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1º texto:
A obra foi publicada em 1832, ele participou das guerras napoleônicas, se envolveu
nas políticas e reformas na Prússia. Foi um autor praticamente desconhecido, quando o
general prussiano conduziu guerras espectaculares e unificou a Alemanha. O general se
inspirou nos livros do Clausewitz, o que deu reconhecimento para o autor. Ele morreu antes
de terminar de escrever, e em diversos momentos ele mudava as ideias e revisava toda a obra,
por isso há inconsistências no livro, onde não se sabe o que faltou ele revisar.
De acordo com os critérios de Eugênio Diniz, Clausewitz revisou o livro 1, capítulos
1 e 2; livro 6, capítulos 27 a 30; o livro 7 e 8. Tudo que está nesses capítulos têm prioridades
sobre o resto da obra, sendo que, mesmo entre as partes priorizadas, o livro 1 capítulos 1 e 2 é
a parte com maior prioridade. O capítulo 1 é sobre o que é a guerra e o capítulo 2 é sobre
propósitos e meios para a guerra. Nesses 2 capítulos é meio que um resumo das ideias gerais,
a teoria da guerra e a ideia é que os outros livros iriam dar detalhes da teoria.
O autor não fala qual o método para construir a teoria, simplesmente vai seguindo um
certo raciocínio. Ele tentou entender a guerra a partir de um conceito; a partir desse conceitos
você deriva consequências lógicas, não olha para a realidade, mas para a lógica; você
contrasta a ideia do fenômeno com a realidade; assume a realidade como critério de verdade,
se tem diferença na realidade e o ideal teórico, deve-se explicar o motivo disso;
Capítulo 1
O que é a guerra? Guerra é um duelo em larga escala. São forças combatentes que
estão travando uma luta. É um ato de força para obrigar o meu oponente a fazer a minha
vontade. Cada um tenta, através da força, convencer o outro a fazer o que ele quer; é tornar o
oponente incapaz de resistir à suas imposições. Guerra entre nações civilizadas são menos
cruéis por causa das condições sociais dos estados e o relacionamento de um país com o
outro. 2 motivos provocam a luta: sentimentos hostis e intenções hostis. A guerra não é um
ato de força sem sentido, mas em prol de uma vontade. Essa vontade depende do oponente
que resiste, então por isso é algo que obriga e usa a força.
A guerra deve ser conduzida aos extremos da violência, pela atuação de 3 interações:
não existe limite lógico para o uso da força, seja na sua quantidade ou intensidade, qualquer
coisa que tente restringir o uso da força é superficial (como por exemplo se o Direito impedir
o uso de armas nucleares), a consequência disso é que se um lado limitar a quantidade de
força e o outro não, então vai ter desequilíbrio e um lado vai dominar o outro. Dessa forma,
todos devem usar o máximo de força e recursos em uma guerra; a 2ª consequência lógica é: o
objetivo que deveria dominar deveria ser desarmar o oponente, ou seja, impedir que ele seja
incapaz de realizar forças. Desarmar o outro antes que o outro te desarme. Você não tem
incentiva a moderar os esforços, pois assim ele te desarma primeiro; a terceira interação é de
que os dois lados entrando na guerra naturalmente vão ter que fazer um cálculo da disposição
de força do inimigo, assim como a vontade e disposição dele em resistir. Qual a resistência
que eu vou enfrentar? Supondo que o cálculo chegasse a conclusão de que o outro utilizaria
50 de força (que não é tudo que ele tem), então eu teria que fazer pelo menos 51 para
conseguir vencer. No entanto, ninguém quer perder, o outro antecipando isso vai fazer o
esforço de 52, sabendo disso o outro vai fazer 53, então esse processo vai acabar
naturalmente com os dois lados usando tudo à sua disposição. A guerra seria levada então ao
extremo da violência.
A lógica é consistente? Sim, elas fazem sentido. Um ator racional que esteja entrando
em uma guerra nesses termos chegaria a essas conclusões. Para o autor, isso transformaria na
Guerra Absoluta, que seria a guerra em que os dois lados não moderariam seus esforços e a
guerra seria decidida em um único grande enfrentamento. Não teria pausa até que um dos
dois lado fosse tirado da guerra.
O autor vai então para o terceiro passo, ver a guerra na sua realidade. Ele chega à
conclusão de que a guerra absoluta é real no papel, na prática ela não é absoluta, ela tem
algumas modificações, principalmente 3 diferenças. A primeira diferença é que a guerra
nunca é um ato isolado do contexto político que ela acontece, a guerra absoluta deveria
acontecer quase em uma realidade paralela em que a guerra assumiria um contexto próprio.
Para o autor a guerra está inserida em um contexto políticos em que vários outros fatores a
influenciam; a guerra raramente é decidida em um único enfrentamento, na realidade, são
uma série de combates; a terceira diferença é: o resultado da guerra é raramente final, na
maioria dos casos quem perde a guerra se recupera para lutar em um momento posterior,
como no caso das Guerras Mundiais. Os perdedores sobrevivem.
É importante saber algumas consequências de haver essas modificações na prática. A
primeira é a atuação expressiva do acaso e da probabilidade. Para o autor, a guerra é aquela
que mais está sujeita à sorte, ao imprevisível. Se a guerra fosse absoluta seria muito mais
previsível, mas o fato da guerra se desdobrar no tempo faz com que uma infinidade de fatores
políticos, econômicos, sociais possam afetar a evolução da guerra, a tornando imprevisível. A
segunda é que o fato da guerra não ser absoluta permite o retorno do objetivo da vontade, se a
guerra fosse absoluta ela aconteceria de uma maneira pré estabelecida, independente do valor
que você atribui ao que está lutando. A partir desse requisito, se a guerra fosse absoluta, a
guerra não atribuiria um certo valor ao objetivo, pois seria travada da mesma forma. A guerra
assumiria uma lógica própria independentemente do objetivo, pois o objetivo é só vencer. Na
realidade, eu vou à guerra, mas faz diferença o objetivo pois a qualquer momento eu posso
reconsiderar o objetivo para pensar se vale a pena continuar a guerra.
Por que a guerra não acontece do jeito que se espera? Aparece o primeiro grande
insight do autor. A grande anomalia é a suspensão da ação, luta e pára. A ação não deveria
parar, como na Segunda Guerra Mundial, mesmo que não seja possível juntar todo mundo
para lutar, o combate não deveria parar, era para ser assim, pois como o autor diz, se um lado
suspendesse a ação e esperasse outro momento, ele teria vantagem na guerra. Para o outro
seria desfavorável. Mesmo que um lado quisesse suspender a ação, o outro lado iria querer
continuar. Se as pessoas não tivessem limitações, não haveria suspensão. Os generais travam
meia guerras porque não têm disposição para travar a guerra em toda a sua energia. Será que
é a fraqueza humana que explica isso?
O insight que Clausewitz chegou foi de que há polaridade na guerra. Essa ideia de que
não deveria haver suspensão porque se um quer esperar o outro quer agir e vice versa. Para
isso ser verdade tem que haver polaridade. Polaridade só existe entre dois lados que são
iguais, mas um é positivo e o outro é negativo. Ele entendeu que na guerra os dois lados não
são essencialmente iguais. Na guerra existem dois lados: o ataque e a defesa. Basicamente, o
que diferencia é que um lado tem o propósito positivo de mudar a situação e o outro é
negativo, ou seja, manter a situação. Se dependesse da defesa não haveria guerra. Em termos
da vontade, existe polaridade, o ataque tem o propósito positivo e a defesa o negativo. O
problema é que a polaridade pára por aí. Quando chega na condução da guerra, ataque e
defesa são duas formas qualitativamente distintas de conduzir a guerra. A campanha de
guerra se difere entre os dois. É perfeitamente possível que os dois queiram agir ao mesmo
tempo ou parar ao mesmo tempo.
A grande diferença é que a defesa tem vantagens que o ataque não tem. O defensor
tem a vantagem da espera e da posição. Quando as coisas estão do jeito que estão para ele ta
bom, não tem problema esperar, mas agora o atacante é obrigado a agir para mudar a
situação. A vantagem da posição é que como o atacante tem que agir, então ele tem que ir até
você para fazer a guerra. Como você tem a vantagem da espera você fica onde está. Esse é o
grande problema para o ataque, ele usa recursos que podem ser deslocados.
O melhor cenário é que o defensor usasse somente seus recursos móveis também, que
a batalha fosse resolvida em um único enfrentamento. Porém, o defensor tem à sua disposição
todos os recursos (móveis, soldados, território, fortificações, o país, sua população), então se
a guerra fosse absoluta ela seria vantajosa para o atacante por ele já levar todos os seus
recursos. Mas na realidade, o defensor tem vantagens que são intrinsecamente dele. O
atacante fica mais vulnerável quanto mais adentra o território hostil, enquanto o defensor de
aproxima mais da sua base. Então o que o autor entendeu foi que ataque e defesa conduzem a
guerra de formas diferentes e que a defesa tem uma vantagem intrínseca.
O Clausewitz faz uma outro definição de guerra. A guerra é a continuação da
política com adição de novos meios. A guerra faz parte do relacionamento político, é um
instrumento da política. Ela só faz sentido a partir da vontade, mas para concretizar isso eu
preciso da colaboração do outro. Isso é política. Isso é importante porque se a guerra fosse
absoluta ela tomaria proporções além da política, ela assumiria uma lógica própria. O
segundo insight foi que existem dois tipos de guerra: limitadas e ilimitadas. A limitada é
quando nenhum dos dois lados é completamente vencido, a ilimitada é com um dos dois
lados incapacitados de continuar a guerra. A guerra só faz sentido como instrumento político.
O valor do objetivo político delimita o tamanha do esforço que vocês está disposto a
fazer. Para avaliar a guerra existem 3 elementos que devem ser ponderados, a trindade
esquisita: na guerra, ela é formada por uma série de considerações. Possui elementos de
paixão (elemento irracional, cego, que envolve sentimento), existe o elemento da razão
(considerações ligadas ao propósito da guerra, a vontade, é a cabeça que controla a guerra e
faz os cálculos) e o elemento da sorte (acaso, imprevisível. De certa forma, quando você entra
em uma guerra você está jogando dados, está apostando no acaso). O que existe numa guerra
que é de paixão está ligado principalmente ao povo, à sociedade, ele influencia a disposição
de continuar a guerra ou pará-la. O elemento de razão está centrado no governo, na liderança
política do país e o elemento de sorte tem influência nas ações e decisões do comandante e
suas forças combatentes. Então, toda e qualquer guerra assume diversas características que
devem ser ponderadas através desses 3 elementos. O autor diz que uma análise de uma guerra
qualquer é como se fosse um pêndulo em equilíbrio entre 3 ímãs que variam no seu tamanho
(paixão, razão e sorte), como os elementos se somaram na guerra para determinar o caráter da
guerra.
Capítulo 2 - Propósito e meio na guerra
O propósito não se trata do objetivo da guerra, é propósito bélico ou objeto. É o que
você espero que o objetivo político vai produzir, você produz um objeto bélico. Às vezes
pode haver coincidência entre propósito bélico e o objeto. Ex: A Argentina quer que o Rio
Grande do Sul seja dela (propósito político), mas para alcançar isso vai ter que tomar o Rio
Grande do Sul para que o objetivo bélico se realize também. Ela pode acreditar que se
bombardear a capital do Brasil e matar e ameaçar, ela consiga o que quer, então o objetivo
bélico é convencer o Brasil a ceder. Se ela for bem sucedida nisso, ela conseguirá produzir o
objetivo político, mas nesse caso os objetivos não são os mesmos.
O problema é que não existe uma lista desses objetos, são variados. O número de
objetos também podem variar, depende daquilo que o país deseja ou da sua estratégia. A
discussão do propósito nas guerras limitadas é mais simples. Se ele tiver disposto a ceder sem
ser completamente desarmado, estamos diante de uma guerra limitada, mas se ele não vai
ceder até que seja desarmado, se trata de uma guerra ilimitada. A primeira grande
consideração que o ator precisa fazer antes de entrar na guerra é definir em qual das guerras
ele está. Um exemplo é: imagine uma mãe carregando um filho e aparece um ladrão que pede
o celular. Provavelmente ela vai entregar o celular (limitada). Na situação que o ladrão peça o
bebê é provável que ela não entregue o bebê, então ele vai ter que agir para conseguir atingir
seu objetivo (ilimitada).
O propósito das guerras ilimitadas é mais fácil de entender, não interessa o que ele
demanda, para conseguir o que quer ele tem que destruir as forças combatentes do defensor
(1º). Enquanto o defensor conseguir perseguir a guerra ele vai continuar, então ele precisa ser
desarmado. O segundo ponto é dominar o território e por último você precisa submeter a
população dele à sua vontade. É isso que é preciso ser feito em uma guerra limitada para se
atingir seus objetivos.
O propósito das guerras limitadas com relação ao exemplo anterior. Se o Brasil não
estiver disposto a lutar até o fim pelo RS, existe um momento teórico em que o Brasil estaria
disposto a ceder o estado para a Argentina. Nesse caso, a guerra seria limitada. Como a
Argentina chegaria nesse ponto em que o Brasil cederia? Poderia causar danos suficientes
sobre as forças brasileiras, poderia decidir outras estratégias também.
Como se produz a paz na guerra limitada? Existem 2 processos genéricos que devem
ser capazes de produzir a paz: a imposição de custos que superem o valor do objetivo político
e pela improbabilidade de vitória, você demonstrar que você vai ser bem sucedido em causar
danos suficientes que para ele não vale a pena continuar resistindo. Isso é o máximo que se
pode dizer sobre as guerras limitadas.
Existe uma conclusão: a guerra, se é guerra, ela só tem um meio para se produzir os
resultados que sejam suficientes na guerra, que é o combate. Para o autor, na guerra tudo
deve derivar e partir das considerações do combate. O combate é a atividade essencial da
guerra. Se a guerra é um ato de força, então a única maneira que eu tenho para impor minha
vontade é a através do combate.
Existe na tradição militar duas formas para perseguir a guerra: você conduzir a guerra
por aniquilação (perseguir o combate para destruir o inimigo) ou por manobra. Mesmo nesse
tipo de consideração ela também só faz sentido se houver o combate.
Todas as decisões que são tomadas na guerra podem ser reduzidas a algumas
categorias: tática (Uso da força no combate. Se a guerra fosse absoluta todas as posições
seriam táticas), estratégica (uso dos combates para alcançar o propósito da guerra, decidir
quais combates serão mais relevantes), política (são considerações do tanto que vale aquilo
que eu quero, até onde estou disposto a ir) e logística (necessidades materiais para o combate
na guerra). Se a guerra fosse absoluta ela seria resolvida em um único combate, então para
planejar a guerra todas as considerações teriam a ver com aquele combate. No entanto, você
tem que tomar decisões sobre como os combates vão te conduzir na realização do propósito
bélico.
Nessa época, havia uma barreira de entrada para que aqueles que não fossem militares
terem suas ideias levadas a sério, mas as ideias de Corbett quase se tornaram as ideias
informais adotadas pela marinha. A consistência lógica e histórica que ele desempenhou para
desempenhar suas ideias era impossível não reconhecer que as ideias dele tinham enorme
sentido.
Ele foi crítico do Mahan, no próprio texto há momentos que ele desafia algumas
ideias centrais do Mahan. A construção da teoria da guerra naval, o Corbett seguiu uma
proposta metodológica que é pensar a guerra a partir de teorias de objetos (que tenta pensar o
que está em disputa, qual o objeto de desejo delas no mar), do meio (qual o reflexo que isso
tem para os meio de condução da guerra no mar) e do método (com base no objeto e nos
meios, qual a forma de se alcançar esse objeto).
A teoria do objeto
se você está em uma guerra e tem um componente marítimo, o que está em disputa? Nesse
ponto, o autor compara a guerra no mar com a guerra na terra. A principal diferença é que o
mar não se ocupa como ocupa a guerra. O mar é um meio, então se você não ocupa o mar, o
que sobra para disputar é o direito de passagem, ser um meio de comunicação para sair de um
ponto para outro ponto. Também existe esse meio de comunicação na terra.
Quando se fala em exércitos, enquanto na terra é que os exércitos tenham linhas de
comunicação independentes, no mar as linhas de comunicação são comuns, todos utilizam as
mesmas rotas. Você defender o seu direito de passagem implica automaticamente afetar o
direito de passagem do outro. A defesa e o ataque implica você desafiar a capacidade de seu
adversário de acessar as linhas de comunicação.
Isso leva a um entendimento diferente. O objeto da guerra naval também é o comando
do mar. Para o Mahan significava ser a única marinha capaz de te desafiar no mar. Para o
Corbett, o sentido é diferente, está relacionado com o direito de passagem. O comando do
mar nada mais há que você ser capaz de utilizar as linhas de comunicação, negando o direito
de passagem do seu adversário. Tem uma outra diferença entre a guerra no mar e na terra, é
de que na terra, os exércitos têm suas linhas de abastecimento, é por essa linha que recebe
seus recursos. Não necessariamente essa linha é a mesma que a nação utiliza para o comércio.
No mar, são as mesmas rotas para tudo, militarmente, comercialmente.
Se o objeto é o controle do direito de passagem, qual a forma de realizar isso? Como
você contra essas linhas de comunicação? Para o Corbett, é pela captura ou destruição de
propriedade marítima. Se você contra o direito de passagem e o adversário insiste em passar,
a única forma que você pode fazer o controle é destruindo ou capturando propriedade
marítima.
A primeira evidência que você está na guerra naval é que navios mercantes são
capturados. O comércio vai continuar normalmente, o que acabaria permitindo que ele tivesse
fontes de guerra, então se você detém o comando do mar, você vai querer sufocar todos os
tipos de setores. A prevenção ao comércio não faz parte da guerra naval para Mahan, já para
Corbett isso é absolutamente natural e essencial para a própria guerra. Na terra você precisa
primeiro de uma vitória militar para ocupar o território para que você ocupe e controle o
território e possa afetar as atividades do adversário. No mar isso acontece desde o primeiro
dia. A guerra precisa ser tornada cara para o outro, se for cara pode incapacitar o seu
adversário de começar a guerra ou continuá-la.
O Corbett desafia algumas conclusões centrais do Mahan. Uma das premissas é a de
que o mar é um só. O Corbett fala que o senso comum é de que o mar é um só, no sentido de
que não há barreira natural ao deslocamento no mar, mas o autor não concorda com
conclusão lógica de que o mar sendo um só você não pode descansar enquanto houver uma
marinha atuando no mar em qualquer lugar. Na terra isso não acontece, você não fica se
preocupando com os outros exércitos o tempo todo, ela não é uma só.
Para o Corbett, ele admite diferentes gradações de comando do mar. O comando do
mar que é central nas ideias de Mahan é absoluto, para o Corbett essa ideia de que o comando
tem que ser geral não faz o menor sentido. Dificilmente poderia ser alcançado na prática. O
que de fato é buscado em uma guerra é o comendo local do mar, no sentido de que você é
capaz de controlar o direito de passagem em uma região específica do mar. Para utilizar o
mar para os seus propósitos de guerra e negar o mar para o adversário demanda apenas o
comando local, não o geral.
Teoria dos meios
A construção da força naval é a teoria a qual você é adepto, vai determinar como sua
esquadra deve ser constituída. A expressão material é navio de linha, os grande navios de
combate. Você precisa estar preparado para chegar com tudo em um combate. Portanto, a
constituição da esquadra na teoria do Mahan exige a predominância dos navios de linha e o
provisionamento de outros navios apenas na quantidade mínima para exercer algumas
funções específicas e subordinadas aos navios de linha.
Na teoria da guerra naval do Corbett, a expressão material é dos navios de linha,
navios cruzadores e flotilha. O comando do mar é exercido pelos grandes navios de combate,
a segunda máxima é de que os cruzadores são os olhos dos navios de combate. O Corbett vê
problema na primeira máxima. O fundo de verdade é que se você não tiver uma esquadra de
combate poderosa e seu adversário tiver, você irá perder o comando do mar. O problema é
concluir que o controle do mar é exercido pelos navios de linha, porque os navios cruzadores
que exercem o comando do mar, controlam quem está passando e quem não vai passar, eles
que fazem a prevenção do comércio. Os navios de linha ficam na retaguarda para garantir.
Teoria do método
Gira em torno de uma questão: como você deve empregar sua esquadra? De maneira
concentrada ou dispersa? Para o Mahan não faz sentido separar a esquadra, já para Corbett
pode até ser ideal estar com força total, o problema é que se você concentra completamente e
o inimigo se divide, você cede para ele a possibilidade de comandar outras regiões.
Naturalmente, na maioria dos casos, você é forçado pelo inimigo a dividir sua esquadra.
Como dividir? Para o Corbett, a questão central é a concentração estratégica, mas não
necessariamente fisicamente. Sua esquadra pode estar dividida, mas você tem que buscar essa
separação de modo que as partes possam se auxiliar diante de uma ameaça séria. Essa
dispersão tem que permitir que diante do surgimento de uma ameaça em um desses pontos
possam ir ao auxílio e responder de maneira eficiente. O importante é manter a coesão de
organização entre as partes da esquadra que estão divididas. A dispersão ideal é difícil de ser
traçada, vai depender da dispersão do inimigo e dos portos que o inimigo tem a sua
disposição.
Mc Isaac (1986)
Os autores estavam escrevendo sem empiria nenhuma, era baseado em especulações.
As primeiras ideias apareceram como resultado da Primeira Guerra Mundial. Aqui, o autor
fala sobre a guerra no ar. Ao mesmo tempo que achavam que a guerra no ar traria uma
destruição inimaginável, também pensavam que a guerra seria tão terrível que isso deixaria
de ser o instrumento racional, daria medo e tentariam evitar.
Os aviões foram inventados e já foram empregados na Primeira Guerra. É óbvio que
exércitos já tinham utilizados esses instrumentos na tentativa de ser uma arma bélica. Balões
foram testados, mas é claro, não passou nem perto do que um avião pode fazer em uma
guerra, jamais teria capacidade de ser decisivo em uma guerra.
A Primeira Guerra foi uma inspiração para o que seria a guerra no ar. De repente tem
uma máquina que consegue voar longas distâncias, a primeira função que é possível perceber
de vantagem para a guerra é o reconhecimento rápido do território, que antes dependia da
capacidade de visualizar com instrumentos ópticos, espiões. Essa reconhecimento era muito
importante para melhorar o poder de fogo da artilharia e o seu alcance. Pelo menos metade
das mortes de Primeira Guerra foram da artilharia.
A segunda função que deriva diretamente da primeira função é lutar contra os aviões
dos inimigos para tirar dele essa vantagem e ela ficar só para você, nasce então o combate
aéreo. Uma evolução importante que aconteceu nesta área foi o desenvolvimento de um avião
chamado Fokker. O grande problema que os aviões tinham era que o piloto podia atirar na
hélice do próprio avião. Os alemães resolveram esse problema, o que deu vantagem para eles.
A terceira função foi a de apoio tático, que é basicamente jogar bombas nos exércitos
inimigos, mas esse apoio poderia ser empregado diretamente contra os soldados inimigos
(apoio aéreo próximo), porém, assim como a artilharia você pode atingir alvos que estão na
retaguarda, atrás do fronte, inimigos que estejam deslocando (interdição operacional).
A quarta função é atacar partes do território inimigo, que até então era excluído do rol
de atividades que poderiam ser feitas, já que isso poderia ser feito antes só depois que você
tivesse destruído seu inimigo. É o chamado bombardeio estratégico. Tem um episódio que é
bastante significativa para entender a evolução do tema no pós primeira guerra. Londres foi
atacada por aviões alemães em 1917. A Inglaterra se manteve afastada dos custos das guerras,
apenas observava a Europa em guerra, então quando foi bombardeada isso teve um impacto e
matou muitas pessoas.
Foi criada uma Comissão para entender os impactos da utilização do ar para a guerra
e como a Inglaterra deveria de preparar. Eles apresentaram duas premissas: na guerra no ar,
toda vantagem residia em atacar. Os aviões são tão rápidos e ágeis, que seria difícil de
derrubar um avião, a ideia é que quando você soubesse qual é o alvo do ataque já seria tarde
demais para reagir e tentar combater todos os aviões a tempo. Não é se preparar para
defender, a vantagem é de quem ataca primeiro. A segunda premissa é que se a defesa é
inviável, o foco das guerras no futuro vai ser basicamente através do bombardeio estratégico,
porque se você pode concentrar grande poder de fogo e fazer pressão sobre a população que
apoia a guerra. Se o inimigo conseguir paralisar sua sociedade, ele venceria a guerra. O
impacto dessa Comissão foi tão grande que a Inglaterra foi a primeira Força Aérea
Independente, a Royal Air Force.
O autor discute um outro aspecto da teorização da guerra no ar que não se destacou no
período. A grande preocupação era como superar o impasse que a Primeira Guerra gerou. A
capacidade defensiva era tão grande que se instaurou um impasse no fronte ocidental da
Europa, nenhum dos dois exércitos conseguiam avançar, então a guerra ficou estática. Alguns
estrategistas já percebiam que os aviões poderiam ser úteis para resolver esse problema. A
solução da Inglaterra foram os tanques. Nesse momento já nascia o conceito da batalha ar-
terra, em que combinariam essas duas para romper as forças inimigas.
Douhet era italiano e escreveu uma obra chamada ‘O Domínio do Ar’, suas ideias
partiam da premissa de que objetivo de qualquer guerra não é ocupar o território ou desistir o
exército inimigo, você entre em guerra para destruir a vontade do inimigo. Portanto, o
advento do poder aéreo livrava a condução da guerra dessa necessidade intermediária que era
inconveniente. Para eles não fazia mais sentido separar combatentes e não combates. Isso
mostrou a desigualdade da guerra, a capacidade destrutiva dos armamentos e o potencial das
potências, associado ao tamanho da população sempre acabava com milhões de pessoas se
matando sem nenhuma vitória significativa.
A agilidade dos aviões tornava a defesa inviável. A capacidade de resistências,
capacidade de absorver dor, da sociedade se manter moralmente íntegra era bastante
reduzida. A quinta e última premissa era de que para se preparar para uma guerra futura e
vencer, precisava ter uma força aérea independente, formada por bombardeios terrestre, e não
aviões especializados ao combate aéreo. Eles têm capacidade ação pronta, porque se a
vantagem residia na ofensiva, obviamente aquele que tomou a iniciativa já tem mais chances.
A guerra deveria ser conduzida de que forma? Por esses pressupostos só faz sentido
começar a guerra, o menor sinal de que a guerra pode vir a acontecer você tem a
oportunidade de agir antes do inimigo. O primeiro objetivo deve ser destruir a força aérea do
inimigo. Você se defender do inimigo é inviável, porém existe um momento em que é
possível tentar destruir a força aérea do inimigo, que é quando ela está no chão. O
bombardeio estratégico é a segunda forma pela qual a guerra deve ser conduzida.
Marinha e exército era necessário, mas apenas como garantia para que o inimigo não
possa atual por terra ou pro ar na sua sociedade. No final da década de 30, a Inglaterra
inverteu as prioridades, dando a possibilidade de se defender do combate aéreo, indo contra
as ideias propostas pelo autor. A preparação de artilharia antiaérea, uma rede integrada para
permitir a combinação de esforços para defender a Inglaterra.
Pape (1996)
- Teorias da coerção militar
- Por que poder aéreo?
- Modelo Racionalista
Pape acredita que estudar as forças terrestre navais e terrestres não permite o
entendimento dos objetivos, então teria um uso restrito. Para ele a força aérea dá maior
flexibilidade porque é mais fácil testar a força da coerção no sentido de se alcançar seu
objetivo.
O autor é racionalista, onde para saber se vai valer a pena atacar de acordo com o
custo-benefício. É o benefício multiplicado pela possibilidade de conseguir aquilo que ele
quer, menos os custos da coerção multiplicado pela probabilidade de sofrer os custos.
Quando você conseguir fazer os custos superarem os benefícios, então o oponente vai
desistir, ceder. Quando o resultado é maior que 0, o adversário percebe que os benefícios
superam os custos.
As estratégias de coerção vão buscar afetar cada um desses elementos da equação, o
que você pode afetar nos cálculos dele para mudar seu comportamento é o benefício
diretamente. Para o Pape, você tirar o benefício implica: retirar o valor daquele benefício por
uma vitória militar, o que é diferente da coerção (quando quer convencer o outro a ceder) e
coerção militar é quando você toma aquilo que você quer e deixar o inimigo sem capacidade
de resistir. O autor está preocupado com o fato de ter que convencer, pois o outro tem mais a
ver com uma vitória militar. Então o benefício está fora da lógica de coerção.
Pape apresenta algumas estratégias. Punição: voltada para gerar custos, não afeta a
probabilidade dele, afeta os custos que ele está sofrendo para resistir; Risco: afeta a
probabilidade de que o adversário vai sofrer os custos, é uma forma de punição mais gradual,
é você progressivamente ir aumentando os riscos para o adversário de que o sofrimento que
ele está sofrendo vão aumentar; Negação: afeta a probabilidade do adversário manter o que
foi disputado, é a forma de mostrar que você é capaz de negar os meios de continuar
disputando com probabilidade de sucesso, é melhor ceder sem ter que arcar com os custos da
derrota, convencer que a resistência é sem sentido; Decaptação: é você perseguir como alvo
as lideranças do país adversário, tanto as lideranças políticas como militar. É matar o
presidente, o general, ou pelo menos isolar as lideranças dos esforços de resistência. É
negação porque à medida que isola as lideranças, isso vai diminuir a probabilidade de sucesso
dele, mas ao mesmo tempo é uma punição direta à lideranças chave, eles são diretamente
alvos da guerra. Podem perder a vida, podem perder parente, continuar resistindo é um custo.
O autor busca concluir o que traz mais chances de produzir os resultados desejados através da
coerção.
No livro ele estuda 36 campanhas aéreas e faz um balanço do que funciona melhor.
Ele estuda a coerção contra a Alemanha, o Japão na Segunda Guerra, Coreia, Vietnã, entre
outros. Ele entende qual coerção está sendo usada principalmente através dos alvos que se
ataca na campanha, esses alvos indicam uma coerção por punição. Alvos estritamente
militares, bases militares, fábricas de equipamentos, esses são alvos de negação, pois
diminuem sua vontade de resistir. Além dos alvos, ele observa o timing da campanha. Um
ataque a população feito de maneira concentrada para maximizar o sofrimento é uma
estratégia de punição, mas se for de maneira gradual vai rompendo barreiras, escalando o
curso, indica uma estratégia de risco. Outro indicativo é o tipo de bomba usada, de punição
não precisa de muito precisão, pois os alvos são enormes. Bombas explosivas causam maior
destruição, então são mais úteis em alvos mais restritos, o que indica uma estratégia de
negação. Há alvos que precisa de extrema precisão (caso queira destruir mísseis com ogivas
nucleares ou o lugar onde o presidente estará) são indicativos de decapitação ou negação.
Depende quais os meios de força, quais alvos, com a tentativa de produzir um
mecanismo que vai produzir o efeito que gerará a mudança política. Só que entre o uso da
força e a mudança política existe uma teoria por trás disso que indica o motivo disso
acontecer, de um resultar no outro. Pág. 57 tem uma tabela com cada estratégia de coerção,
quais são os alvos, mas principalmente o mecanismo, como se espera que a estratégia
produza a mudança política desejada.
Como você espera que atacar uma população vai promover uma mudança política?
Punição: Pode ser que a população se voltará contra o governo, produzir uma mudança de
regime interno, exigência do fim da guerra ou desintegração social (a sociedade vai parar de
funcionar); Risco: Por que atacar civis gradualmente vai produzir mudança política? Cálculo
de custos futuros no sentido de entender quais custos estão por vir e se vale a pena continuar
apesar desses custos. O mecanismo esperado é desistência para evitar o sofrimento futuro;
Negação: os alvos estão direcionados às forças armadas do inimigo. O mecanismo esperado é
produzir uma vitória militar pontual, um revés militar grande o suficiente para que o
oponente acredite que tem poucas chances de vencer, ou então prejudicar o funcionamento da
estratégia dele produzindo a escassez de material, é você retirar a capacidade dele de
continuar a guerra por causa dos danos que você causou à ele; Decapitação: os alvos estão
direcionados às lideranças. O mecanismo esperado é pela mudança de liderança, criar uma
paralisia estratégica nos esforços do adversário (deixar eles sem liderança política e militar),
afetaria a probabilidade dele ser bem sucedido.
- Punição: bombardeio indiscriminado à população para causar pânico, o principal
mentor é o Duhet. Foi aquela que predominou na força aérea britânica até o final dos anos 30
por causa do impacto do ataque à Londres em 1917 que matou algumas pessoas, mas causou
grande comoção. A Inglaterra usou o bombardeio estratégico em algumas guerras coloniais.
Eles julgaram que isso era muito eficiente para disciplinar as sociedades. A estratégia de
punição é a principal punição que se pode seguir autonomamente. Aqueles comprometidos
com a força aérea tinham interesse que a mesma recebesse grandes investimentos. Nos EUA,
a escola do Corpo Aéreo Tático do Exército desenvolveu uma versão própria da punição
baseada ao ataque mais racional contra nódulos centrais de funcionamento e organização da
sociedade. Eles faziam estudos econômicos e urbanos para ver como poderia paralisar uma
sociedade.
A hipótese do Pape é que a punição é extremamente ineficiente, pois se o que você
exige dele é importante para ele, a punição muito dificilmente será bem sucedida. Ao invés
de gerar revolta popular, o ataque tinha o efeito de tornar a população ainda mais disposta
para vencer a guerra. A ideia da punição subestima a flexibilidade das economias modernas
de se adaptar em tempos de crise e continuar funcionando para garantir os esforços de guerra.
A punição convencional tem capacidade destrutiva muito limitada.
- Risco: Quanto mais o inimigo resiste maior o custo. O Flávio não concorda com o
teórico apontado pelo Pape. A estratégia de risco foi utilizada na guerra do Vietnã. Os
EUA perceberam que a estratégia não era atacar a população. Eles iam aumentando os
custos da guerra, causando maior escassez de alimento, destruindo bases de energia.
O risco nada mais é que uma punição diluída. Se a punição não quebra uma
sociedade, de maneira gradual então não será suficiente.
- Negação: Basicamente envolve as formas de emprego de poder aéreo, é uma questão
de utilizar apoio aéreo próximo, utilizar como espécie de artilharia para atingir as
forças que estão no fronte, auxiliar as forças terrestre, interdição operacional. São as
tropas que estão de reserva, as que estão se deslocando de um ponto para o outros, os
caminhões de abastecimento, as bases de comunicação, controle. É você atingir esses
alvos que vão causar um efeito indireto. Para o Pape, vai depender do tipo de combate
que está acontecendo. Se for um combate mais fluido, a interdição operacional vai ser
mais adequada para barrar a movimentação. Se for um fronte estático, então o apoio
aéreo próximo será mais eficiente. Há uma outra função chamada de interdição
estratégica (destruir alvos que estão no território inimigo, mas que estão relacionados
à manutenção dos esforços de guerra, são as indústrias bélicas, de munição, toda a
parte econômica e industrial do inimigo). Essa forma de negação é mais eficiente em
uma guerra de atrito, em que não há uma solução rápida para acabar com a guerra, Ex:
Primeira Guerra mundial, que desafia quem tem sua base produtiva operando por
mais tempo, que foi o caso dos Aliados quando os EUA entraram na guerra. A
estratégia de negação é a que tem mais chance de produzir sucesso. As vezes que os
adversários cederam com demandas políticas significativas isso foi feito pelo efeito de
negação.
- Decapitação: Para o Pape, a decapitação é uma ilusão, porque não é o aumento de
precisão que vai gerar a possibilidade de eliminar a liderança. É difícil saber onde o
cara vai estar em determinado momento. O problema da inteligência não tende a ser
resolvido facilmente, saber onde figuras chave estarão é complicado. Mesmo se
conseguir eliminar, dificilmente as mudanças de regime vão mudar a postura do
oponente na guerra. Com relação a decapitação militar, a decapitação também é uma
ilusão, se você interrompe a comunicação será irrisório, pois em minutos ele consegue
isso de volta. Algumas forças são tão centralizadas que os oficiais não têm autonomia
para dar um direcionamento, mas nesse caso dificilmente irá paralisar as forças.
3 aulas depois…
Wohlforth (1999)
- Ordem pós-guerra fria: unipolaridade? multipolaridade?
Jervs (1978)
- Dilema da segurança: intensidade variável? É possível controlar?
Cooperar Desertar