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REVISTA
MARÍTIMA
BRASILEIRA
(Editada desde 1851)
v. 137 n. 01/03
jan./mar. 2017
R. Marít. Bras. Rio de Janeiro v. 137 n. 01/03 p. 1-320 jan. / mar. 2017
A Revista Marítima Brasileira, a partir do 2o trimestre
de 2009, passou a adotar o Acordo Ortográfico de 1990,
com base no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa,
editado pela Academia Brasileira de Letras – Decretos nos
6.583, 6.584 e 6.585, de 29 de setembro de 2008.
SECRETARIA-GERAL DA MARINHA
Almirante de Esquadra Liseo Zampronio
Assessoria Técnica
Capitão de Mar e Guerra (RM1-T) Nelson Luiz Avidos Silva
Terceiro-Sargento-PD Isabelle de Medeiros Vidal
Diagramação
Desenhista Industrial Felipe dos Santos Motta
Designer Gráfica Amanda Christina do Carmo Pacheco
Artífice de Artes Gráficas Celso França Antunes
Assinatura/Distribuição
Suboficial-RM1-CN Maurício Oliveira de Rezende
Marinheiro-RM2 Pedro Paulo Moreira Cerqueira
Impressão / Tiragem
CMI – Serviços Editoriais Eireli ME / 8.000
REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA
Rua Dom Manuel no 15 — Praça XV de Novembro — Centro — 20010-090 — Rio de Janeiro — RJ
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em nome do Departamento Cultural do Abrigo do Marinheiro, CNPJ – 72.063.654/0011-47.
SUMÁRIO
8 NOSSA CAPA
DESCOMISSIONAMENTO DO NAVIO-AERÓDROMO SÃO PAULO
Eduardo Bacellar Leal Ferreira– Almirante de Esquadra
Correspondência do Comandante da Marinha ao Ministro da Defesa
11 ARAEX – UNO
José Alberto Accioly Fragelli – Almirante de Esquadra (Refo)
O NAeL Minas Gerais apoiando a Marinha argentina na qualificação de pilotos.
Em 1992, o 25 de Mayo suspende reparos e nunca mais se fez ao mar. Atuação do Minas
219 NECROLÓGIO
longo período para sua conclusão, aproxi- Vida útil média das aeronaves A-4
madamente dez anos, além de incertezas Skyhawk: a modernização em curso das
técnicas e elevados custos. São as seguintes aeronaves A-4 estenderá sua vida útil,
considerações mais relevantes: em média, até 2030. Ou seja, quando a
Estrutura do navio: a inspeção na parte modernização do navio estiver próxima de
estrutural do navio apresentou, de uma ser concluída, suas atuais aeronaves serão
forma geral, muito bom estado, havendo a desativadas, gerando a necessidade de
necessidade de reparos pontuais, principal- obtenção de novas unidades compatíveis
mente nas seções das praças de máquinas. com o convés de voo do NAe São Paulo,
Sistemas de Aviação (catapultas, apa- inexistentes hoje no mercado.
relho de parada e elevadores): além da Capacidade industrial, riscos e inedi-
obsolescência, descontinuidade e falta de tismo da obra: o recente enfraquecimento
sobressalentes, o reparo dos sistemas de da indústria naval brasileira, com reflexos
aviação exige um conhecimento muito observados na capacitação de pessoal e
específico e mão de obra especializada, qualidade dos serviços, a complexa matriz
disponível apenas no exterior, especifica- de riscos e o ineditismo deste tipo de obra
mente nos EUA, único país que detém o no Brasil geram lacunas muito grandes de
domínio total da tecnologia de catapulta. planejamento, dificultando sobremaneira o
A alternativa de sua substituição esbarra seu correto dimensionamento e, consequen-
na ausência de uma solução técnica, pois as temente, a estimativa de custos.
catapultas disponíveis no mercado exigem Assim, o Almirantado concluiu que o
um convés de voo maior que o do NAe Programa de Modernização do NAe São
São Paulo, e aquelas instaladas a bordo, Paulo é inviável, decidindo pela desmobi-
que utilizam vapor superaquecido, não são lização do meio, a ser conduzida ao longo
mais fabricadas. dos próximos três anos, e propõe a V.Exa.
Sistema de Propulsão: em razão de um programa de obtenção de um novo con-
grande número de avarias, idade avan- junto navio-aeródromo x aeronaves, que
çada dos equipamentos e complexidade ocupará a terceira prioridade de aquisições
das normas internacionais de segurança da Marinha, logo após o Prosub/Programa
a serem atendidas, a possibilidade de Nuclear e o Programa de Construção das
reparo do atual sistema de propulsão a Corvetas Classe Tamandaré. O custo de
vapor foi considerada de alto risco e com aquisição do novo binômio será substan-
disponibilidade futura contestável. Sua cialmente menor que o de modernização
substituição por uma planta elétrica in- do NAe São Paulo e obtenção de aeronaves
tegrada é tecnicamente exequível, porém compatíveis com o navio, as quais, reitero,
requer um investimento muito elevado e não existem no mercado, necessitando ser
traz consigo algumas incertezas. O Brasil desenvolvidas.
ainda não domina a tecnologia envolvida. A capacidade de conduzir operações
A possibilidade de substituição da atual de guerra naval com emprego de aviação
planta de vapor superaquecido por outra de asa fixa, obtida às custas de grandes
com as mesmas características foi consi- investimentos e intensos treinamentos dos
derada inviável técnica e economicamen- nossos pilotos no País e no exterior, será
te, uma vez que este tipo de instalação mantida, até o recebimento do novo navio,
não é mais utilizado pelas Marinhas em a partir da Base Aérea e Naval e de outras
sistemas de propulsão. instalações de terra, bem como por meio
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DESMOBILIZAÇÃO DO NAVIO-AERÓDROMO SÃO PAULO
* NR - A respeito do assunto, o Comandante da Marinha publicou nota de no 143 no Boletim de Ordens e Notícias,
a 15 de fevereiro de 2017.
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ARAEX – UNO
* Foi chefe do Estado-Maior da Armada, comandante de Operações Navais, diretor-geral do Pessoal da Marinha,
diretor de Hidrografia e Navegação e diretor de Ensino da Marinha. Comandou o 5o Distrito Naval, a Escola
Naval, o Centro de Adestramento Almirante Marques Leão, a Fragata Liberal, o Contratorpedeiro Alagoas
e o Corpo de Aspirantes e, na reserva, foi diretor-presidente da Coordenadoria-Geral do Programa de De-
senvolvimento do Submarino com Propulsão Nuclear.
ARAEX – UNO
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ARAEX – UNO
a concorrência inicial
para dar assistência
técnica à AFNE San-
tiago para trocar as
turbinas Parsons pela
GE/Fiat LM 2500 gás
turbina.
Em 1992, quando
os velhos sistemas de
propulsão já tinham
sido retirados de bor-
do e era previsto o
início das obras, por
motivos superiores os
trabalhos foram sus-
pensos ou cancelados
e o 25 de Mayo nunca
mais se fez ao mar. Super Étendard da Marinha Argentina
Nesta situação, a
Argentina precisava manter os seus pilotos com uma série de fortes edificados para
qualificados nos 12 Super Étendard adqui- protegê-la.
ridos da França e, por esta razão, solicitou A bordo do Minas, estavam embarcados
apoio ao Brasil. dois esquadrões de helicópteros navais e o
Sendo eu o chefe do Estado-Maior da Grupo de Aviação Embarcado (GAE) da
Esquadra, fui escolhido para comandar Força Aérea Brasileira (FAB), com quatro
um Grupo-Tarefa brasileiro, composto aviões Grumman S2-E / Tracker.
pelo nosso Minas Gerais e pelo Contra- Agradou-me positivamente o perfeito
torpedeiro Mariz e Barros, incorporando entrosamento entre a nossa gente marinhei-
uma corveta argentina da classe Meko 140 ra e os militares da FAB, numa confraterni-
quando chegássemos a Puerto Belgrano. zação extraordinária, tanto no campo pro-
Suspendemos do Rio de Janeiro no dia fissional como na área de convívio, como
17 de novembro de 1993, atracando três se fosse uma única força, muito diferente
dias depois em Rio Grande para abasteci- de 1964, quando presenciei problemas entre
mento. O meu staff era muito bom, a co- as nossas duas forças.
meçar pelo comandante do Minas Gerais, Chegando a Puerto Belgrano, apresen-
Capitão de Mar e Guerra Wilson Jorge tei-me ao comandante de la Flota (Co-
Montalvão e tendo como meu braço direito mench), Contra-Almirante Fusari, que me
o excepcional Capitão de Mar e Guerra recebeu com grande cordialidade.
João Afonso Prado Maia de Faria, como O Minas estava em estado quase perfei-
meu chefe do Estado-Maior. to, tendo apenas o problema da catapulta,
Saindo de Rio Grande, chegamos três e não tínhamos certeza de poder lançar os
dias depois a Puerto Belgrano, base da Super Étendard. Pessoalmente, o nosso co-
Esquadra argentina. Eu nunca lá tinha es- mandante de Operações Navais, Almirante
tado e me surpreendi pela grandeza dessa Cézar de Andrade, determinou-me que não
base, construída no início do século XX, corresse risco operando com a mesma.
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Assim, combinei com o Almirante Fusa- ses entraram no Estreito de São Carlos,
ri que a qualificação dos pilotos se limitaria visando iniciar o desembarque, o General
ao toque e à arremetida. Menendez, comandante das ilhas, pediu
Já havia algum tempo que os pilotos apoio aéreo, que só chegou horas depois,
argentinos não operavam em um navio- devido à cadeia burocrática de comando,
-aeródromo. Determinei, assim, que o atrasando a solicitação para que os aviões
comandante do GAE, Tenente-Coronel decolassem de suas bases, o que provocou
(AV) Reale, fosse à Base Aeronaval Capi- a chegada deles à área já tendo ocorrido o
tan Espora para presenciar o treinamento desembarque inglês, e assim a prioridade
dos pilotos argentinos. Lá foi feita na pista dos alvos passara a ser os escoltas e não
uma pintura reproduzindo o convés de voo os navios com tropa.
do nosso navio. O Almirante Fusari explicou-me que
No terceiro dia, o Tenente-Coronel a Argentina não possuía Distritos Navais
Reale me deu o pronto, participando que e sim Comandantes de Áreas Marítimas
os pilotos estavam aptos a operar de bordo. e aconselhou-me a não deixar ser criada
Fui então à mencionada base aeronaval, a Guarda Costeira, pois a mesma, que
onde fui apresentado ao Capitan de Navio lá é chamada de Prefeitura Naval, tinha
(CMG) Colombo, comandante da Aviação sugado em muito os recursos e a projeção
Naval argentina. Ele me levou a um salão da Marinha.
para mostrar-me um grande mural na No dia 27 de novembro, suspendemos
parede, reproduzindo as façanhas extraor- para a realização das operações com os
dinárias dos aviadores navais argentinos aviões Super Étendard. Antes de sair do
na Guerra das Malvinas (Falklands), que Rio, meu saudoso amigo e chefe Almirante
partiam das bases de Rio Grande e Rio Oliveira, em sua sensibilidade e vocação
Galego, no extremo sul da Argentina, jurídica, conversou comigo sobre, caso
para alcançarem os navios ingleses, tendo houvesse um acidente, a quem caberia
de fazer dois reabastecimentos em voo, a apuração do inquérito – à Armada da
um na ida e outro na volta. Ao todo eram Argentina ou a Marinha do Brasil. O pri-
sete horas de voo, sentados em cabines meiro avião que tocou no convés do Minas
desconfortáveis de um caça e sob ameaça correu por todo ele e, ao decolar, ficou
de não encontrarem o avião reabastece- oculto pelo casco do navio, dando a im-
dor e caírem no mar, em águas geladas pressão que tinha caído ao mar, vindo-me
que garantiriam apenas sete minutos de logo a mente a preocupação do Almirante
sobrevivência. Oliveira. Pouco depois, o avião apareceu
Convidei o Almirante Fusari para as- e com ele desapareceu o nosso susto. Foi
sistir à operação de seus pilotos a bordo o único contratempo que tivemos em inú-
do Minas. Ele perguntou-me se poderia meros toques e arremetidas.
levar mais dois almirantes, o comandante No fim do dia, o Comandante Colombo
dos Fuzileiros Navais e o comandante da deu por satisfeita a qualificação de todos
Área do Atlântico. Claro que concordei. os pilotos e sugeriu que se encerrasse a
Ele me explicou que antes das Malvinas operação, regressando à base.
a Marinha argentina tinha cerca de 30 No dia seguinte, suspendemos de
almirantes, mas agora estava reduzida a Puerto Belgrano, onde fomos muito feli-
11, pela experiência vivida naquela guerra. zes e iniciamos o retorno, passando por
Explicou-me que, quando os navios ingle- Montevidéu.
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ARAEX – UNO
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A SEGUNDA MAIS ANTIGA DO MUNDO
ELCIO DE SÁ FREITAS*
Vice-Almirante (Refo-EN)
SUMÁRIO
Apresentação
Introdução
Marinha, Engenharia e Capacitações
Militarização e Navios de Guerra
Expectativas e Realidades
Pendores
Educação Contínua
Especialistas
Organização e Hábitos de Trabalho
Documentação Técnica
Responsabilidades
Liderança
Oficiais Engenheiros e o Pensamento Naval
Confiança
* Serviu na Diretoria de Engenharia Naval de dezembro de 1981 a agosto de 1990, tendo sido seu diretor de abril
de 1985 a agosto de 1990. Colaborador frequente da RMB. Autor do livro A Busca de Grandeza.
MENSAGEM AO CORPO DE ENGENHEIROS DA MARINHA
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MENSAGEM AO CORPO DE ENGENHEIROS DA MARINHA
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MENSAGEM AO CORPO DE ENGENHEIROS DA MARINHA
tarefas práticas, desde as mais simples curso para oficiais engenheiros, procurem
às mais complexas. Além disso, deverão obter o máximo conhecimento possível
ampliar, aprofundar e manter atualizada sobre os vários sistemas de engenharia
sua formação, não só mediante cursos de navios de guerra. E não deixem de
programados pela Marinha, mas princi- aprofundar esse conhecimento em todas
palmente por iniciativa própria, estudan- as oportunidades de estudo e prática.
do em livros, revistas técnicas e cursos a
distância. Para tanto, terão que renunciar EXPECTATIVAS E REALIDADES
a muitas horas de lazer. A compensação
será tornarem-se competentes e valori- Quais são suas expectativas neste mo-
zados, tanto na Marinha como no meio mento? Certamente esperam ter uma carreira
civil, de onde todos viemos. estável, progresso profissional, meios de
vida aceitáveis e contribuir para obtermos o
MILITARIZAÇÃO E NAVIOS DE poder naval indispensável a um País como o
GUERRA nosso. Acima de tudo,
esperam ser felizes.
Em apenas um ano Porém, ao longo da
vocês militarizaram-
O mundo evolui carreira, expectativas
-se. Não tiveram a velozmente, principalmente se defrontarão com re-
longa formação naval nos setores tecnológicos. alidades. Os primeiros
de gerações que os anos costumam ser os
precederam. Poderia Nestes, a obsolescência mais difíceis, como
haver dúvidas sobre profissional só pode ser em todas as carreiras.
militarização assim Mas os primeiros anos
tão rápida. Quanto
evitada por educação também serão os da
a isso, lembro as pa- contínua juventude que vocês
lavras atribuídas a têm e terão por mais
Benjamin Constant, de uma década. Ela é
eminente prócer da República: “Os mi- extraordinariamente resistente e resiliente.
litares são o povo de uniforme”. E real- Resiste a grandes esforços e choques. Rapi-
mente são. Ouso explicitar as palavras de damente se recupera de tensões e embates.
Benjamin Constant: os militares são civis Regida por pensamentos positivos, sempre
que acrescentaram virtudes militares às sai vitoriosa. Portanto, empreguem bem seus
virtudes civis. Constatei essa verdade em anos de juventude. Tenham sempre pensa-
meu serviço na ativa, chefiando oficiais mentos positivos e construtivos.
engenheiros oriundos deste centro de
formação: eles eram ótimos militares, PENDORES
portadores de virtudes civis. Só lhes fal-
tava a vivência em navios de guerra, que Num conjunto amplo como o de vocês
vieram a obter em atividades de engenha- existem vários pendores profissionais. To-
ria a bordo. Logo perceberam que o alvo dos serão valiosos para a Marinha, desde
de sua dedicação profissional tinha que que bem cultivados. Alguns sentem ou
ser o navio e toda a sua infraestrutura de sentirão forte atração por projetos de enge-
projeto, construção, apoio, manutenção e nharia; outros, por construção, apoio e ma-
modernização. Portanto, neste primeiro nutenção; outros, ainda, por gerenciamento
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MENSAGEM AO CORPO DE ENGENHEIROS DA MARINHA
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MENSAGEM AO CORPO DE ENGENHEIROS DA MARINHA
pelo menos 15 anos ininterruptos. Mu- são óbvios, mas verifiquei que ainda assim
danças de funções e comando ou chefia, são esquecidos. Eles serão úteis em toda a
requisitos indispensáveis da carreira carreira de vocês.
militar, praticamente impedem a obten- 1º – O propósito de quem organiza deve
ção de engenheiros especialistas. Eles ser multiplicar sua ação pessoal. Evitem
têm que pertencer aos quadros civis da burocracias e centralização excessiva.
Marinha, mas a questão transcende as 2º – Datem todos os documentos de
decisões navais. trabalho e neles registrem referências úteis.
Enquanto a Marinha não puder for- Exijam o mesmo de seus subordinados.
mar e manter engenheiros especialistas 3º – Obtenham informações suficientes
em seus quadros civis, o Corpo de En- antes de iniciar qualquer trabalho não
genheiros da Marinha (CEM) terá que rotineiro: antecedentes técnicos e opera-
suprir essa importante lacuna, tanto cionais, situação atual, fatores técnicos
quanto possível. Vocês tomarão parte no envolvidos, condições de segurança
esforço, que exigirá ainda mais de suas necessárias, normas e instruções técnicas
capacitações. pertinentes etc. Sempre que possível,
examinem o sistema ou equipamento a
ORGANIZAÇÃO E HÁBITOS DE ser instalado ou reparado e obtenham
TRABALHO informações dos operadores.
4º – Elaborem, mantenham e preser-
Provavelmente a primeira comissão de vem registros técnicos de trabalhos im-
vocês na Marinha será também o primeiro portantes. Eles serão úteis para trabalhos
ou o segundo trabalho como engenheiros. futuros. Mantenham e preservem instru-
Tendo obtido êxito num curso de gradu- ções e registros técnicos que receberem
ação e no concurso ao CEM, cada um de seus antecessores.
de vocês já possui seu modo aprovado 5º – Planejem, tanto quanto possível,
de organizar-se e trabalhar. Porém, do- dias, semanas e meses. Ao final de cada
ravante o trabalho não será acadêmico, dia, replanejem o dia seguinte.
exceto quando realizarem cursos de pós- 6º – Planejem e controlem a execução
-graduação. Mesmo para aqueles que de tarefas. Em muitos casos o controle
forem designados para setores de projeto, presencial é indispensável. Não as dei-
mais próximos de tarefas acadêmicas, xem incompletas.
será conveniente reajustar os modos de 7º – Observem bem os subordinados.
organizar-se e os hábitos de trabalho. Avaliem seus desempenhos. Aprendam
Para os que forem enviados para a “linha com os melhores dentre eles.
de frente” (estaleiro, estação naval, base 8º – Avaliem resultados e deles tirem
naval) a conveniência do reajuste será lições.
ainda maior. Ele é necessário porque 9º – Elogiem seus subordinados sem-
agora não trabalharão apenas para vocês pre que merecerem.
mesmos, mas para uma organização com 10º – Se necessário, requeiram assistên-
determinadas condições. cia técnica, principalmente diante de requi-
Cada um saberá fazer seu reajuste. sitos de segurança. A assistência técnica
Mas eis alguns princípios, que obtive em necessária poderá ser a de base, estaleiro,
leituras e experiência pessoal e também na Diretoria Especializada ou a do fabricante.
observação de novos engenheiros. Alguns 11º – Nunca aceitem argumentos que
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MENSAGEM AO CORPO DE ENGENHEIROS DA MARINHA
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MENSAGEM AO CORPO DE ENGENHEIROS DA MARINHA
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MENSAGEM AO CORPO DE ENGENHEIROS DA MARINHA
Em sua recente formação, vocês conhe- pelidas por seus pensamentos navais.
ceram este tema de grande importância no Pensamento naval é uma força mental
meio civil e militar. Para nós, militares, só é resultante. Tem várias e distintas forças
liderança a que une as virtudes da liderança componentes. Requer estudos, análises
civil às virtudes militares. e reflexões sobre uma Marinha e sua
Liderança é técnica e arte. Em parte é missão no presente e no futuro.
inata, e em parte é adquirida. Cada um de Pensamentos navais devem abran-
vocês possui liderança inata, em maior ger todos os aspectos relevantes para
ou menor grau. Doravante, todos deverão o poder naval, desde os de geração de
ampliar suas lideranças inatas, median- meios até os de consecução de fins;
te leituras, reflexões e, principalmente, desde exames de oportunidades até os
mediante a observação de suas próprias de identificação e superação de dificul-
atitudes e resultados. Daí poderão fazer dades; desde a geopolítica do momento
correções úteis em até a geopolítica previsível em futuro
procedimentos, mas próximo.
que não afetem suas Em todas as Ma-
personalidades. Marinhas evoluem rinhas, oficiais nos
A parte inata da impelidas por pensamentos p o s t o s m a i s e l e -
liderança é muito vados, com lastro
importante. Ela de-
navais. Pensamento de conhecimento e
termina os setores naval é uma força mental experiência, contri-
buem para a evolu-
e os limites em que resultante. Tem várias ção do pensamento
pode ser ampliada.
Assim, é improvável forças componentes. naval. E nos países
que um líder natural Num mundo cada vez mais de vanguarda, po-
para grandes empre- derosas bases téc-
endimentos de campo
tecnológico, a componente nico-científico-in-
se torne líder numa científica-tecnológica- dustriais de defesa
organização de pes- industrial é fundamental também influem in-
tensamente no pen-
quisa e desenvolvi-
mento. No entanto, samento naval.
militares têm o dever Pensamentos na-
de dar o melhor de si em todos os setores vais são tão mais importantes quanto
de atividade, ainda que só em alguns mais pertinentes forem suas forças
possam ser líderes naturais. componentes. Num mundo cada vez
Cultivem seus dons de liderança. Assim mais tecnológico, a componente
se tornarão mais capazes. científica-tecnológica-industrial é
fundamental. Ela ainda é incipien-
OFICIAIS ENGENHEIROS E O te no pensamento naval brasileiro.
PENSAMENTO NAVAL Desenvolvê-la é parte essencial da
missão do CEM. Incluirá vocês. Neste
“The empire of the future is the em- primeiro curso, e nos cursos e práticas
pire of the minds” dos próximos 15 anos, vocês estarão
Winston Churchill criando a base para suas contribuições
Marinhas de guerra evoluem im- pessoais.
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MENSAGEM AO CORPO DE ENGENHEIROS DA MARINHA
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INÍCIO DO EMPREGO MILITAR DOS MEIOS AÉREOS*
SUMÁRIO
Introdução
Aviões
O Interesse Militar
O Período entre Guerras
O Helicóptero
Considerações Finais
* Palestra proferida pelo autor no Seminário do Centenário da Aviação Naval, no Instituto Histórico e Geográfico Brasi-
leiro, em 17 de novembro de 2016.
** Engenheiro Naval pela Universidade de São Paulo e Mestre em Arquitetura Naval pela Universidade de Londres.
Membro dos Institutos Histórico e Geográfico Brasileiro, Geografia e História Militar do Brasil e História
Militar Terrestre, membro da Academia de Marinha de Portugal e do Conselho Internacional de Museus.
Foi diretor de Engenharia Naval e do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha. Presidente da
Sociedade Brasileira de Engenharia Naval e vice-Presidente do Comitê Internacional de Museus de História
Militar e Coleções de Armas.
Autor de capítulos nos livros: Atlântico – A História de um oceano; Guerra no Mar, Batalhas e Campanhas Navais
que mudaram a História; e Charles Darwin. Coordenador e colaborador do livro A Importância do Mar
na História do Brasil; coordenador e um dos autores do livro Introdução à História Marítima Brasileira.
É autor de artigos sobre História Naval e Arquitetura Naval. Colaborador assíduo da RMB.
INÍCIO DO EMPREGO MILITAR DOS MEIOS AÉREOS
com bom êxito em guerras no passado, resolveu também iniciar suas aquisições
servindo como postos de observação, como de zepelins.3
na Guerra Civil americana e na Guerra da Em seu artigo já citado, “Ce que je ferai,
Tríplice Aliança contra o Paraguai, por ce que l’on fera”, do início de 1905, Santos
exemplo. A dirigibilidade lhes deu um novo Dumont prevê também como possível e
potencial. Alberto Santos Dumont publi- provável, além dos dirigíveis, a existência
cou, no número de 15 de fevereiro de 1905 futura de aviões com motores potentes. Ele
do periódico francês Je Sais Tout, um artigo já estava voltando sua atenção e criativida-
intitulado “Ce que je ferai, ce que l’on fera” de para eles.
(“O que farei, o que se fará”)1, em que ele
comenta seus projetos e suas esperanças. AVIÕES
Entre eles, prevê que existirão “cruzadores
aéreos”, balões dirigíveis militares com 200 No ano seguinte, 1906, Santos Dumont
metros de comprimento e 28 de diâmetro, decolou, na França, com o 14 Bis, um ae-
que “realizarão ações sensacionais durante roplano de configuração canard, ou seja,
uma guerra”. Seus sonhos refletiam uma com as asas atrás, que saiu do solo por
genialidade notável2. meio de seu próprio motor e hélice e voou
Nessa mesma época, um oficial aposen- a pequena distância do chão, na presença
tado do Exército alemão, o Conde Ferdi- de muitas testemunhas. Chamava-se 14 Bis
nand von Zeppelin, passou a se dedicar a porque ele pretendia testar seus controles
dirigíveis. Construiu o primeiro em 1900, inovativos em voos em que estaria pendu-
pensando em grandes aeronaves, cheias rado no seu balão 14. Utilizou nesse avião
com hidrogênio, para transportar passagei- um motor novo, potente e leve, que estava
ros e carga, mas seu passado o fez perceber disponível na França, o Antoinette4, desen-
o potencial militar dessas aeronaves, que volvido pelo engenheiro Léon Levavasseur
logo passaram a ser chamadas de zepelins. para motorizar barcos de corrida.
O Exército alemão fez suas encomendas e, Depois Levavasseur se associou a Louis
antes do início da Primeira Guerra Mundial, Blériot, criando, em 1906, a empresa An-
já possuía sete em serviço, principalmente toinette, primeira a se dedicar à fabricação
destinadas a missões de reconhecimento. de motores para a aviação. Seus motores
A Marinha Imperial da Alemanha, por foram empregados em quase todos os novos
sua vez, não estava confiante na eficácia aviões fabricados na Europa.
desse meio e mantinha os recursos financei- Longe dali, nos Estados Unidos da
ros a ela disponíveis, principalmente con- América (EUA), os dois irmãos Wright,
centrados na obtenção de grandes navios Wilbur e Olliver, também desenvolviam
de guerra que pudessem disputar o domínio aeroplanos e já haviam voado com pla-
do mar. Considerando, porém, a falta de nadores. Em seguida, no final de 1903,
cruzadores ligeiros, tradicionalmente uti- experimentaram um avião motorizado,
lizados para missões de reconhecimento, que decolou de uma rampa com trilho na
1 DUMONT, Alberto Santos. “O que farei, o que se fará”, in Revista Marítima Brasileira, v.134 n.07/09, jun./
set. 2014.
2 Além de sua notável contribuição pioneira para o desenvolvimento da aviação, Santos Dumont inspirou Cartier
para fabricar para ele um relógio de pulso, que é o primeiro dos usados a partir de então.
3 MASSIE, Robert K. Castles of Steel, p. 361, 362.
4 Em homenagem a Antoinette Gastambide.
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INÍCIO DO EMPREGO MILITAR DOS MEIOS AÉREOS
Praia de Kitty Hawk, com o auxílio de um vencedor, juntou-se aos pioneiros aéreos
vento de 30 a 40 nós, e fez um pequeno prediletos da imprensa internacional: San-
voo5. Mais tarde, repetiram o feito com tos Dumont, Voisin, Farman e, depois de
novos modelos de aviões, sempre com sua apresentação na França, também em
auxílio de rampa e trilho para decolar, 1908, os irmãos Wright.
o que, no entanto, não desmerece seus Blériot, que se associara a Levavaseur
feitos, que somente foram reconhecidos na Fábrica Antoinette, em 1909, atravessou
na França em 1908. o Canal da Mancha com um avião monopla-
Santos Dumont, por sua vez, tinha no, voando cerca de 35 km entre Calais e
apresentado um novo avião monoplano, Dover, a 80 metros de altura, com uma ve-
que voou em 1906, o Demoiselle, assim locidade de 60 km/h9. Foi um feito notável,
batizado por se assemelhar a uma libélula6. que chamou muito a atenção do público na
Provavelmente, essa foi sua contribuição época e fez com que este pioneiro recebesse
mais significativa para o desenvolvimento encomendas de particulares para reproduzir
do avião. Em minha opinião, foi também seu protótipo exitoso. Iniciava-se assim
seu projeto mais importante. uma indústria aeronáutica, a Blériot Aero-
Sem dúvida, ele e os irmãos Wright nautique, que produziu mais de 800 aviões
foram importantes pioneiros da aviação, entre 1909 e 191410.
mas logo outros se juntaram a eles, como Desde 1909, oficinas artesanais que
os irmãos Gabriel Voisin, Henry Farman e fabricavam aviões começaram a receber
Ferdinand Ferber. encomendas comerciais e a se converter em
Na América, enquanto os irmãos Wri- indústrias. Em poucos anos, a aviação se
ght garantiam suas patentes, que depois difundiu por meio de associações e clubes
causaram dificuldades e atrasos para os esportivos, e voar deixou de ser uma ativi-
outros pioneiros americanos, um grupo de dade exclusiva de pioneiros, disseminando-
empreendedores, aviadores e engenheiros -se pelo mundo.
liderados por Alexander Graham Bell 7 O sucesso no desenvolvimento dos
fundou uma associação para empreendi- aviões11 deve-se a um patamar tecnológico
mentos aéreos. Fazia parte desse grupo existente nessa época. Sem esse patamar
Glenn Hammond Curtiss, que, mais tar- de tecnologia disponível e conhecimento
de, ficou famoso por seus motores para acumulado e compartilhado, não haveria
aviação e projetos de aviões. Incentivado capacidade para desenvolver e obter
por Bell, ele participou de concurso ins- paulatinamente o progresso do avião.
tituído pela revista americana Scientific O sucesso alcançado pelo 14 Bis, por
American 8, em 1908. Consagrando-se exemplo, dependeu da existência de um
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INÍCIO DO EMPREGO MILITAR DOS MEIOS AÉREOS
12 Muito simplificadamente: o percurso maior do ar na superfície superior, convexa, da asa, quando comparado
com o percurso do ar na superfície inferior, faz com que o fluxo de ar que percorre a parte superior tenha que
aumentar sua velocidade, ou seja, sua energia cinética, para depois encontrar o fluxo de ar da parte inferior.
Para que se conserve a mesma energia inicial, é necessário que ocorra uma diminuição de pressão no fluxo
superior. Como não se alterou a pressão da parte inferior, consequentemente resulta na asa uma força de
sustentação, que a mantém em voo, se for igual ou superior ao peso do veículo.
13 CROUCH, Tom D. Asas.
14 MASSIE, Robert K. Castles of Steel, p. 362.
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INÍCIO DO EMPREGO MILITAR DOS MEIOS AÉREOS
Os zepelins tinham, então, desempenho poder aéreo do inimigo, ele poderia causar
superior ao dos aeroplanos, e pouco se danos, que não se limitariam à frente de
podia fazer contra eles. Mesmo assim, combate. Em sua opinião, isso poderia
Churchill acreditava que os aviões eram até levar a uma possível futura dissua-
militarmente mais promissores, inclusive são do emprego da força para resolver
para combater os zepelins, que, carregados conflitos entre países. O futuro mostrou,
de hidrogênio, eram muito vulneráveis. no entanto, que bombardeios não foram
Isso ainda era um palpite, pois os zepelins suficientes para dissuadir a violência entre
podiam operar à noite, tinham raio de países. Mas, curiosamente, supõe-se ter
ação superior ao dos aviões e alcançavam alcançado esse efeito dissuasório no final
altitudes maiores. Mesmo assim, o esforço do século XX, com a ameaça das armas
da Marinha Real bri- nucleares. Mesmo as-
tânica, da qual Chur- sim, isto somente se
chill se tornou first Desde 1910 os tornou uma possibili-
lord of the Admiralty dade provável quando
durante sua prepara-
aviões estavam em não foi mais possí-
ção para a Primeira desenvolvimento para vel ganhar vantagens
Guerra Mundial, se emprego militar. Diversos decisivas ao atacar
concentrou em avi- primeiro e passou a
ões para emprego em exércitos começaram a ser conveniente evitar
reconhecimentos e explorar seu emprego em uma guerra nuclear.
como arma defensi- Desde 1910, porém,
va. Logo o Exército
reconhecimentos aéreos os aviões estavam em
do Reino Unido tam- desenvolvimento para
bém passou a se interessar neles. emprego militar. Diversos exércitos come-
Herbert Wells, jornalista, historiador e çaram a explorar em manobras seu emprego
escritor famoso por suas obras de ficção em reconhecimentos aéreos. Com o bom
científica15, em um de seus livros, publi- resultado obtido, vários países os incorpo-
cado em 1908, previu que, com o empre- raram a suas Forças Armadas17.
go de aeronaves, haveria uma alteração Em 1911 começaram, de fato, a realizar
no caráter da guerra: “... nenhum lado missões de guerra. Durante um conflito
fica imune aos mais graves prejuízos; e entre a Itália e a Turquia na Líbia, os ita-
enquanto acontece um vasto aumento da lianos os utilizaram para reconhecimentos,
capacidade destruidora da guerra, há tam- e um dos aviões lançou granadas contra o
bém uma grande indecisão”16. A indecisão inimigo, num ato precursor do bombar-
a que ele se refere seria causada pelas deio aéreo. Daí para diante, aviões foram
consequências da grande potência de des- empregados em guerras, inclusive nos
truição em ambos os lados conflitantes. Bálcãs, onde a Turquia tinha 20 aviões e
Enquanto não se eliminasse totalmente o a Bulgária 2518.
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INÍCIO DO EMPREGO MILITAR DOS MEIOS AÉREOS
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INÍCIO DO EMPREGO MILITAR DOS MEIOS AÉREOS
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INÍCIO DO EMPREGO MILITAR DOS MEIOS AÉREOS
menor capacidade de inovação do que a arte da guerra e até previram que a guerra
alemã, e produziu 55.092 aviões21. terrestre e a naval poderiam se tornar ob-
A Alemanha conseguiu, com seus mode- soletas com o progresso da aviação militar.
los mais avançados, estar tecnologicamente Giulio Douhet22 (1869-1930), um ofi-
na frente dos franceses e ingleses, utilizan- cial do Exército italiano, desde o início
do novos materiais e desenvolvendo ino- percebeu o que poderia ocorrer e disse, an-
vações, como as asas grossas com secções tes de 1914, que “uma nova arma surgiu. O
retas de perfil de aerofólio. Destacou-se céu se tornou um novo campo de batalha”.
no emprego de novas estruturas de avião, Mais tarde, ele foi um dos grandes teóricos
que foram muito importantes para o futuro do emprego do Poder Aéreo e até acredi-
da aviação. Utilizaram tubos estruturais tou que tudo se resolveria no futuro nesse
de aço soldados, cobertura de alumínio e novo ambiente. Caberiam às outras Forças
aviões inteiramente metálicos – como os Armadas tarefas defensivas, enquanto uma
desenvolvidos por Hugo Junkers – e caças força aérea destruiria os centros vitais e
de estrutura de duralumínio. Os alemães abateria a moral do inimigo, inclusive
continuaram produzindo, mesmo quando o atacando cidades e fazendo com que sua
bloqueio inimigo fez com que não tivessem população perdesse a vontade de lutar.
mais matérias-primas importadas, como a No futuro, essa profecia se mostrou
borracha, por exemplo, o que exigiu que exagerada, apesar de ter se confirmado par-
fabricassem, como alternativa precária, cialmente. As outras Forças Armadas conti-
rodas para aviões em madeira. nuaram muito importantes, principalmente
Ainda nessa guerra, a fábrica de por sua maior capacidade de permanência
Junkers se uniu à Fokker. Um de seus em um local distante. As reações humanas,
aviões, o Fokker D.VII, de 1918, é con- por sua vez, nem sempre são previsíveis, e
siderado o melhor caça da guerra e foi o bombardeio de cidades pode não abater
utilizado durante anos depois do con- o ânimo das tropas que estão combatendo,
flito por vários países, em suas Forças como o tempo mostrou ser verdade.
Armadas. Tinha as asas desenvolvidas As ideias de Douhet, embora bem
por Junkers e duas metralhadoras de tiro conhecidas na Itália, por ter publicado ar-
frontal. Fabricaram-se cerca de 3.300 tigos desde 1910, um livro em 1918 e por
desses aviões durante o conflito. seu clássico Comando dos Ares, de 1921,
Esses fatos comprovam que a capaci- custaram a ser traduzidas e consideradas
dade tecnológica produtiva e inovadora nos cursos de estratégia das escolas de al-
de um país já tinha adquirido uma impor- tos estudos militares dos EUA e do Reino
tância vital para a guerra, e a dependência Unido e só ganharam atenção e importância
do Poder Militar em tecnologia, inclusive na década de 1930. Enquanto isso, as ver-
a tecnologia aeronáutica, também se tor- dadeiras campanhas para divulgar a impor-
nou crescente. tância futura da aviação militar, realizadas
Algumas pessoas, como Giulio Douhet, por Mitchell, nos EUA, e Trenchard, no
Billy Mitchell e Hugh Trenchard, perce- Reino Unido, tiveram maior repercussão
beram a mudança que estava ocorrendo na nos seus respectivos países.
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INÍCIO DO EMPREGO MILITAR DOS MEIOS AÉREOS
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INÍCIO DO EMPREGO MILITAR DOS MEIOS AÉREOS
23 Martins, Helio Leoncio. História Naval Brasileira, Quinto Volume, Tomo II. Serviço de Documentação Geral
da Marinha, Rio de Janeiro, 1985, pg.117.
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INÍCIO DO EMPREGO MILITAR DOS MEIOS AÉREOS
Aeronáutica, incorporando todo o material, teste com o XR-4, em cujo projeto introduzira
equipamentos e instalações aeronáuticas da várias inovações, foi um completo sucesso.
Marinha e do Exército. Diversos outros fabricantes, além da
Essa medida radical copiava o que ha- empresa de Sikorsky, inclusive franceses
via ocorrido em países de regime totalitá- e britânicos, também produziram novos
rio, como a Alemanha. Por outro lado, as helicópteros. Em sua aplicação militar,
Forças Aéreas unificadas da França e do primeiro encontraram emprego evacuando
Reino Unido foram criadas mantendo as feridos da linha de frente, transportando
forças aeronavais, de natureza tática, sob pessoas e em outras tarefas auxiliares. Na
o controle de suas respectivas Marinhas. Guerra da Coreia e em outros conflitos
dessa época, sua utilidade se mostrou
O HELICÓPTERO crescente, e na Guerra
do Vietnã já exerceu
Se o desenvolvi- Com os desenvolvimentos tarefas operativas im-
mento do avião de- ocorridos na segunda portantes.
pendeu de um longo Para as Marinhas,
processo evolutivo, metade do século XX, os o helicóptero demons-
que necessitou da evo- meios aéreos se mostraram trou ser um excelente
lução de um patamar meio para a guerra
de conhecimento e imprescindíveis para antissubmarino, tanto
desenvolvimento tec- emprego tático nas na detecção acústica
nológico para que se Marinhas à distância como uti-
obtivesse um resulta- lizando torpedos para
do satisfatório, sendo destruir os submari-
controverso apontar um inventor, no caso nos. Tornou-se, portanto, um meio orgânico
do helicóptero esse fato ainda é mais imprescindível para elas.
evidente.
São vários os pioneiros que tentaram CONSIDERAÇÕES FINAIS
conseguir uma decolagem e um pouso
vertical, ou quase vertical. A primeira O progresso das indústrias aeronáuti-
máquina de asa rotativa que logrou subir cas e das companhias de aviação ocorreu
alguns centímetros com um piloto, apesar aceleradamente entre 1926 e 1941. Nas
de descontrolada, foi a de Louis Breguet, Marinhas, também foi nesse período que
em 1907. Seguiram-se muitos outros que se desenvolveram os navios-aeródromo,
alcançaram sucessos relativos, até que, que durante a Segunda Guerra Mundial,
em 1923, o engenheiro Juan de la Cier- na frente do Oceano Pacífico, se tornaram
va buscou uma solução intermediária, os novos navios capitais das esquadras.
o autogiro, que chegou a ser industrial- Lá, na Batalha de Mar de Coral, pela
mente produzido e comerciado, sendo primeira vez, não houve combates de
que alguns foram vendidos para Forças superfície entre navios, mas ataques de
Armadas dos EUA. aviões às duas forças navais, america-
É possível que os resultados obtidos por na e japonesa, e também, durante essa
Igor Ivan Sikorsky (1889-1972) com o desen- guerra, os navios-aeródromo mostraram
volvimento de um novo helicóptero tenham que eram capazes de projetar poder sobre
sido os melhores até então. Em 1942, seu terra, por meio de suas aeronaves.
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INÍCIO DO EMPREGO MILITAR DOS MEIOS AÉREOS
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INTERCÂMBIO DE DADOS TÉCNICOS E DE LOGÍSTICA
NA OBTENÇÃO DE SISTEMAS DE DEFESA
SUMÁRIO
Sumário
Introdução
Sobre o apoio logístico integrado
Que padrão deve ser adotado, levando em conta a Base Industrial de Defesa?
Obtenção de informações e dados referentes ao apoio logístico
Evolução do gerenciamento das informações específicas
Padrão adotado (EUA)
Padrão adotado na Europa e outros países
A ISO 10303 – Step
Considerações finais
* Foi chefe do Departamento Industrial da Base Almirante Castro e Silva; assessor no reparo de submarinos no
Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro; comandante da Corveta Caboclo, do Submarino Humaitá, da Força
de Apoio e dos Centros de Instrução Almirante Alexandrino e Almirante Átila Monteiro Aché. Foi diretor
de Ensino da Marinha. Publicou o livro Logística Pura e vários artigos sobre logística.
INTERCÂMBIO DE DADOS TÉCNICOS E DE LOGÍSTICA NA OBTENÇÃO DE SISTEMAS DE DEFESA
1 ILS: “ILS x ALI”. Revista do Clube Naval, ano 112, nr. 325, jan/fev/mar 2003, p. 38-42.
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INTERCÂMBIO DE DADOS TÉCNICOS E DE LOGÍSTICA NA OBTENÇÃO DE SISTEMAS DE DEFESA
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INTERCÂMBIO DE DADOS TÉCNICOS E DE LOGÍSTICA NA OBTENÇÃO DE SISTEMAS DE DEFESA
4 O primeiro curso, sob auspícios da DEN, foi ministrado em 1982 pelo CDR (USN) Cowdrill sob o título de
Gerência de Projeto na Obtenção de Meios Flutuantes. O terceiro, por oficiais da MB, aconteceu em 1984.
5 Sobre essas diferenças, ver artigo “ILS x ALI”, Revista do Clube Naval no 325/2003, p. 38-42.
6 Sobre Base Industrial de Defesa, artigo do autor sobre emprego do CALS. Consultar RMB v. 134 no 07 jul/set
2014, p.203, Seção Artigos Avulsos. O artigo completo está disponível na Biblioteca da Marinha.
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INTERCÂMBIO DE DADOS TÉCNICOS E DE LOGÍSTICA NA OBTENÇÃO DE SISTEMAS DE DEFESA
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INTERCÂMBIO DE DADOS TÉCNICOS E DE LOGÍSTICA NA OBTENÇÃO DE SISTEMAS DE DEFESA
7 A SGML é uma norma ISO: ISO 8879:1986 Information processing – Text and office systems – Standard Ge-
neralized Markup Language (SGML).
8 XML (eXtensible Markup Language) é uma recomendação da W3C para gerar linguagens de marcação para
necessidades especiais.
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INTERCÂMBIO DE DADOS TÉCNICOS E DE LOGÍSTICA NA OBTENÇÃO DE SISTEMAS DE DEFESA
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INTERCÂMBIO DE DADOS TÉCNICOS E DE LOGÍSTICA NA OBTENÇÃO DE SISTEMAS DE DEFESA
10 DEX - Data exchange: É o processo de estruturar dados segundo um schema (fonte) e transformá-los em dados
estruturados sob a forma de um schema (alvo) que seja a representação precisa do primeiro. O processo per-
mite que os dados sejam compartilhados por diferentes programas de computador. Schema X é a descrição
da estrutura de um documento X, sendo X uma linguagem de esquema, por exemplo XML.
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INTERCÂMBIO DE DADOS TÉCNICOS E DE LOGÍSTICA NA OBTENÇÃO DE SISTEMAS DE DEFESA
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INTERCÂMBIO DE DADOS TÉCNICOS E DE LOGÍSTICA NA OBTENÇÃO DE SISTEMAS DE DEFESA
CONSIDERAÇÕES
Defesa assumir o papel de que mantenha a base
de conhecimentos das
FINAIS orientação e supervisão disciplinas de Logís-
das atividades logísticas tica de Defesa, que
Seguem-se algu- centralize a dissemi-
mas considerações que ocorrem dentro do seu nação da doutrina con-
segundo o ponto de contexto cernente e propague
vista do autor, inferi- os conhecimentos de
das a partir da matéria caráter gerencial e téc-
apresentada no texto, levando em conta a nico, além de quaisquer outras disciplinas
sua complexidade, indicativo da necessida- de interesse.
de de orientação e supervisão superiores: D – Tratando-se do tópico específico
abordado nesse artigo (intercâmbio de
De natureza genérica dados), são recomendáveis iniciativas
no sentido de estabelecer um protocolo
A – Cabe ao Ministério da Defesa assu- de entendimentos com a Base Industrial
mir o papel de orientação e supervisão das de Defesa, visando às comunicações de
atividades logísticas que ocorrem dentro dados técnicos, levando em consideração
do seu contexto: nas Forças Armadas e a documentação citada, para permitir a
no próprio Ministério (segundo sua dupla padronização de conhecimentos e facilitar
personalidade, tanto como órgão da gestão o entendimento entre as partes.
pública quanto como órgão de gerencia-
mento das peculiares atividades militares Relativas ao ILS
de defesa). Por razões claras, nele deveria
ser criado uma organização para gerenciar A – Enfatizar a forte polarização nos
as tarefas logísticas específicas, tanto as do conceitos e princípios da qualidade em
contexto militar como também fora deste, todos os processos relatados. Assim, con-
no trato com o componente civil da Base siderar o ciclo PDCA (Planejar, Executar,
Industrial de Defesa. Trata-se, ainda mais, Controlar a ação planejada e Corrigir)
48 RMB1oT/2017
INTERCÂMBIO DE DADOS TÉCNICOS E DE LOGÍSTICA NA OBTENÇÃO DE SISTEMAS DE DEFESA
como a fórmula mágica permanente para priado11) para haver sempre entendimento
gerenciar o processo de intercâmbio de preciso entre as partes, evitar falhas de
dados (mas não só ele), visando sempre à tradução ou evitar que sejam criados termos
melhoria contínua. e expressões que não reflitam a fase do
B – Tornar equivalentes as metodologias processo a que se referem. Tal medida pode
do ALI e do ILS. Para isso é preciso, prin- contribuir muito para a uniformização de
cipalmente, perceber e separar as diferentes procedimentos e, pela simplicidade decor-
áreas em que atividades específicas aconte- rente, para a economia de meios.
cem. Muito embora tudo ocorra no campo E – Eliminar o inconveniente do Setor
administrativo, diversos assuntos têm ca- do Material fazer distinção entre Organi-
racterísticas distintas. Por exemplo, definir zações Militares no trato do material. Uma
uma necessidade de meio ou material de Gestão, ou Gerência do Material, deve ser
emprego militar tem enfoque predominan- centralizada, enquanto descentralizada a
temente estratégico; definir requisitos para execução. O trato do material deve ter, pois,
desenvolver a concepção (fase conceitual) supervisão centralizada num único órgão,
que resolve uma necessidade cai prelimi- que ditará as normas a serem seguidas, até
narmente no campo da pesquisa e de mer- mesmo em relação aos suprimentos. Isso
cados; definir uma estratégia de obtenção não implica alterar subordinações e cargos,
e iniciar o processo de desenvolvimento que são atividades administrativas do setor
de um sistema recai na área da Engenharia do pessoal.
de Sistemas; um programa de ILS recai F – Atribuir ênfase, na Gerência do
na área da Engenharia de Sistemas e mais Material, ao caráter sistêmico, em ou-
especificamente da Engenharia Logística; o tras palavras, Diretorias Especializadas,
gerenciamento de um período operacional principalmente na área do material. Estas
recai na esfera administrativa-operativa; o devem ser Diretorias de Sistemas (exem-
apoio logístico diz respeito ao campo da plos, na MB: Diretorias de Sistemas de
Logística; idem quanto ao descarte ou à Armas, de Sistemas de Comunicações, de
realocação de um material de emprego mi- Sistemas de Navios – tratando dos siste-
litar etc. Tal seleção contribuirá, em muito, mas de casco, sistemas da propulsão, das
para separar aspectos técnicos dos aspectos auxiliares etc. –, de Sistemas de Propulsão
gerenciais em fluxogramas elucidativos dos Nuclear etc.).
diferentes processos. G – Evitar confundir a fase de identi-
C – Tornar permanente o processo do ficação da necessidade de um novo meio
ILS ao longo de todo o ciclo de vida dos sis- (problema estratégico/tático, da alçada do
temas, embora devidamente dimensionado Sistema de Requisitos) com o processo que
para cada caso particular. Tal processo não se segue, que é de Engenharia de Sistemas
deve ser interrompido, nem mesmo depois (da alçada dos Sistemas e Orçamentação e
da avaliação global dos sistemas. de Obtenção), e que vai da concepção ao
D – Tornar prioritário o estabelecimento fim do ciclo de vida do sistema solução.
de cultura (pelo menos por meio de um H – Buscar estabelecer, na medida do
glossário e pela adoção de inglês apro- possível, a padronização (de nomenclatura,
11 ASD Simplified Technical English, Specification ASD-STE100 (STE), especificação internacional para a
preparação de documentação técnica, numa linguagem controlada. Consultar na internet o STEMG STE
Maintenance Group.
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INTERCÂMBIO DE DADOS TÉCNICOS E DE LOGÍSTICA NA OBTENÇÃO DE SISTEMAS DE DEFESA
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SISTEMAS OCEÂNICOS NÃO MILITARES
SUMÁRIO
Introdução
Definições
O projeto de sistemas oceânicos
A divisão de tipos de embarcações/navios e demais sistemas oceânicos em famílias
Descrição dos principais tipos de embarcações/navios e demais sistemas oceânicos
Conclusão
* Serviu na Diretoria de Engenharia Naval e no Centro de Projetos de Navios. Um dos principais participantes dos
projetos das corvetas classe Inhaúma e Barroso. D.S.C. em Engenharia Oceânica, pelo Instituto Alberto Luiz
Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe-
-UFRJ). Faz, atualmente, parte do Corpo Docente do Centro de Instrução Almirante Wandenkolk (CIAW).
SISTEMAS OCEÂNICOS NÃO MILITARES
nente pela reativação da indústria naval Há, assim, duas alternativas para o pro-
mercante brasileira. Por se tratar de um as- jetista: enquadrar o novo sistema flutuante a
sunto global e abrangente, que ocuparia um ser obtido numa das famílias já existentes ou
volume de leitura relativamente extenso, se lançar num processo de inovação em ter-
invocando assuntos correlatos, este artigo mos de projeto, razão pela qual é importante
aborda somente os tipos de produtos finais que se tenha o conhecimento do espectro
que são resultantes da cadeia produtiva na de famílias de meios flutuantes existentes.
construção naval mercante e offshore, e que
são os objetos do seu planejamento. A DIVISÃO DE TIPOS DE
EMBARCAÇÕES/NAVIOS E
DEFINIÇÕES DEMAIS SISTEMAS OCEÂNICOS
EM FAMÍLIAS
Os termos embarcação e navio, embora
possam ter o mesmo significado, não têm Para esta divisão, vamos explorar três
o mesmo uso na prática. Atualizando a referências. De Eyres [2] temos os tipos de
definição de Fonseca [1] para abranger os embarcações/navios e sistemas oceânicos
materiais atuais, teríamos: em nove grandes famílias, a saber:
Embarcação: “construção feita de ma- – barcos de alta velocidade;
deira, concreto, ferro, aço, alumínio, ma- – navios offshore;
teriais compósitos ou combinações desses – navios pesqueiros;
que flutua e é destinada a transportar, pela – embarcações (crafts) de apoio oceâ-
água, pessoas ou objetos”. nico e de porto;
Navio: “embarcação de grande porte”. – navios de carga geral;
Como podemos ver, as definições acima, – graneleiros;
embora sejam emanadas de uma referência – navios de passageiros;
consagrada, não estabelecem a fronteira – submersíveis; e
entre embarcação e navio e deixam de – navios de guerra.
fora os demais sistemas oceânicos, como Essas nove grandes famílias acima
plataformas offshore, que serão também mencionadas contemplam, ao todo, 44 tipos
objeto deste artigo. de navios diferentes, sendo que alguns dão
origem a subtipos, como, por exemplo, o
O PROJETO DE SISTEMAS caso dos submersíveis e navios de guerra.
OCEÂNICOS Já de Lamb [3] temos os tipos de em-
barcações/navios e sistemas oceânicos
O projeto de embarcações/navios e siste- divididos em três grandes famílias abaixo
mas oceânicos é, talvez, a mais demandante relacionadas, não havendo referências a
de todas as tarefas de engenharia, pois, navios de guerra:
normalmente, são grandes e complexos – navios comerciais;
produtos manufaturados. Antes que o pro- – navios industriais; e
jetista possa iniciar o projeto, o armador – navios prestadores de serviços.
precisa especificar a natureza do meio Essas três grandes famílias citadas, por sua
flutuante do qual precisa e que deseja, as vez, contemplam ao todo 36 tipos de navios.
áreas de operação e outras considerações Finalmente, de Watson [4] temos os ti-
especiais, que vêm a constituir os chamados pos de embarcações/ navios e sistemas oce-
“Requisitos do Armador”. ânicos em seis grandes famílias, que são:
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SISTEMAS OCEÂNICOS NÃO MILITARES
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SISTEMAS OCEÂNICOS NÃO MILITARES
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SISTEMAS OCEÂNICOS NÃO MILITARES
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SISTEMAS OCEÂNICOS NÃO MILITARES
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SISTEMAS OCEÂNICOS NÃO MILITARES
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SISTEMAS OCEÂNICOS NÃO MILITARES
Plataformas de perfuração
semissubmersíveis
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SISTEMAS OCEÂNICOS NÃO MILITARES
des guindastes com estruturas massivas se – sistema de amarração feito por meio
estendendo acima do convés principal e a de turret;
existência de um grande poço se estenden- – sistema de movimentação de fluidos;
do para baixo do casco, de modo a acomo- – comportamento no mar (seakeeping)
dar as operações de perfuração. Possuem com impacto no desempenho da planta de
movimentos maiores de arfagem, jogo e processamento e no conforto.
caturro do que uma plataforma semissub- As Figuras 15 e 16 mostram o perfil e o
mersível, devido às maiores excitações arranjo de operação típicos de uma FPSO.
dos estados de mar e diferentes respostas a
estes, o mesmo ocorrendo para movimentos
de avanço e caimento. A Figura 14 mostra
um navio de perfuração.
RMB1oT/2017 59
SISTEMAS OCEÂNICOS NÃO MILITARES
REFERÊNCIAS
[1] FONSECA, M.M. Arte Naval. Rio de Janeiro: Editora SDM, 2005.
[2] EYRES, D.J. Ship Construction. 6th Edition. Oxford: Elsevier, 2007.
[3] LAMB, T.T. Ship Design and Construction. Jersey City: Sname, 2004, Vol II
[4] WATSON, D,G.M. Practical Ship Design. Elsevier, Ocean Engineering Book Series, 1991, Vol I.
[5] VASCONCELOS, J. M. Estabilidade de Sistemas Flutuantes. Rio de Janeiro: Instituto de Ciências
Náuticas, 2005.
60 RMB1oT/2017
PIRATARIA MARÍTIMA ALAVANCA
ARQUITETURA DE SEGURANÇA MARÍTIMA
NA ÁFRICA OCIDENTAL E CENTRAL
SUMÁRIO
Introdução
União Africana
Organização Marítima da África do Oeste e do Centro
Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental
Comunidade Econômica dos Estados da África Central
Comissão do Golfo da Guiné
Grupo do G7 dos amigos do Golfo da Guiné
Universidades marítimas
A Cimeira de Yaoundé
Algumas reflexões
* N.R.: Autor do livro A Pirataria Marítima Contemporânea: as duas últimas décadas. Colaborador costumeiro
da Revista Marítima Brasileira, em especial sobre Pirataria Marítima (2o e 4o trim./2008, 3o trim./2010, 3o
trim./2011, 3o trim./2013, 3o trim./2014, 3o trim./2015, e 1o trim./2016).
PIRATARIA MARÍTIMA ALAVANCA ARQUITETURA DE SEGURANÇA MARÍTIMA NA ÁFRICA OCIDENTAL E CENTRAL
A pirataria na re-
gião do GG tem es-
tado mais ativa nas
últimas duas déca-
das, nomeadamente
nas águas da Nigéria,
em geral, e no delta
do Rio Níger, em
particular.
Começou pelo pe-
queno roubo, con-
tudo foi evoluindo
para situações que
já denotam planeja-
mento e organiza-
ção, como o roubo de
combustível (bunke-
ring) e o sequestro Piratas nigerianos (Foto: CCTV África)
de tripulantes para
a obtenção de resgates. Esta mudança no mar territorial ou em águas interiores)
gradual no modus operandi dos piratas e instiga os países da região a partici-
do GG, associada ao aumento da violên- parem ativamente no combate a este
cia durante os seus atos e, ainda, o fato fenômeno; e a Resolução 2.039 (2012),
de o protagonismo de 29 de fevereiro,
da pirataria no con- que veio mostrar a
tinente africano ter O Conselho de Segurança da grande preocupação
passado para esta
região, devido ao seu
ONU manifestou profunda do CSNU com esta
problemática e que
declínio nas águas preocupação com os atos de exorta a Comunidade
da Somália, levaram pirataria e com os assaltos à Econômica dos Es-
o Conselho de Se- tados da África Oci-
gurança das Nações mão armada contra navios dental, a Comunidade
Unidas (CSNU) a no mar do Golfo da Guiné Econômica dos Esta-
aprovar duas Reso- dos da África Central
luções neste âmbito: e a Comissão Golfo
a Resolução 2.018 (2011), de 31 de ou- da Guiné a trabalharem conjuntamente
tubro, que condena os atos de pirataria na elaboração de uma estratégia regional
marítima (atos ilícitos1 cometidos fora do de luta contra a pirataria e os assaltos à
mar territorial2) e os assaltos à mão arma- mão armada contra navios e contra outras
da contra navios (atos ilícitos do mesmo atividades ilícitas praticadas no mar, em
gênero dos da pirataria, só que cometidos cooperação com a União Africana. Esta
1 De violência e/ou de detenção e/ou de pilhagem cometidos, para fins privados, pela tripulação e/ou pelos passa-
geiros de um navio privado, e dirigidos contra um navio e/ou pessoas e/ou bens a bordo do mesmo.
2 O mar territorial consiste numa zona marítima, sob soberania nacional, que vai até às 12 milhas náuticas, contadas
a partir da “linha de costa” (linha de base reta ou normal) de um Estado. Uma milha náutica são 1.852 metros.
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PIRATARIA MARÍTIMA ALAVANCA ARQUITETURA DE SEGURANÇA MARÍTIMA NA ÁFRICA OCIDENTAL E CENTRAL
agendas a segurança
e a defesa do espaço
marítimo.
UNIÃO
AFRICANA
Sucessora da Or-
ganização da Unidade
Africana 3 , a União
Africana (UA) foi
fundada em 2002 em
Durban, na África do
Sul, e encontra-se se-
diada em Adis Abeba,
Boarding team da Marinha dos Camarões no Exercício Obangame Express na Etiópia. O seu pre-
(Foto: US AFRICOM) sidente em exercício,
desde 30 de janeiro
Resolução incitava ainda os Estados deste de 2016, é o atual Presidente da República
Golfo a fazerem uma Cimeira. Esta foi do Chade, Idriss Déby Itno. Em 9 de julho
realizada em 19 de março de 2013, no de 2011, o Sudão do Sul tornou-se o 54º
Benim, para delinearem uma estratégia estado-membro.
comum para combater este fenômeno. A UA tem como principais objetivos,
O CSNU, em 25 de abril de 2016, por entre outros, obter
meio de uma declara- maior solidariedade
ção presidencial, vol- entre os vários países
tou a manifestar a pro- Logo após a sua criação, da África, defender a
funda preocupação a UA começou a delinear integridade territorial
da ONU com os atos e independência dos
de pirataria e com os
uma Arquitetura de
estados-membros e
assaltos à mão armada Paz e Segurança para o acelerar a integração
contra navios no mar continente africano política, social e eco-
do GG, salientando a nômica da África.
necessidade de uma Logo após a sua
abordagem abrangente, liderada pelos Es- criação, a UA começou a delinear uma
tados da região com o apoio internacional, Arquitetura de Paz e Segurança para o
de forma a fazer face à atual situação que continente africano. É curioso notar que,
se vive neste Golfo. inicialmente, no arranque de todo este
Neste momento existe um grande processo, a segurança marítima não era
número de organizações ativas na região considerada como estratégica. Contudo,
do GG, conforme se pode ver a seguir, as o mar, que vem ganhando protagonismo
quais, ao contrário do que acontecia no nos últimos anos, tornou-se também palco
passado, já começaram a incluir nas suas de diversos conflitos, dos quais se salienta
RMB1oT/2017 63
PIRATARIA MARÍTIMA ALAVANCA ARQUITETURA DE SEGURANÇA MARÍTIMA NA ÁFRICA OCIDENTAL E CENTRAL
a pirataria marítima, o que levou a UA, – a África como um ator forte, influente
constituída na sua maioria por Estados e parceiro a nível mundial.
litorâneos, a preocupar-se verdadeiramente A aprovação desses documentos estra-
com o mesmo. Isso demonstra a aprovação, tégicos vem mostrar a preocupação comum
em 31 de janeiro de 2014, da Declaração de dos Estados africanos com o seu cresci-
Adis Abeba4, na qual os ministros africanos mento econômico e com a sua segurança,
adotaram a Estratégia Marítima Integrada da fazendo refletir nestes escritos os desafios,
África 20505 e o seu Plano de Ação de Ope- as ameaças e as oportunidades que têm
racionalização. Esta Estratégia não aborda pela frente.
só aspectos de segurança relacionados com
a pirataria marítima, mas também da pesca ORGANIZAÇÃO MARÍTIMA DA
ilegal, do tráfico de pessoas e do terrorismo ÁFRICA DO OESTE E DO CENTRO
marítimo, apontando também um conjunto
de oportunidades em termos de economia. A Organização Marítima da África do
Um ano mais tarde, em janeiro de 2015, a Oeste e do Centro6 e 7 (Mowca), constituída
Conferência da União Africana, na sua 24ª por 20 estados costeiros e cinco não cos-
Sessão Ordinária, realizada em Adis Abeba, teiros, encontra-se sediada em Abidjan, na
estabeleceu a Agenda 2063, identificando Costa do Marfim, e o seu secretário-geral
as aspirações africanas até o ano de 2063, é Alain Michel Luvambano. Foi estabe-
mencionadas a seguir: lecida em 7 de maio de 1975, em Lagos,
– uma África próspera, baseada no cres- na Nigéria, pelos ministros africanos dos
cimento inclusivo e no desenvolvimento Transportes dos Estados da África Ociden-
sustentável; tal e Central, que resolveram criar um orga-
– um continente integrado, politica- nismo permanente de concertação, ao qual
mente unido com base nos ideais do pan- atribuíram a designação da Conferência
-africanismo e na visão do renascimento Ministerial dos Estados da África Ocidental
da África; e Central para o transporte marítimo. O seu
– uma África de bom governo, democra- nome atual foi adotado, na sequência das
cia, respeito pelos direitos humanos, pela reformas feitas pela Assembleia-Geral dos
justiça e pelo estado de direito; Ministros dos Transportes, numa sessão
– uma África pacífica e segura; extraordinária que decorreu em Abidjan,
– uma África com uma forte identidade entre 4 e 6 de agosto de 1999.
cultural, herança, valor e ética comuns; O papel principal desta organização
– uma África onde o desenvolvimento deveria ser um pouco o de autoridade ma-
seja orientado para as pessoas, confiando rítima regional, devendo servir de elo no
especialmente no potencial da mulher e da estabelecimento de contatos e na negociação
juventude; e entre o setor privado, os portos, as autorida-
4 Esta foi colocada à consideração a 6 de dezembro de 2012, durante a 2.ª Conferência dos Ministros africanos
responsáveis pelos assuntos marítimos.
5 Em inglês Africa´s Integrated Maritime Strategy 2050 - AIM 2050.
6 Do inglês Maritime Organization of West and Central Africa (Mowca). Em francês: Organisation Maritime de
L´Afrique de L´Ouest et du Centre (Omaoc).
7 Países costeiros: Angola, Benim, Camarões, Cabo Verde, Congo, República Democrática do Congo, Costa
do Marfim, Gabão, Gâmbia, Gana, Guiné, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Libéria, Mauritânia, Nigéria,
São Tomé e Príncipe, Senegal, Serra Leoa e Togo. Países não costeiros: Burkina Faso, República Centro
Africana, Chade, Mali e Níger.
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PIRATARIA MARÍTIMA ALAVANCA ARQUITETURA DE SEGURANÇA MARÍTIMA NA ÁFRICA OCIDENTAL E CENTRAL
11 Em inglês Economic Community of Central African States (Eccas) e em francês Communauté Economique des
Etats de l’Afrique Central (Ceeac).
12 Países: Angola, Burundi, Camarões, Chade, Gabão, Guiné Equatorial, República Centro-Africana, República
Democrática do Congo, Congo, Ruanda e São Tomé e Príncipe.
13 É composta por oito países: Angola, Camarões, República Democrática do Congo, Congo, Gabão, Guiné
Equatorial, Nigéria e São Tomé e Príncipe.
14 Do inglês G7 Friends Of the Gulf of Guinea Group (G7++Fogg).
15 É composto pelo G7 (Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido), pelo Grupo de
Amigos [(Bélgica, Coreia do Sul, Dinamarca, Espanha, Noruega, Países Baixos, Portugal, Suíça, Austrália
(observador), Brasil (observador), União Europeia, UNODC, Interpol e IMO (observador)] e pelos Estados
da região (Angola, Benim, Burkina Faso, Camarões, Cabo Verde, República Centro-Africana, Chade, Re-
pública Democrática do Congo, Costa do Marfim, Guiné Equatorial, Gabão, Gâmbia, Gana, Guiné-Bissau,
Guiné, Libéria, Mali, Níger, Nigéria, Congo, Senegal, S. Tomé e Príncipe, Serra Leoa e Togo). A Grécia, a
Turquia e o Uruguai foram como observadores para a reunião.
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PIRATARIA MARÍTIMA ALAVANCA ARQUITETURA DE SEGURANÇA MARÍTIMA NA ÁFRICA OCIDENTAL E CENTRAL
16 Em inglês Regional Coordination Centre for Maritime Security in Central Africa e em francês Centre Régional
de Securité Maritime de l’Afrique Central (Cresmac).
17 Em inglês Center for Multinational Coordination (CMC).
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Arquitetura regional de segurança marítima após a Cimeira de Yaoundé (Foto adaptada a partir da imagem original da OBF)
PIRATARIA MARÍTIMA ALAVANCA ARQUITETURA DE SEGURANÇA MARÍTIMA NA ÁFRICA OCIDENTAL E CENTRAL
18 Em inglês Regional Coordination Centre for Maritime Security in Western Africa e em francês Centre Régional
de Securité Maritime de l’Afrique de l’Ouest (Cresmao).
19 Em inglês Interregional Coordination Centre (ICC).
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PIRATARIA MARÍTIMA ALAVANCA ARQUITETURA DE SEGURANÇA MARÍTIMA NA ÁFRICA OCIDENTAL E CENTRAL
70 RMB1oT/2017
CONFLITOS SÃO INEVITÁVEIS?*
SUMÁRIO
Introdução
Conflito – Conceituação
A Guerra como Fenômeno Social - Breve Análise
Considerações Finais
* Adaptação do trabalho apresentado na Escola de Guerra Naval-CPEM-2016, com o título:“Em uma era de
múltiplas transformações sociais, econômicas e na política internacional, os conflitos são inevitáveis?”.
** Vice-Diretor de Coordenação do Orçamento da Marinha.
1 MOREIRA, Rene. “ ‘Papel de juiz é resolver conflitos e não de criar’, diz ministro do STF”. O Estado de S.
Paulo, São Paulo, 18 mar. 2016 disponível em < http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,ministro-do-
-stf-alfineta-sergio-moro-no-interior-de-sp>. Acesso em 18 mar. 2016.
CONFLITOS SÃO INEVITÁVEIS?
72 RMB1oT/2017
CONFLITOS SÃO INEVITÁVEIS?
Em síntese, são elencadas algumas li- legal e uma forma de conflito envolvendo
ções acerca do conflito que merecem desta- um alto grau de paridade legal, de hostili-
que, a saber: o atual regime internacional de dade e de violência dos grupos humanos
Estados em que vivemos guarda uma seme- organizados”4.
lhança com o estado da natureza proposto Observa-se que o autor acima já prevê
por Hobbes, ou seja, trata-se de um sistema o ponto de vista sociológico para o trata-
anárquico de Estados, sem uma instância mento da guerra enquanto fenômeno social.
superior; o conflito é intrínseco às socieda- Dessa forma, já em 1945, Gaston Bouthoul
des e pode vir a contribuir de alguma forma (1896-1980) cunhou o termo polemologia
para a unidade do grupo, ou até mesmo para designar uma nova possibilidade de
exercer um papel de equilíbrio no cenário incluir na sociologia o estudo científico das
mundial; o conflito é uma relação social, guerras e da agressividade organizada, no
um fenômeno social, em que a presença intuito de que se pudesse perceber como
de seres humanos com suas características esse fenômeno violento ocorria e permitir
pessoais no processo pode ser considerada que, a par desses estudos, se pudesse efetuar
um fator potencializador para a consecução algum controle nos futuros acontecimentos.
desses; e o conflito é Nesse sentido,
o resultado do anseio nasceu a polemologia
subjetivo de pessoas e Entre outras coisas, o como sendo “o estu-
grupos para defender conflito é o resultado do do objetivo e científi-
seus direitos e suas
pretensões.
anseio subjetivo de pessoas co das guerras como
fenômenos sociais
e grupos para defender seus suscetíveis de obser-
A GUERRA direitos e suas pretensões vação igual a outro
COMO qualquer”5.
FENÔMENO Enquanto fenôme-
SOCIAL – BREVE ANÁLISE no social, e por ser considerada a forma
mais grave e profunda de conflito social
O Manual de Doutrina Militar, do (presença da violência extremada), a guerra
Ministério da Defesa, conceitua a guerra, pode ser observada desde os primórdios da
que será objeto desse estudo, como sendo o civilização humana. Seja por sobrevivên-
conflito no seu grau máximo de violência, cia, busca de comida, motivos territoriais,
podendo implicar a mobilização do Poder políticos, étnicos ou religiosos, entre ou-
Nacional, com relevância para o Poder tros, o homem usou, usa e usará a violência
Militar, para fazer valer a vontade de uma como forma de resolução desses conflitos.
das partes3. Essa afirmação encontra eco nas pala-
De modo a que se possa melhor entender vras de Howard6 (2004, citado por BAL-
o fenômeno da guerra, ao se combinar os TAZAR, 2006, p.169), que afirma que
pontos de vistas jurídico, sociológico, mi- provas arqueológicas, antropológicas e
litar e psicológico tem-se que é “um estado documentais assinalam que a guerra sempre
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CONFLITOS SÃO INEVITÁVEIS?
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CONFLITOS SÃO INEVITÁVEIS?
RMB1oT/2017 75
CONFLITOS SÃO INEVITÁVEIS?
presentes as causas naturais da guerra, ou sob o enfoque também das questões que são
ainda aquelas que são “estranhas ao influxo inerentes ao ser humano e não somente da
da razão”, podendo-se citar a vaidade; o comparação de poderes combatentes.
espírito de competição; o desejo de sobres- O General Homer Lea (1876-1912)
sair, de ocupar uma posição influente e de afirma “não só que a guerra é inevitável,
ostentar poder e prestígio; um impulso de mas que qualquer esforço sistemático
ira; o desejo de dominar um rival a qualquer para aboli-la atenta, inutilmente, contra as
preço, entre outros. E, de modo geral, o fato leis universais”. O General John J. Storey
de que tanto os seres humanos como as na- (1869-1921) assevera que alguns idealistas
ções sempre se digladiaram e continuarão sustentam o seu ponto de vista afirmando
a fazê-lo porque “esta é a sua natureza”9. que, com o avanço da civilização, a guerra
Para ilustrar este ponto cabe a seguinte não mais existirá. Entretanto, ressaltam
reflexão: Realmente existiam armas de que “a civilização não mudou a natureza
destruição em massa no Iraque? Ou seria humana. É a natureza humana que torna
o perfil excessiva- a guerra inevitável.
mente “explosivo”, A luta armada não
combinado com as “Não só que a guerra desaparecerá da terra
causas acima cita- é inevitável, mas que enquanto a natureza
das, do ex-presidente humana não mudar”.10
“texano” George W. qualquer esforço Os idealistas pare-
Bush que contribuiu sistemático para aboli-la cem se equivocar ao
para se levar a cabo a
II Guerra do Iraque?
atenta, inutilmente, contra declarar que as múl-
tiplas transformações
Enfim, constata-se as leis universais” nas mais variadas áreas
que a presença de General Homer Lea (por exemplo, sociais,
um ser humano no econômicas e na po-
complexo processo lítica internacional)
decisório da guerra pode vir a ser o motivo poderiam tornar as guerras evitáveis. Re-
de sua inevitabilidade. almente, tais mudanças podem ser mais um
Dessa forma, as ditas causas naturais elemento que contribuirá para a montagem
apontam para que não se trate o fenômeno do mosaico da guerra. Entretanto, olvidam-
da guerra como um simples modelo carte- -se do fato que alterações nas culturas,
siano de escolhas. Quando existe a presença nos valores e na natureza humana têm um
do ser humano não podemos implementar tempo de maturação bem maior do que as
um modelo simplório que toma como base demais alterações. Os indivíduos sempre
a capacidade cognitiva da razão, mas que terão interesses, vaidades, vontades, espíri-
não parece ser adequado à compreensão da to competitivo, orgulho etc., que moldarão
realidade como um todo. Há que se levar suas atitudes.
em conta todos aqueles fatores psicológicos Para ilustrar esse ponto, relembra-se a
e sociológicos envolvidos na guerra, con- Guerra do Peloponeso. Naquela ocasião, o
forme já abordado. Quando se está diante dilema de segurança fez com que a guerra
do tabuleiro de xadrez que é a guerra, o fosse altamente provável (o que é diferente
cálculo dos movimentos deve ser estudado de inevitável), mas as decisões humanas
9 Ibidem, p. 135.
10 Ibidem, p. 139-140.
76 RMB1oT/2017
CONFLITOS SÃO INEVITÁVEIS?
foram bastante importantes naquele mo- por si só acabam por justificar uma guerra
mento, relevando mencionar que o acaso ou torná-la inevitável.
e as personalidades dos líderes tiveram O conflito, tanto entre as nações (que
importância elevada nas decisões11. Nesse são as guerras) como entre os demais
ponto, mais uma vez o “fator humano” organismos, pode ser considerado uma
prescindiu a razão e alterou o rumo da his- “condição de vida e de sobrevivência”.
tória, na medida em que, se fosse adotada E essa lei biológica que é inerente ao ser
uma postura pragmática e livre de emoções, humano acaba por vedar a humanidade de
o referido conflito poderia ter sido evitado. obedecer à máxima de oferecer ao inimigo
No tocante à Primeira Guerra Mundial, o a outra face, fazendo com que essa afirma-
livro de Churchil retrata bem esse ponto ao ção não seja aceita pela natureza humana.
afirmar que as nações estavam insatisfeitas Assim surge a disposição para o conflito,
com a prosperidade material e se voltaram que deve perdurar enquanto subsista a
para a guerra. Mas, naquela ocasião, “os nossa espécie13.
homens é que estavam desejosos por ar- Mas, enfim, são as guerras inevitáveis
riscar”12. à luz das transforma-
Na verdade, na- ções que o mundo
quele período impe- São as guerras inevitáveis sofre constantemente
rava a crença de que à luz das transformações em todas as esferas?
os Estados estariam Antes de buscar essa
prontos a agir no sen-
que o mundo sofre resposta, há que se
tido de resolver os constantemente em procurar entender as
problemas da Europa todas as esferas? lições que o passado
tão-somente com o nos proporciona, de
uso da força. Essa modo a antever pos-
ideia estava na mente dos homens (líderes) síveis situações que possam evoluir para
que se achavam “indestrutíveis”, e não conflitos. Os conflitos existem desde o
houve a possibilidade de se buscar uma início dos tempos e continuarão a existir
solução pacífica para as questões que se enquanto a civilização estiver presente no
avizinhavam. mundo. Logo, as atenções e os esforços de-
Os conflitos são de caráter universal vem ser dirigidos para encontrar formas de
e existem desde que o homem é homem, extingui-los, diminui-los ou, pelo menos,
mas atualmente pode-se inferir que os controlá-los, a fim de reduzir os efeitos
Estados envolvem-se em conflitos por nocivos decorrentes.
conta do antagonismo de ideias ou quanto
à interpretação de um direito violado. E CONSIDERAÇÕES FINAIS
é essa dissonância de interpretação que
acaba por fazer aflorar os sentimentos da Com base na literatura pesquisada, tem-
natureza humana que desencadeiam os -se que os conflitos são de caráter universal
conflitos (por exemplo, vaidade, orgulho e emergem no seio da sociedade, sendo algo
da sua posição, rivalidade e necessidade de inerente a esta, e podem assumir um papel
grandeza, entre outros). Esses sentimentos de estabilizador nas relações. Os conflitos
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CONFLITOS SÃO INEVITÁVEIS?
78 RMB1oT/2017
CONFLITOS SÃO INEVITÁVEIS?
REFERÊNCIAS
RMB1oT/2017 79
ATAQUES CIBERNÉTICOS: AMEAÇAS REAIS AO
PODER NAVAL*
SUMÁRIO
Introdução
O setor cibernético
Setor militar naval
Identificação de vulnerabilidades
A proteção
Considerações finais
RMB1oT/2017 81
ATAQUES CIBERNÉTICOS: AMEAÇAS REAIS AO PODER NAVAL
2 Hacktivismo – Junção de hacking com o ativismo político (bloqueios virtuais, bombardeios de e-mail, invasões
de computadores e do uso de vírus e worms, para infectar redes computacionais).
3 Cinética – envolve equipamentos, armamento e/ou forças militares.
82 RMB1oT/2017
ATAQUES CIBERNÉTICOS: AMEAÇAS REAIS AO PODER NAVAL
4 Loran – sistema terrestre de radionavegação, baseado na utilização de emissões coordenadas de impulsos ra-
dioelétricos de ondas MF e LF.
RMB1oT/2017 83
ATAQUES CIBERNÉTICOS: AMEAÇAS REAIS AO PODER NAVAL
que podem ser exploradas por um inimigo A US Navy está desenvolvendo o sis-
ou oponente, que pode atacar as redes tema Rhimes (Resilient Hull, Mechanical,
de comando e controle de uma imensa and Electrical Security). Trata-se de um sis-
variedade de sistemas militares, buscando tema de proteção cibernética projetado para
a desestabilização ou a degradação da ca- tornar seus sistemas de controle mecânicos
pacidade militar; e elétricos (controle de danos/combate a in-
e) afetar os sistemas mecânicos, como cêndios, máquinas de suspender e fundear,
os de energia e de controle de propulsão. geração de energia, hidráulicas, máquina do
Um navio poderia perder o controle sobre leme e controle da propulsão) resistentes a
a alimentação dos equipamentos, encalhar, ataques cibernéticos. O Rhimes se baseia
mudar de direção etc.; e em técnicas avançadas de resiliência ciber-
f) comprometimento dos sistemas de nética para se defender desses ataques. A
combate. A perda ou a degradação do poder maioria dos controladores físicos possui
combatente. Um radar, hoje, é uma porta aber- backups redundantes (cópias de segurança)
ta em um computador. A mesma frequência que permitem que o sistema permaneça
poderia ser utilizada para transmitir um operacional em caso de falha.
pacote de dados de volta ao computador e Em caráter geral, a mitigação de riscos
alterar o funcionamento do sistema de de- de um ataque cibernético, no mínimo,
fesa antiaérea, por exemplo. Especialistas deve identificar as ameaças, elaborar um
militares da Airforce-Technology (2008) e programa de conscientização da tripulação
o escritor Richard Clarke (2010) garantem e desenvolver padrões e diretrizes a fim de
que o sistema de ataque cibernético dos resolver as questões de segurança ciber-
EUA, chamado de Senior Suter, possui esta nética. O caminho passa pelo incremento
capacidade. Afirmam que essa tecnologia, de inspeções para minimizar falhas, im-
inicialmente testada pelos EUA nas guerras plementar controle de acesso de usuários
do Iraque e do Afeganistão, foi utilizada por e soluções de segurança adequadas para
Israel num ataque sobre uma instalação de os sistemas de bordo, instituir planos de
armas nucleares na Síria, em 2007. contingência e também estar preparado
para gerenciar incidentes que possam vir
A PROTEÇÃO a acontecer. Além disso, é preciso manter
os sistemas atualizados e aperfeiçoados
Os países com maior tradição e cultura ao longo de toda sua vida útil e trocar
de defesa já sinalizam medidas para reduzir informações com o setor privado (for-
as vulnerabilidades e os riscos neste impor- necedores), para o desenvolvimento de
tante flanco estratégico. melhores práticas.
84 RMB1oT/2017
ATAQUES CIBERNÉTICOS: AMEAÇAS REAIS AO PODER NAVAL
REFERÊNCIAS
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ATAQUES CIBERNÉTICOS: AMEAÇAS REAIS AO PODER NAVAL
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86 RMB1oT/2017
TRÊS CICLOS DA MARINHA DO BRASIL*
SUMÁRIO
Introdução
O despreparo e suas consequências
O Brasil na Guerra Fria
As alterações globais
As alterações no Brasil
A situação atual
As prioridades
Conclusão
* Publicado na Revista da Escola de Guerra Naval (EGN) em 2015 e revisto pelo autor em fevereiro de 2017.
* Comandou o CT Pernambuco. Instrutor de Centro de Jogos de Guerra da EGN. Professor do Programa de Pós-
-Graduação em Estudos Marítimos da EGN. Doutor em Ciência Política.
TRÊS CICLOS DA MARINHA DO BRASIL
88 RMB1oT/2017
TRÊS CICLOS DA MARINHA DO BRASIL
Nessas condições, não é difícil supor por de 1939 ocorrera a batalha naval do Rio
que a Marinha do Brasil (MB), no início dos da Prata, na costa do Uruguai, envolvendo
anos 1940, estava longe de ser a força po- navios ingleses e o encouraçado de bolso
derosa do início do século XX, construída alemão Graff Spee. Em consequência,
com os recursos do auge da exportação de realizou-se a conferência de julho de 1940
borracha e sob os auspícios do Barão do Rio em Havana, em que os chanceleres e re-
Branco, que convencera o poder político presentantes americanos declararam a neu-
das vantagens de uma boa esquadra para a tralidade das Américas, e foi estabelecida
política externa (Pereira, 2015, 128). uma zona de segurança marítima em torno
Alguns desses navios ainda estavam do continente para a proteção da navega-
em atividade, mas não ção costeira contra as
eram apropriados para possíveis extensões da
as operações antissub- O real envolvimento guerra que se travava
marino, como então se brasileiro ocorreu em na Europa (Pereira,
necessitava, por não 2015, 62).
terem sido para isso janeiro de 1942, quando No início de 1941,
especificados. Além foram rompidas as relações começaram a ser rea-
disso, estavam em lizadas, nessa zona de
péssimo estado por
diplomáticas com os segurança, as “patru-
não terem recebido a países do Eixo, seguindo- lhas da neutralidade”
necessária manuten- se o torpedeamento de por uma força-tarefa
ção devido à constante da Marinha norte-
falta de recursos entre mercantes nacionais -americana 1 que, a
os dois momentos, culminando, em agosto, partir de maio, passou
o que também era a
causa das reduzidís-
com os cinco afundamentos adefrequentar o porto
Recife, o qual se
simas e inadequadas próximos à costa da Bahia e tornou sua base naval
dotações de munições de Sergipe em outubro (United
então disponíveis (Pe- States, 2015 “Chrono-
reira, 2015, 128-134). logy”, iii).
A MB até tentara se reequipar – entre O real envolvimento brasileiro ocorreu
algumas outras tentativas, houvera um com o rápido crescimento das tensões a
“plano naval” elaborado em 1932 e imple- partir de janeiro de 1942, quando foram
mentado apenas em diminuta parte nos dez rompidas as relações diplomáticas com os
anos seguintes também pela notória falta países do Eixo, seguindo-se o torpedeamen-
de recursos, mas com foco exclusivamente to de mercantes nacionais por submarinos
regional – visando reduzir a inferioridade alemães e italianos, culminando, em agosto,
diante dos poderes navais do Chile e da com os cinco afundamentos próximos à
Argentina (Vidigal, 1982, 93-97). costa da Bahia e de Sergipe, fato que pro-
Alguns fatos indicavam que as hostilida- vocou violentas manifestações populares
des se aproximavam do País. Em dezembro contra alemães, italianos e japoneses e a
1 Os EUA também eram neutros, e assim permaneceram até o ataque japonês à base naval de Pearl Harbour, em 7
de dezembro de 1941, tendo declarado guerra ao Japão no dia seguinte e no dia 11 do mesmo mês à Alemanha
e à Itália, que declararam guerra, nesse mesmo dia, aos EUA.
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3 Período de alto crescimento econômico: 9,3% em 1968; 9,0% em 1969; 9,5% em 1970; 11,3% em 1971; 10,4%
em 1972 e 11,4% em 1973.
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qualquer outro país”, exigindo dos Estados Nesse mesmo ano, logo após a Guerra
“provedores de segurança” a capacidade de do Golfo (agosto/1990-abril/1991), os
projeção de poder sobre terra (ações mili- EUA emitiram uma estratégia de seguran-
tares sobre terra a partir de meios navais), ça nacional que transmitia o propósito de
a fim de restaurar ou manter a estabilidade estabelecer uma “Nova Ordem Mundial”,
internacional, questão fundamental para o assumindo como indispensável a lide-
sistema (Till, 2006, 9-13). rança norte-americana e incluindo várias
Till fornece, assim, a fundamentação instruções prevendo a presença avançada
das estratégias navais dos países desen- e a projeção de poder por suas forças onde
volvidos, de suas alianças e também de fosse necessário (United States of America,
vários países em desenvolvimento, como 1991, V, 27- 28).
Portugal (que pertence a uma dessas alian- O documento implicou profundas altera-
ças, a Organização do Tratado do Atlântico ções para a Marinha e o Corpo de Fuzileiros
Norte – Otan) (Rodri- Navais norte-america-
gues, 2014, 2-4). Seus nos, cujas estratégias,
argumentos, a par de O fim da Guerra Fria em vez de uma ame-
procedentes, servem à trouxe a redução das verbas aça global, passaram
manipulação política a focar os desafios e
da ética, pela veicu- e dos meios navais; e os oportunidades regio-
lação de ações para atentados terroristas de nais, a fim de moldar
benefício de Estados o futuro de forma fa-
mais poderosos como
11 de setembro de 2001 vorável aos interesses
realizadas em provei- acarretaram a Guerra do país, reforçando as
to do bem comum, Global ao Terror alianças, impedindo a
aspecto previsto na formação de ameaças
lógica da harmoni- e ajudando-o a pre-
zação de interesses identificada por Carr servar a posição estratégica conquistada
(Carr, 1981, 52). com o fim da Guerra Fria (United States
A Guerra Fria terminou formalmente of America, 1992, 2).
com a Paz de Paris quando, em novembro Em decorrência, a Marinha norte-ameri-
de 1990, os membros da Conferência cana alterou, por meio de dois documentos
de Segurança e Cooperação da Europa – From the Sea (1992) e Forward From the
(CSCE), entre eles os que haviam iniciado Sea (1994) –, o foco estratégico e as priori-
a Segunda Guerra Mundial – Alemanha dades de aplicação de recursos das operações
(já reunificada), União das Repúblicas no mar (“on the sea”) para as operações a
Socialistas Soviéticas (URSS), França, partir do mar (“from the sea”) –, ações de
Reino Unido e EUA –, firmaram um acordo projeção de poder com o propósito de in-
estabelecendo instituições parlamentares fluenciar os eventos nas regiões litorâneas
em todos os Estados, consagrando a vitória do mundo, considerando que, como nação
da superpotência ocidental. O evento não marítima, a estratégia de segurança dos EUA
foi muito noticiado, em virtude da grande era necessariamente transoceânica e seus
relevância dos acontecimentos que se se- interesses vitais estavam nas extremidades
guiram, concernentes ao colapso da URSS, finais das “estradas do mar” (“highways of
que veio a se dissolver em 25 de dezembro the sea”), que começavam em seu território
de 1991 (Bobbitt, 2003, 56). e chegavam a todos os quadrantes do mundo.
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5 O conflito Norte-Sul é o que ocorre entre países pobres e ricos e aparece sob algumas formas, inclusive a de co-
lônia versus metrópole e varia de intensidade segundo alguns fatores, como ciclos de crescimento econômico
mundial, conflitos entre grandes potências e conflitos entre países ricos.
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No Brasil, esse serviço fica a cargo provida, em muitos casos, pelos sistemas
da Marinha e é realizado pelo Comando existentes, dos quais eventualmente fazem
do Controle Naval do Tráfego Marítimo parte vários países, enquanto que a prote-
(Comcontram), diretamente subordinado ção dos ativos litorâneos corre por conta
ao Comando de Operações Navais, a quem apenas do dono do litoral, pois acordos que
compete prover os meios de defesa eventu- envolvessem outro Estado provavelmente
almente necessários. acarretariam perda de soberania.
O Comcontram acompanha diutur- O provimento de energia a um país envol-
namente o tráfego marítimo de interesse ve a segurança energética – a disponibilidade
nacional no mundo e o tráfego marítimo de fontes de energia suficientes e a segurança
nacional e estrangeiro nas águas de jurisdi- da energia –, a capacidade de fazer com que
ção brasileira, empregando vários sistemas, os insumos energéticos dessas fontes che-
tais como o Automatic Identification System guem efetivamente aos utilizadores, apesar
(AIS), o Long-Range Identification and Tra- de eventuais ameaças de qualquer natureza,
cking (LRIT), o Programa de Rastreamento o que muitas vezes envolve esforço militar,
de Embarcações Pesqueiras por Satélite especialmente em casos de conflito (India,
(Preps) e o Sistema de Informações sobre 2007, 46).
o Tráfego Marítimo (Sistram), cujos dados O Brasil, sendo praticamente autossu-
são fornecidos às companhias de navegação. ficiente em petróleo, teria garantida sua
Existem vários outros sistemas pelo segurança energética e, dispondo da maior
mundo afora, e, além disso, o tráfego ma- parte de suas fontes no mar, em posições
rítimo pode contar com as medidas de pro- por vezes muito afastadas da costa, teria
teção ou defesa por forças navais de vários condições de prover sua segurança da ener-
países em locais especialmente perigosos, gia inferiores às dos países cujas fontes se
como as forças-tarefa que operam na área situam no próprio território, mas superiores
da Somália, já comentadas. às dos que importam grande percentagem
Tais recursos provêm, assim, razoável do que consomem de fontes distantes que,
segurança contra as “novas ameaças” – em além de necessitarem proteger as linhas
tempo de paz e mesmo contra as ameaças de comunicações marítimas, têm as fontes
estatais em tempo de crise ou conflito, sob o controle de outros Estados, o que
se o país estiver do lado favorável na pode comprometer também sua segurança
governança internacional, pois se não for energética, situação que já foi a nossa no
assim, a situação será oposta. Evoque-se passado recente.
aqui o bloqueio do Iraque, decretado pelo
Conselho de Segurança da ONU em 25 AS PRIORIDADES
de agosto de 1990, por ocasião da Guerra
do Golfo (United, 1990), exercido pela Pelo exposto, vê-se que as prioridades
Marinha norte-americana e várias outras e para a preparação do poder naval, ou sua
que anulou a única linha de comunicações determinação, têm variado nos três últimos
marítimas daquele país. ciclos da MB: a Segunda Guerra Mundial, o
Vê-se, assim, que, como as plataformas Plano de Renovação dos anos 1960-70 e o
petrolíferas, a navegação mercante também atual Plano de Articulação e Equipamento
está sujeita a ameaças e necessita de prote- da Marinha do Brasil (Paemb), elaborado
ção, por vezes militar. Ocorre, porém, que, para permitir o cumprimento da Estratégia
na segunda situação, essa proteção pode ser Nacional de Defesa (END).
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importante – defesa contra oponentes mais mas também podem operar em apoio direto
poderosos, pois tanto a capacidade de con- de forças navais, participando de ações de
trolar áreas marítimas como a de projetar controle de áreas marítimas e, eventual-
poder continuam presentes na END e no mente, de projeção de poder.
Paemb, ainda que em proveito da defesa
dos ativos e de interesses nacionais, sem CONCLUSÃO
quaisquer propósitos intervencionistas,
como disposto na PND e na Constituição Verifica-se que a evolução das priorida-
Federal (Brasil, 2012a, item 5.12). des navais corresponde ao progresso insti-
Assim, estão sendo priorizados a cons- tucional do País e à evolução da conjuntura
trução de submarinos – SNA e convencio- internacional.
nais, ora em andamento, apesar dos cortes A Segunda Guerra Mundial surpre-
orçamentários –, e o SisGAAz, que, em endeu o País com a necessidade de uma
fase final de especificação, teve que ter seus Marinha atualizada, e a MB reagiu, ain-
trabalhos sustados em da que sem qualquer
2015 devido a esses priorização de meios,
cortes (Stochero, Cabe enfatizar que, tornando-se uma for-
2015), sistemas desti- ça adequada para a
nados primariamente
em caso de uma época. No Plano de
à tarefa de negação, necessidade real, Renovação dos anos
enquanto outros mais a cobrança de um mau 1960-70, houve crite-
específicos para as riosa priorização dos
outras tarefas (cons- desempenho recairá meios e conseguiu-se
trução de escoltas e de sobre a Marinha modernizar a Força,
navios-aeródromos, sob o condicionamen-
por exemplo) aguar- to estratégico interno
dam disponibilidade financeira. Cabe, con- da maior necessidade de proteger o tráfego
tudo, lembrar que, apesar dessa destinação marítimo e externo da bipolaridade. Estes
primária, o SNA e o SisGAAz também têm últimos aspectos constituíram a diferença
emprego nas outras tarefas: básica para a elaboração do atual Paemb,
O SisGAAz previsto é um sistema de voltado prioritariamente à defesa dos
monitoramento de alto nível, que deverá ativos litorâneos vitais em um contexto
permitir aos comandos conhecer as po- internacional ainda unipolar, mas sem
sições e prováveis intenções dos vetores constrições externas.
amigos e hostis navegando em boa parte do A percepção da necessidade de prepa-
Atlântico Sul, podendo, assim, aumentar a ração para a defesa dos ativos litorâneos e
eficiência dos meios operativos (SNA, sub- costeiros começou nos anos 1980, intensi-
marinos não nucleares, navios e aeronaves), ficou-se com o crescimento da exploração
fornecendo-lhes apoio de comunicações marítima de petróleo e teve seu ápice com
e vigilância para que obtenham posições a descoberta das grandes reservas do pré-
vantajosas em relação aos oponentes. -sal, fato presente na gênese da vontade
Os SNA podem exercer dissuasão contra política de investir na defesa naval e na
forças navais e submarinos em grandes citada alteração de prioridade, cabendo
áreas, como o Atlântico Sul, operando destacar que, pela primeira vez, se faz uma
isoladamente com o apoio pelo SisGAAz, priorização de meios e infraestrutura de
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defesa – um projeto de força – com base por parte do governo. Cabe, porém, enfati-
em necessidades e orientações determina- zar que, em caso de uma necessidade real,
das pelo poder político, o que lhe confere a cobrança de um mau desempenho recairá
a necessária legitimidade. sobre a Marinha.
Existem também, como acima exposto, Nunca é demais evocar o testemunho de
sensíveis diferenças entre as condições para um velho marinheiro sobre os idos de 1942:
elaboração e implementação dos dois pla- “O povo chegava na Praça Mauá e
nos, todas apontando para a complexidade tinha um velho encouraçado lá, que não
e custos muito maiores na situação atual, o tinha mais serventia e o povo falava: Vai
que, apesar da legitimidade, não encontra pro mar, o que tá fazendo isso aí? Vai
correspondência na destinação de recursos pro mar!” (Pereira, 2015, citação p.134)
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COMPETÊNCIAS DO LÍDER CONTEMPORÂNEO
(PARTE II) – O LÍDER COMO AVALIADOR
SUMÁRIO
* Comandou o Aviso de Instrução Aspirante Nascimento, o Rebocador de Alto-Mar Tridente e a Base Fluvial de
Ladário. MBA em Gestão Internacional na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Curso Superior
de Guerra Naval no Instituto de Guerra Marítima da Itália e Curso Superior de Estado-Maior Interforças
na Itália. Autor do livro Liderança – A arte de conduzir ao sucesso, professor de Liderança e de Jogos de
Guerra na Escola de Guerra Naval.
COMPETÊNCIAS DO LÍDER CONTEMPORÂNEO (PARTE II) – O LÍDER COMO AVALIADOR
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COMPETÊNCIAS DO LÍDER CONTEMPORÂNEO (PARTE II) – O LÍDER COMO AVALIADOR
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COMPETÊNCIAS DO LÍDER CONTEMPORÂNEO (PARTE II) – O LÍDER COMO AVALIADOR
subordinados, levando em conta que isso Além disso, para que a avaliação seja
pode provocar falhas e erros na execução fiel ao nível de desempenho do avaliado,
das tarefas, os quais devem ser considera- ela deve estar pautada em um sistema estru-
dos como fontes de aprendizado. turado, capaz de unificar os critérios pelos
Vale lembrar que diversos estudiosos e quais os subordinados são avaliados, o que
pensadores chamam a atenção para o fato constitui a tarefa mais simples da avaliação,
de que os erros são, na verdade, tentativas sendo feita por técnicos especializados.
de acerto; e só acerta quem tenta. É desta No entanto, a parte mais difícil da
forma que o líder deve encarar os eventuais avaliação é aquela feita pelo líder, pois se
erros cometidos por seus liderados na ten- baseia em aspectos intuitivos e subjetivos.
tativa de, com boa fé, realizar uma tarefa Dessa forma, o líder deve avaliar cada um
de modo mais eficiente. de seus subordinados levando em conta
Ao perceberem que a avaliação é feita o grau de complexidade das tarefas que
com base no grau de acomodação dos executa (diretamente proporcional ao de-
avaliados às normas e aos procedimentos senvolvimento profissional), os resultados
da organização, os subordinados dispostos que obtém na execução dessas tarefas, ou
a inovar e efetivamente contribuir para seja, a performance, e o comportamento,
a evolução da organização sentem-se caracterizado pelo grau de adesão aos
desmotivados para a realização do seu tra- valores da organização, pelo grau de com-
balho. Essa desmotivação é explicada por prometimento com os objetivos a alcançar,
Herzberg, conforme citado em AGUIAR pelo tipo de relacionamento com pares,
(2005, p.362), ao ensinar que os fatores subordinados e superiores etc.
motivadores inerentes ao trabalho desen- Assim, para desenvolver seu senso
volvido pelas pessoas são “a liberdade de justiça e atuar como avaliador, o líder
de criar, de inovar, de procurar formas deve conhecer profundamente cada um de
próprias e únicas de atingir os resultados seus liderados, deixando de lado a vaidade
das tarefas acometidas”. própria, a fim de evitar ser influenciado por
Assim, o líder que avalia seus liderados bajuladores, sem se deixar levar por impres-
segundo o critério do grau de acomodação sões superficiais e imediatistas, que podem
às normas e aos procedimentos em vigor, conduzir a erros importantes de julgamento.
considerando o comportamento cauteloso, Dentre os erros mais comuns de ava-
pouco criativo e conformista como maduro liação, cabe citar: os efeitos halo e horn,
e integrador, dificilmente conseguirá que nos quais o avaliador considera que, se um
sua equipe tenha um desempenho acima colaborador é bom ou ruim em determinada
de mediano. tarefa, terá desempenho semelhante em
Para que obtenha sempre uma melhoria todas; a tendência central, segundo a qual
no desempenho de sua equipe, o líder deve o avaliador procura avaliar todos os cola-
avaliar seus colaboradores de maneira a boradores como medianos; o efeito de re-
incentivar o comportamento independente, centicidade, no qual o avaliador baseia suas
inovador e criativo, aceitando os eventuais observações apenas nos fatos mais recentes,
erros que possam vir a acontecer como sejam bons ou ruins; a autoidentificação,
fases do aprendizado e evitando cair na que ocorre quando o líder tende a avaliar
armadilha de considerar o liderado com melhor os colaboradores que possuam a
iniciativa e capacidade de inovação como mesma formação ou os mesmos interesses
desintegrador ou “criador de casos”. que ele; e o erro de fadiga, em que, devido
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COMPETÊNCIAS DO LÍDER CONTEMPORÂNEO (PARTE II) – O LÍDER COMO AVALIADOR
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COMPETÊNCIAS DO LÍDER CONTEMPORÂNEO (PARTE II) – O LÍDER COMO AVALIADOR
relação entre líder e liderado, que faça com a organização ou instituição a que ambos
que o receptor interprete as observações pertencem. Para isso, o líder deve procurar
apresentadas pelo avaliador como contri- ser o mais descritivo possível em relação ao
buições para o seu próprio aperfeiçoamento, comportamento do avaliado e ao que dele
sejam essas observações positivas ou nega- se espera no futuro, evitando expressões
tivas. Visto dessa forma, o feedback torna- ambíguas ou vagas.
-se uma fonte de energia tanto para o líder Resumidamente, ao final do feedback,
quanto para os liderados, incentivando-os a líder e liderados devem deixar estabelecido
aperfeiçoar seu comportamento e a produzir um conjunto de metas e compromissos a se-
ótimos resultados, além de fortalecer a lide- rem cumpridos durante o próximo período
rança exercida pelo avaliador. de avaliação, visando ao desenvolvimento
A realização desse feedback demonstra, profissional do liderado e ao seu preparo
por parte do líder, consideração e respeito para novos desafios e para o cumprimento
pelos seus subordinados, minimizando suas de tarefas mais complexas.
incertezas e ansiedades, além de reconhe- Assim, para desenvolver a competência
cimento com seu esforço em realizar suas do senso de justiça e avaliar corretamente
tarefas de maneira seus liderados, o líder
correta, fortalecendo precisa agir com leal-
o exercício da lide- Para desenvolver a dade, integridade, equi-
rança. Além disso, competência do senso líbrio e respeito. Além
orienta os liderados disso, é necessário que
quanto ao comporta- de justiça e avaliar tenha bem desenvol-
mento e ao desempe- corretamente seus liderados, vidas as habilidades
nho deles esperados, de coragem moral, de
fazendo com que
o líder precisa agir com reconhecimento, de
saibam como estão lealdade, integridade, ouvinte e de estimu-
sendo vistos no seu equilíbrio e respeito lador, tendo em vista
ambiente de trabalho, que as críticas contidas
o que contribui para o no feedback devem ser
seu autoconhecimento. feitas com sinceridade, honestidade e res-
Dessa forma, para realizar uma avalia- peito, evitando desmotivar o avaliado, a
ção isenta e fornecer um feedback útil ao quem deve sempre ser concedida a palavra,
avaliado e à organização ou instituição a quer seja para este expor suas dificuldades
que pertença, o líder precisa preparar-se no cumprimento das tarefas em que seu
adequada e previamente. É inaceitável desempenho tenha deixado a desejar, quer
que, durante o feedback, o líder venha a seja para contribuir para o aperfeiçoamento
descontrolar-se ou a empregar expressões dos processos nos quais tenha apresentado
que possam ofender o avaliado ou afetar bom desempenho.
negativamente sua autoestima. As críticas
que eventualmente serão feitas durante a AS COMPONENTES DA
conversa de feedback precisam ser cuida- COMPETÊNCIA SENSO DE
dosamente preparadas, medindo-se as pa- JUSTIÇA
lavras, sem deixar de expressar a verdade,
com clareza, honestidade e lealdade para Concluindo, para adquirir a competência
com o avaliado e, principalmente, para com do senso de justiça, de modo que possa
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COMPETÊNCIAS DO LÍDER CONTEMPORÂNEO (PARTE II) – O LÍDER COMO AVALIADOR
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COMPETÊNCIAS DO LÍDER CONTEMPORÂNEO (PARTE II) – O LÍDER COMO AVALIADOR
determinado, pois poderá ser obrigado a en- é capaz de gerar confiança, que é a base
frentar situações difíceis e constrangedoras. sobre a qual se sustenta a liderança.
Enfim, o líder precisa desenvolver e Agindo dessa forma, o chefe constituirá
praticar conhecimentos, habilidades e um exemplo para seus subordinados, que
atitudes apontadas de maneira autêntica passarão a enxergá-lo não apenas como
e sincera, pois somente a autenticidade chefe, mas como líder.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AGUIAR, Maria Aparecida Ferreira de. Psicologia aplicada à Administração: uma abordagem in-
terdisciplinar. São Paulo: Saraiva, 2005.
CHIAVENATTO, Idalberto. Gestão de pessoas. 3o ed. Rio de Janeiro: Campus, 2010.
GOLEMAN, Daniel. Inteligência Emocional: a teoria revolucionária que redefine o que é ser inteli-
gente. Tradução de Marcos Santarrita. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
GOLEMAN, Daniel. Liderança. A Inteligência Emocional na formação do líder de sucesso. Rio de
Janeiro: Objetiva, 2015.
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humanos. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2014.
SIQUEIRA, Wagner. Avaliação de Desempenho: como romper amarras e superar modelos ultrapas-
sados. Rio de Janeiro: Reichman Affonso, 2002.
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A INTERDEPENDÊNCIA ENTRE ENERGIA E ÁGUA
* Doutor em Engenharia, diretor de Planejamento, Gestão e Meio Ambiente da Eletrobrás Eletronuclear e membro
do Grupo Permanente de Assessoria do Diretor-Geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
Colaborador assíduo da RMB.
1 Em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Agência_Internacional_de_Energia_Atómica
A INTERDEPENDÊNCIA ENTRE ENERGIA E ÁGUA
energia pode afetar os recursos de água de estresse. Além disso, pela primeira vez o
doce, tanto na sua quantidade como na sua WEO 2016 observa a relação energia-água,
qualidade. Por outro lado, a dependência analisando as necessidades energéticas para
dos serviços de abastecimento de água da diferentes processos no setor de água, in-
disponibilidade de energia afetará a capa- cluindo abastecimento, distribuição, trata-
cidade de fornecer água potável e serviços mento de águas residuais e dessalinização.
de saneamento às populações. As principais conclusões foram divulgadas
no Global Water Forum, na COP22, em 15
de novembro de 2016.
Marrakesh COP223
2 Em :https://www.iea.org/publications/freepublications/publication/WorldEnergyOutlook2016ExecutiveSum-
maryEnglish.pdf
3 Em: http://www.cop22-morocco.com
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A INTERDEPENDÊNCIA ENTRE ENERGIA E ÁGUA
4 Em: http://www.un.org/sustainabledevelopment/sustainable-development-goals/
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A INTERDEPENDÊNCIA ENTRE ENERGIA E ÁGUA
Tendo em vista que a gestão desses recursos campo para a aplicação da dessalinização
tem um forte componente transnacional, os em grande escala, para a qual a energia
efeitos geopolíticos dessa transição se tor- nuclear seria uma alternativa viável.
narão cada vez mais pronunciados. Com efeito, a energia nuclear já está
Note-se, finalmente, que a água do mar sendo usada para dessalinização e tem
é um recurso praticamente inesgotável. potencial para um uso muito maior. A
Seu efetivo uso, entretanto, depende da dessalinização nuclear é muito competitiva
disponibilidade de energia abundante e a em termos de custos, e somente os reatores
baixo custo para dessalinização e posterior nucleares são capazes de fornecer as copio-
transporte e distribuição para os locais ca- sas quantidades de energia necessárias para
rentes em água doce. Isto abre um amplo projetos em grande escala no futuro.
Dessalinização Nuclear5
5 Em: https://www.oecd-nea.org/ndd/workshops/nucogen/presentations/8_Khamis_Overview-nucleardesalination.pdf
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DAS FORÇAS ARMADAS E DO PODER JUDICIÁRIO
SOB O PRISMA DOS DISCURSOS PRESIDENCIAIS
DURANTE A REPÚBLICA VELHA
REIS FRIEDE*
Desembargador Federal
SUMÁRIO
Introdução
Dos discursos dos Presidentes da República Velha (ou Primeira República)
Deodoro da Fonseca
Floriano Peixoto
Prudente de Moraes
Campos Sales
Rodrigues Alves
Afonso Pena
Nilo Peçanha
Hermes da Fonseca
Wenceslau Braz
Epitácio Pessoa
Arthur Bernardes
Washington Luís
Conclusão
* Vice-Presidente do Tribunal Regional Federal (TRF)/2ª Região. Ex-membro do Ministério Público e professor
titular da Universidade Veiga de Almeida e do mestrado em Desenvolvimento Local do Centro Universitário
Augusto Motta (Unisuam). Colaborador costumeiro da RMB.
DAS FORÇAS ARMADAS E DO PODER JUDICIÁRIO SOB O PRISMA DOS
DISCURSOS PRESIDENCIAIS DURANTE A REPÚBLICA VELHA
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DAS FORÇAS ARMADAS E DO PODER JUDICIÁRIO SOB O PRISMA DOS
DISCURSOS PRESIDENCIAIS DURANTE A REPÚBLICA VELHA
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DISCURSOS PRESIDENCIAIS DURANTE A REPÚBLICA VELHA
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DISCURSOS PRESIDENCIAIS DURANTE A REPÚBLICA VELHA
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DAS FORÇAS ARMADAS E DO PODER JUDICIÁRIO SOB O PRISMA DOS
DISCURSOS PRESIDENCIAIS DURANTE A REPÚBLICA VELHA
rania nacional, solenemente enunciada pel exercido pelas forças militares de terra
pelo escrutínio de 1o de Março. [...]. e mar sobre os denominados inimigos da
O lustro de existência que hoje com- República, vitória que, segundo o transcrito
pleta a República brasileira tem sido de pronunciamento, possibilitou a estabilidade
lutas quase permanentes com adversá- republicana. No entanto, ao longo de seu
rios de toda a espécie [...]. governo, Prudente de Morais realizou cor-
Como expressão concreta desse tes no orçamento militar, o que acarretou
período de funestas dissensões e lutas, problemas quanto ao ensino e à formação
rememoro com amargura a revolta de 6 da oficialidade militar, impedindo, ainda, a
de setembro do ano próximo passado. modernização das instituições castrenses.
Essa revolta,
que foi o mais CAMPOS SALES
violento abalo A vitória da República
de que se podia O Presidente Cam-
ressentir o regi-
foi decisiva para provar pos Sales (15 de no-
me proclamado a a estabilidade das novas vembro de 1898 a 15
15 de Novembro instituições, que tiveram de novembro de 1902),
de 1889, iniciada ao discorrer por oca-
sob o pretexto de para defendê-las a sião de sua posse, não
defender a Cons- coragem, a pertinácia e a se referiu às forças
tituição da Repú-
blica e de libertar
dedicação do benemérito militares. Em nenhum
momento citou termos
a Pátria do jugo chefe de Estado, auxiliado semelhantes aos pro-
de uma suposta eficazmente pelas forças feridos por Deodoro,
ditadura militar, Floriano e Prudente.
reuniu, sob a sua militares de terra e mar Tratou, principalmen-
bandeira, todos os Prudente de Moraes te, de aspectos per-
elementos adver- tinentes à economia,
sos à ordem e à paz tendo em vista que, ao
pública, concluindo por caracterizar-se assumir, herdou uma grave crise econômi-
em um movimento formidável de ataque ca. De importante para o presente estudo,
às instituições nacionais, arvorando o cabe registrar que o discurso de 15 de
estandarte da restauração monárquica. novembro de 1898, de certo modo, teceu
Mas, por isso mesmo que essa luta tre- considerações a respeito da harmonia que
menda foi travada pela coligação de todos deve existir entre os poderes republicanos,
os inimigos, a vitória da República foi de- embora tenha conferido uma função ex-
cisiva para provar a estabilidade das novas tremamente acanhada ao Poder Judiciário,
instituições, que tiveram para defendê-las reveladora mesmo de uma independência
a coragem, a pertinácia e a dedicação do institucional meramente formal:
benemérito chefe de Estado, auxiliado Desde que, sob a influência de funes-
eficazmente pelas forças militares de terra tas tendências e dominado por mal enten-
e mar [...]. (BONFIM, 2004, p. 44) dida aspiração de supremacia, alguns dos
poderes tentarem levar a sua ação além
Como se vê novamente, um Presidente, das fronteiras demarcadas, em manifesto
ao ser investido no cargo, faz alusão ao pa- detrimento das prerrogativas de outro,
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DAS FORÇAS ARMADAS E DO PODER JUDICIÁRIO SOB O PRISMA DOS
DISCURSOS PRESIDENCIAIS DURANTE A REPÚBLICA VELHA
Não quer isto dizer, entretanto, que A Justiça Federal, pairando na es-
devemos descurar de colocar as nossas fera serena e garantidora dos direitos e
forças militares, de tradições tão ricas de guarda da Constituição, vai firmando em
bravura e patriotismo, em condições de sábios arestos alguns pontos duvidosos
bem desempenharem a sua nobre e eleva- desta, mal compreendidos no início de
da missão de defensoras da honra nacional sua execução. É a prova mais eloquen-
e guardas vigilantes da Constituição e te de que não é prudente promover
das leis. A perda de valiosas unidades reformas antes de pedir à experiência
de combate sofrida pela nossa Marinha, e à aplicação leal da Constituição indi-
de anos a esta parte, justifica de sobejo cações seguras sobre o alcance dos dis-
o ato do Governo brasileiro procurando positivos, que se afiguram imperfeitos
substituí-las de acordo com as exigências ou deficientes. A alta cultura jurídica
dos modernos en- dos nossos juízes deve
sinamentos da arte inspirar a mais com-
naval. Da mesma No regime presidencial, pleta segurança de que
forma, melhorar a o Supremo Tribunal,
organização militar mais que em outro colocado na cúpula da
e renovar o material qualquer, o Poder organização judiciá-
de guerra, dentro ria, pode desempenhar
dos limites impos-
Executivo deve dar com lustre o brilhante
tos pela situação exemplo de respeito e papel representado na
financeira, é dever cordialidade em suas União Americana pelo
comezinho do nos- Instituto que serviu
so como de todo relações com os outros de modelo ao nosso
Governo cônscio Poderes que a Constituição legislador constituinte.
de suas responsa- (BONFIM, 2004, p.
bilidades, sem que
criou, independentes e 100-101)
se possa atribuir ao harmônicos
seu cumprimento Afonso Pena A transcrição supra
propósito de ame- possibilita observar
aça ou intuito de alguns pontos interes-
agressão a povo algum, pois que a nossa santes do discurso de Afonso Pena, o qual,
preocupação foi e sempre será angariar num momento, destacou a missão outrora
e estreitar relações com todas as nações. consagrada às forças de terra e mar, ou seja,
No regime presidencial, mais que a de “defensoras da honra nacional e guar-
em outro qualquer, o Poder Executivo das vigilantes da Constituição e das leis”.
deve dar exemplo de respeito e cordia- Em seguida, afirma que a “Justiça Federal,
lidade em suas relações com os outros pairando na esfera serena e garantidora
Poderes que a Constituição criou, dos direitos e guarda da Constituição, vai
independentes e harmônicos. firmando em sábios arestos alguns pontos
Assim praticarei, convencido da duvidosos desta, mal compreendidos no
sabedoria desta norma consagrada em início de sua execução”.
todas as legislações e que se impõe de Vê-se, portanto, que a mesma missão
modo iniludível a qualquer espírito aten- (guarda da Constituição) foi atribuída
to na história política dos povos cultos. simultaneamente às Forças Militares e
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DAS FORÇAS ARMADAS E DO PODER JUDICIÁRIO SOB O PRISMA DOS
DISCURSOS PRESIDENCIAIS DURANTE A REPÚBLICA VELHA
ao Poder Judiciário, o que, a nosso ver, não surgirá o sol do cesarismo; mas,
ao mesmo tempo em que reflete o antigo sob a égide de um soldado, o País há
protagonismo daquelas, traduz o incipiente de ver firmar-se de vez a mais civil das
status institucional deste. repúblicas, pela abrogação das práticas
e dos hábitos contrários ao regime e de
NILO PEÇANHA tudo que tem servido para deturpar o
espírito e a inteligência da Constituição
Com a morte de Afonso Pena, ocorrida de 24 de Fevereiro. [...].
em 14 de junho de 1909, assume o vice- E ser-me-á fácil a tarefa porque,
-presidente Nilo Peçanha (14 de junho de soldado, só tenho uma aspiração – o
1909 a 15 de novembro de 1910), que não cumprimento inflexível da lei; cidadão,
realiza discurso de posse, muito prova- só tenho um ideal – a estabilidade do
velmente por conta regime e a felicidade
do momento de luto da pátria. (BONFIM,
nacional. Ser-me-á fácil a tarefa 2004, p. 113; 119)
porque, soldado,
HERMES DA Sobre a importân-
FONSECA só tenho uma aspiração – cia das Forças Arma-
o cumprimento inflexível das, dando especial
Posteriormente, de destaque à missão de
15 de novembro de
da lei; cidadão, só tenho defesa nacional e ao
1910 a 15 de novem- um ideal – a estabilidade respectivo orçamento
bro de 1914, o militar do regime e a felicidade militar, disse Hermes
Hermes da Fonseca, da Fonseca:
que havia sido minis- da pátria Mas o fato de haver
tro da Guerra durante Hermes da Fonseca sido sempre de paz e de
o governo de Afonso fraternidade a política
Pena, é eleito para o internacional do Brasil
cargo de Presidente da República, tendo to- e o propósito formal de prosseguir em
mado posse em sessão solene do Congresso tão sábia política, não significam nem
Nacional. Sua condição marcial foi devida- impõem que nos descuremos dos legí-
mente registrada numa das passagens de timos meios de defesa do País.
seu discurso, mormente ao dizer, em tom de Na medida dos recursos financeiros
esclarecimento, que sua origem castrense da República, cumpre persistir no apa-
não o afastaria dos “princípios republicanos relhamento da nossa Marinha, não só
e dos reais interesses da nação”: pela inteira execução do plano adotado
A minha qualidade de soldado, assim como pelo preparo intensivo do pessoal
como não influiu para que os elementos incumbido, para isto, as escolas técnicas
civis do país me julgassem digno de pre- de eletricidade, maquinistas e marujos.
sidir aos destinos da República, também, Não basta, porém, a aquisição de
afirmo-o sob a fé de todo o meu passado, navios de guerra, que largos sacrifícios
não será causa para que me divorcie, le- custam à nação; é necessário, para que
vando por estreito sentimento de classe, se conservem em condições de desem-
dos verdadeiros princípios republicanos penhar o papel a que podem ser cha-
e dos reais interesses da nação. Comigo mados um dia, que a Esquadra, apesar
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DAS FORÇAS ARMADAS E DO PODER JUDICIÁRIO SOB O PRISMA DOS
DISCURSOS PRESIDENCIAIS DURANTE A REPÚBLICA VELHA
das despesas que isso acarreta, esteja se tornar Presidente da República, quando
em constante movimento, pois é no ocupava a pasta da Guerra no governo
incessante labutar em alto-mar, no per- Afonso Pena, dedicou-se a um projeto
manente funcionamento das máquinas e de modernização do Exército, o qual, no
nos exercícios de toda a espécie que os início do século XX, segundo a maioria da
oficiais e tripulação se habilitarão para oficialidade, encontrava-se militarmente
o perfeito desempenho de suas funções. atrasado. À época, entre outras medidas
No que diz respeito às forças de terra, postas em prática, um grupo de oficiais
estou ainda convencido de que, executa- foi enviado para estagiar junto ao Exér-
do integralmente o plano de organização cito alemão. Retornando ao Brasil, esses
delineado na última reforma, poderemos oficiais deflagraram uma campanha pelo
preparar, em pouco tempo, um exército aperfeiçoamento profissional da instituição.
em condições de enfrentar o mais forte Conforme explica Cristina Monteiro de
e mais disciplinado adversário. Andrada Luna:
A lei do sorteio, com a criação das Devido ao afã modernizador, o
linhas de tiro, que muito se tem desen- grupo foi pejorativamente apelidado
volvido, preparará, dentro em pouco, de “jovens turcos” por uma parcela
numerosa e excelente reserva para o de militares e civis que se opunham
Exército. às suas ideias. O apodo fazia alusão a
Estou certo de que, no limite das do- oficiais turcos que haviam estagiado no
tações orçamentárias, estabelecendo-se Exército alemão e, que, ao retornar à
verbas parceladas e convenientes, pode- Turquia, engajaram-se em um partido
remos, em poucos anos, pelo desenvol- nacionalista e reformista, oficialmente
vimento paulatino de arsenais e fábricas, conhecido como Comitê de União e Pro-
aquisição de armamentos e material gresso, mas informalmente conhecido
bélico, constituídas as unidades táticas como Jovens Turcos, por ser formado
que pela reforma foram criadas, formar por estudantes universitários e jovens
uma nação militarmente forte, sem que oficiais progressistas. Na Turquia, os
haja necessidade de se manterem os Jovens Turcos participaram de uma
nossos quartéis repletos de soldados, rebelião contra o sultanato e de um
pois que, pelos processos adotados, cada processo de transformações que acabou
um dos nossos patrícios se transformará por resultar, em 1923, na Proclamação
em cidadão-soldado. (BONFIM, 2004, da República sob a liderança de Mustafá
p. 117-118). Kemal, após o Império Otomano ter sido
extinto pela derrota na Primeira Guerra
Cumpre notar que o discurso de Hermes Mundial, em 1918.
da Fonseca enaltece o clássico papel ins- Contudo, o apelido que surgiu de
titucional de defesa nacional. Pelo menos forma pejorativa passou a ser visto como
no que se refere aos discursos de posse, um símbolo de abnegação e patriotismo,
pode-se dizer que, de todos os presidentes conforme destacou Estevão Leitão de
da República, Hermes da Fonseca é o Carvalho em sua autobiografia intitulada
primeiro a abordar de modo tão claro a Memórias de um soldado legalista.
missão das Forças Armadas em matéria de Em relação ao pensamento dos jo-
defesa nacional. Cabe destacar, inclusive, vens turcos, é importante notar que o
que Hermes da Fonseca, mesmo antes de grupo considerava o Brasil uma nação
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DAS FORÇAS ARMADAS E DO PODER JUDICIÁRIO SOB O PRISMA DOS
DISCURSOS PRESIDENCIAIS DURANTE A REPÚBLICA VELHA
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DAS FORÇAS ARMADAS E DO PODER JUDICIÁRIO SOB O PRISMA DOS
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DAS FORÇAS ARMADAS E DO PODER JUDICIÁRIO SOB O PRISMA DOS
DISCURSOS PRESIDENCIAIS DURANTE A REPÚBLICA VELHA
EPITÁCIO
questão da defesa nacional, mos acudir ainda com
sacrifício, porque [...]
PESSOA cujas despesas, ainda que são a garantia da nossa
realizadas com sacrifício, própria existência [...].
Rodrigues Alves é (BONFIM, 2004, p.
eleito para um segun- não poderiam ser evitadas 161)
do mandato (15 de
novembro de 1918 a Nota-se o valor
15 de novembro de 1922), mas falece antes atribuído pelo Presidente Epitácio Pessoa
mesmo de assumi-lo. Até que fossem con- à questão da defesa nacional (e, por via de
vocadas novas eleições, Delfim Moreira, consequência, às forças militares), cujas
vice-presidente eleito, despesas, ainda que
assume provisoria- realizadas com sacri-
mente a Presidência A preleção de Bernardes fício, não poderiam
(15 de novembro de ser evitadas. Segura-
1918 a 28 de julho de
destacou a importância mente, esse trecho do
1919). da Justiça, do Direito e discurso guarda rela-
Em seguida, Epi- da Ordem, o que, de certa ção com a ocorrência
tácio Pessoa (28 de da Primeira Guerra
julho de 1919 a 15 de forma, não deixa de ser Mundial, que definiti-
novembro de 1922) uma alusão, ainda que vamente inseriu o as-
sucede Delfim Mo-
reira, que, como vis-
implícita, ao Judiciário e às sunto defesa nacional
na pauta estatal, quan-
to, havia assumido a instituições militares do, então, o governo
Presidência interina- despertou e começou
mente. Ressalte-se a dar maior atenção à
que Epitácio Pessoa concorreu ao pleito necessidade de modernização das nossas
eleitoral mesmo estando fora do Brasil, uma instituições militares.
vez que representava o País na Conferência
de Versalhes, em Paris, França, realizada ARTHUR BERNARDES
em 1919, por ocasião do fim da Primeira
Guerra Mundial. De sua Mensagem ao Em seguida, a sucessão presidencial leva
Congresso Nacional, datada de 3 de se- Arthur Bernardes (15 de novembro de 1922
tembro de 1919 e permeada por medidas a 15 de novembro de 1926) ao poder. Em seu
RMB1oT/2017 135
DAS FORÇAS ARMADAS E DO PODER JUDICIÁRIO SOB O PRISMA DOS
DISCURSOS PRESIDENCIAIS DURANTE A REPÚBLICA VELHA
discurso de posse não há qualquer referência aos que possam contratar advogado e que,
expressa às instituições militares, embora a sobretudo, tenham recursos para esperar.
preleção de Bernardes tenha destacado a im- É bem de ver-se que, nessas con-
portância da Justiça, do Direito e da Ordem, dições, só interesses de certo vulto
o que, de certa forma, não deixa de ser uma poderão valer-se de juízes e tribunais, e
alusão, ainda que implícita, ao Judiciário e às que, portanto, só uma restrita, mas muito
instituições militares, envolvidas que estão restrita, parte dos brasileiros poderá
com os temas em questão: fazer respeitar os seus direitos.
No meio dessas delicadas obrigações, A grande maioria, a multidão dos
que tornam hoje tão difícil a tarefa de humildes, esses que sofrem as injustiças
governar [...], uma existe que sobrele- diárias [...], não tem entre nós, na ordem
va bastante às outras, e vem a ser a de judicial, por falta de meios, a proteção
garantir o edifício social atual nos seus das leis.
fundamentos jurídicos próprios. A estru- Só contam com a proteção dos pa-
tura política vigente, para ser melhorada, tronos que assim formam clientela, di-
não carece aderir a ideias subversivas, minuindo o valor moral da nossa gente.
que importam na destruição total da lei. Todas as nações civilizadas tiveram
A obra da civilização só se acelera com e têm, e terão sempre, para os pequenos
eficácia dentro da ordem. Fora daí, tudo e para as pequenas causas, justiça rápida
é incerteza e predomínio das paixões e barata, sem delongas processuais, sem
violentas, contra as quais o mundo inteiro artifícios dos saberes, dada pelos iguais
precisa estar em guarda, para salvar, com quando os iguais pedem.
liberdade, a Justiça e o Direito, isto é, a É a justiça do Vir probus que, na Fran-
porção mais valiosa do patrimônio destes ça, ainda hoje se faz com o Conseil des
vinte séculos da cultura da humanidade. Prudhommes, e que os nossos “homens
(BONFIM, 2004, p. 176) bons” distribuíam nos tempos coloniais.
Feita semelhante organização para o
WASHINGTON LUÍS Distrito Federal, servirá ela de exemplo
para os Estados que a quiserem adotar.
Washington Luís, o último Presidente (BRASIL, 1927, p. 50-51)
da República Velha, toma posse em 15 de
novembro de 1926. Alçado ao poder por Washington Luís, no trecho anterior,
meio de eleição direta, é deposto, em 24 de discorre sobre questões relativas ao acesso
outubro de 1930, por forças militares co- ao Judiciário e à celeridade da prestação
mandadas por Vargas. Analisando o teor de jurisdicional, problemas que, segundo ele,
sua Mensagem Presidencial, encaminhada impediam que a grande maioria da popula-
ao Congresso Nacional em 3 de maio de ção (“a multidão dos humildes”) tivesse a
1927, por ocasião da abertura da 1a Sessão “proteção das leis”. Ademais, impressiona
da 13a Legislatura, verifica-se novamente a como o retrato acima ainda é encontrado
preocupação de um mandatário quanto ao em discursos mais contemporâneos.
acesso à Justiça e à prestação jurisdicional: Outrossim, na mesma data, Washington
Reclama a atenção solícita do Con- Luís dedicou atenção às Forças Armadas:
gresso à organização da justiça para os É desejo do Governo colocar as
pequenos. A nossa organização judiciária, Forças Armadas no pé que, pelo nosso
pesada, lenta e dispendiosa, só dá justiça código fundamental, lhes compete.
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DAS FORÇAS ARMADAS E DO PODER JUDICIÁRIO SOB O PRISMA DOS
DISCURSOS PRESIDENCIAIS DURANTE A REPÚBLICA VELHA
Nesse sentido, e com esse fim, posso blica Velha, espera-se que o frequente
afirmar-vos que já se trabalha com fun- emprego das mesmas enquanto instru-
dadas esperanças. mento de estabilização desta natureza
Com a França vai ser renovado o con- não volte a ocorrer.
trato para permanência da Missão Militar Diante da moldura do atual Estado De-
do exército francês [...]; como também com mocrático de Direito, cremos que as Forças
os Estados Unidos da América do Norte foi Armadas devem permanecer absolutamente
prorrogado o contrato para a Missão Naval subordinadas aos poderes constitucionais,
da Marinha de Guerra norte-americana [...]. somente atuando nos exatos termos da Lei
Com esses elementos, e com a Nação, Maior, cuja exegese final há de ser extraída
poderemos contar, não pelo homem polí-
dentro de alguns tico, mas pelo Supre-
anos, com Forças Poderemos contar, dentro mo Tribunal Federal,
Armadas dignas de alguns anos, com Forças restando impossível,
do destino que a hodiernamente, que
nossa Constituição Armadas dignas do destino elas sejam “convida-
Política, em propo- que a nossa Constituição das”, como acontecia
sição lapidar, lhes em épocas passadas,
traçou, fazendo-as
Política, em proposição a executar tarefas des-
instituições nacio- lapidar, lhes traçou, tinadas à tomada (e
nais permanentes fazendo-as instituições respectiva entrega) do
para defesa da Pá- poder a determinados
tria no exterior e nacionais permanentes para atores políticos.
para manutenção defesa da Pátria no exterior Numa verdadeira
das leis no interior. democracia, cumpre à
(BRASIL, 1927,
e para manutenção das leis sociedade, pelo meca-
p. 59) no interior nismo do sagrado di-
Washington Luís reito de voto, e jamais
Novamente, as atri- por meio das armas de
buições constitucio- militares, decidir a res-
nais das Forças Armadas (defesa da Pátria, peito de quem deve ocupar legitimamente
no exterior; manutenção das leis, no interior) os Poderes Executivo e Legislativo, resi-
são mencionadas num discurso presidencial. dindo, neste aspecto, a importância capital
do Poder Judiciário.
CONCLUSÃO As urnas, elas sim, são a força e as
baionetas da democracia e da mudança.
De tudo o que foi dito a respeito da Usemos, então, a nossa força para provocar
participação das Forças Armadas na vida as transformações e a alternância do poder
política brasileira no decorrer da Repú- que se fazem necessárias.
RMB1oT/2017 137
DAS FORÇAS ARMADAS E DO PODER JUDICIÁRIO SOB O PRISMA DOS
DISCURSOS PRESIDENCIAIS DURANTE A REPÚBLICA VELHA
REFERÊNCIAS
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www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao91.htm>. Acesso em: 26 jun. 2015.
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ocasião da Abertura da 1ª Sessão da 13ª Legislatura, em 3 mai. 1927. Disponível em: <http://
www.biblioteca.presidencia.gov.br/ex-presidentes/washigton-luis/mensagens-presidenciais-1/
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___________. Discurso proferido pelo Deputado Federal Fernando Lyra, na qualidade de líder
do antigo Movimento Democrático Brasileiro (MDB), em discurso publicado no Diário do
Congresso Nacional, em 2 abr. 1975. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/atividade-
-legislativa/plenario/discursos/escrevendohistoria/destaque-de-materias/lei-da-anistia/Fernan-
do%20Lyra%20020475.pdf>. Acesso em: 27 fev. 2015.
GOMES, Laurentino. 1889: como um imperador cansado, um marechal vaidoso e um professor
injustiçado contribuíram para o fim da monarquia e a proclamação da República no Brasil. 1.
ed. São Paulo: Globo, 2013.
LUNA, Cristina Monteiro de Andrada. Verbete Jovens Turcos. Dicionário da Elite Política Republicana
(1889-1930). FGV CPDOC. Disponível em: <http://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/verbetes/
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MELLO, Custódio José de. O Governo Provisório e Revolução de 1893, de 29 nov. 1889 a 5 set.
1893, edição póstuma, Vol. I, Tomo I. Brasiliana Biblioteca Pedagógica Brasileira. Companhia
Editora Nacional: São Paulo, 1938. Disponível em: <http://www.brasiliana.com.br/obras/o-
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MONTEIRO, Tobias. O Presidente Campos Sales na Europa. Edições do Senado Federal, V. 40.
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SANTA, Virginio Rosa. A desordem: ensaio de interpretação do momento. Rio de Janeiro: Schmidt,
1932.
138 RMB1oT/2017
O GUAJARÁ E O INÍCIO DA NAVEGAÇÃO A VAPOR
NO RIO MADEIRA
SUMÁRIO
Introdução
A navegação no Rio Madeira
Os vários Guajarás: mercantes e de guerra, a vela e a vapor
O Guajará do Rio Madeira
A família Miranda
A viagem pioneira e o destino do Guajará
O Guajará na província do Amazonas
Considerações finais
* Dante Ribeiro da Fonseca é graduado em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e doutor
em Ciências: Desenvolvimento Socioambiental pelo Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA) da
Universidade Federal do Pará (UFPA). É professor no Departamento de História da Fundação Universidade
Federal de Rondônia (Unir).
O GUAJARÁ E O INÍCIO DA NAVEGAÇÃO A VAPOR NO RIO MADEIRA
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O GUAJARÁ E O INÍCIO DA NAVEGAÇÃO A VAPOR NO RIO MADEIRA
tava passar o Rio Madeira: “[...] com razão p. 341). Nessas propostas iniciais para o
por ser de todos o mais rico e mais povoado estabelecimento da navegação regular a
[...]” (LACERDA, 1864, p. 42). vapor no Rio Madeira, o ponto final da na-
Naqueles anos, os produtos da Bolívia in- vegação era sempre a localidade do Crato.
crementavam esse comércio pelo Rio Madei- Era em Santo Antônio que terminava a
ra. No relatório de 1865, o mesmo presidente livre navegação. Então, qual a razão de des-
da província declarava ser a Bolívia, mais carregar os vapores em Crato e seguir a remo
do que qualquer outro dos nossos vizinhos, por mais 38 léguas? É que, ao menos até o
necessitada da saída fluvial pelo Brasil através ano de 1872, não havia em Santo Antônio
do Rio Madeira, o que prenunciava o grau que povoação que desse suporte à navegação rio
um dia atingiriam essas relações comerciais acima, papel este que seria cumprido pelo
(LACERDA, 1865, p. 17). Crato. Outro elemento importante é que
Assim é que transitaram no Rio Madeira a fronteira do Brasil com a Bolívia corria
no ano de 1864, provenientes da Bolí- a partir do ponto médio do Rio Madeira.
via, 70 ubás (cano- Crato ficava próximo
as) com mercadorias desse limite.
avaliadas em cerca de Tempestades, ataques
12:000$ em produtos A NAVEGAÇÃO
agrícolas e pecuários dos nativos, doenças que NO RIO MADEIRA
como: couros, graxa, dizimavam as tripulações,
cacau, charutos, açú-
car, charque, gado
fugas dos remadores eram tadeAtédoa século primeira me-
XIX,
etc.” (LACERDA, elementos da realidade era a navegação nos
1865. p. 23). Um re- adversa àquele que se rios da Amazônia feita
latório da Companhia a remo e vela e apre-
de Navegação e Co- aventurava pelas águas do sentava perigos e di-
mércio do Amazo- Rio Madeira ficuldades de toda or-
nas informava que, dem, inclusive ataques
no ano de 1865, 98 de salteadores. Além
canoas, transportando 32 mil arrobas de desses “piratas”, mencionados pelo ilustre
mercadorias e impulsionadas por 1.276 intelectual amazonense Mário Ypiranga
índios remeiros provenientes da Bolívia, de Monteiro (Os piratas do Rio Madeira,
Cuatro Ojos, no Rio Piraí, e de Exaltación, Caiari), o cônego Francisco Bernardino
no Rio Mamoré, desceram o Rio Madeira de Souza relaciona uma série de ataques
para comercializar seus produtos (Apud realizados por indígenas às embarcações
BASTOS, 1866, p. 253). e aos estabelecimentos rurais, ou mesmo
Nesse mesmo ano, havia no Rio Madeira aos povoados, na Amazônia nos anos de
três localidades com alguma importância. 1860. Destacaremos dois no Rio Madeira:
Estavam situadas às seguintes distâncias “Em 1860, no Crato, Rio Madeira, perpe-
de sua foz: Borba, 25 léguas; Canumã, 47 traram os Parintintins cinco mortes. [...] Em
léguas; e Crato, 130 léguas. A cachoeira 1869, na foz do Rio Machado, assaltaram
de Santo Antônio, onde iniciava o trecho os Parintintins a uma canoa e mataram a
encachoeirado para quem subia o rio, ficava flechadas dous dos tripolantes, conduzindo
a 168 léguas da foz do Rio Madeira, ou os cadáveres para suas malocas” (SOUZA,
seja, a 38 léguas do Crato (MELLO, 1866, 1875, pp. 136-137). O Rio Machado, ou
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O GUAJARÁ E O INÍCIO DA NAVEGAÇÃO A VAPOR NO RIO MADEIRA
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O GUAJARÁ E O INÍCIO DA NAVEGAÇÃO A VAPOR NO RIO MADEIRA
a Escuna Guajará, que em 1835 estava no vés de Dwarte, Potter & Co, de Liverpool”
Pará e no ano seguinte fez parte das operações (LOUREIRO, 2007, p. 248). Essa informa-
contra os cabanos (MENDONÇA, 1959. p. ção confere com a “Lista de embarcações
114-115). Há referência ainda a duas outras construídas nos estaleiros da Cammell
embarcações militares com esse nome: a Laird” (LVCCLS). As questões que se colo-
Fragata Guajará, que foi desmontada sem cavam agora eram: 1) Quando esse Guajará
que tivesse sido concluída sua construção, e iniciou a operar na Amazônia? e 2) A quem
o Patacho Guajará, que teve sua construção esse Guajará pertencia em 1858?
iniciada no Arsenal de Marinha do Pará em Constatamos então que havia somente
1886 e ali concluída em 1922 (TELLES, um vapor Guajará que começou a navegar
1998, parte IV, p. 199). Essas três primeiras dentro da Amazônia em 1858 e que foi enco-
embarcações encontradas eram embarcações mendado à Inglaterra. Também que somente
militares e a vela, nenhuma podia ser então houve um vapor construído pela Cammell
aquele navio que subiu o Rio Madeira em Laird em 1858 com o nome Guajará. No
1858. Houve também um navio mercante de relatório lido para a Assembleia Legislativa
nome Guajará, de nacionalidade francesa, Provincial no dia 15 de agosto de 1858, o
que operava na Amazônia no ano de 1858. presidente da província do Pará, Ambró-
Era impulsionado a vela e possuía três mas- sio Leitão da Cunha, informou: “Chegou
tros. Embora de utilização mercante e com o ultimamente um Vapor de propriedade do
mesmo nome, não é esse o Guajará buscado, lavrador José Antonio Miranda, cujo destino
pois não era um navio a vapor. consta que será a navegação no rio Capim e
Quanto aos vapores mercantes, houve visinhos” (CUNHA, 1858, p. 37). Os rela-
um vapor Guajará que fez a linha São tórios provinciais demonstram que, exceto
Luís-Belém. Não foi aquele que subiu o Rio os navios da empresa de Mauá, apenas o
Madeira, em razão de que apenas em 31 de Guajará operava naquele ano na Amazônia.
maio de 1861 foi entregue à Companhia de Ocorre, porém, que, em outubro de 1858,
Navegação a Vapor do Maranhão. Outro é atribuída a outra pessoa a propriedade do
vapor com esse nome fez linha na Amazônia vapor Guajará. Em uma publicação “a pe-
no século XIX: o Laurium, lançado ao mar no didos”, cujo título é Vapor Guajará, lemos:
dia 2 de agosto de 1879. Passou por diversos “Um abastado proprietário manda vir de
proprietários na Europa até que, no Brasil, foi Inglaterra um vapor à sua custa, [...] o Ilm.
adquirido pela Cia. de Cabotagem do Grão- Sr. Commendador Miranda dono do vapor
-Pará, em 1897, quando recebeu o novo nome Guajará satisfaz a vontade do publico, re-
de Marajó; em 1900 foi renomeado Guajará sultando pequena viagem à Vigia” (Gazeta
(Tyne Built Ships e LOUREIRO, 2007, pp. Official no 124 de 7/10/1858). O Comendador
115 e 248). Assim, o Guajará II somente Miranda de que nos fala o jornal não era José
foi construído 21 anos depois daquele outro Antônio de Miranda, mas seu irmão de nome
vapor Guajará, de 1858. muito parecido, o Comendador Antônio José
de Miranda. Nos jornais consultados, tanto
O GUAJARÁ DO RIO MADEIRA a embarcação como sua carga, quando esta
aparece consignada, são registradas ora em
Temos notícia ainda de outro vapor com nome de um, ora de outro. Assim, os registros
o nome de Guajará que operou dentro da que encontramos vinculam o nome dos dois
Amazônia. Foi um “navio de pás construído irmãos como proprietários da embarcação
por Cammell Laird, nº 229, em 1858, atra- desde o ano de 1858.
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O GUAJARÁ E O INÍCIO DA NAVEGAÇÃO A VAPOR NO RIO MADEIRA
A FAMÍLIA
MIRANDA
Já assentado que o
vapor Guajará perten-
ceu aos irmãos Antô-
nio José de Miranda e
José Antônio de Mi-
randa a partir de 1858,
resta falar sobre seus
proprietários. Eram
prósperos comercian-
tes paraenses daquela
segunda metade do
século XIX. O vapor
Guajará transporta-
va, para comercializar Figura 1: O convés do “Guajará”.
nos armazéns da firma Fonte: BROWN; LINDSTONE, 1878, p. 423.
Miranda Irmãos &
Companhia (BATISTA, 2004, p. 149), que fez entre os anos de 1858 e 1859. Em
em Belém, tanto a produção da fazenda de novembro de 1858, cogitava o Comendador
José Antônio de Miranda, localizada no Rio Antônio José de Miranda candidatar-se à
Capim (Gazeta Official n 62, de 19/3/1859)
o
subvenção de 12:000$000 oferecida pelo
quanto produtos agrícolas e extrativos que governo da província do Amazonas com
adquiriam no interior amazônico. Além vistas à navegação entre o Porto de Moz,
disso, o vapor Guajará fretava cargas para Almerin, Alenquer, Monte Alegre e Faro,
terceiros e conduzia também passageiros, enviando para viagem a esses portos o seu
tanto para particulares como para o governo, vapor Guajará (Correio Mercantil no 311,
conforme demonstram vários anúncios nos de 17/11/1858). A viagem iniciada no mês
jornais paraenses e amazonenses da época. seguinte ao Rio Madeira objetivava tam-
Aparentemente, dos dois irmãos, An- bém investigar a possibilidade de explorar,
tônio José era a figura de maior destaque sob subsídio governamental, esses portos.
e posses. Afora comendador, foi deputado Assim, no dia 11 de novembro de 1858, o
provincial por diversas vezes e vice-prove- Guajará partiu para o Amazonas. Segundo o
dor da Santa Casa de Misericórdia (Treze de Correio Mercantil: “Tem que tocar em todos
Maio no. 55, de 14/8/1861). Abrangiam os os pontos de escala dos vapores da compa-
negócios desse notável irmão um espectro nhia do Amazonas até Manaos” e seguia
mais amplo que o de José Antônio. “[...] sobremaneira carregado [...]” (Correio
Mercantil no 329, de 6/12/1858). Em razão
A VIAGEM PIONEIRA E O de todas essas escalas, chegou a Manaus no
DESTINO DO GUAJARÁ dia 1o de dezembro de 1859 e no dia 3 de
janeiro daquele ano chegava a Serpa, locali-
Mas a viagem mais importante, que dade próxima à embocadura do Rio Madeira,
reservará para a história do Rio Madeira de retorno do Crato (Gazeta Official no 15,
esse ignorado vapor, foi aquela pioneira de 20/1/1859). Estava de volta a Belém no
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O GUAJARÁ E O INÍCIO DA NAVEGAÇÃO A VAPOR NO RIO MADEIRA
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O GUAJARÁ E O INÍCIO DA NAVEGAÇÃO A VAPOR NO RIO MADEIRA
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O GUAJARÁ E O INÍCIO DA NAVEGAÇÃO A VAPOR NO RIO MADEIRA
Em maio de 1877 o
Guajará foi aprovado
na vistoria feita no
Arsenal de Marinha
de Belém, juntamente
com os vapores Beija-
-Flor, Inca, Andirá e
Marajó, que recebe-
ram permissão para
continuar navegando
(Diário de Belém no
105, de 10/5/1877).
Em fevereiro do ano
seguinte, foram visto-
riadas no Arsenal de
Marinha as embarca- Figura 3: O barco fluvial Guajará, pioneiro da navegação a vapor no Rio
ções Tocantins, Andi- Madeira
Fonte: BROWN; LINDSTONE, 1878, pp. 418-9
rá e Guajará, sendo as
duas primeiras consi-
deradas aptas a navegar, mas “ [...] o vapor da inauguração da navegação mercante a
Guajará foi condemnado a não emprehender vapor no Grande Rio. Resultado disso é
viagem sem primeiro calafetar o convez e a que, com muita frequência, a navegação
tolda” (Jornal do Pará a vapor “particular”,
no 66, de 21/3/1878). aquela promovida
No final daquele ano, Consultando cerca de uma por comerciantes ou
o Guajará completaria dezena de dissertações, teses, seringalistas, que não
20 anos de construção compunham o mate-
e serviços prestados artigos acadêmicos e obras rial flutuante dessas
à Amazônia Brasilei- de referência sobre o tema, a empresas, fica co-
ra já não navegava
mais para a província
impressão que se tem é que locada em segundo
plano. Contudo, essa
vizinha. Desde então, este navio não existiu. modalidade de nave-
não encontramos mais O Guajará terminou sua gação, não regular,
quaisquer referências também representou
a essa embarcação nas vida útil na obscuridade em importante papel no
fontes que tivemos dis- que permaneceu até hoje, esforço que condu-
ponibilizadas.
embora tenha participado ziu a Amazônia Bra-
sileira ao posto de
CONSIDERAÇÕES de um evento histórico virtual monopolista
FINAIS e, portanto, maior
fornecedor mundial
A literatura sobre o surgimento e a ex- de goma elástica até a segunda metade
pansão da navegação a vapor na bacia do do século XX.
Amazonas tem se empenhado em estudar A história do vapor Guajará ilustra bem
as empresas que surgiram após 1852, ano essa opção preferencial dos pesquisadores
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O GUAJARÁ E O INÍCIO DA NAVEGAÇÃO A VAPOR NO RIO MADEIRA
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148 RMB1oT/2017
O GUAJARÁ E O INÍCIO DA NAVEGAÇÃO A VAPOR NO RIO MADEIRA
CLIB - Collecção das Leis do Imperio do Brasil de 1871. Tomo XXXIV, parte II. Rio de Janeiro:
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COUTINHO, João Martins da Silva. Relatório apresentado ao Illm. e Exm. Snr. Dr. Manoel Clemen-
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COUTINHO, João Martins da Silva. Relatório da exploração do Rio Madeira (1864). In: Relatório
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pographia Universal de Laemmert, 1865.
CUNHA, Ambrosio Leitão da. Relatorio lido pelo ex. mos. vice-presidente da provincia, na abertura
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Typographia de Santos & filhos, 1853.
CUNHA, Manoel Clementino Carneiro da. Falla dirigida a á [sic] Assemblea Legislativa Provincial
do Amazonas na abertura da 2a sessão ordinaria da 5a legislatura no dia 3 de maio de 1861
pelo presidente da mesma. Manáos: Typographia. de Francisco José da Silva Ramos, 1861.
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passou a administração ao primeiro vice-presidente, exm. snr. dr. Manoel Gomes C. de Miran-
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LACERDA, Adolfo de Barros Cavalcanti de Albuquerque. Relatorio apresentado á Assembléa
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LACERDA, Adolpho de Barros Cavalcanti de Albuquerque. Relatorio com que entregou a adminis-
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Manaos: Typographia. do Amazonas de Antonio da Cunha Mendes, 1870.
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O GUAJARÁ E O INÍCIO DA NAVEGAÇÃO A VAPOR NO RIO MADEIRA
MATTOS, João Wilkens (ten.-cel.). Relatorio com que o exm. o sr. presidente da provincia do Amazo-
nas abrio a Assembléa Legislativa Provincial no dia 4 de abril de 1869. Manáos, Typographia
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150 RMB1oT/2017
AERONAVES REMOTAMENTE PILOTADAS:
IDENTIFICANDO PROMISSORAS OPORTUNIDADES
DE EMPREGO*
SUMÁRIO
Introdução
Operações Ribeirinhas
Apoio à Hidrografia
Busca e Salvamento
Patrulha Naval e Inspeção Naval
Guerra Eletrônica e AA
Operação Antártica
Operações de Paz – Apoio Humanitário
Conclusão
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AERONAVES REMOTAMENTE PILOTADAS: IDENTIFICANDO PROMISSORAS OPORTUNIDADES DE EMPREGO
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AERONAVES REMOTAMENTE PILOTADAS: IDENTIFICANDO PROMISSORAS OPORTUNIDADES DE EMPREGO
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AERONAVES REMOTAMENTE PILOTADAS: IDENTIFICANDO PROMISSORAS OPORTUNIDADES DE EMPREGO
Uma das nobres missões da MB é a ma- Uma das maiores dificuldades para
nutenção da segurança no tráfego aquaviá- o treinamento de nossas guarnições é a
rio, cumprido de forma exemplar pela rede indisponibilidade de meios aéreos em
de agências, delegacias e Capitanias dos quantidade e periodicidade suficientes
Portos espalhadas em território nacional, para atenderem ao treinamento de todos
distribuídas pelas nossas águas costeiras nas áreas de guerra eletrônica e
antiaérea (AA). Equipamentos
ARP de baixo custo poderiam
ser utilizados para preencher esta
lacuna. Sem a necessidade de
um grande planejamento prévio,
meios navais poderiam dispor,
operados por pessoal qualificado
e quando da sua necessidade in-
terna, desses equipamentos para
o treinamento nesses ambientes
da guerra, a baixo custo e com
maior periodicidade.
RMB1oT/2017 155
AERONAVES REMOTAMENTE PILOTADAS: IDENTIFICANDO PROMISSORAS OPORTUNIDADES DE EMPREGO
OPERAÇÃO ANTÁRTICA
CONCLUSÃO
156 RMB1oT/2017
AERONAVES REMOTAMENTE PILOTADAS: IDENTIFICANDO PROMISSORAS OPORTUNIDADES DE EMPREGO
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RMB1oT/2017 157
LOGÍSTICA BASEADA EM DESEMPENHO*
SUMÁRIO
Sumário
Introdução
Considerações conceituais
Estudo de caso das aeronaves F/A-18 da U.S. Navy e do U.S. Marine Corps
Pensando a PBL no âmbito da MB
Considerações Finais
*Título original: Logística baseada em desempenho – Performance Based Logistics (PBL): uma aproximação
teórica e contextual à sua utilização
** Docente da Escola de Guerra Naval (EGN). Doutor em Ciência Política (Universidade Federal Fluminense)
com MBA em Gerenciamento de Projetos (Pontifícia Universidade Católica-RJ).
1 A questão foi debatida na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (27/8/2015), em que o comandante
da Marinha declarou: “Evidentemente, a Marinha sentiu fortemente o corte. Nós saímos de um orçamento
de R$ 5,2 bilhões para R$ 3,9 bilhões [...]”. (BRASIL. Senado Federal. Agência Senado)
Em 14 de junho de 2016, com jornalistas no navio Cisne Branco, o comandante da Marinha discorreu sobre
diversos temas, entre os quais a questão da idade dos navios: “Nossos navios estão envelhecidos, são de
manutenção cara – essa é nossa preocupação para ameaças de maior nível”. (Empresa Brasil de Comunicação
S/A – EBC. Agência Brasil)
LOGÍSTICA BASEADA EM DESEMPENHO
Consciente dessa realidade, a alta admi- aeronaves F/A-18 Hornet e Super Hornet,
nistração naval tem incentivado a pesquisa da U.S. Navy e do U.S. Marine Corps. Es-
e a eventual adoção de inovações que sas duas seções estão pautadas na pesquisa
contribuam para reduzir os efeitos supra- realizada no âmbito da experiência das
citados. Diversos setores têm participado Forças Armadas dos EUA, uma vez que
desse esforço, entre eles a Escola de Guerra são os maiores usuários da logística base-
Naval (EGN), responsável pela condução ada em desempenho e, além disso, existe
dos cursos de altos estudos militares da farta documentação ostensiva relativa à
MB. No âmbito das pesquisas conduzidas experiência do DoD com a PBL. A terceira
tanto por docentes quanto discentes da e última seção tem como foco alguns pontos
EGN, a logística baseada em desempenho, basilares que devem ser considerados ao
ou PBL2, tem despontado como objeto de se pensar na eventual aplicação da PBL na
estudo capaz de contribuir para reverter o Marinha do Brasil.
círculo vicioso vivenciado pela MB.
A PBL é estudada com profundidade CONSIDERAÇÕES CONCEITUAIS
por algumas outras Marinhas, bem como
no universo acadêmico de países como os A pesquisa relativa ao conceito intrín-
Estados Unidos da América (EUA), sendo seco à PBL foi iniciada nas publicações
o tema deste artigo que busca responder ostensivas do Estado que é o maior usuário
às seguintes questões basilares: O que é a da logística baseada em desempenho em
PBL? Como, por que e onde surgiu? Como suas Forças Armadas, isto é, os EUA. O
tem sido utilizada na área de defesa? A PBL Glossary of Defense Acquisition Acronyms
pode ser útil para a MB? O que deve ser and Terms foi o ponto de partida para a
considerado para a sua eventual aplicação? apreensão do conceito logístico presente
Para responder às questões supracitadas, na PBL. Essa publicação, elaborada pela
o artigo busca evidenciar e analisar o con- Defense Acquisition University (DAU),3
ceito da logística baseada em desempenho, define a logística baseada no desempenho
suas origens e seu emprego na área militar, da seguinte forma:
bem como a sua eventual aplicação aos PBL – Sinônimo de performance
contextos presente e futuro da MB. Para a based product support, em que os
consecução do objetivo proposto, o texto resultados são adquiridos por meio
foi estruturado em três seções. Na primei- de acordos baseados no desempenho
ra delas são apresentados os conceitos e que atendam aos requisitos do setor
as definições basilares acerca da PBL e operativo e incentivem os provedores
o contexto que levou à sua utilização no do apoio logístico a reduzir os custos,
âmbito do Departamento de Defesa (DoD) por meio da inovação. Esses acordos
dos EUA. Na seção seguinte é apresentado são formalizados por meio de contratos
um estudo de caso relativo à aplicação da com a indústria ou mesmo com outros
PBL na área de defesa. O caso aqui analisa- órgãos do governo. Seu foco primário
do tem como foco a aplicação da PBL nas consiste em otimizar o apoio contratado
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LOGÍSTICA BASEADA EM DESEMPENHO
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LOGÍSTICA BASEADA EM DESEMPENHO
9 Disponibilidade (Availability) é definida no Glossary of Defense Acquisition Acronyms and Terms como: “Uma
medida do grau em que um item se encontra disponível para operar e pode ser alocado para uma missão que
foi solicitada de forma tempestiva” (Tradução nossa). UNITED STATES DEPARTMENT OF DEFENSE.
Defense Acquisition University. Glossary of Defense Acquisition Acronyms and Terms. Availability. Dis-
ponível em:<https://dap.dau.mil/glossary/pages/1469.aspx>. Acesso em: 10 nov.2016.
10 UNITED STATES DEPARTMENT OF DEFENSE. Defense Acquisition University. Performance Based
Logistics Community of Practice – PBL Toolkit. The Basics – PBL Overview – Definitions & Overview.
Disponível em: < https://acc.dau.mil/CommunityBrowser.aspx?id=527126>. Acesso em: 10 nov. 2016.
11 Diretor do Logistics and Sustainment Center, na Defense Acquisition University.
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LOGÍSTICA BASEADA EM DESEMPENHO
12 “O custo do ciclo de vida de um item (Life-Cycle Cost – LCC) inclui todos os custos diretos e indiretos relativos
à obtenção, à operação, ao apoio e à alienação do mesmo” (BRASIL, 2013, Cap. 8, p. 1).
13 A já citada Diretiva 5000.01 de 12 de maio de 2003.
14 Prontidão (Readiness) é definida no Glossary of Defense Acquisition Acronyms and Terms como: “Estado de
preparação das forças, sistemas, ou de sistemas de armas para cumprir uma missão ou para realizar operações
militares. É baseado em pessoal adequado e treinado, bem como na condição do material, nos suprimentos/
reservas do sistema de apoio logístico, número de unidades disponíveis etc.” (Tradução nossa). UNITED
STATES DEPARTMENT OF DEFENSE. Defense Acquisition University. Glossary of Defense Acquisition
Acronyms and Terms. Readiness. Disponível em: <https://dap.dau.mil/glossary/pages/2532.aspx>. Acesso
em: 10 nov.2016.
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LOGÍSTICA BASEADA EM DESEMPENHO
15 UNITED STATES DEPARTMENT OF DEFENSE. Defense Acquisition University. Gansler testifies before
Congress on transformation of DoD logistics. Statement before the House Armed Services Committee Rea-
diness Subcommittee Logistics Transformation Hearing held June 27, 2000. Disponível em: < http://www.
dau.mil/pubscats/PubsCats/PM/articles00/gans2s-o.pdf>. Acesso em: 15 nov. 2016.
16 Ibid.
17 Pesquisador do Center for Public Policy and Private Enterprise na School of Public Policy, da University of
Maryland (GANSLER; LUCYSHYN, 2006, p. 47).
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LOGÍSTICA BASEADA EM DESEMPENHO
Figura 1 – Espectro considerado ao se avaliar a adoção de uma abordagem logística baseada na PBL
Fonte: GANSLER; LUCYSHYN, 2006, p. 6
18 Por ocasião da palestra proferida no Simpósio de Logística, realizado durante a Latin America Aerospace and
Defense (LAAD), em abril de 2015, o então chief da Sustainment Division, U.S. SouthCom, Larry Burton,
apontou que, em 2015, 25 % dos contratos da U.S. Navy envolviam a PBL.
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LOGÍSTICA BASEADA EM DESEMPENHO
Figura 2 – Componentes e subsistemas das aeronaves F/A-18, objeto de contratos iniciais de PBL
Fonte: GANSLER; LUCYSHYN, 2006, p. 17
19 O caso foi preparado com base nas informações disponíveis no já citado Evaluation of Performance Based
Logistics (2006, p. 11-22) de Jacques S. Gansler e William Lucyshyn.
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LOGÍSTICA BASEADA EM DESEMPENHO
20 Mission Capable Rate corresponde ao “total de aeronaves capazes de cumprir todos os tipos, ou parte dos
tipos, de missões para as quais foram concebidas” (Tradução nossa). UNITED STATES AIR FORCE. Air
Education and Training Command Instruction 21-105 (18 March 2013), p. 12. Disponível em:<http://static.e-
-publishing.af.mil/production/1/aetc/publication/aetci21-105/aetci21-105.pdf>. Acesso em: 15 nov. 2016.
166 RMB1oT/2017
LOGÍSTICA BASEADA EM DESEMPENHO
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LOGÍSTICA BASEADA EM DESEMPENHO
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LOGÍSTICA BASEADA EM DESEMPENHO
logística vigente e o custo do que poderá interesses desses interlocutores podem ser
ser obtido com a eventual adoção da PBL. sintetizados da seguinte forma:
Nesse sentido, é mandatório que o Apoio – as Forças Armadas almejam o melhor
Logístico Integrado (ALI), principalmente desempenho, notadamente a confiabili-
para os novos componentes, subsistemas dade e a disponibilidade dos seus meios
e sistemas de armas da MB, passe a ser materiais;
efetivamente implementado. – o Governo busca atender às necessi-
A capacidade de identificar e formular dades das Forças Armadas, com um orça-
requisitos de desempenho é essencial para mento limitado; e
se pensar em termos de logística baseada – as empresas (fabricantes/fornece-
em desempenho, haja vista que os requisi- dores) procuram atender aos contratos
tos desejados, bem como as métricas para firmados com as Forças Armadas, obtendo
a sua quantificação, são fundamentais para a maior margem de lucro possível.
os contratos de PBL. Além disso, eles são Portanto, é essencial que todas as partes
a expressão daquilo que o setor operativo interessadas tenham a percepção conver-
precisa ou deseja obter de um componente, gente de que a lógica subjacente à PBL é:
subsistema e sistema de armas. menos gastos com sobressalentes e reparos,
Tais requisitos devem ser compatíveis mais disponibilidade e confiabilidade dos
com as reais necessidades operativas, sistemas de armas e ganhos financeiros
uma vez que os custos de um contrato de médio e longo prazo que permitirão a
de PBL estarão diretamente associados permanência dos fabricantes e fornecedores
a eles. Por exemplo: estabelecer como na atividade empresarial.
requisito de desempenho para um navio, Os contratos são outro ponto central a se
uma disponibilidade de 300 dias de mar pensar na PBL. O contratante, no caso aqui
por ano, terá um custo diferente de um pensado como a MB, deve ter a capacidade
requisito que estabeleça como meta a de formular, redigir, firmar e fiscalizar os
disponibilidade de 180 dias de mar no contratos de PBL. Essa talvez seja a maior
mesmo período. Em outras palavras, o de- vulnerabilidade em um eventual contrato
sempenho a alcançar deve refletir aquilo de PBL para a MB e que, provavelmente
que, de fato, o setor operativo necessita implicará uma curva de aprendizado, haja
do componente, subsistema e sistema de vista que os primeiros contratos não terão
armas objeto da PBL. escopo similar com outros já firmados pela
Convencer as empresas da Base Indus- Marinha.
trial de Defesa é um desafio a se pensar na Os casos estudados na EGN21 apontam
PBL integrada e alinhada com a política e que os contratos de PBL, usualmente, apre-
estratégia nacional de defesa brasileira. A sentam as seguintes características:
PBL é uma relação tipo “ganha-ganha-ga- – uma moldura temporal de longa du-
nha” entre três grandes partes interessadas: ração (cinco anos em média, com opção
as Forças Armadas, o Governo e as em- de renovação por um ou dois períodos
presas. Em termos singelos, os principais subsequentes);
21 Com base nas informações disponibilizadas por Jacques S. Gansler e William Lucyshyn em Evaluation of Per-
formance Based Logistics (2006, p. 23-35), dois outros casos foram preparados e analisados na EGN. Esses
casos abordam, respectivamente, o contrato firmado com a Michelin, para o gerenciamento completo dos
23 tipos de pneus utilizados pelos 16 tipos de aeronaves da U.S. Navy e do U.S. Marine Corps; e o contrato
com a Lockheed Martin Maritime Systems & Sensors para o sistema sonar dos submarinos da U.S. Navy.
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LOGÍSTICA BASEADA EM DESEMPENHO
22 Tal como atesta o caso das aeronaves F/A-18 apresentado, bem como apontam Benjamin Ertel, Mike Jones e
Ted Seymour em Performance-Based Logistics Perpective (2009, p. 1), “desde 2000, o DoD tem indicado,
de forma consistente, que a PBL deve ser priorizada, tanto para as novas aquisições quanto para o apoio aos
meios já existentes” (Tradução nossa).
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LOGÍSTICA BASEADA EM DESEMPENHO
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172 RMB1oT/2017
RADIOMONITORAÇÃO DE REDES DE SATÉLITES
GEOESTACIONÁRIOS
SUMÁRIO
Introdução
A necessidade da vigilância
Comando e Controle
Monitoração de satélites geoestacionários
O problema das interferências
A Estação Terrena de Monitoração de Satélites Geoestacionários (Emsat)
Conclusão
* Serviu na Estação Rádio da Marinha no Rio de Janeiro. Atualmente serve no Comando da Segunda Divisão da
Esquadra. Possui especialização em Eletrônica e aperfeiçoamento em Comunicações Navais.
RADIOMONITORAÇÃO DE SATÉLITES GEOESTACIONÁRIOS
1 Esse fenômeno é um dos fatores responsáveis pela limitação no tráfego das informações, produzindo ruídos que
podem ser reduzidos com certos tipos de modulação. Disponível em <http://brasilescola.uol.com.br/fisica/o-
-fenomeno-interferencia.htm>, Acesso em 09 jul. 2106.
2 Órbita equatorial ou geoestacionária é aquela em que o satélite está sempre na mesma posição em relação à Terra.
Ela possui uma inclinação de 0 (zero) grau e coincide com o plano do equador.
174 RMB1oT/2017
RADIOMONITORAÇÃO DE SATÉLITES GEOESTACIONÁRIOSRR
3 Mobilidade Estratégica é a aptidão para se chegar rapidamente ao teatro de operações (BRASIL, 2012).
4 As áreas internacionais de responsabilidade para operações de Socorro e Salvamento (SAR –Search and Rescue),
acertadas junto a Organização Marítima Internacional (International Maritime Organization – IMO) somam
cerca de 10 milhões de km2.
5 Missão da MB: “Preparar e empregar o Poder Naval, a fim de contribuir para a defesa da Pátria; para a garantia
dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem; para o cumprimento das
atribuições subsidiárias previstas em Lei; e para o apoio à Política Externa” (BRASIL, 2014).
6 Operação que envolve o emprego coordenado de elementos de mais de uma força singular, com propósitos
interdependentes ou complementares, mediante a constituição de um Comando Conjunto (BRASIL, 2015b).
7 Operação empreendida por elementos ponderáveis de Forças Armadas Multinacionais, sob a responsabilidade
de um comando único (BRASIL, 2015b).
RMB1oT/2017 175
RADIOMONITORAÇÃO DE SATÉLITES GEOESTACIONÁRIOS
8 Agilidade é a capacidade de realizar com sucesso, lidar com, e/ou explorar mudanças nas circunstâncias. Enquanto
outros fatores também influenciam os resultados, a agilidade em C2 permite que entidades empreguem de
forma eficaz e eficiente os recursos que têm em tempo hábil em uma variedade de missões e circunstân-
cias. (Disponível em:http://dodccrp.org/sas-085/sas-085_report_final.pdf, Acesso em 09 jun. 2016)
176 RMB1oT/2017
RADIOMONITORAÇÃO DE SATÉLITES GEOESTACIONÁRIOSRR
9 A dimensão do arco orbital de interesse brasileiro está entre os meridianos de 46,5° E e 163,2° W. (Disponível
em: <http://www.anatel.gov.br/Portal/verificaDocumentos/documento.asp?numeroPublicacao=34353&ass
untoPublicacao=null&caminhoRel=null&filtro=1&documentoPath=biblioteca/releases/2002/anexo_relea-
se_24_01_2001(11).pdf> Acesso em 01 ago. 2016).
10 Mobilidade Tática é a aptidão para se mover dentro da região em questão (BRASIL, 2012).
RMB1oT/2017 177
RADIOMONITORAÇÃO DE SATÉLITES GEOESTACIONÁRIOS
serviços com essa tecnologia, com o sur- construção da Emsat, concluída em 2014.
gimento dos terminais VSAT (Very Small Com sua ativação, o Brasil tornou-se a
Aperture Terminal)11. Na década de 1990, oitava nação a possuir a capacidade de fis-
outro salto tecnológico permitiu a operação calizar e monitorar comunicações satelitais,
em novas frequências, assim como o sur- passando a integrar o restrito grupo com-
gimento do “processamento embarcado”, posto por Alemanha, Japão, Cazaquistão,
que significa a alteração do comportamento Estados Unidos, Coreia do Sul, Ucrânia
dos novos satélites de simples repetidores e China, além de ser a nação pioneira no
para concentradores de telecomunicações hemisfério sul a possuir esta infraestrutura
no espaço (JUNIOR, 2008). (ANATEL, 2014).
Em um cenário de grande demanda
por esse escasso e valorizado serviço, são O PROBLEMA DAS
necessários planejamento e coordenação INTERFERÊNCIAS
para o uso mais eficiente desta tecnologia.
Surge assim a necessidade de monitorar As interferências normalmente não
e fiscalizar a qualidade dos serviços e podem ser eliminadas facilmente. Nas
recursos (órbita, equipamentos e mão de comunicações por satélites, elas aconte-
obra) empregados. A União Internacional cem frequentemente, sendo observadas
de Telecomunicações (UIT) 12, agência com maior presença nas faixas mais altas.
especializada da Organização das Nações Nesse caso elas devem ser administradas,
Unidas (ONU), é um exemplo de colabo- mantendo-se uma relação sinal/ruído13 de
ração cuja missão é estabelecer um padrão um canal dentro de limites toleráveis.
internacional de qualidade e disponibilida- Organizações como o Grupo de Re-
de desses serviços. dução de Interferências de Satélites (The
O Brasil, com o objetivo de garantir a Satellite Interference Reduction Group –
sua soberania e cumprir a Lei Geral de Te- Sirg) visam combatê-las de maneira contí-
lecomunicações (LGT) no 9.472/97 (marco nua, uma vez que os recursos disponíveis
legal para o setor de telecomunicações), são escassos e os investimentos elevados.
devido à realização dos grandes eventos Atitudes como mudar o tráfego para
a serem feitos em seu território (Copa do outro satélite ou até mesmo a frequência
Mundo em 2014 e Jogos Olímpicos em da operação nem sempre resolvem o
2016) (ANATEL, 2015b), viabilizou pela problema e causam prejuízos por vezes
Agência Nacional de Telecomunicações a de milhões de dólares, sem contar os
11 VSAT refere-se a qualquer terminal fixo usado para prover comunicações interativas, ou recepção apenas,
sempre passando pelo satélite qualquer transmissão terrestre até o receptor (http://www.gta.ufrj.br/grad/02_2/
vsat/definicao.htm, Acesso em 20 jun. 2016).
12 A UIT é a Agência do Sistema das Nações Unidas dedicada a temas relacionados às Tecnologias da Informação
e Comunicação (TICs). Coordena o uso global compartilhado do espectro de radiofrequência, promove a
cooperação internacional na área de satélites orbitais, trabalha na melhoria da infraestrutura de telecomu-
nicações junto a países em desenvolvimento e estabelece normas mundiais para prover interconexão entre
vários sistemas de comunicação, além de dedicar especial atenção a temas emergentes mundiais, tais como
mudanças climáticas, acessibilidade e fortalecimento da segurança cibernética (https://nacoesunidas.org/
agencia/uit/, Acesso em 02 jul. 2016).
13 O parâmetro “relação sinal/ruído” (signal/noise ratio) indica a diferença entre o nível mais alto de sinal que
o equipamento pode operar e o nível de ruído existente no aparelho (http://www.midideejay.com/2009/05/
relacao-sinalruido-e-faixa-dinamica.html, Acesso em 02 jul. 2016).
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RADIOMONITORAÇÃO DE SATÉLITES GEOESTACIONÁRIOS
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RADIOMONITORAÇÃO DE SATÉLITES GEOESTACIONÁRIOSRR
15 Disponível em http://www.aereo.jor.br/2017/02/03/satelite-brasileiro-sgdc-sera-lancado-pelo-foguete-ariane-5-
-no-proximo-mes-de-marco/ e https://pt.wikipedia.org/wiki/SGDC-1 (Acesso em 11 fev. 2017).
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RADIOMONITORAÇÃO DE SATÉLITES GEOESTACIONÁRIOS
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PROJEÇÃO ANFÍBIA: SUA EVOLUÇÃO NO
UNITED STATES MARINE CORPS E NO CORPO DE
FUZILEIROS NAVAIS DO BRASIL*
SUMÁRIO
Introdução
Cenário mundial atual
Conceitos de projeção anfíbia
Evolução no United States Marine Corps
Evolução no Corpo de Fuzileiros Navais do Brasil
A projeção anfíbia e a política externa brasileira
Impactos na doutrina e nos recursos humanos e logísticos
Conclusão
intensidade e grande frequência, que até o de uma Incursão Anfíbia (IncAnf) de uma
momento não estavam sendo consideradas Projeção Anfíbia em uma Operação de
de importância na pauta de segurança. Evacuação de Não Combatentes (OpENC)
Esta conjuntura passa a exigir o emprego Para que se possa inserir uma nova
rápido de uma Força Expedicionária An- modalidade de OpAnf ou, até mesmo, um
fíbia moderna, capaz de realizar variados novo tipo de operação em uma doutrina
tipos de operações, característica assim já consolidada, faz-se necessário estudar
apresentada por Monteiro (2010, p.13-14) seus fundamentos e realizar ajustes visando
como “emprego tempestivo de força autos- a enquadrá-la nos capítulos das normas
sustentável para cumprir missão por tempo brasileiras. Desta forma, não é válido
limitado, sob condições austeras e em área apenas “copiar” as evoluções doutrinárias
operacional distante de sua base”. do USMC, em cuja instituição a Projeção
O presente trabalho estudará o cenário Anfíbia foi inserida inicialmente como um
mundial no qual se insere a Projeção Anfí- tipo de OpAnf e posteriormente como uma
bia, seu conceito e emprego, com o propósito modalidade, só que com denominações di-
de identificar as situações, os contextos e ferentes. Neste contexto, será objetivo deste
tipos de ambientes operacionais em que a trabalho também observar os impactos da
utilização de uma tropa anfíbia seria a so- Projeção Anfíbia na doutrina e nos recursos
lução do problema apresentado e elucidar o humanos e logísticos do CFN.
surgimento da Projeção Anfíbia como uma A Projeção Anfíbia vem impulsionar
nova modalidade de OpAnf, tanto no Uni- e flexibilizar o emprego da MB em um
ted States Marine Corps (USMC) como no cenário internacional de incertezas, por
Corpo de Fuzileiros Navais (CFN) do Brasil. meio do Conjugado Anfíbio2, o qual é uma
Este trabalho buscará também, por meio excelente ferramenta para o cumprimento
de interpretações do manual que aborda o das tarefas básicas do Poder Naval, par-
conceito do emprego deste tema na Mari- ticularmente da projeção de poder sobre
nha do Brasil (MB), a Doutrina Básica da terra. Proporciona, ainda, ao Poder Naval
Marinha (DBM), analisar se há necessidade características de mobilidade, permanência,
de realizar alterações em definições no versatilidade e flexibilidade, que, somadas
documento, fruto de questionamentos que à capacidade expedicionária, permitem o
surgem ao ser empregada a Projeção Anfí- emprego em largo espectro de atividades.
bia, como por exemplo: como empregar a O CFN, organizado em Grupamentos Ope-
Projeção Anfíbia nas atividades em região rativos de Fuzileiros Navais (GptOpFuzNav)3
permissiva1, sendo que Operação Anfíbia, com características de versatilidade e flexi-
em sua definição, não especifica que ela bilidade, os quais dispõem da combinação
possa ser empregada neste tipo de ambiente dos meios de combate, apoio ao combate
operacional e como diferenciar o emprego e apoio de serviços ao combate, ganha
1 Região permissiva ou ambiente permissivo “é aquele em que o país anfitrião, por meio de suas forças militares
e de segurança pública, mantém o controle institucional, assim como a intenção e a capacidade de apoiar as
operações militares desencadeadas em seu território”. (GAVIÃO, 2010, p. 166)
2 Conjugado Anfíbio “se traduz em uma Força Naval, com um GptOpFuzNav embarcado juntamente com os
meios aeronavais adjudicados, em condições de cumprir missões relacionadas às tarefas básicas do Poder
Naval”. (BRASIL, 2013, p. 2-2)
3 GptOpFuzNav “é uma forma de organização para o emprego de tropa de Fuzileiros Navais, constituída para o
cumprimento de missão específica e estruturada segundo o conceito organizacional de componentes, que
agrupa os elementos constitutivos de acordo com a natureza de suas atividades”. (BRASIL, 2013, p. 4-1)
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terra para cumprir uma missão determina- rápida resposta a crises, tanto interna quan-
da” (ESTADOS UNIDOS, 2001, p. GL-5, to externa ao País. Esta denominação surge
tradução nossa). Tal conceito, como visto, na revisão do manual norte-americano, em
volta a não mencionar o tipo de ambiente, 2014, mesmo ano em que a MB passa a
pois, com o cenário dos conflitos apresen- adotar uma quinta modalidade de OpAnf.
tado, não terá mais importância o tipo de
ambiente, sendo possível seu emprego nos Evolução no Corpo de Fuzileiros Navais
três ambientes: hostil, incerto e permissivo. do Brasil
Neste mesmo documento do ano de
2001, o USMC cita em suas modalidades O CFN, parcela intrínseca e indissociá-
um quinto tipo de OpAnf não enquadrada vel da MB, por meio de sua doutrina anfí-
como assalto, retirada, demonstração ou bia, confere diferencial valor estratégico ao
incursão, não definindo nome, porém sendo País. A Força de Fuzileiros Navais, como
designada como “outras Operações Anfí- núcleo do componente anfíbio do Poder
bias”, com capacida- Naval brasileiro, vem
de de conduzir outros desenvolvendo e apli-
tipos de operações, A Projeção Anfíbia surge, cando sua doutrina em
como evacuação de pois, como uma solução busca do cumprimento
não combatentes e as- da missão da MB.
sistência humanitária. para flexibilizar o conceito Na MB, a defini-
Em sua nova edição, clássico de OpAnf, o qual, ção de OpAnf não so-
em 2009, este manual
passa a chamar estas
na MB, está enquadrado freu muitas alterações
como no USMC. Em
“outras Operações entre as Operações de 1997, ela incluiu o ata-
Anfíbias” de “Apoio Guerra Naval que lançado do mar
Anfíbio a outras Ope- em litoral hostil ou
rações Anfíbias”, um potencialmente hostil;
tipo de OpAnf que contribui para a pre- e em 2014 lançou a definição que é usada
venção de conflitos ou mitigação de crises. até os dias atuais: “uma operação naval
Ainda assim, a definição de OpAnf não lançada do mar, por uma Força-Tarefa
estava adequada no entendimento dos ame- Anfíbia (ForTarAnf), sobre região litorâ-
ricanos. No mesmo ano de 2009, o artigo nea hostil ou potencialmente hostil, com
intitulado “Amphibious Operations in the o efeito desejado de introduzir uma Força
21st Century” elenca os tipos de OpAnf em de Desembarque (ForDbq) em terra para
ordem de probabilidade de adoção e passa cumprir missões designadas” (BRASIL,
a se referir ao “Apoio Anfíbio a outras 2014, p. 3-4), a qual permanece com o
Operações Anfíbias” como “Engajamento desembarque em regiões litorâneas hostis
Anfíbio e Resposta a Crises”, sendo este ou potencialmente hostis, não tendo sido
tipo o mais provável de ser empregado. incluídos os litorais permissivos.
Atualmente, o USMC denomina essa Alinhada às potências marítimas mun-
quinta modalidade, que nos últimos anos diais, a MB passou a adotar em 2014, em sua
tem sido a mais comum no emprego de uma doutrina básica, uma quinta modalidade de
OpAnf, de “Apoio de Força Anfíbia para OpAnf, denominando-a Projeção Anfíbia.
Resposta a Crises e Outras Operações”, Com a mudança do cenário mundial, há
sendo caracterizada como uma OpAnf de a necessidade de um Poder Naval versátil
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4 Figura fornecida pelo Contra-Almirante (FN) Nélio de Almeida, por ocasião da palestra realizada na Esquadra
brasileira, em 2015.
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que ela não venha a ser confundida com Projeção Anfíbia com o planejamento da
emprego de outras modalidades. Na ques- retirada, como em uma IncAnf.
tão apresentada, tanto a Projeção Anfíbia Os efeitos desejados de obtenção de
quanto a IncAnf podem ter como efeito de- informações e o apoio a operações em
sejado a evacuação de pessoal de interesse, terra elencados na IncAnf, na opinião deste
neste caso não combatente. autor, também poderiam ser enquadrados
A OpENC é uma atividade enquadra- apenas na Projeção Anfíbia, por ser uma
da no emprego limitado da força que, de modalidade de apoio a Operações de
acordo com a doutrina da MB, trata-se da Guerra Naval ou relacionadas, coforme sua
forma de aplicação da força, normalmente definição pela DBM.
prescrita pela lei ou pelo mandato que estão
sendo impostos e refletidos nas regras de A PROJEÇÃO ANFÍBIA E A
engajamento, podendo ainda ser utiliza- POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA
dos elementos das
Operações de Guerra A Política de De-
Naval, sendo o li- Atualmente, tem crescido fesa Nacional (PDN)
mitado uso da força o interesse dos países descreve um ambiente
o principal aspecto internacional no qual
que as distingue. Este em desenvolvimento em as relações entre as
autor propõe que se realizar uma inserção nações têm enfrentado
pense no emprego
da IncAnf para eva-
positiva na economia e na desafios mais comple-
xos no período pós-
cuação utilizando o política internacional. Para -Guerra Fria, devido à
máximo uso da for- isso é necessário um atuação de atores não
ça, já que as regras estatais, a novas ame-
de engajamento são cenário mundial seguro aças e à contraposição
brandas ou inexisten- e estável, onde os entre o nacionalismo e
tes nesta modalidade,
além de haver um ato
inter-relacionamentos se oalém transnacionalismo,
de disputas por
declarado entre as tornam mais exequíveis áreas marítimas, do-
nações envolvidas; e mínio aeroespacial e
emprego da Projeção fontes de água doce e
Anfíbia para evacuação com emprego limi- de energia cada vez mais escassas.
tado da força, utilizando-se das regras de Atualmente, tem crescido o interesse dos
engajamento mais detalhadas e conduzidas países em desenvolvimento em realizar uma
em tempo de paz. inserção positiva na economia e na política
Porém a interpretação fica ainda mais internacional. Para isso é necessário um ce-
clara caso seja retirada dos efeitos dese- nário mundial seguro e estável, onde os inter-
jados da IncAnf a evacuação de pessoas -relacionamentos se tornam mais exequíveis.
ou material de interesse, pois a Projeção Logo, o Brasil, por meio da sua PDN,
Anfíbia pode cumprir a missão em ambos documento de mais alto nível do planeja-
os casos, tanto com limitado uso da força mento de defesa para ameaças externas,
quanto com uso máximo da força, sendo estabelece entre seus objetivos nacionais
em tempo de paz ou em guerra. Além dis- de defesa: a defesa de interesses nacionais
so, há a possibilidade de ser realizada uma e pessoas, bens e recursos brasileiros no
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apoio à Política Externa do País, mantendo A Projeção Anfíbia, por ser uma mo-
e salvaguardando os interesses nacionais dalidade que possibilita ao conjugado
em seu entorno estratégico. anfíbio atuar em amplo espectro do campo
de batalha, deverá possuir maior flexibi-
IMPACTOS NA DOUTRINA E lidade em seu planejamento, permitindo
NOS RECURSOS HUMANOS E realizar uma mudança rápida em sua es-
LOGÍSTICOS trutura, decorrente da missão recebida. E
esta flexibilidade é proporcionada quando
A inclusão da Projeção Anfíbia como a Força de Desembarque é organizada
quinta modalidade de uma das operações em Grupamento Operativo de Fuzileiros
de Guerra Naval suscita a necessidade de Navais (GptOpFuzNav). Esta estrutura or-
realizar alguns estudos com o objetivo de ganizacional constituída por componentes
adequar essa evolução a uma doutrina já propicia à Força uma célere alternância em
consolidada e avaliar o preparo e o em- sua organização de acordo com as tarefas a
prego necessários dos recursos humanos serem executadas, seja atuando em apoio
e logísticos. a Operações de Guerra Naval, seja na con-
“A doutrina militar representa, de forma dução de Atividades Benignas.
ampla, o conjunto de valores, princípios fun- Ainda na fase do planejamento de uma
damentais e organizacionais, conceitos bási- Projeção Anfíbia, a relação de comando e de
cos, métodos e procedimentos que orientam controle operacional e tático e a relação de
a organização, o preparo e o emprego das apoio deverão ser estabelecidas de acordo
atividades de uma Força Armada”, conforme com a ideia de manobra inicial, permitindo,
descrito na DBM (BRASIL, 2014, p. VII). porém, uma possível mudança em virtude da
Apesar disso, ela não deve ser consi- demanda da operação desencadeada, visto
derada um dogma; este preceito é aper- que o poder de combate estabelecido em
feiçoado com as evoluções tecnológicas e terra será conforme a necessidade da Força
bélicas e com as demandas do combate. A para o cumprimento da missão.
MB deverá aproveitar as lições aprendidas As fases de planejamento, embarque,
com o emprego da Projeção Anfíbia em ensaio, travessia e assalto das clássicas
países com expertise no assunto e buscar Operações Anfíbias estão muito bem sedi-
uma constante evolução doutrinária. mentadas nos conhecimentos profissionais
A manutenção e o aperfeiçoamento da dos combatentes anfíbios e bastante deta-
capacidade de realizar OpAnf garantem às lhadas nos manuais que abordam o assunto.
Forças de Fuzileiros Navais aptidão para Contudo, a Projeção Anfíbia traz com ela
conduzir operações de diversas naturezas e uma peculiaridade para essas fases, parti-
envergaduras, uma vez que parte das mais cularmente para a fase do assalto.
complexas manobras em relação a plane- A fase do assalto corresponde ao perío-
jamento e execução para as mais simples. do entre a chegada do Corpo Principal da
Ao inserir uma variante nas Operações Força-Tarefa Anfíbia (ForTarAnf) à Área
Anfíbias, um dos eixos estruturantes do de Desembarque e o término da OpAnf,
CFN que direcionam o desenvolvimento compreendendo o movimento navio para
da doutrina, dos recursos humanos e da terra e as ações conduzidas em terra.
logística, os impactos serão analisados e Por ser uma modalidade que permite o
aprimorados com o passar dos anos e as seu emprego em apoio a uma Operação de
experiências adquiridas. Guerra Naval na condução de Atividades
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diversas vezes, que o sucesso das Opera- qual a maior parte do comércio é conduzido,
ções Anfíbias é o resultado da rápida proje- portanto é o local onde as ameaças estão
ção de poder de combate em terra. Essa ra- localizadas e, assim, se torna a arena natural
pidez tem sido dificultada pela proliferação para operações marítimas pós-modernas.
mundial de armas antiacesso, mesmo que O objetivo de flexibilizar o emprego
seja para realização de atividades benignas. de uma OpAnf na prevenção de confli-
Flynn exemplifica citando o fato ocorrido tos e mitigação de crises do cenário pós
contra navio israelense durante a crise do Guerra Fria fomentou estudos de como
Líbano em 2006, quando a embarcação foi esta necessidade poderia se enquadrar na
alvejada por míssil do Hezbollah. doutrina anfíbia; desta forma, diversas
A Projeção Anfíbia surgiu de uma neces- denominações e tentativas foram realiza-
sidade estratégica diante do cenário mundial. das até surgir essa “nova” modalidade.
O entendimento doutrinário em traduzir os A Marinha norte-america, por meio do
ditames estratégicos em táticas, técnicas e USMC, foi pioneira neste desafio, criando
procedimentos padronizados será um dos em 1989 as Operações Não Tradicionais,
fatores de sucesso no emprego desta nova que posteriormente foram sendo designadas
modalidade de OpAnf, alinhado ao preparo com outras nomenclaturas e atualmente se
e emprego dos recursos humanos e à dispo- referem a um tipo de OpAnf com o nome
nibilidade dos recursos logísticos da MB. de Apoio de Força Anfíbia para Resposta
a Crises e Outras Operações.
CONCLUSÃO No CFN esta necessidade de mudança
foi estimulada a partir de 2009, após a
As Forças Armadas, como instituições publicação, pelo USMC, do artigo “Am-
nacionais destinadas à defesa da Pátria, phibious Operations in the 21st Century”,
à garantia dos poderes constitucionais e, que posteriormente foi traduzido e adapta-
por iniciativa de qualquer destes, da lei do por Gavião (2010). Este artigo buscou
e da ordem, têm sua política de emprego inspirar o “renascimento intelectual” do
norteada pelos documentos elaborados pensamento anfíbio, fruto do cenário de
nos mais elevados níveis de decisão. E, na insegurança e incerteza.
constante busca de soluções pacíficas das A DBM flexibiliza o emprego das
controvérsias mundiais e de fortalecimento Operações Anfíbias, alinhada ao contexto
da paz e da segurança internacional, o Bra- internacional atual, com a ideia de que a
sil publicou a PDN, documento corrobora- projeção de tropa anfíbia em terra é o que
do posteriormente pela END. A MB vem caracteriza a operação anfíbia contemporâ-
buscando se enquadrar nos rumos tomados nea, não importando o grau de hostilidade
pelo contexto internacional de emprego do do ambiente nem o tipo de missão a ser
Poder Naval, e o CFN, parcela intrínseca e cumprida. Acrescenta, ainda, a Projeção
indissociável da MB, contribui para que tal Anfíbia como uma quinta modalidade de
propósito seja alcançado. OpAnf. A fim de aprimorar tal documento
O Brasil, por possuir mais de 7 mil quilô- doutrinário, foram apresentadas por este au-
metros de litoral, deve manter um aprestado tor as necessidades de alterações em algu-
Poder Naval para sua defesa. De acordo com mas definições da DBM, como, por exem-
Till (2013, p. 37), o litoral é a área onde plo, o enunciado da definição de OpAnf:
a maioria das pessoas vive, a maioria das Operação naval lançada do mar, por uma
indústrias pode ser encontrada e através do Força-Tarefa Anfíbia (ForTarAnf), sobre
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uma região litorânea, com o efeito desejado nacionais e pessoas, bens e recursos brasi-
de introduzir uma Força de Desembarque leiros no exterior; a manutenção da paz e
(ForDbq) em terra para cumprir missões da segurança internacionais; a projeção do
designadas. Desta maneira, não importa o Brasil no concerto das nações e sua maior
grau de hostilidade do ambiente. inserção em processos decisórios interna-
Após interpretação da DBM, há a ne- cionais. Além disso, a Projeção Anfíbia
cessidade, visualizada por este autor, de contribui com um dos propósitos da MB:
definir exatamente o efeito desejado de uma o apoio à Política Externa do País.
Projeção Anfíbia para que ela não venha a Para estabelecer a doutrina de emprego
ser confundida com outra modalidade, uma da Projeção Anfíbia, deve-se levar em consi-
vez que tanto a Projeção Anfíbia quanto a deração a capacidade de recursos humanos e
IncAnf podem ter como efeito desejado a materiais da própria MB. E por já ter a exper-
evacuação de pessoal tise de planejamento do
de interesse do País. Assalto Anfíbio, a mais
O crescente de- É imprescindível que o complexa das Opera-
senvolvimento de um Poder Naval disponha de ções Anfíbias, o CFN
país é fruto de um deverá apenas detalhar
relacionamento amis- ferramenta de projeção em alguns assuntos que
toso com as nações amplo espectro e em todo este trabalho julgou
em seu entorno, e o importante por fazerem
maior meio de comu- o seu entorno estratégico, parte da peculiaridade
nicação entre estes mostrando a importância de uma modalidade
Estados é o modal do surgimento da Projeção que permite o emprego
marítimo. A MB tem em amplo espectro das
papel fundamental Anfíbia como modalidade operações militares,
neste relacionamento, de OpAnf tais como: o estabe-
pois permite que esta lecimento da relação
comunicação ocorra de comando, controle
sem interferência de elementos adversos, operacional e tático, a relação de apoio, o
servindo de elo ao íntimo relacionamento planejamento da fase do assalto e as medidas
das Relações Exteriores com a Defesa. de coordenação e controle.
Visando ao poder dissuasório, o País O aprestamento dos meios navais,
precisa estar permanentemente preparado aeronavais e de fuzileiros navais torna-se
para prevenir e responder rapidamente às imprescindível para a cooperação regional
crises que possam ocorrer em seu entorno na defesa do Atlântico Sul, atendendo aos
estratégico, além de estar em condições interesses nacionais.
para prestar apoio humanitário a locais que Concluindo, cumpre ressaltar que o
venham precisar, no caso de danos causados CFN, atualmente dotado de flexibilidade
por desastres ambientais ou por crises. Isso e mobilidade, constituído por militares
contribui para que o Brasil consiga se inserir profissionais, é um dos eixos do conjunto
no contexto internacional de maneira pacífica. que representa o Poder Naval brasileiro
O preparo dos meios e o emprego do capaz de se projetar em qualquer parte
Poder Naval por meio da Projeção Anfíbia do território nacional ou internacional,
contribuem para a consecução de objetivos estando permanentemente pronto para
nacionais, como: a defesa de interesses responder às crises, assim corroborado
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PROJEÇÃO ANFÍBIA: SUA EVOLUÇÃO NO UNITED STATES MARINE CORPS E NO
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RMB1oT/2017 199
PLANEJAMENTO DE MANUTENÇÃO EM
INSTALAÇÕES DA MB*
SUMÁRIO
Introdução
Manutenção nas edificações
Custo da manutenção
Planejamento e controle da manutenção
Vida econômica ótima
Estudo de caso
Conclusão
* N.R.: Título original: Estudo da Vida Econômica Ótima nas instalações terrestres da Marinha do Brasil sob a
perspectiva da Gestão da Manutenção. Todas as figuras do artigo foram elaboradas pelo autor.
** Encarregado da 2a Seção de Instalações Mecânicas da Diretoria de Obras Civis da Marinha (DOCM). Gradu-
ado em Engenharia Mecânica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Realizou Programa de
Mestrado Integrado pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto – Portugal (Feup). Possui Curso
de Extensão em Engenharia do Ar-Condicionado – Instituto Militar de Engenharia (IME) e MBA em Gestão
de Projetos – Universidade Cândido Mendes.
PLANEJAMENTO DE MANUTENÇÃO EM INSTALAÇÕES DA MB
RMB1oT/2017 201
PLANEJAMENTO DE MANUTENÇÃO EM INSTALAÇÕES DA MB
adequado, a subcon-
tratação eventual de
especialistas e toda
a instalação física
necessária.
Pode-se classifi-
car, de forma sucinta,
os custos de manuten-
ção em três grandes
famílias: custos dire-
tos, custos indiretos e
custos de perda.
202 RMB1oT/2017
PLANEJAMENTO DE MANUTENÇÃO EM INSTALAÇÕES DA MB
atuais. A manutenção deveria ter não Para uma melhoria gradual de uma
apenas na teoria, mas também na prática, edificação são necessárias correções pe-
devida importância nos órgãos públicos riódicas, visando identificar as diferenças
que tenham como objetivo uma destina- entre os níveis de desempenho atingidos e
ção eficiente de seus recursos, o que torna os pretendidos. Entretanto, deve ser sempre
necessário que se tenha um Programa de verificada também a viabilidade econômica
Controle da Manutenção (PCM). da solução proposta, por meio da análise da
O PCM é um conjunto de atividades para relação custo x benefício.
planejar, programar, coordenar e controlar Dentre as ferramentas e técnicas possí-
a eficácia da execução da manutenção. Por veis para determinar tal custo x benefício,
serem diversificadas as atribuições do PCM, este artigo limitar-se-á ao estudo da vida
consequentemente sua execução ou imple- econômica ótima por meio da avaliação
mentação pode variar de um ramo para outro. do custo de imobilização de capital. Por
Os principais componentes dos custos definição, tal custo é formado pelos bens
de manutenção são o material e o pessoal. necessários à manutenção das atividades de
Com isso, o PCM atua diretamente em tais uma determinada instituição, apresentando-
pontos críticos, uma vez que mitiga a falta -se de forma mensurável.
de informação sobre os serviços, aumenta Com isso, espera-se demonstrar a impor-
a eficiência do pessoal, reduz o tempo de tância da determinação de um tempo em que
parada dos equipamentos e possibilita me- seja economicamente mais vantajoso à Admi-
didas de correção. nistração, por exemplo, se desfazer do bem,
A MB estabelece suas normas, instru- substituí-lo ou investir em uma modernização.
ções e padrões para um sistema de manu-
tenção das instalações terrestres, objeto Vida útil
central deste artigo, por meio da Norma
DGMM-0601, elaborada pela Diretoria de A vida útil de um bem pode ser definida
Obras Civis da Marinha (DOCM). pelo tempo decorrido desde sua aquisição,
Nesta perspectiva, a atividade técnica de ou entrada em operação, até o dia em que
um PCM, aplicável ao patrimônio público o mesmo deixa de operar ou de atender aos
da Administração Naval, deve fixar as con- requisitos esperados de desempenho.
dições mínimas exigíveis na preservação
das características funcionais das edifica- Vida econômica ótima
ções, das instalações e dos equipamentos.
Para o objeto central deste artigo, um A vida econômica ótima consiste no tempo
PCM deve permitir a melhoria da qualidade decorrido desde a aquisição do bem, ou sua en-
das instalações terrestres, sendo concebido trada em operação, até o ponto em que se obtém
de maneira a possibilitar um processo con- o mínimo dos montantes gastos na utilização
tínuo de correção. do ativo. Geralmente, a vida útil é maior que a
vida econômica, pois nesta última o objetivo é
VIDA ECONÔMICA ÓTIMA a otimização dos recursos financeiros.
RMB1oT/2017 203
PLANEJAMENTO DE MANUTENÇÃO EM INSTALAÇÕES DA MB
dos para sua operação e manutenção. Tal O valor presente no ano zero é definido
fato deve-se à depreciação física, funcional pela equação 5.3:
ou tecnológica dos equipamentos.
O custo de capital consiste nos valores
empregados, descontando, ou agregando, a
evolução de tais valores no tempo por meio
de uma taxa de juros. A evolução do custo ESTUDO DE CASO
de capital é mostrada na Figura 2.
Como estudo de
caso será utilizado o
sistema de ar-condi-
cionado do Edifício
Almirante Tamanda-
ré (EdAT). Instalado
no ano de 1996, ele
consiste em um sis-
tema de expansão in-
direta de água gelada
com condensação da
água por meio de tor-
res de resfriamento.
A capacidade insta-
lada do sistema é de,
Figura 2: Custo de imobilização de capital aproximadamente,
960 TR.
Devido à restrição
Para determinar tal custo, é necessário de recursos federais experimentada na-
definir de forma sucinta alguns parâmetros quela época, a Administração Naval não
econômicos e financeiros. teve recursos para firmar um contrato de
A atualização para o ano zero (V0) de manutenção preventiva do referido sistema,
um valor de algum ano posterior (Vk) será efetuando apenas rotinas corretivas quando
definida pela equação 5.1: ocorriam quebras ou falhas.
V0=rk x Vk Com isso, o sistema não era capaz de
Onde, apresentar parâmetros operacionais ideais,
k= número de anos; sendo a temperatura da água gelada na faixa
r= fator de atualização; de 20ºC a 25ºC, valor muito superior ao
V0 = atualização para o ano 0 de Vk; patamar de 7ºC, conforme desejado. No
Vk= Capitalização para o ano k de V0; ano de 2009, quando firmado um contrato
de manutenção geral, que englobava rotinas
O fator de atualização é dado pela preventivas, o sistema restabeleceu seus
equação 5.2: parâmetros operacionais.
R=1/(1+I) A Central de Água Gelada do EdAT é,
Onde, atualmente, uma das centrais em melhor
i= taxa de capitalização estado de conservação da MB. Destaca-se
assim, neste primeiro momento, a impor-
204 RMB1oT/2017
PLANEJAMENTO DE MANUTENÇÃO EM INSTALAÇÕES DA MB
tância da manutenção
preventiva e como
esta influencia no
desempenho de de-
terminada instalação.
O custo de ins-
talação do sistema
em questão, esti-
mado por meio da
Associação Brasilei-
ra de Refrigeração,
Ar-Condicionado,
Ventilação e Aqueci-
mento (Abrava), é de
aproximadamente R$
7,5 milhões. O custo Figura 3: Vida econômica ótima
anual de manutenção,
obtido por meio de pesquisa de mercado pelo Índice Geral de Preços do Mercado
para a contratação de tais serviços, é de (IGPM), com o valor de referência acumu-
R$ 850 mil. lado para o presente ano, que é 6,6600 %
Ao disponibilizar um recurso financeiro (Fundação Getúlio Vargas, janeiro de 2017).
tanto na compra de um ativo quanto na ma- Com os dados coletados para este estudo
nutenção de uma edificação, significa que de caso, tornou-se possível a avaliação da
a União poderia disponibilizar tal recurso vida econômica ótima para o sistema em
para algo que trouxesse algum retorno questão, que apresentou o tempo de 13 anos
financeiro, o que caracteriza um custo de como vida ótima. A Figura 3 explicita os
oportunidade, em que a taxa de referência resultados encontrados.
considerada será a taxa Selic acumulada até A Tabela 1 mostra a planilha de cálculo
o mês de janeiro de 2017, cujo valor é de utilizada no estudo para a confecção do grá-
13,27 % ao ano (Fundação Getúlio Vargas, fico presente na Figura 3, comprovando que
janeiro de 2017). aos 13 anos é dada a inflexão nos valores
Já a evolução do valor gasto com manu- da anuidade, constituindo a vida econômica
tenção e operação do sistema será corrigido ótima da instalação.
RMB1oT/2017 205
PLANEJAMENTO DE MANUTENÇÃO EM INSTALAÇÕES DA MB
Tal resultado mostra que, com as ta- O que ocorre, na verdade, é a ausência
xas atuais que foram consideradas para a de um padrão amplamente difundido pelo
avaliação do ativo, o tempo de 13 anos é a Governo Federal, junto com o desconhe-
referência para que o sistema de ar-condi- cimento dos órgãos consultivos, que apre-
cionado do EdAT sofra uma modernização sentam pareceres jurídicos que dissertam
ou intervenção de grande escala. Sendo sobre questões técnicas. As exigências de
assim, o sistema deveria ter passado por parâmetros de qualidade podem, erronea-
uma grande intervenção no ano de 2009. mente, ser confundidas com restrição.
Para se utilizar tal sistema por um tempo Para avaliar a contratação de serviços de
superior, serão necessários cada vez mais re- manutenção das organizações de terra, os
cursos, porém sem acréscimo da qualidade da órgãos consultivos baseiam-se na Instrução
operação do equipamento, conforme demons- Normativa SLTI/MPOG nº 02/2008 (IN
trado no tópico de custos de manutenção. MPOG 02/2008), que apresenta exigências
Aplicando tal estudo em uma organiza- de forma muito genérica e que nem sempre
ção de terra, conhecendo-se seus custos para são aplicáveis, dependendo do objeto.
operação, a Administração poderia otimizar Por uma questão de justiça, cabe
os recursos ao evitar gastos com manutenção ressaltar que os advogados dos órgãos
e operação em uma faixa que, economica- consultivos igualmente buscam o melhor
mente, não incrementam a qualidade. para a União. Porém aqueles devem ser
assessorados por profissionais técnicos
CONCLUSÃO para uma melhor avaliação, assim como
os profissionais técnicos também necessi-
Para a realização das atividades de tam de uma assessoria jurídica. Uma vez
manutenção das OM de terra da MB, um que o advogado não conta com assesso-
programa de manutenção é essencial para ria técnica, o mesmo fica restrito a uma
manter as necessidades da edificação, oti- conferência fiel, item a item, de todos os
mizando os recursos. quesitos da IN MPOG 02/2008, sendo eles
A Administração Naval investe na fi- aplicáveis ou não.
losofia de manutenção para as instalações Tais problemas podem acarretar na ten-
terrestres. Porém, como em qualquer órgão dência do administrador público em abrir
público, deve obedecer às referências legais mão do rigor de seus requisitos de qualida-
nas contratações e, preferencialmente, se- de em prol de uma celeridade no processo
guir as recomendações dos órgãos consul- de contratação, que terá como resultado
tivos da União, previamente à contratação. serviços preventivos menos rigorosos e,
Entretanto, não há publicações oficiais, consequentemente, maiores custos com
de ampla divulgação nacional, que disser- manutenção corretiva. Nesta perspectiva,
tem de forma específica sobre o assunto, a DGMM 0601, atrelada às ferramentas
o que acaba por se tornar um empecilho de gestão, propõe, em suas especificações
para contratação de serviços de manuten- e projetos, requisitos de controle, de qua-
ção na MB, uma vez que as exigências da lidade e de melhoria, mantendo a isonomia
Administração Naval, baseadas em seu na contratação.
planejamento próprio, são em sua maioria Dentre tais ferramentas, o estudo da
apontadas pelos órgãos consultivos, ou vida ótima, tema central deste artigo,
licitantes, como exigências que poderiam além de ser uma ferramenta econômica
restringir a participação de interessados. baseada em custos efetivos diretamente
206 RMB1oT/2017
PLANEJAMENTO DE MANUTENÇÃO EM INSTALAÇÕES DA MB
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
RMB1oT/2017 207
A VELA COMO INSTRUMENTO DE EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SOCIAL NO BRASIL
SUMÁRIO
Introdução
A importância da vela no Prolim
A vela como ferramenta de educação e desenvolvimento social
Conclusão
* N.R.: Artigo classificado em 2o lugar na categoria Alunos dos Cursos de Formação de Oficiais no Concurso de
Artigos Técnicos e Acadêmicos e de Redação – 2016 da Diretoria de Ensino.
208 RMB1oT/2017
A VELA COMO INSTRUMENTO DE EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SOCIAL NO BRASIL
RMB1oT/2017 209
A VELA COMO INSTRUMENTO DE EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SOCIAL NO BRASIL
210 RMB1oT/2017
A VELA COMO INSTRUMENTO DE EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SOCIAL NO BRASIL
RMB1oT/2017 211
A VELA COMO INSTRUMENTO DE EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SOCIAL NO BRASIL
longo prazo. Não temos dúvidas de que a vida é feita de sacrifícios, de escolhas,
dessa forma os resultados serão cada vez e a gente tem que lutar para conseguir o
maiores. (SANDER, 2016, p.7) que deseja”, afirma a campeã. Sacrifício
e perseverança são as palavras-chave
Não se trata somente de educar as gera- desse momento do esporte brasileiro. E,
ções atuais e futuras, mas, principalmente, nesse sentido, a participação da MB tem
é necessário, por meio do instrumento da sido de grande valia. Não só trazendo a
vela, promover uma verdadeira revolução estrutura necessária para que os atletas
cultural, iniciada na base educacional, in- consigam os resultados, mas sobretudo
trojetando toda a importância do mar para pelo espírito de disciplina que permeia
o Brasil e incutindo uma mentalidade que a filosofia militar. (SANDER, 2016, p.9)
naturalmente se perpetue. De forma con-
comitante, a vela se CONCLUSÃO
reveste também como
mais um portal de O Prolim, promovendo A importância da
transformação social, incentivo à vela, possui uma vela no cenário na-
na medida em que, ao cional é tão expressi-
incentivar o esporte enorme capacidade de difusão va que até na Escola
nacional, produz um dos conhecimentos náuticos Naval, instituição de
aumento do número
de praticantes, bem
e marítimos essenciais a um ensino superior mais
antiga do País, onde
como torna a práti- país com o mar territorial tão se formam anualmente
ca do esporte mais rico e extenso cerca de 200 novos
acessível às camadas oficiais da Marinha,
econômicas mais ca- a prática da vela se
rentes, podendo servir como real instru- tornou obrigatória para todos os seus aspi-
mento de inclusão social, possibilitando rantes. A prática deste esporte é de suma
estender cada vez mais as oportunidades importância para que se possa adquirir
de desenvolvimento dos jovens para uma a mentalidade marítima e a experiência
nova perspectiva de vida. náutica, mas, sobremaneira, para incutir
Natural do Piauí, Sarah hoje é um nos jovens oficiais situações reais de apli-
verdadeiro exemplo para as novas ge- cação prática da liderança e valorização do
rações de atletas que sonham em um trabalho em equipe, dos valores morais da
dia se consagrar com uma medalha de competitividade sadia e dos ensinamentos
ouro olímpica. Ela ressalta a necessidade empíricos dos momentos de sucesso e
de se estimular desde cedo a prática do derrota, que podem ser muito bem compre-
esporte entre as crianças, não só pelo endidos quando praticado o esporte.
aspecto da competição em si, como Para o Almirante Carlos Chagas, é de
também pela formação da cidadania: “O fundamental importância a renovação
esporte faz mais do que estimular a ativi- da base de atletas: “A gente tem um
dade física, ele ajuda a criança a se tornar planejamento constante de renovação
um grande cidadão, ensina honestidade, dos nossos atletas de alto rendimento.
respeito ao próximo, dedicação dentro e A Marinha é autorizada a contratar 242
fora da sala de aula. Mesmo quem não sargentos, estamos com um efetivo de
se tornar atleta pode compreender que 219 e estamos aumentando e renovando.
212 RMB1oT/2017
A VELA COMO INSTRUMENTO DE EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SOCIAL NO BRASIL
A gente sempre busca atletas de ponta, de carreiras no esporte pela falta de incentivo,
forma a ter a melhor equipe possível. Ao estabilidade e ferramentas que garantissem
mesmo tempo, existe uma preocupação seu desenvolvimento, o Prolim surge como
muito grande em incentivar a criação de uma ferramenta para fomentar a prática do
novos talentos. Isto aí a gente faz com os esporte nacional de forma profissional, na
projetos de base, temos tido resultados medida em que possibilita um panorama
muito bons nas categorias mais novas”. de perspectiva futura a estes jovens atletas.
[...] O Almirante diz que a Marinha bus- Segundo palavras do Vice-Almirante (FN)
ca, com estas ações, transformar o Brasil Paulo Zuccaro2, diretor do Departamento do
em potência olímpica. “Nós acreditamos Desporto Militar, a avaliação sobre os resulta-
no futuro do esporte por meio do desen- dos obtidos pelos atletas não poderia ser me-
volvimento social. Quanto mais cedo a lhor. O sucesso do programa é inquestionável,
gente conseguir identificar estes valores assim como é indubitável toda a contribuição
e apoiar, especialmente na população direta e indireta do programa para a elevação
mais humilde, aqueles que tenham mais do Brasil à condição de potência olímpica.
dificuldades, talvez esta seja a única Além do mais, é importante considerar que
oportunidade de acesso ao desporto. A o Prolim se caracteriza por ser um progra-
gente tem que tra- ma inclusivo e flexível,
balhar para Tóquio admitindo diversos mo-
2020. Estes atletas Das 19 medalhas delos de parceria com as
de alto rendimento
que temos hoje são
conquistadas pelo Brasil demais entidades liga-
das ao esporte, como,
fundamentais para nos Jogos Rio 2016, 13 são por exemplo, os clubes,
2016, mas para de atletas militares as confederações e as
2020/2024 temos empresas.
que trabalhar com Das 19 medalhas
gerações e gerações cada vez mais novas. conquistadas pelo Brasil nos Jogos Rio
E acreditamos que os Jogos de 2016 per- 2016, 13 são de atletas militares. De
mitam ao Brasil uma grande virada em acordo com o Ministério da Defesa, essa
termos de se transformar numa potência foi a melhor atuação do desporto militar
olímpica, que é o objetivo principal do brasileiro em edições olímpicas. Com
programa olímpico da Marinha”, conclui. o total de 19 medalhas, o Brasil teve
(SERRÃO, 2016, não paginado) o melhor desempenho da história em
Olimpíadas. A contribuição das Forças
A inclusão dos atletas como militares Armadas para esse alcance foi de 68%
pode gerar um aumento significativo do dos pódios. Os medalhistas brasileiros
interesse pela prática esportiva, dada a es- que integram o Programa Atletas de Alto
tabilidade que o programa possibilita para Rendimento (PAAR) do Ministério da
o desenvolvimento do atleta profissional- Defesa se destacaram nas competições.
mente, com toda a estrutura que fica à sua [...] O investimento anual do Ministério
disposição para sua evolução. Nesse sen- da Defesa no Programa de Alto Ren-
tido, em um país em que há algum tempo dimento é de aproximadamente R$ 18
inúmeros talentos esportivos não trilhavam milhões, entre salários, benefícios, aqui-
2 Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/esporte/2016/08/atletas-militares-conquistam-68-das-medalhas-
-brasileiras>. Acesso em: 24 ago. 2016.
RMB1oT/2017 213
A VELA COMO INSTRUMENTO DE EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SOCIAL NO BRASIL
REFERÊNCIAS
Atletas militares conquistam 68% das medalhas brasileiras. Disponível em: <http://www.brasil.gov.
br/esporte/2016/08/atletas-militares-conquistam-68-das-medalhas-brasileiras>. Acesso em:
24 ago. 2016.
Entenda por que há tantos atletas militares. Disponível em: <http://veja.abril.com.br/esporte/entenda-
-por-que-ha-tantos-atletas-militares/>. Acesso em: 25 ago. 2016.
SANDER, R. O esporte olímpico na Marinha do Brasil. Disponível em: <https://www.marinha.mil.
br/sites/www.marinha.mil.br.papem/files/Revista_PAGMAR_4_Edicao.pdf>. Acesso em: 25
ago. 2016.
SERRÃO, P. Patente alta: conheça a preparação dos atletas olímpicos e militares. Disponível em:
<http://www.ebc.com.br/esportes/2015/05/patente-alta-conheca-preparacao-dos-atletas-
-olimpicos-e-militares>. Acesso em: 23 ago. 2016.
214 RMB1oT/2017
CARTAS DOS LEITORES
Recebemos do Professor Alvanir Bezer- casco e aos conveses de tais navios. Daí a
ra Carvalho* a seguinte correspondência: minha esperança de que, em algum lugar do
“No Arsenal de Marinha do Rio de Arsenal, abandonados, esquecidos, ainda
Janeiro, há 150 anos, foram construídos possam existir alguns daqueles parafusos,
alguns dos navios encouraçados que lutaram ou ao menos que, nos seus arquivos, exis-
na Guerra do Paraguai: os encouraçados tam descrições técnicas, fotografias ou o
Barroso, Rio de Janeiro e Tamandaré e o que seja sobre eles.
monitor encouraçado Alagoas e seus irmãos. É de se esperar também que, em algum
Os referidos navios, que tinham casco lugar destinado a guardar a memória do
de madeira, receberam, sobre o convés Arsenal, existam fotografias do período
e o costado, uma cobertura de chapas de de construção dos navios encouraçados.
ferro, aparafusadas sobre tais superfícies Considerando-se que uma foto vale mil
de madeira. Deduzi então que, se os navios palavras, encontrar fotos desse tipo também
foram construídos no Arsenal (construção seria considerado um achado muitíssimo
esta que incluiu a instalação de dezenas valorizado, visto que no arquivo de fotogra-
de chapas de couraça), seria de se esperar fias da Diretoria do Patrimônio Histórico
que o Arsenal mantivesse em estoque uma e Documentação da Marinha não existe
quantidade elevada de parafusos longos, de material significativo sobre isto.
formato conicular, por meio dos quais as Realizando pesquisas em vários museus
grossas chapas de ferro eram afixadas ao do Rio de Janeiro, em três deles – Museu
* N.R.: Historiador, professor universitário e nautimodelista. É colaborador da RMB e Amigo da Marinha, com
Mérito Tamandaré.
CARTAS DOS LEITORES
Naval; Museu Histórico Nacional (no pátio canhões, ferindo e até mesmo matando
dos canhões) e Museu Militar Conde de dezenas de marinheiros que se encontravam
Linhares (na sala dedicada à Guerra do Pa- em suas proximidades.
raguai) – encontrei aproximadamente uma Cabe ressaltar que, no meu entender,
vintena de chapas de couraças de ferro, com parafusos coniculares faziam parte de um
as mais variadas dimensões. Todas elas – volumoso estoque de uso do Arsenal de
incluindo-se aí as chapas das couraças que Marinha, que construiu vários desses na-
foram identificadas pelo Museu Histórico vios. Por sua vez, em Ladário (MS), após
como pertencentes aos encouraçados Bra- o final da guerra, os navios encouraçados
sil (corveta) e Silvado (monitor), ambos foram considerados obsoletos, levando-se
construídos na França –, possuem furos em conta o elevado custo de sua transferên-
de formato conicular – de diâmetro mais cia de volta para o Rio de Janeiro (além de
largo na parte externa e mais fino na parte não mais se fazerem necessários). Assim,
interna, junto ao costado do navio –, por todos os encouraçados – à exceção do Rio
onde eram introduzidos os parafusos aqui de Janeiro, que afundou durante o con-
mencionados. O formato conicular dos flito – foram desmontados e seus cascos
furos – e também do corpo dos parafusos vendidos para particulares locais, que os
– era mais uma precaução com o propósito empregaram como batelões de carga. Tal
de impedir que, ao ser atingido por algum providência resultou, possivelmente, no
disparo de canhão inimigo, o parafuso se acúmulo, na Base Naval de Ladário – de um
projetasse para dentro do bojo do navio volume substancial de couraças e parafusos
atingido, ferindo a quem estivesse em suas retirados dos navios que receberam baixa.
imediações. Empenhado na preservação da história
Relatos históricos sobre incidentes desse militar brasileira, solicito, assim, a cola-
tipo com navios encouraçados da Guerra boração dos leitores para que forneçam
Civil norte-americana dão conta de que, quaisquer informações, porventura do seu
embora os parafusos tenham permanecido conhecimento, sobre detalhes da constru-
preso às couraças externas, suas porcas se ção dos navios encouraçados brasileiros
desprenderam, sendo projetadas em alta que tomaram parte na Guerra do Paraguay
velocidade para o interior das torres de (Alagoas, Bahia, Barroso, Brazil, Cabral,
Colombo, Herval, Lima Barros, Mariz e
Barros, Rio de Janeiro,
Silvado e Tamandaré),
incluindo-se aí cópias
de eventuais fotografias
dos referidos navios ou
de suas tripulações –
por menos nítidas que
possam estar as fotos.
Em particular, se-
ria interessante obter a
descrição (bem como
fotografias) dos pa-
rafusos coniculares,
Chapas de ferro que eram usadas em convés de madeira longos, que prendiam
216 RMB1oT/2017
CARTAS DOS LEITORES
RMB1oT/2017 217
CARTAS DOS LEITORES
1884. Homenagem do Governo do Estado e faleceu aos 71 anos, após ter sido duas
do Maranhão, São Luís, 21/6/1968”, que, vezes diretor-geral de Navegação (atual
para minha surpresa não condiziam com Diretoria de Hidrografia e Navegação), du-
o curriculum vitae do personagem foco rante sete meses em 1930 e entre 22/9/1932
de meu artigo, o Almirante Heráclito da e 11/7/1935.
Graça Aranha, o que me levou a buscar A surpresa maior ocorreu ao comparar
referências do imortal Graça Aranha autor a paternidade de um com a do outro. Eram
de romance que eu já lera. filhos de Themistocles da Silva Maciel
José Pereira da Graça Aranha Aranha e Maria da Glória da Graça Aranha.
(21/6/1868-26/1/1931), escritor e diplo- O Almirante Graça Aranha é irmão cinco
mata natural de São Luís, Maranhão, foi anos mais novo de Graça Aranha, o escritor,
membro fundador da Academia Brasileira diplomata, imortal da Academia Brasileira
de Letras em 20 de julho de 1897 e faleceu de Letras e autor do romance Canaã, sua
aos 62 anos. única obra, publicada pela primeira vez em
Heráclito da Graça Aranha (22/3/1873- 1902, na qual o autor aborda a imigração
4/8/1944), oficial de Marinha, natural da alemã no estado do Espírito Santo.
mesma cidade. Formou-se na Escola Naval Ambos habitaram a casa, ainda existente,
em 23 de novembro de 1891, foi promovido em São Luís do Maranhão, na mesma avenida
a Vice-Almirante em 27 de outubro 1932 onde hoje se encontra a Capitania dos Portos.
218 RMB1oT/2017
NECROLÓGIO
A RMB expressa o pesar às famílias pelo falecimento dos seguintes colaboradores e assinantes:
ALMIRANTE LABARTHE
Conheci Labarthe na Viagem da Coroação. resultado, mas a ideia causou um alvoroço
O Cruzador Barroso, recebido pelo Bra- entre os armamentistas de bordo. Se não
sil havia pouco tempo, foi designado para criou um novo método para ser posto em
representar nossa Marinha na Grande Para- prática, mostrou bem a sua mente inquieta e
da Naval de Portsmouth, em homenagem à inventiva. E foi assim que conheci Labarthe.
coroação da Rainha Elizabeth II, em 1953. Logo após a Viagem da Coroação,
Eu era primeiro-tenente encarregado da desembarquei do Barroso para cursar
5a Divisão, que tinha sob responsabilidade Armamento. E eis que lá, ensinando os
os canhões de salva. Labarthe era um ar- segredos das torres principais dos cruza-
mamentista sem curso de especialização1. dores, encontro Labarthe. Era um instrutor
Naquele momento, talvez fosse o secretário que tornava de fácil entendimento qualquer
do navio. complicação dos aparelhos de comando à
Mesmo estando fora de uma divisão de distância das torres dos cruzadores.
armamento, com seu amigo Bonoso, tenen- Embora bom aluno, sempre sofri do
te encarregado da Divisão F, especulava terrível sono que abate nossos corpos após
sobre a possibilidade de tomar a altura das o almoço (no meu caso, antes também). Era
estrelas empregando a diretora MK.332, uma luta gigantesca que sempre travei em
independente do horizonte do pôr do sol, todos os cursos que tive de fazer durante
já que era estabilizada. a minha carreira. Fazia de tudo para per-
Labarthe, como eu tenho na memória, manecer acordado, pois tinha, e tenho, a
desenvolveu a nova utilização da direção de convicção de que, para tirar uma boa nota
tiro e chegou a calcular a posição do navio e aprender a essência da aula, o caminho
tendo visado às estrelas independente do era, e ainda é, ouvir bem atento as palavras
horizonte estar visível. Não me lembro do do instrutor.
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NECROLÓGIO
Promoções: a segundo-tenente em
30/3/1954; a primeiro-tenente em 26/10/1955;
a capitão-tenente em 4/11/1958; a capitão de
corveta em 22/12/1962; a capitão de fragata
em 17/4/1968; a capitão de mar e guerra em
30/4/1974; a contra-almirante em 31/3/1981; e
a vice-almirante em 31/7/1985. Foi transferido
para a reserva remunerada em 15/5/1987.
Em sua carreira exerceu quatro co-
mandos: 1o Esquadrão de Helicópteros de
Emprego Geral; Centro de Adestramento
Almirante Marques de Leão; Navio-Aeró-
dromo Minas Gerais; e Força Aeronaval.
Exerceu a direção da Aeronáutica da
Marinha.
Comissões: Cruzador Tamandaré;
Navio-Escola Duque de Caxias; Centro
de Instrução de Adestramento Aerona-
val; Corveta Solimões; Base Aeronaval
CLÁUDIO JOSÉ CORRÊA LAMEGO
de São Pedro da Aldeia; Comissão Na-
Vice-Almirante
val Brasileira em Washington; Escola
Nascido no Rio de Janeiro, filho de de Guerra Naval; Secretaria-Geral do
Claudio Lamego e de Maria da Gloria Conselho de Segurança Nacional; Co-
Corrêa Lamego. mando do 1o Distrito Naval; Comando de
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NECROLÓGIO
IN MEMORIAM
Vice-Almirante Claudio José Corrêa Lamego
Nos idos de 1958, o então Capitão- Passa o tempo e, em 1966, eu, que já
-Tenente Lamego iniciou suas atividades estava na área desde 1964, fui movimen-
aeronavais, ao concentrar no Centro de tado para o 1o Esquadrão de Helicópteros
Instrução e Adestramento Aeronaval de Emprego Geral (EsqdHU-1), onde tive
(CIAAN), para realização do Curso de a oportunidade de conhecer melhor o então
Aperfeiçoamento de Aviação para Oficiais Capitão de Corveta Lamego, quando exer-
(Caavo), como componente da terceira cia a função de imediato daquela unidade
turma que teve formação regular naquele aérea da qual a seguir assumiria o comando.
Centro. Naquela época, as instalações do Em 1969, na chefia do Departamento de
CIAAN se situavam na Avenida Brasil, Manutenção do Esquadrão, meus contatos
próximo ao antigo Quartel de Marinheiros com o comandante eram frequentes, visan-
e de outras organizações da Marinha. do resolver de forma satisfatória os tantos
Em junho de 1961, fruto da necessidade problemas das aeronaves e conseguir man-
abrupta de transferir todo o material e o pes- ter um nível de disponibilidade adequada, a
soal envolvido com a instrução de voo das fim de poder atender aos múltiplos pedidos
instalações do CIAAN para São Pedro da de missões que chegavam ao Esquadrão.
Aldeia, lá estava o Capitão-Tenente Lame- Assim, a possibilidade de considerar o
go fazendo parte do grupo de quatro oficiais comandante na escala de voo, sempre
encarregados da faina. Foi, portanto, um que possível, não era absurda, porque na
dos pioneiros da nossa Aviação Naval em realidade éramos poucos e tínhamos que
São Pedro da Aldeia, um dos primeiros a contar com todos; por essa razão, voamos
conhecer a realidade da área que passamos juntos muitas vezes. Nas ocasiões em que
a nominar como “Macega” e as instalações a situação da manutenção se complicava,
em final de construção da futura Base com aumento da carga de trabalho, e em
Aérea Naval de São Pedro da Aldeia. Foi que o esforço noturno era grande, o co-
um início duro, as residências para oficiais mandante nos apoiava, com serenidade,
e praças, como também os alojamentos e conhecimento e discernimento, sempre nos
demais edificações, não estavam prontas passando confiança com suas orientações
e, além disso, naquela época, o incipiente competentes e seguras.
mercado imobiliário do lugarejo não tinha Em 1970, o Capitão de Fragata Lamego
as mínimas condições de atender às nossas passou o comando do EsqdHU-1, desem-
necessidades de moradia. barcou da área e, pouco mais tarde, foi
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NECROLÓGIO
premiado, designado para servir na Co- da Marinha (DAerM), onde tive a satisfa-
missão Naval Brasileira em Washington ção de secundá-lo como seu vice-diretor.
(CNBW). Naquele mesmo ano, também Naquela Diretoria, além das responsabi-
desembarquei do EsqdHU-1 e fui trans- lidades inerentes à DAerM, atendeu, por
ferido para a Diretoria de Aeronáutica da solicitação do Estado-Maior do Exército, à
Marinha. realização de palestra visando à prestação
Entre 1973 e 1974, estive alguns meses de assessoria sobre toda a problemática
na Fábrica da Bell Helicopter para fiscalizar que envolveria a criação da Aviação do
e receber os 18 helicópteros Bell Jet Ranger Exército, que se encontrava em fase de
II, adquiridos pela Marinha para renovar a estudos para sua implantação. Também
frota do 1o Esquadrão de Helicópteros de nesse período, recebeu a tarefa de repre-
Instrução (EsqdHI-1). Na oportunidade da sentar a Marinha em um grupo de trabalho
cerimônia de entrega das aeronaves, nos interministerial para estabelecer, em co-
encontramos outra vez; esteve presente o ordenação com a Força Aérea Brasileira
Capitão de Fragata Lamego representando (FAB), os requisitos para homologação
a CNBW. de operações aéreas nas plataformas de
Em 1979, já no posto de capitão de exploração de petróleo no mar, com suces-
mar e guerra, assumiu o comando do so na empreitada. Mas o mais importante
Navio-Aeródromo Ligeiro (NAeL) Minas mesmo, sob a ótica de aviador naval, foi a
Gerais. Tempos difíceis aqueles em que, contratação e a aquisição de mais um lote
após longo período de reparos, o NAeL de helicópteros de instrução, dessa vez dos
voltava ao mar e às operações aéreas, com Bell Jet Ranger III, mais modernos que o
o adestramento da guarnição prejudicado modelo adquirido anteriormente, tendo em
pela longa interrupção de suas atividades vista que os recebidos no primeiro lote se
precípuas. Pois ainda assim, na primeira achavam muito desgastados, devido à sua
comissão de maior duração, conseguiu o intensiva utilização nos voos de instru-
feito de se tornar o primeiro comandante ção. Foi então realizado um estudo para
do NAeL a adentrar e atracar no porto decidir sobre o processo que deveríamos
de Recife, o que até então não havia sido utilizar para trazer esses novos helicópte-
realizado pelos comandantes que o antece- ros para o Brasil. Escolhido e aprovado
deram. Na ocasião, eu estava embarcado no pelo Vice-Almirante Lamego, o traslado
NAeL com helicópteros Lynx SAH-11 do das aeronaves foi realizado de forma até
1o Esquadrão de Helicópteros de Ataque então inédita na Marinha: foram traslada-
(EsqdHA-1), que estava sob meu comando, dos em voo do Texas, nos Estados Unidos
e pude testemunhar o fato. da América do Norte, até São Pedro da
Em 1981, antevendo sua possível Aldeia. Posta em execução após minu-
promoção ao posto de contra-almirante, cioso detalhamento, a ação transcorreu
convidou-me para chefiar seu Estado- sem qualquer problema nem danos. Para
-Maior no Comando da Força Aeronaval, coroar o trabalho, mostrou tratar-se na
recomendando-me discrição porque a época, de processo mais econômico do
notícia ainda não era oficial, tratava-se que os demais considerados.
de intenção que, felizmente, acabou por Em 1987, por motivos exclusivamente
se concretizar. particulares, o Vice-Almirante Lamego
Promovido a vice-almirante, foi desig- solicitou seu desligamento do serviço ativo,
nado em 1985 para diretor de Aeronáutica passando para a reserva.
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NECROLÓGIO
Com o seu falecimento, no mês de no- perdi um bom amigo. Sua falta será sen-
vembro do ano de 2016, justamente o ano tida nos desfiles das “Velhas Águias” e
em que a Marinha do Brasil comemorava nos almoços da “Confraria dos Aviadores
o Centenário da sua Aviação Naval, ela Navais”.
perdeu um oficial de escol, a Aviação Naval “No ar os homens do mar.”
perdeu um de seus pioneiros e exemplo a
ser seguido, e eu, que tive o privilégio de Carlos Frederico Vasconcellos da Silva
conhecê-lo, perdi mais do que um chefe, Contra-Almirante (Refo)
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O LADO PITORESCO DA VIDA NAVAL
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O LADO PITORESCO DA VIDA NAVAL
tão de corveta da reserva ligado a assuntos Estávamos dispostos até a aceitar uma visita
de História. No dia 25 de maio, assistimos pacífica, mas nunca intimidação de qualquer
a um desfile cívico-militar no palanque de espécie, tal como ser alvo de lancha ou a
honra. O Parnaíba retribuiu as atenções com presença de visitantes armados. Felizmen-
um almoço a bordo. O adido naval brasileiro te, a lancha foi embora e tudo ficou como
colaborou para que não faltassem recursos. estava. O sábio espírito do Parnaíba, acos-
Iniciamos o regresso, e as boias apaga- tumado àquelas paragens e ao seu gentio,
das na ida já funcionavam perfeitamente. O havia tomado as rédeas da situação e posto
Parnaíba dependia, sobremodo, do Potengi a paz a reinar. Protegeu seu comandante e
para garantir seu combustível. Usávamos evitou uma questão internacional. Hoje diria
um bunker muito pesado e espesso. Se- “Ufa!”. Àquela altura não tenho dúvidas de
guíamos um programa de reabastecimento o Parnaíba já me havia aceitado. O jovem
que começou a se mostrar insuficiente. O comandante era adequado a um patrulha
frio havia endurecido mais ainda o bunker, artilhado e encouraçado, faltava amadurecer.
que fluía com dificuldades. Parecia chicle- Quase em Corrientes, o Potengi come-
te. A frequência dos reabastecimentos foi çou a apresentar problemas de máquinas.
aumentada, expondo o material a esforço Em razão dos compromissos protocolares
não calculado. Numa bela noite, “ploft”, atinentes à visita, o Parnaíba seguiu só
rompeu o mangote de transferência. Ainda para evitar atrasos. Tínhamos pequeníssima
que bastante denso, lançamos muito óleo no reserva de velocidade. Vale lembrar que,
Rio Paraná e no convés do Parnaíba. O cos- no ano anterior, o Parnaíba teve muitos
tado ficou negro. Iniciamos uma demorada problemas de condensador na viagem a
limpeza, que não passou despercebida pelas Rosário, em razão da água barrenta do Rio
autoridades argentinas. Logo uma lancha da Paraná. Nesse ano estávamos tendo suces-
Prefeitura Naval nos acompanhava. so. O chefe de Máquinas, em um hercúleo
Naquele momento, passou-nos pela ca- trabalho, diariamente abria e limpava um
beça um episódio em que o Navio-Escola condensador, de modo a garantir nossa ca-
Custódio de Mello, nosso navio-escola, ao pacidade de processar o vapor das caldeiras.
adentrar o Canal de Beagle, foi interceptado Chegamos a Corrientes no horário. O
por lancha semelhante àquela que ali estava Potengi um pouco mais tarde, não muito. A
e impedido de prosseguir viagem. Sob a programação foi igualmente formal e cortês.
mira de metralhadoras, teve de esperar que Partimos de Corrientes. Com alívio,
as autoridades diplomáticas intercedessem passamos a foz do Rio Paraguai. Ali está
para mostrar que nada tínhamos a ver com a um passado de glórias. A margem esquer-
questão de soberania disputada por chilenos da do rio é cheia de nomes conhecidos, a
e argentinos em Beagle. Ora, o Parnaíba é começar por Passo da Pátria; seguem-se
um encouraçado, e não nos pareceu correto Curuzu, Curupaiti e Humaitá. Nos campos
sofrer a mesma humilhação. Raciocínio de batalha, os paraguaios ergueram monu-
simplista e, convenhamos, errado, mas foi mentos em memória aos caídos. Alguns
o que pareceu importante. Éramos também podem ser vistos do rio. O que era pura “de-
convidados do Governo argentino e blá, blá, coreba” escolar agora desfilava como que
blá... Coisa de jovem petulante e entusias- “em continência”, um em cima do outro,
mado. O Parnaíba, então, guarneceu Postos praticamente, a cada curva do rio. Se em
de Combate e assim permaneceria até que 1987 eram locais ermos, podemos imaginar
a lancha da Prefeitura Naval se afastasse. como seriam as dificuldades logísticas de
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O LADO PITORESCO DA VIDA NAVAL
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O LADO PITORESCO DA VIDA NAVAL
avarias de modo que os seus efeitos fossem ser laborado manualmente. A válvula também
efetivamente sentidos. serviria para gerar a avaria real. Então, quando
No ano de 1988, o Paraguassu seria ordenado pelo chefe da comissão, o inspetor de
submetido a Inspeção de Eficiência, e o máquinas abriria o by-pass. E veríamos o que
oficial de Operações do Estado-Maior do se sucederia. Se algo não saísse a contento, o
Comando do 6º Distrito Naval foi desig- inspetor restabeleceria o sistema.
nado chefe da comissão que realizaria a Suspendemos para a inspeção em direção
inspeção. O comandante do navio e o oficial ao Rabicho. Aproveitando o estirão entre a
de Operações eram submarinistas. Fazenda do Rabicho e a Foz do Paraguai-
A comissão se reuniu para elaborar o -Mirim, o inspetor de máquinas recebeu
programa de eventos a ser cumprido pelo ordem para abrir o by-pass. Em que pese
Paraguassu e, como de praxe, não poderia o “fora de leme” ser esperado, acho que o
faltar o tradicional “fora de leme”, em que timoneiro aguardava receber a informação
seria verificado o preparo da tripulação de avaria, jamais ser o “detector da avaria”.
na comunicação da avaria, tramitação de A surpresa o fez “gelar” diante da roda do
ordens pertinentes, transferência e governo leme, onde ficou estático, sem nada dizer ou
a partir da estação de emergência. fazer. O Paraguassu, inicialmente, seguiu
Em seguida, o chefe da comissão e o reto para então, lentamente, tomar direção a
inspetor de máquinas foram a bordo para boreste, justo rumo à margem mais próxima.
verificar como simular a avaria. O sistema de Vendo que teríamos uma emergência de fato,
governo em emergência do Paraguassu era o comandante e o inspetor de máquinas foram
muito simples: um arco que se fazia de cana avisados. O comandante fez o que pôde,
do leme, ligado a dois aparelhos de força, um inverteu máquinas e recuperou o controle, po-
em cada bordo, para ser laborado por tripu- rém não antes de o navio estampar a proa na
lantes escalados em tabela-mestra. A única lama da barranca, em perfeito baixo-relevo,
providência mais sofisticada era saber onde digno de um trabalho de Michelangelo.
se localizava a válvula by-pass que aliviava
o sistema hidráulico normal, sem o que o Gilson Antonio Victorino da Silva*
sistema, de tão duro, se tornava impossível de Capitão de Mar e Guerra
O BURCA**
Há décadas, quando servia numa ilha ela, nem queria morar com o genro. Mas
para os lados do Mocanguê, havia um fazer o quê? O infeliz era a única renda da
graduado, morador da Tijuca, tido como família!
exímio paquerador. Esta característica A vida atribulada era motivo para desaba-
causava-lhe frequentes desentendimentos fos com os colegas de trabalho. Vitimizava-
com a esposa, ampliados pelas constantes -se, dizendo ser um verdadeiro burro de
intervenções da sogra. Na verdade, dizia carga, o que lhe rendeu o apelido de Burca.
* Foi comandante do Navio-Varredor Atalaia, do Monitor Parnaíba e da Flotilha de Mato Grosso e capitão dos
Portos do Espírito Santo. Foi também adjunto do adido militar na República Popular da China. É aperfeiçoado
em Submarinos e Mestre em Ciências Navais (EGN).
** N.A.: O fato foi narrado em Praça D’armas pelo Capitão de Fragata (IM) Márcio Abel da Silva Longo, que,
autorizou a publicação, fazendo questão que o fosse com a minha autoria.
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O LADO PITORESCO DA VIDA NAVAL
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O LADO PITORESCO DA VIDA NAVAL
– Pelo amor de Deus, até isso sou eu? O Burca não retrucou. Nem precisava,
Como? A senhora não estava calçada? sentia-se no paraíso. Chorou de gargalhada.
– Não, eu tirei pra descansar os pés. A estimada sogra não participou do ani-
Vasculharam o carro e nada de sapato. versário. Ficou no carro até a madrugada,
– E a senhora trouxe mesmo? saboreando toda fome que Deus lhe dera.
– Claro, não sou doida. Como viria só Manoel Cardoso da Silva
com um sapato? Capitão de Corveta (Refo-T)
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O LADO PITORESCO DA VIDA NAVAL
NAUFRÁGIO
Ao término do curso da Escola de De repente, foi chamado. Ia participar
Aprendizes-Marinheiros do Ceará, nos dos 100 metros de nado livre. Foi tomado
anos 70, um grupo de marinheiros embar- de grande empolgação. Antevendo o suces-
cou no Cruzador Barroso (C-11), um dos so, via-se como o herói da equipe. Ô glória!
expoentes da Marinha do Brasil à época. Competidores alinhados, o juiz passou
No grupo, um marinheiro destacava-se as instruções: no primeiro apito os nadado-
pela baixa estatura e por ser muito franzino, res ocupam seus lugares; no segundo, larga.
credenciais que, a priori, não o indicavam a – Largar o quê, chefe?, questionou o
ser selecionado para nenhuma modalidade marujo.
desportiva. O dito-cujo, porém, alardeava ser – Saltar, meu filho, cair na água. De
muito bom nadador, habilidade que desen- onde tu veio?
volvera em riachos no interior do Nordeste. – Humm! Sendo assim é fácil, não há
Com apenas três semanas de embarque, dúvida, matutou.
a turma foi surpreendida com a presença de – Primeiro apito, preparar! Segundo
um velha-guarda, suboficial antigão cursa- apito, largar.
do em Educação Física. Estava escalando O representante do C-11 saiu inconti-
atletas para participar da competição de nenti. Largaria bem, não fosse a barrigada
natação, realizada anualmente entre as tri- na água. Recuperou o fôlego, impôs ritmo
pulações dos navios da Esquadra. A prova frenético nas braçadas. Mesmo no estilo
seria disputada na tarde daquele mesmo dia, nado de rio, conseguiu acompanhar os
na piscina da Escola Naval. concorrentes.
Aparentando simplicidade, o marinheiro Com o extenuante esforço, o atleta perdeu
em questão não se voluntariou para partici- o gás na volta, pregou. Nadava quase em pé,
par, no entanto os colegas imediatamente o engolia água com as marolas. Não brigava
indicaram ao dirigente técnico: “Seu Sub, mais por posições, mas para não se afogar.
seu Sub, esse nada, esse nada, é dos bons!”. Tocou desespero! Tentava sair pela
O jovem marujo tentou convencer o lateral da piscina. Gozação geral, ovação
suboficial de que não era tudo aquilo que da torcida: “Nada pra frente, pra frente, se
falavam, mas, a bem-dizer, não era um sair fica preso!”
afogado, dava suas braçadas, mas... Sentiu-se no meio do mar. Não via mais
O suboficial, que estava “na onça” [com nada, não sabia onde estava e nem o que
dificuldade] para conseguir competidores, acontecia. No limite, lutando pela vida, con-
não iria dispensá-lo, especialmente depois seguiu chegar à borda, sem forças pra sair da
da garantia unânime daqueles que mais o
água. Então os “amigos” resolveram dar-lhe
conheciam – os colegas de turma. Usando
uma força: “Olha o tubarão, olha o tubarão!”
da autoridade, esbravejou: “Mas coisa ne-
Mais que isso não era preciso! Pulou
nhuma! Você vai, se sabe nadar vai. Não
fora que nem um raio. Aturdido e apavora-
aceito escamação [corpo mole]. Ou vai ou
leva uma parte de ocorrência. É ordem”. do, perguntou: “O navio afundou, afundou?
Bem, desse jeito não tinha como escapar Cadê o navio?”
da faina. Foi. O técnico aloprou: “O navio não, mas
Começou a competição: nado peito, tu, peste, afundou a equipe. Tá de castigo.
costas, revezamento, e o jovem nadador Vai pegar uma semana de faxina extra, após
inconformado com os pífios resultados da o expediente”.
sua equipe: “Eu aqui, à disposição, sem
participar. Poderia salvar a equipe. Se fosse Manoel Cardoso da Silva
nadar mostraria resultado, iam ver”. Capitão de Corveta (Refo-T)
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DOAÇÕES À DPHDM
JANEIRO A MARÇO DE 2017
DEPARTAMENTO DE BIBLIOTECA DA MARINHA
DOADORES
ALEMANHA
Naval Forces: International fórum for maritime power – v. 37 no 4, no 5 – 2016
CHILE
Patrimonio del Museo Marítimo Nacional
CUBA
Revista bimestre Cubana: de la sociedad económica de amigos del país – no 44 jan./
jun.– 2016
ESPANHA
Revista de História Naval – v. 34, no 135 – 2016
FRANÇA
Ètudes marines: marines d’ailleurs – no 10 – 2016
DOAÇÕES E PERIÓDICOS RECEBIDOS
ITÁLIA
Rivista Marittima – v. 149, nos 5, 6, 7 e 8; mai./jun./jul./ago. – 2016
PORTUGAL
Revista de Marinha – v. 78, no 986, set./out; v. 78, no 988, nov./dez. – 2015; v. 79, no
989, jan./fev. – 2016
Anais do Clube Militar Naval – v. 145, tomos 7 a 12
BRASIL
Revista do arquivo geral da cidade do Rio de Janeiro – no 10/11 – 2016
Cadernos do CHDD – v. 47, no 27, 2o semestre – 2015; v. 15, no 18, 1o semestre – 2016
Revista ADESG – no 287, set./out. 2014; v. 40, no 289, jan./abr.; no 290, jul./ago.; e no
291 nov./dez. – 2015
Âncoras e Fuzis – v. 15, no 47 – 2016
Informativo Marítimo – v. 24, no 2, mar./jul. – 2016
Revista da Biblioteca Nacional – v. 8, nos 90 a 96, mar. a set. – 2013; v. 9, nos 97, 98 e
99, out./nov./dez. – 2013; v. 9, nos 100 a 111, jan. a dez. 2014; v. 10, nos 112 a 120,
jan. a set. – 2015; v. 11, nos 121/122, out./nov. – 2015; v. 11, nos 123/124/125, mai./
jun./jul. – 2016
Revista do Clube Militar – v. 88, no 459, jan./fev./mar. – 2016
Tecnologia Militar – v. 38, nos 2, 3 e 4 – 2016
Revista Âncora Social – v. 9, no 9 – 2016
Revista do Instituto de Geografia e História Militar do Brasil – v. 74, no 101 – 2015
Educação Física – v. 16, no 62, dez. – 2016
Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro – v. 176, no 469, out./dez. – 2015
Tecnologia e Defesa – v. 33, no 147 – 2016
Mistérios da pré-história americana – 2015
“Uma vasta Caieira”: um estudo sobre os fabricantes de cal da Freguesia da Ilha do
Governador (1861-1900) – 2016
Aspectos logísticos da guerra do Paraguai – 2015
A China e os chins: recordações de viagem – 2016
Pedro Teixeira, a amazônia e o tratado de Madri – 2016
Ilha da Trindade: veo de mysterio à flôr dagua – 2010
Memórias de um soldado legalista – 2016
O soldado e o estado: teoria e política das relações entre civis e militares – 2016
Fé e poder; religião e política no Oriente Médio – 2016
Estratégia moderna – 2016
A Amazônia e eu – 2016
Direito marítimo reflexões doutrinárias: sugestões para monografias, dissertações e teses – 2015
Processo marítimo formalidades e tramitação – 2013
Catálogo Filatélico Portugal – 2016
A defesa do ouro negro da Amazônia Azul – 2016
Escola de Artilharia de Costa Antiaérea 80 anos – Ed. especial EsACosAAe
O X da questão – 2011
O mensageiro milionário – 2012
236 RMB1oT/2017
DOAÇÕES E PERIÓDICOS RECEBIDOS
Heaven – 2012
Hades – 2012
A vida imortal de Henrietta Lacks – 2011
A primeira luz da manhã – 2010
A filosofia explica as grandes questões da humanidade – 2013
Fahrenheit 451 – 2012
Ser rico é possível: como administrar seu dinheiro em tempos difíceis – 2010
A história do poder legislativo do Brasil através do tempo – 1826-2009 – 2016
Belém: riquezas produzindo a Belle Èpoque 1870-1912 – 2010
Francisco Caldeira de Castelo Branco: capitão-mor e primeiro descobridor, conquistador
e povoador do Grão-Pará – notas sobre o fundador de Belém – 2016
Dissertação de mestrado profissional em administração: um estudo sobre o consumidor
de museus no Rio de Janeiro – quem são e o que esperam – 2015
Plano de ação Florianópolis sustentável – 2015
Evolução Histórica de Belém do Grão-Pará – 2015, 2 Exs.
Contos e encontros piratas – 2016
O pesadelo do príncipe – 2016
O poeta voador – 2016
Narrativas, biografias e fontes da guerra da Tríplice Aliança (Subísidios para a história
maritima do Brasil) – v. 1, 2015
Narrativas, biografias e fontes da guerra da Tríplice Aliança (Subísidios para a história
maritima do Brasil) – v. 2, 2015
Ministros do Superior Tribunal Militar oficiais-generais da Aeronáutica oriundos da
Marinha e do Exército
Dicionário de cinema brasileiro: os que vieram de outras terras – 2015, 3 Exs.
Nossa Senhora do Desterro: os primeiros anos – 2015
Construção Aeronáutica no Brasil – no 42, 2016
Ministros do Superior Tribunal Militar oficiais-generais da aeronáutica oriundos da
marinha e do exército – 2016
A defesa do ouro negro da Amazônia Azul – 2016
A caçada: como os serviços de inteligência americanos encontraram Osama bin Laden – 2013
Guerra santa: como as viagens de Vasco da Gama transformaram o mundo – 2012
Roquete Pinto o corpo a corpo com o Brasil – 2017
Mossad os carrascos do Kidon: a história do temível grupo de operações especiais de
Israel – 2014
Soldados sobre lutar, matar e morrer – 2014
1789 a história de Tiradentes e dos contrabandistas, assassinos e poetas que lutaram
pela independência do Brasil – 2014
A fênix islamita: o estado islâmico e a reconstituição do Oriente Médio – 2015
Doutrina Básica de mobilização nacional
Reflexões políticas: uma visão da saga brasileira – 2012
Mestres da batalha a guerra de Monty, Patton e Rommel – 2014
A Defesa Nacional – v. 104, no 831 – 2016
O esporte e as forças armadas na primeira república: das atividades gymnasticas às
participações em eventos esportivos internacionais – 2014
RMB1oT/2017 237
ACONTECEU HÁ CEM ANOS
AS RESERVAS DA ARMADA
(RMB, jan/fev 1917, p. 433)
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ACONTECEU HÁ CEM ANOS
* Com este mesmo titulo publicou esta Revista no seu numero de Setembro – Outubro do anno proximo
findo um excellente artigo do Sr. Capitão de corveta Frederico Villar. Em reforço, ou como um
complemento, das idéas ali preconisadas, julgamos de toda opportunidade transcrever igual-
mente alguns artigos publicados, no decorrer do mesmo anno, na edição da tarde do “Jornal do
Commercio” por um nosso camarada, collaborador militar desse vespertino sob o pseudonymo
de Coronel Z. Agora que o Governo cogita estabelecer entre nós essa fusão, certamente será o
assumpto lido com redobrado interesse – N. R.
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ACONTECEU HÁ CEM ANOS
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ACONTECEU HÁ CEM ANOS
* O presente artigo é reproduzido do “Jornal do Commercio”, desta Capital, a pedido e sobre a exclusiva
responsabilidade do seu illustrado autor. Em opposição ás idéas nelle expostas, publicamos logo
em seguida ao mesmo e na ordem em que nos chegaram ás mãos dois outros artigos igualmente
dignos de leitura attenta e do maior interesse por parte de todos os nossos camaradas a quem
directamente affecta o importantissimo assumpto. – N.R.
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ACONTECEU HÁ CEM ANOS
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ACONTECEU HÁ CEM ANOS
O FETICHISMO DA DOUTRINA*
(RMB, mar/1917, p. 575)
Firmino C. Santos
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ACONTECEU HÁ CEM ANOS
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ACONTECEU HÁ CEM ANOS
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ACONTECEU HÁ CEM ANOS
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ACONTECEU HÁ CEM ANOS
* “Theses curtas” do Capitão-Tenente Nobrega Moreira, Escola Naval de Guerra após a analyse de
batalha no taboleiro do “jogo da guerra”.
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ACONTECEU HÁ CEM ANOS
* N.R.: Foto não reproduzida aqui. A revista original encontra-se à disposição na Biblioteca da
Marinha.
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ACONTECEU HÁ CEM ANOS
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REVISTA DE REVISTAS
SUMÁRIO
(Matérias relacionadas conforme classificação para o Índice Remissivo)
ADMINISTRAÇÃO
ENTREVISTA
Coordenador-geral do Prosub fala à T&D (256)
ÁREAS
CANAL
O “novo” Canal do Panamá (256)
ARTES MILITARES
ESTRATÉGIA
Análise Estratégica do Conflito no Mar da China Meridional (258)
CIÊNCIA E TECNOLOGIA
SENSOR
Satélites de observação terrestre na América do Sul (259)
FORÇAS ARMADAS
ADESTRAMENTO
A 25a versão do maior exercício naval do mundo (260)
FORÇA NAVAL
Forças navais na América do Sul (261)
SUBMARINO
ICN integra tecnologia 3D para construção de submarinos (261)
Um programa gigante para um país continental (262)
REVISTA DE REVISTAS
HISTÓRIA
HISTÓRIA DOS EUA
A origem da “Mensagem a Garcia” (263)
Washington: Um olhar do Império sobre a Guerra Civil Americana, 1861-1862 (264)
VALORES
ÉTICA
Comandantes valentes, ou não... (265)
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REVISTA DE REVISTAS
* Consultor.
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REVISTA DE REVISTAS
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Este artigo proporciona uma análise lograr soberania sobre as ilhas, recifes e
estratégica das atuais tensões no Mar da águas desse Mar terá acesso a essas enor-
China Meridional e busca identificar a mes reservas de energia”, afirma. A China
intenção estratégica da China na região, se tornou o segundo maior importador de
estabelecendo uma visão geral da manei- petróleo do mundo e se prevê que essa de-
ra como o país vem dando forma à sua manda aumente nas próximas décadas. Ter
narrativa naquela área. Propõe, ainda, livre acesso a essas reservas é fundamental
uma estratégia alternativa com o pro- para a segurança energética do país. Além
pósito de contribuir para a proteção da desse aspecto, o autor cita o transporte
estabilidade, segurança e prosperidade marítimo e a sua necessidade de controle
naquele Mar. do mar para evitar transtornos ao comércio
Segundo o autor, as reivindicações chi- por via marítima e a proporção significativa
nesas de soberania no Mar Meridional são de recursos de pesca extraídos na região,
vistas como nucleares de seus interesses fundamentais para a política de segurança
nacionais e, assim, é presumível que o país alimentícia nacional.
não tolere disputas territoriais regionais e Sob o enfoque militar, o Mar da China
que possa usar de força para defender esses Meridional é entendido por Beijing como
interesses. Ele divide em dois âmbitos os uma buffer zone (zona de amortização),
interesses estratégicos chineses: o econô- pois é considerado que o controle desse Mar
mico e o militar. poderia criar barreira militar de proteção,
No âmbito econômico, Schovelin cita mitigando futuras ameaças militares: um
a existência de 105.000 bilhões de barris bloqueio comercial contra a China só pode-
de reservas de hidrocarbonetos no Mar ria ser alcançado por meio do controle desse
da China Meridional. “Quem controlar e espaço marítimo, é parte do pensamento
predominante. Ademais, esse
controle permitirá ao país esta-
belecer e desenvolver posições
militares estratégicas a partir
das quais poderá projetar forças
militares contra adversários re-
gionais ou externos. A presença
militar chinesa na região tem o
propósito estratégico de negar
o acesso e dificultar atividades
militares estrangeiras na área.
A dissuasão é a chave da sua
Conflito no Mar da China Meridional estratégia regional.
* Análise extensa sobre este assunto pode também ser encontrada em artigo do Capitão de Mar e Guerra (Refo)
Fernando Malburg da Silveira, publicado na RMB V. 131 no 10/12 – out./dez. 2011.
** Capitão de Mar e Guerra (Chile) e membro do Royal College of Defence Studies (UK).
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REVISTA DE REVISTAS
A importância que o exercício Rim of pode permitir uma futura participação com
the Pacific (Rimpac), que significa contorno unidades navais.
ou borda do Pacífico, veio adquirindo desde Este artigo da chilena Revista de Marina
sua primeira realização, em 1971, se rela- apresenta histórico de países participantes,
ciona fundamentalmente com a conversão datas e eventos significativos ao longo da
do Oceano Pacífico em centro de gravidade história desse grande evento militar inter-
de assuntos mundiais no século XXI. nacional e a tabela aqui apresentada.
Esse exercício naval foi iniciado por Analisa ainda, detalhadamente, a parti-
poucos países – Estados Unidos, Canadá, cipação chilena, que ocorre desde 1996, e a
Austrália, Reino Unido e Nova Zelândia – e contribuição desses exercícios para a polí-
tica exterior daquele país. Ao final, o autor
tinha como propósito a contenção da expan-
apresenta dados relativos ao Rimpac 2016,
são comunista para o Pacífico no período da
tais como a participação de 27 países, 45
Guerra Fria. Hoje ele se converteu no maior unidades de superfície, cinco submarinos,
exercício naval internacional, permitindo mais de 200 aeronaves e de 25 mil militares
oportunidade única de adestramento e de das diversas forças armadas.
desenvolvimento de relações de cooperação Em sua conclusão, Gómez Weber ressal-
para assegurar as linhas de comunicações ta a consolidação do Rimpac como o maior
marítimas e a segurança nos oceanos. Além exercício naval do mundo após mais de 45
das Armadas, ele integra fuzileiros navais, anos de existência e como promotor da po-
exércitos, forças aéreas e guardas costeiras lítica internacional dos Estados envolvidos,
dos países convidados. O Brasil já partici- assegurando o livre uso dos espaços oceâ-
pou desse evento como observador, o que nicos em defesa dos interesses nacionais.
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* Massimo Annati é contra-almirante da reserva da Marinha italiana e a ela serviu por 38 anos, principalmente na
área de aquisições de armamento e de cooperação internacional.
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Revisitando o Prosub
“... O mais importante que necessitava origem à tradição de que ordens devem ser
a juventude nessa época era a inspiração cumpridas sem questionamentos.
pelo amor ao dever, a fidelidade à confian- Já no preâmbulo, o autor ressalva que
ça em si depositada, o fazer prontamente, essa compreensão é parte da formação
o concentrar todas as suas energias em inicial na Escola Naval de seu país, trans-
bem fazer o que há que ser feito, con- mitida dos mais antigos aos mais modernos,
cluindo que isso se sintetiza em: ‘Levar a mas que, futuramente, na carreira naval, ela
mensagem a Garcia’...”. Esta é a citação é complementada pela compreensão de que
inicial deste artigo que analisa o texto indicar o porquê inspira os subordinados
“Uma mensagem a Garcia1”, o qual deu a cumprirem a tarefa da forma desejada
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pelo superior. “Desde nosso ingresso na para que ele bem se desincumbisse da ta-
Escola Naval escutamos que ‘Mensagem refa, analisa detalhadamente as principais
a Garcia’ significava incentivo a se cum- diferenças que observou entre a versão
prir uma tarefa sem que se possuíssem os escrita pelo Almirante Hubbard e a do
meios adequados e com poucas orientações, próprio Rowan, escrita em 1922 – Como
empregando-se apenas iniciativa e criativi- Levei a Mensagem a Garcia.
dade”, afirma Prado. Entre suas conclusões, se destaca que
Segundo versão escrita pelo Almirante Fuenzalida Prado considera que a apologia
E. Hubbard, comandante do U.S. Marine à iniciativa e à boa disposição de Rowan
Corps, e que foi leitura obrigatória pro- retratada em alguns textos não passam de
fissional quando o autor era capitão de idealizações de situações que, mais tarde, se
corveta, a tarefa original que inspirou o constatou não terem ocorrido. A ordem de
levar a mensagem a Garcia não foi recebida
texto foi atribuída pessoalmente pelo pre-
diretamente do presidente dos EUA, e dela
sidente dos Estados Unidos da América
constavam todos os detalhes e pontos de
(EUA), William McKinley (1897-1901),
contato para apoio logístico e de transporte.
ao Tenente Andrew Summers Rowan, do
Conclui o autor: “A leitura do texto do
Exército do país, em 1898, ao ser declarada Tenente Rowan – Como Levei uma Men-
guerra à Espanha. Segundo essa versão, sagem a Garcia – nos permite conhecer
o presidente teria colocado nas mãos de uma detalhada operação de inteligência
Rowan uma carta e dito: “Leve esta men- realizada durante a guerra dos Estados Uni-
sagem a Garcia”. Rowan teria escutado em dos com a Espanha, nas Antilhas, que mais
silêncio, recebido a carta e se despedido tarde significou sua ascensão a tenente-
sem qualquer questionamento. Não teria -coronel porque ‘... fez uma travessia por
passado por sua mente perguntar quem era Cuba, esteve com o exército insurgente
Garcia e onde o encontrava, por exemplo. junto ao Tenente-General Garcia e trouxe
O artigo, além de apresentar um breve informação importante e valiosa para o
currículo do protagonista, ressaltando, em governo...’, como ficou consignado em sua
especial, as comissões que contribuíram recomendação para promoção”.
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pe de hotel de luxo do que como nauta e o Douro, concluía Conrad, era um navio de
atrasou em 25 minutos o primeiro pedido verdade, tripulado por marinheiros profis-
de socorro. Ademais, retardou a ordem sionais e disciplinados que não perderam a
de abandonar o navio, dissimulando-a de humanidade ou o sangue frio. Não era um
modo que a maior parte dos passageiros não monstruoso hotel flutuante arremessado a
percebeu o perigo até que fosse demasiado 21 nós de velocidade em mar de icebergs,
tarde. Depois, a falta de botes salva-vidas, guarnecido por seis centenas de pobres
o mar gelado e os 25 minutos perdidos para diabos, entre moços, donzelas, músicos,
a chegada do primeiro navio que acudiu animadores, cozinheiros e camareiros.
completaram a tragédia. Escrito há quase um século, o comen-
Quatro semanas mais tarde, em artigo tário conradiano poderia ser aplicado de
memorável publicado no English Review, modo quase literal ao desastre do Costa
Joseph Conrad comparava o final do Tita- Concordia. Considerando-se o tempo e os
nic com o afundamento, recente naquela avanços técnicos entre um e outro navio,
época, do Douro: um navio menor, mas são muitas as lições não aprendidas, as arro-
com proporção semelhante de passageiros. gâncias culpáveis e as incompetências, evi-
O Titanic afundou lentamente, com o des- dentes para qualquer marinheiro, apesar de
concerto e a incompetência do comandante não o serem para armadores e engenheiros
e da tripulação, enquanto que no Douro, navais: desatenção com os grandes navios
que afundou em poucos minutos, a dotação de cruzeiro, fé cega e suicida na tecnologia,
completa, do comandante ao marinheiro pouca preparação da tripulação e escassa
mais moderno, excetuados o oficial co- competência de comandantes e oficiais
ordenador dos botes salva-vidas e dois de manobra. Neste último aspecto, certos
marinheiros da equipagem de cada bote, detalhes do comportamento do comandante
afundaram com o navio, sem pestanejar, de- do Costa Concordia, Francesco Schettino,
pois de salvarem todos os passageiros. Mas merecem ser considerados.
O Costa Concordia
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Todo comandante tem dois deveres do que aquelas em águas restritas, à noite,
inescusáveis: conduzir seu navio com se- com nevoeiro ou mau tempo, com pedra ou
gurança e destreza e, em caso de incidente recife próximo, ou, como no caso do Costa
ou naufrágio, buscar o salvamento de pas- Concordia, a pouca distância da costa.
sageiros, tripulação, carga e, se possível, Nos casos mencionados, mesmo com
do próprio navio. Por essa razão, em outros aplicação ao comandante de todo o rigor
tempos, um comandante digno às vezes legal que seu erro mereça, é possível com-
afundava com seu navio, pois sua presença preender a tragédia do marinheiro e ter
a bordo era garantia de que tudo se tentara empatia por ele, apesar de sua desgraça.
até o último instante. Assim, um coman- Mas o que coloca qualquer comandante
dante capaz de bem conduzir seu navio e longe de qualquer empatia possível é sua
de assegurar, em caso de incidente ou de incompetência ou covardia na hora de
tragédia, a maior parte possível de vidas e enfrentar as consequências do erro ou do
bens é considerado, hoje como ontem, um azar. Uma desgraça pode advir do azar,
marinheiro competente. mas não encará-la com dignidade é levian-
No encalhe do Costa Concordia, em dade. Se um comandante existe para algo
minha opinião, o conceito de incompetência é, sobretudo, para quando as coisas vão
foi utilizado com certa leviandade. Não mal a bordo. Aí se é marinheiro, ou não. E
creio que o Comandante Schettino fosse Francesco Schettino mostrou que não era.
um incompetente. Trinta anos de experi- Escapar de seu dever e de sua consciência
ência e ótima qualificação profissional o foi uma covardia inescusável que, em tem-
levaram ao passadiço do navio de cruzeiro. pos menos politicamente corretos, diante
Navegava rota conhecida, e a manobra de de um tribunal naval como os de outrora,
aproximação de terra é comum nesse tipo de o levaria ao enforcamento.
viagem. Ademais, uma vez ocorrida entrada Tenho uma opinião pessoal sobre isso.
de água quase na alheta de bombordo – o Com o auge das comunicações fáceis via
que significaria que estavam guinando para internet e telefonia móvel, a responsabili-
boreste para evitar o perigo –, a manobra dade de um marinheiro se dilui em aspectos
de largar o ferro a fim de que, com as má- estranhos às lides do mar e seus problemas
quinas avariadas e sem propulsão, o navio imediatos. O oficial do Costa Concordia
girasse 180º com seu último seguimento que foi verificar quanta água entrava na pra-
para aproximar-se de terra e não afundar em ça de máquinas informou repetidas vezes
águas profundas parece impecavelmente ao passadiço e não obteve resposta porque
marinheira e própria de bons reflexos. O o comandante estava ocupado ao telefone.
excesso de confiança, uma olhada superfi- Assim, boa parte dos 45 minutos transcor-
cial nos instrumentos, teclar duas vezes em ridos entre o momento da colisão (21h58),
vez de três, uma estrutura de 17 andares e as mentiras para a autoridade marítima
114.500 toneladas, a 16 nós e em local com de Livorno (22h10) e a confissão final
pouca profundidade bastaram para que do de que estava embarcando água (22h43),
erro ao desastre transcorressem poucos bem como o quarto de hora seguinte, até
segundos. Nenhum marinheiro veterano que soassem os sete apitos curtos e um
pode afirmar que jamais cometeu erro de longo para abandono do navio (22h58),
navegação ou de manobra, ainda que não Schettino passou falando por telefone com
tivesse consequências, ou que estas não fos- o diretor marítimo da Costa Crociere. Em
sem as mesmas em águas livres de perigos outras palavras: em vez de se ocupar com
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NOTICIÁRIO MARÍTIMO
SUMÁRIO
(Matérias relacionadas conforme classificação para o Índice Remissivo)
ADMINISTRAÇÃO
COMEMORAÇÃO
Dia da Marinha Mercante brasileira (272)
NVe Cisne Branco atraca no cais do Museu do Amanhã (273)
CONDECORAÇÃO
Fuzileiros Navais agraciados com Medalha Sangue do Brasil (273)
Tripulação da Fragata Liberal é condecorada pela ONU (274)
DOAÇÃO
Doação de livros sobre Direito Marítimo (275)
INAUGURAÇÃO
Inaugurado Centro Local de Tecnologia da Informação (276)
POSSE
Assume novo chefe do Estado-Maior da Armada (277)
Assunção de cargos por almirantes (284)
DGMM tem novo diretor (284)
FTM-Unifil tem novo comandante (290)
PRÊMIO
1o lugar nacional do Ensino Fundamental da Operação Cisne Branco (291)
Prêmio Eficiência 2016 (291)
Vencedora nacional da Operação Cisne Branco veleja pela
Baía de Todos os Santos (292)
NOTICIÁRIO MARÍTIMO
TRANSFERÊNCIA DE SETOR
Transferência de subordinação do CPN (293)
VISITAÇÃO
Ministro da Defesa visita o Líbano (293)
ÁREAS
ARQUIPÉLAGO S. PEDRO E S. PAULO
RbAM Triunfo apoia a Estação Científica do Arquipélago de
São Pedro e São Paulo (294)
ATIVIDADES MARINHEIRAS
BUSCA E SALVAMENTO
Fragata União resgata pesqueiro (295)
Marinha coordena Evam de tripulante de navio grego (295)
Salvamar Leste coordena resgate de veleiro (296)
CARTOGRAFIA
Belém é sede de encontro internacional de Cartografia Náutica (297)
COMBATE A INCÊNDIO
EsqdHU-1 combate incêndio na BAeNSPA (299)
SALVAMENTO
MB resgata pacientes em MS (299)
CIÊNCIA E TECNOLOGIA
SATÉLITE
Marinha participará do projeto espacial (300)
COMUNICAÇÕES
COMUNICAÇÕES VIA INTERNET
Aplicativo Papem (301)
Novo portal da Amazul está no ar (302)
SIPM lança aplicativo para celulares (303)
CONGRESSOS
REUNIÃO
EGN promove reunião de colaboradores do Cepe (303)
EDUCAÇÃO
ESPORTE
Resultados esportivos (304)
FORÇAS ARMADAS
AERONAVE
Aeronaves SH-16 realizam voo ASW noturno tático (305)
SUBMARINO
AMRJ corta o casco do Submarino Tamoio (306)
Prosub avança na construção do segundo submarino convencional (306)
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NOTICIÁRIO MARÍTIMO
PESSOAL
CORPO FEMININO
Primeira mulher combatente integra tropa da ONU (307)
PODER MARÍTIMO
MARINHA MERCANTE
Marinha Mercante apresenta sinal de recuperação (308)
Operação Ship to Ship (308)
ORGANIZAÇÃO
Autoridade Marítima bate recorde de atendimento (309)
SEGURANÇA DA NAVEGAÇÃO
DPC atualiza Normam (310)
Normas da Autoridade Marítima para amadores são alteradas (311)
TRÁFEGO MARÍTIMO
Reunião Anual do PACIOSWG (312)
PSICOSSOCIAL
AJUDA HUMANITÁRIA
AgCSul apoia remoção de atingidos por cheias no Acre (312)
LANÇAMENTO DE LIVRO
Desafios gerenciais em defesa (313)
A Defesa do Ouro Negro da Amazônia Azul (314)
PUBLICAÇÃO
Venda de publicações e livros da DPHDM (314)
SOAMAR
Soamar – Encontro dos presidentes, convenção nacional e posse do
novo presidente (315)
RELAÇÕES INTERNACIONAIS
COOPERAÇÃO
MB apoia Timor-Leste na implantação da Autoridade Marítima (316)
SAÚDE
ASSISTÊNCIA MÉDICA
MB presta atendimento de saúde a indígenas da etnia Katukina (316)
Pescador acidentado é tratado em câmara hiperbárica (317)
VALORES
SÍMBOLO
Criação e incorporação do estandarte da Marinha Mercante (317)
VIAGENS
VISITA
Militares da Fragata Liberal participam de audiência geral no Vaticano (318)
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NOTICIÁRIO MARÍTIMO
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NOTICIÁRIO MARÍTIMO
Criado há mais de um século, o EMA a não esmorecer diante dos problemas aos
se distingue, em toda sua existência, pela quais seremos apresentados.
complexidade das tarefas a ele atribuídas, Devemos conhecer a nossa história, e
assim como pelo grau de profundidade e dela tirarmos lições para compreendermos
pela exigência de alta qualidade que os o presente e projetarmos o futuro, dentro
seus estudos demandam. Portanto, é, sem de uma perspectiva realista do que o nos-
dúvida, desafiadora e instigante a missão so país necessita e a sociedade brasileira
de conduzi-lo. espera de sua Marinha. Somente desse
A busca de soluções exige estudo, refle- modo poderemos prestar ao comandante
xão, pensamento analítico e perseverança da Marinha assessoramento adequado,
– foi assim que fizeram os nossos dignos com o melhor de nossos esforços, de modo
antecessores. Se seguirmos na mesma dire- a propiciar a ele o quadro mais preciso
ção, não erraremos. Isso não significa que possível da situação, a qual, na maioria
devamos adotar atitude passiva, buscando das vezes, está encoberta por névoa, mas
apenas copiar, sem qualquer visão crítica, o como bons marinheiros saberemos sugerir
que já foi feito. Pelo contrário, imaginação, rumo e velocidade, de modo a propiciar as
criatividade e liderança positiva e motiva- melhores condições ao nosso comandante
dora devem ser incentivadas em todos os na condução da Marinha, com as suas
níveis. Dessa forma, concito a todos os reconhecidas qualidades de competência,
integrantes do Estado-Maior da Armada habilidade e equilíbrio.
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NOTICIÁRIO MARÍTIMO
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NOTICIÁRIO MARÍTIMO
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* A RMB publicou na edição do 2o trimestre de 2010 matéria relevante sobre o Arco Norte – Corredores de Ex-
portação, do economista Luiz Antonio Fayet.
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MB RESGATA PACIENTES EM MS
Um helicóptero do 4o Esquadrão de He- do 6o Distrito Naval (Ladário-MS), deu
licópteros de Emprego Geral (HU-4), Orga- apoio, em 1o de março último, ao transporte
nização Militar subordinada ao Comando de uma criança de três anos com ferimento
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NOTICIÁRIO MARÍTIMO
por faca na coxa esquerda. O resgate foi paciente, também em Mato Grosso do Sul.
realizado na Fazenda Tarumã, localizada José Batista Lima, 65 anos, apresentou
na Região do Paiaguás, a cerca de 130 sintomas de princípio de infarto na Fazenda
quilômetros do município de Ladário. Palmeira, localizada na região do Paiaguás,
No dia 15 de fevereiro, o HU-4 já ha- a cerca de 130 quilômetros do Complexo
via prestado apoio ao transporte de outro Naval de Ladário.
Nos dois casos, a necessidade de atendi-
mento foi informada inicialmente ao Corpo
de Bombeiros, que solicitou o apoio de ae-
ronave da Marinha do Brasil (MB), já que se
tratavam de locais distantes e que demandaria
muito tempo para chegar por via terrestre. Os
voos contaram com o acompanhamento de
um médico do Hospital Naval de Ladário para
prestar os primeiros socorros aos pacientes.
Em ambas as ocorrências, após a chegada ao
heliporto do HU-4, os atendidos seguiram em
ambulância para o Pronto-Socorro Municipal
de Corumbá (MS).
José Batista recebe atendimento na chegada ao heliponto do (Fonte: www.mar.mil.br)
Complexo Naval de Ladário
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NOTICIÁRIO MARÍTIMO
Em seu discurso na cerimônia, o Major- visto que parte de sua capacidade de uso será
-Brigadeiro Fernando Cesar Pereira, presi- destinada à banda X, uma faixa de frequência
dente da Comissão de Coordenação e Implan- de uso exclusivo militar.
tação de Sistemas Espaciais (CCISE), órgão O comandante do 1o Distrito Naval, Vice-
da FAB, mencionou a importância de contar -Almirante Cláudio Portugal de Viveiros, re-
com o apoio do Ministério da Defesa no conheceu a importância do evento: “O setor
projeto. “O SGDC brasileiro vai permitir que espacial, destacado na Estratégia Nacional de
a internet chegue aos lugares mais remotos, Defesa, alcança um novo patamar com esse
podendo gerar desenvolvimento, melhores projeto, com impactos positivos para a defesa
condições de saúde, educação e possibilidade do País”, afirmou. Ele também incluiu em seu
de crescimento”, disse. Ele ressaltou ainda a discurso a importância de estabelecer parcerias
dualidade na utilização do SGDC, que poderá em grandes projetos e o orgulho da Marinha
servir tanto para a inclusão digital da socieda- em estar contribuindo para essa conquista.
de quanto em benefício das Forças Armadas, (Fonte: www.mar.mil.br)
APLICATIVO PAPEM
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NOTICIÁRIO MARÍTIMO
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NOTICIÁRIO MARÍTIMO
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NOTICIÁRIO MARÍTIMO
RESULTADOS ESPORTIVOS
71o CAMPEONATO BRASILEIRO DE sentada pelos seguintes atletas de base do
BOXE MASCULINO ELITE Projeto Marinha/Odebrecht: Renan Sena
Realizado em Salvador (BA), entre 3 e 9 – campeão no arranco com 120 kg, cam-
de dezembro de 2016. A Marinha do Brasil peão no arremesso com 140 kg e campeão
(MB) foi representada por seis atletas, com os no total olímpico com 260 kg; Vitória
seguintes resultados: 3oSG Sergio Santos Dan- Rodrigues – vice-campeã no arranco com
tas, Categoria 81 kg – 1o lugar; 3oSG Cosme 65 kg, campeã no arremesso com 90 kg e
Henrique dos Santos Nascimento, Categoria vice-campeã no total olímpico com 155 kg;
+91 kg – 1o lugar; 3oSG Leanderson Conceição e Laura Nascimento – campeã no arranco
dos Santos, Categoria 52 kg – 2o lugar; 3oSG com 77 kg.
Arilson Gonçalves, Categoria 56 kg – 2o lugar;
3oSG Arisson dos Santos Tavares, Categoria 16a TAÇA BRASIL DE SALTOS OR-
69 kg – 2o lugar; e 3oSG Brendo Alison Coelho NAMENTAIS
da Costa, Categoria 75 kg – 3o lugar. Realizada entre os dias 8 e 11 de de-
zembro no Centro de Educação Física
13o CAMPEONATO MUNDIAL DE Almirante Adalberto Nunes, na cidade
NATAÇÃO PISCINA CURTA do Rio de Janeiro. O 3oSG Hugo Pellicer
Realizado entre 8 e 11 de dezembro, Parisi e o 3oSG Jackson André Rondinelli
em Windsor, Canadá. A 3oSG Etiene Pires de Oliveira conquistaram a medalha de
Medeiros conquistou a medalha de ouro nos ouro no Salto da Plataforma Sincronizado.
50 metros costas, sendo bicampeã da prova, O 3oSG Jackson André conquistou, ainda,
e a medalha de prata no Revezamento 4x50 o 2o lugar no Trampolim de 1 metro, o 2o
metros Medley Misto. lugar por Equipe e o 2o lugar na Plataforma
MARATONA AQUÁTICA REI E Individual. A 3oSG Luana Wanderley Mo-
RAINHA DO MAR reira Lira conquistou medalha de ouro no
O 3 o SG Allan Lopes Mamedio do Trampolim de 1 metro, prata no Trampolim
Carmo conquistou a medalha de prata na Sincronizado e na Plataforma Sincronizado
competição, ocorrida em 11 de dezembro, e bronze no Trampolim de 3 metros.
em Copacabana, cidade do Rio de Janeiro.
CAMPEONATO BRASILEIRO DE
CAMPEONATO SUL-AMERICANO VELA 2016
SUB-17 DE LEVANTAMENTO DE Os atletas do Programa Olímpico da
PESOS Marinha do Brasil classificaram-se em
Realizado em Sucre, Bolívia, entre os 2o lugar geral no Campeonato nos barcos
dias 5 e 11 de dezembro. A MB foi repre- classe J-24. As atletas 3oSG Juliana Senfft
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Alunos da Escola de
Formação de Oficiais
da Marinha Mercante
(Efomm) tiveram, em 3
de novembro último, um
bom motivo para acreditar
na recuperação do merca-
do de trabalho da Marinha
Mercante brasileira: na-
quele dia, foi realizado o
lançamento e batismo do
PSV Pinguim, o mais novo
navio pertencente à Wilson
Sons UltraTug Offshore.
A empresa de navegação
é parceira do Centro de
Instrução Almirante Graça
Alunos da Efomm ao lado da madrinha do navio, Elisandra Tozatto
Aranha (Ciaga) na tarefa
de disponibilizar vagas O lançamento do 23o navio da Wilson
aos recém-formados praticantes alunos que Sons, parte do pacote de modernização da
necessitam do período de embarque para empresa, iniciado em 2000, é um alento
completar sua formação. para o mercado, que enfrenta dificuldades
consequentes do atual período eco-
nômico brasileiro, e vem estimular
os alunos da Efomm, futuros ho-
mens e mulheres da Marinha Mer-
cante, a acreditarem na melhora
deste mercado no qual é realizado o
transporte comercial e são explora-
das as principais riquezas do Brasil.
Navio Mercante PSV Pinguim
(Fonte: www.mar.mil.br)
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A Marinha do Bra-
sil (MB), por meio do
Comando do Controle
Naval do Tráfego Ma-
rítimo, sediou, de 23 a
27 de janeiro último,
a Reunião Anual do
Grupo de Trabalho so-
bre Tráfego Marítimo
dos Oceanos Pacífico
e Índico (PACIOSWG,
sigla em inglês). Es-
tiveram presentes ao
evento representantes
dos seguintes países: Representantes dos países participantes na reunião
Austrália, Canadá, Chi- O evento também se destinou a capaci-
le, Estados Unidos da América, Equador, tar a MB para o planejamento e execução
França, Nova Zelândia, Reino Unido e do exercício internacional de CNTM Bell
República da Coreia do Sul. Buoy, de 8 a 12 de maio deste ano. Este
O propósito da reunião foi compartilhar Exercício proporcionará a oportunidade de
informações que visem à melhoria da se- aprimorar os conhecimentos sobre a dou-
gurança do Tráfego Marítimo (TM), bem trina NCAGS e de testar os procedimentos
como estreitar o relacionamento entre os sobre compartilhamento de informações
órgãos internacionais responsáveis por essa sobre o TM com as Marinhas pertencentes
atividade. Trata-se de um importante foro ao PACIOSWG, bem como com outras
para a MB, pela oportunidade de acompa- instituições governamentais com interesse
nhar as evoluções da Naval Cooperation no mar, buscando, assim, a vanguarda da
and Guidance for Shipping (NCAGS), que Cooperação Multinacional e Multiagencial
é a doutrina de Controle Naval de Tráfego em proveito do incremento da consciência
Marítimo (CNTM) aplicada pela Organiza- situacional marítima brasileira.
ção do Tratado do Atlântico Norte (Otan). (Fonte: www.mar.mil.br)
Militares da Agência Fluvial de Cruzei- dos rios Juruá e Moa, a maior cheia desde
ro do Sul (AgCSul) prestaram apoio à De- o ano de 1995.
fesa Civil e ao Corpo de Bombeiros Militar Durante as ações, os militares realiza-
do Estado do Acre, em janeiro último, na ram as remoções de pessoas das áreas de
retirada de famílias atingidas pelas cheias risco para os abrigos disponibilizados pela
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A Escola de Guerra Naval (EGN) lan- A publicação traz como tema central a
çou, em julho último, o livro A Defesa do segurança e a defesa das plataformas dos
Ouro Negro da Amazônia Azul, de autoria campos marítimos de exploração e explota-
do Capitão de Mar e Guerra Luciano Ponce ção de petróleo e gás. Abordando em duas
Carvalho Judice e do Capitão de Fragata vertentes, uma estratégica-operacional e a
(FN) Charles Pacheco Piñon, ambos mem- outra normativa e regulatória, os autores
bros do corpo docente da EGN. apóiam-se em consistentes pesquisas,
desenvolvidas no programa de Pós-Gra-
duação em Estudos Marítimos da EGN,
apresentando visões atuais e instigantes
sobre as complexas questões que envolvem
a região das águas jurisdicionais brasilei-
ras de inegável importância estratégica e
econômica.
A obra reflete a necessidade de conver-
gência das atividades de aplicação da lei,
proteção de infraestruturas críticas, inteli-
gência e Defesa, entre outras atribuições,
para que uma grande estratégia nacional
encare com profundidade os desafios e
potencialidades de nossa Amazônia Azul.
Leitura recomendada para todos aqueles
que se interessam pelos temas nacionais
de grande relevância para o país.
O livro está disponível para consulta
e empréstimo na Biblioteca da Marinha.
Informações: www.mar.mil.br/dphdm/
biblioteca/servicos-da-biblioteca.
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MB PRESTA ATENDIMENTO DE
SAÚDE A INDÍGENAS DA ETNIA
KATUKINA
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pio de Cruzeiro do Sul, no estado do Acre. Sul e do Distrito Sanitário Especial Indí-
Na ocasião, os indígenas também assistiram gena. Durante todo o dia, 234 indígenas
a palestras de prevenção à saúde. receberam 2.904 procedimentos médicos,
A ação aconteceu durante a Operação odontológicos e de enfermagem, gratui-
Acre 2017, realizada pelo Navio de Assis- tamente, da equipe de saúde do navio,
tência Hospitalar Doutor Montenegro, e que distribuiu 4.610 medicamentos aos
contou com o apoio da Secretaria de Saúde pacientes.
e da Prefeitura Municipal de Cruzeiro do (Fonte: www.mar.mil.br)
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MILITARES DA FRAGATA
LIBERAL PARTICIPAM
DE AUDIÊNCIA GERAL
NO VATICANO
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