elevada e uma capacidade
industrial adequada. O trabalho de uma Força Aérea é no ar. Por isso, é
necessária uma familiarização com o meio em que se projeta a força sob
pena de uma subavaliação das suas potencialidades. A força atacante deve
ser composta por aviões de caça e bombardeiros na proporção de dois para
um. Cada vez mais a forma de fazer a guerra sofrerá a influência do poder
aéreo. Nenhuma nação pode denominar-se grande a menos que seu poder
aéreo esteja apropriadamente organizado e provido para isso.

Apesar das grandes afinidades no pensamento de Mitchell e Douhet, uma


enorme diferença de temperamento caracterizava os dois homens. Mitchell
comportava-se de uma forma apaixonada e compulsiva, enquanto Douhet optava
por uma postura mais acadêmica, transmitindo a imagem de um estudioso em busca
de uma argumentação válida para a sua teoria.
As divergências entre ambos não se resumiram à postura adotada,
abrangendo os campos do desenvolvimento e do emprego do poder aéreo,
notadamente no tocante à colaboração com as forças de superfície e ao emprego do
avião universal. Mitchell era favorável ao emprego do avião em apoio às forças de
superfície, contrariamente a Douhet, que o recusava liminarmente. Por outro lado, a
idéia douhetiana do cruzador de batalha não agradava a Mitchell, o qual defendia a
existência de aviões de caça com a missão de escoltar os bombardeiros.
Como pontos em comum, ambos os militares defendiam o bombardeamento
de alvos vitais com o objetivo de desarticular o aparelho produtivo do inimigo,
afirmando que a guerra aérea contribuiria para um desfecho rápido do conflito.

143
MITCHELL, Willliam. Winged defense: the development and possibilities of modern air power,
economic and military. New York: Dover Publications,Inc., 1988, passim. A primeira edição refere-
se à obra intitulada: Winged Defense: The Development and Possibilities of Modern Air Power.
Economic and Military, 1925. G.P. Putnam and Sons, Nova York, EUA.
Após a experiência com Trenchard, Mitchell se apercebeu que o poder aéreo
representava uma nova forma de fazer a guerra, com uma filosofia, uma estratégia e
táticas e uma doutrina próprias. Consolidou as suas idéias sobre a unidade de
comando, bem como sobre a necessidade da Força Aérea ter um estatuto igual ao
do Exército e da Marinha de Guerra.
De fato, a experiência das guerras corroborou o avião como poderosa arma
de guerra. A frente contínua e fortificada, defendida por poderosos fogos de artilharia
e de armas automáticas, define o aspecto estratégico mais característico da Primeira
Grande Guerra. A ruptura da frente estabilizada só é possível mediante a realização
de violentas ações frontais contando com o máximo em apoio de fogo. A inevitável
lentidão do ataque permite ao defensor tamponar a brecha, aberta com tanto
sacrifício de vidas, e restabelecer a frente, impedindo qualquer decisão na batalha.
Por falta de meios para tamponar os bolsões abertos pelas ofensivas dos aliados, a
Alemanha foi, inexoravelmente, derrotada em 1918. A França permaneceu naquela
estratégia defensiva, pois, vitoriosa e esgotada, vislumbrou que poderia prover a
própria segurança com economia de meios, em homens e em materiais de guerra.
Os alemães se prepararam para uma guerra rápida e decisiva que permitisse
aniquilar o adversário antes que esse pudesse estabilizar a frente de batalha.
A concepção de Douhet sobre um Poder Aéreo capaz de destruir com
bombardeios maciços o potencial de guerra do adversário, e, conseqüentemente,
alcançar uma vitória rápida e decisiva, teve grande influência na organização das
forças aéreas dos aliados, basicamente, nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha.
Todavia, a França, ao entrar na guerra, em 1939, possuía apenas uns poucos
bombardeiros e alguns aviões de caça eficazes. Embora o avião já fosse empregado
como elemento auxiliar das forças terrestres, os franceses não dispunham ainda de
aparelhos de assalto em vôo picado nem de transportes de tropas.
A Inglaterra já possuía uma aviação estratégica de bombardeiros, mas não
contava com aviões capacitados à cooperação com as unidades terrestres. Os
Estados Unidos tinham-se concentrado na produção de bombardeiros para missões
diurnas com evidente desinteresse pelos aviões de caça. As "fortalezas-voadoras"
dos EUA aproximavam-se do protótipo do avião ideal de combate de Giulio Douhet.
Nem todas as teorias de Douhet144 foram confirmadas pelos fatos da Guerra.
Nas operações terrestres, não houve preponderância da defensiva e muito menos
foram observadas frentes estáticas fortificadas. Embora o bombardeio estratégico,
exceto o bombardeio com armas atômicas, tenha encerrado largo emprego e
evidenciado uma importância estratégica, os resultados práticos apresentados nem
sempre estiveram à altura do esforço impendido.
Por exemplo, o moral da população civil não foi muito afetado e a atuação
sobre a economia do adversário não impediu o prosseguimento da luta145. Se os
aliados não tivessem cometido, por inexperiência, sérios enganos na escolha dos
objetivos, na seleção dos pontos reais a visar, na potência das bombas e, sobretudo,
na não utilização inicial de escolta de caças para o bombardeio durante o dia, o
bombardeio estratégico à Alemanha teria tido importância bem mais decisiva.
A ação de bombardeio estratégico que teve influência mais direta no sucesso
das forças terrestres aliadas foi a destruição da Luftwaffe. Os grandes e inequívocos
sucessos do poder aéreo, na Segunda Guerra Mundial, devem ser atribuídos à
aviação militar tática, em terra e no mar, e não ao bombardeio estratégico.
No período entre as guerras, a tática e a estratégia sofreram modificações.
Havia apologistas da guerra defensiva, como André Maginot∗ , e da guerra de
movimento (da ofensiva ou de manobra), cujos principais pensadores foram John
Frederick Charleston Fuller e Sir Basil Henry Liddell Hart∗ . Ambos não foram
propriamente teóricos do poder aéreo, mas visualizaram o valor do avião militar
associado ao blindado. Eram britânicos, mas influenciaram o pensamento militar

144
BRODIE, Bernard. Strategy in the missile age. Princeton: Princeton University Press, 1967, p. 105.
“O assalto aéreo norte-americano sobre o Japão aproximou-se, em certos aspectos, para a
confirmação da posição de Douhet [...] bombardeio estratégico custou altos dividendos militares”.
145
A Batalha da Inglaterra ilustra a afirmação, pois a RAF conseguiu impedir a invasão alemã à Ilha.

André Maginot (1877 a 1932) foi um soldado e membro do parlamento francês, mais conhecido por
ter idealizado a Linha Maginot. Foi assim que se desenvolveu um sentimento de segurança com a
linha Maginot, onde cada francês estava convencido de que estava protegido de toda agressão
alemã. Era preciso ser ingênuo para imaginar que a linha pudesse resistir a um ataque violento e
localizado, apoiado pela artilharia pesada e pela aviação moderna. Sem contar com a tática alemã
do Blitzkrieg e de contornamento da linha pelas Ardenas. No pior dos casos, a linha poderia conter
um ataque surpresa frontal durante o tempo necessário à França para organizar uma mobilização
geral. A linha Maginot não evitou a derrota da França no início da II Guerra Mundial em 1940.

Sir Basil Henry Liddell Hart (1895–1970), historiador, teórico e estrategista terrestre. Influenciou o
pensamento alemão. Escreveu Paris ou Futuro da Guerra, onde há idéias inovadoras sobre poder
aéreo: “o avião nos permite saltar sobre o exército que protege o governo inimigo, assim como sua
indústria e seu povo, para atacar diretamente e imediatamente a sede da vontade e da política
adversárias” Cf. AMBROSE, Stephen E. Azul sem fim. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2005, p. 96.
germânico, na Segunda Guerra, quanto à implantação de Blitzkrieg, que envolvia
aviões com valor similar (senão maior) ao dos blindados e da infantaria motorizada.
As idéias de Fuller e de Liddell Hart foram premissas para se estabelecer a
estrutura teórica da equipe ar-terra em conflitos com blindados. A tática de Blitzkrieg
aludia às idéias desses dois estrategistas britânicos e envolvia aeronaves num nível
de importância idêntica ao dos carros de combate e da infantaria motorizada.
Blitzkrieg foi eficazmente empregada pela Alemanha no início da Segunda Guerra.
Contudo, o uso eficaz dependia, substancialmente de ataques aéreos
coordenados – na realidade, liderando a batalha. Utilizavam-se as aeronaves,
portanto, de um modo que Mitchell e que Trenchard corroborariam, mas que Douhet
e que Seversky teriam considerado ineficiente.
Após a invasão da França, os alemães idealizaram a Operação “Barbarossa”,
onde a Luftwaffe empregou meios aéreos. Essa missão consistia, essencialmente,
na destruição do poder aéreo soviético e no apoio, numa segunda fase, às forças de
superfície alemãs, visando à consecução de uma Blitzkrieg contra as forças russas.
Na campanha da Rússia, o emprego da arma aérea por parte da Luftwaffe foi
afetado por vulnerabilidades internas, de certa forma, similares às que se verificaram
na Batalha de Inglaterra. O bem-sucedido bombardeio da indústria soviética foi
impossibilitado devido à indisponibilidade em aviões de maior raio de ação. No
entanto, a seleção de alvos constituiu uma aplicação lógica da estratégia em vigor
na época: destruir num curto tempo a capacidade de o inimigo fazer a guerra,
desferindo ataques contra áreas de objetivos militares de interesse primordial.
Na “Operação Barbarossa”, o acento tônico foi posto na execução de missões
auxiliares em detrimento de outras em que os vetores aéreos poderiam ter sido
explorados em toda a sua magnitude. Se, inicialmente, o poder aéreo foi empregado
de forma eficiente, considerados os recursos disponíveis e a previsibilidade de uma
operação de curta duração, a chegada precoce de um inverno rigoroso e a
manutenção de uma estratégia de emprego desajustada em face dos meios
envolvidos, contribuiu para um dos capítulos mais trágicos da história da guerra – a
Batalha de Stalingrado.
No início da campanha da Luftwaffe na Rússia, o emprego da aviação
soviética foi pouco eficaz (os pilotos russos utilizaram, até mesmo, uma tática similar
à dos kamikazes japoneses). Na Batalha de Stalingrado, houve um salto qualitativo
importante. Esse fato foi conseqüência da incapacidade da Luftwaffe em destruir a
indústria aeronáutica russa.
Por outro lado, a aviação alemã teve os seus aeródromos avançados
destruídos pelo poder aéreo soviético, que num assomo de revitalização impediu o
apoio às forças terrestres alemãs por meios aéreos da Luftwaffe (monomotores e de
autonomia reduzida) essenciais à manutenção de um fluxo logístico rápido e
contínuo de abastecimento. A campanha militar da Alemanha e, especialmente, da
Luftwaffe, na Rússia, foi a derrocada definitiva da tática alemã de Blitzkrieg146. Se a
campanha da Rússia constituiu um marco importante no emprego dos recursos
aéreos na II Grande Guerra, pelos ensinamentos colhidos, outros acontecimentos
tinham lugar, quase em simultâneo, no norte de África.
Exemplo disso tem-se na “Operação Tocha”, que visava a obter uma
plataforma de apoio à invasão da Europa pelo sul. Segundo Jones147, no ano
decisivo para os Aliados “se desfechou a ‘Operação Tocha’, no começo de
novembro de 1942, que marcou o renascimento das esperanças de todos.”.
Vincent Jones reputa à “Operação Tocha” um valor estratégico, uma vez que
“se a África do Norte pudesse ser tomada sem muitas dificuldades, o Afrika Korps de
Rommel se veria entalado entre os americanos, em Marrocos e na Argélia, e os
britânicos de Montgomery, no deserto líbio”.148
A “Operação Tocha” pôs em confronto, uma vez mais, teses diferentes sobre
o emprego dos meios aéreos. Por outro lado, ajudou a clarificar e a consolidar uma
determinada estratégia de emprego. A realização da Conferência de Casablanca,
contribuiu de forma clara e inequívoca para atingir esse desejo. Churchill e
Roosevelt autorizaram o general Eisenhower a reorganizar as Forças Aliadas no
Norte de África, com base em três comandos distintos: aéreo, terrestre e naval. Essa
providência de caráter estrutural ajudou a resolver um problema antigo, mas
simultaneamente básico e premente no desenvolvimento da guerra moderna.
Tratava de questão capital: como empregar eficaz e judiciosamente o poder aéreo.
As teses de Douhet, Mitchell e Trenchard já foram apresentadas neste
trabalho. Outra teoria do poder aéreo surgiu no período da Segunda Guerra.

146
VIZENTINI, Paulo G. Fagundes. Segunda Guerra Mundial: relações internacionais do século 20
(segunda parte). Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2004, p. 54-56. “É o fim da Blitzkrieg“.
147
JONES, Vincent. Operação “Tocha” a invasão da África. Rio de Janeiro: Renes, 1975, p. 6.
148
Ibidem, p. 7.
Foi a de Alexander de Seversky, que trabalhou com Mitchell e desempenhou
as funções de engenheiro e de piloto de provas, nas célebres e históricas provas
que permitiram demonstrar a supremacia das aeronaves sobre os navios de guerra.
Os estudos de Seversky e sua experiência tornaram-no uma autoridade
mundialmente conhecida em tática e em estratégia aéreas. Sua tese sobre Poder
Aéreo foi entusiasticamente recebida em instituições de alto nível como a
Universidade do Ar de Montgomery, a Escola de Estado-Maior das Forças Armadas
de Norfolk, a Escola de Informações Estratégicas de Washington, a Escola de
Defesa Nacional do Canadá e a Real Escola Canadense de Estado-Maior do Ar.
Não resta dúvida, que Alexander de Seversky foi escritor mundialmente
consagrado, cujas duas principais obras foram: “Victory Through Air Power”, editado
pela primeira vez em 1942 por Simon & Schuster, Nova York; e “Air Power: Key to
Survival”, editado, em 1950, pela mesma Organização.
Para Seversky, o Poder Aéreo seria “a capacidade que tem uma nação de
defender os próprios interesses por intermédio dos meios aéreos”. Afirmava que,
naquela época, o Poder Aéreo era, por sua importância, “um instrumento da política
nacional da mesma forma que o Poder Naval o fora no século passado.”.149
Esse estrategista afirmava que, em um conflito de maior importância, as
forças de superfície só poderiam cumprir as suas missões com sucesso se o espaço
aéreo fosse controlado por uma força aérea amiga. À semelhança de Douhet,
Seversky entendia que o controle do ar se tornaria ponto crucial na guerra.
Seversky considerava o Poder Aéreo a “suprema expressão do poderio
militar” e afirmava que “uma nação só poderia conquistar o máximo em Poder Aéreo
se atendesse aos seguintes princípios: unidade de missão; unidade de comando e
concentração e economia de forças”.150
Para Seversky151, “o conflito mundial seguinte seria vencido pela nação que
estivesse mais bem aparelhada para a guerra aérea intercontinental”. Erroneamente,
o teórico afirmava que “o advento da bomba atômica não viera alterar o quadro geral
da guerra, mas tornar ainda mais necessário o uso da estratégia adequada”, a qual,
segundo Seversky, poderia ser a estratégia aérea.

149
SEVERSKY, Alexander P. de. Air power: key to survival. New York: Simon and Schuster, 1950,
passim.
150
Ibid.
151
Ibidem.
Para Seversky152, havia duas estratégias de emprego para os americanos:

Na hipótese de que a Força Aérea só possa transportar a bomba atômica


utilizando bases em além-mar, será indispensável empregar um grande
Exército e uma grande Marinha. Nesse caso, o esforço nacional terá que
ser dividido pelas três Armas o que impedirá que qualquer delas atinja a sua
eficiência máxima; e se a Força Aérea tiver raio de ação que lhe permita
atuar diretamente no país inimigo sem o concurso de bases intermediárias,
o Exército e a Marinha poderão ser reduzidos ao mínimo e o esforço
nacional poderá se concentrar no desenvolvimento da Força Aérea,
assegurando a esta o máximo de eficiência.

Após a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos fabricaram um novo


avião de guerra  o B-36. Com um raio de ação de 5.000 milhas, tornou obsoleto o
B-29, usado com êxito na parte final daquela Grande Guerra.
Na concepção de Seversky, a guerra aérea transoceânica (inter-hemisférica)
seria não só possível, a partir de então, mas inevitável. O B-36 foi um exemplo de
poder aéreo estratégico de longo alcance que revolucionou as idéias sobre
estratégia militar. Esses aviões podiam levantar vôo do próprio continente americano
e, sem necessidade de bases em ultramar, golpear quase em qualquer ponto do
território de um inimigo europeu ou asiático, regressando em seguida aos EUA.
À época, não se sabia se a União Soviética possuía uma aviação equivalente,
mas o senso comum exigia que se admitisse o desenvolvimento de um poder aéreo,
similar ao estadunidense, detido por inimigos poderosos, os quais se configuravam,
à época da Guerra Fria, nos soviéticos e seus aliados do Pacto de Varsóvia.
Portanto, essa nova concepção de guerra aérea a 5.000 milhas determinou
modificações nos conceitos de defesa nacional e de estratégia militar. A concepção
geoestratégica de Seversky era de caráter global e tinha por mapa básico a projeção
azimutal eqüidistante com centro no pólo norte.
Seversky apresentou o mundo dividido em duas grandes áreas de domínio
aéreo. O raio de alcance da área de domínio aéreo soviético cobria toda a Eurásia,
quase toda a África e a América do Norte até o sul do México. A área de domínio
aéreo estadunidense cobria todas as Américas, parte setentrional da África, Europa
e quase toda a Ásia, com exceção das penínsulas meridionais. Essas duas grandes
áreas se cruzavam e interferiam, no que Seversky denominou de “área de decisão”.

152
Ibid.
Essa região cobriria toda a América do Norte até o sul do México, o norte da África,
toda a Europa e toda a Ásia (exceto as penínsulas do sul desse continente).
Seversky observou: “o Mediterrâneo Ártico é o centro da área de decisão e o
estreito de Bering ocupa uma posição crítica”. Dentro dessa área determinante,
encontravam-se os heartlands (ou “áreas coração”) industriais dos Estados Unidos e
da União Soviética. Segundo Seversky, “a manutenção da supremacia aérea na
referida área seria vital aos Estados Unidos.”153. A visão global de Seversky mudou o
conceito de defesa do Hemisfério Ocidental, cujo principal eixo passava a ser norte-
sul em vez de leste-oeste, como ocorreu nas duas guerras mundiais.
O mapa elaborado por Seversky154 (figura cinco), proporciona um espectro do
conjunto da situação e remete os respectivos leitores à compreensão das áreas de
domínio soviético e estadunidense, segundo seu entendimento, assim como à
conclusão a respeito da existência de uma primordial “área de decisão”.

153
SEVERSKY, 1950, p. 312.
154
Ibidem, p. 313.
Figura 5: O mapa mundial com as áreas de domínio soviético e estadunidense e a “área de
decisão”, segundo Seversky.
Fonte: SEVERSKY, Alexander P. de. Air power: key to survival. New York: Simon and Schuster,
1950, p. 313.

Admitia Seversky que, na eventualidade de uma nova guerra mundial, o


hemisfério americano seria estrategicamente dividido em três faixas:
A primeira, compreendendo em princípio o Alasca, o Canadá e a Terra
Nova, será a faixa de desenvolvimento das operações, partindo da qual a
Força Aeroestratégica dos Estados Unidos levará a guerra ao coração do
inimigo. A segunda, compreendendo o território dos Estados Unidos, será
faixa industrial que produzirá os meios para fazer a guerra. Constituirá um
dos primeiros objetivos do ataque inimigo necessitando, por conseguinte, da
maior concentração possível de meios de defesa. A terceira,
compreendendo toda a América Central e do Sul, será faixa dos
suprimentos, reservatório vital de alimentos e materiais estratégicos. Esta é
a área livre, fechada ao ataque inimigo. Deve ser preparada para apoiar o
155
esforço nas outras duas faixas.

O emprego do bombardeio estratégico com engenhos atômicos pode ter


confirmado as teorias de Douhet e adeptos. Porém, a importância da força aérea
não deve impedir de se voltar a atenção ao modo pelo qual pode auxiliar o Exército
no cumprimento das missões terrestres e os fuzileiros em um desembarque anfíbio.
Nas guerras limitadas ocorridas a partir de 1945, o Poder Aéreo angariou
importante participação com tarefas aerotáticas – como o apoio aéreo aproximado.
Entretanto, a Geoestratégia de contenção implicou a defesa de pontos
estratégicos situados no Rimland Asiático, por isso, o apoio aerotático pode ser mais
bem proporcionado por aviões com base em terra do que num navio-aeródromo.
Todavia, como se tratava de atuar naquelas regiões das "fímbrias" situadas
junto ao litoral, a aviação naval, como força integrante de porta-aviões, também se
engajou com êxito, nessa espécie de apoio, executando bombardeios de interdição,
e, até mesmo, bombardeios estratégicos – como ocorreu na Guerra da Coréia.

155
SEVERSKY, 1950, op.cit., p. 313. Finda a Segunda Guerra, com o evento nuclear e a existência
de um mundo bipolar, a estratégia da paralisia perdeu espaço para a estratégia da dissuasão.
Segundo Armitage e Mason156, a “Guerra da Coréia foi uma linha divisória na
história do poder aéreo”, pois para os dois autores, “até a Coréia, três convicções
estratégicas foram largamente defendidas”. “A Guerra da Coréia modificou tudo [...]
As lições para a guerra aérea ocorreram em aspectos operacionais e técnicos”.
Conforme Armitage e Mason157, foi “no nível estratégico que a Guerra da
Coréia construiu seu maior impacto”. As três estratégias existentes, antes da Coréia,
foram totalmente revistas e consistiam, segundo Armitage e Mason158, em:

Primeira, que a guerra moderna estava preocupada com os ultimatos de


rendição incondicional e de vitória total; segunda, que a chave da vitória
total repousa no bombardeio aeroestratégico; e terceira que a estratégia de
bombardeio aeroestratégico significa bombardeiros estratégicos tripulados.

Para Clodfelter159, “sem objetivos negativos a refrear a potência militar


Americana, Eisenhower poderia devastar a Coréia do Norte e a Manchúria. Armas
nucleares deveriam destruir populações em adição a alvos militares”.
Clodfelter160 assevera que ambas as guerras, “Segunda Mundial e Coréia
revelaram que a decisão política Americana influenciou a efetividade do poder aéreo
como um instrumento político”. Relevou-se, talvez, o pensar clausewitziano.
O Dr. Mark Clodfelter161 escreveu que os comandantes aéreos americanos do
conflito vietnamita "confiaram na experiência para orientar o planejamento no Vietnã.
Ao modelarem a ofensiva contra o Vietnã do Norte, voltaram-se ao que parecia ser a
lição do bombardeio estratégico da Segunda Guerra Mundial".
Clodfelter162 acrescentou com críticas às limitações impostas ao poder aéreo:

Embora menos óbvias do que as restrições políticas, entre as limitações


militares à efetividade da Rolling Thunder, destaca-se a doutrina do
bombardeio estratégico da Força Aérea. Resultado das instruções na Air
Corps Tactical School, da experiência da Segunda Guerra Mundial e do
planejamento no pós-guerra, essa doutrina enfatizava a destruição da
capacidade de combate do inimigo mediante ataques a seus centros
econômicos vitais [...] A ênfase na indústria origina-se de diversos fatores:
Os principais beligerantes da Segunda Guerra Mundial se haviam valido
extensamente de seu poderio industrial para travar a guerra.

156
ARMITAGE; MASON, 1985, p. 44.
157
Ibidem.
158
Ibid.
159
CLODFELTER, Mark. The limits of airpower: the American bombing of North Vietnam. New York:
The Free Press, 1989, p. 37.
160
Ibidem.
161
Ibid., p. 73.
162
Ibidem, p. 125-126.
Outra crítica efetuada por Clodfelter reside no fato de que apesar de os
planejadores militares aéreos dos Estados Unidos "perceberam que o Vietnã do [sic]
Norte tinha uma base industrial muito pequena", os comandantes "planejaram uma
campanha para desmantelar a capacidade industrial do Vietnã do Norte”.
Concordar com as críticas de Clodfelter e explicitar o modo pelo qual os
generais da USAF aplicaram a experiência da Segunda Guerra Mundial a
campanhas da Guerra do Vietnã como Rolling Thunder é um empreendimento
complexo. As operações aéreas nessas duas guerras envolveram inimigos, metas
políticas e tecnologias diferentes, mas pode-se presumir que a experiência da
Guerra Mundial pode ter influenciado, sobremaneira, as idéias dos oficiais de alta
patente no transcurso da Guerra do Vietnã.
As características da luta no Vietnã exigiram a cooperação cada vez mais
estreita entre a aviação e as forças terrestres, principalmente nas operações de
guerrilhas onde foi utilizado o helicóptero com resultado tático-operacional positivo.
Brodie163 afirma do advento da arma nuclear: “as pessoas falam de explosivos
atômicos como a mais portentosa invenção militar ‘desde a pólvora’ [...] à época das
primeiras armas atômicas, poucas pessoas ficaram serenas ou indiferentes”.
Ademais, ressalte-se que a arma aérea potencializou os efeitos dos artefatos
nucleares até o aparecimento dos mísseis balísticos de longo alcance.
Caso as armas nucleares fossem empregadas nas guerras limitadas, as
ações de interdição e os bombardeios estratégicos constituiriam, precipuamente, as
missões preponderantes do Poder Aéreo e esse poderia ter angariado ação decisiva
em um conflito armado desse tipo. Nesse caso, haveria sempre a possibilidade de
transformar a guerra limitada num conflito ilimitado ou global.
Em tese, a obra de Brodie torna-se receptáculo de teorias, mas na prática
como foram realmente conduzidas as guerras desde o início da Era Nuclear?
Não houve guerras nucleares e ninguém lutou sob a sombra do possível uso
de armas nucleares, ainda que a existência delas possa ter influenciado os EUA e a
URSS para limitarem seus envolvimentos na Coréia, no Vietnã e no Oriente Médio.
Portanto, as guerras da Era Nuclear têm sido todas, de certo modo,
convencionais. Muitas têm sido guerras civis, nas quais, em alguns casos, a
influência e o apoio externos desempenharam um papel decisivo. Essas operações

163
BRODIE, Bernard. Strategy in the missile age. Princeton: Princeton University Press, 1967, p. 147.
de insurreição e contra-insurreição são tratadas nas análises de autores como John
Shy e Thomas Collier. Desde a Guerra da Coréia, foram poucas as guerras
convencionais, como os conflitos entre as Nações Árabes e Israel, e entre a Índia e o
Paquistão. A operação anglo-francesa em Suez foi um prolongamento de um dos
conflitos árabe-israelenses onde o poder aéreo teve papel preponderante e
desequilibrador164. A Índia foi também envolvida numa curta guerra com a China.
Em contrapartida, Irã e Iraque estiveram engajados numa guerra realmente
convencional, em que houve o emprego de bombardeio aéreo à população civil.
Outra amostra no espectro convencional foi proporcionada pela invasão das
Malvinas pela Argentina, em 1982, e a expedição britânica para recuperá-las.
Todas essas guerras foram, sob pontos de vista de abrangência espacial ou
de uso de força, limitadas. Uma limitação comum em todas elas foi a renúncia ao
bombardeio de cidades – exceto os ataques aéreos no Kosovo, em 1999, e no caso
do Irã e Iraque –, quando isso era plenamente possível, por medo de represálias e
de reações domésticas e internacionais ao sacrifício das populações civis.
Após a Segunda Guerra Mundial, a estratégia da aniquilação (a destruição
total das forças militares do inimigo) perdeu espaço para a estratégia da dissuasão
nuclear com o advento das armas atômicas e com a bipolaridade mundial.
Na década de setenta do século passado, novos estrategistas se destacaram
do poder aéreo, como o falecido coronel da USAF John Boyd. As idéias de Boyd
eram mais voltadas para os níveis tático e operacional, em função das experiências
vivenciadas como aviador. No entanto, têm hoje reflexos no âmbito estratégico.
O veterano piloto de caça da Guerra da Coréia construiu uma complexa teoria
do poder aéreo, que era mais voltada para as componentes psicológica e temporal
do que propriamente para as componentes física e espacial.
Portanto, a Teoria de Boyd está direcionada para o comando e controle do
inimigo, onde busca criar situações de surpresa e perigo por meio da antecipação
das ações. Procura operar em ritmo mais veloz que o adversário. Para maximizar os
efeitos sobre o inimigo, exploram-se as características de ubiqüidade, de velocidade,
de flexibilidade e de penetração do poder aéreo. Boyd defende esse emprego em
ações variadas e rápidas, de forma a congestionar a capacidade de ação e reação
do adversário e afetar a aptidão física e a vontade de resistir inimigas.

164
CARVER, Michael. Guerras convencionais na era nuclear. In: PARET, Peter. Construtores da
moderna estratégia: de Maquiavel à era nuclear. Rio de Janeiro: Bibliex, 2003. t. 2, p. 415-465.
Um aspecto notório da Teoria de Boyd concerne ao comportamento humano,
individual e em grupo, no contínuo ciclo de planejamento da guerra, no qual ele
identifica quatro fases distintas: observação, orientação, decisão e ação.
Trata-se do propalado OODA loop ou “ciclo OODA”. Com essa ilação, Boyd
advoga que obterá sucesso aquele que conseguir completar o ciclo com vantagem
de tempo sobre o oponente, de forma que os atrasos de cada ciclo somados
começam a prejudicar o tempo de reação do inimigo, conduzindo o sistema de
comando e controle do adversário rumo ao colapso. A sobrecarga no sistema
operacional provoca a desorientação mental do sistema de comando e controle do
oponente (espécie de fadiga mental e também estresse). Assim, afetam-se a
vontade de lutar, o aspecto do moral e, portanto, a operacionalidade de sistemas.
Hoje, a Teoria de Boyd é estudada por elementos do poder aéreo, naval e terrestre.
“A guerra do Golfo de 1990-91 pode ser considerada como a campanha aérea
de maior eficácia do poder aéreo em todo o século passado.”165. Não houve
restrições políticas, formou-se uma coalizão de países e comandantes operacionais
de forças aéreas atuaram sob deliberação do comandante do teatro de operações.
Conforme citado neste estudo, John Warden III participou dos planejamentos
aéreos da Guerra do Golfo de 1990-91 e pôde colocar em prática a Teoria dos Cinco
Anéis, até então, uma mera tese acadêmica de doutorado.
Recentemente, o debate acerca do poder aéreo completou um século.
Durante esses pouco mais de cem anos de emprego militar do “mais pesado que o
ar” – o avião – o cenário de guerra se modificou de modo considerável e
drasticamente pela arma aérea. Mason166 cita que “o Poder Aéreo é o produto da
guerra do século XX. No limiar do século XXI, o Poder Aéreo tem-se transformado
de poder do ar e espaço em: poder aeroespacial”.
Em virtude do domínio da tecnologia dos satélites artificiais e das naves
espaciais, o poder aéreo se transformou, a partir da década de sessenta, em “Poder
Aeroespacial”. Abrange, hoje, toda a capacidade aeronáutica e espacial de um país
e tem como finalidade o controle e a utilização do espaço com propósitos definidos.
A correta concepção de o termo poder aéreo pode incluir não somente
máquinas voadoras, aeródromos com infra-estrutura aeroportuária, capacidade

165
Cf. HALLION, Richard P. Storm over Iraq: air power and the Gulf War. Washington: Smithsonian
Institution Press, 1992, p. 201.
166
MASON, “Tony” R. A.. The aerospace revolution. Role revision & technology: an overview. London-
Washington: Brassey’s Air Power, 1998, p. 1.
aeronáutica em termos científicos e tecnológicos, indústrias ligadas ao poder
aeroespacial, pistas de desdobramento. Além disso, abarca os recursos humanos
que compõem as bases aéreas, os centros de controle, as escolas militares, etc.
Hodiernamente, novas variáveis interagem no complexo fenômeno da guerra.
Empregam-se termos intricados, como o da “Guerra de Quarta Geração”, para se
caracterizar a complexidade do fenômeno bélico contemporâneo.
Uma plena capacitação do “Homem Aeroespacial” engloba, no seu bojo,
disciplinas de cunho humanístico e conhecimentos que amparem reflexões amplas e
que forneçam um cabedal de informações, em termos de cultura geral, para forjar
um oficial de Estado-Maior, com vastidão intelectual, no campo cognitivo. Entretanto,
na formação acadêmico-profissional desse futuro recurso humano, de alto nível em
assessoria, enfatiza-se, sobretudo, a Educação Militar Profissional.
2 A EDUCAÇÃO167 DO OFICIAL DE ESTADO-MAIOR DA AERONÁUTICA

Educação profissional, baseada em longo estudo, no estudo coletivo de


nível superior, em todos os postos, em qualquer idade: estes são os títulos a
serem exibidos pelos comandantes dos exércitos futuros, e o segredo das
vitórias do porvir.
Sir Winston Spencer Churchill, 1946.

2.1 O HOMEM AEROESPACIAL BRASILEIRO

Indagar acerca de como seria o oficial de Estado-Maior da Aeronáutica


Brasileira, demanda fazer abordagens de cunho social, cultural e antropológico.
Primeiro, trata-se de um cidadão brasileiro, que se incorpora a uma instituição
ímpar – as Forças Armadas. Nesse grupo social, a vida da caserna torna-se um
sacerdócio, requer sacrifícios e se reveste de aspectos sui generis, como os pilares
institucionais da hieraquia e a da disciplina e, da mesma forma, da ética militar.
A concepção de Holanda168 sobre o Homem Brasileiro incorpora idéia sui
generis acerca de um “homem cordial”169. Para Holanda,170 fez-se uma interpretação
errônea da etimologia desse termo que foi cunhado pelo escritor Ribeiro Couto.

167
A palavra educação, etimologicamente, provém do latim “educatìo” e denota a ação “de criar, de
nutrir, de amamentar; cultura, cultivo”.
168
HOLANDA, Sergio Buarque de. Raízes do Brasil. Rio de Janeiro: Companhia das Letras,
1995, passim.
169
Ibid., p. 146.
170
Ibidem, p. 204-205. Em "O Homem Cordial", Sergio Buarque de Holanda fala sobre o
brasileiro e uma característica presente no seu modo de ser: a cordialidade. Porém, cordial, ao
contrário do que muitas pessoas pensam, vem da palavra latina cor, cordis, cordialis, que significa
coração. Portanto, o homem cordial não é uma pessoa gentil, mas aquele que age movido pela
emoção no lugar da razão, não vê distinção entre o privado e o público, ele detesta formalidades,
põe de lado a ética e a civilidade. Sérgio Buarque avisa, no entanto, que esta “cordialidade” não
deve ser entendida como caráter pacífico. O brasileiro é capaz de guerrear e até mesmo destruir;
no entanto, suas razões animosas serão sempre cordiais, ou seja, emocionais, sentimentais e
passionais.
Ademais, o autor exemplifica esse pensamento com o caso da sociedade
japonesa, na qual o modo corriqueiro do bem conviver socialmente é ser polido e
demonstrar respeito perante outrem  o outro ser humano da relação interpessoal.
Segundo Holanda, o Homem Brasileiro, como “ homem cordial”, incorporaria uma
faceta cultural-antropológica alinhada com a beligerância, pois a “nossa forma
ordinária de convívio social é, no fundo, justamente o contrário da polidez”171.
Por sua vez, Cruz172 apresenta a figura do “Homem Aeroespacial”. Essa
“nova casta de seres humanos” torna-se compreendida como o “somatório do
aglomerado dos profissionais, direta ou indiretamente, ligados às atividades do meio
ambiente espacial e aéreo”. Por conseguinte, surgiu uma recente opção acadêmica,
visto que “por um desígnio histórico e arbítrio da inteligência humana, surgem novas
perspectivas científicas, determinadas pelas Ciências Aeroespaciais”173.
Assim sendo, Ubirajara Carvalho da Cruz transpassa o sentido da existência
de um ser humano que adentra no campo do aeroespaço a partir do século
passado. Faz-se mister, primeiramente, definir o termo Poder Aeroespacial174 para
se abstrair, de sua definição, o real significado da expressão Homem Aeroespacial.
Para Cruz, o objeto de estudo das teorias do poder aéreo careceria, ainda, de
um acertado estado de definição. O poder aéreo compõe-se de elementos
suficientes e necessários, os quais interagem para compor um conjunto unívoco.
O componente militar do poder aeroespacial traduz-se na Força Aérea
Brasileira. Esta possui peculiaridades gerais quanto às suas concepções
doutrinárias, que visam ao emprego em operações militares, na paz e no combate.
Aproveitar eficazmente essa força aérea, como aparelho de ataque ou de
defesa, numa concepção globalizante, depende da Política de Defesa Nacional em
face das aspirações nacionais do estado. O emprego de forças armadas e, em
especial, da Força Aérea Brasileira está subordinado aos devidos preceitos legais.

171
HOLANDA, 1995, p. 147.
172
CRUZ, Ubirajara Carvalho da. O Homem Aeroespacial: um estudo axiológico. Dissertação
(Mestrado em Ciências Aeroespaciais) - UNIFA, Rio de Janeiro, 2004, passim.
173
Ibid., p. 11.
174
Segundo preconiza o Glossário da Aeronáutica, Poder Aeroespacial é a capacidade
resultante da integração dos recursos de que dispõe a nação para a utilização do espaço aéreo e
do espaço exterior, quer como instrumento de ação política e militar, quer como fator de
desenvolvimento econômico e social, visando conquistar e manter os objetivos nacionais. Segundo
a Política Militar Aeronáutica (2008, p. 23-25), os elementos constituintes do Poder Aeroespacial
são a Força Aérea Brasileira, a Aviação Civil, a Infra-estrutura Aeroespacial, a Indústria
Aeroespacial e de Defesa, o Complexo Científico-Tecnológico Aeroespacial e recursos humanos
especializados.
A destinação constitucional dos meios militares é regida por princípios listados
no preâmbulo da Carta Magna vigente, em face dos princípios concernentes à
concepção brasileira de Defesa e às Relações Internacionais. Apreciações dessa
monta não se tornam exageradas quando se conhece o braço armado do Poder
Aeroespacial e quando Holanda evidencia uma natural disposição ao belicismo.
John Keegan175 traz à baila a concepção de que “a guerra faz parte da própria
cultura de certas civilizações e cada povo tem uma forma própria de guerrear”.
Ao citar falhas à Teoria de Guerra de Clausewitz, o professor britânico afirma:

Se sua mente tivesse apenas mais uma dimensão intelectual – e se tratava


de uma mente já muito sofisticada –, talvez pudesse ter percebido que a
guerra abarca muito mais do que a política, que é sempre uma expressão
da cultura, com frequência um determinante da formais culturais e, em
176
algumas sociedades, é a própria cultura .

Para fundamentar suas idéias, John Keegan177 exemplifica a tese da


prevalência da cultura sobre a própria política, no contexto do bélico, com estudos
de caso sobre ianomamis, samurais, zulus, mongóis, mamelucos do Egito,
guerreiros da Ilha de Páscoa, gregos, romanos e árabes.
A Ciência e a Tecnologia (C & T) se associaram, desde a Primeira
Revolução Industrial, aos processos de desenvolvimento econômico e social dos
países industrializados. Essa afinidade é tão válida quanto se torna a nítida
interdependência vivida entre o desenvolvimento das nações e a sua segurança.
Nas esferas globais, regionais e nacionais há uma evidente inclusão da
Ciência e da Tecnologia nas atividades aeronáutica e espacial. A Aviação
harmoniza-se, essencialmente, à ciência, à tecnologia e à inovação tecnológica.
Portanto, o avião, o advento nuclear e a “Revolução nos Assuntos Militares”
(RMA) corroboram esse juízo de valor, pois amalgamaram o pensamento de que os
empreendimentos realizados em tecnologia e na ciência podem acarretar em
diferencial no cenário da guerra moderna e acelerar mudanças nos processos.

175
KEEGAN, John. Uma história da guerra. São Paulo: Companhia das Letras, 1995, p. 28.
176
Ibid.
177
Ibidem, passim.
Em “Guerra e antiguerra”, Alvin e Heidi Toffler178 explicam as expectativas
futuras e diagnosticam os presumíveis efeitos, no campo do bélico, em função da
relevância do processo nomeado de Revolução em Assuntos Militares:

[...] a revolução militar que está por vir será muito mais profunda do que até
aqui a maioria dos comentadores imaginou. Uma revolução militar, em
sentido mais completo, só ocorre quando uma nova civilização surge para
desafiar a velha, quando toda uma sociedade se transforma, obrigando
suas forças armadas a mudarem em todos os níveis ao mesmo tempo, da
tecnologia e cultura à organização, estratégia, tática, treinamento, doutrina e
logística. Quando isso acontece o relacionamento dos militares com a
economia e a sociedade é transformado, e o equilíbrio militar do poder
sobre a Terra é esfacelado.

Outro elemento constituinte do Poder Aeroespacial, que se congrega às


Ciências Aeroespaciais, numa ótica globalizada, constitui-se na Infra-estrutura
Aeroespacial. Os complexos aeroportuários têm um ímpeto, o qual acarreta
proveito econômico às regiões onde se situam. Esses aeroportos propiciam a
geração de riquezas, além do suporte que promovem para o desenvolvimento dos
países e têm reflexos na atividade da aviação comercial em geral. A expansão do
transporte aéreo e o surgimento constante das inovações tecnológicas, aplicadas a
modernos vetores aéreos, coadunam-se com a infra-estrutura aeroportuária e
colaboram, também, com a indústria aeronáutica ao formar um todo unificado.
A complexidade dos engenhos aeronáuticos, somada aos empreendimentos
no campo das espaçonaves, acarretou num fator integrador de primordial relevância
para subsidiar o moderno cenário das ações intrínsecas às Ciências Aeroespaciais.
Entre os componentes que perfazem o seu objeto de estudo, está a complexa
e intricada rede de industrialização de aeronaves, componentes de manutenção,
peças de motor e de equipamentos de comunicação e de navegação. Para lhe
conceder caráter sinérgico, observa-se a criação de consórcios entre países para
produzirem aeronaves de alta sofisticação tecnológica. Trata-se do instituto da
Indústria Aeronáutica e de Defesa no Brasil, que hoje se expande além-mar.

178
TOFFLER, Alvin; TOFFLER, Heidi. Guerra e antiguerra: sobrevivência na aurora do Terceiro
Milênio. Rio de Janeiro: Record, 1998, p. 48. A obra despertou o interesse dos principais líderes
militares dos EUA e lançou uma tese: ”a maneira de fazermos a guerra reflete a maneira pela qual
criamos a riqueza” e demonstra que também a guerra, tal como e economia, está passando por
uma mudança desde o alvorecer da era industrial – a transição da força bruta para a força mental.
A Força Aérea, a Ciência e a Tecnologia, a Infra-estrutura Aeroespacial, a
Indústria Aeronáutica e de Defesa e a Aviação Civil são elementos permanentes do
Poder Aeroespacial e objeto de estudo das Ciências Aeroespaciais.
Nesse universo intricado e inusitado de conhecimentos permeáveis, o oficial
de Estado-Maior da Aeronáutica é pontificado e, como um Homem Aeroespacial, se
insere como um gerente do processo e como elemento constante desse poder.
Esses elementos cruciais e intrínsecos do Poder Aeroespacial trouxeram
modificações que acarretaram conseqüências à Humanidade.
Se o homem despertou para uma nova concepção de convivência, então
pode ter consciência de que o Poder Aéreo majorou o número de variáveis no
campo de batalha hodierno. O efeito garantido pelo poder aéreo pode ser advindo
de uma gama de fatores interdependentes, aos quais se somam os constantes e
crescentes adventos de inovação tecnológica afetos à indústria bélica.
Cabe ao comandante de um Comando Combinado ou de uma Força Aérea
que atue independentemente, selecionar oficiais para comporem seu Estado-Maior.
Caso contrário, pode dar um passo rumo ao retrocesso na história militar.

2.2 O OFICIAL DE ESTADO-MAIOR

Compreender a função de reconhecimento, entender a execução das


ordens, apresentar com simplicidade os movimentos mais complicados de
um exército, estas são as características que distinguem um oficial
qualificado para ser chefe do Estado-Maior. Napoleão – Máximas.

A complexidade e a amplitude das atividades resultantes do cumprimento das


responsabilidades do comando militar possuem vulto. Portanto, o comandante não
pode executá-las, sem assessoria, em tempo hábil e com a efetividade requerida.
Contemporaneamente, gerencia-se uma tecnologia de última geração na
guerra aérea moderna. No entanto, o ciclo que perpassa o observar, o orientar, o
decidir e o agir se perfaz em intervalos de tempo cada vez menores. De fato, nesse
processo de tomada de decisão, o homem é valorizado como “pedra de toque”.
O comandante pode descentralizar a execução de ações, por intermédio de
uma cadeia de comando previamente estabelecida, e, por meio dessa, delegar aos
comandantes subordinados a competência legal pela execução das missões
atribuídas. Essa delegação induz à sinergia no processo de tomar decisões e
permite ao comandante do escalão superior conduzir e supervisionar a execução
dos planos, sem se envolver nos detalhes de planejamento, de execução e de
controle das atividades de cada um dos elementos subordinados.
Embora a disponibilidade do comandante para a solução de problemas seja
ampliada pela descentralização da autoridade, ainda assim, as responsabilidades e
as funções exclusivas de comando excedem sua capacidade de sozinho cumpri-las.
Atualmente, com a complexidade crescente das operações realizadas pela
Força Aérea, nenhum comandante encarregado de uma missão pode prescindir do
assessoramento de um Estado-Maior formado por especialistas em poder aéreo.
A evolução tecnológica do armamento, a dispersão das forças e as
necessidades logísticas impõem a avaliação criteriosa e metódica de todas as
variáveis que possam influir na ação a ser desencadeada. Cabe ao Estado-Maior
proporcionar as condições para que o comandante adote a estratégia adequada,
baseado na total avaliação dos dados relacionados com a missão a ser cumprida.
Outrora, um comandante era julgado por sua habilidade em agir
independentemente. Hoje, é avaliado pela eficiência no trabalho, pela eficácia dos
resultados e pela coordenação das ações em um pré-estabelecido Estado-Maior.
Não obstante o avanço do número de variáveis no campo de batalha ter
criado a necessidade do oficial de Estado-Maior como um imprescindível assessor
do comandante — atualizado em teorias, métodos, técnicas e procedimentos — os
ideais éticos e intelectuais dessa estirpe de oficial descendem de uma longa tradição
e foram desenvolvidos, ao longo dos séculos, devido às experiências militares.
A História mostra que “os primeiros elementos de um Estado-Maior foram os
amigos íntimos de reis, parentes do comandante, etc. Eram uns poucos indivíduos,
nos quais se depositava confiança e se utilizava deles como conselheiros”179.
Quanto ao surgimento do primeiro Estado-Maior militar, há evidências de que
funções de Estado-Maior foram exercidas em comandos nos tempos dos primeiros
povos egípcios. Mitchell180 menciona como o “primeiro Estado-Maior estabelecido,
em torno de 1500 a.C., o do faraó Tutmés III, no qual cada arma possuía um sistema
de Estado-Maior próprio” e que já havia, “em 500 a.C., funções de informações,
administração, logística e uso de técnicos nos exércitos do Egito e da Síria”.

179
MITCHELL, A. William. Outlines of the world’s military history. Harrisburg: Military Service
Publishing Company, 1940, passim.
180
Ibid., p, 22.
Segundo William Mitchell181, Alexandre “o Grande” pôs em prática um sistema
de Estado-Maior na Macedônia, mas que “era diferente do formato atualmente
conhecido”. Ademais, frisa que “nos relatos de operações militares, há referências
ao chefe de Estado-Maior, ajudante-de-ordens, especialistas, oficial de suprimento,
chefe da polícia militar, organização hospitalar e sistema de comunicações”.
Citando Mitchell182, “Aníbal tinha, indubitavelmente, um Estado-Maior muito
bem treinado, mas os detalhes dessa organização são desconhecidos”.
Caio Júlio César obteve um avanço na estrutura de Estado-Maior. Os
romanos tinham um Estado-Maior bem montado; mas os gauleses não tinham um
sistema de Estado-Maior eficaz. A maior contribuição do General e do Imperador
Romano para o sistema de Estado-Maior foi “separar as funções de informações e
operações, dando-lhes o mesmo nível e utilizando, inclusive, a criptografia”183.
No Período Feudal e nas Cruzadas, Mitchell184 afiança que, “apesar do
grande número de conflitos, a arte militar decaiu. Nesse período, a cultura militar que
mais se desenvolveu foi a do Império Bizantino, embora sem ultrapassar a do
Romano”.
O fundador do Império Mongol, Gêngis Khan, estabeleceu um “exército de
invasão” organizado, treinado e disciplinado; elaborou um eficaz sistema de
comunicações e aperfeiçoou o combate da cavalaria, que obteve eficácia nas ações.
Mitchell185 comenta que “há pouquíssimos registros do seu sistema de Estado-
Maior”, mas que “Gêngis Khan seria seu próprio oficial de operações, possuía o
melhor sistema de informações à época e Sabutai seria o chefe do Estado-Maior”.
Segundo Mitchell186, a invenção da imprensa por Johannes G. zur Laden zum
Gutenberg foi de relevância para a composição dos Estados-Maiores à época:

Nos séculos XIV e XV, não houve mudança no sistema de Estado-Maior.


Entretanto, Gutenberg estava praticando a arte da impressão, em torno de
1450, em Mainz. A pilhagem de Mainz, em 1462, disseminou escritores
germânicos por toda a Europa [...]. Um certo número de livros militares foi
editado. Os mais importantes foram aqueles de Vegécio [...] e, acima de
todos, Maquiavel, cujo ‘Arte da Guerra’ esteve em uso por muitos anos. O
estudo desses autores propagou o conhecimento da ciência militar; a tática
e a estratégia se aperfeiçoaram. A Imprensa aperfeiçoou a educação em

181
Ibidem, p, 45.
182
MITCHELL, 1940, p, 79.
183
Ibid., p, 106.
184
Ibidem, p, 173.
185
Ibid., p, 225.
186
Ibidem, p, 253.
geral e os militares apreenderam a ler e a escrever. Como conseqüência,
ordens escritas tornaram-se possíveis; e sistemas elementares de Estado-
Maior transformaram-se em alguma coisa a mais do que grupos de
mensageiros carregando ordens verbais dos líderes. (grifos nossos).

Mitchell187 cita o Sistema de Estado-Maior do Rei da Suécia, Gustavo Adolfo,


como “um modelo para os demais europeus, tendo como seguidores o Cardeal
Richelieu e o Marquês de Bouvois, na França, Oliver Cromwell, na Inglaterra, e
Frederico, ‘o Grande’, na Prússia”. Reconhecido como “pai da arte da guerra
moderna”, Gustavo inovou ao “organizar um sistema de suprimento e desenvolver
técnicas de logística baseadas em planejamento detalhado e cuidadoso”.
Com respeito à Inglaterra, Mitchell188 assegura que o “atual sistema de
Estado-Maior Inglês originou-se no New Model Army, de Sir Oliver Cromwell,
autorizado pelo Parlamento em 1644, e provém daquele utilizado por Gustavo
Adolfo”.
Citando Mitchell189, Frederico “o Grande” da Prússia “desenvolveu as bases
de um Estado-Maior permanente; era seu próprio Chefe de Estado-Maior e dependia
pouco do General-Intendente”. O Rei da Prússia fundou, “em 1765, a Academia dos
Nobres, com o objetivo expresso de selecionar e educar jovens oficiais para o
serviço militar e diplomático”. Ademais, “a finalidade dessa Escola era desenvolver,
intelectualmente, os oficiais para o Estado-Maior Geral Alemão”. Na era moderna, foi
“a primeira Escola estabelecida para desenvolver o raciocínio militar de uma nação.
Por mais de um século, continuou a aprimorar o Sistema de Estado-Maior Alemão”.
O Chefe do Estado-Maior não ficava na mesma linha do comandante, mas
assessorava-o, preparando ordens, dirigindo a administração do comando e
administrando o Estado-Maior, sendo essas as mesmas tarefas previstas atualmente
nos exércitos francês e americano. O Chefe do EM Geral ficou subordinado ao
ministro da Guerra, não havendo comunicação direta com o Chefe de Estado. Como
os alemães, os franceses enviavam, periodicamente, oficiais de Estado-Maior para
servirem na tropa e, depois, implantavam uma Escola de Estado-Maior. Conforme
informa Mitchell190, importante fato ocorreria tão-somente na Era de Moltke “o
Velho”:

187
Ibid.
188
MITCHELL, 1940, p, 291.
189
Ibidem, p, 320.
190
Ibidem, p, 340.
Quando o Chefe do Estado-Maior obteve o privilégio de despachar
diretamente com o Rei, em vez de fazê-lo por intermédio do Ministro da
Guerra, o Estado-Maior Alemão tornou-se um instrumento de poder do
governo. A característica maior desse Estado-Maior era a importância dada
ao setor de operações, sendo as demais funções a ele subordinadas.

Mitchell191 comenta que “Napoleão não tinha realmente um Estado-Maior


Geral como hoje é assim entendido”. No entanto, as guerras napoleônicas do século
XVIII revelaram homens, como o Barão Antonie Jomini e Paul Thiebault, que
“contribuíram com trabalhos de doutrina organizacional de Estado-Maior”.
“O General Thiebault focalizou novos aspectos sobre os problemas da criação
e manutenção de estados-maiores eficientes; seu Manual de Estado Maior [...] influiu
fortemente e por muitos anos no desenvolvimento dessa atividade militar na Europa”
e salientava como organizar um Estado-Maior e como comandar de modo eficaz: “a
síntese da ação objetiva do comando resumia-se em Saber, Querer e Poder”.192
O manual de Thiebault serviu de fundamento para os Estados-Maiores
europeus do século XIX, que tiveram como expoentes os generais prussianos von
Moltke e von Schlieffen. O sistema de Estado-Maior Francês desenvolveu linhas à
semelhança do alemão e outras bem diferentes. Uma das diferenças marcantes foi
reconhecer o setor de informações193, devido à relevância, como função separada.
Holborn194 cita que, “no tempo de Scharnhorst, o Estado-Maior Geral
permaneceu como uma seção do Ministério da Guerra [...]. Em 1821, o Chefe do
Estado-Maior transformou-se no mais alto assessor do rei em questões de guerra”.
Mitchell195 afirma que “o Sistema de Estado-Maior Alemão alcançou seu ponto
mais alto sob a administração do Marechal-de-Campo Hellmuth Von Moltke e é,
praticamente, o modelo para os exércitos atuais”. Em Mitchell, evidencia-se que:

Moltke apurou a técnica, esclareceu a área de responsabilidade do Estado-


Maior e estabeleceu a doutrina do comando central. De acordo com a

191
Ibid., p, 349-350. Cf. JOMINI, Antoine Henri. A arte da guerra. Rio de Janeiro: Bibliex, 1949, p. 12.
192
JOMINI, 1949, p. 33-34. No original, significa Savoir, Vouloir e Pouvoir, que ficou conhecida como
a trilogia de Thiebault.
193
O setor de informações tornou-se conhecido por elaborar uma importante atividade de
assessoramento ao comandante. Atualmente, as forças armadas denominam essa área de
atuação, em geral, de seção de inteligência. Na Força Aérea Brasileira, usa-se a sigla A2 para
designar essa seção em uma Força Aérea Componente (FAC). O chefe do A2 é um oficial de EM.
194
HOLBORN, Hajo. A Escola Germano-Prussiana: Moltke e a ascensão do Estado-Maior. In:
PARET, Peter. (Ed.). Construtores da moderna estratégia: de Maquiavel à era nuclear. Rio de
Janeiro: Biblioteca do Exército, 2003. t. 1, p. 380-381.
195
MITCHELL, 1940, p, 536-538.
doutrina, um comandante a muitas milhas da frente de batalha, longe do
cansaço e da confusão, poderia avaliar objetivamente o progresso da
196
batalha e, por meio do seu Estado-Maior, controlar o curso da ação .

Para Rothenberg197, deveu-se aos treinamentos, à doutrina dos oficiais de


Estado-Maior e, “reconhecidamente, ao desempenho capital de Moltke a
transformação do Estado-Maior Prussiano, ainda um departamento subordinado ao
Ministério da Guerra [...] na mais importante agência de comando do exército”.
Citando Mitchell198, “o sistema adotado pelo exército dos Estados Unidos
iniciou-se com George Washington, baseado no sistema inglês, sendo que o
desenvolvimento final dos sistemas americano e inglês correu em paralelo”. Na
Inglaterra, foi Spencer Wilkinson quem, com seu livro “O cérebro de um exército”,
estimulou o interesse em fixar um Estado-Maior Geral e foi mentor do atual sistema.
“Nos Estados Unidos, Elihu Root, Secretário da Guerra (1899-1904), foi o introdutor
do Estado-Maior Geral. Distinguiu o imperativo de um sistema educacional, fundou,
em 1901, o Army War College e o Command and General Staff School”.
Segundo Mitchell199, “após a Primeira Guerra Mundial, os dirigentes das
Forças Armadas Norte-americanas vislumbraram a necessidade de educar seus
comandantes e oficiais de Estado-Maior para o futuro”. Vislumbraram que, com o
“aumento da complexidade da arte da guerra e com o advento de uma característica
global, o novo oficial de Estado-Maior deveria ter uma educação técnico-profissional
mais apurada e uma maior compreensão dos campos social, político e tecnológico”.
Citando Calaza200, observa-se a implantação do Estado-Maior no Brasil:

A criação do Estado-Maior em 1896, em substituição à Repartição do


Ajudante General representou uma nova fase organizacional para o
Exército, embora sua efetivação, na prática, ocorresse somente em 1909.
[...] A Campanha do Contestado foi também marcada pela primeira
implantação de uma estrutura de Estado-Maior, uma concepção militar
prussiana introduzida no Exército Brasileiro em 1909. Sob o comando do
general Setembrino de Carvalho, a grande expedição ao Contestado
instaurou, em 18 de setembro de 1914, um inédito serviço de Estado-Maior

196
Ibid. Cf. LEACH, Barry. Estado-Maior Alemão. Rio de Janeiro: Renes, 1975, p. 14.
197
ROTHENBERG, Gunther E. Moltke, Schlieffen: doutrina de envolvimento estratégico. In:
PARET, Peter. (Ed.). Construtores da moderna estratégia: de Maquiavel à era nuclear. Rio de
Janeiro: Biblioteca do Exército, 2003. t. 1, p. 404-405.
198
MITCHELL, op.cit., p, 421; 518-526.
199
MITCHELL, op. cit., p, 693-695.
200
CALAZA, Claudio Passos. Aviação no Contestado: investigação e análise de um emprego
militar inédito. Dissertação (Mestrado em Ciências Aeroespaciais), Universidade da Força Aérea,
Rio de Janeiro, 2007, passim.
em campanha composto por jovens oficiais. [...] aí o primeiro relato de que
compôs uma estrutura de oficiais típica de um Estado-Maior em campanha.

Mason201 fala do Estado-Maior Alemão no período entre as Guerras Mundiais:

No decorrer dos anos vinte, o General von Seeckt ocupou-se da criação de


um exército alemão, treinando um corpo de oficiais de Estado-Maior para o
futuro e obrigando-os a abandonar conceitos ultrapassados da guerra
anterior e a pensar em termos de princípios inteiramente novos,
notadamente a interação e cooperação táticas de todas as armas –
artilharia, infantaria, cavalaria e até mesmo das esquadrilhas aéreas.

Com esse exemplo histórico, denota-se a tendência a valorizar oficiais bem


formados e bem instruídos. Corrobora-se a idéia de que o estado-nação necessita
possuir forças armadas com meios materiais no “estado da arte” e recursos
humanos preparados em grau de excelência para empregá-los de modo racional.
Atualmente, o Comandante de um Comando Singular ou Combinado e seu
Estado-Maior trabalham, nas Forças Armadas Brasileiras, em conjunto. Portanto,
seria puramente acadêmico, dentro de uma organização militar moderna, não os
considerar interdependentes. Nem um nem outro, atingiria os objetivos previstos
trabalhando independentemente. Desse conceito, advém a sinergia do processo
decisório. O comandante fornece o propósito, a direção e a autoridade. Os oficiais
de Estado-Maior concebem, no nível operacional, os detalhes técnicos, a
coordenação e as ações especializadas. Ao trabalharem conjuntamente, formam a
equipe que cumpre as metas previstas, por exemplo, nos Planos de Campanha.
Ao oficial de Estado-Maior da Aeronáutica cabe desempenhar as funções de
gerente da arte (ora denominado nível) operacional, de planejador militar, de
assessor de alto gabarito e de futuro estrategista (e também teórico) do poder aéreo.
Para executar as ações e as tarefas que lhe são atribuídas, o oficial de
Estado-Maior deve possuir qualidades, que o capacitem a agir como um assessor
eficiente do comandante em um dado campo de especialização. De modo geral,
cabem-lhe as responsabilidades de obter e fornecer informações fidedignas; estudar
problemas e apresentar linhas de ação; organizar recursos materiais e humanos;
preparar e transmitir diretrizes, planos e ordens; tomar as decisões cabíveis dentro
de sua esfera de atuação; coordenar esforços; controlar a ação planejada; etc.

201
MASON, David. Churchill. Rio de Janeiro: Renes, 1973, p. 10.
De fato, o comandante não pode produzir os detalhes pormenorizados, que
são identificados e atualizados pelo oficial de Estado-Maior encarregado de uma
área específica – que o comandante deve supervisionar e dirigir – em coordenação
com o chefe do Estado-Maior, que orienta os trabalhos de um Estado-Maior.
Assim sendo, o oficial de Estado-Maior identifica soluções para os problemas
advindos de órgãos e organizações subordinadas e colaterais. Cabe-lhe coordenar
ações e supervisionar a execução delas. Ele deve ser capaz de se comunicar, por
escrito e oralmente, com clareza, com concisão e com precisão. Portanto, deve
possuir habilidade para resolver “conflitos” por meio da coordenação pessoal ou dos
trabalhos de grupo que lhe caibam dirigir ou integrar.
Sob esse enfoque sistemático, as qualidades do oficial de Estado-Maior
podem ser enquadradas em duas categorias: pessoais e profissionais. A literatura,
os comandantes e os chefes de Estado-Maior não definem nenhum conjunto preciso
de qualidades pessoais consideradas ideais a um oficial de Estado-Maior. Porém,
uma lista completa de todos os traços de personalidade desejados em um oficial de
Estado-Maior deve incluir aqueles aprovados pela moderna sociedade.
No entanto, há qualidades desejáveis a um oficial de Estado-Maior e os
comandantes concordam que gostariam de observar atributos essenciais. Lealdade,
tato, iniciativa, integridade, atividade – atividade agressiva, exercer a função com
força de vontade e tenacidade – e flexibilidade denotam o anseio dos chefes e
perpassam uma das idéias centrais deste estudo. Que propriedades intelectuais os
oficiais de EM devem empenhar-se em obter visando à eficácia nas ações práticas?
As características pessoais julgadas mais importantes para os oficiais de
Estado-Maior executarem as tarefas que lhe são atribuídas, podem ser identificadas,
por exemplo, nos dizeres do primeiro comandante da Air University, General Muir
Fairchild202, que afirmou, com sapiência e visão prospectiva:

Nós conhecemos certas características que o oficial de EM deverá ter


futuramente: seu pensamento deverá ser claro, vigoroso, objetivo,
independente e de escala global [...] Ele deve ter a coragem e a curiosidade
intelectual para tentar novas coisas e novos métodos. Precisa precaver-se
contra a certeza de que aprendeu todas as respostas para a guerra futura,
não aceitar o caminho fácil das respostas do passado, ao invés do caminho
muito mais difícil de desencavá-las no futuro.

202
Universidade da Força Aérea. Estado-Maior fundamentos. Rio de Janeiro, 2001, p. 8.
Em complemento a esses seis traços de personalidade, faz-se necessário
que o oficial de Estado-Maior desenvolva certas qualificações profissionais. Durante
a vida militar, somam-se conhecimentos e, com o decorrer do tempo, as
responsabilidades técnicas e administrativas aumentam no transcurso da carreira.
Normalmente, o oficial se especializa em um setor com maior profundidade.
A maneira como um oficial de Estado-Maior desincumbe-se da missão que
lhe é afeta depende, sobremaneira, de conhecimentos profissionais. Esses podem
ser ampliados por intermédio do estudo, de pesquisas, de cursos e de consultas a
especialistas ou àqueles que vivam ou tenham passado pelos mesmos problemas.
Ao se aperfeiçoar em determinada especialidade, o oficial de Estado-Maior
deve apreender as teorias, conhecer as doutrinas e saber como relacionar o trabalho
técnico-profissional203 à missão do comando. Essa missão sempre tem uma tarefa e
um propósito e pode estar contida numa diretriz de um escalão superior, a qual deve
ser compreendida pelo oficial de Estado-Maior e traduzida aos seus subordinados.
Em virtude de modificações constantes no cenário enfrentado por uma
moderna força aérea, o oficial de Estado-Maior deve ter habilidades pessoais e
competências profissionais intrínsecas às tarefas que lhe são inerentes. Esse oficial
deve ser capaz de se adaptar a bruscas mudanças de condições no contemporâneo
contexto internacional de uma “Sociedade Anárquica”, deve possuir o discernimento
para aceitar novos métodos de trabalho e de organização e ter o senso crítico para
se harmonizar a uma contemporânea gestão de processos.
O oficial de Estado-Maior deve estar atento para a necessidade de observar,
orientar-se, decidir e solucionar com ações os problemas mais rapidamente do que
seu oponente. Um oficial deve ser analisado por possuir integridade pessoal e
profissional. Quando apresenta a solução de um problema, esta deve cobrir todos os
aspectos a considerar e mostrar como foi resolvida a questão por intermédio de um
raciocínio lógico e imparcial. Se convencido de que essa conclusão é melhor, tem a
obrigação de defender seu ponto de vista até que o comandante decida. Entretanto,
deverá executar a decisão seja qual for a solução escolhida pelo comandante.
Da mesma forma, o oficial deve ajustar-se às contingências decorrentes das
prováveis mudanças de situação, do evidente “atrito” na guerra, da incerteza – a

203
Cf com o pensamento expresso em: HUNTINGTON, Samuel Phillips. O soldado e o estado: teoria
e política das relações entre civis e militares. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1996, passim.
“névoa” da guerra – com relação às possíveis decisões do potencial adversário204.
Na execução dessas operações militares, faz-se mister providências essenciais,
como o bom preparo das forças armadas, que assegurem uma maior probabilidade
de êxito.

2.3 A EDUCAÇÃO MILITAR PROFISSIONAL

Educar é tirar de dentro, a alma, o ser. Jorge Trevisol.

Os atributos pessoais de um oficial de Estado-Maior decorrem de fatores que,


muitas vezes, fogem da alçada do comandante. No entanto, as características de
cunho profissional emergem sob a égide da capacidade técnica, do desenvolvimento
de recursos humanos, da bagagem cultural e, a priori, da formação educacional.
Por sua vez, educação de qualidade gera informação sólida, que produz
conhecimento, o qual, conseqüentemente, redunda em poder. No caso concreto
deste estudo, deduz-se que se trata do Poder Militar e, em especial, o Aeroespacial.
Advogar sobre a importância da educação torna-se, às vezes, pleonástico.
Para Rohden205, “‘educar’ vem do verbo latino educare [...] quer dizer ‘eduzir’;
tirar de dentro; despertar no homem os elementos positivos que nele se achavam
dormentes; conduzir para fora; atualizar o que já existe na natureza do educando”.
A natureza específica da Educação Militar a torna, por si só, sui generis.
Segundo Lorenz∗, a Educação Militar tem uma essência: “No cerne, a Educação
Militar [...] não difere significativamente do sistema civil [...] Não obstante, difere da
que existe em numerosos campos acadêmicos por um certo número de modos”206.
A substância da Educação Militar supracitada permanece válida para outros
países, inclusive para as Forças Armadas do Brasil, pois de acordo com Lorenz207:

204
O adversário ou inimigo pode ser entendido como um oponente racional, ou seja, um ente humano
(individual ou coletivo) que busca, incessantemente, se opor ao inimigo e derrotá-lo por intermédio
de meios (materiais e humanos), de métodos, de técnicas e de procedimentos.
205
ROHDEN, Huberto. Novos rumos para a educação. São Paulo: Martin Claret, 2005, p.18.
O Tenente-General Stephen Lorenz está exercendo, atualmente, o cargo de Comandante da Air


University, da USAF, em Maxwell Air Force Base, Alabama. Teve artigo publicado na ASPJ, em
junho de 2007, sob o título de “Transforming Air Force Education for the Long War and Beyond”.
206
LORENZ, Stephen R.. Transformar a educação da Força Aérea para a longa guerra e mais
além. Air & Space Power Journal, 3. trim. 2007, p. 8-9.
207
Ibidem, p. 9.
Primeiro [...] apenas um punhado de escolas das Forças Singulares ou
combinadas ensinam a arte e a ciência militar. Restringindo ainda mais, só
escolas associadas a certas Forças Singulares possuem corpos de
professores competentes no conhecimento de domínios específicos da
guerra. Assim, só temos uma escola superior de guerra aérea [...] Uma
segunda diferença entre as escolas militares e a maioria das escolas civis
envolve a distinção entre pesquisa pura e pesquisa aplicada [...] Uma
terceira diferença envolve a urgência [...] Uma quarta diferença diz respeito
à necessidade de educar uma porção mais ampla de nossa força de
trabalho. Na guerra moderna, especialmente em época de mudança rápida,
a educação age como um maciço multiplicador de poder. (grifo nosso)

A idéia prospectiva demonstrada pelas palavras do General Lorenz denotam


a visão da Instituição United States Air Force (USAF) e a mentalidade como a USAF
enxerga a Educação Militar Profissional (EMP), a qual deveria ser vinculada ao meio
acadêmico civil, pois como afirma Lorenz208: “no modo ocidental de fazer a guerra
sempre houve uma íntima relação entre guerreiros e acadêmicos”.
No que tange a essa troca de idéias e de conhecimentos nas relações civis-
militares, pode-se citar o outro exemplo pertinente do célebre Samuel Phillips
Huntington, cientista político e professor da Harvard University, cujo livro The Soldier
and the State209 enfatiza a necessidade de convivência harmônica entre esses dois
estamentos pertencentes a toda e qualquer forma de estratificação social.
Na esfera da Defesa Nacional no Brasil, há um exemplo pioneiro entre
militares e acadêmicos, que se coaduna com os pensamentos de Lorenz e as
palavras de Huntington, o qual reputa de suma importância o intercâmbio civil-militar.
Recentemente, iniciou-se, no Brasil, com esforço e dedicação, um intercâmbio
entre a Universidade (o meio acadêmico civil) e as Forças Armadas, principalmente,
por iniciativa do Ministério da Defesa, em parceria com o Ministério da Educação, em
virtude do denominado Projeto Pró-Defesa, que agrega valor por amalgamar as
experiências dos militares ao conhecimento teórico dos acadêmicos.
O Tenente-General Lorenz demonstra possuir capacidade administrativa, pois
são os recursos humanos de uma organização que detêm o capital intelectual e
conformam o “elo mais forte da corrente”, desde que sejam bem formados e
educados com metodologias modernas de ensino e pelos melhores professores e
instrutores motivados e capacitados. Educar bem hoje pode vir a multiplicar poder.

208
LORENZ, op. cit., p. 8. Como exemplo, cita Alexandre “Magno” e seu preceptor Aristóteles.
209
HUNTINGTON, Samuel Phillips. O soldado e o estado: teoria e política das relações entre
civis e militares. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1996, passim.
A carreira militar adquire nuanças que a diferem deveras de outras profissões.
Ao militar é dado o direito de tirar vidas, em combate, por ordem do estado e os
pressupostos fáticos e legais permeiam noções de Segurança e Defesa Nacional.
Portanto, a profissão militar exige que se ensinem as disciplinas afetas às
ações de combate, as quais já eram valorizadas por Jomini, Clausewitz e Douhet.
Segundo Clausewitz, a guerra seria tanto uma arte quanto uma ciência. Por
sua vez, Jomini210 se aproxima de Clausewitz ao valorizar o gênio do líder militar “o
gênio natural saberá [...] aplicar os princípios, tanto quanto o poderia fazer a teoria
mais bem estudada; mas uma teoria simples, desembaraçada de todo pedantismo”.
O teórico suíço asseverava não haver nada “mais apropriado para liquidar o gênio
natural e fazer triunfar o êrro do que essas teorias pedantes”.
Clausewitz211 enxergava que “o comandante militar não deve ser um erudito
pedante”, porém deveria possuir conhecimento da ciência (onde a teoria se insere) e
arte da guerra. Ambos os enfoques têm seus graus de importância estabelecidos no
contexto da guerra. O objeto da arte constitui-se na habilidade criativa, em
contrapartida, o objeto da ciência é o conhecimento.
Para Jomini212 “não se trata de saber muito, mas de saber bem; de saber
sobretudo o que se relaciona com a missão que nos é dada.”. E ensinava: “em todas
as artes, como em todas as situações da vida, o saber e o saber-fazer são duas
cousas totalmente diferentes”. Com a perfeita união destas duas, na concepção
teórica do barão suíço, ter-se-ia um homem elevado e se garantiria o sucesso total.
Clausewitz conceituava a guerra como um fenômeno político e social.
Ademais, reconhecia a importância de se elaborar e se analisar toda e qualquer
teoria de guerra sempre inserida no âmbito da Teoria das Ciências Sociais e, da
mesma forma, da Teoria Política. O general prussiano vislumbrava a necessidade de
se analisar o fenômeno, sob esses dois ângulos, para que uma teoria de guerra
pudesse ser validada e aproximar-se da realidade fática.
Para Clausewitz, a guerra seria uma dialética de vontades (antagonismo
mútuo) e violência pura. Dois oponentes se enfrentam e ambos colimam a vitória, a
qual, exige o emprego violento do poder militar e, conseqüentemente, ocorrem
perdas de vidas humanas. As palavras com as quais Clausewitz213 quis salientar o

210
JOMINI, 1949, p. 47. Jomini escreveu o original francês do Précis de l’Art da la Guerre em 1838.
211
HOWARD, Michael. Clausewitz. New York: Oxford University Press, 1985, p. 23.
212
JOMINI, 1949, p. 48. O Précis foi traduzido para o Inglês como Summary of the Art of War.
213
CLAUSEWITZ, 1996, p. 114. Cf. nota citada no capítulo anterior.
valor da teoria no campo de batalha, lembram a magnificência do conhecimento
teórico sob quaisquer condições em comparação à experiência puramente empírica.
Pois a experiência é diferenciada entre indivíduos, entretanto, a teoria tem caráter
unívoco e permanece como fundamento à prática de toda e qualquer profissão.
Douhet214 denota uma relação de importância existente entre a Educação
Militar Profissional e a doutrina militar de emprego:

A Instituição, que eu delineei, produziria homens capazes de ensinar a nova


doutrina de guerra numa Escola da Guerra Real, que prepararia os oficiais
de Estado-Maior, assistentes do chefe do EM, em tempo de paz, e do
Comandante Supremo das Forças Armadas, em tempo de guerra.

Portanto, Giulio Douhet faz alusão ao Corpo Docente de uma Escola de


Guerra idealizada por ele há quase cem anos. Caberia a essa Instituição de Ensino,
a obrigação de formar e preparar os futuros instrutores das Escolas de Estado-Maior
das três Forças Armadas da Itália do início do século passado.
Para o general italiano, deveria ser feita uma seleção rigorosa, entre todos os
oficiais das três forças armadas italianas, para se obter uma casta de instrutores. Um
dos objetivos da implantação dessa “Academia de Guerra”, segundo Douhet, seria
encontrar uma solução ao basilar problema da formação acadêmico-profissional
militar, especialmente, da preparação de oficiais de Estado-Maior.
Segundo Douhet215, o ensino tem papel concreto na doutrina militar:

Não seria possível estabelecer de imediato uma escola, de Guerra Geral,


porque faltam professores e doutrina. [...] estes teriam de ser preparados;
eu penso que isso poderia ser feito constituindo-se uma Academia de
Guerra, em que oficiais das três Forças Armadas, escolhidos entre os mais
inteligentes, cultos e esclarecidos, poderiam estudar em conjunto estes
novos problemas vitais. Nesta Academia, as idéias poderiam ser trocadas,
aprovadas ou rejeitadas e não há dúvida de que [...] um acordo poderia ser
finalmente alcançado. E deste acordo surgiria uma nova doutrina que,
devido a sua origem, teria poucas dificuldades em obter aceitação.

Neste trabalho, as idéias de Douhet foram fundamentais à compreensão de


uma ótica relacional entre a Educação Militar Profissional, fornecida em grau de
excelência, e os pré-requisitos à formação de uma plêiade de oficiais de Estado-
Maior. O embasamento teórico fornecido pelas concepções douhetianas aludem à

214
DOUHET, 1988, p. 272.
215
DOUHET, 1988, p. 272.
importância dada pelo general italiano à organização de uma “Escola de Guerra
Real”216 com homens qualificados e cultos.
Quando Jomini217 alude às doze capitais condições contribuintes para se
poder formar um “exército perfeito”, o “intérprete de Napoleão” cita o Estado-Maior
em duas: “Uma boa formação. Boa instrução de combate, de estado-maior [...] Um
estado-maior geral capaz de bem aperfeiçoar esses elementos e organizado para
aperfeiçoar a instrução teórica e prática de seus oficiais”.
Segundo Jomini218, “um dos pontos mais importantes da política militar de um
estado é o que concerne à natureza de suas instituições militares”. Para o teórico,
“nenhuma dessas doze condições pode ser negligenciada sem grave
inconveniente”. Com fundamento no raciocínio de Jomini, conclui-se que uma
apropriada educação militar, para oficiais de estado-maior, não pode ser descurada.
Os recursos humanos de uma moderna força armada integram seu capital
humano. No Brasil, os oficiais de Estado-Maior foram vislumbrados como capital
intelectual e percebidos como elementos imprescindíveis à arma aérea pelo
Marechal Hermes da Fonseca219, então Ministro da Guerra, durante a Guerra do
Contestado, e pelo primeiro Ministro da Aeronáutica, Joaquim Pedro Salgado
Filho220.
As questões de comando e liderança tornam-se relevantes na medida em que
todos os oficiais-generais da Força Aérea Brasileira realizam o Curso de Comando e
Estado-Maior e foram, com certeza, oficiais de Estado-Maior outrora.
Na guerra contemporânea, a imagem do líder audacioso, cuja liderança se
perfaz por uma exposição ininterrupta ao risco da própria vida, foi trocada pelo
comandante intelectualmente proeminente, cuja ousadia física foi trocada pela
audácia do pensamento teórico-estratégico, pelo conhecimento técnico-profissional,
pela capacidade na ciência e na arte da guerra e saber sólido das situações vividas.
Portanto, o processo de formação e de escolha dos comandantes militares
constitui-se num dos pontos cruciais para o sucesso de qualquer força armada.
216
Ibid.
217
JOMINI, 1949, p. 58-59. Para o Português, o Précis se traduziu como “Epítome da Arte da
Guerra”.
218
Ibidem.
219
CARVALHO, L. P. Macedo. Hermes – o pai do exército moderno. Revista do Exército Brasileiro.
Rio de Janeiro, v. 140, 2. quad., 2003, p. 10. Vid, também, CALAZA, Claudio Passos. Aviação no
Contestado: investigação e análise de um emprego militar inédito. 2007. 181f. Dissertação
(Mestrado em Ciências Aeroespaciais) - Universidade da Força Aérea, Rio de Janeiro, 2007, p. 30.
220
SALGADO Maiza; CORRÊA, Edison. Salgado Filho, primeiro Ministro da Aeronáutica do Brasil.
Rio de Janeiro: Adler, 2007, p. 179. Q.v. citação feita neste capítulo sobre o ex-Ministro.
A liderança é essencial ao combate. No entanto, o combatente moderno tem
sua confiança dividida entre o projetista de um equipamento e o comandante que
determinou o emprego. Hoje, os líderes devem, não apenas determinar o uso, mas
partilhar das incertezas técnicas advindas desse emprego, demonstrar mais
inteligência e conhecimento que ímpeto, melhores resultados com menores baixas e,
sobretudo, saber obter vantagens em situações estratégicas desfavoráveis.
Dessa forma, conhecimento teórico, saberes técnico-profissionais e
capacidade intelectual são critérios críticos ao líder militar hodierno. Além disso, a
cultura geral deve ser um critério obrigatório ao perfil cultural do oficial de EM.
O historiador militar John Keegan221 oferece quatro exemplos de
comandantes, em épocas diferentes, que possuíam díspares estilos liderança. Herói,
líder arrojado, corajoso e brutal era Alexandre; Wellington o anti-herói, mas chefe
militar competente; Grant o líder sem heroísmo, mas prezado; e Hitler o falso herói.
Hoje em dia, o comandante militar necessita, mais do que nunca, de uma
equipe de assessores de alto gabarito, visando à consecução das atribuições que
lhe são cabíveis. Caso haja forças armadas empregadas, em operações
combinadas, sob a égide de um comando combinado, a situação se complica
exponencialmente, em virtude do número de variáveis que interagem, das
idiossincrasias dos indivíduos e das nuanças organizacionais de cada força.
Os fundamentais princípios da administração pública estão estabelecidos em
lei e devem ser observados nas atividades da administração federal como diretrizes:
o planejamento; a coordenação; a descentralização; a delegação de competência; e
o controle. O Comando da Aeronáutica é um órgão pertencente à administração
federal. Ao reformular sua estrutura e ao otimizar seu funcionamento, tem o máximo
empenho em aplicar com objetividade e com profundidade esses princípios,
motivadores da modernidade e do aperfeiçoamento da sua máquina administrativa.
A realização desse propósito exige, por parte dos comandos, chefias e
direções, a apreensão adequada da aplicação desses princípios, no trato dos
problemas afetos ao Comando da Aeronáutica, e, sobretudo, que essa compreensão
seja perfeitamente assimilada por todos os RH dos diversos setores da Aeronáutica.
Por outro lado, há a complexidade e as nuanças das operações bélicas que
não permitem ao comandante militar, além de decidir, criar, orientar e instruir -
prerrogativas que lhe são inerentes – a possibilidade de globalizar, coordenar e
221
KEEGAN, John. A máscara do comando. Rio de Janeiro: Bibliex, 1999, passim.
reintegrar ações sem o auxílio nem a assistência de elementos técnico-profissionais,
adstritos ao comando, que lhe prestem assessoramento especializado e contínuo.
Esses assessores são os oficiais de Estado-Maior do comandante.
Essencialmente, trata-se da equipe setorizada, de alto escalão, responsável
por funções específicas e tem o atributo de assessorar o líder. Fornece subsídios e
elementos técnicos necessários à decisão a ser tomada pelo comandante. Cabe-lhe
a execução de tarefas específicas alinhadas com essa decisão do comando.
A atividade de assessorar tem caráter complexo e constitui um processo
completo e integral no trato de problemas; deve conduzir a um planejamento
adequado que permita a execução descentralizada, a coordenação e o controle das
atividades. Portanto, a ação do oficial de staff exige conhecimento e senso comum.
No âmbito do Comando da Aeronáutica, o assessoramento adequado deve
estar presente, também, em tempo de paz para a solução de problemas. Abrange as
fases de Elaboração da Decisão, onde se formula e se estuda o problema, além
disso, há a tomada da decisão; de Formalização da Decisão, na qual se redigem os
documentos e se desencadeia a ação; e a de Acompanhamento da Execução,
quando se faz a supervisão e se processam os reajustes e as ações corretivas.
A formulação do problema marca o início da fase de elaboração da decisão.
O problema pode surgir de várias circunstâncias: da antevisão ou da observação de
um fato; da necessidade de implementar uma política; do cumprimento de uma
missão recebida ou de uma determinação do comandante militar; ou, finalmente,
como decorrência normal do trabalho criador de um Estado-Maior (Staff). O
comandante militar deve reconhecer a existência do problema para que ele possa
ser tratado com objetividade pela equipe de assessores, após o estudo adequado.
O estudo do problema pode ter várias denominações e desenvolver-se
segundo aspectos particulares: o estudo e exame da situação, a pesquisa, o
diagnóstico preliminar ou estudo de Estado-Maior. O essencial não é a denominação
nem a forma, mas o mérito de constituir-se em uma análise conscienciosa de um
problema, realizada segundo técnica apropriada, levando em conta todos os fatores
com ele relacionados, respeitando os critérios estabelecidos e que inclua a
apreciação de diversas formas de solução. Seu propósito é fornecer ao comandante,
chefe ou diretor um quadro real do estudo que, partindo da delimitação exata do
problema, apresenta diferentes soluções como alternativas válidas de opção, mas
recomendando a considerada mais vantajosa em termos de prazo, recursos e riscos.
Por conseguinte, o estudo do problema constitui um planejamento, e, como
tal, exerce uma função globalizante ao evitar que fatores sejam omitidos ou, ainda,
que fatos não assinalados interfiram na decisão ou na sua execução. É atribuição da
equipe de assessores garantir o caráter sinérgico e integrador do planejamento por
um trabalho judicioso de levantamento e de coleta de dados.
O judicioso trabalho de equipe de um Estado-Maior, tanto de um Comando
combinado como de uma Força Aérea Componente, perpassa a função de
assessoria e o mister entendimento global das questões afetas ao nível operacional
e tático de decisão da guerra. Homens escolhidos criteriosamente, por Comandantes
investidos de competência para assumirem esse cargo, devem compô-lo. Esses
recursos humanos devem ser bem formados e constantemente aperfeiçoados com
técnicas modernas de planejamento operacional.

2.4 EDUCAÇÃO MILITAR PROFISSIONAL NA AERONÁUTICA BRASILEIRA

Apenas no século XX a aprendizagem passou a ser investigada


efetivamente. Drª. Hilda Alevato.

O Sistema de Ensino Militar Aeronáutico Brasileiro vem-se adaptando aos


ditames legais e buscando o aperfeiçoamento de seus recursos humanos, desde a
criação do Ministério da Aeronáutica em 1941, por meio da educação de excelência.
O exemplo pertinente da visão estratégica do primeiro Ministro da
Aeronáutica, o Doutor Joaquim Pedro Salgado Filho, vislumbrou a necessidade de
aprimorar as técnicas de aprendizagem nas escolas militares daquele Ministério.
O Ministro Salgado Filho sempre demonstrou preocupação com o Sistema de
Ensino da Aeronáutica em todos os níveis hierárquicos.
Ademais, criou o Estado-Maior da Aeronáutica (EMAER), “junto com o
222
Presidente Vargas” , e empossou o Brigadeiro-do-Ar Armando Trompowsky como
chefe do EMAER. Na área de educação, designou o, então Adido Militar Aeronáutico
nos EUA, Coronel Ararigboia, para visitar escolas militares da USAF223.
Em seis de março de 1944, o Ministro Salgado Filho224 afirmou:

222
SALGADO Maiza; CORRÊA, Edison. Salgado Filho, primeiro Ministro da Aeronáutica do Brasil.
Rio de Janeiro: Adler, 2007, p. 55.
223
Ibid., p. 118-119.
224
Ibidem, p. 179.
Recebi parecer do Tenente Coronel Aviador Adil de Oliveira sobre a
necessidade da urgente formação de cursos de Estado Maior para Oficiais.
Em anexo, parecer do Major Brigadeiro Trompowsky, sobre o mesmo
assunto. Sempre achei de fundamental importância serem mantidos
quadros com oficias formados em escolas de Comando e Estado Maior
(sic) Estado-Maior. Constituem esses quadros a espinha dorsal de
qualquer força militar que se preze. (grifos nossos).

Atualmente, a Força Aérea Brasileira, componente armado do Poder


Aeroespacial, deve estar permanentemente preparada para o emprego (letal e não-
letal) simulado (em operações combinadas e em exercícios com outras forças
aéreas) e para ser empregada no caso real de combate.
Ademais, a Força Aérea Brasileira deve ser dotada, operacionalmente, do
poder bélico adequado aos cenários de guerra prováveis, em face das ameaças
(inclusive as difusas) e das hipóteses de emprego listadas na Estratégia Militar de
Defesa, a fim de cumprir a missão que lhe foi atribuída com eficácia.
Há atividades de planejamento estratégico, no Comando da Aeronáutica, que
visam ao preparo do contingente da FAB. O capital objetivo dessas ações é o
aperfeiçoamento do componente humano do Poder Aeroespacial para o
cumprimento de sua destinação constitucional: “a defesa da Pátria, a garantia dos
poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer um destes, da lei e da
ordem”225.
Em face das necessidades impendidas pela guerra hodierna, a Força Aérea
Brasileira, tem, como uma de suas missões, a de formar adequadamente recursos
humanos, que atuarão na defesa da sociedade e deverão proteger o Brasil,
impedindo o uso do espaço aéreo brasileiro e do espaço exterior, por ente alheio,
para a prática de atos hostis ou contrários aos interesses nacionais226.
Há também as missões de “organizar os efetivos, aparelhar e adestrar a
Força Aérea Brasileira; e a de incentivar e realizar pesquisa e desenvolvimento
relacionados com as atividades aeroespaciais”227. Ademais, tem a obrigação de

225
BRASIL, 1988, art. 142.
226
Disponível em: <http://www.fab.mil.br/portal/capa/index.php?page=missao>. Acesso em: 29 maio
2008. Definem-se as atribuições do Comando da Aeronáutica e a missão-síntese da Aeronáutica.
227
BRASIL. Comando da Aeronáutica. Plano Setorial de Ensino (DMA 37-9), aprovada pela Portaria
DEPENS Nº 039/DE-1, de 23 de janeiro de 1997. A sigla DMA significa Diretriz do Ministério da
Aeronáutica. Hoje, a sigla passou a ser DCA após a mudança de Ministério para Comando da
Aeronáutica. O documento trata, especificamente, do Plano Setorial de Ensino do Departamento
de Ensino da Aeronáutica.
ensinar conhecimentos teóricos aos oficiais-superiores (foco desta pesquisa), a fim
de entenderem o valor do poder aéreo no bojo das relações políticas, econômicas,
sociais e/ou militares com outros países e formularem sólidas doutrinas de emprego.
De acordo com a citada Diretriz, os objetivos políticos de ensino da
Aeronáutica se constituiriam na qualificação de profissionais para o Ministério (hoje
nomeado de Comando) da Aeronáutica; a elevação do nível cultural e profissional
dos recursos humanos do Comando da Aeronáutica; a pesquisa de conhecimentos
que contribuam para o desenvolvimento do Ensino no Comando da Aeronáutica; e o
aperfeiçoamento do Processo de Ensino-Aprendizagem.
No dia vinte e oito de fevereiro do corrente ano, em razão da Aula Inaugural
do Comandante da Aeronáutica, Excelentíssimo Senhor Tenente-Brigadeiro-do-Ar
Juniti Saito, em um determinado momento daquela mensagem de início do ano
letivo, tratou da Formação, do Aperfeiçoamento e da pós-Formação na Aeronáutica:

No seu dia-a-dia e, em última análise, numa situação de conflito, o


profissional da Aeronáutica lida com vetores e equipamentos de finas e
sensíveis tecnologias. Eis por que sua preparação deve ser primorosa,
provendo sólida base cultural, ampliando o domínio de idiomas,
aprofundando conhecimentos de alta complexidade e proporcionando-
lhe meios para absorver continuamente novas capacidades, cujo propósito
é permitir atuação segura e com maestria, em atividades que incorporam
sofisticados avanços e altas responsabilidades. (grifos nossos)

A comprovação das metas da Aeronáutica referentes à preparação do efetivo


daquele Comando pode exigir que se recorra à Política Militar Aeronáutica que dita a
necessidade de “recursos humanos especializados em atividades relacionadas ao
emprego aeroespacial […]”228. Na análoga diretriz anterior, o segundo objetivo da
Aeronáutica foi estabelecido pelo próprio Ministro da época; havia a capacitação, a
valorização e a adequação dos recursos humanos do Comando da Aeronáutica.
Ao se analisar o Plano de Metas da Aeronáutica (2007-2010), depara-se com
as propostas de aprimorar o apoio aos militares e aos civis do Comando da
Aeronáutica e dar continuidade à modernização dos sistemas de formação e de pós-
formação de Recursos Humanos. Nessa última, englobam-se o Mestrado e o
Doutorado da UNIFA; o estudo de idiomas no currículo da Academia da Força
Aérea; a sólida base cultural; e aprofundar conhecimentos de alta complexidade.

228
BRASIL. Comando da Aeronáutica. Política Militar Aeronáutica. DCA 14-5, 2008, p. 25.
Percebe-se que o Sistema de Ensino da Aeronáutica busca se desenvolver e
se aprimorar a cada ano. Todo o investimento na educação tenta acompanhar o
desenvolvimento que ocorre, aceleradamente, no mundo globalizado. Esse mundo
da “Globalização” faz exigências, que devem ser cumpridas, senão acompanhá-lo
torna-se inepto. Ainda que, por vezes, não se perceba uma questão política ou
econômica embutida nessas reivindicações. Pode-se questionar se o Sistema de
Ensino da Aeronáutica acompanha as inovações tecnológicas e valoriza a pesquisa
científica em questões atuais afetas à atividade-fim da FAB: o Poder Aeroespacial.
Em virtude da estatura político-estratégica brasileira, pode-se vislumbrar um
futuro promissor para o nosso país, pari e passo, com os países centrais.
Kissinger229 afirmou sobre o futuro do Brasil, há cerca de trinta anos, ao dirigir a
palavra ao presidente do Comitê da Câmara de Assuntos Estrangeiros, nos
seguintes termos: “o Brasil se está tornando uma potência mundial e o Brasil não
necessita de nossa aprovação para se tornar uma grande potência, e é nossa
obrigação, na conduta da política externa, lidar com as realidades que existem”. O
primeiro passo pode ser o de educar líderes militares, com base em sólidos (e
relevantes) conceitos acerca do poder aéreo, de modo que possam entender, no
escopo mais amplo da Segurança e da Defesa Nacional, a influência desse poder
militar como ferramenta política.
Pode ser uma evidência que haja teorias do poder aéreo, conjugáveis entre
si, para formarem um arcabouço sólido à Doutrina Militar da Força Aérea Brasileira.
Permanecer atento aos ensinamentos advindos de Teorias de Guerra, da História
Militar e de Doutrinas de outras nações é dever. Entretanto, copiar doutrina militar de
emprego ou importá-la simplesmente, porque foi experimentada em outros casos
concretos, pode ser o mesmo que assinar um precoce atestado de óbito.
Aceder à idéia trazida à baila por Santos230 pode-se constituir em consenso
intelectual, pois “nenhum país se desenvolve sobre paradigma exógeno”. Assim, não
há modelo de desenvolvimento de outrem que se possa perfeitamente adaptar à
realidade presente. Não se pode julgar factível importar doutrina militar, para se
aplicar no contexto vivido em sociedade diversa àquela em que surgiu. Todavia,
estudar teorias (pregressas e atuais) é sempre válido e independe da origem.

229 st
KISSINGER, Henry. Does America need a foreign policy? Toward a diplomacy for 21 century.
New York: Touchstone - Simon & Schuster, 2002, p. 102.
230
SANTOS, Jorge Calvario dos. Dimensões da globalização. Rio de Janeiro: CEBRES, 2000, p. 359.
Dessa forma, torna-se sábio desenvolver formas próprias de pensamento
militar e consubstanciá-las em mentes e em corações, visto que se não há teorias do
poder aéreo que nos sejam impecavelmente adequadas, então se deve criá-las.
Enfim, qual seria o “elo mais forte” da Instituição Força Aérea Brasileira,
senão os “Homens Aeroespaciais” que a compõem. No âmbito de planejamento
militar de mais alto gabarito e de assessoria eficaz, essa corrente personifica-se no
oficial de Estado-Maior da Aeronáutica, no alvorecer deste século XXI, desde que
formado com uma Educação Militar Profissional em grau de excelência. E essa
Instituição Militar poderá ser tão tênue quanto for seu elo mais inepto.
Prosseguir neste estudo sobre educação requer demonstrar o caráter
investigatório do trabalho, sem deixar uma lacuna insubstituível no processo
argumentativo e lógico desta pesquisa. A inquietação que ensejou este estudo
ambicionava mensurar o nível de domínio, em termos de conhecimento sobre as
teorias do poder aéreo, apresentado pelos oficiais da Aeronáutica com o Curso de
Comando e Estado-Maior. Para se medir a demonstrada quantidade de
conhecimentos desses oficiais, escolheu-se um método adequado. Além disso,
técnicas, ferramentas e procedimentos foram observados durante esta investigação.
3 METODOLOGIA DA PESQUISA

Nem o talento, por maior que seja, poderá dispensar-se de qualquer


método; nem o método, por mais perfeito que seja, poderá suprir o talento.
Contudo, se for preciso escolher, deverá preferir-se um pouco menos de
talento com um pouco mais de método. René Descartes (1596-1650).

Os autores Alves-Mazzotti e Gewandsznajder231 discutem a aplicação do


método científico nas ciências sociais e fazem comentários acerca da pesquisa
exploratória, os quais confirmam as abordagens teórica, doutrinária militar, política e
educacional deste estudo, que se perfez de modo qualitativo e quantitativo:

A discussão da cientificidade deve ser entendida em diferentes níveis.


Parece não haver muitas dúvidas de que, considerado globalmente, um
campo de conhecimentos que não consiga produzir pelo menos algumas
teorias amplamente aceitas sobre os fenômenos que compõem esse
campo, dificilmente poderia aspirar à denominação de ciência. Quando,
porém, se trata de avaliar a cientificidade de uma pesquisa específica, o
critério referente à capacidade de teorização tem de ser flexibilizado, uma
vez que esta depende do conhecimento já existente sobre o problema
pesquisado. Em áreas “virgens”, estudos exploratórios, descritivos de
um fenômeno até então desconhecido podem trazer contribuições
importantes para o desenvolvimento de uma dada área do
conhecimento, constituindo um primeiro passo necessário a futuras
tentativas de explicação. (grifos nossos)

Portando desse ensinamento metodológico, advém a convicção de que este


estudo se traduz em um trabalho inédito no âmbito do Sistema de Ensino Militar de
pós-formação do Comando da Aeronáutica. Ademais, essa afirmação se apresenta
válida, salvo melhor juízo, para as demais Forças Armadas do Brasil.

231
ALVES-MAZZOTI, Alda J.; GEWANDSZNAJDER, F. O método nas ciências naturais e sociais:
pesquisa quantitativa e qualitativa. 2. ed., São Paulo: Pioneira Thomsom Learning, 1999, p.127.
Entretanto, o estudo retratou a relação substrato teórico-conceitual versus
atividade prática-empírica. Assim sendo, os resultados obtidos podem ser úteis,
pertinentes e aplicáveis a qualquer área do conhecimento apesar do trabalho estar
delimitado somente ao âmbito da Força Aérea Brasileira.
No que se refere à nomenclatura existente na literatura perquirida, o desenho
de pesquisa delineado neste trabalho apresentou peculiaridades que podem ser
classificadas, definidas e distribuídas por classes, por tipos e por meios.

3.1 CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

De modo genérico, a metodologia utilizada neste trabalho respaldou-se no


livro Guide Method for Students of Political Science de Stephen Van Evera.
Referenciou-se, também, na obra de Michel Beaud232. Além disso, usou-se a
formalística preconizada no Manual para Apresentação de Trabalhos Monográficos
de Conclusão de Curso da EdUFF e nas normas da ABNT. O estudo seguiu o
modelo esquemático preconizado por Gomes233 em “Construindo soluções
acadêmicas” e empregou, como referência para a classificação, as metodologias
propostas por Antonio Carlos Gil234 e por Sylvia Constant Vergara235.
Quanto aos fins, a pesquisa pode ser classificada como exploratória, visto
que concedeu uma visão geral do grau de conhecimento dos oficiais de Estado-
Maior sobre as concepções teóricas acerca do fenômeno do poder aéreo e visou à
perquirição da importância do tema na formação educacional desses militares.
Por expor o estabelecimento de critérios para relacionar variáveis, efetuar um
levantamento situacional da formação educacional de recursos humanos, ao
comparar diferentes fenômenos observados nessa educação militar, e lidar com a
cultura organizacional da Força Aérea sobre teoria (especificamente, neste estudo,
as teorias do poder aéreo), o trabalho se constitui, também, em pesquisa descritiva.
Fizeram-se confrontações com defasagem temporal, entre as médias dos

232
Cf. BEAUD, Michel. Arte da tese: como preparar e redigir uma tese de mestrado, uma monografia
ou qualquer outro trabalho universitário. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002.
233
GOMES, Maria Paulina. Construindo soluções acadêmicas: monografias, dissertações e teses, do
projeto à defesa. 2. ed. rev. Rio de Janeiro: Universidade da Força Aérea, jan. 2007.
234
Cf. GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1987 e
Métodos e técnicas de pesquisa social. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1999.
235
VERGARA, Sylvia Constant. Projetos e relatórios de pesquisa em administração. São Paulo: Atlas,
2004. 96 p.
oficiais-alunos do Curso de 2008 e aqueles dos anos de 2005 a 2007, a fim de se
obterem resultados para embasar conclusões acerca da atualização de currículos e
da valoração de temáticas, por exemplo, estratégia militar e teorias do poder aéreo.
Considerou-se o estudo como descritivo, visto que da observação de
semelhanças e de diferenças entre diversos cursos de Comando e Estado-Maior,
obteve-se uma melhor compreensão da formação de recursos humanos na FAB.
Com esse método, puderam-se fazer comparações, a fim de se verificar similitudes e
de se explicar divergências entre os currículos do atual Curso de Comando e
Estado-Maior, dentro Sistema de Ensino Militar Aeronáutico, e os Cursos de outrora.
A comparação se justifica por dois intuitos. Primeiramente, para se efetuarem
confrontações do conhecimento demonstrado por oficiais de Estado-Maior da ativa
da FAB, formados pela Escola em 2005, 2006 e 2007, com os atuais oficiais-alunos.
Segundo, para se fazerem comparações entre o vigente Curso de Comando e
Estado-Maior e perfis diferentes desse mesmo Curso, que outrora possuía ênfases
em disciplinas afetas à estratégia militar, às teorias do poder aéreo e à doutrina.
O estudo foi uma pesquisa-participante, na qual houve proximidade com o
objeto de investigação. O autor foi observador-participante por quatro motivos:

1) O autor deste trabalho foi aluno do Curso de Comando e Estado-


Maior no ano de 2005. Naquele ano, esse pesquisador pôde efetuar registros
e anotações referentes ao tema desta pesquisa e efetuar, em suma, uma
judiciosa análise-testemunho do que se passou durante o Curso;

2) No Curso de Comando e Estado-Maior do ano passado (2007), o


pesquisador atuou na instrução como oficial-adjunto, durante o período de
duas semanas, na disciplina “Planejamento para o Preparo da Força Aérea”,
que envolve aulas expositivas e trabalhos de grupo. Na disciplina, os alunos
estudam o “Método de Planejamento Estratégico”, ministrado em uma carga
horária de oitenta e cinco tempos (de quarenta e cinco minutos cada um);

3) No Curso (CCEM) do ano de 2008, o pesquisador participou da


instrução, como instrutor-convidado, em disciplinas que envolvem aulas
expositivas (acerca de estratégia militar e das teorias do poder aéreo) e
trabalhos de grupo (exercícios de simulação de combate e pesquisas); e
4) No Curso de Estado-Maior de Defesa (CEMD)236 do ano de 2007,
atuou como aluno e observou a importância do oficial de Estado-Maior da
Aeronáutica deter conhecimentos mínimos acerca das concepções teóricas
dos pensadores do poder aéreo para cumprir suas tarefas com eficiência e
obter o convencimento dos oficiais de Marinha e do Exército Brasileiro quanto
ao dimensionamento coerente de emprego do poder aéreo. Esse oficial
representa um especialista em poder aéreo, no âmago de um Estado-Maior
Combinado, que se pressupõe ter adquirido suficientes noções teóricas para
poder interagir, de maneira sinérgica e com efetividade, para os propósitos
maiores do Curso: a elaboração de Plano de Campanha (simulando um
Comando Combinado) sob o enfoque de uma hipótese de emprego “real”
prevista na vigente Estratégia Militar de Defesa (MD51-M-03). O pesquisador
efetuou registros do desempenho como oficial de um Estado-Maior de
Comando Combinado e da interação com outros oficiais das Forças co-irmãs.

Além disso, a pesquisa foi aplicada, visto que se procurou esclarecer as


causas da situação atual do ensino no Curso de Comando e Estado-Maior.
Sobretudo, vislumbraram-se os efeitos práticos e imediatos produzidos na gestão de
conhecimento de recursos humanos, no âmbito da Força Aérea Brasileira, que
comporão Estados-Maiores na função de assessores de Comandantes.
O trabalho se perfez por um método aplicado, porque os prováveis
resultados da investigação científica poderão se constituir em aperfeiçoamentos
imediatos na Educação Profissional-Militar de oficiais-superiores e nos currículos de
cursos de pós-formação, em altos estudos militares, com aplicação mediata e
imediata na Escola de Comando e Estado-Maior das três forças armadas.
A pesquisa concretizada nas entrevistas com especialistas visou a enfatizar a
relevância do conhecimento teórico que deve ser adquirido e demonstrado por um
assessor de alto nível como seria o caso de um oficial de Estado-Maior. O
Comandante de um Comando Combinado de Teatro de Operações Terrestre ou

236
O principal objetivo do CEMD é aprimorar a capacidade operacional das forças armadas para o
cumprimento da sua missão. A fim de atingi-lo, as ações do EMD são dirigidas ao adequado
preparo de seus recursos humanos para comporem um Comando Combinado. A formação dos
estagiários do Curso de Estado-Maior de Defesa (é denominado, atualmente, de Curso de Estado-
Maior Combinado) assegura a aquisição dos conhecimentos necessários ao pleno exercício de
cargos nas seções de um Comando Combinado.
Marítimo deve ser um oficial-general da Força Terrestre ou Naval237. Portanto, esses
comandantes necessitam, no bojo do processo decisório, de assessoria concernente
ao eficaz emprego operacional do poder aéreo. Isso implica conhecimento da
doutrina de emprego da força aérea e de teorias do poder aéreo.
O assessor pertencente à Força Aérea Brasileira deve, por conseguinte,
possuir conhecimento teórico para embasar os raciocínios que fundamentam o
assessoramento de alto gabarito a ser prestado ao respectivo Comandante.
Ademais, esse embasamento teórico se relaciona, diretamente, com o
desempenho prático dos oficiais da força aérea que compõem um Estado-Maior.
Nas ações práticas que lhes são afetas, podem assumir as funções de chefes de
seção ou de adjuntos desses chefes quando for o caso.
Segundo Minayo238, “o princípio de união dos contrários abrange as
totalidades parciais e as totalidades fundamentais. Isso significa perceber que existe
uma relação dialética: [...] entre teoria e prática”.
Quanto aos meios de investigação e às fontes de informação disponíveis,
optou-se por elaborar, em face dos objetivos pretendidos, uma pesquisa
documental, bibliográfica e de campo.
No bojo da pesquisa bibliográfica, utilizaram-se fontes secundárias focadas
em obras literárias e artigos científicos de pensadores clássicos, modernos e
contemporâneos do poder aéreo. Ademais, usaram-se periódicos e revistas
indexadas para consulta a ensaios de autores expertos no assunto poder aéreo.
Os referenciais teóricos se fundamentaram em concepções teóricas de
clássicos (Douhet, Trenchard e Mitchell, da primeira geração antes da Segunda
Grande Guerra eclodir, e Slessor, Tedder e Seversky, como oriundos de uma
segunda geração de autores clássicos) e de contemporâneos (John Boyd, John
Warden III e Robert Pape). Visou-se solidificar a relação factual teoria-prática.
No que tange ao marco teórico sobre a coerção militar, o cientista político
estadunidense Robert Pape aparece como um acadêmico interessado pelo tema do
poder aéreo. A tese apresentada por Pape revela um interesse bastante recente,

237
Um oficial-general da Força Aérea Brasileira deve ser o Comandante do Comando de Defesa
Aeroespacial Brasileiro (COMDABRA). Todas as operações de Força Aérea, tanto as de Defesa
Aeroespacial, como as Aeroestratégicas, as Aerotáticas e as Especiais, podem ser executadas de
forma combinada. No entanto, raramente são levadas a efeito de forma não isolada, com exceção
do que ocorre no COMDABRA, de forma combinada e permanente, mesmo em um cenário de paz.
238
MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. São
Paulo: Hucitec; Rio de Janeiro: Abrasco, 1996, p. 71-73.
dentro da Academia, pelos assuntos afetos à arma aérea.
O pensamento teórico-filosófico de Clausewitz e suas concepções acerca da
política e da guerra fundamentaram o presente estudo em termos conceituais.
Sobretudo, porque Clausewitz concedia relevância à aquisição de conhecimentos
teóricos para ordenar e esclarecer a aplicação prática no campo de batalha.
Fez-se pesquisa documental, que visou à busca e à coleta de informações
em documentos, em relatórios e em materiais de fontes primárias. Para o desenho
de pesquisa se operacionalizar, buscaram-se dados na leitura de documentos
normativos e doutrinários, concernentes ao Ministério da Defesa, ao Comando da
Aeronáutica e às Forças Armadas brasileiras, além de manuais adstritos,
exclusivamente, ao manuseio interno de instituições do Sistema de Ensino Militar.
A pesquisa documental foi fundamentada em materiais que não haviam
recebido, até o presente momento, qualquer tratamento analítico como, por exemplo,
o Currículo Mínimo (ICA 37-22), o Plano de Unidades Didáticas e os Planos de
Trabalho Escolar (planos de aula) do vigente Curso de Comando e Estado-Maior.
Ao se analisar a ementa de disciplinas do atual Currículo Mínimo do Curso de
Comando e Estado-Maior, pôde-se observar se houve ênfase, ou não, em tópicos
que pudessem ser classificados na Educação Profissional-Militar e, no caso
específico deste estudo, no ensinamento e na discussão das teorias do poder aéreo.
A pesquisa se baseou em outros documentos que, mesmo tratados
analiticamente, não haviam oferecido, ainda, contribuições de reforço como, por
exemplo, monografias e dissertações de outros pesquisadores da Aeronáutica
acerca da mesma temática central deste trabalho: Educação Profissional-Militar.
Para se efetivar esse intento, pesquisaram-se relatórios diversos, documentos
originários da USAF, da Força Aérea Argentina, da RAF, do Ministério da Defesa, do
Comando da Aeronáutica e relatórios de oficiais (hoje são instrutores da Escola de
Comando e Estado-Maior da Aeronáutica) que realizaram cursos de Comando e
Estado-Maior no exterior, pois nesses Cursos há ênfase nas teorias do poder aéreo.
Paralelamente, consultou-se a legislação interna da Escola de Comando e
Estado-Maior da Aeronáutica referente ao Ensino Militar Aeronáutico, mormente
àquela concernente ao Curso de Comando e Estado-Maior, para que se pudesse
concretizar uma análise fidedigna do Sistema de Ensino de pós-formação dos
oficiais da Força Aérea Brasileira.
Realizou-se leitura de cunho exploratório nas normas do Sistema de Ensino
abonadas por instâncias superiores à Escola de Comando e Estado-Maior da
Aeronáutica. No que tange à leitura de documentos para a produção deste trabalho,
pode-se descrever, tecnicamente, a releitura como um instrumento à reflexão sobre
o texto puro. Considerou-se e ponderou-se sobre o que se leu, observaram-se
ângulos diversos e se tentou descobrir novos pontos de vista e novas relações.
Optou-se, então, por examinar documentos oficialmente publicados como, por
exemplo, publicações239 de uso interno dos gerentes de conhecimento da ECEMAR.
Tomou-se essa decisão porque a pretensão da pesquisa foi levantar as informações
de acordo com a realidade que está sendo posta em prática no dia-a-dia do Curso,
pois nem sempre os documentos oficiais refletem as mudanças extemporâneas.
Enfim, a pesquisa documental foi fundamentada em materiais que podiam ser
reformulados, sob um enfoque diferenciado, conforme os objetivos desta pesquisa.
Realizou-se, também, pesquisa de campo, por intermédio de questionários
do tipo “teste” de conhecimentos específicos, os quais foram distribuídos aos oficiais
do Comando da Aeronáutica com Curso de Estado-Maior.
Do universo240 de sujeitos da pesquisa, obtiveram-se as respostas de cerca
de cinqüenta por cento da população. Essa amostra significativa retribui grau de
confiabilidade à pesquisa em face do “n” obtido. Essa amostragem pode ser
considerada de conveniência (ou por proximidade) e foi tomada por acessibilidade.
A amostra reteve qualidade na medida em que possuiu a representatividade
de todos os quadros dos oficiais de Estado-Maior da Aeronáutica Brasileira.
Satisfez-se outro passo importante da pesquisa de campo por intermédio de
entrevistas com atuais e ex-gestores do conhecimento das Escolas da Universidade
da Força Aérea (especialistas em teorias do poder aéreo e em Ensino Aeronáutico)
e da Academia da Força Aérea (instrutor e especialista em História Militar).
A pesquisa de campo se perfez por entrevistas estruturadas e semi-
estruturadas com especialistas em Ensino e em Doutrina Militar, bem como abarcou
os questionários do tipo teste, os quais foram aplicados aos sujeitos da pesquisa.
As entrevistas realizadas com os responsáveis pelo planejamento, pela
elaboração e pela solidificação de doutrinas, na Força Aérea Brasileira,
evidenciaram a presença de respostas com subjetividade. A análise de cada uma
das respostas proferidas pelos respondentes foi compilada na íntegra e os

239
O Plano de Unidade Didáticas (PUD) pode ser considerado como um exemplo dessa afirmação.
240
Universo aqui considerado como população total (e.g., amostra de cem por cento para um censo).
resultados encontrados levados à depuração meramente qualitativa. Quando se
observou qualquer desvio de conduta, fez-se o repasse do roteiro para o especialista
confirmar a sua consideração inicial.
Assim sendo, em função dessa manifestação de opinião pessoal dos
entrevistados sobre os assuntos tratados, ocorreram resultados distorcidos e com
contestável precisão à realidade factual (distorções evidentes com relação ao que
seriam as reais respostas dadas). Questões de ordem pessoal (foro íntimo, empatia,
antipatia, etc) ou, até mesmo, de cunho profissional (carreira, lealdade ao chefe, etc)
podem ter sido fatores de influência e de limitação nos resultados obtidos.
Em face da área temática proposta neste estudo, houve distorções evidentes
nas respostas dos especialistas em Ensino Militar Aeronáutico.
Esse fato ocorreu mesmo sendo explicados o objetivo e a relevância da
pesquisa ao entrevistado antes de ser iniciada cada entrevista. Enfatizou-se, da
mesma forma, que seria garantida a confidencialidade do respondente. Clarificou-se,
a cada um dos entrevistados, a importância de uma efetiva participação como
especialista na pesquisa de campo. Ademais, frisou-se a relevância, para o mundo
científico, dos conhecimentos advindos deste trabalho.
Além disso, o pesquisador teve que investigar solução a outra limitação
operacional de método. Neste trabalho de pesquisa, utilizou-se de uma ferramenta
de avaliação dos questionários, no que tange à mensuração das possíveis atitudes
demonstradas pelos respondentes, em relação aos conceitos definidos nos
enunciados e nas possíveis respostas às perguntas.
Para Acuña241, faz-se mister realizar teste prévio que englobe uma parcela
dos sujeitos da pesquisa, os quais devem ficar fora da amostragem.
Para a consecução desse intuito, a técnica empregada foi aquela supracitada,
na qual se preconiza a elaboração de um “teste-piloto”. No “teste-prova”242,
potenciais sujeitos da pesquisa são apresentados e convidados a opinar sobre a
qualidade de confecção desse instrumento de pesquisa de campo.
Neste específico estudo, o pesquisador escolheu, por afinidade e

241
ACUÑA, Mirían Balestrini. Como se elabora el proyecto de investigación: para los estudios
formulativos o exploratorios, descriptivos, diagnósticos, evaluativos, formulación de hipótesis
causales, experimentales y los proyectos factibles. Caracas: BL Consultores Asociados, Servicio
Editorial, 2002, p. 166-167.
242
Ibidem.
conveniência, dois oficiais aviadores243 (instrutores da Escola de Comando e Estado-
Maior da Aeronáutica), que são notórios conhecedores das teorias do poder aéreo
para responderem ao teste e aprimorarem essa ferramenta da pesquisa de campo.
A necessidade desse procedimento surgiu em face da contestação das
atitudes, dos respondentes ao questionário, perante os enunciados dos itens de
teste somente poderem ser inferidas por mensuração indireta, ou seja, elas não
podem ser mensuradas e observadas diretamente com os sujeitos da pesquisa.
Para apurar os procedimentos técnicos de coleta de dados, elaborou-se uma
lista de verificação para se executarem as entrevistas. As entrevistas realizadas pela
Internet não possibilitaram o uso do supracitado check-list.
No que tange ao questionário aplicado aos oficiais-alunos do Curso de
Comando e Estado-Maior que freqüentaram a Escola em 2008, 85% (oitenta e cinco
por cento) cumpriram a entrega do teste. A aplicação do teste foi feita no vigente
Curso de Comando e Estado-Maior, visando à comparação com o desempenho dos
oficiais que concluíram o mesmo Curso nos anos letivos de 2005, 2006 e 2007.
Os testes foram distribuídos, pessoalmente, para os oficiais de Estado-Maior
da Aeronáutica Brasileira do campus da Universidade da Força Aérea, das
Guarnições do Campo dos Afonsos, do Galeão, de Santa Cruz, de São Paulo, de
São José dos Campos e de Brasília.
A amostra de sujeitos da pesquisa foi abrangente, porque abarcou desde
oficiais que tiveram, recentemente, aulas sobre as teorias do poder aéreo até oficiais
aviadores há quatro anos afastados, em tese, do tema. A amostragem tomada
atendeu, qualitativamente, às expectativas da investigação, porque abarcou oficiais
aviadores das aviações de caça, de reconhecimento, de transporte, de patrulha e de
asas rotativas. Abrangeu, também, pilotos dos esquadrões operacionais com uma
gama variada de experiência em vôo. Englobou, ainda, oficiais de Estado-Maior dos
quadros de intendentes, infantes, engenheiros, médicos, dentistas e farmacêuticos.
Após a comparação entre as amostras, houve a análise dos resultados
obtidos pelos alunos que concluíram o Curso de Comando e Estado-Maior, nos anos
de 2005, 2006 e 2007 (esses não responderam o teste de imediato). Os alunos do

243
Há dois oficiais de Estado-Maior, sendo um da ativa e outro da reserva, que participaram da
pesquisa como especialistas em teorias do poder aéreo. Foram escolhidos em face da notória
expertise acerca das concepções teóricas do poder aéreo. Os dois militares forneceram subsídios
para o aperfeiçoamento do instrumento de pesquisa de campo, na confecção de um teste-piloto, o
qual se diferenciava do questionário final aplicado. Eles ficaram fora da amostra geral.
Curso de 2008 foram testados sem qualquer aviso prévio e com pouco tempo para
preencher as questões (o fator diferenciador foi a surpresa; ao comparar com a outra
amostra, preencheram o teste em quinze minutos).
Esse estudo comparado visou à análise de médias que fossem convergentes
entre os diferentes Cursos, porém dentro do mesmo quadro. Mormente, visou
àquelas que apresentassem divergências gritantes, no que tange aos supracitados
quadros de oficiais de Estado-Maior, em termos de média e de desvio padrão.
O desenho de pesquisa foi bidimensional, pois abarcou um viés doutrinário-
militar e outro educacional. Os prováveis resultados da investigação poderão se
constituir em imediatos aprimoramentos curriculares do Curso de Comando e
Estado-Maior, principalmente, no domínio cognitivo do saber.
As conseqüências mediatas poderão ocorrer no próprio Curso de Comando e
Estado-Maior a cargo da Escola de Comando e Estado-Maior da Aeronáutica e em
outros cursos de altos estudos militares, cuja tônica principal seja a formação
profissional-militar de oficiais de Estado-Maior.
Vale ressaltar que, além da pesquisa de campo feita na Escola de Comando e
Estado-Maior da Aeronáutica em entrevistas com os instrutores, fizeram-se
entrevistas informais com professoras e pedagogas daquela Escola.
Em 2007, o Comandante da Escola de Comando e Estado-Maior da
Aeronáutica à época, Brigadeiro-do-Ar Cláudio Alves da Silva, concedeu acesso à
documentação pertinente ao tema desta pesquisa. Esse oficial-general encaminhou
o pesquisador a pessoas especializadas na confecção de uma atividade escolar,
cuja ênfase era a evolução do poder aéreo e teorias afins. O Brigadeiro Alves
forneceu direcionamentos importantíssimos para a conclusão do intuito proposto
neste trabalho. Os dados coletados naquela Instituição de Ensino, na oportunidade
que se firmou durante a entrevista com o supracitado Brigadeiro, não foram previstos
no projeto de pesquisa que ensejou a confecção deste trabalho. Entretanto, a
validade e a oportunidade que apresentam justificam a referência neste estudo.
Os procedimentos metodológicos imprescindíveis à compreensão do método
empregado neste estudo foram discorridos na íntegra. No entanto, resta apresentar
os elementos de coleta de dados e as inferências analíticas, as quais devem compor
o arcabouço de uma investigação científica. Essas induções se constituem em
subsídios sólidos e válidos para as capitais conclusões que se seguem na
interpretação dos dados coletados e na discussão dos resultados.
4 APRESENTAÇÃO DOS DADOS E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Cogito, ergo sum. René Descartes (1596 – 1650)

4.1 COLETA DOS DADOS

O estudo enfocou a Educação Profissional-Militar de oficiais de Estado-Maior


da Aeronáutica Brasileira. Na consecução desse intuito, implantaram-se
mecanismos de coleta de dados – fichamento de fontes de consulta, investigação de
documentos oriundos da área de ensino, consulta bibliográfica, entrevista com
especialistas, observação-participante e questionário com os sujeitos da pesquisa.
No processo de coleta de dados, tomou-se, primeiro, uma decisão quanto à
seleção dos elementos que seriam utilizados para esse fim. Haja vista o objeto de
estudo e os instrumentos de pesquisa disponíveis, as principais fontes de coleta de
dados foram os próprios oficiais de Estado-Maior da Aeronáutica Brasileira (sujeitos
da pesquisa) e os especialistas em Ensino Aeronáutico Militar Superior.
Além disso, o trabalho de coletar dados abarcou entrevistas com instrutores
da Escola de Comando e Estado-Maior da Aeronáutica, responsáveis por
planejamento e formulação dos trabalhos escolares, especificamente, os integrantes
da Subdivisão de Doutrina Militar daquela Escola Militar de Altos-Estudos.
Inicialmente, obtiveram-se as respostas do questionário-teste aplicado in loco
e de chofre, ou seja, sem conceder a possibilidade de consulta aos alunos do atual
Curso de Comando e Estado-Maior e com tempo delimitado em quinze minutos.
Depois, distribuiu-se o mesmo questionário-teste para oficiais de Estado-
Maior, que realizaram o Curso de Comando e Estado-Maior nos anos de 2005, 2006
e 2007 (esses tiveram um tempo dilatado para dar as respostas). O intuito foi o de
quantificar o nível de conhecimento adquirido sobre as teorias do poder aéreo e
comparar esse quantum com os alunos do atual Curso.
Por intermédio desse teste (Apêndice A), visou-se a comparar os níveis de
conhecimento entre oficiais de Estado-Maior que estão realizando o Curso de
Comando e Estado-Maior e outros que o cursaram há até três anos.
Essa escolha foi devida à mudança ocorrida, no ano de 2005, quando houve
a inserção de um MBA (Master in Business Administration) e da Metodologia da
Pesquisa Científica, os quais acarretaram uma redução na carga horária de
disciplinas afetas às áreas de estratégia e de doutrina militar. A população escolhida
englobou, como já acima nomeados sujeitos da pesquisa, oficiais de Estado-Maior
dos quadros de intendentes, infantes, engenheiros, médicos, dentistas e
farmacêuticos, os quais apresentam, incontestavelmente, formação acadêmico-
profissional deveras diferenciada entre esses quadros.
No que tange à amostragem de aviadores, esse conjunto específico de
sujeitos da pesquisa foi abrangente, porque abarcou desde pilotos que participaram,
recentemente, de operações militares com outros países até oficiais aviadores há
muito tempo em atividades diferentes da área operacional (como a área de Ensino
Militar). A amostra tomada atendeu, também qualitativamente, às expectativas da
investigação, porque abarcou os oficiais aviadores oriundos das aviações de caça,
de reconhecimento, de transporte, de patrulha, de busca e resgate e de asas
rotativas (conforme previsto na Doutrina Básica da Força Aérea Brasileira).
A amostragem delineada neste trabalho investigatório abrangeu pilotos dos
esquadrões operacionais da Força Aérea Brasileira com uma gama variada de
experiências em atividades aéreas (inclusive em intercâmbios com outras forças
aéreas do mundo ocidental e do Oriente Médio: França, Espanha, Estados Unidos,
Argentina, Peru, Chile, Venezuela, África do Sul, Israel, etc) e em instrução vôo.
Segundo Alfonso Trujillo Ferrari244, “a fase de processamento e análise dos
dados compreende uma série de estágios que reúnem, por sua vez, variadas
operações intimamente vinculadas entre si.”. Ademais, Ferrari afirma que o escopo
dessa fase de “notável influência” na pesquisa é “estabelecer critérios de ordem e
de classificação, para que os dados possam ser analisados”. (grifos nossos).

244
FERRARI, Alfonso Trujillo. Metodologia da ciência. Rio de Janeiro: Kennedy, 1974, p. 177.
4.2 ANÁLISE DOS DADOS ADVINDOS DOS QUESTIONÁRIOS-TESTE

Os critérios de ordem analítica induziram às efetivas limitações na


operacionalização da metodologia de pesquisa escolhida neste estudo.
O questionário tipo teste abarcou, tão somente, dez questões e não
apresentou as idéias de todos os teóricos e estrategistas do poder aéreo. Aplicado
um outro teste, com um número de itens mais elevado e com maior abrangência
cognitiva, poder-se-ia ter corroborado o resultado ou encontrado outro diferenciado.
A generalização dos resultados obtidos pôde ser feita em face do grau de
confiabilidade atingido e da amostra ter sido tomada com a amplitude quantitativa de
cerca de 50,00% (cinqüenta por cento), que se traduziu como suficientemente
representativa da população total (observe-se o quadro dois abaixo).
Os dados levantados na investigação científica foram tratados, depurados e
analisados com o auxílio de recursos humanos e ferramentas computacionais que
viabilizaram, entre outros, a confecção de gráficos e tabelas oriundos,
principalmente, da ferramenta EXCEL do OFFICE da MICROSOFT.
Até dezembro de 2008, oficiais de Estado-Maior da Aeronáutica compõem-se
tão-somente, seja na ativa seja na reserva remunerada, dos quadros de aviadores,
intendentes, infantes, engenheiros, médicos, dentistas e farmacêuticos.
Por conseguinte, o quadro abaixo representa a amostra, a população e o
universo escolhidos neste estudo:
QUADRO AMOSTRA POPULAÇÃO245 UNIVERSO246
Aviadores 168 303 600
Intendentes 54 105 210
Infantes 17 50 90
Engenheiros 12 26 55
Médicos 28 64 90
Dentistas 10 33 60
Farmacêuticos 04 10 25
Total 293 591 1130
Quadro 2 - Sujeitos da pesquisa em número de oficiais-alunos nos CCEM 2005, 2006, 2007 e 2008.

245
A população tomada diz respeito ao número total de alunos nos CCEM 2005, 2006, 2007 e 2008.
246
O universo da pesquisa somente considerou aqueles oficiais da FAB que se encontram em
serviço ativo. Em face da capilaridade de recursos humanos da FAB e do rodízio constante de
oficiais superiores com o Curso de Comando e Estado-Maior, que adquirem direito para passarem
à reserva remunerada, pode-se afirmar que os números apresentados no quadro dois desta
pesquisa sofrem alterações anuais, mensais, semanais e, até mesmo, diárias. Portanto, são dados
muito inconstantes. Logo, podem retratar uma falsa realidade no momento da defesa da
dissertação.
Fontes: Chefia de Curso do atual Curso de Comando e Estado-Maior (CCEM) e
<https://ww3.sigpes.intraer/ticotico/sigpes.ssp.ticotico.BuscaPadrao.php>. Acesso em: 14 nov 2008.
A tabulação dos questionários aplicados aos sujeitos da pesquisa
(mencionados no quadro dois), alunos dos Cursos de Comando e Estado-Maior de
2005, 2006, 2007 e 2008, resultaram na seguinte porcentagem de acertos:
Tabela 1 - Porcentagem média final de acertos, por quadros, dos sujeitos da pesquisa no
questionário-teste.

QUADRO ACERTOS EM
PERTENCENTE %
Aviadores 64,45
Intendentes 59,09
Infantes 62,11
Engenheiros 54,66
Médicos 53,80
Dentistas 57,00
Farmacêuticos 45,00
Fonte: O autor
Média final 56,59 (2008).

70,00%

60,00%

50,00%

40,00%

30,00%

20,00%

10,00%

0,00%
Aviadores Intendentes I
Percentual 64,45% 59,09%
Gráfico 1: Média do questionário-teste aplicado a oficiais-alunos do Curso de Comando e Estado-Maior de 2005,
de 2006, de 2007 e de 2008 (gráfico do tipo “Histograma de Colunas”).
Fonte: O autor (2008).
O gráfico de número um representa a visão pictórica da média final obtida
pelos alunos nos Cursos de Comando e Estado-Maior de 2005, 2006, 2007 e 2008.
A média final encontrada com os resultados supracitados ficou em um valor
percentual de 56,59% (mencionada na tabela um e no gráfico um supracitados).
Os questionários foram distribuídos aos supra-assinalados sujeitos de
pesquisa (alunos nos Cursos de Comando e Estado-Maior de 2005, 2006, 2007 e
2008) e seguiram a observância de dois tipos de procedimentos metodológicos.
Para os oficiais-alunos do vigente Curso de Comando e Estado-Maior (CCEM
2008) os testes foram aplicados de surpresa (de chofre e sem aviso prévio), na
presença do pesquisador e com um tempo certo para a aplicação e a confecção.
Portanto, os respondentes não saíram da sala de aula, não tiveram acesso a
qualquer material didático de apoio (livros, artigos de periódicos, etc) e, tampouco,
se permitiu a troca de informações entre os alunos, tampouco, o uso da Internet.
Dessa forma, o teste foi realizado sem consulta a qualquer tipo de fonte e o
tempo para realização do teste foi limitado. Foram alocados somente quinze minutos
para a consignação das respostas às questões do questionário. Houve uma breve
tolerância para uma revisão do completo preenchimento do teste, o qual possuía um
total de dez itens (conforme o APÊNDICE A).
No entanto, frise-se que para os oficiais que realizaram o Curso de Comando
e Estado-Maior nos anos de 2005, 2006 e 2007 as respostas não foram
consignadas na presença do pesquisador (houve tempo hábil para pesquisa e para
consulta às fontes bibliográficas pertinentes às respostas previstas no gabarito).
Ademais, os testes feitos por muitos oficiais desses grupos (de 2005, de 2006
e de 2007) foram por meio eletrônico e não on line. Ou seja, eles receberam uma
mensagem eletrônica, via Internet, que solicitava o preenchimento da avaliação e
somente retornaram certo tempo após o envio do e-mail do pesquisador.
Os questionários-teste foram tabulados e resultaram em uma aproximada
amostra quantitativa de 30% (trinta por cento), em relação à população determinada
pela delimitação temporal da pesquisa, ou seja, dos oficiais-alunos que finalizaram o
Curso de Comando e Estado-Maior em 2005, 2006 e 2007, conforme se apresenta,
graficamente, no quadro de número três da página subseqüente.
QUADRO AMOSTRA POPULAÇÃO247
Aviadores248 83 215
Intendentes 32 82
Infantes 10 42
Engenheiros 06 20
Médicos 12 39
Dentistas 05 23
Farmacêuticos 02 08
Total 150 429

Quadro 3 - Sujeitos da pesquisa em número de oficiais-alunos nos CCEM 2005, 2006 e 2007.
Fontes: Chefia de Curso do atual Curso de Comando e Estado-Maior (CCEM 2008) e
<https://ww3.sigpes.intraer/ticotico/sigpes.ssp.ticotico.BuscaPadrao.php>.

A tabela abaixo representa os resultados obtidos pelos oficiais-alunos nos


CCEM 2005, 2006 e 2007, distribuídos por quadros, no questionário-teste, o qual
não foi preenchido na presença do pesquisador, tampouco de chofre.
Tabela 2 - Porcentagem média final de acertos dos oficiais-alunos nos CCEM 2005, 2006 e
2007, distribuídos por quadros, no questionário-teste.

QUADRO ACERTOS EM
PERTENCENTE %
Aviadores 68,2
Intendentes 65,0
Infantes 67,8
Engenheiros 66,0
Médicos 69,1
Dentistas 58,0
Farmacêuticos 40,0
Média final 62 Fonte: O autor
(2007).
A média final encontrada com os resultados supracitados se elevou para,
aproximadamente, um valor percentual de 62% (observe-se, na página seguinte, o
gráfico de número dois, que representa a tabela supracitada).

247
A população tomada diz respeito ao número total de alunos nos CCEM 2005, 2006 e 2007.
248
Há dois oficiais de Estado-Maior, sendo um da ativa e outro da reserva, que participaram da
pesquisa como especialistas em teorias do poder aéreo. Os dois militares forneceram subsídios
para o aperfeiçoamento do instrumento de pesquisa de campo, durante a confecção de um teste-
piloto, o qual se diferenciava do questionário final aplicado. Eles ficaram fora da amostra geral.
249

Resultado final por quadros

68,2 67,8 69,1


65 66
70 62,01428571
58
60

50 40
40

30

20

10

0
Quadros e média geral

Aviadores Intendentes Infantes Engenheiros Médicos Dentistas Farmacêuticos Média

Gráfico 2: Média do questionário-teste aplicado a oficiais-alunos do Curso de Comando e Estado-Maior dos anos de 2005, 2006 e 2007 (gráfico do tipo “Histograma de Colunas”)
Fonte: O autor (2007).
250

Conforme supracitado, os testes foram distribuídos aos oficiais-alunos do


Curso de Comando e Estado-Maior 2008, que se constituem249 em sujeitos desta
pesquisa, e resultaram em uma aproximada amostragem quantitativa de 90%
(noventa por cento), em relação ao universo total de possíveis respondentes:
QUADRO AMOSTRA POPULAÇÃO250 PORCENTAGEM
Aviadores 85 88 95,51 %
Intendentes 22 23 95,65 %
Infantes 07 08 87,50 %
Engenheiros 06 06 100 %
Médicos 16 25 64,00 %
Dentistas 05 10 50,00 %
Farmacêuticos 02 02 100 %
Total 143 162 84,67 %
Quadro 4 - Sujeitos da pesquisa em número de oficiais-alunos do CCEM 2008 distribuídos por quadros.
Fonte: Secretaria da Chefia de Cursos do CCEM da ECEMAR (2008).

A aplicação do questionário, nos oficiais-alunos do atual CCEM 2008,


redundou nas seguintes médias percentuais:
Tabela 3 - Porcentagem média final de acertos dos oficiais-alunos no CCEM 2008,
distribuídos por quadros, no questionário-teste.

QUADRO ACERTOS EM
PERTENCENTE %
Aviadores 60,71
Intendentes 53,18
Infantes 57,14
Engenheiros 43,33
Médicos 38,75
Dentistas 56,00
Farmacêuticos 50,00
Média final 51,30 Fonte: O autor
(2008).
A média final encontrada com os resultados supracitados ficou,

249
Os atuais oficiais-alunos do CCEM 2008 concluem o Curso, com aproveitamento, no mês de
dezembro do corrente ano. Após essa data, são declarados oficiais de Estado-Maior.
250
A população tomada diz respeito ao número total de alunos no CCEM 2008.
251

aproximadamente, em um valor percentual de 51,30% (observe-se o gráfico três).


252

Outra representação das médias finais obtidas pelos oficiais-alunos do CCEM 2008, pode ser visualizada em um gráfico tipo
“Histograma de Colunas”.

Resultado final - CCEM 2008

Porcentagem
60,71%
57,14% 56%
70,00% 53,18%
50% 51,30%
60,00% 43,33%
38,75%
50,00%
40,00%
30,00%
20,00%
10,00%
0,00%
Quadros e média final

Aviadores Intendentes Infantes Engenheiros Médicos Dentistas Farmacêuticos Média final


Gráfico 3: Média do questionário-teste aplicado a oficiais-alunos do Curso de Comando e Estado-Maior de 2008 (gráfico tipo “Histograma de Colunas”)
Fonte: O autor (2008).
A comparação da média final entre os sujeitos da pesquisa que realizaram o
teste sem consulta e com parâmetros (tempo e fidedignidade de respostas alocadas
sem prévia pesquisa) controlados pelo pesquisador (CCEM 2008) com aqueles que
obtiveram um maior tempo de preenchimento do questionário-teste e,
possivelmente, condições para consultar fontes bibliográficas (e até mesmo
especialistas no assunto das teorias do poder aéreo) demonstra uma acentuada
queda em torno de 10,00% (dez por cento). Pode-se comparar os gráficos de
números dois e três para se evidenciar esse desdobramento percentual.
Portanto, a partir desses dois tipos de procedimentos de preenchimento dos
questionários-teste poder-se-ão efetuar inferências, nas conclusões parciais que se
seguirão a este subcapítulo, de modo a contribuir na concessão de respostas às
questões norteadoras e a solver o problema de pesquisa.
De acordo com o que a Aeronáutica possui em montante de oficiais de
Estado-Maior, até a presente data, fez-se a escolha por uma pesquisa de campo,
que esquadrinhou a relevância das idéias dos teóricos que balizaram o estudo.
Ao se fazer a relação entre as questões norteadoras enunciadas neste
estudo e os resultados estatísticos advindos dos testes aplicados, pôde-se concluir
que as formuladas conjecturas iniciais foram plenamente respondidas e serão
aludidas, detalhadamente e em separado, no final deste capítulo.
Portanto, cumpre explicar, antes de se proceder à interpretação dos
resultados advindos dessa pesquisa, que ao oficial de Estado-Maior da Aeronáutica
cabe desempenhar as funções de artífice operacional, de planejador militar, de
assessor de alto nível e de estrategista do poder aéreo.
Pode-se afirmar, então, que o Ensino Aeronáutico proporciona ao oficial de
Estado-Maior, no curso de pós-formação de Comando e Estado-Maior, além de
outras disciplinas, uma gama de outras matérias que podem comprometer a
elevação do grau de conhecimento acerca das teorias do poder aéreo.
Visando à refutação de uma esdrúxula “hipótese nula”, possivelmente
formulada, ter-se-ia que o Ensino Aeronáutico Militar não proporciona ao oficial de
Estado-Maior nenhum conhecimento acerca das teorias do poder aéreo.
Portanto, a supracitada hipótese nula constitui-se em um natimorto e é
facilmente refutável, pois há atividades escolares, que, mesmo sem ter a ementa,
começaram na ECEMAR ao longo do corrente ano, relativas às teorias do poder
aéreo (acerca de teóricos clássicos e contemporâneos) e, da mesma forma,
concernentes à História e à Evolução do Poder Aéreo.
Fez-se, então, uma classificação estratificada, por níveis de conhecimento,
em função dos resultados averiguados na pesquisa de campo.
De acordo com graduações estipuladas de zero a dez, àqueles que obtiveram
resultados entre os graus absolutos de zero a três, concedeu-se a nomenclatura de
“nenhum” conhecimento (graduação que poderia corresponder à supracitada
“hipótese nula”); àqueles que obtiveram resultados entre os graus absolutos de
quatro a seis, concedeu-se a nomenclatura de “pouco ou insuficiente” conhecimento;
àqueles que obtiveram resultados entre os graus absolutos de sete e oito, concedeu-
se a nomenclatura de “suficiente” conhecimento; e àqueles que obtiveram resultados
entre os graus absolutos de nove e dez, concedeu-se a nomenclatura de “mais do
que suficiente” conhecimento. Estes últimos podem ser considerados como plenos
conhecedores (peritos, especialistas, experts, técnicos, pessoas com muito
conhecimento, versados, etc) do tema afeto às teorias do poder aéreo.
Há evidências empíricas e mensuráveis de que o nível de conhecimento,
acerca de teorias do poder aéreo, detido pelos oficiais de Estado-Maior pode ser
classificado como pouco ou, em outra nomenclatura, pode ser dito insuficiente.
A composição de um Estado-Maior perfaz-se, por essência, eclética.
Essa estrutura deveras diversificada de um Estado-Maior, tanto no caso de
um Comando Combinado quanto em um Comando Singular (caso em que uma
determinada força armada opera de maneira independente das demais forças), foi
citada por um dos especialistas, conforme se apresentará, nas respostas
consignadas pelos entrevistados, no subcapítulo subseqüente e nos apêndices.
Esse mesmo entrevistado reforçou a possibilidade, ou melhor, a probabilidade
da existência de um oficial do Comando Aeronáutica, com o Curso de Estado-Maior,
que seja um conhecedor das concepções teóricas, sobre o poder aéreo, idealizadas
pelos principais pensadores clássicos e contemporâneos.
Destarte, torna-se bastante provável a existência de, pelo menos um, oficial
de Estado-Maior da Aeronáutica perito no tema afeto às teorias do poder aéreo.
Entretanto, essa perene e constante alocação de um especialista, que venha
a assessorar os respectivos Comandantes dos Comandos supracitados, não pode
ser afirmada, categoricamente, como uma certeza absoluta. Basta analisar a
porcentagem de sujeitos da pesquisa que obtiveram graus absolutos de nove e dez.
4.3 INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS DOS QUESTIONÁRIOS

Compreender a realidade é reinventá-la, ou reconstruí-la. (Jean Piaget)

As observações feitas ao questionário-teste pelos respondentes,


demonstraram que houve ambigüidade advinda da incompleta formulação de
determinados itens. Por exemplo, o enunciado das questões de número um e seis
deram margem à interpretação ambígua e ensejaram controvérsias conceituais, pois
houve críticas com relação aos enunciados elaborados.
Ademais, as questões de número um e cinco foram elaboradas com viés
histórico e mediram, puramente, a cultura histórica aeronáutica. As oito demais
alternativas voltaram-se para tópicos teórico-conceituais e de cunho doutrinário.
Da análise crítica do questionário-teste, surgiram certas evidências, que se
iniciam na disposição da pergunta número um:
1) Em termos históricos, quando foi aplicado, pela primeira vez, o
conhecimento oriundo das concepções teóricas sobre o emprego do poder
aéreo?
a) Na Primeira Guerra Mundial; b) Na Segunda Guerra Mundial; c) Na Guerra
do Vietnã; d) Na Guerra do Golfo (1991).
A interpretação das respostas foi deveras comprometida, pois se
consideraram corretas as respostas “a” e “b”. Esse fato contribuiu para que quase
todos acertassem a questão, deixando de acertar só seis oficiais (2% do total).
Portanto, se houvesse uma generalização dos resultados obtidos, neste item em
especial, por todos os sujeitos da pesquisa então ter-se-ia uma média global de
acertos de 98% (noventa e oito por cento), a qual seria, de acordo com as
supracitadas graduações estipuladas, “mais do que suficiente”.
Na análise crítica do teste, houve a evidência de que esta questão se
constituiu em muito fácil, ou seja, apresentou um baixíssimo grau de dificuldade.
2) “Os centros de gravidade são anéis de vulnerabilidade; são
absolutamente críticos para o funcionamento de um estado; o anel mais crítico
é o do comando”. Quem fez essa afirmação no artigo the enemy as a system?
Após a tabulação dos dados, evidenciou-se que a questão ofereceu um índice
de acertos aproximado de cinqüenta por cento (abaixo da média geral 56,59%),
quando se computam todos os sujeitos da amostra.
Se houvesse uma generalização dos resultados obtidos, neste item
específico, por todos os sujeitos da pesquisa então ter-se-ia uma média global de
acertos de 50% (cinqüenta por cento), a qual seria, “pouco ou insuficiente”.
Entretanto, considera-se que essa pergunta e alternativas decorrentes
trouxeram, no seu bojo, um mediano grau de dificuldade, visto que parte da teoria de
John Warden III (a nomeada “Teoria dos Cinco Anéis”) encontra-se representada na
vigente Doutrina Básica da FAB (apesar de Warden não constar das referências).
3) Quem idealizou um ciclo de comando e controle (o ciclo OODA),
baseado em “observar-orientar-decidir-agir”?
Após a tabulação do dados, evidenciou-se que essa questão apresentou um
índice de acertos aproximado de cinqüenta e cinco por cento, quando se computam
todos os sujeitos da amostra. Se houvesse uma generalização dos resultados
obtidos, exclusivamente neste item, por todos os sujeitos da pesquisa, então a
aproximada média de acertos redunda na graduação “pouco ou insuficiente”.
Contudo, considera-se que esse questionamento apresenta um grau de
dificuldade médio-inferior, visto que a teoria de John Boyd encontra-se em voga.
Para os alunos do Curso de Comando e Estado-Maior 2008, traduz-se em “lugar
comum”, uma vez que houve instruções (aulas expositivas, seminários, trabalhos de
grupo, palestras, etc) a respeito dessa abordagem teórica.
4) Robert Pape, cientista político norte-americano, atesta, em um de
seus trabalhos, que o mais importante instrumento da moderna coerção
militar é o (a):
Após a tabulação do dados, evidenciou-se que essa questão apresentou um
índice de acertos aproximado de quarenta por cento, quando se computam todos os
sujeitos da amostra. Se houvesse uma generalização dos resultados obtidos,
unicamente neste item, por todos os sujeitos da pesquisa, então a aproximada
média de acertos redunda na graduação “pouco ou insuficiente”.
Considera-se que esse item apresentou grau de dificuldade médio-superior,
visto que poucos oficiais de Estado-Maior da Aeronáutica têm conhecimento das
teorias de Robert Pape acerca do Poder Aéreo Coercitivo.
As publicações (livros e artigos) deste cientista político norte-americano estão,
ainda, todas sem uma completa tradução para a Língua Portuguesa. Nas escolas
militares da FAB, as idéias de Pape são pouco abordadas e discutidas.
5) Na precursora geração de pensadores e de advogados do poder
aéreo, destacou-se Hugh Trenchard, que, em 1917, contribuiu,
decisivamente, para a criação da primeira Força Aérea independente do
mundo, a qual pertencia à (aos):
Essa questão possuía um cunho eminentemente histórico sobre a evolução
do Poder Aéreo e visava à mensuração de conhecimentos gerais sobre História.
Inicialmente, delineou-se como uma questão de baixo índice de dificuldade.
Todavia, os resultados compilados trouxeram um grau de acertos aproximado
de sessenta e dois por cento, quando se computam todos os sujeitos da amostra.
Muitos responderam, erroneamente, como sendo França. Outros, em menor
número, responderam que seria a Itália e os EUA. Esse fato pode demonstrar a
existência de um conhecimento mediano a respeito de História da Guerra Aérea e,
principalmente, acerca da evolução do poder aéreo.
Se houvesse uma generalização dos resultados obtidos, neste item em
particular, por todos os sujeitos da pesquisa, então a aproximada média de acertos
redunda na supracitada graduação de “suficiente”.
6) Os denominados teóricos do poder aéreo são unânimes em
afirmar que o primeiro esforço de guerra a ser envidado por uma força aérea
seria buscar a (o):
A questão deteve um baixo índice de dificuldade com 75% de acertos totais.
Por conseguinte, se houvesse uma generalização dos resultados obtidos,
peculiarmente neste item, por todos os sujeitos da pesquisa, então a aproximada
média de acertos redunda na estabelecida graduação de “suficiente”.
Conforme consta na vigente Doutrina Básica da FAB, as primeiras ações
bélicas de uma moderna força aérea constituem-se na constante busca pela
conquista da superioridade aérea. Esse esforço máximo de combate deve ser
envidado antes que o inimigo assim o faça e conquiste primeiro o “domínio do ar”.
Retrataram-se ações bélicas da arma aérea nas alternativas dessa questão.
Uma resposta possível seria a da “Tarefa de Interdição”. Essa “tarefa” não se
constitui, em tese, no primeiro esforço do poder aéreo, principalmente, quando se
trata de uma guerra convencional entre dois estados-nação ou entre coalizões de
países. A exceção seria quando o adversário se constitui, no campo do poder aéreo,
em um oponente insignificante e sem potenciais países aliados com uma força aérea
à altura para justificar a busca do “domínio do ar”. Mas esse não era o ponto fulcral
do item, tampouco o enunciado se referia a espécie específica do gênero guerra.
A Doutrina Básica da FAB prevê que a missão de “Supressão de Defesa
Aérea” visa a alvos específicos do Poder Aeroespacial inimigo e que essa missão
não se atrela somente à primeira fase de uma campanha aeroestratégica, a qual tem
como objetivo primordial a imediata obtenção da situação aérea favorável. Ademais,
as aeronaves e plataformas que executam missões de “Controle e Alarme em Vôo”
necessitam, pelo menos, de uma superioridade aérea local.
Portanto, a resposta esperada seria aquela que optasse pela escolha da
“superioridade aérea” como primeiro esforço de combate, por parte de uma hodierna
força aérea, com o intuito de conceder liberdade de ação às forças de superfície e a
determinados vetores aéreos que não possuem autodefesa. Além de Douhet,
Trenchard, Mitchell, Tedder, Slessor, John Warden, Robert Pape são pacíficos ao
considerarem como ponto primordial à força aérea o preliminar “domínio do ar”.
A Doutrina Básica da Força Aérea Brasileira reputa à “Tarefa de
Superioridade Aérea” altíssima prioridade e preconiza que essa tarefa é a mais
relevante, pois visa à conquista e à manutenção do controle do espaço aéreo. Caso
seja conquistado esse “domínio do ar”, então se contribui para o devido controle do
ambiente aeroespacial e para se conceder a necessária liberdade de ação às
unidades das demais forças armadas e às plataformas aéreas empregadas.
7) Para ele, os fatos da I Guerra Mundial testemunharam uma
preponderância da defensiva no combate terrestre. Admitia que as Forças
Terrestres, quando suficientemente abrigadas, podem proteger o país contra a
agressão de um adversário terrestre mais poderoso. No embate aéreo, a
ofensiva, além de ser a forma mais poderosa de luta, também é a única forma
decisiva de combate. Ele é:
Após a tabulação dos dados, evidenciou-se que essa questão apresentou um
índice de acertos aproximado de quarenta por cento, quando se computam todos os
sujeitos da amostra. Se houvesse uma generalização dos resultados obtidos,
unicamente neste item, por todos os sujeitos da pesquisa, então a aproximada
média de acertos redunda na graduação “pouco ou insuficiente”.
As respostas errôneas que se fizeram mais presentes (em torno de trinta por
cento cada uma) foram as correspondentes às letras “b) Göering” e “c) Maginot”.
Retrata-se, com essas respostas equivocadas, o desconhecimento da teoria
de Giulio Douhet e, da mesma forma, a falta de entendimento de idéias previstas na
Doutrina Básica da Força Aérea Brasileira, a qual reputa à arma aérea atributos
eminentemente ofensivos. Principalmente, o enfrentamento avião versus avião.
8) No artigo The True Worth of Air Power; o qual foi publicado na
Foreign Affairs, em 2004, o autor afirma que os advogados das armas aéreas
de precisão estão enganados. Para ele, o emprego combinado do poder aéreo
e de forças terrestres é, ainda, o mais efetivo modo de se ganhar as guerras.
Após a tabulação dos dados, evidenciou-se que essa questão apresentou um
índice de acertos aproximado de vinte e cinco por cento, quando se computam todos
os sujeitos da amostra. Se houvesse uma generalização dos resultados obtidos,
somente neste item, por todos os sujeitos da pesquisa, então a aproximada média
de acertos redunda na graduação “nenhum” ou, de outra forma, “nada”.
Considera-se que esse item apresentou grau de dificuldade alto-superior,
visto que poucos oficiais de Estado-Maior da Aeronáutica têm conhecimento das
teorias de Robert Pape acerca do Poder Aéreo Coercitivo.
As respostas errôneas que se fizeram mais presentes (em torno de trinta por
cento cada uma) foram as correspondentes às letras “b” e “c”.
9) Se vamos pensar de maneira estratégica, precisamos pensar,
dedutivamente, no inimigo como um sistema composto de numerosos
subsistemas. A exigência mais importante do ataque estratégico é entender o
sistema inimigo. O problema seguinte passa a ser o de como submetê-lo no
nível desejado, ou como paralisá-lo se isto for exigido. O ataque paralelo (ou
guerra em paralelo) será normalmente o tratamento preferido. O trecho retrata
o pensamento de:
Após a tabulação dos dados, evidenciou-se que essa questão apresentou um
índice de acertos aproximado de trinta por cento, quando se computam todos os
sujeitos da amostra. Se houvesse uma generalização dos resultados obtidos,
somente neste item, por todos os sujeitos da pesquisa, então a aproximada média
de acertos redunda na graduação “nenhum” ou, de outra forma, “nada”.
Considera-se que esse item apresentou grau de dificuldade médio-superior,
visto que os oficiais de Estado-Maior da Aeronáutica têm conhecimento genérico
sobre o “Modelo dos Cinco Anéis” de John Warden III, mas acerca do “Ataque
Paralelo” ou “Guerra em Paralelo” e da “Paralisia Estratégica” o conhecimento se
mensurou como “pouquíssimo”.
As respostas errôneas que se fizeram mais presentes (em torno de trinta por
cento cada uma) foram as correspondentes às letras “b” (John Warden III) e “c”
(Bernard Brodie), visto que podem ser os teóricos mais conhecidos da audiência
aeronáutica brasileira em geral.
10) Aponte qual frase transmite a premissa basilar da teoria de Giulio Douhet:
a) Todas as criaturas terão que ser combatentes por estarem diretamente
ameaçadas.
b) Para alcançar o propósito estratégico, basta destruir a parte da indústria
indispensável à manutenção da guerra.
c) A superfície da Terra representa, em relação ao oceano atmosférico, o papel que
o litoral desempenha em relação ao mar.
d) O domínio do ar passou a constituir um dos princípios essenciais de
emprego do Poder Aéreo.
Todas as quatro frases acima, transcritas do teste aplicado nesta pesquisa,
foram retiradas do livro “O Domínio do Ar” da lavra de Douhet.
Entretanto, o pensamento fundamental de Giulio Douhet se reflete na busca
pela conquista do absoluto controle do espaço aéreo: “o domínio do ar”.
Os resultados compilados trouxeram um grau de acertos aproximado de
sessenta e cinco por cento, quando se computam todos os sujeitos da amostra. Se
houvesse a generalização desses resultados, somente neste item, pelos sujeitos da
pesquisa, então a aproximada média de acertos redunda na estabelecida graduação
de “suficiente”. Muitos responderam, erroneamente, como sendo a letra “b”.
Observa-se que os respondentes obtiveram médias mais baixas em itens que
abordaram as teorias do poder aéreo mais recentes, como as de John Boyd, de
John Warden III e de Robert Pape. John Boyd não escreveu livro algum e as idéias
ficaram registradas em palestras, seus artigos e em entrevistas que ele concedeu.
Poucos escritores, na língua vernácula portuguesa, trataram, até hoje, de Boyd. As
concepções teóricas de John Warden III têm maior divulgação em face do periódico
da USAF Airpower Journal em português e da própria Doutrina Básica da FAB.
Conclui-se, então, que com a técnica do questionário, houve a possibilidade
de se analisar e avaliar, pelo menos parcialmente, o grau de conhecimento acerca
das teorias do poder aéreo. As dez questões elaboradas não mediram, de fato, o
nível de conhecimento com a fidedignidade necessária para se atingir um grau de
certeza absoluta, pois os dez itens não abarcaram a gama de conhecimentos
oriundos de todas as teorias sobre o poder aéreo (clássicas e modernas).
Possivelmente, a formulação de um número significativamente maior de
questões (a elaboração de um teste mais longo do que aquele que foi efetivamente
aplicado nesta pesquisa) poderia ter trazido à baila evidências similares ou piores.
Evidentemente, o questionário não abrangeu o pensamento de todos os
considerados teóricos da arma aérea. Assim, o teste (com apenas dez itens)
resultou em parcial avaliação acerca do grau de conhecimento teórico dos testados
oficiais com o Curso de Comando e Estado-Maior sobre as teorias do poder aéreo.
De fato, uma mensuração mais fidedigna do nível de conhecimento sobre os
teóricos do poder aéreo, suas concepções e premissas, nos escolhidos sujeitos da
pesquisa, exigiria um grau de confiabilidade elevado251. Isso seria obtido mediante a
aplicação do teste em toda a população delimitada (quinhentos e noventa e um
sujeitos), conforme o desenho de pesquisa proposto neste trabalho investigativo.
Um teste maior (além de dez itens) poderia corroborar essas evidências e:

1) Demonstrar, com um “n” de 100%, que muito pouco se conhece, no


âmbito dos oficiais de Estado-Maior, sobre as teorias do poder aéreo; e

2) Demonstrar uma média final muito inferior (em cursos antes de 2005).

4.4 INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS DAS ENTREVISTAS COM OS


ESPECIALISTAS EM ENSINO AERONÁUTICO MILITAR

Porque são os passos que fazem o caminho. Mário Quintana.

Paralelamente à aplicação de questionários com os sujeitos da pesquisa, fez-


se o emprego da técnica de entrevistas com os especialistas em Ensino Aeronáutico
Militar Superior. Essas entrevistas visaram, de modo precípuo, à mensuração do
quantum de importância se atribui às teorias (e concepções teóricas de pensadores)
do poder aéreo pelos atuais e pelos ex-instrutores da Escola de Comando e Estado-
Maior da Aeronáutica. Essa etapa da pesquisa trouxe à baila o pensamento
daqueles oficiais que se encontram na Cátedra daquela Escola de Altos Estudos

251
Os questionários tipo teste foram aplicados em uma amostra aproximada de 50,00 % (cinqüenta
por cento) de sujeitos da pesquisa em relação à população delineada (montante total).
Conseguiram-se um “n” significativo da população escolhida e um grau de confiabilidade sólido às
conclusões.
Militares (ou que já foram partícipes da educação de oficiais de Estado-Maior).
Os resultados apresentados denotaram, após a tabulação e a descrição de
todos os dados obtidos, a existência de condições plenamente cogentes à avaliação
de possíveis generalizações argüidas a partir das informações levantadas por
intermédio de respostas e de depoimentos proferidos pelos especialistas.
Segundo Gil252, pode-se empregar passos, nas pesquisas sociais, durante os
“processos de análise e de interpretação”. A técnica do estabelecimento de
categorias constitui-se em um desses passos e é empregada quando “as respostas
fornecidas pelos elementos pesquisados tendem a ser as mais variadas”.
Neste estudo, as categorias foram elaboradas nas questões de números
quatro, cinco, seis e sete do roteiro para entrevista pessoal com especialistas
entrevistados, pois os demais questionamentos não permitiram o atendimento das
regras elementares apontadas por Gil253.
Na avaliação de Gil, os critérios básicos se constituem na exaustão do
conjunto das categorias, que devem se derivar de um único princípio de
nomenclatura e que as possíveis categorias devem ser exclusivas entre si, ou seja, a
possibilidade de escolha de uma categoria elimina, automaticamente, a outra.
Na questão número quatro, escolheu-se como princípio classificador a
“importância”; na de número cinco foi definido, da mesma forma anterior, o princípio
da “importância”; no item seis foi a classificação referente à “obrigação de estudo
das teorias do poder aéreo”; e, enfim, na alternativa de número sete o da “validade”.
Entretanto, a análise adequada das respostas fornecidas pelos vinte e cinco
especialistas exigiu, também, a organização dos termos usados pelos respondentes
mediante o agrupamento por sinonímia de vernáculos da Língua Portuguesa, que
mais se aproximavam das palavras classificadoras, de acordo com os princípios
escolhidos, para formar um conjunto unívoco.
A técnica de pesquisa “análise do discurso” foi observada nas respostas
abertas dos roteiros de entrevistas com os especialistas, visto que os respondentes
pertencem à mesma Instituição, a qual tem cultura organizacional própria. Esse fato
pode ter influenciado no preenchimento das fichas de roteiro para as entrevistas.
A amostra foi escolhida por tipicidade e por acessibilidade – conveniência – e
atendeu aos objetivos da pesquisa. Acentuado grau de confiabilidade não foi

252
GIL, 1999, p. 169.
253
Ibid.
plenamente obtido em face da quantidade de respondentes ao teste elaborado.
Assim sendo, o grau de certeza das conclusões argüidas não foi absoluto. No
entanto, pôde-se falar em termos de evidências, de tendências ou de indícios após a
análise e a interpretação dos dados (quantitativos e qualitativos) colhidos. Além de
se analisarem os pormenores para se chegar ao todo final, a pesquisa procurou
estabelecer as relações necessárias entre os dados obtidos e os objetivos da
pesquisa, assim como, com as suposições advindas deste estudo.
Para se atingir esse fim, fez-se o exame minucioso e crítico dos dados
coletados, a fim de se detectarem falhas ou erros, evitando informações confusas,
tendenciosas, distorcidas e incompletas, que pudessem prejudicar o resultado da
pesquisa. A tabulação dos dados possibilitou maior facilidade na verificação das
inter-relações entre as informações advindas da coleta. Fez-se um processo técnico
de análise, meramente descritivo, que permitiu a síntese dos dados coletados em
diferentes categorias de oficiais de Estado-Maior e a representação gráfica.
A pergunta de número um questionava há quantos anos VExa/VSa atua na
área de Ensino Aeronáutico (se houve interrupção) ou qual o ano em que
começou a trabalhar nessa área (caso ininterruptamente e se ainda trabalha na
atividade de ensino)?
Há instrutores recém-incorporados ao efetivo da Escola que não responderam
ao roteiro de entrevista por alegarem pouca familiarização com o assunto em tela.
Logo, foram desconsiderados como especialistas para os fins deste estudo. Ao
mesmo tempo, existem instrutores com muitos anos de atuação na área de Ensino
Militar Aeronáutico (para alguns não houve interrupção, mas para outros houve).
Existem oficiais que começaram a trabalhar, efetivamente, na área de
instrução da ECEMAR há menos de um ano e, há outros, que se afastaram da
Escola, mas ainda trabalham na atividade de ensino. Há um recém-incorporado
oficial, o qual se afastou da área de Ensino Aeronáutico, por dois anos, haja vista a
assunção ao comando de uma unidade aérea. Esse militar realizou o Curso de
Comando e Estado-Maior na USAF e é o instrutor responsável por ministrar a aula
expositiva acerca dos teóricos do poder aéreo na Escola de Aperfeiçoamento.
As perguntas de número dois e três somente investigavam, respectivamente,
há quantos anos trabalha, “caso VExa/ VSa tenha trabalhado”, na Escola de
Comando e Estado-Maior da Aeronáutica e, quando ao responder positivamente, o
especialista consultado deveria responder se trabalha na Subdivisão de Doutrina
Militar daquela Escola, assim como “caso VExa/ VSa tenha trabalhado” deveria
indicar por quanto tempo (conforme previsto no apêndice B).
A pergunta de número quatro inquiria qual a importância da Educação
Militar Profissional254 (EMP) formal para o oficial da Força Aérea Brasileira
executar as atividades inerentes às funções que podem ser exercidas em um
Estado-Maior de Comando Singular e/ou Combinado na opinião de VExa/VSa?
Respondeu-se que “Educar é mudar comportamento, logo é essencial a
qualquer atividade profissional”. A busca incessante por uma “mudança de
comportamento” torna-se tarefa intrínseca da educação255, seja no plano militar seja
no civil. O objetivo do educar incorpora a filosofia de que se visa à formação de um
estudante melhor preparado para as atividades práticas que vai encontrar após findo
o curso. De outra forma, a educação pode perder em eficácia, no que tange à
intrínseca relação teoria-prática. Teceu-se comentário a respeito da Educação:

Um oficial de Estado-Maior da Aeronáutica Brasileira somente poderá ser


considerado um profissional, um estrategista, se dominar todos os
conhecimentos relativos ao adequado preparo (estratégico), ao emprego
operacional e ao emprego tático da Força Aérea. Porém, este é um
processo que leva muito tempo. É um processo em que os conhecimentos
deverão ser adquiridos, assimilados, dominados durante a carreira, nas
várias etapas necessárias ao contato com aquelas atividades que permitirão
ao profissional formar a base, o fundamento, de sua formação e de sua
capacitação. Entre essas etapas, necessariamente, encontram-se aquelas
em que o ensino formal é transmitido, ou seja, os Cursos de
Aperfeiçoamento (na EAOAR) e de um Estado-Maior (na ECEMAR), etc.
Aqui estamos apontando para teoria e prática. Na atualidade, o emprego do
Poder Aéreo e do Poder Aeroespacial é muito complexo. Isso exige uma
grande divisão dos trabalhos afetos a um Estado-Maior. Isso exige um nível
de profissionalização, de especialização, em um nível não imaginado há
algumas décadas. Se fizermos uma análise detalhada dos conceitos
relacionados ao emprego da Força Aérea, ao emprego do Poder Aéreo ou
do emprego do Poder Aeroespacial, poderemos identificar as evoluções
conceituais, estratégicas, doutrinária, etc., envolvidas nesses conceitos.
Essas evoluções nos mostrarão, também, que a capacitação, o nível de
profissionalização, necessária ao profissional que terá a responsabilidade
de planejar, coordenar e controlar o emprego da Força Aérea, o emprego do
Poder Aéreo e o emprego do Poder Aeroespacial, em situação de guerra,
também, evoluiu, e, é essencial que seja considerada, sob o risco de uma
Força Aérea, a despeito de possuir a estrutura, os equipamentos, os vetores
mais modernos, não ser empregada de modo adequado e com a eficácia
que um confronto armado exige. Resumindo, a Educação (formal) para o
profissional que irá atuar em um Estado-Maior tem importância
máxima. Sendo o responsável pelo planejamento e pela coordenação do
emprego da Força Aérea, em uma situação de conflito armado, pode-se

254
A PME fornece indivíduos com as habilidades, o conhecimento, o entendimento e a apreciação,
que os capacite a tomar decisões sólidas, progressivamente, nas posições requeridas de Comando
e Estado-Maior no contexto do ambiente da Segurança Nacional. Tradução livre do autor.
255
Na Aeronáutica, tem-se o Curso de Preparação de Instrutores (CPI), no qual se incute, nos futuros
instrutores, essa idéia da mudança de comportamento no aluno desde os primeiros dias de aula.
deduzir que uma Educação ou uma capacitação deficiente poderá, em
tese, levar a um resultado ineficaz dessa força armada. (grifos nossos)

As palavras utilizadas pelos entrevistados para notificar o tema, foram: “é


evidente”, “extrema, “indispensável”, “imprescindível” e “essencial para o oficial
superior”, denotam o valor da PME e foram classificadas na categoria “importante”.
A outra categorização, diametralmente oposta, foi especificada como “não
importante” (as mesmas categorias serão usadas na próxima questão).
Após a judiciosa análise dos dados fornecidos pelos especialistas
entrevistados, obtiveram-se as condições técnicas de agrupar todas as respostas,
ou seja, 100% (cem por cento) na categoria delineada como “importante”.
Conseqüentemente, infere-se dos respondentes, com um grau de absoluta
certeza, de que a Educação Militar Profissional constitui-se em disciplina importante,
no bojo da formação do oficial de Estado-Maior da Força Aérea Brasileira, e os
conhecimentos advindos desse tipo de instrução são necessários ao exercício das
funções que lhe serão incumbidas em um Comando Singular ou Combinado.
A pergunta número cinco buscou, fundamentalmente, respostas para qual a
importância da teoria para o oficial de Estado-Maior da Aeronáutica Brasileira
executar as atividades práticas da carreira militar na opinião de VExa/VSa?
Houve unanimidade entre os entrevistados no sentido de que cabe à Escola
de Comando e Estado-Maior visar à formação desses futuros assessores de alto
gabarito (ao Chefe de um Estado-Maior, em tempo de paz, e, em tempo de guerra,
ao próprio Comando Supremo das Forças Armadas, o Presidente da República),
planejadores militares, estrategistas do poder aéreo, em grau de excelência.
Decerto, há um sem-número de conhecimentos, em termos até de cultura geral, que
devem ser ministrados, ao longo do Curso de Comando e Estado-Maior.
Logo na resposta do primeiro especialista, surge a importância de tema
importante ao país, em termos de Defesa Nacional, que é o “relacionamento civil-
militar” (o oficial possui uma visão político-estratégica aguçada e uma cultura geral
acima da média, pois o respondente está hoje na Organização da Nações Unidas e
já havia feito Curso de Altos Estudos Militares no exterior, o Air War College).
A idéia supracitada ratificou-se em outra resposta: “o militar se distingue como
profissional preparado para sua missão constitucional no conhecimento da teoria
militar, independente de suas atribuições administrativas da Força na paz”.
Ao se combinarem as respostas da questão anterior com a que atualmente se
interpreta, observa-se a relevância dos instrutores terem um conhecimento
atualizado e uma vasta cultura geral, visando ao repasse dessas competências
teórico-conceituais aos seus alunos do Curso de Estado-Maior.
A questão doutrinária emerge com vigor entre os entrevistados, pois se
caracteriza por ser um conjunto importantíssimo de princípios, de normas, de
condutas, ou seja, se constrói com fonte na teoria e com fundamento no
conhecimento empírico advindo, por exemplo, da história militar e da experiência e
é, enfim, receptáculo de sabedoria adquirida ao longo do tempo, mas que evolui com
o aparecimento de novas teorias e da evolução tecnológica e se adapta às
circunstâncias e à realidade fática.
A teoria se constitui em fundamento à prática e tem validade temporal
variável, pois é tão válida quanto mais se aproxima da realidade fática. Se possui
consistência de pensamento e solidez conceitual, então pode perdurar. A teoria do
estrategista do poder aéreo, Seversky, e, em menor escala, a de Douhet se
coadunam com a idéia do primeiro respondente: “Geopolítica do poder”.
O especialista que vislumbrou esse viés afirmou: “a teoria permite a quem a
estuda conhecer a visão do seu formulador sobre fatos práticos ocorridos. É uma
oportunidade de aprendizado sobre situações que se repetem ao longo da história”.
Outro entendimento pertinente foi do especialista que afirmou “A teoria é uma
forma de validar raciocínios, metodologias”. O respondente ultrapassou a questão
meramente metodológica da validade da teoria e vai mais além nesse pensamento:
“[...] que servirão de embasamento para futuras análises. Sem que haja um estudo
do raciocínio que levou à tomada de decisão, fica difícil estabelecer métodos de que
possam ser repassados e que assegurem novas vitórias”.
A teoria torna-se, por si só, fundamento imprescindível às atividades práticas
em qualquer atividade humana. Houve um dos respondente que assim argumentou:
“em tudo na vida, seja na atuação como um oficial de Estado-Maior ou qualquer
outro tipo de tarefa, é primordial que se tenha uma base teórica bem sedimentada”.
O consultado explica o porquê da afirmação e lembra que a teoria serve “para que o
militar possa executar as atividades práticas sabendo o que e porque está fazendo”.
Surgiu, então, a idéia de um especialista, que afirmou veementemente:

O oficial de Estado-Maior tem que dominar com profundidade os


conhecimentos específicos da sua área de atuação e, além disso, conhecer
as implicações dela com as demais. Os conhecimentos adquiridos apenas
através do desempenho prático ficam limitados ao seu círculo de atuação,
impedindo uma análise e avaliação mais amplas.

Houve o comentário de um dos respondentes que pode corroborar a


afirmação do citado anteriormente:

“A teoria é ligada à experiência, contexto, do teórico. Não válida em função


do período considerado, porém serve de fundamentação, estudo,
comparação, projeção. TEORIA; Explica, permite opções, amplia o leque de
opções; PRÁTICA: se esgota, não permite opções, limita.”.

Pode-se, então, entender que os entrevistados, com uma ótica coerente,


expressam que aliar a experiência empírica com o conhecimento teórico pode ser
uma fórmula a ser ultimada. A instrução prática voltada ao adestramento e ao
treinamento psicomotor possuem validade, porém o oficial de Estado-Maior
necessita de bagagem teórico-conceitual básica, a respeito das teorias do poder
aéreo, para atuar em um comando combinado.
O atual Comandante da ECEMAR, Brigadeiro-do-Ar Lucio Alves Ângelo,
afirmou exatamente que: “entendo que a teoria representa a base, o ponto de
partida para a boa execução de qualquer atividade prática, não só por propiciar
embasamento prévio, como também para aumentar a autoconfiança.”.
Houve uma resposta que demonstrou o indício de que pouco (ou quase nada)
se valoriza a teoria no âmbito do COMAER, principalmente, se combinada às
respostas dos questionários aplicados aos sujeitos da pesquisa: “o conhecimento
das teorias do poder aéreo é um degrau a mais para o oficial saber argumentar suas
posições, porém ele executa sua atividade prática sem este conhecimento”.
Descartou-se essa resposta, devido à incoerência do respondente (visto que afirmou
“sobre teoria → ele [sic] o oficial de Estado-Maior necessita de conhecimento teórico
para pôr em prática suas ações”, a fim de se estabelecer uma devida categorização.
As duas categorias, similares às aplicadas na questão anterior, redundaram
no resultado de cem por cento (a teoria é “importante” à atividade prática). Exceto a
descartada resposta supracitada, as demais respostas foram sinônimos: “muito
necessária”, “devem ser conhecidas”, “de suma importância”, “é primordial”, etc.
A questão de número seis indagava, primordialmente, qual (is) é (são) a (s)
teoria (s) que deve (m) ser estudada (s), na opinião de VExa/VSa, por oficiais
de Estado-Maior da Aeronáutica Brasileira?
No que tange à relevância do estudo das teorias de guerra aérea para o
oficial de Estado-Maior, um especialista informou que “todas são importantes”. Nesta
resposta, observam-se duas evidências primordiais. Uma diz respeito ao fato de que
o entrevistado poderia conhecer, profundamente, todas as teorias de guerra aérea.
Em contrapartida, há uma ínfima probabilidade desse respondente conhecer, com
solidez e intimidade, o pensamento de todos os teóricos do poder aéreo. Portanto,
há mais um indício do desconhecimento desses teóricos da guerra aérea, inclusive
por parte dos instrutores da Escola, cujo Corpo Docente respondeu à esta pesquisa.
Por sua vez, o especialista que citou: “teoria dos centros de gravidade
(análise); [...]; além de outras relacionadas a comando e controle, superioridade
aérea [...]”, faz referência, respectivamente, a três conceitos similares aos de
Warden III (a teoria dos cinco anéis aplica o conceito de centro de gravidade), de
Boyd (o ciclo OODA se refere a uma teoria de C2) e de Douhet (o seu “domínio do
ar” tornou-se as atuais supremacia e superioridade aéreas).
O estabelecimento de categorias não se realizou neste item em face da
inadequação técnica. Não houve condição de se formar um princípio classificatório.
Entretanto, a incidência de respostas positivas, para “teorias do poder aéreo”,
demonstraram a validade e a importância do estudo de teorias particulares, que se
perfazem por uma bagagem conceitual e doutrinária própria do poder aéreo.
Dos vinte e cinco especialistas entrevistados, dezesseis citaram, de modo
genérico, as teorias do poder aéreo. Outros quatro citaram somente o nome de um
teórico do poder aéreo como, por exemplo, Giulio Douhet. Com isso, obtém-se um
total de 80% (oitenta por cento) de afirmativas acerca da validade e da importância
do estudo de teorias do poder aéreo. Outro entrevistado lembrou que:

Como é do seu conhecimento, recentemente ocorreu uma reavaliação


curricular do CCEM. Acredito serem aquelas que atualmente constam do
CM do mencionado Curso, lembrando serem necessárias atualizações,
quando pertinentes, em especial devido às evoluções doutrinárias.

Uma resposta fornecida foi: “A teoria militar deve ser estudada em todas as
suas vertentes históricas, para que o oficial tenha uma formação prática mas
também filosófica da arte militar. Não apenas o poder aéreo deve ser visto, mas os
principais pensadores e as experiências históricas das guerras da humanidade.”. De
fato, a História Militar deve ser estudada, assim como as teorias do poder aéreo.
Outra resposta: “Além de toda a base doutrinária necessária ao nivelamento
de conhecimento dos Alunos, no que concerne à Teoria do Poder Aéreo, com seus
principais marcos teóricos (Douhet, Mitchell, Seversky, Trenchard, Warden), dentro
da disponibilidade de material no meio acadêmico [...]”. (grifos nossos) Assim, esse
pensamento reflete uma realidade que não condiz com os ensinamentos hoje
ministrados na Escola. Se os instrutores creditam importância às teorias do poder
aéreo, então por qual razão esses conhecimentos não são ministrados?
A questão sete perquiria, essencialmente, a relação existente entre doutrina e
teoria: visto que a teoria pode ser uma fonte da doutrina militar (nas escolas
militares do COMAER, há avaliações sobre doutrina e são entregues aos
alunos documentos doutrinários, formais, escritos e prontos, os quais, às
vezes, podem conter concepções teóricas de pensadores clássicos e
contemporâneos). Como VExa entende a validade de se ensinarem e se
estudarem as teorias do poder aéreo pelas escolas militares da Aeronáutica
Brasileira, no processo ensino-aprendizagem do Comando da Aeronáutica,
para levar os alunos ao entendimento e à reflexão sobre a origem dessas
doutrinas?
Houve congruência das respostas proferidas pelos especialistas, no sentido
de que em todos os cursos da Aeronáutica é essencial que se estude a “Teoria do
Poder Aéreo” e sua “evolução histórica”. Esse estudo seria realizado com o intuito de
fornecer, aos oficiais de Estado-Maior, conhecimento básico e subsídios culturais.
Assim, haveria a possibilidade de induzi-los à reflexão, no que concerne às doutrinas
militares e suas devidas atualizações em face dos seus fatores influenciadores e
modificadores (sendo que um desses fatores é a teoria). Um entrevistado lembra:

As doutrinas são compilações de teorias existentes ou aperfeiçoamentos


de doutrinas anteriores, influenciadas [sic] as doutrinas, pelos
conhecimentos teóricos daqueles que as formularam. É a “visão sobre a
visão” de terceiros, sujeitas à “deturpação” da visão primária do teórico
original [sic] pensador que primeiro formulou aquelas idéias. A ECEMAR,
quando trabalha “Análise Doutrinária” oferece para seus alunos a “visão
deturpada” sobre teorias consagradas do emprego do poder aéreo,
limitando o entendimento e o aprendizado do oficial aluno. O ideal, na
minha opinião, seria confrontar as doutrinas com as teorias.

Os entrevistados foram unânimes acerca importância do estudo da História


Militar. “Um dos melhores estrategistas militares do século passado, o general
vietnamita Vo Nguyen Giap, era professor de história”256.
O especialista que se reportou à “missão básica da Força Aérea” fez menção
à soberania nacional do espaço aéreo brasileiro, em tempo de paz, e à manutenção
da superioridade aérea em tempo de conflito armado257.
Um respondente alinhou seu pensamento com o de Douhet, ao responder:
“cabedal [...] conhecimentos que o aluno do Curso de Comando e Estado-Maior traz,
permitir que os alunos possam melhor entender, refletir e sobretudo analisar a
doutrina militar [...] sugerindo modificações que devem ser encaminhadas [...]”.
Há respostas que fazem referência à atividade-fim desses oficiais: “Para
quem vai trabalhar com Poder Aéreo, tem que estudar Teoria do Poder Aéreo.”; e
“Em todos os cursos da Aeronáutica é essencial que [sic] estude a Teoria do Poder
Aéreo e com isso [sic] faça uma relação com a nossa Doutrina”.
O atual Comandante da ECEMAR, Brigadeiro-do-Ar Ângelo, afirmou que:

Considero plenamente válido o ensino e o estudo das teorias do poder


aéreo, que embasam a compreensão do assunto com maior abrangência.
Entretanto, há que se priorizar a pesquisa e o intercâmbio do que vem
acontecendo em nível mundial, para que as atividades didáticas, nesse
sentido, ressaltem o que há de mais atual quanto ao assunto.

A questão de número oito era uma questão do tipo aberta e pretendia


investigar qual (is) é (são) o (s) comentário (s) que VExa/VSa gostaria de
acrescentar, no que se refere ao problema e aos objetivos da pesquisa?
“A carga horária existente no Curso de Comando e Estado-Maior não abarca
tempo suficiente para que se dê um estudo aprofundado dos pensadores do Poder
Aéreo. Isto afeta o nível de conhecimento dos alunos sobre o assunto.”. Essa
afirmação pode ser um indício de necessidade de aprofundamento no tema trazido à
baila nesta pesquisa, pois o Brigadeiro Alves confirmou a evidência de que havia um
exercício, no CBA e no CCEM, sobre a evolução do poder aéreo e suas teorias.
Quanto à atividade escolar do atual CCEM, um respondente (chefe da
Subdivisão de Doutrina Militar) afirmou que, na busca de conhecimentos novos em
termos teórico-doutrinários, especificamente, com relação aos pensadores do poder

256
O VIETNAM segundo Giap. Rio de Janeiro: Saga, 1968, prefácio.
257
Ambos os conceitos foram formatados por Douhet, o qual teve a sagacidade de compilar “idéias
surgidas já na Primeira Guerra mundial com os homens que lutaram nos céus da Europa.”
JOHNSON, J. E.. Guerra no ar. Porto Alegre: Editora Globo, 1966, p. 1-82 (passim).
aéreo: “São ministrados alguns tempos para que conheçam [sic] os teóricos e é feito
um trabalho de análise de conflitos onde são identificadas várias teorias”. Esse
trabalho difere, em escopo e em carga horária, daquele supracitado pelo Brig. Alves.
Porém, não foi possível demonstrar, com exatidão, se esse fato afeta o nível
de conhecimento e qual a exata causa desse “retrocesso” na carga horária do Curso
de Comando e Estado-Maior no que tange à Educação Profissional-Militar no âmbito
da Força Aérea. O atual currículo do Curso contempla atividades escolares que não
dizem respeito ao ensinamento de assuntos intrinsecamente afetos ao poder aéreo.
A opinião balizada pelos entrevistados refere-se à necessidade de se engajar
em uma campanha de fomento à Educação Profissional-Militar, respeitando-se os
objetivos de ensino e os níveis hierárquicos do cognitivo258.
Outro respondente aludiu à temática do mister de se fornecer um mínimo de
conhecimento teórico, aos oficiais-alunos, como uma fundamentação básica para
capacitá-los com competências necessárias à atuação eficiente num Estado-Maior:

Acredito que a ECEMAR deva, o quanto antes, repensar a estrutura do


Curso de Comando e Estado-Maior, para que realmente o oficial conclua o
Curso de Estado-Maior com o embasamento teórico desejável e plenamente
capacitado ao desempenho de suas funções em nível Estado-Maior.

Um dos entrevistado afirmou que o oficial de Estado-Maior deve, sempre, se


encontrar “plenamente capacitado ao desempenho de suas funções em nível de
Estado-Maior”. A Educação Militar Profissional de recursos humanos redunda na
capacitação de homens e de mulheres da Força Aérea para cumprirem tarefas com
efetividade259, no contexto de um Estado-Maior e em tempo de guerra, sob pressão
psicológica e estresse.
O atual Comandante da ECEMAR, Brigadeiro-do-Ar Lucio Alves Ângelo, não
descartou a necessidade de reformulação dos currículos das escolas militares,
todavia lembrou que há a iminência de publicação da nova PDN:

Aproveito a oportunidade para lembrar que estão sendo reformuladas, por


setores outros que não as forças armadas, tanto a política quanto a
estratégia de defesa do país. Dessa forma, pode ser necessário

258
Trata-se da Escola Preparatória de Cadetes da Aeronáutica, com uma educação profissional-
militar de ensino médio, da Academia da Força Aérea com o ensino superior (no nível de
graduação), da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (EAOAR) com o ensino superior (no nível
de especialização) e, por fim, da ECEMAR (tanto no ESCCEM e CCEM, quanto no CPEA).
259
A efetividade aqui se faz entender pelo somatório de eficácia e de eficiência. A idéia de efetividade
tem um cunho social, ou seja, há que haver uma relevância social nas atividades executadas.
atualizar o currículo de nossas escolas, se e onde convier, após a
aprovação de tais documentos. (grifos nossos)

4.5 INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS DA PESQUISA DOCUMENTAL

Na pesquisa documental, a investigação pormenorizada das normas que


regem o Curso de Comando e Estado-Maior ressaltou a existência da subunidade
nomeada de “Análise Doutrinária de Conflitos Armados (1302FA04)”. Em 2007,
havia uma aula expositiva ministrada por um instrutor (entrevistado pelo autor deste
estudo). Não prevista em norma (PUD), a instrução era ministrada, em dois tempos,
com abordagem meramente informativa e no nível de cognição da compreensão.
Ao mesmo tempo, uma análise comparativa foi empregada como ferramenta
de trabalho, na pesquisa documental, para se analisar o atual currículo do Curso de
Estado-Maior. Não se pode afirmar, por mensuração ou por mera ilação, que
determinado Curso de Comando e Estado-Maior, no exterior, é ou possa ser melhor
do que o da FAB. Essa inferência pode ser incorreta e temerária, pois as questões
de ordem política, sócio-cultural, educacional e doutrinária são relevantes à
determinação de competências a serem adquiridas por cada oficial em seu país.
No que tange à subunidade supracitada, o Plano de Unidades Didáticas
(PUD)260 não mudou em 2008. A par do que prevê somente esse Plano, instrutores
da Seção de Guerra Simulada da Escola, com cursos no exterior, inovaram aquela
instrução de 2007 e introduziram, em 2008, aulas sobre teorias do poder aéreo.
Após a leitura do Plano de Unidades Didáticas (PUD) do Curso de Comando
e Estado-Maior (de 2005, 2006, 2007 e 2008), advém a certeza de que os oficiais
recém-formados, na turma de 2007, pesquisaram as teorias de guerra de Clausewitz
e de Sun Tzu, na execução em trabalho de grupo do exercício sobre conflitos
armados, porém houve muito pouca ênfase nas teorias de emprego do poder aéreo.
Além disso, os oficiais-alunos vislumbraram, em 2007, superficialmente, as
idéias elementares dos pensadores do poder aéreo, por intermédio de uma aula
expositiva (com apenas dois tempos de quarenta e cinco minutos cada uma), a qual
não abarcou todas as linhas de pensamento acerca do arcabouço teórico-doutrinário
existente ao longo desses, aproximadamente, cem anos de evolução do poder aéreo
como instrumento militar do poder político. O Plano de Unidades Didáticas de 2007
260
No meio acadêmico civil, têm-se as ementas de disciplinas, as quais são denominadas, por
analogia, de Plano de Unidades Didáticas (PUD) no Sistema de Ensino Militar da Aeronáutica.
previa (não mudou em 2008), para essa atividade nomeada de “análise doutrinária
de conflitos armados - (1302FA04)”, os seguintes “objetivos operacionalizados”:

a) distinguir os princípios de guerra e as características da Força Aérea


em conflitos bélicos recentes, à luz das Doutrinas em vigor (An);
b) categorizar as operações, as tarefas e as missões da Força Aérea nas
guerras do Século XX (An); e c) organizar idéias sobre a Doutrina de
Emprego da Força Aérea Brasileira, a partir da observação de guerras
261
contemporâneas (Si) . (grifos nossos)

O delineamento acima abarcava um “CONTEÚDO PROGRAMÁTICO”, o qual


preconizava a abordagem dos seguintes assuntos: “Princípios de Guerra;
Características de emprego da Força Aérea; e Operações de Força Aérea”.
Em termos de “RECOMENDAÇÕES METODOLÓGICAS”, pôde-se efetuar
observações categóricas acerca da ementa de disciplinas e, da mesma forma, sobre
a dinâmica dessa atividade escolar prevista para os alunos:

A dinâmica a ser empregada nesta subunidade é o Trabalho de Grupo (TG),


e o objetivo final do exercício será levar os alunos a formularem
conclusões próprias sobre o relacionamento da Doutrina da Força
Aérea Brasileira e as características de emprego da arma aérea em
conflitos bélicos recentes. (grifos nossos)

A carga horária total prevista é de vinte e seis tempos (de quarenta e cinco
minutos), sendo dezoito tempos alocados às pesquisa de campo e, para debates e
exposições orais, são reservados oito tempos (um para cada grupo de trabalho).
Um instrutor da ECEMAR se reportou, em junho de 2004, ao Comandante
daquela Escola de Altos Estudos Militares na forma de “uma avaliação crítica”:

A capacitação do oficial de Estado-Maior: As constantes alterações


ocorridas no conteúdo programático do CCEM influenciou na retirada de
importantes assuntos e disciplinas que davam um embasamento teórico ao
Curso. Fundamentos e Dimensões da Estratégia;A Evolução do Poder
Aéreo, raciocínio igual pode ser apresentado para outros importantes
temas que não estão sendo mais explorados no CCEM, tais como: [...]
análise estratégica de conflitos: cujo enfoque deveria ser o emprego do
Poder Aéreo (informação verbal).

Saliente-se que, sob o aspecto deste estudo em particular, com respeito às


“REFERÊNCIAS” os dados bibliográficos, previstos no Plano de Unidades Didáticas
de 2008, constituem-se em apenas três doutrinas formais (manuais). Não há
nenhum livro, tampouco artigos indicados pela Escola aos alunos do atual Curso.

261
A abreviatura “An” significa análise e a nomeada de “Si” tem a conotação de síntese.
Pode-se inovar o Curso, constantemente (como fizeram os instrutores já
citados ao sublinhar o valor das teorias do poder aéreo), validá-lo por intermédio de
pesquisas após a formação dos alunos e rever indicadores de desempenho dos
oficiais que concluem o Curso e se apresentam prontos à execução de atividade-fim.
Assim, pode-se apregoar, pela análise e interpretação dos dados, que os
objetivos específicos propostos, na parte introdutória deste estudo, foram atingidos.
Analisou-se o atual processo de ensino-aprendizagem, por intermédio de
entrevistas com os especialistas e de pesquisa documental no Plano de Unidades
Didáticas do Curso de Comando e Estado-Maior. Avaliou-se a instrução concernente
à Educação Militar Profissional e, especificamente, às teorias do poder aéreo.
Por meio de uma pesquisa bibliográfica, provieram dados de proeminentes
pensadores e filósofos da educação.
Por sua vez, Pascal Ide262 afirma sobre o inquestionável valor da educação:
“de fato, todos nascemos com uma inteligência, mas ninguém nasce com um manual
de instruções para utilizá-la. Cabe à educação fornecê-lo”.
Anísio Teixeira263 utiliza a concepção de um processo sem-fim que implica:
“educação é, sobretudo, continuidade e mudança − processus”. Assim sendo, a
educação pode ser entendida com uma atividade continuada. Requer do aluno a
acumulação de conhecimentos. Estes podem partir de conceitos mais simples para
os mais complexos, ou seja, nutrir um pensar dedutivo: do geral para o particular.
Ao aluno da Escola Preparatória e ao cadete da Academia264, pode-se

262
IDE, Pascal. A arte de pensar. São Paulo: Martins Fontes, 2000, prefácio.
263
TEIXEIRA, Anísio. Educação para a Democracia: introdução à administração educacional. Rio de
Janeiro, Editora UFRJ, 1997, p. 263.
264
Na EPCAR, a Educação Militar Profissional poderia servir de estímulo inicial aos alunos de
Barbacena-MG. Podem-se empregar atividades escolares meramente incipientes (até mesmo
lúdicas), como por exemplo, há o filme que retrata um livro de Seversky e muitos outros filmes de
guerra que serviriam de pano de fundo para o professor explorar as questões de história militar e,
ao mesmo tempo, os conceitos de teóricos do poder aéreo como Douhet, Warden III, Boyd,
Mitchell, Tedder, Slessor, Seversky e outros. Na Academia da Força Aérea (conhecida como
AFA), poderiam ser trabalhados em sala de aula e explorados artigos que compilam as idéias
básicas dos teóricos e pensadores clássicos e contemporâneos do poder aéreo (o que há na
Academia, hoje, é uma aula sobre História Militar ministrada por iniciativa da Professora Doutora
Tania Regina Pires de Godoy (AFA). Q. v. painel apresentado pela professora Tânia, no trigésimo
encontro anual da ANPOCS, em 2006, com o tema: “A compreensão do perfil profissional militar
da Força Aérea Brasileira a partir da análise de suas doutrinas aeroespaciais de emprego (Anos
1970 a 2006)”. Disponível em:<http://www.cpdoc.fgv.br/projetos/cfa21/arqs/anpocs2006/213.pdf>.
A leitura de livros poderia ser iniciada no GITE ou na EAOAR, visando à bagagem conceitual. No
Exame de Seleção ao Curso de Comando e Estado-Maior (ESCCEM), a ECEMAR poderia avaliar
os candidatos ao Curso de Comando e Estado-Maior, então, em termos de estratégia (avaliação
voltada aos conceitos dos estrategistas do poder aéreo). Neste momento da carreira, seria uma
excelente oportunidade dada, pelo Sistema de Ensino, ao aluno militar da Aeronáutica Brasileira
fornecer conhecimentos teóricos básicos afetos à arma aérea. Assim, às instituições
de ensino, impõe-se a elaboração de um eficiente planejamento de longo prazo.
Investigou-se a metodologia, o currículo e a carga horária, do Curso de
Comando e Estado-Maior, no que tange às teorias do poder aéreo e atividades afins,
com a utilização da técnica de pesquisa documental. Aprofundou-se a investigação,
tanto no Currículo Mínimo265, quanto no Plano de Unidades Didáticas do Curso, com
uma análise desses documentos desde o ano de 2005 até o presente momento.
Inferiu-se o grau de importância advindo da aquisição de conhecimento, por
oficiais com o Curso de Comando e Estado-Maior, concernente às idéias de teóricos
do poder aéreo. Consumou-se pela pesquisa bibliográfica e mediante a investigativa
pesquisa de campo por meio das entrevistas com os especialistas. Estes
responderam, com cem por cento de respostas assertivas, que é válido e relevante,
aos oficiais da Aeronáutica que cursam o CCEM, obter o conhecimento teórico sobre
poder aéreo para conceder fundamento à atividade de assessoria em Estado-Maior.
Para Cervo266, “toda construção teórica pressupõe uma ambição científica”.
Nessa linha de raciocínio, Cervo explica que as teorias colimam explicar os fatos:

Nas ciências sociais, trata-se de organizar o conhecimento, ordenar os


passos de sua aquisição e desenvolver conceitos permanentes com o
intuito de explicar determinados fenômenos. Mas a teoria envolve
substratos doutrinais, tradições e posturas diante do real, que dão origem a
correntes, paradigmas e modelos diversos.

O Poder Aéreo é parcela do Poder Militar de um estado, cuja doutrina (na


citação acima de Cervo, entendida como ideologia, política de governo e não
doutrina militar de emprego) e cultura incorporam fatores sociais e psicossociais.
Segundo Bobbio267, “aquilo que ‘Estado’ e ‘política’ têm em comum (e é
inclusive a razão de sua intercambiabilidade) é a referência ao fenômeno do poder”.
Para Bobbio268, o militar precisa entender que “o escopo maior de sua

para obter conhecimentos relativos às teorias do poder aéreo. Pode-se citar o exemplo da Escola
de Guerra Naval, a qual executa um similar (ao ESCCEM) exame de admissão, no qual se aborda
e se exige conhecimento da estratégia militar e de teóricos do poder naval.
265
No Sistema de Ensino Militar da Aeronáutica, o currículo mínimo (CM) corresponde ao currículo
acadêmico, como é conhecido no meio universitário civil.
266
CERVO, Amado Luiz. In. ______(org.). O desafio internacional: a política exterior do Brasil de
1930 a nossos dias. Brasília: Editora da UnB. 1994, p. 10-11. Cf. LAKATOS, Eva Maria; MARCONI,
Marina de Andrade. Fundamentos de metodologia científica. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2007, p. 116.
267
BOBBIO, Norberto. Estado, governo e sociedade: por uma teoria geral da política. 13. ed. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 2007, p. 76.
268
Ibidem.
existência reside, exatamente, nessa figura do Estado ou sistema político.”.
Logo, saber interpretar as teorias do poder aéreo não pode ser diferente para
a situação dos oficiais de Estado-Maior da Aeronáutica. Estes devem entender que o
poder aéreo é um meio, cujo fim a ser colimado é sempre o objetivo político.
Concluiu-se, afirmativamente, sobre o valor do estudo e do conhecimento
das teorias do poder aéreo para a ampliação dos horizontes cognitivos dos oficiais
de Estado-Maior da Aeronáutica e à construção de uma consciência dedutiva e
reflexiva, pela interpretação das respostas dos entrevistados e pela observação
participante como ex-aluno do Curso de Comando e Estado-Maior de 2005.
Para Liddell Hart269, a História Militar como “experiência prática” e a teoria
como arcabouço de conhecimentos solidificados têm valor, pois, em tempo de paz,
o militar deve ser instruído com os ensinamentos de seu “emprego eventual”:

Ao contrário daqueles que seguem outras carreiras, ‘o soldado


profissional não tem oportunidade de praticar regularmente a sua
profissão’. Poder-se-ia, na realidade, até mesmo argumentar que, num
sentido literal, a carreira das armas não é absolutamente uma profissão,
mas apenas um ‘emprego eventual’. (grifos nossos)

Para Liddell Hart, eventual. Porém, para Huntington270 a profissionalização da


carreira militar existe e é necessária no atual contexto das sociedades modernas.
Liddell Hart271, cita uma afirmação atribuída a Bismarck272 que, de modo
próprio, alude à questão militar. Assim, interpreta-se a validade do militar apreender
com as experiências do passado e com as teorias de pensadores militares:

Se o argumento – de que não existe, a rigor, uma ‘profissão das armas’ –


não é válido na maioria das forças armadas da atualidade em vista do
trabalho que realizam é, sem dúvida, fortalecido na prática, porquanto as
guerras tornaram-se menos numerosas, se bem que maiores, em
comparação com as do passado, porquanto até mesmo o melhor
treinamento de tempo de paz é ume experiência mais ‘teórica’ do que
‘prática’. O aforismo de Bismark [...] Ajuda-nos a perceber que existem duas
formas de experiência prática – a direta e a indireta – e que, das duas, a
experiência indireta pode ser a mais valiosa por ser infinitamente mais
ampla. Mesmo na mais ativa das carreiras, especialmente na carreira
militar, o escopo e as possibilidades da experiência direta são
extremamente limitados. [...] A experiência direta é, por natureza,
demasiadamente limitada para constituir uma base adequada tanto para a

269
LIDDELL HART, Basil Henry. Estratégia. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1966, p. 13.
270
HUNTINGTON, Samuel Phillips. O soldado e o estado: teoria e política das relações entre civis e
militares. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1996, passim.
271
LIDDELL HART, op. cit., p. 13.
272
Ibid. “Os tolos dizem que aprendem pela experiência. Eu prefiro tirar proveito da experiência
alheia”. Segundo Liddell Hart, essa assertiva não seria da autoria de Bismarck.
teoria como para a prática. Na melhor das hipóteses, produz uma atmosfera
valiosa para purificar e robustecer o pensamento. O maior valor da
experiência indireta reside em sua maior variedade e amplitude.

Estudar as teorias do poder aéreo, sob os auspícios de conflitos armados do


passado é relevante para oficiais de Estado-Maior de qualquer força aérea.
Mensurou-se o nível de conhecimento, acerca dos pensadores do poder
aéreo, detido pelos oficiais de Estado-Maior da Aeronáutica Brasileira ao se realizar
a aplicação dos questionários tipo teste em uma amostra aproximada de 50,00 %
(cinqüenta por cento) de sujeitos da pesquisa em relação à população delineada
(total de 591). Conseguiu-se um “n” significativo da população escolhida, que
concedeu, por conseguinte, um fidedigno grau de confiabilidade à pesquisa em tela.
Os resultados obtidos com esses testes evidenciaram que, não obstante os
especialistas entrevistados considerarem importante o ensinamento de teorias afetas
ao poder aéreo, o conhecimento demonstrado pelos sujeitos da pesquisa aponta ser
pouco e, em outra nomenclatura, poderia ser designado de insuficiente.
Ratifique-se que a média final encontrada com os resultados supracitados
ficou em um valor percentual de 56,59% para todos os sujeitos da pesquisa.
Tendo em vista o atendimento de todos os objetivos específicos sugeridos
pelo desenho de pesquisa elaborado, pôde-se responder, efetivamente, às
questões que nortearam o estudo por meio das técnicas escolhidas.
Em face do método aplicado (explicitado no capítulo quatro), há a possível
opção pelo aperfeiçoamento futuro do currículo do Curso. Essa alternativa pode ser
(e o foi no ano corrente273) testada e corroborada. Aulas meramente informativas
forneceram pouquíssimos subsídios à familiarização dos alunos do CCEM 2008
com teorias do poder aéreo. Novas metodologias podem ser acrescidas, como
seminários, painéis, simpósios, entrevistas didáticas com expertos no tema, etc.
Evidenciou-se que os instrumentos de pesquisa de campo utilizados neste
273
Apesar de não previsto no Plano de Unidades Didáticas do Curso, instrutores da Seção de Guerra
Simulada da Escola de Comando e Estado-Maior da Aeronáutica, inovaram positivamente as
atividades escolares realizadas em 2007, com a anuência do Chefe da SDDM, e introduziram, em
2008, aulas sobre teorias do poder aéreo (clássicas e modernas), coerção militar, RMA (Revolution
in Military Affairs ou Revolução nos Assuntos Militares), CW (Cyber Warfare; Cybernetic War;
Cyberwar ou Guerra Cibernética), NCW (Network-Centric Warfare ou Guerra Centrada em Redes),
etc. Esses instrutores adquiriram conhecimento sólido acerca das temáticas supracitadas em
cursos realizados no exterior, similares ao Curso de Comando e Estado-Maior. Eles têm repassado
essas informações aos oficiais-alunos do atual Curso, por intermédio de aulas expositivas, as quais
atingiram o objetivo de trazer uma inovação à Escola. Porém, tratou-se de um ensinamento
desenvolvido por meio de um só tipo de aprendizagem: a aula expositiva. Não se concedeu um TG
ou estudo de caso. Podem-se inovar as técnicas e os métodos. A aprendizagem ocorreu, no nível
cognitivo de conhecimento, por mera familiarização dos alunos com os assuntos supracitados.
estudo propiciaram uma averiguação criteriosa sobre o ensino na ECEMAR, que
gerencia os dois Cursos de Altos Estudos Militares no Comando da Aeronáutica.
A efetiva situação do pesquisador como observador-participante do processo
ensino-aprendizagem na ECEMAR, quando foi oficial-aluno em 2005, e como
adjunto de instrutores responsáveis por disciplinas como “Doutrina Militar” e
“Planejamento para o Preparo da Força Aérea”274, aliada às ferramentas
metodológicas, concederam credibilidade às presentes conclusões advindas dessa
condição tão próxima do objeto de estudo: a educação militar profissional dos oficiais
de Estado-Maior da Aeronáutica Brasileira focada nas teorias do poder aéreo.
Por conseguinte, a capital conclusão desta pesquisa se refere à mensuração
do grau de conhecimento teórico, sob o ângulo das teorias do poder aéreo, detido
pelos oficiais superiores da Aeronáutica Brasileira com o Curso de Comando e
Estado-Maior, de 2005 em diante. As causas que ensejaram o fenômeno também
foram motivo de investigação científica por parte do pesquisador deste trabalho.
Ressalte-se que houve respostas de entrevistados que tangenciaram essa
emblemática questão. Um dos entrevistados atua por quinze anos na área de Ensino
Aeronáutico e ressalvou o mister de haver um crescente contínuo na “capacitação”
desses recursos humanos (oficiais de Estado-Maior na função de assessores). A
advertência desse entrevistado alia-se às declarações de outros especialistas.
Há uma evidência que pode ser considerada como uma certeza: a educação
constitui-se em atividade cumulativa. Há, na sua essência, o mister de se galgarem
os degraus do saber. Desde os primeiros momentos do estudante nos bancos
escolares das escolas militares da Aeronáutica Brasileira, a obtenção de sólido
conhecimento teórico, por acumulação, deveria ser aperfeiçoada. À ECEMAR
compete preparar o oficial para assumir funções como assessor num Estado-Maior.
Quanto aos trabalhos de grupo realizados acerca de conflitos armados do
passado, frise-se que são deveras amplos. Entretanto, a ECEMAR ministrou, em
2007275 e em 2008, instruções básicas – preliminares poderia ser o vernáculo mais

274
Refere-se ao tópico, da ementa do currículo do CCEM 2008, Método de Planejamento Estratégico
(método para o planejamento institucional da Aeronáutica; análise de centros de gravidade;
avaliação estratégica, avaliação da Força; análise do poder relativo; estabelecimento de ações
estratégicas; e estabelecimento de programas e projetos). E a aula sobre teorias do poder aéreo.
275
Tratava-se de uma aula expositiva (power point), com carga horária de dois tempos, ministrada por
um instrutor da ECEMAR, o qual estava alocado na SDDM, pois saiu da Escola para realizar
missão de dois anos na Coréia do Sul. O oficial demonstrava dedicação à instrutoria, era motivado
e estudioso. Buscava, constantemente, novos conhecimentos. Todavia, a Biblioteca que se
encontrava à sua disposição ainda é precária e os envolvimentos outros afetos ao dia-a-dia da
correto – acerca de concepções dos teóricos, clássicos e modernos, do poder aéreo.
Esse fato se constitui em indício de que a Escola de Comando e Estado-Maior
busca resgatar um exercício276, que afirmou o Brig Alves havia até o ano de 2000,
cujo tema central versava sobre as teorias do poder aéreo e a História Militar.
A inclusão de um Curso de Master in Business Administration (MBA), no
Curso de Comando e Estado-Maior, em 2004, foi comentada por entrevistados como
um fator que corrobora com a diminuição da carga horária afeta à Disciplina Doutrina
Militar, onde se pode adequar, efetivamente, o ensino das teorias do poder aéreo.
Positivamente, evidenciou-se que foi atingido o objetivo geral colimado no
desenho de pesquisa delineado no início deste estudo. Essa afirmação é feita
porque se pôde investigar e medir, pela amostragem abarcada, como se encontra o
nível de conhecimento, acerca das concepções teóricas dos principais pensadores
do poder aéreo, apreendido pelos oficiais de Estado-Maior da Aeronáutica Brasileira.
Decerto, tornou-se objetivo final desta pesquisa mensurar, por meio de um
questionário-teste, o conhecimento apresentado pelos oficiais de Estado-Maior da
Aeronáutica acerca das principais teorias do poder aéreo. Entretanto, a questão
trazida à baila representa uma mensuração de quantum relativo e difícil de ser
definido entre uma linha graduada que pode ir do indesejável ao excelente, do pouco
ao suficiente ou do nada ao muito. Fez-me mister, mensurar e quantificar os dados.
O problema de pesquisa que se formulou foi solvido por meio das técnicas e
do método empregados. Aludiu à insuficiência de conhecimento teórico (pouco em
outra categorização), sob o ângulo das teorias do poder aéreo, detido pelos testados
oficiais-alunos dos seguintes Cursos de Comando e Estado-Maior: 2005, 2006, 2007
e 2008. Além disso, esta pesquisa, realizada com o precípuo intuito de investigar um
fenômeno de cunho científico, obteve, de modo fidedigno, um grau de confiabilidade
necessário à generalização dos resultados apresentados neste estudo.
Entrementes, coligem-se, sinteticamente e em um só conjunto de idéias,
todas as fases do desenho que se compôs. Portanto, recompor-se-ão os detalhes
relevantes e essenciais à total compreensão desta pesquisa.

ECEMAR e, também, da atividade aérea no esquadrão de vôo afetam a disponibilidade do instrutor


para efetuar uma pesquisa mais aprofundada. Essas informações foram obtidas por intermédio de
uma informal entrevista não-estruturada com o próprio oficial-instrutor ora em apreço.
276
Realmente, havia o Trabalho Especial do CBA-99, sobre História Militar e Emprego do Poder
Aéreo. Foi retirado do currículo do Curso Básico de Admissão. Cópia original dessa atividade
escolar foi obtida in loco por autorização do Brigadeiro-do-Ar ALVES, ex-Comandante da ECEMAR.
5 CONCLUSÃO

A vitória sorri – [sic] está reservada – àqueles que se antecipam aos novos
desenvolvimentos na natureza da guerra e não àqueles que se adaptam a
esses desenvolvimentos depois que ocorrem. General Giulio Douhet

O primeiro capítulo do trabalho abarcou considerações sobre poder, política,


estratégia e doutrina militar. Seguiu-se por uma subseção, cujo foco central foi afeto
à teoria e à relevante relação factual entre conhecimento teórico e prática de ofícios.
Uma das principais funções da teoria, no caso particular deste estudo, é a de induzir
o oficial de Estado-Maior à reflexão judiciosa, a fim de que melhor assessore na
formulação das doutrinas da Força Aérea e do Ministério da Defesa e participe em
um Estado-Maior singular ou combinado como assessor eficiente. No que se refere à
participação em um Estado-Maior singular, onde não há a interação com oficiais das
demais Forças Armadas, a questão do conhecimento das concepções teóricas de
pensadores e a interação desse arcabouço teórico-conceitual com a doutrina de
emprego, se torna relevante à Força Aérea. Ao se analisar a situação de operações
combinadas com as forças co-irmãs, todavia, há um número mais reduzido de
oficiais da Força Aérea a interagir com outros do Exército e da Marinha do Brasil. A
fim de assessorarem o Comandante de um Comando Combinado, faz-se mister que
os oficiais de Estado-Maior detenham conhecimento teórico sobre poder aéreo.
No campo do poder militar, surgiram teóricos no século XX, após Douhet
escrever O Domínio do Ar, que repensaram o poder aéreo conforme as premissas
de Douhet. Outros trouxeram novas visões acerca da arma aérea e suas aplicações.
Após quase sessenta e cinco anos, o coronel Jonh Warden III elaborou a
“Teoria dos Cinco Anéis”, que foi aplicada, na prática, na primeira Guerra do Golfo.
Dez anos antes, John Boyd, outro oficial norte-americano, idealizou a “Teoria
do Ciclo OODA” focada no comando e controle do oponente. Para Boyd, o
“observar-orientar-decidir-agir” parte da premissa que condensar o tempo, chegar
com rapidez aos locais, antes do inimigo, e tomar decisões eficazes são elementos
decisivos na guerra, em face do desgaste psicológico que inflige ao adversário.
Para Robert Pape, o poder aéreo pode ser entendido como eficaz instrumento
político da moderna coerção militar. A eficácia e o real valor estratégico desse poder
estariam na razão exponencial do custo material imposto ao oponente racional.
No capítulo da seqüência, enfocou-se a valorização do Ser Humano. No
contexto da Aeronáutica, o “Homem Aeroespacial” encerra um valor universal
imutável como fonte de informação, de conhecimento e, logo, de poder. Sobretudo,
a idéia balizou a constante preocupação deste estudo com fulcro na educação de
futuros líderes da FAB e advém do pensamento filosófico de Heráclito de Éfeso, para
quem só o “devir” ou a mudança era real e o mundo seria um fluxo perpétuo.
Em face da infalível mutabilidade do mundo e da unicidade do ser humano, a
Aeronáutica deve adaptar os currículos escolares e sua estrutura de Educação às
necessidades decorrentes da célere evolução do conhecimento e às exigências da
Política de Pessoal da Instituição. Torna-se fundamental educar recursos humanos
aptos às exigências da hodierna sociedade internacional, sob o inevitável fenômeno
da globalização, e adaptar-se às exigências de um “mundo plano”.
Ainda no segundo capítulo, divisou-se que o oficial da Aeronáutica tem como
ofício a guerra aérea e deve ser preparado, academicamente, para bem exercê-lo. O
exercício da profissão militar exige uma rigorosa e diferenciada formação. A
instrução da arte militar constitui-se em ensino sui generis, visto que somente nas
escolas militares se apreendem, de modo específico, esse conhecimento acerca da
ciência e da arte da guerra.
Com esse escopo, coube à pesquisa, cujo desenho foi documental,
bibliográfico e de campo, levantar dados que embasassem considerações finais
sólidas, na medida em que o auto-aperfeiçoamento e o autodidatismo, por si só,
produzem um upgrade e um expertise, que complementam os ensinamentos
advindos da sala de aula. Isso foi pormenorizado no terceiro capítulo deste estudo.
No capítulo quarto, galgou-se etapa incomensurável rumo à resposta ao
problema de pesquisa, pois se efetuaram a análise e a interpretação de dados.
A pesquisa bibliográfica forneceu subsídios às inferências redigidas neste
estudo. A teoria é uma das origens da doutrina militar. As outras fontes (ou fatores
de influência) da doutrina podem ser descritas como política, estratégia, experiência,
tecnologia, história militar, ensinamentos colhidos em conflitos armados, etc.
O ensinamento de fundamentos teóricos militares permeia uma educação em
grau de excelência. No caso concreto, trata-se de bem ensinar (e bem compreender)
as teorias do poder aéreo, sejam as clássicas ou as mais recentes. À ECEMAR
caberia, por conseguinte, dar continuidade ao fornecimento de uma Educação Militar
Profissional voltada para a atividade-fim de uma moderna Força Aérea.
Entretanto, a educação consolida-se, também, por cumulação, visto que essa
idéia encontra-se embutida no próprio cerne do educar, do encaminhar o ser.
O ofício do ser militar e ser profissional d’armas gera a necessidade de
especialização e profissionalização na ciência e na arte da guerra, desde os
momentos mais tenros da carreira. Trata-se, então, do caso dos alunos de Ensino
Médio da Aeronáutica, na Escola Preparatória de Cadetes do Ar, que recebem os
primeiros ensinamentos de Educação Militar Profissional e, também, dos cadetes da
Aeronáutica da Academia da Força Aérea em Pirassununga.
Pode-se argüir, portanto, que conceder educação de alto nível ao “Homem
Aeroespacial” torna-se legado valioso e a Instituição Escola de Comando e Estado-
Maior é partícipe, na fase derradeira, desse processo ensino-aprendizagem.
Averiguou-se a pertinência de se empregarem novos métodos de
aprendizagem, em substituição àqueles que hoje se apresentam valorados pelo
Tecnicismo e pelo Conteudismo, no Sistema de Ensino Militar Aeronáutico de Pós-
formação em Cursos de Altos Estudos Militares, por intermédio de entrevistas
informais com professoras, pedagogas e instrutores militares da ECEMAR.
Com respeito à carga horária reservada às teorias do poder aéreo, a
Educação Militar Profissional enfatizada no Curso de Comando e Estado-Maior,
ministrado pela ECEMAR, difere daquela abordada, por exemplo, na Força Aérea da
Venezuela, da Argentina, dos Estados Unidos, do Reino Unido e da Coréia do Sul.
Essa comparação adveio das evidências abstraídas por intermédio de
entrevistas com os especialistas, que completaram com aproveitamento cursos
naqueles países. Concluiu-se que, na Aeronáutica Brasileira, a carga horária está
muito aquém. Essa evidência denota a pouca ênfase dada à teoria do poder aéreo.
No Curso de Comando e Estado-Maior a cargo da ECEMAR, as mudanças
nos currículos podem se processar por intermédio de orientações de instâncias
superiores e de críticas advindas do Corpo Discente. É notório que as principais
modificações ocorrem em face de determinações oriundas dos altos escalões.
Um caso de mudança (exemplo do devir heraclítico) foi obtido em entrevistas
não-estruturadas. Os alunos das três Forças Armadas Venezuelanas completam o
Curso de Comando Estado-Maior Conjunto, desde 2007, por determinação do
Comandante Supremo daquela nação. Os currículos das Forças da Venezuela e da
Argentina foram atualizados, no ano passado, para recompor as disciplinas com
ênfase em operações conjuntas (termo usado em países de língua hispânica).
O intercâmbio entre instrutores da Escola de Comando e Estado-Maior e de
escolas congêneres de outros países replica como ganho de conhecimento pessoal.
Sobretudo, é subsídio para se atualizar a ementa de disciplinas do atual Curso.
Decerto que as pertinentes observações do atual Comandante da ECEMAR,
o Brigadeiro-do-Ar Ângelo, quanto à necessidade de se atualizar o currículo das
escolas militares, “se e onde convier”, após a aprovação da Estratégia Nacional de
Defesa e da nova PDN, respondem às indagações de uma quebra de paradigmas.
Contudo, esperar uma iniciativa, que seja advinda dos níveis político e
estratégico de decisão da guerra, para se pensar em redimensionar os currículos do
Curso de Comando e Estado-Maior ministrado, na ECEMAR, pode ser temerário.
De acordo com os ditames do Sistema de Ensino Aeronáutico, a Escola tem
plena ingerência sobre o Plano de Unidades Didáticas (a Ementa de Disciplinas) dos
cursos que ministra, desde que respeite o preconizado, pelo Departamento de
Ensino, para o Currículo Mínimo do Curso de Comando e Estado-Maior. A ECEMAR
possui competência normativa para propor mudanças, em cursos sob sua
responsabilidade, nos respectivos Currículos Mínimos (similar ao currículo
acadêmico, tipo de documento didático assim conhecido no meio universitário civil).
Apenas as aulas expositivas do Curso de 2007, nas quais se enfatizavam,
tão-somente, os nomes dos teóricos, os títulos dos livros que eles escreveram e
algumas frases de efeito, tornam-se insuficientes. Entretanto, não é suficiente
apenas conhecer os títulos dos livros dos teóricos. Tem-se que forjar um raciocínio
lógico e reflexivo baseado nessas teorias. Também, é evidente que não basta mudar
pela iniciativa isolada de três ou quatro instrutores que realizaram cursos no exterior,
similares àqueles ministrados pela ECEMAR, ou pela cooperação de instrutor-
convidado (que não pertença ao permanente Corpo Docente da Escola).
Há evidências para se supor que os oficiais com um desempenho acima do
índice obtido pelos sujeitos da amostra (média geral 56,59%) podem ser definidos
como autodidatas, pois buscaram em outras fontes de conhecimento (revistas
especializadas no poder aéreo , livros, etc.) as informações necessárias à aquisição
de bagagem cultural e técnico-profissional sobre as teorias do poder aéreo.
O Currículo Mínimo e o Plano de Unidades Didáticas do Curso de Comando e
Estado-Maior apresentam ementas que abarcam, de forma contraditória, um Curso
de Master in Business Administration (MBA) e, ao mesmo tempo, imprescindíveis
disciplinas à atualização técnica dos alunos, como Doutrina Militar e Planejamento
para o Preparo e Emprego da Força Aérea. Nestas disciplinas, há aulas como Ciclo
de Comando e Controle em Operações Combinadas, Planejamento da Campanha
Aérea Combinada, que viabilizam, ao Corpo Discente, a absorção de recentes
conhecimentos teóricos sobre doutrina de emprego, além de métodos modernos da
guerra aérea e mecanismos factíveis às amplas áreas do Poder Aeroespacial.
Todavia, na grade curricular do Curso de Comando e Estado-Maior não há
ênfase às concepções teóricas dos pensadores do poder aéreo, tanto os clássicos
quantos os contemporâneos. Esse fato traduz defasagem com relação aos similares
cursos de forças aéreas do resto do mundo como a USAF, a RAF e a Força Aérea
Argentina. Nesse contexto, deveriam ser buscadas eficazes soluções fáticas à
limitação de carga horária sobre o conhecimento das teorias e dos teóricos do poder
aéreo, que se inserem na área de Doutrina Militar do Plano de Unidades Didáticas.
A retratada situação neste desenho de pesquisa aduz a necessidade de
constante aperfeiçoamento do Sistema de Ensino Militar. Deve-se visar à excelência
do processo ensino-aprendizagem dos oficiais de Estado-Maior com foco na missão
da Escola e no escopo do Curso. De fato, criar, inovar, mudar paradigmas e
empreender novos esforços pode ser exigido e se torna necessário que alguém o
faça, assim como os instrutores da Guerra Simulada fizeram, por iniciativa, em 2008.
No entanto, esse esforço não é dever, somente, de quem gerencia o processo
de ensino-aprendizagem na Escola de Comando e Estado-Maior da Aeronáutica.
Caberia, acima de tudo, uma mudança na cultura organizacional da FAB. A omissão
em se exigir a leitura de livros e artigos científicos foi evidenciada pela análise de
referências das ementas do vigente Curso, nas quais se silencia sobre o tema.
Denotou-se a solvência da inquietação geradora do problema de pesquisa
formulado, visto que advieram evidências irrefutáveis acerca do pouco ou, em outra
classificação, insuficiente conhecimento demonstrado pelos oficiais da Aeronáutica,
testados por meio de questionário, sobre arcabouços teóricos do poder aéreo.
Dos dados coletados neste trabalho, afloraram contribuições de cunho
científico, que podem ensejar futuros questionamentos. Primeiro, qual teoria do
poder aéreo se aplica à hodierna realidade brasileira? Caso não haja nenhuma que
se adapte ao contexto do Brasil, então se deve criá-la.
Além disso, poder-se-ia indagar: qual seria o momento propício para se
efetivarem modificações nos currículos mínimos das escolas militares da
Aeronáutica, com vistas à inclusão de conhecimentos teóricos acerca de teorias do
poder aéreo, de estratégia militar e de fundamentos teóricos militares?
O militar de carreira perpassa, ao longo da vida profissional, um sistema de
educação continuada nas escolas militares. Esse modelo de ensino deve lhe
fornecer a aquisição de capacitações peculiares, nos diversos níveis, ao exercício da
profissão militar. Devem-se realizar reciclagens periódicas com intuito à atualização
e à manutenção dos padrões de desempenho designados por força de lei.
Este estudo lidou, fundamentado nas teorias do poder aéreo, com críticas à
Educação Militar Profissional. Sob os enfoques acadêmico e profissional, os alunos
do atual Curso de Comando e Estado-Maior serão os oficiais que amanhã poderão
formular as doutrinas emanadas do Estado-Maior da Aeronáutica ou do Ministério da
Defesa, além de estratégias militares brasileiras do porvir.
Em face de prováveis e necessárias atualizações, faz-se mister, por hipótese,
investigar as bases teóricas das futuras Doutrinas Básicas da Força Aérea. Surge,
então, a necessidade de se adquirir consubstanciada base de conhecimento teórico
e, por conseguinte, capacidade de reflexão dedutiva e de interpretação lógica, a fim
de transformar assunções teóricas em doutrinas militares sólidas e eficazes.
Deve-se focar nesse ponto catalisador à inquietação que ensejou a
instauração da presente pesquisa. Os futuros oficiais-generais da Força Aérea
Brasileira terão que se capacitar intelectualmente para liderarem uma força armada
compatível com a estatura político-estratégica do Brasil do século XXI e além. A
nação brasileira poderá optar pelo emprego do poder aéreo de modo coercitivo, por
intermédio da força armada, ou só para dissuasão estratégica. Então, a tomada de
decisão do Comandante Supremo poderá se fundamentar na capital assessoria
técnico-profissional de “Homens Aeroespaciais”: oficiais de Estado-Maior hodiernos.
Portanto, não se pode olvidar que se impõem ao oficial de Estado-Maior as
atribuições de assessor, de planejador, de estrategista e, adicionalmente, executor
da arte operacional. Esse militar precisa entender, inserido no bojo de um raciocínio
dedutivo, o quantum de eficácia política repousa na arma aérea. Sinergicamente
congregado aos outros elementos bélicos do poder militar, esse artífice do poder
aéreo se obriga a considerar que suas ações estão voltadas à consecução dos
objetivos da guerra, que se subordinam aos fins políticos da nação.
Por isso que este estudo perscrutou a Educação Militar Profissional e focou
as teorias do poder aéreo. O escopo capital deste trabalho repousou não na simples
instrução de conceitos básicos e de pressupostos dos pensadores do poder aéreo,
mas sim, visou à demanda emblemática do exercício do poder. O tema das teorias
do poder aéreo tangencia a questão de uma teoria de guerra. Sob essa ótica, o
pensar clausewitziano enfatiza que o emprego da força armada pelo poder militar se
constitui, e assim o deve ser, em uma mera ferramenta do poder político.
O desenho aplicado neste trabalho forneceu subsídios às futuras pesquisas
similares a esta. Outro pesquisador, que venha a se inquietar nessa mesma
temática, poderá averiguar a pertinência de ampliar o âmbito da investigação às
unidades aéreas da Força Aérea Brasileira e demais escolas da Aeronáutica. Com
visão prospectiva, sugere-se, também, a ampliação deste estudo às demais forças
armadas brasileiras para futuros trabalhos na área educacional. Olhar à frente e
reverberar uma investigação similar àquela que aqui se concretiza, na Marinha do
Brasil e no Exército Brasileiro, poderá constatar o nível de conhecimento dos oficiais
dessas forças sobre as teorias de guerra afetas aos poderes terrestre e naval.
A profissão militar tem revelado, nessa “longa aventura humana”, aspectos de
marcante singularidade, na razão em que os países sempre perceberam nas forças
armadas o elemento derradeiro ─ ultima ratio ─ na preservação de interesses vitais.
Assim sendo, a existência e o futuro de soberanos estados-nação dependem,
necessariamente, da capacidade de suas forças armadas sustentarem as decisões
políticas e as decorrentes orientações e diretrizes estratégicas, assim como de
atuarem contra ameaças à integridade territorial e à soberania nacional.
Destarte, a profissão militar adquire nuanças advindas de um fato capital que
lhe é intrínseco e faz parte de sua essência. Reconhecidamente, os militares
recebem, durante a guerra, uma autorização (mandato legal) para tirar vidas
humanas em nome do Estado. Este detém o monopólio do emprego da violência
organizada por meios bélicos. Em face da delegação dessa competência, o militar
torna-se o mandatário da nação, no que tange ao emprego da força armada, ou
seja, ao uso dos mecanismos de combate de forças terrestres, aéreas e navais.
O processo de tomada da decisão de um comandante militar pode ser
influenciado, no ambiente de combate, por sua própria capacidade intelectual, por
uma sólida, unificada e precisa doutrina (formal e escrita; e de emprego) e pela
quantidade de conhecimento teórico adquirido por ele e por seus assessores. Isso
pode ser a diferença entre ganhar ou perder batalhas; entre perecer ou sobreviver.
Desse modo, o desenvolvimento, a confecção e a disseminação de doutrina
militar (formal) requer um lapso de tempo até a devida solidificação doutrinária final.
Portanto, pode haver um hiato temporal que subjuga o militar, no bojo desse
processo de mudança, à incerteza e ao acaso. Quem pode corroborar essa análise é
a Teoria de Guerra de Clausewitziana, visto que, para esse general prussiano, os
líderes militares com menos experiência prática de combate podem (e devem) se
valer de subsídios teóricos nas ações bélicas práticas. Contudo, não deter um
conhecimento mais aprofundado do que o adversário pode ser crucial. Na guerra, o
que pode ser decisivo, pode ser traduzido por fatal, ou seja, mortal.
Os problemas para se atualizar doutrina militar podem ser complexos, em
face da constante evolução da tecnologia (e.g. “revolução nos assuntos militares”) e
do surgimento de novas teorias. Sob esse escopo, tem-se a imposição de mudanças
advindas das experiências adquiridas em combate, em intercâmbios militares e por
ensinamentos colhidos e validados nos exercícios de simulação em tempo de paz.
Assim, torna-se mais coerente e econômico nivelar o conhecimento teórico de
oficiais de Estado-Maior, do que tentar fornecer experiências práticas idênticas a
esses assessores de alto nível. Pode-se inferir, portanto, que quanto melhor
estiverem educados, preparados e adestrados esses recursos humanos, tanto maior
será, em tese, a probabilidade de sucesso nos empreendimentos bélicos em geral.
Não se deve olvidar que Rui Barbosa alertava sobre uma nação creditar fé em
seus militares, no lugar de confiar em direitos líquidos e certos, sob pena de se
enganar e aprontar a sua derrocada. Recursos humanos educados em grau de
excelência e com as competências necessárias ao exercício de suas práticas são o
fundamento da capacitação de qualquer força armada e refletem os anseios da
própria sociedade. A Educação Militar Profissional pode converter alunos ineptos de
hoje em inauditos estrategistas da Força Aérea do porvir, pois o educar tem o poder
de formar e de transformar homens, suas idéias e seus raciocínios mais puros.
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8 APÊNDICES
8.1 QUESTIONÁRIO PARA OS OFICIAIS DA AERONÁUTICA BRASILEIRA COM
CURSO DE ESTADO-MAIOR

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE


CENTRO DE ESTUDOS GERAIS
INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E FILOSOFIA
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA POLÍTICA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA

Questionário

Este instrumento de pesquisa reveste-se de caráter sigiloso e a colocação do nome é


facultativa. O sigilo da identificação do respondente será garantido.
A relevância desta ferramenta de pesquisa advém do objetivo da dissertação:
investigar o nível de conhecimento, acerca das principais teorias do poder aéreo, detido por
oficiais de Estado-Maior da Aeronáutica Brasileira.

Posto/Nome: _______________________________________________________

Instruções

Informe, por favor, o seu quadro:


( ) Aviador ( ) Médico ( ) Engenheiro
( ) Intendente ( ) Dentista ( ) Outro
( ) Infante ( ) Farmacêutico

Ano em que cursou o CCEM:______________

De acordo com o enunciado de cada uma das questões, aponte a resposta correta.
Marque somente uma alternativa para cada questão.

Questões
01. Em termos históricos, quando foi aplicado, pela primeira vez, o
conhecimento oriundo das concepções teóricas sobre o emprego do poder aéreo?
a) Na Primeira Guerra Mundial
b) Na Segunda Guerra Mundial
c) Na Guerra do Vietnã
d) Na Guerra do Golfo (1991)

02. “Os centros de gravidade são anéis de vulnerabilidade; são absolutamente


críticos para o funcionamento de um estado; o anel mais crítico é o do comando”.
Quem fez essa afirmação no artigo the enemy as a system?
a) John Boyd
b) John Slessor
c) John Warden III
d) Alexander P. de Seversky

03. Quem idealizou um ciclo de comando e controle (o ciclo OODA), baseado em


“observar-orientar-decidir-agir”?
a) John Boyd
b) Arthur Tedder
c) John Warden III
d) Hugh Trenchard

04. Robert Pape, cientista político norte-americano, atesta, em um de seus


trabalhos, que o mais importante instrumento da moderna coerção militar é o (a):
a) Poder Naval
b) Poder Aéreo
c) Poder Terrestre
d) Dissuasão Nuclear
05. Na precursora geração de pensadores e de advogados do poder aéreo,
destacou-se Hugh Trenchard, que, em 1917, contribuiu, decisivamente, para a
criação da primeira Força Aérea independente do mundo, a qual pertencia à (aos):
a) Itália
b) França
c) Inglaterra
d) Estados Unidos

06. Os denominados teóricos do poder aéreo são unânimes em afirmar que o


primeiro esforço de guerra a ser envidado por uma força aérea seria buscar a (o):
a) Interdição
b) Superioridade Aérea
c) Controle e Alarme em Vôo
d) Supressão de Defesa Aérea do inimigo

07. Para ele, os fatos da I Guerra Mundial testemunharam uma preponderância da


defensiva no combate terrestre. Admitia que as Forças Terrestres, quando
suficientemente abrigadas, podem proteger o país contra a agressão de um
adversário terrestre mais poderoso. No embate aéreo, a ofensiva, além de ser a
forma mais poderosa de luta, também é a única forma decisiva de combate. Ele é:
a) Douhet
b) Göering
c) Maginot
d) Churchill
08. No artigo intitulado The True Worth of Air Power; o qual foi publicado na Foreign
Affairs, em 2004, o autor afirma que os advogados das armas aéreas de precisão
estão enganados. Para ele, o emprego combinado do poder aéreo e de forças
terrestres é, ainda, o mais efetivo modo de se ganhar as guerras. Ele é:
a) Robert Pape
b) Bernard Brodie
c) John Warden III
d) “Jimmy” Doolittle

09. Se vamos pensar de maneira estratégica, precisamos pensar,


dedutivamente, no inimigo como um sistema composto de numerosos
subsistemas. A exigência mais importante do ataque estratégico é entender o
sistema inimigo. O problema seguinte passa a ser o de como submetê-lo no nível
desejado, ou como paralisá-lo se isto for exigido. O ataque paralelo (ou guerra em
paralelo) será normalmente o tratamento preferido. O trecho retrata o pensamento
de:
a)“Billy” Mitchell
b) Giulio Douhet
c) John Warden III
d) Alexander P. de Seversky

10. Aponte qual frase transmite a premissa basilar da teoria de Giulio Douhet:
a) Todas as criaturas terão que ser combatentes por estarem diretamente
ameaçadas.
b) Para alcançar o propósito estratégico, basta destruir a parte da indústria
indispensável à manutenção da guerra.
c) A superfície da Terra representa, em relação ao oceano atmosférico, o papel que
o litoral desempenha em relação ao mar.
d) O domínio do ar passou a constituir um dos princípios essenciais de emprego
do Poder Aéreo.
8.2 ROTEIRO PARA ENTREVISTA PESSOAL COM ESPECIALISTAS EM ENSINO
AERONÁUTICO MILITAR

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE


CENTRO DE ESTUDOS GERAIS
INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E FILOSOFIA
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA POLÍTICA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA

Roteiro para entrevista pessoal com especialistas em Ensino Aeronáutico Militar

Ambientação do entrevistado277:

 garantir o anonimato do respondente;


 expor o problema e os objetivos da pesquisa;
 formular as hipóteses da pesquisa;
 explicar a população a ser pesquisada; e
 esclarecer os métodos de análise de dados escolhidos ou disponíveis.

Este instrumento de pesquisa possui caráter sigiloso. Portanto, o sigilo acerca da


identificação do respondente está seguro. Entretanto, assentar o nome é facultativo.
A relevância desta ferramenta de pesquisa advém do objetivo da dissertação:
investigar o nível de conhecimento, acerca das principais teorias do poder aéreo, detido
por oficiais de Estado-Maior da Aeronáutica Brasileira. A pesquisa de campo busca,
então, mensurar, por intermédio de entrevistas com especialistas, a importância da teoria
para o oficial de Estado-Maior executar as atividades práticas da carreira militar.
Qualificação

Posto, quadro e nome:


Instruções

Informe, por favor, a (s) Organização (ões) de Ensino à (s) qual (is) VExa/ VSa pertence
(u) :
Ano em que cursou o CCEM:
Data da realização da entrevista:
De acordo com a experiência adquirida por VExa/ VSa, na área de Ensino
Aeronáutico, responda às seguintes perguntas formuladas:

277
GOODE, Willian J.; HATT, Paul K. Métodos em Pesquisa Social. 4a ed. São Paulo: Nacional, 1972.
Perguntas

01. Há quantos anos VExa/ VSa atua na área de Ensino Aeronáutico (se houve
interrupção) ou qual o ano em que começou a trabalhar nessa área (se
ininterruptamente e se ainda trabalha na atividade de ensino)?

02. Caso VExa/ VSa tenha trabalhado na Escola de Comando e Estado-Maior da


Aeronáutica, indique por quanto tempo.

03. Se VExa/ VSa trabalhou na Subdivisão de Doutrina da Escola de Comando e


Estado-Maior da Aeronáutica, aponte quando principiou e quando terminou a
atuação?

04. Qual a importância da Educação Militar Profissional278 (formal) para o oficial da


Força Aérea Brasileira executar as atividades inerentes às funções que podem ser
exercidas em um Estado-Maior de Comando Singular e/ou Combinado?

05. Qual a importância da teoria para o oficial de Estado-Maior da Aeronáutica


Brasileira executar as atividades práticas da carreira militar?

06. Qual (is) é (são) a (s) teoria (s) que deve (m) ser estudada (s), na opinião de
VExa/ VSa, pelos oficiais de Estado-Maior da Aeronáutica Brasileira?

278 “Professional Military Education (PME) is the systematic acquisition of theoretical and applied knowledge which is of particular significance to the profession of
arms.
It is directed to the officer's thorough understanding of national goals and objectives and the ways and
PME
means of utilizing military force to achieve them. is separate and distinct from specialized education and
training.” DAVIS, Richard L.; DONNINI, Frank P.. Professional Military Education for Air Force
Officers: comments and criticisms. Maxwell Air Force Base: Air University Press, Alabama, June 1991, p. 5-
6.
07. Visto que a teoria pode ser uma fonte da doutrina militar (nas escolas militares do
COMAER, há avaliações sobre doutrina e são entregues aos alunos documentos
doutrinários, formais, escritos e prontos, os quais, às vezes, podem conter
concepções teóricas de pensadores clássicos e contemporâneos). Como VExa/
VSa entende a validade de se ensinarem e se estudarem as teorias do poder
aéreo pelas escolas militares da Aeronáutica Brasileira, no processo ensino-
aprendizagem do Comando da Aeronáutica, para levar os alunos ao entendimento
e à reflexão sobre a origem dessas doutrinas?

08. Qual (is) é (são) o (s) comentário (s) que VExa/ VSa gostaria de acrescentar à
presente entrevista no que se refere ao problema e aos objetivos desta pesquisa?

Rio de Janeiro, 04 de outubro de 2008.

Pela participação de VExa/ VSa como colaborador nesta pesquisa, externo o meu
sincero e profundo muito obrigado!

Responsável pela pesquisa: MAURO BARBOSA SIQUEIRA


Adjunto do Centro de Estudos Estratégicos da Universidade da Força Aérea
8.3 RESPOSTAS DOS ESPECIALISTAS À PERGUNTA UM

ENTREVISTADOS RESPOSTAS
1∗ Seis anos.
2 Seis anos.
3 Dois anos.
4 Catorze anos.
5 Quatro anos (três anos na EAOAR: 1991 a 1993)
6 Três anos.
7 Treze anos (há quatro anos na SDDM da ECEMAR).
8 Quatro anos (há dois anos na SDDM da ECEMAR).
9 Vinte e quatro anos (sendo oito na ECEMAR).
10 Treze anos (sendo cinco anos na SDDM da ECEMAR).
11 Treze anos (há dois anos na SDDM da ECEMAR).
12 Três anos (todos os três anos na ECEMAR).
13 Três anos (todos os três anos na ECEMAR: 2005/07).
14 Três anos.
15 Um ano (trabalha na SDDM desde janeiro de 2008).
16 Um ano (há doze anos no Ensino Aeronáutico).
17 Dois anos.
18 Um ano (além de dois anos em instrução aérea).
19 Um ano.
20 Um ano.
21 Um ano.
22 A partir de 2007, até a presente data.
23 Idem (dois anos apenas na instrução aérea da AFA).
24 Desde 2006, é instrutor de História Militar na AFA.
279
25 Onze anos (há um ano na SDDM da ECEMAR).


Oficial-general da reserva, do último posto da carreira. Atuou no Sistema de Ensino Militar Aeronáutico em
escolas militares da FAB e no EB. Foi instrutor da Escola de Comando e Estado-Maior da Aeronáutica por
seis anos intercalados. Foi oficial de ligação da Força Aérea, na Subdivisão de Doutrina da ECEME, durante
um ano. Exerceu o cargo de Comandante da ECEMAR, acumulando a função de Comandante Interino da
UNIFA, por três anos consecutivos.
279
Em face do apresentado no anexo 8. 2, “garantir o anonimato do respondente”, julgou-se de bom alvitre
resguardar o sigilo acerca da identificação do respondente. Assim, mantiveram-se somente os números (de um
a vinte e cinco) sem menção às funções, aos nomes e ao atual cargo exercido por cada um deles.
8.4 RESPOSTAS DOS ESPECIALISTAS À PERGUNTA QUATRO

ENTREVISTADOS RESPOSTAS
1 “Educar é mudar comportamento, logo é essencial a qualquer
atividade profissional, se não fosse por isso as empresas
privadas, onde o lucro é o mais importante, não investiriam tanto
na formação profissional dos seus recursos humanos. O oficial de
EM tem que dominar com profundidade os conhecimentos
específicos da sua área de atuação e, além disso, conhecer as
implicações dela com as demais. Os conhecimentos adquiridos
apenas através do desempenho prático ficam limitados ao seu
círculo de atuação, impedindo uma análise e avaliação mais
amplas. A atividade de assessoramento tem um caráter mais
nobre do que a própria decisão, enquanto a primeira exige um
profundo conhecimento, uma análise crítica e uma avaliação
isenta sobre o problema, a segunda exige conhecimento, bom
senso, coragem e poder”. (grifos nossos).
2∗ “Indispensável”. (grifo nosso).
3 “É evidente”. (grifo nosso).
4 “Imprescindível, pois quanto maior for a experiência própria ou a
advinda dos instrutores, o trabalho tornar-se-á mais prático e
objetivo”. (grifo nosso).
5 “A E.M.P., em todos os níveis, é de fundamental importância
para o preparo intelectual do militar, possibilitando o
conhecimento e a experiência prévia de situações que vivenciará
em suas futuras funções.”. (grifos nossos).
6 “Considero imprescindível, para o exercício das funções de EM
[sic] oficial de Estado-Maior”. (grifo nosso).
7 “Somente por intermédio da EMP existe a possibilidade de
padronizar os conceitos doutrinários para o preparo e para o
emprego da Força em situações de conflito ou na manutenção da
lei e da ordem dentro e fora do território nacional. Não se pode
permitir ou esperar que o líder militar construa seu conhecimento
doutrinário por si só. Ele pode e deve expandí-lo e aperfeiçoá-lo
por esforço próprio (ensino continuado), mas é dever da instituição
a que pertence proporcionar o contato direto entre o líder militar e
a Política e a Estratégia Nacionais”. (grifos nossos).
8 “Essencial para o Oficial Superior”. (grifo nosso).
9 “Conceder uma capacidade holística ao oficial; o oficial de EM
encontra-se em uma fase da carreira muito próxima do generalato,
assim ele necessitará de experiência e de conhecimento que
possam destacá-lo para as funções futuras na condução da Força
Aérea; o oficial-general poderá ser um especialista, mas deve
cultuar conhecimentos que o tornem um generalista; quanto maior
a aplicação e a ênfase que o oficial dá ao conhecimento,
aprimorando sua cultura geral, maior será a chance que ele terá
de conquistar o êxito nas suas missões; agregar ao conhecimento
técnico, operacional e profissional um conhecimento de natureza
geral é um dever, um compromisso com o processo de educação
e treinamento profissional que distingue os oficiais idealistas,
daqueles, meramente, carreiristas. Nesse sentido, a Educação
Profissional Militar separa o ‘joio do trigo’”. (grifos nossos).
10 “Um oficial de Estado-Maior da Aeronáutica Brasileira
somente poderá ser considerado um profissional, um


O entrevistado é oficial-general da ativa e do último posto da carreira. Atuou no Sistema de Ensino Militar
Aeronáutico em escolas militares da FAB. Foi instrutor da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais da
Aeronáutica e Comandante da EEAER.
estrategista, se dominar todos os conhecimentos relativos ao
adequado preparo (estratégico), ao emprego operacional e ao
emprego tático da Força Aérea. Porém, este é um processo que
leva muito tempo. É um processo em que os conhecimentos
deverão ser adquiridos, assimilados, dominados durante a
carreira, nas várias etapas necessárias ao contato com aquelas
atividades que permitirão ao profissional formar a base, o
fundamento, de sua formação e de sua capacitação. Entre essas
etapas, necessariamente, encontram-se aquelas em que o ensino
formal é transmitido, ou seja, os Cursos de Aperfeiçoamento (na
EAOAR) e de um Estado-Maior (na ECEMAR), etc. Aqui estamos
apontando para teoria e prática. Na atualidade, o emprego do
Poder Aéreo e do Poder Aeroespacial é muito complexo. Isso
exige uma grande divisão dos trabalhos afetos a um Estado-
Maior. Isso exige um nível de profissionalização, de
especialização, em um nível não imaginado há algumas décadas.
Se fizermos uma análise detalhada dos conceitos relacionados ao
emprego da Força Aérea, ao emprego do Poder Aéreo ou do
emprego do Poder Aeroespacial, poderemos identificar as
evoluções conceituais, estratégicas, doutrinária, etc., envolvidas
nesses conceitos. Essas evoluções nos mostrarão, também, que a
capacitação, o nível de profissionalização, necessária ao
profissional que terá a responsabilidade de planejar, coordenar e
controlar o emprego da Força Aérea, o emprego do Poder Aéreo e
o emprego do Poder Aeroespacial, em situação de guerra,
também, evoluiu, e, é essencial que seja considerada, sob o risco
de uma Força Aérea, a despeito de possuir a estrutura, os
equipamentos, os vetores mais modernos, não ser empregada de
modo adequado e com a eficácia que um confronto armado exige.
Resumindo, a Educação (formal) para o profissional que irá
atuar em um Estado-Maior tem importância máxima. Sendo o
responsável pelo planejamento e pela coordenação do
emprego da Força Aérea, em uma situação de conflito
armado, pode-se deduzir que uma Educação ou uma
capacitação deficiente poderá, em tese, levar a um resultado
ineficaz dessa força armada.”. (grifos nossos).
11∗ “Sustentação, subsídios, noções básicas para se conceder uma
visão em cada nível de condução da guerra, num determinado
Teatro de Operações (TO), e de como executar as ações militares
e os planos e ordens, capacidade de reflexão e concepção; a
competência tem que evoluir com o conecimento adquirido; tem-
se que passar por um processo continuado de educação
(processo de gradação, que se deve iniciar na EPCAR, depois na
AFA, etc); mas existe a necessidade de um auto-aprimoramento,
pois a educação também é individual”.
12 “É necessária a capacitação de estudantes inovadores e
adaptáveis que possam dar seqüência ao processo decisório após
a conclusão de seus respectivos cursos, civis ou militares, e que
se disponham a desenvolver novas idéias e novos projetos com o
fito de introduzi-los no debate nacional”.
13 “Fundamental. Não imagino que um oficial superior consiga
exercer a profissão militar sem os conhecimentos teóricos e
práticos necessários a esta atividade”. (grifos nossos).
14 “A Educação Militar Profissional para o oficial de Estado-Maior é
de fundamental importância, principalmente por dois aspectos:
dar uniformidade de pensamento doutrinário de alto nível e


O entrevistado foi Comandante da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais da Aeronáutica e tem vastíssima
experiência na área de ensino. Possui Mestrado em Ciências Aeroespaciais no Programa de Pós-Graduação da
Universidade da Força Aérea Brasileira.
padronizar um método de planejamento e decisão visando
proporcionar sintonia e agilidade na transmissão de ordens entre
os comandantes e seus assessores do Estado-Maior”(grifo nosso)
15 “Primeiro, deve-se citar que há o binômio ciência e arte da guerra.
Para se montar uma estratégia, por exemplo, apenas a teoria
não é suficiente ou somente o uso da criatividade
(subjetividade de quem a idealiza) não basta. Usam-se os dois
elementos: a ciência e a arte da guerra. O oficial de EM precisa
possuir conhecimento e subsídios teóricos para ele poder exercer
o lado criativo e montar estratégias coerentes. Para suprir o fator
‘arte’ (criatividade) ele deve ter um suporte no conhecimento
teórico (fator ciência da guerra), o qual é fornecido pela PME.
Ademais, o estudo da História Militar, a qual está inclusa na PME,
torna-se deveras importante ao oficial de EM”. (grifos nossos)
16 “Ampliar capacidade de análise e elaboração de reflexões.
Estender a aceitabilidade diante de argumentações e
possibilidades apresentadas. Ampliar o campo e a variedade das
linhas de ação discutidas e debatidas, quando envolvido nos
processos de tomada de decisão”. (grifos nossos).
17 “Imprescindível. É nesse momento, em minha opinião, que será
feita a conexão entre a teoria e a prática”. (grifo nosso)
18 “Na minha opinião, essencial que se tenha o conhecimento,
mesmo que não consiga aplicá-lo”. (grifo nosso)
19 “A Educação Militar Profissional permite um melhor entendimento
dos assuntos estratégicos, operacionais e táticos que envolvem
um cenário de conflito, capacitando os oficiais a planejar, preparar
e empregar a Força Aérea nesses ambientes”.
20 “Acredito ser de fundamental importância para que os oficiais
estejam aptos ao exercício das atividades que
desempenharão como futuros componentes, em nível de
assessoria, dos diversos Estados-Maiores e Comandos
Combinados. Como complemento, julgo oportuno expressar que,
no meu entendimento, os exercícios teórico-práticos realizados
pelos oficiais, durante o Curso de Estado-Maior sirvam não só
como uma ambientação inicial aos processos de planejamento
vigentes, como também venham a contribuir de forma visível para
a melhoria de seus desempenhos funcionais”. (grifos nossos)
21 “Extrema, pois necessita de uma visão dos objetivos nacionais e
das interações com a Estrutura Militar de Defesa”. (grifo nosso).
22 “Fundamental, a fim de que o oficial de um Estado-Maior possa
ter uma compreensão geral do trabalho a ser desenvolvido, bem
como noções específicas, de acordo com sua área e seu nível de
atuação”. (grifo nosso).
23 “Acredito ser essencial, entretanto não tive a oportunidade de
exercer função em Estado-Maior para poder auxiliar com
precisão”. (grifo nosso).
24 “A importância se refere à formação de uma mentalidade militar de
assessoramento e de comando, sua estrutura e funcionamento. A
formação militar representa um arrimo em um contexto específico
(erudito), de valores, costumes, tradições; e prático (profissional).
A educação militar é a espinha dorsal na qualificação de
recursos humanos para a ocupação de cargos e desempenho
de funções previstas na paz e na guerra, em toda a estrutura
da FAB”. (grifos nossos).
25 “Importância máxima.”. (grifos nossos).
8.5 RESPOSTAS DOS ESPECIALISTAS À PERGUNTA CINCO

ENTREVISTADOS RESPOSTAS
1 “Sem o conhecimento da teoria poderíamos cair na tentação de
tentar reinventar a roda e de repetir erros passados. Geopolítica
do poder; Alianças; Tratados; Administração e gerenciamento de
conflitos e crises; Administração dos recursos humanos, materiais
e econômicos; Desenvolvimento da tecnologia aplicada à defesa;
O poder militar; O relacionamento civil-militar no Brasil e no
mundo,etc.” (grifos nossos).
2 “Muito necessária”. “Têm pessoas que mesmo com a teoria não
sabem fazer na prática”.
3∗ “As teorias clássicas nos ajudaram a formar o nosso pensamento
atual, porém, as teorias mais modernas devem ser conhecidas e
estudadas. Estamos sempre preparados para a guerra do
passado”. (grifos nossos)
4 “A fundamentação da doutrina está alicerçada na teoria e,
também, na prática [sic] experiência prática adquirida. Não existe
doutrina sem a base teórica e sem a constatação, no dia-a-dia,
para que se possa validar a doutrina”.
5 “Entendo que a teoria representa a base, o ponto de partida
para a boa execução de qualquer atividade prática, não só por
propiciar embasamento prévio, como também para aumentar a
autoconfiança”. (grifos nossos)
6 “De suma importância [sic] para toda a doutrina prevista na
Força Aérea Brasileira”. (grifos nossos)
7∗ “A teoria economiza tempo e recursos que são empregados
na prática. Provido do conhecimento teórico o oficial de EM
pode melhor entender o cenário [sic]; avaliar o problema;
buscar linhas de ação e acompanhar o desenvolvimento do
planejamento da ação. No caso do oficial de EM da Força Aérea,
teorias como a de Clausewitz, Sun Tzu e Maquiavel formam a
base para o estudo e oi entendimento de outros estudiosos como
Mitchell, Seversky e Warden III no que tange ao poder aéreo.
Outros, no entanto, não menos importantes são “Collin Powell”
(trata da guerra em vários níveis, já que participou de vários
conflitos); Henry Kissinger (abordagem mais política e estratégica
que Powell) e outros”. (grifos nossos)
8 “É importante que o Oficial conheça as teorias dos estudiosos e a
Teoria do Poder Aéreo”(grifos nossos).
9 “A teoria dá uniformidade ao pensamento; ela permite um maior
exercício do poder, quando se traduz sua importância e a
compreensão de sua aplicação para o indivíduo. Dessa forma, o
indivíduo está consoante com a macro-expressãodos
ensinamentos que lhe são ministrados, ou seja, há uma interação
com o pensamento coletivo, as aspirações coletivas, permitindo
que o indivíduo aceite o seu amalgamento na massa sem prejuízo
para a sua individualidade, isto é, há um crescimento. A teoria
leva o seu sectário ao reconhecimento da importância que tem a
unidade de propósitos, a descentralização do poder com
responsabilidade, o que fortalece os princípios e os valores


O entrevistado é oficial-general da ativa, do penúltimo posto da carreira, na qual foi primeiro colocado em
quase todos os cursos previstos.

Atualmente, o entrevistado é instrutor da ECEMAR e atua na SDDM. Foi instrutor da Escola de
Aperfeiçoamento de Oficiais da Aeronáutica e tem muita experiência na área de ensino. Possui dois cursos,
sendo que um no United States Army e outro, na United States Air Force, o Air War College (este Curso foi de
Altos Estudos Militares).
norteados pela doutrina. A teoria é, portanto, um farol, uma luz no
caminho do progresso profissional.”. (grifos nossos)
10 “A teoria é ligada à experiência, contexto, do teórico. Não válida
em função do período considerado, porém serve de
fundamentação, estudo, comparação, projeção. TEORIA; Explica,
permite opções, amplia o leque de opções; PRÁTICA: se
esgota, não permite opções, limita.”. (grifos nossos)
11 “Cada indivíduo que estudou/concebeu a teoria viveu momentos
bastante específicos onde o homem foi testado em combate. Eles
produziram pensamentos que exprimem uma realidade no
passado. Há validade dessas concepções para que se
apliquem no futuro?”. (grifos nossos)
12 “Não se pode negligenciar a inovação, pois a negligência, em
passado recente, revelou-se onerosa para o país e vem
prejudicando os corpos docentes e discentes das instituições de
ensino com acentuada penúria intelectual no tocante aos
conhecimentos específicos na área do Poder Aéreo”. (grifos
nossos).
13 “A teoria é a base de sustentação de decisões práticas da
condução de conflitos armados. Tanto para aqueles que detém o
poder decisório, como àqueles que assessoram. A teoria permite
a quem a estuda conhecer a visão do seu formulador [sic] teórico
sobre fatos práticos ocorridos. É uma oportunidade de
aprendizado sobre situações que se repetem ao longo da história”.
(grifos nossos).
14 “A teoria é importante por ser fruto de análise e síntese de
pensadores e estudiosos dos fatos passados, procurando tirar
lições para ações futuras com melhores possibilidades de
sucesso”. (grifos nossos).
15 “A teoria é o elemento que dá suporte à prática. Por exemplo, para
se executar um Planejamento Militar ou um Plano de Campanha
tem-se que conhecer as teorias ligadas àqueles fatores envolvidos
no problema militar apresentado. Por exemplo, os princípios de
guerra devem ser conhecidos pelos oficias de EM. Além disso, há
o caso em que nem sempre o oponente melhor equipado,
numericamente, deverá sempre conquistar a vitória final na
guerra. Pois pode ser que o outro adversário, mesmo pior
equipado numericamente, venha a vencer o confronto por estar
mais bem preparado em outros fatores não-materiais, tais como
possuir RH profissionalmente mais bem capacitados e por ter
melhores condições de analisar o ambiente operacional. Por
exemplo, os generais Patton e Göering foram exceções à regra de
que a teoria é suporte imprescindível à prática, pois possuíam
mais criatividade (fator arte) do que conhecimentos teóricos (fator
ciência)”. (grifos nossos).
16 “A teoria traz a vastidão dos fundamentos científicos, históricos,
conceituais e contextuais incidentes nos mais diferenciados
campos de atuação da atividade humana. Ela enriquece a
capacidade de discernimento, reflexão e de flexibilidade que
compõe os atos avaliados e implementados. (grifos nossos).
17 “A teoria é que proverá o embasamento para suas – [sic] para as
do oficial de EM – ações e decisões; o que falta, a meu ver, é um
espaço para se discutir a teoria, promovendo-se, dessa forma, a
sua evolução. Uma Escola de alto nível necessita promover essa
salutar discussão, para que a Doutrina evolua e não se torne
dogma”. (grifos nossos).
18 “O conhecimento das teorias do poder aéreo é um degrau a mais
para o oficial saber argumentar suas posições, porém ele executa
sua atividade prática sem este conhecimento. Sobre teoria: ele
necessita do conhecimento teórico para pôr em prática suas
ações. Teoria da Liderança, Teoria da Administração, Teoria do
Direito Público, etc.” (grifos nossos).
19 “A teoria é um dos fatores que fundamenta o raciocínio, quanto
maior, melhor a capacidae do profissional pa planejar e empregar
o Poder Aéreo. Para a ECEMAR, o enfoque doutrinário deveria
ser o que se refere ao Poder Aéreo, pois o é no planejamento das
operações aéreas”. (grifos nossos).
20 “Ela permite que o profissional reúna os conhecimentos
necessários ao bom desempenho de suas futuras tarefas como
membro componente de um Estado-Maior”. (grifos nossos).
21 “A teoria é uma forma de validar raciocínios, metodologias, entre
outras coisas, que servirão de embasamento para futuras
análises. Sem que haja um estudo do raciocínio que levou à
tomada de decisão, fica difícil estabelecer métodos de que
possam ser repassados e que assegurem novas vitórias”. (grifos
nossos).
22 Em tudo na vida, seja na atuação como um oficial de Estado-
Maior ou qualquer outro tipo de tarefa, é primordial que se tenha
uma base teórica bem sedimentada, para que o militar possa
executar as atividades práticas sabendo o que e porque está
fazendo, bem como ter mais segurança quando tiver que executá-
las. (grifos nossos).
23 “A importância está em aprender com os erros dos outros, uma
vez que não possuímos experiência de conflitos. Teorias: sinto
falta do estudo histórico das guerras, das doutrinas empregadas,
dos equipamentos utilizados, as estratégias que deram certo e as
que deram errado”. (grifos nossos).
24 “A teoria militar se refere à arte da guerra, ciência precípua
na formação do militar. Mesmo no tempo de paz os teóricos da
arte da guerra, de Sun Tzu , passando por Clawsewitz, até os
modernos teóricos do poder aéreo, tem de estar presentes na
formação e aperfeiçoamento do oficial. O militar se distingue
como profissional preparado para sua missão constitucional
no conhecimento da teoria militar, independente de suas
atribuições administrativas da Força na paz.”. (grifos nossos)
25 “A teoria é a base para qualquer atividade prática e não seria
diferente para o oficial de Estado-Maior da Aeronáutica
Brasileira (assim como para qualquer oficial de Estado-Maior de
outra Força Armada) .”. (grifos nossos)
8.6 RESPOSTAS DOS ESPECIALISTAS À PERGUNTA SEIS

ENTREVISTADOS RESPOSTAS
1 “Planejamento e emprego da Força no cenário regional,
hemisférico e mundial; Liderança; Logística (recursos humanos e
materiais); Comunicação; Tecnologia da Informação; Estudo
analítico dos conflitos contemporâneos; Estudo das Alianças e
Tratados; O desenvolvimento tecnológico e a evolução das
doutrinas de emprego; Controle e gerenciamento de crises e
contratos, etc.”.
2 “Estudo de Estado-Maior, Processo de Planejamento de
Comando, Comunicação Escrita e Oral, etc.”
3 “O termo teoria é muito amplo e generalista. Mas toda atividade
(inclusive a militar) exige uma base teórica para ser bem
executada”. (grifos nossos).
4 “As mais variadas teorias do estudo do Poder Aéreo, para que
se possa extrai os melhores ensinamentos em função da
tecnologia disponível”. (grifos nossos).
5 “Como é do seu conhecimento, recentemente ocorreu uma
reavaliação curricular do CCEM. Acredito serem aquelas que
atualmente constam do CM do mencionado Curso, lembrando
serem necessárias atualizações, quando pertinentes, em especial
devido às evoluções doutrinárias.”.
6 “Todas as teorias relacionadas ao EM – [sic] Estado-Maior –
Operacional e Combinado”.
7 “Confecção e análise de cenários prospectivos; teoria dos jogos
de guerra; teoria dos centros de gravidade (análise); teoria da
transição de poder de A.F.K. Organski; além de outras
relacionadas a comando e controle, superioridade aérea, DICA
operações outras que não guerra (OTW)”. (grifos nossos).
8 “Todas são importantes”. (grifos nossos).
9 “Teorias sobre o conhecimento filosófico que influencia o
pensamento histórico da Humanidade (deve-se trabalhar a
Filosofia e a História como irmãs gêmeas); as teorias que
permeiam a evolução geopolítica de culturas diversas, que se
transformaram em países, em nações e em estados, com as suas
diversidades geofísicas, geopolíticas, geoeconômicas e
particularmente, um conhecimento genérico das influências
psicossociais de cada uma dessas culturas; o estudo dos feitos
dos grandes generais da História, sendo todos configurados e
analisados, segundo seu tempo histórico, entre eles; Alexandre “O
Grande”, Epaminondas, Leônidas, Aníbal, Caio Julio Cesar e
Napoleão Bonaparte. Daí se extraem inúmeros conhecimentos
que podem levar o oficial à compreensão dos teóricos modernos e
contemporâneos, como Clausewitz”.
10 Não respondeu.
11 “As teorias militares (pensamento militar de modo geral) devem
ser estudadas e compreendidas por todos os oficiais, desde o
início de sua formação, respeitando-se os níveis de condução da
guerra e a competência de cada um desses militares”.
12 “Defrontar-se com adversários que possuam proeminente
capacidade de ajustarem-se a novas situações, as quais, muitas
vezes, podem se adequar a elas com rapidez maior do a nossa
capacitação permite para a pronta-resposta”.
13 “Clausewitz, Jomini, Douhet, Warden”. (grifos nossos).
14 “As teorias da Arte da Guerra e as teorias do Poder Aéreo”.
15 “As teorias que julgo procedente são as de: Sun Tzu, Trenchard,
Jomini. As idéias e empreendimentos de Napoleão (batalhas,
estratégias, máximas napoleônicas e questões logísticas
evidenciadas, principalmente, por JOMINI) evidenciadas e Hitler.
Ademais, a História Militar, de modo geral, deve ser estudada”. “A
teoria do poder aéreo de Trenchard poderia ser estudada e
evidenciada na consecução das Estratégias de Dissuasão e da
Resistência previstas na Estratégia Militar de Defesa (EMiD) em
vigor, especialmente, no aspecto que ele retrata em um de seus
Três Papers quando aborda a cooperação”.
16 “Teorias da Guerra, Teorias do Poder Aeroespacial, Estratégias
e Doutrinas Nacionais Militares das Principais Potências Militares,
Relações Internacionais, Segurança Internacional. (grifos nossos).
17 “Em primeiro lugar, vejo quer é necessário preparar bem esse
oficial acerca do Poder Aéreo. Em seguida, já se sentindo
confortável com as teorias relativas à sua Força, ele
necessitaria de outras matérias, como, por exemplo: Emprego de
outros componentes militares (Marinha e Exército); Planejamento
Estratégico; Comando, Liderança, Gerenciamento; Estudos de
Segurança Internacional (origens dos conflitos, como migração em
massa, aquecimento global, esgotamento de recursos naturais
etc.); Relações Internacionais (Sistemas de Nações, Poder,
Estratégia, Uso da Força); Política de Defesa (nacional e coletiva);
e Tendências Futuras (nações emergentes, novas tecnologias,
etc.). (grifos nossos).
18 “As teorias relacionadas ao emprego da Força, principalmente a
voltada, hoje em dia, para o Comando Combinado, Teoria da
Guerra Moderna”.
19 “Os conceitos de Clausewitz são básicos para o entendimento do
emprego do poder militar; os de Douhet e Mitchell, para a
compreensão do poder aéreo; os de Warden e Boyd, para
aplicação da arma de aviação em uma campanha”. (grifos
nossos).
20 “Além de toda a base doutrinária necessária ao nivelamento de
conhecimento dos Alunos, no que concerne à Teoria do Poder
Aéreo, com seus principais marcos teóricos (Douhet, Mitchell,
Seversky, Trenchard, Warden, ...), dentro da disponibilidade de
material no meio acadêmico, as Lições aprendidas nos principais
conflitos ocorridos nos últimos vinte anos. Acredito que seria de
fundamental importância, também, o estudo das lições
aprendidas na área logística”. (grifos nossos).
21 “Poder Aéreo, Poder Nacional, etc.”. (grifos nossos).
22 “As seguintes teorias: a) clássicos e dos modernos pensadores
do Poder Aéreo; b) chefia e liderança; c)
planejamento/gerenciamento militar, englobando não só a parte
operacional da Força (aérea) como também ao que concerne a
toda a logística envolvida; d) das guerras convencionais e
nucleares; e) da guerra cibernética; f) estratégia militar. (grifos
nossos).” (grifos nossos).
280
23 “Ainda não tenho opinião formada sobre o assunto”.
281
24 “A teoria militar deve ser estudada em todas as suas vertentes
históricas, para que o oficial tenha uma formação prática mas
também filosófica da arte militar. Não apenas o poder aéreo
deve ser visto, mas os principais pensadores e as experiências
históricas das guerras da humanidade.” (grifos nossos).
25 “Doutrina Militar, Planejamento para o Preparo e para o Emprego
da Força Aérea e Planejamento de Campanha Aérea
Combinada.”.

280
Oficial recém-incorporado às fileiras da SDDM.
281
É Mestre em Ciências Aeroespaciais pela Universidade da Força Aérea.
8.7 RESPOSTAS DOS ESPECIALISTAS À PERGUNTA SETE

ENTREVISTADOS RESPOSTAS
1 “As doutrinas do poder aéreo devem ser mostradas como a
origem do pensamento teórico evolutivo e não como um
dogma imutável.”. (grifos nossos)
2 “Como cultura geral para qualquer assunto. Importantíssimo. Para
quem vai trabalhar com Poder Aéreo, tem que estudar Teoria do
Poder Aéreo. Outras teorias também são importantes”.
3 “Válido”. (grifo nosso)
4 “A validade é imensa e extremamente necessária à
recuperação do estudo das teorias do poder aéreo, perdido na
282
sua totalidade a partir de 2000” . (grifos nossos).
5 “Considero plenamente válido o ensino e o estudo das teorias
do poder aéreo, que embasam a compreensão do assunto com
maior abrangência. Entretanto, há que se priorizar a pesquisa e o
intercâmbio do que vem acontecendo em nível mundial, para que
as atividades didáticas, nesse sentido, ressaltem o que há de mais
atual quanto ao assunto.”. (grifos nossos)
6 “Considero válido – [sic] o estudo de – todas as teorias do
poder aéreo, inclusive essencial para massificar as teorias.”.
(grifos nossos)
7 “O estudo das teorias relativas ao poder aéreo levam o aluno a
melhor entender o porquê da utilização da máquina de guerra
aérea para a consecução dos objetivos nacionais militares. Provido
desse entendimento, o aluno buscará por si mesmo desenvolver
suas habilidades como partícipe desse poder aéreo, podendo
quantificar sua participação no cumprimento da missão básica da
Força Aérea”.
8 “Em todos os cursos da Aeronáutica é essencial que – [sic] se –
estude a Teoria do Poder Aéreo e com isso – [sic] se – faça uma
relação com a nossa Doutrina”.
9 “A doutrina (é a aplicação de princípios e de valores) é filha da
teoria; os documentos só funcionam como uma base retilínea de
informações e para aguçar a curiosidade dos intelectos mais
favorecidos para majorarem seus conhecimentos”. (grifos nossos).
10 ∗ Não respondeu.
11 “É válido. Principalmente, quando se quer trabalhar as
competências de um dado oficial de EM, por exemplo, em
planejamento ou em assessoria”.
12 “As doutrinas são compilações de teorias existentes ou
aperfeiçoamentos de doutrinas anteriores, influenciadas [sic] pelos
conhecimentos teóricos daqueles que as formularam. É a “visão
sobre a visão” de terceiros, sujeitas à “deturpação” da visão
primária do teórico original [sic] que primeiro formulou aquelas
idéias. A ECEMAR, quando trabalha “Análise Doutrinária” oferece
para seus alunos a “visão deturpada” sobre teorias consagradas do
emprego do poder aéreo, limitando o entendimento e o
aprendizado do oficial aluno. O ideal, em minha opinião, seria

282
Para entender a que se refere o respondente, que já foi o chefe da seção que se responsabilizava pelo
gerenciamento do antigo Curso Básico de Admissão (CBA) deve-se retornar ao capítulo número quatro, no qual
se elaborou a análise e a interpretação dos dados. O entrevistado relembrou de um trabalho aplicado aos oficiais-
alunos, que versava a respeito do emprego do poder aéreo, do estudo de história das guerras e de aplicação à
estratégia militar.

O respondente foi do efetivo da Subdivisão de Doutrina Militar por cinco anos, tendo sido o chefe setor, e
trabalhou, na Seção de Guerra Simulada da ECEMAR, durante um período de três anos.
confrontar as doutrinas com as teorias”.(grifo nosso)
13 “Dar origem e divulgar conceitos quanto aos meios pelos quais a
Força Aérea possa contribuir para a Segurança Nacional”.
14 “A validade de se estudar as teorias do poder aéreo está na
importância de dotar os oficiais de Estado-Maior com
suficiente espírito crítico, cultura militar e capacidade de
julgamento e análise, para questionarem os princípios
doutrinários adotados, sempre buscando um aprimoramento
para ações futuras”. (grifos nossos).
15 “Ninguém sabe hoje a origem da DCA 1-1, a qual é para os
homens da FAB uma espécie de Lei Maior (similar à Constituição
Federal ou à Carta Magna) fonte de onde devem emanar todas as
demais doutrinas hierarquicamente inferiores como as de emprego
operacional”. (grifos nossos).
16 “Além de familiarizar o aluno com os teoristas clássicos e conflitos
históricos internacionais, é fundamental que a abordagem
estenda-se sempre aos acontecimentos recentes e atuais. É
preciso identificar e estudar as doutrinas contemporâneas e a
aplicação do poder aeroespacial nos dias de hoje. Verificar como
as Forças Aéreas de países desenvolvidos e de blocos
multinacionais estão estruturadas e sendo empregadas”. (grifos
nossos).
17 “É importantíssimo o estudo de conflitos passados e seus
relacionamentos com as Teorias do Poder Aéreo. O ideal seria
contar com alunos – [sic] alunos e instrutores – que possuíssem
profundo conhecimento das teorias principais, de forma que
pudessem juntar a isso suas experiências profissionais e, assim,
provocar a necessária evolução doutrinária. Uma boa Escola não
deve apenas ensinar, mas sim permitir que o aluno questione, de
forma embasada, o conhecimento existente”. (grifos nossos).
18 “Acho válido, desde que fossem cobrados itens de associação
das teorias com exemplos praticados nas guerras passadas e
atuais, muitas vezes isso não acontece; se cobra a citação da
doutrina pura e simples. Concordo que a reflexão é a melhor
maneira de fixar o conhecimento; infelizmente acaba-se não
realizando esta tarefa”. (grifos nossos).
19 “Concordo com Clausewitz, quando ele cita que quanto maior
for o nível (patente) do oficial, menor deverá ser sua
preocupação com normas e técnicas, e maior – [sic] sua
preocupação – com o conhecimento mais generalizado. Assim, a
Doutrina deveria ser cobrada, a rigor, nos níveis mais baixos
(oficiais subalternos e intermédios); e discutida, a partir das
teorias, nos níveis mais altos (oficiais superiores e generais)”.
(grifos nossos).
20 “Entendo como sendo de suma importância, pelos motivos
expostos em sua pergunta”. (grifos nossos).
21 “Altamente válido”.
22 “Embora a doutrina militar tenha como base para sua
elaboração a teoria, possui também como fator interveniente em
sua elaboração as experiências vividas por quem as está
elaborando, pelos conflitos em que o país se envolveu etc. Nesse
contexto, torna-se importante o ensino das teorias do poder
aéreo e dos conflitos já ocorridos para, junto com o cabedal de
experiência e de conhecimentos que o aluno do CCEM traz,
permitir que os alunos possam melhor entender, refletir e
sobretudo analisar a doutrina militar (muitas vezes sugerindo
modificações que devem ser encaminhadas ao EMAER). É
importante salientar que a doutrina acaba sendo um “documento
vivo”, que sofre modificações à medida que estudos, novos
equipamentos e novas teorias aplicadas à guerra surgem. Pode-se
citar a introdução dos conceitos e teorias que abrangem a guerra
cibernética, que está mudando a doutrina militar dos EUA e, espero
que em breve, venha a ser considerada na doutrina brasileira.
Além disso, os alunos do CCEM serão os futuros responsáveis
pelas decisões doutrinárias da Força e considero muito importante
que tenham um bom conhecimento das teorias citadas na questão
7, em especial para aqueles que serão responsáveis pelas
modificações na doutrina existente.” (grifos nossos)
23 “Entendo que devem continuar existindo e se aperfeiçoando estes
ensinos e estudos”.
24 “Conforme mencionado, o estudo das teorias do poder militar
são indispensáveis para a reflexão e reformulação da doutrina
militar. De nada adianta cobrar decorebas de dispositivos de
doutrina sem que o oficial possa entender o pensamento
formulador.” (grifos nossos)
25 “É necessária uma compreensão global do tema, suas origens,
variantes, transformações e limitações para que o aluno possa
formar opinião sobre o assunto.” (grifos nossos)
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