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Guerra e Paz

20-02-2022

GONÇALO BARROS
GUILHERME FEIO
11º C1
Introdução
A guerra é algo que tem vindo a acompanhar o Homem desde sempre, inclusive,
segundo alguns filósofos parece fazer parte da sua natureza. Desde tempos antigos
que a guerra é um meio de obter poder e influência, países, instituições e religiões
todos beneficiaram e incentivaram a ocorrência de guerras em vários momentos da
história e tal como nos tempos correntes os mais prejudicados são sempre as
populações e classes mais baixas, enquanto as organizações cujos interesses se
alinham com a guerra crescem e prosperam com o sacrifício das massas.

Desde a viragem do século o número de guerras não diminuiu, após a segunda guerra
mundial que causou cerca de 85 milhões de mortes e despendeu 4,1 biliões de
dólares, seguiram-se um incontável número de outros conflitos, como a guerra do
Afeganistão, a guerra do Iraque, a guerra do Líbano e por fim a mais recente, entre a
Ucrânia e Rússia; a qual é referida por muitos especialistas como uma porta aberta
para a 3ª guerra mundial. O que indica que esta tendência não está próxima de um fim
e que no futuro próximo continuará a ser a mesma fonte de destruição e sofrimento
que sempre foi.

A guerra, no entanto, acaba por nunca ser apenas um conflito armado entre nações.
Devido ao que se poderá considerar natureza humana, durante uma guerra não são
apenas os soldados que sofrem as consequências, mas os civis também, uma guerra
abre caminho para todo o tipo de crimes e atrocidades serem cometidas pelos
envolvidos. Demasiadas vezes o lado dominante toma proveito da sua superioridade
bélica para controlar e abusar da população inimiga, o que gera incidentes de racismo
e preconceito que por sua vez contribuem para a continuação das hostilidades entre
os dois lados, criando-se um ciclo de violência aparentemente inquebrável.

Neste trabalho esperamos entender de forma mais clara as reais motivações que
fizeram da guerra algo tão recorrente e aparentemente inevitável e intrínseco à
condição humana ao longo da história e debater a moralidade da guerra de diferentes
pontos de vista.

Moralidade da Guerra
Guerra, todos nós já ouvimos esta palavra várias vezes no decorrer da nossa
existência e entendemos o seu significado. Ou será que não? Quando pensamos em
guerra o que nos vem à cabeça são soldados, tanques e conflitos entre nações, mas
guerra não se limita a definir só esses conflitos. Usamos a palavra guerra para
variadíssimas situações que nem sempre representam conflitos armados e que não
têm a dimensão ou seriedade de uma guerra no seu sentido tradicional. Nesta
dissertação vamos então considerar o conceito de guerra como uma interação armada
entre países ou fações internas de uma nação, da qual resultam morte e destruição.

De modo a determinar se a guerra é de facto moral ou não várias perspetivas foram


sendo apresentadas, sendo que, independentemente da conclusão a que chegaram

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todas têm um fator em comum, não são imparciais e tendo em conta que procuram
justificar ou não a ocorrência de conflitos, será fácil de entender que aqueles que
pretendem e têm interesses na guerra se irão apoiar nas teorias que concordam com
os seus objetivos, o mesmo se observa para aqueles que pretendem evitar conflitos.
Então podemos prever que qualquer que seja a conclusão a que chegarmos no final
irá basear-se fortemente no que experienciamos no nosso tempo de vida e naquilo
que consequentemente acreditamos ser o mais correto.

Uma das teorias que aborda a moralidade da guerra é o realismo, esta perspetiva
defende que numa situação de guerra as questões morais e éticas são muitas vezes
colocadas de parte em função dos interesses nacionais ou pessoais, já que as
mesmas contribuem para uma posição de fragilidade que se pode tornar numa
vantagem para o inimigo e comprometer desta forma o sucesso no conflito travado.
Surge desta forma segundo Tucídides um estado de anarquia internacional onde
prevalece a dita “Realpolitik”, política essa que coloca á frente dos direitos humanos a
busca por poder económico, bélico ou mesmo territorial, desprezando as
necessidades e bem-estar da população que se vê muitas vezes em situações de
fome, precariedade ou até mesmo genocídio.

É possível perceber mais uma vez, tanto com Thomas Hobbes como com Tucídides,
como a natureza humana é anárquica, ao qual Hobbes chama de Estado de Natureza,
onde todos acabam por viver em conflito e a força é o agente mediador, levando a
uma verdadeira desigualdade onde os fortes permanecem fortes e os fracos devem
aceitar a sua condição e resumirem-se á mesma. Hobbes afirma ainda que dada a
incapacidade de existir paz devido há natureza humana, é imperativo que o homem
abra mão á sua liberdade e permita que uma instituição autónoma, acima de toda e
qualquer outra instituição ou país, possa manter a paz sendo para o filósofo condição
necessária para conciliação e união. O realismo tem uma máxima que explica de
forma muito eficaz a sua posição e o que entende por guerra: “inter arma silent leges”
ou em português “No amor e na guerra vale tudo”.
Em oposição ao realismo, existe o pacifismo, o pacifismo não separa a ética da
guerra, pelo que os pacifistas consideram em geral, que a guerra pertence à esfera
moral e que nenhuma guerra tem justificação, por outras palavras o pacifismo defende
que a guerra é sempre incorreta, seja por razões de princípio, seja devido às
consequências que dela resultam. O pacifismo divide-se desta forma em
consequencialista e deontologista.

O pacifismo consequencialista defende que os benefícios da guerra nunca superam os


malefícios da mesma enquanto o pacifismo deontologista defende que a ideia de
conflito e hostilidade não justificam nem fundamentam qualquer ato de violência. Os
pacifistas deontológicos advogam que a guerra é intrinsecamente errada pelo que
viola deveres absolutos como não matar ou não pilhar, aos quais todo e qualquer
cidadão deve estar sujeito sem exceção. A teoria pacifista tem sobretudo origem
religiosa nomeadamente cristã, que revia na bíblia e na mensagem de cristo, uma total
proibição de atos de violência em prol de interesses pessoais ou económico. Esta
posição impedia, contudo, a defesa do mundo cristão; sendo idealmente perfeita, mas
ineficaz, o que leva a uma terceira teoria, a teoria da guerra justa.
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A teoria da guerra justa acaba por perfazer este desconforto de encontrar um meio
termo entre a teoria realista e pacifista, e arquitetar algo mais consensual á realidade e
às complicações que dela advêm. Na sua essência esta teoria contraria o realismo
pelo que afirma que a guerra efetivamente deve abranger a moral e as questões éticas
bem como se opõe ao pacifismo admitindo justificação para alguns conflitos, sob
regras e medidas muito especificas.

A teoria da guerra justa estabelece deste modo uma série de princípios, são eles: jus
ad bellum, onde se dá prioridade a princípios que visam determinar quando é legitimo
recorrer á guerra, jus in bello, na qual se procura estabelecer como conduzir a guerra
e por fim jus post bellum, relativo a como se deve proceder após o desfecho da guerra.

Jus ad bellum é fundamentalmente dirigido a políticos e dirigentes uma vez que são os
próprios com poder para declarar e recorrer á guerra.

As regras principais são:

• Causa justa

• Recta Intenção

• Autoridade apropriada e declaração publica

• Último recurso

• Probabilidade de sucesso

• Proporcionalidade

Jus in bello recai sobretudo na responsabilidade de cumprir regras de forma


consciente e moral, incidindo maioritariamente nos militares e nos seus dirigentes.
Quando uma destas regras é violada, os responsáveis são julgados por crimes de
guerra pelo tribunal penal internacional pelo que são considerados crimes e são
condenados como tal.

Algumas das regras principais são:

• Separação e imunidade dos não combatentes

• Obedecer a todas as leis internacionais sobre armas proibidas

• Proporcionalidade

• Prisão benévola para os prisioneiros de guerra

• Não se pode utilizar meios que são maus em si mesmos

• As represálias são proibidas

Por fim o Jus post bellum refere-se á fase final da guerra pelo que define regras que
permitam uma paz mais consistente e duradora, define assim um conjunto de regras,
são elas:
• Castigo

• Compensação

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• Reabilitação

A teoria da guerra justa não pretende justificar ou impedir a guerra, mas sim conduzir e
facilitar as decisões por parte de políticos e dirigentes de forma a assegurar a correção
da mesma num contexto ético, moral e adaptado a situação socio económica atual.

Num mundo onde a guerra parece ser um tema recorrente que vai perdurar e fazer se
presente por muitos mais anos, a teoria da guerra justa delimita algumas regras que
ajudam a perceber quando uma guerra é ou não justa, digna e honesta
consequentemente prevenindo mortes desnecessárias e promovendo uma maior
vigilância das decisões governamentais.

Conclusão
Os interesses pessoais ou nacionais, as crenças e convicções, como referimos
anteriormente são a base de todos os confrontos entre pessoas, se não fosse por isso
não haveria razão para lutarmos entre nós, mas tal como todos os animais o ser
humano possui um instinto de sobrevivência que faz com que pessoas em situações
difíceis continuem a lutar para viverem, mas para pessoas cuja vida é já fácil e quando
digo fácil refiro-me à qualidade de vida de que nós europeus, na maioria desfrutamos,
este instinto transforma-se numa constante procura por sentido e muitos encontram-no
em acumular e roubar a quem podem e é esta transformação que dá origem às
guerras, não por sobrevivência mas por cobiça e ganância. Enquanto as três
perspetivas apresentam pontos válidos não concordo a cem porcento com nenhuma, o
realismo erra logo à partida quando atira pela janela a moral em situações de guerra,
acho que independentemente da situação devemos sempre considerar a moral
mesmo que não seja nossa intenção segui-la, parece-me que é uma desculpa para
que aqueles com interesses nos conflitos possam agir livremente como lhes convém
com proteção ética, mas ainda assim acredito que existam pessoas que ignorassem a
moral não pelos seus interesses mas pelo que é melhor para o seu país e é por
acreditar que existirá alguém que poderá corretamente aplicar esta perspetiva que não
a desconsidero totalmente. O pacifismo, na minha opinião seria o caminho certo a
tomar mas exige que toda a humanidade se regesse por ele, já que bastaria uma
pessoa que fosse contra o pacifismo para que esta se aproveitasse da passividade do
resto da população e como uma sociedade em que cada um nós seja completamente
pacífico é impossível e sinceramente um pouco aborrecida também não acho que se
possa aplicar numa situação real e fica mais para um ideia do que um solução.

Em conclusão a teoria da guerra justa não é necessariamente a mais correta, mas é


sim a que tem dado origem aos melhores resultados internacionalmente, porque
apesar de ser debatível de uma perspetiva filosófica a verdade é que em situações de
guerra e não só a filosofia não é minimamente considerada importante pelos dirigentes
mundiais e resta-nos apenas apoiarmo-nos num sistema que estes aprovem e que
aceitem serem regidos por ele.

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Bibliografia
Blackburn, Simon. “Guerra justa” in Dicionário de Filosofia, Lisboa: Gradiva, 1997.

Stanford Encyclopedia of Philosophy.

The Internet Encyclopedia of Philosophy

Brown, Chris. “International Affairs” in Goodin, Robert E. e Pettit, Philip (Org.). A


Companion to Contemporary Political Philosophy, Oxford: Blackwell, 2002.

McMahan, Jeff. “War and peace” in Singer Peter (Org.) A Companion to Ethics, Oxford:
Blackwell, 2001 (trad. port: Guerra e Paz).

Walzer, Michael. “Introdução”, “O Triunfo da Teoria da Guerra Justa (e os perigos do


sucesso)” e “Justiça e Injustiça na Guerra do Golfo” in A Guerra em Debate, Lisboa:
Edições Cotovia, 2004.

Walzer, Michael. Just and Unjust Wars, Nova Iorque, Basic Books: 2000.

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