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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO”

FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

DISCENTE: Ailton Salvadori; Emanoely da Silva Chagas; Giovanna Harpia Terra


Oliveira; Natalia Ayumi Garcia Yoshida; Vítor Hungaro
RAs: 2012220432; 191220698; 201221993; 201224542; 201223201
DOCENTE: Profa. Dra. Marilia Carolina Barbosa De Souza Pimenta
PERÍODO: Vespertino
DISCIPLINA: Estudos Estratégicos
CURSO: Relações Internacionais

Estudos estratégicos do Japão

1. Introdução

O Japão está localizado ao leste no continente asiático, formado por grandes


quatro ilhas no oceano Pacífico. Após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) o
Japão se reconstruiu a fim de se tornar uma democracia vigente e com fundamentos
estabelecidos para a propagação da paz. O país é conhecido por sua ação pacifista
frente às questões das Relações Internacionais, a interação com nações próximas
como a China e as Coreias mostram-se subjugadas apesar da pouca afinidade entre
elas. O conflito com os países das regiões próximas está presente e abarca o Japão
de forma negativa, forçando-o a tomar medidas que busquem a segurança interna
do país.
Os problemas enfrentados pelo Japão em relação com a China ficam mais
evidentes quando houve o desrespeito às normas de segurança que foram
causadas no território japonês, como a violação do espaço aéreo nacional por
aeronaves chinesas e os testes nucleares da Coreia do Norte evidenciando uma
ameaça regional, bem como as relações divergentes com a Coreia do Sul. Nesse
cenário, o Japão procura intensificar suas relações diplomáticas abertas,
principalmente com a China, marcando o eixo bilateral mais forte do país. Assim, o
Japão se mantém diplomático em suas relações multilaterais com os países
próximos do continente asiático.
O discurso de Fumio Kishida, atual Primeiro-Ministro do Japão, mostra um
esforço em seu discurso em 2013, ainda ministro das Relações Exteriores, de
construir uma relação forte com a Aliança Japão-EUA, essa aliança tem por
propósito os interesses de segurança na região. O exercício da política como
estratégia japonesa é interpretado como objetivos claros em manter contato estreito
com os Estados Unidos e as relações diplomáticas com a China e região, em
cooperação mútua para relações multilaterais organizadas e síncronas.
Dessa forma, o Japão se esforça para acordos no corpo diplomático serem
pensados para a resolução da paz, assim, a formulação estratégica japonesa passa
pelos moldes ponderados a fim de atingir sua política externa como inclusiva e
sensata. Autores como Clausewitz e Aron detém o portfólio para explicar as
estratégias que concernem às nações em que a influência da teoria militar existe nas
Relações Internacionais e que o Japão se faz presente.

2. Enquadramento teórico-conceitual

Antes de analisar em profundidade a estratégia de segurança japonesa, é


importante se atentar ao quadro teórico-conceitual deste campo de estudos,
retomando autores e conceitos fundamentais para relacioná-los, e assim melhor
compreender os fenômenos da estratégia de segurança do Japão. Neste sentido, se
faz crucial compreender conceitualmente a guerra e o poder militar e como estes
recursos são utilizados como instrumento da política dos Estados. Sendo assim,
nesta seção do trabalho, abordaremos alguns autores clássicos das relações
internacionais no que tange aos estudos estratégicos e, sucintamente,
relacionaremos seus conceitos com o contexto japonês.
Um dos autores fundamentais para este entendimento teórico-conceitual dos
estudos estratégicos é Carl von Clausewitz. O autor foi pioneiro ao analisar
teoricamente o fenômeno da guerra com viés científico e racional ainda no século
XIX, por meio de sua célebre obra Da Guerra (1832). O conceito fundamental por
trás da obra é que o fenômeno da guerra é um instrumento do exercício da política
(CLAUSEWITZ, 1832). Neste sentido, o jogo político e as próprias interações
sociais, de maneira mais geral, consistem em um lado tentar submeter o outro à
suas vontades e valores e, assim, a guerra surge como uma forma de alcançar este
objetivo por meio do uso da força, o que é uma medida racional e para a qual há
uma série de normas legalmente estabelecidas (FERREIRA, 1994). No âmbito das
relações internacionais, esta noção indica que os Estados realizam um cálculo
racional, avaliando riscos e ganhos, para empregar a guerra como forma de impor
sua vontade a outro Estado.
No caso do Japão, a lógica de Clausewitz serve para compreender as guerras
sino-japonesas e a desmilitarização pós segunda guerra. O Japão não possui
jazidas abundantes dos minerais necessários para a industrialização e, como a
modernização econômica era uma prioridade política, a expansão foi vista como
necessária. Decidiu-se, então, por uma grande militarização do Estado e a anexação
da Coreia, da Manchúria, de Formosa (atual Taiwan) e de outros territórios chineses.
Eventualmente, porém, o conflito levou a um embargo de petróleo dos Estados
Unidos, o que fez com que a decisão de atacar Pearl Harbor e invadir o sudeste
asiático fosse uma ação política para adquirir combustível por meio da força. Após a
Segunda Guerra Mundial, a abertura do mercado dos Estados Unidos para o Japão
e uma onda de liberalização do comércio acabou com a necessidade expansionista
por motivos econômicos da política japonesa.
Outro autor clássico das relações internacionais que dá continuidade a esta
concepção de guerra trazida por Clausewitz é Raymond Aron. O autor reitera o
caráter político e social da guerra como posto por Clausewitz, colocando que “a
guerra, enquanto ato social, pressupõe a contraposição de vontades, isto é,
pressupõe coletividades politicamente organizadas, cada uma das quais quer
sobrepor-se às outras” (ARON, 2002, p. 69). Aron expande a concepção de
Clausewitz de que a guerra é um meio do exercício da política, argumentando que o
uso da força é, em si, uma forma de interação social subordinada à vontade política
do Estado, determinada por seu chefe máximo. Sendo assim, a guerra é um meio
para atingir um objetivo político que não é a simples destruição das forças armadas
do oponente (ARON, 2002), ou seja, a guerra não é um fim em si mesma, nesta
concepção. Neste sentido, pode-se analisar que, durante um conflito armado, o
protagonismo e poder de decisão final, na maior parte das vezes, é centrado nos
chefes de Estado, não nos chefes militares, pois são eles que determinam os
objetivos políticos do Estado, que determinam a ocorrência ou não do uso da força,
e conduzem o jogo político do qual a guerra é um instrumento.
No caso do Japão, o objetivo político dos Estados Unidos de impedir o
avanço do comunismo no leste asiático durante a Guerra Fria resultou em um
esforço para a reconstrução do Japão. Porém, como o país foi visto como o grande
inimigo asiático durante a segunda guerra, forçou-se uma constituição no Japão que
não permite o uso da força por outro motivo senão autodefesa. A teoria de Aron,
através da ideia de que o uso da força é uma decisão política e que possui um
objetivo político, ajuda a explicar a atual relação dos Estados Unidos com o Japão
no que concerne segurança, explicitando como e porquê os norte americanos
mantém uma presença tão grande no país asiático e porquê o Japão paga de bom
grado pela manutenção de bases e tropas estrangeiras em seu território.
Outro autor importante para o campo dos Estudos Estratégicos é Carl
Schmitt. Em O Conceito do Político (1932), o autor retoma a ideia de guerra
subordinada à política mas faz a análise focada na política em si, encontrando a
origem desta associação com a guerra. Schmitt define a política como a luta
constante entre dois grupos opostos pela imposição de sua ideologia e vontade
sobre o outro, no entanto, estes grupos reconhecem-se como inimigos e, portanto, o
conflito entre eles é inevitável (SCHMITT, 1932). Na concepção de política do autor,
há pouco espaço no jogo político para o debate racional e a pluralidade ideológica,
sendo o exercício da política em si um campo belicoso. Portanto, nesta concepção
de política, o uso da força para impor a vontade de um grupo sobre o outro surge
como um produto natural do jogo político, o que pode ser levado ao nível das
relações e dinâmicas entre Estados no sistema internacional para analisar conflitos
armados entre estes atores, entendendo suas origens e o motivo da escalada até o
uso da força. Outro ponto que esta concepção de política de Schmitt levanta é que,
sendo a política uma luta constante onde o conflito é inevitável, o uso da força para
a imposição de sua vontade a outro grupo, e por consequência a guerra, é então
considerado um meio não apenas natural mas também legítimo para o exercício da
política pelo Estado.
Central para a teoria de Carl Schmitt é o reconhecimento de uma inimizade a
partir de ideologias e vontades, o que faz com que, apesar dele ser um autor
realista, ele tenha traços críticos. A desconstrução da inimizade entre
norte-americanos e japoneses foi relevante para o passado de suas relações, mas o
recente reconhecimento da China como grande ameaça ao Japão é imperativo para
entender as estratégias atuais. Essa caracterização advinda da oposição de valores
é tão importante que levou o Japão a reduzir seu compromisso com o pacifismo e a
buscar alianças em lugares anteriormente improváveis, como com a Coreia do Sul.
Seguindo a risca a teoria de Schmitt, esse confronto eventualmente escalaria para
uma guerra, mas nesse ponto o grupo discorda do autor, pois, apesar de existirem
grandes tensões, a atual existência de armas nucleares, que não existiam na época
de Schmitt, e a grande interdependência cultural e econômica reduzem a
possibilidade de conflito bélico. De qualquer forma, é importante citar o autor para
poder falar sobre o papel da ideologia e da vontade na estratégia do Japão e no
reconhecimento de suas rivalidades regionais.

3. Documentos Oficiais discursos, internacionalidade e percepção

Conflitos e questões de segurança, bem como estratégias internacionais,


desempenham um papel crucial nas políticas do Japão nos últimos anos. Para
abordar esses desafios, o governo japonês tem se apoiado em documentos oficiais
de controle e especificações que detêm uma importância não apenas nacional, mas
também internacional.
Nos anos de 2013 a 2022, a estratégia japonesa concentrou-se
principalmente na região asiática, onde o foco central recaiu sobre as complexas
relações com a República Popular da China. À medida que a China cresceu tanto
economicamente quanto militarmente, ocorreu uma marcante militarização das
águas adjacentes ao Japão, como o Mar do Sul da China e o Mar do Leste da
China. Além disso, a Coreia do Norte, com sua crescente série de testes nucleares e
mísseis balísticos, também representou uma ameaça à segurança na região. Essa
proximidade geográfica forçou o Japão a desenvolver documentos e estratégias
protetivas e securitizadas em resposta às potenciais ameaças representadas por
essas duas nações.
Foi nesse contexto que o Japão estabeleceu o Conselho de Segurança
Nacional em 4 de dezembro de 2013 e publicou a Estratégia de Segurança Nacional
em 17 de dezembro de 2013. O ministro das Relações Exteriores da época, que é
agora o atual Primeiro-Ministro do Japão, Fumio Kishida, desempenhou um papel
fundamental na formulação dessas políticas estratégicas.
Esses mecanismos burocráticos foram elaborados com o objetivo de
enfrentar as crescentes ameaças vindas da China e da Coreia do Norte, mas
também com a finalidade de criar um palco para discussões estratégicas frequentes
sobre qualquer outro problema securitário que possa surgir na região. A publicação
de 17 de dezembro abordou uma variedade de posicionamentos e diretrizes de
segurança e defesa, estabelecendo oficialmente os interesses e estratégias de
segurança internacional do Japão em uma escala global.
Assim, o Japão não apenas busca lidar com os desafios específicos que
enfrenta na região asiática, mas também procura desempenhar um papel ativo no
cenário internacional, estabelecendo diretrizes claras para sua segurança e
estratégias de defesa que refletem seus interesses nacionais e contribuem para a
estabilidade regional e global.
Analisando o documento oficial de Estratégia de Segurança Nacional de
2013, o Japão possui três principais interesses e três principais objetivos nacionais.
Sendo os interesses nacionais: (I) manter a própria paz e segurança e assegurar
sua sobrevivência; (II) alcançar prosperidade ao Japão e ao seu povo, consolidando,
desse modo, sua paz e sua segurança; e (III) manter e proteger a ordem
internacional baseada em valores e regras universais. Já os objetivos descritos são:
(I) fortalecer a dissuasão, impedindo ameaças de alcançarem diretamente o Japão;
(II) melhorar o ambiente de segurança da região, prevenir e reduzir ameaças diretas
ao Japão, através do fortalecimento da aliança Japão-EUA, e realçar relações de
cooperação e de confiança com seus parceiros; e (III) melhorar o ambiente de
segurança global e construir uma comunidade internacional pacífica, estável e
próspera.

O NSS (National Security Strategy) representa a política básica do Japão


em relação à segurança nacional, com foco em assuntos diplomáticos e políticas
de defesa, baseados em uma visão de longo prazo de seus interesses nacionais.
O NSS especifica, como princípio fundamental da segurança nacional do Japão,
que o país contribuirá de forma mais proativa para garantir a paz, estabilidade e
prosperidade da comunidade internacional, ao mesmo tempo em que busca sua
própria segurança, bem como a paz e estabilidade na região Ásia-Pacífico, como
um "Contribuinte Proativo para a Paz", baseado no princípio da cooperação
internacional.

O NSS declara que a capacidade de defesa é o garantidor final da


segurança nacional do Japão, e o país construirá uma arquitetura de defesa
abrangente para proteger firmemente o Japão. Com base no NSS, o Ministério da
Defesa desenvolverá uma força de defesa conjunta altamente eficaz, buscará
garantir operações com flexibilidade e prontidão com base em operações
conjuntas e avançará na coordenação com o governo, governos locais e o setor
privado. Ao mesmo tempo, o Ministério da Defesa promoverá ativamente a
cooperação em segurança bilateral e multilateral com outros países, fortalecendo
a aliança entre o Japão e os Estados Unidos, em estreita coordenação com a
política externa do Japão.
(TRADUÇÃO NOSSA. Fonte: Ministério da Defesa, 2022)1

Portanto, a análise do documento oficial revela claramente que a estratégia


do governo japonês se concentra em abordar desafios internacionais por meio de
uma abordagem diplomática e de cooperação. Essa abordagem é fundamental para
atingir os interesses nacionais do país e, ao mesmo tempo, contribuir para a paz,
estabilidade e prosperidade na região asiática. Ademais, o Japão se esforça para se
posicionar como um "Contribuinte Proativo para a Paz" no cenário internacional, com
base no princípio da cooperação internacional. Isso significa que o Japão busca
desempenhar um papel ativo na promoção da paz global, trabalhando em estreita
colaboração com outros atores internacionais. A estratégia japonesa enfatiza que a
capacidade de defesa é crucial para garantir a segurança nacional, assim,
securitizando não apenas o país, mas também prevenir potenciais ameaças de
conflitos armados, particularmente as provenientes da China e da Coreia do Norte -
em uma perspectiva de 2013 a 2022. Portanto, o país está comprometido em
construir uma defesa abrangente e eficaz para proteger sua soberania e a
segurança de seus cidadãos.
Ao longo do período de 2013 a 2022, o Japão estabeleceu políticas e
estruturas para fortalecer sua capacidade de defesa, além de buscar uma estreita
cooperação com outros países, incluindo os Estados Unidos. Parceria com os EUA,
contudo, é fundamental para a segurança regional e a estabilidade no Pacífico, e o
Japão busca fortalecer essa aliança em consonância com sua política externa.

1
The NSS represents Japan’s basic policy on national security with a focus on diplomatic affairs and
defense policy based on a long-term view of its national interests. The NSS specifies, as Japan’s
fundamental principle of national security, that Japan will contribute even more proactively in securing
peace, stability, and prosperity of the international community, while achieving its own security as well
as peace and stability in the Asia-Pacific region, as a “Proactive Contributor to Peace” based on the
principle of international cooperation.
The NSS states that defense capability is the ultimate guarantor of Japan’s national security, and
Japan will build a comprehensive defense architecture to firmly defend Japan. Based on the NSS, the
MOD will develop a highly effective joint defense force, strive to ensure operations with flexibility and
readiness based on joint operations, and advance coordination within the government and with local
governments and the private sector. At the same time, the MOD will actively promote bilateral and
multilateral security cooperation with other countries, while strengthening the Japan-U.S. alliance, in
close coordination with Japan’s foreign policy. (Ministry of Defence, 2022)
No final de 2022 e começo de 2023, houve uma reformulação da estratégia
de segurança do Japão. Enquanto alguns pontos de objetivos gerais se mantiveram,
outras grandes mudanças ocorreram, principalmente no plano tático. Três
documentos foram apresentados, e destes analisaremos dois: a Estratégia de
Segurança Nacional (2022) e a Estratégia de Defesa Nacional (2022). A Estratégia
de Segurança Nacional apresenta os interesses, os princípios, os fundamentos e os
acontecimentos que guiam a ação do Japão em sua busca por segurança. Já a
Estratégia de Defesa Nacional trata dos objetivos de defesa e dos meios para
garantir esses objetivos. Enquanto o primeiro fala em um nível mais estratégico e de
segurança em várias áreas, a estratégia de defesa lida mais com questões militares.
Neste momento de segundo século do século XXI, o Japão enfrenta desafios
de segurança significativos, comparáveis aos da Segunda Guerra Mundial, com
perspectivas futuras da comunidade internacional incertas. Apesar disso, o
comércio, investimentos e inovação continuam a impulsionar a prosperidade
econômica global. E, dessa forma, o Japão se compromete a manter essas
perspectivas positivas.
Estamos, portanto, segundo o porta-voz do governo japonês, diante da
escolha entre um mundo de esperança e um de adversidade e desconfiança. Logo,
a segurança do Japão depende de sua influência em áreas de confronto
internacional e na liderança na resolução de desafios em áreas de cooperação,
ações as quais fortalecerão sua presença global.
Contudo, o documento do primeiro ministro Fumio Kishida diz que mesmo em
um ambiente de segurança complexo, o Japão, com sua estabilidade democrática,
sistema jurídico sólido, economia madura e cultura rica, buscará políticas baseadas
em valores universais e liderará na promoção da ordem internacional.
Na Estratégia de Defesa Nacional de 2022, o governo japonês reconhece que
o conflito entre a Rússia e a Ucrânia, além da tentativa da China para a mudança
unilateral do status quo, fazem com que a possibilidade de conflito no leste asiático
seja alarmante. Demais, a invasão de um país soberano por um membro do
Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU) indica que o Japão precisa ser
capaz de se defender e não depender completamente de organismos internacionais.
As grandes mudanças nos atores e na balança de poder dos países no sistema
internacional fazem com que seja necessária uma nova estratégia de defesa do
país, de maneira a assegurar a vida e o bem estar da população japonesa.
Os esforços para garantir a defesa do arquipélago nipônico explicitados neste
documento acabam focando em duas abordagens: proteção contra as capacidades
inimigas e nas novas tecnologias das guerras; e um fortalecimento da arquitetura de
defesa japonesa. Também segue com as relações próximas com os parceiros
usuais, em especial os Estados Unidos. O Japão se propôs a fazer uma grande
guinada para uma maior militarização, seguindo um “Defense Buildup Plan” (Plano
de Construção de Defesa), que envolve uma expansão das forças do país. A
remilitarização do país, segundo o documento, não seria um abandono do pacifismo,
mas uma guinada para um pacifismo ativo. A expansão das forças de segurança do
Japão adentram vários meios de guerra, mas existe uma maior atenção para
questões estratégicas da nova guerra, como a cibernética, o espacial e a captação
de informação, por exemplo. As Forças de Autodefesa (nome do agrupamento dos
exército, marinha e aeronáutica do Japão) também terão uma maior capacidade de
diálogo entre si, melhorando a arquitetura de defesa e permitindo mais treinos e
coordenação.

Em resumo, a estratégia do governo japonês se concentra na diplomacia,


cooperação internacional e na construção de uma defesa eficaz para proteger a
segurança do país e contribuir para a estabilidade regional e global. A análise desse
documento oficial revela um compromisso claro com a paz, estabilidade e
prosperidade na região asiática, com a prevenção de conflitos armados como um
objetivo central.

4. Balanço

O Japão, desde o desfecho da Segunda Guerra Mundial, tem sido


reconhecido por sua postura pacifista, delineada em sua constituição. Este
compromisso com a não-violência emergiu como uma resposta direta às feridas
profundas infligidas pelo conflito global e foi solidificado como um princípio
fundamental da identidade japonesa. Contudo, o contexto político global
contemporâneo desafia essa tradição pacifista, dando origem a debates intensos
sobre a necessidade de reforçar as políticas de segurança do país.
Uma das principais ameaças ao pacifismo japonês repousa na instabilidade
crescente na região da Ásia-Pacífico. Conflitos territoriais, notavelmente as tensões
com a China e a Coreia do Norte, têm colocado o Japão em uma posição delicada.
As atividades nucleares da Coreia do Norte e as operações militares chinesas no
Mar da China Meridional intensificaram as preocupações com a segurança nacional
japonesa. Diante dessas ameaças, há uma pressão crescente sobre o governo
japonês para reavaliar suas políticas de segurança e considerar estratégias que
assegurem a defesa eficaz do país.
Ademais, as mudanças políticas e econômicas globais desempenham um
papel crucial na reconsideração das políticas japonesas. Com o declínio da liderança
global dos Estados Unidos e o surgimento de outras potências regionais, o Japão se
encontra em uma encruzilhada, onde a revisão de seu papel no cenário internacional
torna-se imperativa. O fortalecimento das políticas de segurança emerge como uma
resposta a esse ambiente geopolítico em mutação, onde a estabilidade regional é
constantemente posta em xeque.
O debate interno no Japão sobre o reforço das políticas de segurança é
intrincado e multifacetado. Existem argumentos a favor de uma postura mais
assertiva, defendendo que a segurança nacional deve prevalecer como prioridade
máxima, mesmo que isso implique na revisão das cláusulas pacifistas da
constituição japonesa. No entanto, há vozes divergentes que sustentam que o país
deve preservar seu pacifismo a todo custo, mantendo-se fiel aos princípios que
definiram sua trajetória pós-guerra.
Mesmo que o governo japonês opte por uma ruptura com seu longo
compromisso com o pacifismo, existem dúvidas sobre quão efetivos os seus
esforços pela militarização podem ser. A população se adaptou à postura não
intervencionista e muitos não querem ver uma guinada para maiores gastos
militares, principalmente porque o país já possui uma das maiores dívidas públicas
do mundo comparado ao PIB. Ademais, a demografia japonesa dificulta a
construção de uma grande força militar já que a pirâmide etária indica um agudo
envelhecimento da população, o que é um grande problema para as organizações
de segurança que requerem pessoal desproporcionalmente jovem. O complexo
industrial militar japonês, ainda que possua tecnologia e consiga vender para outros
países, não está acostumado a grandes pedidos por parte do governo, e vai
demorar um tempo para que este se acostume ao novo normal. Tanto se escolher
pela manutenção do status quo quanto se escolher pela militarização, o cenário
interno e internacional
Nesse contexto desafiador, é imperativo para o Japão encontrar um equilíbrio
delicado entre a necessidade de garantir sua segurança nacional e de preservar os
valores pacifistas que têm sido fundamentais para sua identidade pós-guerra. O
fortalecimento das políticas de segurança não deve implicar em uma
desconsideração integral do pacifismo, mas sim em uma adaptação cuidadosa às
novas realidades do cenário global. É essencial que o Japão busque soluções
diplomáticas e multilaterais sempre que possível, ao mesmo tempo que mantém
uma postura defensiva robusta para proteger seu povo e sua soberania.
Outro ponto que podemos destacar reside no engajamento proativo do Japão
na consolidação de seus laços com os aliados regionais, especialmente diante dos
desafios crescentes de segurança na região da Ásia-Pacífico. A política externa
japonesa é pautada na promoção da cooperação com os países vizinhos e aliados,
visando à estabilidade e segurança regional.
Dentre os aliados mais significativos do Japão, destaca-se os Estados
Unidos, com os quais mantém uma aliança de segurança robusta ao longo de
décadas. Ademais, o Japão tem direcionado esforços para fortalecer os laços com
outras nações na região, incluindo Austrália, Índia e os Estados-membros da
Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN). Estas parcerias têm se
concentrado em diversas áreas, como segurança, comércio, cooperação econômica
e desenvolvimento.
Além disso, o Japão tem participado ativamente em fóruns multilaterais na
região, tais como o Diálogo da Ásia Oriental, a Cúpula do Leste Asiático e a Parceria
Econômica Integral Regional (RCEP). Este último, um acordo de comércio regional,
foi ratificado por 15 países da Ásia-Pacífico em novembro de 2020.
Importa salientar que as dinâmicas geopolíticas são suscetíveis a mudanças
rápidas. Portanto, é importante que consultemos fontes de notícias fidedignas e
comunicados oficiais para obter informações atualizadas acerca das políticas e
iniciativas do Japão em relação aos seus aliados regionais.
Por fim, podemos destacar a Quadrilateral Security Dialogue (QUAD),
também conhecida como coalizão dos QUAD, representa uma iniciativa diplomática
e estratégica envolvendo quatro nações democráticas e influentes na região da
Ásia-Pacífico, a saber: Estados Unidos, Japão, Índia e Austrália. O propósito central
do QUAD é promover a segurança e a estabilidade nessa região, bem como facilitar
a cooperação em diversas esferas, incluindo segurança marítima, combate ao
terrorismo, gestão de desastres e desenvolvimento econômico.
A concepção de uma colaboração quadrilateral foi inicialmente proposta em
2007, embora não tenha progredido à época. Contudo, o diálogo foi revitalizado em
2017, em resposta às crescentes preocupações sobre a segurança regional,
particularmente relacionadas à assertividade em ascensão da China, notadamente
no Mar da China Meridional e em outras zonas sensíveis. Desde então, o QUAD tem
experimentado um aumento de impulso e ganhado proeminência como uma
plataforma de cooperação estratégica entre seus quatro países membros.
O QUAD realiza consultas periódicas em níveis ministeriais, além de
promover exercícios militares conjuntos e atividades colaborativas. Além das áreas
já mencionadas, os membros do QUAD também engajam-se em discussões sobre
tópicos relacionados ao desenvolvimento de infraestrutura, conectividade e
governança na região da Ásia-Pacífico.
Essa coalizão tem sido interpretada por alguns como uma resposta aos
desafios impostos pela ascensão da China como uma potência regional e global. No
entanto, é relevante destacar que os membros do QUAD têm reiterado
consistentemente que essa iniciativa não é direcionada contra nenhum país
específico, mas, em vez disso, representa um esforço conjunto para fomentar a paz,
a estabilidade e a prosperidade na região.
Em última análise, o futuro do pacifismo japonês e as suas implicações para
as políticas de segurança do país dependem da capacidade do governo e da
sociedade japonesa de encontrar um caminho que preserve os valores fundamentais
do país, ao mesmo tempo que o Japão responde eficazmente aos desafios cada vez
mais complexos do mundo contemporâneo.

5. Considerações finais

Os pós-Guerra para o Japão foi centralizado pelo estabelecimento da paz e


democracia em virtude do grande confronto em que passou o país com muitas
perdas e catástrofes. A estratégia japonesa em diante foi pacifista em conexão com
as relações internacionais e as tensões regionais emergem o Japão em posições
críticas em relação aos seus circunvizinhos, como China e a Coreia do Norte. As
ameaças que a China e a Coreia apresentam ao Japão são apresentadas como um
constrangimento à cultura pacifista da nação, constituindo intimidação nas relações
diplomáticas entre os países. Assim, existe uma pressão para o governo japonês
agir em detrimento da cominação que as nações regionais proporcionam ao Estado
do Japão.
Os instrumentos políticos dos Estados, como o poderio estratégico militar,
passa pelas teorias de Clausewitz que mencionam que a guerra é uma extensão da
política por outros meios, logo o cenário é possível identificar a estratégia que
concerne a política dos Estados no campo diplomático e que passa por uma
ferramenta, que é a guerra. Dessa maneira, Raymond Aron seguiu passos
semelhantes quanto a questão da guerra e se aproximou das teorias de Clausewitz.
Notadamente, Carl Schmitt conceituou os termos de Amigo e Inimigo juntamente
para os pontos do jogo político da guerra e das Relações Internacionais.
A consolidação da Aliança Japão-EUA compete um fortalecimento das
relações entre os dois países a fim de garantir a securitização e a segurança
internacional do país como um forte aliado político, militar e econômico que visa o
interesse dos Estados Unidos também como parceiro político. O estreitamento
político e militar entre Estados Unidos e Japão se verifica como uma estratégia para
a securitização do país e as relações entre os dois países demonstram muito no
pós-Guerra, com os investimentos Norte Americanos na economia japonesa. A
Associação das Nações do Sudeste asiático (ASEAN) demonstra junções mútuas
econômicas e políticas, a integração facilita as relações recíprocas entre os países
da Ásia, proporcionando um ambiente político para vínculos bilaterais.
Portanto, o Japão busca no corpo diplomático solução para alvoroços que
colocam Coreia do Norte e China como principais causadoras de tensões e ações
conflituosas entre os países, dificultando a segurança nacional japonesa e levando a
desafios de cunho diplomáticos mais exaustivos e intensivos. À vista disso, o Japão
se mantém diplomático em relação às ofensivas a sua segurança nacional, mesmo
que haja a necessidade, por alguns, de revisar o corpo da postura pacifista que o
Japão preserva, em conjunto com estratégias que visam o apoio estadunidense.

Referências bibliográficas
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edição. Editora da Universidade de Brasília, São Paulo, 2002.

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