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Universidade Federal de Ouro Preto

Instituto de Ciências Humanas e Sociais

Programa de Pós-Graduação em História

Dissertação de Mestrado

O LUGAR DO (A) HISTORIADOR (A) NO DEBATE DA LEI DE COTAS


RACIAIS NO BRASIL (2006)

Floriza Beatriz de Sena Paula

MARIANA, MG
2024
Floriza Beatriz de Sena Paula

O LUGAR DO (A) HISTORIADOR (A) NO DEBATE DA LEI DE COTAS


RACIAIS NO BRASIL (2006)

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação


em História da Universidade Federal de Ouro Preto,
como requisito para obtenção do título de Mestra em
História.

Área de concentração: Poder e Linguagens.

Linha de Pesquisa: Ideias, Linguagens e Historiografia.

Orientador: Dr. Valdei Lopes de Araujo.

Mariana, MG
2024
SISBIN - SISTEMA DE BIBLIOTECAS E INFORMAÇÃO

P324o Paula, Floriza Beatriz De Sena.


PauO lugar do (a) historiador (a) no debate da Lei de cotas raciais no
Brasil (2006). [manuscrito] / Floriza Beatriz De Sena Paula. - 2023.
Pau165 f.: il.: gráf., tab..

PauOrientador: Prof. Dr. Valdei Lopes de Araujo.


PauDissertação (Mestrado Acadêmico). Universidade Federal de Ouro
Preto. Departamento de História. Programa de Pós-Graduação em
História.
PauÁrea de Concentração: História.

Pau1. Brasil. [Lei n. 12.711, de 29 de agosto de 2012]. 2. Programas de


ação afirmativa - Brasil. 3. Historiografia - Brasil. 4. Historiadores. 5.
Racismo. I. Araujo, Valdei Lopes de. II. Universidade Federal de Ouro
Preto. III. Título.

CDU 376.7:94(81)(043.3)

Bibliotecário(a) Responsável: Iury de Souza Batista - CRB6/3841


MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO
REITORIA
INSTITUTO DE CIENCIAS HUMANAS E SOCIAIS
DEPARTAMENTO DE HISTORIA

FOLHA DE APROVAÇÃO

Floriza Beatriz de Sena Paula

O Lugar do (a) Historiador (a) no Debate da Lei de Cotas Raciais no Brasil (2006)

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal


de Ouro Preto como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em História

Aprovada em 29 de fevereiro de 2024

Membros da banca

Prof. Dr. Valdei Lopes de Araujo - Orientador(a) - Universidade Federal de Ouro Preto
Prof. Dr. Adilson Pereira dos Santos - Universidade Federal de Ouro Preto
Profª. Drª. Luisa Rauter Pereira - Universidade Federal de Ouro Preto
Prof. Dr. Marcello Felisberto Morais de Assunção - Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Valdei Lopes de Araujo, orientador do trabalho, aprovou a versão final e autorizou seu depósito no Repositório Institucional da UFOP em
29/02/2024

Documento assinado eletronicamente por Valdei Lopes de Araujo, PROFESSOR DE MAGISTERIO SUPERIOR, em
29/02/2024, às 16:01, conforme horário oficial de Brasília, com fundamento no art. 6º, § 1º, do Decreto nº 8.539, de 8 de
outubro de 2015.

A autenticidade deste documento pode ser conferida no site http://sei.ufop.br/sei/controlador_externo.php?


acao=documento_conferir&id_orgao_acesso_externo=0 , informando o código verificador 0676009 e o código CRC
A492F6D9.

Referência: Caso responda este documento, indicar expressamente o Processo nº 23109.002458/2024-76 SEI nº 0676009

R. Diogo de Vasconcelos, 122, - Bairro Pilar Ouro Preto/MG, CEP 35402-163


Telefone: 3135579406 - www.ufop.br
Dedicado à Milena, minha mãe e a melhor do
mundo.
AGRADECIMENTOS

Os agradecimentos a seguir serão pelos anos que me formo no curso de Pós-Graduação


em História da UFOP, Mestrado (2021-2023), mas que desde o dia 02 de maio de 2017,
enquanto graduanda, me fiz viva nessa Instituição e a fiz de vida, ocupando-a ao máximo.
Aos valiosos ensinamentos que tenho adquirido desde o fatídico 2 de junho de 2023,
quando meu pai foi acometido por um Acidente Vascular Cerebral (AVC), mergulhando-me
em um mar de angústia que distorceu minha percepção do tempo. Este momento desafiador
tem sido uma escola árdua, mas rica em lições que moldam minha jornada.
À minha família pelo apoio e carinho de sempre, mãe, pai, irmã e cunhado, nos nomes
de Milena, Magno, Nayara, Clarice e Luís Guilherme.
Ao meu namorado Miguel pelos clichês que cabe um amor vivido.
Às minhas queridas vizinhas, amigas, minha segunda família, em especial Flaviana, Ana
Clara e Bernardo.
À Beth e ao Rosalvo por estarem endossando e incentivando a minha caminhada de
formação acadêmica, este in memorian.
Às minhas amizades de longa data; Lavínia, Gabriel e Marcus Vinicius, pelos cuidados
e presenças.
Às amizades que a cidade de Mariana e a Universidade Federal de Ouro Preto me
trouxeram; Phablo, Rogerinho, Raquel Martins e Diego. Em especial, agradeço à Raquel Miriã
pelas estadias em sua casa de Mariana sempre que eu precisei.
À Escola Municipal Paula Assis (EMPA) por me ajudar a concretizar meus sonhos
sendo o melhor meio necessário, com a melhor equipe de profissionais.
À minha musa inspiradora Ana Paula, que, sendo minha professora de História, sempre
me ensinou que por trás do que parece ser grande e universal sempre há pequenezas, sutilezas
e entrelinhas. Ao Edgar, meu professor de Língua Portuguesa, pelo carinho e ensinamentos.
À recente estadia na Escola Estadual Assis Resende como professora de História pela
qual pude apreender e ensinar, simultaneamente.
Às Biblioteca Municipal Antônio Gonçalves Pinto (Resende Costa, MG) e Biblioteca
Alphonsus Guimarães (UFOP, Mariana, ICHS), que sempre foram meu refúgio nos momentos
de maiores agitações reflexivas e que nesses espaços eu me encontrava com frequência,
realinhando-me. Em especial pelas possibilidades de inúmeras prorrogações de prazos
concedidas a mim, aluna esta que sempre deu passos maiores que as pernas.
Ao meu orientador, pelos instantes de troca que vêm desde a graduação, a partir da
disciplina de historiografia brasileira, que com seu olhar clínico muito bem me instruiu até aqui,
modéstia à parte.
Aos professores André Freixo, Marcelo Rangel, Luciano Roza e Adilson Santos, que
me renderam muitos gatilhos para pensar os meus pensamentos de formas variadas que não as
já acomodadas por ninguém além de mim.
Ao Núcleo de Estudos em História da Historiografia e Modernidade (NEHM) pelos
momentos de formação e confraternização.
Ao Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (NEABI) pelo alargamento de meus
horizontes de pesquisa e de vida.
À Comissão de Processos Seletivos (CPS-UFOP) pelos cursos de formação e
oportunidades de atuação.
Agradeço imensamente ao Grupo de Estudos sobre Intelectualidades Pretas – Lélia
Gonzalez (GESIP) por me formar enquanto intelectual negra.
Ao Centro Acadêmico de História (CAHIS) pela formação em militância estudantil
juntamente a de historiadora, e pelas pessoas especiais que conheci através deste; Eri, Lerrannya
e Patrick.
Ao Coletivo Negro Braima Mané (CNBM) que me foi família em meio a essa agitação
de estar fora de casa, longe dos nossos; Felipe, Thiago, Bruna, Lelis, Robert, Day, Mika e Wal.
Ao meu amigo e instrutor Thiago Oshiro e à turma do Kung Fu, que com periodicidade
nos reuníamos.
Aos cantos do São Gonçalo, praça Minas Gerais, pista de caminhada, e todos os outros
que foram lugares que muito caminhei e existi, com tudo que eu carregava em mim.
As pessoas que compuseram as bancas de qualificação e defesa desta pesquisa pelo
aceite e zelo para debater as questões apresentadas nesta; prof. Dr. Adilson Pereira dos Santos,
prof. Dr. André Lemos de Freixo, prof. Dr. Luciano Magela Roza, e profa. Dra. Luisa Rauter
Pereira.
E por último, justamente pelo seu lugar de relevância em minha formação,
À UFOP pela concessão das bolsas PIDIC e pelos programas de assistência estudantil
ao CNPq, pelas bolsas de Iniciação Científica
à CAPES, pelo financiamento da presente pesquisa
à PROPPI pelo auxílio financeiro aos eventos científicos que pude participar
à secretaria do PPGHIS pela ajuda para com todas as demandas formais para a execução
desta pesquisa.
Na volta ou na ida, toda escolha é ponto de partida
Mudanças climáticas na vida
Por dentro a tempestade
Por fora o sol brilha ainda
Até de copo vazio a gente brinda

Quando é ego? Quando é ambição?


Sua vontade ou sua missão?
Quando é amor? Quando é paixão?

Tantas balas te obrigaram a ser a prova delas


Tantas perguntas tu tá sempre numa prova, né?
Tanta saudade que não cabe mais no peito, né?
Tanta vontade, mas você não é perfeito fé

Mas siga a intuição, porque ela sempre foi bússola


Sempre na estrada do ouro e inshalá

Entre passos e tropeços


Acertos e erros
No fim da carta eu te mando um beijo

(BK; Nansy Silvvz, 2022, “Carta Aberta”)


RESUMO

À luz do manifesto contra as cotas raciais (2006), a pesquisa buscou tematizar o debate
mobilizado por historiadores (as) em torno da lei de cotas, em especial quando o discurso foi
publicizado em oposição. O objetivo foi compreender o porquê desses (as) profissionais da
História terem assumido essa postura mais conservadora à época, esses (as) que são por
natureza metodologicamente treinados (as) para identificar heranças historicamente construídas
ao adotarem passados sensíveis como tema de ensino e pesquisa, mas mesmo assim assumiram
um ônus público enviesado em preocupações e demandas sérias de recusa, muitas das vezes
negacionistas, eufemistas e/ou racistas. Suas posturas estiveram inseridas em um projeto
antirracialista que se absolutizou dentro de uma idealizada e não ingênua projeção de ciência
histórica neutra e imparcial e refletiu em suas produções, pronunciamentos públicos e formação
de futuros (as) professores (as). Apostamos ser incoerente dissociar “raça” enquanto categoria
analítica relevante para ler a história das relações étnico-raciais, esta que é a base de pactos
narcísicos.

Palavras-chave: Lei nº. 12.711/2012; lei de cotas; historiografia brasileira; historiadores (as);
racismo;

ABSTRACT
In light of the manifesto against racial quotas (2006), the research sought to address the
debate mobilized by historians surrounding the quota law, especially when the discourse was
publicized in opposition. The objective was to understand why these history professionals
assumed such a conservative stance at the time, individuals who are inherently
methodologically trained to identify historically constructed legacies by adopting sensitive
pasts as themes for teaching and research, yet still assumed a biased public burden concerning
serious concerns and demands for rejection, often denialist, euphemistic, and/or racist. Their
positions were embedded in an anti-racialist project that became absolute within an idealized
and not naïve projection of neutral and impartial historical science, reflecting in their
productions, public statements, and the formation of future teachers. We argue that it would be
inconsistent to dissociate "race" as a relevant analytical category for interpreting the history of
ethnic-racial relations, which is the foundation of narcissistic pacts.

Keywords: Law nº. 12,711/2012; quota law; Brazilian historiography; historians; racism;
LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Gráfico 1: Raça fenotipicamente atribuída, por “cor ou raça” (IBGE). ...................... 53


Gráfico 2: Década de formação: síntese. ..................................................................... 55
Gráfico 3: Ranking de IES formadoras por região e nível de formação. .................... 57
Gráfico 4: IES por década de formação: Graduação. .................................................. 57
Gráfico 5: IES por década de formação: Mestrado. .................................................... 58
Gráfico 6: IES por década de formação: Doutorado. .................................................. 58
Gráfico 7: Vínculos por IES à época. .......................................................................... 59
Gráfico 8: Atuação profissional. .................................................................................. 60
Gráfico 9: Disciplinas-irmãs. ....................................................................................... 61
Gráfico 10: Estado de naturalidade. ............................................................................ 62
Gráfico 11: Favoráveis: síntese. .................................................................................. 65
Gráfico 12: Gênero. ..................................................................................................... 72
Gráfico 13: IES por década de formação: Graduação. ................................................ 73
Gráfico 14: IES por década de formação: Mestrado. .................................................. 73
Gráfico 15: IES por década de formação: Doutorado. ................................................ 74
Gráfico 16: IES por década de formação: Especializações. ........................................ 76
Gráfico 17: Ranking de IES formadoras por região e nível de formação. .................. 77
Gráfico 18: Atuação profissional. ................................................................................ 78
Gráfico 19: Disciplinas-irmãs. ..................................................................................... 79
Gráfico 20: Proporção de historiadores (as) contrários (em %) .................................. 90
Gráfico 21: Proporção de historiadores (as) a favor (em %) ....................................... 90
LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Publicações sobre cotas em rejeição. ........................................................... 37


Tabela 2: Campo (dimensões, abordagens e domínios) de atuação/formação. ........... 60
Tabela 3: Campo (dimensões, abordagens e domínios) de atuação/formação. ........... 78
Tabela 4: Algumas lutas em defesa de isonomia racial para inserção de jovens negros
(as) no ensino superior. ........................................................................................................... 118
LISTA DE ABREVIATURAS

ADPF Arguição De Descumprimento De Preceito Fundamental


CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
CEERT Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades
CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
COA Colégio Objetivo Americana
DEM Partido Democratas
EB Ensino Básico
EIR Estatuto da Igualdade Racial
ES Ensino Superior
ET Ensino Técnico
FEESR Fundação de Ensino Eurípides Soares da Rocha
FGV Fundação Getúlio Vargas
FIOCRUZ Fundação Oswaldo Cruz
FMJ – MR Faculdade de Medicina de Jundiaí
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IES Instituições de Ensino Superior
INIVEM Centro Universitário Eurípedes de Marília
IUPERJ Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro
MEC Ministério da Educação
MG Minas Gerais
PCdoB – SP Partido Comunista do Brasil – São Paulo
PL Projeto de Lei
PLANAPIR Plano Nacional de Promoção da Igualdade Racial
PMDB – AL Partido do Movimento Democrático Brasileiro – Alagoas
PROGRAD Pró-Reitoria de Graduação
RJ Rio de Janeiro
SEPPIR Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial
SP São Paulo
STF Supremo Tribunal Federal
UCAM Universidade Cândido Mendes
UERJ Universidade do Estado do Rio de Janeiro
UFF Universidade Federal Fluminense
UFOP Universidade Federal de Ouro Preto
UFPR Universidade Federal do Paraná
UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul
UFRPE Universidade Federal Rural do Pernambuco
UFSJ Universidade Federal de São João del Rei
UFU Universidade Federal de Uberlândia
UGF Universidade Gama Filho
UnB Universidade de Brasília
UNESA Universidade Estácio de Sá
UNICAMP Universidade Federal de Campinas
UNIFRAN Universidade de Franca
URJ Universidade do Rio de Janeiro
USAID Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional
USP Universidade de São Paulo
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 17
1.1 A Lei de cotas raciais ................................................................................................. 20

1.2 A disciplina, o campo e o tema: História, história da historiografia e cotas raciais .. 26

1.3 O discurso histórico ................................................................................................... 30

2 SEJA CARTA PÚBLICA OU MANIFESTO: TODOS TÊM DIREITOS IGUAIS NA


REPÚBLICA DEMOCRÁTICA? ............................................................................................ 34
2.1 Algumas manifestações contra as cotas em 2006: chegando à fonte ........................ 34

2.2 Cento e treze cidadãos antirracistas contra as leis raciais .......................................... 35

2.3 Enfim o “manifesto contra as cotas raciais” .............................................................. 36

2.4 Sistematizando nove publicações sobre o manifesto contra as cotas e/ou outras
políticas públicas importantes para a agenda educacional do início dos anos dois mil: ...... 37

2.5 Divisões perigosas: políticas raciais no Brasil contemporâneo (2007) ..................... 39

2.6 O contra-manifesto: manifesto em favor da lei de cotas e do estatuto da igualdade


racial 42

2.7 O giro-linguístico do gênero “manifesto” .................................................................. 43

2.8 Conclusões ................................................................................................................. 46

3 PROFISSIONAIS DE HISTÓRIA NO DEBATE DA LEI DE COTAS RACIAIS NO


BRASIL, QUAIS SEUS LUGARES? ...................................................................................... 49
3.1 Historiadores (as) em oposição às cotas raciais: de onde eles (as) vêm? .................. 49

3.1.1 Historiadores (as) de formação ou que estavam vinculados (as) a programas e


departamentos de História que assinaram o manifesto em oposição à política. ............... 50

3.1.2 Raça fenotipicamente atribuída. ......................................................................... 51

3.1.3 Gênero. ............................................................................................................... 54

3.1.4 Década de formação. .......................................................................................... 54

3.1.5 IES de formação. ................................................................................................ 56

3.1.6 IES de atuação à época (2006). .......................................................................... 59

3.1.7 Atuação profissional. .......................................................................................... 60


3.1.8 Campo (dimensões, abordagens e domínios) de atuação/formação. .................. 60

3.1.9 Disciplinas-irmãs. ............................................................................................... 61

3.1.10 Estado de naturalidade. ....................................................................................... 61

3.1.11 Conclusões. ......................................................................................................... 62

3.2 HISTORIADORES (AS) A FAVOR DAS COTAS RACIAIS: DE ONDE ELES (AS)
VÊM? 64

3.2.1 Signatários (as) sem informações públicas. ........................................................ 65

3.2.2 Assinaturas com repetição. ................................................................................. 66

3.2.3 Centros institucionais signatários. ...................................................................... 66

3.2.4 Historiadores (as) de formação ou que estavam vinculados (as) à programas e


departamentos de História em defesa da política. ............................................................. 67

3.2.5 Historiadores (as) por gênero. ............................................................................ 71

3.2.6 IES de formação por década: Graduação. .......................................................... 72

3.2.7 IES de formação por década: Mestrado. ............................................................. 73

3.2.8 IES de formação por década: Doutorado. ........................................................... 74

3.2.9 IES de formação por década: Especialização. .................................................... 75

3.2.10 Região das formações pelas Universidades e ranking das IES formadoras por
nível de formação. ............................................................................................................. 77

3.2.11 Atuação profissional. .......................................................................................... 78

3.2.12 Campo (dimensões, abordagens e domínios) de atuação/formação. .................. 78

3.2.13 Disciplinas-irmãs. ............................................................................................... 79

3.3 Conclusões ................................................................................................................. 80

4 DIVISÕES PERIGOSAS: POLÍTICAS RACIAIS NO BRASIL CONTEMPORÂNEO (2007)


E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA A ANÁLISE DE MITOS E DISTORÇÕES
HISTORIOGRÁFICAS NO DISCURSO DE HISTORIADORES (AS) CONTRA AS COTAS
RACIAIS .................................................................................................................................. 92
4.1 José Roberto Pinto de Góes, O Globo, 2 de setembro de 2006, p. 57: “Histórias mal
contadas” ............................................................................................................................... 92
4.2 Ronaldo Vainfas, Revista de História da Biblioteca Nacional, n. 12, 2006, p. 83:
“Racismo à moda americana” ............................................................................................... 94

4.3 Manolo Florentino, A primeira versão deste artigo foi publicada com o título “DNA
do povo brasileiro”, Jornal do Brasil, 16 de fevereiro de 2002, p. 89: “Da atualidade de
Gilberto Freyre” .................................................................................................................... 95

4.4 Ricardo Ventura Santos e Marcos Chor Maio, Jornal do Brasil, 14 de abril de 2004,
p. 161: “Cotas e racismo” ..................................................................................................... 96

4.5 Francisco Carlos Palomanes Martinho, sem vínculo de postagem e sem data, p. 177:
“O pomo da discórdia: sobre as cotas raciais e o debate na Uerj” ........................................ 97

4.6 José Roberto Pinto de Góes, O Globo, 16 de agosto de 2004, p. 195: “O racismo vira
lei” 99

4.7 Marcos Chor Maio, Simone Monteiro, Paulo Henrique Almeida Rodrigues, O Globo,
4 de novembro de 2006, p. 235: “O SUS é racista?” .......................................................... 100

4.8 Marcos Chor Maio e Ricardo Ventura Santos, Correio Braziliense, 14 de abril de
2006, p. 287: “Um Brasil de cotas raciais?” ....................................................................... 101

4.9 Mônica Grin, 2006, p. 293: “O Estatuto da Igualdade Racial: uma questão de
princípio” ............................................................................................................................ 101

4.10 Sistematização dos argumentos por domínios temáticos frequentes: ...................... 103

4.11 Conclusões ............................................................................................................... 110

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................... 115


REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 127
ANEXOS ................................................................................................................................ 136
ANEXO A - A Íntegra do manifesto contra as cotas raciais. ............................................. 136

ANEXO B - Confira a íntegra do manifesto a favor das cotas. .......................................... 142


1 INTRODUÇÃO

A pesquisa concentrou-se sobre o discurso histórico contrário às cotas raciais no ensino


superior e técnico de nível médio brasileiro a partir do estudo do Manifesto contra as cotas
raciais assinado por 114 signatários de diversos lugares intelectuais em 2006 e publicizado
pelos mesmos à época. O material fora nomeado pelo corpo adepto por carta pública e opunha-
se à lei de cotas com o critério racial e ao Estatuto da Igualdade Racial.1
São acompanhados mais minuciosamente o perfil e posicionamento de 362 historiadores
(as) que assinaram o manifesto3, documento composto majoritariamente por “historiadores,
economistas, cientistas políticos, sociólogos e antropólogos da academia, mas também por
artistas”, como traz reportagem da Folha de São Paulo.4 Quando falamos do manifesto contra
as cotas, de 30 de maio de 2006, é importante mencionar outro documento que surgiu pouco
tempo depois, em 08 de julho de 2006; sendo, pois, o manifesto a favor das cotas raciais e do
Estatuto da Igualdade Racial (ou o contra-manifesto)5. Esse com outras posturas perante o tema
da lei de cotas, demandas, denúncias, impulsos, medos, forças, sujeitos e bolhas. Ambos
documentos, no entanto, alegando a urgência de um antirracismo perante a lei, seja aderindo o
critério racial de políticas de ação afirmativa ou refutando-o. Buscaremos mapear, portanto, a
luta do início dos anos dois mil que se dizia antirracista e antirracialista, bem como essa disputa
refletiu na história acontecimento, na História disciplinar e na implementação da Lei
12.711/2012.
Para introduzir a pesquisa, nos perguntamos constantemente:
Para a produção do conhecimento histórico, é possível separar teoria e prática? Aqui
pensando sobre os (as) vários (as) signatários (as) que se opuseram à Lei, mas que possuíam
muitas publicações sobre raça, racismo, escravidão, Áfricas, ou seja, estando inseridos no que

1
A ÍNTEGRA (2006). A exemplo de Antônio Carlos Jucá de Sampaio, Cláudia Wasserman, Francisco Carlos
Palomanes Martinho, Isabel Idelzuite Lustosa da Costa, Lilia Katri Moritz Schwarcz, Manolo Garcia Florentino,
Ronaldo Vainfas.
2
A amostra abarca 36 historiadores (as) e um sociólogo de destaque para com o tema e iniciativa de construção
do material.
3
Na intenção inicial, referem-se ao documento por “Carta pública”, mas na pesquisa adotaremos o nome mais
popular, manifesto. E adotaremos as nomenclaturas originais de a favor/favoráveis e contrários (as) didaticamente,
mas a pesquisa tem convicção de que o debate é muito maior e menos polarizado do que parece.
4
Consultar: https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2022/02/11-signatarios-de-carta-de-2006-contra-cotas-
raciais-dizem-por-que-mudaram-de-
posicao.shtml#:~:text=O%20manifesto%20foi%20assinado%20majoritariamente,Gullar%20(1930%2D2016).
5
CONFIRA (2008). Pois ao que a maioria dos sites dizem ao divulgarem este documento, referem-se a ele como
uma reação ou resposta ao manifesto contra as cotas. Alguns nomes que reuniu: Adriana Pereira Campos, Hebe
Mattos, Ilka Boaventura Leite, Lourenço Cardoso, Luís Reznik, Márcia Motta, Maria Nilza da Silva, Marta
Amoroso, Martha Abreu, Petrônio Domingues, Rachel Soihet, Ricardo Salles, Robert Slenes, Roquinaldo Ferreira,
Sidney Chalhoub, Silvia Hunold Lara, Sydenham Lourenço Neto.

17
poderíamos chamar de temáticas que realcem passados sensíveis e questões importantes do
tempo presente para a população negra brasileira.
Por passados sensíveis entendemos a temporalidade subjetiva de domínios temáticos
para a construção de conhecimento histórico científico, popular, didático, sério, de
entretenimento, dentre outras formas de apresentação. Trata-se dos passados que não passam
abrupta e evolutivamente, mas que deixam heranças para as investigações e vivências do tempo
presente – de forma dolorida, para alguns sujeitos históricos, e de forma intensa em disputas e
carga herdada. Por mais que haja na contemporaneidade da História a necessidade por unir
temporalmente as experiências, produzindo um sentido e um senso de orientação, há quem
busque “embaralhar e redistribuir as cartas conceituais do tempo e da História”.6
Para a produção de narrativas históricas do ato de historiar é possível pensar a relação
entre agência e estrutura de forma simétrica? Pois quando tratamos de historiografia e sua
autonomia de atenção e ação, sempre há o fato de nos primórdios a cultura letrada originária
estar vinculada a um Estado escravista e não ter tanta autonomia de pensar “fora da caixinha”
da época, principalmente porque o financiamento vinha dessas comunidades nacionais. No
entanto, com a expansão do mercado editorial, nesse período havia uma história prática e do
cotidiano que não deveria ser contada, que o editor não podia mostrar: da escravidão como
motor civilizacional, como instituição. (ARAUJO, 2011) Com a naturalização da condição
colonial pelo mercado editorial, houve a manutenção de epistemicídios7 em que a produção de
outras intelectualidades e outras questões não circulavam – quando queriam circular por lugares
densamente canônicos. Haviam questões e denúncias ao que era tido como norma, estas que
por vezes poderiam estar ou não inseridas em ambientes formais e institucionais.8
De todo modo, pretendia-se educar moralmente a nação e o corpo letrado assumiu esse
papel, a fim de indicar uma unidade do tempo9 e a partir da condição colonial naturalizada. E
como Assunção (2022) bem encaminha, pensar fora da condição do racismo à época se quer
era uma opção, pois não a viviam, sendo estes intelectuais orgânicos do sistema escravista.
(ASSUNÇÃO, 2022, p. 241)
Mas, quais as bolhas identitárias que participavam da produção dessa forma de narrativa

6
PEREIRA (2019). O contexto desse trecho será trazido nas Considerações Finais da pesquisa.
7
Consultar conceito em CARNEIRO (2005)
8
Se tratando de um público analfabeto, eram restritas as contribuições fora do âmbito formal da circulação, mas
haviam acadêmicos e letrados em confronto. A exemplo do que trazem Assunção e Trapp (2021), quando
tematizam o pensamento afrodiaspórico e (re)escrita da história em Clóvis Moura e Beatriz Nascimento, que
buscam uma reconstrução disciplinar da comunidade historiadora e a descolonização do cânone da história da
historiografia.
9
ARAUJO (2011), p. 289.

18
histórica?10 Nesse ponto, também, Assunção (2022) encaminha mais uma nuance que ilustra
outra postura em curso: refletir no quanto que uma vida extra-acadêmica rompe com posturas
muito maciças de trabalhar. Situando aqui a historiografia como um ofício sério, mas que não
é o único campo que tematiza questões de produção, consumo e circulação da história que
acontece. (LE GOFF, 1993)
Para considerar esse aspecto do lugar político de ser intelectual e vice-versa, pensamos
na construção do perfil prosopográfico no capítulo dois desta dissertação, para enunciar os
lugares de produção e de vida de historiadores (as) signatários (as) em oposição para ver mais
do contexto de resposta à lei à época, se veríamos algumas afinidades, distâncias e contrastes.
Nomeamos os lugares de atuação e formação desses (as) intelectuais acadêmicos (as), regiões
de maior concentração, bem como suas décadas de formação e nível de formação (graduação,
mestrado, doutorado, especialização), lugares de pertencimento étnico-racial, gênero, as
disciplinas que estão em maior contato interdisciplinar com a História e seus domínios
temáticos de trabalho.
Buscamos a historiografia para melhor verificar esses lugares, campo este que inventa-
se, cria-se, reescreve-se, cancela-se. As constantes novas questões propiciadas pelo
reconhecimento de que o discurso da história possui um lugar de pertencimento, o giro-
linguístico (ARAUJO, 2006), problemático como o clima da história é definido por Le Goff
(1993), estão vindo mais pela consciência histórica influenciada por prognósticos futuristas ou
por diagnósticos de lastros passados, sendo por continuum ou ineditismo? Ou pela parcialidade
do próprio momento histórico?
Esta dissertação de mestrado discute o tema da lei de cotas a partir da história da
historiografia, da história intelectual, da teoria da história, enfatizando questões étnico-raciais
e a disciplinarização da comunidade historiadora para apreender o momento histórico de 2006
em suas dimensões de ação intelectual-acadêmica, política-formal, popular-manifestária. Nos
questionamos se esses (as) signatários (as) publicamente em oposição estariam presos (as) à
questões geracionais e de formação ou se tinham outras vias de observação e ação que a época
demandava, não deixando de ter no nosso horizonte que para ser historiador (a) é exigido que
assumamos posturas, e requer um tempo para analisarmos as fontes e posicionarmos a partir
destas.

10
ARAUJO (2011); RODRIGUES (2022). A exemplo de Clóvis Moura e Abreu e Lima, que à época de suas
produções receberam “nãos” no âmbito acadêmico como algumas barreiras históricas, cujas temáticas foram
rejeitadas. Vanhagen no IHGB rejeitou Abreu e Lima pelo distanciamento do mundo lusitano em seu compêndio
e outras assimetrias aos padrões do que pedia a história do Brasil; Moura com a demora de mais de 7 anos para
publicar “Rebeliões da Senzala” (1959), sendo negligenciado por Caio Prado Júnior frente à Editora Brasiliana.

19
Porém, as ações podem, também, serem referentes a um instinto a priori, presentista e
interno, uma vez que os anseios e questionamentos não surgem em um vácuo. O gênero
manifestário, como apresentaremos no capítulo um, demonstra essa agitação de ser política e
intelectualmente convocado (a) para a cena pública e popular do debate.
Apostamos que espaços plurais de vida e profissão são necessários para romper com
“bolhas identitárias” viciadas, tropos historiográficos já ultrapassados em questão de revisão e
pactos negativamente discriminatórios; pois, nem tudo é de autonomia radical do presente em
relação ao passado, mas há uma construção histórica para ser e acontecer como tal.

1.1 A Lei de cotas raciais


Cabe aqui reconstituir passados sensíveis que solidificaram a postura receosa do início
dos anos dois mil ao avanço de algumas políticas públicas, a exemplo do Programa de Apoio a
Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI), Estatuto da
Igualdade Racial, da ação afirmativa de cotas que estava em curso desde o Projeto de Lei
73/1999, de Nice Lobão11. A lei de cotas raciais, atual Lei 12.711/2012, ganhou mais
visibilidade quando ainda era o Projeto de Lei 3.627/2004, em que o critério racial e social da
pauta das cotas tornou-se indispensável pelo Poder Executivo, na figura de Luiz Inácio Lula da
Silva.12

Saliente-se que o PL no 3.627/2004 tramitou por oito anos e ao mesmo foram


aditadas outras proposições similares. Segundo Fernandes (apud Santos,
2011), entre 1995 e 2005 tramitavam na Câmara dos Deputados 55
proposições nesse sentido, número que se ampliou após a apresentação do PL.
Sua tramitação no Congresso foi polêmica e na Câmara foi aditado ao PL nº
73/1999 (Brasil, 1999), de autoria da então deputada Nice Lobão, e no Senado
em 2008 tramitou vinculado ao Projeto de Lei do Senado nº 180/2008 (Brasil,
2008). Sua efetiva aprovação deu-se em 29/08/2012, quando foi sancionada a
Lei nº 12.711, dispondo “sobre o ingresso nas universidades federais e nas
instituições federais de ensino técnico de nível médio (...)”. (Brasil, 2012)
(SANTOS, Coleção Estudos Afirmativos, v.5, 2015, p. 19)

Para tratarmos da lei de cotas, Adilson Pereira dos Santos, cujo atual cargo ocupado é o
de Pró-Reitor de Graduação (PROGRAD) da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) é
uma grande referência no tema, sendo estudioso dos temas educacionais de inclusão/exclusão,
políticas para o ensino superior, avaliação institucional, ações afirmativas e educação para as

11
O projeto de Nice Lobão ainda não tinha adendos sobre cotas raciais, zelava pela reserva de cinquenta por cento
das vagas para serem preenchidas mediante seleção de alunos nos cursos de ensino médio - cota universitária.
12
PAULA (2009). Disponível em:
https://www.untref.edu.ar/raes/documentos/Reforma%20da%20Educacao%20Superior%20do%20Governo%20
Lula.pdf

20
relações étnico-raciais. Em sua Tese de Doutorado (2018) ao Programa de Pós-Graduação em
Educação (UFMG), sob a orientação de Maria do Carmo Lacerda Peixoto, o mesmo trata das
cotas raciais como objeto a partir da “Implementação da lei de cotas em três universidades
federais mineiras (2018)”.
A partir desse autor, podemos refletir sobre o que é a Lei, o histórico de demandas até
o modelo mais atual da política, contexto de implementação e manutenção, público alvo,
debates em defesa, recusa e de agitação geral. Bem como em argumentos atuais em prol da
relevância empírica e militante do tema. Santos analisa a realidade de três Instituições de Ensino
Superior (IES) brasileiras, todas situadas no Estado de Minas Gerais.
E logo na introdução, refere-se à atual lei de cotas da seguinte forma:

Trata-se de uma política pública de ação afirmativa que se destina aos egressos de
escolas públicas, pessoas de baixa renda, pretos, pardos, indígenas e pessoas com
deficiências.
O programa de reserva de vagas, aprovado pela Lei de Cotas, corresponde, em parte,
ao que foi proposto no Projeto de Lei (PL) nº. 3.627/2004, encaminhado pelo
Presidente Luís Inácio Lula da Silva ao Congresso Nacional, que “institui Sistema
Especial de Reserva de Vagas para estudantes egressos de escolas públicas, em
especial negros e indígenas, nas instituições públicas federais de educação superior
[...]” (BRASIL, 2004). No Congresso esse PL foi aditado a outras iniciativas
semelhantes e tramitou por vários anos. Durante o seu longo período de análise no
Legislativo houve muito debate e muita negociação, especialmente em relação aos
públicos a serem beneficiados. Foram explicitadas manifestações favoráveis e
contrárias, até que se chegou ao formato definitivo materializado na lei. (SANTOS,
2018, p. 23)

E em nome desse histórico de longa tramitação, debate e negociações, nessa pesquisa


(2021-2023) se fez útil estudar a respectiva lei e o debate em torno desta atualmente, uma vez
que em 2022 esta passara por revisão devido ao seu caráter temporário e que os meios para
execução desta são sempre um “pisar em ovos”. Por que não racializar para a aquisição de
direitos? Uma vez que desde sempre “os olhares brasileiros identificam o negro em qualquer
ambiente.”13

A Lei nº. 12.711 foi sancionada pela Presidente Dilma Vana Roussef no dia 29 de
agosto de 2012 e determinou que em todas as instituições federais de ensino superior
e de ensino técnico de nível médio seriam reservadas, no mínimo, 50% das vagas, em
todos os seus cursos e turnos, para candidatos egressos de escolas públicas. Destas
vagas, a metade deve ser destinada a pessoas com renda familiar bruta mensal per
capita de até um salário mínimo e meio. A outra metade pode ser destinada a pessoas
com renda superior a este valor. Além disto, nos dois subconjuntos de cotistas, deve
ser reservado um percentual de vagas específico para pretos, pardos e indígenas, de
acordo com a representação destes grupos nas respectivas unidades da federação em
que estejam sediadas as IES, com base no último Censo Demográfico do IBGE
(BRASIL, 2012a).

13
Trecho da arguição oral de Indira Quaresma na ADPF 186.

21
Assim, a subcota de cotas raciais tornou-se legítima, mas a questão racial não deixou de
ser tensa desde que se fez agenda pública. E o projeto pró-cotas raciais vingou, por assim dizer,
no entanto de forma subsumida à precedência em escola pública e renda per capita ao modo da
Lei nº. 12.711/2012 sancionada pela então presidente Dilma Roussef. Mas a maior adesão ao
critério social ainda é recorrente, negligenciando a realidade hierárquica étnico-racial brasileira.
Não era o que reivindicava a proposta embrionária dos movimentos negros sociais.

Paralelo à tramitação do PL nº. 3.627/2004, por aproximadamente uma década (de


2003 a 2012), diversas iniciativas de ações afirmativas foram adotadas em IES
públicas. Quatro modalidades foram as mais recorrentes: (i) cotas; (ii) subcotas; (iii)
vagas e (iv) bônus. As cotas consistiam em percentuais de reservas definidos nos
processos seletivos e as subcotas eram percentuais de reservas dentro de um
percentual de reserva maior. A modalidade vagas, compreendia várias alternativas:
fixas, variáveis ou suplementares. O bônus, por sua vez, era aplicado por meio do
acréscimo de pontos ou de porcentagem às notas de determinados candidatos.
(SANTOS, 2018, p. 24)

Assim se mantém aos dias de hoje em caloroso debate pelos mais de 6714 Projetos de
Lei em tramitação no Congresso Nacional desde o início dos anos 2000 reconhecidos pela
ABPN, projetos estes que visam retirar a referência racial da política.15

Do total, 20 ampliam direitos para a população racializada. Contudo, 31 configuram-


se como anticotas, sendo 23 deles em andamento na Câmara e oito no Senado. Outros
16 projetos abordam temas considerados laterais por não versar sobre a reserva de
vagas em específico, embora possam repercutir sobre os beneficiários da política, em
especial as populações negras. (QUEM, 2022, p. 24)16

E em 2012 podemos notar o embate pela Arguição de Descumprimento de Preceito


Fundamental (ADPF) de número 186, entreposta pelo Partido Democratas (DEM) contra a
Universidade de Brasília (UnB), cuja demanda partia da intenção de tornar ilegítimo o Plano
de Metas para a Integração Social, Étnica e Racial da UnB, que tensionava, primordialmente, o
que no começo do século XXI a UnB percebia em seu espaço, entre o corpo docente e discente,
sendo negros (as) apenas 2% e 1%, respectivamente.17 Reivindicavam, assim, por reserva de

14
QUEM (2022, p. 25) Disponível: < https://observatoriobranquitude.com.br/anticotas/ >
15
Ibidem 2022 apud JÚNIOR; LUZ 2022 Disponível: < https://pp.nexojornal.com.br/opiniao/2022/O-Congresso-
e-a-Lei-de-Cotas >
Ibidem 2022 apud RIBEIRO 2023 https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2022/06/24/31-das-
propostas-para-mudar-lei-de-cotas-preveem-reduzir-vagas-para-negros.htm
16
Ibidem Na nota de número 17, o Boletim do Observatório da Branquitude traz as categorias de levantamento da
ABPN, que se resumiriam em três: “PLs que restringem direitos; PLs que ampliam direitos; e PLs que tratam de
tema lateral.” (2022, p. 24)
17
ADPF 186 (2012) porcentagens apresentadas na fala de Indira Quaresma.

22
vagas, bolsas e moradia, para negros (as) e indígenas, mas o DEM acreditava que isso feria
artigos universalizantes da Constituição brasileira.
Mas, o que seriam ações afirmativas e qual seu propósito? Santos define-as bem:

As ações afirmativas são medidas especiais e temporárias, adotadas pelo poder


público ou pela iniciativa privada, que objetivam mitigar desigualdades
historicamente acumuladas, promover a igualdade de oportunidades e compensar
prejuízos decorrentes da discriminação passada ou presente. Tal como as conhecemos
atualmente, é possível afirmar que iniciativas dessa natureza têm origem na Índia, mas
são adotadas em diversos países ao redor do mundo. São, portanto, os Estados Unidos
da América o país que tem a mais expressiva experiência na sua utilização. No Brasil,
foi um tema amplamente debatido durante a primeira década do século XXI, ocasião
em que dividiu, e continua dividindo opiniões e envolveu múltiplos atores políticos,
na sua defesa e contrários a elas. (SANTOS, 2018, p. 23)

Portanto, a presente dissertação de mestrado tematiza as cotas raciais através do


manifesto contra tal ação afirmativa de 2006 para realçar o grau polêmico do debate ainda nos
dias de hoje, sempre exigindo muita cautela nos pronunciamentos, e por vezes, justamente por
esse “tabu”, a esfera pública é menos utilizada do que poderia ser para debater o tema e em sua
essência: cotas raciais, enquanto política pública de ação afirmativa para a população negra,
indígena e quilombola brasileira, é uma demanda social que possui heranças históricas.
Reconhecemos os empecilhos do presente clima de cancelamentos em que ao invés de
estimular a pulsão dos debates, pelo contrário, abafa temas e personalidades e não reformula
concepções estruturantes, e a proposta da pesquisa nunca objetivou individualizar a questão,
até mesmo porque como canta o rapper Djonga (2022) “se fosse individual, existiam barracos
e não favela”. E como canta Bezerra da Silva, em “Eu sou favela” (2005)

Em defesa de todas as favelas do meu Brasil


Aqui fala o seu embaixador

Sim, mas favela nunca foi reduto de marginal, eu falei


A favela nunca foi reduto de marginal
Só tem gente humilde marginalizada
E essa verdade não sai no jornal

A favela é um problema social


A favela é um problema social

É, mas eu sou favela


E posso falar de cadeira
Minha gente é trabalhadeira
E nunca teve assistência social

Sim, mas só vive lá


Porque para o pobre
Não tem outro jeito
Apenas só tem o direito
A um salário de fome
E uma vida normal

23
Ou seria também um problema racial? Ou melhor, um problema das relações
hierarquicamente racializadas?18 Hierarquias estas historicamente categorizadas por heranças e
pactos que se fazem vívidos e constantemente renovados, polarizada em brancos e não-brancos,
para além das heranças afrodescentes da violenta mescla – também organizado em
desigualdade de classe e gênero.19
Mas, qual a relevância do ensino superior para que seja tão necessária políticas de
intervenção na disparidade quantitativa de matrículas por cor ou raça? O que são as
universidades?20 Maria Fátima de Paula (2009), em artigo, apresenta um panorama da história
da educação superior no Brasil. Escreve que a universidade se formou na primeira metade do
século XX, tardiamente nos anos de 1920 e 1934, sendo as pioneiras Universidade do Brasil,
no Rio de Janeiro, e a Universidade de São Paulo (USP), com outras anteriores que surgiram e
foram extintas. (PAULA, 2009, p. 153)
E pela busca em se ter padrões franceses na estruturação do ensino superior, a década
de 1950 foi marcada por críticas a esse modelo que importou a imagética e prática de acesso
elitista aos cursos. Então a estrutura educacional foi reorganizada pela Reforma Universitária
de 1968.

Após os Acordos MEC/USAID, respectivamente de 1965 e 1967, e do Plano Atcon,


de 1966, a influência norteamericana sobre a universidade brasileira se acentua. Nesse
sentido, a concepção norteamericana influenciou não apenas as universidades
européias, como a alemã, mas também as universidades latino-americanas, como as

18
De acordo com dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública (2023), o perfil das vítimas de mortes
violentas intencionais, “Em relação ao perfil étnico-racial das vítimas, 76,5% dos mortos eram negros, reafirmando
dados já apresentados neste Anuário e/ou no Atlas da Violência. Negros são o principal grupo vitimado pela
violência independente da ocorrência registrada, mas chegam a 83,1% das vítimas de intervenções policiais.
Mesmo entre os latrocínios, que são os roubos seguidos de morte, a vitimização de pessoas negras é maior do que
a participação proporcional delas na composição demográfica da população brasileira. Se esse é um dado já
conhecido, chama atenção que não exista um debate mais amplo sobre suas origens, causas e possibilidades de
redução. É um debate que ainda é tabu e interditado entre os tomadores de decisão nas organizações de segurança
pública.” (p. 31) Disponível: https://forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2023/07/anuario-2023.pdf
19
Reivindicamos na pesquisa o direito de intelectualidades negros (as) como merecedoras de lugares de prestígio
a partir dos esforços de longa data empreendidos para contar sobre suas dores, vitórias e o que quer que seja
particular de um discurso histórico não necessariamente colonial/colonizado, harmônico ou que se orgulhe da parte
violenta da mestiçagem e da branquitude. Mas não deixamos de fora da consideração que para além da produção
prestigiada, há a pauta indígena e quilombola, tão sectarizadas dentro desse marco de produção e consumo, a
História. Pereira (2019) traz calorosas questões sobre tempos, Histórias, narrativas, mitos, dentre outros conceitos-
chave para pensar a disciplina, campo e temas propostos por nossa pesquisa. Em artigo de 2021, a pesquisa refletiu
sobre a mescla racial e as políticas da história que positivaram a mestiçagem a ponto de omitir e negligenciar suas
heranças na contemporaneidade. Essas políticas de branqueamento representam um passado sensível, para alguns,
e deve ser narrada. Trecho do artigo: “Nessa dimensão, Lélia Gonzalez no texto “A democracia racial: uma
militância” (2018), republicação de uma entrevista de 1985, chama a atenção para estratégias de construção da
identidade nacional hegemônicas que recuperavam miticamente elementos, a exemplo do índio, bem como se faz
ao caso do negro - estes com papéis meramente figurativos na escrita dessa história”. (PAULA, 2021)
20
PAULA (2009). Disponível em:
https://www.untref.edu.ar/raes/documentos/Reforma%20da%20Educacao%20Superior%20do%20Governo%20
Lula.pdf

24
brasileiras. No Brasil, esta concepção será amplamente difundida a partir da Reforma
Universitária de 1968, atingindo a estrutura organizacional e as finalidades de todas
as universidades.” (PAULA, 2009, p. 154)
Foi neste contexto que a pós-graduação desenvolveu-se, tornando-se a mais
abrangente da América Latina e qualificando os mestres e doutores com padrões de
excelência. Muitas universidades brasileiras, particularmente as públicas, alcançaram
padrões internacionais de qualidade. Somos referência entre os países em
desenvolvimento na área de pesquisa e pós-graduação no exterior, graças a uma
política de Estado executada com rigor via agências de fomento à pesquisa, como
CAPES e CNPq, ao longo de várias décadas. (PAULA, 2009, p. 156)

E além das políticas de cotas raciais para o ensino superior, houveram outras posições
polêmicas manifestadas no início dos anos dois mil: ao Estatuto da Igualdade Racial (EIR),
Projeto de Lei 3.198/2000; a lei de diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no
currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-
Brasileira”, Lei 10.639/2003. Sobre o EIR e a Lei de Diretrizes básicas, Adilson Santos (2018)
traz a obrigatoriedade do ensino de história e da cultura africana e afro-brasileira nos currículos
da educação básica e superior e a criação da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade
Racial (SEPPIR) em 2004, responsável por “coordenar e articular as políticas de promoção da
igualdade racial, numa perspectiva transversal.” (SANTOS, 2018, p. 61)

aprovação do Estatuto da Igualdade Racial, pela Lei nº. 12.288 de 2010 que
sistematizou uma série de demandas históricas do movimento negro na forma de Lei.
(ii) Sanção, em 29 de agosto de 2012, da Lei nº. 12.711, que determinou a reserva de
50% de vagas no ensino superior e técnico de nível médio, para egressos de escolas
públicas, pessoas de baixa renda, pretos, pardos, indígenas e pessoas com deficiências.
(iii) Visando a reserva de vagas para negros nos concursos públicos da administração
federal, em 18 de junho de 2014, foi aprovada a Lei nº. 12.990. (iv) No âmbito da
saúde, foram desenvolvidos vários programas com foco na saúde da população negra.
(v) Nos direitos humanos, em 2005, foi instituído o Programa de Combate ao Racismo
Institucional. (vi) Na área de comunicação, o Plano Nacional de Políticas de
Promoção da Igualdade Racial (PLANAPIR), criado em 2009, propôs a inclusão de
cotas de representantes das populações negras, indígenas, ciganas e demais minorias
étnicas nas mídias, especialmente nos programas de televisão e em peças publicitárias.
Esses são apenas alguns exemplos de iniciativas recentes de políticas de ação
afirmativa adotadas no Brasil.” (SANTOS, 2018, p. 62)

Dentro desse movimento de contextualização da lei em sua essência e o manifesto de


2006 que foi contra as cotas raciais e contra o EIR, buscamos, na pesquisa, mapear a postura da
historiografia brasileira que encorpou o manifesto entregue por cinco dos 114 signatários ao
Congresso Nacional, aos presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da Câmara,
Aldo Rebelo (PCdoB-SP). O manifesto contou com profissionais de diversas alas sociais de
vivência e de várias áreas do conhecimento, mas teremos como recorte os (as) historiadores (as)
e o discurso histórico mobilizado por estes (as).
No terceiro capítulo da pesquisa, analisamos a argumentação dos (as) signatários (as)
no texto que acompanha o manifesto (2006) e no livro “Divisões Perigosas: políticas raciais no

25
Brasil contemporâneo” (2007), a fim de evidenciar as justificativas, particularmente aquelas
que mobilizaram argumentos históricos. As posturas fundamentaram a decisão desses (as)
profissionais de se manifestarem publicamente contra a aprovação dos projetos de lei PL
73/1999 e PL 3.198/2000 sobre cotas e igualdade racial, na ocasião em processo final de
votação no Congresso Nacional.
Também, foi necessário contextualizar o discurso de oposição desse grupo de
historiadores (as) às cotas raciais no ensino superior para compreender a repercussão gerada
após conquistas advindas de reivindicações dos movimentos negros, a exemplo e algumas
demandas emanadas na Assembleia Nacional Constituinte (1987/1988), como traz Natália
Neris da Silva Santos (2015). O movimento negro nesse episódio queria lei que consagrasse a
isonomia (SANTOS, 2015, p. 93), isso quase duas décadas antes da assinatura do manifesto em
oposição à política com o critério racial.
Contemporaneamente, o manifesto em favor da lei de cotas e do estatuto da igualdade
racial, de 03 de julho de 2006, traz que a Marcha Zumbi dos Palmares pela Vida, de 20 de
novembro de 1995, foi um marco na atual luta nacional dos anos dois mil pelas cotas. Citam
algumas conquistas adquiridas, como:

a criação do Grupo de Trabalho Interministerial para a Valorização da População


negra, de 1995; as primeiras ações afirmativas no âmbito dos Ministérios, em 2001; a
criação da Secretaria Especial para promoção de Políticas da Igualdade Racial
(SEPPIR), em 2003; e, finalmente, a proposta dos atuais Projetos de Lei que
estabelecem cotas para estudantes negros oriundos da escola pública em todas as
universidades federais brasileiras, e o Estatuto da Igualdade Racial.

Também, o documento ressalta, de início, que a Constituição de 1891

facilitou a reprodução do racismo ao decretar uma igualdade puramente formal entre


todos os cidadãos. A população negra acabava de ser colocada em uma situação de
complexa exclusão em termos de acesso à terra, à instrução e ao mercado de trabalho
para competir com os brancos diante de uma nova realidade econômica que se instava
no país. Enquanto se dizia que todos eram iguais na letra da lei, várias políticas de
incentivo e apoio diferenciado, que hoje podem ser lidas como ações afirmativas,
foram aplicadas para estimular a imigração de europeus para o Brasil. (CONFIRA,
2006, trecho extraído do manifesto a favor das cotas)

Dessa forma, podemos pensar o ano de 2006 em sua complexa historicidade.

1.2 A disciplina, o campo e o tema: História, história da historiografia e cotas raciais

Buscamos compreender as estruturas que sustentaram a postura mais conservadora


destes profissionais à época. Havia uma comunidade de historiadores (as) devidamente

26
regulamentada, com estatuto e diretrizes?21 Os horizontes intelectuais e historiográficos
estavam claramente definidos?22 Para melhor evocar esse lugar história-profissional, depois da
apresentação das fontes no primeiro capítulo, o segundo capítulo conta com o levantamento do
perfil prosopográfico desse(a)s profissionais, em que buscou-se registros de seus níveis de
formação em História (graduação, mestrado, doutorado, especialização) e suas respectivas
décadas, os lugares de formação (região e instituição), de atuação e de ser racialmente e de
gênero, bem como seus temas de ensino e pesquisa e as áreas disciplinares com que dialogam.
Por fim, o terceiro capítulo relaciona a tríade que selecionamos tematizar, lei de cotas,
historiografia produzida pela História profissional e seus lugares político-pessoais,
apresentando mais da argumentação e defesa pública do porquê de barrar a lei de cotas quando
esta começa a adotar o critério racial como referência na estratégia de equalizar a baixa adesão
de negros (as) ao ensino superior.
E o que seria a História? Para pensarmos a disciplinarização da História, podemos trazer
algumas referências de debate, como: Clóvis Moura (1990), Le Goff (1993), Valdei de Araujo
(2006, 2011), Jurandir Malerba (2014), Temístocles Cezar (2018), Arthur Avila; Fernando
Nicolazzi; Rodrigo Turin (2019), Fernando Nicolazzi (2019), Marcello Assunção (2022),
Rafael Trapp e Marcello Assunção (2021), Thamara Rodrigues (2021) e Juliana Souza (2023,
2023a), que tratam de: cânones historiográficos, rupturas metodológicas, do ofício do (a)
historiador (a), do público não necessariamente especializado de produção e recepção do
conhecimento que circula para além da academia, autonomia, autoria/relato/recepção e fato
histórico.
A partir do que se tem produzido na história da historiografia, teoria da história, história
intelectual e história das questões étnico-raciais, foi feito um diálogo do quão tênue é a teoria e

21
Sobre a Lei nº. 14.038, de 17 de agosto de 2020 - Dispõe sobre a regulamentação da profissão de Historiador e
dá outras providências, consultar: <https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/lei-n-14.038-de-17-de-agosto-de-2020-
272747785> A lei de 2020 trouxe novos parâmetros para o exercício da atividade do profissional de história.
Somente em 2020 houve a regulamentação da profissão do (a) historiador (a), passa-se a ser reconhecido (a) como
profissional somente quem tem alguma formação na área e formação acadêmica, ou que tenha trabalhado
diretamente com esta nos últimos 5 anos à Lei. A comunidade buscava a regulamentação profissional desde 1986.
A Associação Nacional de História foi uma das redes de maior engajamento do debate, propondo encontros
recorrentes para debater a Lei e as demandas para a comunidade. Seguem alguns materiais para acréscimo ao
entendimento da profissionalização do (a) historiador (a):
< https://pr.anpuh.org.br/index.php/2015-01-20-00-01-55/regulamentacao/regulamentacao-da-profissao-de-
historiador-a >
<https://www.youtube.com/watch?v=CXhdfVAqtEY >
< https://anpuh.org.br/index.php/2015-01-20-00-01-55/noticias2/noticias-destaque/item/454-porque-vale-a-pena-
regulamentar-a-profissao-de-historiador >
22
Reflexão suscitada pelo artigo de Rodrigues (2021), este material que nos faz refletir sobre a tipificação exigida
como a “síntese ideal” da identidade nacional brasileira e o seu credenciamento ao campo científico do fazer-saber,
a partir de um padronizado estilo de escrita da história do Brasil: cuja narrativa “novista” não perdoaria plágios e
cópias, mas que deveria estar diretamente relacionada ao orgulho da herança colonial. (p. 14)

27
a experiência, uma vez que dentro da proposta levantada pelo projeto também tem-se o
movimento de tensionar o lugar político-social que se encontra essa comunidade ao produzir
acadêmica e profissionalmente materiais com temáticas étnico-raciais, sobre cotas, Américas,
Áfricas, raça, racismo, desigualdades. A partir de quais bolhas identitárias e nichos atuam
intelectualmente no ensino, pesquisa e extensão sobre História, historiografia, história
acontecimento; cotas, raça, racismo; Brasil, democracia, cidadania? 23 Nesse ponto, Douglas
Marcelino (2021) nos ajuda a “colocar as ideias lado a lado” (MARCELINO, 2021, p. 48),
pensar nas figurações dos discursos e “repensar as fronteiras da teoria e da historiografia”
(MARCELINO, 2021, p. 49). A partir de Michel de Certeau e também Michel Serres, tematiza
os domínios de natureza disciplinar, pressupostos éticos profissionais da atividade intelectual,
fronteiras, uso da linguagem, estatuto, identidade da comunidade profissional; sendo, enfim, o
fazer história da historiografia como um guia metodológico. Desse modo, o autor nos ajuda a
perceber os manifestos contra e em defesa das cotas em suas respectivas “funções poéticas” da
linguagem. (MARCELINO, 2021, p. 53)

Em termos históricos, sua perspectiva indicava que um maior distanciamento entre


teoria e prática teria acompanhado a “divisão entre as ideias e o trabalho”, que se
acentuou com a difusão das Luzes: “segundo uma concepção bastante tradicional na
intelligentsia francesa, desde o elitismo do século XVIII, convencionou-se que não se
introduzirá na teoria o que se faz na prática” (CERTEAU, 1994a, p. 152; 2017, p. 362-
263, p. 17 e 57). Na sua perspectiva, reivindicar um “próprio”, o “lugar da teoria”,
seria já estabelecer um contrato enunciativo que recompõe, em última instância, essas
fronteiras entre o pensamento e as práticas, as ideias e o trabalho.11 Trata-se de um
uso, de um emprego da linguagem relativo a um contexto de referência e,
consequentemente, do estabelecimento de uma relação com o outro. Existe, portanto,
uma ética (uma estética) da linguagem. (MARCELINO, 2021, p. 57)

Os manifestos, ambos de 2006, são dotados de “função poética” da linguagem, cada


qual com seu “direito à moradia”, à “reserva”, com seu “próprio nicho”, ou o que poderíamos
chamar de “bolhas identitárias”. Esses documentos que foram muito debatidos e levados ao
Congresso Nacional, e nos passam o tom intenso da cena pública entre por pelo menos duas
décadas de disputa política e intelectual, de modo que reverberam uma polifonia de demandas,
denúncias, historicizações, medos, “presença” e “diferença”.
Cada projeto, seja em defesa ou recusa das cotas raciais, através de seu corpo de
signatários (as), esteve pensante no mundo com suas metáforas, eufemismos, comparações,
entre outras figuras de linguagem que possuíam um continuum de ser e que produziram e
produzem efeitos na realidade. Ainda produzem pela emergente presença no tempo presente do

Sobre o direito a “nichos” de todo (a) profissional, da constituição de “um próprio, uma ética”, consultar:
23

MARCELINO (2021).

28
debate.
E a figuração desses discursos históricos coexistem na teoria e na historiografia, como
“passante”, “ponte”, “passeando pela história” e/ou sendo atravessado por essa, cada qual com
seu “lugar de fala”. Por argumentos dotados de cientificismos da moderna historiografia, por
vezes mais próximos e/ou mais distantes à humanidade de outros (as) corpos (as) que circulam
passados e históricos por vias que não as mais usuais, mas que produzem, transmitem,
nomeiam, afastam e habitam conhecimento tanto quanto aquela estabelecida como a forma
totalizadora de pensar e estar no mundo.
Mas “escrever a voz” não é de cunho unicamente acadêmico, os movimentos sociais e
negros sempre estiveram e estão nas ruas, historiando e circulando conhecimento e discursos
reivindicando ações afirmativas para pessoas negras, socialmente, uma vez que sempre
reconheceram e denunciaram a falta de sobrevivência de si e evocavam ditos e não-ditos para
o quadro precário de negros (as) no ensino superior brasileiro.
O estudo da história enquanto “escritura”, operando historiográfica e teoricamente, deve
estar atento à ética que envolve escolher profissionalmente temas de pesquisa e de ensino, ao
que deixa de lado conscientemente por prezar por consensos, às escutas se acuradas ou não para
com seus pares e díspares, enfim, ao que vem sendo uma variável constante e intrínseca ao
discurso histórico, acadêmico, escolar, de entretenimento, entre outras formas que o passado
temporalizado e desterritorializado se apresente.
De certo, é direito de todo (a) profissional a moradia, seu pertencimento a uma
comunidade, os consensos, as bolhas identitárias, a junção em pares, e é legítimo que seja feito
com as fronteiras flexíveis para éticas das práticas que não se pretendam totalizadoras, para que
o ego não se sobressaia ao direito heterológico e ao dever ético-político da história enquanto
profissão.24
A diversidade tem que estar na percepção e na prática, pela ação do fazer historiográfico
que não seja negligente e totalizador para com suas enunciações, escutas e formas de circulação.
Se há demanda, há desterritorialização, há outros sentidos de pensar e viver no mundo a serem
escritos e reescritos, por pontos de chegada e de partida diversos.
Para a temática levantada pelo projeto foi fundamental revisitarmos alguns mitos
históricos fundantes e algumas ideologias do debate racial brasileiro e refletir como e com qual
intensidade eles apareciam na argumentação do manifesto. Ao mapearmos esses argumentos
históricos que refletiram na iniciativa do manifesto, a exemplo de temas relacionados à

24
ARAUJO; RANGEL (2015).

29
“democracia racial” e ao elogio à miscigenação, compreende-se que essas pessoas puderam ter
sido, em algum momento, “capturadas” por um discurso que ainda persiste na sociedade e na
historiografia brasileira, por vezes subtematizado. Na leitura feita não queremos dizer que esses
sujeitos seriam receptores passivos, mas profissionais presos a lugares historiográficos e
geracionais que prezam, consciente ou inconscientemente, por uma fantasia de fraternidade
racial25 que nunca existiu.
A pesquisa buscou interdisciplinarizar algumas ciências e teorias do outro, a partir de
fundamentos que possibilitaram-nos confrontar pensamentos fronteiriços e canônicos para com
as figurações do discurso, da materialidade da linguagem, da enunciação, do consumo, da
circulação e da cooperação que envolve a comunidade de historiadores (as) e suas fronteiras
intelectuais e políticas de lidar com o outro humanamente – fronteiras éticas do saber, do poder
e do ser.

1.3 O discurso histórico

Como surgiu o mito da democracia racial? Questiona-nos Petrônio Domingues


(2005)26:

As ideologias são imagens invertidas do mundo real e as relações sociais de


dominação as produzem para ocultar os mecanismos de opressão. Assim, o mito da
democracia racial era uma distorção do padrão das relações raciais no Brasil,
construído ideologicamente por uma elite considerada branca, intencional ou
involuntariamente, para maquiar a opressiva realidade de desigualdade entre negros e
brancos. (DOMINGUES, 2005, p. 118)

Assim, vemos contemporaneamente a necessidade de desmistificar alguns discursos que foram


recorrentes na escrita e reescrita da História disciplinar e que formaram muitos docentes, a
exemplo
1. Igualdade formal perante a Constituição (1891); de tom abstrato demais para a realidade
brasileira multi-étnica e multi-racial.
2. As cotas conduziriam a um rebaixamento da qualidade acadêmica das universidades;
pensamento conduzido pela lógica esvaziada de ‘mérito’ e que não se confirmou.
3. Haveria um acirramento dos conflitos raciais nas universidades; o que não se
confirmou.27
Ao estudar o tema, percebemos a disputa entre dois projetos políticos distintos de

25
DOMINGUES (2005).
26
Ibidem 2005.
27
Para contatar algumas perspectivas sólidas que desmontam tais mitos, consultar: SALLES (2015), SANTOS
(2018) e o manifesto em defesa das cotas raciais (2006).

30
República, e essa disputa, ao que demonstraremos, pode ser uma disputa para além de
contrários/favoráveis, o que estaria em jogo seriam intenções que se colocam como sendo
antirracistas, seus projetos específicos e a moral de suas causas. Apontaremos no que se
amparavam, histórica e historiograficamente.
Queremos analisar a atmosfera discursiva historiográfica de contexto polêmico, que foi
capaz de “capturar” historiadores (as) de diversas áreas e os (as) aprisionou em ideologias e
mitos raciais como da “democracia racial” e da miscigenação.
O livro Divisões perigosas: políticas raciais no Brasil contemporâneo (2007) foi uma
importante base teórica para compreendermos mais do ímpeto que orientou a posição desses
(as) 114 signatários (as), trazendo mais clareza de detalhes aos argumentos históricos que
viriam fundamentar discursos como o da positivação da mestiçagem, a necessidade por
igualdade constitucional e universalidade dos direitos abstratamente, e do medo à adoção ao
critério racial nas políticas de cotas.
Refletindo sobre o tema das cotas raciais no ensino superior, a pesquisa tratou de
passados sensíveis enquanto lacunas históricas rodeadas de mitos acerca de eventos que
obtiveram esvaziamento semântico, dificultando a produção de historicidades mais
democráticas. Por passados sensíveis, podemos pensar em marcos temporais com
consequências materiais significativas, a exemplo da escravidão, entendida aqui como um
passado sensível a ser mobilizado pela comunidade historiadora institucionalizada e autônoma,
intelectuais que tematizem a história acontecimento, sendo a história ontologicamente pública
e devendo estar para além de círculos especializados.
Marcelo Abreu, Guilherme Bianchi e Mateus Pereira (2018) trazem uma preocupação
com a produção e com o acesso ao passado enquanto tema, ressignificando percepções
tradicionais de objeto e sujeito na produção da história como conhecimento e campo de ação, a
fim de conduzir a reflexão pela popularização do passado (produção e recepção) por
historicidades mais populares.
Repensam o lugar da autoria, desafixam espaços de participação de quem “cria” e
“consome”, sendo descabido o ato unilateral de ser autor acrítico ao seu lugar de recepção de
impressões do público agente. Buscam dinamizar o trabalho com o passado enquanto tema
para além de historiadores especializados, podendo e devendo o debate estar sendo
democratizado entre “autodidatas, amadores, hackers, museólogos artistas, ativistas”.
(ABREU; BIANCHI; PEREIRA, 2018, p. 282)

31
Tratamos daqueles passados que não passam - não substancialmente.28 Por mais que a
experiência escravista tenha sido abolida em 1888 e que o ato de escravizar sistematicamente
pessoas africanas e afrodescendentes não seja mais praticado e legitimado como plano de
Estado, os desdobramentos desta experiência ainda permanecem. Politicamente, não houve
penalização desses Estados imperial e republicano que se isentaram de fazer valer direitos e
garantias para os (as) negros (as) livres e lançados (as) ao pós-abolição sem condições materiais
de sustentabilidade enquanto comunidade.
No livro “O pacto da branquitude” (2022), Cida Bento traz que no panfleto da
Confederação Abolicionista de 1883, Luiz Gama calculou a dívida em salário às gerações que
se sucederam do trabalho africano de cativeiro, para apenas um terço dos escravizados que
chegaram ao Brasil, a dívida seria mais de 1 trilhão. Como traz Renata Moraes em tese de
doutoramento (2012), Luiz Gonzaga Pinto da Gama era abolicionista paulista, negro, filho de
escrava, que atuou na “promoção de denúncias e de ações judiciais em prol da liberdade de
quem era escravizado ilegalmente.” (MORAES, 2012, p. 84)
Mas, teria como quantificar todos os danos imateriais? Quem pagaria a conta, uma vez
que os cofres públicos não são abstratos, mas geridos por demandas, repartições, regiões,
corporativismo e prioridades?
Ao passo que uma bibliografia clássica de reivindicação por mais direitos à população
negra brasileira sempre retome a necessidade por compensação e culpabilização aos danos da
escravidão e de um “pós-abolição” não materialmente efetivo, devemos lidar também com a
responsabilização do Estado republicano que não efetivou a população negra brasileira como
um todo e com eficiência ao corpo da nação. 29
Com o pós-abolição institucionalizado, a população negra passou por uma segregação
não declarada, como demonstra Petrônio Domingues (2005). A sensibilidade temporal do
período escravagista seguia mascarada por tropos e narrativas que só faziam por omitir tais
memórias caras à liberdade plena da população negra.30 Nesse âmbito, pessoas signatárias do
manifesto trazem a figura de Joaquim Nabuco como sendo referência para pensar a escravidão,
a mestiçagem, raça e igualdade. O que haveria de fixo da teoria de um abolicionista na
mentalidade de historiadores (as) em oposição às cotas raciais? 31 Este que como veremos no
capítulo três escreve que a escravidão não chegara a “azedar” o contato entre brancos e negros,

28
BEVERNAGE (2018).
29
OLIVA (2019).
30
MUNANGA (1999).
31
Consultar: ARAUJO (2003), MACHADO (2020).

32
não criando ódio entre as duas raças.
O modelo nacional brasileiro teve aparatos diversos de sustentação, e o meio acadêmico,
especializado, de instrução a nível superior, cuidou da formação de um público.32 Havendo
sempre, também, a ocupação “prática” do ofício33, com um outro commom ground, que também
ensinam, circulam e orientam. Nessa dimensão, no capítulo um apresentaremos as fontes
utilizadas para análise.
Ao categorizarmos esses passados sensíveis propomos identificar que para além do que
se pensa enquanto um dos ideais consolidados entre os vários projetos de modernidade - no
caso, passado que passou e está totalmente exterior ao presente - há passados que não passam.
Por mais que haja a fração temporal didática-metodológica da história disciplinar em segregar
linearmente passado, presente e futuro, existiram eventos caros à sensibilidade da sociedade
brasileira que foram omitidos, negados, distorcidos ou pouco debatidos e deixaram lastros.
Resquícios esses que foram mantidos e intensificados com sucesso por esforços conscientes e
inconscientes de memória coletiva voltada à brasilidade nacionalista, pela memória cultural de
base euro-hegemônica (política, religiosa, civilizacional) e a memória historiográfica herdeira
de uma elite intelectual centralizadora.

32
FREIXO (2019). Nesse artigo, o autor nos ajuda a pensar algumas abstrações que se fazem vívidos índices
civilizacionais do Brasil, a exemplo de conceitos como “brasileiro” e “nacionalismo”. Freixo parte de vários
exemplos como sendo parte da construção da cultura histórica brasileira de caráter nacionalista e, também,
modernista (desejo por modernização). Buscou-se construir o “brasileiro” como “unidade emancipada territorial e
politicamente de Portugal” (p. 59) O autor tematiza o “7 de setembro” para demonstrar que há uma “agonística do
tempo em jogo” (p. 69), em que a tarefa de superar os atrasos nacionais foi calcada pelo “imaginário elitista e
moralista de intelectuais, políticos e artistas.” (p. 69, nota nº14), cujo código cultural é “insuficiente” (p. 69) O
jogo do tempo não deveria ser homogêneo, universal e modernista, não haveria forma coerente de nos
apropriarmos do pronome possessivo “nosso” quando elementos e símbolos são negligenciados. A privação do
passado não deve existir para que haja estabilidade e coerência no presente.
33
MALERBA (2014).

33
2 SEJA CARTA PÚBLICA OU MANIFESTO: TODOS TÊM DIREITOS IGUAIS
NA REPÚBLICA DEMOCRÁTICA?

2.1 Algumas manifestações contra as cotas em 2006: chegando à fonte

Em meados de 2019 eu fui conversar com meu orientador e apresentei-lhe minhas


questões para a construção do nosso projeto de pesquisa e chegamos ao documento “Manifesto
contra as cotas raciais” como material de análise. Será feito o uso da primeira pessoa do plural,
e iremos apresentando as metodologias, objetivos, hipóteses, conclusões possíveis e os
bastidores das decisões tomadas. Valdei, eu, e o que/quem mais se fez suporte.
Buscou-se fazer na pesquisa um levantamento de como profissionais de história se
articularam com relação às políticas de cotas raciais no Brasil no início dos anos 2000. A
pesquisa trabalhou sobre o discurso histórico contrário às cotas raciais no ensino superior no
Brasil a partir do estudo do manifesto contra as cotas raciais assinado por 114 signatários em
2006 e publicizado pelos mesmos à época e posteriormente. Foram acompanhados mais
minuciosamente o perfil e posicionamento de 36 profissionais de história que assinaram o
manifesto.
Sendo assim, começamos as buscas de uma pesquisa que já se esperava ter a internet
como principal espaço de pesquisa. Especulando por repercussões ao manifesto, nome mais
popular ao documento que os signatários chamam de “carta pública”, encontrou-se no site
Congresso em Foco, a matéria intitulada por Segue a íntegra, transcrita do blog do jornalista
Reinaldo Azevedo, do manifesto divulgado por diversos intelectuais sobre o polêmico tema das
COTAS RACIAIS (...), de 4 de julho de 2006.34 O documento seria a íntegra – uma outra versão
completa do blog do autor, cujo material não foi possível encontra-lo diretamente. Esse material
foi a nossa fonte primária de análise.
Então, na data da publicação do site Congresso em Foco, 4 de julho, e anteriormente, a
menção feita à carta pelo jornalista Reinaldo Azevedo foi através da publicação Ainda há
esperança: manifesto contra o racismo, de 29 de junho de 2006, mas que não consta o texto da
carta em anexo à matéria.35
O que há na publicação encontrada é a defesa de Azevedo ao material levado ao
Congresso Nacional, a motivação inicial do manifesto e alguns nomes dos (as) 114 signatários

34
A ÍNTEGRA (2006). Disponível em < https://congressoemfoco.uol.com.br/projeto-bula/reportagem/a-integra-
do-manifesto-contra-as-cotas-raciais/ >
35
AZEVEDO. Ainda há (2006). Disponível em <
https://veja.abril.com.br/coluna/reinaldo/ainda-ha-esperanca-manifesto-contra-o-racismo/ >

34
(as), como “Luiz Werneck Vianna, Wanderley Guilherme dos Santos, Caetano Veloso, Ferreira
Gullar, Eunice Durhan, Maria Hermínia Tavares de Almeida e Oliveiros Ferreira.” Em 29 de
junho de 2006, Azevedo cita em seu blog a ida ao Congresso de algumas pessoas e o manifesto
contra as cotas raciais - ou racismo, como ele traz, mas não foi possível encontrar até o momento
a carta pública e o corpo signatário diretamente divulgada pelo jornalista, somente o documento
publicizado por outros canais.

2.2 Cento e treze cidadãos antirracistas contra as leis raciais

Em um primeiro contato com a fonte principal, percebemos que contra as cotas raciais
em si haviam dois movimentos contrários em tramitação legal, sendo estes:
1. A carta pública intitulada Todos têm Direitos Iguais na República Democrática,
entregue em 2006 ao presidente do Senado, o senador Renan Calheiros, e ao presidente
da Câmara, o deputado Aldo Rebelo. Como já apresentado acima.
2. A carta intitulada por Cento e treze cidadãos antirracistas contra as leis raciais,
assinada e entregue ao Supremo Tribunal Federal (STF), em 2008, ao ministro Gilmar
Mendes.
A pesquisa debruçou-se sobre o primeiro material, em especial, mas não pôde deixar de
lado o encontro com a segunda carta. Em uma busca inicial no Google sobre o “Manifesto
contra as cotas raciais”, encontrou-se no site Congresso em Foco a matéria de divulgação mais
ágil para com o acontecimento.36 Neste momento percebeu-se a recorrência do blog do
jornalista Reinaldo Azevedo no site da Veja, um ferrenho comentarista do tema à época e
signatário da carta “Cento e treze cidadãos antirracistas contra as leis raciais”. O blog do
Jornalista tinha como descrição: “política, governo, PT, imprensa e cultura” e sua última
postagem no site é de 23 de maio de 2017.
No mesmo site, buscando pelo manifesto contra as cotas, foi possível encontrar algumas
outras matérias de Azevedo sobre o tema, incluindo sobre a carta entregue ao STF (2008) e a
carta entregue ao Congresso Nacional (2006). No blog do jornalista foi possível acessar
algumas reportagens e serão apresentadas agora.
Com a datação de 21 de abril de 2008, em 30 de abril de 2008 foi entregue ‘nas mãos
do Supremo Tribunal Federal (STF)’ o documento intitulado Cento e treze cidadãos

36
A ÍNTEGRA (2006).

35
antirracistas contra as leis raciais,37 com 113 signatários que encaminharam-na ao então
ministro Gilmar Mendes, presidente do STF à época. O material seria publicizado apenas
posteriormente, em 2008, para que o texto não se tornasse público antes de chegar ao STF.38A
intenção era que o documento fosse amplamente divulgado com a publicação feita pelo
jornalista da matéria Assine a carta dos cidadãos anti-racistas contra o racismo, de 2 de maio
de 2008.39 Sabe-se que o documento não deveria ser publicizado antes do estipulado, devendo
ser mantido em sigilo até que o documento chegasse a Gilmar Mendes (STF)

Meu caros,
A carta “Cento e treze cidadãos anti-racistas contra as leis raciais” agora é documento
público. A íntegra e a lista com os 113 nomes que a encaminharam ao ministro Gilmar
Mendes, presidente do STF, estão aqui40. Optou-se por não fazer, de saída, uma
petição porque se pretendeu que o texto não se tornasse público antes de chegar às
mãos do Supremo.
Agora público, o documento está aberto a novas adesões neste endereço:
http://www.petitiononline.com/antiraca/petition.html
Alguns leitores estão dizendo que não encontram lá o meu nome. Sou um dos 113
signatários do documento. (AZEVEDO, 2008, Assine a carta)

Ainda em abril do mesmo ano, no site, constam duas publicações sobre o tema, no dia
29 de abril de 2008 é publicado o texto Cento e treze anti-racistas contra as leis raciais para
mais uma matéria.41 Um dia depois, em 30 de abril de 2008, Azevedo publica outra matéria
com o título de Uma carta contra as políticas racialista e seus signatários, no mesmo blog.42
Encontramos ainda uma quarta publicação sobre o tema, já no dia 14 de maio, intitulada
por Nas mãos do Supremo, a unidade do país, aqui em menção à carta que fora também
signatário.43

2.3 Enfim o “manifesto contra as cotas raciais”

37
SCHWARTZMAN (2008). Disponível em < https://www.schwartzman.org.br/sitesimon/cento-e-treze-
cidadaos-anti-racistas-contra-as-leis-raciais/ >
38
AZEVEDO. ASSINE A CARTA. (2008) Disponível em: < https://veja.abril.com.br/coluna/reinaldo/assine-a-
carta-dos-cidadaos-anti-racistas-contra-o-racismo-2/
Idem Nas mãos do Supremo (2008) Disponível em: < https://veja.abril.com.br/coluna/reinaldo/nas-maos-do-
supremo-a-unidade-do-pais >
39
Idem ASSINE A CARTA (2008). A notícia traz que “Optou-se por não fazer, de saída, uma petição porque se
pretendeu que o texto não se tornasse público antes de chegar às mãos do Supremo.”
40
Na matéria, em “aqui” tem-se um link sem retorno, não sendo, portanto, a lista dos 113 nomes que assinaram o
documento.
41
Idem Cento e treze (2008) Disponível em: < https://veja.abril.com.br/coluna/reinaldo/cento-e-treze-anti-racistas-
contra-as-leis-raciais >
42
Idem UMA CARTA (2008). Disponível em: <
https://veja.abril.com.br/coluna/reinaldo/uma-carta-contra-a-politica-racialista-e-seus-signatarios >. Acesso em:
01 de agosto de 2022.
43
Idem Nas mãos (2008) Disponível < https://veja.abril.com.br/coluna/reinaldo/nas-maos-do-supremo-a-unidade-
do-pais >

36
Como mencionado, o primeiro documento com menção direta ao manifesto contra as
cotas seria a matéria publicizada no site Uol (Congresso em Foco), a partir da qual foram feitos
os apontamentos até aqui. 44 Não é o melhor material, pois demonstra algumas fragilidades,
como alguns erros de digitação, mas o critério de manter com o uso dessa fonte como sendo
primária se fez pelo fato de ter sido uma das primeiras publicações sobre o assunto divulgada
na internet e devido ao fato de que outros sites cobram pela utilização de seus serviços de
consulta das matérias, a exemplo da Folha de São Paulo, cuja publicação possui a data de 4 de
julho de 2006, também foi consultado para a pesquisa.

2.4 Sistematizando nove publicações sobre o manifesto contra as cotas e/ou outras
políticas públicas importantes para a agenda educacional do início dos anos dois
mil:

Tabela 1: Publicações sobre cotas em rejeição.

Título Site Autor (a) Data Assunto Obs. Acesso


(publicação)
Ainda há Congresso Reinaldo 29 de junho Tematiza https://veja.a
esperança: em Foco, Azevedo de 2006 cotas raciais bril.com.br/c
manifesto UOL a partir do oluna/reinald
contra o manifesto o/ainda-ha-
racismo contra as esperanca-
cotas manifesto-
assinado por contra-o-
vários racismo/
intelectuais
(114)
A íntegra do Congresso Sem 04 de julho Assinado em https://congr
manifesto em foco, de 2006, Tematiza 30 de maio e essoemfoco.
contra as UOL 15:59 cotas raciais entregue ao uol.com.br/p
cotas raciais a partir da Congresso rojeto-
íntegra Nacional em bula/reportag
transcrita do 04 de julho em/a-integra-
blog de de 2006 do-
Reinaldo manifesto-
Azevedo do contra-as-
manifesto cotas-raciais/
contra as
cotas
assinado por
vários
intelectuais
(114)
Cento e treze Veja Reinaldo 29 de abril Carta https://veja.a
anti-racistas Azevedo de 2008, entregue ao bril.com.br/c
contra as leis 18h38 Gilmar oluna/reinald
raciais Mendes, o/cento-e-

44
Consultar: https://congressoemfoco.uol.com.br/projeto-bula/reportagem/a-integra-do-manifesto-contra-as-
cotas-raciais/

37
STF, treze-anti-
entregue racistas-
numa quarta- contra-as-
feira dia 30 leis-raciais
de abril e
assinada 21
de abril
Cento e treze Simon's Site Simon 30 de abril Carta https://www.
cidadãos Schwartzma de 2008 entregue ao schwartzman
anti-racistas n Gilmar .org.br/sitesi
contra as leis Mendes, mon/cento-e-
raciais STF, treze-
entregue cidadaos-
numa quarta- anti-racistas-
feira dia 30 contra-as-
de abril e leis-raciais/
assinada 21
de abril
Uma carta Veja Reinaldo 30 de abril Carta https://veja.a
contra a Azevedo de 2008, entregue ao bril.com.br/c
política 20h41 Gilmar oluna/reinald
racialista e Mendes, o/uma-carta-
seus STF, contra-a-
signatários entregue politica-
numa quarta- racialista-e-
feira dia 30 seus-
de abril e signatarios
assinada 21
de abril
Manifesto: Revista Sem Sem, mas Carta https://revist
Cento e treze Época próximo ao entregue ao aepoca.globo
cidadãos dia 30 de Gilmar .com/Revista
anti-racistas abril de 2008 Mendes, /Epoca/0,,ED
contra as leis STF, R83466-
raciais entregue 6014,00.html
numa quarta-
feira dia 30
de abril e
assinada 21
de abril
Assine a Veja Reinaldo 1 de maio A carta https://veja.a
carta dos Azevedo 2008, 19h12 “cento e bril.com.br/c
cidadãos treze oluna/reinald
anti-racistas cidadãos o/assine-a-
contra o anti-racistas carta-dos-
racismo contra as leis cidadaos-
raciais” anti-racistas-
torna-se contra-o-
pública racismo
Assine a Veja Reinaldo 2 de maio https://veja.a
carta dos Azevedo 2008, 15h29 bril.com.br/c
cidadãos oluna/reinald
anti-racistas o/assine-a-
contra o carta-dos-
racismo cidadaos-
anti-racistas-
contra-o-
racismo-2
Nas mãos do Veja Reinaldo 14 de maio O Supremo Traz que o https://veja.a
Supremo, a Azevedo 2008, 06h41 julga duas manifesto bril.com.br/c

38
unidade do ações, (ADI “cento e oluna/reinald
país 3.330 e ADI treze o/nas-maos-
3.197), cidadãos do-supremo-
promovidas anti-racistas a-unidade-
pela contra as leis do-pais
Confederaçã raciais” foi
o Nacional enviado ao
dos tribual no dia
Estabelecime 28 de abril
ntos de de 2008, o
Ensino que seria
(Confenen), segunda-
a primeira feira. Ele
contra o confundiu-
programa se, pois o
PROUNI e a material foi
segunda entregue dia
contra a lei 30 de abril,
de cotas nos quarta-feira,
concursos como o
vestibulares mesmo traz
das em
universidade reportagem
s estaduais do dia 29 de
do Rio de abril e
Janeiro reportagem
do Simon’s
Site
Fonte: Elaboração própria da autora com base na pesquisa realizada.

2.5 Divisões perigosas: políticas raciais no Brasil contemporâneo (2007)

Para apresentar alguns dos argumentos que amarram o documento entregue ao


Congresso Nacional em 04 de julho de 2006, Divisões perigosas: políticas raciais no Brasil
contemporâneo (2007), foi fundamental. O livro possui um compilado de textos publicados em
diversas plataformas no período de efervescência do debate, sendo organizado por signatários
(as) do manifesto contra as cotas raciais e tendo em sua estrutura alguns textos de historiadores
(as) explorados (as) mais de perto. Publicado pela Editora Civilização Brasileira e organizado
por Peter Fry, Yvonne Maggie, Marcos Chor Maio, Simone Monteiro e Ricardo Ventura
Santos, tem como motivação uma postura de recusa a dois projetos de leis em tramitação no
Congresso Nacional, os PL 73/1999 e PL 3.198/2000, propostas sobre a Lei de Cotas Raciais e
o Estatuto da Igualdade Racial, respectivamente.
No Preâmbulo do livro tem-se uma apresentação íntima do que teria sido o manifesto
contra as cotas raciais (2006)45, em que no dia 29 de junho de 2006 o Congresso Nacional

45
A ÍNTEGRA (2006).

39
recebeu o material que chamaram de carta pública.46 A intenção era levar o manifesto aos
presidentes do Senado, Renan Calheiros, e da Câmara, o deputado Aldo Rebelo, e assim
fizeram. A tarefa foi mediada por Bila Sorj, José Carlos Miranda e Yvonne Maggie, com a
presença também de Adilson Mariano e George Zarur - mencionados mais adiante no texto.
Com a assinatura de 114 intelectuais, artistas e lideranças do movimento negro (FRY, P. el.
al., 2007, p. 13) e publicizado pelos mesmos à época e posteriormente, e dentre eles, teve-se 36
historiadores (as).47
Alegaram que este documento viria a trazer o debate a um público mais amplo, uma vez
que os projetos de lei PL 73/99 e PL 3.198/2000 a que esse documento responde transitavam
silenciosamente pelo Senado Federal e Câmara dos Deputados, segundo Maggie; Miranda; Sorj
(FRY, P. el. al., 2007, p. 14). Escrevem que

Até então os dois projetos caminhavam de forma silenciosa, sem debate público,
carregados pelos militantes da causa, que, abrigados em burocracia estatal, faziam
com que eles andassem pelas instâncias burocráticas somente com discussões de
gabinete. Para a maioria da população – a quem finalmente interessa a adoção de
políticas públicas que propõem mudanças tão graves na vida das pessoas -, esse debate
de gabinete era inaudível. (FRY, P. el. al., 2007, p. 14)

À época, projetam, portanto, que o livro “(...) contribua para disseminar e adensar ainda
mais o debate.” (FRY, P. el. al., 2007, p.15) Quando dizem que os projetos de lei PL 73/99 e
PL 3.198/2000 “falam sobre o país que queremos ter”, instigam-nos a pensar, portanto, em suas
propostas de Brasil apresentadas. Será que tem sido promissora a tarefa política que defendem
de unificar a população brasileira em um projeto de nação abstrato e homogêneo? Além da
tarefa que dizem assumir de levar a carta pública ao Congresso. Será que nesse “todo”,
antirracial, “brasileiro”, não há uma racialização a priori? Reflitamos, assim, nas tarefas
traçadas em prol do país que temos, ‘que queremos’ e que deveríamos ter.48
Nesse aspecto, logo no início do manifesto, a redação apresenta uma grande
preocupação com a Constituição brasileira e com a República, a esse “todo nacional”, em que
a ‘igualdade política e jurídica’ como um princípio é a primeira e central preocupação. O corpo
signatário do manifesto teme que esse princípio seja extinto com a decisão final tomada pelo
Congresso Nacional dos projetos de lei de Cotas PL 73/1990 e do Estatuto da Igualdade Racial
PL 3. 198/2000.

46
Carta pública ao Congresso Nacional: “Todos têm Direitos Iguais na República Democrática”. Mas, na pesquisa
optou-se pelo nome popular, “manifesto”.
47
Estaremos considerando 36 historiadores (as) de formação, seja de graduação, mestrado ou doutorado e 1
profissional que lecionou em programa de pós-graduação em história em 2006, logo trabalhando diretamente com
a história disciplinar (Marcos Chor Maio).
48
FREIXO (2019).

40
Em Divisões Perigosas (2007), é registrado por Demétrio Magnoli em artigo intitulado
por “Constituição do racismo” que “A sua promulgação como lei representaria uma mudança
essencial nos fundamentos políticos e jurídicos que sustentam a nação brasileira. O estatuto é
nada mais nada menos que uma nova Constituição. O estatuto cancela o princípio republicano
de cidadania.” (FRY, P. et. al., 2007, p. 185) Ou seja, acreditava-se que o movimento deveria
ser polarizado e enfaticamente argumentavam que haveria uma cisão política no Brasil com a
implementação da política de cotas com o critério racial, mesmo que a finalidade fosse corrigir
dados estatísticos do IBGE e IPEA que comprovavam o quanto que as IES brasileiras eram
homogeneamente brancas, havendo a exclusão de jovens negros e indígenas das universidades
(e quilombolas). O manifesto em defesa das cotas alega que, segundo IPEA (2001)

por 4 gerações ininterruptas, pretos e pardos têm contado com menos escolaridade,
menos salário, menos acesso à saúde, menor índice de emprego, piores condições de
moradia, quando contrastados com brancos e asiáticos. Estudos desenvolvidos nos
últimos anos por outros organismos estatais demonstram claramente que a ascensão
social e econômica do país passa necessariamente pelo ensino superior. (CONFIRA,
2006, trecho extraído do manifesto a favor das cotas)

Na Apresentação do livro Cotas raciais e o discurso da mídia: um estudo sobre a


construção do dissenso (2018)49, Zilda Martins aborda os discursos de resistência a mudanças
que “Nessa lógica, considerando uma sociedade profundamente desigual, são legalmente
propagados discursos de construção de dissenso em torno daquilo que possa ameaçar o status
quo.” (MARTINS, 2018, p. 11)
Assim, juntamente à autora, quando esta parte do “discurso de verdade” que domina a
mídia em relação às ações afirmativas, é possível visualizar um discurso maniqueísta de
oposição às cotas em 2006. Pensemos, então, no projeto político e nos argumentos históricos
que embasam a argumentação presentes no corpo do manifesto, assinado por historiadores (as)
de diversos ambientes de atuação profissional, bem como profissionais de outros campos do
saber.
De certo, a mídia foi fundamental para que o projeto percebesse mais da recepção e
respostas ao manifesto contra as cotas raciais no ensino superior e contra o Estatuto da
Igualdade Racial, principalmente por ter sido nela o epicentro de divulgação, mas é de interesse
aqui evidenciar mais do papel de profissionais de história em específico que discursaram sobre
e em oposição aos projetos de leis, e que fizeram isso publicamente.
Zilda Martins conclui uma rica argumentação em torno do discurso da mídia sobre cotas
afirmando que

49
MARTINS (2018)

41
(...) a mídia, na contemporaneidade, usa mal seu potencial de promover um debate
público consistente, de caráter democrático. O tema aparece desistoricizado, tratado
com ironia ou agressividade, como se a população negra na sociedade fosse apartada
do real. O que se percebe é certa especularização das cotas, uma tentativa de não
mexer no status quo.” (MARTINS, 2018, p. 153)

2.6 O contra-manifesto: manifesto em favor da lei de cotas e do estatuto da igualdade


racial50

A fim de melhor contextualizar a conjuntura intensa do manifesto contra as cotas, de 30


de maio de 2006, faz-se necessária a exposição do manifesto “em favor da lei de cotas e do
estatuto da igualdade racial”, de 03 de julho de 2006. Utiliza-se a reportagem do Portal Geledés,
que foi uma instituição signatária, apesar de uma reportagem tardia, de 04 de julho de 2007.
Mas o documento também foi publicizado por outros sites.51 O documento chegou ao
Congresso Nacional no dia 04 de julho de 2006.
Intitulado por “Manifesto em favor da lei de cotas e do estatuto da igualdade racial”, o
documento foi direcionado “Aos/as deputados/as e senadores/as do Congresso brasileiro”,
vinculado à Brasília e recebido no dia 04 de julho de 2006, um dia depois da assinatura que
consta no corpo do documento. Entre a chegada de ambos os documentos ao Congresso
Nacional houve 5 dias e entre as assinaturas dos mesmos teve 34 dias de diferença.
Mas ao modo que é trazido nas reportagens da mídia, o documento a favor é tido como
uma reação ao manifesto contra as cotas de 30 de maio de 2006. Estudamos o quanto esse
material foi uma reação, apenas, ou um movimento à priori até mesmo à lei. Como já
mencionado, os movimentos negros da década de 1980 já enunciavam demandas por ações
afirmativas em correção às desigualdades históricas para com a população negra brasileira,
devendo essas serem reparadas com urgência.
Sobre o manifesto em defesa da lei há menos reportagens e repercussão, e esse déficit
poderia se dar ao que Sodré (2015) enxerga a partir do fato de que a mídia impressa escolheu
enviesar a oposição à lei em suas manchetes, cujo enquadramento negligenciaria outras
ressonâncias e posturas, logo, o diálogo público. Logo, apostamos ser por isso que o manifesto

50
CONFIRA A ÍNTEGRA (2008). Disponível em: https://www.geledes.org.br/confira-a-integra-do-manifesto-a-
favor-das-cotas/ >
51
UOL https://congressoemfoco.uol.com.br/projeto-bula/reportagem/entidades-entregam-manifesto-a-favor-das-
cotas/
O Globo https://oglobo.globo.com/brasil/educacao/manifesto-favor-da-lei-de-cotas-do-estatuto-da-igualdade-
social-entregue-ao-congresso-4576182
Agência Brasil https://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/noticia/2006-07-06/congresso-recebe-manifesto-favor-
das-cotas-0
Fundação Palmares https://www.palmares.gov.br/?p=2583

42
em defesa seja chamado de “reação” e “resposta”, o que vemos como um movimento
apassivador, que subjuga os movimentos pró-cotas como posteriores ao manifesto contra as
cotas. Houve uma latência epocal simultânea entre os documentos, muito polarizada, e nos foi
interessante perceber o quanto de diálogo havia entre eles, se havia e entre os nichos que
abarcavam ambos os documentos e pautas.
No capítulo dois demonstramos mais do propósito de inserir tal análise, que adiantamos
ser com a finalidade de comparar o corpo signatário de ambos, ao que for passível de
comparação, no que diz respeito às suas Instituições de Ensino Superior (IES) de formação e
atuação, região destas, temas de pesquisa, disciplinas-irmãs de formação e atuação, proporção
de historiadores (as) por manifesto.52

2.7 O giro-linguístico do gênero “manifesto”53

É intuito da pesquisa correlacionar e apresentar simultaneidade entre ‘ser contra algo’, ‘ser
a favor’, ‘de algo’, e ‘ser’. Agir para com uma demanda que se tem, e sobretudo agir, e agir
historiograficamente enquanto historiador (a), agir rápido, algo que metodologicamente a
comunidade tem dificuldade.54 Atuar e na cena pública nem sempre é algo simples,
principalmente porque quando se acredita que o ato é imprescindível para prevenir um futuro
instável, a sensação de viver uma crise impõe ações por vezes radicalizadas.
E por isso o gênero manifestário se faz uma linguagem apropriada para melhor captarmos
o momento do debate de algumas políticas públicas educacionais, a exemplo das de recorte
raciais. Mas agir com medo envolve muita coisa: lugar profissional, questões ideológicas da
posição, contextos pessoais, mas sobretudo envolve a pluralidade do local de vida (de fala)55,
interseccionado56. Partir de uma “torre de marfim”, alheio (a) ao momento histórico do tempo
presente não é o mesmo que ter uma deficiência física e reivindicar por questões primárias de
inclusão, quando se sofreu um trauma de infância, dificuldades econômicas, se passou por uma
disforia e transicionamento de gênero ou quando não se teve ou se teve algo que só quem vive

52
A dubiedade e as entrelinhas do tema pelos manifestos podem ser bem elencadas por Peter Fry et. al. (2007),
Muniz Sodré (2015), Adilson Santos (2014, 2018), Juliana Teixeira (2023, 2023a), Guilherme O. Paula (2019),
Thais Moya (2014 e Zilda Martins (2018), por exemplo.
53
Consultar: ARAUJO; RANGEL (2015)
54
História e Intelectuais, ANPUH (2020). Disponível em: <
https://www.youtube.com/watch?v=agusjx2W6a0&list=LL&index=2&t=3380s >
55
RIBEIRO (2019)
56
AKOTIRENE (2019)

43
“fora de torres” e “bolhas viciadas” sabe como é. Então toda narrativa tem extratos de
enunciação, um giro de produção:
a. quem fala, de onde fala (objetiva e subjetivamente), quem fala diferentemente –
quando e de onde fala, não esquecer que falar é simétrico a ser ouvido e ouvir a escuta
(contra-fala). E a contra-fala, ou a resposta, pode ser um movimento primário. Houve
recusa da lei porque anteriormente a esta houve a demanda, a efervescência, o estímulo
que só o tempo presente propicia.
Em artigo de Apresentação para o Caderno Especial da revista História da Historiografia
(2015),57 os autores apresentam algumas condições de possibilidade de nos relacionarmos com
a “História” e com o tempo propiciadas pela recepção, repercussão e desdobramentos concretos
do giro-linguístico enquanto deslocamento epistemológico no campo, em especial na teoria da
história e história da historiografia.
O recorte temporal estabelecido é de início no século XVIII, e são colocadas lado a lado
duas tradições historiográficas que discursam historicamente sobre ciência e tempo a partir da
noção de giro-linguístico, em prol da produção de conhecimento, busca da felicidade e/ou
estabilização temporal; sendo elas, pois, a fenomenológico-hermenêutica e a neo-historicista
(ou pós-moderna). Buscam pensar e intervir no mundo, através do giro-linguístico,
historiadores, filósofos e teóricos da literatura: o pensamento pode produzir enunciados
privilegiados em relação à realidade? Qual a medida mais prudente de parcialidade na
produção do conhecimento histórico? Logo, entendemos que o giro-linguístico é o ponto de
partida para chegar ética e politicamente na tematização de passados no presente.
De certo, o “disciplinar” da “História” não é suficiente para abarcar o que “Heidegger
chama de histórico” (RANGEL; ARAUJO, 2015, p. 324), e ao adentrarmos o gênero
manifestário como fonte de análise, apostamos na organicidade extra-acadêmica dos manifestos
como tecnologias históricas.

Mesmo no discurso histórico orientado pelos padrões da ciência, percebemos, em todo


momento, elementos contrabandeados de outras formas de experiência que não a
pragmático-científica. Ao tornar esse discurso seu objeto de análise, a HH ampliou
nossa capacidade de identificar alguns desses “contrabandos”, mas chegou a um
impasse em relação aos efeitos dessas descobertas no projeto historiológico, ou
seja, da ciência e tecnologias históricas. De um lado, temos aqueles que ainda esperam
dela uma purificação e a liberação das forças que travam o progresso do discurso
científico e, de outro, os que, adotando uma crítica radical a esse discurso, afirmam o
que seria aparentemente o seu oposto, a subjetividade como fidúcia de uma

57
Dossiê completo: DA HISTORIOGRAFIA, H. Normas de publicação. História da Historiografia:
International Journal of Theory and History of Historiography, Ouro Preto, v. 8, n. 17, 2015. DOI:
10.15848/hh.v0i17.925. Disponível em: < https://www.historiadahistoriografia.com.br/revista/article/view/925 >.
Acesso em: 13 dez. 2023.

44
democracia cognitiva que levaria à equivalência de todas as representações. Claro que
esses dois caminhos são dois lados complementares da historiologia, sem a
capacidade de avançar para além da dimensão imprópria da historicidade. (RANGEL;
ARAUJO, 2015, p. 324-325)

Refletimos sobre a nossa relação de intimidade com o passado e com o futuro, com suas
respectivas historicidades próprias, inéditas e autônomas e com o continuum histórico que
habitam essas histórias e Histórias, cujo exercício de historiar faz-se múltiplo e plural.

45
2.8 Conclusões
Walderez Ramalho (2021) traz em sua tese de doutorado a categoria de historicidades
kairológicas para pensar sobre a experiência da história: esta que enquanto produtora de
conhecimento, por vezes, está vinculada mais ao apego a um continuum discursivo e se faz
menos aberta ao improviso de historiar que momentos de crise exigem. Para o autor, o tempo
kairológico vem para romper a exclusividade historicista do meio de produção e realçar que há
descontinuidade temporal em “tempos de crise”. O esforço feito pelo material é o de demonstrar
que a categoria kairós pode ser uma outra visão analítica de produção de conhecimento: da
atenção e da ação. (RAMALHO, 2021) E para Ramalho, o gênero manifestário é uma didática
ilustração para temporalizar o tempo histórico, ou melhor, o momento, kairológico: sob pressão,
emergencial, prático e da prática, que convoca, radical, da experiência.
Foi necessária a apreensão de algumas definições e reflexões de Ramalho para pensar o
início dos anos dois mil e a efervescência de manifestos. O que tanto essa geração manifestava?
Radicalizava, portanto. Pois como bem traz o autor, até que o manifesto tornasse um gênero
literário, este foi de cunho teológico político, com críticas advindas, de início, de autoridades,
depois de subversão. Um recurso histórico-comunicativo menos soberano e mais de grupos
sociais mais amplos e “radicais”; este já no século XVII, no contexto da Revolução Puritana na
França – aqui o historiador social emergia.
E ainda em contexto revolucionário francês, o manifesto enquanto agente de
comunicação foi democratizado e em 1792 acelerou-se a produção, anteriormente foi obtida a
democratização e em pouco tempo surgiu o adendo revolucionário, moderno, ideológico e
artístico; literário, modernista, futurista; com estética, estilo, forma, retórica. Houve um boom
na utilização de manifestos para apreender e expressar a historicidade do momento.
(RAMALHO, 2021) Sempre com apelo a uma mensagem de apresentação pública, e com
origem, desenvolvimento, apreensão e expressão. O “historiar kairologicamente” é empreender
em historiar sem necessariamente se prender ao historicismo, pois em momentos de crise e
instabilidade da ordem, o profissionalismo terá que lidar com períodos que exigiam/exigem
impulso e ação.
E pelo boom de posicionamentos em 2006, sem consenso, refletimos sobre o que havia
de peculiar “ali”, naquele momento58, que demandou de tanta ação “historiográfica” dentro
dessa grande narrativa em prol das leis de cotas raciais.59 Qual a distância histórica em ser
contra ou a favor? Há de fato tanta assimetria ao que parece? À época, tinha-se um momento

58
Consultar categoria em Ramalho (2021).
59
A exemplo do conteúdo da Tabela 1.

46
histórico, revisitado em 2012 e 2022 – anos de lei sancionada e que deveria ser revisada.
Haviam muitos argumentos e radicalizados, por vezes, assim como haviam dúvidas, receios,
contradições.
E será que havia democratização no acesso a esses manifestos ou o recolhimento das
assinaturas era fechado a círculos restritos? No capítulo dois da presente pesquisa, mostra-se
que foi um movimento tomado por intelectuais, instituições e profissionais orgânicos (sem
vínculos acadêmicos e/ou institucionais), e se tratando dos (as) historiadores (as) em oposição,
houve uma maioria de professores universitários, de universidades sem muita variação de
nomes em recorrência mas que não poderíamos menosprezar a aparente característica mais
fechada da amostra, pois, para além da agitação público-social, havia um projeto com respaldo
político e politicamente sendo encaminhado e disputado, em um jogo de forças. Quem, à época,
seria autoridade para assumir esse ônus público?60 De manifestar-se e ser respeitosamente
notado. Refletiu-se, junto a Ramalho (2021)

Mesmo com essa restrição da voz autoral, prerrogativa própria dos soberanos, o
manifesto era desde as suas origens um gênero tipicamente associado a alguma crise
na ordem pública, no sentido de alguma anomia ou ilegalidade que
convocava/justificava uma ação mais radical. Há, desde o seu primeiro sentido, a
indicação de uma relação fundamental entre manifesto e crise. Contudo, a função de
um manifesto era declarar os desígnios de um soberano e justificar uma determinada
conduta sua.” (RAMALHO, 2021, p. 94)

Até que ocorreu a democratização e o gênero manifestário passou então a contar com
novas classes que não as elites, com novos significados, usos e combates. Assumindo, portanto,
uma função e conotação revolucionária. O que não significou um abandono ou substituição
integral do primeiro sentido de manifesto. (RAMALHO, 2021, p. 97) Assim, Ramalho cita a
novidade do momento do gênero, em que “Como consequência da Revolução Francesa, o
manifesto se tornou o modo de agonismo, a voz daqueles que são contra – seja contra o rei, o
papa, a classe dominante, ou simplesmente contra o estado de coisas existente.” (RAMALHO,
2021, p. 97 apud PERLOFF, 1982, P. 82)
Fato é que, aos dois manifestos centrais, contra e em favor da lei de cotas raciais para o
acesso ao ensino superior, ambos grupos manifestantes enunciavam seus princípios ao que
deveria ser o Brasil e o que não deveria ser. Os dois documentos continham causas e morais de
assumirem a postura que assumiram. Polarizando o tema em prol de suas causas particulares:
qual Brasil é requerido, se racializado em políticas públicas ou não. Mas uma via não anulou a
existência da outra e suas respectivas historicidades (origem, desenvolvimento, apreensão e

60
Pensando noções como autoria, autoridade, certificado de autoridade, consultar: Lidiane Rodrigues (2019),
Fernando Nicolazzi (2019, 2019a), Floriza Paula (2021).

47
expressão). O gênero manifestário expõe e intensifica o “encontro com a realidade histórica”
(RAMALHO, 2021, p. 62), para a pesquisa, a partir dos manifestos de 2006, a busca feita foi
por um país de realidade antirracista. O ano de 2006 esteve para além de uma contagem
cronológica, contendo, ações, impulsos e a priori históricos recheados de continuidades, mais
do que rupturas provenientes de crises. E esse debate foi base para a lei 12.711/2012, também
polemicamente debatida, bem como sua revisão (2022).
Pois, como apresenta Silvio Almeida (2019) em “Racismo estrutural”, tratar do racismo
nos dias atuais não deve ser fora da lógica de que este atua e se remodela dentro da normalidade
das coisas, não é uma anomalia, não é uma crise. O livro “Divisões perigosas: políticas raciais
no Brasil contemporâneo” (2007) é uma iniciativa que, em suma, demonstra a postura e crenças
reais de que há quem não concorda que exista racismo no Brasil, e tratamos de enunciar os
argumentos no terceiro capítulo. Como jogar para o campo de crise do tempo/tempos de crise
se há quem não reconheça que há algo fora do lugar? Não é uma ferida porque não dói em todos
(as) brasileiros (as), como dirigem nos manifestos, ao povo.
Intencionamos a possibilidade de a pauta antirracista estar dissociada de “raça”, esta
enquanto conceito interpretativo das relações étnico-raciais e enquanto também fenômeno
social de existência, jamais como preceito biológico de hierarquização das faculdades mentais
como foi feito no racismo científico.
Analisou-se “raça” na chave interpretativa do respaldo social de heranças adquiridas de
passados sensíveis, categoria que para a respectiva dissertação tem sentido para expor passados
que não passam, não substancialmente. O manifesto em defesa das cotas argumenta reconhecer
a necessidade de assegurar os valores de igualdade na Constituição de 1988 na prática,
movimento de justiça às impunidades instauradas na Constituição de 1891, cuja primeira
republica preferiu incentivar a imigração de europeus a ter que ressarcir ao povo afro-brasileiro
os danos possíveis de uma longa data de deterioração populacional e de dignidade.
Se partirmos da herança escravocrata que é fundante da questão racial brasileira, o que
herdamos enquanto povo? Cida Bento (2022) traz encaminhamentos coerentes para pensarmos
os nossos lugares de vida e profissionais nas nossas ações, pessoais e profissionais. Trataremos
mais sobre o tema no próximo capítulo.

48
3 PROFISSIONAIS DE HISTÓRIA NO DEBATE DA LEI DE COTAS RACIAIS NO
BRASIL, QUAIS SEUS LUGARES?

3.1 Historiadores (as) em oposição às cotas raciais: de onde eles (as) vêm?

Após a análise de alguns dos núcleos discursivos que levaram 36 historiadores (as) a
assinarem o manifesto contra as cotas raciais nas instituições de ensino superior, 61 foi necessária
a criação de uma tabela para responder a um modelo com perfil prosopográfico dos (as)
historiadores (as) signatários (as), a fim de analisar a postura mais conservadora destes à época.
Acreditamos que esta seja uma estratégia importante pelo fato de vislumbrarmos que os lugares
de existência possam ser um possível ponto de partida em comum para tal ação.
A intenção inicial era responder algumas questões a respeito de aspectos da formação,
atuação, bem como elementos de caracterização pessoal como gênero e raça, assim buscamos
compreender as fronteiras que esses (as) profissionais encontravam-se social e academicamente
enquanto gerenciadores de seus respectivos discursos e amplificadores de outras vozes que
ecoam das fontes de produção de escrita e revisão da História profissional.

61
Para delimitarmos a mostra, foram levados (as) em consideração 36 historiadores (as) de formação. Mas, há uma
outra personalidade que também nos interessa, o Sociólogo Marcos Chor Maio, este que possui destaque no debate
do tema a época, Possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade Federal Fluminense e mestrado e
Doutorado pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (IUPERJ, atual IESP). À época do
manifesto, esteve em linhas e projetos de pesquisa e disciplinas voltadas para o estudo de questões étnico-raciais
e disciplinas lecionadas na Pós-Graduação em temas históricos (raça, ciência, saúde, políticas públicas) pela
Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) com tais temas e publicações significativas, como o livro “Divisões
perigosas: políticas raciais no Brasil contemporâneo” (2007), que em 2008 foi finalista do Prêmio Jabuti. Outras
publicações
MAIO, M. C.; Santos, Ricardo Ventura (Org.) . Raça como Questão: História, Ciência e Identidades no Brasil.
Rio de Janeiro: Fiocruz, 2010. v. 1. 316p.
MAIO, M. C.. Atitudes Raciais de Pretos e Mulatos em São Paulo ?Virginia Leone Bicudo. São Paulo: Sociologia
e Política, 2010. 192p.
MAIO, M. C.; SANTOS, R. V. (Org.) . Dossiê Raça, Genética, Identidades e Saúde.. v.1. ed. Rio de Janeiro:
História, Ciências, Saúde - Manguinhos, 2005. v. 12(2). 149p.
MAIO, M. C.; COSTA, S. (Org.) . Dossiê: O Intercâmbio intelectual e político entre Brasil e EUA no campo das
relações raciais. Rio de Janeiro: Interseções, 2004. v. 6. 86p.
MAIO, Marcos Chor. UNESCO and the study of race relations in Brazil: national or regional issue? Latin
American Research Review, v. 36, n. 2, p. 118-136, 2001.
MAIO, M. C.. O Negro no Rio de Janeiro: relações de raças em uma sociedade em mudança de Luiz de Aguiar
Costa Pinto. 2. ed. Rio de Janeiro: UFRJ, 1998. 307p .
MAIO, M. C.; SANTOS, R. V. (Org.). Raça, Ciência e Sociedade. Rio de Janeiro: Centro Cultural Banco do Brasil
e Editora da Fundação Oswaldo Cruz, 1996. 252p.

49
3.1.1 Historiadores (as) de formação ou que estavam vinculados (as) a programas e
departamentos de História que assinaram o manifesto em oposição à política.

A amostragem abarca 37 nomes, sendo:


3. Alberto Aggio - Professor livre-docente de História, UNESP/campus de Franca
8. André Campos - Professor do Departamento de História da UFF e da UERJ
9. André Côrtes de Oliveira - Professor
12. Antonio Carlos Jucá de Sampaio, Professor Adjunto do Departamento de História - UFRJ
16. Bernardo Kocher - Professor Departamento de História da UFF
20. Cacilda da Silva Machado - Professora do Departamento de História da UFPR (PR)
24. Cláudia Wasserman - Professora Adjunta de História da UFRGS
26. Célia Tavares - Professora Adjunta de História (FFP/UERJ)
30. Dilene Nascimento - Historiadora, pesquisadora da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz
38. Fernando Roberto de Freitas Almeida - Coordenador do curso de Economia da Faculdade Moraes
Junior/Universidade Presbiteriana Mackenzie-Rio.
40. Francisco Martinho - Professor de História da UERJ
46. Giselda Brito - Professora Adjunta de História da Universidade Federal Rural de Pernambuco
48. Guilherme Amaral Luz - Professor do Instituto de História da UFU
51. Hercidia Mara Facuri Coelho - Pró-reitora, Universidade de Franca (UNIFRAN)
52. Hugo Rogélio Suppo - Professor adjunto de História da UERJ
55. João Amado - Mestrando em História da UERJ e professor da rede pública
57. João Paulo Coelho de Souza Rodrigues - DECIS, UFSJ
62. José Roberto Pinto de Góes - Professor de História da UERJ
63. Josué Pereira da Silva - Professor de sociologia, IFCH, UNICAMP
64. Kátia Maciel - N-Imagem - Escola de Comunicação da UFRJ
66. Laiana Lannes de Oliveira - Professora de História da PUC (RJ)
68. Lilia K. Moritz Schwarcz - Professora Titular de Antropologia da USP
71. Luciana da Cunha Oliveira - Mestranda em História pela UFF e professora da rede pública de ensino
77. Magali Romero Sá - Historiadora, Pesquisadora da Casa de Oswaldo Cruz/FIOCRUZ
78. Manolo Florentino - Professor de história, IFCS/UFRJ
79. Marcos Chor Maio - Sociólogo, Fundação Oswaldo Cruz
80. Maria Alice Resende de Carvalho - Socióloga, professora do IUPERJ
81. Maria Conceição Pinto de Góes - Pós-Graduação em História Comparada, UFRJ.
87. Mônica Grin - Professora do departamento de História da UFRJ
88. Monique Franco - Professora FFP/UERJ
94. Ronaldo Vainfas - Professor Titular de História Moderna da Universidade Federal Fluminense

50
100. Roney Cytrynowicz - Historiador
104. Silvana Santiago - historiadora
105. Silvia Figueiroa - Historiadora, Professora do Instituto de Geociências da UNICAMP
109. Uliana Dias Campos Ferlim - Cantora e professora, mestre em história
112. Wlamir José da Silva - Professor Adjunto de História da Universidade Federal de São João del-Rei
(UFSJ)62

3.1.2 Raça fenotipicamente atribuída.

Para a análise fenotípica dos (as) historiadores (as) que assinaram o manifesto contra as
cotas raciais, elaboramos um formulário que continha um total de 36 imagens. Elas são
correspondentes a 34 dos (as) 36 historiadores (as). Ou seja:
 2 pessoas não conseguimos encontrar nenhuma imagem pública pela internet; Celia
Maria Marinho de Azevedo e João Amado.
 A nossa amostra geral é de 36 historiadores (as) e 1 sociólogo relevante para o estudo
do tema à época de 2006; Marcos Chor Maio. Sendo, assim, a amostra composta por 37
personalidades de oposição às cotas.
 Após a confecção do formulário e envio para a banca, percebeu-se que havia uma
signatária que foi desconsiderada da somatória por seu vínculo com a história disciplinar
ter sido posterior a 2006; Icléia Thiesen.

Ao considerarmos o critério de raça fenotipicamente heteroatribuída, fez-se adequado


buscar auxílio de pessoal experiente nesse tipo de análise. Assim, fizemos contato com a
Coordenadoria de Processos Seletivos da Graduação (CPS, PROGRAD)63 da UFOP com a
requisição de auxiliarem na montagem de uma equipe diversa e experiente. Gentilmente a CPS
concedeu-nos sua lista de membros (as) ativos (as) nas bancas de heteroidentificação étnico-
racial, seja em processos seletivos ou apuração de denúncias. A relação de nomes continha

62 A lista completa estará em Anexo – A.


63
A PROGRAD é um Departamento universitário da UFOP localizado no Campus Universitário Morro do
Cruzeiro s/n - Bauxita, Ouro Preto – MG. No site, tem-se a seguinte descrição do setor: “A Pró-Reitoria de
Graduação (PROGRAD) é o órgão da instituição responsável pela proposição, coordenação e acompanhamento
da política de graduação da UFOP. É também a instância encarregada pelos processos seletivos e o gerenciamento
acadêmico dos cursos de graduação. A PROGRAD estabelece como princípio o fortalecimento da qualidade
acadêmica dos cursos, como meio de assegurar a formação de profissionais reflexivos, críticos e competitivos.
Nesse sentido, vêm incorporando, de forma sistemática e planejada, um conjunto de ações político-pedagógicas
que conduzam ao cumprimento dos objetivos estabelecidos pela LDB de 1996 e pelas Diretrizes Curriculares dos
Cursos de Graduação.” Disponível:
https://www.prograd.ufop.br/%3Cnolink%3E/apresentacao#:~:text=A%20Pr%C3%B3%2DReitoria%20de%20
Gradua%C3%A7%C3%A3o,acad%C3%AAmico%20dos%20cursos%20de%20gradua%C3%A7%C3%A3o.

51
professores (as), técnicos-administrativos (as), discentes de graduação, diplomados (as) e da
pós-graduação. Através de sorteio nomeamos 9 pessoas para nos auxiliarem, 5 destes nos
responderam o formulário e apresentaremos o resumo das respostas.
Na descrição ao formulário foi apresentada uma indicação denominada de “intenção”
de forma que fosse garantido a equipe o anonimato das respostas, bem como esclarecesse que
método de identificação racial via heteroidentificação respeitaria as 5 categorias de “cor ou
raça” do IBGE.
Para a orientação metodológica de aplicação do formulário, Rafael Guerreiro Osório
(2003)64 se fez muito importante. No estudo que traz “O sistema classificatório de “cor ou raça”
do IBGE” este faz uma apuração das relações raciais brasileiras ao estudar os levantamentos
domiciliares feitos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para a
identificação racial das pessoas. O trabalho toca nos métodos de identificação da pertença racial
das pessoas e na classificação de definição dos grupos raciais a que podem ser atribuídos os
sujeitos, bem como nas categorias dessa classificação e seus usos.
Dessa forma, como traz Osorio (2003) em sua produção e aqui reafirma-se, o
levantamento feito teve a finalidade de montagem de um perfil prosopográfico como amostra
de análise, cujo estudo fez-se em torno da caracterização possível, pessoal e profissional da
amostra. “Possível” pois o trabalho tem sido elaborado com as informações públicas
encontradas, então não temos posse de suas auto-atribuições e conta-se com uma escassez de
imagens de boa qualidade de muitos destes. “Também há de se considerar que o objetivo da
classificação não pode ser visto como sendo o estabelecimento de um enquadramento fenotípico
preciso, mas sim de um enquadramento estético local e relacional.” (OSORIO, 2003, p. 17)
Então é uma análise que busca a objetividade do pertencimento racial dessa amostra,
mas que de modo algum está concluída, principalmente pelas dificuldades encontradas que
apontamos acima. No entanto, para buscar corrigir possíveis oscilações, a atribuição fenotípica
se deu por um número ímpar de pessoas, sendo 5, que não souberam entre si das avaliações
umas das outras, e sendo sigilosa entre os (as) membros (as) a composição da banca.
Então apresentadas a intenção e metodologia, vamos aos dados que foram possíveis de
serem coletados até o momento.

Raça fenotipicamente atribuída, por “cor ou raça” (IBGE).

64
OSÓRIO (2003).

52
Gráfico 1: Raça fenotipicamente atribuída, por “cor ou raça” (IBGE).

Fonte: Elaboração própria da autora com base na pesquisa realizada.

Como podemos visualizar, de modo geral, as avaliações trouxeram um contingente de


35 pessoas avaliadas no total, incluindo Marcos Chor Maio. E 2 pessoas não obtivemos fotos
públicas, que foram Celia Maria Marinho de Azevedo e João Amado. De 35 análises, 91,42%
das pessoas foram identificadas como brancas e 8,57% de pessoas não brancas, sendo 2,85%
para pardos (as) e 5,71% para pretos (as). E por mais que tenhamos recebido alguns aportes
sobre a imprecisão da avaliação devido à qualidade ruim das imagens, em alguma medida houve
conformidade nas heteroatribuições.
Mas a preocupação deve ser levada em consideração, pois a coerência pode ter se dado
ao fato da imagem ter atrapalhado a maioria no diagnóstico e terem levado às oscilações de
análise em conjunto, ou por mais que as imagens não estivessem nos melhores moldes para
avaliação, houve um receio mas que ao final resultou em uma avaliação coerente e
representativa. Dos devidos casos analisados, 7 tiveram divergências nas apurações e os 28
demais votos por unanimidade.
Importa destacar que em um dos casos analisados a face da signatária Laiana Lannes de
Oliveira pouco aparece. E para este caso em específico, 2 pessoas votaram que a qualidade
dificultava na análise e 3 atribuíram-na uma cor ou raça. No formulário foram inseridas e
avaliadas 36 imagens, porém uma personalidade foi inserida erroneamente e não participa da
análise, Icléia Thiesen, que não entrou no quantitativo.
Por fim, em campo destinado aos comentários, nos subscreveram na parte final do
formulário “Quiz-Heteroidentificação” no campo destinado aos comentários

Parabéns pela pesquisa, achei interessantíssimo o tema. O que precisar, conte


comigo!!!

Oi, Floriza. Não sei se o objetivo era este, mas algumas fotos estavam pequenas (eu
enxergo mal) e outras com a imagem distante. Como sempre ocorre, também senti
dificuldades para avaliar umas 4 pessoas.
Sucesso em sua pesquisa. Abraços.

53
A grande maioria das imagens é insuficiente para se deliberar, com segurança, sobre
a leitura racial das pessoas propostas. Imagens de perfil, com excesso de sobra ou de
luz, dificultam o procedimento, podendo tornar falsos ou insuficientes os resultados.

Reforça-se, pois, a partir dos comentários que as imagens não estão muito nítidas e
ampliadas, mas 28 votos obtidos por unanimidade para a cor ou raça branca destes (as)
historiadores (as) não deixa margens de erro para que possamos tirar conclusões sobre a raça
fenotipicamente atribuída por heteroidentificação a esses (as) profissionais. Os votos não
unânimes se fizeram resultados entre pardos e pretos, sendo, portanto, pessoas ao que Osorio
(2003) traz como divergência, sendo estes (as) indivíduos na fronteira entre 2 grupos. A
unanimidade formaria a convergência, sujeitos dentro do estereótipo de um grupo.

3.1.3 Gênero.
Levando em consideração os gêneros masculino e feminino65, ao total de 37 signatários
(as) da amostragem já delimitada acima (36 historiadores (as) e um sociólogo de destaque no
assunto das cotas raciais em 2006), temos 19 pessoas do gênero feminino e 18 do gênero
masculino, como demonstrado no Gráfico 1.

3.1.4 Década de formação.

Quanto às décadas de formação, buscamos tanto formações de graduação, quanto


mestrado e doutorado. Pensamos em fazer esse recorte para levantar nichos e possibilidades de
formação teórica. E como podemos ver no gráfico 2, suas formações de graduação são de
maioria da década de 1980, sendo que na mesma década tivemos 8 mestrados e 2 doutorados.
Em 1990, tivemos mais mestrados, sendo 14, 5 graduações e 13 doutorandos. Em 1970 foram
5 graduações. E em 2000 4 graduações, 6 mestrados e 10 doutorados.

65
Por se tratar de uma pesquisa por heteroatribuição, não foi possível contar com uma autodescrição de identidade
de gênero da amostra, somente com os estereótipos visuais da binariedade, sendo toda a amostra compreendida
como cisgênero. Temos convicção de que gênero está para além da identidade fisiológica e de padrões sociais que
carregamos conosco ao nascermos.

54
Gráfico 2: Década de formação: síntese.

Fonte: Elaboração própria da autora com base na pesquisa realizada.

Nota-se também a variação “não consta”, é que nesta seção não houve atribuição de
formação em História para alguns dos (das) 36 signatários (as) nos níveis de graduação,
mestrado e doutorado. Portanto, 7 não fizeram graduação em história, 6 não fizeram mestrado
e 9 não fizeram doutorado.
Nesse quesito, analisamos 36 profissionais que tiveram formação direta no curso de
História, seja Graduação, Mestrado ou Doutorado. Obtivemos, de 36 historiadores (as) com
alguma formação em história, 80,55% possuíam a graduação, 77,77% o mestrado e 69,44% o
doutorado.
Dos que não possuíam formação, mas que trabalhavam com a história, tivemos: Marcos
Chor Maio, Pesquisador Titular da Casa de Oswaldo Cruz/Fundação Oswaldo Cruz e professor
do Programa de Pós-graduação em História das Ciências e da Saúde da Casa de Oswaldo Cruz,
PPGHCS/COC/Fiocruz. Pela Fiocruz, lecionou disciplinas na pós-graduação: Raça, Ciência e
Sociedade; História e Teoria Social; História das Ciências Sociais no Brasil; História da Saúde
Internacional; História das Políticas Públicas de Saúde no Brasil.
Marcos Chor Maio não foi contabilizado nesse quesito, mas trabalhava em programa de
pós-graduação, ministrando disciplinas sobre “História das Ciências e da Saúde”, “História das
Ciências Sociais no Brasil”, “Etnicidade, raça e saúde” e “Raça, Ciência e Sociedade”; linhas
de pesquisa sobre “Pensamento Social, Raça, Ciência e Saúde no Brasil”, “História dos
Movimentos, Ações e Políticas de Saúde para grupos específicos”, estando este incluso aos
demais historiadores (as) por questões a se repensar - ser historiador no Brasil em 2006 seria
somente ter formação em história ou se trabalhar diretamente com ela tem alguma relevância.
Esses tópicos são pautados na Lei nº 14.038, de 17 de agosto de 2020. Quem seriam e porquê
seriam historiadores (as) no Brasil?

Art. 3º O exercício da profissão de Historiador, em todo o território nacional,


é assegurado aos:
I – portadores de diploma de curso superior em História, expedido por
instituição regular de ensino;

55
II – portadores de diploma de curso superior em História, expedido por
instituição estrangeira e revalidado no Brasil, de acordo com a legislação;
III – portadores de diploma de mestrado ou doutorado em História, expedido
por instituição regular de ensino ou por instituição estrangeira e revalidado no Brasil,
de acordo com a legislação;
IV – portadores de diploma de mestrado ou doutorado obtido em programa de
pós-graduação reconhecido pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior - CAPES que tenha linha de pesquisa dedicada à História;
V – profissionais diplomados em outras áreas que tenham exercido,
comprovadamente, há mais de 5 (cinco) anos, a profissão de Historiador, a contar da
data da promulgação desta Lei.

Depois de muitas discussões e atualizações, a lei vem para assegurar o direito da


comunidade de ser considerada profissional, com qualidade de trabalho, incremento na atuação
profissional para além do magistério, estímulo aos jovens que optem pela respectiva carreira.
Ou seja, pessoas sem vínculo algum com o campo não podem mais ser consideradas
historiadoras. Mas, somente bases formativas acadêmicas poderiam formar profissionais mais
progressistas para com causas de inclusão, social, política e intelectual? O certificado de
autenticidade e de autoridade também poderia ser dialógico com bases populares e de
movimentos sociais?
Fato é que trabalhar e vivenciar temas, pesquisas e informações históricas não é um
ofício somente de historiadores (as) acadêmicos, e que o ato de historiar responsavelmente está
diretamente ligado à formulação de problemáticas, reivindicações de soluções, produção do
conhecimento, circulação, consumo, ensino-aprendizagem, renda e sobrevivência, podendo
também grupos religiosos e de organização comunitária de bairros, por exemplo, trazerem
narrativas de autoridade.

3.1.5 IES de formação.


Quanto às instituições de formação, segue-se uma lista das que receberam alguns (as)
destes (as) historiadores (as), havendo uma grande diversidade como pode ser observado nos
gráficos abaixo. A instituição com mais títulos de graduação é a Universidade Federal
Fluminense (UFF), com 8 graduados (as). Para os títulos de mestrado a UFF também lidera o
ranking, com 8 mestrados, junto a ela temos a Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)
com 8 mestrados também. Para o doutorado a UFF, ainda à frente, teve 7 doutorados em
história. O segundo lugar com mais graduações concluídas foi a UNICAMP, sendo 4
graduações, e o segundo lugar com mais títulos de mestrado foi a Universidade do Estado do
Rio de Janeiro (UERJ), sendo 3 mestrados. O segundo lugar com mais concluintes de doutorado
foi a Universidade de São Paulo (USP), com 4 doutorados. Nessa contagem foi retirado o
signatário Marcos Chor Maio, que não possui formação em história mas que trabalha com ela

56
diretamente. Os gráficos 4, 5 e 6 representam as formações em história por seu respectivo nível
(graduação, mestrado ou doutorado) por décadas.

Gráfico 3: Ranking de IES formadoras por região e nível


de formação.

Fonte: Elaboração própria da autora com base na pesquisa realizada.

Gráfico 4: IES por década de formação: Graduação.

Fonte: Elaboração própria da autora com base na pesquisa realizada.

57
Gráfico 5: IES por década de formação: Mestrado.

Fonte: Elaboração própria da autora com base na pesquisa realizada.

Gráfico 6: IES por década de formação: Doutorado.

Fonte: Elaboração própria da autora com base na pesquisa realizada.

58
3.1.6 IES de atuação à época (2006).

Das Instituições de atuação à época (2006), tem-se a Universidade do Estado do Rio de


Janeiro (UERJ) e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) como sendo as
universidades de mais vínculos profissionais, com 6 cada uma delas. A Universidade Estadual
de Campinas (UNICAMP) segue em segundo lugar com 4 vínculos. E a Fundação Oswaldo
Cruz em terceiro lugar, com 3 vínculos. Os vínculos são com a docência e discência, seja em
universidade, instituto, fundação, editora e revista. Somente uma historiadora não teve nenhum
vínculo institucional em 2006 ao que pudemos encontrar, que foi Silvana Santiago.

Gráfico 7: Vínculos por IES à época.

Fonte: Elaboração própria da autora com base na pesquisa realizada.

Instituições que obtiveram um vínculo:


Totalizando 20, foram elas: UNESP, Júlio de Mesquita Filho; COA; UFPR; UFRGS;
FMJ-MR; UGF; UFRPE; UFU; UNIFRAN; UNIVEM; FEESR; Fundação Osório; USP; Sec.
do Estado de Educação do RJ; IUPERJ; UCAM; Instituto Nacional de Educação de Surdos;
UNESA; Editora Narrativa Um.

59
3.1.7 Atuação profissional.
Para essa intersecção, encontramos 32 historiadores (as) vinculados (as) à docência,
sendo para com o Ensino Superior [27], Ensino Básico [1], Ensino Técnico [1], sem vínculos
[3] e outros vínculos [8], como em cargo de Coordenação [1], editora [1], pesquisador (a) [3].

Gráfico 8: Atuação profissional.

Fonte: Elaboração própria da autora com base na pesquisa realizada.

3.1.8 Campo (dimensões, abordagens e domínios) de atuação/formação.


Sendo as maiores correspondências para: História do Brasil, 9, com alguns (as) destes
(as) signatários (as) especificando, para Colônia [3], Império [1], República [3]. Houveram 6
vínculos com a História Social. Sobre a História da América foram 6, incluindo estudo dos
Estados Unidos [1] e da América Latina [1]. Foram 3 vínculos à História da África e Escravidão
e Raça. Também, 3 vínculos em História das Relações Internacionais. Para 4 pessoas não foi
possível encontrar vínculo temático de formação ou atuação profissional.

Tabela 2: Campo (dimensões, abordagens e domínios) de atuação/formação.

Campo histórico; dimensões e


Domínios
abordagens
História Social 16 ERER/Questões étnico-raciais; abolição, 6
colonialismo; diáspora
História do Brasil 9 Escravidão 6
América 9 Imigração 1
Artísticas 5 Trabalho 1

Ciência/Doença/Saúde 5 Holocausto 1
Intelectual 5 Gênero 1
Relações Internacionais 5 Indígena 0
Economia 5 Políticas Públicas e Gestão Pública 0

60
Fiocruz 4
África 4
Educação 4
Demografia 2
Cotas 2
Movimentos Sociais/Movimentos 2
Negros
Fonte: Elaboração própria da autora com base na pesquisa realizada.

3.1.9 Disciplinas-irmãs.
Para essa seção, identificou-se áreas de formação pelas quais passaram esses (as)
historiadores (as) também, para além da História. Foram, portanto, 5 formações em Ciências
Sociais, 4 em Sociologia, 4 em áreas Educacionais [Educação, Educação Musical, Psicologia
Escolar e Administração Escolar], 5 em áreas Artísticas [Cinema, Música Popular, Artes,
História da Arte e novamente Educação Musical], 4 para Educação e 2 para Antropologia.

Gráfico 9: Disciplinas-irmãs.

Fonte: Elaboração própria da autora com base na pesquisa realizada.

3.1.10 Estado de naturalidade.


O estado de naturalidade não se faz muito representativo pelo fato de não terem muitos
deles trazido essa informação publicamente, mas em algumas de suas redes sociais encontrou-
se algumas de suas regiões. De 37 signatários (as), foi possível encontrar somente de 17, a
serem expostos no gráfico abaixo:

61
Gráfico 10: Estado de naturalidade.

Fonte: Elaboração própria da autora com base na pesquisa realizada.

3.1.11 Conclusões.

Alguns pontos em comum desse recorte e que geram novas questões se fazem, de início,
a partir do montante quantitativo de historiadores (as) elencados (as) para analisarmos a partir
da lista de 114 original do documento. Tivemos 36 profissionais devidamente formados (as),
seja na graduação, mestrado ou doutorado em história. No entanto, mais 1 pessoa trabalhava
diretamente com o curso de história disciplinar, como membro de comissão de programa de
pós-graduação em história e lecionando disciplinas na área profissional. Portanto, acreditou-se
ser interessante analisar seu lugar dentro desse montante para podermos justamente repensar
quem seria historiador (a) no Brasil em 2006. Portanto, somam-se 37 perfis constitutivos da
amostra, sendo, assim, profissionais que se formaram e/ou trabalhavam diretamente com a
história profissional.
Das atribuições fenotípicas atribuídas aos (às) signatários (as) do manifesto de 2006,
por mais que a heteroidentificação por si só possa apresentar algumas fragilidades, ao que foi
possível elencar, consta-se que houve uma bolha ético-racial emoldurando esse documento.
Seguindo os critérios de cor/raça do IBGE pela equipe já treinada para tais análises, tivemos,
pois, 32 pessoas identificadas como brancas, e 28 destas com uma avaliação unânime e 7
pessoas com o veredito pela maioria. Dessas 7 pessoas com mais de uma atribuição, 2 pessoas
tiveram dubiedade entre cor/raça branca (votação estando 80%) e parda (20%). Outras 2 pessoas
tiveram dubiedade entre cor/raça preta e parda, sendo uma de preta (60%) e parda (40%) e a
outra de parda (80%) e preta (20%). Mais 2 pessoas com não unanimidade na atribuição
obtiveram três atribuições, sendo parda (60%), branca (20%) e preta (20%), e por fim a outra
atribuição de branca (60%), parda (20%) e indígena (20%). Dos casos não unânimes, o de uma
das signatárias precisa ser repensado. Desta obtivemos apenas uma imagem pública, sendo
pouco clara e significativa, tanto que somente nessa avaliação deixamos a opção de voto em “A

62
qualidade da imagem me impossibilita de avaliar”, tendo essa opção recebido a avaliação de
40% das avaliações e, apesar das dificuldades em avaliar, 60% da banca sentiu-se segura para
heteroidentificar a signatária para cor/raça branca (60%). Leva-se em consideração também a
ausência de imagens de 2 signatários.66 Portanto, o predomínio da raça branca com a pauta é
nítido, havendo uma disputa racial para com o projeto de nação que os anos dois mil trariam.
A região de naturalidade, formação e vínculo profissional destes estão concentradas no
eixo “Rio-São Paulo”. Nessa questão geográfica lembramos de apurações feitas recentemente
em “Consumindo o historicismo através dos Almanaques anuais (1816-1827): historiografias
populares e distância histórica. II”, projeto de Iniciação Científica que participei67 sob
orientação também de Valdei Araujo. Na pesquisa, em minha edição enquanto bolsista desse
projeto tão mais amplo, buscávamos mapear a emergência de novas historicidades nas
chamadas historiografias populares. Analisávamos almanaques anuais editados no Rio de
Janeiro entre 1816 e 1827, mas em um dado momento da pesquisa fiz um levantamento dos
almanaques anuais nacionais do século XIX que estavam disponíveis no site da Hemeroteca
Digital, de nomenclatura “almanach”.
Nesse recorte percebemos um lugar limitado da experiência de circulação e consumo de
história, sendo o eixo Rio-São Paulo como polos de domínio da circulação desses periódicos,
por mais que o analfabetismo fosse uma realidade a circulação era também limitada. À época
da pesquisa percebemos centros escravocratas com maiores publicações (Vassouras, Campinas,
Rio de Janeiro).68 Visto isso, o impacto da elite rica na gestão do tempo fora um dos
direcionamentos possíveis para se pensar a tensão existente dentro das próprias formas não-
especializadas de apropriação e apresentação da história ao longo do século XIX. Esse projeto
pôde nos trazer hipóteses a serem levantadas sobre a região representativa desses signatários
em 2006.
Quanto à década de formação, o que estariam esses (as) intelectuais em maioria
consumindo historiograficamente? Quem estariam sendo seus mestres? Formados em maioria
na graduação em história na década de 1980, é na década de 1990 que se concentram mais
formados no mestrado e doutorado. De 15 graduados (as) na década de 1980, 14 fizeram
mestrado e 13 fizeram doutorado. Isso mostra, de certa forma, um perfil formativo de categoria,
de ensino continuado, com uma profissionalização significativa.

66
Celia Maria Marinho de Azevedo e João Amado.
67
Em primeira pessoa, eu, mestranda que vos escreve.
68
ARAUJO; PAULA (2021). Pesquisa publicada no IX Anais do Encontro de Pesquisa em História (EPHIS) da
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

63
3.2 HISTORIADORES (AS) A FAVOR DAS COTAS RACIAIS: DE ONDE ELES (AS)
VÊM?69
O tema das cotas raciais sofreu muita agitação social, acadêmico-intelectual e reverberou
também no âmbito político da pauta. Em 2006 tivemos o manifesto contra as cotas, como já
visto, mas também houve um outro documento que reuniu 330 assinaturas e mais 60 nomes em
apoio. Levando em consideração as 330 assinaturas, a pesquisa se projetou também a fazer um
levantamento do nicho pessoal e profissional destes (as) signatários (as), a fim de conhecer um
pouco mais dos perfis que constituíram esse documento bastante relevante.
Para a organização da pesquisa, de início levantou-se a lista com os (as) 330 signatários
(as), sendo 6 nomes com repetição. Então, sem as duplicações, tivemos 224 nomes. E através
de buscas em nosso principal arquivo, a internet, conseguiu-se extrair informação profissional
da maioria da amostragem [303]70, não sendo possível extrair informações públicas de 18
signatários (as).
Ainda sobre os 330, percebeu-se que dentre as assinaturas haviam 3 instituições, não
havendo informações profissionais respectivas. Então, de 330, menos as repetições, instituições
e pessoas sem informação profissional, conseguimos informações de 303 signatários (as).
Destes (as), a pesquisa debruçou-se sobre as informações públicas apreendidas e conseguimos
levantar que 81 eram historiadores (as) de formação ou que assinaram o manifesto como
professor (a) de história [2] ou que não possuía formação respectiva em história, mas que
lecionava disciplinas na graduação em História.71 Também, trouxemos mais 4 nomes com
especializações na área de História para refletirmos sobre esse perfil profissional. Sendo assim,
de 303 signatários (as) (do número extraído do montante de 330 menos as repetições [6],
instituições [3] e pessoas sem informação profissional [18]), 81 possuíam formação em história
ou eram docentes desta e 4 fizeram alguma especialização na área, logo, 218 possuíram
formações profissionais atreladas a áreas outras que não à da história disciplinar.72

69
Postagem retirada do site Geledés em 04 de julho de 2008. Instituição que subscreve o manifesto.
70
Aqui exclui-se as intersecções desprezíveis a quantificação: as 6 repetições, as 3 instituições e as 18 pessoas
cujas informações públicas não foram encontradas. O somatório faz-se a partir dos (as) historiadores (as), de quem
possui especialização voltada à história disciplinar e aos que possuem informação profissional mas que não são
voltadas à história disciplinar.
71
Como é o caso de Wilma de Nazaré Baía Coelho, que assina como “Professora da Universidade Federal do Pará
e da Universidade da Amazônia”, sem formação em História, mas que trabalhava como professora da disciplina
no início dos anos dois mil, pela Faculdade de História/IFCH.
72
A lista completa estará em Anexo – B.

64
Gráfico 11: Favoráveis: síntese.

Fonte: Elaboração própria da autora com base na pesquisa realizada.

3.2.1 Signatários (as) sem informações públicas.


Sobre os (as) signatários (as) que não obtivemos informações públicas sobre suas
profissões em Lattes e LinkedIn e sites profissionais, tivemos 18, arrolados abaixo:

15. Álvaro Fernandes Sampaio - Tukano - Líder do Povo Tukano/ Assessor do Instituto
Brasileiro da Propriedade Intelectual (INBRAPI).
37. Antonio Santana (Pastor) - Professor de Teologia da Universidade Metodista de São
Bernanrdo do Campo (UMESB).
59. Damião dos Reis - Capitão-Regente da Guarda do Congo Velho do Rosário de Belo
Horizonte.
71. Dulcilene Santiago de Souza. Assitente Social. Núcleo Santa Cruz/Guarujá.
82. Fabiana Oliveira - Membro da Coordenação do Movimento Pré-Vestibular para Negros e
Carentes, ex-aluna do PVNC e estudante de Comunicação.
103. Geraldo Potiguar do Nascimento - Instituto Pedagógico para o Crescimento,
Fortalecimento e Valorização da Cultura, do Viver Afro-Brasileiro e os Direitos Humanos -
(sede) Porto Alegre - RS.
112. Helder Barbosa - Economista do SEBRAE-BA.
122. Iolanda de Oliveira - Professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal
Fluminense.
132. Ivanir Alves dos Santos - Coordenador do Centro de Articulação de Populações Marginais
(CEAP), do Rio de Janeiro.
137. João Augusto Santos Silva - Coordenador do Bloco Afro Odomode - Porto Alegre.
185. Luciana Vieira - diretora do sindicato dos bancários RJ.
196. Marcia dos Passos Neves - professorada rede pública de ensino no Rio de Janeiro/ mestre
em educação da UFF

65
214. Maria Helena Mendes Sampaio - Presidente da Entidade Sócio-Cultural Artístico-
Religiosa Afro-Descendente Nagô-Iorubá Afoxé Oyá Alaxé, Ialorixá Ilê Oba Aganju - Recife.
218. Maria Lúcia Felipe da Costa - Líder do Terreiro de Nação Nagô Senhora Santa Bárbara,
de Água Fria, Recife
251. Nivaldo pereira - Vice-Presidente do CDCN - Conselho Estadual de Desenvolvimento da
Comunidade Negra da Bahia. Conselheiro Associação Nacional de Advogados Afro-
Descendentes/Bahia.
281. Ricardo Chaves - Professor de Pediatria da Universidade do Estado do Rio de Janeiro
284. Rilkim Tavares Rodrigues - Presidente da UCAB (União dos Cultos Afro do Brasil)
323. Walace Nascimento - Representante do Fórum de Entidades Negras.

3.2.2 Assinaturas com repetição.


Tivemos 6.

52. Celeste Maria Libania dos Santos - Sócia-propietária da Sobá Livros e Cd's Ltda.
123. Iolanda de Oliveira - Professora de Educação da Universidade Federal Fluminense
(UFF)/Coordenadora do PENESB
126. Iradji Roberto Ejhan - Gerente Executivo da Agere. Professor da UNIEURO.
223. Maria Nilza da Silva - Professora. Adjunta de Sociologia do Departamento de
Ciências sociais da UEL.
225. Maria Odete de Vasconcelos - Professora do Departamento de Histologia e
Embriologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
261. Paulino de Jesus Cardoso - Professor de História da UDESC.73

3.2.3 Centros institucionais signatários.

Tivemos 3, são eles: CPV-Negros da Universidade Federal do Amapá – UNIFAP;


Geledés - Instituto da Mulher Negra; e Instituto de Assessoria as Comunidades Remanescentes
de Quilombos do Rio Grande do Sul (IACOREQ).
Sobre o CPV-Negros da Universidade Federal do Amapá – UNIFAP, Branco e Trindade
(2017) situam as ações do respectivo projeto entre 2002 e 2003, transição de mandatos de
Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula, em

73
Em negrito por fazer parte de nossa amostragem de profissionais de história.

66
que buscaram normatizar várias reivindicações do movimento negro brasileiro, entre
elas destaca-se a lei 10.639 que trata das Diretrizes Curriculares Nacionais para a
Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e cultura Afro-
Brasileira de 2003. (BRANCO; TRINDADE; 2017, p. 34)74

Nesse âmbito, as Universidades passam a refletir e projetar-se mais sobre a ausência de


negros (as) no ensino superior, inclusive a Universidade Federal do Amapá. Nesse cenário, o
projeto CPV-Negros surge de uma extensão comunitária através de financiamento “via
concurso do Programa Políticas da Cor na Educação Brasileira (PPCOR) – financiado pela
Fundação Ford vinculado a UERJ. No mesmo ano, o cursinho iniciou suas atividades de
extensão, ficando até o ano seguinte funcionando de acordo com o projeto original.”
(BRANCO; TRINDADE, 2017, p. 35)
A segunda instituição, “Geledés - Instituto da Mulher Negra”, é de formação anterior,
do período pós-ditadura e de redemocratização, pois, como está esmiuçado em seu site oficial,
a instituição75

Fundada em 30 de abril de 1988, Geledés é uma organização da sociedade civil que


se posiciona em defesa de mulheres e negros por entender que esses dois segmentos
sociais padecem de desvantagens e discriminações no acesso às oportunidades sociais
em função do racismo e do sexismo vigente na sociedade brasileira. (GELEDÉS)

A terceira instituição, Instituto de Assessoria as Comunidades Remanescentes de


Quilombos do Rio Grande do Sul (IACOREQ-RS) é uma instituição vocacionada à pesquisa e
à intervenção militante no sentido da resistência e combate ao racismo com particular enfoque
no apoio as comunidades rurais negras.76

3.2.4 Historiadores (as) de formação ou que estavam vinculados (as) à programas e


departamentos de História em defesa da política.

Tivemos 81, sendo:


5. Adelaide Gonçalves - Professor da Universidade Federal do Ceará
6. Adriana Pereira Campos - Professora de História da UFES, Doutora em História Social.
8. Aldenir Dida Dias dos Santos - Professora de sociologia da Faculdade do Guarujá.

74
BRANCO; TRINDADE (2017). Disponível em:
http://repositorio.unifap.br/jspui/bitstream/123456789/458/1/TCC_Institucionaliza%c3%a7%c3%a3oCursinhoPr
eVestibular.pdf
75
Trataremos tal organização como instituição pelas atribuições de gerência, organização e formação de opinião
que possui.
76
IACOREQ-RS. Disponível em: https://wiser.directory/organization/instituto-de-assessoria-as-comunidades-
remanescentes-de-quilombos-iacoreq-rs/

67
9. Alecsara Maciel - Professora do departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal
do Amapá (UNIFAP).
12. Alexandre Fortes - Professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
25. Ana Lúcia Pereira - Pró-Reitora de Extensão da Universidade Federal do Tocantins – UFT
30. André Leonardo Chevitarese - Professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro
34. Angela Renata Gonçalves Castilho de Azevedo - Professora de História da FAETEC.
45. Caetana Damasceno - Professora de Antropologia da Universidade Federal Rural do Rio de
Janeiro
54. Claudia Ferreira - Jornalista. Coordenadora do Centro de Atividade Culturais, Econômicas
e Sociais (CACES).
60. Daniel Aarão Reis - Professor Titular de História Contemporânea, Universidade Federal
Fluminense.
66. Demartone Gomes - Coordenador da Regional 5 do Sindicato Estadual de Profissionais da
Educação (SEPE-RJ).
68. Diórgenes Pacheco de Lima - Professor do Curso Pré-Vestibular Popular Resgate de Porto
Alegre-RS.
81. Eurípedes Antônio Funes - Professor da Universidade Federal do Ceará
89. Fernando Pinheiro - Membro da Coordenação do Movimento Pré-Vestibular para Negros e
Carentes, Professor da Rede Pública e pesquisador do NIREMA-PUC/RJ.
90. Flávio Gomes - Professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
92. Francisca Novantino Ângelo Pareci - Mestra em Educação/ Representante Indígena do
Conselho Nacional de Educação.
93. Francisco Carlos Cardoso da Silva - Professor de Sociologia da UESB e doutorando em
Antropologia pela PUC-SP.
94. Francisco Carlos Teixeira da Silva - Professor Titular da Universidade Federal do Rio de
Janeiro.
95. Franck Pierre Ribard - Professor da Universidade Federal do Ceará.
96. Frédéric Monié - Professor do Departamento de Geografia da UFRJ.
102. Geraldo Moreira Prado - professor do IBICT da Universidade Federal do Rio de Janeiro
105. Giuseppe Cocco - Cientista Político e Professor da Escola de Serviço Social da UFRJ.
111. Hebe Mattos - Professora Titular de História do Brasil, Departamento de História,
Universidade Federal Fluminense.
117. Henrique Cunha Jr. - Professor Titular da Universidade Federal do Ceara.Livre docente
pela USP. Membro fundador da Associação Brasileira de Pesquisadores Negros. Presidente do

68
Instituto de Pesquisas da Afrodescendencia - IPAD. Membro da comissão de estudos pro-cotas
da Universidade Federal do Ceará.
120. Ilka Boaventura Leite - Professora de Antropologia da UFSC/Coordenadora do NUER.
127. Isabel Cristina Ferreira dos Reis - Professora Universitária e doutoranda no Programa de
Pós-Graduação em História da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
128. Isabel Cristina Martins Guillen - Professora Adjunta do Departamento de História da
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
133. Izabel Cristina da Cruz - Professora de História e Subsecretária M. de Cultura de
Itaboraí/RJ
135. Janô Beserra de Araujo - Professor de História e presidente do PT/ Itaboraí - RJ
141. João Diógenes Ferreira dos Santos - Professor de Sociologia da UESB e doutorando em
Ciências Sociais da PUC-SP.
143. João José Reis - Professor Titular de História da Universidade Federal da Bahia (UFBA).
146. Jocelene Ignácio - Membro da Coordenação do Movimento Pré-Vestibular para Negros e
Carentes (PVNC), Assistente Social e Professora Universitária.
148. Joelma - Professora de História do Centro Universitário de Brasília (CEUB)
152. Jorge Luiz Silveira Ribeiro - Professor de Sociologia do Colégio Pedro II - Unidade
Humaitá-RJ
160. Jose Jorge Siqueira - Professor da Pós-graduação em História da Universidade Severino
Sombra
164. José Roberto do Franco Reis - Pesquisador FIOCRUZ
167. Josildeth Gomes Consorte Professora Titular de Antropologia da PUC-SP.
173. Kênia Sousa Rios - Professora da Universidade Federal do Ceará
176. Leila Maria A.Barbosa - Professora de Historia. Presidente Instituto Cultural Baixo Santa
do Alto Gloria
177. Leonor Franco de Araújo - Professora de História do Brasil e Africa da UFES.
Coordenadora do NEAB/UFES. Membro do Movimento Negro Prócotas na UFES.
183. Lourenço Cardoso - escritor e ativista do movimento social negro. Formado em História
na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
188. Luís Reznik - Professor de História da PUC/RJ e da UERJ.
191. Luiz Otávio Ferreira - Pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ)
193. Marcelo Barbosa Santos - Historiador, MBA em Marketing Empresarial, direção do
SINTFUB/Fasubra
197. Marcia Guerra - Professora de História da PUC-RJ.

69
198. Márcia Motta-Coordenadora do Programa de Pós Graduação em História da Universidade
Federal Fluminense
203. Marco Antônio Domingues Teixeira - Professor de História da Universidade Federal de
Rondônia (UNIR)
204. Marcus de Carvalho - Professor da Universidade Federal de Pernambuco
206. Maria Aparecida Bergamaschi - Professora na Faculdade de Educação da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Coordenadora do Programa Conexões de Saberes -
UFRGS.
207. Maria Aparecida da Silva (Cidinha) - Pesquisadora do Instituto Kuanza, de São Paulo
210. Maria Cláudia Cardoso Ferreira - Ex-aluna do PVNC, Historiadora, Professora da Rede
Pública do Rio de Janeiro.
211. Maria da Conceição Carneiro Oliveira - historiadora e autora de livros didáticos. Prêmio
Jabuti 2005
222. Maria Nilza da Silva - Professora de História da Universidade Estadual de Londrina (UEL)
- Coordenadora do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da UEL
235. Marta Amoroso - Professora do Departamento de Antropologia da Universidade de São
Paulo (USP)
237. Martha Abreu - Professora de História da Universidade Federal Fluminense. Pesquisadora
1-d do CNPq.
238. Mauro Cezar Coelho - Professor Doutor da Universidade Federal do Pará (UFPA)
245. Monica Lima - Professora do Colégio de Aplicação (CAP) da Universidade Federal do
Rio de Janeiro
254. Olívia Maria Gomes da Cunha - Professora de Antropologia da Universidade Federal do
Rio de Janeiro (UFRJ)
259. Patrícia Sampaio - Professora da Universidade Federal do Amazonas
260. Paulino Cardoso - Coordenador do Núcleo de Estudos Afrobrasileiros (NEAB) da
Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC)
263. Paulo Cesar Duque-Estrada - Professor da PUC-RJ
268. Paulo Sérgio da Silva - Professor, historiador e membro do IACOREQ/RS
269. Paulo Staudt Moreira - Professor da Universidade do Vale dos Sinos/RS
273. Petrônio Domingues - Professor da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste)
274. Rachel Soihet - Professora do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade
Federal Fluminense (UFF)
282. Ricardo de Oliveira - Professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

70
283. Ricardo Salles - Professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e da UNIRIO
286. Robert Slenes - Professor de História da Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP
287. Roberto Gonçalves da Silva - Professor de Urbanismo da Universidade Federal de Santa
Catarina
290. Roquinaldo Ferreira - Professor da Universidade de Vírginia - EUA
291. Rosângela "Janja" Costa Araújo - Coordenadora do Programa de Educação do Geledés-
Instituto da Mulher Negra. Doutora em Educação/USP.
295. Selma Pantoja - Professora da Pós-graduação em História da Universidade de Brasília
299. Sidney Chalhoub, - Professor Titular de História do Brasil da UNICAMP
300. Silvia Hunold Lara - Professora de História na Universidade Estadual de Campinas
(UNICAMP)
304. Suely Gomes Costa - Professora do Mestrado em Política Social e do Programa de Pós-
Graduação em História da UFF
305. Sydenham Lourenço Neto - Historiador e Cientista Político, Professor da UERJ.
319. Verena Alberti - Pesquisadora do CPDOC-FGV
325. Walter Fraga Filho - Professor da Universidade do Estado da Bahia (UNEB)
328. Wilma de Nazaré B. Coelho - Professora da Universidade Federal do Pará e da
Universidade da Amazônia
329. Wilson Roberto de Mattos - Pró-Reitor de Pesquisa e Ensino de Pós-Graduação da UNEB.
Conselheiro do Conselho Nacional de Educação.

3.2.5 Historiadores (as) por gênero.

Tivemos em um total de 81 pessoas, 38 pessoas do gênero feminino e 43 pessoas do


gênero masculino:

71
Gráfico 12: Gênero.

Fonte: Elaboração própria da autora com base na pesquisa realizada.

3.2.6 IES de formação por década: Graduação.


Não consta graduação dentre os títulos de formação em História para 18 dos 81
historiadores (as), que tiveram, portanto, apenas mestrados, doutorados ou vínculos a
departamentos de História [63].
Como pode ser observado no gráfico abaixo, por ordem a Universidade com mais
formações de Graduações é a Universidade Federal Fluminense (UFF), com 11 formações. Em
segundo, tem-se a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) com 8 formações e a
Universidade de São Paulo (USP) com 7 formações. Aqui tem-se, portanto, o estado do Rio de
Janeiro em primeiro e segundo lugar, maior estado formador, e em segundo o estado de São
Paulo.
Como demonstrado no gráfico 13, a década de 1980 é líder em formações, com 27 das
63 formações de graduação. Em 1990 tiveram 17 graduações e, em terceiro, a década de 1970,
com 12. O corpo signatário graduou-se em História, portanto, entre as décadas de 1970 e 1990.
2 historiadores (as) formaram-se na década de 1950 e 5 depois dos anos 2000. Não houveram
formações na década de 1960.

72
Gráfico 13: IES por década de Gráfico 14: IES por década de
formação: Graduação. formação: Mestrado.

Fonte: Elaboração própria da autora com base na pesquisa realizada.

3.2.7 IES de formação por década: Mestrado.


Como apresentado no gráfico 14 acima, houveram 41 pessoas que não obtiveram
mestrado em História, e das que tiveram, 11 foram pela UFF, 5 pela UFRRJ e também 5 pela
UNICAMP, as duas últimas ocupando o segundo lugar. Quanto aos estados formadores,
novamente o Rio de Janeiro vem em primeiro e o estado de São Paulo em segundo.
Quanto às décadas de formação, em primeiro lugar, 17 historiadores (as) formaram-se
na década de 1990 e 14 na década de 1980. 3 na década de 1970 e 6 obtiveram o título depois
dos anos 2000.

73
3.2.8 IES de formação por década: Doutorado.
Dessa vez, o estado de São Paulo ocupa os primeiro e segundo lugares com Instituições
formadoras e o Rio de Janeiro fica em segundo lugar. Houveram 9 doutorados pela UNICAMP
e 8 doutorados pela USP, e em terceiro segue a UFF, com 6 formações.
Respeitando a consequência temporal, mais historiadores (as) conquistaram títulos de
Doutores (as) em 2000, um total de 18. Houveram 13 formações em 1990, 6 em 1980 e 1 em
1970.
Gráfico 15: IES por década de
formação: Doutorado.

Fonte: Elaboração própria da autora com base na pesquisa realizada.

74
3.2.9 IES de formação por década: Especialização.
a. Não historiadores (as) com especializações na área da História ou em temas
históricos.
Tivemos 4 pessoas sem formação em História com temas históricos em Especialização.
Sendo, pessoas e áreas, respectivamente:
1. 18. Amauri Mendes Pereira - Pesquisador Associado do Centro de Estudos Afro-
Asiático (CEAA) da Universidade Cândido Mendes: História da África, pela
Universidade Cândido Mendes, UCAM, Brasil. (Carga Horária: 360h)
2. 139. João Batista da Silva - Geógrafo. Associação dos Geógrafos Brasileiros RJ:
Patrimônio Cultural e Memória Social, pela Universidade Estadual de Maringá,
UEM, Brasil.
3. 265. Paulo Henrique Menezes - Liga Niteroiense De Capoeira / Niterói- RJ:
Mestrado em Patrimônio, Cultura e Sociedade no Programa de Pós-Graduação em
Patrimônio, Cultura e Sociedade - PPGPACS/IM/UFRRJ.
4. Sergio Baptista da Silva - Professor de Antropologia da UFRGS: História do Rio
Grande do Sul. Pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, UFRGS, Brasil.
(Carga Horária: 360h)

b. Historiadores (as) de formação com Especializações em História.


Pessoas e áreas de formação, para um total de 12, e seus temas respectivamente:
1. 6. Adriana Pereira Campos - Professora de História da UFES, Doutora em História
Social: Teoria da História. Título: Escravos - Protagonista da emancipação: a luta
pela liberdade no Espírito Santo. Orientador: Wânia Malheiros Barbosa Alves.
2. 34. Angela Renata Gonçalves Castilho de Azevedo - Professora de História da
FAETEC: História do Brasil. Título: As Questões de Ordem Sócio-Econômica
dentro da Escola premonitória XV de novembro. Orientador: raquel Soihet.
3. 66. Demartone Gomes - Coordenador da Regional 5 do Sindicato Estadual de
Profissionais da Educação (SEPE-RJ): História da Àfrica. O movimento
nacionalista na Guiné-Bissau e Cabo Verde: Unidade e rompimento (1956-1980).
Orientador: Beluce Bellucci.
4. 94. Francisco Carlos Teixeira da Silva - Professor Titular da Universidade Federal
do Rio de Janeiro: em História. Título: A Formação Social da Miséria. Orientador:
Dr. Reinhard Liehr - pré- requisito do doutorado.
5. 111. Hebe Mattos - Professora Titular de História do Brasil, Departamento de
História, Universidade Federal Fluminense: História do Brasil.
6. 177. Leonor Franco de Araújo - Professora de História do Brasil e Africa da UFES.
Coordenadora do NEAB/UFES. Membro do Movimento Negro Prócotas na UFES:
História das Sociedades Agrárias.
7. 197. Marcia Guerra - Professora de História da PUC-RJ: História Social. Título: sem
monografia.
8. 203. Marco Antônio Domingues Teixeira - Professor de História da Universidade
Federal de Rondônia (UNIR): História do Brasil

75
9. 211. Maria da Conceição Carneiro Oliveira - historiadora e autora de livros
didáticos. Prêmio Jabuti 2005: História Social da Cultura. Título: créditos
concluídos (duração 2 anos). Orientador: Robert Slenes.
10. 237. Martha Abreu - Professora de História da Universidade Federal Fluminense.
Pesquisadora 1-d do CNPq: em História.
11. 274. Rachel Soihet - Professora do Programa de Pós-Graduação em História da
Universidade Federal Fluminense (UFF): História do Brasil.
12. 295. Selma Pantoja - Professora da Pós-graduação em História da Universidade de
Brasília: Metodologia da História.

As décadas de formação se fazem mais recorrentes em 1980, sendo 7 e em segundo


lugar; portanto, 1990 com 5 formações. E as Universidades com mais frequência, temos a UFF
com 7 e a UCAM com 2, as demais Universidades tiveram somente uma formação [7].

Gráfico 16: IES por década de formação:


Especializações.

Fonte: Elaboração própria da autora com base na pesquisa realizada.

76
3.2.10 Região das formações pelas Universidades e ranking das IES formadoras por nível de
formação.

Quanto às Universidades de formação por região, tivemos em 9 posições de liderança


de Instituições formadoras (primeiro e segundo lugares), 6 vezes apareceu o estado do Rio de
Janeiro e 3 vezes o estado de São Paulo. Região que veio atrás, mas com menor frequência, foi
Bahia [4 graduações e 2 mestrados]. França fora um país requisitado, por mais que em menor
frequência ainda se comparado ao eixo Rio-SP brasileiro, foram 2 doutorados [Université Paris-
Sorbonne e Université Paris 1 Panthéon-Sorbonne], 2 mestrados [Université Paris 1 Panthéon-
Sorbonne e Université de Lorraine, UL (Nancy-Univ)] e 2 graduação [Université Paris Diderot,
PARIS 7 e Université de Toulouse II - Le Mirail, UTM].
Outras regiões do exterior formadoras foram Estados Unidos, que obteve 1 graduação
[Lawrence University, LU], 2 mestrados [University of Minnesota System, UMN e University
of Illinois - System, UILLINOIS] e 4 doutorados [University of Minnesota System, UMN;
University of Illinois - System, UILLINOIS; Stanford University, STANFORD e University of
California at Los Angeles, UCLA]. E, por fim, Alemanha, com uma Especialização [Freie
Universität Berlin/FU Berlin, FU BERLIN].
Graduação: 11 pela UFF (RJ), 8 pela UFRJ (RJ).
Mestrado: 11 pela UFF (RJ), 5 pela UFRJ (RJ), 5 pela UNICAMP (SP).
Doutorado: 9 pela UNICAMP (SP), 8 pela USP (SP).
Especializações: 5 pela UFF (RJ) e 2 pela UCAM (RJ).

Gráfico 17: Ranking de IES formadoras por região e nível de formação.

Fonte: Elaboração própria da autora com base na pesquisa realizada.

77
3.2.11 Atuação profissional.
Buscamos, aqui, mapear os vínculos profissionais e encontramos 76 ligados à docência,
sendo para Ensino Superior [62], Ensino Técnico [1] e Ensino Básico [7]. Outra contagem para
Docentes foi de aposentadas [2], demitido [1]. Para outros vínculos, tivemos: pesquisadores
(as) [3], assistente administrativo [1] e fotógrafa [1].

Gráfico 18: Atuação profissional.

Fonte: Elaboração própria da autora com base na pesquisa realizada.

3.2.12 Campo (dimensões, abordagens e domínios) de atuação/formação.77


Percebe-se dimensões históricas com bastante historiadores (as) engajados (as) com a
História da África/africanos(as)/africanidades, sendo 19 historiadores (as). Também,
buscaram capacitar-se em História do Brasil (colonial, imperial e/ou republicano), sendo
18. Para História Social, 16. E para História das Américas e Ensino de História estariam 9
de um total de 81. Quanto aos domínios temáticos, foram; portanto, 21 frequências para
questões étnico-raciais/educação para as relações étnico-raciais, 16 para o tema da
escravidão moderna, 12 para questões de gênero e 6 para os temas entorno da abolição,
povos indígenas e diáspora africana. 4 historiadores (as) próximos (as) aos temas dos
movimentos sociais e para as políticas de cotas/ações afirmativas, e 3 para políticas
públicas/gestão pública.

Tabela 3: Campo (dimensões, abordagens e domínios) de atuação/formação.

Campo histórico; dimensões e abordagens Domínios


História da África (ou África/africanos(as) 19 ERER/Questões étnico- 21
como tema) raciais
História do Brasil (colônia, república, 18 Escravidão 16
império)
História Social 16 Gênero 12

77
Para melhor definir o campo da História e suas modalidades, consultar: BARROS (2005).

78
História das Américas 9 Diáspora africana 6
Ensino de História 9 Abolição 6
História do Trabalho 6 Indígena 6
História Cultural (ou Cultura como tema) 5 Cotas 4
História Contemporânea 5 Movimentos Sociais 4
História da Amazônia 4 Políticas Públicas e Gestão 3
Pública
História Oral 3
História Comparada 3
História das Ciências 3
Teoria da História 3
Filosofia da História 2
História do Tempo Presente/História Pública 2
História Política 2
História da Historiografia 2
História Agrária 1
História Econômica 0
Fonte: Elaboração própria da autora com base na pesquisa realizada.

3.2.13 Disciplinas-irmãs.
Buscando pelas formações para além do campo histórico, o que chamamos disciplinas-
irmãs, tivemos que: 4 personalidades não tinham qualquer informação pública. 12 formações
extra-História para Educação/Educação do Campo/Pedagogia, 11 para Sociologia, 11 para
Ciência Social/Ciências Sociais/Ciências Sociais Aplicadas, 10 para
Antropologia/Antropologia Social, 4 para Ciência Política/Política Social.

Gráfico 19: Disciplinas-irmãs.

Fonte: Elaboração própria da autora com base na pesquisa realizada.

79
3.3 Conclusões

O que fazem os (as) historiadores (as) brancos (as) quando fazem história? Como seus
lugares interseccionais de ser e pensar podem estar influenciando suas posturas públicas?
Parafraseando e ressignificando aqui a interrogação que Marcello Assunção enxerga ter sido
central para Clóvis Moura em As injustiças de Clio. (ASSUNÇÃO, 2022, p. 239)
Juntamente com essa interrogação, caminhamos com a pesquisa, e buscamos nesse
capítulo tencionar os lugares profissionais e pessoais do corpo profissional da História em
oposição e favoráveis às cotas raciais em 2006, signatários (as) dos famosos manifestos
“contra” e “a favor”.
Acreditamos que na posição dos (as) manifestantes contra as cotas raciais esteja contido
um acordo não verbalizado, por vezes, ou seja, tácito de postura contrária à aprovação da lei
em manutenção do acúmulo de recursos econômicos, políticos, sociais, de poder ao segmento
branco da população – a branquitude. (BENTO, 2022, p. 35)
O acordo não oficial se faz, por consequência, também em manter com a lógica in status
quo quanto ao público ingressante no ensino superior à época do debate, ou seja,
conservadoramente “tudo no lugar’, sem mudanças: com maioria branca no ensino superior,
sendo inversamente proporcional à demanda quantitativa social.78 “A quem historicamente
destinou o ensino superior brasileiro?”, remontando aqui a pergunta apropriada por Adilson
Pereira dos Santos (UFOP) de Luiz Antônio Cunha (UFRJ)79.
Em 2010 o Censo apresentava que a população brasileira não era de maioria branca.
Dos 191 milhões de brasileiros (as) em 2010, 91 milhões se classificaram como brancos (as),
15 milhões como pretos (as), 82 milhões como pardos (as), 2 milhões como amarelos (as) e 817
mil como indígenas. Registrou-se uma redução da proporção de brancos (as), que em 2000 era
53,7% e em 2010 passou para 47,7%, e um crescimento de pretos (as) (de 6,2% para 7,6%) e
pardos (as) (de 38,5% para 43,1%). Sendo assim, a população preta e parda passou a ser
considerada maioria no Brasil (50,7%)80, mas não o ensino superior se fazia assim. E a Lei de
cotas surge de uma disputa

Dos mais de 20 projetos de lei que tramitaram por mais de dez anos no Congresso
Nacional visando à instituição de ações afirmativas nas instituições de educação
superior, um deles – o PL n. 73/1999 – acabou por ser finalmente aprovado na forma
da Lei n. 12.711, de 29 de agosto de 2012, que rapidamente ganhou a alcunha de Lei
de Cotas. Trata-se, em suma, de uma norma federal que define parâmetros inclusivos,

78
INSTITUTO (2010), ANDIFES (2018).
79
GESTÃO (2022). Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=8qEyl5-U3wI >
80
INSTITUTO (2010).

80
por meio da reserva de vagas, para o acesso às Instituições Federais de Educação
Superior (Ifes) e aos institutos federais de ensino técnico de nível médio vinculados
ao Ministério da Educação (MEC). O sistema de reserva de vagas para acesso a elas,
no escopo da legislação vigente, obedece a um misto de critérios em que o
atendimento a um está condicionado ao cumprimento de outro. Na prática, a Lei prevê,
primeiramente, que 50% das vagas por instituição, curso e turno devam se destinar
aos alunos que estudaram na rede pública durante toda sua escolarização em nível
médio.2 Em seguida, estabelece uma segunda reserva de vagas, dentro do primeiro
contingente, voltada para outras duas condições: uma proporção mínima de 50% de
estudantes oriundos de famílias cuja renda mensal per capita é igual ou inferior a 1,5
salário-mínimo; e uma proporção de autodeclarados pretos, pardos e indígenas (PPI)
no mínimo igual à soma desses grupos na unidade da federação (UF) onde se encontra
o referido estabelecimento de ensino. (SENKEVICS; URSULA, 2019, p. 4)81

Então, recebemos as subcotas, um sistema híbrido (procedência escolar, critério de


renda, pessoas com deficiência) pela dificuldade do Estado em encarar o racismo em sua
totalidade. Desse modo, faremos uso e relação entre Rafael Trapp e Marcello Assunção (2021),
Marcello Assunção (2022), Cida Bento (2022) e Clóvis Moura (1990) para refletir sobre
questões envolvendo cotas raciais e o ensino superior e a produção de conhecimento, heranças,
historiografia brasileira, construção dos cânones historiográficos, academia, movimentos
sociais, ação e reação da ação a priori.

Maria Aparecida da Silva Bento ou Cida Bento é uma psicóloga e ativista brasileira,
diretora do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT), que atua
na redução das desigualdades raciais e de gênero no ambiente de trabalho. É doutora em
psicologia pela Universidade de São Paulo, onde homologou em 2002 a tese “Pactos narcísicos
no racismo: branquitude e poder nas organizações empresariais e no poder público”. Também
é professora visitante na Universidade do Texas em Austin, nos Estados Unidos.

Bento nasceu em São Paulo, na Zona Norte da cidade, filha de um motorista e uma
servente. Foi a primeira pessoa da família a concluir o ensino superior. Trabalhou como
professora da educação básica, psicóloga ocupacional no setor privado e no Conselho da
Comunidade Negra do Estado de São Paulo. Em 1990 fundou, com Ivair Augusto Alves dos
Santos e Hédio Silva Júnior, o CEERT. Em 2015 foi nomeada pela revista The Economist uma
das 50 pessoas mais influentes do mundo no campo da diversidade.82

A partir de sua vasta experiência de trabalho com instituições como empresa,


organizações governamentais, organizações da sociedade civil, sindicatos de trabalhadores,
federação de empregadores, organizações partidárias de centro, esquerda e direita, Cida Bento

81
SENKEVICS; URSULA (2019). Disponível
<https://www.scielo.br/j/cp/a/KSvkm3DG3pPZYvpXxQc6PFh/?lang=pt&format=pdf >
82
Informações retiradas da Wikipédia. < https://pt.wikipedia.org/wiki/Cida_Bento >

81
identificou um padrão em que há similaridades na estrutura e no modus operandi quando o
assunto se liga às questões de raça e gênero

Fui consolidando uma perspectiva sobre o modo de operacionalização das


discriminações dentro das organizações, em que questões éticas, morais e
relacionadas com a democratização de espaços institucionais sempre são tratadas
através de uma perspectiva “racional”, que busca justificar as desigualdades a partir
da ideia de mérito.” (BENTO, 2022, p. 19)

Mas para a autora, tal lógica meritocrática é forjada por um pacto de cumplicidade não
oficial e não necessariamente verbalizado. Apesar de apresentar relatos de falas duras sobre as
empresas não aceitarem funcionários (as) negros (as) em alguns cargos das empresas.83
Mas, e quando os pactuantes verbalizam, como dizem o que dizem? Os trabalhos de
Trapp e Assunção (2021) e Assunção (2022) buscam pensar a construção do imaginário da
memória disciplinar da história ao historicizarem o lugar epistêmico de um campo
predominantemente branco, masculino e eurocêntrico e subvertendo os silêncios.
Marcello Felisberto Morais de Assunção é professor adjunto de Educação das Relações-
Étnico-Raciais na UFRGS, e recentemente, dia 16 de novembro de 2022 nos encontramos pela
UNFESP-Guarulhos apresentando uma Comunicação em Simpósio Temático organizado por
este e por Allan Kardec Pereira (UFFS), intitulado por “Na teoria da história/História da
Historiografia há questão racial, em teoria”, no XI Seminário Brasileiro de Teoria e História da
Historiografia (SNHH), tal encontro rendeu boas sugestões de reflexão e caminhos para a
pesquisa.
No artigo “As injustiças de Clio revisitado: Clóvis Moura e a crítica da branquitude no
campo historiográfico” (2022), Assunção analisa o cânone historiográfico do “pensamento
social brasileiro”, e aponta que na década de 1940, Clóvis Moura estaria fugindo à estrutura
racista de sua época e avançando com rupturas intelectuais e adendos à norma da História
disciplinar com a obra Rebeliões da Senzala (1959). “Negro, nordestino (piauiense), autodidata
e comunista.” (ASSUNÇÃO, 2022, p. 233)
O material tornou-se pioneiro na análise marxista do racismo e da postura da
branquitude na história da historiografia, contrapondo e rebatendo um tipo teórico marxista
ortodoxo estruturalista que apagou a agência negra frente às estruturas escravistas. “Clóvis não

83
Parafraseando Cida Bento (2022); uma secretária de banco negra não (p. 10), montadora crioula não (p. 83),
enegrecer a empresa não (p. 73); sentiam-se ameaçadas e reagiam com a não concessão verbalizada e material;
pois, assim, eram menos negros (as) empregados (as). E Daniel, filho de Bento, não deveria envergonhar-se de ser
descendente de negros (as) escravizados (as), apesar de uma coletividade diariamente buscar por isso, oficial e não
oficialmente.

82
usa o conceito em si, mas é isto que se faz quando reavalia o cânone por meio da critica do
olhar racializado da elite nacional branca sobre a historiografia.” (ASSUNÇÃO, 2022, p. 239)
Para essa condição, podemos aqui mencionar os temas de pesquisa e atuação dos (as)
historiadores (as) que assinaram o manifesto em oposição, como demonstramos nessa unidade.
Por vezes (poucas) estiveram ligados ao estudo de África ou História da África enquanto
campo, e aos que utilizam-na como tema de estudos, grande parte destes fora atrelada a fatores
coloniais e escravistas e menos sobre cultura, territorialidade, saberes tradicionais, lutas e
resistências.
E se por um lado a maioria desses (as) profissionais que se opõem às políticas de cotas
pouco se dedicaram, de fato, aos estudos de África enquanto território singular e sem a
experiência da escravidão moderna, por outro lado percebe-se maior preocupação dos
defensores dessa política em: 1. Estudarem mais a História da África por sua ontologia – parte
plena e integral – e não necessariamente esta enquanto parte da economia colonial. 2. Estudarem
mais da História da África relacionada à realidade brasileira “hifenizando-a”; afro-brasileiros,
afro-descendentes, pós-abolição, pós-emancipação. Mais do ‘pós-escravidão’ do que a partir
desta experiência em si, desse passado sensível. Fazendo, portanto, um estudo de Áfricas sem
necessariamente anular a violência escravocrata, do hífen, que segrega.
Diferentemente de um dos historiadores (as) em oposição, que dos poucos que se
dedicam aos estudos de África, quando o faz, faz hifenizando a partir da experiência europeia
e colonizadora “história ibero-americana, luso-asiática, luso-africana e luso-brasileira entre os
séculos XVI e XVIII”.84 Bento (2022) traz que “Antes do começo desse colonialismo, a África
e a Ásia eram regiões relativamente ricas e produtivas (...)” (BENTO, 2022, p. 29), mas, e como
está nos dias de hoje? Estudar Áfricas é sinônimo de estudar o tráfico de sujeitos colocados em
condições de escravidão? Na pesquisa, não há intenção em valorizar um estudo em detrimento
do outro, inclusive porquê os estudos coloniais são bastante necessários para que exista,
também, os pós-coloniais, decoloniais, anti-coloniais e contra-coloniais. O que destoa está
justamente no ponto de partida. A historiografia brasileira – ainda – tem partido de quais
pontos? Quais as novidades?
Quem são os intérpretes do Brasil e como são suas apreensões do processo histórico
racial brasileiro?85 Qual a herança da geopolítica de suas histórias-conhecimentos? De certo no

84
Ronaldo Vainfas é um pesquisador que trata das intersecções entre Áfricas, Portugal e Brasil, por exemplo.
85
Através da famosa querela entre Abreu e Lima e Varnhagen, plágio ou nova história, Thamara Rodrigues (2021)
apresenta o eufemismo em torno da crítica de “plágio” por parte de Abreu e Lima, que na verdade suscita um
projeto explícito do “tipo” de história do Brasil que deveria e não deveria ser escrito, mais próximo ou distante das

83
que tange a leitura da escravidão, não deveriam ler os sujeitos escravizados enquanto “escravo-
coisa”, o que seria uma análise passiva do todo e de conexão com a ‘história dos vencedores’,
ou como traz Assunção sobre Moura, “esse historiador atento aos perigos de uma “história
empática” com o discurso do “vencedor”. (ASSUNÇÃO, 2022, p. 239) Mas não só.
O lugar de agência é imprescindível para interpretar histórias-acontecimento e
“restaurar a verdade histórica desconfigurada por inúmeros estudiosos” (ASSUNÇÃO, 2022,
p. 235), e Marcello Assunção é preciso ao realçar o projeto mouriano em trazer as agências sem
abandonar a violência da estrutura escravista, com o propósito “historiográfico/sociológico” de
reavaliar a construção dos cânones na história oficial e no pensamento social como um todo.
Podemos nos referir à ‘desconfiguração da verdade histórica’? E devemos denunciar
“as desconfigurações deliberadamente desconfiguradas.” (ASSUNÇÃO, 2022, p. 235 apud
MOURA, 1981ª, p. 14) A norma de produção da História disciplinar está dada, porém
contingentemente. E por mais que tenhamos todo um corpo industrial em ver/vender os sujeitos
escravizados como seres passivos à escravidão nos livros86, profissionais como Assunção, por
exemplo, empreendem e avançam ao enxergarem para além do estabelecido e conseguem
apreender entre os ‘não ditos’ desse forte campo de atuação, a História oficiosa.87
Então Moura buscava inverter a lógica passiva do escravo como coisa – a qual
assegurava a normalidade da estrutura escravista forte como era – pelas rebeliões escravas como
luta de classe. O viés culturalista, Gilberto Freyre, o mito da “democracia racial” e seu
“equilíbrio de antagonismos” também recebiam críticas, estas fora da ótica “paternalista ou
filantrópica”. (ASSUNÇÃO, 2022, p. 235)
Estudar o “racismo” não era um critério para o cânone intelectual, porque ele se quer
vivia isso – não na pele. Pensemos nos potentes lugares de vida, nos ciclos pessoais e nas bolhas
que vivemos. E Clóvis Moura teve suas vantagens profissionais em uma vida extra-acadêmica,
enxergando, assim, padrões de sociabilidade, desviando-se e focalizando em padrões
relacionais destoantes dos normativos a intelectuais orgânicos do sistema escravista.
(ASSUNÇÃO, 2022, p. 241)

heranças coloniais, cujos pactos já estavam estabelecidos e estabelecendo-se. Sobre o tema, consultar:
RODRIGUES (2021).
86
Nesse ponto lembramos de Malerba (2014) fazendo menção à história feita por Narloch (2009), “autor de uma
história ruim e perniciosa, reacionária” (p. 43) que “Sob a bandeira do “politicamente correto”, mal se disfarça
uma visão altamente conservadora, quando não reacionária, retrógrada, eurocêntrica e preconceituosa da/sobre a
história do Brasil. Por exemplo, em relação a negros e índios, Narloch reproduz uma interpretação típica das classes
senhoriais brasileiras do século XIX segundo a qual a construção do Brasil foi obra de europeus (portugueses) e o
Brasil fez-se quase que apesar da existência de negros e índios.” (p. 38) E esse material teve mais de 100 mil
exemplares vendidos em poucas semanas.
87
Conferir termo em Marcello Assunção (2022).

84
Então Moura rebatia toda uma produção historiográfica ao apontar as desaventuras da
branquitude profissional de visão desfocada da realidade étnica e social do Brasil,
indisciplinando o cânone historiográfico, com críticas à crítica da “branquitude”, ente aspas
pois o termo ainda não era utilizado pelo autor.
Cida Bento, em seu livro “O pacto da branquitude” (2022) sistematiza três ondas de
estudos formadores de concepções sobre a branquitude: a primeira, de recorte temporal entre o
século XIX e a primeira metade do século XX, agitada por intelectuais negros, tendo Du Bois
como grande nome e refletindo sobre a classe trabalhadora nos Estados Unidos.
A segunda onda tinha muitos de seus estudiosos sendo pessoas negras nos Estados
Unidos, que questionavam o fato da branquitude, mesmo com tantos privilégios, ao menos 46,
conseguir ser invisível e um marcador muito pouco estudado. 88
Já a terceira onda relacionava-se ao estudo das reações desse segmento social que passa
a nomear e enumerar esses pactos e pactuantes. “A ampliação das vozes negras que denunciam
a apropriação dos bens materiais e imateriais da sociedade pelos brancos e clamam por justiça
e reparação ameaçam a supremacia branca.” (BENTO, 2022, p. 57)
O debate pró Lei de Cotas já vinha se arrastando na cena pública há um tempo, como
bem traz Marcello Assunção, a exemplo de Clóvis Moura que desde meados da década de 1940
vinha a partir da academia demostrando que a sociedade era racialmente hierarquizada com
distinções negativas, ao passo que lhes convinha privilegiar uns e estereotipar outros, de acordo
com um acúmulo de heranças e memórias diversas de passados sensíveis ao Brasil.
Por passados sensíveis, podemos ponderar juntamente à Cida Bento no que tange às
heranças, sejam estas objetivas ou subjetivas, do campo material para a subsistência do sujeito
social ou do âmbito simbólico da (re) existência. Pensemos nas heranças da imagética coletiva-
nacional de sociedades pós-coloniais como o Brasil, o que poderiam estar herdando o(s)
coletivo(s) e o(s) indivíduo(s)? A exemplo de Luiz Gama e José do Patrocínio, que
reivindicaram e lutaram por retaliações econômicas às gerações que se sucederam no cativeiro
durante três séculos. (BENTO, 2022, p. 33)
Mas quem poderia pagar a conta? Pois virávamos a dinâmica política de colonial, para
imperial, para republicana, e o montante nunca foi prioridade como política de Estado. Porém
reparados foram apenas os que a estrutura da época lhes concedia serem proprietários de
sujeitos forçosamente escravizados.

88
Cida Bento, 2022, p. 57 apud Peggy McIntosh, 1988.

85
Essa realidade é uma continuidade de seu lugar histórico de trabalho no país, no qual
o escravizado foi o motor da economia da metrópole e da colônia, e a partir de seu
trabalho nos diferentes ciclos econômicos, do açúcar, do café e do ouro produziu
riquezas e possibilitou a consolidação da classe dominante brasileira, protagonizando
ainda o enriquecimento europeu. O tráfico foi o negócio mais importante do Brasil na
primeira metade do século XIX, e foi a escravidão nas colônias que proporcionou o
desenvolvimento do capitalismo industrial nas metrópoles.
No entanto, a não indenização da população escravizada após o fim da escravidão é
um traço marcante de nossa história. A luta pela reparação em razão dos atos anti-
humanitários ocorridos nos quase quatro séculos de escravidão no Brasil tem longa
história. (BENTO, 2022; p.32)

E dessa relação todo mundo herdou um lastro, material e simbólico. E Bento alerta-nos
às ausências de olhos voltados ao bem acumulado pelo colono opressor. De certo, o acordo
tácito atua para que esqueçamos as memórias e heranças dos brancos colonizadores que hoje
herdaram mais privilégios que desgastes e estão respaldados, por outro lado, por não serem
descendentes diretos.
Pois como veremos logo no próximo capítulo, no livro “Divisões Políticas Raciais no
Brasil Contemporâneo” (2007), há argumentos que reforçam não poder haver cotas raciais pois
seria uma injustiça com os brancos pobres. E existem brancos pobres em situações de miséria
e dificuldade sim, mas não é um argumento eficiente quando se trata de barrar propostas de
inclusão da população negra e indígena a centros educacionais e profissionais. Em entrevista
de podcast ao Mano a Mano89, de Mano Brown, Sueli Carneiro cita Milton Santos e as políticas
públicas de habitação em “Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência
universal” (2000), nos quais os créditos foram destinados à branquitude, majoritariamente, que
prosperou, e possuem, assim, propriedade. O coletivo da classe média branca experimentou
pactos e prosperou, pactos esses que circularam massivamente, e circulam.

Descendentes de escravocratas e descendentes de escravizados lidam com heranças


acumuladas em histórias de muita dor e violência, que se refletem na vida concreta e
simbólica das gerações contemporâneas. Fala-se muito na herança da escravidão e nos
seus impactos negativos para as populações negras, mas quase nunca se fala na
herança escravocrata e nos seus impactos positivos para as pessoas brancas. (BENTO,
2022, p. 23)

Assim a lógica se mantém dentro do estado democrático de direito, financiado e mantido


pelo mesmo – qualificado, classificado e punido. (BENTO, 2022, p. 57) De forma camuflada
para quem prefere partir dos silêncios no que tange à desigualdade racial e escandalosamente
para quem consegue perceber que ao invés de silenciamento ocorre justamente a sobreposição
de vozes, mas de segmentos economicamente viabilizados para tal, ecoarem suas perspectivas.

89
MANO A MANO (2022) Disponível <
https://open.spotify.com/episode/2eTloWb3Nrjmog0RkUnCPr?si=f8d01ef784404563>

86
O pacto narcísico precisa de admiração e não é por ego ou estética, mas por manutenção de
seus espaços e escondem seus medos atrás de artigos constitucionais hegemônicos, “Todos têm
direitos iguais na República Democrática”, e no terceiro capítulo desse trabalho refletiremos se
é bem assim.90
Como vivem as gerações de descendentes após a abolição da escravatura? A condição
memorada do negro é sempre associada à escravidão, como elenca Cida Bento (2022), de modo
a reverberar uma série de estigmas, como do negro preguiçoso (BENTO, 2022, p. 32), marginal
(BENTO, 2022, p. 46) e antipático (BENTO, 2022, p. 74), aqui trazemos 3 estigmas ao passo
que os privilégios podem ser “se verem amplamente representadas em programas de TV e
revistas; falar em público para um grupo de homens poderosos sem que a raça seja posta em
julgamento; escolher maquiagem facilmente; não precisar se posicionar em nome de toda uma
raça, entre outros.” (BENTO, 2022, p. 57)
E Bento traz que “Tudo [estigmas] se explica por uma herança que o negro traz da
escravidão” (BENTO, 2022, p. 31, grifo nosso em colchetes) Todos esses pensamentos na
respectiva pesquisa fazem-se sem coerência, são mantidos, dentro da normalidade cotidiana das
instituições. Mas a escravidão formal e oficial acabou e há uma série de fonias reverberadas e
ricamente mantidas e reeditadas, pois o racismo assola a população negra brasileira. E Bento
(2022) avança em reconhecer que pouco falamos dos privilégios dos herdeiros da escravidão,
tema que gera contorções e “vitimização” (BENTO, 2022, p. 57) a muitos, incluindo
intelectuais acadêmicos.
Então, por vezes na tentativa de inserir-se nos debates da Lei, muitos desses (as)
historiadores (as) vieram a público em 2006 dizer que o debate precisava ser mais dialogado ou
que ocorrera “debaixo dos panos”, às pressas, como é referido no livro “Divisões perigosas:
Políticas Raciais no Brasil Contemporâneo” (2007). O que é um eufemismo, não é que o debate
não tenha ocorrido, mas as escutas acadêmicas não estavam orientadas para além do que lhes
convinha. Além de instituições como o Centro de Estudos das Relações de Trabalho e
Desigualdades (CEERT), como traz Cida Bento (2022), que desde sua criação em 1980 vinha
atuando publicamente e debatendo questões diversas em torno da Constituição Cidadã, e não
apenas no campo teórico, mas político.
Até porque o discurso em torno da Lei se faz enquanto manifestação social, mas também
amarra-se ao lado político (lei), passando por significativas instâncias, como pelas instituições
de ensino superior, mídias de massa, com amplos debates em variadas áreas do conhecimento.

90
Menção a nossa fonte de apreensão na pesquisa, trazemos o título do manifesto contra as cotas, a carta pública
entregue ao Congresso Nacional.

87
E como demonstramos, esses (as) profissionais em oposição não eram apenas historiadores (as),
mas também Cientistas Sociais, da área da Saúde, de Ensino, de Relações Internacionais,
Antropologia, Ciência Política; especialistas em História Social, Cultural e Política, das
Américas, do Brasil, em História Intelectual; em temas sensíveis, como, gênero, a pauta
indígena, mundo do trabalho, questões e educação para as relações étnico-raciais, África,
diáspora africana, escravidão, antissemitismo, judeus; de fundações, ativos em editoras, da rede
básica, técnica e superior do ensino.
Mas também são, pais, filhas, netos, irmãs, sobrinhos, madrinhas, tios, avós; de uma
cidade, de uma região, de uma condição social, de um pertencimento racial, hoje não mais em
vida; são, portanto, trabalhadores (as) cientificamente objetivos e subjetivamente
condicionados (as) para com 1. “a história que se faz no mundo, que os homens vivem” 2. “a
história que os (as) historiadores (as) fazem”91 e 3. a história que essas histórias possuem por
essência e é consumida, vendida, verificada, lida, rebatida, rediscutida, revisada; por um público
dessa tríade, que, especializado (academicamente), ou autônomo, orgânico, por existência de
vida. Com saberes tradicionais particulares e condições de recepção e transferência de
conhecimentos que não as hegemonicamente mais tradicionais à Ciência (oralidade x escrita),
a exemplo de signatários em favor das cotas que percebemos serem de terreiros, congado, mas
que não encontramos informações de vínculos ao ensino superior. E a pesquisa respeita muito
esses lugares, o que poderíamos chamar e “bolhas identitárias”.
Em resumo, aos dois manifestos analisados de 2006, havia um total de 114 assinaturas
em oposição e 330 assinaturas em defesa. E devemos deixar claro que ambas as posturas
envolvem muitos parênteses e que serão melhor tratadas no terceiro capítulo desta dissertação.
Mas, ao momento, tratamos dos fatos empiricamente. E por mais que a proposta inicial tivesse
sido centralizar nosso parecer sobre o discurso proliferado em oposição à política de cotas
raciais, também foi necessário inserir o manifesto que incorpora favoráveis de modo a visualizar
a reação em enfatizar demandas já emanadas há muito tempo e que a oposição só fizera por
temerem “enegrecer” as demandas e intervenções de alinhamento populacional de acesso ao
ensino superior brasileiro.
Os vínculos à História foram obtidos por buscas na internet, como sites de
universidades, currículos e redes sociais. A primeira demanda foi fracionar quem seria
historiador (a) de quem não seria. Quem é historiador (a) no Brasil? Quais as diretrizes
profissionais em 2006? O que demanda o campo? Quais as dimensões, abordagens e domínios

91
Excerto extraído de “A História nova”, por Jacques Le Goff, traduzida por Eduardo Brandão (1993).

88
temáticos que entrariam para a conta? Quais campos mais seriam requisitados por estes (as)
profissionais para complementar a formação?
E proporcionalmente, tivemos 36 historiadores (as) com o adendo de um signatário sem
formação em História mas atuante em programas de pós-graduação em História e em domínios
temáticos históricos e racializados. Marcos Chor Maio é sociólogo, pesquisador Titular da Casa
de Oswaldo Cruz/Fundação Oswaldo Cruz e professor do Programa de Pós-graduação em
História das Ciências e da Saúde da Casa de Oswaldo Cruz, PPGHCS/COC/Fiocruz. Organizou
seis coletâneas: “Raça, Ciência e Sociedade” (1996), “Ideais de Modernidade e Sociologia no
Brasil: ensaios sobre Luiz de Aguiar Costa Pinto” (1999), “Ciência, Política e Relações
Internacionais” (2004), “Divisões Perigosas: Políticas Raciais no Brasil Contemporâneo”
(2007)92; “Raça como Questão: História, Ciência e Identidades no Brasil” (2010) e “Atitudes
Raciais de Pretos e Mulatos em São Paulo” (2010). Suas áreas de pesquisa e ensino eram:
História das Ciências Sociais no Brasil; Raça, Ciência e Saúde no Pensamento Social Brasileiro;
Organizações Internacionais e Políticas Nacionais. Atualmente desenvolve pesquisas que
versam sobre ciências sociais, estudos de comunidade e saúde no Brasil; interfaces entre
sociologia, antropologia e psicologia social nos estudos sobre raça e racismo no Brasil.”
Formou-se pela UFF, IUPERJ e Browm University (EUA).93
Junto ao seu lugar de formação dentro do debate racial da época, a História das Ciências
e Saúde, em 2006 lecionou na FIOCRUZ e debateu publicamente sobre saúde, ciência, raça,
história, sociedade, teoria social, saúde internacional e etnicidade.
Então se faz bastante importante como ponto de partida para entendermos a postura do
manifesto no âmbito coletivo de iniciativas, demandas, temores e reivindicações. Raça seria
apenas uma categoria interpretativa social? Cotas raciais seriam legítimas? O que a História das
Ciências e da Saúde e as Ciências sociais teriam “a ver com isso”? Por vezes suas publicações
relacionam judeus, antissemitismo, Gilberto Freyre e o Projeto UNESCO. Mas, o que poderia
tudo isso ter a ver com o manifesto contra as cotas? Este publicara bastante sobre cotas em
2006, com certeza intensificando o debate.
E para o manifesto em favor das cotas, sem formação em História e trabalhando com a
mesma tivemos Wilma de Nazaré Baía Coelho, Doutora em Educação/UFRN. Professora
Titular da UFPA. Professora da Faculdade de História/IFCH. 94 Começou a lecionar na
Licenciatura em História em 2007 mas em 2006 já vinha se inteirando dos debates raciais pela

92
Será nossa fonte no terceiro capítulo.
93
Lattes http://lattes.cnpq.br/9692020023009222
94
Lattes: http://lattes.cnpq.br/1035616337472088

89
ABPN95, MEC96, em publicações, entrevistas e projetos de pesquisa sobre formação docente,
questões e educação para as relações étnico-raciais, cor, preconceito racial nas escolas,
representação estereotipada de negros (as) no livro didático e a Lei 10.639/2003. Também,
desde 2009 é Associada da ANPUH, Pará. Portanto, também é um nome significativo para
entendermos as entrelinhas do debate das cotas em 2006, para além da polarização contra/em
favor, para além da História oficiosa. Dessa forma, o percentual de historiadores (as) por
manifesto fora de 32,46% contrários à implementação da lei de Cotas e 24,55% a favor em
comparação aos demais campos de atuação e formação profissional do montante de signatários
(as).

Gráfico 20: Proporção de Gráfico 21: Proporção de


historiadores (as) contrários (em %) historiadores (as) a favor (em %)

Fonte: Elaboração própria da autora com base na pesquisa realizada.

Levando em consideração que foi uma adesão voluntária, houveram mais contrários que
favoráveis. E trazemos esses números como argumento. Mas, analisando a proporção de
historiadores (as) favoráveis e de profissionais de outros campos, seria mesmo de se considerar
decisivo o maior número de historiadores (as) favoráveis? E se relacionarmos ao fator étnico-
racial? À raça fenotipicamente heteroatribuída aos signatários em oposição?
Como propósito central, buscamos analisar o corpo de oposição, por um enquadramento
estético local e relacional, sem ignorar o espaço do movimento em defesa das cotas raciais.97
E se tratando do fator racial de oposição, podemos refletir sobre alguns pontos a partir dos dados

95
Diretoria Regional Norte da ABPN, gestão 2004-2006, mas que possui vínculo desde 2002 com a Associação.
96
Conselhos, comissões e consultorias, MEC/SECAD, Membro do GT Licenciaturas para a elaboração do Livro
“Orientações e Ações para a Educação das Relações Étnico-Raciais”.
97
A pesquisa não levantou o perfil de pertencimento étnico-racial do grupo favorável por ter como enfoque o
grupo de oposição, cuja ação se enquadra em um movimento mais conservador à época. E por mais que haja a
branquitude dominando a postura de oposição nesse manifesto contrário de 2006, possivelmente teremos também
a branquitude, uma vez que como demonstramos, a maioria seja docentes universitários e o debate da pesquisa
ecoa justamente na ausência de negros (as) no ensino superior, quiçá poderíamos tratar de um número significativo
e diferente no corpo docente.

90
coletados e demonstrados acima. O primeiro é que há uma branquitude dominando o espaço de
debate intelectual acadêmico em oposição, então a maioria dos sujeitos não adeptos à proposta
da lei são brancos (86,5%) e também professores (as) do ensino superior (78,38%).
Reflitamos então sobre o que/quem emite o certificado de autenticidade dos (as) brancos
(as) em dominarem esse lugar público de fala. Qual a herança acumulada? Já destacando aqui,
assim, algumas bolhas identitárias na postura. E quanto às Instituições de Ensino Superior (IES)
de vínculos e as regiões destas, a UFF foi de longe a Universidade que mais formou esses
profissionais que manifestaram-se acerca do debate das cotas, seja contra ou a favor. Do
manifesto em oposição, em segundo lugar teríamos a UNICAMP, esta que formou em terceiro
lugar mais historiadores (as) pró-cotas, ficando atrás da UFRJ, segunda Universidade que mais
formou esses profissionais.
Pensemos, pois, em como estaria a região sudeste em indicativos de matrículas ao
ensino superior, quais as grades de disciplinas dos cursos, quais os perfis e características?
Quais eram as leituras e debates historiográficos? Em especial nas décadas de 80, 90 e 2000,
maiores formadoras aos níveis de graduação, mestrado e doutorado, respectivamente. O que
ensinava o corpo docente dessas Instituições aos futuros (as) professores (as) em formação? O
que esses (as) discentes, por sua vez, buscavam e priorizavam em suas formações e gerações?
O que publicavam em períodos de formação e em 2006?
Após esse levantamento, a pesquisa elencou mais perguntas dos que as iniciais, voltadas
à compreensão do porquê de tantos (as) historiadores (as) estarem sendo publicamente
contrários (as) às cotas. Logo eles (as), profissionais de passados sensíveis e caros à história
acontecimento da população brasileira.
Como traz Cida Bento, não é um acordo em que “os brancos promovam reuniões às
cinco da manhã para definir como vão manter seus privilégios e excluir os negros.” (BENTO,
2022, p. 18) No entanto, acontece que a ação conservadora ocorre por medo excessivo de uma
herança acumulada erroneamente, “o que mostra desconforto ou contrariedade diante da
possibilidade de mudança no perfil das pessoas que ocupam postos-chave na organização. Mas
não só.” (BENTO, 2022, p.20)
Com isso, a pesquisa refletiu acerca do pacto da branquitude em Cida Bento, das
desventuras da branquitude em Clóvis Moura e da necessidade de Marcello Assunção em
indisciplinar o cânone da história da historiografia brasileira enquanto um pacto sistêmico,
organizacional e estrutural “que perpetua bônus para uns e ônus para outros.” (BENTO, 2022,
p. 120)

91
4 DIVISÕES PERIGOSAS: POLÍTICAS RACIAIS NO BRASIL CONTEMPORÂNEO
(2007) E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA A ANÁLISE DE MITOS E DISTORÇÕES
HISTORIOGRÁFICAS NO DISCURSO DE HISTORIADORES (AS) CONTRA AS
COTAS RACIAIS

Busca-se nesse material a apresentação e a análise de alguns dos argumentos que


constituem o discurso histórico de oposição às cotas raciais mobilizado por historiadores (as)
em 2006. A metodologia utilizada foi a partir do levantamento de uma lista de signatários (as)
do “Manifesto contra as cotas raciais” (2006), em que delimitamos quem seriam de
historiadores (as) de formação. A partir disso chegamos ao livro “Divisões perigosas: políticas
raciais no Brasil contemporâneo (2007)98 que possui ricos artigos para a compreensão desse
discurso de oposição. Para tanto, apresentamos 9 textos de 6 historiadores (as) que o assinaram
e contribuíram com o livro e emanaram publicamente suas intenções em barrar ou retardar o
projeto de Lei de Cotas.
Para o levantamento de informações profissionais, a plataforma Lattes foi usada para
recolher as informações públicas de todos (as). Desta foi possível retirar também vínculos de
produção, cuja escrita por muitas das vezes se faz de forma colaborativa, em artigos do livro e
de outros materiais sobre o tema entre o corpo signatário do manifesto que também
contribuíram para o livro.

4.1 José Roberto Pinto de Góes, O Globo, 2 de setembro de 2006, p. 57: “Histórias mal
contadas”

José Roberto Pinto de Góes possui graduação em História pela Universidade Federal do
Rio de Janeiro (1983), mestrado em História pela Universidade Federal Fluminense (1992) e
doutorado em História pela Universidade Federal Fluminense (1998). Atualmente é professor
adjunto da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Tem experiência na área de História, com
ênfase em Escravidão Moderna, atuando principalmente nos seguintes temas: escravidão,
demografia, Rio de Janeiro, Brasil e relações raciais.
Nascido em 25/05/1958, Goés possui publicações com Manolo Florentino, Antonio
Carlos Jucá de Sampaio e Cacilda Machado. Premiações tais como “Prêmio Casa-Grande &
Senzala, Fundação Joaquim Nabuco. 1993” e “Concurso Nacional Queimados: o papel do negro

98
FRY, Peter et. al. (2007).

92
na formação da cidadania brasileira, Secretarias de Educação e da Justiça e da Cidadania do
Governo do Espírito Santo.”
No livro, inicia seu artigo trazendo um trecho da música de Cazuza para ilustrar sua
demanda que enxerga estar sob a sociedade: “O nosso amor a gente inventa”. Demonstra temer
uma divisão entre negros e brancos no Brasil com a inversão da “valorização da mestiçagem
pelo orgulho racial.”
Seu esforço é para demonstrar que a escravidão moderna não foi coisa apenas de
“branco”, estando atrelada à dirigentes africanos. Que a escravidão, portanto, “(...) não
encontrava legitimidade em bases raciais, no Brasil.” (GOÉS, 2007, p. 60) A demanda por
escravos na América foi relacional à oferta dessa mão-de-obra pelos comerciantes de escravos.
Reforça que o tráfico transatlântico ocorreu com partes interessadas dos dois lados do oceano.
Em seguida, busca demonstrar que no Brasil a escravidão também não era coisa somente
de “branco”, então compara o fluxo de africanos que chegaram aos Estados Unidos e ao Brasil
e quantos existiam quando a escravidão acabou. A proporção citada é:

Lá chegaram 400 mil africanos ao todo e, quando a escravidão acabou, existiam 4


milhões de escravos. Aqui chegaram cerca de 3 milhões e 600 mil e, em 1872, havia
1 milhão e 200 mil escravos. Por isso, quando a escravidão acabou lá, havia apenas
5% de pessoas “de cor”, como dizem os censos de então, entre a população livre. No
Brasil, em 1872, metade da população livre recenseada era “de cor.” (GOÉS, 2007, p.
59)

Goés justifica essa realidade pelo fato de a alforria ser concedida ou comprada com mais
facilidade aqui no Brasil, e ainda busca demonstrar como estas pessoas de cor tinham um
cotidiano “(...) do mesmo jeito que os sem cor, digamos assim.” e inclusive participavam do
comércio e tinham escravos. Até que em 1850 a marinha inglesa interrompeu tal farra
escravista entre muitos brasileiros e africanos.
O autor traz, a partir do abolicionista Joaquim Nabuco que “(...) a escravidão não chegou
a “azedar” a alma do preto contra o branco porque estava aberta a todos: “nacionais e
estrangeiros, homens e mulheres, pretos e brancos.” (GOÉS, 2007, p. 60) Traz que escravos
nascidos em solo brasileiro conseguiram a alforria com mais frequência, “(...) mas não foram
poucos os africanos que, de mil modos, conseguiram juntar recursos para comprar a sua.”
(GOÉS, 2007, p. 60)
Finaliza seu texto questionando a caricatura mal feita do passado que a escola e outros
setores ensinam, e por não sabermos do passado verdadeiro, não poderíamos nós brasileiros
identificarmos nossa raça. Critica Nei Lopes com seu artigo “Entre negros e pardos” (2006),
elogia Ali Kamel e é esperançoso (reza) para que a herança que realmente fique seja advinda

93
da população livre de cor que não fazia marcação racial. Acredita que essa herança poderia
fazer que nós tenhamos vergonha de ser racistas.

4.2 Ronaldo Vainfas, Revista de História da Biblioteca Nacional, n. 12, 2006, p. 83:
“Racismo à moda americana”

Nascido em 1956, Ronaldo Vainfas é professor Titular de História Moderna da


Universidade Federal Fluminense: Licenciado em História pela Universidade Federal
Fluminense (1978), mestre pela mesma Universidade em História do Brasil (1983), Doutor em
História Social pela Universidade de São Paulo. Professor do Departamento de História da UFF
a partir de 1978 e Professor Titular de História Moderna, por concurso público, desde 1994.
Aposentado na UFF em 2015. Recebeu premiações tais como “2011, Prêmio Sérgio Buarque
de Holanda - ensaio social, Biblioteca Nacional do Rio de janeiro.”, “2009, Prêmio Sérgio
Buarque de Holanda - ensaio social, Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.” e “1998, Prêmio
Casa Grande e Senzala, Fundação Gilberto Freyre.”
Inicia seu artigo contrapondo que por mais que tenham muitos historiadores envolvidos
no debate sobre a política de cotas, “(...) curiosamente, a História não ocupa o lugar merecido.”
no ponto dos contrastes sobre a nossa História e a dos Estados Unidos. (VAINFAS, 2007, p.
85)
Sobre a escravidão, toca em pontos tais como: ser inútil reeditar o debate de que a nossa
escravidão foi mais adocicada que a norte-americana, como sugeriu Gilberto Freyre, que
nenhum historiador negaria a violência do escravismo (inclusive Freyre), as raízes do
preconceito racial nos dois países não estariam na escravidão.
Escreve sobre o olhar “clínico” de Joaquim Nabuco no século XIX em perceber o fato
de que a escravidão não passava rigorosamente pela linha da cor. Negros chegaram a ser
senhores de escravos e enriquecerem com o tráfico atlântico.
Vainfas aproxima as duas realidades no que tange o processo de abolição, sendo “Entre
nós uma abolição lenta, negociada, tecida na esfera das elites políticas. Nos Estados Unidos,
uma abolição traumática, resultado de uma guerra civil, no fim da qual foram suspensos, no
tempo da Reconstrução Radical, os direitos políticos dos brancos sulistas.” (p. 86) Nesse
contexto, a Ku Klux Klan, apesar da proporção que alcançou, foi derrubada por negros
americanos. Valida os esforços de Martin Luther King, Kennedy e das ações afirmativas dos
anos de 1970.

94
Finaliza o texto trazendo que não tivemos experiência histórica similar a dos norte-
americanos, e aproxima ações “racialistas” dos feitos trágicos da KKK. Ou seja, aborda que as
cotas raciais poderiam ter semelhança à organização.

4.3 Manolo Florentino, A primeira versão deste artigo foi publicada com o título “DNA
do povo brasileiro”, Jornal do Brasil, 16 de fevereiro de 2002, p. 89: “Da atualidade
de Gilberto Freyre”

Graduado em História pela Universidade Federal Fluminense (1981), Mestre em


Estudios Africanos - El Colégio de México (1985) e Doutor pelo Programa de Pós- Graduação
em História da Universidade Federal Fluminense (1991). Manolo Florentino é professor
concursado em 1988 do Instituto de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro,
vinculado à área de História da América. Desenvolve pesquisas sobre escravidão nas Américas,
África e Brasil. Recebeu a Comenda da Ordem Nacional do Mérito Científico (2009) e foi
presidente da Fundação Casa de Rui Barbosa de fevereiro de 2013 a fevereiro de 2015.
Aposentou-se voluntariamente no Instituto de História da UFRJ a partir de 21 de agosto de
2019.
Foi casado com Cacilda Machado (UFRJ) e faleceu aos 63 anos (1958-2021). Possui
publicações com alguns (as) signatários (as) do manifesto de 2006, o que inclui a esposa, José
Roberto Pinto de Góes e Antonio Carlos Jucá de Sampaio.
O autor vê cotas raciais como um regime impraticável e que não prosperará. Em tom
irônico, critica “duas pérolas ao já vasto febeapá tupiniquim”, sendo a fala de um ministro de
Estado sobre o não problema em postular quem é negro no Brasil e também sobre a publicação
de um artigo que “acusa um opositor às cotas por ser branco e portador de diploma
universitário.”
Traz ser inevitável voltar a Freyre e que este não é a fonte da ideologia da democracia
racial. Critica as gerações universitárias que desperdiçam a obra de um dos “melhores
intérpretes do Brasil” e os programas de história e sociologia que dão preferência a Florestan
Fernandes (de escrita obscura) e Caio Prado Jr. (de escrita racista este). Denuncia a USP por
“fascismo bem-comportado para com o ilustre pernambucano”, em que estaria Freyre sofrendo
um boicote ideológico, mas essa não detém esse monopólio. Ilustra a censura a partir de palestra
de Freyre “Modernidade e Modernismo na Arte Política” na USP que foi capaz de fazer Oswald
de Andrade deixar de ser comunista.

95
Florentino elogia a tese mais revolucionária do pensamento social do pensamento
brasileiro do século XX por trazer que somos resultado da mistura “vitoriosa e quase que livre”
entre o aborígene, o português e o africano. Escreve também que a “mansidão no cativeiro
gilbertiano” se faz por figura retórica, para demonstrar que os escravos sofriam mais com a
colonização anglo-saxônica do que com os portugueses. E acrescenta um adendo da evolução
do pensamento de Freyre, de Casa-grande e senzala a Novo mundo nos trópicos, a mestiçagem
tinha mais contribuição da alforriada que casava com um livre pobre ou português faminto do
que entre a escrava e seu senhor - encontro de pobres amantes. (FLORETINO, 2007, p. 93)
Sobre a miscigenação, traz também “(...) de abastardante a miscigenação virou elemento
civilizacional positivo e válido. E além de válido, tão valioso. Tão valioso que é no seu uso que
reside a origem do mito da democracia racial brasileira e da escravidão leniente.”
(FLORETINO, 2007, p. 93) E que “Deveríamos ser, ou acreditar que éramos, uma democracia
racial de idílicas raízes. Nada que surpreenda muito, em se tratando de país no qual proliferam
cafetões de talento. Logo, a grande utilidade dos escritos freyreanos para os interessados em
fundar uma identidade brasileira esteve em que, sob esse tentador invólucro, podia se esconder
a tão almejada paz social, o outro elemento dito fundamental de nossa identidade.”
(FLORENTINO, 2007, p. 94)
Escreve também que a grandiosidade de Freyre só ocorreu porque muitos se
identificaram com ele. E finaliza o texto fazendo um conselho aos brancos reprovados em
concursos, para que “reivindiquem as vagas dos negros” (FLORENTINO, 2007, p. 94) com
uma defesa teórica que alega que dois terços dos “brancos” brasileiros são descendentes de
matrilinhagens indígenas ou africanos.

4.4 Ricardo Ventura Santos e Marcos Chor Maio, Jornal do Brasil, 14 de abril de 2004,
p. 161: “Cotas e racismo”

A análise do respectivo artigo se faz com o intuito de abordar a participação de Marcos


Chor Maio no livro e no manifesto contra as cotas raciais. Este que não possui formação em
História mas que leciona no Programa de Pós Graduação em História das Ciências e da Saúde
da Casa de Oswaldo Cruz, PPGHCS/COC/Fiocruz e ministra disciplinas interessantes para a
temática levantada pela nossa pesquisa. Suas áreas de pesquisa e ensino são: História das
Ciências Sociais no Brasil; Raça, Ciência e Saúde no Pensamento Social Brasileiro;
Organizações Internacionais e Políticas Nacionais. É graduado em Ciências Sociais (UFF,

96
1979), com mestrado (1992) e doutorado (1997) em Ciência Política pelo IUPERJ, tendo
realizado doutorado sanduíche na Brown University (1995-1996).
A escrita do respectivo artigo é compartilhada com o biólogo e antropólogo Ricardo
Ventura Santos, e de início tratam sobre o primeiro vestibular com cotas raciais de uma
Universidade Federal, a de Brasília (UnB) e escrevem também sobre como seria a comissão
que ficaria responsável por homologar ou não a autoclassificação. Demonstram visualizarem
vários equívocos, como na precisão da análise das comissões e proximidade dos métodos atuais
com métodos da virada do século XIX que “eram eivados de preconceitos, imprecisões e
fraudes.” E que a invalidação da autoclassificação se fazia violenta por “passar por cima” de
agências nacionais e internacionais que utilizam da autoclassificação, como o IBGE.
Nesse movimento, os autores trazem uma ironia que existe no debate de implementação:
de um lado, sendo formada por um debate da campanha presidencial de Lula em 2002 em que
este alega que existiriam “formas científicas de determinar quem seria negro, branco, pardo e
amarelo” enquanto por outro lado, tensionam os métodos de avaliação da UnB, uma vez que
lideranças do movimento negro defendem a autoclassificação.
Em outra interrogação, como as cotas englobam os indígenas, refletem sobre a
existência de comissões especialistas também para indígenas, e os autores não concordam,
portanto, com o ato de delegar a terceiros a definição de atributos raciais em uma sociedade
democrática em que isso deveria partir do indivíduo. Acreditam ser uma prática autoritária. Ao
fim, pedem que os critérios classificatórios sejam públicos, nas minúcias.

4.5 Francisco Carlos Palomanes Martinho, sem vínculo de postagem e sem data, p. 177:
“O pomo da discórdia: sobre as cotas raciais e o debate na Uerj”

Professor de História da UERJ, as pesquisas de Francisco Martinho se concentram na


análise dos intelectuais, do pensamento conservador-autoritário e das identidades nacionais no
Portugal Contemporâneo, como traz em seu currículo Lattes. Dentre os signatários do manifesto
e articuladores deste livro, possui produção com Goés.
Inicia a escrita de seu artigo mencionando o posicionamento da comunidade da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) após a aprovação em 9 de novembro de 2001
do decreto 3.708, por Anthony Garotinho. “A Lei de Cotas havia sido sancionada pelo governo
de estado, aprovada pela Assembleia Legislativa e apoiada pela reitoria da UERJ”
(MARTINHO, 2007, p. 180) A demanda por cotas raciais compunha uma lista cheia de
convergência para professores, servidores técnico-administrativos e estudantes da UERJ, que

97
desmontou a unidade dessa comunidade, apesar de ser “um debate sem consequência”, como
traz o autor, por já ter efetivado-se. Então Martinho traz as opiniões trocadas pela comunidade
acadêmica por e-mails sem expor os nomes das pessoas.
A primeira opinião pró-cotas, de que seria uma política de reparação pelos danos da
escravidão e pelos negros estarem na linha de pobreza, o autor rebate que a escravidão não fora
exclusividade de “brancos europeus” e utiliza Joaquim Nabuco para desconstruir a relação entre
negro livre e a participação no comércio de escravos e negro e pobreza, alegando que “na
medida em que a posse de escravos esteve aberta a todos, incluindo negros e pardos, as relações
entre homens livres e cativos não se “azedou”, como por exemplo nos Estados Unidos”
(MARTINHO, 2007, p. 180)
Escreve também que imigrantes da segunda metade do século XIX, “portugueses,
italianos e espanhóis” sofreram a mesma violência que os africanos, reconhece a maior
possibilidade de mobilidade social destes mas assimila suas condições precárias de saúde e que
inclusive relacionavam-se em laços familiares. “Construíram, como diz a canção, a casa
brasileira: “Um pouco portuguesa e pixaim.” (MARTINHO, 2007, p. 180)
Martinho reconhece que a exclusão era tanto social quanto ética, reconhecendo o
preconceito racial, o racismo como escreve. Inclusive se coloca contrariando os argumentos em
torno da miscigenação de alguns críticos às cotas e contra o pensamento de Nabuco, este que,
portanto, não percebia a exclusão étnica promovida pelo preconceito. “Encarar os erros do
Brasil e dos brasileiros, como o racismo, é uma obrigação e um ato de coragem” (Martinho,
2007, p. 181) Acrescenta que preconceituosos há em todos os lugares, e eles se expressam de
forma organizada nos Estados Unidos e na Europa, a exemplo das torcidas de futebol e o usual
chamado de “macaco” e ao que falamos aqui dos japoneses, “é tudo igual”.
O autor tece uma crítica ao que se deixa de lado nos usos dos termos “cafuzos, mulatos
e caboclos” e torna-se 100% negro. Enxerga uma ironia ao japonês que não poderia ser visto
como “tudo igual”, mas, cafuzos, mulatos e caboclos podem ser “tudo negro” no debate pró-
cotas.
Chegando ao fim, delimita sua postura particular para com o tema “De minha parte, já
que não acredito mais em uma sociedade perfeita, conduzida pelo “homem novo”. Prefiro o
racismo acanhado, cada vez mais acanhado.” (MARTINHO, 2007, p. 181) Ou seja, como
alegam os defensores da política que reconhecem que o Brasil é um país racista, Martinho não
acredita que as cotas raciais enfrentam o preconceito, mas tornam “difícil conter o racismo”.
Portanto, o autor alega que brigas acontecerão entre negros e a população “branca” e
pobre. “Não vão mais conversar e muito menos dar continuidade à fantástica miscigenação

98
brasileira.” (MARTINHO, 2007, p. 182) Então, a partir dessa última frase, o autor polariza
quem quer o racismo acanhado (a exemplo dele próprio) e quem quer o racismo “mais honesto,
mais claro, o racismo à luz do dia.” E finaliza enfaticamente “Somos racistas, preconceituosos
e hipócritas. Mas por enquanto de forma dissimulada. Nas próximas décadas do século XXI
desejado por parte dos membros da lista, pelo menos em nosso racismo, alcançaremos a
honestidade.” (MARTINHO, 2007, p. 182)

4.6 José Roberto Pinto de Góes, O Globo, 16 de agosto de 2004, p. 195: “O racismo vira
lei”

No início do texto, Goés critica pareceres aprovados pelo Conselho Nacional de


Educação, a exemplo das Diretrizes Curriculares para a Educação das Relações Étnico- Raciais
e para o Ensino da História e Cultura Afro-Brasileira e Africana (Resolução CNE/CP n.º 1, de
17 de junho de 2004). Argui “É uma afronta ao espírito da Constituição republicana, segundo
o qual a ideia de raça é preconceituosa, não devendo o indivíduo agir ou se relacionar com base
em critérios raciais.” (GOÉS, 2007, p. 197) Não concorda que o ensino de história deva ser
baseado em “uma história calcada na denúncia e laudatória”, discorda da lista de 39 “heróis”
que levantam. Se espanta com a reeducação dos jovens induzidos ao orgulho de seus
pertencimentos étnico- raciais. Faz um chamado para o Ministério Público acerca do que “se
pretende fazer nas escolas”. (GOÉS, 2007, p. 198)
Então, o autor rebate dois argumentos do parecer exemplificado acima: o primeiro,
sobre o sistema de mérito que busca-se romper os defensores dos “postos à margem”, Goés não
enxerga preconceitos e nem manutenção de privilégios no sistema de mérito. “O [sistema] de
que eles precisam é ter condições de competir em igualdade de condições, beneficiar-se da sua
natureza republicana.” (GOÉS, 2007, p. 198)
O segundo argumento que inquieta Goés é na inversão valorativa sobre o 13 de maio,
antes momento de comemoração, sugere o parecer que seja um momento de denúncia. Discorda
completamente “dessa história de emergir dores e medos”, como sugere o parecer para o dia 13
de maio “será tratado como o dia de denúncia das repercussões das políticas de eliminação
física e simbólica da população afro-brasileira no pós-abolição.” (GOÉS, 2007, p. 198)
E distorce situações, como quando alega que nesse momento de denúncias, reivindicam
ter vergonha em serem descendentes de escravos, o que não ocorre na realidade, mas que o
autor sugere que devemos ter “orgulho deles, orgulho bom, pacífico, alegre...”. (GOÉS, 2007,
p. 199) E ao fim do artigo é bastante apelativo, alegando que as consequências dos ensinos nas

99
escolas são reflexos de atribuir a grupos racistas o Estado brasileiro. “Agora vai começar a
pedagogia da revanche, da dor e do medo.” (GOÉS, 2007, p. 199)

4.7 Marcos Chor Maio, Simone Monteiro, Paulo Henrique Almeida Rodrigues, O
Globo, 4 de novembro de 2006, p. 235: “O SUS é racista?”

Mais uma vez, Marcos Chor Maio escreve para o livro e de forma compartilhada, agora
com Simone Monteiro, que tem formação em Psicologia, Saúde Coletiva e Saúde Pública, e
com Paulo Henrique Almeida, formado em Ciências Sociais e Saúde Coletiva. A preocupação
central do material se faz na relação traçada entre “raça” e saúde, cuja comparação poderia
reiterar em vínculos ao racismo biológico, e ilustram a problemática com a afirmação de que
“até remédios para “negros” já estão sendo comercializados.” (RODRIGUES; MAIO;
MONTEIRO, 2007, p. 237)
Nesse impasse, reforçam não terem dúvidas sobre a presença do racismo no Brasil, mas
buscam refletir sobre as controvérsias no enfrentamento, e defendem que há preconceitos na
vida social como um todo, não permitindo que afirme-se que “há racismo institucional no SUS.”
E mais, questionam: Como combater o racismo? (RODRIGUES; MAIO; MONTEIRO, 2007,
p. 237) De certo escrevem não ser com política de saúde focalizada na “população negra”, como
demanda “setores do movimento negro, da comunidade científica e de representantes do
governo, com o apoio recente do Ministério da Saúde.” Temem, portanto, que haja reprodução
de mais estigmas. Porém alegam que

Definir uma política separada para a população negra num país em que os cidadãos
são pouco afeitos a sistemas rígidos de classificação por cor exige a produção da
diferença, do sistema bicolor, da “raça negra”. Assim, agravos são transformados em
“doenças raciais”, como bem ilustra o caso da anemia falciforme. (RODRIGUES;
MAIO; MONTEIRO, 2007, p. 238)

E atrelam o SUS a uma agenda antiga de tradição sanitarista não-racialista, uma conquista de
caráter universalista, concebendo a saúde como um direito de cidadania.
Finalizam o debate propondo que políticas de saúde de recorte racial sejam debatidas
com mais amplitude no cenário público, insinuando que cotas raciais nas universidades não
foram debatidas na intensidade devida antes da implementação. E idealizam que o SUS caminhe
“rumo a um país mais justo e igualitário”, sem formas de discriminação.

100
4.8 Marcos Chor Maio e Ricardo Ventura Santos, Correio Braziliense, 14 de abril de
2006, p. 287: “Um Brasil de cotas raciais?”

A primeira inquietação trazida no artigo é a de que a política de cotas raciais na


universidade não possui amplo debate com a sociedade. Apontam, também, a especificidade
concedida aos afro-brasileiros no Estatuto da Igualdade Racial. Sendo as medidas compulsórias
no uso de “raça” e segregando o Brasil entre “brancos e não brancos, negros e não negros”.
“Essas iniciativas procuram transformar a diversidade étnico-social da população brasileira em
grupos raciais estanques.” (MAIO; SANTOS, 2007, p. 289)
Acreditam que “Há a necessidade de políticas sociais que compensem os prejudicados
no passado, ou os que herdaram situações desvantajosas.” (MAIO; SANTOS, 2007, p. 289),
que diferenças estatísticas podem derivar da discriminação. Mas enfatizam a necessidade de
ampliar os debates e de aperfeiçoar os projetos, bem como investir na educação básica de
qualidade e na abertura de postos de trabalho para reduzir as desigualdades sociais.
Ao fim, escrevem que o IBGE não deve ser voltado a identidades com direitos
específicos, que o Estado não deve regularizar identidades raciais, que políticas dirigidas a
grupos “raciais” não eliminam o racismo e intensificam o temor no acirramento do conflito e
da intolerância, e fazem menção a exemplos históricos e contemporâneos que essa ação teve
consequências ruins, sem especificar quais.
Que Brasil queremos?99 (MAIO; SANTOS, 2007, p. 291) Nesse momento finalizam o
texto oferecendo várias propostas para corrigir as desigualdades sem políticas de intervenção
que infrinjam direitos universais: escolas eduquem pobres, universidades tenham vagas
ampliadas e usem bem seus recursos, com cursos noturnos, mais cursos pré-vestibulares para
alunos carentes, campus em áreas mais pobres.

4.9 Mônica Grin, 2006, p. 293: “O Estatuto da Igualdade Racial: uma questão de
princípio”

Mônica Grin possui graduação em História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio
de Janeiro (1986), mestrado em Ciência Política (Ciência Política e Sociologia) pelo Instituto
Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (1991), mestrado em História - Brown University

99
Frase idêntica à inscrita no corpo do manifesto. Nos fazendo levar em consideração o lugar significativo de
Marcos Chor Maio na amostra analisada.

101
(1995) e doutorado em Ciência Política (Ciência Política e Sociologia) pelo Instituto
Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (2001). Possui publicação com Marcos Chor Maio.
Mônica Grin inicia a escrita de seu artigo apresentando o projeto de lei (PL) nº 3.198 de
2000, de Paulo Paim do PT-RS, o Estatuto da Igualdade Racial (EIR) a ser votado na Câmara
dos Deputados e aprovado no Senado Federal, em que a autora do artigo busca explanar duas
abordagens que o projeto toca, sendo o rompimento com as bases universalistas e o vínculo à
ancestralidade afro e escravista na validação de uma “raça”.
A autora registra o público alvo do projeto e seus objetivos e diretrizes, sendo,
respectivamente: a quem considere-se “afro-brasileiro, negros, pretos, pardos ou definição
análoga”, bem como seu intuito de “combater a discriminação racial e as desigualdades raciais
que atingem os afro-brasileiros, incluindo a dimensão racial nas políticas públicas
desenvolvidas pelo Estado e a reparação, compensação e inclusão das vítimas da desigualdade
e a valorização da diversidade racial.” (GRIN, 2007, p. 295 apud EIR, 2000, p. 6)100
Reconhece a discriminação racial no Brasil como “fato incontestável”, porém que existe
em descompromisso com o coletivo

A discriminação racial, fato incontestável no Brasil, vigora ainda hoje nas relações
pessoais, nas instituições e no mercado de trabalho, a despeito de qualquer legislação
ao longo da nossa história republicana que tivesse como princípio a promoção ou
exclusão de segmentos da população com base em critérios de cor ou raça, a exemplo
das Leis Jim Crow nos Estados Unidos, do apartheid na África do Sul ou das Leis de
Nuremberg no caso da Alemanha nazista. (GRIN, 2007, p. 296)

Mônica Grin interpreta o Estatuto e suas demandas como uma nova concepção de
sociedade, uma comunidade imaginada, ao passo que apresenta trechos do EIR com as
demandas. Mas é descrente quanto a eficácia da aplicação deste numa sociedade como o Brasil,
em que não há um consenso racial, logo não se pensa que há uma cisão entre a raça “negra” e
a “branca”, historicamente divididas entre aquela excluída e oprimida e esta dominante e
privilegiada. (GRIN, 2007, p. 298)
Pontua, também, que o movimento negro esteja se orientando indevidamente por
políticas focais, uma vez que este reconhece um Estado com funções reduzidas e de omissão, e
que tal público alvo da política alega exclusão histórica da cidadania e do mercado liberal.
Demonstra a autora compreender bem o EIR e seus anseios, mas fortalece que com seu senso
de realidade sob tal imaginário “estará se instaurando uma ordem com cenários óbvios de
injustiça.” (GRIN, 2007, p. 298)

100
Grin cita as páginas 7 e 8 do Estatuto da Igualdade Racial (EIR).

102
E a injustiça vista seria para com os “brancos” pobres e excluídos, que nessa nova ordem
tornariam-se os “negros de amanhã”. (GRIN, 2007, p. 299) A estratégia usada para corrigir uma
desigualdade estaria produzindo outra injustiça, “só que agora com a cor da pele trocada.”
(GRIN, 2007, p. 299) Portanto a defesa é de não distinguir brancos pobres e negros e de incluir
mais dos indígenas nas demandas, aos quais o EIR não faz nenhuma menção, polarizando,
portanto, o Brasil em branco-negro. É relutante, assim, à promoção da “raça” como agenda de
ação e do argumento moral em defesa de reparações dos “brancos” descendentes de “brancos”
senhores de escravos. Não daria, ao seu ver, um “afro-brasileiro” culpabilizar moralmente um
“branco” pobre pela pobreza de ambos.
Encaminhando para o fim, a autora apresenta uma controvérsia: implantar uma
“sociedade birracializada com cisão cultural em um país cujo patrimônio cultural não permite
monopólios raciais”. Nesse momento podemos compreender uma apropriação da relação entre
raça e cultura, homogeneizando os conceitos em torno da nossa herança mestiçada. Finaliza, de
fato, fazendo menção ao Estatuto como uma discriminação racial em curso, e que o Estado não
deve impor a quem não queira racializar-se que assim ajam. Evoca Simon Schwartzman (1998)
para ilustrar que mesmo não sendo a melhor opção, a igualdade de todos perante a lei é mais
condizente com o sistema democrático e assim deve ser mantida.

4.10 Sistematização dos argumentos por domínios temáticos frequentes:

Joaquim Nabuco
 “(...) a escravidão não chegou a “azedar” a alma do preto contra o branco porque estava
aberta a todos: “nacionais e estrangeiros, homens e mulheres, pretos e brancos.” (Goés,
p. 60)
 Escreve sobre o olhar clínico de Joaquim Nabuco no século XIX em perceber o fato de
que a escravidão não passava rigorosamente pela linha da cor. Negros chegaram a ser
senhores de escravos e enriquecerem com o tráfico atlântico. (Vainfas, p. 85)
 “Joaquim Nabuco, nosso mais destacado militante do abolicionismo” (Martinho, p. 180)

103
 utiliza Joaquim Nabuco para desconstruir a relação entre negro e pobreza, alegando que
“na medida em que a posse de escravos esteve aberta a todos, incluindo negros e pardos,
as relações entre homens livres e cativos não se “azedou”, como por exemplo nos
Estados Unidos” (Martinho, p. 180)
 Nabuco não reconhece que “a exclusão era tanto social quanto ética, uma vez que
promovida pelo preconceito”, “era uma marca de nossa formação social.” (Martinho, p.
181)

Gilberto Freyre

 “nossa escravidão foi mais adocicada que a norte-americana, como sugeriu Gilberto
Freyre.” (Vainfas, p. 85)
 “Aliás, nem ele e nem qualquer historiador negaria a violência do escravismo em
qualquer tempo ou lugar.” (inclusive Freyre) (Vainfas, p. 85)
 inevitável não voltar a Freyre no debate de cotas raciais, este que é interlocutor oculto
da maioria dos defensores (Manolo Florentino, p. 91)
 Freyre seguiu por uma trilha de carnavalização da mestiçagem (Florentino, p. 91)
 Freyre não é a fonte da democracia racial brasileira, isso é um mito (Florentino, p. 92)
 “um dos melhores intérpretes do Brasil por parte de inúmeras gerações universitárias.”
(Florentino, p.92)
 “A verdade é que a ignorância de sua obra ainda hoje se assenta em censura ideológica
das mais renitentes de nossa história intelectual, frequentemente travestida de falsa
indiferença.” (Florentino, p. 92)
 palestra de Freyre “Modernidade e Modernismo na Arte Política” na USP que foi capaz
de fazer Oswald de Andrade deixar de ser comunista. (Florentino, p. 92)
 “autor da mais revolucionária tese produzida pelo pensamento social brasileiro do
século XX” por trazer que somos resultado da mistura “vitoriosa e quase que livre” entre
o aborígene, o português mestiço e plástico e o africano escravizado. (Florentino, p. 92)
 mansidão no cativeiro gilbertiano se faz por figura retórica, para demonstrar que os
escravos sofriam mais com a colonização anglo-saxônica do que com os portugueses.
(Florentino, p. 93)

104
 hoje a tese de Freyre é óbvia, mas não era durante os 433 anos de história em que o
negro era visto biologicamente como inferior, incompleto, e o indígena como sem alma
(Florentino, p. 93)
 Casa Grande e Senzala e a visão do ‘outro’ relaciona-se ao binômio mandonismo-
servilismo que nos tece (Florentino, p. 93)
 Gilberto não desconhecia que no Brasil tinha mais ex-escravos entre os livres na
América (Florentino, p. 93)
 Freyre evolução do pensamento de Freyre, de Casa-grande e senzala a Novo mundo nos
trópicos: a mestiçagem tinha mais contribuição da alforriada que casava com um livre
pobre ou português faminto do que entre a escrava e seu senhor - encontro de pobres
amantes. (Florentino, p. 93)
 tornou a mestiçagem de abastardante a um elemento civilizacional positivo e válido
(Florentino, p. 93)
 os escritos freyreanos foram o mais bem elaborado objeto de investimento para esconder
a tão almejada paz social na identidade brasileira em fundação (Florentino, p. 94)
 Freyre teve adesão porque produziu identificação; Manoel Bandeira, Roland Barthes,
Jorge Amado, Fernando Braudel, Sarmento Rodrigues (Florentino, p. 94)

Comparação entre Brasil e Estados Unidos

 compara o fluxo de africanos que chegaram aos Estados Unidos e ao Brasil (Goés, p.
60)
 a alforria ser concedida ou comprada com mais facilidade aqui no Brasil e nos EUA não
ser habitual (Goés, p. 60)
 a História não ocupa lugar merecido quanto aos contrastes entre Brasil e EUA
promovidos por historiadores no debate sobre política de cotas (Vainfas, p. 85)
 inutilidade em reeditar o debate sobre se a nossa escravidão foi mais adocicada que a
norte-americana, como sugeriu Freyre (Vainfas, p. 85)
 No Brasil escravista, negros chegaram a ser senhores e a enriquecer com o tráfico, o que
não se encontraria nos EUA (Vainfas, p. 85)
 Brasil com preconceito mais velado e EUA com a violência da discriminação (Vainfas,
p. 86)

105
 “Entre nós uma abolição lenta, negociada, tecida na esfera das elites políticas. Nos
Estados Unidos, uma abolição traumática, resultado de uma guerra civil, no fim da qual
foram suspensos, no tempo da Reconstrução Radical, os direitos políticos dos brancos
sulistas.” (Vainfas, p. 86)
 “Poder-se-ia dizer que as mazelas da Ku Klux Klan nada têm a ver com a História do
Brasil. É verdade em parte, porque ao menos não tivemos experiência histórica familiar
similar, felizmente. Mas em tempos de ações “racialistas”, vale a pena lembrar os feitos
trágicos desta milícia, KKK, que quase virou partido político.” (Vainfas, p. 87)

Investir na educação ampla como a melhor estratégia de combater a discriminação


 enfatizam a necessidade de ampliar os debates e de aperfeiçoar os projetos, bem como
investir na educação básica de qualidade e na abertura de postos de trabalho para reduzir
as desigualdades sociais. (Santos; Maio, p. 290)

Imigração/estrangeiros
 imigrantes da segunda metade do século XIX, “portugueses, italianos e espanhóis”
sofreram a mesma violência que os africanos (Martinho, p. 180)
 “(...) a escravidão não chegou a “azedar” a alma do preto contra o branco porque estava
aberta a todos: “nacionais e estrangeiros, homens e mulheres, pretos e brancos.” (Goés,
p. 60) Traz que escravos nascidos em solo Brasileiro conseguiu a alforria com mais
frequência, “(...) mas não foram poucos os africanos que, de mil modos, conseguiram
juntar recursos para comprar a sua.” (Goés, p. 60)

106
Indígena
 hoje a tese de Freyre é óbvia, mas não era durante os 433 anos de história em que o
negro era visto biologicamento como inferior, incompleto, e o indígena como sem alma
(Florentino, p. 93)
 “dois terços dos “brancos” brasileiros descendem de matrilinhagens indígenas ou
africanas.” (Florentino, p. 94)
 O Estatuto da Igualdade Racial (EIR) é para negros e índios. (Santos, Maio, p. 164)
 “O Estatuto do índio de 1973, ainda conservador em várias partes, estabelece que a
condição o auto-reconhecimento pelo indivíduo e sua comunidade (Ricardo Ventura
Santos, Marcos Chor Maio, p. 164)
 refletem sobre a existência de comissões especialistas também para indígenas (Santos,
Maio, p. 164)
 “O estatuto, embora se dirija aos discriminados, em momento algum se refere aos
indígenas.” (Grin, p. 299)
 birracialização em curso provoca o “genocídio estatístico” dos índios (Mônica Grin, p.
299)

Negros e africanos envolvidos no tráfico de escravos/Escravidão leniente (alforria, vida


comumente livres e não livres)

 Seu esforço é para demonstrar que a escravidão moderna não era coisa apenas de
“branco”, estando atrelada à dirigentes africanos. Que a escravidão, portanto, “(...) não
encontrava legitimidade em bases raciais, no Brasil.” (Goés, p. 60) A demanda por
escravos na América foi relacional à oferta dessa mão-de-obra pelos comerciantes de
escravos. Reforça que o tráfico transatlântico ocorreu com partes interessadas dos dois
lados do oceano. (Goés, p. 60)
 “população de “cor” participava do mercado de escravos, o que era facilitado por uma
incessante oferta de mercadoria humana, o que a tornava relativamente barata.” (Goés,
p. 60)
 o autor traz a partir do abolicionista Joaquim Nabuco que “(...) a escravidão não chegou
a “azedar” a alma do preto contra o branco porque estava aberta a todos: “nacionais e
estrangeiros, homens e mulheres, pretos e brancos.” (Goés, p. 60) Traz que escravos
nascidos em solo brasileiro conseguiam a alforria com mais frequência, “(...) mas não

107
foram poucos os africanos que, de mil modos, conseguiram juntar recursos para comprar
a sua.” (Goés, p. 60)
 o autor toca em pontos tais como: ser inútil reeditar o debate de que a nossa escravidão
foi mais adocicada que a norte americana, como sugeriu Gilberto Freyre, que nenhum
historiador negaria a violência do escravismo (inclusive Freyre), as raízes do
preconceito racial nos dois países não estariam na escravidão. (Vainfas, p. 85)
 Escreve sobre o olhar clínico de Joaquim Nabuco no século XIX em perceber o fato de
que a escravidão não passava rigorosamente pela linha da cor. Negros chegaram a ser
senhores de escravos e enriquecerem com o tráfico atlântico. (Vainfas, p. 85) “Entre nós
uma abolição lenta, negociada, tecida na esfera das elites políticas. Nos Estados Unidos,
uma abolição traumática, resultado de uma guerra civil, no fim da qual foram suspensos,
no tempo da Reconstrução Radical, os direitos políticos dos brancos sulistas.” (Vainfas,
p. 86)
 autor da tese mais revolucionária do pensamento social brasileiro do século XX por
trazer que somos resultado da mistura “vitoriosa e quase que livre” entre o aborígene, o
português e o africano. (Florentino, p. 92)
 Sobre a miscigenação, traz também “(...) de abastardante a miscigenação virou elemento
civilizacional positivo e válido. E além de válido, tão valioso. Tão valioso que é no seu
uso que reside a origem do mito da democracia racial brasileira e da escravidão
leniente.” (Florentino, p. 93)
 E acrescenta um adendo da evolução do pensamento de Freyre, de Casa-grande e
senzala a Novo mundo nos trópicos, a mestiçagem tinha mais contribuição da alforriada
que casava com um livre pobre ou português faminto do que entre a escrava e seu senhor
- encontro de pobres amantes. (Florentino, p. 93)
 O autor rebate que a escravidão não fora exclusividade de “brancos europeus” e utiliza
Joaquim Nabuco para desconstruir a relação entre negro livre e a participação no
comércio de escravos e negro e pobreza, alegando que “na medida em que a posse de
escravos esteve aberta a todos, incluindo negros e pardos, as relações entre homens
livres e cativos não se “azedou”, como por exemplo nos Estados Unidos” (Martinho, p.
180)

108
Mestiço/Pardo/Mestiçagem/Branqueamento/Democracia racial
 “O Brasil pode vir a se tornar um país dividido entre negros e brancos, sim, trocando a
valorização da mestiçagem pelo orgulho racial.” (Goés, p. 59)
 escreve sobre o olhar clínico de Joaquim Nabuco no século XIX em perceber o fato de
que a escravidão não passava rigorosamente pela linha da cor. Negros chegaram a ser
senhores de escravos e enriquecerem com o tráfico atlântico (Vainfas, p. 85)
 Traz ser inevitável voltar a Freyre e que este não é a fonte da ideologia da democracia
racial (Florentino, p. 92)
 Sobre a miscigenação, traz “(...) de abastardante a miscigenação virou elemento
civilizacional positivo e válido. E além de válido, tão valioso. Tão valioso que é no seu
uso que reside a origem do mito da democracia racial brasileira e da escravidão
leniente.” (Florentino, p. 93)
 “Deveríamos ser, ou acreditar que éramos, uma democracia racial de idílicas raízes.
Nada que surpreenda muito, em se tratando de país no qual proliferam cafetões de
talento. Logo, a grande utilidade dos escritos freyreanos para os interessados em fundar
uma identidade brasileira esteve em que, sob esse tentador invólucro, podia se esconder
a tão almejada paz social, o outro elemento dito fundamental de nossa identidade.”
(Florentino, p. 94)
 Comentam sobre Lula em 2002, em que este alega que existiriam “formas científicas de
determinar quem seria negro, branco, pardo e amarelo,” enquanto por outro lado,
tencionam os métodos de avaliação da UnB. (Santos; Maio, p. 164)
 O autor tece uma crítica ao que se deixa de lado usos para “cafuzos, mulatos e caboclos”
e torna-se 100% negro. Enxerga uma ironia ao japonês que não poderia ser visto como
“tudo igual”, “aqui”, mas cafuzos, mulatos e caboclos podem ser “tudo negro” no debate
pró-cotas. (Martinho, p. 181)
 Estatuto da Igualdade Racial: público alvo do projeto e seus objetivos e diretrizes, sendo,
respectivamente: a quem considere-se “afro-brasileiro, negros, pretos, pardos ou
definição análoga” (Grin, p. 295)

Reparação:
 opinião pró-cotas, de que seria uma política de reparação pelos danos da escravidão e
pelos negros estarem na linha de pobreza, o autor rebate que a escravidão não fora
exclusividade de “brancos europeus” e utiliza Joaquim Nabuco para desconstruir a

109
relação entre negro livre e a participação no comércio de escravos e negro e pobreza
(Martinho, p. 180)
 “Agora vai começar a pedagogia da revanche, da dor e do medo.” (Goés, p. 199)
 a autora acredita que viabilizar a lógica da reparação como visa o Estatuto da Igualdade
Racial (EIR) penalizará brancos pobres, estes que poderão ser “os negros de amanhã”
(Grin, p. 299)

4.11 Conclusões

Kabengele Munanga no livro “Rediscutindo a mestiçagem no Brasil: identidade


nacional versus identidade negra” (1999) traz alguns apontamentos interessantes para
refletirmos sobre os pontos em comum e díspares entre os signatários do manifesto que
contribuíram com artigos para o livro Divisões perigosas: políticas raciais no Brasil
contemporâneo (2007). Suas abordagens teóricas ilustram bastante algumas pautas, medos,
raivas e estereótipos argumentativos presentes nas exposições dos (as) signatários (as) do
manifesto.
Percebemos na leitura feita do livro algumas reproduções quase que idênticas de frases
do manifesto nos capítulos dos livros, inclusive entre os (as) autores (as). Muitos (as)
argumentam de formas bastante parecidas entre si, esbarrando nos mesmo receios e propostas-
soluções. Inclusive soa muito curioso o quanto que o corpo escritor, em média, parece estar
produzido um texto no qual o último parágrafo é sempre de várias propostas de solução aos
problemas que enxergam na aplicação de cotas raciais e na adesão ao estatuto da Igualdade
Racial, num ar filantrópico e egocêntrico – tendo as melhores intenções em propósito e em
qualidade aos que lhes contrariam.
E perpassam por eles angústias sobre as cotas raciais e sobre o estatuto da igualdade
racial, bem como tentativas de demonstrar a ligação de africanos enquanto financiadores da
escravidão também e não somente “brancos”, relacionar mesmo que para afastar as realidades
entre Brasil e Estados Unidos no debate racial, e debater o quesito racial no Sistema Único de
Saúde. Bem como, também, é negado o vínculo de que Gilberto Freyre seria a fonte da ideologia
da democracia racial. Para melhor detalhar, Manolo Florentino traz artigo cuja primeira versão
foi publicada com o título “DNA do povo brasileiro”, em Jornal do Brasil, de 16 de fevereiro
de 2002

Por meio da prosa desconcertante e bela de Gilberto Freyre, de abastardante a


miscigenação virou elemento civilizacional positivo e válido. E além de válido,

110
valioso. Tão valioso que é no seu uso que reside a origem do mito da democracia
racial brasileira e da escravidão leniente. Os argumentos de Casa-grande e senzala
transformaram-se no mais bem elaborado objeto de investimento – por parte dos
ideólogos do getulismo, depois pelos de Juscelino e dos governos militares – de como
o Brasil deveria se pensar, se querer e se dizer. Deveríamos ser, ou acreditar que
éramos, uma democracia racial de idílicas raízes. Nada que surpreenda muito, em se
tratando de país no qual proliferam cafetões de talento. Logo, a grande utilidade dos
escritos freyreanos para os interessados em fundar uma identidade brasileira esteve
em que, sob esse tentador invólucro, podia se esconder a tão almejada paz social, o
outro elemento dito fundamental de nossa identidade. (FLORENTINO, 2007, p. 93)

É um trecho denso mas rico para pensarmos o lugar de Gilberto Freyre dentro desse
contemporâneo tema sobre as cotas raciais. Por mais que atualizações estejam sendo feitas na
historiografia de modo a tirar do autor a criação direta do mito da democracia racial, em
momento algum este negou-lhe em intenções e crenças. Manolo traz que a mansidão que existiu
no cativeiro de Freyre foi mera retórica, porque este conhecia a intensidade da escravidão no
Brasil sendo gigante na América latina. E é sobre esse lugar do explícito e implícito que
buscamos compreender algumas fronteiras que formam a argumentação contra as cotas raciais
por historiadores (as).
De início, as nomeações raciais virem feitas em maioria entre aspas chama a atenção.
Em uma mesma frase trazem “negro”, assim, em aspas, e pobre sem aspas, mas argumentam
não ser necessária a fratura formativa entre raça e classe. Alegam, inclusive, que negros e
brancos pobres sofrem igualmente exclusão. Ao tempo acalorado do debate em 2006, ainda não
conseguiam normalizar categorias étnico-raciais de “branco” e “negro”, por exemplo, por não
concordarem obviamente com tais categorias.
Mônica Grin, por exemplo, chega a colocar entre aspas até mesmo “raças” e “grupos
raciais” (GRIN, 2007, p. 298) A autora mencionada faz alusão também à impossibilidade de
falarmos em raças no Brasil pelo processo de mestiçagem, a qual escreve que “O que se mostra
controverso nos ajustes normativos para se implantar uma sociedade birracializada é que eles
promovem um espécie de cisão cultural em país cujo patrimônio cultural não permite
monopólios raciais.” (GRIN, 2007, p. 301)
O debate sobre o colorismo aparece bastante em Munanga, quando este de início
apresenta categorias herdadas da colonização cujo conteúdo é mais ideológico do que biológico,
que adquirimos o hábito de pensarmos nossas identidades sem refletir sobre a manipulação do
biológico pelo ideológico. (MUNANGA, 1999, p. 18)
Kabengele Munanga defende que no Brasil o movimento antirracista deve ser
mobilizado no âmbito da luta e teorização do racismo enquanto um fenômeno social. Negro e
branco seriam, portanto, categorias sócio-políticas e não apenas biológicas, como defendem
alguns autores do manifesto contra as cotas (2006) e do livro Divisões perigosas (2007) que

111
geneticamente não temos diferenças. Marcos Chor Maio, Simone Monteiro e Paulo Henrique
Almeida Rodrigues, em artigo de escrita compartilhada, escrevem ser contrários à agenda que
reconheça “raças distintas” por temerem o determinismo biológico. (MAIO; MONTEIRO;
RODRIGUES, 2007, p. 238)
Para esse exemplo, podemos trazer o próprio exemplo de Francisco Martinho quando
aos gritos de “macaco” entoados por torcida organizada de futebol contra jogadores, um estigma
racista há muito é difundido, de repente sem a intenção racista direta, por vezes de
“brincadeira”, mas que faz a associação de um humano e um não-humano, a assimilação do
negro ao animal irracional. Sobre isso, Manolo Florentino chega a mencionar a atmosfera dos
433 anos de história em que Gilberto Freyre escreve, em que o negro era estigmatizado
biologicamente como inferior, como um ser incompleto. (FLORENTINO, 2007, p. 93)
Quanto a nossa inquietação central, que é a de explorar mais dos mitos históricos que
estão circunscritos nas argumentações que formam esse discurso de oposição, os artigos do
livro Divisões perigosas (2007) tocam em questões como as de mestiçagem e democracia racial
de modo a:
1. Desmistificar o mito de que Freyre teria sido a fonte da ideologia da democracia
racial brasileira. (FLORENTINO, 2007, p. 91) A prosa de Freyre só teve a tamanha
adesão por ter tido quem identifica-se com sua prosa “desconcertante e bela”
(FLORENTINO, 2007, p. 93), sendo então, a partir disso, que a miscigenação
positivou-se e tornou-se elemento civilizacional válido. Portanto, Manolo Florentino
atribui o mito mais ao seu uso posterior, seu lastro, do que Freyre como origem.
2. Desconsiderar, ao demarcarem o caráter uno e de povo dos brasileiros perante a
Constituição, jogadas histórico-políticas de positivar a mestiçagem como: de início
o cruzamento era abominável, podendo surgir monstros.
Porém, ao passo que a elite letrada e escravocrata percebeu que em uma sociedade do
caráter colonial que tivemos, a mestiçagem biológica seria inevitável. Munanga sugere certa
tipologia das gerações de teóricos raciologiastas, o que da recusa extrema à mestiçagem, teve-
se cada vez mais assimilando o índio e o afro, mas sempre com condições. De início, pensava-
se que a mestiçagem aconteceria mas que deveria atingir-se o branqueamento como fim, ou
seja, que o protótipo do branco melhoraria os “degenerados” em 3 ou quatro gerações. E de fato
conseguiram tal proeza. A população negra decai em proporção à população branca e mestiça,
como demonstra Munanga através de dados do IBGE (1993), cujo ideal era o desaparecimento
da população negra:

112
em 1827 chegou a representar 72,5% da população total, 63% em 1830, 20% em 1872,
14% em 1890/1940, 11 % em 1950 e 5% em 1990. Mas em termo absoluto, o número
de negros passou de 1.995.000 em 1872 a 2.098.000 em 1890; de 6.644.000 em 1940
a 5.693.000 em 1950 e a 7.264.000 em 19904.” (MUNANGA, p. 114)

Porém, a estratégia deu errado e a população negra voltou a crescer, ao passo que a
população mestiça crescia:

4,62% entre 1940 e 1950; 4,09% entre 1950 e 1960 e 4,05% entre 1960 e 19806. É
também de observar que se a categoria censitária “parda”, na qual se incluem todos
os mestiços, de acordo com os censos de 1980 e 1990, representa 39% da população7,
o número real deveria ser superior a essa percentagem, porque em função do mesmo
ideal do branqueamento, muitos mestiços claros são drenados na categoria censitária
“branca”, como muitos negros claros são ou podem ser contados na categoria “parda”.
(MUNANGA, p. 115)

Munanga enxerga o racismo brasileiro sendo de tipagem assimilacionista, buscando,


portanto, a “assimilação” dos diferentes através da miscigenação e pela mestiçagem cultural.
(MUNANGA, 1999, p. 115) Nesse momento, a estratégia de combate ao racismo se faz no
âmbito do uniculturalismo, da assimilação de todos no ímpeto da identidade brasileira. Por um
“pluriculturalismo mais liberal e democrático, que aceita todas as culturas sem tomar partido
por nenhuma delas.” (MUNANGA, 199, p. 117)
Então, no campo teórico da postura de oposição às cotas, através do livro, enxergamos
estarem em maioria se apropriando de jogadas teóricas eufemistas para esquivar-se da
realidade, optando pelo “racismo acanhado, cada vez mais acanhado.” (Martinho, 2007, p. 181)
Mônica Grin, por exemplo, ao fim de seu artigo faz menção a um artigo de Simon
Schwartzman (1998)101 e concorda que devemos zelar pela igualdade de todos perante a lei
como sendo a opção mais condizente com o sistema democrático, de certo ela define seu campo
de atuação na luta contra a discriminaçãs racial que afirma reconhecer existir no Brasil. Ou
quando José Roberto Pinto de Goés é elogioso ao sistema de mérito e não enxerga preconceitos
e nem manutenção de privilégios, e muito menos que os “postos à margem” ousem em romper
com o sistema de mérito: “O [sistema] de que eles precisam é ter condições de competir em
igualdade de condições, beneficiar-se da sua natureza republicana.” (GOÉS, 2007, p. 198)
O racismo brasileiro agiu em seus primórdios com a recusa da mestiçagem como
caminho para banir a diferença da “raça”, seu uso, uma vez que a estratégia era a exterminação
do negro. Depois com a apropriação, até que surge o “brasileiro” (peculiar), e que apesar de
nossa essência brasileira de ser (miscigenada), orgulhamo-nos e somos unos.

101
Que também foi signatário do manifesto contra as cotas (2006) e escreveu ao livro Divisões perigosas (2007).

113
E assim fomos, enquanto essa categoria abstrata “brasileiro”, destinatários dos projetos
(receptor, autor, intermediário) aderindo e mantendo com tropos e projetos historicamente
construídos, heranças de passados sensíveis.102 Sensíveis pelo peso das violências que carrega,
mas também pelo excesso de disputas discursivas. Porque sempre houve, também, discursos
colocando essas tipificações racialistas em cheque, denunciando que o racialismo serviria para
tornar a brancura invisível. Mostrando que foi projetado um todo-nacional ideal, mas os
resultados trouxeram a nós o todo-peculiar, mas que apelar para raça como uma chave
interpretativa de análise social pode trazer divisões perigosas. Mas, perigosas para quem?103
Com a falha no percurso buscou-se assimilar este fenômeno à identidade nacional, e ao
que aponta Manolo Florentino, o uso de Freyre foi primordial no investimento, uma vez que
dava encaixe esconder a tão almejada paz social na construção dessa identidade.
(FLORENTINO, 2007, p. 94) E também nos eufemismos a relacionar e hierarquizar raça e
classe. Munanga (1999, p. 96) traz que em Gilberto Freyre e Joaquim Nabuco havia o fenômeno
da assimilação cultural (ou racial), da ambiguidade de raça e classe, ambos autores muito
requisitados pelos signatários do manifesto.
José Roberto Pinto de Goés é bastante incisivo em sua defesa dentro da temática, o qual
teme uma divisão entre negros e brancos no Brasil com a inversão da “valorização da
mestiçagem pelo orgulho racial.” (GOÉS, 2007, p. 59) É um receio sem fundamentos reais,
uma vez que o próprio caráter assimilacionista do nosso histórico formador não respeitou a
integração pluricultural como um todo.
Por mais que este alegue o quanto que o comércio de escravos estivesse aberto a todos,
que africanos vendiam seu próprio povo, que negros livres vivessem de comum realidade junto
aos sem cor; ou, também, argumentos de que deve-se investir no ensino público de base, sim
às cotas sociais ao invés de raciais, Zilda Martins discorre que na mídia “é apenas um
eufemismo para não se debater com seriedade a importância das cotas raciais.” (MARTINS,
2018, p. 161), e ao nosso ver o desvencilhamento da profundidade do tema não é diferente na
história da historiografia sobre as cotas raciais no livro “Divisões perigosas: políticas raciais no
Brasil contemporâneo” (2007).

102
FREIXO (2019).
103
Pergunta retórica feita por André Freixo na banca de qualificação desta pesquisa e que a nós é significativa para
apreender mais das disputas e valores por trás desse “não” às cotas.

114
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O que poderia estar motivando historiadores (as) profissionais a rejeitarem a lei de cotas
em 2006 e por quê tematizar esse debate se faz relevante aos dias atuais?

Mas, conjunturalmente, quem de fato faz “a nossa cabeça e a dos outros”, como
tenciona Gonzalez? Quem tem o poder arcôntico de nossos arquivos pessoais? Ou
como isso é executado? Pensando nisso, há uma possibilidade de encaminhamento do
a priori histórico de formação da identidade racial brasileira forjado por tropos que
produzem as cotas raciais como tal para os (as) signatários (as) do manifesto. Percebe-
se uma positividade negativa que se estende também para a mídia hegemônica, ao
jurídico e ao cenário (extra-) acadêmico. (PAULA, 2021, p. 125)

Na construção do presente projeto, questões iniciais nos orientaram: mapear como está
em maioria a situação das relações étnico-raciais na historiografia brasileira, esta que vem se
construindo e ampliando espaços públicos para além de debates estritamente teóricos e
acadêmicos; mas escolares e de circulação em massa, por historiadores profissionais e pessoas
que tematizam o passado de formas distintas que não a forma arquivística, volumosa,
tradicionalmente das bibliotecas e vastas estantes de livros. Como movimenta-se a história do
antirracismo?
Após delimitarmos o tema, nós nos direcionamos ao debate das cotas raciais em 2006 a
partir de um polêmico documento entregue ao Congresso Nacional e que reuniu assinaturas de
114 pessoas, incluindo 36 historiadores (as), muitos (as) de destaque no mercado editorial e
midiático, com vários domínios temáticos dentro do campo.104 Então, de início, buscamos
entender o que poderia estar motivando historiadores (as) profissionais a rejeitarem a lei de
cotas em 2006 - especialmente quando esta tem o critério racial como adendo, por quê de
muitos destes tematizarem questões étnico-raciais em seus trabalhos acadêmicos serem
contrários ao vigor da lei e por quê tematizar esse debate se faz relevante aos dias atuais.
Estar em um curso de ensino superior em História licenciatura nas proximidades da
década de 2020 não é de longe pactuar dos mesmos debates de quem formou-se por volta da
década de 1980. Historiar, demandas, funções de ofício, corpo profissional e formas de acessar
os passados em suas dimensões políticas, econômicas, de apresentação, intelectuais, sociais, e
todas outras formas mais dessa ampla disciplina certamente se revisam e se alteram para com
as especificidades de cada momento histórico.

104
Mas ao que conseguimos mapear, tiveram um montante significativo de publicações nas temáticas étnico-
raciais, cotas, cenário político de 2006, sobre a História profissional e/ou história da historiografia: José Roberto
Pinto de Góes, Ronaldo Vainfas, Manolo Florentino, Marcos Chor Maio, Francisco Martinho, Mônica Grin, Celia
Maria Marinho de Azevedo e Lilian Schwarcz.

115
E no momento mais atual da profissão e das produções acerca dos fundamentos de
execução desta, tem crescido a necessidade em demonstrar que a história acontecimento e a
consciência de passado não são pontos de reflexão crítica apenas para historiadores (as)
acadêmicos e nunca foi. E com o tema de implementação e manutenção da lei de cotas não foi
diferente. Todo assunto público, publicamente enunciado, direcionado a interesses coletivos,
sempre teve disputa pela narrativa, com falas em defesa do que está sendo dito e a contramão,
não é um fator isolado ao ano de 2006 e do discurso histórico sobre a lei de cotas raciais. Mas,
ao que demonstramos, o tema proposto teve o clima de seu momento histórico impactado por
quem que de um lado se dizia especialista e autoridade no assunto, buscando consolidar um
sentido ao debate, e de outro lado os sujeitos de luta extra-acadêmicos conferindo militância,
valor e sentido também.
Os movimentos negros sociais demandavam por ação afirmativa, esta que “se destina à
integração de grupos sociais excluídos ou que apresentem históricos de desigualdades. Quando
promovidas pelo Estado, pode ser considerada como uma política pública redistributiva, que
procura estabelecer a realocação mais igualitária de bens sociais.” (SANTOS, 2018, p. 40) estas
podem direcionar-se às questões de gênero, capacitismo, religiosidade, orientação sexual,
origem, regionalidade, idade, de capital cultural, dentre outras formas, estas que excluem e
restringem sujeitos de espaços coletivos, de forma direta ou indireta.
Mas, houveram oposições a essa demanda e que fizeram disso uma disputa pública,
política e de forças. Porque afinal de contas, em um país tão desigual como o Brasil, ser
professor (a) do ensino superior é de grande prestígio social. Apesar dos constantes ataques
negacionistas das direitas enviesadas em olhares mercadológicos de superação do ensino
público, gratuito e de qualidade, o ensino superior é motor de ascensão social e econômica.
Santos (2018) traz que a oposição se manifestou argumentativamente por dois nichos
categóricos: um princípio moral que mistifique o surgimento de uma discriminação reversa e o
que nega a utilidade social da cota como uma modalidade urgente de ação afirmativa. Estes que
enredam questões de mérito, justiça compensatória, “raça” como de tudo inutilizável, que
trariam “efeitos maléficos, autodestrutivos, prejudiciais e ineficientes.” (SANTOS, 2018, p.
43)105 E a recepção às ações afirmativas enquanto política pública no Brasil se deu a partir dos
movimentos negros e de mulheres negras a partir dos anos de 1980, e foi a partir da III

105
Em sua tese (2018, p. 65), Adilson Santos sintetiza os argumentos contrários e a favor às políticas de ação
afirmativa para ingresso no ensino superior brasileiro com base em informações retiradas de um vídeo produzido
pelo Núcleo de Estudos de Política e Gestão da Educação da UFRGS, encomendado pela Coordenadoria de
Acompanhamento do Programa de Ações Afirmativas, em 2012. Disponível em: <
https://www.youtube.com/watch?v=fzAiKWZltR0&t=11s > Acesso em: 29 de julho de 2023.

116
Conferência Mundial Contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerâncias
Correlatas Durban em setembro de 2001 que a repercussão aumentou. (SANTOS, 2018)
Desde que a História é História, ciência, revista, campo, nova, renovada, social, contra-
positivista, a partir da crise de 1929 os Annales d’histire économique et sociale buscaram “tirar
a história do marasmo da rotina”, “de seu confinamento em barreiras estritamente
disciplinares”. (LE GOFF, 1993, p. 29) E a nova direção, não mais a tradicional, mas de história
nova com tradição própria (LE GOFF, 1993) direcionava-se ao econômico e social para
historiar: discursar, enunciar, analisar conjunturas das relações entre os seres e seus passados
sensíveis acontecimentos já encerrados, mas com eminências no presente, de maiores ou
menores impactos e intensidades, bem como temas do tempo presente e de prognósticos futuros.
Não é mais um campo que deva produzir conhecimento de forma erudita, automática,
“mas problemática”. (LE GOFF, 1993, p. 33 apud ANNALES E.S.C. 1946) O marco para essa
tradição de ciência histórica cunhada pelos “Annales” foi a Segunda Guerra Mundial e as
perseguições no momento de ocorrência desta, e essa história nova pretendia analisar os temas
de reflexo na duração de forma universal, coletiva, mútua, profunda e total, não sectária, que
extravasasse o campo dos especialistas. Le Goff (1993) traz objetivamente o que conserva a
história que se diz nova, a ciência histórica

As histórias plurais situam-se dentro de um domínio histórico cujo horizonte continua


sendo o da globalidade. Esta não é mais buscada principalmente na síntese, mas em
objetos globalizantes, por um lado, e, por outro, capazes de propiciar a realização de
uma verdadeira interdisciplinariedade à margem.” (LE GOFF, 1993, p. 19)

Nosso momento de abordagem é o ano de 2006, com a oposição às cotas raciais


enunciada publicamente em vários âmbitos de amplitude midiática, e para o nosso caso foi
escolhido pelos especialistas o manifesto, um gênero literário muito usado para denunciar o que
fugia à normalidade das relações sociais amplas ou para denunciar justamente que não havia
normalidade. Contra as cotas não teve apenas um manifesto que buscasse pará-las, mas outras
manifestações públicas como apresentamos no primeiro capítulo, em especial publicizadas pelo
jornalista Reinaldo Azevedo, como apresentamos na Tabela 1.
Houve também um manifesto em favor às cotas e ao Estatuto da Igualdade Racial,
respondendo que a oposição além de rejeitar os dois projetos acima de inclusão social e correção
das desigualdades raciais,

não apresentam nenhuma proposta alternativa concreta de inclusão racial no Brasil,


reiterando apenas que somos todos iguais perante a lei e que é preciso melhorar os
serviços públicos até atenderem por igual a todos os segmentos da sociedade. Essa
declaração de princípios universalistas, feita por membros da elite de uma sociedade
multi-étnica e multi-racial com uma história recente de escravismo e genocídio

117
sistematico, parece uma reedição, no século XXI, do imobilismo subjacente a
Constituição da República de 1891: zerou, num toque de mágica, as desigualdades
causadas por séculos de exclusão e racismo, e jogou para um futuro incerto o dia em
que negros e índios poderão ter acesso equitativo à educação, às riquezas, aos bens e
aos serviços acumulados pelo Estado brasileiro. Essa postergação consciente não é
convincente. (CONFIRA, 2006, trecho extraído do manifesto a favor das cotas)

Era uma negação à realidade, pois haviam pactos e negligências em muitas alas do
relacionar-se socialmente, em especial na produção do conhecimento historiográfico. Haviam
historiadores (as) favorecendo o viés racial como um fenômeno social e histórico fundante do
racismo contemporâneo aos anos 2000 na realidade brasileira. Enquanto haviam profissionais
da História que relegavam tal conceito como aceitável para justificar desigualdades.
Juliana Teixeira Souza em seu artigo “Ações afirmativas, negacionismos e doutrinação
ideológica: as decorrências políticas e éticas da historiografia escrita e ensinada” (2023) busca
trazer a falta de consenso dentre os historiadores profissionais e suas ações, “havendo algumas
disputas que operam dentro da área.” (TEIXEIRA, 2023, p. 71) E se o consenso ocorre em
âmbito hegemônico da disciplina, são justamente “ao custo de silenciamento de questões
controversas.” (TEIXEIRA, 2023, p. 72) Havia a oposição, mas em defesa houve:

Tabela 4: Algumas lutas em defesa de isonomia racial para inserção de jovens negros (as) no ensino
superior.

Assunto Data
CEERT, Geledés 1980
Organização das demandas para a 1987-1988
Assembleia Constituinte106
Marcha Zumbi dos Palmares pela Vida 1995
Lei nº 9.394/1996 e Lei nº 10.639/2003 1996-2003
(Diretrizes Curriculares Nacionais para a
Educação das Relações Étnico-Raciais e
para o Ensino de História e cultura Afro-
Brasileira)
PL 3.198/2000 (EIR) 2000
Conferência de Durban (2002) 2002

106
Alguns importantes nomes que compuseram o processo institucional e partidariamente: Benedita da Silva e
Lélia Gonzalez pelo Partido dos Trabalhadores (PT), Abdias Nascimento pelo Partido Democrático Trabalhista
(PDT). A Frente Negra de Ação Política de Oposição (FRENAPO) organizou agendas e contou com políticos do
PT, PDT, PTB e PMDB, como traz Santos (2015).

118
Programa de Apoio a Planos de 2007
Reestruturação e Expansão das
Universidades Federais (REUNI)
Fonte: Elaboração própria da autora com base na pesquisa realizada.

Se para os “Annales” a história nova, social, era à época uma enciclopédia, sendo
preciso “enfiar tudo nela” (LE GOFF, 1993, p. 39), esta que interessou-se sobretudo por uma
etnologia “das diferenças” (LE GOFF, 1993, p. 46), sendo uma contra-história ao que
produziam antes os especialistas, cujo historiador antigo “era apenas um viajante que contava
o que vira.” (LE GOFF, 1993, p. 39) O início dos anos dois mil marca uma era de manifestos,
manifestações, polarização, por posturas públicas e popularizadas.
A virada do século foi um fator acelerador também, ao que vemos em argumentos do
manifesto em defesa das cotas (2006) e do livro “Divisões perigosas: políticas raciais no Brasil
contemporâneo”, quando neste Francisco Martinho (que traz preferir um racismo dissimulado
do que os fatos) joga a responsabilidade de resolver a questão do racismo para as gerações
futuras ou quando os manifestantes daquele alegam que é inadmissível

uma reedição, no século XXI, do imobilismo subjacente à Constituição da República


de 1981: zerou, num toque de mágica, as desigualdades causadas por séculos de
exclusão e racismo, e jogou para um futuro incerto o dia em que negros e índios
poderão ter acesso eqüitativo à educação, às riquezas, aos bens e aos serviços
acumulados pelo Estado brasileiro. Essa postergação consciente não é convincente.
(A ÍNTEGRA, 2006, trecho extraído do manifesto contra as cotas)

E por mais que pareçam movimentos muito distantes ou até mesmo muito simétricos
por tamanhos extremos de “sins” e “nãos”, houve uma discrepância em poder no que diz
respeito ao movimento de historiadores (as), estes que portaram-se como autoridades para com
o assunto mesmo que vivessem em bolhas intelectuais, identitárias, racializadas, ao que
levantamos com o perfil prosopográfico do segundo capítulo.
Havia uma branquitude profissional da História debatendo a lei de cotas com
propriedade e que anulava o sentido que os movimentos sociais e extra-acadêmicos buscavam
dar as suas reivindicações, havia um sentido na proposta que era negligenciado, negado e
desqualificado por quem se dizia ser especialista ou que tinha a suficiente estima de usar da
grande mídia para trazer seus respectivos pontos de vista. Foram 32 professores (as) de 37
signatários (as), sendo 27 professores (as) do Ensino Superior, havendo professores de Ensino
Básico e Técnico, pesquisadores (as), de coordenação da rede básica e trabalhado em editora.
Todos em lugares profissionais de ensino, pesquisa e circulação em massa.

119
Há um ideal de atuação que vibra em torno de uma ciência neutra e de ações
profissionais igualmente imparciais, que relega à margem da produção de qualidade o que os
pares produzem em tom militante, ideológico, que tenha pretensões humanistas. (TEIXEIRA,
2023) Mas nem por isso os pares deixam de produzir, só difere a proporção do alcance uma vez
que em qualquer tipo de polarização, há de se considerar o financiamento ao engajamento e o
lugar de enunciação deste; de prestígio, de fenótipo, de gênero, de idade. Quanto de nossas
intersecções de vida demonstramos estarem inseridas em nossas posturas públicas? O que a
estrutura de enunciação pública privilegia? O que não pode ser mostrado na cena pública, em
especial sobre temas temporais e que de forma orgânica vamos demonstrar domínio, partido e
negligência?

Aproveitando-se da autoridade conferida aos intelectuais pelo senso comum, como


formadores de opinião com espaço privilegiado na imprensa, a estratégia foi silenciar
sobre todo pensamento crítico acumulado sobre o tema nas últimas décadas, fazer o
negacionismo subsumir sob a capa da cientificidade e polarizar o debate, que
supostamente opunha cientistas e doutrinadores ideológicos. (TEIXEIRA, 2023, p.
78)

Com pontos de partida semelhantes ao que propomos na pesquisa, a historiadora


tematiza a lei de cotas, o ano de 2006, o livro “Divisões perigosas: políticas raciais no Brasil
contemporâneo” (2007), as Diretrizes Curriculares para Educação das Relações Étnico-Raciais
e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, relacionando tais tópicos com
as posições negacionistas de recusa à realidade que finge e ignora outras demandas e que por
estratégia impõem a neutralidade e imparcialidade como sacras para evitar que torne-se público
que seus posicionamentos políticos e públicos são perceptíveis em suas obras também. A
disputa no campo se faz em omitir um fato com o fim negacionista, negar para não ser notado.
O que estaria unificando essa oposição era acreditar no único paradigma válido, do
Brasil mestiço, de um “povo” abstrato, sem contrastes, sem passados sensíveis, mas passados
de glória e harmoniosamente progressistas, com desejo por modernização. No que tocam as
questões étnico-raciais que amarram tal oposição, o projeto político defendido ignorava por
completo outros acúmulos historiográficos e resultados científicos sobre o tema da “raça”.

Apesar de a produção teórica especializada há muito consensuar que os termos negro


e raça não possuem significados fixos, sendo legitima sua ressignificação pelo
Movimento Negro e pelas Ciências Humanas (GONZALEZ, HANSELBALO, 1982),
os autores do manifesto ignoraram o conhecimento científico acumulado nas últimas
décadas afirmando que o conceito de “raça” mobilizado pela militancia e pelo Estado
reproduzia o anacrônico “racismo científico” do século XIX. O objetivo era induzir
ao erro e convencer que o conceito teria uma acepção unívoca e atrelada à experiência
histórica da expansão imperial europeia, o que justificaria o medo de que as
identidades étnico-raciais estivessem servindo de pretexto para “legitimar lideranças
políticas, segregar e espoliar populações, sustentar privilégios e cristalizar

120
discriminações” (MAGGIE et alii, 2007, p. 21), desta vez em favor dos negros,
instigando o terror branco do revanchismo negro. (TEIXEIRA, 2023, p. 80)

E o debate polarizou-se porque o estado das coisas pedia intensidade, assim estava o
clima histórico do momento, de grande impacto quanto ao tema. E quem foi a público e assumiu
esse ônus responde até os dias de hoje, principalmente porque foi uma postura assumida de
forma voluntária e propositalmente para ter repercussão à época. Realmente esse projeto
político acreditava no que pregava e esforçava-se para fazer com que outros públicos
acreditarem no mesmo, mas não de forma ingênua. Depois do manifesto assinado e entregue ao
Congresso, buscaram popularizar as propostas deste na grande imprensa. (KAMEL 2006,
MOYA 2014, SODRÉ 2015, MARTINS 2018, OLIVA 2019) E o debate teve o meio
acadêmico como ponto de partida por ser um movimento majoritariamente de professores (as)
universitários (as).
A história da historiografia já teve como uma de suas primeiras funções “traçar o
progresso da pesquisa histórica desde a antiguidade até sua forma científica moderna”
(ARAUJO, 2006, p. 79), forma de relato que não é a mais proveitosa, ao passo que “a história
dos saberes é feita também de descontinuidades.” (ARAUJO, 2006, p. 80) Veemente enquanto
um campo de enunciação histórica, discursiva portanto, que gera expectativas ao relatar sobre
aspectos passados, de um passado recente ou distante, de passados que não passam, de
continuidades; mas também do momento histórico do evento, do presente “sob pressão”, ou de
um assunto novíssimo não acontecido mas premeditado.
Aos (às) historiógrafos (as) comprometidos com o campo, qualquer ação historicizável
indica algo, e por vezes já detectamos causas e consequências sem se quer partilharmos de
mesma contemporaneidade; aqui falando do que pretendemos narrar. (NICOLAZZI, 2019) E
fazer história profissional, seja historiograficamente ou de outra natureza, de circulação, escolar
ou academicamente, é ontológico ao trabalhar a relação temporal com consciência do passado,
em especial da especificidade de contextos, regimes, legados, giros, climas, ter a escuta aguçada
para os debates; dos pares e díspares. Tematizar o passado não é tratar somente do que foi bom,
com saudosismo, do que foi harmônico.
Pensamos que há um continuum em gerúndio, de passados sensíveis - para alguns tudo
continuando, sem metáforas de crises, feridas, anomalias; normalizando, se reeditando e
reconfigurando. Ao passo que o manifesto contra as cotas teve imediatamente uma resposta
com o manifesto a favor das cotas, o clima histórico de 2006 intensificou-se e foi intensificado
por experiências do tempo diversas que em suma estavam acelerando-se e impactando-se. Com
o debate das leis de cotas e do estatuto da igualdade racial, o início dos anos dois mil possuiu

121
sem dúvidas um clima histórico intenso e impactante para acadêmicos, intelectuais, professores
(as), artistas, organizações sociais e para a política nacional da época.
Ana Carolina Barbosa Pereira, em 2019, lança o livro “Na transversal do tempo:
natureza e cultura à prova da História”, resultado da pesquisa de doutorado, desenvolvida entre
2009 e 2013, no programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Brasília
(UnB).107 A proposta veio da necessidade urgente de denunciar “o particularismo da História
de Jörn Rüsen e Reinhart Koselleck que, contrariamente, se apresentam como de valor e
aplicabilidade universais.” (PEREIRA, 2019, p. 13) Estes que em contraste narrativo utilizaram
povos indígenas da região amazônica, em comparação enunciativa, Rüsen como um “autor
cujos pés são mantidos fixos no projeto humanista moderno, de caráter fortemente
eurocêntrico.” (PEREIRA, 2019, p. 14) Então, a autora tematiza a forma universal de
experienciar o tempo, cuja a “prerrogativa do ‘continuum temporal’ que lhe serve de
sustentação, no entanto, continua a servir de parâmetro para o conhecimento histórico.”
(PEREIRA, 2019, p. 19), com um aparato de expressões e conceitos que mantém essa ordem,
e

Na contramão desta tendência cabe-nos perguntar pela plausibilidade dessa


prerrogativa em si mesma. Trata-se, portanto, de investigar as origens históricas da
ideia de um continuum temporal, cujos desdobramentos podem ser sintetizados na
imagem/ideia de uma totalidade orgânica das experiências humanas, difundida pelas
chamadas filosofias da história do século XIX e ressignificada pela teoria da história
contemporânea. (PEREIRA, 2019, p. 19)

Que Brasil queremos?108 era uma pergunta direcionada ao que de modo algum deveria
ser mostrado, agora aos anos dois mil de forma muito mais orgânica com relação à escrita da
história do que era quando não se tinha um mercado editorial mais independente do Estado.
(ARAUJO, 2011)
“Como sermos iguais se o que nos destoa nos descaracteriza e nos dispersa
negativamente?” (PAULA, 2021)109 Opor-se foi a solução encontrada para negar a realidade: a

107
Essa mestranda que vos escreve recebeu o livro diretamente da professora Carol (UFBA) após o evento “VI
Semana de História da UFV”, em 2020. Na dedicatória do livro, a autora subscreve “Para Floriza, um convite para
embaralhar e redistribuir as cartas conceituais do tempo e da História! Salvador, 2022, assinatura”.
108
Pergunta retórica feita no corpo do manifesto contra as cotas (2006) e logo e seguida respondida “Almejamos
um Brasil no qual ninguém seja discriminado, de forma positiva ou negativa, pela sua cor, pelo seu sexo, sua vida
intima e sua religião onde todos tenham acesso a todos os serviços públicos que se valorize a diversidade como
um processo vivaz e integrante do caminho de toda a humanidade para um futuro onde a palavra felicidade não
seja um sonho. Enfim, que todos sejam valorizados pelo que são e pelo que conseguem fazer.” (A ÍNTEGRA,
2006, trecho extraído do manifesto contra as cotas)
109
Essa questão foi primeiro utilizada em texto de anais de evento, intitulado por “Nuances sobre a positividade
do discurso de oposição às políticas de cotas raciais por historiadores (as) em 2006.”, pro IV Colóquio Raça e
Interseccionalidades (UNIRIO). Foi um 1Artigo final para a disciplina PPH317 (Arquivos, Repertórios,
Ressonâncias, Roteiros e a (In)Decifrabilidade na História: Questões de Epistemologia.), lecionada pela professora

122
condição omissa de ser do “nosso” país, Brasil não abstrato mas de corpo e alma/carne e osso.
Porque se no momento histórico de construção do brasileiro abstrato havia um Brasil que o
editor não podia mostrar, o Brasil que tinha a escravidão como instituição (ARAUJO, 2011),
que Brasil que com a lei de cotas raciais não poderia ser exposto?
De certo um país sem unidade, sem consensos de tempo, de relacionar-se com sua
história e heranças históricas; havendo denúncias, lutas, revoltas, conservadorismos negativos,
sem um senso de orientação harmônico e estável. E o manifesto a favor das cotas foi um contra-
manifesto mas não uma resposta apassivada, porque o primeiro movimento não foi o de
oposição à lei, mas os desenhos da lei surgiram por movimentos sociais, a exemplo da Frente
Negra que desde 1930 vinha trazendo denúncias sobre questões educacionais e de trabalho.
(MANO A MANO, Mano Brown recebe Sueli Carneiro, 2022)
E o porquê de estudarmos tal tema e objeto hoje se deve ao fato de percebermos de
início alguns excessos e contrastes narrativos, para não partir de “silêncios” como se comentam
comumente quando falamos em desigualdades raciais. Não é que haja necessariamente
silêncios, pois tal chave analítica hierarquiza as relações de produção e vivência de modo a
explicitar que há um monopólio natural do “falar” e ser, se expressar, se comunicar. Há
estratégias de silenciamento sólidas que se fazem por parte de uns que acreditam ser a “forma”
ideal e impõem suas modas: modernas, atuais, engajadas, evoluídas, científicas, neutras,
harmônicas.
Uma historiografia descolonizada precisa sair de pontos de referência romantizados e
absolutizados. Temos pensado em questões de autonomia, autoria, circulação, públicos,
didatização dos conteúdos para um ampliado público, estatuto, regularização; em espaços
dinâmicos, sejam as escolas, academias, eventos, revistas, no cotidiano de circulação da
história.
Porém basta um outro olhar, um outro viés, fazer de uma forma destoante do que é
estereotipado, que o estigma logo vem de “produção militante”, radical, ideologizante. Dentro

Eliana Dutra em 2021.1. Buscamos nesse material analisar a postura mais conservadora desses profissionais à
época através da positividade do discurso histórico que deu continuidade a tropos históricos conscientemente no
projeto político de oposição. Para o desenvolvimento das reflexões teóricas acerca do tema em questão, relaciona-
se fundamentalmente os textos de Michel Foucault (2008) ao de Stuart Hall (2016), bem como suas noções de
poder, verdade, produção e representação. Assim como a abordagem de Tatiana Salem Levy (2011) sobre a
linguagem e o “fora” que a constitui.
“Assim, o presente trabalho busca aliar os estudos em torno da positividade do discurso posta para uma realidade
com uma intenção, cuja nossa hipótese seja a de manutenção da função-autor de representação ocidental5, possível
pelo continuum de tropos históricos que se arquivaram na estrutura do imaginário social e instituíram o racismo
contemporâneo. Nesse sentido, busca-se compreender o discurso enquanto as articulações históricas de um
paradigma, a fim de inserir tal problemática em uma transcodificação6 sobre as cotas raciais.” (PAULA, 2021,
resumo)

123
da narrativa histórica a história da historiografia tem sido muitas coisas, seu corpo profissional
tem ganhado muito espaço por esforços empreendidos em manutenção de historicidades mais
democráticas (ABREU; BIANCHI; PEREIRA, 2018), mas é inegável que questões étnico-
raciais ainda estão sendo abordadas de maneira subtematizada e não como fundante das relações
sociais brasileiras, principalmente pela onda de cancelamentos que só faz por superficializar
ainda mais o debate.
E as cotas raciais “vingaram”, mas não como foram propostas, integralmente raciais,
mas como subcotas às questões sociais por exemplo, e da precedência escolar de escola pública.
E são frequentemente ameaçadas. Por mais que sejam naturalmente efêmeras em duração, mas
sem corrigir o ideal inicial elas não deverão sair da ordem, o que devem haver são projetos de
sustentação e não exclusão do critério sem nenhuma outra proposta alternativa concreta, de
comum acordo especialmente para os especialistas da vida comum que conferem sentido tanto
quanto os especialistas da academia.
O Brasil de carne e osso demonstrou em 2022 ainda não estar disposto a lidar com a
raça enquanto base de uma “história sob pressão” (RAMALHO, 2021), porque os passados
sensíveis convergem entre si e enquanto grupos se organizavam para debater os dez anos de
implementação da lei de cotas, haviam grupos se organizando para criar projetos leis que
retirassem o critério racial das cotas. A historiografia tem sido muitas coisas, como já
mencionado, e com certeza várias novas demandas e questões surgiram pela possibilidade de
novos (as) sujeitos nesses espaços, da academia, mas a branquitude, ao que demonstramos foi
parte significativa do corpo de historiadores (as) contra a política de cotas raciais. E será que
aos dias atuais segue ocupando esse lugar de fala?110
De certo, serem historiadores (as) profissionais, graduados (as), mestres e doutores (as)
não os impediu de negligenciarem pautas há muito debatidas por seus pares, tampouco fora a
causa única e exclusiva para a tomada de tal postura e decisão à época. E qual a medida e
proporção em prezar por uma ciência absolutamente neutra e universal? Seria mesmo a
produção militante de tudo desprezível? Ainda não temos um consenso de falar em primeira
pessoa porque há um pacto negacionista que, na disciplina, renega historicizar o problema

110
RIBEIRO (2019). Djamila Ribeiro aponta em seu livro “O que é lugar de fala?” aborda a categoria para
demonstrar que para além do ato e direito de falar, devemos mapear os lugares sociais e seus respectivos processos
históricos. Refletimos juntamente a autora sobre como nosso lugar social impacta diretamente na constituição dos
lugares de grupos subalternizados por uma norma que se diz ser a norma e dispara várias armadilhas nos espaços
de coletividade: “A história tem nos mostrado que a invisibilidade mata, o que Foucalt chama de “deixar viver ou
deixar morrer”. A reflexão fundamental a ser feita é perceber que, quando pessoas negras estão reivindicando o
direito a ter voz, elas estão reivindicando o direito à própria vida.” (RIBEIRO, 2019, p. 43)

124
afinco e dialogar com seus pares (SOUZA, 2023), tenham esses vieses distintos do que seja a
ciência histórica contemporânea, do que seja ser historiador (a) e do que seja historiar.
Seriam somente historiadores (as) acadêmicos propriamente detentores da pesquisa e
escrita históricas? A exatidão do que seja a produção do conhecimento histórico não está fixa e
nem em disputa, mas simplesmente está; está, portanto, a serviço de historicidades mais
democráticas, do giro ético-político, de indisciplinar as normas. (ABREU; BIANCHI,
PEREIRA 2018, ASSUNÇÃO, 2022)
Os certificados de autoridade são creditadas de modo a desigualar as relações por
estarem sempre sendo padrões referenciais e pontos de partida, as réguas e medidas base. E
quando nos apropriamos de questões em torno dos cânones na história da historiografia,
nomeando outros agentes de potencial profissional para a ciência histórica, não queremos
simplesmente empurrá-los ao grupo dos cânones, até porque 1. para ser cânone você tem que
adotar os mesmos índices civilizacionais e profissionais estipulados 2. para ser profissional da
história não é necessário estar no cânone, na academia e na disciplinariedade.
Ao levantarmos currículos de signatários em defesa das cotas e em oposição, não
encontramos informações de formação acadêmica de todos (as), mas encontramos signatários
(as) ligados a terreiros e congado, por exemplo, assim como encontramos historiadores (as)
professores (as) de IES com publicações e formações extensas em temas étnico-raciais. E o que
isso poderia nos demonstrar? Que há estudiosos e praticantes da vida real, que os fundamentos
epistemológicos do conhecimento que produzimos são íntimos aos posicionamentos políticos
que temos. (SOUZA, 2023, p. 74) Historiar está para além da disciplina, mas do
reconhecimento que há a história que os (as) historiadores fazem, que um religioso faz, que a
empiria faz, que a experiência do giro-discursivo faz.
E o debate teve o meio acadêmico como ponto de partida por ser um movimento
majoritariamente de professores (as) universitários. E ao que demonstramos no capítulo dois
desse trabalho, foi uma maioria branca, fenotipicamente, pública, acadêmica e especialistas

Intelectuais profissionalmente treinados para analisar relações de poder e cultura


política não seriam tão ingênuos de não perceber que estavam insuflando ódios
racistas e classistas. Mesmo arrependidos, foram formadores de opinião e porta-vozes
dos setores mais radicalmente conservadores e preconceituosos da sociedade.
(SOUZA, 2023, p. 90)

Não temos como negligenciar nossos lugares subjetivos de produção quando estes
gritam por espaço, por ser dito e a norma busca recalcá-los. Toda produção possui consigo
momentos; do tematizado, do que tematiza, do momento de tematização; e da produção, por
sua vez, ao tematizar, é impregnada do ambiente daquele locutor que busca gritar suas

125
hipóteses, a partir de fontes documentais minuciosa e criticamente selecionadas, num presente,
passado ou futuro, de forma popular, acadêmica e/ou escolar.
Ser indiferente a esse anseio em prol de estabilidades a se ver/ser visto/ser vender não
são suficientes dentro dos compromissos de ser historiador (a), com a intersecção que possuir.
Quanto mais plurais os espaços, mais consensos em se ter uma disciplina com formas de
produção científica éticas, no sentido sugerido por Douglas Marcelino (2021), sem pretensões
de totalização do sujeito, com o ouvido acurado.
A carência de locuções e interlocuções não se faz por silenciamentos, mas por excessos
de locuções e interlocuções vibrando em tradições com novas velhas questões, com o uso do
gerúndio constante: inovando, continuando, recriando, revisitando, revisando, negando,
disputando; continuando com os mesmos referenciais de ciência, de História, de ensino, de
povo, de intelectualidade, de tempo e de historiar.

126
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<https://veja.abril.com.br/coluna/reinaldo/assine-a-carta-dos-cidadaos-anti-racistas-contra-o-
racismo-2/> Acesso em: 21 dez. 2023.

AZEVEDO, Reinaldo. Cento e treze cidadãos antirracistas contra as leis raciais. Veja, 23 de
abril de 2008. Disponível em: <https://veja.abril.com.br/coluna/reinaldo/cento-e-treze-anti-
racistas-contra-as-leis-raciais> Acesso em: 21 dez. 2023.

AZEVEDO, Reinaldo. Nas mãos do Supremo, a unidade do país. Veja, 14 de maio de 2008 às
06:41. Disponível em: < https://veja.abril.com.br/coluna/reinaldo/assine-a-carta-dos-cidadaos-
anti-racistas-contra-o-racismo-2/ > Acesso em: 21 dez. 2023.

AZEVEDO, Reinaldo. UMA CARTA CONTRA A POLÍTICA RACIALISTA E SEUS


DESTINATÁRIOS. Veja, 30 de abril de 2008. Disponível em:
<https://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/uma-carta-contra-a-politica- racialista-e-seus-
signatarios/> Acesso em: 21 dez. 2023.

BRASIL. Câmara dos Deputados. Projeto de Lei nº 3.198, de 2000. Dispõe sobre o Estatuto da
Igualdade Racial, em defesa dos que sofrem preconceito ou discriminação em função de sua
etnia, raça e/ou cor, e dá outras providências. Brasília, DF, 2000. Disponível em:
<https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=19262>
Acesso em: 21 dez. 2023.

BRASIL. Lei nº 12.711, de 29 de agosto de 2012. Dispõe sobre o ingresso nas universidades
federais e nas instituições federais de ensino técnico de nível médio e dá outras providências.
Diário Oficial da União, Brasília, DF, 30 ago. 2012. Seção 1, p. 1. Disponível em:
<https://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/2012/lei-12711-29-agosto-2012-774113-norma-
pl.html> Acesso em: 21 dez. 2023.

BRASIL. Lei nº 3.627, de 7 de dezembro de 2004. Dispõe sobre o Sistema Especial de Reserva
de Vagas para estudantes egressos de escolas públicas, em especial negros e indígenas, nas
instituições públicas federais de educação superior e dá outras providências. Diário Oficial da
União, Brasília, DF, 8 dez. 2004. Seção 1, p. 1. Disponível em:
<https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=254614>
Acesso em: 21 dez. 2023.

BRASIL. Lei nº 73, de 31 de dezembro de 1999. Dispõe sobre o ingresso nas universidades
federais e estaduais e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 1º jan. 2000.
Seção 1, p. 1. Disponível em:
<https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=15013>
Acesso em: 21 dez. 2023.

133
BRASIL. Projeto de Lei nº 3627 de 2004. Dispõe sobre determinadas práticas abusivas nos
planos de saúde e dá outras providências. 2004. Câmara dos Deputados, Brasília, DF.
Disponível em:
<https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=254614>
Acesso em: 21 dez. 2023.

BROWN, Mano. Mano Brown recebe Sueli Carneiro (Podcast, Spotify). De maio de 2022, 140
minutos. [Podcast]. Disponível em:
<https://open.spotify.com/episode/2eTloWb3Nrjmog0RkUnCPr?si=f8d01ef784404563>
Acesso em: 21 dez. 2023.

CONFIRA a íntegra dos manifesos contra e a favor das cotas. Folha de S. Paulo, São Paulo,
04 de julho de 2006. Disponível em:
<https://www1.folha.uol.com.br/folha/educacao/ult305u18773.shtml> Acesso em: 21 dez.
2023.

Currículo Lattes: Cida Bento. Disponível em: <http://lattes.cnpq.br/9692020023009222>


Acesso em: 21 dez. 2023.

Currículo Lattes: Marcello Assunção. Disponível em:


<http://lattes.cnpq.br/1035616337472088 > Acesso em: 21 dez. 2023.

de julho de 2006. Disponível em: <https://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/noticia/2006-


07-06/congresso-recebe-manifesto-favor-das-cotas-0> Acesso em: 21 dez. 2023.

DJONGA. Conversa com uma mina branca. [Gravação de áudio]. Belo Horizonte:
Independente, 2017. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=K60JEbq-
fQE&pp=ygUkREpPTkdBLiBDb252ZXJzYSBjb20gdW1hIG1pbmEgYnJhbmNh> Acesso
em: 21 dez. 2023.

ENTIDADES entregam manifesto a favor das cotas. UOL, Congresso em Foco, 04 de julho de
2006. Disponível em: <https://congressoemfoco.uol.com.br/projeto-
bula/reportagem/entidades-entregam-manifesto-a-favor-das-cotas/> Acesso em: 21 dez. 2023.

FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA. 17º Anuário Brasileiro de Segurança


Pública. São Paulo: Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 2023. Disponível em:
<https://forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2023/07/anuario-2023.pdf > Acesso em:
21 dez. 2023.

GELEDÉS - Instituto da Mulher Negra. Portal Geledés. Disponível em:


<https://www.geledes.org.br/> Acesso em: 21 dez. 2023.

GESTÃO Universitária e a Lei de Cotas. Youtube, Africanidades, Imaginário e Educação.


(ANIME). Convidado: Dr. Adilson Pereira dos Santos (UFOP), 10 de maio de 2022. Disponível
em: <https://www.youtube.com/watch?v=8qEyl5-U3wI> Acesso em: 21 dez. 2023.

HISTÓRIA e intelectuais - engajamento e contradições. Youtube, Associação nacional de


História (ANPUH). Convidadas: Cláudia Viscardi (UFJF) e Gabriela Pellegrino (USP), 24 de
julho de 2009. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=agusjx2W6a0&list=LL&index=2&t=3380s> Acesso
em: 21 dez. 2023.

134
Informações de Currículo retiradas da Wikipédia. <https://pt.wikipedia.org/wiki/Cida_Bento>
Acesso em: 21 dez. 2023.

Instituto de assessoria às comunidades remanescentes de quilombos – IACOREQ-RS.


Disponível em: <https://wiser.directory/organization/instituto-de-assessoria-as-comunidades-
remanescentes-de-quilombos-iacoreq-rs/> Acesso em: 21 dez. 2023.

Presidente do STF recebe manifestos pró e contra cotas. Fundação Palmares, 14 e maio de
2008. Disponível em: <https://www.palmares.gov.br/?p=2583 > Acesso em: 21 dez. 2023.

SCHWARTZMAN, Simon. Cento e treze cidadãos antirracistas contra as leis raciais. Simon’s
Site, 30 de abril de 2008. Disponível em <https://www.schwartzman.org.br/sitesimon/cento-e-
treze-cidadaos-anti-racistas-contra-as-leis- raciais/comment-page-1/ > Acesso em: 21 dez.
2023.

SCHWARTZMAN, Simon. Intelectuais lançam manifesto contra as cotas. Simon's Site, 03 de


julho de 2006. Disponível em: <https://www.schwartzman.org.br/sitesimon/intelectuais-
lancam-manifesto-contra-cotas/> Acesso em: 21 dez. 2023.

SILVA, Bezerra da. Eu Sou Favela. [Gravação de áudio]. Rio de Janeiro: RCA, 1985.
Disponível em: <HTTPS://WWW.YOUTUBE.COM/WATCH?V=NEYJC7-_MIS>
Acesso em: 21 dez. 2023.

STF recebe manifesto contra as cotas. G1, São Paulo, 01 maio de 2008. Disponível em:
<https://g1.globo.com/Noticias/Vestibular/0,,MUL450374-5604,00-
STF+RECEBE+MANIFESTO+CONTRA+AS+COTAS.html> Acesso em: 21 dez. 2023.

135
ANEXOS

ANEXO A - A Íntegra do manifesto contra as cotas raciais.


“Carta pública ao Congresso Nacional - Todos têm direitos iguais na República
Democrática.

Nos dirigimos ao congresso nacional, seus deputados e senadores, pedindo-lhes que


recusem o PL 73/1999 (PL das Cotas) e o PL 3.198/2000 (PL do Estatuto da Igualdade Racial)
em nome da República Democrática.
O princípio da igualdade política e jurídica dos cidadãos é um fundamento essencial da
República e um dos alicerces sobre o qual repousa a Constituição brasileira. Este princípio
encontra-se ameaçado de extinção por diversos dispositivos dos projetos de lei de Cotas (PL
73/1999) e do Estatuto da Igualdade Racial (PL 3.198/2000) que logo serão submetidos a uma
decisão final no Congresso Nacional.
O PL de Cotas torna compulsória a reserva de vagas para negros e indígenas nas
instituições federais de ensino superior. O chamado Estatuto da Igualdade Racial implanta uma
classificação racial oficial dos cidadãos brasileiros, estabelece cotas raciais no serviço público
e cria privilégios nas relações comerciais com o poder público para empresas privadas que
utilizem cotas raciais na contratação de funcionários. Se forem aprovados, a nação brasileira
passará a definir os direitos das pessoas com base na tonalidade da sua pele, pela “raça”. A
história já condenou dolorosamente estas tentativas.
Os defensores desses projetos argumentam que as cotas raciais constituem política
compensatória voltada para amenizar as desigualdades sociais. O argumento é conhecido:
temos um passado de escravidão que levou a população de origem africana a níveis de renda e
condições de vida precárias. O preconceito e a discriminação contribuem para que esta situação
pouco se altere. Em decorrência disso, haveria a necessidade de políticas sociais que
compensassem os que foram prejudicados no passado, ou que herdaram situações
desvantajosas. Essas políticas, ainda que reconhecidamente imperfeitas, se justificariam porque
viriam a corrigir um mal maior.
Esta análise não é realista nem sustentável e tememos as possíveis conseqüências das
cotas raciais. Transformam classificações estatísticas gerais (como as do IBGE) em identidades
e direitos individuais contra o preceito da igualdade de todos perante a lei. A adoção de
identidades raciais não deve ser imposta e regulada pelo Estado. Políticas dirigidas a grupos
“raciais” estanques em nome da justiça social não eliminam o racismo e podem até mesmo

136
produzir o efeito contrário, dando respaldo legal ao conceito de raça, e possibilitando o
acirramento do conflito e da intolerância. A verdade amplamente reconhecida é que o principal
caminho para o combate à exclusão social é a construção de serviços públicos universais de
qualidade nos setores de educação, saúde e previdência, em especial a criação de empregos.
Essas metas só poderão ser alcançadas pelo esforço comum de cidadãos de todos os tons de
pele contra privilégios odiosos que limitam o alcance do princípio republicano da igualdade
política e jurídica.
A invenção de raças oficiais tem tudo para semear esse perigoso tipo de racismo, como
demonstram exemplos históricos e contemporâneos. E ainda bloquear o caminho para a
resolução real dos problemas de desigualdades.
Qual Brasil queremos? Almejamos um Brasil no qual ninguém seja discriminado, de
forma positiva ou negativa, pela sua cor, seu sexo, sua vida íntima e sua religião; onde todos
tenham acesso a todos os serviços públicos; que se valorize a diversidade como um processo
vivaz e integrante do caminho de toda a humanidade para um futuro onde a palavra felicidade
não seja um sonho. Enfim, que todos sejam valorizados pelo que são e pelo que conseguem
fazer. Nosso sonho é o de Martin Luther King, que lutou para viver numa nação onde as pessoas
não seriam avaliadas pela cor de sua pele, mas pela força de seu caráter.
Nos dirigimos ao congresso nacional, seus deputados e senadores, pedindo-lhes que
recusem o PL 73/1999 (PL das Cotas) e o PL 3.198/2000 (PL do Estatuto da Igualdade Racial)
em nome da República Democrática.

Rio de Janeiro, 30 de Maio de 2006.

Adel Daher Filho - Diretor do Sindicato dos Ferroviários de SP-Bauru/MS e MT


Adilson Mariano - Vereador PT Joinville (SC)
Alberto Aggio - Professor livre-docente de História, UNESP/campus de Franca
Alberto de Mello e Souza - Faculdade de Ciências Econômicas da UERJ
Almir da Silva Lima - Jornalista, MOMACUNE (Movimento Macaense Culturas Negras,
Macaé-RJ)
Amandio Gomes - Professor do Instituto de Psicologia da UFRJ e do PPGHC (IFCS-UFRJ)
Ana Teresa Venancio - Antropóloga, pesquisadora da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz
André Campos - Professor do Departamento de História da UFF e da UERJ
André Côrtes de Oliveira - Professor

137
Angela Porto - Historiadora, Pesquisadora do Departamento de Pesquisa da Casa de Oswaldo
Cruz/Fiocruz
Anna Veronica Mautner - Psicanalista da Sociedade Brasileira de Psicanálise de S.Paulo e
colunista da Folha de S. Paulo.
Antonio Carlos Jucá de Sampaio, Professor Adjunto do Departamento de História - UFRJ
Antonio Cícero - Poeta e ensaísta
Antonio Marques Cardoso (Ferreirinha) - Fábrica Cipla (Ocupada pelos Trabalhadores),
Joinville/SC
Aurélio Carlos Marques de Moura - Presidente do Conselho Municipal de Cultura da Serra (ES)
e da Associação Cultural Afro-brasileira "Ibó de Zambi".
Bernardo Kocher - Professor Departamento de História da UFF
Bernardo Sorj - Professor titular de sociologia UFRJ
Bila Sorj - Professora titular de sociologia UFRJ
Bolivar Lamounier - Cientista Político
Cacilda da Silva Machado - Professora do Departamento de História da UFPR (PR)
Caetano Veloso
Carlos Costa Ribeiro - Professor; atuou como especialista contratado no Programa das Nações
Unidas Para o Meio Ambiente - PNUMA/UNEP
Claudia Travassos - Pesquisadora Titular da Fundação Oswaldo Cruz
Cláudia Wasserman - Professora Adjunta de História da UFRGS
Celia Maria Marinho de Azevedo - Historiadora
Célia Tavares - Professora Adjunta de História (FFP/UERJ)
Cyro Borges Jr. - Professor Adjunto do Departamento de Engenharia Mecânica da UERJ
Darcy Fontoura de Almeida - Professor Emérito, UFRJ
Demétrio Magnoli - Sociólogo e articulista da Folha de S. Paulo
Dilene Nascimento - Historiadora, pesquisadora da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz
Domingos de Leers Guimaraens - Artista Visual
Dominichi Miranda de Sá - Pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz
Egberto Gaspar de Moura - Professor Titular de Fisiologia, Instituto de Biologia, UERJ
Elvira Carvajal - Professora de Biologia Molecular e Genética, UERJ
Eunice R. Durham - Professora titular de Antropologia, Professora emérita da FFLCH da USP
Fabiano Gontijo - Professor Adjunto de Antropologia, Departamento de Ciências Sociais,
Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas, Programa de Pós-Graduação em Letras,
UFPI

138
Fernanda Martins - Pesquisadora da Fundação Oscar Niemayer (RJ)
Fernando Roberto de Freitas Almeida - Coordenador do curso de Economia da Faculdade
Moraes Junior/Universidade Presbiteriana Mackenzie-Rio.
Ferreira Gullar - Poeta
Francisco Martinho - Professor de História da UERJ
George de Cerqueira Leite Zarur - Professor Internacional da Flacso e Consultor Legislativo da
Área de Educação Superior da Câmara dos Deputados
Gilberto Hochman - Cientista Político pesquisador da Casa de Oswaldo Cruz/FIOCRUZ
Gilberto Velho - Professor titular e decano do Departamento de Antropologia do Museu
Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro e membro da Academia Brasileira de
Ciências
Gilda Portugal - Professora de Sociologia da UNICAMP
Gilson Schwartz - Economista, Professor de Economia da Informação da ECA-USP e Diretor
da Cidade do Conhecimento (USP)
Giselda Brito - Professora Adjunta de História da Universidade Federal Rural de Pernambuco
Gláucia K. Villas Boas - Vice-Diretora do IFCS/UFRJ e professora do departamento de
Sociologia da UFRJ
Guilherme Amaral Luz - Professor do Instituto de História da UFU
Guita Debert - Professora Titular de Antropologia do Departamento de Antropologia
UNICAMP
Helena Lewin - Professora Titular aposentada da UFF
Hercidia Mara Facuri Coelho - Pró-reitora, Universidade de Franca (UNIFRAN)
Hugo Rogélio Suppo - Professor adjunto de História da UERJ
Icléia Thiesen - Professora Adjunta do Programa de Pós-graduação em Memória Social da UNI-
Rio
Isabel Lustosa - Pesquisadora Titular da Fundação Casa de Rui Barbosa
João Amado - Mestrando em História da UERJ e professor da rede pública
João Leão Sattamini Netto - Economista, membro do Conselho de Cultura do Estado do Rio de
Janeiro, Comodante do Museu de Arte Contemporânea de Niterói.
João Paulo Coelho de Souza Rodrigues - DECIS, UFSJ
John Michael Norvell - Professor Visitante, Pitzer College, Claremont, CA EUA
José Augusto Drummond - Cientista político, professor do Centro de Desenvolvimento
Sustentável (CDS/UnB)

139
José Carlos Miranda - Diretório Estadual do PT SP, Coordenação do Comitê por um
Movimento Negro Socialista (MNS)
José Roberto Ferreira Militão - Advogado, AFROSOL-LUX - Promotora de Soluções em
Economia Solidária
José Roberto Pinto de Góes - Professor de História da UERJ
Josué Pereira da Silva - Professor de sociologia, IFCH, UNICAMP
Kátia Maciel - N-Imagem - Escola de Comunicação da UFRJ
Kenneth Rochel de Camargo Jr. - Professor Adjunto do Instituto de Medicina Social da UERJ
Laiana Lannes de Oliveira - Professora de História da PUC (RJ)
Lena Lavinas - Professora do Instituto de Economia da UFRJ
Lilia K. Moritz Schwarcz - Professora Titular de Antropologia da USP
Lucia Lippi Oliveira - Socióloga, pesquisadora e professora do CPDOC/FGV
Lúcia Schmidt - Professora Adjunta da Faculdade de Engenharia da UERJ.
Luciana da Cunha Oliveira - Mestranda em História pela UFF e professora da rede pública de
ensino
Luiz Alphonsus de Guimaraens - Artista Plástico
Luiz Fernando Almeida Pereira - Professor de Sociologia da PUC-Rio
Luiz Fernando Dias Duarte - Professor do Departamento de Antropologia do Museu Nacional
da UFRJ
Luiz Werneck Vianna - Professor titular do IUPERJ
Madel T. Luz - Professora Titular do Instituto de Medicina Social da UERJ
Magali Romero Sá - Historiadora, Pesquisadora da Casa de Oswaldo Cruz/FIOCRUZ
Manolo Florentino - Professor de história, IFCS/UFRJ
Marcos Chor Maio - Sociólogo, Fundação Oswaldo Cruz
Maria Alice Resende de Carvalho - Socióloga, professora do IUPERJ
Maria Conceição Pinto de Góes - Pós-Graduação em História Comparada, UFRJ.
Maria Hermínia Tavares de Almeida - Professora Titular de Ciência Política da USP
Maria Sylvia de Carvalho Franco - Professora Titular de Filosofia, Unicamp
Mariza Peirano - Professora titular de antropologia, UnB
Mirian Goldenberg - Professora de Antropologia IFCS-UFRJ
Moacyr Góes - Diretor de cinema e teatro
Mônica Grin - Professora do departamento de História da UFRJ
Monique Franco - Professora FFP/UERJ
Nisia Trindade Lima - Socióloga, Fundação Oswaldo Cruz

140
Oliveiros S. Ferreira - Professor de Política na PUC-SP e USP-SP
Paulo Kramer - Professor do Departamento de Ciência Política da UnB
Peter Fry - Professor titular de antropologia UFRJ
Priscilla Mouta Marques - Professora de Português e Literaturas Brasileira e Africanas de
Língua Portuguesa, auxiliar de pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz
Ronaldo Vainfas - Professor Titular de História Moderna da Universidade Federal Fluminense
Renata da Costa Vaz - Diretora do Sindicato Servidores Públicos Municipais Campinas/SP
Renato Lessa - Professor titular do IUPERJ
Ricardo Ventura Santos - Pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz e Professor do Departamento
de Antropologia do Museu Nacional, UFRJ
Rita de Cássia Fazzi - Professora do Departamento de Ciências Sociais da PUC (MG)
Roberto Romano - Professor Titular de Filosofia, Unicamp
Roney Cytrynowicz - Historiador
Roque Ferreira - Coordenador Nacional da Federação dos Trabalhadores sobre Trilhos - CUT,
Conselho Comunidade Negra Bauru-SP
Serge Goulart - Integrante do Diretório Nacional do PT
Sergio Danilo Pena - Professor Titular do Depto. Bioquímica e Imunologia da UFMG
Silvana Santiago - historiadora
Silvia Figueiroa - Historiadora, Professora do Instituto de Geociências da UNICAMP
Simon Schwartzman - Presidente do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade no Rio de
Janeiro
Simone Monteiro - Pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz
Ubiratan Iorio - Professor Adjunto da UERJ e Presidente do Centro Interdisciplinar de Ética e
Economia Personalista (Cieep)
Uliana Dias Campos Ferlim - Cantora e professora, mestre em história
Vicente Palermo - Instituto Gino Germani, Buenos Aires, Conicet, Argentina.
Wanderley Guilherme dos Santos - Cientista político
Wlamir José da Silva - Professor Adjunto de História da Universidade Federal de São João del-
Rei (UFSJ)
Yvonne Maggie - Professora titular de antropologia IFCS/UFRJ
Zelito Vianna – Cineasta”

141
ANEXO B - Confira a íntegra do manifesto a favor das cotas.
“Manifesto em favor da lei de cotas e do estatuto da igualdade racial.

Aos/as deputados/as e senadores/as do Congresso brasileiro

A desigualdade racial no Brasil tem fortes raízes históricas e esta realidade não será
alterada significativamente sem a aplicação de políticas públicas específicas. A Constituição de
1891 facilitou a reprodução do racismo ao decretar uma igualdade puramente formal entre todos
os cidadãos. A população negra acabava de ser colocada em uma situação de completa exclusão
em termos de acesso à terra, à instrução e ao mercado de trabalho para competir com os brancos
diante de uma nova realidade econômica que se instalava no país. Enquanto se dizia que todos
eram iguais na letra da lei, várias políticas de incentivo e apoio diferenciado, que hoje podem
ser lidas como ações afirmativas, foram aplicadas para estimular a imigração de europeus para
o Brasil.
Esse mesmo racismo estatal foi reproduzido e intensificado na sociedade brasileira ao
longo de todo o século vinte. Uma série de dados oficiais sistematizados pelo IPEA no ano 2001
resume o padrão brasileiro de desigualdade racial: por 4 gerações ininterruptas, pretos e pardos
têm contado com menos escolaridade, menos salário, menos acesso à saúde, menor índice de
emprego, piores condições de moradia, quando contrastados com os brancos e asiáticos.
Estudos desenvolvidos nos últimos anos por outros organismos estatais demonstram claramente
que a ascensão social e econômica no país passa necessariamente pelo acesso ao ensino
superior.
Foi a constatação da extrema exclusão dos jovens negros e indígenas das universidades
que impulsionou a atual luta nacional pelas cotas, cujo marco foi a Marcha Zumbi dos Palmares
pela Vida, em 20 de novembro de 1995, encampada por uma ampla frente de solidariedade
entre acadêmicos negros e brancos, coletivos de estudantes negros, cursinhos pré-vestibulares
para afrodescendentes e pobres e movimentos negros da sociedade civil, estudantes e líderes
indígenas, além de outros setores solidários, como jornalistas, líderes religiosos e figuras
políticas –boa parte dos quais subscreve o presente documento. A justiça e o imperativo moral
dessa causa encontraram ressonância nos últimos governos, o que resultou em políticas públicas
concretas, dentre elas: a criação do Grupo de Trabalho Interministerial para a Valorização da
População Negra, de 1995; as primeiras ações afirmativas no âmbito dos Ministérios, em 2001;
a criação da Secretaria Especial para Promoção de Políticas da Igualdade Racial (SEPPIR), em
2003; e, finalmente, a proposta dos atuais Projetos de Lei que estabelecem cotas para estudantes

142
negros oriundos da escola pública em todas as universidades federais brasileiras, e o Estatuto
da Igualdade Racial.
O PL 73/99 (ou Lei de Cotas) deve ser compreendido como uma resposta coerente e
responsável do Estado brasileiro aos vários instrumentos jurídicos internacionais a que aderiu,
tais como a Convenção da ONU para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial
(CERD), de 1969, e, mais recentemente, ao Plano de Ação de Durban, resultante da III
Conferência Mundial de Combate ao Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância
Correlata, ocorrida em Durban, na África do Sul, em 2001. O Plano de Ação de Durban
corrobora a ênfase, já colocada pela CERD, de adoção de ações afirmativas como um
mecanismo importante na construção da igualdade racial, uma vez aqui que as ações afirmativas
para minorias étnicas e raciais já se efetivam em inúmeros países multi-étnicos e multi-raciais
semelhantes ao Brasil. Foram incluídas na Constituição da Índia, em 1949; adotadas pelo
Estado da Malásia desde 1968; nos Estados Unidos desde 1972; na África do Sul, em 1994; e
desde então no Canadá, na Austrália, na Nova Zelândia, na Colômbia e no México. Existe uma
forte expectativa internacional de que o Estado brasileiro finalmente implemente políticas
consistentes de ações afirmativas, inclusive porque o país conta com a segunda maior população
negra do planeta e deve reparar as assimetrias promovidas pela intervenção do Estado da
Primeira República com leis que outorgaram benefícios especiais aos europeus recém
chegados, negando explicitamente os mesmos benefícios à população afro-brasileira.
Colocando o sistema acadêmico brasileiro em uma perspectiva internacional,
concluímos que nosso quadro de exclusão racial no ensino superior é um dos mais extremos do
mundo. Para se ter uma idéia da desigualdade racial brasileira, lembremos que, mesmo nos dias
do apartheid, os negros da África do Sul contavam com uma escolaridade média maior que a
dos negros no Brasil no ano 2000; a porcentagem de professores negros nas universidades sul-
africanas, ainda na época do apartheid, era bem maior que a porcentagem dos professores
negros nas nossas universidades públicas nos dias atuais. A porcentagem média de docentes
nas universidades públicas brasileiras não chega a 1%, em um país onde os negros conformam
45,6 % do total da população. Se os Deputados e Senadores, no seu papel de traduzir as
demandas da sociedade brasileira em políticas de Estado não intervierem aprovando o PL 73/99
e o Estatuto, os mecanismos de exclusão racial embutidos no suposto universalismo do estado
republicano provavelmente nos levarão a atravessar todo o século XXI como um dos sistemas
universitários mais segregados étnica e racialmente do planeta! E, pior ainda, estaremos
condenando mais uma geração inteira de secundaristas negros a ficar fora das universidades,
pois, segundo estudos do IPEA, serão necessários 30 anos para que a população negra alcance

143
a escolaridade média dos brancos de hoje, caso nenhuma política específica de promoção da
igualdade racial na educação seja adotada. Para que nossas universidades públicas cumpram
verdadeiramente sua função republicana e social em uma sociedade multi-étnica e multi-racial,
deverão algum dia refletir as porcentagens de brancos, negros e indígenas do país em todos os
graus da hierarquia acadêmica: na graduação, no mestrado, no doutorado, na carreira de docente
e na carreira de pesquisador.
No caminho da construção dessa igualdade étnica e racial, somente nos últimos 4 anos,
mais de 30 universidades e Instituições de Ensino Superior públicas, entre federais e estaduais,
já implementaram cotas para estudantes negros, indígenas e alunos da rede pública nos seus
vestibulares e a maioria adotou essa medida após debates no interior dos seus espaços
acadêmicos. Outras 15 instituições públicas estão prestes a adotar políticas semelhantes. Todos
os estudos de que dispomos já nos permitem afirmar com segurança que o rendimento
acadêmico dos cotistas é, em geral, igual ou superior ao rendimento dos alunos que entraram
pelo sistema universal. Esse dado é importante porque desmonta um preconceito muito
difundido de que as cotas conduziriam a um rebaixamento da qualidade acadêmica das
universidades. Isso simplesmente não se confirmou! Uma vez tida a oportunidade de acesso
diferenciado (e insistimos que se trata de cotas de entrada e não de saída), o rendimento dos
estudantes negros não se distingue do rendimento dos estudantes brancos.
Outro argumento muito comum usado por aqueles que são contra as políticas de
inclusão de estudantes negros por intermédio de cotas é que haveria um acirramento dos
conflitos raciais nas universidades. Muito distante desse panorama alarmista, os casos de
racismo que têm surgido após a implementação das cotas têm sido enfrentados e resolvidos no
interior das comunidades acadêmicas, em geral com transparência e eficácia maiores do que
havia antes das cotas. Nesse sentido, a prática das cotas tem contribuído para combater o clima
de impunidade diante da discriminação racial no meio universitário. Mais ainda, as múltiplas
experiências de cotas em andamento nos últimos 4 anos contribuíram para a formação de uma
rede de especialistas e de uma base de dados acumulada que facilitará a implementação, a nível
nacional, da Lei de Cotas.
Para que tenhamos uma noção da escala de abrangência dessas leis a serem votadas o
PL 73/99, que reserva vagas na graduação, é uma medida ainda tímida: garantirá uma média
nacional mínima de 22,5% de vagas nas universidades públicas para um grupo humano que
representa 45,6% da população nacional. É preciso, porém, ter clareza do que significam esses
22,5% de cotas no contexto total do ensino de graduação no Brasil. Tomando como base os
dados oficiais do INEP, o número de ingressos nas universidades federais em 2004 foi de

144
123.000 estudantes, enquanto o total de ingressos em todas as universidades (federais,
estaduais, municipais e privadas) foi de 1.304.000 estudantes. Se já tivessem existido cotas em
todas as universidades federais para esse ano, os estudantes negros contariam com uma reserva
de 27.675 vagas (22,5% de 123.000 vagas). Em suma, a Lei de Cotas incidiria em apenas 2%
do total de ingressos no ensino superior brasileiro. Devemos concluir que a desigualdade racial
continuará sendo a marca do nosso universo acadêmico durante décadas, mesmo com a
implementação do PL 73/99. Sem as cotas, porém, já teremos que começar a calcular em
séculos a perspectiva de combate ao nosso racismo universitário. Temos esperança de que
nossos congressistas aumentem esses índices tão baixos de inclusão!
Se a Lei de Cotas visa nivelar o acesso às vagas de ingresso nas universidades públicas
entre brancos e negros, o Estatuto da Igualdade Racial complementa esse movimento por
justiça. Garante o acesso mínimo dos negros aos cargos públicos e assegura um mínimo de
igualdade racial no mercado de trabalho e no usufruto dos serviços públicos de saúde e moradia,
entre outros. Nesse sentido, o Estatuto recupera uma medida de igualdade que deveria ter sido
incluída na Constituição de 1891, no momento inicial da construção da República no Brasil.
Foi sua ausência que aprofundou o fosso da desigualdade racial e da impunidade do racismo
contra a população negra ao longo de todo o século XX. Por outro lado, o Estatuto transforma
em ação concreta os valores de igualdade plasmados na Constituição de 1988, claramente pró-
ativa na sua afirmação de que é necessário adotar mecanismos capazes de viabilizar a igualdade
almejada. Enquanto o Estatuto não for aprovado, continuaremos reproduzindo o ciclo de
desigualdade racial profunda que tem sido a marca de nossa história republicana até os dias de
hoje.
Gostaríamos ainda de fazer uma breve menção ao documento contrário à Lei de Cotas
e ao Estatuto da Igualdade Racial, enviado recentemente aos nobres parlamentares por um
grupo de acadêmicos pertencentes a várias instituições de elite do país. Ao mesmo tempo em
que rejeitam frontalmente as duas Leis em discussão, os assinantes do documento não
apresentam nenhuma proposta alternativa concreta de inclusão racial no Brasil, reiterando
apenas que somos todos iguais perante a lei e que é preciso melhorar os serviços públicos até
atenderem por igual a todos os segmentos da sociedade. Essa declaração de princípios
universalistas, feita por membros da elite de uma sociedade multi-étnica e multi-racial com uma
história recente de escravismo e genocídio sistemático, parece uma reedição, no século XXI,
do imobilismo subjacente à Constituição da República de 1891: zerou, num toque de mágica,
as desigualdades causadas por séculos de exclusão e racismo, e jogou para um futuro incerto o
dia em que negros e índios poderão ter acesso eqüitativo à educação, às riquezas, aos bens e

145
aos serviços acumulados pelo Estado brasileiro. Essa postergação consciente não é convincente.
Diante dos dados oficiais recentes do IBGE e do IPEA que expressam, sem nenhuma dúvida, a
nossa dívida histórica com os negros e os índios, ou adotamos cotas e implementamos o
Estatuto, ou seremos coniventes com a perpetuação da nossa desigualdade étnica e racial.
Acreditamos que a igualdade universal dentro da República não é um princípio vazio e
sim uma meta a ser alcançada. As ações afirmativas, baseadas na discriminação positiva
daqueles lesados por processos históricos, são a figura jurídica criada pelas Nações Unidas para
alcançar essa meta.
Conclamamos, portanto, os nossos ilustres congressistas a que aprovem, com a máxima
urgência, a Lei de Cotas (PL73/1999) e o Estatuto da Igualdade Racial (PL 3.198/2000).

Brasília, 3 de julho de 2006

Subscrevem este manifesto:

1. Alexandre do Nascimento – Membro da Coordenação do Movimento Pré-Vestibular para


Negros e Carentes (PVNC), Professor da FAETEC e Editor da Revista Global Brasil.
2. Frei David Raimundo dos Santos – Diretor Executivo da EDUCAFRO rede de 255 pré-
vestibulares comunitários para afrodescendentes e carentes.
3. José Jorge de Carvalho – Professor de Antropologia da Universidade de Brasília –
Pesquisador 1-A do CNPq – Propositor do Sistema de Cotas da UnB.
4. Abdias do Nascimento – IPEAFRO.
5. Adelaide Gonçalves – Professor da Universidade Federal do Ceará.
6. Adriana Pereira Campos – Professora de História da UFES, Doutora em História Social.
7. Ahyas Siss – Professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
8. Aldenir Dida Dias dos Santos – Professora de sociologia da Faculdade do Guarujá.
9. Alecsara Maciel – Professora do departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal
do Amapá (UNIFAP).
10. Alejandra Paschoal – Professora de Direito da Universidade de Brasília (UNB).
11. Alexandre Brasil Carvalho da Fonseca – Professor de Sociologia da Ciência da
Universidade Federal do Rio de Janeiro. Membro do Conselho Nacional de Juventude.
12. Alexandre Fortes – Professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.

146
13. Allan Müller Schroeder – Acadêmico do curso de Administração de Serviços Públicos da
Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) e do curso de direito da Universidade do
Vale do Itajaí (UNIVALI).
14. Almires Machado Guarani – Advogado do Instituto Amigos do Índio, de Mato Grosso do
Sul.
15. Álvaro Fernandes Sampaio – Tukano – Líder do Povo Tukano/ Assessor do Instituto
Brasileiro da Propriedade Intelectual (INBRAPI).
16. Álvaro Roberto Pires – Professor da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) – Diretor
Depto. de Pós-Graduação (DPG/UFMA).
17. Alzira Rufino – Presidente da Casa de Cultura da Mulher Negra. Editora da revista Eparrei.
18. Amauri Mendes Pereira – Pesquisador Associado do Centro de Estudos Afro-Asiático
(CEAA) da Universidade Cândido Mendes.
19. Amaury Fernandes da Silva Junior – Professor da Escola de Comunicação da UFRJ.
20. Amilton Sá Barreto – Coordenador do Núcleo de Educação para a Igualdade Racial da
Secretaria de Educação do Pará.
21. Ana Beatriz Souza Gomes – Professora de Educação da Universidade Federal do Piauí
(UFPI).
22. Ana Claudia Duarte Rocha Marques – Professora de Antropologia da Universidade de São
Paulo.
23. Ana Darc Martins de Azevedo – Professora da Universidade do Estado do Pará.
24. Ana Lucia Lopes – Coordenadora do Núcleo de Educação do Museu Afro Brasil.
25. Ana Lúcia Pereira – Pró-Reitora de Extensão da Universidade Federal do Tocantins – UFT.
26. Ana Maria Felippe – Coordenadora da Memória Lélia Gonzalez.
27. Ana Paula Ferraz – Pedagoga e Professora da rede pública do Rio de Janeiro.
28. André Augusto Brandão – Professor Adjunto da UFF, Programa de Estudos Pós-graduados
em Política Social (ESS/UFF).
29. André Borges – Vice-Presidente e Coordenador de Direitos Humanos do Instituto Palmares
de Direitos Humanos/RJ.
30. André Leonardo Chevitarese – Professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
31. André Martins – Professor de Metodologia, Filosofia e Psicanalise da Faculdade de
Medicina da UFRJ.
32. Andreas Hofbauer – Professor de Antropologia da Universidade Estadual de Sãi Paulo
(UNESP) de Marília.

147
33. Angela Maria dos Santos – Professora. Substituta da Universidade Federal do Mato Grosso
(UFMT). Pesquisadora do NEPRE/UFMT.
34. Angela Renata Gonçalves Castilho de Azevedo – Professora de História da FAETEC.
35. Angelica Basthi – Jornalista. Membro da coordenação da Comissão de Jornalistas pela
Igualdade Racial (Cojira-Rio).
36. Anne de Matos Souza – Pesquisadora do Núcleo de Pesquisas em Relações Raciais e
Educação (NEPRE) da Universidade Federal do Mato Grosso.
37. Antonio Santana (Pastor) – Professor de Teologia da Universidade Metodista de São
Bernanrdo do Campo (UMESB).
38. Apolinário Alves Moreira – Auditor da Universidade Federal do Pará.
39. Arivaldo Lima Alves – Professor de Antropologia da Universidade Estadual da Bahia.
40. Armando Mecenas de Oliveira – Centro Cultural Araçá – São Mateus, ES.
41. Arthur Leandro – Artista, Professor da Escola de Artes Visuais e Designer da UFPA, Tàta
Kissikarimgomba do Mansu Nangetu – Belém/PA.
42. Augusto Boal – Artista, Professor e Diretor Artístico do Centro de Teatro do Oprimido –
CTO/RJ.
43. Bárbara Santos – Coordenadora do Centro de Teatro do Oprimido – CTO-Rio.
44. Bruna Franchetto – Professora de Lingüística do Museu Nacional, UFRJ. Pesquisadora do
CNPq.
45. Caetana Damasceno – Professora de Antropologia da Universidade Federal Rural do Rio
de Janeiro.
46. Carla Ramos – Ex-aluna do PVNC, Mestre em Sociologia e Antropologia pelo PPGSA-
UFRJ e pesquisadora do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular/ IPHAN.
47. Carlos Benedito Rodrigues da Silva-Antropólogo-Professor do Programa de Pós Graduação
em Ciências Sociais da Universidade Federal do Maranhão – Coordenador do NEAB/UFMA –
Conselheiro Consultivo do Centro do Cultura Negra do Maranhão.
48. Carlos Fausto – Professor de Antropologia do Museu Nacional da UFRJ/Pesquisador do
CNPq.
49. Carlos Frederico Leão Rocha – Professor do Instituto de Economia da UFRJ.
50. Carmen Junqueira Professora Titular de Antropologia da PUC-SP.
51. Celeste Maria Libania dos Santos – Sobá Livros e Cd’s Ltda.
52. Celeste Maria Libania dos Santos – Sócia-propietária da Sobá Livros e Cd’s Ltda.
53. Celso Ribeiro de Almeida – Professor do Instituto de Biologia da UNICAMP.

148
54. Claudia Ferreira – Jornalista. Coordenadora do Centro de Atividade Culturais, Econômicas
e Sociais (CACES).
55. Clever Alves Machado – Conselheiro do Conselho Estadual de Participação e Integração
da Comunidade Negra – CCN/MG.
56. Climene Laura de Camargo – Professora da Escola de Enfermagem da Universidade Federal
da Bahia (UFBA).
57. CPV-Negros da Universidade Federal do Amapá – UNIFAP.
58. Daisy Macedo de Barcellos – Doutora em Antropologia social (aposentada UFRGS).
59. Damião dos Reis – Capitão-Regente da Guarda do Congo Velho do Rosário de Belo
Horizonte.
60. Daniel Aarão Reis – Professor Titular de História Contemporânea, Universidade Federal
Fluminense.
61. Daniel Lins – Filósofo, sociólogo e psicanalista. Professor da Universidade Federal do
Ceará. Coordenador do Laboratório de Estudos e Pesquisas da Subjetividade (LEPS-UFC).
62. Daniel Munduruku – Liderança Indígena e Presidente do INBRAPI – São Paulo.
63. Daniela Sanches Frozi – Doutoranda de Nutrição da Universidade Federal do Rio de Janeiro
e Professora substituta do Departamento de Nutrição Social Aplicada da UFRJ.
64. Débora Diniz Rodrigues – Professora de Serviço Social e Bioética da Universidade de
Brasília (UNB).
65. Delcele Queiroz – Professora da Universidade Estadual da Bahia.
66. Demartone Gomes – Coordenador da Regional 5 do Sindicato Estadual de Profissionais da
Educação (SEPE-RJ).
67. Denise Fagundes Jardim – Professora do departamento de antropologia da UFRGS.
68. Diórgenes Pacheco de Lima – Professor do Curso Pré-Vestibular Popular Resgate de Porto
Alegre-RS.
69. Dojival Vieira dos Santos – Jornalista, Editor da Agência Afroétnica de Notícias – Afropress
(www.afropress.com).
70. Dora Lúcia Lima Bertúlio – Procuradora da Universidade Federal do Paraná (UFPR) –
Propositora do Sistema de Cotas da UFPR.
71. Dulcilene Santiago de Souza. Assitente Social. Núcleo Santa Cruz/Guarujá.
72. Edilene Machado Pereira Professora do Centro Universitário da Bahia e mestranda em
Ciências Sociais da PUC-SP.
73. Edna Roland – Relatora Geral da III Conferência Mundial contra o Racismo, Discriminação
Racial, Xenofobia e Intolerância Correlata, de Durban, África do Sul.

149
74. Eduardo Viveiros de Castro – Professor de Antropologia do Museu Nacional da
UFRJ/Pesquisador 1-A do CNPq.
75. Elane Carneiro de Albuquerque – Instituto Negra do Ceará – INEGRA.
76. Eliane Hojaij Gouveia Professora Doutora de Antropologia da PUC-SP.
77. Eliane Pinto de Carvalho – Diretora da Escola Municipal Fernando Rodrigues da Silveira /
Rio de Janeiro.
78. Elisa Larkin Nascimento – Diretora do IPEAFRO.
79. Emir Sader – Professor da UERJ/Presidente do Laboratório de Políticas Públicas (LPP) da
UERJ.
80. Erica Simone Almeida Resende – Cientista Política e Pesquisadora do NUPRI (Núcleo de
Pesquisa em Relações Internacionais) – USP.
81. Eurípedes Antônio Funes – Professor da Universidade Federal do Ceará.
82. Fabiana Oliveira – Membro da Coordenação do Movimento Pré-Vestibular para Negros e
Carentes, ex-aluna do PVNC e estudante de Comunicação.
83. Fábio Konder Comparato – Professor Titular do Departamento de Filosofia e Teoria Geral
do Direito da USP.
84. Fátima Lobato Fernandes – Professora e Pesquisadora do Laboratório de Políticas Públicas
da UERJ.
85. Fátima Oliveira – Médica. Secretária executiva da Rede Feminista de Saúde.
86. Federico Neiburg – Professor do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do
Museu Nacional – UFRJ.
87. Fernanda Kaingangue – Lidenrança Indígena Kaingangue. Mestra em Direito/ Diretora-
Executiva do INBRAPI.
88. Fernanda Lopes – Biologa, pesquisadora do Nepaids/USP e da area de Saude e
Sociedade/Cebrap.
89. Fernando Pinheiro – Membro da Coordenação do Movimento Pré-Vestibular para Negros
e Carentes, Professor da Rede Pública e pesquisador do NIREMA-PUC/RJ.
90. Flávio Gomes – Professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
91. Florentina da Silva Souza – Professora da Universidade Federal da Bahia (UFBA).
92. Francisca Novantino Ângelo Pareci – Mestra em Educação/ Representante Indígena do
Conselho Nacional de Educação.
93. Francisco Carlos Cardoso da Silva – Professor de Sociologia da UESB e doutorando em
Antropologia pela PUC-SP.

150
94. Francisco Carlos Teixeira da Silva – Professor Titular da Universidade Federal do Rio de
Janeiro.
95. Franck Pierre Ribard – Professor da Universidade Federal do Ceará.
96. Frédéric Monié – Professor do Departamento de Geografia da UFRJ.
97. Geanne Campos – Socióloga, Coordenadora Executiva do Centro Aplicado de Pesquisa em
Educação Multi-Étnica – CAPEM.
98. Geledés – Instituto da Mulher Negra.
99. Geo Britto – Sociólogo e ator e integrante do centro de Teatro do Oprimido.
100. Geraldo Bastos – Membro do Conselheiro Municipal dos Direitos dos Negros
(COMDEDINE-Nova Iguaçu) e do GESTAR – Grupo de Estudos e Ação Racial.
101. Geraldo Magela Pereira Leão – Professor Adjunto da Faculdade de Educação da UFMG.
102. Geraldo Moreira Prado – professor do IBICT da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
103. Geraldo Potiguar do Nascimento – Instituto Pedagógico para o Crescimento,
Fortalecimento e Valorização da Cultura, do Viver Afro-Brasileiro e os Direitos Humanos –
(sede) Porto Alegre – RS.
104. Gerardo Silva – pesquisador do Laboratório Territórios e Comunicações –
LABTeC/ESS/UFRJ.
105. Giuseppe Cocco – Cientista Político e Professor da Escola de Serviço Social da UFRJ.
106. Gloria Rabay – professora do Curso de Comunicação Social da Universidade Federal da
Paraíba (UFPB).
107. Greyce Kelly Fernandes de Almeida – Professora da rede municipal do RJ e diretora do
SEPE (Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do RJ).
108. Guilherme José da Silva e Sá – Professor de Ciências Sociais da Universidade Federal de
Santa Maria / Doutorando em Antropologia Social do Programa de Pós-Graduação em
Antropologia Social do Museu Nacional – UFRJ.
109. Gustavo Henrique Araújo Forde – Membro do Centro de Estudos da Cultura Negra-ES e
Mestrando em Educação da UFES.
110. Gustavo Proença – Advogado. Especialista em Direito Constitucional e em questões
raciais.
111. Hebe Mattos – Professora Titular de História do Brasil, Departamento de História,
Universidade Federal Fluminense.
112. Helder Barbosa – Economista do SEBRAE-BA.
113. Helen Campos Ferreira – Professora do Departamento Materno Infantil da Universidade
Federal Fluminense.

151
114. Helena do Socorro Campos da Rocha – Representante do CONCEFET na implementação
da Lei 10639 na Educação Profissional e Coordenadora do NEAB-CEFET-PA.
115. Hélio Santos – Professor da Fundação Visconde de Cairu, de Salvador – Presidente do
Instituto da Diversidade, de São Paulo.
116. Henrique Cristóvão – Pesquisador do IPEAFRO.
117. Henrique Cunha Jr. – Professor Titular da Universidade Federal do Ceara.Livre docente
pela USP. Membro fundador da Associação Brasileira de Pesquisadores Negros. Presidente do
Instituto de Pesquisas da Afrodescendencia – IPAD. Membro da comissão de estudos pro-cotas
da Universidade Federal do Ceará.
118. Hernani Fracisco da Silva – Presidente da Sociedade Cultural Missões Quilombo, membro
do MNE – Movimento Negro Evangélico.
119. Hilan Bensusan – Professor do Departamento de Filosofia da Universidade de Brasília
(UNB).
120. Ilka Boaventura Leite – Professora de Antropologia da UFSC/Coordenadora do NUER.
121. INSTITUTO DE ASSESSORIA AS COMUNIDADES REMANESCENTES DE
QUILOMBOS DO RIO GRANDE DO SUL (IACOREQ).
122. Iolanda de Oliveira – Professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal
Fluminense.
123. Iolanda de Oliveira – Professora de Educação da Universidade Federal Fluminense
(UFF)/Coordenadora do PENESB
124. Ione da Silva Jovino – Coordenadora do Programa São Paulo: Educando pela Diferença
para a Igualdade, da Secretaria de Estado de Educação de São Paulo. Doutoranda em Educação
pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
125. Iradi Roberto Eghrari – Gerente Executivo Ágere Cooperação em Advocacy.
126. Iradji Roberto Ejhan – Gerente Executivo da Agere. Professor da UNIEURO.
127. Isabel Cristina Ferreira dos Reis – Professora Universitária e doutoranda no Programa de
Pós-Graduação em História da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
128. Isabel Cristina Martins Guillen – Professora Adjunta do Departamento de História da
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
129. Isabel Cruz – Professora Titular da Universidade Federal Fluminense (UFF), membro do
Núcleo de Estudos sobre Saúde e Etnia Negra, Membro titular do Comitê Técnico de Saúde da
População Negra do Ministério da Saúde.
130. Ivair Augusto dos Santos – Assessor da Secretaria Especial de Direitos Humanos do
Ministério da Justiça.

152
131. Ivana Bentes – Professora e Diretora da Escola de Comunicação da UFRJ.
132. Ivanir Alves dos Santos – Coordenador do Centro de Articulação de Populações Marginais
(CEAP), do Rio de Janeiro.
133. Izabel Cristina da Cruz – Professora de História e Subsecretária M. de Cultura de
Itaboraí/RJ
134. Jacques d Adesky – Pesquisador do Centro de Estudos das Américas do IH/UCAM.
135. Janô Beserra de Araujo – Professor de História e presidente do PT/ Itaboraí – RJ
136. Jeannete Alves – ECAIS/ SG – RJ
137. João Augusto Santos Silva – Coordenador do Bloco Afro Odomode – Porto Alegre
138. João Batista da Luz – Presidente da Irmandade Nossa Senhora do Rosário, Congado da
Comunidade Negra dos Arturos, de Contagem, MG
139. João Batista da Silva – Geógrafo. Associação dos Geógrafos Brasileiros RJ.
140. João Bosco de Oliveira Borba – Presidente da Associação Nacional de Empresários e
Empreendedores Afro-Brasileiros (ANCEABRA), com sede em Brasília
141. João Diógenes Ferreira dos Santos – Professor de Sociologia da UESB e doutorando em
Ciências Sociais da PUC-SP.
142. João Jorge Rodrigues – Presidente do Bloco Afro Olodum
143. João José Reis – Professor Titular de História da Universidade Federal da Bahia (UFBA).
144. João Luiz Vieira – Professor da Universidade Federal Fluminense (UFF)
145. Joaze Bernardino Costa – Professor de Sociologia da Universidade Federal de Goiás
146. Jocelene Ignácio – Membro da Coordenação do Movimento Pré-Vestibular para Negros e
Carentes (PVNC), Assistente Social e Professora Universitária.
147. Joel Zito Araújo – Cineasta
148. Joelma – Professora de História do Centro Universitário de Brasília (CEUB)
149. Jorge da Silva – Professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)
150. Jorge Luís Borges Ferreira – Geógrafo, pesquisador assistente do IPPUR/UFRJ, ex-
presidente da Associação dos Geógrafos Brasileiros.
151. Jorge Luiz Mattar Villela – Professor de Antropologia da Universidade Federal de São
Carlos
152. Jorge Luiz Silveira Ribeiro – Professor de Sociologia do Colégio Pedro II – Unidade
Humaitá-RJ
153. Jorge Najjar – Professor da Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense
154. José Antonio Garcia Lima – Secretário de Finanças da CUT-RJ

153
155. Jose Antonio Moroni – Colegiado de Gestao do INESC – Diretor de relacoes institucionais
da ABONG e membro do Conselho de Desenvolvimento Economico e Social (CDES)
156. José Carlos dos Anjos – Professor de Sociologia da Universidade Federal do Rio Grande
do Sul (UFRGS) – Membro da Comissão Acadêmica Oficial para Formulação de um Sistema
de Cotas na UFRGS
157. José Domingos Cantanhede Silva – Assessor da Federação dos Trabalhadores na
Agricultura do Estado do Maranhão
158. José dos Santos Souza – Professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
(UFRRJ). Coordenador do Curso de Pedagogia do IM/UFRRJ.
159. José Geraldo Rocha – Professor da Universidade do Grande Rio (UnigranRio), da
Universidade Estácio de Sá e da Pós-Graduação da Universidade Federal Fluminense (UFF)
160. Jose Jorge Siqueira – Professor da Pós-graduação em História da Universidade Severino
Sombra.
161. José Junior – Coordenador Executivo do Grupo Cultural AfroReggae – RJ
162. José Luís Petrucelli – Pesquisador Titular do IBGE
163. José Reginaldo Santos Gonçalves – Professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ)
164. José Roberto do Franco Reis – Pesquisador FIOCRUZ
165. José Sergio Leite Lopes – Professor do Programa de Pós-Graduação em Antropologia
Social do Museu Nacional da UFRJ
166. Joselina da Silva – Professora substituta de Sociologia da UFRJ
167. Josildeth Gomes Consorte Professora Titular de Antropologia da PUC-SP.
168. Juarez Dayrell – Professor Adjunto da Faculdade de Educação da UFMG – Coordenador
do Observatório da Juventude da UFMG e membro da equipe do Programa Ações Afirmativas
na UFMG.
169. Julio Vitor Costa da Silva – Aluno de ciências sociais da UFRJ e membro do núcleo
universitário negro Luis Gama
170. Jurandyr Azevedo Araújo – Assessor da Pastoral Afro-brasileira da Conferencia Nacional
dos Bispos do Brasil (CNBB).
171. Jurema Werneck – Médica. Coordenadora de Organização de Mulheres Negras CRIOLA.
172. Kabengele Munanga – Professor Titular de Antropologia da USP
173. Kênia Sousa Rios – Professora da Universidade Federal do Ceará
174. Laura Delgado Mendes – Professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
(UFRRJ)

154
175. Laura Lopez – Doutoranda em Antropologia Social (UFRGS) – Pesquisadora Associada
ao Núcleo de Antropologia e Cidadania da UFRGRS
176. Leila Maria A.Barbosa – Professora de Historia. Presidente Instituto Cultural Baixo Santa
do Alto Gloria
177. Leonor Franco de Araújo – Professora de História do Brasil e Africa da UFES.
Coordenadora do NEAB/UFES. Membro do Movimento Negro Prócotas na UFES.
178. Leonora Corsini – psicóloga e pesquisadora do Laboratório Território e Comunicação da
UFRJ
179. Lia Vieira – Associação de Pesquisas da Cultura Afro-brasileira – ASPECAB/Niterói-RJ
180. Lígia Dabul – Professora do Departamento de Sociologia da UFF
181. Liliana Porto – Professora de Antropologia da Universidade Federal do Paraná –
Coordenadora da Comissão de Acompanhamento do Programa de Cotas da UFPR
182. Liv Sovik – Professora da Escola de Comunicaçao – UFRJ
183. Lourenço Cardoso – escritor e ativista do movimento social negro. Formado em História
na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
184. Luciana Hartmann – Professora do Departamento de Artes Cênicas da UFSM
185. Luciana Vieira – diretora do sindicato dos bancários RJ
186. Lucimar Rosa Dias – Consultora do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e
Desigualdades (CEERT).
187. Luís Ferreira Makl – Professor Substituto de Antropologia da Universidade de
Brasília/Pesquisador Associado do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da UnB
188. Luís Reznik – Professor de História da PUC/RJ e da UERJ.
189. Luiz Alves Ferreira, Médico – Professor da Universidade Federal do Maranhão, Secretário
Adjunto da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – SBPC/MA, Coordenador Geral
do Centro de Cultura Negra do Maranhão – CCN-MA
190. Luiz Antonio Coelho – Professor da PUC/RJ.
191. Luiz Otávio Ferreira – Pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ)
192. Luiza Helena – Professora da PUC/RJ e Diretora do Departamento de Serviço Social.
193. Marcelo Barbosa Santos – Historiador, MBA em Marketing Empresarial, direção do
SINTFUB/Fasubra
194. Marcelo Paixão – Professor de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro
195. Marcelo Tragtenberg – Professor de Física da Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC) – Membro da Comissão Acadêmica Oficial para Formulação de um Sistema de Cotas
na UFSC

155
196. Marcia dos Passos Neves – professorada rede pública de ensino no Rio de Janeiro/ mestre
em educação da UFF
197. Marcia Guerra – Professora de História da PUC-RJ.
198. Márcia Motta-Coordenadora do Programa de Pós Graduação em História da Universidade
Federal Fluminense
199. Marcio Alexandre M. Gualberto – Editor de Afirma (Revista Negra Online).
200. Márcio Andre de Oliveira dos Santos – Mestre em Ciencias Sociaisl e Pesquisador do
NIREMA da PUC/RJ.
201. Márcio Flávio – Membro da Coordenação do Movimento Pré-Vestibular para Negros e
Carentes, geógrafo e integrante do NIREMA-PUC/RJ.
202. Marcio Goldman – Professor de Antropologia do Museu Nacional da UFRJ
203. Marco Antônio Domingues Teixeira – Professor de História da Universidade Federal de
Rondônia (UNIR)
204. Marcus de Carvalho – Professor da Universidade Federal de Pernambuco
205. Maria Alice Rezende – Professora adjunta da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
206. Maria Aparecida Bergamaschi – Professora na Faculdade de Educação da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Coordenadora do Programa Conexões de Saberes –
UFRGS.
207. Maria Aparecida da Silva (Cidinha) – Pesquisadora do Instituto Kuanza, de São Paulo
208. Maria Aparecida Moura – Professora de Ciências da Informação da Universidade Federal
de Minas Gerais
209. Maria Betânia Amoroso – Professora de Teoria Literária da Unicamp.
210. Maria Cláudia Cardoso Ferreira – Ex-aluna do PVNC, Historiadora, Professora da Rede
Pública do Rio de Janeiro.
211. Maria da Conceição Carneiro Oliveira – historiadora e autora de livros didáticos. Prêmio
Jabuti 2005.
212. Maria da Glória Veiga Moura – Professora do Departamento de Artes Cênicas da
Universidade de Brasília
213. Maria Elena Viana Souza – Professora da Universidade Federal do Estado do Rio de
Janeiro – UNIRIO
214. Maria Helena Mendes Sampaio – Presidente da Entidade Sócio-Cultural Artístico-
Religiosa Afro-Descendente Nagô-Iorubá Afoxé Oyá Alaxé, Ialorixá Ilê Oba Aganju – Recife.
215. Maria José Fontelas Rosado Nunes – Professora da PUC/São Paulo; pesquisadora do
CNPq; membro da coordenação de Católicas pelo Direito de Decidir

156
216. Maria José Telles Franco Marques – Professora de Educação da Universidade Estadual de
Mato Grosso do Sul (UEMS).
217. Maria Lúcia Carvalho da Silva – Professora Titular de Serviço Social da PUC-SP.
218. Maria Lúcia Felipe da Costa – Líder do Terreiro de Nação Nagô Senhora Santa Bárbara,
de Água Fria, Recife
219. Maria Lúcia Martinello Professora Doutora Associada do Serviço Social da PUC-SP.
220. Maria Lúcia Rodrigues Muller – Professora da Universidade Federal de Mato Grosso
(UFMT) e Coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Relações Raciais e Educação
(NEPRE) da UFMT
221. Maria Nazareth Soares Fonseca – Professora de Literaturas Africanas de Língua
Portuguesa da PUC/MG. Organizadores dos livros Brasil afro-brasileiro (Editora Autêntica) e
Poéticas afro-brasileiras (Editora PUC Minas/Mazza Edições).
222. Maria Nilza da Silva – Professora de História da Universidade Estadual de Londrina (UEL)
– Coordenadora do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da UEL
223. Maria Nilza da Silva – Professora. Adjunta de Sociologia do Departamento de Ciências
sociais da UEL.
224. Maria Odete de Vasconcelos – Professora do Departamento de Histologia e Embriologia
do CCB/UFPE.
225. Maria Odete de Vasconcelos – Professora do Departamento de Histologia e Embriologia
da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
226. Maria Palmira da Silva – Doutora em Psicologia Social; Diretora da ABPN; Professora da
Escola de Sociologia e Política de São Paulo.
227. Maria Regina Purri Arraes – Presidente da Comissão Permanente das Mulheres Advogadas
– OAB/RJ
228. Marilda Checcucci Gonçalves da Silva – Professora de Antropologia da Universidade
Regional de Blumenau.
229. Marilene Leal Pare – Pedagoga. Coordenação do Programa Nacional de Extensão
“Conexões de Saberes” na FACED/PROREXT/UFRGS.
230. Marilu Campelo – Professora de Antropologia da Universidade Federal do Pará
231. Marilza Maia de Souza – Membro da coordenação do Movimento Pré-Vestibular para
Negros e Carentes (PVNC). Bacharel em Letras/UERJ.
232. Mário Lisboa Theodoro – Professor de Políticas Sociais da Universidade de Brasília
233. Mariza de Paula Assis – Professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

157
234. Marlene Libardoni – Presidenta da ONG Ações em Gênero, Cidadania e Desenvolvimento
(AGENDE), de Brasília
235. Marta Amoroso – Professora do Departamento de Antropologia da Universidade de São
Paulo (USP)
236. Marta Cezaria de Oliveira – Coordenadora do Forum Goiano de Mulheres e do Grupo de
Mulheres Negras Dandara no Cerrado.
237. Martha Abreu – Professora de História da Universidade Federal Fluminense. Pesquisadora
1-d do CNPq.
238. Mauro Cezar Coelho – Professor Doutor da Universidade Federal do Pará (UFPA)
239. Mauro William Barbosa de Almeida – Professor do Departamento de Antropologia da
UNICAMP
240. Max Maranhão Piorsky Aires – Professor de Antropologia da Universidade Estadual do
Ceará
241. Moacir Carlos da Silva – Integrante coletivo de estudantes negros e negras da UERJ
(DENEGRIR)
242. Moacir Palmeira – Professor do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do
Museu Nacional – UFRJ
243. Moema de Poli – Pesquisadora do IBGE e Professora da Pós-Graduação do Programa de
Educação sobre o Negro na Sociedade Brasileira da Universidade Federal Fluminense
(PENESB/UFF)
244. Moisés Santana – Professor de Educação da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) –
Propositor do Sistema de Cotas da UFAL
245. Monica Lima – Professora do Colégio de Aplicação (CAP) da Universidade Federal do
Rio de Janeiro
246. Muniz Sodré – Professor Titular de Comunicação da Universidade Federal do Rio de
Janeiro
247. Nei Lopes – Bacharel em Direito e Ciências Sociais, Escritor e Compositor.
248. Nelson Inocêncio – Professor de Artes Visuais da UnB/Coordenador do NEAB da UnB
249. Nilma Lino Gomes – Professora de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG). Presidente da Associação Brasileira de Pesquisadores Negros (ABPN)
250. Nilo Rosa dos Santos – Professor da Universidade Estadual de Feira de Santanta.
251. Nivaldo pereira – Vice-Presidente do CDCN – Conselho Estadual de Desenvolvimento da
Comunidade Negra da Bahia. Conselheiro Associação Nacional de Advogados Afro-
Descendentes/Bahia.

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252. Oliveira Silveira – Poeta e Professor (RS)
253. Olívia Galvão – Professora da Universidade Estácio de Sá
254. Olívia Maria Gomes da Cunha – Professora de Antropologia da Universidade Federal do
Rio de Janeiro (UFRJ)
255. Ondina Pena Pereira – Professora de Filosofia da Universidade Católica de Brasília
256. Onir de Araujo – Advogado e coordenador do Movimento Negro Unificado (MNU) – RS
257. Otávio Velho – Professor Emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) –
Pesquisador 1-A do CNPq
258. Pablo Gentili – Professor de Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro
(UERJ) – Diretor do LPP – UERJ
259. Patrícia Sampaio – Professora da Universidade Federal do Amazonas
260. Paulino Cardoso – Coordenador do Núcleo de Estudos Afrobrasileiros (NEAB) da
Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC).
261. Paulino de Jesus Cardoso – Professor de História da UDESC.
262. Paulo Baía – Professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro
263. Paulo Cesar Duque-Estrada – Professor da PUC-RJ
264. Paulo Cesar Rodrigues Carrano – Professor do Programa de Pós-Graduação em Educação
da UFF.
265. Paulo Henrique Menezes – Liga Niteroiense De Capoeira / Niterói- RJ
266. Paulo Lins – Escritor
267. Paulo Santos – Engenheiro Cartógrafo do IBGE
268. Paulo Sérgio da Silva – Professor, historiador e membro do IACOREQ/RS
269. Paulo Staudt Moreira – Professor da Universidade do Vale dos Sinos/RS
270. Paulo Vinicius Baptista da Silva – Professor da Universidade Federal do Paraná e membro
do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros NEAB-UFPR.
271. Pedro Simonard – Professor da SUESC
272. Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva – Professora de Educação da Universidade Federal
de São Carlos (UFSCAR) e conselheira do Conselho Nacional de Educação
273. Petrônio Domingues – Professor da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste)
274. Rachel Soihet – Professora do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade
Federal Fluminense (UFF)
275. Raimundo Jorge – Professor de Ciência Política da UFPA – Propositor do Sistema de
Cotas da UFPA
276. Reginaldo Prandi Professor Titular de Sociologia da USP.

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277. Renato Athias – Professor do Programa de Pós Graduação em Antropologia da
Universidade Federal de Pernambuco e Coordenador do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre
Etnicidade (NEPE-UFPE).
278. Renato Emerson dos Santos – Professor de Geografia da Universidade do Estado do Rio
de Janeiro (UERJ)
279. Renato Ferreira – Advogado da EDUCAFRO – Pesquisador do PPCOR-UERJ
280. Renato Nogueira Jr – Doutor em Filosofia (UFRJ) e Professor da FAETEC.
281. Ricardo Chaves – Professor de Pediatria da Universidade do Estado do Rio de Janeiro
282. Ricardo de Oliveira – Professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
283. Ricardo Salles – Professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e da UNIRIO
284. Rilkim Tavares Rodrigues – Presidente da UCAB (União dos Cultos Afro do Brasil)
285. Rita Laura Segato – Professora de Antropologia da Universidade de Brasília –
Pesquisadora 1-A do CNPq – Propositora do Sistema de Cotas da UnB
286. Robert Slenes – Professor de História da Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP
287. Roberto Gonçalves da Silva – Professor de Urbanismo da Universidade Federal de Santa
Catarina
288. Roberto Martins – Ex-Diretor do IPEA, Professor Aposentado de História Econômica da
Universidade Federal de Minas Gerais
289. Rodrigo Guéron – Professor da Universidade Cândido Mendes, Cineasta e Doutor em
Filosofia pela UERJ.
290. Roquinaldo Ferreira – Professor da Universidade de Vírginia – EUA
291. Rosângela “Janja” Costa Araújo – Coordenadora do Programa de Educação do Geledés-
Instituto da Mulher Negra. Doutora em Educação/USP.
292. Rosilene Alvim – Professora do Programa de Pós-Graduação de Sociologia e Antropologia
do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ
293. Sales Augusto dos Santos – Doutorando de Sociologia da UnB. Pesquisador do NEAB da
UnB
294. Sebastião Arcanjo – Tiãozinho – Deputado Estadual PT/SP – Coordenador da Frente
Parlamentar em Defesa da Igualdade Racial na Assembléia Legislativa de SP.
295. Selma Pantoja – Professora da Pós-graduação em História da Universidade de Brasília
296. Sergio Baptista da Silva – Professor de Antropologia da UFRGS
297. Sergio Mauricio Pinto – Professor de Filosofia e Antropologia da Unime e da FEBA, em
Salvador, BA
298. Sérgio Rizek – Editor da Attar Editorial, São Paulo.

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299. Sidney Chalhoub, – Professor Titular de História do Brasil da UNICAMP
300. Silvia Hunold Lara – Professora de História na Universidade Estadual de Campinas
(UNICAMP)
301. Sílvio Humberto Cunha – Professor de Economia da Universidade Estadual de Feira de
Santana (UEFS)/Diretor do Instituto Steve Biko.
302. Simone Born de Oliveira – Advogada e Professora da UNISUL/UNIVALI (SC)
303. Sueli Carneiro – Doutora em Educação pela USP, Diretora do Geledés Instituto da mulher
Negra
304. Suely Gomes Costa – Professora do Mestrado em Política Social e do Programa de Pós-
Graduação em História da UFF.
305. Sydenham Lourenço Neto – Historiador e Cientista Político, Professor da UERJ.
306. Sylvia Caiuby Novaes – Professora de Antropologia da Universidade de São Paulo
307. Tânia Almeida – Professora da UERJ
308. Tânia Mara Campos de Almeida – Professora da Pós-Graduação em Psicologia da
Universidade Católica de Brasília.
309. Tânia Stolze Lima – Professora de Antropologia da Universidade Federal Fluminense
310. Tatiana Roque – Professora do Instituto de Matemática da UFRJ.
311. Teresinha Bernardo Professora Titular de Antropologia da PUC-SP.
312. Uelinton Farias Alves – Jornalista e escritor
313. Urivani de Carvalho – Diretora de Arte da Revista Eparrei.
314. Valter Roberto Silvério – Professor de Sociologia da Universidade Federal de São Carlos
(UFSCAR)/Membro da Comissão Oficial para Formulação de um Sistema de Cotas para a
UFSCAR
315. Vanda da Cruz Santos – Instituto Cultural Steve Biko – Bahia
316. Vanusa Maria de Melo – Produtora Cultural. Coordenadora do grupo de Cultura Popular
pé-de-chinelo.
317. Vera Lúcia Neri da Silva – Coordenadora do Instituto Baobab – Educação, Gênero e
culturas Negras.
318. Vera Rodrigues – Mestra em Antropologia. Integrante do GT de Ações Afirmativas da
UFRGS
319. Verena Alberti – Pesquisadora do CPDOC-FGV
320. Vilma Áreas – Professora Titular de Teoria Literária da Unicamp.
321. Vincent Carelli – Documentarista e Coordenador de Vídeo nas Aldeias.

161
322. Volnei Garrafa – Professor titular e coordenador da Cátedra UNESCO de Bioética da
Universidade de Brasília; editor da Revista Brasileira de Bioética.
323. Walace Nascimento – Representante do Fórum de Entidades Negras.
324. Walter Altino de Souza Junior – Movimento Negro Atitude Quilombola. Mestre em
sociologia pela UFBA.
325. Walter Fraga Filho – Professor da Universidade do Estado da Bahia (UNEB)
326. Wanessa Paula Conceição Quirino dos Santos – Presidente do Maracatu Nação Cambinda
Estrela (Recife-PE)
327. Williman Hestefany da Silva – Presidente do Conselho Estadual de Participação e
Integração da Comunidade Negra – CCN/MG.
328. Wilma de Nazaré B. Coelho – Professora da Universidade Federal do Pará e da
Universidade da Amazônia.
329. Wilson Roberto de Mattos – Pró-Reitor de Pesquisa e Ensino de Pós-Graduação da UNEB.
Conselheiro do Conselho Nacional de Educação.
330. Zélia Amador de Deus – Professora de Artes da UFPA – Propositora do Sistema de Cotas
da UFPA.

APOIO:
1. Abigail Alcantara Silva – Economista
2. Adelaide Maria Afonso Máximo Barbosa – Professora
3. Adriana Medeiros – Fotógrafa
4. Adriani Faria – Coordenadora do ECAU (Estudantes e Comunidade Afro da UNISINOS)
5. Alessandra Tosta – Mestra em Antropologia Social pelo Museu Nacional/UFRJ.
6. Alexandra Barbosa da Silva – Doutoranda em Antropologia Social do Museu Nacional-
UFRJ.
7. Alva Helena de Almeida – Enfermeira
8. Amilcar Araujo Pereira – Doutorando em História da Universidade Federal Fluminense
(UFF)
9. Ana Carneiro Cerqueira – Doutoranda em Antropologia Social do Museu Nacional/UFRJ
10. Ana Carneiro Cerqueira – doutoranda em antropologia social no Museu Nacional/UFRJ
11. Ana Cristina de Mello Pimentel Lourenço – Socióloga, Professora e Mestranda em Direito
e Sociologia na UFF
12. Ana Maria Bonjour – Historiadora e Produtora Cultural.
13. André Barros – Advogado

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14. Anita Fiszon – Artista Visual
15. ARTEIROS (grupo de teatro de rua, Recife – PE)
16. Athayde Motta – Doutorando em Antropologia pela Universidade do Texas em Austin.
17. Barbara da Silva Rosa – Psicóloga
18. Beatriz Alves dos Santos – cidadã
19. Bianca Brandão – Antropóloga e Documentarista
20. Bruno Ribeiro Marques – Mestrando em Antropologia Social do Museu Nacional/UFRJ
21. Carla Susana Alem Abrantes – Mestranda de Antropologia Social / UFRJ
22. Carlos Henrique Romão de Siqueira – Doutorando pelo Centro de Pesquisa para Améria
Latina e o Caribe – da Universidade de Brasília.
23. Cassi Ladi Reis Coutinho – Graduanda de História da Universidade Católica do Salvador
24. Cecília Campello do Amaral Mello – Doutoranda em Antropologia Social do Museu
Nacional-UFRJ
25. CEDENPA – Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará
26. CENEG – Coletivo Estadual de Estudantes Negros – RJ
27. CENUNBA – Coletivo do s Estudantes Negros das Universidades da Bahia – BA
28. Claudia Mura – Mestranda de Antropologia Social / UFRJ
29. Claudio Thomas – Engenheiro da Computação
30. Denise de Oliveira Carneiro – Assistente Social – SP
31. Dinéia dos Santos Barbosa – Secretária
32. Dulce Mungoi – Doutoranda em Antropologia Social na Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (UFRGS)
33. Ecio Pereira de Salles – Doutorando em Comunicação e Cultura – ECO/UFRJ.
34. Efigênia Maria Nolasco Duarte – Auditora Fiscal da Receita Federal
35. Eliane Costa Santos – Pesquisadora em Educação Matemática. Técnica de Formação de
Educadores do CEAFRO. Ebomi do Terreiro do Cobre.
36. Elizabeth do Espírito Santo Viana – Mestranda em História Comparada IFCS/UFRJ
37. Ernesto Ignacio de Carvalho – Mestrando em Antropologia pela Universidade Federal de
Pernambuco
38. Fábia Barbosa Ribeiro – Doutoranda em História Social pela USP.
39. Fabio Mura – Doutorando em Antropologia Social do Museu Nacional/UFRJ.
40. Fátima Machado Chaves – Doutora em saúde pública. Professora de História da rede pública
e Professora Universitária.
41. Flávia Ferreira Pires – Doutoranda em Antropologia Social Museu Nacional/UFRJ

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42. Flávio Eduardo N. Teixeira – Engenheiro Eletricista.
43. Frederico Lisbôa Romão – Cientista Social
44. Gerson Carlos Rezende – Mestre em Educação.
45. Giovana Xavier da Conceição Côrtes – Doutoranda em História na UNICAMP.
46. GRUPO DE TRABALHO DE AÇÕES AFIRMATIVAS UM PROJETO DE EXTENSÃO
DA UFRGS
47. Gustavo Amora – Assessor em Advocacy da Agere Cooperação em Advocacy e mestrando
do Instituto de Ciências Políticas da UnB.
48. IFHA-RHADHÁ DE ARTE NEGRA (grupo de teatro de rua, Olinda – PE)
49. Isabel Aparecida dos Santos – Coordenadora de programas de educação em Direitos
Humanos do IBEAC.
50. Ísis Aparecida Conceição – Mestranda Faculdade de Direito da USP
51. Ivaldo Marciano de França Lima – Mestre do Maracatu Nação Cambinda Estrela (Recife-
PE), Mestre em História(UFPE) e Doutorando em História (UFF).
52. Ivo de Santana – Doutorando em Ciências Sociais da Universidade Federal da Bahia
(UFBA).
53. Ivo Rodrigues – Secretário-Geral do Maracatu Nação Cambinda Estrela (Recife-PE),
Licenciado em História (FUNESO)
54. Jacira Vieira de Melo – filósofa, jornalista e diretora do Instituto Patrícia Galvão
55. Jaime Amparo Alves – Mestrando em Antropologia Social da University of Texas at Austin
(USA)
56. Jesiel Ferreira de Oliveira Filho – Professor de literatura e doutorando em Letras pela
Universidade Federal da Bahia.
57. Joel Carlos Rodrigues Otaviano – Graduando da Escola Nacional de Ciências Estatísticas.
58. Joel Ronaldo Sudário – Bacharel em Serviço Social e Membro do Movimento Negro
Capixaba
59. Jonathan L. Hannay – Secretário Geral da Associação de Apoio à Criança em Risco – ACER
60. Jose Antônio de Souza Gomes”

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