1) Existe um direito de morrer com dignidade? Justifique indicando
razões favoráveis e contrárias;
2) Quais as dimensões da reserva do possível e em que medida o
mínimo existencial opera como critério material para a sua relativização?
3) Qual o sentido e alcance do disposto no artigo 5º, § 1º, para os
direitos fundamentais sociais? Extrai-se do texto do art. 5º, §1º, que pretendeu o legislador dar aplicação imediata aos direitos individuais e coletivos de uma forma geral, subtraindo-se do texto constitucional que não houve distinção neste aspecto entre os direitos de liberdade e os direitos sociais. O que leva à conclusão que todas as categorias dos direitos fundamentais estão em princípio sujeitas ao mesmo regime jurídico, inclusive, vale mencionar que a exposição linhas volvidas encontra similitude com entendimento predominante do STF. Necessário pontuar que partindo da premissa de que existem em nossa Constituição as normas programáticas, considerando que segundo a melhor doutrina constitucional, todas as normas constitucionais, inclusive as programáticas, são dotadas de parcelas de eficácia e aplicabilidade, no entanto, não se pode afirmar que a previsão contida no art. 5º, §1º, tenha o condão de outorgar às normas carentes de concretização sua plena eficácia. Todavia, vale lembrar que o constituinte de 88, além de ter consagrado expressamente uma gama de direitos fundamentais sociais, rotulou-os de normas de aplicabilidade imediata, o que se pode dizer que os direitos sociais são direitos de defesa. Por consequência, normas imediatamente aplicáveis e plenamente eficazes e que vai ao encontro do disposto no art. 5º, §1º. Dessume-se da previsão hospedada no art. 5º, §1º, que tem caráter dirigente e vinculante e revelam o objetivo de assegurar a força vinculante dos direitos e garantias fundamentais, que consagra contribuição constitucional aos poderes públicos de promover as condições para que os direitos e garantias sejam reais e efetivos. Nessa linha, devemos consignar que a falta de concretização não pode constituir obstáculo à aplicação imediata pelos juízos e tribunais dos direitos e garantias fundamentais, isso por força do art. 5º, §1º, devendo os órgãos julgadores fazer com que sejam efetivamente aplicados e executados os direitos fundamentais, fazendo-se valer da analogia dos princípios gerais do direito, na forma do art. 4º, da LINDB Subtrai-se do alhures, que é necessário buscar entre as posições mínimas e máximas, um ponto intermediário no qual se desdobra na premissa de que a norma do art. 5º, §1º, constitui norma de cunho principiológico, espécie de mandado de otimização, de forma a reconhecer maior eficácia possível aos direitos fundamentais, de modo que mais certo seria afirmar que o exame do seu alcance e aplicabilidade melhor será examinado no caso concreto ou no direito fundamental em exame. Conclui-se que os direitos fundamentais gozam de aplicação imediata e eficácia plena, assumindo a condição de regra geral, respeitando as exceções que para a sua legitimação demandam justificação convincente à luz do caso concreto, e sopesando a reservado possível. Vale ainda sublinhar que as normas definidoras de direitos fundamentais são normas de aplicação imediata, independentemente de qualquer medida concretizadora, na forma do art. 5º, §1º, CR/88.
4) O mínimo existencial substitui os direitos sociais como direitos
fundamentais autônomos? Justifique a resposta. O mínimo existencial está intimamente ligado ao princípio da dignidade da pessoa humana, que encontra-se previsto na Constituição como um dos fundamentos da ordem constitucional, representando o mínimo necessário para uma vida digna. Estes, por sua vez, estão relacionados ao tema da efetividade dos direitos sociais, na medida em que são utilizados pela doutrina como parâmetro para verificar o padrão mínimo desses direitos a serem reconhecidos pelo Estado. Dentro desta matéria, as principais controvérsias giram em torno da delimitação do conceito e conteúdo do mínimo existencial, da sua relação com a subjetividade dos direitos sociais e da amplitude de sua proteção em caso de colisão, principalmente com a reserva do possível. Há diversos posicionamentos doutrinários a respeito da delimitação do conceito e conteúdo desses institutos. Na posição defendida pelo nobre doutrinador Ingo Sarlet, o mínimo existencial não deve se confundir com o mínimo vital ou o mínimo de sobrevivência, posto que a garantia de sobrevivência física do ser humano, não significa que esta será com qualidade e dignidade. Não é possível estabelecer um rol taxativo dos elementos nucleares do mínimo existencial, devendo ser analisado de acordo com as necessidades de cada pessoa. No entanto, é possível pontuar um conjunto de conquistas já sedimentadas, que guiariam ao intérprete e aos órgãos vinculados à concretização deste mínimo existencial. Em relação à dimensão subjetiva dos direitos sociais, este está relacionado à possibilidade de o titular do direito exigir judicialmente o cumprimento da obrigação pelo Estado. Discute-se na doutrina o reconhecimento dos direitos sociais como direitos subjetivos, em decorrência dos variados entendimentos sobre o nível de efetividade das normas consagradoras de direitos sociais. O mínimo existencial é muitas vezes referido pela doutrina como “núcleo essencial” dos direitos fundamentais sociais, o que repercute no tema da exigibilidade das prestações materiais neles previstas perante o Judiciário. Quanto à noção de núcleo essencial dos direitos fundamentais, sabe-se que a doutrina se divide entre as teorias absoluta e relativa. A teoria absoluta defende um núcleo essencial absolutamente intangível, abstrato e, desta forma, independente das especificidades do caso concreto; esse núcleo essencial imporia um limite absoluto à atividade restritiva do legislador. Já a teoria relativa, sustenta que o conteúdo essencial de um direito fundamental é definido para cada caso concreto, observando-se os critérios da proporcionalidade, consistindo no mínimo possível de restrição. No entanto, nem sempre um direito fundamental social terá no seu núcleo um conteúdo equivalente ao mínimo existencial, já que diversas são as modalidades de direitos sociais previstas na Constituição. A título de exemplo, no caso do direito à saúde, a correspondência entre núcleo essencial e mínimo existencial parece bastante clara, o que não ocorre quanto ao direito fundamental à participação nos lucros do empregador. Entende-se, por derradeiro, que o mínimo existencial não substitui os direitos sociais como direitos fundamentais autônomos, pois enquanto estes são “direitos de cunho negativo, uma vez que dirigidos a uma abstenção, e não a uma conduta positiva por parte dos poderes públicos”, aquele é protegido tanto negativamente, contra as intervenções do Estado, quanto garantido positivamente, pelas prestações Estatais.
5) Discorra sobre a relação entre dignidade da pessoa humana e
direitos fundamentais, mediante exemplos. A dignidade da pessoa humana como base do ordenamento jurídico e fundamento de todos os direitos fundamentais, sendo estes desdobramentos da aludida dignidade, por sua vez devem ser interpretados à luz daquela, de forma que a dignidade humana está intimamente ligada aos direitos fundamentais, reconhecendo nela a proteção dos direitos fundamentais de todas as dimensões. Assim, reconhecer os direitos fundamentais é atender e zelar pela dignidade humana. Vale ainda acrescer, que como todos os direitos fundamentais, a dignidade humana não é absoluta, a exempli da vida, que pode ser relativizada em caso de guerra declarada. Noutro horizonte, há quem defenda que a dignidade humana em alguns casos deve ser encarada como direito absoluto, sendo aplicada de forma irrestrita, a exemplo da tortura, escravidão, tratamento desumano e degradante, proibidos em sua essência em atenção à dignidade da pessoa humana. A definição mais completa é afirmar que a dignidade humana é gênero, dos quais os direitos fundamentais é espécie.
6) Dignidade da pessoa humana é um princípio e/ou direito
absoluto? Inserido no texto constitucional, dentre os Fundamentos do Estado Democrático de Direito, artigo 1º, III, está o princípio da Dignidade da Pessoa Humana. Considerado como um elemento basilar, serve de alicerce para todos os outros direitos do homem e do cidadão, estabelecidos como direitos e garantias fundamentais – e direitos e deveres individuais e coletivos, previstos no artigo 5º da Carta Magna. Contudo, como um princípio fundamental, em que pese a sua supremacia valorativa, deve ser harmonizado com os demais princípios constitucionais. Deve ser relativizado e submetido a um juízo de ponderação no caso concreto. Não há princípios absolutos no sentido de uma imunidade total a restrições. Mesmo prevalecendo em face dos demais princípios, não há como afastar a necessária relativização do princípio da dignidade da pessoa humana em homenagem à igual dignidade de todos os seres humanos. No entanto, convém ressaltar que este princípio é visto por dois prismas. Do ponto de vista de que a dignidade é qualidade inerente à essência do ser humano, ela constitui-se em um bem jurídico absoluto, e, portanto, irrenunciável, inalienável e intangível. Colocando-se em questão, porém, sob o prisma de se saber qual é exatamente o conteúdo de dignidade que se constata nos direitos fundamentais, levando-se em consideração que estes sempre têm uma carga de conteúdo da dignidade, mesmo que mínima, podendo ou não fazer parte do núcleo essencial de tal direito, analisa-se a relativização da dignidade diante do exame de um caso concreto, já que esta seria a única forma de considerar cada norma de direito fundamental de modo objetivo e subjetivo, nos termos da ofensa.
Garantismo Penal Integral (e Não o Garantismo Hiperbólico Monocular) e o Princípio Da Proporcionalidade_ Breves Anotações de Compreensão e Aproximação Dos Seus Ideais