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REVISTA
MARÍTIMA
BRASILEIRA
(Editada desde 1851)
v. 139 n. 04/06
abril/junho 2019
SECRETARIA-GERAL DA MARINHA
Almirante de Esquadra Marcos Silva Rodrigues
Assessoria Técnica
Capitão de Mar e Guerra (RM1-T) Nelson Luiz Avidos Silva
Analista de Sistemas Feliciano Rodrigues Ferreira
Diagramação
Designer Gráfica Amanda Christina do Carmo Pacheco
Designer Gráfica Rebeca Pinheiro Gonçalves Baroni
Assinatura/Distribuição
Suboficial-RM1-CN Maurício Oliveira de Rezende
Marinheiro-RC André Oliveira Vidal
Impressão / Tiragem
CMI – Serviços Editoriais Eireli ME / 8.500
REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA
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em nome do Departamento Cultural do Abrigo do Marinheiro, CNPJ – 72.063.654/0011-47.
SUMÁRIO
7 NOSSA CAPA
SÃO AS ATRIBUIÇÕES SUBSIDIÁRIAS ATIVIDADES DE GLO?
Paulo Marques de Oliveira – Capitão de Mar e Guerra (Refo)
Garantia da Lei e da Ordem (GLO). Forças Armadas e Defesa da Pátria
48 ENGENHARIA NAVAL
Yapery Tupiassu de Britto Guerra – Contra-Almirante (Refo-EN) (In memorian)
História da Engenharia Naval no Brasil. Convênio USP/MB. O Navio
Oceanográfico Professor Besnard. A primeira turma de engenheiros navais. O Escritório
Técnico de Construção Naval
176 BENS DA UNIÃO: mar territorial, recursos naturais da Zona Econômica Exclusiva
e da Plataforma Continental
Jorge Kleber Teixeira Silva – Geógrafo
O mar no Direito-Geografia-História. Soberania marítima. Relações Interna-
cionais e o Direito
193 NECROLÓGIO
SUMÁRIO
Introdução
Destinações constitucionais das Forças Armadas
Lei Complementar (LC) no 97/1999
Decreto no 3.897/2001
Abrangência da GLO
Atribuições subsidiárias da MB
Outras espécies de GLO
Conclusão
* Guarda-Marinha da turma de 1966. Exerceu diversos comandos na carreira e, como assessor no Comando de
Operações Navais, analisou leis e publicações de interesse do setor operativo destacando-se as relacionadas
à Garantia da Lei e da Ordem (GLO).
SÃO AS ATRIBUIÇÕES SUBSIDIÁRIAS ATIVIDADES DE GLO?
-se não serem elas citadas diretamente te jurista José Afonso da Silva1, assessor
entre as destinações constitucionais das jurídico da Assembleia Constituinte, que
Forças Armadas e nem nas atribuições elaborou a Constituição de 1988, as essen-
subsidiárias a elas conferidas por Lei ciais são a defesa da Pátria e a garantia dos
Complementar. Como justificá-las então? poderes constitucionais (GPC). Somente
Diante disso, este trabalho analisará os subsidiária e eventualmente lhes compete
documentos condicionantes superiores a garantia da lei e da ordem, por serem
vinculados ao emprego das Forças Ar- competência primária de outros órgãos
madas, de modo a identificar se aqueles públicos. Pautando-se nesse juízo, neste
previstos para a Marinha, quando não trabalho, as destinações constitucionais
enquadrados nas destinações constitu- das FA serão assim entendidas:
cionais de defesa da Pátria ou de garantia – Defesa da Pátria – não pairam dúvi-
dos poderes constitucionais, o serão, por das quanto a essa destinação; está e sem-
eliminação, na destinação de garantia pre esteve associada à segurança externa,
da lei e da ordem, a fim de eliminar o isto é, ao emprego do Poder Nacional,
risco de alguma inconstitucionalidade. com ênfase no Poder Militar, contra as
Complementarmente, procurará sugerir agressões de outros Estados (conflito
algumas interpretações de dispositivos armado internacional), na defesa do povo
desses documentos legais, que ajudarão brasileiro e do território, dos interesses e
a entender o verdadeiro significado e a da soberania nacionais.
abrangência da garantia da lei e da ordem. – Garantia dos poderes constitucionais
Claro que isso também contribuirá para (GPC) – é a mais difusa delas, não haven-
que os manuais doutrinários a serem ela- do qualquer esforço de regulamentação,
borados pelos níveis operacional e tático embora presente desde a Constituição de
mantenham perfeita sintonia com os dos 1891 – “A força armada é … obrigada
níveis político e estratégico. a sustentar as instituições constitucio-
nais”, o próprio Estado Democrático de
DESTINAÇÕES Direito, bem como nas subsequentes. Está
CONSTITUCIONAIS DAS associada à segurança interna durante
FORÇAS ARMADAS situações de instabilidade institucional
(conflito armado não internacional).
A Constituição da República Federa- Nessas ocasiões, assim como na defesa
tiva do Brasil de 1988 (CRFB), no artigo da Pátria, poderá viger o sistema cons-
142, atribui às Forças Armadas (FA) três titucional das crises, quando medidas
destinações, das quais, segundo o eminen- de excepcionalidade são admitidas, de
1 "A Constituição vigente abre a elas um capítulo do Título V, sobre a defesa do Estado e das instituições
democráticas com a destinação acima referida, de tal sorte que sua missão essencial é a da defesa da
Pátria e a garantia dos poderes constitucionais, o que vale dizer defesa, por um lado, contra agressões
estrangeiras em caso de guerra externa e, por outro lado, defesa das instituições democráticas, pois a
isso corresponde a garantia dos poderes constitucionais, que, nos termos da Constituição, emanam do
povo (art. 1o, parágrafo único). Só subsidiária e eventualmente lhes incumbe a defesa da lei e da ordem,
porque essa defesa é de competência primária das forças de segurança pública, que compreendem a
Polícia Federal e as Polícias Civil e Militar dos Estados e do Distrito Federal. Sua interferência na defesa
da lei e da ordem depende, além do mais, de convocação dos legítimos representantes de qualquer dos
poderes federais: presidente da Mesa do Congresso Nacional, presidente da República ou presidente do
Supremo Tribunal Federal" (DA SILVA16, 2002:748) (grifos do autor).
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SÃO AS ATRIBUIÇÕES SUBSIDIÁRIAS ATIVIDADES DE GLO?
modo a restaurar o status quo, desde que Adicionalmente, esta lei e suas duas
obedecidos os limites constitucionais. alterações definem as atribuições subsidi-
– Garantia da Lei e da Ordem (GLO)2 árias gerais, de responsabilidades das três
– Também associada à segurança interna; FA, e as particulares para cada Força, res-
no entanto, nesse caso, o emprego das FA peitando suas vocações originárias. Assim,
é subsidiário e se dará em plena vigência a Marinha do Brasil (MB) é responsável
do estado de direito e de estabilidade ins- pelas ações do Estado nas águas, o Exército
titucional, basicamente, mas não somente, Brasileiro (EB) por aquelas desenvolvidas
em atividade cuja natureza jurídica é de na extensão terrestre e a Força Aérea Bra-
atividade de polícia (administrativa ou sileira (FAB) pelas afetas ao espaço aéreo.
de segurança), ou seja, a atuação da Ad- Enunciadas, as atribuições subsidi-
ministração Pública visando evitar que a árias, na LC no 97/1999, sem qualquer
ordem jurídica seja alterada. Como se verá associação às destinações constitucionais,
adiante, qualquer ordem pode ser garantida não raro são vistas, equivocadamente,
pelas FA, mesmo que não estejam exercen- como outra modalidade de emprego das
do atividades tipicamente policiais. FA, diversa daquelas do artigo 142 das
Resumindo, a CRFB definiu um CRFB. Se assim fosse, a LC no 97/1999
emprego para cada cenário. Assim, em estaria, mais uma vez, ampliando os limi-
conflito armado internacional atuarão vi- tes constitucionais do artigo 142.
sando à defesa da Pátria; em instabilidade Conforme os entendimentos expostos
institucional na GPC; e em situação de no item anterior, o único enquadramento
normalidade na GLO. legalmente possível das atribuições subsi-
Em quaisquer dos casos, o emprego diárias é na GLO. Justifica-se: o emprego
das FA exige autorização do Presidente das FA delas decorrentes não é contra
da República. outro Estado, o que caracterizaria a defesa
da Pátria, e nem a execução se dá em ins-
LEI COMPLEMENTAR (LC) tabilidade institucional, o que evidenciaria
No 97/19993 a GPC. O mesmo raciocínio se aplica às
demais atividades realizadas pela MB em
Essa lei é documento essencial à aná- situação de estabilidade institucional, por
lise deste assunto. força de determinação eventual do Presi-
No artigo 15, ao enunciar o emprego dente da República, como no caso de uma
das FA, repete as três destinações consti- operação de ajuda humanitária.
tucionais e acrescenta a “participação em Um argumento recorrente contra esse
operações de paz”. Esse acréscimo parece enquadramento – atribuições subsidiárias
ampliar o conteúdo do artigo 15, além como GLO – é a interpretação equivocada
dos limites do artigo 142 da CRFB. Isso da LC no 97/1999 que exigiria o atendi-
poderia configurar uma inconstituciona- mento aos seguintes requisitos: serem epi-
lidade, embora não se conheçam críticas sódicas e conduzidas por tempo limitado
neste sentido. em área previamente estabelecida e após
2 Nota do autor: Esses entendimentos sobre as espécies de GLO foram desenvolvidos em parceria com o
Capitão-Tenente (T) Antonio Carlos Fernandes da Silva Filho, cuja formação jurídica o habilitou a
encontrar as soluções para as inconsistências surgidas no decorrer do processo.
3 Lei Complementar no 97 de 9 de junho de 1999, que dispõe sobre as normas gerais para a organização, o
preparo e o emprego das Forças Armadas.
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SÃO AS ATRIBUIÇÕES SUBSIDIÁRIAS ATIVIDADES DE GLO?
cia alguma, posto ser ele o comandante no 97/1999 e têm como origem o Decreto
supremo das FA (art. 84, inciso XIII, da no 3.897/2001, numa evidente inversão,
CRFB). Além disso, faculta aos demais desnecessária, da hierarquia das leis.
poderes constitucionais o direito de so-
licitar tal emprego, nas pessoas dos pre- DECRETO No 3.897/20016
sidentes do STF, do Senado e da Câmara
Federal. O Poder Executivo está excluído, Esse documento tem sua importân-
pois não faria sentido o Presidente da Re- cia devida a dois aspectos. O primeiro,
pública fazer pedido a si próprio. positivo, refere-se à regulamentação do
O § 2o 5 enfoca o emprego das FA na emprego das FA em situações de norma-
GLO, mas somente quando solicitada lidade, no desempenho das funções das
por quaisquer dos poderes constitucio- Polícias Militares, em prol da segurança
nais – presidentes do STF, do Senado e pública, visando à incolumidade das pes-
da Câmara Federal, mesmas autoridades soas e do patrimônio. O segundo aspecto,
citadas no § 1o e não por inciativa pró- negativo, foi ter gerado um imbróglio
pria do Presidente da República. Além com a GLO do artigo 142 da CRFB. Sua
disso, o § 2o condiciona o emprego ao ementa, ao estabelecer as diretrizes para
esgotamento dos órgãos mencionados no o emprego das FA na GLO, passou a falsa
artigo 144 da CRFB. Desta forma, limita ideia de se tratar da GLO do artigo 142
o emprego à segurança pública. Esse em- da CRFB, quando, na realidade, se limita
prego, como se verá adiante, caracteriza a orientar o emprego das FA em ativi-
a GLO de sentido estrito, regulamentada dades típicas dos órgãos de segurança
pelo Decreto no 3.897/2001, que se trata pública (art. 144 da CRFB). Uma forma
4 § 1o – Compete ao Presidente da República a decisão do emprego das Forças Armadas, por iniciativa própria
ou em atendimento a pedido manifestado por quaisquer dos poderes constitucionais, por intermédio dos
presidentes do Supremo Tribunal Federal, do Senado Federal ou da Câmara dos Deputados.
5 § 2o – A atuação das Forças Armadas na Garantia da Lei e da Ordem, por iniciativa de quaisquer dos poderes
constitucionais, ocorrerá de acordo com as diretrizes baixadas em ato do Presidente da República, após
esgotados os instrumentos destinados à preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e
do patrimônio, relacionados no artigo 144 da Constituição Federal.
6 Decreto no 3.897 de 24 de agosto de 2001, que fixa as diretrizes para o emprego das Forças Armadas na
garantia da lei e da ordem, e dá outras providências.
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7 Lei Complementar no 69, de 23 de julho de 1991 – Dispõe sobre as normas gerais para a organização, o
preparo e o emprego das Forças Armadas (revogada pela LC no 97/1999).
8 Lei no 9.537, de 11 de dezembro de 1997 – Dispõe sobre a segurança do tráfego aquaviário em águas sob
jurisdição nacional e dá outras providências.
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SÃO AS ATRIBUIÇÕES SUBSIDIÁRIAS ATIVIDADES DE GLO?
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SÃO AS ATRIBUIÇÕES SUBSIDIÁRIAS ATIVIDADES DE GLO?
9 Lei no 2.953 de 17 de novembro de 1956, fixa normas para remessa de tropas brasileiras para o exterior.
10 Arto. 51 Nada na presente Carta prejudicará o direito inerente de legítima defesa individual ou coletiva,
no caso de ocorrer um ataque armado contra um membro das Nações Unidas, até que o Conselho
de Segurança tenha tomado as medidas necessárias para a manutenção da paz e da segurança inter-
nacionais. As medidas tomadas pelos membros no exercício desse direito de legítima defesa serão
comunicadas imediatamente ao Conselho de Segurança e não deverão, de modo algum, atingir a
autoridade e a responsabilidade que a presente Carta atribui ao Conselho para levar a efeito, em
qualquer momento, a ação que julgar necessária à manutenção ou ao restabelecimento da paz e da
segurança internacionais.
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SÃO AS ATRIBUIÇÕES SUBSIDIÁRIAS ATIVIDADES DE GLO?
11 “Art. 145 – Todos os Brasileiros são obrigados a pegar em armas, para sustentar a Independência, e inte-
gridade do Império, e defendê-lo dos seus inimigos externos, ou internos.”
12 “Art. 162 – As forças armadas são instituições nacionais permanentes, e, dentro da lei, essencialmente
obedientes aos seus superiores hierárquicos. Destinam-se a defender a Pátria e garantir os Poderes
constitucionais, e, a ordem e a lei.”
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SÃO AS ATRIBUIÇÕES SUBSIDIÁRIAS ATIVIDADES DE GLO?
diárias gerais das FA, particulares da MB alguns aspectos contidos nas normas le-
e das demais atividades desenvolvidas gais e que por vezes geram confusão ou
pelo Poder Naval durante a normalidade má interpretação.
institucional, são espécies de GLO e, deste Pode-se, então, responder afirmativa-
modo, garantir que o emprego do Poder mente à pergunta, título desse trabalho,
Naval nessa ocasião é absolutamente não só para as atribuições subsidiárias
constitucional. como para qualquer emprego do Poder
Foi necessário apresentar os entendi- Naval durante os períodos de normali-
mentos para cada uma das destinações dade institucional.
constitucionais das FA; encontrar a verda- Embora a MB tenha sido enfocada
deira dimensão do termo “ordem”, que se com maior ênfase, o mesmo raciocínio
buscou em Parecer da CCJA e esclarecer aplica-se às demais FA.
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PODER NAVAL – PRESENTE E FUTURO (PARTE 5)*
Submarinos, Desenvolvimento e Defesa
ELCIO DE SÁ FREITAS**
Vice-Almirante (Refo-EN)
SUMÁRIO
Introdução
Retrospecto
Programas de Submarinos
A Guerra Submarina previsível para os próximos 30 anos
Continuidade do Prosub
Sistema de Projeto e Produção de Submarinos
Classes de submarinos a projetar
Inteligência Artificial
Apêndice 1 – Processos de Obtenção de Navios de Guerra
Apêndice 2 – Prosub: Plataforma e Sistema de Combate
* A 1a parte desta matéria foi publicada na RMB do 2o trim/2017, a 2a parte no 3o trim/2017, a 3a parte no 4o
trim/2018 e a 4a parte no 1o trim/2019.
** Serviu no CL Barroso e no CT Mariz e Barros. MSc em Civil Engineering e Naval Engineer, ambos pelo
Massachusetts Institute of Technology (MIT). Foi professor de graduação e pós-graduação na Escola
Politécnica da USP e chefe do Escritório Técnico de Construção Naval em São Paulo. Serviu no AMRJ
por cinco anos. Entre 1981 e 1990, na Diretoria de Engenharia Naval, exerceu diversas funções e foi
seu diretor de 1985 a 1990. Colaborador frequente da RMB, é autor do livro A Busca de Grandeza.
PODER NAVAL – PRESENTE E FUTURO (PARTE 5) – Submarinos, Desenvolvimento e Defesa
1 Exceto o primeiro da classe, o Tupi, construído na Alemanha, mas com acompanhamento de equipes es-
pecializadas da Marinha do Brasil (MB) que vieram a construir os três seguintes, da mesma classe, no
Brasil, com um mínimo de assistência estrangeira.
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PODER NAVAL – PRESENTE E FUTURO (PARTE 5) – Submarinos, Desenvolvimento e Defesa
to e defesa, essencial para nossa proteçãoele se manteria ativo durante 40 anos, até
no cenário previsível de guerra submarina 2072, e que teria dois longos períodos de
dos próximos 40 anos. Requer sequências indisponibilidade: um em 2047, 15 anos
lógicas de reflexões, estudos, decisões após sua entrada em serviço, para grandes
e ações quanto aos meios de combate a reparos e modernização do sistema de
produzir, quanto às demandas mínimas combate4; e outro em 2057, 25 anos após a
desses meios2, quanto a tempos e custos e entrada em serviço, para grandes reparos e
quanto a outras questões essenciais para aupgrades no sistema propulsivo e de gera-
continuidade, sustentabilidade financeira ção de energia5. A segunda unidade dessa
e ascensão tecnológica do programa. nova classe entraria em serviço três anos
após a primeira. Portanto, estaria ativa
A GUERRA SUBMARINA entre janeiro de 2035 e janeiro de 2075.
PREVISÍVEL PARA OS Como será a guerra submarina nesse
PRÓXIMOS 30 ANOS intervalo de 43 anos, entre 2032 e 2075?
É impossível prever.
Questão básica E nos primeiros 15
A mais importante questão anos, entre 2032 e
Qualquer sub- da longa e complexa 2047? Talvez seja
marino cuja ca- possível prever,
pacitação em pro- obtenção de navios de considerando-se o
jeto e construção guerra é que sejam eficazes que já hoje ocor-
se obtenha poderá e apropriados à guerra re na guerra aérea,
ser pouco eficaz se ocorrências simila-
não for apropriado previsível que enfrentarão res que se iniciam
à guerra previsível nos 15 anos após entrarem na guerra submarina
que enfrentará nos e o ritmo cada vez
15 anos após sua em serviço mais rápido da evo-
entrada em serviço. lução tecnológica.
Essa é a mais importante questão de todo De fontes especializadas, conclui-
o longo e complexo processo de obtenção -se que UUVs (Unmanned Underwater
de navios de guerra. Vehicles) serão intensamente empregados
O primeiro submarino de uma nova na guerra submarina entre 2032 e 2047,
classe cujos estudos de Estado-Maior tanto os autônomos como os controlados
iniciássemos em janeiro de 2019 prova- remotamente 6. Recursos de detecção
velmente não entraria em serviço antes não acústica de submarinos, atualmente
de janeiro de 20323. É razoável supor que pré-operacionais, provavelmente serão
2 Sem demandas iguais ou superiores às mínimas apropriadas à capacidade instalada, haverá descontinuidades,
retrocesso e colapso do programa.
3 Consulte-se a referência [3].
4 Por sistema de combate entenda-se C4ISR+Sistema de Armas.
5 No caso de submarino nuclear, será necessário um outro longo período de indisponibilidade para reabaste-
cimento de combustível nuclear, combinado, ou não, com modernização.
6 Eles já existem com diferentes portes e capacidades operativas. Nos próximos anos, a USN começará a
obtê-los em ritmo crescente e a utilizá-los em exercícios com a esquadra, para formular doutrinas para
sua operação. E o Reino Unido pretende desenvolver um UUV de grande porte (XLUUV), para missões
a distâncias de até 3.000 milhas náuticas e 3 meses.
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PODER NAVAL – PRESENTE E FUTURO (PARTE 5) – Submarinos, Desenvolvimento e Defesa
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PODER NAVAL – PRESENTE E FUTURO (PARTE 5) – Submarinos, Desenvolvimento e Defesa
que não mais deverá cessar. Mas sem ele a As três ações anteriores são interde-
alternativa para os próximos 40 anos será pendentes.
projetar, construir, operar e manter um
número menor de submarinos maiores, Demanda
mais caros e mais vulneráveis às ameaças
da guerra submarina que enfrentarão. Sem demanda contínua e minimamente
suficiente, qualquer sistema produtivo
Adições essenciais ao Prosub entrará em colapso, sejam quais forem
seus produtos e seja ele privado, misto
Obter a capacidade de projetar, cons- ou estatal. Para nossos produtos de defesa
truir, operar e manter UUVs é uma adição sempre há e haverá demanda potencial. O
essencial ao Prosub. UUVs também são que raramente tem existido são recursos
indispensáveis para explorar petróleo e ou- financeiros durante longos períodos e, por-
tros recursos minerais no subsolo oceânico. tanto, demanda real. Logo, é alto o risco
Portanto, a Marinha poderá buscar recursos de descontinuidade, retrocesso e colapso
financeiros de outros programas nacionais de qualquer grande programa naval. Para
e com eles unir esforços. minimizá-lo, são essenciais a terceira ação
Outra adição essencial ao Prosub é atu- recomendada acima e a determinação da
alizar, expandir e aplicar conhecimentos demanda mínima indispensável ao siste-
para sistemas militares e civis resistirem a ma produtivo do Prosub, examinada no
ataques ciberfísicos. Essa adição se aplica item 6 deste artigo.
a grande parte da infraestrutura nacional
[4]. Logo, poderá ter recursos extra-MB. Preservação e desenvolvimento de
Mobilizará mentes técnico-científico- equipes e capacitações no Prosub
-industriais que se aliarão à Marinha.
Para preservar e desenvolver equipes
CONTINUIDADE DO PROSUB e capacitações no Prosub é necessário
manter simultaneamente um fluxo cons-
Descontinuidades são inimigas históricas tante de projetos e outro de construções,
de nossos programas de desenvolvimento realizando todas as 11 fases do processo
e defesa. Manter e desenvolver ininterrup- de obtenção, listadas no Apêndice 1 deste
tamente o Prosub deve ser a preocupação artigo, para a primeira unidade de cada
máxima. Requer as seguintes ações: classe de submarinos.
a – preservar e desenvolver equipes e Desenvolver equipes e capacitações
capacitações; requer:
b – associar o Prosub a programas de a – que cada projeto de nova classe de
desenvolvimento nacional, para eles con- submarinos não seja quase uma repetição
tribuindo e deles absorvendo recursos7; e do anterior, e sim uma evolução que utili-
c – planejar e controlar os projetos do ze novas possibilidades tecnológicas, apta
Prosub sob intensa ótica técnico-operati- a enfrentar a guerra submarina previsível
va-financeira, para prover compatibiliza- para o período entre 12 a 27 anos após o
ção orçamentária [6]. início do projeto;
7 Essa ação alinha-se com o fundamento básico de nossa Estratégia Nacional de Defesa, que é: “desenvolvi-
mento e defesa são inseparáveis”.
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PODER NAVAL – PRESENTE E FUTURO (PARTE 5) – Submarinos, Desenvolvimento e Defesa
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PODER NAVAL – PRESENTE E FUTURO (PARTE 5) – Submarinos, Desenvolvimento e Defesa
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PODER NAVAL – PRESENTE E FUTURO (PARTE 5) – Submarinos, Desenvolvimento e Defesa
8 O custo de ciclo de vida é a soma do custo de obtenção com os custos de operação, apoio, manutenção,
modernização e descarte ao final da vida útil.
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PODER NAVAL – PRESENTE E FUTURO (PARTE 5) – Submarinos, Desenvolvimento e Defesa
APÊNDICE 1
PROCESSOS DE OBTENÇÃO DE NAVIOS DE GUERRA
9 Contribuição real, inteligente e essencial para desenvolvimento e defesa é a fixação ou criação no país de
conhecimentos e meios para projetar, construir, operar, manter e modernizar o navio e seus sistemas e
equipamentos. Muitos desses conhecimentos e meios são de aplicação dual, isto é, aplicam-se também
a necessidades civis. Contribuição assim é o que se deve designar por nacionalização.
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PODER NAVAL – PRESENTE E FUTURO (PARTE 5) – Submarinos, Desenvolvimento e Defesa
APÊNDICE 2
PROSUB: PLAFORMA E SISTEMA DE COMBATE
REFERÊNCIAS:
[1] "Poder Naval – Presente e Futuro (Parte 3)" – Vice-Almirante (Refo-EN) Elcio de Sá Freitas
– Revista Marítima Brasileira, 4o Trimestre de 2018
[2] A Busca de Grandeza – Marinha, Tecnologia, Desenvolvimento e Defesa – Capítulos IX e
X – Vice-Almirante (Refo-EN) Elcio de Sá Freitas – Editora Serviço de Documentação da
Marinha – 2014
[3] "Poder Naval – Presente e Futuro (Parte 2)" – Vice-Almirante (Refo-EN) Elcio de Sá Freitas
– Revista Marítima Brasileira, 3o Trimestre de 2017
[4] DI BENEDITO, Marco Eugênio Madeira. "Defesa Cibernética – Segurança para Sistemas
Ciberfísicos dos Meios Operativos de Superfície" – Revista Marítima Brasileira – 2o
Trimestre de 2017
[5] A Busca de Grandeza – Marinha, Tecnologia, Desenvolvimento e Defesa – páginas 108 e
109 – Vice-Almirante (Refo-EN) Elcio de Sá Freitas – Editora Serviço de Documentação
da Marinha – 2014
[6] "Poder Naval: Presente e Futuro (Parte 1)" – Vice-Almirante (Refo-EN) Elcio de Sá Freitas –
Revista Marítima Brasileira – 2o Trimestre de 2017
[7] ADLIN, Joseph A. . Robot Proof: Higher Education in the Age of Artificial Intelligence – The
MIT Press - 2017.
RMB2oT/2019 27
GESTÃO DO APOIO AO PRODUTO NO DoD USA
SUMÁRIO
Introdução
Considerações iniciais
Gestão do apoio ao produto nos Estados Unidos
Como evoluiu a gestão de material no DoD
Gerente para o apoio ao ciclo de vida do produto
Tarefas principais dos PSM (como resumidas na publicação IPS)
A nova metodologia e os elementos do IPS
Últimas considerações
Conclusões
* Foi chefe do Departamento Industrial da Base Almirante Castro e Silva, assessor no reparo de submarinos
no Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro e comandante da Corveta Caboclo, do Submarino Humaitá,
da Força de Apoio e dos Centros de Instrução Almirante Alexandrino e Almirante Átila Monteiro Aché.
Foi diretor de Ensino da Marinha. Publicou o livro Logística Pura e vários artigos sobre Logística.
1 Revista do Clube Naval no 325, Apoio Logístico Integrado, p. 38-42.
GESTÃO DO APOIO AO PRODUTO NO DoD USA
2 Até 2011, o Programa de Apoio Logístico Integrado (ALI) não havia sido implantado. Artigo "Por que o
ALI não foi ainda implantado". Disponível em: <https://submarinosdobr.com.br/Artigos/Artigo40_1.
html>. Acesso em mar/2019.
3 Caslode – Centro de Apoio a Sistemas Logísticos de Defesa. Nova denominação do Centro de Catalogação
de Defesa (Cecade), pelo Decreto no 9.259 de 29 de dezembro de 2017, e subscrição ao Comitê AC327
(Comitê do Ciclo de Vida de Sistemas de Defesa) da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
4 Ver RMB 2o trim./2007, p. 107 a 134. “Importância do Processo de Obtenção de Sistemas Navais de Defesa na MB”.
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GESTÃO DO APOIO AO PRODUTO NO DoD USA
ção das Def Stan 00-60) e a mudança para no início desse século, visando ao aper-
a Geia Std-0007, em 2007, para finalmente feiçoamento dos sistemas e processos de
chegar ao estágio atual, com a nova siste- obtenção do material militar.
mática que a seguir abordaremos5. Uma também oportuna consideração
Deve se entender, em face dessa evo- diz respeito à necessidade dos utiliza-
lução, que, quando se fala em selecionar dores de conhecer os procedimentos de
uma estratégia de obtenção, a visão obtenção dos diversos produtos militares
abrangente do DoD é a de obter paco- (seus sistemas, estruturas, pessoal etc.) de
tes de serviços ao produto6 a partir de seus países, para poder entender como se
composições de capacidades industriais, processam os respectivos planejamentos
tanto orgânicas do DoD quanto aquelas e a obtenção dos sistemas de apoio. Esse
da iniciativa privada. é realmente um processo complexo que
Aflorou, assim, a necessidade de ser requer a participação de atores preparados
estabelecida metodologia de maior abran- para gerenciá-lo e conduzi-lo.
gência e comprovada eficácia na visão dos Como são muitos os países citados nos
produtos, a fim de garantir a apoiabilidade estudos, escolhemos apresentar o estado
dos sistemas ao longo de todo seu ciclo de do conhecimento referente ao sistema
vida, com foco nos custos e desempenho, de obtenção do DoD USA (uma vez que
buscando atender cada vez com mais aquele país vem servindo como referen-
qualidade as necessidades do combatente. cial ao longo de muitos anos, dada sua
Nasceu, então, a necessidade premente de condição de liderança no poderio militar).
gerenciar todo o ciclo de vida dos produtos Tal sistema tem servido de paradigma para
a serem obtidos ou já obtidos, de modo a a constituição dos sistemas nacionais dos
atender com qualidade a todos os requisitos demais países, customizados de acordo
dos diversos atores envolvidos no processo. com suas características individuais.
O sistema de obtenção do DoD USA
GESTÃO DO APOIO AO (Acquisition System) é muito complexo.
PRODUTO NOS ESTADOS A importância de sua organização e seu
UNIDOS funcionamento pode bem ser avaliada se
considerarmos que se materializa segundo
Após a leitura de estudos referentes a um orçamento para o corrente ano (2019)
alguns países qualificados7 sobre tal as- de cerca de 280 bilhões de dólares para ope-
sunto (sistemas de obtenção), observamos rações e apoio aos sistemas8 e envolve mais
que muitas mudanças neles ocorreram, de 150 mil pessoas, entre civis e militares.
5 Observa-se nessas instruções a tendência ao aprimoramento do gerenciamento dos dados logísticos, possi-
velmente com vistas à integração com a indústria.
6 Um pacote de suporte ao produto são os elementos logísticos e quaisquer contratos ou contratos de processo
de manutenção usados para
atingir e sustentar os conceitos de manutenção e apoio necessários para
prover a prontidão do material. PSM Guidebook, p. 10.
7 A Comparison of the Defense Acquisition Systems of France, Great Britain, Germany and the United States
e A Comparison of the Defense Acquisition Systems of Australia, Japan, South Korea, Singapore and
the United States. Defense System Management College. Aug 18, 2014.
8 Devendo ainda ser consideradas as pesquisas e as obtenções programadas, normalmente mais um terço
ou um quarto dos gastos com a obtenção do apoio às unidades programadas. Disponível em: <https://
comptroller.defense.gov/Portals/45/Documents/defbudget/fy2019/FY2019_Budget_Request.pdf> e
<https://dod.defense.gov/Portals/1/Documents/pubs/FY2019-Budget-Request-Overview-Book.pdf>.
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GESTÃO DO APOIO AO PRODUTO NO DoD USA
9 INCOSE. Systems Engineering Handbook: a guide for system life cycle process and activities. INCOSE-
-TP-2003-002-03 Version 3. Editado por Cecilia Haskins. Junho/2006.
10 Produto, na literatura consultada, refere-se a supersistemas, sistemas, equipamentos, componentes, sub-
componentes, partes etc.
11 BCA Guidebook, Foreward, 3o parágrafo.
12 Ver Glossário da DAU, 16a edição, p. B-128.
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GESTÃO DO APOIO AO PRODUTO NO DoD USA
13 DoD Weapon System Acquisition Reform Product Support Assessment, Doc. a529714.pdf, Introdução.
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GESTÃO DO APOIO AO PRODUTO NO DoD USA
14 MIL-HDBK-502A – Product Support Analysis. Com o mesmo acrônimo PSA encontramos também, na
publicação PSM Guidebook, menções a Product Support Agreement e Product Support Arrangements,
com significados ligeiramente diferentes, pois em contextos diferentes.
15 Public Law 111-84, Section 805 of the 2010 National Defense Authorization Act and Section 820a of the
2007 John Warner NDAA. PSM Guidebook, p. 11.
16 PSM Guidebook . Disponível no site da Defense Acquisition University. Ver Foreward.
17 PSM Guidebook, p. 7.
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GESTÃO DO APOIO AO PRODUTO NO DoD USA
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GESTÃO DO APOIO AO PRODUTO NO DoD USA
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GESTÃO DO APOIO AO PRODUTO NO DoD USA
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GESTÃO DO APOIO AO PRODUTO NO DoD USA
to, tais como a prática da Engenharia de logação do material militar (aliás, uma
Sistemas; o estabelecimento de Estruturas das atividades típicas do elemento do
Analíticas de Decomposição apropriadas ILS Apoio de Suprimentos). Mas outras
(WBS); a Análise Econômica (BCA); a podem ser cogitadas, como a adoção de
Gestão de Custos (LCC); a Gerência de um modelo de obtenção padronizado,
Configuração (CM); a Análise de Nível de sem fugir muito do adotado pela quase
Reparo (Lora); a técnica de Acompanha- totalidade dos padrões internacionais21 e
mento dos Programas/Projetos (EVM); sem interferir com os padrões adotados
a Análise de Modos de Falhas, Efeitos e individualmente pelos ramos de servi-
Criticalidade (FMECA); enfim, uma série ços, facilitando o desenvolvimento de
de ferramentas necessárias para gerenciar estudos e da compreensão da logística de
um sistema como o analisado. obtenção no âmbito tanto militar como
Lembremos, ainda, que o exemplo na base industrial de defesa. Essa medida
apresentado neste certamente traria
artigo se apoia em bons frutos.
um modelo de ciclo A visão preponderante Pelo lado ame-
de vida padronizado ricano do norte, há
para todos os ramos passou a ser a integração muito material dis-
de serviço dos EUA, de todas as atividades ponível para pes-
e que cada uma de
nossas forças sin-
concernentes à obtenção dos quisa e desenvol-
vimento de nossos
gulares pratica o sistemas/equipamentos com c o n h e c i m e n t o s ,
seu modelo parti- foco no desempenho, haja vista sua ampla
cular. Isso dificulta, estrutura do ensino
se não impede, por e não simplesmente em de Defesa e seu pro-
exemplo, o uso da ativos materiais cesso de obtenção.
ferramenta Mapa da Este último, acima
Mina para implanta- de tudo, patrocina a
ção do IPS apresentada no site da Defense educação e o ensino do assunto e oferece
Acquisition University (DAU)20. Eis aí um vários sites didáticos de aprimoramento
ponto em que a orientação do Ministério aos seus nacionais, como a DAU, com
da Defesa seria muito bem-vinda, visando sua missão de "prover um ambiente
ao aproveitamento de uma ferramenta de global de aprendizado para desenvolver
grande valor para o processo como um profissionais qualificados em obtenção,
todo (pelo menos como modelo). em estabelecer requisitos e alternativas
Um exemplo de medida de padroni- capazes de prover soluções aos combaten-
zação bem-sucedido no país é a cata- tes eficazes, sustentáveis e acessíveis"22 ,
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GESTÃO DO APOIO AO PRODUTO NO DoD USA
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GESTÃO DO APOIO AO PRODUTO NO DoD USA
23 Em 1986, o Emfa criou a Comissão Permanente de Catalogação de Material (CPCM), com vistas ao
estabelecimento de regras para a identificação, padronização e catalogação de materiais de uso comum
das Forças Armadas.
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CONHECENDO O TRIBUNAL MARÍTIMO, A CORTE
DO MAR BRASILEIRA
SUMÁRIO
Introdução
Uma história resumida do Tribunal Marítimo
As atribuições do Tribunal Marítimo
A composição do colegiado do Tribunal Marítimo
Biblioteca Almirante Adalberto Nunes
A página do TM na internet: novidades
Tribunal Marítimo a todo pano!
dizer, em consonância
com o preconizado na
Convenção das Nações
Unidas sobre o Direito
do Mar (Montego Bay –
1982). Neste caso, estão
a Zona Contígua, a Zona
Econômica Exclusiva
(ZEE) e a Plataforma
Continental até 350 mi-
lhas da costa, espaços
marítimos para além de
Águas Jurisdicionais Brasileiras
nossas águas territoriais,
ca, a psicossocial, a militar, a científica e a mas em que o Brasil possui prerrogativas
tecnológica. Podemos, em análise superfi- na utilização dos recursos, tanto vivos como
cial, constatar que o mar está diretamente não-vivos, e responsabilidade na sua gestão
atrelado a estas cinco expressões, seja nas ambiental. É importante destacar a comple-
relações entre nações, na exploração dos xidade do exercício da soberania em uma
recursos advindos do mar e seu subsolo, região em que, por normas internacionais,
no transporte marítimo, na geração de é livre a navegação, como são os casos das
empregos, ou na defesa da pátria, ativi- áreas marítimas supramencionadas.
dades sempre per- Assim, por esse
meadas pela busca precioso quinhão,
incessante de novas O Brasil é inviável sem parte indissociável
tecnologias. O Brasil do Brasil, que de-
é inviável sem o mar,
o mar, dele dependemos nominamos Ama-
dele dependemos em em todas as expressões do zônia Azul trafegam
todas as expressões poder nacional diariamente mais de
do poder nacional. 1.600 embarcações
É importante tam- das mais variadas
bém ressaltar que o território nacional classes e bandeiras, transportando rique-
constitui-se em um dos três elementos zas, em atividades de apoio marítimo,
basilares do Estado (povo, território e go- explorando o leito marinho e realizando
verno). Contudo, não se pode olvidar que atividades de pesca. Nesta área, o estado
nele está incluído o mar territorial, onde o brasileiro, em consonância com o orde-
Brasil possui jurisdição soberana: são as namento jurídico internacional, possui
águas marítimas abrangidas por uma faixa suas próprias leis e normas. Sob a ótica
de 12 milhas marítimas de largura medidas da segurança da navegação, estas normas
a partir da linha de baixa-mar do litoral são estabelecidas pela Marinha do Brasil
continental e insular brasileiro, tal como in- (MB), que é a Autoridade Marítima Bra-
dicada nas cartas náuticas de grande escala sileira, e são muito claras, abrangentes e
reconhecidas oficialmente no Brasil. Porém dinâmicas. São as chamadas Normas da
há que se ressaltar que existe uma extensa Autoridade Marítima, as Normam.
faixa em que o Brasil exerce uma espécie Julguei relevante apresentar este abre-
de "soberania econômica", podemos assim viado introito para deixar cristalina a
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CONHECENDO O TRIBUNAL MARÍTIMO, A CORTE DO MAR BRASILEIRA
42 RMB2oT/2019
CONHECENDO O TRIBUNAL MARÍTIMO, A CORTE DO MAR BRASILEIRA
Certamente, o fato de maior peso para cluindo uma subcomissão específica para
a criação de um Tribunal Marítimo Ad- a elaboração de seu regulamento.
ministrativo foi o incidente ocorrido no Posteriormente, em julho de 1933, o
fim da tarde do dia 24 de outubro de 1930. Decreto no 22.900 desvincula o Tribunal
O comandante do navio alemão Baden, da Diretoria da Marinha Mercante, pas-
em escala no Rio de Janeiro, decidiu sando a ser diretamente subordinado ao
prosseguir viagem para o Sul, sem auto- ministro da Marinha. Um ano mais tarde,
rização para sair da Baía da Guanabara. o Decreto no 24.585, de 5 de julho de
Ignorando os avisos dados pela Fortaleza 1934, aprova o Regulamento do Tribunal
de Santa Cruz, continuou sua navegação Marítimo Administrativo. Essa data foi
para fora da barra. Foi quando o Forte considerada como a de criação do Tribu-
de Vigia, localizado no Leme, recebeu nal, e nela se comemora o seu aniversário.
ordem para abrir fogo sobre o navio, Nesse Regulamento, abandona-se a ideia
forçando o seu retorno ao porto. O caso de divisão do território nacional em cir-
foi julgado pelo Tribunal Marítimo da cunscrições marítimas, sendo confirmada
Alemanha, que concluiu pela precipita- a existência de apenas um Tribunal Ma-
ção do comandante do navio, bem como rítimo, com sede na então capital federal,
pela negligência de nossas fortalezas que Rio de Janeiro. O Colegiado da Corte
bombardearam o Baden. Marítima foi inicialmente composto por
O caso rendeu muitos comentários um juiz-presidente e cinco juízes, sendo
nos principais jornais da capital, além de o Contra-Almirante Adalberto Nunes seu
grande repercussão internacional. Este primeiro presidente, permanecendo no
fato corroborou ainda mais para a criação cargo até 17 de julho de 1935.
de um órgão especializado, de modo a
não ficarmos à mercê das decisões de AS ATRIBUIÇÕES DO
órgãos estrangeiros. Em 21 de dezem- TRIBUNAL MARÍTIMO
bro de 1931, por meio do Decreto n o
20.829, criava-se a Diretoria de Marinha O Tribunal Marítimo, conforme pre-
Mercante, subordinada diretamente ao ceitua o Artigo 1o da Lei no 2.180/1954,
Ministério da Marinha. Da mesma forma, é um órgão autônomo, com jurisdição em
em seu Art. 5o, foram criados os tribunais todo o território nacional, auxiliar do Poder
marítimos administrativos, subordinados Judiciário, vinculado ao Comando da Ma-
a essa nova Diretoria. rinha, e tem como atribuições as previstas
Entretanto, o mencionado Decreto no Artigo 13 desta mesma Lei, a saber:
autorizou apenas a implementação e o I - julgar os acidentes e fatos da na-
funcionamento do Tribunal Marítimo Ad- vegação:
ministrativo do Distrito Federal, enquanto a) definindo-lhes a natureza e deter-
as necessidades do serviço e os interesses minando-lhes as causas, circunstâncias
da navegação não demonstrassem a con- e extensão;
veniência da divisão do território nacional b) indicando os responsáveis e aplican-
em circunscrições marítimas. Com a do-lhes as penas estabelecidas nesta lei; e
finalidade de regulamentar a Diretoria c) propondo medidas preventivas e de
recém-criada, foi formada uma comissão segurança da navegação.
para a ativação do Tribunal Marítimo II - manter o registro geral:
Administrativo do Distrito Federal, in- a) da propriedade naval;
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CONHECENDO O TRIBUNAL MARÍTIMO, A CORTE DO MAR BRASILEIRA
b) da hipoteca na-
val e demais ônus so-
bre embarcações bra-
sileiras; e
c) dos armadores de
navios brasileiros.
Além das mencio-
nadas acima, outra
importante atividade
cartorária é o Regis-
tro Especial Brasileiro
(REB), instituído por
intermédio da Lei no
9.432, de 8 de janeiro Colegiado do TM
de 1997, constituindo-
-se em uma medida de apoio e estímulo à mentos na área marítima. Desta maneira,
Marinha Mercante nacional e à indústria houve por bem modificar sua estrutura
naval brasileira. A Divisão de Registro organizacional, passando o colegiado a ser
estabelece procedimentos padronizados composto por sete juízes, com as seguintes
para a execução dos serviços cartoriais de qualificações previstas em Lei:
registros e transferências de propriedades – um presidente, oficial-general do
marítimas das embarcações, dos registros Corpo da Armada da ativa ou na inativida-
de armadores; das averbações de ônus; dos de. Hoje exerce o cargo o Vice-Almirante
registros no REB, bem como renovações, (RM1) Wilson Pereira de Lima Filho;
cancelamentos e averbações em geral, – dois juízes militares, capitão de mar
entre outras. A Portaria no 6/TM, de 10 e guerra (CMG) ou capitão de fragata
de abril de 2015, aprova os modelos de (CF), hoje o CMG (RM1) Sergio Bezerra
requerimentos e o rol de documentos de Mattos, um do Corpo da Armada e ou-
necessários para registros, averbações, tro do Corpo de Engenheiros e Técnicos
emissão de certidões e 2a via de documen- Navais, hoje o CMG (RM1-EN) Geraldo
tos no Tribunal Marítimo. Por força de de Almeida Padilha; e
lei, o TM é a única instituição com poder – quatro juízes civis, sendo dois ba-
para registrar a propriedade marítima em charéis em Direito – um especializado em
território nacional. Direito Marítimo, na atualidade Nelson
Cavalcante e Silva Filho, e o outro em
A COMPOSIÇÃO DO Direito Internacional Público, Marcelo
COLEGIADO DO TRIBUNAL David Gonçalves; um (a) especialista em
MARÍTIMO armação de navios, posição ocupada pela
juíza decana Maria Cristina de Oliveira
Ao longo de sua história, a competên- Padilha e navegação comercial; e um
cia do Tribunal Marítimo acompanhou a Capitão de Longo Curso da Marinha Mer-
mudança do cenário mundial e também cante, desde 2004, o Capitão de Longo
de compromissos internacionais firma- Curso Fernando Alves Ladeiras.
dos pelo Brasil, na qualidade de Estado Nota-se que, ante as qualificações
signatário de muitas convenções e regula- mencionadas, o colegiado foi composto
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CONHECENDO O TRIBUNAL MARÍTIMO, A CORTE DO MAR BRASILEIRA
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CONHECENDO O TRIBUNAL MARÍTIMO, A CORTE DO MAR BRASILEIRA
TRIBUNAL MARÍTIMO A
TODO PANO!
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CONHECENDO O TRIBUNAL MARÍTIMO, A CORTE DO MAR BRASILEIRA
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei no 2.180 de 5 de fevereiro de 1954. Dispõe sobre o Tribunal Marítimo. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L2180.htm>. Acesso em: 24 de maio de 2019.
BRASIL. Decreto no 20.829 de 21 de dezembro de 1931. Cria a Diretoria da Marinha Mer-
cante e dá outras providências. Disponível em: <https://www2.camara.leg.br/legin/fed/
decret/1930 1939/decreto-20829-21-dezembro-1931-519452-norma-pe.html>. Acesso
em: 24 de maio de 2019.
BRASIL. Decreto no 22.900 de 6 de julho de 1933. Concede autonomia aos Tribunais Marítimos
Administrativos e dá outras providências. Disponível em: <https://www2.camara.leg.br/
legin/fed/decret/1930-1939/decreto-22900-6-julho-1933-522521-publicacaooriginal-1-pe.
html>. Acesso em: 24 de maio de 2019.
BRASIL. Decreto no 2.256 de 17 de junho de 1997. Regulamenta o Registro Especial Brasileiro
– REB, para embarcações de que trata a Lei no 9.432, de 8 de janeiro de 1997. Disponível
em: <https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1997/decreto-2256-17-junho-1997-
-445006-publicacaooriginal-1-pe.html>. Acesso em: 24 de maio de 2019.
BRASIL. Escola Superior de Guerra. Fundamentos do Poder Nacional. Rio de Janeiro: ESG, 2019.
BRASIL. Lei no 9.432, de 8 de janeiro de 1997. Lei de Transporte Aquaviário. Dispõe sobre a
ordenação do transporte aquaviário e dá outras providências. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9432.htm>. Acesso em: 24 de maio de 2019.
BRASIL. Lei no 9.537, de 11 de dezembro de 1997. Lei de Segurança do Tráfego Aquaviário –
Lesta. Dispõe sobre a segurança do tráfego aquaviário em águas sob jurisdição nacional e
dá outras providências. Brasília: Presidência da República, 1997. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9537.htm>. Acesso em: 24 de maio de 2019.
BRASIL. Serviço de Documentação da Marinha. “Incidente com o Navio Mercante Baden”. In:
Histórico do Tribunal Marítimo. Rio de Janeiro: SDM, 2004.
BRASIL. Tribunal Marítimo. Tribunal Marítimo – 50 anos. Rio de Janeiro: Tribunal Marítimo, 1985.
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ENGENHARIA NAVAL*
SUMÁRIO
Introdução
Passado remoto
Idade Média
Era Moderna
A Engenharia Naval no Brasil
Convênio entre a USP e a Marinha do Brasil
Colação de grau da primeira turma de engenheiros
navais da Escola Politécnica
Escritório Técnico de Construção Naval da
Marinha em São Paulo
* Texto enviado pelo Almirante de Esquadra João Afonso Prado Maia de Faria, recebido de seu pai, o Vice-
-Almirante Newton Braga de Faria, já falecido, e amigo do autor.
** Guarda-Marinha da turma de 1944 e MSc em Engenharia Naval pela Universidade de Michigan (EUA) em
1954. Coordenou, organizou, desenvolveu, lecionou e dirigiu o Curso de Construção Naval da Escola
Politécnica da Universidade de São Paulo (USP). Foi presidente da Academia Brasileira de Engenharia
Militar, vice-presidente do Ciesp e coordenador do Núcleo de Assuntos Estratégicos da Fiesp.
ENGENHARIA NAVAL
aos poucos envelhecendo, perdendo vita- mantidas juntas por cipós, na forma de
lidade e eficiência e, passado o período de jangadas. Há evidências de que, usando
vida útil, morre e é recolhido aos famosos esse meio de transporte, ele cruzou mares
cemitérios de navios, algumas vezes com e até mesmo oceanos. Não demorou mui-
cerimônias que lembram os enterros dos to, porém, para que o homem descobrisse
humanos, como ocorre com as mostras que poderia melhorar seu transporte sobre
de desarmamento dos navios de guerra. água usando troncos de árvore escava-
Como se não bastasse essa incrível dos na forma de canoas. No entanto, a
semelhança, o navio possui também uma dificuldade de escavar troncos com as
alma – sua tripulação –, que lhe dá ca- ferramentas primárias de que dispunha
racterísticas próprias, tais como valentia, levaram-no a construir esqueletos de ma-
eficiência e, até mesmo, sorte e alegria. deira com costelas de forma semicircular
Mesmo navios iguais, construídos em (cavernas), amarradas umas as outras, e o
série, pelo mesmo estaleiro e segundo um conjunto coberto com couro ou peles de
mesmo projeto, apresentam performances animais secados ao sol. Barcos desse tipo
diferentes – há os que têm sorte e os que ainda são usados nos dias de hoje por pes-
não têm, há os que são eficientes e os que cadores do País de Gales e da Irlanda. Os
não são. Mas quando a tripulação dele índios norte-americanos usavam também
se afasta, passa o navio da condição de a construção com cavernas e impermea-
entidade viva e produtiva para a de um bilizavam o casco com casca de árvores.
corpo inerte, de estrutura de ferro e aço Nenhuma dessas embarcações tinha porte
sem ação, que se deteriora rapidamente suficiente para ser chamada de navio, na
pela corrosão, do mesmo modo como se medida em que podiam transportar apenas
decompõe o corpo humano quando a alma alguns passageiros e pouquíssima quanti-
dele se afasta para viver a vida depois da dade de carga.
vida. O navio é, pois, um produto seme- O passo seguinte foi construir unida-
lhante ao homem e deve ser estudado, des maiores, embora usando o mesmo
projetado e construído para as águas onde princípio. A estrutura básica do navio
vai operar, como condição primeira para passou a ser constituída de uma peça
garantir-lhe eficiência bélica, nos casos de longitudinal forte, construída como uma
navios de guerra, e eficiência econômica imitação da espinha dorsal humana, uma
para os que são projetados para transportar série de cavernas transversais (a exemplo
cargas comerciais. das costelas humanas), uma peça vertical
Em consequência, parece lógico que a avante, (para "cortar" a água) e outra peça
análise que se segue comece pela gênese vertical semelhante a ré, servindo de
do navio e prossiga pela análise da evolu- popa. Toda a estrutura era inicialmente
ção da sua construção e dos seus projetos coberta por caniços colados juntos e
ao longo da História. depois por tábuas de madeira encaixadas
umas nas outras ou coladas, de modo que
PASSADO REMOTO uma tivesse sempre uma parte sobreposta
à outra. Parafusos de ferro passaram a
A gênese do navio perdeu-se na bruma ser usados nas estruturas tão logo foram
do tempo. Sabe-se, no entanto, que o ho- postos à venda pelos fabricantes. A não
mem primitivo carregava seus pertences ser pelo uso de longarinas para reforçar
através da água usando toras de madeira, a estrutura no sentido longitudinal, os
RMB2oT/2019 49
ENGENHARIA NAVAL
navios passaram a ser assim construídos Estreito de Gibraltar, indo até a Sicília e,
enquanto durou o reino da madeira na segundo Heródoto, em torno da África,
construção naval. Mesmo depois do uso até o Oceano Índico. Pinturas em túmulos
do ferro já no começo do século XIX, o perto de Roma mostram que, a partir de
velho princípio de construção manteve-se 450 anos a.C., os romanos, para reforçar
o mesmo, apenas as quilhas, cavernas, a estrutura de seus navios, introduziram o
longarinas, conveses e outras peças es- uso de anteparas, o que também permitiu
truturais passaram a ser dimensionadas o aumento da capacidade de transportar
de acordo com os princípios e as leis da carga. Os navios ficaram mais bojudos
resistência dos materiais. em razão do aumento da boca e, por este
O mais antigo navio de que se tem co- motivo, passaram a ser chamados navios
nhecimento preciso foi construído no ano redondos (round ships). Foi também nessa
3.908 a.C. para o funeral do faraó Cheops. fase que apareceram os primeiros navios
Descoberto numa vala perto de seu túmulo com dois mastros, para aumentar-lhes a
e coberto com areia, o navio tinha compri- velocidade e reduzir o tempo de singra-
mento de 40,59 metros e boca máxima de dura. Os trajetos ficavam mais curtos,
7,92 metros, foi construído com cerca de os navios podiam fazer mais viagens, o
600 peças de madeira diferentes e, ao que comércio aumentava e os lucros subiam.
tudo indica, nunca foi utilizado para outra Também nessa fase descobriu-se a
coisa a não ser para o funeral. Em outras possibilidade de navegar a vela com a proa
palavras, nunca foi ao mar nem flutuou mais próxima da linha do vento, isto é, à
no Nilo, mas há evidências suficientes bolina, pela exposição das velas a ação
para afirmar que os egípcios usaram na- do vento em ângulos diferentes do que
vios muito semelhantes no seu comércio se fazia no passado, ou seja, com vento
através do Mediterrâneo. Também há sempre de popa ou do través para ré (pelas
evidências de que tais navios, embora alhetas de bombordo ou boreste).
normalmente propelidos por remos opera- Os escandinavos desenvolveram uma
dos por escravos, usaram também a força forma diferente de casco, com compor-
propulsora dos ventos, ficando a meia nau tamento mais adequado para enfrentar
uma vela retangular, de papiro ou algodão, ondas do Atlântico Norte – cascos mais
pendurada de uma verga, ligada a mastro alongados, com proa e popa altas, afilados
na posição indicada, isto é, na posição nas extremidades e arredondados a meia
da caverna mestra. Sabe-se também que nau, forma de casco ainda usada nos bo-
tais navios eram governados por remos tes salva-vidas nos dias atuais. Os árabes
grandes pendurados por fora do casco, descobriram que as velas triangulares
a boreste e situados entre o taboado do apresentavam melhores qualidades pro-
costado e o painel da popa. pulsivas em relação às velas retangulares
Os fenícios que dominaram a costa do e, mesmo nos dias presentes, os barcos
Mediterrâneo durante mais de 700 anos árabes, chamados dhows, podem ser vistos
antes de Cristo, isto é, de 1.000 a 200 com suas velas triangulares no Mar Ver-
anos a.C., aproximadamente, melhoraram melho. A novidade foi logo adotada pelos
o projeto egípcio, construíram pequenos egípcios, que as usam no Nilo, nos seus
navios para navegar naquele mar e navios "felucas". Os chineses desenvolveram
maiores (tarshish ships), com os quais se um tipo diferente de barco: juntaram com
aventuraram a outros mares através do tábuas duas canoas e, sobre elas, construí-
50 RMB2oT/2019
ENGENHARIA NAVAL
ram paredes de madeira de modo a formar para terra. Eram propelidos por remos,
uma verdadeira caixa de fundo chato. Para mas na maioria dos casos usavam velas
servir de proa, construíram uma forma de tecido com cores vermelhas ou ver-
afilada separada, adicionada à estrutura. melho e azul. Um século depois, esses
A popa foi construída com o propósito barcos ainda usavam remos ou velas;
de manter o local seco com mar de popa. tinham o mesmo comprimento; proa e
Na linha central, construíram outra caixa pôpa afiladas e com o mesmo formato,
impermeável, que continha o remo usado mas na proa havia sempre colocada uma
para dirigir, de modo que o dispositivo estatueta que a tradição chama de figura
foi o precursor do leme, usado depois nas de proa. Nas bordas havia chumaceiras
embarcações dos países europeus. A mais para 16 remos (aberturas nas bordas que
importante contribuição chinesa para a servem de apoio aos remos). Um mastro,
construção naval, na época, foi o uso de colocado a meio navio, carregava uma
anteparas transversais, não só para dividir vela retangular, e uma peça de madeira
compartimentos na parte interna do navio, colocada em ângulo reto com a peça
mas também para reforçar a estrutura do de governo era a precursora da cana do
casco. Esses barcos, chamados "juncos", leme. Os navios que Alfredo de Wessex,
eram equipados com um ou dois mastros, o Grande, fez construir para a incipiente
dotados de velas retangulares feitas de Marinha inglesa eram de modelo seme-
palha, com as quais podiam navegar com lhante, embora de porte maior. Também
a proa perto da linha do vento. Eram, na os usados por William da Normandia para
realidade, superiores, em condições de invadir a Inglaterra eram do mesmo tipo,
navegabilidade, aos navios construídos, apenas maiores, alguns dos quais com
na época, nos outros países, e isso explica cerca de 60 remos.
o fato de serem usados até hoje nos mares No século XIII, a maioria dos navios
da costa e nos rios da China. em operação nas águas do Atlântico Norte
Pelo que foi relembrado até aqui, fica era do tipo redondo já descrito, com boca
patente a maneira rudimentar como eram bem grande e grande calado, o que lhes
construídos os navios, baseada unicamen- dava grande capacidade de carga; contudo,
te no conhecimento transmitido oralmente eles eram os primeiros navios construídos
de pai para filho, sendo a construção em si para operar com velas, sendo os remos
realizada por carpinteiros navais. usados esporadicamente. Por esse moti-
vo, o número de velas foi aumentando, e
IDADE MÉDIA alguns usavam dois mastros; nas versões
de guerra, eram construídas estruturas
Do que restou do barco chamado na popa e na proa (castelos), de onde os
Nydam, encontrado em 1863, e de um soldados lançavam setas ou lanças. Deste
outro encontrado num cemitério em Sut- dispositivo originou-se o nome de castelo
ton Hoo, Inglaterra, pode-se verificar que de proa para os compartimentos do convés,
os barcos com que os vikings faziam suas na região da proa. Somente no século XIV
viagens eram embarcações compridas, de apareceram barcos que mereceram a clas-
carvalho, com cerca de 24,38 metros de sificação de navios. Tinham deslocamento
comprimento, boca estreita e pequeno de 500 toneladas e dois mastros. Os desti-
calado, com um leme rudimentar, de nados a guerra tinham estruturas na popa,
modo a permitir que pudessem ser içados com um pequeno convés chamado convés
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de popa e outro na proa, o qual manteve o Esse foi o período heroico da navega-
nome de castelo de proa. ção a vela, em que a coragem e a audácia
Cada um desses navios de guerra era dos marinheiros da época superaram as
tripulado por 90 marinheiros e carregava deficiências dos navios e construíram
60 lanceiros e 130 arqueiros. Os países o mundo como hoje conhecemos. Suas
do Mediterrâneo, nessa época, evoluíram experiências nos mares e nos oceanos
para as caravelas, inicialmente com dois tornaram possível e formaram os fun-
mastros e depois com três, com velas damentos da engenharia naval moderna.
retangulares nos dois mastros de vante Em 1066, William, da Normandia, cru-
e uma vela latina no mastro de ré, isto zou o Canal da Mancha e conquistou a
é, dois mastros de galera e um de bar- Inglaterra; em 1191, o Rei Ricardo I da
ca, como são classificados agora. Esses Inglaterra viajou para a Palestina para
navios foram construídos para navegar tomar parte nas Cruzadas; em 1248, os
em águas calmas, mas Colombo com- genoveses capturaram Rhodes; em 1263,
provou que podiam fazer cruzeiros mais os noruegueses tentaram, pela última vez,
longos quando veio para a América com invadir a Escócia, e em 1274 Kublai Kan
as caravelas Santa Maria, Pinta e Nina. fez uma tentativa frustrada de conquistar
Mesmo nessa fase, a construção naval o Japão. Em 1364, os dinamarqueses
era rudimentar, com tecnologia simples (Dietrich Pining) chegaram ao Senegal, e
passada de pai para filho. em 1497 o veneziano John Cabot chegou
O canhão apareceu no século XIV. E a Newfondland. Infelizmente, porém, os
foram montados em navios de mil tonela- dados disponíveis sobre essas viagens são
das de deslocamento e colocados na supe- tão raros e imprecisos que não permitem
restrutura do convés, no castelo de proa e comentários mais detalhados. Apenas do
no convés de popa. Eram suficientemente último século da Idade Média encontram-
leves para ficar nessas posições sem afetar -se documentos que permitem análise das
a estabilidade. À medida que o calibre dos viagens dos descobrimentos, das quais a
canhões foi aumentando, e, consequen- primeira – e para alguns a mais importante
temente, seu peso também, um novo de- – foi a de Cristóvão Colombo, nascido em
senvolvimento surgiu na construção naval Gênova, em 1451.
– a criação do convés inferior, abaixo do Como jovem e iletrado, embarcou em
convés principal, e a abertura nas bordas navios que operavam no Mediterrâneo. O
do navio, no mesmo nível desse segundo primeiro navio em que embarcou, e que
convés, para utilização dos canhões. O saiu daquele mar pelo Estreito de Gibral-
mais conhecido e talvez o primeiro navio tar, foi afundado por um esquadrão fran-
de guerra projetado e construído para esse cês ao largo de Lagos, em 1476. Colombo
mister foi o Henry Grace à Dieu (ou Great salvou-se a nado e voltou a Lisboa em um
Harry), para a Marinha inglesa, lançado navio português. Com esforço aprendeu a
em 1514, com quatro mastros, dois com ler. De suas leituras e da convivência com
velas retangulares e dois com velas latinas outros marinheiros, conhecia a importân-
e tripulado por 700 homens. Foi também cia e o valor comercial das especiarias
nesse século que apareceu a roda de leme, e de outras riquezas da Índia. Depois
que tinha de ser guarnecida por vários de muito esforço e recusas repetidas de
homens, mas ainda assim tornava mais ajuda por parte dos reis Henrique VII,
confortável o governo do navio. da Inglaterra, e Carlos VIII, da França,
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São Gabriel, sob o comando de Paulo da plexidade dele como um todo se reduziria
Gama, e Nicolau Coelho para comandar a uma expressão bem mais simples.
a São Rafael. A frota era completada por O navio, porém, é uma construção
uma nau de abastecimento, comandada destinada a se mover na superfície que
por Gonçalo Nunes. É interessante notar limita meios de densidades diferentes,
que essa frota partiu no dia 8 de julho de o que introduz fatores diversos de re-
1497, atingiu Calcutá e teve três dos seus sistência à propulsão, que determinam
comandantes designados para a frota de formas especiais às carenas para reduzir
Cabral que descobriu o Brasil. Foram essa resistência, e essas formas especiais
eles Pero de Alencar, Pero de Escobar e são definitivamente não-geométricas.
Nicolau Coelho. Pedro Álvares Cabral Esses problemas começaram a ser ob-
recebeu instruções para explorar as des- jeto de aprofundadas investigações por
cobertas de Vasco da Gama e partiu em parte de cientistas do porte de Newton,
março de 1500, tendo Bartolomeu Dias D’Alambert, Euler, Condorset, Bossut,
como segundo em comando. Cabral, Borda e outros, nas tentativas de resolver
como é sabido, afastou-se da costa da teórica ou experimentalmente as questões
África para evitar calmarias e, com isso, que interessam ao projeto de carenas e que
acidentalmente (sic) descobriu o Brasil, formaram o primeiro estágio da tecnolo-
chegando a Porto Seguro a 22 de abril gia moderna que abrange a mecânica dos
de 1500. Depois de tomar posse da nova fluídos, com seus fólios, suas desconti-
terra em nome de D. Manoel, continuou nuidades, suas fotografias de barreiras
a viagem, enfrentando fortíssima tempes- transônicas, seus túneis para estudos dos
tade ao montar o Cabo da Boa Esperança, fenômenos de cavitação, seus túneis
quando perdeu nove navios. aerodinâmicos, aplicações da teoria de
modelos reduzidos, modelos de hidráulica
ERA MODERNA experimental em outras ramificações que
interessam à aeronáutica, à balística, aos
Como pode ser verificado do que se portos de mar, às hidroelétricas e a outros
relembrou nesta análise até o presente mo- setores da ciência aplicada dos nossos dias.
mento, o fato de não poderem os navios e De todos os nomes ilustres que se li-
embarcações que se movem na superfície gam à engenharia naval como ciência, o
dos oceanos, mares, rios, lagos e canais Almirante Engenheiro Naval (EN) Juve-
ter forma geométrica definida tornou a nal Greenhalgh, em seu livro Arsenal de
construção naval uma arte essencialmente Marinha do Rio de Janeiro na História,
empírica, característica que, em parte, destaca Bouger e Euler. O primeiro, no
continua nos dias presentes, apesar do livro Traté du Navire, escrito em 1746,
imenso progresso e desenvolvimento das lembra que, até então, o estudo da estabi-
ciências físicas e matemáticas dos últimos lidade dos corpos flutuantes se cingia aos
dois séculos. Pudesse o navio ter uma rudimentos que datavam de Arquimedes.
forma geométrica definida, o estabeleci- O grande geometra grego deixara claro
mento ou a verificação de suas condições que essa estabilidade depende do empuxo
de estabilidade, da capacidade de volume do fluído deslocado, do peso do corpo
ou peso, da resistência aos esforços que flutuante e das posições dos pontos de
devem suportar as diferentes partes de sua aplicações destas forças. E mais: a pro-
estrutura, tudo enfim que constitui a com- priedade do flutuante – sua estabilidade
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navios oceanográficos, enfim, navios para Thomé de Souza, que saíam os navios
todos os propósitos, como são usados atu- para a Esquadra brasileira em formação.
almente. Progresso igualmente importante Até 1840, tanto o Arsenal do Rio de
ocorreu no campo dos navios de guerra, Janeiro como o da Bahia mantiveram o
com o projeto e a construção de encoura- mesmo aspecto, a mesma organização
çados, porta-aviões, cruzadores, destróie- do período colonial. Em 1824, iniciou-
res, fragatas, corvetas, submarinos, navios -se a construção, no Rio, de um dique
auxiliares, navios-hospitais, embarcações seco, escavado na rocha, para reparo de
de desembarques, navios-transporte e toda navios, construção esta que se prolongou
a gama de barcos usados pelas Marinhas até o ano de 1861. Esse dique, o primeiro
do mundo inteiro. Contudo, a mais impor- construído no Brasil e na América do Sul,
tante inovação tecnológica introduzida foi constituiu-se em importante progresso,
o uso da energia nuclear para propulsão pois acabou com as demoradas e perigo-
naval, que veio revolucionar a engenharia sas operações da “virar de carena” para
naval em termos de melhora de raio de reparo ou limpeza nas obras vivas e isto,
ação e permitiu o projeto e a construção é claro, depois da retirada de máquinas e
do submarino verdadeiro, isto é, aquele mastreação, antes da operação.
construído para operar permanentemente Por ocasião da Independência, em
submerso, vindo à superfície apenas es- 1822, o Arsenal teve seu nome mudado
poradicamente. A introdução da energia para Arsenal Imperial da Marinha, mas
nuclear na propulsão naval foi o mais continuou a ser conhecido como Arsenal
significativo avanço tecnológico dos úl- da Corte. Depois da Nau São Sebastião,
timos 60 anos. lançada ao mar em 1767, o Arsenal só
voltou a construir outro navio em 1824
A ENGENHARIA NAVAL e, durante todo esse período, teve como
NO BRASIL atividade principal o reparo de navios
da Esquadra Real, depois da brasileira e
A história da Engenharia Naval no também de navios mercantes, brasileiros
Brasil confunde-se com a própria histó- e estrangeiros surtos no porto. Até mea-
ria da Marinha brasileira. O Arsenal de dos do século XIX, como mencionado,
Marinha do Rio de Janeiro foi fundado o centro de construção naval continuou
em 1763, mas durante todo o período sendo o Arsenal da Bahia. A atividade de
colonial registrou apenas uma construção reparo no Rio foi muito ativada depois da
de vulto – a Nau São Sebastião. O trabalho Independência, quando foi necessário pôr
era artesanal, braçal e voltado exclusiva- em condições de combate e de navegação
mente para naus de madeira e a vela. O muitos navios deixados pelos portugueses
mesmo aconteceu com outro arsenal de e que constituíam o núcleo principal da
porte existente na época, o da Bahia, que Esquadra brasileira. Somente em 1824 foi
foi, de longe, o mais importante centro reiniciada a atividade de construção naval,
de construção naval no Brasil no período com a Corveta Campista sendo lançada ao
colonial, conservando esta primazia até a mar em agosto de 1827. Foi aquela corveta
primeira metade do século XIX. Enquanto projetada pelo primeiro construtor (como
o do Rio de Janeiro mantinha-se como eram chamados os profissionais graduados
centro de reparos navais, era do da Bahia, em construção naval) do Arsenal, Primei-
o sucessor da velha Ribeira das Naus de ro-Tenente José dos Santos. Em 1826, foi
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no Arsenal, foi com ela que se inaugurou o Tendo atingido o auge de progresso em
dique seco, cuja obra se iniciara em 1824. 1890, o Arsenal estagnou a partir daquela
Entre 1840 e 1865 foram construídas cin- data e, como consequência, entrou em
co corvetas, um brigue-escuna, um navio, rápido processo de decadência. As causas
um rebocador, um brigue, uma galeota, da decadência foram, sobretudo, políticas:
um cúter e uma barca. a Marinha perdeu prestígio e importância
De 1860 em diante, já com desenhis- com o advento da República e também
tas no seu quadro de pessoal, até 1890, por falta de visão da administração naval,
o Arsenal da Corte atingiu o máximo do que passou a preferir comprar navios no
seu desenvolvimento, aproximando-se exterior. Tudo aconteceu numa época de
dos estaleiros mais avançados do mundo grandes transformações tanto na constru-
daquele tempo. No período, isto é, entre ção naval como na indústria de um modo
1865 e 1890, foram construídos três geral, com o aparecimento de máquinas
encouraçados, quatro monitores, duas alternativas de múltipla expansão, das
corvetas, um rebocador, uma galeota, um turbinas, das construções de aço e do aper-
patacho, cinco canhoneiras e três cruza- feiçoamento da metalurgia, de modo que
dores, incluindo o Cruzador Tamandaré, a estagnação do Arsenal representou, de
de 4.537 toneladas de deslocamento e fato, uma decadência enorme na constru-
95,9 metros de comprimento, com 16 ção naval no Brasil. Tal decadência teve
canhões e máquinas de 7.500 cavalos como consequência não só o completo de-
de potência. Foi o Tamandaré o maior sestímulo dos engenheiros navais, que não
navio construído no Brasil não apenas mais construíram, mas apenas dirigiam
no período, mas até o ano de 1960. Em obra de reparo, e, pior ainda, provocou a
1869, o engenheiro Trajano de Carvalho perda da fabulosa experiência acumulada
patenteou, na Europa, um novo formato num ramo de engenharia no qual o Brasil
de carena que permitia maiores veloci- chegou a estar entre os países mais desen-
dades com menos potência e, em conse- volvidos do mundo.
quência, maior economia de operação. Daquele período de ouro da engenharia
A nova forma de carena, resultado de naval no Brasil destacaram-se os seguintes
cuidadosa pesquisa hidrodinâmica, foi nomes:
aplicada primeiro em uma lancha a vapor – João Batista Level (1824-1914),
e depois na Corveta Trajano, cuja prova nascido em Ilhéus, Bahia, e que foi, em
de mar, executada em viagem do Rio verdade, o primeiro engenheiro naval
de Janeiro a Montevidéu, comprovou brasileiro que projetou e construiu nada
praticamente sua vantagem. Depois, em menos de 23 navios e projetou mais 12
teste realizado na Inglaterra por Froude, construídos por estaleiros ingleses – de
pai da hidrodinâmica de navios, foi veri- sua autoria são projetos de encouraçados,
ficado que a forma de carena de Trajano dos monitores da classe Pará e da Corveta
proporcionava economia de combustível Niterói, primeiro navio com propulsão a
da ordem de 30%. Essas experiências hélice construído no País;
com a carena de Trajano foram precur- – Carlos Braconnot (1831-1882), for-
soras dos modernos testes em tanques mado nas oficinas de John Penn & Cia, na
de provas do tipo existente no Instituto Inglaterra, “segundo engenheiro” da Ofi-
de Pesquisas Tecnológicas do Estado de cina de Máquinas do Arsenal e diretor das
São Paulo (IPT). Oficinas de Máquinas da Estrada de Ferro
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Era evidente, porém, desde muitos anos, possuindo as condições técnicas exigidas,
que o número de técnicos disponíveis não entusiasticamente aceitou a ideia e se
resolvia o problema interno da Marinha e, prontificou a assumir a responsabilidade
muito menos ainda, o do País. de, com a Marinha, tornar realidade o
De posse da experiência adquirida sonho de um grupo de brasileiros cons-
desde o tempo do Brasil Colônia; com a cientes: formar engenheiros para o esta-
consciência do passado exuberante na área belecimento da indústria de construção
de construção naval do século passado; naval no Brasil. Nasceu assim o Curso de
consciente de sua responsabilidade pela Construção Naval da Escola Politécnica,
defesa de uma nação essencialmente ma- como resultado de convênio assinado, em
rítima, pelos 9.600 km de costa e 35.000 18 de maio de 1956, entre a Marinha e a
km de rios navegáveis; conhecendo como Universidade. O convênio foi assinado
poucos a situação real da nossa Marinha pelo diretor-geral do Pessoal da Marinha,
Mercante e a importância do transporte Vice-Almirante Maurício Eugênio Xavier
marítimo e de uma indústria de construção do Prado, e pelo reitor, Professor Doutor
naval para o desenvolvimento econômico Alípio Corrêa Neto.
e para a própria segurança nacional, estava O convênio estabelecia que a Escola
a Marinha decidida a incentivar, como Politécnica manteria, na sua organização
incentivou, o estabelecimento de uma didática, um curso de Engenharia Naval
indústria de construção naval no Brasil e, que obedecesse à seguinte orientação geral:
para servi-la, de um curso de Construção – dois anos fundamentais comuns com
Naval de nível universitário. os vários cursos da escola;
– três anos especializados com discipli-
CONVÊNIO ENTRE A USP E A nas comuns com outras especialidades de
MARINHA DO BRASIL engenharia, disciplinas gerais próprias de
construção naval e disciplinas específicas
Antes mesmo que qualquer órgão do das três modalidades: Estruturas, Máqui-
governo se preocupasse com o assunto, nas e Eletrônica.
a Marinha, pelos seus chefes, designou O convênio estabelecia também que o
comissão de engenheiros chefiada pelo curso seria frequentado por estudantes ci-
então Capitão de Mar e Guerra (EN) Ota- vis matriculados de acordo com as normas
cílio Cunha, depois almirante e presidente da Escola Politécnica; estudantes civis
do Conselho Nacional de Pesquisas, para bolsistas da Marinha e oficiais de Mari-
estudar e planejar o estabelecimento, no nha selecionados nos concursos para o
País, de um curso para a formação de en- Corpo de Engenheiros e Técnicos Navais,
genheiros da especialidade de construção realizados anualmente pela Marinha, de
naval. A nacionalização da formação de acordo com regulamentação própria. Ga-
engenheiros da especialidade era o pri- rantia, ainda, que os oficiais de Marinha,
meiro passo para o estabelecimento da in- inicialmente, frequentariam apenas o 3o
dústria de construção naval brasileira com ano e o primeiro semestre do 4o ano, indo
técnicos adaptados à realidade nacional. complementar sua formação em escolas
Dois anos de estudos e pesquisas especializadas no exterior. Progressi-
levaram a comissão designada a manter vamente, a Marinha comprometia-se a
entendimentos com a Escola Politécnica aparelhar, em São Paulo, um Escritório
da USP, única entre as sondadas, que, Técnico com pessoal e elementos técnicos
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dução para o português do seu livro Teoria – Roberto Vinícius Fiúza de Oliveira,
e Técnica do Projeto do Navio. A tradução oficial do Corpo de Engenheiros da Ma-
e adaptação foram feitas pelo então Capitão rinha, para Construção Naval.
de Mar e Guerra Yapery Tupiassu de Britto
Guerra, e o livro foi publicado pela Missão Início efetivo do curso
Norte-Americana de Cooperação Técnica
no Brasil – USA-AID, em1964. O curso teve início, como planejado,
Na fase de organização e consolidação no começo do ano letivo de 1957, com a
do curso, a Marinha colocou à disposição aula inaugural proferida em 8 de março
da Escola Politécnica os seguintes profes- pelo Contra-Almirante (EN) Otacílio
sores brasileiros e estrangeiros: Cunha, que tinha presidido a comissão
– Frederick Walton, ex-diretor do Cen- que negociou o convênio com a USP. A
tro de Pesquisas de Máquinas da Marinha cerimônia realizou-se no Salão Nobre
norte-americana; do antigo prédio da Escola Politécnica,
– Eugene Almendinger, ex-professor na Praça Coronel Fernando Prestes. A
do MIT para projetos de navios; mesa, presidida pelo Almirante Renato
– Stephen Ray Towne, oficial da reser- Guilhobel, representante do ministro da
va do Corpo de Engenheiros da Marinha Marinha, era composta pelo Professor
norte-americana; Doutor Alípio Corrêa Neto, reitor da
– Heinrich Peters, ex-professor do USP e representante do governador do
MIT, de nacionalidade alemã; Estado, Jânio da Silva Quadros; pelo
– George Max Gronau, especializado Vice-Almirante (EN) Osvaldo Osíres
em tecnologia de construção naval, de Storino, diretor-geral de Engenharia da
nacionalidade alemã; Marinha; pelo Contra-Almirante Paulo
– Yapery Tupiassu de Britto Guerra, Bosísio, diretor-geral do Arsenal de Ma-
oficial do Corpo de Engenheiros da Ma- rinha do Rio de Janeiro; pelo Brigadeiro
rinha, para as disciplinas de Arquitetura Neto dos Reis, comandante da Quarta
Naval I, do 3o ano do curso, e Arquitetura Zona Aérea; pelo Contra-Almirante Tho-
Naval II, do 5o ano; mas Cameron Reagan, chefe da Missão
– Cecíl Godfrey Holmes, oficial do Naval Norte-Americana; e pelo Professor
Corpo da Armada da Marinha, para a dis- Doutor Francisco Humberto Maffei, di-
ciplina de Arte Naval, depois denominada retor da Escola Politécnica. Compareceu
Introdução à Engenharia Naval; e também, como consultor do Escritório
– Carlos Alberto Teixeira Mendes, ofi- Técnico de Construção Naval da Mari-
cial do Corpo de Engenheiros da Marinha, nha em São Paulo, o Professor Doutor
para a disciplina de Propulsores. Laurens Troost, chefe do Departamento
Depois da formatura da primeira turma de Engenharia Naval do MIT.
de engenheiros navais, cooperaram com o A primeira turma de estudantes ma-
curso os seguintes professores: triculada no Curso de Engenharia Naval
– José Carlos de Castro Waeny, oficial era composta pelos seguintes oficiais de
do Corpo de Engenheiros da Marinha, Marinha e civis:
para Eletricidade; – Capitão-Tenente Antônio Paruolo Filho
– Gabriel Francisco de Andrade Vilela, – Capitão-Tenente Elbert Denys Pereira
do Corpo de Engenheiros da Marinha, – Capitão-Tenente Manoel Bernardo
para Máquinas Marítimas; e Guimarães Mattos
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A AÇÃO DE DRONES NA GUERRA NAVAL
SUMÁRIO
Introdução
O estado atual da arte
Limitações e vulnerabilidades
Operação e Logística
Aplicação em Vigilância, Sensoriamento e Reconhecimento
Aplicação em apoio ao combate
Perspectivas para o Brasil
Conclusões
* Autor de diversos livros, com destaque para: A Guerra da Lagosta, O Último Baile do Império, 1910 – O
Fim da Chibata – Vítimas ou Algozes?, Tamandaré nas Guerras da Independência e Cisplatina e
A Administração Naval do período de 1889 até o início do Governo Prudente de Moraes.
A AÇÃO DE DRONES NA GUERRA NAVAL
operações e com análise das informações Vale destacar que a ação de drones na
recebidas desses sensores por pessoal Guerra Naval, de emprego eminentemente
perito no assunto. São na realidade todos militar, não estará submetida às regras
similares, sendo essas diferentes desig- referenciadas na maioria da bibliografia;
nações motivadas pela evolução da tec- seu emprego se processará, em muitas das
nologia agregada aos primeiros artefatos ocasiões, fora do território nacional; logo,
voadores dessa natureza. fora da observância de qualquer legislação
Na atualidade, em decorrência do nacional, se fosse o caso. Exceção quanto
elevado e diversificado número desses ao uso pelos fuzileiros navais, que o em-
equipamentos, a principal característica pregarão em território nacional, mas em
em sua definição refere-se à ausência de área restrita e basicamente em conflito.
piloto embarcado, podendo ser dividido Entretanto, esses documentos possuem
em duas categorias: os remotamente uma série de conceitos úteis que ajudaram
controlados e os autônomos (estes não na elaboração deste trabalho.
autorizados no Brasil). Como o título No Brasil, o marco regulatório desses
do trabalho usa a palavra drone, sem- artefatos voadores é da responsabilida-
pre que possível será este o termo que de do Comando da Aeronáutica (CA),
empregaremos, nada impedindo o uso da Agência Nacional de Aviação Civil
de suas designações de Vant e ARP. (Anac) e da Agência Nacional de Te-
Aeronaves, navios de superfície e sub- lecomunicações (Anatel). No entanto,
marinos com definição de autônomos não há uma definição legal, de forma que
não serão considerados. devemos tomar o termo drone como ge-
Para facilitar o entendimento, é impor- nérico, sem amparo técnico ou definição
tante se descrever a definição clássica de na legislação. É importante considerar,
guerra naval na Marinha do Brasil (MB): porém, as nomenclaturas presentes em
“Parte constituída por ações militares con- nosso ordenamento jurídico para que
duzidas nos espaços marítimos, nas águas não haja desentendimentos sobre o que
interiores e em certas áreas terrestres se propõe a discorrer. Assim, o Depar-
limitadas de interesse para as operações tamento de Controle do Espaço Aéreo
navais, incluindo o espaço aéreo sobre- (Decea), órgão do Comando da Aeronáu-
jacente. Consiste no emprego do Poder tica que tem por missão “planejar, geren-
Naval, contribuindo para a conquista e a ciar e controlar as atividades relacionadas
manutenção dos Objetivos Nacionais de ao controle do espaço aéreo, à proteção
Defesa” (Doutrina Militar Naval). ao voo, ao serviço de busca e salvamento
A convivência da MB com drones é e às telecomunicações do Comando da
de longa data. Recordo-me, quando ain- Aeronáutica”, editou a AIC no 21/10,
da aspirante da Escola Naval, na década que, juntamente com o Regulamento
de 1970, por ocasião dos embarques em Brasileiro de Aviação Civil Especial
navios da Esquadra, que já observávamos (RBAC-E no 94), da Anac, estabelece as
exercícios de guerra naval empregando seguintes definições:
os drones. a) Vant – Veículo aéreo não tripula-
Aspectos de legislação serão mencio- do – veículo aéreo projetado para operar
nados para agregar valor ao trabalho, po- sem piloto a bordo, que possua uma carga
rém não em profundidade, por considerar útil embarcada (todos acessórios que não
que isso fugirá do tema. sejam necessários para o voo ou seu con-
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A AÇÃO DE DRONES NA GUERRA NAVAL
trole) e que não seja utilizado para fins é o mais antigo e popular para se referen-
meramente recreativos. ciar a qualquer aeronave não-tripulada e
Nesta definição incluem-se todos os que possua alto grau de automatismo. No
aviões, helicópteros e dirigíveis controlá- início os drones tinham aplicação mera-
veis nos três eixos, excluindo-se, portanto, mente recreativa e, quando militarmente
os balões tradicionais e aeromodelos. empregados, eram, essencialmente, nos
b) ARP – Aeronave Remotamente Pi- exercícios de tiro sobre alvos aéreos.
lotada – aeronave em que o piloto não está As regulamentações mais atuais,
a bordo, sendo controlada a partir de uma nacionais e estrangeiras, empregam os
estação remota de pilotagem, ou estação termos ARP ou aeromodelos, diferen-
de controle, e utilizada com propósitos não ciando-os apenas pela finalidade a que
recreativos. A ARP é considerada uma ae- se destinam.
ronave pelas organizações civis e militares, Os drones possuem numerosas aplica-
devendo observar os requisitos de certifica- bilidades. Porém, neste trabalho, analisa-
ção e homologação por elas estabelecidos, remos somente a sua ação na guerra naval,
à semelhança das aeronaves tripuladas, em especial nas tarefas de vigilância,
assim como todos os equipamentos ine- sensoriamento e reconhecimento e em
rentes à sua manutenção, controle, enlaces, apoio ao combate.
sensores e os seus operadores. Vale destacar que os drones militares
c) Aeronave Autônoma – quando, uma não precisam ser cadastrados na Anac.
vez programado o voo, não permite inter- A regulamentação brasileira segue a
venção externa durante a sua realização. linha de ação adotada pela Organização
Não é autorizada no Brasil. de Aviação Civil Internacional (Oaci).
Outras designações também conheci- Em decorrência da natureza dinâmica
das descrevem: da atividade com drone e dos avanços
– a Instrução Suplementar – IS no 21- tecnológicos que se processam em tal
002A da Anac, publicada em outubro de aparelho, revisões constantes da legisla-
2012, define Vant como aeronave proje- ção são sempre necessárias.
tada para operar sem piloto a bordo, que As demandas de frequências para
possua uma carga útil embarcada e que operação dos drones militares devem ser
não seja utilizada para fins meramente gerenciadas pelo Decea, em coordenação
recreativos (Anac, 2012); e com as demais Forças Armadas, o MD e
– a Portaria Normativa n o 606, do a Anatel. Isso é necessário para ordenar
Ministério da Defesa (MD), apresenta a a ocupação do espectro eletromagnético,
seguinte definição: a fim de evitar conflitos e interferências
Veículo aéreo não tripulado – Vant: que poderão vir até a comprometer a
veículo de pequeno porte, constituído com operação e a segurança de voo. Cuidados
material de difícil detecção, pilotado re- deverão ser observados para que sejam
motamente, usando asas fixas ou rotativas, evitadas interferências eletromagnéticas,
empregado para sobrevoar alvo ou área intencionais ou não.
de interesse, com o objetivo de fornecer, No que diz respeito à Anatel, ela certifi-
principalmente, informações por meio de ca todos os drones, sejam de uso profissio-
seu sistema de vigilância eletrônica. nal ou particular. Quanto às frequências,
Apesar de não estar descrito em ne- as autorizadas estão na faixa de 2,4 GHz
nhum desses documentos, o termo drone e 5,8 GHz, as mesmas autorizadas para
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grande renome tecnológico têm se dedi- treinamento serão essenciais para o bom
cado ao aprimoramento dos drones para desempenho do recurso. Nessa formação,
diversos empregos, de uma forma geral serão fundamentais não só o aprendizado
capitaneados para o uso militar, talvez por técnico e uma educação aeronáutica,
exigir mais de suas performances. como também a habilidade inata do novo
Com o aumento considerável de de- piloto, seguida de treinamento intensivo.
manda por esse novo recurso por diversos Além de todo o cuidado com a formação
segmentos, melhorias em seu desem- dos pilotos, programas de requalificações
penho irão ocorrer, principalmente nos deverão ser previstos e aplicados.
aspectos design, autonomia e capacidade Vale mencionar que algumas Orga-
de uso em diversas atividades e em seus nizações Militares (OM) da MB vêm
sistemas de controle. testando e aplicando drones mais simples,
A Marinha do Brasil vem, nos últimos classificados como de categorias civis e
anos, testando diversos drones, tanto para emprego dual (civil e militar) em tarefas
emprego embarcado como para emprego não relacionadas ao tema deste trabalho.
em terra pelos Fuzileiros Navais. São eles: RQ-11 Raven, RQ-20 Puma
Dois desses sistemas foram o Scan (versão marítima), Carcará II, IAI Mini
Eagle, da empresa Insitu-Boeing, e o Panther, Skylar KC e FT-100 Horus. Mais
Comcopter S-100, da empresa Shiebel- adiante trataremos desta informação.
-Selex. Diversas empresas têm se destacado
Esses novos recursos embutem em si na fabricação de drones, dentre elas Saab,
vários aspectos de inovação tecnológica, Ael, Shiebel, Cassidian, Insitu, Indra e
desenvolvimento de sistemas correlacio- Flight Technologies.
nados e novos conceitos operacionais, Para emprego embarcado, podemos
além do estabelecimento de uma estrutura considerar os seguintes drones:
organizacional adequada para conduzi-lo.
Considerando essa evolução tecnológi- Modelo Empresa
ca dos drones, necessidades operacionais
tornaram-se prementes, em especial a Hermes 900 Ael
qualificação necessária que um operador Pelicano Indra
deveria possuir.
Um outro elemento de importância diz Tanan 300 Cassidian
respeito aos diversos tipos de carga útil FT-X1 Flight Tech.
que podem ser transportados pelos drones,
incluindo-se a crescente sofisticação tec- Skeldar V-200M Saab
nológica dos armamentos e de sensores. Comcopter Shiebel
Esse item também influenciará na
Scan Eagle Insitu
qualificação do operador do drone. A
abrangência da atuação desses drones de
última geração influenciará significativa- Os novos drones possuem hoje excelen-
mente nos requisitos para a formação dos tes capacidades tecnológicas, tais como:
pilotos que os irão operar. Esse piloto fará opção para decolagem e/ou aterrissagem
parte do sistema que deverá solucionar os verticais automáticas; possibilidade de voo
problemas inerentes ao processo decisório autônomo com rota preestabelecida (piloto
durante o voo, e a sua formação e seu automático); sistema à prova de falhas
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se todos os meios navais com esse recurso, É importante destinar atenção especial
mesmo os de pequeno porte. à formação dos pilotos de drones, pois o
A expressiva evolução tecnológica que emprego desses recursos não deve ser
essas aeronaves têm sofrido permite-nos centrado no modelo que será utilizado,
afirmar que a sua operação a bordo dos e sim no homem que irá operá-lo. Para
navios é muito mais fácil e econômica. isso, a aquisição de qualquer modelo para
Uma coisa é certa: na MB, todos os meios emprego na MB deve considerar os custos
navais poderão usufruir das vantagens do de treinamento, apoio para a instalação
seu emprego; logo eles serão necessários do sistema a bordo, lista de aprovisiona-
em todos os Distritos Navais. Por outro mento inicial para o apoio operacional
lado, observa-se que o estabelecimento por, pelo menos, os dois primeiros anos
de novas doutrinas e novos procedi- e um contrato de suporte logístico para
mentos será necessário para a operação manutenção de nível 3, nos primeiros
embarcada, a fim de alcançar um nível de cinco anos de operação.
segurança adequado e aceitável em todos Os recursos humanos necessários para
os seus segmentos. Essas implementações compor as equipes de operação e de apoio
envolverão várias OM da MB, e diversas aos Sarp devem possuir qualificações
questões terão que ser respondidas a fim individuais específicas, estabelecidas em
de se estabelecer qual a estrutura adminis- função das diversas categorias de ARP e
trativa que irá absorvê-los, onde ficarão da concepção de seu emprego em cada
depositados, onde e como serão feitas as Força. Dessa forma, o pessoal que irá
manutenções rotineiras e quais serão elas operar e manter esses artefatos voadores
e quais os procedimentos de qualificação deve estar qualificado, habilitado e cer-
dos pilotos e do pessoal que irá mantê-los. tificado para cada tipo de ARP, além de
Como deverá ser o gerenciamento das dominar os critérios estabelecidos para o
diversas etapas de operação e logística voo no respectivo espaço aéreo. De uma
desse recurso? Qual empregar: estraté- forma geral, são necessários os seguintes
gico ou tático; asa fixa ou rotativa; um profissionais para a operação do sistema:
rotor ou vários rotores; decolagem livre piloto em comando; piloto auxiliar res-
ou com catapulta; estações de controle em ponsável pela operação dos sistemas de
terra ou embarcadas, entre outros fatores controle de voo: navegação, propulsão e
a serem considerados? comunicação up link e down link (controle
Esse processo deve ser concentrado em e telemetria); piloto qualificado para pou-
uma única OM, com os desdobramentos so e decolagem; comandante da missão;
necessários onde eles precisarão operar, operador de equipamentos eletrônicos;
ou deve-se criar núcleos distritais para as analista de imagem; analista de sinais; es-
necessidades locais? pecialista em eletrônica ou comunicações;
Qual a equipe necessária para a sua especialista em aviônica; especialista em
operação a bordo? Este será um novo mecânica de aeronave; coordenador de
quesito a ser considerado. Os navios terão solo e especialista em logística.
capacidade de acomodação para recebê- Sendo para emprego militar, as qua-
-los? O pessoal de bordo poderá ser qua- lificações técnicas do pessoal envolvido
lificado para operá-los? Enfim, talvez um e de seu quantitativo serão estabelecidas
excelente farol a ser seguido seria o estudo pela Força Singular em decorrência da
de como operam em outras Marinhas. missão a ser cumprida.
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gem, que, quando embarcada, deverá ter ou sensor embarcado na ARP. A escolha
a capacidade de operar com razoável grau dos sensores deve considerar as missões
de balanço lateral do navio, assim como e seus objetivos.
longitudinal (caturro); e com intensidade
e direção do vento, estado de mar e classe Sensores
de navio variáveis. Como se processará
o seu lançamento/decolagem e seu reco- No que se refere a sensores para Co-
lhimento/pouso, de modo manual e/ou mando, Controle e Comunicações, os
automático?; mesmos devem adequar-se ao peso limite
d) apresentação simultânea dos siste- para embarque na ARP em que serão
mas de voo do equipamento, do mapa de operados. Seriam eles:
missão e dos dados transmitidos pelos a) optrônicos – sistema eletro-óptico
sensores; (EO) e infravermelho (IV) com capacida-
e) sistema de indicação de pane (Caution/ de de reconfiguração que permita coletar,
Warnings) para a condição insegura de voo; armazenar e transmitir imagens termais e
f) sistema de proteção que evite, em óticas de alvos no mar e em terra;
caso de panes de energia, a perda de con- b) radar – dentre tantos, o radar de
trole (no-break); abertura sintética conferirá ao drone em-
g) modo de proteção tipo dead-recko- barcado capacidade de esclarecer alvos
ning, que permita realizar o recolhimento de superfície localizados até 20 km de
do drone, em caso de perda do sinal saté- distância de sua posição;
lite do sistema de navegação; c) AIS (Automatic Identification Sys-
h) capacidade de controlar e monitorar tem) – proverá a capacidade de identifica-
múltiplos drones, além de garantir sua ção automática de alvos colaborativos e a
separação de tráfego e circulação; sua integração ao sistema do navio base;
i) capacidade de passar/assumir o con- d) terminais – deverá ter a capacidade
trole de um drone para/de outra estação de apresentar as imagens captadas em,
de controle; pelo menos, três terminais remotos para
j) que o sistema possua os canais de emprego por frações de tropa ou equipes
comando e de link de dados que operem de operações especiais; e
nas faixas de frequências previstas pela e) Mage – os drones embarcados que
Anatel e que, adicionalmente, possuam sejam empregados para monitoramento do
proteção criptográfica e salto em fre- espectro eletromagnético devem possuir
quência capazes de resistir às tentativas equipamentos Mage que detectem sinais
de interferência externa; de radares ameaça.
k) dispor de recursos para gravação de
imagens ópticas ou termais obtidas por Sistema de Navegação
seus sensores; e
l) ter capacidade de ampliar o alcance Da mesma forma que os sensores, os
do link de dados utilizando um outro dro- recursos de navegação que as ARP deve-
ne como relay para funções C2 (comando rão possuir são:
e controle) e download e upload de dados. a) Transponder – Transponder/IFF
É importante destacar que os termos (Identification Friend or Foe) com ca-
carga útil ou payload, que serão aqui pacidade ADS-B (Automatic Dependent
empregados, vêm a ser todo equipamento Surveillance – Broadcast);
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Carcará II Panther
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unidade militar a utilizar drone de forma Como já mencionado, não existe uma
operacional, o Esquadrão Hórus, 1o/12o doutrina, com decorrentes procedimentos
Grupo de Aviação da FAB, com sede na operacionais estabelecidos, na MB para a
Base Aérea de Santa Maria (RS), que tem operação de ARP.
como responsabilidade a operação das No que tange à Anatel, cabe-lhe o
ARPs da Força. estabelecimento de faixas de frequências
Esse Esquadrão é a semente para o para operação de drones para fins milita-
aprendizado da operação dessas aeronaves res, uso civil no Brasil e a defesa dessas
e também a base para o desenvolvimento faixas em nível internacional. Para isso,
de uma doutrina, pois não basta ter a ae- esse órgão do governo vem tratando do
ronave, é preciso saber como empregá-la, assunto promovendo palestras, debates e
além de ter a capacidade de processamen- seminários, e criando grupos de trabalho,
to das informações por elas transmitidas. entre outras ações, a fim de levantar as
Nesse Esquadrão, somente aviadores perspectivas e necessidades de vários se-
podem ter o controle dessas aeronaves. tores governamentais ou privados no em-
Dispostos em duplas, eles devem possuir prego, comando e controle desse recurso.
experiência em voo, conhecimento das Além da regulamentação das faixas de
áreas de operação e familiaridade com radiofrequências para drones, outros assun-
as regras de controle do espaço aéreo, tos deverão ser resolvidos e esclarecidos,
assegurando alto grau de segurança aérea tais como: regulamentação internacional,
em sua operação. gerência do espaço aéreo, certificação e
Na MB, foi estabelecido um Pelotão homologação de equipamentos e licen-
para a operação de ARP no Batalhão de ciamento de estações que operam drones.
Controle Aerotático e de Defesa Antiaé- Aprofundando esses conhecimentos, se
rea, subordinado ao Comando da Força de tornará mais fácil e equânime a elaboração
Fuzileiros da Esquadra, com sede no Rio da regulamentação pertinente pelos órgãos
de Janeiro. No momento, opera as ARP governamentais envolvidos no assunto,
FT-100 Horus, a Falcão e a Phanton. Por tais como o Comando da Aeronáutica, a
falta de procedimento específico e por Anac e a Anatel, e será ampliada a defesa
serem de emprego dual (civil e militar), as desses interesses junto a organismos inter-
instruções observadas são as estabelecidas nacionais, como a União Internacional de
na Circular de Informação Aeronáutica – Comunicações (UIT), Organização Inter-
AIC 100-40, do Comando da Aeronáutica, nacional da Aviação Civil (Icao), Organi-
além de um Procedimento Operativo por zação Marítima Internacional (IMO) etc.
eles criado que trata da padronização de Apesar de o Paemb prever a aquisição
operação e do adestramento dos militares. de Sarp-E em proveito das operações
Além desse pelotão, navios de gru- dos meios navais e de fuzileiros navais,
pamentos de Patrulha Naval, com sede operando embarcado, e das especificações
ao longo do nosso litoral, também têm técnicas e documentações específicas
feito uso das capacidades de ARP em estarem prontas e aprovadas, não é pos-
proveito de operações de Patrulha Naval sível, no momento, a sua aquisição, em
que executam. As ARP empregadas têm decorrência das dificuldades financeiras
sido: RQ-11 Raven, RQ-20 Puma (versão hoje vividas pelo País.
marítima), Carcará II, IAI Mini Panther, O projeto prevê a aquisição de um
Skylar KC e FT-100 Horus. número razoável de Sarp-E que permita
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BIBLIOGRAFIA
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HORATIO LORDE NELSON, O HERÓI POLÊMICO,
SEGUNDO ALFRED THAYER MAHAN E SIR JOHN
KNOX LAUGHTON – Parte I
* Graduado em História (Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ). Mestre e doutor em História
Comparada (UFRJ) e pós-doutor em Ciência Política pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Polí-
ticas da Universidade de Lisboa. Coordenador e professor do Programa de Pós-Graduação em Estudos
Marítimos da Escola de Guerra Naval.
1 BORGES, Vavy Pacheco. “Grandeza e misérias da biografia”. In: PINSKY, Carla Bessanezi (org). Fontes
Históricas. São Paulo: Contexto, 2005, p. 209.
2 GAY, Peter. O Coração Desvelado. A experiência burguesa da Rainha Vitória a Freud. V.4. Trad: Sergio
Bath. São Paulo: Companhia das Letras, 1999, p. 171.
HORATIO LORDE NELSON, O HERÓI POLÊMICO, SEGUNDO ALFRED THAYER MAHAN E
SIR JOHN KNOX LAUGHTON – Parte I
a enaltecer virtudes burguesas e indicar como o tipo ideal de “herói” e líder militar,
caminhos que não deviam ser trilhados. Vi- sendo enaltecido com um belo monumen-
via-se no UK o chamado período vitoriano. to em sua memória no centro de Londres,
Por outro lado, biografias que dis- na Trafalgar Square. Sua influência no
cutissem heróis navais tinham grande imaginário popular britânico tem sido
interesse popular no mundo anglo-saxão, muito acentuada.
pois o poder marítimo foi o instrumento Nascido em plena Guerra dos Sete
que permitiu, por cerca de 300 anos, que Anos, cedo entrou para a RN, distinguin-
o Império Britânico dominasse as linhas do-se em combate até liderar as forças
de comunicação mundiais. Esse domínio navais britânicas no Mediterrâneo contra a
significou uma supremacia comercial França no início do século XIX. Vencedor
relevante. Segundo Paulo Visentini, “a de três grandes batalhas navais no período
supremacia naval também foi determi- napoleônico, Aboukir, Copenhagen e
nante para que a Inglaterra tenha sido Trafalgar, veio a falecer nesta última. Por
pioneira no desenvolvimento capitalista suas ações consideradas heroicas, teve um
industrial”.3 Assim, o mar foi fundamental funeral solene na Catedral de Saint Paul,
para os interesses britânicos. no qual compareceram o rei da Inglaterra
Por sua história naval passaram no- e toda a hierarquia real e governamental.
mes que suscitam o imaginário nacional Em torno de seu nome criou-se uma aura
britânico e a necessidade de disseminar de invencibilidade em combate e no
trabalhos biográficos sobre seus feitos. cumprimento do dever profissional. O rei
Francis Drake, Walter Raleigh, Robert Jorge III diria, logo após sua morte, que
Blake, George Monck, George Anson, “os transcendentes e heroicos serviços do
Edward Hawke e John Jervis foram re- Visconde Lorde Nelson permanecerão,
presentados e construídos como heróis e segundo penso, para sempre no imaginário
formadores da Marinha Real (RN) e da do meu povo”4. E assim permaneceram.
própria nacionalidade britânica no século Entretanto, a vida privada de Nelson
XIX, originando um grande número de estava longe de ser tão triunfal. Sua atitude
biografias. O propósito de tal construção perante o sexo feminino demonstrava uma
era claro e inquestionável: enaltecer fei- imaturidade sentimental que deixava per-
tos e ações de homens tornados heróis plexos seus mais chegados companheiros.
que “construíram” a nação que surgia O Capitão Fremantle, um de seus amigos
vigorosa a partir do mar. Entretanto, o mais próximos, disse, em 1795, o seguin-
nome mais reverenciado e biografado foi te: “Jantei com Nelson... Dolly a bordo
e tem sido até hoje o de Horatio Lorde [o objeto de desejo de Horatio, a cantora
Nelson (1758-1805). lírica Adelaide Correglia]... Ele [Nelson]
Oficial de Marinha com maior número se tornou ridículo com aquela senhora”5.
de biografias escritas no UK, Nelson tem Naquele ano, Nelson completaria oito
sido discutido e analisado nas escolas anos de casado com Frances Nisbet. O
de altos estudos navais de todo o mundo grande escândalo ocorreria poucos anos
3 VISENTINI, Paulo Fagundes; PEREIRA, Analúcia Danilevicz. História do Mundo Contemporâneo. Pe-
trópolis: Vozes, 2008, p.19.
4 HARRISON, James. The life of honorable Horatio Lord Viscount Nelson. V.1. London: Ranelagh Press,
1806, p. 2.
5 MORRISS, Roger. Nelson. The Life and Letters of a hero. London: Collins & Brown, 1996, p. 63.
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HORATIO LORDE NELSON, O HERÓI POLÊMICO, SEGUNDO ALFRED THAYER MAHAN E
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sendo que três deles foram ou biografias partir da história naval inglesa, as razões
completas ou ensaios biográficos de desse predomínio e, como consequência,
marinheiros ingleses. Em 1895 lançou formulou uma teoria de emprego de poder
no mercado editorial essa conhecida bio- marítimo muito discutida nas escolas de
grafia sobre Nelson, complementada por altos estudos navais ocidentais. Para ele, o
um ensaio sobre esse personagem naval mar era o centro das disputas entre estados
escrito em sequência. Em toda a sua obra, e, por conseguinte, quem o dominasse
Nelson aparece como o protótipo do herói prevaleceria no difícil e sempre tumul-
nacional, responsável pela derrota naval tuado ambiente internacional. O nome
de Napoleão, impossibilitando o desem- de Mahan está intimamente ligado ao da
barque francês no UK. Escola de Guerra Naval norte-americana,
Além dessa visão heroica de seu per- onde lecionou Estratégia e História Naval
sonagem, Laughton foi o grande respon- por muitos anos, vindo a ser um de seus
sável pelo estabelecimento da profissão primeiros professores. Apesar de não ser
de historiador naval no UK, tradição que historiador acadêmico como Laughton,
perdura até hoje no King´s College, com Mahan escreveu cerca de 20 livros, a
pesquisadores do quilate de Andrew Lam- maioria abordando assuntos relativos a
bert e Geoffrey Till. Laughton, apesar de História, Estratégia, Política e Relações
acreditar em Deus, não era um religioso; Internacionais. Em razão de suas limita-
no entanto, era um conservador típico ções teórico-metodológicas, Mahan relu-
vitoriano, espelhando uma característica tava em pesquisar documentação primária
típica de sua classe social. arquivística, preferindo, em vez disso,
Um fato interessante era que Laughton utilizar obras prontas e, a partir delas,
utilizava amplamente o método com- formular conceitos estratégicos navais.
parativo em suas pesquisas; no entanto, Uma dessas formulações foi o que viria a
acreditava que o historiador não deveria ser o Poder Marítimo (Sea Power).
conjeturar o futuro, tarefa que imputava Mahan foi criado em uma profunda fé
aos políticos. Para ele o passado e o pre- religiosa protestante, e seu modo de proce-
sente eram os instrumentos de trabalho do der era conservador e moralista, refletindo
historiador profissional. Ele conseguiu, essa postura diretamente nos seus textos.
ainda, disponibilizar e organizar diversos No que diz respeito a sua visão de poder,
arquivos históricos que estariam perdidos ele indicou que existiam seis elementos
ou mesmo indisponíveis para pesquisa. fundamentais que compunham o poder
Por sua atuação marcante, Laughton tem marítimo: a posição geográfica, a con-
sido considerado por diversos historiado- formação física, o tamanho do território,
res ingleses como o pai da historiografia o tamanho e caráter da população e, por
naval moderna.7 fim, o caráter do governo. No elemento
O oficial da Marinha norte-america- caráter da população, Mahan afirmou que
na Alfred Thayer Mahan (1840-1914) a propensão natural para o mar constituía
lançou, em 1890, seu clássico livro The um importante fator para o fortalecimento
Influence of Sea Power upon History desse poder marítimo. Nesse elemento,
1660-17838, no qual procurou explicar, a Mahan citava frequentemente Horatio
7 LAMBERT, Andrew. The Foudations of naval history. London: Chatham, 1998, p. 61.
8 MAHAN, Alfred Thayer. The Influence of Sea Power upon History 1660-1783. Boston: Little Brown, 1890.
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HORATIO LORDE NELSON, O HERÓI POLÊMICO, SEGUNDO ALFRED THAYER MAHAN E
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9 MAHAN, Alfred Thayer. The Life of Nelson:the embodiment of the sea power of Great Britain. 2v. Boston:
Little Brown, 1897.
10 Embodiment foi traduzido como corporificação.
11 SUMIDA, Jon. Inventing Grand Strategy and teaching command: the classic works of Alfred Thayer
Mahan reconsidered. Washington: John Hopkins University Press, 1997, p. xi.
12 LORIGA, Sabina. “A biografia como problema”. In: REVEL, J. Jogos de escalas: a experiência da micro-
-análise. Rio de Janeiro: FGV, 1998, p. 233.
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escrever uma nova biografia de Nelson, a história”.13 Ele concluiu sua ideia sobre
ou mesmo analisar pontos obscuros de sua a importância da Psicologia para o histo-
trajetória, mas sim discutir as percepções riador afirmando que “o historiador pro-
que Laughton e Mahan tiveram de seu “he- fissional tem sido sempre um psicólogo...
rói” e verificar se percebiam as qualidades ele opera com uma teoria sobre a natureza
e os defeitos de Nelson da mesma maneira, humana... atribui motivos, estuda paixões,
apesar de provirem de países distintos, de analisa irracionalidades... descobre causas
meios sociais desiguais, de percepções de e sua descoberta geralmente inclui os atos
vida e de profissões diferentes. mentais”.14 Motivos, paixões, irraciona-
Esta análise complementará, de modo lidades e causas são o que se procurará
amplo, o papel dos dois autores como analisar nos textos de Laughton e Mahan.
historiadores do poder marítimo, demons- Dessa forma, o objetivo geral desta
trando a importância dessas biografias série de artigos será comparar as biogra-
para o estudo da História Naval. Qual fias de Horatio Lorde Nelson escritas por
seria o papel do exemplo pessoal heroico Sir John Knox Laughton e Alfred Thayer
nessa afirmação do predomínio naval? Mahan, de modo a apontar similaridades e
Como esse exemplo influenciou esses diferenças de percepção utilizando o méto-
biógrafos? Quais as características de lide- do comparativo, a fim de demonstrar se o
rança de Nelson apontadas por Laughton que Laughton e Mahan eram e acreditavam
e Mahan? Como os biógrafos encararam interferiu no modo como eles perceberam
as máculas reconhecidas de Nelson? De e escreveram sobre Lorde Nelson.
que maneira essas biografias ajudaram a A vida de Horatio Lorde Nelson sus-
reafirmar a imagem de Nelson como “mo- citou interesse dos pesquisadores desde a
delo de herói” para o UK? Seria Nelson sua morte, em 1805. Sem considerar os
um personagem efetivamente polêmico? manuscritos e os documentos arquivísti-
Pouco se tem discutido acerca das cos publicados, foram escritos, na forma
biografias escritas por Laughton e Mahan. de poemas, elogios e panfletos diversos,
Mesmo fora do Brasil, poucos historia- cerca de 41 trabalhos no século XIX.
dores, notadamente norte-americanos e Foram também publicadas 31 biografias
ingleses, chegaram a pesquisar especifi- completas sobre ele naquele século,
camente essas biografias. Trabalhos sobre segundo levantamento documental e bio-
História Naval, assim como pesquisas gráfico de Leonard W. Cowie15.
específicas sobre heróis, como percebidos A primeira biografia relevante de Lor-
pela historiografia, ainda são raros no Bra- de Nelson foi escrita em 1802, quando ele
sil, preteridos por assuntos mais atrativos ainda vivia. O autor foi John Charnock16,
aos historiadores nacionais. que muito o admirava, que se dedicou ao
É sempre oportuno mencionar o histo- trabalho logo após a Batalha de Copenha-
riador Peter Gay, que afirmou que “toda a gen, tendo inclusive devotado mais de um
história é, em alguma medida, psico-his- terço do texto descrevendo essa batalha e
tória, e a psico-história não pode ser toda suas preliminares. Charnock foi um vo-
13 GAY, Peter. Freud para historiadores. 2.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1989, p. 13.
14 Ibidem, p. 25.
15 COWIE, Leonard W. Lord Nelson 1758-1805, a bibliography. London: Meckler, 1990.
16 CHARNOCK, John: Biographical memoirs of Lord Viscount Nelson, with observations, critical and
explanatory. H.D. Symonds & J. Hatchard, London, 1802.
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HORATIO LORDE NELSON, O HERÓI POLÊMICO, SEGUNDO ALFRED THAYER MAHAN E
SIR JOHN KNOX LAUGHTON – Parte I
17 HARRISON, The Life of the Right Honourable Horatio Lord Viscount Nelson. 2v. London: Ranelagh
Press, 1806.
18 SOUTHEY, Robert. The Life of Nelson. London: Cassell and Co, 1909.
19 NICOLAS, Harris Nicholas. The despatches and letters of vice-admiral Lord Viscount Nelson. 7v. London:
Henry Colburn, 1844-1846.
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HORATIO LORDE NELSON, O HERÓI POLÊMICO, SEGUNDO ALFRED THAYER MAHAN E
SIR JOHN KNOX LAUGHTON – Parte I
A quinta biografia relevante escrita esse herói, que era uma referência para o
no século XIX foi a de Sir John Knox autor. Tive, junto com o Capitão de Mar
Laughton, em 1895, que servirá de re- e Guerra William de Sousa Moreira, meu
ferência para este estudo comparativo20. amigo e colega de turma da Escola Naval,
Essa obra deve ser lida em conjunto com a grata satisfação de trabalhar na revisão
outro trabalho de Laughton, de 1899, que desse livro, a pedido do próprio Almiran-
levou o nome de The Nelson Memorial: te. O destino, como sempre implacável,
Nelson and his companions in arms21. As nos surpreendeu com o falecimento de
duas obras devem ser lidas conjuntamen- nosso estimado mestre e amigo antes de
te, pois, além de serem complementares, que ele visse seu livro lançado no mercado
são referências para quem estuda a vida editorial nacional. Uma perda até hoje
de Nelson, apresentando o resultado da sentida por mim e pelo William.
investigação conduzida por Laughton, que A questão central básica norteadora
primou por seu rigor metodológico, e uma desta série é: De que maneira Sir John
pesquisa arquivística de mérito. Knox Laughton e Alfred Thayer Mahan
A sexta biografia escrita no século descreveram o herói Nelson em suas
XIX que merece registro foi a de autoria biografias? Seriam as percepções idên-
de Alfred Thayer Mahan, que será a obra ticas? Quais as diferenças entre essas
de referência para a comparação com o percepções? Presume-se que ambos per-
trabalho de Laughton. Em dois volumes, ceberam Nelson como militar de formas
recebeu o título de The Life of Nelson: semelhantes, variando em intensidade e
the embodiment of the sea power of Great duração textual; no entanto, na discussão
Britain. Mahan, nessa biografia, utilizou de sua vida privada, as visões parecem ter
extensivamente documentação primária, sido distintas. Laughton, por ser vitoriano
em especial as cartas de Nelson. A rele- e pouco dado a grandes paixões, procurou
vância desse trabalho reside em seu nível criticar moderadamente as “escapadas”
de detalhamento e na importância que amorosas de seu herói, em especial seu
Mahan teve e tem na estratégia naval. relacionamento com Lady Hamilton,
Sua visão de Nelson o correlaciona con- que resultou em uma filha adulterina,
tinuamente com a concepção estratégica procurando mencionar certos aspectos
naval por ele formulada, sendo, assim, um pouco lisonjeiros da conduta de Nelson de
trabalho original e criativo. modo superficial, ou simplesmente nada
Embora não existam biografias de mencionando. Mahan, por outro lado, por
Nelson de autores brasileiros no século ser um admirador explícito de Nelson,
XIX, é importante mencionar que o Al- buscou enaltecer com maior intensidade
mirante Armando Vidigal escreveu no os aspectos militares heroicos e geniais
Brasil, em 2009, uma biografia sobre esse de Horatio Nelson, ao mesmo tempo em
personagem, publicada postumamente em que procurou criticar intensamente as
2011. Trabalho excepcional de síntese e “escapadas” de seu herói, em razão de sua
reflexão, essa obra do Almirante Vidigal religiosidade extremada e seu conserva-
foi a primeira a ser escrita no Brasil sobre dorismo social exagerado.
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HORATIO LORDE NELSON, O HERÓI POLÊMICO, SEGUNDO ALFRED THAYER MAHAN E
SIR JOHN KNOX LAUGHTON – Parte I
22 Idem.
23 LAUGHTON, John Knox. The Nelson Memorial. op. cit. p. 344.
24 LAUGHTON, John Knox. The Nelson Memorial.op. cit. p. 3.
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HORATIO LORDE NELSON, O HERÓI POLÊMICO, SEGUNDO ALFRED THAYER MAHAN E
SIR JOHN KNOX LAUGHTON – Parte I
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HORATIO LORDE NELSON, O HERÓI POLÊMICO, SEGUNDO ALFRED THAYER MAHAN E
SIR JOHN KNOX LAUGHTON – Parte I
“misturada com fortaleza e fraqueza, com no seu texto e isso não foi escondido
grandes erros e virtudes, porém com um por ele, demonstrando claramente que
charme por todos percebidos”27, Nelson a imparcialidade, embora procurada por
era seu modelo. Pode-se perceber clara- qualquer historiador, é de difícil controle.
mente sua admiração explícita pelo seu Como qualquer ser humano, o historiador
biografado. Laughton foi mais contido é um produto de seu tempo e de suas
que Mahan, embora o admirasse ao ex- experiências de vida.
tremo. Disse Mahan que “raramente um Seja qual for a interpretação mais
homem foi mais favorecido no seu tempo conveniente, se a de Laughton ou a de
de existência e nunca tão afortunado no Mahan, deixo aos leitores a decisão de
momento da morte”28 como Nelson. Seu qual explicação será a mais conveniente
modo de pensar teve reflexos diretos na e pertinente. Como sempre, os heróis
descrição, em especial na sua análise da são referências nem sempre compreensí-
conduta de Nelson em relação a Emma. veis. Ao final da série, talvez os leitores
Suas críticas sobre essa conduta foram tenham uma compreensão de quem era
mais contundentes que as de Laughton, esse homem que continua sendo um fa-
fruto de sua religiosidade extremada que rol para todos os marinheiros do mundo.
pouco perdoava desvios de conduta. E Talvez, com estes artigos, o leitor possa
essa parece ser uma grande diferença compreender que nem sempre os heróis
em relação à percepção que Laughton são seres imaculados sem defeitos. Muito
teve de seu herói, pelo menos naquilo pelo contrário, são personagens de carne
que foi escrito. Por certo, por provir de e osso, cometendo erros e acertos, mas,
uma outra cultura, a norte-americana, no entanto, com atitudes que deixaram
pouco influenciada pelo modo britânico marcas em suas sociedades, dignas de
vitoriano de ser, Mahan não economizou reconhecimento. Ao final da série, a de-
adjetivos para classificar certos atos de cisão será do leitor.
Nelson e de Emma. Sua religiosidade e Na parte 2, teremos o início da trajetó-
seu moralismo tiveram maior impacto ria de Horatio Lorde Nelson.
27 Ibidem, p. 3.
28 Ibidem, p. 2.
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O COMANDANTE-ALUNO NA ESCOLA NAVAL
* Serviu na Amazônia por cerca de sete anos: NPaFlu Amapá (imediato); Comando da Flotilha do
Amazonas (assistente); Estação Naval do Rio Negro (chefe do Depto Industrial); Delegado Fluvial
de Tabatinga; Comando do 8o DN (chefe do Estado-Maior) e Comandante do Grupamento Naval do
Norte. Colaborador costumeiro da RMB.
O COMANDANTE-ALUNO NA ESCOLA NAVAL
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O COMANDANTE-ALUNO NA ESCOLA NAVAL
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O COMANDANTE-ALUNO NA ESCOLA NAVAL
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BATALHA NAVAL DO RIACHUELO, PONTO
DE INFLEXÃO NA ESTRUTURAÇÃO DAS
FRONTEIRAS NA BACIA PLATINA*
SUMÁRIO
Introdução
A Guerra do Paraguai
Considerações finais
* Título original do artigo: "Batalha Naval do Riachuelo, um ponto de inflexão na estruturação das fronteiras
dos países da Bacia Platina durante a Guerra do Paraguai".
** Graduado em História-Licenciatura pela Universidade Estácio de Sá. Desempenha a função de coordenador
de Segurança do Ministério da Defesa.
*** Graduada em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1999), graduação em licenciatura pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro (2001) e mestrado em História Social pela Universidade Federal
do Rio de Janeiro (2003). É professora da Universidade Estácio de Sá.
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DAS FRONTEIRAS NA BACIA PLATINA
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BATALHA NAVAL DO RIACHUELO, PONTO DE INFLEXÃO NA ESTRUTURAÇÃO
DAS FRONTEIRAS NA BACIA PLATINA
de Carlos Antonio López, que deu conti- que teve sua independência declarada em
nuidade à política econômica nacionalista 1813 em decorrência dos movimentos
e à ditadura lopista; no entanto, passou a emancipatórios das províncias do Vice-
intervir na livre navegação da Bacia do -Reino do Rio da Prata. A partir de então
Prata, mudando drasticamente a política apareceram duas facções partidárias: os
fluvial assegurada por governos anterio- unitaristas e os federalistas, que tinham
res, e aproximou-se politicamente, no ideias divergentes quanto às relações po-
Uruguai, do Partido Blanco, aumentando líticas e comerciais do Estado. Isso gerou
a instabilidade regional e desagradando os intensos conflitos regionais e guerras
governos da Argentina e do Brasil. civis na Argentina.
Temeroso com os planos argentinos de Os unitaristas ambicionavam um poder
reunificar o Vice-Reino do Rio da Prata e central forte sob o comando de Buenos
impelido pelo sonho imperialista expan- Aires, favorecendo os comerciantes
sionista de formar o Grande Paraguai, portenhos, e os federalistas defendiam a
Solano López mandou construir fábricas autonomia das províncias, beneficiando
de armamentos e pólvora, impulsionando especialmente a oligarquia fazendeira
a indústria bélica. Ergueu fortalezas, im- do interior. Tal divisão política interna
portou navios, reaparelhou a Marinha e impedia a formação de uma nação forte
instituiu o serviço militar obrigatório, pelo que pudesse rivalizar na América do Sul.
qual organizou um exército profissional. Em 1816 foi realizado o Congresso de
No ano da guerra, o Paraguai contava Tucumán, pelo meio do qual estabeleceu-
com um efetivo no Exército de aproxima- -se a independência total em relação
damente 77 mil homens para uma popula- à Espanha e que fez surgir um regime
ção de 400 mil habitantes. Sua Marinha era republicano com o poder centralizado em
composta de uma esquadra com 32 navios, Buenos Aires. Compareceram ao congres-
incluindo os que foram apresados do Brasil so representantes das diversas províncias
e da Argentina. Desses, 24 eram navios argentinas, exceto das províncias de Entre
de propulsão mista a vapor e vela e oito Rios, Santa Fé e Corrientes, que, conse-
eram navios exclusivamente a vela, sendo quentemente, não reconheceram a centrali-
o único navio de guerra o Taquari – todos zação da autoridade na província portenha.
eram adequados para navegar nos rios. Decorrente disso, Buenos Aires, governada
Anos antes da guerra, os paraguaios por Juan Manoel de Rosas, político de
desenvolveram secretamente, com tecno- cunho nacionalista, começou a realizar
logia nacional, um tipo de chata, que era campanhas militares contra os índios do
uma embarcação de pequeno porte e fundo Rio Colorado para ampliar as fronteiras
chato, armada com canhão de seis polega- internas da Argentina. Dessa forma, sub-
das de calibre. Por não terem qualquer tipo meteu várias províncias argentinas ao seu
de propulsão, essas chatas eram rebocadas governo, exceto Corrientes e Entre Rios.
pelos navios para os locais das batalhas. Rosas impôs a nacionalização das
águas dos rios da bacia platina quando es-
Argentina – Geopolítica, Economia e tes passavam em território argentino; ga-
Força Militar rantiu a segurança da navegação nos rios
Uruguai e Paraná, fortalecendo a política
Em 1810 foi instaurada a Junta de Bue- de controle e proteção dessas hidrovias e
nos Aires, embrião do Estado argentino, de seus vários portos, e, assim, fomentou
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BATALHA NAVAL DO RIACHUELO, PONTO DE INFLEXÃO NA ESTRUTURAÇÃO
DAS FRONTEIRAS NA BACIA PLATINA
Solano López, o Paraguai estava com a a parte oeste da província do Rio Grande
sua máxima extensão territorial conquis- do Sul, englobando as localidades de São
tada durante o conflito. O contra-ataque Borja, Itaqui e Uruguaiana; e a porção leste
cessou a expansão imperialista do ditador. da Argentina, onde localizava-se a provín-
A figura 1 é o recorte da região platina cia de Corrientes, a região de Missiones
e demostra toda a extensão territorial e o encontro dos rios Paraná e Paraguai,
invadida por Solano López. Estavam sob local em que ocorreu a Batalha Naval do
seu domínio a província brasileira de Mato Riachuelo. A figura mostra também que,
Grosso, contemplando as localidades de após o final da guerra, as fronteiras dos
Corumbá, Albuquerque, Forte Coimbra, países foram definidas utilizando como
Coxim, Miranda, Nioaque e Dourados; marco delimitador o curso natural dos rios.
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BATALHA NAVAL DO RIACHUELO, PONTO DE INFLEXÃO NA ESTRUTURAÇÃO
DAS FRONTEIRAS NA BACIA PLATINA
Barroso tomou, então, a dianteira com a “Sustentar o fogo que a vitória é nossa”,
Fragata Amazonas e avançou, sendo se- elevando o moral da tropa. Percebendo
guido pelos outros navios, e completou a que haviam perdido a batalha e com seu
passagem do Riachuelo sob intensos fogos comandante morto, os paraguaios bateram
dos canhões dos navios e da artilharia em retirada para a fortaleza de Humaitá
inimiga de terra. O saldo da batalha até com quatro navios avariados, os vapores
aquele momento era negativo para o Impé- Taquari, Igurei, Pirabe e Ipor, os quais não
rio, as corvetas Jequitinhonha e Belmonte tiveram mais relevância durante a guerra.
estavam encalhadas sob intenso fogo e a Ao início do crepúsculo vespertino,
Parnaíba foi tomada pelo inimigo. a Marinha Imperial garantiu a primeira
A desvantagem inicial do combate grande vitória dos Aliados na Guerra do
começou a ser revertida por volta das 12 Paraguai, pois, aniquilando a força naval
horas, quando o Almirante Barroso buscou oponente, passou a controlar os rios da
um ponto em que fosse possível fazer a ma- Bacia do Prata. Dessa forma, bloqueou
nobra de retorno com seus seis navios para o fluxo logístico de guerra paraguaio por
seguir em direção ao Riachuelo. A Fragata aquela bacia e, assim, impediu que os ar-
Amazonas era de fácil manobrabilidade, mamentos e os navios encouraçados que
mas não tinha esporão, nem a proa era Solano López encomendara na Europa an-
reforçada para ser empregada como aríete; tes do início da Guerra da Tríplice Aliança
mesmo assim, Barroso decidiu repenti- passassem e permitiu que os Aliados usas-
namente abalroar os navios paraguaios. sem os rios livremente para transportar e
Apesar do improviso, a tática deu certo e abastecer suas tropas em combate.
colocou quase metade da força paraguaia No final da Batalha Naval do Riachue-
fora de ação. Aproveitando o êxito do lo, houve baixas de ambos os lados, sendo
combate, Barroso deu por bandeiras o sinal que no derrotado foram 351 mortos e 567
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BATALHA NAVAL DO RIACHUELO, PONTO DE INFLEXÃO NA ESTRUTURAÇÃO
DAS FRONTEIRAS NA BACIA PLATINA
feridos e quatro navios afundados, ficando brasileiro, que, por ter interesse na livre
sua Marinha totalmente inoperante, e no navegação da bacia platina, procurava
vencedor foram 104 mortos, 142 feridos, manter a hegemonia regional. Devido aos
20 desaparecidos e um navio afundado. conflitos de interesses nessa região quanto
Embora a guerra tenha se prolongado às fronteiras, à economia e à navegação
até 1870, a vitória da Marinha Imperial nos rios, havia uma constante instabilida-
na Batalha Naval do Riachuelo foi deter- de política que levava a conflitos militares.
minante para a reconquista das províncias A principal característica da geografia
invadidas e para o avanço dos aliados so- regional era o estuário da Bacia do Rio
bre o território inimigo, pois possibilitou da Prata, formada pelos rios Paraná, Pa-
aos países da Tríplice Aliança a adoção de raguai e Uruguai. As relações comerciais
postura ofensiva nos combates, acuando davam-se por meio de suas hidrovias,
Solano López em seu próprio território e portanto controlar a navegação nesses
fazendo com que sua estratégia passasse rios era fundamental para o crescimento
a ser defensiva e de sucessivas retiradas econômico do País e para a demonstração
até a sua morte. de poder regional.
A figura 2 é o recorte espacial do en- O Rio Paraná, que nasce no Brasil e
contro das águas do Arroio Riachuelo com passa pelo Paraguai e pela Argentina,
o Rio Paraná. A ilustração mostra o local após o término da guerra passou a definir
do início da batalha, onde a Força Naval a fronteira entre o Paraguai e o Brasil, bem
brasileira, comandada pelo Almirante como entre o Paraguai e a Argentina. Com
Barroso, encontrava-se fundeada quan- a extensão de aproximadamente 4.880
do foi atacada pela esquadra paraguaia quilômetros, é o segundo maior rio da
comandada pelo Capitão de Navio Pedro América do Sul.
Ignacio Meza, e indica a localização dos O Rio Uruguai nasce no Brasil e passa
canhões de terra do Exército paraguaio, pela Argentina e pelo Uruguai. Após o
que a Força Naval enfrentou para vencer a término da guerra, passou a estabelecer a
batalha. Retrata também a sequência cro- fronteira entre a Argentina e o Brasil e entre
nológica dos combates desde de o início a Argentina e o Uruguai, tendo aproxima-
do deslocamento da Marinha paraguaia damente 1.770 quilômetros de extensão.
até vitória da Marinha Imperial brasileira. O Rio Paraguai nasce no Brasil e passa
por mais três países platinos: Paraguai,
CONSIDERAÇÕES FINAIS Argentina e Bolívia. Após o término da
guerra passou a limitar a fronteira entre o
As formações dos países da Região Paraguai e o Brasil e entre o Paraguai e a
Platina foram consequências dos con- Argentina. Ele é um importante afluente
turbados processos emancipatórios das do Rio Paraná. Tem extensão de 2.620
províncias que compunham o Vice-Reino quilômetros, aproximadamente.
do Rio da Prata, iniciados em 1810 por Percebe-se, ao longo da explanação
ocasião da formação da Junta de Buenos deste artigo, que a batalha aqui relatada
Aires. Decorrente disso, apareceram li- foi de suma importância para a expansão
deranças regionais e facções partidárias fluvial brasileira no que diz respeito prin-
que rivalizavam o poder nas recentes cipalmente à livre navegação pela região
repúblicas do Paraguai, da Argentina e do Prata. Para o Uruguai e a Argentina,
do Uruguai. Além disso, havia o Império foi a garantia da territorialidade, bem
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BATALHA NAVAL DO RIACHUELO, PONTO DE INFLEXÃO NA ESTRUTURAÇÃO
DAS FRONTEIRAS NA BACIA PLATINA
como de maior fomento da economia por brasileiro na Bacia Platina era a livre
meio do transporte fluvial. navegação, na atualidade nosso interesse
Faz-se necessário dizer que em uma é sinalizado na utilização racional dos
guerra todos perdem, mas, para a época, recursos hídricos. Por essa razão, a di-
esta era a única forma de deter os avanços plomacia brasileira ainda segue a política
imperialistas de um ditador tirano. Ainda externa do Império português, mantendo
hoje a História nos mostra que o compor- a livre navegação no Rio da Prata e im-
tamento humano ainda traz resquícios de pedindo a consolidação de uma potência
tempos remotos, buscando resolver confli- capaz de ameaçar a segurança e os inte-
tos por meio da violência e da intimidação. resses do País na região.
O Paraguai, país agressor e também Os interesses e conflitos resultantes
perdedor no conflito aqui descrito, até os da disputa pela liberdade de navegação
dias de hoje apresenta uma economia de- na Bacia do Rio da Prata foram substitu-
vastada e desorganizada, pautada em um ídos no século XX, pelo uso dos recursos
comércio desregrado com um sistema de hídricos, essencial para uma política que
trabalhista frágil que não protege a popu- visa à produção de energia elétrica e ao
lação. Há indícios de que, após a guerra, crescimento econômico. O alto potencial
nunca mais nenhum governo conseguiu hidrelétrico dos rios da região e a neces-
reestabelecer a economia do País. sidade de impulsionar o desenvolvimento
É importante ressaltar que, para o nacional fizeram com que os países con-
Brasil, a vitória da Marinha Imperial na vergissem suas atenções para o aprovei-
Batalha Naval do Riachuelo, que levou à tamento das águas, com a finalidade de
vitória dos países Aliados na Guerra do impulsionar a industrialização.
Paraguai, trouxe os benefícios necessários Após os anos de disputas pelo controle
à época, porque nossos principais interes- da Bacia do Prata por meio da guerra, os
ses eram a garantia da livre navegação na países da região perceberam, a partir da
Bacia Platina para manter a comunicação década de 1960, que a cooperação para
com o Centro-Oeste brasileiro, a manu- o uso compartilhado dos recursos dessa
tenção da integridade territorial e a defesa bacia é estrutura-base para o crescimento
dos direitos dos cidadãos brasileiros que socioeconômico mútuo. Nesse sentido,
habitavam na região. a primeira aproximação dos países nesta
A Bacia do Prata é a segunda maior direção ocorreu na reunião dos ministros
bacia hidrográfica da América do Sul e das Relações Exteriores dos países da
está entre as cinco maiores do mundo. Ela Bacia do Prata em fevereiro de 1967, em
é compartilhada por cinco países: Brasil, Buenos Aires, e a segunda ocorreu na reu-
parte em que se encontram as cabeceiras nião ordinária dos ministros das Relações
dos principais rios formadores da bacia; Exteriores da Bacia do Prata, realizada em
Argentina, área em se situa a foz do Rio Santa Cruz de la Sierra, em maio de 1968.
da Prata; Paraguai, cuja território está Os eventos citados destacam-se por
inserido em sua totalidade dentro da área terem traçado os objetivos e as ações
de drenagem da bacia; Bolívia e Uruguai. necessárias para fortalecer a cooperação
Pode-se afirmar que, historicamente entre os países, com a criação de um órgão
falando, a vitória na Guerra do Paraguai intergovernamental regional, o Comitê
trouxe benefícios incalculáveis para o Intergovernamental Coordenador da
Brasil, pois se àquela época o interesse Bacia do Prata, que abriu caminho para a
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BATALHA NAVAL DO RIACHUELO, PONTO DE INFLEXÃO NA ESTRUTURAÇÃO
DAS FRONTEIRAS NA BACIA PLATINA
REFERÊNCIAS
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a República do Paraguai. Rio de Janeiro: Serviço de Documentação da Marinha, 2007.
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Bacia do Prata: da colonização à Guerra da Tríplice Aliança. 2a ed. São Paulo: Ensaio;
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BITTENCOURT, Luiz Edmundo Brígido. A Marinha Imperial na Guerra do Paraguai não foi só
Riachuelo: um breve relato sobre o épico da Guerra Naval. Rio de Janeiro: Nossa Marinha, 2011.
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Paraguai. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
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MAIA, João do Prado. A Marinha de Guerra do Brasil na Colônia e no Império: tentativa de
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(1808-1912). São Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista: Moderna, 1997.
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nível em: <http://euahistoriaeaescola.blogspot.com/2015/10/>. Acessado em 11/10/2018.
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POTABILIDADE DA ÁGUA EM COMISSÃO DE
LONGA DURAÇÃO:
a experiência no Navio-Escola Brasil
SUMÁRIO
Introdução
Plano de segurança da água
Resultados
Considerações finais
demonstra que de 1970 a 2000 houve 51 – os fatores de riscos devem ser iden-
incidentes associados à legionelose em tificados;
navios, resultando em 200 casos, sendo – mensurações adequadas devem ser
que dez desses foram fatais. incluídas, bem como seus respectivos
Existem poucos relatos, na literatura controles;
científica, de casos de doenças causadas – a monitorização dos procedimentos
pelo consumo de água contaminada com operacionais deve ser estabelecida;
patógenos por tripulantes de navios de – os limites operacionais devem ser
guerra. No âmbito militar-naval, a possi- bem definidos; e
bilidade de contaminação microbiológica – as ações corretivas devem ser iden-
ou química da água armazenada/produ- tificadas.
zida para consumo da tripulação poderá Na Marinha do Brasil (MB), os profis-
acarretar graves problemas de saúde em sionais responsáveis pela implementação
seus militares, prejudicando ou impedindo desse plano nos navios da Esquadra são
o sucesso da missão. os oficiais farmacêuticos, que, desde
A potabilidade da água é uma preocu- 1997, estão legalmente habilitados para
pação mundial, e a garantia deste quesito realizar esses procedimentos por meio da
evita riscos de epidemias. Resolução no 463 do Conselho Federal
A OMS, em seu documento Guidelines de Farmácia.
for Drinking-Water Quality, enfatiza o No caso do Navio-Escola Brasil, foi
controle da qualidade da água com relação estabelecido que o controle da potabili-
a patógenos, sendo a desinfecção com dade da água seria realizado por meio de
cloro altamente recomendada, devido à testes microbiológicos e mensurações de
simplicidade do método, à eficiência na parâmetros físico-químicos. Na XXXI
remoção de vírus e bactérias e ao custo VIGM, os parâmetros a serem analisados
financeiro envolvido. foram definidos a partir da experiência do
O presente artigo tem o propósito oficial farmacêutico, sempre tendo como
de transmitir o conhecimento adquirido base as diversas publicações referentes
durante a XXXI Viagem de Instrução ao assunto, a saber: Guia Sanitário para
de Guardas-Marinha (VIGM) no que Navios de Cruzeiro (Agência Nacional
se refere à garantia da potabilidade da de Vigilância Sanitária – Anvisa), Reso-
água em um navio da Marinha do Brasil lução da Diretoria Colegiada no 91/2016
e propor medidas para garantia da po- (Anvisa) e Guidelines for Drinking-Water
tabilidade da água de bordo no que se Quality, da OMS.
refere, principalmente, aos requisitos A escolha dos parâmetros físico-quí-
microbiológicos. micos foi realizada a partir da capacidade
de predizer possíveis contaminações por
PLANO DE SEGURANÇA DA dejetos de esgotos ou sanitários, visto que
ÁGUA o tempo para abastecimento com água nos
portos era limitado (de dois a quatro dias),
Com o intuito de garantir a qualidade portanto era crucial que obtivéssemos
da água ofertada a bordo, faz-se necessá- informações preliminares da qualidade
rio elaborar e implementar um conjunto da água recebida. Os testes microbioló-
de medidas que vão além dos testes de gicos, embora mais precisos, levam de
qualidade da água, a saber: 15 a 24 horas para que seus resultados
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POTABILIDADE DA ÁGUA EM COMISSÃO DE LONGA DURAÇÃO:
a experiência no Navio-Escola Brasil
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POTABILIDADE DA ÁGUA EM COMISSÃO DE LONGA DURAÇÃO:
a experiência no Navio-Escola Brasil
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POTABILIDADE DA ÁGUA EM COMISSÃO DE LONGA DURAÇÃO:
a experiência no Navio-Escola Brasil
sugerindo que a ascensão dos valores de nos tanques de recebimento e nas saídas
cloreto pode ser um indicador de alguma de água, de forma a garantir que todo o
limitação do “grupo” de osmose reversa. sistema de abastecimento de água do navio
permanecesse com a concentração de cloro
Cloro Livre residual livre entre 0,2 e 2 mg L-¹ Cl².
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POTABILIDADE DA ÁGUA EM COMISSÃO DE LONGA DURAÇÃO:
a experiência no Navio-Escola Brasil
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O PERFIL DO LÍDER MILITAR NAVAL DO
SÉCULO XXI*
SUMÁRIO
Introdução
Século XXI – O que mudou?
O Componente Ser – Valores e Atributos
O Componente Fazer – Habilidades
O Componente Saber
O Componente Fazer – Como fazer o aspirante pensar como líder?
Conclusão
* Artigo vencedor do Concurso sobre Liderança do Clube Naval, em 2004, quando o autor era aspirante do
3o ano da Escola Naval.
** Ex-oficial da Marinha do Brasil. Especialista em Direito Público pela Escola da Magistratura de Pernam-
buco. Graduando em Direito.
O PERFIL DO LÍDER MILITAR NAVAL DO SÉCULO XXI
fluenciado para fazer, como cozinhar, cenário é definido como volátil, incerto,
pintar, reparar equipamento, preencher complexo e ambíguo. A tais caracterís-
documentos e assim por diante. Para ticas somam-se as influências do meio
realizar tais tarefas, pode ser ainda social e da conjuntura presente, entre
mais difícil influenciar alguém em outros fatores que exercem impacto na
tempo de paz, quando a ausência de forja do líder que inicia sua trajetória na
hostilidades torna a execução da rotina carreira militar.
menos urgente.” O sistema naval de ensino provê os
John Allen William recursos para o desenvolvimento inte-
lectual e humanístico, e a Escola Naval,
as oportunidades para o exercício da
liderança. Mas tornar-se líder é um pro-
cesso de livre arbítrio. Cada aspirante
deve buscar o autodesenvolvimento e
comprometer-se.
Não se pode deixar que a técnica de
motivar homens seja aprendida à custa
de mais ou menos desastrosa experiência
de erros acumulados e que nossas con-
dutas sejam pautadas em inspirações de
momento, ou passaremos a engrossar o
grupo de pseudochefes, caracterizados
pela insegurança ou pela violência, pelo
“bom-mocismo” ou pelo arbítrio, com-
prometendo não apenas a nós próprios,
como igualmente àqueles sujeitos às
nossas ordens.
Escola Naval – Túnel de acesso à parte alta
As atividades mili-
tares abrangem tarefas
perigosas e, às ve-
zes, desagradáveis, e
nossos subordinados,
consequentemente,
prefeririam não rea-
lizá-las. Então, tere-
mos que desenvolver
a capacidade de in-
fluenciá-los para que
as realizem. Liderar é
uma tarefa complexa,
e ainda mais se con-
siderarmos o cenário
do século XXI. Esse Faina de reabastecimento de óleo no mar
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O PERFIL DO LÍDER MILITAR NAVAL DO SÉCULO XXI
A Marinha do futuro
Com a troca de
quantidade por qua-
lidade e de saturação
por precisão, o empre-
go dos meios caracte-
Cerimônia na Escola Naval – A Guarda-Bandeira rísticos dessa nova era
deverá permitir contar
O mundo tem vivido, sobretudo a com uma Marinha mais ágil e flexível,
partir da última década do século XX, mais letal, versátil e menos dispendiosa,
um ritmo alucinante de transformações, que esteja, simultaneamente, sempre pron-
cuja origem básica é a aplicação dos ta e apta para enfrentar e vencer os novos
novos recursos disponibilizados pela desafios. Essas capacidades são mais uma
tecnologia da Era da Informação. Tais função da liderança que da tecnologia.
transformações trazem consigo uma
série de mudanças nos paradigmas que “Não devemos supor que nossa
regem as atividades humanas, as relações habilidade em adaptar as estruturas
interpessoais e até mesmo entre povos e e procedimentos da Guerra Fria será
nações. Apesar de essas mudanças diferi- a abordagem correta para o futuro.
rem em graus de intensidade e velocidade O êxito das últimas operações tem
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O PERFIL DO LÍDER MILITAR NAVAL DO SÉCULO XXI
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O PERFIL DO LÍDER MILITAR NAVAL DO SÉCULO XXI
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O PERFIL DO LÍDER MILITAR NAVAL DO SÉCULO XXI
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O PERFIL DO LÍDER MILITAR NAVAL DO SÉCULO XXI
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O PERFIL DO LÍDER MILITAR NAVAL DO SÉCULO XXI
luzir a qualquer momento, se não forem Todo aspirante deve buscar assumir os
empregadas com temperança e equilíbrio. valores da instituição, estabelecendo um
Nada mais conseguiremos, se humi- modelo de conduta para os demais, bem
lharmos nossos subordinados, do que a como o segundo-tenente deve fazê-lo a
perda da credibilidade e da confiança em bordo, a fim de construir equipes fortes e
nós e em nossos atos e palavras. coesas num ambiente saudável e afetivo
A nossa profissão nos impõe que te- de aprendizagem. Cabe a cada um de nós,
nhamos diversos atributos, desenvolvidos aspirantes do século XXI, a prática das
desde o berço, representado pela Escola ações para o desenvolvimento dos líderes
Naval, e ao longo da carreira, sobretudo as das gerações que nos sucederão. Quando
quatro virtudes cardeais, especialmente se segundos-tenentes, similarmente, deve-
considerarmos o cenário incerto e ambí- mos estimular ao máximo o desenvolvi-
guo do século XXI, em que valores morais mento de líderes subordinados, de forma
têm sido afetados pela generalização da a potencializar nossas influências até os
violência em larga escala. níveis organizacionais mais baixos, a fim
Não podemos, nós, líderes de pequenas de obter os melhores resultados.
frações, nos esquivar da responsabilidade É nosso dever solene, portanto, abra-
de revelar virtudes como coragem, justiça, çar e incutir nos nossos subordinados os
prudência e temperança em nós mesmos, valores da Marinha. Teremos influência
nos aspirantes mais modernos e à frente direta sobre o destino dos nossos coman-
de nossas divisões. A tarefa de doutri- dados. Temos grande responsabilidade
namento deve posicionar esses valores para com o Brasil, e o nosso povo exige
sempre acima dos valores materiais como da Marinha a manutenção perene de uma
o dinheiro, o poder e a satisfação pessoal. liderança de excelência, baseada nos seus
Procurando sempre demonstrar esses valores básicos.
valores em nossas ações, estaremos, na-
turalmente, sendo considerados como a O COMPONENTE FAZER –
personificação da vontade coletiva de nos- HABILIDADES
sas frações, condição para que se possam
alcançar altos índices de operacionalidade, Possuir esses valores e atributos não
coesão e lealdade entre os nossos liderados. é suficiente para ser um líder. Ser um
líder dedicado e de princípios é apenas
Os valores e atributos o começo. Conforme dito anteriormente,
as principais alterações no perfil do líder
O Nossa Voga, com origem em 1954, militar para este novo século devem ocor-
segue válido e atual, estabelecendo os rer especialmente na área cognitiva e do
valores e atributos necessários ao líder relacionamento humano, ou seja, teremos
militar-naval deste século. que ir ainda mais longe.
Esses valores e atributos, estabelecidos No que se refere às habilidades, três
na Rosa das Virtudes, são os componentes pontos básicos podem ser cruciais para
do caráter, que revela quem é cada um dos o exercício de uma liderança positiva.
militares de qualquer força em qualquer Primeiro: nenhum subordinado acorda
época. Representam a cultura militar de manhã e pensa: “Como é que eu posso
profissional e descrevem a natureza de fazer isto errado hoje?” Eles desejam fazer
nossos marinheiros. o que é certo, e nós devemos lhes dar esta
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O PERFIL DO LÍDER MILITAR NAVAL DO SÉCULO XXI
oportunidade. Devemos olhá-los focali- por fim, promover na equipe soluções tipo
zando os aspectos positivos de cada um. ganha/ganha: um estado de espírito que
Segundo: é nossa responsabilidade ajudá- busca constantemente o benefício mútuo
-los a evoluir mental, física, espiritual e em todas as interações humanas. Nesse
socialmente em toda a sua potencialidade. tipo de solução, as partes se sentem bem
Para tal, temos que criar um ambiente em e se comprometem com o plano de ação.
que possam atingir a plenitude de seu po- O sucesso de um membro do grupo não
tencial, valorizando a iniciativa, a criativi- se conquista com o sacrifício ou exclusão
dade e a habilidade de resolver problemas. de outro camarada.
Terceiro: trate os outros como gostaria de Tanto nossos chefes quanto nossos
ser tratado. Devemos ter compaixão – um subordinados esperarão que conheçamos
respeito básico pela dignidade de cada bem tanto os subordinados quanto os equi-
indivíduo – e tratar todos com dignidade pamentos e que sejamos experts em nossa
e respeito. O subordinado deve sentir área de atuação. Por isso, temos que estar
que está sendo tratado com justiça, deve engajados continuamente em desenvolver
sentir que nos interessamos por ele e que novas habilidades para lidar tanto com
estamos fazendo todo o possível para que novas atividades, equipamentos e táticas
ele desenvolva seu potencial. quanto com pessoal diferente.
O novo século exigirá, ainda, de nós, Em resumo, além da vasta competência
líderes diretos, pensamento crítico-lógico profissional e da competência exigida
e pensamento criativo, a fim de determi- em comunicação, formação de equipes,
nar a melhor forma de cumprir a missão. supervisão e aconselhamentos, os líderes
A ética será especialmente usada para diretos do século XXI terão que dar ênfase
pautar nossas condutas e adquirir certeza à argumentação crítica e ao pensamento
de que nossas escolhas são as melhores criativo. O guia para o adestramento de
e contribuem para o aperfeiçoamento do líderes diretos deve ser, portanto, desen-
desempenho do grupo, dos subordinados volvê-los intelectualmente para melhorar
e de nós mesmos. suas habilidades para lidar com ideias,
Por meio da comunicação e supervisão, pensamentos e conceitos.
desenvolveremos nossos liderados por
instruções e aconselhamento, moldan- O COMPONENTE SABER
do equipes coesas e treinando-as até a
obtenção de um padrão. Nesse trabalho "Em nossa Marinha, até pouco tem-
de modelagem e treinamento, algumas po, o conceito de liderança não mais
habilidades podem contribuir para um era do que um dom trazido de berço.
relacionamento afetivo do comandante Hoje, considera-se que existe um con-
da pequena fração com seus homens. junto de requisitos, os quais, quando
Primeiramente, valorizar as diferenças aprendidos, desenvolvidos e aplicados,
mentais, emocionais e psicológicas entre proporcionarão a qualquer pessoa as
as pessoas: essa é a essência da sinergia condições de se tornar um líder."
do grupo. Segundo, procurar primeiro CMG (RM1) Leonardo Trisciuzzi Neto
compreender, depois ser compreendido.
A maior parte das pessoas não consegue A visão atual que a Marinha tem a res-
escutar com a intenção de compreender, peito de liderança redirecionou o modo de
elas ouvem com a intenção de retrucar. E, pensar quanto à formação de seus oficiais.
RMB2oT/2019 159
O PERFIL DO LÍDER MILITAR NAVAL DO SÉCULO XXI
A necessidade de formar oficiais com ele- uma qualidade profissional, que pode
vado preparo técnico-científico continua ser ensinada como uma outra matéria.”
a ser perseguida, especialmente diante Bidwell
da conjuntura atual, quando as inovações
tecnológicas ocorrem tão rapidamente. Para que os oficiais de Marinha sejam
Contudo, a instituição entende que a capazes de acompanhar os avanços tec-
liderança é, também, de importância in- nológicos que ocorrem tão rapidamente
contestável e a considera como propósito na Era da Informação, o sistema de en-
maior e abrangente da formação do líder sino naval deve ser capaz de manter um
militar-naval direto. elevado padrão técnico-científico na forja
O EMA-137, Doutrina de Liderança dos novos líderes militares. Contudo, uma
para a Marinha, estabelece para o curso formação técnico-profissional excelente
de formação de líderes diretos na Escola não basta para que sejamos capazes de
Naval: “Além da formação básica, deverá conduzir homens no limite de suas resis-
constar no currículo de liderança o preparo tências físicas e psicológicas, sob ameaças
humanístico, a liderança de pequenos gru- e fogos inimigos.
pos, a condução de tarefas administrativas A natureza humana mantém-se inal-
e operativas, a consolidação da capacidade terada desde os primórdios dos conflitos
de julgamento e, fundamentalmente, a armados. Líderes e liderados vivenciam
capacidade de comunicação. Nos respec- os mesmos temores e emoções em todas
tivos cursos, deverão ser desenvolvidas as operações militares. Não saber como
habilidades e conhecimentos que, além lidar com a pessoa humana, entender suas
de facultar o autoconhecimento, permi- necessidades, punir ou reforçar positiva-
tirão o entendimento mais aprofundado mente na hora certa gera no militar a falta
da natureza humana, enfocando as suas de um atributo que é fundamental para o
necessidades, carências e motivações” . exercício do comando, em qualquer esca-
Podemos perceber que o homem é o lão de tropa: a Liderança Militar.
grande foco da liderança, e, sendo por Surgiu a necessidade, portanto, de
meio da educação que se inicia a formação encontrar uma solução, com a finalidade
de um líder, é irrefragável que as Ciências de completar as lacunas na formação dos
Sociais e Humanas desempenham um militares condutores de homens. Uma das
importante papel nesse contexto. Esse as- soluções encontradas foi a implementação
pecto toma uma dimensão ainda maior no do estudo dos atributos de Liderança nas
caso da formação do líder militar, dado que escolas de formação, base de todo o oficial
liderar homens e mulheres até os limites de carreira das Forças Armadas.
de sua força para alcançar o cumprimento Sendo a Liderança um assunto alta-
da missão tem sido o grande desafio dos mente multidisciplinar, essa implemen-
chefes militares em todos os tempos. tação trouxe consigo a necessidade de se
apoiar de maneira científica e sistemati-
Escola Naval: as Ciências Sociais e zada o estudo do assunto. Seria, portanto,
Humanas e a formação de indispensável que o futuro líder militar
líderes diretos tivesse uma gama de conhecimentos que
servisse de alicerce para o desenvolvi-
“A experiência militar britânica mento de um verdadeiro líder: o estudo
permite demonstrar que liderança é das Ciências Sociais e Humanas.
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O PERFIL DO LÍDER MILITAR NAVAL DO SÉCULO XXI
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O PERFIL DO LÍDER MILITAR NAVAL DO SÉCULO XXI
Em 1997, os refle-
xos desse projeto já se
fizeram notáveis em
termos curriculares
para a Escola Naval.
As cargas horárias des-
tinadas às disciplinas
do CCS aumentaram
Carga horária do Centro de Ciências Sociais (CCS)
drasticamente e, na-
quele ano, já corres-
pondiam a 49,02% da
pela Escola Naval, independente de Corpo carga horária destinada ao Ensino Básico.
ou habilitação. Para 2000, a tendência de aumento conti-
Em 1993, as disciplinas do Centro nuou, e elas já correspondiam a 54,79%.
de Ciências Sociais (CCS) constituíam Em 2003, apesar de o índice ter se
21,32% da carga horária destinada ao Ensi- mantido praticamente constante, 52,28%,
no Básico. Naquele mesmo ano, uma pes- a disciplina Liderança, que em 2000 ocu-
quisa de opinião efetuada junto ao público pava uma carga horária de 60 horas, passou
interno da Marinha do Brasil apresentou, a 90. No início daquele mesmo ano, o
entre outras realidades, a inadequação do diretor de Ensino da Marinha, por meio de
relacionamento entre superiores e subor- palestra proferida no auditório da Escola
dinados. Os diversos fatores que, ausentes, Naval, reafirmou aos oficiais, docentes e
contribuíram para esse desfecho certamen- aspirantes a importância da Liderança para
te podem ser sintetizados em um conceito a carreira militar e a intenção da Marinha
intimamente vinculado à instituição e à em desenvolver cada vez mais esta área do
atividade militar: a Liderança. ensino na formação dos oficiais.
Dessa forma, a Diretoria de Ensino A formação do líder é uma história,
da Marinha decidiu buscar maneiras de muito mais do que uma série de aulas.
aperfeiçoar seus diversos cursos no que Como uma história moderna, não tem
diz respeito a este importante aspecto. começo, meio ou fim. Mas tem muitos
Com este propósito, promoveu na Escola temas que aparecem repetidas vezes – a
Naval, em 1994, o primeiro simpósio so- necessidade de educação humanística e
bre liderança, cujos resultados pautaram oportunidades para que ela se desenvolva,
as ações em relação ao assunto. entre outros.
Assim, foi criada ou redimensionada, E é dessa forma, portanto, que a
nos diversos cursos do Sistema de Ensino Marinha do Brasil vem trabalhando,
Naval, a disciplina Liderança, com teor para garantir que seus futuros oficiais
compatível com seus níveis e com ênfase tenham as oportunidades e a formação
em aspectos considerados sensíveis no humanística necessárias ao processo de
mesmo simpósio. Esse projeto foi respal- transformação, visto que tornar-se uma
dado em 1995, quando, entre as diversas pessoa com as características de um líder
Orientações Ministeriais, figurou a reco- é um ato de livre arbítrio por excelência,
mendação de ver com especial atenção, e, se é isso que nós, futuros oficiais,
nos cursos de formação de oficiais, o realmente almejamos, transformar-nos é
problema do ensino da Liderança. o único caminho.
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O PERFIL DO LÍDER MILITAR NAVAL DO SÉCULO XXI
CONCLUSÃO
Premiação de aspirantes
Para o bom funcionamen-
A partir da observação dessas e de ou- to de uma OM são necessários requisitos
tras oportunidades nas demais academias baseados na existência de uma estrutura
militares, os aspirantes participantes do coerente e flexível, no emprego de táti-
evento, juntamente com representantes cas, estratégias e doutrinas adequadas,
de todos os corpos e habilitações da bem como na combinação de profis-
turma do 4o ano, geraram um Projeto de sionais competentes utilizando meios
Exercício da Liderança na Escola Naval, apropriados. Contudo, sua eficiência
composto de programas que, com o com- dependerá da disponibilidade de líderes
prometimento de aspirantes e oficiais, capazes de realizar a conjugação harmo-
seriam capazes de desenvolver e ampliar niosa desses fatores.
o “Fazer” na Escola. O projeto tem pas- Se no século XXI, por um lado, o pro-
sado por análises do Comando do Corpo cesso decisório poderá ser facilitado pelo
de Aspirantes, e há expectativas de que a emprego de modernos recursos tecnoló-
implantação de alguns desses programas gicos, por outro, como as ações militares,
sejam levados a cabo ainda em 2004, com quer em tempo de paz, crise ou guerra,
execução mais ampla a partir de 2005. foram, são e continuarão a ser um esforço
A primeira das mais importantes predominantemente humano; se exigirá
conclusões do evento foi que a Escola cada vez mais eficiência no desempenho
Naval precisa estar buscando continua- da liderança. Mesmo que seja exigido o
mente, seja por meio dos professores, desenvolvimento de certas habilidades
instrutores, oficiais e, principalmente, para atuar nesse novo ambiente, os atri-
por iniciativa dos aspirantes, avançar butos e valores militares já evidenciados
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O PERFIL DO LÍDER MILITAR NAVAL DO SÉCULO XXI
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EMA 137 – Doutrina de Liderança para a Marinha do Brasil.
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A INFLUÊNCIA DOS ELEMENTOS BASEADOS EM
TERRA NA GUERRA NAVAL: uma breve comparação
entre Brasil e China
SUMÁRIO
Introdução
Exemplos históricos
Conjuntura Doutrinária Mundial
Estudo de caso: Sisgaaz
China
Considerações finais
4 Sabe-se que, geralmente, o alcance dos fortes litorâneos era maior do que o dos navios de superfície, devido
às restrições de peso e ao tamanho dos canhões embarcados.
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A INFLUÊNCIA DOS ELEMENTOS BASEADOS EM TERRA NA GUERRA NAVAL: uma breve comparação entre Brasil e China
unidades dos seus famosos foguetes V-1 e lados mais ofensivos e, ao mesmo tempo,
V-2 durante o conflito (HUGHES, 2000). mais vulneráveis.
O alcance dos canhões navais evoluía
muito rapidamente à época, como pode O maior alcance dos mísseis lança-
ser observado na Tabela 1. Mesmo as- dos de terra estará associado às novas
sim, o alcance das armas tradicionais era possibilidades de atacar os seus navios.
irrisório quando comparado com o do A obrigação de realizar guerras cos-
novo armamento alemão, que conseguia teiras conjuntas acarreta a realização
acertar alvos a uma distância de cerca de de operações próximas à costa, sub-
200 milhas náuticas5 (HICKMAN, 2018). metendo os navios a uma ameaça de
mísseis de cruzeiro e balísticos
lançados por diversos tipos de
Ano Situação de emprego Alcance (jardas)
lançadores instalados em terra,
1862 Monitor e Merrimac 1.000 (médio) em aeronaves e em pequenas
1905 Tsushima 4.000-6.000 embarcações de superfície.
(HUGHES, 2000, p. 150)
1910 Treinamentos da USN 12.000
1918 Fim da Primeira Guerra Mundial 24.000 O mantra do Almirante
1948 Depois da Segunda Guerra Mundial 40.000 + Nelson para a Royal Navy
durante a era da vela de com-
Tabela 1 – Alcance dos canhões navais (1862-1948) bate dizia: “Idiota é um navio
que luta contra um forte”. As
Outro avanço tecnológico desse pe- novas configurações da Guerra Naval
ríodo, a bomba atômica, demonstrou derrubaram a premissa de Lorde Nelson.
empiricamente que o poder de destruição O aumento do alcance dos sensores e
dos armamentos atingira novo patamar. armamentos, aliado ao nível de poder de
Apenas duas unidades devastaram Hi- fogo existente atualmente, mudou profun-
roshima e Nagasaki do mapa, uma para damente as táticas.
cada cidade. O próximo passo na evolução
dos armamentos viria a ser o conjugado CONJUNTURA DOUTRINÁRIA
bomba atômica-míssil, a arma mais temi- MUNDIAL
da na atualidade.
Quando os mísseis6 foram instalados Ao fim da Guerra Fria, os Estados
a bordo dos navios, modificaram toda Unidos da América (EUA) mudaram a
a dinâmica da guerra naval (HUGHES, abordagem de sua Marinha de forma radi-
2000). Os armamentos atingiram um alto cal, buscando adequação à nova realidade
grau de confiabilidade, maior alcance, mundial. O rumo-base para as alterações
maior nível de complexidade e maior foi a adoção de uma ameaça global com
poder de destruição. Todas essas novi- diversos desafios e oportunidades regio-
dades modificaram o histórico combate nais. O período posterior à bipolaridade,
entre fortes e navios, deixando ambos os quando os EUA possuíam oposição à
168 RMB2oT/2019
A INFLUÊNCIA DOS ELEMENTOS BASEADOS EM TERRA NA GUERRA NAVAL: uma breve comparação entre Brasil e China
altura, foi marcado por diversas inter- bilidade como ponto-chave, bem como
venções por meio da projeção de poder a realização de operações nos diversos
vindo do mar7. O paradigma da Guerra ambientes de guerra de forma interco-
de Litoral baseia-se nessa situação global nectada, a fim de maximizar sua eficiên-
(MOURA, 2014). cia. A publicação também reconhecia
a importância de bases avançadas nas
Mudança doutrinária dos diversas regiões do mundo para fornecer
Estados Unidos apoio logístico (UNITED STATES OF
AMERICA, 1992).
A United States Navy (USN) e o Uni-
ted States Marine Corps publicaram, no Comando e Controle
ano de 1992, seu Livro Branco, versando
sobre o preparo dos seus serviços para o O documento doutrinário Sistema
século XXI. Consistia nas diretrizes para Militar de Comando e Controle (2015),
a reorganização de seu poder combativo do Ministério da Defesa, define Sistema
sob novos pilares, tais como: presença de Comando e Controle como sendo “[…]
avançada, resposta imediata a crises, dis- o conjunto de instalações, equipamentos,
suasão estratégica e defesa do território. A sistemas de informação, comunicações,
alteração fundamental ficou por conta do doutrinas, procedimentos e pessoal es-
afastamento de uma Guerra Naval Oceâni- senciais para o decisor planejar, dirigir e
ca em detrimento às Operações Conjuntas controlar as ações da sua organização”.
conduzidas do mar para influenciar direta- A atividade de Comando e Controle
mente acontecimentos em terra (UNITED (C2) é indissociável das operações mili-
STATES OF AMERICA, 1992). tares (BRASIL, 2014a). Os comandantes
Com base nos preceitos dos documen- da cena de ação são coordenados por seus
tos que foram produzidos a fim de balizar superiores de forma que toda a expressão
as alterações, as forças navais americanas militar a ser utilizada seja empregada
sofreram mudanças em diversas condutas, como uma certa sinergia.
adotando meios versáteis para tornar suas Muitos acadêmicos, ao abordar o tema
forças mais flexíveis, ou seja, capazes de de forma mais atual, não se referem mais
cumprir uma imensa gama de missões. a C2. O novo termo adotado é Comando,
Destaca-se a visão dos chefes navais Controle, Comunicações, Computadores,
norte-americanos em remodelar em tempo Inteligência, Vigilância e Reconhecimen-
oportuno o emprego de sua Marinha de to (C4ISR), que apenas acrescenta as
acordo com as transformações da conjun- novas possibilidades oriundas do avanço
tura mundial, produzindo uma Marinha do da tecnologia, mas não muda a essência
século XXI capaz de influenciar aconteci- das suas funções ou aplicações, como é
mentos em terra – direta e decisivamente explicitado por Hayes (2006). Importante
– em qualquer momento e em qualquer destacar que a doutrina da MB já prevê
lugar (HUGHES, 2000). as estruturas de comando e controle
A nova doutrina que passou a ser como parte integrante do Poder Naval
adotada na US Navy previa interopera- (BRASIL, 2014a).
7 O período pós-Guerra Fria foi marcado por diversos conflitos regionais, como, por exemplo, as guerras do
Golfo (1990-1991) e da ex-Iugoslávia (1991-1997) (MOURA, 2014).
RMB2oT/2019 169
A INFLUÊNCIA DOS ELEMENTOS BASEADOS EM TERRA NA GUERRA NAVAL: uma breve comparação entre Brasil e China
8 Mobilidade estratégica seria a capacidade de um país movimentar seus meios rápida e coordenadamente,
de forma a obter pronta resposta a qualquer tipo de ameaça.
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A INFLUÊNCIA DOS ELEMENTOS BASEADOS EM TERRA NA GUERRA NAVAL: uma breve comparação entre Brasil e China
RMB2oT/2019 171
A INFLUÊNCIA DOS ELEMENTOS BASEADOS EM TERRA NA GUERRA NAVAL: uma breve comparação entre Brasil e China
que contêm grandes reservas desses transportada por veículos pesados, evitan-
produtos. (MOURA, 2014, p.171) do que o sistema seja facilmente monito-
rado. Dentre os diversos mísseis antinavio
A Tabela 2 representa uma breve chineses, esse foi destacado devido ao
comparação entre as extensões litorâneas fato de ser considerado quase impossível
do Brasil, da China e dos Estados Uni- interceptá-lo (KAZIANIS, 2015).
dos. Considerar apenas esta tabela pode Outro pilar no qual a estratégia de de-
causar a falsa impressão de que o Brasil fesa chinesa se alicerça é o chamado Colar
possui uma tarefa mais complexa do que de Pérolas. Visando dar mais segurança
a China no âmbito do monitoramento de às linhas de comunicação marítimas, essa
sua Zona Econômica Exclusiva (ZEE). A concepção prevê a realização de obras
realidade é que os asiáticos possuem um civis em conjunto com países do seu en-
número considerável de rivais e disputas torno, a fim de servir de ponto de apoio a
territoriais no mar do Sul da China, o que seus navios (MOURA, 2014).
dificulta e, ao mesmo tempo, eleva o grau Uma das principais ferramentas
de importância da manutenção da Cons- pensadas pelos chineses são as ilhas ar-
ciência Situacional Marítima. tificiais11. Essas plataformas foram feitas
com propósito militar e pos-
País Zona Econômica Exclusiva Fronteira Marítima suem capacidade para apoio
Brasil 3.539.919 km² 9.557,0 km logístico das forças navais
China 2.287.969 km² 6.177,0 km
e estrutura para sensores e
armamentos, além de pistas
EUA 12.234.404 km² 33.030,2 km
de pouso (SEIDEL, 2018).
Tabela 2 – Extensões litorâneas
O trabalho não abordará as
Fonte: (MOURA, 2014, p.162)
questões legais que envol-
vem a construção das ilhas.
Uma das concepções de estratégia de As ilhas artificiais possibilitam pre-
defesa em curso na China atualmente é a sença avançada e permanente no entorno
Defesa Litorânea. Consiste basicamente estratégico do seu território. Além disso,
no controle de área marítima de suas águas as bases aéreas permitem uma cobertura
mais próximas ao território e na negação aérea permanente sobre suas forças na-
do uso do mar de áreas um pouco mais vais, habilitando os chineses a conjugar
afastadas (MOURA, 2014). sua aviação embarcada com as aeronaves
A materialização da capacidade chinesa baseadas em terra.
de oposição à projeção de poder americana A projeção de poder chinesa em seu
pode ser representada pelos seus mísseis, entorno estratégico pode ser observada
em especial o míssil balístico antinavio com mais clareza considerando o alcance
DF-21D. O sistema de lançamento desse de seus sensores e armamentos. A Figura 2
armamento é baseado em terra e possui representa, em círculos menores, os postos
alcance de cerca de 900 milhas (MOURA, avançados das Forças Armadas desse país
2014). Seu lançamento é feito a partir de e, em círculos maiores, o alcance de seus
uma plataforma que pode ser facilmente radares de monitoramento.
11 Estruturas construídas mediante aterramento de formações naturais, por meio da dragagem de segmentos
vindos do mar (NASCIMENTO, 2017).
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A INFLUÊNCIA DOS ELEMENTOS BASEADOS EM TERRA NA GUERRA NAVAL: uma breve comparação entre Brasil e China
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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A INFLUÊNCIA DOS ELEMENTOS BASEADOS EM TERRA NA GUERRA NAVAL: uma breve comparação entre Brasil e China
REFERÊNCIAS
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mand and Control Research Program, 2006.
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-power-projection/>. Acesso em: 16 set. 2018.
BRASIL. Presidência da República Federativa do Brasil. Política Nacional de Defesa e Estra-
tégia Nacional de Defesa. Decreto Legislativo no 373. Brasília-DF, 2013. Disponível em:
<http://www.defesa.gov.br/arquivos/estado_e_defesa/END-PND_Optimized.pdf>. Acesso
em: 3 ago. 2018.
______. Marinha do Brasil. Diretoria-Geral do Material da Marinha. DGMM-4011 – Glossário
de Sistemas de Armas. Rio de Janeiro, RJ, 2017a.
12 A aviação embarcada possui grandes vantagens em termos de área de operação, porém sua capacidade e
diversidade de meios é afetada.
174 RMB2oT/2019
A INFLUÊNCIA DOS ELEMENTOS BASEADOS EM TERRA NA GUERRA NAVAL: uma breve comparação entre Brasil e China
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BENS DA UNIÃO: mar territorial, recursos naturais da
Zona Econômica Exclusiva e da Plataforma Continental
SUMÁRIO
Introdução
Mar territorial e recursos naturais da Zona Econômica
Exclusiva e da Plataforma Continental
Considerações finais
* Bacharel em Direito. Especialização em Planejamento e Uso do Solo Urbano pela Universidade Federal do Rio
de Janeiro, Brasil, Tecnologista da Fundação IBGE.
BENS DA UNIÃO: mar territorial, recursos naturais da Zona Econômica Exclusiva e da Plataforma Continental
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BENS DA UNIÃO: mar territorial, recursos naturais da Zona Econômica Exclusiva e da Plataforma Continental
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BENS DA UNIÃO: mar territorial, recursos naturais da Zona Econômica Exclusiva e da Plataforma Continental
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BENS DA UNIÃO: mar territorial, recursos naturais da Zona Econômica Exclusiva e da Plataforma Continental
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BENS DA UNIÃO: mar territorial, recursos naturais da Zona Econômica Exclusiva e da Plataforma Continental
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BENS DA UNIÃO: mar territorial, recursos naturais da Zona Econômica Exclusiva e da Plataforma Continental
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BENS DA UNIÃO: mar territorial, recursos naturais da Zona Econômica Exclusiva e da Plataforma Continental
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BENS DA UNIÃO: mar territorial, recursos naturais da Zona Econômica Exclusiva e da Plataforma Continental
BIBLIOGRAFIA
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de Janeiro: Renovar, 1992.
AZAMBUJA, Darcy. Teoria Geral do Estado. 42a ed. São Paulo: Globo, 2001.
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2010. Disponível em: <http://eweb.ouc.edu.cn/lps/39/17/c3300a14615/page.htm>
BANCO DO BRASIL. Aquicultura e pesca – Desenvolvimento regional sustentável. Volume 6.
Brasília: Banco do Brasil, 2010.
CAMINHA, H. M. “O Mar Territorial brasileiro de 200 milhas”. Revista Marítima Brasileira.
Guanabara: Ministério da Marinha. Julho, Ago. e Set., 1972.
CAPODEFERRO, Dercival. O Brasil e o Direito do Mar. Estudos Aduaneiros. 2017. Disponível
em: <https://estudosaduaneiros.com/direito-do-mar/>.
CARVALHO, Gustavo de Lemos Campos. “O Mar Territorial brasileiro de 200 milhas: estraté-
gia e soberania, 1970-1982”. Revista Brasileira de Política Internacional. Vol. 42. no 1.
Brasília Jan./June. 1999.
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DALLARI, Dalmo de Abreu. “O Mar territorial do Estado Brasileiro”. Revista de Direito Adminis-
trativo, Rio de Janeiro, 113:405-438 jul./set. 1975. Disponível em: <http://bibliotecadigital.
fgv.br/ojs/index.php/rda/article/view/38632>.
DOMINGOS, Terezinha de Oliveira e CARISTINA, Jean Eduardo Aguiar. Arminianismo e Hugo
Grócio: o caminho para o jus-humanismo pela trilha do livre-arbítrio e o racionalismo da
guerra como pressuposto de uma paz inata. Publicação XXII Encontro Nacional do Conpedi/
Unicuritiba. Florianópolis: Funjab, 2013. Disponível em: <http://www.publicadireito.com.
br/publicacao/unicuritiba/livro.php?gt=142>.
FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de Direito Constitucional. 38a edição. São Paulo:
Saraiva, 2012.
GALAAD OLIVEIRA, Raul José de. “O preceito da soberania nas constituições e na jurisprudência
brasileiras”. Revista de Informação Legislativa. Brasília ano 37, no 146, abr./jun. 2000.
GALLO, Fabricio; SOMAIN, René; DROULERS, Martine. “Federalismo e competências tribu-
tárias, uma geografia dos impostos Confins” – Revista Franco-Brasileira de Geografia.
Disponível em: <https://journals.openedition.org/confins/12227>.
RMB2oT/2019 185
BENS DA UNIÃO: mar territorial, recursos naturais da Zona Econômica Exclusiva e da Plataforma Continental
186 RMB2oT/2019
DOAÇÕES À DPHDM
MARÇO/MAIO DE 2019
DEPARTAMENTO DE BIBLIOTECA DA MARINHA
DOADORES
ESPANHA
Revista General de Marinha, tomo 275, Nov/Dez. 2018
Revista de História Naval, v. 36, n. 143, 2018
BRASIL
38o campeonato mundial militar de Judô e 24o campeonato mundial militar de
Taekwondo, 2018
21 grandes batalhas que mudaram o Brasil, 2018
Actas diurnas: crônicas de Luís Câmara Cascudo, 2011
Ainda existe esperança: a solução para os problemas da vida, 2010
DOAÇÕES E PERIÓDICOS RECEBIDOS
188 RMB2oT/2019
DOAÇÕES E PERIÓDICOS RECEBIDOS
RMB2oT/2019 189
DOAÇÕES E PERIÓDICOS RECEBIDOS
190 RMB2oT/2019
CARTAS DOS LEITORES
192 RMB2oT/2019
NECROLÓGIO
A RMB expressa o pesar às famílias pelo falecimento dos seguintes colaboradores e assinantes:
194 RMB2oT/2019
ACONTECEU HÁ CEM ANOS
Logistica
Sua concepção actual, seu valor, o valor de sua cordenação
(These apresentada em Julho de 1918 pelo Official-Alumno Capitão de
Corveta Americo Ferraz e Castro)
196 RMB2oT/2019
ACONTECEU HÁ CEM ANOS
RMB2oT/2019 197
ACONTECEU HÁ CEM ANOS
198 RMB2oT/2019
ACONTECEU HÁ CEM ANOS
NOTICIARIO MARITIMO
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REVISTA DE REVISTAS
SUMÁRIO
(Matérias relacionadas conforme classificação para o Índice Remissivo)
ADMINISTRAÇÃO
INCORPORAÇÃO
PHM Atlântico renovação do “conjugado anfíbio” da Marinha do Brasil (202)
ARTES MILITARES
COMANDO
Os EUA perderam o Comando do Mar? (202)
Impeçam a erosão do comando (204)
GUERRA DE MINAS
Vença com a segunda melhor arma (204)
CIÊNCIA E TECNOLOGIA
INOVAÇÃO TECNOLÓGICA
Uso da inteligência artificial em forças navais (205)
FORÇAS ARMADAS
COMANDO
Os Chefes Navais respondem (206)
HISTÓRIA
HISTÓRIA DE PORTUGUAL
Marinha, há 700 anos a servir Portugal no mar (206)
PODER MARÍTIMO
PATRULHA NAVAL
A nova geração de navios-patrulha oceânicos (207)
POLÍTICA
POLÍTICA DA CHINA
Vi(r) Ver o Mar – Parte III – A China (207)
A nova Rota da Seda (208)
RELAÇÕES INTERNACIONAIS
RELAÇÕES INTERNACIONAIS
China e Estados Unidos podem evitar a guerra? (209)
REVISTA DE REVISTAS
Segundo a autora, o
comando do mar pode ser
definido como a capaci-
dade de mover à vontade
mercadorias e armadas
por mar e de impedir que
o oponente o faça. “O
comando do mar pelos
Estados Unidos da Améri-
ca (EUA) há décadas tem
proporcionado respostas
rápidas a ameaças que
surgem em qualquer parte
do mundo e comércio seguro fazendo neficiaram das águas relativamente
o crescimento da economia global. tranquilas proporcionadas pelo poder
Mesmo nações competidoras se be- naval americano”, afirma Riehl.
202 RMB2oT/2019
REVISTA DE REVISTAS
marítimas localizadas. A
combinação dessas duas
capacidades permite a
um Estado movimentar
produtos e forças mi-
litares pelos oceanos,
vencer desafios a esses
movimentos e interesses
e bloquear os dos adver-
sários. Para Riehl, esses
dois parâmetros são in-
divisíveis e definem o
comando do mar, mesmo
que os meios para sua ob-
tenção venham a mudar.
A autora analisa as
estratégias marítimas de
seu país a partir de 2005,
quando foi introduzido
o conceito da “Marinha
de 1.000 navios”, que
incluía a participação
de Marinhas de outros
países para incrementar
a segurança marítima, e
conclui que, apesar de
não estar explícito, a
Entretanto, continua ela, a Marinha Marinha dos EUA vem gradativamente
de seu país hoje se defronta com a lota- reconhecendo sua incapacidade para
ção dos espaços marítimos comuns por comandar o mar por si só. Aborda, ain-
nações adversárias. O comando do mar é da, as aquisições de meios realizadas,
composto de duas partes: influência naval as doutrinas e as pesquisas e desenvol-
global e controle local do mar, afirma a vimentos buscados para execução das
autora. E esse é o foco deste artigo, que estratégias identificadas.
busca aquilatar se os EUA ainda detêm A Comandante Riehl finaliza afir-
essa hegemonia. mando que, no mundo de hoje, os EUA
A influência naval global é repre- devem buscar restringir a definição de
sentada pela capacidade logística de seus interesses vitais em vez de investir
alcance mundial e pela de guerra a longa em exercer influência em qualquer lugar
distância, de modo a prover ameaça e a qualquer momento. “Exercendo a
naval ofensiva em qualquer ponto (dis- função de liderança no lugar de buscar
suasão). O controle local do mar signi- hegemonia, os EUA provavelmente te-
fica possuir plataformas e armamento rão mais recursos financeiros, parceiros
próprios para regular o acesso a áreas e opções”, assevera a autora.
RMB2oT/2019 203
REVISTA DE REVISTAS
Historicamente, aos comandantes eram que implicaram a situação atual, como, por
atribuídas grande confiança e responsabi- exemplo, a conectividade global, que permi-
lidade. Deviam conduzir, com competên- te que qualquer um possa falar com qualquer
cia e independência, as missões para as comandante em qualquer lugar do planeta; a
quais eram designados. Ficava subenten- quantidade de almirantes relativa à quantida-
dido também que, se as coisas andassem de de navios (nos EUA, em 1944, havia 256
erradas, eles seriam responsabilizados – o almirantes para 6.084 navios, hoje há 359
ônus do comando. E este é o tema deste para 280); e a mentalidade do “erro zero”.
artigo de alerta do Comandante Eyer. Em sua conclusão, o Comandante Eyer
Segundo o autor, aquela confiança, alerta que, como a próxima guerra será
infelizmente em estado de declínio, ini- travada em ambiente no qual as comu-
ciou processo de queda livre, enquanto a nicações serão limitadas ou inexistentes
responsabilidade – ou talvez mais corre- por ação do inimigo, os comandantes de
tamente a “imputabilidade” – aumentou navios de superfície, aeronaves e sub-
ao ponto de os comandantes terem se marinos deverão tomar ação por si sós.
tornado sacrificáveis. Em sua percepção, E questiona se, a continuar no caminho
essa cultura vem tolhendo a iniciativa dos atual, a Marinha dos EUA não estará for-
novos comandantes. mando uma geração de administradores
Eyer, por meio da análise de exemplos “risco zero”, incapaz de pensar, agir e
históricos e atuais, identifica alguns fatores lutar independentemente.
Neste artigo premiado pela Naval Mine japonesas, em que bombas nucleares lan-
Warfare Association, são apresentadas as çadas sobre Hiroshima e Nagasaki, com
lições decorrentes da Operação Starva- a invasão soviética da Manchúria e com
tion, executada contra o Japão na Segunda a destruição da Marinha Mercante, que
Guerra Mundial. trouxe o colapso da indústria daquele país.
Para o autor, a campanha de minagem O Comandante Nelson apresenta argu-
então realizada foi a mais eficaz estra- mentos baseados em estatísticas do que foi
tegicamente, mesmo considerando-se a aquela campanha e a projeção de mortes
combinação dos bombardeios das cidades caso a guerra continuasse por apenas mais
* Serviu em sete cruzadores em sua carreira, tendo comandado três deles: o USS Thomas S. Gates (CG-51),
o USS Shiloh (CG-67) e o USS Chancellorsville (CG-62). É colaborador frequente da Proceedings.
* Oficial de Inteligência. Serve atualmente na Office of Naval Intelligence, na função de gerente para a Ásia
Oriental.
204 RMB2oT/2019
REVISTA DE REVISTAS
um ano – sete milhões de civis japoneses Em sua conclusão, Nelson afirma que
poderiam morrer de inanição. Alerta tam- as minas continuam a ser armas de coer-
bém para a situação atual de sua Marinha ção de excelente custo-benefício e que
no que respeita à guerra de minas ofensiva desconsiderar seu uso pode colocar seu
e defensiva e a necessidade de integração/ país na mesma posição em que o Japão
coordenação com a força aérea. esteve há 75 anos.
RMB2oT/2019 205
REVISTA DE REVISTAS
* Oficial da Armada.
206 RMB2oT/2019
REVISTA DE REVISTAS
RMB2oT/2019 207
REVISTA DE REVISTAS
208 RMB2oT/2019
REVISTA DE REVISTAS
* Foi o 26o primeiro-ministro australiano e ministro de Relações Exteriores. É o presidente da Ásia Society
Policy Institute em Nova Iorque.
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REVISTA DE REVISTAS
210 RMB2oT/2019
NOTICIÁRIO MARÍTIMO
SUMÁRIO
(Matérias relacionadas conforme classificação para o Índice Remissivo)
ADMINISTRAÇÃO
APRESENTAÇÃO
Comandante da Marinha participa da apresentação da nova diretoria da Amazul (216)
AQUISIÇÃO
MB adquire lanchas blindadas durante a LAAD (217)
CERIMÔNIA
Tomada de Monte Castelo é celebrada em Florianópolis (217)
COMEMORAÇÃO
Abertura do ano cultural da DPHDM (218)
Agência Fluvial de Juazeiro comemora cem anos (227)
154o Aniversário da Batalha Naval do Riachuelo – Data Magna da Marinha (227)
CISMAR
Cismar participa do exercício multinacional Bell Buoy 2019 (231)
Cismar participa da reunião do Nato Shipping Working Group 2019 (232)
DISTRITO NAVAL
4o DN apoia Governo do Pará após colisão em ponte (233)
INCORPORAÇÃO
ComGptPatNavSSE incorpora lancha blindada (233)
MOSTRA DE DESARMAMENTO
Mostra de Desarmamento do RbAM Almirante Guillobel (234)
POSSE
Força-Tarefa Marítima da Unifil tem novo comandante (235)
Assunção de cargos por almirantes (236)
Transmissão do cargo de comandante de Operações Navais (238)
Posse do presidente do STM (243)
NOTICIÁRIO MARÍTIMO
APOIO
ABASTECIMENTO
MB assina contrato com Terminal Portuário Santos Brasil (264)
APOIO LOGÍSTICO
DAerM apresenta processo de contrato de suporte logistico do UH-17 (264)
NA Pará conclui Operação Akila II/Ágata II (265)
BUSCA E SALVAMENTO
9o DN apoia Armada colombiana em Busca e Salvamento (265)
COMANDANTE FERRAZ
MB inaugura nova infraestrutura de telecomunicações da EACF (266)
MANUTENÇÃO
Depósito de Combustíveis da Marinha no RJ tem capacidade ampliada (267)
MODERNIZAÇÃO
Navios-Patrulha da classe Piratini recebem metralhadora GAM B01 (268)
ÁREAS
ANTÁRTICA
NPo Almirante Maximiano realiza levantamento hidrográfico na Antártica (268)
Comissão Operantar XXXVII (269)
ARTES MILITARES
GUERRA DE MINAS
NPa Bocaina realiza adestramento de lançamento de minas (270)
MANOBRAS
MB realiza ação de presença na Bacia de Campos durante Operação Aderex (270)
Operação Caribex 2019 (271)
212 RMB2oT/2019
NOTICIÁRIO MARÍTIMO
ATIVIDADES MARINHEIRAS
HIDROGRAFIA
NHi Sirius recupera boias meteoceanográficas do Programa Nacional de Boias (272)
DHN ocupa assento em comitê de projeto de construção de cartas náuticas (273)
OCEANOGRAFIA
NPqHo Vital de Oliveira recebe pesquisadores para intercâmbio científico inter-
nacional (274)
PREVISÃO METEOROLÓGICA
Ciclone Tropical no Atlântico Sul é nomeado pela MB (275)
SALVAMENTO
EsqdHS-1 é homenageado por resgate noturno real sobre o mar (276)
SINALIZAÇÃO NÁUTICA
CAMR realiza manutenção no Rádio Farol Ilha Rasa (277)
SOCORRO
NApOc Iguatemi resgata embarcação (277)
CONGRESSOS
CONFERÊNCIA
MB participa de Conferência de Defesa Cibernética na Colômbia (280)
CONGRESSO
MB participa de congresso internacional sobre energia solar e renovável (281)
ENCONTRO
6a Sessão do Subcomitê de Sistemas e Equipamentos de Navios da IMO (282)
FEIRA
Marinha do Brasil participa da LAAD (282)
REUNIÃO
Tribunal Marítimo realiza reunião sobre Zona Econômica Exclusiva (284)
DHN participa de reuniões da Oceatlan e da CHAtSO (285)
SALÃO
Marinha marca presença no Rio Boat Show 2019 (286)
SEMINÁRIO
Seminário Geopolítica do Petróleo (287)
MB participa do IX Seminário de Boas Práticas de Gestão e do lançamento do
Ciclo 2019 (288)
Seminário “21 anos da Divisão de Cartografia da Biblioteca Nacional” (288)
SIMPÓSIO
Simpósio “Reflexões sobre as políticas nacionais relacionadas ao mar” (289)
CURSO
Curso de Aperfeiçoamento de Guerra Anfíbia e Expedicionária (290)
RMB2oT/2019 213
NOTICIÁRIO MARÍTIMO
FORÇAS ARMADAS
ADESTRAMENTO
MB realiza adestramento com blindados (293)
GptFNB promove competições Naval de Ferro e Companhia de Aço (293)
Alunos do C-ESP-DNBQR realizam exercício no PHM Atlântico (294)
DOAÇÃO
MB entrega livros à Biblioteca Nacional de São Tomé e Príncipe (295)
EXERCÍCIO MILITAR
Operação Joana D’arc: Marinhas do Brasil e da França realizam exercícios
combinados (295)
Esquadrões VF-1 e HU-2 realizam exercício de escolta de helicóptero (296)
Fragata União participa de exercícios multinacionais no Líbano (297)
FORÇA DE PAZ
Fragata União é o novo capitânia da FTM-Unifil (297)
MARINHA DA NAMÍBIA
MB apoia o primeiro Curso de Especialização de Manobras e Reparos da Marinha
da Namíbia (298)
MISSÃO DE PAZ
GptFNB comemora o Dia Internacional dos Peacekeepers (299)
NAVIO VELEIRO
NVe Cisne Branco participa da Comissão Europa 2019 (300)
OPERAÇÃO
MB realiza Operação Celeiro IV em Mato Grosso (300)
OPERAÇÃO AÉREA
Primeiro pouso noturno de aeronave da MB no PHM Atlântico (301)
EsqdVF-1 realiza exercício de ataque a alvos terrestres (302)
OPERAÇÃO DE PAZ
2o Estágio de Operações de Paz para Mulheres (303)
Marinha do Brasil recebe prêmio da ONU (303)
OPERAÇÕES ESPECIAIS
MB participa de intercâmbio de Operações Especiais com Marinha dos EUA (304)
INFORMAÇÃO
SISTEMA DE INFORMAÇÃO
DPHDM divulga Repositório Institucional da Produção Científica (304)
MEIO AMBIENTE
POLUIÇÃO
DepCMRJ adquire embarcação de lançamento de barreiras de contenção (305)
214 RMB2oT/2019
NOTICIÁRIO MARÍTIMO
PODER MARÍTIMO
CABOTAGEM
MB participa de reunião sobre apoio marítimo e cabotagem (306)
CAPITANIA
Elevação da Delegacia Fluvial de Cuiabá (307)
CONSTRUÇÃO NAVAL
Barco Hospital Papa Francisco realiza testes (308)
PATRULHA NAVAL
ComGptPatNavN realiza Estágio Básico de Abordagem com Ibama e PF (309)
TRÁFEGO MARÍTIMO
Cismar realiza adestramento para Orgacontram (309)
TRIBUNAL MARÍTIMO
Boletim de Acidentes julgados no TM (310)
PSICOSSOCIAL
ASSISTÊNCIA SOCIAL
NAsH Tenente Maximiano participa do Projeto Ribeirinho Cidadão (310)
Equipe médica do NAsH Doutor Montenegro auxilia realização de partos (311)
NAsH Doutor Montenegro atende indígenas na Operação Acre 2019 (312)
Patrono da Aviação Naval é homenageado em Ação Cívico-social (312)
“Um dia de fuzileiro naval e marinheiro” para pessoas com deficiência (313)
COMUNICAÇÃO SOCIAL
NAsH Doutor Montenegro apoia projeto de musicalização (314)
CULTURA
Noite no Museu Naval (315)
INSTRUÇÃO
Projeto Escola da DPHDM recebe alunos da Educação de Jovens e Adultos (316)
LANÇAMENTO DE LIVRO
Histórias do Mar (317)
SAÚDE
HOSPITAL
HNMD incorpora o simulador Eyesi (317)
ORIENTAÇÃO AO HOMEM
Cefan inicia programa de mestrado em Desempenho Humano Operacional (318)
SERVIÇO DE SAÚDE
I Fórum Nacional de Defesa Profissional da SBCO (319)
RMB2oT/2019 215
NOTICIÁRIO MARÍTIMO
O comandante da Marinha,
Almirante de Esquadra Ilques
Barbosa Junior, participou, em
10 de maio último, da cerimônia
que marcou o início da gestão da
nova diretoria da Amazônia Azul
Tecnologias de Defesa S.A.
(Amazul). O evento foi realizado na
sede da empresa, em São Paulo (SP).
A diretoria é constituída pelo
presidente, Vice-Almirante (RM1)
Antonio Carlos Soares Guerreiro; Comandante da Marinha discursa durante
apresentação da nova diretoria
pelo diretor de Administração e
Finanças, Contra-Almirante (IM) An- agricultura, na proteção do meio ambiente
tonio Bernardo Ferreira; pelo diretor de e em testes de materiais, inclusive para a
Gestão do Conhecimento e de Pessoas, Marinha”, explicou Guerreiro.
Vice-Almirante (RM1) Luís Antônio A empresa mantém, ainda, parcerias
Rodrigues Hecht; e pelo diretor técnico com o Instituto de Pesquisas Energéticas e
e de Operação, Vice-Almirante (RM1- Nucleares para produção de radiofármacos
-EN) Francisco Roberto Portella Deiana. e com as Indústrias Nucleares do Brasil
Ao dar as boas-vindas à nova diretoria,o para produção do combustível nuclear. “No
comandante da Marinha disse: “Na era momento, negociamos nova parceria com a
do conhecimento, a Amazul constitui um Eletronuclear para os projetos de extensão da
elemento fundamental para o crescimento vida útil de Angra 1 e da conclusão de Angra
de nosso País”. 3. A empresa prevê também sua participação
O diretor-presidente da Amazul, Antonio no projeto do futuro Repositório Nacional
Carlos Soares Guerreiro, afirmou que a nova de Rejeitos Radioativos de Baixo e Médio
diretoria pretende aumentar a participação da Níveis de Radiação”, mencionou o diretor-
empresa no Programa Nuclear da Marinha, -presidente da Amazul.
no Programa de Desenvolvimento de Sub- O diretor de Desenvolvimento Nuclear
marinos e no Programa Nuclear Brasileiro e Tecnológico da Marinha, Almirante
(PNB). Dentro do PNB, a Amazul participa de Esquadra Marcos Sampaio Olsen, e o
do projeto detalhado do Reator Multipro- secretário-geral do Ministério da Defesa,
pósito Brasileiro (RMB), em parceria com Almirante de Esquadra Almir Garnier
a Comissão Nacional de Energia Nuclear. Santos, que fazem parte do Conselho de
“O RMB tem um enorme alcance social, Administração da Amazul, estiveram pre-
pois tornará o Brasil autossuficiente em sentes no evento. Também participaram au-
radioisótopos, insumo da produção de radio- toridades federais, estaduais e municipais,
fármacos usados no diagnóstico, prevenção além de representantes da área acadêmica
e tratamento de doenças como o câncer, e e do setor empresarial.
que podem ser aplicados na indústria, na (Fonte: www.mariha.mil.br)
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Foi celebrada, em 21
de fevereiro último, no
63 o Batalhão de Infan-
taria do Exército Brasi-
leiro, em Florianópolis
(SC), a solenidade militar
alusiva ao aniversário de
74 anos da Tomada de
Monte Castelo. O evento
contou com a presença
das três Forças Armadas Militares durante a cerimônia
e das Forças Auxiliares,
além da participação da Escola de A Batalha de Monte Castelo foi
Aprendizes-Marinheiros de Santa Ca- travada, ao final da Segunda Guerra
tarina (EAMSC). Mundial, entre as tropas aliadas, da
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O Centro Integrado
de Segurança Marítima
(Cismar) representou
a Marinha do Brasil
(MB), como único país
observador, na reunião
anual do Nato Shipping
Working Group, desti-
nado aos países-mem-
bros da Organização
do Tratado do Atlântico
Norte (Otan) e a países
observadores. A reu-
nião foi realizada de 6
a 10 de maio último, no
Centre de Compétence Foto oficial do Nato Shipping Working Group 2019
de la Marine, em Bru-
ges (Bélgica). Naval do Tráfego Marítimo (CNTM) e
O Grupo de Trabalho tem o propósito atualmente exercendo a função de chair
de discutir e apresentar recomenda- do grupo-tarefa Pacific and Indian Oceans
ções e sugestões, bem como aprimorar Shipping Working Group (PaciosWG),
os conhecimentos necessários para a o Capitão de Fragata Ponte, chefe do
condução de atividades, exercícios e Estado-Maior do Cismar, realizou palestra
sistemas relacionados à doutrina Naval sobre as atividades de CNTM realizadas
Cooperation and Guidance for Ship- pela MB e as atividades realizadas pelo
ping, possibilitando a padronização de PaciosWG em 2018.
procedimentos e manuais pelo Military Participaram da reunião delegações
Committee Maritime Standardization das Marinhas dos seguintes países per-
Board, a fim de melhorar a interope- tencentes à Otan: Alemanha, Bélgica,
rabilidade das Marinhas pertencentes Dinamarca, Estados Unidos da América,
à Otan. França, Holanda, Noruega, Polônia, Reino
Devido ao papel relevante que a MB Unido, Romênia e Turquia.
desempenha nas atividades de Controle (Fonte: www.marinha.mil.br)
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MOSTRA DE DESARMAMENTO DO
RbAM ALMIRANTE GUILLOBEL
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do Dique Flutuante Afonso Pena do Ar- de seus tripulantes, cuja missão principal
senal de Marinha do Rio de Janeiro para é salvar navios e vidas humanas e cuja
a Base Naval de Val-de-Cães (Belém- história está repleta de feitos, refletidos
-PA), resgate dos náufragos do Veleiro nas honrarias conquistadas.
Concordia, acompanhamento SAR dos Rebocador de Alto-Mar Almirante
ex-navios mercantes Recife e Jari Star e Guillobel, após 38 anos de serviço,
a Operação Missilex 2016 e 2017, quando 2.265,5 dias de mar e 292.275,4 milhas
rebocou os cascos da ex-Corveta Frontin navegadas, ao arriar do Pavilhão Nacional
e da ex-Fragata Bosísio, respectivamente, pela última vez, ato solene que encerra
além de inúmeros apoios a exercícios de a vida operativa do “Hulk dos Mares”,
tiro, realizando reboques de alvos, e de exalto o legado deixado pelos marinheiros
operações anfíbias como navio de salva- que passaram por seus conveses, os quais
mento em caso de encalhe. contribuíram para formar a sua alma guer-
Ao longo desses anos, devido aos ser- reira. Dessa forma, como homenagem e
viços prestados à Marinha do Brasil, o Re- por dever de justiça, a Marinha do Brasil
bocador de Alto-Mar Almirante Guillobel apresenta os cumprimentos pelos relevan-
foi agraciado diversas vezes com o título tes serviços prestados.
de Navio de Socorro do Ano, sendo a Rebocador de Alto-Mar Almirante
última vez em 2001, prova inconteste da Guillobel, Aqui é Real! Bravo Zulu!”
perene capacitação profissional, do espí- (Fonte: Bono Especial n o 424, de
rito marinheiro e da dedicação invulgar 22/5/2019)
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nossos rios e águas interiores. Para isso, madas, Almirante de Esquadra Arnaldo
a Marinha do Brasil deverá se manter Leite Pereira, que me honram com as
prioritariamente aprestada e atualiza- suas presenças.
da em seus meios, como o que, neste Aos membros do Almirantado, na pes-
momento, estamos vivenciando com a soa do chefe do Estado-Maior da Armada,
reconstrução do núcleo do Poder Naval Almirante Liseo Zampronio, manifesto a
com a aquisição de novos meios navais, minha satisfação de pertencer a este seleto
aeronavais e de fuzileiros navais. Esses Órgão de Assessoramento Superior, e
meios são comandados e tripulados agradeço aos ministros do Superior Tri-
por homens e mulheres muito bem re- bunal Militar por suas presenças.
crutados, formados e preparados pelas Aos membros do Alto Comando do
nossas escolas e centros de instrução Exército, da Força Aérea e do Ministério
de excelência, comprovando a nossa da Defesa, o meu obrigado pelas suas
capacidade de há oito anos empregar presenças.
um navio escolta e comandar a Força- Agradeço os antigos chefes navais pelo
-Tarefa Marítima do Líbano. legado de ensinamentos e pela participa-
É com orgulho que me dirijo aos ção nesta cerimônia que traz um brilho
comandantes e às tripulações das 277 todo especial.
Organizações Militares que compõem a Apresento minha gratidão pelo compa-
Força de Fuzileiros da Esquadra, os nove recimento do embaixador da Eslováquia,
Distritos Navais, a Esquadra, o Centro Milan Zachar.
Integrado de Segurança Marítima e o Agradeço a presença das autoridades
Centro de Guerra Eletrônica da Marinha. dos poderes Legislativo, Executivo, Ju-
Saibam que é um privilégio e uma honra diciário e das autoridades eclesiásticas,
poder comandá-los. bem como a de amigos, muitos dos quais
Neste momento muito especial de vieram de longe prestigiar este tão signi-
minha vida, dirijo-me àqueles que ficativo evento.
moldaram e ajudaram em minha car- Aos almirantes e oficiais de nações
reira. Ao ministro da Defesa, General amigas, agradeço as suas presenças, que
de Exército Fernando Azevedo e Silva, muito abrilhantam esta cerimônia.
agradeço pela ratificação de meu nome Aos meus familiares, à minha esposa
e pelas constantes demostrações de Monica e meus filhos Leonardo e Luiz,
apreço. Ao comandante da Marinha, obrigado pelo constante apoio.
Almirante de Esquadra Ilques Barbosa Ao Almirante Paulo Cezar de Quadros
Junior, agradeço pela minha indicação e Küster, meu amigo desde os tempos de
a ele renovo minha lealdade e dedicação aspirante, em Villegagnon, agradeço por
total ao serviço. toda fidalga acolhida e desejo muitas fe-
Agradeço aos ex-ministros da Ma- licidades, bons ventos e mares tranquilos
rinha e ex-comandantes da Marinha nesta nova singradura, extensivos à sua
Almirantes de Esquadra Alfredo Ka- esposa Maria Célia e a seus filhos Pedro
ram, Mauro Cesar Rodrigues Pereira, Henrique e Ana Paula.
Roberto de Guimarães Carvalho e Julio Peço à Nossa Senhora da Boa Esperança
Soares de Moura Neto e ao ex-ministro que nos proteja e ilumine os rumos a seguir.
chefe do Estado-Maior das Forças Ar- Viva a Marinha! Tudo pela Pátria!”
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NOTICIÁRIO MARÍTIMO
(JMU) aos patamares atuais. Elencou O Almirante Marcus Vinicius tomou pos-
questões que pretende ver colocadas em se como ministro do STM em 9 de dezembro
foco, tais como os projetos de lei 9.432 de 2010. Nasceu na capital paulista, em 11
e 9.436, ambos de 2017, que já foram de fevereiro de 1947. Ingressou no Colégio
disponibilizados para o debate e que Naval em 1963 e passou à Escola Naval em
alteram, respectivamente, dispositivos 1965. Foi promovido a almirante de esquadra
do Código Penal Militar e Código de em 31 de julho de 2007 e possui todos os
Processo Penal Militar para torná-los cursos militares de carreira.
mais modernos e compatíveis com o Na Marinha do Brasil, foi adido naval
Brasil contemporâneo. na Inglaterra, Suécia e Noruega; diretor do
O novo presidente também afirmou Centro Tecnológico da Marinha em São
que na busca pelo aperfeiçoamento da Paulo; diretor da Escola de Guerra Naval;
JMU consegue visualizar a proposta de comandante do 4o Distrito Naval; coman-
Emenda à Constituição no 21, de 2014, dante em chefe da Esquadra; diretor-geral
que está em tramitação na Comissão de do Material da Marinha; comandante
Constituição, Justiça e Cidadania do Se- de Operações Navais/diretor-geral de
nado Federal. Tal emenda propõe alterar Navegação e chefe do Estado-Maior da
a composição do Conselho Nacional de Armada, entre outras funções.
Justiça, permitindo que o STM tenha um (Fonte: Assessoria de Comunicação
assento permanente de um representante. do STM)
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Aos amigos da querida Turma Ale- res civis e praças que foram fundamentais
xandrino, na qual há 45 anos iniciamos para que eu levasse a bom termo minha
nossa jornada de crença e amor à Marinha, missão. Trabalhamos num ambiente sadio
destaco o reconhecimento pelo apoio que e em equipe, pois nada se faz sozinho.
sempre me ofertaram. Buscamos o aprimoramento profissional,
A todos os que compõem a bela equipe a capacitação e o desempenho calcado
das Voluntárias Cisne Branco e às cola- na excelência. Doamos o melhor de nós.
boradoras Anjos Azuis do Hospital Naval Agradeço as demonstrações de amizade
Marcílio Dias, juntamente com as dedica- e consideração, desejando a todos conti-
das senhoras que laboram nos programas nuado sucesso.
assistenciais da Marinha, deixo o meu Finalmente, agradeço ao bom Deus por
agradecimento pelas inúmeras contribui- ter atendido minhas preces e rogo que con-
ções nos projetos em prol da Família Naval. tinue abençoando a todos os homens e mu-
Ao mesmo tempo, foi muito bom ter lheres que labutam em prol da nossa gente.
sido assessorado pela eficiente equipe do ‘Pessoal: nosso maior patrimônio’.
Saúde Naval, permitindo o aprimoramento Viva a Marinha!”
dessa importante ferramenta de comunica-
ção que tem como finalidade a prevenção AGRADECIMENTO E BOAS-
e a oportunidade de oferecer uma melhor -VINDAS DO COMANDANTE DA
qualidade de vida ao nosso pessoal. MARINHA
Ao meu chefe de Gabinete, oficiais,
servidores civis e praças da Diretoria- “Por haver sido indicado para a Chefia
-Geral e das Organizações Militares do Estado-Maior da Armada, o Almirante
subordinadas, sou grato pela assessoria de Esquadra Celso Luiz Nazareth deixa,
leal, pelas inúmeras demonstrações de nesta data, o timão da Diretoria-Geral do
profissionalismo e amizade. Pessoal da Marinha, após um ano e oito
Ao meu sucessor, Almirante de Esqua- meses de um profícuo trabalho.
dra Renato Rodrigues de Aguiar Freire, As reconhecidas qualidades profissionais
manifesto minha satisfação de passar-lhe e pessoais do Almirante Nazareth, como
o timão da Diretoria-Geral do Pessoal da liderança, inteligência, lealdade e fidalguia,
Marinha na certeza de que, mercê de suas refletiram no modo seguro e eficiente como
qualidades pessoais e profissionais, nossa conduziu os trabalhos que lhe foram confia-
Diretoria-Geral continuará em rumo segu- dos e na excelência dos resultados alcança-
ro. Desejo ao Almirante Aguiar Freire e a dos com o cumprimento da nobre missão de
sua digníssima família um período repleto gerenciar e zelar pelos homens e mulheres da
de alegrias e realizações. Sejam felizes! Marinha do Brasil, nosso maior patrimônio.
A minha mãe, meus filhos, genro, nora e, Assim, tenho o dever e a satisfação de regis-
em especial, à minha querida esposa Fátima, trar algumas de suas realizações:
companheira de todos os momentos há 35 – ajustes e implementação da Tabela
anos, o meu apaixonado reconhecimento Mestra de Força de Trabalho, possibi-
pelo incentivo, carinho e apoio constantes, litando uma redução de cargos e uma
tornando-me um ser humano melhor. consequente redução de efetivo;
O tempo é inexorável! É hora de partir. – reestruturação da carreira de oficiais
Posso garantir que chefiei um grupo de e praças, tendo sempre como foco a me-
excepcionais almirantes, oficiais, servido- ritocracia e a capacitação profissional;
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as características
da vida marinheira
e, cada vez mais,
adquirindo o amor
e o respeito pelo
mar. Como oficial,
pude embarcar em
nossos navios e
ter o caráter for-
jado pelo trabalho
em equipe, árduo,
compensador, e
pela solidariedade,
marca dos homens
do mar.
Aprendi com os Cerimônia de transmissão de cargo do Cema
chefes e compa-
nheiros que tive, oficiais e praças, a Hoje encerro o meu ciclo no serviço
respeitar as particularidades de cada ativo, após pouco mais de 45 anos de dedi-
um, fator fundamental para uma vida cação à Marinha do Brasil, com a sensação
a bordo que deve ser harmoniosa, es- do dever cumprido. Novos caminhos se
pecialmente nos longos afastamentos. abrem, e irei trilhá-los enquanto o bom
Exerci a liderança, no mais amplo es- Deus assim o permitir.
pectro de suas definições, e encontrei À minha família, aqui representada
o meu caminho para conduzir homens pela minha esposa e companheira há 38
e mulheres de nossa Força da melhor anos, Lenita, minha irmã Léia, pelo meu
maneira possível, com comprometi- filho Guilherme, nora Jaqueline, neto
mento e dedicação. Conheci e passei a Benjamim e primos, minha gratidão pelos
admirar o valor dos homens e mulheres incentivos permanentes e por tocarem o
das várias especialidades que compõem barco em minhas ausências.
a Marinha, abaixo d´água, na superfície, Agradeço a todos com quem tive
no ar, os combatentes anfíbios e os ser- a honra de conviver, as amizades que
vidores civis, cada um em sua área de conquistei e os ensinamentos que colhi.
atuação, mas trabalhando com afinco e A convivência fraterna e o trabalho com
amor ao Brasil. os companheiros, desde os conveses do
Cresci profissional e pessoalmente Navio-Escola Custódio de Melo e da
e fui adquirindo aos poucos o que cha- querida Fragata União, até os anos re-
mamos de uma segunda pele. Por vezes centes com os membros do Almirantado,
ela é branca, em outras azul, cinza ou geraram frutos e a certeza de que juntos,
mesmo camuflada. Ela está e sempre nas várias jornadas, buscamos sempre o
estará conosco, para o resto da vida. Ela melhor para a Marinha e para o Brasil.
nos faz vibrar com os êxitos da nossa Finalmente, quero afirmar com convic-
Marinha, sofrer com alguma desventura ção que, se houvesse esta possibilidade,
e torcer sempre, pois nunca deixaremos faria tudo novamente!
de ser marinheiros. Muito obrigado! Viva a Marinha!”
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PRÊMIOS EFICIÊNCIA E
LÁUREAS FORÇA DE SUPERFÍCIE
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PROMOÇÃO DE ALMIRANTES
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permitirá alta disponibilidade para voo abordagem, que irá reduzir os estoques
dessas aeronaves. ociosos de material e empregar técnicas
Os CLS de motor e aeronave per- já consolidadas nos mercados produ-
mitirão mitigar os caminhos críticos, tivos como supply chain (cadeia de
atualmente existentes na função logís- suprimentos).
tica suprimento, a partir de uma nova (Fonte: www.marinha.mil.br)
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Durante a videoconferência, o
comandante da Marinha disse que
“a oportunidade de termos o peso
de três ministros de Estado tratan-
do das comunicações que vão dar
suporte às pesquisas científicas na
Antártica é um sinal evidente de
que estamos pautados no futuro
de nosso País”.
As obras de reconstrução da
EACF foram planejadas para se-
Videoconferência durante visita de ministros e parlamentares às rem executadas em quatro fases
novas instalações da EACF distintas e consecutivas, sendo
duas de fabricação e pré-mon-
permitirá maior agilidade e autonomia tagem na China e duas de montagem
na comunicação feita por pesquisadores na Antártica. Atualmente, as obras se
e militares e também a possibilidade da encontram na quarta fase, que marca o
realização de atendimentos médicos por término da montagem do prédio principal
meio da telemedicina, na eventual ocor- e a conclusão dos módulos isolados.
rência de acidentes graves de trabalho. (Fonte: www.marinha.mil.br)
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Base Naval de Aratu e conhecer algumas lados, a fim de contribuirem para as ativida-
das oficinas, e também visitaram os na- des de guerra de minas, no que se refere ao
vios subordinados ao 2o DN. Na ocasião, mapeamento do solo marinho, a vigilância e
a equipe do Senai/Cimatec entendeu as operações de busca e salvamento, bem como
necessidades do Distrito Naval e o quanto aos sistemas de monitoramento costeiro. A
pode vir a contribuir para o cumprimento ideia é aumentar a eficácia da salvaguarda
da missão da Mari- da vida humana no
nha do Brasil, com mar e a prontidão
a formação e quali- dos meios. A parce-
ficação da mão de ria será consolidada
obra existente nas durante a realiza-
organizações mili- ção do 2o Congres-
tares prestadoras de so Internacional de
serviço industrial; Contramedidas de
a modernização Minagem, a ser rea-
e automação dos lizado entre 6 e 7 de
equipamentos dos novembro deste ano
meios subordina- nas dependências do
Militares e representantes do Senai/Cimatec que
dos; e a manutenção participaram da oficina Senai/Cimatec DR
dos instrumentos de Bahia. O congresso
auxílio à navegação, com a utilização da terá como enfoque assuntos afetos a guerra
Base Naval de Aratu pelas indústrias. de minas, novas tecnologias e equipamentos,
Existe a possibilidade de, em conjunto, voltados a entidades da segurança pública e
desenvolverem veículos autônomos subma- institutos de fomento tecnológico.
rinos e embarcações de superfície não tripu- (Fonte: www.marinha.mil.br)
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governamental alemã
Gesellschaft für Interna-
tionale Zusammenarbeit
(GIZ). O documento
teve como propósito
regular a conjugação de
esforços na implemen-
tação de ações de efi-
ciência energética e de
energias renováveis em
unidades da Marinha,
com destaque inicial
Membros da Comissão Interna de Conservação de Energia da Marinha e para a Base Aeronaval
representantes dos Órgãos de Direção Setorial de São Pedro da Aldeia,
onde se pretende insta-
go desse período, a iniciativa ganhou força lar projetos de eficiência energética e de
na concretização dos propósitos de redução uma usina de energia fotovoltaica.
de custos da MB com energia elétrica, O CON Energia ganhou também o
criação de alternativas direcionadas para Prêmio 100 mais influentes da Energia
o aprimoramento e execução de ações que 2018, da revista Full Energy, na catego-
insiram a Força em um ambiente de gestão ria Eficiência Energética. A solenidade
inteligente e contemporânea de energia. homenageou executivos, empresários e
O ano de 2018 foi especial para o personalidades que se destacaram em
Projeto, que deu um importante passo diferentes áreas do setor energético bra-
com a assinatura de um Memorando de sileiro ao longo do ano.
Entendimentos entre a MB e a instituição (Fonte: www.marinha.mil.br)
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A Marinha do Brasil (MB) parti- do evento, que contou com mais 450
cipou, em abril último, da XII Latin expositores, entre eles a MB, visitados
America Aerospace and Defence por cerca de 37 mil visitantes, além de
(LAAD-2019), a maior feira da Amé- 183 delegações oficiais. Também esti-
rica Latina em Segurança e Defesa, veram presentes à abertura o ministro da
realizada entre os dias 2 e 5 de abril no Defesa, General de Exército Fernando
Riocentro, cidade do Rio de Janeiro. Azevedo e Silva, e o comandante da
A Feira, promovida e organizada pela Marinha, Almirante de Esquadra Il-
empresa Clarion Events, teve o apoio ques Barbosa Junior. Na ocasião, foi
institucional do Ministério da Defesa assinada a declaração da melhor oferta
(MD), das Forças Armadas, do Minis- com o consórcio Águas Azuis para o
tério da Justiça e da estrutura brasileira projeto de obtenção das corvetas classe
de Segurança Pública. Contou, ainda, Tamandaré.
com o apoio da Associação Brasileira Além da exposição de materiais
das Indústrias de Materiais de Defesa militares e de segurança, foi realizado
e Segurança. no Riocentro, no mesmo período, o IX
O Presidente da República em exer- Simpósio Internacional de Logística
cício, General de Exército Hamilton Militar (SILM), com a presença de
Mourão, realizou a abertura oficial representações das Organizações Mi-
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litares da MB, assim como dos corpos acompanhado de outros almirantes. Eles
docentes e discentes das Escolas de foram recebidos pelo diretor-presidente
Formação, Aperfeiçoamento e de Altos da empresa, Vice-Almirante (RM1) Ney
Estudos Militares da instituição. Zanella dos Santos; pelo Vice-Almirante
Com o apoio institucional ao evento, Antonio Carlos Soares Guerreiro; pelo
o MD pretendeu projetar internacional- Vice-Almirante (EN) Francisco Roberto
mente a imagem do Brasil, em especial Portella Deiana; pelo diretor de Admi-
do Ministério e das Forças Armadas; nistração e Finanças da Amazul, Anto-
ampliar a cultura de logística militar; nio Bernardo Ferreira; e pelo diretor de
Gestão do Conhecimento
e Pessoas da empresa, Luís
Antônio Rodrigues Hecht.
Os diretores da Amazul
também se reuniram com
representantes da empresa
Weg para tratar do desen-
volvimento de motores
de ímãs permanentes, que
poderão equipar tanto o
submarino com propulsão
nuclear como atender às
Presidente em exercício, Hamilton Mourão, durante a abertura da Feira
necessidades da área de
e fomentar a Base Industrial de Defesa transportes, como trens.
(BID). Os temas divulgados na LAAD O estande da Amazul, com maquetes
tiveram enfoque nos projetos estratégicos do submarino de propulsão nuclear e
de Defesa. No caso da Marinha, além dos do reator nuclear, foi elogiado pelos
projetos estratégicos, também foi ampla- visitantes e deu destaque aos projetos
mente difundido o conceito de Amazônia dos quais a empresa participa dentro
Azul, com vistas ao fortalecimento da do Prosub, do Programa Nuclear da
consciência marítima nacional.
A MB esteve presente na
LAAD 2019 com um estande de
aproximadamente 288 metros qua-
drados, no qual apresentou seus
projetos estratégicos, entre eles o
Programa de Desenvolvimento de
Submarinos (Prosub). No local, os
visitantes ainda puderam conferir
as lanchas blindadas da Marinha,
os simuladores de passadiço e de
paraquedas e outros meios navais
e aeronavais.
Outro estande em destaque na
LAAD 2019 foi o da Amazul, visi- Diretor-Geral do Material da Marinha, Almirante de Esquadra
tado pelo comandante da Marinha, Caroli, durante a assinatura de contrato
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Na ocasião, a Capitão
de Fragata (T) Leniza de
Faria Lima Glad, che-
fe do Departamento de
Biblioteca da Marinha,
discorreu sobre a histó-
ria da BM, cujas origens
remontam à Biblioteca
da Academia Real dos
Guardas-Marinha, criada
há mais de dois séculos.
Falou também sobre a
formação do acervo car-
tográfico da MB e os
trabalhos desenvolvidos
pela Divisão de Cartogra- O Theatrum Orbis Terrarum, uma das obras raras da
BM apresentadas durante o seminário
fia da BM.
Além disso, foram apresentadas pe- Realizado pelo Plano Nacional de Obras
ças icônicas do acervo, como um dos Raras, o seminário da Biblioteca Nacional
cinco únicos exemplares existentes no reuniu instituições parceiras desta instituição
mundo do Theatrum Orbis Terrarum, (entre as quais a DPHDM) para traçar um
o primeiro atlas moderno, impresso panorama da cartografia no Brasil, permi-
em 20 de maio de 1570, feito pelo tindo ao público (profissionais e estudantes
cartógrafo Abraham Ortelius. Entre das áreas de arquivologia, biblioteconomia,
os principais projetos da DPHDM na documentação, cartografia, geografia,
área, mereceram destaque a digitali- museologia, e belas artes, pesquisadores e
zação e a disponibilização de mapas interessados pelo tema) conhecer práticas e
raros de 1700 até 1822 e a realização experiências na gestão deste tipo de acervo,
do primeiro “Seminário de Cartografia bem como algumas das mais renomadas
Histórica”, previsto para o segundo coleções do País.
semestre de 2020. (Fonte: www.marinha.mil.br)
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Como parte das ações voltadas à par- de contribuir para o adestramento dos
ticipação da Marinha do Brasil na Força- operadores e a verificação dos equipa-
-Tarefa Marítima (FTM) da Força Interina mentos de guerra eletrônica; e exercícios
das Nações Unidas no Líbano (Unifil), a de manobras táticas e light line, de forma
Fragata União participou, em 2 e 3 de maio a aprimorar a qualificação dos oficiais de
último, de exercícios operativos na Área quarto e das equipes de bordo nas mano-
Marítima de Operações, no Líbano, com bras dos navios, bem como nas fainas de
navios de outras Marinhas componentes transferência no mar.
da FTM. Além da Fragata União, capitânia Os exercícios contribuíram para a
da Força-Tarefa, participaram do evento elevação do nível de adestramento dos
a Corveta Oldenburg, da Marinha alemã; navios participantes, além do incremento
a Corveta Psara, da Marinha grega; e a da interoperabilidade e dos laços de ami-
Corveta Bozcaada, da Marinha turca. zade entre a Marinha do Brasil e as demais
Foram realizados ao longo do período Marinhas participantes do evento.
exercícios de confronto de forças, a fim (Fonte: www.marinha.mil.br)
A Fragata União tornou-se pela quinta A cerimônia foi presidida pelo coman-
vez o navio capitânia da Força-Tarefa dante da FTM-Unifil, Contra-Almirante
Marítima da Força Interina das Nações Eduardo Augusto Wieland, e contou com
Unidas no Líbano (FTM-Unifil). Em a presença do embaixador do Brasil no
15 de março, durante a cerimônia de Líbano, Paulo Cordeiro de Andrade Pinto;
Handover of Flag Ship, a União substituiu do subchefe de Inteligência Operacio-
a Fragata Liberal, que concluiu com êxito nal do Comando de Operações Navais,
sua missão, perfazendo 22 patrulhas em Contra-Almirante (FN) Ricardo Henrique
89 dias na Área Marítima de Operações Santos do Pilar; do comandante em chefe
(AMO) sob a responsabilidade da Força da Lebanese Armed Forces Navy (LAF-
Naval Multinacional. -Navy), Contra-Almirante Hosni Daher;
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Representantes da Marinha
do Brasil (MB) e de institui-
ções civis reuniram-se, em 22
de fevereiro último, na sede do
Sindicato Nacional das Empre-
sas de Navegação Marítima
(Syndarma), no Rio de Janeiro
(RJ), para tratar de assuntos
relacionados ao apoio marítimo
e à cabotagem (navegação e
transporte de materiais entre
os portos do País).
A reunião fez parte de um
conjunto de ações que serão
realizadas, com regularidade, Representantes militares e civis após a reunião
entre as autoridades do governo,
militares e civis. O propósito é promover Dino Batista; o comandante da Marinha,
o diálogo entre as instituições e buscar Almirante de Esquadra Ilques Barbosa
melhorias, soluções e inovações para o Junior; o diretor-geral de Navegação,
apoio marítimo e para a cabotagem. Almirante de Esquadra Leonardo Puntel
Estiveram presentes o ministro de In- e o diretor de Portos e Costas, Vice-
fraestrutura, Tarcisio Gomes de Freitas; -Almirante Roberto Gondim Carneiro
o secretário nacional dos Portos, Diogo da Cunha, além do Contra-Almirante
Piloni; o diretor de Navegação e Hidro- Gilberto Santos Kerr.
grafia do Ministério de Infraestrutura, (Fonte: www.marinha.mil.br)
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cer uma nova estrutura administrativa que cumprimento de sua importante missão,
se adeque ao contexto atual e continue a mantendo a excelência dos trabalhos da
orientar, coordenar e fiscalizar o cumpri- Delegacia de Cuiabá e o legado deixado
mento das normas do SSTA, garantindo pelos seus antecessores nestes cem anos
uma navegação segura, com nossos de existência, desde a então Agência Flu-
aquaviários perfeitamente habilitados, vial, criada em 1919, sendo acolhida com
profissionais ou amadores, navegando em confiança e credibilidade pela sociedade
águas limpas e livres de poluição hídrica mato-grossense, principalmente o valoro-
oriunda de embarcações. so povo cuiabano.
Ao Capitão de Corveta Thiago Cris- Fortuna Audaces Sequitur! Viva a
tiano Muniz Santos, agora capitão dos Marinha! Viva o Brasil!”
Portos de Mato Grosso, e à sua tripulação (Fontes: Bono no 344 e Bono Especial
desejo bons ventos e rios tranquilos no n 348, de 26/4/2019)
o
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Em novembro de 2018, o Papa enviou nho muito grande, vocês cuidam da terra,
um vídeo para as comunidades ribeirinhas amam a natureza e a Deus. Sigam adiante.
do Baixo Amazonas e, emocionado, falou Uma saudação a todos aqueles que traba-
sobre a embarcação. “Uma saudação lham no Barco Hospital. Rezo por vocês,
cordial, de coração a todos os habitantes rezem por mim. O Senhor os abençoe”.
ribeirinhos do Amazonas. Sinto um cari- (Fonte: www.marinha.mil.br)
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A Divisão de Educação
em Museus da Diretoria
do Patrimônio Histórico e
Documentação da Marinha
(DPHDM) recebeu, em 26
de março último, uma tur-
ma da Educação de Jovens
e Adultos (EJA), composta
por 26 alunos com idades
entre 12 e 76 anos. A ação
educativa faz parte do Pro-
jeto Escola, que chega em
2019 ao seu 21o ano, esten-
dendo seu alcance àqueles
que não puderam concluir
seus estudos. Estudante observa o busto do Almirante Barroso, que comandou a força
Os estudantes do Centro naval brasileira na vitória da Batalha Naval do Riachuelo
Integrado de Educação Pú-
blica (CIEP) Presidente Getúlio Vargas, jeto Escola já atendeu, ao longo de duas
de Nova Iguaçu (RJ), conheceram o décadas, cerca de 66 mil estudantes do
Museu Naval e participaram de visita ensino público. Conjugando aprendiza-
mediada à exposição “O Poder Naval gem e entretenimento por meio de visitas
na Formação do Brasil”, que, partindo mediadas, esta ação de educação e cida-
da época do descobrimento e da coloni- dania, destinada a escolas da rede pública
zação, conta a importância da Marinha previamente agendadas e localizadas a
para a consolidação do Estado. uma distância de até 60 km do Complexo
Visando fomentar a visitação a espa- Cultural da Marinha, oferece, de maneira
ços culturais, em paralelo ao estímulo ao gratuita, transporte escolar e lanche, além
desenvolvimento da consciência marítima de uma foto da turma, como recordação.
e ao resgate da memória nacional, o Pro- (Fonte: www.marinha.mil.br)
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