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ANAIS

ANAIS DO CLUBE MILITAR NAVAL


01 a 06
Jan-Jun
2020
DO CLUBE MILITAR NAVAL ANO 150

FUNDADO EM 1870

JANEIRO • JUNHO 2019


ÍNDICE

NOTA DE ABERTURA............................................................................................... 11

ARTIGOS
Sarmento Rodrigues na perspectiva política, social e militar
das reformas da Escola Naval................................................................................... 15
Contra-almirante José António Aguiar Cardoso
O Poder Naval no Século XXI .................................................................................. 71
Vice-almirante Alexandre Reis Rodrigues
História da Academia de Marinha......................................................................... 169
Dr. José Manuel dos Santos Maia
As viagens Espanholas para as Islas Del Poniente:
De Magalhães a Urdaneta ...................................................................................... 187
Capitão-tenente Adelino Rodrigues da Costa
Apontamento
Um olhar sobre o guarda marinha Manuel Maria L’hédois
Barbosa Du Bocage............................................................................................................... 237
Contra-almirante José Filipe Araújo Moreira Braga
Memórias e Vida
Aperto de Mão V Continência................................................................................ 251
Primeiro-tenente Rui Manuel Ramalho Ortigão Neves

OS ANNAES HÁ 100 ANOS.................................................................................... 257


F. C.

CRÓNICAS
Crónica Internacional.............................................................................................. 267
Crónica da Direção.................................................................................................. 299
Crónica de Arquitetura Naval................................................................................ 305
Crónica de Autoridade Marítima........................................................................... 329
Crónica de Ciências do Mar.................................................................................... 337
Crónica Cultural...................................................................................................... 345
Crónica de Navegação............................................................................................. 351
Crónica de Operações Navais................................................................................. 363
Crónica da Saúde..................................................................................................... 369
Crónica de Tecnologias da Informação e Comunicação....................................... 385

NECROLOGIA
Capitão-de-fragata Francisco José Costa Pereira................................................ 409
Capitão-de-mar-e-guerra Carlos Alberto Marques Machado dos Santos.......... 413
Contra-almirante Álvaro Rodrigues Gaspar........................................................ 417
Capitão-de-fragata João Fernando Ferreira Martins.......................................... 419
Capitão-de-mar-e-guerra AN Fernando de Almeida Cavaco............................... 421

PRÉMIOS DOS ANAIS DE 2019..................................................................................... 423

BIBLIOGRAFIA....................................................................................................... 424
OS ANNAES HÁ
NOTA DE CEM ANOS
ABERTURA  11

Nota de abertura
Esta edição dos Anais do Clube Militar Naval, referente ao
1ºsemestre de 2020, Ano 150, Volume CL, ano em que os ANAIS con-
templam 150 Anos de existência ininterruptos, contém um valioso
conjunto de artigos e crónicas que, tal como aconteceu no passado,
abordam a história da Marinha Portuguesa e a de algumas das suas
grandes figuras.
Pode-se considerar que os Anais do Clube Militar Naval tive-
ram a sua génese na Assembleia Geral do Clube Militar Naval rea-
lizada no dia 30 de novembro de 1870, ao ser aprovada uma Me-
mória sobre a navegação a vapor para os portos de África com a
determinação de que o trabalho fosse impresso no primeiro número
dos ANNAES, cuja publicação se iniciou em dezembro desse ano,
quatro anos após a data da fundação do Clube Militar Naval (CMN).
Ao longo dos seus 150 anos de existência, os Anais do Clube
Militar Naval, com mais ou menos páginas, com melhor ou pior
qualidade de papel, com ou sem figuras, com maior ou menor re-
gularidade, variados no seu conteúdo e inspiração, sobreviveram,
sem nunca interromperem a sua publicação, mesmo nos períodos
mais críticos da história recente de Portugal. Ao longo desses anos,
foram escritos muitos milhares de páginas, na sua quase totalidade
por oficiais da Marinha Portuguesa, na forma de artigos e crónicas,
com o objetivo da divulgação e do desenvolvimento de doutrinas
nos vastos campos da ciência, da técnica e da investigação histórica
e militar naval.
Quem folhear as numerosas páginas dos Anais do Clube Mi-
litar Naval verificará a intensa atividade cultural do nosso Clube.
Também colherá inequívoco testemunho do seu empenho pelo pro-
gresso e dedicação à Marinha, incluindo temas culturais, da arte, das
12 ANAIS DO CLUBE MILITAR NAVAL

ciências militares, com particular enfoque nas ciências do mar, e de


muitas outras áreas do saber. Tudo isto atesta a capacidade intelec-
tual, a qualidade da escrita, as brilhantes histórias de vida, o rigor e
o saber dos seus ilustres autores, deixando a marca iniludível da sua
presença.
Esta edição, não foge à regra, pois incorpora um conjunto de
sete artigos de diversas temáticas, na maioria da autoria dos nos-
sos consócios, na senda de volumes anteriores. Nela encontramos
também a exaltação das grandes figuras da nossa Marinha, que pelo
seu saber, ações e virtudes e, pelo seu contributo para a vida e o
progresso do nosso país, se impuseram ao respeito e considerações
gerais. Encontramos também uma reflexão sobre o Poder Naval no
Século XXI, tema bastante atual e pertinente. Assim, pela ordem de
publicação:

- O primeiro artigo, da autoria do consócio José António Aguiar


Cardoso, Sarmento Rodrigues, na perspectiva política, social e
militar das reformas da Escola Naval, constitui uma evocação
à obra do almirante Sarmento Rodrigues, diretor e primeiro co-
mandante da Escola Naval, no contexto das comemorações, em
2018, do sexagésimo aniversário de admissão na Escola Naval do
curso “D. Lourenço de Almeida”;

- O segundo artigo, da autoria do consócio Alexandre Reis Ro-


drigues, O Poder Naval no Século XXI, examina a evolução dos
conceitos de emprego do poder naval tendo em conta a sua cres-
cente relevância perante os novos desafios geopolíticos;

- O terceiro artigo, da autoria do Dr. José Manuel Santos Maia,


História da Academia de Marinha – 50 Anos desde a criação
do Grupo de estudos de História Marítima (5 DE MARÇO DE
1969), retrata a história da Academia de Marinha, órgão cultu-
ral da Marinha com autonomia científica, em que é enaltecida
a visão e o trabalho das dez personalidades fundadoras, civis e
militares, cujas vidas se cruzaram a partir dos seus estudos da
História dos Descobrimentos, da colonização portuguesa e da
construção naval, e que elegeram, de entre eles, o Almirante Sar-
mento Rodrigues como seu Presidente;
NOTA DE ABERTURA  13

- O quarto artigo, da autoria do consócio Adelino Rodrigues da


Costa, As viagens espanholas para as Islas Del Poniente: de
Magalhães a Urdaneta, procura descrever sucintamente as via-
gens espanholas de exploração do oceano Pacífico e interpretar
as razões meteorológicas do insucesso da tornaviaje até à bem
sucedida viagem de Andrés de Urdaneta;

- O quinto artigo, Apontamento, da autoria do consócio José Filipe


Araújo Moreira Braga, Um olhar sobre o guarda marinha Ma-
nuel Maria L’hedois Barbosa du Bocage, descreve-nos sucinta-
mente, num pequeno apontamento, o que lhe ocorreu escrever, na
sequência de uma sua passagem pela Sala Bocage do Café Nicola,
ao Rossio, em Lisboa, sobre o Poeta Barbosa du Bocage, focado
essencialmente no período em que este prestou serviço na Marinha;

- O sexto artigo, Rúbrica “Memórias e Vida”, da autoria do con-


sócio Rui Manuel Ramalho Ortigão Neves, Aperto de Mão V
Continência, conta-nos a sua história passada há já muitos anos,
numa aula de Regulamentos militares a jovens recrutas.

Para concluir esta edição, publicamos a tradicional rúbrica Os An-


naes Há 100 Anos, e as crónicas setoriais onde tradicionalmente são
tratados variadíssimos temas, os da política internacional, os assuntos
militar-navais, onde são evidenciados conhecimentos próprios da Ma-
rinha, tais como novos sistemas de armas, tecnologias e equipamentos,
construção naval, direito internacional marítimo, ciências histórico-
-geográficas, instrução e educação, múltiplas facetas do vastíssimo se-
tor da técnica, organização de forças e serviços e sua utilização tática
e estratégica, logística e relato crítico das principais ações navais que a
história regista. No entanto, algumas das crónicas desta edição, devido
à situação pandémica em que o país se viu confrontado, estão indisso-
luvelmente ligadas à pandemia do Covid-19, a qual não reconhece fron-
teiras e atinge todos sem distinção de nacionalidade, etnia, credo, ideo-
logia, classe ou profissão. Mesmo em situação de calamidade nacional,
a Comissão de Redação dos Anais continuou e continuará a trabalhar no
sentido de publicar atempadamente, reforçar o prestígio, o valor e o ri-
gor dos textos, para que continue a ser uma voz da cultura militar naval,
dos oficiais da Marinha e de todos os que sentem o Mar de Portugal.
14 ANAIS DO CLUBE MILITAR NAVAL

Para terminar, realçamos o facto de não ser vulgar uma revista


alcançar os 150 anos de existência de forma ininterrupta, sobretudo se
essa revista, como sucede com os Anais do Clube Militar Naval, depen-
der exclusivamente, da dedicação voluntária de quem para ela e com ela
trabalha. A Comissão de Redação dos Anais, agradece de forma muito
calorosa e reconhecida, a todos os colaboradores deste número, fazendo
votos de que o presente volume vá de novo ao encontro do interesse dos
sócios do Clube Militar Naval e do seu vasto e amplo leque de leitores.

A todos, o nosso profundo agradecimento.


A Comissão de Redação dos Anais
HISTÓRIA DA CDU 930.85:355.49ACADEMIAMARINHA
ACADEMIA DE MARINHA  169
Anais do Clube Militar Naval, Vol. CL, janeiro-junho 2020, p. 169-185

HISTÓRIA DA ACADEMIA
DE MARINHA
50 ANOS DESDE A CRIAÇÃO DO GRUPO
DE ESTUDOS DE HISTÓRIA MARÍTIMA1
(5 DE MARÇO DE 1969)

JOSÉ MANUEL DOS SANTOS MAIA


Mestrando de História Marítima
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa
Santos.maia@marinha.pt

RESUMO ABSTRACT
A Academia de Marinha é um The Academia de Marinha is a
órgão cultural da Marinha com cultural organ of the Navy with
autonomia científica que tem por scientific autonomy whose mis-
missão promover e desenvolver os sion is to promote and develop
estudos e divulgar os conhecimen- studies and disseminate knowl-
tos relacionados com a História, as edge related to History, Letters,
Letras, as Artes e as Ciências e tudo Arts and Sciences and everything
o mais que diga respeito ao Mar e else that concerns the Sea and
às atividades marítimas. the maritime activities.
Este percurso de meio século teve This half-century journey be-
início com o Grupo de Estudos de gan with the Maritime History
História Marítima, em 5 de março Study Group, on March 5, 1969.
de 1969. Um ano depois alargou- One year later, it expanded into
-se às Artes Letras e Ciências, the Arts, Letters and Sciences,
transformando-se em Centro de becoming a Center for Marine

1
Este artigo resultou de um trabalho efetuado no âmbito do seminário de História
Marítima Moderna e Contemporânea, do Mestrado de História Marítima da Facul-
dade de Letras da Universidade de Lisboa, orientado pelo Comandante Professor
Doutor Augusto Alves Salgado.
170 ANAIS DO CLUBE MILITAR NAVAL

Estudos de Marinha, e oito anos Studies, and eight years later


mais tarde transformou-se final- finally turned into the Academia
mente em Academia de Marinha. de Marinha.
Tudo se deve à visão e ao trabalho It is all due to the vision and work
de dez personalidades civis e milita- of ten civilian and military per-
res cujas vidas se cruzaram a partir sonalities whose lives intersected
dos seus estudos da História dos from their studies of the History
Descobrimentos, da colonização of the Discoveries, Portuguese
portuguesa e da construção naval, e colonization and shipbuilding,
que elegeram o Almirante Sarmento and who elected Admiral Sar-
Rodrigues como Presidente. mento Rodrigues as President.

PALAVRAS-CHAVE: KEY WORDS:


Estudo; História; Marinha Study; History; Navy;
e Academia de Marinha. Academia de Marinha.
HISTÓRIA DA ACADEMIA DE MARINHA  171

INTRODUÇÃO
Em 2019 comemoraram-se os cinquenta anos do “lançamento da
primeira pedra” da formação do que hoje se designa por Academia de
Marinha. Esse marco importante foi celebrado, de forma muito especial,
em eventos realizados ao longo do ano e que certamente irão perpetuar
na sua História.
Assim, logo em 8 de janeiro, em Sessão Solene de Abertura do Ano
Académico de 2019, o Chefe do Estado-Maior da Armada, Almirante
António Maria Mendes Calado, descerrou uma placa comemorativa dos
50 anos, contados desde 1969, ano da criação do Grupo de Estudos de
História Marítima, passando pelo Centro de Estudos de Marinha, orga-
nismo antecessor da Academia de Marinha.
No mês seguinte, a 19 de março, por ocasião da Sessão Solene da
atribuição do Prémio “Almirante Teixeira da Mota”, os CTT lançaram
um Inteiro Postal comemorativo dos 50 anos da Academia, com a apo-
sição do carimbo do primeiro dia. Foi também inaugurada, na Galeria,
uma Exposição de livros editados pela Academia desde a sua criação
em 1969. No final da sessão, o Almirante CEMA descerrou o Vitral,
denominado “Caravelas a Navegar”, da Autoria de Ricardo Leone de
1931, proveniente das reservas do Museu de Marinha.
A 21 de maio, no âmbito das comemorações do Dia da Marinha, foi
cunhada a medalha comemorativa do cinquentenário e lançado o livro “Ho-
menagem aos Fundadores da Academia de Marinha”, tendo sido coordena-
do pelo Professor Teodoro de Matos e biografada por ilustres personalidades
académicas: Ana Leal de Faria; Álvaro Garrido; António Costa Canas; Car-
los Manuel Baptista Valentim; Fernando David e Silva; Francisco Contente
Domingues; Francisco Roque de Oliveira, Jorge Semedo de Matos, José
Manuel Malhão Pereira; Manuel Lobato e Maria de Fátima Reis.
Ainda antes do final do ano, no dia 22 de outubro, no Teatro São
Luíz, decorreu um concerto executado pela Banda da Armada que con-
tou com a colaboração da Câmara Municipal de Lisboa, cujo seu Presi-
dente também integrou a Comissão de Honra das Comemorações.
Finalmente, e culminando este intenso ano comemorativo, na ses-
são de Encerramento do Ano Académico e das Comemorações, realiza-
da a 10 de dezembro, a Academia foi agraciada como Membro Hono-
rário da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada, por Sua Excelência o
Presidente da República.
172 ANAIS DO CLUBE MILITAR NAVAL

1. ENQUADRAMENTO HISTÓRICO
Em 1960, quando se comemoravam os 500 anos da morte do In-
fante D. Henrique, decorreu em Lisboa o V Colóquio Internacional de
História Marítima, subordinado ao tema “Os Aspectos Internacionais
da Descoberta Oceânica nos séculos XV-XVI”. A alocução de abertura
foi proferida pelo Almirante Lemonnier, secretário perpétuo da Acade-
mia de Marinha de Paris. Nessa conferência, que reuniu cerca de três
dezenas de historiadores portugueses e estrangeiros (alemães, brasilei-
ros, espanhóis, franceses, ingleses, italianos e holandeses), estiveram
presentes cinco dos membros que viriam a integrar, nove anos depois, o
futuro Grupo de Estudos de História Marítima.2
A década de sessenta foi uma época ouro para História Marítima.
A intensa atividade fez juntar diversos investigadores portugueses, de
entre os quais os dez fundadores do Grupo de Estudos de História Marí-
tima, que viveram as comemorações henriquinas com elevado entusias-
mo, tomando consciência da urgência dos estudos de História Marítima
em Portugal. Era importante não só estudar aspectos ligados a esse tema
propriamente dito, mas ao da náutica, da cartografia, da arqueologia, da
construção naval, dos instrumentos de navegação e de tudo o que com
ela se relacionasse.
No entanto e formalmente, tudo começou apenas no ano de 1968,
quando a Professora Virgínia Rau e o Comandante Teixeira da Mota,
que faziam parte do Conselho Consultivo do Museu de Marinha, apre-
sentaram ao seu presidente – o almirante Sarmento Rodrigues – a pro-
posta de criação de um grupo de estudos dedicado à História Marítima.
A ideia ganhou imediatamente forma, com o entusiasmo próprio que
a temática suscitava, nascendo uma proposta que foi levada por Sar-
mento Rodrigues ao Ministro da Marinha, o Contra-Almirante Pereira
Crespo. A 5 de Março de 1969 era promulgada a portaria que criava o
Grupo de Estudos de História Marítima e, em Maio, surgiu o despacho
que nomeava os 10 membros fundadores: os 10 confrades – como se
designaram a si próprios – que escolheram como seu presidente a figura
do Almirante Sarmento Rodrigues – “Homem do mar, do Império espa-
lhado pelo mundo e Homem culto e ciente do alcance das instituições”,

2
Artur Teodoro de Matos, «Nota Introdutória», Homenagem aos Fundadores da
Academia de Marinha, Lisboa, Academia de Marinha, 2019, p.13.
HISTÓRIA DA ACADEMIA DE MARINHA  173

como o qualifica Jorge Semedo de Matos no livro: “ Homenagem aos


Fundadores da Academia de Marinha”.
Estas personalidades sobressaíram do universo nacional e cruza-
ram-se nos domínios da História ligada ao Mar3, no estudo dos desco-
brimentos e na arquitetura naval.

“Na primeira reunião, o Grupo elegeu-me por unanimidade para


seu presidente. Após algumas sessões de trabalho, o Grupo apresentou
um projecto de Regulamento que, depois de superiormente apreciado
pelo Sr. Ministro da Marinha, foi aprovado pelo seu Despacho nº. 7, de
Janeiro de 1970. Estava assim criado o Grupo e dotado com orgânica e
meios indispensáveis ao seu funcionamento”.4

Fig. 1 – Busto do primeiro presidente da Academia de Marinha,


Vice-almirante Manuel Maria Sarmento Rodrigues.

Nas palavras proferidas pelo Comandante Doutor Jorge Semedo


de Matos, na conferência de Encerramento do Ano Académico e das co-
memorações do quinquagésimo aniversário da Academia de Marinha,
em 2019, os fundadores:

3
Rogério Geraldes d´Oliveira, «Alocução do Presidente da Academia de Marinha»,
Memórias 2003, Lisboa, Academia de Marinha, 2003, p. 469.
4
Manuel Maria Sarmento Rodrigues, Actas das Sessões do Grupo de Estudos de
História Marítima, Lisboa, 1970.
174 ANAIS DO CLUBE MILITAR NAVAL

“Tinham a noção clara da importância que a História Marítima assumia,


num país com um passado como o nosso, e sabiam da urgência de uma vasta
gama de estudos indispensáveis, identificados ao longo da sua vida académica
e profissional. E sabiam ainda que o desenvolvimento desses estudos, dentro
de uma temática tão complexa como aquela que envolve a relação do Homem
com o Mar, exigia uma organização de especialistas, associados no que teria
de ser uma academia. Uma academia organizada dentro da tradição das
academias que nasceram por toda a Europa, desde o final do século XVI,
funcionando nos moldes herdados daquele longínquo jardim perto de Atenas,
onde Platão deu as suas aulas, no princípio do século IV a.C.”

Se nos questionarmos sobre a relação existente entre os dez membros


fundadores antes da formação do Grupo, concluímos que muitos já se co-
nheciam. Teixeira da Mota era docente na Faculdade de Letras da Univer-
sidade de Lisboa juntamente com Virgínia Rau. Armando Cortesão grande
especialista em cartografia antiga trabalhou com Teixeira da Mota e mais
tarde juntou-se-lhe Marques Esparteiro. Luís de Albuquerque trabalhava
com Armando Cortesão em Coimbra no Agrupamento de Cartografia Anti-
ga e com Teixeira da Mota em Lisboa. Jorge Maia Ramos Pereira dirigia o
Museu de Marinha, local que iria acolher o promissor Grupo.
Alguns deles eram associados da Academia das Ciências de Lis-
boa ou da Academia Portuguesa de História – em alguns dos casos per-
tencentes às duas, conhecendo bem os objectivos e a estrutura dessas
instituições. De forma que as propostas apresentadas ao Ministro da
Marinha, para a criação e organização do Grupo de Estudos, refletiam
toda esta experiência, evidenciando claramente que o seu pensamento
era o de chegar a uma verdadeira Academia de Marinha.5
Já com o Grupo em funções as reuniões tinham lugar na bibliote-
ca do Museu de Marinha, com uma periodicidade mensal e com ses-
sões públicas quando se tratasse de conferências de natureza cultural e
científica. Ao longo de várias reuniões surgiram algumas propostas de
grande interesse como a do comandante Humberto Leitão, para que se
fizesse a História da Marinha Portuguesa, ou a do comandante Mar-
ques Esparteiro para a necessidade de criar um inventário dos naufrá-
gios ocorridos na costa portuguesa. Já em plena atividade, surgiu um

5
Jorge Semedo de Matos, «50 anos da Academia de Marinha», Sessão Solene de
Encerramento do Ano Académico e das comemorações do quinquagésimo ani-
versário da Academia de Marinha, 2019.
HISTÓRIA DA ACADEMIA DE MARINHA  175

pedido muito interessante do Ministro da Marinha ao Grupo para que


lhe fosse indicada uma data, entre junho e julho, a consagrar como Dia
da Marinha. Não se pretendia que estivesse associada a um personagem
particular, preferindo que fosse um evento de reconhecida notabilidade.
Não será difícil adivinhar como se chegou ao dia 8 de Julho, data da
partida de Vasco da Gama para a Índia.6
Na reunião do dia 6 de Agosto de 1970 o presidente anunciou a
sua extinção, por razões que não me foi possível apurar, para dar lugar
a uma outra organização, mais alargada e mais próxima dos objectivos
de todos, a denominar-se – Centro de Estudos de Marinha. Além disso,
nessa mesma sessão o Grupo decidiu adoptar como divisa, o verso de
Camões, “por mares nunca de outro lenho arados”, hoje gravada no
medalhão do colar insígnia da Academia.
Nasceu assim, em 1970 o Centro de Estudos de Marinha, com duas
secções que mais tarde passaram a classes: a de História Marítima e uma
nova secção de Artes, Letras e Ciências. A nova organização previa a
existência de uma classe de História Marítima, para a qual transitavam
todos os membros efectivos do Grupo de Estudos inicial, e uma classe
de Artes, Letras e Ciências, para a qual foram nomeados doze novos ele-
mentos. Nesta nova organização o presidente passava a ter consigo dois
vice-presidentes, um de cada classe, que presidiam à respectiva classe,
havendo ainda um secretário em cada uma delas e um secretário-geral do
Centro, nos moldes idênticos aos da atual Academia de Marinha.
Quando o Almirante Sousa Leitão tomou posse a 9 de outubro de 1978,
como Chefe de Estado-Maior da Armada, assinou ainda no mesmo ano, a
27 de dezembro, a Portaria que extinguia o Centro de Estudos de Marinha e
criava a Academia de Marinha, não tendo sido possível apurar os motivos.
Ao que se manteve ainda nas instalações do Museu de Marinha até
1986, data a partir da qual transitou para o atual espaço.7 Era o “porto”
ambicionado pelo Almirante Sarmento Rodrigues, mas era apenas uma
escala de uma viagem que tinha ainda muitas milhas e tormentas para
enfrentar.
Foi deste modo que a Academia de Marinha tomou para si todos
os assuntos e sensibilidades do que ao mar e aos homens do mar dizem

6
Ibidem
7
Rogério Geraldes d´Oliveira, «Alocução do Presidente da Academia de Marinha»,
Memórias 2002, Lisboa, Academia de Marinha, 2002, p.75.
176 ANAIS DO CLUBE MILITAR NAVAL

respeito, assumindo com o sentido patriótico de quem tem a consciência do


país que é Portugal, da sua Geografia e da sua História. Um país que deve
a sua independência ao facto de viver de mão dada com o Atlântico, que
aprendeu a cruzar em todos os sentidos. Tem, pois, um desígnio que é na-
cional, para onde convergem os resultados de todas as nossas realizações.8

2. O PAPEL DA ACADEMIA NA ATUALIDADE


Nos atuais Estatutos da Academia de Marinha é dito que se trata
de um órgão cultural da Marinha com autonomia científica que tem por
missão promover e desenvolver os estudos e divulgar os conhecimentos
relacionados com a História, as Letras, as Artes e as Ciências e tudo o
mais que diga respeito ao Mar e às atividades marítimas.9
Contudo, a Academia tem vindo a crescer e passou as fronteiras con-
finadas aos órgãos culturais da Marinha. Esta expansão deve-se à proximi-
dade que mantém com as Universidades e com outras instituições culturais
públicas e privadas, nacionais e estrangeiras, suas congéneres (Academia
Portuguesa da História, Academia das Ciências de Lisboa, Sociedade de
Geografia de Lisboa, Comissão Portuguesa de História Militar, Instituto
Balear de la Historia e Academia Uruguaya de Historia Marítima y Flu-
vial), para além de partilhar acontecimentos transversais com algumas
embaixadas com presença em Portugal. Os temas a abordar passam pela
criação de colóquios e seminários comuns, de que é exemplo o último Sim-
pósio de História Marítima, o XVI, realizado em 2019, que foi subordinado
ao tema “Fernão de Magalhães e o conhecimento dos Oceanos”.
Estes simpósios, denominados de Simpósios de História Marítima,
tiveram início em 1992 e têm uma ampla participação da comunidade
universitária. São eventos subordinados a um tema, e como nesse ano se
comemorava o centenário da primeira viagem de Cristóvão Colombo, o
tema escolhido foi “As navegações portuguesas no Atlântico e o desco-
brimento da América”.
Entretanto, a Academia de Marinha quis alargar a área da sua ati-
vidade e, em 1991, realizou na sua Galeria, uma primeira exposição de

8
Jorge Semedo de Matos, «50 anos da Academia de Marinha», Sessão Solene de
Encerramento do Ano Académico e das comemorações do quinquagésimo ani-
versário da Academia de Marinha, 2019.
9
Academia de Marinha, Regulamento Interno, Lisboa, 2018, pp. 2-5.
HISTÓRIA DA ACADEMIA DE MARINHA  177

Artes Plásticas, subordinada ao tema “O Mar e os Motivos Marítimos”,


que se repetiu no ano seguinte e, posteriormente passou a realizar-se
com uma periodicidade bienal. Esta exposição tem como objectivo pri-
mordial de estimular a sensibilidade dos artistas para o mar e para os
temas marítimos.
Deste modo e, de forma intercalar, os Simpósios e as Exposições
vão-se realizando de forma intercalar, Destas actividades resultou um
património de artigos, trabalhos e comunicações científicas, cuja di-
mensão e relevância não pode deixar de ser reconhecido. Trabalhos que
se podem consultar nos 48 volumes de Memórias, nas 15 Actas de Sim-
pósios, em monografias diversas, prémios atribuídos e muitas outras.
Em complemento a estas actividades, em 1995 foram criados os pré-
mios “Almirante Teixeira da Mota” e “Almirante Sarmento Rodrigues”,
que deveriam ser atribuídos em anos alternados: o primeiro destinado a
premiar trabalhos de pesquisa científica ligados ao mar e às marinhas; e o
segundo para trabalhos de investigação no âmbito da História Marítima.
Em 2017 surge um novo prémio, o “Fundação Oriente - Embaixador
João de Deus Ramos”. Trata-se de um prémio em parceria com a institui-
ção Fundação Oriente para premiar trabalhos de investigação no âmbito
dos anteriores, mas que digam respeito apenas ao Oriente.
E por último, importa referir a elaboração de uma História da Ma-
rinha Portuguesa. Um projecto sempre referido, mas que só conseguiria
trazer a público o seu primeiro volume, em 1997. Conta neste momen-
to, com oito volumes (nove tomos) publicados, com mais um em fase
final de preparação. Uma obra de qualidade, exemplo da ligação entre
a Academia e a Universidade, em que a comunidade científica foi con-
gregada para a continuação de uma obra de essencial interesse.
Evocar que as pátrias não se fazem sem memória e que as obras me-
ritórias devem ser sempre encarecidas e apresentadas como exemplos de
conduta pessoal e institucional. O feito desta Academia, que soube atra-
vessar regimes políticos, económicos e sociais bem diversos para não dizer
contrários, também soube acompanhar o fim do Império, a revolução, o
alvor democrático sob tutela revolucionária, a institucionalização, refor-
mulação, a estabilização, e a recente e indefinida identidade democrática.10

10
Marcelo Rebelo de Sousa, «Discurso do Presidente da República», Sessão Sole-
ne de Encerramento do Ano Académico e das comemorações do quinquagésimo
aniversário da Academia de Marinha, 2019.
178 ANAIS DO CLUBE MILITAR NAVAL

Deste modo, a Academia de Marinha, nas palavras de enaltecimen-


to proferidas por Sua Excelência o Presidente da República, Professor
Marcelo Rebelo de Sousa, por ocasião do encerramento das comemora-
ções do quinquagésimo aniversário:

“Soube congregar o melhor que havia no nosso pensamento so-


bre o mar, os Oceanos, a Marinha, as Forças Armadas, Portugal, com
contributos vindos de fora da Academia e de fora de Portugal. Soube ga-
nhar personalidade própria e respeito por parte das demais academias
suas seniores, dentro das nossas fronteiras físicas ou espirituais. Soube
mesmo levar desse cruzamento as experiências de dupla e de múltipla
afiliação, fazendo circular ideias, factos e a sua interpretação num clima
de fraternal prossecução de causas comuns. Soube desse modo honrar a
nossa Marinha e nessa exata medida honrar Portugal.”

Fig. 2 – A Galeria

3. OS PRESIDENTES
O primeiro presidente que conduziu os destinos da jovem acade-
mia há quase dez anos, faleceu em agosto de 1979. O almirante Sar-
mento Rodrigues viu realizado o sonho dos dez fundadores do Grupo
de Estudos. O seu lugar foi então ocupado pelo almirante Avelino Tei-
xeira da Mota, figura que sempre o acompanhara, desde a guarnição do
Lima, em 1941, passando pelo Governo da Guiné. Infelizmente, poucos
HISTÓRIA DA ACADEMIA DE MARINHA  179

meses depois, Teixeira da Mota adoeceu gravemente com uma doença


prolongada que acabou por lhe tirar a vida em abril de 1982.
Este desaparecimento foi mais uma prova dura porque passava a
jovem academia, mas os anos passados tinham-lhe dado a identidade e
a energia que lhe permitiam andar pelo seu próprio pé, sem o amparo
destes progenitores ilustres.
A título provisório, o vice-presidente Professor Arantes e Oliveira,
exerceu as funções de presidente até ao final do biénio, data em que se
candidatou ao cargo e foi eleito por unanimidade. Voltou a ser eleito
para os anos 1985-86, mas viu-se obrigado a renunciar ao mandato,
para ocupar funções no governo.
Assumiu a presidência o seu vice-presidente, o almirante Rogério
d’Oliveira.
Este foi verdadeiramente um período de charneira na vida da Aca-
demia, que tomou um rumo seguro e certo em direcção ao futuro: um
futuro que hoje é uma realidade e que esperemos continue. Rogério
d’Oliveira viria a ser eleito para o biénio 1987-88 e sucessivamente ree-
leito presidente da Academia de Marinha, até ao final do ano de 2003,
quando entendeu não voltar a recandidatar-se.11
Esteve 18 anos à frente dos destinos desta casa, que ergueu com
o seu talento e trabalho, deixando-nos uma herança de valor inestimá-
vel. Uma das suas primeiras obras foi a transferência, em 1986, das
instalações precárias emprestadas pelo Museu de Marinha, para este
local, onde este auditório foi concebido, modernizado e adaptado para
se ajustar dentro do simbólico edifício da Ribeira das Naus, onde nas-
ceu e cresceu a Marinha dos Descobrimentos. Já na fase final da sua
presidência deu luz verde à instalação na Galeria da Academia duma
Biblioteca que baptizou de Teixeira da Mota, em homenagem ao seu
segundo presidente.
Em janeiro de 2004 tomou posse o almirante António Ferraz Sac-
chetti como quinto presidente. Em consequência do seu inesperado fa-
lecimento em janeiro de 2009, sucedeu-lhe o Almirante Nuno Vieira
Matias como sexto presidente da Academia de Marinha até 8 de janeiro
de 2016, data da tomada de posse do sétimo e atual presidente, Almi-
rante Francisco Vidal Abreu.

11
Jorge Semedo de Matos, «50 anos da Academia de Marinha», Sessão Solene de
Encerramento do Ano Académico e das comemorações do quinquagésimo ani-
versário da Academia de Marinha, 2019.
180 ANAIS DO CLUBE MILITAR NAVAL

4. INSÍGNIAS E CONDECORAÇÕES
Tendo por divisa “Por mares nunca de outro lenho arados” – um
verso de “Os Lusíadas”, Canto VII 30.7, a Academia de Marinha tem
nos seus Estatutos símbolos e insígnias próprias. Os membros da Aca-
demia de Marinha dispõem de insígnias próprias, que têm a forma de
colar, para uso em ocasiões solenes, qualquer que seja a sua categoria,
podendo ser usado, com uniforme, pelos oficiais da Marinha que sejam
membros da Academia de Marinha.12

Fig. 3 – O Colar-insígnia

Nestas últimas duas décadas a Academia viu reconhecido o tra-


balho que os seus fundadores ambicionavam. O título de Membro Ho-
norário da Ordem do Infante D. Henrique, foi-lhe atribuído em 1999,
numa cerimónia pública realizada na Figueira da Foz, e passados vinte
anos de amadurecimento, mereceu o agraciamento por Sua Excelência
o Presidente da República e Presidente de Honra da Academia de Mari-
nha, Professor Marcelo Rebelo de Sousa, como Membro Honorário da
Ordem Militar de Sant’Iago da Espada, em Sessão Solene realizada no
seu auditório.

12
Academia de Marinha, Regulamento Interno, Lisboa, 2018, p.2.
HISTÓRIA DA ACADEMIA DE MARINHA  181

Fig. 4 – Presidente da República entrega as insígnias de


Membro Honorário da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada,
com que condecorou a Academia de Marinha, ao Presidente
da Academia, Almirante Francisco Vidal Abreu.

CONCLUSÃO
Neste meio século de existência da denominada Academia de Ma-
rinha, torna-se importante recordar as palavras da promissora visão
científica e cultural do seu Fundador e primeiro presidente, Almirante
Manuel Maria Sarmento Rodrigues, a quando da génese da Instituição.
O seu ambicioso e patriótico objetivo – o seu sonho – era o de institu-
cionalizar a cultura marítima ao nível mais elevado inspirado na “Aca-
demie de Marine” de França, criada em Setecentos, em pleno século do
Iluminismo.

“Dificilmente se compreende que numa nação cuja principal grande-


za teve origem no Mar, que Além-Mar foi consolidar a sua independência,
que no mar recolheu as suas maiores glórias, que ainda depende grande-
mente do mar para a sustentação da sua unidade e da sua própria vida,
não existia um organismo de cultura que ao Mar seja especialmente de-
dicado, do nível intelectual e patriótico de uma Academia de Marinha.”13

13
Manuel Sarmento Rodrigues, Actas das Sessões de 1970 e 1971, Centro de Estudos
de Marinha, Lisboa, 1971, p. 11.
182 ANAIS DO CLUBE MILITAR NAVAL

Baseado nas seguintes palavras de um antigo Presidente, o Almirante


Nuno Vieira Matias, cito:

“Sendo a Academia, o berço do conhecimento e da cultura sobre


as coisas do mar, deve, cada vez com mais intensidade, promover a afir-
mação de Portugal internacionalmente, tendo o mar como seu elemento
fundamental, identificador e diferenciador no mundo”.

Este é o papel que atualmente a Academia tem vindo a desenvolver


ao longo deste meio século de existência. Dar continuidade ao esforço
em manter viva a memória daqueles que participaram ou viveram pe-
ríodos marcantes ou acontecimentos de relevo para a História de Portu-
gal e da Marinha, ajudando desta forma a melhor entender o presente e
perspetivar o futuro, através do conhecimento do passado.
Concluo que, a Academia de Marinha é um bom palco para encon-
trar alento que nos possibilita acreditar no Futuro e evocar os Feitos da
Marinha que enaltecem as Glórias de Portugal.

BIBLIOGRAFIA
ACADEMIA DE MARINHA, Homenagem aos Fundadores da Academia
de Marinha, Lisboa, Academia de Marinha, 2019.
___________________________, Regulamento Interno, Lisboa, 2018.
D´OLIVEIRA, Rogério Geraldes, «Alocução do Presidente da Academia
de Marinha», Memórias 2002, Lisboa, Academia de Marinha, 2002
_________________________ «Alocução do Presidente da Academia de
Marinha», Memórias 2003, Lisboa, Academia de Marinha, 2003.
MATOS, Artur Teodoro de, «Nota Introdutória», Homenagem aos Funda-
dores da Academia de Marinha, Lisboa, Academia de Marinha, 2019.
MATOS, Jorge Semedo de, «50 anos da Academia de Marinha», in Sessão
Solene de Encerramento do Ano Académico e das comemorações do
quinquagésimo aniversário da Academia de Marinha, 2019.
RODRIGUES, Manuel Maria Sarmento, Actas das Sessões de 1970, Grupo
de Estudos de História Marítima, Lisboa, 1970.
______________________________, Actas das Sessões de 1970 e 1971,
Centro de Estudos de Marinha, Lisboa, 1971.
SOUSA, Marcelo Rebelo de, «Discurso do Presidente da República», Sessão
Solene de Encerramento do Ano Académico e das comemorações do
quinquagésimo aniversário da Academia de Marinha, 2019.
HISTÓRIA DA ACADEMIA DE MARINHA  183

ANEXO – BIOGRAFIA DOS FUNDADORES


Doutora Virgínia Robertes Rau contribuiu de forma notória
para que a historiografia nacional fosse conhecida nos grandes
fóruns científicos internacionais. Criou e dirigiu a revista Do
Tempo e da História no Centro de Estudos Históricos do Ins-
tituto de Alta Cultura, anexo à mesma Faculdade, tendo sido
dada grande expressão aos temas de História Marítima e da
Náutica14;

Capitão-de-mar-e-guerra António Marques Esparteiro, para


além da carreira naval, dedicou-se à investigação de arquivo e
ao estudo da História da Marinha, a partir do século XVII, com
especial destaque para os seus homens e navios. Este seu inte-
resse explicou o facto de, ter sido escolhido para reorganizar o
Arquivo da Marinha e posteriormente dirigir o mesmo, durante
uma década15;

Doutor Armando Zuzarte Cortesão foi o primeiro herdeiro da


linhagem republicana e democrática. Um grande especialista em
cartografia, tendo desenvolvido a sua atividade em Coimbra no
Agrupamento de Cartografia Antiga. Foi autor de muitas obras
onde se destacam a Cartografia e cartógrafos portugueses e a
Portugaliae Monumente Cartographica16;

Capitão-de-fragata Avelino Teixeira da Mota foi um historia-


dor consagrado, professor e um “Homem do Mar, Além-Mar e
das Ciências”. Ao interesse pela História dos Descobrimentos,
associou-se, a História da Náutica e da Cartografia. Da sua obra
são os textos relativos ao estudo da cartografia antiga, da história

14
Ana Leal de Faria, «Virgínia Robertes Rau (1907-1973). Uma Historiadora sem
Fronteira», Homenagem aos Fundadores da Academia de Marinha, Lisboa, Aca-
demia de Marinha, 2019, p.40.
15
António Costa Canas, «António Marques Esparteiro (1898-1976). Marinheiro,
Pedagogo e Historiador», Homenagem aos Fundadores da Academia de Marinha,
Lisboa, Academia de Marinha, 2019, p.61.
16
Francisco Roque de Oliveira, «Armando Zuzarte Cortesão (1891-1977). Vida,
exílio e mapas», Homenagem aos Fundadores da Academia de Marinha, Lisboa,
Academia de Marinha, 2019, p.97.
184 ANAIS DO CLUBE MILITAR NAVAL

da náutica e da Expansão portuguesa e sobre as sociedades e a


História de África;17

Capitão-de-mar-e-guerra Humberto Leitão para além de um


homem do mar foi um homem de ciência. Como marinheiro
aliou-se à experiência e ao estudo do império colonial e da mari-
nharia portuguesa. Com persistência e minucioso espírito analí-
tico, construiu sólido e duradouro fundamento do conhecimento
dos primeiros dois séculos de presença portuguesa nas ilhas de
Timor e Solor, e a respeito do seu Dicionário da Linguagem de
Marinha Antiga e Actual18;

Dr. Joaquim Alberto da Iria Júnior um modelo de honestidade


de arquivista, de investigador esforçado e historiador zeloso. Era
o historiador do Algarve, mas também dos Descobrimentos e do
Oceano Índico e que no Arquivo Histórico Ultramarino era guia
e conselheiro seguro de quem procurasse as fontes para a história
ultramarina portuguesa, sobretudo das existentes no acervo que
dirigia19;

Contra-almirante Jorge Maia Ramos Pereira foi um oficial de


Marinha completo: militar, técnico inovador, líder, homem de cul-
tura e cidadão, de lealdade exemplar para com a Marinha e o País
que serviu, com integridade e coragem. Como diretor do Museu
de Marinha acolheu prontamente o promissor Grupo de Estudos
de História Marítima20;
Professor Luís Mendonça de Albuquerque que com Armando

17
Carlos Manuel Baptista Valentim, «Avelino Teixeira da Mota (1920-1982). Um
Homem do “Renascimento” no Portugal do Século XX», Homenagem aos Fun-
dadores da Academia de Marinha, Lisboa, Academia de Marinha, 2019, p.125.
18
Manuel Lobato, «Humberto dos Santos Leitão (1885-1973). Historiador de Timor
e da Náutica», Homenagem aos Fundadores da Academia de Marinha, Lisboa,
Academia de Marinha, 2019, p.148.
19
Maria de Fátima Reis «Joaquim Alberto Iria Júnior (1909-1992). Arquivista, His-
toriador e Académico», Homenagem aos Fundadores da Academia de Marinha,
Lisboa, Academia de Marinha, 2019, p.164.
20
Fernando David e Silva, «Jorge Maia Ramos Pereira (1901-1974). Oficial de Ma-
rinha, Homem de Cultura e Cidadão», Homenagem aos Fundadores da Academia
de Marinha, Lisboa, Academia de Marinha, 2019, p.187.
HISTÓRIA DA ACADEMIA DE MARINHA  185

Cortesão trabalhou em Coimbra no Agrupamento de Cartografia


Antiga e com Teixeira da Mota em Lisboa. Para além de um des-
tacado professor de matemática, de história, académico e cidadão,
foi responsável por diversas edições fundamentais para a consoli-
dação da História da Náutica21;

Contra-almirante Manuel Maria Sarmento Rodrigues notável


“Homem do mar, do Império espalhado pelo mundo e Homem
culto e ciente do alcance das instituições”. Escreveu dezenas de
livros e trabalhos, integrou várias instituições académicas nacio-
nais e internacionais, presidindo a várias delas, e recebeu men-
ções de apreço de toda a parte do mundo, evocando sempre que
era, sobretudo, marinheiro22;

Arquiteto Octávio Lixa Filgueiras foi um defensor da memória


documental dos arquivos, monografias, coleções museológicas de
arqueologia e da investigação para fins de conservação de em-
barcações e diferentes tipos de barcos tradicionais condenadas ao
desaparecimento23.

21
Francisco Contente Domingues, «Luís Mendonça de Albuquerque (1917-1992).
Historiador dos Descobrimentos e da Náutica», Homenagem aos Fundadores da
Academia de Marinha, Lisboa, Academia de Marinha, 2019, p.205.
22
Jorge Semedo de Matos, «Manuel Maria Sarmento Rodrigues (1899-1979). Uma
vocação humanista feita de Mar e Ultramar», Homenagem aos Fundadores da
Academia de Marinha, Lisboa, Academia de Marinha, 2019, p.228.
23
Álvaro Garrido, «Octávio Lixa Filgueiras (1922-1996). Arquitectura, História e
Etnologia dos Barcos», Homenagem aos Fundadores da Academia de Marinha,
Lisboa, Academia de Marinha, 2019, p.246.

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