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Vê se cresce!

A vida não é segura, mas é boa


Dr. Everett Piper
1ª edição — março de 2024 — cedet
Publicado originalmente em inglês com o título: Grow Up!: Life Isn’t Safe, but It’s Good
Published by arrangement with Regnery Publishing
Copyright © 2021 by Everett Piper
Grafia atualizada segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, adotado
no Brasil em 2009.
Os direitos desta edição pertencem ao
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Editores:
Assistente editorial:
Ulisses Trevisan Palhavan
Gabriella Cordeiro de Moraes
Assistente editorial:
Lucas Gurgel
Tradução:
Augusto de Carvalho Mendes
Revisão:
Daniel Moreira Safadi
Preparação de texto:
Lucas Gurgel
Capa:
Luis Henrique de Paula
Diagramação:
Virgínia Morais
Revisão de provas:
Flávia Regina Theodoro
Paulo Bonafina
Victor Helder Corrêa Figueiredo
Conselho editorial:
Adelice Godoy
César Kyn d’Ávila
Silvio Grimaldo de Camargo
ficha catalográfica
Piper, Dr. Everett.
Vê se cresce! A vida não é segura, mas é boa / tradução de Augusto de Carvalho Mendes
— 1a ed. — Campinas, sp: Editora Auster, 2024.
Título original: Grow Up!: Life Isn’t Safe, but It’s Good.
ISBN: 978-65-80136-26-1
1. Ética 2. Desenvolvimento de caráter: maturidade 3. Moral cristã
l. Título ii. Autor
CDD – 170 / 155.25 / 240
indices para catálogo sistemático
1. Ética — 170
2. Desenvolvimento de caráter: maturidade — 155.25
3. Moral cristã — 240

Reservados todos os direitos desta obra.


Proibida toda e qualquer reprodução desta edição por qualquer meio ou forma, seja ela
eletrônica ou mecânica, fotocópia, gravação ou qualquer outro meio de reprodução, sem
permissão expressa do editor.
Sumário
introdução: Um tempo como este

lição i: Andar é melhor do que engatinhar

lição ii: Pratos não têm pernas

lição iii: Não caia no lago

lição iv: Leve os cabos de bateria

lição v: Não discuta com o mecânico

lição vi: Você não é o Aurélio

lição vii: Amor perdido

lição viii: Escove os dentes antes de sair

lição ix: Massinha não gruda na parede

lição x: Leve seu guarda-chuva

lição xi: Seja como está escrito no rótulo

lição xii: Esteja atento ao Omaha

lição xiii: Seja a carne do hambúrguer

lição xiv: Deseje a todos um Feliz Natal

lição xv: Permaneça no cercado


lição xvi: Use o chapéu branco

lição xvii: Olhe para uma foto capturada de cima

lição xviii: O que é útil e o que é prejudicial?

lição xix: Não existe “eu” em “time”

lição xx: Sente-se na porta de saída

conclusão: Ainda uma bagunça

Índice remissivo

Notas de Rodapé
Para os meus netos, embora eu ainda não os conheça, que
essas palavras soem verdadeiras à medida que vocês “forem
além dos ensinamentos elementares... e se encaminharem para
a maturidade”.
Com muito amor,
vovô (com o devido reconhecimento para São Paulo)
introdução: Um tempo como
este
O ano é “1984” e estamos vivendo em tempos esquizofrênicos.
Tempos dickensianos. Tempos orwellianos. O melhor dos tempos,
mas também o pior. Tempos em que exigimos a verdade enquanto
nos deleitamos com nossas mentiras. Tempos de grande ganho
material, mas de perda moral ainda maior. Tempos nos quais
chamam o bem de mal e o mal de bem; o amargo de doce e o doce
de amargo. Tempos dos “tolerantes” que não toleram o que
consideram intolerável.

Apesar de todo o avanço tecnológico, testemunhamos uma


decadência mental alarmante. O magnata do Vale do Silício, Mark
Zuckerberg, diz que o Facebook honra o compromisso da
Constituição com a liberdade de expressão e a igualdade, mas a
equipe de sua empresa censura parágrafos da Declaração de
Independência porque a considera contrária à diversidade e à
inclusão.

Os legisladores da Califórnia, que se dizem defensores da verdade


e da “justiça para todos”, estão propondo leis que proíbem, mesmo
para quem está dentro de uma igreja, o fornecimento de produtos
ou serviços especificamente voltados para ajudar os fiéis a
aprenderem como controlar o próprio comportamento segundo as
delimitações do que a Bíblia diz ser justo, correto, moral e
verdadeiro.
São tempos nos quais a Comissão de Direitos Civis do Colorado
nega a um artista o direito civil de pintar, criar e assar bolos com
imagens alinhadas a suas convicções morais, e de produzir uma
arte que reflita com precisão sua visão de mundo e suas paixões. 1

Estes são tempos em que faculdades e universidades em quase


todos os estados da União estão estabelecendo códigos de fala que
obrigam professores e alunos a deixar de lado a prática milenar dos
pronomes específicos de gênero e, em vez disso, adotar
imediatamente a absurda tortura gramatical de elu, delu, ile e dile.
Vimos isso acontecer em instituições renomadas como a University
of California em Berkeley, o suposto “berço da liberdade de
expressão”.

Estes são tempos em que judeus como Dennis Prager, David


Horowitz e Ben Shapiro são hostilizados, rejeitados e banidos por
aqueles que afirmam ser contra guetos, gulags e o racismo. Tempos
em que Candace Owens, 2 uma mulher negra, é expulsa de um
restaurante por um bando de estudantes brancos sob gritos de:
“Abaixo a supremacia branca”.

Estes são tempos em que aqueles que se dizem defensores da


democracia boicotam um dono de restaurante que se atreve a
participar do processo democrático. Essas mesmas elites culturais
nem tentam mais esconder seu desdém pelas verdades
autoevidentes sobre as quais nosso país e nossa cultura foram
fundados. 3 Liberdade de expressão, liberdade de religião, liberdade
de associação, liberdade de discurso e a liberdade em geral são
agora consideradas ideias antiquadas e inferiores que devem ser
descartadas e substituídas pelos caprichosos desejos de uma classe
governante que acredita que a ralé é ignorante demais para gerir a
sua própria liberdade.

Eles promovem a intolerância sob o rótulo da “tolerância” e o


fascismo sob a bandeira da “liberdade”.
Desde escolas, onde o debate franco e a gramática adequada são
agora proibidos, aos locais de trabalho, onde cidadãos comuns
podem ser banidos por defender “causas erradas” em sua vida
privada, nenhum lugar está a salvo da fúria vingativa das elites
culturais.

Liberdade, para elas, significa obediência subserviente às suas


ordens, e qualquer um que discorde das suas arbitrárias noções de
progresso pode ser tratado da forma mais bárbara.

É uma duplicidade sem-vergonha.

É uma hipocrisia autorrefutável.

É um absurdo literal para todos verem.

Qualquer estudante de ensino médio consegue ver que a esquerda


não se importa com a tolerância.

A tolerância, assim como os outros slogans que a esquerda afirma


defender, é uma cortina de fumaça para uma forma brutal de
dominação que não aceita dissidência. Esses autodenominados
defensores de “liberdade e paz” estão interessados apenas na tirania
e no poder.

Nós os vemos em nossos campi, em nossos tribunais, em nossas


instituições culturais e até mesmo em nossas igrejas, com seus
rostos vermelhos de “amor” gritando: “Você tem que acreditar em
tudo que acreditamos!”, sem dissidência, sem diferenças e sem
diversidade. É a regra da gangue — uma visão de mundo com um
poder inquestionável e incontestável. O adesivo que eles usam em
seus carros diz “Conquistar”, não “Coexistir”. Eles querem apenas
obediência canina, não concessões razoáveis.

Parafraseando Martin Niemöller: “Primeiro eles vieram buscar os


confeiteiros, e eu não disse nada porque não era confeiteiro. Aí eles
vieram buscar o fotógrafo, e eu não falei nada porque não era
fotógrafo. Depois vieram buscar os floristas, e eu não falei nada
porque não era florista. Então eles vieram buscar a negra de direita
e o judeu conservador, e eu não disse nada porque não era negro
nem judeu. Quando eles vieram me buscar, não havia mais
ninguém para falar”.

Então, para enfatizar: estes são tempos duros, tempos difíceis,


talvez seja até mesmo o fim dos tempos.

É o fim das boas maneiras, da polidez, da cortesia, da dignidade e


do respeito mútuo. O fim da tolerância sob a bandeira da
“tolerância”. O fim do feminismo sob a bandeira do “Me too”. 4 O
fim dos direitos das mulheres sob a bandeira dos “direitos das
mulheres trans”. O fim dos direitos das crianças sob a bandeira do
“direito de abortar crianças”. O fim dos adultos sob a bandeira da
“adultescência”. 5

Nós nos encontramos em um país que perdeu o rumo, um país


em que uma cultura infantilizada de tweets e birras domina a esfera
pública. Estamos imersos em uma cultura de gritar em vez de
ouvir, uma sociedade de demandas em vez de dignidade. Vivemos
uma época de adolescência perpétua e de crianças grandes, não de
adultos maduros que realmente cresceram.

***

Em 2015, na semana anterior ao Dia de Ação de Graças, uma


experiência difícil me acordou para os tempos complicados em que
vivemos. Eu era reitor da Oklahoma Wesleyan University, uma
faculdade cristã que ainda exigia que todos os alunos e professores
frequentassem o culto religioso duas vezes por semana. Naquela
manhã, recebi um telefonema do presidente do grêmio estudantil.

— Dr. Piper, eu só gostaria de te avisar… — ele começou. — Fui o


orador na capela hoje. Depois que terminei o sermão, um dos
alunos se aproximou de mim no púlpito. Ele apontou o dedo para o
meu peito e disse: “Você me ofendeu quando chamou a minha
atenção e a dos meus colegas. Você nos deixou desconfortáveis”.

— Qual foi o assunto do seu sermão? — perguntei. — O que você


disse que o ofendeu tanto?

A resposta foi simples e breve. “1 Coríntios 13”, disse ele — a


paradigmática discussão sobre o amor na Bíblia. Eu pensava que o
texto paulino estava entre as passagens menos ofensivas de toda a
Escritura. É aquela que inúmeros cristãos leram em seus
casamentos.

Pedi ao reitor uma cópia das anotações que fez como base para o
sermão. Queria lê-las para ver se havia alguma explicação lógica
para a indignação do aluno. Talvez houvesse alguma piada política
ou algum tipo de sarcasmo incompreendido que acabou errando o
alvo. Para minha surpresa, não encontrei absolutamente nada no
sermão que pudesse ser considerado ofensivo. Não havia sarcasmo,
nem qualquer mensagem política. Seu sermão na capela não
passou de uma breve homilia sobre o amor, o que São Paulo
chamou de a maior de todas as virtudes.

Eu fiquei atordoado. Um de meus professores havia pregado sobre


a importância do amor sacrificial e abnegado e, em resposta, um
aluno reclamou por se sentir vitimizado. O aluno ficou indignado
com o conteúdo moral do sermão. Afirmou que foi levado a se
sentir desconfortável porque ele não demostrava amor. Em sua
mente, o orador estava errado por fazer com que ele e seus colegas
se sentissem culpados por estarem abaixo do padrão. Alguém havia
colocado o dedo na ferida, apontado uma deficiência sua, o que
aparentemente não era permitido. Em resposta, essa pessoa tinha
que ser um hater, um “intolerante”, um “opressor” e um
“vitimador”. A revolução dos flocos de neve 6 havia chegado ao
meu campus.
Por mais de uma década, escrevi artigos de opinião para o jornal
local de uma pequena cidade. Como essa reação quase inexplicável
do aluno não me saía da cabeça, decidi fazer desse evento o tópico
de minha coluna semanal. Considerei meu artigo como uma
chance de escrever uma carta aberta para meus alunos, seus pais,
aquele jovem e seus colegas, e para quem mais quisesse ouvir.

Aqui está parte do que eu disse:

Meu jovem, essa sensação de desconforto que você sente depois


de ouvir um sermão é o que se chama de consciência. Uma
admoestação vinda do altar deve fazer você se sentir mal. É de se
pressupor que ela fará você se sentir culpado. O objetivo de muitos
bons sermões é fazer com que você confesse seus pecados — não
mimá-lo com seu egoísmo. O objetivo primário da igreja e da fé
cristã é que você seja um cristão, e não a sua autorrealização.

Deixe-me lhe dar alguns conselhos:

Se você quer que o capelão diga que você é uma vítima em vez de
dizer que você carece de virtude, esta pode não ser a universidade
que você está procurando. Se você pretende reclamar de um
sermão que faz você se sentir menos amoroso por, de fato, não
demonstrar amor, este pode ser o lugar errado para você.

Se você está mais interessado em bancar a vítima de um “hater” 7


do que em confessar seu próprio ódio; se você falar com
arrogância, em vez de aprender com humildade; se você não quer
sentir culpa em sua alma quando é culpado de pecado; se você
deseja ser adulado em vez de confrontado, existem muitas
universidades em todo o país que oferecem exatamente o que você
deseja, mas esta não é uma delas.

Nesta universidade, vamos ensiná-lo a ser altruísta, não


egocêntrico. Nosso interesse é que você pratique o perdão pessoal,
não a vingança política. Queremos que você demonstre a
reconciliação interpessoal em vez de fomentar o conflito pessoal.
Acreditamos que a essência do seu caráter é mais importante do
que a cor da sua pele. Não acreditamos que você tenha sido a
vítima toda vez que se sente culpado e não emitimos “alertas de
gatilho” antes das admoestações proferidas do altar.

Esta universidade não é um “lugar seguro”, mas sim um lugar para


aprender: aprender que a vida não se trata de você, mas dos outros;
que o sentimento ruim que você tem ao ouvir um sermão se chama
culpa; que a maneira de lidar com isso é se arrepender de tudo o
que há de errado com você, e não culpar os outros por tudo o que
há de errado com eles. Este é um lugar onde você aprenderá
rapidamente que precisa crescer.

Isto não é uma creche. Isto é uma universidade.

Bom, de modo geral, eu presumo que apenas cinco pessoas leiam


minha coluna de opinião no jornal dessa cidadezinha e que, dessas,
apenas três se importem. Mas naquela semana foi diferente. Não
conheço os segredos do que torna algo “viral”, mas, antes que eu
percebesse, mais de 3,5 milhões de pessoas tinha clicado na minha
história. Membros da imprensa americana, desde os principais
veículos de notícias da tv fechada até jornais e revistas políticas,
todos publicaram matérias sobre meu pequeno artigo de opinião;
jornais e revistas na Grã-Bretanha e na Ásia estavam todos
interessados. O Today, programa de notícias da rede nbc, até citou
o rebuliço que minha coluna causou como uma das dez principais
notícias de 2015!

Aparentemente, eu havia dito algo que muitos esperavam ouvir.


Minha resposta simples e breve tocou em um ponto sensível.
Muitos que discordavam abertamente do que chamavam de
“minha religião e minha política” es creveram, mandaram
mensagens de texto, enviaram e-mails ou me ligaram para
agradecer por fazer uma repreensão justa a uma geração de alunos.
A esmagadora maioria das respostas à minha coluna — 97%,
segundo minhas contas — foi positiva. Eu tinha escrito algo que
tocou em uma ferida.

Milhões de americanos afirmaram estar do meu lado porque


sabiam que algo estava perdidamente errado em nossa sociedade.
Eles sabem que o mau comportamento que veem no noticiário da
noite deve ter uma causa, e que as birras infantis que eles assistem
nas instituições mais famosas do país não surgiram do nada. Eles
intuitivamente entendem que a imaturidade, o ensimesmamento e
o narcisismo generalizado que definem os estudantes universitários
não estão mais restritos aos campi universitários, mas agora
permeiam nossa cultura como um todo. O mau comportamento
não surge no vácuo: ele tem uma causa.

Uma bagunça ameaçadora


“Não é uma creche” tocou tantos leitores porque todos nós
sabemos, lá no fundo do coração, que as civilizações se erguem e
ruem pelo poder das ideias. A conquista militar pode capturar a
imaginação dos historiadores, mas os caminhos de impérios e
nações são determinados pelas convicções de seu povo. Os
cidadãos sabem que os slogans entoados pelos manifestantes são
sinais pouco auspiciosos do futuro do país. E beicinhos infantis
cheios de “eu e meu” quase sempre têm a mesma origem.

O ensino ruim tende a criar uma compreensão distorcida do


funcionamento do mundo e do nosso papel dentro dele. Hoje, o
ensino ruim levou grandes setores da sociedade a terem acessos de
raiva coletivos. O que ensinamos nas escolas agora está se
refletindo no comportamento que vemos nas ruas. É como
Abraham Lincoln teria dito: “A filosofia da sala de aula de uma
geração se tornará a filosofia do governo na próxima”. Até Hitler
entendeu essa verdade simples quando disse: “Deixe-me controlar
as escolas e controlarei o Estado”. O que é ensinado nas salas de
aula de uma nação será colocado em prática nas salas de reunião,
nos tribunais e nas salas de estar dessa nação.

O egoísmo, assim como o sacrifício, sempre tem uma causa, e essa


causa, em grande medida, quase sempre tem origem no que
ensinamos a nossos filhos. Salomão foi simples e claro: “Educa a
criança no caminho em que deve andar; e até quando envelhecer
não se desviará dele”. 8 Há um grande poder nas ideias, e esse poder
pode ser exercido para fins nobres ou nefastos.

Richard Weaver enfatizou esse ponto quando escreveu sua obra


seminal As ideias têm consequências, de 1948. A tese de Weaver
era simples, tão simples que só de ler a capa você praticamente
entende a mensagem. Weaver ousou acreditar que as ideias
importam. Sempre dão frutos. Não existe ideia neutra, todas as
ideias têm uma direção. Esses frutos que as ideias produzem
podem ser vistos em nossa vida comunitária. Boas ideias
produzem boa cultura, bom governo, boa comunidade, boa igreja e
boas crianças, enquanto ideias ruins produzem o oposto. Se você
quer viver em uma sociedade que tem essas coisas boas em vez de
seus opostos, é preciso se certificar de que sua sociedade esteja
permeada de boas ideias.

Não foi por acaso que Weaver escreveu seu influente livro em
1948. Quando Weaver olhou para o mundo, que apenas alguns
anos antes estava em guerra, ele viu que o mal sofrido nas mãos do
Terceiro Reich, de Mussolini, de Stalin e do Império do Sol
Nascente era tão previsível quanto o amanhecer. Considerando as
ideias com as quais esses regimes se comprometeram e que eles
promulgaram entre seus cidadãos, as atrocidades do nacional-
socialismo, a fome ucraniana e o holocausto nazista não deveriam
ter sido uma surpresa. É como nossas avós diziam: “Quem planta
vento, colhe tempestade”.

Uma solução realista


No meu livro Not a Day Care: The Devastating Consequences of
Abandoning Truth, apontei esses problemas. Soei o alarme
alertando que a educação hoje está em crise. Dei inúmeros
exemplos de como a academia contemporânea não está mais
engajada na busca da verdade, mas interessada em celebrar a
tolerância. Eu alertei acerca do crescente fascismo ideológico que
agora jaz sobre o túmulo da orgulhosa tradição educacional de
liberdade acadêmica. Eu divulguei uma série de histórias
mostrando como as escolas, faculdades e universidades atuais se
parecem mais com o Ministério da Verdade de George Orwell do
que com instituições que realmente acreditam que deveriam
desafiar a propaganda, e não protegê-la. Lamentei a adoração que a
academia faz aos sentimentos em detrimento dos fatos. Dei
inúmeros exemplos de como as elites pedantes, também
conhecidas como professores universitários, dizem àqueles de
quem discordam que não podem tolerar os que consideram
intoleráveis e que odeiam pessoas odiosas.

Eu sou dessa área e tenho que ouvir isso quase todos os dias.
Pessoas inteligentes realmente dizem essas coisas. É um absurdo
literal, pois não faz sentido. É autorrefutável em cada vírgula. A
cada palavra que diziam, eles cavavam a própria cova. Observar
seus argumentos circulares é como ver um cachorro correr atrás do
próprio rabo. Seria engraçado se não fosse tão triste. Eles deviam
ser mais espertos. Mas eles bebem o próprio veneno há tanto
tempo que passaram a acreditar nas próprias mentiras.

Morgan Scott Peck alertou sobre isso. Ele chamou de “mente


humana diabólica”. O Dr. Graham Walker fez o mesmo quando
escreveu sobre “a patologia do intelecto”. O apóstolo Paulo chama
isso de sentimento depravado. 9 A mensagem dos três é a mesma,
junto com Weaver: quanto mais mentimos para nós mesmos, mais
propensos nos tornamos a acreditar em nossas próprias mentiras.
Quanto mais acreditamos em nosso próprio engano, menos
motivos temos para mudar. Se estivermos confortáveis em nossa
própria ilusão, não há necessidade de amadurecer, crescer e agir
como um adulto em vez de uma criança mimada ou um
adolescente egocêntrico. Ideias têm consequências.

Mas há uma resposta, e esse é o propósito deste livro. A resposta


se encontra no pensamento maduro e nas ideias maduras.
Encontra-se nas velhas verdades das artes libertadoras que resistem
ao tempo. Encontra-se ao buscar a verdade, não ao proteger
opiniões. Encontra-se em fatos, e não em sentimentos. Encontra-se
nas leis morais e intelectuais que foram comprovadas pelo tempo,
defendidas pela razão, validadas pela razão e concedidas a nós pelo
nosso Criador.

O presente livro pretende ser, essencialmente, um livro de


soluções. Oferece boas ideias contra as más ideias, ideias de
liberdade contra o fascismo, ideias de altruísmo contra o egoísmo.
As páginas que se seguem não serão as que lamentam o problema.
Já fizemos isso o suficiente. Este é um livro sobre responsabilidade
pessoal, não sobre queixas pessoais. É um livro sobre a virtude, não
sobre as vítimas. Este é um livro sobre crescer, em vez de reclamar
e esbravejar. Este é um livro de ideias, ideias duradouras, ideias
cuja eficácia é comprovada pelo tempo, ideias que realmente
ajudam a nos tornar uma nação madura de adultos generosos, em
vez de uma cultura fragmentada de crianças egocêntricas. Este é
um livro sobre agir como um adulto em um mundo cada vez mais
infantilizado.

lição i: Andar é melhor do que


engatinhar
O que importa é aquilo que você aprende depois de saber tudo.

— Harry S. Truman
Chorar em voz alta

T odos nós saímos do ventre de nossas mães com muito a


aprender. No dia em que nascemos, nenhum de nós sabia como
andar. Começamos engatinhando no chão; depois começamos a
nos mover lentamente com a ajuda de alguém; e, em algum
momento, entramos sem medo no desconhecido. Demos nossos
primeiros passos. Hoje, embora provavelmente nunca tenhamos
refletido sobre esse momento, certamente somos gratos pelo fato
de termos caminhado.

Quando demos esses primeiros passos, demos os primeiros passos


para nos tornarmos seres humanos em pleno funcionamento.
Crescemos e amadurecemos, e, se pudéssemos compartilhar os
momentos de criança com nossos amigos nas redes sociais naquela
época, teríamos nos orgulhado de nossas realizações. Se
pudéssemos percorrer todas as notórias postagens de #infância,
perceberíamos que, independentemente da forma de apresentação
desse primeiro passo, ele seria considerado uma melhoria, uma
progressão, um amadurecimento ou uma graduação. Esse passo
seria reconhecido como um desenvolvimento positivo.

Nossos amigos e familiares aplaudiriam e comemorariam o que


fizéssemos. Eles poderiam estar rindo alto, mas de uma forma que
expressasse apoio. Eles ficariam orgulhosos de ver nosso caminho
para nos tornarmos uma criança saudável. Nosso primeiro passo
foi um marco em nosso desenvolvimento, e todos adoram celebrar
as realizações das pessoas que amam.

Nossos primeiros passos seriam seguidos por muitos outros


marcos que nós e nossos familiares comemoramos. Se fôssemos
colocá-los nas mídias sociais, compartilharíamos
#primeiraspalavras, #falandoagora, #semfralda, #fadadodente,
#primeirodiadeescola, #agoraeuseiler, #gol, #bailedeformatura,
#formando e muitos outros momentos. Celebramos e
reconhecemos essas realizações como positivas, parte integrante do
desenvolvimento como ser humano. Ansiamos por elas e assim
enchemos os álbuns de bebê. Em nossa cultura, ainda vemos esses
marcos como importantes e positivos. Ainda os valorizamos. Mas
quando atingimos a meta pela qual todos os marcos anteriores
existem, os marcos da infância, da adolescência e da faculdade —
ou seja, quando atingimos a idade adulta —, de repente
esquecemos como esses marcos são importantes para nosso
crescimento contínuo.

Você não encontrará #infância como tendência nas mídias sociais,


mas há dezenas de postagens com #virandoadulto. Talvez você ou
seus filhos até sejam culpados de tais postagens. Mesmo que não
sejam, você tem que admitir que essa frase graciosa usa a ironia de
maneira inteligente. Postagens com a hashtag “virandoadulto”
podem variar desde o relativamente inofensivo “Ninguém mais me
pergunta qual é o meu dinossauro favorito” até o mais preocupante
“Tenho 27 anos e minha mãe ainda marca minhas consultas
médicas, se ela não fizesse isso, eu apenas não iria e talvez acabasse
morrendo de algo que eu poderia ter evitado”. Alguns tweets
celebram as características mundanas da vida real em comparação
com os sonhos de infância, enquanto outros mostram a completa
disfunção dos jovens adultos. O último tipo de declaração faz
muitos de nós recuar por causa da irresponsabilidade e aparente
infantilidade perpétua que representam.

As gerações mais velhas gostam de ridicularizar os millennials, ou


como quer que se chame a geração mais jovem de hoje, por buscar
prêmios e troféus para serem exibidos. As gerações do Prêmio de
Participação acham que deveriam receber medalhas por realizar
tarefas cotidianas e funções básicas da vida — coisas que todos
devemos fazer. Mas, enquanto isso, elas dificilmente realizam as
tarefas básicas que lhes são solicitadas como adultos e, nas raras
ocasiões em que o fazem, exigem reconhecimento.
As pessoas mais velhas, que cresceram em uma época diferente,
ficam profundamente incomodadas com essa tendência. Elas a
consideram um sintoma da decadência geral que ocorreu em
nossas instituições, um sintoma de um problema que está
consumindo as gerações atuais e futuras, assolando nossas
universidades e poderá até mesmo paralisar nossa nação.

Isso é alarmante para muitos, porque viveram o suficiente para


testemunhar o valor das provações e dificuldades de uma vida bem
vivida. Eles conhecem o lugar de onde falam. Eles navegaram por
essas águas e sabem onde estão as rochas e bancos de areia. Eles
cresceram em uma época em que a expressão “prêmio de
participação” pareceria um oximoro. Eles começaram a trabalhar
cedo, saíram de casa jovens, pagaram as próprias despesas, se
sacrificaram e, como a Nike costumava dizer, “apenas fizeram”. 10
Essas pessoas abraçaram a idade adulta; não postaram sobre ela.

#virandoadulto não é um motivo de riso para o futuro da


América. Para a vida de muitos jovens adultos hoje e daqueles que
eles influenciarão no futuro, essa hashtag deveria levar a um choro
bem sentido. É um espelho no qual podemos ver as ideias
desalinhadas de nossa cultura.

É um sintoma
As piadas sobre ser adulto são um sintoma, a realidade por trás
delas é maligna e revela um estágio quatro de câncer social. Esta
doença terminal não é apenas culpa dos jovens, mas advém de um
colapso em geral da nossa cultura. Sua gênese é ideológica.
Origina-se de ideias políticas e sociais que podem ter parecido
certas em determinado momento, mas que provaram, por meio de
tentativa e erro, estar claramente erradas — ideias que podem ter
parecido modernas e inovadoras, mas que demonstraram implodir
nada menos que a própria fundação sobre a qual esta nação, assim
como a maior parte do mundo ocidental, foi construída. Richard
Weaver alertou sobre isso há mais de 70 anos, escrevendo que “as
ideias têm consequências” em seu livro homônimo. Seu argumento
era simples. Não existe essa história de ideia neutra. A neutralidade
valorativa é um ardil. As ideias são sempre direcionais. Boas ideias
levam a boa cultura, um bom governo, boas corporações e boas
comunidades. Ideias ruins levam ao oposto. Para o bem e para o
mal, os indivíduos, assim como os países e as culturas, são
moldados por suas ideias. Ideias fundamentadas na verdade e
realidade podem trazer grandes benefícios. De modo contrário,
ideias que brotam de mentiras e ilusões sempre causam grande
dano. Navegar por essas ideias e escolher quais reivindicar como
nossas é no que consiste a busca pela vida adulta —
independentemente da nossa idade.

A hashtag “virandoadulto”, quase sempre em alta, e a mentalidade


que a acompanha fornecem evidências contundentes. A situação é
terrível para os jovens adultos que consideram a idade adulta e suas
responsabilidades decorrentes uma questão a ser resolvida com
riso e má vontade. Mas a situação não é terrível apenas para esses
jovens como indivíduos; ela também é terrível para a nação como
um todo. À medida que as gerações mais jovens crescem e
assumem posições de liderança, nós, como povo, ficamos mais
imersos em uma cultura de adolescentes perpétuos atolados em
um pântano banal de desânimo ideológico.

Além dos tweets e selfies, a verdadeira fase adulta ainda não


chegou para inúmeros cidadãos. Recentemente, o Washington
Times publicou dados chocantes do U.S. Census Bureau que
ilustram a triste situação atual: 35% de todos os americanos entre
18 e 34 anos moram com seus pais. 11 De acordo com um estudo
recém-divulgado pelo Pew Research Center, 30% dos homens
millennials entre 18 e 33 anos não têm emprego, 10% a mais do
que as gerações anteriores. Desse número, aproximadamente 8%
estão desempregados, enquanto 22% não trabalham nem procuram
uma ocupação. 12 Relatórios em todo o país confirmam que
millennials estão se casando menos e mais tarde do que qualquer
outra geração na história. Em 2016, quatro em cada dez jovens
adultos constavam como casados, enquanto em 1980 esse número
era de seis em cada dez. 13

Esse quadro não parece bom para um grupo de jovens adultos que
se gaba por ser a geração com maior escolaridade. 14 Poderíamos
reunir dezenas de estudos para confirmar o que todos vemos com
os próprios olhos: os jovens não estão se envolvendo em atividades
que demandam um comportamento adulto e responsável,
atividades que contribuem positivamente para a sociedade.

Os jovens adultos fogem das tarefas comuns que formam a base


de uma vida madura e desenvolvida. Eles estão saindo de casas em
bairros nobres que precisam de limpeza, manutenção e amor para
morar em condomínios apertados na cidade, onde alguém cuida de
tudo para eles. Em vez de reservarem um tempo para preparar o
jantar e realizar as tarefas domésticas, eles pedem comida e gastam
dinheiro em serviços desnecessários. Os millennials são tão avessos
à normalidade doméstica que muitos não usam mais lençol para
cobrir a cama. 15 Aparentemente, eles não enxergam mais o
propósito e a função, tão óbvios, de coisas muito simples, como
lençóis e roupas de cama!

Sem a supervisão dos pais, os millennials e as gerações seguintes


estão prolongando sua adolescência. Eles cerram os punhos e
fincam os pés no chão enquanto são empurrados para a idade
adulta, resistindo a cada centímetro com todo o seu ser. Enquanto
resistem à progressão natural da vida, optando por interromper o
próprio desenvolvimento, eles impõem suas absurdas exigências
infantis ao resto da sociedade. A rebelião dos flocos de neve e a
necessidade de mimos infinitos agora estão presentes em todos os
cantos da vida. Eles não querem apenas ficar na adolescência
prolongada; eles querem refazer o governo à sua imagem e
semelhança. Eles defendem um governo autoritário com políticas
que levam a mais dependência, menos responsabilidade pessoal e,
podemos dizer, a uma adolescência mais prolongada e à
imaturidade.

Mas, para que você não pense que estou acusando apenas
millennials e a geração Z, deixe-me ser claro: a culpa também recai
sobre os pais. Muitas das ideias que os boomers institucionalizaram
e as decisões pessoais que eles tomaram prepararam o terreno para
essa disfunção. A forma boomer de criar os filhos é equivalente a
remover cirurgicamente o lobo frontal de um aluno antes de exigir
que ele explique uma fórmula de álgebra, ou remover as pernas de
uma menina enquanto a convida para participar de uma corrida. A
adolescência prolongada, a disfunção social e a fragilidade
psicológica dos millennials são o legado dos baby boomers. Os
boomers deixaram essas qualidades como herança para seus
descendentes. Colocando em outros termos: nós, 16 boomers,
demos aos nossos filhos uma cultura e um país em que, como C. S.
Lewis alertou, “capamos o garanhão e o instigamos a ser frutífero”.
Extirpamos o caráter de nossa nação e esperamos que seus
cidadãos demonstrem coragem. Minha geração “criou homens sem
peito” e exige virtude deles. 17

Essa loucura de criar uma cultura de dependência perpétua é o


que me levou ao meu primeiro livro, Not a Day Care. É também o
que leva muitas das gerações mais jovens a feel the Bern 18 e se
alinhar a pessoas como Bernie Sanders, 19 AOC 20 e aqueles que
pregam que o socialismo curará tudo que nos aflige.

As diferenças entre as gerações floco de neve e suas predecessoras


são cristalinas. Os flocos de neve lamentam, gemem e se voltam
para os falsos profetas da esquerda política; a Greatest Generation,
21
o memorável grupo de americanos que transformou este país em
uma superpotência global por meio de muito trabalho e sacrifício,
deu tudo o que pôde ao seu país sem esperar nada em troca.
Nenhuma grande civilização jamais fez do processo de crescer e se
tornar um adulto uma piada ou uma hashtag. Nenhuma cultura de
sucesso jamais lamentou a idade adulta e a tomou como algo a se
lamentar. E o mais importante, nenhuma civilização adiou o início
da idade adulta tanto quanto estamos fazendo agora e sobreviveu.
Estamos em águas desconhecidas que terão consequências para
todos nós.

A língua inglesa tem algumas expressões idiomáticas que


surgiram da observação dos patos com seus filhotes. Todos nós já
vimos a cena encantadora de uma mãe pata bamboleando até seu
destino com uma longa fila de bebês a reboque. Às vezes, quando a
mãe consegue manter os bebês em uma formação ordenada, vemos
que ela mantém seus “patos na linha”. Mas, algumas vezes, um dos
patinhos quebra a formação — um patinho será um “pato
estranho”. Com uma linha ordenada de patinhos, fica fácil dizer
qual deles pode ser o excêntrico. A linha ordenada facilita a
identificação do pato estranho.

Se fôssemos dispor nossos jovens de todas as gerações em uma


fila, o que hoje está na casa dos 20 anos se destacaria como o pato
estranho. Nós o reconheceríamos de imediato, independentemente
das roupas ou acessórios que vestisse. Roupas modernas, cortes de
cabelo e Apple Watches seriam quase irrelevantes para distinguir
nossa juventude da juventude de tempos passados. Veja, os jovens
das gerações anteriores adoravam a ideia e o papel de se tornarem
adultos.

O mesmo aconteceria se alinhássemos jovens de grandes


civilizações do passado. Mais uma vez, nossos jovens amigos
contemporâneos seriam facilmente identificados. Assim como os
jovens de outrora ansiavam pela vida adulta e suas
responsabilidades concomitantes, os rapazes e moças de Roma, do
Egito e da Mesopotâmia também o faziam. Não importa em que
época ou lugar você fosse, em qualquer lugar do mundo, para
encontrar jovens adultos, você descobriria que eles consideravam a
idade adulta superior à infância. Apenas nossos jovens adultos
parecem discordar.
Ao longo da história conhecida, o momento de crescer, progredir
e tornar-se um homem ou uma mulher maduros tem sido
aguardado com entusiasmo. A infância e a adolescência
destinavam-se a preparar os rapazes e as moças para os anos de
maturidade. E, durante aqueles anos preparatórios, havia o desejo
de se tornar um ser humano livre, responsável e maduro —
também conhecido como adulto. Havia sonhos de infância e
desejos de adolescente: sair de casa, arrumar um emprego, ganhar a
vida, construir uma carreira, aceitar responsabilidades e contribuir
para a sociedade. Ninguém aspirava a mal poder se sustentar,
ninguém almejava um período posterior à infância no qual viveria
em um apartamento comendo miojo enquanto via Netflix e jogava
Pokémon.

Claro, as depressões econômicas pelas quais passamos não


ajudam. E, como mencionamos, as formas malsucedidas de se criar
os filhos, bem como as aspirações culturais dos baby boomers,
certamente têm alguma responsabilidade. Mas eu diria que a
mentalidade contemporânea da adolescência perpétua é produto
de uma má educação. A tolice filosófica da academia se espalhou,
delineando e moldando nosso mundo, uma turma de formandos
de cada vez. Esses recém-formados, educados para assumir papéis
de liderança na sociedade, acham que ela precisa de cuidados, sem
ter a menor ideia das prioridades da vida madura. Eles foram
ensinados a pensar no mundo de maneira infantil e imbecil; não
deveria surpreender que eles saiam de suas respectivas
universidades como imbecis imaturos.

Como podemos sair desse ciclo vicioso de dependência e


egoísmo? Como podemos deixar de ser o pato estranho e entrar na
linha? Embora seja uma tarefa hercúlea, devemos encontrar uma
maneira de aprender com nossos predecessores e recuperar o bom
senso das gerações passadas.

Devemos aprender
Toda sociedade tem um conjunto de normas e expectativas —
podemos chamá-las de regras ou diretrizes para os indivíduos que
compõem a comunidade. Essas normas e expectativas destinam-se
a ensinar as pessoas a agir. Ser um adulto funcional em
determinado lugar significa aderir a essas regras. As regras, que
podem ser falhas, ensinam tudo o que é necessário para fazer parte
do grupo.

Para um menino se tornar um homem, ou para uma menina se


tornar uma mulher, eles tiveram que crescer da maneira prescrita.
Esse crescimento ocorreu por meio da educação, quer isso
significasse o aprendizado formal e livresco das escolas ou a
educação informal da experiência. Na verdade, pode-se
argumentar que todo o objetivo da educação é aprender e crescer.
A educação transforma jovens e adolescentes ainda não formados
em membros úteis e produtivos da sociedade. Por meio da
educação, uma sociedade ensina as pessoas a agir, trabalhar e
manter vivo o conhecimento útil, transmitindo-o às gerações
seguintes. É por isso que toda sociedade investe tantos recursos no
ensino. Do ponto de vista do indivíduo, aprender a agir em
sociedade é a razão da aprendizagem. É a razão pela qual as escolas
foram criadas em primeiro lugar. É a razão da torre de marfim.
Cada faculdade e universidade tinha uma razão específica para sua
fundação. Isso é o que foi chamado de missão! Seja Oxford,
Cambridge, Harvard, Dartmouth, Princeton ou Yale, cada escola
tinha uma declaração de missão que deixava bem claro por que ela
era necessária e por qual razão ela existia. Simplesmente, cada uma
delas foi estabelecida para ensinar os alunos a pensar e agir como
seres humanos inteligentes, ponderados, morais e maduros.

Podemos ir além da educação formal e considerar a aprendizagem


em si mesma. Começamos a aprender desde que somos bebês.
Cada vez que utilizamos nossos sentidos, aprendemos, crescemos e
aumentamos nossas capacidades. Quando sabemos mais, podemos
fazer mais. Como bebês aprenden do sobre o mundo,
estabelecemos o alicerce que servirá de base para a fase adulta e o
resto de nossas vidas. Estamos construindo os degraus de uma
escada que subiremos até a idade adulta.

A educação é sempre orientada para determinados marcos. Seja


dominando um assunto, desenvolvendo habilidades concretas ou
aprendendo um ofício, estamos sempre nos movendo em direção a
uma conquista específica que será de uso geral para nossa
comunidade. Seja ela individual, como o exemplo de aprender a
andar que discutimos anteriormente, ou alguma forma de
reconhecimento social, como receber uma licença ou um diploma,
estamos sempre avançando em direção a uma habilidade que
podemos compartilhar com nossos pares.

Historicamente, e em muitas outras culturas, existem ritos de


passagem que formam a peça central da vida de uma pessoa. Esses
momentos celebram a passagem da adolescência para a idade
adulta ou em direção a ela. Hoje, estamos mais familiarizados com
o bar mitzvah e o bat mitzvah dos judeus. O primeiro celebra a
transição de um menino que se torna um homem, enquanto o
último celebra a ascensão de uma menina que se torna uma
mulher. Mas a cultura judaica certamente não é a única a expressar
ritos de passagem. Na cultura hispânica, as pessoas celebram a
quinceañera. 22 Até mesmo o Rumspringa dos Amish 23 é familiar
na cultura popular atual.

Dezenas de culturas celebram ritos de passagem, e alguns deles


são mais conhecidos pelo público em geral do que outros. Em
culturas cujos ritos de passagem são explícitos, a transição para a
idade adulta é vista, respeitada e honrada. Embora nossos ritos de
passagem possam não ser tão simbólicos, certamente temos
marcos não oficiais com uma função semelhante. Eventos
arbitrários como se formar, conseguir um primeiro emprego de
verdade, atingir uma determinada idade, casar e ter um filho
funcionam de maneira semelhante ao que outras culturas
expressam na prática ritual. Alguns argumentam, com certa razão,
que a falta de ritos de passagem claramente definidos tem gerado
confusão entre os nossos jovens. Muitos dos eventos que
consideramos substitutos de cerimônias formais são mal definidos
e criam incerteza.

Mas, mesmo sem a clareza de um rito de passagem cerimonioso,


as gerações do passado viam a integridade e a responsabilidade
pessoal como um pressuposto para a cidadania. Ainda mais para
trás, quando a maioria das famílias americanas vivia em fazendas e
era quase autossuficiente, tornar-se adulto era semelhante a
“sobreviver” ou, em outras palavras, realmente “existir”.

A mentalidade atual que tem a adolescência perpétua como


consequência é promovida e propagada pela cultura pop, pela
educação e pela mídia. Incentivar a adolescência perpétua é um
negócio lucrativo, mas, a longo prazo, todos nós pagaremos a
conta. Em vez de inculcar nas próximas gerações uma cultura que
as desencoraja de se tornarem adultos, precisamos de uma nova
mensagem para educá-las. Precisamos levar a sério a transição para
a idade adulta, o que significa que precisamos aproveitar a fase de
preparação como um trampolim para algo melhor, não o pico da
vida a partir do qual tudo vai por água abaixo.

Preparação implica prática. E a prática muitas vezes significa


estudar, ouvir e aprender. E aprender obviamente significa
educação. Quando se trata de se tornar uma pessoa madura ou
uma cultura madura, a educação é importante, seja ela formal ou
informal. Pense em tudo o que você aprendeu na vida e como isso
o levou adiante — rumo a ser um adulto. Desde abrir os olhos,
aprender a comer, rolar, engatinhar, puxar, andar, comer alimentos
sólidos, correr, pular, saltar, andar de bicicleta, o alfabeto, os sons
das letras, os números, ler, somar, subtrair… você entendeu. A
educação o levou adiante.

Não apenas aprendendo, mas aprendendo coisas novas e difíceis.


Nossas mentes, nossos corpos e nossas vontades precisam ser
ampliados. Não crescemos apenas praticando o que já dominamos,
mas sendo desafiados.

Todos nós sabemos disso quando se trata de condicionamento


físico. Ao fazer um treinamento de resistência, de fato estiramos e
rasgamos nossos músculos. O processo de romper e reconstruir
resulta em força e resistência. Esculpimos o corpo impondo-lhe
pressão e dor.

Outro exemplo é o processo de fazer um boneco de neve. Para


fazer o Frosty, 24 não precisamos de um cachimbo feito de espiga de
milho, um nariz de botão e dois olhos feitos de carvão. Nem
mesmo precisamos de um chapéu mágico. O que precisamos é do
trabalho árduo de rolar, juntar e transformar a neve solta em
grandes bolas de neve que são carregadas, empurradas e
empilhadas umas sobre as outras. Além disso, todos nós sabemos
que os melhores bonecos de neve são os que foram expostos a um
pouco do calor do sol. É o processo de derretimento que funde as
várias partes em um todo coeso.

O princípio de no pain, no gain, 25 de ser refinado pelo fogo, é


antitético ao etos motriz da rebelião dos flocos de neve que varre os
campi de nossa nação. É um princípio que parece completamente
esquecido em lugares como faculdades e universidades que
desconvidam palestrantes, organizam petições para a demissão de
professores e até fazem hora-extra para isolar os alunos de ideias
que desafiam sua visão de mundo. A atual geração de estudantes
universitários revolta-se contra os professores porque eles têm a
audácia de desafiar aquilo que os estudantes já acreditam. Eles têm
a ousadia de sugerir que jovens de 18 a 22 anos podem estar
realmente errados.

Em nome da abertura, esses estudantes têm a mente fechada. Pela


causa da tolerância, eles são intolerantes. Sob a bandeira da
inclusão, excluem todos os que os incomodam. Esta não é uma
receita para o crescimento, mas sim para a estagnação. Esta é a
adolescência perpétua. Isto não é ser adulto.

Lembre-se: crescimento e maturidade são inequivocamente bons.


E, ao mesmo tempo, o crescimento e a maturidade exigem
aprender — não aprender qualquer coisa, mas aprender a partir de
verdades duras. No pain, no gain. Evitar ideias ou experiências
desafiadoras significa falta de crescimento, falta de progressão e
falta de amadurecimento. Evitar a verdadeira educação deixa você
preso na adolescência e o impede de chegar à idade adulta.

Se quisermos uma cultura adulta, e não uma nação cheia de


adolescentes mimados de 25 anos, devemos nos concentrar nas
ideias que passaram pelo teste do tempo. Deveríamos ensinar aos
nossos filhos as melhores ideias, aquelas que a história mostra que
funcionam, em vez do pensamento vanguardista que tem
fracassado repetida e comprovadamente.

Há um paradoxo no crescimento, expresso de forma imortal nas


palavras de C. S. Lewis: “Houve um tempo em que você foi criança.
Depois você descobriu para que servia a investigação. Houve um
tempo em que você fazia perguntas porque queria respostas e
ficava feliz quando as encontrava. Torne-se aquela criança
novamente... A sede foi feita para a água; a investigação para a
verdade”.

Aprender a andar sempre envolve cair e falhar. Implica também


admitir que você não sabe tudo e que pode ser inteligente prestar
atenção em alguém que já fez isso. Ninguém quer ser apoiado e
tolerado por engatinhar pela vida. Seja no âmbito intelectual,
moral ou social, caminhar é sempre melhor do que engatinhar.

O apóstolo Paulo argumenta de forma semelhante na sua primeira


carta aos Coríntios: “Quando eu era menino, falava como menino,
sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que
cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino”. 26
lição ii: Pratos não têm pernas
Não pergunte ao seu país o que ele pode fazer por você, mas o que você pode fazer por
seu país.

— Presidente John F. Kennedy

Uma falha no ensino, uma falha no


lançamento

“E u não consigo fazer isso. Você pode fazer isso para mim?”.
Esse é o pedido de uma criança. Seu apelo vem de um lugar
de incapacidade, não de habilidade. Talvez seja uma garrafa que ela
não consegue abrir. Talvez seja algo alto demais para ser alcançado
em uma prateleira.

A diferença entre a vida de uma criança e a de um adulto é que,


com o tempo, as crianças recebem mais responsabilidades, são
ensinadas a realizar várias tarefas e são incentivadas a usar as suas
novas competências para se sustentarem.

Aqueles a quem nunca são atribuídas responsabilidades e que não


são encorajados a fazer coisas por conta própria nunca crescem.
Eles são atrofiados e vivem em um nível de desempenho muito
inferior ao de seus pares. Parecem estar congelados no tempo,
evitando responsabilidades. Eles sempre olham para fora ao
atribuírem culpas ou se esquivarem de responsabilidades. Sua
resposta padrão aos novos desafios é culpar os outros pelas suas
dificuldades ou esperar que outra pessoa faça o que eles precisam
fazer.

Esse sentimento é a característica que define o nosso tempo. “Não


é meu trabalho”. “Eu não consigo fazer isso”. “Outra pessoa pode
fazer isso por mim”. É chamado de direito. No fundo, é simples
preguiça.

Diversas vezes, essas alegações são feitas apesar da capacidade


individual. As pessoas podem fazer as tarefas em questão, mas não
querem. Então, eles mentem para si mesmos dizendo: “Não
consigo fazer isso”. E mentem para os outros perguntando: “Você
pode fazer isso por mim?”. A capacidade existe, mas falta a
vontade.

Precisar de ajuda faz parte da vida, mas esperar que outra pessoa
faça o que podemos fazer por conta própria é outra questão. E isso
é um problema que assola nossa cultura hoje em dia. Ao agirmos
como crianças que exigem que os outros façam coisas por nós,
destruímos o conceito de responsabilidade e iniciativa pessoais em
uma geração e estamos no processo de destruir a dignidade e
liberdade humanas na geração seguinte.

Parece que, em algum momento, esquecemos o fato óbvio de que


se tornar adulto significa aceitar a responsabilidade por nossas
próprias ações. Em vez de celebrar a liberdade e independência que
advêm do risco de nós mesmos fazermos algo, abraçamos a
segurança como o nosso bem maior, esperando vergonhosamente
que os outros façam por nós o que poderíamos fazer por conta
própria. Por que arriscar sair da nossa “zona de conforto” se
sempre tem alguém para pensar por nós, pagar por nós e trabalhar
para nós? É melhor ficar na casa da mamãe e do papai, desde que
eles lavem a roupa, preparem as refeições e não cobrem aluguel. Se
segurança é a essência da vida, o que poderia ser melhor do que
isso?

Certa vez, um amigo me contou uma história sobre um


adolescente que ele conhecia. O adolescente raramente saía do
quarto e passava a maior parte dos dias jogando videogame. No seu
aniversário de 16 anos, seus pais o surpreenderam e lhe deram um
carro. Na manhã do grande dia, enquanto ele desembrulhava um
pequeno pacote com as chaves do automóvel, seus pais esperavam
que ele saísse correndo para tirar a carteira de motorista e explorar
um novo mundo com sua liberdade recém-conquistada. Mas esse
garoto fez exatamente o oposto. Em vez de dirigir o carro novo em
folha, ele ainda preferia que seus pais o levassem para a escola, a
igreja e outros lugares aonde ele queria ir. Em vez de assumir o
risco que advém da responsabilidade e da liberdade, ele contentou-
se em permanecer dependente e seguro, sem refletir sobre o fardo
que continuava a impor aos pais. Ele tinha seu próprio carro, algo
que muitos adolescentes dariam tudo para ter, mas se contentava
em simplesmente dizer: “Não consigo. Você pode fazer isso para
mim?”.

Infelizmente, essa história não é única ou incomum. É provável


que você esteja dizendo: “Eu conheço esse garoto” ou “Já ouvi isso
antes”. E não é apenas uma história sobre garotos preguiçosos de 16
anos. A atitude demonstrada por esse menino em particular é
generalizada. É uma marca onipresente da disfunção na nossa
cultura e vida.

Em vez de ensinar responsabilidade e encorajar os outros a


assumirem o controle das suas próprias vidas, pregamos segurança
e proteção à custa de todos os outros valores. Isso inevitavelmente
levou à infantilização perpétua e sua consequente preguiça.
Gerações sucessivas esperam que todos façam as coisas por eles,
em vez de assumirem a obrigação de fazerem as coisas por conta
própria.

O adolescente mencionado acabou indo para a faculdade. Ele não


dirigiu o próprio carro até o campus, seus pais o levaram. No final
do primeiro semestre, pago pela mamãe e pelo papai, ele voltou
para casa. Ele foi reprovado porque não havia ninguém para pegá-
lo pela mão, forçá-lo a se levantar de manhã e ir para a aula.
Evidentemente, ele não só não sabia dirigir, mas também não sabia
usar a função de despertador do celular, o mesmo celular no qual
ele ficava grudado todos os minutos de todos os dias — um
telefone que, mais uma vez, seus pais compraram para ele. (Sim,
que vergonha para os pais.)

Contente com o conforto da infância, esse garoto não tinha


qualquer motivação para crescer. Sua adolescência perpétua
colocou em risco seu futuro. O problema da falta de iniciativa
nunca se corrigiu. O problema, na verdade, sofreu uma metástase e
se transformou em um câncer que sugou a motivação do que
poderia ter sido uma oportunidade promissora.

Qualquer pai ou mãe que se preze sabe que a regra número um


dos pais é que dar aos filhos as responsabilidades mais básicas e
elementares lhes dá a oportunidade de ter sucesso na vida. Exigir
que nossos filhos assumam a responsabilidade até mesmo pelas
tarefas mais simples — como fazer a cama, limpar o quarto,
alimentar o cachorro e cortar a grama — ensina que os adultos
trabalham ao passo que as crianças recebem. Existe uma coisa
chamada “tomar iniciativa”, e é sempre melhor do que receber
dinheiro e esperar que outros façam algo por nós.

Você não precisa ser um psicólogo infantil para imaginar o


provável roteiro da infância desse jovem amigo. Primeiro, havia os
pratos e xícaras sujos deixados na mesa de jantar que os pais
recolhiam, levavam para a pia, lavavam, secavam e guardavam.
Depois, havia o quarto imundo e a roupa suja pelos quais Júnior
nunca foi responsabilizado. Em seguida, havia um carro
acumulando poeira na entrada de uma garagem. Por fim, vemos
um jovem adulto ainda agindo como um garotinho mimado,
morando em seu quarto, sem emprego e com pilhas de latas de Red
Bull ao redor do console de videogame. O ninho estava quente e
seguro. Por que ir embora? Se al guém vai continuar a fornecer
coisas grátis e uma vida despreocupada, por que aprender a voar?

Houston, temos um problema e não é relacionado à reentrada.


Tivemos uma falha no lançamento.
Exame cancelado
Logo após a eleição presidencial de 2016, um professor de
psicologia da Universidade de Michigan adiou um exame
obrigatório porque acreditava que seus alunos estavam muito
traumatizados com a vitória do Partido Republicano.
Aparentemente, seus alunos não haviam conseguido desligar as
luzes para dormir porque acreditavam que o Trump, aquele
monstro grande e mau, sairia de debaixo de suas camas para comer
todos eles.

Ao mesmo tempo, os professores da Universidade de Columbia


adiaram as provas por motivos semelhantes, e um professor da
Universidade de Connecticut permitiu que os alunos faltassem às
aulas sem qualquer penalidade.

Diversas universidades, de Berkeley a Brown, disponibilizaram


centros de aconselhamento completos com bastante massinha,
livros para colorir, giz de cera e vídeos de cachorrinhos brincando
para ajudar a acalmar a ansiedade de seus amados bebezinhos.

Uma universidade na Nova Inglaterra trouxe um pequeno


rebanho de cabras para que os alunos tivessem seu próprio
zoológico com o objetivo de acalmar ansiedades e medos durante a
semana de provas finais.

O presidente da Universidade de Emory emitiu um pedido


público de desculpas a todos os seus alunos porque alguém usou
giz na calçada do campus para escrever o nome de Trump.
Aparentemente, os alunos se sentiram provocados por essa óbvia
microagressão.

Parece que em todos esses exemplos (e literalmente em dezenas de


outros semelhantes, de ponta a ponta), tanto os estudantes como os
professores consideraram a derrota do seu candidato preferido
como um primeiro passo, incontornável, para perderem a cabeça.

A lição aprendida naquele dia em todos esses campi, que


supostamente são de ensino superior, foi simples: se a vida não lhe
der os resultados desejados, você não precisa trabalhar, não precisa
ter um bom desempenho, pode negligenciar suas responsabilidades
e colocar a culpa de tudo em outra pessoa. Vá abraçar um
cachorrinho. Vá acariciar uma cabra e alguém ganhará a vida por
você.

Tal fracasso por parte daqueles encarregados de ensinar e liderar


nossos alunos proclama em alto e bom tom a mentira de que uma
vida boa significa uma vida confortável e segura, e essa mentira é
tão difundida em nossa cultura atual que não pode ser ignorada.

O problema tem raízes na luta pelo controle. Quando valorizamos


a segurança em detrimento da liberdade, damos o controle àqueles
que prometem proteger-nos e prover-nos. E uma vez que
atribuímos tal autoridade a outra pessoa, não temos meios para
desafiar o seu domínio sobre nossas vidas. Além disso, se outra
pessoa faz tudo por nós, perdemos o impulso de fazer qualquer
coisa por nós mesmos. A preguiça se instala. A estagnação e a
dependência tornam-se a posição padrão. A liberdade está perdida.
Estamos paralisados na dependência infantil. Nunca crescemos.

Quebrar esse ciclo vicioso de conforto, segurança e dependência


demanda uma intenção e sempre exige muito trabalho.

A obrigação de assumir responsabilidades é uma exigência lógica


para se tornar adulto. Não tem nada a ver com sentimentos, medos
ou gostos e desgostos. É um ato consciente. É a convicção de que
devemos fazer algo mesmo que não queiramos. É o conhecimento
e a aceitação do fato de que existe uma maneira certa de fazer algo
que nem sempre é agradável. Outro termo para esse processo é a
chamada recompensa a longo prazo.
O relaxamento ao fim de um período difícil é gratificante quando
é a recompensa pelo nosso trabalho.

Ser capaz de superar contratempos, provações e lutas é um sinal


de crescimento. É uma evidência do crescimento e
amadurecimento de um indivíduo.

Ser adulto tem pouco a ver com idade e tudo a ver com caráter. É
o resultado do treinamento do homem interior. Representa o
coração e a alma de quem realmente somos, tanto individual
quanto coletivamente.

Quanto mais dependentes nos tornamos de outros seres humanos,


menos independentes seremos na vida como um todo. Aqueles que
promovem uma cultura de evitar responsabilidades compreendem
que criar dependência significa ganhar controle sobre os outros.
Todos os déspotas da história sabiam disso. Pol Pot, Mao, Stalin,
Castro e Mussolini compreenderam que as pessoas que assumem a
responsabilidade pessoal pelas suas vidas são pessoas que não
podem ser controladas. Eles sabiam que a regra número um para
roubar a liberdade é fazer com que as massas apontem o dedo da
responsabilidade para fora, e não para dentro. Desde que se
consiga fazer com que o proletariado culpe a burguesia, o tirano
vencerá. Contanto que você consiga fazer com que 99% acusem
1%, você poderá matar a liberdade e ganhar poder. Fazer com que
as mulheres culpem os homens, ou os negros culpem os brancos,
ou os homens verdes culpem os homens laranja — não importa.
Enquanto o demagogo conseguir fazer com que as pessoas culpem
a todos menos a si mesmas, ele conseguirá esmagar a liberdade e
obter o controle. É a combinação mortal de direitos e
empoderamento. Os imperadores romanos sabiam disso, por isso
fizeram questão de fornecer pão e circo enquanto perseguiam os
cristãos.

É por isso que as pessoas mostram hoje uma incapacidade de


pensar por si mesmas e esperam que alguém lhes diga o que fazer.
Estamos presos à adolescência perpétua porque sabemos que
quando a mamãe e o papai pararem de nos sustentar, o Estado
entrará em cena com satisfação.

Assumir responsabilidades é fundamental para a independência e


o crescimento. Aqueles que são responsáveis escolhem seu próprio
caminho na vida. Eles são livres. Aqueles que fogem da
responsabilidade são escravizados pelos que ficam muito felizes em
assumir a responsabilidade por eles. Tornam-se pouco mais do que
roedores lobotomizados — ratos sem hipotálamo — que não
desejam independência, mas que se contentam em permanecer na
jaula, seguros e protegidos.

A expectativa de que outros façam um trabalho que deveria ser


seu e que o mantenham seguro e confortável é, em sua essência,
egocêntrica. Ela o leva a colocar muita ênfase no que tornaria o seu
mundo melhor, em vez de fazê-lo se perguntar como você pode
tornar o mundo um lugar melhor para outra pessoa.

Essa expectativa também o leva à paralisação no tempo como um


ser incompleto e imaturo.

É um fato conhecido que o esforço que a borboleta faz para sair


do casulo fornece sangue vital às suas asas. Se alguém intervém e
quebra o casulo na tentativa de “ajudar” a borboleta, deixa-a
incompleta e incapaz de voar.

Da mesma forma, quando somos poupados do esforço de


trabalhar para nos livrarmos do nosso “casulo”, não conseguimos
nos desenvolver, crescer e amadurecer. Para voar é necessário lutar.

A escolha de poupar demais acaba por eliminar exatamente aquilo


que produz o “sangue” da dignidade e da liberdade humana.
Quanto mais mima mos, mais corrompida fica uma geração inteira
em relação à ética do trabalho, que é uma característica essencial
de um povo e uma cultura livres.
Para evitar ter uma nação cheia de adolescentes de trinta anos
graduados e habilitados, seria sensato reconsiderar a nossa
obrigação de ensinar aos nossos descendentes os valores de
responsabilidade e liberdade em vez de segurança e conforto.

A vida continua
Para resolver um problema, precisamos primeiro ver por que o
problema é um problema. Temos que olhar através das lentes da
tradição, da razão, da experiência e da revelação para ver por que
um padrão de pensamento leva a um comportamento destrutivo.

A citação de John F. Kennedy sobre trabalhar pelo país soa tão


verdadeira hoje como sempre foi. Contudo, no contexto da nossa
cultura contemporânea, uma ligeira reformulação dessa afirmativa
pode ser pertinente. Hoje, a afirmação poderia ser: “Não pense no
que os outros podem fazer por você, pense no que você pode fazer
pelos outros”.

É importante que todos os cidadãos percebam que têm


responsabilidade para com algo ou alguém que não seja eles
próprios. Devemos aos outros, eles não nos devem. Devemos ao
nosso país, nosso país não nos deve. Devemos aos nossos pais,
nossos pais não nos devem. A lista é infinita. A questão é clara: é
uma verdade básica da vida que não merecemos nada e devemos
tudo.

Ao comentar sobre o colapso nos campi universitários atuais após


as eleições de 2016, Robby Soave escreveu num artigo para a
Reason: “Não culpo os estudantes por estarem muito, muito
chateados com a vitória de Trump. Conheço muitas pessoas
mentalmente estáveis e nada mimadas que ficaram igualmente
chateadas. Mas todos eles, ainda assim, foram trabalhar na quarta-
feira. A vida continua”. 27
Perfeito. Embora eu provavelmente discorde da posição política
do Sr. Soave, concordo com sua iniciativa de dizer a uma geração
de jovens americanos para se controlarem e seguirem em frente.
Muitos de nós, do outro lado do campo político, ficamos
igualmente chateados com as eleições de Clinton e Obama, mas
não nos reviramos em posição fetal no meio da grama do campus e
exigimos cabras para acariciar e cachorrinhos para abraçar.

Independentemente do noticiário noturno, há um fato simples na


vida: ainda estamos no comando de nossas vidas. Ainda há um
trabalho que deve ser feito, e quando alguém falha porque
considera o trabalho arriscado ou desconfortável, está impondo a
sua carga de trabalho, de forma egoísta, a outra pessoa, que tem de
assumir essas tarefas negligenciadas. Ainda temos aulas que devem
ser frequentadas. Ainda temos palestras a serem ministradas.
Debates a serem travados, diplomas a serem conquistados. E ainda
temos quartos para limpar e louça para lavar.

As coisas acontecem. A louça fica suja. Cada dia traz consigo os


seus contratempos e lutas, mas o fato é que esses desafios não nos
isentam de nossas responsabilidades. A vida deve continuar.
Aqueles que aceitam e fazem seu trabalho são os adultos do lugar.
Aqueles que não o fazem são semelhantes às crianças, controladas
por outra pessoa que faz o trabalho por elas.

Programe o seu alarme


Chuck Swindoll, reitor do Seminário Teológico de Dallas, disse
uma vez: “Estou convencido de que a vida é 10% o que acontece
comigo e 90% como eu reajo ao que acontece”. 28 A atitude com a
qual lidamos com as nossas responsabilidades dirá quem somos e
quem nos tornaremos.

A responsabilidade é para um adulto o que a água é para o


oceano. Assim como um oceano não pode existir sem água, ser
adulto é impossível sem assumir responsabilidades.

Assumir a responsabilidade em vez de colocar a culpa nos outros


é um passo inegociável para a maturidade. Recusar-se a fazê-lo é
uma adolescência perpétua.

Paulo escreveu: “Pois mesmo quando estávamos convosco,


demos-vos esta regra: ‘Quem não quiser trabalhar não tem o
direito de comer’”. 29 É claro que ele não está falando para o 1% que
não é capaz de cuidar de si mesmo, mas sim para os 99% que têm a
capacidade e a responsabilidade de cuidar das coisas. Em vez de
viverem à custa de outros, esperava-se que os tessalonicenses
trabalhassem e se tornassem uma parte funcional da comunidade
em que viviam.

Os adultos não apenas aceitam responsabilidades — eles as


procuram ativamente. Eles não se esquivam delas. Eles as
compreendem não apenas como necessárias para a sobrevivência,
mas também como oportunidades. Essa é uma atitude de
dedicação e determinação. Chorar não é uma opção. Os desejos
dão lugar às necessidades. A conveniência é sobrepujada pela
convicção e pelo comprometimento.

Existe um mundo real fora do porão da mamãe e do papai. Muitas


vezes ele é um lugar duro e implacável. Nele, a irresponsabilidade é
julgada, não desculpada. Os sentimentos não superam os fatos.
Não há cachorrinhos para abraçar ou cabras para acariciar. Há
trabalho a ser feito. Quem faz isso faz a diferença. Aqueles que não
o fazem são rapidamente esquecidos.

Em vez de descansar confortavelmente no que parece seguro, um


adulto avalia os fatos, toma as rédeas e segue em frente, assumindo
a responsabilidade pessoal de fazer algo acontecer.

Os aspectos negativos da vida não ditam quem somos. Somos


quem somos não por causa do que as circunstâncias nos fizeram,
mas sim pelo que fizemos com as cartas que tínhamos nas mãos.

As palavras “simplesmente não posso” dão lugar a “devo”.

Tudo se resume a algumas simples lições de vida.

Concentre-se no que você tem para dar ao mundo, e não no que


você acha que o mundo deveria lhe dar. Não se trata do que você
pode receber, mas do que você pode dar.

Discipline-se. Você nunca terá um lugar no time se não treinar,


memorizar as jogadas, prestar atenção ao treinador, aprender as
regras do jogo e fazer o que lhe mandam. Os capitães de sofá ficam
em casa na poltrona do papai. Os verdadeiros atletas fazem o seu
trabalho, mesmo quando não gostam e especialmente quando
pensam que não conseguem. É por isso que eles jogam e não ficam
no banco reserva.

Cuide do que você tem, em vez de se preocupar constantemente


com o que não tem. Cuide das suas próprias coisas em vez de
cobiçar as dos outros. Não se trata do 1%; se trata de você.

Concentre-se no que você pode dar, não no que você pode


receber. Seja doar tempo e dinheiro para a sua igreja, ser voluntário
na Habitat for Humanity 30 ou tornar-se um Big Brother ou uma
Big Sister, 31 doe! Doar nunca é desperdiçar. Dar sempre gera frutos
positivos. Apostar dinheiro em aparelhos tecnológicos e em
brinquedos acaba gerando remorso em quem compra. Nunca
satisfaz. Dar sempre vem com uma recompensa, e não com
arrependimento. Pare de perder tempo e dinheiro consigo mesmo.
Dê!

Faça boas escolhas. Na realidade, essa é a essência do que significa


ser humano. A escolha é o que distingue você de um animal. A
escolha é o contraste entre ser a imago Dei (a imagem de Deus) e
um cachorro. É a diferença entre liberdade e escravidão. Os
animais domesticados estão confinados. Eles não são livres. Eles
podem estar seguros, mas fazem poucas escolhas. Um adulto
responsável e pensante, por outro lado, expande o seu mundo com
cada escolha sábia que faz. Essa é a definição do que significa
“buscar a felicidade”. É a definição do que queremos dizer com
“vida e liberdade”. Os adultos fazem escolhas entre o bem e o mal, a
liberdade e a escravidão, a inocência e a corrupção. Ser adulto
significa que você pode escolher. Faça boas escolhas.

Pare de culpar os outros. Não se trata de interseccionalidade. 32


Não se trata de teoria racial crítica. Não se trata do privilégio de
outra pessoa. Não se trata deles; trata-se de você. Você nunca
quebra o ciclo do pecado olhando pela janela. Você só quebra
olhando no espelho. O avivamento nunca começa concentrando-se
em todos os outros. Sempre começa com você.

Pare de falar e ouça. Você não tem todas as respostas. Quer você
tenha 25 ou 52 anos, as pessoas um pouco mais velhas são, em
geral, muito mais sábias do que você. Não fale com eles, ouça-os. Se
você quer se tornar um adulto, ouça um adulto. Pare com o
esnobismo cronológico. As ideias antigas são, muitas vezes, as
melhores ideias. Existe algum motivo que as fez resistir ao teste do
tempo. Vovó e vovô podem realmente saber de alguma coisa.
Escute!

Teste tudo. A preguiça aceita o que é popular. Segue o fluxo e


celebra a moda. A responsabilidade, por outro lado, questiona
tudo. Isso é verdade? É falso? Você é um ser humano racional,
pensante. Use seu cérebro. Sempre se mantenha longe de
argumentos carregados de emoção. Faça o dever de casa que
precisa ser feito. Encontre os fatos. A preguiça e a emoção são
companheiras mortais.

Um dos maiores presentes que já recebemos é o dom da


responsabilidade. A responsabilidade é o dom da escolha. É o dom
da liberdade. É o dom do serviço acima do egoísmo. É o dom da
racionalidade sobre a emoção e dos fatos sobre os sentimentos. É o
dom da idade adulta sobre a adolescência.

Enquanto a preguiça leva ao arrependimento, a responsabilidade e


a determinação levam a resultados. Assumir responsabilidades
prepara o terreno não apenas para cumprir o que se pede, mas
também para ir além do esperado. Isso é o que está implícito em se
tornar um “adulto responsável”.

Pratos limpos
Todas as pessoas no mundo que se tornaram “histórias de sucesso”
têm uma coisa em comum: escolheram pensar por conta própria e
agir por si mesmas. Elas não culparam alguém ou se esquivaram.
Elas assumiram a responsabilidade. Tratava-se delas, e não de
todos os outros. Em vez de esperar que outra pessoa fizesse isso,
elas assumiram o controle das situações em que se encontravam e
resolveram os problemas por conta própria.

O apóstolo Paulo escreveu que se manter fazendo o que é bom e


certo não deixará de produzir resultados. Ele escreveu: “Não nos
cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo colheremos, se não
relaxarmos”. 33 Essas palavras resistiram ao teste do tempo por
quase dois mil anos. Poderíamos ser sábios em ouvi-las e aprender
com elas. Bons resultados virão se decidirmos fazer o bem, assumir
responsabilidades e encarar o trabalho como uma oportunidade, e
não como uma maldição.

Em seu livro Every Good Endeavor: Connecting Your Work to


God’s Work, Tim Keller acerta em cheio: “A visão bíblica sobre
esses assuntos é totalmente diferente [da mensagem atual sobre
trabalho e responsabilidade]. Trabalhos de todos os tipos, seja com
as mãos ou com a mente, evidenciam a nossa dignidade como seres
humanos — porque refletem a imagem de Deus Criador em nós”. 34
Para colher no longo prazo, é necessário semear.

Semear boas ideias, bons comportamentos, bons hábitos e boas


escolhas no nosso dia a dia gera frutos positivos. Enquanto isso,
maus hábitos e escolhas geram frutos podres. Uma semente produz
mais oportunidades, a outra leva a mais controle externo.

Uma vida marcada pela busca constante por esmolas não é uma
vida que valha a pena ser vivida. Tal existência é mais tediosa do
que bela. É um abuso da boa vontade e do trabalho árduo dos
outros. É egoísta e insular. É uma vida que tende a ser exigente e
arrogante, em vez de humilde e grata. É a diferença entre um
capitão de sofá sentado na casa da mamãe e do papai e um atleta de
verdade que está realmente no campo do jogo.

A responsabilidade tem um custo. Não é barata. Requer tempo.


Exige esforço. Requer compromisso e sacrifício. A responsabilidade
muitas vezes custará o seu conforto. Pode até custar-lhe a sua
segurança. Em Crônicas de Nárnia, C. S. Lewis escreve que o
grande leão Aslan não era seguro, mas era bom. O mesmo ocorre
quando se escolhe assumir responsabilidades. A responsabilidade
não deve ser segura, mas boa. E as coisas na vida que são
verdadeiramente boas muitas vezes custam mais, tanto em termos
de trabalho despendido como de risco para o nosso próprio
conforto. Elas nunca são de graça.

A falta de responsabilidade, porém, custa ainda mais do que as


melhores coisas que a vida tem a oferecer. A falta de
responsabilidade pode custar-lhe a sua reputação. A falta de
responsabilidade deixará você com fome. A falta de
responsabilidade deixará você com desejos que você não poderá
realizar. Fará com que você se arrependa do que poderia ter sido.

Jordan Peterson formulou de forma muito apropriada o


crescimento até a idade adulta com o seguinte insight:
Ficar em pé e com o peito estufado é aceitar a terrível
responsabilidade da vida com os olhos bem abertos. Significa
decidir transformar voluntariamente o caos do potencial nas
realidades da ordem habitual. Significa tomar o fardo da
vulnerabilidade autoconsciente e aceitar o fim do paraíso
inconsciente da infância, em que a finitude e a mortalidade são
apenas vagamente compreendidas. Significa realizar
voluntariamente os sacrifícios necessários para gerar uma
realidade produtiva e plena de sentido (significa agir para agradar
a Deus, na linguagem antiga). 35

Em última análise, os pratos não têm pernas. Eles se acumulam na


pia até que alguém decida cuidar da bagunça.

Pegue e limpe o prato. A escolha é sua e o estado em que a


cozinha vai ficar é da sua conta. É sua responsabilidade.

lição iii: Não caia no lago


Você nunca irá encontrar uma pessoa egocêntrica que seja verdadeiramente feliz. Isso
simplesmente não existe.

— Zig Ziglar

Uma selfie cara

A primeira fatalidade registrada decorrente de uma selfie foi em


2011. Três adolescentes foram tragicamente atropeladas por
um trem em Utah enquanto tiravam uma selfie numa ferrovia.
Infelizmente, essa não foi a última fatalidade com selfies. Houve
várias mortes relacionadas a selfies desde 2011. Em 2014, 33 mil
pessoas ficaram feridas em acidentes automobilísticos relacionados
ao uso de celulares, alguns dos quais foram causados por selfies. 36
Alguns dos acidentes mais conhecidos incluem o da mulher que foi
chifrada por um bisão em Yellowstone enquanto tirava uma selfie,
e das várias pessoas que caíram de penhascos em Yosemite
enquanto faziam o mesmo.

As selfies se tornaram uma parte rotineira da vida com o advento


do smartphone, o que torna tal fenômeno relativamente novo. Mas
pelo menos uma selfie trágica, enraizada na mitologia grega,
transcende os tempos. Estou falando da história de Narciso.

Narciso era filho do deus do rio Cefiso. Ele era um caçador ávido
que despendia grande parte do tempo caminhando no sopé do
Monte Olimpo e era conhecido por ser extremamente belo.
Enquanto ele caçava e atravessava a floresta, muitas deusas da
mitologia grega se apaixonaram por ele, mas ele sempre desprezou
o amor delas, deixando em seu rastro incontáveis corações
frustrados e partidos. Uma ninfa em particular, cujo nome era Eco,
ansiava por Narciso e o perseguia incansavelmente. Como fez com
todas as outras, Narciso a rejeitou, deixando-a vagando sozinha,
clamando para que ele retribuísse seu afeto. (Uma história para
outra ocasião, mas diz a lenda que essa é a origem dos ecos.)

Pois bem, um dia, ao ouvir o que havia acontecido com Eco,


Nêmesis, a deusa da retribuição e da vingança, puniu Narciso.
Após uma das caçadas de Narciso, Nêmesis o atraiu para um lago
calmo e claro, formado na curva de um rio. Exausto, ele se abaixou
para tomar um gole de água e ficou surpreso ao ver o próprio
reflexo. Cativado, Narciso contemplou sua imagem. “Ah”, disse ele
para si mesmo, “nem Baco, Apolo ou mesmo Zeus em toda a sua
glória superam o meu fascínio”.

Com o passar do tempo, Narciso não conseguia se afastar. Ele


apenas ficou na beira do rio, admirando o próprio reflexo. Dia após
dia, ele se detinha sobre o lago, fitando a si mesmo. As semanas se
passaram e Narciso ficou tão apaixonado por si mesmo que se
esqueceu de pensar em qualquer outra coisa, até mesmo em
comida ou descanso. Ele ficou macilento, perdeu a cor, o vigor e a
força, até que finalmente, numa última tentativa de preservar a
própria beleza desbotada, Narciso estendeu a mão para abraçar o
seu reflexo naquele lago.

Ele escorregou, caiu e se afogou.

Apaixonado por si mesmo, Narciso morreu, deixando apenas o


fraca alusão da voz de Eco em um vale distante enquanto ela
lamentava o fim de tamanha beleza desperdiçada.

Uma história bizarra que contém uma moral de advertência. De


certa forma, Narciso conta a história da selfie mortal.

Um Narciso atual encheria a memória de seu telefone, tirando


rapidamente selfies de si mesmo. Você provavelmente já percebeu
isso ou conhece a história, mas é da lenda de Narciso que obtemos
os termos narcisismo e narcisista.

Simplificando, um narcisista é alguém cheio de si, muitas vezes às


custas dos outros. No campo da psicologia, o narcisismo se
enquadra em um espectro de autoengrandecimento e
autoglorificação míopes.

Essa história me veio à mente há pouco tempo, quando fui


confrontado por um jovem estudioso que se considerava
intelectualmente superior a mim. Ele tinha muito orgulho das suas
ideias progressistas e discordava do meu antiquado pensamento
“conservador”. “O problema com vocês, conservadores”, disse ele, “é
que vocês são arrogantes. Você acha que tem todas as respostas.
Você acha que está sempre certo”.

Embora eu não tenha falado isso, meu jovem conhecido inverteu


os atributos mais apropriados dos dois campos. A diferença entre
conservadores e progressistas não é que os conservadores pensem
que estão certos e os progressistas, não. Pelo contrário, qualquer
debate saudável pressupõe que uma pessoa acredita que as suas
ideias estão certas, ao mesmo tempo que afirma que as ideias do
outro estão erradas. Por definição, um desacordo pressupõe
divergência mútua.

O bom senso (assim como o Dicionário Aurélio) nos diz que uma
disputa implica a contraposição de uma tese ou ideia a outra.
Ambos os lados acham que têm a resposta correta. Ambos estão
confiantes na justeza de sua posição. Ambos acreditam que as
ideias do outro estão erradas.

O problema não é ter opiniões divergentes. Na verdade, a própria


existência de discussões e debates pressupõe desacordo mútuo.
Mas também pressupõe que ambos os lados pensam que estão
certos.

Não seria um desperdício de tempo discordar se não tivéssemos


confiança na “justeza” da nossa própria posição e no consequente
“erro” dos pontos de vista opostos?

Decerto, podemos concordar que tanto os progressistas como os


conservadores estão igualmente confiantes em pensar que têm as
melhores ideias. Parece óbvio que o meu jovem amigo, que afirmou
estar “certo” ao me criticar por eu ter afirmado estar “certo”,
precisava recordar que um dedo acusador apontado para os outros
é amplamente superado em número pelos outros dedos que ficam
apontados para si mesmo.

Não é o grau de confiança que distingue um “crente” de outro,


mas sim a fonte da confiança. O progressista, como o meu jovem
amigo, afirma que não existe uma resposta final. Todas as verdades
são meramente consequências de construções sociais e preferências
humanas. As pessoas são a fonte de sua própria verdade. O
conservador, por outro lado, discorda, dizendo que a verdade é
maior que isso. Ele considera que a verdade é um fato objetivo que
está além da nossa capacidade criativa. Ela está lá fora. É real. Ela
vem do alto e é revelada através do coração. Assim, a verdadeira
diferença é que um homem afirma ser a fonte da verdade, enquanto
o outro afirma ser o seu destinatário. Essa é a principal diferença
entre a visão de mundo conservadora e a progressista. O
progressista afirma que não há verdade fora de seus caprichos
subjetivos, e essa é a verdade. O conservador admite que a verdade
existe e compreende que é seu trabalho encontrá-la, em vez de
negá-la.

Agora, uma pergunta (ou duas ou três):

Por que é arrogante da minha parte dizer “Não tenho todas as


respostas, mas acredito que existe uma”, ao passo que é considerado
humilde, da parte do meu jovem desafiante, proclamar com
confiança narcisista “Não existe uma resposta final. A verdade é o
que eu decido que é. Eu sou o juiz derradeiro. Eu sou o árbitro final
do que é certo e errado, verdadeiro e falso, bonito e feio”?

Os comentários desse jovem nos remetem à antiga história grega.


Não seria bom se meu detrator deixasse de lado seu evidente
esnobismo cronológico por apenas um ou dois segundos e
considerasse a história de Narciso? Enquanto esse jovem mais
inteligente do que você está à beira do lago político de hoje, com o
olhar perdidamente apaixonado em sua própria imagem, suas
próprias opiniões, suas próprias preferências e seus próprios
desejos, talvez lhe fizesse bem questionar se essa imagem que ele
tem de si é realmente o exemplo de humildade que ele imagina que
seja.

Os conservadores são mais culpados por acreditarem que estão


sempre “certos” do que os progressistas? Talvez nossos críticos
progressistas fizessem bem em olhar humildemente no espelho e
lembrar que não é arrogante se apaixonar por algo maior do que si
mesmo.
A esperança, a mudança e a transformação que tantos de nós
ansiamos vão além da arena política, dos embates entre
progressistas e conservadores. A animosidade política é apenas um
sintoma da doença.

Debater opiniões divergentes não é o problema. Na verdade, isso é


saudável. A doença que assola a nossa cultura é que abandonamos
completamente qualquer padrão objetivo para decidir quem está
errado e quem está certo em disputas pessoais ou no debate
público. De fato, menosprezamos a própria ideia de que algo seja
objetivamente certo e afirmamos que tal pen samento é apenas o
jogo de poder do branco privilegiado, da interseccionalidade ou da
masculinidade tóxica.

Para me refutar, meu jovem desafiante só tinha a intensidade de


seus sentimentos. Seu argumento era desprovido de qualquer coisa
que se assemelhasse, mesmo que remotamente, a um interesse pela
realidade ou pelos fatos. Sua visão de mundo carecia de qualquer
respeito pelas verdades fundamentais e objetivas. Como disse meu
autor favorito, C. S. Lewis: “Ele não tinha nenhuma régua além
daquela que queria usar para medir, então não podia fazer
nenhuma medição”. 37

A verdade é uma realidade objetiva. Ela transcende nossos


sentimentos e emoções. É evidente e resiste ao teste do tempo. É
imutável e não se curva ao poder político ou às modas culturais.
Nós não criamos a verdade. Nós a buscamos, a encontramos, nos
submetemos a ela e aprendemos com ela. Nós não mudamos a
verdade. A verdade nos muda.

As consequências do abandono da verdade tiveram um efeito


devastador na nossa cultura e na forma como vivemos a nossa vida
quotidiana. As nossas escolas estão em posições cada vez piores,
em quase todos os quesitos, no quadro internacional. As mulheres
perderam a privacidade, dignidade e até a identidade nas mãos
daqueles que negam a verdade do que significa ser mulher. As
crianças perderam a infância, servindo agora como peões num
jogo sujo de engenharia social. A liberdade de expressão é
ridicularizada. A liberdade religiosa está perdida. O socialismo está
em ascensão, enquanto a liberdade constitucional é difamada.
Parece que a lista é quase interminável.

Ao nos aprofundarmos nessa corrida cultural de menosprezo e


desconsideração da verdade, o que descobrimos é que se trata, na
realidade, mais de uma rejeição da fonte da verdade do que de uma
negação da existência da verdade.

Uma verdade objetiva tem que vir de algum lugar além do


indivíduo. É mais do que apenas uma coleção de opiniões pessoais.
Como já disse antes, a verdade é verdadeira mesmo que ninguém
acredite nela, e a falsidade é falsa mesmo que todos acreditem. A
verdade é simplesmente a verdade, ponto final. A verdade não se
importa com suas opiniões.

É por isso que a justiça é cega. Ela sabe que um caso não pode ser
julgado por sentimentos ou emoções. A verdade só pode ser
encontrada e a justiça só pode ser feita quando ela se cega às
emoções envolvidas na questão e deixa os fatos falarem por si.

A Declaração de Independência sugere algo semelhante. A


verdade nos é concedida pelo nosso Criador, e não por um bando
de oligarcas elitistas vestidos com suas togas pretas. A verdade não
é uma construção de um rei nem o produto do consenso público. A
verdade é revelada de cima, não inventada de dentro.

Desde a fundação da América, as verdades evidentes e os direitos


inalienáveis que constituem os alicerces da nossa sociedade
encontraram sua fonte em Deus e na Bíblia. E a rejeição desse
fundamento anda de mãos dadas com a rejeição da verdade
objetiva e a consequente perda de tais direitos e liberdades.

Todos nós precisamos encontrar uma explicação para a realidade


em que vivemos, e essa explicação deve vir de outro lugar, não de
nós mesmos.

Na discussão com meu jovem amigo estudioso, minha fonte de


verdade não era eu mesmo, mas algo maior, melhor e mais sábio do
que eu. A fonte do meu amigo era ele mesmo.

Ele mesmo.

Embora eu tivesse mais estudo, experiência e fontes, ainda não


acreditei, nem nunca acreditaria, que pudesse produzir uma
verdade que explicasse a realidade deste mundo a partir do interior
do meu eu falível. E, no entanto, os progressistas proclamam que
eles, meros mortais, sabem mais do que todos aqueles que os
precederam e até mesmo do que o próprio Deus. Eles são os que
esperávamos e a mudança que buscamos. Eles podem conter as
marés do oceano, acalmar as tempestades do país e controlar o
clima mundial. Eles podem redefinir a biologia e ignorar a
genética. Através dos seus programas sociais, podem eliminar a
distinção natural entre homens e mulheres ao mesmo tempo que
purificam os homens de sua “toxicidade”.

Você sabe soletrar “narcisista”?

O narcisismo da esquerda não se limita à sala de aula; é uma visão


de mundo que muitos americanos compartilham. A verdade foi
decapitada na guilhotina da revolução esquerdista e o sangue da
liberdade corre nas ruas de todas as áreas da vida. Todas as pessoas
que proclamam que não importa no que você acredita, desde que
funcione para você, imitam o relativismo da esquerda. Ao rejeitar
qualquer coisa fora deles mesmos, de suas próprias pessoas, os
esquerdistas esperam transformar nosso país numa nação de
narcisistas.

Mas isso é muito pior do que a vaidade de Narciso, pois não


pertence à mitologia grega. É real. Essas pessoas que afirmam ser
Deus andam e falam entre nós como seres humanos reais, que
respiram e vivem. Essa é a arrogância que nossas faculdades
inculcaram em nossos alunos. Isso é o que a educação pública nos
deu.

O desafio de ser adulto torna-se ainda maior quando se é


ensinado a ignorar adultos reais que podem ter algumas coisas para
lhe ensinar. Pode me chamar de louco, mas fingir que você é mais
inteligente do que qualquer pessoa dois dias mais velha que você e
que seus sentimentos são mais importantes do que os fatos
antiquados dos mais velhos não é a receita para a humildade.

Educado para ser um narcisista


No início dos anos 1900, G. K. Chesterton falou das consequências
inevitáveis de negar a Deus como nosso Criador e de adorar a
ciência acima do sagrado. Observando que os naturalistas da época
estavam muito inclinados a transformar a ciência deles numa
filosofia e impor sua nova religião, com um zelo quase fanático, a
toda a cultura, Chesterton afirmou: “Nunca disse uma palavra
contra eminentes homens da ciência. O que me queixo é de uma
filosofia vaga e popular que se supõe científica quando, na verdade,
nada mais é do que uma espécie de religião, uma religião nova e
notavelmente desagradável”.

Reconhecendo que a ciência nunca poderia ter a pretensão de


competir na arena moral, que é própria da Teologia e da Filosofia,
Chesterton foi mais longe: “Misturar ciência com filosofia é apenas
produzir uma filosofia que perdeu todo o valor ideal e uma ciência
que perdeu todo o valor prático. Cabe ao meu médico pessoal me
dizer se esta ou aquela comida me matará. Cabe ao meu filósofo
particular me dizer se devo morrer”. 38

Chesterton sabia que a ciência poderia responder às questões da


matemática e da medicina, mas tinha a mesma consciência de que
ela não tinha absolutamente nada a dizer sobre o sentido da vida e
a moralidade. Ele alertou que o “progresso” científico, quando não
restringido por princípios sagrados, estava repleto de perigos.
Sobre “a sobrevivência do mais apto”, ele afirmou que pode ser uma
discussão acadêmica interessante quando aplicada a um vegetal,
animal ou mineral, mas, quando colocada em prática nas pessoas,
as suas consequências são simplesmente horríveis.

Lewis também falou abertamente sobre a diminuição da


importância dada a Deus pela sociedade ocidental, ao mesmo
tempo que elevava o homem e a tecnologia para preencher esse
vazio. Prevendo a ascensão do que ele e outros rotularam de
“cientificismo”, em que o naturalismo e o mate rialismo seriam
elevados acriticamente ao status de religião, Lewis alertou sobre
uma distopia na qual as políticas públicas e até mesmo as crenças
morais e religiosas seriam ditadas apenas por professores e
políticos muito ansiosos para assumir o papel dos nossos novos
sumos sacerdotes culturais.

No seu romance Uma força medonha, Lewis pede ao leitor que


considere uma questão óbvia: depois de duas guerras mundiais em
que o cientificismo nos trouxe os “avanços” da eugenia e do
massacre em massa de milhões de pessoas através de gás venenoso,
metralhadoras de disparo rápido, foguetes balísticos e bombas
atômicas, como nosso novo deus, feito pelo homem, está
trabalhando para nós?

“As ciências físicas, boas e inocentes em si mesmas, já […]


começaram a se deformar”, disse Lewis. “[Elas] foram sutilmente
guiadas para determinada direção. A descrença na verdade objetiva
tem se infiltrado cada vez mais [no cientificismo]; o resultado tem
sido a indiferença e a concentração de poder [e o desespero
pessoal]”. 39 Lewis sabia que a luta dos “mais aptos” pelo poder e
pela sobrevivência, quando livre de qualquer restrição moral
objetiva, sempre levaria ao pesadelo do governo orwelliano e da
autodestruição, não ao paraíso prometido por seus colegas
professores. E assim ele advertiu seus leitores.
A lista dos que alertam sobre as consequências inevitáveis de
adorar a criatura no lugar do Criador é longa. Chesterton, Lewis, J.
R. R. Tolkien, T. S. Eliot e muitos outros, tanto antes como depois
deles, sabiam que, quando o homem inverte a relação entre
Criador e criatura e nega Deus como sua origem, a humanidade
sofre consequências terríveis.

Chuck Colson, o falecido fundador do Colson Center for


Christian Worldview, resumiu bem:

Nossa origem determina nosso destino. Diz-nos quem somos,


porque estamos aqui e como devemos ordenar as nossas vidas em
sociedade. Nossa visão das origens molda nossa compreensão da
ética, da lei, [da vida e até do fim da vida]… Caso comecemos
com a suposição de que somos criaturas de um Deus pessoal ou
produtos de um processo cego, de uma forma ou de outra, segue-
se uma ampla rede de consequências, e essas consequências
divergem dramaticamente.

Se somos o projeto intencional de um criador inteligente, então


temos um propósito, um destino e uma maneira de viver as nossas
vidas de forma a cumprir esse propósito. Se não somos nada mais
do que produtos do acaso e da coincidência, então não temos
nenhum propósito final, nenhum significado e nenhum padrão
para orientar a maneira como devemos viver ou morrer. A
moralidade perde o sentido, o certo e o errado nada mais são do
que jogos de poder e construções sociais. E quem tem mais poder
sobre a vida e a morte do que um homem sozinho numa sala
segurando uma corda ou um frasco de comprimidos?

Lewis, Chesterton e Colson alertaram sobre esse admirável


mundo novo no qual o conforto material é tudo o que importa; um
mundo no qual todas as reivindicações de verdade moral são
consideradas suspeitas; um mundo no qual deveríamos “comer,
beber e nos divertir, pois amanhã podemos morrer”. Eles sabiam
que, quando acreditamos mais no deus que vemos no espelho do
que no Deus que vemos na Bíblia, pouco nos resta no fim dos
nossos dias além de levantarmos e nos juntarmos ao famoso chef
Anthony Bourdain, e a muitos outros, cantando em um tom cheio
de sarcasmo e triste autoengano: “O suicídio é indolor”.

Para avançarmos em direção à idade adulta e começarmos a ser


homens e mulheres íntegros, todos nós devemos nos livrar da
autoadoração e da arrogância que dominam escolas e
universidades públicas. Se você pensa que é deus, não há nada para
aprender e não há nada que você não possa e não deva fazer. “Nem
mesmo Baco, Apolo ou Zeus em toda a sua glória superam um
fascínio como o seu”.

A margem do rio
Vamos voltar a Narciso. Sendo atraído para um lago tranquilo e
calmo que ficava ao longo do rio, o nosso jovem herói grego
caminhou até a beira da água e olhou para baixo para contemplar o
próprio reflexo. Sua arrogância o consumiu. Ele se afogou. Ele é o
garoto-propaganda da primeira selfie fatal.

Hoje estamos à beira da proverbial piscina, hipnotizados pela


nossa própria imagem como se fôssemos um deus grego, ou até
mais hipnotizados. Desde o primeiro dia da pré-escola até a
formatura da faculdade, nos ensinaram que somos nós que
definimos tudo. Vida. Liberdade. Macho. Fêmea. Escolha.
Independência. Fascismo. Moralidade. Justiça. Nós somos aqueles
por quem estávamos esperando. Nós somos a mudança que
buscamos. Nós decidimos. Nós definimos. E ninguém tem o direito
de desafiar nossos sentimentos ou construções.

Todos aprendemos a negar Copérnico. Filosófica e


teologicamente, somos geocentristas. Negamos o heliocentrismo.
Declarando que não existe Filho 40 (sim, escrevi certo), declaramos
que somos o centro do universo.
Mas podemos mudar, pois continuamos sendo seres humanos
com mentes e almas livres. Podemos buscar respostas na sabedoria
de todos os tempos, em vez de nos contentarmos com a
imaturidade e a tolice do mundo atual e dos conscientes. 41 Embora
os prêmios de participação e uma criação superprotetora possam
ter nos levado à beira do rio, ainda podemos tomar uma decisão
diferente.

Pare com as selfies.

Pare de olhar para o seu reflexo.

Ouça aquela voz suave ecoando ao longe e dê um passo para trás.

Você não é Deus.

Levante-se e tome um rumo.

Não caia no lago.

lição iv: Leve os cabos de


bateria
Nada que é bom custa pouco, então não devemos nos surpreender quando enfrentamos
dificuldades ao buscar o melhor. Tempos difíceis não são tempos para desistir.

— Terry Mark

A vida não é um filme

M uitas vezes, temos uma ideia equivocada de como será a vida.


Pensamos em termos de filmes, ao estilo de Hollywood “e viveram
felizes para sempre”. Uma falsa sensação de águas calmas,
navegando todos os dias para um lugar de tranquilidade. Mas
sempre surgem ondas e tempestades. Muitas vezes, elas são
implacáveis. A vida pode, e irá, sair do roteiro em um piscar de
olhos. A questão-chave é simples: estamos preparados?

Certa vez, contaram-me a história de um estudante formado que


recebeu inúmeros presentes quando terminou o ensino médio.
Família e amigos se reuniram para comemorar sua conquista e
tiveram a bondade de o abençoarem com muitos presentes; ele
ficou grato por todos eles. Do dinheiro, ele realmente gostou; e é
certo que gastou tudo. Mas, de todos os presentes que recebeu em
comemoração à sua formatura, aquele que ele mais apreciou foi o
que mais gerou dúvidas: cabos de bateria de carro.

“Por que raios alguém daria cabos de bateria como presente de


formatura?”, o jovem pensou consigo mesmo enquanto sorria e
agradecia a quem lhe dera o presente. Mas esse presente seria
aquele que ele nunca esqueceria, aquele que ele usaria durante
anos.

Os cabos de bateria foram dados por alguém com uma


perspectiva de longo prazo. Dinheiro e vale-presentes eram mais
atraentes, e certamente seriam apreciados por qualquer pessoa.
Mas o homem que deu os cabos sabia a diferença entre desejos e
necessidades. Ele entendeu que chegaria o dia em que esse jovem
formando precisaria exatamente daquilo que o impediria de ficar
estagnado. Foi um presente que ninguém mais pensou em dar.

Os cabos provaram seu valor várias vezes. Em diversas ocasiões, o


estudante ficou parado — vítima das dificuldades mecânicas que
quem dirige um carro antigo certamente compreenderá. Quando
uma bateria descarregada ameaçou interromper sua viagem de
repente, um questionável presente, recebido anos atrás, tornou-se o
melhor presente de todos. Muito depois do dinheiro ter sido todo
gasto, muitas vezes ele ficou realmente grato por ter os cabos de
bateria.

Os cabos eram o que ele precisava em tempos de crise. Eles o


mantiveram em movimento. Eles lhe deram um certo grau de
independência e um pouco de liberdade. Em vez de ser obrigado a
esperar que um caminhão de reboque viesse em seu socorro, tudo
o que ele precisava fazer era acenar para alguém com carro e
bateria que estivessem funcionando, pegar os cabos e resolver o
próprio problema.

Os cabos também lhe deram os meios para permanecer


trabalhando e realizando as tarefas normais e cotidianas da vida.
Como na vez em que comprou sua primeira casa e o cortador de
grama não ligava — ele conectou os cabos e deu partida na
máquina.

Eles também foram o que ele precisava para ajudar os outros. Ele
não conseguia contar quantas vezes tinha usado aqueles cabos no
calor do verão, no frio do inverno, durante chuvas torrenciais ou
sol escaldante para ajudar outras pessoas que não estavam
preparadas.

A moral dessa história é óbvia. Os maiores presentes que


recebemos são muitas vezes aqueles que talvez não
compreendamos na hora. Os presentes que carregam valor
duradouro são os que raramente chamam nossa atenção à primeira
vista. Eram aqueles que nós não “desejávamos”. Mais tarde, porém,
eles trazem um suspiro de alívio quando mais precisamos deles.
Esses presentes não têm preço, porque atendem a uma necessidade
que talvez não tenhamos previsto.

A sabedoria para enfrentar situações que não conseguimos


compreender — as crises da vida que não prevíamos — é um dom
muitas vezes subestimado. Um guarda-chuva nunca é
verdadeiramente apreciado até que a tempestade comece. Luvas
podem ser ridículas, mas só até que a geada chegue. Uma lanterna
parece sem valor até que a energia acabe e você fique no escuro.

E o mesmo pode ser dito dos cabos de bateria.

O mundo real… da idade adulta


Apesar de vivermos num mundo saturado de reality shows, nós
parecemos estar mais afastados da realidade do que qualquer
cultura que nos precedeu.

Irônico, não é?

A vida real apresenta uma série de provações e aflições, momentos


de tristeza e sofrimento que, falando francamente, não são tão
divertidos.

Salomão admitiu isso ao escrever o Eclesiastes. A abertura do


terceiro capítulo aponta para os altos e baixos da vida. Salomão
escreveu que há “tempo de nascer e tempo de morrer, tempo de
plantar e tempo de arrancar o que se plantou. Tempo de matar e
tempo de curar, tempo de demolir e tempo de construir. Tempo de
chorar e tempo de rir; tempo de gemer e tempo de dançar”. 42 Ou
como cantaram os Byrds em 1965: “Há uma estação […] e um
tempo para todo propósito, debaixo do céu”.

Essas palavras são um lembrete de que a vida às vezes pode ser


difícil. Existem situações difíceis que devem ser encaradas, épocas
tumultuadas que devem ser suportadas e lutas e tristezas que são
comuns a todas as pessoas, independentemente da sua posição. Um
dia de dor intensa pode surgir imediatamente após um dia de
grande alegria. E, de modo geral, as coisas não sairão como
planejado.
Embora nos ensinem a planejar nossas vidas nos mínimos
detalhes, raramente há quem ensine sobre o que fazer e como
reagir quando esses planos não funcionam ou quando alcançar
nossos objetivos se torna um processo mais longo do que
inicialmente previsto.

Um amigo que é pastor certa vez me contou uma história.


Quando ele era novo no ministério, ele se recolhia nas noites de
domingo e planejava sua semana. Em seu trabalho, ele tinha muitas
funções concomitantes, então, para garantir que realizaria o que
“precisava” ser feito, elaborou uma lista meticulosa e detalhada. Ele
mapeou quem precisava ser visitado, de quais reuniões ele
precisava participar, separou tempo para planejar e estudar para
sermões e também para todas as outras demandas de um pastor.
Sem falta, toda segunda-feira trazia algo não planejado e
inesperado que precisava ser resolvido imediatamente. A partir daí,
o cronograma muitas vezes logo descarrilhava.

Inicialmente, a constante reconfiguração do horário foi motivo de


angústia para o jovem pastor. Cada semana terminava com cinco a
dez coisas inacabadas, sobrecarregando as demandas da semana
seguinte. Nem uma única semana seguia o roteiro.

Quando o pastor começou a entender que essas alterações faziam


apenas parte da vida, ele adaptou-se melhor às interrupções. Ele
tirou uma lição de tudo isso, percebendo que um profissional
experiente — um adulto maduro — aprende a administrar seu
planejamento em vez de deixar que ele o administre.

A doença interrompe o que pensávamos que seria um período de


saúde. Um eletrodoméstico quebrado acaba com as nossas
economias, frustrando nossos planos de férias. Um engarrafamento
nos faz chegar atrasados. Incêndios, tornados e inundações podem
acabar com toda sensação de estabilidade a qualquer momento.
Relacionamentos que pareciam destinados a durar a vida toda
terminam prematuramente devido à distância, à falta de tempo, aos
desentendimentos, às polêmicas ou apenas ao afastamento das
partes. A morte de um ente querido ou de um amigo nos coloca
frente a frente com uma sensação de dor e tristeza inesperadas.
Empregos podem levar a mudanças que cortam nossas ligações
com o que pensávamos que seria a nossa casa para sempre. E em
alguns dias, o carro não pega.

Como Robert Burns disse: 43


But mouse, you are not Mas, rato, você não é o único
alone, a provar que a previsão pode ser
In proving foresight may be em vão.
in vain; O melhor projeto, do rato
The best laid schemes of e do homem, muitas vezes falha,
mice e deixa apenas sofrimento,
And men go often askew, no lugar da prometida alegria!
And leave us nothing but
grief,
For the promised joy!

Desertores desistem
O que nos define é o que escolhemos fazer em resposta aos desafios
que a vida nos coloca. Aqueles que optam por desistir e sair do
jogo conquistam o opróbrio que advém de serem conhecidos como
desertores. Desistir é uma decisão, e aqueles que optam por desistir
são definidos como desertores.

Desistir é um padrão que se desenvolve ao longo da vida,


tornando-se cada vez mais fácil quando se desenvolve o hábito de
desistir de uma tarefa ou objetivo. Depois que desistimos de algo
pela primeira vez, sentimos muito menos culpa e vergonha quando
abandonamos outra atividade. Em vez de perseverar e aprender
com a luta, ficamos mais moles quando desistimos.

Salomão nos diz que assim como o ferro afia o ferro, um homem
deve afiar o outro. Isso implica resistência. Diz-nos que faíscas
voarão e calor surgirá. A falta de conflito apenas embota a espada.
Paulo usa uma analogia semelhante quando nos diz que nossa obra
será testada e comprovada pelo fogo. O apóstolo Pedro diz
essencialmente o mesmo quando nos lembra de que nosso caráter e
fé serão refinados pelo fogo. É no calor dos tempos difíceis que o
nosso metal se prova. O crescimento acontece quando superamos
as lutas e aflições que a vida apresenta.

Aqueles que consistentemente se encolhem e tentam fugir dos


obstáculos e das lutas são aqueles que se transformam em flocos de
neve. Incapazes de lidar com qualquer calor, eles se dissolvem em
indignação egoísta e insignificância.

Em gerações passadas, a ideia de recuar ao primeiro sinal de luta


teria sido vista como uma vergonha. Desistir quando as coisas
ficam difíceis é, hoje, uma fonte de diversão, uma oportunidade de
culpar todos os outros e uma chance de recomeçar a vida pela
nonagésima sétima vez.

Aqui vai um spoiler: o melhor meio de prever o comportamento


futuro é sempre considerar o comportamento passado. O
nonagésimo sétimo não será o último recomeço. Haverá um
nonagésimo oitavo assim que houver dificuldade no nonagésimo
sétimo.

Quem desiste tem uma grande aversão a ser testado e não


consegue enfrentar os problemas que a vida está destinada a trazer.
O desertor revela que seu coração nunca esteve totalmente
comprometido. Ele tem mais interesse em conforto do que em
convicção. Ele não tem coragem. Ser mimado como uma criança é
mais importante para ele do que provar que é um homem de
caráter.

Quando a falta de coragem se tornou um bem cultural? Quando


foi que a falta de coragem se tornou algo que defendemos em vez
de condenar?
Quando as crianças jogam a toalha, os adultos se envolvem. Ser
adulto significa ver os obstáculos como oportunidades e formas de
crescer, e abraçar os desafios mesmo quando eles parecem
extremamente difíceis. Crescer significa que o tempo de fazer o que
é fácil e seguro está sendo substituído pelo tempo gasto em
trabalho árduo. Significa correr o risco do fracasso para alcançar
algo grandioso e bom, independente do que esteja no caminho.

Pense nas resoluções de Ano Novo. Todos os anos, à medida que a


meia-noite se aproxima, escolhemos um hábito que esperamos
mudar nas próximas semanas e meses. Mas, de acordo com uma
pesquisa realizada pela Universidade de Scranton, 92% das pessoas
não conseguem cumprir suas resoluções, desistindo da nova vida
que imaginavam para si mesmas. Isso significa que apenas 8%
cumprem sua palavra e levam o projeto até o fim. Como Marcel
Schwantes escreveu para Inc.com: “Os 8% têm uma bússola interna
que os mantêm fixos até chegarem ao topo da montanha. Eles têm
um sistema de crenças baseado em ‘faça o que for preciso’ que, em
sua essência, é intrinsecamente motivado”. 44

O não cumprimento das resoluções de Ano Novo pode parecer


um exemplo trivial, mas as estatísticas indicam que, na cultura da
Europa Ocidental e dos eua, há uma tendência maior a proceder
assim. Quando as coisas ficam difíceis, desistimos. Nós nos
comprometemos apenas até o ponto em que for confortável. Ao
primeiro sinal de desconforto, nos “descomprometemos” e
passamos para algo mais agradável.

Se um chefe for muito exigente, peça demissão e vá trabalhar para


outro até que ele se torne muito exigente. “Não consigo” é a palavra
de ordem dos nossos tempos. Essa atitude se espalha como uma
falta de determinação cultural. A história do The Little Engine That
Could 45 transformou-se em um monte de pequenos motores que
prefeririam não fazer nada.
Ser adulto não é algo que podemos ligar e desligar como um
interruptor de luz. A maturidade exige que permaneçamos firmes
quando as coisas ficam difíceis, que lutemos por algo maior do que
nós mesmos, em vez de nos escondermos, incapazes de lidar com
um mundo imperfeito. Como ironizou Katharine Hepburn em seu
livro: “A vida é difícil. Afinal, ela te mata”. 46 Existem lutas, mas os
adultos resistem.

Preparando-se para uma tempestade


Em setembro de 2018, a costa leste dos Estados Unidos preparou-
se para um furacão de categoria 4. A hora exata em que a
tempestade ocorreria era incerta. Os furacões parecem ter vontade
própria. Também não havia certeza de onde a tempestade atingiria
o continente, mas isso não impediu que as pessoas ao longo da
costa se preparassem. Os residentes da Carolina do Norte e da
Carolina do Sul estavam atentos enquanto a tempestade avançava
em direção à costa.

As janelas foram fechadas com tábuas. Os objetos que ficavam na


varanda e poderiam ser levados pelo vento foram amarrados ou
colocados para dentro. Os moradores, na esperança de impedir que
a água entrasse em suas residências, colocaram sacos de areia na
frente das casas. Foram feitos planos para evacuar os residentes.

À medida que o furacão Florence se dirigia para o sudeste dos


Estados Unidos, aqueles que estavam no caminho da tempestade
sabiam que estar despreparado não era uma opção. Em vez de
deixarem suas casas e suas vidas ao acaso, eles agiram e fizeram
todo o possível para se prepararem para enfrentar a tempestade e,
no fim das contas, se recuperarem após a passagem do furacão.

Quando Florence finalmente chegou a Wrightsville Beach, na


Carolina do Norte, os moradores haviam feito tudo o que podiam
para se preparar. A tempestade estava caindo. Agora tudo o que
podiam fazer era torcer para que os edifícios resistissem ao dilúvio
e os preparativos feitos fossem suficientes para manter suas casas
intactas.

Jesus falou sobre tudo isso. De fato, ele usou a analogia de uma
tempestade para explicar a importância de bases sólidas na vida.
Ele disse: “Aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as põe em
prática é semelhante a um homem prudente que edificou sua casa
sobre a rocha. Caiu a chuva, vieram as enchentes, sopraram os
ventos e investiram contra aquela casa; ela, porém, não caiu,
porque estava edificada na rocha”. 47

O construtor sábio está preparado. Ele escolhe uma base sólida.


Ele “ouve e põe em prática”. Ele faz o que for necessário antes da
tempestade para resistir às enchentes e aos ventos quando eles
atacam.

Mas Jesus também nos contou o resultado daqueles que se


recusam a fazer isso, daqueles que não querem fazer o trabalho
árduo de cavar fundo até atingir a rocha, daqueles que prefeririam
a facilidade da areia. Eles não têm fundamento. “A casa deles vai
cair”. 48

Tanto os construtores sábios como os tolos experimentaram as


dificuldades da vida. As dificuldades vieram. As tempestades
chegaram. Na verdade, se olharmos atentamente para a parábola de
Cristo, tipos idênticos de tem pestades atingiram cada pessoa e
cada casa. Chuvas, ventos e inundações atingiram a todos.

Uma ficou de pé enquanto a outra caiu. A única diferença entre as


duas era a base sobre a qual foram edificadas. A distinção entre
sucesso e fracasso foi a preparação.

Para planejar o que não é possível planejar, os adultos se


preparam. Eles encontram as bases certas para enfrentar tudo o
que a vida possa trazer. Fortalecemos quem somos e aquilo que
defendemos ao “ouvir e colocar em prática” a sabedoria daqueles
que enfrentaram as tempestades antes de nós. Entendemos que as
areias da opinião popular desmoronam. Procuramos a rocha das
verdades testadas pelo tempo. Como resultado, perseveramos em
vez de desistir quando enfrentamos adversidades.

Planejar significa encontrar a convicção que permite dobrar a


aposta diante de dificuldades e crises. A preparação não só reduz a
probabilidade de colapso estrutural e perdas pessoais, mas também
nos dá a confiança necessária para sabermos como reconstruir
quando sofremos algum dano.

Essa é a diferença entre desesperança e esperança. É a diferença


entre fé e medo. A fé é substancial. Paulo diz: “É a substância das
coisas que esperamos”. A verdadeira fé não se baseia nas areias
ideológicas dos sentimentos e do medo. Está profundamente
ancorada na “substância” evidente de verdades que não se alteram.
A verdadeira fé sabe que sabe. Não há sombra de dúvida de que a
rocha é estável e real. Ter um alicerce de fé no lugar do medo
garante que permaneceremos firmes mesmo quando a vida ficar
difícil. Temos esperança. Não estamos desesperados.

Como nos preparamos “ouvindo e colocando em prática” o que o


arquiteto e construtor mestre nos disse, nós não desistimos. Nós
aprofundamos nossos fundamentos. Permanecemos firmes.
Estamos resolutos na nossa confiança de que a base se manterá. São
Paulo vai mais longe ao falar das complexidades da vida, das lutas e
das dificuldades. Suas palavras nos fornecem a primeira linha de
defesa quando a vida é difícil. Ele escreveu: “Em tudo somos
oprimidos, mas não sucumbimos. Vivemos em completa penúria,
mas não desesperamos. Somos perseguidos, mas não ficamos
desamparados. Somos abatidos, mas não somos destruídos”. 49

Em vez de lamentar a dificuldade, Paulo celebra a oportunidade.


Ser “oprimido” não mudou o fato de que ele se recusou a sucumbir.
Ele aceitou a luta e não foi vencido por ela. Paulo se concentrou em
seu destino, e não no desespero. Ele sabia que o ferro é afiado pelo
ferro. Ele escolheu a espada!

Grande parte da vida é difícil, mas a preparação que nos permite


superar as dificuldades é encontrada no trabalho de cavar mais
fundo na rocha. Quem busca a segurança e facilidade da “areia”
uma hora ou outra acabará desmoronando. Aqueles que acolhem o
conflito com coragem encontrarão crescimento e sucesso.

Hoje, um estilo de vida sem compromisso e sem dificuldades


parece ser a norma, e não a exceção. Alguns dos exemplos mais
evidentes são a duração média dos casamentos e a taxa de divórcio
de quase 50%. O período de tempo que os millennials dedicam aos
seus empregadores é outro exemplo. Mas a mudança constante de
emprego e os casamentos em série não surgiram do nada. As raízes
dessa falta de compromisso remontam a mais de trinta anos, como
observou Chuck Colson em Christianity Today: “Entre os jovens
adultos de hoje, a falta de vontade de se comprometer é alarmante,
o que é uma clara consequência das filosofias das décadas de 1960 e
1970, que agora chegaram ao seu pleno florescimento”. 50

Vivemos numa época e cultura em que muitos acreditaram na


mentira de que a vida mais se parece com férias do que com uma
tempestade. Tudo deve ser fácil e confortável. Achamos que
deveríamos poder deitar na praia e brincar na areia. E quando algo
dá errado, reclamamos em vez de crescer. Agimos como crianças
assustadas, em vez de adultos seguros.

Crescer significa ver as circunstâncias da vida não como barreiras,


mas como passos em direção à linha de chegada. As crianças
desistem porque sua confiança é superficial. Elas fogem das
adversidades e tempestades porque seus alicerces ainda não estão
construídos. Os adultos permanecem fortes. A coragem deles é
profunda. Sua base é sólida como uma rocha. Eles correm para a
tempestade, não para longe dela.
Paulo exclamou: “Mas uma coisa eu faço: esquecendo-me das
coisas que ficaram para trás e avançando para as que estão adiante,
prossigo em direção ao alvo, a fim de ganhar o prêmio para o qual
Deus me chamou […]”.

Henry David Thoreau, em consonância, afirmou: “Por mais cruel


que seja sua vida, você deve enfrentá-la e vivê-la; não a evite ou a
insulte”. 51

Nunca amaldiçoe o conflito. Aprecie-o. Pois os obstáculos da vida


são, em última análise, a substância dela. Peço desculpas a Platão,
mas não é a vida não refletida que não vale a pena ser vivida, mas
sim a vida sem desafios — pois uma vida tão livre de conflitos é
uma ilusão. É uma mentira.

Lembre-se de que as aflições temporárias são apenas isso:


temporárias. Embora possa parecer uma eternidade no momento
da aflição, a luta passará e um novo dia nascerá. Em vez de se
debater em autocomiseração durante uma luta, alegre-se com a
oportunidade de crescer.

Concentre-se no seu destino, não no que está no caminho. E


sempre leve os cabos de bateria.

lição v: Não discuta com o


mecânico
A verdade é incontestável. A malícia pode atacá-la, a ignorância pode ridicularizá-la, mas,
no final, ela permanece.

— Winston Churchill
Barulhos estranhos

S eminha
alguém menciona um problema no carro perto de homens da
idade, alguém do grupo geralmente tem um diagnóstico
e uma solução. Certa vez, um amigo contou uma história que tinha
relação com um barulho estranho no carro. Ele tinha um
compromisso urgente e não teve tempo de levá-lo ao mecânico.
Estava participando de um congresso de vários dias e, nas
conversas que teve durante o evento, surgia sempre a história dos
problemas com o veículo. Cada vez que ele contava o que estava
acontecendo e tentava imitar o som que o carro fazia, alguém dava
uma opinião sobre como resolver o problema.

Ele voltou da conferência e mandou rebocar o carro até uma


oficina. Ligou para a oficina para contar ao mecânico qual era o
problema. A essa altura, ele não só conseguia descrever o que o
carro fazia e o barulho estranho que emitia, mas também tinha
uma longa lista de conjecturas sobre o que poderia estar errado.
Meu amigo entendia um pouco sobre carros, então descartou
algumas opiniões que estavam completamente incorretas, mas
havia algumas hipóteses que pareciam plausíveis. Ele contou ao
mecânico os diferentes diagnósticos possíveis e encerrou a
conversa com sua opinião. O mecânico respondeu com um simples
“Obrigado” e, então, disse: “Vamos conectá-lo aos nossos
computadores e ligar o motor para ver qual pode ser o problema”.

Meu amigo recebeu um monte de opiniões. Ele transmitiu essas


opiniões ao mecânico. Mas eram só isso: opiniões, conjecturas. Em
nossa conversa sobre o assunto, ele disse: “Sei que debati pelo
menos quinze hipóteses diferentes com outras pessoas”.

Dessas quinze, quantas você acha que eram válidas? Todas as


quinze opiniões estavam corretas? E o que podemos pensar de
metade delas? O ruído do carro poderia ser explicado por todas
essas diferentes análises amadoras?
Não. Algumas dessas opiniões tinham que estar erradas. Na
verdade, a grande maioria delas estava. Mas alguns dos caras
entendiam de carros. Alguns tinham experiência profissional com
carros. Alguns se sentiam muito confiantes com o que afirmavam,
mas estavam errados. Mas nenhum deles realmente inspecionou o
carro. Nenhum deles tinha provas concretas. Somente o mecânico
sabia o que era real, e não conjectura.

As opiniões são apenas isso, opiniões, e, no final das contas, elas


não importam, na verdade. Você não paga o mecânico porque ele
tem um palpite sobre o carro. Você o paga porque ele conhece os
fatos. Motores e transmissões são consertados porque alguém com
conhecimento e treinamento sabe desmontá-los; verifica os fatos;
avalia o dano, o desgaste, o rompimento; e, então, conserta ou
substitui as peças defeituosas.

Se meu carro não estiver funcionando, eu não ligo para o que você
acha. Quero que você compreenda os fatos e conserte o problema.

Agora, ao contrário dos membros da minha geração, a maioria


dos millennials e da geração Z não oferecerá conselhos sobre
veículos. Mas eles têm opiniões sobre uma série de questões, e o
triste fato é que muitos deles nunca foram informados de que, na
verdade, os seus sentimentos não importam e as suas opiniões
podem estar erradas. E se algum professor corajoso ousar dar à
princesa a notícia bombástica de que ela não é a referência final de
tudo que é certo e verdadeiro no mundo, seus pais embarcam em
seu famoso helicóptero e vão para a escola esclarecer o professor. A
filhinha do papai continua a ser mimada. Os sentimentos são
elevados acima dos fatos. Os diplomas são conferidos com base em
opiniões. O que poderia dar errado?

A lei da não contradição é bastante simples e clara. Quando duas


pessoas têm opiniões mutuamente exclusivas, uma está errada e a
outra está certa, ou ambas estão erradas. Mas ambas não podem
estar certas. Por exemplo, supondo que estamos viajando juntos em
um carro e acabamos de sair de Michigan. Se eu afirmar que
entramos em Ohio, e você disser: “Não, é Indiana”, não podemos
estar ambos certos. 52 Essas são afirmações mutuamente
excludentes. Ou um de nós está certo e o outro errado, ou ambos
estamos errados porque estamos no Canadá. Fatos são fatos. A
verdade não cede à emoção. Você pode insistir até cansar que, por
ser um hoosier, 53 você sente que só pode ser Indiana. Mas esse
sentimento não importa. Ohio é Ohio e Canadá é Canadá. Os fatos
não ligam para os seus sentimentos.

Durante várias décadas, o nosso sistema educativo menosprezou a


verdade objetiva como algo característico de pessoas de mente
fechada e intolerante. Repetidamente ouvimos o mantra: “Todos os
caminhos levam ao mesmo cume” ou “Todas as religiões são
iguais”. Há também o constante refrão “Não importa em que você
acredita, desde que funcione para você”. Nos capítulos anteriores, já
destaquei os perigos desse relativismo radical, bem como a
diferença entre a verdade subjetiva e a verdade objetiva. Esse é o
campo de batalha fundamental das violentas guerras culturais.
Como já cobrimos algumas dessas ideias e termos, farei apenas
uma breve explicação.

Para colocar em perspectiva a gravidade dessa situação, ouça o


que o ex-presidente da Câmara dos Estados Unidos, Paul Ryan,
afirmou quando lhe perguntaram qual seria o maior problema
enfrentado pelo país. “Se me perguntarem qual é o maior problema
dos Estados Unidos, não falarei dívida, déficit, estatística, economia
— eu direi que é relativismo moral”. 54

Como seria de esperar, concordo em grande parte com o


deputado Ryan. Na verdade, uma vez me fizeram uma pergunta
semelhante em um programa de rádio de alcance nacional. Mais
especificamente, perguntaram-me quais eram as histórias
publicadas nos jornais que tinham maior impacto na nossa nação,
nas nossas liberdades e no nosso modo de vida. Para mim, a
resposta foi e é óbvia: são as que colocam sentimentos contra fatos.
Um lado está disposto a admitir certos fatos morais e a
possibilidade da verdade objetiva, ao passo que o outro quer
refazer o mundo de acordo com suas “narrativas” e impressões
subjetivas.

Isso pode parecer um pouco hiperbólico, mas não é. A realidade é


que a elevação dos sentimentos acima dos fatos nas escolas e
igrejas, bem como nos tribunais e no Congresso, é um câncer
maligno que ameaça a própria existência da república
constitucional. É um furacão de categoria 5 que está varrendo a
nossa cultura com uma força tão devastadora que o seu rastro de
destruição se alarga a cada dia.

Sentimentos contra fatos é um dos resultados do relativismo


moral e ideológico.

O relativismo é um argumento filosófico baseado na premissa de


que não existe verdade objetiva que governe a nós ou à nossa
cultura; em vez disso, cada indivíduo ou comunidade constrói suas
próprias verdades para se adequarem às suas próprias necessidades
e circunstâncias, que são relativas. Falando de forma mais didática:
o relativismo é a ideia de que o que é verdade para você pode não
ser verdade para mim e vice-versa. Não existe um padrão revelado
consistente. Tudo é subjetivo à pessoa e à cultura. A ideia de
“verdades autoevidentes” que nos são “dadas pelo nosso Criador” é
um estratagema dos tempos coloniais, dos machos tóxicos e do
privilégio branco. Dentro desse quadro, não existem absolutos. Por
trás dessa visão de mundo está a ideia de que não existe uma
verdade universal que se aplique a todas as pessoas e todas as
culturas. É importante entender, portanto, que não existe um
código de conduta comum. Não existe bem e mal objetivos. O que
é justo e injusto é construído pela sociedade. É um produto do
coletivo. O juiz agora é o bando, não Deus.

O relativismo diz que o que é certo para uma pessoa é certo para
ela, mas se outra pessoa acredita no exato oposto, isso também é
“certo”. Ignora a lei da não contradição. Está resumido na tão
comum réplica pós-moderna: “Tanto faz”. Na verdade, se me
permitem cunhar uma frase, o relativismo filosófico e moral não
passa do “tanto faz” adolescente. Quer roubar? Tanto faz. Quer
mentir? Tanto faz. Quer trapacear? Tanto faz. Quer ser mulher
mesmo sendo, de fato, homem? Tanto faz. Quer matar bebês pouco
antes deles nascerem? Tanto faz. Você já entendeu.

Mas, ao mesmo tempo, os relativistas não podem viver de acordo


com as próprias regras porque são os primeiros a condenar os
conservadores — embora as crenças dos conservadores funcionem
para eles. Na verdade, as crenças dos conservadores são tão
relevantes para os relativistas que devem ser suprimidas e
silenciadas. De repente, o grande abraço coletivo progressista ao
som de “viva e deixe viver” se transforma em gritos raivosos: “Não
me importa no que você acredita! Sua intolerância não pode ser
tolerada!”.

Se isso lhe parece anárquico, então você tem mais bom senso do
que muitos dos meus colegas acadêmicos que ensinam esse papo-
furado nos campi universitários. Nunca deixo de me surpreender
como os pretensos estudiosos conseguem realmente manter uma
cara séria quando dizem coisas como: “Estou certo de que nada é
certo. Eu sei que nada pode ser conhecido. E estou absolutamente
convicto de que não existem valores absolutos”.

Seja como for, estou apenas divagando. Ao fim e ao cabo, o


relativismo é a rejeição de qualquer verdade absoluta.

A verdade absoluta é uma descrição da realidade em que a


verdade não é flexível ou fluida. Não se curva aos caprichos da
política ou do poder. Não está sujeita a mudanças apenas por causa
dos sentimentos de alguém. Já mencionei esta citação do livro de
Os Guinness, Time for Truth, mas sempre vale a pena repeti-la: “A
verdade é verdadeira mesmo que ninguém acredite nela e a
falsidade é falsa mesmo que todos acreditem nela. A verdade é
verdadeira e isso é tudo”. Essa visão de mundo de Guinness (bem
como a de quase todos os teólogos e filósofos no curso da história
humana até, digamos, as últimas cinco décadas) defende que
sempre há uma medida fora das coisas que estão sendo medidas e
que a régua é a verdade. A verdade é imutável. Ela é encontrada na
revelação e na lei natural. É autoevidente, mas não autorreferencial.
É dada por Deus, e não criada pelo consenso do bando. Na maioria
dos contextos, especialmente no Ocidente, a verdade absoluta está
contida nos ensinamentos da ética judaico-cristã — isto é, nos
ensinamentos de Deus e da Bíblia.

O apóstolo Paulo, porém, nos diz na sua Carta aos Romanos que
“a verdade de Deus está escrita em cada coração humano”. 55 Em
outras palavras, a verdade não precisa se limitar apenas à Bíblia.
Vemos a verdade absoluta na natureza, na ciência, na matemática e
nos pressupostos morais comuns que, enquanto seres humanos,
nós carregamos.

Todos nós (liberais e progressistas) presumimos a existência


desses absolutos. De fato, não poderíamos viver a vida
normalmente sem eles.

É um absoluto que 2 + 2 = 4. O termo “absoluto” é dado aos


números para mostrar que as afirmações feitas ao usá-los são
irrefutáveis e reais. A lei da gravidade é outro absoluto. O que sobe
desce. Jogue uma bola para o alto e você sabe o que ela fará.

Além disso, espero que todos nós possamos concordar que o


estupro e a escravidão são absolutamente errados. Embora não
possamos testar tal afirmação num tubo de ensaio, sabemos que é
irrefutável e imutavelmente verdadeira. Está escrito em nossos
corações.

A negação da verdade absoluta é uma negação da lógica. Para


dizer que não existem absolutos, é preciso afirmar que é uma
verdade absoluta que absolutos não existem. Uma afirmação que se
refuta a si mesma, se é que chega a ser uma afirmação.

A negação dos absolutos também é uma negação de Deus. É


essencialmente a repetição do pecado original mencionado no livro
de Gênesis, quando nos juntamos a Adão e Eva na declaração de
que não precisamos mais de Deus para nos dizer o que é bom e
mau, verdadeiro e falso, ou certo e errado. Pelo contrário, tornamo-
nos “como deuses”, conhecendo e definindo tudo por nós mesmos.

Craig Mitchell, professor de filosofia no Seminário Teológico


Batista do Sudoeste e na Universidade do Texas, em Arlington,
escreve sobre o lento desvanecimento da nossa cultura no
relativismo. 56 Ele afirma que houve três estruturas abrangentes na
história do mundo ocidental, três movimentos, ou metanarrativas,
sob as quais todas as outras se enquadram.

Ele descreve a primeira fase como indo do início da história


humana até 1600 e a ascensão do Humanismo e do Iluminismo. A
esse primeiro estágio, ele dá o nome de pré-modernidade. No
mundo pré-moderno, a verdade era sobrenatural. A verdade foi
uma revelação, não uma construção. Era transcendente. Sua fonte
era Deus. As crenças monoteístas do judaísmo e do cristianismo
são exemplos óbvios disso. Mas os pressupostos pré-modernos da
verdade estavam presentes em todas as culturas antigas. Antes do
Iluminismo, presumia-se que a verdade vinha dos deuses ou de
Deus. Era enviada do alto. Não inventada por você ou por mim.

No sistema pré-moderno, a verdade era considerada absoluta e


tinha suas raízes numa fonte externa. Ela correspondia à realidade.
Era considerada um reflexo preciso de como o mundo, o cosmos e
todas as coisas nele funcionavam.

Curiosamente, essa suposição pré-moderna, se a tomarmos como


o contexto do cristianismo, servia como fundamento de uma
hermenêutica da confiança, o que significa que a Bíblia era vista
como a fonte da verdade, como confiável. Era revelada. Era
imutável. Não estava sujeita a alterações. A revelação escrita de
Deus servia como régua e trunfo por toda a vida e para todos os
homens.

Depois da pré-modernidade, no entanto, veio a modernidade. Se


a hermenêutica dos pré-modernos era “confiar no sobrenatural”, a
hermenêutica dos modernos era “confiar no simplesmente natural”.
Em outras palavras, se você não consegue provar, tocar e ver, então
duvide. A suspeita surgiu para preencher o vácuo deixado pela
morte da fé. O cientificismo substituiu Deus como fonte de toda a
verdade. Antes da modernidade, as afirmações sobrenaturais da
Bíblia eram aceitas como fatos, mas, na esteira do Iluminismo, o
ceticismo substituiu a crença. E como o argumento era que não se
podia testar as reivindicações morais da religião num tubo de
ensaio, os conceitos cristãos de responsabilidade pessoal, pecado,
ética e justiça foram rejeitados.

Essa seria, em linhas gerais, a situação da cultura ocidental até a


década de 1950. Mas, então, o alicerce da verdade mudou
novamente. A marcha da história humana foi da pré-modernidade
e de sua confiança no sobrenatural para a modernidade e sua
confiança no simplesmente natural, até chegar ao século xx e ao
nascimento da pós-modernidade e de sua confiança não no
sobrenatural ou no simplesmente natural, mas no Übermensch, o
super-homem. Neste admirável mundo novo, o indivíduo surge
como a única fonte de verdade e esmaga até mesmo os fatos
empíricos conhecidos pelos cinco sentidos. Tudo é subjetivo. Nada
é objetivo. Tudo é construído. Nada é revelado.

No caso da pré-modernidade, a verdade vinha de Deus e,


portanto, aplicava-se a toda a humanidade. Na modernidade, a
verdade ainda era considerada universal, mas só era cognoscível
através da ciência e do estudo empírico. Na pós-modernidade, a
verdade tornou-se pouco mais do que sentimentos subjetivos e só
era cognoscível pelo indivíduo. Não existe Verdade com V
maiúsculo, mas apenas “verdades” subjetivas que variam de
indivíduo para indivíduo. Quando os comentadores de assuntos
culturais falam de pós-modernidade, é a isto que se referem: uma
época em que a verdade e a moralidade não são vistas como
provenientes de qualquer outra fonte que não eles próprios. O que
Arthur W. Pink, professor inglês e estudioso da Bíblia, afirmou na
última metade do século xx resume bem a situação: “A nossa época
é de uma peculiar irreverência e, como consequência, de um
espírito de anarquia que não tolera restrições e é desejoso de se
livrar de tudo que interfere no livre curso da própria vontade,
espírito que está rapidamente engolfando a terra como um
gigantesco maremoto”.

Na pós-modernidade, somos os Übermensch, os super-homens.


Nós definimos o que é verdadeiro e falso. Não precisamos da
ciência e certamente não precisamos de Deus. Como disse Barack
Obama durante sua posse na presidência em 2008: “Somos aqueles
por quem esperávamos. Nós somos a mudança que buscamos”. Em
outras palavras, somos deuses!

O coração da rebelião dos flocos de neve, dos alertas de gatilho e


das microagressões, dos espaços seguros e dos códigos de fala é
construído sobre a premissa do relativismo. O que está
acontecendo nas nossas universidades é o resultado de ensinarmos
várias gerações a acreditar que a forma como se sentem é muito
mais importante do que os fatos, e que aquilo que ouvem é muito
mais importante do que aquilo que lhes foi dito. Talvez haja algum
mérito na ideia otimista de que as vítimas do vampiro estão
finalmente despertando e vendo-o como o monstro que é, mas é
inútil acreditar que os tubos de ensaio partidos da modernidade ou
as areias movediças da pós-modernidade possam levar a uma
solução viável.

Como podemos ter a esperança de recuperar a nossa base cultural


se não houver uma rocha da verdade sobre a qual nos apoiarmos?
Tendo apenas areia e vidro quebrado como material de construção,
ninguém deveria ficar surpreso ao ver nossa casa desmoronando.

Seus sentimentos estão nos matando


Nossa base cultural não tem integridade estrutural. E o que torna
as coisas ainda piores é que há um rio subterrâneo que a destrói
enquanto falamos, corroendo-a e enfraquecendo-a a cada minuto.
A estrutura social que é fundamental para agir e viver como adulto
está como o Coliseu Romano: rachado, abalado e pronto para cair.

Nossa cultura tornou-se obcecada por pão e circo. Enquanto


nossas barrigas estiverem cheias e nossos intelectos entorpecidos,
marcharemos como ratinhos estúpidos rumo à própria destruição.
A paixão pelo socialismo, as alterações climáticas, a ontologia da
identidade trans, a supressão da liberdade de expressão nos campi
universitários — tudo isso é o resultado da elevação dos
sentimentos acima dos fatos. Se não forem controladas,
continuarão a destruir tudo o que resta de uma sociedade livre e de
um povo livre.

No caso “Planned Parenthood contra Casey”, de 1992, Anthony


Kennedy, antigo juiz do Supremo Tribunal, fez a declaração
definitiva do nosso tempo, o resumo da mentira que é o relativismo
radical. Ele declarou: “No cerne da liberdade está o direito de
definir o próprio conceito de existência, de significado, do universo
e do mistério da vida humana”.

Parabéns, você acabou de ler algumas das bobagens mais vazias já


proferidas pelos altos escalões do poder dessa nação.

Como assim?

Suponhamos que você seja um estudante que começou agora a


faculdade. Você acabou de se matricular em seu primeiro semestre
na minha universidade, escolheu uma especialização acadêmica,
comprou todos os livros didáticos, estudou todos os programas e
anotou todas as tarefas. Você está no caminho para realizar seu
objetivo de obter um diploma de graduação ou pós-graduação.
Você finalmente está na faculdade e terá suas aulas. Você está
pronto para aprender.

Agora vamos avançar. Já se passaram quatro anos. Você acabou de


completar a última semana, a semana das provas finais, e chegou o
dia da formatura. Você está prestes a se formar. Finalmente chegou
o momento que você tanto esperava. O orador termina e você se
levanta com todos os outros formandos para se aproximar do
palco. Chamam seu nome. O reitor acadêmico lhe entrega seu
cordão de honra. 57 Sua família está na plateia, vibrando. Você
atravessa o palco com orgulho, indo na minha direção. Nós nos
unimos em um vigoroso aperto de mãos enquanto eu lhe entrego
seu tão esperado diploma. Eu me inclino e sussurro no seu ouvido:
“Parabéns! Agora você é formado em opiniões”.

Depois de quatro longos anos de estudo, oito semestres de aulas,


inúmeras noites revisando para provas, dezenas e dezenas de testes
e trabalhos — depois de tanto trabalho duro, tenho a audácia de
entregar a você um diploma e basicamente dizer: “Realmente não
importa no que você acredita, desde que funcione para você. Aqui
está o seu diploma em opiniões”.

Isso seria ridículo, e o absurdo dessa situação seria óbvio.

Todos sabemos que você não foi para a faculdade para se formar
em “qualquer coisa” ou para se formar em “opiniões”. Você não foi
“definir seu próprio conceito de existência, de significado, do
universo e do mistério da vida humana”. Pelo contrário, você foi
para a faculdade para realmente aprender alguma coisa.

No final das contas, no dia da formatura, sua opinião e “seu


próprio conceito de existência” não importam de verdade, nem o
meu. O que importa é bastante simples. Você aprendeu o que era
exigido de você?

Você não pode fingir que é uma pessoa com boa formação se tudo
o que você tem é uma opinião. Existem verdades indiscutíveis que
servem de lastro para qualquer diploma universitário significativo.
Obter uma formação requer aprender tais verdades, e não apenas
se apegar às suas opiniões. Afirmar o contrário é simplesmente
absurdo.

A pós-modernidade e os seus sábios, como o juiz Kennedy,


argumentam que não existe esse negócio de verdade objetiva e que
todos os valores, toda a moralidade e todas as ideias de certo e
errado e de bom ou mau são meros produtos de uma “narrativa
comunitária” contínua ou de um diálogo social dentro da “aldeia
global”.

Conforme essa mentalidade, a verdade é uma construção, não um


preceito. É uma conversa, não uma conclusão. A verdade não é
realmente verdade. É tudo uma questão de opinião. Todos nós
temos “o direito de definir [nosso] próprio conceito de existência,
de significado, do universo e do mistério da vida humana”.

Será que realmente acreditamos nisso e estamos dispostos a


conviver com as consequências de tais ideias ruins?

Todos nós sabemos intuitivamente que esses alicerces são fracos e


que o edifício vai desabar. Todos nós sabemos que se não sairmos,
e em breve, ele vai desmoronar e nos matar.

A conta do mecânico
Lembra dos problemas com o carro do meu amigo? Ele recebeu
quinze opiniões dos amigos. Levou essas informações ao mecânico.
O mecânico escutou, mas sabia que seria pelo seu próprio trabalho
que ele descobriria qual era o problema real.

Esse especialista ouviu o barulho estranho e conectou o scanner


de diagnóstico no computador do carro. Isso gerou um código. O
código delimitou a lista de possibilidades. Em seguida, o mecânico
desmontou o motor para ver qual era o real problema com ele.
Uma vez obtido um diagnóstico para o problema, ele começou a
trabalhar para consertá-lo.

Quando meu amigo pegou o carro, o mecânico lhe disse qual era
o verdadeiro problema. Meu amigo poderia ter dito a ele que não
era verdade e alegado que uma das outras quinze ideias estava
correta apenas porque elas lhe pareciam melhores. Ele poderia até
ter dito isso com grande paixão.

Mas nada disso teria importância, porque o mecânico mostraria


ao meu amigo um carro que funcionava. Não importava o que meu
amigo sentia e quais eram suas opiniões, o motor era real, tinha
problemas reais e precisava de soluções reais. Os sentimentos do
meu amigo não iriam resolver isso, nem as opiniões dos amigos
dele. O mecânico, que realmente olhou para a verdade objetiva da
questão, sabia o que fazer. Os outros poderiam ficar secando gelo.

A verdade é verdadeira mesmo que ninguém acredite nela, e a


falsidade é falsa mesmo que todos acreditem nela. A verdade sobre
o carro era verdade e ponto final. A verdade é o que importa. Não
discuta com o mecânico.

lição vi: Você não é o Aurélio


As palavras: tão inocentes e impotentes quando estão num dicionário, como se tornam
potentes, para o bem e para o mal, nas mãos de alguém que sabe como combiná-las!
— Nathaniel Hawthorne

O campo já está definido

C reatio ex nihilo é uma frase latina usada para descrever um


ponto teológico e ontológico central: a criação a partir do nada.
É um termo que captura o evento central de Gênesis 1.1: “No
princípio, Deus criou […]”.

Deus criou este universo e o fez do nada. Sem matérias-primas.


Não usou nada. Ele, e só Ele, definiu o campo. Como disse Billy
Preston: “Nada do nada gera nada, você precisa ter alguma coisa, se
quiser ficar comigo […]”. 58

Creatio ex nihilo compete a Deus, e a ninguém além de Deus.


Reles criaturas não conseguem criar do nada como faz o Criador. E
não importa o que lhe disseram, existe um Deus, e não é você. O
mundo não é o barro nas suas mãos. Não é uma tela em branco.
Não é o que quer que você queira fazer dele.

Pois bem, você ainda é capaz de muita coisa, embora não possa
criar o universo do nada. Como você foi criado à imagem de Deus,
como um ser humano moralmente consciente e passível de culpa,
você tem liberdade criativa e responsabilidade pessoal. Você não é
um robô. Sua carreira, por exemplo, é algo que você pode definir e
criar. Da mesma forma, está ao alcance das suas mãos, em grande
parte, criar, moldar e aprimorar sua reputação. Porém, tratando-se
de grande parte do mundo em que você vive e trabalha, o campo já
está definido. Os limites já estão definidos. Os objetivos estão
postos. Existem regras para o jogo. Fora de campo é fora de campo,
falta é falta e há um árbitro que apita.

A despeito do que diz B. F. Skinner, temos a capacidade de fazer


muito, mudar muito e criar muito. Mas também existe muita coisa
que simplesmente é do jeito que é, e você não tem nenhum direito
ou poder para mudar ou redefinir isso. Fatos são fatos e ponto final.
Não, Bill Clinton, a definição de “é” não está sujeita à sua agenda
política ou à sua fantasia sexual. Há algumas coisas que
simplesmente são o que são. A verdade é verdadeira e a falsidade é
falsa e ponto final.

No capítulo anterior, falamos sobre a mentalidade distorcida do


relativismo, que coloca você como o centro do mundo. De acordo
com essa visão deturpada do mundo, você é o grande intérprete, a
autoridade final e o definidor de tudo. Você estabelece suas
próprias verdades. Você cria seus próprios valores. Você cria suas
próprias regras. Você decide o que é bom e mau, amargo e doce,
verdadeiro e falso, porque, afinal, não importa no que você
acredita, desde que funcione para você. Essa é uma visão de mundo
que chamei de “tanto faz”, porque sempre que qualquer valor ou
ideia estiver em debate, você pode simplesmente dar de ombros e
dizer “tanto faz”. Essa filosofia argumenta que, essencialmente,
nada importa além do indivíduo e da sua satisfação pessoal. Viva e
deixe viver. Afinal, quem vai julgar?

Tenho a esperança de que você já tenha entendido essa charada e


compreendido que se trata de um conto de fadas de unicórnios e
duendes dançantes. Simplesmente não é real. É uma terra de faz de
conta e imaginação. Não só ignora os fatos empíricos da Biologia e
da Física, mas também ignora a realidade da lei natural e do bom
senso.

Por exemplo, todos nós precisamos admitir que existem algumas


verdades morais que sabemos serem objetivamente verdadeiras e
que não podemos testar num tubo. Espero que todos possamos
concordar que é objetivamente verdade que o estupro é errado, o
Holocausto foi ruim e a escravidão é uma péssima ideia. Não se
pode “provar” nada disso em laboratório, mas acho que todos
podemos admitir que podemos saber, e ainda o sabemos, de modo
irrefutável, que tudo isso é completamente errado, independente de
sentimentos alheios. Sentimentos não mudam os fatos indiscutíveis
da ciência, e os seus sentimentos também não mudam a dura e fria
realidade de que usar o corpo de outra pessoa, comprar e vender
outros seres humanos e queimar judeus em fornalhas não são boas
coisas de se fazer. Afinal, você não pode discutir com o mecânico.
Algumas coisas sobre um motor são simplesmente verdadeiras.

Repetindo: no campo ontológico da criação, há algumas coisas


que simplesmente são o que são. As linhas que marcam o campo já
estão traçadas. Os limites estão definidos. O livro de regras está
escrito. Ele não pode ser manipulado para ser o que você gostaria
que fosse. Vivemos num mundo real com fatos estabelecidos, e
negar esses fatos não os altera. Pular de um avião gritando “Eu
posso voar” não altera nem anula a lei da gravidade. Fingir que o
mundo é plano não muda o fato de que você ainda pode navegar ao
redor dele. Sugerir que o mal do estupro é uma construção social, e
não um mal absoluto, fará você ganhar alguns pontos na
convenção dos guerreiros da justiça social. Existem absolutos.
Existem verdades objetivas. E essa é a verdade.

O fato é que, durante grande parte da sua vida, você receberá um


conjunto de cartas e deverá jogar com a mão que recebeu. Você é
negro. Você é branco. Você é hispânico. Você é asiático. Você é
judeu. Você é homem ou você é mulher. Você é cego. Você
consegue ver. Você é surdo. Você consegue ouvir. Você é baixo.
Você é alto. Essas são as cartas que você recebeu. Você não pode
mudá-las. Elas simplesmente existem. São o que são. Jogue com
elas. É a sua mão.

Como boa parte do campo está definido, todos nós precisamos


perceber que a única maneira de vencer o jogo é jogar dentro dos
limites estabelecidos. Você não pode jogar futebol com três bases,
um home plate 59 e um campo triangular. Beisebol é beisebol,
futebol é futebol. Ambos os esportes têm uma definição e um
propósito. Ambos significam alguma coisa. Todos nós devemos
jogar o jogo em que estamos. Fingir que basquete é hóquei não faz
com que de fato seja.
Uma das principais realidades do campo da existência humana
que está sendo atacada e ignorada neste momento é a definição e o
significado das palavras. Estamos tratando o discurso e as palavras
como se não significassem nada e fossem tão flexíveis e modeláveis
quanto o barro.

Mas, em geral, todos sabemos intuitivamente que as regras da


linguagem foram estabelecidas e, na verdade, elas devem mesmo
ser estabelecidas. Se quisermos nos comunicar uns com os outros
de forma sensata e inteligente, um pônei não pode ser um peixe e
um peixe não pode ser uma galinha.

O significado das palavras deve ser objetivo, previsível e


duradouro. Francamente, isso é evidente e irrefutável, porque, se
não fosse assim, você leria esta frase e não teria esperança alguma
de entender o que ela diz. A própria natureza do falar, ler e escrever
pressupõe, obviamente, clareza de definição; caso contrário, a
comunicação diária normal tornar-se-ia tão impossível quanto
tentar jogar futebol sem campo ou bola. Quando se trata de um
dicionário, os fatos importam, não os seus sentimentos. Você pode
sentir que o vermelho é um número. Mas não é. Você pode sentir
que dois mais dois é igual a verde. Mas isso não existe. Você pode
sentir que os cães são cavalos quarto de milha 60 e que o seu
labrador põe ovos. Mas ele não vai fazer isso. Em todos esses
exemplos, nenhum dos seus sentimentos muda os fatos sobre o que
realmente “é”. As definições são importantes. Suas ilusões, não.

Grande parte do descarrilhamento da verdade na nossa cultura


atual decorre do abuso e desrespeito que sofrem as palavras e seus
significados.

Muitos termos que estão sendo usados hoje para moldar nosso
país e nossa cultura — a sua vida e a minha — estão sendo usados
mais para enganar do que para esclarecer.

Eu sou um liberal
Tomemos a palavra “liberal”, por exemplo. Ela tem uma história e
uma definição. Isso significa alguma coisa.

Sou um cristão evangélico ortodoxo e conservador. Há anos


levanto a bandeira da causa conservadora. Mas aqui está algo que
pode surpreendê-lo. Como conservador ponderado, sou, para falar
a verdade, mais próximo do liberalismo clássico do que muitos dos
meus homólogos progressistas de centro-esquerda.

Como assim?

Bem, é uma simples questão de definição.

O que comumente se entende hoje por liberalismo denuncia que


se trata de uma daquelas palavras que foram cooptadas para fins
políticos, distorcidas e viradas de cabeça para baixo para significar
exatamente o oposto do que pretendiam significar. Foi manipulada
e redefinida da mesma forma que um “Ministro do Significado” de
um romance de Orwell, instalado numa sala cheia de fumaça,
poderia decidir que “amargo” agora significa “doce”, e “doce” agora
significa “amargo”. E você e eu acreditamos na mentira. Não
tivemos fibra de dizer ao Grande Irmão e seus subordinados que
eles estavam mentindo para nós. O resultado é que a verdadeira
definição da palavra “liberal” foi praticamente esquecida.

Por mais evidente que seja, tenho que repetir isto para enfatizar:
as palavras têm significado! Como seres humanos, somos únicos
no uso da linguagem como principal método de comunicação.
Debatemos e discutimos. Fazemos discursos e proferimos sermões.
Damos aulas. Pontificamos, pregamos e proclamamos.
Defendemos ideias liberais e conservadoras. Nossas “ideias
maiores” são formuladas e defendidas com emoção, paixão, raiva e
indignação. Confiamos nas nossas palavras e resistimos a qualquer
tentativa de cooptar, distorcer ou manipular o significado delas.
Defendemos nossas palavras com tenacidade. Se elas enganam, nós
as chamamos de mentiras. Se elas encorajam, nós as chamamos de
inspiradoras. Se fazem promessas, nós as chamamos de contratos.
As palavras realmente têm significados, e a história mostra que têm
o poder de construir nações, definir religiões, inspirar revoluções,
defender o que é verdadeiro ou mesmo esconder o que é falso.

Mas, apesar de tanto poder, algumas palavras são usadas com


tanta frequência e frivolidade que sofrem por falta de cuidado.
Como resultado, perdem-se suas raízes, suas origens, suas
intenções e seus propósitos. Palavras como “mudança” e “escolha”,
“verde“ e “gay”, 61 “esquerda” e “direita”, “tolerância”, “integração” e
“discriminação” — até mesmo palavras como “liberal” e
“conservador”, se não forem bem cuidadas — podem ser usadas
para defender conceitos bastante contrários e talvez até opostos ao
seu significado original.

Volto agora à minha afirmação que pode ter chocado você quando
a disse pela primeira vez. Como conservador sem remorsos, as
minhas credenciais “liberais” irão se equiparar muito bem às de
qualquer um dos meus colegas nos espaços acadêmicos, políticos,
sociais ou religiosos dos nossos dias. Comparado com quase todos
eles, sou o verdadeiro liberal!

Sou um liberal porque acredito que a melhor educação é aquela


que de fato liberta. Liberta-nos das consequências das coisas que
são erradas e nos dá a liberdade de viver dentro da beleza das
coisas que são certas.

Sou liberal por causa da minha paixão pela educação em artes


liberais. Uma verdadeira educação em artes liberais é uma
educação movida mais pela fome de respostas do que pela proteção
de opiniões, uma educação que não está sujeita ao fluxo e refluxo
de agendas pessoais ou modismos políticos, uma educação que não
tem medo de colocar todas as ideias na mesa porque confia que, no
final, abraçaremos o que é verdadeiro e descartaremos o que é
falso.
Sou liberal porque acredito na liberdade — liberdade de
pensamento e expressão, e na liberdade de discordar do consenso.
Sinto-me energizado pela busca da verdade sem peias, aonde quer
que ela me leve, assim como confio nas palavras: “Conhecereis a
verdade, e a verdade vos libertará”.

Sou liberal porque acredito que a verdade não pode ser segregada
em falsas dicotomias, mas é um todo integrado. A pessoa educada
liberalmente reconhece que não podemos e não devemos separar a
vida pessoal da vida privada, a cabeça do coração, os fatos da fé ou
a crença do comportamento.

Sou liberal porque acredito na conservação. Existem ideias


testadas pelo tempo, defendidas pela razão, validadas pela
experiência e confirmadas pela revelação que devem ser
conservadas. Na verdade, fomos dotados pelo nosso Criador de
uma compreensão moral objetiva. Acredito na natureza e em sua
lei natural. Sabemos que o estupro é errado, que o Holocausto foi
ruim e que o ódio e o racismo devem ser duramente criticados.
Embora não possamos produzir essas verdades num tubo de
ensaio, consideramos que são leis evidentes que nenhum ser
humano pode negar.

Sou liberal porque reconheço que trocamos a verdade pela


mentira quando construímos um castelo de cartas que cairá pelas
mãos de homens em busca de controle e poder. A história nos diz,
repetidas vezes, que negar o que é certo e verdadeiro, e abraçar o
que é errado e falso, é cair vítima do domínio do bando ou da
tirania alheia. Não precisamos de ir além de Mao, Mussolini, Stalin,
Pol Pot ou Robespierre para encontrar as provas disso.

Sou liberal porque acredito na liberdade. Acredito que a liberdade


é a antítese da escravidão e a escravidão é o resultado inevitável das
mentiras: mentiras sobre quem somos como pessoas, mentiras
sobre o que é certo e o que é errado, mentiras sobre o homem e
mentiras sobre Deus.
O desrespeito pelo significado objetivo das palavras levou-nos a
acreditar que os liberais são aqueles que querem menos liberdade
em vez de mais liberdade. Os esquerdistas distorceram a realidade
e a viraram de cabeça para baixo. Em seu léxico fluido do arco-íris,
o amor agora é sinônimo de sexo e o ódio agora é sinônimo de
amor. Homens são mulheres e mulheres são homens. Realmente
chegamos ao ponto em que vermelho é um número e dois mais
dois é igual a verde.

Todas essas mentiras levaram a nossa cultura a se afastar dos


valores exigidos por uma sociedade virtuosa. Tudo começa com as
pequenas coisas, como definições de palavras do dia a dia. O
afastamento dos limites estabelecidos para o campo de jogo
significa um afastamento da ideia de verdade absoluta. E deixar de
atribuir significados verdadeiros às palavras nos tornou descrentes
de qualquer esperança de ver a realidade como ela realmente é.
Colocou-nos na matrix, governados e dominados pelo que quer
que os pirralhos de esquerda vociferem naquele dia. Isso não é um
bom presságio para uma sociedade que outrora aspirou ao bom
governo e à virtude.

Libertado pela Verdade


Uma das perguntas mais importantes que você pode se fazer é esta:
hoje somos realmente livres ou estamos nos tornando cada vez
mais escravizados pelas construções do Übermensch — o super-
homem —, dos poderosos, das elites, dos “mais aptos” que
sobreviveram nas arenas políticas das campanhas ou dos campi?

Somos livres para viver dentro dos limites da justiça que vêm da
educação liberal clássica — da Uni-versidade, da Uni-veracidade,
da Uni-verdade — ou estamos nos tornando cada vez mais
limitados pelo pensamento grupal, pelo politicamente correto e
pelo poder das massas — o que M. Scott Peck chama de mente
humana diabólica?
Veja bem, a boa educação deve basear-se no respeito conservador
pelo que é imutável, justo e real. Deveria procurar recuperar o que
foi cooptado e revelar o que foi comprometido. Uma boa educação
deve ser isenta de intimidação e respeitar a investigação aberta e o
direito à divergência. Deveria ter confiança na medida da verdade
— aquele padrão inalienável que é maior e melhor do que a
multidão ou o consenso.

A educação — uma educação boa e liberal — ensina aos jovens a


arte de buscar a verdade, e não a de construir opiniões. Como
Martin Luther King Jr. nos disse em sua carta da Prisão de
Birmingham, a boa educação visa a conservar as virtudes imutáveis
que servem como a mais forte justificativa para a luta contínua pela
liberdade, pela libertação e pela autonomia. Não tenho certeza se
alguém pode realmente se autodenominar liberal se não
compartilhar essas ideias conservadoras básicas.

Ao que parece, dificilmente se passa um dia sem que o apelo por


“espaços seguros” e “códigos de fala” não seja manchete. Essas
inúmeras histórias mostram que colégios e universidades são, hoje,
mais bastiões do fascismo ideológico do que baluartes da liberdade
de expressão, lugares onde tanto estudantes como professores são
mais apaixonados por restringir o debate do que por defender a
liberdade de discordar.

Talvez uma visita à História da Educação ajudasse a todos nós.


Faríamos bem em lembrar a rica herança acadêmica nas artes
liberais e o seu compromisso milenar com a liberdade de discurso,
a liberdade de expressão, a liberdade de investigação e a liberdade
de pensamento. Todos nós ficaríamos um pouco melhor se
refletíssemos por um momento sobre os ideais mais elevados do
liberalismo clássico e da liberdade humana.

A resposta aos motins e rebeliões que vemos nos campi, de costa a


costa, de Berkeley a Brown, e em muitos outros campi universi
tários entre os dois, 62 não se encontra na tirania da falsa
“tolerância” ou na segurança ideológica dos “avisos de gatilho”. Não
se encontra em mais restrições e em mais legalismo. Não se
encontra na perpetuação da vitimização, da violência ou da
vingança. Encontra-se no regresso à antiga missão de uma
universidade de artes liberais: na veritas, na busca da verdade e na
prática da sabedoria, em sermos homens e mulheres de virtude, e
não de vício. Lembre-se do que C. S. Lewis nos disse em As
Crônicas de Nárnia: a resposta é sempre encontrada no que é bom,
não no que é seguro.

A liberdade humana, intelectual ou não, não nasceu em Berkeley,


mas sim numa comunidade chamada Belém, há cerca de dois mil
anos. Os princípios fundamentais do ensino superior estão
alicerçados na Palavra, naquela Verdade que se fez carne e habitou
entre nós. Está fundamentada no Logos, o “alfabeto” que existe
desde sempre, eternamente: o alfa e o ômega, o começo e o fim, a
creatio ex nihilo.

A liberdade, que as escolas da nossa nação tanto afirmam prezar,


encontra a sua casa não num campus perto das praias arenosas da
nossa costa oeste, mas sim num estábulo sob as estrelas na antiga
Israel. A liberdade de expressão (em Berkeley ou em qualquer
outro lugar) nunca foi alcançada fora do contexto da admoestação
fundacional — ouso dizer, admoestação bíblica —, declarada de
forma muito sucinta no próprio lema fundador de Berkeley: Fiat
Lux, “Faça-se a Luz”.

Qualquer pessoa que leve a sério a aprendizagem, seja professor


ou aluno, deve ser guiada pela objetividade implícita dessa “Luz” —
pelo imutável, e não pelo maleável; pelo certo, pelo justo e pelo
verdadeiro, não pelas construções transitórias de tolerância, avisos
de gatilhos, espaços seguros, microagressões e tudo o que calha de
ser politicamente correto em um determinado dia. Como disse Os
Guinness: “Toda verdade é verdadeira mesmo que ninguém
acredite nela, e toda falsidade é falsa mesmo que todos acreditem
nela. A verdade é verdadeira e ponto final”.
O objetivo da universidade, seja Berkeley ou Baylor, deveria ser
aquilo que é fato, e não a mais nova moda que logo passará. A
honestidade exige que busquemos com coragem as ideias testadas
pelo tempo, defendidas pela razão, validadas pela experiência e
confirmadas pela Revelação. Só encontraremos a verdade quando
depositarmos nossa confiança nela, e não em nós mesmos. Só
aprendemos quando amamos a verdade o suficiente para medir
todas as ideias com uma régua que está além das coisas que estão
sendo medidas e estamos dispostos a descartar as ideias que
consideramos intoleráveis, inferiores e inúteis.

A história ensina, repetidamente, que o poder político sempre


ergue o seu punho furioso quando princípios atemporais são
esquecidos. Sabemos que, sem a escala de “verdades autoevidentes”
fundamentadas nas “leis da natureza e no Deus da natureza”, toda
cultura acabará por se ver sujeita ao domínio do bando ou da
tirania do indivíduo. Reconhecendo isso, estudiosos e sábios de
todas as épocas entregaram com confiança seus corações e mentes
às palavras: “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”.

Também faríamos bem em lembrar que Deus ri da sabedoria do


homem. Nossas verdades devem sempre ser medidas considerando
a Sua Verdade com V maiúsculo. Nossa sabedoria não é melhor do
que “sua tolice”. Como diz 1 Coríntios 8: “Às vezes, tendemos a
pensar que sabemos tudo o que precisamos saber […] mas às vezes
nossos corações humildes podem nos ajudar mais do que nossas
mentes orgulhosas. Nunca sabemos o suficiente até reconhecermos
que só Deus sabe tudo”. 63

Quando comprometemos a definição das palavras e seus


significados, comprometemos a nossa capacidade de debater ou
discordar. Deixamos de ser pensadores críticos e nos tornamos
pouco mais do que papagaios repetidores do que é popular e está
em voga. C. S. Lewis expressou esse tipo de mudança ao repreender
o agnóstico (lembre-se de que ele foi agnóstico durante a maior
parte de sua vida) em O grande divórcio:
Nossas opiniões não foram obtidas honestamente. Simplesmente
nos encontramos em contato com determinada corrente de ideias
e mergulhamos nela porque nos parecia moderna e bem-
sucedida… Você sabe, começamos a escrever automaticamente o
tipo de redação que recebia boas notas e a dizer o tipo de coisa
que ganhava aplausos. Quando, em toda a nossa vida,
enfrentamos com honestidade, na solidão, a única questão sobre a
qual todos se voltam, a saber: se, no final das contas, o
sobrenatural poderia de fato não existir? Quando foi que
resistimos, por um momento, à perda da nossa fé? 64

A liberdade é encontrada na verdade. A liberdade, a verdadeira


liberdade intelectual, por vezes é encontrada na conservação das
ideias testadas pelo tempo, não em uma corrida inconsciente atrás
da última moda. Somente nos submetendo à Verdade de Deus,
uma verdade fora de nós mesmos, estaremos livres das vicissitudes
dos homens.

Andando no gelo
A jornada da vida é análoga à travessia de um lago congelado no
início da primavera. Grande parte do gelo é fino, e sabemos muito
bem que não podemos e não devemos pisar nele. O segredo para
evitar o desastre é procurar os locais onde o gelo é firme e sólido.

É preciso procurar o que é resistente e evitar o que é fino. Ou, dito


de outra forma, você tem que procurar o que é duradouro e ficar
longe do que está derretendo.

Navega-se melhor no lago pisando no gelo que é, hoje, o mesmo


de ontem. Da mesma forma, navegamos melhor pela vida
adotando ideias que significam, hoje, a mesma coisa que
significavam há dois mil anos. É bem simples. Aquilo que não
mudou, mesmo após o fim da cultura que lhe serviu de
nascedouro, é a aposta mais segura. Essas ideias e crenças
provavelmente tiveram um motivo para não mudar. Elas ainda são
sólidas e resistentes porque foram testadas repetidas vezes ao longo
da história e provaram ser firmes e confiáveis.

O princípio aqui é exatamente o mesmo descrito anteriormente,


na parábola de Cristo sobre a construção na areia ou na rocha. A
diferença está na fundação. Uma era sólida e a outra, frágil. A base
sólida é verdadeira. A frágil derrete e desmorona.

Jesus foi muito claro: nossas vidas devem ser construídas sobre
Suas verdades duradouras — sobre gelo grosso e rocha dura, ou
como Chesterton disse certa vez: “O objetivo de abrir a mente,
semelhante ao de abrir a boca, é fechá-la com algo sólido dentro”.

Quer lhe chamemos de gelo fino ou de areia movediça, uma base


construída sobre verdade relativa, objetivos cambiantes e definições
feéricas resultará em colapso e fracasso. É a antítese de amadurecer
e viver como adulto. É uma adolescência perpétua e uma tolice
juvenil.

Palavras têm definições. Os significados não mudam só porque


você ou eu queremos. Aurélio escreveu seu dicionário, e você não é
o Aurélio.

lição vii: Amor perdido


No final, não nos lembraremos das palavras de nossos inimigos, mas do silêncio dos
nossos amigos.

— Martin Luther King Jr.

S enação,
você acompanhar honestamente as guerras culturais na nossa
terá de admitir que as ideias e valores que outrora
serviram como pedras angulares da república constitucional já não
são compreendidos, e muito menos transmitidos de uma geração
para outra, como deveriam ser. As virtudes fundamentais que
outrora serviram de base sobre a qual a nossa sociedade livre foi
construída já não são sequer reconhecidas ou devidamente
definidas.

Uma das vítimas desta guerra de ignorância é a virtude do amor,


também conhecida como caridade cristã. Presume-se hoje que
amor significa tolerância e tolerância significa amor. Mas mesmo
uma compreensão superficial desses dois termos mostra que não
são a mesma coisa, nem têm o mesmo peso e valor moral. Tolerar
alguém não significa que você se preocupe com ela, muito menos
que a ame. Como eu disse uma vez a Bill O’Reilly quando estava
em seu programa: “No seu aniversário de casamento, você não
enviou um cartão à sua esposa com ‘Eu tolero você’ escrito, e existe
um motivo para isso. O resultado não teria sido bom. A tolerância
é uma virtude inferior. Ela diz: ‘Eu realmente não me importo, faça
o que quiser’. O amor, por outro lado, é uma virtude superior. Ele
diz: ‘Eu me importo profundamente, o suficiente para dizer que
você pare’. A tolerância diz: ‘Não dou a mínima’. O amor diz: ‘Eu
me importo muito’. Não enviamos cartões com ‘Eu tolero você’
escrito para aqueles que amamos”.

A tolerância, como é praticada atualmente, se estende apenas


àqueles que aceitam a agenda progressista e se alinham com
pensamentos, atitudes e visões políticas aprovadas pela esquerda.
Os líderes do movimento de esquerda são tão “tolerantes” que se
sentem compelidos a rejeitar, se não eliminar por completo,
quaisquer pontos de vista que discordem dos seus. A sua
intolerância por qualquer coisa que se pareça minimamente com
um ponto de vista tradicional fica às claras quando, sem nenhum
pudor, desprezam cristãos e judeus, dizendo-lhes que são
intoleráveis. Eles são tão tolerantes que protestam contra pessoas
como Ben Shapiro, Dennis Prager e Star Parker, bem como contra
secularistas de mente aberta como Dave Rubin e Adam Carolla. A
tolerância diz que todos são bem-vindos, a menos que você seja
Sarah Huckabee Sanders, Candace Owens ou Clarence Thomas.

O movimento de tolerância teve de se redefinir continuamente,


aumentando sem parar a lista de palavras e crenças aceitáveis e
inaceitáveis. Há um policiamento constante por parte dos que estão
no poder. A liberdade religiosa é ridicularizada. Cada dia traz
novas regras e restrições em relação ao que se pode pensar e dizer.
Na sua essência, esse movimento tem relação com autoridade e
controle. A tolerância contemporânea tornou-se pouco mais do
que uma experiência velada, como algo saído do Admirável mundo
novo, de Huxley. Qualquer pensamento livre é uma ameaça ao
poder da agenda progressista.

O que é o amor?
Há 35 anos, Tina Turner liderou as paradas da Billboard ao
perguntar: “O que o amor tem a ver com isso?”. Quando se trata de
construir uma sociedade livre e virtuosa, a resposta é: tudo. Uma
pessoa verdadeiramente amorosa se importa o suficiente para
discordar. O amor pressupõe a liberdade de ambas as partes
sugerirem que a outra está errada. Assume a obrigação de ficar no
caminho de alguém que está machucando a si mesmo ou aos
outros e mandar-lhe parar. O amor tenta impedir que outras
pessoas se destruam. Ele não apenas tolera o mau comportamento.
Pais amorosos recusam-se a permitir que os filhos façam coisas
sem sentido. Eles são intolerantes o suficiente para mandar o filho
não andar no meio da rua. Eles não toleram que a filha encoste no
fogão quente. O pai que ama seu filho fica na cozinha e diz: “Pare”.

Da mesma forma, um verdadeiro amigo nos diz quando estamos


errados. Se você está incentivando, e não confrontando um amigo
que erra, você deveria pensar se é mesmo amigo dessa pessoa.
Todos nós precisamos saber quando estamos errados e que
devemos parar se estivermos fazendo coisas autodestrutivas e sem
sentido.

Se o seu objetivo for sempre contemporizar, o resultado será,


inevitavelmente, o arrependimento. Ao “tolerar” ou mostrar apoio
a comportamentos que sabemos serem ruins para nossos amigos,
não estamos fazendo nenhum favor a eles. Não estamos provando
nosso amor; estamos demonstrando nossa apatia. Devemos querer
o melhor para aqueles que amamos, e isso significa que temos que
estar dispostos a dizer-lhes que estão fazendo algo prejudicial para
si mesmos — seja para o corpo ou para a alma — quando
acreditamos nisso.

Por outro lado, a tolerância esquerdista exige que abandonemos


os nossos amigos a qualquer código “moral” que esteja na moda
em determinado momento. A tolerância esquerdista é perigosa. É
instável. Ela é constantemente sacudida pelos ventos das modas
políticas e exercida por aqueles que buscam o poder. A tolerância
radical não permite qualquer discussão. Não possui um padrão
consistente e seu alvo está sempre em movimento. A tolerância da
esquerda não permite que alguém desafie o que é popular. A
tolerância, tal como é definida hoje, pode rapidamente
transformar-se em tirania. Esmaga o debate, ridiculariza a
dissidência e busca o controle. Silencia a fala e é contrária à
liberdade.

Os progressistas desfilam neste admirável mundo novo


completamente nus, vestindo apenas as roupas de “inclusão e
aceitação” do seu imperador. Nestes tempos “tolerantes”, aqueles
que agitam as suas bandeiras do “amor” aguardam com ansiedade
o dia de se sentarem no Coliseu e se divertirem ao ver de joelhos
todos os que ousam discordar da sua nova ortodoxia. Este mundo
de inclusão é aquele em que os que condenam os outros por serem
críticos anseiam pelo dia em que escolherão quem será banido da
sociedade educada por pensar por si próprio.
A hipocrisia de tudo isso é manifesta naqueles que
voluntariamente abriram mão de uma das maiores liberdades que
todos os seres humanos têm, a liberdade de pensamento. A
doutrinação sobrepujou a educação quando os estudantes
passaram a ser como clones de professores progressistas que não
toleram nada menos do que a subserviência total. Bem-vindos à
torre de marfim dos millennials, um lugar de egoísmo, arrogância e
condescendência.

Onde começa a mudança? Como incutir nos jovens a


compreensão de que a tolerância os está destruindo? Como
podemos ensiná-los o que significa amar verdadeiramente? Onde
está a esperança para as gerações futuras?

A mudança começa quando entendemos o que é o amor, como ele


age e o que ele exige. Paulo escreveu com bastante clareza sobre a
natureza e as características do amor numa carta aos Coríntios: “A
caridade é paciente, a caridade é bondosa. Não tem inveja. A
caridade não é orgulhosa. Não é arrogante. Nem escandalosa. Não
busca os seus próprios interesses, não se irrita, não guarda rancor.
Não se alegra com a injustiça, mas se rejubila com a verdade. Tudo
desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. A caridade jamais
acabará”. 65

Esse é o contraste marcante entre o amor verdadeiro e sua


falsificação esquerdista. Não se encontra paciência em tumultos
contra os que discordam. Não se testemunha a bondade
arruinando a vida dos que pensam diferente. “Meus sentimentos
são mais importantes” é uma declaração de orgulho e de exagerada
consideração de si mesmo que não são características do amor.

O forte contraste entre amor e tolerância é visto na ideia de


proteção. O amor é sempre chamado a proteger, em vez de se
alinhar com as virtudes inferiores de tolerância, aceitação e
inclusão. O amor está disposto a romper um padrão, mesmo
quando isso não esteja muito na moda. O amor fala quando a
tolerância se cala. O verdadeiro amor — isto é, a caridade cristã —
sacrifica o eu para proteger os outros. O amor verdadeiro atrapalha
e diz “Pare”. O verdadeiro amor se preocupa, enquanto a tolerância
não dá a mínima.

Se o amor não passa de um sentimento, ele tem uma vida útil


menor do que a de um pão. Sentimentos mudam. As atitudes
mudam da mesma forma que a posição dos jogadores se altera
pouco antes da bola começar a rolar no início de um jogo de
futebol. O amor é mais do que o nosso humor em um determinado
dia. O amor é “na alegria e na tristeza, até que a morte nos separe”.
O amor ama sempre, principalmente quando não tem vontade.

Santo Agostinho descreve bem: “Como é o amor? Tem mãos para


ajudar os outros. Tem pés para correr em direção aos pobres e
necessitados. Tem olhos para ver a miséria e a necessidade. Tem
ouvidos para ouvir os suspiros e tristezas dos homens. É assim que
o amor se parece”. Em outras palavras, o amor não é um
sentimento afetuoso, mas um desejo constante pelo bem último de
outra pessoa.

João escreveu no seu Evangelho: “Aquele que não ama não


conhece a Deus, porque Deus é amor”. 66 Quem define o que é o
amor para nós? Se for definido por um bando com um propósito,
então o amor está perdido. Mas se Deus é a própria definição de
amor, então aprendemos o que é o amor aprendendo mais sobre
Deus.

Deus é tudo, menos tolerante. Ele se posiciona contra as coisas


que nos separam Dele e dos outros. O amor de Deus é mais do que
um sentimento que Ele tem por nós. É um fato imutável e eterno.
O amor de Deus é ação, cujo maior ato foi a Encarnação de Cristo.
Deus não nos tolera! Ele deu Sua vida por nós! “Ninguém tem
maior amor do que este, de dar alguém a própria vida pelos
amigos”. Isso é muito mais do que mera tolerância. Isso, e só isso, é
amor.
Amar não é simplesmente dizer às pessoas que elas estão certas
porque elas querem escutar que estão certas. Amar é cuidar de
alguém até o ponto de, independentemente das coisas sem sentido
que essa pessoa diga ou faça, intervir em seu caminho e protegê-la
de fazer escolhas erradas que são, sendo bem sincero, intoleráveis.

Isso é o amor que não falha, que é atencioso e compassivo,


incondicional e implacável. Como no comentário do Dr. David
Jeremiah sobre a afirmação em 1 Coríntios 13.8 de que o amor
nunca falha: “O amor nunca falha porque Deus nunca falha, e Deus
é amor”. 67

lição viii: Escove os dentes


antes de sair
Para mudar sua vida você precisa mudar suas prioridades.

— John C. Maxwell

De acordo

E mbora você possa discordar de algumas coisas que escrevi até


agora, tenho certeza de que concorda com estas duas afirmações
básicas:

Primeiro, é importante escovar os dentes.

Segundo, ninguém deveria sair de casa sem fazê-lo.

Mas numa época em que as faculdades de todo o país oferecem


centros de aconselhamento completos com ursinhos de pelúcia,
livros para colorir, massinha e vídeos de cachorrinhos brincando
para acalmar os nervos e as ansiedades, talvez eu esteja errado.
Quando temos universidades que oferecem “hora da soneca” nas
bibliotecas e cabritinhos para acariciar durante a semana de provas
finais, talvez algumas palavras sobre os princípios básicos de
higiene bucal sejam justificadas. Quando mais e mais estudantes
universitários aparecem nas aulas vestindo pijama, e não camisa e
jaqueta bem-passadas, talvez eu não esteja tão errado ao sugerir
que precisamos revisitar alguns dos princípios básicos de como
agir de maneira eficaz em um mundo adulto. Desculpe se isso
ameaça a sensação de segurança de alguém, mas uma das primeiras
coisas que podemos pensar em fazer todas as manhãs antes de ir
para o trabalho ou a aula é escovar os dentes. É uma boa coisa a se
fazer.

Certamente todos podemos concordar que precisamos ser pessoas


que escovam os dentes.

Todas as lições deste livro são importantes. Todas elas estão, assim
espero, fundamentadas em algum nível de sabedoria que, se
seguida, resultará em uma vida mais agradável, íntegra e bem-
sucedida. Acredito que muito do que partilhei são conceitos
importantes pelos quais algumas das pessoas mais nobres e bem-
sucedidas do nosso mundo se guiaram ao longo da história. Seguir
essas lições foi essencial para os líderes que lutaram pela dignidade
e liberdade humanas. Mas eu seria negligente se fornecesse uma
lista das coisas mais importantes a fazer para atingir nossos
objetivos, ter sucesso em nossas carreiras, ter casamentos bem-
sucedidos e nos tornarmos bons pais e não lembrasse a vocês, antes
de mais nada, de prestarem atenção aos fundamentos. Prioridades
são importantes. Se você errar nas respostas relativas ao que é
básico, todo o resto desmoronará.

Existe, há bastante tempo, um bom motivo para a existência do


velho axioma “não coloque o carro na frente dos bois”. Ele expressa
um princípio de vida básico que foi comprovado repetidamente, de
geração em geração: primeiro o mais importante. Um homem que
define bem suas prioridades é um homem que também acertará
nos outros pontos da vida.

O que mais importa


Para mim, o topo da lista do que mais importa começa com a
minha confiança em Jesus Cristo. Minha posição diante de Deus é
o aspecto mais importante da minha vida. É meu summum
bonum, meu “maior bem”. Ela impulsiona todas as outras decisões
que tomo na vida. É a primeira coisa que faço todas as manhãs e a
última coisa em que penso todas as noites. Serve de motivo e
fundamento para cada decisão que tomo, cada pensamento que
tenho e cada palavra que digo. Ela me deixa de joelhos em oração e
me levanta em louvor. Ela me leva à confissão e me impulsiona a
me superar. Ela renova meu espírito e limpa meu coração. Ela não
apenas me inspira a buscar a grandeza, mas também me alivia da
culpa. Ela é uma higiene necessária da minha alma e da minha
mente.

Na minha vida, a prioridade número um é que eu morra


diariamente para mim mesmo e me torne uma nova criatura no
meu Salvador. Ser cristão significa ser transformado. Minha
identidade está no meu Senhor, não na minha libido. Eu nasci de
novo, não nasci assim. Viver assim se baseia em disciplinas
espirituais — oração, confissão, leitura bíblica, estudo bíblico, idas à
igreja, serviço a Deus, evangelização, busca pela justiça, prática da
sabedoria, e assim a lista continua.

Eu assumi um compromisso com Deus e, ao viver esse


compromisso, descobri que seguir a Cristo não é apenas a melhor
maneira de morrer, mas também a melhor maneira de viver. Isso é
verdade não apenas para mim pessoalmente, mas também para
minha família e meu círculo de amigos, pois, graças ao meu desejo
de ser semelhante a Cristo, de ser cristão, é muito mais fácil
conviver comigo assim do que se eu tentasse viver sem Ele. Tudo
isso não é apenas algo que acontece ao acaso — é o resultado da
realização cotidiana, ativa e intencional dessas disciplinas e
práticas.

A fé é de vital importância e não pode ser mantida sem trabalho.


Sim, é bem verdade que “é pela graça que somos salvos por meio da
fé, não por obra nossa. É um dom de Deus, não de obras, para que
nenhum de nós se vanglorie”. Mas o próprio Jesus também disse:
“Se alguém me ama, guardará a minha palavra”. Como qualquer
outra coisa na vida, a fé é fortalecida por meio da rotina, do
trabalho árduo, do comprometimento e das prioridades.

Então, como é um regime diário de higiene espiritual? Como é


exercitar sua fé com temor e tremor?

Bem, primeiro devemos entender que a fé não é apenas uma


aquiescência preguiçosa à existência de Deus, mas sim um
relacionamento ativo e engajado, rotineiro e rigoroso com Deus. É
um casamento com Cristo, e, como qualquer pessoa que esteja
casada com o mesmo cônjuge há vinte ou trinta anos lhe dirá, o
casamento é um ato de vontade; é um trabalho árduo.

A fé é ativa. Não é passiva. A fé é integrada, não segregada. A fé


integra cabeça e coração, razão e emoção, crença e comportamento.
A fé pratica o que prega.

O tempo, a energia e os recursos que recebemos determinado dia


são limitados. Temos que ponderar nossos esforços e investir com
sabedoria para que possamos gastar nossos limitados tempo,
energia, dinheiro e talento naquilo que mais valorizamos.

O mesmo acontece com a fé. A fé que nos foi dada pela graça
preveniente de Deus precisa ser bem investida para crescer e se
fortalecer. Escondê-la em um buraco no quintal não faz bem a
ninguém. Fazendo isso, meus amigos que precisam dela nunca a
verão. E nem eu me beneficio dela se ela estiver oculta. Uma fé
“não investida”, escondida em algum lugar sem nem mesmo render
alguns juros, não serve para nada.

Cada um de nós, quando relembra algumas das decisões


financeiras tomadas no passado, certamente gostaria de ter feito
escolhas melhores. No entanto, gastos frívolos ou outros
movimentos estúpidos podem ser resgatados e corrigidos. O
financiamento da faculdade pode ser quitado, os cartões de crédito
podem ser cortados, os carros podem ser vendidos e as contas
vencidas podem ser pagas. Mas, na vida real, a moeda que mais
importa — o nosso tempo — não pode ser resgatada. Cada dia
perdido em uma vida sem fé é completamente gasto, não existe
mais. Não podemos pedir mais empréstimos. Cada um de nós
recebe apenas uma certa quantidade de tempo. Como a Bíblia nos
diz, nossos dias estão contados.

Todos nós parecemos entender o conceito de planejamento


financeiro; planejamos quanto e como vamos gastar. Fazemos isso
para poder pagar o que tem que ser pago e/ou comprar o que mais
queremos.

Vamos voltar à nossa infância. Provavelmente, havia algo que você


queria comprar. Talvez fosse uma arma Red Ryder bb, como
Ralphie sonhava em ter no clássico filme Uma história de Natal.
Talvez tenha sido seu primeiro Xbox, seu primeiro par de tênis Air
Jordans ou seu primeiro carro.

Seja o que for, você provavelmente precisou definir suas


prioridades fazendo coisas como conseguir um emprego, cumprir
suas obrigações e tudo o mais que fosse necessário enquanto
economizava dinheiro para a grande aquisição. Você sabia que
precisava de uma certa quantia de dinheiro para comprar
exatamente o que queria. Você também sabia que não alcançaria
seu objetivo caso decidisse gastar o dinheiro em doces ou
brinquedos numa loja de 1,99.
O mesmo princípio é verdadeiro com relação ao tempo.

Stephen Covey é visto por muitos como um guru de como viver


uma vida eficaz e produtiva. Em seu livro Os 7 hábitos das pessoas
altamente eficazes, ele disse com simplicidade: “Agende suas
prioridades”.

Minha maior prioridade é a minha fé. Em segundo lugar, bem


próximo do primeiro, está minha família. Portanto, programo meu
tempo conforme essas prioridades. Eu invisto nessas prioridades.
Fazendo isso, faço com que elas se desenvolvam e se tornem mais
fortes. Não agendar um horário para elas as enfraquece e diminui.

Também tenho outras prioridades. Por exemplo, eu queria


escrever este livro. Se eu não agendasse o tempo necessário para
isso, ele não teria sido escrito. Eu faço minha parte falando e
escrevendo artigos. Se eu não agendar um tempo para essas
prioridades, elas não serão realizadas. Quando eu era reitor
universitário, eu tinha muitas metas e objetivos. O tempo era
limitado, então agendar prioridades era a única maneira de
permanecer concentrado na tarefa. Não fazê-lo teria resultado num
completo fracasso, não em uma reitoria bem-sucedida.

Mas há outros itens na minha lista que também considero


importantes. Amigos e outros membros da família. Manter-me em
forma e cuidar da minha saúde pessoal. Juntar o dinheiro
necessário para uma aposentadoria adequada. Fazer trabalho
missionário e de caridade. Atividades políticas. Todas essas coisas
são importantes para mim e todas estão em uma escala graduada
de prioridades.

Você tem sua própria lista, e alguns dos itens dela devem ser
semelhantes aos meus. Mas quaisquer que sejam as suas
prioridades, um princípio simples de uma vida bem-sucedida é que
todos nós devemos estabelecer prioridades, tanto nas coisas
complexas como nas coisas cotidianas da vida, se quisermos
contribuir significativamente para a cultura ou ter alguma
esperança de deixar uma marca positiva no mundo.

As coisas que você mais valoriza devem definir o cronograma do


seu dia a dia. Se não o fizerem, então você não as valoriza
realmente.

O mais importante
Em Deus no banco dos réus, C. S. Lewis referiu-se a coisas
importantes e coisas secundárias. Ele não estava falando apenas do
topo de sua lista de prioridades. Em vez disso, as coisas
importantes para Lewis eram os aspectos mais significativos da
vida — confiança em Deus e obediência para segui-Lo vinham
primeiro. Ele escreveu: “Coloque as coisas mais importantes em
primeiro lugar e as coisas secundárias virão por acréscimo.
Coloque as coisas secundárias em primeiro lugar e você perderá
tanto umas quanto as outras”.

Ao falar sobre isso, Lewis faz uso das palavras de Jesus. São
Mateus cita Cristo desta forma: “Buscai em primeiro lugar o Reino
de Deus e a sua justiça e todas estas coisas vos serão dadas em
acréscimo”. 68 A mensagem de Jesus é que se fizermos do seu
caminho, da sua verdade e da sua vida a nossa prioridade máxima
— nossa “coisa mais importante” —, então o resto da vida, as coisas
secundárias, se encaixarão e “também nos serão dadas”. O contexto
expande ainda mais essa verdade. Precedendo o versículo que
acabamos de citar, há uma passagem da Bíblia sobre “guardar
tesouros no Céu”. Lewis, assim como Jesus, está dizendo que
quando vivemos para o eterno, e não para o temporal — isto é,
quando acumulamos tesouros no céu —, não recebemos apenas a
recompensa da vida eterna por vir, mas também desfrutamos do
melhor da vida temporal. Em outras palavras, coloque todas as
coisas secundárias da vida subordinadas ao que é mais importante
e você obterá não apenas o importante, mas também o secundário.
Mas inverta a ordem e tudo desmoronará. Mais uma vez, as
prioridades são importantes!

Os ensinamentos sobre “acumular tesouros” e “buscar primeiro”


estão interligados. Esse contexto implica que quando buscamos
primeiro a Deus e seus caminhos, seguem-se os verdadeiros
tesouros.

Bom, está muito claro que Cristo não está diminuindo as nossas
necessidades temporais. Muitos de seus milagres são exemplos de
como ele as proveu. Ele alimenta as pessoas, transforma água em
vinho, cura cegos e coxos, e assim por diante. Ele não está nos
dizendo para ignorar essas necessidades. Ele está nos dizendo para
colocá-las na perspectiva adequada. Ele está falando sobre as
prioridades. Está nos dizendo: “De que adianta um homem ganhar
o mundo inteiro e perder a sua alma?”. 69 Primeiro o mais
importante! “Porque aquele que quiser salvar a sua vida, irá perdê-
la; mas aquele que tiver sacrificado a sua vida por minha causa, irá
recobrá-la”. 70 O caminho para receber de Deus o que nos é
necessário é focar as coisas que são realmente importantes, e não as
coisas que não importam de verdade. As coisas essenciais trarão as
secundárias. Mas as secundárias nunca nos levarão às essenciais.

Nossas vidas consistem em certas ambições, sonhos e objetivos.


Ao nos prepararmos para uma carreira, esperamos poder trabalhar
para atender às nossas necessidades básicas e realizar esses sonhos.
Queremos construir nossas casas, sustentar nossas famílias e, se
possível, fazer a diferença no mundo. O caminho para realizar tudo
isso é mais bem resumido neste simples axioma: buscai primeiro o
Seu reino e a Sua justiça e todas estas coisas vos serão
acrescentadas.

Colocar Deus em primeiro lugar faz com que essas coisas boas
sejam realizadas de maneira ordenada; reverter a ordem sempre
leva à desordem, à disfunção e ao caos.
Quando vivemos vidas meramente pragmáticas e materialistas,
afastados de ideais e valores eternos, o nosso alicerce é fraco. Ele
não nos sustentará. Quanto mais peso a vida colocar sobre esse
alicerce, maior será a probabilidade de ele ruir. À medida que
aumentam os fardos da carreira, do casamento, dos filhos e da
família, mais provável é que essa base fraca se desmorone.

Cada um de nós precisa ser uma pessoa de substância, não apenas


uma pessoa que busca somente o sustento. Há quem diga que as
nossas prioridades são um reflexo do nosso caráter. Se for assim,
talvez seja sensato pararmos e perguntarmos: se não tenho
prioridades claras, é possível que o meu caráter também não seja
claro?

Se aprendi alguma coisa como reitor universitário durante a


última década e meia, foi esse princípio de ter prioridades, coisas
que vêm primeiro. A educação deveria promover a unidade, e não
a divisão. É chamada de “universidade”, e não de “diversidade”, por
uma razão. A educação clássica — educação verdadeiramente
libertadora — deve defender a integridade pessoal como uma
causa de todos, e não considerar nossos caprichos e fantasias
pessoais como se fossem uma luta pela justiça. Priorizar as coisas
secundárias sempre resulta em exclusão em vez de inclusão,
segregação no lugar de integração. As coisas secundárias sempre
dividem; eles nunca unem.

E não basta simplesmente listar as nossas maiores prioridades —


são nossas ações em relação a elas que mostram, na verdade, quais
são as nossas prioridades. Mahatma Gandhi disse uma famosa
frase: “A ação manifesta as prioridades”.
lição ix: Massinha não gruda
na parede
Opiniões são preferências entre opções. As convicções estão entrelaçadas na consciência
individual.

— Ravi Zacharias

S aber chegar a um acordo é uma habilidade importante na vida.


Chegar a um acordo é algo importante quando se trata de decidir
com quem você vai passar um feriado. A cor das paredes da casa é
um tema sobre o qual se pode chegar a um acordo sem muito
derramamento de sangue. Combinar a escolha de um filme na
sexta à noite é perfeitamente aceitável.

Em todas essas circunstâncias, o diálogo nos permite resolver


conflitos e chegar a acordos com os nossos amigos e familiares. É
um componente essencial das relações humanas e algo que
devemos encorajar.

Há outras ocasiões, porém, em que o acordo é inaceitável. Saber a


diferença entre momentos de fazer um acordo e momentos de se
manter firme faz parte de ser adulto. Quando convicções, questões
morais, padrões e a verdade estão envolvidos, não há espaço para
concessões.

Hoje não.

Jamais.

A música country diz tudo


Existem muitas piadas sobre músicas country. Toque a música ao
contrário e você terá seu cachorro, seu emprego e sua namorada de
volta. 71 No entanto, uma música country lançada no início da
década de 1990 traz uma mensagem urgente e necessária hoje em
dia.

A música de Aaron Tippin, You’ve Got to Stand for Something,


alcançou o sexto lugar nas paradas country em 1991. Ela era um
hino sobre ser fiel a si mesmo, defender aquilo que você acredita e
nunca vacilar. O refrão explicava que se você não tiver o que
defender, você cairá por qualquer coisa. Durante o longo e quente
verão de 1991, esse chamado à convicção pairou no ar, implorando
aos ouvintes que defendessem algo na vida.

A canção de Tippin tornou-se uma música tema para aqueles que


lutaram na Guerra do Golfo. Sua turnê us 72 com Bob Hope ajudou
a consolidar o lugar dessa música na história. Assumindo um
significado mais profundo para as tropas, a canção reforçou a
necessidade de lutar por algo na vida e escolher as coisas certas
pelas quais lutar.

Qual é nossa posição diante da vida? Qual crença é profunda o


suficiente para resistirmos apesar das consequências?

G. K. Chesterton disse: “Imparcialidade é um nome pomposo


para indiferença, que é um nome elegante para ignorância”. 73

Imparcialidade é o mesmo que dizer “não me importo”. Falta


convicção e clama por um acordo. No verão de 2019, o pastor e
autor de best-sellers Joshua Harris causou polêmica quando
renegou publicamente tudo o que havia escrito antes, virou as
costas ao Deus que havia proclamado durante anos e se afastou de
sua fé e família. Em uma postagem no Instagram, bem como em
outros lugares, Harris compartilhou: “A informação que até agora
não anunciei é que eu passei por uma grande mudança em relação
à minha fé em Jesus. O termo atual para isso é ‘desconstrução’, o
termo bíblico é ‘apostasia’. Considerando todas as formas que tenho
para definir um cristão, não sou um cristão”. 74
Aquilo que havia sido o compromisso determinante de sua vida
durante 20 anos foi descartado em uma postagem na mídia social.

Muitos cristãos reagiram atirando pedras, o que não é minha


intenção. Meu objetivo, ao abordar isso, é destacar que o que Harris
fez indica uma tendência crescente e perturbadora.

Por que Joshua Harris não poderia apenas se afastar em silêncio?

Por que ele teve que fazer do abandono de sua fé e seu casamento
um espetáculo para o mundo?

Claro, ele apresentou razões para retratar as palavras que havia


escrito em seu livro, como, por exemplo, sentir que elas não
condiziam mais com o que ele acreditava. Ele pediu desculpas às
pessoas lgbtq, que disse ter magoado, também pediu desculpas
por uma infinidade de outras posturas conservadoras que manteve
por tanto tempo.

Mas por que tinha que ser um grande espetáculo?

Apelando para um novo público (e, talvez, viciado em ser


famoso?), parece que Harris não conseguiu se conter e deixar de
transformar algo que pareceria um pouco embaraçoso, para dizer o
mínimo, em um espetáculo.

Ele poderia ter abandonado sua fé em silêncio, sem dizer uma


palavra. Fazer isso em particular não teria mudado o fato de ele ter
se afastado, mas teria gerado muito menos manchetes e afetado
muito menos pessoas.

Mas, em vez disso, ele teve que gritar do alto dos telhados.

Ele tinha que deixar claro para todas as pessoas do mundo que
ele, Joshua Harris, o autor de best-sellers, o pastor de uma mega
igreja, o super-herói da fé, havia virado as costas ao Cristo que ele
afirmava servir. Ele agora era um defensor de causas que já havia
combatido. Sua proclamação revelou mais do que uma mudança de
pensamentos e crenças. Revelou uma pessoa cujos pensamentos e
crenças, bem como motivações, deveriam ser questionados.

Pode-se confiar em um homem se ele ganha fama e notoriedade


por causa de seu posicionamento e depois abandona esse
posicionamento para logo começar a defender uma visão de
mundo antitética? Se ele estava disposto a dar as costas a tudo o
que dizia ser tão importante antes, por que você acreditaria que um
dia ele não fará o mesmo em relação a tudo o que diz ser tão
importante agora? Quando chegará o próximo posicionamento?

As pessoas mudam o tempo todo. Mudam cortes de cabelo,


hobbies, gostos musicais e dietas. Trocamos de roupa. Mudamos de
endereço. No entanto, em algum momento, se Deus quiser, mais
cedo ou mais tarde, todos nós cresceremos e tomaremos algumas
decisões sobre quem somos, no que realmente acreditamos e que
coisas nunca mudaremos.

E, para ser sincero, isso não precisa ser manchete. A maneira


como vivemos nossas vidas deixa nossas crenças claras para todo
mundo ver. Não precisamos convocar uma coletiva de imprensa ou
postar no Instagram.

Se você não se mantiver firme por causa nenhuma, você cairá por
qualquer coisa. Você vai pular de emprego em emprego, de igreja
em igreja, de equipe em equipe e de casamento em casamento.
Imparcialidade significa que você está pronto para vender sua
alma, a qualquer momento, pelo lance mais alto ou pela última
moda. Quando a dificuldade surgir ou o prazer acenar, você fará
concessões.

Paulo escreveu aos Gálatas: “É, porventura, o favor dos homens


que eu procuro, ou o de Deus? Por acaso tenho interesse em
agradar aos homens? Se quisesse ainda agradar aos homens, não
seria servo de Cristo”. 75 Sua convicção alterou todo o curso de sua
vida. Essas não foram apenas palavras no Twitter ou no Facebook.
Era a vida dele. Era seu caráter. Era sua identidade, e ela não era
fluida. Era algo fixo. Era a sua própria alma.

Pessoas como Joshua Harris não inspiram confiança. Mesmo se


quisermos conceder o benefício da dúvida, reconheceremos
intuitivamente sua hipocrisia e egoísmo. Não vemos convicção,
consistência e integridade, e é com razão que pensamos: se ele não
estava me dizendo a verdade antes, então por que me diria a
verdade agora? É a velha suspeita de que o cara que traiu a primeira
esposa provavelmente fará o mesmo com a segunda. Onde
predomina a conveniência não há confiança.

A política está repleta dessa forma de conveniência. Todos os dias


ouvimos promessas que sabemos que o candidato não tem
intenção de cumprir. Há uma razão pela qual ninguém confia no
Congresso, e essa razão chama-se conveniência.

Em abril de 2019, o Pew Research Center divulgou os resultados


de uma pesquisa que confirmou a existência de profunda
desconfiança dos cidadãos quanto ao governo. De acordo com o
comunicado, “atualmente, 19% dos millennials (agora com idades
entre 23 e 38 anos) afirmam confiar no governo, semelhante à
parcela das gerações mais velhas que diz o mesmo. A confiança no
governo permanece em níveis historicamente baixos ou próximos
deles em todas as gerações”. 76

A raiz desses números terríveis é óbvia: chama-se mentira. A


esmagadora maioria das pessoas acredita que os políticos farão
qualquer coisa só para serem eleitos. Suas palavras não significam
nada. Pressupomos que há zero convicção e zero compromisso. E,
na maioria das vezes, constatamos que estamos certos. Quando
você é conhecido por todos os seus arranjos e ninguém consegue
pensar em nada que você defenda de verdade, sabe o que acontece?
Eu não confio em você.
Por mais triste que seja, é o que esperamos dos políticos. Mas o
mais decepcionante e ainda mais prejudicial para o nosso dna
cultural é quando esse comportamento é encontrado na igreja e
nos líderes cristãos.

Um exemplo disso é a história da California Assembly


Concurrent Resolution 99 (acr 99). 77 Esta foi e é uma resolução
que apela aos “conselheiros, pastores, trabalhadores religiosos,
educadores” cristãos e todos os outros “com grande influência
moral” para não dizerem nada de negativo sobre o comportamento
homossexual e transexual. A resolução foi apresentada ao plenário
da Assembleia do Estado da Califórnia para análise e comentários.
Kevin Mannoia, capelão da Azusa Pacific University (uma
universidade cristã de artes liberais no sul da Califórnia) e ex-
presidente da Associação Nacional de Evangélicos, virou notícia ao
apoiar publicamente a resolução. Sua posição sobre o assunto
demonstrou uma total falta de convicção e uma vontade de se
desviar de uma visão de mundo que prometeu defender durante
toda a sua vida profissional. Sua decisão de lançar seus irmãos
cristãos aos leões apenas por eles permanecerem firmes em suas
convicções bíblicas foi como um grito que expressava falta de
caráter moral. Um berro que denunciava transigência.

Mannoia e eu partilhamos origens semelhantes na tradição


wesleyana/ metodista. As nossas origens religiosas estão
profundamente enraizadas no mesmo solo eclesiástico. É nessa
tradição compartilhada, que chamamos intimamente de
“movimento de santidade”, que Mannoia se apressou em tomar seu
lugar, ao que tudo indica, de uma forma que não passava de jogo
desalmado.

Pode ser adequado falar um pouco de história aqui.

Todo o movimento wesleyano/metodista nasceu de uma das


questões politicamente mais controversas da história da nossa
nação: a escravidão! De fato, durante a Guerra Civil, os fundadores
da Igreja Wesleyana desafiaram especificamente a Igreja Metodista
Episcopal (nossa igreja mãe) por não se posicionar contra a
compra e venda de outros seres humanos como se não passassem
de objetos. Dois homens chamados Orange Scott e Luther Lee se
posicionaram e disseram explicitamente que isso era antibíblico e
errado. Quando se tratava da dignidade e identidade de todos os
seres humanos, do imperativo bíblico da liberdade humana e da
defesa de toda a vida humana, Scott e Lee não fariam concessões. O
que eles estavam fazendo era, fundamentalmente, fincar os pés no
chão com base em duas coisas: primeiro, o ensino da Bíblia; e,
segundo, o ensino do próprio fundador do Metodismo, John
Wesley.

Wesley era um homem de ação, não apenas de palavras. Ele


acreditava nos “métodos de uma vida santa”. Parafraseando-o na
linguagem de hoje, sua mensagem à Igreja da Inglaterra e à
comunidade cristã em geral foi basicamente esta: “Vocês ainda
podem ter ortodoxia, mas já não têm ortopraxia. Vocês não estão
praticando o que pregam”. Ele condenou a hipocrisia de separar a
crença do comportamento. Ele chamou a igreja à obediência e
sempre lembrou ao povo que sua identidade estava em Cristo, não
nos seus desejos ou paixões.

Wesley sabia que a igreja só teria sucesso se tivesse a coragem de


permanecer firme. Ele sabia que devíamos correr para a
tempestade, não fugir dela. Devemos empunhar a bandeira da
verdade bíblica e ter confiança de que, se vencermos com essa
bandeira em mãos, será pela graça de Deus, mas, se perdermos,
essa derrota terá uma importância menor. A batalha é fundamental
e devemos estar dispostos a lutar. Vender as nossas almas em prol
da aprovação do governo desonra a nossa missão, a nossa
mensagem e a nossa própria razão de existir. Se nos tornarmos
apenas cópias pálidas do mundo que nos rodeia, então por que
alguém iria querer comprar o que estamos vendendo?
Wesley entendeu que a concessão sempre leva à nossa morte.
Seremos “jogados fora e pisoteados” por uma cultura que ri da
nossa irrelevância. Devemos preservar a cultura, não participar de
sua podridão. Devemos iluminar o mal, não dialogar com ele.
Devemos confrontar o pecado, não capitular diante dele.

Wesley entendeu, através do estudo da história, bem como por


sua própria experiência, que concessões nunca levam à salvação.
Ele sabia muito bem que nunca se pode ajoelhar diante da
multidão furiosa. Nunca. A retratação não salvou Cranmer do
fogo. No final, ele não deixou de ser queimado.

Esteja disposto a ser fiel a si mesmo


Um dos maiores exemplos de convicção vem do profeta Josué, do
Antigo Testamento. Enquanto estava diante dos israelitas, Josué
não tinha certeza do que o povo faria. Se o melhor indicador do
comportamento futuro é sempre o comportamento passado, Josué
entendeu que havia apenas uma pequena chance de os filhos de
Israel escolherem a Deus e abandonarem todo o resto.

Apesar das probabilidades não estarem a seu favor, Josué recusou-


se a fazer concessões. Ele ficou na frente da multidão e pediu ao
povo que fizesse uma escolha. Ele desafiou a nação: “Agora, pois,
temei o Senhor e servi-o com toda a retidão e fidelidade. Tirai os
deuses que serviram vossos pais além do rio e no Egito, e servi o
Senhor. Porém, se vos desagrada servir o Senhor, escolhei hoje a
quem quereis servir: se aos deuses, a quem serviram os vossos pais
além do rio, se aos deuses dos amorreus, em cuja terra habitais.
Porque, quanto a mim, eu e minha casa serviremos o Senhor”. 78

Ele apelou à convicção do povo escolhido de Deus. Exigiu que


aqueles homens defendessem algo sem transigir, que fossem firmes
e inabaláveis.
Mas Josué não apenas expôs isso ao povo. Ele sabia que também
precisava tomar uma posição. Ele tinha que liderar. Foi obrigado a
dar o exemplo, não só a falar bem, mas a agir bem. Tinha que estar
disposto a praticar o que pregava. Para colocar em prática “os
métodos” de uma vida santa, ele precisava ser um homem íntegro,
com caráter e propósito.

Então, em vez de desistir frente ao desafio, Josué revelou seu


caráter. Ele mostrou sua convicção ao se posicionar a favor de seu
Deus. “Mas eu e minha família serviremos ao Senhor”, exclamou.

Josué não esperou para ver o que os outros estavam fazendo ou o


que escolheriam. Ele não permitiu que suas decisões fossem
influenciadas pelos caprichos de seus pares ou pelos sussurros dos
políticos. Com coragem, clareza e convicção, ele falou o que a
nação precisava ouvir. Contra ventos e marés, ele foi dedicado ao
Senhor. Ele assumiu esse compromisso.

Essa é a liderança exigida de todos nós. Nossos filhos precisam ver


isso. Nossos alunos também precisam ver isso. Nossa cultura e
nosso mundo estão implorando por isso. Os líderes lideram. Eles
são empenhados. Eles têm convicção. Eles não fazem concessões.

Comprometa-se com aquilo que você nunca negociará. Encontre


a convicção para ser firme e inabalável. Pare de se esquivar e tenha
a coragem de avançar diante da adversidade. Dê aos outros a
confiança de que você nunca voltará atrás e ficará surpreso com a
quantidade de pessoas que o seguirão com satisfação.

A convicção e a dedicação diferenciam os verdadeiros líderes da


multidão. Ninguém segue quem vende sua alma à Assembleia do
Estado da Califórnia ou sua fé e sua esposa nas redes sociais. Paulo
escreveu: “Por consequência, meus amados irmãos, sede firmes e
inabaláveis, aplicando-vos cada vez mais à obra do Senhor. Sabeis
que o vosso trabalho no Senhor não é em vão”. 79
Isso é liderança.

Defenda algo.

Quando as pessoas olharem para você, deixe claro que nunca


precisarão questionar quem você é, para onde está indo ou o que
representa.

Adultos não mudam de ideia a cada moda política cambiante.


Líderes não revertem o curso por mero capricho.

Franklin Graham escreveu na edição de março de 2019 da


Decision Magazine: “Com a ajuda de Deus, oraremos,
defenderemos corajosamente a verdade de Deus e nunca nos
comprometeremos com uma cultura ímpia que desafia e despreza
os princípios das Escrituras”. 80

Os fiéis percebem que não há razão para olhar para trás e nunca
há razão para parar de lutar pelo que é certo. A luta pela justiça,
pela verdade e pela retidão não é uma batalha que terminará tão
cedo. Esquivar-se de entrar na batalha, não permanecer firme,
abandonar a liderança, não ter convicção e coragem incessantes é o
que as crianças fazem. São os adolescentes que escolhem a
popularidade em vez dos princípios. Esse não é o comportamento
de um adulto.

Quem não tem padrões definidos assume crenças e opiniões


como se fossem uma massinha grudada na parede. As convicções
professadas nunca serão mantidas. São “crianças ao sabor das
ondas, agitados por qualquer sopro de doutrina, ao capricho da
malignidade dos homens e de seus artifícios enganadores” (Efésios
4.14).

Um adulto é aquele que não apenas vive para mais do que os


ventos da popularidade, mas o faz com propósito e paixão
inabalável.
No início do século xx, o cristão indiano Sadhu Sundar Singh
escreveu a primeira versão do agora famoso hino “Decidi seguir
Jesus”. Baseia-se nas últimas palavras de Nokseng, um
companheiro cristão que se recusou a renunciar à sua fé, apesar de
ver os dois filhos e a esposa serem martirizados por um chefe tribal
garo. Diz-se que a sua recusa em ceder resultou na conversão não
só do chefe assassino, mas também de muitos outros numa região
da Índia que era, naquela época, conhecida pela grande
brutalidade. A história nos diz que Nokseng, depois de ver a
própria família ser morta, respondeu às ameaças do chefe — que
dizia que ele seria o próximo a morrer se não se retratasse —
cantando estas palavras: “Decidi seguir Jesus… Não há volta, não
há volta. Mesmo que ninguém se junte a mim, ainda assim seguirei
[…]. Não há volta, não há volta. O mundo atrás de mim, a cruz
diante de mim […]. Não há como voltar atrás, não há como voltar
atrás”.

Essa música começa com uma decisão e depois fala em


permanecer fiel à decisão apesar das adversidades. É uma canção
de convicção. É uma proclamação de intransigência. Nokseng
decidiu e não havia como voltar atrás.

Todos nós precisamos responder à pergunta: “O que vou defender


nesta vida?”.

Você quer que seu legado seja o de Joshua Harris ou do profeta


Josué?

Você quer ficar ao lado de pessoas como Kevin Mannoia ou


Nokseng?

Os líderes tomam uma decisão e não voltam atrás.

Eles não fazem concessões.

Eles cantam: “Não há como voltar atrás”.


Eles exclamam: “Aqui estou, não posso fazer outra coisa”.

Você pode pregar noventa e cinco teses na parede e mudar o


mundo.

Você não pode pregar quase nada com massinha.

lição x: Leve seu guarda-chuva


Como aponta Elisabeth Elliot, nem mesmo sofrer o martírio pode ser classificado como
uma obediência extraordinária quando estamos seguindo um Salvador que morreu na cruz.

— David Platt

Orando por chuva

E radependia
uma vez uma comunidade rural no Centro-Oeste que
da agricultura. Tinha sido um ano difícil e os
habitantes estavam sofrendo uma seca severa. Desesperados, os
pastores da cidade reuniram-se e convocaram em toda a
comunidade um culto de oração. Ele foi realizado no parque
comunitário da cidade e todos os habitantes compareceram. Todos
se reuniram para orar pela chuva.

Mas havia uma pessoa na multidão, composta por algumas


centenas de pessoas, que se destacava de todas as outras. Ele foi o
único homem que veio com um guarda-chuva. Na verdade, ele
entrou no círculo de oração não apenas carregando um guarda-
chuva, mas também vestindo capa de chuva e botas.

Enquanto o homem estava ao lado de alguns amigos íntimos, eles


o olharam perplexos e perguntaram: “O que você está fazendo com
esta capa de chuva? Você não sabe que estamos no meio de uma
seca?”.

O homem respondeu: “É verdade. Estamos numa seca, mas o


objetivo desta reunião não é pedir a Deus que isto mude? Acredito
que Ele está nos ouvindo. Acredito que Ele fará algo a respeito. Na
verdade, não é por isso que estamos todos aqui?”.

Silêncio entre seus amigos.

Ficou claro quem tinha fé e quem não tinha.

Duzentos vieram orar pedindo chuva, mas apenas um acreditou


que a chuva viria. Duzentos afirmaram crer, mas apenas um
realmente cria. Um veio vestindo capa de chuva e botas e
carregando um guarda-chuva. Duzentos não achavam que era
preciso.

Tiago nos diz em sua epístola, consignada no Novo Testamento:


“Queres ver, ó homem vão, como a fé sem obras é estéril?”. Jesus
nos disse que “Se me amais, guardareis os meus mandamentos”. E,
assim, deixou claro que crença e comportamento são duas faces da
mesma moeda, da moeda da verdadeira fé. Dietrich Bonhoeffer
disse: “Só quem acredita obedece, mas só quem obedece acredita”.

Se é verdade que as ações falam mais alto que as palavras, a ação


de ter um guarda-chuva na mão enquanto reza pela chuva
proclama que você acredita em um Deus que controla o universo,
que ouve aqueles que Lhe são fiéis, que é poderoso e nos permite
participar de sua obra redentora por meio de nossas orações.

Se você diz acreditar, mostre sua crença em ações. Se você diz ser
jogador de futebol, vá treinar, ouça o técnico, memorize as jogadas
e participe dos treinos. Se você se diz músico, aprenda as regras da
música, rima, ritmo e cadência, e pratique.
Memorize as peças, aprenda a ler partituras e leve um guarda-
chuva. “Mostra-me a tua fé sem obras e eu te mostrarei a minha fé
pelas minhas obras!”. Se você pretende crer, creia. Se você vai orar,
espere que Deus ouça. Se você diz que é um seguidor de Cristo, aja
como tal. Se você diz ser alguma coisa, então seja aquilo que você
professa. Ser uma pessoa de fé significa não se limitar apenas a uma
experiência superficial, é necessária uma devoção profunda e
completa.

Não é um bufê
Talvez os macetes que encontramos nos videogames sejam um
sintoma do que aflige nossa cultura hoje. Se você já jogou
videogame ou viu seus filhos jogarem, sabe que, em muitos desses
jogos, é possível encontrar a combinação secreta de códigos que
permitem pular fases, burlar algumas regras e obter uma vantagem
contra o inimigo do jogo. A lição implícita aqui é que as regras não
importam tanto quanto ter a habilidade necessária para descobrir
como quebrá-las.

Antigamente, jogos como xadrez, Banco Imobiliário e outros


jogos de tabuleiro vinham com um pequeno folheto que listava e
definia as regras. O jogo foi feito para ser jogado de acordo com
essas regras. Quebrar as regras tinha nome: trapaça. Não havia
“macetes”.

O cristianismo é semelhante aos jogos antigos, não aos novos. As


regras do cristianismo não mudam toda vez que alguém entra no
jogo. Não existem macetes que permitam progredir na vida com
mais facilidade. Doutrina e prática foram estabelecidas. E o “jogo”
não foi definido ontem. Podemos seguir sua história por dois
milênios.

Recentemente, Pete Buttigieg, antigo presidente da Câmara de


South Bend, Indiana, e candidato presidencial em 2020, dirigiu-se
à tribuna nacional para atacar o vice-presidente Mike Pence e, por
associação, dezenas de milhões de cristãos ortodoxos da América.

“Meu casamento [homossexual]”, disse Buttigieg, “me tornou um


homem melhor. E sim, senhor vice-presidente, isso me aproximou
de Deus. Se ser gay era uma escolha, foi uma escolha feita por
alguém muito acima de mim. Isso é o que eu gostaria que pessoas
como Mike Pence entendessem: se você tem um problema com
quem eu sou, o seu problema não é comigo. Sua briga, senhor, é
com meu Criador [...]”.

Essa não foi um golpe baixo de retórica isolado. Anteriormente,


em 2019, Buttigieg criticou o vice-presidente Pence, dizendo:
“Quem pensaria que este supercristão evangélico entraria para a
história como a parteira da presidência do astro pornô? 81 Se ele
estivesse aqui, você pensaria que ele é um cara legal, mas ele
também é um fanático. Como ele pôde tornar-se o líder de torcida
da presidência do astro pornô? Será que ele parou de acreditar nas
Escrituras quando começou a acreditar em Donald Trump?”.

O Sr. Buttigieg continua ridicularizando as convicções religiosas


de Pence, apesar de ele ter afirmado: “Tenho a maior consideração
pessoal para com o prefeito Buttigieg”. E também ter dito: “Eu o
vejo como um servidor público dedicado e patriota”. Não há
registro de que Pence tenha insultado Buttigieg ou retribuído sua
zombaria com semelhante escárnio, apesar de ambos terem servido
juntos ao estado de Indiana quando Mike Pence era governador.
Pence demonstrou notável contenção, além de civilidade e um
espírito generoso de verdadeira tolerância.

Não vou me restringir dessa forma.

Embora o nosso vice-presidente possa achar politicamente


imprudente responder a tais provocações, alguns de nós vemos
menos motivos para permanecer cautelosos. Por mais presunçoso
que seja oferecer uma resposta em nome do vice-presidente, vou
arriscar uma tentativa. Aqui vai.

Sr. Buttigieg, já lhe ocorreu que “pessoas como Mike Pence” não
têm um problema com “quem o senhor é”, mas não concordam
com o que senhor faz? Acreditamos que a identidade humana é
muito mais do que o produto das inclinações sexuais de uma
pessoa. Na verdade, o “Criador” que o senhor referencia com
tamanha audácia, deixa isso muito claro.

Veja, senhor prefeito, isso é uma questão que trata de suas


tendências, não de sua personalidade. Quando se trata de seus
pecados pessoais, “pessoas como Mike Pence” não dão a mínima.
Seus apetites sexuais são da sua conta. O problema dos cristãos
obedientes e fiéis é o seguinte: consideramos a vida privada de
outra pessoa apenas isso, privada. Por favor, pare de nos dizer de
que tipo de sexo o senhor gosta. Não queremos saber. Se o senhor
nos quer fora do seu quarto, feche a porta. Pare de abrir e nos
forçar a aplaudir e comemorar.

Ah, consigo ouvir sua resposta antes mesmo de o senhor abrir a


boca, Sr. Buttigieg. É tão previsível quanto o nascer do sol. “O
senhor não está entendendo”, você diz. “Não se trata de sexo.
Trata-se de casamento”. Bem, ignorando a clara incongruência
dessa afirmação, vamos direto ao assunto para acabar logo com
isso: o que lhe dá o direito de redefinir um sacramento da Igreja?
Você não pode criar seu próprio cristianismo. Você também não
pode inventar o seu próprio Jesus e, caso não tenha percebido, Ele
é explicitamente claro em sua definição de casamento: “Por isso, o
homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher; e os
dois formarão uma só carne”.

Não, nossa briga não tem nada a ver com seu criador, senhor.
Nossa briga é com o senhor.
Percebe o que o Sr. Buttigieg e tantos outros cidadãos fizeram?
Eles definiram o próprio cristianismo e mudaram as regras. Eles
acham que encontraram um “macete”.

Em vez de aceitarem o plano concebido por Deus, apresentado


pelas Escrituras, pela tradição, pela razão e pela experiência, um
projeto respaldado por dois mil anos de história e ensino cristão,
eles criaram uma nova religião que se parece muito mais com o
deus que enxergam no espelho do que com aquele que veem na
Bíblia.

Eu adoraria ter essa conversa com o próprio Sr. Buttigieg, mas tive
a oportunidade de tratar do mesmo tema com muitos estudantes,
professores, pais e pastores.

Muitos professos cristãos partilham a mesma fé tênue do prefeito


Pete — cristãos de conveniência que parecem pensar que podem
simplesmente escolher as peças que gostam e jogar todo o resto
fora.

Certa vez, um amigo me disse que odiava o Subway. Não o metrô,


82
mas a lanchonete Subway. O problema dele? Eles anunciam
sanduíches com uma preparação específica, mas, quando você vai
pedir um, eles ainda perguntam o que você gostaria de colocar
nele. Quando meu amigo pediu um sanduíche, ele queria aquele
que tinha visto no anúncio, não sua própria criação.

Muitos americanos pensam que podem lidar com seu


cristianismo como um sanduíche do Subway. Em vez de comprar o
que é anunciado, eles podem personalizar dogmas e crenças aos
quais irão aderir, mesmo que isso resulte em algo totalmente
irreconhecível em relação ao que sempre compreendemos por
cristianismo.

As crenças e práticas cristãs não estão dispostas diante de nós


como um grande bufê para escolhermos e pegarmos determinadas
coisas. Elas são mais como o “especial do dia” no restaurante local
de uma pequena cidade. O cristianismo vem em um prato feito,
como anunciado — é pegar ou largar. Você não pode inventar seu
próprio cristianismo, assim como não pode transformar um pão
prensado com bife e queijo em um blt. 83

Nível de compromisso
Já que temos de aceitar o cristianismo tal como é apresentado nas
Escrituras e transmitido pela Igreja, não são apenas as doutrinas e
práticas que são inegociáveis, mas o nível de compromisso
também. Se você faz parte de um grupo ou igreja que pensa ter
autoridade para mudar as verdades testa das pela história da Igreja,
corra! Não fuja da fé, mas fuja daquela igreja.

As posições doutrinárias não são uma dança das cadeiras. O nível


de compromisso exigido com essas posições e doutrinas também
não é passível de discussão. O cristianismo não é uma religião de
meias medidas: é uma proposição completa. Os primeiros serão os
últimos e os últimos serão os primeiros. Quem tentar salvar a
própria vida, perdê-la-á. Aquele que está disposto a dar a sua vida
ganhá-la-á.

A nossa cultura do politicamente correto, por definição, procura


alterar definições. Os imigrantes ilegais são chamados de
estrangeiros indocumentados. Homens com disforia de gênero são
chamados de mulheres. O neognosticismo é chamado de
cristianismo. O amor é chamado de sexo. E o sexo é chamado de
amor. A discordância é chamada de ódio. A intolerância é chamada
de tolerância. Choramingar é chamado de estar consciente. Os
terroristas muçulmanos são chamados de extremistas religiosos.

Mas será que mudar alguma dessas definições altera o que é


verdade? Se uma determinada seita do Islã é propensa a atos
terroristas, você pode chamá-la de extremista o quanto quiser —
isso não muda a realidade das doutrinas fundamentais que
ensinam. Você pode chamar um imigrante ilegal de
“indocumentado” até cansar, mas isso não o torna legal. Você pode
chamar Bruce Jenner 84 de mulher, mas ele ainda tem cromossomos
Y. Fingir que você encontrou um “macete” para mudar todos esses
fatos não muda os fatos reais com os quais você está lidando.
Afirmar que o tigre não tem listras não muda o fato de que ele
ainda é um grande felino que pode matar você.

Digo mais uma vez, não podemos criar nosso próprio


cristianismo. Não é nossa função reescrever a definição de fé. O
cristianismo tem uma definição que resiste há dois mil anos. Os
prefeitos de cidades médias em Indiana não têm o direito de
redefini-lo simplesmente porque ele impõe alguns limites às suas
vidas sexuais. Santo Agostinho, que deixou para trás seus desejos
mundanos, disse-nos que se você acredita somente no que gosta
nos Evangelhos e rejeita o que não gosta, não é no Evangelho que
você acredita, mas em si mesmo.

O cristianismo é definido pela Bíblia, e a Bíblia nos ensina como


ser cristãos — não Pete Buttigieg, o Congresso ou os tribunais,
nem você ou eu. Nenhum de nós tem a prerrogativa de tirar as
listras do tigre.

Desde as primeiras páginas das Escrituras, redigidas há cerca de


3.500 anos, descobrimos que Israel foi instruída a seguir a Deus
integralmente. Deus prometeu ao povo escolhido que seguir Seus
mandamentos os levaria a ser abençoados e desfrutar a vida e a
liberdade que Deus desejava para eles. Mas se recusassem,
sofreriam as consequências da sua apostasia. Por vezes, os profetas
convocaram o povo a se lembrar das bênçãos da obediência e das
maldições que advêm da rebelião. O Livro dos Reis é apenas um
dos antigos documentos que contam a história desse triste ciclo de
promessas e castigos.
Nos Evangelhos, encontramos Jesus resumindo (não reescrevendo
ou substituindo) as suas leis, dizendo aos Seus seguidores para
amarem a Deus com todo o coração, mente e alma, e amarem o
próximo como a si mesmos. Ele também lhes disse que não
poderiam ter um coração dividido e ser Seus discípulos. Mateus até
registra Jesus ensinando Seus seguidores a abandonar todo o resto:
família, carreira, dinheiro e até mesmo a preocupação com a
própria vida para segui-Lo.

As epístolas de Paulo, Pedro, Tiago e Judas continuam essa


instrução com clareza. No Livro do Apocalipse, encontramos todas
as sete igrejas da Ásia, exceto uma, condenadas por não seguirem
Jesus por completo. Os crentes em Éfeso, por exemplo, foram
instruídos a voltar ao seu primeiro amor. Os laodicenses foram
chamados de mornos; foi-lhes dito que Cristo os vomitaria de sua
boca. Esses são exemplos daqueles que não se entregaram
completamente à fé, que se recusaram a apostar tudo. As regras
foram estabelecidas de forma muito clara; a definição da fé não era
confusa ou ambígua, e não havia “macete”.

O cristianismo instrui seus seguidores a estarem 100%


comprometidos. Não ficar apenas na superfície. Os seguidores de
Jesus são chamados a mergulhar e morrer. E quando eles emergem,
eles literalmente nascem de novo, são novas criações em Cristo.

C. S. Lewis nos disse que “o cristianismo, se for falso, não tem


importância e, se for verdadeiro, tem uma importância infinita. A
única coisa que ele não pode ser é moderadamente importante”. Ele
também escreveu que Cristo nos diz:

Entreguem-se por inteiro! Não quero tanto do seu tempo, tanto


dos seus talentos e dinheiro, e tanto do seu trabalho. Quero vocês
por inteiro! Por inteiro!! Não vim para atormentar ou frustrar o
homem ou a mulher natural, mas para matá-lo! Nenhuma meia
medida servirá. Não quero podar apenas um galho aqui e outro
ali; quero jogar a árvore inteira fora! Entreguem para mim, todos
os seus apetrechos, todos os seus desejos, todas as suas
expectativas, vontades e sonhos. Entregue-os todos para mim.
Entregue-se a mim e eu farei de você um novo homem — à minha
imagem. Entregue-se e, em troca, eu Me entregarei a você. Minha
vontade se tornará sua vontade. Meu coração se tornará seu
coração.

Vá com tudo, acredite integralmente e comprometa-se por inteiro.


Você diz que tem fé, ótimo! Agora mostre sua fé pelo que você faz.

Se for orar pedindo chuva, traga seu guarda-chuva.

lição xi: Seja como está escrito


no rótulo
Ó, o que o homem pode esconder dentro de si apesar de ser um anjo do lado de fora!

— William Shakespeare

Duas festas

S eja lá o que você diz defender — defenda de verdade. Se não,


pare de dizer que essa é a sua causa.

Muitas vezes, fui repreendido por parecer que eu acredito que os


cristãos só podem votar em candidatos da direita. Uma dessas
críticas veio de um pastor.

Num e-mail descrevendo meu conhecimento limitado de


psicologia social, bem como minha ignorância sobre as teorias de
desenvolvimento cognitivo e moral (aliás, o tema dos meus
trabalhos de graduação e doutorado), ele começou a me castigar
pelo que chamou de “viés de confirmação”.

Onde estava minha culpa nesse banimento ideológico?

Parece que o meu pecado foi a persistente crítica que fiz ao


pensamento ineficaz e falido dos “progressistas”.

“Jesus não era republicano nem democrata”, disse meu mentor


clerical. “Seu foco na política partidária apenas desvia a atenção da
mensagem de Cristo. Certamente, se você tivesse a mente mais
aberta, não encontraria alguns exemplos em que os democratas
estão certos e os republicanos estão errados?”.

Sabendo que o contexto é sempre de fundamental importância,


decidi fazer uma ou duas perguntas antes de sucumbir à tentação
de arriscar uma resposta: “Além do fato de que Jesus obviamente
não era republicano nem democrata, porque não existia qualquer
partido na época, pode o senhor me dizer quais propostas políticas
concretas o preocupam? Por favor, seja específico”, eu disse.

Não conseguindo obter resposta, decidi dobrar a aposta.

“Por favor, mostre-me”, pedi, “alguns casos específicos em que,


como você diz, ‘os democratas estão certos e os republicanos estão
errados’.

“Por exemplo, apresente, por favor, alguma evidência que mostre


que a justiça politicamente correta está certa e a justiça embasada
na Bíblia está errada.

“O senhor pode me dizer por qual motivo negar o fato biológico


de mulheres existirem é correto, ao passo que defender a realidade
empírica de que essa pessoa é uma mulher é errado?

“Por que é certo matar nossos filhos mais novos, enquanto lutar
para protegê-los de um partido político obcecado em executá-los é
errado?

“Por favor, diga-me por qual razão é certo esconder as


consequências físicas do sexo praticado de forma contrária aos
preceitos bíblicos, enquanto é errado educar as pessoas sobre seus
efeitos nocivos.

“Por favor, explique-me por que é certo que o Estado tenha a


presunção de definir o casamento (que é um sacramento da Igreja),
enquanto lutar para manter o governo fora dos assuntos da Igreja é
errado?

“Por favor, ajude-me a compreender por que é certo confiscar


propriedade privada (isto é, roubá-la através de impostos,
cobranças e inflação), enquanto é errado defender o direito de
todos os cidadãos de trabalhar duro e desfrutar dos frutos do seu
trabalho?

“Você pode apresentar evidências de que ignorar a soberania da


nossa nação é certo, enquanto defender as fronteiras do nosso país
(como Deus disse a Israel para defender as dele) é errado?

“Por favor, apresente as razões que provam que doutrinar os


nossos filhos em escolas comprometidas com o niilismo moral é
certo, enquanto ‘educar os nossos filhos no caminho que devem
seguir’ 85 é errado.

“Por favor, diga-me por que você acredita que negar a existência
de Deus e eliminar qualquer menção a Ele de nossos tribunais, de
nosso Congresso e de nossas salas de aula é certo, enquanto honrá-
Lo como autor e instituidor de nossos direitos inalienáveis de vida
e liberdade é errado.

“Por favor, mostre-me por que é certo dividir nosso país por raça
e cor, enquanto trabalhar para uni-lo pela virtude e pelo caráter é
errado.
“Por favor, apresente provas que demonstrem que a ênfase
constante na minha identidade e no meu processo de vitimização é
correta, enquanto o foco na minha responsabilidade e nas minhas
obrigações é errado. Por favor, diga-me por qual motivo Deus
sempre — sempre — abençoaria e protegeria um povo que nega
sua existência, faz vaias a Ele em suas convenções nacionais, zomba
dos padrões de moralidade mais básicos que Ele estabeleceu,
celebra o assassinato de Seus filhos mais novos, escarnece de
crianças de cinco e dez anos de idade no altar da política sexual e
define-se por comportamentos que Ele chama de condenáveis. Por
favor, diga-me onde essa loucura está certa e por que desafiá-la
como suicida é errado”.

Não obtive resposta do meu amigo pastor. Na verdade, seu


silêncio ensurdecedor foi tão espantoso quanto sua pergunta
inicial.

Meu argumento aqui não é lhe dizer em qual candidato votar, mas
sim sugerir que, se você afirma acreditar em algo, então seu voto
não deveria ser condizente com essa crença?

Se você afirma acreditar na liberdade, então vote por menos


governo, e não por mais. Se você afirma acreditar nos direitos das
mulheres, então vote em alguém que entenda que se as mulheres
não forem algo real, elas não terão direitos. Se você afirma acreditar
no cuidado com a criação, então vote em alguém que acredita no
Criador. Se você afirma acreditar na Água Viva, 86 então sua alma
não deveria derramar veneno quando espremida.

Fariseus
Os Evangelhos da Bíblia — Mateus, Marcos, Lucas e João —
apresentam como inimigo de Jesus um grupo surpreendente.
Supunha-se que o inimigo do Messias judeu fossem os romanos.
Eles estavam ocupando a terra que era Dele. Mas Cristo não tratou
os romanos como inimigos. Ele lhes mostrou compaixão.

Seria de esperar que os traidores de Israel, como os judeus


cobradores de impostos que tiravam vantagem do próprio povo,
fossem inimigos de Jesus. Mas, em vez disso, Ele fez amizade e até
escolheu um deles para fazer parte de seu círculo íntimo de doze
discípulos.

Você poderia pensar que os inimigos de Cristo seriam os


“pecadores”, os assassinos, os ladrões, as prostitutas e os adúlteros,
mas há muitos relatos que registram Jesus consolando e até
perdoando essas pessoas.

Não, as Escrituras não retratam qualquer uma dessas pessoas


como inimigas de Jesus. O grupo com o qual Jesus teve mais
confrontos foi o das elites políticas, acadêmicas e religiosas, os
caras “mais espertos que você” — os fariseus.

Eles eram os judeus mais instruídos e politicamente poderosos da


sua época. Eram advogados e professores. Eram semelhantes a uma
combinação dos tipos que hoje percorrem os corredores do nosso
Congresso, das nossas principais igrejas e das nossas faculdades.

Eles eram os guardiões da lei. Eram os modelos do seguimento da


lei. Tinham a presunção de dizer a todos quais leis eram
necessárias e quais eram falsas. Levaram isso tão a sério que
continuaram acrescentando novas leis.

Eles também eram as autoridades morais. Definiam o que era


justo. O que era bom e mau, certo e errado, verdadeiro e falso.
Definiam o que era a misericórdia.

Sendo assim, à primeira vista, poderíamos concluir que esses


sujeitos íntegros e cumpridores da lei seriam os primeiros a ficar ao
lado do Messias, e Ele ao lado deles. Mas não foi assim.
Na verdade, Cristo os chamou de “sepulcros caiados, lobos, cobras
e víboras”. Ele os chamou de hipócritas. Se Jesus tinha algum
inimigo, parece que foram eles.

Por quê?

Porque eles eram falsos. Eles afirmavam ser uma coisa, quando na
verdade eram outra. Quando pressionadas, suas almas derramaram
desprezo em vez da confissão da verdade, autojustificação em vez
de arrependimento, hipocrisia em vez de integridade, vício em vez
de virtude.

Jesus nomeou aqueles que não praticavam o que pregavam como


sepulcros caiados, hipócritas, lobos em pele de cordeiro, víboras e
almas cheias de morte e decadência. Ele criticou aqueles que
fingiam ser algo que não eram, aqueles que mentiram para si
mesmos e mentiram para os outros sobre si mesmos. Essas são as
pessoas “mais espertas que você”, que pareciam ser os únicos
inimigos de Jesus.

Talvez seria bom reservar um momento para uma reflexão pessoal


antes de, precipitadamente, tomar a palavra e dizer “Jesus, puna-
os”.

Somos realmente diferentes? Quando somos pressionados, o que


brota da nossa alma?

Hoje, muitas pessoas que afirmam ser cristãs são fariseus que não
possuem nenhuma convicção interna. Eles querem o poder e a
autoridade que advêm de interpretar a palavra de Deus, mas falta-
lhes o sentimento interior e a dedicação que separa os que creem
de verdade dos hipócritas. Eles querem ser conhecidos como
cristãos, por isso se vestem com roupas cristãs. Mas, por dentro,
partilham a mesma visão de mundo corrupta que muitos dos seus
pares.
Colocar em prática o que você prega é muito importante para
qualquer adulto que queira defender algo. Aqueles fariseus que
recorrem às Escrituras para justificar seu próprio
engrandecimento, em vez de lutar por uma fé verdadeira, são
culpados de fazer propaganda falsa (e provavelmente de muitos
outros pecados). Eles usam embalagens enganosas para atrair seu
público, embrulhando presentes inúteis em ditos e ensinamentos
das Sagradas Escrituras.

Quando espremidos, eles revelam seu interior. Eles mostram que


têm um núcleo diferente do que o exterior deixa transparecer. Isso
não é liderança — é covardia. E se você quer ser um bom cristão e,
além disso, um bom homem, você tem que harmonizar da melhor
forma possível as coisas que diz ao mundo com as coisas que faz
nele.

Não seja um fariseu, seja um cristão.

lição xii: Esteja atento ao


Omaha
Minha melhor habilidade era saber ser treinado. Eu era como uma esponja, era agressivo
para aprender.

— Michael Jordan

Um sinal

À s vezes, a vida precisa de um redirecionamento. Há


momentos em que fica claro que, se você deseja o sucesso,
precisa dar meia-volta e tomar um caminho diferente.
Frequentemente, esse redirecionamento vem de alguém que nos
“treina”. E os fatos mostram que aqueles que sabem ser treinados
obtêm sucesso. Aqueles que não sabem muitas vezes ficam dando
murro em ponta de faca. Eles são teimosos demais para ver que o
que desejavam poderia ter sido realizado com um pingo de
humildade e um leve redirecionamento.

Sim, há momentos em que precisamos ir a fundo, seguir o plano e


resistir à vontade de desistir. Conforme discutido antes, a
convicção e o empenho são melhores do que concessões. Mas
muitas vezes precisamos ouvir um chamado e segui-lo.

Omaha! Omaha!
Peyton Manning é considerado um dos maiores zagueiros que o
futebol americano já viu. Sua carreira inclui duas vitórias no Super
Bowl, uma jogando pelo Indianapolis Colts e outra pelo Denver
Broncos. Manning foi um dos zagueiros mais espertos que já pisou
em campo. Ele era capaz de decifrar a defesa do time adversário e
saber quando uma jogada precisava ser alterada. Ele sabia quando
dar um sinal e alterar os planos.

Se você assistiu futebol durante a carreira de Manning, sem


dúvida o ouviu mudar de jogo muitas vezes. Suas instruções eram
bem distintas e claras. “Omaha! Omaha! Preparar, avançar!”.

A jogada foi interrompida e o plano B foi colocado em ação. Por


que a mudança? Por que não continuar com a formação que ele
havia traçado segundos antes? Por que não seguir o plano original
traçado por um técnico e um coordenador ofensivo?

A razão é que, quando seus adversários se aproximaram da linha e


definiram sua defesa, Manning pôde ver o potencial fracasso de
uma jogada antes que ela fosse iniciada. Então, ele mudou o plano e
deu um sinal. Microfones instalados perto do campo captaram seu
grito peculiar “Omaha! Omaha!” enquanto Manning mudava de
rumo, virava rapidamente e redirecionava seu time para fazer algo
que talvez fosse o exato oposto do que ele havia dito para se fazer
alguns segundos antes.

Certa vez, durante uma entrevista pós-jogo, Manning explicou o


grito “Omaha! Omaha!”. “Era uma palavra-chave que significava
que havíamos mudado a jogada”, disse. “O relógio indicava que
tínhamos pouco tempo e que a bola precisava ser lançada de
imediato. Então, usei essa palavra para avisar à minha linha de
ataque que ‘Ei, fomos para o plano B, o tempo está acabando’. É
uma palavra rítmica de três sílabas, ‘O-ma-ha, preparar, avançar!’”.
87

Manning sabia que seguir o plano original poderia resultar em


uma furada, uma jogada que não deu em nada, em um desperdício.
Sua capacidade de se ajustar e mudar de direção deu ao resto do
time as ferramentas necessárias para obter sucesso, e aquele sinal
proporcionou aos torcedores um grito de guerra que nunca será
esquecido.

A singularidade desse sinal ensina uma lição muito simples: às


vezes precisamos admitir que as circunstâncias mudaram e, se
quisermos evitar o desastre, é necessário descartar o plano, mudar
de direção e apresentar um novo plano. Precisamos gritar Omaha.

Há um velho ditado que diz que a definição de insanidade é fazer


a mesma coisa repetidamente e esperar um resultado diferente. A
frase foi atribuída a diversas pessoas, de Albert Einstein a Mark
Twain. Não importa quem a disse, a verdade da afirmação é óbvia.

Ser cabeça-dura e recusar-se a aprender com os próprios erros


pode ser uma receita para o desastre. Repetir a mesma velha
estratégia que levou ao fracasso e recusar-se a aprender com suas
derrotas apenas garante que você falhará novamente. Você não
deve esperar resultados diferentes se continuar apostando nas
mesmas coisas sem sentido que o levaram aos fracassos anteriores.
A vida é tudo, menos previsível, e, embora ninguém tenha sucesso
em nada sem estar comprometido com um objetivo e uma
estratégia claros, nenhum plano é à prova de falhas. Ser capaz de
prever os problemas antes que eles aconteçam e estar disposto a
mudar de rumo para evitá-los é um pré-requisito para o sucesso.

O antigo rei de Israel, Salomão, escreveu: “Há caminho que parece


reto ao homem; seu fim, porém, é o caminho da morte”. 88

Por vezes, ao que tudo indica, a jogada inicial pode parecer a


decisão certa.

Seu plano de jogo parece perfeito.

A vitória está tão perto que você pode saboreá-la.

Mas há uma ameaça escondida e, se você não perceber e se


ajustar, cairá em uma armadilha. Você vai falhar. Você será
demitido. E antes que note, se encontrará em uma péssima posição
no jogo, de forma que o melhor a se fazer é chutar.

Seu plano está funcionando? Ele está levando você à vida que
deseja? Ou será possível que o caminho que você escolheu, aquele
que parecia tão certo, leve à morte, e não à vida?

A flexibilidade de Peyton Manning em campo ensina uma lição:


todos nós devemos avaliar constantemente a situação em que nos
encontramos. Precisamos olhar para a defesa adversária e
determinar quais ajustes são necessários. Se nossa estratégia de
jogo não estiver funcionando, precisamos admitir que estamos
errados, mudar de rumo e nos adaptar à circunstância.

No entanto, muitas vezes não conseguimos ver todas as coisas


com a clareza necessária. Apesar de todo o treinamento e
preparação, simplesmente não vemos a realidade como ela é. Por
vezes, estamos tão próximos da situação que não conseguimos ter
uma visão geral dela. Não enxergamos algo que as pessoas mais
afastadas, aquelas que estão à margem, nas arquibancadas ou
assistindo pela tv, conseguem ver de forma cristalina.
Continuamos cometendo erros e não entendemos por que o plano
não funciona.

É aí que você tem que ouvir o técnico do time. O trabalho dele


não é apenas ajudar você a treinar naquele esporte e se preparar
para o jogo, mas também ajudar a reconhecer quando mudanças
precisam ser feitas. A razão pela qual ele está sendo pago é para
dizer quando dar o sinal de alerta.

Muitas vezes, os técnicos veem o que os jogadores não conseguem


ver. Na verdade, os times universitários de futebol americano e da
nfl costumam ter técnicos empoleirados no camarote dos
treinadores, bem acima do campo, de onde eles têm uma visão
aérea de todo o campo de jogo. Eles veem tudo o que está
acontecendo. Veem os erros que seus jogadores estão cometendo,
as falhas e oportunidades que os jogadores não conseguem ver
sozinhos.

Bom, é óbvio que qualquer técnico que se preze quer, tanto


quanto seus jogadores, vencer. Ele quer que eles tenham sucesso.
Um técnico cujo objetivo fosse ver seu time perder a bola várias
vezes seria um péssimo técnico. Os técnicos não têm a intenção de
perder. Eles não querem ver seus jogadores falharem. Eles são
colocados em uma posição que os torna aptos a tirar o máximo
proveito de cada jogador, mas uma coisa que deixa todo técnico
louco é um jogador que não quer ser treinado.

Uma pessoa que não deseja ser treinada é tão frustrante que pode
até fazer com que os técnicos desistam de tentar. Mike Tice, antigo
técnico principal do Minnesota Vikings, disse isso quando se
aposentou. De acordo com o Daily Norseman, “Tice diz que está
pronto para deixar a posição de técnico porque ‘os jogadores de
hoje não querem ser treinados’”. 89
E você? Você sabe ser treinado? Os outros querem passar tempo
com você e investir em você? Ou sua atitude os afastou?

Saber ser treinado significa admitir que você não sabe tudo.
Significa reconhecer que alguém realmente consegue ver coisas que
você não vê. Saber ser treinado significa estar disposto a ir até os
limites do campo, aceitar críticas, ouvir conselhos e mudar de
direção.

Saber ser treinado é o oposto de ser arrogante. É ser humilde o


suficiente para admitir quando seu plano não está funcionando e
quando você precisa usar outra estratégia. Saber ser treinado
significa deixar a arrogância de lado pelo bem do jogo e da equipe.
Seu tempo no campo, suas estatísticas e seu ego nada importam.
Saber ser treinado significa ouvir em vez de falar. Saber ser
treinado significa assumir a responsabilidade pelos seus erros, em
vez de reclamar dos erros de outra pessoa.

Saber ser treinado é necessário para ter sucesso na vida e


distingue os adultos das crianças. Todos precisamos aprender uns
com os outros para crescer, mesmo que isso signifique admitir que
o nosso plano inicial estava fadado ao fracasso. Pode ser difícil
acreditar que outra pessoa deseja o melhor para nós, mas essa
relação é um componente necessário da vida humana. Quando os
tempos ficam difíceis, saber ser treinado pode fazer a diferença
entre o sucesso e o fracasso, a felicidade e o sofrimento. Pode fazer
a diferença entre a vida e a morte.

Uma mudança de direção


Pense em alguns dos chamados mais conhecidos. A história nos
deu muitos exemplos deles.

Harland Sanders trabalhou em um posto de gasolina e teve outros


empregos ao longo de sua vida antes de ficar famoso. Se o nome
não lhe parece familiar, substitua “Harland” por “Coronel” e tenho
certeza de que saberá sobre quem estou falando. Em vez de
redobrar seus erros, aos 62 anos, Sanders decidiu deixar o posto de
gasolina onde tinha um humilde trabalho para seguir um novo
rumo. Se Harland Sanders não estivesse disposto a seguir um
chamado, não haveria kfc (Kentucky Fried Chicken).

Michael Jordan estava no auge da carreira. Ele já tinha três anéis


de campeão 90 e, ao que tudo indicava, ninguém venceria os Bulls 91
em um futuro próximo. Apesar desse sucesso, Jordan optou por se
aposentar mais cedo da nba para realizar seu sonho de infância de
jogar beisebol. Embora Jordan tenha obtido algum sucesso nos
campos de beisebol, o motivo de sua fama certamente não se deve
à sua média de rebatidas. Com todo o mundo assistindo, Michael
Jordan estava disposto a engolir sapo, mudar de rumo e seguir um
chamado. Voltou ao basquete, conquistou mais três títulos da nba e
concluiu sua carreira com um total de seis campeonatos vencidos.
Ele agora é considerado por muitos o maior jogador de basquete da
história da nba.

Saulo de Tarso foi um dos mais infames perseguidores de cristãos


no início da Igreja. Ele tinha um plano. Sua estratégia era clara. Ele
sabia qual seria seu próximo passo e por quê. Ele tinha uma
direção e estava determinado. Só que, um dia, enquanto estava a
caminho da Síria para prender e matar mais cristãos, sofreu um
ataque inesperado e foi derrubado por ninguém menos que Deus.
Enquanto estava de costas na poeira e sujeira da estrada que levava
a Damasco, ouviu o Eterno “técnico” exclamar: “Saulo, Saulo, por
que me persegues?”.

Saulo bem que poderia ter se levantado, se limpado e caminhado


com mais afinco em direção ao seu objetivo. Ele poderia ter se
convencido de que a queda do cavalo tinha causado uma
concussão e feito com que ele ouvisse vozes por um breve
momento. Ele poderia ter refutado com arrogância os amigos que
estavam com ele e testemunharam tudo. Ele poderia ter ignorado
seus companheiros e ignorado o Técnico.

Mas ele estava disposto a ouvir e aprender, e por isso o mundo


mudou. Graças ao fato de Saulo ter escutado o chamado, agora o
conhecemos como Paulo, defensor da Igreja e autor de dois terços
do Novo Testamento. Em vez de permanecer no caminho de
destruir a Igreja, Paulo juntou-se a Pedro para se tornar um
fundador da Igreja. O inimigo da cruz tomou a sua própria cruz.
Ele se arrependeu, se reformou e mudou de direção. Ele morreu
para si mesmo e tornou-se uma criação inteiramente nova em
Cristo. Ele escutou um chamado.

Ronald Reagan, o quadragésimo presidente dos Estados Unidos,


só deixou sua primeira marca na política quando já era mais velho.
Reagan era um ator sem muita relevância e presidente da Screen
Actors Guild 92 antes de deixar Hollywood para concorrer ao
governo da Califórnia. Só depois de sofrer uma derrota na primeira
campanha presidencial é que ele foi finalmente eleito líder do
mundo livre em 1980, poucos dias antes do seu septuagésimo
aniversário.

Até os adversários de Reagan agora têm de concordar que ele


mudou o mundo através do seu envolvimento na política. Se
tivesse permanecido em Hollywood, contente em viver a vida
badalada de uma celebridade, Ronald Reagan seria conhecido
apenas por ter participado de vários filmes comuns. Sem a sua
vontade de mudar de rumo, o mundo nunca teria ouvido as
icônicas palavras: “Sr. Gorbachev, derrube este muro!”. 93 Sem a
mudança de rumo feita por Reagan, a Cortina de Ferro poderia
não ter sido dividida e o Muro de Berlim poderia não ter
desmoronado. Devido à sua determinação em viver a vida como
um chamado, as palavras de Ronald Reagan ecoarão pelos salões
da história humana durante os séculos vindouros.
Todos esses são exemplos de pessoas comuns que realizaram
coisas extraordinárias porque estavam dispostas a mudar. Cada
uma dessas pessoas deixou um legado que teria sido impossível se
tivessem decidido aprofundar, reforçar e insistir no próprio plano
inicial, em vez de alterá-lo.

Mas cada um deles provou que estava disposto a ser treinado.


Todos estavam dispostos a aprender algo, admitir a derrota e abrir
um novo caminho com paixão e determinação renovadas.

Abordagem acme para a vida


Um antigo desenho animado da Warner Bros., Papa-Léguas, é uma
ilustração perfeita de alguém que nunca esteve disposto a escutar
um sinal e mudar. Em cada episódio, o vilão, Wile E. Coyote, tenta
pegar sua presa, o Papa-Léguas, mas a cada tentativa o Coyote só
consegue agarrar algumas penas e o fracasso.

Embora o coiote tente pegar o Papa-Léguas diversas vezes, com


esquemas cada vez mais sofisticados, usando bigornas, foguetes e
até patins a jato, ele nunca consegue. O Papa-Léguas sempre vence.
Wile E. Coyote é a imagem do fracasso. Ele sempre acaba ferido,
queimado, quebrado, esmagado e sem sucesso.

Mas, apesar disso, Wile E. Coyote sempre recorre às mesmas


coisas e ao mesmo plano. Ele sempre abre a mesma caixa da acme
Corporation com os mesmos dispositivos, bombas, patins, asas
inúteis, armas e munições.

Mas nada disso funciona. O Coyote nunca, jamais tem um estalo e


muda.

Em algum momento, todos nós nos perguntamos se estamos indo


atrás das coisas erradas. Nossas escolhas estão funcionando?
Estamos fazendo a mesma coisa de forma repetida e esperando
resultados diferentes, assim como Wile E. Coyote? Ou estamos
dispostos a admitir nossos erros e mudar de rumo, como Jordan,
Sanders ou Reagan? Estamos dispostos a mudar nossos nomes
como o apóstolo Paulo?

Todos nós rimos de um personagem de desenho animado quando


ele falha diversas vezes, mas não é tão engraçado quando vemos
pessoas reais ao nosso redor vivendo basicamente da mesma
maneira, fazendo sempre as mesmas coisas sem sentido e, de
alguma forma, sempre esperando resultados diferentes. Em algum
momento, todos nós deveríamos estar dispostos a fazer a pergunta
do Dr. Phil: “Como isso está sendo para você?”. 94

Existe uma palavra que designa bem o ato de dar murro em ponta
de faca sem parar: insanidade. Se algo não estiver acontecendo do
jeito que você esperava, seja humilde o suficiente para buscar
conselhos, ouvir o técnico, fazer ajustes e tentar de novo.

Salomão escreveu: “Porque o justo cai sete vezes, mas ergue-se,


enquanto os ímpios desfalecem na desgraça”. 95

O “justo” se levanta, se adapta e inicia a próxima jogada. Ele


aprende e cresce com o próprio fracasso. Ele não começa a exigir
“espaços seguros” e reclamar de “microagressões” nem culpa todos
ao seu redor pelo próprio fracasso. Ele não fica em grupo à espera
de um grande abraço coletivo. Ele aceita sua responsabilidade de
dizer “Omaha, Omaha” e faz uma jogada diferente.

Uma pessoa que sabe ser treinada é uma pessoa que sabe ser
transformada. Os melhores atletas percebem que sua posição
estratégica e perspectiva podem ser limitadas. Eles contam com
companheiros e técnicos para ajudá-los a entender o problema que
enfrentam e fazer os ajustes.

A pessoa transformável percebe que “seu modo de fazer as coisas”


não é tão importante quanto obter o resultado certo. Ela está aberta
a outras formas de agir. Ela aprende com as próprias experiências e
deseja que colegas de confiança apontem suas fraquezas. Ela ouve.
Todos nós ficamos incomodados com pessoas que não escutam,
que fazem interrupções sem parar, que parecem se importar mais
com o som de sua própria voz do que com qualquer coisa que
outra pessoa possa estar tentando lhes dizer.

Paulo escreveu na sua carta aos Romanos: “Não vos conformeis


com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso
espírito”. 96

Hoje, muitas pessoas acreditam que só devemos ouvir quem nos


acalma e nos agrada, quem nos “confirma”. Se alguém nos desafia
com uma ideia de que não gostamos ou, Deus nos livre, sugere que
algumas das nossas escolhas e valores podem estar errados, nós
gritamos com essa pessoa e a silenciamos.

E daí que Ben Shapiro é brilhante e pode realmente ter alguns


bons conselhos a dar? Ele é conservador, então precisa ser
silenciado. Ele precisa ser expulso. Não vamos ouvir.

E daí que Candace Owens e Star Parker entendem a situação da


comunidade negra muito melhor do que você? Elas são
conservadoras. Elas nunca devem ser convidadas para falar no seu
campus. Elas estão proibidas.

A lista continua.

E daí que Dave Rubin fez parte da esquerda radical e parece ter
certos conhecimentos excepcionais para partilhar graças à sua
experiência em The Young Turks? 97 E daí que David Horowitz
costumava trabalhar em estreita colaboração com os Panteras
Negras e os abandonou por certas razões muito claras e justas? E
daí que Abby Johnson costumava ser pró-aborto e não é mais por
razões que são muito mais defensáveis do que a visão de mundo
que ela costumava ter?
Para muitos, essas ideias são bastante desafiadoras. Em vez de
ouvirem pontos de vista dissonantes, muitos consideram essas
pessoas como do “lado errado da história”. Mas se recusar a ouvir
quem discorda de você garante que você nunca crescerá, nunca
redirecionará o seu rumo e mudará. Boa sorte ao tentar escalar a
mesma parede de tijolos diversas vezes sem fim.

Lembre-se: existe um caminho que parece certo para um homem,


mas seu resultado é tudo menos certo. O resultado de não ouvir é a
estagnação, não o crescimento. O resultado de não mudar é a
derrota, não a vitória. O resultado de falar demais e ouvir muito
pouco, de “fazer coisas que nos parecem certas”, mas que os outros
nos dizem que são apenas erradas e que não funcionam, é a
destruição.

A palavra transformar significa “mudar de condição, natureza ou


caráter”. 98 A transformação pessoal é o oposto da destruição
pessoal.

Mas a transformação muitas vezes vem de fora, ao seguir o


conselho de um mentor ou técnico. Escolher o treinador certo e
ouvir a voz certa é fundamental se quisermos tomar as decisões
certas e realizar as jogadas certas na vida.

Certa vez, ouvi a história de um tenista cujo técnico do Ensino


Médio causou um impacto que durou muito mais do que os
poucos anos de tênis no colégio. O técnico ensinava pelo exemplo,
mas o tenista sabia que ele queria o seu bem e se preocupava com
seu futuro. Esse mesmo tenista jogou na faculdade, mas os
resultados foram bem diferentes. O técnico universitário pouco se
importava com os jogadores e se concentrava mais em construir
seu currículo do que em desenvolvê-los. Os resultados refletiram
drasticamente a mudança.

O jogador havia se destacado no Ensino Médio, absorvendo tudo


que o técnico tinha a ensinar. Seu jogo e suas habilidades
melhoraram. Ele encontrou alegria naquele esporte.

Na faculdade, ele começou a odiar o tênis. Uma das grandes


alegrias de sua vida era agora um fardo. Vendo como o técnico
universitário era, o te nista parou de ouvi-lo e, num piscar de olhos,
viu sua decepcionante carreira universitária chegar ao fim.

O técnico certo é fundamental. Os seguidores de Cristo


encontram nele um “técnico” que se destaca acima de todos os
outros. Seu trabalho transformador pega um coração que antes era
de pedra e o converte em um coração de carne.

lição xiii: Seja a carne do


hambúrguer
Ganhamos a vida com aquilo que conquistamos. Vivemos a vida por aquilo que
oferecemos.

— Winston Churchill

Economia do hambúrguer

U mhambúrgueres.
antigo comercial da Wendy’s explicava o valor de seus
Em concorrência com o McDonald’s e o Burger
King, bem como com outros restaurantes de fast food, a Wendy’s
lançou um anúncio que atacava veladamente seus concorrentes.
Enquanto três senhoras mais velhas examinavam um hambúrguer,
duas mulheres repararam no pão grande e fofo. A terceira, Clara
Peller, fez uma análise mais aprofundada do hambúrguer.

Ao abrir o hambúrguer, Peller (bem como os espectadores do


comercial) vê um pão enorme com uma minúscula carne de
hambúrguer. Enquanto procura o pequeno hambúrguer, ela
pronuncia a frase icônica: “Onde está a carne?”. A frase seria dita
milhões de vezes após a estreia do comercial em 1984.

A questão era clara: um hambúrguer de verdade depende do


tamanho da carne, não do pão. Afinal, o pão só vale cerca de 25
centavos. O valor de varejo de uma fatia de tomate, de uma fatia de
cebola e até mesmo de um pedaço de alface é de uns poucos
centavos. Uma fatia de queijo também vale apenas alguns trocados.
Então, por que um hambúrguer custa tanto em uma lanchonete? O
que justifica um custo de cinco dólares ou mais?

É a carne do hambúrguer que justifica o preço de um hambúrguer.


Cem gramas de carne bovina são precificadas em dólares, e não em
centavos, e vale lembrar que um hambúrguer de verdade é feito
100% de carne bovina; é isso que faz o cliente pagar alguns dólares
a mais para consumi-lo.

De todos os ingredientes necessários para fazer um hambúrguer, a


carne bovina é o que tem mais valor.

Qual é o ingrediente mais valioso de uma vida?

Toda vida tem valor, independentemente de raça, credo,


nacionalidade, idade, sexo, de ter nascido ou não. Todo ser
humano tem valor. Mas o que um ser humano realmente faz ao
longo do curso de sua vida nem sempre tem valor. Por exemplo, o
trabalho de Madre Teresa é muito mais valioso do que o de um
traficante de drogas. As ações de uma enfermeira têm mais valor
do que as do líder de um esquema de pirâmide.

A diferença entre os dois é de conteúdo moral e substância. A


contribuição de uma dessas pessoa é significativa e implica muito
esforço. Tem profundidade e peso moral. É “carnuda”, se você
preferir. A da outra pessoa é barata e vazia. Está vazia da “carne”
que torna a vida boa. Não tem carne bovina.
Fazer algo de valor é importante. Claro, às vezes é mais fácil
simplesmente fazer o que é confortável e conveniente, mas o desejo
de realizar um trabalho de valor torna-o mais recompensador.

Algumas pessoas, contudo, contentam-se em não fazer nada de


valor, embora ainda pensem que deveriam ter os benefícios que
advêm apenas de viver uma vida com valores.

Há alguns anos, Bill O’Reilly apresentou uma reportagem na qual


chamou a atenção para a vida de um jovem, Jason Greenslate, que
morava na Califórnia. Desejando mostrar aos telespectadores que
estava ocorrendo um abuso do sistema de direitos sociais, O’Reilly
expôs as ações desse jovem surfista do sul da Califórnia que se
recusou a trabalhar e, em vez disso, optou por viver do sistema.

O desmotivado millennial foi entrevistado por Jesse Watters.


Conforme o próprio Greenslate admitiu, ele não tinha intenção de
viver de outra maneira. Ele tocava em uma banda, recebia esmolas
do governo e usava vale-refeição para comprar alimentos como
sushi e outros itens sofisticados. O problema era que ele não tinha
vontade de fazer nada diferente. Em vez de ajudar aqueles que não
conseguiam se sustentar, ele escolheu aceitar a esmola e não fazer
nada com os conhecimentos e habilidades que lhe haviam sido
dados. Ele assumiu zero responsabilidade de viver uma vida de
valor.

A reportagem revelou um problema profundo que existe em nossa


sociedade atual. Muitas pessoas preferem receber uma esmola do
que trabalhar e ganhar a vida. Enquanto coisas gratuitas forem
distribuídas, não haverá incentivo para pessoas como Jason
Greenslate viverem de outra maneira. Infelizmente, em vez de
trabalhar para cuidar de si mesmos e ajudar os ou tros, muitos
americanos hoje simplesmente estendem a mão para receber uma
esmola.
Jason Greenslate já era adulto. Mas seu comportamento e atitude
eram indicativos de uma criança que não havia crescido. Ele queria
ser cuidado em vez de cuidar dos outros. Suas ações e decisões
refletiam uma vida de valor limitado.

Adultos maduros de verdade percebem que ser um trunfo para a


comunidade, agregar valor às organizações das quais são membros
e encontrar maneiras de contribuir para os outros são ideais que
vale a pena perseguir. Os adultos percebem que, quando a idade
adulta começa, também começa a expectativa de que eles cuidem
de si mesmos e dos outros.

É lamentável, mas a história do surfista está se tornando mais


norma do que exceção em nossa cultura. Mensalidades
universitárias gratuitas, telefones e alimentação gratuitos,
matrículas e fronteiras abertas. A redistribuição é a filosofia
corrente — não a responsabilidade.

Recompensar aqueles que pouco ou nada fizeram para ganhar a


recompensa é um câncer que corrói a própria alma de um país e de
uma cultura. Quando uma pessoa vê outra sobrevivendo sem fazer
nada, o egoísmo sofre uma metástase e se espalha. Num piscar de
olhos, centenas de milhares de pessoas começam a tomar medidas
semelhantes nas suas vidas, abandonando o trabalho árduo pela
praia, deixando de bater ponto e ganhar a vida.

O que aconteceu com a descoberta do valor pessoal, aquele que se


revela fazendo uma contribuição substancial — uma contribuição
“carnuda” — para a sociedade? Quando a aspiração deixou de ser
mirar nas estrelas para mirar no sofá? Por que hoje existe uma
justificativa para se destacar nos videogames, e não na vida?

Contribuir para o mundo que nos rodeia não deve ser apenas algo
esperado de um adulto, mas também um desejo genuíno dele.
Cada pessoa tem um talento, um dom, uma capacidade e, quando
utilizados de forma adequada, esses talentos ajudam a melhorar a
vida comunitária em vez de piorá-la.

Pense por um momento como seria o mundo se alguns dos


nossos maiores homens tivessem tomado a decisão de enterrar seus
talentos e viverem de esmolas. Algumas das melhores músicas
nunca teriam sido compostas. Livros que mudaram o mundo
nunca teriam sido escritos. Os avanços na Medicina que evitaram
milhões de doenças ou enfermidades não teriam sido feitos se
aqueles que ajudaram a fazê-los tivessem optado por assistir Netflix
a vida inteira. As crianças não aprenderiam porque os professores
não iriam trabalhar, escolheriam passar a vida à procura de esmola
em vez de ajudar os alunos. O lixo se acumularia em todos os
bairros se os garis decidissem que não tinham vontade de
trabalhar.

Veja bem, as habilidades que você possui, não importa quão


grandes ou pequenas elas possam parecer para você, são, na
verdade, destinadas ao corpo social como um todo. Todas as
habilidades e contribuições são necessárias. “A mão não pode dizer
ao olho: não preciso de você”.

A vida é mais do que maratonar séries. A vida apresenta desafios


maiores do que terminar um jogo de videogame. Todos temos a
oportunidade e responsabilidade de construir algo que dure mais
do que um castelo de areia.

Os adultos enxergam a vida como algo passageiro e procuram


aproveitar ao máximo os dias que lhes são dados, deixando para
trás algo de maior valor. Eles veem a vida mais como a
oportunidade de deixar um legado do que como uma ocasião para
ter lazer. Quer as suas contribuições sejam conhecidas por milhões
de pessoas ou apenas por uma, isso não importa. O que importa é
fazer alguma coisa.
Muitos dos jovens de hoje já desperdiçaram seus talentos. Eles
tinham potencial, mas não tinham coragem de pegar esse potencial
e transformá-lo em realidade.

Certa vez, um pastor me contou como é comum que as pessoas


com doenças terminais com quem ele conversa confessem seus
arrependimentos. Elas gostariam de ter passado mais tempo com a
família. Lamentam não ter tido mais iniciativa. Gostariam de ter
feito mais coisas que realmente importassem.

Elas nunca dizem que gostariam de ter assistido a mais jogos de


futebol. Nunca desejam ter assistido mais reprises de Friends.
Ninguém nunca disse que gostaria de ter dormido mais nas
manhãs de domingo. Ninguém nunca disse que gostaria de ter
dedicado menos tempo e dinheiro à igreja.

O amargo desespero das oportunidades desperdiçadas atormenta


muitas conversas no leito de morte. No final da vida, muitos
reconhecem que o tempo que lhes foi concedido poderia ter sido
usado para fazer algo maior. Lembro daquela famosa frase dita por
A. W. Tozer: “Quando você estiver matando o tempo, lembre-se de
que ele não vai ressuscitar”. O estilo de vida que consiste em matar
o tempo e negligenciar oportunidades leva ape nas a um lugar: o
arrependimento final. A vida é uma série de momentos e
oportunidades, mas, uma vez passados, não há chance de resgatar
o tempo desperdiçado.

Ser valoroso
Você tem essa vida. Você tem essa chance.

Não importa quem você era ontem, você tem a chance de deixar
uma marca hoje, de ter valor, de deixar uma impressão que
continuará por muito tempo depois de partir. Uma vida de sucesso
é aquela que aproveita ao máximo as oportunidades.
Uma pessoa de sucesso é aquela que usa seus talentos e
habilidades de forma a minimizar os arrependimentos no final da
vida.

É hora de sair do sofá. É hora de buscar o que é desafiador, e não o


que é confortável. É hora de dar, não de receber, de trabalhar, não
de relaxar. Coisas gratuitas, como a liberdade, nunca são gratuitas.
Tudo tem um preço. Tenha coragem para tentar; não se
menospreze. Ouça Teddy Roosevelt, que certamente sabia algumas
coisas sobre esforço: “Coragem não é ter força para continuar; é ir
em frente quando você não tem forças. Empenho e determinação
podem fazer tudo que a genialidade e uma boa posição conseguem
fazer, e muitas coisas que elas não conseguem”.

Pelé, o grande jogador de futebol, disse uma vez: “O sucesso não


vem por acaso. É trabalho duro, perseverança, aprendizado, estudo,
sacrifício e, acima de tudo, amor pelo que você está fazendo ou
aprendendo a fazer”. Essa verdade nos leva ao primeiro passo
necessário para realizar a missão para a qual viemos a este mundo.

O primeiro passo é trabalhar. Você recebeu a capacidade de


pensar. Você recebeu as ferramentas necessárias para realizar
alguma tarefa para ganhar um salário. Faça isso. Em vez de esperar
uma esmola, resolva o problema com suas próprias mãos. Vá
trabalhar. Arrume um emprego, qualquer emprego, e use-o para
aprender, crescer e economizar, com o objetivo final de fazer a
diferença. Pare de ficar sentado esperando que uma posição de ceo
seja aberta logo no primeiro ano após você se formar na faculdade.

Pague suas dívidas. Comece de baixo, se necessário, e vá subindo.


Não deixe de apreciar a beleza de ganhar seu próprio sustento.
Conquistar seu emprego e suas promoções é muito mais
gratificante do que apenas recebê-los; qualquer renda é melhor do
que renda nenhuma. Você pode querer começar do topo, mas não
vai, nem deveria. Trabalhe duro, aprenda as lições difíceis e se
esforce para progredir. Ser dinâmico é a marca dos que crescem no
emprego. Cuide de si mesmo. Pare de esperar que os outros cuidem
de você.

O segundo passo importante é encontrar uma maneira de usar


seu tempo e suas habilidades. Nem tudo gira em torno de você. Na
verdade, muito pouco tem relação com você. Quem você vê pela
janela importa mais do que quem você vê no espelho. Uma das
maiores recompensas que você receberá é se doar e não esperar
nada em troca. Participar de ministérios da igreja, ser voluntário na
Habitat for Humanity, servir refeições em um abrigo para
moradores de rua ou coletar roupas para uma campanha de
arrecadação lhe darão uma noção de como você é abençoado. Dar
é uma bênção que você nunca esquecerá. Charles Dickens disse:
“Ninguém é inútil neste mundo se aliviar os fardos de outro”.

Seu trabalho ajuda você a ganhar a vida. Seu trabalho voluntário o


ajudará a ganhar perspectiva e lhe dará a chance de impactar outras
pessoas. Todos os dias, existem pessoas ao seu redor que precisam
de você. Você pode não ter conseguido vê-las antes, mas assim que
começar a procurá-las, você começará a ver as necessidades que
antes ignorava. Seja o sujeito que toca os sinos do Exército da
Salvação no Natal. Ofereça-se para limpar um abrigo para
moradores de rua. Sirva em uma cozinha beneficente. Doe seu
dinheiro e ganhe mais para poder doar mais. Essa é a “carne” da
vida. A carne. Não o pão.

Você não receberá um salário por fazer essas coisas, mas estará
fazendo um investimento do qual não se arrependerá no leito de
morte. Lembre-se desta advertência de São Francisco de Assis:

Mantenha os olhos claros para o fim da vida. Não se esqueça do


seu propósito e destino como criatura de Deus. O que você é aos
olhos Dele é o que você é, e nada mais. Lembre-se de que quando
você deixar esta terra, não poderá levar nada do que recebeu […],
mas apenas o que deu; um grande coração, enriquecido por
serviço honesto, amor, sacrifício e coragem.
O terceiro passo é influenciar a vida de outra pessoa, alguém mais
jovem que você. A próxima geração será impactada por alguém ou
alguma coisa. Como vemos na sociedade atual, a maior parte da
influência sobre os millennials e a geração Z vem da esquerda,
tanto no mundo acadêmico quanto nos meios de comunicação
social e na “elite” de Hollywood. Mas também vemos que quase
toda essa influência é equivocada, superficial e contraproducente. É
egoísta, não altruísta. Ela defende os próprios “direitos”. Ela se
concentra em culpas e ofensas. Promove a vitimização e o vício. Se
você fizer o oposto, você vai chamar muita atenção, como uma
ferida. Você será contracultural. Você será visto e ouvido. Você
liderará e outros o seguirão.

Seja um mentor e se esforce para moldar a próxima geração.


Orientar alguém é sacrificar o próprio tempo, mas os mais jovens
precisam receber a sabedoria que você adquiriu. Toda nação que
não conseguir inculcar os seus princípios fundamentais na
próxima geração perecerá. Seja um Big Brother ou uma Big Sister.
Um tutor voluntário. Lidere um grupo de jovens da igreja. Leve os
jovens a serem partes ativas do mundo em que vivem, e não
espectadores passivos assistindo as próprias vidas passarem sem
fazer a diferença. Deixe-os ver a alegria que nasce de orientá-los,
tendo a esperança de que eles possam fazer o mesmo pela geração
seguinte. Defina o padrão. Idowu Koyenikan disse uma vez:
“Mostre-me os heróis que a juventude do seu país admira e eu lhe
contarei o futuro do seu país”. Seja um herói.

Encontrar alegria no serviço é possuir um coração de amor.

O coração que dá é o coração que realmente vive.

Um anuário conta a história


Em qualquer anuário típico, as fotos das turmas do último ano
apresentam as coisas nas quais os alunos se envolveram durante
seus anos escolares. Eles listam os esportes que praticavam. Se o
aluno fez parte de uma banda ou do grupo de teatro, essas
atividades são mencionadas. Estão registrados todos os clubes que
a escola oferece, bem como os alunos que participavam deles.

Se você olhar esses anuários, verá alguns alunos com uma longa
lista de atividades durante os anos de escola. Alguns serviram e
participaram de quase tudo que foi oferecido. Existem alguns
alunos, no entanto, que têm uma “lista” muito diferente ao lado do
nome. Se um aluno não participou de praticamente nada, seu
nome será registrado e seguido por uma “lista” de um item, apenas
a palavra “aluno”. Isso significa, de modo geral, que ele fez o
mínimo de esforço possível antes de voltar para casa para sentar no
sofá e jogar Pokémon.

Todos os alunos tiveram as mesmas oportunidades. Embora


alguns possam não ter capacidade atlética, eles poderiam ter
composto o conselho estudantil. Caso não tivessem habilidade com
música ou atuação, tinham a oportunidade de se envolver com a
equipe de debates ou com o clube de negócios. Não importava
quem fossem, havia inúmeras oportunidades de fazer algo e de
fazer parte de uma missão maior.

Alguns simplesmente optaram por fazer o mínimo de esforço e


depois ir para casa. Eles não fizeram nenhuma diferença
duradoura, nenhuma contribuição e não deixaram nenhuma marca
duradoura. Eles eram conhecidos apenas como “alunos”.

Se você perguntar aos professores e à equipe pedagógica sobre os


alunos que estiveram envolvidos em diversas atividades, eles serão
lembrados com carinho e verão que seus esforços não foram em
vão. Eles deixaram uma marca nos professores e na administração
escolar. Contudo, se você perguntar aos professores e demais
profissionais sobre os alunos que escolheram não se envolver em
nada, eles terão dificuldade até para se lembrar deles.
Todos os alunos tiveram uma chance. Todos os alunos tiveram o
mesmo tempo. Todos tiveram inúmeras oportunidades. Alguns
desistiram de fazer algo maior e de deixar uma marca. Outros
fizeram pouco ou nada.

Como Jesus afirmou em uma parábola registrada no Evangelho de


Mateus:

Será também como um homem que, estando para empreender


uma viagem, chamou os seus servos, e lhes entregou os seus bens.
Deu a um cinco talentos, a outro dois, a outro um, a cada um
segundo a sua capacidade, e partiu. Logo em seguida, o que tinha
recebido cinco talentos foi, negociou com eles, e ganhou outros
cinco. Da mesma sorte o que tinha recebido dois, ganhou outros
dois. Mas o que tinha recebido um só, foi fazer uma cova na terra,
e nela escondeu o dinheiro do seu senhor. Muito tempo depois,
voltou o senhor daqueles servos, e chamou-os a contas.
Aproximando-se o que tinha recebido cinco talentos, apresentou-
lhe outros cinco, dizendo: “Senhor, tu entregaste-me cinco
talentos, eis outros cinco que lucrei”. Seu senhor disse-lhe: “Está
bem, servo bom e fiel, já que foste fiel em poucas coisas, dar-te-ei
a intendência de muitas; entra no gozo de teu senhor”.
Apresentou-se também o que tinha recebido dois talentos, e disse:
“Senhor, entregaste-me dois talentos, eis que lucrei outros dois”.
Seu senhor disse-lhe: “Está bem, servo bom e fiel, já que foste fiel
em poucas coisas, dar-te-ei a intendência de muitas; entra no gozo
de teu senhor”. Apresentando-se também o que tinha recebido um
só talento, disse: “Senhor, sei que és um homem austero, que
colhes onde não semeaste, e recolhes onde não espa lhaste. Tive
receio e fui esconder o teu talento na terra; eis o que é teu”. Então,
o seu senhor disse-lhe: “Servo mau e preguiçoso, sabias que eu
colho onde não semeei, e que recolho onde não espalhei. Devias
pois dar o meu dinheiro aos banqueiros, e, à minha volta, eu teria
recebido certamente com juro o que era meu. Tirai-lhe pois o
talento, e dai-o ao que tem dez talentos. Porque ao que tem, dar-
se-lhe-á, e terá em abundância; mas ao que não tem, tirar-se-lhe-á
até o que julga ter. E a esse servo inútil lançai-o nas trevas
exteriores; ali haverá pranto e ranger de dentes”. 99

Qual é a moral da mensagem de Cristo? Um dia todos nós


seremos questionados se investimos na carne ou no pão.

No fim dos dias, todos seremos questionados: “Onde está a


carne?”.

lição xiv: Deseje a todos um


Feliz Natal
Diremos “Feliz Natal” novamente.

— Donald Trump

Guerra de Palavras

A oOu,longo deste livro, sempre aludi à guerra envolvendo palavras.


melhor dizendo, ao ataque total da esquerda à liberdade de
pensamento e de expressão. As linhas de batalha nesta guerra de
vocabulário mudam a cada dia que passa. Ao longo da última
década, assistimos a ataques contra definições de longa data, bem
como a alguns pressupostos antigos sobre o que significa ter
liberdade de expressão e integridade intelectual.

Uma das primeiras batalhas relativas ao vocabulário politicamente


correto dizia respeito a como se referir a pessoas que haviam
entrado ilegalmente nos Estados Unidos. Mudamos a palavra
usada para descrever essas pessoas de “estrangeiros” para
“imigrantes”, e agora para “indocumentados”. Os defensores de
cada novo rótulo declaram que a nomenclatura que o precedeu era
preconceituosa, xenófoba e intolerante. Depois, veio o ataque aos
mascotes das equipes esportivas universitárias e profissionais, com
gritos de racismo, alertas de gatilho e vitimização. Por fim,
inúmeras faculdades e universidades em todo o país publicaram
listas de palavras e expressões aceitáveis e inaceitáveis para os seus
campi.

Um dos exemplos mais flagrantes da polícia do pensamento


moderno encontra-se na Universidade da Carolina do Norte, que,
há apenas alguns anos, publicou uma lista de palavras e frases que
considerou como “microa gressões” e que, portanto, não deveriam
ser permitidas no campus do Tar Heel. 100

Essa lista chamou a atenção de Jesse Watters, da Fox News, que


viajou até a Universidade da Carolina do Norte para fazer uma
reportagem investigativa para seu quadro “Watters’ World” no The
O’Reilly Factor. A lista também foi noticiada pelo The Blaze.

Que palavras e frases foram consideradas tão ofensivas que nunca


deveriam passar pelos lábios dos jovens estudantes daquela
excelente universidade? Aqui estão algumas delas:

Nunca se deve dizer: “Quando olho para você, não vejo uma cor”.
É racista.

Nunca diga a uma mulher “Eu adoro seus sapatos”. É misógino.

“Interromper um colega identificado como mulher” é sempre


proibido. É uma evidência de masculinidade tóxica.

“Ter um código de vestuário no escritório que se aplique de


maneira diferente a homens e mulheres” é transfóbico.

Nunca sugira que “deveríamos fazer um passeio para os


funcionários no clube de campo”. Nunca peça a um colega para ir
com você “jogar uma partida de golfe”. É um sinal de privilégio
branco.
Pois bem, para quem tem um pingo de bom senso, essa lista é
mais do que ridícula. Convidar alguém para jogar golfe é uma
microagressão? Sim, pois isso poderia fazer com que a outra pessoa
se sentisse inferior caso não tivesse dinheiro suficiente para jogar
golfe. Ou ela pode ter crescido numa família ou numa situação em
que nunca aprendeu esse esporte. Ou ela pode apenas não ser boa
nesse jogo. Seja qual for o caso, nunca se deve convidar alguém
para jogar um jogo tão “privilegiado” com você, porque você corre
o risco de colocá-la numa situação em que ela tenha que agir como
um adulto e simplesmente lhe dizer que não quer jogar.

Elogiar os sapatos de alguém também é uma microagressão?


Parece que fazer um comentário positivo sobre o guarda-roupa
alheio é o mesmo que menosprezar todas as realizações de sua
vida. Como você ousa fazer um simples elogio a ela por seu bom
gosto para roupas?

Essas são as ideias ensinadas no que costumávamos chamar de


instituições de ensino superior. Já disse dezenas de vezes nas
páginas anteriores que as ideias sempre têm consequências; elas
sempre geram frutos. Boas ideias levam a boa cultura, boas
faculdades e a uma boa comunidade; ideias ruins levam ao oposto.
Ideias maduras levam à maturidade, e ideias infantis levam à
imaturidade. Ideias sábias levam à sabedoria, e ideias tolas levam à
insanidade. Ideias ridículas resultam em pensamentos ridículos,
que levam a comportamentos ridículos. Entra lixo, sai lixo.
Carcinógenos ideológicos levam ao câncer intelectual. E o que
acontece com a maioria das doenças é que elas raramente param
no indivíduo. Eles se espalham rápido. Isso é o que se chama
contágio. E a doença da sociedade atual é a doença da adolescência
perpétua.

A polícia do pensamento tem todas as áreas da vida americana na


sua mira. Um dos costumes americanos que chegou ao topo da
lista do “você-não-pode-dizer-isso” é dizer “Feliz Natal”.
Você leu certo — Natal. Você não pode dizer “Feliz Natal”.

O Natal é celebrado no mundo ocidental desde o século iv. É


feriado nacional nos Estados Unidos da América desde 1870. É um
dia e também uma época inteira que está estreitamente entrelaçada
à estrutura de nossa nação e de nossas vidas individuais.
Impulsiona grande parte da nossa coesão familiar e até domina a
economia da nação. Mas, apesar disso, lojas de departamento e
cafeterias declararam agora que as palavras “Feliz Natal” são
“gatilhos”.

A Target tem a duvidosa distinção de ser uma das primeiras lojas


a “lacrar” e eliminar as palavras “Feliz Natal” do vocabulário
permitido aos seus funcionários. Restringir as saudações festivas a
“Boas Festas”, ao que parece, não corre o risco de ofender ninguém
(exceto os cristãos), sendo, por isso mesmo, de forma clara, o
padrão aceitável para o pensamento e a fala controlados. A
Starbucks juntou-se ao desfile progressista e agora condena a
tradição de dois mil anos de celebrar a paz na terra e a
benevolência para com os homens como uma microagressão.

Desejar “Boas Festas” não será gatilho para ninguém, exceto para
aquelas pessoas cruéis que acreditam no significado histórico dos
feriados. Sendo assim, vamos empoderar Scrooge 101 e nos calar
sobre o significado do Natal, falsificando a história de São Nicolau
e seu exemplo de alegria, sacrifício e doação.

A preocupação cristã com a intolerância progressista quanto ao


Natal é muito barulho por nada? Há razões para acreditar que
algumas das nossas elites culturais pensam assim. Segundo John
Boiler, diretor-executivo de uma agência de publicidade que
produz campanhas de marketing para as grandes empresas listadas
na Fortune 500, o motivo para excluir o Natal do mercado é a
inclusão. Não, você não está enxergando mal. Sim, as pessoas
inteligentes que dirigem campanhas de propaganda
multimilionárias para as maiores empresas do nosso país
acreditam, de verdade, que a razão para excluir o Natal é a
“inclusão”.

Tudo se explica pela economia, simples assim, diz Boiler. No


Chicago Tribune, ele elabora esta proposição: “Dizer que você só
vai reconhecer um segmento do seu público, excluindo outros, não
é apenas ruim social e culturalmente, é ruim economicamente”. 102
Ele mergulha ainda mais nessa autocontradição: excluir os cristãos
que dizem “Feliz Natal” é, na verdade, “a escolha mais inclusiva —
se você também quiser obter o maior proveito para seus acionistas”.
103
Então, para resumir: excluir as pessoas em nome da inclusão.
Ofender as pessoas em nome de ser inofensivo. E o Natal em nome
do reconhecimento de tudo e de todos. Faz sentido, não é?

Em seu livro The War on Christmas, John Gibson comenta um


discurso de Aaron Brown, da cnn. Brown tentou negar que houve
uma guerra ao Natal e argumentou que ninguém estava
preocupado com a possibilidade de Cristo ser retirado do Natal.
Em resposta ao discurso e ao movimento atual, Gibson escreveu:
“Não é mais admissível desejar Feliz Natal às pessoas. Isso é muito
exclusivo, muito insensível. E se eles não forem cristãos? E se forem
ateus?”. 104 Aparentemente, esses pensadores brilhantes como Aaron
Brown e os seus colegas propagandistas e agitadores da cnn nunca
pararam para pensar e fazer a pergunta: E se eles forem cristãos? E
se eles se sentirem excluídos? E se eles acharem que você é
insensível? Você não acabou de dizer a essas pessoas que, em nome
da tolerância, você não as tolerará?

Então, para incluir a todos, você vai excluir Cristo?

Para não ofender os outros com a palavra “Natal” — um termo


aceito por quase toda a civilização ocidental até, digamos, os
últimos cinco minutos — decidimos, unilateralmente, remover o
nome de Cristo de um dia santo que foi especificamente
estabelecido para honrar a Cristo. Esqueça essa coisa de Natal e
esqueça os cristãos. Vamos apenas forçar todos a dizer algo inócuo
como “Boas Festas”.

Será que essas pessoas sabem o que as frases “Feliz Natal” e “Boas
Festas” significam? Elas têm alguma ideia de qual é a definição
dessas expressões que eles aprovam? Cuidado antes de responder.
Os fatos podem surpreendê-lo.

Inclusivo?
Eu já disse isso inúmeras vezes e direi mais uma vez: as palavras
têm significado. Elas têm definições, e as definições são
importantes. Como Aristóteles repreendeu: “Quantas disputas
poderiam ter sido reduzidas a um único parágrafo se os
debatedores tivessem a coragem de definir seus termos”. Se não
compreendermos as nossas palavras, o significado delas pode ser
manipulado e muitas vezes acabamos por defender coisas que
podem ser o exato oposto daquilo que nossas palavras pretendiam
defender originalmente.

Esse é o caso daqueles que insistiram na substituição de “Feliz


Natal” por “Boas Festas” com tanta agressividade. Eles dizem que
uma saudação de “Boas Festas” inclui a todos, é menos religiosa e
mais aceitável no atual clima multicultural em que vivemos. Mas
um exame mais atento desse exemplo de policiamento
politicamente correto revela a falta de conhecimento que move tal
propósito.

Em outras palavras, a polícia do pensamento não tem noção.


Vejamos a expressão em inglês, para “Boas Festas”, “Happy
holidays”, e consideremos a segunda palavra O que ela significa?
Pode parecer óbvio. A palavra “holiday” [feriado] é a combinação
de duas palavras: “holy” [santo] e “day” [dia].
O argumento daqueles que tentam secularizar a época do Natal
chamando-a de “holiday” é obviamente absurdo. “Holy” é uma
palavra religiosa e significa algo que é sagrado e separado para
Deus. Qualquer coisa sagrada é algo que deve ser preservado e
mantido íntegro. Algo sagrado é algo santificado, justo e puro. Se
algo é sagrado, significa que é independente e digno de respeito.

A segunda parte da palavra “holiday” é a palavra “day”. “Day”


refere-se a um período de vinte e quatro horas. O dia é o
reconhecimento do passado, presente e futuro; a consciência do
relógio; é saber que os minutos e as horas estão passando e que, em
última análise, cabe a Deus dar e tomar; que os seres humanos não
têm nada a dizer sobre a longevidade ou brevidade de suas vidas.

Tal compreensão da brevidade da vida é encontrada sempre que


olhamos para a Bíblia. Tiago escreveu: “vós, que não sabeis o que
sucederá amanhã. Efetivamente, o que é a vossa vida? Sois um
vapor que aparece por um instante e que em seguida se desvanece”.
105

Um salmista judeu escreveu estas palavras:

Pôs-me nos lábios um novo cântico, um hino à glória de nosso


Deus. Muitos verão essas coisas e prestarão homenagem a Deus, e
confiarão no Senhor. Feliz o homem que pôs sua esperança no
Senhor, e não segue os idólatras nem os apóstatas. 106

Dia é um termo de autolimitação: a compreensão de que nossos


dias estão contados. Memórias de ontem. As responsabilidades de
hoje. Os sonhos de amanhã. Feitos à imagem de Deus,
permanecemos sozinhos na nossa consciência do tempo e da
disposição divina de que o presente dia é “o dia que o Senhor fez”.
Somente nós, entre todas as criaturas de Deus, somos obrigados a
conservar a santidade desse dia.
Vê como a sabedoria daqueles que desejam tirar Cristo do Natal
se mostra falha quando escolhem falar em “Boas Festas”?

Não é irônico que os “sábios” que desejam secularizar a nossa


cultura o façam, na verdade, exigindo que abandonemos “palavras
religiosas” como o Natal, ao mesmo tempo que argumentam a
favor de uma palavra ainda mais religiosa como “holiday”?

Eles não querem acreditar em nada, pois acreditar em nada


significa que eles se tornam tudo. Não acreditar em juiz nenhum
significa que você é o único juiz. Porque não existe Deus, eles agem
como se fossem Deus. O único dia santo é aquele que exclui Cristo
e os eleva à condição de palavra que se fez carne habitando entre
nós.

Será que esses deuses culturais que querem nos dizer o que pensar
e o que falar não conseguem ver que são, na verdade, os garotos-
propaganda de uma nova religião? Será que não percebem que, nos
seus esforços mal-informados para remover um dia sagrado do
nosso calendário, estão na verdade usando uma linguagem ainda
mais sagrada?

Algo para acreditar


Em 1990, a banda de rock Poison lançou o que se tornaria uma de
suas canções marcantes, Something to Believe In. A música era um
chamado para algo positivo, algo substancial. Diante do desespero
e da tristeza, a banda clamou pela crença em algo. Em todo o nosso
país e em outras nações, a música era um hino cantado por
multidões de fãs que adoravam a banda e viviam frustrados com a
realidade que viam ao redor. A música tocou muitas pessoas no
início dos anos 1990, pois falava do vazio tangível de uma vida sem
propósito. Foi um hino que superou sentimentos de desilusão,
tristeza, sofrimento, dor e injustiça. Acertou em cheio.
Todos nós precisamos acreditar em algo — algo que seja mais do
que apenas nós mesmos. Uma pessoa sem Deus é uma pessoa que
acredita que é Deus. O vácuo está sempre preenchido. Mate Deus e
você preencherá o vazio consigo mesmo, como se fosse Deus.
Nenhum ser humano pode viver sem significado, propósito e
definição. Se não existe Deus, você sempre criará um. O problema
é que criamos deuses muito pobres. Citando Chesterton
novamente: “De todas as religiões horríveis, a mais horrível é a
adoração do deus interior”.

Dentro do coração e da alma de cada homem e mulher existe um


desejo de acreditar em alguma coisa. Pascal chamou isso de “vácuo
em forma de Deus”. Mas a questão dos vácuos é a seguinte: é um
princípio básico da física que eles estão sempre preenchidos.

Ou preencheremos esse vazio com nossas próprias escolhas e


decisões, ou alguém o preencherá por nós. Não existe neutralidade
moral ou ideológica. Nada é perpetuamente neutro. Todos os
vácuos são preenchidos.

Embora os sumos sacerdotes da pós-modernidade zombem da


ideia de algo além do aqui e agora, do material e do temporal, você
tem a capacidade de pensar por conta própria. Você nunca deve
aceitar que alguém lhe diga quais ideias são aceitáveis e quais
palavras você deve usar ou não. Você pode escolher o que você
pode fazer e dizer. Escolha acreditar.

Aqui está a beleza da maturidade: os seres humanos têm


liberdade. Podemos pensar de forma independente, sem sermos
alimentados à força pelo ponto de vista de outra pessoa. Podemos
crer ou podemos descrer. É uma questão de escolha. Você pode
acreditar na liberdade ou no controle. Você pode acreditar que
Deus é Deus ou pode acreditar que você é Deus. Você pode
acreditar em propósito e significado objetivos ou pode acreditar
que nada tem propósito e significado.
Jesus disse aos seus discípulos como encontrar propósito, sentido
e paz. Ele disse: “Não se perturbe o vosso coração. Credes em Deus,
crede também em mim”. 107

Existe uma paz que vem de acreditar em algo. Nos seus últimos
dias antes da crucificação, Cristo preparou os discípulos para o que
viria, lembrando-lhes que aquilo em que acreditavam os ajudaria a
suportar a crise. Seu aviso está resumido em sua pergunta básica:
“Quem vocês dizem que eu sou?”. Em outras palavras, “Em quem
vocês acreditam?”. Outra maneira de fazer a pergunta é: “Vocês
acreditam no Natal?”.

O Natal nos traz de volta ao lugar onde somos lembrados da


esperança de cada geração, da paz na terra e da boa vontade para
com os homens, da alegria para com o mundo, da noite silenciosa,
da noite santa, da noite do Primeiro Natal. Quando você diz “Feliz
Natal”, você não está simplesmente expressando uma gentileza, mas
sim uma visão de mundo. Ao dizer “Feliz Natal”, você está
refletindo um sistema de crenças que é fundamental para quem
você é.

Há mais de dois mil anos, o mundo sofria um inverno frio e


escuro. A agitação civil era galopante no Oriente Médio e o poder
da civilização ocidental desmoronava sob o peso da decadência
moral.

Roma empunhava a espada. Israel pegou pedras. O medo matou a


liberdade. O terrorismo derrotou a confiança. Mesmo no meio da
calma da Pax Romana, parecia haver uma nuvem de destruição
iminente.

Hoje, ao assistir à cnn ou à Fox, ou ao ler o jornal, é possível


sentir o mesmo arrepio nos ossos. Os tempos são tão
perturbadoramente sombrios quanto uma longa noite de inverno.
Sentimos medo. Trememos ao tentar nos proteger dos ventos
gelados do noticiário noturno. É sempre inverno, mas nunca Natal,
com um escândalo e uma catástrofe após a outra ganhando as
manchetes.

Mas diante de ventos tão frios, talvez faríamos bem em lembrar as


notícias de muito tempo atrás, quando a luz brilhou nas colinas de
Belém e uma nova canção foi entoada. “Não tenha medo”, declarou
o anjo com voz estrondosa e confiante, “pois eis que lhe trago boas
novas de grande alegria”. E naquela noite, o inverno começou a ir
embora, o Natal nasceu vivo num estábulo sob as estrelas e a raça
humana foi desafiada a acreditar em Belém.

Acredite que a Bíblia é verdadeira, não transitória. Que é


inspirada, não construída. Que é precisa, não relativa. Que não
deve ter nada adicionado nem subtraído. Que deve ser acolhida em
seu coração e proclamada pela sua boca. Que é dada do alto e
inspirada pelo próprio Deus. Que a palavra escrita de Deus é
inerrante, infalível e autorizada para nos guiar em todas as questões
de fé, aprendizado e vida. Que não precisa ser adaptada aos desejos
do homem, mas deve ser usada pelo homem para que ele se
transforme, cada vez mais, na imagem de Deus.

Acredite na prática da sabedoria. Muitas vezes, nossas ações não


acompanham as nossas palavras. Veríamos nossa flagrante
hipocrisia às claras se ao menos tirássemos um tempo para nos
examinar. Sejam homens e mulheres íntegros. Exercite sua fé com
temor e tremor, não como se você já tivesse alcançado a fé perfeita.
Se você O ama, você O obedecerá. De que adianta você chamá-Lo
de Senhor e não fazer o que Ele diz? Mostre-me sua fé sem ações e
eu lhe mostrarei a minha através do que eu faço. Lembre-se das
palavras de Dietrich Bonhoeffer: “Só quem acredita é obediente, e
só quem é obediente acredita”. 108

Acredite na Verdade: o Logos, o Tao, a lei natural, a revelação de


Deus. Entenda que existem verdades evidentes que nenhum ser
humano pode negar. Acredite que tais verdades são reveladas por
Deus, e não construídas pelo homem, que são objetivas e
atingíveis, imutáveis e constantes. Acredite que a verdade dá
salvação aos condenados e liberdade ao escravo. Anime-se pela
busca sem peias pela verdade. Não importa aonde isso lhe conduza,
confie nas palavras: “Conhecereis a verdade e a verdade vos
libertará”. A liberdade é a antítese da escravidão. A escravidão é o
resultado inevitável de mentiras, mentiras sobre quem somos como
pessoas e mentiras sobre o que é certo e o que é errado. É o
resultado de mentiras sobre o homem e mentiras sobre Deus. Em
vez de ser uma vítima arrastada pelo relativismo da época, acredite
numa verdade que é absoluta.

Acredite no Natal! É o nascimento de Cristo! Não é o nascimento


de Buda. Não é o nascimento de Maomé. Não é o nascimento de
Hare Krishna. Não é o nascimento de Pelosi, de Obama, o seu ou o
meu. É o nascimento de Cristo! Podemos comercializá-lo,
homogeneizá-lo, politizá-lo e negociá-lo, mas o ponto principal é
este: a palavra tem significado! Significa que você pode acreditar na
primazia de Jesus Cristo e que Ele é o começo e o fim, o caminho, a
verdade e a vida, o grande eu sou, o Verbo que se fez carne,
Emanuel — Deus conosco —, seu Salvador e seu Rei, seu Senhor e
seu Deus, o Leão de Judá e o Cordeiro de Deus, seu redentor, seu
guia, sua paz, sua alegria, seu conforto, sua vida, sua luz! Acredite
que Ele ressuscitou e encarnou: o Filho de Deus, o Alfa e o Ômega,
a fonte de todo conhecimento e o Senhor de nossa vida diária.
Acredite que Ele é quem disse ser nas sete declarações “Eu Sou” no
Evangelho de João — a luz do mundo, o bom pastor, a porta, a
ressurreição e a vida, o pão da vida, a videira verdadeira.

Acredite na primazia de Jesus Cristo.

Acredite na prioridade das Escrituras.

Acredite na busca da verdade.

Acredite na prática da sabedoria!


Acredite no que o Cântico dos Cânticos nos diz: “Eis que o
inverno passou: cessaram e desapareceram as chuvas. Apareceram
as flores na nossa terra, voltou o tempo das canções”. 109

Acredite no Natal!

Acredite em Deus, porque você não é Deus!

Alegria para o mundo, o Senhor veio.

Feliz Natal! Viva o verdadeiro Rei!

lição xv: Permaneça no


cercado
É difícil libertar os tolos das correntes que eles reverenciam.

— Voltaire

Liberdade enganosa

A liberdade pode enganar. Ou talvez,


aparência de liberdade pode enganar.
melhor dizendo, a

Quando estamos dirigindo pelo campo e vemos um lindo cavalo


alimentando-se em uma fazenda rodeada por cercas, ele parece
livre? Quando andamos por um bairro e ouvimos um cachorro
latindo atrás de uma cerca, ele parece livre? Quando passamos por
uma escola durante o recreio e as crianças estão brincando no pátio
cercado, elas estão livres? Quando vemos uma criança brincando
com blocos no cercadinho, ela está livre? Quando olhamos para
nossa aliança de casamento ou vemos uma em outra pessoa, esse
objeto é um símbolo de liberdade?

Todos estes exemplos sugerem, para muitas pessoas, o oposto da


liberdade. Todos esses exemplos são de animais ou pessoas que
estão confinados de uma forma ou de outra. Todos esses exemplos,
pelo menos à primeira vista, parecem anedotas nas quais as opções
são limitadas e alguém ou alguma coisa está preso dentro de algo.

Uma reserva natural parece oferecer mais liberdade para o cavalo


do que um pasto cercado. Um quintal aberto parece dar mais
liberdade ao cachorro do que um quintal cercado. O mesmo
acontece com o pátio fechado das crianças, o cercadinho que
delimita o bebê e a aliança de casamento que restringe o campo de
atuação a apenas uma pessoa.

No entanto, a verdadeira liberdade muitas vezes é diferente das


aparências. Se alguém lhe perguntasse quem foi a pessoa que mais
influenciou os valores e ideais do estilo de vida americano — de
liberdade e justiça —, o que você responderia? Bruce Feiler, em seu
livro America’s Prophet, nos diz que a resposta é,
indiscutivelmente, Moisés.

Um pouco surpreendente, certo? Mesmo dentro dos círculos


cristãos e judaicos, não percebemos como Moisés foi utilizado para
influenciar a nossa compreensão da liberdade. Para provar quanta
influência Moisés teve em nossa república constitucional e em
nossas concepções sobre o que significa ser um povo livre, aqui
estão apenas alguns fatos que compõem um livro inteiro cheio de
evidências:

Os peregrinos se diziam inspirados em Moisés enquanto fugiam


do “Faraó”, isto é, do Rei Jaime, em busca da sua “terra prometida”
no Novo Mundo.

George Washington falou da “Divindade” que “libertou os


hebreus dos egípcios, seus opressores”, como sendo o mesmo Deus
que estabeleceu os Estados Unidos e os regou com “orvalho do
Céu” à medida que cresciam em independência e liberdade.

O Sino da Liberdade 110 é famoso não pelo seu excelente


acabamento ou som ressonante, mas pelas palavras de Moisés
inscritas nele: “Publicareis a liberdade na terra para todos os seus
habitantes”.

Colombo comparou-se a Moisés quando partiu para cruzar o mar


em 1492.

George Whitefield citou Moisés enquanto ele conduzia a nação à


salvação no Grande Despertar. 111

Thomas Paine comparou o Rei George ao Faraó, o inimigo de


Moisés, em seu livro Senso comum.

Benjamin Franklin, Thomas Jefferson e John Adams queriam


Moisés no selo oficial dos Estados Unidos.

Harriet Tubman adotou o nome de Moisés na Underground


Railroad. 112

Abraham Lincoln foi elogiado como a encarnação de Moisés em


seu funeral.

Franklin Roosevelt e Lyndon Johnson inspiraram-se em Moisés


durante a guerra.

E Martin Luther King Jr. comparou-se a Moisés na noite anterior à


sua morte.

Em 1973, os cientistas políticos Donald Lutz e Charles Hyneman


decidiram fazer um estudo abrangente da “retórica americana”
durante a era da fundação do país. Para tanto, assumiram a enorme
tarefa de ler tudo o que foi publicado nos Estados Unidos da
América entre os anos de 1760 e 1807. Esse esforço durou dez anos
e abrangeu quinze mil documentos. O objetivo era resolver a longa
disputa sobre quais ideias mais influenciaram a Revolução
Americana. Foram as ideias de pensadores iluministas como
Montesquieu, Locke, Hume e Hobbes? Ou foram os antigos
clássicos escritos por Plutarco e Cícero que mais inspiraram a
Constituição e cultura?

Bem, a primeira frase da conclusão deles deixa tudo muito claro:


“Se perguntarmos qual livro foi citado com mais frequência pelos
americanos durante a era de fundação”, disseram, “a resposta é...: o
Livro de Deuteronômio”.

E quem é o autor do Deuteronômio? Moisés!

Feiler argumenta que a influência de Moises na América se deve à


compreensão desta verdade básica por parte de nossos pais
fundadores: somente confiando no paradoxo da liberdade e da lei
poderemos ter esperança de encontrar a proteção de nossos
direitos inalienáveis de vida, liberdade e busca de felicidade, e,
assim, ser um povo livre e um país livre.

A lição que aprendemos com Moisés e o êxodo do seu povo da


escravidão do Egito é simples: a liberdade confia em princípios, e
não no poder, nas pessoas ou na política. A liberdade honra o
debate porque sabe que há uma resposta, um verdadeiro norte,
uma medida fora das coisas que estão sendo medidas.

Moisés é sinônimo de lei. E o Êxodo é uma história de liberdade.

Tal como as cercas que mantêm um cavalo no pasto, a lei é muitas


vezes considerada o oposto da liberdade. Mesmo nas Escrituras, a
lei e a liberdade às vezes parecem estar em lados opostos. Mas será
que isso é só na “aparência”?

Olhando mais de perto, nenhum dos autores do Antigo ou do


Novo Testamento sugeriu que as leis de Deus restringem a
liberdade humana. Os profetas, por exemplo, nunca escreveram
que a lei restringe a liberdade. Em vez disso, alertaram que
desobedecer à lei de Deus sempre resultava em enfraquecimento,
escravidão e perda de liberdade. No Novo Testamento, lemos
repetidamente que somos “livres em Cristo”. Dizem-nos que
“conheceremos a verdade e a verdade nos libertará”. O paradoxo da
disciplina e da liberdade, da liberdade e da lei, nos é apresentado
em termos muito claros quando Jesus afirma que só aqueles que
desistem das suas vidas as ganharão.

A promessa da Nova Aliança, partilhada pelos profetas do Antigo


Testamento, era que o povo de Deus receberia um novo coração e
que o desejo do seu coração seria então amar a Deus, acreditar nas
Suas verdades e seguir os Seus caminhos — em outras palavras, ser
libertado honrando a Deus e Sua lei.

Há um paradoxo recorrente nas Escrituras que, na verdade, não


tem como passar despercebido se você estiver atento. A lei de Deus
é sempre libertadora, mas as consequências de não viver dentro
dos limites da lei de Deus sempre comprometem a liberdade.

No Deuteronômio, são prometidas bênçãos por guardar a lei e


maldições por não a obedecer. Dentro da lei, o povo de Deus
encontrou mais liberdade, e não menos. Quando o povo de Deus
cumpriu Sua lei, ele desfrutou de mais liberdade, e não mais
escravidão.

Se Moisés teve uma influência positiva tão profunda sobre o


caráter nacional e a liberdade pessoal, não seria o caso de
considerar seus ensinamentos e as lições da história antes de nos
afastarmos dessas leis? G. K. Chesterton parecia pensar assim
quando afirmou que ao se livrar das grandes leis de Deus, não se
obtém a liberdade, mas sim milhares e milhares de pequenas leis
que surgem para preencher o vácuo. Em outras palavras, se nos
recusarmos a viver de acordo com dez leis simples que nos foram
dadas por Deus (e, para ser sincero, Jesus parece tê-las resumido
em apenas duas!), receberemos incontáveis resmas de pequenas leis
impostas a nós pelo governo e por oligarcas arrogantes instalados
em lugares como Washington, dc, e São Francisco. Essas milhares
de pequenas leis são elaboradas pelos poderosos e privilegiados,
pelos “mais espertos que nós”, que pensam saber melhor do que
nós sobre como devemos viver, até o ponto de nos dizerem, hoje,
quais pronomes temos que usar e como devemos usar o banheiro.
Isso é um absurdo. Isso não é autonomia. Isso não é liberdade. É
fascismo puro e simples.

Na Roma antiga, um fasces era um feixe de gravetos amarrados


com tanta firmeza que não podiam ser quebrados. Você já deve ter
visto isso em algumas das estátuas dos monumentos nacionais. Vá
à Suprema Corte e veja o relevo que fica acima dos juízes, no
portão de entrada. Em concreto e pedra, você verá um fasces.
Muitas vezes, ele é representado com uma lâmina de machado
presa a ele. O fasces representa o vínculo e a força da comunhão, e
é daí que vem a palavra fascismo.

O fascismo, como forma de governo autoritário, defende que você


deve ser um de “nós”. Você deve fazer parte do coletivo. Você deve
concordar conosco. Você deve pensar como nós pensamos. Você
deve acreditar como nós acreditamos. Você deve agir como nós
agimos. Você deve ser um de nós, ou iremos esmagá-lo. Submeta-
se ou seja expulso. Discorde e você será cancelado. Se você não
pensa como nós, você não é bem-vindo.

Isso é o que se vê na academia contemporânea e além dela. Veja


Brown e Berkeley, bem como a Universidade de Wyoming e
Emory. Veja as histórias que passam no noticiário noturno.

Como você provavelmente sabe, Berkeley se considera o berço do


movimento pela liberdade de expressão. Esse é o seu lema não
oficial. Mas tudo o que se vê hoje é o extremo oposto da liberdade
de expressão. Basta ligar o jornal à noite: logo você verá estudantes
e professores de Berkeley que não acreditam, de fato, na liberdade
de expressão ou na liberdade acadêmica. Verá protestos querendo
controlar ideias em vez de as debater. Você não verá uma troca
aberta e consistente de diferentes pontos de vista. Mas verá
centenas de estudantes gritando que se sentem ofendidos e
inseguros só porque alguém se atreveu a lhes dizer que talvez
estivessem errados. Você não verá salas de aula cheias de
estudantes curiosos em busca da verdade, mas auditórios cheios de
manifestantes chorando, protestando contra qualquer um que
acredite na verdade. A verdade é que, em muitos campi, de
Berkeley a Brown e em todos os outros nesse caminho, os
governantes da torre de marfim descartaram a verdade em favor da
tirania. O poder substituiu o princípio. A vingança e a violência
suplantaram a virtude. Como disse David Horowitz no seu livro
Left Illusions, o domínio do bando substituiu o domínio do que é
verdadeiro, belo e bom.

Mas talvez as pessoas que pensavam que o movimento pela


liberdade de expressão tinha começado em Berkeley estivessem
erradas desde o início. Berkeley não é o berço da liberdade de
expressão — Belém é.

Assim como ignorar Moisés e as suas dez leis simples leva a


menos liberdade em vez de mais, ignorar aquele que disse
“Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” levará ao
fascismo em vez da liberdade.

Na nossa tentativa de sermos “livres”, derrubamos as barreiras


morais e espirituais que definiam e protegiam essa liberdade
originalmente. Pensamos que iríamos encontrar a liberdade
intelectual descartando os ensinamentos de Moisés e de Jesus, mas,
em vez disso, deixamos entrar os lobos do fascismo ideológico que
nos consideram apenas como algo a ser devorado.

A lição do Blue
Ao contrário do que comumente se pensa, a liberdade encontra-se
sempre dentro de cercas. Nunca é possível derrubá-las. A liberdade
é encontrada dentro dos muros da lei, não nos campos abertos ou
nas margens turbulentas da licenciosidade.

Qualquer conversa sobre a diferença entre liberdade e limite me


faz pensar em uma canção lançada pelo cantor Lobo, nos anos
1970:

Eu, você e um cachorro chamado Boo


Viajando e vivendo da terra.
Eu, você e um cachorro chamado Boo
Como amo ser um homem livre. 113

Quando penso nessa música, sou levado de volta a tempos mais


simples empos de rádios am/fm, acampamentos de verão, amigos
adolescentes, lealdade de um cachorro, “eu, você e um cachorro
chamado Boo”. Também penso em ideais mais elevados, na alegria
que vem da aventura, na majestade da criação, na vida e na
liberdade, em “viajar e viver da terra”.

Mas, acima de tudo, penso em cantarolar essa música


mentalmente enquanto observo meus filhos brincando com seu
cachorro Blue.

Blue me ensinou algo muito interessante sobre liberdade. A


liberdade não vem de graça. A verdadeira liberdade sempre vem
com uma cerca. Se você já teve cachorro, sabe do amor natural que
eles têm pelo ar livre, pela caça, por pegar as coisas que jogamos e
por uma boa corrida. Quase dá para ver o sorriso nos olhos de um
labrador quando ele vê que você está prestes a soltá-lo, quando ele
sabe que logo vai poder brincar no gramado, ou nadar em um lago,
ou passear no bosque perto de casa até ficar exausto. Ele realmente
ama a liberdade.
Mas você também sabe outra coisa sobre os cachorros: eles não
podem ser soltos das restrições de uma corrente, dos limites de um
canil ou de um quintal sem que antes tenham adquirido disciplina.

Um cachorro nunca poderá desfrutar da “liberdade” até que


aprenda a obedecer. Bem, seu cachorro pode ser “livre” para
ignorar você e suas ordens. Ele pode ser “livre” para sair andando
em vez de sentar, ficar, parar ou vir. Ele pode ser “livre” para
desafiar todas as regras ou restrições que você tente impor. Ele
pode ser “livre” para pensar que é ele que manda, não você. Mas
essa seria uma história cheia de tristeza, porque você sabe que seu
cachorro, vivendo dessa forma ignorante e teimosa, não estaria
experimentando uma fração da liberdade que poderia ter. Você
sabe que se ele apenas ouvisse, se apenas aceitasse alguns limites, se
apenas obedecesse aos seus comandos, você poderia, e iria, deixá-
lo ir. Ele nem precisaria mais de uma cerca ou de uma coleira se
você pudesse confiar que ele ficaria fora da rua e longe do trânsito.
Ele poderia ter total liberdade e cuidar de si mesmo caso
obedecesse a algumas regras básicas estabelecidas para seu próprio
bem.

A simplicidade da vida de um cachorro — a lição de Blue —


mostrou-me mais de uma vez que a obediência é o preço da
liberdade. Ninguém jamais experimenta o “ganho” da emancipação
sem antes se submeter à “dor” da correção. Coisas boas sempre têm
algum custo. Devemos lembrar que o pagamento pela liberdade
sempre ocorre na moeda da submissão. Essa lição é reforçada toda
vez que vejo Blue correr pelos campos sem coleira, livre para
responder apenas à voz de seu tutor.

Todo atleta sabe que isso é verdade. Um jogador de futebol sabe


que nunca será livre para jogar, a não ser que se discipline para ir
ao treino, ouvir o técnico, memorizar as jogadas e passar pela
rotina diária de condicionar o corpo com o intuito de se preparar
para a competição. Um jogador de basquete sabe que nunca sairá
do banco de reservas a menos que aprenda a fazer o que lhe
mandam e jogar conforme as regras. Todo atleta sabe que deve
honrar o árbitro e respeitar a autoridade. Quem pensa o contrário é
apenas um atacante de poltrona que fica sentado nas tardes de
domingo criticando os verdadeiros atletas. No esporte, a liberdade
é o subproduto de uma vida dentro dos limites. É o resultado de se
deixar de lado pelo bem dos outros. A liberdade vem de aprender a
viver dentro das regras e a disciplina é uma pré-condição para a
participação.

O mesmo se aplica aos músicos. Se você não aprender as regras da


música — de rima, ritmo e cadência —, se você não praticar,
obedecer ao instrutor e se disciplinar para, todos os dias, avançar
no domínio do instrumento escolhido, o som que você ouvirá não
será o de um concerto, mas o do caos. A música chega até nós
através da beleza das regras, não apesar delas. Não existe pianista
concertista indisciplinado. 114

Ao longo de sua carreira, Martin Luther King Jr. enfatizou que a


libertação por si só não era o destino singular dos negros. Ele
acreditava que qualquer pessoa livre deveria primeiro compreender
e abraçar os princípios fundamentais da dignidade humana, da
disciplina pessoal e do respeito próprio. “Enquanto lutamos pela
liberdade na América”, afirmou, “corremos o risco de
interpretarmos mal a liberdade. Geralmente pensamos em
liberdade de alguma coisa, mas a liberdade também é para alguma
coisa. Não é apenas se libertar das forças do mal, mas também
alcançar uma força superior. A liberdade do mal é escravidão ao
bem”. “A escravidão ao bem”, insistiu ele, vem acompanhada de
certos deveres — “respeitar os outros, respeitar a si mesmo, não
revidar e praticar a não violência”. A liberdade, em outras palavras,
vem com responsabilidade. Libertação com autocontenção. Êxodo
com Sinai. A mensagem gêmea da fundação dos Estados Unidos —
revolução aliada à constituição — é a palavra de ordem da
fundação e refundação do país. 115
Comecei este capítulo dizendo que a liberdade pode ser enganosa.
O que parece não ser livre muitas vezes é livre, enquanto o que
parece ser livre muitas vezes é escravizado. O cavalo ficou livre
porque aprendeu a viver dentro das cercas do pasto. Ele não
precisava ficar preso por uma rédea, a uma baia ou um curral. Meu
cachorro ganhou mais liberdade quando aprendeu onde ficavam os
limites da propriedade e se disciplinou para viver dentro deles. Foi
então, e só então, que o liberei da coleira e do cercado.

A disciplina pessoal é sempre uma qualidade que antecede a


liberdade individual. O que parece ser restrição é, na verdade, o
oposto. É o paradoxo da disciplina e da liberdade, da liberdade e da
lei.

Sempre há motivação para sair da cerca, mas a liberdade é


encontrada dentro dos limites, e não fora.

Se você quer liberdade, construa uma cerca.

Se você quer liberdade, fique no cercado.

lição xvi: Use o chapéu branco


O menor ato de bondade vale mais do que a maior intenção.

— Oscar Wilde

Velhos faroestes

N orecentes,
início da história dos filmes de faroeste, e até tempos mais
os diretores costumavam colocar o herói com chapéu
branco e o bandido com chapéu preto. Esse contraste marcou uma
distinção nítida entre o protagonista bom e o antagonista mau.
Havia uma separação clara entre o bem e o mal. Os meninos
queriam ser o cowboy de chapéu branco. As meninas desmaiavam
por causa dele. Seus valores eram nossos valores. Ele era o homem
ideal. Ele era a definição clássica do que significava ser um “herói”.
Ele foi o exemplo de “como o Ocidente venceu”. Muitas casas eram
uma extensão de seus atributos, de seu caráter, de seus valores e de
sua integridade. Ou pelo menos era a isso que elas aspiravam.
Embora nem todos os filmes seguissem essa fórmula, ela foi a
norma dos anos 1940 até os anos 1960. As coisas mudaram no final
dos anos 1960 e início dos anos 1970. Da mesma forma que
acontece quando se lava uma camisa vermelha nova em uma
máquina cheia de roupas brancas e todo o guarda-roupa fica
completamente rosa, os chapéus brancos começaram a desbotar e
ficar cinza. As linhas ficaram borradas — não apenas nos filmes,
mas também em nossos bairros e casas.

Agora entendo que os filmes de faroeste antigos são mais um ideal


do que uma realidade. Eu sei que Ozzie e Harriet eram mais
símbolos culturais do que descrições de pessoas reais. 116 Entendo
que o herói completamente limpo é um arquétipo e que o
Cavaleiro Solitário 117 é mais um sonho do que poderia ser do que
um retrato do que de fato aconteceu.

Mas não é isso que a boa arte deve fazer? A literatura não deveria
nos inspirar a ser melhores? Os filmes não deveriam tocar nossas
almas e nos levar a buscar o que poderia ser, em vez de nos
contentarmos com o que é? Como disse nosso amigo C. S. Lewis,
por que ficar tão facilmente satisfeito nos becos enlameados
quando poderíamos estar na praia?

Hoje, em tudo, desde faroestes até histórias em quadrinhos e


filmes de super-heróis, o anti-herói se tornou o protagonista. Os
exemplares morais bem definidos foram revisados. Existem
milhares de exemplos, mas considere apenas as últimas versões
sombrias e conflituosas de super-heróis como Batman, o Arqueiro
Verde e até mesmo o Super-Homem. O malvado inimigo do
Batman, o Coringa, agora tem um longa-metragem próprio.

Não estou tentando dar uma de crítico de cinema, mas será


possível que essa tendência de gastar tanto tempo destacando as
imperfeições da alma humana e até mesmo seu lado mais sombrio
esteja trazendo certas consequências? Nossos filmes são um
sintoma de uma mudança cultural da celebração do bem para a
fixação no mal? Ficamos facilmente satisfeitos com o pecado,
mesmo quando nos foi prometida a possibilidade de um Salvador?
Os heróis de chapéu branco não estão mais em voga porque
preferimos ser entretidos pelo vício em vez da virtude? Por fim,
estamos recebendo o que merecemos — a sujeira e a fuligem do
beco — porque zombamos da ideia de praias e oceanos serem
reais? Fazer o bem não é mais considerado uma coisa boa?

Uma área de desordem em nossa nação é a igreja. O escritor John


S. Dickerson tratou da condição preocupante da igreja americana
em seu livro The Great Evangelical Recession: 6 Factors That Will
Crash the American Church… and How to Prepare. 118 A premissa-
chave de Dickerson é que a igreja nos Estados Unidos está
morrendo. A evidência que ele apresenta para sustentar esse
diagnóstico terminal é multifacetada.

De acordo com o Sr. Dickerson, a crença ortodoxa, o hábito de ir à


igreja e a lealdade à própria denominação estão caindo
vertiginosamente. Pouco a pouco, a transição da homogeneidade
religiosa dos baby boomers para o deísmo terapêutico dos
millennials levou a igreja a tropeçar, se debater e perder influência
na cultura.

A divisão política e o desacordo partidário acelerarão a perda de


voz da igreja. Haverá divisões intramuros. O hábito de ir à igreja
despencará. Estima-se que mais de 2,6 milhões daqueles que têm
atualmente entre 18 e 29 anos deixarão o santuário e abandonarão
a fé bíblica e os valores tradicionais nos próximos dez anos. Essa
tendência irá acelerar nas próximas décadas.

O número de americanos não religiosos e secularizados disparará,


enquanto a percentagem de cristãos conservadores — isto é,
aqueles que realmente acreditam na Bíblia e procuram viver suas
vidas de acordo com seus preceitos — diminuirá para menos de 7%
da população americana em apenas alguns anos.

Os dias de uma maioria cristã já acabaram, sugere o Sr. Dickerson.


A ética judaico-cristã é coisa do passado. Mas ainda mais
preocupante do que o aumento da indiferença religiosa e do
sincretismo teológico, adverte ele, será o aumento da animosidade
e do antagonismo absoluto em relação aos valores bíblicos.

São muitas as evidências que corroboram as previsões do Sr.


Dickerson. A intolerância e até mesmo o ódio da pós-modernidade
ao cristianismo ortodoxo é o assunto dos noticiários noturnos.
Vejamos apenas uma amostra das manchetes recentes:

Um pastor da Califórnia é preso por ler a Bíblia em público.

Um grupo de freiras católicas é processado por se recusar a


fornecer medicamentos indutores de aborto a mulheres católicas.

A Associação Americana de Psicologia considera alterar o próprio


Manual Diagnóstico e Estatístico de modo a incluir um diagnóstico
chamado “transtorno de personalidade intolerante” para descrever
qualquer cristão que acredite que o comportamento sexual deva ser
reservado exclusivamente ao casamento heterossexual.

A União Europeia aprovou uma resolução declarando que todas


as pessoas que têm “aversão” ao comportamento sexual antibíblico
são culpadas de um “crime” igual ao de “racismo, xenofobia,
antissemitismo e machismo”, e deveriam estar sujeitas a
“penalidades criminais”.
E há apenas alguns meses, um tribunal britânico decidiu que a
crença em Gênesis 1.27 [a visão de que os humanos são criados
homem e mulher, de forma distinta] “é incompatível com a
dignidade humana”. O tribunal prosseguiu dizendo: “Na medida
em que essas crenças fazem parte de uma fé mais ampla, tal fé não
satisfaz o requisito de ser digna de respeito numa sociedade
democrática”.

A lista atual de acusações contra os cristãos parece interminável.


Poderíamos encher livros com casos de pessoas pedindo que a
igreja seja “descartada e pisoteada” por odiarem sua piedade. O
cristianismo, ao que parece, é agora disfuncional, e não desejável.
Os valores bíblicos devem ser perseguidos, e não promovidos. Os
seguidores de Cristo são um insulto à dignidade humana. Em vez
de merecermos respeito, precisamos de tratamento. Merecemos ser
punidos.

Diante dessas notícias, o que devemos fazer? Nesta confusão de


intolerância antirreligiosa, o que podemos fazer? Pegamos nossa
bola e vamos para casa, ou ficamos e lutamos?

Há uma resposta, e ela é encontrada na mensagem da Igreja do


século i, uma Igreja que enfrentou muitos dos mesmos desafios
culturais que enfrentamos hoje.

Nossa responsabilidade é bastante simples e clara: fazer o bem.

No meio das tempestades, que apresentavam uma estranha


semelhança com algumas das nuvens escuras que vemos agora no
nosso horizonte cultural, Paulo disse aos primeiros cristãos em
Roma para “não retribuir o mal com o mal, mas fazer o bem!”.

Ele disse aos primeiros fiéis na Galácia para “fazerem o bem”.

Ele disse aos perseguidos em Jerusalém que “fizessem o bem”.

Ele disse a Timóteo para “fazer o bem”.


Repetidas vezes, a Igreja primitiva foi admoestada a não pagar
insulto com insulto, mas, em vez disso, a prestar atenção às
próprias palavras de Cristo e a “fazer o bem”.

Jesus não poderia ter sido mais claro: “Assim brilhe vossa luz
diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e
glorifiquem vosso Pai que está nos céus”.

Ao responder à intolerância não da mesma forma, mas fazendo o


bem, a Igreja mudou o mundo. Órfãos foram adotados. As viúvas,
amadas. Os doentes, curados. Os pobres, alimentados. Os
moribundos, salvos. As mulheres foram honradas. As crianças
foram desejadas. Hospitais, escolas e faculdades foram fundados.
Os escravos foram libertados.

Chesterton disse uma vez: “O cristianismo morreu muitas vezes e


ressuscitou; pois tinha um Deus que conhecia o caminho para sair
da sepultura”. A saída da igreja do que parece ser o seu atual
“túmulo” de irrelevância cultural é seguir aquele Deus ressuscitado
que prometeu que as portas do inferno não prevaleceriam contra
nós. Com confiança nessa promessa, devemos “abençoar aqueles
que nos perseguem; abençoar, e não amaldiçoar” — e fazer o bem.

No meio da peste, da epidemia, da seca e das doenças, da guerra e


da fome, das tempestades de areia e das quebras do mercado de
ações, os cristãos continuaram a fazer o bem e o mundo mudou.
Na verdade, os historiadores nos dizem que esses primeiros
cristãos “viraram o mundo de cabeça para baixo” e “colocaram fogo
no mundo”.

As realizações daqueles primeiros seguidores de Cristo foram de


fato surpreendentes, eles eram inspirados pela fé a fazer o bem nas
suas comunidades. Santo Atanásio, que muitos consideram o autor
do Credo de Nicéia, escreveu certa vez: “Vendo a excessiva
maldade dos homens contra si mesmos e como, pouco a pouco,
eles a aumentaram a um nível intolerável […], [Cristo] teve pena
de nossa raça e misericórdia de nossa enfermidade”. Ele concluiu:
“Para que a criatura não pereça, nem a obra do Pai nos homens seja
desperdiçada”, Deus “tomou para Si um Corpo”, um corpo que
permanece, vive e respira não apenas em sua ressurreição, mas
também em sua Igreja.

Mesmo aqueles que se colocam abertamente em algum ponto ao


longo do continuum ateu-agnóstico têm de admitir o poder
redentor da Igreja. Por exemplo, Greg Gutfeld, colaborador da Fox
News, que se descre ve como “não religioso”, diz: “Faz anos que não
vou à igreja. Mas de uma coisa eu sei: a igreja é uma influência
positiva nas comunidades, em termos de encorajar a caridade e a
preocupação com a vizinhança”.

Da mesma forma, Alain de Botton, autor de Religion for Atheists,


lamenta a perda de “disciplina, estrutura e vida comunitária” na
cultura contemporânea. Então, quase chega a ter a ousadia de
afirmar a visão cristã do pecado original quando diz: “No fundo,
todos nós somos criaturas desesperadas, frágeis, vulneráveis e
pecadoras, muito menos sábios do que nos consideramos, sempre
beirando a ansiedade, torturados por nossos relacionamentos,
aterrorizados com a morte — e, acima de tudo, necessitados de
Deus”.

Depois, há Matthew Parris, escritor do London Times, que exalta


as virtudes do trabalho missionário cristão na África: “Como ateu,
acredito de verdade que a África precisa de Deus […]. Remover o
evangelismo cristão da equação africana pode deixar o continente à
mercê de uma fusão maligna de Nike, feiticeiros, celulares e facões”.

Na verdade, a Igreja é o sal e a luz da história humana. Preservou


a cultura em meio à doença, à libertinagem e ao desespero. Tem
sido um farol de esperança nos dias mais sombrios de violência e
opressão. A Igreja conteve a onda do mal repetidas vezes, mesmo
quando a situação parecia mais tenebrosa. Em meio à peste e ao
contágio, ela tem sido o ápice do cuidado e da compaixão. Em
tempos de terror e guerra, tem sido a “misericórdia de Deus para
com a nossa enfermidade” e a Sua “piedade para com a nossa raça”.

Há um segredo simples por trás da forma com que as potências


Aliadas detiveram o mal da Alemanha nazista e do Japão de
Hirohito. O segredo é que nós acreditávamos que o nosso salvador
era Deus, e não o governo. Elevamos Cristo, não a conquista.
Compreendemos que éramos a última e melhor esperança na Terra
para a humanidade. Compreendemos a diferença entre o bem e o
mal. Estávamos dispostos a lutar para destruir este e defender
aquele.

Os cristãos interromperam a prática generalizada de sacrifícios


humanos das religiões politeístas. Os cristãos converteram os
bárbaros, evangelizaram os vikings e domesticaram o Velho Oeste.
Os cristãos e a Igreja fizeram o bem em grandes quantidades,
mesmo quando estavam rodeados por pecado e perdição. O nosso
mundo é melhor por causa disso e devemos considerar suas
conquistas como um exemplo para todos nós.

Jesus nos diz — na verdade, Ele nos promete — que as “portas do


inferno não prevalecerão” contra sua Igreja. Nada pode impedir o
“poder manifesto” de “um Deus vivo em ação”. Ele não é uma “coisa
morta ou estática”, mas é vivo e poderoso. O teólogo Arthur W.
Pink escreveu:

Nada em todo o vasto universo pode acontecer de outra forma


que não seja conforme o propósito eterno de Deus. Aqui está um
fundamento de fé. Aqui está um lugar de descanso para o
intelecto. Aqui está uma âncora para a alma, segura e firme. Não é
o destino cego, o mal desenfreado, o homem ou o diabo, mas o
Senhor Todo-Poderoso que governa o mundo, governando-o de
acordo com a Sua própria vontade santa e para a Sua própria
glória eterna.
Se quisermos ser verdadeiramente diferentes do mundo ao nosso
redor, às vezes a melhor coisa a fazer é copiar os que vieram antes
de nós. Eram homens e mulheres íntegros que colocavam em
prática o que pregavam. Eles não apenas acreditavam: eles agiam
de acordo com o que acreditavam. Eles pegaram sua cruz e
seguiram Aquele que afirmavam ser Deus. Se eles conseguiram,
você certamente também consegue! E eles fizeram isso fazendo o
bem.

lição xvii: Olhe para uma foto


capturada de cima
Parece que não é apenas religião que falta nas escolas — falta bom senso também.

— Ronald Regan

Google Earth

Q uando um caçador está explorando novos lugares, uma foto


aérea (ou o que costumávamos chamar de mapa) pode ser
uma de suas ferramentas mais importantes. A visão aérea
mostra a configuração do terreno: a topografia, os rios e riachos, os
morros, as estradas, os caminhos. Qualquer andarilho, ciclista,
caçador ou mesmo turista sabe a importância de ter um mapa. O
mapa unifica o que, de outra forma, seria uma perspectiva
fragmentada, reunindo as demais perspectivas em um todo uno.

Quando se está no chão e sem mapa, só é possível ver o que está


imediatamente à frente. Não há perspectiva. A visão é limitada à
próxima árvore ou curva no caminho, à próxima bifurcação na
estrada, ao próximo prédio, à próxima pedra ou cume. É difícil
entender as imediações, o lugar onde se está e até mesmo a direção
a se percorrer quando não se tem perspectiva.

Essa perda de perspectiva, essa fragmentação míope da forma


como vemos as coisas, é hoje, mais do que nunca, o que prevalece
no nosso discurso político. A cada nova controvérsia, a nossa perda
de perspectiva sobre quem somos como nação livre e povo livre
torna-se cada vez mais preocupante. Parece que não vemos mais do
que a ponta do nosso nariz. A segregação, a vitimização e a
balcanização hoje dominam a cena política e a praça pública.
Estamos fragmentados, não unidos. Democratas contra
republicanos, liberais contra conservadores, jovens contra velhos,
negros contra brancos, homens contra mulheres. A lista de
divisões, panelinhas e grupos parece interminável. É como se E
pluribus unum tivesse sido virado de cabeça para baixo. Agora
parecemos uma nação construída com base no pressuposto de E
unum, pluribus; dividindo o um em muitos.

Nós não apenas rejeitamos a existência de uma causa e um


propósito comum, mas também perdemos qualquer mínimo de
bom senso, racionalidade, lógica e civilidade. Quando se trata de
debate e troca mútua de ideias, parece que nos contentamos em
rastejar na lama em vez de entrar num avião e voar.

Se ouvirmos com atenção qualquer dos debates políticos


contemporâneos, ou qualquer dos principais discursos dos
candidatos atuais, ouviremos uma litania de ideias desconexas e
contraditórias geradas pelo mesmo indivíduo, pelo mesmo partido
e pelos mesmos especialistas dos meios de comunicação.

Um político diz que defende a infância e o uso de recursos


públicos para sua assistência; ao mesmo tempo, ele sugere que o
governo deveria pagar pela morte dessas mesmas crianças poucos
segundos antes de saírem do canal vaginal e se tornarem
“oficialmente” bebês.
Os candidatos políticos que juram lealdade a uma nação sob
Deus, depois agem como se eles fossem Deus.

No seu juramento, prometem “defender e proteger a Constituição


dos Estados Unidos”, mas depois negam que o país tenha o direito
de estabelecer e defender as suas próprias fronteiras.

Como um andarilho tentando navegar por uma nova propriedade


sem mapa, não conseguimos ver a floresta por causa das árvores.
Nossa perspectiva é limitada. Nossa visão está truncada. Não
vemos o panorama. Estamos rastejando quando poderíamos estar
usando um drone. Precisamos subir acima das copas das árvores
para ter uma visão global.

Sem uma visão panorâmica, sem um mapa, nunca conseguiremos


compreender o cenário político, nem qualquer outro cenário.
Ninguém parece nem mesmo perguntar como é que essas posições
e ideias desagregadoras podem ser unificadas num todo coeso e
uno, numa visão de mundo que nos congrega em vez de nos
separar. Só então seremos capazes de regressar ao discurso político
são e à vida comunitária edificante.

Sem um mapa que nos oriente, perdemos a visão necessária para


navegar com êxito em circunstâncias desafiadoras. Tornamo-nos
hiper-reativos, respondendo a eventos individuais sem qualquer
fundamentação ou plano. Políticos e partidos políticos inteiros
unem-se em torno de uma causa que representa o exato oposto dos
valores que eles defendiam há apenas cinco minutos. As atitudes
políticas e morais mudam num piscar de olhos.

Com a natureza viral das redes sociais, as notícias e informações


viajam mais rápido e chegam a mais pessoas do que em qualquer
outro momento da história. Os pontos de vista mudam em um
ritmo ainda mais acelerado. Nosso temperamento nacional muda
em dois tempos. Embora grandes grupos de cidadãos já tenham
sido influenciados nas suas posições políticas antes, nunca o foram
como agora, e de forma tão rápida.

Parecemos cada vez mais dispostos a tomar decisões precipitadas


e avançar, nunca considerando como nossas ideias, conclusões e
ações decorrentes estão interligadas com a história, razão,
experiência e Revelação. Agimos como se fôssemos ilhas para nós
mesmos e ignoramos o fato de que, na verdade, vivemos em uma
comunidade de pessoas, valores e virtudes interconectadas.

Ninguém está olhando para frente ou para o quadro geral.


Estamos apenas reagindo, olhando apenas para uma árvore de cada
vez — talvez nem mesmo para uma árvore, mas apenas para a
casca. Precisamos dar um passo atrás e ver a floresta toda.

Seus pais já lhe chamaram de volta quando, no meio de uma


trilha, você saiu correndo para fora do caminho? Por que eles
fizeram isso? Porque essa trilha provavelmente já havia sido
mapeada e, se você saiu do caminho, quem sabe o que poderia
acontecer? Você poderia cair de um penhasco.

Será possível que estaríamos muito melhor se, em vez de nos


precipitarmos numa política reativa, pisássemos um pouco no freio
e olhássemos para o mapa? Talvez não fosse uma má ideia fazer
uma pausa e olhar para o mapa antes de presumirmos que sabemos
como navegar pela natureza selvagem em que nos encontramos.

Um dos aspectos mais notáveis da nossa Constituição é a visão de


futuro dos nossos pais fundadores. Eles lidaram não apenas com as
questões da época, mas também previram como um determinado
conjunto de ideias impactaria a nação em geral. Eles entendiam
Locke e Montesquieu. Leram Hume e Voltaire. Discutiram Platão,
Cícero e Sócrates. Conheciam suas Bíblias como a palma de suas
mãos. Sabiam o que Moisés disse, bem como o que Jesus falou.
Sabiam olhar tanto para o passado quanto para o futuro. Sabiam
onde estavam e para onde estavam indo. Viram a promessa de uma
república e os perigos de um Robespierre. Compreenderam a
liberdade de uma aliança e as amarras da hierarquia. Viram os
riscos do governo de bando e a força que vem de se submeter ao
reinado de Deus. Acreditavam em um grande Deus, e não no
Grande Irmão. Eles tinham perspectiva. Ao olharem para as
árvores, não viram apenas a floresta, mas também os caminhos e
estradas que a história e a Providência haviam esculpido ao seu
redor. Eles tinham um mapa e o usaram. E quem poderia afirmar
que hoje não estamos melhor por causa disso?

Temos problemas
Se ainda restava alguma dúvida de que os oligarcas corporativos e a
classe educacional dominante de hoje têm um controle quase
orwelliano sobre toda a cultura americana, as histórias
mencionadas deveriam eliminar todas as dúvidas. Elas são apenas
algumas entre incontáveis exemplos da bufonaria contraditória
difundida pela grande mídia e pela esquerda ideológica. Essas
histórias são a prova mais contundente de como ideologias mal
concebidas, mal fundamentadas e politicamente tendenciosas estão
literalmente roubando de nós os direitos da Primeira Emenda e
subvertendo a própria premissa da república constitucional.

Tomemos, por exemplo, a história do Dr. Allan Josephson, um


ilustre professor e ex-diretor de Psiquiatria Infantil e Adolescente
da Universidade de Louisville, que recentemente não apenas foi
destituído de sua posição de liderança, mas também informou que
seu contrato para o ano letivo de 2019–2020 não seria renovado.

Seu crime? O Dr. Josephson ousou desafiar a sabedoria médica da


“afirmação de gênero” e dos correspondentes tratamentos
cirúrgicos de mudança de sexo. Em outras palavras, por sugerir
que talvez não fosse uma ideia tão boa dizer a um adolescente
confuso que ele deveria cortar seu pênis. Esse homem foi declarado
proscrito pelo Terceiro Reich intelectual de Louisville e
sumariamente demitido.

Que tal considerarmos a história da estrela de Hollywood Mario


Lopez, que, sob ameaça de excomunhão, foi forçado pela
conspiração de sumos sacerdotes culturais do nosso tempo a se
curvar, contrito, diante do altar arco-íris e confessar seus pecados.
“Qual foi a transgressão?”, você pode perguntar. O senhor Lopez
ousou sugerir que não se pode confiar em uma criança de três anos
para escolher o próprio almoço, e muito menos escolher o próprio
sexo.

Por apontar o que 99,9% de todos os seres humanos pensantes


sabem ser óbvio, a estrela de Saved by the Bell, Dancing with the
Stars e Extra foi ameaçada com o fim de sua carreira e, portanto,
acabou sendo forçada a emitir uma retratação à maneira de
Cranmer. Perguntamo-nos se os Bloody Marys 119 das torres de
marfim e das salas de reuniões corporativas da nossa nação
exigirão a sua execução de qualquer maneira.

Depois, claro, há a história da Biblioteca Pública do Queens, em


Nova York, que aumentou seu orçamento e designou 25 mil dólares
desse aumento para “Horas de histórias drag queen”, usando
descaradamente crianças de quatro e cinco anos de idade como
peças no jogo sujo da política sexual.

Por fim, quem pode esquecer o caso de Márcia da Silva,


proprietária de um salão de beleza feminino no Canadá, que foi
processada por uma “mulher” transgênero (também conhecida
como homem biológico, com todos os apetrechos físicos
decorrentes) porque ela (a senhora da Silva) se recusou a depilar o
saco escrotal dessa “mulher”. Caso você não tenha lido essa
história, saiba que não estou inventando.

E, finalmente, mesmo aqui na minha cidade natal, no coração, no


mais vermelho dos estados vermelhos, Oklahoma 120 — onde ainda
acreditamos que Deus é realmente encontrado no que se lê na
Bíblia, e não no que se vê no espelho —, não faz muito tempo que
executivos corporativos decidiram promover um Piquenique do
Orgulho em um parque local, repleto de bandeiras do arco-íris e de
tudo que é lgbtq (o que, aliás, os torna cúmplices na promoção de
tudo o que citei acima).

Além da óbvia arrogância dessas elites culturais que empurram


esses valores niilistas para toda a sociedade americana, há outro
traço comum a essas histórias, que é ainda mais perturbador.

Caso você não tenha percebido, aqui está: a classe dominante


atual tem um desrespeito palpável pelas pessoas e pelo que significa
ser humano. São misóginos que negam que as mulheres sejam
reais; eles têm orgulho disso. São misândricos que negam que os
homens devam existir porque são tóxicos.

Quando recuamos e conseguimos uma visão aérea, uma visão


proverbial, dessas questões conflitantes, vemos que as mulheres e
meninas não estão vencendo. Elas estão perdendo a privacidade, a
dignidade e até mesmo a identidade. E no que diz respeito aos
homens e rapazes, como é que alguém pode não ver as perdas
psicológicas e físicas sofridas por esses garotos, a quem é dito,
desde os sete anos, que não são homens, mas sim mulheres, e que
estão sendo escravizados, reduzidos a um futuro de puberdade
bloqueada por hormônios, castração química e até cirúrgica?

Em que mundo alguém pode argumentar, sem rir, que isso é


certo? Como é possível acreditar na dignidade infantil e, ao mesmo
tempo, aplaudir quando uma criança de onze anos desfila
travestida em um palco cercada por um bando de adultos?

Como dizer que respeita o valor de um homem quando sua


posição padrão sobre tudo o que há de errado em toda a história
do mundo pode ser resumida em duas palavras: “toxicidade
masculina”?
E como é que alguém pode afirmar que acredita na dignidade do
ser humano quando, todos os anos em Nova York, mais bebês
negros são mortos através do aborto do que celebrados pelo
nascimento?

Pare só um instante. Respire fundo. Deixe a adrenalina diminuir.


Pare de se fixar como uma criança em suas “árvores” individuais,
políticas e emocionais, e olhe como um adulto para a floresta toda.

Se as nossas escolas apoiam as mulheres, então por que ensinam


às nossas meninas que as mulheres são pouco mais do que duendes
e unicórnios, ou seja, construções sociais fictícias, não fatos
biológicos?

Se os nossos políticos acreditam nos direitos das mulheres, então


por que é que se recusam a proteger os direitos femininos mais
básicos?

Se nossos luminares progressistas acreditam que é errado um


homem forçar uma mulher, então pode ser certo essas pessoas-
mais-espertas-que-você forçarem uma mulher a depilar os órgãos
genitais de um homem?

Se você está tão preocupado com o futuro da humanidade devido


ao aquecimento global, então por que apoia os políticos que lhe
dizem que os seres humanos deveriam ser “reduzidos” em até 90%
para salvar o planeta do aquecimento global?

Consegue ver essa falta de nexo? Como seres racionais, somos


mais inteligentes do que isso. Mas o conjunto dos cérebros desse
país parece estar com morte cerebral. Nunca seremos um povo de
bom senso se persistirmos em redobrar essa insensatez.

Se os executivos coorporativos acreditam de verdade na dignidade


das mulheres, então deveriam parar de promover a apropriação
cultural pelos homens de um estatuto e uma identidade que eles
não têm o direito de assumir.
Se as “feministas” realmente acreditam na igualdade de direitos
para as mulheres, então deveriam parar de fingir que uma mulher é
uma fantasia e um construto, e não um fato biológico.

Se as principais universidades do nosso país realmente acreditam


na inclusão de gênero, por que excluiriam um professor por
defender a integridade objetiva do gênero feminino?

O que poderia ser mais degradante para uma funcionária do que


ter seu empregador apoiando publicamente uma espécie de
blackface 121 de mulher, representada de uma maneira que é tão
caricatural, grotesca e ofensiva quanto quando pessoas brancas
literalmente pintam o rosto de preto para imitar e zombar de
pessoas negras?

Em A abolição do homem, C. S. Lewis nos avisou sobre a chegada


de uma época em que nos tornaríamos uma cultura sem caráter,
uma cultura de “homens sem peito”. Mesmo a previsão profética do
professor de Oxford, nesse aspecto, ficou aquém da realidade
presente. Mesmo Lewis não previu o próximo dominó que cairia —
que nos tornaríamos uma cultura de “mulheres sem seios”; somos
tão orgulhosos por termos abolido o homem que agora celebramos
com orgulho a abolição das mulheres.

Talvez, se lêssemos um pouco e refletíssemos, em vez de


simplesmente reagirmos, se fôssemos mais brandos e recuássemos,
se respeitássemos uns aos outros e tivéssemos uma conversa
civilizada e embasada, talvez, apenas talvez, esta loucura pudesse
ser evitada e o resultado seria diferente.

Como ex-reitor de universidade que fez toda a sua carreira na


academia e na torre de marfim, eu acredito na educação. Há um
grande valor nas artes liberais e no estudo das ideias de liberdade,
aquelas ideias que foram comprovadas ao longo da história como
libertadoras. Mas, como Mike Rowe, porta-voz do operário
americano, disse com razão, o atual modelo educativo está falido.
“Estamos simplesmente desconectados”, diz Rowe. “Estamos
recompensando um comportamento que deveríamos desencorajar.
Estamos emprestando um dinheiro que não temos a crianças que
nunca poderão devolvê-lo para treiná-las para empregos que não
existem mais. Isso é loucura”. 122

Em outras palavras, uma educação consciente é uma educação de


brincadeira. Estamos levando a próxima geração à falência com
empréstimos estudantis para custear diplomas que destroem o
coração, a mente, o corpo e a alma. Estamos produzindo graduados
que não conseguem emprego nem conseguem dizer que uma
mulher é um fato. Isso não é apenas loucura, é sinal de um povo
que está perdido na floresta sem um mapa.

lição xviii: O que é útil e o que


é prejudicial?
Perdoar é libertar um prisioneiro e descobrir que o prisioneiro era você.

— Lewis B. Smedes

Autodestruição

O que você faz está ajudando ou destruindo você?


Na maioria das vezes, presumimos cegamente que tudo o que
fazemos está nos ajudando. Ninguém quer admitir que as atitudes e
ações que escolhemos podem ser equivalentes à escolha intencional
de nos destruirmos. Existe uma palavra para esse fenômeno:
chama-se negação.
Nós racionalizamos e justificamos nossas ações. Damos razões e
desculpas. Dizemos a nós mesmos e aos outros que o que fazemos
não é grande coisa. Temos tudo sob controle.

Até nos convencemos de que o comportamento prejudicial é


realmente útil.

Aquela mentira que contamos? Bem, preservou um


relacionamento.

Aquele bagulho que estamos fumando? Bem, é medicinal.

Essa bebida? Bom, ela abriu as portas para um acordo de


negócios.

Vício? De jeito nenhum.

Dirigir sob efeito do álcool? Você é louco.

Enganar alguém? Bem, isso fez com que todos nos sentíssemos
melhor.

Dizemos a nós mesmos que nada disso nos prejudica, mas será
que paramos para pesar o custo dessas decisões?

Às vezes, o que nos parece útil naquele momento não passa de


uma forma de destruição gradual e velada de nossa alma.
Amargura, raiva e falta de perdão se enquadram nessa categoria.

Uma década desperdiçada


Certa vez, um amigo pastor compartilhou uma história comigo. A
história que ele viveu foi de caráter pessoal e com ela aprendeu
uma lição valiosa. Infelizmente, mais de uma década se passou até
que ele percebesse e resolvesse o problema.
Quando adolescente, seu pai trocou a mãe por outra mulher. Ele
nunca soube todos os detalhes, mas, do seu ponto de vista, sabia
tudo o que precisava saber. Quando jovem, ele nutriu amargura
pela mulher que se tornou sua madrasta, mantendo-se firme em
sua raiva por quase treze anos. Cada vez que estava perto dela, cada
vez que a via, ele dizia como se sentia. Ele estava com raiva. Ele
estava amargo. Ele mostrava seu desdém por ela a cada momento.

Ao não se permitir ser uma vítima, ele estava se ajudando. Ou


pelo menos era isso que ele achava.

Se o nome dela surgisse em uma conversa, ele fazia questão que


todos soubessem o que pensava sobre ela. Essas conversas sempre
terminavam de forma bastante abrupta. Ele não fazia rodeios. Ele a
odiava e nunca a perdoaria. Colocou a culpa nela por tê-lo
magoado e sentiu que não a perdoar era justo e até mesmo uma
“conclusão positiva”. Anos mais tarde, ele compreendeu o dano que
estava causando ao próprio coração, mente e alma.

Durante treze anos, ele se agarrou à raiva e deixou um rastro de


relacionamentos rompidos. Fez amizades que acabaram sendo
destruídas. Seus relacionamentos românticos estavam destinados a
implodir. A única questão era quanto tempo durariam antes de
desabarem sob o peso de sua justa indignação.

Com quase trinta anos, ele chegou ao ponto de olhar


honestamente para si mesmo. O que ele viu não parecia saudável.
Na verdade, parecia fragilizado e doente. Algo estava errado. Sua
raiva e ressentimento afetaram todas as áreas de sua vida. Um
câncer emocional estava consumindo todos os órgãos do seu
corpo, mas em especial o coração, a mente e a alma. Algo o
acorrentou e, até que essas correntes fossem quebradas, sua vida
continuaria a se desfazer.

Certa tarde, no verão de 2005, ele foi até a casa do pai, a casa onde
cresceu, para confrontar a mulher que odiava há tanto tempo.
Ele deu um passo à frente, um passo que havia jurado nunca dar.
“Eu te perdoo”, disse a ela.

Seguiu-se uma breve conversa e ele voltou para casa, a duas horas
de distância. O fardo que o oprimiu por tanto tempo não tinha
mais poder sobre ele. Enquanto dirigia, olhou pelo retrovisor para
uma década que havia sido desperdiçada, e não gostou da pessoa
que viu. Ao considerar seu antigo eu, ele viu o rosto abatido e
desfigurado de ressentimento e indignação. Mas então passou do
espelho retrovisor para o espelho em seu quebra-sol. E olhando
diretamente para o presente, e não para o passado, ele viu não
aquela velha face de vingança, mas uma nova face, uma face jovem
de arrependimento e renovação. Seu rosto agora refletia esperança
em vez de ódio. Ele era uma nova criação. Ele havia nascido de
novo.

Um novo dia havia raiado. Abandonar o passado, oferecer perdão


e começar de novo afetou mais sua própria vida do que a vida de
sua madrasta. Ele foi libertado das algemas de suas terríveis
decisões.

Seis semanas depois, o pastor conheceu sua esposa. Estão casados


há mais de uma década.

A história seria a mesma se ele tivesse escolhido seguir com a


amargura? Não temos como saber a resposta, mas creio que ele
diria que ainda estaria infeliz se não tivesse perdoado a madrasta e
seguido em frente na vida, em vez de permanecer congelado no
passado.

Depois daquela noite de 2005, ele estava vivo novamente. Por


anos, ele só machucou a si mesmo com sua raiva e ressentimento.
Quanto de nossas vidas foram desperdiçadas guardando rancor por
algo que aconteceu anos antes? Que oportunidades foram perdidas
porque não conseguimos perdoar?
Você pode estar dizendo: “Só porque não perdoei alguém, não
significa que estou fazendo algo de ruim a essa pessoa. Eu nem
digo nada de ruim para ela ou sobre ela. Eu apenas a evito e tento
não falar muito quando o nome é mencionado”.

Bem, parece que a sua maneira normal de lidar com a dor é evitá-
la, negar que ela existe e seguir em frente com a vida. Mesmo nas
melhores situações, essa solução é tudo menos uma forma madura
ou eficaz de lidar com o problema. Por quê? Porque com a falta de
perdão, você guarda raiva de alguém que o ofendeu, mas desconta
em outras pessoas que não fizeram nada com você.

Não acredita? Experimente e veja o que acontece.

Quantas vezes você já passou por um dia difícil no trabalho?


Talvez seu chefe tenha criticado você por algo que você não fez.
Talvez o projeto que estava indo bem por um ano tenha fracassado
e, do seu ponto de vista, tudo o que você fez, todo o trabalho e
esforço, foi em vão. Talvez um cliente simplesmente não tenha
ficado satisfeito e, não importa o que você tenha feito por ele, ele
não ficou feliz.

Todos esses são cenários possíveis em qualquer dia. Ir trabalhar é


aventurar-se pelo desconhecido porque grande parte do nosso
trabalho está à mercê de outras pessoas que não conseguimos
controlar e não podemos mudar.

Bem, é aqui que entra o problema. Descarregamos nossa


frustração em nosso chefe, naqueles que cancelaram nosso projeto
ou no cliente irracional? Discutimos o assunto no ambiente
profissional e deixamos o trabalho, a decepção e os resultados do
problema no escritório antes de irmos para casa?

A maioria de nós tende a fazer o oposto. Temos um dia ruim no


trabalho, vamos para casa e descontamos na família e nos amigos.
Nossos filhos descobrem que nosso temperamento é explosivo e
suportam a rejeição frustrada de suas perguntas. As crianças ficam
mais barulhentas e a irritação, que pensávamos ser pequena e
controlável, se transforma em uma onda de indignação que ameaça
consumir tudo o que está à vista. Seu cônjuge se torna vítima do
seu silêncio e desprezo. Mesmo que você “não tenha dito nada de
ruim sobre as pessoas ou para elas”, aqueles que não tiveram nada a
ver com a situação recebem as consequências devido à maneira
como você transferiu sua frustração para os outros.

A mesma regra se aplica à falta de perdão, ao ressentimento e à


amargura. Aqueles mais próximos de você, que não têm nada a ver
com a situação original, são os que arcam com o peso daquilo que
está reprimido dentro de você devido à sua falta de perdão.

“Bem, você não sabe o que fizeram comigo. Se fizessem isso com
você, você também não os perdoaria”, você pode retrucar. Talvez
você esteja certo. Eu não sei o que fizeram com você. Mas o que sei
é que você e eu não seguimos as mesmas regras que impomos aos
outros.

Você e eu somos muito rápidos em condenar os outros por


guardarem rancor, mas, quando fazemos exatamente a mesma
coisa, somos muito lentos em nos manter no mesmo padrão. É
como dizer “faça o que eu digo, não o que eu faço”. As regras são
para você, mas não para mim.

Vê hipocrisia aqui?

Você espera algo que não está disposto a dar. Ser adulto exige
perdoar os outros porque você sabe que precisa disso tanto quanto
qualquer outra pessoa, se não mais. A falta de perdão prejudicará o
seu crescimento. Pessoas irritadas são pessoas imaturas. A raiva irá
mantê-lo preso a um momento que aconteceu um, cinco, ou, como
no caso daquele pastor que odiava a madrasta, treze anos antes.
Você não cresce. Você não amadurece. Você fica congelado no
tempo.

“Bem, eu nunca faria o que eles fizeram”.


Mesmo? Tem certeza?

Era uma vez um homem que foi condenado à morte por crimes
que não cometeu. Enquanto marchava pela rua a caminho de sua
execução, ele foi espancado e ridicularizado. Foi esbofeteado,
cuspido e sadicamente executado pelos pecados que nunca
cometeu.

Quem cuspiu nele? Quem zombou dele? Quem o matou? Você e


eu. Seu egoísmo levou Jesus à morte, como se você fosse o soldado
romano brandindo o martelo ou enfiando a lança. Meu pecado me
torna tão culpado quanto Pilatos e os fariseus. Por que minhas
mentiras e delírios de poder são melhores que as deles?

Nossas atitudes e ações levaram à morte de um homem justo.

Você precisa de perdão? Espero que você não seja arrogante o


suficiente para sugerir que não. Todos nós precisamos de perdão.
Sem perdão, estamos condenados a viver vidas miseráveis agora e
por toda a eternidade.

Quando pedimos perdão, esperamos recebê-lo, não é? Aposto que


uma vez você se desculpou com alguém esperando que essa pessoa
lhe perdoasse de imediato para que você pudesse continuar com
sua vida sem a culpa que pairava sobre sua cabeça. Você não
deveria seguir o mesmo padrão que espera dos outros?

Jesus explicou por que é necessário ser uma pessoa que perdoa, se
você também espera ser perdoado. Ele disse: “Porque, se
perdoardes aos homens as suas ofensas, vosso Pai celeste também
vos perdoará. Mas, se não perdoardes aos homens, tampouco vosso
Pai vos perdoará”. 123

Você espera ser perdoado. A expectativa é que você, por sua vez,
perdoe.
Nas últimas décadas, muitas igrejas falharam em ensinar essa
verdade básica do Evangelho de Cristo e da psicologia humana. O
perdão é uma ação, não apenas uma oração. O perdão é uma
prioridade — uma coisa primária — e as coisas secundárias da vida
nunca serão alcançadas até que aprendamos a perdoar
incondicionalmente. Pessoas que não perdoam são pessoas não
perdoadas. E essas pessoas são como a mulher que C. S. Lewis
descreve em O grande divórcio, que resmungou por tanto tempo
que na verdade se tornou pouco mais do que um resmungo
perpétuo:

A questão é se ela é uma resmungona ou apenas um resmungo. Se


houver uma mulher real — mesmo que seja o menor vestígio de
uma — ainda dentro dos resmungos, ela poderá ser trazida à vida
novamente. Se houver uma pequena faísca sob todas essas cinzas,
vamos assoprá-la até que toda a pilha fique vermelha e limpa. Mas
se não houver nada além de cinzas, não as continuaremos
soprando em nossos próprios olhos para sempre. Elas devem ser
varridas… Toda a dificuldade de compreender o Inferno é essa…
ele começa com um clima de resmungo, você ainda se distingue
dele: talvez criticando-o. Mas você mesmo, em uma hora sombria,
pode desejar esse estado de espírito, pode abraçá-lo. Você pode se
arrepender e sair dessa situação novamente. Mas pode chegar um
dia em que você não conseguirá mais fazer isso. Então não restará
você para criticar esse clima, nem mesmo para apreciá-lo, mas
apenas o próprio resmungo, que continuará para sempre como
uma máquina.

Pessoas que precisam de graça deveriam ser pessoas que


distribuem graça. Caso contrário, nos tornaremos pessoas que
nada conhecem da graça. E não esqueçamos que, sem conhecer a
graça, estamos todos condenados. “Pois é pela graça que você é
salvo […] ela não pertence a vocês, para que ninguém se glorie”.

Aqueles que estão desesperados por misericórdia (e você e eu


certamente estamos) deveriam ser misericordiosos com os outros.
E aqueles que sentem que todos merecemos uma segunda chance
deveriam ser os primeiros a conceder uma segunda, terceira e
quarta chance a outra pessoa.

Mudando o mundo
Quase todo mundo sonha em mudar o mundo de alguma forma.
Alguns têm ambições de ajudar crianças famintas, construir casas
para os que não as têm ou resgatar animais que tenham sofrido
abusos.

Fazer esse tipo de contribuição para a nossa comunidade leva


muitos a acreditarem que estão impactando e mudando o mundo.
Produzir arte e música são formas de deixar uma marca e fazer a
diferença. Todos nós queremos esperança e mudança!

Contudo, embora os nossos planos sejam nobres e elevados,


muitas vezes não conseguimos ver a ferramenta mais básica e
comprovada em toda a história humana que irá — sem falha —
trazer a mudança que tanto desejamos.

Perdoar os outros é mudar o mundo.

Um tribunal do Texas é tudo de que preciso para provar meu


ponto de vista.

No dia 2 de outubro de 2019, Brandt Jean abalou o cenário


político, bem como os nossos pressupostos culturais de justiça e
jurisprudência. Brandt Jean era o irmão mais novo de Botham
Jean, jovem baleado e morto por uma policial que estava fora de
serviço, chamada Amber Guyger.

As tensões aumentaram na comunidade com a acusação inicial de


homicídio culposo. Pouco depois, as acusações foram agravadas
para homicídio doloso. No julgamento, Guyger foi considerada
culpada e condenada à prisão. Isso proporcionou o momento para
Brandt causar impacto no mundo, fazendo o que a maioria das
pessoas nunca faria.

Num dos momentos mais comoventes já vistos num tribunal


americano na história recente, o jovem disse à mulher que acabara
de ser condenada pelo assassinato do seu irmão mais velho que ele
a perdoava.

Nada poderia desfazer o que havia sido feito. Odiá-la e guardar


rancor não traria de volta a vida do irmão. Carregar a raiva com ele
pelo resto da vida iria prejudicá-lo mais do que puni-la. Quando
chegou o momento de falar, ele estava pronto.

“Eu nunca diria isso na frente da minha família ou de qualquer


pessoa”, disse Brandt Jean, “mas nem quero que você vá para a
cadeia. Quero o melhor para você porque sei que é exatamente isso
que Botham desejaria. E o melhor seria entregar sua vida a Cristo.
Não vou dizer mais nada. Acho que entregar sua vida a Cristo seria
a melhor coisa que Botham gostaria que você fizesse. Mais uma
vez, eu te amo como uma pessoa e não desejo nada de mal para
você”.

Que momento! Todos esperavam que Brandt condenasse e até


exigisse a morte da assassina de seu irmão. Ele tinha o direito de
odiar. Mas, em vez disso, ele escolheu perdoar e oferecer esperança.
Ele não seria o único.

Ecoando os comentários do filho mais novo, o pai de Brandt


reagiu: “Eu senti o mesmo. Gostaria de estender a você a mesma
cortesia. Isso é o que Cristo gostaria que fizéssemos […]; se você
não perdoar, seu Pai também não o perdoará. Não quero vê-la
apodrecer no inferno. Não quero vê-la apodrecer na prisão. Espero
que isso mude a vida dela […]”.

O perdão irrompeu em um lugar de lei e ordem. Dois membros


da família acreditaram na palavra de Jesus, oferecendo a outra face
em vez de contra-atacar. O momento, porém, não havia acabado.
A juíza Tammy Kemp, que presidia o julgamento, reagiu saindo de
seu banco e entregando a Guyger a própria Bíblia. Ela disse: “Você
não fez algo tão ruim que não possa ser perdoado. Você fez algo
ruim em um momento. O que você faz agora é que importa”. Ela
então sussurrou no ouvido de Guyger: “Senhora, não é porque eu
sou boa. É porque acredito em Cristo. Nenhum de nós é digno”.

Esse é o coração do Evangelho. Nenhum de nós é digno. Nenhum


de nós é bom. Todos nós somos pecadores, e eu sou o principal
deles. Estamos todos quebrados e, se pensarmos que somos justos,
então já estamos condenados.

A boa notícia do Evangelho é que podemos superar o


ressentimento e a vingança e nos tornar novas criações em Cristo.
Não precisamos deixar que outros nos controlem. Não precisamos
ser escravizados pela vitimização perpétua. Não precisamos ser
mantidos em cativeiro pelos pecados dos outros e pelos pecados
que encontramos em nós mesmos.

Podemos perdoar. Podemos ser perdoados. Podemos ser salvos!

Salvos da raiva.

Salvos da vingança.

Salvos da presunção.

Salvos de nós mesmos.

Martinho Lutero disse: “Pois nosso antigo inimigo ainda procura


causar-nos desgraça; sua habilidade e poder são grandes, e estão
armados com um ódio cruel, que na terra não há igual”.

John Newton exclamou: “Há duas coisas que sei: sou um grande
pecador e que Jesus é um grande salvador […]. Uma graça incrível;
124
como é doce o som que salvou um miserável como eu”.
O ciclo de “ódio cruel” é quebrado apenas pela graça: a de Deus
para com você e a sua para com os outros. E a graça só se torna real
através do ato de perdão.

Mas contra esse belo testemunho de Brandt Jean havia o terrível


rancor, cheio de raiva e ressentimento, que aguardava nos degraus
de fora do tribunal naquele dia. Soaram gritos de “Sem justiça, sem
paz”. “Quantos de nós são necessários para fazer justiça?”. Um
pastor até gritou: “É incrível a rapidez com que a injustiça pode ser
tirada das mãos da justiça. Isso é uma farsa”.

O triste é que Brandt Jean entendeu com clareza algo que esse
pastor não entendeu. A história de seu irmão não foi de
recompensa ou vingança. A história de Botham não se tratava de
exigir justiça. Tratava-se de conceder perdão. Ou, como Brandt
disse com tanta beleza, trata-se de “entregar sua vida a Cristo”
porque isso “seria a melhor coisa que Botham gostaria que você
fizesse”.

As ações de Brandt e seu pai, bem como da juíza, deveriam ter


silenciado os gritos daquela multidão enfurecida e do pastor
implacável. Que justaposição de cosmovisões. Um jovem perdoa e
muda tudo para melhor. Um pregador exige justiça e não muda
nada, nem mesmo a si mesmo.

O exemplo que Brandt, seu pai e a juíza Kemp deram ressoará nos
fóruns da justiça, não apenas nos tribunais do Texas, mas por toda
a eternidade. Brandt mudou o mundo. Brandt mudou o céu. Ele
seguiu o exemplo de Cristo, de perdão, de fazer aos outros o que
você gostaria que fosse feito a você, e a terra tremeu e os anjos
cantaram. Essa é a verdadeira esperança. Essa é a verdadeira
mudança.

A juíza Kemp encerrou a história dizendo a Brandt: “Obrigado


pela maneira como você imitou Cristo”. Mas se você ouvir com
atenção, na verdade, ouvirá Jesus proferindo seu resumo perfeito:
“Muito bem, servo bom e fiel. Bom trabalho”.

A organização Freedom from Religion Foundation, ao saber das


ações da juíza Kemp, iniciou seu ataque. Alegou que a juíza havia
feito proselitismo no tribunal e, ao fazê-lo, infringiu a lei. O que
tinha sido um belo momento de perdão tornou-se alimento para
uma organização que se recusa a ver que o perdão é a única forma
de quebrar o círculo de vitimização e vingança. A Freedom from
Religion Foundation perdeu completamente o foco. O perdão é a
única maneira de acabar com o ódio que eles afirmam odiar.
Enquanto agita bandeiras de “Amor é amor” e “O amor supera o
ódio”, a insistência dessa organização prova, inúmeras vezes, que
ela prefere ver as pessoas mantidas no ciclo vicioso da vitimização
do que libertas pelo perdão e a graça de Cristo.

Você pode ser como os manifestantes, ou como aquele pastor na


escadaria do tribunal, ou até mesmo como o pessoal da Freedom
from Religion Foundation. Você pode ser alguém completamente
controlado pelo desejo de obter seu pedaço de carne ou optar por
fazer o que Brandt fez: perdoar e dar a outra face.

O perdão quebra correntes porque o perdão liberta.

lição xix: Não existe “eu” em


“time”
O compromisso individual com um esforço de grupo — é isso que faz uma equipe, uma
empresa, uma sociedade ou uma civilização funcionar.

— Vince Lombardi
Tudo sobre mim

A ambição pelo status de celebridade é generalizada. Está em


toda parte. Durante anos, observamos como o indivíduo se
tornou o foco de quase todos os aspectos da vida. O velho axioma
esportivo “Não existe ‘eu’ em ‘time’” foi trocado por “Ei, olhe para
mim!”.

Essa mentalidade produziu consequências terríveis para a nossa


sociedade. Em vez de sermos membros de um grupo de irmãos,
tornamo-nos guerreiros na solidão. Não há evidência mais óbvia
disso do que o ensino superior.

Se você não acredita na existência de um esforço coordenado para


dividir a nação, tenho uma propriedade à beira-mar em Nebraska
que gostaria de vender hoje mesmo. 125 As pessoas responsáveis por
esse plano transmitem sua mensagem através de noticiários,
jornais, redes sociais e faculdades e universidades. Eles pensam
que, se conseguirem fazer as pessoas se concentrarem em si
mesmas, nas suas queixas e na sua vitimização — isto é, naquilo
que as divide, e não naquilo que as unifica —, a própria estrutura
da nação pode ser desfeita, fio a fio. Ou, como Salomão nos disse:
“Uma corda de três fios não se rompe rapidamente”, mas uma
corda de um só está desprotegida. Em outras palavras, dividir e
conquistar.

E essa estratégia está funcionando. Basta olhar para a retórica de


divisão típica da política contemporânea ou das pautas do tipo
“nós-contra-eles”, cada vez mais transparentes, também conhecidas
como teoria da interseccionalidade e teoria racial crítica, que são
galopantes nos nossos verdes campi, de costa a costa.

Os adultos estão agindo como crianças, chorando: “Isso é meu” e


“Você feriu meus sentimentos”. Eles não têm vergonha de fazer
birras infantis até que alguém desista e acaricie seus pequenos egos.
Aparentemente, eles nem se importam com o fato de estarem
sendo manipulados como marionetes por aqueles que mexem as
cordas em Washington, Hollywood e nas salas docentes das
faculdades de todo o país.

Vemos apelos à segregação em vez de integração. Aqueles que


procuram controlar-nos trabalham descaradamente para nos
dividir por raça, gênero, orientação sexual, tendência eleitoral,
estatuto econômico, nacionalidade, altura, peso, nível educacional,
religião, idade e qualquer coisa que possa nos balcanizar, nos
transformar em grupos concorrentes com exigências
irreconciliáveis.

Numa entrevista em 1975, Ronald Reagan disse a Mike Wallace:


“Se o fascismo algum dia chegar à América, virá em nome do
liberalismo”. Essa previsão do “Grande Comunicador” provou ser
visionária. Na verdade, o fascismo ideológico chegou à América, e
chegou pelas mãos de progressistas empunhando bandeiras em
nome de espaços seguros, microagressões, alertas de gatilho,
vitimização e vingança em campi universitários em todo o país.
Sob essas bandeiras, vemos “crianças” de dezoito a oitenta anos
fazendo birras em praça pública e exigindo todos os brinquedos de
plástico e doces que quiserem, nos ameaçando com as
consequências de sua ira.

Quando o seu deus é a diversidade, a unidade não será tolerada.


Se a nossa prioridade for a diversidade, uma coisa secundária,
nunca realizaremos o mais importante: a unidade. A diversidade é
egocêntrica. No seu núcleo, ela é algo que divide. Baseia-se na
premissa do eu-contra-você e do nós-contra-eles. É infantil. É
egoísta. Diz “dê-me o que é meu”. É a antítese da admoestação de
Cristo de morrer para si mesmo.

As crianças são, por natureza, individualistas e insulares. Elas não


se importam com muita coisa além de si mesmas. Elas querem o
que querem. Outras pessoas e suas necessidades podem nem
mesmo passar pela sua cabeça. Os adultos, pelo contrário,
amadureceram o suficiente para compreender que a vida não diz
respeito apenas a eles. Compreendem como é sábio promover a
unidade, e não a divisão, a integração no lugar da segregação, nós
em vez de eu e os meus, a nação unida em vez dos estados
divididos. Os adultos devem preocupar-se mais com uma causa
comum, baseada na justiça, do que com as exigências que dividem,
ancoradas nos nossos direitos pessoais.

Os adultos percebem o valor de centenas de mãos trabalhando


juntas em vez das mãos de uma só pessoa batendo palmas no ar. O
que seria de uma sinfonia se houvesse apenas uma pessoa tocando
um triângulo e nenhum outro músico ou instrumento? Os adultos
notam que é a orquestra toda que produz a música que nos inspira
a considerar as coisas que são maiores do que nós mesmos. Os
adultos entendem que a inspiração vem de fora, não de dentro.
Você não se inspira; algo maior e melhor, que está além de você, é
sempre a fonte de sua inspiração.

Quando invertemos a ordem e nos concentramos nas coisas


secundárias, não obtemos nem o que é mais importante nem o que
é menos. Somente morrendo para si mesmo — isto é, deixando de
lado o nosso individualismo infantil — é que qualquer ser humano
encontrará a sua verdadeira identidade.

A verdadeira identidade não é encontrada na raça ou no gênero.


Não é encontrada em queixas pessoais ou em nossas paixões
narcisistas. Não somos judeus ou gregos, homens ou mulheres,
escravos ou livres. Somos seres humanos, e o primordial é nossa
unidade altruísta, não nossas exigências egocêntricas.

Focar o que é importante realmente funciona. Provas disso


podem ser encontradas em inúmeros campos, da música ao
atletismo, do governo ao casamento e à dinâmica familiar. Mas um
exemplo seminal é encontrado nos Atos dos Apóstolos.
Nos primeiros dias da Igreja, o crescimento foi explosivo. Por
quê? Lucas escreveu: “Todos os fiéis estavam juntos e tinham tudo
em comum. Vendiam as suas propriedades e os seus bens, e
dividiam-nos por todos, segundo a necessidade de cada um”. 126
Cristo foi o foco dessas primeiras igrejas em Atos. A assembleia
incluía homens e mulheres, apóstolos e neófitos. Todas essas
pessoas eram de diversas origens socioeconômicas, de diversas
nacionalidades, raças e grupos étnicos. Havia, com clareza, todo o
potencial necessário para eles se concentrarem nas suas diferenças
e no que os dividia. Poderiam ter começado a falar sobre
diversidade e multiculturalismo. Poderiam ter palestrado uns aos
outros sobre a teoria racial crítica e a interseccionalidade.
Poderiam ter se concentrado em como um grupo foi privilegiado
em detrimento de outro. Mas não ouvimos nada disso. Por quê?

É simples e claro: a Igreja primitiva entendeu o primeiro ponto. O


Corpo de Cristo era mais importante que os crentes individuais.
Cristo era mais importante do que suas queixas individuais. A
unidade era mais importante que a diversidade. Eles venderam o
que tinham e deram aos outros, não porque fossem socialistas, mas
por causa do seu Salvador. Eles não deram sua riqueza porque
pensaram que todos mereciam uma parte justa. Eles deram tudo o
que tinham porque sabiam que ninguém, inclusive eles próprios,
merece nada! Resumindo, eles sabiam que não eram o foco.

Professores, políticos, especialistas e até mesmo pregadores


causam grande dano à nossa nação ao permitir que os jovens
ignorem as coisas mais importantes, fixando-se nas que são
secundárias. Como advertiu Richard Neuhaus, tal dislexia
ontológica leva apenas ao “profundo fanatismo e anti-
intelectualismo, à intolerância e autoritarismo do liberalismo”. Essa
validação de uma perpétua adolescência e a sua fixação em “eu e o
meu” cresce a cada década. Ela está prejudicando o
desenvolvimento e crescimento de nossos filhos e de nossa cultura.
Estamos forçando nossos filhos a se alimentarem com uma dieta
constante de individualismo e diversidade, em vez de ideias mais
elevadas de sacrifício e unidade. Por que ficamos surpresos ao ver
uma geração de adultos egocêntricos congelados em reivindicações
infantis de direitos e exigências sobre a “parte que lhes é devida”?
Preparamos aqueles que nos seguem para o fracasso, encorajando-
os a acreditar que a sua segurança é mais importante do que a alma
do próximo. Ensinamos-lhes que têm direito a tudo e não são
obrigados a dar nada.

William Wilberforce propôs que permitir tal pensamento


equivocado é a antítese do amor. Ele disse: “Se você ama alguém
que está arruinando a própria vida devido a um pensamento
errado, e você não faz nada porque tem medo do que os outros
possam pensar, parece que, em vez de ser amoroso, você é, na
verdade, alguém sem coração”.

A fixação em “pensamentos errôneos”, isto é, em coisas


secundárias, leva a gritos de “microagressões” e apelos por “avisos
de gatilho”. Ela faz fugir do debate, e não em direção a ele. Traz
exclusão, e não inclusão, segregação no lugar de integração, e clama
por conforto em vez de aceitar os desafios do confronto. Essas
deficiências não se corrigem com o tempo, mas crescem como um
tumor a cada ano que passa. Quanto mais as coisas de segunda
categoria recebem atenção, menor é a probabilidade de alguém
entender que elas não são o que mais importa.

Mas, no lugar de encorajar as pessoas a crescer e pensar, agir, dar e


servir como adultos, os cérebros da nossa nação pensam que é uma
boa ideia levar um rebanho de cabras para os nossos preciosos
pequenos flocos de neve acariciarem, para que possam isolar-se
ainda mais de qualquer exigência da vida que pudesse
comprometer sua autoestima.

Imagine um pensamento errôneo!

Nos últimos trinta anos, pelo menos quinze estudantes


universitários diferentes moraram com a minha família. Esses
alunos passaram a fazer parte de nossa família enquanto cursavam
a faculdade. A maioria desses jovens eram de culturas diferentes e
alguns até de países diferentes.

Na minha casa, a unidade, e não a diversidade, tem sido a nossa


preocupação. Somos uma família, pura e simplesmente. Vemos
caráter, não cor, idade, nacionalidade ou condição social.
Celebramos o que temos em comum e não nos preocupamos em
como diferimos. Nós nos concentramos no Salvador, e não em nós
mesmos. Nós nos consideramos responsáveis por fazer justiça uns
aos outros, não ficamos defendendo nossos direitos. Estamos
muito mais interessados no que é bom do que no que é seguro.

A identidade da minha família está em Cristo, não nas queixas


individuais. Cada um sob meu teto “é um homem e um irmão”,
nada mais e nada menos. Não há subdivisões. Minha casa é uma
uni-versidade, não uma di-versidade. É um lugar onde se espera
que todos ajam como adultos, e não como crianças. Minha casa
não é uma creche. Nossa prioridade é conhecer e honrar a Deus, e
não ficar na fila para acariciar cabras.

Esqueça o que os defensores da diversidade estão lhe dizendo.


Eles dizem que estão se esforçando para unir todas as pessoas, mas
o seu objetivo é criar mais divisão a cada dia que passa. Dizem que
defendem o que nos une, mas, na verdade, tudo o que eles fazem é
lutar para realçar exatamente as coisas que nos dividem. Insistindo
na raça, eles criam uma separação maior entre as pessoas de cores
diferentes. Apelando ao bipartidarismo, castigam e expulsam
aqueles que defendem crenças e valores diversos.

Embora afirmem aceitar todas as pessoas como elas são, eles


rejeitam aquelas que não se conformam. Esses progressistas pedem
para que as pessoas se unam e, ao mesmo tempo, se satisfazem em
afastá-las cada dia mais.
Mas o projeto histórico para a nação é, na verdade, o oposto. É
uma visão de unir em vez de dividir. A nossa história é a de um
povo de pontos de vista diferentes que se reuniu, unificou e lutou
pela dignidade humana e pela liberdade com um propósito em
comum. O que os nossos fundadores tinham em comum tinha
muito mais valor do que qualquer uma de suas diferenças. Eles
compreenderam o paradoxo de que quanto mais um governo se
concentra naquilo que deve ser feito pelo indivíduo, mais todos os
indivíduos serão propriedade desse governo.

Hoje, esses princípios fundamentais da liberdade estão claramente


sob ataque por pessoas que sabem muito bem que o caminho para
mais poder passa por mais divisão. Um cordão de um só fio pode
ser quebrado. Um cordão de três, não.

Por que dividir quando a força do número oferece maiores


probabilidades de sucesso?

Por que ficar satisfeito com a diversidade quando podemos ter


unidade?

Por que acariciar cabras quando poderíamos realmente servir a


Deus?

A força é encontrada na unidade de uns com os outros e na


unidade que compartilhamos no Corpo de Cristo. Saber que somos
a imago Dei nos leva a ver os outros como criações de Deus. Os
seguidores de Cristo acolhem e incluem a todos, de todas as
origens e raças, em um vínculo comum.

Os adultos enxergam além das pequenas diferenças. Todos os


dias, nós convivemos com pessoas que torcem para times
diferentes. Conversamos e confraternizamos com quem ouve
diferentes estilos de música e prefere outros tipos de comida.
Sabemos que quando deixamos de falar sobre diversidade e
celebramos a unidade, logo nos esquecemos de nós mesmos e
podemos pensar quase exclusivamente nos outros.
Os adolescentes falam sobre suas diferenças. Eles segregam. Eles
se dividem. A ironia, porém, é que as coisas secundárias relativas
ao eu são sempre autodestrutivas. Se tudo o que importa na vida é
obter seus direitos, seu espaço seguro e seu pedaço de carne, se seu
foco não estiver muito além de sua individualidade e sua
identidade, então você poderá conseguir o que deseja no final, mas
talvez não goste do resultado.

Se o seu foco estiver em você, você conseguirá isso e não muito


mais.

Não existe “eu” em “time”, e quem pensa que existe sempre perde.

lição xx: Sente-se na porta de


saída
Todos nós enfrentamos uma série de grandes oportunidades brilhantemente disfarçadas
de situações impossíveis.

— Chuck Swindoll

Verdadeiros adultos

U ma sociedade desesperada por líderes sempre volta seus olhos


para a próxima geração, e há muitas razões para procurarmos
lideranças agora. Com o rápido declínio do pensamento original,
da liberdade intelectual e do debate aberto, as massas apenas
seguem as ordens; a educação americana parece ter a intenção de
produzir propaganda no lugar de uma pedagogia sólida. Os
professores parecem querer fotocópias de si mesmos, não
graduados que consigam pensar por conta própria. As escolas e
faculdades atuais estão empenhadas em exigir que os estudantes
sigam o líder e em punir aqueles que se atrevem a liderar.

A liderança está fora de questão. Seguir ordens está na moda.

A maturidade e a confiança para pensar por si mesmo são, no


fundo, um apelo à liderança. Os adultos, é óbvio, têm mais
liberdade do que as crianças. Eles viveram o suficiente para
aprender com os próprios erros, descartar as ideias que não
funcionaram e abraçar as boas ideias que têm mérito. Os
verdadeiros adultos não têm de se conformar com uma autoridade
arbitrária, pois veem as razões que sustentam uma autoridade
justificada. Eles lideram ao seguir e seguem ao liderar. Eles
entendem o paradoxo da disciplina e da liberdade. Eles entendem o
que significa liderar através do exemplo, e não por meio de
ameaças.

Os verdadeiros adultos entendem que liderança é serviço, não


farisaísmo. Eles intuitivamente levam no coração as palavras de
Cristo: “Quem perder a vida a ganhará […]. Os primeiros serão os
últimos e os últimos serão os primeiros”. Os adultos estão
dispostos, estão ansiosos para ficar sozinhos e, graças à sua
integridade (e, às vezes, com pouquíssimas palavras), dizer “Siga-
me” quando todos os outros parecem muito dispostos a seguir a
multidão.

Hora do voo
Em qualquer avião, alguém precisa sentar-se na porta de saída. Se
você já esteve em muitos voos, sabe que esses assentos costumam
ser cobiçados porque oferecem espaço extra para as pernas. Mas,
durante o briefing pré-voo do comissário de bordo, aqueles que
estão sentados nessa fila são sempre questionados se estão
dispostos e são capazes de cumprir a responsabilidade de ajudar
outras pessoas a sair do avião em caso de emergência.
Já estive em muitos voos e ainda não vi ninguém se recusar a
aceitar esse papel de liderança. Todos dizem: “Sim, se houver um
problema, estou disposto a manter a cabeça no lugar, dar um passo
à frente em meio ao pânico e fazer o que ninguém mais fará. Vou
abrir a porta e liderar”.

Mas, em geral, o exato oposto é verdadeiro para a nossa sociedade


como um todo. Poucos parecem, hoje, dispostos a dizer: “Não me
importa o que os outros façam ou deixem de fazer, eu liderarei”.

Nem sempre foi assim.

Uma vez por ano, no dia 11 de setembro, imagens do ataque mais


horrível que os Estados Unidos já sofreram no seu território
continental passam pelas telas de televisão. Todos nós assistimos
essa cena diversas vezes. Todos nós vimos os aviões colidindo com
as torres, ouvimos os telefonemas desesperados que foram
gravados e assistimos às Torres Gêmeas desabarem no chão
enquanto uma imensa nuvem de poeira e detritos avançava pelas
ruas e becos de Nova York.

Contudo, se você não observar com atenção suficiente, não


conseguirá ver o coração da liderança em ação. No meio do caos,
bombeiros, policiais e paramédicos correram em direção à
catástrofe, e não para longe dela. Em vez de preservarem as
próprias vidas e a própria segurança, eles instintivamente
cumpriram seu dever. Eles não estavam pensando nas próprias
vidas, mas nas vidas de todos os outros. Eles são verdadeiros
líderes, verdadeiros heróis. Ao fim e ao cabo, eles pareciam nem
pensar em si mesmos. O sacrifício parecia tão natural para eles
quanto respirar. Eles viram a recompensa de arriscar tudo para
salvar outra pessoa.

Isto é liderança.

Os líderes deixam a conveniência de lado.


Os líderes têm convicção e um princípio motor.

Os líderes tomam as rédeas em vez de esperar que outros o façam,


não se importando com os custos.

Os líderes que a história julga como os maiores são aqueles cujo


amor por uma causa, cuja paixão por uma missão, são tão
irresistíveis que não podem deixar de tomar as rédeas, de forma
que outras pessoas não podem deixar de se unir a eles. Eles não
podem permanecer em silêncio. A inação não é uma opção para
eles.

Os líderes não levantam o dedo para determinar em que direção


sopram os ventos proverbiais. Eles não favorecem ou revertem o
curso por causa de pesquisas ou popularidade. Os líderes declaram
corajosamente com Martinho Lutero: “Aqui estou, não posso fazer
outra coisa”.

Muitos dos que correram para os edifícios no dia 11 de setembro


perderam a vida tentando salvar a vida de outras pessoas,
sacrificando tudo o que tinham por aqueles que não conheciam.
Eles não agiram por fama ou glória, nem por preservação egoísta
ou ganho egocêntrico. Eles lideraram apenas porque era a coisa
certa a fazer.

Outra história inesquecível de liderança testemunhada no 11 de


setembro veio do avião que caiu num campo em Shanksville,
Pensilvânia. Percebendo que o avião havia sido sequestrado e
acreditando que seria usado para causar mais danos, os passageiros
se levantaram para derrubar os sequestradores. A frase “Vamos lá!”
tornou-se muito popular depois que foi dita por Todd Beamer
enquanto ele e vários de seus companheiros de viagem se dirigiam
aos sequestradores. 127

A determinação e coragem de Beamer e da tripulação do voo 93


nunca serão esquecidas. Em vez de ficarem parados e seguirem as
instruções, eles reagiram. Eles deram suas vidas e, por sua vez,
salvaram as vidas de milhares de pessoas que eram alvos de um
ataque terrorista.

Aprendendo a liderar
Por mais de dezessete anos, fui abençoado com o cargo de reitor
universitário. Durante o meu tempo no comando, passamos da
penúria financeira para um modelo de saúde fiscal. As matrículas
mais que dobraram, assim como a receita. A dívida foi zerada e os
ativos líquidos aumentaram de cerca de dez para quarenta milhões
de dólares. Talvez o mais importante seja o fato de a fama da
universidade ter crescido, indo de uma relativa obscuridade para
uma reputação de liderança nacional. Fomos diversas vezes citados
como defensores da liberdade acadêmica e da liberdade religiosa.

Enquanto eu estava a bordo de um navio que até Peter Drucker


disse, certa vez, ser impossível de navegar, aprendi algumas lições
importantes, umas através do sucesso, outras através do fracasso,
tudo pela graça e paciência de Deus. Aqui estão apenas dez lições
que aprendi enquanto navegava em águas agitadas.

A primeira lição de liderança é que se você herdar o fracasso,


supere-o e comece de novo!

Existe aquele ditado: “Nunca desperdice uma boa crise”. Isso é


muito verdadeiro. Se você é abençoado com a liderança de um
navio que está afundando, sempre poderá liderar com mais ousadia
do que se fosse encarregado de uma organização saudável.
Aproveite a oportunidade que lhe é apresentada — não a
desperdice. Em vez de tentar curar o câncer aplicando um band-
aid, elimine a doença. Livre-se dos agentes cancerígenos. Quebre o
ciclo e não hesite em “quebrar” a organização. Essa é a única
maneira de salvá-la. Não deixe a crise ser desperdiçada; use-a como
plataforma de lançamento para algo diferente, um novo plano para
elevar a empresa a um novo patamar.

A segunda lição é esta: se você herdou o sucesso, não o destrua. Se


você tiver a sorte de assumir algo que está funcionando, aproveite o
sucesso. Se sua organização teve sucesso antes de você ser
contratado, seu trabalho é “não estragar tudo”. Agradeça pelas
coisas que funcionaram e continue fazendo igual. A pessoa que
precedeu você nesta corrida de revezamento provavelmente
começou primeiro porque era mais rápida. Seja grato por ela ter lhe
passado a liderança na corrida. Concentre-se no objetivo em
questão e, faça o que fizer, não deixe cair o bastão. Pegue-o e corra
em frente. Seu ego irá tentá-lo a ignorar tudo de bom que recebeu e
dedicar muito tempo e atenção às poucas coisas que são ruins. Os
líderes são sempre tentados a jogar fora o bebê juntamente com a
água do banho, mas a verdadeira liderança identifica um caso de
sucesso e trabalha a partir dele.

A terceira lição sobre liderança é que se você quiser agradar a


todos, não seja um líder. Escolha algo diferente. Vá vender sorvete.
Se você é amigo de todos e não tem nenhum inimigo, então você
não é líder de ninguém. O melhor técnico que já tive deixou bem
claro que não era meu amigo; ele era meu técnico. Ele entendeu
que, para incutir em mim o que eu precisava aprender, não poderia
tentar me agradar o tempo todo. Ele precisava me impulsionar. Ele
precisava me testar. Em vez de ser meu amigo, ele teve que atiçar o
fogo dentro de mim para que eu vencesse. Se a popularidade se
tornar mais importante para você do que fazer o que é certo para
sua organização, então é hora de renunciar e passar para outra
coisa. A busca pela popularidade é uma perda de tempo.

Uma quarta lição que aprendi foi nunca, jamais dobrar os joelhos
diante da multidão. Quando você estiver certo, mantenha-se firme
e não se curve. Paulo escreveu: “Por consequência, meus amados
irmãos, sede firmes e inabaláveis, aplicando-vos cada vez mais à
obra do Senhor. Sabeis que o vosso trabalho no Senhor não é em
vão”. 128 É melhor perder a cabeça do que perder a alma. A
convicção é respeitada. A fraqueza, não.

A próxima lição de liderança é que a verdade é o mais importante.


Exija a verdade. Defenda-a. Demonstre- a. Nunca a comprometa.
Nunca a substitua. A verdade deve estar sempre em primeiro lugar.
Sem verdade, não há confiança. Sem verdade, você não terá equipe.
Faltando a verdade, não há mudança. Se não há verdade, não há
Evangelho e não há graça. Há uma razão pela qual Jesus se define
como a Verdade. A verdade é central na liderança; no minuto em
que você colocar alguma outra coisa à frente da verdade, você se
colocará na posição de seguidor, não de líder. Simplificando, se
alguma coisa é mais importante para você do que a verdade, você já
falhou.

Com base nessa lição de liderança, a próxima lição é esta: se você


não estiver disposto a perder a batalha, nunca vencerá a guerra.
Seu sucesso pessoal não é a principal prioridade. Sim, há uma
infinidade de livros sobre como encontrar o sucesso, como mantê-
lo, como parecer bem-sucedido e assim por diante, mas a
verdadeira liderança não tem a ver com você. Esteja disposto a
sofrer a derrota por fazer o que você sabe que é certo. A causa pela
qual você luta é mais importante que seu currículo ou sua carreira.
Em vez de se virar e fugir da tempestade, que é a reação natural dos
seguidores, corra direto para ela. Agite a bandeira! Se você vencer,
ótimo, isso é graça de Deus. Se você perder, quem realmente se
importa? Pelo menos você caiu lutando.

A sétima lição de liderança é preocupar-se o suficiente para


confrontar os outros, porque, no final das contas, o seu trabalho
não é agradável. Aqueles que falam sobre graça, amor e compaixão
em justaposição com verdade, disciplina e confronto estão quase
sempre mais interessados em ser benquistos do que em liderar. Se
você digitasse no Google “permissividade”, provavelmente
encontraria a foto deles. O caso em questão é o seguinte: os pais
que se esforçam para serem queridos pelos filhos, descuidando da
disciplina, criam crianças que não têm ideia de que existe um
universo no qual elas não são o centro. As crianças que sempre
recebem aprovação dos pais quase nunca recebem aprovação de
mais ninguém. Graça sem verdade, amor sem disciplina e
compaixão sem confronto são falsas dicotomias. Não há como
defender água sem chuva, colheita sem sementes ou calor sem
fogo. Se você quiser criar um povo virtuoso, terá que enfrentar seus
vícios.

Muito apoio e poucos desafios resultam em estagnação, e não em


crescimento. Lembre-se da verdade de que “o Senhor disciplina
aqueles que ama”. Se o Senhor usa a disciplina para encorajar o
crescimento, a nossa liderança deveria fazer o mesmo. Tiago
escreveu: “Assim como o corpo sem a alma é morto, assim também
a fé sem obras é morta”. 129 O mesmo pode ser dito sobre a
liderança que está mais preocupada com a simpatia do que com a
produtividade. Ser querido é muito menos valioso do que ser
respeitado. Os líderes optam por confrontar em vez de ceder.

A oitava lição de liderança que posso compartilhar com você é


dobrar a aposta e se recusar a ceder à dúvida. Todo mundo tem
amigos e inimigos. Todos seremos criticados por alguns e elogiados
por outros. A maneira de saber quem ouvir é simples. Qual é o
histórico deles? Se seus críticos fracassam em suas próprias vidas,
ignore-os. Se o crítico é alguém que não investiu em nada, optou
por ficar à margem e apenas criticar você na esperança de derrubá-
lo, sugiro que leve a sério as palavras do presidente Theodore
Roosevelt: “Não é o crítico que conta; quem conta não é aquele que
aponta onde o homem forte tropeçou ou onde o realizador das
ações poderia tê-las feito melhor. O crédito pertence ao homem
que realmente está na arena, cujo rosto está manchado por poeira,
suor e sangue… que, na pior das hipóteses, se falhar, pelo menos
falha ousando muito, de modo que seu lugar nunca será entre
aquelas almas frias e tímidas que não conhecem a vitória nem a
derrota”. Roosevelt sabia que os líderes são mais duramente
criticados pelos que não estão na arena do que pelos que estão.
Se aqueles que fazem críticas têm mais sucesso do que você, ouça-
os. Se aqueles que o desafiaram fizeram mais do que você, então
tenha humildade e preste atenção, pois as palavras que eles
compartilham e a visão que eles apresentam podem ser o que
ajudará você a se tornar um líder mais eficaz. Seja grato por esse
treinamento. Se os que reclamam de você nunca realizaram muito,
aceite suas críticas com cautela. Quando homens pequenos e
descontentes estão atirando flechas nas suas costas, é um sinal claro
de que você está indo na direção certa. Continue! Mantenha o
curso. Dobre a aposta e recuse-se a ceder à dúvida.

A nona lição de liderança é manter a sua mensagem. Muitas vezes,


a visão que você quer passar se perde porque sua mensagem é vaga
ou inconstante. Manter-se na ativa é a chave para se tornar um
líder eficaz. Foi dito que os três segredos do sucesso são repetição,
repetição e repetição. Winston Churchill idealizou o homem
obstinado quando disse: “Nunca desista, nunca, nunca, nunca,
nunca… nunca ceda”. Se há algo que distingue os grandes líderes
daqueles que falham, é a confiança necessária para transmitir a sua
mensagem com clareza, confiança e paixão, e fazê-lo sempre. Seja
um banjo de uma corda só. Agite sua bandeira e não pare jamais.
Solte seu grito de guerra, muitas e muitas vezes. Mais cedo ou mais
tarde, você descobrirá que não apenas aqueles que o seguem creem,
mas você também! Ao manter a sua mensagem, você constrói a
consistência e visão necessárias para liderar os outros.

A décima lição de liderança é: se você quiser encontrar uma


cobra, fique atento ao chocalho. Alguns dizem que só há duas
coisas certas na vida: a morte e os impostos. É difícil argumentar
contra essa verdade. Contudo, eu acrescentaria uma terceira coisa
garantida na vida: a fofoca. Os líderes são caluniados. Os líderes
são alvo de todas as formas de insinuações, histórias exageradas e
até mentiras descaradas. Se você estiver liderando, a fofoca é certa
como o raiar do sol.
O melhor conselho que já recebi foi este: “Senhor reitor, fique
quieto”. Quando as pessoas falarem mal de você, “fique quieto”.
Quando os derrotistas semearem a discórdia sobre você, “fique
quieto”. Quando você for falsamente acusado, “fique quieto”. A
melhor maneira de encontrar a cobra é ficar atento ao chocalho.
Deixe as cobras ao seu redor fazerem barulho e, uma hora ou
outra, serão elas que perderão a cabeça. Não chacoalhe. Deixe o seu
sucesso falar. Apenas fique quieto e lidere!

Mas todas as orientações do mundo serão inúteis se não


estivermos dispostos a colocar em prática o que aprendemos.

Tiago disse: “Sede cumpridores da palavra e não apenas ouvintes;


isto equivaleria a vos enganardes a vós mesmos”. 130 Conhecer o que
Jesus disse é bom, assumir o compromisso de aplicar essas
verdades às nossas vidas também é; e o mesmo pode ser dito sobre
a liderança. Aplicar em nossas vidas lições de liderança é tão bom
quanto estudá-las.

Os adultos fazem coisas, as crianças, não. Os adultos lideram, as


crianças seguem. Os adultos agem, as crianças sentam-se. Os
adultos correm em direção às tempestades, as crianças fogem e se
escondem. Os adultos correm para dentro dos edifícios que caem
enquanto as crianças observam e esperam para ver o que acontece.
Os adultos têm coragem, as crianças se encolhem.

Os seguidores ficam satisfeitos quando são direcionados quanto


aonde ir, o que fazer, o que pensar e como sentir. Os líderes, no
entanto, dão o tom. O tom não os define. A sua liderança começa
em casa; dão o exemplo para a própria família, e esse exemplo vai
além das paredes de sua casa e atinge o mundo, impactando sua
empresa, sua comunidade e sua igreja.

Ninguém pode forçá-lo a liderar. Liderar é decidir se sacrificar. É


decidir servir. É decidir dar em vez de receber, correr em vez de
resistir, lutar em vez de se render. É decidir correr para um prédio
em chamas. É o compro misso de agitar a bandeira de “Vamos lá” e
ter a confiança de saber que não importa se você perder, desde que
esteja agitando a bandeira.

Liderar tem a ver com convicção. Liderar tem a ver com


comprometimento. Liderar tem a ver com coragem e caráter. Trata-
se de agir como um adulto, e não como uma criança.

conclusão: Ainda uma bagunça


T ive um amigo que me contou que, quando era criança, ele e um
colega pescavam no reservatório de irrigação de um arrozal.
Para chegar ao local de pesca, eles geralmente percorriam um
longo caminho pela mata. Uma antiga trilha de quadriciclo
serpenteava e os levava direto às margens altas do local de pesca.
Uma vez, contudo, em vez de seguirem esse caminho mais longo,
ficaram impacientes e optaram pelo mais curto.

Era possível ver o reservatório perfeitamente, claro como o dia, da


estrada principal; ele estava do outro lado de um campo de arroz.
Meu amigo e seu amigo não tinham muita experiência em arrozais.
Eles zarparam, com a caixa de equipamento e o molinete nas mãos
e botas de borracha impermeáveis nos pés.

Não demorou muito para começarem a afundar no campo


lamacento. Era como se tivesse areia movediça. A lama era tão
espessa e pegajosa que, quando chegaram à metade do caminho, já
estavam, involuntariamente, descalços. Pelo caminho, cada um
perdeu uma bota, depois a outra, depois uma meia e depois a
outra. O campo estava um caos lamacento. Eles haviam tomado o
caminho errado. Eles tinham escolhido o caminho errado.
Robert Frost usa essas imagens em seu poema clássico, The Road
Not Taken. 131
Two roads diverged in the Duas estradas divergiam num bosque
yellow wood, amarelado
And sorry I could not travel E triste por não poder caminhar por
both ambas
And be one traveler, long I Sendo eu um só, por muito tempo fiquei
stood parado
And looked down one as far E olhei para uma via, tão longe quanto
as I could pude,
To where it bent in the Até onde havia apenas um matagal no
undergrowth … horizonte…
I shall be telling this with a Devo dizer, suspirando,
sigh Em algum lugar, após tempos e tempos:
Somewhere ages and ages Duas estradas divergiam em um bosque,
hence: e eu —
Two roads diverged in a Eu es colhi o caminho menos percorrido,
wood, and I — E isso fez toda a diferença.
I took the one less traveled by,
And that has made all the
difference.

Ao refletir sobre este poema clássico, bem como sobre a história


do meu amigo e dos arrozais, não consigo deixar de me lembrar de
uma conversa recente que tive com um outro bom amigo.

Foi um daqueles momentos divertidos em que as horas voavam


como minutos, em que as divergências eram sérias e sinceras, mas
cordiais e honestas — em que a confiança era temperada com
compaixão e em que as duas partes provavelmente partilhavam a
proverbial esperança de que “assim como o ferro afia o ferro, um
homem afia outro”.

Cada um de nós tinha opiniões — opiniões fortes — que eram


essencialmente opostas. Acreditei e expressei uma ideia com
grande convicção. Ele também o fez, mas com fins diferentes. Ele
defendeu uma linha ideológica enquanto eu defendia outra. Nós
discordamos. Esse é o tipo de luta da qual a boa educação é feita.
Em nosso debate, meu amigo e eu passamos de uma ideia para
outra, disputando e debatendo posições. Mas, no final, todos os
nossos argumentos resumiram-se basicamente a uma questão-
chave: a Verdade é real e, caso seja, como podemos conhecê-la?

Depois que muito tempo havia transcorrido, nós dois percebemos


que precisávamos passar para outras coisas. Meu amigo concluiu
pedindo uma trégua. Ele disse: “Acho que há muitos caminhos para
subir a montanha, mas a beleza é que todos levam ao cume. Talvez
não devêssemos discutir tanto sobre qual caminho escolher, mas
concordar que não é o caminho específico que é importante, mas
sim a jornada”.

De fato, considerando superficialmente, esse argumento parece


bastante atraente. Certamente o caminho não é tão importante
quanto o destino, não é? Se formos para a esquerda ou para a
direita, acabaremos no mesmo lugar. Não é? Claramente, a estrada
sinuosa é tão boa quanto a reta; a porta larga é tão digna quanto a
estreita. E o respeito pela tolerância e pela diversidade não exige
que abracemos todas as ideias, todos os valores, todos os estilos de
vida, todas as visões do mundo e todos os caminhos como
essencialmente iguais?

Ravi Zacharias, filósofo norte-americano nascido na Índia, um


homem que defende que a verdade revelada por Deus é singular e
passível de ser conhecida, abordou recentemente essas mesmas
questões numa sessão de perguntas e respostas do Fórum Veritas
na Universidade de Harvard. Após sua apresentação, o Dr.
Zacharias foi confrontado por um estudante que afirmou que todas
as religiões são iguais, todas levam ao mesmo lugar e todas têm
igual veracidade teológica, ontológica e epistemológica. Existem
muitos caminhos até a montanha.

Zacharias respondeu parafraseando o poeta Stephen Turner: “[Na


verdade,] todas as religiões são iguais, exceto pela sua compreensão
sobre o caráter de Deus, da cosmologia e do significado do
universo, da natureza humana, do valor humano, do natureza da
realidade, da ética, do que é uma vida boa, da caridade e da
bondade, da sexualidade, do sofrimento, da alegria, da esperança,
da salvação e do nosso destino eterno: o céu ou o inferno”.

O Dr. Zacharias expôs seu ponto com clareza cristalina. Sim, de


fato, todas as cosmovisões são iguais, exceto em questões críticas
para a vida e a morte, a saúde social e física, bem como a existência
temporal e eterna. Humm, acho que se você deixar essas questões
menores de lado, todos os caminhos levarão ao mesmo lugar.

Será que realmente acreditamos que todos os caminhos levam ao


mesmo destino, ou será que o bom senso e a lógica básica nos
dizem que, se você quiser ir do ponto A ao ponto B, é aconselhável
pegar um mapa e seguir um guia? Talvez escolher seguir quem
mostra o caminho, quem conhece o caminho certo e quem
exemplifica as ideias certas nos ajudará a não ficarmos perdidos.

Ao concluir este livro, despeço-me de você com esta simples


advertência: talvez todos nós faríamos bem em considerar as
palavras de Robert Frost e lembrar, à medida que nos aproximamos
dos caminhos culturais divergentes que temos diante de nós, que
escolher o caminho menos percorrido faz toda a diferença.

Um caminho levará à dependência perpétua, atolada na


imaturidade cultural e pessoal. A outra estrada, embora mais
longa, mais demorada e, às vezes, até um pouco incômoda, é aquela
que pode parecer “menos percorrida”, mas, na realidade, o número
de pessoas que a escolheram não é tão relevante quanto a qualidade
daqueles que o fizeram.

Esta estrada é de pedra, não de areia. Este é o caminho principal


que evita a sujeira e a confusão do pântano político de hoje. Esta
estrada tem placas ao longo do caminho que dizem: “andar é
melhor do que engatinhar”, “pratos não têm pernas” e “não caia no
lago”. Este é um caminho onde outras pessoas que estão apenas
meio passo à sua frente estão dispostas a oferecer conselhos, como
“leve cabos de bateria”, “não discuta com o me cânico” e “você não
é o Aurélio”. Essas pessoas aprenderam com os próprios erros e
podem compartilhar com você algumas histórias sobre como é
importante “escovar os dentes antes de sair de casa” e como é
infrutífero tentar “pregar massinha na parede”. Este é o caminho
por onde muitos que passaram antes de você deixaram bilhetes
com conselhos como “traga seu guarda-chuva”, “esteja atento ao
Omaha”, “seja o hambúrguer de carne bovina” e não se esqueça de
“permanecer dentro do cercado”. São pessoas que sabem “usar o
chapéu branco” e “olhar uma foto aérea”. Elas sabem que “não
existe ‘eu’ em ‘time’” e estão dispostas a “sentar na porta de saída” e
liderar.

Resumindo: este é o caminho para adultos, não para crianças. Eles


escolheram a estrada menos percorrida. Eles escolheram
sabiamente e isso fez toda a diferença.

Índice remissivo
a

aborto 12, 179, 190

adolescência 12, 20, 23–24, 26, 28–30, 35, 38, 41, 44, 94, 157, 206

Agostinho, Santo 99, 125

amizade, amigos 19–20, 59, 62, 71, 97, 99, 103–5, 109, 130, 173,
194, 196, 215, 217

Apocalipse, Livro do 125


arrogância 14, 45, 49–50, 53, 56, 98, 137–38, 171, 190, 197

artes liberais 88, 91, 113, 192

Ataque de 11 de setembro 212–14

Atos dos Apóstolos 205–6

autonomia 90, 171

avisos de gatilho 14, 78, 91–92, 155, 157, 204, 207

Belém 91, 163, 172

Berkeley, University of California 10, 36, 91–92, 171–72

Bíblia 9, 12, 44, 52, 56, 76–78, 91, 103–4, 106, 111, 114–15, 123,
125, 128, 130, 160, 163, 179–80, 188–89, 200

boomers 24, 26, 179

Buttigieg, Pete 121–23, 125

caráter 14, 24, 38, 63–64, 107, 112, 114, 116, 129, 142, 177, 207, 219

caridade 95, 98, 105, 182, 223

casamento 12, 68, 95, 102–3, 107, 112, 122, 128, 167–68, 180, 205

Chesterton, G. K. 53–55, 94, 110, 161, 171, 181

cientificismo 54, 77
Colson, Chuck 55, 68

compromisso 9, 45, 68, 91, 103, 111, 113, 116, 124, 126, 203, 218–
19

comunidade 16, 22, 27–28, 41, 74, 91, 114, 119, 141, 147, 157, 181–
82, 187, 199, 219

confiança 49–50, 67–68, 77–78, 90, 92, 102, 106, 112–13, 115–16,
141, 163, 181, 211, 216, 218–19, 222

convicção 10, 15, 37, 41, 64, 67, 109–10, 112–18, 121, 131, 133, 213,
215, 219, 222

coragem 24, 64, 68, 92, 115–17, 148–49, 151, 159, 214, 219

crença 54, 64, 75, 77, 88, 93, 96, 103, 110–12, 114, 117, 120, 123,
129, 161–62, 179–80, 208

criação superprotetora 57, 216

Criador 17, 44, 52–53, 55, 74, 83, 89, 129

cristianismo 77, 121–26, 179–81

culpa 14, 21, 24, 33, 37, 41, 63, 84, 102, 127, 141, 151, 194, 198

Declaração de Independência 9–10, 52

desafios 33, 41, 53, 63–64, 69, 116, 148, 180, 207, 217

desistir 59, 63–65, 67–68, 116, 133, 153, 218

destruição de si mesmo 79, 97–98, 142, 192–94


Deus 43–44, 46, 52–57, 69, 75–78, 83–84, 89, 92–93, 99, 102–7,
110, 112, 115–17, 119–20, 123, 125, 128–29, 131, 138, 151, 160–65,
168, 170–71, 181–83, 186, 188–89, 201, 208–9, 214, 216, 223

Deuteronômio, Livro do 169–70

dignidade humana 11–12, 34, 39, 44, 51, 102, 114, 175, 180, 190–
91, 208

direitos 9, 11–12, 34, 38, 41, 52, 56, 79, 81, 84, 90, 122, 125, 128–29,
146, 151, 169, 186, 188, 191, 200, 205–7, 209

doar 42, 150–51

dor 29–30, 61–62, 161, 174, 196

educação 16, 26–27, 29–30, 53, 88, 90–91, 98, 107, 192, 211, 222

egoísmo 13, 16, 18, 26, 40, 44–45, 63, 98, 112, 147, 151, 197, 205,
213

emoções 43–44, 51–52, 73, 87, 103, 190, 195

espaços seguros 78, 90, 92, 141, 204, 209

esperança 51, 66–67, 79, 84, 86, 89, 98, 105, 151, 160, 162, 169, 182,
195, 199–200, 202, 217, 222–23

Evangelho 99, 106, 125, 129–30, 153, 164, 198, 200–201, 216

Êxodo, Livro do 170, 175

experiência 27, 30, 39, 52, 89, 92, 115, 120, 123, 141, 187
f

Facebook 9, 112

fariseus 130–31, 197

fascismo 10, 16, 18, 56, 90, 171–72, 204

fatos 17, 34, 38, 40–44, 50–53, 72–74, 77–79, 84–86, 88, 92, 99, 125,
128, 133, 159, 168, 190–92

fé 13, 63, 67, 77, 88, 93, 103–5, 110–11, 116–17, 120, 123–26, 131,
163, 179–81, 183, 217

feminismo 11, 191

feriados 157–59

fracasso 37, 64, 67, 94, 105, 134–35, 137, 140–41, 196, 206, 214

Freedom from Religion Foundation 202

Frost, Robert 221, 224

gênero, política de 10, 43, 124, 188, 191, 204–5

geração z 24, 72, 151

graça 103–4, 115, 199, 201–2, 214, 216

Guinness, Os 75, 92

Guyger, Amber 199–200

h
Harris, Joshua 110–12, 118

heróis 151, 177–78, 213

Horowitz, David 10, 142, 172

humildade 14, 45, 50, 53, 92, 133, 137, 140, 217

Huxley, Aldous 96

idade adulta 20–23, 25–30, 44–45, 56, 61, 147

ideias 10, 15–18, 21–22, 24, 30, 43, 45, 49, 73–74, 81, 87– 90, 92–
93, 95, 141–42, 157, 162, 169, 172, 186–88, 192, 206, 211, 222–24

igrejas 9, 11, 13, 16, 34, 42, 74, 103, 111–15, 122, 124–25, 128, 130,
138, 149–51, 179–83, 198, 206, 219

Iluminismo 77

imago Dei 43–44, 84, 160, 163, 208

imaturidade 15, 24, 26, 39, 57, 157, 197, 224

imparcialidade 110, 112

inclusão 9, 30, 97–98, 107, 158–59, 191, 207

indignação 12–13, 63, 87, 194–96

individualismo 205–6

infância 19–20, 26, 35–36, 45, 51, 104, 138, 186

iniciativa 34–36, 40, 149


interseccionalidade 43, 51, 204, 206

Israel 91, 115, 125, 128, 130, 135, 163

Jean, Brandt 199–201

Jesus Cristo 66, 94, 99, 102–3, 106, 110–12, 114, 117–18, 120, 122,
125–31, 138, 143, 153–54, 158–62, 164, 170–72, 180–83, 188, 197–
98, 200–202, 205–9, 212, 216, 218

Johnson, Abby 142

Josephson, Allan 188

Josué (profeta) 115–16, 118

justiça 9, 52, 56–57, 77, 85, 90, 103, 106–7, 117, 128, 168, 199, 201–
2, 205, 207

Kemp, Tammy 200, 202

Kennedy, Anthony 79, 81

King Jr., Martin Luther 90, 95, 169, 174

Lee, Luther 114

lei da não contradição 73, 75

Lewis, C. S. 24, 30, 45, 51, 54–55, 91–93, 105–6, 126, 178, 191, 198
liberalismo 76, 87–91, 186, 204, 206

liberdade 9–11, 17–18, 34–35, 37–39, 43–44, 51–53, 56, 60, 74, 79,
84, 88–91, 93, 96–98, 102, 114, 125, 129, 149, 155, 162–64, 167–75,
188, 192, 208, 211–12, 214

liderança 22, 26, 116–17, 131, 188, 211–19

mal 9, 16, 22, 43, 75, 83, 85, 115, 175, 177–78, 180, 182–83

Manning, Peyton 133–35

medo 19, 67, 88, 163, 207

microagressões 37, 78, 92, 141, 156–57, 204, 207

mídias sociais 20, 111

millennials 20, 22–24, 68, 72, 98, 113, 146, 151, 179

mimados 13, 17, 24, 30, 36, 39–40, 64, 73

Mitchell, Craig 76–77

modernidade 77–79

Moisés 168–70, 172, 188

moralidade 54–56, 78, 81, 129

mudança 51–52, 56, 68, 75, 78, 88, 92, 98, 134, 136–37, 139, 142,
178, 199, 202, 216

n
narcisismo 15, 49–50, 53, 205

Narciso 48–50, 53, 56

Natal 151, 155, 157–60, 162–65

negação 52, 76, 193

Neuhaus, Richard 206

Nokseng 117–18

Obama, Barack 40, 78, 164

obediência 11, 106, 114, 119, 125, 164, 174

obrigação 35, 37, 39, 96, 104, 129

opiniões 17, 49–52, 67, 71–73, 80–82, 88, 90, 93, 109, 117, 222

Orwell, George 17, 87

Owens, Candace 10, 96, 141

O’Reilly, Bill 95, 146

Pascal, Blaise 161

Paulo (apóstolo) 13, 17, 31, 41, 44, 63, 67–69, 76, 98, 112, 116, 125,
138, 140–41, 180, 215

Pence, Mike 121–22


perdão 14, 194–98, 200–202

perspectiva 60, 73, 106, 141, 150, 185–86, 188

Peterson, Jordan 45–46

politicamente correto 90, 92, 124, 128, 155, 159

pós-modernidade 75, 78–79, 81, 162, 179

Prager, Dennis 10, 96

preguiça 34–35, 37, 43–44

prioridades 26, 101–8, 164, 198, 204, 208, 216

privilégio branco 74, 156

professores universitários 10, 12–13, 17, 30, 36–37, 54–55, 90–91,


98, 123, 172, 206, 211

racionalidade 44, 186

raiva 15, 87, 194–97, 200–201

Reagan, Ronald 139–40, 204

recompensa 38, 43, 106, 147, 201, 213

Reis, Livro dos 125

relativismo 53, 73–75, 77–79, 84, 164

responsabilidade 18, 22, 24, 26, 28, 33–35, 37–46, 77, 84, 129, 137,
141, 147–48, 160, 175, 180, 212
ritos de passagem 28

Ryan, Paul 73–74

sacrifício 13, 16, 21, 25, 45, 106, 150–51, 158, 182, 206, 213, 219

Salomão 16, 61, 63, 135, 140, 204

Scott, Orange 114

selfies 22, 47–48, 56–57

sentimentos 14, 17, 34, 37, 42, 44, 51–53, 56, 67, 72–75, 78–79, 82,
85–86, 98–99, 131, 161, 204

Shapiro, Ben 10, 96, 141

Singh, Sadhu Sundar 117

socialismo 25, 51, 79

subjetividade 50, 73–74, 78

Thoreau, Henry David 69

Tolkien, J. R.R. 55

treinadores, técnicos 42, 120, 134, 136, 138, 140–43, 174, 215

Trump, Donald 36–37, 40, 121, 155

u
unidade 107, 204–9

universidades 10, 13–14, 17, 21, 26–27, 30, 36–37, 56, 64, 76, 78,
80, 90–92, 101, 107, 113, 155–56, 171, 188, 191–92, 203, 208, 214,
223

verdade objetiva 52, 54, 73–74, 81–82

vitimização 13, 91, 129, 151, 155, 186, 201–2, 204

Watters, Jesse 146, 156

Weaver, Richard 16–17, 22

Wesley, John 114–15

Wilberforce, William 207

Zuckerberg, Mark 9
Notas de Rodapé
1 Referência ao caso Masterpiece Cakeshop versus Colorado Civil Rights Commission
— nt.

2 Comentarista política, autora e ativista conservadora dos Estados Unidos, conhecida


por suas opiniões e discursos sobre assuntos relacionados a política, raça e cultura — ne.

3 Alusão à Declaração de Independência dos Estados Unidos da América — nt.

4 O movimento ganhou popularidade em 2017 e encorajava vítimas de assédio sexual a


compartilharem suas experiências nas redes sociais com a hashtag #MeToo. No entanto,
houve controvérsias em relação ao impacto na presunção de inocência dos acusados e ao
potencial desvio dos objetivos do feminismo devido a alegações polarizadas de assédio
sexual — ne.

5 Em inglês, adulting — nt.

6 A geração “floco de neve” é um termo pejorativo usado para descrever jovens nascidos
no final do século xx e início do xxi que são excessivamente sensíveis e exigentes. A
expressão sugere uma sensibilidade extrema em questões sociais, políticas e culturais — ne.

7 Aquele que odeia, o crítico desmedido — nt.

8 Pv 22.6 — nt.

9 Rm 1.28 — nt.

10 O slogan da marca de tênis Nike é Just Do It, ou seja, “apenas faça” — nt.

11 Jennifer Harper, “Gee, Thanks Mom and Dad: 35% of Millennials Still Live at Home”,
Washington Times, 28 de junho de 2019, disponível em
https://www.washingtontimes.com/ news/2019/jun/28/35-of-millennials-still-live-at-
home-surveyfinds/, acessado em 27 de novembro de 2023.

12 “30% of Millennial Men Have No Job”, MoneyTips, 5 de julho de 2019, disponível em


https://www.moneytips.com/30percent-of-millennial-men-have-no-job/885, acessado em
27 de novembro de 2023.

13 Aimee Picchi, “How Marriage Became a Status Symbol for Millennials”, cbs News, 1º
de fevereiro de 2019, disponível em https://www.cbsnews.com/news/how-marriage-
became-a-status-symbol-for-millennials/, acessado em 27 de novembro de 2023.
14 “30% of Millennial Men”, MoneyTips.

15 Kelsey McShane, “After Millennials ‘Killed’ Chain Restaurants and Bras, Will This
Controversial Piece of Bedding Be Next?”, usa Today, 27 de março de 2018, disponível em
https:// www.usatoday.com/story/life/nation-now/2018/03/27/top-sheetno-sheet-
surprisingly-fierce-debate-uncovers-strong-opinionsbedding/461978002/, acessado em 27
de novembro de 2023.

16 Como foi dito, os boomers são as pessoas nascidas entre 1945 e 1964. O autor nasceu
em 1959 — nt.

17 Referência ao livro A Abolição do Homem, em especial ao seu capítulo “Homens


sem Peito” — nt.

18 “Sentir o Bern”, em tradução literal, foi o slogan usado na campanha eleitoral de


Bernie Sanders em 2016 e 2020. Algo equivalente ao “Faz o l” na campanha de Lula em
2022 — nt.

19 Senador pelo Partido Democrata de Vermont — nt.

20 Alexandria Ocasio-Cortez, deputada pelo Partido Democrata de Nova York, filha de


porto-riquenhos. É costumeiro se referir a ela usando apenas as iniciais do seu nome —
nt.

21 A Maior Geração, a geração superior, é a geração de norte-americanos que nasceu


entre 1901 e 1927, viveu a Grande Depressão e lutou na Segunda Guerra Mundial — nt.

22 Equivalente à nossa festa de debutante, também realizada quando a moça faz 15 anos
— nt.

23 Momento em que jovens da comunidade Amish podem fazer coisas que lhes são
ordinariamente proibidas, como tomar bebidas alcoólicas, vestir roupas comuns ou usar
aparelhos eletrônicos. Esse momento ocorre entre os 14 e os 16, conforme cada
comunidade — nt.

24 Frosty, o Homem de Neve, é o protagonista da animação homônima lançada em


1969 nos eua. No desenho, o personagem ganha vida graças a um chapéu mágico — nt.

25 Sem dor, sem ganho — nt.

26 1Co 13.11.

27 Robby Soave, “Colleges Cancelled Exams for Students Traumatized by Trump’s


Election”, Reason, 10 de novembro de 2016, disponível em
https://reason.com/2016/11/10/colleges-cancelled-exams-for-students-tr/, acessado em 27
de novembro de 2023.

28 Adam Dachis, “Life Is 10% of What Happens to Me and 90% of How I React to It”,
Lifehacker, 24 de junho 2012, disponível em https://lifehacker.com/life-is-10-of-what-
happensto-me-and-90-of-how-i-rea-5873131, acessado em 27 novembro de 2023.

29 2Ts 3.10.

30 Uma ong cristã fundada em 1976 e presente em mais de 70 países que tem como
meta construir casas para pessoas carentes se valendo de trabalho voluntário e doações —
nt.

31 São os voluntários da ong Big Brother Big Sister, que recruta adultos para passarem
um tempo com uma criança ou adolescente, seja fazendo atividades esportivas juntos ou os
auxiliando em suas atividades escolares — nt.

32 Teoria interseccional é o estudo da intersecção de identidades sociais e sistemas


relacionados de opressão, dominação ou discriminação. A teoria estuda como diferentes
categorias como gênero, raça, classe, orientação sexual, religião, idade… interagem e são
causa de opressão ou discriminação — nt.

33 Gl 6.9.

34 Tim Keller e Katherine Leary Alsdorf, Every Good Endeavor: Connecting Your Work
to God’s Work. New York: Dutton, 2012. p. 48. Acréscimo nosso. Tradução livre.

35 Jordan B. Peterson, 12 Rules for Life: An Antidote to Chaos. Toronto: Random House
Canada, 2018.

36 U.S. Department of Transportation, “Traffic Safety Facts: Distracted Driving 2014”,


NHTSA, abril de 2016, disponível em
https://crashstats.nhtsa.dot.gov/Api/Public/ViewPublication/812260, acessado em 28 de
novembro de 2023.

37 C. S. Lewis. Tradução livre — nt.

38 G. K. Chesterton, All Things Considered (1908). New York: John Lane Company
mcmx. p. 187. Tradução livre — nt.

39 C. S. Lewis, That Hideous Strength. New York: Macmillan Publishing Co., Inc., 1946.
p. 203.

40 Uma brincadeira entre Sun (sol) e Son (Filho, no caso, de Deus) — nt.

41 No inglês woke, termo político de origem afro-americana que se refere a uma


percepção e consciência das questões relativas à justiça social e racial — nt.

42 Ec 3.2–4.

43 O poema To a Mouse foi escrito na Escócia, em 1785 — nt.

44 Marcel Schwantes, “Science Says 92 Percent of People Don’t Achieve Their Goals.
Here’s How the Other 8 Percent Do”, Inc.com, 26 de julho de 2016, disponível em
https://www. inc.com/marcel-schwantes/science-says-92-percent-of-peopledontachieve-
goals-heres-how-the-other-8-perce.html, acessado em 28 de novembro de 2023.

45 O pequeno motor que conseguia é uma história popular norte-americana que


ganhou várias versões escritas após da década de 1920. É a história de uma pequena
locomotiva que decidiu empurrar um grande trem morro acima quando muitas outras
locomotiva maiores se recusavam a fazê-lo — nt.

46 Katharine Hepburn, Me: Stories of My Life. New York: Ballantine Books, 1991.

47 Mt 7.24−25.

48 Mt 7.26−27.

49 2Co 7.8-9.

50 Chuck Colson and Catherine Larson, “The Lost Art of Commitment”, Christianity
Today, 4 de agosto de 2010, disponível em:
https://www.christianitytoday.com/ct/2010/august/10.49.html, acessado em 28 de
novembro de 2023.

51 Henry David Thoreau, Walden. New York: Thomas Y. Crowell & Company, 1910, p.
433.

52 O estado do Michigan faz fronteira, ao sul, com Indiana e Ohio, e ao leste e norte
com o Canadá — nt.

53 Nome dado aos naturais de Indiana — nt.

54 John McCormack, “Paul Ryan: The Biggest Problem in America Isn’t Debt, It’s Moral
Relativism”, Washington Examiner, 18 de novembro de 2011, disponível em https://www.
washingtonexaminer.com/weekly-standard/paul-ryan-the-biggestproblem-in-america-
isnt-debt-its-moral-relativism/, acessado em 28 de novembro de 2023.

55 Rm 2.15.

56 Craig Vincent Mitchell, Charts of Christian Ethics. Grand Rapids, Michigan:


Zondervan, 2006.

57 Um cordão dado aos alunos durante a cerimônia de graduação como forma de


reconhecimento pelos seus esforços — nt.

58 Citação de uma música popular nos eua na década de 1970: Nothing From Nothing
— nt.

59 Base final de uma corrida no beisebol — nt.

60 Uma espécie de cavalo natural dos eua — nt.


61 Em inglês, a palavra gay tem o sentido original de “feliz”, “alegre”, muito comum em
obras literárias mais antigas — nt.

62 A Universidade de Berkeley fica na Califórnia, e a Universidade de Brown encontra-


se em Rhode Island, ou seja, nos extremos oeste e leste dos eua — nt.

63 1Co 8.2.

64 C. S Lewis. The Great Divorce. HarperOne, 2000. Tradução livre — nt.

65 1Co 13.4−8.

66 1Jo 4.8.

67 David Jeremiah, The Jeremiah Study Bible. Nashville, Tennessee: Worthy Publishing,
2013.

68 Mt 6.33.

69 Mc 8.36.

70 Mt 16.25.

71 As músicas country, assim como a sertaneja, são notórias por descrever situações
ruins. Nas letras, as pessoas inevitavelmente perdem as coisas que lhes são queridas — ne.

72 United Service Organizations, é uma organização não governamental norte-


americana destinada a dar suporte moral às tropas do país no exterior de diversas formas,
sendo os espetáculos musicais uma delas — nt.

73 “G. K. Chesterton”, Goodreads, disponível em https://


www.goodreads.com/quotes/40380-impartiality-is-a- pompousname-for-indifference-
which-is-an, acessado em: 28 de novembro de 2023.

74 Mike Thom, “‘I Am Not a Christian’: Joshua Harris Announces ‘Deconstruction’ of


Faith”, chvn Radio, 29 de julho de 2019, disponível em https://chvnradio.com/articles/i-am-
nota-christian-joshua-harris-announces-deconstruction-of-faith, acessado em: 28 de
novembro de 2023.

75 Gl 1.10.

76 “Public Trust in Government: 1958–2019”, Pew Research Center, 11 de abril de 2019,


disponível em https:// www.people-press.org/2019/04/11/public-trust-in-government-
1958-2019/, acessado em 28 de novembro de 2023.

77 Resolução Simultânea 99 da Assembleia da Califórnia.

78 Js 24.14−15.

79 1Co 15.58.
80 Franklin Graham, “We Must Not Remain Silent”, Decision Magazine, 1º de março de
2019, disponível em https://billygraham.org/decision-magazine/march-2019/we-must-not-
remain-silent/, acessado em 28 de novembro de 2023.

81 Donald Trump teve relações sexuais com a atriz pornô Stormy Daniels mediante
pagamento. Em seguida, teria dado uma grande quantia de dinheiro para que ela
mantivesse esse caso em segredo. Essa história foi muito usada nas eleições de 2016 e 2020
pelos opositores de Trump — nt.

82 Metrô, em inglês, é subway — nt.

83 blt é um tipo de sanduíche americano cujo nome decorre dos ingredientes


principais: Bacon, Tomato e Lettuce, ou seja, bacon, tomate e alface. Essa combinação
básica comporta uma infinidade de variações graças a outros ingredientes que podem ser
acrescentados ou diferentes modos de preparo — nt

84 William Bruce Jenner, modelo transgênero que adotou o nome Caitlyn Marie Jenner
— nt.

85 Referência a Pv 2.26 — nt.

86 Uma das imagens de Jesus Cristo nos textos sagrados, especialmente no Evangelho
de São João — nt.

87 Brett Bodner, “Peyton Manning Explains the True Meaning of His ‘Omaha’ Call”,
Daily News, 13 de abril de 2017, dsisponível em
https://www.nydailynews.com/sports/football/ peyton-manning-explains-omaha-call-
article-1.3051914, acessado em 28 de novembro de 2023.

88 Pv 14.12.

89 Christopher Gates, “Mike Tice to Retire from Coaching Because ‘Players Don’t Want
to Be Coached’”, Daily Norseman, 6 de fevereiro de 2018, disponível em
https://www.dailynorseman.com/2018/2/5/16977354/mike-tice-retire-from-coaching
players-dont-want-to-be-coached, acessado em 28 de novembro de 2023.

90 Os campeões de basquete da nba recebem anéis, e não medalhas — nt.

91 Jogadores do Chicago Bulls, o time de basquete de Jordan — nt.

92 Sindicato dos atores dos eua — nt.

93 Peter Robinson, “Tear Down This Wall”, Prologue Magazine, 39, nº 2 (verão de 2007),
disponível em https://www. archives.gov/publications/prologue/2007/summer/berlin.html,
acessado em 28 de novembro de 2023.

94 Dr. Phil McGraw é uma celebridade da tv norte-americana, famoso por sempre fazer
essa pergunta à sua audiência — nt.

95 Pv 24.16.
96 Rm 12.2.

97 Dave Rubin é um comediante e comentador político conservador de origem judaica.


The Young Turks é um conhecido programa jornalístico de viés esquerdista — nt.

98 “Transform”, Dictionary.com, disponível em https://


www.dictionary.com/browse/transformed, acessado em 28 de novembro de 2023.

99 Mt 25.14−27.

100 Tar Heel — além de uma cidade da Carolina do Norte — é o nome dado ao próprio
Estado: The Tar Heel State ou Estado do Calcanhar de Alcatrão, apelido cuja origem é
incerta — nt.

101 Ebenezer Scrooge, personagem principal de Um conto de Natal, de Charles


Dickens, era um velho rico e avarento que detestava o Natal — nt.

102 Julie Zauzmer, “‘Merry Christmas’ or ‘Happy Holidays’? How National Chains and
Mom-and-Pop Stores Choose”, Chicago Tribune, 23 de dezembro de 2016, disponível em
https:// www.chicagotribune.com/business/ct-chain-stores-merry-christ mashappy-
holidays -20161223-story.html, acessado em 28 de novembro de 2023.

103 Idem.

104 John Gibson, The War on Christmas. New York: Sentinel, 2005, p. xvii.

105 Tg 4.14.

106 Sl 39.4−5.

107 Jo 14.1.

108 Dietrich Bonhoeffer, The Cost of Discipleship: revised edition containing material
not previously translated. New York: Macmillan, 1972.

109 Ct 2. 11−12.

110 The Liberty Bell é um sino cunhado em 1752, no qual foram gravadas as palavras de
Moisés citadas, palavras que estão em Lv 25.10. Esse sino, que se encontra na cidade da
Filadélfia, Pensilvânia, foi tocado em diversas ocasiões de importância política e social ao
longo da história dos eua — nt.

111 George Whitefield (1714–1770) foi um pastor anglicano e pregador muito popular,
além de um dos fundadores do metodismo e do movimento evangélico. Seus sermões na
América do Norte em 1740 fazem parte do primeiro “Grande Avivamento”, um movimento
de renovação da prática religiosa naquele país — nt.

112 Harriet Tubman (1822–1913) foi uma abolicionista norte-americana. Nascida


escrava, após conquistar a liberdade, conseguiu libertar centenas de companheiros e levá-
los para regiões onde já não havia mais a escravidão, como o norte dos eua e o Canadá,
através da Underground Railroad, uma série de caminhos e esconderijos secretos usados
pelos escravos para fugir de seus donos. Não havia mapas desses caminhos, justamente
para eles não serem descobertos. Por isso, um antigo escravo guiava os demais para a
liberdade — nt.

113 Me and you and a dog named Boo / Travelin’ and a livin’ off the land. / Me and you
and a dog named Boo / How I love being a free man — nt.

114 Um pianista concertista é um dos melhores em sua arte, um pianista de muito


destaque — nt.

115 Bruce Feiler, America’s Prophet: Moses and the American Story. New York:
HarperCollins Publishers, 2009, p. 248–49.

116 Referência a The Adventures of Ozzie and Harriet, um programa de rádio e, depois,
de televisão que retrava a vida da família Nelson. Teve mais de quatrocentos episódios,
produzidos e transmitidos ao longo de quatorze anos (1952–1966). Apresentava uma
imagem bastante positiva da vida familiar — nt.

117 Em inglês, Lone Ranger. Foi uma série de faroeste bastante popular nos eua entre
1949 e 1957. No Brasil, ficou conhecida como O cavaleiro solitário — nt.

118 Em tradução livre: “A grande recessão evangélica: seis fatores que irão demolir a
igreja americana… e como se preparar” — nt.

119 Alusão à rainha Maria i da Inglaterra (1516–1558), conhecida como Bloody Mary,
literalmente, Maria Sanguinária, que a muitos levou à morte, inclusive o citado Cranmer —
nt.

120 Nos eua, o vermelho é a cor do Partido Republicano (direita), ao passo que o azul é
a cor do Partido Democrata (esquerda) — nt.

121 Blackface se refere à prática teatral de atores que se coloriam com carvão para
representar personagens afro-americanos de forma exagerada — ne.

122 Joseph Curl, “Mike Rowe Rips Student-Loan Crisis: ‘We’re Rewarding Behavior We
Should Be Discouraging’”, Daily Wire, 9 de novembro de 2019, disponível em https://www.
dailywire.com/news/mike-rowe-rips-student-loan-crisis-wererewarding-behavior-we-
should-be-discouraging, acessado em 28 de novembro de 2023.

123 Mt 6.14-15.

124 O autor faz uma alusão ao tradicional hino cristão Amazing Grace, escrito pelo
pastor anglicano John Newton em 1772 e lançado em 1779 — ne.

125 Nebraska é um estado dos eua que não têm costa, pois fica no centro do país. Ou
seja, conforme a opinião do autor, é um tolo quem acredita que não há esse esforço para
dividir os eua — nt.
126 At 2.44–45.

127 Além dos dois aviões que foram lançados contra as Torres Gêmeas, outras
aeronaves também foram sequestradas. Uma foi lançada contra o Pentágono. Em outra, o
voo no qual Todd Beamer estava, os passageiros corajosamente lutaram contra os
terroristas e tomaram o controle. A exclamação de Todd — cujas palavras foram
registradas graças a uma ligação telefônica dele — foi “Vocês estão prontos? Tudo bem.
Vamos lá!” [Are you ready? Okay. Let’s roll!] — nt.

128 1Co 15.58.

129 Tg 2.26.

130 Tg 1.22.

131 Em tradução livre, “O caminho não seguido” — nt.

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