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DIRETORIA DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E DOCUMENTAÇÃO DA MARINHA

REVISTA
MARÍTIMA
BRASILEIRA
(Editada desde 1851)

v. 139 n. 04/06
abril/junho 2019

FUNDADOR COLABORADOR BENEMÉRITO

Sabino Elói Pessoa Luiz Edmundo Brígido Bittencourt


Tenente da Marinha – Conselheiro do Império Vice-Almirante

R. Marít. Bras. Rio de Janeiro v. 139 n. 04/06 p. 1-320 abr./jun. 2019


A Revista Marítima Brasileira, a partir do 2o trimestre
de 2009, passou a adotar o Acordo Ortográfico de 1990,
com base no Vocabulário Ortográfico da Língua Portugue-
sa, editado pela Academia Brasileira de Letras – Decretos
nos 6.583, 6.584 e 6.585, de 29 de setembro de 2008.

Revista Marítima Brasileira / Serviço de Documentação Geral da Marinha.


–– v. 1, n. 1, 1851 — Rio de Janeiro:
Ministério da Marinha, 1851 — v.: il. — Trimestral.

Editada pela Biblioteca da Marinha até 1943.


Irregular: 1851-80. –– ISSN 0034-9860.

1. MARINHA — Periódico (Brasil). I. Brasil. Serviço de Documentação Geral da Marinha.

CDD — 359.00981 –– 359.005


COMANDO DA MARINHA
Almirante de Esquadra Ilques Barbosa Junior

SECRETARIA-GERAL DA MARINHA
Almirante de Esquadra Marcos Silva Rodrigues

DIRETORIA DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E DOCUMENTAÇÃO DA MARINHA


Vice-Almirante (RM1) José Carlos Mathias

REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA


Corpo Editorial
Capitão de Mar e Guerra (RM1) Carlos Marcello Ramos e Silva (Editor)
Capitão de Mar e Guerra (RM1) Miguel Augusto Brum Magaldi
Jornalista Deolinda Oliveira Monteiro
Jornalista Kelly Cristiane Ibrahim

Assessoria Técnica
Capitão de Mar e Guerra (RM1-T) Nelson Luiz Avidos Silva
Analista de Sistemas Feliciano Rodrigues Ferreira

Diagramação
Designer Gráfica Amanda Christina do Carmo Pacheco
Designer Gráfica Rebeca Pinheiro Gonçalves Baroni

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Suboficial-RM1-CN Maurício Oliveira de Rezende
Marinheiro-RC André Oliveira Vidal

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Capitão de Corveta (T) Ericson Castro de Santana

Impressão / Tiragem
CMI – Serviços Editoriais Eireli ME / 8.500
REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA
Rua Dom Manuel no 15 — Praça XV de Novembro — Centro — 20010-090 — Rio de Janeiro — RJ
 (21) 2104-5493 / -5506 - R. 215, 2524-9460

A REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA (RMB) é uma publicação oficial da


MARINHA DO BRASIL desde 1851, sendo editada trimestralmente pela DIRETORIA
DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E DOCUMENTAÇÃO DA MARINHA. As opiniões
emitidas em artigos são de exclusiva responsabilidade dos autores, não refletindo o
pensamento oficial da MARINHA. As matérias publicadas podem ser reproduzidas,
com a citação da fonte.
A Revista honra o compromisso assumido no “Programa” pelo seu fundador,
Sabino Elói Pessoa:
“3o – Receberá artigos que versem sobre Marinha...
5o – ... procurará difundir tudo quanto possa contribuir para o melhoramento
e progresso da nossa Marinha de Guerra e Mercante; programar ideias tendentes a dar
impulso à administração da Marinha e a suas delegações, segundo o melhor ponto de
vista a que seja possível atingir...”
Ao longo de sua singradura, a RMB busca aperfeiçoar o “Programa” ao se
atribuir a “Missão” de divulgar teses, ideias e conceitos que contribuam também para
o aprimoramento da consciência marítima dos brasileiros. Como tal, está presente em
universidades, bibliotecas públicas e privadas do País, entre outras instituições.
Empenha-se em trazer teoria e técnica aplicadas para solver questões que
retardam o desenvolvimento social e material da Nação.
Divulga ensinamentos a respeito da ética e do trabalho, esclarecendo o que nos
cabe realizar na Marinha e no País, respeitando conceitos e fundamentos filosóficos.
Mostra como a conquista da honra ocorre na formação militar, analisando a
lógica do mercado vis-à-vis com nossa ambiência naval.
Atende plenamente à “índole da revista e, confiando no futuro, protestamos
indiferença sobre política e prometemos não nos envolver em seus tão sedutores quanto
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em nome do Departamento Cultural do Abrigo do Marinheiro, CNPJ – 72.063.654/0011-47.
SUMÁRIO

7 NOSSA CAPA
SÃO AS ATRIBUIÇÕES SUBSIDIÁRIAS ATIVIDADES DE GLO?
Paulo Marques de Oliveira – Capitão de Mar e Guerra (Refo)
Garantia da Lei e da Ordem (GLO). Forças Armadas e Defesa da Pátria

  

18 PODER NAVAL – PRESENTE E FUTURO (PARTE 5) – Submarinos, Desenvol-


vimento e Defesa
Elcio de Sá Freitas – Vice-Almirante (Refo-EN)
Guerra submarina. Obtenção de navios de guerra. Sistemas de combate

28 GESTÃO DO APOIO AO PRODUTO NO DoD USA


Ruy Barcellos Capetti – Vice-Almirante (Refo)
Gerenciamento do ciclo de vida de produtos militares. Obtenção e gestão de
material no DoD-USA. Suporte à Gerência de Apoio ao Produto

40 CONHECENDO O TRIBUNAL MARÍTIMO, A CORTE DO MAR BRASILEIRA


Wilson Pereira de Lima Filho – Vice-Almirante (RM1)
Criação e atuação do Tribunal Marítimo. Águas Jurisdicionais Brasileiras. Corte
judicial para lides do mar

48 ENGENHARIA NAVAL
Yapery Tupiassu de Britto Guerra – Contra-Almirante (Refo-EN) (In memorian)
História da Engenharia Naval no Brasil. Convênio USP/MB. O Navio
Oceanográfico Professor Besnard. A primeira turma de engenheiros navais. O Escritório
Técnico de Construção Naval

79 A AÇÃO DE DRONES NA GUERRA NAVAL


Claudio da Costa Braga – Capitão de Mar e Guerra (RM1)
Tipos, limitações e vulnerabilidades. Aplicações. Perspectivas no Brasil

111 HORATIO LORDE NELSON, O HERÓI POLÊMICO, SEGUNDO ALFRED


THAYER MAHAN E SIR JOHN KNOX LAUGHTON – Parte I
Francisco Eduardo Alves de Almeida – Capitão de Mar e Guerra (RM1)
Biografia de Lorde Nelson. Percepções de autores sobre o herói naval

122 O COMANDANTE-ALUNO NA ESCOLA NAVAL


Ronald dos Santos Santiago – Capitão de Mar e Guerra (RM1)
Corpo de Aspirantes. Atribuições do comandante-aluno. Comandantes-alunos
de 1938 a 2019
127 BATALHA NAVAL DO RIACHUELO, PONTO DE INFLEXÃO NA ESTRU-
TURAÇÃO DAS FRONTEIRAS NA BACIA PLATINA
Oseas Trajano de Barcellos – Capitão-Tenente (AFN)
Flávia Miguel de Souza – Historiadora
A Guerra do Paraguai. A conjuntura política. Geopolítica, economia e força
militar dos participantes. A inflexão da Guerra

144 POTABILIDADE DA ÁGUA EM COMISSÃO DE LONGA DURAÇÃO: a experiência


no Navio-Escola Brasil
Fabio Triachini Codagnone – Capitão-Tenente (S)
Parâmetros físico-químicos. Mensurações seriadas. Grupo de osmose reversa

150 O PERFIL DO LÍDER MILITAR NAVAL DO SÉCULO XXI


Eduardo Victor de Assis Menezes – Analista Judiciário
Liderança militar. Preparação do líder no século XXI. Ciências Sociais e
Humanas

166 A INFLUÊNCIA DOS ELEMENTOS BASEADOS EM TERRA NA GUERRA


NAVAL: uma breve comparação entre Brasil e China
Gustavo Diniz Leite de Aquino – Guarda-Marinha
Poder Naval – Brasil e China. Domínio territorial. Defesa e crescimento
econômico

176 BENS DA UNIÃO: mar territorial, recursos naturais da Zona Econômica Exclusiva
e da Plataforma Continental
Jorge Kleber Teixeira Silva – Geógrafo
O mar no Direito-Geografia-História. Soberania marítima. Relações Interna-
cionais e o Direito

187 DOAÇÕES À DPHDM

191 CARTA DOS LEITORES

193 NECROLÓGIO

195 ACONTECEU HÁ CEM ANOS


Seleção de matérias publicadas na RMB há um século. O que acontecia em nossa
Marinha, no País e em outras partes do mundo

201 REVISTA DE REVISTAS


Sinopses de matérias selecionadas em mais de meia centena de publicações
recebidas do Brasil e do exterior

211 NOTICIÁRIO MARÍTIMO


Coletânea de notícias mais significativas da Marinha do Brasil e de outras
Marinhas, incluída a Mercante, e assuntos de interesse da comunidade marítima
NOSSA CAPA

SÃO AS ATRIBUIÇÕES SUBSIDIÁRIAS


ATIVIDADES DE GLO?
PAULO MARQUES DE OLIVEIRA*
Capitão de Mar e Guerra (Refo)

SUMÁRIO

Introdução
Destinações constitucionais das Forças Armadas
Lei Complementar (LC) no 97/1999
Decreto no 3.897/2001
Abrangência da GLO
Atribuições subsidiárias da MB
Outras espécies de GLO
Conclusão

INTRODUÇÃO vínculo com os dispositivos legais que


orientam esses empregos. Assim acontece

A lguns empregos imaginados para as


Forças Armadas parecem ter surgido
do nada ou decorrentes de vontade pes-
com as operações de evacuação de não
combatentes, entre outras, a serem reali-
zadas no exterior, conforme previsto na
soal de alguém. Não guardam qualquer Estratégia Nacional de Defesa. Observa-

* Guarda-Marinha da turma de 1966. Exerceu diversos comandos na carreira e, como assessor no Comando de
Operações Navais, analisou leis e publicações de interesse do setor operativo destacando-se as relacionadas
à Garantia da Lei e da Ordem (GLO).
SÃO AS ATRIBUIÇÕES SUBSIDIÁRIAS ATIVIDADES DE GLO?

-se não serem elas citadas diretamente te jurista José Afonso da Silva1, assessor
entre as destinações constitucionais das jurídico da Assembleia Constituinte, que
Forças Armadas e nem nas atribuições elaborou a Constituição de 1988, as essen-
subsidiárias a elas conferidas por Lei ciais são a defesa da Pátria e a garantia dos
Complementar. Como justificá-las então? poderes constitucionais (GPC). Somente
Diante disso, este trabalho analisará os subsidiária e eventualmente lhes compete
documentos condicionantes superiores a garantia da lei e da ordem, por serem
vinculados ao emprego das Forças Ar- competência primária de outros órgãos
madas, de modo a identificar se aqueles públicos. Pautando-se nesse juízo, neste
previstos para a Marinha, quando não trabalho, as destinações constitucionais
enquadrados nas destinações constitu- das FA serão assim entendidas:
cionais de defesa da Pátria ou de garantia – Defesa da Pátria – não pairam dúvi-
dos poderes constitucionais, o serão, por das quanto a essa destinação; está e sem-
eliminação, na destinação de garantia pre esteve associada à segurança externa,
da lei e da ordem, a fim de eliminar o isto é, ao emprego do Poder Nacional,
risco de alguma inconstitucionalidade. com ênfase no Poder Militar, contra as
Complementarmente, procurará sugerir agressões de outros Estados (conflito
algumas interpretações de dispositivos armado internacional), na defesa do povo
desses documentos legais, que ajudarão brasileiro e do território, dos interesses e
a entender o verdadeiro significado e a da soberania nacionais.
abrangência da garantia da lei e da ordem. – Garantia dos poderes constitucionais
Claro que isso também contribuirá para (GPC) – é a mais difusa delas, não haven-
que os manuais doutrinários a serem ela- do qualquer esforço de regulamentação,
borados pelos níveis operacional e tático embora presente desde a Constituição de
mantenham perfeita sintonia com os dos 1891 – “A força armada é … obrigada
níveis político e estratégico. a sustentar as instituições constitucio-
nais”, o próprio Estado Democrático de
DESTINAÇÕES Direito, bem como nas subsequentes. Está
CONSTITUCIONAIS DAS associada à segurança interna durante
FORÇAS ARMADAS situações de instabilidade institucional
(conflito armado não internacional).
A Constituição da República Federa- Nessas ocasiões, assim como na defesa
tiva do Brasil de 1988 (CRFB), no artigo da Pátria, poderá viger o sistema cons-
142, atribui às Forças Armadas (FA) três titucional das crises, quando medidas
destinações, das quais, segundo o eminen- de excepcionalidade são admitidas, de

1 "A Constituição vigente abre a elas um capítulo do Título V, sobre a defesa do Estado e das instituições
democráticas com a destinação acima referida, de tal sorte que sua missão essencial é a da defesa da
Pátria e a garantia dos poderes constitucionais, o que vale dizer defesa, por um lado, contra agressões
estrangeiras em caso de guerra externa e, por outro lado, defesa das instituições democráticas, pois a
isso corresponde a garantia dos poderes constitucionais, que, nos termos da Constituição, emanam do
povo (art. 1o, parágrafo único). Só subsidiária e eventualmente lhes incumbe a defesa da lei e da ordem,
porque essa defesa é de competência primária das forças de segurança pública, que compreendem a
Polícia Federal e as Polícias Civil e Militar dos Estados e do Distrito Federal. Sua interferência na defesa
da lei e da ordem depende, além do mais, de convocação dos legítimos representantes de qualquer dos
poderes federais: presidente da Mesa do Congresso Nacional, presidente da República ou presidente do
Supremo Tribunal Federal" (DA SILVA16, 2002:748) (grifos do autor).

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SÃO AS ATRIBUIÇÕES SUBSIDIÁRIAS ATIVIDADES DE GLO?

modo a restaurar o status quo, desde que Adicionalmente, esta lei e suas duas
obedecidos os limites constitucionais. alterações definem as atribuições subsidi-
– Garantia da Lei e da Ordem (GLO)2 árias gerais, de responsabilidades das três
– Também associada à segurança interna; FA, e as particulares para cada Força, res-
no entanto, nesse caso, o emprego das FA peitando suas vocações originárias. Assim,
é subsidiário e se dará em plena vigência a Marinha do Brasil (MB) é responsável
do estado de direito e de estabilidade ins- pelas ações do Estado nas águas, o Exército
titucional, basicamente, mas não somente, Brasileiro (EB) por aquelas desenvolvidas
em atividade cuja natureza jurídica é de na extensão terrestre e a Força Aérea Bra-
atividade de polícia (administrativa ou sileira (FAB) pelas afetas ao espaço aéreo.
de segurança), ou seja, a atuação da Ad- Enunciadas, as atribuições subsidi-
ministração Pública visando evitar que a árias, na LC no 97/1999, sem qualquer
ordem jurídica seja alterada. Como se verá associação às destinações constitucionais,
adiante, qualquer ordem pode ser garantida não raro são vistas, equivocadamente,
pelas FA, mesmo que não estejam exercen- como outra modalidade de emprego das
do atividades tipicamente policiais. FA, diversa daquelas do artigo 142 das
Resumindo, a CRFB definiu um CRFB. Se assim fosse, a LC no 97/1999
emprego para cada cenário. Assim, em estaria, mais uma vez, ampliando os limi-
conflito armado internacional atuarão vi- tes constitucionais do artigo 142.
sando à defesa da Pátria; em instabilidade Conforme os entendimentos expostos
institucional na GPC; e em situação de no item anterior, o único enquadramento
normalidade na GLO. legalmente possível das atribuições subsi-
Em quaisquer dos casos, o emprego diárias é na GLO. Justifica-se: o emprego
das FA exige autorização do Presidente das FA delas decorrentes não é contra
da República. outro Estado, o que caracterizaria a defesa
da Pátria, e nem a execução se dá em ins-
LEI COMPLEMENTAR (LC) tabilidade institucional, o que evidenciaria
No 97/19993 a GPC. O mesmo raciocínio se aplica às
demais atividades realizadas pela MB em
Essa lei é documento essencial à aná- situação de estabilidade institucional, por
lise deste assunto. força de determinação eventual do Presi-
No artigo 15, ao enunciar o emprego dente da República, como no caso de uma
das FA, repete as três destinações consti- operação de ajuda humanitária.
tucionais e acrescenta a “participação em Um argumento recorrente contra esse
operações de paz”. Esse acréscimo parece enquadramento – atribuições subsidiárias
ampliar o conteúdo do artigo 15, além como GLO – é a interpretação equivocada
dos limites do artigo 142 da CRFB. Isso da LC no 97/1999 que exigiria o atendi-
poderia configurar uma inconstituciona- mento aos seguintes requisitos: serem epi-
lidade, embora não se conheçam críticas sódicas e conduzidas por tempo limitado
neste sentido. em área previamente estabelecida e após

2 Nota do autor: Esses entendimentos sobre as espécies de GLO foram desenvolvidos em parceria com o
Capitão-Tenente (T) Antonio Carlos Fernandes da Silva Filho, cuja formação jurídica o habilitou a
encontrar as soluções para as inconsistências surgidas no decorrer do processo.
3 Lei Complementar no 97 de 9 de junho de 1999, que dispõe sobre as normas gerais para a organização, o
preparo e o emprego das Forças Armadas.

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SÃO AS ATRIBUIÇÕES SUBSIDIÁRIAS ATIVIDADES DE GLO?

esgotados os instrumentos destinados à de apenas uma das espécies da GLO em


preservação da ordem pública e da incolu- sentido amplo constitucional.
midade das pessoas e do patrimônio. Esses Portanto, somente quando o emprego
requisitos estão relacionados no artigo das FA em GLO for solicitado pelos repre-
144 da CRFB e, sem dúvida, não seriam sentantes qualificados dos poderes Judiciá-
atendidos pelas atribuições subsidiárias, rio e Legislativo é que são indispensáveis o
como GLO. cumprimento dos requisitos exigidos pela
O contraditório advém da análise do § LC no 97/1999, exigência essa inexistente,
1o, confrontado com o § 2o, do artigo 15 por força do § 1o, quando tal emprego
da LC no 97/1999. decorre de iniciativa própria do Presidente
O § 1o 4 dá competência ao chefe do da República, como no caso das atribuições
Poder Executivo para empregar as FA, em subsidiárias ou em missão eventual.
qualquer das destinações constitucionais, Observa-se ainda terem sido os § 3o ao §
por iniciativa própria, sem impor exigên- 6 introduzidos pela segunda alteração à LC
o

cia alguma, posto ser ele o comandante no 97/1999 e têm como origem o Decreto
supremo das FA (art. 84, inciso XIII, da no 3.897/2001, numa evidente inversão,
CRFB). Além disso, faculta aos demais desnecessária, da hierarquia das leis.
poderes constitucionais o direito de so-
licitar tal emprego, nas pessoas dos pre- DECRETO No 3.897/20016
sidentes do STF, do Senado e da Câmara
Federal. O Poder Executivo está excluído, Esse documento tem sua importân-
pois não faria sentido o Presidente da Re- cia devida a dois aspectos. O primeiro,
pública fazer pedido a si próprio. positivo, refere-se à regulamentação do
O § 2o 5 enfoca o emprego das FA na emprego das FA em situações de norma-
GLO, mas somente quando solicitada lidade, no desempenho das funções das
por quaisquer dos poderes constitucio- Polícias Militares, em prol da segurança
nais – presidentes do STF, do Senado e pública, visando à incolumidade das pes-
da Câmara Federal, mesmas autoridades soas e do patrimônio. O segundo aspecto,
citadas no § 1o e não por inciativa pró- negativo, foi ter gerado um imbróglio
pria do Presidente da República. Além com a GLO do artigo 142 da CRFB. Sua
disso, o § 2o condiciona o emprego ao ementa, ao estabelecer as diretrizes para
esgotamento dos órgãos mencionados no o emprego das FA na GLO, passou a falsa
artigo 144 da CRFB. Desta forma, limita ideia de se tratar da GLO do artigo 142
o emprego à segurança pública. Esse em- da CRFB, quando, na realidade, se limita
prego, como se verá adiante, caracteriza a orientar o emprego das FA em ativi-
a GLO de sentido estrito, regulamentada dades típicas dos órgãos de segurança
pelo Decreto no 3.897/2001, que se trata pública (art. 144 da CRFB). Uma forma

4 § 1o – Compete ao Presidente da República a decisão do emprego das Forças Armadas, por iniciativa própria
ou em atendimento a pedido manifestado por quaisquer dos poderes constitucionais, por intermédio dos
presidentes do Supremo Tribunal Federal, do Senado Federal ou da Câmara dos Deputados.
5 § 2o – A atuação das Forças Armadas na Garantia da Lei e da Ordem, por iniciativa de quaisquer dos poderes
constitucionais, ocorrerá de acordo com as diretrizes baixadas em ato do Presidente da República, após
esgotados os instrumentos destinados à preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e
do patrimônio, relacionados no artigo 144 da Constituição Federal.
6 Decreto no 3.897 de 24 de agosto de 2001, que fixa as diretrizes para o emprego das Forças Armadas na
garantia da lei e da ordem, e dá outras providências.

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SÃO AS ATRIBUIÇÕES SUBSIDIÁRIAS ATIVIDADES DE GLO?

de desfazer esse equívoco é denominar ção, representa um amplo espectro de


a GLO abordada nesse decreto de GLO “ordens”, conforme concluiu a CCJC,
de sentido estrito e considerá-la uma das enquanto a do Decreto no 3.897/2001
espécies da GLO de sentido amplo citada está restrita à ordem pública. Assim, não
no artigo 142 da CRFB. se pode confundir a primeira GLO com a
do decreto, pois dessa forma limitar-se-ia
ABRANGÊNCIA DA GLO uma missão nobre e extensa outorgada
pelo poder constituinte originário às FA,
No item anterior, fez-se a distinção assim como obscurece com o véu da
entre GLO de sentido amplo e a de senti- inconstitucionalidade todas as demais
do estrito, de modo a evitar que se tome atribuições subsidiárias, gerais e parti-
uma pela outra. O fundamento para isso culares, que passariam a não ter alicerce
pautou-se em um parecer da Comissão de constitucional.
Constituição e Justiça e Cidadania (CCJC)
do Senado Federal, quando analisou o ATRIBUIÇÕES SUBSIDIÁRIAS
Projeto de Lei no 221/2003 e assim se DA MB
manifestou sobre o significado e a abran-
gência da “ordem” expressa na destinação Passando da teoria à prática, serão ana-
constitucional de GLO: lisadas as atribuições subsidiárias conferi-
“O caput do art. 142 da CF, in fine, usa o das à MB, destacando-se os argumentos a
termo ‘ordem’ sem qualificá-lo; não obstan- justificá-las como espécies de GLO.
te, os princípios da unidade e do efeito in- Relembra-se que elas devem ser au-
tegrador da Constituição nos informam seu torizadas pelo Presidente da República e
conteúdo. O termo ‘ordem’, como objeto de conduzidas, no País, em plena vigência
garantia ou tutela constitucional, é usado: do Estado Democrático de Direito e de
– no preâmbulo da Carta – ‘ordem estabilidade institucional. Podem também
interna ou internacional’; ser realizadas no exterior.
– no art. 5o, XLIV – ‘ordem constitu- A autorização presidencial pode ser
cional’; permanente ou eventual. A permanente é
– no art. 34, III e no caput dos art. 136 consubstanciada em leis ou decretos, que
e 144 – ‘ordem pública’; outorgam às FA uma tarefa específica.
– no caput do art. 127 – ‘ordem jurídica’; O momento de realizá-la fica a critério
– no art. 144, §1o, I – ‘ordem política do comandante da Força. O Decreto de
e social’; Patrulha Naval (Patnav) é um exemplo
– no caput do art. 170 – ‘ordem eco- dessa autorização permanente, quando
nômica’; e dispõe “A Patrulha Naval, sob a respon-
– no caput do art. 193 – ‘ordem social’. sabilidade do Comando da Marinha,…”.
Observa-se, portanto, que o mandato A autorização eventual será expedida
constitucional conferido às Forças Ar- pelo Presidente da República sempre
madas move-se sobre espectro múltiplo, que necessário. Dela, são exemplos os
substantivado na garantia das ordens múltiplos empregos das FA com fulcro
pública, constitucional, política, social e no Decreto no 3.897/2001 e as operações
econômica.” de paz no Haiti e no Líbano, quando são
Como se vê, a GLO do artigo 142 da estabelecidos, entre outras orientações, o
CRFB, por força da própria Constitui- local e a duração da tarefa.

RMB2oT/2019 11
SÃO AS ATRIBUIÇÕES SUBSIDIÁRIAS ATIVIDADES DE GLO?

São espécies de GLO realizadas no País ser possível a perturbação da ordem…”,


pela MB as atribuições subsidiárias gerais respalda o emprego das FA na GLO,
das FA, cujas autorizações permanentes para a preservação da ordem pública e da
do Presidente da República constam dos incolumidade das pessoas, não somente
artigos 16 e 16-A da LC no 97/1999: como policiais militares, mas no exercício
I – Cooperar com o desenvolvimento das atividades de defesa civil a cargo dos
nacional – associada à ordem social men- Corpos de Bombeiros Militares.
cionada no artigo 193 da CRFB. Portanto, III – 16-A – essa terceira atribuição
as FA, quando empregadas com funda- geral das FA foi inserida pela última
mento nessa atribuição subsidiária geral, alteração à LC no 97/1999; na MB, rece-
estarão contribuindo para a ordem social. beu a denominação de “Patrulhamento”,
Na MB, são exemplos dessa espécie de de modo a distingui-la da Patnav e da
GLO, entre outros, a Ação Cívico-Social Inspeção Naval. Isso deveu-se a algumas
(Aciso) e o Programa de Desenvolvimento peculiaridades relativas à abrangência das
de Submarinos (Prosub), este associado às leis a fiscalizar, ao local de atuação e aos
ordens política e econômica. meios a empregar. Está associada à ordem
II – Cooperar com a defesa civil – a pública. Destina-se a combater os crimes
defesa civil é atribuição primária dos Cor- transfronteiriços e ambientais no mar
pos de Bombeiros Militares, conforme territorial e nas águas interiores, podendo
artigo 144 da CRFB, e está associada à a MB, para isso, utilizar qualquer meio,
ordem pública e à ordem social. Os de- sem necessidade de atender aos requisitos
sastres naturais ou antrópicos são grandes exigidos para a Patrulha Naval.
desestabilizadores da ordem pública. A São também espécies de GLO reali-
participação da MB se dá por solicitação zadas no País as atribuições subsidiárias
do Ministério da Integração Nacional e particulares da MB autorizadas permanen-
determinação do Ministério da Defesa, temente pelo Presidente, conforme, inci-
normalmente, provendo apoio de pessoal sos de I a V, artigo 17 da LC no 97/1999.
e material. Quando houver risco à vida Para o trato dessas atribuições, foi o
humana, há determinação do Comandante comandante da Marinha designado como
da Marinha (CM) para que a Organização Autoridade Marítima. São elas:
Militar (OM) da MB acionada proveja, I – Orientar e controlar a Marinha
imediatamente, o atendimento a seu Mercante e suas atividades correlatas, no
alcance. Oportuno mencionar que o art. que interessa à defesa nacional
3o do Decreto no 3.897/2001 refere-se Essa atribuição admite duplo enqua-
ao “esgotamento dos instrumentos pre- dramento. Na GLO, associada à ordem
vistos no artigo 144 da Constituição”, o econômica, quando a MB forma, por
que inclui, além das Polícias Militares, meio do Ensino Profissional Marítimo,
as Polícias Federais e os Corpos de os profissionais para tripular os navios
Bombeiros Militares. Considerando-se mercantes, essenciais à saúde econômica
apenas este artigo, as FA só poderiam brasileira. Além disso, a Diretoria de
desenvolver as ações de Polícia Militar. Portos e Costas (DPC) mantém vários
No entanto, quando combinado com o sistemas corporativos voltados ao pes-
disposto no artigo 5o do mesmo decreto, soal, ao material, a embarcações miúdas
“…abrange, ademais, da hipótese objeto e a vistorias e inspeções. Além disso,
dos artigos 3o e 4o, outras que se presuma enquadra-se também na defesa da Pátria

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SÃO AS ATRIBUIÇÕES SUBSIDIÁRIAS ATIVIDADES DE GLO?

quando a MB desenvolve atividade típica nas águas interiores, em coordenação com


de mobilização de meios da Marinha Mer- outros órgãos do Poder Executivo, federal
cante, para suprir as carências do Poder ou estadual, quando se fizer necessária, em
Naval nas operações navais. razão de competências específicas
II – Prover a segurança da navegação É a mais abrangente das atribuições e,
aquaviária por isso, exige um grande esforço da MB
Inserida nas ordens econômica e social. para o seu cumprimento, porque trata
Na LC no 69/19917, revogada pela LC da imposição de todas as leis e atos in-
n 97/1999, também constava com essa
o
ternacionais ratificados e internalizados
redação. Portanto, a Lei de Segurança do pelo Brasil, no mar e águas interiores.
Tráfego Aquaviário (Lesta)8, anterior à A MB dispõe de dois instrumentos para
LC no 97/1999, na verdade, regulamentou cumpri-la, a Patnav, para todas as leis,
a segurança da navegação aquaviária da e a Inspeção Naval limitada à Lesta.
LC no 69/1991. Mais do que qualquer outra, é associada
Essa regulamentação estendeu-se à à ordem pública, por abranger diversas
salvaguarda da vida humana e à segurança espécies de ordem.
da navegação, no mar aberto e em hidro- V – Cooperar com os órgãos federais,
vias interiores, e à prevenção da poluição quando se fizer necessário, na repressão
ambiental por parte de embarcações, aos delitos de repercussão nacional ou
plataformas ou suas instalações de apoio. internacional, quanto ao uso do mar,
Desse modo, é perfeitamente aceitável águas interiores e de áreas portuárias, na
considerar a Segurança do Tráfego Aqua- forma de apoio logístico, de inteligência,
viário (STA) uma atividade de sentido de comunicações e de instrução
mais amplo do que a segurança da nave- Também associada à ordem pública.
gação aquaviária, por representar apenas No entanto, a cooperação é limitada aos
um de seus propósitos. órgãos federais, aos delitos de reper-
III – Contribuir para a formulação e cussão nacional e internacional, quando
condução de políticas nacionais que di- praticados no mar, águas interiores e
gam respeito ao mar áreas portuárias. Além disso, restringe-se
Inserida nas ordens social e econômica. ao apoio logístico, de comunicação, de
Atividade desempenhada pela Comis- inteligência e de instrução. A MB atua
são Interministerial para os Recursos do por solicitação dos órgãos federais, se
Mar (Cirm), coordenada pelo comandante atendidas as condições impostas e dis-
da Marinha, congrega representantes de puser de meios na ocasião (conveniência
diversos setores com interesses no mar. A e oportunidade).
Cirm aprova planos e programas pluria-
nuais e anuais decorrentes da Política Na- OUTRAS ESPÉCIES DE GLO
cional para os Recursos do Mar (PNRM),
que se desdobram em projetos específicos. – Emprego das FA como Polícias Mi-
IV – Implementar e fiscalizar o cum- litares (Decreto no 3.897/2001 – GLO em
primento de leis e regulamentos, no mar e sentido estrito)

7 Lei Complementar no 69, de 23 de julho de 1991 – Dispõe sobre as normas gerais para a organização, o
preparo e o emprego das Forças Armadas (revogada pela LC no 97/1999).
8 Lei no 9.537, de 11 de dezembro de 1997 – Dispõe sobre a segurança do tráfego aquaviário em águas sob
jurisdição nacional e dá outras providências.

RMB2oT/2019 13
SÃO AS ATRIBUIÇÕES SUBSIDIÁRIAS ATIVIDADES DE GLO?

A autorização presidencial é exigida como pelas autoridades com competência


para cada emprego. para requisitar ou solicitar este empre-
Para este não há dúvida de que se trata go. Não se pode, pois, imaginar ser a
de GLO. requisição do Presidente do TSE, como
O artigo 8o do decreto dispõe não ser decorrente do artigo 5o do Decreto no
ele aplicável às situações de excepcionali- 3.897/2001 (GLO de sentido estrito), até
dade previstas nos artigos 136 (estado de porque ele não está entre as autoridades
defesa) e 137 (estado de sítio) da CRFB, com essa prerrogativa.
quando a legalidade normal é substitu- Há ainda o grupo de espécies de GLO
ída por uma legalidade extraordinária, realizadas no exterior, cujas autorizações
ocasiões em que vigerá o Sistema Cons- presidenciais serão eventuais.
titucional das Crises e do artigo 34 (inter- – Operações de Paz
venção federal). Essas situações podem Embora citadas no artigo 15 da LC
ser enquadradas na defesa da Pátria ou no 97/1999 junto às demais destinações
na GPC, ou seja, durante a ocorrência de constitucionais, não é uma delas nem
situações excepcionais. Essas ressalvas à consta entre as atribuições subsidiá-
aplicação do decreto evidenciam serem as rias. Diante disso, é forçoso admiti-la
atividades desta espécie de GLO típicas como uma espécie de GLO, executada
do período de estabilidade institucional. no exterior, no âmbito da garantia da
– Para garantir as eleições e a apuração ordem internacional, pois o preâmbulo
dos votos da CRFB afirma o comprometimento da
Inserida na ordem pública. sociedade brasileira com ordem interna
O emprego de forças federais para este e internacional.
fim admite duas formas de acionamento: As atuações das FA em operações de
a primeira, mais antiga, com fundamento paz pautar-se-ão por mandados da Orga-
no Código Eleitoral, ao outorgar ao Pre- nização das Nações Unidas (ONU), exce-
sidente do Tribunal Superior Eleitoral tuando-se a modalidade de imposição da
(TSE) o direito de requisitá-las para esse paz, haja vista a prática internacional atual
fim; a segunda tem como fundamento da República, uma vez serem princípios
o artigo 5o do Decreto no 3.897/2001, regentes de suas relações internacionais a
ao incluir entre as hipóteses em que se não-intervenção e a defesa da paz (art. 4o,
presume ser possível a perturbação da incisos IV e VI, da CRFB).
ordem a “realização de pleitos eleito- Assim, adotado esse entendimento, a
rais”, neste caso por iniciativa própria inclusão das operações de paz no artigo 15
do Presidente da República ou por so- da LC no 97/1999 fica protegida de críticas
licitação dos Presidentes do Supremo quanto à sua inconstitucionalidade.
Tribunal Federal, do Senado Federal ou – Operações de evacuação de não
da Câmara dos Deputados. A primeira combatentes (Op. ENC)
tem o foco na realização do pleito e a Estas operações estão associadas à or-
segunda visa evitar que a ordem pública dem pública, pois o que está em jogo é a
seja perturbada a ponto de prejudicar a incolumidade das pessoas e do patrimônio
realização do pleito. brasileiros no exterior. Tem o propósito de
Como se vê, as formas de acionamento evacuar cidadãos brasileiros e de outras
são inteiramente distintas, não só por nacionalidades indicadas pelo Governo
força de diferentes fundamentos legais, brasileiro, impossibilitados de prover sua

14 RMB2oT/2019
SÃO AS ATRIBUIÇÕES SUBSIDIÁRIAS ATIVIDADES DE GLO?

autodefesa em região de risco. A doutrina (grifou-se). Uma vez obtida a autorização


alóctone prevê essa operação em ambiente do Conselho de Segurança da ONU, seria
permissivo, quando autorizada pelo país aplicável a Lei no 2.953/56. A decisão
anfitrião, e em ambiente hostil, sem auto- pela realização da Op. ENC deverá per-
rização. Para o primeiro, o fundamento é correr todos os trâmites no nível político,
a Lei no 2.953/19569, sem a declaração de que, certamente, envolverá o Congresso
guerra, uma vez cumpridas as exigências Nacional. Uma Op. ENC sem o aval da
nela contidas. sociedade internacional será uma inter-
Para o ambiente hostil, no entanto, venção na soberania de outro país e, por
surge a dificuldade. A presença de forças conseguinte, inconstitucional.
estrangeiras em outro país é assunto sen- – Segurança de representações diplo-
sível, por afetar o exercício da soberania máticas
de um país sobre seu território. O Brasil, Também está relacionada à segurança
como mencionado, pública no exterior,
pauta-se pela não- por visar ao provi-
-intervenção (inciso
IV, art. 4o, CRFB).
Todo emprego das Forças mento da segurança
pessoal do chefe da
Sem ignorar as so- Armadas deve subordinar- representação di-
luções adotadas por se à Constituição. Se não for plomática, dos de-
outros Estados, tais mais funcionários
como considerar defesa da Pátria ou garantia diplomáticos e ad-
uma ENC tão expe- dos poderes constitucionais, ministrativos, da re-
dita a ponto de não sidência oficial e da
caracterizar uma
será enquadrado como chancelaria das em-
agressão ou de con- Garantia da Lei e da Ordem baixadas do Brasil.
siderar a invocação A soberania do outro
do art. 51 da Carta país não é agredida,
da ONU10 para a defesa dos seus nacio- por limitar-se a ação às dependências da
nais, uma saída jurídica seria obter auto- representação diplomática, considerada
rização junto ao Conselho de Segurança território brasileiro (ficção jurídica).
da ONU. A Política de Defesa Nacional
(PDN), na diretriz XXIII, estabelece: Espécies de GLO benignas
“dispor de capacidade de projeção de po-
der, visando à eventual participação em Constituem o grupo das espécies de
operações estabelecidas ou autorizadas GLO benignas, realizadas no País e no exte-
pelo Conselho de Segurança da ONU” rior, as já mencionadas espécies de GLO de:

9 Lei no 2.953 de 17 de novembro de 1956, fixa normas para remessa de tropas brasileiras para o exterior.
10 Arto. 51 Nada na presente Carta prejudicará o direito inerente de legítima defesa individual ou coletiva,
no caso de ocorrer um ataque armado contra um membro das Nações Unidas, até que o Conselho
de Segurança tenha tomado as medidas necessárias para a manutenção da paz e da segurança inter-
nacionais. As medidas tomadas pelos membros no exercício desse direito de legítima defesa serão
comunicadas imediatamente ao Conselho de Segurança e não deverão, de modo algum, atingir a
autoridade e a responsabilidade que a presente Carta atribui ao Conselho para levar a efeito, em
qualquer momento, a ação que julgar necessária à manutenção ou ao restabelecimento da paz e da
segurança internacionais.

RMB2oT/2019 15
SÃO AS ATRIBUIÇÕES SUBSIDIÁRIAS ATIVIDADES DE GLO?

– cooperar com o desenvolvimento plas capacidades, das quais a nação não


nacional; pode prescindir nos tempos de norma-
– cooperar com a defesa civil; lidade. Assim, a maioria das Marinhas
– orientar e controlar a Marinha Mer- do mundo utilizam, em tempo de paz,
cante e suas atividades correlatas no que essa capacidade, não em operações de
interessa à defesa nacional; guerra, mas naquelas de uso limitado da
– prover a segurança da navegação força ou humanitárias/benignas. Assim
aquaviária; e também procede a Marinha do Brasil.
– contribuir para a formulação e con- Embora seja a MB muito solicitada para
dução de políticas nacionais que digam as operações de GLO durante os períodos
respeito ao mar. de normalidade, o dimensionamento da
E as seguintes atividades realizadas Força deve visar à obtenção e ao apres-
pela MB: tamento dos meios necessários à defesa
– emprego em apoio à política externa da Pátria, sob pena de, se assim não
(autorização eventual); proceder, reduzir o Poder Naval a níveis
– operação humanitária (autorização inaceitáveis, podendo caracterizar, em
eventual); caso de uma crise internacional, crime
– Ações Cívico-Sociais (Lei n o de responsabilidade.
2.419/1955) e Patrulha Costeira (art. 1o, A GLO não é criação da Constituição
alínea b); de 1988. Já a Constituição imperial,
– Busca e Salvamento (SAR) (vida de 182411, a ela se referia. Nos termos
humana) e Lei 7.273/1984, art. 2o; atuais, aparece pela primeira vez na de
– Assistência e salvamento (material) 193412. É, pois, coisa antiga. O desco-
e Lei 7.203/1984, art. 2o; nhecimento dessa destinação constitu-
– desativação de artefatos explosivos, cional durante o século passado deve-se,
quando os órgãos responsáveis não deti- provavelmente, ao fato de só ter sido
verem a capacidade técnica, e atuação em regulamentada, uma de suas espécies,
prol do interesse público. pelo Decreto no 3.897/2001.
O emprego do Poder Naval nas espé- Como premissa aceitável, estabe-
cies de GLO benignas não admite o uso leceu-se que todo emprego das FA
da força, mas nem por isso deixam de ser deve subordinar-se às três destinações
assim classificadas, associadas que são, constitucionais do artigo 142 da CRFB.
normalmente, às ordens social, econômi- Desse modo, se não for defesa da Pátria
ca, política ou internacional. ou GPC, sê-lo-á, forçosamente, enqua-
drado como GLO, pois são esses e só
CONCLUSÃO esses os empregos maiores atribuídos
pela CRFB às FA.
As Forças Armadas são instrumentos O propósito deste trabalho foi apre-
do Poder Nacional de elevado custo sentar os argumentos que embasam o
para a nação. Dispõem elas de múlti- entendimento de que as atribuições subsi-

11 “Art. 145 – Todos os Brasileiros são obrigados a pegar em armas, para sustentar a Independência, e inte-
gridade do Império, e defendê-lo dos seus inimigos externos, ou internos.”
12 “Art. 162 – As forças armadas são instituições nacionais permanentes, e, dentro da lei, essencialmente
obedientes aos seus superiores hierárquicos. Destinam-se a defender a Pátria e garantir os Poderes
constitucionais, e, a ordem e a lei.”

16 RMB2oT/2019
SÃO AS ATRIBUIÇÕES SUBSIDIÁRIAS ATIVIDADES DE GLO?

diárias gerais das FA, particulares da MB alguns aspectos contidos nas normas le-
e das demais atividades desenvolvidas gais e que por vezes geram confusão ou
pelo Poder Naval durante a normalidade má interpretação.
institucional, são espécies de GLO e, deste Pode-se, então, responder afirmativa-
modo, garantir que o emprego do Poder mente à pergunta, título desse trabalho,
Naval nessa ocasião é absolutamente não só para as atribuições subsidiárias
constitucional. como para qualquer emprego do Poder
Foi necessário apresentar os entendi- Naval durante os períodos de normali-
mentos para cada uma das destinações dade institucional.
constitucionais das FA; encontrar a verda- Embora a MB tenha sido enfocada
deira dimensão do termo “ordem”, que se com maior ênfase, o mesmo raciocínio
buscou em Parecer da CCJA e esclarecer aplica-se às demais FA.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:


<FORÇAS ARMADAS>; Atividade Subsidiária;

RMB2oT/2019 17
PODER NAVAL – PRESENTE E FUTURO (PARTE 5)*
Submarinos, Desenvolvimento e Defesa

ELCIO DE SÁ FREITAS**
Vice-Almirante (Refo-EN)

SUMÁRIO

Introdução
Retrospecto
Programas de Submarinos
A Guerra Submarina previsível para os próximos 30 anos
Continuidade do Prosub
Sistema de Projeto e Produção de Submarinos
Classes de submarinos a projetar
Inteligência Artificial
Apêndice 1 – Processos de Obtenção de Navios de Guerra
Apêndice 2 – Prosub: Plataforma e Sistema de Combate

INTRODUÇÃO Grandes programas nacionais, civis ou


militares, deverão ser concebidos, pla-

P ara preservar soberania, patrimônio


e integridade territorial, é imperativo
progredirmos continuamente nos pró-
nejados, executados e controlados para
gerar simultaneamente desenvolvimento
e defesa, em interações recíprocas e cumu-
ximos 40 anos como nunca o fizemos. lativas. Sem isso, não serão sustentáveis.

* A 1a parte desta matéria foi publicada na RMB do 2o trim/2017, a 2a parte no 3o trim/2017, a 3a parte no 4o
trim/2018 e a 4a parte no 1o trim/2019.
** Serviu no CL Barroso e no CT Mariz e Barros. MSc em Civil Engineering e Naval Engineer, ambos pelo
Massachusetts Institute of Technology (MIT). Foi professor de graduação e pós-graduação na Escola
Politécnica da USP e chefe do Escritório Técnico de Construção Naval em São Paulo. Serviu no AMRJ
por cinco anos. Entre 1981 e 1990, na Diretoria de Engenharia Naval, exerceu diversas funções e foi
seu diretor de 1985 a 1990. Colaborador frequente da RMB, é autor do livro A Busca de Grandeza.
PODER NAVAL – PRESENTE E FUTURO (PARTE 5) – Submarinos, Desenvolvimento e Defesa

RETROSPECTO PROGRAMAS DE SUBMARINOS

Historicamente, nossos programas Nas décadas de 1910, 1920, 1930 e 1960


navais foram poucos e descontínuos. En- incorporamos submarinos novos, projeta-
tre um programa e o seguinte decorriam dos e construídos no exterior. Na de 1950
de dez a 20 anos. Um novo programa só recebemos submarinos americanos rema-
se iniciava, quando a indisponibilidade nescentes da Segunda Guerra Mundial.
e a obsolescência de nossos navios já Programas de obtenção de submarinos
eram insustentáveis. Cada programa era projetados ou construídos no Brasil foram
considerado um Reaparelhamento da apenas quatro em toda a nossa história: o
Marinha, e não um novo empreendimen- dos submarinos IKL-400 classe Tupi, de
to para contínua formação de um poder projeto alemão e construídos no Brasil1;
naval dissuasivo e eficaz, em sinergia o do submarino SNAC-1, de projeto na-
com outros programas de desenvolvi- cional, cancelado ao final de seu projeto
mento nacional. preliminar [2]; o do submarino MB-10,
Nesses intervalos de dez a 20 anos, de projeto nacional, também cancelado; e
equipes ainda em formação desfaziam- o Programa de Desenvolvimento de Sub-
-se. Poucos oficiais marinos (Prosub),
e civis participavam atualmente abran-
de mais de uma ob- Conhecimento e experiência gendo a construção
tenção de navios de no Brasil de quatro
guerra. Conheci-
não passavam de uma submarinos basea-
mento e experiência geração para outra. dos no projeto fran-
não passavam de Perdiam-se cês classe Scorpène
uma geração para e a futura constru-
outra. Perdiam-se. ção de um primeiro
Não havia mentalidade de desenvolvi- submarino nuclear de projeto nacional.
mento e defesa na sociedade e no Estado A amplitude tecnológica e financeira
nacional. Tal situação ainda hoje perdura, do Prosub em muito excede a de qualquer
apenas mais branda. outro programa naval que realizamos. Ele
Assim, não pudemos formar uma estru- já tem mais de 30 anos, aí se incluindo o
tura técnico-científica-operativa-gerencial desenvolvimento das tecnologias de enri-
permanente, com sólido conhecimento e quecimento de urânio e do reator nuclear.
experiência em projeto e construção de Mas poderá ser um programa de alcance
sistemas e navios de combate. Só com limitado e não um empreendimento de
obtenções frequentes poderemos formar amplos horizontes, destinado a criar,
essa estrutura. Isso é o que a Marinha manter e atualizar continuamente um
procura fazer, mas ainda sem perspectiva poder naval dissuasivo e eficaz, gerador
de continuamente projetar e construir seus de tecnologia, desenvolvimento e defesa.
navios no Brasil nos próximos 40 anos, Para tanto, o Prosub precisa tornar-se um
exceto submarinos. programa permanente de desenvolvimen-

1 Exceto o primeiro da classe, o Tupi, construído na Alemanha, mas com acompanhamento de equipes es-
pecializadas da Marinha do Brasil (MB) que vieram a construir os três seguintes, da mesma classe, no
Brasil, com um mínimo de assistência estrangeira.

RMB2oT/2019 19
PODER NAVAL – PRESENTE E FUTURO (PARTE 5) – Submarinos, Desenvolvimento e Defesa

to e defesa, essencial para nossa proteçãoele se manteria ativo durante 40 anos, até
no cenário previsível de guerra submarina 2072, e que teria dois longos períodos de
dos próximos 40 anos. Requer sequências indisponibilidade: um em 2047, 15 anos
lógicas de reflexões, estudos, decisões após sua entrada em serviço, para grandes
e ações quanto aos meios de combate a reparos e modernização do sistema de
produzir, quanto às demandas mínimas combate4; e outro em 2057, 25 anos após a
desses meios2, quanto a tempos e custos e entrada em serviço, para grandes reparos e
quanto a outras questões essenciais para aupgrades no sistema propulsivo e de gera-
continuidade, sustentabilidade financeira ção de energia5. A segunda unidade dessa
e ascensão tecnológica do programa. nova classe entraria em serviço três anos
após a primeira. Portanto, estaria ativa
A GUERRA SUBMARINA entre janeiro de 2035 e janeiro de 2075.
PREVISÍVEL PARA OS Como será a guerra submarina nesse
PRÓXIMOS 30 ANOS intervalo de 43 anos, entre 2032 e 2075?
É impossível prever.
Questão básica E nos primeiros 15
A mais importante questão anos, entre 2032 e
Qualquer sub- da longa e complexa 2047? Talvez seja
marino cuja ca- possível prever,
pacitação em pro- obtenção de navios de considerando-se o
jeto e construção guerra é que sejam eficazes que já hoje ocor-
se obtenha poderá e apropriados à guerra re na guerra aérea,
ser pouco eficaz se ocorrências simila-
não for apropriado previsível que enfrentarão res que se iniciam
à guerra previsível nos 15 anos após entrarem na guerra submarina
que enfrentará nos e o ritmo cada vez
15 anos após sua em serviço mais rápido da evo-
entrada em serviço. lução tecnológica.
Essa é a mais importante questão de todo De fontes especializadas, conclui-
o longo e complexo processo de obtenção -se que UUVs (Unmanned Underwater
de navios de guerra. Vehicles) serão intensamente empregados
O primeiro submarino de uma nova na guerra submarina entre 2032 e 2047,
classe cujos estudos de Estado-Maior tanto os autônomos como os controlados
iniciássemos em janeiro de 2019 prova- remotamente 6. Recursos de detecção
velmente não entraria em serviço antes não acústica de submarinos, atualmente
de janeiro de 20323. É razoável supor que pré-operacionais, provavelmente serão

2 Sem demandas iguais ou superiores às mínimas apropriadas à capacidade instalada, haverá descontinuidades,
retrocesso e colapso do programa.
3 Consulte-se a referência [3].
4 Por sistema de combate entenda-se C4ISR+Sistema de Armas.
5 No caso de submarino nuclear, será necessário um outro longo período de indisponibilidade para reabaste-
cimento de combustível nuclear, combinado, ou não, com modernização.
6 Eles já existem com diferentes portes e capacidades operativas. Nos próximos anos, a USN começará a
obtê-los em ritmo crescente e a utilizá-los em exercícios com a esquadra, para formular doutrinas para
sua operação. E o Reino Unido pretende desenvolver um UUV de grande porte (XLUUV), para missões
a distâncias de até 3.000 milhas náuticas e 3 meses.

20 RMB2oT/2019
PODER NAVAL – PRESENTE E FUTURO (PARTE 5) – Submarinos, Desenvolvimento e Defesa

utilizados. E o bloqueio ou desnorteio de a – Como reduzir a vulnerabilidade de


sistemas ciberfísicos [4] certamente será nossos produtos do Prosub a ataques de
parte essencial da arte e ciência da guerra. UUVs e ataques ciberfísicos?
UUVs são multiplicadores de capaci- b – Que capacitações tecnológicas de
dade e redutores de risco de forças navais ataque e defesa deverão ter os produtos
de alto valor. Eles já operam em Marinhas do Prosub ainda a projetar e construir?
de vanguarda, tanto com finalidades Os submarinos tipo Scorpène do Prosub
defensivas como ofensivas. Seu poder provavelmente estarão ativos até 2060.
aumentará com o contínuo progresso em Poderão enfrentar UUVs de duas ou três
algumas tecnologias críticas. Também são gerações tecnológicas. O mesmo ocorrerá
valiosos em oceanografia e na exploração com os primeiros submarinos de outras
de petróleo e minerais sob o solo oceâni- classes que projetarmos e construirmos.
co. A diversidade de missões militares e Reduzir a vulnerabilidade a UUVs
não militares que já realizam ou poderão é questão técnico-operativa essencial.
realizar inclui: Requer estudo intenso de grupos técnico-
a – ISR (Information, Surveillance and -científico-operativos. Em ações defensi-
Reconaissance) vas de águas rasas,
b – MCM (Mi- o mais eficaz e efi-
ning and Counter Projetar, construir, operar ciente talvez seja
Mining Measures) combater UUVs em-
c – ASW (Anti- e manter UUVs é essencial pregando uma com-
submarine Warfare) ao Prosub, assim como binação de UUVs
d – Inspeção/ e meios aéreos ,em
Identificação
atualizar, expandir e ação constante de
e – Oceanografia aplicar conhecimentos patrulhamento, além
f – Nós de redes para sistemas militares de novos recursos
de comunicação/na- gerados pela veloz
vegação e civis resistirem a evolução tecnoló-
h – Ataque e des- ataques ciberfísicos gica. Sem isso, não
truição será difícil a UUVs
A capacidade de rivais restringir a
UUVs realizarem missões de MCM e ata- ação de submarinos produzidos no Prosub,
que e destruição em entradas e saídas de e que teremos em serviço até 2060.
portos e estreitos (choke points) é questão No planejamento do número de sub-
vital em qualquer planejamento de defesa. marinos operacionalmente disponíveis em
Pode-se argumentar que nunca teremos dado instante, deve-se considerar as in-
que enfrentar UUVs, métodos de detecção disponibilidades impostas por seus ciclos
não acústica e outros novos meios trans- de manutenção. Logo, para os próximos
formadores da guerra submarina. Esse projetos do Prosub, será mais eficaz visar a
argumento é perigosamente otimista. um número maior de submarinos menores,
porém dotados de sistemas de combate
Capacitações necessárias mais avançados e resistentes a ataques
ciberfísicos, e também simultaneamente
As considerações anteriores suscitam, desenvolver UUVs. Será um extraordi-
entre outras, as seguintes questões: nário esforço técnico-científico-industrial

RMB2oT/2019 21
PODER NAVAL – PRESENTE E FUTURO (PARTE 5) – Submarinos, Desenvolvimento e Defesa

que não mais deverá cessar. Mas sem ele a As três ações anteriores são interde-
alternativa para os próximos 40 anos será pendentes.
projetar, construir, operar e manter um
número menor de submarinos maiores, Demanda
mais caros e mais vulneráveis às ameaças
da guerra submarina que enfrentarão. Sem demanda contínua e minimamente
suficiente, qualquer sistema produtivo
Adições essenciais ao Prosub entrará em colapso, sejam quais forem
seus produtos e seja ele privado, misto
Obter a capacidade de projetar, cons- ou estatal. Para nossos produtos de defesa
truir, operar e manter UUVs é uma adição sempre há e haverá demanda potencial. O
essencial ao Prosub. UUVs também são que raramente tem existido são recursos
indispensáveis para explorar petróleo e ou- financeiros durante longos períodos e, por-
tros recursos minerais no subsolo oceânico. tanto, demanda real. Logo, é alto o risco
Portanto, a Marinha poderá buscar recursos de descontinuidade, retrocesso e colapso
financeiros de outros programas nacionais de qualquer grande programa naval. Para
e com eles unir esforços. minimizá-lo, são essenciais a terceira ação
Outra adição essencial ao Prosub é atu- recomendada acima e a determinação da
alizar, expandir e aplicar conhecimentos demanda mínima indispensável ao siste-
para sistemas militares e civis resistirem a ma produtivo do Prosub, examinada no
ataques ciberfísicos. Essa adição se aplica item 6 deste artigo.
a grande parte da infraestrutura nacional
[4]. Logo, poderá ter recursos extra-MB. Preservação e desenvolvimento de
Mobilizará mentes técnico-científico- equipes e capacitações no Prosub
-industriais que se aliarão à Marinha.
Para preservar e desenvolver equipes
CONTINUIDADE DO PROSUB e capacitações no Prosub é necessário
manter simultaneamente um fluxo cons-
Descontinuidades são inimigas históricas tante de projetos e outro de construções,
de nossos programas de desenvolvimento realizando todas as 11 fases do processo
e defesa. Manter e desenvolver ininterrup- de obtenção, listadas no Apêndice 1 deste
tamente o Prosub deve ser a preocupação artigo, para a primeira unidade de cada
máxima. Requer as seguintes ações: classe de submarinos.
a – preservar e desenvolver equipes e Desenvolver equipes e capacitações
capacitações; requer:
b – associar o Prosub a programas de a – que cada projeto de nova classe de
desenvolvimento nacional, para eles con- submarinos não seja quase uma repetição
tribuindo e deles absorvendo recursos7; e do anterior, e sim uma evolução que utili-
c – planejar e controlar os projetos do ze novas possibilidades tecnológicas, apta
Prosub sob intensa ótica técnico-operati- a enfrentar a guerra submarina previsível
va-financeira, para prover compatibiliza- para o período entre 12 a 27 anos após o
ção orçamentária [6]. início do projeto;

7 Essa ação alinha-se com o fundamento básico de nossa Estratégia Nacional de Defesa, que é: “desenvolvi-
mento e defesa são inseparáveis”.

22 RMB2oT/2019
PODER NAVAL – PRESENTE E FUTURO (PARTE 5) – Submarinos, Desenvolvimento e Defesa

b – que a evolução tecnológica-opera- gia e do Ministério da Ciência, Tecnologia


tiva de uma classe de submarinos para a e Inovação. Ligadas por instrumentos
seguinte seja gradual; e práticos de trabalho conjunto bem coor-
c – que a obtenção de cada novo sub- denado, essa associação de instituições
marino seja viável orçamentariamente [6]. resultará em transferências de tecnologia
Viabilidade orçamentária é condição intranacionais. Resultará em economia
sine qua non. de recursos financeiros e de tempo para
Não basta manter a capacidade de consecução de objetivos. Ligações com
projeto do Prosub. É necessário constan- o sistema técnico-científico-industrial in-
temente desenvolvê-la. Cada novo pro- ternacional poderão decorrer das relações
jeto de submarino destina-se a prováveis já existentes, ou a existir, de cada uma
guerras entre 15 e 45 anos após seu início. das instituições nacionais com o exterior.
Logo, os submarinos resultantes de cada
novo projeto deverão incorporar, tanto SISTEMA DE PROJETO E
quanto possível, tecnologias recentemente PRODUÇÃO DE SUBMARINOS
operacionais e também disporem do apoio
de outros meios navais (UUVs, ROVs, O Sistema de Projeto e Construção do
SUVs etc.) que incorporem essas tecno- Prosub, tal como concebido e montado,
logias. Algumas dessas tecnologias são é uma linha de produção contínua de
duais, isto é, aplicam-se a necessidades submarinos, atualmente constituída das
civis e militares. São duais, por exemplo, seguintes unidades: unidade de projeto
as tecnologias necessárias a duas das mais (em São Paulo e em Itaguaí), unidade de
importantes necessidades navais: UUVs e fabricação do casco resistente do subma-
Proteção de Sistemas Ciberfísicos. E pro- rino (Nuclep), unidade de fabricação de
vavelmente será dual a utilização de bate- estruturas leves e outfitting inicial (FEM)
rias de lítio. Portanto, o desenvolvimento e unidade de construção e de testes e
do Prosub requer constante interação com provas de responsabilidade do construtor
o sistema técnico-científico-industrial (estaleiro da ICN).
nacional e internacional. Não sabemos quais são as capacidades
de produção atuais (média e máxima), nem
Associação a Programas de as previsíveis, para cada uma dessas qua-
Desenvolvimento Nacional tro unidades, expressas em submarinos/
ano. No entanto, para que as capacitações
A interação com o sistema técnico- humanas se mantenham e desenvolvam, é
-científico-industrial nacional já existe, indispensável que todas as quatro unidades
mas ainda é incipiente. Precisa estruturar- nunca fiquem muito abaixo de suas capa-
-se e intensificar-se, tornando-se mais cidades médias de produção.
objetiva e eficaz em convênios, contratos As capacidades de produção de cada
e outros instrumentos de associação entre uma das quatro unidades têm que gerar
a Marinha e instituições de pesquisa e um fluxo contínuo até o final da linha de
desevolvimento, sejam elas militares ou produção, que é o submarino construído,
civis. Várias dessas instituições prova- testado e avaliado. Fluxo insuficiente em
velmente trabalham em programas de uma unidade anterior da linha de produção
desenvolvimento nacional, apoiadas por causará ociosidade nas unidades poste-
recursos do Ministério das Minas e Ener- riores. E fluxo excessivo causará conges-

RMB2oT/2019 23
PODER NAVAL – PRESENTE E FUTURO (PARTE 5) – Submarinos, Desenvolvimento e Defesa

tionamentos nas unidades posteriores. A de apenas quatro unidades de combate


primeira dessas possibilidades é muito na Força de Submarinos. Nesse ritmo,
mais danosa, pois causa perda de precioso teríamos somente mais 12 unidades ao
capital humano, muito difícil de recuperar. final de 30 anos. Essa conclusão é hi-
Suponhamos que a capacidade média potética, pois baseia-se em suposições
da unidade de produção número 3, ci- sobre as capacidades normais em cada
tada acima, seja de 0,5 submarino/ano. uma das unidades 1,2,3 e 4 da linha de
É provável que as unidades 2 e 4 sejam produção de submarinos. Porém mostra
com ela compatíveis. Se essas hipóteses a importância de determinar essas capa-
se confirmarem, a capacidade média da cidades para planejamentos realistas nos
linha de produção contínua no trecho 2-3- próximos 30 ou 40 anos.
4 será de um submarino a cada dois anos, Fluxo de produção insuficiente em
suscitando as seguintes questões: qualquer uma das unidades 1,2,3 e 4 é a
1– Qual deverá ser a capacidade média mais grave das dificuldades que podem
de produção da unidade 1 (projeto)? ocorrer, por causar desemprego e conse-
2 – Haverá capa- quente perda de ca-
cidade orçamentá- pacitações humanas
ria para manter um Fluxo de produção duramente conse-
ritmo de produção
de um submarino a
insuficiente é a mais grave guidas e dificilmente
recuperáveis. Pode
cada dois anos? dificuldade, por causar causar estagnação e
A capacidade de desemprego e consequente retrocesso. Porém,
produção da unida- durante toda a exis-
de 1 mede-se pelo perda de capacitações tência dessa linha de
número anual de duramente conseguidas e produção de subma-
projetos de novas
classes de subma-
dificilmente recuperáveis. rinos, haverá inevi-
tavelmente períodos
rinos, multiplica- Pode causar estagnação e de fluxo insuficiente
do pelo número retrocesso em uma ou mais das
de submarinos em unidades 1,2, 3 ou
cada classe. Assim, 4. Eles decorrerão
por exemplo, se a capacidade média principalmente das seguintes causas:
da unidade 1 for de um projeto a cada a – insuficiências orçamentárias;
quatro anos e cada classe for de apenas b – perdas inevitáveis de pessoal capa-
dois submarinos, a capacidade média citado (por aposentadorias, mortes etc.);
de projeto será de ¼ x 2 =0,5 subma- c – insuficiência de pessoal capacitado
rino/ano (um submarino a cada dois para funções e tarefas impostas por evo-
anos). Isto significa que seria injetado luções tecnológicas; e
um fluxo de um submarino a cada dois d – problemas diversos em qualquer
anos no restante da linha de produção, uma das unidades de produção 1,2,3 e 4.
constituída pelas unidades 2,3 e 4. E Pergunta-se: Como minimizar a pro-
seria produzido um submarino a cada babilidade de um fluxo de produção
dois anos. Em dez anos, provavelmente insuficiente em qualquer uma das quatro
um submarino da classe mais antiga unidades de produção causar estagnação
seria desativado e haveria um aumento ou retrocesso?

24 RMB2oT/2019
PODER NAVAL – PRESENTE E FUTURO (PARTE 5) – Submarinos, Desenvolvimento e Defesa

Resposta: Realizando-se as seguintes 8 – Organizando-se e mantendo-se um


ações: competente Sistema de Planejamento e
1 – Determinando-se o fluxo de pro- Controle Orçamentário específico para o
dução mínimo admissível para cada uma Prosub, que permita constante atualização
das unidades 1,2,3,4, a fim de que não se anual dos recursos orçamentários necessá-
inicie estagnação e retrocesso tecnológico. rios para os cinco ou dez anos seguintes.
2 – Determinando-se o número mínimo
e o custo anual de cada tipo de engenheiro, CLASSES DE SUBMARINOS A
técnico e operário especializado neces- PROJETAR
sário para possibilitar o fluxo do item A.
3 – Determinando-se o custo anual À vista de todas as considerações
necessário para manter-se pelo menos o acima, conclui-se que o projeto de cada
fluxo mínimo admissível citado em A, nova classe de submarinos deverá, prefe-
e atualizando-se esse custo anualmente. rencialmente:
4 – Determinando-se o perfil de de- 1 – gerar submarinos de porte menor
manda anual de recursos financeiros para que o do atual SN-BR, porém mais avan-
os próximos cinco anos e atualizando-se çados tecnologicamente e de menor custo
este perfil anualmente. de obtenção e de ciclo de vida;8
5 – Utilizando-se o perfil determinado 2 – incorporar avanços no sistema de
em D como um instrumento de alerta combate (C4ISR+Sistema de Armas);
antecipado ao Ministério da Defesa e ao 3 – incorporar possíveis recursos
poder político nacional. tecnológicos para proteção a sistemas
6 – Procurando intensamente garantir ciberfísicos;
que a força mínima e especializada de tra- 4 – incorporar recursos tecnológicos
balho citada no item B pertença aos corpos para operação conjunta com UUVs, par-
e quadros permanentes da Marinha, pois ticularmente no domínio de choke points;
só assim poderá resistir a períodos de 5 – incorporar, para os submarinos
quase total interrupção de suas atividades, seguintes ao protótipo de cada classe,
e, portanto, impedir retrocesso e colapso. alterações resultantes da avaliação do de-
Tendo em vista nossa história tecnológica sempenho do protótipo nos três primeiros
naval, esta é a mais importante providên- anos de efetivo serviço do protótipo – isto
cia para que o ciclo de progresso que ora requer que parte da equipe de projeto, em
iniciamos não se torne mais um ciclo de conjunto com as de operação e manutenção,
progresso-estagnação-retrocesso. monitore sistematicamente o desempenho
7 – Organizando-se e mantendo-se atu- técnico-operativo-logístico do protótipo de
alizado na Marinha um Curso de Projeto cada classe durante um mínimo de três anos.
de Submarinos, à semelhança do que foi As quatro primeiras condições acima
para nós organizado na França. Vídeos destinam-se a ter em serviço, nos próxi-
das aulas deste curso certamente existem mos 30 anos, o maior número possível
na Marinha. E as instalações e atividades de submarinos tecnologicamente aptos
do Prosub em Itaguaí são ótimo campo à guerra submarina previsível para os
de ilustração. primeiros quinze anos de suas vidas úteis.

8 O custo de ciclo de vida é a soma do custo de obtenção com os custos de operação, apoio, manutenção,
modernização e descarte ao final da vida útil.

RMB2oT/2019 25
PODER NAVAL – PRESENTE E FUTURO (PARTE 5) – Submarinos, Desenvolvimento e Defesa

Aplicam-se a qualquer nova classe de dos próximos 40 anos, é essencial que a


submarinos que se deseje projetar. Marinha e o País se dediquem intensa-
Para projetos atualizados, é indispen- mente à tecnologia de Inteligência Arti-
sável constante conhecimento do estado ficial. Iniciada há mais de meio século,
da arte em tecnologias importantes, esta tecnologia começa a transformar
inclusive o de tecnologias mais recentes. radicalmente várias atividades humanas,
Formar e manter atualizado esse conhe- desde as mais simples às mais complexas,
cimento requer um objetivo Serviço de desde métodos de projeto e produção até
Inteligência Tecnológica. atividades jurídicas e financeiras. Em
verdade, afetará inevitavelmente quase
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL todos os aspectos econômicos e sociais da
vida civilizada, provavelmente em maior
Para o Prosub e outros programas escala do que o fez a Revolução Industrial
serem eficazes em desenvolvimento e do século XIX. Para compreensão desse
defesa no cenário previsível de guerra tema vital, recomenda-se a referência [7].

APÊNDICE 1
PROCESSOS DE OBTENÇÃO DE NAVIOS DE GUERRA

Em quase todos os processos de obtenção de navios de guerra existem, explícita ou


implicitamente, 11 fases para o primeiro navio da classe. O número explícito de fases e a
denominação de cada fase podem variar. Dependem do tipo e da complexidade do navio
a obter, do conhecimento e da experiência já obtidos em processos de obtenção, do grau
de capacitação técnica e financeira da base industrial de defesa do país, da integração do
sistema técnico-científico-industrial do país às Forças Armadas e do empenho da Marinha
de Guerra do país em obter o máximo de conhecimento e experiência no processo de
obtenção e na sua efetiva contribuição para desenvolvimento e defesa9.
As 11 fases são:
1 – Estudos de Estado-Maior sobre capacitações técnico-operativas, tempo de obtenção,
custos admissíveis e outros requisitos, aplicáveis a uma nova classe;
2 – Estudos de exequibilidade;
3 – Projeto de concepção;
4 – Projeto preliminar;
5 – Projeto de contrato;
6 – Licitação para a construção (ou processo equivalente);
7 – Construção, testes e provas do estaleiro construtor e início da integração de sistemas
da plataforma e do sistema de combate (C4ISR+Sistemas de Armas);
8 – Final da integração do sistema de combate e correspondentes testes e provas;
9 – Avaliação de engenharia e operacional;
10 – Shake down; e
11 – Post-shake down

9 Contribuição real, inteligente e essencial para desenvolvimento e defesa é a fixação ou criação no país de
conhecimentos e meios para projetar, construir, operar, manter e modernizar o navio e seus sistemas e
equipamentos. Muitos desses conhecimentos e meios são de aplicação dual, isto é, aplicam-se também
a necessidades civis. Contribuição assim é o que se deve designar por nacionalização.

26 RMB2oT/2019
PODER NAVAL – PRESENTE E FUTURO (PARTE 5) – Submarinos, Desenvolvimento e Defesa

Dependendo dos fatores citados, as fases 2, 3 e 4 são apresentadas, ou não, como


uma só fase, denominada Projeto Básico, ou com outra denominação, e as fases 5 e 7
podem aparecer, ou não, como uma só fase, denominada Projeto de Detalhamento e
Construção. Essas aglutinações de fases podem dar a impressão de rapidez e melhores
resultados finais.
Em casos extremos, a fase 6 precede todas as demais.

APÊNDICE 2
PROSUB: PLAFORMA E SISTEMA DE COMBATE

Navio de guerra é o que possui um Sistema de Combate (C4ISR+Sistema de Armas).


O restante de um navio de guerra é o que se denomina plataforma. Esta destina-se a
conter funcionalmente e servir eficientemente ao sistema de combate, ter a indiscrição
mínima possível e máximo desempenho náutico e atuar nas condições mais adversas de
operação com a máxima capacidade possível de sobrevivência. Portanto, se o Prosub
não abranger com a mesma ênfase o Sistema de Combate (C4ISR+Sistema de Armas)
e a plataforma, ficará prejudicada sua real finalidade: a guerra submarina.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:


<FORÇAS ARMADAS>; Construção Naval; Poder Naval;

REFERÊNCIAS:

[1] "Poder Naval – Presente e Futuro (Parte 3)" – Vice-Almirante (Refo-EN) Elcio de Sá Freitas
– Revista Marítima Brasileira, 4o Trimestre de 2018
[2] A Busca de Grandeza – Marinha, Tecnologia, Desenvolvimento e Defesa – Capítulos IX e
X – Vice-Almirante (Refo-EN) Elcio de Sá Freitas – Editora Serviço de Documentação da
Marinha – 2014
[3] "Poder Naval – Presente e Futuro (Parte 2)" – Vice-Almirante (Refo-EN) Elcio de Sá Freitas
– Revista Marítima Brasileira, 3o Trimestre de 2017
[4] DI BENEDITO, Marco Eugênio Madeira. "Defesa Cibernética – Segurança para Sistemas
Ciberfísicos dos Meios Operativos de Superfície" – Revista Marítima Brasileira – 2o
Trimestre de 2017
[5] A Busca de Grandeza – Marinha, Tecnologia, Desenvolvimento e Defesa – páginas 108 e
109 – Vice-Almirante (Refo-EN) Elcio de Sá Freitas – Editora Serviço de Documentação
da Marinha – 2014
[6] "Poder Naval: Presente e Futuro (Parte 1)" – Vice-Almirante (Refo-EN) Elcio de Sá Freitas –
Revista Marítima Brasileira – 2o Trimestre de 2017
[7] ADLIN, Joseph A. . Robot Proof: Higher Education in the Age of Artificial Intelligence – The
MIT Press - 2017.

RMB2oT/2019 27
GESTÃO DO APOIO AO PRODUTO NO DoD USA

Na obtenção "entre guerras", como estamos hoje em dia, é quando


podemos ter o efeito mais profundo sobre a capacidade de combate,
mesmo quando enfrentamos mudanças demográficas, pressões
orçamentárias e um mundo cada vez mais complexo.
James P. Woolsey, President Defense Acquisition University (2016-2019)

RUY BARCELLOS CAPETTI*


Vice-Almirante (Refo)

SUMÁRIO

Introdução
Considerações iniciais
Gestão do apoio ao produto nos Estados Unidos
Como evoluiu a gestão de material no DoD
Gerente para o apoio ao ciclo de vida do produto
Tarefas principais dos PSM (como resumidas na publicação IPS)
A nova metodologia e os elementos do IPS
Últimas considerações
Conclusões

INTRODUÇÃO dologia sendo aplicada pelos países de


cultura avançada, no âmbito de tratados de

E m 2003 transmitimos aos leitores


da Revista do Clube Naval1 noções
de como deveria ser o Apoio Logístico
considerável expressão de poder militar e
nas indústrias modernas? Qual sua relação
com metodologias atuais?
Integrado, caso resultasse da absorção dos Buscando respostas a essas perguntas,
conhecimentos sobre Integrated Logistics observamos que, em âmbito mundial,
Support – ILS. Decorridos quase 20 anos nas duas décadas passadas os sistemas de
(deste século), como estará aquela meto- obtenção de material de emprego militar

* Foi chefe do Departamento Industrial da Base Almirante Castro e Silva, assessor no reparo de submarinos
no Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro e comandante da Corveta Caboclo, do Submarino Humaitá,
da Força de Apoio e dos Centros de Instrução Almirante Alexandrino e Almirante Átila Monteiro Aché.
Foi diretor de Ensino da Marinha. Publicou o livro Logística Pura e vários artigos sobre Logística.
1 Revista do Clube Naval no 325, Apoio Logístico Integrado, p. 38-42.
GESTÃO DO APOIO AO PRODUTO NO DoD USA

foram sendo aprimorados. Nos Estados de seus sistemas de obtenção, e processos


Unidos da América (EUA), muitos estu- correlatos, na obtenção do material de em-
dos, críticas e alterações se sucederam, prego militar. Em outras palavras, o quase
no sentido de aproximar cada vez mais os total engajamento nas atividades de preparo
resultados alcançados na obtenção desses da expressão militar do poder. Em outras
materiais às necessidades do combatente. palavras, ainda, a total imersão no campo
Para mitigar nossa curiosidade2, op- da Logística nas suas principais atividades4.
tamos, então, por dar início a uma pes- Quanto aos sistemas, programas e pro-
quisa baseada na literatura corrente e em cessos, os estudos de aperfeiçoamento cada
artigos obtidos na internet, produzindo vez mais puseram ênfase na integração de
este artigo com o propósito de despertar todos seus elementos. A obtenção em si dos
o interesse pelo conhecimento das razões ativos de defesa e a obtenção dos corres-
das mencionadas mudanças, na esperança pondentes sistemas de apoio cada vez mais
de que, pelo aprofundamento, possa trazer se mostraram como as faces da mesma
conhecimentos úteis à organização do moeda. Mais ainda, em virtude de fatores
preparo do poder militar no nosso país. restritivos, como pressão social, escassez
Para tanto, sabemos existir, nas Forças de recursos e tecnologias de curtos ciclos
Armadas nacionais, pessoal com habili- de vida, entre outros, a ênfase na obtenção
tação para fazê-lo. dos sistemas de apoio recrudesceu, em
Por outro lado, consideramos apropria- virtude do peso financeiro que representa
do e oportuno tratar deste assunto na medi- no ciclo de vida dos produtos. O foco das
da em que observamos certa evolução no obtenções, na busca da apoiabilidade,
nível setorial (Ministério da Defesa brasi- passou a ser nos custos e no desempenho.
leiro) para assumir seu papel de supervisão Importante ponto a ressaltar é a ten-
e orientação sobre a logística das Forças dência do processo de obter os serviços da
Armadas nacionais, proporcionando, com iniciativa privada, em vez de centralizar a
isso, grau considerável de padronização solução de todos os problemas de obtenção
de procedimentos, que tanto facilitam a no âmbito do Departamento de Defesa dos
gestão dos negócios militares3. Estados Unidos da América (DoD USA) –
evolução do DoD para a indústria e para o
CONSIDERAÇÕES INICIAIS âmbito internacional. Evidência disso foi a
evolução das diretrizes relativas ao Apoio
Uma primeira e importante observação Logístico Integrado, das Mil-Std 13882A
diz respeito a como esses estudos expuse- (1984), das Mil-Std 13882B (1991), do
ram a vocação dos ministérios da Defesa, cancelamento dessa última (2B) por oca-
em âmbito mundial, e principalmente em sião da Reforma do Sistema de Obtenção
tempo de paz, para o quase total engaja- do DoD USA (1996), seguindo-se a adoção
mento na organização e no funcionamento da Mil-PRF 49506 (e, no DoD UK a evolu-

2 Até 2011, o Programa de Apoio Logístico Integrado (ALI) não havia sido implantado. Artigo "Por que o
ALI não foi ainda implantado". Disponível em: <https://submarinosdobr.com.br/Artigos/Artigo40_1.
html>. Acesso em mar/2019.
3 Caslode – Centro de Apoio a Sistemas Logísticos de Defesa. Nova denominação do Centro de Catalogação
de Defesa (Cecade), pelo Decreto no 9.259 de 29 de dezembro de 2017, e subscrição ao Comitê AC327
(Comitê do Ciclo de Vida de Sistemas de Defesa) da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
4 Ver RMB 2o trim./2007, p. 107 a 134. “Importância do Processo de Obtenção de Sistemas Navais de Defesa na MB”.

RMB2oT/2019 29
GESTÃO DO APOIO AO PRODUTO NO DoD USA

ção das Def Stan 00-60) e a mudança para no início desse século, visando ao aper-
a Geia Std-0007, em 2007, para finalmente feiçoamento dos sistemas e processos de
chegar ao estágio atual, com a nova siste- obtenção do material militar.
mática que a seguir abordaremos5. Uma também oportuna consideração
Deve se entender, em face dessa evo- diz respeito à necessidade dos utiliza-
lução, que, quando se fala em selecionar dores de conhecer os procedimentos de
uma estratégia de obtenção, a visão obtenção dos diversos produtos militares
abrangente do DoD é a de obter paco- (seus sistemas, estruturas, pessoal etc.) de
tes de serviços ao produto6 a partir de seus países, para poder entender como se
composições de capacidades industriais, processam os respectivos planejamentos
tanto orgânicas do DoD quanto aquelas e a obtenção dos sistemas de apoio. Esse
da iniciativa privada. é realmente um processo complexo que
Aflorou, assim, a necessidade de ser requer a participação de atores preparados
estabelecida metodologia de maior abran- para gerenciá-lo e conduzi-lo.
gência e comprovada eficácia na visão dos Como são muitos os países citados nos
produtos, a fim de garantir a apoiabilidade estudos, escolhemos apresentar o estado
dos sistemas ao longo de todo seu ciclo de do conhecimento referente ao sistema
vida, com foco nos custos e desempenho, de obtenção do DoD USA (uma vez que
buscando atender cada vez com mais aquele país vem servindo como referen-
qualidade as necessidades do combatente. cial ao longo de muitos anos, dada sua
Nasceu, então, a necessidade premente de condição de liderança no poderio militar).
gerenciar todo o ciclo de vida dos produtos Tal sistema tem servido de paradigma para
a serem obtidos ou já obtidos, de modo a a constituição dos sistemas nacionais dos
atender com qualidade a todos os requisitos demais países, customizados de acordo
dos diversos atores envolvidos no processo. com suas características individuais.
O sistema de obtenção do DoD USA
GESTÃO DO APOIO AO (Acquisition System) é muito complexo.
PRODUTO NOS ESTADOS A importância de sua organização e seu
UNIDOS funcionamento pode bem ser avaliada se
considerarmos que se materializa segundo
Após a leitura de estudos referentes a um orçamento para o corrente ano (2019)
alguns países qualificados7 sobre tal as- de cerca de 280 bilhões de dólares para ope-
sunto (sistemas de obtenção), observamos rações e apoio aos sistemas8 e envolve mais
que muitas mudanças neles ocorreram, de 150 mil pessoas, entre civis e militares.

5 Observa-se nessas instruções a tendência ao aprimoramento do gerenciamento dos dados logísticos, possi-
velmente com vistas à integração com a indústria.
6 Um pacote de suporte ao produto são os elementos logísticos e quaisquer contratos ou contratos de processo
de manutenção usados para
​​ atingir e sustentar os conceitos de manutenção e apoio necessários para
prover a prontidão do material. PSM Guidebook, p. 10.
7 A Comparison of the Defense Acquisition Systems of France, Great Britain, Germany and the United States
e A Comparison of the Defense Acquisition Systems of Australia, Japan, South Korea, Singapore and
the United States. Defense System Management College. Aug 18, 2014.
8 Devendo ainda ser consideradas as pesquisas e as obtenções programadas, normalmente mais um terço
ou um quarto dos gastos com a obtenção do apoio às unidades programadas. Disponível em: <https://
comptroller.defense.gov/Portals/45/Documents/defbudget/fy2019/FY2019_Budget_Request.pdf> e
<https://dod.defense.gov/Portals/1/Documents/pubs/FY2019-Budget-Request-Overview-Book.pdf>.

30 RMB2oT/2019
GESTÃO DO APOIO AO PRODUTO NO DoD USA

Naquele país, a existência e a organi- Em recente texto em que manifestamos


zação do sistema de obtenção de material a nossa opinião sobre a impossibilidade
militar rege-se por dois documentos atual de as Forças Armadas brasileiras
fundamentais: a diretiva DODD 5000.01 praticarem a estratégia conhecida como
– The Defense Acquisition System e a Logística Baseada no Desempenho, foram
instrução DODI 5000.02 – Operation of citados, na nossa visão, os principais mo-
the Defense Acquisition System, além de tivos que impulsionaram as mudanças no
outros documentos secundários. Deles sistema de obtenção do DoD USA.
emana a orientação de que a Engenharia A estratégia "baseada no desempenho",
de Sistemas9 é a ferramenta básica usada há muito praticada na economia dos
no gerenciamento do ciclo de vida dos americanos, e incutida no seu estamento
sistemas de armas. Assim, uma nova militar, traz, na Logística Baseada no
metodologia deve conformar-se aos fun- Desempenho, PBL, a ideia subjacente do
damentos da Engenharia de Sistemas e, objetivo (em programas de longa duração)
segundo ela, será realizada a gestão do de obter sistema de apoio a um sistema
ciclo de vida do produto. de armas que resulte em alta prontidão e
A metodologia IPS, de Integrated disponibilidade, ao menor custo, durante
Product Support, ou Gestão do Apoio ao a totalidade do ciclo de vida, sem perder
Ciclo de Vida do Produto10 (de Product de vista a plena satisfação do combatente
Support Management), é a maneira atual (seu utilizador) e a dos que pagam impos-
como o DoD USA gerencia o apoio ao tos (o contribuinte)11.
material militar obtido para sua Forças Resumimos, no artigo, como principais
Armadas. Trata-se de um aperfeiçoamento fatores de mudanças: as muitas cobranças
que decorreu, acima de tudo, das diversas sobre a eficácia da estratégia de contratar
críticas, estudos e revisões que vieram se para desempenho (principalmente quanto
sucedendo ao longo das três últimas déca- à economia de recursos financeiros e a
das, no processo de obtenção de produtos ineficiência dos controles); a escassez de
para o DoD USA. A nova metodologia é recursos para a obtenção de material de
explicitada no contexto das orientações emprego militar; mudanças de ameaças; e
quanto às tarefas e responsabilidades ciclos de tecnologia cada vez mais curtos,
criadas no sistema de obtenção dos EUA. entre muitas outras.
Nesse contexto surgiu uma nova figura do
processo global de obtenção, que é o Pro- COMO EVOLUIU A GESTÃO DE
duct Support Manager – PSM (criada por MATERIAL NO DoD
força de lei), ou Gerente para Obtenção do
Apoio ao Produto, com a responsabilidade Muito embora a metodologia do In-
de cooperar com o Program Manager – tegrated Logistics Support venha ainda
PM, no âmbito de um processo de obten- sendo cogitada (a metodologia do ILS é
ção de um produto considerado. considerada obsoleta12, em face da adoção

9 INCOSE. Systems Engineering Handbook: a guide for system life cycle process and activities. INCOSE-
-TP-2003-002-03 Version 3. Editado por Cecilia Haskins. Junho/2006.
10 Produto, na literatura consultada, refere-se a supersistemas, sistemas, equipamentos, componentes, sub-
componentes, partes etc.
11 BCA Guidebook, Foreward, 3o parágrafo.
12 Ver Glossário da DAU, 16a edição, p. B-128.

RMB2oT/2019 31
GESTÃO DO APOIO AO PRODUTO NO DoD USA

de uma nova metodologia, nela baseada, 4. Governança – Apesar do crescimen-


mas de abrangência ampliada, que é o to da retórica enfatizando a importância do
Integrated Product Support), dos estudos apoio ao produto, não fôra ainda definida e
acima mencionados constatou-se que sua muito menos implementada uma estrutura
abordagem poderia ser melhor aproveitada de governança coesa de ciclo de vida que
se considerada integrada a outros elemen- determinasse formalmente considerações
tos do processo de obtenção e se fossem sobre o assunto.
levados em conta outros aspectos que se 5. Métricas – Estratégias de apoio
manifestam ao longo de tal processo. ao produto baseadas em desempenho
Naqueles estudos foram levantadas (resultados) deverão continuar a ser
as seguintes áreas de interesse a serem enfatizadas e implementadas em ambas
consideradas no processo como um todo13: as abordagens de apoiabilidade, tanto da
1. Modelo Final de Apoio ao Produto indústria como na orgânica. Como tal,
– O grupo de trabalho que tratou desse o estabelecimento de orientações mais
tema concluiu pela necessidade de criar abrangentes sobre a seleção e aplicação
um novo Modelo de Apoio ao Produto que de métricas para avaliar, incentivar e mo-
pusesse ênfase numa base industrial de de- nitorar o apoio ao produto durante o ciclo
fesa integrada e resultados de desempenho de vida é crítico tanto para uma eficaz
a fim de resultar em eficaz capacidade de governança como para as estratégias de
otimização de custos em todo o ciclo de gerenciamento e apoiabilidade.
vida do sistema de armas. 6. Custos Operacionais e de Apoio –
2. Estratégia de Integração Industrial A falta de requisitos de acessibilidade e
– O grupo fez recomendação salientando visibilidade adequados sobre os custos de
a necessidade de evolução contínua das operação e apoio tem sido uma barreira
estratégias de parceria público-privada de longa data para eficazmente avaliar,
para além do atual foco de manutenção gerenciar e validar os benefícios ou defi-
nos escalões depot em outras funções de ciências das estratégias de apoio ao produ-
apoio. Isso facilitará a integração indus- to. O relatório do grupo indica iniciativas
trial mais eficaz, que proporcionará mais específicas para fazer as mais necessárias
amplas capacidades de apoio ao produto, melhorias fundamentais na visibilidade
alavancando talentos, a experiência e a financeira e nas responsabilidades.
infraestrutura tanto da base industrial 7. Ferramentas Analíticas – O uso do
comercial como da orgânica. Processo de Análise Econômica (Busi-
3. Estratégia Operacional da Cadeia de ness Case Analysis – BCA) para tomar
Suprimentos – Dada a relação crítica da decisões sobre o apoio ao produto durante
manutenção e dos suprimentos que existe seu ciclo de vida, determinado imple-
na cadeia mista de suprimentos do DoD, mentar pela lei desde 2004, vem sendo
a equipe reconheceu a necessidade vital prejudicado por problemas de imprecisão,
de conectar a plataforma de estratégias aplicação inconsistente nos serviços e
de apoio ao produto com as abordagens nos sistemas de armas e falha geral em
da cadeia de suprimentos das empresas não alcançar o propósito para o qual foi
que produzam os melhores resultados aos destinado. Para as análises melhorarem a
componentes do DoD. eficácia como ferramentas de tomada de

13 DoD Weapon System Acquisition Reform Product Support Assessment, Doc. a529714.pdf, Introdução.

32 RMB2oT/2019
GESTÃO DO APOIO AO PRODUTO NO DoD USA

decisão, é necessário abordar, esclarecer GERENTE PARA O APOIO AO


e codificar o maior grupo de “ferramen- CICLO DE VIDA DO PRODUTO
tas analíticas” pelas quais a análise deve
ser conduzida. O relatório forneceu um Em virtude de várias críticas quanto
plano de ação específico para alcançar aos resultados do DoD na economia de
esse propósito. recursos, foi, por fim, além de várias
8. Capital Humano – Ambas as co- medidas internas tomadas pelo próprio
munidades de obtenção e de logística do DoD, determinado legalmente (2008) que:
DoD enfrentam desafios significativos – o secretário de Defesa publicasse
em alcançar o profissionalismo e a base orientações abrangentes sobre a gestão
de conhecimentos necessária para ser- do ciclo de vida e desenvolvimento/
virem como compradores inteligentes e implementação de estratégias de apoio
gerentes de apoio ao produto no ciclo de ao produto para os principais sistemas
vida integrado. O DoD deve estabelecer de armas;
propósitos claros para integrar com- – cada sistema de armas principal de-
petências de apoio ao produto durante vesse ser apoiado por um gerente para o
todos os domínios da força de trabalho apoio ao produto (PSM);
de obtenção e de logística a fim de ins- – cada cargo do PSM devesse ser
titucionalizar os elementos de sucesso desempenhado por um membro devida-
de uma cultura baseada em resultados. mente qualificado das Forças Armadas
Além disso, o pessoal de apoio ao pro- ou funcionário em tempo integral do
duto da indústria, junto com seus colegas Departamento de Defesa15.
do governo, devem estar perfeitamente Esses postos foram criados em 2008,
aparelhados para adquirir competências e em 2011 foi elaborado um guia de
e proficiências quanto aos requisitos de orientação que, cumprindo a exigência
apoio ao produto. de existir um Gerente de Programa (PM)
Consideradas as recomendações aci- e um Gerente de Programa para o Apoio
ma, foi criada nova metodologia, pela (PSM), formalizou as tarefas e responsa-
ampliação dos objetivos, expandindo- bilidades deles por meio da publicação
-se o conceito do Integrated Logistic PSM Guidebook16.
Support, conforme o estudo indicou. Tal documento (PSM Guidebook)
Isso resultou, então, no aumento dos substituiu a publicação Logística Basea-
elementos da logística (anteriormente 10 da em Desempenho: Guia de Apoio ao
no ILS) , agora 12 no IPS. Nela inserida Produto para os Gerentes de Programas,
encontra-se a Análise de Apoio ao Pro- publicado em março de 2005, e que vinha
duto (Product Support Analysis – PSA), sendo comumente referida como The
como exposto na publicação americana PBL Guide17, e assim listou as principais
Product Support Analysis14. tarefas do PSM:

14 MIL-HDBK-502A – Product Support Analysis. Com o mesmo acrônimo PSA encontramos também, na
publicação PSM Guidebook, menções a Product Support Agreement e Product Support Arrangements,
com significados ligeiramente diferentes, pois em contextos diferentes.
15 Public Law 111-84, Section 805 of the 2010 National Defense Authorization Act and Section 820a of the
2007 John Warner NDAA. PSM Guidebook, p. 11.
16 PSM Guidebook . Disponível no site da Defense Acquisition University. Ver Foreward.
17 PSM Guidebook, p. 7.

RMB2oT/2019 33
GESTÃO DO APOIO AO PRODUTO NO DoD USA

“2.2.1.Papel do PSM de apoio ao produto – As ferramentas ana-


As principais tarefas do PSM são: líticas podem assumir várias formas, como
1. Fornecer apoio técnico aos assuntos Análise de Alternativas (AoA), Análise de
de interesse do produto (sistema de armas) Apoiabilidade, Análise de Crescimento da
para o PM, com vistas à execução dos Confiabilidade, Análise Básica de Logís-
seus deveres como gerente de Sistemas tica/de Avaliação de Depósitos e Análise
do Ciclo Total de Vida. de viabilidade financeira. A decisão sobre
2. Desenvolver e implementar uma qual ferramenta usar depende do que está
estratégia abrangente de apoio ao produto sendo avaliado e do estágio do ciclo de
baseada em resultados – A estratégia de vida do programa. Essas ferramentas são
apoio ao produto deve ser projetada para usadas para ajudar a identificar o melhor
assegurar a realização dos resultados dos uso possível dos recursos disponíveis do
recursos necessários ao combatente como DoD e da indústria nos níveis de sistema,
documentados no Life Cycle Support Plan subsistema e componentes, analisando
– LCSP, geralmente expressos em termos todas as alternativas disponíveis para
de disponibilidade do material do sistema de alcançar os resultados de desempenho
armas, confiabilidade do material e aceitabi- desejados. Além disso, os recursos ne-
lidade dos custos de operações e de apoio. cessários para implementar a alternativa
3. Promover oportunidades para maxi- preferida devem ser avaliados juntamente
mizar a concorrência e, ao mesmo tempo, com os riscos associados. Análises de sen-
atingir o propósito de melhores resultados sibilidade também devem ser conduzidas
a longo prazo para o combatente – A na consideração de cada um dos elementos
competição, em que há mais de uma fonte do IPS e rastreadas para determinar os ele-
disponível, é um meio para um fim – isto mentos IPS em que mudanças marginais
é, obter suprimentos e serviços com o poderiam alterar a estratégia preferida.
melhor valor para o governo. Negociações 6. Desenvolver acordos apropriados
entre benefícios decorrentes de relaciona- de apoio ao produto para implementação
mentos de longo prazo e a oportunidade de – Esses acordos devem assumir a forma
redução de custos por meio dos processos de acordos baseados em desempenho,
competitivos devem ser consideradas em memorandos de acordos, memorandos
conjunto com o risco associado. de entendimento e acordos de parceria ou
4. Procurar alavancar oportunidades contratuais com Integradores de Apoio
empresariais entre programas e compo- ao Produto (PSI) e Provedores de Apoio
nentes do DoD – Estratégias corporativas ao Produto (PSP), conforme apropriado.
são uma prioridade em que o componente, O desenvolvimento e a implementação
subsistema ou sistema apoiado é usado por de acordos de apoio ao produto devem
mais de um componente. As estratégias ser considerações importantes durante
de apoio ao produto devem abordar a o desenvolvimento da estratégia para
inter-relação de apoio de produto de um garantir a obtenção dos resultados de
programa com outros programas em seu desempenho desejados.
respectivo portfólio e infraestrutura con- 7. Os PSM, trabalhando em conjunto
junta, semelhante ao que é executado para com o PM, usuários, patrocinadores de
interdependências operacionais. recursos e provedores de força, devem
5. Usar ferramentas analíticas apropria- ajustar os níveis de desempenho e recursos
das para determinar a estratégia preferida entre os PSI e os PSP conforme necessá-

34 RMB2oT/2019
GESTÃO DO APOIO AO PRODUTO NO DoD USA

rio, a fim de otimizar a implementação fólio (ou seja, em todas as plataformas).


da estratégia e gerenciar riscos com base Nas situações em que um LCSP é baseado
nos requisitos atuais do combatente e da em uma coleção de estratégias de apoio
disponibilidade de recursos. ao produto baseadas em desempenho
8. Documentar a estratégia de apoio no nível do subsistema ou componente,
ao produto no LCSP – O LCSP descreve a revisão periódica deve abordar expli-
o plano para a integração de atividades citamente o desempenho integrado no
de sustentação na estratégia de obtenção nível dos sistemas de armas. Em todas as
e execução operacional da estratégia de situações, a reavaliação deve considerar
apoio ao produto. O PSM prepara o LCSP oportunidades para fazer um melhor uso
para documentar o plano de formulação dos recursos da indústria e do DoD.
e execução da estratégia de apoio ao pro-
duto, para que o design e todas as facetas TAREFAS PRINCIPAIS DOS
do pacote de apoio ao produto (incluindo PSM (COMO RESUMIDAS NA
quaisquer contratos de obtenção de apoio) PUBLICAÇÃO IPS)
sejam integrados e contribuam para os re-
quisitos da missão do combatente. O LCSP A síntese dos pontos acima nos faz
é atualizado a fim de refletir a evolução da entender que as principais tarefas do ge-
maturidade da estratégia de apoio ao pro- rente de obtenção do apoio a um sistema
duto em cada marco notável do processo, de armas, no nível do sistema principal,
na produção a taxa total (de Full Rate Pro- se resumem em:
duction – FRP) e antes de cada alteração – desenvolver e implementar uma es-
na estratégia de apoio ao produto ou a cada tratégia abrangente de apoio ao produto
cinco anos, o que ocorrer primeiro. para o sistema de armas;
9. Realizar revisões periódicas da – realizar análises de custo apropria-
estratégia de apoio ao produto – A estra- das para validar a estratégia de apoio ao
tégia de apoio ao produto evolui com a produto, incluindo análise de benefícios,
maturação do sistema de armas através conforme descrito no Office of Manage-
de suas várias fases do ciclo de vida. ment and Budget Circular A-94 (Circular
No FRP, o LCSP deve descrever qual A-94 da Agência de Administração e
o desempenho do sistema em relação às Orçamento);
métricas de desempenho e quais as ações – assegurar a obtenção dos resultados
corretivas necessárias para garantir que desejados de apoio ao produto por meio
as métricas sejam atingidas. Revisões de desenvolvimento e implementação de
e revalidações da estratégia devem ser arranjos apropriados de apoio ao produto;
realizadas no mínimo a cada cinco anos – ajustar os requisitos de desempenho
ou antes de cada mudança na estratégia, e as alocações de recursos no apoio ao
para garantir o alinhamento entre os níveis produto entre integradores e provedores,
do sistema, subsistema e componente, em conforme necessário, para otimizar a
atenção aos resultados definidos como de implementação da estratégia desse apoio;
melhor valor. Nas situações em que uma – revisar periodicamente os acordos de
estratégia de apoio se refere ao nível dos apoio ao produto entre os integradores e os
sistemas de armas, a reavaliação do PSM provedores para garantir que os arranjos
deve explorar as oportunidades potenciais sejam consistentes com a estratégia geral
de evoluir para uma abordagem de port- de apoio ao produto; e

RMB2oT/2019 35
GESTÃO DO APOIO AO PRODUTO NO DoD USA

– antes de cada alteração na estratégia – Força de trabalho e Pessoal (Manpo-


de apoio ao produto ou a cada cinco anos wer & Personnel);
(o que ocorrer primeiro), revalidar. – Equipamentos de apoio (Support
Equipment); e
A NOVA METODOLOGIA E OS – Treinamento & Apoio ao treinamento
ELEMENTOS DO IPS (Training & Training Support ).
A Gestão Técnica implica a gestão de
Considerada na Gerência do Apoio ao sustentabilidade da apoiabilidade durante
Produto (PSM), surgiu a nova metodologia todo o Ciclo de Vida, que é uma aborda-
IPS. Essa nova metodologia passou a con- gem dos aspectos técnicos segundo os
tar com 12 elementos, conhecidos como Elementos do IPS, devendo considerar as
Elementos do IPS e assim agrupados: seguintes áreas de interesse18:
1. Segundo a Gestão da sustentabi- – Objetivos e Competências;
lidade da apoiabilidade durante todo o – Descrição e Guia do IPS;
Ciclo de Vida (Life Cycle Sustainment – Atividades e Mapa da Mina do IPS;
Management ): – Cursos de Treinamento e Artigos na
– Gestão de Apoio ao Produto (de ACQpedia
Product Support Management); – Módulos de CL e Ferramentas Ana-
– Apoio de Suprimento (de Supply líticas.
Support);
– Acondicionamento, Manuseio, ÚLTIMAS CONSIDERAÇÕES
Armazenagem & Transporte (Package,
Handling, Storage & Transportation); No ambiente militar nacional, se
– Manutenção, Planejamento & Ge- confirmada a intenção de gerenciar o
renciamento (Maintenance, Planning & ciclo de vida dos produtos militares,
Management). faz-se mister orientação e supervisão
2. Segundo a Gestão Técnica (Techni- do órgão setorial no sentido da escolha
cal Management): de um modelo de referência19 que sirva
– Interfaces do Design (Design In- de paradigma para a customização ne-
terface); cessária. O estudo dos vários sistemas
– Engenharia de apoiabilidade (Sustai- torna-se, no entanto, mandatório, para
ning Engineering); que o problema possa ser perfeitamente
– Gerenciamento dos dados técnicos compreendido e dominado.
(Technical Data Management); e Adotar de imediato modelos de gestão
– Recursos computacionais (Computer já existentes parece difícil, tendo em vista
Resources). as características de cada um, dentro dos
3. Segundo a Gestão da Infraestrura seus graus de aculturamento atuais. No
(Infrastructure Management): caso do exemplo apresentado (DoD USA),
–Instalações de Apoio e Infraestrutura sentiríamos falta da prática de alguns
(Facilities & Infrastructure); instrumentos rotineiros de gerenciamen-

18 Fonte: Slide 76 de 92. Disponível em: <http://www.logisticsymposium.org/paperclip/speaker_management/15LA/


presentation_file_distribution/949/5a6cf740368c67da47e7148a76c9f5b4d8038320.pdf>.
19 A indicação de um modelo a ser adotado remonta a 1986, quando o Estado-Maior das Forças Armadas
(EMFA) acolheu a linha de ação para a catalogação baseada no modelo da Otan.

36 RMB2oT/2019
GESTÃO DO APOIO AO PRODUTO NO DoD USA

to, tais como a prática da Engenharia de logação do material militar (aliás, uma
Sistemas; o estabelecimento de Estruturas das atividades típicas do elemento do
Analíticas de Decomposição apropriadas ILS Apoio de Suprimentos). Mas outras
(WBS); a Análise Econômica (BCA); a podem ser cogitadas, como a adoção de
Gestão de Custos (LCC); a Gerência de um modelo de obtenção padronizado,
Configuração (CM); a Análise de Nível de sem fugir muito do adotado pela quase
Reparo (Lora); a técnica de Acompanha- totalidade dos padrões internacionais21 e
mento dos Programas/Projetos (EVM); sem interferir com os padrões adotados
a Análise de Modos de Falhas, Efeitos e individualmente pelos ramos de servi-
Criticalidade (FMECA); enfim, uma série ços, facilitando o desenvolvimento de
de ferramentas necessárias para gerenciar estudos e da compreensão da logística de
um sistema como o analisado. obtenção no âmbito tanto militar como
Lembremos, ainda, que o exemplo na base industrial de defesa. Essa medida
apresentado neste certamente traria
artigo se apoia em bons frutos.
um modelo de ciclo A visão preponderante Pelo lado ame-
de vida padronizado ricano do norte, há
para todos os ramos passou a ser a integração muito material dis-
de serviço dos EUA, de todas as atividades ponível para pes-
e que cada uma de
nossas forças sin-
concernentes à obtenção dos quisa e desenvol-
vimento de nossos
gulares pratica o sistemas/equipamentos com c o n h e c i m e n t o s ,
seu modelo parti- foco no desempenho, haja vista sua ampla
cular. Isso dificulta, estrutura do ensino
se não impede, por e não simplesmente em de Defesa e seu pro-
exemplo, o uso da ativos materiais cesso de obtenção.
ferramenta Mapa da Este último, acima
Mina para implanta- de tudo, patrocina a
ção do IPS apresentada no site da Defense educação e o ensino do assunto e oferece
Acquisition University (DAU)20. Eis aí um vários sites didáticos de aprimoramento
ponto em que a orientação do Ministério aos seus nacionais, como a DAU, com
da Defesa seria muito bem-vinda, visando sua missão de "prover um ambiente
ao aproveitamento de uma ferramenta de global de aprendizado para desenvolver
grande valor para o processo como um profissionais qualificados em obtenção,
todo (pelo menos como modelo). em estabelecer requisitos e alternativas
Um exemplo de medida de padroni- capazes de prover soluções aos combaten-
zação bem-sucedido no país é a cata- tes eficazes, sustentáveis e acessíveis"22 ,

20 DoD Integrated Product Support Implementation Roadmap. Disponível em: <https:/www.dau.mil/dodp-


sroadmap/Pages/default.aspx>. Acesso em março de 2019.
21 Análise da Solução Material, seguida das fases de Maturação da Tecnologia e Redução de Riscos, De-
senvolvimento de Engenharia e Fabricação, Produção e Comissionamento; Operação e Apoio (longa)
e, finalmente, Descarte.
22 DAU 2016-2019 Strategic Plan Shaping the Future. DAU 2016-2019 Strategic Plan.pdf. Disponível
em: <https://www.dau.mil/about/PublishingImages/Special%20Interest%20Areas/StrategicPlan.pdf>.
Acesso em março de 2019.

RMB2oT/2019 37
GESTÃO DO APOIO AO PRODUTO NO DoD USA

a National Defense University – NDU, CONCLUSÕES


com a missão de "desenvolver combaten-
tes conjuntos e outros líderes de seguran- Pelo exposto, a Gestão do Ciclo de
ça nacional por meio de rigorosos estudos Vida (GCV) de um material de emprego
acadêmicos, pesquisa e engajamento para militar depende profundamente do seu
servir à defesa comum" (curiosamente, processo de obtenção. Se esse processo
tendo instalado em suas proximidades o não for bem conduzido, a GCV trará
Colégio Interamericano de Defesa, nos resultados irrisórios, sem consistência.
EUA) e outros. Isso representa desperdício de recursos,
Mais do que a apresentação de me- pois não advirão resultados compensa-
todologias para obtenção dos sistemas e dores na prática do gerenciamento e na
equipamentos, dentro da sistemática do execução das atividades de apoio do
DoD USA, a visão preponderante passou material considerado.
a ser a integração de todas as atividades Conquanto o conhecimento esteja dis-
concernentes à obtenção dos sistemas/ ponível e haja habilitação para proceder
equipamentos com foco no desempenho, às mudanças culturais e estruturais neces-
e não simplesmente em ativos materiais. sárias, destinadas a aprimorar o processo
O rationale daquele processo (de de obtenção dos ativos militares, não
obtenção) é de obter economia (com- realizá-las sugere falta de atitude das ins-
provada) nos dispêndios em defesa, tituições que poderiam fazê-lo. Eis aí, no
além da qualidade dos produtos, com nosso entender, uma das virtudes da cul-
vistas ao cliente final – o combatente tura americana do norte: o entrosamento
(ou unidade combatente). Para isso, das instituições de governo, da iniciativa
usa-se a estratégia do "baseado no privada, do mundo acadêmico, da comu-
desempenho", há muito usada tanto no nidade dos profissionais de logística e de
meio civil como no militar. obtenção (força de trabalho), entre outras,
A fim de garantir a eficácia dos arran- e a vontade de aperfeiçoar seus sistemas,
jos de desempenho, deve ser estabele- num processo de melhoria contínua. Em
cida uma estratégia apropriada desde o 20 anos, praticamente, as instituições
início do processo, com o propósito de responsáveis criticaram e tomaram as
garantir os resultados esperados. Essa iniciativas de aprimorar o sistema nuclear
estratégia vai da obtenção puramente na de ser de um Ministério da Defesa – o
indústria civil até a obtenção puramente sistema de obtenção de ativos de defesa.
no meio militar. Pela complexidade desses sistemas
Várias ferramentas são essenciais e processos, torna-se necessário o es-
para gerenciar um processo dessa natu- tabelecimento de estruturas de ensino,
reza: planejamento estratégico, análise disciplinas apropriadas e comunidades
de custo-benefício, acompanhamento de profissionais civis e militares com
dos custos, acompanhamento dos proje- formação apropriada, para que possam
tos segundo técnicas adequadas (EVM), dar conta das suas diferentes atividades
estrutura adequada, organização, docu- com qualidade e eficiência. Um exemplo,
mentação apropriada, educação e trei- falando de disciplinas, é a formação em
namento e preparação dos profissionais Engenharia Logística.
que cuidam do assunto (entre os quais, Diante das considerações acima, nos
logísticos). parece que a organização e execução

38 RMB2oT/2019
GESTÃO DO APOIO AO PRODUTO NO DoD USA

da gestão do material militar (ativos de em outra oportunidade apresentaremos


defesa, materiais especiais) nas nossas as linhas de ação adotadas pelos países
Forças Armadas sofrem um gap tecnoló- da Europa e de tratados e acordos mili-
gico de mais de 50 anos23. Esse intervalo tares de expressão, buscando identificar
de tempo pode ser observado na Marinha, princípios, diferenças e semelhanças
onde a gestão desse tipo de material que possam contribuir para a solução do
(meios navais, aeronavais e de fuzileiros problema nacional.
navais) ainda é muito diluída por diversas Uma última conclusão, mas nem por
Organizações Militares (OM), em graus isso de menor importância, é de que a
diferentes de aprimoramento (na nossa ob- complexidade deste assunto é tão grande
servação, salvo melhor apreciação, exem- que requer aprofundamento dos estudos,
plos de deficientes ainda são o processo com participação de todos os atores en-
de obtenção e a gestão do ciclo de vida volvidos e sem solução de continuidade,
de produtos frutos do desenvolvimento; dada a sua dinâmica de aperfeiçoamento,
um exemplo de excelência é o Sistema em muito dependente das situações po-
de Abastecimento, que ao longo dos anos lítica, econômica e social de cada país.
vem se aprimorando continuamente, à luz O modelo apresentado, do DoD USA, é,
de conhecimentos atualizados). sem dúvida, o estado do conhecimento
Por todo o exposto, acreditamos que mais atualizado no mundo. Alcançar
a nossa "lição a aprender" seja partir de sua grandiosidade e proficiência requer
estruturas mais simples e ir aprimorando condições extremas de preparo militar, só
o processo de obtenção à medida que possível de realizar em nações daquele
nosso ambiente cultural evolua. Por isso, porte militar.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:


<ARTES MILITARES>; Logística; Poder Militar; Apoio Logístico;

23 Em 1986, o Emfa criou a Comissão Permanente de Catalogação de Material (CPCM), com vistas ao
estabelecimento de regras para a identificação, padronização e catalogação de materiais de uso comum
das Forças Armadas.

RMB2oT/2019 39
CONHECENDO O TRIBUNAL MARÍTIMO, A CORTE
DO MAR BRASILEIRA

WILSON PEREIRA DE LIMA FILHO*


Vice-Almirante (RM1)

SUMÁRIO

Introdução
Uma história resumida do Tribunal Marítimo
As atribuições do Tribunal Marítimo
A composição do colegiado do Tribunal Marítimo
Biblioteca Almirante Adalberto Nunes
A página do TM na internet: novidades
Tribunal Marítimo a todo pano!

INTRODUÇÃO litoral, mais de 15.000 km de hidrovias


navegáveis, cem portos (37 marítimos e

A ligação do Brasil com o mar é inques-


tionável. Nosso país foi descoberto
pelo mar, e foi neste que se consolidou
63 fluviais) e 128 terminais privados, além
dos milhares de navios mercantes trans-
portando riquezas brasileiras que navegam
sua independência. Nossa vocação ma- nos mares e oceanos de nosso planeta.
rítima não se deve apenas a essas raízes Quando nos debruçamos sobre as carac-
históricas, mas também às próprias ca- terísticas de nosso país e em sua inserção no
racterísticas geográficas e geopolíticas cenário internacional, um aspecto deve ser
de nosso país-continente. Somos uma tratado com a máxima atenção: a soberania,
nação totalmente dependente do mar e das pilar fundamental do Estado. Dentro deste
demais vias navegáveis. Além de possuir contexto, aflora o Poder Nacional, uno e
uma localização estratégica na América do indivisível, possuindo cinco expressões
Sul, o Brasil possui 7,4 mil quilômetros de que o caracterizam: a política, a econômi-

* Presidente do Tribunal Marítimo.


CONHECENDO O TRIBUNAL MARÍTIMO, A CORTE DO MAR BRASILEIRA

dizer, em consonância
com o preconizado na
Convenção das Nações
Unidas sobre o Direito
do Mar (Montego Bay –
1982). Neste caso, estão
a Zona Contígua, a Zona
Econômica Exclusiva
(ZEE) e a Plataforma
Continental até 350 mi-
lhas da costa, espaços
marítimos para além de
Águas Jurisdicionais Brasileiras
nossas águas territoriais,
ca, a psicossocial, a militar, a científica e a mas em que o Brasil possui prerrogativas
tecnológica. Podemos, em análise superfi- na utilização dos recursos, tanto vivos como
cial, constatar que o mar está diretamente não-vivos, e responsabilidade na sua gestão
atrelado a estas cinco expressões, seja nas ambiental. É importante destacar a comple-
relações entre nações, na exploração dos xidade do exercício da soberania em uma
recursos advindos do mar e seu subsolo, região em que, por normas internacionais,
no transporte marítimo, na geração de é livre a navegação, como são os casos das
empregos, ou na defesa da pátria, ativi- áreas marítimas supramencionadas.
dades sempre per- Assim, por esse
meadas pela busca precioso quinhão,
incessante de novas O Brasil é inviável sem parte indissociável
tecnologias. O Brasil do Brasil, que de-
é inviável sem o mar,
o mar, dele dependemos nominamos Ama-
dele dependemos em em todas as expressões do zônia Azul trafegam
todas as expressões poder nacional diariamente mais de
do poder nacional. 1.600 embarcações
É importante tam- das mais variadas
bém ressaltar que o território nacional classes e bandeiras, transportando rique-
constitui-se em um dos três elementos zas, em atividades de apoio marítimo,
basilares do Estado (povo, território e go- explorando o leito marinho e realizando
verno). Contudo, não se pode olvidar que atividades de pesca. Nesta área, o estado
nele está incluído o mar territorial, onde o brasileiro, em consonância com o orde-
Brasil possui jurisdição soberana: são as namento jurídico internacional, possui
águas marítimas abrangidas por uma faixa suas próprias leis e normas. Sob a ótica
de 12 milhas marítimas de largura medidas da segurança da navegação, estas normas
a partir da linha de baixa-mar do litoral são estabelecidas pela Marinha do Brasil
continental e insular brasileiro, tal como in- (MB), que é a Autoridade Marítima Bra-
dicada nas cartas náuticas de grande escala sileira, e são muito claras, abrangentes e
reconhecidas oficialmente no Brasil. Porém dinâmicas. São as chamadas Normas da
há que se ressaltar que existe uma extensa Autoridade Marítima, as Normam.
faixa em que o Brasil exerce uma espécie Julguei relevante apresentar este abre-
de "soberania econômica", podemos assim viado introito para deixar cristalina a

RMB2oT/2019 41
CONHECENDO O TRIBUNAL MARÍTIMO, A CORTE DO MAR BRASILEIRA

obrigatória percepção da envergadura ma-


rítima do País, sua relevância e a complexi-
dade das ações a serem empreendidas para
o uso consciente, seguro, e sustentável do
nosso mar. Em que pesem as medidas nor-
mativas, fiscalizatórias e de conscientiza-
ção implementadas pelo Estado brasileiro
por intermédio da MB, acidentes ocorrem
neste ambiente onde convivem milhares de
embarcações. Com o propósito de manter
a segurança marítima, a Marinha instituiu
um regramento específico em decorrência
dos diferentes tipos de Acidentes e Fatos
O Tribunal Marítimo
da Navegação1 e seus respectivos efeitos.
Com isso, está sob a responsabilidade da judicial no julgamento das lides do mar:
MB a segurança do tráfego aquaviário em África do Sul, Alemanha, Espanha, Coreia
águas brasileiras, cabendo às Capitanias do Sul, Índia, Indonésia, Inglaterra, Japão
dos Portos e suas Delegacias e Agências e Portugal. No Brasil, esta importante insti-
a efetiva coordenação e controle das ati- tuição é o Tribunal Marítimo (TM), marca
vidades desenvolvidas nos mares e rios e, registrada de uma nação marítima que va-
consequentemente, a investigação2 apura- loriza a justiça e a segurança da navegação.
da dos Acidentes e Fatos da Navegação.
Neste diapasão, em países vocacio- UMA HISTÓRIA RESUMIDA DO
nados para o mar, como o Brasil, é im- TRIBUNAL MARÍTIMO
portante que exista uma instituição que
disponha de especialistas que possam No início da década de 1930, o crescen-
julgar de forma isenta e com elevado pa- te aumento de acidentes da navegação em
drão de tecnicismo os acidentes e fatos da águas brasileiras demonstrava a premente
navegação, uma vez que, diferentemente necessidade de se estabelecer no Brasil um
de outras áreas, a atividade marítima órgão técnico para avaliação das causas e
possui procedimentos, nomenclaturas e circunstâncias dos acidentes de embarca-
regras que exigem conhecimentos bem ções nacionais – onde quer que estejam – e
específicos e, em geral, desconhecidos de estrangeiras, quando em águas jurisdicio-
grande parte dos julgadores. nais brasileiras, de maneira a não ficarem
Vale comentar que os seguintes países à mercê das decisões das cortes marítimas
possuem tribunais ou estabelecimentos estrangeiras. Havia, por conseguinte, uma
análogos para julgar ou assessorar a corte questão de soberania em pauta.

1 "Considera-se fato da navegação: o mau aparelhamento ou a impropriedade da embarcação para o serviço em


que é utilizada e a deficiência da equipagem; a alteração da rota; a má estivação da carga [...]; a recusa
injustificada de socorro à embarcação em perigo; todos os fatos que prejudiquem ou ponham em risco
a incolumidade e segurança da embarcação, as vidas e fazendas de bordo; o emprego da embarcação,
no todo ou em parte, na prática de atos ilícitos, previstos em lei como crime ou contravenção penal, ou
lesivos à Fazenda Nacional." (Lei no 2.180/54, Cap. II, Artigo 15)
2 Detalhes sobre os referidos inquéritos administrativos, os IAFN, poderão ser obtidos na Normam-09,
disponível na página da Diretoria de Portos e Costas na internet: <https://www.marinha.mil.br/dpc>.

42 RMB2oT/2019
CONHECENDO O TRIBUNAL MARÍTIMO, A CORTE DO MAR BRASILEIRA

Certamente, o fato de maior peso para cluindo uma subcomissão específica para
a criação de um Tribunal Marítimo Ad- a elaboração de seu regulamento.
ministrativo foi o incidente ocorrido no Posteriormente, em julho de 1933, o
fim da tarde do dia 24 de outubro de 1930. Decreto no 22.900 desvincula o Tribunal
O comandante do navio alemão Baden, da Diretoria da Marinha Mercante, pas-
em escala no Rio de Janeiro, decidiu sando a ser diretamente subordinado ao
prosseguir viagem para o Sul, sem auto- ministro da Marinha. Um ano mais tarde,
rização para sair da Baía da Guanabara. o Decreto no 24.585, de 5 de julho de
Ignorando os avisos dados pela Fortaleza 1934, aprova o Regulamento do Tribunal
de Santa Cruz, continuou sua navegação Marítimo Administrativo. Essa data foi
para fora da barra. Foi quando o Forte considerada como a de criação do Tribu-
de Vigia, localizado no Leme, recebeu nal, e nela se comemora o seu aniversário.
ordem para abrir fogo sobre o navio, Nesse Regulamento, abandona-se a ideia
forçando o seu retorno ao porto. O caso de divisão do território nacional em cir-
foi julgado pelo Tribunal Marítimo da cunscrições marítimas, sendo confirmada
Alemanha, que concluiu pela precipita- a existência de apenas um Tribunal Ma-
ção do comandante do navio, bem como rítimo, com sede na então capital federal,
pela negligência de nossas fortalezas que Rio de Janeiro. O Colegiado da Corte
bombardearam o Baden. Marítima foi inicialmente composto por
O caso rendeu muitos comentários um juiz-presidente e cinco juízes, sendo
nos principais jornais da capital, além de o Contra-Almirante Adalberto Nunes seu
grande repercussão internacional. Este primeiro presidente, permanecendo no
fato corroborou ainda mais para a criação cargo até 17 de julho de 1935.
de um órgão especializado, de modo a
não ficarmos à mercê das decisões de AS ATRIBUIÇÕES DO
órgãos estrangeiros. Em 21 de dezem- TRIBUNAL MARÍTIMO
bro de 1931, por meio do Decreto n o
20.829, criava-se a Diretoria de Marinha O Tribunal Marítimo, conforme pre-
Mercante, subordinada diretamente ao ceitua o Artigo 1o da Lei no 2.180/1954,
Ministério da Marinha. Da mesma forma, é um órgão autônomo, com jurisdição em
em seu Art. 5o, foram criados os tribunais todo o território nacional, auxiliar do Poder
marítimos administrativos, subordinados Judiciário, vinculado ao Comando da Ma-
a essa nova Diretoria. rinha, e tem como atribuições as previstas
Entretanto, o mencionado Decreto no Artigo 13 desta mesma Lei, a saber:
autorizou apenas a implementação e o I - julgar os acidentes e fatos da na-
funcionamento do Tribunal Marítimo Ad- vegação:
ministrativo do Distrito Federal, enquanto a) definindo-lhes a natureza e deter-
as necessidades do serviço e os interesses minando-lhes as causas, circunstâncias
da navegação não demonstrassem a con- e extensão;
veniência da divisão do território nacional b) indicando os responsáveis e aplican-
em circunscrições marítimas. Com a do-lhes as penas estabelecidas nesta lei; e
finalidade de regulamentar a Diretoria c) propondo medidas preventivas e de
recém-criada, foi formada uma comissão segurança da navegação.
para a ativação do Tribunal Marítimo II - manter o registro geral:
Administrativo do Distrito Federal, in- a) da propriedade naval;

RMB2oT/2019 43
CONHECENDO O TRIBUNAL MARÍTIMO, A CORTE DO MAR BRASILEIRA

b) da hipoteca na-
val e demais ônus so-
bre embarcações bra-
sileiras; e
c) dos armadores de
navios brasileiros.
Além das mencio-
nadas acima, outra
importante atividade
cartorária é o Regis-
tro Especial Brasileiro
(REB), instituído por
intermédio da Lei no
9.432, de 8 de janeiro Colegiado do TM
de 1997, constituindo-
-se em uma medida de apoio e estímulo à mentos na área marítima. Desta maneira,
Marinha Mercante nacional e à indústria houve por bem modificar sua estrutura
naval brasileira. A Divisão de Registro organizacional, passando o colegiado a ser
estabelece procedimentos padronizados composto por sete juízes, com as seguintes
para a execução dos serviços cartoriais de qualificações previstas em Lei:
registros e transferências de propriedades – um presidente, oficial-general do
marítimas das embarcações, dos registros Corpo da Armada da ativa ou na inativida-
de armadores; das averbações de ônus; dos de. Hoje exerce o cargo o Vice-Almirante
registros no REB, bem como renovações, (RM1) Wilson Pereira de Lima Filho;
cancelamentos e averbações em geral, – dois juízes militares, capitão de mar
entre outras. A Portaria no 6/TM, de 10 e guerra (CMG) ou capitão de fragata
de abril de 2015, aprova os modelos de (CF), hoje o CMG (RM1) Sergio Bezerra
requerimentos e o rol de documentos de Mattos, um do Corpo da Armada e ou-
necessários para registros, averbações, tro do Corpo de Engenheiros e Técnicos
emissão de certidões e 2a via de documen- Navais, hoje o CMG (RM1-EN) Geraldo
tos no Tribunal Marítimo. Por força de de Almeida Padilha; e
lei, o TM é a única instituição com poder – quatro juízes civis, sendo dois ba-
para registrar a propriedade marítima em charéis em Direito – um especializado em
território nacional. Direito Marítimo, na atualidade Nelson
Cavalcante e Silva Filho, e o outro em
A COMPOSIÇÃO DO Direito Internacional Público, Marcelo
COLEGIADO DO TRIBUNAL David Gonçalves; um (a) especialista em
MARÍTIMO armação de navios, posição ocupada pela
juíza decana Maria Cristina de Oliveira
Ao longo de sua história, a competên- Padilha e navegação comercial; e um
cia do Tribunal Marítimo acompanhou a Capitão de Longo Curso da Marinha Mer-
mudança do cenário mundial e também cante, desde 2004, o Capitão de Longo
de compromissos internacionais firma- Curso Fernando Alves Ladeiras.
dos pelo Brasil, na qualidade de Estado Nota-se que, ante as qualificações
signatário de muitas convenções e regula- mencionadas, o colegiado foi composto

44 RMB2oT/2019
CONHECENDO O TRIBUNAL MARÍTIMO, A CORTE DO MAR BRASILEIRA

de forma a abranger todas as áreas do facilitar a interação com a Corte do Mar.


conhecimento imprescindíveis à análise Na nossa página, os interessados podem
das circunstâncias que envolvem os fatos encontrar orientações para a entrada de
e acidentes da navegação. Como conse- processos, uma coletânea de legislação
quência, as decisões do Tribunal têm valor de interesse, arquivo de portarias, pautas
probatório e se presumem certas no que e atas, informações sobre o registro de
diz respeito à matéria técnica, atribuindo embarcações e tabela de custas. Ademais,
uma importância aos acórdãos prolatados, o Diário Eletrônico do Tribunal Marítimo
haja vista a especificidade da matéria (e-DTM) talvez seja um dos mais impor-
tratada e a expertise do colegiado. Com tantes veículos de nossa página web. É o
isso, produz uma doutrina de prevenção documento oficial que publica as ativida-
de acidentes de navegação baseada nos des processuais referentes aos processos
casos julgados que subsidia a legislação, e serviços decorrentes de acidentes e fatos
contribuindo, de forma contundente, para da navegação e dos atos relativos aos
a segurança da navegação em águas terri- registros e às averbações realizados pela
toriais e interiores brasileiras. Divisão de Registros.
O e-DTM é disponibilizado diariamen-
BIBLIOTECA ALMIRANTE te no sítio eletrônico do Tribunal Maríti-
ADALBERTO NUNES mo, de segunda a sexta-feira, exceto nos
dias considerados feriados nacionais ou
A nossa biblioteca leva o nome de quando for suspenso o prazo processual.
Almirante Adalberto Nunes, em homena- Considera-se como a data de publicação
gem ao primeiro presidente do Tribunal o primeiro dia útil após a disponibilização
Marítimo. Com o propósito de incentivar do e-DTM na nossa página na internet.
e facilitar o acesso e a disseminação de co- Desde abril de 2019, uma importante
nhecimento na área do Direito Marítimo, a ferramenta foi disponibilizada com o pro-
Biblioteca mantém um acervo sobre legis- pósito de facilitar o acesso pelo público em
lação, doutrina e jurisprudência, com obras geral aos resultados dos julgamentos (os
clássicas voltadas a sua área de atuação e chamados Acórdãos). Disponível na página
áreas correlatas à Ciência do Direito, es- do TM na Internet, o mecanismo de busca
pecialmente o Direito Marítimo, e também encontra-se no endereço https://www.
em assuntos como: transporte aquaviário, marinha.mil.br/tm/. Basta acessar, ao lado
navegação, portos, meio ambiente, rela- esquerdo, a área “Judiciária” e clicar na aba
ções internacionais, política internacional, "Consultar Acórdãos – Anuário de Juris-
história naval etc. Possui, ainda, um espaço prudência". A pesquisa pode ser realizada
físico destinado à consulta e leitura, não pelo número do processo, nome da embar-
só para profissionais da área, mas também cação, tipo de fato ou acidente da navegação
para o público acadêmico em geral. ou pelos nomes dos envolvidos, além de ou-
tras funcionalidades. Pode ser acessada por
A PÁGINA DO TM NA computador, tablet ou smartphone. Assim,
INTERNET: NOVIDADES conhecendo as causas e circunstâncias,
poderemos evitar acidentes.
Acompanhando a evolução da tecno- Também está disponível para consulta
logia da informação, o TM procura dis- na internet o Boletim de Acidentes Julga-
ponibilizar uma série de ferramentas para dos no Tribunal Marítimo, que apresenta,

RMB2oT/2019 45
CONHECENDO O TRIBUNAL MARÍTIMO, A CORTE DO MAR BRASILEIRA

TRIBUNAL MARÍTIMO A
TODO PANO!

Por fim, gostaria de relembrar que


o Tribunal Marítimo é um órgão au-
tônomo, auxiliar do Poder Judiciário,
vinculado ao Comando da Marinha.
O atual e os antigos comandantes da
Marinha, bem como seus gabinetes,
sempre dispensaram especial atenção
ao TM, provendo de forma inequívo-
ca recursos orçamentários e de pes-
soal para o adequado funcionamento
de nossa Corte. Em algumas situa-
ções, as decisões prolatadas no TM
subsidiarão juízes e desembargadores
em suas decisões, podendo acarretar
impactos substanciais em armadores,
empresas, aquaviários, seguradoras
etc. Seu atual presidente assumiu o
cargo em 30 de julho de 2018 e tem
o desafio de conduzir os julgamentos
de processos dos acidentes e fatos da
Boletim de análise de acidentes navegação marítima, fluvial e lacus-
tre, e, ainda, a concessão de: Registro
de forma resumida, uma análise dos da Propriedade Marítima, de armadores
acidentes mais importantes julgados a de navios brasileiros; Registro Especial
cada trimestre, em que se identificam as Brasileiro (REB); e ônus que incidem
falhas, suas causas determinantes, ensi- sobre as embarcações nacionais.
namentos colhidos e recomendações aos Tamanha é a importância das deci-
navegantes, bem como ações que pode- sões do Tribunal que o novo Código de
riam ter sido tomadas para evitá-los, sem, Processo Civil, em seu Art. 313, inciso
contudo, revelar nome das embarcações VII, determina a suspensão do processo
e pessoas envolvidas. quando se discutir em juízo questão de-
Outra funcionalidade é a Ouvidoria/ corrente de acidentes e fatos da navegação
Fale Conosco, que permite ao usuário de competência do Tribunal Marítimo. Por
realizar o cadastro de reclamações, lei, a "Corte do Mar" exerce jurisdição
denúncias, elogios e sugestões, con- sobre todas as embarcações ou a elas equi-
tribuindo para a melhoria dos servi- paradas que arvoram bandeira brasileira
ços prestados pelo Tribunal Marítimo. e sobre todos os marítimos brasileiros,
O atendimento é realizado de segun- no Brasil ou em qualquer mar ou via
da a sexta-feira, de 9h às 11h30 e de navegável estrangeira ou internacional;
13h30 às16h30, por telefone: (21) 2104- sobre qualquer navio ou marítimo estran-
6815 ou por mensagem para o e-mail: geiros, sobre proprietários, armadores,
tm.ouvidoria@marinha.mil.br. afretadores e demais pessoas, de qualquer

46 RMB2oT/2019
CONHECENDO O TRIBUNAL MARÍTIMO, A CORTE DO MAR BRASILEIRA

nacionalidade nas águas jurisdicionais importante é que a navegação em nossas


brasileiras, assim como em ilhas artificiais águas jurisdicionais siga cada vez mais se-
e instalações, sempre respeitando os acor- gura. A MB trabalha diuturnamente nesse
dos firmados pelo Brasil e as normas de sentido, contando com a atuação constante
Direito Internacional. da única Corte Marítima de nosso país, seja
Como apresentado, o Brasil é uma no julgamento de acidentes da navegação
nação vocacionada para o mar, sendo es- ou no registro de embarcações.
sencial que os brasileiros cada vez mais re- Tribunal Marítimo, trabalhando pela
conheçam sua relevância; neste contexto, justiça e segurança da navegação!

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:


<PODER MARÍTIMO>; Direito do Mar; Autoridade Marítima; Navegação;

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei no 2.180 de 5 de fevereiro de 1954. Dispõe sobre o Tribunal Marítimo. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L2180.htm>. Acesso em: 24 de maio de 2019.
BRASIL. Decreto no 20.829 de 21 de dezembro de 1931. Cria a Diretoria da Marinha Mer-
cante e dá outras providências. Disponível em: <https://www2.camara.leg.br/legin/fed/
decret/1930 1939/decreto-20829-21-dezembro-1931-519452-norma-pe.html>. Acesso
em: 24 de maio de 2019.
BRASIL. Decreto no 22.900 de 6 de julho de 1933. Concede autonomia aos Tribunais Marítimos
Administrativos e dá outras providências. Disponível em: <https://www2.camara.leg.br/
legin/fed/decret/1930-1939/decreto-22900-6-julho-1933-522521-publicacaooriginal-1-pe.
html>. Acesso em: 24 de maio de 2019.
BRASIL. Decreto no 2.256 de 17 de junho de 1997. Regulamenta o Registro Especial Brasileiro
– REB, para embarcações de que trata a Lei no 9.432, de 8 de janeiro de 1997. Disponível
em: <https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1997/decreto-2256-17-junho-1997-
-445006-publicacaooriginal-1-pe.html>. Acesso em: 24 de maio de 2019.
BRASIL. Escola Superior de Guerra. Fundamentos do Poder Nacional. Rio de Janeiro: ESG, 2019.
BRASIL. Lei no 9.432, de 8 de janeiro de 1997. Lei de Transporte Aquaviário. Dispõe sobre a
ordenação do transporte aquaviário e dá outras providências. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9432.htm>. Acesso em: 24 de maio de 2019.
BRASIL. Lei no 9.537, de 11 de dezembro de 1997. Lei de Segurança do Tráfego Aquaviário –
Lesta. Dispõe sobre a segurança do tráfego aquaviário em águas sob jurisdição nacional e
dá outras providências. Brasília: Presidência da República, 1997. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9537.htm>. Acesso em: 24 de maio de 2019.
BRASIL. Serviço de Documentação da Marinha. “Incidente com o Navio Mercante Baden”. In:
Histórico do Tribunal Marítimo. Rio de Janeiro: SDM, 2004.
BRASIL. Tribunal Marítimo. Tribunal Marítimo – 50 anos. Rio de Janeiro: Tribunal Marítimo, 1985.

RMB2oT/2019 47
ENGENHARIA NAVAL*

YAPERY TUPIASSU DE BRITTO GUERRA**


Contra-Almirante (Refo-EN)
In memorian

SUMÁRIO

Introdução
Passado remoto
Idade Média
Era Moderna
A Engenharia Naval no Brasil
Convênio entre a USP e a Marinha do Brasil
Colação de grau da primeira turma de engenheiros
navais da Escola Politécnica
Escritório Técnico de Construção Naval da
Marinha em São Paulo

INTRODUÇÃO com seus semelhantes e com os portos


por intermédio dos códigos coloridos de

O engenheiro naval respeita o produto


de sua criatividade e tecnologia por-
que o navio, sem dúvidas, é aquele que
bandeiras ou dos aparelhos da eletrônica
moderna; viaja operando em águas nacio-
nais e internacionais; tem período de vida
mais se aproxima da criação máxima da útil quando transporta riquezas ou carga
natureza – o ser humano, o homo sapiens. bélica eficiente; sabe lutar como ninguém
Na verdade, o navio, como o homem, quando necessário; e como o homem,
nasce num berço; é batizado; tem perso- também adoece e, eventualmente, é reco-
nalidade jurídica própria; movimenta-se lhido a hospitais, no caso aos estaleiros de
por seus próprios meios; comunica-se reparo. À medida que o tempo passa, vai

* Texto enviado pelo Almirante de Esquadra João Afonso Prado Maia de Faria, recebido de seu pai, o Vice-
-Almirante Newton Braga de Faria, já falecido, e amigo do autor.
** Guarda-Marinha da turma de 1944 e MSc em Engenharia Naval pela Universidade de Michigan (EUA) em
1954. Coordenou, organizou, desenvolveu, lecionou e dirigiu o Curso de Construção Naval da Escola
Politécnica da Universidade de São Paulo (USP). Foi presidente da Academia Brasileira de Engenharia
Militar, vice-presidente do Ciesp e coordenador do Núcleo de Assuntos Estratégicos da Fiesp.
ENGENHARIA NAVAL

aos poucos envelhecendo, perdendo vita- mantidas juntas por cipós, na forma de
lidade e eficiência e, passado o período de jangadas. Há evidências de que, usando
vida útil, morre e é recolhido aos famosos esse meio de transporte, ele cruzou mares
cemitérios de navios, algumas vezes com e até mesmo oceanos. Não demorou mui-
cerimônias que lembram os enterros dos to, porém, para que o homem descobrisse
humanos, como ocorre com as mostras que poderia melhorar seu transporte sobre
de desarmamento dos navios de guerra. água usando troncos de árvore escava-
Como se não bastasse essa incrível dos na forma de canoas. No entanto, a
semelhança, o navio possui também uma dificuldade de escavar troncos com as
alma – sua tripulação –, que lhe dá ca- ferramentas primárias de que dispunha
racterísticas próprias, tais como valentia, levaram-no a construir esqueletos de ma-
eficiência e, até mesmo, sorte e alegria. deira com costelas de forma semicircular
Mesmo navios iguais, construídos em (cavernas), amarradas umas as outras, e o
série, pelo mesmo estaleiro e segundo um conjunto coberto com couro ou peles de
mesmo projeto, apresentam performances animais secados ao sol. Barcos desse tipo
diferentes – há os que têm sorte e os que ainda são usados nos dias de hoje por pes-
não têm, há os que são eficientes e os que cadores do País de Gales e da Irlanda. Os
não são. Mas quando a tripulação dele índios norte-americanos usavam também
se afasta, passa o navio da condição de a construção com cavernas e impermea-
entidade viva e produtiva para a de um bilizavam o casco com casca de árvores.
corpo inerte, de estrutura de ferro e aço Nenhuma dessas embarcações tinha porte
sem ação, que se deteriora rapidamente suficiente para ser chamada de navio, na
pela corrosão, do mesmo modo como se medida em que podiam transportar apenas
decompõe o corpo humano quando a alma alguns passageiros e pouquíssima quanti-
dele se afasta para viver a vida depois da dade de carga.
vida. O navio é, pois, um produto seme- O passo seguinte foi construir unida-
lhante ao homem e deve ser estudado, des maiores, embora usando o mesmo
projetado e construído para as águas onde princípio. A estrutura básica do navio
vai operar, como condição primeira para passou a ser constituída de uma peça
garantir-lhe eficiência bélica, nos casos de longitudinal forte, construída como uma
navios de guerra, e eficiência econômica imitação da espinha dorsal humana, uma
para os que são projetados para transportar série de cavernas transversais (a exemplo
cargas comerciais. das costelas humanas), uma peça vertical
Em consequência, parece lógico que a avante, (para "cortar" a água) e outra peça
análise que se segue comece pela gênese vertical semelhante a ré, servindo de
do navio e prossiga pela análise da evolu- popa. Toda a estrutura era inicialmente
ção da sua construção e dos seus projetos coberta por caniços colados juntos e
ao longo da História. depois por tábuas de madeira encaixadas
umas nas outras ou coladas, de modo que
PASSADO REMOTO uma tivesse sempre uma parte sobreposta
à outra. Parafusos de ferro passaram a
A gênese do navio perdeu-se na bruma ser usados nas estruturas tão logo foram
do tempo. Sabe-se, no entanto, que o ho- postos à venda pelos fabricantes. A não
mem primitivo carregava seus pertences ser pelo uso de longarinas para reforçar
através da água usando toras de madeira, a estrutura no sentido longitudinal, os

RMB2oT/2019 49
ENGENHARIA NAVAL

navios passaram a ser assim construídos Estreito de Gibraltar, indo até a Sicília e,
enquanto durou o reino da madeira na segundo Heródoto, em torno da África,
construção naval. Mesmo depois do uso até o Oceano Índico. Pinturas em túmulos
do ferro já no começo do século XIX, o perto de Roma mostram que, a partir de
velho princípio de construção manteve-se 450 anos a.C., os romanos, para reforçar
o mesmo, apenas as quilhas, cavernas, a estrutura de seus navios, introduziram o
longarinas, conveses e outras peças es- uso de anteparas, o que também permitiu
truturais passaram a ser dimensionadas o aumento da capacidade de transportar
de acordo com os princípios e as leis da carga. Os navios ficaram mais bojudos
resistência dos materiais. em razão do aumento da boca e, por este
O mais antigo navio de que se tem co- motivo, passaram a ser chamados navios
nhecimento preciso foi construído no ano redondos (round ships). Foi também nessa
3.908 a.C. para o funeral do faraó Cheops. fase que apareceram os primeiros navios
Descoberto numa vala perto de seu túmulo com dois mastros, para aumentar-lhes a
e coberto com areia, o navio tinha compri- velocidade e reduzir o tempo de singra-
mento de 40,59 metros e boca máxima de dura. Os trajetos ficavam mais curtos,
7,92 metros, foi construído com cerca de os navios podiam fazer mais viagens, o
600 peças de madeira diferentes e, ao que comércio aumentava e os lucros subiam.
tudo indica, nunca foi utilizado para outra Também nessa fase descobriu-se a
coisa a não ser para o funeral. Em outras possibilidade de navegar a vela com a proa
palavras, nunca foi ao mar nem flutuou mais próxima da linha do vento, isto é, à
no Nilo, mas há evidências suficientes bolina, pela exposição das velas a ação
para afirmar que os egípcios usaram na- do vento em ângulos diferentes do que
vios muito semelhantes no seu comércio se fazia no passado, ou seja, com vento
através do Mediterrâneo. Também há sempre de popa ou do través para ré (pelas
evidências de que tais navios, embora alhetas de bombordo ou boreste).
normalmente propelidos por remos opera- Os escandinavos desenvolveram uma
dos por escravos, usaram também a força forma diferente de casco, com compor-
propulsora dos ventos, ficando a meia nau tamento mais adequado para enfrentar
uma vela retangular, de papiro ou algodão, ondas do Atlântico Norte – cascos mais
pendurada de uma verga, ligada a mastro alongados, com proa e popa altas, afilados
na posição indicada, isto é, na posição nas extremidades e arredondados a meia
da caverna mestra. Sabe-se também que nau, forma de casco ainda usada nos bo-
tais navios eram governados por remos tes salva-vidas nos dias atuais. Os árabes
grandes pendurados por fora do casco, descobriram que as velas triangulares
a boreste e situados entre o taboado do apresentavam melhores qualidades pro-
costado e o painel da popa. pulsivas em relação às velas retangulares
Os fenícios que dominaram a costa do e, mesmo nos dias presentes, os barcos
Mediterrâneo durante mais de 700 anos árabes, chamados dhows, podem ser vistos
antes de Cristo, isto é, de 1.000 a 200 com suas velas triangulares no Mar Ver-
anos a.C., aproximadamente, melhoraram melho. A novidade foi logo adotada pelos
o projeto egípcio, construíram pequenos egípcios, que as usam no Nilo, nos seus
navios para navegar naquele mar e navios "felucas". Os chineses desenvolveram
maiores (tarshish ships), com os quais se um tipo diferente de barco: juntaram com
aventuraram a outros mares através do tábuas duas canoas e, sobre elas, construí-

50 RMB2oT/2019
ENGENHARIA NAVAL

ram paredes de madeira de modo a formar para terra. Eram propelidos por remos,
uma verdadeira caixa de fundo chato. Para mas na maioria dos casos usavam velas
servir de proa, construíram uma forma de tecido com cores vermelhas ou ver-
afilada separada, adicionada à estrutura. melho e azul. Um século depois, esses
A popa foi construída com o propósito barcos ainda usavam remos ou velas;
de manter o local seco com mar de popa. tinham o mesmo comprimento; proa e
Na linha central, construíram outra caixa pôpa afiladas e com o mesmo formato,
impermeável, que continha o remo usado mas na proa havia sempre colocada uma
para dirigir, de modo que o dispositivo estatueta que a tradição chama de figura
foi o precursor do leme, usado depois nas de proa. Nas bordas havia chumaceiras
embarcações dos países europeus. A mais para 16 remos (aberturas nas bordas que
importante contribuição chinesa para a servem de apoio aos remos). Um mastro,
construção naval, na época, foi o uso de colocado a meio navio, carregava uma
anteparas transversais, não só para dividir vela retangular, e uma peça de madeira
compartimentos na parte interna do navio, colocada em ângulo reto com a peça
mas também para reforçar a estrutura do de governo era a precursora da cana do
casco. Esses barcos, chamados "juncos", leme. Os navios que Alfredo de Wessex,
eram equipados com um ou dois mastros, o Grande, fez construir para a incipiente
dotados de velas retangulares feitas de Marinha inglesa eram de modelo seme-
palha, com as quais podiam navegar com lhante, embora de porte maior. Também
a proa perto da linha do vento. Eram, na os usados por William da Normandia para
realidade, superiores, em condições de invadir a Inglaterra eram do mesmo tipo,
navegabilidade, aos navios construídos, apenas maiores, alguns dos quais com
na época, nos outros países, e isso explica cerca de 60 remos.
o fato de serem usados até hoje nos mares No século XIII, a maioria dos navios
da costa e nos rios da China. em operação nas águas do Atlântico Norte
Pelo que foi relembrado até aqui, fica era do tipo redondo já descrito, com boca
patente a maneira rudimentar como eram bem grande e grande calado, o que lhes
construídos os navios, baseada unicamen- dava grande capacidade de carga; contudo,
te no conhecimento transmitido oralmente eles eram os primeiros navios construídos
de pai para filho, sendo a construção em si para operar com velas, sendo os remos
realizada por carpinteiros navais. usados esporadicamente. Por esse moti-
vo, o número de velas foi aumentando, e
IDADE MÉDIA alguns usavam dois mastros; nas versões
de guerra, eram construídas estruturas
Do que restou do barco chamado na popa e na proa (castelos), de onde os
Nydam, encontrado em 1863, e de um soldados lançavam setas ou lanças. Deste
outro encontrado num cemitério em Sut- dispositivo originou-se o nome de castelo
ton Hoo, Inglaterra, pode-se verificar que de proa para os compartimentos do convés,
os barcos com que os vikings faziam suas na região da proa. Somente no século XIV
viagens eram embarcações compridas, de apareceram barcos que mereceram a clas-
carvalho, com cerca de 24,38 metros de sificação de navios. Tinham deslocamento
comprimento, boca estreita e pequeno de 500 toneladas e dois mastros. Os desti-
calado, com um leme rudimentar, de nados a guerra tinham estruturas na popa,
modo a permitir que pudessem ser içados com um pequeno convés chamado convés

RMB2oT/2019 51
ENGENHARIA NAVAL

de popa e outro na proa, o qual manteve o Esse foi o período heroico da navega-
nome de castelo de proa. ção a vela, em que a coragem e a audácia
Cada um desses navios de guerra era dos marinheiros da época superaram as
tripulado por 90 marinheiros e carregava deficiências dos navios e construíram
60 lanceiros e 130 arqueiros. Os países o mundo como hoje conhecemos. Suas
do Mediterrâneo, nessa época, evoluíram experiências nos mares e nos oceanos
para as caravelas, inicialmente com dois tornaram possível e formaram os fun-
mastros e depois com três, com velas damentos da engenharia naval moderna.
retangulares nos dois mastros de vante Em 1066, William, da Normandia, cru-
e uma vela latina no mastro de ré, isto zou o Canal da Mancha e conquistou a
é, dois mastros de galera e um de bar- Inglaterra; em 1191, o Rei Ricardo I da
ca, como são classificados agora. Esses Inglaterra viajou para a Palestina para
navios foram construídos para navegar tomar parte nas Cruzadas; em 1248, os
em águas calmas, mas Colombo com- genoveses capturaram Rhodes; em 1263,
provou que podiam fazer cruzeiros mais os noruegueses tentaram, pela última vez,
longos quando veio para a América com invadir a Escócia, e em 1274 Kublai Kan
as caravelas Santa Maria, Pinta e Nina. fez uma tentativa frustrada de conquistar
Mesmo nessa fase, a construção naval o Japão. Em 1364, os dinamarqueses
era rudimentar, com tecnologia simples (Dietrich Pining) chegaram ao Senegal, e
passada de pai para filho. em 1497 o veneziano John Cabot chegou
O canhão apareceu no século XIV. E a Newfondland. Infelizmente, porém, os
foram montados em navios de mil tonela- dados disponíveis sobre essas viagens são
das de deslocamento e colocados na supe- tão raros e imprecisos que não permitem
restrutura do convés, no castelo de proa e comentários mais detalhados. Apenas do
no convés de popa. Eram suficientemente último século da Idade Média encontram-
leves para ficar nessas posições sem afetar -se documentos que permitem análise das
a estabilidade. À medida que o calibre dos viagens dos descobrimentos, das quais a
canhões foi aumentando, e, consequen- primeira – e para alguns a mais importante
temente, seu peso também, um novo de- – foi a de Cristóvão Colombo, nascido em
senvolvimento surgiu na construção naval Gênova, em 1451.
– a criação do convés inferior, abaixo do Como jovem e iletrado, embarcou em
convés principal, e a abertura nas bordas navios que operavam no Mediterrâneo. O
do navio, no mesmo nível desse segundo primeiro navio em que embarcou, e que
convés, para utilização dos canhões. O saiu daquele mar pelo Estreito de Gibral-
mais conhecido e talvez o primeiro navio tar, foi afundado por um esquadrão fran-
de guerra projetado e construído para esse cês ao largo de Lagos, em 1476. Colombo
mister foi o Henry Grace à Dieu (ou Great salvou-se a nado e voltou a Lisboa em um
Harry), para a Marinha inglesa, lançado navio português. Com esforço aprendeu a
em 1514, com quatro mastros, dois com ler. De suas leituras e da convivência com
velas retangulares e dois com velas latinas outros marinheiros, conhecia a importân-
e tripulado por 700 homens. Foi também cia e o valor comercial das especiarias
nesse século que apareceu a roda de leme, e de outras riquezas da Índia. Depois
que tinha de ser guarnecida por vários de muito esforço e recusas repetidas de
homens, mas ainda assim tornava mais ajuda por parte dos reis Henrique VII,
confortável o governo do navio. da Inglaterra, e Carlos VIII, da França,

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conseguiu o apoio dos reis da Espanha, cobriu os Açores em 1432, Cadamosto


Fernando e Isabel, e saiu de Palos, em de Veneza descobriu Cabo Verde em
1492, com uma frota de três pequenos na- 1462 e Pedro de Cintra colonizou Serra
vios: Santa Maria, uma caravela de 100 Leoa em 1462. Outros navegadores,
toneladas (ton) de deslocamento, com navegando ao longo da costa africana, já
tripulação de 40 homens, e duas outras tinham ido até o Golfo da Guiné, onde
caravelas, a Nina, de 90 ton, e a Pinta, colonizaram a Ilha de Fernando Pó.
ambas com 18 homens de tripulação. Diego Cam chegou ao Congo em 1484
Depois de enfrentar calmarias e ameaças e a Angola em 1486. Dali até o Cabo da
de motim da tripulação, chegou ao Haiti Boa Esperança era apenas um pulo, mas
e à República Dominicana, onde perdeu a esta honra coube a Bartolomeu Dias, que
Santa Maria, construiu uma fortaleza na tinha recebido de D. João II, meses antes
Baía de Caracol e voltou a Palos. deste morrer, a incumbência de preparar
Em 1493, Colombo fez uma segunda uma nova viagem à Índia pela rota do
viagem, com uma frota de 17 navios, Cabo da Boa Esperança. A respeito des-
carregando 1.500 colonos, e ancorou seis ses preparativos, diz Eduardo Bueno em
semanas depois na Ilha de Guadalupe. seu livro O Descobrimento das Índias:
Dali foi até o Haiti, onde constatou que "Primeiro o rei incumbiu um certo João
os nativos tinham dizimado a tripulação de Bragança da missão de cortar na lua
do Forte Caracol. Descobriu, porém, no certa as melhores madeiras que pudesse
local, grande quantidade de pepitas de encontrar para a fabricação de dois na-
ouro de tamanho avantajado, que valiam vios – pinheiros, carvalhos ou sobros.
fortunas, e mandou a carga preciosa para Depois, confiou ao próprio Bartolomeu
a Espanha em 12 de seus navios. Dias a tarefa de supervisionar a cons-
A terceira viagem teve como ponto trução das embarcações. Elas deveriam
de partida a Ilha de Cabo Verde, em 4 estar preparadas “para sofrer a fúria dos
de julho de 1498. O capitânia era a cara- mares daquele grão Cabo da Boa Espe-
vela Santa Maria da Guia, e a frota era rança. Dias decidiu reforçar a madeira e
composta de mais duas caravelas. Quatro a estrutura das caravelas em relação às
semanas depois, aportou numa ilha, à que, até então, usavam os portugueses
qual deu o nome de Trindade, e foi até a em suas viagens. Além disso, decidiu
Venezuela, na América do Sul. Colombo usar tanto velas latinas (triangulares)
enfrentou muitos problemas, tanto com como velas redondas (quadrangulares), o
os colonos quanto com os nativos das que, na prática, resultou na invenção das
terras descobertas, e morreu aos 54 anos, naus com as quais os lusos realizaram
frustrado por não ter descoberto a outra suas grandes descobertas".
rota para as Índias que tanto procurara. Quando as naus ficaram prontas,
Ligada a essas viagens de Colombo, morreu D. João II, subindo ao trono o
e talvez como consequência delas, estão rei D. Manoel, que, por ser aliado dos
as viagens pelas quais os portugueses nobres e da Igreja, nomeou Vasco da
descobriram o caminho das Índias e Gama para substituir Dias. Para ajudar
Cabral descobriu o Brasil em 22 de abril Vasco, foram escolhidos Pero de Alen-
de 1500. As viagens portuguesas come- car, que havia conduzido a caravela de
çaram em 1419, quando colonizaram a Bartolomeu Dias ao redor do Cabo da
Ilha da Madeira. Gonçalo Cabral des- Boa Esperança, como navegador da Nau

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São Gabriel, sob o comando de Paulo da plexidade dele como um todo se reduziria
Gama, e Nicolau Coelho para comandar a uma expressão bem mais simples.
a São Rafael. A frota era completada por O navio, porém, é uma construção
uma nau de abastecimento, comandada destinada a se mover na superfície que
por Gonçalo Nunes. É interessante notar limita meios de densidades diferentes,
que essa frota partiu no dia 8 de julho de o que introduz fatores diversos de re-
1497, atingiu Calcutá e teve três dos seus sistência à propulsão, que determinam
comandantes designados para a frota de formas especiais às carenas para reduzir
Cabral que descobriu o Brasil. Foram essa resistência, e essas formas especiais
eles Pero de Alencar, Pero de Escobar e são definitivamente não-geométricas.
Nicolau Coelho. Pedro Álvares Cabral Esses problemas começaram a ser ob-
recebeu instruções para explorar as des- jeto de aprofundadas investigações por
cobertas de Vasco da Gama e partiu em parte de cientistas do porte de Newton,
março de 1500, tendo Bartolomeu Dias D’Alambert, Euler, Condorset, Bossut,
como segundo em comando. Cabral, Borda e outros, nas tentativas de resolver
como é sabido, afastou-se da costa da teórica ou experimentalmente as questões
África para evitar calmarias e, com isso, que interessam ao projeto de carenas e que
acidentalmente (sic) descobriu o Brasil, formaram o primeiro estágio da tecnolo-
chegando a Porto Seguro a 22 de abril gia moderna que abrange a mecânica dos
de 1500. Depois de tomar posse da nova fluídos, com seus fólios, suas desconti-
terra em nome de D. Manoel, continuou nuidades, suas fotografias de barreiras
a viagem, enfrentando fortíssima tempes- transônicas, seus túneis para estudos dos
tade ao montar o Cabo da Boa Esperança, fenômenos de cavitação, seus túneis
quando perdeu nove navios. aerodinâmicos, aplicações da teoria de
modelos reduzidos, modelos de hidráulica
ERA MODERNA experimental em outras ramificações que
interessam à aeronáutica, à balística, aos
Como pode ser verificado do que se portos de mar, às hidroelétricas e a outros
relembrou nesta análise até o presente mo- setores da ciência aplicada dos nossos dias.
mento, o fato de não poderem os navios e De todos os nomes ilustres que se li-
embarcações que se movem na superfície gam à engenharia naval como ciência, o
dos oceanos, mares, rios, lagos e canais Almirante Engenheiro Naval (EN) Juve-
ter forma geométrica definida tornou a nal Greenhalgh, em seu livro Arsenal de
construção naval uma arte essencialmente Marinha do Rio de Janeiro na História,
empírica, característica que, em parte, destaca Bouger e Euler. O primeiro, no
continua nos dias presentes, apesar do livro Traté du Navire, escrito em 1746,
imenso progresso e desenvolvimento das lembra que, até então, o estudo da estabi-
ciências físicas e matemáticas dos últimos lidade dos corpos flutuantes se cingia aos
dois séculos. Pudesse o navio ter uma rudimentos que datavam de Arquimedes.
forma geométrica definida, o estabeleci- O grande geometra grego deixara claro
mento ou a verificação de suas condições que essa estabilidade depende do empuxo
de estabilidade, da capacidade de volume do fluído deslocado, do peso do corpo
ou peso, da resistência aos esforços que flutuante e das posições dos pontos de
devem suportar as diferentes partes de sua aplicações destas forças. E mais: a pro-
estrutura, tudo enfim que constitui a com- priedade do flutuante – sua estabilidade

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– segundo a qual, quando afastado de sua determinação de potências para carenas


posição de equilíbrio em águas tranquilas, projetadas, nem túneis de cavitação para
tende a voltar a seu estado inicial, depende estudo de hélices, o que mantém a com-
da posição que Bouger chamou de meta- ponente empírica da Engenharia Naval e
centro. A estabilidade fica condicionada mostra a importância das viagens maríti-
à bem conhecida regra da situação acima mas do passado para o progresso de hoje.
ou abaixo do centro de gravidade. Bouger Na verdade, aquelas viagens se constitu-
estudou aplicações de sua teoria em vários íram nos tanques de provas da antanho,
problemas do navio, como a distribuição em que os navios eram testados nos mares
de sua artilharia a bordo, entre outros, e oceanos, com os navegantes pagando,
lançando seguras bases científicas para a muitas vezes com a vida, a audácia de
arquitetura naval. Euler, por sua vez, em terem tentado, enfrentando as condições
Sciencia Navalis, empregou os recursos reais, com grandes ondas, ventos e tem-
de sua inteligência privilegiada em be- pestades. Desses testes na vida real, com
nefício da nova disciplina e ganhou um navios frágeis e deficientes, resultaram
prêmio do governo francês, por proposta dados práticos de grande valia para o pro-
de Condorcet. Pela publicação do livro jeto e a construção dos navios de guerra
Theoríe Complete de la Construction e mercantes que cruzam os mares. Além
e de la Manoevre des Vasseaux, mise dos conhecimentos científicos usados a
la portée des gens qui s`appliquenta la partir do século XVIII, duas inovações
Navegation, Euler, que já introduzira o aparecidas no século XIX vieram produzir
conceito de momento de inércia e enri- profunda transformação nos projetos dos
quecera a ciência com as equações que navios de guerra e mercantes.
lhe perpetuam o nome, ampliou as bases Em 1802, com o advento da Revolução
da teoria. A estabilidade de forma ao lado Industrial na Inglaterra, William Clyde
da de peso, a teoria geral dos metacentros, construiu a primeira embarcação a vapor,
baseada na evoluta metacêntrica e, em para ser utilizada no Rio Clyde, na Escócia.
geral, as matérias expostas nos clássicos Um ano depois, Robert Fulton construiu
artigos de Pollard e Dudubout encontram um barco semelhante para ser usado no
seus pontos de partida nos fundamentos Rio Sena. Em 1805, Fulton construiu um
lançados por Bourguer e Euler. outro barco maior, com o qual conseguiu
Modernamente, não paira mais nenhu- completar a viagem de 150 milhas entre
ma dúvida de que a Engenharia Naval, New York e Albany em 32 horas. As má-
como é conhecida, ensinada e praticada quinas da época tinham pouca potência e
nos dias presentes, é uma consequência não eram confiáveis, suas caldeiras tinham
lógica da evolução da Física, da Mecânica consumo exagerado de carvão, e, nas rotas,
dos Fluídos, da Resistência dos Materiais, não se dispunha de facilidades para rea-
da Termodinâmica, dos fundamentos da bastecimento de combustível. Como con-
Transferência de Calor, da Mecânica, da sequência, as máquinas só eram utilizadas
Eletricidade, da Física Nuclear, da Quí- para singraduras curtas, como a travessia
mica Orgânica ou, em resumo, de toda do Canal da Mancha, para rebocadores,
ciência aplicada. Mas mesmo assim, e navios de rio e de correio. Para os demais,
apesar do progresso, ainda não é possível eram utilizadas como auxiliares das velas.
dispensar o empirismo do uso dos tanques A exceção conhecida para esse quadro
de provas para resolver problemas de foi a construção do navio a vapor de casco

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de madeira, em 1838, por Isambard K. Titanic, construído muito depois, afundou


Brunel. O navio, de nome Great Western, porque suas anteparas não eram estanques e
tinha 1.321 ton de deslocamento, era pro- teve avaria abaixo da linha-d’água, atingido
pelido por rodas de pás e completou sua por um iceberg. Seu segundo navio, misto,
viagem inaugural, entre Bristol e New de carga e passageiros, foi construído com
York, em 15 dias, transportando 24 pas- essas modificações, tinha 3.270 ton de des-
sageiros de primeira classe. Foi o primeiro locamento e era propelido por hélices. Na
transatlântico de passageiros em serviço. época, alguns construtores não acreditavam
A roda de pás tinha várias desvantagens: que navios de ferro pudessem flutuar e por
eram facilmente danificadas em mau tem- isso construíram navios compostos – usa-
po e, nos navios de guerra, ficavam não só vam quilha e cavernas de ferro, mas casco
muito vulneráveis aos tiros inimigos, mas revestido de placas ou tábuas de madeira.
também, pela sua posição nos lados do O terceiro navio construído por Brunel,
navio, reduziam o número de canhões que o Great Eastern, lançado em 1858, tinha
podiam ser utilizados. Os estaleiros britâ- comprimento de 211 metros e desloca-
nicos relutaram em usar hélices, até que mento de 32.160 ton, era propelido por
o Almirantado inglês, em 1845, fez um hélice e roda de pás, tinha capacidade para
teste simples, mas eficiente, que dirimiu transportar 4 mil passageiros (ou 10 mil
as dúvidas: conectou duas fragatas iguais soldados), além de 6 mil toneladas de carga.
pela popa, uma propelida por hélice, a Nele foram introduzidas duas inovações:
HMS Rattler, a outra por roda de pás, a duplo fundo para garantir sobrevivência
HMS Alecto. Apesar de a Alecto operar do navio em caso de encalhe e máquina
com toda potência avante, foi rebocada de governo a vapor. Essas duas inovações
com velocidade de 2.7 milhas por hora. A passaram a ser comuns nos projetos de
partir daquele teste, a grande maioria dos navios daí em diante.
navios passou a adotar o hélice, e, com o A engenharia naval, naquela época,
advento de máquinas alternativas a vapor já tinha atingido o estágio tecnológico e
mais eficientes e caldeiras de alta pressão, científico como a conhecemos nos dias
que se foram sendo fabricadas na segunda atuais. O uso do aço nas estruturas tinha
metade do século XIX, o vapor superou a permitido o projeto e a construção de
vela como meio de propulsão. navios maiores, com maior capacidade de
A outra grande inovação do século carga e passageiros. O uso de óleo como
XIX foi o uso do ferro para a construção combustível, por sua vez, permitiu o pro-
do casco dos navios, seguida, em 1860, jeto e a construção de caldeiras expressas
pelo uso do aço para o mesmo fim. Am- e superaquecedores, com a produção de
bas permitiram a construção de navios vapor superaquecido, o que, com o apa-
maiores. À concepção básica da estrutura recimento das engrenagens redutoras, per-
dos cascos dos navios, aprovada por cer- mitiu não só o uso de turbinas, mas grande
ca de 2 mil anos de experiência no mar, melhora nas suas performances. Foram
Brunel adicionou longarinas para reforçar projetados e construídos novos tipos de
longitudinalmente o conjunto e anteparas navios mercantes de carga geral, trans-
transversais impermeáveis à água, o que, portadores de contêineres, petroleiros,
além de reforço estrutural, melhorava as navios para transporte de carga refrige-
chances de sobrevivência do navio no rada, transportadores de gás, graneleiros,
caso de avaria abaixo da linha-d’água – o quebra-gelos, navios-fábrica, pesqueiros,

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navios oceanográficos, enfim, navios para Thomé de Souza, que saíam os navios
todos os propósitos, como são usados atu- para a Esquadra brasileira em formação.
almente. Progresso igualmente importante Até 1840, tanto o Arsenal do Rio de
ocorreu no campo dos navios de guerra, Janeiro como o da Bahia mantiveram o
com o projeto e a construção de encoura- mesmo aspecto, a mesma organização
çados, porta-aviões, cruzadores, destróie- do período colonial. Em 1824, iniciou-
res, fragatas, corvetas, submarinos, navios -se a construção, no Rio, de um dique
auxiliares, navios-hospitais, embarcações seco, escavado na rocha, para reparo de
de desembarques, navios-transporte e toda navios, construção esta que se prolongou
a gama de barcos usados pelas Marinhas até o ano de 1861. Esse dique, o primeiro
do mundo inteiro. Contudo, a mais impor- construído no Brasil e na América do Sul,
tante inovação tecnológica introduzida foi constituiu-se em importante progresso,
o uso da energia nuclear para propulsão pois acabou com as demoradas e perigo-
naval, que veio revolucionar a engenharia sas operações da “virar de carena” para
naval em termos de melhora de raio de reparo ou limpeza nas obras vivas e isto,
ação e permitiu o projeto e a construção é claro, depois da retirada de máquinas e
do submarino verdadeiro, isto é, aquele mastreação, antes da operação.
construído para operar permanentemente Por ocasião da Independência, em
submerso, vindo à superfície apenas es- 1822, o Arsenal teve seu nome mudado
poradicamente. A introdução da energia para Arsenal Imperial da Marinha, mas
nuclear na propulsão naval foi o mais continuou a ser conhecido como Arsenal
significativo avanço tecnológico dos úl- da Corte. Depois da Nau São Sebastião,
timos 60 anos. lançada ao mar em 1767, o Arsenal só
voltou a construir outro navio em 1824
A ENGENHARIA NAVAL e, durante todo esse período, teve como
NO BRASIL atividade principal o reparo de navios
da Esquadra Real, depois da brasileira e
A história da Engenharia Naval no também de navios mercantes, brasileiros
Brasil confunde-se com a própria histó- e estrangeiros surtos no porto. Até mea-
ria da Marinha brasileira. O Arsenal de dos do século XIX, como mencionado,
Marinha do Rio de Janeiro foi fundado o centro de construção naval continuou
em 1763, mas durante todo o período sendo o Arsenal da Bahia. A atividade de
colonial registrou apenas uma construção reparo no Rio foi muito ativada depois da
de vulto – a Nau São Sebastião. O trabalho Independência, quando foi necessário pôr
era artesanal, braçal e voltado exclusiva- em condições de combate e de navegação
mente para naus de madeira e a vela. O muitos navios deixados pelos portugueses
mesmo aconteceu com outro arsenal de e que constituíam o núcleo principal da
porte existente na época, o da Bahia, que Esquadra brasileira. Somente em 1824 foi
foi, de longe, o mais importante centro reiniciada a atividade de construção naval,
de construção naval no Brasil no período com a Corveta Campista sendo lançada ao
colonial, conservando esta primazia até a mar em agosto de 1827. Foi aquela corveta
primeira metade do século XIX. Enquanto projetada pelo primeiro construtor (como
o do Rio de Janeiro mantinha-se como eram chamados os profissionais graduados
centro de reparos navais, era do da Bahia, em construção naval) do Arsenal, Primei-
o sucessor da velha Ribeira das Naus de ro-Tenente José dos Santos. Em 1826, foi

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ENGENHARIA NAVAL

iniciada a construção de outra corveta, oposição, principalmente por parte das


Dona Januária, com projeto do mesmo Marinhas de Guerra, porque, como já
construtor, lançada ao mar em 1830 com mencionado, os propulsores da época, de
o nome de Dona Amélia, em homenagem rodas, eram volumosos, pesados e extre-
à nossa segunda imperatriz. Depois desta, mamente vulneráveis e sua localização
vieram o Brigue Calíope, em 1839; o Pata- nos bordos dos navios reduzia o poder de
cho Argus, em1840; e a Corveta Enterpe, fogo das unidades. Agravava o problema,
em 1842, com projeto do construtor José ainda, a construção primitiva das máqui-
Joaquim dos Santos Pimenta. nas a vapor e das caldeiras que as faziam
Durante todo o período até aqui con- grandes e pesadas e reduziam muito o
siderado, os profissionais de construção volume interno destinado à munição e
naval eram chamados erroneamente de às peças de artilharia. Até 1840, quase
construtores. Embora profissionais com- nada desse progresso tecnológico tinha
petentes, nenhum deles tinha formação atingido a construção naval no Brasil.
regular de Engenharia Naval, sendo anti- Muito poucos eram os barcos a vapor, e os
gos operários que ascendiam a mestres e cálculos eram feitos pelas velhas fórmulas
depois a construtores e cujo aprendizado empíricas herdadas dos portugueses. Em
era feito nas aulas de Geometria e Dese- razão desse atraso tecnológico é que foi
nho do próprio Arsenal, pelo estudo como proposta, mais uma vez, a criação de um
autodidatas e pela experiência. Somente curso de Engenharia Naval .
a partir de 1852 teve o Arsenal da Corte Entre 1840 e 1865, o Arsenal da Cor-
engenheiros navais com curso de formação te esteve sob a direção de engenheiros
de Engenharia (feitos no estrangeiro), mas estrangeiros, alemães, belgas e ingleses,
a necessidade de melhor formação para os que introduziram modificações radicais
profissionais de construção naval já era não apenas nos equipamentos mecâni-
sentida há muito tempo, tanto assim que cos, mas também na tecnologia aplicada
o relatório anual do ministro da Marinha, naquele parque industrial. Depois de
em 1834, diz textualmente: “Alheios às 1865, a direção do estabelecimento pas-
teorias da ciência (...) nossos construtores sou às mãos dos engenheiros brasileiros
estão longe de poderem ser considerados Carlos Braconnot e Antônio Gomes de
hábeis engenheiros, e daqui pode resultar Matos, ambos formados em Engenharia
grave detrimento para o material da nossa Mecânica na Europa, de onde trouxeram
Marinha de Guerra; a criação de uma Es- e introduziram no Arsenal o que de mais
cola de Construção Naval (...) me parece avançado havia, à época, na construção de
aconselhada pelos interesses da Marinha caldeiras e máquinas a vapor. Ao mesmo
e da Fazenda Publica”. Novamente, em tempo, com o retorno, em 1852, do en-
1851, outro ministro da Marinha escreveu: genheiro João Batista Level (diplomado
“Não é menos indispensável cuidar da em Engenharia Naval na Europa) à frente
instituição de uma escola de Construção da Diretoria de Construção Naval, houve
Naval, que até hoje tem andado por mão verdadeira revolução na construção naval
de práticos apenas aptos a executar planos no Brasil. Level, engenheiro notável, foi,
levantados por engenheiros que possuíam na realidade, o primeiro dirigente, no
todos os conhecimentos da difícil ciência”. Arsenal da Corte, com curso regular de
Quando da introdução da máquina Engenharia Naval. Autor do projeto da
a vapor na construção naval, sofreu ela Corveta Imperial Marinheiro, construída

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ENGENHARIA NAVAL

no Arsenal, foi com ela que se inaugurou o Tendo atingido o auge de progresso em
dique seco, cuja obra se iniciara em 1824. 1890, o Arsenal estagnou a partir daquela
Entre 1840 e 1865 foram construídas cin- data e, como consequência, entrou em
co corvetas, um brigue-escuna, um navio, rápido processo de decadência. As causas
um rebocador, um brigue, uma galeota, da decadência foram, sobretudo, políticas:
um cúter e uma barca. a Marinha perdeu prestígio e importância
De 1860 em diante, já com desenhis- com o advento da República e também
tas no seu quadro de pessoal, até 1890, por falta de visão da administração naval,
o Arsenal da Corte atingiu o máximo do que passou a preferir comprar navios no
seu desenvolvimento, aproximando-se exterior. Tudo aconteceu numa época de
dos estaleiros mais avançados do mundo grandes transformações tanto na constru-
daquele tempo. No período, isto é, entre ção naval como na indústria de um modo
1865 e 1890, foram construídos três geral, com o aparecimento de máquinas
encouraçados, quatro monitores, duas alternativas de múltipla expansão, das
corvetas, um rebocador, uma galeota, um turbinas, das construções de aço e do aper-
patacho, cinco canhoneiras e três cruza- feiçoamento da metalurgia, de modo que
dores, incluindo o Cruzador Tamandaré, a estagnação do Arsenal representou, de
de 4.537 toneladas de deslocamento e fato, uma decadência enorme na constru-
95,9 metros de comprimento, com 16 ção naval no Brasil. Tal decadência teve
canhões e máquinas de 7.500 cavalos como consequência não só o completo de-
de potência. Foi o Tamandaré o maior sestímulo dos engenheiros navais, que não
navio construído no Brasil não apenas mais construíram, mas apenas dirigiam
no período, mas até o ano de 1960. Em obra de reparo, e, pior ainda, provocou a
1869, o engenheiro Trajano de Carvalho perda da fabulosa experiência acumulada
patenteou, na Europa, um novo formato num ramo de engenharia no qual o Brasil
de carena que permitia maiores veloci- chegou a estar entre os países mais desen-
dades com menos potência e, em conse- volvidos do mundo.
quência, maior economia de operação. Daquele período de ouro da engenharia
A nova forma de carena, resultado de naval no Brasil destacaram-se os seguintes
cuidadosa pesquisa hidrodinâmica, foi nomes:
aplicada primeiro em uma lancha a vapor – João Batista Level (1824-1914),
e depois na Corveta Trajano, cuja prova nascido em Ilhéus, Bahia, e que foi, em
de mar, executada em viagem do Rio verdade, o primeiro engenheiro naval
de Janeiro a Montevidéu, comprovou brasileiro que projetou e construiu nada
praticamente sua vantagem. Depois, em menos de 23 navios e projetou mais 12
teste realizado na Inglaterra por Froude, construídos por estaleiros ingleses – de
pai da hidrodinâmica de navios, foi veri- sua autoria são projetos de encouraçados,
ficado que a forma de carena de Trajano dos monitores da classe Pará e da Corveta
proporcionava economia de combustível Niterói, primeiro navio com propulsão a
da ordem de 30%. Essas experiências hélice construído no País;
com a carena de Trajano foram precur- – Carlos Braconnot (1831-1882), for-
soras dos modernos testes em tanques mado nas oficinas de John Penn & Cia, na
de provas do tipo existente no Instituto Inglaterra, “segundo engenheiro” da Ofi-
de Pesquisas Tecnológicas do Estado de cina de Máquinas do Arsenal e diretor das
São Paulo (IPT). Oficinas de Máquinas da Estrada de Ferro

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ENGENHARIA NAVAL

D. Pedro II (Central do Brasil) – a ele se o quinquênio 1865-1870, quando projeta-


deve o projeto e a construção de todo o mos e construímos muitos navios, como já
sistema propulsor de numerosos navios mencionado. Em vez disso, desprezamos
construídos tanto no Arsenal da Corte a experiência adquirida no período e,
como em outros arsenais e estaleiros; durante 70 anos, voltamos às encomen-
– Trajano Augusto de Carvalho (1830- das no estrangeiro. Mais recentemente,
1898), nascido em Florianópolis, formado cometemos o mesmo erro quando, depois
em Engenharia Naval nos estaleiros de do relativo sucesso da construção dos con-
Richard W. Hervy Green, Londres, e di- tratorpedeiros das classes Marcílio Dias e
retor do Arsenal da Bahia em 1859, tendo Araguaia, voltamos à improfícua política
trabalhado no Arsenal da Corte a partir de recebermos navios que, nos seus países
de 1866 e desenvolvido experiências que de origem, já estavam superados.
conduziram à nova forma de carena, como Apesar da clarividência de dois minis-
já mencionado – substituiu o engenheiro tros da Marinha – o primeiro em 1834 e
Level na Diretoria de Construções Navais o segundo em 1851 – que já propagavam
do Arsenal; e pela criação de um curso de Engenharia
– João Cândido Brasil (1848-1906), Naval no Brasil, só viemos a dispor de um
natural de Angra dos Reis e formado curso de nível universitário da especiali-
em engenharia naval na Europa, diretor dade 126 anos depois, quando, novamen-
de Construções Navais do Estaleiro de te, a Marinha decidiu resolver o problema
Pernambuco, do Estaleiro de Ladário e, da formação de engenheiros navais no
finalmente, do Estaleiro da Corte – foi o País patrocinando e agindo no sentido
primeiro a construir no Brasil um casco de estabelecer um curso de Engenharia
inteiramente metálico, o da Canhoneira Naval adaptado à realidade brasileira.
Iniciadora, e também o principal projetis- Na verdade, até 1959, quando se formou
ta do Cruzador Tamandaré, cujo porte só a primeira turma de engenheiros navais
seria ultrapassado 70 anos depois. Com a pela Escola Politécnica da Universidade
criação do Corpo de Engenheiros Navais de São Paulo (USP), a totalidade dos
em 1890, já como contra-almirante, pas- engenheiros navais no Brasil pertencia
sou a chefiar o aludido Corpo e organizou ao Corpo de Engenheiros da Marinha de
e dirigiu os planos da nova Esquadra do Guerra. Aquele grupo de profissionais era
Programa Júlio de Noronha, que incluiu os formado por oficiais oriundos do Corpo
encouraçados Minas Gerais e São Paulo, de Oficias da Armada que, escolhidos por
na época os mais poderosos do mundo. concurso de seleção, eram enviados ao
A análise sucinta da construção naval exterior para frequentar cursos em escolas
em nosso país a partir de 1822 indica, de reputação internacional, tais como o
sem sombra de dúvidas, que, se não King’s College de Londres, na Inglaterra,
tivesse ocorrido a falta de continuidade o Massachussetts Institute of Tecnology
administrativa e a política de contenção de (MIT) e a University of Michigan, ambos
despesas que sempre foi a tônica no Brasil nos Estados Unidos da América (EUA).
ao término de cada conflito externo em Os engenheiros navais guarneciam, como
que estivemos envolvidos, outra teria sido ainda o fazem, os órgãos técnicos da
a posição da mão de obra especializada, Marinha do Brasil (MB), e davam apoio
da própria tecnologia em nossos arsenais. e direção aos programas de reparo e cons-
Excelente oportunidade foi perdida após trução de navios das nossas forças navais.

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ENGENHARIA NAVAL

Era evidente, porém, desde muitos anos, possuindo as condições técnicas exigidas,
que o número de técnicos disponíveis não entusiasticamente aceitou a ideia e se
resolvia o problema interno da Marinha e, prontificou a assumir a responsabilidade
muito menos ainda, o do País. de, com a Marinha, tornar realidade o
De posse da experiência adquirida sonho de um grupo de brasileiros cons-
desde o tempo do Brasil Colônia; com a cientes: formar engenheiros para o esta-
consciência do passado exuberante na área belecimento da indústria de construção
de construção naval do século passado; naval no Brasil. Nasceu assim o Curso de
consciente de sua responsabilidade pela Construção Naval da Escola Politécnica,
defesa de uma nação essencialmente ma- como resultado de convênio assinado, em
rítima, pelos 9.600 km de costa e 35.000 18 de maio de 1956, entre a Marinha e a
km de rios navegáveis; conhecendo como Universidade. O convênio foi assinado
poucos a situação real da nossa Marinha pelo diretor-geral do Pessoal da Marinha,
Mercante e a importância do transporte Vice-Almirante Maurício Eugênio Xavier
marítimo e de uma indústria de construção do Prado, e pelo reitor, Professor Doutor
naval para o desenvolvimento econômico Alípio Corrêa Neto.
e para a própria segurança nacional, estava O convênio estabelecia que a Escola
a Marinha decidida a incentivar, como Politécnica manteria, na sua organização
incentivou, o estabelecimento de uma didática, um curso de Engenharia Naval
indústria de construção naval no Brasil e, que obedecesse à seguinte orientação geral:
para servi-la, de um curso de Construção – dois anos fundamentais comuns com
Naval de nível universitário. os vários cursos da escola;
– três anos especializados com discipli-
CONVÊNIO ENTRE A USP E A nas comuns com outras especialidades de
MARINHA DO BRASIL engenharia, disciplinas gerais próprias de
construção naval e disciplinas específicas
Antes mesmo que qualquer órgão do das três modalidades: Estruturas, Máqui-
governo se preocupasse com o assunto, nas e Eletrônica.
a Marinha, pelos seus chefes, designou O convênio estabelecia também que o
comissão de engenheiros chefiada pelo curso seria frequentado por estudantes ci-
então Capitão de Mar e Guerra (EN) Ota- vis matriculados de acordo com as normas
cílio Cunha, depois almirante e presidente da Escola Politécnica; estudantes civis
do Conselho Nacional de Pesquisas, para bolsistas da Marinha e oficiais de Mari-
estudar e planejar o estabelecimento, no nha selecionados nos concursos para o
País, de um curso para a formação de en- Corpo de Engenheiros e Técnicos Navais,
genheiros da especialidade de construção realizados anualmente pela Marinha, de
naval. A nacionalização da formação de acordo com regulamentação própria. Ga-
engenheiros da especialidade era o pri- rantia, ainda, que os oficiais de Marinha,
meiro passo para o estabelecimento da in- inicialmente, frequentariam apenas o 3o
dústria de construção naval brasileira com ano e o primeiro semestre do 4o ano, indo
técnicos adaptados à realidade nacional. complementar sua formação em escolas
Dois anos de estudos e pesquisas especializadas no exterior. Progressi-
levaram a comissão designada a manter vamente, a Marinha comprometia-se a
entendimentos com a Escola Politécnica aparelhar, em São Paulo, um Escritório
da USP, única entre as sondadas, que, Técnico com pessoal e elementos técnicos

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ENGENHARIA NAVAL

que permitissem iniciar o ensino de disci- aplicação ou interpretação das demais


plinas de caráter confidencial relativas à cláusulas do Convênio.
construção de navios de guerra, quando, O coordenador seria também o diretor
então, os oficiais de Marinha frequen- do Escritório Técnico de Construção
tariam dois anos e um semestre em São Naval da Marinha em São Paulo, do qual
Paulo e completariam sua formação com deveriam fazer parte as salas de desenho
mais um ano no exterior. Eventualmente, especiais para trabalhos de projetos refe-
os oficiais da MB frequentariam o curso rentes a navios, que inicialmente deveriam
completo em São Paulo, quando então atender às disciplinas gerais e, depois, às
receberiam o diploma de engenheiro naval referentes a navios de guerra. A Escola
expedido pela USP. Politécnica forneceria as salas para o
Para o funcionamento do curso, a Escritório Técnico nos edifícios da Praça
Marinha comprometeu-se a fornecer Coronel Fernando Prestes, devendo proje-
professores para as disciplinas especiali- tar os prédios da Cidade Universitária de
zadas em construção naval, entre oficiais acordo com os requisitos do coordenador.
da Marinha ou professores especialmente Ainda de acordo com o Convênio, o
contratados no exterior, durante o período curso deveria ter início no começo do ano
necessário à formação de professores escolar de 1957, com as disciplinas do 5o
nacionais, de acordo com esquema esta- e 6o semestres, isto é, Arte Naval, depois
belecido, e garantir bolsas de estudo, no denominada Introdução à Engenharia
exterior, a assistentes designados pela Naval e Arquitetura Naval 1.
Escola Politécnica, para obtenção de
mestrado, a fim de assegurar a continui- Organização do curso – aplicação do
dade e a competência do corpo docente. convênio
O documento estabelecia: os alunos do
curso de Engenharia Naval deveriam ficar A solução dada pela Marinha ao
sob a orientação constante de assistentes problema da formação de engenheiros
especializados; as disciplinas (fossem navais foi inteligente. Ao contrário do
elas gerais ou específicas) seriam ajus- que ocorreu com o Exército, que fundou
tadas de acordo com as necessidades do o Instituto Militar de Engenharia (IME),
curso e com as exigências de crédito em hoje situado na Praia Vermelha, Rio de
instituições educacionais estrangeiras; Janeiro, e com a Aeronáutica, que criou
garantia de verba anual mínima durante o Centro Técnico de Aeronáutica, em
a vigência do convênio; comprometi- São José dos Campos, duas excelentes
mento, junto à Escola, de criação de um escolas de engenharia que exigiram altos
Escritório Técnico de Construção Naval; investimentos para suas instalações e são
designação de representante (oficial supe- de elevados custos de operação, além
rior do Corpo de Engenheiros e Técnicos do tempo requerido para as respectivas
Navais especializados em construção consolidações, a Marinha optou pela uti-
naval) para exercer as funções de coor- lização de uma escola de Engenharia de
denador de Engenharia Naval na parte reputação invejável: a Escola Politécnica
referente às obrigações da MB para com a da USP, de alto gabarito, com um corpo
Escola, os alunos oficiais, os bolsistas da docente respeitável e respeitado. Com ela,
instituição, o pessoal docente contratado em pouco mais de três anos, a Marinha viu
ou estudando por conta da Marinha; e a formada a primeira turma de engenheiros

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ENGENHARIA NAVAL

navais. Na verdade, a instituição apenas Marinha junto à Escola Politécnica, a or-


ajudou a Escola Politécnica a estabelecer ganização geral do curso e do Escritório
o curso e as disciplinas especializadas, Técnico e a influência direta nos progra-
uma vez que as disciplinas básicas já mas das disciplinas gerais e específicas
eram ministradas na Politécnica havia que devessem ser ajustadas às exigências
muitos anos, com eficiência e tradição. de crédito em instituições universitárias
Não apenas do ponto de vista econômico, estrangeiras. Cabia ao coordenador a
mas também, e principalmente, do ponto tarefa de obter do Conselho Departamen-
de vista técnico, a solução da Marinha tal da Politécnica as modificações ou o
não poderia ter sido melhor. Seguiu o estabelecimento de novos programas de
exemplo das Marinhas dos países mais interesse do Curso de Engenharia Naval.
desenvolvidos que não dispõem de esco- Cônscia de sua responsabilidade e para
las de Engenharia próprias e usam para estabelecer os programas em bases sa-
formação de seus engenheiros escolas dias, em pé de igualdade com instituições
pertencentes a universidades famosas, de respeito na comunidade acadêmica
tais como a Universidade de Michigan e internacional, a Marinha, por meio do
o King’s College, já citados. coordenador, contratou e trouxe a São
Para a execução do Convênio e orga- Paulo o Professor Laurens Troost, chefe
nização do curso, o ministro da Marinha do Departamento de Engenharia Naval
à época, Almirante de Esquadra Antônio do MIT e depois presidente do Conselho
Alves Câmara Júnior, nomeou coordena- de Pesquisas da Holanda. O Professor
dor o então Capitão de Mar e Guerra (EN) Troost permaneceu em São Paulo o tempo
Joaquim Carlos Rego Monteiro, possuidor necessário para estabelecer as bases dos
do grau de master of science em Engenha- programas a serem seguidos nas discipli-
ria Naval pelo King’s College, engenheiro nas especializadas de Engenharia Naval
de alto gabarito e larga experiência. O Co- e foi substituído pelo Professor George
mandante Monteiro escolheu para auxiliá- Manning, professor titular e segunda
-lo na tarefa o então Capitão de Corveta pessoa em importância do Departamento
(EN) Yapery Tupiassu de Britto Guerra, de Engenharia Naval do MIT.
que possuía os graus de engenheiro naval, O Professor Manning, além de ensinar
engenheiro mecânico e master of science e cooperar na organização geral do curso,
em Engenharia Naval pela Universidade escreveu, em coautoria com o Capitão de
de Michigan nos Estados Unidos. Pouco Fragata Yapery Tupiassu de Britto Guerra,
tempo depois, o Comandante Monteiro foi em dois volumes, Fundamentos de Arqui-
promovido a contra-almirante, e o minis- tetura Naval, que se constituiu no primeiro
tro da Marinha confirmou a designação livro-texto sobre engenharia naval publica-
do Comandante Yapery para a função do no Brasil, editado pela Imprensa Naval
de coordenador do Curso de Engenharia em 1962. Foi o segundo escrito e editado
Naval, com a missão adicional de fundar e em língua portuguesa, sendo o primeiro
colocar em funcionamento, como seu pri- de autoria do frade dominicano Fernando
meiro diretor, o recém-criado Escritório Cavalcanti, denominado Da construção de
Técnico de Construção Naval da Marinha naus, publicado no século XVI, quando a
em São Paulo. construção naval era uma arte empírica.
A complexa responsabilidade de Em adição, o Professor Manning, depois
coordenador incluía a representação da de seu regresso aos EUA, autorizou a tra-

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ENGENHARIA NAVAL

dução para o português do seu livro Teoria – Roberto Vinícius Fiúza de Oliveira,
e Técnica do Projeto do Navio. A tradução oficial do Corpo de Engenheiros da Ma-
e adaptação foram feitas pelo então Capitão rinha, para Construção Naval.
de Mar e Guerra Yapery Tupiassu de Britto
Guerra, e o livro foi publicado pela Missão Início efetivo do curso
Norte-Americana de Cooperação Técnica
no Brasil – USA-AID, em1964. O curso teve início, como planejado,
Na fase de organização e consolidação no começo do ano letivo de 1957, com a
do curso, a Marinha colocou à disposição aula inaugural proferida em 8 de março
da Escola Politécnica os seguintes profes- pelo Contra-Almirante (EN) Otacílio
sores brasileiros e estrangeiros: Cunha, que tinha presidido a comissão
– Frederick Walton, ex-diretor do Cen- que negociou o convênio com a USP. A
tro de Pesquisas de Máquinas da Marinha cerimônia realizou-se no Salão Nobre
norte-americana; do antigo prédio da Escola Politécnica,
– Eugene Almendinger, ex-professor na Praça Coronel Fernando Prestes. A
do MIT para projetos de navios; mesa, presidida pelo Almirante Renato
– Stephen Ray Towne, oficial da reser- Guilhobel, representante do ministro da
va do Corpo de Engenheiros da Marinha Marinha, era composta pelo Professor
norte-americana; Doutor Alípio Corrêa Neto, reitor da
– Heinrich Peters, ex-professor do USP e representante do governador do
MIT, de nacionalidade alemã; Estado, Jânio da Silva Quadros; pelo
– George Max Gronau, especializado Vice-Almirante (EN) Osvaldo Osíres
em tecnologia de construção naval, de Storino, diretor-geral de Engenharia da
nacionalidade alemã; Marinha; pelo Contra-Almirante Paulo
– Yapery Tupiassu de Britto Guerra, Bosísio, diretor-geral do Arsenal de Ma-
oficial do Corpo de Engenheiros da Ma- rinha do Rio de Janeiro; pelo Brigadeiro
rinha, para as disciplinas de Arquitetura Neto dos Reis, comandante da Quarta
Naval I, do 3o ano do curso, e Arquitetura Zona Aérea; pelo Contra-Almirante Tho-
Naval II, do 5o ano; mas Cameron Reagan, chefe da Missão
– Cecíl Godfrey Holmes, oficial do Naval Norte-Americana; e pelo Professor
Corpo da Armada da Marinha, para a dis- Doutor Francisco Humberto Maffei, di-
ciplina de Arte Naval, depois denominada retor da Escola Politécnica. Compareceu
Introdução à Engenharia Naval; e também, como consultor do Escritório
– Carlos Alberto Teixeira Mendes, ofi- Técnico de Construção Naval da Mari-
cial do Corpo de Engenheiros da Marinha, nha em São Paulo, o Professor Doutor
para a disciplina de Propulsores. Laurens Troost, chefe do Departamento
Depois da formatura da primeira turma de Engenharia Naval do MIT.
de engenheiros navais, cooperaram com o A primeira turma de estudantes ma-
curso os seguintes professores: triculada no Curso de Engenharia Naval
– José Carlos de Castro Waeny, oficial era composta pelos seguintes oficiais de
do Corpo de Engenheiros da Marinha, Marinha e civis:
para Eletricidade; – Capitão-Tenente Antônio Paruolo Filho
– Gabriel Francisco de Andrade Vilela, – Capitão-Tenente Elbert Denys Pereira
do Corpo de Engenheiros da Marinha, – Capitão-Tenente Manoel Bernardo
para Máquinas Marítimas; e Guimarães Mattos

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ENGENHARIA NAVAL

– Primeiro-Tenente Hugo Friederich O currículo do Curso de Engenharia


Schieck Naval, como planejado para os três pri-
– Primeiro-Tenente Mozart Padilha meiros anos de funcionamento, era como
de Sousa indicado a seguir:
– Primeiro-Tenente Walter Sanches – 1o e 2o semestres: Cálculo Diferencial
Sanches e Integral I, Cálculo Vetorial I, Cálculo
– Engenheiro Civil Mário Marioto Numérico e de Observações, Geometria
– Engenheiro Civil Pedro Cuyumijian Analítica e Elementos de Geometria Pro-
– Antônio Naclerio Novaes jetiva Física Geral I, Geometria Descritiva
– Renzo Antonio Soneghet e Aplicações e Desenho Técnico;
– Roberto Arnaldo Strehler – 3o e 4o semestres: Cálculo Diferencial
– Seito Higashi e Integral II, Cálculo Vetorial II, Cálculo
– Sérgio de Almeida Martins Numérico e Observações II, Mecânica
– José Rosa de Sousa Neto Geral, Física Geral II, Química Tecnoló-
– Weber Cintra Chagas. gica Geral (Primeira Parte) e Introdução
Atestando o grande interesse desperta- à Engenharia Naval;
do pelo Curso de Engenharia Naval, nele – 5o e 6o semestres: currículo já deta-
se matricularam o Professor John Seattle lhado anteriormente;
Addison, lente de Desenho Topográfico da – 7o e 8o semestres:
Politécnica e, como ouvinte, o Professor . Modalidade Estrutura – Tecnologia
Doutor Roberto Moreira, catedrático da Mecânica; Resistência dos Materiais e
cadeira de Estradas. Estruturas das Construções II; Estatísti-
De acordo com o planejamento, o curso cas e Economia I; Máquinas Marítimas;
começou com as seguintes disciplinas, na Eletrotécnica Geral; Arranjos, Aparelhos
época componentes do 5o e 6o semestres: e Sistemas e Construção Naval I;
Tecnologia Mecânica, Resistência dos . Modalidade Máquinas – Tecnologia
Materiais e Estabilidade das Construções, Mecânica; Estatística e Economia I; Ele-
Mecânica dos Fluidos, Arquitetura Naval trotécnica Geral; Máquinas Marítimas;
I, Materiais de Construção e Introdução à Arranjos, Aparelhos e Sistemas; Cons-
Engenharia Naval. trução Naval I; Elementos de Máquinas
A disciplina Introdução à Engenharia e Transportes Marítimos;
Naval foi dada, excepcionalmente, no 5o e no – 9o e 10o semestres:
6o semestre para familiarizar os estudantes . Modalidade Estrutura – Transportes
com a terminologia naval, termos náuticos, Marítimos, Arquitetura Naval I (Projeto
os tipos de navios etc., tendo em vista que a Básico), Arquitetura Naval II (Propulsão),
primeira turma não tinha ainda tido nenhum Estatística e Economia II, Tecnologia de
contato com os termos usados na engenharia Construção Naval e Construção Naval II;
nem na vida marítima. Depois do primeiro . Modalidade Máquinas – Arquitetura
ano de funcionamento do curso, esta disci- Naval II, Estatística e Economia II, Transfe-
plina passou a ser ministrada no 3o e no 4o rência de Calor, Máquinas Marítimas e Ins-
semestre, e gradativamente os programas talações e Tecnologia de Construção Naval.
oferecidos foram passando de descritivos a No Departamento de Eletricidade, a
técnicos, de modo a preparar os estudantes opção Naval deveria resultar do currí-
para as disciplinas mais complexas que culo normal de eletricidade adicionado
teriam de enfrentar a partir do 5o semestre. das seguintes disciplinas: Introdução à

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ENGENHARIA NAVAL

Engenharia Naval, Teoria do Navio, Ins- do Curso de Engenharia Naval, de nível


talações Elétricas Marítimas e Auxiliares intelectual muito acima da média dos alu-
Eletrônicos à Navegação. nos da própria Politécnica, venceu todas
Ainda durante os primeiros anos de as deficiências e constituiu-se na melhor
funcionamento, vários melhoramentos turma que passou pelo Departamento em
foram sendo introduzidos no currículo todos os anos em que o primeiro chefe o
inicial. dirigiu. Hoje são todos profissionais de
A disciplina Arte Naval, mais descriti- sucesso, alguns professores da própria
va, foi substituída por Introdução à Enge- Escola Politécnica da USP.
nharia Naval, mais técnica; substituiu-se
a denominação da disciplina Arquitetura Filosofia de ensino implantada
Naval I, ministrada no 5o e no 6o semestre,
por Teoria do Navio, deixando a outra Os programas detalhados das discipli-
denominação para as disciplinas mais nas especializadas do Curso de Engenha-
avançadas; criaram-se as cátedras 49 – Te- ria Naval sofreram influência marcante do
oria do Navio e 50 – Máquinas Marítimas ensino ministrado tanto no MIT como na
e as seguintes disciplinas autônomas: Universidade de Michigan. Esta última
Transportes Marítimos, Propulsores, era a vetusta "alma mater" do primeiro
Construção Naval I, Construção Naval II coordenador, o que dava oportunidade
e Arquitetura Naval. de contato frequente com seus renomados
Em consequência, o embrião do De- professores, fontes permanentes de orien-
partamento de Engenharia Naval ficou tação e conselho. Em relação ao MIT,
constituído pelas seguintes disciplinas: destaca-se a influência dos professores
Teoria do Navio, Máquinas Marítimas contratados, que aqui vieram ajudar a
Transportes Marítimos, Propulsores, colocar o curso em bases científicas e
Construção Naval I, Construção Naval II didáticas sadias.
e Arquitetura Naval. A orientação geral seguida em São
Tempos depois, com o estabelecimento Paulo utilizou a experiência de ensino
dos departamentos em toda a Escola Po- do MIT e da Universidade de Michigan,
litécnica, em 1970, outras modificações combinada com a cultura técnica de enge-
foram introduzidas. nharia e de métodos de ensino acumulada
Os três primeiros anos de funcionamen- pela Escola Politécnica durante dezenas
to do curso, período pioneiro, foram muito de anos. Teve o curso à sua disposição
difíceis, quase heroicos. A falta de recursos toda a experiência didática no ramo de
financeiros e materiais, de professores es- construção naval das duas entidades
pecializados e de material didático (livros, educacionais norte-americanas e toda a
apostilas, material de desenho, mesas de vivência profissional da Politécnica, para a
desenho apropriadas para Engenharia adaptação do curso à realidade brasileira.
Naval e laboratórios especializados) re- Dessa combinação de experiências surgiu
queriam do coordenador tal diversificação um curso bem orientado, trabalhosíssimo,
de atividades, em tal intensidade, que so- sério, que exigia o máximo dos estudantes
mente saúde, mocidade e muita dedicação e dava-lhes oportunidade de se tornarem
permitiram que os propósitos colimados profissionais de sucesso.
fossem atingidos, ainda que com inegáveis Na época, o Conselho Departamental
deficiências. A primeira turma de alunos da Politécnica era composto de professo-

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ENGENHARIA NAVAL

res doutores de Engenharia do mais alto perfeitamente satisfatório. No entanto,


gabarito técnico e grande estatura moral: para a Engenharia Naval, a Mecânica dos
Francisco João Humberto Maffei, Paulo Fluidos, de que a Hidráulica é um caso
Ribeiro de Arruda, José Otávio Monteiro particular, é absolutamente indispensável
de Camargo, Lucas Nogueira Garcez, como base científica para os estudos de
Paulo Guimarães da Fonseca, Pedro Bento Propulsão, Termodinâmica, Transferên-
José Gravina e Homero Barbosa. Todos cia de Calor, Propulsores etc. Apesar das
homens já na idade provecta, os membros dificuldades iniciais, uma disciplina de
do Conselho Departamental receberam Mecânica dos Fluidos foi criada, sendo
o jovem coordenador e representante da o primeiro curso ministrado pelo Pro-
Marinha com a polidez e a cordialidade fessor Doutor Lucas Nogueira Garcez.
de homens educados, mas com certa e Para convencer os ilustres membros do
justi­ficável desconfiança, não só por não Conselho Departamental e, em especial,
ser ele catedrático, mas também por ser o diretor da Politécnica, Francisco João
jovem para as funções, de acordo com Humberto Maffei, o coordenador teve que
os padrões da época, e ter menos títulos mostrar todos os programas da disciplina
profissionais e evidentemente muito oferecidos pelo MIT e pela Universidade
menos experiência técnica e científica. O de Michigan, exatamente iguais ao que
coordenador tinha assento no Conselho estava sendo solicitado. Foi trabalho
Departamental para expressar as necessi- paciente que frutificou. O coordenador
dades e sugestões do curso, mas não tinha conversou com cada membro do Con-
direito a voto por não ser catedrático. Era, selho, nas dependências da Escola e, às
na verdade, uma espécie de corpo estranho vezes, nas próprias residências daqueles
que, à medida que o tempo foi passando, professores, e nesse trabalho teve sempre
foi também conquistando a confiança e, a ajuda inestimável do Professor Doutor
até mesmo, a simpatia de todos a ponto José Otávio Monteiro de Camargo.
de obter o apoio que se fazia necessário Outra disciplina que deu trabalho foi a
para implementar, com sucesso, o Curso Termodinâmica. O catedrático, Professor
de Engenharia Naval. Doutor Remi Benedito Silva, excelente
As primeiras negociações para adap- profissional, dava um curso muito bem
tação de programas não foram nada adaptado à Engenharia Civil. A Engenharia
fáceis. O Conselho Departamental e a Naval, porém, precisa­va de cursos mais
própria congregação eram conservadores avançados, além de uma disciplina especial
e, como tal, resistiam a mudanças. Uma de Transmissão de Calor. Tanto Termodi-
das necessidades mais prementes veri- nâmica como Transmissão de Calor são
ficadas foi o estabelecimento de cursos matérias fundamentais para um bom curso
especiais de Mecânica dos Fluidos, até de Engenharia Naval, especialmente como
então ministrado de maneira inadequada base para estudos de aplicações especiais
para a Engenharia Naval, como parte de vapor superaquecido, geradores de
do programa de Hidráulica. O Conselho vapor, máquinas marítimas etc., todos da
Departamental resistiu à mudança, consi- especialidade de Máquinas Marítimas.
derando que tanto para a Engenharia Civil Nesse caso, o coordenador começou "ca-
como para o programa de Engenharia tequizando" o Professor Remi, seu amigo
Mecânica-Eletricista, como existia na pessoal, e, por meio dele, conseguiu as
época, o programa de Hidráulica era modificações que se faziam necessárias.

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ENGENHARIA NAVAL

O problema da cátedra de Cálculo tas e reivindicações e tornou-se seu grande


Integral e Diferencial constituiu-se numa amigo e consultor. Apesar disso, não foi
luta inglória sem resultados positivos. O possível modificar o programa de Cálcu-
catedrático de então, Professor Doutor lo. O coordenador tentou tudo. Discutiu
José Otávio Monteiro de Camargo, mi- com o Professor Camargo na Escola e na
nistrava, no primeiro ano da Escola Po- sua residência particular e usou todos os
litécnica, curso de Análise Infinitesimal, argumentos e exemplos de outras univer-
na opinião do coordenador absolutamente sidades, mas não teve êxito. Chegou a con-
inacessível aos jovens estudantes, recém- seguir a designação de um assistente para
-saídos do exame vestibular, sem capaci- ministrar curso especial de Cálculo para
dade técnica para entendê-lo. A opinião a Engenharia Naval, mas a decisão durou
geral da comunidade politécnica coincidia pouco, e tudo voltou ao que era antes. Na
com a do coordenador, e, na prática, o verdade, aquele saudoso professor estava
que ocorria era que os rapazes se limita- firmemente convencido da importância da
vam a decorar teoremas. Não aprendiam Análise lnfinitesimal para o preparo cien-
realmente a integrar diferenciais simples tífico do futuro engenheiro. As técnicas de
nem equações diferenciais. O que impor- integração, achava ele, o estudante poderia
tava para o Curso de Engenharia Naval dominar fazendo exercícios práticos, e não
era que os estudantes chegassem ao 3o considerava importante perder tempo com
ano com os conhecimentos de técnicas o Cálculo Tridimensional. Para agravar
de integração que servissem de base para o problema, o professor considerava-se,
o estudo de disciplinas avançadas, como com razão, a maior autoridade na matéria
Termodinâmica, Mecânica dos Fluidos, na Escola e não via no coordenador autori-
Transmissão de Calor etc. O coordenador dade técnica com gabarito suficiente para
sentia que os estudantes não chegavam contraditá-lo, o que também era verdadeiro.
com a necessária base de Cálculo para um Dizia, em tom de brincadeira, que o coor-
bom aproveitamento nas disciplinas gerais denador não era formado, mas informado
e específicas mais avançadas. nos assuntos de Cálculo. A opinião do
O Professor Camargo era, na época, coordenador coincidia, porém, com a opi-
a figura mais importante da Escola Po- nião geral de toda a Politécnica daquele
litécnica. Embora não fosse o diretor da tempo, e o mencionado profissional, até
Escola, sua influência no Conselho Depar- hoje, continua convencido de que a Análise
tamental era indiscutível, e suas opiniões lnfinitesimal dada no primeiro ano do curso
eram acatadas na grande maioria, senão de graduação da Politécnica constituía falha
na totalidade das vezes. Dedicava-se ele grave do programa do curso de Engenharia
integralmente à Escola Politécnica e ao Naval. Seria certamente apropriado para
ensino e era dono de extensa e profunda um curso de pós-graduação, mestrado e
cultura, tanto técnica como humanística, doutorado. Para o primeiro ano do curso
além de ser um habilidosíssimo argu- de graduação, no entanto, ficava muito
mentador. Coroava todas essas inegáveis acima da capacidade de entendimento
qualidades uma inteligência brilhante, que da maioria dos estudantes. Apesar dos
era utilizada e manuseada com maestria. problemas com Cálculo, o Curso de Enge-
O Professor Camargo era também um nharia Naval da Politécnica muito deve à
entusiasta do curso de Engenharia Naval. visão e ao apoio do Professor Doutor José
Ajudou o coordenador em todas as suas lu- Octávio Monteiro de Camargo.

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ENGENHARIA NAVAL

As dificuldades não se limitavam aos so. O estudante, em paralelo com o curso


aspectos técnicos e didáticos da organi- teórico indispensável à sua formação
zação do novo curso. Dentro da própria técnica, fazia curso prático de desusada
Marinha ocorreram dificuldades inespe- intensidade, calculando, projetando e
radas por parte de uns poucos oficiais de experimentando em laboratórios diversos.
alta hierarquia, que não concordavam, por Em continuação às aulas teóricas, filmes
motivos diversos, com a nacionalização técnicos eram mostrados, versando sobre
do ensino de Engenharia Naval. Alguns, os assuntos dados em sala de aula. Além
por desejarem que os oficiais-alunos con- de demonstrações práticas em laborató-
tinuassem a fazer todo o curso em univer- rios, problemas e exercícios eram propos-
sidades estrangeiras, outros por não terem tos e resolvidos sob orientação direta de
sido consultados nem ouvidos durante o professores e assistentes.
processo de negociação do convênio nem Todos os professores das disciplinas
sobre a escolha dos oficiais designados especializadas eram de dedicação exclusi-
para coordenar sua implementação. Entre va. Permaneciam a maior parte do tempo
esses últimos estava o próprio diretor-geral na Escola, inteiramente à disposição dos
de Engenharia da Marinha, Vice-Almiran- estudantes para explicações adicionais,
te (EN) Osvaldo Osires Storino, que, em eliminação de dúvidas e orientação geral.
consequência, criou muitas dificuldades e Graças ao contacto contínuo entre profes-
barreiras para a implementação e o desen- sores e alunos, criou-se uma atmosfera de
volvimento do curso. cordialidade e confiança mútua, que muito
ajudou o progresso do ensino e tornou um
Formação prática do engenheiro naval pouco mais amena a trabalhosa e severa
vida escolar dos futuros engenheiros.
O curso foi organizado para formar Em adição às chamadas provinhas,
engenheiros para a indústria de construção provas parciais e exames finais, escritos e
naval, embora, na época, ela praticamente orais, cada disciplina estabelecia e fixava
não existisse. A finalidade precípua era tarefas diárias que variavam de simples
preparar profissionais capazes de pesqui- problemas para serem resolvidos em
sar, projetar, construir e reparar navios casa e trabalhos técnicos sobre assuntos
ou embarcações de um modo geral. Os determinados até projeto preliminar de
currículos, que, como foi mencionado, navio, exigido no 5o ano, como condição
eram baseados nos oferecidos pelo MIT e indispensável à obtenção do diploma. O
pela Universidade de Michigan, sofreram trabalho em projetos era intenso. O nú-
influência da mentalidade tecnológica mero de horas dispensado nesse mister
europeia por intermédio dos professores variava em média de 40 no 2o ano para
europeus contratados e eram adaptados 180 no 3o, 210 no 4o e 365 no 5o, todo este
à realidade brasileira por influência do tempo utilizado fora das horas de aulas.
Corpo Docente da Escola Politécnica. Os estudantes aprendiam não apenas o que
Procurou-se um equilíbrio entre os mé- devia ser feito, mas também e, principal-
todos de ensino europeu e americano, de mente, como devia ser feito.
modo a obter uma resultante que fosse No fim de cada ano letivo, os estudan-
adaptável à realidade nacional. tes faziam, obrigatoriamente, estágios
Da combinação desses sistemas resul- na indústria e, nesse aspecto, o Curso de
tou um currículo pesado e muito trabalho- Engenharia Naval também foi pioneiro. Já

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ENGENHARIA NAVAL

no convênio ficou claramente estabeleci- Sempre que possível, e a partir do


da a obrigatoriedade do estágio, e como segundo ano, graças à cooperação das
na ocasião o único grande estaleiro em companhias de navegação, faziam tam-
funcionamento era o Arsenal de Marinha bém pequenas viagens de instrução para
do Rio de Janeiro, a MB obrigou-se a se familiarizarem com os navios e, em
garantir estágios para todos os estudantes. especial, com a vida no mar, seus proble-
O Departamento de Engenharia Naval mas, percalços, as condições de vida das
da Escola Politécnica foi o primeiro a tripulações etc. O contato tinha o mérito
implantar o estágio obrigatório em seus de chamar a atenção do futuro engenheiro
progra­mas. Depois a prática estendeu- para olhar com carinho para a "alma" do
-se aos demais departamentos da Escola navio, sua tripulação, sem ajuda da qual
Politécnica e da USP. nenhuma embarcação, por mais bem
Ao final do 3o ano, o estudante estagia- projeta­da que seja, poderá ser eficiente e
va no Tanque de Provas da Seção Naval bem-sucedida em sua vida operacional.
do IPT. No estágio, tomavam eles contato No capítulo “A Engenharia Naval no
com os métodos práti­cos de determinação Brasil ” do livro comemorativo dos cem
de potência de navios com auxílio de anos da Escola Politécnica, escrito pelo
modelos reduzidos e com cálculos de co- autor do presente trabalho, encontra-se
eficientes propulsivos e eram iniciados no uma análise bem mais extensa e detalhada
uso dos métodos de pesquisas utilizados dos métodos de ensino utilizados nos pri-
nos grandes laboratórios de hidrodinâmica meiros anos de funcionamento do Curso de
de navios. O Tanque de Provas do IPT foi Engenharia Naval, incluindo carga horária
estendido de 60 para 140, para possibilitar dos professores, número de horas trabalha-
a execução de testes com modelos provi- das em projetos pelos estudantes fora das
dos de propulsão própria, e um túnel de horas dedicadas às aulas, de modo a que
cavitação foi adquirido na Alemanha e os alunos aprendessem não apenas o que
instalado no IPT, para possibilitar estudos deve ser feito, mas também como deve ser
de hélices na faixa de cavitação. feito etc. Vale aqui relembrar que o Curso
Terminado o 4o ano, já com conhe- de Engenharia Naval transformou-se no
cimentos básicos de Construção Naval, primeiro departamento oficialmente criado
Arquitetura Naval, Tecnologia Mecânica na Escola Politécnica, e que tal prática foi
e Tecnologia de Construção Naval, os es- depois estendida para as outras especia-
tudantes estagiavam durante dois meses lidades de engenharia da Poli e, a seguir,
no Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro, para toda a USP. Também o Departamento
na época o maior estaleiro de construção de Engenharia Naval foi o primeiro a
e reparos navais da América do Sul. Nos implantar o estágio obrigatório em seus
estágios, os estudantes tomavam contato programas, prática que depois se estendeu
direto com os problemas e métodos para aos demais departamentos da Escola.
resolvê-los utilizados num grande esta-
leiro; trabalhavam na Divisão Técnica, Seção Naval do Instituto de Pesquisas
onde faziam projetos, e na Divisão de Tecnológicas do Estado de São Paulo
Reparos Navais; visi­tavam oficinas e
tomavam parte em pequenas viagens A seção Naval do IPT constituía-se,
em navios, que eram testados depois de como até hoje, no principal laboratório
submetidos a reparos. do Departamento de Engenharia Naval.

70 RMB2oT/2019
ENGENHARIA NAVAL

Seu Tanque de Provas, que entrou em salas do Escritório Técnico da Marinha,


funcionamento antes do advento do Curso na Praça Coronel Fernando Prestes.
de Engenharia Naval, foi construído de Com esse conjunto de laboratórios,
acordo com projeto do Professor Doutor o curso podia propiciar aos estudantes
G. Kempf, diretor do Laboratório de conhecimentos teóricos e práticos das
Hidrodinâmica de Navios de Hamburgo. técnicas de provas com modelos de casco
A pedido do Professor Doutor Francisco de navios em situação de reboque e auto-
João Humberto Maffei, diretor da Escola propelidos, isto é, providos de propulsão
Politécnica e superintendente do IPT, o própria. Permitia também provas com
Dr. Kempf projetou o tanque, sendo a modelos de hélices como aparelhos inde-
construção acompanhada pelo engenhei- pendentes. Não havia ainda meios para
ro civil Aldo Andreone, encarregado da análise de hélices na faixa de cavitação,
Seção Naval daquele Instituto, que se em razão da não-existência, no Brasil, de
tornou pioneiro, no Brasil, na operação de túneis de cavitação. Do conhecimento
tanques de provas de modelos de navios. dessa realidade nasceu a ideia da aquisição
A construção foi financiada pelo Conselho do Túnel da Cavitação. O coordenador,
Nacional de Pesquisas, por decisão do seu aproveitando a estada na Politécnica
presidente, Almirante Álvaro Alberto da do Professor Troost, que tinha dirigido
Mota e Silva, e pela Marinha, por inter- a instalação do Nederland Ship Model
ferência do então Capitão de Fragata (EN) Basin, da Holanda, do qual fora superin-
Aniceto Cruz Santos. tendente, solicitou daquele profissional o
O Laboratório de Pesquisas com Mo- detalhamento do tipo de equipamento a ser
delos de Navios, comumente chamado adquirido para completar os laboratórios
de Tanque de Provas, permite a execução do IPT. De posse do relatório, convenceu
de provas com modelos de navios para as autoridades navais a fazer o necessário
determinação de formas eficientes de ca- investimento, e o túnel foi encomendado
renas, lemes e hélices em condições mais e adquirido de uma firma especializada de
ou menos ideais, isto é, em águas calmas Hamburgo, Alemanha.
e profundas, com ausência de ventos,
em superfície molhada hidraulicamente Navio Oceanográfico Pesqueiro
lisa, com escoamento homogêneo nas Professor Wladimir Besnard
proximidades do propulsor etc. Além
disso, permite a execução de provas cujo O desenvolvimento da indústria de
propósito é predizer as qualidades da pesca no Brasil, com aplicações de
carena e hélices. É, portanto, ferramenta vultosos recursos em navios, fábricas e
de estudo e pesquisa para o ensino de redes de distribuição de pescado, exigia,
Engenharia Naval. No ano da instalação como ainda exige, conhecimentos bási-
do curso, a Seção Naval do IPT já possuía cos que assegurem exploração eficiente
um tanque para provas de arrasto de 60 e racional dos recursos pesqueiros para
metros de comprimento e uma oficina prevenir os perigos da pesca predatória
de confecção de modelos, estando em e permitir a utilização da população de
construção, com recursos fornecidos pela peixes e recursos marinhos da maneira
Marinha, a extensão do tanque para 140 mais eficiente e econômica possível. Por
metros. Um Laboratório de Estabilidade outro lado, o progresso científico, que já
foi instalado precariamente numa das ocorria, na época, no Brasil em outros

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ENGENHARIA NAVAL

campos do conhecimento humano, parecia ideal era absolutamente fora da realidade,


recomendar que se estendesse a oportuni- de vez que, até então, a instituição nunca
dade de desenvolvimento correspondente tivera nada que se parecesse com um
às ciências do mar, de que o País tanto navio de verdade. O Professor Besnard
depende. Para atender a este propósito, procurou, então, o coordenador do Curso
um navio oceanográfíco representava de Engenharia Naval, na tentativa de
elemento indispensável para a pesquisa e o encontrar uma solução conciliatória que
preparo educacional e científico de equipes tornasse viável o sonho de dar ao Instituto
especializadas naquele campo da ciência. um navio de pesquisas.
Um navio oceanográfico, além de Depois de longa conversa, o fundador
propiciar pesquisas nos campos da oce- do Instituto convenceu o coordenador a
anografia física, química e biológica, aceitar a tarefa de fazer o projeto básico de
deveria também oferecer meios para: um navio que pudesse satisfazer à maioria
estudo de biologia dos animais marinhos do requisitos dos vastos programas de
de interesse econômico direto; pesca pesquisas, tanto de oceanografia quanto
experimental por todos os métodos conhe- de biologia marinha. A ideia era tentar
cidos, inclusive aqueles ainda não usados achar um meio termo difícil de encontrar.
nos mares brasileiros; procura de novas Aceito o desafio, ficou combinado que
áreas de pesca e auxílio na localização de o Instituto apresentaria os requisitos do
cardumes, bem como a possibilidade de armador ao Escritório Técnico e a respon-
prospeção do solo submarino, tendo em sabilidade pela execução do projeto ao
vista a localização de recursos minerais. coordenador. O projeto foi desenvolvido
Por outro lado, os requisitos de um pelo engenheiro naval Yapery Tupiassu
navio de pesquisa pesqueira são diferentes de Britto Guerra, com a colaboração de
daqueles exigidos de um navio de pesca co- três quintanista da época: Mário Marioto,
mercial, em que o propósito é o lucro máxi- Antônio Naclerio Novaes e Pedro Cuyu-
mo. Naquele, as considerações comerciais mijian, pertencentes à primeira turma de
normais são necessariamente relegadas Engenharia Naval da Escola Polítécnica
a segundo plano em relação à pesquisa – os três, posteriormente, professores
científica, e o navio, como um todo, deve daquele Departamento especializado. A
atender às necessidades dos laboratórios e partir de um rascunho de Arranjo Geral,
dos cientistas que nele embarcam, em adi- preparado em conjunto com técnicos do
ção aos da tripulação comercial completa, Instituto Oceanográfíco, foi iniciado o
sem restringir demasiadamente o espaço estudo da forma, estudo este que tinha
disponível dos porões. como propósito primordial a determina-
Dessas considerações, verifica-se que ção do plano de linhas mais conveniente
os requisitos a que deve atender um navio para a velocidade fixada e para conter os
de pesquisas pesqueiras são marcadamen- volumes necessários às acomodações de
te diferentes daqueles exigidos para um pessoal e equipamentos exigidos pelo
navio oceanográfico. Instituto. Paralelamente, com a interfe-
Dadas as divergências de requisitos, rência dos técnicos do Instituto, o Plano
pensava o Professor Wladimir Besnard, de Arranjo Geral Definitivo era estudado
diretor e fundador do Instituto Oceano- e preparado pelos projetistas, com a
gráfico, o ideal seria o Instituto possuir finalidade de incluir no navio todos os
dois navios, um para cada finalidade. Tal laboratórios e equipamentos necessários

72 RMB2oT/2019
ENGENHARIA NAVAL

à pesquisa. Terminada esta fase, os proje- estabilidade do navio, como pesqueiro de


tistas concluíram o Plano da Arranjo final, arrasto, constitui um capítulo especial, sa-
com os ajustes ditados pelos espaços, bido que este tipo de navio é normalmente
áreas de conveses e volumes disponíveis submetido a condições particularmente
no projeto de forma. desfavoráveis na operação do recolhi-
Do desenvolvimento do projeto, mento das redes depois da captura. Neste
resultou um navio com as seguintes ca- particular, a colaboração dos estudantes
racterísticas: que na época cursavam a disciplina de
– comprimento na linha d’água: 45,33 m; Teoria do Navio da Politécnica foi inesti-
– comprimento entre perpendiculares: mável. Com a supervisão dos professores,
42,60 m; traçaram as Curvas Hidrostáticas, a Curva
– boca: 9,15 m; de Comprimento Alagável e as Curvas de
– calado (moldado a meia-nau ): 4,20; Estabilidade Estática do navio. Estes da-
– superfície molhada: 490 m2; dos foram posteriormente utilizados para
– volume de deslocamento: 790 m3; uma reanálise rigorosa da estabilidade do
– coeficiente de bloco: 0,447; navio, antes de o projeto de construção ser
– coeficiente prismático longitudinal: desenvolvido pelo estaleiro.
0,555; Como resultado de concorrência in-
– coeficiente de seção mestra: 0,806; e ternacional, o navio foi construído pelo
– velocidade de cruzeiro: 10,5 nós. Estaleiro Miellen Karlsen, de Bergen,
Procurou-se incluir nas características Noruega, tendo fiscalizado a construção,
do navio as modernas concepções de for- como representante do Instituto, o enge-
ma, resultantes de pesquisas em navios nheiro naval Vicente Maria Verrone, in-
pesqueiros nos diversos países do mundo tegrante da primeira turma de formandos
e, em especial, os resultados das pesquisas do Departamento de Construção Naval
da Food and Agriculture Organization da Escola Politécnica da USP. O atual
(FAO) no campo da construção de barcos Contra-Almirante Yapery Tupiassu de
de pesca, publicados em Fishing Boats Britto Guerra, ex-coordenador do Curso
of the World e Fishing Boats Tanks Test, de Engenharia Naval, primeiro regente
ambos de autoria do famoso engenheiro da cátedra de Teoria do Navio, primeiro
naval Jan Olof-Traung. chefe do Departamento de Engenharia
Do Plano de Linhas foi construído Naval da Escola Politécnica e fundador
modelo reduzido, exaustivamente testa- e primeiro diretor do Escritório Técnico
do no Tanque de Provas do IPT, sob a de Construção Naval da Marinha em São
orientação do engenheiro Aldo Andrioni, Paulo (hoje com o nome modificado para
e os resultados foram comparados com os Centro de Coordenação de Estudos da
modelos de navios de pesca de arrasto, Marinha em São Paulo-CCEMSP), além
ensaiados em outros países. As conclusões de autor do projeto, foi membro técnico
da comparação foram lisonjeiras para o da Comissão de Construção do Navio,
navio oceanográfico, especialmente em criada pelo Decreto-Lei no 1.161 de 1959,
baixas velocidades, as de arrasto, em do Governo do Estado de São Paulo.
que deve operar a maior parte do tempo. Depois, por proposta do então reitor da
Além disso, ao longo de toda a curva de USP, Professor Doutor Luís Antônio da
velocidades, o navio situava-se na média Gama e Silva, foi designado presidente
dos resultados dos demais. O estudo da da mesma comissão, cargo que ocupou

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ENGENHARIA NAVAL

até a entrega do navio ao Governo do 30 anos já se passaram da sua construção,


Estado. Não teve, como autor do projeto uma vida útil longa demais para navios
nem como presidente da Comissão, re- de sua classe, mas durante todos esses
muneração de qualquer natureza; apenas anos, mesmo empregado fora daquelas
exigiu, como prêmio, que ao navio fosse missões para as quais foi projetado, como
dado o nome do fundador do Instituto as missões na Antártica, por exemplo, o
Oceanográfico, Professor Wladimir Bes- valente navio nunca decepcionou aqueles
nard, a pedido de quem iniciou o projeto que o projetaram. Mesmo agora, na idade
que deu origem ao navio. provecta, ainda presta relevantes serviços
Ao entregar o navio ao então governa- ao Instituto Oceanográfico, à USP e ao
dor do Estado, Roberto Costa de Abreu Brasil. Como disse antes, nem o governo
Sodré, no porto de Santos, ouviu do go- do Estado nem a Universidade, e nem
vernador o seguinte: “No que se refere mesmo o Instituto Oceanográfico, esboça-
à exploração dos recursos do mar, este ram qualquer gesto de agradecimento pelo
navio se constitui, sem dúvidas, um fun- trabalho que foi feito, mas o rei Olavo V,
damento sólido para sua realização. Além da Noruega, em sua viagem ao Brasil de-
da pesquisa no campo da Oceanografia pois da construção do navio, condecorou
Física, Química e Biológica, ele propicia o já Almirante Yapery Tupiassu de Britto
meios para estudos da biologia dos animais Guerra com a Ordem de Santo Olavo, a
marinhos de interesse econômico direto; mais alta ordem honorífica do seu país. O
pode executar pesca experimental por navio foi e continua sendo um sucesso.
meios modernos, inclusive aqueles ainda
não usados nos mares brasileiros; está em COLAÇÃO DE GRAU DA
condições de determinar novas áreas de PRIMEIRA TURMA DE
pesca; possui meios para auxiliar os pes- ENGENHEIROS NAVAIS DA
cadores na localização de cardumes e tem ESCOLA POLITÉCNICA
condições de fazer prospecção do subsolo
submarino para localização de possíveis Embora com as dificuldades iniciais
riquezas minerais (como petróleo), além de mencionadas, o Departamento foi aos
servir como escola para a formação de cien- poucos se consolidando, vencendo resis-
tistas e pesquisadores deste ramo da ciência tências e superando limitações. A pequena
moderna que é a Oceanografia. É, portanto, equipe que iniciou a pesada tarefa, apesar
o Navio Oceanográfico Professor Besnard de nem sempre bem compreendida, traba-
uma preciosa joia de pesquisa científica e lhou dedicada e intensamente, pela cons-
tecnológica, de inestimável valor para o ciência que tinha de estar realizando uma
desenvolvimento da ciência do mar e das obra de fôlego no sentido de cooperar para
economias do Estado e da Nação”. a emancipação técnica da nação brasileira.
Foi, portanto, o navio Professor Bes- Em 1958, chegou ao 3o ano da Po-
nard o primeiro projeto e primeiro navio litécnica a segunda turma de alunos de
resultante do Departamento de Engenha- Engenharia Naval: Amauri Cantidio
ria Naval da Escola Politécnica da USP, Paranhos dos Santos, Augusto Lefévre e
projetado por estudantes e professores e Roberto Rodrigues Pinho (modalidade de
construído em Bergem, na Noruega, de Estruturas); Celio Taniguchi, José Carlos
acordo com o projeto pensado e engenha- de Carvalho Lisboa, José Octavio de Oli-
do na Politécnica de São Paulo. Mais de veira Hoffmann e Kissaburo Kamikawa

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ENGENHARIA NAVAL

(modalidade Máquinas) e Alexandre (depois Departamento de Engenharia Na-


Ferraz Naumoff e Ernesto de Vita Júnior val) tornou-se então autossustentável, uma
(modalidade Eletrônica), além dos oficiais realidade que, no dizer do então diretor da
de Marinha Capitães-Tenentes Silser Ro- Escola Politécnica, Francisco Landi, “foi
sas Machado, Rucemah Leonardo Gomes uma experiência que deu certo”. Também
Pereira, Antônio Galvão Passos de Araú- naquele ano atingiu o 3o ano do curso a
jo, Sérgio Luiz Raja Gabaglia Travassos quarta turma de engenheiros navais, com-
e José Carlos de Almeida Azevedo. posta dos seguintes alunos: Alfredo Coa-
No ano de 1959, com os dois anos racy Brasil Gandolfo, Antônio Bruno Vaz
básicos e os três anos especializados em de Lima, José Segura, Rucemah Leonardo
pleno funcionamento, ficou completo o ci- Gomes Pereira e Sylser Rosas Machado
clo de graduação do Curso de Engenharia (modalidade Estruturas); Agostinho To-
Naval, e em 10 de dezembro daquele ano, maselli Neto, Akira Koga, Antônio Luís
no Salão Nobre da Faculdade de Direito de Carvalho, Cilas Rosa da Silva, Eliseu
da USP, no Largo de São Francisco, teve Tokio Takase, Gilberto Oswaldo Teno,
lugar a cerimônia de Colação de Grau da Guido Picciotti, Itiro Kano, Paulo Cezar
primeira turma de engenheiros navais Leoni e Paulo Gomes Areas (modalidade
formados pela Escola Politécnica. Máquinas), além dos oficiais de Marinha
A sessão, presidida pelo então ministro Capitães-Tenentes Dorian Castelo Miguel,
da Marinha, Almirante de Esquadra Jorge Raimundo Nonato Fialho Mussi, Sérgio
do Prado Matoso Maia, representando o Bernardo de Witt, Fernando José Mota Mi-
Presidente da República, foi abrilhantada randa, Luís Augusto Lowndes Brasil, Paulo
pelas presenças do reitor da USP, Gabriel Geraldo de Almeida Barbosa e João Rizzo.
Teixeira de Carvalho; do diretor da Escola Finalmente, completando o ciclo dos
Politécnica, Francisco João Humberto cinco primeiros anos de funcionamento
Maffei; do comandante do 2o Exército, do Departamento, atingiu o terceiro ano
General de Exército Stenio Caio de Albu- do Curso de Engenharia Naval a quinta
querque Lima; do comandante da 4a Zona turma de estudantes, composta dos se-
Aérea, Brigadeiro do Ar Armando de Melo guintes alunos: José Carlos Mendonça
Arariboia e por todo o Conselho Departa- Seoane (modalidade Estruturas), Carlos
mental da Escola Politécnica e praticamente Octavio de Abreu, José Carlos Belfort
todos os membros de sua congregação. Fúria, José de Souza Leão Neto, Nobuyuki
Foi paraninfo o Professor Lucas Nogueira Fujiwara e Tochiuqui Tanaca (modalidade
Garcez, e falou em nome da turma o enge- Máquinas), além dos oficiais de Marinha
nheirando Weber Cintra Chagas. Capitães-Tenentes Newton Corrêa, José
Ao encerrar a cerimônia, o ministro Luís Guaranys Rego, Carlos Eduardo
da Marinha disse: “Esta primeira turma Rodrigues da Costa, Roberto de Paula
é apenas uma gota d’água no oceano, Mesiano, Amilcar Figueira Ferrari, Elcio
porém são os novos bandeirantes que de Sá Freitas, José Luiz de Albuquerque
abrem novos caminhos para a Marinha e Maranhão, Cleobas Ismael de Medeiros
mesmo para o Brasil”. Uchoa, José Luiz Lunas de Mello Massa,
A partir de 1960, engenheiros navais Fernando Prado, Phactuel Machado Rego,
formados na própria Escola e com cur- Ernest Fritz Billwiller, Joaquim Pinheiro
sos de especialização no exterior foram Rocha, Hedonal Botelho Calenzo e Ary
aproveitados como assistentes. O Curso Sardinha Parreiras.

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ENGENHARIA NAVAL

Em 1962, por proposta conjunta do e de promover, coordenar, realizar e


Professor Doutor José Octavio Monteiro de estimular estudos, projetos e pesquisas
Camargo e do então CMG Yapery Tupias- nos campos da ciência e da tecnologia
su de Britto Guerra, chefe do Departamento de Engenharia Naval nas universidades e
de Engenharia Naval, foi extinta a moda- nos institutos que mantêm convênio com
lidade Eletrônica do Curso de Engenharia a Marinha, prestando, ainda, assessoria
Naval e criada a modalidade Naval no às Diretorias Técnicas Especializadas
Curso de Engenheiros Eletricistas. da instituição nos assuntos referentes a
Finalmente, pelo Decreto Federal ensino, estudos e pesquisas da especiali-
no 44.524, de 16 de fevereiro de 1965, dade. Desse modo, continua o Escritório
o Governo da República reconheceu o Técnico, hoje denominado Centro de
Curso de Engenharia Naval da Escola Coordenação de Estudos da Marinha em
Politécnica da USP. São Paulo, a servir com eficiência e dedi-
O Departamento de Engenharia Naval cação à Marinha, à Escola Politécnica, à
é hoje uma radiosa realidade. Dirigido por Universidade e ao Brasil.
um dos componentes da terceira turma Passados todos esses anos, aqueles que
de formandos, Professor Doutor Celio tiveram a responsabilidade de criar tanto o
Taniguchi, tem em seu corpo docente 22 Departamento de Engenharia Naval como
professores de carreira da Universidade, o Escritório Técnico da Marinha em São
16 dos quais com grau de doutor ou título Paulo olham para as duas organizações
de livre docente e mais dois professores com satisfação e sentimento positivo
visitantes fornecidos pela MB. Conta com de realização, pois foi um trabalho que
240 estudantes no curso de graduação, 70 frutificou e que hoje constitui motivo de
no curso de mestrado e 18 trabalhando orgulho para a USP e a MB.
pelo doutorado. Até o fim de 1989 já havia
formado 1.100 engenheiros, concedido 71 ESCRITÓRIO TÉCNICO DE
graus de mestre e 20 graus de doutor, além CONSTRUÇÃO NAVAL DA
de ter outorgado sete títulos de livre do- MARINHA EM SÃO PAULO
cente. Continua, assim, a trabalhar inten-
samente em prol da mocidade brasileira. De acordo com o estipulado no Pará-
O Escritório Técnico de Construção grafo 4o do Artigo 2o do Convênio entre
Naval da Marinha em São Paulo, berço a MB e a USP, a Marinha criou, pelo
do Departamento de Engenharia Naval, Aviso Ministerial no 2.814, de agosto de
também dirigido por ex-aluno (CMG (EN) 1956, o Escritório Técnico de Construção
Ilson Soares), continua representando a Naval em São Paulo, o verdadeiro berço
Marinha junto à USP e a institutos de pes- do Departamento de Engenharia Naval da
quisa do País e do exterior, na execução Escola Politécnica. As instalações iniciais
de convênios e contratos relativos a ensino constavam das seguintes dependências:
e pesquisas de Engenharia Naval. Além sala do diretor do Escritório Técnico e co-
disso, tem a missão de contribuir para a ordenador do curso, sala dos professores,
formação e o aperfeiçoamento dos oficiais sala de desenho especializado, biblioteca
engenheiros navais, mediante atividades especializada, laboratório de estabilidade
de ensino de graduação e pós-graduação e sala de modelos de navios.
junto a estabelecimentos de ensino que Todas as salas, fornecidas pela Escola
mantenham cursos de Engenharia Naval Politécnica, pertenciam ao antigo prédio

76 RMB2oT/2019
ENGENHARIA NAVAL

do IPT, que, na época, estava em processo tilas, originais de livros-texto, currículos,


de mudança para a Cidade Universitária. programas, traduções etc. e preparando
O velho prédio situa-se na Praça Coronel expedientes externos e internos à Mari-
Fernando Prestes, ao lado do também an- nha. Sua dedicação fazia-o entrar pela
tigo prédio da Escola Politécnica. A sala madrugada, ajudando no preparo de aulas
de desenho, adap­tada de uma oficina de e em planos de ensino e comunicações
máquinas e ferramentas, tinha pé direito com a Escola Politécnica, a USP e outras
e iluminação adequados e foi mobiliada unidades da Marinha. De compleição não
com mesas de desenho especiais para pro- muito robusta, sofreu as consequências
jetos de engenharia naval. O laboratório de sua dedicação quando foi acometido
de estabilidade foi montado no porão, de tuberculose pulmonar, pelo que foi
embaixo do piso onde estavam situadas afastado temporariamente do escritório
a biblioteca e as salas dos professores. e do serviço naval. Felizmente, em pou-
A primeira guarnição do Escritório co tempo recuperou a saúde, voltou ao
Técnico era composta dos seguintes ofi- serviço ativo e ainda prestou relevantes
ciais e praças: Capitães de Corveta Yapery serviços à Marinha antes de passar para a
Tupiassu de Britto Guerra e Cecil Godfrey reserva com honra e dignidade.
Holmes, Terceiro-Sargento Heraldo Da- O Cabo Canuto, depois também sar-
mous da Fonseca, Cabo Aristotato Canuto gento, hoje na reserva e administrador de
de Oliveira e dois taifeiros arrumadores. empresas, substituiu o Sargento Heraldo
Vale registrar aqui o trabalho pioneiro no escritório. Deu sua colaboração com
e dedicado desta pequena equipe, que, o mesmo empenho e a mesma dedicação
vencendo limitações e dificuldades, à cus- do seu antecessor, consciente da impor-
ta de sacrifícios pessoais de toda ordem, tância da tarefa do Escritório Técnico
tornou possível o funcionamento do pri- no apoio ao Curso de Engenharia Naval.
meiro ano do Curso de Engenharia Naval. Profissional disciplinado e leal, passou
O Comandante Cecil, brilhante oficial para a reserva por tempo de serviço e
do Corpo da Armada, sem formação obteve sucesso na vida civil, como bom
engenheira, superando suas próprias profissional que é.
deficiências de formação técnica, foi O propósito primeiro do escritório
excelente professor de Introdução à En- Técnico era prestar assistência técnica ao
genharia Naval, no primeiro ano em que Curso de Engenharia Naval, e os primeiros
a disciplina foi ministrada. Além disso, anos de funcionamento da organização
foi o braço direito do coordenador na foram dedicados exclusivamente àquele
organização e administração do Escritório mister. Como o coordenador era o oficial
nos tempos heroi­cos, quando nada exis- engenheiro lotado no escritório, tinha
tia e tudo precisava ser feito ao mesmo ele que fazer praticamente tudo, desde o
tempo. Infelizmente, já não pertence ao trabalho de instalação até a aquisição de
mundo dos vivos. materiais e equipamento; desde con­trato de
O Sargento Heraldo, hoje na reserva e professores até a organização de programas
funcionário da Ultrafertil S.A. Indústria e e currículos; desde as negociações com os
Comércio, empresa do grupo Petrobras, órgãos superiores da Escola Politécnica até
era, no início, o único escrevente do o preparo e a tradução de livros e apostilas.
Escritório Técnico. Trabalhou noite e dia Os livros que não foram escritos pelo coor-
com o coordenador, datilografando apos- denador foram por ele traduzidos.

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ENGENHARIA NAVAL

À medida que o curso foi-se consoli- na Engenharia Naval e depois estendido


dando, outros oficiais engenheiros foram para as outras especialidades da Escola
sendo designados e professores civis Politécnica. Na verdade, o conceito evo-
sendo contratados para o Escritório Téc- luiu a partir da criação da Coordenação
nico, de modo que tudo o que se referia ao do Curso de Engenharia Naval. Depois
Curso de Engenharia Naval era controlado dela foram criadas coordenadorias para
pelo escritório. Daí nasceu o conceito de as outras especialidades, e a partir daí a
departamento, que foi primeiro instalado Escola Politécnica departamentalizou-se.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:


<CIÊNCIA E TECNOLOGIA>; Engenharia; Engenharia Naval;

78 RMB2oT/2019
A AÇÃO DE DRONES NA GUERRA NAVAL

CLAUDIO DA COSTA BRAGA*


Capitão de Mar e Guerra (RM1)

SUMÁRIO

Introdução
O estado atual da arte
Limitações e vulnerabilidades
Operação e Logística
Aplicação em Vigilância, Sensoriamento e Reconhecimento
Aplicação em apoio ao combate
Perspectivas para o Brasil
Conclusões

INTRODUÇÃO com poucos recursos disponíveis. Depois


foi chamado de Vant (veículo aéreo não

U m novo equipamento aéreo tem des-


pertado grande interesse nas últimas
décadas pela sua expressiva utilidade
tripulado), com recursos mais elaborados,
alcance e altura de operação maiores.
Atualmente é designado ARP (Aeronave
em diversos segmentos, em especial na Remotamente Pilotada), já considerada
guerra naval. Esse equipamento, inicial- como uma aeronave e com diversos re-
mente conhecido como “drone”, era um cursos para emprego em ações de guerra
aparelho voador sob controle a distância naval, com sensores aplicáveis a diversas

* Autor de diversos livros, com destaque para: A Guerra da Lagosta, O Último Baile do Império, 1910 – O
Fim da Chibata – Vítimas ou Algozes?, Tamandaré nas Guerras da Independência e Cisplatina e
A Administração Naval do período de 1889 até o início do Governo Prudente de Moraes.
A AÇÃO DE DRONES NA GUERRA NAVAL

operações e com análise das informações Vale destacar que a ação de drones na
recebidas desses sensores por pessoal Guerra Naval, de emprego eminentemente
perito no assunto. São na realidade todos militar, não estará submetida às regras
similares, sendo essas diferentes desig- referenciadas na maioria da bibliografia;
nações motivadas pela evolução da tec- seu emprego se processará, em muitas das
nologia agregada aos primeiros artefatos ocasiões, fora do território nacional; logo,
voadores dessa natureza. fora da observância de qualquer legislação
Na atualidade, em decorrência do nacional, se fosse o caso. Exceção quanto
elevado e diversificado número desses ao uso pelos fuzileiros navais, que o em-
equipamentos, a principal característica pregarão em território nacional, mas em
em sua definição refere-se à ausência de área restrita e basicamente em conflito.
piloto embarcado, podendo ser dividido Entretanto, esses documentos possuem
em duas categorias: os remotamente uma série de conceitos úteis que ajudaram
controlados e os autônomos (estes não na elaboração deste trabalho.
autorizados no Brasil). Como o título No Brasil, o marco regulatório desses
do trabalho usa a palavra drone, sem- artefatos voadores é da responsabilida-
pre que possível será este o termo que de do Comando da Aeronáutica (CA),
empregaremos, nada impedindo o uso da Agência Nacional de Aviação Civil
de suas designações de Vant e ARP. (Anac) e da Agência Nacional de Te-
Aeronaves, navios de superfície e sub- lecomunicações (Anatel). No entanto,
marinos com definição de autônomos não há uma definição legal, de forma que
não serão considerados. devemos tomar o termo drone como ge-
Para facilitar o entendimento, é impor- nérico, sem amparo técnico ou definição
tante se descrever a definição clássica de na legislação. É importante considerar,
guerra naval na Marinha do Brasil (MB): porém, as nomenclaturas presentes em
“Parte constituída por ações militares con- nosso ordenamento jurídico para que
duzidas nos espaços marítimos, nas águas não haja desentendimentos sobre o que
interiores e em certas áreas terrestres se propõe a discorrer. Assim, o Depar-
limitadas de interesse para as operações tamento de Controle do Espaço Aéreo
navais, incluindo o espaço aéreo sobre- (Decea), órgão do Comando da Aeronáu-
jacente. Consiste no emprego do Poder tica que tem por missão “planejar, geren-
Naval, contribuindo para a conquista e a ciar e controlar as atividades relacionadas
manutenção dos Objetivos Nacionais de ao controle do espaço aéreo, à proteção
Defesa” (Doutrina Militar Naval). ao voo, ao serviço de busca e salvamento
A convivência da MB com drones é e às telecomunicações do Comando da
de longa data. Recordo-me, quando ain- Aeronáutica”, editou a AIC no 21/10,
da aspirante da Escola Naval, na década que, juntamente com o Regulamento
de 1970, por ocasião dos embarques em Brasileiro de Aviação Civil Especial
navios da Esquadra, que já observávamos (RBAC-E no 94), da Anac, estabelece as
exercícios de guerra naval empregando seguintes definições:
os drones. a) Vant – Veículo aéreo não tripula-
Aspectos de legislação serão mencio- do – veículo aéreo projetado para operar
nados para agregar valor ao trabalho, po- sem piloto a bordo, que possua uma carga
rém não em profundidade, por considerar útil embarcada (todos acessórios que não
que isso fugirá do tema. sejam necessários para o voo ou seu con-

80 RMB2oT/2019
A AÇÃO DE DRONES NA GUERRA NAVAL

trole) e que não seja utilizado para fins é o mais antigo e popular para se referen-
meramente recreativos. ciar a qualquer aeronave não-tripulada e
Nesta definição incluem-se todos os que possua alto grau de automatismo. No
aviões, helicópteros e dirigíveis controlá- início os drones tinham aplicação mera-
veis nos três eixos, excluindo-se, portanto, mente recreativa e, quando militarmente
os balões tradicionais e aeromodelos. empregados, eram, essencialmente, nos
b) ARP – Aeronave Remotamente Pi- exercícios de tiro sobre alvos aéreos.
lotada – aeronave em que o piloto não está As regulamentações mais atuais,
a bordo, sendo controlada a partir de uma nacionais e estrangeiras, empregam os
estação remota de pilotagem, ou estação termos ARP ou aeromodelos, diferen-
de controle, e utilizada com propósitos não ciando-os apenas pela finalidade a que
recreativos. A ARP é considerada uma ae- se destinam.
ronave pelas organizações civis e militares, Os drones possuem numerosas aplica-
devendo observar os requisitos de certifica- bilidades. Porém, neste trabalho, analisa-
ção e homologação por elas estabelecidos, remos somente a sua ação na guerra naval,
à semelhança das aeronaves tripuladas, em especial nas tarefas de vigilância,
assim como todos os equipamentos ine- sensoriamento e reconhecimento e em
rentes à sua manutenção, controle, enlaces, apoio ao combate.
sensores e os seus operadores. Vale destacar que os drones militares
c) Aeronave Autônoma – quando, uma não precisam ser cadastrados na Anac.
vez programado o voo, não permite inter- A regulamentação brasileira segue a
venção externa durante a sua realização. linha de ação adotada pela Organização
Não é autorizada no Brasil. de Aviação Civil Internacional (Oaci).
Outras designações também conheci- Em decorrência da natureza dinâmica
das descrevem: da atividade com drone e dos avanços
– a Instrução Suplementar – IS no 21- tecnológicos que se processam em tal
002A da Anac, publicada em outubro de aparelho, revisões constantes da legisla-
2012, define Vant como aeronave proje- ção são sempre necessárias.
tada para operar sem piloto a bordo, que As demandas de frequências para
possua uma carga útil embarcada e que operação dos drones militares devem ser
não seja utilizada para fins meramente gerenciadas pelo Decea, em coordenação
recreativos (Anac, 2012); e com as demais Forças Armadas, o MD e
– a Portaria Normativa n o 606, do a Anatel. Isso é necessário para ordenar
Ministério da Defesa (MD), apresenta a a ocupação do espectro eletromagnético,
seguinte definição: a fim de evitar conflitos e interferências
Veículo aéreo não tripulado – Vant: que poderão vir até a comprometer a
veículo de pequeno porte, constituído com operação e a segurança de voo. Cuidados
material de difícil detecção, pilotado re- deverão ser observados para que sejam
motamente, usando asas fixas ou rotativas, evitadas interferências eletromagnéticas,
empregado para sobrevoar alvo ou área intencionais ou não.
de interesse, com o objetivo de fornecer, No que diz respeito à Anatel, ela certifi-
principalmente, informações por meio de ca todos os drones, sejam de uso profissio-
seu sistema de vigilância eletrônica. nal ou particular. Quanto às frequências,
Apesar de não estar descrito em ne- as autorizadas estão na faixa de 2,4 GHz
nhum desses documentos, o termo drone e 5,8 GHz, as mesmas autorizadas para

RMB2oT/2019 81
A AÇÃO DE DRONES NA GUERRA NAVAL

wi-fi. Encontra-se em estudo na União das Tempestade no Deserto, dos EUA,


Internacional de Telecomunicações (UIT) em 1991, no Iraque.
a atribuição e a destinação de frequências Com o avanço da tecnologia, esses apa-
nas faixas de 5.030 a 5.250 MHZ para ratos tornaram-se verdadeiras máquinas
emprego por drones para telemetria e voadoras, similares às apresentadas em
comando e controle. filmes de ficção científica. Os principais
Vale destacar que a expectativa de utilizadores são os EUA, Israel e os países
demanda por esses aparatos, em médio e da Organização do Tratado do Atlântico
longo prazos, por diversos segmentos da Norte (Otan), sendo os modelos america-
sociedade será enorme. Com isso, legisla- nos considerados os mais desenvolvidos
ções pertinentes serão necessárias para se e os mais letais. Uma das instituições que
minimizar a ocorrência de acidentes aére- mais utilizam o drone é o Exército ameri-
os, não-interferência mútua na operação cano (US Army). Inicialmente designados
entre eles, estabelecimento de limites de para a área de inteligência, para dar supor-
alcance e altitude de operação e requisitos te à tríade inteligência - reconhecimento
que os operadores deverão possuir. - vigilância, logo os drones se viram
Essas recomendações envolverão, envolvidos em diversas outras tarefas não
diretamente, vários órgãos de governo, típicas de inteligência, gerando proble-
podendo-se destacar, no Brasil, o MD, o mas na área de padronização e controle
CA, a Anac e a Anatel. do espaço aéreo. A solução encontrada
Em caso de emergência, a segurança pela US Army foi centralizar todos os
das pessoas e das instalações deverá rece- drones na sua arma de Aviação, criando o
ber maior prioridade, com o sacrifício da Centro de Excelência de Sistemas Aéreos
aeronave, se for necessário. Independen- Remotamente Tripulados, que tem como
temente da categoria do drone, sua ope- tarefas, entre outras, o desenvolvimento
ração poderá ser automatizada em todas da doutrina e treinamento, sincronizar os
as fases de voo, não eximindo o piloto da esforços e padronizar os assuntos atinen-
necessária supervisão ininterrupta, caso tes aos drones naquela Força.
necessite, de imediato, assumir o controle É importante mencionar que os dro-
da aeronave. nes foram utilizados, inicialmente, para
o cumprimento de atividades militares
O ESTADO ATUAL DA ARTE como reconhecimento, vigilância e até
mesmo como alvos para exercícios. Vale
Historicamente, podemos considerar destacar que esses artefatos voadores têm
que os drones tiveram um grande incen- sido empregados para ataque em diver-
tivo tecnológico a partir de 1970, com sos conflitos mundiais, tendo havido, na
os Estados Unidos da América (EUA) Organização das Nações Unidas (ONU),
e Israel desenvolvendo projetos de declarações de que os drones armados
aparelhos pequenos, não tão velozes e deveriam ser submetidos a legislação
com baixo custo. Por ocasião da guerra internacional. Hoje os drones possuem
no Líbano, em 1982, os drones apre- uma multiplicidade de emprego, em de-
sentaram grande sucesso nas operações corrência de sua demanda.
realizadas por Israel e, depois, tiveram Como já abordado, apesar do termo
grande utilização quando empregados na drone ser reconhecido mundialmente,
Guerra do Golfo, nas operações designa- institucionalmente o mais empregado é

82 RMB2oT/2019
A AÇÃO DE DRONES NA GUERRA NAVAL

Aeronave Remotamente Pilotada (ARP). Ressalta-se que essa categorização


Não consideraremos a ARP isoladamente, é apenas uma referência para o enqua-
mas sim componente de um sistema (Sarp) dramento das características técnicas e
que engloba também uma carga útil, uma operativas de uma ARP, podendo haver
estação remota de pilotagem (ou estação situações em que ela (ARP) não se enqua-
de controle), equipamento de enlace de dre exatamente em uma dessas categorias.
dados, um terminal de comunicações e Nesses casos, cada Força, a seu critério,
recursos de Tecnologia da Informação e efetuará o enquadramento da sua ARP
Comunicações (TIC), infraestrutura de considerando a maior similaridade com
apoio e recursos humanos. a tabela abaixo.
Existem diversas categorizações de É esperado que, nos próximos dez
ARP, que consideram diversos requisi- anos, cerca de 12% de tudo o que voar
tos. Na tabela abaixo são apresentadas seja drone. Com isso, a corrida tecnoló-
as categorias definidas pelo MD para as gica desenvolvimentista desses artefatos
Forças Armadas. voadores tem sido intensa. Empresas de

CAT Nomenclatura Indústria Atributos


Altitude de Modo de Raio de operação
Autonomia (h)
operação operação típico (NM)
0 Micro (MUAS) até 3.000 ft (900m) LOS 5 ~1
1 Pequeno (SUAS) até 5.000 ft LOS 15 ~2
Baixa altitude, grande
2 até 10.000 ft LOS ~35 ~15
autonomia (LALE)
Baixa altitude, grande
3 até 18.000 ft LOS ~150 20 - 25
autonomia (LALE)
Média altitude, grande até ~
4 LOS / BLOS 150 a 600 25 - 40
autonomia (MALE) 30.000 ft
Alta altitude, grande até ~
5 LOS / BLOS 3.000 >40
autonomia (HALE) 60.000 ft
Alta altitude, grande
autonomia e baixa
6 ~ 60.000 ft LOS / BLOS 3.000 >40
detectabilidade
(HALE-LO)

Categorias de ARP definidas para as Forças Armadas


MUAS - Micro Unmanned Aircraft System
SUAS - Small Unmanned Aircraft System
LALE - Low Altitude Long Endurance
MALE - Medium Altitude Long Endurance
HALE - Hight Altitude Long Endurance
LOS - Linha de Visada (Line of Sight)
BLOS - Além da Linha de Visada (Beyond Line of Sight)

RMB2oT/2019 83
A AÇÃO DE DRONES NA GUERRA NAVAL

grande renome tecnológico têm se dedi- treinamento serão essenciais para o bom
cado ao aprimoramento dos drones para desempenho do recurso. Nessa formação,
diversos empregos, de uma forma geral serão fundamentais não só o aprendizado
capitaneados para o uso militar, talvez por técnico e uma educação aeronáutica,
exigir mais de suas performances. como também a habilidade inata do novo
Com o aumento considerável de de- piloto, seguida de treinamento intensivo.
manda por esse novo recurso por diversos Além de todo o cuidado com a formação
segmentos, melhorias em seu desem- dos pilotos, programas de requalificações
penho irão ocorrer, principalmente nos deverão ser previstos e aplicados.
aspectos design, autonomia e capacidade Vale mencionar que algumas Orga-
de uso em diversas atividades e em seus nizações Militares (OM) da MB vêm
sistemas de controle. testando e aplicando drones mais simples,
A Marinha do Brasil vem, nos últimos classificados como de categorias civis e
anos, testando diversos drones, tanto para emprego dual (civil e militar) em tarefas
emprego embarcado como para emprego não relacionadas ao tema deste trabalho.
em terra pelos Fuzileiros Navais. São eles: RQ-11 Raven, RQ-20 Puma
Dois desses sistemas foram o Scan (versão marítima), Carcará II, IAI Mini
Eagle, da empresa Insitu-Boeing, e o Panther, Skylar KC e FT-100 Horus. Mais
Comcopter S-100, da empresa Shiebel- adiante trataremos desta informação.
-Selex. Diversas empresas têm se destacado
Esses novos recursos embutem em si na fabricação de drones, dentre elas Saab,
vários aspectos de inovação tecnológica, Ael, Shiebel, Cassidian, Insitu, Indra e
desenvolvimento de sistemas correlacio- Flight Technologies.
nados e novos conceitos operacionais, Para emprego embarcado, podemos
além do estabelecimento de uma estrutura considerar os seguintes drones:
organizacional adequada para conduzi-lo.
Considerando essa evolução tecnológi- Modelo Empresa
ca dos drones, necessidades operacionais
tornaram-se prementes, em especial a Hermes 900 Ael
qualificação necessária que um operador Pelicano Indra
deveria possuir.
Um outro elemento de importância diz Tanan 300 Cassidian
respeito aos diversos tipos de carga útil FT-X1 Flight Tech.
que podem ser transportados pelos drones,
incluindo-se a crescente sofisticação tec- Skeldar V-200M Saab
nológica dos armamentos e de sensores. Comcopter Shiebel
Esse item também influenciará na
Scan Eagle Insitu
qualificação do operador do drone. A
abrangência da atuação desses drones de
última geração influenciará significativa- Os novos drones possuem hoje excelen-
mente nos requisitos para a formação dos tes capacidades tecnológicas, tais como:
pilotos que os irão operar. Esse piloto fará opção para decolagem e/ou aterrissagem
parte do sistema que deverá solucionar os verticais automáticas; possibilidade de voo
problemas inerentes ao processo decisório autônomo com rota preestabelecida (piloto
durante o voo, e a sua formação e seu automático); sistema à prova de falhas

84 RMB2oT/2019
A AÇÃO DE DRONES NA GUERRA NAVAL

(failsafe) programável, com capacidade ou por pesquisadores reconhecidos, apon-


de estabelecer o retorno à base em caso de tam que mais de 50% dos acidentes com
perda de sinal ou baixo nível de bateria; drones tiveram os fatores humanos como
interface com programas computacionais responsáveis. Mas que fatores humanos
livres, com código aberto etc. seriam esses? Proficiência, falhas durante
Uma grande vantagem dos drones o pouso, falhas ou atrasos em identificar
refere-se a poderem voar em baixa altitu- e corrigir panes mecânicas?
de, minimizando, desta forma, a interfe- Dentro desse quadro, quais são as
rência negativa da maioria das formações ações necessárias a fim de evitar que mais
de nuvens, que dificultam a visibilidade. acidentes venham a ocorrer?
Com a capacidade de transmissão de Diversas instituições indicam a criação
imagens e vídeos em tempo real com de um programa de segurança com foco
significativa precisão, simplicidade e nas operações com drones, a criação de
discrição, suas aplicações em vigilância, critérios de seleção e treinamento de
sensoriamento remoto, reconhecimento e pessoal, o treinamento da coordenação
apoio ao combate serão de grande valia navio-drone, a melhoria do formato de
nas ações de guerra naval. controle das estações GCS (Ground
Control Station) e a criação de carreiras e
LIMITAÇÕES E cursos específicos destinados à operação e
VULNERABILIDADES manutenção desses equipamentos.
Não podemos nos deixar envolver
Um número considerável de acidentes pelos “cantos das sereias” dos fornece-
com os drones tem sido registrado, che- dores desses recursos para emprego na
gando a ser cem vezes maior que o das MB, principalmente no que se referir a
aeronaves convencionais, com estatística que não mais haverá perdas humanas em
de um acidente a cada mil horas de voo decorrência de seus erros e que drones
causado ou por pane mecânica/elétrica ou viriam para solucioná-los. Penso serem
devido ao fator humano na condução de os drones mais um elemento que ajudará
suas operações. na análise de acidentes aéreos fatais em
Estatísticas registradas desde os pri- decorrência de erros humanos.
mórdios da aviação acusam que erro Uma limitação já identificada hoje
humano é o principal fator causador de na MB é quanto às frequências de
acidentes e, portanto, a maior ameaça à operação dos drones para uso militar.
segurança de voo. Por outro lado, a quan- Estas são necessárias e ainda não estão
tidade de dados de acidentes com drones estabelecidas. Todos os drones operados
não é tão volumosa como a referente às pela MB, pelas demais Forças Arma-
aeronaves convencionais. Os dados dis- das e pela Polícia Federal empregam
poníveis indicam que 25% ocorrem por frequências ostensivas, utilizadas por
falha de motor, 24% por falha elétrica, qualquer usuário de drone. Para evitar
22% por erros durante o pouso, 10% por tal situação, existe um grupo de militares
falha mecânica, 10% por erros durante que participam de fóruns distintos que,
o lançamento e 9% por erros diversos, entre outros assuntos, tratam da atribui-
inclusive humanos. Entretanto, a verdade ção, destinação e distribuição de faixas
é que os principais estudos realizados por de frequências no mundo, nas regiões
entidades técnicas envolvidas no assunto, designadas pela UIT e no Brasil, sob a

RMB2oT/2019 85
A AÇÃO DE DRONES NA GUERRA NAVAL

responsabilidade da Anatel. Um desses Telecomunicações (Citel), coordenado


fóruns é chamado de Comissão de Ge- pela Organização dos Estados Ameri-
renciamento de Frequência de Interesse canos (OEA), que estuda as faixas de
do Ministério da Defesa (Cogef), que frequências para a Região 2 – Américas,
funciona no MD; um outro fórum é como a UIT estabelece; e o de mais alto
designado Afaos – Anatel, Forças Ar- nível desses fóruns é a União Internacio-
madas e Órgãos de Segurança, sob a nal de Telecomunicações, com sede em
coordenação da Anatel, que identifica Genebra, como um organismo da ONU.
as necessidades de radiofrequência dos O quadro a seguir mostra os fatores
órgãos de Estado mencionados; um outro contribuintes que podem levar à perda
chama-se Conferência Interamericana de de um drone:

Fator Contribuinte Possível Causa


- Falha em reconhecer uma situação crítica
Resposta inadequada do
- Informação crítica de voo errada ou inadequada
operador
- Atraso no fluxo de informações
Inserção errada de dados
- Entrada errada dos dados
críticos para o voo
Excesso de informações do - Ação x tempo disponível
operador - Sobrecarga dos sensores
Informação crítica
- Dependência do design
indisponível ou inadequada
- Operador distante da malha de controle.
Demora na reação aos
- Software inadequado
comandos
- Falha no link de controle
- Descanso inadequado
- Troca de turnos ineficiente
Fadiga do operador
- Saturação de tarefas a serem cumpridas
- Tempo x importância da missão
Controle de múltiplas ARP - Excesso de carga de trabalho
Caminhos do software para - Reinicialização inesperada do sistema
situações inseguras - Inadequada proteção de segurança no software

Fatores contribuintes que podem levar à perda de drones (ARP)


Fonte: Range Commanders Council-Range Safety Criteria for Unmanned Air Vehicles

86 RMB2oT/2019
A AÇÃO DE DRONES NA GUERRA NAVAL

As demandas por faixas de radiofre- Em decorrência da participação nesses


quências já são intensas nos dias de hoje, fóruns, as atribuições feitas pela UIT,
e com perspectivas ainda maiores no Citel e Anatel têm correspondido aos in-
futuro. Sua utilização é tão dispendiosa teresses das Forças Armadas. Resta-nos,
que posso afirmar que prefiro receber uma agora, trabalhar para que parte dessas fre-
frequência do que uma “barra de ouro”! quências sejam destinadas e distribuídas
Nas últimas Conferências Mundiais para as Forças Armadas para uso militar.
de Radiocomunicações (WRC), ocorridas Um tópico especial que deve merecer
na UIT, as faixas de 5.030 a 5.090 MHz atenção, e que torna o drone vulnerável,
e 5.091 a 5.150 MHz ficaram atribuídas, é quanto à sua assinatura radar, como
para a Região 2 – Américas, para uso também a assinatura acústica e térmica de
primário em Radionavegação Aeronáu- seu propulsor. Destacamos também outra
tica, Móvel Aeronáutico (R) e Móvel limitação que deve ser contornada, que diz
Aeronáutico por Satélite (R). A faixa de respeito ao seu raio de ação e à sua capaci-
5.150 a 5.250 MHz foi destinada para uso dade de se manter em voo em decorrência
primário em Radionavegação Aeronáuti- do combustível que deverá ser empregado.
ca, fixo por satélite (terra para espaço) e Apesar da limitação de pequena
móvel (exceto móvel aeronáutico). autonomia dos drones atuais, existem
A partir da atribuição aprovada pela perspectivas de que a utilização combi-
UIT, a Anatel estabelece a atribuição, nada com outros drones, operando como
destinação e distribuição das referidas uma rede de sensores aéreos, dará maior
faixas no Brasil; a faixa de 5.030 a 5.090 flexibilidade ao utilizador nas operações
MHz ainda não foi destinada. A faixa de de guerra naval onde forem empregados.
5.091 a 5.150 MHz foi destinada, para Espera-se que, com a evolução tec-
uso primário, no Serviço Limitado Móvel nológica, a capacidade de operação dos
Aeronáutico – Telemetria, mas ainda não drones com maior autonomia de voo seja
foi distribuída. A faixa de 5.150 a 5.151 ampliada.
MHz está atribuída e destinada, para uso
primário, para o Serviço Limitado Móvel OPERAÇÃO E LOGÍSTICA
Aeronáutico – Telemetria e Especial de
Radiodeterminação por Satélite, porém A operação de uma ARP complemen-
ainda não foi distribuída. A faixa de ta a das aeronaves tripuladas, podendo
5.151 a 5.250 MHz está destinada, para substituí-las em áreas de elevada ameaça
uso primário, para o Serviço Especial aérea. A necessidade de conhecimento, as
de Radiodeterminação por Satélite, não restrições operacionais e os níveis de ame-
tendo sido, ainda, distribuída. Por meio aça ditarão a escolha da categoria da ARP,
dos fóruns mencionados anteriormente, podendo requerer a utilização de mais de
as Forças Armadas pleiteiam a destinação, um meio aéreo, em voo concomitante, em
para fins exclusivamente militares, de par- uma mesma área.
te das faixas mencionadas. Vale destacar Em conflitos deflagrados, as ARP são
a importância da presença da MB nesses capazes de desbalancear o oponente por
fóruns, porque todos necessitam de radio- meio de pequenas e discretas ações. Suas
frequência, e em um ambiente de escassez características de mobilidade, flexibilida-
ninguém vai defender os interesses dos de e portabilidade permitem seu uso por
outros interessados. navios, mesmo de pequeno porte, sem res-

RMB2oT/2019 87
A AÇÃO DE DRONES NA GUERRA NAVAL

trições operativas devidas a movimentos de ataque, guerra eletrônica, enlace de


de balanço e caturro. dados, apoio ao combate, vigilância,
O Sistema de Aeronave Remotamente sensoriamento e reconhecimento.
Pilotada (Sarp) é um conjunto de ele- Já os drones táticos poderão ser subdi-
mentos que abrange a estação remota de vididos em tático portátil e tático naval.
pilotagem (ou estação de controle), os O tático portátil com emprego caracterís-
correspondentes enlaces de comando e tico nas operações dos fuzileiros navais;
controle, recursos de Tecnologia da Infor- enquanto o tático naval com operação
mação e Comunicações e quaisquer outros embarcada a partir de meios de superfície.
elementos que podem ser necessários, a No que se refere à operação das ARP,
qualquer momento, durante a operação. diversas instituições governamentais es-
Entre as documentações necessárias tarão envolvidas para o estabelecimento
que nortearão o emprego dos drones na de programas de segurança, critérios de
MB está a doutrina de seu emprego, a formação e treinamento de pessoal. Na
ser elaborada pelo MD. Essa doutrina, MB, procedimentos para operação com
definida como Requisitos Operacionais os navios de guerra em proveito de ações
Conjuntos (ROC), abrange os drones na guerra naval serão necessários, além
de categoria 4, nível estratégico, com da criação de cursos específicos voltados
emprego em ações de inteligência, re- para a operação e a manutenção de siste-
conhecimento, vigilância e aquisição de mas como um todo.
alvos, e também visa a atender múltiplos O emprego de drone minimiza, de
empregos das Forças Singulares. Assim, forma significativa, a exposição das ae-
haverá necessidade de o MD estabelecer ronaves convencionais e suas tripulações,
os Requisitos Operacionais Conjuntos em decorrência do elevado risco existente
para as categorias de drones que atendam em certas operações.
às peculiaridades doutrinárias de emprego Destaca-se que a operação de drone
de cada Força Armada (Marinha, Exército é um voo por instrumentos apoiado por
e Aeronáutica). sensores nele instalados e que, durante
É de suma importância que as três a execução da missão, o piloto, além de
Forças troquem informações de forma executar o comando e controle, irá receber
coordenada, a fim de permitir maior imagens para análise, sendo todo esse
conhecimento no que tange aos aspectos processo muito estimulante.
operacionais, logísticos, de manutenção O Sarp é, basicamente, composto por
e doutrinários. quatro subsistemas principais, assim defi-
Para emprego na guerra naval, duas nidos: a ARP; seus sensores e armamentos
classes de drones deverão ser considera- (se for o caso); seus equipamentos de
das: tático e estratégico. Essas classes são comunicações (TIC); e a estação remota
definidas em decorrência de um conjunto de pilotagem (ou estação de controle) de
de variáveis que considerarão emprego, onde será conduzida a operação.
alcance, autonomia, peso, permanência e O custo reduzidíssimo de aquisição,
configuração dos equipamentos a serem operação e manutenção dos drones,
transportados (tipos de sensores, arma- quando comparado ao das aeronaves
mentos e outros equipamentos). convencionais tripuladas, tem realçado
Pretende-se que os drones estratégicos a necessidade de incremento do binômio
navais sejam empregados nas operações navio-drone, evoluindo para se dotar qua-

88 RMB2oT/2019
A AÇÃO DE DRONES NA GUERRA NAVAL

se todos os meios navais com esse recurso, É importante destinar atenção especial
mesmo os de pequeno porte. à formação dos pilotos de drones, pois o
A expressiva evolução tecnológica que emprego desses recursos não deve ser
essas aeronaves têm sofrido permite-nos centrado no modelo que será utilizado,
afirmar que a sua operação a bordo dos e sim no homem que irá operá-lo. Para
navios é muito mais fácil e econômica. isso, a aquisição de qualquer modelo para
Uma coisa é certa: na MB, todos os meios emprego na MB deve considerar os custos
navais poderão usufruir das vantagens do de treinamento, apoio para a instalação
seu emprego; logo eles serão necessários do sistema a bordo, lista de aprovisiona-
em todos os Distritos Navais. Por outro mento inicial para o apoio operacional
lado, observa-se que o estabelecimento por, pelo menos, os dois primeiros anos
de novas doutrinas e novos procedi- e um contrato de suporte logístico para
mentos será necessário para a operação manutenção de nível 3, nos primeiros
embarcada, a fim de alcançar um nível de cinco anos de operação.
segurança adequado e aceitável em todos Os recursos humanos necessários para
os seus segmentos. Essas implementações compor as equipes de operação e de apoio
envolverão várias OM da MB, e diversas aos Sarp devem possuir qualificações
questões terão que ser respondidas a fim individuais específicas, estabelecidas em
de se estabelecer qual a estrutura adminis- função das diversas categorias de ARP e
trativa que irá absorvê-los, onde ficarão da concepção de seu emprego em cada
depositados, onde e como serão feitas as Força. Dessa forma, o pessoal que irá
manutenções rotineiras e quais serão elas operar e manter esses artefatos voadores
e quais os procedimentos de qualificação deve estar qualificado, habilitado e cer-
dos pilotos e do pessoal que irá mantê-los. tificado para cada tipo de ARP, além de
Como deverá ser o gerenciamento das dominar os critérios estabelecidos para o
diversas etapas de operação e logística voo no respectivo espaço aéreo. De uma
desse recurso? Qual empregar: estraté- forma geral, são necessários os seguintes
gico ou tático; asa fixa ou rotativa; um profissionais para a operação do sistema:
rotor ou vários rotores; decolagem livre piloto em comando; piloto auxiliar res-
ou com catapulta; estações de controle em ponsável pela operação dos sistemas de
terra ou embarcadas, entre outros fatores controle de voo: navegação, propulsão e
a serem considerados? comunicação up link e down link (controle
Esse processo deve ser concentrado em e telemetria); piloto qualificado para pou-
uma única OM, com os desdobramentos so e decolagem; comandante da missão;
necessários onde eles precisarão operar, operador de equipamentos eletrônicos;
ou deve-se criar núcleos distritais para as analista de imagem; analista de sinais; es-
necessidades locais? pecialista em eletrônica ou comunicações;
Qual a equipe necessária para a sua especialista em aviônica; especialista em
operação a bordo? Este será um novo mecânica de aeronave; coordenador de
quesito a ser considerado. Os navios terão solo e especialista em logística.
capacidade de acomodação para recebê- Sendo para emprego militar, as qua-
-los? O pessoal de bordo poderá ser qua- lificações técnicas do pessoal envolvido
lificado para operá-los? Enfim, talvez um e de seu quantitativo serão estabelecidas
excelente farol a ser seguido seria o estudo pela Força Singular em decorrência da
de como operam em outras Marinhas. missão a ser cumprida.

RMB2oT/2019 89
A AÇÃO DE DRONES NA GUERRA NAVAL

Na escolha da categoria de ARP, e pouso) são executadas a partir de uma


estabelecida pelo MD, em aplicações de estação, podendo ser em linha de visada
apoio ao combate para aplicação de força, ou além da linha de visada; ou
os compatíveis seriam os de categoria 3, b) Operação Distribuída – quando múl-
4, 5 ou 6; para aquisição de alvos, os de tiplas estações de controle estão envolvi-
categoria 0 a 4. das. A decolagem, a missão e o pouso são
As ARP categorias de 0 a 2, normal- realizados por estações distintas, mas em
mente, são definidas para aplicação em proveito comum.
nível tático. As de categoria 3 ou superior No quesito formação de pilotos, os
são para aplicação em nível operacional drones disparam na frente em vantagens
ou estratégico, dependendo das caracte- na comparação com a formação tradicio-
rísticas da missão. nal para aeronave convencional. Também
Fatores adversos externos (ação do podemos realçar as vantagens de baixo
inimigo, más condições meteorológicas consumo de combustível dos drones em
etc.) ou internos (mudança na prioridade relação às aeronaves tradicionais. O
de alvos, restrições legais, deficiência na emprego de drones em áreas onde o voo
infraestrutura de apoio etc.) podem alterar tripulado é de grande risco para o piloto
os níveis tático, operacional ou estraté- de uma aeronave convencional torna-se
gico de emprego da ARP. É importante uma das suas grandes vantagens.
que o princípio da unidade de comando A qualificação de pilotos de ARP os
não seja desprezado, mesmo quando o assemelha ao piloto comercial, com es-
emprego da ARP seja em proveito de pecificação de maior grau no âmbito da
mais de um utilizador. aviação civil. Além dessas exigências,
O voo de ARP categorias 0 a 2 depende aqueles que operarão em missões militares
da ativação de espaço aéreo segregado. devem possuir amplos conhecimentos das
O gerenciamento da operação de uma regras do espaço aéreo e considerável ex-
ou de múltiplas plataformas (ARP) deve periência em helicópteros e nas aeronaves
se concentrar em uma única organização, de combate do país.
mesmo quando operem em várias áreas O piloto treinado deverá estar capaci-
de interesse, simultaneamente ou não. A tado a operar os drones para os diversos
execução poderá ser descentralizada; tipos de tarefas a serem cumpridas, cada
contudo, todas as informações deverão ser uma com protocolos operacionais muitas
direcionadas ao órgão central para que as vezes distintos, com tarefas múltiplas para
ações possam ser planejadas. o cumprimento da missão, tornando as
As regras de engajamento são elabora- exigências para um piloto de drone muito
das em nível estratégico. mais rigorosas.
No que diz respeito às medidas para a Critérios rígidos, à semelhança dos
coordenação do espaço aéreo, considera- exigidos para os pilotos navais, deverão ser
-se que o voo de ARP categoria 3 ou supe- observados por ocasião do recrutamento
rior deva obedecer aos mesmos processos dos candidatos a pilotos de drones, em es-
de planejamento das aeronaves tripuladas. pecial suas habilidades psicomotoras e para
As operações de ARP podem ser con- operação em situações demasiadamente
sideradas como: críticas e de grande tensão psicológica.
a) Operação Centralizada – quando É de suma importância que sejam
todas as fases de voo (decolagem, missão demasiadamente reduzidos os possíveis

90 RMB2oT/2019
A AÇÃO DE DRONES NA GUERRA NAVAL

acidentes aeronáuticos com os drones, em dos pilotos convencionais, sendo neces-


especial os causados por falha humana. sários estudos profundos para que sejam
Em termos de segurança física do estabelecidos precisamente tais critérios.
piloto de drone, em comparação com Quanto ao aspecto logístico de ma-
aeronaves tripuladas convencionalmente, nutenção, muita coisa ainda terá que ser
o primeiro dispara na frente com muito feita, principalmente pela inexistência
maior segurança. de dados sobre padrões de avarias dos
Vale destacar que a captura de um diversos componentes, em especial no
piloto em aeronave convencional por um hardware e no software dos drones.
país ou grupo opositor causará grandes Critérios deverão ser estabelecidos para
constrangimentos políticos, além de permitir a elaboração de um planejamen-
afetar sensivelmente o moral da tropa, o to eficaz de troca de componentes pelo
que não acontecerá no caso de um drone tempo de vida (hora de voo) e não por
capturado. manutenção corretiva.
Os pilotos se destacam como os Um outro aspecto importante é não
“bens” mais preciosos dentro do sistema deixar que se crie uma mentalidade de que
aeronave-piloto, pela sua dificuldade de os drones são descartáveis. Isso poderia
formação já em tempo de paz, agravando- acontecer em decorrência do fato de não
-se sensivelmente em situação de conflito, colocarem a vida do piloto em perigo e
quando as perdas são acentuadas. também por serem bem mais baratos e não
Outro fator de destaque refere-se ao possuírem um tempo de vida muito longo.
sentimento de "romantismo" que envolve Quanto aos requisitos de mobilidade,
os pilotos tradicionais, podendo os pilo- tais como velocidade, teto de operação,
tos de drones virem a ser discriminados autonomia, alcance efetivo do link, raio de
pelos primeiros, ou até se autodiscrimi- ação, combustível e capacidade de opera-
narem por não serem pilotos tradicionais, ção diurno e/ou noturno, estes deverão ser
e isto pode vir a provocar um certo estabelecidos considerando a aplicação do
desânimo e ser prejudicial à segurança drone em emprego na guerra naval.
aérea. Entretanto, não se espera que esse Outros requisitos também deverão ser
sentimento deva surgir, tendo em vista observados, tais como:
que o avanço tecnológico que se processa a) estruturais – materiais a serem usa-
nos drones, e em diversos outros segmen- dos na estrutura dos drones, pois serão
tos, estar criando uma nova mentalidade empregados no ambiente marinho, alta-
que valoriza e incentiva a realização de mente corrosivo, devendo possuir uma
tarefas a distância – neste caso, o tele- adequada vida útil sem comprometimento
comando de drones. Espera-se, assim, do material;
que os pilotos de drone tenham igual ou b) dificuldade de detecção – deverão
maior reconhecimento do que os pilotos possuir um sistema de propulsão com
de aeronaves convencionais. E essa nova discreta assinatura acústica e térmica, bem
mentalidade poderá vir a valorizar ainda como uma pequena seção radar;
mais os operadores de drones do que os c) sistemas auxiliares – especial aten-
pilotos tradicionais. ção deverá ser dada a todos os demais
Questões quanto à saúde ocupacional recursos que comporão o sistema drone
desses novos pilotos de drone deverão (Sarp) que não a própria aeronave, como
seguir critérios tão rigorosos quanto os a estação de controle remota de pilota-

RMB2oT/2019 91
A AÇÃO DE DRONES NA GUERRA NAVAL

gem, que, quando embarcada, deverá ter ou sensor embarcado na ARP. A escolha
a capacidade de operar com razoável grau dos sensores deve considerar as missões
de balanço lateral do navio, assim como e seus objetivos.
longitudinal (caturro); e com intensidade
e direção do vento, estado de mar e classe Sensores
de navio variáveis. Como se processará
o seu lançamento/decolagem e seu reco- No que se refere a sensores para Co-
lhimento/pouso, de modo manual e/ou mando, Controle e Comunicações, os
automático?; mesmos devem adequar-se ao peso limite
d) apresentação simultânea dos siste- para embarque na ARP em que serão
mas de voo do equipamento, do mapa de operados. Seriam eles:
missão e dos dados transmitidos pelos a) optrônicos – sistema eletro-óptico
sensores; (EO) e infravermelho (IV) com capacida-
e) sistema de indicação de pane (Caution/ de de reconfiguração que permita coletar,
Warnings) para a condição insegura de voo; armazenar e transmitir imagens termais e
f) sistema de proteção que evite, em óticas de alvos no mar e em terra;
caso de panes de energia, a perda de con- b) radar – dentre tantos, o radar de
trole (no-break); abertura sintética conferirá ao drone em-
g) modo de proteção tipo dead-recko- barcado capacidade de esclarecer alvos
ning, que permita realizar o recolhimento de superfície localizados até 20 km de
do drone, em caso de perda do sinal saté- distância de sua posição;
lite do sistema de navegação; c) AIS (Automatic Identification Sys-
h) capacidade de controlar e monitorar tem) – proverá a capacidade de identifica-
múltiplos drones, além de garantir sua ção automática de alvos colaborativos e a
separação de tráfego e circulação; sua integração ao sistema do navio base;
i) capacidade de passar/assumir o con- d) terminais – deverá ter a capacidade
trole de um drone para/de outra estação de apresentar as imagens captadas em,
de controle; pelo menos, três terminais remotos para
j) que o sistema possua os canais de emprego por frações de tropa ou equipes
comando e de link de dados que operem de operações especiais; e
nas faixas de frequências previstas pela e) Mage – os drones embarcados que
Anatel e que, adicionalmente, possuam sejam empregados para monitoramento do
proteção criptográfica e salto em fre- espectro eletromagnético devem possuir
quência capazes de resistir às tentativas equipamentos Mage que detectem sinais
de interferência externa; de radares ameaça.
k) dispor de recursos para gravação de
imagens ópticas ou termais obtidas por Sistema de Navegação
seus sensores; e
l) ter capacidade de ampliar o alcance Da mesma forma que os sensores, os
do link de dados utilizando um outro dro- recursos de navegação que as ARP deve-
ne como relay para funções C2 (comando rão possuir são:
e controle) e download e upload de dados. a) Transponder – Transponder/IFF
É importante destacar que os termos (Identification Friend or Foe) com ca-
carga útil ou payload, que serão aqui pacidade ADS-B (Automatic Dependent
empregados, vêm a ser todo equipamento Surveillance – Broadcast);

92 RMB2oT/2019
A AÇÃO DE DRONES NA GUERRA NAVAL

b) Sistema GNSS (Global Navigation a) Enlace de Comunicações – realizar


Satellite System) – sistema de navega- enlace de comunicações (COM Relay) nas
ção com receptor padrão do Sistema faixas de frequência de VHF, nos serviços
de Satélite de Posicionamento Global móveis aeronáutico e marítimo; e
(GNSS), com as seguintes características: b) Comunicações por Satélite – capa-
capacidade de navegação por waypoints, cidade para receber equipamentos para
apresentação das informações em indica- enlace satelital para C2 (comando e con-
dores apropriados e integração aos demais trole) e transmissão e recepção de dados.
sensores do sistema de navegação;
c) Sistema de Navegação Inercial – deve- Armamento
rá dispor de sistema de navegação inercial,
integrável com o sistema GNSS, com capa- Capacidade de transportar bombas,
cidade de manter informação de localização mísseis, torpedos etc.
da aeronave, no caso de interrupção da
recepção de sinal GNSS, e de determinar Estação Remota de Pilotagem ou
altitude, rumo, ace- de Controle
leração e velocidade
da aeronave; O emprego militar Poderá ser fixa
d) AHRS (Atti- ou móvel, compre-
tude and Heading
deve englobar todas as endendo os recur-
Reference System) especificações estipuladas sos que permitirão
– deverá dispor de para o emprego civil, o controle da ARP
AHRS capaz de de- e o emprego das
terminar sua atitude, acrescidas das necessárias cargas úteis instala-
a fim de garantir a à segurança e ao sigilo da das. A operação da
redundância desta ARP caracteriza-se
informação;
atividade militar por dois segmentos
e) Altímetro – distintos de contro-
deverá dispor de equipamento capaz de le: o da aeronave e o dos equipamentos
prover informações de altimetria que embarcados, que normalmente estão in-
atenda aos requisitos de mobilidade. tegrados, empregando a mesma estrutura
f) Sistema de Navegação Automá- de controle e enlace de dados. O enlace
tica – deverá dispor de um sistema de dados entre a estação de controle e
que permita a realização de navegação a ARP permite o tráfego de todas as
automática, inclusive com uma posição demandas da aeronave e da missão. O
predeterminada de retorno (Returning emprego militar deve englobar todas as
Home) em caso de perda em voo do en- especificações estipuladas para o em-
lace radioelétrico de comando. prego civil, acrescidas das necessárias à
segurança e ao sigilo da atividade militar.
Comunicações O controle da ARP pode ser em linha
de visada e/ou além da linha de visada,
Estabelecer comunicação com a esta- neste caso utilizando satélite ou relay de
ção de terra para transmissão de dados, comunicações. A operação em linha de
podendo utilizar as faixas de frequências visada limita a ação da ARP no que se
de VHF, UHF e SHF. refere ao alcance.

RMB2oT/2019 93
A AÇÃO DE DRONES NA GUERRA NAVAL

A operação além da linha de visada elementos que os sensores neles colocados


expande a área de atuação da ARP e de- tenham capacidade de obter.
mandará uma estrutura de comunicações No que concerne à segurança de voo,
com recursos satelitais ou com outra a qualificação do pessoal para a sua
ARP relay. Nesse tipo de operação, operação deverá ter o mesmo tratamento
poderá ocorrer um retardo nas comu- dispensado aos pilotos embarcados. Ope-
nicações, dificultando o comando e a radores remotos deverão ter a capacidade
telemetria e exigindo mais experiência para perceber, detectar e evitar tráfego
do piloto. aéreo, obstáculos geográficos, formações
Um outro detalhe importante a consi- meteorológicas e demais situações de
derar é quanto à transferência de controle voo que possam ameaçar ou prejudicar a
de pilotagem, quando em linha de visada, operação remota.
para além da linha de visada ou vice-versa. Um outro destaque para os drones é o
Tal manobra exigirá um adestramento seu voo silencioso e a dificuldade em ser
mais rigoroso dos pilotos. detectado pelo oponente.
Outra vantagem do emprego da ARP é
Sistema Logístico que a sua estrutura pode ser rapidamente
deslocada para local seguro, bastando
Para o bom funcionamento da ARP, movimentar apenas três elementos es-
uma infraestrutura de apoio será necessá- senciais: o módulo de voo, o módulo de
ria, em especial com as funções logísticas controle em solo e o módulo de comando
de manutenção, suprimento e transporte, e controle, além de, obviamente, pilotos
de modo a permitir a realização de mon- e demais elementos que compõem a es-
tagens, reparos e movimentação dos trutura de apoio.
demais recursos que compõem o sistema Os pilotos de ARP para emprego
da ARP, de um local de operação para na guerra naval, apesar de cumprirem
outro, além de equipamento para lança- missões em área marítima específica, na
mento e recolhimento de ARP, geradores maioria das vezes fora do mar territorial
no-break, equipamentos de transporte brasileiro, necessitarão conhecer os
(reboques, carretas) etc. marcos regulatórios estabelecidos pelo
Resumindo, no que se refere à opera- Departamento de Controle do Espaço
ção de drones, esta será composta de um Aéreo e também os estabelecidos pela
piloto e uma estação de controle. Uma Agência Nacional de Aviação Civil e pela
grande vantagem é que os pilotos podem Anatel no que couber à homologação dos
se revezar, o que permite um voo mais transceptores e das frequências a serem
longo e sem desgaste físico e mental empregadas.
para eles. Além da redução do cansaço a Similarmente às aeronaves pilotadas,
que o piloto estará sendo submetido, ele os drones também devem observar uma
não estará se colocando em situação de manutenção rigorosa, com revisões e
ameaça física, pois estará longe da cena substituição de peças sensíveis, além de
de ação, não exposto às adversidades que testes e calibração. Os requisitos que irão
porventura venham a ocorrer. estabelecer tais revisões e manutenções
Uma grande vantagem será a captação poderão ser as horas voadas, os pousos e
e transmissão, em tempo real, para os os lançamentos ou outros critérios determi-
centros de controle, de imagens ou outros nados pelo fabricante e pelos operadores.

94 RMB2oT/2019
A AÇÃO DE DRONES NA GUERRA NAVAL

APLICAÇÃO EM VIGILÂNCIA, O emprego desses novos drones,


SENSORIAMENTO E com os recursos técnicos e de operação
RECONHECIMENTO que possuirão, com certeza irá quebrar
alguns paradigmas, na MB, no trato e
Considerando o título deste artigo, é na condução da guerra naval. Sua apli-
importante que se conheçam alguns con- cação permitirá a coleta de dados para
ceitos empregados pela MB que envolvem o estabelecimento de um quadro tático
a guerra naval e suas operações navais de- mais seguro.
correntes e que irão nortear este trabalho. A capacidade dos drones em cumprir
Como já citado, a MB define guerra naval longos períodos de voo, sem colocar em
como: “as ações militares conduzidas nos risco o elemento humano e com uma
espaços marítimos, nas águas interiores e velocidade expressiva, elevará, sem
em certas áreas terrestres limitadas de in- sombra de dúvidas e de forma signifi-
teresse para as operações navais, incluindo cativa, a capacidade de captar informa-
o espaço aéreo sobrejacente. Consiste no ções que muito ajudarão na condução
emprego do Poder Naval, contribuindo da atividade de comando e controle de
para a conquista e a manutenção dos Ob- uma força naval.
jetivos Nacionais de Defesa”. (Doutrina As vantagens do emprego dos drones
Militar Naval). em vigilância, sensoriamento e reconhe-
A guerra naval comporta diferentes cimento, em comparação com aeronaves
tipos de operações navais que devem pilotadas, são marcantes, principalmente
concorrer, de alguma forma, para a no que se refere à segurança de aviação,
execução das tarefas básicas do Poder quando o risco de vida dos pilotos torna-
Naval: Controle de Área Marítima, Negar -se inexistente. Vale destacar o custo e o
o Uso do Mar ao Inimigo, Projetar Poder tempo despendidos na formação de um
sobre Terra e Contribuir para a Dissuasão piloto naval, além do impacto negativo
Estratégica. que a perda em missão de um piloto cau-
Existem diversos tipos de operações sa na sociedade do país e no moral dos
navais, todas podendo interagir entre si. tripulantes a bordo.
Assim, observamos que a Operação de Vale destacar também a versatilidade
Reconhecimento é o tipo de Operação de emprego de que os novos drones dis-
de Esclarecimento que tem por propósito põem, dependendo dos equipamentos que
obter informações, táticas ou estratégi- eles transportem.
cas, referentes às atividades e aos meios Pela última edição do Plano de Ar-
do inimigo, ou coletar informações de ticulação e Equipamento da Marinha
caráter geográfico, hidrográfico, mete- do Brasil (Paemb), de 2013, os drones
orológico, eletrônico e acústico, refe- embarcados, com capacidade de lança-
rentes à provável área de operações e mento e recolhimento, numa primeira
necessárias para orientar o planejamento fase poderão ser empregados: em ta-
e o emprego de forças. refas de esclarecimento e, quando em
O emprego da ARP em vigilância e situação de paz, para coletar, armazenar
reconhecimento permitirá a transferên- e transmitir dados de imagens a fim de
cia, em tempo real, de informações que otimizarem tarefas relacionadas à busca
suportam a decisão do comandante da e salvamento (SAR); para contribuir
operação. no estabelecimento de doutrina de seu

RMB2oT/2019 95
A AÇÃO DE DRONES NA GUERRA NAVAL

emprego em ambiente naval; para ajudar d) possibilidades e necessidades de


no combate de ilícitos no que diz respeito logística, principalmente infraestrutura e
a pesca predatória, extração mineral recursos humanos; e
ilegal, contrabando, pirataria e crimes e) necessidades e possibilidades de
ambientais; e para salvaguarda da vida coordenação, que dependem dos proces-
humana no mar. sos de comando e controle estabelecidos
O emprego de drones dependerá dos e dos meios de comunicação e redes de
recursos a eles agregados para a obtenção computação disponíveis.
de dados necessários, podendo-se dar Destacamos que as ARP podem operar
como exemplo equipamentos eletrôni- em ampla variedade de missões e que a
cos do tipo Synthetic Aperture Radar escolha da categoria em que esse recurso
(SAR), que é um sistema de obtenção de se enquadra deverá adequar-se à metodo-
imagens de alta resolução via radioco- logia da concepção operativa estabelecida
municações, com especificação técnica pela MB e aos fatores da decisão em cada
para sensoriamento remoto. Um outro nível de planejamento (estratégico, ope-
recurso eletrônico agregado aos drones racional ou tático).
seria o Flir – Forward Looking Infrared, A escolha da categoria deverá conside-
um equipamento de visão noturna que, de rar as necessidades de comando e controle
forma passiva, obtém imagens por meio e as possibilidades relativas no que tange
da diferença de temperatura, acoplado à pilotagem.
à câmera de vídeo para transmissão de Entre as categorias hoje estabelecidas
imagens em tempo real. pelo MD para aplicação em vigilância,
Drones podem também realizar senso- sensoriamento e reconhecimento em nível
riamento remoto, que vem a ser a técnica estratégico, as ARP compatíveis seriam
de medição e obtenção de dados sobre as de categoria 4, 5 ou 6; para as mesmas
um alvo, por meio de sensores que não aplicações em nível tático, as categorias
se encontram em contato físico com o seriam 0, 1, 2, 3 ou 4.
objeto investigado. A alta precisão dos Os sistemas de sensoriamento remoto,
sensores, combinada aos procedimentos com o emprego de satélites ou de ARP,
de processamento digital de imagens, são indicados para o esclarecimento de
oferece a possibilidade de extração de grandes extensões marítimas, aéreas e
diversas informações e análises espaço- terrestres de interesse, que estejam sob o
-temporais do alvo. Podemos aplicar controle do inimigo.
diversas tecnologias, sendo uma das mais Vale destacar que, no espaço aéreo
antigas a fotogrametria. brasileiro, cabe ao Decea, observando
Para se estabelecer a categoria adequa- resoluções da Oaci, a autorização para o
da de ARP para uma das operações do títu- voo de ARP. No emprego militar serão
lo deste capítulo, diversos condicionantes emanadas normas específicas.
deverão ser observados:
a) tipo de missão; APLICAÇÃO EM APOIO
b) quais objetivos estratégicos, opera- AO COMBATE
cionais e táticos serão estabelecidos;
c) qual o cenário e as condicionantes Em uma abordagem operacional e
operacionais (dimensões da área de opera- tática na aplicação das ARP em apoio ao
ção, distância, relevo, meteorologia etc.); combate, serão necessários informações,

96 RMB2oT/2019
A AÇÃO DE DRONES NA GUERRA NAVAL

reconhecimento, vigilância, detecção, permanente condição de pronto emprego


identificação, localização de alvos com em prol de assegurar sua capacidade de
suficiente detalhamento e aquisição de al- projeção de poder sobre terra.
vos, de modo a permitir o efetivo empre- Além dessas capacidades, a Consti-
go de meios adequados. Nesta aplicação, tuição Federal prevê o emprego da MB
podemos empregar uma ARP com armas em operações de Garantia da Lei e da
para ataque; apoio aéreo aproximado; Ordem (GLO).
supressão de defesa aérea inimiga; defesa A END também menciona que as
aérea. Pode-se, ainda, integrar o setor de Forças Navais, Aeronavais e de Fuzileiros
guerra eletrônica; realizar esclarecimento Navais podem ser apoiadas por drones no
de superfície; realizar reconhecimento e monitoramento do ambiente marítimo e
vigilância; identificar terrenos, alvos e em prol de objetivos estratégicos e táticos.
objetivos; avaliar danos e apoiar ações de O Paemb prevê o emprego dos drones
Operações Especiais. Uma outra aplica- em operações de esclarecimento, ataque,
ção seria na discriminação e seleção de interceptação e apoio à guerra eletrônica.
alvos para o apoio de fogo empregando O emprego dos drones elevará a
uma emissão laser para apontar alvos capacidade de comando e controle da
inimigos. força operativa, aumentando sobrema-
Os objetivos a serem alcançados em neira a consciência situacional marítima
proveito das forças navais, aeronavais e ou terrestre numa operação clássica do
de fuzileiros navais são a coleta, o arma- Poder Naval.
zenamento e a transmissão: da localização Em apoio às operações dos Fuzileiros
de alvos no mar e em terra; de imagens Navais de caráter tático, emprega-se
termais e óticas; de informações neces- hoje na MB o drone Carcará II, que, no
sárias à orientação do planejamento e do momento, encontra-se em aprimoramento
emprego das Forças; e de dados meteoro- pela empresa Santos Lab, a fim de atender
lógicos e geográficos de uma determinada a novos requisitos operacionais estabele-
área. Deverá também prover enlace de cidos pela MB.
dados entre os meios adjudicados. Por ocasião da Olimpíada no Rio de
A Estratégia Nacional de Defesa Janeiro, em 2016, em decorrência do
(END), dentro do conceito de preservação apoio prestado pela Marinha do Brasil
da paz e preparo para a guerra, estabelece nas atividades de segurança, foram
que a MB deve estar pronta para responder adquiridos dois drones FT-100 – Ho-
a qualquer ameaça às linhas de comunica- rus, da empresa FT Sistemas, os quais
ções marítimas. encontram-se em operação com os Fu-
Para isso, é prevista como uma das zileiros Navais.
tarefas do Poder Naval a projeção de No que se refere ao drone tático, a
poder sobre terra, devendo assim estar Estratégia Nacional de Defesa estabe-
operacionalmente capacitada com forças lece os objetivos estratégicos e táticos
anfíbias em condições de pronta resposta; relacionados à MB. No repertório de
para defender instalações navais e portuá- práticas e capacitações operacionais,
rias; para defesa dos arquipélagos e ilhas determina à MB a tarefa de monitorar a
oceânicas; e para controlar as margens de superfície do mar a partir do espaço. A
vias fluviais, entre outras tarefas. Logo, a referida END menciona que o emprego de
MB deverá possuir fuzileiros navais em forças navais, aeronavais e de fuzileiros

RMB2oT/2019 97
A AÇÃO DE DRONES NA GUERRA NAVAL

navais no monitoramento da superfície d) coletar dados meteorológicos e


do mar em prol de objetivos estratégicos geográficos em uma determinada área;
e táticos poderá ser apoiado por drones. e) prover enlace de dados entre e intra
Quanto aos drones táticos (portátil e meios navais, aeronavais e de fuzileiros
naval), observa-se que o drone Carcará navais;
II (portátil), devido às suas característi- f) possuir baixa assinatura acústica;
cas de portabilidade e recuperabilidade, g) possuir estações de comando e
entre outras, tem atendido, parcialmente, controle compatíveis com a operação de
às demandas táticas das operações an- bordo e de terra, com pleno controle de
fíbias, terrestres e ribeirinhas. É mister lançamento e de retorno à base, remo-
a necessidade de seu aperfeiçoamento tamente;
para o pleno atendimento das demandas h) operar nos períodos diurnos e no-
dos fuzileiros navais nos vários escalões turnos; e
e tipos de missões. i) permitir interoperabilidade com as
Nota-se que este tipo de drone terá demais forças singulares.
uma grande interação e aplicabilidade nos O emprego adequado dos drones
meios de superfície de pequeno porte, par- constitui um grande diferencial para os
ticularmente nos que operam no ambiente comandantes numa ação de guerra naval.
ribeirinho, nas tarefas de esclarecimento Visando ao emprego da ARP em apoio
de curto alcance (até 15 km) ao longo dos ao combate por meios navais pelo Paemb,
rios e bacias hidrográficas. está prevista a aquisição de várias ARP a
Os drones táticos deverão ser empre- serem empregadas embarcadas (ARP-E),
gados para inúmeras tarefas em tempo já tendo sido, inclusive, estabelecidos os
de paz e em tempo de guerra, a partir de seus Requisitos de Alto Nível de Sistema
plataformas fixas ou móveis, por forças (Rans).
navais, aeronavais e de fuzileiros navais. Dentro do processo de aquisição da
Dependendo de suas características técni- ARP-E, diversas empresas se apresen-
cas e operacionais, devem à observância taram para fornecer à MB atendendo ao
das tarefas básicas do Poder Naval e Rans estabelecido. Foram elas: Saab, Ael,
ser usados, em especial, em vigilância, Shiebel, Cassidian, Insitu, Indra e Flight
sensoriamento, reconhecimento e apoio Technologies.
ao combate. A operação das ARP pelos meios na-
Para a execução dessas tarefas, os vais e de fuzileiros navais está de acordo
drones deverão possuir equipamentos com o previsto nas tarefas básicas da MB,
condizentes com o que se pretende, de- já descritas anteriormente, quais sejam:
vendo ser capazes de: Controle de Área Marítima, Negar o Uso
a) coletar, armazenar e transmitir a do Mar ao Inimigo, Projetar Poder sobre
localização de alvos no mar e em terra; Terra e Contribuir com a Dissuasão Es-
b) coletar, armazenar e transmitir ima- tratégica. Inicialmente, como previsto no
gens termais e óticas com alta resolução; Paemb, as ARP poderiam ser empregadas
c) obter informações necessárias em operações de esclarecimento, como de
para a orientação do planejamento e do busca, vigilância (patrulha), acompanha-
emprego de forças navais, aeronavais mento e reconhecimento.
e de fuzileiros navais, se possível, em Assim, foram consideradas as seguin-
tempo real; tes ARP:

98 RMB2oT/2019
A AÇÃO DE DRONES NA GUERRA NAVAL

Modelo Empresa No caso das Operações Anfíbias, a


Hermes 900 Ael ARP deve possuir elevada mobilidade
Pelicano Indra tática com capacidade de transpor obs-
Tanan 300 Cassidian táculos verticais, a fim de apoiar a pro-
FT-X1 Flight Technologies gressão da tropa, aumentando o poder de
Skeldar V-200M Saab combate, permitindo que se atue contra o
Comcopter Shiebel inimigo em pontos diferentes, num curto
Scan Eagle Insitu espaço de tempo.

Empresa Ael (Hermes 900) Empresa Saab (Skeldar V-200 M)

Empresa Shiebel (Camcopter S-100) Empresa Cassidian (Tanan 300)

Empresa Flight Technologies (FT-X1) Empresa Indra (Pelicano)

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A AÇÃO DE DRONES NA GUERRA NAVAL

Empresa Insitu (Scan Eagle) Caçador

Carcará II Panther

RQ-11 Raven RQ-20 Puma

100 RMB2oT/2019
A AÇÃO DE DRONES NA GUERRA NAVAL

PERSPECTIVAS PARA lidaram uma Concepção de Operações


O BRASIL Conjuntas de ARP (Conops-CJ-ARP).
Esta concepção tem por finalidade
No Brasil, o projeto para o desenvol- discriminar as principais capacidades
vimento de um drone nacional para as e características de operação das ARP,
Forças Armadas, que atenda às demandas subsidiar a sua aquisição e integração
de inteligência, vigilância, reconheci- no âmbito do MD e estabelecer uma
mento, sensoriamento remoto e apoio ao arquitetura conceitual e doutrinária
combate, vem sendo tratado no âmbito do voltada para o emprego das diversas
MD desde 2004, estando a MB represen- categorias estabelecidas. A Concepção
tada por oficiais dos diversos Órgãos de estará sujeita às atualizações conforme a
Direção Setorial (ODS) da sua estrutura evolução tecnológica, o aperfeiçoamento
administrativa. Em 18 de dezembro de doutrinário das Forças ou a introdução
2008, o MD divulgou e publicou a END, de modificações no emprego de seus
que estabelece a reorganização da Base diversos subsistemas, caso apresente
Industrial de Defesa, assegurando que o necessidade de revisão.
atendimento às necessidades de equipa- Em complemento, estudos prelimi-
mento das Forças Armadas apoiem-se nares de viabilidade são realizados pela
em tecnologias sob domínio nacional, Copac para o estabelecimento de uma
preferencialmente as de emprego dual, proposta de Conceito de Emprego, a ser
militar e civil. A END foi revisada em apreciada pelas Forças.
2012 e aprovada pelo Decreto Legislativo Entretanto, estudos conduzidos pelo
no 373 em 25 de setembro de 2013. MD visando à interoperabilidade entre as
Em 28 de junho de 2010, o MD emitiu Forças Armadas propõem que o conceito
a Portaria Normativa no 1.065, criando de emprego e estratégias para a implan-
o GT Vant para tratar do seu uso pelas tação da ARP do Ministério da Defesa
Forças Armadas, cuja coordenação ficou deverá estar calcado em um projeto nacio-
a cargo da FAB. nal para atender às demandas de Defesa
Pela Portaria no 1.983/MD, de 3 de Nacional. Sua implantação abrangerá inú-
julho de 2013, são discriminados os meras avaliações operacionais e o desen-
Requisitos Operacionais Conjuntos para volvimento de doutrina, além de medidas
ARP, e pelo Ofício no 15146/MD, de 11 de para consolidar a interoperabilidade do
dezembro de 2013, para o Estado-Maior sistema (Sarp) nas Forças Armadas. Para
da Aeronáutica (EMAer), foi atribuída tanto, deverão ser abordadas:
à FAB a coordenação do processo de a) a capacitação dos recursos humanos;
desenvolvimento nacional e aquisição do b) a integração de sistemas de Tecnolo-
referido artefato voador. gia da Informação e Comunicações (TIC),
Em seguida, o EMAer, em 5 de fevereiro aqui abordando aspectos gerenciais de
de 2014, determinou à Comissão Coorde- apoio ao comando e controle, de gestão
nadora do Programa Aeronave de Combate logística, de gestão do programa e seus
(Copac) da Força Aérea Brasileira (FAB) a projetos; e
ativação do Projeto do Sistema de Aeronave c) a implantação de uma cultura de
Remotamente Pilotada do MD. trabalho conjunto nas Forças Armadas,
Em decorrência, em 2015, represen- incrementando a interoperabilidade no
tantes das três Forças Singulares conso- uso da ARP.

RMB2oT/2019 101
A AÇÃO DE DRONES NA GUERRA NAVAL

Dessa forma, a concepção de emprego seguintes categorias, estabelecidas pelo


propõe que a Força Aérea seja a coorde- MD, em operações de:
nadora das atividades de manutenção, a) Ataque – categorias de 3 a 6;
decolagem, translado até as áreas de b) Anfíbias – todas as categorias;
operações e o retorno dessas áreas até o c) Esclarecimento – todas as categorias;
pouso. Enquanto a ARP estiver na área d) Especiais – todas as categorias;
de operações, a pilotagem e a operação e) Defesa de Porto/Área Marítima
dos sensores ocorrerão conjuntamente, Restrita – todas as categorias;
a partir do Comando de Defesa Aérea f) Plataforma de Petróleo no Mar –
Brasileira (Comdabra), por meio de categorias de 2 a 6;
enlace por satélite. Para isso, pilotos e g) Bloqueio – categorias de 3 a 6;
operadores de sensores serão lotados em h) Defesa Tráfego Marítimo – catego-
cada Força, constituindo uma equipe mista rias de 2 a 6; e
para o atendimento das particularidades de i) Operações Ribeirinhas – todas as
cada missão. Cada Força gerenciará suas categorias.
demandas de pedido de dados, a análise Podemos realçar que o Ministério da
desses dados e sua difusão, respeitando as Defesa tem incentivado as empresas na-
respectivas particularidades de comando, cionais a desenvolverem ARP fabricadas
controle e inteligência. Imagina-se com no Brasil, com o intuito de fortalecer a
isso grande economia financeira, pois, Indústria Nacional de Defesa.
com um único voo, múltiplas missões Uma empresa de destaque é a Avionics
podem ser executadas. Services, que, juntamente com a empresa
O Ministério da Defesa visualiza as Israel Aerospace Industries (IAI), desen-
seguintes metas para o emprego de ARP: volveu a ARP Caçador, primeira aeronave
a) que tenha capacidade de apoiar a receber a aprovação do Ministério da
operações de Inteligência, Vigilância e Defesa como um Produto Estratégico de
Reconhecimento (IVR), singulares ou Defesa – PED. Desenvolvido a partir do
conjuntas, em proveito de ações militares Heron-1, da empresa IAI, o Caçador se
de defesa e segurança; enquadra nos requisitos de Declaração de
b) efetuar voo com ARP categoria 2 Conteúdo Nacional (DCN).
ou superior, em espaço aéreo comparti- O Caçador tem autonomia de 40h de
lhado, integrado ao sistema de tráfego voo, atinge altitude de até 30 mil pés, com
aéreo brasileiro, sem diminuir os níveis peso máximo de decolagem na ordem de
de segurança de voo; 1.270 kg, o que lhe permite transportar 250
c) que tenha capacidade de integrar os kg de carga útil e realizar uma variedade
processos de comando e controle nos níveis de missões, em especial as necessárias
estratégico, operacional e tático, com a co- para as Forças Armadas, tipo vigilância,
leta e processamento das imagens obtidas; e sensoriamento e reconhecimento.
d) que tenha capacidade de empregar Seu alcance em controle, na linha de
armamento contra alvos de superfície. visada por satélite, pode atingir até 250
A ação de drone na guerra naval km, na banda C; e se for incluída banda
possui conceitos específicos. No que Ku de satélite, pode chegar a mil km de
tange às missões, tarefas e ações a serem sua base de controle.
empregadas e executadas por ARP na No Brasil, em 2011, a FAB estabeleceu
MB, podemos destacar o emprego das na sua estrutura administrativa a primeira

102 RMB2oT/2019
A AÇÃO DE DRONES NA GUERRA NAVAL

unidade militar a utilizar drone de forma Como já mencionado, não existe uma
operacional, o Esquadrão Hórus, 1o/12o doutrina, com decorrentes procedimentos
Grupo de Aviação da FAB, com sede na operacionais estabelecidos, na MB para a
Base Aérea de Santa Maria (RS), que tem operação de ARP.
como responsabilidade a operação das No que tange à Anatel, cabe-lhe o
ARPs da Força. estabelecimento de faixas de frequências
Esse Esquadrão é a semente para o para operação de drones para fins milita-
aprendizado da operação dessas aeronaves res, uso civil no Brasil e a defesa dessas
e também a base para o desenvolvimento faixas em nível internacional. Para isso,
de uma doutrina, pois não basta ter a ae- esse órgão do governo vem tratando do
ronave, é preciso saber como empregá-la, assunto promovendo palestras, debates e
além de ter a capacidade de processamen- seminários, e criando grupos de trabalho,
to das informações por elas transmitidas. entre outras ações, a fim de levantar as
Nesse Esquadrão, somente aviadores perspectivas e necessidades de vários se-
podem ter o controle dessas aeronaves. tores governamentais ou privados no em-
Dispostos em duplas, eles devem possuir prego, comando e controle desse recurso.
experiência em voo, conhecimento das Além da regulamentação das faixas de
áreas de operação e familiaridade com radiofrequências para drones, outros assun-
as regras de controle do espaço aéreo, tos deverão ser resolvidos e esclarecidos,
assegurando alto grau de segurança aérea tais como: regulamentação internacional,
em sua operação. gerência do espaço aéreo, certificação e
Na MB, foi estabelecido um Pelotão homologação de equipamentos e licen-
para a operação de ARP no Batalhão de ciamento de estações que operam drones.
Controle Aerotático e de Defesa Antiaé- Aprofundando esses conhecimentos, se
rea, subordinado ao Comando da Força de tornará mais fácil e equânime a elaboração
Fuzileiros da Esquadra, com sede no Rio da regulamentação pertinente pelos órgãos
de Janeiro. No momento, opera as ARP governamentais envolvidos no assunto,
FT-100 Horus, a Falcão e a Phanton. Por tais como o Comando da Aeronáutica, a
falta de procedimento específico e por Anac e a Anatel, e será ampliada a defesa
serem de emprego dual (civil e militar), as desses interesses junto a organismos inter-
instruções observadas são as estabelecidas nacionais, como a União Internacional de
na Circular de Informação Aeronáutica – Comunicações (UIT), Organização Inter-
AIC 100-40, do Comando da Aeronáutica, nacional da Aviação Civil (Icao), Organi-
além de um Procedimento Operativo por zação Marítima Internacional (IMO) etc.
eles criado que trata da padronização de Apesar de o Paemb prever a aquisição
operação e do adestramento dos militares. de Sarp-E em proveito das operações
Além desse pelotão, navios de gru- dos meios navais e de fuzileiros navais,
pamentos de Patrulha Naval, com sede operando embarcado, e das especificações
ao longo do nosso litoral, também têm técnicas e documentações específicas
feito uso das capacidades de ARP em estarem prontas e aprovadas, não é pos-
proveito de operações de Patrulha Naval sível, no momento, a sua aquisição, em
que executam. As ARP empregadas têm decorrência das dificuldades financeiras
sido: RQ-11 Raven, RQ-20 Puma (versão hoje vividas pelo País.
marítima), Carcará II, IAI Mini Panther, O projeto prevê a aquisição de um
Skylar KC e FT-100 Horus. número razoável de Sarp-E que permita

RMB2oT/2019 103
A AÇÃO DE DRONES NA GUERRA NAVAL

o adestramento de lançamento e recolhi- Diversos foram os drones analisados


mento a partir de navio e o estabelecimen- pela MB para emprego estratégico ou
to de sua doutrina de emprego, juntamente tático pelas forças navais, aeronavais
com as demais Forças Armadas, além da e de fuzileiros navais, considerando
criação futura de esquadrão de aviação todas as categorias hoje estabeleci-
para operar e manter este novo meio aéreo. das. Inicialmente, vislumbrou-se um
Prioritariamente, essas aeronaves drone já operacional. Considerando
deverão ser empregadas nas tarefas os Requisitos de Estado-Maior para o
básicas do Poder Naval de Controle de meio e os consequentes Rans, entre os
Área Marítima, Negar o Uso do Mar ao diversos disponíveis optou-se em ana-
Inimigo, Projetar Poder sobre Terra e lisar os drones Scan Eagle, da empresa
Contribuir para a Dissuasão Estratégica Insitu-Boeing, e o Camcopter-S-100, da
em operações de reconhecimento (busca, empresa Shiebel, austríaca.
vigilância – patrulha, acompanhamento e Foi também apresentada proposta de
esclarecimento), além de, em situação de desenvolvimento de um drone nacional
paz, coletar, armazenar e transmitir dados pela empresa Flight Technologies – FT
de imagens sobre a otimização das tarefas Sistemas. Com sede em São José dos
relacionadas à busca e salvamento (SAR); Campos, a empresa lançou o drone, tipo
criar doutrina própria do seu emprego helicóptero, FT-200 FH, que poderá ter
no ambiente naval e reprimir ilícitos em versão militar e civil. Esta ARP tem al-
geral (pesca predatória, extração mineral cance de 100 km e autonomia de mais de
ilegal, contrabando, pirataria, crimes 10 horas de voo e pode transportar até 50
ambientais etc.). kg de carga útil.
Há que se pensar no tipo de estrutura Esse drone reúne as mais avançadas
administrativa que a MB deverá estabele- tecnologias em aeronáutica, microme-
cer para a operação de ARP. Como já des- cânica, sistemas propulsivos e sensores
crito, diversas OM já operam esse recurso embarcados de alta performance, com
em proveito de suas tarefas específicas. exclusivo sistema de navegação, pilota-
Por outro lado, possuímos uma Base gem automática e sistemas de contingên-
Aérea Naval como nosso maior centro cias. Apesar de esta empresa ter tido seu
de operação, formação e treinamento e plano de negócios aprovado, por meio do
de tudo o que envolve o elemento aéreo Programa Inova Aerodefesa, parece que
na Força, onde estão sediados nossos o processo ficou inviabilizado pela falta
principais esquadrões de aeronaves. de indicação firme de uma demanda por
Contudo, temos também esquadrões de parte das Forças Armadas, em decorrência
aeronaves sediados em alguns distritos das restrições orçamentárias ora vigentes.
navais espalhados pelo País. Recentemente, a FAB testou o drone
A Diretoria de Aeronáutica da Marinha estratégico categoria 3, Hermes 450,
(DAerM), como OM líder no assunto na chegando à conclusão de que não atendia
MB e apoiada pela Diretoria de Sistemas plenamente às necessidades operacionais
de Armas da Marinha (Dsam) e pela das Forças Armadas.
Diretoria de Comunicações e Tecnologia Quanto ao desenvolvimento do drone
da Informação da Marinha (DCTim), nacional Falcão, o projeto encontra-se pa-
assumiu a responsabilidade de estudar a rado. Para sua continuidade, foi estabele-
exequibilidade dos drones. cida uma joint venture – Harpia, com par-

104 RMB2oT/2019
A AÇÃO DE DRONES NA GUERRA NAVAL

ticipação da Embraer (51%), Ael (40%) e autorização prévia, aumentando, com


Avibras (9%). Foi revisto o projeto inicial, isso, a segurança aérea.
adequando-o aos principais requisitos Em decorrência dessas considerações,
operacionais para atender ao Conceito torna-se de extrema importância o esta-
Operacional Conjunto. Entretanto, como belecimento de uma doutrina própria de
nenhuma indicação de demanda ocorreu, emprego no ambiente naval.
a empresa Harpia foi desmobilizada e o
projeto arquivado. Legislações em vigor no Brasil
No momento, continua com a FAB,
que agora opera o Hermes 900, a com- De acordo com a legislação brasilei-
petência do trato dos assuntos de drone. ra, que segue as normas internacionais,
A MB possui militares deslocados na a ARP é considerada uma aeronave e,
FAB participando do aprendizado de sua portanto, está sujeita à legislação aeronáu-
operação. tica. Nenhuma ARP civil poderá operar
Sabe-se que a Copac, da FAB, continua no Brasil sem a devida autorização da
envolvida nas atividades de desenvolvi- Anac e de outros órgãos federais, como
mento e obtenção de um drone nacional, o Decea, a Anatel e, em alguns casos,
todavia a MB não está participando. o Ministério da Defesa (Anac, 2012).
Deve-se incentivar o processo de na- Entretanto, existe legislação que trata do
cionalização desses artefatos voadores, uso civil de aeromodelos que, devido às
assim como dos sensores que irão trans- suas características de operação, requerem
portar, devendo-se buscar e estimular a licenciamento prévio por parte da Anac.
participação de empresas nacionais em No Brasil, existem atualmente três
seu desenvolvimento e sua integração, legislações oficialmente emitidas que
produção e manutenção. versam especificamente sobre ARP.
É esperado para os próximos anos o A primeira é a AIC no 21/10, uma Cir-
desenvolvimento expressivo nos sistemas cular de Informação Aeronáutica emitida
de propulsão de eletrônica/telecomuni- pelo Comando da Aeronáutica em 2010,
cações e no uso de materiais compostos que estabelece alguns procedimentos para
na construção desses artefatos voadores. a operação de Vant em geral. A segunda
Logo, um surto desses drones é esperado é a Decisão no 127, da Anac, expedida
nos anos vindouros. em 2011, que fornece diretrizes com a
Com isso, grandes serão as exigências finalidade de autorizar a operação aérea
regulatórias emanadas pelas autoridades de ARP pelo Departamento de Polícia
governamentais correspondentes e tam- Federal. E a terceira, e última, é a Instru-
bém nos critérios de formação e atualiza- ção Suplementar no 21-002, Revisão A,
ção dos pilotos desses artefatos. também da Anac, expedida em outubro
Nas aplicações militares, as regras de 2012, que orienta a aplicação da Se-
para a operação dos drones têm sido ção 21.191 do RBAC-21 (Regulamento
estudadas pelo Comando da Aeronáu- Brasileiro de Aviação Civil) para emissão
tica, juntamente com as demais Forças de Cave (Certificado de Autorização para
Singulares. Vale destacar que o uso Voo Experimental) para ARP de uso ex-
militar normalmente ocorre em espaços perimental (pesquisa e desenvolvimento,
aéreos segregados, onde não é permitida treinamento de tripulações e pesquisa de
a entrada de qualquer outra aeronave sem mercado) (Anac, 2012).

RMB2oT/2019 105
A AÇÃO DE DRONES NA GUERRA NAVAL

A Circular de Informações Aeronáuti- Com a finalidade de proporcionar um


cas no 21/10 tem por finalidade apresentar acesso ordenado e seguro dos drones no
as informações necessárias para o uso de espaço aéreo brasileiro, levando-se em
veículos aéreos não tripulados no espaço conta a publicação Manual on Remotely
aéreo brasileiro e aplica-se a todos aqueles Piloted Aircraft Systems (RPAS), da
que, no decorrer de suas atividades, preten- Icao, as solicitações para voos de ARP
dam ocupar o espaço aéreo brasileiro com são analisadas caso a caso, em função das
voos de ARP. Nessa publicação, as ope- particularidades do pedido e levando-se
rações de uma ARP, quanto ao seu perfil, em conta todos os aspectos concernentes
são divididas em dois tipos: operação na à segurança dos usuários do transporte
linha de visada, realizada em obediência aéreo, entre eles: a operação de qualquer
às regras de voo visuais – VFR, em que o tipo de drone não deve aumentar o risco
piloto ou o observador mantém o contato para pessoas e propriedades, no ar ou no
visual direto com a ARP, visando preser- solo; a garantia de manter, pelo menos, o
var as separações previstas, bem como mesmo padrão de segurança exigido para
prevenir colisões; e operação além da linha as aeronaves tripuladas; e a proibição do
de visada, realizada sob as condições de voo sobre cidades, povoados, lugares habi-
voo visuais ou por instrumentos – IFR, tados ou sobre grupo de pessoas ao ar livre.
em que não há a necessidade de manter Os drones devem se adequar às regras
contato visual com a ARP. e aos sistemas existentes e não recebem
As operações de uma ARP, quanto à nenhum tratamento especial por parte dos
sua natureza, também são divididas em órgãos de Controle de Tráfego Aéreo.
dois tipos: operação ostensiva, de caráter O voo de ARP somente poderá ocorrer
geral, realizada na Circulação Aérea Ge- em espaço aéreo segregado, definido
ral, sob coordenação do órgão regional e por Notam, ficando proibida a operação
do Decea; e operação sigilosa, de caráter em espaço aéreo compartilhado com as
reservado, realizada na Circulação Opera- demais aeronaves tripuladas. Quando
cional Militar, sob coordenação do órgão for utilizado aeródromo compartilhado,
regional e do Comdabra. as operações devem ser paralisadas a
Todo voo de ARP que envolver contato partir do início do táxi ou procedimento
rádio com órgãos de Controle de Tráfego equivalente até o abandono do circuito
Aéreo, deverá, em sua chamada inicial, uti- de tráfego, na sua saída, e da entrada no
lizar a expressão "ARP", com a finalidade circuito de tráfego até o estacionamento
de elevar a consciência situacional dos en- total, na sua chegada.
volvidos na operação, sem demandar qual- No caso de utilização de ARP por
quer tipo de tratamento especial por parte organizações militares e órgãos públicos
do órgão de Controle de Tráfego Aéreo. de segurança, como polícias e Receita
Tendo em vista as limitações impostas Federal, algumas restrições poderão ser
pela ausência do piloto a bordo e a atual reavaliadas pelo órgão regional e, subse-
impossibilidade de uma ARP cumprir com quentemente, pelo Decea, considerando
diversos requisitos previstos nas legisla- as peculiaridades da missão requerida.
ções aeronáuticas em vigor, em especial As autorizações e orientações emitidas
com relação à sua capacidade de detectar pelo Decea aplicam-se somente ao uso
e evitar colisão, os voos são sempre rea- do espaço aéreo. Autorizações relativas
lizados em espaços aéreos condicionados. a aeronavegabilidade, licença de pessoal

106 RMB2oT/2019
A AÇÃO DE DRONES NA GUERRA NAVAL

e uso de frequências para controle da A ação de drones na guerra naval,


ARP devem atender às legislações dos numa perspectiva para o Brasil, envolverá
órgãos competentes, respectivamente a necessidade de uma sinergia e unidade
Anac e Anatel. de esforços entre as demais forças sin-
Por ocasião do primeiro seminário gulares (EB e FAB), sob a coordenação
internacional com o tema “ARP em do MD, para se vislumbrar o êxito dos
Combate”, realizado pela Força Aérea projetos de pesquisa, desenvolvimento,
Brasileira em junho de 2017, diversos produção e aquisição de todo o sistema
assuntos foram tratados: (Sarp), visando à sua nacionalização. Os
a) o futuro operacional das ARP; processos de especialização, certificação e
b) desafios e tendências no emprego treinamento de recursos humanos, neces-
dessa aeronave; sários para a operação de toda a estrutura
c) elaboração de regras para inserção do Sarp, deverão ser padronizados e uni-
da ARP militar no espaço aéreo civil; ficados, respeitando-se as peculiaridades
d) desenvolvimento de sistemas para de emprego de cada Força.
tornar a aeronave autônoma segura e com Aspectos doutrinários deverão ser es-
facilidade na tomada de decisões; tabelecidos e padronizados no mais alto
e) operações conjuntas de ARP; e grau de comando, tais como: sistemática
f) operação de armamentos transpor- de pedido de missão; especificações do
táveis e a logística agregada. formato de imagens, vídeos e dados;
Vale destacar que um dos propósitos padrões de fraseologia etc.; e os decor-
básicos da FAB é garantir a soberania do rentes até o nível mais baixo, específicos,
espaço aéreo nacional. taticamente, para cada Força. As etapas
de implantação desses recursos deverão
CONCLUSÕES ocorrer paralelamente em cada Força.
Também podemos vislumbrar que,
A rápida evolução tecnológica que em decorrência dessa marcante evolução
vem se processando na ARP e em tudo tecnológica que o setor aéreo tem sofrido,
que lhe envolve nos permite vislumbrar, as perspectivas futuras da aviação militar
em futuro próximo, aeronaves mais le- irão recair em sistemas automatizados e
ves, cargas úteis mais eficientes e com com inteligência artificial. No momento,
menores dimensões e peso e autonomias o maior desafio é o desenvolvimento de
maiores com uso de energias alternativas. sistemas que sejam realmente autôno-
Assim, com essas inovações esperadas, mos para que a aeronave possa pousar,
suas possibilidades de emprego serão aterrissar, realizar manobras de defesa
expandidas, podendo-se imaginar, para aérea, empregar armamentos e desviar de
emprego na guerra naval, ARP com obstáculos, entre outras ações. O futuro do
velocidade hipersônica, com baixíssima combate incluirá aeronaves que tenham
capacidade de serem detectadas, grande capacidade de armazenar informações si-
manobrabilidade em voos com condições gilosas e possuam alta velocidade e armas
meteorológicas severas, expressiva auto- poderosas que consigam atacar diversos
nomia, comandos mais automatizados, alvos simultaneamente, além de impedir
grande flexibilidade de navegação e a sua detecção pelo opositor. É esperada
emprego na guerra naval contra alvos de a operação combinada/conjunta de ARP
superfície e aéreos. com aeronaves tripuladas.

RMB2oT/2019 107
A AÇÃO DE DRONES NA GUERRA NAVAL

As perspectivas de emprego de ARP seu pessoal, num trinômio navio-aeronave


pelas Forças Armadas em aplicações mi- -drone. Com certeza, esse novo recurso
litares apresentam uma grande demanda complementará a operação das atuais ae-
reprimida. No Brasil, existem diversos ronaves tripuladas, aumentando os níveis
projetos envolvendo o desenvolvimento de segurança por ocasião das operações
e o emprego de ARP para diversas apli- navais com emprego do elemento aéreo,
cações, civis e militares, em especial para possibilitando a retirada da tripulação de
emprego na guerra naval. A interação um ambiente de risco ou hostil, sendo
ARP de aplicação civil com a de aplicação elas empregadas somente quando isto for
militar, aqui incluído o de emprego na imprescindível.
guerra naval, é muito importante e irá per- À semelhança dos esquadrões de
mitir o aumento de demanda e viabilizar aeronaves, deve-se pensar em um esqua-
os projetos, tendo em vista as restrições drão específico de drones, no qual todos
financeiras vividas pelas Forças Armadas. ficariam concentrados para dar suporte
As ARP têm demonstrado ser de operacional e de manutenção aos drones
grande utilidade para os comandantes da MB. Pode ser vislumbrada a criação de
operativos, em especial em apoio ao esquadrão de drone na Base Aérea Naval
combate, vigilância, reconhecimento e de São Pedro da Aldeia para ser o centro
sensoriamento, atendendo às demandas de cultura desses recursos e os provedores
nas diversas ações da guerra naval. dos apoios onde for necessário na MB.
Por sua característica de operação não Outras organizações também deverão
tripulada, não expõe tripulações a riscos estar envolvidas como formadoras de
como as aeronaves convencionais, além pilotos para a operação dos drones, para
de permitir o uso de diversificada gama adestramento e para disseminar conceitos,
de sensores, possibilitando a execução de sendo as mais indicadas o Centro de Ins-
variadas missões em um único voo. trução e Adestramento Aeronaval (Ciaan)
É importante que a regulamentação e o Centro de Adestramento Almirante
quanto ao uso e emprego de ARP se Marques de Leão (CAAML).
aperfeiçoe com a evolução tecnológica Fatores operacionais diversos e especí-
pela qual irá passar, sem que seja perdi- ficos poderão provocar a descentralização
do o foco na segurança de navegação e dos drones em proveito de operações de
tráfego aéreo, aqui envolvidas também fuzileiros navais ou em áreas distritais,
as aeronaves tripuladas. onde o seu emprego seja mais expressivo
O incremento do uso de ARP, que e necessário em decorrência da demanda
já ocorre no momento, deverá ter um das operações navais na região, à seme-
impulso muito grande nas próximas dé- lhança do que já ocorre com alguns es-
cadas. Muitos desafios serão enfrentados quadrões de aeronaves de asa rotativa, que
e vencidos, até que seja alcançada uma possuem esquadrões nas sedes de alguns
operação com índices mínimos de aciden- distritos navais, fora da Base Aérea Naval
tes e eficiente emprego operacional. Para de São Pedro da Aldeia.
isso, deveremos investir intensamente na Assim, torna-se, desde já, de suma im-
formação de novos pilotos, no treinamento portância o envolvimento e o empenho de
e no estabelecimento da logística adequa- vários setores da MB para a implantação
da, a fim de estabelecer uma integração eficiente deste novo recurso, em proveito
eficiente dos drones com nossos navios e o do cumprimento das ações de guerra

108 RMB2oT/2019
A AÇÃO DE DRONES NA GUERRA NAVAL

naval, nas aplicações em vigilância, sen- Material, dar continuidade ao processo


soriamento e reconhecimento e em apoio de aquisição, dando atenção especial ao
ao combate. Estudo de Exequibilidade (EE), apresen-
Especial atenção deverá ser dada ao tando as suas conclusões aos Órgãos de
estabelecimento e desenvolvimento de Direção Setorial (ODS) dos setores do
uma doutrina de emprego dos drones. Material e Operativo. Este deverá ser o
Entrelaçamentos com as demais Forças caminho a seguir.
Singulares irão permitir a troca de infor- Dentro da estrutura organizacional da
mações sobre os diversos tipos de drones, MB, deverá ser a DAerM a OM que irá
que facilitará a consolidação de doutrinas liderar o processo de definição dos re-
específicas, em especial as de emprego nas quisitos técnicos dos drones, em proveito
tarefas do Poder Naval. dos meios navais e de fuzileiros navais,
Dentro da MB, seguindo as instru- baseados nos requisitos operacionais
ções estabelecidas para a aquisição de estabelecidos pelo Comando de Opera-
um drone, primeiramente deve-se esta- ções Navais (ComOpNav). Em ambas as
belecer os Requisitos de Estado-Maior situações, a DAerM contará com apoio
(REM) do meio em pauta. Em seguida, de outras OM, em especial da DCTim
deve-se elaborar os Requisitos de Alto quando do estabelecimento dos requisitos
Nível de Sistemas, criar um projeto e, de Tecnologia da Informação e Comuni-
sob a liderança de uma OM do setor do cações que envolverão o novo recurso.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:


<CIÊNCIA & TECNOLOGIA>; Veículo não tripulado;

BIBLIOGRAFIA

BRASIL. Presidência da República. Lei no 7.565, de 19/12/1986 – Código Brasileiro de Aero-


náutica.
MINISTÉRIO DA DEFESA. Portaria Normativa no 606/MD, de 11/6/2004, Dispõe Sobre a
Diretriz de Obtenção de Veículos Aéreos Não Tripulados e dá Outras Providências.
__________. Portaria Normativa no 1983/MD, de 3/7/2013 - Requisitos Operacionais Conjuntos
(Roc) para o Veículo Aéreo Não-Tripulado de Inteligência, Reconhecimento, Vigilância e
Aquisição de Alvos (Vant/ARP) das Forças Armadas.
__________. Decreto Legislativo no 373, de 25 de setembro de 2013. Estratégia Nacional de
Defesa (END).
MARINHA DO BRASIL. Plano Estratégico da Marinha.
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COMANDO DA AERONÁUTICA. Circular de Informação Aeronáutica – AIC no 21-10,
setembro de 2010.

RMB2oT/2019 109
A AÇÃO DE DRONES NA GUERRA NAVAL

__________. Circular de Informação Aeronáutica – AIC no100-40 – Sistema de Aeronave Remo-


tamente Pilotada e Acesso ao Espaço Aéreo Brasileiro.
__________. Circular de Informação Aeronáutica – AIC no 24-17 – Aeronaves Remotamente
Pilotadas para Uso Exclusivo em Operações dos Órgãos de Segurança Pública, da Defesa
Civil e de Fiscalização da Receita Federal.
__________. Diretriz de Implantação e Operação de Vant no Espaço Aéreo Brasileiro – EMAer/2010
– DCA 55-36.
__________. Análise e Gerenciamento do Risco na Copac, NPA No vicepac/71, Copac, de 8 de
outubro de 2014.
AGÊNCIA NACIONAL DE AVIAÇÃO CIVIL – ANAC. Instrução Suplementar no 21-002A
– Emissão de certificado de autorização para voo experimental com base no Regulamento
Brasileiro de Aviação Civil.
__________. Regulamento Brasileiro de Aviação Civil – RBAC 21 – Certificação de Produto
Aeronáutico.
__________. Regulamento Brasileiro de Aviação Civil Especial – RBAC-E no 94 – Requisitos
Gerais para Aeronaves Não Tripuladas de Uso Civil.
AGÊNCIA NACIONAL DE TELECOMUNICAÇÕES – ANATEL. Plano de Atribuição,
Destinação e Distribuição de Faixas de Frequências no Brasil, 2017.
ICAO. Manual on Remotely Piloted Aircraft Systems (RPAS). Doc.10019.1 Ed. Montreal. 2015.

110 RMB2oT/2019
HORATIO LORDE NELSON, O HERÓI POLÊMICO,
SEGUNDO ALFRED THAYER MAHAN E SIR JOHN
KNOX LAUGHTON – Parte I

FRANCISCO EDUARDO ALVES DE ALMEIDA*


Capitão de Mar e Guerra (RM1)

A biografia tem percorrido um trajeto


acidentado na História. Enaltecida
no passado, passou a ser desprestigiada
contemporâneos – como Jacques Le Goff,
digno representante da terceira geração
dos Annales, na introdução de sua obra
no século XX, em razão, principalmente magistral São Luiz. Diria ele, em 1989,
dos ataques da Escola dos Annales. No que a biografia era “o ápice do trabalho
entardecer do século passado, ela pa- do historiador”.1
rece ter vindo para se estabelecer com Nos países de língua inglesa, em espe-
maior intensidade. Interesse do público, cial no Reino Unido (UK), houve, a partir
congregado a novas pesquisas e desco- do século XIX, um enorme interesse do
bertas, tem feito da biografia um gênero público no trabalho biográfico. Segundo
interessante para o leitor comum. Mesmo Peter Gay, nesse período houve um verda-
críticos severos da biografia pareceram deiro ‘apetite biográfico’.2 Em razão desse
render-se à legitimidade e importância interesse, muitas biografias desmascaram
desse gênero historiográfico nos estudos reputações até então intocadas, de modo

* Graduado em História (Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ). Mestre e doutor em História
Comparada (UFRJ) e pós-doutor em Ciência Política pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Polí-
ticas da Universidade de Lisboa. Coordenador e professor do Programa de Pós-Graduação em Estudos
Marítimos da Escola de Guerra Naval.
1 BORGES, Vavy Pacheco. “Grandeza e misérias da biografia”. In: PINSKY, Carla Bessanezi (org). Fontes
Históricas. São Paulo: Contexto, 2005, p. 209.
2 GAY, Peter. O Coração Desvelado. A experiência burguesa da Rainha Vitória a Freud. V.4. Trad: Sergio
Bath. São Paulo: Companhia das Letras, 1999, p. 171.
HORATIO LORDE NELSON, O HERÓI POLÊMICO, SEGUNDO ALFRED THAYER MAHAN E
SIR JOHN KNOX LAUGHTON – Parte I

a enaltecer virtudes burguesas e indicar como o tipo ideal de “herói” e líder militar,
caminhos que não deviam ser trilhados. Vi- sendo enaltecido com um belo monumen-
via-se no UK o chamado período vitoriano. to em sua memória no centro de Londres,
Por outro lado, biografias que dis- na Trafalgar Square. Sua influência no
cutissem heróis navais tinham grande imaginário popular britânico tem sido
interesse popular no mundo anglo-saxão, muito acentuada.
pois o poder marítimo foi o instrumento Nascido em plena Guerra dos Sete
que permitiu, por cerca de 300 anos, que Anos, cedo entrou para a RN, distinguin-
o Império Britânico dominasse as linhas do-se em combate até liderar as forças
de comunicação mundiais. Esse domínio navais britânicas no Mediterrâneo contra a
significou uma supremacia comercial França no início do século XIX. Vencedor
relevante. Segundo Paulo Visentini, “a de três grandes batalhas navais no período
supremacia naval também foi determi- napoleônico, Aboukir, Copenhagen e
nante para que a Inglaterra tenha sido Trafalgar, veio a falecer nesta última. Por
pioneira no desenvolvimento capitalista suas ações consideradas heroicas, teve um
industrial”.3 Assim, o mar foi fundamental funeral solene na Catedral de Saint Paul,
para os interesses britânicos. no qual compareceram o rei da Inglaterra
Por sua história naval passaram no- e toda a hierarquia real e governamental.
mes que suscitam o imaginário nacional Em torno de seu nome criou-se uma aura
britânico e a necessidade de disseminar de invencibilidade em combate e no
trabalhos biográficos sobre seus feitos. cumprimento do dever profissional. O rei
Francis Drake, Walter Raleigh, Robert Jorge III diria, logo após sua morte, que
Blake, George Monck, George Anson, “os transcendentes e heroicos serviços do
Edward Hawke e John Jervis foram re- Visconde Lorde Nelson permanecerão,
presentados e construídos como heróis e segundo penso, para sempre no imaginário
formadores da Marinha Real (RN) e da do meu povo”4. E assim permaneceram.
própria nacionalidade britânica no século Entretanto, a vida privada de Nelson
XIX, originando um grande número de estava longe de ser tão triunfal. Sua atitude
biografias. O propósito de tal construção perante o sexo feminino demonstrava uma
era claro e inquestionável: enaltecer fei- imaturidade sentimental que deixava per-
tos e ações de homens tornados heróis plexos seus mais chegados companheiros.
que “construíram” a nação que surgia O Capitão Fremantle, um de seus amigos
vigorosa a partir do mar. Entretanto, o mais próximos, disse, em 1795, o seguin-
nome mais reverenciado e biografado foi te: “Jantei com Nelson... Dolly a bordo
e tem sido até hoje o de Horatio Lorde [o objeto de desejo de Horatio, a cantora
Nelson (1758-1805). lírica Adelaide Correglia]... Ele [Nelson]
Oficial de Marinha com maior número se tornou ridículo com aquela senhora”5.
de biografias escritas no UK, Nelson tem Naquele ano, Nelson completaria oito
sido discutido e analisado nas escolas anos de casado com Frances Nisbet. O
de altos estudos navais de todo o mundo grande escândalo ocorreria poucos anos

3 VISENTINI, Paulo Fagundes; PEREIRA, Analúcia Danilevicz. História do Mundo Contemporâneo. Pe-
trópolis: Vozes, 2008, p.19.
4 HARRISON, James. The life of honorable Horatio Lord Viscount Nelson. V.1. London: Ranelagh Press,
1806, p. 2.
5 MORRISS, Roger. Nelson. The Life and Letters of a hero. London: Collins & Brown, 1996, p. 63.

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HORATIO LORDE NELSON, O HERÓI POLÊMICO, SEGUNDO ALFRED THAYER MAHAN E
SIR JOHN KNOX LAUGHTON – Parte I

depois, quando, como contra-almirante,


reencontrou Emma Hamilton, esposa do
embaixador britânico no Reino das Duas
Sicílias, Sir William Hamilton, e com ela
manteve um relacionamento amoroso até
a sua morte, culminando com o nascimen-
to de uma filha, Horatia, quando Emma
ainda mantinha-se casada com o sempre
passivo Sir William. Um escândalo na
sociedade britânica, moralista e precon-
ceituosa, em especial com membros de
seu próprio círculo.
Ademais, Nelson desobedecia frontal-
mente ordens emanadas de seus superio-
res, se elas ferissem seus anseios de glória
e honra e significassem contemporizar
com seus inimigos. Em Nápoles, por oca-
sião da revolta jacobina em 1799 contra Horatio Lorde Nelson
o rei das Duas Sicílias, Nelson aceitou a
rendição dos revoltosos quando já ocorria grafia naval. A primeira, escrita em 1895
a prometida anistia geral. Em seguida, pelo historiador britânico Sir John Knox
determinou o julgamento do príncipe Ca- Laughton, e a segunda pelo historiador
racciolo, um dos líderes da revolta. Depois norte-americano Alfred Thayer Mahan
de especificada a culpa de Caracciolo pelo em 1897, exatamente no período que Peter
tribunal, concordou com sua execução pú- Gay apontou como o ápice do período
blica, apesar da promessa de anistia, fato vitoriano no UK.
que maculou sua biografia. Mesmo com O inglês Sir John Knox Laughton
esses percalços, Nelson continuou a ser o (1830-1915), professor de História do
grande paradigma de herói para o inglês King´s College, em Londres, foi o pri-
comum. Esses pecados foram relevados meiro intelectual britânico que estudou
em prol da defesa da Grã-Bretanha (GB) a História Naval de seu país em bases
em sua luta contra Napoleão. científicas no século XIX. Em 1893,
Em 2005 houve grandes comemora- tornou-se secretário e fundador da Navy
ções no UK, pelo aniversário de 200 anos Records Society, instituição de produção
de sua morte na Batalha de Trafalgar. historiográfica que até hoje dissemina e
Foi incentivada pelo governo britânico a incentiva a pesquisa de História Naval no
produção de novas biografias desse he- UK. Em 1907, foi elevado a cavaleiro da
rói. O mito heroico de Nelson continuou Ordem do Banho, vindo a ser considera-
presente, passados 200 anos de sua morte do um dos mais importantes intelectuais
em Trafalgar. Muitas das biografias de ingleses do século XIX6.
Nelson escritas anteriormente já tinham se Seguidor do historiador alemão Leo-
tornado clássicas. Duas delas, inclusive, pold Von Ranke, por convicção e método,
transformaram-se em marcos na historio- Laughton escreveu cerca de 23 livros,

6 SCHURMAN, Donald. The Educaion of a Navy. London: Cassell, 1965, p. 83.

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HORATIO LORDE NELSON, O HERÓI POLÊMICO, SEGUNDO ALFRED THAYER MAHAN E
SIR JOHN KNOX LAUGHTON – Parte I

sendo que três deles foram ou biografias partir da história naval inglesa, as razões
completas ou ensaios biográficos de desse predomínio e, como consequência,
marinheiros ingleses. Em 1895 lançou formulou uma teoria de emprego de poder
no mercado editorial essa conhecida bio- marítimo muito discutida nas escolas de
grafia sobre Nelson, complementada por altos estudos navais ocidentais. Para ele, o
um ensaio sobre esse personagem naval mar era o centro das disputas entre estados
escrito em sequência. Em toda a sua obra, e, por conseguinte, quem o dominasse
Nelson aparece como o protótipo do herói prevaleceria no difícil e sempre tumul-
nacional, responsável pela derrota naval tuado ambiente internacional. O nome
de Napoleão, impossibilitando o desem- de Mahan está intimamente ligado ao da
barque francês no UK. Escola de Guerra Naval norte-americana,
Além dessa visão heroica de seu per- onde lecionou Estratégia e História Naval
sonagem, Laughton foi o grande respon- por muitos anos, vindo a ser um de seus
sável pelo estabelecimento da profissão primeiros professores. Apesar de não ser
de historiador naval no UK, tradição que historiador acadêmico como Laughton,
perdura até hoje no King´s College, com Mahan escreveu cerca de 20 livros, a
pesquisadores do quilate de Andrew Lam- maioria abordando assuntos relativos a
bert e Geoffrey Till. Laughton, apesar de História, Estratégia, Política e Relações
acreditar em Deus, não era um religioso; Internacionais. Em razão de suas limita-
no entanto, era um conservador típico ções teórico-metodológicas, Mahan relu-
vitoriano, espelhando uma característica tava em pesquisar documentação primária
típica de sua classe social. arquivística, preferindo, em vez disso,
Um fato interessante era que Laughton utilizar obras prontas e, a partir delas,
utilizava amplamente o método com- formular conceitos estratégicos navais.
parativo em suas pesquisas; no entanto, Uma dessas formulações foi o que viria a
acreditava que o historiador não deveria ser o Poder Marítimo (Sea Power).
conjeturar o futuro, tarefa que imputava Mahan foi criado em uma profunda fé
aos políticos. Para ele o passado e o pre- religiosa protestante, e seu modo de proce-
sente eram os instrumentos de trabalho do der era conservador e moralista, refletindo
historiador profissional. Ele conseguiu, essa postura diretamente nos seus textos.
ainda, disponibilizar e organizar diversos No que diz respeito a sua visão de poder,
arquivos históricos que estariam perdidos ele indicou que existiam seis elementos
ou mesmo indisponíveis para pesquisa. fundamentais que compunham o poder
Por sua atuação marcante, Laughton tem marítimo: a posição geográfica, a con-
sido considerado por diversos historiado- formação física, o tamanho do território,
res ingleses como o pai da historiografia o tamanho e caráter da população e, por
naval moderna.7 fim, o caráter do governo. No elemento
O oficial da Marinha norte-america- caráter da população, Mahan afirmou que
na Alfred Thayer Mahan (1840-1914) a propensão natural para o mar constituía
lançou, em 1890, seu clássico livro The um importante fator para o fortalecimento
Influence of Sea Power upon History desse poder marítimo. Nesse elemento,
1660-17838, no qual procurou explicar, a Mahan citava frequentemente Horatio

7 LAMBERT, Andrew. The Foudations of naval history. London: Chatham, 1998, p. 61.
8 MAHAN, Alfred Thayer. The Influence of Sea Power upon History 1660-1783. Boston: Little Brown, 1890.

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HORATIO LORDE NELSON, O HERÓI POLÊMICO, SEGUNDO ALFRED THAYER MAHAN E
SIR JOHN KNOX LAUGHTON – Parte I

Nelson, representante ideal desse fator, documentação primária, transformando


que para ele corporificava o heroísmo seu trabalho em uma obra de referência.
britânico no seu sentido mais puro. A Para Mahan, Nelson possuía as qualida-
partir das ações estratégicas e táticas desse des que o fizeram a “corporificação” do
personagem, Mahan constituiu parte de poder marítimo da GB, daí o título de seu
sua teoria de poder, enaltecendo a ofen- livro10. O que mais fez com que Mahan
siva, a batalha decisiva e a liderança em fosse admirado no UK foi a sua inclinação
ação de combate, fatos que emanavam da natural pela história naval britânica e sua
personalidade de Nelson. Para Mahan, afeição por tudo o que vinha das ilhas,
Nelson era o “herói” naval por excelência. apesar de ser norte-americano. Por essa
Em razão desse interesse, Mahan escreveu biografia foi premiado e enaltecido como
uma biografia sobre Nelson em 1897, em um dos grandes nomes da historiografia
dois volumes, que se tornou um clássico naval contemporânea11.
da literatura naval9. Como uma exceção Ambos os biógrafos eram personagens
ao seu método de pesquisa, Mahan pro- do século XIX e, assim, escreviam para
curou retratar a vida de Nelson a partir de um público ávido por biografias de heróis,
especialmente se representassem o nacio-
nalismo inglês, seguindo uma tendência
de enaltecimento de heróis típica desse
século. Segundo Sabina Loriga, muitos
autores do século XIX consideravam
que “o espírito de uma época ou civili-
zação não podia ser entendido a não ser
por intermédio da realização pessoal de
grandes protagonistas”12, e como tal os
grandes homens é que faziam a história,
em uma concepção muito comum na-
quele período. As biografias de ambos
os autores vieram a se agregar a outras
que reafirmaram o poder carismático e
heroico de Nelson na memória de seu
país, reiterando a “aura” do personagem
invencível no imaginário britânico.
A presente série de artigos pretende
pesquisar as similaridades e discordâncias
entre as visões de Laughton e Mahan ao
Alfred Thayer Mahan descreverem seu biografado, utilizando
o método comparativo. Não se deseja

9 MAHAN, Alfred Thayer. The Life of Nelson:the embodiment of the sea power of Great Britain. 2v. Boston:
Little Brown, 1897.
10 Embodiment foi traduzido como corporificação.
11 SUMIDA, Jon. Inventing Grand Strategy and teaching command: the classic works of Alfred Thayer
Mahan reconsidered. Washington: John Hopkins University Press, 1997, p. xi.
12 LORIGA, Sabina. “A biografia como problema”. In: REVEL, J. Jogos de escalas: a experiência da micro-
-análise. Rio de Janeiro: FGV, 1998, p. 233.

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HORATIO LORDE NELSON, O HERÓI POLÊMICO, SEGUNDO ALFRED THAYER MAHAN E
SIR JOHN KNOX LAUGHTON – Parte I

escrever uma nova biografia de Nelson, a história”.13 Ele concluiu sua ideia sobre
ou mesmo analisar pontos obscuros de sua a importância da Psicologia para o histo-
trajetória, mas sim discutir as percepções riador afirmando que “o historiador pro-
que Laughton e Mahan tiveram de seu “he- fissional tem sido sempre um psicólogo...
rói” e verificar se percebiam as qualidades ele opera com uma teoria sobre a natureza
e os defeitos de Nelson da mesma maneira, humana... atribui motivos, estuda paixões,
apesar de provirem de países distintos, de analisa irracionalidades... descobre causas
meios sociais desiguais, de percepções de e sua descoberta geralmente inclui os atos
vida e de profissões diferentes. mentais”.14 Motivos, paixões, irraciona-
Esta análise complementará, de modo lidades e causas são o que se procurará
amplo, o papel dos dois autores como analisar nos textos de Laughton e Mahan.
historiadores do poder marítimo, demons- Dessa forma, o objetivo geral desta
trando a importância dessas biografias série de artigos será comparar as biogra-
para o estudo da História Naval. Qual fias de Horatio Lorde Nelson escritas por
seria o papel do exemplo pessoal heroico Sir John Knox Laughton e Alfred Thayer
nessa afirmação do predomínio naval? Mahan, de modo a apontar similaridades e
Como esse exemplo influenciou esses diferenças de percepção utilizando o méto-
biógrafos? Quais as características de lide- do comparativo, a fim de demonstrar se o
rança de Nelson apontadas por Laughton que Laughton e Mahan eram e acreditavam
e Mahan? Como os biógrafos encararam interferiu no modo como eles perceberam
as máculas reconhecidas de Nelson? De e escreveram sobre Lorde Nelson.
que maneira essas biografias ajudaram a A vida de Horatio Lorde Nelson sus-
reafirmar a imagem de Nelson como “mo- citou interesse dos pesquisadores desde a
delo de herói” para o UK? Seria Nelson sua morte, em 1805. Sem considerar os
um personagem efetivamente polêmico? manuscritos e os documentos arquivísti-
Pouco se tem discutido acerca das cos publicados, foram escritos, na forma
biografias escritas por Laughton e Mahan. de poemas, elogios e panfletos diversos,
Mesmo fora do Brasil, poucos historia- cerca de 41 trabalhos no século XIX.
dores, notadamente norte-americanos e Foram também publicadas 31 biografias
ingleses, chegaram a pesquisar especifi- completas sobre ele naquele século,
camente essas biografias. Trabalhos sobre segundo levantamento documental e bio-
História Naval, assim como pesquisas gráfico de Leonard W. Cowie15.
específicas sobre heróis, como percebidos A primeira biografia relevante de Lor-
pela historiografia, ainda são raros no Bra- de Nelson foi escrita em 1802, quando ele
sil, preteridos por assuntos mais atrativos ainda vivia. O autor foi John Charnock16,
aos historiadores nacionais. que muito o admirava, que se dedicou ao
É sempre oportuno mencionar o histo- trabalho logo após a Batalha de Copenha-
riador Peter Gay, que afirmou que “toda a gen, tendo inclusive devotado mais de um
história é, em alguma medida, psico-his- terço do texto descrevendo essa batalha e
tória, e a psico-história não pode ser toda suas preliminares. Charnock foi um vo-

13 GAY, Peter. Freud para historiadores. 2.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1989, p. 13.
14 Ibidem, p. 25.
15 COWIE, Leonard W. Lord Nelson 1758-1805, a bibliography. London: Meckler, 1990.
16 CHARNOCK, John: Biographical memoirs of Lord Viscount Nelson, with observations, critical and
explanatory. H.D. Symonds & J. Hatchard, London, 1802.

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HORATIO LORDE NELSON, O HERÓI POLÊMICO, SEGUNDO ALFRED THAYER MAHAN E
SIR JOHN KNOX LAUGHTON – Parte I

luntário na RN e utilizou extensivamente recebeu críticas de Laughton por discutir


informações orais e cartas escritas por anedotas e informações que não puderam
Nelson fornecidas pelo Capitão William ser comprovadas por outros pesquisadores
Locker. Essa biografia recebeu o título de que trabalharam com o tema. Em que pese
Biographical Memoirs of Lord Viscount essas observações de Laughton, o trabalho
Nelson with observations, critical and de Harrison é bem documentado e não
explanatory. deve ser abandonado.
A segunda biografia que merece co- A terceira biografia escrita no século
mentários foi a escrita por James Harrison XIX que merece registro foi a de autoria
em dois extensos volumes, em 180617, de Robert Southey, de 181318. Southey
logo depois da morte de Nelson. Muito ficou conhecido no Brasil por escrever
do que foi discutido por Harrison em uma história do Brasil sem ter visitado o
seu vasto trabalho incluiu cartas escritas nosso país, a partir apenas de documenta-
e recebidas por Nelson e parte de sua ção coletada na Inglaterra e em Portugal.
correspondência (cerca de 139 cartas) Seu livro é considerado um clássico da
com Emma Lady Hamilton. Essa obra literatura naval, sendo muito comentado
por Peter Gay em sua grandiosa obra em
cinco volumes A Experiência Burguesa
da Rainha Vitória a Freud. Para sua bio-
grafia, o autor baseou-se em comentários
de seu irmão Tom Southey, um tenente a
bordo do navio HMS Bellona, que parti-
cipou ativamente da campanha do Báltico
conduzida por Nelson. Além dessa fonte
de informações, Southey utilizou cartas
e documentos fornecidos pelo irmão de
Nelson, pelo Duque de Clarence e por
Lorde Hood e Lady Nelson.
A quarta obra destacada publicada
sobre Nelson foi a compilação de suas
cartas e seus despachos por Sir Nicholas
Harris Nicolas. Nessa monumental obra
de sete volumes, escrita entre 1844 e
1846, Sir Nicholas compilou 3.500 cartas
e despachos do herói inglês. Essa publica-
ção é considerada a referência para quem
pretende escrever uma biografia sobre
Nelson19. Muitas dessas cartas estão arqui-
Sir John Knox Laughton vadas atualmente na Biblioteca Britânica
(British Library).

17 HARRISON, The Life of the Right Honourable Horatio Lord Viscount Nelson. 2v. London: Ranelagh
Press, 1806.
18 SOUTHEY, Robert. The Life of Nelson. London: Cassell and Co, 1909.
19 NICOLAS, Harris Nicholas. The despatches and letters of vice-admiral Lord Viscount Nelson. 7v. London:
Henry Colburn, 1844-1846.

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HORATIO LORDE NELSON, O HERÓI POLÊMICO, SEGUNDO ALFRED THAYER MAHAN E
SIR JOHN KNOX LAUGHTON – Parte I

A quinta biografia relevante escrita esse herói, que era uma referência para o
no século XIX foi a de Sir John Knox autor. Tive, junto com o Capitão de Mar
Laughton, em 1895, que servirá de re- e Guerra William de Sousa Moreira, meu
ferência para este estudo comparativo20. amigo e colega de turma da Escola Naval,
Essa obra deve ser lida em conjunto com a grata satisfação de trabalhar na revisão
outro trabalho de Laughton, de 1899, que desse livro, a pedido do próprio Almiran-
levou o nome de The Nelson Memorial: te. O destino, como sempre implacável,
Nelson and his companions in arms21. As nos surpreendeu com o falecimento de
duas obras devem ser lidas conjuntamen- nosso estimado mestre e amigo antes de
te, pois, além de serem complementares, que ele visse seu livro lançado no mercado
são referências para quem estuda a vida editorial nacional. Uma perda até hoje
de Nelson, apresentando o resultado da sentida por mim e pelo William.
investigação conduzida por Laughton, que A questão central básica norteadora
primou por seu rigor metodológico, e uma desta série é: De que maneira Sir John
pesquisa arquivística de mérito. Knox Laughton e Alfred Thayer Mahan
A sexta biografia escrita no século descreveram o herói Nelson em suas
XIX que merece registro foi a de autoria biografias? Seriam as percepções idên-
de Alfred Thayer Mahan, que será a obra ticas? Quais as diferenças entre essas
de referência para a comparação com o percepções? Presume-se que ambos per-
trabalho de Laughton. Em dois volumes, ceberam Nelson como militar de formas
recebeu o título de The Life of Nelson: semelhantes, variando em intensidade e
the embodiment of the sea power of Great duração textual; no entanto, na discussão
Britain. Mahan, nessa biografia, utilizou de sua vida privada, as visões parecem ter
extensivamente documentação primária, sido distintas. Laughton, por ser vitoriano
em especial as cartas de Nelson. A rele- e pouco dado a grandes paixões, procurou
vância desse trabalho reside em seu nível criticar moderadamente as “escapadas”
de detalhamento e na importância que amorosas de seu herói, em especial seu
Mahan teve e tem na estratégia naval. relacionamento com Lady Hamilton,
Sua visão de Nelson o correlaciona con- que resultou em uma filha adulterina,
tinuamente com a concepção estratégica procurando mencionar certos aspectos
naval por ele formulada, sendo, assim, um pouco lisonjeiros da conduta de Nelson de
trabalho original e criativo. modo superficial, ou simplesmente nada
Embora não existam biografias de mencionando. Mahan, por outro lado, por
Nelson de autores brasileiros no século ser um admirador explícito de Nelson,
XIX, é importante mencionar que o Al- buscou enaltecer com maior intensidade
mirante Armando Vidigal escreveu no os aspectos militares heroicos e geniais
Brasil, em 2009, uma biografia sobre esse de Horatio Nelson, ao mesmo tempo em
personagem, publicada postumamente em que procurou criticar intensamente as
2011. Trabalho excepcional de síntese e “escapadas” de seu herói, em razão de sua
reflexão, essa obra do Almirante Vidigal religiosidade extremada e seu conserva-
foi a primeira a ser escrita no Brasil sobre dorismo social exagerado.

20 LAUGHTON, John Knox. Nelson. London: MacMillan and Co, 1895.


21 LAUGHTON, John Knox. The Nelson Memorial:Nelson and his companions in arms. London: George
Allen, 1899.

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HORATIO LORDE NELSON, O HERÓI POLÊMICO, SEGUNDO ALFRED THAYER MAHAN E
SIR JOHN KNOX LAUGHTON – Parte I

diversos personagens que conviveram


com Nelson, e nas próprias missivas do
herói com pessoas de seu relacionamento.
Foi, com certeza, um trabalho rigoroso e
científico por parte de Laughton, sempre
preocupado com o método histórico.
Por outro lado, a vida de Nelson para
Laughton se inseria como um estudo
de caso típico, ao procurar demonstrar
a singularidade de sua personalidade e
ações e, o mais interessante, demonstrar
o ponto de vista de Nelson sobre deter-
minado fato ou situação, quase como a
descrição de um caso extremo, dentro
do universo naval britânico no século
XVIII. Nelson, para Laughton, era a
“corporificação do valor, do heroísmo,
do patriotismo e da devoção”24.
Quanto ao contexto da época em que
Nelson viveu, Laughton procurou inseri-
-lo no ambiente naval e social do período,
Primeira biografia de Nelson por Sir Laughton apontando as escolhas, as incertezas e as
opções oferecidas a ele durante sua car-
Como dito em 1889, Sir John Knox reira naval, além de seus sentimentos em
Laughton lançou no mercado editorial relação a outros personagens.
britânico Nelson, seu primeiro trabalho Seu modo de pensar vitoriano o fez re-
biográfico sobre esse herói naval inglês. fletir sobre se determinado ponto discutível
Livro baseado em larga documentação da vida de seu herói deveria ser explorado
primária, tornou-se uma obra fundamental ou simplesmente evitado. Laughton se
para quem trabalha com a vida de Nelson. encaixou perfeitamente no que Gay afir-
Sete anos depois, Laughton lançou o seu mou ser a prática de respeitar a invasão de
segundo trabalho biográfico sobre esse privacidade de olhos indiscretos, ocultan-
personagem, The Nelson Memorial 22, do ou pouco discutindo casos de cobiça,
um “complemento ao trabalho de 1889”, fraqueza extrema ou sensualidade do seu
segundo suas próprias palavras23. Ao biografado. As experiências erótico-amo-
todo foram 240 páginas divididas em 11 rosas de Nelson foram pouco discutidas
capítulos para Nelson e 351 páginas em por ele, ao contrário de Mahan. Afinal,
oito capítulos para The Nelson Memorial. pode-se imaginar Laughton pensando
Foi um trabalho apoiado em provas consigo mesmo: “Por que expor aspectos
coletadas durante a pesquisa, fundamen- amorosos de Nelson, se o mais importante
talmente a correspondência pessoal de foi o que ele realizou em defesa da GB?”.

22 Idem.
23 LAUGHTON, John Knox. The Nelson Memorial. op. cit. p. 344.
24 LAUGHTON, John Knox. The Nelson Memorial.op. cit. p. 3.

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HORATIO LORDE NELSON, O HERÓI POLÊMICO, SEGUNDO ALFRED THAYER MAHAN E
SIR JOHN KNOX LAUGHTON – Parte I

Mahan procurou apontar Nelson como


um caso extremo, ao indicar a excepcio-
nalidade de sua personalidade e de suas
ações, além de seu universo, por meio de
sua documentação ativa. O envolvimento
de Mahan foi total, quase um casamento.
Considerando sua falta de experiência e
pouca propensão à pesquisa arquivística,
sua biografia foi um trabalho monumental,
trabalhoso e paradigmático. Para Mahan, a
biografia de Nelson tinha como propósito
“apresentar os traços [de Nelson] em sua
totalidade, sem suprimir nada e em pro-
porções relativas devidas para produzir
sem embaçar ou distorcer aspectos vistos
por lentes imperfeitas”25. Estudar Nelson
e a Marinha britânica do século XVIII sem
o livro de Mahan é uma lacuna importante
A vida de Nelson na obra de Alfred Mahan em qualquer pesquisa.
Por certo, algumas vezes o estilo re-
Da mesma forma, como mencionado, buscado das palavras no texto dificultava
Alfred Mahan lançou o seu livro The Life o entendimento do que ele efetivamente
of Nelson – The embodiment of the sea po- desejava. Como exemplo, ao descrever
wer of Great Britain, como Nelson se sen-
em dois volumes, tia em relação ao
em 1897, um ano de- Estudar Nelson e a Marinha amor, Mahan procu-
pois de The Nelson britânica do século XVIII rou não citar Emma
Memorial. O pri- explicitamente, mas,
meiro volume, que sem o livro de Mahan é por detrás de suas
abarcou o início da uma lacuna importante em afirmativas, ela se
vida de Nelson até encontrava lá todo
o choque com o Al-
qualquer pesquisa o tempo. O mais
mirante Lord Keith, interessante era que
seu comandante no Mediterrâneo em 1799, Mahan estava descrevendo o casamento
totalizou 454 páginas em 13 capítulos. O de Nelson com Frances Nisbet e não sua
segundo volume abarcou desde 1799 até futura relação com Emma26.
a sua morte, em Trafalgar, perfazendo 398 Seu texto chega a ser excessivamente
páginas com mais dez capítulos. laudatório do desempenho profissio-
Sua preocupação em detalhar os di- nal de seu herói, isso não significando
versos aspectos da vida do herói naval que perdoasse as escapadas sexuais de
foi maior que a de Laughton, mais preo- Nelson e seus erros de julgamento em
cupado com a uniformidade biográfica. certas ocasiões. Com uma personalidade

25 MAHAN, Alfred Thayer. The Life of Nelson, v. 1. op. cit. p. 3.


26 MAHAN, Alfred Thayer. The Life of Nelson, v1. op. cit. p. 67.

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HORATIO LORDE NELSON, O HERÓI POLÊMICO, SEGUNDO ALFRED THAYER MAHAN E
SIR JOHN KNOX LAUGHTON – Parte I

“misturada com fortaleza e fraqueza, com no seu texto e isso não foi escondido
grandes erros e virtudes, porém com um por ele, demonstrando claramente que
charme por todos percebidos”27, Nelson a imparcialidade, embora procurada por
era seu modelo. Pode-se perceber clara- qualquer historiador, é de difícil controle.
mente sua admiração explícita pelo seu Como qualquer ser humano, o historiador
biografado. Laughton foi mais contido é um produto de seu tempo e de suas
que Mahan, embora o admirasse ao ex- experiências de vida.
tremo. Disse Mahan que “raramente um Seja qual for a interpretação mais
homem foi mais favorecido no seu tempo conveniente, se a de Laughton ou a de
de existência e nunca tão afortunado no Mahan, deixo aos leitores a decisão de
momento da morte”28 como Nelson. Seu qual explicação será a mais conveniente
modo de pensar teve reflexos diretos na e pertinente. Como sempre, os heróis
descrição, em especial na sua análise da são referências nem sempre compreensí-
conduta de Nelson em relação a Emma. veis. Ao final da série, talvez os leitores
Suas críticas sobre essa conduta foram tenham uma compreensão de quem era
mais contundentes que as de Laughton, esse homem que continua sendo um fa-
fruto de sua religiosidade extremada que rol para todos os marinheiros do mundo.
pouco perdoava desvios de conduta. E Talvez, com estes artigos, o leitor possa
essa parece ser uma grande diferença compreender que nem sempre os heróis
em relação à percepção que Laughton são seres imaculados sem defeitos. Muito
teve de seu herói, pelo menos naquilo pelo contrário, são personagens de carne
que foi escrito. Por certo, por provir de e osso, cometendo erros e acertos, mas,
uma outra cultura, a norte-americana, no entanto, com atitudes que deixaram
pouco influenciada pelo modo britânico marcas em suas sociedades, dignas de
vitoriano de ser, Mahan não economizou reconhecimento. Ao final da série, a de-
adjetivos para classificar certos atos de cisão será do leitor.
Nelson e de Emma. Sua religiosidade e Na parte 2, teremos o início da trajetó-
seu moralismo tiveram maior impacto ria de Horatio Lorde Nelson.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:


<NOMES>; Vultos Navais;

27 Ibidem, p. 3.
28 Ibidem, p. 2.

RMB2oT/2019 121
O COMANDANTE-ALUNO NA ESCOLA NAVAL

RONALD DOS SANTOS SANTIAGO*


Capitão de Mar e Guerra (RM1)

O Estatuto dos Militares, no seu Ar-


tigo 34, especifica: “Comando é a
soma de autoridade, deveres e respon-
reflexo do nível de confiança recebida do
comando da Escola Naval.
Como em boa parte o processo depende
sabilidades de que o militar é investido do desempenho escolar do aspirante, é
legalmente quando conduz homens ou comum que este chegue ao 4o ano com a
dirige uma organização militar. O co- experiência de ter sido o 01 da turma em
mando é vinculado ao grau hierárquico anos anteriores e até mesmo no Colégio
e constitui uma prerrogativa impessoal, Naval ou em colégios militares, como co-
em cujo exercício o militar se define e se ronel-aluno. Estas experiências anteriores
caracteriza como chefe.” contribuem para o seu amadurecimento e
Nós que cursamos a Escola Naval sem- preparo para liderar.
pre nos referimos com a devida deferência De acordo com as Normas do Comando
ao comandante-aluno da nossa turma, pois do Corpo de Aspirantes (EN-30), o coman-
temos pleno conhecimento do processo dante-aluno tem as seguintes atribuições:
que o levou a ser designado. Obviamente, – assessorar o comandante do Corpo
nos lembramos também da sua liderança de Aspirantes em tudo que este julgar
perante o Corpo de Aspirantes, que é necessário;

* Serviu na Amazônia por cerca de sete anos: NPaFlu Amapá (imediato); Comando da Flotilha do
Amazonas (assistente); Estação Naval do Rio Negro (chefe do Depto Industrial); Delegado Fluvial
de Tabatinga; Comando do 8o DN (chefe do Estado-Maior) e Comandante do Grupamento Naval do
Norte. Colaborador costumeiro da RMB.
O COMANDANTE-ALUNO NA ESCOLA NAVAL

– conduzir, liderar e representar o – coordenar o cumprimento do pro-


Corpo de Aspirantes; cedimento de abandono da parte alta da
– Coordenar e supervisionar o Corpo ilha por ocasião das férias dos aspirantes.
de Aspirantes no cumprimento das ordens Os aspirantes que são 1o lugar no 1o e
em vigor; no 2o ano e os que são 1o lugar por Corpo
– Comandar o Corpo de Aspirantes nos (Armada, Fuzileiro Naval e Intendente)
diversos locais em que estejam concentra- do 3o e do 4o ano usam um distintivo no
dos os aspirantes; uniforme. Trata-se de uma estrela dourada
– quando todos os aspirantes entrarem que os identificam como chefes de classe.
no rancho, disseminar o “à vontade” para
que se sentem. Após todos os aspirantes
se servirem, disseminar o “à vontade”
para que se retirem do rancho, mediante
autorização do oficial mais antigo presente;
– ser o porta-bandeira e manter a
guarda-bandeira em condições máximas
de adestramento e apresentação;
– avaliar as solicitações dos aspirantes
das quatro turmas e apresentá-las de ma- Distintivo de chefe de classe
neira coerente e adequada ao comandante
do Corpo de Aspirantes, via imediato do O aspirante do 4o ano designado como
Corpo de Aspirantes, e/ou aos seus oficiais; comandante-aluno, além da estrela dou-
– sugerir, mediante consulta prévia rada, também usa um distintivo que o
aos aspirantes, via imediato do Corpo de distingue dos demais aspirantes. Trata-se
Aspirantes, o calendário para período de de um distintivo retangular de cor prateada
testes e provas parciais; formado por seis barras igualmente espa-
– colaborar com os oficiais do Corpo çadas medindo externamente 4,3 x 1,5 cm.
de Aspirantes na realização de fainas
administrativas referentes ao Corpo de
Aspirantes;
– estar presente em todas as atividades
nas quais o Corpo de Aspirantes estiver
envolvido, como, por exemplo, competi-
ções esportivas, eventos culturais, cerimô-
nias, bailes, atividades de representação Distintivo de comandante-aluno
interna e externa etc;
– procurar, antes de tudo, ser um O regulamento da Escola Naval es-
aspirante exemplo tanto para os demais tabelece que o comandante-aluno será o
aspirantes como para os oficias, tendo em 01 do Corpo da Armada do 4o ano. Este
mente que sua conduta e caráter ilibados regulamento já teve outras versões que
servem de referência, refletindo na lide- permitiram, por exemplo, que, em 1981,
rança do Corpo de Aspirantes; o 01 do Corpo de Intendentes, Sidney dos
– confeccionar um relatório de passa- Santos Neves, e, em 1989, o 01 do Corpo de
gem de cargo, por ocasião da passagem Fuzileiros Navais, Jhony Ki Su Lee, fossem
da cana do leme; e designados como comandantes-alunos.

RMB2oT/2019 123
O COMANDANTE-ALUNO NA ESCOLA NAVAL

Um pouco antes da cerimônia de for- motivo de alteração de classificação ou


matura do 4o ano, declaração de guardas- do Regulamento da Escola Naval. Cito
-marinha, presidida pelo comandante da como exemplos: em 1977, o comando foi
Escola Naval, é realizada uma formatura exercido pelo Aspirante 4001 Francisco
denominada “passagem da cana do leme”, José Umgeher Taborda e em 1980 pelo
em que o comandante-aluno passa o Aspirante 4001 José Kimio Ando.
comando ao terceiranista chefe de classe Já aconteceu também de o coman-
do Corpo da Armada. Nesta cerimônia, a dante-aluno não ser declarado o 1 o
“cana do leme” é conduzida sobre uma al- lugar como guarda-marinha, e este não
mofada pelo aspirante primeiranista mais concluir o estágio de Guardas-Marinha
moderno e entregue pelo comandante do em 1o lugar, tendo alteração na lista, por
Corpo de Aspirantes ao comandante-aluno antiguidade, dos segundo-tenentes. Como
que assume. Cerimônia simples, mas com exemplo, cito que, em 1978, o coman-
muito simbolismo. dante-aluno foi o 4001, Aspirante Carlos
Recordo-me que, na passagem da cana Freire Moreira, tendo sido declarado
do leme em 1976, o Aspirante 3001 era em 1o lugar como guarda-marinha Júlio
o intendente Abdon Baptista de Paula César Pimentel de Oliveira, e no retorno
Filho, que não pôde assumir como co- da viagem do navio-escola, em 1979, o
mandante-aluno, sendo designado o mais 1o lugar foi o Segundo-Tenente Marcos
antigo do Corpo da Armada, Aspirante José de Carvalho Ferreira.
3002 Jorge Marques de Menezes. Já na Todos os aspirantes que foram coman-
cerimônia de 1979, quem assumiu foi o dantes-alunos para sempre serão lembra-
3001, que era fuzileiro naval, Aspirante dos. Desta forma, para registrar nosso
Paulo Martino Zuccaro. respeito e nossa admiração, bem como
Com relação aos dois exemplos acima dar publicidade a estes que, por méritos
narrados, complemento que nem sempre próprios, alcançaram tal distinção, segue-
o aspirante que assume o comando na -se a relação dos aspirantes que foram
cerimônia da passagem da cana do leme comandantes-alunos em Villegagnon, de
mantém o comando no ano seguinte, por 1938 aos dias de hoje.

COMANDANTES-ALUNOS DA ESCOLA NAVAL EM VILLEGAGNON


(1938 A 2019)

1938 – Floriano Peixoto Faria Lima


1939 – Paulo Esperidião Corrêa de Andrade
1940 – Geraldo José Lins
1941 – Álvaro Alberto Filho
1942 – Antonio Augusto de Abreu Caminada
1943 – Luiz Gonzaga Langsch Dutra
1944 – Joaquim Caraciolo Peixoto de Azevedo
1945 – José Carlos de Castro Waeny
1946 – Edgar Pereira de Beauclair
1947, 1948 e 1949 – Bernard David Blower

124 RMB2oT/2019
O COMANDANTE-ALUNO NA ESCOLA NAVAL

1950 – Francisco Fernandes Quadra


1951 – Hugo Stoffel
1952 – Mário Cézar Flores e Aloysio Ferreira dos Santos
1953 – Luiz Joaquim Campos Alhanati
1954 – Antonio Cordeiro Gerk
1955 – Mauro César Rodrigues Pereira
1956 – José Luiz Lunas de Mello Massa
1957 – José Humberto de Farias
1958 – José Luiz Feio Obino
1959 – Luiz de Oliveira Machado
1960 – Luiz Carlos Treidler Franco
1961 – Carlos Peres Quevedo
1962 e 1963 – Renato Vilhena de Araujo
1964 – Izidério de Almeida Mendes
1965 – Paulo Roberto Sarmento Nicolau
1966 – Sérgio Pereira da Cunha Garcia
1967 – Altineu Pires Miguens
1968 – Ernane Calado de Souza Melo
1969 – Roberto Fernando Chedid
1970 – Ricardo de Moraes
1971 – Leonardo Silveira Carvalho de Souza
1972 – Ricardo de Lima Vallim
1973 – Gilberto Ferreira de Oliveira Mota
1974 – Carlos Alexandre Orosco Coelho Lobo
1975 – José Geraldo Pereira Barbosa
1976 – Maurício de Menezes Cordeiro
1977 – Francisco José Umgeher Taborda
1978 – Carlos Freire Moreira
1979 – Márcio Jansen Cavalcanti
1980 – José Kimio Ando
1981 – Sidney dos Santos Neves
1982 – Sérgio Lima Pinheiro Chagas
1983 – Ricardo Sbrágio
1984 – Hermes Bastos Filho
1985 – Jader Gomes da Silva Filho
1986 – Lawrence Zordam Klein
1987 – Márcio Vinícius dos Santos
1988 – Paulo Renato Rohwer Santos
1989 – Jhony Ki Su Lee
1990 – Antonio César Da Rocha Martins
1991 – Siegberto Rodolfo Schenk Junior
1992 – Gustavo Calero Garriga Pires
1993 – Wallace Campanha Seifert
1994 – Marcos André Silva Araújo
1995 – Paulo Max Villas da Silva

RMB2oT/2019 125
O COMANDANTE-ALUNO NA ESCOLA NAVAL

1996 – Victor Hugo Vianna Bustillos Villafán


1997 – Rodrigo Abrunhosa Collazo
1998 – Adriano Pires da Cruz
1999 – Ondiara Barbosa
2000 – Felipe Folgoso Sasaki
2001 – Felipe Augusto Coutinho Nascimento
2002 – Douglas Luiz da Silva Pereira
2003 – Marcus Lázaro dos Santos Oliveira
2004 – Leonardo Cardoso Souza
2005 – Carlos Henrique de Seixas Pantarolli
2006 – Leandro Campos Goulart
2007 – Luiz Marcelo Noce Romano
2008 – Rubem Couto Neto
2009 – Victor Clinquart Coimbra da Silva
2010 – João Celso Silva de Deus
2011 – Douglas Tirre Carnevale Oliveira
2012 – Guilherme Trindade Vilela
2013 – Filipe Moreira Brandão Guedes de Brito
2014 – João Paulo Rodrigues Lage
2015 – Matheus Cordeiro Wilhelm da Costa
2016 – Matheus Lima de Souza
2017 – Flávio Giro de Oliveira Filho
2018 – Rafael Machado Mota Garcia
2019 – Carlos Eduardo Ramalhoto Pereira

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:


<PESSOAL>; Aspirante; Carreira;

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BATALHA NAVAL DO RIACHUELO, PONTO
DE INFLEXÃO NA ESTRUTURAÇÃO DAS
FRONTEIRAS NA BACIA PLATINA*

OSEAS TRAJANO DE BARCELLOS**


Capitão-Tenente (AFN)

FLÁVIA MIGUEL DE SOUZA***


Historiadora

SUMÁRIO

Introdução
A Guerra do Paraguai
Considerações finais

INTRODUÇÃO apresentar a importância da vitória da Ma-


rinha Imperial brasileira na Batalha Naval

N a segunda metade do século XIX,


ocorreu na Bacia do Prata o mais
sangrento conflito armado da América do
do Riachuelo e os diversos conflitos de
interesses na região platina que concorre-
ram para a deflagração da guerra, focando
Sul, denominado de Guerra do Paraguai, nos três países originados pelo movimento
Guerra da Tríplice Aliança ou Grande de emancipação do Vice-Reino do Rio da
Guerra. Este trabalho tem o propósito de Prata envolvidos diretamente na guerra:

* Título original do artigo: "Batalha Naval do Riachuelo, um ponto de inflexão na estruturação das fronteiras
dos países da Bacia Platina durante a Guerra do Paraguai".
** Graduado em História-Licenciatura pela Universidade Estácio de Sá. Desempenha a função de coordenador
de Segurança do Ministério da Defesa.
*** Graduada em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1999), graduação em licenciatura pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro (2001) e mestrado em História Social pela Universidade Federal
do Rio de Janeiro (2003). É professora da Universidade Estácio de Sá.
BATALHA NAVAL DO RIACHUELO, PONTO DE INFLEXÃO NA ESTRUTURAÇÃO
DAS FRONTEIRAS NA BACIA PLATINA

Paraguai, Argentina e Uruguai. Apesar de e instaurou uma guerra civil entre os


a Bolívia fazer parte desse extinto vice- federalistas do interior, que exigiam
-reino, não participou da guerra, motivo autonomia provincial, e os unitaristas de
pelo qual não será citada neste trabalho Buenos Aires, que defendiam um governo
como aliada do Império do Brasil, que, forte centralizado, com uma economia
junto com a Argentina e o Uruguai for- primário-exportadora que privilegiava os
mou a Tríplice Aliança para se defender interesses dos portenhos.
das agressões e invasões provenientes do O Uruguai teve sua independência
ditador paraguaio Solano López. proclamada em 1825 pelo líder político
Essa guerra, que marcou as relações Juan Antonio Lavalleja, que expulsou os
políticas, territoriais e econômicas entre brasileiros de seu país com a ajuda de tro-
quatro países da América do Sul, teve pas argentinas. Durante os anos de 1839
relevância histórica principalmente entre e 1851, passou por uma guerra civil, oca-
os países que buscavam delimitar seu sionada pelas diferenças ideológicas entre
território. os liberais, comerciantes de Montevidéu
Os sistemas políticos existentes nesses pertencentes ao Partido Colorado, lidera-
países à época, eram, em sua maioria, dos por Frutuoso Rivera e apoiados pelo
repúblicas fragilizadas comandadas por Império brasileiro e os conservadores,
facções políticas rivais, que utilizavam integrantes do Partido Blanco, formado
a anexação de territórios e a negação da por estancieiros do interior, liderados por
livre navegação nos rios como forma de Manuel Oribe e apoiado pela Argentina de
impor seu poder político e econômico, o Juan Manuel Rosas, formando a aliança
que provocava as constantes guerras civis Oribe e Rosas.
e os conflitos entre os países vizinhos. Por fim, temos o Brasil, que teve sua in-
O Paraguai, que teve sua independên- dependência proclamada em 7 de setembro
cia proclamada em 14 de maio de 1811, de 1822 pelo imperador Dom Pedro I e foi
foi governado até a guerra por ditaduras sucedido no trono por seu filho Dom Pedro
sucessivas, sendo as mais expressivas a II. No entanto, entre essa sucessão houve
de José Gaspar Rodríguez de Francia, a um período regencial, que durou até a de-
de Carlos Antônio López e a de seu filho claração da maior idade. Para manter a in-
Francisco Solano López. Os dois primei- tegridade territorial após a independência,
ros governantes mantiveram o Paraguai o Império foi obrigado a enfrentar várias
isolado dos demais países da Bacia Plati- revoltas internas contra as províncias fiéis
na, o terceiro vislumbrou a necessidade de à coroa portuguesa e, para isso, teve que
uma abertura internacional para alavancar fortalecer a Marinha Imperial.
o crescimento econômico e social do país Durante o Segundo Reinado existiram
e, para isso, percebeu ser fundamental duas classes dominantes: os monárquicos,
uma saída para o mar. representados pelo Partido Liberal, e os
Outro país platino envolvido no escravocratas, representados pelo Partido
conflito foi a Argentina, que teve sua Conservador. Foi também nesse período
independência declarada em 9 de julho que o Império usou a diplomacia e a força
de 1816, após anos de longos conflitos militar para resolver as questões platinas e
iniciados com a Revolução de 25 de maio formar a última fronteira brasileira.
de 1810, a qual depôs o vice-rei do Rio A Guerra do Paraguai foi observada
da Prata, Baltasar Hidalgo de Cisneros, pela historiografia tradicional brasileira

128 RMB2oT/2019
BATALHA NAVAL DO RIACHUELO, PONTO DE INFLEXÃO NA ESTRUTURAÇÃO
DAS FRONTEIRAS NA BACIA PLATINA

menosprezando a importância devida aos de esquerda do Rio da Prata promoveram


países aliados, principalmente os esfor- Solano López a líder anti-imperialista”
ços argentinos, e caracterizou Francisco (Doratioto 2002, p. 19)
Solano Lopes como um ditador tirano e Seja qual for a linha de pensamento,
irresponsável, que se aproveitou da bra- todos concordam que a Guerra do Paraguai
vura dos soldados de um país agrícola. estava inserida no processo de formação
Para Doratioto (2002, p. 18) das fronteiras nacionais dos países platinos,
as quais foram definidas definitivamente
Ficou claro que, desde o final da após o fim desse conflito bélico que teve
guerra, em 1870, a historiografia tradi- seu rumo transformado após a vitória alia-
cional brasileira reduziu a importância da na Batalha Naval do Riachuelo, pois,
do aliado argentino para a vitória sobre depois dela, os países aliados passaram a
Solano López e minimizou, quando retomar os territórios invadidos pelo Para-
não esqueceu, importantes críticas guai e a controlar a navegação hidroviária
à atuação de chefes militares brasi- na Bacia do Prata, vencendo, consequen-
leiros no conflito. Em compensação, temente, a Grande Guerra.
ficou evidente que Francisco Solano
López era um ditador quase caricato A GUERRA DO PARAGUAI
de um país agrícola atrasado, autor de
erros militares que custaram a vida de A Guerra do Paraguai está inserida no
milhares de seus valentes soldados, processo de formação dos países da bacia
mas que foram motivo de suspeito platina, região de grandes divergências de
silêncio de seus admiradores futuros, interesses políticos e econômicos associa-
os revisionistas históricos. Nas últimas das diretamente aos países envolvidos no
décadas do século XX, a história da conflito. As tensões geradas durante esse
guerra foi “retrabalhada” pelo revisio- processo, principalmente as relacionadas
nismo populista, ao se criar o mito de com as definições das fronteiras e da li-
Solano López grande chefe militar e, berdade de navegação dos rios platinos,
absurdamente, líder anti-imperialista. nem sempre foram solucionadas pela via
Ao mesmo tempo, desqualificavam- diplomática. Assim, as nações que faziam
-se a atuação dos Exércitos aliados, a parte daquela bacia recorreram às forças
resistência e o sacrifício demonstrado militares para defender seus interesses,
por seus homens, lutando durante anos eclodindo na Guerra do Paraguai, cujos
longe de seus países. países vencedores, Brasil, Argentina e
Uruguai, integrantes da Tríplice Aliança,
Os revisionistas, na sua maioria for- impuseram a sua vontade geopolítica na re-
mada por intelectuais nacionalistas de gião ao Paraguai, país agressor no conflito.
esquerda da região platina, fizeram uma Será feito adiante um panorama geral
releitura do conflito a partir de um po- entre as ligações conjunturais políticas dos
pulismo, trataram Solano López como quatro países envolvidos e, separadamen-
um grande chefe militar e um líder te, as questões geopolíticas, econômicas
anti-imperialista e, ao mesmo tempo, e militares dos países abrangidos pelo
desqualificaram a atuação dos exércitos conflito, iniciando pelo Paraguai, depois
aliados. “Foi, porém, a partir de fins dos pelos componentes da Tríplice Aliança.
anos 1963 que intelectuais nacionalistas e Por fim, serão expostos os acontecimentos

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BATALHA NAVAL DO RIACHUELO, PONTO DE INFLEXÃO NA ESTRUTURAÇÃO
DAS FRONTEIRAS NA BACIA PLATINA

da Guerra do Paraguai até a vitória dos políticos do presidente Mitre, defensores


Aliados na Batalha Naval do Riachuelo, de um poder central forte, que favoreciam
a qual foi um ponto de inflexão na guerra, os comerciantes portenhos, e a oposição,
pois, até esse momento, o Paraguai saíra composta pelos federalistas apoiadores da
vencedor, e a partir dele houve uma gra- autonomia provincial, que beneficiavam
dativa retomada de territórios, com triunfo especialmente os fazendeiros.
dos países aliados em várias batalhas até o No Uruguai, dois partidos contrapu-
fim da guerra, que culminou com a morte nham-se ideologicamente: o Blanco, que
de Solano López na Batalha de Cerro representava os direitos dos pecuaristas
Corá, em março de 1870, e a vitória dos e dos proprietários rurais, liderado por
países aliados. Manuel Oribe; e o Colorado, cujo líder era
José Fluctuoso Rivera, defensor dos inte-
Conjuntura política da Região Platina resses dos comerciantes de Montevidéu
antes da Guerra do Paraguai e simpatizantes das ideias liberais. Esse
país procurava aliar-se às facções políti-
Durante os anos que antecederam a cas da Argentina, ao ditador paraguaio e
guerra, o Paraguai foi governado por ao imperador, no sentido de proteger os
sucessivas ditaduras que procuravam interesses regionais que garantisse sua
manter uma política de isolamento in- independência.
ternacional. Esse modo de administrar o No Brasil, governado pelo imperador
país durou até a assunção presidencial de Dom Pedro II, havia dois tipos de militan-
Francisco Solano López, que, sucedendo tes partidários distintos: os conservadores,
o pai, deu continuidade à ditadura lopista, que defendiam um governo imperial forte
passando a governar de forma absolutista, e centralizado; e os liberais, que lutavam
tirana e imperialista. por uma descentralização, concedendo
Solano López pretendia formar o certa autonomia às províncias. Ambos os
Grande Paraguai com uma saída para o grupos eram formados pelas elites agrárias
Oceano Atlântico, abrangendo as regiões nacionais dominantes, por isso só diver-
argentinas de Corrientes e de Entre Rios, giam ideologicamente quanto à forma de
o Uruguai, as regiões brasileiras do Rio governar, ficando as execuções políticas
Grande do Sul e do Mato Grosso e o praticamente iguais. O imperador procura-
próprio território. va manter a hegemonia regional por meio
A Argentina até tinha pretensões de da diplomacia ou da força militar.
reunificar as províncias que compunham A conjuntura política na Região Platina
o Vice-Reino do Rio da Prata, anexando apresentava forte instabilidade, devido aos
o Uruguai e o Paraguai à esfera de in- conflitos de interesses. Solano López, um
fluência de Buenos Aires, porém, após presidente imperialista, pretendia conse-
a Batalha de Pavón, ocorrida em 1861, guir uma saída para o Oceano Atlântico e
vencida pelos unitaristas, a Argentina formar o Grande Paraguai, usando a força
unificou-se, centralizando o poder em militar. O imperador brasileiro procurava
Buenos Aires e, com a assunção presi- manter a hegemonia na região e a livre
dencial de Bartolomeu Mitre, passou navegação nos rios; para tanto, fazia
a respeitar a soberania do Uruguai. Os acordos com facções políticas da região
argentinos dividiam-se em duas facções que comungavam com sua ideologia de
políticas rivais: os unitaristas, partidários independência das nações da Bacia do

130 RMB2oT/2019
BATALHA NAVAL DO RIACHUELO, PONTO DE INFLEXÃO NA ESTRUTURAÇÃO
DAS FRONTEIRAS NA BACIA PLATINA

Prata. Procurava colocar empecilhos à No final da primeira metade do século


reunificação das nações do Vice-Reino XIX, houve uma gradativa abertura nas
da Prata sob a liderança da Argentina; transações comerciais, retirando restrições
para isso, empregava sempre em primeira e aumentando o comércio exterior e, con-
instância a via diplomática e, quando essa sequentemente, as relações internacionais.
não obtinha sucesso, intervia militarmente O governo de Carlos Antonio López,
na região. No Uruguai, blancos e colora- iniciado em 1844, tinha como propósito am-
dos rivalizavam-se ideologicamente, pro- pliar o reconhecimento da independência
curando apoio político e militar externo do Paraguai internacionalmente. Para isso,
no Brasil, na Argentina ou no Paraguai foram assinados alguns acordos com as ci-
para atender a seus interesses internos. dades limítrofes, entre eles alguns Tratados
As facções políticas rivais, unitarista e de Amizade, Comércio e Navegação, pelos
federalistas da Argentina e blancos e colo- quais outorgou-se a liberdade de comércio,
rados do Uruguai, por meio de seus líderes assegurando a livre navegação nos rios da
faziam associações entre si e procuravam Bacia do Prata, e outros de limites, por meio
apoio político e militar, ora com o ditador dos quais definiam-se algumas fronteiras,
Solano López, ora com o Imperador D utilizando os rios da Bacia do Prata como
Pedro II. Para garantir seus interesses marco delimitador. Esses acordos eram
partidários nacionais e para atender aos da muito frágeis, devido aos conflitos de inte-
nação aliada regionalmente, essas coliga- resses comerciais na região.
ções ultrapassavam fronteiras nacionais, O reconhecimento da independência
fazendo crescer a instabilidade regional. do Paraguai por outros países fez surgir
um crescente comércio exterior com na-
Paraguai – Geopolítica, Economia e ções europeias – Grã-Bretanha e França
Força Militar – e com os Estados Unidos da América.
Entretanto, existia uma severa intervenção
Em 1811 o Paraguai tornou-se inde- estatal na economia, que era um incon-
pendente do Vice-Reino do Prata, der- veniente para o livre comércio, mas fazia
rotando as forças militares enviadas pela aumentar as receitas do Estado.
capital, Buenos Aires, sob o comando Parte significativa dessas receitas fis-
de Manuel Belgrano. A partir do ano de cais eram destinadas à compra de arma-
1814, o Paraguai, apesar de ser um país mento e à preparação militar do país, outra
democrático, passou a ser governado por parte destinava-se às obras de infraestru-
ditadores; nesse ano assume José Gaspar tura e a um pequeno processo industrial,
Rodríguez de Francia, que ficou na pre- com a criação de uma fundição de ferro,
sidência até 1840. Durante seu mandato de um arsenal e de um estaleiro para a
iniciou uma política de isolamento inter- montagem de navios a vapor ou para a
nacional, subtraindo os poderes da elite construção de embarcações menores, isso
oligárquica e da Igreja; assim, aumentou tudo com transferência de tecnologia e
os poderes do Estado com apoio dos pe- sob severa supervisão estatal. Esse pro-
quenos proprietários rurais. Implementou cesso de industrialização contou com a
um aparelho estatal com funcionários contratação de técnicos e de profissionais
nascido no território da recente república europeus, a maioria ingleses.
e, dessa forma, fez surgir um sentimento Em 1862 assumiu a Presidência do
de nacionalismo. Paraguai Francisco Solano López, filho

RMB2oT/2019 131
BATALHA NAVAL DO RIACHUELO, PONTO DE INFLEXÃO NA ESTRUTURAÇÃO
DAS FRONTEIRAS NA BACIA PLATINA

de Carlos Antonio López, que deu conti- que teve sua independência declarada em
nuidade à política econômica nacionalista 1813 em decorrência dos movimentos
e à ditadura lopista; no entanto, passou a emancipatórios das províncias do Vice-
intervir na livre navegação da Bacia do -Reino do Rio da Prata. A partir de então
Prata, mudando drasticamente a política apareceram duas facções partidárias: os
fluvial assegurada por governos anterio- unitaristas e os federalistas, que tinham
res, e aproximou-se politicamente, no ideias divergentes quanto às relações po-
Uruguai, do Partido Blanco, aumentando líticas e comerciais do Estado. Isso gerou
a instabilidade regional e desagradando os intensos conflitos regionais e guerras
governos da Argentina e do Brasil. civis na Argentina.
Temeroso com os planos argentinos de Os unitaristas ambicionavam um poder
reunificar o Vice-Reino do Rio da Prata e central forte sob o comando de Buenos
impelido pelo sonho imperialista expan- Aires, favorecendo os comerciantes
sionista de formar o Grande Paraguai, portenhos, e os federalistas defendiam a
Solano López mandou construir fábricas autonomia das províncias, beneficiando
de armamentos e pólvora, impulsionando especialmente a oligarquia fazendeira
a indústria bélica. Ergueu fortalezas, im- do interior. Tal divisão política interna
portou navios, reaparelhou a Marinha e impedia a formação de uma nação forte
instituiu o serviço militar obrigatório, pelo que pudesse rivalizar na América do Sul.
qual organizou um exército profissional. Em 1816 foi realizado o Congresso de
No ano da guerra, o Paraguai contava Tucumán, pelo meio do qual estabeleceu-
com um efetivo no Exército de aproxima- -se a independência total em relação
damente 77 mil homens para uma popula- à Espanha e que fez surgir um regime
ção de 400 mil habitantes. Sua Marinha era republicano com o poder centralizado em
composta de uma esquadra com 32 navios, Buenos Aires. Compareceram ao congres-
incluindo os que foram apresados do Brasil so representantes das diversas províncias
e da Argentina. Desses, 24 eram navios argentinas, exceto das províncias de Entre
de propulsão mista a vapor e vela e oito Rios, Santa Fé e Corrientes, que, conse-
eram navios exclusivamente a vela, sendo quentemente, não reconheceram a centrali-
o único navio de guerra o Taquari – todos zação da autoridade na província portenha.
eram adequados para navegar nos rios. Decorrente disso, Buenos Aires, governada
Anos antes da guerra, os paraguaios por Juan Manoel de Rosas, político de
desenvolveram secretamente, com tecno- cunho nacionalista, começou a realizar
logia nacional, um tipo de chata, que era campanhas militares contra os índios do
uma embarcação de pequeno porte e fundo Rio Colorado para ampliar as fronteiras
chato, armada com canhão de seis polega- internas da Argentina. Dessa forma, sub-
das de calibre. Por não terem qualquer tipo meteu várias províncias argentinas ao seu
de propulsão, essas chatas eram rebocadas governo, exceto Corrientes e Entre Rios.
pelos navios para os locais das batalhas. Rosas impôs a nacionalização das
águas dos rios da bacia platina quando es-
Argentina – Geopolítica, Economia e tes passavam em território argentino; ga-
Força Militar rantiu a segurança da navegação nos rios
Uruguai e Paraná, fortalecendo a política
Em 1810 foi instaurada a Junta de Bue- de controle e proteção dessas hidrovias e
nos Aires, embrião do Estado argentino, de seus vários portos, e, assim, fomentou

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DAS FRONTEIRAS NA BACIA PLATINA

a economia do interior argentino. Passou que os aproximava mais do Paraguai que


a pressionar as províncias rebeladas de do Brasil. Devido a isso, houve enormes
Corrientes e Entre Rios, pois tinha a pre- deserções nas tropas que foram enviadas
tensão de reconstruir o antigo Vice-Reino para a guerra pela Argentina, como a ocor-
do Rio da Prata, incorporando o Paraguai rida em julho de 1865, em que um quarto
e o Uruguai, tendo como ponto forte e do exército de Entre Rios, comandado por
estratégico o porto de Buenos Aires. Tal Urquiza, desertou do acampamento de
atitude era vista com desconfiança pelo Basualdo, pois seus soldados se recusa-
Brasil, pois este temia ter que rivalizar vam a lutar contra os paraguaios e muitos
a hegemonia na região com a Argentina, alistaram-se no exército de Solano López
bem como pelo Paraguai e Uruguai, que para lutar contra a tropa aliada, aderindo
temiam uma anexação territorial à força. à causa paraguaia.
Após anos de guerra civil, ocorreu
em 1861 a Batalha de Pavón, em que o Uruguai – Geopolítica, Economia e
Exército de Buenos Aires, comandado Força Militar
por Bartolomeu Mitre, venceu o Exército
Nacional, comandado por Justo José Ur- Inserido no contexto das emancipações
quiza, incorporando Buenos Aires como provinciais do Vice-Reino do Rio da Pra-
membro dominante da Confederação ta, em 25 de agosto de 1825 o líder político
Argentina, unificando definitivamente o Juan Antonio Lavlleja, com auxílio de
Estado argentino. tropas argentinas, expulsou os brasileiros
Em 1862 Bartolomeu Mitre assumiu a do Uruguai e declarou a independência do
Presidência da Argentina, centralizando país, que só foi reconhecida oficialmente
definitivamente o país, procurou manter em 1828, pela Convenção Preliminar de
uma política de livre navegação na Bacia Paz, tratado mediado pelo Reino Unido,
Platina e passou a respeitar a indepen- que estabeleceu a criação de um Estado
dência do Uruguai, o que o aproximou no Prata com nome de República Oriental
do imperador e dos colorados uruguaios. do Uruguai e garantiu a livre navegação
No início da guerra, a Argentina unifica- nos rios platinos, pondo fim à Guerra da
da contava com um Exército Nacional Cisplatina entre Argentina e o Império do
pouco expressivo, com um efetivo de Brasil, que almejavam submeter aquela
aproximadamente 6 mil homens para uma região aos seus domínios.
população de 1,730 milhão de habitantes. Após o conturbado processo emancipa-
Por esse motivo, houve a necessidade de tório emergem duas classes políticas com
mobilização de soldados para compor ideias opostas: os colorados, liderados por
as forças militares, sendo necessário José Fluctuoso Rivera, liberais e próximos
recorrer às guardas nacionais locais, as aos unitaristas argentinos, representa-
quais serviam às lideranças provinciais vam os comerciantes de Montevidéu e
regionais. Tais lideranças não se empe- contavam com a simpatia do Brasil; e os
nhavam em alistar soldados e sabotavam blancos, liderados por Manuel Caferino
a convocação. Oribe y Viana, conservadores e próximos
Outro ponto que atrapalhava era um aos federalistas argentinos, representando
grande sentimento regionalista, em opo- os pecuaristas do interior. As ideologias
sição a um nacionalismo ainda pouco divergentes desses partidos levaram o
difundido entre os argentinos, fato este Uruguai a uma guerra civil, denominada

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BATALHA NAVAL DO RIACHUELO, PONTO DE INFLEXÃO NA ESTRUTURAÇÃO
DAS FRONTEIRAS NA BACIA PLATINA

de Guerra Grande, entre os anos de 1839 firmando a hegemonia regional brasileira


e 1851, com interferência externa do Bra- e depondo Juan Manuel Rosas.
sil, da Argentina e do Paraguai, os quais O blanco Bernardo Prudencio Berro
queriam trazer o Uruguai para sua esfera assumiu a Presidência do Uruguai em
de influência. março de 1860, exercendo uma política
Ao longo do século XIX, a política para eliminar a influência do Brasil e da
externa uruguaia esteve condicionada Argentina nos assuntos internos do país.
às dinâmicas do sistema internacional Por isso, em 1861 não renovou o Tratado
platino. Em 1839, depois da renúncia do de Comércio e Navegação firmado no fim
blanco Manuel Oribe, assume a Presi- da Guerra do Prata, eliminou os privilé-
dência do Uruguai o colorado Fructuoso gios comerciais do Império e da Argentina
Rivera. Naquele mesmo ano, Oribe inicia e aproximou-se de Solano López.
um sítio de quase nove anos ao porto de As relações políticas entre Brasil e
Montevidéu, com apoio militar e finan- Uruguai, que já estavam abaladas com as
ceiro de Juan Manuel Rosas, governador políticas de Bernardo Berro, pioraram a
da província de Buenos Aires. A aliança partir de 1864 com a chegada à Presidência
formada entre Oribe e Rosas motivou a do também blanco Atanasio Cruz Aguirre,
interferência imperial no Uruguai, dando que comete arbitrariedades contra estan-
origem à Guerra do Prata, também conhe- cieiros brasileiros que vivem no Uruguai.
cida como Guerra contra Oribe e Rosas. Essa situação ficou insustentável para os
A aliança entre os blancos uruguaios interesses imperiais na região. Assim,
partidários de Oribe e os federales argen- Dom Pedro II encaminha, junto com uma
tinos partidários de Rosas ameaçava os missão diplomática, um protesto exigindo
objetivos geopolíticos do Brasil na região reparações. Aguirre prometeu cumprir
do Prata. Então, para conter o imperialis- as exigências em seis dias, porém não as
mo dos federales argentinos, Dom Pedro cumpriu; por isso, o Imperador empregou
II, depois de fracassadas as tentativas di- as tropas comandadas por João Propício
plomáticas, faz alianças com a províncias Mena Barreto e uma frota comandada por
rebeldes de Corrientes, governada por Joaquim Marques Lisboa, o Almirante
Urquiza, e de Entre Rios, governada por Tamandaré, enviada para a região com
Virasoro, e envia, em 1851, para a região intuito de defender os interesses imperiais.
uma força militar comandada por Duque Fracassadas por mais uma vez as ten-
de Caxias com as seguintes ordens: defen- tativas diplomáticas, iniciou-se mais um
der os limites do Brasil com o Uruguai, confronto armado na região, colocando
manter a independência do Uruguai e do de um lado soldados brasileiros reunidos
Paraguai, reativar a livre navegação no Rio aos insurretos uruguaios, sob o comando
da Prata, fechada desde 1842 por Rosas, de Venâncio Flores, e de outro a facção
e proteger as propriedades de brasileiros dos blancos comandada por Aguirre, que
na fronteira com Uruguai e dos persegui- pediu apoio ao Paraguai em virtude de um
dos no Uruguai por Oribe. A Guerra do acordo que havia entre eles, porém Solano
Prata termina em fevereiro de 1852 com López não mandou esse apoio.
a vitória, na Batalha de Monte Caseros, da Durante os combates ocorridos no final
aliança formada por Brasil, Uruguai e as de 1864, as tropas comandadas pelo colora-
províncias rebeldes de Corrientes e Entre do Venâncio Flores venceram as batalhas
Rios sobre a Confederação Argentina, con- de Salto e de Paissandu e a frota Imperial

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DAS FRONTEIRAS NA BACIA PLATINA

bloqueou o porto de Montevidéu. Após as com autoridade concentrada na monarquia


derrotas, Aguirre refugia-se em Buenos e pouca liberdade para as províncias; e o
Aires e os colorados voltam ao poder no Liberal, que defendia o fortalecimento
Uruguai com a assunção presidencial de do parlamento e maior autonomia para as
Venâncio Flores, aliado de Dom Pedro II. províncias. Liberais e conservadores per-
Meses antes da Guerra do Paraguai, o tenciam à mesma classe social, escravistas
Uruguai contava com um efetivo peque- proprietárias de bens, porém os liberais
no no Exército, aproximadamente 3.200 defendiam um processo lento e gradual
homens para uma população de 250 mil. que levaria à Abolição.
O Uruguai sempre orbitou na esfera de Os conflitos internos separatistas foram
influência dos outros países platinos e do todos debelados antes do início da segun-
Império e sempre foi objeto de domínio de- da metade do século XIX, permitindo
les, por isso, para sua defesa fazia acordos a estruturação de uma fronteira sólida
com facções políticas dessas nações que na parte Norte, Nordeste e Sudeste do
estavam no poder para ter apoio bélico. Império. Restava, porém, a consolidação
da fronteira no Sul e no Centro-Oeste do
Brasil – Geopolítica, Economia e País. Isso envolvia a região platina e os
Força Militar conflitos de interesses das nações oriundas
do Vice-Reino do Rio da Prata.
O Brasil, que teve sua independência A geografia da bacia do Rio da Prata é
proclamada em 1822, dando início ao formada pelas bacias de três grandes rios
período imperial, no qual combateu várias que nascem no Brasil: do Rio Paraná,
revoltas internas separatistas, interviu mili- do Rio Paraguai e do Rio Uruguai, que
tarmente nos países vizinhos para manter a adentram no território paraguaio, uruguaio
hegemonia territorial e enfrentou três guer- e argentino. Assim, a livre navegação
ras internacionais: a Guerra da Cisplatina, desses rios, defendida pelo Imperador,
pela posse desta província; a Guerra do era de vital importância para a geopolítica
Prata, para depor Atanasio Cruz Aguirre; nacional, pois era o meio mais rápido e
e a Guerra do Paraguai, para garantir o eficaz de ligação com interior brasileiro,
direito internacional de livre navegação visto que a comunicação terrestre era
na Bacia do Prata e para consolidar sua perigosa e precária.
fronteira no Sul e no Centro-Oeste. Por ser uma região importante para o
A extensão continental do território comércio internacional dos países da Bacia
brasileiro em formação obrigava o Império Platina, a livre navegação pelo estuário
a ter mobilidade para enfrentar os conflitos do Rio da Prata era fundamental para a
que ocorreram no litoral de norte a sul do economia regional. No entanto, o domínio
país. Diante disso, o imperador procura- e o controle dessa região sempre foram ob-
va investir em uma Marinha forte para jetivo de Solano López, que queira formar
transportar rapidamente tropas por todo o o Grande Paraguai; da Argentina, que pre-
território, garantindo a unidade nacional. tendia reunificar o Vice-Reino do Rio da
A partir de 1840, com a antecipação da Prata; e do Brasil, que anexou a Província
maioridade de Dom Pedro II, inicia-se o Cisplatina, atual Uruguai, entre os anos de
período do Segundo Reinado, e com ele 1817 e 1828. Esse período marca o final do
a força de dois partidos políticos: o Con- domínio português e o início do Primeiro
servador, que defendia um regime forte, Reinado, durante o Brasil Império.

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BATALHA NAVAL DO RIACHUELO, PONTO DE INFLEXÃO NA ESTRUTURAÇÃO
DAS FRONTEIRAS NA BACIA PLATINA

No período do Segundo Reinado, a O Exército era composto de aproxi-


política do Imperador Dom Pedro II foi madamente 18 mil homens para uma
notadamente a de manutenção da inde- população de 9,1 milhões de habitantes.
pendência uruguaia, pois era contra a Este número era suficiente para conter as
reunificação do Vice-Reino da Prata sob revoltas internas e para manter a hegemo-
a hegemonia argentina, contra a política nia na região, mas não para enfrentar uma
imperialista de Solano López de fundar guerra regional contra um oponente com
o Grande Paraguai e a favor da livre exército profissional. Com intuito de for-
navegação na região, pois os três rios talecer o efetivo, o governo convocou, por
que formam a Bacia do Prata nasciam meio de decreto, aproximadamente 14.800
em solo brasileiro. Tal fato comprova-se guardas nacionais distribuídas entre as
nas atitudes tomadas nos dois conflitos províncias, porém houve resistências a
que ocorreram na Bacia Platina entre o essa convocação, gerando um grande nú-
início do Segundo Reinado e a Guerra do mero de substituições de pessoas, por ser
Paraguai, com a interferência brasileira. esta prática regulamentada por lei.
O primeiro conflito foi na Guerra do Este decreto não supriu a necessidade
Prata ou Guerra contra Oribe e Rosas, na de combatentes na guerra, sendo neces-
qual o imperador deu ordens expressas sária a organização de um grande efetivo
a sua força militar para garantir a inde- para enfrentar um oponente organizado
pendência do Uruguai e do Paraguai e militarmente. Então, o imperador criou
manter os limites do Império naquela por decreto o Corpo de Voluntários da
região. O segundo foi quando enviou Pátria, oferecendo vantagens aos homens
uma frota imperial para bloquear o porto de 18 a 50 anos que se apresentassem
de Montevidéu com uma tropa, exigindo voluntariamente para combater no Pa-
o cumprimento do acordo de livre nave- raguai. Assim, apareceram soldados
gação revogado pelo Presidente Aguirre. dispostos a lutar pela pátria em troca de
Após a vitória neste conflito, foi colocado melhor condição econômica. Porém esses
na Presidência Venâncio Flores, aliado do voluntários diminuíram cada vez mais,
Império, que passou a honrar o compro- e, com o elevado número de mortes, o
misso firmado. governo passou a fazer um recrutamento
O Brasil independente manteve a es- coercitivo.
trutura política herdada de Portugal, com
um serviço diplomático competente que Evolução do início da guerra até a
lhe permitia atuar de maneira organizada e Batalha Naval do Riachuelo
estratégica no seu entorno. Anos antes da
Guerra do Paraguai, a Marinha Imperial No ano de 1864, o Paraguai, gover-
era composta de 45 navios armados. Des- nado pelo ditador imperialista Solano
tes, 33 eram navios de propulsão mista, a López, ainda queria formar o Grande
vela e a vapor e 12 dependiam exclusi- Paraguai. A Argentina, presidida pelo
vamente do vento. Os navios brasileiros unitarista Bartolomeu Mitre, desistira de
eram adequados para operar no mar e não reunificar as províncias do Vice-Reino
nos rios, pois havia grande possibilidade do Rio da Prata sob a tutela de Buenos
de encalhar. Muitos estavam armados com Aires, e o Uruguai, presidido pelo blan-
canhões raiados de carregamento pela co Atanásio Aguirre, que foi deposto
culatra e todos tinham casco de madeira. e substituído pelo colorado Venâncio

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BATALHA NAVAL DO RIACHUELO, PONTO DE INFLEXÃO NA ESTRUTURAÇÃO
DAS FRONTEIRAS NA BACIA PLATINA

Flores, teve sua soberania garantida Dominado o Sul mato-grossense, o


pelo Brasil e pela Argentina. O Império, próximo alvo de Solano López eram as
governado por Dom Pedro II, pretendia forças militares brasileiras que estavam
a livre navegação nos rios da Bacia do no Uruguai para garantir a livre nave-
Prata, a inviolabilidade de seu território e gação na Bacia Platina. Assim, pediu
a garantia da independência do Uruguai. permissão para passar com tropas pelo
Solano López, aliado do blanco Ataná- território de Misiones, na Argentina, o
sio Aguirre, percebeu que a interferência que foi negado pelo Presidente Mitre
imperial no Uruguai atrapalharia seu plano para manter a neutralidade no conflito.
de formar o Grande Paraguai; por esse Por isso, tornou-se o próximo alvo do
motivo, antes de ela ocorrer, alertou o tirano paraguaio, que declarou guerra à
imperador que não aceitaria pacificamente Argentina em março de 1865.
qualquer ação militar em solo uruguaio. No Após a declaração de guerra, Solano
entanto, nesse mesmo ano, após mandar López determina a invasão da província
uma missão diplomática ao Uruguai, que de Corrientes por: cinco vapores, os quais
fracassou, para exigir a livre navegação nos atacaram o porto e incorporaram dois
rios da Bacia do Prata, o imperador interfe- navios argentinos, o Gualeguay e o 25
re em solo uruguaio com uma frota naval de Maio, à esquadra paraguaia; e 3 mil
para boquear o porto de Montevidéu e usa soldados que ocupam a província argen-
tropas para depor o Presidente Aguirre. tina. Com a intenção de ter a província de
Com o intuito de manter a independência Corrientes como aliada, a força invasora
política do Uruguai, coloca no poder um elege entre os cidadãos correntinos uma
aliado colorado, Venâncio Flores. Junta de Governo composta por opositores
Em represália à ação bélica imperial, a Mitre e ao imperador. Por não contar
a qual considerou atentatória ao equilí- com apoio popular, essa junta não obteve
brio de forças na região platina, Solano êxito nos propósitos do ditador.
López, em novembro de 1864, manda a No intuito de alcançar o Uruguai, as
canhoneira paraguaia Taquari aprisionar tropas paraguaias invadiram os territórios
o navio mercante de bandeira brasileira brasileiro e argentino; por isso, em maio
Marquês de Olinda quando navegava de 1865 foi assinado o Tratado da Tríplice
pelo Rio Paraguai em direção à província Aliança entre o Império e as repúblicas
de Mato Grosso, transportando seu novo argentina e uruguaia para se defenderem e
Presidente, Coronel Carneiro de Campos, contra-atacar o Paraguai. Por um ato con-
acompanhado de alguns oficiais. tínuo, foi formado um Conselho de Guerra
Dando continuidade às ações represá- composto pelos generais Bartolomeu
lias ofensivas, em dezembro de 1864, uma Mitre, Justo José Urquiza, Venâncio Flo-
esquadra paraguaia com 4.200 homens, res e Manuel Luís Osório e pelo Contra-
cinco barcos a vapor e outros menores, -Almirante Tamandaré, os quais definiram
ataca a província de Mato Grosso. Essas que o propósito era levar a guerra ao solo
forças paraguaias anularam as defesas, paraguaio, centralizando as operações na
ocuparam militarmente a província e fortaleza de Humaitá, utilizando como via
apoderaram-se de farta quantidade de de acesso o Rio Paraná.
munições e armamentos pesados que Ao iniciar a estratégia definida pelo
foram usados no decorrer da guerra pelos Conselho de Guerra de retomar as regi-
paraguaios contra as tropas aliadas. ões argentinas e brasileiras invadidas por

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BATALHA NAVAL DO RIACHUELO, PONTO DE INFLEXÃO NA ESTRUTURAÇÃO
DAS FRONTEIRAS NA BACIA PLATINA

Solano López, o Paraguai estava com a a parte oeste da província do Rio Grande
sua máxima extensão territorial conquis- do Sul, englobando as localidades de São
tada durante o conflito. O contra-ataque Borja, Itaqui e Uruguaiana; e a porção leste
cessou a expansão imperialista do ditador. da Argentina, onde localizava-se a provín-
A figura 1 é o recorte da região platina cia de Corrientes, a região de Missiones
e demostra toda a extensão territorial e o encontro dos rios Paraná e Paraguai,
invadida por Solano López. Estavam sob local em que ocorreu a Batalha Naval do
seu domínio a província brasileira de Mato Riachuelo. A figura mostra também que,
Grosso, contemplando as localidades de após o final da guerra, as fronteiras dos
Corumbá, Albuquerque, Forte Coimbra, países foram definidas utilizando como
Coxim, Miranda, Nioaque e Dourados; marco delimitador o curso natural dos rios.

Figura 1 – Mapa da máxima extensão territorial do Paraguai durante a guerra


Fonte: http://maishumanas.blogspot.com/2013/01/guerra-do-paraguai-resumao-segundo.html

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BATALHA NAVAL DO RIACHUELO, PONTO DE INFLEXÃO NA ESTRUTURAÇÃO
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Batalha Naval do Riachuelo, uma Com a intenção de surpreender a Força


inflexão na guerra Naval brasileira e evitar o combate direto,
pois sabia de sua inferioridade combativa
O Conselho de Guerra da Tríplice nas águas, o ditador deu ordens ao coman-
Aliança havia decidido contra-atacar dante da Esquadra paraguaia para chegar
Solano López para reconquistar o ter- ao local do combate no crepúsculo matu-
ritório invadido e levar a guerra para tino do dia 11 de junho, capturar os navios
o solo paraguaio. Assim observou-se a brasileiros e levá-los para a fortaleza de
necessidade de bloquear a comunicação Humaitá. O objetivo era atacar os navios
fluvial entre o Paraguai e o mar; para tan- brasileiros ainda fundeados, sem dar aos
to foi enviada uma Força Naval brasileira tripulantes tempo de acender as caldeiras
para o Rio Paraná objetivando efetuar o e de se armar para o combate. Porém a de-
bloqueio. Solano López percebeu que mora na partida e a parada para sanar uma
isso afetaria suas ações ofensivas, então pane na hélice do vapor Iberá, atrasaram
decidiu enviar uma força naval para ata- a chegada da esquadra paraguaia ao local
car de surpresa os navios brasileiros que da batalha, prejudicando o fator surpresa
estavam fundeados próximos à cidade que seria favorável a Pedro Meza.
argentina de Corrientes. Perdido o efeito surpresa, a frota para-
A Batalha Naval do Riachuelo acon- guaia foi vista aproximadamente às 9 ho-
teceu no dia 11 de junho de 1865 às mar- ras da manhã, quando foi dado o alarme.
gens do Riachuelo, um afluente do Rio Prontamente as caldeiras foram acesas às
Paraguai, na província de Corrientes, na 9h25, e as 10h50 a esquadra brasileira co-
Argentina. O conflito foi travado no meio meçou a movimentar-se para o combate,
fluvial que tem espaços reduzidos e conta sendo que os primeiros navios a fazerem
com a existência de bancos de areia, o que isso foram o Belmonte e o Jequitinhonha.
tornou as manobras difíceis, exigindo da- Nesse mesmo instante, o Almirante
queles que desconheciam a região maior Barroso emite por bandeira o sinal: “O
agilidade e capacidade de decisão. Brasil espera que cada um cumpra seu
Em uma das margens do rio estava a dever”. A coluna brasileira era puxada
Esquadra paraguaia, sob o comando de pela Corveta Belmonte, que passou so-
Pedro Ignacio Meza, que dispunha de zinha pelo fogo concentrado do inimigo,
oito navios, entre eles sete mercantes pois o Almirante Barroso deteve a Fragata
improvisados para a guerra. Eram eles: Amazonas para evitar uma possível fuga
Paraguary, Igurey, Iporá, Salto, Pirabebé, do inimigo. A Corveta Belmonte teve que
Jujuy e Marquês de Olinda, dos quais seis procurar encalhe nas margens do rio para
rebocavam as chatas armadas com canhão evitar o naufrágio, e a Corveta Parnaíba
de seis polegadas de calibre, e também teve o leme partido e foi cercada por três
o único navio de guerra, o Tacuary. Na navios paraguaios, tendo em seu convés os
outra margem encontrava-se a Força Na- atos heroicos dos bravos Guarda-Marinha
val Imperial, comandada pelo Almirante João Guilherme Greenhalgh e Imperial
Francisco Manuel Barroso da Silva, com- Marinheiro Marcílio Dias, que deram suas
posta de nove navios, sendo eles: a Fragata vidas para defender o navio imperial e a
Amazonas e os vapores Jequitinhonha, Bandeira Nacional.
Beberiberi, Belmonte, Parnaíba, Mearim, No calor da batalha, houve a necessida-
Araguai, Iguatemi e Ipiranga. de de reorganizar as forças. O Almirante

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DAS FRONTEIRAS NA BACIA PLATINA

Barroso tomou, então, a dianteira com a “Sustentar o fogo que a vitória é nossa”,
Fragata Amazonas e avançou, sendo se- elevando o moral da tropa. Percebendo
guido pelos outros navios, e completou a que haviam perdido a batalha e com seu
passagem do Riachuelo sob intensos fogos comandante morto, os paraguaios bateram
dos canhões dos navios e da artilharia em retirada para a fortaleza de Humaitá
inimiga de terra. O saldo da batalha até com quatro navios avariados, os vapores
aquele momento era negativo para o Impé- Taquari, Igurei, Pirabe e Ipor, os quais não
rio, as corvetas Jequitinhonha e Belmonte tiveram mais relevância durante a guerra.
estavam encalhadas sob intenso fogo e a Ao início do crepúsculo vespertino,
Parnaíba foi tomada pelo inimigo. a Marinha Imperial garantiu a primeira
A desvantagem inicial do combate grande vitória dos Aliados na Guerra do
começou a ser revertida por volta das 12 Paraguai, pois, aniquilando a força naval
horas, quando o Almirante Barroso buscou oponente, passou a controlar os rios da
um ponto em que fosse possível fazer a ma- Bacia do Prata. Dessa forma, bloqueou
nobra de retorno com seus seis navios para o fluxo logístico de guerra paraguaio por
seguir em direção ao Riachuelo. A Fragata aquela bacia e, assim, impediu que os ar-
Amazonas era de fácil manobrabilidade, mamentos e os navios encouraçados que
mas não tinha esporão, nem a proa era Solano López encomendara na Europa an-
reforçada para ser empregada como aríete; tes do início da Guerra da Tríplice Aliança
mesmo assim, Barroso decidiu repenti- passassem e permitiu que os Aliados usas-
namente abalroar os navios paraguaios. sem os rios livremente para transportar e
Apesar do improviso, a tática deu certo e abastecer suas tropas em combate.
colocou quase metade da força paraguaia No final da Batalha Naval do Riachue-
fora de ação. Aproveitando o êxito do lo, houve baixas de ambos os lados, sendo
combate, Barroso deu por bandeiras o sinal que no derrotado foram 351 mortos e 567

Figura 2 – Mapa da evolução da Batalha Naval do Riachuelo


Fonte: http://euahistoriaeaescola.blogspot.com/2015/10/

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BATALHA NAVAL DO RIACHUELO, PONTO DE INFLEXÃO NA ESTRUTURAÇÃO
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feridos e quatro navios afundados, ficando brasileiro, que, por ter interesse na livre
sua Marinha totalmente inoperante, e no navegação da bacia platina, procurava
vencedor foram 104 mortos, 142 feridos, manter a hegemonia regional. Devido aos
20 desaparecidos e um navio afundado. conflitos de interesses nessa região quanto
Embora a guerra tenha se prolongado às fronteiras, à economia e à navegação
até 1870, a vitória da Marinha Imperial nos rios, havia uma constante instabilida-
na Batalha Naval do Riachuelo foi deter- de política que levava a conflitos militares.
minante para a reconquista das províncias A principal característica da geografia
invadidas e para o avanço dos aliados so- regional era o estuário da Bacia do Rio
bre o território inimigo, pois possibilitou da Prata, formada pelos rios Paraná, Pa-
aos países da Tríplice Aliança a adoção de raguai e Uruguai. As relações comerciais
postura ofensiva nos combates, acuando davam-se por meio de suas hidrovias,
Solano López em seu próprio território e portanto controlar a navegação nesses
fazendo com que sua estratégia passasse rios era fundamental para o crescimento
a ser defensiva e de sucessivas retiradas econômico do País e para a demonstração
até a sua morte. de poder regional.
A figura 2 é o recorte espacial do en- O Rio Paraná, que nasce no Brasil e
contro das águas do Arroio Riachuelo com passa pelo Paraguai e pela Argentina,
o Rio Paraná. A ilustração mostra o local após o término da guerra passou a definir
do início da batalha, onde a Força Naval a fronteira entre o Paraguai e o Brasil, bem
brasileira, comandada pelo Almirante como entre o Paraguai e a Argentina. Com
Barroso, encontrava-se fundeada quan- a extensão de aproximadamente 4.880
do foi atacada pela esquadra paraguaia quilômetros, é o segundo maior rio da
comandada pelo Capitão de Navio Pedro América do Sul.
Ignacio Meza, e indica a localização dos O Rio Uruguai nasce no Brasil e passa
canhões de terra do Exército paraguaio, pela Argentina e pelo Uruguai. Após o
que a Força Naval enfrentou para vencer a término da guerra, passou a estabelecer a
batalha. Retrata também a sequência cro- fronteira entre a Argentina e o Brasil e entre
nológica dos combates desde de o início a Argentina e o Uruguai, tendo aproxima-
do deslocamento da Marinha paraguaia damente 1.770 quilômetros de extensão.
até vitória da Marinha Imperial brasileira. O Rio Paraguai nasce no Brasil e passa
por mais três países platinos: Paraguai,
CONSIDERAÇÕES FINAIS Argentina e Bolívia. Após o término da
guerra passou a limitar a fronteira entre o
As formações dos países da Região Paraguai e o Brasil e entre o Paraguai e a
Platina foram consequências dos con- Argentina. Ele é um importante afluente
turbados processos emancipatórios das do Rio Paraná. Tem extensão de 2.620
províncias que compunham o Vice-Reino quilômetros, aproximadamente.
do Rio da Prata, iniciados em 1810 por Percebe-se, ao longo da explanação
ocasião da formação da Junta de Buenos deste artigo, que a batalha aqui relatada
Aires. Decorrente disso, apareceram li- foi de suma importância para a expansão
deranças regionais e facções partidárias fluvial brasileira no que diz respeito prin-
que rivalizavam o poder nas recentes cipalmente à livre navegação pela região
repúblicas do Paraguai, da Argentina e do Prata. Para o Uruguai e a Argentina,
do Uruguai. Além disso, havia o Império foi a garantia da territorialidade, bem

RMB2oT/2019 141
BATALHA NAVAL DO RIACHUELO, PONTO DE INFLEXÃO NA ESTRUTURAÇÃO
DAS FRONTEIRAS NA BACIA PLATINA

como de maior fomento da economia por brasileiro na Bacia Platina era a livre
meio do transporte fluvial. navegação, na atualidade nosso interesse
Faz-se necessário dizer que em uma é sinalizado na utilização racional dos
guerra todos perdem, mas, para a época, recursos hídricos. Por essa razão, a di-
esta era a única forma de deter os avanços plomacia brasileira ainda segue a política
imperialistas de um ditador tirano. Ainda externa do Império português, mantendo
hoje a História nos mostra que o compor- a livre navegação no Rio da Prata e im-
tamento humano ainda traz resquícios de pedindo a consolidação de uma potência
tempos remotos, buscando resolver confli- capaz de ameaçar a segurança e os inte-
tos por meio da violência e da intimidação. resses do País na região.
O Paraguai, país agressor e também Os interesses e conflitos resultantes
perdedor no conflito aqui descrito, até os da disputa pela liberdade de navegação
dias de hoje apresenta uma economia de- na Bacia do Rio da Prata foram substitu-
vastada e desorganizada, pautada em um ídos no século XX, pelo uso dos recursos
comércio desregrado com um sistema de hídricos, essencial para uma política que
trabalhista frágil que não protege a popu- visa à produção de energia elétrica e ao
lação. Há indícios de que, após a guerra, crescimento econômico. O alto potencial
nunca mais nenhum governo conseguiu hidrelétrico dos rios da região e a neces-
reestabelecer a economia do País. sidade de impulsionar o desenvolvimento
É importante ressaltar que, para o nacional fizeram com que os países con-
Brasil, a vitória da Marinha Imperial na vergissem suas atenções para o aprovei-
Batalha Naval do Riachuelo, que levou à tamento das águas, com a finalidade de
vitória dos países Aliados na Guerra do impulsionar a industrialização.
Paraguai, trouxe os benefícios necessários Após os anos de disputas pelo controle
à época, porque nossos principais interes- da Bacia do Prata por meio da guerra, os
ses eram a garantia da livre navegação na países da região perceberam, a partir da
Bacia Platina para manter a comunicação década de 1960, que a cooperação para
com o Centro-Oeste brasileiro, a manu- o uso compartilhado dos recursos dessa
tenção da integridade territorial e a defesa bacia é estrutura-base para o crescimento
dos direitos dos cidadãos brasileiros que socioeconômico mútuo. Nesse sentido,
habitavam na região. a primeira aproximação dos países nesta
A Bacia do Prata é a segunda maior direção ocorreu na reunião dos ministros
bacia hidrográfica da América do Sul e das Relações Exteriores dos países da
está entre as cinco maiores do mundo. Ela Bacia do Prata em fevereiro de 1967, em
é compartilhada por cinco países: Brasil, Buenos Aires, e a segunda ocorreu na reu-
parte em que se encontram as cabeceiras nião ordinária dos ministros das Relações
dos principais rios formadores da bacia; Exteriores da Bacia do Prata, realizada em
Argentina, área em se situa a foz do Rio Santa Cruz de la Sierra, em maio de 1968.
da Prata; Paraguai, cuja território está Os eventos citados destacam-se por
inserido em sua totalidade dentro da área terem traçado os objetivos e as ações
de drenagem da bacia; Bolívia e Uruguai. necessárias para fortalecer a cooperação
Pode-se afirmar que, historicamente entre os países, com a criação de um órgão
falando, a vitória na Guerra do Paraguai intergovernamental regional, o Comitê
trouxe benefícios incalculáveis para o Intergovernamental Coordenador da
Brasil, pois se àquela época o interesse Bacia do Prata, que abriu caminho para a

142 RMB2oT/2019
BATALHA NAVAL DO RIACHUELO, PONTO DE INFLEXÃO NA ESTRUTURAÇÃO
DAS FRONTEIRAS NA BACIA PLATINA

assinatura do Tratado da Bacia do Prata produzida. Todavia, o Paraguai utilizava


que versa sobre o uso racional e equitativo somente cinco por cento de toda a produ-
da água, por meio da regularização dos ção hidroelétrica, o que o levou a vender
cursos hídricos, da preservação da fauna e o seu excedente ao Brasil; assim, 95 por
flora, do aperfeiçoamento dos transportes cento de toda a energia produzida em
e da estruturação das redes de energia e Itaipu é consumida pelo Brasil.
de telecomunicações. Finalizando, pode-se afirmar que, histo-
Como dito anteriormente, se à época ricamente, a Guerra do Paraguai, que teve
da Batalha Naval do Riachuelo o interesse seus rumos mudados a favor dos países
brasileiro era a livre navegação, hoje esse componentes da Tríplice Aliança após a
interesse é de sustento energético do País vitória da Marinha Imperial na Batalha Na-
por meio da Usina de Itaipu, que tem val do Riachuelo, ainda hoje traz benefícios
grande relevância para o fornecimento para o Brasil. Se não pelo fato da navegação
de energia elétrica. A usina foi inaugu- em si, para a produção de energia hidrelétri-
rada em 1984, e, conforme acordado, ca, pois esta é a principal fonte da energia
cada parte ficaria com metade da energia consumida em território nacional.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:


<GUERRAS>; Guerra do Paraguai; Batalha Naval do Riachuelo;

REFERÊNCIAS

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a República do Paraguai. Rio de Janeiro: Serviço de Documentação da Marinha, 2007.
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Riachuelo: um breve relato sobre o épico da Guerra Naval. Rio de Janeiro: Nossa Marinha, 2011.
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reconstituição histórica. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1965.
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(1808-1912). São Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista: Moderna, 1997.
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José Olympio Editora, 1965.
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nível em: <http://euahistoriaeaescola.blogspot.com/2015/10/>. Acessado em 11/10/2018.

RMB2oT/2019 143
POTABILIDADE DA ÁGUA EM COMISSÃO DE
LONGA DURAÇÃO:
a experiência no Navio-Escola Brasil

FABIO TRIACHINI CODAGNONE*


Capitão-Tenente (S)

SUMÁRIO

Introdução
Plano de segurança da água
Resultados
Considerações finais

INTRODUÇÃO localidades por onde circulam e o número


de pessoas que transportam.

N os últimos anos têm aumentado os


estudos a respeito da transmissão de
doenças veiculadas por meio da água con-
Cólera, shiguelose e leptospirose estão
entre as doenças mais comumente transmi-
tidas pela água contaminada. Há também
taminada por microorganismos. Especial relatos de óbitos provocados pela ingestão
interesse tem se dado à contaminação da de água contaminada com Legionella sp,
água proveniente dos tanques e sistemas principalmente em navios de cruzeiro.
de produção de navios de turismo ou na- Um compêndio publicado pela Organiza-
vios mercantes, haja vista a quantidade de ção Mundial da Saúde (OMS) em 2000

* Encarregado da Divisão de Laboratório e Farmácia da Escola de Aprendizes-Marinheiros do Espírito Santo.


Mestre em Farmacologia/Neurociências pela Universidade Federal do Paraná. Aperfeiçoado em Análises
Clínicas pela Escola de Saúde do Hospital Naval Marcílio Dias. Farmacêutico-bioquímico pela Universidade
Estadual de Londrina.
POTABILIDADE DA ÁGUA EM COMISSÃO DE LONGA DURAÇÃO:
a experiência no Navio-Escola Brasil

demonstra que de 1970 a 2000 houve 51 – os fatores de riscos devem ser iden-
incidentes associados à legionelose em tificados;
navios, resultando em 200 casos, sendo – mensurações adequadas devem ser
que dez desses foram fatais. incluídas, bem como seus respectivos
Existem poucos relatos, na literatura controles;
científica, de casos de doenças causadas – a monitorização dos procedimentos
pelo consumo de água contaminada com operacionais deve ser estabelecida;
patógenos por tripulantes de navios de – os limites operacionais devem ser
guerra. No âmbito militar-naval, a possi- bem definidos; e
bilidade de contaminação microbiológica – as ações corretivas devem ser iden-
ou química da água armazenada/produ- tificadas.
zida para consumo da tripulação poderá Na Marinha do Brasil (MB), os profis-
acarretar graves problemas de saúde em sionais responsáveis pela implementação
seus militares, prejudicando ou impedindo desse plano nos navios da Esquadra são
o sucesso da missão. os oficiais farmacêuticos, que, desde
A potabilidade da água é uma preocu- 1997, estão legalmente habilitados para
pação mundial, e a garantia deste quesito realizar esses procedimentos por meio da
evita riscos de epidemias. Resolução no 463 do Conselho Federal
A OMS, em seu documento Guidelines de Farmácia.
for Drinking-Water Quality, enfatiza o No caso do Navio-Escola Brasil, foi
controle da qualidade da água com relação estabelecido que o controle da potabili-
a patógenos, sendo a desinfecção com dade da água seria realizado por meio de
cloro altamente recomendada, devido à testes microbiológicos e mensurações de
simplicidade do método, à eficiência na parâmetros físico-químicos. Na XXXI
remoção de vírus e bactérias e ao custo VIGM, os parâmetros a serem analisados
financeiro envolvido. foram definidos a partir da experiência do
O presente artigo tem o propósito oficial farmacêutico, sempre tendo como
de transmitir o conhecimento adquirido base as diversas publicações referentes
durante a XXXI Viagem de Instrução ao assunto, a saber: Guia Sanitário para
de Guardas-Marinha (VIGM) no que Navios de Cruzeiro (Agência Nacional
se refere à garantia da potabilidade da de Vigilância Sanitária – Anvisa), Reso-
água em um navio da Marinha do Brasil lução da Diretoria Colegiada no 91/2016
e propor medidas para garantia da po- (Anvisa) e Guidelines for Drinking-Water
tabilidade da água de bordo no que se Quality, da OMS.
refere, principalmente, aos requisitos A escolha dos parâmetros físico-quí-
microbiológicos. micos foi realizada a partir da capacidade
de predizer possíveis contaminações por
PLANO DE SEGURANÇA DA dejetos de esgotos ou sanitários, visto que
ÁGUA o tempo para abastecimento com água nos
portos era limitado (de dois a quatro dias),
Com o intuito de garantir a qualidade portanto era crucial que obtivéssemos
da água ofertada a bordo, faz-se necessá- informações preliminares da qualidade
rio elaborar e implementar um conjunto da água recebida. Os testes microbioló-
de medidas que vão além dos testes de gicos, embora mais precisos, levam de
qualidade da água, a saber: 15 a 24 horas para que seus resultados

RMB2oT/2019 145
POTABILIDADE DA ÁGUA EM COMISSÃO DE LONGA DURAÇÃO:
a experiência no Navio-Escola Brasil

sejam conhecidos. Se os parâmetros reversa (GOR), a coleta ocorreu nas saídas


físico-químicos apresentassem resulta- dos tanques de aguada do navio. Foram
dos dentro dos valores de normalidade, elencados outros locais considerados sen-
iniciava-se o recebimento da água, e esta síveis, como bebedouros e torneiras (prin-
ficaria contida em um dos tanques, até que cipalmente as da cozinha), de forma que
o resultado do teste microbiológico fosse tivéssemos uma representação de todo o
considerado satisfatório. Caso o teste sistema de fornecimento de água do navio.
microbiológico apresentasse qualquer re- III – Frequência de coleta de amostras
sultado inconclusivo ou positivo, medidas de água para fins de análise da qualidade
de desinfecção seriam adotadas e novos A coleta foi realizada em todos os
testes microbiológicos seriam conduzidos portos, sendo sucedida de análise com-
para garantir a qualidade da água. pleta de todos os parâmetros previamente
Os parâmetros físico-químicos esco- definidos. Em regime de viagem, foram
lhidos e seus valores de referência (VR) realizadas mensurações constantes de
foram os seguintes: Potencial Hidrogeni- cloro livre e turbidez. Nas derrotas mais
ônico (PH) (VR: 6 – 9,5), Ferro (VR: 0,3 longas, foi realizada pelo menos uma
mg L-¹ Fe), Cloro Livre (VR: 0,2 - 2 mg análise completa, incluindo todo o painel
L-¹ Cl²), Turbidez (VR: até 5 NTU) , Clo- físico-químico e microbiológico.
reto (VR: até 250 mg L-¹ Cl-) , Amônia
(VR: até 1,5 mg L-¹ NH³) e Nitrito (VR: RESULTADOS
negativo), sendo que os três últimos são
indicadores indiretos de contaminação Testes Microbiológicos
microbiológica da água por dejetos de
sanitários ou rede de esgoto. Em apenas um porto a análise micro-
biológica apresentou um resultado incon-
Elaboração do Plano de Amostragem clusivo, fazendo com que tomássemos
medidas de desinfecção, ou seja, adição de
Para definição do plano de amostra- cloro até que se atinja um valor próximo a
gem, foram considerados os seguintes 5 (mg L-¹ Cl²). Além da adição de cloro, é
fatores: crucial que o tempo de contato deste ele-
I – Os parâmetros físicos, químicos e mento químico com a água possivelmente
microbiológicos da qualidade da água, já contaminada fosse de no mínimo 24 horas.
citados anteriormente Após essas 24 horas, uma nova amos-
II – Indicação dos locais prioritários tra de água foi coletada do tanque para
de coleta de amostra da água para con- realização de teste microbiológico, cujo
sumo humano resultado foi negativo, sendo a água libe-
No caso deste navio, a coleta ocorreu rada para consumo.
em todos os portos, no local de entrada da Uma das dificuldades encontradas
conexão da rede de água do cais do porto durante o processo de desinfecção da
com o navio ou da embarcação de abaste- água foi que, como o cloro utilizado era
cimento (chata) com o navio. Houve ainda em forma de pastilha, ao inserirmos as
o abastecimento por caminhão, em um dos pastilhas nos tubos-sonda nem sempre a
portos visitados. Nas derrotas mais longas sua distribuição era homogênea, atingindo
e sempre que houve necessidade de produ- diferentes concentrações nos tanques, o
zir água por meio do “grupo” de osmose que pode ser observado no gráfico abaixo.

146 RMB2oT/2019
POTABILIDADE DA ÁGUA EM COMISSÃO DE LONGA DURAÇÃO:
a experiência no Navio-Escola Brasil

valores não devem exce-


der 250 mg L-¹ Cl-. Esse
parâmetro foi inserido
na análise da água de
bordo durante a XXXI
VIGM, não havendo,
portanto, histórico das
viagens anteriores.
Um fato relevante
foi que durante a per-
nada Salvador-Las Pal-
mas, com a necessidade
de produção de água
potável pelo GOR, seu
Figura 1 – Níveis de cloro livre em diferentes tanques do navio valor foi crescendo até
que atingisse um resul-
Um cuidado que tivemos foi o de mo- tado muito próximo ao limite superior de
nitorar a concentração de cloro no tanque normalidade (245 mg L-¹ Cl-). Paralela-
que supriria a demanda de água potável mente a este aumento, fomos recebendo
do navio, de forma que não excedesse relatos, por parte de integrantes da tripu-
a concentração de 2 (mg L-¹ Cl²). Se a lação, de que a água estava com um sabor
concentração de cloro estivesse acima mais salgado. Chegamos à conclusão de
desse valor, poderíamos misturá-la a água que o nosso GOR estava com alguma
produzida pelo GOR. restrição técnica e que a transformação
de água salgada para água doce não es-
Cloreto tava ocorrendo a contento, porém todos
os parâmetros permaneceram dentro dos
O cloreto é um parâmetro que pode indi- valores preconizados na literatura. Com
car uma possível contaminação da água por a manutenção realizada no GOR, esse
esgotos sanitários. Em águas tratadas, seus sabor acentuado não foi mais observado,

Figura 2 – Níveis de cloreto durante diversas mensurações

RMB2oT/2019 147
POTABILIDADE DA ÁGUA EM COMISSÃO DE LONGA DURAÇÃO:
a experiência no Navio-Escola Brasil

sugerindo que a ascensão dos valores de nos tanques de recebimento e nas saídas
cloreto pode ser um indicador de alguma de água, de forma a garantir que todo o
limitação do “grupo” de osmose reversa. sistema de abastecimento de água do navio
permanecesse com a concentração de cloro
Cloro Livre residual livre entre 0,2 e 2 mg L-¹ Cl².

Embora a legislação vigente preconize CONSIDERAÇÕES FINAIS


que, no momento da entrega ao destino, a
água para consumo humano, quando sub- As medidas acima adotadas permitiram
metida a tratamento com produtos à base a garantia da qualidade da água ofertada
de cloro, após a desinfecção, mantenha um à tripulação, minimizando o risco de
nível de cloro residual livre de 2ppm, no transmissão de infecções gastrointestinais.
mínimo, em nenhum dos portos visitados A inserção de parâmetros físico-quí-
a água recebida apresentou a concentração micos, como a determinação de cloreto,
de cloro livre desejada. Os valores flutu- amônia e turbidez, permitiram que tivés-
aram entre 0,2 e 0,8 mg L-¹ Cl², exceto semos maior confiabilidade no momento
em dois portos em que os valores foram do recebimento da água. As mensurações
próximos a zero. Esses resultados corro- seriadas dos níveis de cloro livre e turbi-
boram os dados constantes na literatura. dez, por meio de equipamentos específicos
Ressalta-se que, pela primeira vez, todas (clorímetro e turbidímetro) aumentaram a
as mensurações de cloro livre foram rea- precisão e a exatidão das determinações
lizadas em equipamento específico (clorí- destes parâmetros.
metro), aumentando a exatidão da análise. O cloreto pareceu, ainda, ser um parâ-
Em todos os recebimentos foi realizada metro promissor na avaliação de desem-
a suplementação de cloro por meio da penho do Grupo de Osmose Reversa na
adição de pastilhas na proporção de uma transformação de água salgada para doce,
pastilha para cada 10 mil litros de água porém mais estudos devem ser conduzidos
recebida, sendo o cloro livre monitorado no sentido de confirmar essa hipótese.

Figura 3 – Níveis de cloro livre durante diversas mensurações

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:


<SAÚDE>; Doença; Orientação;

148 RMB2oT/2019
POTABILIDADE DA ÁGUA EM COMISSÃO DE LONGA DURAÇÃO:
a experiência no Navio-Escola Brasil

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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RMB2oT/2019 149
O PERFIL DO LÍDER MILITAR NAVAL DO
SÉCULO XXI*

Nós confiamos nos aspirantes do século XXI.


Almirante Estanislau Façanha Sobrinho

EDUARDO VICTOR DE ASSIS MENEZES**


Analista Judiciário

SUMÁRIO

Introdução
Século XXI – O que mudou?
O Componente Ser – Valores e Atributos
O Componente Fazer – Habilidades
O Componente Saber
O Componente Fazer – Como fazer o aspirante pensar como líder?
Conclusão

INTRODUÇÃO externa ou direta; isso sem considerar con-


dições extremas de mau tempo ou fainas

P ara sorte nossa, desfrutamos, hoje e


há muito, no cenário internacional
de uma posição diante da qual não temos
de emergência a bordo, como incêndio,
alagamento e colisão.

muitas preocupações no que se refere “Naturalmente, nem todas as ativi-


ao envolvimento em beligerância. Por dades militares envolvem um grande
essa razão, os comandantes e oficiais de perigo. Existe um grande número de
Marinha têm conhecido o exercício da coisas sujas, cansativas, aborrecidas e
Liderança sem a presença de uma ameaça frustrantes, que alguém terá de ser in-

* Artigo vencedor do Concurso sobre Liderança do Clube Naval, em 2004, quando o autor era aspirante do
3o ano da Escola Naval.
** Ex-oficial da Marinha do Brasil. Especialista em Direito Público pela Escola da Magistratura de Pernam-
buco. Graduando em Direito.
O PERFIL DO LÍDER MILITAR NAVAL DO SÉCULO XXI

fluenciado para fazer, como cozinhar, cenário é definido como volátil, incerto,
pintar, reparar equipamento, preencher complexo e ambíguo. A tais caracterís-
documentos e assim por diante. Para ticas somam-se as influências do meio
realizar tais tarefas, pode ser ainda social e da conjuntura presente, entre
mais difícil influenciar alguém em outros fatores que exercem impacto na
tempo de paz, quando a ausência de forja do líder que inicia sua trajetória na
hostilidades torna a execução da rotina carreira militar.
menos urgente.” O sistema naval de ensino provê os
John Allen William recursos para o desenvolvimento inte-
lectual e humanístico, e a Escola Naval,
as oportunidades para o exercício da
liderança. Mas tornar-se líder é um pro-
cesso de livre arbítrio. Cada aspirante
deve buscar o autodesenvolvimento e
comprometer-se.
Não se pode deixar que a técnica de
motivar homens seja aprendida à custa
de mais ou menos desastrosa experiência
de erros acumulados e que nossas con-
dutas sejam pautadas em inspirações de
momento, ou passaremos a engrossar o
grupo de pseudochefes, caracterizados
pela insegurança ou pela violência, pelo
“bom-mocismo” ou pelo arbítrio, com-
prometendo não apenas a nós próprios,
como igualmente àqueles sujeitos às
nossas ordens.
Escola Naval – Túnel de acesso à parte alta

As atividades mili-
tares abrangem tarefas
perigosas e, às ve-
zes, desagradáveis, e
nossos subordinados,
consequentemente,
prefeririam não rea-
lizá-las. Então, tere-
mos que desenvolver
a capacidade de in-
fluenciá-los para que
as realizem. Liderar é
uma tarefa complexa,
e ainda mais se con-
siderarmos o cenário
do século XXI. Esse Faina de reabastecimento de óleo no mar

RMB2oT/2019 151
O PERFIL DO LÍDER MILITAR NAVAL DO SÉCULO XXI

SÉCULO XXI – O QUE MUDOU? nas diversas partes do globo, pouco a


pouco elas vão permeando as sociedades
“Nós confiamos nos aspirantes do e instituições e atingem, mesmo que de
século XXI.” Esse é o título de uma das forma indireta e sutil, os ambientes mais
reportagens publicadas na Revista do conservadores e isolados.
Clube Naval, sobre uma palestra do Al- Nesse contexto, as instituições mi-
mirante Estanislau Façanha Sobrinho na litares são atingidas fortemente pelos
Escola Naval. O título do artigo levou-me reflexos dessa “revolução”, provocando
a refletir sobre a responsabilidade que acentuadas modificações operacionais e
nós, aspirantes do século XXI, temos doutrinárias nas estruturas organizacio-
para com o futuro da Marinha, e o que é nais e nas formas e nos processos de em-
preciso hoje, neste novo século, para se prego de forças, ou seja, em todas as áreas
forjar o líder-militar naval que a Marinha das atividades afetas às Forças Armadas.
e o Brasil precisam para vencer os desa- Isso não significa, portanto, a substitui-
fios que este novo século tem imposto às ção da estrutura vigente por outra com-
Forças Armadas. pletamente diferente, mas que a Marinha
deve estar preparada
para um processo con-
tínuo de aproveitamen-
to e desenvolvimento
dos recursos de toda
espécie, humanos e
tecnológicos.

A Marinha do futuro

Com a troca de
quantidade por qua-
lidade e de saturação
por precisão, o empre-
go dos meios caracte-
Cerimônia na Escola Naval – A Guarda-Bandeira rísticos dessa nova era
deverá permitir contar
O mundo tem vivido, sobretudo a com uma Marinha mais ágil e flexível,
partir da última década do século XX, mais letal, versátil e menos dispendiosa,
um ritmo alucinante de transformações, que esteja, simultaneamente, sempre pron-
cuja origem básica é a aplicação dos ta e apta para enfrentar e vencer os novos
novos recursos disponibilizados pela desafios. Essas capacidades são mais uma
tecnologia da Era da Informação. Tais função da liderança que da tecnologia.
transformações trazem consigo uma
série de mudanças nos paradigmas que “Não devemos supor que nossa
regem as atividades humanas, as relações habilidade em adaptar as estruturas
interpessoais e até mesmo entre povos e e procedimentos da Guerra Fria será
nações. Apesar de essas mudanças diferi- a abordagem correta para o futuro.
rem em graus de intensidade e velocidade O êxito das últimas operações tem

152 RMB2oT/2019
O PERFIL DO LÍDER MILITAR NAVAL DO SÉCULO XXI

dependido das habilidades e da criati- líderes, subordinados e equipes coesas.


vidade de comandantes e soldados que Tecnologias da Era da Informação e in-
conseguiram modificar velhos hábitos crementos da Logística apoiarão, mas não
a fim de se adaptar às novas missões substituirão, líderes. Assim como estes
e situações”. têm que se adaptar a situações mutantes
General Gordon R. Sullivan, e ambíguas, os subordinados precisam
Exército dos Estados Unidos desempenhar funções múltiplas, e equipes
da América devem rapidamente integrar e sincronizar
atributos e conhecimentos
como requisitos para o
cumprimento de tarefas.
Assim sendo, mais do
que gerentes, a Marinha
do Brasil precisará de
líderes, pessoas capazes
de motivar seus subor-
dinados, levando suas
divisões ou pelotões a
realizar missões desagra-
dáveis e perigosas. Para
tanto, nós, aspirantes e
oficiais do século XXI,
temos que nos dar conta
Centro de Operações de Combate de que a tarefa de conduzir
militares, seja em tempos
O sucesso do Poder Naval do século de paz ou de guerra, é complexa e exige
XXI dependerá do aperfeiçoamento de estudo, comprometimento e constante
líderes inovadores para suas novas orga- atualização, para que sejamos capazes de
nizações e equipamentos. Independente- atender às aspirações e crenças dos nossos
mente de ambientes e futuros incertos, subordinados.
os líderes se adaptam: são inovadores e
demonstram iniciativa com prudência Os impactos culturais, sociológicos e
nos momentos de risco. O adestramen- filosóficos na forja do líder do século XXI
to e a educação devem capacitá-los a
explorarem a Era da Informação pelo Todas as transformações tecnológicas
entendimento da situação e a tornarem-se e sociais que deverão ocorrer gerarão a
agentes da mudança. necessidade de redefinições na área mi-
Líderes e liderados no século XXI litar, em relação a estratégica, doutrina,
devem dominar a tecnologia da Era da autoconcepção profissional e, particular-
Informação, mas isso não será o suficien- mente, no que diz respeito à definição de
te. Embora muita coisa tenha mudado no liderança militar e do papel e perfil do
mundo, a guerra no futuro exigirá homens líder militar do século XXI.
bem adestrados e equipados, e que este- A Era da Informação tem introduzido
jam dispostos a arriscar suas vidas. Ou mudanças significativas no nosso cotidia-
seja, o sucesso pleno ainda depende de no, que, mais do que tecnológicas, têm se

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O PERFIL DO LÍDER MILITAR NAVAL DO SÉCULO XXI

dado no plano filosófico, sociológico e pirantes, bem como cadetes da Academia


cultural. E como a liderança está inteira- Militar das Agulhas Negras (Aman), pedi-
mente ligada à área afetiva, essas mudan- ram desligamento por terem sido aprova-
ças alteraram o perfil do líder militar-naval dos em concursos públicos que ofereciam
para a atualidade e para o futuro. rendimentos similares aos de um capitão-
A intensa produção de conhecimento, -tenente, apesar de as carreiras oferecidas
proporcionada por crescentes inves- demonstrarem não ser tão promissoras e
timentos em pesquisas ao longo dos excitantes a longo prazo. “Para ganhar isso
últimos anos, tem tornado obsoletos os na Marinha vou ter que trabalhar mais de
equipamentos e conhecimentos a cada dez anos”, disse-me um deles. O assunto
dia. A realidade de hoje é diferente da de veio à tona numa reunião do Contra-Al-
amanhã, “tudo é relativo”. Não há mais mirante Wiemer, comandante da Escola
verdades absolutas. Essa volatilidade tem Naval, com o Corpo de Aspirantes no
gerado insegurança, decorrendo daí uma auditório da mesma, em que a autoridade
falta de confiança e um enfraquecimento orientou os aspirantes no sentido de que
crescente da base de valores das pessoas decisões baseadas em valores imediatistas
e das organizações. poderiam não significar felicidade, satisfa-
As pessoas tornaram-se mais individua- ção pessoal e profissional a longo prazo,
listas. Cada um busca o melhor para si em e que decisões que se referem à carreira
detrimento do grupo, e esse tipo de influên- sempre se devem pautar a longo prazo.
cia tem afetado o aspirante. Em conversa Outras considerações que merecem
informal com a instrutora de Liderança, a destaque neste século são o fenômeno da
Capitão de Fragata (T) Érica Barreto, ela globalização e a recente ideia de “cidadão
confirmou ter observado o nível crescente do mundo”, que tem ganhado força na so-
de individualismo entre os aspirantes e que ciedade atual, representando uma ameaça
há, também, uma perda de valores e ausên- ao nacionalismo, que estaria dando espaço
cia de modelos a serem perseguidos, além a uma cultura global.
de um ceticismo em relação aos símbolos Os níveis crescentes de individua-
de autoridade em geral. lismo, imediatismo e hedonismo, bem
Ouvi, outro dia, um aspirante do 4o ano, como a falta de nacionalismo, têm levado
após comandar o “fora de forma” para um a um processo de desintegração social e,
pelotão, comentar, ao servir-se no café da consequentemente, diminuído as possi-
manhã: “Não quero comandar ninguém, bilidades de fazer com que as pessoas se
quero comandar a minha vida”. Este não engajem. Dessa forma, constituem verda-
é um caso isolado. Pessoas ligadas à for- deira ameaça aos valores da Marinha do
mação de jovens em academias militares Brasil, visto que ela visa ao bem comum,
confirmam que há muitos alunos que têm à defesa da pátria e à “consecução dos
questionado a validade do papel de líder objetivos nacionais”.
e não parecem querer desempenhá-lo, O trabalho que nós, aspirantes, temos
confirma a instrutora de Liderança da que desenvolver deve estar baseado na
Escola Naval. reestruturação e manutenção de nossa
Outra forte influência percebida dessa base de valores, promovendo a universa-
“revolução” são os crescentes níveis de lização de comportamentos e atributos a
imediatismo e hedonismo. Nos anos de partir da Escola Naval, berço da Marinha.
2003 e 2004 observou-se que muitos as- Não é fácil promover a universalização

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O PERFIL DO LÍDER MILITAR NAVAL DO SÉCULO XXI

de um comportamento, via um processo do constantemente, em nós e em nossos


global de educação, com pequena possi- subordinados, as ações e os pensamentos
bilidade de ser implementado num mun- morais mais sublimes da natureza, a
do tão diversificado culturalmente. De despeito das dificuldades e do momento
qualquer forma, entendemos que é nosso turbulento por que passa a humanidade
papel fazer o que estiver ao nosso alcance neste século em que vivemos.
para conseguir levar nossos subordinados John Adair (apud Sepulveda, 1996, p.
a assumirem verdadeiramente um com- 205) reuniu, numa publicação que data de
promisso de abnegação e lealdade com a 1968, os valores e atributos necessários
instituição. Assim, não só a Marinha, mas ao líder segundo manuais de liderança de
o Brasil saberá que pode confiar em nós, diversas Forças Armadas de diferentes
aspirantes do século XXI, como militares países. Percebe-se que alguns destes atri-
capazes de liderar homens dispostos a butos são comuns à maioria dos manuais,
sacrificar suas próprias vidas em favor tais como: integridade, lealdade e qua-
dos interesses nacionais. lidades morais em geral, determinação,
justiça, bom senso, tato, coragem e, ainda,
O COMPONENTE SER – iniciativa e eficácia ou competência.
VALORES E ATRIBUTOS A constante referência a esses atribu-
tos, em diferentes épocas e lugares, sugere
Conforme dito, o século XXI será o que o que se pensa ser necessário ao líder
tempo em que não se saberá se haverá um militar, no que tange aos atributos, tem
amanhã – um cenário incerto, ambíguo se mantido essencialmente o mesmo, a
e volátil, também sob o ponto de vista despeito das inúmeras mudanças contex-
filosófico. tuais. De fato, esta tendência é confirmada
Os padrões éticos de conduta, cada dia pelo manual da campanha, FM 22-100,
mais, tenderão ao relativismo e à rejeição Liderança no Exército Norte-Americano
de verdades objetivas ou universais. En- (Army Leadership), atualizado em 1998
tão, em meio a crises, conflitos e incerte- e pelo EMA-137, Doutrina de Liderança
zas, as pessoas buscarão novas referências da Marinha do Brasil, atualizado em 2004,
que lhes restituam a integridade e que as que discutem a liderança baseada no cará-
situem em algum contexto, atribuindo ter, esclarecem os valores e estabelecem
sentido às suas existências. os atributos como parte do caráter.
Sabe-se que o trabalho do militar é
impessoal e voltado aos mais sublimes “A base da liderança é o caráter”.
interesses da Pátria, e os resultados es- General Alexander M. Patch
perados são de ordem moral e espiritual.
Posto isso, e pelo fato de ser a liderança Podemos, então, considerar que os
um processo dinâmico e progressivo de valores éticos da Marinha, bem como os
aprendizado, devemos perseguir, desen- das demais Forças, devam ser mantidos e
volver, manter e cultivar essas virtudes que os atributos de caráter permaneçam
na Escola Naval, nas gerações de oficiais iguais, considerando-se o perfil do líder
que nos sucederão, bem como em nos- militar deste nosso século.
sas Organizações Militares (OM), em Assim, as alterações no perfil do líder
nossos comandados, transmitindo-lhes militar deverão ocorrer especialmente
esses valores, despertando e estimulan- na área cognitiva, bem como na área do

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O PERFIL DO LÍDER MILITAR NAVAL DO SÉCULO XXI

relacionamento humano, mantidos os componentes do alicerce sobre o qual se


atributos de caráter do líder. apoiam os demais atributos necessários
ao líder direto?
Ultimum potentiae – a base para o
desenvolvimento dos atributos do A Justiça
líder militar
As verdadeiras lideranças baseiam-se
Se por um lado não existem fórmulas no senso de justiça. Sobre a justiça se
que indiquem quais os atributos mais apoia a disciplina, sendo-lhe diretamente
necessários ou como são utilizados no proporcional. Tratar nossa divisão com
exercício da liderança, certos traços de justiça pode significar, então, que ela se
personalidade encontram-se especialmen- manterá disciplinada.
te acentuados nos líderes militares. É importante que nunca deixemos de
Para Ândrei Clauhs, capitão do Exér- fazer uma referência elogiosa a todo traba-
cito Brasileiro, as quatro virtudes cardeais lho bem executado por nossas divisões ou
(ou morais) − coragem, justiça, tempe- pelotões, quando em conjunto, ou por um
rança e prudência − e a profissão militar militar de forma isolada. Contudo, deve-
estão intimamente relacionadas. Ele as mos nos preocupar em sermos coerentes,
defende como ultimum potentiae, ou seja, pois, no momento em que deixarmos
o máximo daquilo que uma pessoa pode passar em branco uma atividade meritó-
ser, abrindo o portal da vida para as boas ria, estaremos ferindo uma alma e, assim,
ações. Faço menção a tais virtudes como desmotivando o subordinado.
a base para o de-
senvolvimento dos
atributos do líder
militar, contextuali-
zando-as para o líder
militar-naval.
Chegado o novo
século, marcado
pela violência e
por uma sociedade
que sofre fortemen-
te a influência dos
meios de comuni-
cação de massa,
resgatar e praticar
as virtudes cardeais,
que permeiam o in-
consciente e são es- Treinamento de fuzileiros navais
senciais para a vida
coletiva, tornou-se ainda mais importante Se por um lado devemos elogiar, por
nas Forças Armadas. outro não podemos nos esquivar da res-
Como desenvolver essas quatro virtu- ponsabilidade de punir. O homem que
des consideradas, neste trabalho, como erra, se bem conduzido no diálogo ─ com

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O PERFIL DO LÍDER MILITAR NAVAL DO SÉCULO XXI

sobriedade e sereno rigor ─, reconhece como suas. A partir do momento em que


seu erro e mantém a disciplina elevada. recebe a tarefa a ser cumprida, esta passa
Além disso, a punição serve de exemplo a ser atribuição da sua fração e, portanto,
e constitui uma forma de manter regras, de responsabilidade inteiramente de seu
normas e comportamentos que norteiam comandante. A coragem se traduz, ainda,
o cotidiano do militar. na grandeza de nos responsabilizarmos
Do convívio diário com os subordi- por nossas decisões e erros.
nados, desde a Escola, surgem entre eles
aqueles com que temos maior afinidade, A Prudência
seja por identidade ou por outros fatores,
bem como aqueles dos quais preferimos A prudência sintetiza a mínima sa-
guardar maior distância. Pois bem, cum- bedoria que deve emanar de nós, jovens
pre lembrar, nesse sentido, que a justiça é líderes, apesar de nossa pouca idade. E é
impessoal, estando relacionada aos fatos exatamente este ponto que diferenciará
e não às pessoas. nós, tenentes, dos nossos subordinados,
Em conversa informal com o então pois deveremos estar permanentemente
Capitão-Tenente Marcos Simas, imediato atentos à situação do ambiente e às con-
do Rebocador Triunfo, por ocasião de um dições físicas, morais e psicológicas de
embarque de oportunidade, ele destacou nossos homens.
a importância deste aspecto para o oficial Sob esta ótica, deve-se atribuir as
subalterno: aplicada a sanção e satisfeitos missões não só aos especialistas, mas
os efeitos desejados, o assunto está en- também àqueles que, neste grupo, revelem
cerrado, a menos que haja reincidência, melhores condições de cumpri-las com
quando se evidenciará que o subordinado êxito. O discernimento na escolha dos
não assimilou as lições necessárias. meios mais justos para atingir os objetivos
da coletividade representa a prudência
A Coragem propriamente dita.

Este é um atributo também muito A Temperança


importante na personalidade militar e
costuma ser dividido em coragem física Eis uma das virtudes que teremos mais
e moral. dificuldades para trabalhar nos nossos su-
A coragem física decorre da necessida- bordinados e de revelar em nosso próprio
de de enfrentar perigos e obstáculos que modo de agir como condutor de homens
põem em risco a integridade do corpo e a livres e diferentes entre si, posto que
vida do ser humano. O jovem líder deve pressupõe muita humildade para entender
preparar seus liderados para que eviden- que os bens terrenos são temporais e que
ciem esse atributo da área afetiva em grau os prazeres devem ser usufruídos com
satisfatório, porém nunca permitindo moderação, bom senso e tolerância.
que seja confundido com inconsequente O líder deve impor-se sobre seus ho-
exibicionismo. mens pelo exemplo, pela conduta ilibada,
A outra vertente é a coragem moral. Ela pelo conhecimento profissional e pela
exige enorme vontade interior, uma vez invejável cultura e nível educacional
que muito mais do que atribuir ordens de- que revela, e nunca por suas platinas.
sagradáveis a outrem, deve-se assumi-las Elas são simbólicas e poderão deixar de

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O PERFIL DO LÍDER MILITAR NAVAL DO SÉCULO XXI

luzir a qualquer momento, se não forem Todo aspirante deve buscar assumir os
empregadas com temperança e equilíbrio. valores da instituição, estabelecendo um
Nada mais conseguiremos, se humi- modelo de conduta para os demais, bem
lharmos nossos subordinados, do que a como o segundo-tenente deve fazê-lo a
perda da credibilidade e da confiança em bordo, a fim de construir equipes fortes e
nós e em nossos atos e palavras. coesas num ambiente saudável e afetivo
A nossa profissão nos impõe que te- de aprendizagem. Cabe a cada um de nós,
nhamos diversos atributos, desenvolvidos aspirantes do século XXI, a prática das
desde o berço, representado pela Escola ações para o desenvolvimento dos líderes
Naval, e ao longo da carreira, sobretudo as das gerações que nos sucederão. Quando
quatro virtudes cardeais, especialmente se segundos-tenentes, similarmente, deve-
considerarmos o cenário incerto e ambí- mos estimular ao máximo o desenvolvi-
guo do século XXI, em que valores morais mento de líderes subordinados, de forma
têm sido afetados pela generalização da a potencializar nossas influências até os
violência em larga escala. níveis organizacionais mais baixos, a fim
Não podemos, nós, líderes de pequenas de obter os melhores resultados.
frações, nos esquivar da responsabilidade É nosso dever solene, portanto, abra-
de revelar virtudes como coragem, justiça, çar e incutir nos nossos subordinados os
prudência e temperança em nós mesmos, valores da Marinha. Teremos influência
nos aspirantes mais modernos e à frente direta sobre o destino dos nossos coman-
de nossas divisões. A tarefa de doutri- dados. Temos grande responsabilidade
namento deve posicionar esses valores para com o Brasil, e o nosso povo exige
sempre acima dos valores materiais como da Marinha a manutenção perene de uma
o dinheiro, o poder e a satisfação pessoal. liderança de excelência, baseada nos seus
Procurando sempre demonstrar esses valores básicos.
valores em nossas ações, estaremos, na-
turalmente, sendo considerados como a O COMPONENTE FAZER –
personificação da vontade coletiva de nos- HABILIDADES
sas frações, condição para que se possam
alcançar altos índices de operacionalidade, Possuir esses valores e atributos não
coesão e lealdade entre os nossos liderados. é suficiente para ser um líder. Ser um
líder dedicado e de princípios é apenas
Os valores e atributos o começo. Conforme dito anteriormente,
as principais alterações no perfil do líder
O Nossa Voga, com origem em 1954, militar para este novo século devem ocor-
segue válido e atual, estabelecendo os rer especialmente na área cognitiva e do
valores e atributos necessários ao líder relacionamento humano, ou seja, teremos
militar-naval deste século. que ir ainda mais longe.
Esses valores e atributos, estabelecidos No que se refere às habilidades, três
na Rosa das Virtudes, são os componentes pontos básicos podem ser cruciais para
do caráter, que revela quem é cada um dos o exercício de uma liderança positiva.
militares de qualquer força em qualquer Primeiro: nenhum subordinado acorda
época. Representam a cultura militar de manhã e pensa: “Como é que eu posso
profissional e descrevem a natureza de fazer isto errado hoje?” Eles desejam fazer
nossos marinheiros. o que é certo, e nós devemos lhes dar esta

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O PERFIL DO LÍDER MILITAR NAVAL DO SÉCULO XXI

oportunidade. Devemos olhá-los focali- por fim, promover na equipe soluções tipo
zando os aspectos positivos de cada um. ganha/ganha: um estado de espírito que
Segundo: é nossa responsabilidade ajudá- busca constantemente o benefício mútuo
-los a evoluir mental, física, espiritual e em todas as interações humanas. Nesse
socialmente em toda a sua potencialidade. tipo de solução, as partes se sentem bem
Para tal, temos que criar um ambiente em e se comprometem com o plano de ação.
que possam atingir a plenitude de seu po- O sucesso de um membro do grupo não
tencial, valorizando a iniciativa, a criativi- se conquista com o sacrifício ou exclusão
dade e a habilidade de resolver problemas. de outro camarada.
Terceiro: trate os outros como gostaria de Tanto nossos chefes quanto nossos
ser tratado. Devemos ter compaixão – um subordinados esperarão que conheçamos
respeito básico pela dignidade de cada bem tanto os subordinados quanto os equi-
indivíduo – e tratar todos com dignidade pamentos e que sejamos experts em nossa
e respeito. O subordinado deve sentir área de atuação. Por isso, temos que estar
que está sendo tratado com justiça, deve engajados continuamente em desenvolver
sentir que nos interessamos por ele e que novas habilidades para lidar tanto com
estamos fazendo todo o possível para que novas atividades, equipamentos e táticas
ele desenvolva seu potencial. quanto com pessoal diferente.
O novo século exigirá, ainda, de nós, Em resumo, além da vasta competência
líderes diretos, pensamento crítico-lógico profissional e da competência exigida
e pensamento criativo, a fim de determi- em comunicação, formação de equipes,
nar a melhor forma de cumprir a missão. supervisão e aconselhamentos, os líderes
A ética será especialmente usada para diretos do século XXI terão que dar ênfase
pautar nossas condutas e adquirir certeza à argumentação crítica e ao pensamento
de que nossas escolhas são as melhores criativo. O guia para o adestramento de
e contribuem para o aperfeiçoamento do líderes diretos deve ser, portanto, desen-
desempenho do grupo, dos subordinados volvê-los intelectualmente para melhorar
e de nós mesmos. suas habilidades para lidar com ideias,
Por meio da comunicação e supervisão, pensamentos e conceitos.
desenvolveremos nossos liderados por
instruções e aconselhamento, moldan- O COMPONENTE SABER
do equipes coesas e treinando-as até a
obtenção de um padrão. Nesse trabalho "Em nossa Marinha, até pouco tem-
de modelagem e treinamento, algumas po, o conceito de liderança não mais
habilidades podem contribuir para um era do que um dom trazido de berço.
relacionamento afetivo do comandante Hoje, considera-se que existe um con-
da pequena fração com seus homens. junto de requisitos, os quais, quando
Primeiramente, valorizar as diferenças aprendidos, desenvolvidos e aplicados,
mentais, emocionais e psicológicas entre proporcionarão a qualquer pessoa as
as pessoas: essa é a essência da sinergia condições de se tornar um líder."
do grupo. Segundo, procurar primeiro CMG (RM1) Leonardo Trisciuzzi Neto
compreender, depois ser compreendido.
A maior parte das pessoas não consegue A visão atual que a Marinha tem a res-
escutar com a intenção de compreender, peito de liderança redirecionou o modo de
elas ouvem com a intenção de retrucar. E, pensar quanto à formação de seus oficiais.

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O PERFIL DO LÍDER MILITAR NAVAL DO SÉCULO XXI

A necessidade de formar oficiais com ele- uma qualidade profissional, que pode
vado preparo técnico-científico continua ser ensinada como uma outra matéria.”
a ser perseguida, especialmente diante Bidwell
da conjuntura atual, quando as inovações
tecnológicas ocorrem tão rapidamente. Para que os oficiais de Marinha sejam
Contudo, a instituição entende que a capazes de acompanhar os avanços tec-
liderança é, também, de importância in- nológicos que ocorrem tão rapidamente
contestável e a considera como propósito na Era da Informação, o sistema de en-
maior e abrangente da formação do líder sino naval deve ser capaz de manter um
militar-naval direto. elevado padrão técnico-científico na forja
O EMA-137, Doutrina de Liderança dos novos líderes militares. Contudo, uma
para a Marinha, estabelece para o curso formação técnico-profissional excelente
de formação de líderes diretos na Escola não basta para que sejamos capazes de
Naval: “Além da formação básica, deverá conduzir homens no limite de suas resis-
constar no currículo de liderança o preparo tências físicas e psicológicas, sob ameaças
humanístico, a liderança de pequenos gru- e fogos inimigos.
pos, a condução de tarefas administrativas A natureza humana mantém-se inal-
e operativas, a consolidação da capacidade terada desde os primórdios dos conflitos
de julgamento e, fundamentalmente, a armados. Líderes e liderados vivenciam
capacidade de comunicação. Nos respec- os mesmos temores e emoções em todas
tivos cursos, deverão ser desenvolvidas as operações militares. Não saber como
habilidades e conhecimentos que, além lidar com a pessoa humana, entender suas
de facultar o autoconhecimento, permi- necessidades, punir ou reforçar positiva-
tirão o entendimento mais aprofundado mente na hora certa gera no militar a falta
da natureza humana, enfocando as suas de um atributo que é fundamental para o
necessidades, carências e motivações” . exercício do comando, em qualquer esca-
Podemos perceber que o homem é o lão de tropa: a Liderança Militar.
grande foco da liderança, e, sendo por Surgiu a necessidade, portanto, de
meio da educação que se inicia a formação encontrar uma solução, com a finalidade
de um líder, é irrefragável que as Ciências de completar as lacunas na formação dos
Sociais e Humanas desempenham um militares condutores de homens. Uma das
importante papel nesse contexto. Esse as- soluções encontradas foi a implementação
pecto toma uma dimensão ainda maior no do estudo dos atributos de Liderança nas
caso da formação do líder militar, dado que escolas de formação, base de todo o oficial
liderar homens e mulheres até os limites de carreira das Forças Armadas.
de sua força para alcançar o cumprimento Sendo a Liderança um assunto alta-
da missão tem sido o grande desafio dos mente multidisciplinar, essa implemen-
chefes militares em todos os tempos. tação trouxe consigo a necessidade de se
apoiar de maneira científica e sistemati-
Escola Naval: as Ciências Sociais e zada o estudo do assunto. Seria, portanto,
Humanas e a formação de indispensável que o futuro líder militar
líderes diretos tivesse uma gama de conhecimentos que
servisse de alicerce para o desenvolvi-
“A experiência militar britânica mento de um verdadeiro líder: o estudo
permite demonstrar que liderança é das Ciências Sociais e Humanas.

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O PERFIL DO LÍDER MILITAR NAVAL DO SÉCULO XXI

A necessidade de dar mais ênfase a ciedade em que vivemos e compreender


essas ciências – em especial apoio ao melhor os fatos e processos sociais que
ensino da Liderança – entre as disciplinas nos rodeiam, especialmente num mundo
dos currículos nas escolas de formação de de mudanças e agitações sociais em que a
líderes diretos tem sido uma decorrência relação entre líder e liderado sofre intensas
natural na modernidade. Novos critérios e rápidas transformações.
de valores morais, revelações científicas
revolucionárias, particularmente no domí- “Na verdade, o processo de tornar-
nio psíquico, a notada elevação do padrão -se um líder é quase o mesmo que o
intelectual das praças e outros conceitos processo de tornar-se um ser humano
de liberdade e de direitos humanos muda- pleno. Para o líder, como para qualquer
ram de modo radical a forma de lidar com pessoa plena, a vida em si é a carreira.”
os subordinados, pondo em relevo como Warren Bennis
nunca a responsabilidade dos chefes no
tocante a obterem integral cooperação de O propósito do estudo das Ciências So-
seus liderados. A tendência é que a busca ciais e Humanas se resume, pois, em fixar
e a aplicação desses atributos se acentuem o mínimo necessário de conhecimentos
cada vez mais, uma vez que a liderança e a especializados de imediato interesse para
cooperação não nascem com o indivíduo; o líder direto, bem como cumprir sua mis-
são desenvolvidas durante o período de são quanto à condução de seus homens,
formação. pois, na verdade, quem não compreender
O oficial das Forças Armadas não preci- plenamente o homem como um ser social,
sa ser um doutor nos aspectos abstratos da especialmente nas atividades militares,
Psicologia, da Filosofia, da Psiquiatria ou não conseguirá liderá-lo verdadeiramente.
da Sociologia. A maioria dos homens que
ele irá comandar pertence à categoria cuja A evolução das Ciências Sociais e
conduta será fácil de controlar, desde que Humanas nos currículos da Escola Naval
o chefe conheça o mínimo indispensável
de psicologia militar. É, contudo, irrefra- Conforme dito, a necessidade de dar
gável que, se o comandante de homens mais ênfase a essas ciências – em especial
domina o essencial a respeito do proce- apoio ao ensino da Liderança – entre as
dimento humano, se distingue o normal disciplinas dos currículos nas escolas de
do mórbido, se não ignora o mecanismo formação de líderes diretos tem sido uma
de interdependência que rege estímulos e decorrência natural da modernidade. Mas
reações e, sobretudo, conhece a si próprio, qual a postura do sistema de ensino naval
estará em excelentes condições de corrigir diante do assunto?
deficiências e obviar inaptidões pessoais, A fim de caracterizá-la, verificamos
o que não ocorre, é evidente, com o igno- junto à Secretaria Escolar as principais al-
rante da psicologia da Liderança. terações curriculares nos últimos dez anos
O líder deve ainda ser capaz de enten- na Escola Naval, tomando-se como base
der o comportamento social do homem, para comparações os currículos de 1993,
bem como suas várias formas de organi- 1997, 2000 e o vigente – 2003, conside-
zação, contextualizado em nossas equipes rando apenas as disciplinas pertencentes
de trabalho e combate nas nossas divisões. ao Ensino Básico, que constituem a base
Elas nos permitem entender melhor a so- de formação de todos os oficiais formados

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O PERFIL DO LÍDER MILITAR NAVAL DO SÉCULO XXI

Em 1997, os refle-
xos desse projeto já se
fizeram notáveis em
termos curriculares
para a Escola Naval.
As cargas horárias des-
tinadas às disciplinas
do CCS aumentaram
Carga horária do Centro de Ciências Sociais (CCS)
drasticamente e, na-
quele ano, já corres-
pondiam a 49,02% da
pela Escola Naval, independente de Corpo carga horária destinada ao Ensino Básico.
ou habilitação. Para 2000, a tendência de aumento conti-
Em 1993, as disciplinas do Centro nuou, e elas já correspondiam a 54,79%.
de Ciências Sociais (CCS) constituíam Em 2003, apesar de o índice ter se
21,32% da carga horária destinada ao Ensi- mantido praticamente constante, 52,28%,
no Básico. Naquele mesmo ano, uma pes- a disciplina Liderança, que em 2000 ocu-
quisa de opinião efetuada junto ao público pava uma carga horária de 60 horas, passou
interno da Marinha do Brasil apresentou, a 90. No início daquele mesmo ano, o
entre outras realidades, a inadequação do diretor de Ensino da Marinha, por meio de
relacionamento entre superiores e subor- palestra proferida no auditório da Escola
dinados. Os diversos fatores que, ausentes, Naval, reafirmou aos oficiais, docentes e
contribuíram para esse desfecho certamen- aspirantes a importância da Liderança para
te podem ser sintetizados em um conceito a carreira militar e a intenção da Marinha
intimamente vinculado à instituição e à em desenvolver cada vez mais esta área do
atividade militar: a Liderança. ensino na formação dos oficiais.
Dessa forma, a Diretoria de Ensino A formação do líder é uma história,
da Marinha decidiu buscar maneiras de muito mais do que uma série de aulas.
aperfeiçoar seus diversos cursos no que Como uma história moderna, não tem
diz respeito a este importante aspecto. começo, meio ou fim. Mas tem muitos
Com este propósito, promoveu na Escola temas que aparecem repetidas vezes – a
Naval, em 1994, o primeiro simpósio so- necessidade de educação humanística e
bre liderança, cujos resultados pautaram oportunidades para que ela se desenvolva,
as ações em relação ao assunto. entre outros.
Assim, foi criada ou redimensionada, E é dessa forma, portanto, que a
nos diversos cursos do Sistema de Ensino Marinha do Brasil vem trabalhando,
Naval, a disciplina Liderança, com teor para garantir que seus futuros oficiais
compatível com seus níveis e com ênfase tenham as oportunidades e a formação
em aspectos considerados sensíveis no humanística necessárias ao processo de
mesmo simpósio. Esse projeto foi respal- transformação, visto que tornar-se uma
dado em 1995, quando, entre as diversas pessoa com as características de um líder
Orientações Ministeriais, figurou a reco- é um ato de livre arbítrio por excelência,
mendação de ver com especial atenção, e, se é isso que nós, futuros oficiais,
nos cursos de formação de oficiais, o realmente almejamos, transformar-nos é
problema do ensino da Liderança. o único caminho.

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O PERFIL DO LÍDER MILITAR NAVAL DO SÉCULO XXI

O COMPONENTE FAZER – maturas e exemplos dos aspirantes mais


COMO FAZER O ASPIRANTE antigos, a Escola Naval tem desenvolvido
PENSAR COMO LÍDER? o componente “conhecer”.
Finalmente, o componente “Fazer”.
“O homem é aquilo que ele pensa ser.” Para desenvolvê-lo, a Escola Naval deve
David O. Mckay ser capaz de proporcionar as oportunida-
des para praticar a liderança no ambiente
O manual de liderança das Forças ca- militar, reforçando este componente.
nadenses (Leadership, 1973) estabelece Embora a Escola forneça os conceitos
que qualquer pessoa, independentemente e procedimentos básicos para muitas
de experiências que tenha, e sendo ra- habilidades do líder, a experiência e a
zoavelmente inteligente, pode estudar, competência só crescem realmente na
praticar, cultivar e aplicar técnicas de divisão que assumiremos, “fazendo”.
Liderança. Assim sendo, a Escola Naval Contudo, o desafio de melhorar como
pode otimizar o processo de formação líder sempre deve permanecer conosco.
e desenvolvimento de lideranças, des- Desde a Escola Naval, é importante o
de que dê ênfase ao assunto, a ponto amadurecimento de uma visão de que
de motivar todos os seus setores para as escolas de formação são campos de
essa finalidade. Esse é um fator muito exercício para prática do futuro.
relevante, especialmente se partimos do A instituição proporciona recursos
princípio de que a liderança é um pro- para os sistemas educacionais, mesmo
cesso puramente concebido e exercido sob ferrenhas restrições orçamentárias. As
dentro da área afetiva, donde decorre organizações buscam atribuir tarefas que
que o envolvimento e a mobilização dos contribuam para o bem da MB e para o
professores e instrutores para o assunto crescimento individual do líder. Entretan-
são de fundamental importância. to, ninguém melhor do que os líderes para
Conforme abordamos no início deste saber quais as áreas relevantes que valem
trabalho, o manual FM 22-100, do Exérci- a pena serem estudadas e praticadas. Os
to dos EUA, estabelece que, para preparar líderes determinam o que necessitam
seus liderados e operar efetivamente por saber para o seu trabalho e para o futuro,
meio de todo o espectro de conflitos, há e se esforçam para obter isso.
certas coisas que você deve ser, conhecer Nesse contexto, em agosto de 2003
e, finalmente, fazer. realizou-se, na Aman, o I Simpósio de
Já abordamos a importância do compo- Liderança Militar, com enfoque na for-
nente “ser”, os atributos e as habilidades mação de líderes diretos. O evento contou
necessárias ao líder do século XXI. Na com a participação de cadetes e aspirantes
Escola, a formação do caráter do líder deve das três escolas de formação de oficiais
estar focalizada em todas as suas atividades. das Forças Armadas do Brasil. Uma das
Os aspectos da educação do aspirante devem questões centrais das discussões foi o
estar direcionados para construir e reforçar “Fazer” e quais os mecanismos usados
o componente “Ser”. Suas crenças e seus por essas instituições para desenvolver
valores são facetas de quem e do que você é. tal componente. A troca de experiências
Por meio das aulas de Liderança, do expôs as semelhanças e diferenças entre
estudo das Ciências Sociais e Humanas, as academias e proporcionou uma reflexão
de estudos de casos, filmes, palestras, for- sobre esta questão na Escola Naval.

RMB2oT/2019 163
O PERFIL DO LÍDER MILITAR NAVAL DO SÉCULO XXI

Viu-se que as práticas nos avisos de no processo de desenvolvimento da


instrução, o serviço, a chefia de equipes, liderança entre estes. A segunda delas é
os comandos de veleiros e o encargo de que é imprescindível que todo aluno das
oficiais-alunos, entre outras atividades, escolas de formação tenha tido oportu-
constituem oportunidades para o exercício nidade, na escola, de ocupar posições
da liderança. que o permitam exercer liderança sobre
os demais. E, por fim, que
todas as ações na área de li-
derança devem minimizar os
mecanismos empíricos, a fim
de desenvolver um processo
controlado e cientificamente
acompanhado. Dessa forma,
os resultados surgirão e serão
percebidos e materializados
por um melhor desempenho
dos segundos-tenentes a
bordo de suas OM e à frente
de suas divisões ou pelotões.

CONCLUSÃO
Premiação de aspirantes
Para o bom funcionamen-
A partir da observação dessas e de ou- to de uma OM são necessários requisitos
tras oportunidades nas demais academias baseados na existência de uma estrutura
militares, os aspirantes participantes do coerente e flexível, no emprego de táti-
evento, juntamente com representantes cas, estratégias e doutrinas adequadas,
de todos os corpos e habilitações da bem como na combinação de profis-
turma do 4o ano, geraram um Projeto de sionais competentes utilizando meios
Exercício da Liderança na Escola Naval, apropriados. Contudo, sua eficiência
composto de programas que, com o com- dependerá da disponibilidade de líderes
prometimento de aspirantes e oficiais, capazes de realizar a conjugação harmo-
seriam capazes de desenvolver e ampliar niosa desses fatores.
o “Fazer” na Escola. O projeto tem pas- Se no século XXI, por um lado, o pro-
sado por análises do Comando do Corpo cesso decisório poderá ser facilitado pelo
de Aspirantes, e há expectativas de que a emprego de modernos recursos tecnoló-
implantação de alguns desses programas gicos, por outro, como as ações militares,
sejam levados a cabo ainda em 2004, com quer em tempo de paz, crise ou guerra,
execução mais ampla a partir de 2005. foram, são e continuarão a ser um esforço
A primeira das mais importantes predominantemente humano; se exigirá
conclusões do evento foi que a Escola cada vez mais eficiência no desempenho
Naval precisa estar buscando continua- da liderança. Mesmo que seja exigido o
mente, seja por meio dos professores, desenvolvimento de certas habilidades
instrutores, oficiais e, principalmente, para atuar nesse novo ambiente, os atri-
por iniciativa dos aspirantes, avançar butos e valores militares já evidenciados

164 RMB2oT/2019
O PERFIL DO LÍDER MILITAR NAVAL DO SÉCULO XXI

por líderes que se destacaram no passado dada a oportunidade de desenvolver-nos.


continuarão sendo essenciais para uma Amadurecer, pensar como líderes e ter
liderança positiva no futuro. paixão pelo que fazemos são o ponto de
Não há fórmula para se fazer um líder. partida para construirmos uma Marinha
Sê-lo é um processo contínuo de matura- com comandantes de valor, prontos a aten-
ção dos componentes Ser, Saber e Fazer. der ao chamado de nossa nação sempre e
A todos nós, aspirantes do século XXI, é onde for preciso.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:


<VALORES>; Liderança; Conduta; Princípios Militares;

BIBLIOGRAFIA

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OLIVEIRA, Pérsio Santos de. Introdução à Sociologia. São Paulo: Ática, 1998.
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_____________________________ 4o QUARTER 2000.
EMA 137 – Doutrina de Liderança para a Marinha do Brasil.

RMB2oT/2019 165
A INFLUÊNCIA DOS ELEMENTOS BASEADOS EM
TERRA NA GUERRA NAVAL: uma breve comparação
entre Brasil e China

Um navio de guerra é uma bateria flutuante.


Hendrik Willem Van Loon, Historiador

GUSTAVO DINIZ LEITE DE AQUINO


Guarda-Marinha

SUMÁRIO

Introdução
Exemplos históricos
Conjuntura Doutrinária Mundial
Estudo de caso: Sisgaaz
China
Considerações finais

INTRODUÇÃO manter a jurisdição e a plena soberania


sobre a mesma. Tal atividade demanda

A missão da Marinha do Brasil (MB)


é definida pela Doutrina Básica da
Marinha (2014), que menciona “prepa-
grande esforço em termos de monitora-
mento e controle.
As Águas Jurisdicionais Brasileiras
rar e empregar o Poder Naval1, a fim (AJB)2 totalizam 3,6 milhões de quilôme-
de contribuir para a defesa da Pátria”. tros quadrados3 e são de extrema impor-
É importante que o Brasil seja capaz de tância para o País. Sabe-se que o petróleo
defender toda a Amazônia Azul, a fim de retirado do mar representa mais de 82%

1 Compreende os meios navais, aeronavais e de fuzileiros navais; as infraestruturas de apoio; e as estruturas


de comando e controle, de logística e administrativa (BRASIL, 2014a).
2 Termo usado na MB para referir-se às águas sob jurisdição nacional (MORE, 2013).
3 Existe um pleito brasileiro na Comissão de Limites da Plataforma Continental para estender os limites de
sua Plataforma Continental, o que iria aumentá-la em 900 mil km2 (BRASIL, 2014a).
A INFLUÊNCIA DOS ELEMENTOS BASEADOS EM TERRA NA GUERRA NAVAL: uma breve comparação entre Brasil e China

da produção nacional. Aproximadamente Libertação Popular da China, traçando


93% da produção industrial nacional está um paralelo no que tange aos elementos
situada a menos de 200 milhas náuticas da baseados em terra. É importante registrar
costa, o que representa 80% da população que o trabalho considera apenas a guerra
brasileira, e as Linhas de Comunicação convencional, descartando, assim, as
Marítima (LCM) são responsáveis pelo armas de destruição em massa.
transporte de 95% do comércio exterior
do País (BRASIL, 2017b). EXEMPLOS HISTÓRICOS
Para garantir os direitos assegurados
por força de convenções internacionais, O Almirante (USN) Alfred Thayer
das quais o Brasil é signatário, faz-se ne- Mahan (1915) fez uma análise minuciosa
cessário que o País fiscalize esse espaço sobre os fortes terrestres atuantes na Guer-
em sua totalidade e em tempo integral, o ra Russo-Japonesa (1904-1905). Destacou
que demandará uma Marinha de grande o poder ofensivo por trás das paredes das
vulto. Cabe ressaltar que o espaço aéreo fortalezas, que são vistas, na maioria das
sobrejacente está incluso na área a ser vezes, como um instrumento defensivo.
fiscalizada. Seus estudos também consideraram,
Isso posto, este estudo inicialmente acertadamente, que a sua proteção não se
traz referências históricas a fim de analisar expande além do alcance de suas armas4.
a utilização de elementos baseados em A Segunda Guerra Mundial provocou
terra na Guerra Naval e insere esses ele- uma verdadeira revolução nos sensores e
mentos no contexto teórico e doutrinário armamentos. A Alemanha remodelou o
atual. Posteriormente, examina de maneira uso de autopropulsados no campo de ba-
breve a MB e a Marinha do Exército de talha com o lançamento de mais de 25 mil

Figura 1 – Mísseis balísticos DF-26


Fonte: www.naval.com.br

4 Sabe-se que, geralmente, o alcance dos fortes litorâneos era maior do que o dos navios de superfície, devido
às restrições de peso e ao tamanho dos canhões embarcados.

RMB2oT/2019 167
A INFLUÊNCIA DOS ELEMENTOS BASEADOS EM TERRA NA GUERRA NAVAL: uma breve comparação entre Brasil e China

unidades dos seus famosos foguetes V-1 e lados mais ofensivos e, ao mesmo tempo,
V-2 durante o conflito (HUGHES, 2000). mais vulneráveis.
O alcance dos canhões navais evoluía
muito rapidamente à época, como pode O maior alcance dos mísseis lança-
ser observado na Tabela 1. Mesmo as- dos de terra estará associado às novas
sim, o alcance das armas tradicionais era possibilidades de atacar os seus navios.
irrisório quando comparado com o do A obrigação de realizar guerras cos-
novo armamento alemão, que conseguia teiras conjuntas acarreta a realização
acertar alvos a uma distância de cerca de de operações próximas à costa, sub-
200 milhas náuticas5 (HICKMAN, 2018). metendo os navios a uma ameaça de
mísseis de cruzeiro e balísticos
lançados por diversos tipos de
Ano Situação de emprego Alcance (jardas)
lançadores instalados em terra,
1862 Monitor e Merrimac 1.000 (médio) em aeronaves e em pequenas
1905 Tsushima 4.000-6.000 embarcações de superfície.
(HUGHES, 2000, p. 150)
1910 Treinamentos da USN 12.000
1918 Fim da Primeira Guerra Mundial 24.000 O mantra do Almirante
1948 Depois da Segunda Guerra Mundial 40.000 + Nelson para a Royal Navy
durante a era da vela de com-
Tabela 1 – Alcance dos canhões navais (1862-1948) bate dizia: “Idiota é um navio
que luta contra um forte”. As
Outro avanço tecnológico desse pe- novas configurações da Guerra Naval
ríodo, a bomba atômica, demonstrou derrubaram a premissa de Lorde Nelson.
empiricamente que o poder de destruição O aumento do alcance dos sensores e
dos armamentos atingira novo patamar. armamentos, aliado ao nível de poder de
Apenas duas unidades devastaram Hi- fogo existente atualmente, mudou profun-
roshima e Nagasaki do mapa, uma para damente as táticas.
cada cidade. O próximo passo na evolução
dos armamentos viria a ser o conjugado CONJUNTURA DOUTRINÁRIA
bomba atômica-míssil, a arma mais temi- MUNDIAL
da na atualidade.
Quando os mísseis6 foram instalados Ao fim da Guerra Fria, os Estados
a bordo dos navios, modificaram toda Unidos da América (EUA) mudaram a
a dinâmica da guerra naval (HUGHES, abordagem de sua Marinha de forma radi-
2000). Os armamentos atingiram um alto cal, buscando adequação à nova realidade
grau de confiabilidade, maior alcance, mundial. O rumo-base para as alterações
maior nível de complexidade e maior foi a adoção de uma ameaça global com
poder de destruição. Todas essas novi- diversos desafios e oportunidades regio-
dades modificaram o histórico combate nais. O período posterior à bipolaridade,
entre fortes e navios, deixando ambos os quando os EUA possuíam oposição à

5 Uma milha náutica equivale a 2.000 jardas (1.852 metros).


6 A diferença entre um míssil e um foguete é o sistema de guiagem. Enquanto esses deslocam-se numa tra-
jetória balística durante o voo, aqueles deslocam-se segundo uma trajetória controlada por sistema de
guiagem integrado ao armamento (BRASIL, 2017a).

168 RMB2oT/2019
A INFLUÊNCIA DOS ELEMENTOS BASEADOS EM TERRA NA GUERRA NAVAL: uma breve comparação entre Brasil e China

altura, foi marcado por diversas inter- bilidade como ponto-chave, bem como
venções por meio da projeção de poder a realização de operações nos diversos
vindo do mar7. O paradigma da Guerra ambientes de guerra de forma interco-
de Litoral baseia-se nessa situação global nectada, a fim de maximizar sua eficiên-
(MOURA, 2014). cia. A publicação também reconhecia
a importância de bases avançadas nas
Mudança doutrinária dos diversas regiões do mundo para fornecer
Estados Unidos apoio logístico (UNITED STATES OF
AMERICA, 1992).
A United States Navy (USN) e o Uni-
ted States Marine Corps publicaram, no Comando e Controle
ano de 1992, seu Livro Branco, versando
sobre o preparo dos seus serviços para o O documento doutrinário Sistema
século XXI. Consistia nas diretrizes para Militar de Comando e Controle (2015),
a reorganização de seu poder combativo do Ministério da Defesa, define Sistema
sob novos pilares, tais como: presença de Comando e Controle como sendo “[…]
avançada, resposta imediata a crises, dis- o conjunto de instalações, equipamentos,
suasão estratégica e defesa do território. A sistemas de informação, comunicações,
alteração fundamental ficou por conta do doutrinas, procedimentos e pessoal es-
afastamento de uma Guerra Naval Oceâni- senciais para o decisor planejar, dirigir e
ca em detrimento às Operações Conjuntas controlar as ações da sua organização”.
conduzidas do mar para influenciar direta- A atividade de Comando e Controle
mente acontecimentos em terra (UNITED (C2) é indissociável das operações mili-
STATES OF AMERICA, 1992). tares (BRASIL, 2014a). Os comandantes
Com base nos preceitos dos documen- da cena de ação são coordenados por seus
tos que foram produzidos a fim de balizar superiores de forma que toda a expressão
as alterações, as forças navais americanas militar a ser utilizada seja empregada
sofreram mudanças em diversas condutas, como uma certa sinergia.
adotando meios versáteis para tornar suas Muitos acadêmicos, ao abordar o tema
forças mais flexíveis, ou seja, capazes de de forma mais atual, não se referem mais
cumprir uma imensa gama de missões. a C2. O novo termo adotado é Comando,
Destaca-se a visão dos chefes navais Controle, Comunicações, Computadores,
norte-americanos em remodelar em tempo Inteligência, Vigilância e Reconhecimen-
oportuno o emprego de sua Marinha de to (C4ISR), que apenas acrescenta as
acordo com as transformações da conjun- novas possibilidades oriundas do avanço
tura mundial, produzindo uma Marinha do da tecnologia, mas não muda a essência
século XXI capaz de influenciar aconteci- das suas funções ou aplicações, como é
mentos em terra – direta e decisivamente explicitado por Hayes (2006). Importante
– em qualquer momento e em qualquer destacar que a doutrina da MB já prevê
lugar (HUGHES, 2000). as estruturas de comando e controle
A nova doutrina que passou a ser como parte integrante do Poder Naval
adotada na US Navy previa interopera- (BRASIL, 2014a).

7 O período pós-Guerra Fria foi marcado por diversos conflitos regionais, como, por exemplo, as guerras do
Golfo (1990-1991) e da ex-Iugoslávia (1991-1997) (MOURA, 2014).

RMB2oT/2019 169
A INFLUÊNCIA DOS ELEMENTOS BASEADOS EM TERRA NA GUERRA NAVAL: uma breve comparação entre Brasil e China

Guerra Centrada em Redes ESTUDO DE CASO: SISGAAZ

Uma das mudanças de paradigma A Estratégia Nacional de Defesa


proposta pelos norte-americanos, vi- (END) (2013) prevê, em suas diretrizes,
sando a uma dominação plena dos que as Forças Armadas brasileiras devem
ambientes de operação, foi a criação do se organizar pautadas no trinômio monito-
conceito de Guerra Centrada em Redes. ramento/controle, mobilidade e presença.
Essa inovação partiu inicialmente das O mesmo documento, ao referir-se aos
empresas civis americanas na década Objetivos Estratégicos da Marinha do
de 1990, motivadas pelas inovações Brasil, explicita no seu sexto item o papel
surgidas na área da Tecnologia da In- que os sistemas C4ISR terão no incremen-
formação (TI), que utilizava redes de to da sua capacidade operativa.
computadores para melhorar suas co-
municações e aprimorar as tomadas de O monitoramento da superfície do
decisão (CEBROWSKI, 1999). mar, a partir do espaço, deverá integrar
A percepção do novo ambiente no o repertório de práticas e capacitações
cenário empresarial por parte dos mili- operacionais da Marinha. A partir
tares norte-americanos fez com que os dele, as forças navais, submarinas e
novos conceitos fossem adaptados para de superfície terão fortalecidas suas
as operações militares, causando uma capacidades de atuar em rede com
revolução em assuntos militares que não as forças terrestre e aérea. (BRASIL,
era vista desde a Era Napoleônica (CE- 2013, p. 72)
BROWSKI, 1999). As novas tecnologias
mudaram as próprias características da Visando adequar-se às orientações
guerra. Segundo o Almirante (USN) Jay da END, a MB concebeu o Sistema de
Johnson, foi uma mudança fundamental, Gerenciamento da Amazônia Azul (Sis-
substituindo o que chamávamos de guer- GAAz). O sistema tem como finalidade o
ra centrada em plataformas para guerra monitoramento e o controle integrado das
centrada em redes. O foco não é mais Águas Jurisdicionais Brasileiras (AJB) e
a plataforma, e sim a rede; em última das demais áreas marítimas de interesse
análise, não é mais o navio de guerra estratégico do País, como, por exemplo,
inimigo, e sim todo o sistema do qual a região SAR sobre a qual o Brasil é
ele participa. responsável, visando obter a consciência
Essa nova concepção que atualmente situacional marítima das AJB e contribuir
toma conta das Forças Armadas de todo para a mobilidade estratégica8 (JUNIOR,
o mundo nos faz enxergar as plataformas 2016). Cabe ressaltar que a área SAR,
como componentes de um sistema muito região em que o Brasil é obrigado a con-
maior, daí a origem do nome Guerra duzir Operações de Busca e Salvamento
Centrada em Redes. Esse sistema permite por força de acordos internacionais, tem
que as operações militares ocorram de dimensões equivalentes a cerca de 1,5
forma muito mais dinâmica, assertiva, vez o tamanho do território nacional
precisa e flexível. (FERREIRA, 2015).

8 Mobilidade estratégica seria a capacidade de um país movimentar seus meios rápida e coordenadamente,
de forma a obter pronta resposta a qualquer tipo de ameaça.

170 RMB2oT/2019
A INFLUÊNCIA DOS ELEMENTOS BASEADOS EM TERRA NA GUERRA NAVAL: uma breve comparação entre Brasil e China

Hoje é empregado o Sistema Naval Iacit. O equipamento é um radar que tem


de Comando e Controle (SisNC2) para o alcance de aproximadamente 200 milhas
acompanhar o movimento das forças náuticas e permite o monitoramento de
navais brasileiras e manter o controle das uma área muito extensa por meio de um
embarcações que estão nas AJB. Toda sistema baseado em terra.
sua estrutura é controlada pelo Centro de
Comando do Teatro de Operações Marí- CHINA
timo (CCTOM), operado pelo Comando
de Operações Navais. Seu software de A China, atualmente, é o segundo país
apresentação recebe informações de na- do mundo no que tange a investimentos
vios e aeronaves da MB e de aeronaves da em Defesa, atrás apenas dos EUA. Sua mi-
Força Aérea Brasileira (FAB) em missões litarização recente acompanha o aumento
de Patrulha Naval, além de se comunicar do seu Produto Interno Bruto (PIB), e suas
com o banco de dados do Sistema de aspirações geram certa instabilidade nos
Informações sobre o Tráfego Marítimo países vizinhos. Sabe-se que seus esfor-
(Sistram). O Sistram, por sua vez, compila ços priorizam a Marinha e a Força Aérea
os dados oriundos de diversos sistemas (MARCUS, 2018).
(JUNIOR, 2016). Os inimigos externos potenciais dos
A maioria das fontes de informação chineses são os EUA, a Índia e o Japão
usadas atualmente pelo SisNC2 é oriun- (MOURA, 2014). A estratégia militar-
da de sistemas colaborativos, ou seja, o -naval chinesa considera a força dos
próprio usuário possui um equipamento elementos baseados em terra para a defesa
que emite seus dados. Apenas quando do seu território e também para a projeção
os contatos são adquiridos pelos meios de poder, ainda que as políticas expansio-
da MB ou da FAB é feita a identificação nistas não sejam assumidas publicamente.
positiva com alvo.
O SisGAAz irá manter o SisNC2 como Atualmente, os interesses políticos
o seu principal sistema, que será integrado da China consistem em assegurar seu
a outras inúmeras fontes de informação, crescimento econômico pacífico e
chamados no projeto de Sistema de Senso- salvaguardar a soberania, segurança
riamento e Comunicação Novos (SSCN). e integridade territorial do Estado,
Por isso o SisGAAz é considerado um em especial, assegurar a integração
Sistema de Sistemas. de Taiwan, pretendida desde o fim da
O SSCN consiste em novos sensores Revolução Chinesa em 1949, e redu-
e recursos de acionamento remoto, que zir as tensões com Estados da região.
possuem a finalidade de localizar contatos Este último interesse tem colidido,
na Área de Vigilância9, permitir a comu- nos últimos anos, com o de assegurar
nicação por voz com os contatos e receber as jazidas marítimas de petróleo e gás
dados meteorológicos. Um exemplo de no Mar do Sul da China e no Mar da
sensor que poderá ser incorporado é o China Oriental, várias delas em regiões
radar OTH 010010 da empresa brasileira sob contestação de outros países, mas

9 Considera-se Área de Vigilância todo o perímetro coberto pelo SisGAAz.


10 Um protótipo do radar está em fase de testes em um terreno que pertence à Marinha do Brasil, próximo ao
Farol do Albardão, Rio Grande do Sul. (LOPES, 2018)

RMB2oT/2019 171
A INFLUÊNCIA DOS ELEMENTOS BASEADOS EM TERRA NA GUERRA NAVAL: uma breve comparação entre Brasil e China

que contêm grandes reservas desses transportada por veículos pesados, evitan-
produtos. (MOURA, 2014, p.171) do que o sistema seja facilmente monito-
rado. Dentre os diversos mísseis antinavio
A Tabela 2 representa uma breve chineses, esse foi destacado devido ao
comparação entre as extensões litorâneas fato de ser considerado quase impossível
do Brasil, da China e dos Estados Uni- interceptá-lo (KAZIANIS, 2015).
dos. Considerar apenas esta tabela pode Outro pilar no qual a estratégia de de-
causar a falsa impressão de que o Brasil fesa chinesa se alicerça é o chamado Colar
possui uma tarefa mais complexa do que de Pérolas. Visando dar mais segurança
a China no âmbito do monitoramento de às linhas de comunicação marítimas, essa
sua Zona Econômica Exclusiva (ZEE). A concepção prevê a realização de obras
realidade é que os asiáticos possuem um civis em conjunto com países do seu en-
número considerável de rivais e disputas torno, a fim de servir de ponto de apoio a
territoriais no mar do Sul da China, o que seus navios (MOURA, 2014).
dificulta e, ao mesmo tempo, eleva o grau Uma das principais ferramentas
de importância da manutenção da Cons- pensadas pelos chineses são as ilhas ar-
ciência Situacional Marítima. tificiais11. Essas plataformas foram feitas
com propósito militar e pos-
País Zona Econômica Exclusiva Fronteira Marítima suem capacidade para apoio
Brasil 3.539.919 km² 9.557,0 km logístico das forças navais
China 2.287.969 km² 6.177,0 km
e estrutura para sensores e
armamentos, além de pistas
EUA 12.234.404 km² 33.030,2 km
de pouso (SEIDEL, 2018).
Tabela 2 – Extensões litorâneas
O trabalho não abordará as
Fonte: (MOURA, 2014, p.162)
questões legais que envol-
vem a construção das ilhas.
Uma das concepções de estratégia de As ilhas artificiais possibilitam pre-
defesa em curso na China atualmente é a sença avançada e permanente no entorno
Defesa Litorânea. Consiste basicamente estratégico do seu território. Além disso,
no controle de área marítima de suas águas as bases aéreas permitem uma cobertura
mais próximas ao território e na negação aérea permanente sobre suas forças na-
do uso do mar de áreas um pouco mais vais, habilitando os chineses a conjugar
afastadas (MOURA, 2014). sua aviação embarcada com as aeronaves
A materialização da capacidade chinesa baseadas em terra.
de oposição à projeção de poder americana A projeção de poder chinesa em seu
pode ser representada pelos seus mísseis, entorno estratégico pode ser observada
em especial o míssil balístico antinavio com mais clareza considerando o alcance
DF-21D. O sistema de lançamento desse de seus sensores e armamentos. A Figura 2
armamento é baseado em terra e possui representa, em círculos menores, os postos
alcance de cerca de 900 milhas (MOURA, avançados das Forças Armadas desse país
2014). Seu lançamento é feito a partir de e, em círculos maiores, o alcance de seus
uma plataforma que pode ser facilmente radares de monitoramento.

11 Estruturas construídas mediante aterramento de formações naturais, por meio da dragagem de segmentos
vindos do mar (NASCIMENTO, 2017).

172 RMB2oT/2019
A INFLUÊNCIA DOS ELEMENTOS BASEADOS EM TERRA NA GUERRA NAVAL: uma breve comparação entre Brasil e China

Na Figura 3, os círculos mostram o


alcance da cobertura aérea proporcionado
pelas aeronaves baseadas nesses postos,
considerando o caça de combate chinês
J-10. A parte contínua marca o alcance
observado desses aviões, enquanto a parte
tracejada trabalha com o alcance previsto.
A Figura 4 corresponde ao alcance
dos mísseis de cruzeiro antinavio. O me-
nor perímetro faz referência ao alcance
observado do míssil YJ-62, enquanto os
Figura 2 – Projeção de poder chinesa – Alcance maiores observam o alcance previsto dos
dos radares
Fonte: Asia Maritime Transparence Iniciative, 2018 mísseis YJ-12B.
É importante ressaltar que, apesar da
grande disponibilidade de bases em seu
entorno estratégico para apoiar a sua avia-
ção baseada em terra, a aviação embarcada
não está sendo negligenciada pelos chine-
ses. Tal fato é representado pelo contínuo
comissionamento de navios-aeródromos
(MOURA, 2014).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A evolução histórica dos elementos


baseados em terra na Guerra Naval foi
Figura 3 – Projeção de poder chinesa – Alcance
apresentada de maneira breve, porém
da cobertura aérea não deixou dúvidas quanto à crescente
Fonte: Asia Maritime Transparence Iniciative, 2018 integração desses elementos com a Guerra
Naval. Os avanços na Tecnologia da In-
formação, aliados ao aumento do alcance
dos sensores e armamentos, fazem com
que qualquer estratégia naval pujante
considere elementos baseados em terra.
A mudança de postura dos Estados
Unidos da América no pós-Guerra Fria
foi possibilitada pela falta de oposição
à altura e ditou os novos caminhos a se-
rem seguidos, pois fomentou alterações
de doutrina em seus rivais. Enquanto os
EUA buscavam intervenções a partir do
mar, a China, por exemplo, focou seus es-
forços para obter meios de fazer frente às
Figura 4 – Projeção de poder chinesa – Alcance
dos mísseis de cruzeiro antinavio forças americanas, investindo fortemente
Fonte: Asia Maritime Transparence Iniciative, 2018 na sua Força Naval nos últimos anos.

RMB2oT/2019 173
A INFLUÊNCIA DOS ELEMENTOS BASEADOS EM TERRA NA GUERRA NAVAL: uma breve comparação entre Brasil e China

A expansão da presença chinesa em A aviação baseada em terra, que não é


seu entorno estratégico e o continuado de responsabilidade da Marinha do Brasil,
investimento em armamentos, sensores e deve trabalhar em conjunto com a aviação
estruturas de terra em apoio à Guerra Na- embarcada, a fim de complementá-la em
val são motivados pela postura agressiva suas limitações conhecidas12.
que a China adota em uma região de alta Percebe-se que a China já possui
tensão, onde o país é localizado. No caso diversas instalações em ilhas artificiais
do Brasil, o projeto do SisGAAz tem mais e investimentos de longa data em arma-
a ver com a manutenção plena da soberania mentos antinavio baseados em terra. O
sobre toda a extensão da ZEE e, por esse Brasil possui territórios insulares, porém
motivo, trata-se de um grande sistema de nenhum documento oficial aborda a uti-
Comando e Controle que não engloba o lização destes de maneira correlata aos
controle direto de armamentos, apenas chineses. O SisGAAz não é citado como
comunicação com navios de guerra, con- uma das prioridades atuais da MB.
siderados como plataformas de armas. O É viável para o Brasil, diante do
SisGAAz conceitualmente também irá que foi exposto no trabalho, focar seus
empregar os diversos sensores navais para esforços em elementos baseados em
atualização e acompanhamento de conta- terra para apoio às operações navais,
tos. Possivelmente, também fará emprego aproveitando melhor as suas regiões
de satélite. O conceito de Guerra Centrada insulares com o propósito de aperfeiçoar
em Redes poderia ser explorado de ma- sua estrutura de defesa e monitoramento
neira mais abrangente no caso do Brasil. de seu entorno estratégico.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:


<GUERRAS>; Defesa; Guerra Naval; Preparo para a guerra;

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12 A aviação embarcada possui grandes vantagens em termos de área de operação, porém sua capacidade e
diversidade de meios é afetada.

174 RMB2oT/2019
A INFLUÊNCIA DOS ELEMENTOS BASEADOS EM TERRA NA GUERRA NAVAL: uma breve comparação entre Brasil e China

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RMB2oT/2019 175
BENS DA UNIÃO: mar territorial, recursos naturais da
Zona Econômica Exclusiva e da Plataforma Continental

JORGE KLEBER TEIXEIRA SILVA*


Geógrafo

SUMÁRIO

Introdução
Mar territorial e recursos naturais da Zona Econômica
Exclusiva e da Plataforma Continental
Considerações finais

INTRODUÇÃO relação Direito-Geografia-História, visan-


do a uma abordagem educacional pedagó-

O presente artigo não reflete a opinião


institucional do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE), sendo
gica interdisciplinar para aulas de Direito
Constitucional no tocante ao tema de bens
da União: Mar Territorial (MT) e recursos
apenas uma interpretação a partir do olhar da Zona Econômica Exclusiva (ZEE) e da
do tecnologista que espelha sua trajetória Plataforma Continental (PC). O trabalho
profissional e acadêmica na área da Geo- tem como propósito correlacionar o papel
grafia e do Direito. O texto é um esforço da importância da soberania marítima e
epistemológico de uma interpretação da jurisdição marítima como efetividade
tridimensional do objeto de estudo, o mar de norma constitucional e correlação de
como categoria analítica a partir de uma normas jurídicas internacionais, visando

* Bacharel em Direito. Especialização em Planejamento e Uso do Solo Urbano pela Universidade Federal do Rio
de Janeiro, Brasil, Tecnologista da Fundação IBGE.
BENS DA UNIÃO: mar territorial, recursos naturais da Zona Econômica Exclusiva e da Plataforma Continental

a aulas de Direito Constitucional e aulas no discurso e na prática de professores. A


de ciências marítimas, com utilidade para educação é um direito humano fundamen-
escolas públicas, confessionais e militares tal e central na missão da Organização das
entre outras. Nações Unidas para a Educação, a Ciência
Partiu-se de uma abordagem qualitati- e a Cultura (Unesco). O compromisso da
va, com método descritivo de interpretação comunidade internacional em garantir a
e com apoio de uma abordagem teórica realização desse direito está em vários
e revisão bibliográfica de autores espe- instrumentos jurídicos internacionais
cializados em Direito Marítimo, Direito desde 1948, com a Declaração Universal
do Mar, Direito Constitucional, Direito dos Direitos Humanos, que completou 70
Internacional, Educação, Teoria Geral do anos em 2018 (UNESCO).
Estado, Ciências Marítimas e Geografia. Começamos fazendo uma releitura da
história político-administrativa no tocante
MAR TERRITORIAL E à questão do mar e da soberania marítima
RECURSOS NATURAIS brasileira. A história do Brasil está ligada
DA ZONA ECONÔMICA ao mar desde o seu início, uma vez que
EXCLUSIVA E DA por ele chegaram os portugueses, que lide-
PLATAFORMA CONTINENTAL rariam uma onda europeia de exploração
e de colonização e que na costa atlântica
Podemos dizer que a articulação cien- encontraram várias tribos de ameríndios.
tífica entre Geografia e Direito, diálogo Segundo o escritor e oficial da Marinha
interdisciplinar, ganha relevância como britânica Gavin Menzies, os portugueses se
forma de exercer poderes e produzir atos, beneficiaram com os conhecimentos dura-
representados por autoridades legitimadas mente conquistados pelos chineses sobre os
em delimitada área. Como as perspectivas oceanos e as novas terras que se estendiam
geográficas e jurídicas nem sempre são além deles (MENZIES, p. 338). Por tradi-
convergentes, partimos da alguns pontos ção, o mar, enquanto espaço geográfico, foi
para debater a respeito do tema soberania primordialmente utilizado como meio de
e da soberania marítima, permitindo um transporte e matriz econômica, associados
diálogo epistemológico para que descortine estes usos ao poderio naval militar e ao
o critério espacial do Estado brasileiro e da conhecimento das técnicas de navegação.
soberania marítima por meio das interações Até determinado ponto da história, o normal
entre Geografia e Direito, num esforço de era que os mares e oceanos fossem tratados
articulação instrumental entre essas duas como espaços livres, onde nenhum Estado
ciências. (UGEDA, 2017). exercia soberania, conforme podemos ve-
A interdisciplinaridade começou a rificar na obra do jurista holandês e cristão
ser abordada no Brasil a partir da Lei no arminiano Hugo Grotius, que publica, em
5.692/71. Desde então, sua presença no 1609, em defesa do uso livre do mar, a
cenário educacional brasileiro tem se tor- obra Mare Liberum (DOMINGOS, T. O.
nado mais presente e, recentemente, mais e CARISTINA, J. E. A., 2013).
ainda com a nova Lei de Diretrizes e Bases Durante os séculos XVI e XVII, o Bra-
no 9.394/96 e com os Parâmetros. Além da sil sofreu saques, ataques e ocupações de
sua grande influência na legislação e nas países europeus. Estes ataques ocorreram
propostas curriculares, a interdisciplina- na região litorânea e eram organizados
ridade tornou-se cada vez mais presente por corsários ou governantes europeus.

RMB2oT/2019 177
BENS DA UNIÃO: mar territorial, recursos naturais da Zona Econômica Exclusiva e da Plataforma Continental

Tinham como propósitos o saque de Podemos também analisar a soberania


recursos naturais e até mesmo o domínio na visão do jurista Manoel Gonçalves
de determinadas regiões continentais. Ferreira Filho, que a considera como um
Franceses, holandeses e ingleses foram os dos conceitos mais importantes em Teoria
povos que mais participaram destas inva- Política e Direito Constitucional, enten-
sões nos primeiros séculos da História do dida como um dos elementos do Estado,
Brasil Colonial, conforme texto “A manu- sendo a qualidade do Poder Público que
tenção do território”, do Atlas geográfico a coloca acima de qualquer outro poder
das zonas costeiras e oceânicas do Brasil, dentro do território estatal. O jurista ana-
publicado pelo IBGE e pela Marinha do lisa a soberania em quatro itens: 1) auto-
Brasil (MB) em 2011. ridade para criar, modificar e extinguir lei,
Também pelo mar se fez, durante dentro de regras jurídicas; 2) autoridade
séculos, a comunicação das cidades bra- política ou moral do Estado; 3) fonte do
sileiras com o resto do mundo e entre si, exercício do poder político e 4) garantia da
constituindo-se a clássica imagem de um independência de uma sociedade política
arquipélago de cidades sem ligação terres- (FERREIRA FILHO, p. 119).
tre (TEIXEIRA SILVA e LIMA, 2011). O Podemos dizer que a soberania do
mar que foi via de descobrimento, de colo- Estado é considerada geralmente sob dois
nização e de invasões é, atualmente, fonte aspectos: interno e externo. A soberania
de importantes recursos naturais, como interna quer dizer que o poder do Estado,
petróleo, gás natural e frutos do mar, entre nas leis e ordens que edita para todos os
outros, além de uma arena da soberania indivíduos que habitam seu território e as
nacional (BANCO DO BRASIL, 2010). sociedades formadas por esses indivídu-
Mais recentemente, o potencial de rique- os, predomina sem contraste, não pode
zas provenientes do mar ganhou nova ser limitada por nenhum outro poder. O
dimensão com a descoberta e exploração termo soberania significa, portanto, que
de jazidas de petróleo em águas profundas o poder do Estado é o mais alto existente
na área conhecida como Pré-Sal. dentro desse Estado, é a summa potestas, a
Necessidades de defesa do território ter- potestade (AZAMBUJA, DARCY, p. 50).
restre, partindo da assunção de que o meio A soberania é um dos fundamentos
de abordagem de um Estado por outro era da República Federativa do Brasil. Neste
exatamente o mar, foram a condição neces- sentido, estatui o texto da Constituição da
sária para que surgisse a concepção de que o República Federativa do Brasil, in verbis:
território de um Estado, ou seja, a porção de
terra sobre a qual ele exerce sua soberania, "Art. 1o - A República Federativa
fosse estendido para uma faixa de água do Brasil, formada pela união indis-
contígua à terra (OLIVEIRA, 2012). solúvel dos Estados e Municípios e
Não há sociedade sem poder, que do Distrito Federal, constitui-se em
é ordem no seu aspecto dinâmico. O Estado Democrático de Direito e tem
conceito de soberania é complexo, tem como fundamentos:
variado no tempo e no espaço e merece I - a soberania".
ser analisado, assim nos coloca Darcy
Azambuja, o renomado jurista brasileiro O titular da soberania, ou melhor, do po-
que foi membro do Instituto Histórico e der, é a nação, porque é o elemento humano
Geográfico do Rio Grande do Sul. do Estado. (AZAMBUJA, DARCY, p. 86).

178 RMB2oT/2019
BENS DA UNIÃO: mar territorial, recursos naturais da Zona Econômica Exclusiva e da Plataforma Continental

A soberania, na sua origem histórica, No ano seguinte, 1970, o Decreto-Lei


foi uma concepção de caráter exclusi- no 1.098, de 25 de março, ampliou o territó-
vamente político, afirmando-se então rio marítimo, que passou a abranger “uma
como o "poder incontrastável de querer faixa de 200 milhas marítimas de largura,
coercitivamente". Procurou dar-lhe um medidas a partir da linha do baixa-mar do
conteúdo jurídico, que lhe fornecesse outra litoral continental e insular brasileiro ado-
justificativa que não a mera força material. tada como referência nas cartas náuticas
Em 1950, a partir do exemplo de outros brasileiras” (Art. 1o) (CAMINHA, 1972).
países das Américas, o mar foi legalmen- O decreto estendeu, ainda, a soberania
te incorporado ao território brasileiro do País ao “espaço aéreo acima do mar
por meio do Decreto no 28.840, de 8 de territorial, bem como ao leito e subsolo
novembro, da Presidência da República, deste mar” (Art. 2o), reconhecendo “aos
que determinou, em seu Art. 1o, “integra- navios de todas as nacionalidades o direito
da ao Território Nacional a plataforma de passagem inocente no mar territorial
submarina, na parte correspondente a brasileiro” (Art. 3o) e garantindo que “o
esse território”, incluindo a parte conti- governo brasileiro regulamentará a pesca,
nental e insular “sob jurisdição e domínio tendo em vista o aproveitamento racional
exclusivo da União Federal”. Tal decreto e a conservação dos recursos vivos do mar
determinou, ainda, no seu Art. 2o, que “o territorial, bem como as atividades de pes-
aproveitamento e a exploração de produtos quisa e exploração” (art.4o) (IBGE, 2011 e
ou riquezas naturais que se encontram CARVALHO, 1999).
nessa parte do Território Nacional depen- A partir das decisões tomadas pela
dem, em todos os casos, de autorização, ou Convenção das Nações Unidas sobre o
concessão federal” e também ordenou que Direito do Mar (CNUDM), celebrada em
continuavam “em pleno vigor as normas Montego Bay, Jamaica, assinada pelo
sobre a navegação nas águas sobrepostas Brasil em 1982 e ratificada em 1988, foi
à plataforma acima referida, sem prejuízo elaborada nova legislação acerca do tema
das que venham a ser estabelecidas, espe- (SOUZA, 1999). A Lei no 8.617, de 4 de
cialmente sobre a pesca nessa região” (Art. janeiro de 1993, criou três áreas especiais
3o) (TEIXEIRA SILVA, 2011). – o Mar Territorial, a Zona Contígua (ZC)
Em 1969, o Decreto-Lei no 553, de 25 e a Zona Econômica Exclusiva – e fixou
de abril, mantendo o domínio sobre o mar, o território marítimo em zonas marítimas
modificou a forma de sua demarcação, que sob soberania ou jurisdição nacional, no-
deixava de ser a plataforma submarina e pas- meadamente, as águas interiores, o MT,
sava a ser uma medida única. Textualmente, a ZC, a ZEE e a PC. Conforme podemos
foi determinado, em seu Art. 1o, que “o mar verificar no esquema do Atlas geográfico
territorial da República Federativa do Brasil das zonas costeiras e oceânicas do Brasil.
compreende todas as águas que banham o De acordo com o Art. 1o dessa lei, “o Mar
litoral do País, desde o Cabo Orange, na Territorial brasileiro compreende uma
foz do Rio Oiapoque, ao Arroio Chuí, no faixa de 12 milhas marítimas de largura,
Estado do Rio Grande do Sul, numa faixa medidas a partir da linha de baixa-mar do
de 12 milhas marítimas de largura, medidas litoral continental e insular, tal como indi-
a partir da linha de baixa-mar, adotada como cada nas cartas náuticas de grande escala,
referência nas cartas náuticas brasileiras” reconhecidas oficialmente no Brasil”. A
(TEIXEIRA SILVA, 2011). soberania do País estende-se “ao Mar

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BENS DA UNIÃO: mar territorial, recursos naturais da Zona Econômica Exclusiva e da Plataforma Continental

Territorial, ao espaço aéreo sobrejacente, no seu território ou no seu Mar Territorial;


bem como ao seu leito e subsolo” (Art. e II – reprimir as infrações às leis e aos
2o) e manteve o reconhecimento do direito regulamentos, no seu território ou no seu
de passagem inocente aos navios de todas Mar Territorial” (Art. 5o) (TEIXEIRA
as nacionalidades (Art. 3o) (TEIXEIRA SILVA e LIMA, 2011).
SILVA e LIMA, 2011). A terceira área especial determinada
O Brasil, Estado-Parte da CNUDM, pela Lei no 8.617, no seu Art. 6o, foi a Zona
em consequência dela, revogou a Decreto- Econômica Exclusiva, que “compreende
-Lei no 1.098, de 1970, que dispunha, uma faixa que se estende das 12 às 200
unilateralmente, sobre um mar territorial milhas marítimas, contadas a partir das
de 200 milhas marítimas e promulgou a linhas de base que servem para medir a
Lei no 8.617, de 1993, que estabeleceu, largura do Mar Territorial”. Nela o País
internamente, um mar territorial de apenas passou a ter “direitos de soberania para fins
12 milhas marítimas. de exploração e aproveitamento, conserva-
Essa lei definiu ainda, no seu Art. 4o, ção e gestão dos recursos naturais, vivos
que a “zona contígua brasileira compre- ou não vivos, das águas sobrejacentes ao
ende uma faixa que se estende das 12 às leito do mar, do leito do mar e seu subsolo,
24 milhas marítimas, contadas a partir e no que se refere a outras atividades com
das linhas de base que servem para medir vistas à exploração e ao aproveitamento
a largura do mar territorial”. Nessa área, da zona para fins econômicos” (Art. 7o)
“o Brasil poderá tomar as medidas de (TEIXEIRA SILVA e LIMA, 2011).
fiscalização necessárias para: I – evitar as O País passou também, segundo o Art.
infrações às leis e aos regulamentos adua- 8o da mesma lei, a ter “o direito exclusivo
neiros, fiscais, de imigração ou sanitários, de regulamentar a investigação científica

Fonte: Atlas geográfico das zonas costeiras e oceânicas do Brasil, 2011

180 RMB2oT/2019
BENS DA UNIÃO: mar territorial, recursos naturais da Zona Econômica Exclusiva e da Plataforma Continental

marinha, a proteção e a preservação do limites legais da ZEE do Brasil representa


meio marítimo, bem como a construção, um acréscimo de uma área de 3.539.919
a operação e o uso de todos os tipos de km², com direitos de exploração econômi-
ilhas artificiais, instalações e estruturas”. ca de seus recursos, aos 8.514.877 km² do
Ficou garantida também que “a realização território continental nacional.
por outros Estados, na Zona Econômica A Constituição da República Federati-
Exclusiva, de exercícios ou manobras va do Brasil de 1988 enumera como um de
militares, em particular as que impliquem seus fundamentos, no Art. 1o, a soberania,
o uso de armas ou explosivas, somente soberania esta que é investida no órgão fe-
poderá ocorrer com o consentimento do deral. O preceito da soberania é elevado à
governo brasileiro” (Art. 9o). E, ainda, que norma constitucional com o texto da atual
fiquem “reconhecidos a todos os Estados Constituição, que de forma expressa e ex-
o gozo, na Zona Econômica Exclusiva, plícita, quase que solenemente, consagra-o
das liberdades de navegação e sobrevoo, em várias passagens. A soberania é um dos
bem como de outros usos do mar interna- fundamentos da República Federativa do
cionalmente lícitos, relacionados com as Brasil e a mesma está bem elaborada dou-
referidas liberdades, tais como os ligados trinariamente no Direito Constitucional,
à operação de navios e aeronaves (Art. na efetividade de normas constitucionais
10o) (TEIXEIRA SILVA e LIMA, 2011). e infraconstitucionais.
Podemos resumidamente dizer que a Dentre os autores jurídicos que
Lei no 8.617 de 1993, que regulamentou o trabalham muito bem a relação entre a
direito do mar no Brasil e que dispõe sobre efetividade das normas constitucionais
o MT, a ZC, a ZEE e a PC brasileiros, podemos destacar José Afonso da Silva.
revela em seus artigos os seguintes pressu- E também verificamos que o jurista
postos no tocante à soberania marítima e à Sérgio Moro, na sua dissertação de
jurisdição marítima: Art.2o – A soberania mestrado, explica que, entre os limites à
do Brasil estende-se ao Mar Territorial, atuação judicial em um Estado Democrá-
ao espaço aéreo sobrejacente, bem como tico de Direito, destacam-se a “reserva de
ao seu leito e subsolo; Art. 7o – Na Zona consistência”, consistente na necessidade
Econômica Exclusiva, o Brasil tem direi- de demonstrar, por meio de argumentos
tos de soberania para fins de exploração convincentes, o acerto da interpretação
e aproveitamento, conservação e gestão judicial de determinada norma consti-
dos recursos naturais, vivos ou não vivos, tucional (MORO, 2000). Sérgio Moro
das águas sobrejacentes ao leito do mar, critica a “abordagem semântica” da apli-
do leito do mar e seu subsolo, e no que se cabilidade das normas constitucionais.
refere a outras atividades com vistas à ex- Defende que o verdadeiro problema con-
ploração e ao aproveitamento da zona para siste na repartição de competência entre
fins econômicos; Art. 12 – O Brasil exerce Legislativo e Judiciário, no que se refere
direitos de soberania sobre a Plataforma à concretização das normas constitucio-
Continental, para efeitos de exploração e nais e dos limites da função de controle
aproveitamento dos seus recursos naturais atribuída ao último. Com a inversão de
(MAZZUOLI, 2007). perspectiva, o problema da aplicabilidade
Segundo o Atlas geográfico das zonas das normas constitucionais se reduz à
costeiras e oceânicas do Brasil, para solução da “questão interpretativa”, ou
efeito de comparação, a área coberta pelos seja, o que a Constituição, devidamente

RMB2oT/2019 181
BENS DA UNIÃO: mar territorial, recursos naturais da Zona Econômica Exclusiva e da Plataforma Continental

interpretada, exige. Também podemos V – os recursos naturais da Platafor-


interpretar as jurisprudências elaboradas ma Continental e da Zona Econômica
de efetividade das normas constitucio- Exclusiva; e
nais no Supremo Tribunal Federal (STF) VI – o Mar Territorial.
e no Superior Tribunal de Justiça (STJ), No início deste trabalho dissemos que
conforme trabalho de Galaad Oliveira, o mar foi via de descobrimento, de colo-
em 2000. Então podemos fazer uma nização e de invasões. Atualmente, ele é
correlação e dizer que a soberania e sua fonte de importantes recursos naturais,
derivação de soberania marítima como como o petróleo, o gás natural, os frutos
norma constitucional estão constituídas do mar, entre outros além de uma arena
no Direito Constitucional brasileiro e nos da soberania nacional.
debates jurídicos. Essa soberania maríti- Devemos relacionar o campo jurídico
ma proporciona aos serviços oficiais de constitucional e infraconstitucional que
Geografia, Cartografia, Geodésia, como faz inter-relação com a soberania maríti-
o IBGE, as delimitações das faixas de ma para fins de recursos naturais e o direi-
território marítimo brasileiro, abrangen- to do petróleo (CAPODEFERRO, 2017).
do as zonas marítimas sob soberania ou Constituem compensações financeiras
jurisdição nacional, nomeadamente as previstas em lei (Art. 20 da Constituição
águas interiores, o MT, a ZC, a ZEE e a Federal de 1988), devidas aos entes fede-
PC, e a Marinha do Brasil, entidade que rativos pelos concessionários que explo-
tem como missão garantir os poderes ram e produzem petróleo ou gás natural.
constitucionais e proteger os interesses A Constituição brasileira estabelece,
nacionais, mostrando uma importância no Art. 20, que as jazidas de petróleo
do tema para relações interinstitucionais. são bens da União, mas que Estados e
Podemos então mostrar que a sobera- Municípios têm o direito de participar dos
nia do Estado brasileiro, que é costeiro, lucros da atividade, recebendo royalties
se estende a uma zona do mar adjacente e compensações. Na prática, são duas as
às suas costas, designada sob o nome de leis ordinárias que definem qual fatia das
Mar Territorial, que, de acordo com o Art. rendas do petróleo cabe a cada ente da
20, VI, da Constituição Federal, se inclui federação e como devem ser distribuídas:
entre os bens da União e, além deste e a a Lei no 7.990/1989 e a Lei no 9.478/1997.
ele adjacente, a uma zona, chamada Zona Também devemos lembrar da Lei no
Econômica Exclusiva, sobre a qual são 7.525, 22 de julho de 1986, Art. 9o I, que
previstos direitos e jurisdição do Estado infere caber à Fundação IBGE tratar as
costeiro, cujos recursos naturais a mesma linhas de projeção dos limites territoriais
Constituição inclui entre os bens da União dos estados, territórios e municípios
(Art. 20, V). confrontantes, segundo a linha geodésica
Em resumo a Constituição Federal, ortogonal à costa ou segundo o paralelo
no capítulo da União, define a soberania até o ponto de sua interseção com os
marítima ou jurisdição nacional marítima limites da plataforma continental de
como: responsabilidade da Coordenação de
Geodésia da Diretoria de Geociências da
Art. 20 – São bens da União: Fundação IBGE.
I – os que atualmente lhe pertencem O IBGE aplica rigorosamente o
e os que lhe vierem a ser atribuídos; previsto na Lei no 7.525/86 e no Decreto-

182 RMB2oT/2019
BENS DA UNIÃO: mar territorial, recursos naturais da Zona Econômica Exclusiva e da Plataforma Continental

Lei no 93.189/86, seguindo os padrões tes de temas contemporâneos. O Brasil


de alta precisão com os quais trabalha, controla, oficialmente, um território
sendo que a sua missão é retratar o marítimo de 3,6 milhões de km2 – área
Brasil com informações necessárias maior do que as regiões Nordeste, Sudeste
ao conhecimento de sua realidade e ao e Sul juntas. Nesse “pedação de mar”,
exercício da cidadania. denominado Zona Econômica Exclusi-
Além dos direitos de soberania e de va, o País monitora e orienta o tráfego
exploração, o Brasil tem deveres marí- de embarcações e tem direito exclusivo
timos que vão além da sua ZEE. Todos de pesquisa e exploração comercial dos
os países que têm litoral são obrigados a recursos existentes na água e no subsolo
prestar salvamento e resgate em uma área (petróleo, gás natural, frutos do mar etc.).
determinada pela ONU (OCTAVIANO No tocante à exploração dos recursos
MARTINS, 2015). A área de salvamento naturais marítimos, devemos sempre
do Brasil cobre 6,4 milhões de km2, e lembrar que existe a norma constitucio-
isso é uma questão de direitos humanos nal do Art. 225 da Constituição Federal
(WINTER e BOTELHO, 2015). da República do Brasil que afirma que
O Salvamar-Brasil, da MB, segue “todos têm direito ao meio ambiente
normas estabelecidas em convenções ecologicamente equilibrado, bem de
internacionais regidas pela Organização uso comum do povo e essencial à sadia
Marítima Internacional (IMO), agência qualidade de vida, impondo-se ao poder
da Organização das Nações Unidas que público e à coletividade o dever de de-
trata de assuntos marítimos (WINTER e fendê-lo e preservá-lo para as presentes
BOTELHO, 2015). A Convenção das Na- e futuras gerações” (PORTAL ODS Bra-
ções Unidas sobre o Direito do Mar (Con- sil – Objetivo 14). Os limites atuais da
venção da Jamaica), de 1982, estabelece ZEE foram definidos na Convenção das
que todo Estado costeiro deve promover Nações Unidas sobre o Direito do Mar
o estabelecimento, o funcionamento e e só entraram em vigor em 1994. Mas,
a manutenção de um adequado e eficaz desde 2004, o Brasil luta pela ampliação
Serviço de Busca e Salvamento para dos nossos domínios, ampliando nossa
garantir a segurança marítima e aérea, ZEE para 4,5 milhões de km2.
e quando as circunstâncias o exigirem, Como nosso texto aborda a questão
cooperar para esse fim com os Estados dos bens da União e da soberania maríti-
vizinhos por meio de ajustes regionais ma devemos colocar no debate também
de cooperação mútua (OCTAVIANO a parte territorial do continente da Antár-
MARTINS, 2015). tida que o Brasil tem como uma questão
O Brasil tem soberania marítima e aé- científica. A Antártida é atualmente o
rea em uma faixa que corre junto ao litoral único continente onde não existem ZEEs,
com largura de 22 km (12 milhas náuti- já que o Tratado da Antártida proíbe a
cas). Neste território e nos 22 km vizinhos exploração econômica predatória ex-
(Zona Contígua), o País pode fiscalizar clusiva no continente. O Brasil aderiu
embarcações e impor sua legislação. ao Tratado da Antártida em 1975. No
Não podemos esquecer de fazer uma início da década de 1980, inaugurou a
correlação dos bens da União com a ques- Estação Antártica Comandante Ferraz.
tão territorial e também com a questão O Tratado da Antártida é o documento
socioambiental que está situada em deba- assinado em 1o de dezembro de 1959

RMB2oT/2019 183
BENS DA UNIÃO: mar territorial, recursos naturais da Zona Econômica Exclusiva e da Plataforma Continental

pelos países que reclamavam a posse de geopolíticas, antecipou-se aos fatos e


partes continentais da Antártida, em que deixou uma grande contribuição sobre
se comprometem a suspender suas preten- os estudos da Oceanopolítica, embora
sões por período indefinido, permitindo ainda não muito bem explorada, em sua
a liberdade de exploração científica do obra bibliográfica.
continente, em regime de cooperação Embora não se possa concluir que as
internacional (MATTOS, 2014). relações internacionais já estejam intei-
De toda sorte, é possível identificar ramente disciplinadas pelo Direito, é ine-
no sistema jurídico causas imediatas gável a intensificação do apelo a soluções
para essa ampliação do espaço próprio jurídicas, o que é altamente benéfico e
da interpretação jurídica, tanto no nível poderá resultar num irreversível aumento
constitucional como na esfera infracons- da eficácia do Direito Internacional (DAL-
titucional. “Também a partir do Atlânti- LARI, Dalmo de Abreu, p. 121).
co Sul, Therezinha Ser nação abran-
de Castro define ge a indissolubilida-
um novo conceito Ser nação abrange a de de seus elemen-
geopolítico deno- indissolubilidade de seus tos, e o território
minado por ela de marítimo está aí in-
‘Oceanopolítica’, elementos, e o território cluso; portanto, não
que seria a polí- marítimo está aí incluso; se trata apenas de
tica aplicada aos
espaços marítimos
não se trata apenas de um um conceito, mas de
exercício de poder
na perspectiva do conceito, mas de exercício constitucional, que
‘poder mundial’. de poder constitucional também é Estado
Inserida dentro da brasileiro.
teoria realista das
relações internacionais, a consciência CONSIDERAÇÕES FINAIS
da existência de uma ‘Oceanopolítica’
permitiria aventar a possibilidade de Podemos dizer que território nacional
se desencadear a formação de bacias brasileiro é constituído pelos seguintes
oceânicas em todos os oceanos do mun- elementos: parte continental e parte
do, tendo como áreas-pivô: Brasil (no marítima, sendo que esta última, também
Atlântico Sul), Índia (Índico), Estados conhecida por águas territoriais ou águas
Unidos da América – EUA (Atlântico jurisdicionais, abrange: Mar Territorial,
Norte e Pacífico Norte), China (Pacífico Zona Contígua, Zona Econômica
Norte), Rússia (Ártico) e África do Sul Exclusiva e Plataforma Continental.
(Antártico). Curiosamente, ao expor essa O preceito constitucional da
nova regionalização do espaço mundial, soberania e seu desdobramento da
podemos perceber que os Brics (Brasil, soberania marítima foram destacados
Rússia, Índia, China e África do Sul) e os como norma constitucional e efetivados
EUA se formaram mais a partir do mar e regulamentados por legislações
do que pelos continentes (IBGE, 2009, infraconstitucionais e legais. A soberania
p. 198 e BAI, JIAYU, 2010)”. Nesse do Brasil estende-se ao Mar Territorial e
caso, mais uma vez a professora There- ao espaço aéreo sobrejacente, bem como
zinha de Castro, graças às suas reflexões ao seu leito e subsolo.

184 RMB2oT/2019
BENS DA UNIÃO: mar territorial, recursos naturais da Zona Econômica Exclusiva e da Plataforma Continental

Observando toda esta legislação, certamente tende ao crescimento nos


verifica-se o quanto é importante reco- próximos anos e que será de grande valia
nhecer e divulgar a soberania do Estado para aulas de Direito Constitucional,
brasileiro sobre o território marítimo, assim como para aulas de Geografia,
uma jurisdição que efetivamente com- Geociências, Ciências Marítimas, En-
põe o território do País e cuja relevân- genharia Naval e Direito do Mar, entre
cia em termos econômicos e políticos outras ciências.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:


<PODER MARÍTIMO>; Mar Territorial; Zona Econômica Exclusiva; Plataforma
Continental;

BIBLIOGRAFIA

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de Janeiro: Renovar, 1992.
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Grócio: o caminho para o jus-humanismo pela trilha do livre-arbítrio e o racionalismo da
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RMB2oT/2019 185
BENS DA UNIÃO: mar territorial, recursos naturais da Zona Econômica Exclusiva e da Plataforma Continental

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186 RMB2oT/2019
DOAÇÕES À DPHDM
MARÇO/MAIO DE 2019
DEPARTAMENTO DE BIBLIOTECA DA MARINHA

DOADORES

Almirante de Esquadra (Refo) Alfredo Karam


Vice-Almirante Joése de Andrade Bandeira Leandro
Vice-Almirante (Refo-EN) Armando de Senna Bittencourt
Vice-Almirante (RM1) José Carlos Mathias
Contra-Almirante (FN) Marcelo Guimarães Dias
Capitão de Mar e Guerra (RM1) Álvaro Lima dos Santos
Capitão de Mar e Guerra (RM1) Juan Dominguez Monteso
Capitão de Mar e Guerra (RM1) Alexandre Villela Dias
Capitão de Corveta (CD) Allan Ricardo da Mais Rodrigues
Capitão de Corveta (T) Ricardo dos Santos Guimarães
Primeiro-Tenente (T) Maira Araújo Barbosa
Suboficial (RM1) Neir Gonzaga Rosa
Suboficial (RM1) Paulo César C. Oliveira
Bruno Costa Marinho
Celso Roberto Machado Pereira
Leonardo Montanholi dos Santos
José Henrique de Almeida Braga
Liliane Bruno (Faperj)
Mário de Souza Chagas (Museu da República)
Nelson Freitas (Alerj-RJ)
Instituto Câmara Cascudo
Instituto Geográfico do Rio Grande do Norte (IHGRN)

LIVROS E PERIÓDICOS RECEBIDOS

ESPANHA
Revista General de Marinha, tomo 275, Nov/Dez. 2018
Revista de História Naval, v. 36, n. 143, 2018

BRASIL
38o campeonato mundial militar de Judô e 24o campeonato mundial militar de
Taekwondo, 2018
21 grandes batalhas que mudaram o Brasil, 2018
Actas diurnas: crônicas de Luís Câmara Cascudo, 2011
Ainda existe esperança: a solução para os problemas da vida, 2010
DOAÇÕES E PERIÓDICOS RECEBIDOS

Ajude a esmagar o eixo: a campanha de propaganda dos bônus de guerra no Brasil


e nos Estados Unidos da América (1941-1945), 2018
Aprendendo no Museu Naval, 2012
A arte da guerra, 2014
Assassinatos demais, 2012
Aurora boreal, 2010
Os barões de Vila Maria, 2010
Bens culturais e relações internacionais: o patrimônio como espelho do soft power, 2017
O Brasil na rota da China 1500-1808, 2018
O Brasil no contexto político regional, 2010
Ciência do futuro e futuro da ciência: redes e políticas de nanociência e nanotecno-
logia no Brasil, 2013
A cobra vai filmar, 2018
Complexidade da educação física escolar, 2013
Derrotas, 2010
Destróieres, Fragatas e Corvetas 1797-1945: coleção armas de guerra, vol. 8, 2010
Dictionnaire encyclopédique de muséologie, 2010
Do 45 a 44: 60 anos depois, 2004
Eduardo Olímpio Machado: o homem, o meio, seu tempo, 2010
Estação de hidroaviões do Aeroporto Santos Dumont: 80 anos, 2018
Estrela de David no Cruzeiro do Sul: memória da presença judaica nas Forças Ar-
madas do Brasil de Cabral ao Haiti, 2015
Evolução histórica Sul Mato Grosso – Amambaí a sua etimologia e a sua pronúncia
ante o tupi-guarani, 2010
Formação e ocupação de litorais nas margens do Atlântico – Brasil-Portugal, 2014
Futuros outros – homens e espaços: os aldeamentos jesuíticos e a colonização na
América portuguesa, 2015
Fuzileiros Navais, confie neles, 2013
As garras do cisne: o ambicioso plano da Marinha brasileira de se transformar na
nona frota mais poderosa do mundo, 2014
Garota exemplar, 2012
História e estórias da revolução de 1932 em Mato Grosso do Sul, 2010
Icomam Rio 2013, 2013
A ilha e o tempo: séculos e vidas de São Luís do Maranhão 1612-2012, 2012
Inovação e contratos de tecnologia: temas de interesse da Defesa Nacional, 2019
Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira – 30 anos, 2014
In the hour of victory: the Royal Navy at war in the age of Nelson, 2013
Integração refino-petroquímica: tendências e impactos, 2012
Interações homem-meio nas zonas costeiras: Brasil – Portugal, 2013
Inventário da oferta turística do Rio de Janeiro IOT-RJ: Vale do Café, 2018
Liga, desliga: o jogo do assassino está começando, 2010
Longitude: the true story of a lone genius who solved the greatest scientific problem
of his time, 2011
Major-Brigadeiro do Ar Dionisio Cerqueira de Taunay, patrono da aviação de
patrulha, 2013

188 RMB2oT/2019
DOAÇÕES E PERIÓDICOS RECEBIDOS

A mancha de sangue, 2011


Manual de redação oficial: para todas as instâncias e esferas do poder público, in-
clusive nos meio eletrônicos, 2015
Mapas do reino de Portugal e suas conquistas, 2016
Maquiavel no Brasil: dos descobrimentos ao século XXI, 2015
Marinheiro por vocação, aviador naval por convicção, 2016
Mato Grosso: terra da promissão, 2010
Mentes perigosas: o psicopata mora ao lado, 2014
Metodologia para formulação de políticas, 2017
Morte súbita, 2012
Mudanças climáticas e segurança internacional: desafios à prevenção de conflitos, 2013
Museu da República, 2011
Natureza e cultura nos domínios de clio: história, meio ambiente e questões étnicas, 2012
Nioaque – evolução política e revolução de Mato Grosso, 2010
A ONU e as questões internacionais contemporâneas, 2014
Paquetá – memória recente de uma rica história em placas culturais e de homenagem, 2010
Paraná na agenda indígena – Vítimas: Guaíra e Terra Roxa, 2017
Patrimônio cultural imaterial de Natal, 2017
O pequeno príncipe, 2015
Poder, riqueza e moeda na Europa medieval: a preeminência naval, mercantil e
monetária da sereníssima república de Veneza nos séculos XII e XV, 2014
Psicose ambientalista: os bastidores do ecoterrorismo para implantar uma religião
ecológica, igualitária e anticristã, 2012
Relíquias: patrimônio arquitetônico do Nordeste do Brasil, 2014
Revisão da Lei da Anistia, 2018
Revisitando o território fluminense V, 2015
Rex Nazaré: uma vida dedicada à energia nuclear, 2014
Rio 2011: 5o Cism military world games, 2011
Quanto custa ser pescador artesanal: etnografia, relato e comparação entre dois
povoados pesqueiros no Brasil e em Portugal, 2016
Roraima: cobiça internacional com novas perseguições aos produtores rurais, 2015
Salto sobre o lago: e a guerra chegou ao Ceará, 2017
Soldados que vieram de longe: os 42 heróis brasileiros judeus da Segunda Guerra
Mundial, 2016
Taboco 150 anos – Balaio de recordações, 2010
Acervo Revista do Arquivo Nacional, v. 29, n. 2, Jul/Dez. 2016
Acervo Revista do Arquivo Nacional, v. 30, n. 1, Jan/Jun; n. 2, Jul/Dez. 2017
Acibarra em Revista, n. 39, Out. 2017
Anais Hidrográficos, v. 70, 2013
Âncoras e Fuzis, v. 20, n. 49, 2018
O Anfíbio, v. 33, 2015
O Anfíbio, v. 34, 2016
O Anfíbio, v. 35, 2017
Boletim Clube Naval, Dez. 2014
Força de Defesa, v. 904, n. 12, 2014

RMB2oT/2019 189
DOAÇÕES E PERIÓDICOS RECEBIDOS

Informativo Marítimo DPC, v. 21, n. 03, Set/Dez. 2013


Informativo Marítimo DPC, v. 22, n. 02, Mai/Ago; n. 03, Set/Dez. 2014
Informativo Marítimo DPC, v. 23, n. 01, Jan/Abr; n. 02, Mai/Ago. 2015
Informativo Marítimo DPC, v. 24, n. 03, Set/Fev; n. 02, Mar/Jul. 2015/2016
Informativo Marítimo DPC, v. 25, n. 01, Ago/Fev. 2016/2017
Informativo Marítimo DPC, v. 26, n. 02, Mar/Jun; v. 27, n. 03, Jul. 2017
Informativo Naval do Cerrado, v. 18, n. 02, Out. 2018
Informativo Naval do Cerrado, v. 18, n. 03, Jan. 2019
Lavra a Revista Literária da Apa, v. 02, Fev. 2019
Mare Nostrum, v. 14, n. 65, Set. 2014
Marinha em Revista, v. 01, n. 01, Mar. 2010
Memória Escoteira, v. 13, n. 84, Mai/Ago. 2018
Navigator, v. 12, n. 23, Jun. 2016
Nomar, v. 55, n. 921, Jan. 2019
Nomar, v. 55, n. 923, Mar. 2019
O periscópio, v. 51, n. 68, 2016
Revista Adesguiano, v. 37, n. 265, 2012
Revista da Armada, v. 47, n. 527, Mar. 2018
Revista da Armada, v. 47, n. 530, Jun; n. 535, Dez. 2018
Revista da Armada, v. 48, n. 536, Jan; n. 537, Fev. 2019
Revista do Cefan/CDM Podium Naval, v. 04, n. 04, 2017/2018
Revista do Clube Naval, v. 127, n. 389, Jan/Fev/Mar. 2019
Revista Força Aérea, v. 19, n. 97, Dez. 2015
Revista Força Aérea, v. 19, n. 100, Jun; v. 20, n. 101, Ago. 2016
Revista Força Aérea, v. 20, n. 104, Fev; v. 21, n. 105, Abr; v. 22, n. 107, Ago; n. 108,
Out; n. 109, Dez. 2017
Revista Força Aérea, v. 23, n. 110, Fev; n. 111, Abr; n. 112, Jun; n. 113, Ago; n. 114,
Out; n. 115, Dez. 2018
Revista Iate, n. 44, Ago. 2017
Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, n. 95, 2017
Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, n. 96, n 97, 2018
Revista Naval de Odontologia, v. 45, n. 1, 2018
Revista Obras Civis, n. 2, Dez, 2010
Revista Passadiço, v. 27, n. 35, 2015
Revista Passadiço, v. 30, n. 37, 2017
Revista Pequisa Naval, n. 26, 2014
Segurança e Defesa, n. 106, 2012
Segurança e Defesa, n. 118, 2015
Segurança e Defesa, n. 121; n. 122; n. 123; n. 124, 2016
Segurança e Defesa, n. 125; n. 126; n. 127, 2017
Segurança e Defesa, n. 130; n. 131; n. 132, 2018
Smithsonian Contributions to Antropology, n. 52, 2018
Tecnologia & Defesa, v. 32, n. 143, 2015

190 RMB2oT/2019
CARTAS DOS LEITORES

Esta seção destina-se a divulgar ideias e pensamentos e incentivar de-


bates, abrindo espaço ao leitor para comentários, adendos esclarecedores
e observações sobre artigos publicados. As cartas deverão ser enviadas à
Revista Marítima Brasileira, que, a seu critério, poderá publicá-las parcial
ou integralmente. Contamos com sua colaboração para realizar nosso pro-
pósito, que é o de dinamizar a RMB, tornando-a um eficiente veículo em be-
nefício de uma Marinha mais forte e atuante. Sua participação é importante.

Recebemos do Professor Israel seus auxiliares, poderia atravessar os um-


Blajberg, diretor de Divulgação da So- brais a qualquer momento, para mais uma
ciedade dos Amigos da Marinha do Rio vez assistir ao hasteamento do Pavilhão
de Janeiro (Soamar-Rio), em 6 de abril Nacional diante do prédio da ESG.
último, as seguintes cartas, relativas às Mas hoje a solenidade será outra. Dois
cerimônias de passagem de comando ilustres chefes militares protagonizarão
da Escola Superior de Guerra (ESG) a tradicional cerimônia de Passagem de
e do Comando de Operações Navais, Comando: General de Exército Decio
respectivamente: Schons e o novo comandante da ESG,
Almirante de Esquadra Alipio Jorge.
“A comitiva da Soamar chega ao fi- A solenidade foi muito concorrida, e
nal da Urca, onde Estácio de Sá aportou o novo ginásio da Escola de Educação
há cinco séculos fundando a Mui Leal Física do Exército, importante legado
e Heroica Cidade de São Sebastião e, olímpico se tornou pequeno para o
imaginando estar diante da foz de imenso grande público presente ali, neste ano
rio, denominou-a Rio de Janeiro. em que a conceituada instituição onde
Da suave curva à entrada, de repente se pensa o Brasil completa, em agosto,
divisamos o vetusto casarão, estilo sóbrio 70 anos.
e elegante, florões, onde há 70 anos vêm Ao novo comandante, Almirante Alipio
se reunindo civis e militares para estudar Jorge, a Soamar envia votos de uma profícua
em alto nível os problemas brasileiros. gestão, bons ventos e mares tranquilos!”
Ao começo do dia, vem a impressão
de que o primeiro comandante, General “A comitiva da Soamar adentra o Ar-
Cordeiro de Farias, acompanhado dos senal de Marinha do Rio de Janeiro, na
CARTAS DOS LEITORES

Ilha das Cobras, os caminhos pontilhados Independência – F 44, atracada ao largo,


por uniformes brancos. Era um dia de fes- executa a salva de 17 tiros.
ta. Ao longe, uma silhueta portentosa. Há A cerimônia no convoo transcorre com
pouco tempo o elegante navio era o HMS a pompa e a circunstância que caracteri-
Ocean, da Royal Navy, até que, em agos- zam as transmissões de cargo, momentos
to de 2018, nossa Marinha o adquiriu, e o de emoção vividos pelos ilustres e estima-
gigante com mais de 200 metros e 20 mil dos chefe navais, com os quais a Soamar
TDW tornou-se o capitânia da Esquadra, teve ocasião de manter contato próximo
sob a denominação Porta-Helicópteros em diversas fainas.
Multipropósito PHM Atlântico – A 140. Durante a cerimônia de passagem de
Pode transportar 800 fuzileiros navais e função, pudemos avaliar a importância
18 helicópteros e operar simultaneamente do cargo, o que nos deixou orgulhosos,
até sete aeronaves em seu convés de voo, felizes e entusiasmados com o potencial
utilizando qualquer dos tipos de helicópte- da Marinha do Brasil.
ros orgânicos dos esquadrões da Marinha Reportando-se diretamente ao co-
do Brasil, quais sejam: Seahawk (SH-16), mandante da Marinha, em Brasília, o
Cougar (UH-15 A/B), Lynx (AH-11B), comandante de Operações Navais, no Rio
Esquilo (UH-12/13), Bell Jet Ranger III de Janeiro, tem sob sua jurisdição todas
(IH-6B) e Super Puma (UH-14). as unidades operacionais da Marinha: a
A distância, as silhuetas da Fragata Esquadra, incluindo as Força de Superfí-
Independência, do Submarino Tupi e do cie, submarinos e a Força Aeronaval; os
Navio-Patrulha Oceânico Apa destacam- Fuzileiros Navais (abrangendo a Força de
-se contra o horizonte, enquanto, no cais, Fuzileiros da Esquadra, Divisão Anfíbia
uma exposição estática apresenta alguns e Tropa de Reforço); os nove Distritos
dos modernos blindados que operam na Navais em todo o Brasil e o Controle
Força de Fuzileiros da Esquadra. Naval do Tráfego Marítimo.
No amplo convoo, o Almirante de Após a confraternização, realizada
Esquadra Küster pronuncia sua alocu- no amplo espaço do hangar interior,
ção, recordando os momentos felizes deixamos o navio pela rampa de acesso,
que viveu em sua brilhante carreira na- com otimismo. Otimismo por sermos
val, seguindo-se as palavras do coman- partícipes de um importante momento da
dante da Marinha. Logo em seguida, é a nossa Marinha. Momento de renovação,
vez do novo comandante de Operações de aquisição de novos meios, de recupera-
Navais, Almirante de Esquadra Puntel, ção da capacidade operativa, de avanços
enquanto aeronaves da Força Aeronaval tecnológicos significativos desenvolvidos
executam voos rasantes ao longo do por nós brasileiros. Viva a Marinha! Viva
costado do navio, após o que a Fragata o Brasil!”

192 RMB2oT/2019
NECROLÓGIO

A RMB expressa o pesar às famílias pelo falecimento dos seguintes colaboradores e assinantes:

AE (FN) Carlos de Albuquerque  25/02/1927 † 11/04/2019


CA (Md) Manoel Alberto Raymondo Serrão  07/04/1932 † 04/03/2019
CMG (IM) Nelson Borges da Gama  15/06/1933 † 24/05/2019
CMG Paulo Gustavo da Silva Castro Pinto  03/01/1937 † 19/04/2019
CMG Ivar Marques de Souza  31/12/1936 † 21/03/2019
CMG Waldemar Peregrino Leite de Araujo Filho  12/10/1938 † 25/04/2019
CMG Ney Dantas  04/02/1939 † 14/03/2019
CF (FN) Italo Ferreira da Costa  10/12/1926 † 05/03/2019
CF Marcos Jorge Matusevicius  25/01/1962 † 08/04/2019
CT (QOA) Francisco das Chagas do Espirito Santo  09/02/1940 † 01/05/2019
SO José Geraldo Machado  24/04/1947 † 24/02/2019

Promoções: a 2o Ten em 16/01/1947;


a 1 o Ten em 20/09/1948; a CT em
12/09/1952; a CC em 22/07/1958; a CF
em 22/07/1961; a CMG em 18/05/1967; a
CA em 25/11/1974; a VA em 25/11/1980;
e a AE em 25/11/1984.
Em sua carreira exerceu oito coman-
dos: Núcleo de Aviação da Força de
Fuzileiros da Esquadra; Guarnição do
Quartel Central do Corpo de Fuzileiros
Navais; Geral do Corpo de Fuzileiros
Navais; Centro de Instrução do Corpo de
Fuzileiros Navais; Reforço da Força de
Fuzileiros da Esquadra; Divisão Anfíbia;
Força de Fuzileiros da Esquadra; e Apoio
do Corpo de Fuzileiros Navais.
Outras comissões: 2 a Companhia
CARLOS DE ALBUQUERQUE Regional de Fuzileiros Navais em Be-
Almirante de Esquadra (FN) lém; Comando da 2a Cia. Regional de
Fuzileiros Navais; Quartel Central do
Nascido no Estado da Guanabara, Corpo de Fuzileiros Navais; Comando da
filho de Jair Fernandes de Albuquerque Guarnição do Quartel Central; NA Pedro
e Adelia Stuckenbruck de Albuquerque. II; Diretoria de Aeronáutica da Marinha;
NECROLÓGIO

Comissão Naval Brasileira em Washing- Militar com Passador de Platina; Medalha do


ton; Centro de Instrução e Adestramento Mérito Militar – Grande Oficial; Medalha do
Aeronaval; Comando-Geral do Corpo Mérito da Ordem do Rio Branco – Grande
de Fuzileiros Navais; Estado-Maior da Oficial; Medalha Mérito Santos Dumont;
Armada; e Escola Superior de Guerra. Medalha do Pacificador; Medalha do Méri-
Em reconhecimentos aos seus serviços, to Aeronáutico – Grande Oficial; Medalha
recebeu inúmeras referências elogiosas e Mérito das Forças Armadas – Grão-Mestre;
as seguintes condecorações: Medalha do e Medalha Naval de Serviços Distintos.
Mérito Ruy Barbosa; Medalha do Serviço de À família do Almirante Carlos de Al-
Guerra; Medalha Mérito Tamandaré; Meda- buquerque, o pesar da Revista Marítima
lha do Mérito Naval – Grã-Cruz; Medalha Brasileira.

Naval do Rio de Janeiro e Policlínica


Naval Nossa Senhora da Glória.
Outras comissões: Diretoria do
Pessoal da Marinha; Sanatório Naval
de Nova Friburgo; Diretoria de Hidro-
grafia da Marinha; Navio-Hidrográfico
Sirius; Centro de Instrução Almirante
Wandenkolk; Navio Oceanográfico
Almirante Saldanha; Centro de Sinali-
zação Náutica e Reparos Almirante Mo-
raes Rego; Assistência Médico-Social
da Armada; Navio-Escola Custódio de
Mello; Hospital Central da Marinha;
Centro Médico Naval Marcílio Dias;
Núcleo do Hospital Naval Marcílio
Dias; Comando do 4o Distrito Naval;
MANOEL ALBERTO
Escola de Guerra Naval; Centro Médico
RAYMONDO SERRÃO Naval do Rio de Janeiro e Diretoria de
Contra-Almirante (Md) Saúde da Marinha (Vice-Diretor).
Em reconhecimento aos seus serviços,
Nascido no Estado do Rio de Janeiro, recebeu inúmeras referências elogiosas e as
filho de Jorge Alberto Nunes Serrão e de seguintes condecorações: Ordem do Mérito
Suzanna Raymondo Serrão. Naval – Comendador; Ordem do Mérito
Promoções: a 1oTen em 25/08/1958; a Naval – Oficial; Ordem do Mérito Naval –
CT em 25/08/1961; a CC em 24/09/1966; Cavaleiro; Medalha Militar com Passador
a CF em 25/12/1975; a CMG em Ouro – 3o Decênio; Ordem do Mérito Ae-
30/04/1983; e a CA em 31/07/1988. ronáutico – Comendador; Medalha Mérito
Foi transferido para a Reserva em Tamandaré e Medalha do Pacificador.
22/03/1991 e Reformado em 07/04/2000. À família do Contra-Almirante (Md)
Em sua carreira exerceu três direções: Manoel Alberto Raymondo Serrão, o
Hospital Naval de Belém, Centro Médico pesar da Revista Marítima Brasileira.

194 RMB2oT/2019
ACONTECEU HÁ CEM ANOS

Esta seção tem o propósito de trazer aos leitores lembranças e


notícias do que sucedia em nossa Marinha, no País e noutras partes do
mundo há um século. Serão sempre fatos devidamente reportados pela
Revista Marítima Brasileira.
Com vistas à preservação da originalidade dos artigos, observaremos
a grafia então utilizada.

THESES DA ESCOLA NAVAL DE GUERRA


(RMB, mar/abr 1919, p. 644)
Logistica
(Apresentada em 31 de julho de 1918 pelo Official-Alumno
Capitão de Fragata Julio Cesar de Noronha Santos)

Não é facil definir a palavra – ramos de conhecimentos da arte da


logistica, por isso que, mesmo en- guerra nos quaes estão enquadra-
tre os que tratam cuidadosamente das a estrategia, a tactica e a logis-
desse importante assumpto, ha di- tica, se não inclui de par com todos
vergencias. Estas se manifestam, os serviços que caminham simulta-
senão quanto á definição em subs- neamente com o desenrolar da luc-
tancia, no emtanto, positivamente ta e são por assim dizer a dynamica
no que concerne á extensão a dar a da mesma, – ao menos insinuou, de
serviços assim denominados, e até modo frisante, que as finanças de
no referente á sua discriminação. uma nação podem constituir uma
Logistica, já foi dito, é a sciencia das engrenagens da importante ma-
do calculo numerico de diversas or- china que é a logistica, na produc-
dens de serviços que respeitam não ção, manutenção e impulsão dos
só a administração publica como a elementos basicos e, ademais, im-
organisação desses mesmos servi- prescindiveis para se ferir comba-
ços. Autoridade indiscutivel em os tes com probabilidade de exito. Lo-
ACONTECEU HÁ CEM ANOS

gistica, pretende Jomini, origina-se desta palavra por escriptores que


do Major-General des Logis, cuja a mesma estudam, como assumin-
funcção era proporcionar quarteis do accepção muita lata, tirando-lhe
ás tropas. Farrow – Encyclopedia dessa forma a exactidão que era de
Militar – sob o titulo Logistica, diz: desejar ella tivesse”.
“Bordin considera a applicação (...)

Logistica
Sua concepção actual, seu valor, o valor de sua cordenação
(These apresentada em Julho de 1918 pelo Official-Alumno Capitão de
Corveta Americo Ferraz e Castro)

Sempre que definirmos: – o po- apparelhado com todos os recur-


der militar como a garantia que os sos para emprehendel-a.
Estados crearam para a sua pro- A seguir sua subordinação á Po-
pria vitalidade, e a guerra como lítica, em demasia é conhecido que
o recurso violento que a Politica a arte da guerra se subdivide em
empregará quando contrariada em duas partes perfeitamente distinc-
attingir por outra forma seu objec- tas: a Estrategia e a Tactica, que,
tivo, – nós fazemos assim natural- pela multiplicidade das definições
mente, a deduc- classicas, e sua
ção logica não propria vulgari-
só da subordi- Todos esses recursos sação, estão hoje
nação da guerra indispensaveis, e aquelles plenamente elu-
com a politica, cidadas e com-
como egualmen-
que possam augmentar o seu prehendidas.
te que a guerra é valor, – que não pertencem Para passar
a razão exclusi- á estrategia, que não são entretanto de sua
va da existencia da tactica. – constituem a base fundamen-
do poder militar tal – a Politica
Logistica
durante a paz. – para a esphe-
Sendo assim, o ra estrictamente
poder militar só corresponde a militar de suas subdivisões, – isto
seu fim quando convenientemen- é; concebido, sob o objectivo po-
te adestrado e preparado para a litico, o plano de campanha, de-
guerra; ou, em outras palavras: o senvolver sua execução material
poder militar deve estar fortemente de modo a ter melhor disposição
vinculado com a arte da guerra, e de forças, quando e então travar

196 RMB2oT/2019
ACONTECEU HÁ CEM ANOS

a batalha, – o poder militar, para O sacrificio financeiro resultará


exercer acção decisiva, precisa dos esforços isolados, imcompletos,
ser dotado de recursos que facili- desconnexos, emprehendidos n’uma
tem sua rapida concentração, que directiva única, porque elles assim
assegurem sua sufficiencia, que não poderão nunca preencher só
permittam sua mobilidade, que por si o objectivo visado, quer na
garantam sua subsistencia. Todos paz e muito menos da guerra.
esses recursos indispensaveis, e Coordenando-os sempre, impor-
aquelles que possam augmentar o tará em applicar o sabio principio
seu valor, – que não pertencem á de economia que consiste em “em-
estrategia, que não são da tactica. pregar bem”. Será assim a unidade
– constituem a Logistica. de orientação que sempre conduz ao
É facil prever, pelo proprio enun- maximo rendimento do trabalho. E,
ciado, a importancia que assume a muito a proposito, poderemos ain-
sua cooperação; da invocar duas
ou melhor: a evi- interessantes ob-
dencia do valor A logistica, portanto, não servações de Jo-
da Logistica. póde ter limites definidos; mini quando ao
Se a politica já esses dependerão do gráo de analysar a in-
foi muito a pro- interesse e do esforço que fluencia da situa-
posito definida, ção financeira en-
poder ser consi-
de facto inspirar a exclusiva tre as “chances”
derada como “a defesa da patria da guerra opina
missão da estra- pela sua relativi-
tegia”, a Logistica tambem, por sua dade: “Uma potencia regorgitando
vez, já foi bem justamente reputada em ouro poderá no emtanto se de-
“a força accumulada da estrategia”. fender muito mal”; a segunda quase
(...) se apresenta como um paradoxo: “O
Uma observação meticulosa, ferro pesa pelo menos tanto quanto
perseverante e continua, na coor- o ouro nas balanças do poder mili-
denação de todos os factores logis- tar”. A guerra russo-japoneza foi
ticos, proporcionará ao paiz mes- mais um exemplo frisante da exacti-
mo de fracos recursos economicos dão desses seus dois conceitos.
um efficiente poder militar. Esta Quando a Logistica constituir a
precisa coordenação no emtanto preoccupação grave, como o exige
poderá suggerir a impressão de um a propria gravidade de seu objec-
enorme sacrificio financeiro. Há tivo. – o que talvez represente para
ahi um engano que urge corrigir nós o problema de maior relevancia
sem demora. – sua organisação naturalmente de-

RMB2oT/2019 197
ACONTECEU HÁ CEM ANOS

verá partir do preparo cuidadoso de (...)


seus factores de maior vulto, carac- Por um esforço previdente e con-
teristicamente militares, faceis de tinuo a Logistica poderá tornar ex-
serem personificados. O comman- cessivamente vasta a esphera de sua
dante Vogelgesang, como já vimos, contribuição á potencia militar pa-
nos orientou mesmo precioso ponto ra a guerra. Considerando-a com-
de partida para sua classificação: tudo sob seu aspecto rigorosamente
profissional, a propria reflexão le-
Forças: vará a admittir que, se para o exer-
Adestramento cito alguns de seus factores poderão
Mobilisação ser colhidos, desenvolvidos, melho-
Organisação rados e aguardar mesmo a prompti-
Administração ficação no decurso da guerra, a ma-
Equipamento rinha entretanto os precisa encontrar
Transporte todos preparados
Manutenção com previsão. Se a
Para a marinha, o sua acção é mais
Basta ligeira contemporisar não é restricta que a do
reflexão sobre ca- permittido, e o chegar mal lhe exercito, em com-
da um desses fac- pensativa é mais
tores para reco-
é irremediavel. É a Logistica absoluta. Ella tem
nhecer que série quem faz a força naval de chegar a pro-
de elementos se posito, isto é: che-
deverá reunir e calcular para conse- gar logo e chegar bem, apenas surgir
guir-lhes o rendimento completo, sua a guerra. Para a marinha, o contem-
applicação opportuna e conveniente porisar não é permittido, e o chegar
conservação. A investigação meticu- mal lhe é irremediavel.
losa e coherente desses elementos ac- “Não há hypothese alguma on-
cessorios, determinará por sua vez a de os atrazos tenham maior in-
pesquiza progressiva de outros deta- fluencia e se paguem mais caro do
lhes capazes de facultar maior resul- que para a esquadra”, escrevia o
tado aos factores principaes; pesqui- coronel Goedke quando pugnava
za que fatalmente ultrapassará muito para que a Allemanha se fizesse po-
além os dominios da esphera militar. tencia naval de primeira ordem.
A logistica, portanto, não póde No raciocinio ainda de que dos
ter limites definidos; esses depen- simples navios é a Logistica quem
derão do gráo de interesse e do es- faz a força naval, e considerando-a
forço que de facto inspirar a exclu- respectivamente no que concerne a
siva defesa da patria. pessoal e material, poderemos con-

198 RMB2oT/2019
ACONTECEU HÁ CEM ANOS

cluir como fundamento, que ella se Guarnição exercitada


concretisa para a marinha no po- Mobilidade da esquadra para a
der de proporcionar: batalha.

NOTICIARIO MARITIMO

MAIO/JUNHO 1919 des das grandes potencias alliadas,


MARINHA NACIONAL dar combate ao inimigo commum na
terrivel campanha dos submarinos.
DIVISÃO NAVAL DE GUERRA Em virtude das exigencias do
– Regressou ao porto desta capital, momento e para embaraçar qual-
no dia 9 de Junho, após uma au- quer manejo da espionagem inimi-
sencia de um anno, a Divisão Na- ga, a Divisão Frontin, ao deixar o
val que, sob o commando do Snr. porto desta Capital, fraccionou-se
Vice-Almirante Pedro Frontin, es- em alto mar, seguindo algumas
teve em mares europeus prestando unidades para differentes pontos
o seu concurso aos paizes alliados do littoral do paiz, onde permane-
contra os impe- ceram por algum
rios centraes. tempo.
Esses navios e Os navios da Divisão Naval Os navios reen-
as suas valentes Brasileira portaram-se contraram-se em
officialidades e na altura da confiança Fernando de No-
guarnições foram que nelles depositaram os ronha, de onde
festivamente re- partiram em 1 de
cebidos em sua
governos alliados Agosto com des-
chegada. tino ao porto de
A Divisão compõe-se dos scouts Dakar, no Senegal, fazendo, porém,
“Bahia” (capitanea) e “Rio Gran- escalas em diversos pontos, onde
de do Sul”, dos contra-torpedeiros a nossa marinhagem se adestrava
“Parahyba”, “Piauhy”, “Rio Gran- convenientemente.
de do Norte” e “Santa Catharina” Em Dakar, a Divisão Brazileira
e do transporte “Belmonte”. chegou em 26 de Agosto. A perma-
Esta Divisão, da qual faz parte nencia neste porto colonial francez
tambem o rebocador “Laurindo Pit- foi retardada pela epidemia da gri-
ta”, que esteve servindo como caça- ppe que causou muitas victimas,
-minas, partiu do porto desta Capi- como se sabe.
tal na manhã do dia 21 de Junho do De accôrdo com uma resolução
anno passado com destino aos ma- do Almirantado Britannico, ficou
res europeus, para o lado das unida- a Divisão Naval Brazileira incum-
RMB2oT/2019 199
ACONTECEU HÁ CEM ANOS

bida de patrulhar o triangulo es- Terminada a guerra, os nos-


trategico de Free-Town, Dakar e sos navios visitaram a Inglaterra,
S. Vicente. Esse triangulo esteve França, Portugal e Italia, onde
durante muito tempo enfestado pe- expressivas homenagens foram
los submarinos tedescos e não foi tributadas ao Snr. Vice-Almirante
pequeno o numero de embarcações Frontin, aos officiaes e demais tri-
afundadas e de comboios atacados. pulantes.
Nós mesmos tivemos em um só dia Ao encontro da Divisão Naval de
duas embarcações mercantes per- Guerra partiu no dia 9 pela manhã
didas, na citada zona: o “Acary”, uma divisão composta do cruza-
do Lloyd Brazileiro e o “Guahyba”, dor “Barroso” e contra torpedei-
da Commercio e Navegação. ros “Paraná” e “Sergipe”, sob o
Os navios da Divisão Naval commando do Snr. Capitão de Mar
Brasileira portaram-se na altura e Guerra Raul de Farias Ramos.
da confiança que nelles deposita- Uma esquadrilha de aviões com-
ram os governos alliados, bastando posta de quatro hydroplanos tripu-
dizer que nenhum torpedeamento lados pelos Tenentes Victor Carva-
se registrou na sua zona de acção lho Silva, F. Santos, A. Trompwosky
depois que começaram a desempe- e Mario Godinho foi incumbida de
nhar a tarefa que lhes coube. egual missão.

200 RMB2oT/2019
REVISTA DE REVISTAS

Esta seção tem por propósito levar ao conhecimento dos leitores


matérias que tratam de assuntos de interesse marítimo, contidas
em publicações recebidas pela Revista Marítima Brasileira e pela
Biblioteca da Marinha.
As publicações, do Brasil e do exterior, são incorporadas ao
acervo da Biblioteca, situada à Rua Mayrink Veiga 28 – Centro –
RJ, para eventuais consultas.

SUMÁRIO
(Matérias relacionadas conforme classificação para o Índice Remissivo)

ADMINISTRAÇÃO
INCORPORAÇÃO
PHM Atlântico renovação do “conjugado anfíbio” da Marinha do Brasil (202)
ARTES MILITARES
COMANDO
Os EUA perderam o Comando do Mar? (202)
Impeçam a erosão do comando (204)
GUERRA DE MINAS
Vença com a segunda melhor arma (204)
CIÊNCIA E TECNOLOGIA
INOVAÇÃO TECNOLÓGICA
Uso da inteligência artificial em forças navais (205)
FORÇAS ARMADAS
COMANDO
Os Chefes Navais respondem (206)
HISTÓRIA
HISTÓRIA DE PORTUGUAL
Marinha, há 700 anos a servir Portugal no mar (206)
PODER MARÍTIMO
PATRULHA NAVAL
A nova geração de navios-patrulha oceânicos (207)
POLÍTICA
POLÍTICA DA CHINA
Vi(r) Ver o Mar – Parte III – A China (207)
A nova Rota da Seda (208)
RELAÇÕES INTERNACIONAIS
RELAÇÕES INTERNACIONAIS
China e Estados Unidos podem evitar a guerra? (209)
REVISTA DE REVISTAS

PHM ATLÂNTICO RENOVAÇÃO DO


“CONJUGADO ANFÍBIO” DA MARINHA DO BRASIL
Eduardo Italo Pesce*
(Revista de Marinha, Portugal, jan./fev. 2019, pp. 30-32)

Neste artigo o autor apresenta o Porta missão, aborda o sistema de propulsão e


Helicópteros Multipropósito (PHM) sua capacidade de transporte de tropa e
Atlântico, navio incorporado à Marinha projeção de poder sobre terra.
do Brasil em 2018, e comenta sua versa- Eduardo Italo Pesce compara ainda
tilidade de emprego tanto como navio de a utilização do navio pela Royal Navy
controle de área marítima ou de assalto com a forma prevista de emprego pela
anfíbio. Apresenta quadro com as suas Marinha brasileira. Encerra comentan-
principais características, descreve vá- do o desafio de se obter disponibilidade
rias possibilidades de emprego do meio, orçamentária para mantê-lo em condi-
os custos de sua operação enquanto na ções de pleno emprego, principalmente
Marinha britânica, as possibilidades de em razão dos demais projetos estraté-
se fazer arranjos em suas instalações gicos que a Marinha brasileira conduz
adotando parâmetros adequados a cada no momento.

OS EUA PERDERAM O COMANDO DO MAR?


Capitão de Corveta (EUA) Jennifer Riehl*
(Proceedings, jan./2019, pp. 34-39)

Segundo a autora, o
comando do mar pode ser
definido como a capaci-
dade de mover à vontade
mercadorias e armadas
por mar e de impedir que
o oponente o faça. “O
comando do mar pelos
Estados Unidos da Améri-
ca (EUA) há décadas tem
proporcionado respostas
rápidas a ameaças que
surgem em qualquer parte
do mundo e comércio seguro fazendo neficiaram das águas relativamente
o crescimento da economia global. tranquilas proporcionadas pelo poder
Mesmo nações competidoras se be- naval americano”, afirma Riehl.

*Colaborador permanente do Centro de Estudos Político-Estratégicos da Marinha do Brasil e colaborador emé-


rito da RMB. Mestre em Estudos Marítimos pelo Programa de Pós-Graduação da Escola de Guerra Naval.
* Piloto de P-3. Em trânsito para chefiar Departamento de Aeronaves T-45 na Naval Air Station Meiridian,
no Mississippi.

202 RMB2oT/2019
REVISTA DE REVISTAS

marítimas localizadas. A
combinação dessas duas
capacidades permite a
um Estado movimentar
produtos e forças mi-
litares pelos oceanos,
vencer desafios a esses
movimentos e interesses
e bloquear os dos adver-
sários. Para Riehl, esses
dois parâmetros são in-
divisíveis e definem o
comando do mar, mesmo
que os meios para sua ob-
tenção venham a mudar.
A autora analisa as
estratégias marítimas de
seu país a partir de 2005,
quando foi introduzido
o conceito da “Marinha
de 1.000 navios”, que
incluía a participação
de Marinhas de outros
países para incrementar
a segurança marítima, e
conclui que, apesar de
não estar explícito, a
Entretanto, continua ela, a Marinha Marinha dos EUA vem gradativamente
de seu país hoje se defronta com a lota- reconhecendo sua incapacidade para
ção dos espaços marítimos comuns por comandar o mar por si só. Aborda, ain-
nações adversárias. O comando do mar é da, as aquisições de meios realizadas,
composto de duas partes: influência naval as doutrinas e as pesquisas e desenvol-
global e controle local do mar, afirma a vimentos buscados para execução das
autora. E esse é o foco deste artigo, que estratégias identificadas.
busca aquilatar se os EUA ainda detêm A Comandante Riehl finaliza afir-
essa hegemonia. mando que, no mundo de hoje, os EUA
A influência naval global é repre- devem buscar restringir a definição de
sentada pela capacidade logística de seus interesses vitais em vez de investir
alcance mundial e pela de guerra a longa em exercer influência em qualquer lugar
distância, de modo a prover ameaça e a qualquer momento. “Exercendo a
naval ofensiva em qualquer ponto (dis- função de liderança no lugar de buscar
suasão). O controle local do mar signi- hegemonia, os EUA provavelmente te-
fica possuir plataformas e armamento rão mais recursos financeiros, parceiros
próprios para regular o acesso a áreas e opções”, assevera a autora.

RMB2oT/2019 203
REVISTA DE REVISTAS

IMPEÇAM A EROSÃO DO COMANDO


Capitão de Mar e Guerra (Reserva-EUA) Kevin Eyer*
(Proceedings, novembro 2018, p. 10)

Historicamente, aos comandantes eram que implicaram a situação atual, como, por
atribuídas grande confiança e responsabi- exemplo, a conectividade global, que permi-
lidade. Deviam conduzir, com competên- te que qualquer um possa falar com qualquer
cia e independência, as missões para as comandante em qualquer lugar do planeta; a
quais eram designados. Ficava subenten- quantidade de almirantes relativa à quantida-
dido também que, se as coisas andassem de de navios (nos EUA, em 1944, havia 256
erradas, eles seriam responsabilizados – o almirantes para 6.084 navios, hoje há 359
ônus do comando. E este é o tema deste para 280); e a mentalidade do “erro zero”.
artigo de alerta do Comandante Eyer. Em sua conclusão, o Comandante Eyer
Segundo o autor, aquela confiança, alerta que, como a próxima guerra será
infelizmente em estado de declínio, ini- travada em ambiente no qual as comu-
ciou processo de queda livre, enquanto a nicações serão limitadas ou inexistentes
responsabilidade – ou talvez mais corre- por ação do inimigo, os comandantes de
tamente a “imputabilidade” – aumentou navios de superfície, aeronaves e sub-
ao ponto de os comandantes terem se marinos deverão tomar ação por si sós.
tornado sacrificáveis. Em sua percepção, E questiona se, a continuar no caminho
essa cultura vem tolhendo a iniciativa dos atual, a Marinha dos EUA não estará for-
novos comandantes. mando uma geração de administradores
Eyer, por meio da análise de exemplos “risco zero”, incapaz de pensar, agir e
históricos e atuais, identifica alguns fatores lutar independentemente.

VENÇA COM A SEGUNDA MELHOR ARMA


Capitão de Fragata (EUA) Christopher Nelson*
(Proceedings, novembro 2018, pp. 60-64)

Neste artigo premiado pela Naval Mine japonesas, em que bombas nucleares lan-
Warfare Association, são apresentadas as çadas sobre Hiroshima e Nagasaki, com
lições decorrentes da Operação Starva- a invasão soviética da Manchúria e com
tion, executada contra o Japão na Segunda a destruição da Marinha Mercante, que
Guerra Mundial. trouxe o colapso da indústria daquele país.
Para o autor, a campanha de minagem O Comandante Nelson apresenta argu-
então realizada foi a mais eficaz estra- mentos baseados em estatísticas do que foi
tegicamente, mesmo considerando-se a aquela campanha e a projeção de mortes
combinação dos bombardeios das cidades caso a guerra continuasse por apenas mais

* Serviu em sete cruzadores em sua carreira, tendo comandado três deles: o USS Thomas S. Gates (CG-51),
o USS Shiloh (CG-67) e o USS Chancellorsville (CG-62). É colaborador frequente da Proceedings.
* Oficial de Inteligência. Serve atualmente na Office of Naval Intelligence, na função de gerente para a Ásia
Oriental.

204 RMB2oT/2019
REVISTA DE REVISTAS

um ano – sete milhões de civis japoneses Em sua conclusão, Nelson afirma que
poderiam morrer de inanição. Alerta tam- as minas continuam a ser armas de coer-
bém para a situação atual de sua Marinha ção de excelente custo-benefício e que
no que respeita à guerra de minas ofensiva desconsiderar seu uso pode colocar seu
e defensiva e a necessidade de integração/ país na mesma posição em que o Japão
coordenação com a força aérea. esteve há 75 anos.

USO DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL EM FORÇAS NAVAIS


Peter Donaldson
(Naval Forces, Alemanha, no 1/2019, pp. 13-15)

O estudo da guerra moderna nos leva a capazes de solucionar uma determinada


um teatro de operações congestionado de tarefa podem ser combinados em escala
informações. Logo, um grande desafio que crescente de complexidade e dados, tor-
se apresenta aos comandantes e demais nando impossível ao ser humano escolher
oficiais envolvidos com o combate é como a melhor resposta.
filtrar as informações que são importantes O uso de veículos não tripulados, tanto
para a tomada de decisão durante o com- de superfície como submersíveis, tem sido o
bate, ou mesmo na fase de sua preparação. principal fator de pesquisas neste campo. Os
O autor comenta a melhora da capaci- diversos empregos da inteligência artificial,
dade de predição da tecnologia, aliada a como simuladores, integradores de platafor-
estudos estatísticos, junto com a rapidez ma e de várias plataformas, selecionadores
dos equipamentos eletrônicos. Estas de múltiplas escolhas, são apresentados no
mudanças começam a ser incrementadas texto que, como destaque, apresenta as cara-
em várias soluções em que os métodos terísticas do Deep Learning (DL).

RMB2oT/2019 205
REVISTA DE REVISTAS

Donaldson cita o uso de inteligência volver soluções em que os sistemas


artificial no sonar da empresa Thales e, sejam capazes de aprender com o uso
por fim, apresenta o principal projeto da dos operadores, buscando, assim, um
agência Defence Advanced Research sistema futuro que seja autônomo em
Projects Agency (Darpa), para desen- todas as situações.

OS CHEFES NAVAIS RESPONDEM


(Naval Forces, Alemanha, no 1/2019, pp. 6-12)

Aproveitando a proximidade do evento Canadá, Bélgica, Bulgária, Alemanha,


Naval Defence and Maritime Security Grécia, Índia e Noruega. E, com cada um
Exhibition (Navdex 2019), a revista en- dentro das particularidades de sua Mari-
viou a seguinte pergunta a diversos chefes nha, praticamente houve unanimidade em
navais: “Qual a sua percepção de como o esclarecer que não é mais possível a uma
aumento das tensões na Península Arábi- Marinha Nacional, seja de que país for,
ca poderia afetar outras regiões, e como limitar suas capacidades a suas águas de
a sua Marinha está contribuindo para a interesse direto. E é preciso contar com
segurança na área e/ou para prevenir os unidades capazes de serem empregadas
efeitos de transbordamento das tensões?”. na segurança de pontos focais e linhas de
Atenderam ao questionamento os che- comunicações marítimas, como a Penín-
fes navais dos seguintes países: Austrália, sula Arábica ou o Indo-Pacífico.

MARINHA, HÁ 700 ANOS A SERVIR PORTUGAL NO MAR


Pedro Santos Serafin*
(Revista de Marinha, Portugal, jan./fev.2019, pp. 42-43)

O texto se propõe a evocar a pre- (1717 e 1798); Partida da Família Real


sença da Marinha na vida de Portugal, para o Brasil (1807); Batalha Naval do
por ocasião da comemoração da data de Cabo de São Vicente (1833); Primeira
criação da Marinha portuguesa, em 1o de travessia aérea do Atlântico Sul (1922);
fevereiro de 1317. Empenhamento na defesa do Ultramar
Para representar os pontos marcan- (1961); Projeto de extensão da plataforma
tes da vida da instituição estreitamente continental (2004); e Comemorações dos
ligados aos da Nação, o autor escolheu 700 anos (2017).
os seguintes eventos: A Batalha Naval Na descrição dos eventos, Pedro Sera-
do Tejo (1384); A conquista de Ceuta fin destaca o quanto a Marinha participou
(1415); Chegada de Vasco da Gama à Ín- e participa no dia a dia da Nação portu-
dia (1498); Batalha Naval de Diu (1509); guesa, e seu papel ao longo dos últimos
Chegada ao Japão (1543); Reconquista sete séculos. Outra observação é a origem
dos territórios ocupados pelos holandeses da Marinha brasileira e sua relação com
(1648 e 1654); Intervenção de Portugal a portuguesa, e sua separação após a In-
nas questões políticas internacionais dependência do Brasil.

* Oficial da Armada.

206 RMB2oT/2019
REVISTA DE REVISTAS

A NOVA GERAÇÃO DE NAVIOS-PATRULHA OCEÂNICOS


(Revista de Marinha, Portugal, jan./fev., 2019, pp. 24-25)

O artigo cita a iniciativa da Marinha São apresentadas algumas das evolu-


portuguesa em substituir as Corvetas e ções tecnológicas que estão contidas no
Patrulhas, que estão hoje navegando e recém-recebido NRP Sines, onde se des-
atingindo o fim do seu ciclo de vida, por tacam: o sistema integrado de gestão da
navios com mais recursos tecnológicos plataforma; a produção e distribuição de
e de menor custo de manutenção. Com energia, os sistemas auxiliares, os meios
esse propósito foi criado o projeto para orgânicos e de movimentação de carga, os
a construção dos chamados Navios- sistemas de informação e comunicações
-Patrulha Oceânicos (NPO), projetados e o armamento. Ao realçar as diferenças
e idealizados por portugueses com entre os primeiros e os novos NPO, mos-
o desejo de impulsionar a indústria tra a superioridade destes em relação aos
nacional. demais patrulhas em atividade.

VI(R) VER O MAR – PARTE III: A CHINA


Ramos Borges
(Revista da Armada , Portugal, no 522/2017, p. 23 e 24)

O autor compara o declínio da mentali- Borges discorre sobre o desenvolvimento


dade marítima da China a partir das gran- técnico então existente, como a compar-
des viagens feitas pelo Almirante Cheng timentação estanque, os navios de roda
He entre 1405 e 1433, com o crescimento (movidas a mão), o leme na popa, a régua
da nova Marinha chinesa, mostrando o nas velas e as armas de fogo, bem como as
possível ciclo de envolvimento daquele técnicas de navegação, com uso da agulha
país com os interesses marítimos. magnética. “Durante séculos embarcações

RMB2oT/2019 207
REVISTA DE REVISTAS

chinesas encarregaram-se do comércio ex- fronteiras terrestres, praticamente desapa-


terno marítimo, sulcando o Oceano Pacífico receram. Começavam a estar reunidas ou
Oriental e entrando no Índico e em contato ser criadas as condições para a China voltar
com os navegadores árabes (...). Porém a a ser grande e, tal como no passado, não só
mais-valia em termos de conhecimento, em terra, mas também no mar.”
artes e técnicas estrangeiras, informações A mudança de objetivos políticos, que in-
geográficas, acordos diplomáticos e comer- clui a busca de obtenção de matérias-primas
ciais proporcionados por essas viagens não no mar, garantir a livre troca de mercadorias
justificavam os seus custos astronômicos.” e contestar os territórios perdidos, leva a
O artigo lembra que, “enquanto na uma nova Estratégia Militar, de maio de
Europa nos séculos XV e XVI, existiam 2015, que preconiza: “Os mares e oceanos
numerosos reinos que rivalizavam politica- são indispensáveis à paz, à estabilidade e ao
mente e competiam comercialmente entre desenvolvimento sustentável Chinês; a tradi-
si e com o mundo muçulmano, o Império cional mentalidade em que a terra prevalece
Chinês constituía, há séculos uma unidade sobre o mar deve ser abandonada e deve ser
política. No continente europeu, Colombo dada maior importância a gestão dos mares
e Magalhães puderam oferecer os seus e oceanos e a proteção dos direitos e inte-
préstimos a mais de um Rei. Já os expe- resses marinhos. É necessário que a China
rientes navegadores chineses não tinham disponha de uma moderna força marítima
mais nenhum reino nas proximidades a que responda não só pela segurança nacional,
quem oferecer os seus préstimos”. Este mas também pela salvaguarda da soberania,
abandono do mar teria se revelado nefasto de direitos e interesses marítimos, pela pro-
de 1839 em diante, tendo como principal teção das linhas de comunicação marítima
consequência a perda de vastos territórios. estratégicas, pelo interesse no estrangeiro e
Segundo o autor, a situação é seme- cooperação marítima internacional e pelo
lhante aos dias atuais. “O regresso ao mar reforço do poder marítimo.”
aconteceu, na linha da tradicional paciência O artigo demonstra a nova postura
e do pragmatismo chinês, quando teve que citando novos portos no Paquistão, em
acontecer (...). Os dirigentes que se segui- Mianmar, no Sri Lanka e na Grécia e
ram a Mao abriram a China ao exterior e uma base de apoio naval construída no
proporcionaram um boom de crescimento, Djibuti, mostrando, assim, que a nova
principalmente industrial (a ‘fábrica do estratégia procura atingir, pelo menos,
mundo’). Com o fim da Guerra Fria e o o mesmo poder de quando Zheng He
colapso da União Soviética, as ameaças às realizou suas viagens.

A NOVA ROTA DA SEDA


Antonio Balcão Reis*
(Revista de Marinha, Portugal, jan./fev. 2019, pp 64-65)

Com a transformação da China em soluções para escoar sua produção e para


país exportador de bens manufaturados receber matérias-primas com o propósito
para o mercado global, os planejadores de reduzir custos e aumentar a agilidade
chineses são obrigados a buscar novas no transporte.

*Contra-Almirante (Refo-EN) e Membro da Seção Transporte da SGL.

208 RMB2oT/2019
REVISTA DE REVISTAS

O artigo apresenta o projeto Belt and de criação de empregos dentro e fora


Road Initiative (BRI) que prevê investi- da China, mas de interesse de todas as
mentos tanto na parte terrestre como na nações da Ásia.
parte marítima, e consta de construção O texto encerra destacando que o
de estradas, ferrovias, oleodutos e ga- projeto chinês não se encontra completo,
sodutos, e infraestrutura marítima como uma vez que não determina uma saída
portos e oficinas para apoio logístico de para o Atlântico, e que seria interessante
força naval. Em face deste projeto, o incluir o porto português de Sines. Desta
autor comenta o esforço feito pelo estado forma, sugere que deverá ser estabelecida
chinês na busca de parceiros comerciais, uma nova Rota da Seda tanto terrestre
principalmente em relação à expectativa como marítima.

Rotas da seda, componentes marítima e terrestre

CHINA E ESTADOS UNIDOS PODEM EVITAR A GUERRA?


Kevin Rudd*
(Proceedings, dez./2018, pp. 20-27)

Este extenso e importante artigo é quadro estratégico asiático, em especial


uma adaptação ao discurso feito por as questões que envolvem a expansão
Kevin Rudd na conferência Desafio da do poder chinês e os interesses norte-
Nova China, promovida pelo U.S. Naval -americanos na região.
Institute, em outubro de 2018, e apre- O conferencista busca evidenciar as
senta detalhada análise da evolução do prioridades estratégicas chinesas e o esfor-

* Foi o 26o primeiro-ministro australiano e ministro de Relações Exteriores. É o presidente da Ásia Society
Policy Institute em Nova Iorque.

RMB2oT/2019 209
REVISTA DE REVISTAS

ço contínuo de mais de quatro décadas de Apresenta e analisa também os mo-


crescimento sob múltiplas administrações vimentos estratégicos americanos de
obedecendo orientações do partido único. adaptação à competição com os chineses
Cita o incremento regular de iniciativas a nas várias frentes estratégicas, como a
partir do governo de Deng Xiaoping, Jiang mercantilista, a nacionalista, a combatente
Zemin e Hu Jintao, e a clareza com que Xi e assim por diante.
Jinping vem conduzindo as articulações Ao finalizar, Rudd assevera apoiar
estratégicas atualmente. Detalha o que os que propugnam a “guerra evitável”,
chama de círculos de poder, com suas ca- buscando encontrar um caminho além dos
deias de países, ilhas e bases de interesse, extremos, tanto o da capitulação como o
e aborda a visão de futuro daquele país, da confrontação, diante do dilema global
incluindo os interesses marítimos. dessa questão.

210 RMB2oT/2019
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Esta seção destina-se a registrar e divulgar eventos importantes


da Marinha do Brasil e de outras Marinhas, incluída a Mercante,
dar aos leitores informações sobre a atualidade e permitir a pesqui-
sadores visualizarem peculiaridades da Marinha.
Colaborações serão bem-vindas, se possível ilustradas com
fotografias.

SUMÁRIO
(Matérias relacionadas conforme classificação para o Índice Remissivo)

ADMINISTRAÇÃO
APRESENTAÇÃO
Comandante da Marinha participa da apresentação da nova diretoria da Amazul (216)
AQUISIÇÃO
MB adquire lanchas blindadas durante a LAAD (217)
CERIMÔNIA
Tomada de Monte Castelo é celebrada em Florianópolis (217)
COMEMORAÇÃO
Abertura do ano cultural da DPHDM (218)
Agência Fluvial de Juazeiro comemora cem anos (227)
154o Aniversário da Batalha Naval do Riachuelo – Data Magna da Marinha (227)
CISMAR
Cismar participa do exercício multinacional Bell Buoy 2019 (231)
Cismar participa da reunião do Nato Shipping Working Group 2019 (232)
DISTRITO NAVAL
4o DN apoia Governo do Pará após colisão em ponte (233)
INCORPORAÇÃO
ComGptPatNavSSE incorpora lancha blindada (233)
MOSTRA DE DESARMAMENTO
Mostra de Desarmamento do RbAM Almirante Guillobel (234)
POSSE
Força-Tarefa Marítima da Unifil tem novo comandante (235)
Assunção de cargos por almirantes (236)
Transmissão do cargo de comandante de Operações Navais (238)
Posse do presidente do STM (243)
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Transmissão do cargo de DGPM (244)


Transmissão do cargo de chefe do Estado-Maior da Armada (249)
PRÊMIO
Prêmios Eficiência e Láureas Força de Superfície (254)
CAAML entrega Troféus Operativos (256)
Entrega do Prêmio Almirante Álvaro Alberto (257)
PROMOÇÃO
Promoção de almirantes (258)
Nova Comissão de Promoção de Praças (259)
RECEBIMENTO
MB recebe novas aeronaves AH-11B modernizadas (260)
4o DN recebe primeira aeronave para o 1o EsqdHU-41 (260)
VISITAÇÃO
NSS Felinto Perry é aberto para visitação (261)
NPaOc Araguari recebe autoridades na Costa do Marfim (262)
Ministro da Defesa da Argentina visita Complexo Naval de Itaguaí (262)

APOIO
ABASTECIMENTO
MB assina contrato com Terminal Portuário Santos Brasil (264)
APOIO LOGÍSTICO
DAerM apresenta processo de contrato de suporte logistico do UH-17 (264)
NA Pará conclui Operação Akila II/Ágata II (265)
BUSCA E SALVAMENTO
9o DN apoia Armada colombiana em Busca e Salvamento (265)
COMANDANTE FERRAZ
MB inaugura nova infraestrutura de telecomunicações da EACF (266)
MANUTENÇÃO
Depósito de Combustíveis da Marinha no RJ tem capacidade ampliada (267)
MODERNIZAÇÃO
Navios-Patrulha da classe Piratini recebem metralhadora GAM B01 (268)

ÁREAS
ANTÁRTICA
NPo Almirante Maximiano realiza levantamento hidrográfico na Antártica (268)
Comissão Operantar XXXVII (269)

ARTES MILITARES
GUERRA DE MINAS
NPa Bocaina realiza adestramento de lançamento de minas (270)
MANOBRAS
MB realiza ação de presença na Bacia de Campos durante Operação Aderex (270)
Operação Caribex 2019 (271)

212 RMB2oT/2019
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

ATIVIDADES MARINHEIRAS
HIDROGRAFIA
NHi Sirius recupera boias meteoceanográficas do Programa Nacional de Boias (272)
DHN ocupa assento em comitê de projeto de construção de cartas náuticas (273)
OCEANOGRAFIA
NPqHo Vital de Oliveira recebe pesquisadores para intercâmbio científico inter-
nacional (274)
PREVISÃO METEOROLÓGICA
Ciclone Tropical no Atlântico Sul é nomeado pela MB (275)
SALVAMENTO
EsqdHS-1 é homenageado por resgate noturno real sobre o mar (276)
SINALIZAÇÃO NÁUTICA
CAMR realiza manutenção no Rádio Farol Ilha Rasa (277)
SOCORRO
NApOc Iguatemi resgata embarcação (277)

CIÊNCIA E TECNOLOGIA (C&T)


C&T NA MARINHA
Senai/Cimatec e 2o DN realizam oficina de Ciência e Tecnologia (278)
ENERGIA ELÉTRICA
Comissão Interna de Conservação de Energia da Marinha se reúne no ComOpNav (279)

CONGRESSOS
CONFERÊNCIA
MB participa de Conferência de Defesa Cibernética na Colômbia (280)
CONGRESSO
MB participa de congresso internacional sobre energia solar e renovável (281)
ENCONTRO
6a Sessão do Subcomitê de Sistemas e Equipamentos de Navios da IMO (282)
FEIRA
Marinha do Brasil participa da LAAD (282)
REUNIÃO
Tribunal Marítimo realiza reunião sobre Zona Econômica Exclusiva (284)
DHN participa de reuniões da Oceatlan e da CHAtSO (285)
SALÃO
Marinha marca presença no Rio Boat Show 2019 (286)
SEMINÁRIO
Seminário Geopolítica do Petróleo (287)
MB participa do IX Seminário de Boas Práticas de Gestão e do lançamento do
Ciclo 2019 (288)
Seminário “21 anos da Divisão de Cartografia da Biblioteca Nacional” (288)
SIMPÓSIO
Simpósio “Reflexões sobre as políticas nacionais relacionadas ao mar” (289)
CURSO
Curso de Aperfeiçoamento de Guerra Anfíbia e Expedicionária (290)

RMB2oT/2019 213
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

CPSE participa de Curso de Operadores em Aeronaves Remotas (291)


BtlEngFuzNav ministra instrução para o Curso de Guerra Anfíbia e Expedicionária (292)
ESPORTE
Resultados esportivos (292)

FORÇAS ARMADAS
ADESTRAMENTO
MB realiza adestramento com blindados (293)
GptFNB promove competições Naval de Ferro e Companhia de Aço (293)
Alunos do C-ESP-DNBQR realizam exercício no PHM Atlântico (294)
DOAÇÃO
MB entrega livros à Biblioteca Nacional de São Tomé e Príncipe (295)
EXERCÍCIO MILITAR
Operação Joana D’arc: Marinhas do Brasil e da França realizam exercícios
combinados (295)
Esquadrões VF-1 e HU-2 realizam exercício de escolta de helicóptero (296)
Fragata União participa de exercícios multinacionais no Líbano (297)
FORÇA DE PAZ
Fragata União é o novo capitânia da FTM-Unifil (297)
MARINHA DA NAMÍBIA
MB apoia o primeiro Curso de Especialização de Manobras e Reparos da Marinha
da Namíbia (298)
MISSÃO DE PAZ
GptFNB comemora o Dia Internacional dos Peacekeepers (299)
NAVIO VELEIRO
NVe Cisne Branco participa da Comissão Europa 2019 (300)
OPERAÇÃO
MB realiza Operação Celeiro IV em Mato Grosso (300)
OPERAÇÃO AÉREA
Primeiro pouso noturno de aeronave da MB no PHM Atlântico (301)
EsqdVF-1 realiza exercício de ataque a alvos terrestres (302)
OPERAÇÃO DE PAZ
2o Estágio de Operações de Paz para Mulheres (303)
Marinha do Brasil recebe prêmio da ONU (303)
OPERAÇÕES ESPECIAIS
MB participa de intercâmbio de Operações Especiais com Marinha dos EUA (304)

INFORMAÇÃO
SISTEMA DE INFORMAÇÃO
DPHDM divulga Repositório Institucional da Produção Científica (304)

MEIO AMBIENTE
POLUIÇÃO
DepCMRJ adquire embarcação de lançamento de barreiras de contenção (305)

214 RMB2oT/2019
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

PODER MARÍTIMO
CABOTAGEM
MB participa de reunião sobre apoio marítimo e cabotagem (306)
CAPITANIA
Elevação da Delegacia Fluvial de Cuiabá (307)
CONSTRUÇÃO NAVAL
Barco Hospital Papa Francisco realiza testes (308)
PATRULHA NAVAL
ComGptPatNavN realiza Estágio Básico de Abordagem com Ibama e PF (309)
TRÁFEGO MARÍTIMO
Cismar realiza adestramento para Orgacontram (309)
TRIBUNAL MARÍTIMO
Boletim de Acidentes julgados no TM (310)

PSICOSSOCIAL
ASSISTÊNCIA SOCIAL
NAsH Tenente Maximiano participa do Projeto Ribeirinho Cidadão (310)
Equipe médica do NAsH Doutor Montenegro auxilia realização de partos (311)
NAsH Doutor Montenegro atende indígenas na Operação Acre 2019 (312)
Patrono da Aviação Naval é homenageado em Ação Cívico-social (312)
“Um dia de fuzileiro naval e marinheiro” para pessoas com deficiência (313)
COMUNICAÇÃO SOCIAL
NAsH Doutor Montenegro apoia projeto de musicalização (314)
CULTURA
Noite no Museu Naval (315)
INSTRUÇÃO
Projeto Escola da DPHDM recebe alunos da Educação de Jovens e Adultos (316)
LANÇAMENTO DE LIVRO
Histórias do Mar (317)

SAÚDE
HOSPITAL
HNMD incorpora o simulador Eyesi (317)
ORIENTAÇÃO AO HOMEM
Cefan inicia programa de mestrado em Desempenho Humano Operacional (318)
SERVIÇO DE SAÚDE
I Fórum Nacional de Defesa Profissional da SBCO (319)

RMB2oT/2019 215
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

COMANDANTE DA MARINHA PARTICIPA DA


APRESENTAÇÃO DA NOVA DIRETORIA DA AMAZUL

O comandante da Marinha,
Almirante de Esquadra Ilques
Barbosa Junior, participou, em
10 de maio último, da cerimônia
que marcou o início da gestão da
nova diretoria da Amazônia Azul
Tecnologias de Defesa S.A.
(Amazul). O evento foi realizado na
sede da empresa, em São Paulo (SP).
A diretoria é constituída pelo
presidente, Vice-Almirante (RM1)
Antonio Carlos Soares Guerreiro; Comandante da Marinha discursa durante
apresentação da nova diretoria
pelo diretor de Administração e
Finanças, Contra-Almirante (IM) An- agricultura, na proteção do meio ambiente
tonio Bernardo Ferreira; pelo diretor de e em testes de materiais, inclusive para a
Gestão do Conhecimento e de Pessoas, Marinha”, explicou Guerreiro.
Vice-Almirante (RM1) Luís Antônio A empresa mantém, ainda, parcerias
Rodrigues Hecht; e pelo diretor técnico com o Instituto de Pesquisas Energéticas e
e de Operação, Vice-Almirante (RM1- Nucleares para produção de radiofármacos
-EN) Francisco Roberto Portella Deiana. e com as Indústrias Nucleares do Brasil
Ao dar as boas-vindas à nova diretoria,o para produção do combustível nuclear. “No
comandante da Marinha disse: “Na era momento, negociamos nova parceria com a
do conhecimento, a Amazul constitui um Eletronuclear para os projetos de extensão da
elemento fundamental para o crescimento vida útil de Angra 1 e da conclusão de Angra
de nosso País”.  3. A empresa prevê também sua participação
O diretor-presidente da Amazul, Antonio no projeto do futuro Repositório Nacional
Carlos Soares Guerreiro, afirmou que a nova de Rejeitos Radioativos de Baixo e Médio
diretoria pretende aumentar a participação da Níveis de Radiação”, mencionou o diretor-
empresa no Programa Nuclear da Marinha, -presidente da Amazul.
no Programa de Desenvolvimento de Sub- O diretor de Desenvolvimento Nuclear
marinos e no Programa Nuclear Brasileiro e Tecnológico da Marinha, Almirante
(PNB). Dentro do PNB, a Amazul participa de Esquadra Marcos Sampaio Olsen, e o
do projeto detalhado do Reator Multipro- secretário-geral do Ministério da Defesa,
pósito Brasileiro (RMB), em parceria com Almirante de Esquadra Almir Garnier
a Comissão Nacional de Energia Nuclear. Santos, que fazem parte do Conselho de
“O RMB tem um enorme alcance social, Administração da Amazul, estiveram pre-
pois tornará o Brasil autossuficiente em sentes no evento. Também participaram au-
radioisótopos, insumo da produção de radio- toridades federais, estaduais e municipais,
fármacos usados no diagnóstico, prevenção além de representantes da área acadêmica
e tratamento de doenças como o câncer, e e do setor empresarial.
que podem ser aplicados na indústria, na (Fonte: www.mariha.mil.br)

216 RMB2oT/2019
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

MB ADQUIRE LANCHAS BLINDADAS DURANTE A LAAD

No último dia da maior feira de defesa


e segurança da América Latina, a LAAD,
realizada no Rio de Janeiro de 2 a 5 de
abril, a Marinha do Brasil (MB) assinou
contrato com a empresa DGS Defense
para aquisição de duas lanchas de ação
rápida com proteção balística.
As lanchas serão empregadas em
atividades de patrulhamento na Baía de
Todos os Santos (BA), área de jurisdi-
ção do 2o Distrito Naval. "Essas lanchas Comandante do 2o DN assina contrato com
devem ser entregues no final deste ano DGS Defense
e são fruto de uma parceria entre o
Comando do 2o DN e a Secretaria de
Segurança Pública do Estado da Bahia.
Essa aquisição permitirá a realização
de operações de abordagem e outras
ações de segurança em conjunto com
a Polícia Militar da Bahia", explicou o
comandante do 2o Distrito Naval, Vice-
-Almirante Marcelo Francisco Campos.
(Fonte: www.marinha.mil.br) Lancha blindada em exposição na LAAD

TOMADA DE MONTE CASTELO É CELEBRADA


EM FLORIANÓPOLIS

Foi celebrada, em 21
de fevereiro último, no
63 o Batalhão de Infan-
taria do Exército Brasi-
leiro, em Florianópolis
(SC), a solenidade militar
alusiva ao aniversário de
74 anos da Tomada de
Monte Castelo. O evento
contou com a presença
das três Forças Armadas Militares durante a cerimônia
e das Forças Auxiliares,
além da participação da Escola de A Batalha de Monte Castelo foi
Aprendizes-Marinheiros de Santa Ca- travada, ao final da Segunda Guerra
tarina (EAMSC). Mundial, entre as tropas aliadas, da

RMB2oT/2019 217
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

qual o Brasil fazia parte, e as forças do O sucesso da ofensiva foi creditado à


Exército alemão. Esta batalha marcou a Artilharia Divisionária, comandada pelo
presença da Força Expedicionária Bra- General Cordeiro de Farias, que, em 21
sileira (FEB) no conflito e arrastou-se de fevereiro, efetuou um perfeito fogo
por três meses, de 24 de novembro de de barragem contra o cume do Monte
1944 a 21 de fevereiro de 1945, quan- Castelo, permitindo a movimentação
do foram efetuados seis ataques, com das tropas brasileiras.
grande número de baixas brasileiras. (Fonte: www.marinha.mil.br)

ABERTURA DO ANO CULTURAL DA DPHDM

Foi realizada em 19 de março último, EFEMÉRIDES NAVAIS


no Auditório do Museu Naval (Rio de
Janeiro-RJ), a Sessão de Abertura das Almirante de Esquadra Maximiano
Atividades Culturais da Marinha em Eduardo da Silva Fonseca
2019. O evento contou com a presença
do secretário-geral da Marinha, Almi- Nasceu em 6 de novembro 1919, no Rio
rante de Esquadra Marcos Silva Rodri- de Janeiro. Ingressou na Escola Naval no
gues. Na ocasião, foram apresentados ano de 1937, sendo declarado guarda-ma-
pelo diretor do Patrimônio Histórico e rinha em 1941. No ano seguinte, embarcou
Documentação da Marinha, Vice-Al- no Navio-Escola Almirante Saldanha, em
mirante (RM1) José Carlos Mathias, os viagem de instrução ao exterior.
projetos e as atividades programados Foi nomeado segundo-tenente em
pela Diretoria do Patrimônio Histórico 1942, quando foi designado para servir
e Documentação da Marinha (DPHDM) no Tênder Belmonte, e logo após se
para 2019. apresentou no Cruzador Rio Grande do
Estiveram também presentes ao Sul, navio que, durante a Segunda Guer-
evento o diretor do Instituto Históri- ra Mundial, compôs a Força Naval do
co-Cultural da Aeronáutica, Tenente- Nordeste, desempenhando importantes
-Brigadeiro do Ar Rafael Rodrigues operações de patrulhamento, vigilância,
Filho, e o Almirante de Esquadra comboios e serviços de socorro e salva-
(Refo) Mauro Cesar Rodrigues Pereira, mento no Atlântico Sul. Este foi um dos
ex-ministro da Marinha. A solenidade primeiros navios a socorrer os náufragos
constou, ainda, de homenagem a líderes do Cruzador Bahia em 1945.
navais que contribuíram com relevantes Em 1946 foi promovido a capitão-
serviços à Marinha do Brasil e que, em -tenente, sendo designado para servir
2019, completariam cem anos, além da no Navio-Auxiliar Duque de Caxias,
entrega dos certificados aos primeiros e, ainda naquele ano, desembarcou para
colaboradores do programa de mecena- servir no Encouraçado Minas Gerais.
to “Patronos da Cultura Naval”. No ano de 1948, embarcou na Diretoria
Após o canto do Hino Nacional, fo- de Hidrografia e Navegação para reali-
ram lidas as Efemérides homenageando zar o Curso de Hidrografia e Navegação
os seguintes líderes navais. e, ao terminá-lo, permaneceu naquela

218 RMB2oT/2019
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

ção do Navio-Hidrográfico Sirius no


Japão, sendo o seu primeiro imediato.
Comandou-o interinamente por cerca de
seis meses, quando, entre outras ações,
efetuou uma revisão do levantamento
para atualização da cartografia náutica
da barra do norte do Amazonas.
Ao desembarcar do Sirius, realizou o
Curso de Estado-Maior e Comando na
Escola de Guerra Naval, sendo promovido
a capitão de fragata. Em 1960, regressou
para a Diretoria de Hidrografia e Navega-
ção, assumindo a função de instrutor na
Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais.
Neste período, propôs a criação das es-
pecialidades de Hidrografia e Navegação
e de faroleiro para praças.
Em 1963, foi nomeado comandante
do Navio-Hidrográfico Canopus, no qual
Almirante de Esquadra Maximiano
completou o levantamento da costa sul
Eduardo da Silva Fonseca
do Brasil entre o Rio Grande e Chuí,
Diretoria assumindo a função de auxi- iniciando também o levantamento da
liar da Divisão de Hidrografia. Após região do Arquipélago de Abrolhos. Em
permanecer por dois anos servindo na 1964, foi nomeado delegado da Capitania
Diretoria, foi designado para servir na dos Portos em Porto Alegre e, dois anos
Base Naval de Natal, quando foi nomea- depois, foi promovido a capitão de mar
do comandante do Centro de Formação e guerra, quando assumiu o comando do
de Reservistas Navais. Centro de Sinalização Náutica e Reparos
No final do ano de 1951, assumiu o Almirante Moraes Rego. Ao deixar este
comando do Navio-Hidrográfico Rio comando, foi enviado aos Estados Unidos
Branco, onde permaneceu até ser pro- da América para compor o Estado-Maior
movido a capitão de corveta, sendo, logo da Junta Interamericana de Defesa em
após, designado para servir novamente Washington, onde assumiu também a
na Diretoria de Hidrografia e Navegação. presidência da Comissão Naval Brasileira
Em 1954, foi enviado aos Estados Uni- na capital norte-americana.
dos da América para realizar estágio em Ao regressar ao Brasil em 1969,
Serviços Cartográficos e, ao regressar ao assumiu o comando do Navio Ocea-
Brasil, trouxe novidades, como a adoção nográfico Almirante Saldanha e, ainda
do uso do raydist, equipamento eletrô- no final daquele ano, foi promovido a
nico usado na determinação de posições contra-almirante, assumindo a Diretoria
de sondagens. de Administração da Marinha. Como
Em 1957, assumiu o comando do diretor de Administração, agilizou a
Navio-Hidrográfico Caravelas e, ao gestão financeira e promoveu o levan-
deixá-lo no ano seguinte, foi designado tamento das propriedades imobiliárias
para compor a Comissão de Constru- da Marinha.

RMB2oT/2019 219
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Foi promovido a vice-almirante em definitiva e permanente presença brasileira


1974, e, no ano seguinte, assumiu o Co- no continente austral. Ao deixar a pasta da
mando do 1o Distrito Naval. Em 1976, Marinha, assumiu a Diretoria de Transpor-
foi promovido a almirante de esquadra, te da Petrobras no período de 1985 a 1991.
sendo designado diretor-geral de Mate- Foi autor das seguintes obras: Cinco anos
rial da Marinha e eleito presidente do na pasta da Marinha, O que segura este
Clube Naval. país e De Taboas a Brasília. Faleceu em
Em 15 de março de 1979, foi nomeado 3 de abril de 1998, aos 78 anos.
ministro da Marinha e, em cinco anos de Entre as inúmeras e justas homena-
administração, implementou mudanças e gens já recebidas pelo Almirante Maxi-
reestruturações que favoreceram em mui- miano, duas merecem menção especial.
to a Marinha do Brasil. Destas, citam-se Devido à iniciativa pioneira na inserção
duas que mostram seus impactos bené- da mulher militar nas Forças Armadas,
ficos nos dias de hoje: uma, na área do ocorrida em sua gestão como ministro
pessoal, foi a abertura das nossas fileiras da Marinha, o Almirante de Esquadra
para as mulheres de forma pioneira nas Maximiano Eduardo da Silva Fonseca
Forças Armadas brasileiras; e, na Ciência foi instituído Patrono das Mulheres
e Tecnologia, o Programa Nuclear da Militares da Marinha em 6 de julho de
Marinha, que deu ao País a independência 1999, por meio da portaria do Estado-
no processo de enriquecimento do com- -Maior da Armada no 0284. Além disso,
bustível nuclear. em reconhecimento a seus esforços
O Almirante Maximiano reestrutu- para implantação e desenvolvimento
rou a Comissão Interministerial para os do Programa Antártico Brasileiro, a
Recursos do Mar (Cirm), dinamizan- Marinha do Brasil prestou-lhe home-
do-a com a criação da Secretaria dessa nagem póstuma ao batizar um de seus
Comissão, com cargo ocupado por um navios com seu nome. O Navio Polar
contra-almirante, e fornecendo a esta Almirante Maximiano foi incorporado
organização lotação própria e instala- em 3 de fevereiro de 2009 e recebeu o
ções adequadas para seu funcionamento. indicativo visual H-41.
Nesse período, a Cirm recebeu a tarefa
de coordenar o Programa Antártico Bra- Almirante de Esquadra Júlio de Sá
sileiro (Proantar) e, graças aos esforços Bierrenbach
capitaneados pelo Almirante Maximiano,
foi adquirido, no primeiro semestre de Nasceu em 8 de janeiro de 1919,
1982, o navio polar dinamarquês Thala na cidade de Sorocaba, estado de São
Dan, batizado na MB de Barão de Teffé. Paulo. Ingressou na Escola Naval em
No verão daquele mesmo ano, o Barão de 16 de março de 1935, sendo declarado
Teffé e o Navio-Oceanográfico Professor guarda-marinha em 1940. Foi nomeado
W. Besnard, da Universidade de São Pau- segundo-tenente em 1942, quando foi
lo, partiram para a primeira expedição designado para servir no Encouraçado
brasileira à Antártida. São Paulo e, logo após, se apresentou na
Ainda durante a administração do Corveta Jaceguai, navio que participou
Almirante Maximiano, foi realizada a se- efetivamente da Segunda Guerra Mundial,
gunda expedição, que implantou a Estação sendo escolhido como navio capitânia da
Antártica Comandante Ferraz, que marca a Força Naval do Sul.

220 RMB2oT/2019
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

No período de setembro de 1943 a Promovido a capitão de fragata em


dezembro de 1944, realizou comissões de 1958, tornou-se instrutor na Escola de
escolta de comboios de navios mercantes Guerra Naval e, dois anos depois, foi
brasileiros e estrangeiros em operações designado para servir no Estado-Maior
de guerra. Enquanto esteve embarcado da Armada. Em 1961, assumiu o co-
na Corveta Jaceguai, foi promovido a mando do Navio Hidrográfico Sirius
primeiro-tenente e especializou-se em e, ao passar o comando, embarcou na
Tática Antissubmarino. Diretoria de Pessoal da Marinha, onde
Em 1945, foi promovido a capitão-te- foi promovido a capitão de mar e guerra
nente, sendo designado imediato do Ca- em 1964, sendo chamado para realizar
ça-Submarino Guaporé. No ano seguinte, o Curso Superior na Escola Superior
ao deixar esta função, foi nomeado diretor de Guerra.
da Escola Técnico-Profissional do Arsenal Ao desembarcar da Escola Superior de
de Marinha do Rio de Janeiro. No ano de Guerra, em 1964, foi nomeado capitão dos
1947, assumiu a função de ajudante de Portos de São Paulo e, no ano seguinte,
ordens do diretor da Escola Naval e no ano foi enviado para a Comissão Naval Bra-
seguinte foi realizar o Curso de Hidrografia sileira em Washington, onde assumiu a
e Navegação na Escola de Aperfeiçoamen- presidência. Retornou ao Brasil em 1967,
to e Especialização de Oficiais. sendo designado para servir na Esquadra,
Em 1949 foi nomeado comandante e no ano seguinte assumiu o comando do
da Corveta Caravelas, a qual, junta- Cruzador Tamandaré.
mente com a Corveta Camocim, passou Promovido a contra-almirante em
da situação de reserva para o serviço 1969, assumiu a Diretoria de Hidro-
ativo, ficando ambas subordinadas à grafia e Navegação. Em 1970 tornou-se
Diretoria de Hidrografia e Navegação, a diretor da Escola Naval, concomitante-
fim de serem utilizadas em serviços hi- mente com as funções de comandante
drográficos e de sinalização náutica ao
longo da costa brasileira. Em 1951, foi
designado para servir no Navio-Tanque
Ilha Grande, onde assumiu a função de
encarregado de Navegação. Promovido
a capitão de corveta em 1952, foi envia-
do para servir no Navio-Escola Duque
de Caxias como encarregado da Turma
de Guardas-Marinha.
Em 1953, assumiu o comando do
Navio Hidrográfico Rio Branco, no qual
permaneceu até ser designado para a
Escola Naval, em 1955, onde assumiu a
instrutoria de Navegação Astronômica.
Ao deixar a Escola Naval, foi nomeado
capitão dos Portos do Rio Paraná, onde
permaneceu até ser chamado para realizar
o Curso de Comando e Estado-Maior na
Escola de Guerra Naval. Almirante de Esquadra Júlio de Sá Bierrenbach

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

do Centro de Esportes da Marinha. Em


1971, foi nomeado diretor do Centro
de Instrução Almirante Wandenkolk e,
no ano seguinte, assumiu a diretoria da
Escola de Guerra Naval. Promovido a
vice-almirante em 31 de março de 1973,
foi nomeado diretor do Pessoal Militar
da Marinha, cargo em que permaneceu
até assumir o Comando do 1o Distrito
Naval, em 1974.
Promovido a almirante de esquadra,
foi designado secretário-geral da Ma-
rinha, permanecendo no cargo até ser
transferido para a Reserva Remunerada
em 28 de junho de 1977, quando foi
nomeado ministro do Supremo Tribunal
Militar, ficando por dez anos no cargo Vice-Almirante Paulo de Castro Moreira da Silva
e chegando a assumir a presidência em
algumas ocasiões. Foi autor de obras USS General Meigs, da Marinha dos
como: Riocentro: quais os responsáveis Estados Unidos. Em 18 de dezembro
pela impunidade? e 1954-1964: uma de 1945, foi designado para a Força
década política. Faleceu em 11 de junho Naval do Nordeste, embarcando no
de 2015, aos 96 anos. Contratorpedeiro Marcílio Dias. Em
1947, foi designado imediato do Con-
Vice-Almirante Paulo de Castro Moreira tratorpedeiro de Escolta Bauru. Ainda
da Silva como capitão-tenente, realizou em Paris
os cursos de Oceanografia e Geologia
Nasceu em 18 de outubro de 1919, Marinha na Universidade de Sorbonne;
na cidade do Rio de Janeiro. Ingressou de Gravimetria e Magnetismo no Obser-
na Escola Naval em 4 de abril de 1936, vatório de Paris; e de Biologia Marinha
sendo declarado guarda-marinha em 30 no Museu de História Natural.
de dezembro de 1939. Foi nomeado se- Em 1948, foi instrutor de Meteoro-
gundo-tenente em 31 de janeiro de 1941. logia e Geometria Descritiva na Escola
Cerca de dois meses depois, foi designado Naval. No ano seguinte, apresentou-se
para servir no Encouraçado São Paulo. à Diretoria de Hidrografia e Navegação
Foi promovido a primeiro-tenente em 6 para ser ajudante de ordens. Em 1951,
de novembro de 1942, ano em que apre- realizou o curso de Meteorologia na
sentou-se para servir no Tênder Ceará. Real Escola Naval de Meteorologia,
Em 29 de dezembro de 1944, ascendeu no País de Gales. Ainda na Diretoria
ao posto de capitão-tenente. de Hidrografia e Navegação, exerceu
Em 20 de junho de 1945, foi coloca- a função de instrutor de Meteorologia,
do à disposição do Ministério da Guerra Oceanografia e Marés do Curso de Es-
com a missão de trazer da Itália para pecialização de Oficiais Hidrógrafos.
o Brasil o 1o Escalão da Força Expe- Em 22 de março de 1953, foi promovido
dicionária Brasileira, embarcando no a capitão de corveta.

222 RMB2oT/2019
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Em 1955, foi criado o Departa- Em 21 de setembro de 1962, foi pro-


mento de Geofísica da Diretoria de movido a capitão de mar e guerra. A partir
Hidrografia e Navegação, resultado de então, acumulou com os comandos e
de estudos anteriores realizados pelo direções exercidos no âmbito da Marinha,
então Comandante Paulo Moreira e outros cargos e representações em diver-
que contribuíram para o incremento sos órgãos governamentais e intergover-
desse elemento organizacional naque- namentais pelo notório conhecimento e
la Diretoria. Naquele mesmo ano, foi desempenho das atividades no âmbito da
designado para servir no Gabinete do Oceanografia e da Pesca. Concomitante
então ministro da Marinha, Almirante ao comando do Almirante Saldanha, por
de Esquadra Eduardo Jordão Amorim exemplo, foi o primeiro superintendente
do Valle. Ainda em setembro de 1955, para o Desenvolvimento da Pesca, cargo
foi promovido a capitão de fragata. vinculado ao Ministério da Agricultura,
Entre 1956 e 1959, fez diversas exercendo-o entre os anos de 1963 e 1964.
viagens no nosso mar territorial com Ainda em outubro de 1963, foi delegado
o intuito de realizar pesquisas oceano- do Brasil na Conferência da Organização
gráficas, destacando-se a montagem de das Nações Unidas para a Agricultura e
um projeto em que reconheceu a região Alimentação (FAO), em Roma e Paris.
de Cabo Frio, influenciada pelo fenô- Nesse ano, um imbróglio diplomático
meno da ressurgência, como propícia a entre Brasil e França, que ficou conhe-
pescados de diversas espécies, sendo a cido como “Guerra da lagosta”, contou
gênese do Projeto Cabo Frio, iniciado com a contribuição fundamental do então
efetivamente em 1971. Ressaltam-se Comandante Paulo Moreira para o seu
também as atividades de pesquisas desfecho a favor do Brasil. Os conheci-
no que veio a ser, em 1957, o Posto mentos obtidos com sua formação e suas
Oceanográfico da Ilha da Trindade pesquisas, além das representações em
(Poit), subordinado então à Diretoria eventos acadêmicos e fóruns intergoverna-
de Hidrografia e Navegação. mentais sobre Oceanografia e alimentação
Ainda em 1959, foi designado co- proveniente da pesca levaram-no, durante
mandante do Navio-Oceanográfico a disputa, a ser o porta-voz da Marinha do
Almirante Saldanha. Como este navio Brasil durante uma coletiva de imprensa
tinha sido até então um veleiro que ser- realizada na Escola de Guerra Naval, de-
viu para o aprendizado dos aspirantes, fendendo o argumento de que a pesca da
durante o comando do então Capitão lagosta estava sendo ilegalmente realizada
de Fragata Paulo Moreira, o Almiran- por pesqueiros franceses no litoral que
te Saldanha passou por uma série de perfazia o saliente nordestino no início da
obras e melhoramentos, tornando-se década de 1960, já que não havia conces-
apto para a realização de pesquisas são expressa por parte do governo brasi-
oceanográficas, graças, em parte, aos leiro para tanto, algo definido em diplomas
recursos provenientes da Comissão internacionais. Tal posição foi endossada
Oceanográfica Intergovernamental da pelo Ministério das Relações Exteriores
Organização das Nações Unidas para a em negociação com o governo francês,
Educação, Ciência e Cultura (Unesco), fundamentando que a posição do governo
da qual foi membro consultivo entre brasileiro em apreender barcos pesqueiros
1961 e 1968. da França na citada região e mandar uma

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

força naval para se contrapor a um navio Nacional do Mérito da França e, no meio


de guerra francês era justa e legal. civil, do Troféu Personalidade Global,
Em 1966, foi designado para servir no concedido pelas Organizações Globo,
Instituto de Pesquisas da Marinha (IPqM), ambas obtidas em 1973. Além disso,
onde assumiu a função de cientista-chefe ressalta-se o título de professor honoris
até 1968. Assumiu interinamente o cargo causa pela Universidade Federal de Per-
de diretor desse Instituto entre junho e nambuco, obtido em 1976.
outubro de 1966. Faleceu em 1o de maio de 1983, aos
Em 1968, foi chefe da delegação do 63 anos. No ano seguinte, como fruto
Brasil no Colóquio sobre Investigações e dos esforços do Almirante Paulo Moreira
Recursos do Caribe e Regiões Adjacen- que redundaram no Projeto Cabo Frio,
tes, em Curaçau. No mesmo ano inicia o foi criado em Arraial do Cabo o Instituto
exercício da presidência da Fundação de Nacional de Estudos do Mar, o qual, em
Estudos do Mar (Femar). Em 11 de outu- março de 1985, como forma de prestar
bro de 1968, foi promovido a contra-almi- uma justa homenagem, teve seu nome
rante, tendo sido nomeado no ano seguinte alterado para Instituto de Estudos do Mar
diretor do IPqM. Entre 10 e 15 de maio Almirante Paulo Moreira.
de 1971, foi representante do Brasil no
Simpósio sobre Navios Nucleares realiza- Vice-Almirante Paulo Irineu Roxo Freitas
do pela Agência Internacional de Energia
Atômica, em Hamburgo, Alemanha. Em Nascido no Rio de Janeiro, em 21 de
31 de outubro de 1971, foi promovido a abril de 1919, ingressou na Escola Naval
vice-almirante. em 1937. Foi nomeado segundo-tenente
Foi representante do Brasil na Con- em 1941, e sua primeira comissão foi a
ferência das Nações Unidas sobre o bordo do Encouraçado São Paulo. Foi
Meio Ambiente, em Estocolmo, Suécia, promovido a primeiro-tenente em 1943,
ocorrida em 1972. Dois anos depois, foi sendo designado para servir na Corveta
representante do Ministério da Marinha Cabedelo. No ano seguinte, se apresentou
na 4a Reunião da Comissão Mista Teu- ao Grupo de Caça-Submarinos de Natal,
to-Brasileira de Cooperação Científica e onde foi promovido a capitão-tenente.
Tecnológica, realizada em Brasília. Neste período serviu em alguns navios
Sua produção científica, reunida em subordinados àquele comando, assumindo
cerca de 30 trabalhos, esteve voltada para a imediatice dos caça-submarinos Jutaí e
os estudos oceanográficos, em especial os Gurupá, navios que, durante a Segunda
atinentes à atividade pesqueira, tais como: Guerra Mundial, compuseram a Força
Uma Política Nacional de Pesca, publi- Naval do Nordeste, realizando diversos
cado em 1975; Usos do Mar, de 1978; e comboios.
Vida e Energia, em 1980. Ressaltam-se Em 1946, foi designado imediato do
também as várias publicações produzidas Caça-Submarino Guaíba, quando partici-
no âmbito do IPqM acerca do fenômeno pou do socorro ao Navio-Auxiliar Duque
marítimo da ressurgência. Como resultado de Caxias, que havia sofrido um incêndio
dessa produção científica, foi laureado próximo a Cabo Frio. Ao desembarcar, foi
com várias premiações no meio militar nomeado primeiro comandante do Caça-
em âmbito nacional e internacional, a -Submarino Pirambu, construído na Ilha
exemplo da Medalha de Oficial da Ordem do Viana, em Niterói, e lançado em 1947.

224 RMB2oT/2019
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

tiva Central do Conselho Nacional de


Estatística do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística.
Em 1962, assumiu o comando da Flo-
tilha do Amazonas e, dois anos depois,
foi promovido a capitão de mar e guerra,
sendo matriculado no Curso de Comando
e Estado-Maior da Escola Superior de
Guerra. Ao término daquele curso, foi
designado vice-diretor de Hidrografia e
Navegação.
Promovido a contra-almirante em
1969, assumiu o Comando do Controle
Naval do Tráfego Marítimo, cumulati-
vamente com a função de coordenador
de Área Marítima do Atlântico Sul. Em
1973, foi promovido a vice-almirante,
Vice-Almirante Paulo Irineu Roxo Freitas assumindo interinamente a Diretoria-
-Geral do Pessoal da Marinha, sendo
No ano de 1949, foi designado para transferido para a reserva remunerada
realizar o curso de Hidrografia e Nave- em 1976. Faleceu em 12 de março de
gação e, ao término, assumiu a função 1989, aos 69 anos.
de encarregado da Divisão de Baliza-
mento daquela Diretoria. Em 1951, Contra-Almirante Rubem José
apresentou-se ao Navio-Escola Duque de Rodrigues de Mattos
Caxias, onde foi promovido a capitão
de corveta, permanecendo lá até ser Paulista, nascido em 15 de julho de
designado para servir no Colégio Naval. 1919, ingressou na Escola Naval no
Posteriormente, assumiu o comando dia 2 de janeiro de 1936. Foi declarado
do Navio-Hidrográfico Rio Branco e, guarda-marinha em 1940 e nomeado
ao deixar este comando, em 1957, foi segundo-tenente em 1941. Sua primeira
realizar o Curso de Comando na Escola comissão foi a bordo do Encouraçado
de Guerra Naval. Minas Gerais, tendo sido promovido a
Promovido a capitão de fragata em primeiro-tenente em 1943.
1958, regressou para a Diretoria de Hi- Quando da entrada do Brasil na Se-
drografia e Navegação, onde assumiu a gunda Guerra Mundial, estava servindo
chefia do Departamento de Navegação. no Caça-Submarino Goiana. Neste
No ano seguinte, foi designado para navio, o então Tenente Rubem lutou
assumir a função de oficial de Gabinete na Segunda Guerra Mundial, atuando
do chefe do Estado-Maior da Armada. na Campanha do Atlântico em diversas
Durante o período que serviu no Esta- missões de escolta e no patrulhamento
do-Maior da Armada, exerceu também da costa brasileira. Em 1945, quando
a função de encarregado da Divisão ainda transcorria a guerra, foi pro-
de Estatísticas, a qual lhe permitiu movido a capitão-tenente e assumiu a
representar a Marinha na Junta Execu- imediatice do Goiana.

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Centro de Reparos Almirante Moraes Rego


e, no ano seguinte, assumiu a vice-direção
da Diretoria de Hidrografia e Navegação.
Em 1966, foi nomeado comandante do Na-
vio-Oceanográfico Almirante Saldanha e,
ao deixar este comando, assumiu a função
de vice-diretor de Portos e Costas.
Foi promovido a contra-almirante em
1969 e, no ano seguinte, assumiu o coman-
do do Centro de Instrução Almirante Wan-
denkolk. Em 1971, foi nomeado diretor da
Escola Naval e, ao passar este comando,
foi realizar curso na Escola Superior de
Guerra. Foi transferido para a reserva re-
munerada em 14 de março 1974. Faleceu
em 15 de abril de 1884, aos 64 anos.
Contra-Almirante Rubem José
Rodrigues de Mattos
***
Em 1946, foi designado ajudante de
ordens do chefe do Estado-Maior da Ar- Na sequência da leitura das Efemé-
mada, cargo que ocupou até se apresentar rides, o secretário-geral da Marinha e o
na Diretoria de Hidrografia e Navegação diretor do Patrimônio Histórico e Docu-
para realizar o Curso de Hidrografia e mentação da Marinha fizeram a entrega
Navegação. No ano de 1951, foi nomeado dos históricos das Efemérides aos fami-
comandante da Corveta Camocim e, ao liares das autoridades homenageadas.
passar este comando, foi designado para Na ocasião, também foram entregues
servir no Navio-Escola Almirante Salda- certificados aos colaboradores do progra-
nha, sendo promovido a capitão de cor- ma Patronos da Cultura Naval. Este pro-
veta em 1952. Posteriormente, retornou grama foi criado em 2018 pela DPHDM
à Diretoria de Hidrografia e Navegação, em parceria com o Departamento Cultural
onde assumiu a função de assistente do do Abrigo do Marinheiro, com o propósito
diretor-geral de Hidrografia e Navegação. de estabelecer uma rede de colaboradores
Em 1955, assumiu o comando do Con- que ajudem a viabilizar o desenvolvi-
tratorpedeiro de Escolta Baependi, onde mento de projetos culturais, utilizando
permaneceu até ser matriculado no Curso o aporte financeiro das leis de incentivo
de Comando da Escola de Guerra Naval. fiscal, nos âmbitos municipais, estaduais
Promovido a capitão de fragata em e federal. Foram agraciadas as seguintes
1956, assumiu a imediatice do Centro de empresas: Wilson Sons, Elcano, Norsul,
Instrução Almirante Tamandaré. No ano Granado Pharmácias e Empresa Gerencial
de 1957, foi enviado ao Japão para com- de Projetos Navais (Emgepron).
por a Comissão Fiscal de Construção de Após a entrega dos certificados, o secretá-
Navios e de lá regressou trazendo o Navio- rio-geral da Marinha e o diretor do Patrimô-
-Hidrográfico Canopus, como seu primeiro nio Histórico e Documentação da Marinha
comandante. Ao ser promovido a capitão proferiram discursos na Sessão de Abertura
de mar e guerra, em 1963, foi servir no do Ano Cultural, encerrando a cerimônia.

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

AGÊNCIA FLUVIAL DE JUAZEIRO


COMEMORA CEM ANOS

A Agência Fluvial de Juazeiro (AgJu-


azeiro), Bahia, completou, em 12 de
março último, cem anos de existência. A
cerimônia militar alusiva ao centenário,
presidida pelo agente fluvial em Juazei-
ro, Capitão-Tenente (AA) Luis Felipe
Melo da Mata, contou com a presença
do capitão dos Portos do São Francisco,
Capitão de Corveta (T) José Carlos Eu-
zébio, e de autoridades civis e militares
da região. Durante o evento, foi lida a
Ordem do Dia alusiva à data e houve um Descerramento de placa alusiva ao centenário
pronunciamento da Soamar-Juazeiro em
homenagem à Agência. campanha de doação, em conjunto com a
Na ocasião, foram ainda apresenta- Sociedade Amigos da Marinha (Soamar)-
dos dois projetos sociais que contam -Juazeiro, com o slogan "Agência Fluvial
com a participação da Agência de Jua- de Juazeiro é 100, Juazeiro e Petrolina são
zeiro: “Judô Educativo, crianças e ado- 1.000!". A campanha buscou arrecadar
lescentes de hoje, adultos de amanhã!” mais de uma tonelada de alimentos, rou-
e “Novo Olhar, Novos Caminhos!”, que pas, materiais de higiene e limpeza duran-
atendem a crianças carentes da região te o mês de março. Foi montado também
com aulas de judô, futebol, capoeira, um estande nos dois principais shoppings
muay thay e língua estrangeira. A ce- da região para prestar informações sobre
rimônia foi finalizada com o descerra- os serviços da Agência à população e so-
mento da placa alusiva ao centenário. bre assuntos de interesse da Marinha do
Para marcar as comemorações do Brasil e para divulgar a campanha.
centenário, a Agência também promoveu (Fonte: www.marinha.mil.br)

154o ANIVERSÁRIO DA BATALHA NAVAL DO


RIACHUELO – DATA MAGNA MARINHA

Foi comemorado, em 11 de junho ORDEM DO DIA DO


último, o 154o aniversário da Batalha COMANDANTE DA MARINHA
Naval do Riachuelo, Data Magna da
Marinha. O comandante da Marinha, “No dia 11 de junho de 1865, o Brasil
Almirante de Esquadra Ilques Barbosa escreveu, nas páginas de sua história,
Junior, e o Presidente da República uma de suas mais gloriosas passagens: a
Jair Mesias Bolsonaro pronunciaram-se Batalha Naval do Riachuelo, que deixou
sobre a comemoração: um legado de atos heroicos e lições de

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

determinação e amor ao País. Seus prota- encalhada em um banco de areia, permane-


gonistas souberam, no ardor dos comba- ceu sob intenso fogo das baterias inimigas
tes, dignificar, com extrema dedicação e em terra; e a Corveta Belmonte, tomada
coragem, o seu patriotismo. por incêndio e com rombos em seu casco,
O contexto era a Guerra da Tríplice precisou encalhar para que não afundasse.
Aliança, o maior conflito na história da Diante da difícil situação em que se
América do Sul. A invasão de parte das encontrava, o Almirante Barroso nos
Províncias do Mato Grosso e do Rio ofereceu mais um exemplo da impor-
Grande do Sul, em 1864, e o apresamento tância da manutenção de uma elevada
do navio Marquês de Olinda exigiram o capacitação profissional, pois, dada a
emprego de força militar para a salva- situação, percebeu que, valendo-se do
guarda da integridade de nosso território maior porte e da proa reforçada de seu
e da soberania nacional, dando início ao capitânia, poderia aplicar a tática do
estado de beligerância. abalroamento, lançando-se contra as naus
Na manhã daquele domingo, parcela opositoras mais próximas. Em sucessivos
de nossa Esquadra, comandada pelo ataques, a Fragata Amazonas abalroou e
Almirante Francisco Manoel Barroso da pôs a pique três navios inimigos e uma
Silva, estava fundeada no Rio Paraná, nas chata artilhada, iniciando a mudança do
proximidades da localidade de Corrientes, curso do combate.
quando navios inimigos foram avistados. Ao perceber a alteração no quadro
Eram oito navios inimigos descendo o Rio tático, na qual a situação passou a pender
em formação de ataque, com seis chatas a nosso favor, o Almirante Barroso, com
artilhadas a reboque, apoiadas por tropas uma demonstração de notável liderança,
e canhões posicionados em terra, em içou o sinal “Sustentar o fogo, que a vitó-
barrancas próximas à foz do Riachuelo. ria é nossa!”, renovando o ânimo de seus
Ao perceber a iminência do ataque, o subordinados. Às forças inimigas, diante
Almirante Barroso determinou à Força da coragem e determinação das forças
Naval brasileira, composta por nove na- brasileiras, somente restou a opção de se
vios, que iniciasse suas manobras para o retirarem do combate, rio acima, para evi-
combate. Ao içar no mastro da lendária tar a completa destruição de seus meios.
Fragata Amazonas, o navio capitânia, o si- A vitória na Batalha Naval do Ria-
nal: “O Brasil espera que cada um cumpra chuelo representou uma vantagem estra-
o seu dever”. O sentimento de abnegação tégica para a Tríplice Aliança ao garantir
prevaleceu nos nossos aguerridos mari- a liberdade de navegação, permitindo o
nheiros e fuzileiros, os quais perceberam transporte seguro de tropas e suprimen-
que juntos poderiam superar os desafios tos, ao mesmo tempo em que limitou a
daquela decisiva manhã. mobilidade das forças inimigas. Entre
A primeira fase do embate não foi diversos ensinamentos, demonstrou que
favorável às nossas cores: a Corveta marinheiros e fuzileiros capacitados, co-
Parnaíba, abordada por um inimigo em esos e disciplinados estão aptos a superar
número muito superior, perdeu grande os mais diversos desafios.
parte de sua tripulação, entre eles dois dos O tempo passou, as ameaças da atu-
nossos maiores heróis: o Guarda-Marinha alidade são multifacetadas, tornando
Greenhalgh e o Imperial Marinheiro ainda mais complexas as iniciativas para
Marcílio Dias. A Corveta Jequitinhonha, o devido combate. Como no passado,

228 RMB2oT/2019
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

nossos marinheiros e fuzileiros, heróis continua valorizando a meritocracia,


de sempre, continuam trabalhando diu- independente dos níveis hierárquicos,
turnamente para defender os interesses como uma importante ferramenta na
do nosso país. A dimensão do que temos busca de uma adequada capacitação do
que proteger foi expandida. A Marinha, nosso pessoal.
em parceria estratégica com a Petrobras e Como dizia Rui Barbosa, “esquadras
a comunidade científica, os bandeirantes não se improvisam”. Estejamos, então,
das longitudes salgadas, incluiu uma área prontos para defender nossa integridade
de 5.7 milhões de km² ao nosso território, territorial, a soberania nacional, nossos
a qual corresponde à metade de todo o interesses no dia a dia, seja no combate
continente europeu e de onde extraímos à pesca predatória, na proteção do meio
petróleo, gás, alimentos e garantimos o ambiente, na garantia de exploração de
trânsito de quase a totalidade do nosso energia e alimento, no atendimento à
comércio exterior. nossa população mais isolada ou àque-
Para garantir a defesa dessa área, a las atingidas por desastres naturais, no
nossa Amazônia Azul, a Marinha vem combate aos crimes transfronteiriços
desenvolvendo seus programas estratégi- e na garantia da nossa soberania. Uma
cos. No que tange ao material, o Progra- tripulação capacitada e motivada pelo
ma de Desenvolvimento de Submarinos, reconhecimento da meritocracia, capaz
intrinsecamente relacionado ao Programa de desenvolver, manter e operar meios
Nuclear da Marinha, apresentou seus pri- modernos compatíveis com a dimensão
meiros resultados com o lançamento ao do que temos que defender, sem dúvida
mar do Submarino Riachuelo. Seguimos alguma garantirá que a Marinha do Brasil
rumo à incorporação de um submarino esteja capacitada para cumprir sua missão
com propulsão nuclear, essencial para em um país destinado a ocupar um lugar
garantir nossa soberania em área marí- de destaque no concerto das nações.
tima com dimensão continental. Deve- Aos promovidos e admitidos na Ordem
mos, ainda, no Programa de Construção do Mérito Naval, transmito os sinceros
do Núcleo do Poder Naval, ressaltar o cumprimentos da Força Naval. Nesta data
processo atinente aos navios da classe solene, exorto que continuem o trabalho
Tamandaré que serão construídos no de fortalecimento da mentalidade marí-
Brasil e que, de forma inconteste, irá tima junto à sociedade, compartilhando
significar mais um avanço tecnológico o entendimento de que um Poder Naval
na construção naval no País. crível é essencial para a sobrevivência e
Em consonância com o desenvolvi- a prosperidade do Brasil.
mento científico-tecnológico que os pro- Viva a Marinha! Viva o Brasil!”
gramas estratégicos da Marinha oferecem
à sociedade, a capacitação do pessoal, MENSAGEM DO PRESIDENTE
nosso maior patrimônio, ocupa lugar de DA REPÚBLICA
maior destaque. Possuir militares prepa-
rados para construir, manter e operar os “Nesta data solene, celebramos o
meios que a Força Naval está desenvol- 154o Aniversário da Batalha Naval do
vendo é uma condição indissociável para Riachuelo, evento decisivo para a vitória
a garantia dos interesses do Brasil no mar na Guerra da Tríplice Aliança. As glórias
e nas hidrovias. Desta forma, a Marinha militares do passado, sempre associadas

RMB2oT/2019 229
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

à defesa da soberania nacional e integri- quos rincões do Pantanal e da Amazônia,


dade territorial, permitem uma melhor contribuindo para a proteção das nossas
compreensão de quem realmente somos fronteiras, no combate à poluição dos
e nos oferece a convicção da nossa capa- nossos rios e na preservação das nossas
cidade de superar desafios na busca de um florestas. A Marinha está onde poucos
futuro promissor. Nesse contexto, a cada conseguem chegar e, assim, leva, além
ano, com grande satisfação, trazemos à das cores da nossa bandeira, a esperança
mente um dos mais admiráveis fatos da para os mais necessitados.
história nacional. Ao Sul, no continente antártico, a
Reverenciar a Data Magna da Mari- Força Naval está presente desde 1982,
nha é homenagear os homens e as mu- contribuindo para as pesquisas científicas
lheres da Força Naval, heróis de sempre, e garantindo nossa presença nos fóruns
que se dedicam ao serviço da Pátria no internacionais que tratam sobre aquela
mar e em águas interiores. Naquela oca- importante região do planeta. Em janeiro
sião, valorosos brasileiros não temeram próximo, será inaugurada a nova Estação
por suas vidas ao defender o invicto Antártica Comandante Ferraz, motivo de
pavilhão auriverde. Nomes como o do orgulho para todos os brasileiros.
Almirante Barroso, do Guarda-Marinha A contribuição para o desenvolvimento
Greenhalgh e do Marinheiro Marcílio nacional é uma das tarefas da Força Naval.
Dias ecoam em nossa história como O Programa Nuclear da Marinha e o Pro-
símbolos de patriotismo. grama de Desenvolvimento de Submari-
A decisiva contribuição da Marinha nos avançam e trazem grandes conquistas.
para o desfecho exitoso daquela campanha O Submarino Riachuelo, lançado ao mar
foi apenas o prelúdio de sua ativa parti- em dezembro do ano passado, está rea-
cipação na trajetória do nosso país. Hoje lizando testes de aceitação, e, de acordo
a Marinha continua a contribuir para a com o cronograma atual, um novo subma-
defesa dos interesses do Brasil diante de rino será lançado ao mar, anualmente, até
múltiplas ameaças. 2022, culminando em um futuro próximo
A leste, nossa Força Naval zela por com o Submarino com Propulsão Nuclear,
mais de 5.7 milhões km² de Amazônia necessário para a garantia da nossa sobe-
Azul, iniciada no governo do Marechal rania no mar. Devemos ainda ressaltar
Emílio Garrastazu Médici, em 1970, que o arrasto tecnológico ocasionado
área no mar equivalente a 67% do terri- por estes programas irá afetar a vida de
tório brasileiro, garantindo a segurança muitos, criando empregos e propiciando
do trânsito de 95% do nosso comércio o desenvolvimento de diversos setores da
exterior, da obtenção de 95% do petróleo nossa economia.
e 80% do gás gerado no nosso país. Atua A construção dos navios da classe Ta-
protegendo também nossas águas da pesca mandaré, a ser realizada em nosso país,
ilegal e de atos de pirataria, além de agir também é digna de ser celebrada. A indis-
em coordenação com outros órgãos para pensável construção do núcleo do poder
a preservação do meio ambiente. naval continua navegando em rumos segu-
No Oeste, vemos ainda a Marinha ros. Esses navios, além de fortalecer nossa
atuando nos mais de 22 mil km de vias na- capacidade de fiscalização da Amazônia
vegáveis nas nossas bacias hidrográficas, Azul, irão envolver inicialmente mais
levando assistência médica aos longín- de 50 empresas nacionais neste projeto,

230 RMB2oT/2019
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

contribuindo também para o crescimento sua capacitação, adotando critérios que


econômico e social do País. privilegiam, sobretudo, o mérito.
No cenário internacional, como um Por fim, como Grão-Mestre, parabeni-
dos vetores de nossa política externa, a zo todos aqueles que foram, por indica-
Marinha ostenta nosso pavilhão. Suas ção da Marinha do Brasil, admitidos ou
atuações dignificam nosso Povo e co- promovidos na Ordem do Mérito Naval.
locam nosso País em um patamar de A distinção com a mais alta comenda
excelência, reconhecido mundialmente. da Marinha de Tamandaré é motivo de
A atual participação na Força Interina das honra para todos os agraciados.
Nações Unidas no Líbano, na qual lidera- Assim, por dever de justiça, apre-
mos o componente marítimo, corrobora sento meus cumprimentos à Marinha
o alto grau de confiança depositado em do Brasil, incentivando a todos os mari-
nossos marinheiros. nheiros, fuzileiros e funcionários civis,
Na era do conhecimento, os avanços nossos heróis de sempre, a continuarem
científicos e tecnológicos condicionam cultuando os exemplos de Riachuelo,
o grau de prosperidade das nações superando as adversidades e conver-
e o bem-estar de suas sociedades. A gindo esforços para a manutenção da
Marinha vem contribuindo, também paz, do bem-estar e da liberdade do
neste setor, acompanhando as especi- nosso povo.
ficidades do tempo em que vivemos, Viva a Marinha! Viva o Brasil!”
valorizando o seu capital humano, no (Fontes: Bonos Especiais nos 478 e 479,
qual tem investido continuamente para de 10/6/2019)

CISMAR PARTICIPA DO EXERCÍCIO


MULTINACIONAL BELL BUOY 2019

O Centro Integrado de Segurança operation and Guidance for Shipping


Marítima (Cismar) participou do Exer- (NCAGS) que visa incrementar a inte-
cício Multinacional Bell Buoy 2019 roperabilidade entre os países-membros
(BB19), realizado de 6 a 17 de maio do Pacific and Indian Ocean Shipping
último. O evento contou com a parti- Working Group (PaciosWG), entre os
cipação de 80 militares de 10 países, quais o Brasil. O foco do BB19 foi
entre os quais Austrália, Brasil, Coreia exercitar respostas a diversos cenários
do Sul, Equador, Estados Unidos da relacionados à proteção ao tráfego e ao
América, Fiji, França, México, Nova comércio marítimos.
Zelândia e Reino Unido, além de or- A corrente edição consistiu prima-
ganizações internacionais, como a Oil riamente no exercício de coordenação e
Companies International Marine Forum execução de ações de equipes enviadas
(OCIMF), e diversos setores da comu- a vários portos da Austrália e Nova
nidade marítima regional (australiana e Zelândia, com vistas a evitar conflito
neozelandesa). das operações militares com as linhas
O Bell Buoy é um exercício anual, de comunicações marítimas. Além dis-
regional e multinacional de Maritime so, proveu cooperação e orientação ao
Trade Operations (MTO)/Naval Co- tráfego marítimo de interesse presente

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

no interior de uma área de alto risco ao (OTAN) e em processo de implementação


tráfego marítimo. pela Marinha do Brasil, assim como para o
Tal exercício contribui para o acompa- protagonismo do País no fórum da Pacio-
nhamento da evolução da doutrina NCA- sWG, notadamente após a recente assunção
GS, praticada, entre outros órgãos, pela da função de chair para o biênio 2019/2020.
Organização do Tratado do Atlântico Norte (Fonte: www.marinha.mil.br)

CISMAR PARTICIPA DA REUNIÃO DO NATO


SHIPPING WORKING GROUP 2019

O Centro Integrado
de Segurança Marítima
(Cismar) representou
a Marinha do Brasil
(MB), como único país
observador, na reunião
anual do Nato Shipping
Working Group, desti-
nado aos países-mem-
bros da Organização
do Tratado do Atlântico
Norte (Otan) e a países
observadores. A reu-
nião foi realizada de 6
a 10 de maio último, no
Centre de Compétence Foto oficial do Nato Shipping Working Group 2019
de la Marine, em Bru-
ges (Bélgica). Naval do Tráfego Marítimo (CNTM) e
O Grupo de Trabalho tem o propósito atualmente exercendo a função de chair
de discutir e apresentar recomenda- do grupo-tarefa Pacific and Indian Oceans
ções e sugestões, bem como aprimorar Shipping Working Group (PaciosWG),
os conhecimentos necessários para a o Capitão de Fragata Ponte, chefe do
condução de atividades, exercícios e Estado-Maior do Cismar, realizou palestra
sistemas relacionados à doutrina Naval sobre as atividades de CNTM realizadas
Cooperation and Guidance for Ship- pela MB e as atividades realizadas pelo
ping, possibilitando a padronização de PaciosWG em 2018.
procedimentos e manuais pelo Military Participaram da reunião delegações
Committee Maritime Standardization das Marinhas dos seguintes países per-
Board, a fim de melhorar a interope- tencentes à Otan: Alemanha, Bélgica,
rabilidade das Marinhas pertencentes Dinamarca, Estados Unidos da América,
à Otan. França, Holanda, Noruega, Polônia, Reino
Devido ao papel relevante que a MB Unido, Romênia e Turquia.
desempenha nas atividades de Controle (Fonte: www.marinha.mil.br)

232 RMB2oT/2019
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

4o DN APOIA GOVERNO DO PARÁ APÓS


COLISÃO EM PONTE 

O 4o Distrito Naval (Belém-PA) prestou


apoio ao Governo do Estado do Pará após a
colisão de uma balsa que destruiu parte da
ponte sobre o Rio Moju, na Alça-Viária, em
6 de abril último. Além de disponibilizar
cerca de 70 militares, o 4o DN empregou
os seguintes meios navais para auxiliar
nas buscas por possíveis vítimas: Lancha
Flutuante Ajuri, Lancha Rápida Maguari
e Agência Flutuante Ajuri, da Capitania Aviso Hidroceonográfico Fluvial Rio Xingu auxilia
dos Portos da Amazônia Oriental; Aviso- nas buscas no Rio Moju
-Patrulha Tucunaré, com mergulhadores;
Lancha Balizadora Denébola, com uma Inquérito de Acidentes e Fatos da Nave-
lancha de sondagem; e Aviso Hidroceo- gação (IAFN). A Capitania dos Portos
nográfico Fluvial Rio Xingu. da Amazônia Oriental seguiu com a
A balsa que causou o acidente estava determinação de bloqueio da navegabi-
com documentação irregular e, portanto, lidade sob a ponte Rio Moju-Alça, com
não deveria estar navegando. O proprie- patrulhamento extensivo e inspeções
tário da embarcação foi identificado navais em toda a área.
e notificado durante o andamento do (Fonte: www.marinha.mil.br)

ComGptPatNavSSE INCORPORA LANCHA BLINDADA

Foi incorporada ao Comando do Gru- (São Paulo-SP), Vice-Almirante Claudio


pamento de Patrulha Naval do Sul-Su- Henrique Mello de Almeida, diversas auto-
deste (ComGptPat- ridades militares e civis
NavSSE), em 27 de e representantes das
fevereiro último, a forças de segurança pú-
Lancha 888 Raptor blica das esferas federal
Mangangá. Trata-se e estadual do estado de
de uma embarcação São Paulo e região.
multimissão de alta A chegada do novo
velocidade, blindada, meio incrementará as
com casco resistente a ações de fiscalização e
impactos, baixo calado atividades de patrulha-
e projetada para forne- mento nas águas interio-
cer mobilidade tática e Lancha 888 Raptor Mangangá res e no mar territorial,
apoio logístico mesmo principalmente contra
em ambiente de difícil navegação. crimes transfronteiriços e ambientais, na área
Estiveram presentes à cerimônia de incor- do Porto de Santos e fundeadouros.
poração o comandante do 8o Distrito Naval (Fonte: www.marinha.mil.br)

RMB2oT/2019 233
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

MOSTRA DE DESARMAMENTO DO
RbAM ALMIRANTE GUILLOBEL

Foi realizada, em 22 de maio último, tubro de 1976, sendo lançado ao mar em


a cerimônia de Mostra de Desarmamento 15 de dezembro de 1976. Sua construção
do Rebocador de Alto-Mar (RbAM) Almi- foi concluída em 15 de janeiro de 1977,
rante Guillobel. O chefe do Estado-Maior quando foi entregue à firma contratante,
da Armada, Almirante de Esquadra Liseo Superpesa Transportes Marítimos Ltda,
Zampronio, emitiu a seguinte Ordem do tendo sido batizado, na ocasião, com o
Dia alusiva ao evento: nome de Superpesa V. Chegou ao Brasil,
“O Rebocador de Alto-Mar Almirante juntamente com o Superpesa IV, rebo-
Guillobel, ex-Superpesa V, é o primeiro cando uma barcaça da empresa, de nome
navio a ostentar este nome, em home- Superpesa III. Operou a serviço da Pe-
nagem ao Almirante trobras S.A. até meados
de Esquadra Renato de 1980.
de Almeida Guillobel. A Mostra de Arma-
Nascido em 8 de ou- mento foi realizada em
tubro de 1892, o Al- 22 de janeiro de 1981,
mirante Guillobel inte- no cais da Base Al-
grou a Divisão Naval mirante Ary Parreiras,
de Operações de Guer- quando o Rebocador
ra (DNOG) a bordo de Alto-Mar Almirante
do Cruzador Bahia, na Guillobel foi incorpo-
Primeira Guerra Mun- rado à Marinha pela
dial, e a Força Naval Portaria no 003, de 1o
do Nordeste, parte da de janeiro de 1981, do
4a Esquadra dos Estados ministro da Marinha,
Unidos da América, que Almirante de Esquadra
operou no Atlântico Maximiano Eduardo da
Sul durante a Segunda Silva Fonseca. Naque-
Guerra Mundial, en- Brasão do RbAM Almirante Guillobel la ocasião, assumiu o
quanto comandava o comando o Capitão de
Contratorpedeiro Marcílio Dias. Além de Corveta Luiz Francisco Nunes de Souza.    
diversos cargos importantes na carreira, Dentre as inúmeras comissões reali-
com destaque para dois períodos como zadas e os relevantes serviços prestados
diretor do Arsenal de Marinha do Rio de como navio de socorro distrital, merecem
Janeiro, foi também ministro da Marinha destaque as seguintes operações: Dragão,
de fevereiro de 1951 a agosto de 1954, sob Diplomex, Fraterno, reboque da Plata-
a presidência de Getúlio Vargas. Faleceu forma Iemanjá, salvamento do Veleiro
aos 82 anos, em 20 de setembro de 1975. Piloto, reboque do Navio-Museu Bauru
O Rebocador de Alto-Mar Almirante para Salvador e Vitória, desencalhe do
Guillobel foi construído pelo estaleiro Navio Mercante Marina L das proximida-
Sumitomo Heavy Industries, no Japão, des do porto de Paranaguá (PR), socorro
onde teve sua quilha batida em 15 de ou- do Navio Mercante Kamari, transferência

234 RMB2oT/2019
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

do Dique Flutuante Afonso Pena do Ar- de seus tripulantes, cuja missão principal
senal de Marinha do Rio de Janeiro para é salvar navios e vidas humanas e cuja
a Base Naval de Val-de-Cães (Belém- história está repleta de feitos, refletidos
-PA), resgate dos náufragos do Veleiro nas honrarias conquistadas.
Concordia, acompanhamento SAR dos Rebocador de Alto-Mar Almirante
ex-navios mercantes Recife e Jari Star e Guillobel, após 38 anos de serviço,
a Operação Missilex 2016 e 2017, quando 2.265,5 dias de mar e 292.275,4 milhas
rebocou os cascos da ex-Corveta Frontin navegadas, ao arriar do Pavilhão Nacional
e da ex-Fragata Bosísio, respectivamente, pela última vez, ato solene que encerra
além de inúmeros apoios a exercícios de a vida operativa do “Hulk dos Mares”,
tiro, realizando reboques de alvos, e de exalto o legado deixado pelos marinheiros
operações anfíbias como navio de salva- que passaram por seus conveses, os quais
mento em caso de encalhe. contribuíram para formar a sua alma guer-
Ao longo desses anos, devido aos ser- reira. Dessa forma, como homenagem e
viços prestados à Marinha do Brasil, o Re- por dever de justiça, a Marinha do Brasil
bocador de Alto-Mar Almirante Guillobel apresenta os cumprimentos pelos relevan-
foi agraciado diversas vezes com o título tes serviços prestados.
de Navio de Socorro do Ano, sendo a Rebocador de Alto-Mar Almirante
última vez em 2001, prova inconteste da Guillobel, Aqui é Real! Bravo Zulu!”
perene capacitação profissional, do espí- (Fonte: Bono Especial n o 424, de
rito marinheiro e da dedicação invulgar 22/5/2019)

FORÇA-TAREFA MARÍTIMA DA UNIFIL TEM


NOVO COMANDANTE

O Contra-Almirante Eduardo Augusto A Unifil, criada em 1978, é a única


Wieland assumiu, em 28 de fevereiro Missão de Paz da Organização das
último, o comando da Força-Tarefa Nações Unidas que conta com um com-
Marítima da Força Interina das Nações ponente naval. A FTM, criada em 15
Unidas no Líba- de outubro de 2006
no (FTM-Unifil), por solicitação do
em substituição ao governo libanês e
Contra-Almirante sob o mandato da
Eduardo Machado Resolução 1701 do
Vazquez. A ceri- Conselho de Segu-
mônia de passagem rança das Nações
ocorreu no porto de Unidas, tem como
Beirute, no cais de missão realizar ope-
atracação do navio rações com o intuito
capitânia da FTM, de auxiliar na pre-
Transmissão de cargo da FTM-Unifil
a Fragata Liberal, venção de entrada
e foi presidida pelo Head of Mission/ de armas não autorizadas e materiais
Force Commander da Unifil, Major ilegais nos portos do Líbano e conduzir
General Stefano Del Col. o treinamento e o desenvolvimento pro-

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

fissional do pessoal da Libanese Armed de Andrade Pinto; do chefe do Estado-


Forces-Navy (LAF-N). Atualmente, a -Maior Conjunto das Forças Armadas,
Força-Tarefa Marítima Multinacional Tenente-Brigadeiro do Ar Raul Bo-
no Líbano é composta por navios do telho; do comandante-geral do Corpo
Brasil (capitânia), da Alemanha, de de Fuzileiros Navais da Marinha do
Bangladesh, da Indonésia, da Grécia e Brasil, Almirante de Esquadra (FN)
da Turquia. Alexandre José Barreto de Mattos; e do
A cerimônia de passagem de cargo comandante da LAF-N, Hosni Daher,
contou com a presença do ministro além de diversas personalidades civis
de Estado de Comércio Exterior do e militares e representações dos países
Líbano, Hassan Mrad; do embaixador integrantes da Unifil.
do Brasil no Líbano, Paulo Cordeiro (Fonte: www.marinha.mil.br)

ASSUNÇÃO DE CARGOS POR ALMIRANTES

– Contra-Almirante (IM) Wagner – Vice-Almirante Wladmilson Bor-


Corrêa dos Santos, diretor de Adminis- ges de Aguiar, comandante do 7o Dis-
tração da Marinha, em 19/3; trito Naval, em 29/3;
– Vice-Almirante Sérgio Nathan – Contra-Almirante (IM) Nelson
Marinho Goldstein, vice-chefe de Lo- Márcio Romaneli de Almeida, diretor
gística e Mobilização do Estado-Maior de Gestão Orçamentária da Marinha,
Conjunto das Forças Armadas, em em 3/4;
21/3; – Contra-Almirante (Md) Marcelo
– Contra-Almirante Marco Antonio Alves da Silva, diretor do Centro Mé-
Ismael Trovão de Oliveira, subchefe de dico Assistencial da Marinha, em 3/4;
Orçamento e Plano Diretor do Estado- – Almirante de Esquadra Leonardo
-Maior da Armada, em 21/3; Puntel, comandante de Operações Na-
– Contra-Almirante Luiz Roberto vais, em 4/4;
Cavalcanti Valicente, comandante da 2a – Contra-Almirante (Md) Nestor
Divisão da Esquadra, em 22/3; Francisco Miranda Junior, diretor téc-
– Contra-Almirante Alan Guimarães nico de Saúde do Hospital das Forças
Azevedo, comandante do 3 o Distrito Armadas, em 4/4;
Naval, em 22/3; – Vice-Almirante Sergio Fernando
– Vice-Almirante José Augusto Viei- de Amaral Chaves Junior, diretor do
ra da Cunha de Menezes, comandante Pessoal Militar da Marinha, em 8/4;
em chefe da Esquadra, em 25/3; – Contra-Almirante João Alberto
– Contra-Almirante Ralph Dias da de Araújo Lampert, diretor do Centro
Silveira Costa, subchefe de Operações de Comunicação Social da Marinha,
do Estado-Maior Conjunto das Forças em 8/4;
Armadas, em 25/3; – Contra-Almirante (FN) Pedro Luiz
– Contra-Almirante Edgar Luiz Gueiros Taulois, chefe do Estado-Maior
Siqueira Barbosa, diretor da Escola de da Força de Fuzileiros da Esquadra,
Guerra Naval, em 28/3; em 8/4;

236 RMB2oT/2019
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

– Contra-Almirante Eduardo Ma- – Contra-Almirante José Vicente de


chado Vazquez, chefe do Gabinete do Alvarenga Filho, subchefe de Logística
Comandante da Marinha, em 9/4; e Plano Diretor, em 12/4;
– Contra-Almirante (FN) Ricardo – Contra-Almirante (IM) Luiz Carlos
Henrique Santos do Pilar, comandante Faria Vieira, diretor técnico-comercial
da Tropa de Reforço, em 9/4; da Empresa Gerencial de Projetos Na-
– Vice-Almirante (RM1) Antonio vais (Emgepron), em 12/4;
Carlos Soares Guerreiro, diretor-presi- – Contra-Almirante (Md) César Au-
dente da Amazul, em 9/4; rélio Serra, diretor do Centro de Perícias
– Vice-Almirante (RM1-EN) Francis- Médicas da Marinha, em 12/4;
co Roberto Portella Deiana, diretor Téc- – Almirante de Esquadra Renato Ro-
nico e de Operação da Amazul, em 9/4; drigues de Aguiar Freire, diretor-geral
– Vice-Almirante (RM1) Luís Antô- do Pessoal da Marinha, em 16/4;
nio Rodrigues Hecht, diretor de Gestão – Contra-Almirante Renato Garcia
do Conhecimento e Pessoas da Amazul, Arruda, comandante do Centro de Ins-
em 9/4; trução Almirante Alexandrino, em 17/4;
– Contra-Almirante (IM) Antonio – Vice-Almirante Flávio Augusto
Bernardo Ferreira, diretor de Adminis- Viana Rocha, comandante do 1o Distrito
tração e Finanças da Amazul, em 9/4; Naval, em 24/4;
– Contra-Almirante (FN) Marcelo – Contra-Almirante Jeferson Denis Cruz
Guimarães Dias, comandante do Centro de Medeiros, subchefe de Organização do
de Educação Física Almirante Adalber- Comando de Operações Navais, em 24/4;
to Nunes, em 10/4; – Contra-Almirante (Md) Humber-
– Contra-Almirante Antonio Carlos to Giovanni Canfora Mies, diretor do
Cambra, diretor do Centro de Inteligên- hospital Naval Marcílio Dias, em 25/4;
cia da Marinha, em 10/4; – Contra-Almirante Sergio Renato
– Vice-Almirante (RM1-EN) Sidney Berna Salgueirinho, superintendente de
dos Santos Neves, coordenador-geral do Manutenção da Diretoria de Gestão de
Programa de Desenvolvimento de Sub- Programas da Marinha, em 26/4;
marino com Propulsão Nuclear, em 11/4; – Vice-Almirante Valter Citavicius
– Contra-Almirante (FN) Roberto Filho, diretor do Departamento de
Rossato, comandante da Divisão Anfí- Ciência, Tecnologia e Inovação da
bia, em 11/4; Secretaria de Produtos de Defesa do
– Contra-Almirante (FN) Paulo Ser- Ministério da Defesa, em 6/5;
gio Castelo Branco Tinoco Guimarães, – Vice-Almirante (Md) Luiz Claudio
subchefe de Inteligência de Defesa do Barbedo Fróes, diretor de Saúde da
Estado-Maior Conjunto das Forças Marinha, em 10/5;
Armadas, em 11/4; – Contra-Almirante (Md) Antonio
– Contra-Almirante (FN) Rogério Carlos Barbosa Nardim Lima, diretor de
Ramos Lage, subchefe de Inteligência Saúde e Assistência Social da Secretaria
Operacional do Comando de Operações de Pessoal, Ensino, Saúde e Desporto
Navais, em 11/4; do Ministério da Defesa, em 14/5; e
– Contra-Almirante (Md) José Edmilson – Almirante de Esquadra Celso Luiz
Ferreira, vice-diretor do Hospital Naval Nazareth, chefe do Estado-Maior da
Marcílio Dias, em 11/4; Armada, em 31/5.

RMB2oT/2019 237
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

TRANSMISSÃO DO CARGO DE COMANDANTE


DE OPERAÇÕES NAVAIS

Foi realizada, em 4 de abril último, Colégio Militar e a última, a Ordem do


a cerimônia de Transmissão de Cargo Mérito Naval de nossa Marinha. Deixo o
de Comandante de Operações Navais, serviço ativo com emoção semelhante à do
presidida pelo comandante da Marinha, marinheiro que retorna ao seu porto-sede
Almirante de Esquadra Ilques Barbosa após longa travessia.
Junior. Assumiu o Almirante de Esqua- Tive o privilégio de participar inten-
dra Leonardo Puntel, em substituição ao samente desta admirável instituição que
Almirante de Esquadra Paulo Cezar de privilegia a igualdade de oportunidades e
Quadros Küster. adota critérios de seleção baseados no mé-
rito, pilares que constituem a nossa maior
AGRADECIMENTO E riqueza. Considero-me muito feliz pela
PALAVRAS FINAIS DO oportunidade de ter podido participar por
ALMIRANTE KÜSTER algum tempo desta maravilhosa singradura.
Durante esse período, privei do conví-
“Sinto-me lisonjeado ao ver auto- vio de grandes chefes navais, oficiais, pra-
ridades, amigos e familiares que aqui ças e servidores civis, todos marinheiros
vieram prestigiar e testemunhar o singular por excelência, de profissão e de coração,
momento de renovação. Neste processo, muitos deles heróis anônimos que me
natural ao longo da carreira, é gratificante transmitiram ensinamentos e experiên-
verificar que os militares a nos sucederem cias, com quem aprendi que liderança não
carregam algo de nós, pois de alguma se impõe, liderança se conquista dia após
forma contribuímos em sua formação e dia, principalmente pelo exemplo.
a organização que deixamos fica mais Não abordarei as realizações ou even-
jovem, mais sadia, mais justa e promis- tuais dificuldades ocorridas ao longo de
sora, o que engrandece e justifica o nosso minha carreira, particularmente no perí-
afastamento. odo em que estive à frente do Comando
Minha experiência nas lides militares de Operações Navais, minha derradeira
iniciou com o ingresso no Colégio Militar comissão, por considerar que o futuro
de Curitiba, aos 10 anos de idade, onde será o melhor avaliador de meus erros
tive meu primeiro contato com os valores e acertos.
éticos e morais das instituições castrenses Após mais de um ano de intensas ativi-
que aprimoraram a rígida, porém carinho- dades no comando do Setor Operativo da
sa, formação iniciada pelos meus pais, a Marinha, juntamente a minha tripulação
quem devo eterna gratidão. e Organizações Militares subordinadas,
Segue-se meu ingresso na Escola Na- enfrentamos grandes desafios, dos quais
val e as oportunidades de crescimento que muitos sobrepujamos, porém sempre
me alçaram ao último posto – almirante permanecerá a sensação bem sintetizada
de esquadra –, no qual completei mais de pelos hidrógrafos no lema “restará sempre
45 anos servindo à Marinha do Brasil. muito o que fazer”.
Este é o motivo de ostentar duas únicas O atual comandante da Marinha e
condecorações, a primeira recebida no seu antecessor, com suas experiências

238 RMB2oT/2019
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

de carreira e suas ori-


gens em nossa Esquadra,
têm clara a dimensão
do que representou para
mim a nomeação para
o cargo de comandante
de Operações Navais.
Dessa forma, agradeço
pela oportunidade, pelo
apoio, pela liberdade de
manobra e pelas atenções
com que me distinguiram.
Aos demais membros do
Almirantado, meus agra-
decimentos pela cordial e
estimulante convivência Cerimônia de transmissão de Cargo
dos últimos anos, pela
paciência, pelo companheirismo e pela a satisfação que hoje sinto pelo dever
lealdade nas decisões. cumprido, aos quais peço desculpas por
Hoje, ao passar o timão ao novo co- não nominá-los, evitando imperdoáveis
mandante de Operações Navais, registro omissões.
o reconhecimento aos meus leais tripu- À minha esposa Maria Célia e aos
lantes, do almirante mais antigo à praça e filhos, Pedro Henrique e Ana Paula, agra-
ao servidor mais moderno, pelo trabalho deço pelo apoio, carinho, compreensão e
permanente nas atividades relacionadas cumplicidade. Gostaria de ter mais opor-
ao aprestamento de nosso Poder Naval, tunidades para expressar publicamente o
mantendo-o em condições de pronto orgulho pela família que constituímos,
emprego para aplicação onde e quando cujos méritos repousam muito mais em
se fizer necessário, bem como na manu- suas mãos.
tenção de nossas Organizações Militares. Ao Criador e a todos que nos inspi-
Essa gratidão externo aos demais setores ram, orientam e zelam de um Plano Supe-
da Marinha que foram incansáveis no rior, dou graças pela saúde, perseverança
apoio ao Setor Operativo. e serenidade, bem como pelo estímulo
Neste momento, compartilho meus para o recomeço da nova caminhada que
sinceros agradecimentos com os irmãos hoje se inicia.
de armas, os companheiros de todos os Finalmente, ao prezado amigo e com-
tempos dos bancos escolares, as senho- panheiro Almirante de Esquadra Puntel,
ras e senhores convidados aqui presentes a quem mais uma vez transmito o cargo,
e com todos aqueles que direta ou indire- com a certeza de que continuará a sua tra-
tamente participaram desta jornada que jetória de bem servir à Marinha, formulo
não foi solitária, pois tive a convicção de votos de continuado sucesso, alegrias
que trabalhar em harmonia, dentro e fora e realizações, extensivos à digníssima
da Marinha, seria imprescindível. Cabe, família. Que bons ventos os conduzam e
portanto, o reconhecimento àqueles que mares tranquilos os acolham.
me acompanharam e tornaram possível Sejamos felizes! Viva à Marinha!”

RMB2oT/2019 239
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

AGRADECIMENTO E BOAS- Os setores de Inteligência Operacio-


-VINDAS DO COMANDANTE DA nal e Logística também foram contem-
MARINHA plados com diversas realizações, como
a homologação e disponibilização do
“Em dia de reconhecimento a uma car- Sistema de Inteligência Operacional
reira pautada pela excelência profissional, Web; a organização do IX Encontro
nos despedimos do Almirante de Esquadra de Guerra Eletrônica de Defesa; a
Paulo Cezar de Quadros Küster, após mais transferência para o Setor Operativo
de um ano profícuo trabalho no Comando do Porta-Helicópteros Multipropósito
de Operações Navais. Atlântico e dos três navios de apoio
Ao longo desse período, liderou mari- oceânico classe Mearim; o recebimento
nheiros e fuzileiros, homens e mulheres, de duas aeronaves Super Lynx AH-11B
a destacado patamar de capacidade ope- modernizadas, uma Super Cougar UH-
rativa. Oficial de incontestáveis atributos -15 a e uma AF-1B e uma AF-1C; o
profissionais e pessoais, que lhe granje- restabelecimento dos níveis de estoque
aram o respeito e a admiração de todos de munição, por meio da adequada
aqueles com quem conviveu, o Almirante prioridade de recursos na aquisição de
Küster empregou seus maiores esforços munição convencional e da otimização
e sua larga experiência na superação de da distribuição de quotas; e, por fim,
desafios e na condução das atividades das a implementação da metodologia de
muitas Organizações Militares a ele su- gerenciamento de projetos na manuten-
bordinadas, logrando significativo êxito. ção dos meios operativos da Marinha,
Dentre as diversas realizações, é oportuno otimizando os processos e, consequen-
destacar algumas. temente, reduzindo prazos e custos.
Com o propósito de fazer frente aos Entre as diversas operações realizadas
novos desafios, algumas alterações or- durante seu comando, temos a Operação
ganizacionais foram realizadas, como as de Adestramento Conjunto Atlântico V,
ativações da Capitania Fluvial de Minas conduzida pelo Estado-Maior Conjunto
Gerais, subordinada ao Comando do 1o das Forças Armadas, na qual exerceu a
Distrito Naval; do Comando do Grupa- função do comandante do Teatro de Ope-
mento de Patrulha Naval do Sul-Sudeste, rações. Nas operações de real emprego
subordinado ao Comando do 8o Distrito da força, apoiou a estrutura logística do
Naval; e da Agência Fluvial de Caracaraí, Plano Operacional da Operação Aco-
subordinada ao Comando do 9o Distrito lhida, tanto com pessoal quanto com
Naval. O Comando do Controle Naval do material, visando reduzir a vulnerabili-
Tráfego Marítimo foi contemplado tam- dade do estado de Roraima, decorrente
bém com profundas alterações, passando do fluxo migratório provocado pela crise
a ser um Centro Integrado de Segurança humanitária na Venezuela, assim como
Marítima, contando, em sua estrutura atuou em diversas missões de Garantia
organizacional, com adidos de diversas da Lei e da Ordem, como a Operação São
agências nacionais envolvidas com a Cristóvão, durante a greve dos caminho-
segurança marítima, tais como o Depar- neiros, em 2018, e tantas outras em apoio
tamento de Polícia Federal, a Secretaria à segurança pública.
de Receita Federal e a Agência Nacional Almirante Küster, neste momento
de Transportes Aquaviários, entre outras. em que se despede do serviço ativo da

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Marinha, depois de transcorridos mais Como comandante da Marinha, tenho


de 45 anos de respeitável carreira naval, a honra e o dever de, em nome da nossa
certamente muitas lembranças povoam Força, registrar o reconhecimento por toda
os pensamentos desse experimentado uma vida dedicada à nossa instituição,
marinheiro. Seus exemplos de profis- vida essa impregnada de lealdade, pro-
sionalismo e comprometimento com fissionalismo e coragem moral.
a instituição perdurarão nas mentes Com a convicção de que viveu com
daqueles que tiveram o privilégio de intensidade cada dia de sua carreira, leve
dividir o convés com Vossa Excelência as melhores recordações desta aventura
e o têm como uma distinta referência a que é ser marinheiro. Formulo votos de
ser seguida. permanentes alegrias, paz e saúde, exten-
Nesse momento de despedida, vol- sivos à sua sempre gentil esposa Maria
temos no tempo, no início da sua Célia e aos filhos Pedro Henrique e Ana
singradura, em 1974, quando, aos 18 Paula, na nova etapa de sua vida que está
anos, ingressou na Escola Naval. Em prestes a iniciar. Esteja certo de que Vossa
1977, foi declarado guarda-marinha. Excelência e sua família permanecerão
Serviu no Contratorpedeiro Alagoas; na onde sempre estiveram, no coração da
Fragata Constituição; no Navio-Escola família naval.
Custódio de Mello; na Escola Naval; Bravo Zulu! Bons ventos e mares
no Contratorpedeiro Pará; no Coman- tranquilos! Missão Cumprida!”
do da Força de Contratorpedeiros; na Ao Almirante de Esquadra Leonardo
Escola de Guerra Naval; no Comando Puntel, apresento as boas-vindas e os
do 2o Distrito Naval; no Estado-Maior cumprimentos ao assumir o cargo de
da Armada; na Secretaria de Assuntos comandante de Operações Navais. For-
Estratégicos da Presidência da Repú- mulo votos de realizações e felicidades
blica; na Adidância de Defesa e Naval nesse novo desafio, certo de que sua
na Inglaterra, Suécia e Noruega; e na competência e atributos pessoais per-
Escola Superior de Guerra. Comandou mitirão dar andamento aos trabalhos em
o Aviso de Instrução Guarda-Marinha curso e alcançar pleno êxito na missão
Brito, a Corveta Caboclo e a Flotilha do ora confiada.”
Amazonas e foi o capitão dos Portos em
Santa Catarina. PALAVRAS INICIAIS DO
Em 2007, fruto de um excelente ALMIRANTE PUNTEL
desempenho e coroando uma brilhante
carreira, conquistou as platinas de al- “ É com imensa felicidade, orgulho e
mirante, tendo exercido funções como honra que assumo o Comando de Ope-
subchefe de Orçamento e Plano Diretor rações Navais, principalmente por estar
do Estado-Maior da Armada, vice-chefe no convés de voo do Porta-Helicópteros
do Estado-Maior da Armada, comandante Multipropósito Atlântico, Navio Insígnia
do 5o Distrito Naval e comandante do 1o do Poder Naval brasileiro.
Distrito Naval. Em 2017, foi promovido O contexto geoestratégico em que
ao posto de almirante de esquadra, quando o Brasil se insere faz com que seja
passou a exercer o cargo de diretor-geral imperioso um constante ordenamento
de Navegação, e, desde janeiro de 2018, e vigilância do espaço marítimo de
de comandante de Operações Navais. interesse, a nossa Amazônia Azul, e de

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

nossos rios e águas interiores. Para isso, madas, Almirante de Esquadra Arnaldo
a Marinha do Brasil deverá se manter Leite Pereira, que me honram com as
prioritariamente aprestada e atualiza- suas presenças.
da em seus meios, como o que, neste Aos membros do Almirantado, na pes-
momento, estamos vivenciando com a soa do chefe do Estado-Maior da Armada,
reconstrução do núcleo do Poder Naval Almirante Liseo Zampronio, manifesto a
com a aquisição de novos meios navais, minha satisfação de pertencer a este seleto
aeronavais e de fuzileiros navais. Esses Órgão de Assessoramento Superior, e
meios são comandados e tripulados agradeço aos ministros do Superior Tri-
por homens e mulheres muito bem re- bunal Militar por suas presenças.
crutados, formados e preparados pelas Aos membros do Alto Comando do
nossas escolas e centros de instrução Exército, da Força Aérea e do Ministério
de excelência, comprovando a nossa da Defesa, o meu obrigado pelas suas
capacidade de há oito anos empregar presenças.
um navio escolta e comandar a Força- Agradeço os antigos chefes navais pelo
-Tarefa Marítima do Líbano. legado de ensinamentos e pela participa-
É com orgulho que me dirijo aos ção nesta cerimônia que traz um brilho
comandantes e às tripulações das 277 todo especial.
Organizações Militares que compõem a Apresento minha gratidão pelo compa-
Força de Fuzileiros da Esquadra, os nove recimento do embaixador da Eslováquia,
Distritos Navais, a Esquadra, o Centro Milan Zachar.
Integrado de Segurança Marítima e o Agradeço a presença das autoridades
Centro de Guerra Eletrônica da Marinha. dos poderes Legislativo, Executivo, Ju-
Saibam que é um privilégio e uma honra diciário e das autoridades eclesiásticas,
poder comandá-los. bem como a de amigos, muitos dos quais
Neste momento muito especial de vieram de longe prestigiar este tão signi-
minha vida, dirijo-me àqueles que ficativo evento.
moldaram e ajudaram em minha car- Aos almirantes e oficiais de nações
reira. Ao ministro da Defesa, General amigas, agradeço as suas presenças, que
de Exército Fernando Azevedo e Silva, muito abrilhantam esta cerimônia.
agradeço pela ratificação de meu nome Aos meus familiares, à minha esposa
e pelas constantes demostrações de Monica e meus filhos Leonardo e Luiz,
apreço. Ao comandante da Marinha, obrigado pelo constante apoio.
Almirante de Esquadra Ilques Barbosa Ao Almirante Paulo Cezar de Quadros
Junior, agradeço pela minha indicação e Küster, meu amigo desde os tempos de
a ele renovo minha lealdade e dedicação aspirante, em Villegagnon, agradeço por
total ao serviço. toda fidalga acolhida e desejo muitas fe-
Agradeço aos ex-ministros da Ma- licidades, bons ventos e mares tranquilos
rinha e ex-comandantes da Marinha nesta nova singradura, extensivos à sua
Almirantes de Esquadra Alfredo Ka- esposa Maria Célia e a seus filhos Pedro
ram, Mauro Cesar Rodrigues Pereira, Henrique e Ana Paula.
Roberto de Guimarães Carvalho e Julio Peço à Nossa Senhora da Boa Esperança
Soares de Moura Neto e ao ex-ministro que nos proteja e ilumine os rumos a seguir.
chefe do Estado-Maior das Forças Ar- Viva a Marinha! Tudo pela Pátria!”

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

POSSE DO PRESIDENTE DO STM

Posse do novo presidente do STM

O ministro Almirante de Esquadra Mar- as atribuições que qualificam o ministro


cus Vinicius Oliveira dos Santos tomou Marcus Vinicius – eleito por votação
posse, em 19 de março último, como novo unânime – para a função, citando cargos
presidente do Superior Tribunal Militar exercidos anteriormente que o prepararam
(STM). Ele comandará a corte no biênio para o comando da corte militar, reforçan-
2019-2021. Na mesma cerimônia, foi em- do que todo o plenário está unido em torno
possado como vice-presidente o ministro de um propósito comum, que é auxiliá-lo
José Barroso Filho. O evento aconteceu no novo desafio.
no Plenário do Tribunal, em Brasília (DF). Após a assinatura do termo de posse
Entre os presentes à solenidade es- e ao ocupar a cadeira da presidência, o
tavam o presidente da República em ministro Marcus Vinicius empossou o
exercício, Antônio Hamilton Martins vice-presidente do STM, que o acompa-
Mourão; o presidente do Superior Tribu- nhará nos dois anos de gestão. Em seu
nal de Justiça, João Otávio de Noronha; discurso de posse, o novo presidente citou
a procuradora-geral da República, Ra- duas datas que, de acordo com ele, são
quel Dodge; os comandantes das Forças marcantes para sua vida profissional. A
Armadas; parlamentares e governadores, primeira delas foi há 56 anos, momento
além de familiares e amigos dos novos em que ingressou no Colégio Naval. A
presidente e vice-presidente. segunda foi há cerca de oito anos, quando
A tradicional saudação aos empossa- assumiu o cargo de ministro do STM.
dos em nome da corte foi realizada pelo O presidente enfatizou que o norte da
ministro Almirante de Esquadra Alvaro sua administração deverá estar voltado
Luiz Pinto, mais antigo representante da para dar continuidade às boas práticas
Marinha do Brasil que compõe a corte iniciadas pelos seus antecessores, que
do STM. O magistrado discorreu sobre trouxeram a Justiça Militar da União

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

(JMU) aos patamares atuais. Elencou O Almirante Marcus Vinicius tomou pos-
questões que pretende ver colocadas em se como ministro do STM em 9 de dezembro
foco, tais como os projetos de lei 9.432 de 2010. Nasceu na capital paulista, em 11
e 9.436, ambos de 2017, que já foram de fevereiro de 1947. Ingressou no Colégio
disponibilizados para o debate e que Naval em 1963 e passou à Escola Naval em
alteram, respectivamente, dispositivos 1965. Foi promovido a almirante de esquadra
do Código Penal Militar e Código de em 31 de julho de 2007 e possui todos os
Processo Penal Militar para torná-los cursos militares de carreira.
mais modernos e compatíveis com o Na Marinha do Brasil, foi adido naval
Brasil contemporâneo. na Inglaterra, Suécia e Noruega; diretor do
O novo presidente também afirmou Centro Tecnológico da Marinha em São
que na busca pelo aperfeiçoamento da Paulo; diretor da Escola de Guerra Naval;
JMU consegue visualizar a proposta de comandante do 4o Distrito Naval; coman-
Emenda à Constituição no 21, de 2014, dante em chefe da Esquadra; diretor-geral
que está em tramitação na Comissão de do Material da Marinha; comandante
Constituição, Justiça e Cidadania do Se- de Operações Navais/diretor-geral de
nado Federal. Tal emenda propõe alterar Navegação e chefe do Estado-Maior da
a composição do Conselho Nacional de Armada, entre outras funções.
Justiça, permitindo que o STM tenha um (Fonte: Assessoria de Comunicação
assento permanente de um representante. do STM)

TRANSMISSÃO DO CARGO DE DGPM

Foi realizada, em 16 de abril último, Direção Setorial. Nesse período, tive


a cerimônia de Transmissão de Cargo a oportunidade de melhor conhecer
de Diretor-Geral do Pessoal da Marinha. as necessidades e desafios na gestão
Assumiu o Almirante de Esquadra Renato de Recursos Humanos, além de um
Rodrigues de Aguiar Freire, em substitui- renovador contato com tripulações mo-
ção ao Almirante de Esquadra Celso Luiz tivadas e empenhadas, que conduzem
Nazareth. A cerimônia foi presidida pelo com profissionalismo e dedicação suas
comandante da Marinha, Almirante de tarefas diárias.
Esquadra Ilques Barbosa Junior. Posso afirmar que foi uma comissão
plena de muitas realizações, e jamais
AGRADECIMENTOS E esquecerei o privilégio de participar da
DESPEDIDA DO ALMIRANTE criação e do aprimoramento de inúme-
NAZARETH ros projetos, que não pretendo elencar,
pois a Administração Naval e o tempo
“Ao assumir esta Diretoria-Geral à se encarregarão de julgar a eficácia de
época, neste mesmo local, expressei cada um deles.
minha profunda emoção e alegria de Ademais, se por um lado me aco-
ter a oportunidade de lidar com o maior mete o saudosismo típico daqueles que
patrimônio da nossa instituição. O que deixam o convívio mais próximo dos
não imaginava, naquele momento, é que diversos amigos que fiz, por outro estou
seria tão feliz à frente deste Órgão de feliz pela expectativa dos novos rumos

244 RMB2oT/2019
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

na vida profissional, levan-


do as melhores recordações
do maravilhoso período que
aqui passei.
Portanto, é hora de agra-
decer:
Ao Almirante de Esqua-
dra Eduardo Bacellar Leal
Ferreira, então comandante
da Marinha, pela confiança
em mim depositada na in-
dicação do meu nome para
exercer o nobre cargo que
ora transmito. Cerimônia de transmissão de cargo
Ao Almirante de Esqua-
dra Ilques Barbosa Junior, comandante Estado-Maior da Armada. Prezado Almiran-
da Marinha, sou grato pelo apreço, pela te Fragelli, a sua irrepreensível conduta pro-
fidalguia e pelo constante apoio durante fissional e pessoal serviram de balizamento
minha Direção. para a minha formação como chefe naval.
Destaco também as honrosas presenças Meus agradecimentos se estendem aos
dos ex-ministros da Marinha Almirantes de ministros do Superior Tribunal Militar,
Esquadra Alfredo Karam e Mauro Cesar oficiais-generais do Exército e da Aero-
Rodrigues Pereira; do ex-comandante da náutica, componentes do Ministério Públi-
Marinha Almirante de Esquadra Julio Soares co Federal, da Advocacia-Geral da União,
de Moura Neto; do chefe do Estado-Maior da autoridades civis e militares presentes ou
Armada, Almirante de Esquadra Liseo Zam- representadas, integrantes da Sociedade
pronio; dos ex-diretores-gerais do Pessoal da Amigos da Marinha (Soamar). A todos
Marinha e dos antigos e atuais chefes navais, peço desculpas por não nominá-los.
que, com seus exemplos de ética, liderança Acrescento, ainda, alguns amigos vin-
e amor à nossa instituição, deixam um belo dos de tão longe, que nos distinguem com
legado a ser seguido. suas cordiais e importantes presenças.
Aos meus amigos membros do Al- Aos meus congêneres da área de Pessoal
mirantado, colegiado de alto nível da nas Forças co-irmãs, General de Exército
Marinha, meu reconhecimento pelas Artur Costa Moura e Tenente-Brigadeiro
valorosas contribuições, sempre efetu- Luis Roberto do Carmo Lourenço, agrade-
adas com transparência e honestidade ço as inúmeras demonstrações de cortesia e
de propósito, em um ambiente extre- amizade que muito favoreceram a condu-
mamente fraterno. ção dos assuntos comuns de interesse das
Neste momento especial, faço uma nossas Forças.
homenagem e renovo o meu sentimento de A Vossa Excelência Reverendíssima
gratidão a todos os chefes navais, na pessoa Dom Fernando José Guimarães, arcebispo
do Almirante de Esquadra José Alberto militar do Brasil, agradeço a presença e o
Accioly Fragelli, por todos os ensinamentos constante zelo, guiando os trabalhos dos
e exemplos ao longo do período que servi capelães militares das Forças, em que tem
com seu assistente e chefe de Gabinete no marcado importante presença.

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Aos amigos da querida Turma Ale- res civis e praças que foram fundamentais
xandrino, na qual há 45 anos iniciamos para que eu levasse a bom termo minha
nossa jornada de crença e amor à Marinha, missão. Trabalhamos num ambiente sadio
destaco o reconhecimento pelo apoio que e em equipe, pois nada se faz sozinho.
sempre me ofertaram. Buscamos o aprimoramento profissional,
A todos os que compõem a bela equipe a capacitação e o desempenho calcado
das Voluntárias Cisne Branco e às cola- na excelência. Doamos o melhor de nós.
boradoras Anjos Azuis do Hospital Naval Agradeço as demonstrações de amizade
Marcílio Dias, juntamente com as dedica- e consideração, desejando a todos conti-
das senhoras que laboram nos programas nuado sucesso.
assistenciais da Marinha, deixo o meu Finalmente, agradeço ao bom Deus por
agradecimento pelas inúmeras contribui- ter atendido minhas preces e rogo que con-
ções nos projetos em prol da Família Naval. tinue abençoando a todos os homens e mu-
Ao mesmo tempo, foi muito bom ter lheres que labutam em prol da nossa gente.
sido assessorado pela eficiente equipe do ‘Pessoal: nosso maior patrimônio’.
Saúde Naval, permitindo o aprimoramento Viva a Marinha!”
dessa importante ferramenta de comunica-
ção que tem como finalidade a prevenção AGRADECIMENTO E BOAS-
e a oportunidade de oferecer uma melhor -VINDAS DO COMANDANTE DA
qualidade de vida ao nosso pessoal. MARINHA
Ao meu chefe de Gabinete, oficiais,
servidores civis e praças da Diretoria- “Por haver sido indicado para a Chefia
-Geral e das Organizações Militares do Estado-Maior da Armada, o Almirante
subordinadas, sou grato pela assessoria de Esquadra Celso Luiz Nazareth deixa,
leal, pelas inúmeras demonstrações de nesta data, o timão da Diretoria-Geral do
profissionalismo e amizade. Pessoal da Marinha, após um ano e oito
Ao meu sucessor, Almirante de Esqua- meses de um profícuo trabalho.
dra Renato Rodrigues de Aguiar Freire, As reconhecidas qualidades profissionais
manifesto minha satisfação de passar-lhe e pessoais do Almirante Nazareth, como
o timão da Diretoria-Geral do Pessoal da liderança, inteligência, lealdade e fidalguia,
Marinha na certeza de que, mercê de suas refletiram no modo seguro e eficiente como
qualidades pessoais e profissionais, nossa conduziu os trabalhos que lhe foram confia-
Diretoria-Geral continuará em rumo segu- dos e na excelência dos resultados alcança-
ro. Desejo ao Almirante Aguiar Freire e a dos com o cumprimento da nobre missão de
sua digníssima família um período repleto gerenciar e zelar pelos homens e mulheres da
de alegrias e realizações. Sejam felizes! Marinha do Brasil, nosso maior patrimônio.
A minha mãe, meus filhos, genro, nora e, Assim, tenho o dever e a satisfação de regis-
em especial, à minha querida esposa Fátima, trar algumas de suas realizações:
companheira de todos os momentos há 35 – ajustes e implementação da Tabela
anos, o meu apaixonado reconhecimento Mestra de Força de Trabalho, possibi-
pelo incentivo, carinho e apoio constantes, litando uma redução de cargos e uma
tornando-me um ser humano melhor. consequente redução de efetivo;
O tempo é inexorável! É hora de partir. – reestruturação da carreira de oficiais
Posso garantir que chefiei um grupo de e praças, tendo sempre como foco a me-
excepcionais almirantes, oficiais, servido- ritocracia e a capacitação profissional;

246 RMB2oT/2019
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

– estudos visando à criação do Quadro setor de pessoal, assim como de coletar


Técnico Industrial de Praças, que contri- dados afetos à condução dos processos
buirá com o novo modelo de gestão da da Assistência Social no âmbito da Força.
área industrial; Estimado Almirante Nazareth, na
– criação do Curso de Assessoria de ocasião em que se despede da Diretoria-
Estado-Maior para Suboficiais, o qual -Geral do Pessoal da Marinha, agradeço
possibilitará melhor qualificação para pela dedicação e pelos resultados alcan-
nossas praças; çados, os quais são de grande relevância,
– ampliação da participação da no momento em que a Marinha do Brasil
mulher na Marinha, com ingresso de atribui a devida prioridade na capacitação
aspirantes do sexo feminino na Escola do nosso pessoal, visando à condução e
Naval, que poderão optar pelo Corpo manutenção da nova geração de meios
de Armada, de Fuzileiros Navais e de operativos que estão por vir, na era do
Intendentes, passando, assim, em um conhecimento.
futuro próximo, a ocupar cargos ope- Na certeza de que está no rumo seguro
rativos da Força Naval; em direção a mais uma marcante etapa em
– início do Programa de Instalação sua carreira, formulo votos de continuado
de Hotéis de Trânsito para Praças, com sucesso e felicidades, extensivos à sua
a previsão de inauguração, no segundo esposa Fátima, aos seus filhos Thaíssa e
semestre deste ano, do Hotel de Trânsito Thiago, ao genro Rodrigo e à nora Luana.
de Nova Friburgo; Bravo Zulu!
– reestruturação e valorização da Apresento minhas boas-vindas ao Al-
Comissão de Promoções de Praças, que mirante de Esquadra Renato Rodrigues de
passou a ser presidida por um contra- Aguiar Freire, com a certeza de que suas
-almirante; características pessoais e profissionais
– aumento das vagas destinadas aos são propícias à excelente condução da
servidores civis no Curso Superior de Diretoria-Geral do Pessoal da Marinha.
Política e Estratégia Marítima e no Seu espírito marinheiro e sua vasta experi-
Curso de Altos Estudos de Política e ência adquirida nos 41 anos de serviço em
Estratégia; nossa Força, seguramente, garantirão uma
– aquisição de equipamentos para o excelente gestão à frente deste importante
Hospital Naval Marcílio Dias e a elevação Órgão de Direção Setorial.
do quantitativo e qualificação dos médicos Bons ventos e mares tranquilos!”
e pessoal de apoio, permitindo um melhor
atendimento à Família Naval; PALAVRAS INICIAIS DO
– ativação da Escola de Saúde da ALMIRANTE AGUIAR FREIRE
Marinha, que passou a gerir os cursos da
área de saúde; “Ao assumir a Diretoria-Geral do
– aumento da capacitação dos profis- Pessoal da Marinha, cumpre iniciar a sin-
sionais que atuam na Assistência Social, gradura salientando que, nos momentos de
incentivando a realização de centros de sucesso e realização, devemos identificar
estudos; e e reconhecer aqueles que, durante a nossa
– aplicação de Pesquisas de Satisfação, jornada, tiveram a generosidade, o des-
no intuito de subsidiar ações institucionais prendimento e a solidariedade em contri-
de melhorias na esfera profissional de buir para tornar nossos sonhos realidade.

RMB2oT/2019 247
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Inicialmente, gostaria de agradecer ao com que me transmitiu o cargo. Por fa-


Exmo. Sr. Almirante de Esquadra Ilques vor, receba nossos votos de muita saúde
Barbosa Junior, pela confiança em mim e felicidades extensíveis à sua esposa
depositada ao me designar para essa Fátima e aos filhos Thiago e Thaíssa, e
honrosa comissão, externando minha pleno sucesso no distinto cargo de chefe
satisfação de servir sob sua orientação e do Estado-Maior da Armada, que assu-
meu compromisso na busca da excelência. mirá em breve.
Aos meus ex-chefes, companheiros de Ao meu pai e à minha saudosa mãe,
outras lides e colegas da Turma Mariz e agradeço a proteção, o afeto e o exemplo,
Barros e C-PEM-2008, alguns dos quais que moldaram meu caráter, e os sacrifí-
hoje presentes, agradeço a orientação, o cios que alegremente enfrentaram para
incentivo, o apoio e a torcida consisten- me educar.
temente demonstrados. À minha esposa Ayla e aos meus filhos
Agradeço a prestigiosa presença dos Bruno, Ricardo e Patrícia, agradeço a
ex-ministros Almirantes de Esquadra compreensão pelas ausências prolonga-
Alfredo Karam e Mauro Cesar Rodrigues das inerentes à vida de um marinheiro, o
Pereira; ao ex-comandante da Marinha, incentivo e o amor perenes.
Almirante de Esquadra Julio Soares de Em suma, nenhuma conquista é com-
Moura Neto; ao chefe do Estado-Maior pleta se não é compartilhada. Portanto,
da Armada, Almirante de Esquadra Liseo; agradeço a honra que todos os presentes
aos membros do Almirantado e ilustres me dão ao compartilhar este momento tão
chefes navais. Reconheço os vossos marcante em minha vida.
exemplos e inspiração. Ao permanecer no Setor de Pessoal,
Aos ex-diretores-gerais do Pessoal da gostaria de me dirigir aos diretores su-
Marinha, hipoteco meu empenho em ser bordinados e à tripulação da Diretoria-
digno das conquistas obtidas pelos senho- -Geral do Pessoal da Marinha. Conto
res, zelando pelo patrimônio de todos nós com esse grupo coeso, profissional e
marinheiros. dedicado para que, juntos, possamos
Ao agradecer também a presença do prover a força de trabalho para as OM,
arcebispo militar, dos Exmos. Srs. de- em quantidade e qualidade adequadas,
sembargadores, membros do Judiciário, buscando a otimização do emprego e
da Advocacia-Geral da União, de inúme- a valorização do elemento humano,
ros e distintos representantes de várias orientando e controlando o Sistema
vertentes do nobre e incessante desafio de Saúde da Marinha, as assistências
em zelar por nosso pessoal, incluindo os social e religiosa, assim como a ges-
irmãos de armas do Exército e da Força tão do pessoal veterano e pensionista,
Aérea, afirmo meu compromisso em for- sempre balizados em atributos morais
talecer ainda mais nossa parceria, sob a e profissionais, com empatia, ética,
orientação do Comandante da Marinha, transparência e eficiência.
de maneira fraterna e profícua. Finalmente, gostaria de pedir licença
Ao meu antecessor, Almirante de Es- a todos para exprimir uma convicção de
quadra Celso Luiz Nazareth, caro amigo, caráter pessoal: agradeço a Deus suas
o qual admiro e respeito, agradeço as bênçãos e peço que continue a nos orientar
demonstrações de confiança e amizade e iluminar nossa jornada que ora se inicia.
e a forma entusiasmada e profissional Viva a Marinha!”

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

TRANSMISSÃO DO CARGO DE CHEFE DO


ESTADO-MAIOR DA ARMADA

Foi realizada, em 31 de maio último, por conhecer suas virtudes e qualidades


a cerimônia de Transmissão de Cargo profissionais e pessoais, muito bem
de Chefe do Estado-Maior da Armada. exercitadas ao longo de sua brilhante
Assumiu o Almirante de Esquadra Celso carreira. Desejo-lhe sucesso e felicida-
Luiz Nazareth, em substituição ao Almi- des na Chefia do EMA e no seu retorno
rante de Esquadra Liseo Zampronio. A a Brasília, extensivos à Fátima e à linda
cerimônia foi presidida pelo comandante família.
da Marinha, Almirante de Esquadra Ilques A tradição naval reza que as ceri-
Barbosa Junior. mônias de transmissão de cargos têm o
foco principal em quem está assumindo,
AGRADECIMENTOS E momento em que os amigos, ex-chefes,
DESPEDIDAS DO companheiros de jornadas vêm felicitar
ALMIRANTE LISEO e desejar boa sorte ao novo chefe, que
transmite suas diretrizes iniciais aos
“Gostaria de iniciar minhas palavras seus novos liderados e dá sua voga.
agradecendo a presença das autoridades já No entanto, peço a compreensão do
nominadas, dos chefes navais e de todos meu amigo Almirante Nazareth e dos aqui
que nos brindam com suas presenças, presentes, por se tratar de uma ocasião
que deixaram seus afazeres e aqui vieram ímpar para mim, para que me concedam a
compartilhar conosco este momento espe- oportunidade de proferir algumas palavras
cial de nossas vidas, trazendo um brilho de despedida.
especial a esta cerimônia. Recordo-me do ano de 1971, quando
Agradeço de maneira particular a deixei minha cidade natal, São Paulo, com
presença do ex-ministro da Marinha Al- 15 anos e rumei para a Cidade Maravi-
mirante de Esquadra Mauro Cesar; dos lhosa para cursar o então Colegial, hoje
ex-comandantes da Marinha Almirantes Ensino Médio, no Colégio Militar do Rio
de Esquadra Moura Neto e Leal Ferreira; de Janeiro. Segui incentivado pelo meu
do ministro-chefe da Secretaria-Geral da pai, um veterano da Força Expedicionária
Presidência da República, General Floriano Brasileira, que foi ferido em combate nos
Peixoto; e do comandante da Aeronáutica, campos da Itália e possuía o direito de
Tenente-Brigadeiro do Ar Bermudez. matricular seu filho naquele colégio.
Ao comandante da Marinha, Almi- Sem ter nenhum parente no Rio de Ja-
rante de Esquadra Ilques, sou grato pela neiro, fiquei interno por três anos e, fruto da
amizade, confiança e parceria ao longo qualidade do ensino daquele colégio, logrei
de toda a nossa carreira e por presidir ao final do curso atingir os índices para a
esta cerimônia. admissão na Escola Naval, onde ingressei
Dentro de instantes transmitirei o em 1974. Hoje sou grato ao meu pai por sua
cargo de chefe do Estado-Maior da visão e seu desprendimento no início de uma
Armada ao meu amigo Almirante de jornada que me trouxe até aqui.
Esquadra Celso Luiz Nazareth, motivo Já na querida Marinha, fui aos pou-
de tranquilidade e satisfação para mim, cos aprendendo as especificidades e

RMB2oT/2019 249
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

as características
da vida marinheira
e, cada vez mais,
adquirindo o amor
e o respeito pelo
mar. Como oficial,
pude embarcar em
nossos navios e
ter o caráter for-
jado pelo trabalho
em equipe, árduo,
compensador, e
pela solidariedade,
marca dos homens
do mar.
Aprendi com os Cerimônia de transmissão de cargo do Cema
chefes e compa-
nheiros que tive, oficiais e praças, a Hoje encerro o meu ciclo no serviço
respeitar as particularidades de cada ativo, após pouco mais de 45 anos de dedi-
um, fator fundamental para uma vida cação à Marinha do Brasil, com a sensação
a bordo que deve ser harmoniosa, es- do dever cumprido. Novos caminhos se
pecialmente nos longos afastamentos. abrem, e irei trilhá-los enquanto o bom
Exerci a liderança, no mais amplo es- Deus assim o permitir.
pectro de suas definições, e encontrei À minha família, aqui representada
o meu caminho para conduzir homens pela minha esposa e companheira há 38
e mulheres de nossa Força da melhor anos, Lenita, minha irmã Léia, pelo meu
maneira possível, com comprometi- filho Guilherme, nora Jaqueline, neto
mento e dedicação. Conheci e passei a Benjamim e primos, minha gratidão pelos
admirar o valor dos homens e mulheres incentivos permanentes e por tocarem o
das várias especialidades que compõem barco em minhas ausências.
a Marinha, abaixo d´água, na superfície, Agradeço a todos com quem tive
no ar, os combatentes anfíbios e os ser- a honra de conviver, as amizades que
vidores civis, cada um em sua área de conquistei e os ensinamentos que colhi.
atuação, mas trabalhando com afinco e A convivência fraterna e o trabalho com
amor ao Brasil. os companheiros, desde os conveses do
Cresci profissional e pessoalmente Navio-Escola Custódio de Melo e da
e fui adquirindo aos poucos o que cha- querida Fragata União, até os anos re-
mamos de uma segunda pele. Por vezes centes com os membros do Almirantado,
ela é branca, em outras azul, cinza ou geraram frutos e a certeza de que juntos,
mesmo camuflada. Ela está e sempre nas várias jornadas, buscamos sempre o
estará conosco, para o resto da vida. Ela melhor para a Marinha e para o Brasil.
nos faz vibrar com os êxitos da nossa Finalmente, quero afirmar com convic-
Marinha, sofrer com alguma desventura ção que, se houvesse esta possibilidade,
e torcer sempre, pois nunca deixaremos faria tudo novamente!
de ser marinheiros. Muito obrigado! Viva a Marinha!”

250 RMB2oT/2019
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

AGRADECIMENTO E BOAS- elevado profissionalismo, sobrepujando as


-VINDAS DO COMANDANTE dificuldades, sempre transformando desa-
DA MARINHA fios em oportunidades. O chefe do Estado-
-Maior da Armada é o eventual substituto
“Hoje a Marinha do Brasil apresenta os do comandante da Marinha, além do seu
agradecimentos ao Almirante de Esqua- mais importante assessor. O Almirante
dra Liseo Zampronio, que passa o timão Liseo sempre soube manobrar à altura dos
da Chefia do Estado-Maior da Armada, desafios enfrentados. Dentre suas diversas
após um período de intensas e profícuas realizações, destaco:
realizações, e também deixa o serviço – a aprovação da programação de even-
ativo da Marinha, após mais de 45 anos tos acadêmicos, para 2019, do Centro de
de dedicação à Força Naval. Estudos Políticos-Estratégicos, incluindo
Marinheiro possuidor de incontestes qua- eventos com a participação de renomados
lidades, entre elas a liderança e a fidalguia, estudiosos de estratégia e reconhecidas
o Almirante Liseo soube conduzir, com instituições nacionais e internacionais;
dinamismo e espírito empreendedor, sua – a coordenação da Comissão Coorde-
exemplar carreira na nossa Instituição, que nadora para os Assuntos da Organização
teve início em 1o de fevereiro de 1974, ao Marítima Internacional, cuja condução
ingressar na Escola Naval. Em 1977, foi de- das negociações permitiu eleger um pes-
clarado guarda-marinha. Daquele tempo até quisador, funcionário civil da Marinha,
os dias atuais, somos testemunhas de sua de- como presidente do Subcomitê de Pre-
dicação e destacada capacidade profissional venção e Resposta à Poluição;
nas inúmeras comissões que exerceu, desde – a atuação profissional e em defesa
o seu primeiro navio, o Contratorpedeiro Rio dos interesses do País, em distintos fó-
Grande do Norte, assim como pelas demais runs envolvendo temas sobre assuntos
Organizações Militares que serviu, cabendo marítimos, como nas recentes discussões
destacar o comando do Aviso de Instrução acerca da possibilidade de abertura da
Guarda-Marinha Jansen, do Rebocador de navegação de cabotagem, no contexto
Alto-Mar Triunfo, do Grupamento Naval do das negociações de um acordo comercial
Sudeste e do Centro de Apoio a Sistemas entre o Mercado Comum do Sul e a União
Operativos. Europeia;
Nos últimos 12 anos, com as platinas – a condução do planejamento orça-
douradas, o Almirante Liseo, com inteli- mentário da Marinha para minorar os
gência e dinamismo, viu seu pavilhão tre- efeitos negativos do bloqueio de créditos
mular novamente na Diretoria do Pessoal aplicado ao orçamento em 2019, pre-
Civil da Marinha, no Centro de Análises servando a capacidade operacional dos
de Sistemas Navais, no Comando da Força setores e concitando-os a uma postura de
Aeronaval, na Diretoria de Obras Civis da estrita austeridade;
Marinha, no Comando do 8o Distrito Na- – a prontificação da Política Naval,
val, no Comando em Chefe da Esquadra, recentemente aprovada pelo comandante
na Secretaria-Geral da Marinha e, por fim, da Marinha, com um formato inovador
no Estado-Maior da Armada. que permite uma maior compreensão pelo
Particularmente, destaco o seu exercício público interno e externo;
da Chefia do Estado-Maior, que hoje trans- – a orientação para a condução do
mite, no qual, mais uma vez, demonstrou Plano Estratégico da Marinha, ora em

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

andamento, de forma que a Força Naval Missão Cumprida! Bravo Zulu!


tenha um documento para o planejamento Apresento as boas-vindas ao Almirante
de médio e longo prazos, seguindo os de Esquadra Celso Luiz Nazareth, seguro
princípios da simplicidade, objetividade de que suas características pessoais, seus
e clareza; reconhecidos atributos profissionais e o
– a aprovação dos Requisitos de amplo domínio que possui sobre os assun-
Estado-Maior do novo navio de apoio tos da nossa Força, obtidos nos mais de
antártico, como parte do processo de 45 anos de excelentes serviços prestados à
construção/aquisição desse meio; Marinha do Brasil, garantirão a continui-
– a coordenação do workshop Ciência, dade do importante trabalho desenvolvido
Tecnologia e Inovação, em conjunto com no Estado-Maior da Armada.
a Confederação Nacional da Indústria; e Bem-vindo! A todo pano!”
– a coordenação das ações do apoio
institucional prestado pela MB à realiza- PALAVRAS INICIAIS DO
ção da Feira Internacional de Defesa e Se- ALMIRANTE NAZARETH
gurança LAAD Defence & Security 2019,
contribuindo para ampliação da projeção “Ao assumir a Chefia do Estado-Maior
internacional da imagem da Marinha do da Armada, externo minha alegria, honra e
Brasil e para inserção da indústria de de- privilégio pela nobre missão de assessorar
fesa nos cenários nacional e internacional. diretamente o comandante da Marinha.
Prezado Almirante Liseo, no momento Por ter servido neste Órgão de Direção
em que é arriado seu pavilhão pela última Geral por alguns anos, tratando dos mais
vez, admito que a menção a alguns dos variados assuntos como chefe de Gabi-
muitos passos que deu em sua trajetória nete e como assessor na Subchefia de
profissional não evidencia o panorama Estratégia, tenho absoluta convicção da
completo do significado que esses anos grandeza dos desafios que enfrentarei e da
tiveram na sua vida. Afirmo, por oportuno, complexidade das atividades desenvolvi-
a certeza do dever bem cumprido e a con- das para o planejamento de uma Marinha
vicção de uma sólida e longeva amizade. na dimensão correta para a posição atual e
Ao início de uma nova singradura em futura do Brasil no contexto internacional,
sua vida, apresento os mais sinceros votos em sintonia com nossos preceitos consti-
de felicidade como conselheiro militar tucionais e nossa política externa.
da Missão Permanente do Brasil junto à Assim, nossas ações exigem estudo,
Organização das Nações Unidas, em Nova reflexão, criatividade e gerenciamento
Iorque, extensivos à família, em especial à para alcançarmos, juntos, a recuperação
sua esposa, a senhora Lenita. Estou certo da capacidade operativa da Força, manter
de que todas as experiências adquiridas os investimentos no Projeto Nuclear da
em sua vida profissional, associadas aos Marinha, no desenvolvimento de subma-
seus atributos pessoais, serão preciosos rinos, na obtenção dos navios da classe
instrumentos para a sua nova missão. Tamandaré e no Sistema de Gerencia-
Bons ventos e mares tranquilos, Almi- mento da Amazônia Azul, sempre em
rante Liseo. Que o Senhor dos Navegan- consonância com a Política e a Estratégia
tes e os espíritos superiores continuem Nacional de Defesa.
abençoando sua navegação e norteando Contudo, estou confiante e seguro de
suas decisões. que os desafios serão vencidos, pois a

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

experiência adquirida ao longo de mais do Exército, General de Exército Braga


de 45 anos de serviço vividos na nossa Netto, e da Aeronáutica, Tenente-Briga-
querida Marinha do Brasil, os belos deiro do Ar Amaral, empenho a minha
exemplos recebidos de profissionalismo disposição em obter o entendimento e o
e correção dos antigos chefes navais e envolvimento sinérgico nas ações coorde-
a compreensão e o apoio dos membros nadas, em busca de melhores rumos para
do Almirantado oferecerão as condições as nossas instituições.
necessárias para conduzir essas tarefas Agradeço a presença do chefe do
com eficiência e eficácia. Estado-Maior Geral da Armada do Chi-
Portanto, neste momento único e de le, Vice-Almirante Guillermo Lüttges
extrema felicidade pessoal, sou grato ao Mathieu, reforçando os fortes laços de
Almirante de Esquadra Ilques Barbosa amizade entre nossas Marinhas.
Junior, comandante da Marinha, pela con- Meus agradecimentos se estendem
fiança em mim depositada na indicação de aos membros do Legislativo e do Judi-
meu nome para o cargo que ora recebo. ciário, às autoridades civis, militares e
Espero corresponder a vossa expectativa eclesiásticas, presentes e representadas,
com um assessoramento transparente, aos servidores civis, integrantes da So-
coragem moral e total disponibilidade ciedade Amigos da Marinha, estimados
para o serviço. amigos e familiares; peço desculpas por
Extremamente honrado, agradeço não nominá-los e afirmo que a presença de
por estarem presentes o ministro-chefe todos empresta um brilho muito especial
da Secretaria-Geral da Presidência da a esta cerimônia.
República, General Floriano Peixoto Aos embaixadores, adidos navais e de
Vieira Neto; e o comandante da Aero- Defesa estrangeiros acreditados no Brasil,
náutica, Tenente-Brigadeiro do Ar An- assumo o compromisso de trabalhar para
tonio Carlos Moretti Bermudez, amigo o maior desenvolvimento das nossas
de longa data. interações.
Destaco as significativas presenças do Aos componentes da Turma Alexan-
ex-ministro da Marinha, Almirante de drino, sou grato pelas manifestações de
Esquadra Mauro Cesar Rodrigues Pereira, apreço e amizade e registro o meu reco-
dos ex-comandantes da Marinha Almi- nhecimento pelo incentivo que sempre
rantes de Esquadra Julio Soares e Moura me brindaram.
Neto e Eduardo Bacellar Leal Ferreira, Ao Almirante de Esquadra Liseo
dos ministros do Superior Tribunal Mi- Zampronio, estimado amigo de longa
litar, dos membros do Almirantado, dos data, agradeço pela fidalguia com que
ex-chefes do Estado-Maior da Armada e me recebeu, característica esta que sem-
dos antigos e atuais chefes navais, que, pre demonstrou em suas ações durante
com seus exemplos de liderança e amor todo o período no serviço ativo, e pela
à nossa Força, deixam um grande legado forma detalhada com que me transmitiu
a ser seguido. o cargo. Desejo, em meu nome e de toda
Ao chefe do Estado-Maior Conjunto a tripulação do Estado-Maior da Armada,
das Forças Armadas, Tenente-Brigadeiro felicidades nesta nova etapa de sua vida.
do Ar Botelho; ao secretário-geral do Mi- Auguramos aos amigos Liseo e Lenita, e
nistério da Defesa, Almirante de Esquadra a sua bela família, um período repleto de
Garnier; e aos chefes dos Estados-Maiores alegrias e realizações. Sejam muito felizes!

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

A minha mãe, irmãs, filhos, genro, ciplina, na união e no respeito mútuo,


nora e, especialmente, a minha amada com todos sintonizados em um único
esposa Fátima, companheira de minhas ideal: servir bem à Marinha e ao Brasil.
travessias, o meu apaixonado reconhe- Sinceramente, estou ansioso para ini-
cimento pelo carinho e incansável apoio ciar os trabalhos. Darei o melhor de mim
e pela paciente compreensão com que para realizar uma boa gestão, a fim de
sempre me ofertaram no nosso convívio corresponder às expectativas de todos os
familiar e que foram decisivos, auxi- amigos que depositam sua confiança neste
liando-me no desempenho das minhas chefe naval. Trabalharemos de forma
atribuições. Continuo contando agora, transparente, serena, profissional e pró-
ainda mais, com o apoio e o incentivo -ativa, buscando a necessária interação,
de vocês. sem interferências mútuas, com os Órgãos
Dirijo-me agora aos oficiais, praças de Direção Setorial, dando sequência, de
e servidores civis do Estado-Maior da maneira prática e direcionada, aos pro-
Armada e da Escola de Guerra Naval, jetos em desenvolvimento, buscando o
desejando externar que os senhores aprimoramento e a adaptação necessária,
serão fundamentais para eu levar a conscientes de que tudo deve ser bem
bom termo a minha missão. Os novos planejado e sempre pensado a médio e
desafios que se aproximam implicam longo prazo.
sensíveis transformações, as quais, Finalmente, mas não por último, agra-
para serem atendidas, demandarão o deço ao bom Deus por sempre estar ao
devido acompanhamento das ações, meu lado e rogo que me ilumine nas de-
tendo sempre como farol o interesse cisões a tomar e na escolha dos melhores
do serviço. Por isso, pregaremos que rumos a seguir.
não se faz nada sozinho, pois, em nossa Muito obrigado a todos. Viva a
atividade, equipe é tudo. Cultivaremos Marinha!”
um ambiente de trabalho forjado na dis- (Fonte: Bono no 445, de 30/5/19)

PRÊMIOS EFICIÊNCIA E
LÁUREAS FORÇA DE SUPERFÍCIE

Como parte das comemorações do 23o


aniversário de criação dos Comandos das
1a e 2a Divisões da Esquadra e da Força de
Superfície, foi realizada, em 12 de março
último, a entrega dos prêmios Eficiência
e Láureas Força de Superfície.
O Prêmio Eficiência é concedido aos
navios do Comando da Força de Superfície
(ComForSup) que mais se destacaram ao
longo do ano, dentro de seus respectivos
Esquadrões, nos níveis de aprestamento e
de comprometimento com a sua prontifi- Comandante da Marinha, Almirante de Esquadra
cação para o combate. Foram agraciados Ilques, recebe o símbolo do Fogo Sagrado

254 RMB2oT/2019
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

o Navio-Doca Multipropósito Bahia, pelo


1o Esquadrão de Apoio; a Fragata União,
pelo 1o Esquadrão de Escolta; e a Corveta
Barroso, pelo 2o Esquadrão de Escolta.
Os navios premiados poderão ostentar o
símbolo “E”, pintado em tinta branca nas
asas do passadiço, até a próxima premia-
ção, em 2020.
A Láurea Força de Superfície é um
prêmio outorgado pelo comandante da
Força de Superfície em reconhecimento Rebocador Laurindo Pitta atracado no cais da
Força de Superfície
ao pessoal militar e civil, brasileiro ou
estrangeiro, que tenha prestado relevantes
serviços em prol dos navios subordinados, atracado no cais da Força de Super-
nas mais diversas áreas de atuação. Foram fície, em Niterói, Rio de Janeiro. A
agraciados: o Capitão de Mar e Guerra embarcação integrou a Divisão Naval
(RM1) Marco Antonio de Azambuja em Operações de Guerra (DNOG) na
Montes, da Escola Naval; o Capitão de Primeira Guerra Mundial, assumindo
Corveta (IM) Renato Bellini, da Diretoria apoio logístico às tarefas de patrulha-
de Gestão Orçamentária da Marinha; o mento realizadas pela Divisão entre
Capitão-Tenente (EN) Vitor de Oliveira Dacar, no Senegal, e o arquipélago de
Vargas, do Arsenal de Marinha do Rio Cabo Verde, em 1918. Hoje, mais de
de Janeiro; o Engenheiro de Tecnologia cem anos após a sua participação na
Militar (ETM) Bruno Sampaio Andrade, Primeira Guerra Mundial, o Laurindo
do Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro; Pitta é classificado como navio-museu
o ETM Manoel Ricardo Machado Fran- e realiza passeios marítimos abertos
ça, da Diretoria de Engenharia Naval; ao público, na Baía de Guanabara, Rio
o Suboficial Emílio João da Costa, da de Janeiro.
Diretoria de Gestão de
Programas da Marinha;
o Primeiro-Sargento Dio-
nisio dos Santos Miranda,
do Centro de Apoio a
Sistemas Operativos; e o
Servidores Civis Roger
Reis de Lima e o Swa-
nee Pacheco Othuki, do
Centro de Manutenção
de Sistemas da Marinha.
No evento de pre-
miação, o Rebocador
Laurindo Pitta, meio de
superfície mais antigo
em atividade na Marinha
do Brasil, permaneceu Autoridades militares e civis participantes do evento

RMB2oT/2019 255
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

A celebração foi prestigiada por diver- Cezar de Quadros Küster; o coman-


sas autoridades militares e antigos coman- dante em chefe da Esquadra, Almirante
dantes, com destaque para o comandante de Esquadra Alipio Jorge Rodrigues
da Marinha, Almirante de Esquadra Ilques da Silva; o coordenador de Projetos
Barbosa Junior; o ex-Ministro da Marinha de Desenvolvimento de Submarinos
Almirante de Esquadra Mauro Cesar de Propulsão Nuclear, Almirante de
Rodrigues Pereira; os ex-comandantes da Esquadra Gilberto Max Roffé Hirsch-
Marinha Almirantes de Esquadra Roberto feld; e o ex-chefe do Estado-Maior da
de Guimarães Carvalho e Julio Soares de Armada, Almirante de Esquadra Wilson
Moura Neto; o comandante de Operações Barbosa Guerra.
Navais, Almirante de Esquadra Paulo (Fonte: www.marinha.mil.br)

CAAML ENTREGA TROFÉUS OPERATIVOS


O Centro de Adestramento Almirante Os vencedores desta edição foram:
Marques de Leão (CAAML) realizou, em – Troféu Positicon: Suboficial
15 de março último, a cerimônia de entrega Jorlene Gomes Ferreira, da Fragata
dos Troféus Operativos aos vencedores da Independência. Destina-se ao militar
Edição 2018. A cerimônia foi presidida da Esquadra que mais se destacou no
pelo comandante em chefe da Esquadra, exercício da função de controlador aé-
Almirante de Esquadra Alipio Jorge Ro- reo tático, em controle real no mar e em
drigues da Silva, acompanhado do coman- adestramentos realizados no CAAML;
dante em chefe nomeado, Vice-Almirante – Troféu Operativo Fixo Mage: Fragata
José Augusto Vieira da Cunha de Menezes, União. Destina-se ao navio da Esquadra
e contou com a presença de representantes que mais se destacou nos adestramentos
das organizações militares subordinadas ao de operações navais em simuladores de
Comando em Chefe da Esquadra. Guerra Eletrônica;
A concessão desses troféus tem como – Troféu Operativo Alfa Mike: Corveta
propósito estimular a participação dos Julio de Noronha. Destina-se ao navio
navios nos diversos adestramentos minis- da Esquadra que mais se destacou nos
trados pelo CAAML, contribuindo para a adestramentos de operações navais em
manutenção do elevado grau de prontidão simuladores de Guerra Acima d'Água;
dos meios da Esquadra. – Troféu Operativo Uno Lima: Fraga-
ta Greenhalgh. Destina-se ao navio
da Esquadra que mais se destacou
nos adestramentos de operações
navais em simuladores de Guerra
Antissubmarino; e
– Troféu Dulcineca: Fragata
Constituição. Destina-se ao navio
da Esquadra que mais se destacou
nos cursos e adestramentos de
Combate a Incêndio e Controle de
Avarias.
Vencedores dos Troféus Operativos – Edição 2018 (Fonte: www.marinha.mil.br)

256 RMB2oT/2019
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

ENTREGA DO PRÊMIO ALMIRANTE ÁLVARO ALBERTO

Foi realizada em 15 de maio último, na de vários órgãos de fomento e de apoio à


Escola Naval, cidade do Rio de Janeiro, pesquisa, sendo o idealizador e primeiro
a cerimônia de entrega do Prêmio Almi- presidente do atual Conselho Nacional de
rante Álvaro Alberto, considerado o maior Desenvolvimento Científico e Tecnoló-
prêmio em Ciência e Tecnologia do País. gico (CNPq) e representante do Brasil
A premiação é concedida pelo Conselho junto à Comissão de Energia Atômica da
Nacional de Desenvolvimento Científico Organização das Nações Unidas (ONU).
e Tecnológico (CNPq), agência vinculada Dentre as suas inúmeras realizações,
ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Ino- destacam-se como sua principal contri-
vações e Comunicações, em parceria com buição as bases para a implementação do
a Fundação Conrado Wessel (FCW) e a Programa Nuclear Brasileiro.
Marinha do Brasil. Este ano foi agraciada Em seu discurso na ocasião, o coman-
a categoria Ciências Exatas, da Terra e dante da Marinha, Almirante de Esquadra
Engenharias. Ilques Barbosa Ju-
O vencedor foi nior, destacou a im-
o físico paulista portância da "matriz
Vanderlei Salvador estratégica originada
Bagnato, professor da junção entre a
titular da Universi- Ciência e os mari-
dade de São Paulo nheiros". O Almi-
(USP) e diretor do rante Ilques ilustrou
Instituto de Física de com argumentos
São Carlos (IFSC/ concretos a impor-
USP). Os prêmios tância deste arranjo,
consistem em me- referindo-se à Ele-
dalha; diploma; 200 O comandante da Marinha ressaltou a importância vação do Rio Grande
da "matriz estratégica originada da junção
mil reais (em espé- entre a Ciência e os marinheiros"
(ERG), sítio onde se
cie), patrocinados conhece a existência
pela FCW; e viagem à Antártica e visita ao de recursos naturais estratégicos. Nesse
Centro Tecnológico da Marinha em São enfoque, destacou o comandante da Ma-
Paulo (CTMSP), oferecidas pela Marinha. rinha que, como resultado das pesquisas
O Prêmio Almirante Álvaro Alberto realizadas com a intensiva participação da
para a Ciência e Tecnologia foi criado comunidade científica, em dezembro de
em 1981, em reverência ao Almirante 2018, o Brasil apresentou, na Comissão
Álvaro Alberto. Renomado chefe na- de Limites da Plataforma Continental
val e reconhecido junto à comunidade das Nações Unidas, petição que requer o
científica, defensor da tese de que “o reconhecimento da ERG como extensão
desenvolvimento científico e tecnológico da Plataforma Continental Brasileira.
está íntima e fortemente ligado à prospe- A Mesa de Honra da cerimônia foi
ridade do País”, dedicou-se à formulação composta pelas seguintes personalidades:
de um pensamento científico num país ministro de Estado (em exercício) da
ainda essencialmente ligado ao setor Ciência, Tecnologia, Inovações e Co-
primário. Foi o responsável pela criação municações, Julio Francisco Semeghini

RMB2oT/2019 257
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Neto; comandante da Mari-


nha; presidente da Academia
Brasileira de Ciências, Luiz
Davidovich; presidente do
Conselho Nacional de De-
senvolvimento Científico e
Tecnológico, João Luiz Fil-
gueiras de Azevedo; presiden-
te da Financiadora de Estudos
e Projetos (Finep), General
Waldemar Barroso Magno
Neto; presidente do Conselho
Curador da Fundação Con-
rado Wessel, Jorge Marcio
Professor Bagnato recebe seu prêmio
Arantes Cardoso; presidente
do Conselho Nacional das Fundações Bagnato com o tradicional Farol. Bag-
Estaduais de Amparo à Pesquisa, Evaldo nato é membro da Academia Brasileira
Ferreira Vilela; e presidente da Sociedade de Ciências,da Academy of Sciences
Brasileira para o Progresso da Ciência, for the Developing World, da Academia
Ildeu de Castro Moreira. Prestigiaram o Pontifícia de Ciências do Vaticano e da
evento também Marco Antônio Raupp, o National Academy of Sciences (USA).
deputado federal Celso Pansera e Gilberto Na ocasião, também foram entregues
Kassab – ex-ministros da Ciência, Tecno- títulos de pesquisador emérito do CNPq
logia e Inovação. e menções honrosas de agradecimentos
Como parte integrante da Cerimônia deste ano. Concluindo a cerimônia, 18
de Entrega do Prêmio Almirante Álvaro novos acadêmicos foram empossados na
Alberto, o comandante da Marinha pre- Academia Brasileira de Ciências.
senteou o físico e engenheiro Vanderlei (Fonte: www.marinha.mil.br)

PROMOÇÃO DE ALMIRANTES

Foram promovidos por Decreto Presi- Dias da Silveira Costa; e ao posto de


dencial, contando antiguidade a partir de Contra-Almirante, os Capitães de Mar
31 de março de 2019, os seguintes oficiais: e Guerra Ricardo Sales de Oliveira,
– no Corpo da Armada: ao posto Antonio Cesar da Rocha Martins, Anto-
de Almirante de Esquadra, os Vice- nio Carlos Cambra, Ricardo Fernandes
-Almirantes Marcos Silva Rodrigues, Gomes, José Vicente de Alvarenga Fi-
Renato Rodrigues de Aguiar Freire e lho, Jeferson Denis Cruz de Medeiros,
Marcos Sampaio Olsen; ao posto de Augusto José da Silva Fonseca Junior,
Vice-Almirante, os Contra-Almirantes Cassiano Marques e João Alberto de
Alan Guimarães Azevedo, Sergio Araujo Lampert.
Fernando de Amaral Chaves Junior, – no Corpo de Fuzileiros Navais:
Arthur Fernando Bettega Corrêa, Pau- ao posto de Contra-Almirante (FN), os
lo César Colmenero Lopes e Ralph Capitães de Mar e Guerra (FN) Marcelo

258 RMB2oT/2019
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Guimarães Dias, Claudio Eduardo Sil- – no Corpo de Saúde da Marinha: a


va Dias, Elson Luiz de Oliveira Góis e Vice-Almirante (Md), o Contra-Almirante
Paulo Sergio Castello Branco Tinoco (Md) Luiz Claudio Barbedo Fróes; e
Guimarães. ao posto de Contra-Almirante (Md), os
– no Corpo de Intendentes da Mari- Capitães de Mar e Guerra (Md) Nestor
nha: ao posto de Vice-Almirante (IM), o Francisco Miranda Junior, César Aurélio
Contra-Almirante (IM) Hugo Cavalcante Serra, Marcelo Alves da Silva e Antonio
Nogueira; e ao posto de Contra-Almirante Carlos Barbosa Nardin Lima.
(IM), o Capitão de Mar e Guerra (IM) (Fonte: Bono Especial n o 901, de
Nelson Márcio Romaneli de Almeida. 21/11/2018)

NOVA COMISSÃO DE PROMOÇÕES DE PRAÇAS

A partir deste ano, o comandante do


Centro de Instrução Almirante Alexan-
drino (CIAA) passa a exercer, de modo
funcional, as atribuições de presidente
da Comissão de Promoções de Praças
(CPP), desempenhadas anteriormente
pelo vice-diretor do Pessoal Militar da
Marinha. Essa mudança fortalecerá a
estrutura daquela Comissão, à seme-
lhança da Comissão de Promoções de
Oficiais (CPO), mostrando que a Alta
Administração Naval valoriza a CPP CA Ralph Dias (ao centro) preside a CPP, ao lado
como ferramenta do gerenciamento das do vice-diretor da DPMM, Capitão de Mar e Guerra
praças da Marinha do Brasil. Moraes, e da secretária executiva, Capitão de Mar e
A CPP é uma comissão especial, de Guerra (T) Marcia Porto
caráter permanente, que dispõe de uma
Secretaria Executiva pertencente à es-
trutura organizacional da Diretoria do
Pessoal Militar da Marinha (DPMM). A
secretaria assessora o diretor do Pessoal
Militar da Marinha no processamento
das promoções, na aplicação de quota
compulsória e nos processos seletivos
referentes à carreira das praças sob sua
gerência. Atualmente, a comissão tam-
bém integra os processos avaliativos da Colegiado na primeira reunião plenária de 2019
CPP à análise de praças voluntárias ao
magistério militar naval. Além disso, Além da designação de um almirante
foi incluída recentemente a avaliação de como presidente, a estrutura da CPP
candidatos ao Curso de Assessoria em também teve ampliada a representati-
Estado-Maior para Suboficiais. vidade dos Órgãos de Direção Setorial

RMB2oT/2019 259
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

entre os membros efetivos e suplentes, e da CPP, instituído por meio de portaria


o cargo de secretário executivo, antes de do diretor-geral do Pessoal da Mari-
capitão-tenente, passou a ser atribuído nha, com base no atual Regulamento
a um capitão de mar e guerra. As alte- da CPO.
rações constam do novo Regulamento (Fonte: www.marinha.mil.br)

MB RECEBE NOVAS AERONAVES AH-11B MODERNIZADAS

O 1o Esquadrão de Helicópteros de tiveram seus sistemas tático e de navega-


Esclarecimento e Ataque (HA-1), da ção atualizados, e recebeu novos motores
Marinha do Brasil (MB), recebeu os dois CTS-800-4N, Glass Cockpit compatível
primeiros helicópteros Lynx moderni- com óculos de visão noturna, sistema de
zados. As aeronaves, agora chamadas autodefesa que inclui lançadores de chaff
de Wild Lynx e designadas de AH-11B, e flare e novo equipamento Mage-RWR.
A chegada das aeronaves deu início
ao processo de transição e atualização
dos pilotos, fiéis e mecânicos, que estão
sendo qualificados no novo modelo. A
previsão é de que as aeronaves comecem
a atuar junto aos navios da MB já no
segundo semestre deste ano. O programa
de modernização, realizado pela empresa
Leonardo Marconi Westland, no Reino
Unido, prevê, ainda, a entrega de mais
seis aeronaves modernizadas.
Nova Aeronave AH-11B, Wild Lynx (Fonte: www.marinha.mil.br)

4o DN RECEBE PRIMEIRA AERONAVE


PARA O 1oESQDHU-41
O 4 o Distrito Naval (Belém-PA)
recebeu a primeira aeronave que irá
compor o 1o Esquadrão de Helicópteros
de Emprego Geral do Norte (1 o Es-
qdHU-41). A cerimônia foi realizada na
Base Aérea de Belém (Ala 9), em 1o de
maio último, e contou com a presença
do comandante em chefe da Esquadra,
Vice-Almirante José Augusto da Cunha
Menezes; do comandante do 4o Distri-
to Naval, Vice-Almirante Newton de Da esq. p/ dir., Contra-Almirante Montenegro,
Almeida Costa Neto; do comandante Vice-Almirante Cunha, Vice-Almirante Newton e
da Força Aeronaval, Contra-Almirante Contra-Almirante Cursino

260 RMB2oT/2019
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

André Novis Montenegro; do diretor


de Aeronáutica da Marinha, Contra-
-Almirante Alexandre Cursino; e de
autoridades civis e militares.
A aeronave modelo H225M é um
helicóptero de transporte tático de lon-
go alcance, desenvolvido a partir dos
modelos da família Super Cougar, po-
dendo ser utilizada para salvamentos,
resgates, inspeções navais, em apoio a
Capitanias dos Portos e aos navios do Equipe da aeronave, formada por oficiais e praças
Comando do Grupamento de Patrulha
Naval do Norte e em adestramentos do 2o nas atividades da jurisdição do Distrito
Batalhão de Operações Ribeirinhas, entre (Amapá, Maranhão, Pará e Piauí).
outros. Com motores potentes, o helicóp- O Esquadrão funcionará em um Hangar
tero pode carregar até 31 passageiros, da Ala 9, em Belém, cedido após Acordo de
incluindo a tripulação. Ele possui 19,5 Cooperação assinado entre Marinha e Aero-
metros de cumprimento e 4,97 metros de náutica, em novembro de 2018. O Núcleo de
altura e pesa 6.695 quilos. Implementação do EsqdHU-41 contará com
O 1 o EsqdHU-41, subordinado ao seis oficiais e 24 praças. O 4oDN aguarda
4 DN, será inaugurado oficialmente
o
ainda outras duas aeronaves previstas para
em 31 de janeiro de 2020, no entanto chegarem a Belém nos próximos meses.
esta aeronave será empregada desde já (Fonte: www.marinha.mil.br)

NSS FELINTO PERRY É ABERTO PARA VISITAÇÃO

O Navio de Socorro Submarino


(NSS) Felinto Perry esteve atracado,
entre 14 e 18 de fevereiro último, no
porto de São Sebastião, litoral norte do
estado de São Paulo. Durante o período,
ficou aberto à visitação, dando à popula-
ção oportunidade de conhecer diversas
de suas instalações, como passadiço e
câmaras hiperbáricas, além de equipa-
mentos de mergulho.
O Escoteiros do Mar de São Sebastião, Escoteiros do Mar durante visita
ao NSS Felinto Perry
grupo de jovens especialmente interessa-
dos na rotina dos meios navais, também a 14 de fevereiro, vários adestramentos
visitou o navio. Entusiasmados e curiosos, internos e de mergulho no interior da
percorreram os compartimentos e tiveram Baía da Ilha Grande. Após as atividades,
suas dúvidas esclarecidas pela tripulação.  retornou à Base Almirante Castro e Silva,
O Felinto Perry atracou em São Se- em Niterói (RJ).
bastião após cumprir, no período de 11 (Fonte: www.marinha.mil.br)

RMB2oT/2019 261
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

NPaOc ARAGUARI RECEBE AUTORIDADES


NA COSTA DO MARFIM

O Navio-Patrulha Oceânico (NPaOc)


Araguari atracou, em 25 de fevereiro último,
no porto de Abidjan, na Costa do Marfim,
onde recebeu visita de autoridades civis e
militares, como parte da comissão Oban-
game Express 2019, operação conjunta
internacional que conta com a participação
de 29 países na costa africana.
No dia 26, o Araguari foi visitado
pelo embaixador do Brasil na Costa do
Marfim, Bruno Luiz dos Santos Cobuccio,
acompanhado pelo ministro conselheiro
encarregado de Negócios, Luís Alexan- Comitiva do embaixador do Brasil na
dre Iansen de Sant’Ana e pelo chefe Costa do Marfim visita o Araguari
do Estado-Maior da Marinha Nacional
da Costa do Marfim, Contra-Almirante
Célestin N’Guessan Kouamé, além de au-
toridades do porto de Abidjan. No mesmo
dia, a comissão da Costa do Marfim e seus
familiares conheceram o navio brasileiro.
Em seguida, militares do NPaOc Araguari
visitaram o Navio-Patrulha Sékongo, da
Marinha marfinense, com o propósito de
compartilhar experiência e estreitar os
laços entre as Marinhas do Brasil e da
Militares do Araguari em visita ao Navio-Patrulha Sékongo
Costa do Marfim.
Em seu nono ano, o Obangame Express de aumentar a segurança marítima e a
é um exercício marítimo multinacional segurança no Golfo da Guiné.
anual projetado para melhorar a coope- (Fontes: www.marinha.mil.br e
ração entre as nações participantes a fim www.dailypost.ng)

MINISTRO DA DEFESA DA ARGENTINA VISITA


COMPLEXO NAVAL DE ITAGUAÍ

O ministro de Estado da Defesa da Ar- sub), no Complexo Naval de Itaguaí (RJ).


gentina, Oscar Raúl Aguad, acompanhado A comitiva argentina − composta pela se-
de comitiva, realizou, em 4 de abril último, cretária de Estratégia e Assuntos Militares,
visita institucional às instalações do Pro- Paola Iris Di Chiaro; pelo oficial general do
grama Nuclear da Marinha e do Programa Exército Brasileiro às Ordens do Ministro
de Desenvolvimento de Submarinos (Pro- de Estado da Defesa da Argentina, General

262 RMB2oT/2019
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

de Divisão Canhaci; pelo comandante de Durante a visita, a comitiva assistiu a


Adestramento e Alistamento da Armada palestra do coordenador-geral do Programa
Argentina, Contra-Almirante D´Angelo; de Desenvolvimento de Submarino com
pelo Cônsul-Geral da Argentina no Brasil, Propulsão Nuclear, que apresentou aos
Claudio Gutierrez; e pelo Adido Naval no representantes argentinos a complexidade
Brasil, Capitão de Navio Coré − foi recep- e os desafios do programa, bem como o
cionada pelo diretor-geral de Desenvolvi- andamento das obras e prazos previstos para
mento Nuclear e Tecnológico da Marinha, a sua prontificação.  A comitiva visitou tam-
Almirante de Esquadra Marcos Sampaio bém a Unidade de Fabricação de Estruturas
Olsen; pelo então coordenador-geral do Metálicas, o Estaleiro e a Base Naval e o
Programa de Desenvolvimento de Subma- Departamento de Treinadores e Simulado-
rino com Propulsão Nuclear, Almirante de res do Centro de Instrução e Adestramento
Esquadra Gilberto Max Roffé Hirschfeld; Almirante Áttila Monteiro Aché.
pelo gerente do Empreendimento Modular O Brasil e a Argentina mantêm laços
de Obtenção da Infraestrutura Industrial históricos de amizade e diversas parcerias
Naval de Itaguaí, Contra-Almirante Hum- estratégicas. No segmento nuclear, os
berto Caldas da Silveira Junior, e por países firmaram um Acordo Quadripartite,
oficiais envolvidos no projeto. que inclui a Agência Brasileiro-Argentina
de Contabilidade e Controle de Mate-
riais Nucleares (ABACC) e a Agência
Internacional de Energia Atômica
(AIEA), por meio do qual os dois
Estados concordam em se submeter
a um conjunto de regras padronizadas
pela AIEA.
Em janeiro deste ano, a Diretoria-
-Geral de Desenvolvimento Nuclear
e Tecnológico da Marinha criou uma
Comissão Permanente de salvaguar-
das da Marinha, com o propósito
Ministro da Defesa da Argentina, diretor-geral de
de propor à Comissão Nacional de
Desenvolvimento Nuclear e Tecnológico da Marinha (ao
centro) e comitivas da Argentina e de oficiais da Marinha Energia Nuclear, à ABACC e à AIEA
modelos de salvaguardas a serem
adotados para as instalações nucleares
da Marinha ainda em projeto ou cons-
trução, entre eles o próprio Submarino
Nacional com Propulsão Nuclear. O
Brasil tem o entendimento de adotar
o máximo de transparência quanto
à condução do Programa Nuclear
Brasileiro, nele incluídos o Prosub, e
de dialogar com a ABACC e AIEA
na qualidade de atores internacionais
Oscar Raúl Aguad observa o periscópio no Departamento formalmente representativos.
de Treinadores e Simuladores (Fonte: www.marinha.mil.br)

RMB2oT/2019 263
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

MB ASSINA CONTRATO COM O TERMINAL


PORTUÁRIO SANTOS BRASIL

A Marinha do Brasil (MB) assinou,


em 11 de abril último, contrato para pres-
tação de serviços logísticos de operação
portuária, incluindo descarga, armaze-
nagem e inspeção não invasiva para os
bens adquiridos no exterior. O contrato
faz parte do planejamento estratégico do
Centro de Distribuição e Operações Adu-
aneiras da Marinha (CDAM) e ampliou
as opções para a nacionalização de car-
gas, além de reduzir o tempo de entrega
dos itens às organizações militares e os
custos aduaneiros.
Os custos operacionais das cargas da Diretor comercial de Operações Logísticas do
MB terão redução de cerca de 53,57% ao Terminal Santos Brasil, Wagner Toffoli, e o
ano em relação às taxas médias praticadas diretor do CDAM, Capitão de Fragata Matheus
nos terminais portuários do Estado do Rio
de Janeiro. Com esta nova possibilidade, competitividade. Ele representa um desa-
espera-se uma redução anual de R$ 1,2 fio para os tradicionais parceiros da MB,
milhão desses custos. Há redução também compreendendo práticas comerciais que
na contratação de transporte rodoviário acompanham as mudanças no ambiente do
para essas cargas, que antes vinham para comércio internacional e proporcionando
o Rio de Janeiro como única opção. as ferramentas necessárias para um melhor
O acordo estabelece um novo patamar posicionamento em futuras negociações.
de desempenho logístico, ampliando a (Fonte: www.marinha.mil.br)

DAerM APRESENTA PROCESSO DE CONTRATO DE


SUPORTE LOGÍSTICO DO UH-17

Foi realizada em 13 de março


último, na Diretoria de Aeronáutica
da Marinha (DAerM) apresentação
sobre o processo de Contrato de
Suporte Logístico (CLS) das recém-
-adquiridas aeronaves UH-17. A
apresentação ficou a cargo do gerente
e do fiscal dos CLS para o UH-17,
que retiraram dúvidas de oficiais e
praças do 1o Esquadrão de Helicóp-
teros de Emprego Geral (EsqdHU-1) Apresentação da proposta de Contratos de Suporte
acerca da modalidade logística, que Logístico ao HU-1

264 RMB2oT/2019
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

permitirá alta disponibilidade para voo abordagem, que irá reduzir os estoques
dessas aeronaves. ociosos de material e empregar técnicas
Os CLS de motor e aeronave per- já consolidadas nos mercados produ-
mitirão mitigar os caminhos críticos, tivos como supply chain (cadeia de
atualmente existentes na função logís- suprimentos).
tica suprimento, a partir de uma nova (Fonte: www.marinha.mil.br)

NA PARÁ CONCLUI OPERAÇÃO ÁKILA II/ÁGATA II

O Navio Auxiliar (NA) Pará, subor- Amapá, oferecendo atendimentos médi-


dinado ao Comando do Grupamento de cos, odontológicos e distribuição de me-
Patrulha Naval do Norte, concluiu, em dicamentos para a população ribeirinha.
24 de maio último, a Operação Ákila II/ Ao todo, foram realizados 658 aten-
Ágata II, após prover apoio logístico ao dimentos médicos de clínica geral, 93
Exército Brasileiro transportando a tropa mamografias, 444 procedimentos labo-
no trajeto de ida e volta de Belém (PA) ratoriais e 3.472 procedimentos odon-
para Santana (AP). Ainda como parte da tológicos e foram distribuídos 23.693
operação, a Marinha do Brasil promoveu medicamentos. Também foram instaladas,
Ação Cívico-Social (Aciso) nas comuni- gratuitamente, cinco coberturas de eixos,
dades de Ajuruxi, Ariramba e Santana, no contribuindo para a prevenção de aci-
dente de escalpelamento, característico
da região.
Ao longo da Aciso, militares da
Marinha proferiram palestras sobre
“Violência Contra Mulher” e “Combate
ao Abuso e Exploração Sexual Infantil”,
com participação de 810 pessoas. O
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente
e dos Recursos Naturais Renováveis
(Ibama) participou da operação, minis-
trando dez palestras sobre “Educação
Ambiental”, alcançando um público de
115 participantes.
Tropa do Exército Brasileiro embarca no NA Pará (Fonte: www.marinha.mil.br)

9o DN APOIA ARMADA COLOMBIANA EM BUSCA


E SALVAMENTO

A Armada da Colômbia solicitou, em Uaupés, entre Isla Acuti e Isla Caruru,


4 de março último, apoio ao 9o Distrito na Colômbia. O Rio Uaupés nasce na
Naval (Manaus-AM) para Busca e Sal- Colômbia, percorre parte do território
vamento (SAR) após o naufrágio de uma do estado do Amazonas e deságua no
embarcação na margem esquerda do Rio Rio Negro.

RMB2oT/2019 265
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Ao ser informado do naufrágio,


o Comando do 9oDN direcionou
uma equipe SAR do 3o Esquadrão
de Helicóptero de Emprego Geral
(EsqdHU-3) para o local. O corpo
de um pesquisador do Ministério
do Meio Ambiente da Colômbia,
localizado por indígenas, foi
trasladado para a cidade de Mitu,
na Colômbia, pela aeronave do
EsqdHU-3. Militares em apoio ao trabalho de Busca e Salvamento
(Fonte: www.marinha.mil.br) no Rio Uaupés

MB INAUGURA NOVA INFRAESTRUTURA DE


TELECOMUNICAÇÕES DA EACF

Em mais um passo para a finalização


da nova Estação Antártica Comandante
Ferraz (EACF), a Marinha do Brasil (MB)
inaugurou, em 11 de março último, a nova
infraestrutura de telecomunicações da
Estação. A inaguração se deu por meio
de testes de videoconferência entre a
comitiva de ministros e parlamentares
que visitavam a Estação e o Presidente
da República, Jair Messias Bolsonaro, Videoconferência no Palácio do Planalto
juntamente com o ministro da Defesa,
General Fernando Azevedo e Silva, e o
comandante da Marinha, Almirante de
Esquadra Ilques Barbosa Junior, no Pa-
lácio do Planalto, em Brasília.
Na ocasião, o ministro da Ciência,
Tecnologia, Inovações e Comunica-
ções, Marcos Pontes, que estava em
Houston, nos Estados Unidos da Amé-
rica, também participou dos testes de
videoconferência. Os testes foram reali-
zados com êxito e marcaram a nova fase Da esquerda para a direita, diretor-geral do
de infraestrutura de telecomunicações Material da Marinha, Almirante de Esquadra Luiz
no continente gelado. Henrique Caroli; ministro do Meio Ambiente,
A iniciativa, um acordo realizado entre Ricardo Salles: ministro da Casa Civil, Onyx
Lorenzoni; controlador-geral da União, Wagner
a Marinha e a empresa de Telefonia Oi, de Campos Rosário; e o chefe de Assuntos
amplia o tráfego de dados e de informa- Estratégicos do Ministério da Defesa, Almirante
ções da Estação. A nova infraestrutura de Esquadra Cláudio Portugal de Viveiros

266 RMB2oT/2019
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Durante a videoconferência, o
comandante da Marinha disse que
“a oportunidade de termos o peso
de três ministros de Estado tratan-
do das comunicações que vão dar
suporte às pesquisas científicas na
Antártica é um sinal evidente de
que estamos pautados no futuro
de nosso País”.
As obras de reconstrução da
EACF foram planejadas para se-
Videoconferência durante visita de ministros e parlamentares às rem executadas em quatro fases
novas instalações da EACF distintas e consecutivas, sendo
duas de fabricação e pré-mon-
permitirá maior agilidade e autonomia tagem na China e duas de montagem
na comunicação feita por pesquisadores na Antártica. Atualmente, as obras se
e militares e também a possibilidade da encontram na quarta fase, que marca o
realização de atendimentos médicos por término da montagem do prédio principal
meio da telemedicina, na eventual ocor- e a conclusão dos módulos isolados.
rência de acidentes graves de trabalho. (Fonte: www.marinha.mil.br)

DEPÓSITO DE COMBUSTÍVEIS DA MARINHA NO RJ


TEM CAPACIDADE AMPLIADA

Foi concluída, em 20 de feve-


reiro último, a manutenção geral
dos tanques A e B do Depósito de
Combustíveis da Marinha no Rio de
Janeiro (DepCMRJ). Durante o ciclo
operativo do Navio-Aeródromo São
Paulo, os tanques foram utilizados
para armazenagem do óleo combus-
tível MF-40, demandado pelo antigo
capitânia da Esquadra.
Após o descomissionamento
do navio, o parque de tancagem
Parque de Tancagem do DepCMRJ
do DepCMRJ vinha sendo recon-
figurado, visando à conversão dos
respectivos tanques, para armazenamento de OCMT pelo DepCMRJ da ordem
de Óleo Combustível Marítimo para Tur- de 18 mil m 3, elevando a segurança
binas (OCMT), aumentando a capacidade estratégica dos níveis de estoque, pri-
anteriormente existente. mordial para a manutenção operacional
Esta nova configuração representa da Marinha Brasil. 
um aumento da capacidade de tancagem (Fonte: www.marinha.mil.br)

RMB2oT/2019 267
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

NAVIOS-PATRULHA DA CLASSE PIRATINI  RECEBEM


METRALHADORAS GAM B01

O 6o Distrito Naval (Ladário-


-MS), por meio do Comando da
Flotilha de Mato Grosso, subs-
tituiu, no período de 22 de abril
a 6 de maio, as metralhadoras
Oerlikon 20 mm MK4 dos na-
vios-patrulha da classe Piratini
pelas novas metralhadoras de 20
mm modelo GAM B01.
A modernização foi realizada
pelo Centro de Manutenção de
Sistemas da Marinha, pela Base Exercício de tiro para aceitação do armamento
Fluvial de Ladário e por mili-
tares da Flotilha, sob a coordenação dos os navios-patrulha Piratini, Pirajá,
da Diretoria de Sistemas de Armas da Penedo e Poti.
Marinha. Na ocasião foram moderniza- (Fonte: www.marinha.mil.br)

NPo ALMIRANTE MAXIMIANO REALIZA LEVANTAMENTO


HIDROGRÁFICO NA ANTÁRTICA

O Navio Polar (NPo) Almirante Ma-


ximiano realizou, de 24 fevereiro a 2 de
março, levantamento hidrográfico na Baía
Rei George para atualizar a carta náutica
local, como parte da Operação Antártica
(Operantar) XXXVII. Parte das informa-
ções de profundidade da carta datava de
1956, sendo a atualização de grande im-
portância para a segurança da navegação.
A Baía Rei George situa-se na ilha
de igual nome, a mesma que abriga a
Estação Antártica Comandante Ferraz.
Além de contribuir para uma navegação
mais segura e precisa, o navio atende
a compromissos com a Organização
Hidrográfica Internacional (OHI), visto
que o Brasil é membro da Comissão
Hidrográfica na Antártica, comprome-
tendo-se em produzir cartas náuticas da Carta náutica da Baía Rei George com seleção
região e colaborar com outros serviços de sondagem sobreposta

268 RMB2oT/2019
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

NPo Almirante Maximiano percorre as linhas de sondagem na Baía Rei George

hidrográficos que têm interesse em verificada substancial mudança da geo-


operar na mesma área. morfologia nas regiões com profundidade
Na ação, foi utilizado o ecobatímetro entre 100 e 300 metros.
monofeixe, sensor capaz de obter vasta O levantamento hidrográfico rea-
gama de dados batimétricos pontuais de lizado pelo navio em águas austrais
alta confiabilidade. A área de sondagem pode contribuir para os compromissos
foi de aproximadamente 79,4 km2, deman- institucionais, nacionais e internacio-
dando um trabalho contínuo de 120 horas nais assumidos pela Marinha do Brasil
e sendo percorrida uma distância linear de e pelo País.
380 milhas náuticas. Como resultado, foi (Fonte: www.marinha.mil.br)

COMISSÃO OPERANTAR XXXVII

Após cerca 180 dias de comissão, o


Navio de Apoio Oceanográfico (NApOc)
Ary Rongel e o Navio Polar (NPo) Al-
mirante Maximiano regressaram ao Rio
de Janeiro, em 13 de abril último. Nesse
período, os Navios transportaram mais
de 1.400 toneladas de materiais para
abastecimento e reconstrução da Estação
Antártica Comandante Ferraz (EACF).
Além disso, foram visitadas as estações
antárticas da Bulgária, Chile, Peru, NApOc Ary Rongel e NPo Almirante Maximiano
Polônia e Rússia. As duas aeronaves
UH-13, Esquilo Biturbina, perfizeram Ao longo desta Operantar, ocorreu,
mais de 130 horas de voo, transportando também, uma intensa participação da
pesquisadores e materiais para os acam- imprensa embarcada, que resultou numa
pamentos. ampla divulgação do Programa Antár-

RMB2oT/2019 269
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

tico Brasileiro e das peculiaridades da localizado na Ilha de James Ross, e


vida no mar. Os navios deram suporte o Maximiano realizando mais de 120
a 19 projetos de pesquisa e executaram Estações Oceanográficas, atingindo 65o
levantamentos hidrográficos naquela de Latitude Sul, próximo ao Estreito de
região para atualização de cartas náu- Bismarck. Foram visitados os portos de
ticas. Ambos singraram as inóspitas Rio Grande, Punta Arenas, Montevidéu,
águas do mar de Weddell, o Ary Rongel Ushuaia e Itajaí.
lançando e recolhendo acampamentos, (Fonte: Bono Especial n o 288, de
num total de sete, sendo o mais distante 11/4/2019)

NPa BOCAINA REALIZA ADESTRAMENTO DE


LANÇAMENTO DE MINAS

O Navio-Patrulha (NPa) Bocaina


realizou, em 13 de março último, adestra-
mento do sistema de lançamento de minas
SH-60, com propósito de elevar o nível
de preparo da tripulação em relação ao
guarnecimento de postos e ao lançamen-
to de minas de exercício. O treinamento
ocorreu na Base Naval de Val de Cães, em
Belém (PA) e, na ocasião, foram lançadas
duas minas.
Para o comandante do Grupamento de
Militares preparam mina de exercício
Patrulha Naval do Norte, Capitão de Mar
para adestramento
e Guerra Robledo de Lemos Costa e Sá, o
adestramento das equipes de bordo serviu faz parte, enquanto componente da Força
para avaliar as questões de planejamento de Emprego Rápido”, explicou.
e execução das atividades. “Foi possível A manutenção da capacidade de mina-
verificar a capacidade e o aprestamento do gem garante ao Grupamento de Patrulha
navio para realizar operações de minagem maior flexibilidade quando for imperativo
conforme previsto para os navios-patrulha negar o uso do mar ao inimigo. 
da classe Bracuí, da qual o NPa Bocaina (Fonte: www.marinha.mil.br)

MB REALIZA AÇÃO DE PRESENÇA NA BACIA DE


CAMPOS DURANTE OPERAÇÃO ADEREX
Após dez dias de adestramento de cia e Greenhalgh na Bacia de Campos,
militares no mar, a Operação Aderex maior produtora de petróleo do Brasil. 
finalizou, em 16 de maio último, sua Antes da Aderex, navios da Esquadra
3a fase. O retorno do Espírito Santo ao brasileira e da Marinha Nacional Fran-
Rio de Janeiro foi marcado pela ação de cesa realizaram exercícios conjuntos
presença do Navio-Tanque Almirante durante a Passex. Participaram da
Gastão Motta e das fragatas Independên- operação o Navio de Desembarque de

270 RMB2oT/2019
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Carros de Combate Almirante Saboia; gação em baixa visibilidade e em canal


as fragatas Independência, Constituição varrido, leap frog, light line, transferência
e Greenhalgh;  o Porta-Helicópteros de carga leve, transferência de óleo no
Multipropósito Atlântico; o Navio-Tan- mar, tiro sobre drone e killer e trânsito sob
que Almirante Gastão Motta; a Embar- múltiplas ameaças, entre outros.
cação de Desem- O Porta-He-
barque de Carga licópteros Multi-
Geral Marambaia e propósito Atlânti-
o Submarino Tupi, co,  na 3 a fase da
além das aeronaves operação, desin-
Falcão, Guerreiro, corporou do grupo-
Águia, Pegasus e -tarefa e realizou
Lince. Os navios operações aéreas
franceses parti- com avaliações de
cipantes foram o envelopes de ven-
BPC Tonnere, o tos e qualificação
BSAH Seine e a e requalificação
Fragata La Fayet- Navios durante a ação de presença de pouso a bordo.
te, que estiveram A operação teve o
presentes na primeira fase da Aderex. propósito de elevar o nível de ades-
Na sequência, os navios seguiram o tramento das tripulações com os res-
programa de exercícios previstos para o pectivos meios navais e contou com a
aprimoramento profissional dos militares. participação de 2.362 militares.
Os meios da Esquadra realizaram nave- (Fonte: www.marinha.mil.br)

OPERAÇÃO CARIBEX 2019

Com o propósito de realizar intercâm-


bios com Marinhas amigas por meio de
exercícíos de caráter militar, compostos
de manobras táticas, controle de avarias,
fainas marinheiras, ações de visita e
inspeção e comunicações por holofote
e bandeiras, foi realizada de 8 de abril
a 20 de maio a Operação Caribex 2019.
A Operação aconteceu na área marítima
compreendida entre Belém (PA) e os
mares territoriais do Suriname,Trinidad
Visitação pública a navios da MB
e Tobago, Curaçao, Granada, Guiana e no porto de Paramaribo
Guiana Francesa.
Para a missão, foi composto um grupo- Bracuí e Guanabara (subordinados ao 4o
-tarefa sob o Comando do Grupamento de Distrito Naval – Belém-PA) e Guaíba, do
Patrulha Naval do Norte, sendo empre- 3o Distrito Naval (Natal-RN). Dentre os
gados 128 militares e os navios-patrulha principais eventos, destacou-se a troca de

RMB2oT/2019 271
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

experiências entre militares da Marinha do


Suriname e do Brasil. Na ocasião, foi con-
duzido um exercício de Grupo de Visita
e Inspeção com abordagem simulada no
Navio-Patrulha Guanabara. No treina-
mento, houve a possibilidade de verificar
os procedimentos e as técnicas adotadas
pelas Marinhas do Brasil e do Suriname.
Durante a Operação, os navios visitaram
os portos de Paramaribo (Suriname), Port
of Spain (Trindad e Tobago), Willemstad
Militares da MB e do Suriname após
(Curaçao), Saint George’s (Granada), adestramento no Guanabara
Georgetown (Guiana) e Caiena (Guiana
Francesa).  Neles ocorreram cerimônias de contaram com a presença das comunidades
recepção às autoridades civis e militares lo- brasileiras dos países visitados.
cais e diplomáticas e visitações públicas, que (Fonte: www.marinha.mil.br)

NHi SIRIUS RECUPERA BOIAS METEOCEANOGRÁFICAS


DO PROGRAMA NACIONAL DE BOIAS

O Navio Hidrográfico (NHi) Sirius


suspendeu da cidade de Niterói (RJ),
em 12 de março último, com destino
ao litoral do estado do Paraná para
realizar a Comissão Levantamento
Hidrográfico da Barra de Paranaguá.
Durante a travessia, o navio recebeu
a missão de realizar buscas pela boia
meteoceanográfica Rio Grande, do
Programa Nacional de Boias (PNBoia),
que estava à deriva nas proximidades da
cidade de Mostardas (RS). Após três
dias de buscas, o navio localizou a boia e
realizou o seu transporte até a cidade de Mergulhador do NHi Sirius amarra boia meteoceanográfica
ao navio
Rio Grande, no mesmo Estado.
Após suspender com destino a O PNBoia tem como propósito a coleta de
Barra de Paranaguá para dar início ao dados meteoceanográficos no Atlântico Sul,
levantamento hidrográfico da região, o por meio de rede de boias rastreadas por saté-
Sirius foi acionado mais uma vez para lite, em apoio às atividades monitoradas pelo
resgatar a boia meteoceanográfica Itaoca, Serviço Meteorológico Marinho (SMM),
também do PNBoia, que estava à deriva operado pelo Centro de Hidrografia da Mari-
nas proximidades de Imbituba (SC). Após nha (CHM). As boias recuperadas pelo NHi
sua localização, a boia foi transportada até Sirius, que em breve serão reinseridas nessa
Itajaí, também em Santa Catarina. rede, coletavam informações utilizadas nas

272 RMB2oT/2019
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

previsões de fenômenos meteoroló-


gicos e oceanográficos, como siste-
mas frontais, ciclones extratropicais
e linhas de instabilidade.
Após realizar a recuperação das
duas boias do PNBoia, o Sirius
retomou a Comissão Levantamento
Hidrográfico da Barra de Parana-
guá, que tem como propósito gerar
elementos para nova edição da carta
náutica 1820, em conformidade com
o III Plano Cartográfico Náutico Bra-
sileiro. Este será mais um dos 120 le-
vantamentos hidrográficos realizado
pelo navio, no Brasil e no exterior,
contribuindo para a segurança da
Militares do Sirius prepara a boia meteoceanográfica Rio navegação na Amazônia Azul.
Grande para ser rebocada (Fonte:www.marinha.mil.br)

DHN OCUPA ASSENTO EM COMITÊ DE PROJETO DE


CONSTRUÇÃO DE CARTAS NÁUTICAS
O Capitão de Mar
e Guerra (RM1) Ro-
drigo de Souza Obino,
da Diretoria de Hidro-
grafia e Navegação
(DHN), foi nomeado
para o Comitê Diretor
do projeto General
Bathymetric Chart of
the Oceans (GEBCO)
– iniciativa conjunta
da Organização Hi-
drográfica Interna-
cional (OHI) e da Co-
missão Oceanográfica
Intergovernamental
da Unesco (COI) – no Carta Global GEBCO da quinta edição (1973-1982)
período de novembro
de 2019 a novembro de 2024. A nome- O GEBCO foi idealizado, em 1903,
ação foi anunciada pelo Secretariado da para a construção de um conjunto de
OHI aos seus Estados Membros, por carta cartas náuticas cobrindo todos os oceanos
circular datada de 24 de abril. e mares, a partir da compilação de dados

RMB2oT/2019 273
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

batimétricos fornecidos voluntariamente to por representantes dos seguintes países:


pelos serviços hidrográficos. Após a Austrália, Coreia do Sul, Estados Unidos
criação da OHI, em 1921, a organização da América, França, Itália, Japão, Noruega,
assumiu a responsabilidade pelo projeto. Polônia, Reino Unido, Rússia e Suécia.
Em 1973, a direção do GEBCO passou a Na United Nations Ocean Conference,
adotar uma estrutura com a presença de conferência da Organização das Nações
representantes da comunidade de oceano- Unidas (ONU) realizada em 2017, o
grafia, indicados pela COI. Durante esse GEBCO e a Fundação Nippon anunciaram
período, o projeto produziu cinco edições o programa Seabed 2030, com a proposta
em papel de cartas GEBCO e, atualmente, de recobrimento batimétrico total do
disponibiliza o acesso a um atlas digital. fundo marinho até 2030, em apoio ao
A DHN atua junto ao GEBCO há anos, cumprimento do Objetivo de Desenvol-
seja com a participação de representantes vimento Sustentável da ONU de número
no Comitê Diretor do projeto, nas décadas 14. A iniciativa também visa contribuir
de 80 e 90, seja com a disponibilização de ainda mais para a compreensão da circu-
recortes de cartas em papel ou eletrônicas lação oceânica, da previsão de tsunamis
com profundidades a partir de 200 metros. e eventos extremos e de traçado de rota
Atualmente, o Comitê Diretor do General de cabos e dutos submarinos.
Bathymetric Chart of the Oceans é compos- (Fonte: www.marinha.mil.br)

NPqHo VITAL DE OLIVEIRA RECEBE PESQUISADORES


PARA INTERCÂMBIO CIENTÍFICO INTERNACIONAL

O Navio de Pesquisa Hidroceanográ- Nesse projeto, o governo brasileiro,


fico (NPqHo) Vital de Oliveira apoiou, por meio da CPRM, compromete-se a re-
de 2 a 29 de abril último, a Companhia alizar o treinamento de estudiosos de áreas
de Pesquisa de Recursos Minerais correlatas oriundos de países emergentes,
(CPRM) por meio da realização de conforme acordo firmado com a Autoridade
treinamento no mar de pesquisadores Internacional dos Leitos Marinhos (ISBA),
nas áreas de geologia, oceanografia e órgão vinculado à Organização das Nações
geofísica, sendo dois deles de origem Unidas, que regula a exploração dos recursos
estrangeira (Nigéria e Paquistão). marinhos em áreas de alto-mar.
A oportunidade do embarque do
grupo no navio da Marinha permitiu
a interação dos participantes do es-
tágio coordenado pela CPRM com
os demais pesquisadores de outras
instituições de pesquisa embarca-
dos no navio. O encontro destaca o
caráter multidisciplinar e multi-ins-
titucional do acordo de cooperação
que concebeu o laboratório do Vital
Pesquisadores e tripulação durante coleta de amostra de Oliveira.
geológica realizada a bordo (Fonte: www.marinha.mil.br)

274 RMB2oT/2019
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

CICLONE TROPICAL NO ATLÂNTICO SUL


É NOMEADO PELA MB

A Diretoria de Hidrografia e Nave- na costa da África; em 2004, em Santa


gação (DHN), por meio do Centro de Catarina; e em 2010, no Rio Grande do
Hidrografia da Marinha (CHM), que Sul e em Santa Catarina.
opera o Serviço Meteorológico Marinho Os ciclones tropicais classificam-se
(SMM), previu e acompanhou, entre como: depressão tropical, quando os
23 e 28 de março último, a evolução da ventos atingem intensidades menores que
tempestade tropical Iba. Primeiro ciclone 63 km/h (34 nós); tempestade tropical,
tropical a ser nomeado segundo a lista com ventos de até 118 km/h (64 nós);
estabelecida, em 2011, nas Normas da ou furacão, conforme os ventos superem
Autoridade Marítima para as Atividades essas velocidades. O ciclone tropical que
de Meteorologia Marítima (Normam-19), se formou às 9 horas no dia 23, no litoral
da Marinha do Brasil (MB), o fenômeno sul da Bahia, foi classificado inicialmente
deixou a comunidade marítima em alerta, como depressão tropical, com ventos de
além de ter gerado grande interesse do 46 km/h (25 nós). No dia 24, às 9 horas, foi
público em geral.
Qualquer centro de bai-
xa pressão atmosférica é
chamado de ciclone, fe-
nômeno comum na costa
brasileira. O destaque des-
te evento foi seu caráter
tropical, que costuma se
associar a altas intensi-
dades de vento, podendo
culminar em ocorrências
de Busca e Salvamento
(SAR), destruição à medida
que se desloca sobre a costa
e perdas de vidas humanas
no mar. Este ciclone foi
considerado tropical por
conta da presença de um
Carta sinótica (alto, esq.), análise de pressão atmosférica (alto, dir.) e
núcleo quente profundo, imagem de satélite (centro) referentes à tempestade tropical Iba
que se estendeu desde a
superfície até altos níveis da troposfera, reclassificado como tempestade tropical,
e de sua estrutura empilhada, com ventos com ventos de 83 km/h (45 nós), e nomea-
à superfície e em altitude de intensidades do Iba, conforme a Normam-19, que prevê
e direções similares. Bastante incomum que ciclones tropicais classificados como
no Atlântico Sul, os únicos registros an- tempestade tropical ou furacão sejam
teriores de ciclones tropicais de grande nomeados. A expressão “Iba” significa
envergadura na região foram em 1991, “ruim” em tupi-guarani.

RMB2oT/2019 275
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

A intensidade máxima dos ventos obser- O monitoramento do fenômeno foi fei-


vados foi de 101 km/h (55 nós) e se deu no to em cooperação entre a MB, o Instituto
dia 25, às 15 horas. O fenômeno deslocou- Nacional de Meteorologia, o Centro de
-se primordialmente para o Sul, sempre em Previsão de Tempo e Estudos Climáticos,
alto-mar, passando ao largo do litoral sul o National Hurricane Center (Estados
dos estados da Bahia e do Espírito Santo Unidos da América – EUA) e o Weather
e ao norte do Rio de Janeiro. Ao atingir o Prediction Center (EUA). A imprensa deu
paralelo da latitude de Arraial do Cabo (RJ), ampla divulgação às previsões e aos Avi-
às 15h30 do dia 27, a intensidade dos ventos sos de Mau Tempo emitidos pelo CHM,
reduziu para 55 km/h (30 nós). O fenôme- e o evento repercutiu na mídia nacional
no voltou, então, a ser classificado como e internacional.
depressão tropical. Na sequência, adquiriu Durante o fenômeno, não foi regis-
direção Sudeste. No dia 28, às 9 horas, trada nenhuma solicitação de Busca e
foi verificado que não apresentava mais Salvamento de embarcações no País que
características tropicais, quando passou a tenha decorrido de condições adversas de
ser considerado apenas um centro de baixa tempo e mar provocadas pela tempestade
pressão, desvanecendo-se na circulação tropical Iba.
atmosférica que flui para Leste. (Fonte: www.marinha.mil.br)

EsqdHS-1 É HOMENAGEADO POR RESGATE


NOTURNO REAL SOBRE O MAR

O 1o Esquadrão de Helicópteros An- foi prestada durante a LAAD, Feira Inter-


tissubmarino (EsqdHS-1) foi homenage- nacional de Defesa e Segurança realizada
ado, em 2 de abril último, pela Sirkosky, no Rio de Janeiro (RJ).
fabricante norte-americana de helicópte- O salvamento ocorreu em agosto de
ros, pelo primeiro salvamento noturno 2016, quando o EsqdHS-1 era responsá-
real realizado no mar com o emprego da vel por prover a Aeronave de Serviço da
aeronave SH-16 Seahawk. A homenagem Esquadra. No dia do resgate, o “Guer-
reiro 34” (SH-16 N-3034) decolou às
17h10 de São Pedro da Aldeia-RJ para
a área de buscas, onde receberia o apoio
da Fragata Constituição. No translado
da aeronave, por volta de 17h40, o
copiloto avistou um objeto flutuando
no mar. Com a utilização do Electro-
-Optic Sensor System, sensor óptico
da aeronave com capacidade de obter
imagem térmica, confirmou-se que o
objeto era um casco de embarcação e
também a presença de um bote com três
Comandante da Força Aeronaval, comandante do
sobreviventes.
HS-1 e tripulação do “Guerreiro 34” recebem Os náufragos encontravam-se à deriva
a placa comemorativa por mais de 36 horas, a cerca de 82 milhas

276 RMB2oT/2019
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

náuticas (aproximadamente 150 km) da foram encaminhados para a Policlínica


costa de Cabo Frio (RJ) e estavam sem Naval de São Pedro da Aldeia, onde
alimento, água potável e meios de comu- receberam atendimento médico.
nicação. Após o resgate, os sobreviventes (Fonte: www.marinha.mil.br)

CAMR REALIZA MANUTENÇÃO DO


RÁDIO FAROL ILHA RASA

Uma equipe da Seção de Eletrônica do costa brasileira e contribuir para elevar


Centro de Auxílios à Navegação Almiran- o nível da Segurança da Navegação nas
te Moraes Rego (CAMR) realizou, de 18 Águas Jurisdicionais Brasileiras (AJB).
de fevereiro a 28 de março, a manutenção A equipe, composta por sete militares
da Rádio Farol Ilha Rasa. O trabalho tem especializados nesse tipo de missão, re-
como propósito manter o elevado padrão alizou a manutenção dos equipamentos
de funcionamento deste e de outros auxí- de transmissão HF da Estação Rádio do
lios à navegação existentes ao longo da Farol Ilha Rasa e da Estação de Refe-
rência (ERDGPS) da
Rasa; a manutenção
constou de verificação
do Sistema de Proteção
contra Descargas At-
mosféricas (SPDA), da
substituição de estais,
do tratamento e pintura
da estrutura e da substi-
tuição dos componentes
das antenas da Estação
Rádio e da Torre Irra-
diante de 42 metros da
Rádio Farol.
(Fonte: www.mari-
Vista panorâmica da Ilha Rasa nha.mil.br)

NApOc IGUATEMI RESGATA EMBARCAÇÃO

O Navio de Apoio Oceânico (NapOc) desaparecida desde o dia 2 de maio. A


Iguatemi, subordinado ao Comando de embarcação saiu em abril de Camocim
Grupamento de Patrulha Naval do (CE) para realizar atividade de pesca e
Norte, resgatou, a 185 quilômetros da ficou à deriva por quase 20 dias.
cidade de Bragança (PA), a embarca- O Salvamar Norte, sob jurisdição do
ção Salmo XII M, com sete tripulantes, 4 o Distrito Naval, iniciou o processo

RMB2oT/2019 277
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

de buscas empregando, além do


Iguatemi, os Navios-Patrulha
Guarujá e Bocaina. Foram 13
dias de operação, tendo como
área de busca 50 mil milhas
náuticas quadradas, tamanho do
estado do Amapá. 
No esforço para localizar a em-
barcação e os tripulantes, a Força
Aérea Brasileira disponibilizou
uma aeronave P-3 AM Orion,
que reforçou as ações realizadas Militares da Marinha durante primeiro contato com tripulação
no mar, sobrevoando cerca de 33 da embarcação à deriva
horas pela área. As Capitanias dos
Portos do Piauí e do Maranhão,
subordinadas ao 4o DN, e a Agên-
cia da Capitania dos Portos em
Camocim, subordinada ao 3o DN,
também prestaram apoio, fazendo
contato com navegantes e a comu-
nidade marítima da região, a fim de
ampliar a divulgação sobre o desa-
parecimento e alertar a todos para
que pudessem apoiar as buscas. Os
radioamadores também se mobili-
zaram, contribuindo para a procura
e a disseminação de informações. Tripulação resgatada recebe atendimento de
(Fonte: www.marinha.mil.br) médico da Marinha

SENAI/CIMATEC E 2o DN REALIZAM OFICINA


DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA

O Centro Integrado de Manufatura Portos da Bahia, da Base Naval de Aratu,


e Tecnologia, do Serviço Nacional de do Comando do Grupamento de Patrulha
Aprendizagem Industrial (Senai/Cima- Naval do Leste, do Comando da Força
tec) e o 2o Distrito Naval (Salvador-BA) de Minagem e Varredura, do Serviço de
realizaram, entre 7 e 9 de maio último, Sinalização Náutica do Leste e da Estação
a 1a Oficina de Ciência e Tecnologia. A Rádio da Marinha em Salvador.  Foram
iniciativa é fruto de acordo de coopera- abordadas nas apresentações as atividades
ção celebrado entre as partes. e peculiaridades desenvolvidas pela força
Na oportunidade, foram realizadas pa- em Salvador, bem como as possibilidades
lestras por comandantes do Hospital Na- de parcerias e os desafios ora enfrentados.
val de Salvador, do Centro de Intendência Os especialistas do Senai/Cimatec pu-
da Marinha em Salvador, da Capitania dos deram, ainda, percorrer as instalações da

278 RMB2oT/2019
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Base Naval de Aratu e conhecer algumas lados, a fim de contribuirem para as ativida-
das oficinas, e também visitaram os na- des de guerra de minas, no que se refere ao
vios subordinados ao 2o DN. Na ocasião, mapeamento do solo marinho, a vigilância e
a equipe do Senai/Cimatec entendeu as operações de busca e salvamento, bem como
necessidades do Distrito Naval e o quanto aos sistemas de monitoramento costeiro. A
pode vir a contribuir para o cumprimento ideia é aumentar a eficácia da salvaguarda
da missão da Mari- da vida humana no
nha do Brasil, com mar e a prontidão
a formação e quali- dos meios. A parce-
ficação da mão de ria será consolidada
obra existente nas durante a realiza-
organizações mili- ção do 2o Congres-
tares prestadoras de so Internacional de
serviço industrial; Contramedidas de
a modernização Minagem, a ser rea-
e automação dos lizado entre 6 e 7 de
equipamentos dos novembro deste ano
meios subordina- nas dependências do
Militares e representantes do Senai/Cimatec que
dos; e a manutenção participaram da oficina Senai/Cimatec DR
dos instrumentos de Bahia. O congresso
auxílio à navegação, com a utilização da terá como enfoque assuntos afetos a guerra
Base Naval de Aratu pelas indústrias. de minas, novas tecnologias e equipamentos,
Existe a possibilidade de, em conjunto, voltados a entidades da segurança pública e
desenvolverem veículos autônomos subma- institutos de fomento tecnológico.
rinos e embarcações de superfície não tripu- (Fonte: www.marinha.mil.br)

COMISSÃO INTERNA DE CONSERVAÇÃO DE ENERGIA


DA MARINHA SE REÚNE NO ComOpNav
Foi realizada em 15 de março último, perspectivas para os anos de 2019 e 2020
no auditório do Comando de Operações e as tendências de consumo em toda a MB.
Navais (ComOpNav), cidade do Rio de Entre os aspectos positivos levantados,
Janeiro, a reunião da Comissão Interna ressalta-se a economia de cerca de 10 mi-
de Conservação de Energia da Marinha lhões de reais no gasto anual da Força desde
(Cicemar). O evento, que ocorre semes- a implantação do Projeto CON Energia,
tralmente, foi presidido pelo subchefe de realizada em 2017, apesar do  aumento nas
Logística e Plano Diretor do ComOpNav, tarifas de energia elétrica em todo o País nos
presidente da comissão, Contra-Almirante últimos anos. Outro fator importante são os
Sergio Renato Berna Salgueirinho. resultados positivos obtidos em chamadas
Representantes dos Órgãos de Direção públicas de concessionárias de energia,
Setorial da Marinha do Brasil (MB) esti- nas quais os ganhos para a Força totalizam
veram presentes na reunião, na qual foram aproximadamente 14 milhões de reais.
detalhadas as ações implementadas, os A data da reunião marcou também os
projetos concluídos e em andamento, as dois anos do Projeto CON Energia. Ao lon-

RMB2oT/2019 279
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

governamental alemã
Gesellschaft für Interna-
tionale Zusammenarbeit
(GIZ). O documento
teve como propósito
regular a conjugação de
esforços na implemen-
tação de ações de efi-
ciência energética e de
energias renováveis em
unidades da Marinha,
com destaque inicial
Membros da Comissão Interna de Conservação de Energia da Marinha e para a Base Aeronaval
representantes dos Órgãos de Direção Setorial de São Pedro da Aldeia,
onde se pretende insta-
go desse período, a iniciativa ganhou força lar projetos de eficiência energética e de
na concretização dos propósitos de redução uma usina de energia fotovoltaica.
de custos da MB com energia elétrica, O CON Energia ganhou também o
criação de alternativas direcionadas para Prêmio 100 mais influentes da Energia
o aprimoramento e execução de ações que 2018, da revista Full Energy, na catego-
insiram a Força em um ambiente de gestão ria Eficiência Energética. A solenidade
inteligente e contemporânea de energia. homenageou executivos, empresários e
O ano de 2018 foi especial para o personalidades que se destacaram em
Projeto, que deu um importante passo diferentes áreas do setor energético bra-
com a assinatura de um Memorando de sileiro ao longo do ano.
Entendimentos entre a MB e a instituição (Fonte: www.marinha.mil.br)

MB PARTICIPA DE CONFERÊNCIA DE DEFESA


CIBERNÉTICA NA COLÔMBIA
A diretora de Comunicações e universidades e empresas privadas que
Tecnologia da Informação da Mari- desenvolvem atividades afins.
nha, Contra-Almirante (EN) Luciana Do Brasil também participaram auto-
Mascarenhas da Costa Marroni, repre- ridades das outras Forças, como o Major-
sentou a Marinha do Brasil (MB) na 1a -Brigadeiro do Ar Jefson Borges (Força
Conferência de Defesa Cibernética do Aérea Brasileira) e os Generais de Brigada
Hemisfério Ocidental, realizada em 14 Sérgio Luiz Tratz e Alan Denilson Lima
e 15 de maio último em Bogotá, Colôm- Costa, do Exército Brasileiro. Este minis-
bia. O evento contou com a presença de trou palestra com o tema “Comando de
27 países, entre os quais Brasil, Canadá, Defesa Cibernética do Brasil e seu papel
Chile, Estados Unidos da América e na Estratégia Nacional de Defesa”.
México, que foram representados por A Junta Interamericana de Defesa e
suas Forças Armadas, além de insti- sua Fundação, organizadoras do even-
tuições governamentais, acadêmicas, to, entendem que a defesa cibernética

280 RMB2oT/2019
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

é uma prioridade nas


Américas. Por isso,
a conferência teve
como propósito de-
senvolver um con-
senso sobre temas
comuns e debater os
desafios da região
para promover in-
tercâmbios analíti-
cos e técnicos, criar
parcerias estratégicas
multilaterais e bilate-
rais que promovam Autoridade das Forças Armadas representam o Brasil na Colômbia
as melhores práticas
e ter como resultado a troca de infor- defesa cibernética existentes e, assim,
mações. Para isso, foram destacadas melhorar a cooperação entre os países
as realizações no hemisfério, para evi- a curto e longo prazo.
denciar a diversidade de enfoques de (Fonte: www.marinha.mil.br)

MB PARTICIPA DE CONGRESSO INTERNACIONAL


SOBRE ENERGIA SOLAR E RENOVÁVEL
A Marinha do Brasil (MB) parti-
cipou, em 10 e 11 de abril último, do
Intersolar Summit Brasil Nordeste. O
congresso, realizado em Fortaleza (CE),
reuniu especialistas brasileiros e estran-
geiros com foco na geração de energia
solar e renovável.
O evento teve como principais propó-
sitos permitir oportunidades de contatos
de alto nível, expandir o uso de tecno-
logias fotovoltaicas em níveis regional Palestra da MB na Intersolar Summit Brasil Nordeste
e nacional e fortalecer o setor no País,
especialmente no contexto atual, em sobre “Gestão de Eficiência Energética
que um número crescente de projetos na Marinha do Brasil”. Na palestra, fo-
de geração distribuída deve entrar em ram abordadas ações, atividades, metas,
funcionamento. propósitos e diretrizes do Projeto CON
Na oportunidade, a Escola de Apren- Energia, criado pela Cicemar, para alinhar
dizes-Marinheiros do Ceará (Eamce), a MB com soluções de alto nível para a
representando a Comissão Interna de racionalização e a maior eficiência no uso
Conservação de Energia da Marinha de insumos energéticos.
(Cicemar), realizou uma apresentação (Fonte: www.marinha.mil.br)

RMB2oT/2019 281
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

6a SESSÃO DO SUBCOMITÊ DE SISTEMAS E


EQUIPAMENTOS DE NAVIOS DA IMO
Com delegação composta
por representantes da Mari-
nha do Brasil, do Ministério
das Relações Exteriores, da
Petrobras e da Confederação
Nacional dos Trabalhadores
em Transporte Aquaviário e
Aéreo, na Pesca e nos Portos,
o Brasil participou de 4 a 8 de
março último, da 6a Sessão do
Subcomitê de Sistemas e Equi-
pamentos de Navios (SSE) da
Organização Marítima Inter- Delegação do Brasil na 6a Sessão do Subcomitê SSE
nacional (IMO), em Londres.
O Subcomitê trata de questões técnicas Isso inclui equipamentos, aparelhos e ar-
e operacionais associadas a todos os tipos ranjos salva-vidas e sistemas de detecção
de navios, embarcações e unidades móveis e extinção de incêndios.
abrangidas pelos instrumentos da IMO. (Fonte: www.marinha.mil.br)

MARINHA DO BRASIL PARTICIPA DA LAAD

A Marinha do Brasil (MB) parti- do evento, que contou com mais 450
cipou, em abril último, da XII Latin expositores, entre eles a MB, visitados
America Aerospace and Defence por cerca de 37 mil visitantes, além de
(LAAD-2019), a maior feira da Amé- 183 delegações oficiais. Também esti-
rica Latina em Segurança e Defesa, veram presentes à abertura o ministro da
realizada entre os dias 2 e 5 de abril no Defesa, General de Exército Fernando
Riocentro, cidade do Rio de Janeiro. Azevedo e Silva, e o comandante da
A Feira, promovida e organizada pela Marinha, Almirante de Esquadra Il-
empresa Clarion Events, teve o apoio ques Barbosa Junior. Na ocasião, foi
institucional do Ministério da Defesa assinada a declaração da melhor oferta
(MD), das Forças Armadas, do Minis- com o consórcio Águas Azuis para o
tério da Justiça e da estrutura brasileira projeto de obtenção das corvetas classe
de Segurança Pública. Contou, ainda, Tamandaré.
com o apoio da Associação Brasileira Além da exposição de materiais
das Indústrias de Materiais de Defesa militares e de segurança, foi realizado
e Segurança. no Riocentro, no mesmo período, o IX
O Presidente da República em exer- Simpósio Internacional de Logística
cício, General de Exército Hamilton Militar (SILM), com a presença de
Mourão, realizou a abertura oficial representações das Organizações Mi-

282 RMB2oT/2019
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

litares da MB, assim como dos corpos acompanhado de outros almirantes. Eles
docentes e discentes das Escolas de foram recebidos pelo diretor-presidente
Formação, Aperfeiçoamento e de Altos da empresa, Vice-Almirante (RM1) Ney
Estudos Militares da instituição. Zanella dos Santos; pelo Vice-Almirante
Com o apoio institucional ao evento, Antonio Carlos Soares Guerreiro; pelo
o MD pretendeu projetar internacional- Vice-Almirante (EN) Francisco Roberto
mente a imagem do Brasil, em especial Portella Deiana; pelo diretor de Admi-
do Ministério e das Forças Armadas; nistração e Finanças da Amazul, Anto-
ampliar a cultura de logística militar; nio Bernardo Ferreira; e pelo diretor de
Gestão do Conhecimento
e Pessoas da empresa, Luís
Antônio Rodrigues Hecht.
Os diretores da Amazul
também se reuniram com
representantes da empresa
Weg para tratar do desen-
volvimento de motores
de ímãs permanentes, que
poderão equipar tanto o
submarino com propulsão
nuclear como atender às
Presidente em exercício, Hamilton Mourão, durante a abertura da Feira
necessidades da área de
e fomentar a Base Industrial de Defesa transportes, como trens.
(BID). Os temas divulgados na LAAD O estande da Amazul, com maquetes
tiveram enfoque nos projetos estratégicos do submarino de propulsão nuclear e
de Defesa. No caso da Marinha, além dos do reator nuclear, foi elogiado pelos
projetos estratégicos, também foi ampla- visitantes e deu destaque aos projetos
mente difundido o conceito de Amazônia dos quais a empresa participa dentro
Azul, com vistas ao fortalecimento da do Prosub, do Programa Nuclear da
consciência marítima nacional.
A MB esteve presente na
LAAD 2019 com um estande de
aproximadamente 288 metros qua-
drados, no qual apresentou seus
projetos estratégicos, entre eles o
Programa de Desenvolvimento de
Submarinos (Prosub). No local, os
visitantes ainda puderam conferir
as lanchas blindadas da Marinha,
os simuladores de passadiço e de
paraquedas e outros meios navais
e aeronavais.
Outro estande em destaque na
LAAD 2019 foi o da Amazul, visi- Diretor-Geral do Material da Marinha, Almirante de Esquadra
tado pelo comandante da Marinha, Caroli, durante a assinatura de contrato

RMB2oT/2019 283
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

combustível nuclear. A tecnologia


poderá ser empregada para equipar
o submarino com propulsão nuclear
ou para iluminar uma cidade.
Em relação ao Prosub, a Amazul
está comprometida em buscar parce-
rias com empresas para aumentar o
grau de nacionalização dos submari-
nos convencionais e com propulsão
nuclear, contribuindo também para
o fortalecimento da BID. Por meio
Comandante da Marinha visita o estande da Amazul, que
apresentou programas estratégicos de acordos de cooperação técnica,
ajuda a desenvolver tecnologias
como o sistema de gerenciamento
integrado e o sistema de combate
de submarinos.  
A empresa também participa do
PNB. Em parceria com a Comis-
são Nacional de Energia Nuclear
(Cnen), é coexecutora do empreen-
dimento do Reator Multipropósito
Brasileiro, voltado para pesquisas,
testes de materiais e produção de
radioisótopos para aplicação em
diversas áreas, como indústria, agri-
Estande da MB na LAAD cultura, meio ambiente e medicina
nuclear. Mas a principal missão do
Marinha (PNM) e do Programa Nuclear reator é suprir o mercado brasileiro de in-
Brasileiro (PNB). sumos para a produção de radiofármacos
No PNM, a Amazul atua nos projetos destinados ao diagnóstico e tratamento de
para construir, comissionar e operar reator doenças como o câncer.
nuclear de potência, totalmente nacional, (Fontes: www.marinha.mil.br e Bono
e para a produção em escala industrial do no 249, de 28/3/2019)

TRIBUNAL MARÍTIMO REALIZA REUNIÃO SOBRE


ZONA ECONÔMICA EXCLUSIVA

Integrantes do Tribunal Marítimo (TM), na Zona Contígua e Zona Econômica


da Procuradoria Especial da Marinha Exclusiva à luz das Leis no 2.180/54 e no
(PEM) e da Diretoria de Portos e Costas 8.617/93. A reunião aconteceu na sede do
(DPC) realizaram, em 14 de março último, TM, cidade do Rio de Janeiro.
reunião técnico-profissional para tratar do Na ocasião, foram debatidos assun-
assunto “Jurisdição do Tribunal Marítimo tos referentes à jurisdição e compe-

284 RMB2oT/2019
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

tência do TM quanto aos Acidentes e


Fatos da Navegação ocorridos na Zona
Contígua e na Zona Econômica Exclu-
siva, especialmente no tocante aos casos
de arribada. Participaram o diretor da
PEM, Vice-Almirante Sávio; o juiz-
-presidente do TM, Vice-Almirante
Lima Filho; o superintendente de Segu-
rança do Tráfego Aquaviário da DPC,
Contra-Almirante José Luiz; e oficiais
representantes dessas Diretorias, além
Representantes da PEM, do TM e dos juízes e oficiais do TM.
da DPC em reunião (Fonte: www.marinha.mil.br)

DHN PARTICIPA DE REUNIÕES DA OCEATLAN


E DA CHAtSO

A Diretoria de Hidrografia e Navega- gráfico da Universidade de São Paulo;


ção (DHN) participou, em abril último, da Universidade Federal do Rio Grande;
de duas importantes reuniões relativas a do Serviço de Hidrografia Naval da
atividades no Atlântico. Nos dias 23 e 24, Argentina; do Serviço de Oceanografia,
a DHN esteve na 15a Reunião da Aliança Hidrografia e Meteorologia da Armada
Regional para a Oceanografia no Atlântico do Uruguai e da Comissão Nacional
Sudoeste Superior e Tropical (Oceatlan), de Atividades Espaciais da Argentina,
realizada em Buenos Aires, Argentina. A entre outras instituições envolvidas com
aliança representa o esforço de institui- a Oceatlan.
ções da Argentina, do Brasil e do Uruguai A Oceatlan foi criada em 2005, me-
para o planejamento e a implementação diante a assinatura de uma carta de
de um sistema oceano-
gráfico operacional para
monitorar e investigar os
processos oceânicos no
Atlântico Sul e Tropical.
A abertura do even-
to foi realizada pelo
diretor de Hidrografia
e Navegação e atual
presidente da Oceatlan,
Vice-Almirante Anto-
nio Fernando Garcez
Faria. Também parti-
ciparam representantes
do Instituto Oceano- Foto oficial da 15a Reunião da Oceatlan

RMB2oT/2019 285
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

intenções por representantes de


instituições da Argentina, do Brasil
e do Uruguai envolvidas em ativi-
dades relacionadas à oceanografia
operacional. A próxima reunião
está prevista para março de 2020,
nas dependências da DHN.
Nos dias 25 e 26, a participa-
ção foi na 13a Reunião da Co-
missão Hidrográfica do Atlântico
Sudoeste (CHAtSO), também em
Buenos Aires. A comissão tem Foto Oficial da 13a Reunião da CHAtSO
como propósito coordenar as
atividades hidrográficas e de produção Estiveram presentes, ainda, represen-
cartográfica, bem como promover coope- tantes do Secretariado da Organização
ração técnica, capacitação e treinamento Hidrográfica Internacional e das empresas
nas atividades relacionadas à hidrografia, Teledyne CARIS, Kongsberg e IIC Tech-
cartografia náutica e informações de se- nologies. A próxima reunião da comissão
gurança marítima, além de desenvolver também está prevista para março de 2020,
produtos e serviços associados ao novo nas dependências da DHN.
conceito de auxílio à navegação eletrô- A CHAtSO foi estabelecida em 2006
nico e-navigation. e é uma das 16 comissões hidrográficas
Também participaram do evento os regionais existentes. É formada pelos
chefes do Serviço de Hidrografia Naval serviços hidrográficos da Argentina, Bra-
da Argentina; do Serviço de Oceanografia, sil e Uruguai na qualidade de membros
Hidrografia e Meteorologia da Armada plenos. Além disso, o Paraguai participa
do Uruguai; da Direção de Hidrografia como membro associado e a Bolívia,
e Navegação do Paraguai e do Serviço como observador.
Nacional de Hidrografia Naval da Bolívia. (Fonte: www.marinha.mil.br)

MARINHA MARCA PRESENÇA NO RIO BOAT SHOW 2019

Entre os dias 27 de abril e 5 de maio,


a Marinha do Brasil (MB) participou
de mais uma edição da maior feira de
embarcações de esporte e recreio do Rio
de Janeiro (RJ), a Rio Boat Show 2019,
realizada na Marina da Glória.
Em sua inauguração, o evento contou
com a presença do comandante do 1o
Distrito Naval, Vice-Almirante Flávio
Augusto Viana Rocha, e do capitão dos
Portos do Rio de Janeiro, Capitão de Mar MB na inauguração do Rio Boat Show 2019

286 RMB2oT/2019
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

e Guerra André Luiz de Andrade Felix,


acompanhados do diretor do evento,
Ernani Paciornik.
Em seu estande, a MB montou uma
estação de atendimento ao visitante, com
militares dos setores de Inspeção Naval,
Habilitação de Amadores e Ensino Profis-
sional Marítimo, que atenderam a todos
os interessados, orientando-os quanto à
segurança da navegação, à salvaguarda
da vida humana no mar e a prevenção da
Simulador de Navegação, uma das novidades do
poluição hídrica. estande da CPRJ, foi um dos atrativos
Neste ano, a novidade do estande naval
foi a “Capitania Itinerante”, instalada no Navegação e um Simulador de Para-
local, que prestou serviços pelo Grupo de quedas, cedido pelo Centro de Análise e
Atendimento ao Público da Capitania dos Sistemas Navais (Casnav), para utilização
Portos do Rio de Janeiro (CPRJ), assim do público, e que atraiu crianças e adultos.
como a instalação de um Simulador de (Fonte: www.marinha.mil.br)

SEMINÁRIO GEOPOLÍTICA DO PETRÓLEO

Foi realizado em 25 de março último, O seminário contou com a participa-


na Escola de Guerra Naval (EGN), Rio de ção do engenheiro Elie Abadie, da Uni-
Janeiro (RJ), o seminário “Geopolítica do versidade da Petrobras, e da professora
Petróleo”. O evento reuniu profissionais doutora Fernanda Delgado, coordena-
para tratar sobre a conjuntura, os desafios dora de Pesquisa da Fundação Getúlio
atuais e as perspectivas para a indústria do Vargas Energia e colaboradora do Cen-
petróleo no Brasil e no mundo.  tro de Estudos Político-Estratégicos da
Marinha (Cepe-MB). 
Elie Abadie, ao abordar a situ-
ação e a tendência internacional
do refino do produto e os princi-
pais fluxos mundiais do petróleo,
ressaltou a importância dos oce-
anos, uma vez que a maior parte
da comercialização do produto
depende do transporte marítimo.
A professora Fernanda Delgado,
por sua vez, destacou que o pe-
tróleo e o gás ainda são as mais
importantes fontes de energia,
a despeito do crescimento de
A professora Fernanda Delgado e o engenheiro Elie Abadie fontes alternativas, constituindo
participaram dos debates um fator de cobiça e, portanto,

RMB2oT/2019 287
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

de possíveis crises e conflitos geopolíti- Estado-Maior para Oficiais Superiores


cos. As apresentações foram seguidas de (C-EMOS) e os instrutores, professores
sessões de debates.  e alunos dos cursos de mestrado e douto-
O público-alvo do evento foram os rado do Programa de Pós-Graduação em
oficiais-alunos dos Cursos de Política Estudos Marítimos da EGN.
e Estratégia Marítimas (C-PEM) e de (Fonte: www.marinha.mil.br)

MB PARTICIPA DO IX SEMINÁRIO DE BOAS PRÁTICAS


DE GESTÃO E DO LANÇAMENTO DO CICLO 2019

O Núcleo de Qualidade e Excelência


em Gestão no Rio de Janeiro (antigo
PQRio) realizou, em 25 de abril último,
no auditório da Caixa Econômica Federal
no Rio de Janeiro, o IX Seminário de Boas
Práticas de Gestão Pública e o lançamento
do Ciclo 2019 da autoavaliação da gestão.
A Marinha do Brasil (MB) foi represen-
tada pela Diretoria de Administração da
Marinha, responsável por manter o con-
tato com as instituições externas no que Entrega do certificado de palestrante ao
se refere ao Programa Netuno. diretor da Papem, pelo vice-diretor de
Administração da Marinha
O evento visou promover o contínuo
processo de melhoria da gestão no setor (IM) Alexandre de Mello Braga, repre-
público do Rio de Janeiro, de modo a criar sentando a MB, apresentou as atividades
oportunidades de benchmarking e de ma- consideradas como boas práticas desen-
terialização do reconhecimento das boas volvidas pela organização, como o mape-
práticas de gestão das organizações. Para amento de processos, o portal BP Online,
tanto, foram realizadas apresentações por a página do Programa Netuno da Papem e
algumas instituições que se destacaram o vídeo produzido com o intuito de prestar
por suas boas práticas de gestão. orientações sobre educação financeira aos
O diretor da Pagadoria de Pessoal da militares e servidores civis da Marinha.
Marinha (Papem), Capitão de Mar Guerra (Fonte: www.marinha.mil.br)

SEMINÁRIO “21 ANOS DA DIVISÃO DE CARTOGRAFIA


DA BIBLIOTECA NACIONAL”

Foi realizado em 21 de maio último, Documentação da Marinha (DPHDM)


na Biblioteca Nacional, cidade do Rio participou do evento, apresentando as
de Janeiro, o seminário “21 anos da obras mais relevantes do acervo carto-
Divisão de Cartografia da Biblioteca gráfico da Marinha do Brasil (MB) sob
Nacional: comemorando entre amigos”. tutela da Biblioteca da Marinha (BM) e
A Diretoria do Patrimônio Histórico e os projetos da Força nesta área.

288 RMB2oT/2019
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Na ocasião, a Capitão
de Fragata (T) Leniza de
Faria Lima Glad, che-
fe do Departamento de
Biblioteca da Marinha,
discorreu sobre a histó-
ria da BM, cujas origens
remontam à Biblioteca
da Academia Real dos
Guardas-Marinha, criada
há mais de dois séculos.
Falou também sobre a
formação do acervo car-
tográfico da MB e os
trabalhos desenvolvidos
pela Divisão de Cartogra- O Theatrum Orbis Terrarum, uma das obras raras da
BM apresentadas durante o seminário
fia da BM.
Além disso, foram apresentadas pe- Realizado pelo Plano Nacional de Obras
ças icônicas do acervo, como um dos Raras, o seminário da Biblioteca Nacional
cinco únicos exemplares existentes no reuniu instituições parceiras desta instituição
mundo do Theatrum Orbis Terrarum, (entre as quais a DPHDM) para traçar um
o primeiro atlas moderno, impresso panorama da cartografia no Brasil, permi-
em 20 de maio de 1570, feito pelo tindo ao público (profissionais e estudantes
cartógrafo Abraham Ortelius. Entre das áreas de arquivologia, biblioteconomia,
os principais projetos da DPHDM na documentação, cartografia, geografia,
área, mereceram destaque a digitali- museologia, e belas artes, pesquisadores e
zação e a disponibilização de mapas interessados pelo tema) conhecer práticas e
raros de 1700 até 1822 e a realização experiências na gestão deste tipo de acervo,
do primeiro “Seminário de Cartografia bem como algumas das mais renomadas
Histórica”, previsto para o segundo coleções do País.
semestre de 2020. (Fonte: www.marinha.mil.br)

SIMPÓSIO “REFLEXÕES SOBRE AS POLÍTICAS


NACIONAIS RELACIONADAS AO MAR”

O Centro de Estudos Político-Estraté- elaborado pela Fundação do Estudo do


gicos da Marinha (Cepe-MB), em parceria Mar (Femar), encomendado pela Escola.
com a Escola de Guerra Naval (EGN), Na abertura do simpósio, o Contra-
promoveu, em 29 de março último, o -Almirante (RM1) Marcos Lourenço de
simpósio “Reflexões sobre as Políticas Almeida, coordenador da pesquisa, mi-
Nacionais Relacionadas ao Mar”. O nistrou a palestra “O Brasil e a Economia
evento, realizado na EGN, cidade do Azul”, destacando a importância de identi-
Rio de Janeiro, teve como base o estudo ficar as deficiências nas políticas em vigor

RMB2oT/2019 289
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

e também a necessidade de discutir com Programa de Pós-Graduação em Políticas


a sociedade essas questões, de modo a Públicas, Estratégias e Desenvolvimento
ampliar a consciência marítima em vários do Instituto de Economia da Universidade
aspectos, entre eles o socioeconômico. Federal do Rio de Janeiro), que abordaram
O evento contou com a participação o tema “Uma Política Pública do Brasil
do Professor Doutor Luiz Carlos Thadeu para o Mar”, apresentando sugestões so-
Delorme Prado e da Professora Doutora bre como formular uma “política pública
Maria Teresa Leopardi Mello (ambos do consistente”. Na sequência, o Professor
Doutor João Felipe Rammelt Sauerbronn,
da Universidade do Grande Rio, e a
Professora Flavia Cupolillo Yamagata,
das  Faculdades Integradas Hélio Alonso,
discorreram sobre o emprego da Comu-
nicação Social como ferramenta para
ampliar a “conscientização da sociedade
em relação ao papel do mar no desenvol-
vimento sustentável”.
Estiveram presentes também alunos
de graduação e pós-graduação das áreas
de Defesa e Relações Internacionais de
universidades do Rio de Janeiro, represen-
tantes da comunidade marítima e alunos
Contra-Almirante Marcos Lourenço de Almeida dos cursos de Altos Estudos Militares.
na abertura do simpósio (Fonte: www.marinha.mil.br)

CURSO DE APERFEIÇOAMENTO DE GUERRA


ANFÍBIA E EXPEDICIONÁRIA

Teve início, em 11 de fevereiro


último, o Curso de Aperfeiçoamento
de Guerra Anfíbia e Expedicioná-
ria (C-Ap-GAnfE), no Centro de
Instrução Almirante Sylvio de Ca-
margo (Ciasc), Rio de Janeiro (RJ).
O efetivo de militares participantes
foi de 66 oficiais, entre os quais 32
segundos-tenentes FN, sete segun-
dos-tenentes QC-FN e 27 segundos-
-tenentes AFN. Este turno contou com Alunos do curso passam pela pista de obstáculos
uma militar do sexo feminino.
O C-Ap-GAnfE tem como propósito de caráter operativo até o nível de subu-
atualizar e ampliar os conhecimentos nidade. Durante 15 semanas, recebem
dos oficiais para o exercício das funções instruções práticas de Operações Anfí-

290 RMB2oT/2019
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

bias, Operações Ofensivas e Defensivas, da Lei e da Ordem. Essa iniciativa


Operações Ribeirinhas e Instrução Básica propiciou também o estreitamento de
de Combate nos mais variados ambientes laços entre as instituições envolvidas,
operacionais, como Ladário (MS), Itaóca facilitando a execução de operações
(ES) e Resende (RJ). interagências.
Em 26 e 27 de fevereiro, 59 alunos Para oficiais FN e QC-FN, o C-Ap-
do Curso realizaram instrução no Bata- -GAnfE será requisito para o Curso de
lhão de Operações Policiais Especiais Aperfeiçoamento Avançado para oficiais
(Bope) da Polícia Militar do Estado do do Corpo de Fuzileiros Navais (C-ApA-C-
Rio de Janeiro. As atividades condu- FN), que, por sua vez, será requisito para a
zidas pelos militares do Bope visaram realização do Curso de Estado-Maior para
preparar os alunos do curso para a Oficiais Intermediários (C-Emoi).
conduta de patrulha em área urbana, que (Fontes: www.marinha.mil.br e www.
são comuns nas operações de Garantia ciasc.mb)

CPSE PARTICIPA DE CURSO DE OPERADORES


EM AERONAVES REMOTAS

Militares da Capitania dos Portos de


Sergipe (CPSE) participaram, de 11 a 16
de fevereiro último, do Curso de Opera-
dores em Aeronaves Remotas e Operações
Complexas. O curso foi realizado pela
Associação Brasileira de Multimotores
(ABM), pelo grupo Sergipe Drones e
pelo Grupamento Tático Aéreo (GTA) da
Polícia Militar de Sergipe.
O propósito foi formar operadores de
aeronaves remotamente pilotadas, conhe-
Militares da CPSE operam as aeronaves
cidas como drones, proporcionando maior
integração entre as forças de segurança de
Sergipe que usam ou que estão avaliando
a utilização deste equipamento em apoio
às suas atribuições específicas. Além da
CPSE, participaram diversas instituições
e agências de segurança pública do estado.
A parte prática do curso foi realizada
na Vila Naval de Barra dos Coqueiros,
onde os participantes colocaram em prá-
tica o conhecimento adquirido ao longo
da semana, operando as Remotely Piloted
Militares participam do Curso de Operadores em Aircraft (RPA – sigla que denomina as ae-
Aeronaves Remotas e Operações Complexas ronaves remotamente pilotadas, de acordo

RMB2oT/2019 291
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

com a legislação em vigor). A CPSE trimestre deste ano, seguindo as normas


espera iniciar a operação da sua RPA, já existentes na Marinha do Brasil para a
em apoio às inspeções navais no litoral operação com este tipo de equipamento.
e nos rios sergipanos, ainda no primeiro (Fonte: www.marinha.mil.br)

BtlEngFuzNav MINISTRA INSTRUÇÃO PARA O CURSO DE


GUERRA ANFÍBIA E EXPEDICIONÁRIA

O Batalhão de Engenharia de Fuzilei- Expedicionária, no Centro de Instrução


ros Navais (BtlEngFuzNav) ministrou, em Almirante Sylvio de Camargo.
7 de março último, instrução de Defesa Foram realizados adestramentos sobre
Nuclear, Biológica, Química e Radioló- o histórico da atividade NBQR na Mari-
gica (NBQR) para alunos do Curso de nha do Brasil, as capacidades do Corpo
Aperfeiçoamento de Guerra Anfíbia e de Fuzileiros Navais e os procedimentos
para atuação em ambiente NBQR.
Foi montado mostruário de equipa-
mentos no estado da arte de detecção,
proteção e descontaminação.
A instrução ministrada pelo
BtlEngFuzNav contribuiu para a
formação e preparo dos futuros
comandantes de pelotão do Corpo
de Fuzileiros Navais, tornando-os
aptos a liderarem suas frações em
condições de ameaça NBQR.
Instrução de detectores NBQR (Fonte: www.marinha.mil.br)

RESULTADOS ESPORTIVOS

COMPETIÇÕES ESPORTIVAS do Centro de Instrução Almirante Sylvio


REGIONAIS ENTRE AS FORÇAS de Camargo (Ciasc).
ARMADAS – TIRO E VOLEIBOL
CAMPEONATO PANAMERICANO
A 1a Edição das Competições na área SENIOR DE JUDÔ
do 1o Distrito Naval foi realizada em 15
e 16 abril, em Deodoro, cidade do Rio Realizado de 25 a 28 de abril, em Lima,
de Janeiro. A Marinha do Brasil (MB), Peru. A competição foi válida para o ran-
representada exclusivamente por militares queamento dos Jogos Olímpicos Tóquio
de carreira, conquistou o campeonato na 2020 e dos Jogos Pan-Americanos 2019.
modalidade voleibol. No torneio de tiro, A Marinha do Brasil foi representada por
sagrou-se vice-campeã, com destaque atletas do Prolim, que conquistaram os
para a 3oSG Aline Nascimento da Silva, seguintes resultados:

292 RMB2oT/2019
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

– 3oSG Larissa Cincinato Pimenta, 1o PANAMERICAN OPEN DE


lugar na categoria 52 kg; SANTIAGO DE JUDÔ
– 3 o SG Lincoln Keiiti Kanemoto
das Neves, 1 o lugar na disputa por Realizado em 23 e 24 de março, em
equipes; Santiago, Chile. A competição foi válida
– 3oSG Maria Suelen Altheman, 2o para o ranqueamento dos Jogos Olímpicos
lugar na categoria +78 kg e 1o lugar na Tóquio 2020. A Marinha do Brasil foi
disputa por equipes; representada por atletas do Prolim, que
– 3oSG Nathalia Castelan Brigida, 2o conquistaram os seguintes resultados:
lugar na categoria 48 kg; e – 3oSG Larissa Cincinato Pimenta, 1o
– 3oSG Rafaela Lopes Silva, 2o lugar lugar na categoria 52 kg; e
na categoria 57 kg e 1o lugar na disputa – 3oSG Lincoln Keiiti Kanemoto das
por equipes. Neves, 1o lugar na categoria 73 kg.

MB REALIZA ADESTRAMENTO COM BLINDADOS

O Batalhão de Blindados de Fuzileiros


Navais realizou, de 11 a 18 de abril últi-
mo, na região de Valença (RJ), exercício
com o emprego de mais de 150 militares
e um total de 12 viaturas blindadas, entre
carros de combate e viaturas blindadas
de transporte de pessoal (sobre rodas e
sobre lagartas). O propósito foi adestrar
as guarnições das viaturas blindadas do
Batalhão em atividades terrestres, de
conduta em terreno acidentado, e anfíbia
e de transposição de cursos d’água, a fim Pista de Maneabilidade com blindada
de elevar o grau de preparo da unidade.
O exercício contou também com a pre- contato direto com atividades operativas
sença de 11 aspirantes da Escola Naval, do da Força de Fuzileiros da Esquadra.
Corpo de Fuzileiros Navais, que tiveram (Fonte: www.marinha.mil.br)

GptFNB PROMOVE COMPETIÇÕES NAVAL DE FERRO E


COMPANHIA DE AÇO

O Grupamento de Fuzileiros Navais modalidades de obstáculos, entre elas:


de Brasília (GptFNB) promoveu, em 3 zig zag, rastejo, túnel, transposição de
de abril último, as competições Naval muro, subida no cabo vertical, salto
de Ferro e Companhia de Aço, com por cima de traves, flexões na barra,
disputa nas categorias individual e du- abdominais, flexões de braço no solo,
pla. Os militares realizaram percurso corrida, natação no lago, corrida com
de cinco quilômetros, superando 18 fuzil FAL 7,62 mm e mochila de 15 qui-

RMB2oT/2019 293
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

los, além da montagem e desmontagem


de armamentos.
O militar campeão da Naval de Ferro
foi o Soldado (FN) Joel, da Companhia
de Polícia (CiaPol) do GptFNB. A CiaPol
também sagrou-se a “Companhia de Aço”,
com a dupla composta pelos soldados
(FN) Zago e Brian. A classificação foi
calculada computando o menor tempo de
realização do percurso, abatidas eventuais Militar acompanha desempenho de participantes
penalidades decorrentes de imperfeições
na superação do obstáculo. dos valores essenciais destacado para 2019
O evento foi destinado aos militares do no âmbito do Corpo de Fuzileiros Navais.
GptFNB e inspirado na determinação, um (Fonte: www.marinha.mil.br)

ALUNOS DO C-ESP-DNBQR REALIZAM EXERCÍCIO


NO PHM ATLÂNTICO

Alunos da Turma 01-2019 do Curso aplicar os conhecimentos adquiridos


Especial de Defesa Nuclear, Biológi- durante o curso nos compartimentos
ca, Química e Radiológica (C-ESP- destinados à defesa NBQR do navio.
-DNBQR) do Centro de Adestramento O exercício simulou o recebimento
Almirante Marques de Leão realizaram, de um tripulante de um navio mer-
em 28 de março último, exercício de cante com suspeita de contaminação
descontaminação técnica a bordo do por agentes NBQR, sendo necessário
Porta-Helicópteros Multipropósito adotar o mais elevado nível de proteção
(PHM) Atlântico. O propósito foi individual do navio e, posteriormente, a
realização da descontaminação
dos militares envolvidos na ação.
O treinamento contribuiu para a
capacitação dos especialistas em
Defesa NBQR atinente ao 1o Ní-
vel do Sistema de Defesa NBQR
da Marinha do Brasil.
A Turma 01-2019 do C-ESP-
-DNBQR contou também com a
participação de militares do Exér-
cito Brasileiro e da Força Aérea
Brasileira. Por ocasião do exercí-
cio, os militares tiveram contato
com a “gente de bordo” e com as
peculiaridades das atividades de
defesa NBQR em navios.
Militares realizam a identificação da natureza de contaminação (Fonte: www.marinha.mil.br)

294 RMB2oT/2019
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

MB ENTREGA LIVROS À BIBLIOTECA NACIONAL


DE SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE

A Marinha do Brasil (MB), por meio


do Navio-Patrulha Oceânico Araguari,
entregou, em 5 de março último, 116
livros de autores brasileiros doados pela
Academia Brasileira de Letras (ABL)
à Biblioteca Nacional de São Tomé e
Príncipe. A iniciativa é resultado de par-
ceria firmada entre as duas instituições
brasileiras, por meio do Comando-Geral
do Corpo de Fuzileiros Navais. Durante
a entrega das obras literárias, o Araguari
Assinatura do termo de doação
estava cumprindo a Operação Obangame
Express 2019.
A cerimônia de entrega foi presidida
pelo embaixador do Brasil em São Tomé
e Príncipe, Vilmar Rogeiro Coutinho
Junior. O evento contou também com a
presença do diretor da Biblioteca Nacional
de São Tomé e Príncipe, Alcindo Sousa;
do encarregado do Núcleo da Missão
Naval, Capitão de Fragata Francisco Leo-
nardo Maciel Machado; e do encarregado
do Grupo de Assessoramento Técnico de Entrega dos livros à Biblioteca Nacional
Fuzileiros Navais (GAT-FN), Capitão- de São Tomé e Príncipe
-Tenente (FN) Marcos Paulo de Oliveira
Vasconcelos. (Fonte: www.marinha.mil.br)

OPERAÇÃO JOANA D’ARC: MARINHAS DO BRASIL E DA


FRANÇA REALIZAM EXERCÍCIOS COMBINADOS

A Marinha do Brasil e a Marinha a participação dos navios da Esquadra


Nacional Francesa realizaram, no início brasileira, todos na área marítima entre
de maio último, a Operação Joana D’arc, a cidade do Rio de Janeiro e a Ilha da
que consistiu em exercícios combinados Marambaia (RJ).
de desembarque para cerca de 250 mili- A operação faz parte de uma conduta de
tares brasileiros e franceses, por meio de exercícios navais entre as duas Marinhas
Carros Lagarta Anfíbios (CLAnf) e de e envolve diferentes meios, entre eles, os
Embarcações de Desembarque de Carga navios franceses BPC Tonnere, BSAH
Geral. Foram feitos também adestra- Seine e Fragata La Fayette; os navios bra-
mentos no mar, durante a Passex, com sileiros Navio de Desembarque de Carros

RMB2oT/2019 295
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Independência, Navio de Patrulha


Oceânico Apa e Embarcação de
Desembarque de Carga Geral
Marambaia, além das aeronaves
UH-12, UH-15 e SH-16.
Os exercícios também foram
uma oportunidade de trocar
conhecimento e aperfeiçoar e
colocar em prática as doutrinas
militares preestabelecidas para
Militares da MB e da Marinha da França chegam à Ilha da os treinamentos propostos,
Marambaia por meio da Embarcação de Desembarque
e de um catamarã francês assim como de promover o
intercâmbio cultural entre os
de Combate Almirante Saboia, Porta-He- militares das duas nações.
licóptero Multipropósito Atlântico, Fragata (Fonte: www.marinha.mil.br)

ESQUADRÕES VF-1 E HU-2 REALIZAM EXERCÍCIO DE


ESCOLTA DE HELICÓPTERO

As aeronaves AF-1 (do 1 o Es-


quadrão de Aviões de Interceptação
e Ataque – VF-1) e UH-15 (2o Es-
quadrão de Emprego Geral – HU-2)
iniciaram, no final de abril último, os
voos para a implementação de uma
nova funcionalidade de uso conjugado
dos meios aeronavais. Usando como
área de operações o estande de tiro de
Maxaranguape (RN), o helicóptero
UH-15 realizou voos de infiltração e
ataque com escolta de aeronaves de
AF-1 modernizadas.
UH-15 em voo de infiltração e ataque com escolta de
As capacidades de ataque a alvos aeronaves de AF-1
de superfície, em terra e no mar,
dos novos helicópteros da Marinha emprego, poderá lançar mão dos proce-
(AH-11B, SH-16 e UH-15A), são uma dimentos para ações no mar e em terra
realidade. Esses meios, embora versá- e para operações anfíbias.
teis e com grande poder de fogo, são O feito está dentro do contexto de apri-
vulneráveis aos vetores de defesa aérea moramento doutrinário e integração dos
e aos implementos de defesa antiaérea meios da Força Aeronaval, sempre com
inimigos, necessitando o uso de aero- o foco de apoiar a Esquadra e o Corpo de
naves de caça para sua proteção. Uma Fuzileiros Navais.
vez solidificado esse novo conceito de (Fonte: www.marinha.mil.br)

296 RMB2oT/2019
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

FRAGATA UNIÃO PARTICIPA DE EXERCÍCIOS


MULTINACIONAIS NO LÍBANO

Exercício de light line ocorre simultaneamente com três navios

Como parte das ações voltadas à par- de contribuir para o adestramento dos
ticipação da Marinha do Brasil na Força- operadores e a verificação dos equipa-
-Tarefa Marítima (FTM) da Força Interina mentos de guerra eletrônica; e exercícios
das Nações Unidas no Líbano (Unifil), a de manobras táticas e light line, de forma
Fragata União participou, em 2 e 3 de maio a aprimorar a qualificação dos oficiais de
último, de exercícios operativos na Área quarto e das equipes de bordo nas mano-
Marítima de Operações, no Líbano, com bras dos navios, bem como nas fainas de
navios de outras Marinhas componentes transferência no mar.
da FTM. Além da Fragata União, capitânia Os exercícios contribuíram para a
da Força-Tarefa, participaram do evento elevação do nível de adestramento dos
a Corveta Oldenburg, da Marinha alemã; navios participantes, além do incremento
a Corveta Psara, da Marinha grega; e a da interoperabilidade e dos laços de ami-
Corveta Bozcaada, da Marinha turca. zade entre a Marinha do Brasil e as demais
Foram realizados ao longo do período Marinhas participantes do evento.
exercícios de confronto de forças, a fim (Fonte: www.marinha.mil.br)

FRAGATA UNIÃO É O NOVO CAPITÂNIA DA FTM-UNIFIL

A Fragata União tornou-se pela quinta A cerimônia foi presidida pelo coman-
vez o navio capitânia da Força-Tarefa dante da FTM-Unifil, Contra-Almirante
Marítima da Força Interina das Nações Eduardo Augusto Wieland, e contou com
Unidas no Líbano (FTM-Unifil). Em a presença do embaixador do Brasil no
15 de março, durante a cerimônia de Líbano, Paulo Cordeiro de Andrade Pinto;
Handover of Flag Ship, a União substituiu do subchefe de Inteligência Operacio-
a Fragata Liberal, que concluiu com êxito nal do Comando de Operações Navais,
sua missão, perfazendo 22 patrulhas em Contra-Almirante (FN) Ricardo Henrique
89 dias na Área Marítima de Operações Santos do Pilar; do comandante em chefe
(AMO) sob a responsabilidade da Força da Lebanese Armed Forces Navy (LAF-
Naval Multinacional.  -Navy), Contra-Almirante Hosni Daher;

RMB2oT/2019 297
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

e do comandante do 1o Esquadrão de executando as tarefas de Operações de


Escolta, Capitão de Mar e Guerra José Interdição Marítima e de treinamento da
Carlos Cavalcanti Sales, além de diversas Marinha libanesa. 
personalidades civis A FTM-Unifil
e militares locais e possui um Estado-
de países integrantes -Maior multinacio-
da missão. nal e seis navios de
A FTM-Unifil diferentes naciona-
foi criada em 15 de lidades: Alemanha,
outubro de 2006, Bangladesh, Brasil,
em atendimento à Grécia, Indonésia
Resolução 1701 do e Turquia, além de
Conselho de Segu- dois helicópteros
rança das Nações orgânicos, um Su-
Unidas, por solici- per Lynx AH-11A,
tação do governo Transferência do Pavilhão da ONU da Fragata a bordo da Fragata
libanês, tendo a pe- Liberal para a Fragata União União, e um Dau-
culiaridade de ser a phin AS 365, a bor-
única Força Naval componente de missão do da Corveta KRI Sultan Hasanuddin, da
de paz da Organização das Nações Uni- Marinha da Indonésia. 
das (ONU). Desde então, a Força vem (Fonte: www.marinha.mil.br)

MB APOIA O PRIMEIRO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO


DE MANOBRAS E REPAROS DA MARINHA DA NAMÍBIA

Foi aberto em 10 de maio último, nas


instalações da Technical School (Walvis
Bay, Namíbia), o primeiro Curso de Es-
pecialização de Manobras e Reparos da
Marinha da Namíbia (MN). A Missão de
Assessoria Naval na Namíbia, da Marinha
do Brasil (MB), participou no planejamen-
to e estruturação do curso. 
A abertura contou com a presença do
chefe da 5a Missão de Assessoria Naval na
Namíbia, Capitão de Fragata Leonardo Pi- Instrutores e alunos do curso
res Black Pereira, do encarregado do curso
e de integrantes das Marinhas brasileira e A fim de contribuir com a formação
namibiana. A turma, que é composta por dos militares e incrementar os recursos
14 militares, sendo 12 do sexo feminino, instrucionais usados durante o curso, foi
será a primeira turma de mulheres a con- realizada a entrega de material (computa-
cluir um curso ministrado por uma escola dor, projetor e quadros) para a Technical
de formação da MN, o que deverá ocorrer School, doado pela MB. 
até o final de novembro de 2019.  (Fonte: www.marinha.mil.br)

298 RMB2oT/2019
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

GptFNB COMEMORA O DIA INTERNACIONAL


DOS PEACEKEEPERS

Foi realizada em 27 de maio último, Para a Capitão-Tenente Maria Al-


no Grupamento de Fuzileiros Navais de meida, que participou da missão de paz
Brasília (GptFNB), Distrito Federal, ceri- na África, ser mulher em uma operação
mônia comemorativa ao Dia Internacional dessa magnitude é motivo de muita satis-
dos Peacekeepers das Nações Unidas. fação pessoal e profissional. “Representar
Este ano, a Marinha do Brasil (MB) foi a o Brasil, especificamente a Marinha, foi
responsável pela coordenação do evento motivo de muito orgulho. No aspecto
na capital federal. humanitário, foi tudo muito comovente.
Ver as crianças, e ter aquele contato
direto com a população são imagens
que vem à minha cabeça e me emo-
cionam até hoje”, relata.
O propósito da comemoração do
Dia Internacional dos Peacekeepers
é homenagear homens e mulheres
que serviram e continuam servindo
em Operações de Manutenção de
Paz da Organização das Nações
Unidas (ONU) com profissionalis-
mo, dedicação e coragem, além de
Militares que já atuaram em missões de paz desfilaram
honrar aqueles que perderam suas vi-
para marcar a data
das em prol do cumprimento dessas
O comandante da Marinha, Almirante de missões. A data foi instituída pela ONU
Esquadra Ilques Barbosa Junior, destacou a e marca o início da primeira Operação de
importância da participação da Marinha em Manutenção de Paz das Nações Unidas
missões de paz. “Há vários aspectos impor- autorizada pelo Conselho de Segurança
tantes: primeiro para o fortalecimento da em 1948, por meio da Resolução no 50.
nossa capacidade de combate devido a pas- (Fonte: www.marinha.mil.br)
sarmos a atuar em missões muito
próximas da realidade de emprego
das Forças Armadas; outro ponto
importante é a articulação entre as
Forças, a interoperabilidade. Nes-
sas operações, fica muito evidente
a importância de termos requisitos
operacionais próximos ou muito
próximos daquilo que será em-
pregado em situações reais. Isso
aproxima as Forças, fortalece a
camaradagem e dá outra dimen-
são para o emprego em termos A MB coordenou
conjuntos”, explicou.  o evento na capital federal

RMB2oT/2019 299
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

NVe CISNE BRANCO PARTICIPA DA


COMISSÃO EUROPA 2019

O Navio Veleiro Cisne Branco desatra- nalismo da Marinha do Brasil em eventos


cou, em 24 de março último, da Base Naval náuticos, com a presença de veleiros de
do Rio de Janeiro (BNRJ), com destino diversas Marinhas e de comunidades de
ao Velho Continente, para participar da vários países. Integram a programação a
Comissão Europa 2019. No Cais Sul da participação no evento L’armada 2019 de
BNRJ, familiares e amigos despediram-se Rouen, de 6 a 16 de junho, comemorando
os 30 anos do festival náutico, e em
regatas, como as componentes da
Tall Ship Race, realizada entre portos
da Dinamarca e da Noruega, e da
Liberty Tall Ship Race, entre portos
da França e da Holanda.
O roteiro da viagem cumprirá cerca
de 17.500 milhas náuticas (aproxima-
damente 32.400 quilômetros), a serem
navegadas em mais de 135 dias de mar,
após atracação em Fortaleza, Ceará,
com visitas a várias cidades: Bridgeto-
wn (Barbados); Jacksonville (Estados
Unidos da América); Ponta Delgado
Desatracação do Cisne Branco do Cais Sul (Açores); Brest e Rouen (França);
Haia (Holanda); Gotemburgo (Suécia);
dos tripulantes do navio, que, no ato da Aalborg e Aarhus (Dinamarca); Fredrikstad
desatracação, bradaram o lema “Cisne e Bergen (Noruega); Rostock (Alemanha);
Branco! A todo pano! Iça! Caça!”. Gdansk (Polônia); La Coruña (Espanha);
Durante seis meses, o Cisne Branco Lisboa (Portugal); Mindelo (Cabo Verde)
levará a mensagem de amizade e de boa e Maceió (Brasil).
vontade do povo brasileiro e de profissio- (Fonte: www.marinha.mil.br)

MB REALIZA OPERAÇÃO CELEIRO IV EM MATO GROSSO


A Marinha do Brasil, por meio do 6o Hidrográfico, além de visitação pública
Distrito Naval (Ladário-MS), realizou às embarcações.
entre os dias 11 e 29 de março último, A operação contou com a participação
no Estado de Mato Grosso, a Operação de navios do Comando da Flotilha de
Celeiro IV. No período, foram executa- Mato Grosso, um helicóptero Esquilo e
das atividades inerentes às tarefas do 6o um Grupamento Operativo de Fuzileiros
DN, como adestramentos de Operações Navais. Contribuindo para incremento da
Ribeirinhas, Operações de Patrulha sinergia entre os meios navais, de fuzi-
Naval e Manutenção de Balizamento leiros navais e aeronavais em exercícios

300 RMB2oT/2019
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

dessa natureza, o 1o Esquadrão de Aviões da Força Aérea Brasileira. A operação


de Interceptação e Ataque (VF-1) e o 2o Es- contou com mais de 400 militares.
quadrão de Helicópteros de Emprego Geral O comandante do 6o Distrito Naval,
(HU-2) também prestaram o apoio neces- Contra-Almirante Carlos Eduardo Hor-
sário ao 6o DN na realização de operações ta Arentz, destacou que as atividades
aéreas em terra e nos rios da região, como: realizadas reforçam a presença do esta-
ataques a alvos do na fronteira
terrestres, escolta, oeste do País.
navegação tática “A participação
e infiltração e res- das Forças Ar-
gate de tropas do madas em nossa
Grupamento Ope- região é de suma
rativo de Fuzileiros importância no
Navais engajado contexto relacio-
nas operações ri- nado às questões
beirinhas, além de de Defesa e às
serviço diário para questões afetas
casos reais de eva- ao apoio ao com-
cuação aeromédica Aeronave AF-1 durante a Celeiro IV bate aos crimes
(Evam). transfronteiri-
Participaram ainda da Operação Ce- ços”. Ainda segundo o Almirante Arentz,
leiro IV meios do Comando em Chefe da foi observado o empenho e a dedicação
Esquadra, com emprego da aeronave AF- dos militares mesmo com as particulari-
1, e da Força de Fuzileiros da Esquadra, dades do Pantanal, como o calor extremo
bem como uma Lancha Guardian-25, do durante o dia, o frio e a chuva à noite e
Exército Brasileiro, e um avião A-29 e um outras intempéries. 
destacamento de Guia Aérea Avançada, (Fonte: www.marinha.mil.br)

PRIMEIRO POUSO NOTURNO DE AERONAVE DA MB


NO PHM ATLÂNTICO

Foi realizado, em 17 de março último,


o primeiro pouso noturno de uma aero-
nave da Marinha do Brasil (MB) a bordo
do Porta-Helicópteros Multipropósito
(PHM) Atlântico. O navio encontrava-se
ao sul de Cabo Frio (RJ), sendo o pouso
realizado por uma aeronave modelo UH-
15 (Pégasus N-7201), do 2o Esquadrão de
Helicópteros de Emprego Geral (HU-2).
Durante a comissão, também foi
realizada a Vistoria de Segurança de Aeronave HU-15 em pouso noturno
Aviação, com o PHM Atlântico sendo no PHM Atlântico

RMB2oT/2019 301
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

homologado para operação noturna e


por instrumentos, representando um
ganho operacional para os meios na-
vais, aeronavais e de fuzileiros navais.
A missão foi realizada com seguran-
ça, sucesso e eficácia, sem mencionar
a manutenção da prontidão operativa
com a realização de aproximações
controladas sob baixa visibilidade
diurna e noturna, NDB (farol-rádio não
direcional) e exercícios de emergência,
aumentando a capacidade da MB na
Primeiro pouso noturno realizado defesa da Amazônia Azul.
no PHM Atlântico (Fonte: www.marinha.mil.br)

EsqdVF-1 REALIZA EXERCÍCIO DE ATAQUE


A ALVOS TERRESTRES

Militares da Marinha do Brasil participa-


ram, na madrugada de 22 de março último,
em Campo Grande (MS), de um exercício
inédito com o emprego de aeronaves de caça
do 1o Esquadrão de Aviões de Interceptação
e Ataque (EsqdVF-1). O ataque noturno a
alvos terrestres, localizados a 300 milhas
(aproximadamente 483 quilômetros) do
local, ocorreu no Pantanal Mato-Grossense,
próximo da fronteira do Brasil com a Bolívia.
A missão foi parte da Operação Celeiro IV,
executada pelo 6o Distrito Naval (Ladário-
-MS) na área de Cáceres (MT).
A área encontrava-se com visibilidade Aeronave caça do Esqd VF-1 em exercício
degradada pela névoa, obrigando um dos
aviões a realizar um imageamento da região, O exercício serviu para certificar
com posterior designação do alvo, por meio as novas capacidades adquiridas pelas
do uso do radar no modo GMTI (Ground aeronaves AF-1B/C, demonstrar a flexi-
Moving Target Indicator), proporcionando bilidade que os meios podem emprestar
à outra aeronave um perfil de emprego de ao apoio das diversas operações navais
armamento no modo CCRP (Continuou- e de fuzileiros navais e contribuir para o
sly-Computed Release Point), no qual não crescimento operacional das equipagens
é necessário contato visual com o alvo. O diante das demandas apresentadas pela
propósito foi apoiar o Grupamento Operati- implantação de novas tecnologias.
vo de Fuzileiros Navais desdobrado em terra. (Fonte: www.marinha.mil.br)

302 RMB2oT/2019
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

2o ESTÁGIO DE OPERAÇÕES DE PAZ PARA MULHERES

Foi realizado de 13 a 22 de março último,


no Centro de Instrução Almirante Sylvio de
Camargo (Ciasc), cidade do Rio de Janei-
ro, o 2o Estágio de Operações de Paz para
Mulheres. O estágio tem como propósito
disseminar conhecimentos sobre operações
de paz entre o público feminino militar da
Marinha do Brasil (MB), bem como incen-
tivar e prover a preparação básica para a
participação feminina em tais missões.
Participaram como alunas 21 oficiais da
MB dos Corpos de Intendentes, Engenhei- Contra-Almirante Dalva ministra palestra
ros, Saúde e Técnico; duas oficiais do Corpo
de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Paz (OMP) e sobre Direito Internacional
Janeiro e oito estudantes da área de Relações Humanitário. Também foi conduzida ativi-
Internacionais de instituições acadêmicas dade prática simulando situações vividas em
(Fundação Getúlio Vargas, Universidade regiões de OMP.
Federal Fluminense, Universidade Federal Palestraram durante o estágio a Con-
do Rio de Janeiro e Pontifícia Universidade tra-Almirante (Md) Dalva Maria Carvalho
Católica do Rio de Janeiro). Foram minis- Mendes, assessora da Diretoria de Saúde
tradas instruções sobre o material básico da da Marinha; o assessor especial militar do
Organização das Nações Unidas para treina- ministro de Estado da Defesa, Contra-Al-
mento pré-desdobramento e palestras sobre mirante (FN) Carlos Chagas; e a promoto-
experiências vividas por oficiais das Forças ra de Justiça Militar Najla Nassif Palma.
Armadas em Operações de Manutenção da (Fonte: www.marinha.mil.br)

MARINHA DO BRASIL RECEBE PRÊMIO DA ONU

A Capitão de Corveta (T) Marcia


Andrade Braga, da Marinha do Brasil,
recebeu, em 29 de março último, em
Nova Iorque, Estados Unidos da Amé-
rica, o Prêmio de Defensora Militar
do Gênero da Organização das Nações
Unidas (ONU). O prêmio foi entregue
pelo secretário-geral das Nações Unidas,
António Guterres, durante a Conferência
Ministerial de Forças de Paz. 
A oficial, membro da Missão de Paz das Capitão de Corveta (T) Marcia recebe
Nações Unidas na República Centro-Afri- prêmio em Nova Iorque

RMB2oT/2019 303
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

cana (Minusca), ajudou a construir uma promovendo equipes mistas de homens e


rede de assessores treinados para questões mulheres para a realização de patrulhas.
de gênero dentro das unidades da missão, (Fonte: www.marinha.mil.br)

MB PARTICIPA DE INTERCÂMBIO DE OPERAÇÕES


ESPECIAIS COM MARINHA DOS EUA

A Marinha do Brasil (MB) participou,


entre 12 de abril e 16 de maio, na cidade
do Rio de Janeiro, de intercâmbio de
Operações Especiais com a Marinha dos
Estados Unidos da América (EUA) – US
Navy. Comandos Anfíbios e Mergulhado-
res de Combate, juntamente com Opera-
dores Especiais dos US Navy Seals e do
Special Warfare Combat-Craft Crewmen
integraram o Joint Combined Exchange
Training (JCET) – Brasil 2019, que
Tropa durante exercício de tiro de curta
ocorreu nas instalações do Batalhão de
e média distâncias
Operações Especiais de Fuzileiros Navais.
O intercâmbio possibilitou a troca de -profissional para os participantes do
experiências e o aprimoramento de téc- intercâmbio, foram reforçados os laços
nicas de tiro com fuzil e pistola a curta e de amizade e respeito entre a MB e a US
média distâncias, tiro de precisão (sniper), Navy. A cerimônia de encerramento do
tiro de cobertura embarcado em helicóp- intercâmbio foi presidida pelo chefe do
teros, abordagem de meios navais com Estado-Maior da Força de Fuzileiros da
embarcações e combate em área urbana Esquadra, Contra-Almirante (FN) Pedro
e em ambiente confinado, além da prática Luiz Gueiros Taulois, e contou com a pre-
de técnicas de ação imediata em diferentes sença do Deputy Commander do Special
ambientes operacionais. Operations Command South, Coronel (US
Durante as cinco semanas intensas de Army) Brian Greata.
adestramento, além do ganho técnico- (Fonte: www.marinha.mil.br)

DPHDM DIVULGA REPOSITÓRIO INSTITUCIONAL


DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA

Com o propósito de evidenciar a (DPHDM) realizou, de 20 a 27 de março


relevância de centralizar a guarda e pre- último, apresentações sobre o Repositório
servação digital dos trabalhos científicos Institucional da Produção Científica da
produzidos pelo pessoal da Marinha na Marinha do Brasil (RI-MB) para os pú-
área de Defesa, a Diretoria do Patrimônio blicos docente e discente de Organizações
Histórico e Documentação da Marinha Militares do Sistema de Ensino Naval.

304 RMB2oT/2019
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

No dia 20, 396 alunos do Centro de Em ambos os centros de instrução,


Instrução Almirante Graça Aranha as palestras foram ministradas pela
(Ciaga), do primeiro, segundo e terceiro Primeiro-Tenente (RM2-T) Alessa Fa-
anos da Escola de Formação de Oficiais da bíola dos Santos Ceslinski, encarregada
Marinha Mercante (Efomm), conheceram da Divisão de Repositório Institucional
a ferramenta de inovação estrutural na da Biblioteca da Marinha. Lançado em
construção do conhecimento coletivo na outubro de 2018, o RI-MB oferece uma
série de vantagens ao usuário, entre as
quais: aumento do impacto das pesqui-
sas realizadas; ampliação do número
de citações dos trabalhos; preservação
em ambiente digital seguro; reforço na
autoria e descoberta de plágio; e mape-
amento da produção.
De janeiro a março, foram realizadas
seis apresentações sobre o RI-MB em
escolas de formação do Sistema de En-
sino Naval – e outras 14 estão previstas
Alunos da Efomm lotaram o auditório do Ciaga para no decorrer deste ano. Disseminando
assistirem à palestra sobre o Repositório Institucional esta plataforma, a DPHDM pretende não
da Produção Científica da Marinha do Brasil apenas elevar seu número de acessos,
mas também incrementar o depósito
Marinha. Na semana seguinte, no dia 27, dos trabalhos acadêmicos desenvolvi-
o RI-MB foi apresentado a 25 alunos e dos pelos militares e servidores civis da
instrutores, entre oficiais e praças, do Cen- Marinha, fomentando, assim, a difusão
tro de Instrução e Adestramento Almirante da produção científica.
Áttila Monteiro Aché (Ciama). (Fonte: www.marinha.mil.br)

DepCMRJ ADQUIRE EMBARCAÇÃO DE LANÇAMENTO


DE BARREIRAS DE CONTENÇÃO

Entrou em operação no Depósito de pelo derramamento; redução do efetivo


Combustíveis da Marinha no Rio de Ja- necessário para realização das fainas de
neiro (DepCMRJ), em fevereiro último, a lançamento de barreiras; e redução do
recém-incorporada Embarcação de Lança- risco de acidentes de pessoal, em função
mento de Barreiras de Contenção (ELBC) da elevação do nível de segurança no
Mero. Seu emprego será voltado para as lançamento de barreiras, a partir do uso
ações em resposta a acidentes ambientais da embarcação.
envolvendo derramamento de óleo no Outro destaque é o ganho em eficiência
mar, com foco na prevenção. proporcionado pela embarcação. A faina
As principais vantagens propiciadas de lançamento de barreiras nas imediações
pelo emprego da embarcação são: redução do DepCMRJ, que  antes era realizada
do tempo para contenção da área afetada por cerca de 30 militares em 30 minutos,

RMB2oT/2019 305
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

considerando o esforço necessário para


manuseio e lançamento das barreiras ao
mar desde o cais, necessitará apenas de 
três militares em dez minutos.
A aquisição da ELBC  Mero repre-
senta uma conquista para o Setor do
Abastecimento. Sua entrada em ope-
ração contempla a preocupação e os
esforços da alta administração naval em
relação à questão ambiental, na medida
em que situa o DepCMRJ na vanguarda
em termos de capacidade de resposta a
acidentes ambientais. ELBC Mero iniciando a faina de lançamento
(Fonte: www.marinha.mil.br) de barreiras

MB PARTICIPA DE REUNIÃO SOBRE APOIO


MARÍTIMO E CABOTAGEM

Representantes da Marinha
do Brasil (MB) e de institui-
ções civis reuniram-se, em 22
de fevereiro último, na sede do
Sindicato Nacional das Empre-
sas de Navegação Marítima
(Syndarma), no Rio de Janeiro
(RJ), para tratar de assuntos
relacionados ao apoio marítimo
e à cabotagem (navegação e
transporte de materiais entre
os portos do País).
A reunião fez parte de um
conjunto de ações que serão
realizadas, com regularidade, Representantes militares e civis após a reunião
entre as autoridades do governo,
militares e civis. O propósito é promover Dino Batista; o comandante da Marinha,
o diálogo entre as instituições e buscar Almirante de Esquadra Ilques Barbosa
melhorias, soluções e inovações para o Junior; o diretor-geral de Navegação,
apoio marítimo e para a cabotagem. Almirante de Esquadra Leonardo Puntel
Estiveram presentes o ministro de In- e o diretor de Portos e Costas, Vice-
fraestrutura, Tarcisio Gomes de Freitas; -Almirante Roberto Gondim Carneiro
o secretário nacional dos Portos, Diogo da Cunha, além do Contra-Almirante
Piloni; o diretor de Navegação e Hidro- Gilberto Santos Kerr.
grafia do Ministério de Infraestrutura, (Fonte: www.marinha.mil.br)

306 RMB2oT/2019
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

ELEVAÇÃO DA DELEGACIA FLUVIAL DE CUIABÁ

Foi realizada, em 26 de abril último, como os meios do Serviço de Sinalização


a Cerimônia de Elevação da Delegacia Náutico do Oeste, do Comando da Flotilha
Fluvial de Cuiabá à classificação de Ca- de Mato Grosso, e aeronaves do 4o Esqua-
pitania de 3a Classe, com a denominação drão de Helicópteros de Emprego Geral,
de Capitania Fluvial de Mato Grosso. A aliadas à presença das duas agências flu-
solenidade foi presidida pelo comandante viais e à presente elevação da Capitania,
de Operações Navais, Almirante de Es- evidenciam a relevância que a instituição
quadra Leonardo Puntel. confere a este estado, figurando também
Transcrevemos abaixo a Ordem do como mais um importante capítulo da bela
Dia do comandante do 6o Distrito Naval história dos 300 anos de Cuiabá.
(Ladário-MS), Contra-Almirante Carlos A área de jurisdição da CFMT abrange
Eduardo Horta Arentz, alusiva ao evento: 141 municípios e possui aproximada-
“O comandante da Marinha, por meio mente 909.000 km2, contando com as
da Portaria no 9, de 21 de janeiro de 2019, bacias do Paraguai, Teles Pires, Araguaia
determinou a elevação da Delegacia Flu- e Guaporé. Nessa região, a economia se
vial de Cuiabá à categoria de Capitania de desenvolve, majoritariamente, em torno
3a classe, com a denominação de Capitania do agronegócio, que hoje encontra nas
Fluvial de Mato Grosso (CFMT), deixan- questões logísticas um fator limitador.
do o vínculo com a Capitania Fluvial do Outra importante atividade fluvial é
Pantanal, passando a ficar diretamente o turismo, com a presença de barcos-
subordinada ao Comando do 6o Distrito -hotéis, pesqueiros e ecoturismo, além
Naval. Essa ascensão se concretizou em da crescente e ampla utilização de em-
função da importância representativa e barcações de esporte e recreio, que vem
da intensa e crescente atividade fluvial e sendo impulsionada pela bem-aventurada
náutica esportiva exercidas no estado de atividade agrícola.
Mato Grosso. Nos últimos anos, o acompanhamento
Inserida no coração da capital mato- dos números atinentes às tarefas das
-grossense e tendo em sua área de jurisdi- OM do Sistema de Segurança do Trá-
ção os três biomas – Amazônia, Pantanal fego Aquaviário (SSTA) nos demonstra
e Cerrado –­, a Capitania Fluvial de Mato relevante acréscimo na quantidade de
Grosso terá como subordinadas duas embarcações inscritas e, por conseguinte,
outras organizações militares do Sistema nas inspeções navais que são realizadas.
de Segurança do Tráfego Aquaviário: a Isso comprova o dinamismo fluvial e a
Agência Fluvial de Cáceres e a Agência necessidade da presença de nosso pes-
Fluvial de São Félix do Araguaia. A soal, seja nos rios, no guarnecimento de
CFMT e suas agências seguem labutando embarcações ou na lida diária, atendendo
diuturnamente para garantir a Segurança às demandas administrativas advindas do
da Navegação, a Salvaguarda da Vida Hu- público externo.
mana e a Prevenção da Poluição Hídrica Hoje, nesta cerimônia que celebra a
por embarcações nos diversos rios e lagos elevação desta Delegacia a Capitania
do Mato Grosso. As visitas das unidades Fluvial de Mato Grosso, registramos o
operativas da Marinha do Brasil ao estado, esforço da Marinha do Brasil em estabele-

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

cer uma nova estrutura administrativa que cumprimento de sua importante missão,
se adeque ao contexto atual e continue a mantendo a excelência dos trabalhos da
orientar, coordenar e fiscalizar o cumpri- Delegacia de Cuiabá e o legado deixado
mento das normas do SSTA, garantindo pelos seus antecessores nestes cem anos
uma navegação segura, com nossos de existência, desde a então Agência Flu-
aquaviários perfeitamente habilitados, vial, criada em 1919, sendo acolhida com
profissionais ou amadores, navegando em confiança e credibilidade pela sociedade
águas limpas e livres de poluição hídrica mato-grossense, principalmente o valoro-
oriunda de embarcações. so povo cuiabano.
Ao Capitão de Corveta Thiago Cris- Fortuna Audaces Sequitur! Viva a
tiano Muniz Santos, agora capitão dos Marinha! Viva o Brasil!”
Portos de Mato Grosso, e à sua tripulação (Fontes: Bono no 344 e Bono Especial
desejo bons ventos e rios tranquilos no n 348, de 26/4/2019)
o

BARCO HOSPITAL PAPA FRANCISCO REALIZA TESTES

O Barco Hospital Papa Francisco, A embarcação, nomeada em home-


administrado pela Fraternidade São nagem ao pontífice, foi solicitada por
Francisco de Assis e cuja construção ele quando visitou o hospital adminis-
está sendo gerenciada pela Empresa Ge- trado pela Fraternidade São Francisco
rencial de Projetos Navais (Emgepron), de Assis na Providência de Deus, após
realizou seu primeiro teste na água em saber que não havia um projeto como
14 de março último, no município de Jaci esse na região amazônica. Conhecendo
(SP). Trata-se de uma iniciativa que visa a necessidade dos ribeirinhos, o papa deu
oferecer atendimento médico e prevenção início ao projeto do barco, juntamente à
do câncer para cerca de 700 mil pessoas Fraternidade e à Emgepron. O contrato
nas mil comunidades ribeirinhas ao longo da Emgepron com a Fraternidade para
do Rio Amazonas no estado do Pará e em gerenciamento da construção e entrega
cerca de 12 municípios. do barco hospital foi assinado em 17 de
julho de 2017.
A embarcação
possui 35 metros de
comprimento, deslo-
camento de 190 to-
neladas e velocidade
de 11 nós (cerca de
20 km/h), centro ci-
rúrgico, enfermaria,
farmácia, laboratório
e salas de radiogra-
O barco prestará atendimentos médicos a comunidades ribeirinhas fia, mamografia e
ao longo do Rio Amazonas ultrassonografia.

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Em novembro de 2018, o Papa enviou nho muito grande, vocês cuidam da terra,
um vídeo para as comunidades ribeirinhas amam a natureza e a Deus. Sigam adiante.
do Baixo Amazonas e, emocionado, falou Uma saudação a todos aqueles que traba-
sobre a embarcação. “Uma saudação lham no Barco Hospital. Rezo por vocês,
cordial, de coração a todos os habitantes rezem por mim. O Senhor os abençoe”.
ribeirinhos do Amazonas. Sinto um cari- (Fonte: www.marinha.mil.br)

ComGptPatNavN REALIZA ESTÁGIO BÁSICO


DE ABORDAGEM COM IBAMA E PF

O Comando do Grupamento de Patru-


lha Naval do Norte (ComGptPatNavN)
realizou, de 11 a 19 de fevereiro último,
a 3a edição do Estágio Básico de Aborda-
gem. A turma foi formada por militares
subordinados ao Comando do 4o Distrito
Naval (Belém-PA) e contou com a partici-
pação de agentes do Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis (Ibama) e da Polícia Federal
(PF) como alunos e instrutores. 
O propósito foi qualificar e adestrar Militares da Marinha e agentes
militares para funções relacionadas à do Ibama e da PF
aproximação e abordagem de embarcações
durante as atividades de Patrulha Naval, de interesse, técnicas de abordagem, regras
Patrulhamento e Inspeção Naval a bordo de engajamento e palestras sobre implica-
de navios distritais. Durante o estágio, ções relativas à Justiça Militar, à Polícia
foram ministradas aulas teóricas e práticas Judiciária e à Polícia Administrativa.
sobre ações de visita e inspeção, contatos (Fonte: www.marinha.mil.br)

CISMAR REALIZA ADESTRAMENTO


PARA ORGACONTRAM

O Centro Integrado de Segurança O adestramento, denominado Ade-


Marítima (Cismar) conduziu, entre 19 -Sistram-I, teve como propósito princi-
e 21 de fevereiro último, adestramento pal apresentar aos comandos de distritos
sobre o Sistema de Informações sobre o navais e às capitanias, delegacias e
Tráfego Marítimo (Sistram) para todos os agências o Sistram IV, sistema utiliza-
componentes da Organização de Controle do para acompanhamento do Tráfego
Naval do Tráfego Marítimo Brasileira Marítimo nacional e internacional, seja
(Orgacontram-BR). em águas exteriores ou interiores. Esta

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

edição convidou pela


primeira vez todos os
membros da Orgacon-
tram-BR, alcançando
participação de 60 orga-
nizações militares.
Como propósito se-
cundário, o adestramen-
to visou apresentar as
novas capacidades do
Cismar no que se refere
à interação com agên-
cias governamentais e
à futura implementação
dos Centros Regionais
de Segurança Marítima,
Panorama de superfície exibido pelo Sistram IV na fonte IHS
nos quais será de extrema (AIS Satelital de alcance mundial)
importância o domínio
do Sistram para acompanhamento do vez mais o incremento da Consciência
Tráfego Marítimo e compartilhamento de Situacional Marítima.
informações interagências, buscando cada (Fonte: www.marinha.mil.br)

BOLETIM DE ACIDENTES JULGADOS NO TM

Foi lançada, em 15 de março último, a nais ou de lazer poderão tomar conheci-


segunda edição do Boletim de Acidentes mento de acidentes julgados no Tribunal e
Julgados no Tribunal Marítimo. O propósito suas causas determinantes, ensinamentos
da publicação é levar ao conhecimento colhidos e recomendações aos navegan-
das comunidades marítima, náutica e tes, bem como de ações que poderiam
portuária uma síntese dos principais casos ter sido tomadas para evitar acidentes e,
julgados no Tribunal Marítimo (TM) principalmente, a perda de preciosas vidas
no último trimestre, após análise dos humanas. O Boletim está disponível na
respectivos acórdãos. página do Tribunal Marítimo na internet,
Com o Boletim, as pessoas que utili- em www.marinha.mil.br/tm.
zam embarcações em atividades profissio- (Fonte: Bono no 206, de 19/3/2019)

NAsH TENENTE MAXIMIANO PARTICIPA


DO PROJETO RIBEIRINHO CIDADÃO

Por meio do Navio de Assistência de fevereiro último, da Etapa Fluvial


Hospitalar (NAsH) Tenente Maximia- do Projeto Ribeirinho Cidadão XII,
no, o Comando do 6 o Distrito Naval coordenado pelo Tribunal de Justiça do
(Ladário-MS), participou, de 4 a 11 Mato Grosso (TJMT).

310 RMB2oT/2019
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

A equipe de saúde do navio, composta


por dois médicos, duas cirurgiãs-dentistas
e quatro enfermeiros, realizou 713 aten-
dimentos médicos e 381 atendimentos
odontológicos, contemplando 1.942 pro-
cedimentos odontológicos e 295 procedi-
mentos médicos, além de distribuir 10.680
medicamentos, fazer 197 cortes de cabelos
e 168 atendimentos oftalmológicos. No
total, foram 948 pessoas atendidas, em
16 localidades diferentes. Equipe do Navio de Assistência Hospitalar
O "Navio da Esperança do Pantanal" em atendimento
realizou atendimentos nas localidades
de Santo Antônio do Leverger, Barão de Mato Grosso, além da partipação de
Melgaço, Estirão Comprido, Porto Bran- residentes de Medicina de diversas
dão, Cuiabá-Mirim, Porto das Conchas e faculdades do País.
São Pedro de Joselândia, todas no estado Após o término da participação no
de Mato Grosso. Projeto Ribeirinho Cidadão XII, o NAsH
A 12a edição do Projeto Ribeirinho regressou à sede, atendendo comunidades
Cidadão contou com o apoio de 51 próximas a Fazenda São João, Porto Jofre,
instituições de diversos setores, entre Barra de São Lourenço, Fazenda Amolar,
eles: Receita Federal do Brasil, Institu- Porto São Francisco, Porto Santa Catarina,
to Nacional do Seguro Social (INSS), Paraguai-Mirim e Jatobazinho, atendendo
Tribunal de Justiça, Defensoria Pública também o estado de Mato Grosso do Sul.
e secretarias de Governo do Estado de (Fonte: www.marinha.mil.br)

EQUIPE MÉDICA DO NAsH DOUTOR MONTENEGRO


AUXILIA NA REALIZAÇÃO DE PARTOS

O Navio de Assistência Hospitalar


(NAsH) Doutor Montenegro, subordinado
ao Comando da Flotilha do Amazonas,
realizou, de 16 a 22 de fevereiro, aten-
dimentos médicos e odontológicos nos
municípios de Porto Walter e Marechal
Thaumaturgo, ambos no Acre. Entre os
atendimentos, a equipe médica auxiliou a
realização de quatro partos no Hospital da
Família dos municípios atendidos.
Em um dos partos, realizado na ma-
drugada em Porto Walter, a filha de Maria
Cleiciane Marcelino de Lima recebeu Recém-nascida recebe o nome de Raquel, em
o nome de Raquel, em homenagem à homenagem a médica da Marinha

RMB2oT/2019 311
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

ginecologista e obstetra da Marinha que útero, além de procedimentos laborato-


realizou o parto, a Capitão de Corveta riais, odontológicos e de enfermagem.
(Md) Raquel Ramos do Amaral. Houve ainda palestras sobre higiene bu-
No total, 2.822 pessoas foram atendi- cal e de prevenção a doenças sexualmente
das, sendo 1.311 em Porto Walter e 1.511 transmissíveis, totalizando 9.140 proce-
em Marechal Thaumaturgo. Foram reali- dimentos médicos, 9.029 odontológicos e
zados atendimentos na área ginecológica, 854 exames, entre os quais 20 mamografias.
com exames de mamografia e de colo do (Fonte: www.marinha.mil.br)

NAsH DOUTOR MONTENEGRO ATENDE INDÍGENAS


NA OPERAÇÃO ACRE 2019

O Navio de Assistência Hospitalar


(NAsH) Doutor Montenegro, subordinado
ao Comando da Flotilha do Amazonas,
realizou, entre os dias 8 e 23 de fevereiro
último, atendimento médico e odontológi-
co nas aldeias acreanas de Puyanawa, em
Mâncio Lima, e Ashaninka, em Marechal
Thaumaturgo-AC, durante a Operação
Acre. Foram atendidos 221 indígenas
Puyanawas e 203 Ashaninkas, que tam-
bém tiveram acesso a exames laboratoriais
e procedimentos de enfermagem, além de Atendimento médico na Aldeia Ashaninka
palestras de higiene bucal e de prevenção
às doenças sexualmente transmissíveis. municípios de Juruá, Itamaraty, Carauari,
Ao final do período, foram contabiliza- Eirunepé, Ipixuna, Guajará, no Amazonas,
dos 1.388 procedimentos médicos, 1.144 e de Cruzeiro do Sul, Rodrigues Alves,
odontológicos e 267 exames laboratoriais. Porto Walter, Marechal Thaumaturgo,
A Operação Acre está em sua 19a edição, Mâncio Lima, no Acre, todas ribeirinhas
que terminou em 30 de abril, e atendeu ao Rio Juruá.
populações de comunidades isoladas dos (Fonte: www.marinha.mil.br)

PATRONO DA AVIAÇÃO NAVAL É HOMENAGEADO


EM AÇÃO CÍVICO-SOCIAL

A Diretoria de Aeronáutica da Ma- em homenagem ao Patrono da Aviação


rinha (DAerM) realizou, em 7 e 8 de Naval e primeiro diretor de Aeronáuti-
maio último, Ação Cívico-Social no ca da Marinha, Almirante Protógenes
Colégio Estadual Almirante Protóge- Pereira Guimarães, que dá nome àquela
nes, no município de Duas Barras (RJ), instituição de ensino. O evento contou

312 RMB2oT/2019
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

com a participação especial da Banda do O projeto tem como propósito estimular


Corpo dos Fuzileiros Navais (CFN) e do crianças a conhecerem os símbolos na-
conjunto FuziBossa. cionais e a terem exemplos de civismo e
No dia 7, foram desenvolvidas as respeito à Pátria.
seguintes atividades No dia 8, dia do
em prol dos alunos: aniversário do Al-
Cerimonial à Ban- mirante Protógenes,
deira comentado, um grupamento da
com o canto do Hino DAerM e a Banda
Nacional, realizado do CFN participaram
no âmbito do Pro- do desfile cívico com
jeto Pátria Amada os alunos do colé-
Brasil, na área do 1o gio pelo aniversário
Distrito Naval; pa- da cidade. Além da
lestras abordando as valorização da edu-
formas de ingresso cação, o evento visou
na Marinha do Bra- DAerM realiza Cerimonial à Bandeira no Colégio criar vínculos das fu-
sil e os valores mari- Estadual Almirante Protógenes turas gerações com a
nheiros; e oficina de Marinha ao divulgar
nós. Foram doados livros, ventiladores valores, tradições e metas, homenageando
e material esportivo para o colégio, que o Patrono da Aviação Naval.
conta com aproximadamente 300 alunos. (Fonte: www.marinha.mil.br)

“UM DIA DE FUZILEIRO NAVAL E MARINHEIRO”


PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA

O Centro de Instrução Almirante do Aniversário do Corpo de Fuzileiros


Sylvio de Camargo (Ciasc), na Ilha do Navais (CFN).
Governador (Rio de Janeiro-RJ), reali- Pais e filhos se divertiram com atividades
zou, em 11 de maio último, o evento “Um como oficina de camuflagem e instrumentos
dia de Fuzileiro Naval e Marinheiro”, musicais; passeio em viaturas militares;
voltado para pessoas com deficiência. visita a helicópteros e a mostruários para co-
Promovido pela Marinha do Brasil, em nhecer instrumentos utilizados na Marinha;
parceria com o Instituto Nacional de Edu- esportes; apresentação da Banda Marcial do
cação de Surdos (Ines), o Projeto Special CFN, do conjunto Fuzibossa e do Pelotão de
Sports Kids e os grupos Mundo Azul e Ordem Unida Silenciosa; exibição de cães;
Compartilha, o evento buscou promover pintura e distribuição de brindes e lanche.
a inclusão de pessoas especiais, que tive- Participaram 200 crianças, jovens e adultos
ram a oportunidade de experimentar de com deficiência. No total, cerca de 700 pes-
forma lúdica e supervisionada um pouco soas estiveram no Ciasc durante o evento.
da rotina de um fuzileiro naval e de um “Um Dia de Fuzileiro Naval” teve sua
marinheiro. O evento, este ano em sua primeira edição em 2017 e foi voltado
quinta edição, integra o calendário oficial para pessoas com autismo. Devido ao

RMB2oT/2019 313
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

grande sucesso, em 2018 ganhou três


edições e passou a atender pessoas com
deficiências em geral. A novidade este ano
é que passou a abranger a Força como um
todo, demonstrando, além da rotina de um
fuzileiro naval, o cotidiano do marinheiro.
De acordo com o comandante do
CIASC, Contra-Almirante (FN) Renato
Rangel Ferreira, organizações militares
espalhadas por todo o País devem receber
o projeto este ano. “A mesma Marinha que
protege a Amazônia Azul, que protege “Um Dia de Fuzileiro Naval e Marinheiro” faz
as nossas águas, também cuida da nossa parte do calendário oficial de aniversário do CFN
gente e tem um grande compromisso com
a responsabilidade social”, destacou. milhões de pessoas possuam algum tipo de
Mais de 1 bilhão de pessoas em todo o deficiência, o que representa quase 24% da
mundo vive atualmente com alguma forma população brasileira.
de deficiência. Dessas, quase 93 milhões (Fontes: Assessoria de Comunicação
são crianças. No Brasil, estima-se que 45,6 Social do Ciasc e www.marinha.mil.br)

NAsH DOUTOR MONTENEGRO APOIA PROJETO


DE MUSICALIZAÇÃO

O Navio de Assistência Hospitalar resgate de valores culturais, descoberta de


(NAsH) Doutor Montenegro, subordinado talentos e profissionalização, contribuindo
ao Comando da Flotilha do Amazonas, com a inclusão social de crianças e adoles-
recebeu a bordo, em 5 de março último, centes de Cruzeiro do Sul (AC).
crianças e adolescentes do Conservatório O promotor de Justiça da Promoto-
Musical do Vale do Juruá, participantes ria de Justiça Especializada do Meio
do projeto “Musicalizando Pessoas com Ambiente da Bacia Hidrográfica do
Amor e Carinho (MPAC)”, para uma
apresentação do coral. Na data do evento,
o navio partcipava da Operação Acre 2019.
Durante o Cerimonial à Bandeira,
presidido pelo comandante da Flotilha
do Amazonas, Capitão de Mar e Guerra
Carlos Alberto Pereira Passos, o coral
executou o Hino Nacional. Estiveram
presentes representantes do Exército e da
Força Aérea. O Projeto MPAC tem como
propósito introduzir crianças e adolescen-
tes carentes no mundo da música e realiza
um programa de educação musical que pro- Professores e alunos do MPAC em apresentação a
move formação, construção da cidadania, bordo do NAsH Doutor Montenegro

314 RMB2oT/2019
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Juruá, Iverson Rodrigo Bueno, um dos um instrumento, mas também de fazer


coordenadores do projeto, destacou a parte de algo importante, de sentir-se
relevância da atividade para as crianças prestigiado a fazer parte de um grupo
e adolescentes. “Essa oportunidade é tão seleto”, disse.
única na vida deles, não apenas de tocar (Fonte: www.marinha.mil.br)

NOITE NO MUSEU NAVAL

Apresentação da Banda dos Fuzileiros Navais em frente ao Museu

Foi realizada em 28 de maio último, no Fuzileiros Navais e a exibição, no Cine


Museu Naval, Centro do Rio de Janeiro, DPHDM, de curta-documentário sobre a
a 2 a edição missão de paz no Líbano e participaram de
do “Noite atividades como oficina de nós marinhei-
no Museu ros; circuito com óculos de visão noturna,
Naval”, que com o Grupamento de Mergulhadores de
recebeu, em Combate; e simulador de salto de paraque-
três horas das (pelo Centro de Análise de Sistemas
de progra- Navais). Também puderam conhecer o
mação, 363
pessoas. O
evento, pro-
movido pela
Diretoria do
Patrimônio
Histórico e
Documenta-
ção da Mari-
nha (DPHDM), integra a programação da
17a Semana Nacional de Museus.
Com entrada gratuita, os participantes Visitantes participam das atividades da “Noite no
assistiram a apresentação da Banda dos Museu Naval”

RMB2oT/2019 315
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

carro de combate Piranha, do Batalhão “Museus como Núcleos Culturais: O


de Blindados de Fuzileiros Navais, e a Futuro das Tradições”, escolhido pelo
exposição permanente do Museu, “O Conselho Internacional de Museus
Poder Naval na Formação do Brasil”, com (Icom) para celebrar o Dia Internacional
mediação cultural. Foi realizada, ainda, a dos Museus em 2019, comemorado em
ação de estímulo à leitura “Pegue e Leve”, 18 de maio.
da Biblioteca da Marinha. (Fontes: Assessoria de Comunicação
A programação da “Noite no Mu- Social da DPHDM e Bono no 435, de
seu Naval” deste ano seguiu o tema 27/5/2019)

PROJETO ESCOLA DA DPHDM RECEBE ALUNOS DA


EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

A Divisão de Educação
em Museus da Diretoria
do Patrimônio Histórico e
Documentação da Marinha
(DPHDM) recebeu, em 26
de março último, uma tur-
ma da Educação de Jovens
e Adultos (EJA), composta
por 26 alunos com idades
entre 12 e 76 anos. A ação
educativa faz parte do Pro-
jeto Escola, que chega em
2019 ao seu 21o ano, esten-
dendo seu alcance àqueles
que não puderam concluir
seus estudos. Estudante observa o busto do Almirante Barroso, que comandou a força
Os estudantes do Centro naval brasileira na vitória da Batalha Naval do Riachuelo
Integrado de Educação Pú-
blica (CIEP) Presidente Getúlio Vargas, jeto Escola já atendeu, ao longo de duas
de Nova Iguaçu (RJ), conheceram o décadas, cerca de 66 mil estudantes do
Museu Naval e participaram de visita ensino público. Conjugando aprendiza-
mediada à exposição “O Poder Naval gem e entretenimento por meio de visitas
na Formação do Brasil”, que, partindo mediadas, esta ação de educação e cida-
da época do descobrimento e da coloni- dania, destinada a escolas da rede pública
zação, conta a importância da Marinha previamente agendadas e localizadas a
para a consolidação do Estado. uma distância de até 60 km do Complexo
Visando fomentar a visitação a espa- Cultural da Marinha, oferece, de maneira
ços culturais, em paralelo ao estímulo ao gratuita, transporte escolar e lanche, além
desenvolvimento da consciência marítima de uma foto da turma, como recordação.
e ao resgate da memória nacional, o Pro- (Fonte: www.marinha.mil.br)

316 RMB2oT/2019
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

HISTÓRIAS DO MAR

Foi lançado recentemente, pela


Agência 2 Comunicações, o livro
Histórias do Mar – 200 casos
verídicos, do jornalista Jorge de
Souza. A obra, de 340 páginas,
reúne 200 histórias em que o mar
é o protagonista. Trata-se de uma
coletânea de façanhas, dramas,
aventuras, mistérios e odisseias
marítimas que têm em comum o
fato de serem histórias verídicas.
A publicação é fruto de anos
de pesquisas sobre o período
mais intenso da navegação hu-
mana, os últimos cinco séculos,
e os casos narrados são contados
pelo autor, um especialista no
assunto, que há décadas se dedica
a colecionar histórias náuticas
verídicas ocorridas nos mares de
todo o planeta. Jorge de Souza foi
editor de revista especializada
em artigos náuticos e hoje se dedica do mesmo transatlântico”, “O naufrágio
diariamente ao blog Histórias do Mar, que matou seis vezes mais que o Titanic”
no portal UOL da internet. e “O navio que foi engolido por uma
Com histórias curiosas e impressio- onda e não deixou nenhum vestígio”, e
nantes, que mais parecem ficção, a obra muitas outras.
traz contos como “O francês que atraves- Mais informações sobre o livro e a
sou o Atlântico nadando”, “O tubarão que forma de aquisição podem ser encontra-
ajudou a desvendar um assassinato”, “A das nos sites www.historiasdomar.com e
passageira que passou 15 anos a bordo www.cartasnauticasbrasil.com.br

HNMD INCORPORA O SIMULADOR EYESI

O Instituto de Pesquisas Biomédicas excelência em simulação médica. O equi-


(IPB) do Hospital Naval Marcílio Dias pamento dispõe de tecnologia de realidade
(HNMD) incorporou recentemente ao seu virtual de alta fidelidade permitindo ao
parque tecnológico o simulador Eyesi, profissional acumular experiência cirúr-
para treinamento em cirurgia de catara- gica e refinar habilidades essenciais para
ta. A nova tecnologia contribui para a o procedimento intraocular sem o risco de
consolidação do hospital como centro de complicações aos pacientes.

RMB2oT/2019 317
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

O HNMD vem investindo há uma dé- capacidade de gerenciamento de crises,


cada em tecnologias de ensino inovadoras liderança e raciocínio clínico. Nessa cons-
para formação e atualização, como ferra- trução contínua do conhecimento, a expe-
menta no processo de aprendizagem dos riência cirúrgica é ampliada, beneficiando
alunos de pós-graduação nas modalidades o usuário do Sistema de Saúde da Marinha.
de Residência Médica e Aperfeiçoamento
e de equipes multiprofissionais das diver-
sas organizações militares de Saúde da
Marinha do Brasil, treinando em média
500 profissionais por ano. Além do novo
equipamento, o centro de simulação do
IPB também dispõe de um simulador clí-
nico de paciente adulto e um pediátrico,
além de simuladores para cirurgia videola-
paroscópica, procedimentos endoscópicos
e endovasculares.
A realidade virtual e suas diversas
aplicações na área médica possibilitam
Treinamento de oftalmologistas no simulador Eyesi
aos profissionais e alunos vivenciarem
cenários reais em ambiente seguro, além
de desenvolver competências técnicas, (Fonte: www.marinha.mil.br)

CEFAN INICIA PROGRAMA DE MESTRADO EM


DESEMPENHO HUMANO OPERACIONAL

Tiveram início, em 18 de março último, O curso tem carga horária mínima


as aulas do Curso de Mestrado Profissio- de 780 horas, distribuídas entre discipli-
nal do Programa de Pós-Graduação em nas obrigatórias e optativas, atividades
Desempenho Humano Operacional (PPG- complementares (participações em pro-
DHO). Recentemente aprovado pela Coor- duções intelectuais de caráter acadêmico
denação de Aperfeiçoamento de Pessoal e técnico que tenham afinidade temática
de Nível Superior (Capes), o curso é fruto com o estudado pelo aluno) e atividades
de parceria entre o Centro de Educação de orientação de leituras, planejamento,
Física Almirante Adalberto Nunes (Cefan), desenvolvimento e conclusão de um
por meio do Laboratório de Pesquisa em Trabalho de Conclusão de Curso (TCC).
Ciências do Exercício (Laboce), e a Uni- Durante o programa, com duração mé-
versidade da Força Aérea (Unifa). dia de 24 meses, os alunos são capacita-
O PPGDHO tem como propósito dos para o desenvolvimento de pesquisas
estudar diversas dimensões que podem e de produções técnicas. O TCC deve ser
influenciar o desempenho humano opera- algum método de diagnóstico, planeja-
cional na execução das missões das For- mento e desenvolvimento que contribua
ças Armadas, tais como aspectos físicos, para a melhora do nível de desempenho
psicossociais, bioquímicos e nutricionais. humano operacional.

318 RMB2oT/2019
NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Atualmente, quatro pesquisadores do


Cefan atuam como docentes do PPGDHO,
em linhas de pesquisa relacionadas à pre-
venção de lesões musculoesqueléticas e
na avaliação e treinamento de Cursos de
Operações Especiais.
A turma de 2019 é composta de
dez alunos, sendo dois militares da
Marinha, que iniciaram projetos de
pesquisa relacionados ao desempenho
de militares embarcados e de operações
especiais, intitulados, respectivamente, Docentes do PPGDHO
“O impacto do treinamento físico su- para a prática de treinamento físico
pervisionado prévio na aprovação no em militares embarcados da Marinha
Curso Especial de Comandos Anfíbios do Brasil”.
da Marinha do Brasil” e “Barreiras (Fonte: www.marinha.mil.br)

I FÓRUM NACIONAL DE DEFESA PROFISSIONAL DA SBCO

A Marinha do Brasil (MB) participou,


em 5 e 6 de abril último, do I Fórum Na-
cional de Defesa Profissional. O evento,
realizado em Natal (RN), foi promovido
pela Sociedade Brasileira de Cirurgia
Oncológica (SBCO).
Na oportunidade, o diretor do Hospital
Naval de Natal, Capitão de Mar e Guerra
(Md) José Mário de Souza e Sá Júnior,
representando o diretor de Saúde da Mari-
nha, ministrou a palestra “Papel Social das
Mesa de debates foi composta por autoridades
Organizações Militares na Ação Nacional
civis e militares
de Combate ao Câncer – Apoio da MB”.
Foram apresentadas, ainda, as atividades do Hospital da Força Aérea do Galeão,
desenvolvidas pela Força Naval em prol Brigadeiro (Médico) Júlio César de Gama
da saúde da população brasileira, como Apolinário.
operações de assistência hospitalar à po- A participação no fórum reforçou o
pulação ribeirinha, ações cívico-sociais e apoio da MB à SBCO em todo o País,
operações de apoio humanitário. com a realização de atividades em prol do
O evento contou também com a parti- combate ao câncer, a exemplo das ações
cipação do diretor de Saúde do Exército executadas em novembro de 2018, no Dia
Brasileiro, General de Divisão (Médico) Nacional de Combate ao Câncer.
Alexandre Falcão Corrêa, e do diretor (Fonte: www.marinha.mil.br)

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

320 RMB2oT/2019

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