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Conselho Editorial:
João Rafael Chío Serra Carvalho: Mestre em História Social pela USP, Doutorando em
História Social da Cultura pela UFMG;
Apoena Canuto Cosenza: Mestre em História Econômica pela USP, Doutor em História
Econômica também pela USP;
Lucas Henrique Zubelli Del Giudice: Bacharel em Serviço Social pela UFF.
CDD 320.531
CDU 316.323.72
ÍNDICE PARA CATÁLOGO SISTEMÁTICO
1. Socialismo e sistemas relacionados: Comunismo, Marxismo, Leninismo; ideologias políticas.
2. Ciência política: Socialismo, Comunismo e Marxismo; Ideologias.
1ª edição: maio de 2023
4|Marx Filósofo da Potência|
ÍNDICE
Prefácio
Por Lin Piao
Viva o triunfo da Guerra Popular! (Partido Comunista da China) ................. 7
Escrito Nº 1
Problemas Estratégicos da Guerra Revolucionária na China ...................... 13
Escrito Nº 2
Problemas Estratégicos da Guerra de Guerrilhas Contra o Japão .............. 123
Escrito Nº 3
Sobre a Guerra Prolongada ........................................................... 176
Escrito Nº 4
Problemas da Guerra e da Estratégia ................................................ 293
Escrito Nº 5
Concentrar Uma Força Superior para Aniquilar as Forças Inimigas ........... 315
Escrito Nº 6
A Situação Atual e as Nossas Tarefas ................................................ 321
Seis Escritos Militares|7 |
Prefácio
Viva o triunfo da Guerra Popular! (Partido
Comunista da China)1
Lin Piao, 1965, trecho de um documento.
1Lin Biao (1907-1971) foi um marechal e vice-presidente da China, foi um dos principais ex-
poentes do período da Revolução Cultural, estava apenas abaixo de Mao na linha do PCCh,
entretanto no final da vida teria “participado” de um frustrado golpe de Estado e ao fugir de
avião com sua família, este avião acabou caindo na altura da Mongólia, vitimando-o, tratado
como revisionista e traidor após a sua morte.
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põe em jogo a sua superioridade e nós a nossa; você tem seus métodos
de combate e nós temos os nossos. Quando você quer nos atacar, nós
não permitimos que você faça isso e nem mesmo permitimos que você
nos encontre. Mas quando atacamos você, acertamos o alvo, acertamos
você com tiros precisos e te aniquilamos. Quando podemos aniquilá-
lo, fazemos isso com toda decisão; quando não podemos aniquilá-lo,
não nos permitimos ser aniquilados por você. Não lutar quando há
possibilidade de vencer é oportunismo. A obstinação para lutar quando
não há chance de vencer é o aventureirismo. Todas as nossas orienta-
ções estratégicas e táticas são baseadas na nossa vontade de lutar. Nosso
reconhecimento da necessidade de sair baseia-se, acima de tudo, em
nosso reconhecimento da necessidade de lutar. Quando saímos, sempre
fazemos isso com o objetivo de lutar e finalmente aniquilar o inimigo
cabal e completamente. Somente confiando nas amplas massas das pes-
soas podemos colocar essa estratégia e tática em prática. E aplicando-
as, podemos desempenhar plenamente a superioridade da guerra po-
pular e compelir o inimigo à posição passiva de ser espancado, por mais
superior que seja suas equipes e quaisquer que sejam os meios utiliza-
dos, mantendo sempre a iniciativa em nossas mãos.
Nós crescemos do pequeno ao grande e do fraco ao poderoso, e
derrotamos nossos poderosos inimigos dentro e fora do país, porque
colocamos em prática a estratégia e a tática da guerra popular. Durante
os oito anos da Guerra de Resistência contra o Japão, o Exército Popular
liderada pelo Partido Comunista da China teve mais de 125 000 encon-
tros com o inimigo e colocar fora de ação mais de 1,7 milhões de homens
de tropas japonesas e fantoches. Durante os três anos da Guerra de Li-
bertação, liquidou 8 milhões de tropas das tropas reacionárias do Ku-
omintang e conquistou a vitória da grande revolução popular.
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Escrito nº 1
Problemas Estratégicos da Guerra
Revolucionária na China2
Capítulo I
Como Estudar a Guerra
Seção 1. As Leis da Guerra São Evolutivas
2 O presente trabalho foi escrito pelo camarada Mao Zedong com o fim de fazer o balanço das
experiências adquiridas no decurso da Segunda Guerra Civil Revolucionária, e usado nas suas
palestras na Academia do Exército Vermelho, no norte de Xensi. Como o próprio autor de-
clara, não lhe foi possível escrever mais do que cinco capítulos. Com efeito, ele não teve tempo
para examinar a ofensiva estratégica, o trabalho político e outras questões, em virtude de ter
sido distraído pelo Incidente de Si-an. O presente escrito é o resultado de vivas discussões
havidas no seio do Partido, durante a Segunda Guerra Civil Revolucionária, entre duas linhas
opostas a respeito das questões militares. Nele se expõe a posição dos defensores duma delas.
Em Janeiro de 1935, em Tsuen-yi, a reunião alargada do Birô Político do Comitê Central do
Partido Comunista da China, ao fazer o balanço dessas discussões, confirmou a justeza da linha
preconizada pelo camarada Mao Zedong e rejeitou como errado o ponto de vista contrário.
Em Outubro de 1935, o Comitê Central do Partido foi transferido para o norte de Xensi.
Pouco tempo depois, em Dezembro, o camarada Mao Zedong apresentou o seu relatório “So-
bre a Táctica na Luta contra o Imperialismo Japonês”, onde resolveu, de maneira metódica, o
problema da linha política do Partido para o período da Segunda Guerra Civil Revolucionária.
No ano seguinte, isto é, em 1936, o camarada Mao Zedong escreveu o presente trabalho, fa-
zendo uma análise sistemática dos problemas estratégicos da guerra revolucionária na China.
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geral, a leis que lhe são próprias. Se não se conhecem todas essas leis
não pode conquistar-se a vitória na guerra revolucionária na China.
Devemos, pois, estudar as leis da guerra em geral, as leis da
guerra revolucionária e, finalmente, as leis da guerra revolucionária
na China.
Alguns defendem um ponto de vista errado, refutado por nós
há já muito: dizem que basta estudar as leis da guerra em geral, isto é,
falando duma maneira mais concreta, basta seguir os manuais militares
publicados na China pelo governo reacionário ou pelos estabelecimen-
tos de ensino militares reacionários. Eles não veem que esses manuais
expõem meramente as leis da guerra em geral e são, aliás, inteiramente
copiados do estrangeiro, donde resulta que, utilizá-los tal como são,
sem lhes modificar a forma e o fundo, equivale a “roer o próprio pé
para adaptá-lo ao sapato”, o que nos conduziria à derrota. Para justificar
o seu ponto de vista, argumentam da seguinte maneira: por que razão
devemos renunciar ao que foi adquirido no passado ao preço de san-
gue? Eles não compreendem que, se devemos, naturalmente, apreciar
no seu justo valor a experiência ganha no passado ao preço de sangue,
também devemos apreciar a experiência que pagámos com o nosso
próprio sangue.
Outros defendem um outro ponto de vista também errado, e que
igualmente foi refutado desde há muito: dizem que não é necessário es-
tudar mais do que a experiência da guerra revolucionária, na Rússia, isto
é, falando mais concretamente, que basta agir conforme as leis que pre-
sidiram à condução da guerra civil na União Soviética e seguir os manuais
militares publicados pelas instituições militares daquele país. Eles não
compreendem que essas leis e esses manuais refletem o carácter especí-
fico da guerra civil na União Soviética e do Exército Vermelho Soviético
e que, aplicá-los tal qual são, sem admitir a mínima modificação, equivale
uma vez mais a “roer o próprio pé para adaptá-lo ao sapato”, o que nos
conduziria igualmente à derrota. Para justificar o seu ponto de vista, di-
zem que a União Soviética fez uma guerra revolucionária e que nós
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grande país, uma grande nação, tem as suas particularidades e, por con-
sequência, as leis da guerra em cada país, em cada nação, têm também
as suas particularidades, não podendo ser transpostas mecanicamente
dum país para outro. Ao estudarmos as leis que regem guerras de ca-
rácter diferente, conduzidas por nações diferentes e em lugares e fases
históricas diferentes, devemos fazer incidir a nossa atenção sobre as
suas particularidades e evolução, lutando contra toda a concepção me-
canista na questão da guerra.
Mas isso ainda não é tudo. Num comandante, passar da capaci-
dade para comandar uma pequena unidade à capacidade para comandar
uma grande unidade, é um sinal de progresso e de desenvolvimento.
Comandar num só e mesmo lugar é uma coisa e comandar em vários
lugares diferentes é outra. Num comandante, passar da capacidade para
combater num lugar que lhe seja familiar, à capacidade para dirigir com-
bates em vários lugares diferentes, é igualmente um sinal de progresso
e desenvolvimento. Em virtude da evolução da técnica, da táctica e da
estratégia, tanto para nós como para o adversário, as condições próprias
de cada guerra variam dum estádio a outro. Se um oficial capaz de exer-
cer o comando num estádio elementar da guerra se mostra igualmente
capaz de comandar num estádio superior, isso é sinal de progresso e de
desenvolvimento ainda mais marcados. Permanecer unicamente capaz
de comandar uma certa unidade, num certo lugar e num determinado
estádio de desenvolvimento duma guerra, significa não fazer progresso
algum, não registrar o menor desenvolvimento. Pessoas há que, satis-
feitas com a sua capacidade em certo domínio, e contentando-se com
a sua visão limitada, não fazem mais progressos; tais pessoas podem
desempenhar um certo papel na revolução, em dado lugar e em dado
momento, mas não podem desempenhar um grande papel. Nós temos
necessidade de chefes” capazes de desempenhar grandes papéis na con-
dução da guerra. Todas as leis de condução da guerra evoluem segundo
o desenvolver da História e segundo a evolução da própria guerra.
Nada é imutável no mundo.
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derrotas. Isso está confirmado pela história das guerras e pela nossa
própria experiência na guerra.
Onde está então a chave do problema?
Na prática, não podemos exigir que os generais sejam sempre
vitoriosos. Generais assim a História conhece muito poucos. O que ne-
cessitamos é de generais intrépidos, clarividentes, que se tenham mos-
trado geralmente vitoriosos no decurso das guerras — chefes dotados
de sagacidade e de coragem. Para transformar-se num desses chefes
militares, é necessário assimilar um método. Tal método é indispensável
tanto no estudo como na atividade prática.
Que método é esse? O método consiste em conhecer a fundo
e sob todos os seus aspectos, tanto a situação do adversário como a
nossa própria situação, descobrir as leis que regem as ações das duas
partes e respeitá-las nas nossas ações.
Nos manuais militares de vários países encontram-se recomen-
dações sobre a necessidade de “aplicar os princípios com flexibilidade,
segundo a situação”, bem como indicações sobre as medidas a tomar em
caso de derrota. As primeiras põem em guarda os comandantes contra
as faltas de carácter subjetivo que podem nascer duma obediência cega
aos princípios. As segundas dizem como um comandante deve agir
quando tenha cometido uma falta de carácter subjetivo ou quando, na
situação objetiva, tenham intervindo mudanças imprevistas e inelutáveis.
Por que razão se produzem os erros de carácter subjetivo? Por-
que a maneira como as forças são dispostas e dirigidas, na guerra ou
nos combates, não corresponde às condições do momento e do lugar;
porque não há harmonia, acordo, entre a direção subjetiva e as condi-
ções existentes na realidade objetiva, ou, noutros termos, porque a con-
tradição entre o subjetivo e o objetivo não foi resolvida. Em toda a
atividade é difícil evitar tais situações, mas há pessoas que dão provas
de ser mais competentes que outras. Qualquer que seja a tarefa, é ne-
cessário que os homens que a tenham de cumprir sejam, relativamente,
os mais competentes. Se se trata do domínio militar, é preciso ter ganho
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impulsivo, que não sabe ou não quer modificar o seu plano, age às ce-
gas, e bate inevitavelmente com a cabeça na parede.
O que acabamos de dizer aplica-se tanto a uma ação estratégica
como a uma campanha ou combate. Sendo modesto e estando sempre
pronto a aprender, um chefe experimentado será sempre capaz de co-
nhecer perfeitamente as suas próprias forças (os comandantes, os com-
batentes, o armamento, o reabastecimento, etc., assim como a resul-
tante de todos esses fatores), as forças do inimigo (os comandantes, os
combatentes, o armamento, o reabastecimento, etc., e a resultante de
todos esses fatores), bem como todas as outras condições relacionadas
com a guerra: condições políticas, econômicas, geográficas, de clima,
etc.; um chefe assim estará sempre mais seguro de si próprio ao dirigir
uma guerra ou ao dirigir qualquer ação militar, e aumentará as suas pos-
sibilidades de sucesso. Isto porque, a longo prazo, acabou por conhecer
a situação no seu próprio campo e no campo do adversário, descobriu
as leis da ação e resolveu as contradições entre o subjetivo e o objetivo.
Esse processo de conhecimento é extremamente importante; sem essa
experiência adquirida a longo prazo é difícil compreender e dominar as
leis que governam a guerra no seu conjunto. Não se pode ser realmente
um bom comandante superior enquanto se permanece um noviço ou
enquanto se não conhece a guerra a não ser no papel; por isso, é neces-
sário aprender no próprio decorrer da guerra.
Todas as leis da guerra e todas as teorias militares que revestem
um carácter de princípio são o balanço da experiência feita pelos nossos
predecessores ou contemporâneos. É preciso estudar seriamente essas
lições, pagas a preço de sangue, que nos legaram as guerras passadas.
Essa é uma das nossas tarefas. Mas há ainda uma outra: verificar essas
conclusões com a ajuda da nossa própria experiência, assimilar o que
elas oferecem de útil, rejeitar o que nelas há de inútil e acrescentar só o
que nos é próprio. Essa segunda tarefa é duma grande importância; se
não agimos assim não podemos dirigir a guerra.
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3Sun Tzu, célebre teórico militar chinês do século V A.C., autor do livro Arte da Guerra em
13 capítulos. A citação é extraída do “Plano do Ataque”, Sun Tzu, capítulo III.
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Capítulo II
O Partido Comunista da China e a Guerra Re-
volucionária na China
4No momento em que a obra foi escrita (em 1936), tinham-se passado quinze anos desde a
fundação do Partido Comunista da China (Julho de 1921).
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5 Chen Duxiu: foi professor na Universidade de Pequim. Ganhou fama na redação da revista
Sintchingnien (Nova Juventude). Foi um dos fundadores do Partido Comunista da China, exer-
ceu o cargo de secretário-geral graças ao trabalho no período do Movimento de 4 de Maio e à
ingenuidade do Partido nos seus primeiros tempos.
6 No último período da Revolução de 1924-1927, as ideias direitistas no Partido, representadas
por Chen Duxiu, transformaram-se numa linha capitulacionista. Naquela altura, “os capítula-
cionistas renunciaram à hegemonia sobre: os camponeses, a pequena burguesia urbana, a média
burguesia e, particularmente, sobre as forças armadas. Causaram a derrota da revolução” (M.
Zedong, “A Situação Atual e as Nossas Tarefas”). Após isso em 1927, Chen Duxiu e os capi-
tulacionistas caíram no pessimismo, tornaram-se liquidacionistas. Eles adotaram a posição re-
acionária dos trotskistas e estabeleceram um grupo anti-partido, o que determinou a expulsão
de Chen Duxiu do Partido, em Novembro de 1929. Ele morreu em 1942. No que se refere ao
oportunismo de direita representado por Chen Duxiu, ver, no presente tomo, a apresentação
dos artigos “Análise das Classes na Sociedade Chinesa” e “Relatório sobre uma Investigação
Feita no Hunan a respeito do Movimento Camponês”, bem como “Apresentação de O Co-
munista“, Obras Escolhidas de Mao Zedong, Tomo II.
7
Trata-se da linha oportunista de “esquerda”, geralmente chamada “linha de Lisan”, que reinou
durante cerca de quatro meses no Partido, a partir de Junho de 1930, na altura em que o cama-
rada Li Lisan era o principal dirigente do Comitê Central do Partido Comunista da China.
A linha de Lisan tinha as características seguintes: violava a política definida pelo VI Congresso
do Partido; negava a necessidade de preparar as massas para a revolução e negava o desenvol-
vimento desigual da revolução; considerava a concepção do camarada Mao Zedong, de fazer
incidir durante um longo período o esforço principal na criação de bases de apoio no campo,
a fim de apoiar-se nelas para cercar as cidades e apressar a expansão da revolução em todo o
país, como “regionalismo e espírito conservador dos mais errados, provocados pela mentali-
dade camponesa”, e pronunciava-se pela preparação de levantamentos imediatos por todo o
país. Segundo essa linha errada, o camarada Li Lisan elaborou um plano aventureiro que visava
a organização imediata de levantamentos armados nas grandes cidades da China. Além disso,
os partidários dessa linha não reconheciam a desigualdade do desenvolvimento da revolução
mundial, sustentando que desde que rebentasse a revolução geral na China, rebentaria neces-
sariamente uma revolução mundial geral, e que a revolução chinesa não poderia vencer senão
na condição de que rebentasse a revolução mundial geral; não reconheciam o carácter prolon-
gado da revolução democrático-burguesa na China, sustentando que as primeiras vitórias da
revolução em uma ou em várias províncias marcariam o começo da passagem ao socialismo, e
estabelecendo, por consequência, um certo número de medidas políticas inoportunas, aventu-
reiras e esquerdistas. O camarada Mao Zedong lutou contra essa linha errada; a grande massa
dos quadros e dos membros do Partido exigiu igualmente a respectiva retificação. Em Setem-
bro de 1930, na Terceira Sessão Plenária do Comitê Central eleito pelo VI Congresso do Par-
tido, o camarada Li Lisan reconheceu os erros que se lhe apontavam e deixou o posto dirigente
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que ocupava no Comitê Central do Partido. Tendo, ao fim dum longo período, conseguido
desembaraçar-se das suas concepções erradas, foi reeleito membro do Comitê Central, no VII
Congresso do Partido.
8 O Comitê Central eleito pelo VI Congresso do Partido Comunista da China, na sua Terceira
Sessão Plenária, em Setembro de 1930, e no período que se seguiu, tomou uma série de medidas
positivas destinadas a pôr fim à linha de Lisan. Após a sessão, porém, um certo número de
camaradas, que tinham falta de experiência prática de luta revolucionária, encabeçados por
Tchen Chao-iu (Vam Mim) e Tchin Pam-sien (Po Cu), opuseram-se às medidas do Comitê
Central. Numa brochura publicada sob um ou outro dos dois títulos: Duas Linhas ou Luta por
uma Bolchevização mais Avançada do Partido Comunista da China, esses camaradas faziam
sobressair muito particularmente que, na época, o perigo principal para o Partido não era o
oportunismo de “esquerda”, mas sim o de “direita”; e para justificar as suas próprias atividades,
eles “criticavam” a linha de Lisan como linha de “direita”. Eles propuseram um outro programa
político que, sob uma forma nova, continuava, restabelecia ou desenvolvia a linha de Lisan e
as outras concepções e medidas políticas de “esquerda”, opondo-as à linha justa do camarada
Mao Zedong. Este escreveu a presente obra principalmente para criticar as faltas cometidas no
domínio militar pelos defensores dessa nova linha oportunista de “esquerda”. Essa linha de
“esquerda” reinou no Partido durante o período que vai da Quarta Sessão Plenária (Janeiro de
1931) do Comitê Central eleito pelo VI Congresso do Partido, à reunião do Birô Político do
Comitê Central, que teve lugar em Tsuen-yi (Cueidjou) em Janeiro de 1935. Essa reunião aca-
bou com a linha errada e designou uma nova direção central, encabeçada pelo camarada Mao
Zedong. A linha errada de “esquerda” reinou muito tempo no Partido (quatro anos) e causou
perdas extremamente graves ao Partido e à revolução. As consequências funestas da aplicação
dessa linha exprimem-se no facto de se terem perdido 90 por cento dos efetivos do Partido
Comunista da China e do Exército Vermelho chinês, assim como do território das bases de
apoio do Exército Vermelho, e ainda no facto de, nas bases revolucionárias, terem sido sub-
metidas a feroz repressão, pelo Kuomintang, dezenas de milhões de pessoas. Tudo isso travou
a revolução. A maior parte dos camaradas que tinham cometido faltas desviacionistas de “es-
querda”, ao fim duma longa experiência, convenceram-se desses erros, corrigiram-nos e pres-
taram serviços úteis ao Partido e ao povo. Na base de concepções políticas comuns, e sob a
direção do camarada Mao Zedong, esses camaradas fundiram-se com a grande massa dos mem-
bros do Partido.
36| Seis Escritos Militares |
Capitulo III
10 Trata-se duma organização criada por Chiang Kai-shek, em Julho de 1933, na montanha Lu
(distrito de Quiouquiam, província do Quiansi), destinada à formação de quadros militares
anticomunistas. Os oficiais do exército de Chiang Kai-shek recebiam aí, rotativamente, uma
preparação militar e política, administrada em termos fascistas por instrutores alemães, italianos
e norte-americanos.
11 Por novos princípios militares da quinta campanha de “cerco e aniquilamento”, entende-se
12 Criticando o dirigente comunista húngaro Bela Kun, Lenin dizia: “Ele negligenciava aquilo
que é o mais essencial, a alma viva do Marxismo, a análise concreta duma situação concreta.”
Ver Lenin, “O Comunismo” (12 de Junho de 1920).
13 A Primeira Conferência da Organização do Partido da Região Fronteiriça Hunan-Quiansi
e é uma das guerras camponesas mais célebres da História da China. Nas crónicas oficiais, cujos
autores pertenciam às classes dirigentes, diz-se de Huam que “todas as pessoas que sofriam em
razão do fardo dos impostos corriam para junto dele”. Como Huam Tchao se limitou a ações
móveis e não criou bases de apoio, nem sequer bases pouco sólidas, foi qualificado de “rebelde
errante”. Li Tchuam, Li Tse-tchem, originário do distrito de Mitche, no Xensi, dirigiu o levan-
tamento camponês que ocorreu no fim da dinastia dos Mins. Em 1628, primeiro ano do rei-
nado do Imperador Setsum, toda uma vaga de levantamentos camponeses varreu o norte de
Xensi. Li Tse-tchem juntou-se ao destacamento insurrecto conduzido por Cao Im-siam que,
vindo do Xensi, tinha penetrado no Honan e depois no Anghuei, para regressar finalmente ao
Xensi. Em 1636, Cao Im-siam morreu e Li Tse-tchem foi proclamado rei, sob o nome de
Tchuam-vam. A principal palavra de ordem de Li Tse-tchem com relação às massas populares
era: “Os que estão a favor de Tchuam-vam não pagam a talha”. Li Tse-tchem fez reinar uma
severa disciplina entre as suas tropas. Ele declarava: “O que mata um homem, eu considero-o
como assassino do meu próprio pai. O que viola uma mulher, eu considero-o como se tivesse
violado a minha própria mãe”. Por essa razão ele conquistou muitos partidários e os seus des-
tacamentos tornaram-se a força principal das insurreições camponesas dessa época. Contudo,
ele não criou bases de apoio, por mais frágeis que fossem, e deslocava-se continuadamente,
para aqui e para ali. Após ter sido proclamado rei, dirigiu-se com as suas tropas sobre o Set-
chuan, depois ganhou o sul do Xensi, atravessou o Hupei, e entrou no Honan. Então, apode-
rou-se de Siam-iam, no Hupei, e, atravessando o Honan, regressou ao Xensi, onde se apoderou
de Si-an. Em 1644, atravessou o Xansi e tomou Pequim, sendo pouco depois vencido pelas
forças conjugadas do general dos Mins, Vu San-cuei, e dos Tsins que este último chamara em
seu socorro.
16 Atos de pilhagem cometidos por falta de disciplina, de organização e de objetivo político
definido.
48| Seis Escritos Militares |
Capítulo IV
Capítulo V
A Defensiva Estratégica
20 Chuei Hu Tchuan (À Borda d'Água), célebre romance chinês sobre a guerra cam-
ponesa, atribuído a Chi Nai-an, que viveu nos fins da dinastia dos Iuans e começos
da dinastia Ming (séc. XIV). Lin Tchum e Tchai Tzin são dois grandes heróis desse
romance. Horn é mestre de boxe junto de Tchai Tzin.
Seis Escritos Militares|67 |
se desenrolou uma batalha entre o rei de Han, Liu Pam, e o rei de Tchu, Siam Iu. Este
último apoderou-se de Sim-iam e de Tchengao, derrotando quase todas as tropas de
Liu Pam. Esperando pelo momento favorável, porém, Liu Pam vibrou um golpe ter-
rível contra as tropas de Tchu, enquanto estas atravessavam o rio Se, e retomou a
cidade de Tchengao.
24 Cuen-iam, cidade antiga que se situava no atual distrito de Iecien, no Honan. Foi
aí que Liu Siu (imperador Cuanvu, fundador da dinastia dos Han de Leste) destruiu
no ano 23 as tropas de Vam Mam. O desequilíbrio das forças em presença era parti-
cularmente sensível. Liu Siu não dispunha de mais de oito a nove mil homens, en-
quanto que Vam Mam controlava quatrocentos mil soldados. Aproveitando a negli-
gência de Vam Siun e Vam Yi, generais de Vam Mam, que subestimavam as forças do
adversário, Liu Siu lançou contra eles três mil homens das suas tropas de elite, derro-
tando assim o núcleo das forças de Vam Mam; em seguida, explorando o sucesso. Liu
Siu passou ao ataque e esmagou completamente as tropas inimigas.
25 Cuantu situava-se no nordeste do atual distrito de Tchun-mou, na província do
Honan. Foi aí que se travou, no ano 200, uma batalha entre as tropas de Tsao Tsao e
de Iuan Chao. Este último dispunha de um exército de cem mil homens, enquanto
que Tsao Tsao, com os viveres já esgotados, apenas dispunha de efetivos bastante
reduzidos. Aproveitando, porém, a negligência de Iuan Chao que subestimava as for-
ças do adversário, Tsao Tsao lançou com as suas tropas ligeiras um ataque de surpresa
e incendiou as bagagens. As tropas de Iuan Chao foram tomadas de pânico. Tsao
Tsao vibrou-lhes então um golpe violento e aniquilou as forças principais.
26 As tropas de Vu eram dirigidas por Suen Tchíuan e as de Vci, por Tsao Tsao. Tchipi
está na margem sul do rio Yangtsé, no nordeste do atual distrito de Quiaiu, na pro-
víncia do Hupei. Foi aí que, em 208, dispondo dum exército de mais de quinhentos
mil homens, que ele fez passar por oitocentos mil, Tsao Tsao atacou Suen Tchiuan.
Este último, aliado a Liu Peí, um outro inimigo de Tsao Tsao, pôs em linha trinta mil
homens. Tirando partido duma epidemia que assolava as tropas de Tsao Tsao e da
sua incapacidade para combater em água, as forças aliadas de Suen Tchiuan e Liu Pei
queimaram a frota de Tsao e esmagaram o seu exército.
27 Ilim encontra-se no leste do atual distrito de Itcham, província do Hupei. Foi aí
que, em 222, Lu Siun, general do reino de Vu, infligiu uma severa derrota às tropas
de Liu Pei, rei de Chu. A princípio, Liu Pei obteve vitória sobre vitória; ele chegou até
Ilim, embrenhando-se 500 a 600 lis no interior do reino de Vu. Más Lu Siun, que
defendia Ilim, recusou todo o combate durante uns sete a oito meses; tendo esperado
o momento em que Liu Pei “já não sabia o que fazer, visto o esgotamento e a des-
moralização completos das suas tropas”. Lu Siun aproveitou-se do vento que se tinha
levantado para incendiar o campo de Liu Pei, e destruiu as forças.
70| Seis Escritos Militares |
28 Em 383, Sie Siuan, general dos Tziri de Leste, infligiu sobre as margens da ribeira
Pei (província do Anghuei) uma pesada derrota a Fu Quien, que reinava sobre os
Tchin. Este último dispunha de mais de 600.000 peões, de 270.000 cavaleiros e duma
guarda de mais de 30.000 homens, enquanto que as tropas dos Tzin de Leste (com-
preendida a frota) não excediam 80.000 homens. Os dois exércitos estavam separados
pela ribeira Fei. Especulando sobre a arrogância e a suficiência do seu adversário, Sie
Siuan pediu a Fu Quien que lhe concedesse um espaço sobre a margem norte, onde
se encontrava o Exército de Tchin, para que as suas tropas pudessem desembarcar e
dar a batalha decisiva. Fu Quien aceitou, mas, desde que ele deu a ordem de retirar,
as suas tropas foram tomadas de pânico e tornou-se impossível contê-las. Aprovei-
tando a ocasião, as tropas de Sie Siuan atravessaram a ribeira e esmagaram o exército
de Fu Quien.
29 A 1 de Agosto de 1927, a fim de combater as forças contrarrevolucionárias de Chi-
ang Kai-shek e de Uam Tsim-vei, e prosseguir a Revolução de 1924-1927, o Partido
Comunista da China desencadeou a célebre Insurreição de Nantcham, capital do Qui-
ansi. Forças armadas totalizando mais de 30.O00 homens tomaram parte nessa insur-
reição, dirigidas pelos camaradas Zhou Enlai, Zhu De, Ho Lom, Ie Tim e outros. A
5 de Agosto, as tropas insurrectas, aplicando um plano elaborado de antemão, deixa-
ram Nantcham e marcharam sobre Cuantum. Contudo, diante de Tchaodjou e Xan-
tou, sofreram reveses. Uma parte dentre elas, sob o comando dos camaradas Zhu De,
Tchen Yi e outros, conseguiu em seguida abrir uma passagem para alcançar as mon-
tanhas Tchincam, onde se juntou à 1ª Divisão do I Corpo do Exército Revolucionário
dos Operários e Camponeses conduzidos pelo camarada Mao Zedong.
30 Trata-se da resistência oposta em várias localidades pelas massas populares, sob a
direção do Partido Comunista, às forças contrarrevolucionárias, no período que se-
guiu à traição de Chiang Kai-shek, em 1927, e à traição ulterior de Uam Tsim-vei. A
II de Dezembro de 1927, em Cantão, os operários é os soldados revolucionários sub-
levaram-sc, estabeleceram o poder popular e deram um combate encarniçado às for-
ças contrarrevolucionárias que beneficiavam do apoio direto dos imperialistas. Con-
tudo, em resultado da enorme desproporção existente entre as forças em presença, o
levantamento popular acabou por sofrer uma derrota. Em 1923-1925, os camponeses
dos distritos de Haifom e Lufom, no litoral oriental do Cuantum; desencadearam, sob
a direção de um comunista, o camarada Pom Pai, um possante movimento que pro-
porcionou uma ajuda substancial ao Exército Nacional Revolucionário de Cantão,
durante as duas campanhas vitoriosas que este realizou em direção a leste, contra a
Seis Escritos Militares|71 |
33Ver V. I. Lenin, “Teses sobre a Conclusão Imediata duma Paz Separada e Anexionista”,
“Estranho e Monstruoso”, “Lição Séria e Séria Responsabilidade”, “Relatório sobre a Guerra
e a Paz”; ver também Compêndio de História do Partido Comunista (Bolchevique) da URSS,
capítulo VII, seção 7.
84| Seis Escritos Militares |
34Trata-se dos Tibetanos, que vivem no Sicam, e dos Hueis que vivem no Cansu, Tsinghai,
Sinquiam e outras províncias.
86| Seis Escritos Militares |
quem retirava; agora, tentamos fazer de modo que sejamos nós quem
avança e o adversário, quem retira. Se, depois de termos concentrado
as nossas forças, lançamo-las na batalha e conquistamos a vitória, essa
batalha por si só já nos terá permitido atingir o nosso objetivo; além
disso, ela exercerá uma influência sobre todo o decorrer da campanha.
Segundo a concentração das forças deve levar a uma inversão
dos papéis entre as duas partes relativamente à ofensiva e à defensiva.
Na defensiva, a retirada prosseguida até ao seu termo liga-se, no essen-
cial, à fase passiva, isto é, à fase da “defesa”. A contraofensiva diz res-
peito à fase ativa, à fase do “ataque”. Embora a contraofensiva mante-
nha um carácter defensivo durante toda a fase da defensiva estratégica,
comparativamente à retirada, ela constitui uma viragem, tanto na forma
como no conteúdo. Ela constitui a passagem da defensiva estratégica à
ofensiva estratégica; é como que o prelúdio da ofensiva estratégica. É
esse o fim que a concentração das forças visa.
Terceiro, a concentração das forças deve conduzir a uma inver-
são dos papéis das duas partes relativamente à ação no interior e no
exterior das linhas. Um exército que, no plano estratégico, se bate no
interior das linhas, tem inúmeras desvantagens; esse é o caso particular
do Exército Vermelho que tem de lutar contra as campanhas de “cerco
e aniquilamento” que se lançam contra ele. Contudo, durante as cam-
panhas e combates, podemos e devemos, em absoluto, modificar essa
situação. Devemos transformar a grande campanha de “cerco e aniqui-
lamento” que o exército inimigo nos lança, numa série de pequenas
campanhas isoladas de cerco e aniquilamento, realizadas pelas nossas
tropas contra o exército do adversário; transformar o ataque conver-
gente que o exército inimigo realiza contra nós em escala estratégica,
numa série de ataques convergentes no plano das campanhas e dos
combates, lançados pelo nosso exército contra o adversário; transfor-
mar a superioridade estratégica do adversário em superioridade da
nossa parte sobre ele, no plano das campanhas e dos combates; tornar
o adversário, que é mais forte do que nós no plano estratégico, em mais
102| Seis Escritos Militares |
— eis o que declaramos a essa parte das forças inimigas com quem nos
medimos no campo de batalha. Isso já não constitui segredo e, em ge-
ral, o adversário está familiarizado com os nossos hábitos. Todavia, ele
não pode impedir-nos de conquistar vitórias nem pode evitar as suas
perdas, uma vez que ignora quando e onde golpearemos segundo esse
método. Isso, nós manteremos secreto. Em geral, as ações empreendi-
das pelo Exército Vermelho são ataques de surpresa.
35 Dissertação especial que o sistema dos exames imperiais previa na China feudal, do século
XV ao século XIX. A dissertação compreendia oito partes: introdução, exposição do tema,
teses gerais da dissertação, passagem à exposição, começo da exposição, meio da exposição,
fim da exposição e conclusão. A “introdução” compunha-se apenas de duas frases explicativas
do tema. A “exposição do tema” eram três ou quatro frases que se seguiam à explicação dada
na introdução. As “teses gerais da dissertação” apresentavam, em resumo, o tema, marcando o
começo do comentário. A “passagem à explicação” era uma fórmula de transição que se seguia
às teses gerais. As últimas quatro partes — começo da exposição, meio da exposição, fim da
exposição e conclusão — constituíam o comentário propriamente dito; o meio da exposição
era a essência do trabalho. Cada uma dessas quatro partes compunha-se duma tese e duma
antítese, o que, no total, perfazia oito secções, donde a designação de “dissertação em oito
partes” ou “dissertação em quatro pares”. O camarada Mao Zedong refere-se aqui à exposição
consequente do tema duma “dissertação em oito partes, para mostrar duma maneira imagética
o desenvolvimento das diferentes fases da revolução. Geralmente, porém, recorre-se à expres-
são “dissertação em oito partes' como metáfora irónica, subentendendo-se por isso o dogma-
tismo.
Seis Escritos Militares|117 |
Escrito nº 2
Problemas Estratégicos da Guerra de
Guerrilhas Contra o Japão36
Capítulo I
Por que é que Levantamos a Questão da Estra-
tégia a Respeito da Guerra de Guerrilhas?
36 No começo da Guerra de Resistência contra o Japão, muitos indivíduos, tanto dentro como
fora do Partido, reduziam a importância do papel estratégico da guerra de guerrilhas e deposi-
tavam exclusivamente as suas esperanças na guerra regular, em particular na ação do exército
do Kuomintang. O camarada Mao Zedong refutou esse ponto de vista e escreveu o presente
artigo a fim de mostrar a via correta para o desenvolvimento da guerra de guerrilhas anti-japo-
nesa. Como resultado desse trabalho, o VIII Exército e o Novo IV Exército, que apenas tinham
um pouco mais de 40.000 homens no começo da Guerra de Resistência, em 1937, cresceram a
ponto de se transformarem num grande exército de um milhão de homens, no momento da
rendição do Japão, em 1945, criaram um grande número de bases revolucionárias e desempe-
nharam um importante papel nessa guerra, fazendo com que Chiang Kai-Shek, ao longo de
todo esse período, não ousasse capitular diante do Japão nem desencadeasse a guerra civil a
escala nacional. Em 1946, quando Chiang Kai-Shek a desencadeou, o Exército Popular de Li-
bertação, formado pelo VIII Exército e pelo Novo IV Exército, era já suficientemente forte
para fazer face a tal ofensiva.
124| Seis Escritos Militares |
Capítulo II
O Princípio Fundamental da Guerra Consiste
em Conservar as Próprias Forças e Aniquilar as
do Inimigo
Capítulo III
Seis Problemas Concretos da Estratégia da
Guerra de Guerrilhas Contra o Japão
Capítulo IV
Iniciativa, Flexibilidade e Plano na Condução
da Ação Ofensiva Durante a Guerra Defensiva,
Ação de Decisão Rápida no Decurso da Guerra
Prolongada, Ação no Exterior das Linhas na
Guerra no Interior das Linhas
nação estrangeira que invade o nosso país, enquanto que nós resistimos
a invasão no nosso próprio território, determina a estratégia seguinte: é
possível e necessário usar a ofensiva nas campanhas e nos combates,
durante a defensiva estratégica; empreender campanhas e combates de
decisão rápida numa guerra prolongada no plano estratégico; e realizar
campanhas e combates no exterior das linhas numa guerra estrategica-
mente no interior das linhas. Tal é o princípio estratégico a adotar na
Guerra de Resistência, considerada no seu conjunto. Isso é válido tanto
para a guerra regular como para a guerra de guerrilhas. A guerra de
guerrilhas só é diferente no grau e na forma. Na guerra de guerrilhas, a
ofensiva, toma geralmente a forma de ataques de surpresa. Muito em-
bora os ataques de surpresa possam e devam ser usados também na
guerra regular, o seu grau de surpresa é menor. Na guerra de guerrilhas,
a necessidade de conseguir uma decisão rápida é muito grande; e a
nossa linha exterior de cerco ao inimigo, nas campanhas e nos comba-
tes, é muito pequena. Tudo isso a distingue da guerra regular.
Assim, conclui-se que, na sua ação, as unidades de guerrilhas
devem concentrar ao máximo as suas forças, atuar em segredo e veloz-
mente, atacando o inimigo de surpresa e procurando a decisão rápida
no combate, assim como devem evitar absolutamente a defesa passiva,
as demoras e a dispersão das forças para o combate. Claro que a guerra
de guerrilhas inclui não somente a defensiva estratégica, mas também a
defensiva tática. Esta última compreende, entre outras questões, ações
de contenção e proteção durante os combates, a organização da defesa
nos desfiladeiros, nos pontos estratégicos, ao longo dos cursos de água
e nas aldeias, a fim de desgastar e esgotar o inimigo, assim como as
ações de cobertura em caso de retirada. Contudo, a ofensiva deve ser o
princípio fundamental da guerra de guerrilhas, a qual tem um caráter
mais ofensivo do que a guerra regular. Além disso, a ofensiva deve to-
mar a forma de ataques de surpresa, sendo inadmissível — na guerra
de guerrilhas mais ainda do que na guerra regular — expor-se, demons-
trando ostensivamente a sua força. Do fato de o inimigo ser forte e nós
Seis Escritos Militares|133 |
parte se não é possível cercar a totalidade, destruir uma parte das forças
cercadas se não é possível destruir a totalidade, e infligir pesadas perdas
se não é possível capturá-las em massa. Só através do efeito cumulativo
de muitos desses combates de aniquilamento poderemos modificar a
relação de forças entre o inimigo e nós, romper completamente o seu
cerco estratégico, isto é, romper completamente o seu plano de ação
nas linhas exteriores e, finalmente, em coordenação com as forças in-
ternacionais e com a luta revolucionária do povo japonês, cair de todos
os lados sobre o imperialismo nipónico e dar-lhe o golpe de misericór-
dia. Tais resultados deverão ser alcançados principalmente através da
guerra regular, enquanto que a guerra de guerrilhas dá uma contribui-
ção secundária. O que é comum a ambas, porém, é a acumulação de
muitas pequenas vitórias para perfazer uma grande vitória. Nisso está
o grande papel estratégico da guerra de guerrilhas no conjunto da
Guerra de Resistência.
Passemos agora a questão da iniciativa, flexibilidade e plano na
guerra de guerrilhas.
O que é a iniciativa na guerra de guerrilhas?
Em qualquer guerra, os adversários lutam pela iniciativa, seja no
campo de batalha, na frente, numa zona de guerra ou em toda a guerra,
já que a iniciativa representa liberdade de ação para um exército. Qual-
quer exército que, perdendo a iniciativa, se vê forçado a manter-se
numa posição passiva, deixa de ser livre e corre o perigo de extermina-
ção ou derrota. Naturalmente, tomar a iniciativa é mais difícil na defen-
siva estratégica e na ação nas linhas interiores do que na ação ofensiva
nas linhas exteriores. O imperialismo japonês, porém, apresenta dois
pontos fracos fundamentais, que são o volume reduzido das suas tropas
e o fato de lutar em território estrangeiro. Além disso, a subestimação
da força da China e as contradições internas entre os caudilhos militares
japoneses deram lugar a muitos erros por parte do comando japonês,
tais como o reforço, pedaço a pedaço, dos seus efetivos, a falta de co-
ordenação estratégica, a ausência, por vezes, duma direção principal de
Seis Escritos Militares|135 |
sendo por isso um erro tentar uma planificação muito minuciosa para
esse tipo de guerra. Todavia, é necessário elaborar um plano tão minu-
cioso quanto o permitam as condições objetivas, já que, compreenda-
se, a luta contra o inimigo não é brincadeira alguma.
Tudo o que dissemos acima serve para explicar o primeiro dos
princípios estratégicos da guerra de guerrilhas, isto é, o princípio do uso
da iniciativa, flexibilidade e plano na condução duma ação ofensiva du-
rante a guerra defensiva, na ação de decisão rápida no decurso da guerra
prolongada, e na ação no exterior das linhas na guerra no interior das
linhas. Tal é o problema estratégico central da guerra de guerrilhas. A
solução desse problema constitui garantia importante de vitória da
guerra de guerrilhas, do ponto de vista da sua direção militar.
Embora se tenham tratado aqui várias questões, todas elas gi-
ram a roda da ofensiva nas campanhas e nos combates. A iniciativa só
pode ser definitivamente alcançada depois da vitória na ofensiva. Toda
a ação ofensiva deve ser empreendida por nossa livre iniciativa e não
por compulsão. A flexibilidade no emprego das forças gira a roda do
esforço para passar a ofensiva, assim como a elaboração dum plano é
necessária principalmente para assegurar o sucesso da ação ofensiva. A
defesa tática é destituída de sentido se não desempenha o seu papel de
apoiar, direta ou indiretamente, uma ofensiva. A decisão rápida refere-
se a duração da ofensiva e as linhas exteriores definem a respetiva es-
fera. A ofensiva é o único meio de destruir o inimigo e o principal meio
de conservar as próprias forças, enquanto que a pura defesa e a retirada
só podem desempenhar um papel temporário e parcial na conservação
das nossas próprias forças, sendo de todo inúteis para a destruição do
inimigo.
O princípio acima indicado é fundamentalmente o mesmo para
a guerra regular e para a guerra de guerrilhas, diferindo simplesmente
no grau da sua forma de realização, num ou noutro caso. Na guerra de
guerrilhas, porém, é ao mesmo tempo importante e necessário não per-
der de vista essa diferença. É precisamente essa diferença na forma que
142| Seis Escritos Militares |
Capítulo V
Coordenação com a Guerra Regular
Na Estratégia;
Nas Campanhas e;
Nos Combates;
Capítulo VI
Criação de Bases de Apoio
de 1937, o VIII Exército, dirigido pelo Partido Comunista da China, procedeu a criação da base
de apoio anti-japonesa do Xansi-Tchahar-Hopei, tendo como centro a região montanhosa de
Vutai.
39 Taiham é uma cadeia de montanhas situada na fronteira Xansi-Hopei-Pim-iuan. Em Novem-
bro de 1937, o VIII Exército procedeu a criação da base de apoio anti-japonesa do sudeste de
Xansi, tendo como centro a região montanhosa de Taiham.
40 Tai é uma das principais montanhas das cadeias Tai e Yi no Xantum central. No Inverno de
1937, as unidades de guerrilhas dirigidas pelo Partido Comunista da China procederam a cria-
ção da base de apoio anti-japonesa do Xantum central, tendo a região montanhosa de Tai e Yi
como centro.
41 Ien é uma cadeia de montanhas situada na região fronteiriça Hopei-Jehol. No Verão de 1938,
o VIII Exército procedeu a criação da base de apoio anti-japonesa do Hopei oriental, tendo
como centro a região montanhosa de Ien.
42 As montanhas Mao estão situadas no sul de Quiansu. Em Junho de 1938, o Novo IV Exér-
cito, dirigido pelo Partido Comunista da China, procedeu a criação da base de apoio anti-japo-
nesa do sul do Quiansu, tendo por centro a região montanhosa de Mao.
150| Seis Escritos Militares |
43 A experiência ganha na Guerra de Resistência contra o Japão provou que era possível esta-
belecer nas planícies bases de apoio duráveis e que, em muitos pontos, era possível estabelecer
bases de apoio permanentes. Isso em virtude da sua vastidão e densidade de população, da
justeza das medidas políticas do Partido Comunista da China, da mobilização em grande escala
do povo, da insuficiência de tropas do inimigo e em resultado de outros fatores. Em diretivas
ulteriores, o camarada Mao Zedong afirmou mais concretamente essa possibilidade.
Seis Escritos Militares|151 |
de apoio por detrás das linhas inimigas, e não num deserto, pois aí não
pode encontrar-se o inimigo, cada zona em que este pode penetrar tem,
de há muito, uma população constituída por chineses, assim como uma
base económica de subsistência, de tal maneira que a questão da busca
de condições económicas na criação das bases de apoio não se levanta.
Independentemente de considerações económicas, nós devemos fazer
o máximo por desenvolver a guerra de guerrilhas e criar bases de apoio,
permanentes ou temporárias, em todos os pontos habitados por chine-
ses e penetrados pelo inimigo. Do ponto de vista político, porém, as
condições económicas apresentam um problema, o problema da polí-
tica económica, que é de importância vital na criação de bases de apoio.
A política económica das bases de apoio das guerrilhas deve seguir os
princípios de frente única nacional anti-japonesa de repartição equita-
tiva das cargas fiscais e proteção do comércio. Nem os órgãos locais do
poder político nem as unidades de guerrilhas devem violar esses prin-
cípios, pois de contrário a criação das bases de apoio e a manutenção
da guerra de guerrilhas serão afetadas negativamente. A repartição equi-
tativa das cargas fiscais significa que “os que têm dinheiro contribuem
com dinheiro”, enquanto que os camponeses devem, até certo limite,
abastecer as unidades de guerrilhas em cereais. A proteção do comércio
significa que as unidades de guerrilhas devem ser altamente disciplina-
das e que o confisco de empresas comerciais, excetuadas as pertencen-
tes a traidores reconhecidos, deve ser estritamente proibido. Essa não
é uma questão fácil, mas tal política foi estabelecida e tem de ser posta
em prática.
44Veitchi é um velho jogo chinês em que cada um dos dois jogadores tenta cercar as peças do
adversário no tabuleiro. Quando uma ou mais peças são cercadas, contam-se como mortas”
(capturadas). Todavia, se ainda há um número suficiente de casas brancas entre as peças cerca-
das, estas consideram-se “vivas” (não capturadas).
160| Seis Escritos Militares |
Capítulo VII
A Defensiva Estratégica e a Ofensiva Estraté-
gica na Guerra de Guerrilhas
45 No ano 353 A.C., o Estado de Vei sitiou a cidade de Hantan, capital do Estado de Tchao. O
rei de Tsi ordenou aos seus generais, Tien Tchi e Suen Pin, que socorressem o Estado de
Tchao. Sabendo que as tropas de elite de Vei haviam sido deslocadas para Tchao, e que o
Estado de Vei se encontrava fragilmente defendido, o general Suen Pin atacou o Estado de
Vei, cujas tropas foram obrigadas a retirar-se de Tchao para vir em socorro do seu próprio
território. Explorando a vantagem de as tropas de Vei se encontrarem esgotadas, as tropas de
Tsi atacaram-nas e derrotaram-nas em Cueilim (nordeste do atual distrito de Hotsé, em Pin-
iuan). Dessa maneira se levantou o cerco da capital do Estado de Tchao. Desde então, os es-
trategas chineses resumem todas as táticas semelhantes com a expressão: “Salvar o Estado de
Tchao, cercando o Estado de Vei”.
Seis Escritos Militares|165 |
Capítulo VIII
Passagem da Guerra de Guerrilhas a Guerra de
Movimento
Capítulo IX
Relações de Comando
Escrito nº 3
Sobre a Guerra Prolongada
Apresentação do Problema
46
Lucouquiao encontra-se a um pouco mais de dez quilómetros a sudoeste de Pequim. No dia
7 de Julho de 1937, o exército invasor japonês lançou um ataque contra as forças armadas
chinesas que aí estavam de guarnição, as quais, influenciadas pelo ardor anti-japonês da totali-
dade do povo do país, passaram à resistência. A partir desse momento, começou a heroica
Guerra de Resistência do povo chinês, que iria durar oito anos.
Seis Escritos Militares|179 |
47A teoria da subjugação nacional traduzia os pontos de vista do Kuomintang, o qual não
queria resistir a invasão japonesa, só o fazendo mais tarde, quando se viu constrangido a isso.
180| Seis Escritos Militares |
48 Trata-se de opiniões que existiam nas fileiras do Partido Comunista da China. Nos seis pri-
meiros meses da Guerra de Resistência contra o Japão, manifestou-se no seio do Partido uma
tendência para subestimar as forças do inimigo. Alguns camaradas eram de opinião que o Japão
sucumbiria ao primeiro golpe. Não é que estimassem demasiado grandes as nossas forças, pois
eles sabiam que, ao contrário, nesse tempo, as tropas e as massas populares organizadas, diri-
gidas pelo Partido Comunista, eram ainda fracas. Eles partiam da ideia de que o Kuomin-
tang participava na Guerra de Resistência e dispunha, ao que lhes parecia, de grandes forças
capazes de derrotar os invasores japoneses, agindo em combinação com as forças do Partido
Comunista. Eles não viam senão um aspeto das coisas, a participação temporária do Kuomin-
tang na resistência, esquecendo o outro, o caráter reacionário e a corrupção que o caracteriza-
vam. Assim se formou essa apreciação errada sobre a situação.
49 Tal era o ponto de vista de Chiang Kai-shek e respetivo bando. Obrigado a prosseguir a
Guerra de Resistência, o Kuomintang de Chiang Kai-shek, que não tinha confiança nas suas
próprias forças e muito menos ainda nas forças do povo, punha todas as esperanças na obten-
ção rápida duma ajuda exterior.
50 Teltchuam, vila situada na parte meridional da província de Xantum. Em Março de 1938,
desenrolou-se uma batalha na região de Teltchuam, entre o exército chinês e as tropas de inva-
são japonesas. Forte de 400.000 homens, o exército chinês alcançou a vitória sobre o exército
japonês, que não contava senão 70.000 a 80.000 homens.
182| Seis Escritos Militares |
51 Esse ponto de vista foi formulado num dos editoriais do Tacumpao, que era, na época, o
órgão do Grupo de Ciências Políticas do Kuomintang. Os partidários desse ponto de vista
baseavam as suas esperanças num feliz concurso de circunstâncias, pensando que, graças a um
certo número de vitórias semelhantes a de Teltchuam, seria possível deter o avanço das tropas
japonesas e evitar assim a mobilização das forças populares para uma guerra de longa duração,
que constituiria uma ameaça para a segurança da sua própria classe. Nesse tempo, o Kuomin-
tang estava totalmente penetrado da esperança dum feliz concurso de circunstâncias.
Seis Escritos Militares|183 |
até algumas pessoas que, assim que ocorre uma ligeira modificação fa-
vorável na situação de guerra, estão prontas a intensificar a fricção entre
o Kuomintang e o Partido Comunista, desviando as atenções dos as-
suntos externos para os internos. Geralmente, isso acontece quando se
ganha uma batalha relativamente grande ou quando o avanço inimigo
sofre uma paragem temporária. Tudo o que se disse acima pode classi-
ficar-se de estreiteza de vistas políticas e militares. Tudo isso, embora
aparentemente razoável, é na realidade falso e destituído de qualquer
fundamento. Pôr fim a todo esse palavreado ajudará, necessariamente,
a condução vitoriosa da Guerra de Resistência.
5. No fundo, a questão é a seguinte: pode a China ser subju-
gada? A resposta é: não, não será subjugada, ela conquistará a vitória
final. Pode a China vencer rapidamente?
A resposta é: não, não pode vencer rapidamente, a Guerra de
Resistência será uma guerra prolongada.
6. Já há uns dois anos atrás nós enunciámos, em geral, os princi-
pais argumentos sobre essas questões. Em 16 de Julho de 1936, cinco
meses antes do Incidente de Si-an e doze meses antes do Incidente de
Lucouquiao, em entrevista ao correspondente norte-americano Edgar
Snow, eu fiz uma apreciação geral sobre a situação, relativamente a guerra
entre a China e o Japão, e formulei vários princípios para a conquista da
vitória. Os extratos que se seguem podem servir como lembrança:
Pergunta: Em que condições poderá a China derrotar e destruir
as forças do imperialismo japonês?
Resposta: Três condições são exigidas: primeiro, o estabeleci-
mento duma frente única anti-japonesa na China; segundo, o estabele-
cimento no plano internacional duma frente única anti-japonesa; ter-
ceiro, o avanço do movimento revolucionário dos povos do Japão e das
colónias japonesas. Do ponto de vista do povo chinês, dessas três con-
dições a principal é a grande aliança do próprio povo chinês.
Pergunta: Quanto tempo pensa que a guerra pode durar?
184| Seis Escritos Militares |
pensa que seria impossível a China continuar a guerra, uma vez bloque-
adas as suas costas pelo Japão. Trata-se duma insensatez. Para refutá-la,
nós não precisamos mais do que citar a história de guerra do Exército
Vermelho. Na atual Guerra de Resistência contra o Japão, a posição da
China é muito melhor do que a posição do Exército Vermelho na
guerra civil. A China é um vasto país, donde resulta que, mesmo no
caso de o Japão conseguir ocupar uma parte do país com uma popula-
ção de cerca de cem a duzentos milhões de habitantes, nós ainda esta-
remos muito longe da derrota. Nós teríamos ainda uma grande força
para combater o Japão, enquanto que este se veria obrigado a travar
batalhas defensivas na sua própria retaguarda, ao longo de toda a
guerra. A heterogeneidade e o desigual desenvolvimento da economia
da China são, no fundo, vantagens na Guerra de Resistência. Por exem-
plo, o isolamento de Xangai do resto da China não seria tão desastroso
para esta como o isolamento de Nova Iorque para os Estados Unidos.
E se o Japão bloquear as costas da China, ele não poderá bloquear tam-
bém o Noroeste, o Sudoeste e o Oeste do país. Assim, uma vez mais,
o ponto central do problema é a unidade do conjunto do povo chinês
e a formação, a escala nacional, duma frente anti-japonesa. É justa-
mente isso que temos estado a defender desde há muito.
Pergunta: Se a guerra se prolonga por muito tempo e o Japão
não é completamente derrotado, poderá o Partido Comunista aceitar
uma negociação de paz com o Japão e reconhecer o domínio deste so-
bre o Nordeste?
Resposta: Não. Da mesma maneira que a totalidade do povo, o
Partido Comunista da China jamais aceitará que o Japão retenha uma
só polegada do território chinês.
Pergunta: Em sua opinião, qual será o principal princípio estra-
tégico a seguir na atual guerra de libertação?
Resposta: A nossa estratégia deve consistir no emprego das
nossas forças principais para operar sobre uma frente vasta e instável.
Para obterem êxito, as forças chinesas devem fazer uma guerra de alto
186| Seis Escritos Militares |
por todo o povo chinês que lhe é hostil; será obrigado a fazer vir de
fora e a proteger tudo o que necessita, devendo empregar forças pode-
rosas para defender as suas linhas de comunicação e estar constante-
mente em guarda contra todos os ataques, além de que necessitará de
grandes quantidades de tropas para guarnecer tanto a Manchúria como
o próprio Japão.
No decorrer da guerra, a China poderá aprisionar muitos sol-
dados japoneses e capturar muitas armas e munições com que se ar-
mará a si própria; simultaneamente, ela conseguirá uma ajuda estran-
geira, o que reforçará gradualmente o equipamento das suas tropas. Em
consequência, a China poderá fazer uma guerra de posições no último
período da guerra e lançar ataques de posições nas áreas ocupadas pelos
japoneses. Desse modo, a economia japonesa decompor-se-á em resul-
tado da resistência prolongada da China, e o moral das suas tropas que-
brar-se-á sob a pressão de incontáveis combates de desgaste. Do lado
chinês, as potencialidades da resistência ao Japão entrarão cada vez mais
em jogo, e grandes levas de revolucionários precipitar-se-ão ininterrup-
tamente para a frente, lutando pela sua própria liberdade. A conjugação
desses e doutros fatores tornar-nos-á capazes de lançar ataques finais
decisivos contra as fortificações e as bases situadas nas áreas ocupadas
pelo Japão, e rechaçar da China as forças japonesas de agressão. (Edgar
Snow: Impressões sobre o Noroeste da China)
Tudo o que se disse acima ficou comprovado pela experiência
dos dez meses de guerra e será ainda melhor confirmado no futuro.
7. Já em 25 de Agosto de 1937, isto é, menos de dois meses
depois do Incidente de Lucouquiao, o Comitê Central do Partido Co-
munista da China tinha apontado claramente, na sua “Resolução sobre
a Situação Atual e as Tarefas do Partido”, o seguinte:
A provocação militar dos agressores japoneses em Lucouquiao
e a ocupação de Pepim e Tientsim, representam apenas o começo da
invasão da China em grande escala, ao sul da Grande Muralha. Eles já
começaram a mobilização nacional para a guerra. A sua propaganda
188| Seis Escritos Militares |
segundo a qual “não desejam uma expansão posterior” não passa duma
cortina de fumaça para cobrir maiores ataques.
A resistência de 7 de Julho, em Lucouquiao, marca o ponto de
arranque da Guerra de Resistência da China a escala nacional.
Assim, a situação política da China entrou numa nova fase, a
fase da efetiva resistência. A fase da preparação para a resistência já
passou. Na fase atual, a tarefa central consiste em mobilizar todas as
forças da nação para a vitória na Guerra de Resistência.
A chave da vitória na guerra está em desenvolver a resistência
que já começou numa guerra geral de toda a nação. A vitória final só
pode ser ganha por meio dessa guerra geral de resistência de toda a
nação.
O fato de existirem sérias debilidades na Guerra de Resistência
pode conduzir a muitos reveses, retiradas, cisões internas, traições,
compromissos temporários e parciais, bem como a outras situações
desfavoráveis no decurso dessa guerra. Assim, há que prever uma
guerra árdua e prolongada. Todavia, nós confiamos em que, com os
esforços do nosso Partido e do conjunto do povo do país, a resistência
agora começada varrerá todos os obstáculos do seu caminho e conti-
nuará a avançar e a desenvolver-se.
A tese que acaba de ser apresentada ficou igualmente compro-
vada pela experiência dos dez meses de guerra, e será ainda melhor
confirmada no futuro.
8. No plano do conhecimento, a origem de todas as opiniões
erradas sobre a guerra está nas tendências idealistas e mecanistas a res-
peito dessa questão. As pessoas em que se manifestam tais tendências
são subjetivistas e unilaterais ao abordarem os problemas. Elas deixam-
se levar por um palavreado puramente subjetivo e sem fundamento, ou
então, baseando-se num simples aspeto ou manifestação temporária,
exageram-no, com um mesmo subjetivismo, tomando-o como o todo.
Todavia, há duas categorias de opiniões erradas: uma compreende os
erros de princípio, permanentes pois, e que são difíceis de corrigir,
Seis Escritos Militares|189 |
A Base do Problema
antitóxico que não só elimina o veneno inimigo, mas também nos purga
daquilo que temos de malsão. Toda a guerra justa, revolucionária, con-
tém uma força imensa e pode transformar muitas coisas ou abrir cami-
nho para tal transformação. A Guerra Sino-Japonesa transformará
tanto a China como o Japão. Desde que a China persevere na Guerra
de Resistência e na Frente Única, o velho Japão será seguramente trans-
formado num Japão novo e a velha China, numa China nova, assim
como o povo e todas as coisas, quer na China quer no Japão, se trans-
formarão também durante e após a guerra. É correto ligarmos a Guerra
Anti-japonesa com a edificação do nosso país. Dizer que o Japão tam-
bém pode transformar-se significa que a guerra de agressão realizada
pelos seus dirigentes acabará numa derrota, e que isso poderá levar o
povo japonês a revolução. O dia em que a revolução do povo japonês
triunfar será o dia da transformação do Japão. Tudo isso está estreita-
mente ligado a Guerra de Resistência da China e constitui uma pers-
pectiva que temos de considerar.
a questão como um todo, vê-se que eles não têm base para sustentar-
se e persistem num erro. Quanto aqueles que nem são subjugacionistas
nem pessimistas inveterados, mas apenas indivíduos temporariamente
caídos num estado de espírito pessimista, pela razão simples de estarem
confundidos pela disparidade entre a nossa fraqueza e a força que o
inimigo revela em certos aspetos e em certo período, ou pela corrupção
existente no nosso país, devemos salientar o fato de a abordagem que
fazem do problema tender também para o unilateralismo e o subjeti-
vismo. Todavia, no seu caso, a correção é relativamente fácil; uma vez
alertados, eles acabam por compreender, pois são patriotas e o seu erro
é apenas momentâneo.
27. Os defensores da vitória rápida estão igualmente enganados.
Eles esquecem completamente a contradição entre a força e a fraqueza,
lembrando-se unicamente doutras contradições, ou exageram as vanta-
gens da China para além de toda a realidade e reconhecimento, ou to-
mam presunçosamente a correlação de forças, em dado lugar e tempo,
pelo conjunto da situação, como no velho ditado que diz que “uma
folha diante dos olhos impede-os de ver a montanha Tai”, e pensam
que têm razão. Numa palavra, não têm a coragem para admitir que o
inimigo é forte e nós somos fracos. Eles negam frequentemente esse
ponto e, por consequência, negam um aspeto da verdade, assim como
lhes falta igualmente coragem para admitir limites as nossas vantagens,
donde resulta negarem um outro aspeto da verdade. Daí o cometerem
erros, grandes e pequenos, o que, mais uma vez, se deve ao unilatera-
lismo, ao subjetivismo. Esses amigos têm igualmente os seus corações
no devido lugar, também são patriotas. Todavia, “embora as suas aspi-
rações sejam elevadas”, os seus pontos de vista são errados, pelo que
agir em conformidade com eles conduzir-nos-ia a um beco sem saída.
Como as suas análises não correspondem a realidade, a sua ação não
pode atingir os respetivos objetivos; e como agir forçando a nota signi-
ficaria a derrota do exército e a subjugação da pátria, o resultado seria
Seis Escritos Militares|205 |
apenas poderá reter cerca de um terço dos territórios que ocupa, fi-
cando os outros dois terços em nosso poder, o que constituirá uma
grande derrota para o Japão e uma grande vitória para a China. Então,
o conjunto do território ocupado pelo inimigo ficará dividido em três
categorias: primeiro, as bases inimigas; segundo, as bases da nossa
guerra de guerrilhas; terceiro, as regiões de guerrilhas disputadas pelas
duas partes. A duração dessa fase dependerá do grau da modificação
operada na balança de forças existente entre nós e o inimigo, bem como
das modificações da situação internacional; dum modo geral, devemos
esperar que essa segunda fase seja relativamente longa, sendo-nos ne-
cessário escalar um caminho difícil. Será um período muito duro para
a China; os dois problemas maiores serão as dificuldades económicas e
as atividades subversivas dos traidores. O inimigo despenderá todos os
esforços para romper a Frente Única da China, enquanto que as orga-
nizações traidoras das regiões ocupadas fundir-se-ão num pseudo “go-
verno unificado”. Devido a perda das grandes cidades e as dificuldades
da guerra, os elementos vacilantes no seio das nossas fileiras reclamarão
um compromisso, e o pessimismo alcançará uma séria extensão. A
nossa tarefa consistirá em mobilizar o povo inteiro para que se una
como um só homem e mantenha a guerra com uma perseverança in-
quebrantável, em alargar e consolidar a Frente Única, eliminar todo o
pessimismo e toda a ideia de compromisso, promover a vontade de
combater duramente e aplicar novas políticas para o tempo de guerra,
de maneira a aguentar essa prova até ao fim. Na segunda fase, nós te-
remos de apelar para a totalidade da nação a fim de que mantenha fir-
memente um governo unificado, teremos de opor-nos as divisões e
aperfeiçoar sistematicamente as nossas técnicas de combate, reformar
as forças armadas, mobilizar o povo inteiro e preparar-nos para a con-
traofensiva. A situação internacional tornar-se-á ainda mais desfavorá-
vel ao Japão e as principais forças do campo internacional inclinar-se-
ão a prestar maior ajuda a China, muito embora possa existir esse pala-
vreado sobre o “realismo” tipo Chamberlain, que se acomoda aos
214| Seis Escritos Militares |
mau caminho, nós atingiremos a reta que conduz a vitória. Tal é a lógica
natural da guerra.
41. Nas três fases, as modificações na relação de forças existente
entre nós e o inimigo verificar-se-ão na ordem seguinte: na primeira
fase, o inimigo é superior em forças, e nós somos inferiores. Pelo que
respeita a nossa inferioridade, devemos ter em conta dois tipos diferen-
tes de mudanças que ela registará, desde a véspera da Guerra de Resis-
tência até ao fim da primeira fase. O primeiro tipo consiste numa mu-
dança para pior. A inferioridade inicial da China será agravada pelas
perdas de guerra na primeira fase, nomeadamente a perda de territórios,
de população, de força económica, de poderio militar e de instituições
culturais. Mais para o fim dessa primeira fase, o enfraquecimento será
provavelmente considerável, em especial no plano económico. Isso será
explorado por certas pessoas, como base para as suas teorias de subju-
gação nacional e compromisso. Todavia, há que notar igualmente um
segundo tipo de mudança, a mudança para melhor. Essa mudança in-
clui a experiência ganha na guerra, os progressos feitos pelas forças
armadas, o progresso político, a mobilização do povo, o desenvolvi-
mento da cultura numa nova direção, o surgir da guerra de guerrilhas,
o aumento da ajuda internacional, etc. No decorrer da primeira fase, a
antiga quantidade e a antiga qualidade declinam, sendo esse fenómeno
principalmente de ordem quantitativa, enquanto que a quantidade e a
qualidade do que é novo progridem, sendo esse fenómeno de ordem
principalmente qualitativa. É o segundo tipo de modificação que for-
nece uma base a nossa possibilidade de sustentar uma guerra prolon-
gada e conquistar a vitória final.
42. Na primeira fase, produzem-se igualmente dois tipos de
modificações no campo do inimigo. O primeiro tipo é uma modifica-
ção para pior, que se manifesta em centenas de milhares de mortos e
feridos, desgaste em armas e munições, declínio do moral das tropas,
descontentamento popular no seu próprio país, baixa no comércio, des-
pesa de mais de dez biliões de yuan japonês, condenação pela opinião
Seis Escritos Militares|217 |
56 A possibilidade, prevista pelo camarada Mao Zedong, duma melhoria na situação da China
na fase de equilíbrio das forças, durante a Guerra de Resistência, realizou-se inteiramente nas
regiões libertadas que se encontravam sob a direção do Partido Comunista. Mas como a cama-
rilha dominante de Chiang Kai-shek se comportava passivamente na resistência e lutava ativa-
mente contra os comunistas e o povo, a situação não melhorou nas regiões controladas pelo
Kuomintang, antes pelo contrário, agravou-se, o que provocou a oposição das grandes massas
populares e elevou a sua consciência política. Ver “Sobre o Governo de Coalizão”, Obras Es-
colhidas de Mao Zedong, Tomo III.
218| Seis Escritos Militares |
57Os partidários da “teoria da onipotência das armas” consideravam que, sendo inferior ao
Japão do ponto de vista do armamento, a China devia inevitavelmente sofrer uma derrota na
guerra. Todos os chefes da camarilha reacionária do Kuomintang (incluído Chiang Kai-shek)
partilhavam esse mesmo ponto de vista.
220| Seis Escritos Militares |
A Guerra e a Política
O Objetivo da Guerra
nós estamos no interior das linhas; ele faz uma guerra ofensiva en-
quanto nós fazemos a guerra defensiva. Tudo isso pode aparecer como
uma grande desvantagem para nós. Contudo, podemos aproveitar-nos
das nossas duas vantagens, isto é, do nosso imenso território e dos nos-
sos grandes efetivos e, em vez de realizarmos obstinadamente uma
guerra de posições, fazer uma guerra de movimento flexível, empregar
várias divisões contra cada uma das divisões inimigas, várias dezenas de
milhares de homens contra cada dez mil dos seus soldados, várias co-
lunas contra cada uma das suas colunas, e cercar e atacar subitamente
uma só das suas colunas a partir das linhas exteriores do campo de
batalha. Desse modo, muito embora o inimigo se encontre estrategica-
mente nas linhas exteriores e faça a guerra ofensiva, ele será forçado,
nas campanhas e nos combates, a bater-se nas linhas interiores e a ado-
tar a defensiva. Para nós, portanto, as linhas interiores e a defensiva, no
plano estratégico, transformar-se-ão em linhas exteriores e em ofensiva,
nas campanhas e nos combates. É esse o método para enfrentar uma
só, ou mesmo todas as colunas inimigas que avancem contra nós. Am-
bas as consequências examinadas acima decorrem do fato de o inimigo
ser pequeno e nós grandes. Além disso, embora reduzidas, as forças
inimigas são fortes (em armamento e preparação), enquanto que as
nossas forças, embora numerosas, são fracas (em armamento e prepa-
ração, não no moral), donde resulta que, nas campanhas e nos comba-
tes, nós não só devemos empregar forças numerosas contra forças re-
duzidas e operar a partir do exterior contra o interior das linhas, mas
também seguir o princípio de procurar uma decisão rápida. Em geral,
para conseguir uma decisão rápida, nós devemos atacar um inimigo em
marcha e não um inimigo acantonado num ponto. Nós devemos con-
centrar secretamente, e de antemão, forças poderosas sobre os dois la-
dos da rota seguida por este e lançar-nos bruscamente sobre ele, en-
quanto marcha, cercando-o e atacando-o sem dar-lhe tempo para refa-
zer-se, e terminar o combate rapidamente. Se pelejamos bem, podemos
destruir a totalidade, uma grande parte, ou pelo menos algumas das
Seis Escritos Militares|243 |
aplica-se não apenas a uma fase da guerra, mas sim ao longo de todo o
curso desta. Na fase da contraofensiva estratégica, quando estivermos
efetivamente melhor equipados e não nos encontrarmos mais na situa-
ção de combater do fraco ao forte, se continuarmos a realizar, com
forças superiores, combates ofensivos de decisão rápida no exterior das
linhas, ficaremos com uma possibilidade ainda maior de capturar em
grande escala prisioneiros e material. Por exemplo, se empregamos
duas, três ou quatro divisões mecanizadas contra uma divisão mecani-
zada inimiga, ficamos mais seguramente capazes de destruí-la. Vários
homens valorosos podem facilmente dominar um só homem. Isso é
uma questão de simples bom-senso.
76. Se realizamos resolutamente sobre os campos de batalha
“ações ofensivas de decisão rápida no exterior das linhas”, não só mo-
dificamos a correlação de forças e de superioridades no campo de ba-
talha, mas ainda modificamos gradualmente a situação geral. No campo
de batalha, nós adotamos a ofensiva e o inimigo a defensiva, emprega-
mos forças superiores nas linhas exteriores e o inimigo forças inferiores
nas linhas interiores, buscamos a decisão rápida enquanto o inimigo,
por mais que faça, não é capaz de alongar o combate na expetativa de
reforços; por todas essas razões, a posição do inimigo modificar-se-á
de forte para fraca, de superior para inferior, enquanto que a situação
das nossas forças se modificará de fraca para forte, de inferior para su-
perior. Uma vez travados vitoriosamente muitos desses combates, a si-
tuação geral entre nós e o inimigo modificar-se-á. Isso significa que
através da acumulação de muitas vitórias nos campos de batalha, graças
as ações ofensivas de decisão rápida nas linhas exteriores, passo a passo
acabamos por reforçar-nos e por enfraquecer o inimigo, o que afetará
necessariamente a correlação geral de forças e de superioridades, pro-
vocando-lhe modificações. Quando isso acontecer, essas modificações,
juntamente com outros fatores da nossa própria situação, as modifica-
ções no campo inimigo e uma situação internacional favorável, conver-
terão a relação geral entre nós e o inimigo, primeiramente numa relação
Seis Escritos Militares|245 |
qualquer dos lados, mas sim relativas. Com as vantagens que lhe pro-
porciona a sua potência militar, económica e de organização política, o
Japão goza de superioridade com relação a nós, que dispomos dum
fraco potencial militar, económico e de organização política, o que
constitui a base para a sua iniciativa. Mas como a quantidade do seu
potencial militar e não-militar não é grande, sofrendo ele ainda de mui-
tas outras desvantagens, essa superioridade encontra-se reduzida pelas
suas próprias contradições. Depois da invasão da China, a superiori-
dade japonesa ficou ainda mais reduzida, na medida em que teve de
fazer face a fatores tais como a vastidão do nosso território, a imensidão
da nossa população, a importância numérica do nosso exército e a re-
sistência encarniçada de toda a nação. Assim, a superioridade do Japão
tomou, no seu conjunto, um caráter simplesmente relativo, e a sua ap-
tidão para exercer e manter a iniciativa, aptidão que já não pode, por-
tanto, manifestar-se senão dentro de certos limites, tornou-se também
relativa. Quanto a China, embora se encontre estrategicamente numa
posição de certo modo passiva, em virtude da sua inferioridade de for-
ças, ela é no entanto quantitativamente superior em território, popula-
ção e tropas, sendo igualmente superior quanto ao moral das suas for-
ças e do seu povo, bem como quanto ao ódio patriótico pelo inimigo;
tal superioridade, juntamente com outros fatores vantajosos, reduz o
grau da sua inferioridade em potencial militar, económico, etc., trans-
formando-a numa inferioridade relativa no plano estratégico. Isso tam-
bém reduz o grau de passividade da China, dando a sua posição estra-
tégica um caráter de simples passividade relativa. Como a passividade,
seja ela qual for, constitui sempre uma desvantagem, importa fazer to-
dos os esforços para sair-se dela. No domínio militar, o meio de con-
seguir sair dela é desenvolver com resolução ações ofensivas de decisão
rápida nas linhas exteriores, desencadear a guerra de guerrilhas na reta-
guarda do inimigo, garantindo assim uma esmagadora superioridade lo-
cal, bem como a iniciativa ao longo das numerosas campanhas da
guerra de movimento e da guerra de guerrilhas. Por meio dessa
Seis Escritos Militares|249 |
ao mesmo tempo uma parte delas para um golpe de surpresa que lhe permitiu dominar a reta-
guarda mal protegida de Tchao Sie. O resultado foi que o exército de Tchao, atacado de frente
e no dorso, acabou por sofrer uma pesada derrota.
64 No final do século XVIII e começos do XIX, Napoleão sustentou uma luta contra a In-
glaterra, Prússia, Áustria, Rússia e vários outros países europeus. Em muitas das suas cam-
panhas, muito embora inferiores numericamente, os exércitos de Napoleão obtiveram nu-
merosas vitórias.
252| Seis Escritos Militares |
65 No ano 383, Fu Quien, chefe dos Tchin, subestimando a força dos Tzin, atacou-os. O exér-
cito dos Tzin começou por derrotar a vanguarda dos Tchin em Luotsian, distrito de Chouiam,
província de Anghuei, e continuou na ofensiva por terra e por água. Do alto das muralhas da
cidade de Chouiam, Fu Quien observou o inimigo e viu que o exército dos Tzin se encontrava
inteiramente disposto em ordem de batalha; assim que olhou em direção do monte Pacum,
porém, as árvores e os arbustos pareceram-lhe ser soldados dos Tzin, pelo que pensou ter
diante de si um possante inimigo, e ficou cheio de medo. Ver, no Tomo I, a nota 27 ao artigo
“Problemas Estratégicos da Guerra Revolucionária na China”. [Nota 27, tomo I: Em 383, Sie
Siuan, general dos Tziri de Leste, infligiu sobre as margens da ribeira Pei (província do Anghuei)
uma pesada derrota a Fu Quien, que reinava sobre os Tchin. Este último dispunha de mais de
600.000 peões, de 270.000 cavaleiros e duma guarda de mais de 30.000 homens, enquanto que
as tropas dos Tzin de Leste (compreendida a frota) não excediam 80.000 homens. Os dois
exércitos estavam separados pela ribeira Fei. Especulando sobre a arrogância e a suficiência do
seu adversário, Sie Siuan pediu a Fu Quien que lhe concedesse um espaço sobre a margem
norte, onde se encontrava o Exército de Tchin, para que as suas tropas pudessem desembarcar
e dar a batalha decisiva. Fu Quien aceitou, mas, desde que ele deu a ordem de retirar, as suas
tropas foram tomadas de pânico e tornou-se impossível contê-las. Aproveitando a ocasião, as
tropas de Sie Siuan atravessaram a ribeira e esmagaram o exército de Fu Quien.]
Seis Escritos Militares|253 |
Agrária, mas por causa dos erros cometidos no passado 66, o povo en-
contra-se num estado de falta de organização, não pode ser pronta-
mente levado a servir a causa, acontecendo até que, algumas vezes,
chega a ser utilizado pelo próprio inimigo. A mobilização firme e em
grande escala do povo é o único processo de assegurar uma fonte ines-
gotável de recursos para responder a todas as exigências da guerra.
Além disso, tal mobilização desempenhará um grande papel na aplica-
ção das nossas táticas de desorientar o inimigo e derrotá-lo por meio
de ataques de surpresa. Nós não somos o Duque Siam de Som, nós não
seguimos de maneira alguma a sua ética estúpida67. Para alcançarmos a
vitória nós devemos, tanto quanto possível, cegar e ensurdecer o ini-
migo, tapando os olhos e os ouvidos e desviando as atenções do seu
comando por meio dum lançar da confusão no seu espírito, o que o
enlouquece. Tal é a relação existente entre a ausência ou a presença da
iniciativa e a direção subjetiva da guerra. Sem essa direção subjetiva da
guerra é impossível vencer o Japão.
84. Dum modo geral, o Japão detém a iniciativa na fase da sua
ofensiva em razão do seu poderio militar e da exploração a que
66 Em 1927, Chiang Kai-shek, Uam Tsim-vei e os seus acólitos traíram a Primeira Frente Única
Democrática Nacional entre o Kuomintang e o Partido Comunista, e prosseguiram durante
dez anos uma guerra antipopular, o que privou o povo chinês da possibilidade de se organizar
em larga escala. É a camarilha reacionária do Kuomintang, dirigida por Chiang Kai-shek, que
cabe a responsabilidade dessa falta histórica.
67 O Duque Siam reinava no principado de Som na época de Tchuentsiu, no século VII antes
da nossa era. Em 638 A.C., o principado de Som fazia a guerra ao poderoso principado de
Tchu. As tropas de Som estavam já dispostas em ordem de batalha, enquanto que o exército
de Tchu estava ainda a atravessar o rio que separava os dois contendores. Um dos dignitários
de Som, sabendo que as tropas de Tchu eram muito superiores em número, propôs aproveitar
o momento propício e atacá-las enquanto não tivessem terminado a travessia. Mas o Duque
Siam respondeu: “Não, um homem de boa estirpe não ataca aqueles que estão em dificuldade.”
Quando as tropas de Tchu atravessaram o rio, e antes que estivessem perfeitamente dispostas
em ordem de batalha, o dignitário pediu outra vez que se atacasse o inimigo. O Duque Siam
respondeu: “Não, um homem de boa estirpe não ataca um exército antes que este esteja em
ordem de batalha.” Foi somente quando as tropas de Tchu se apresentaram perfeitamente pre-
paradas para o combate que o Duque deu a ordem de atacar. O resultado foi uma pesada
derrota para o principado de Som, ficando o próprio Duque ferido. Ver em Tsuo Tebuan
(Anais), na parte relativa ao ano XXII, o relato sobre o Duque Si.
Seis Escritos Militares|255 |
sinais que podem ser interpretados, indícios que podem guiar-nos, séries
de fatos que nos ajudam a refletir sobre essa situação. Tudo isso forma
aquilo a que nós chamamos um certo grau de certeza relativa, a qual pode
fornecer uma base objetiva para a elaboração dos nossos planos na
guerra. O progresso da técnica moderna (telegrafia, rádio, aeroplanos,
veículos a motor, caminhos de ferro, barcos a vapor, etc.) aumentaram
as possibilidades de estabelecer planos na guerra. Todavia, uma elabora-
ção de planos completos e estáveis é difícil porque a certeza na guerra é
de fato muito limitada e momentânea. Tais planos têm de modificar-se
segundo o desenrolar da guerra (a sua mobilidade ou a sua evolução), e
sendo o grau dessas modificações dependente da escala da guerra. Em
muitos casos, os planos táticos, como por exemplo os planos de ataque
ou de defesa para as pequenas formações ou unidades, têm de ser modi-
ficados várias vezes num mesmo dia. Geralmente, o plano duma campa-
nha, quer dizer, o plano de ação para as grandes formações, pode man-
ter-se até a conclusão da campanha, muito embora, no decurso desta, ele
seja várias vezes modificado, na parte e até no todo, em alguns casos.
Quanto aos planos estratégicos, como eles são elaborados com base na
situação global das duas partes em luta, são ainda mais estáveis, sendo,
no entanto, apenas aplicáveis a uma certa e determinada fase estratégica,
e devendo por consequência ser modificados sempre que a guerra passa
a uma nova fase. A elaboração e a modificação dos planos táticos, dos
planos para as campanhas e dos planos estratégicos, segundo a escala
respetiva e as circunstâncias, é um fator-chave na direção duma guerra;
eis a expressão concreta da flexibilidade na guerra, ou, por outras pala-
vras, eis o segredo duma hábil execução. Os comandantes da Guerra de
Resistência contra o Japão devem, em todos os escalões, prestar a esse
assunto uma atenção particular.
89. Em virtude da fluidez da guerra, algumas pessoas negam ca-
tegoricamente a estabilidade relativa dos planos e das diretivas de guerra,
descrevendo-os como “mecânicos”. Essa maneira de ver é errada. Na
seção anterior nós reconhecemos inteiramente que, dado o fato de as
Seis Escritos Militares|259 |
68Em 1937, o exército de agressão japonês que se tinha apoderado de Pepim e de Tientsim
avançou sobre o Sul, ao longo da linha de caminho de ferro de Tientsim-Pucou, e lançou uma
ofensiva contra a província de Xantum. O caudilho militar do Kuomintang, Han Fu-tsiu, que
262| Seis Escritos Militares |
tinha governado durante longos anos a província de Xantum, fugiu para o Honan sem ter dado
uma só batalha.
Seis Escritos Militares|263 |
decorrer da nossa guerra longa e cruel; ela atingirá um nível mais ele-
vado, transformando-se em guerra de movimento. Desse modo, o pa-
pel estratégico da guerra de guerrilhas é duplo: apoiar a guerra regular
e transformar-se em guerra regular. Dada a duração e extensão sem
precedentes da guerra de guerrilhas no conjunto da Guerra de Resis-
tência da China, é extremamente importante não subestimar o seu pa-
pel estratégico. Por consequência, a guerra de guerrilhas na China, além
de problemas táticos, põe também problemas estratégicos particulares.
Eu já examinei esse assunto no artigo intitulado “Problemas Estratégi-
cos da Guerra de Guerrilhas contra o Japão”. Como se disse mais atrás,
as formas da guerra nas três fases estratégicas são as seguintes: na pri-
meira fase, a guerra de movimento é o essencial, enquanto que a guerra
de guerrilhas e a guerra de posições são auxiliares; na segunda, a guerra
de guerrilhas tomará o primeiro lugar, sendo auxiliada pela guerra de
movimento e pela guerra de posições; na terceira, a guerra de movi-
mento voltará a constituir a forma principal, sendo auxiliada pela guerra
de posições e pela guerra de guerrilhas. Todavia, a guerra de movimento
na terceira fase já não será realizada apenas pelas forças originariamente
regulares; uma parte, e possivelmente uma parte importante, será reali-
zada por forças que originariamente eram guerrilhas, mas que progre-
diram, passando da guerra de guerrilhas a guerra de movimento. O
exame dessas três fases da Guerra de Resistência da China contra o
Japão mostra que a guerra de guerrilhas é absolutamente indispensável.
A nossa guerra de guerrilhas constituirá um espetáculo grandioso e sem
paralelo nos anais das guerras. Por isso, dos milhões de soldados das
forças regulares da China, é de todo necessário destinar pelo menos
algumas centenas de milhar a dispersão no interior das áreas ocupadas
pelo inimigo, a fim de mobilizarem as massas e levarem-nas a armar-se
a si próprias, e fazerem em coordenação com estas uma guerra de guer-
rilhas. As forças regulares assim destacadas devem assumir com toda a
consciência essa tarefa sagrada, e jamais pensar que o seu valor diminui
pelo fato de terem de travar um número menor de grandes batalhas e
Seis Escritos Militares|265 |
deliberadamente, fazer com que ele cometa erros, quer dizer, nós po-
demos enganá-lo e manobrá-lo até a posição que nos convenha, por
meio de movimentos hábeis e eficazes, cobertos por uma população
local bem organizada, como seja o “fazer uma finta a leste para atacar
a oeste”. Essa possibilidade já foi analisada mais atrás. Tudo quanto se
disse mostra que até no seio do comando inimigo podemos encontrar
possibilidades de vitória. Claro que não devemos fazer disso uma base
importante para os nossos planos estratégicos; pelo contrário, a via se-
gura a adotar consiste em elaborar os nossos planos pensando que o
inimigo apenas cometerá um número reduzido de erros. Além disso, o
inimigo pode explorar os nossos erros tais como nós podemos explorar
os que ele vai cometendo. Constitui, pois, tarefa do nosso comando
fazer com que este não tenha mais do que um mínimo de oportunida-
des para isso. Efetivamente, o inimigo cometeu erros, há de continuar
a cometê-los no futuro, e pode ainda cometer mais em resultado dos
nossos próprios esforços nesse sentido. «Todos esses erros podem ser
explorados, razão por que os nossos comandantes da Guerra de Resis-
tência devem fazer o seu máximo no sentido de aproveitar todas as
oportunidades. Todavia, muito embora no plano estratégico e no plano
das campanhas haja muitos defeitos no comando inimigo, este demons-
tra, no entanto, muita habilidade na direção dos combates, isto é, na
tática de combate das unidades e das pequenas formações, havendo,
portanto, muito que aprender com ele a esse respeito.
69 Em 1812, com um exército de 500.000 homens, Napoleão atacou a Rússia. O exército russo,
ao retirar-se, incendiou Moscou, deixando o exército de Napoleão a fome, ao frio e a terríveis
sofrimentos. Depois, desbaratando as linhas de comunicação na retaguarda dos invasores, co-
locou-os na situação insustentável de tropas cercadas, de tal maneira que Napoleão foi obrigado
a retirar o seu exército. Aproveitando a situação, o exército russo passou a contraofensiva e, de
todo o exército de Napoleão, somente uns 20.000 soldados puderam escapar.
Seis Escritos Militares|281 |
precisa de ter dinheiro para jogar, mas se ele arrisca tudo em uma só
cartada, e se a sorte o abandona, não poderá continuar a jogar. Os acon-
tecimentos seguem sempre uma linha sinuosa e nunca uma linha reta.
Isso também é verdade para a guerra. Só os formalistas é que não po-
dem compreender essa verdade.
110. Eu penso que o que se disse atrás vale também quanto a
decisão na fase da contraofensiva estratégica. Muito embora nessa al-
tura o inimigo esteja numa posição de inferioridade e nós em superio-
ridade, o princípio de “travar os combates decisivos que nos são ren-
dosos e evitar os que nos são prejudiciais” será ainda aplicável, e conti-
nuará a sê-lo até ao momento em que os nossos combates nos tenham
levado ao rio Ialu. Esse é o processo de conservarmos a iniciativa desde
o começo até ao fim. Quanto aos “desafios” do inimigo e os “ditos”
de terceiras pessoas, nós devemos afastá-los com desdém, não prestar
a tudo isso a menor atenção e manter-nos firmes. Na Guerra de Resis-
tência só serão considerados valentes e sensatos os comandantes que
derem provas duma tal firmeza. Esse não é o caso das pessoas que “se
inflamam como a pólvora”, a primeira chispa. Embora estejamos estra-
tegicamente numa posição mais ou menos passiva nesta primeira fase
da guerra, devemos lutar para deter a iniciativa em cada campanha, as-
sim como devemos lutar para guardá-la ao longo de todas as demais
fases. Nós somos pela guerra prolongada e pela vitória final; não somos
jogadores que arriscam tudo em uma só cartada.
70 O Kuomintang completava o seu exército da maneira seguinte: expedia para toda a parte
tropas e polícia para submeterem os homens e incorporarem-nos a força no exército. Os futu-
ros soldados eram amarrados com cordas, como se procedia com os criminosos. Os que dis-
punham de alguns meios subornavam os funcionários do Kuomintang e pagavam a outros ho-
mens, que os substituíam como soldados.
288| Seis Escritos Militares |
para Guerra de Resistência, mas, uma vez que o povo seja mobilizado,
as próprias finanças deixarão de constituir um problema. Como é que
um país tão grande e com uma população tão numerosa pode sofrer de
falta de fundos? O exército deve fundir-se com o povo, de maneira que
este o veja como sendo o seu próprio exército. Um exército assim é
invencível, e não será um país imperialista como o Japão que poderá
medir-se com ele.
115. Muitos pensam que são os métodos errados que fazem
com que não haja boas relações entre oficiais e soldados e entre exército
e povo; quanto a mim, eu tenho sempre afirmado que se trata duma
questão de atitude fundamental (ou de princípio fundamental), a qual
consiste em ter respeito pelos soldados e pelo povo. É dessa atitude
que decorrem as várias políticas, métodos e formas adequadas. Se nos
afastamos de tal atitude, as políticas, os métodos e as formas serão se-
guramente errados e as relações entre os oficiais e soldados e entre o
exército e o povo não poderão de modo algum serem boas. Os três
grandes princípios para o trabalho político no exército são: primeiro, a
unidade entre oficiais e soldados, segundo a unidade entre o exército e
o povo e, terceiro, a desintegração das forças inimigas. Para aplicar com
eficácia esses princípios, devemos começar por essa atitude fundamen-
tal de respeito pelos soldados e pelo povo, e de respeito pela dignidade
humana dos prisioneiros de guerra que tenham deposto as armas. Os
que tomam tudo isso como sendo uma questão técnica e não como
uma atitude fundamental estão efetivamente enganados e devem corri-
gir o seu erro.
116. Agora que a defesa de Vuhan e outros pontos se tornou
urgente, constitui tarefa da máxima importância despertar a iniciativa e
o entusiasmo da totalidade do exército e do povo, a fim de que apoiem
a guerra. Não há dúvidas de que a tarefa de defesa de Vuhan e outros
pontos deve ser efetivamente apresentada e cumprida. Simplesmente, a
questão de saber se poderemos de fato cumpri-la não depende da nossa
vontade, mas sim das condições concretas. A mobilização política da
Seis Escritos Militares|289 |
Conclusões
290| Seis Escritos Militares |
Escrito nº 4
Problemas da Guerra e da Estratégia71
I. As Características da China e a Guerra Revolucionária
71 Este texto constitui uma parte das conclusões apresentadas pelo camarada Mao Zedong na
Sexta Sessão Plenária do Comitê Central eleito pelo VI Congresso do Partido Comunista da
China. Em dois dos seus escritos — “Problemas Estratégicos da Guerra de Guerrilhas contra
o Japão” e Sobre a Guerra Prolongada” — O camarada Mao Zedong tinha já solucionado a
questão do papel dirigente do Partido na Guerra de Resistência contra o Japão. Alguns cama-
radas, porém, cometendo erros de oportunismo de direita, negavam a necessidade da indepen-
dência e autonomia do Partido no seio da Frente Única, razão por que duvidavam e até se
opunham à linha do Partido sobre as questões da guerra e da estratégia. Para vencer esse opor-
tunismo de direita, ajudar os membros do Partido a compreender mais claramente a importân-
cia primordial da guerra e da estratégia na revolução chinesa e mobilizar todo o Partido para
que trabalhasse conscienciosamente nessa via, o camarada Mao Zedong voltou a tratar dessa
mesma questão na Sexta Sessão Plenária do Comitê Central do Partido, apresentando-a espe-
cialmente do ponto de vista da história das lutas políticas na China. Ao mesmo tempo, ele
analisou o desenvolvimento da nossa atividade militar e as modificações concretas registadas
na linha estratégica do nosso Partido. O resultado que se alcançou foi ter-se assegurado a uni-
dade de direção ideológica e de trabalho prático em todo o Partido.
294| Seis Escritos Militares |
razão por que não há na China Parlamento que possa ser utilizado, nem
lei que reconheça aos operários o direito a greve. Em consequência,
aqui, a tarefa fundamental do Partido Comunista não é a de passar por
um longo período de lutas legais antes de desencadear a insurreição e
a guerra, nem a de ocupar primeiro as cidades e depois o campo, mas
sim proceder da maneira inversa.
Para o Partido Comunista da China, se não há ataque armado
imperialista, o importante é fazer a guerra civil, ou juntamente com a
burguesia e contra os caudilhos militares (lacaios do imperialismo),
como em 1924-1927, durante as guerras na província de Cuantum73 e
na Expedição do Norte, ou aliado aos camponeses e a pequena bur-
guesia urbana, contra a classe dos senhores de terras e a burguesia com-
pradora (também lacaios do imperialismo), como durante a Guerra Re-
volucionária Agrária de 1927-1936. Mas, se o imperialismo lança um
ataque armado contra a China, então o que importa é unir, para a guerra
nacional contra o inimigo exterior, todas as classes e todas as camadas
sociais opostas aos agressores estrangeiros, como acontece na atual
Guerra de Resistência contra o Japão.
Tudo isto mostra a diferença que existe entre a China e os países
capitalistas. Na China, a forma principal de luta é a guerra e a forma
principal de organização é o exército. Todas as outras formas, tais como
73
Em 1924, Sun Yat-sen, aliado ao Partido Comunista e aos operários e camponeses revoluci-
onários, derrotou as “Milícias Comerciantes”, destacamentos armados dos compradores, dos
déspotas locais e dos nobres que, ligados aos imperialistas britânicos, prosseguiam uma ativi-
dade contrarrevolucionária em Cantão. A princípios de 1925, o Exército Revolucionário, no
seio do qual cooperavam o Kuomintang e o Partido Comunista, partiu de Cantão para uma
campanha em direção do leste e infligiu, com a ajuda dos camponeses, uma derrota as tropas
do caudilho militar Tchen Tchiom-mim, regressando depois a Cantão e destruindo as forças
dos caudilhos militares do Iunnan e Cuansi, que aí se tinham entrincheirado. No Outono do
mesmo ano, esse Exército Revolucionário realizou uma segunda campanha em direção do leste,
aniquilando enfim o exército de Tchen Tchiom-mim. Os membros do Partido Comunista e os
da Liga da Juventude Comunista combateram heroicamente na primeira linha, durante essas
campanhas cujo resultado foi a unificação política da província de Cuantum e, em consequência
disso, a criação duma base para a Expedição do Norte.
296| Seis Escritos Militares |
com Iuan Chi-cai, chefe dos caudilhos militares do Norte. Em 1913, quando as tropas de Iuan
Chi-cai avançaram em direção ao sul, para esmagar as forças que se tinham sublevado nas
províncias de Quiansi, Anghuei e Cuantum, no seguimento da Revolução de 1911, Sun Yat-
sen organizou a resistência armada a essas tropas, vindo a fracassar pouco depois. Em 1914,
tendo tirado proveito da política errada de compromisso do Kuomintang, o Dr. Sun Yat-
sen formou em Tóquio (no Japão) um novo partido, o Tchunghuaquemintam (Partido Revolu-
cionário da China), para o distinguir do Kuomintang de então. Com efeito, o novo partido
constituía uma aliança contra Iuan Chi-cai, composta de representantes políticos de parte da
pequena burguesia e da burguesia. Apoiando-se nessa aliança, Sun Yat-sen organizou em 1914
uma pequena insurreição em Xangai. Em 1915, logo que Iuan Chi-cai se proclamou imperador,
Tsai Hô e outros organizaram contra ele uma expedição, a partir da província de Iunnan,
sendo Sun Yat-sen muito ativo entre os inspiradores e participantes na luta armada contra
Iuan Chi-cai.
Seis Escritos Militares|301 |
78 Em 1917, Sun Yat-sen partiu de Xangai para Cantão, a testa duma parte da frota que se
encontrava debaixo da sua influência. Servindo-se da província de Cuantum como base de
apoio, e aliando-se aos caudilhos militares do Sudoeste que lutavam contra o caudilho militar
do Norte, Tuan Tchijuei, formou um governo militar oposto a este último.
79 Em 1921, em Cueilin, Sun Yat-sen preparava uma expedição sobre o norte mas, por traição
de Cantão, com a ajuda do Partido Comunista da China e da União Soviética, uma escola militar
conhecida sob o nome de Academia Militar de Huampu. Antes que Chiang Kai-shek traísse
a revolução, em 1927, essa academia militar funcionava seguindo o princípio da cooperação
entre o Kuomintang e o Partido Comunista. Os comunistas Zhou Enlai, Ie Tchien-im, Iun
Tei-im, Siao Tchu-nhu e muitos outros camaradas, ocuparam, em diversas ocasiões, postos de
responsabilidade nessa academia. Havia igualmente, entre os alunos, um grande número de
comunistas e membros da Liga da Juventude Comunista. Eles constituíam o núcleo revoluci-
onário da academia.
81 Tan Ien-cai, originário do Hunan, era membro da Academia Imperial, na dinastia Tsim. A
princípio ele era favorável a instauração da monarquia constitucional, mas, mais tarde, infiltrou-
se nas fileiras da Revolução de 1911. A sua passagem para o campo do Kuomintang explica-
302| Seis Escritos Militares |
caudilhos militares do Norte. Depois da morte de Iuan Chi-cai, apoderou-se várias vezes do
poder, no Governo de Pequim.
84 O Grupo de Ciências Políticas, grupo político de extrema direita, tinha sido criado em 1916
por uma parte dos membros do Partido Progressista e do Kuomintang, os quais viviam ma-
nobrando junto dos caudilhos militares do Sul e do Norte, em busca de postos no aparelho
estatal. No período da Expedição do Norte, de 1926 a 1927, uma parte dos membros do
Grupo de Ciências Políticas, como por exemplo os pró-japoneses do tipo de Huam Fu, Tcham
Tchiun, Iam Iom-tai, entenderam-se com Chiang Kai-shek e, graças a sua experiência na ati-
vidade política reacionária, ajudaram-no a instaurar o poder político contrarrevolucionário.
85 Nome abreviado do Partido da Juventude da China, chamado ainda Partido Estatal. Ver,
possuem armas têm poder, e os que possuem mais armas detêm maior
poder. Em tais condições, o partido do proletariado deve saber ver cla-
ramente o fundo da questão.
Os comunistas não lutam para dispor dum poder militar pes-
soal (em nenhuma circunstância devem lutar por isso. Que ninguém
siga o exemplo de Tcham Cuo-tao), mas eles devem lutar pelo poder
militar para o Partido, pelo poder militar para o povo. E agora que uma
guerra nacional de resistência está em curso, os comunistas devem tam-
bém lutar para que a Nação disponha do poder militar. Se houver inge-
nuidade na questão do poder militar, não chegaremos a resultado al-
gum. É muito difícil para o povo trabalhador, que durante vários milé-
nios foi enganado e intimidado pelas classes dominantes reacionárias,
chegar a adquirir a consciência da importância de ter as armas nas suas
próprias mãos. Agora que a opressão do imperialismo japonês e a re-
sistência a escala nacional empurraram o povo trabalhador para a arena
da guerra, os comunistas devem mostrar-se os dirigentes mais consci-
entes nessa guerra. Todos os comunistas devem compreender a se-
guinte verdade: “O poder político nasce do fuzil”. O nosso princípio é
o seguinte: o Partido comanda o fuzil, e jamais permitiremos que o fuzil
comande o Partido. Todavia, possuindo-se as armas, podem efetiva-
mente criar-se as organizações do Partido, como prova a poderosa or-
ganização do Partido que o VIII Exército criou no Norte da China. Do
mesmo modo, é possível formar quadros, criar escolas, desenvolver a
cultura e organizar movimentos de massas. Tudo o que existe em Ien-
an foi criado com a ajuda das armas. Com as armas pode obter-se tudo.
Do ponto de vista da teoria marxista sobre o Estado, o exército é o
principal componente do poder de Estado. Todo aquele que quiser
conquistar e manter o poder de Estado deverá possuir um forte exér-
cito. Algumas pessoas ironizam a nosso respeito, tratando-nos de par-
tidários da “teoria da omnipotência da guerra”. Sim, nós somos defen-
sores da teoria da omnipotência da guerra revolucionária; isso não é
mau, é bom, isso e marxista. As armas do Partido Comunista Russo
304| Seis Escritos Militares |
tudo quanto havia declarado em Luxan: “Uma vez começada a guerra, toda a gente,
do Norte ou do Sul, velhos ou novos, tem o dever de resistir ao invasor e defender o
solo pátrio”. Opôs-se à guerra total do povo baseada na mobilização geral e adoptou
uma política reacionária de resistência passiva ao Japão e combate ativo ao Partido
Comunista e ao povo. As duas linhas políticas, as duas séries de medidas e as duas
perspectivas de que fala o camarada Mao Zedong no presente artigo, traduzem justa-
mente a luta entre a linha do Partido Comunista e a linha de Chiang Kai-shek ao longo
da Guerra de Resistência contra o Japão.
89 Han Fu-tsiu era um caudilho militar do Kuomintang na província de Xantum. Liu
Tchi era outro caudilho militar que pertencia a fação de Chiang Kai-shek e se havia
instalado no Honan. Depois que estalou a Guerra Anti-Japonesa, Liu Tchi foi trans-
ferido para a província de Hopei, confiando-se a defesa de Paotim. Diante da ofensiva
dos invasores japoneses, ambos fugiram sem dar batalha.
310| Seis Escritos Militares |
Escrito nº 5
Concentrar Uma Força Superior para
Aniquilar as Forças Inimigas90
90 Diretiva interna do Partido, redigida pelo camarada Mao Zedong para a Comissão Militar
Revolucionária do Comitê Central do Partido Comunista da China.
91 As expressões “aniquilar as forças inimigas” e “destruir o inimigo” são usadas como sinôni-
mos no presente tomo. Ambas querem dizer causar baixas ao inimigo, entre mortos, feridos e
prisioneiros.
92 Um corpo de exército regular do Kuomintang compunha--se, a princípio, de 3 divisões, ou
somente de 2, compreendendo cada uma três regimentos. A partir de Maio de 1946, as tropas
regulares do Kuomintang que se encontravam ao Sul do rio Amarelo foram reorganizadas por
etapas: o que era um corpo de exército transformou-se numa divisão reorganizada e as antigas
divisões, em brigadas, contando cada brigada três ou dois regimentos. Uma parte das tropas do
Kuomintang, que se encontrava ao Norte do rio Amarelo, não foi reorganizada, conservando
as suas antigas designações. Mais tarde, certas divisões reorganizadas retomaram a sua antiga
denominação de corpo de exército.
316| Seis Escritos Militares |
contra a região libertada do Quiansu- Anghuei, tendo-se as nossas tropas defendido com va-
lentia. As forças inimigas que atacavam a região libertada do Quiansu central totalizavam 15
brigadas, ou seja, cerca de 120.000 homens, sob as ordens de Tam En-po. De 13 de Julho a 27
de Agosto, 18 regimentos pertencentes às tropas do Exército Popular de Libertação no Leste
da China, comandados por Su Iu, Tan Tchen-lin e outros camaradas, concentraram forças
superiores e sustentaram sucessiva- mente sete batalhas na região de Taicim, Jngao, Hai-an e
Chaopo, no Quiansu central, aniquilando 6 brigadas e 5 batalhões da polícia de comunicações
do inimigo. São os resultados dessas duas batalhas os que aqui se mencionam.
95 Em Agosto de 1946, as forças do Kuomintang partiram dos setores de Siudjou e Tchendjou
Xantum-Honan, com o fim de coordenarem a sua ação com as forças do Exército Popular de
Libertação nas Planícies Centrais e no Leste da China, atacaram em várias colunas as tropas
inimigas estacionadas ao longo da secção Caifum-Siudjou da linha férrea Lom-hai, apoderando-
se sucessivamente de mais de dez cidades e vilas, tais como Danxan, Lanfum, Huancou,
Litchuam e Iantsi.
98 Em Julho de 1946, as forças do Kuomintang comanda- das por Hu Tsum-nan e as coman-
dadas por Ien Si-xan, atacaram conjuntamente a região libertada do sul do Xansi. As unidades
de Tai-iué, pertencentes às forças do Exército Popular de Libertação em Xansi-Hopei-Xantum-
Honan, e uma parte das tropas do Exército Popular de Libertação em Xansi-Sui-iuan contra-
atacaram e repeliram o inimigo. Em Agosto, lançaram uma ofensiva contra o inimigo ao longo
da secção Linfen-Linchi da linha férrea Tatom-Pudjou e libertaram sucessivamente as cidades
de Hontom, Tcha- otchem, Huocien, Linchi e Fensi.
320| Seis Escritos Militares |
ação com uma intensa atividade das formações regionais, dos destaca-
mentos locais de guerrilhas e da milícia popular. Quando as formações
(ou unidades) locais atacam um regimento, batalhão ou companhia do
inimigo, elas devem, de igual modo, aplicar o princípio da concentração
das forças para destruir as do inimigo uma a uma.
9. O princípio da concentração das nossas forças para destruir
uma a uma as forças do inimigo tem por objetivo principal a destruição
das forças vivas do inimigo, e não a defesa ou posse dum território. Em
certas circunstâncias, é admissível abandonar este ou aquele território,
desde que o fim seja concentrar forças para destruir o inimigo ou permitir
que as nossas forças principais se furtem a ataques possantes deste, possi-
bilitando-lhes assim repouso, instrução e consolidação, com vista aos pró-
ximos combates. Sempre que consigamos destruir em grande escala as for-
ças vivas do inimigo, ser-nos-á possível recuperar os territórios perdidos e
conquistar novos territórios. É por essa razão que importa louvar todos
aqueles que conseguem destruir as forças vivas do inimigo. Isto diz res-
peito não só àqueles que aniquilam tropas regulares do inimigo, mas tam-
bém àqueles que liquidam os seus corpos de preservação da paz, grupos
de regresso ao lar99 ou outras forças armadas locais da reação. No entanto,
há que conservar ou conquistar territórios sempre que a relação de forças
entre nós e o inimigo o permita, ou sempre que esses territórios tenham
importância para as nossas campanhas e ações tácticas; doutro modo, seria
cometer um erro. Deve-se, portanto, louvar igualmente todos aqueles que
consigam conservar ou tomar tais territórios.
99 Durante a Guerra Popular de Libertação, certos senhores de terras e déspotas locais que se
encontravam nas regiões libertadas refugiaram-se nas regiões dominadas pelo Kuomintang.
Este organizou-os em “grupos de regresso ao lar”, “corpos de regresso ao lar” e outros bandos
armados reacionários que secundaram as tropas do Kuomintang nos seus ataques contra as
regiões libertadas. Esses bandos, roubando e matando, cometeram por toda a parte crimes
inimagináveis.
Seis Escritos Militares|321 |
Escrito nº 6
A Situação Atual e as Nossas Tarefas100
I
100 Relatório apresentado pelo camarada Mao Zedong numa reunião do Comitê Central do Partido
Comunista da China, realizada de 25 a 28 de Dezembro de 1947, em Ianquiacou, distrito de Mitche, no
norte do Xensi. Além dos membros efetivos e suplentes do Comitê Central que podiam participar nessa
reunião, estavam igualmente presentes camaradas responsáveis das regiões fronteiriças de Xensi-Cansu-
Ninsia e Xansi-Sui-iuan. Nessa reunião, discutiu-se e aprovou-se o presente relatório, assim como
um outro documento redigido também pelo camarada Mao Zedong: “Algumas Apreciações
sobre a Atual Situação Internacional” (Ver no presente tomo). A propósito do relatório do
camarada Mao Zedong, a decisão adoptada nessa reunião estabelecia o seguinte: “Este relatório
é um documento-programa referente aos domínios político, militar e económico, para todo o
período em que lutamos para derrubar a camarilha reacionária dominante de Chiang Kai-shek
e fundar uma China de democracia nova. Em todo o Partido e em todo o exército, devemos
realizar um trabalho de educação em profundidade, de acordo com o presente relatório e em
coordenação com os documentos publicados em 10 de Outubro de 1947 (“Manifesto do Exér-
cito Popular de Libertação da China”, “Palavras de Ordem do Exército Popular de Libertação
da China”, Instruções sobre a Reencenação das Três Regras Cardeais de Disciplina e das Oito
Advertências”, “Disposições Gerais da Lei de Terras da China” e “Resolução do Comitê Cen-
tral do Partido Comunista da China sobre a Reencenação das Disposições Gerais da Lei de
Terras da China”), e implementar estritamente as disposições destes documentos. Ao imple-
mentar nossa política [cont. na p. 161 -- Ed.] nos diversos lugares, qualquer desvio dos princí-
pios estabelecidos no relatório deve ser retificado imediatamente”.
322| Seis Escritos Militares |
sucessivamente à ofensiva nas diversas frentes e levou a guerra às regiões sob o domínio do
Kuomintang, ver no presente tomo a nota 1 ao artigo “Sobre a Grande Vitória no Noroeste e
o Movimento de Educação Ideológica de Tipo Novo no Exército de Libertação”.
Seis Escritos Militares|323 |
II
III
para estar bem preparado para cada batalha, fazer todos os esforços
para assegurar a vitória na relação existente entre as condições do ini-
migo e as nossas.
6. Pôr plenamente em jogo o nosso estilo de combate — cora-
gem, espírito de sacrifício, desprezo pela fadiga, tenacidade nos com-
bates contínuos (combates sucessivos, travados num curto espaço de
tempo e sem descanso).
7. Esforçar-se por aniquilar o inimigo enquanto ele está em
movimento. Ao mesmo tempo, prestar atenção às tácticas de ataque
a posições para captura de pontos fortificados e cidades nas mãos
do inimigo.
8. Com respeito à tomada de cidades, tomar resoluta- mente
todos os pontos fortificados e cidades fracamente defendidos pelo ini-
migo. Tomar, no momento oportuno e sempre que as circunstâncias o
permitam, todos os pontos fortificados e cidades moderadamente de-
fendidos pelo inimigo. Em relação aos pontos fortificados e cidades
fortemente defendidos pelo inimigo, esperar até que as condições este-
jam maduras e tomá-los nessa altura.
9. Completar as nossas forças com todas as armas e a maior
parte dos efetivos capturados ao inimigo. A fonte principal em recursos
humanos e material para o nosso exército está na própria frente.
10. Aproveitar habilmente o intervalo entre duas campanhas
para repouso, instrução e consolidação das nossas tropas. Os períodos
de repouso, instrução e consolidação não devem, em princípio, ser
muito longos, procurando-se evitar, tanto quanto possível, que o ini-
migo ganhe novo fôlego. Tais são os principais métodos que o Exér-
cito Popular de Libertação tem emprega- do para derrotar Chiang
Kai-shek. Esses métodos foram forjados pelo Exército Popular de
Libertação durante os longos anos de combate contra os inimigos in-
ternos e externos, e estão perfeitamente adequados à nossa situação
atual. O bando de Chiang Kai-shek e o pessoal militar do imperia-
lismo norte-americano na China conhecem bem estes nossos
328| Seis Escritos Militares |
IV
104 Referência à “Diretiva sobre o problema agrário”; ver “Balanço de Três Meses”, nota 4, no
presente tomo.
105
A Conferência Agrária Nacional do Partido Comunista da China realizou-se em Setembro
de 1947 na aldeia de Si-paipo, distrito de Pinxan, na província de Hopei. As Disposições Gerais
Seis Escritos Militares|331 |
da Lei Agrária da China, adoptadas pela Conferência a 13 de Setembro, foram publicadas pelo
Comitê Central do Partido Comunista da China a 10 de Outubro do mesmo ano, e estipulavam
o seguinte: “Será abolido o sistema agrário de exploração feudal e semifeudal, e entrará em
vigor o sistema agrário de ‘a terra para os que a trabalham’”; “Nas aldeias, as associações cam-
ponesas tomarão posse de todas as terras dos senhores de terras e de todas as terras públicas,
as quais, juntamente com as outras terras locais, serão distribuídas equitativamente por toda a
população rural, sem distinção de sexo nem de idade”; “Nas aldeias, as associações camponesas
tomarão posse dos animais de carga, instrumentos de lavoira, habitações, cereais e outros bens
dos senhores de terras; requisitarão o excedente dos bens referidos aos camponeses ricos; dis-
tribuirão todos esses bens pelos camponeses e outras pessoas pobres que deles tenham neces-
sidade, e atribuirão a mesma porção aos senhores de terras”. Deste modo, as Disposições Ge-
rais da Lei Agrária não só confirmaram o princípio de “confiscar a terra aos senhores de terras
e distribuí-la pelos camponeses”, estabelecido na “Diretiva de 4 de Maio” de 1946, mas também
retificaram uma certa inconsequência contida nessa diretiva, que mostrava demasiada conside-
ração por certos senhores de terras.
332| Seis Escritos Militares |
terras do que uma família de camponeses pobres. Mas, considerando o país no seu conjunto, a
quantidade de meios de produção em posse dos camponeses ricos e o volume da produção das
suas propriedades eram ambos de pouca importância. A economia dos camponeses ricos não
ocupava um lugar importante na economia rural do país.
334| Seis Escritos Militares |
VI
VII
VIII
109 O Birô de Informação dos Partidos Comunistas e Operários foi fundado numa reunião
realizada em Varsóvia, na Polónia, em Setembro de 1947, pelos representantes dos Partidos
Comunistas e Operários da Bulgária, Romênia, Hungria, Polônia, União Soviética, França, Che-
coslováquia, Itália e Iugoslávia. Mais tarde, numa reunião efetuada na Romênia em Junho de
1948, o Birô de Informação anunciou a expulsão do Partido Comunista da Iugoslávia, visto
que este país persistia na sua posição antimarxista e adotava uma atitude hostil à União Soviética
e ao campo socialista. O apelo do Birô de Informação aos povos do mundo para que se levan-
tassem contra o plano imperialista de escravização, aqui mencionado pelo camarada Mao Ze-
dong, refere-se à “Declaração sobre a Situação Internacional”, adoptada pelo Birô de Informa-
ção na sua reunião de Setembro de 1947.
Seis Escritos Militares|345 |