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Escola Secundária de Paços de Ferreira

Ano letivo 2022/2023

Disciplina de Filosofia- 10º ano

ENSAIO FILOSÓFICO:
Pode a guerra ser moral? É a guerra moral ou imoral?

A história tem mostrado que a guerra faz parte da vida humana, desde tempos imemoriais. Segundo
alguns autores, a guerra faz mesmo parte da natureza humana e muito dificilmente será erradicada.
Dado o seu carácter violento e as enormes consequências para a vida dos cidadãos e das sociedades, a
guerra é uma fonte óbvia de questões de natureza moral. A questão mais importante é a de tentar
perceber se a guerra pode ser considerada, em alguma circunstância, como um comportamento moral ou
se é inequivocamente imoral. São quatro as teorias que tentam responder a esta questão: o Realismo, o
Pacifismo, o Utilitarismo e a Guerra Justa.
Neste ensaio filosófico iremos refletir sobre a moralidade da guerra à luz do Realismo e do Pacifismo,
tentando responder ao problema: “Pode a guerra ser moral? É a guerra moral ou imoral?”
De acordo com o Realismo, a guerra é amoral, ou seja, é uma situação de exceção à qual não se
aplicam os conceitos morais. Na verdade, os realistas consideram que a aplicação de conceitos morais à
guerra é não só desadequada, como imprudente e potencialmente perigosa. A expressão “em tempos de
guerra, as leis calam-se” é usada com frequência para resumir estas ideias realistas. A única regra válida na
guerra é a do “direito do mais forte à liberdade”, sendo obrigação do estado fazer tudo ao seu alcance para
sair vitorioso.
Em resumo, o Realismo não glorifica a guerra, mas assume que a ética e a guerra são incompatíveis.
Os realistas partem do princípio de que todos os seres humanos são cruéis e egoístas pelo que é
necessário a existência de um estado forte, que regule as relações entre os indivíduos e evite guerras entre
todos. Assim, o realismo encara a guerra como um mal necessário à segurança e aos interesses nacionais.
Além disso, os realistas consideram que os estados que têm em conta normas de natureza moral nas
suas relações com outros estados ficam numa situação de fragilidade. Ou seja, para o estado servir
eficazmente os seus cidadãos, não pode agir de acordo com regras morais, uma vez que os outros estados
estarão dispostos a fazer tudo para atingirem os seus objetivos. O realista orgulha-se de “ver as coisas tal
como elas são” e de perceber que nas relações internacionais só existem duas alternativas: dominar ou ser
subjugado.
Em resumo, são dois os principais argumentos apresentados pelos realistas para considerar a guerra
amoral:
1. Se a guerra é uma continuação da atividade política, então, uma vez que a política é amoral, a
guerra também será. (perspetiva descritiva)
2. Se qualquer estado que decida impor limites éticos à sua ação militar estará numa situação de
desvantagem estratégica perante todos os outros, colocando em risco a sua própria segurança,
então não devem ser impostos limites morais à ação militar dos estados, isto é, não devemos
“moralizar” a guerra. (perspetiva normativa)

O Realismo descritivo e normativo, respetivamente, podem ser refutados com as seguintes


objeções:
1. Se, enquanto indivíduos, existem limites para aquilo que nos é permitido fazer para proteger ou
promover os nossos interesses, então o simples facto de nos juntarmos em grupo e nos
declararmos um estado não nos dá o direito de fazer algo para proteger ou promover os interesses
coletivos que nenhum de nós sozinho teria o direito de fazer.
2. Se é verdade que se não “moralizarmos” a guerra, corremos o risco de perder o apoio dos civis
necessário para a vitória, então existem razões de estado para impor limites morais à ação militar.
E se existem razões de estado para impor limites morais à ação militar dos estados, isto é, para
“moralizar” a guerra, então ainda que as únicas justificações disponíveis no domínio político fossem
as “razões de estado” (nomeadamente, a influência internacional e a segurança nacional), teríamos
o dever de impor limites morais à ação militar dos estados, isto é, de “moralizar” a guerra.

Os realistas podem responder a estas objeções, referindo que um estado forte protege os seus cidadãos e
que as guerras podem evitar conflitos de maiores dimensões entre os cidadãos de diferentes estados, ou
seja, a guerra poderá ser uma forma organizada de os humanos lutarem, sem que se revoltem todos uns
contra os outros.

Refetindo, agora, sobre a moralidade da guerra à luz do Pacifismo, concluímos que, de acordo com
esta corrente de pensamento, a violência e a guerra nunca são justificáveis, e que a solução para conflitos
deve ser encontrada através de meios pacíficos, como o diálogo e as negociações. O Pacifismo, ao contrário
do Realismo, não separa a ética da guerra, pelo contrário, consideram que a guerra pertence à esfera da
moral. Na verdade, não considera que a guerra seja amoral, mas sim imoral, constituindo um crime contra
a humanidade e sendo sempre contrária a todos os preceitos morais. Segundo os pacifistas, há uma
condenação total da guerra, independentemente dos motivos e das causas que a originaram, havendo
também uma recusa absoluta do recurso à força e à violência, mesmo em caso de autodefesa. O uso da
guerra é intrínsecamente reprovável: jamais a destruição, a dor e toda a espécie de sofrimento e horror
que acompanham as guerras serão recompensados por qualquer vantagem moral ou material.
O Pacifismo é uma corrente complexa e heterogénea, pois reúne perspetivas de pensamento muito
diferentes entre si, mas que concordam numa posição antiguerra e favorável à paz. O Pacifismo
abolicionista defende que a humanidade deve empenhar-se em pensar a paz e não a guerra. Segundo esta
perspetiva, os pacifistas preferem a elucidação das condições para abolir a guerra e a criação de uma nova
ordem institucional, na qual domine a legalidade, a justiça, a cooperação e a paz. O Pacifismo teológico
radica nas éticas das virtudes: a guerra é a realidade menos apropriada para o exercício das verdadeiras
virtudes, tais como a caridade, o amor, a honestidade, a tolerância e o perdão, o que impede o objetivo da
vida, que é o pleno desenvolvimento das faculdades do ser humano e da sua excelência moral. O Pacifismo
deontológico baseia a sua oposição à guerra na inviolabilidade dos direitos, nomeadamente dos inocentes,
e na obrigação moral de não matar outros seres humanos devido às suas inspirações religiosas e laicas. De
acordo com o Pacifismo consequencialista, a guerra é contraproducente, ou seja, os benefícios da guerra
nunca superam os seus custos, devido ao elevado número de mortes e ao sofrimento que provoca. A
violência é geradora de mais violência e é responsável pela maximização da infelicidade para o maior
número de pessoas.
Em resumo, os principais argumentos apresentados pelos pacifistas para considerar a guerra imoral
são os seguintes:
1. A guerra envolve necessariamente a morte intencional de seres humanos.
2. Matar intencionalmente seres humanos é sempre moralmente injusto.
3. Não existe nenhuma razão válida para justificar uma guerra.

Estes argumentos podem ser refutados com as seguintes objeções:


1. Nem todas as guerras envolvem necessariamente a morte intencional de seres humanos. Por vezes,
algumas baixas de guerra são encaradas como “danos colaterais”, isto é, como acontecimentos negativos,
mas não intencionados pelos combatentes.
2. A guerra pode ser, por vezes, justificada. O Pacifismo não contribui para evitar o fim das guerras,
mas, na verdade, falseia a realidade ao defender que todas as guerras são ilegítimas.
3. A paz, sem direitos, não é paz. A paz na injustiça é opressão. Defender o pacifismo absoluto é
regredir na história da humanidade.
Como resposta a estas objeções, os pacifistas poderão referir que é difícil, ou mesmo impossível,
sustentar a ideia de que numa guerra as mortes não são provocadas intencionalmente. Adicionalmente,
podem responder que nenhuma guerra poderá ser justificada, tendo em conta toda a destruição e
sofrimento causados. Além disso, uma sociedade que viva em paz é, potencialmente, uma sociedade justa
e feliz.

Assim, e em jeito de conclusão, podemos constatar que a moralidade da guerra é um tema complexo e
de análise difícil e controversa. O Realismo e o Pacifismo são duas correntes que tentam dar resposta a este
problema. Estas correntes têm em comum o princípio de que a guerra não pode ser considerada um ato
moral, não obstante apresentam ideias muito demarcadas e distintas. Conhecer melhor estas correntes de
pensamento contribui para uma importante reflexão sobre as causas da guerra e eventualmente sobre a
erradicação da mesma, se, efetivamente, tal for humanamente e socialmente alcançável.
BIBLIOGRAFIA/WEBGRAFIA

https://www.dicionariofmp-ifilnova.pt/guerra-justa/

Trabalho realizado por:

Diogo Leal, nº5, 10ºC

Afonso Reguenga, nº22, 10ºC

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