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Trabalho de filosofia

(paz e guerra)

{introdução
Neste artigo iremos explorar de forma breve a teoria em que se baseia
a maior parte das políticas de segurança nacional e depois
examinaremos várias perspectivas alternativas que insistem em que os princípios éticos têm de ter um papel
proeminente na formulação destas políticas. A seguir examinaremos a justificação para a utilização da violência
e do matar na guerra e exploraremos os fundamentos para a afirmação de que há limites para o uso legítimo
de violência na guerra. Na segunda metade do artigo discutiremos as questões éticas levantadas pela prática da
dissuasão nuclear.

1. Ética e o uso da violência na guerra

O pensamento dos ideólogos sobre questões de guerra e paz, tal como dos intelectuais cujo trabalho é mais
influente no processo de decisão política, baseia-se normalmente num sistema de suposições que são em larga
medida amorais. Considera-se que os problemas têm uma natureza “prática”: compara-se as opções políticas
apenas em função das suas consequências previstas e avalia-se as consequências apenas em função do seu
impacto no interesse nacional.

1.1. Realismo

A teoria que geralmente sustenta a formulação da política chama-se “realismo político”. Esta teoria afirma que
as normas morais não se aplicam à conduta dos estados, que em vez disso devem guiar-se exclusivamente por
uma preocupação com o interesse nacional. Esta posição enfrenta uma objecção imediata. Assim, como pode
suceder que, associando-nos e declarando-nos a nós próprios como um estado, adquiramos o direito de fazer
coisas para proteger ou promover os nossos interesses colectivos que nenhum de nós isoladamente teria o
direito de fazer? A formação de um estado pode criar novos direitos, mas todos deriváveis de direitos que os
indivíduos têm independentemente de serem membros de um estado. Por conseguinte, os direitos e
prerrogativas dos estados não podem alargar-se para lá dos direitos dos seus membros individuais tomados
colectivamente.

Dado o facto de as políticas nacionais tenderem a fundar-se em raciocínios genuinamente prudenciais, não será
surpreendente que as discussões da ética da guerra e da dissuasão nuclear sancionem em geral posições e
políticas muito afastadas da prática actual dos estados. A reflexão ética cuidadosa e conscienciosa tende a ser
profundamente subversiva com respeito às ideias estabelecidas sobre a guerra, a paz e a segurança.

2. Pacifismo

Segundo o ponto de vista realista, a guerra justifica-se quando serve o interesse nacional, não se justifica
quando é contra o interesse nacional. Os interesses dos outros estados e nações são considerados em larga
medida irrelevantes, a não ser instrumentalmente. Mas, tal como os indivíduos não podem normalmente
ignorar os interesses dos outros indivíduos, também os estados têm de dar alguma importância aos interesses
dos outros estados. Em resumo, nem a absoluta parcialidade nem a perfeita imparcialidade parecem
apropriadas.

A maior parte das pessoas acredita que a justificabilidade da guerra depende, não só de considerações sobre
consequências reais ou esperadas, mas também daquilo a que frequentemente se chama questões de
princípio. Algumas pessoas acreditam até que há certos actos que, simplesmente devido aos géneros de actos
que são, nunca podem ter justificação. Chama-se pacifistas às pessoas que são absolutistas a respeito de actos
de guerra. Acreditam que nunca é legítimo fazer a guerra. os pacifistas diferem da maior parte de nós na sua
crença em que esta presunção não pode ser superada, que o desafio de fornecer uma justificação moral para a
guerra nunca pode ser satisfeito.

Muitos pacifistas responderiam que o que rejeitam é a guerra e não todos os usos da violência; por
conseguinte, a autodefesa individual pode ter justificação embora a guerra não a tenha. Contudo, é duvidoso
que uma rejeição absoluta da guerra possa ser coerentemente fundamentada em algo diferente de uma
proibição absoluta de certos tipos de actos necessariamente presentes na guerra

3. A teoria da guerra justa

Desenvolveu-se ao longo de vários séculos uma tradição de pensamento sobre ética da guerra que tenta definir
um meio-termo defensável entre pacifismo e realismo. O ponto de vista resultante — conhecido como teoria
da guerra justa — fornece uma defesa do uso da violência na guerra que corresponde às justificações de senso
comum para o uso da violência e, talvez mais correctamente, às justificações de senso comum para o uso da
violência por parte do estado para a defesa interna de direitos. Tal como a política interna de violência pode
ser legitimada desde que procure servir objectivos bem definidos e justos e seja dirigida e limitada por regras,
também o uso da violência pelo estado contra ameaças externas pode ser legitimada desde que os fins sejam
justos e os meios sujeitos a limitações adequadas.

A teoria da guerra justa, que fornece a estrutura no interior da qual a maior parte das abordagens
contemporâneas da ética da guerra se desenvolveram, tem duas componentes: uma teoria dos fins e uma
teoria dos meios. A primeira, conhecida como teoria do jus ad bellum, define as condições em que é lícito fazer
a guerra. A segunda teoria, a do jus in bello, estabelece os limites da conduta lícita na guerra.

Quer uma quer outra teoria são demasiado complexas para serem aqui descritas, mesmo em esboço. Contudo,
teremos de considerar algumas das suas mais importantes condições. Por exemplo, a componente principal da
teoria do jus ad bellum é a exigência de que a guerra seja travada por uma causa justa. Apesar dos teorizadores
da guerra justa serem praticamente unânimes na crença em que a autodefesa nacional pode fornecer uma
causa justa de guerra, em pouco mais estão de acordo. Outros candidatos a causa justa são a defesa de outro
estado contra uma agressão externa injusta, a recuperação de direitos (isto é, a recuperação do que pode ter
sido perdido quando não houve resistência a uma agressão injusta anterior, ou quando a resistência anterior
foi derrotada), a defesa de direitos humanos fundamentais noutro estado contra abusos do governo e a
punição de agressores injustos.

A teoria do jus in bello consiste em três requisitos:

O requisito da força mínima: a quantidade de violência usada em qualquer ocasião não deve exceder a
necessária para realizar o fim em vista.

O requisito da proporcionalidade: as más consequências esperadas de um acto de guerra não devem exceder
as suas boas consequências esperadas, nem devem ser maiores do que estas.

O requisito da discriminação: a força deve ser dirigida apenas contra pessoas que sejam alvos legítimos de
ataque.

4. O requisito da discriminação

Cada um destes requisitos levanta problemas de interpretação dificílimos. Veja-se, por exemplo, o requisito da
discriminação. O que determina se uma pessoa é um alvo legítimo ou ilegítimo de violência na guerra? É
frequente afirmar-se que a distinção entre aqueles que são e aqueles que não são alvos legítimos coincide com
a distinção entre combatentes e não-combatentes, ou com a distinção entre os moralmente inocentes e os
moralmente culpados.

pessoas podem ser responsabilizadas pelo ataque sendo ligadas de certa forma à ofensa relevante. Em resumo,
é a nossa teoria acerca de como a violência pode ser justificada que nos diz que pessoas são responsáveis e que
pessoas são inocentes — inocentes no sentido genérico em que não estão ligadas à ofensa que fornece a
justificação para fazer a guerra de uma forma que as torne responsáveis pelo ataque.
A justificação da violência e do matar que ocorrem na guerra é dada pela teoria do jus ad bellum. O requisito
da discriminação é assim em parte um corolário da teoria do jus ad bellum. Isto contradiz o ponto de vista
comum segundo o qual o jus ad bellum e o jus in bello são logicamente independentes. Os soldados que lutem
por uma causa justa têm justificação para o uso da violência dentro de certos limites. Mas os soldados que
lutem por uma causa injusta não têm justificação moral para o uso da violência, mesmo contra inimigos
combatentes ao serviço dos objectivos de guerra do seu país, porque ninguém tem o direito de usar a violência
como meio para a realização de propósitos imorais.a participação de um soldado numa guerra injusta é o
resultado de uma combinação de engano, doutrinação e coerção, então a sua acção incorrecta pode até certo
ponto ser desculpada e o seu uso da violência para propósitos de autodefesa individual pode até ter
justificação.

Contudo, aqueles que sustentam que apenas as consequências importam não precisam de considerar a
inocência irrelevante. Podem distinguir entre inocência e não-inocência em termos de uma pessoa ter feito ou
não algo que a torne responsável pelo ataque. E podem coerentemente acreditar que, não havendo quanto ao
resto alterações, a morte de um inocente é um resultado pior do que a de um não-inocente. Apesar disso,
estão comprometidos com o ponto de vista de que podem existir casos em que é legítimo ou mesmo
moralmente necessário atacar e matar inocentes — por exemplo, quando isto é necessário para evitar um
número ainda maior de mortes de inocentes.

Segundo o requisito da discriminação, a incorrecção de matar é pelo menos em parte inerente à natureza do
próprio acto. Mas, se é incorrecto matar devido à natureza do acto, mas não devido à natureza do acto
considerado como acontecimento, então a incorrecção de matar tem de ter algo a ver com a natureza das
relações entre o agente, a sua acção, e as consequências da acção. Contudo, isto transfere o foco de
preocupação moral da vítima do matar para o agente, desse modo distorcendo o nosso entendimento da ética
de matar. Matar é incorrecto devido ao que faz à vítima, e não devido a algum facto acerca da forma como o
agente se relaciona por intermédio da sua acção com a morte da vítima”.

Em resumo, o terrorismo consiste na violação do requisito da discriminação. Assim, se queremos sustentar a


nossa condenação inequívoca do terrorismo, teremos de aceitar uma explicação da incorrecção de matar
centrada no agente. Porque o que achamos particularmente repugnante no terrorismo não é simplesmente
envolver fazer mal a inocentes. Previsivelmente, muitos actos legítimos de guerra também fazem mal a
inocentes. O que distingue o terrorismo dos actos legítimos de guerra é antes que o terrorismo visa fazer mal
ou matar inocentes, enquanto os actos legítimos de guerra, quando fazem mal a inocentes, fazem-no de forma
não-intencional. Assim, a diferença entre o terrorismo e os actos legítimos de guerra não é uma diferença entre
consequências esperadas.

2. Dissuasão e consequências

Dada a natureza dos estados e da sociedade internacional, toda a política a respeito de problemas de guerra,
paz e segurança tem graves riscos. Contudo, pode ser moralmente importante que os riscos associados às
nossas políticas sejam principalmente riscos que escolhemos aceitar ou, ao invés, que sejam principalmente
riscos que impomos aos outros. Se acreditamos que há uma objecção de princípio à imposição de riscos a
inocentes a fim de reduzir os nossos próprios riscos, então haverá uma razão moral contra a dissuasão.

E, se houver tal razão, não será fácil de superar. Uma vez que, como vimos, não só não é óbvio que o
abandono da dissuasão tivesse consequências que fossem consideravelmente piores do que as resultantes de
se continuar a praticá-la, não é claro que o abandono da dissuasão tivesse piores consequências.

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