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REVISTA
MARÍTIMA
BRASILEIRA
(Editada desde 1851)
v. 135 n. 01/03
jan./mar. 2015
R. Marít. Bras. Rio de Janeiro v. 135 n. 01/03 p. 1-320 jan. / mar. 2015
A Revista Marítima Brasileira, a partir do 2o trimestre
de 2009, passou a adotar o Acordo Ortográfico de 1990,
com base no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa,
editado pela Academia Brasileira de Letras – Decretos nos
6.583, 6.584 e 6.585, de 29 de setembro de 2008.
SECRETARIA-GERAL DA MARINHA
Almirante de Esquadra Airton Teixeira Pinho Filho
Assessoria Técnica
Capitão de Mar e Guerra (RM1-T) Nelson Luiz Avidos Silva
Terceiro-Sargento-PD Isabelle de Medeiros Vidal
Diagramação
Desenhista Industrial Felipe dos Santos Motta
Artífice de Artes Gráficas Celso França Antunes
Assinatura/Distribuição
Terceiro-Sargento-RM1-ES Mário Fernando Alves Pereira
Marinheiro-RM2 Pedro Paulo Moreira Cerqueira
Impressão / Tiragem
CMI Serviços Editoriais Eireli ME / 8.300
A REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA é uma publicação oficial da MARINHA DO BRASIL desde
1851, sendo editada trimestralmente pela DIRETORIA DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E DOCUMEN-
TAÇÃO DA MARINHA. A opinião emitida em artigo é de exclusiva responsabilidade de seu autor, não
refletindo o pensamento oficial da MARINHA. As matérias publicadas podem ser reproduzidas. Solicitamos,
entretanto, a citação da fonte.
Na internet:
http://www.revistamaritima.com.br
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autorizada a sua atualização
em anexo, comprovante de depósito na conta corrente 13000048-0 agência 3915, do Banco Santander,
em nome do Departamento Cultural do ABRIGO DO MARINHEIRO, no valor de R$ 36,00; se
for do exterior, por vale postal
SUMÁRIO
8 EDITORIAL
9 nossa CAPA
9 COMANDANTE DA MARINHA
Passagem do Comando da Marinha do Brasil. Mensagem do Ministro da Defesa.
Ordens de Serviço dos Comandantes
213 Transporte de carga geral por cabotagem: Utilização dos portos do Rio
de Janeiro
Igor Thiago de Andrade Cesar – Capitão-Tenente (IM)
Navegação de cabotagem – definições – tipos de cargas – legislação. Ressurgimento
no Brasil. Armadores. Portos no Estado do Rio de Janeiro. Uso da Marinha
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ALMIRANTE DE ESQUADRA
EDUARDO BACELLAR LEAL FERREIRA
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COMANDANTE DA MARINHA
– aos membros dos Poderes Executivo, rante de Esquadra Airton Teixeira Pinho
Legislativo e Judiciário, por terem recep- Filho e Vice-Almirantes Bento Costa Lima
cionado positivamente as nossas principais Leite de Albuquerque Junior e Celso Luiz
iniciativas, procurando auxiliar em quase Nazareth, pela ajuda amiga, franca e leal;
todas as ocasiões; – aos oficiais e praças dos diversos
– aos ex-comandantes do Exército, Ge- Corpos e Quadros e servidores civis dos
neral de Exército Enzo Martins Peri, e da três níveis, pelo auxílio inestimável e pelo
Aeronáutica, Tenente-Brigadeiro do Ar Ju- comprometimento com as metas estabele-
niti Saito, pela maneira equilibrada e amiga cidas, a partir de um indispensável esforço
com que sempre trabalhamos, propiciando diuturno;
uma contínua e harmoniosa cooperação; – aos componentes da instituição que,
– ao chefe do Estado-Maior Conjunto enquanto esta cerimônia se desenrola,
das Forças Armadas, General de Exército encontram-se afastados de seus lares,
José Carlos de Nardi, pelo cordial rela- desenvolvendo a atividade operativa
cionamento e pelos esforços em prol da precípua, adestrando-se em seus navios;
interoperabilidade; e ao ex-secretário-geral patrulhando nossas Águas Jurisdicionais;
do Ministério da Defesa, Dr. Ari Matos levando assistência médico-hospitalar às
Cardoso, pela coordenação das atividades populações ribeirinhas dos rios da Bacia
e sua perfeita articulação; Amazônica e do Pantanal com os ‘Navios
– aos ex-ministros e ex-comandantes da Esperança’; navegando nas desafiado-
da Marinha, dos quais estão presentes os ras águas antárticas e dando sustentação à
Almirantes de Esquadra Alfredo Karam, ciência; levando a mensagem de paz e de
Mauro Cesar Rodrigues Pereira e Roberto brasilidade nas diversas missões sob a égide
de Guimarães Carvalho, pelas atuações em de organismos internacionais, em especial
suas respectivas épocas, que viabilizaram no Haiti e no Líbano, por conduzirem,
o processo de evolução que tem indicado com altivez, o Pavilhão Nacional e zela-
o rumo a seguir, permitindo alcançar a rem despretensiosamente pelos interesses
posição de destaque de que desfrutamos maiores do País;
atualmente; e aos antigos chefes, cujos – aos que já se encontram na inativida-
legados são permanentes e a quem devo de, pela colaboração e pelas palavras de
bastante, por seus exemplos de conduta e incentivo;
pelos aconselhamentos; – aos soamarinos, pelas manifestações
– aos membros do Almirantado, pela de amizade e valiosa contribuição para a
permanente parceria e por terem dividido disseminação da importância da ‘Amazônia
comigo os sucessos e as adversidades, Azul’ e para a consolidação de uma men-
assessorando-me e facilitando sobremanei- talidade marítima;
ra as resoluções do Comando; – aos companheiros da Turma Mendes,
– aos demais almirantes, pela execução pelo estímulo constante e, sobretudo, pela
primorosa de suas atribuições em todos os amizade construída desde quando, ainda
setores, fazendo com que as determinações muito jovens, chegamos à Enseada Batista
e instruções fossem cumpridas da forma das Neves e à Ilha de Villegagnon;
mais eficaz; – à minha mãe Lourença, pelo perma-
– à tripulação do meu Gabinete, pela nente carinho, pela dedicação e afeição e
aplicação e tenacidade ímpares; em parti- pela incansável torcida por novos triunfos.
cular, aos meus chefes do Gabinete, Almi- Presto uma homenagem aos já ausentes,
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meu pai Claudio e meu irmão, Aspirante e que estão prontos para receber e atender
Moura, este que partiu cedo demais, mas suas ordens e orientações. Certamente, eles
que certamente, se aqui estivessem, esta- estarão ao seu lado quando o mar se tornar
riam muito felizes por verem encerrar mais encapelado e lhe darão respaldo quando
essa fase do meu extenso percurso; for manobrar para ganhar barlavento. Fru-
– à minha esposa Sheila, companheira to de sua experiência de vida e bagagem
de mais de 46 anos de casamento, de modo profissional, aliadas a uma maneira afável
especial, pelo amor, pela cumplicidade, por de proceder, não resta dúvida que saberá
estar sempre ao meu lado e pelo esforço conduzi-los a um destino promissor. Assim,
notável e pioneiro à frente das Voluntárias desejo que Deus o ilumine em todas as suas
Cisne Branco, que, além dos trabalhos de decisões, além de abençoá-lo com alegrias
cunho social, reforçou em muito os laços e realizações, votos estes extensivos às
de união entre as mulheres da Família Na- suas estimadas mãe, Dona Lygia, e esposa,
val. Faço a você a promessa de uma maior Christiani, e a sua família.
disponibilidade; Sinaleiro! Içar a flâmula de fim de
– aos meus filhos Claudio, Fernando e comissão!
Eduardo, dos quais tenho muito orgulho, Geral de comando: manobra com o
pela superação do que decerto sofreram Almirante Leal Ferreira!
com as muitas ausências, geradas pela in- Viva a Marinha!
tensa vida profissional; às minhas noras; e Viva o Brasil!”
aos netos Luana, Pedro, Miguel e Júlia, pela
afetuosidade, pureza e meiguice que têm Mensagem do Ministro da Defesa
trazido uma nova dimensão às nossas vidas;
– aos familiares e amigos, que sempre “Senhoras e senhores,
acompanharam os meus passos, pelas ma- Hoje, com orgulho patriótico, presido
nifestações de carinho e companheirismo; e a passagem de comando de um grande
– por fim, elevo meu pensamento a chefe naval para outro, na briosa Marinha
Deus, reconhecendo sua permanente pro- do Brasil.
teção e as dádivas concedidas. Sob a liderança do Almirante de Esqua-
Ao encerrar a última pernada da prazei- dra Julio Soares de Moura Neto, esta Força
rosa viagem a bordo da Marinha, completo assistiu a uma das maiores transformações
a atracação ao cais e autorizo ‘dobrar a de sua história: a Marinha do futuro co-
amarração e passar a prancha para terra’. meçou a se tornar a Marinha do presente.
Ao término da faina, e assim que o meu pa- As qualidades de marinheiro e chefe
vilhão for arriado, terá chegado o momento naval com que o Almirante Moura Neto
de desembarcar, não sem antes transferir conduziu a Marinha, sob o comando su-
o timão às firmes e competentes mãos do premo de dois presidentes da República,
novo comandante. são conhecidas de todos.
Prezado amigo Almirante Leal Ferreira! Com dinamismo e empreendedorismo
Dentro de poucos minutos, Vossa Exce- característicos, o Almirante Moura Neto
lência será o timoneiro de uma instituição deixa um legado de dedicação absoluta à
secular, dotada de peculiar cultura organi- Força e um exemplo único de confiança nos
zacional, formada por motivados homens e destinos da Marinha do Brasil.
mulheres que juraram ‘defender a Pátria com O Almirante Moura Neto concebeu a
o sacrifício da própria vida, se preciso for’ Marinha à altura dos desafios estratégicos
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presença do Estado nessas regiões. Esse lio Soares de Moura Neto, cuja consistente
é nosso ambiente operacional, um grande atuação de quase oito anos como nosso co-
patrimônio por zelar e defender. Ele requer mandante proporcionou à instituição novas
uma Força Naval moderna, equilibrada e dimensões estratégicas.
balanceada, com meios navais, aeronavais Assumo o timão encontrando uma Mari-
e de fuzileiros navais aprestados, compatí- nha organizada, com rumos bem traçados.
veis com a inserção político-estratégica no Não há necessidade, e este é o momento
cenário internacional e em sintonia com os de asseverar-lhes, de mudanças no regime
anseios da população brasileira, aspectos de máquinas ou guinadas fortes. Assim,
que, desde já, continuaremos a perseguir. permanecem em vigor todas as ordens
Devemos, todos os que servimos à emanadas de meu antecessor.
Marinha, lembrar-nos Prezado Almirante
sempre que a socieda- Moura Neto, leve com
de, a qual faz enormes Devemos, todos os que Vossa Excelência o re-
sacrifícios para manter servimos à Marinha, conhecimento pela forma
a estrutura governa- dinâmica, pormenori-
mental, aí incluídas lembrar-nos sempre que zada, enérgica e sempre
as Forças Armadas, a sociedade faz enormes presente com que liderou
adquire cada vez mais sacrifícios para manter a sua tripulação e como
consciência de que conduziu os relevantes
pode e deve cobrar da estrutura governamental, projetos que nos impul-
administração pública aí incluídas as Forças sionam. Ao presenciar
padrões elevados de seu pavilhão sendo arria-
desempenho. Assim, Armadas, adquire cada do e recebendo as honras
torna-se imperioso que vez mais consciência de de despedida, desejamos
todas as nossas Or- que pode e deve cobrar que o futuro reserve no-
ganizações Militares vos e instigantes estímu-
busquem, com inque- da administração pública los a esse autêntico mari-
brantável persistência, padrões elevados de nheiro e digno brasileiro.
a máxima eficiência e Seja muito feliz!
efetividade no cumpri- desempenho Da mesma forma,
mento de suas atribui- agradeço à Sra. Sheila,
ções. Por outro lado, considero ser um dever, nossa querida diretora nacional das Vo-
como comandante da Marinha, apresentar ao luntárias Cisne Branco. Externo, em nome
ministro da Defesa, sempre com lealdade e da Família Naval, o reconhecimento, pelo
sinceridade, as dificuldades e necessidades trabalho abnegado de coordenação e inte-
da Força para bem atender o que o Brasil gração das atividades que proporcionaram
de nós espera. Jamais nos esqueçamos que educação, cultura, entretenimento e assis-
a Nação tem o direito de exigir que sua Ma- tência social complementares aos militares,
rinha, quando chamada, venha a garantir a civis e seus dependentes.
salvaguarda de sua soberania e de seus inte- Nesta significativa cerimônia, vejo pre-
resses no mar; nessa hora, nunca poderemos sentes diversos ex-ministros e ex-comandan-
alegar que não estamos prontos. tes da Marinha, que muito me distinguem
Sou profundamente grato, assim como ao deslocarem-se até Brasília, e cuja visão e
toda a Força, ao Almirante de Esquadra Ju- comprometimento me servem de exemplos.
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COMANDANTE DA MARINHA
Vejo também, bem próximo, neste pa- comunidade marítima, soamarinos, amigos,
lanque principal, meus pares do Almiran- companheiros de outras jornadas e colegas
tado, a quem manifesto a certeza de que a da querida Turma Esperança. Todos, aos
amizade e o respeito mútuo desenvolvido quais não tenho a pretensão de nominar,
ao longo de décadas de convivência profis- abrilhantam a cerimônia e reforçam o valio-
sional permitirão um trabalho harmônico e so estímulo que tanto me ajudará.
em equipe na alta condução da Marinha. Por fim, vejo meus queridos familiares e,
Vejo, ainda, os embaixadores acreditados em seus corações, vejo o meu saudoso pai,
no Brasil, ministros de Estado, ex-ministros exemplo inspirador de amor pela Marinha,
de Estado, ministros do Supremo Tribunal integridade e humanidade.
Federal, parlamentares, comandantes das Ao encerrar, peço a Deus que continue
Forças, chefe do Estado-Maior Conjunto e a proteger a nossa instituição, iluminando
da Secretaria-Geral do Ministério da Defesa, minhas decisões e conferindo-me ânimo e
membros dos alto-comandos, ministros do serenidade para bem cumprir todas minhas
Superior Tribunal Militar e de outros tribu- atribuições, bem como abençoe as nossas
nais superiores, chefes navais de ontem, ofi- tripulações e guarde seus familiares quando
ciais generais, membros do Poder Judiciário de suas ausências para defender os interes-
e do Ministério Público, adidos militares, ses do País.
representantes da indústria de Defesa e da Viva a Marinha! Tudo pela Pátria!”
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PRÊMIO REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA DE 2013
ESTADO-MAIOR DA ARMADA
PORTARIA No 328/EMA, DE 24 DE NOVEMBRO DE 2014
O chefe do Estado-Maior da Armada, 2012 e 2013, ao Capitão de Corveta (FN)
no uso da delegação de competência que Alexandre Arthur Cavalcanti Simioni, pelo
lhe confere o inciso X, art. 1o, Anexo A trabalho “Terrorismo Marítimo”, publicado
da Portaria no 93/2009, do Comandante da na RMB do 1o trimestre de 2012.
Marinha, resolve: Carlos Augusto de Sousa
Art. 1o – Conceder a Medalha “Revista Almirante de Esquadra
Marítima Brasileira”, relativa ao triênio 2011, Chefe do Estado-Maior da Armada
Sylvio de Camargo (Ciasc); foi observador mi- evitando a violência politica até 2011.
litar e chefe da Seção de Informação do Setor Boletim do Tempo Presente (UFRJ), 2009.
IV da Missão das Nações Unidas no Sudão – Cenários prospectivos para o Sudão
(Unmis), retornou ao Ciasc como chefe da em 2012. Boletim do Tempo Presente
Divisão de Trabalhos Acadêmicos do Centro (UFRJ), 2009.
de Estudos do Corpo de Fuzileiros Navais – A Missão das Nações Unidas no Su-
(CFN) e atualmente é oficial de Treinamento dão. Revista Âncoras e Fuzis, 2010.
Militar – DPKO – ONU. – O Centro de Lições Aprendidas do
Frequentou e completou os seguintes USMC: um modelo a ser seguido pelo
cursos: CFN?. Revista Âncoras e Fuzis, 2011.
Mestrado em Operações Militares – Cenários apontam para possibilidade
(EB) – 2003-2004; Mestrado em História de conflito no Sudão. Boletim do Tempo
Comparada, com ênfase em Relações Inter- Presente (UFRJ), 2011.
nacionais, Segurança – Uma visão da evo-
e Defesa Nacional, lução das guerras mo-
Consórcio Pró-Defesa dernas: a ameaça da
(MD, EGN, UFRJ, guerra cibernética no
PUC) – 2007-2008; conflito de quarta gera-
Peacekeeping and In- ção. Revista Marítima
ternational Conflict Brasileira (RMB), 2011.
Resolution – Peace – A relação simbió-
Operations Training tica entre mídia, terro-
Institute – 2010; Na- rismo e grandes eventos
tional Security and esportivos. RMB, 2012.
Defense Strategy – In- – Terrorismo Ma-
ter-American Defense ritimo. Revista da Es-
College – 2010; Glo- cola de Guerra Naval e
bal Terrorism – Peace RMB, 2012.
Operations Training – A Projeção Anfí-
Institute – 2011; Cer- bia e o combate às no-
tificate in Terrorism vas ameacas no Atlânti-
Studies – University co Sul. Revista Âncoras
of St Andrews – 2011- CC (FN) Simioni e Fuzis, 2014.
1012; e United Na- Teve texto em jor-
tions Military Observer – Peace Operations nais e capítulos de livros publicados:
Training Institute – 2013. – Cenários apontam para retorno de
Possui as seguintes condecorações: Conflito no Sudão. O Globo/O Mundo. 10
Medalha do Serviço Militar e passador de Janeiro 2010.
de prata – 2o decênio; Medalha “Sangue dos – Uma visão da reação norte-americana
Herois”; Medalha de Paz – Batalhão Suez; pos-11 de setembro: possíveis ensina-
Medalha Mérito Anfíbio – 1 âncora; Meda- mentos para a evolução do planejamento
lha das Nações Unidas no Sudão – UNMIS; brasileiro em segurança e defesa. In: Ne-
e Medalha das Nações Unidas – NYHQ. oterrorismo: reflexões e glossário. Editora
Teve os seguintes artigos publicados: Gramma, 2009.
– Cenários prospectivos para o Sudão: – O terrorismo internacional contem-
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PRÊMIO REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA
porâneo e suas consequências para a se- na América do Sul: uma ótica brasileira.
gurança e defesa do Brasil. In: Terrorismo Editora Multifoco, 2010.
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TERRORISMO MARÍTIMO*
SUMÁRIO
Introdução
Principais ataques terroristas no mar
Principais organizações terroristas com capacidade de realizar ataques no mar
Principais ameaças ao setor marítimo
Navios militares como alvos compensadores
(ícones/alta repercussão na mídia)
Navios, portos e plataformas como alvos econômicos
Navios sendo empregados como armas
Navios como transporte de pessoas, cargas perigosas e
armas de destruição em massa
Sequestro de navios ou de membros da tripulação para fins diversos
Principais equipamentos e tecnologias que contribuem para o terrorismo marítimo
Principais estreitos e canais vulneráveis a ataques terroristas
Iniciativas legais internacionais
Outras iniciativas dos EUA para combater o terrorismo marítimo
Principais sistemas de segurança empregados na segurança de navios e portos
Considerações finais
* Republicação do trabalho publicado na RMB do 1o trimestre de 2012. Artigo publicado inicialmente na Revista
da Escola de Guerra Naval, vol. 17, no 2/2012.
1 Ver curriculum do autor no início da matéria.
TERRORISMO MARÍTIMO
2 No imediato pós-Guerra Fria, acreditava-se em uma era de paz e prosperidade, pois, como na visão idealista de
Francis Fukuyama (1992), “um mundo feito de democracias liberais teria menor incentivo para as guerras”.
Porém essa esperança de um mundo sem guerras “catastróficas” de caráter global, como as vivenciadas no
século XX, foi dissolvida ao presenciarmos conflitos como os de Somália, Ruanda, Bósnia, Kosovo, Che-
chênia, Afeganistão e Iraque. Donald Kagan (apud SILVA, 2004) já apontava que “há mais de dois séculos,
a única coisa mais comum que as previsões sobre o fim da guerra tem sido a própria guerra, (...) [uma vez
que,] estatisticamente, a guerra tem sido mais comum que a paz” na história da humanidade.
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TERRORISMO MARÍTIMO
3 Aqui, o conceito contemporâneo de terrorismo segue a abordagem de WHITTAKER (2005), segundo a qual as
ações terroristas possuem um objetivo político, com o propósito de conquistar o poder para atingir alguma
mudança política. Ou seja, o que se busca, em última análise, é uma mudança do status quo de seus países
com uso indiscriminado da violência, amplificado, atualmente, pelas facilidades da globalização e pelo uso
dos meios de comunicação.
4 Diante de um fenômeno de tamanha complexidade, não existe, ainda, um consenso sobre a definição de terrorismo
na literatura. Diversos autores, entre eles Laqueur, Jenkins, Shmid e Jongman, têm trabalhado sobre esta
questão, sem, contudo, chegar a uma definição formal sobre o conceito do terrorismo, em função de suas
diferentes motivações, e fatores políticos, sociais e econômicos, entre outros.
A noção do que pode ser considerado terrorismo possui alguns aspectos polêmicos. O que pode ser
considerado terrorismo na Europa, predominantemente cristã, pode não o ser no Oriente Médio, predo-
minantemente muçulmano, ou em outras regiões do mundo, com diferentes culturas. Essas divergências
explicam o insucesso da Organização das Nações Unidas (ONU) em tentar achar uma definição universal de
terrorismo, visto que o terrorismo de Estado poderia ser imputado até mesmo a alguns dos países-membros
daquela Organização. Segundo Shimid e Jongman (apud AKPAN, 2007), em 1988 havia 109 definições
sobre terrorismo. Laqueur (2002) também apresentou em seus estudos mais de 100 definições sobre o tema,
concluindo que “somente a violência ou a ameaça de violência apresenta-se como uma característica comum
às definições de terrorismo”. Apesar desta indefinição generalizada, para atingir o propósito deste estudo
utilizar-se-á a definição de terrorismo empregada pelo governo dos Estados Unidos da América (EUA, 2001
apud WHITTAKER, 2005): “Violência premeditada e politicamente motivada, perpetrada contra alvos não
combatentes por grupos subnacionais ou agentes clandestinos, normalmente com a intenção de influenciar
uma audiência”.
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TERRORISMO MARÍTIMO
5 O Código Internacional para a Proteção de Navios e Instalações Portuárias (ISPS) é constituído de uma Parte A,
de cumprimento obrigatório, e de uma Parte B, com caráter recomendatório, de acordo com o Capítulo XI
da Convenção Solas. O Código foi adotado em 12/12/2002 pela Resolução no 2 da Conferência Diplomática
dos Governos Contratantes da Convenção Solas-74 e entrou em vigor, internacionalmente, em 1/7/2004. No
Brasil, o Diário Oficial da União no 137 de 21/7/09 (Seção1, Pág. 30) publicou a Portaria no 7 de 20/7/09,
dando publicidade ao texto em português consolidado da Parte A, incluídas as emendas até 1o de janeiro de
2009. Para mais informações, ver: www.imo.org.
6 Autoridade Marítima: designação dada ao comandante da Marinha, pela Lei Complementar 97, de 1999, para o
trato das atribuições subsidiárias particulares da Marinha do Brasil.
7 RAND Corporation’s Terrorism Chronology Database e RAND-MIPT Terrorism Incident Database (In:
Murphy, 2007)
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TERRORISMO MARÍTIMO
8 Existe uma grande discussão sobre o emprego ou não das Forças Armadas no combate ao terrorismo. Uma
vertente defende que o terrorismo é uma questão de ordem interna dos Estados, devendo, portanto, ser
combatido por meio das instituições domésticas como as forças de segurança, as alfândegas, as repartições
de emigração e, sobretudo, a justiça. Uma outra vertente identifica as organizações terroristas como grupos
que operam a partir do exterior e, portanto, admite o uso das Forças Armadas, incumbidas por definição da
defesa externa. (DIAMINT, 2003)
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TERRORISMO MARÍTIMO
Nesse contexto, observa-se que os Es- de recursos marinhos. Nessa visão, a for-
tados alinhados à causa da Guerra Global ça naval norte-americana de 313 navios,
Contra o Terrorismo, desencadeada pelos prevista para 2020, seria complementada
EUA no pós-11 de Setembro, têm revisado com as unidades navais das nações amigas
suas estratégias de Defesa e Segurança para e parceiras dos EUA10 para atingir este
adaptá-las ao terrorismo internacional, esta- propósito. (ROTH, 2010)
belecendo papéis e responsabilidades além No Brasil, o emprego da Marinha do
daqueles tradicionalmente estabelecidos Brasil (MB) na consecução de suas atri-
para as Forças Armadas. No que concerne buições subsidiárias, relacionadas às ações
à segurança marítima, o comandante de preventivas e repressivas do Poder Naval
Operações Navais dos EUA, Almirante contra os delitos de repercussão nacional
Mike Mullen, apresentou em 2006 a ideia ou internacional, como o narcotráfico e
da criação de uma “Marinha de Mil Navios” o terrorismo, é regulamentado pela Lei
(1.000 Ship’s Navy)9. O propósito dessa Complementar no 97, de 9 de junho de
iniciativa visava ao emprego participativo 1999, com as alterações introduzidas pela
de todas as Marinhas do mundo no combate Lei Complementar no 117, de 2 de setembro
ao terrorismo, ao tráfico de drogas e à pira- de 2004, e Lei Complementar no 136, de 25
taria nos mares, bem como na promoção da de agosto de 201011. Desta forma, verifica-
estabilidade econômica e política, de forma -se que, atualmente, a MB possui o amparo
a assegurar a liberdade de navegação, o legal (poder de polícia) para atuar contra os
fluxo do comércio marítimo e a proteção crimes transfronteiriços, por meio das ope-
9 O conceito da “Marinha de Mil Navios” tomou a forma da chamada “Parceria Marítima Global” (Global
Maritime Partnership).
10 Para aprofundar o tema sobre a nova estratégia dos EUA e os conceitos da “Marinha de Mil Navios” e “Parceria
Marítima Global”, ver: http://www.usnwc.edu/getattachment/72712d53-8ef1-4784-925b-93c765c94e89/
Perspectivas-sobre-Estrategia-Maritima-(1).
11 Lei Complementar no 97, de 9 de junho de 1999. Art. 16-A. Cabe às Forças Armadas, além de outras ações
pertinentes, também como atribuições subsidiárias, preservadas as competências exclusivas das polícias judi-
ciárias, atuar, por meio de ações preventivas e repressivas, na faixa de fronteira terrestre, no mar e nas águas
interiores, independentemente da posse, da propriedade, da finalidade ou de qualquer gravame que sobre ela
recaia, contra delitos transfronteiriços e ambientais, isoladamente ou em coordenação com outros órgãos do
Poder Executivo, executando, entre outras, as ações de (incluído pela Lei Complementar no 136, de 2010):
I – patrulhamento (incluído pela Lei Complementar no 136, de 2010);
II – revista de pessoas, de veículos terrestres, de embarcações e de aeronaves (incluído pela Lei Com-
plementar no 136, de 2010); e
III – prisões em flagrante delito (incluído pela Lei Complementar no 136, de 2010).
Art. 17. Cabe à Marinha, como atribuições subsidiárias particulares:
I – orientar e controlar a Marinha Mercante e suas atividades correlatas no que interessa à defesa
nacional;
II – prover a segurança da navegação aquaviária;
III – contribuir para a formulação e a condução de políticas nacionais que digam respeito ao mar;
IV – implementar e fiscalizar o cumprimento de leis e regulamentos, no mar e nas águas interiores,
em coordenação com outros órgãos do Poder Executivo, federal ou estadual, quando se fizer necessária, em
razão de competências específicas;
V – cooperar com os órgãos federais, quando se fizer necessário, na repressão aos delitos de repercussão
nacional ou internacional, quanto ao uso do mar, águas interiores e de áreas portuárias, na forma de apoio
logístico, de inteligência, de comunicações e de instrução (incluído pela Lei Complementar no 117, de 2004).
Parágrafo único. Pela especificidade dessas atribuições, é da competência do comandante da Marinha
o trato dos assuntos dispostos neste artigo, ficando designado como “Autoridade Marítima” para esse fim.
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TERRORISMO MARÍTIMO
rações de Patrulha Naval (Patnav)12, cujas nesse porto, movimentando mais de 76 mi-
atividades são conduzidas por meios navais lhões de toneladas de cargas, representando
e aéreos, com o propósito de implementar ¼ de toda a balança comercial brasileira
e fiscalizar o cumprimento de leis e regula- (US$ 289,7 bilhões de dólares em 2009)14.
mentos, em águas jurisdicionais brasileiras, Embora, atualmente, a “real” ameaça à
na plataforma continental e no alto-mar, segurança e ao comércio marítimo tenha
respeitados os tratados, convenções e atos sido a pirataria, em face do aumento sig-
internacionais ratificados pelo País. nificativo de ataques a navios nas últimas
Os números apresentados pelos pales- décadas, há uma grande preocupação, por
trantes durante a Conferência Nacional de parte dos governos e estudiosos, com a re-
Segurança e Proteção Marítima, realizada lação entre pirataria e terrorismo marítimo.
no Rio de Janeiro em 2011, confirmam A pirataria na costa da Somália, por
a importância de segurança e defesa das exemplo, já é capaz de realizar seus ataques
riquezas presentes na Amazônia Azul para em alto-mar, empregando navios maiores e
o País, que podem, em última análise, ser tecnologias disponíveis no mercado, como o
alvos de ataques terroristas. Mais de 90% Sistema de Identificação Automática e o Sis-
do comércio exterior são feitos pelo mar. tema de Posicionamento Global, na identifi-
Somente a Petrobras produz mais de 2,34 cação de seus navios-alvo, por exemplo. Da
milhões boe/d13, sendo 87% da produção lo- mesma forma, há indícios de que algumas
calizada no mar (mais de 2 milhões boe/d). organizações terroristas, motivadas por seus
As reservas comprovadas de óleo e gás do objetivos políticos e ideológicos, poderiam
País somam 15,28 bilhões de boe, sendo estar desenvolvendo suas táticas, meios e
que 91% dessas reservas estão localizadas capacidades para executar ataques por via
na plataforma continental. A empresa pos- marítima. Além disso, poderia haver uma
sui, atualmente, 120 plataformas de petró- aproximação entre o crime organizado da
leo, com previsão de serem 130 até 2013. pirataria e terroristas, de forma a aumentar
Além disso, conta com 250 embarcações os lucros e levantar fundos com o propósito
contratadas que prestam apoio às platafor- de financiar ataques futuros15.
mas e com previsão de serem mais de 460 Comparado com a pirataria, o terrorismo
nos próximos dois anos. A Transpetro opera marítimo é um campo relativamente novo
uma frota de 50 navios e deverá alcançar nos estudos do terrorismo e contraterro-
112 navios nos próximos três anos. rismo, haja vista que, como citado ante-
Em relação à infraestrutura portuária, o riormente, apenas 2% de todos os ataques
Brasil possui 34 portos públicos marítimos terroristas realizados nas últimas décadas
e 129 terminais de uso privativo. Somente foram caracterizados como terrorismo
o porto de Santos possui uma área de 7,7 marítimo.
milhões de m², mais de 500 mil m² em Desta forma, os especialistas em terro-
armazéns, com uma hidrelétrica localizada rismo, ao analisarem os piores cenários de
dentro do porto capaz de produzir 15 mil terrorismo marítimo, os classificaram como
kVA. Em 2010, 5.748 navios atracaram sendo de “alto impacto, porém de baixa
12 Decreto no 5.129/2004.
13 Barris de óleo equivalente/dia.
14 Números apresentados durante a Conferência Nacional de Segurança e Proteção Marítima, 2011.
15 Universidade St. Andrews.
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TERRORISMO MARÍTIMO
16 http://www.marisec.org/shippingfacts/worldtrade/number-of-ships.php
17 http://www.worldportsource.com/index.php
18 Para outras informações sobre incidentes terroristas marítimo, ver: http://www.start.umd.edu/gtd/search/
Results.aspx?start_yearonly=&end_yearonly=&start_year=&start_month=&start_day= &end_year=&end_
month=&end_day=&asmSelect0=&asmSelect1=&target=11&dtp2=all&success= yes&casualties_
type=b&casualties_max=
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TERRORISMO MARÍTIMO
19 Informações retiradas do módulo sobre Terrorismo Marítimo do curso Terrorism Studies da St. Andrew’s
University. Para aprofundar as informações sobre estas organizações, ver também: http://www.start.umd.
edu/start/data_collections/tops/
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TERRORISMO MARÍTIMO
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TERRORISMO MARÍTIMO
realizar ataques pelo mar. Essas previsões demonstraram como aeronaves civis, sem
foram confirmadas na ação de captura de qualquer tipo de alteração em sua estrutura
Osama Bin Laden no Paquistão, em que as ou preparadas com explosivos, foram em-
análises dos computadores confirmaram as pregadas para atingir os ícones capitalista
intenções do grupo em realizar terrorismo e militar dos EUA, além, é claro, de terem
marítimo como estratégia para atingir a causado um grande impacto na economia
economia ocidental, conforme apresentado e serem alvos considerados de alta letali-
anteriormente. dade (mass casuality). Transportando este
Táticas – Ataques marítimos suicidas cenário para o mar, surgem algumas possi-
com embarcações e mergulhadores. Porém bilidades de ameaças que o setor marítimo
a maior preocupação é que a organização pode enfrentar em futuro próximo:
empregue armas NQBR em seus futuros – navios militares como alvos compen-
ataques. No que concerne ao terrorismo sadores (ícones/alta repercussão na mídia);
marítimo, a preocupação é que essas armas – navios, portos e plataformas como
sejam transportadas em contêineres e deto- alvos econômicos;
nadas ao atingir algum superporto. – navios sendo empregados como
Meios – Não confirmados. armas;
Áreas de Atuação – A organização ain- – navios como transporte de pessoas,
da tenta manter suas conexões em todo o cargas perigosas e armas de destruição
globo, mesmo após a morte de Osama Bin em massa;
Laden. Em relação ao terrorismo marítimo, – sequestro de navios ou de membros da
as principais preocupações recaem sobre tripulação para fins diversos.
as conexões no sudeste da Ásia, parti-
cularmente na Malásia, nas Filipinas, na Navios militares como alvos
Indonésia e em Singapura. O grupo possui compensadores (ícones/alta
ligações com o ASG, o Milf e o JI. repercussão na mídia)
Principal ataque – Ataques suicidas
ao USS Cole e ao M/V Limburg em 2002, Navios de guerra podem ser considera-
ambos na costa do Iêmen. Ataques suicidas dos alvos em potencial para organizações
aos terminais de petróleo em Al Basrah e terroristas, como a Al Qaeda e o LTTE.
Khawr Al Armaya (Abot e Kaaot) em abril O LTTE executou mais de 40 ataques
2004. Atentados, sem êxito, aos USS Kear- suicidas contra navios da Marinha do Sri
sarge e USS Ashland, localizados no porto Lanka entre 1990 e 200921. Os atentados ao
de Aqaba em agosto de 2005. Atentado USS Cole e ao USS The Sullivans em 2000,
suicida, sem êxito, ao petroleiro japonês M no Iêmen; os atentados ao USS Ashland e
Star, em 28 de julho de 2010, no Estreito USS Kearsarge na Jordânia, em 2005; os
de Hormuz. planos descobertos de ataque a navios dos
EUA em Singapura e no Estreito de Hor-
PRINCIPAIS AMEAÇAS AO SETOR muz, assim como os planos contra navios
MARÍTIMO do Reino Unido no Estreito de Gibraltar,
apontam para a possibilidade de ataques
Os atentados do 11 de Setembro de 2001 futuros a navios de guerra como um alvo
ao World Trade Center e ao Pentágono compensador.
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TERRORISMO MARÍTIMO
Navios, portos e plataformas como alvos iraquiano. Em abril de 2004, três embar-
econômicos cações da Al Qaeda estavam a seis milhas
da costa de Basra, navegando em direção
Em um vídeo divulgado em 2004, Osama aos terminais de petróleo. Um navio-
Bin Laden demonstrou sua vontade de fazer -patrulha norte-americano foi enviado para
com que os EUA falhem economicamente. realizar a identificação e a inspeção destas
Não há dúvidas de que o petróleo é uma embarcações. Ao se aproximar, uma das
fonte de energia de vital importância para embarcações foi explodida pelos terroristas
o desenvolvimento de qualquer país, como suicidas, matando três marinheiros norte-
também o é para a economia norte-americana. -americanos. As outras duas embarcações
As consequências econômicas do ataque ao iniciaram o deslocamento na direção do
MV Limburg, em 2002, fez com que o preço terminal, porém explodiram antes de atingir
do petróleo subisse nas primeiras horas após o alvo. Não há relatos de que incidentes
a divulgação na mídia sobre o ataque, assim desta natureza tenham se repetido até então;
como fez com que triplicassem os valores contudo, as consequências econômicas no
de seguros de navios para aquela região. mercado mundial serão altíssimas caso um
Contudo, por meio de uma análise mais apro- ataque desses seja bem-sucedido.
fundada, verifica-se que as consequências Em termos de análise das probabilidades
econômicas desse ataque ficaram limitadas à de ameaça, a Universidade de St. Andrew’s
região do Oriente Médio e foram rapidamente considera que a probabilidade de um navio
superadas. ser empregado como arma para atingir um
No entanto, após Abd al-Rahim al-Nashiri porto é baixa, porém com um alto impacto
ter anunciado que a Al Qaeda planejava para a economia caso se concretize. Esta
atacar, simultaneamente, vários navios análise fundamenta-se na dificuldade de
petroleiros no Estreito de Hormuz, com o manobrar navios e na necessidade de se ter
propósito de causar o maior dano possível à um planejamento detalhado das instalações
economia ocidental, as medidas de segurança portuárias, a fim de que o navio atinja um
contra o terrorismo marítimo foram intensifi- local que possa maximizar os danos, como,
cadas. O planejamento a ser executado pela por exemplo, armazéns com produtos infla-
organização seria o de afundar vários navios máveis ou depósito de combustíveis.
petroleiros, de forma a bloquear o estreito
e impedir o comércio marítimo na região, Navios sendo empregados como armas
causando um caos nas bolsas de valores mun-
diais e interrompendo o mercado de petróleo Navios poderão ser empregados, em
temporariamente. similitude com as aeronaves usadas nos
Em relação às instalações de petróleo ataques do 11 de Setembro, como armas
e gás, verifica-se que a Al Qaeda realizou para atacar terminais de petróleo e gás,
alguns ataques por terra a instalações de plataformas, portos, outros navios ou
petróleo na Arábia Saudita e no Iraque, espalhando cargas ou substâncias no mar
degradando, sensivelmente, a produção que afetem o meio ambiente e o comércio
de óleo e a economia local. No entanto, marítimo. Um pequeno bote, rebocador ou
atentados a terminais ou ataques a plata- traineira, por exemplo, pode ser preparado
formas de petróleo por via marítima são com explosivos para uma missão suicida.
raros. Há relato de apenas uma tentativa de Um exemplo histórico demonstra o po-
ataque, por mar, a um terminal de petróleo der destrutivo de um navio carregado com
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TERRORISMO MARÍTIMO
– Pirataria com fins políticos: a linha que mente no mercado e de difícil controle que
separa a pirataria e o terrorismo, neste caso, poderão ser empregados por organizações
é tênue. Geralmente, o objetivo de piratas é terroristas, como, por exemplo:
o ganho financeiro, fruto do seu roubo, po- – Lanchas rápidas, como as lanchas
rém o dinheiro arrecadado do sequestro de pneumáticas e de casco rígido – Encontradas
navios e sua tripulação poderá ser utilizado facilmente no mercado e de simples opera-
para financiar organizações terroristas. ção, as quais poderão ser empregadas em
– “Escola de Navegação”: no pós-11 ataques suicidas, como visto anteriormente.
de Setembro, especialistas em terrorismo – Equipamento de mergulho de circuito
alertaram para a possibilidade de organi- fechado – Recicla o oxigênio e não produz bo-
zações terroristas estarem desenvolvendo lhas, o que dificultaria a identificação dos mer-
suas capacidades marítimas, entre as quais gulhadores. Apesar do mergulho ser limitado a
a possibilidade de sequestro de tripulações aproximadamente 10 metros de profundidade,
com o propósito de aprender como mano- é o suficiente para que organizações terroristas
brar navios. Um caso em especial chamou realizem um ataque submerso.
a atenção da comunidade internacional: no – Veículos de propulsão submarina (sea
dia 26 de março de 2003, quando o navio scooters) – Não são difíceis de operar, são
Dewi Madrim estava navegando na costa de baixo custo e, dependendo do tipo, per-
da Sumatra, sua tripulação foi surpreendida mitem uma autonomia de 90 minutos a uma
pelo ataque de um “grupo de piratas” bem velocidade de 3,5 km/h, operando entre 20
armados. De acordo com o jornal The Eco- e 30 metros de profundidade.
nomist de 2 de outubro de 2003, os “piratas” – Minissubmersíveis (Swimmer Delivery
navegaram por uma hora pelo Estreito de Vehicles) – Não são facilmente encontrados
Málaca e depois deixaram o navio, seques- no mercado civil, porém há firmas que cons-
trando o comandante e o imediato do navio, troem este equipamento para fins turísticos
sem deixar qualquer pedido de resgate. Es- (geralmente para duas pessoas), podendo ser
pecialistas de Londres, baseados na Aegis empregados por terroristas. O Departamento
Defense Services (ADS), acreditam que de Segurança dos EUA já adicionou o minis-
esse sequestro foi realizado por terroristas submersível em seu boletim, com instruções
e não por piratas, com o propósito de ga- para que escolas de mergulho e lojas reportem
nharem experiência na manobra de navios qualquer atividade suspeita em relação à
de grande porte naquele estreito. compra e/ou uso desse tipo de equipamento.
Em termos de análise das probabilidades Um fato que chamou a atenção de espe-
de ameaça, considera-se que a probabili- cialistas foi o sequestro de um instrutor de
dade de sequestros a navios e tripulações mergulho em junho de 2003 pela organização
de navios é alta, porém de baixo impacto. terrorista Abu Sayyaf. Por ocasião de sua
libertação, o instrutor reportou que o grupo
PRINCIPAIS EQUIPAMENTOS estava interessado em que ele ensinasse
E TECNOLOGIAS QUE técnicas de mergulho. Experts em contrater-
CONTRIBUEM PARA O rorismo apontam que a Al Qaeda pode estar
TERRORISMO MARÍTIMO treinando seus membros para realizarem
ataques empregando técnicas de mergulho,
Segundo estudos desenvolvidos pela com sea scooters e homens-bombas-torpedo.
Universidade de St. Andrew’s, há diversas – Equipamentos de navegação, como
tecnologias e equipamentos vendidos livre- o Global Positioning System (GPS), e o
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TERRORISMO MARÍTIMO
22 Cabendo aqui um breve questionamento: estariam as organizações terroristas estudando geoestratégia para atingir
seus propósitos? Um dos principais historiadores navais e geoestrategista foi o britânico Sir Julian Stafford
Corbett (1854-1922). O construto teórico de Corbett para a Estratégia Naval estava pautado na proteção das
vias de comunicação marítimas. O autor sustentava a teoria de que o objeto da guerra naval deveria ser o de
assegurar o comando do mar ou negá-lo ao inimigo. Segundo Corbett, o comando do mar estaria relacio-
nado ao controle das vias de comunicação marítimas, com propósitos comerciais ou militares. Para tanto, o
controle dessas vias seria relevante, além do das bases navais, dos terminais das rotas comerciais e das áreas
focais, onde convergem as rotas. Corbett definiu dois métodos fundamentais para obter o controle das vias
de comunicação marítimas: a destruição física ou a captura de navios de guerra ou mercantes inimigos e o
bloqueio naval. (CAGARRINHO, 2011)
23 Esta região concentra 41% dos índices de pirataria no globo.
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TERRORISMO MARÍTIMO
100% dos contêineres sejam escaneados – Container Tracking and Tracing Equi-
(raios X e gama) antes de atingirem o solo pment: Sistema empregado para verificar
norte-americano26. a localização do contêiner, assim como,
– PSI: Iniciativa global proibindo o informar se o contêiner foi violado, em
transporte marítimo de armas de destruição tempo real.
em massa ou qualquer material relacionado – Long Range Acoustic Device
a armas NBQR. Apesar de ser um acordo (LRAD): Equipamento acústico que
informal, há mais de 40 Estados que apoiam emite feixe sonoro a uma distância de
a iniciativa27. até 3 mil metros. Porém, a curtas dis-
tâncias, poderá ser empregado como
PRINCIPAIS SISTEMAS DE arma não letal, em face da potência do
SEGURANÇA EMPREGADOS equipamento.
NA SEGURANÇA DE NAVIOS E – ShipLoc: Consiste em um sistema
PORTOS de localização de navios por satélite
privativo. Possui sistema de alarme
Atualmente, os principais sistemas de que avisa aos proprietários do navio e a
segurança empregados para apoiar as me- autoridades competentes sobre invasão,
didas de segurança e vigilância de navios ataque, sequestro etc., sem poder ser
e portos são: identificado por qualquer pessoa que
– Automated Notice to Mariners System tenha invadido o navio ou por outros
(ANMS); navios na área.
– X-Ray and Metal Detection Equipment; – Secure-Ship: Consiste em uma cerca
– Container Tracking and Tracing elétrica não letal instalada no costado do
Equipment; navio a fim de evitar que piratas ou terro-
– Long Range Acoustic Device (LRAD); ristas subam a bordo.
– ShipLoc; – Unmanned Aerial Vehicle (UAV):
– Secure-Ship; Veículos aéreos não tripulados que poderão
– Unmanned Aerial Vehicle (UAV); ser empregados para realizar a vigilância de
– Automatic Identification System (AIS). uma determinada área marítima.
– Automatic Identification System
– ANMS: Este sistema provê informa- (AIS): Este sistema provê informações
ções aos navegantes sobre a segurança da entre navios, portos, armadores etc.,
navegação (similar ao “aviso aos nave- com informações, em tempo real sobre
gantes”). No que concerne ao terrorismo identificação do navio, velocidade, po-
marítimo e à pirataria, o sistema informa sição, detalhes sobre a carga e local de
os principais incidentes e áreas de risco à destino. Apesar de o sistema contribuir
navegação contra possíveis ameaças. para a segurança no mar, como, por
– X-Ray and Metal Detection Equip- exemplo, contra abalroamento, o sistema
ment: Empregado para verificar o conteúdo permite que qualquer indivíduo, de posse
de contêineres, principalmente materiais de um equipamento AIS, receba todas
perigosos, como armas NBQR, explosivos estas informações, inclusive terroristas
e armamentos. e piratas.
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TERRORISMO MARÍTIMO
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TERRORISMO MARÍTIMO
tro de Estudos sobre Terrorismo, realizado 2012; da Copa do Mundo, em 2014; e das
pela Secretaria de Acompanhamento e Olimpíadas, em 2016, entre outros grandes
Estudos Institucionais do Gabinete de eventos que o País sediará e que contará
Segurança Institucional da Presidência com a divulgação dos eventos, em tempo
da República em julho de 2004. Segundo real, pela mídia internacional.
Diniz (2004), todas as respostas foram Após o 11 de Setembro, a postura brasi-
afirmativas, pois, primeiramente, o Bra- leira diante da crise internacional resultou
sil dispõe de inúmeras instalações que na rediscussão da agenda de segurança
são “alvos tradicionais” de organizações internacional, o que impulsionou a reava-
terroristas; em segundo lugar, o Brasil liação da política de segurança e de defesa
poderia ser alvo de atentados terroristas nacional do País, discutindo as questões do
caso a Al Qaeda, por exemplo, encontrasse emprego das Forças Armadas no combate
dificuldades de realizar seus ataques onde ao terrorismo, da Tríplice Fronteira e co-
vem agindo ou devido à necessidade de operação regional e hemisférica contra o
mostrar aos seus próprios seguidores que terrorismo, questões até então relegadas a
ainda está em condições de luta, e pelo segundo plano, em função da ausência de
fato de o Brasil ser um local de fácil en- tensões regionais ou de preocupações com
trada e saída; em terceiro lugar, pelo País conflitos de natureza clássica interestatal
ter dificuldades comprovadas nas áreas na região da América do Sul.
de inteligência e segurança, combinadas Segundo Vidigal (2004a), embora o
com as diversas etnias aqui presentes, que terrorismo seja um problema tipicamente
tornam o Estado brasileiro privilegiado policial, em alguns casos extremos pode
para a obtenção de facilidades para ações envolver a intervenção das Forças Arma-
terroristas. Ou seja, não há nada que ex- das, que, assim, devem dispor de unidades
clua o Brasil da possibilidade de ser alvo contraterror para essa eventualidade. Para
de um ataque terrorista28. Vidigal, apesar do papel tradicional das
Nesse aspecto, mesmo havendo uma Forças Armadas ter sido sempre o de
baixa probabilidade de ocorrência de ata- enfrentar forças regulares inimigas, “[...]
ques terroristas em solo brasileiro, existe o contexto atual indica a necessidade de
esta possibilidade, principalmente quando ampliação do emprego das Forças Armadas
se considera a hipótese de atos terroristas do País em inúmeras situações antes não
contra os alvos tradicionais, como embaixa- previstas”.
das, empresas multinacionais e delegações Os ataques terroristas de 2001 trou-
oficiais estrangeiras, como serão presen- xeram novas variáveis para o cenário
ciadas em maior intensidade nos próximos mundial, no qual, em um contexto de
anos, em face da realização do Rio+20, em ameaças difusas29, é indispensável que o
28 O Brasil, dentro do concerto internacional, apresentava em 2004 um risco médio de sofrer alguma ameaça
terrorista. Os parâmetros utilizados para classificá-lo neste nível foram desde a percepção (não testada em-
piricamente) pelos órgãos responsáveis pela segurança do Estado até a caracterização da ameaça terrorista
como parte de uma realidade mais complexa: A Guerra Assimétrica. (CEPIK, 2004)
29 Segundo Vidigal (2004), “o fato de considerarmos difusas as ameaças não significa que elas não sejam concretas,
objetivas; o que queremos assinalar é que essas ameaças podem vir de muitas possíveis direções, sendo um
risco desnecessário relacioná-las a um inimigo específico, a um determinado Estado. O inimigo é qualquer
um que possa concretizar as ameaças identificadas. A questão, portanto, está em estabelecer critérios para a
concreta identificação dessas ameaças. A afirmativa de que o inimigo precisa ser claramente estabelecido é uma
reminiscência da época em que as hipóteses de guerra eram o marco orientador do planejamento estratégico”.
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TERRORISMO MARÍTIMO
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TERRORISMO MARÍTIMO
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46 RMB1oT/2015
INFRAESTRUTURA E LOGÍSTICA: Oportunidades e desafios*
SUMÁRIO
Introdução
Importação/exportação
Infraestrutura
Rodovias
Ferrovias
Transporte marítimo
Agronegócio
Adendo
INTRODUÇÃO espetacular, mas, saindo dali, perdemos a
guerra. O Ministério da Agricultura e Pe-
48 RMB1oT/2015
INFRAESTRUTURA E LOGÍSTICA: Oportunidades e desafios
mundo em suas mãos. Mas o mais signifi- safras anuais. Contamos com um fator de
cativo é que, dentre eles, somente o Brasil vantagem diferencial: de cada cinco hec-
possui áreas disponíveis para incrementar tares passíveis de serem incorporados no
significativamente estas culturas. processo produtivo no mundo, um está no
Por ano, a população do mundo cres- Brasil, em condições climáticas favoráveis.
ce uns 80 milhões de Outra variável não
habitantes, enquanto, desprezível é que se
com a melhoria do
De cada cinco hectares produz na entressafra do
nível de renda, isso passíveis de serem hemisfério norte, onde
equivale a 100 milhões incorporados no processo estão concentrados os
de habitantes. Então, grandes produtores e
o mercado internacio- produtivo no mundo, um consumidores. Como
nal cresce anualmente está no Brasil, em condições entramos com a nossa
perto do tamanho de produção justamente
uma população brasi-
climáticas favoráveis neste período, temos
leira. Esses dados são vantagens comerciais.
referenciais, mas sinalizadores da demanda.
Do lado da produção, faltam áreas Infraestrutura
adequadas para produzir. A Sibéria, por
exemplo, com muitas terras férteis para Com a mudança da geografia de produ-
plantar, precisa antes tirar o gelo da sua ção e o avanço das fronteiras agrícolas para
superfície. Aqui, mesmo sem irrigação, as áreas sem infraestrutura de transportes,
somos privilegiados com duas ou três formulamos uma hipótese referencial para
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INFRAESTRUTURA E LOGÍSTICA: Oportunidades e desafios
50 RMB1oT/2015
INFRAESTRUTURA E LOGÍSTICA: Oportunidades e desafios
ram vários efeitos adicionais que desestimulam Mais de 85% da produção e do consumo
a produção. Nesta safra, deixamos de produzir de bens no mundo dão-se no hemisfério
em torno de 4 milhões de toneladas de soja e norte, acima da linha do equador. Isso
milho. Esse abortamento de produção é uma significa que a oportunidade é boa para o
riqueza que deixamos de criar e incorporar na Brasil. A China e a Índia possuem, juntas,
nossa economia. 40% da população global. A renda por
A capacidade operacional nominal de ex- habitante do brasileiro é o dobro da do
portação do Arco Norte é de 10,8 milhões de chinês e seis vezes superior à do indiano.
toneladas de grãos, com um déficit gigantesco Se levarmos em conta os outros pequenos
em torno de 50 milhões quando comparado às e médios mercados, chegaremos a um nú-
estimativas de demanda. Haverá um aumento mero avassalador do potencial de mercado
na capacidade entre 2014 e 2015, mas o desafio para alimentos.
é enorme para atender a demanda projetada O Canal do Panamá, que liga os oceanos
para até 2025. Aliás, deveríamos ter, hoje, a Atlântico e Pacífico, localizado logo acima
capacidade operacional prevista para 2025. da linha do equador, opera no seu limite
anual de 300 milhões de toneladas. Hoje, o
Capacidade operacional no Arco
Norte – estimativas (milhões de maior navio que transita por lá é o chamado
toneladas) Panamax, com capacidade de transportar
até 60 mil toneladas, o correspondente a
Portos 2013 2015 2025
aproximadamente 1.600 carretas. Agora,
São Luís – Itaqui 3,8 8,8 15,0
está sendo construído um segundo canal
Calha paralelo, para mais do que dobrar o volume
Santana-Macapá 1,0 5,0
Itacoatiara 4,0 4,0 4,0 de tráfego e que prevê a movimentação de
Santarém 3,0 4,0 4,0 navios com até 150 mil toneladas de carga,
Belém 6,0 36,0 cerca de 4 mil carretas. A mudança do porte
Total 10,8 23,8 64,0 dos navios permitirá uma redução dos custos
de fretes na ordem de 25%, fator impor-
Fonte: CTLOG tantíssimo para atingir mercados do outro
No momento em que tivermos condi- lado do mundo. Com a ampliação do canal,
ções logísticas adequadas para as novas assistiremos a uma verdadeira revolução
fronteiras, o deslocamento da porteira até nas rotas dos oceanos Atlântico e Pacífico.
um porto de embarque será reduzido entre
500 e mil quilômetros de percursos terres- Rodovias
tres. Isso poderá significar uma redução mé-
dia nacional de custos Nas rodovias, pre-
logísticos na ordem de cisamos garantir os
US$ 50 por tonelada. Nas rodovias a incorporação recursos para a sua
Essa avaliação, como de investidores privados construção e manuten-
um primeiro passo, ção. A incorporação
permite imaginar a
é essencial de investidores pri-
revolução que acon- vados é essencial. Os
tecerá na competitividade sistêmica das editais de licitação de
cadeias de produção do agronegócio e na concessão de rodovias com cobrança de
renda da atividade produtiva, inclusive pelo pedágio previam outorga da concessão
aprimoramento das soluções logísticas. para quem oferecesse o maior ágio ao Go-
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INFRAESTRUTURA E LOGÍSTICA: Oportunidades e desafios
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INFRAESTRUTURA E LOGÍSTICA: Oportunidades e desafios
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INFRAESTRUTURA E LOGÍSTICA: Oportunidades e desafios
que com isso não poderá brincar. Tere- competência com que os Estados Unidos
mos de gerir essa questão com a mesma da América fazem isso há muitas décadas.
ADENDO
Ao final do painel, o seu moderador, fronteiras. Isso deverá ter mudanças com
Tobias Grasso Júnior, diretor presidente da o aumento da capacidade de exportação
Mosaic Fertilizantes do Brasil, formulou as do Arco Norte, pois os fluxos de fretes de
seguintes questões a Luiz Antônio Fayet: retorno intensificar-se-ão, e, certamente,
os suprimentos de fertilizantes passarão
Grasso Júnior paulatinamente para a nova realidade.
Os temas da logística e da infraestrutu- Aliás, as novas rotas poderão determinar
ra estão sempre presentes no dia a dia do reduções de custos para os produtores.
agronegócio. Se perguntarmos para os exe- Essa transformação volumétrica não será
cutivos a prioridade do setor, com certeza, muito sentida no curto prazo, mas, se forem
estes dois temas estarão lá. liberadas as amarras existentes para o setor
Uma palavra de ordem sempre repetida portuário brasileiro, teremos um grande in-
no agronegócio é gargalo, seja na armaze- cremento, especialmente pela viabilização
nagem, no recebimento, no embarque ou da exportação do milho.
no desembarque das mercadorias. As filas
e os atrasos com os pagamentos de estadias Grasso Júnior
cobram muito da conta do agricultor. O Governo sabe disso tudo para se
Os marcos regulatórios ainda não se pro- posicionar?
varam eficientes por uma série de questões.
O Arco Norte pode, agora, se demonstrar Fayet
mais vivo e presente. Há dez anos, na Mo- Temos frustrações e alegrias com o Go-
saic, no Estado do Mato Grosso, abrimos verno. Em 2004, começamos a conversar
uma fábrica em Sorriso, distante apenas 60 com o Ministério dos Transportes e o Mapa
quilômetros de Sinop. A crença, naquela sobre a gestão do escoamento de safra. Na-
época, era de que a BR-163 estaria pronta, quela época, ainda não existia a CTLOG.
no máximo, em cinco anos. Éramos somente três pessoas. Rastreamos
Perguntamos, então: até que ponto esse o fluxo de saída de um ano para estimar o
crescimento da reversão na exportação de potencial de saída no ano seguinte. Identi-
grãos irá ocorrer nos fertilizantes? ficamos problemas potenciais e as formas
de contorná-los. O sistema funcionou até
Fayet 2008. Entretanto, em 2013, conseguimos,
Hoje, os portos das regiões Sul e Su- com o Ministério dos Transportes e o Mapa,
deste possuem nos fretes de retorno uma a reinstituição do Sistema do Controle do
oportunidade para abastecer as novas Escoamento de Safras. Retomamos o velho
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INFRAESTRUTURA E LOGÍSTICA: Oportunidades e desafios
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A QUESTÃO PALESTINA
Parte I
SUMÁRIO
Introdução
Informações gerais
Considerações histórico-culturais: o judeu e o judaísmo
Considerações histórico-religiosas: o árabe e o islamismo
Alguns dados atuais
Os antecedentes
Os antecedentes e principais fatos em ordem cronológica
No período antes de Cristo
No período depois de Cristo
As guerras árabe-israelenses
A Guerra da Independência de Israel
A Guerra de Suez
A Guerra dos Seis Dias
A Guerra do Yom Kippur
Outros conflitos, operações e fatos importantes posteriores, em ordem cronológica
* Foi comandante do Submarino Goiás (interino), Submarino Bahia e Navio-Escola Brasil; foi diretor do Centro de
Instrução Almirante Áttila Monteiro Aché (Ciama), da Escola de Aprendizes-Marinheiros do Espírito Santo
e Capitão dos Portos de Santa Catarina. Como almirante comandou a Força de Submarinos e o 2o Distrito
Naval e foi diretor de Aeronáutica da Marinha.
A QUESTÃO PALESTINA – PARTE I
A Cidade Velha, vista do Sudoeste. Logo abaixo do Domo da Rocha, cúpula dourada, fica o Muro das
Lamentações. Na parte bem baixa, à direita, vê-se parte da Muralha da Cidade Velha
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A QUESTÃO PALESTINA – PARTE I
e a Turquia (majorita-
riamente asiática, mas
com a Trácia incluída
na Europa).
Considerações
histórico-culturais: o
judeu e o judaísmo
a) O termo “semita”
tem como principal
designação o conjunto
de vários povos, entre
os quais se destacam
os árabes e hebreus,
que compartilhavam as
mesmas origens cultu-
INFORMAÇÕES GERAIS rais e falavam línguas
semíticas, mas que, devido às migrações,
A terra de muitos nomes, Canaã, Judá, não compõem um grupo étnico homogêneo.
Judeia, Israel, Palestina, Terra Santa (dos Entre os antigos povos semitas estão os fe-
cristãos) e Terra Prometida (dos judeus) é nícios, hebreus, amoritas, cananeus, sírios,
a área de 30 mil km2 entre o Rio Jordão, arameus, árabes e hicsos. Historicamente,
a Leste, e o Mar Mediterrâneo, a Oeste, e esses povos tiveram grande influência cul-
entre o Líbano, ao Norte, e o Deserto de tural, pois as três grandes religiões monote-
Negev, ao Sul, ou seja, inclui Israel e a mo- ístas do mundo, o judaísmo, o cristianismo
derna Palestina. É o local em que profetas, e o islamismo, possuem raízes semitas.
como Jesus Cristo e Maomé, interagiram, O termo é muito usado no contexto ra-
e seus seguidores o consideram como uma cial, mas não como termo linguístico, que
região sagrada. se refere a uma família de línguas — quer
A Jordânia, até 1920, foi parte da Pales- antigas, quer modernas —, originárias na
tina, e, por isso, sua população também tem sua maioria do Oriente Médio, que inclui
origem palestina, além de beduína. o acádio, o amárico, o árabe, o aramaico,
O Oriente Médio é a região que engloba o assírio, o hebraico, o maltês e o tigrínia.
parte da Ásia Europeia e da África Seten- A mais convincente hipótese da origem
trional, banhadas pelo Mar Mediterrâneo e do povo semita é que esses povos teriam
Oceano Índico. Engloba os seguintes paí- surgido na Arábia a partir de 3.500 a.C.
ses: Afeganistão, Arábia Saudita, Bahrein, e teriam migrado para outras regiões em
Catar, Chipre, Egito, Emirados Árabes busca de terras férteis.
Unidos, Iêmen, Israel, Irã, Iraque, Jordâ- A palavra “semita” deriva de Sem, ver-
nia, Kuwait, Líbano, Omã, Palestina, Síria são grega do nome hebraico Shem, um dos
e Turquia. Desses, os únicos países não três filhos de Noé nas escrituras judaicas
totalmente asiáticos são o Egito (que tem (Gênesis 5:32). Mas hoje, e indevidamente,
parte de seu território na península do Sinai, o termo “antissemítico”, ou “antissemita”,
na Ásia, mas é majoritariamente africano) é usado como sinônimo de antijudeu e, no
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A QUESTÃO PALESTINA – PARTE I
sentido radical, quer dizer que o judeu não c) O termo “judeu” vem do nome Judá,
deve ter lugar na sociedade. um dos 12 filhos de Jacó e umas das doze
b) Sião é o nome da mais alta montanha tribos de Israel.
de Jerusalém (cerca de 800 metros), onde o d) A religião judaica foi a primeira reli-
Rei Davi construiu uma fortaleza em posição gião monoteísta do mundo, surgida entre os
privilegiada, que passou a ser a capital do hebreus antigos, sendo Abraão considerado
Reino de Israel e que, pela definição bíblica, o primeiro judeu e o primeiro patriarca de
foi chamada de Cidade de Davi. Quando Israel, seguido por seu filho Isaac e, em
Davi mandou que para lá fosse levada a Arca seguida, Jacó. Depois, com Moisés, o juda-
da Aliança, o monte passou a ser conside- ísmo foi formalizado, e, após a sua morte,
rado local santo pelos judeus. Mais tarde, Josué, sob a direção de Deus, liderou os
com a construção do Templo de Salomão, judeus a se estabelecerem na terra onde hoje
e a remoção da Arca para lá, o termo Sião é Israel. Em seguida, os hebreus sofreram
passou a se referir ao pequeno monte em diversas invasões e a religião se tornou o
Jerusalém, dentro da Cidade Velha, onde principal elo entre eles.
se construiu o Tem- e) Israelense é o
plo de Salomão. Mais atual cidadão de Israel,
tarde, Sião passou a Israelense é o atual cidadão e israelita é o povo dos
se referir ao próprio tempos bíblicos.
Templo e aos terrenos
de Israel, e israelita é o f) Em termos de
do templo, o Monte do povo dos tempos bíblicos. religião, os judeus se
Templo. Depois disso, Os judeus se diferenciam diferenciam uns dos
Sião foi usado para outros pela prática ri-
simbolizar Jerusalém uns dos outros pela prática tualista. São de cinco
e a Terra Prometida. ritualista tipos: os conservado-
O sionismo, de- res, ou sionistas secu-
rivado de Sião (ou lares ou judeus secu-
Jerusalém), foi um movimento criado nos lares, 50% da população judaica de Israel,
tempos modernos, no século XIX, que ex- os que construíram o Estado de Israel, não
pressava o apelo dos judeus de todo o mundo observam os rituais (são não observantes) e
por sua pátria histórica – Sião, a Terra de consideram que o Estado substitui a sinago-
Israel – e defendia o direito à autodetermi- ga (são nacionalistas); os judeus ortodoxos,
nação do povo judeu, a criação de um estado que acham que o Estado não substitui a
nacional judaico, o Estado de Israel e o sinagoga e são 30%; ou judeus ortodoxos
retorno dos judeus espalhados pelo mundo. messiânicos, 5%, que acham que o Estado
Assim, com a sua criação como Estado so- é apenas necessário para trazer o Messias, o
berano em 1948, por direito legal e não por ungido por Deus; os judeus ultraortodoxos,
ato de força, o termo deveria perder o seu 15%, os Haredim, que não são sionistas,
sentido. Mas tem sido usado incorretamente são repletos de reverência a Deus, não
como sinônimo de antissemitismo, o que é mandam seus filhos para servir ao Exército,
incorreto, pois o judaísmo tem mais de 5 mil não comemoram o dia da Independência
anos de existência e o sionismo deixou de de Israel, preferem falar em iídiche (língua
existir sem ter completado nem um século dos judeus da Europa Oriental), vestem os
de vida. Há até judeus que são antissionistas, casacos e chapéus negros usados no século
sem serem, é claro, antissemitas! XVIII pelos cavalheiros da Europa Orien-
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A QUESTÃO PALESTINA – PARTE I
tal, não consideram a criação do Estado de mana no mundo, sendo que turcos, afegãos
Israel como tendo significado religioso, e e iranianos (persas), embora muçulmanos,
acham que a Terra Santa não é dos judeus, não são árabes. Outros 30% de muçulmanos
mas a Terra Prometida, que ainda está que não são árabes estão no subcontinente
por vir e que o Holocausto foi a punição indiano (Índia e Paquistão), 20% no norte
pelo povo judeu ter renegado a Jesus; e da África, 17% no sudeste da Ásia e 10%
os judeus reformados ou reformistas, que na Rússia e na China. Há minorias muçul-
não são reconhecidos oficialmente, pelo manas em quase todas as partes do mundo,
seu posicionamento antissionista. Dos 13 inclusive nos Estados Unidos da América
milhões de judeus no mundo, apenas 1,5 (EUA) (cerca de 6 milhões) e no Brasil
milhão praticam hoje a doutrina reformista. (cerca de 2 milhões).
Conservadores e reformistas são o A maior comunidade islãmica do mundo
oposto dos ortodoxos. Por exemplo, nas está na Indonésia, que não é árabe.
sinagogas ortodoxas, as mulheres ficam c) O Islã é o conjunto dos povos que
separadas do homem por causa da supers- professam o islamismo. O muçulmano
tição em relação à pureza delas durante o é o seguidor da fé islâmica e, por isso, é
ciclo menstrual. também chamado de islamita. O termo
g) A Terra Prometida era a terra fértil de maometano às vezes é usado para se refe-
Canaã, ou seja, a Terra Santa. rir ao muçulmano, o que não é adequado,
pois a religião é a devoção a Deus, e não
Considerações histórico-religiosas: o ao profeta Maomé (nasceu em 570 d.C. e
árabe e o islamismo morreu em 632 d.C.).
Em árabe, Islã significa “rendição” ou
a) Árabe é a pessoa oriunda da Península “submissão” e se refere à obrigação do
Arábica (ou Arábia) – que hoje é composta muçulmano de seguir a vontade de Deus.
por Arábia Saudita, Catar, Kuwait, Bahrein, O termo está ligado a outra palavra árabe,
Emirados Árabes Unidos, Omã e Iêmen –, salam, que significa “paz”, o que reforça o
no Oriente Médio, e da África Setentrional. caráter pacífico e tolerante da fé islâmica.
Um árabe, no sentido moderno da palavra, é O termo surgiu por obra do fundador do
alguém que é cidadão de um estado árabe, islamismo, o profeta Maomé, que dedicou
conhece a língua árabe e possui um conhe- a vida à tentativa de promover a paz em
cimento básico da tradição árabe, isto é, dos sua Arábia natal.
usos, costumes e sistemas políticos e sociais d) As raízes do islamismo não são
da cultura. Eles falam o árabe, uma língua conflitantes com as do cristianismo e do
semita, que tem a mesma origem do hebreu. judaísmo. Assim, como nas duas outras
b) O árabe é essencialmente formado grandes religiões monoteístas, as raízes
por muçulmanos, judeus e cristãos. Ou seja, do islamismo vêm do profeta Abraão. O
ser árabe não significa ser necessariamente profeta Maomé, fundador do islamismo,
muçulmano e praticar o islamismo, embora seria descendente de Ismael, o primeiro
a maior parte dos árabes seja de muçulma- filho de Abraão. Moisés e Jesus seriam
nos e seguidores do islamismo, religião descendentes de Isaac, o filho mais novo
fundada pelo profeta Maomé no século VII, de Abraão.
na Península Arábica, ou Arábia. e) Os muçulmanos não têm um deus
Na verdade, o Oriente Médio reúne diferente, pois Alá é simplesmente a pala-
apenas cerca de 18% da população muçul- vra árabe para “Deus”. A aceitação de um
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A QUESTÃO PALESTINA – PARTE I
Deus único é idêntica à de judeus e cristãos. pois, no século VII, após o falecimento de
Deus tem o mesmo nome no judaísmo, Maomé, ocorreu uma disputa sobre quem
no cristianismo e no islamismo, e Alá é o seria o seu sucessor. Os sunitas, que ven-
mesmo Deus adorado pelos judeus, cristãos ceram, diziam que o novo líder deveria ser
e muçulmanos. escolhido por processo eleitoral, e os xiitas,
f) Apenas uma minoria entre cerca de que ele deveria ser familiar e descendente
1,6 bilhão de praticantes da religião muçul- de Maomé. Os sunitas são mais ricos, e os
mana no mundo é adepta de interpretações xiitas pobres e despossuídos. Há outros gru-
radicais dos ensinamentos de Maomé. Para pos menores, como os alauítas, presentes,
essa minoria, a violência contra outros sobretudo, na Síria.
povos e religiões é considerada uma forma i) Os muçulmanos têm cinco obrigações:
de garantir a sobrevivência do Islã em seu a shahada, que é o recital do credo “Alá
estado puro. Com efeito, a jihad – que não é o único Deus e Maomé o seu profeta”;
significa “guerra santa”, mas “luta”, “em- a salat, que consiste em orar cinco vezes
penho”, contra os judeus, o Ocidente e os ao dia voltado para Meca; a zakat, que é o
EUA, que consideram “infiéis” – virou uma pagamento de doações, espécie de dízimo,
ideologia, a morte e a destruição dos infiéis para ajudar os pobres; a siam, jejuar no mês
em nome de Alá. Mas, sagrado do Ramadã; e
para a maioria dos se- a haji, fazer, ao menos
guidores do islamismo, Apenas uma minoria uma vez na vida, uma
a religião muçulmana é entre cerca de 1,6 bilhão peregrinação a Meca.
de paz e tolerância. Não abrem mão disso,
g) Os especialistas de praticantes da religião enquanto que, ao raiar
se dividem em relação muçulmana no mundo é do dia, os alto-falantes
à dificuldade de se
impor a democracia
adepta de interpretações das mesquitas chamam
os fiéis para rezar.
em países islâmicos. radicais dos ensinamentos j) Na mesquita, mu-
Para muitos, a religião de Maomé çulmana, a porta prin-
e a cultura islâmica cipal fica voltada para
formaram sociedades Meca; na sinagoga, ju-
em que os princípios democráticos não dia, para Jerusalém (em Jerusalém, voltada
têm espaço e nem atraem as pessoas. Esses para o Santo dos Santos, ou Santíssimo
consideram que é inútil tentar impor regi- Lugar – era uma sala do Tabernáculo que,
mes democráticos no Islã, pois a própria mais tarde, se transformou em uma sala do
população não estaria disposta a abraçar a Templo de Salomão, de 5 m x 5 m, onde
mudança. Mas outros analistas dizem que ficava guardada a Arca da Aliança); e na
o islamismo não impede o florescimento igreja, católica, para o Leste, o nascer do
da democracia e que os países muçulmanos sol. Na cidade de Jerusalém há 1.204 sina-
têm ditaduras e monarquias por causa de gogas, 158 igrejas e 73 mesquitas.
outros fatores. Seja qual for a explicação, o
fato é que as democracias são raras no Islã: Alguns dados atuais
só a Indonésia, a Turquia e Bangladesh têm
esse tipo de regime. a) No mundo, são 2,1 bilhões de cris-
h) Os muçulmanos se dividem basica- tãos (31,5%), 1,6 bilhão de muçulmanos
mente entre sunitas – a maioria – e xiitas, (24,2%) e 14 milhões de judeus (0,2%); em
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A QUESTÃO PALESTINA – PARTE I
64 RMB1oT/2015
A QUESTÃO PALESTINA – PARTE I
Vermelho, no chamado Milagre do Mar não conseguiria sobreviver sem a sua liga-
Vermelho, descrito no Êxodo, 2o livro do ção com o céu. Na Babilônia, o líder judeu
Antigo Testamento, e chegaram ao Monte foi Daniel, que foi forçado a servir na corte
Sinai, quando Moisés recebeu de Deus a da Babilônia por ter dons premonitórios.
tábua dos Dez Mandamentos e a Arca da – De 539 a.C. a 336 a.C. foi o período
Aliança. Moisés morreu antes de os israe- persa e helenístico (o persa Ciro, o Gran-
litas chegarem à Terra Prometida, mas seu de, mata Nabucodonosor e permite que
sucessor, Josué, conduziu-os ao Canaã, os israelitas voltem para Jerusalém). Foi
chegando a Jericó, onde as doze tribos se quando foi construído e terminado em 516
estabeleceram em 1200 a.C. Mas, depois de a.C., já no reinado de Dario, o Grande, o
terríveis massacres, acabaram dominados que seria o Segundo Templo – que não foi
pelos filisteus. considerado como Segundo Templo, mas o
– Em 1020 a.C., já no tempo do profeta posterior, construído por Herodes.
Samuel, e ainda sob domínio filisteu, foi – De 336 a.C. a 166 a.C. foi o período
criada a monarquia, o Reino de Israel, e macedônico (Alexandre, o Grande).
Saul foi o primeiro rei. – De 166 a.C. a 63 a.C. foi o período dos
– Em 1000 a.C., Davi, que matou Go- macabeus (Simão, o Grande), de autonomia
lias, o gigante filisteu, sucedeu a Saul e, judaica.
derrotando os filisteus, levou os israelitas – Em 63 a.C., Jerusalém foi capturada
para Jerusalém, que se tornou a cidade de pelo general romano Pompeu, que matou
Davi. 12 mil judeus e iniciou o longo período de
– Em 970 a.C., Davi foi sucedido por domínio romano.
seu filho Salomão.
– Em 960 a.C., foi construído em Jeru- No período depois de Cristo
salém, no Monte Sião, pelo Rei Salomão,
o Primeiro Templo de Jerusalém, ou o – Domínio romano, de 63 a.C. a 313 d.C.
Templo de Salomão, o centro nacional e Naquele período, ocorreram:
espiritual do povo judeu, que guardaria a – De 37 a.C. a 4 d.C., o governo do rei
Arca da Aliança e os Dez Mandamentos. vassalo romano Herodes, que fez grandes
– Em 930 a.C., o Reino foi dividido em obras. Decidiu construir o Segundo Tem-
Judá e Israel. plo (ou Templo de Herodes), que levou 18
– Em 720 a.C., o Reino de Israel foi meses e ampliou a Esplanada, reforçando
conquistado pelos assírios. o pátio com blocos de pedra pesando até
– Em 586 a.C., após longo cerco, que cinco toneladas. Essa obra durou 80 anos
causou fome e até canibalismo, Judá e (Herodes morreu antes) e usou 18 mil
Jerusalém foram conquistadas pela Babilô- trabalhadores.
nia. Jerusalém e o Primeiro Templo foram – De 10 d.C. a 40 d.C., foi o período de
destruídos por Nabucodonosor, o rei da Jesus Cristo. Quando do nascimento de Je-
Babilônia, e a maioria dos judeus, exilada sus, Herodes tomou conhecimento de uma
e tangida para a Babilônia, por 800 km pelo profecia dizendo que iria nascer em Belém
deserto, para se tornarem escravos. Com a o Rei dos Judeus. Como ele, Herodes, se
destruição do Primeiro Templo, desapare- considerava o Rei dos Judeus, mandou
ceu, para sempre, a Arca da Aliança. No matar todos os recém-nascidos em Belém,
mundo antigo, a destruição de um templo mas Jesus escapou, levado por Maria e José
equivalia à destruição de um Estado, que para Nazaré e, depois, para a Galileia.
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A QUESTÃO PALESTINA – PARTE I
66 RMB1oT/2015
A QUESTÃO PALESTINA – PARTE I
a Mesquita de Omar, na área de Primeiro de que Saladino agiu de modo muito mais
e Segundo Templos, foi assassinado em cristão do que os cristãos cruzados, ao con-
664 d.C. por um prisioneiro persa. Em quistarem Jerusalém em 1099. Saladino,
691 d.C., ocorreu a construção, no lado que morreu de febre tifoide em 1194, foi
norte da Esplanada, do Domo da Rocha um dos maiores líderes muçulmanos, res-
pelo califa Abd al-Malik I, e, depois, em peitado pelos judeus, e chegou a se tornar
705 d.C., pelo mesmo califa Al-Walid I, sultão do Egito.
da Mesquita Al-Aqsa, esta no lado sul da – Domínio dos Tártaros, de 1244 a 1250.
Esplanada, local de Primeiro e Segundo Na verdade, um exército de turcos
Templo e da Mesquita de Omar. Ao fim corasmianos que devastaram Jerusalém,
do longo domínio árabe de mais de quatro profanaram a Igreja do Santo Sepulcro,
séculos, a religião islâmica, em sua cam- dizimaram a população cristã da cidade e
panha de massificação, acabou amplamente afastaram os judeus, alguns reinstalados
majoritária, seguida de uma pequena mino- em Nablus.
ria de cristãos e judeus, até que, no século – Domínio dos mamelucos, de 1250 a
XI, ano de 1072, sobreveio a conquista da 1516.
região pelos turcos seldjúcidas, que tinham Os mamelucos eram originários das
capital em Bagdá, e, posteriormente, pelos estepes eurasianas e foram escravizados
cruzados. por maometanos e convertidos à sua reli-
– Domínio dos cruzados (Reino Latino gião. A Palestina progrediu sob o domínio
de Israel), de 1099 a 1187. dos mamelucos, os quais fizeram grande
Nos séculos XII e XIII, os reinos cris- programa de edificações, inclusive com o
tãos da Europa Ocidental realizaram sete restauro da cúpulas da Rocha e Al-Aqsa.
expedições militares contra o então Império – Domínio dos otomanos, de 1516 a
Árabe, visando a retomada da Palestina. 1917.
Essas expedições, batizadas de Cruzadas, No século XVI, em 1516, o Império
redundaram na criação de vários reinos Otomano derrotou os mamelucos e ocupou
cristãos no Oriente Médio, sendo que, na a totalidade da Palestina. Tal domínio foi
Palestina, foi criado o Reino de Jerusalém, mantido até a Primeira Guerra Mundial
conquistado em 1099, com o massacre de (durou quase 400 anos). Em 1536, o sultão
muçulmanos e alguns judeus. Porém tais Soliman decidiu reerguer as muralhas de
reinos, cristãos, foram logo retomados Jerusalém (ficaram prontas em 1541), num
pelos árabes, pois, em 1187, a Palestina foi total de três quilômetros de extensão, 12
reconquistada dos cruzados por Saladino, metros de altura, 34 torres e sete portas.
árabe. Durante os anos de domínio otomano, o
– Domínio dos muçulmanos, de 1187 nome Palestina praticamente desapareceu.
a 1244. De 1789 a 1806, Napoleão, com 13 mil
Em 2 de outubro de 1187, Saladino, cujo soldados, invadiu a Palestina, derrotou os
nome era Yusuf Ibn Ayyub, mas conhecido otomanos em Gaza, invadiu, por pouco
no Ocidente como Saladino, por seu título mais de um mês, as cidades de Jaffa, Haifa
Salãn ad-Din, conquistou Jerusalém sem e Caesarea, mas foi derrotado em Acre. A
matar os cristãos, tendo permitindo tam- razão da campanha foi que os franceses
bém a volta dos muçulmanos e dos judeus, queriam fincar um pé na Palestina para
depois de terem sido banidos no passado. desafiar os ingleses, que se apoderaram
Por isso, o Ocidente teve a incômoda prova da Índia.
RMB1oT/2015 67
A QUESTÃO PALESTINA – PARTE I
Entre 1832 e 1840, a região esteve sob a cidade, completando, pois, a obra dos
administração do Egito, de Muhammad Ali, cruzados. Naquela guerra, sobretudo a par-
voltando à dependência direta do Império tir do Egito, os britânicos lançaram várias
Otomano no fim desse período. Em 1860, ofensivas contra os turcos, especialmente
foi construído o primeiro bairro fora dos por meio de Lawrence da Arábia, que,
muros da Cidade Velha. à frente das forças árabes, conquistou a
De 1882 a 1903, ocorreu a primeira Aliá região, chegando até Damasco, em 1o de
(imigração em grande escala), de judeus outubro de 1918. Com a derrota do Império
sionistas vindos da Europa e da Rússia, Otomano e seu consequente desmantela-
sendo que em 1897 foi realizada a primeira mento, a Palestina, no seu sentido lato, foi
convenção do sionismo, em Basileia, na dividida entre a França – que ocupou o Lí-
Suíça, cujo porta-voz foi Theodor Herzl bano e a Síria – e a Grã-Bretanha, que ficou
(1860-1904), advogado e crítico literário com a Palestina (incluídos os territórios da
húngaro, judeu de Viena e autor do livro atual Jordânia e de Israel), a Mesopotâmia
Der Judenstaat (O Estado Judaico), no qual (o Iraque de hoje) e a Península Arábica.
pregava que o problema do antissemitismo No caso da Grã-Bretanha, em 1922, a Liga
só seria resolvido quando os judeus, disper- das Nações, na Conferência de Lausanne,
sos pelo mundo, pudessem se estabelecer confiou ao Reino Unido a administração da
em um estado nacional independente. A Palestina por meio do Mandato Britânico na
convenção iniciou, oficialmente, a luta para Palestina, criada em Versalhes, em 1919,
a criação de um estado próprio, colocando mas substituída, em 1945, pela Organiza-
a cunha política numa questão até então ção das Nações Unidas (ONU).
religiosa. Com isso, entre 1890 e 1922, a O colonialismo da França e da Grã-Bre-
população judaica na Palestina dobrou, de tanha, porém, provocou fortes reações entre
40 mil para cerca de 85 mil. os árabes, e foi nesse contexto que surgiu,
Em 1909, foi fundada Tel Aviv. no Egito, a Irmandade Muçulmana, berço
Em 1917, no final do domínio otomano, do fundamentalismo islâmico. A Síria só
a Palestina já abrigava, dentro de uma área ganhou seu reconhecimento, de fato, em
de 26 mil km², uma população de 1 milhão 17 de abril de 1946, e o Líbano em 22 de
de palestinos e 100 mil judeus. Naquele novembro de 1943.
mesmo ano, 1917, a 2 de novembro, o Durante o Mandato Britânico, houve
então ministro britânico dos Assuntos Es- o aumento da imigração de judeus para a
trangeiros, Arthur James Balfour, enviou a Palestina, motivado pela criação do mo-
Lord Rothschild, banqueiro judeu, a carta, vimento sionista no final do século XIX,
conhecida como Declaração de Balfour, na o que começou a gerar atritos entre a co-
qual comprometia a Inglaterra na criação munidade árabe, que já residia na região,
de um estado judaico na região. e os judeus recém-chegados, sendo que
– Domínio britânico, de 1917 a 14 de o período de 1929 a 1936 foi o de maior
maio de 1948. violência, causado especialmente pela mais
Durante a Primeira Guerra Mundial, o intensa imigração judia, devido à persegui-
Império Otomano era um dos membros da ção nazista, a partir de 1933.
Tríplice Aliança, com a Alemanha e o Im- Em 1921, os britânicos fizeram a par-
pério Austro-Húngaro, e inimigo da Ingla- tilha do território do Mandato, separando
terra e da França. Em 1917, após a Batalha cerca de 80% para a criação de uma enti-
de Jerusalém, o exército britânico capturou dade árabe, chamada Transjordânia (futura
68 RMB1oT/2015
A QUESTÃO PALESTINA – PARTE I
Jordânia), e os 20% restantes para a criação regime nazista alemão durante a Segunda
de um Estado nacional para o povo judeu, Guerra Mundial, o Ocidente se viu diante do
conforme previsto na Declaração Balfour dever moral de atender à antiga reivindica-
de 1917. ção sionista de criação de um Estado judeu.
Mas o fim da Segunda Guerra Mundial, Assim, entre as questões prioritárias
em 1945, marcou o término dos grandes a serem tratadas pela nova organização,
impérios coloniais, que se enfraqueceram a ONU, estava a da criação de um “lar
econômica e militarmente com o conflito. nacional judeu”. Por isso, a Grã-Bretanha
Os Estados Unidos emergiram como potên- decidiu, em fevereiro de 1947, levar a ques-
cia econômica e militar, ao lado da União tão ao órgão, tendo sido, então, apresentado
Soviética, que havia adquirido prestígio e pelos EUA e pela União das Repúblicas
poder em função do seu papel decisivo na Socialistas Soviéticas (URSS) o Plano de
vitória sobre a Alemanha. Inaugurou-se, Partição da Palestina, que consistia basica-
pois, um período caracterizado por um mente na divisão da Palestina em um Esta-
novo tipo de disputas, entre essas duas do judeu, cuja área corresponderia a 55%
nações emergentes, do total (5.500 acres)
chamado de Guerra e um Estado palesti-
Fria, em que os ame- A presença das civilizações no, com 45% (4.500
ricanos apoiavam os acres), e na manutenção
israelenses, e os sovi- judaica e árabe na região é da cidade de Jerusa-
éticos, os árabes. milenar, e é, pois, natural lém, administrada pela
Naquela ocasião, ONU. A proposta foi,
1945 – quando foi
o sonho de milhares de porém, rejeitada pelos
criada a ONU e tam- anos de se criar o Estado árabes, que declararam
bém a Liga Árabe, e de Israel e o Estado da que oporiam resistên-
a Palestina ainda era cia armada à sua im-
administrada pela Grã- Palestina na região plementação. Naquele
-Bretanha –, devido ao ano, a Palestina já tinha
crescimento da imigra- uma população de 1,3
ção judaica para a Palestina (de 1922 a 1948, milhão de palestinos e 600 mil judeus. Na
a população da cidade passou de 52 mil ocasião, algumas declarações árabes foram
para 165 mil), organizada pelo movimento fortes. Jamil Mardin, primeiro-ministro
sionista, que encontrava forte objeção por sírio, disse: “Deixem-se de palavras, irmãos
parte da população árabe local, a situação muçulmanos; ergam-se e eliminem o flage-
entre árabes e judeus não era calma, com lo sionista”. Ibn Saud, rei da Arábia Sau-
a ocorrência de muitos atos terroristas de dita, declarou: “Há 50 milhões de árabes.
parte a parte (como o ataque do Irkun, grupo Que importa se perdermos 10 milhões se
terrorista judeu de Menachem Begin, em matarmos todos os judeus? Vale a pena!”.
1946, ao Hotel King David, principal centro Já o xeque Assam Al Banah, da Irmandade
da administração do Mandato Britânico, em Muçulmana, defendeu: “Os árabes devem
que uma ala inteira foi destruída por explo- todos levantar-se e aniquilar os judeus. En-
sivos, matando 91 pessoas e ferindo outras cheremos o mar com seus corpos!”.
45, entre árabes, israelenses e britânicos). Em 29 de novembro de 1947, o represen-
Tendo em vista esses conflitos e as atro- tante brasileiro, Oswaldo Aranha, presidindo
cidades cometidas contra os judeus pelo a primeira Sessão Especial da Assembleia
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A QUESTÃO PALESTINA – PARTE I
AS GUERRAS ÁRABE-
ISRAELENSES
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A QUESTÃO PALESTINA – PARTE I
Estados árabes vizinhos, que contestaram sem terra, não sendo, pois, permitida a
a criação de Israel, sob a égide da Liga criação do Estado da Palestina.
Árabe, criada em 1945, intervieram, com Ao final da guerra, iniciou-se a diáspora
os exércitos do Egito, Iraque, Líbano, Síria, palestina, pois 700 mil começaram o cami-
e Transjordânia, aos quais se incorporam as nho do êxodo, se refugiando na Cisjordânia
forças árabes palestinas remanescentes, e e na Faixa de Gaza ou migrando para países
com apoio político de outros países árabes vizinhos, nos quais foram mal recebidos,
(Kuwait, Arábia Saudita, Líbia, Argélia e inclusive em países árabes, sendo que
Sudão), entrando na Palestina e começan- somente a Jordânia permitiu a integração
do a Primeira Guerra Árabe-Israelense, dos palestinos em sua sociedade, mas sen-
ou Guerra da Independência de Israel, a do permanentemente vigiados. Nos outros
primeira de uma série de guerras, conflitos países eles passaram a viver em acampa-
e enfrentamentos que iriam ocorrer no longo mentos para refugiados, com a ajuda da
contensioso árabe-israelense. ONU. Desde então, os palestinos expulsos
A guerra durou de e seus descendentes se
maio de 1948 a janeiro referem a esses even-
de 1949. Os árabes, Os sucessivos conflitos tos como Al-Nakba (A
mal equipados e trei- entre os dois povos semitas Catástrofe) e perma-
nados, foram fragoro- necem dispersos pelo
samente derrotados, e remanescentes – os árabes Oriente Médio e pelo
o armistício de Rodes, e os hebreus – e a luta dos mundo, na condição
em janeiro de 1949, de refugiados, embora
definiu os limites da
palestinos para ter o seu amparados pela ONU.
partilha da antiga Pa- Estado passaram a ser Assim, o Oriente Médio
lestina e confirmou o referidos como a Questão tornou-se uma das regi-
estabelecimento do ões mais conflituosas
Estado de Israel – com Palestina, que permanece do planeta, cenário de
um território maior do sem solução até os dias consecutivas guerras
que o da Resolução e conflitos extremistas
181 (que era de cerca
atuais entre israelenses e ára-
de 15 mil km2 – 56%), bes, antes com a Síria,
passando para uma área de quase 21 mil Líbano e a Jordânia, e agora com os pales-
km² e ficando com 78%, ou seja, mais 22% tinos na Cisjordânia e na Faixa de Gaza.
da superfície da Palestina, sendo o território Em 1949, Jerusalém Ocidental foi decla-
restante ocupado pela Transjordânia, que rada a capital de Israel – não contando com
anexou a Cisjordânia e Jerusalém Oriental o reconhecimento da lei internacional, que
(o Rei Abdulah, da então Transjordânia, afirmava que a cidade devia ser um corpus
ocupou a Cisjordânia, território que deveria separatum – e a Jordânia anexou formal-
pertencer aos palestinos, e nunca mais o de- mente a Jerusalém Oriental, sujeitando-a à
volveu, até o Rei Hussein – que o substituiu lei jordaniana, em uma atitude que só foi
após seu assassinato por um palestino em reconhecida pelo Paquistão. A Jordânia,
Jerusalém – perdê-lo na Guerra dos Seis então, assumiu o controle dos lugares sagra-
Dias), e pelo Egito, que ocupou a Faixa de dos na Cidade Velha, e, contrariamente aos
Gaza. Com isso, os árabes, que, pela ONU, termos do acordo, foi negado o acesso dos
deveriam ter 11 mil km2 (43%), ficaram israelenses aos locais sagrados judaicos,
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A QUESTÃO PALESTINA – PARTE I
muitos dos quais foram profanados, e ape- tada na Argélia, mas Israel conseguiu que
nas foi permitido o acesso, muito limitado, a ONU acabasse com o bloqueio aos seus
aos locais sagrados cristãos. Durante aquele navios e os ataques de grupos palestinos,
período, o Domo da Rocha e a Mesquita partindo de Gaza e do Sinai, a seu territó-
de Al-Aqsa tiveram grandes renovações. rio, pois pôde argumentar que atacou para
Essa diáspora palestina, os sucessivos se defender. Ou seja, apesar de batido na
conflitos entre os dois povos semitas re- guerra, o grande vitorioso político acabou
manescentes – os árabes e os hebreus – e sendo Nasser.
a luta dos palestinos para ter o seu Estado Em 1958, foi criada a República Árabe
passaram a ser referidos como a Questão Unida (RAU), fusão entre a Síria e o Egito,
Palestina, que permanece sem solução até que só durou até 1961.
os dias atuais.
A Guerra dos Seis Dias
A Guerra de Suez
Em 1964, 422 autoridades de Estados
A Guerra de Suez, ou Segunda Guerra árabes fundaram a Organização para a Li-
Árabe-Israelense, de 1956, foi uma opera- bertação da Palestina (OLP), em Jerusalém,
ção conjunta de Israel, do Reino Unido e visando à criação de um Estado árabe na
da França contra o Egito. As razões foram: Palestina. Dentro da OLP, a maior facção
Israel estava sofrendo ataques de fedayins era a da Al Fatah (“Vitória ou Conquis-
(guerrilheiros/terroristas árabes) partindo ta”), grupamento político de orientação
do Egito, de Gaza e do Sinai, e o Egito socialista, fundado por Yasser Arafat, no
bloqueara a passagem de seus navios por Kuwait, em 1959. Arafat nasceu em Jeru-
Suez, no Mar Mediterrâneo, e pelo Golfo salém, refugiou-se na Faixa de Gaza em
de Aqba, no Mar Vermelho, inutilizando 1948, estudou no Cairo, onde se formou
o porto israelense de Eilat; os britânicos, em engenharia civil, e serviu, como perito
porque o Egito, sua antiga colônia, nacio- em demolições, no Exército egípcio, tendo
nalizara o canal de Suez, tirando dividendos participado na luta contra os britânicos e
financeiros deles, pois 2/3 do petróleo que franceses em Port Said e Abu Kabir, em
abastecia a Europa passava pelo canal; os 1956. Foi para o Kuwait em 1957, onde per-
franceses, porque queriam desmoralizar maneceu até 1965, sempre ligado à OLP.
Nasser, uma liderança árabe, para facilitar Em fevereiro de 1969, no Cairo, durante o
seu problema colonial com a Argélia, pois V Congresso Nacional Palestino, Arafat foi
acabara, em 1954, de amargar uma derrota eleito presidente da OLP, cujo objetivo era
colonial na Indochina (Vietnã). a “implantação, na Palestina, de um Estado
Na operação, Israel invadiu a Península democrático e laico para judeus, cristãos e
do Sinai, e as forças francesas e britânicas muçulmanos”.
ocuparam o porto de Suez. Mas, sob pres- Em 1967, eclodiu a Guerra dos Seis
são internacional, especialmente dos EUA e Dias, ou Terceira Guerra Árabe-Israelense,
da URSS, as forças invasoras concordaram outra derrota para os Estados árabes, espe-
em se retirar, e a ONU enviou uma Força cificamente o Egito, a Síria e a Jordânia.
de Paz para região (durou de 1956 a 1967, No Sinai, o Egito teve 10 mil mortos, 20
inclusive com a participação de tropas mil feridos, 300 capturados, 254 aviões
brasileiras). Ao final, a Grã-Bretanha não destruídos – a maioria no chão – e 500
recuperou Suez, e a França acabou derro- tanques inutilizados. Na Cisjordânia, a
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A QUESTÃO PALESTINA – PARTE I
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A QUESTÃO PALESTINA – PARTE I
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A QUESTÃO PALESTINA – PARTE I
Sadat, entretanto, foi morto em 1981, du- France, com 248 passageiros, por membros
rante uma parada comemorativa das vitórias da Frente Popular para a Libertação da
alcançadas pelo Egito em 1973. Os assassinos, Palestina (FPLP) e das Células Revolu-
militares, pertenciam ao grupo Jihad Islâmica. cionárias da Alemanha. O governo local
apoiou os sequestradores, que receberam
Outros conflitos, operações e fatos as boas-vindas do ditador Idi Amin. Os
importantes posteriores, em ordem sequestradores separaram os israelenses
cronológica e judeus dos outros passageiros e da tri-
pulação, que permaneceram como reféns
Além das guerras, outros conflitos, e sendo ameaçados de morte. A ação que
operações e fatos importantes ocorreram, liberou os sequestrados foi considerada
inclusive fora da região, e continuam ocor- por muitos especialistas como a missão de
rendo nessa complexa Questão Palestina. resgate mais complexa e perfeita de todos
Podem ser citados, entre outros e menos os tempos, tendo sido a primeira vez que
importantes, os seguintes: Israel mostrou-se ao mundo no que toca a
– O reconhecimento da OLP, pela Liga uma intervenção antiterrorista fora do país.
Árabe em 1974, em Rabat, no Marrocos, como – A destruição da usina nuclear de Ta-
legítima representante do povo palestino. miz no Iraque, localizada a 25 km ao sul de
– Em 13 de novembro de 1974, a OLP Bagdá, em junho de 1981, numa operação
colheu importante vitória no seu caminho chamada de Babilônia, de precisão cirúrgi-
diplomático, quando Arafat foi ovacionado ca, com uma esquadrilha de oito caças F-16
pelo plenário da ONU e falou, com honras e meia dúzia de F-15 de escolta, que voou
de chefe de Estado, na Assembleia Geral das mil quilômetros sobre território árabe. Tal
Nações Unidas. Em seu discurso, convidou atitude sofreu duras críticas da comunidade
“Israel a sair do seu isolamento moral” e internacional e teve pesado preço político,
propôs “o estabelecimento na Palestina de um por Israel ter se colocado acima do jul-
Estado democrático , no qual cristãos, judeus gamento da comunidade internacional, o
e muçulmanos vivam em justiça, igualdade e que lançou o país na categoria das nações
fraternidade”. A OLP passou a ser admitida não confiáveis, pois a ação foi considerada
como observador permanente das Nações como ato terrorista. Até então, apenas o
Unidas e a usufruir de crescente simpatia, Irã, do Aiatolá Khomeini, havia desafiado
especialmente do bloco do então Terceiro soberanamente a comunidade mundial, ao
Mundo – África, Ásia e América Latina. sequestrar cidadãos americanos e mantê-los
– Em 1975, as Nações Unidas, com como reféns durante 444 dias.
voto do Brasil, decidiram por uma moção – A Invasão do Libano, em junho 1982,
de repúdio ao sionismo, qualificando-o de na operação chamada de “Paz para a Gali-
racista e segregacionista, por propugnar leia”, pois a OLP havia se instalado, muito
um Estado de Israel exclusivamente judeu, bem armada, no sul do Líbano e dali desferia
discriminando outras raças e religiões. ataques às populações da Galileia, no norte
– A Operação Entebbe, uma missão de de Israel. A FDI destruiu as forças sírias
resgate contraterrorista levada a cabo pela que estavam no Vale de Bekaa e chegou a
Força de Defesa Interna (FDI), de Israel, Beirute, numa operação que matou muitos
no Aeroporto Internacional de Entebbe, libaneses e palestinos. Na ocasião, ocorreu
em Uganda, em 4 de julho de 1976, devi- o massacre de Sabra e Shatila, campos de
do ao sequestro de uma aeronave da Air refugiados palestinos onde cerca de mil
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A QUESTÃO PALESTINA – PARTE I
foram massacrados pelas falanges cristãs pela Síria, pelo Iêmen e pelo Iraque. Na
libanesas – que apoiavam o presidente eleito ocasião, foram cunhados os termos “pales-
Bashir Gemayel, aliado dos israelenses, que tinos de dentro”, moradores dos territórios
queria se ver livre dos palestinos e da OLP ocupados pelos israelenses em Gaza, Je-
– com a cumplicidade das tropas israelen- rusalém e na Cisjordânia, e os “palestinos
ses que ocupavam as cidades, permitiram de fora”, os palestinos da Diáspora. Hoje,
a entrada dos falangistas nos campos e os em Israel, há os termos “judeus orientais”,
iluminaram, pois também queriam acabar habitantes da parte oriental de Jerusalém,
com os resquícios da OLP no Líbano. A grita que são discriminados pelos “judeus oci-
internacional, especialmente dos americanos dentais”, da parte ocidental.
e soviéticos – e mesmo de israelenses –, O Líbano se tornou independente da
contra o massacre e contra a destruição de França durante a Segunda Guerra Mundial,
Beirute, cidade moderna, alegando que o em 1943. Tinha duas comunidades religio-
Líbano, como Estado, nunca tinha ameaçado sas dominantes: os muçulmanos sunitas
Israel, obrigou os israelenses a terminarem e os cristãos maronistas (pertencentes à
a operação e a se retirarem do Líbano, em Igreja Cristã Oriental, fundada na Síria, no
setembro de 1983, pois começaram a ser século V, por um monge chamado Maron,
fustigados por atos terroristas dos xiitas no que reconhecia a supremacia do Papa e da
sul do país e porque lá havia chegado uma Igreja Católica de Roma, mas tinha a sua
Força de Fuzileiros americanos para manter própria liturgia). Além deles, havia, em
a paz, desde agosto de 1982 (os americanos menor número, os muçulmanos xiitas e os
se retiraram em fevereiro de 1984). Pelo drusos (ramificação de uma seita islâmica
massacre nos campos palestinos, foi criada cujas crenças religiosas eram segredo co-
em Israel uma comissão de investigação, munal). Mas hoje, com o crescimento dos
e Ariel Sharon deixou o cargo de ministro muçulmanos, estes passaram a ser 2/3 da
da Defesa. Na ocasião, Begin declarou, no população, e os cristãos apenas 1/3.
Parlamento de Israel: “Em Sabra e Chatila, No passado, ocorreu a Guerra Civil no
não judeus massacraram não judeus, e o que Líbano, de abril de 1975 ao final de 1978
é que isso nos interessa?”. (entre os falangistas maronistas cristãos
Na verdade, o plano de Israel, da dupla contra os palestinos, com envolvimento
radical e belicosa Menachem Begin (pri- dos muçulmanos e drusos), e o Líbano
meiro-ministro) e Ariel Sharon (ministro também foi invadido pela Síria, em 1976,
da Defesa), que sempre objetivaram criar para apoiar os cristãos maronistas, pois não
a Grande Israel, dominando toda a região, desejavam que o Líbano caísse nas mãos
era outro: o de invadir o Líbano e destruir da OLP, já que havia basicamente a divisão
a OLP; uma vez expulsos do Líbano, os de Beirute em dois setores, o cristão e mu-
palestinos migrariam para a Jordânia, que çulmano. Mas existia também, como pano
seria compelida a aceitá-los, e, caso neces- de fundo, o sempre ambicionado projeto
sário, Israel derrubaria o Rei Hussein, trans- de formar uma Grande Síria. Na ocasião,
formando a Jordânia no Estado palestino. as tropas sírias cruzaram as fronteiras e se
Como isso não ocorreu, a vitória israe- instalaram no norte e no oeste do Líbano.
lense se resumiu à saida da OLP do Líbano Um acordo arbitrado pelos EUA garantiu
por mar, sob proteção francesa, com Arafat que Israel não se oporia à presença da Síria
se transferindo, com 4 mil seguidores, para no Líbano, desde que ela não usasse aviões
a Tunísia, sendo outros 3 mil distribuídos e mísseis e ficasse a pelo menos 24 km da
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A QUESTÃO PALESTINA – PARTE I
Israel, com a finalidade de evitar o ataque aéreos israelenses. Apesar das preocupa-
de terroristas palestinos, o que realmente ções com a possibilidade de Síria ou Irã se
ocorreu. envolverem, ocorreu um cessar-fogo, que
– A morte de Arafat entrou em vigor em 14 de agosto de 2006. A
Em 2004, morreu, aos 75 anos, Yasser guerra durou 34 dias, com a morte de 1.200
Arafat, o histórico líder da Organização libaneses, a maioria civis, e 157 israelenses,
pela Libertação da Palestina. Em finais de a maior parte militares, e quase um milhão
outubro de 2004, sofreu um colapso que de desabrigados.
o pôs entre a vida e a morte, e as autori- – As eleições na Palestina
dades israelitas levantaram o cerco a Ra- Nas eleições parlamentares de 2006, o
mallah, permitindo a sua hospitalização Hamas conquistou a maioria das cadeiras
em Paris. Acabou por falecer na madru- no Conselho Legislativo da Palestina, o que
gada de 11 de novembro. Foi substituído desencadeou protestos de várias nações
por Mahmoud Abbas na presidência da contrárias à violência do Hamas e fez com
Autoridade Palestina, nas eleições de 9 que o Fatah destituísse os membros do Ha-
de janeiro de 2005. mas dos cargos executivos na Cisjordânia.
O Aeroporto Internacional de Gaza, O Hamas manteve, no entanto, o controle
embora em ruínas e inoperante devido aos sobre a Faixa de Gaza. A vitória do Hamas
seguidos ataques israelenses, mudou seu ainda provocou o estabelecimento de um
nome para Aeroporto Internacional Yasser bloqueio egípcio-israelense na Faixa de
Arafat. Naquele mesmo ano, Israel retirou Gaza. Os dois países passaram a controlar
soldados e 8 mil colonos de Gaza, mas man- a entrada e a saída de pessoas na região,
teve controle sobre as fronteiras marítimas visando evitar a entrada de armas que pu-
e terrestres do território. Na Cisjordânia dessem ser utilizadas em ações terroristas
e em Jerusalém Oriental foram mantidos contra Israel.
mais de 400 mil colonos. – A Batalha de Gaza refere-se aos con-
– A Guerra do Líbano de 2006, também frontos ocorridos de 12 a 14 de junho de
conhecida em Israel como a Segunda Guera 2007 entre as forças do Fatah e do Hamas,
do Líbano, foi iniciada em 12 de julho após as eleições de 2006, que levaram à ex-
de 2006, com um ataque pelo Hezbollah pulsão do Fatah, com o Hamas assumindo o
contra as Forças de Defesa de Israel no controle da Faixa de Gaza. Segundo estima-
sul do Líbano. Militantes do Hezbollah tivas da Cruz Vermelha Internacional, pelo
atacaram dois jipes israelenses, mataram menos 116 pessoas morreram e mais de 550
três soldados, feriram dois e capturaram foram feridas durante os confrontos. Israel,
outros dois, feitos prisioneiros no Líbano. após a vitória do Hamas, declarou Gaza
Isso iniciou uma nova onda de confrontos como “território hostil” e iniciou um cerco
entre Israel e o Hezbollah, com o ataque militar e econômico a Gaza, impedindo a
de Israel a redutos do Hezbollah, pontes, circulação de bens e pessoas, especialmente
estradas, ao único aeroporto internacional de armas, de lá e para lá, por terra e por mar.
libanês e a grande parte do sul do Líbano, O Hamas, então, começou a usar túneis na
enquanto milícias libanesas, provavelmente fronteira com o Egito para contrabandear
do Hezbollah, bombardeavam o norte de alimentos, combustível e armas, o que não
Israel, atingindo até a cidade israelense de impediu uma grave crise humanitária, ame-
Haifa. Centenas de civis foram mortos, a nizada por ter o Egito aberto a sua fronteira
maioria de libaneses, devido aos ataques para os palestinos.
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A QUESTÃO PALESTINA – PARTE I
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Por que foi criada a Amazul?
SUMÁRIO
Amazônia Azul, uma referência à Ama- metas para o programa e supervisionar sua
zônia Verde por sua vasta extensão, suas execução. Em 2009, o PNM foi oficialmen-
riquezas incalculáveis e sua importância es- te incorporado ao PNB.
tratégica. Nessas águas jurisdicionais, que O Programa Nuclear da Marinha remon-
equivalem a um território de 4,5 milhões ta à década de 1970 e tem somado esfor-
de km2, o Brasil prospecta mais de 80% ços com indústrias, institutos, centros de
do petróleo que produz e estão guardadas pesquisas e universidades para viabilizar a
as grandes reservas de construção do primeiro
gás natural, o combus- submarino com propul-
tível do século XXI. O submarino de propulsão são nuclear. O PNM, a
O desenvolvimento cargo do Centro Tec-
científico e tecnológi-
nuclear ampliará a nológico da Marinha e
co está tornando pos- presença do Estado na São Paulo (CTMSP), é
sível a descoberta da Amazônia Azul dividido em duas eta-
diversidade biológica, pas: o desenvolvimento
o potencial biotecno- do ciclo do combustível
lógico e energético e os recursos minerais nuclear e o desenvolvimento e construção
que estão submersos. de um reator nuclear – chamado Laborató-
O grande desafio é vigiar e proteger rio de Geração Núcleo-Elétrica (Labgene)
esse imenso território. Como não é possível – para propulsão naval.
cercá-lo, o submarino de propulsão nuclear O ciclo do combustível nuclear, em fase
é ferramenta indispensável para que o País final, representa importante salto tecnoló-
exerça a supremacia sobre as águas juris- gico, econômico e político, pois a tecno-
dicionais brasileiras, logia é dominada por
impedindo ameaças e um número restrito de
atos contra sua sobe- O ciclo do combustível potências. O Labgene,
rania. Em resumo, o que está sendo cons-
submarino de propul- nuclear representa truído em Aramar, no
são nuclear ampliará importante salto município Iperó (SP),
a presença do Estado
brasileiro na área da
tecnológico, econômico e éconstruído um protótipo de reator
em terra,
Amazônia Azul, termo político, pois é tecnologia cujo propósito é de-
que também inspirou o dominada por número senvolver a capacidade
nome da nova empresa tecnológica nacional
pública. restrito de potências para o projeto, com
construção, operação e
Recursos manutenção do reator
humanos estratégicos nuclear do tipo PWR (Pressurized Water
Reactor).
A constituição da Amazul é resultado Ambas as etapas conferem ao Brasil
das discussões geradas a partir da criação, a capacidade de projetar e fabricar com-
pela Presidência da República, do Comitê bustível próprio e conhecimentos estra-
de Desenvolvimento do Programa Nuclear tégicos para construir plantas nucleares
Brasileiro (CDPNB), em meados de 2008, de potência. O Labgene será o primeiro
cujo principal objetivo era fixar diretrizes e reator nuclear de potência a ser projetado
RMB1oT/2015 83
Por que foi criada a Amazul?
84 RMB1oT/2015
Por que foi criada a Amazul?
RMB1oT/2015 85
Por que foi criada a Amazul?
86 RMB1oT/2015
DA ORIGEM DA VIDA AO HOMEM
Parte I
SUMÁRIO
Apresentação
Introdução
O início – a vida
A evolução
A conquista dos continentes
A vida vegetal e animal
Os anfíbios
A regulação térmica: a homotermia
Os répteis
Os mamíferos e as aves
Os primatas
Características gerais
Categorias dos primatas
Principais especificações dos primatas
Os antropoides
Apêndice I – A origem da vida – A biogênese
Glossário
* Conferencista, escritor e colaborador frequente da RMB. Foi diretor da Escola de Guerra Naval, secretário da
Comissão Interministerial para os Recursos do Mar e diretor de Hidrografia e Navegação da Marinha.
DA ORIGEM DA VIDA AO HOMEM – Parte I
Este trabalho representa um esforço de resposta evolutiva noutra dimensão, que ainda
compilação no sentido de reunir observações não compreendemos, mas que possa resultar
e ensinamentos colhidos em diversas obras em nossa autodestruição? Afinal, em uma
e publicações especializadas, acrescidos de guerra já ganha, duas bombas atômicas foram
comentários e interpretações próprios, com lançadas, destruindo duas cidades e matando
o objetivo de proporcionar ao leitor uma um número incalculável de pessoas, apenas
síntese da evolução da vida, desde o seu para permitir que “os rapazes voltassem mais
aparecimento até o homem. Assim, busca cedo para casa”. (O autor)
fornecer as respostas àquelas indagações e
Com todas as suas qualidades nobres... o
incertezas e também apontar os caminhos
homem ainda traz, em sua forma corporal,
principais que levaram o homem a se tornar
a marca indelével de sua origem inferior.
um animal dependente da cultura.
Charles Darwin
É certo que, com a nossa inteligência,
(1809-1882)
aprendemos a afastar as
pressões do meio am-
biente e as ameaças da
Decifrar o enigma de nossas INTRODUÇÃO
Decifrar o enigma de
seleção natural. Mas o mais remotas origens e, assim,
nossas mais remotas ori-
modelo de civilização restaurar a ancestral história
gens e, assim, restaurar
que adotamos vem siste-
maticamente agredindo do homem é um problema a ancestral história do
homem é um problema
o meio ambiente e pro- que ainda não foi resolvido que ainda não foi resol-
curando o aquecimento
excessivo da superfície
pelo progresso da ciência vido pelo progresso da
ciência, mas que consti-
da Terra, com a expecta-
tui um tema apaixonan-
tiva de mudanças climáticas, cujas consequên-
te, no qual vários cientistas e pesquisadores
cias podem ser catastróficas. Também a popu-
se debruçam, procurando encontrar, nas
lação humana (cerca de 7 bilhões) concentrada
profundezas do tempo, a trajetória de nosso
em megalópoles de difícil administração, o
caminho sobre a Terra, agora com o auxílio
consumismo, as desigualdades sociais, as
de novos e importantes trabalhos científicos
drogas, a desagregação familiar, os desvios se-
que, por meio do estudo das moléculas dos
xuais, a erotização da sociedade, o terrorismo,
organismos vivos, pretendem explicar os
as tensões internacionais, os arsenais atômicos,
processos de nossa evolução.
principalmente, estão fazendo emergir em
níveis surpreendentes a agressividade humana,
O INÍCIO – A VIDA
os comportamentos antissociais e patológicos,
os índices de criminalidade e até os riscos de Mas como surgiu a vida e como ela
uma hecatombe. Será que essas perspectivas começou a evoluir? Tudo teve início após
sombrias para a nossa espécie constituem uma a formação do sistema solar. A Terra1 foi
1 Há 4,6 bilhões de anos, a Terra foi criada a partir de uma imensa nuvem de partículas de poeira e gás, que gi-
rava em torno de uma estrela recém-formada – o Sol – e que se aglutinou e, depois, se condensou. Indícios
sugerem que pelo menos dois planetas surgiram a cerca de 150 milhões de km do Sol: a Terra e um pequeno
planeta chamado Theia. Os dois mundos colidiram e pedaços de ambos formaram a Lua, há 4,5 Bilhões de
anos. A Terra sofreu inúmeras colisões com objetos menores, ganhando mais massa aos poucos. No início,
o planeta era completamente liquefeito, mas, à medida que crescia, foi esfriando e adquirindo uma crosta
sólida. Gravidade suficiente foi gerada para reter uma atmosfera gasosa que incluía vapor d’água.
88 RMB1oT/2015
DA ORIGEM DA VIDA AO HOMEM – Parte I
lentamente se resfriando, o que teria pro- oceânico, o único lugar onde as formas
vocado, há cerca de 4,6 bilhões de anos, primitivas de vida estariam protegidas dos
três acontecimentos de capital importân- raios ultravioleta do Sol. Assim, no Pré-
cia: a condensação da água e a formação -Cambriano, há 3,8 bilhões de anos, surgia
dos oceanos primitivos; a criação de uma a primeira forma de vida, consistindo de
atmosfera composta de gás carbônico, de organismos unicelulares primitivos. Essas
óxido de carbono, de metano e de nitrogê- formas primitivas, aliás, ainda não consti-
nio, à exceção do oxigênio; e o apareci- tuíam a vida, mas o que se convencio-
mento dos primeiros elementos da crosta nou chamar de “pré-vida”. Os agregados
terrestre. Estava, por conseguinte, formado moleculares, cada vez mais complexos, ao
o cenário que os cientistas denominavam associarem proteínas e ácidos nucleicos,
de o “caldo primitivo” ou a “sopa primor- dotavam-se, por acaso, de uma membrana.
dial”, em que as trocas entre os elementos Nascera a célula, uma proto-bactéria (ver
eram numerosas e ativas: a zona superficial Apêndice 1).
dos oceanos mostrava-se particularmente De repente, portanto, realizava-se o
favorável, pois recebia a energia solar e impossível, e para isso fora necessário
as descargas elétricas, constituindo-se em mais de 1 bilhão de anos de intensa ativi-
um lugar privilegiado de “trocas” com a dade – ou mesmo de evolução – química.
atmosfera. As mais antigas formas
Atualmente, não
há dúvida de que tais
As mais antigas formas de bactérias, as algas
unicelulares verde-azu-
condições favorece- de bactérias atestam a ladas, encontradas fos-
ram o aparecimento antiguidade da vida: pelo silizadas nas rochas da
de moléculas, de iní- Groenlândia, da África
cio bastante simples e menos 3,5 bilhões de anos do Sul e da Austrália,
depois cada vez mais atestam a antiguidade
complexas. da vida: pelo menos 3,5 bilhões de anos.
Na década de 1950, os químicos Essas bactérias e cianobactérias parecem
norte-americanos Stanley L. Miller e idênticas a algumas de suas descendentes
Harold Urey realizaram uma série de ex- atuais, fenômeno este pouco surpreendente,
perimentos pioneiros que mostraram, de uma vez que todas as bactérias se reprodu-
modo decisivo, como as primeiras formas zem por cissiparidade (esquizogênese), o
de vida foram criadas. Miller e Urey con- que, salvo as mutações, tendem a reprodu-
seguiram reproduzir a atmosfera primitiva zir, indefinidamente, as células de origem.
em condições de laboratório. Em seguida,
sujeitaram a mistura de gases a descargas A EVOLUÇÃO
elétricas que simulavam os raios que teriam
atingido a Terra a cerca de 4 a 5 bilhões de A partir desse organismo muito simples
anos. Após poucos dias, verificou-se que a – mas dotado de uma longa cadeia de ADN,
“sopa primitiva” nos tubos de ensaio con- portadora da mensagem genética – a vida
tinha o aminoácido glicina, um dos blocos poderia acompanhar as intuições de Darwin
formadores de proteína. e evoluir, preservando a mensagem do ADN,
Os primeiros passos dados em direção já presente na mais antiga célula conhecida
ao surgimento da vida foram, provavel- e que garantia a unidade dos seres vivos. Na
mente, verificados na lama do assoalho ausência de oxigênio livre, todo esse peque-
RMB1oT/2015 89
DA ORIGEM DA VIDA AO HOMEM – Parte I
no mundo vivia em meio anaeróbio (sem ar), e chega até o aparecimento das primitivas
como ocorre ainda hoje com inúmeras bacté- células2. Estas devem ter sido muito simples,
rias. Entretanto, algumas bactérias sob a luz muito mais simples que as atuais bactérias.
solar aprenderam a extrair o hidrogênio que Depois, o tronco produz dois grandes ramos:
lhes era necessário decompondo a molécula por um lado, prosseguem as células que
de água e liberando, ao mesmo tempo, como conquistaram o processo da fotossíntese e
subproduto, o átomo de oxigênio. A decom- se tornaram autótrofas; por outro, seguem as
posição da molécula de água, sob a ação da que não fazem a fotossíntese e se alimentam
energia solar, a fotossíntese, acarretaria duas das que fazem – são nossos antepassados
consequências fundamentais: a liberação de heterótrofos. Estes ramos são os antecesso-
oxigênio na atmosfera terrestre, o que viria res dos vegetais unicelulares – as algas – e
produzir organismos aeróbios (que vivem dos animais unicelulares – os protozoários
no ar), os únicos capazes de evoluir para (protozoário, em grego, significa “animal
níveis superiores; e a que precede”), os quais
decomposição de par- apareceram, pela primei-
te desse oxigênio em Ao desenvolver-se, a vida ra vez, no registro fóssil
ozônio, que forneceria
ao planeta o escudo
se torna mais complexa: há cerca de 800 milhões
de anos.
protetor dos excessos a célula inicial aprende as De início, tanto as
mortais da radiação ul- virtudes da associação colônias de algas como
travioleta. A vida, que as de protozoários de-
até então se limitava à vem ter sido constitu-
água – meio que exerce, poderosamente, a ídas por células iguais entre si. Depois,
filtragem dos raios ultravioleta –, agora, sob numa nova bifurcação, terão aparecido
a proteção da camada de ozônio, poderia ter colônias nas quais as várias funções – ali-
acesso às terras emersas. mentação, movimento etc. – se dividiram
Ao desenvolver-se, a vida se torna mais entre grupos de células especializadas. É o
complexa: a célula inicial aprende as virtudes limiar do aparecimento dos tecidos.
da associação. Células dotadas de funções O tronco primitivo, que foi das molécu-
quase idênticas se agrupam, de início em las orgânicas até as primeiras células, está
colônias; depois, seus papéis se diversificam. completamente extinto. Os vírus atuais
Imaginada como uma árvore, a evolução não são seres continuadores, porque são
mostraria, de início, um tronco comum que incapazes de manter-se autonomamente.
começa com as moléculas orgânicas esparsas Sua simplicidade estrutural deriva da adap-
2 As formas de vida mais primitivas eram células isoladas, sem núcleo, conhecidas como procariotas. Com a
evolução da vida, diferentes partes da célula adotaram funções específicas, e o material genético passou a
estar concentrado em uma área denominada núcleo, limitado por uma membrana. Células com núcleo são
chamadas eucariotas e surgiram há 2,1 bilhões de anos. São mais organizadas e puderam evoluir para formas
de vida mais complexas. Todo ser multicelular é eucariota, ao passo que todas as bactérias são procariotas. A
vida não é algo fácil de se definir. Uma de suas características gerais reside na composição química de todos
os seres vivos: macromoléculas de compostos de carbono e moléculas como proteínas, ácidos nucleicos,
carboidratos ou lipídeos, que consistem em inúmeros átomos em diversas combinações. Como regra geral,
essas moléculas orgânicas podem ser divididas em moléculas funcionais, que executam funções vitais, e
moléculas de informação (ADN), que carregam o código genético. É muito provável que o passo decisivo
em direção ao desenvolvimento da vida resulte na interação bem-sucedida desses dois tipos de moléculas. A
cooperação de blocos de vida em unidades cada vez maiores e mais complexas, como a organização celular
dos seres vivos, representa, talvez, a característica mais significativa da vida.
90 RMB1oT/2015
DA ORIGEM DA VIDA AO HOMEM – Parte I
tação à vida parasitária. Quanto aos ramos nentes e a atmosfera. A primeira invasão das
que vieram do tronco inicial – unicelulares “plantas”, sobre a qual não há muita certeza
vegetais e animais, colônias simples de quanto a datas, teria ocorrido, para alguns, no
algas e protozoários e colônias com células Cambriano, com os liquens e musgos; para
especializadas – todos sobreviveram até outros, teria sido no Siluviano, com as algas
hoje, mostrando que eram formas viáveis de pluricelulares e, depois, com as pteridófitas
adaptação. Mas o aparecimento de animais (ancestrais das samambaias). As algas plu-
formados de tecidos verdadeiros, criando ricelulares desenvolveram-se na água, e as
órgãos e unindo-se em organismos, ocor- mais próximas da superfície eram, como o são
rem por intermédio de formas de transição, atualmente, as mais beneficiadas pela energia
como os metazoários (“animais posterio- solar. Algumas, nas lagunas e nos estuários,
res”), que evoluíram a partir de 720 milhões estenderam ramificações para fora d’água e
de anos, quase no final do Pré-Cambriano. sobre a terra. Logo o mundo vegetal passou a
A evolução complica-se desde o apareci- desenvolver-se por toda a parte, ocupando to-
mento da sexualidade dos os nichos ecológicos
e divide-se em vários e preparando o advento
filos; cada filo, como os Os primeiros animais do mundo animal, a que
filos vegetais3, tem uma de que há notícias no ar asseguraria a alimentação
história própria, e cada básica.
uma delas deve ser con-
seco são os artrópodes, No Devoniano, a
siderada separadamente. ancestrais da classe das paisagem das terras
A “invenção” da aranhas e escorpiões emersas, antes árida e
sexualidade aceleraria desolada, modifica-se
a diversidade genética, rapidamente: algo que
combinando os genes de dois indivíduos dife- se pode chamar de início de florestas está
rentes, o que seria muito favorável à evolução surgindo pela primeira vez.
das espécies, ao permitir-lhes, por meio de Enquanto isso, a vida animal formava-se
variações incessantes, a adaptação a novos no fundo do oceano, onde já fervilhava. Os
meios e a ocupação de todos os nichos eco- primeiros vestígios fósseis de animais identi-
lógicos compatíveis com a sua sobrevivência. ficáveis, à exceção das bactérias, remontam a
680 milhões de anos. São organismos muito
A CONQUISTA DOS CONTINENTES simples, que evocam medusas, vermes, lar-
vas dos primeiros artrópodes, antepassados
A vida vegetal e animal dos crustáceos e insetos. Mais tarde, durante
a Era Paleozoica (de 600 a 250 milhões de
A vida, através do reino vegetal, lança- anos, aproximadamente), surgem o esque-
-se à conquista de um novo mundo: os conti- leto externo dos artrópodes e o interno dos
3 Na história dos seres vivos, especialmente dos vegetais, dois pontos apresentam uma certa obscuridade: a ori-
gem dos vírus e a dos fungos. Não é difícil imaginar os vírus como descendentes superespecializados das
bactérias que se adaptaram ao parasitismo. Quanto aos fungos, é mais complicado: eles são vegetais que
perderam a capacidade da fotossíntese e se adaptaram, com extraordinário sucesso, a várias modalidades de
parasitismo e heterotrofismo, aproveitando tanto seres vivos como cadáveres, restos etc. São, com certeza,
derivados das algas; mas de quais algas e quando se derivaram é impossível dizer. Não há testemunho fóssil,
e os resultados da morfologia comparada são incertos. Os liquens são um caso muito especial: a associação
permanente entre seres de dois filos diversos – algas e fungos. Os descendentes que deram o primeiro salto
para o ar seco foram os musgos, ainda hoje muito comuns.
RMB1oT/2015 91
DA ORIGEM DA VIDA AO HOMEM – Parte I
vertebrados, que representarão papel de primitivos: é destes que virá a invasão dos
destacada importância ao permitirem a esses vertebrados no Devoniano, há cerca de 400
dois filos um desenvolvimento excepcional. a 350 milhões de anos, aproximadamente.
A segunda invasão do novo mundo
(continentes e atmosfera) foi a dos in- Os anfíbios
vertebrados (provavelmente encabeçada
pelos artrópodes) no Um dos primeiros
Ordoviciano e no Si- vertebrados que inva-
luviano; a terceira, a Foi dentro d’água que os diram os continentes de-
dos vertebrados, no vertebrados se calcificaram vonianos foi um dos an-
Devoniano. fíbios (vida dupla) mais
Os primeiros ani-
e criaram um esqueleto primitivos (Icthiostega
mais de que há no- ósseo, sem o qual seria eigeli), seguido logo
tícias no ar seco são impossível sustentarem-se por outro (crossopte-
os artrópodes (eurip- rígio) – figura 1. Suas
terídeos), ancestrais fora d’água quatro nadadeiras são
da classe das aranhas nitidamente patas em
e escorpiões. É uma invasão tímida. São evolução; e de grupos destes tipos devem ter
animais que mal conquistaram o ambiente evoluído os anfíbios, que foram os primeiros
semisseco da faixa das marés e, como os animais grandes a viverem no vasto ambiente
caranguejos atuais, não podem passar senão dos continentes. Até então, só houvera animais
algumas horas fora d’água. Mas logo ou- de grande porte dentro d’água, onde todas
tros seguirão seu exemplo, especialmente as condições prévias se estabeleceram para
os que já adquiriram a forma de peixes permitir a colonização dos continentes pelos
anfíbios no Devoniano,
especialmente devido à
extensa rede de charcos
que se formou nesse pe-
ríodo. Assim, foi dentro
d’água que a notocorda
(A)
se cercou de vértebras,
(B) criando um esqueleto
leve e flexível, capaz de
sustentar animais gran-
des e rápidos ao mesmo
tempo. Foi dentro d’água
Figura 1 – Na figura, vê-se (A) um dos anfíbios mais primitivos,
o Icthiostega eigeli, um dos primeiros vertebrados que invadiram
que esses vertebrados se
os continentes devonianos. A seu lado (B), um crossopterígeo, calcificaram e criaram
peixe que deu origem a algumas espécies ainda hoje vivas um esqueleto ósseo4,
4 Os peixes ósseos apareceram nas águas doces, no Devoniano, e imediatamente se tornaram predominantes. Logo
no início, dividiam-se em dois grupos: os sarcopterígios e os actinopterígios. Dos primeiros evoluíram os
anfíbios, e dos segundos os grandes predadores que reconquistaram os mares. Já os peixes cartilaginosos,
como os tubarões e raias, mantiveram-se inalterados e primitivos desde que surgiram. Um tubarão devoniano
e um atual são tão semelhantes que um leigo não os distinguiria. São, à sua maneira, animais bem-sucedidos,
como mostra a sua existência através de um longo tempo geológico.Os peixes ósseos, por outro lado, viriam
a ter uma prodigiosa carreira, produzindo os anfíbios e quase todos os peixes modernos.
92 RMB1oT/2015
DA ORIGEM DA VIDA AO HOMEM – Parte I
5 L’eau de mer, milieu organique (René Quinton, 1906): “A vida animal, que apareceu como célula no mar,
tende a manter, para seu auto funcionamento celular, através a série zoológica, as células constituintes, no
meio marinho das origens.”
6 Os peixes possuem apenas uma câmara interna do ouvido, profundamente enterrada nos ossos do crânio, sem
tímpano nem comunicação com o exterior; dentro dela estão os canais semicirculares que servem de equilíbrio.
Nos anfíbios, o espiráculo tornou-se o ouvido externo, dotado de tímpano.
RMB1oT/2015 93
DA ORIGEM DA VIDA AO HOMEM – Parte I
terrestres. O principal deles foi a imperme- uma nova adaptação também muito im-
abilização da pele: as glândulas de muco e portante – a homotermia –, que só foi
a pele úmida dos anfíbios desapareceram, conseguida por descendentes seus: as
dando lugar a uma pele queratinizada, da aves e os mamíferos.
qual são herdeiros os mamíferos e as aves; Na realidade, a diferença entre aves e
ela recobriu-se de escamas que, mais tarde, mamíferos de um lado e peixes e répteis
se transformaram em penas e pelos. do outro é que os primeiros são capazes
Nas florestas mais secas que circun- de manter suas temperaturas médias cons-
davam os charcos continentais do Carbo- tantes, apesar da temperatura do ambiente,
nífero, havia um “vácuo ecológico” que, e os segundos não. Os animais de “sangue
certamente, os anfíbios, já transformados frio”, ou melhor, os paquilotermos, são
em répteis primitivos, ocupavam. Com a seres cujas temperaturas dependem muito
progressiva conquista das terras secas, a mais daquela do ambiente.
impermeabilização da pele foi se tornando Répteis são, pois, animais adapta-
mais efetiva e surgiu dos apenas às regiões
o ovo dos répteis cho- quentes da atmosfera.
cado pelo calor solar.7
O réptil típico é,
O réptil típico é um animal Não há lagartos ou co-
bras nas regiões pola-
portanto, um animal que, ao contrário dos anfíbios, res. Mesmo nas zonas
que, ao contrário dos possui pele impermeável e temperadas, não são
anfíbios, possui pele comuns. Onde há alter-
impermeável e ovo ovo que se desenvolve no ar nância pronunciada de
que se desenvolve no seco. Não precisa de água, se estações, vários deles
ar seco. Não precisa atravessam os meses
de água, se não para
não para beber frios usando o mesmo
beber. O seu esquele- artifício dos anfíbios
to é completamente ossificado: isso está destas regiões: hibernam. Metem-se em
associado a membros que podem erguer buracos ou entre frestas de rochas, longe
o animal do chão de forma mais eficiente do contato com o ar resfriado, em estado de
que a dos anfíbios. Os répteis movem- metabolismo muitíssimo retardado. Só com
-se melhor no ambiente aéreo, enquanto a volta do calor é que emergem desta se-
os anfíbios se mostram mais à vontade mivida e voltam à atividade. As tartarugas
na água. Outras características menos sofrem as mesmas restrições geográficas e
visíveis, como a estrutura do coração e os coerodilianos dificilmente se aventuram
a circulação pulmonar, revelam melhor para fora dos trópicos.
adaptação à vida terrestre. Entretanto, A história inicial dos répteis registra
apesar dessas importantes adaptações, os o aparecimento de dois grupos de grande
répteis constituem apenas o primeiro de- importância: os tecodontes e os pelicos-
grau em direção aos animais tipicamente sauros. Dos tecodontes emergiram quase
terrestres, pois ainda não conseguiram todas as grandes dinastias reptilianas, sob
realizar a conquista definitiva do novo o nome genérico de arcossauros (que sig-
ambiente aéreo, a atmosfera: faltou-lhes nifica “répteis dominantes”): dinossauros,
7 O primeiro ovo reptiliano deve ter sido “mais ou menos” impermeável, como o dos gimnofionos (animais cordados,
anfíbios, de corpo vermiforme) e o das tartarugas, que enterravam seus ovos em areia úmida.
94 RMB1oT/2015
DA ORIGEM DA VIDA AO HOMEM – Parte I
8 Dos répteis que regressaram à água, a tartaruga foi o único que sobreviveu e manteve uma forma terrestre, que
é o cágado; os ictiossauros e os plesiossauros surgiram e se extinguiram no Mesozóico (245 a 65 milhões de
anos, aproximadamente). Os escamados, répteis abundantes atualmente, são os lagartos e as cobras. As cobras
originaram-se dos lagartos, no Cretáceo (144 a 65 milhões de anos), quando as gramíneas se espalharam,
criando as estepes e pradarias. Nesse mar de grama, para animais pequenos as pernas seriam desnecessárias.
Por essa época, existiram alguns tipos alongados de lagartos, como os mosassauros (aquáticos), dos quais
as cobras poderiam ter evoluído.
9 Alguns zoólogos consideram os terapsídeos como o elo de transição entre os répteis e os mamíferos, a ponto
de chamá-los de “répteis-mamíferos”. Neles, várias características dos pelicossauros foram aperfeiçoadas.
Caminhavam já eretos sobre as patas – o que lhes deve ter sido muito útil, pois eram os mais ferozes preda-
dores do seu tempo. Sua dentição já era semelhante à dos mamíferos.
RMB1oT/2015 95
DA ORIGEM DA VIDA AO HOMEM – Parte I
96 RMB1oT/2015
DA ORIGEM DA VIDA AO HOMEM – Parte I
dos pelas asas que lhes permitem o impulso e, depois, dos filhotes recém-nascidos. Os
para um voo curto ou saltado. atuais jacarés cuidam dos ovos chocados
Um caso interessante de especialização pelo Sol, apenas para impedir que os pre-
do voo é o colibri, que, com uma batida de dadores os devorem. Não há, praticamente,
asas tão rápida, fica até difícil de imaginar relação entre os filhotes recém-nascidos e a
como a contração muscular possa ser con- mãe. O cuidado tem por finalidade permitir
trolada por impulsos nervosos sucessivos. que um maior número da espécie atinja a
Como os homens, mas em contraste com fase da eclosão do ovo.
a imensa maioria dos mamíferos, as aves O ninho das aves é coisa bem diversa. Os
dependem muito mais da vista do que do embriões da ave, como os mamíferos, não
olfato. Quem voa pesquisa o terreno de se desenvolvem senão a uma temperatura
forma muito mais eficiente com os olhos média alta e constante, que seria, talvez, o
do que com o nariz. É uma ilusão muito preço pago pela homotermia. Comparado
comum acreditar que o urubu se orienta com a viviparidade, esse processo parece
pelo cheiro da carniça: ele procura seu ali- ineficiente. Mas não é: as aves têm se
mento sobre o chão com os olhos – à altura arranjado muito bem com ele. Apenas o
em que se encontra, o cheiro dificilmente mar fica vedado às aves, como ambiente
pode atingi-lo. permanente, porque não há jeito de se
Alguns mamíferos arborícolas e seus fazer um ninho dentro d’água, a não ser à
descendentes têm bons olhos. Nenhum, temperatura desta.
entretanto, atinge a perfeição dos olhos Além do período do choco (isto é, da
das aves. Estes possuem mecanismos para necessidade do calor constante), é depois
compensar as rápidas compressões e des- do nascimento do filhote que aparece a
compressões trazidas pelo voo. As aves de
rapina aperfeiçoaram seus olhos a ponto de
torná-los instrumentos de grande precisão.
O falcão-peregrino, por exemplo, localiza
presas em pleno ar e abate-se sobre elas,
à espantosa velocidade de 300 km por hora.
Localizar no chão um objeto pequeno, do
tamanho de um pardal, requer bons olhos.
Situá-lo corretamente quando se move no
ar, isto é, sem nada à sua volta que possa
servir como referência, exige olhos dotados
de precisão, idêntica à de dois bons teles-
cópicos acoplados. Atingi-lo sem errar um
centímetro à velocidade do falcão-peregrino
(figura 4) é quase um milagre.
É interessante observar que, na evolução
dos répteis para as aves, estas mantiveram
o ovo como método de reprodução, o
que veio a representar a única alternativa
bem-sucedida para a viviparidade dos ma-
míferos. Elas mantiveram o ovo, é verdade,
mas, ao contrário dos répteis, cuidam dele Figura 4 – Falcão-peregrino
RMB1oT/2015 97
DA ORIGEM DA VIDA AO HOMEM – Parte I
outra grande diferença entre répteis e aves. pequeno ser cego, completamente incapaz
O filhote da ave é cuidado, alimentado e de sobreviver, dotado de pouquíssimos
“ensinado”. Sabe-se hoje que o aprendizado reflexos, devido à imaturidade do sistema
desempenha um papel muito importante nervoso. Ele é colocado pela mãe numa
nas primeiras fases do desenvolvimento do bolsa ventral, onde faz a única coisa que
filhote da ave, embora tenha características sabe: agarrado ao pelo materno, move-se
algo diversas daquele dos mamíferos e seja em direção às mamas e, chupando estas, se
mais limitado. As aves são menos inteli- fixa numa delas, lá ficando até completar
gentes, aprendem menos, mas aprendem seu desenvolvimento.
algumas coisas de forma especial. Em todos os outros mamíferos, a
As aves podem ter representado uma viviparidade foi levada até suas últimas
tentativa divergente para se obter os mes- consequências. O ovo, já desaparecido nos
mos resultados conseguidos com os mamí- marsupiais, é substituído por um completo
feros, sem sacrificar o ovo. Tanto que, entre desenvolvimento interno. A viviparidade é,
os mamíferos inferiores, existe, ainda, um certamente, um sistema muito mais aper-
terceiro grupo: os monotremos – equídnas feiçoado que o choco das aves. Da mesma
e ornitorrincos –, que se comportam como forma o é a segunda fase do cuidado da
aves: põem ovos e cuidam do ninho. prole: a amamentação. Mas a terceira fase,
O que foi dito sobre as aves explica, em a educação, é decisiva na superioridade dos
parte, por que a viviparidade se estabeleceu mamíferos. Na história da classe, as três
em uma classe inteira. Como o choco nas fases devem ter se desenvolvido de maneira
aves, ela é uma necessidade advinda da complementar e integrada. Assim, a perda
homotermia. Mas, da mesma forma, não é dos ovos representa apenas um detalhe na
senão uma parte do programa de cuidado aquisição de nova maneira de educar a prole
da prole desenvolvido pelos mamíferos: e utilizar o cérebro.
seus filhotes não são apenas “incubados” Os primeiros mamíferos surgiram no
no ventre da mãe, mas também cuidados fim do Triássico (208 milhões de anos,
pelos pais. aproximadamente) e eram criaturas in-
De acordo com seu tipo, os mamíferos significantes, do tamanho de ratos. No
dividem-se em prototéria, metatéria e Jurássico (160 milhões de anos), ocorreram
eutéria, nomes impróprios, mas tradicio- novos processos evolutivos, sobretudo na
nais. Impróprios porque theria, em grego, adaptação craniana dos mamíferos, os quais
significa placenta; os prototéria (equídnas atingiram sua expansão máxima durante
e ornitorrincos), que seriam os “placenta o Cretáceo (100 a 75 milhões de anos),
inicial”, não têm placenta alguma; e os quando devem ter evoluído dos primeiros
metatéria – meta significa “além, posterior” marsupiais e placentários (insetívoros).
– são os marsupiais. Só o nome eutéria, Aliás, todos os grupos iniciais de mamí-
ou “placenta verdadeira”, designando as feros tinham algo em comum: deviam ser
demais ordens, é correto. caçadores de insetos e outros pequenos
Os marsupiais são vivíparos incomple- animais. Essa predação modesta, que se
tos, algo entre os placentários verdadeiros e desenvolvia entre pedras e ervas, pode pa-
os ovíparos. A fecundação, como em todos recer insignificante, porém dependia mais
os mamíferos, é interna, mas o desenvolvi- da astúcia que da força, e seus competidores
mento do embrião não se dá dentro da mãe. não eram os répteis gigantescos, mas os
No parto, o organismo materno expulsa um pequenos lagartos e tecodontes. Foi essa
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DA ORIGEM DA VIDA AO HOMEM – Parte I
pequena competição, então insignificante, cuo ecológico” deixado pelos sauros tenha
que os mamíferos inicialmente venceram. sido o de carnívoros. Mas, do ponto de
E, quando os grande répteis declinaram, vista ecológico, os carnívoros precisam de
a nova grande arma – o cérebro – forjada espécies herbívoras. E, de fato, à medida que
nessa luta obscura já estava pronta. o número de carnívoros placentários primi-
Supõe-se que os primeiros placentários tivos crescia, aumentava também o número
foram, provavelmente, do tipo insetívoro, dos que tinham evoluído para herbívoros
e um animal que muito se aproxima desses primitivos. Estes ficaram conhecidos pela
antigos placentários é o musaranho (figura designação de “ungulados primitivos”.
5). Desde que a idade dos répteis se encer- O grupo dos ungulados – animais que
rou, deixando vago grande número de nichos caminham sobre as unhas – é bastante ar-
ecológicos, os pequenos placentários, do tificial, englobando bois, tapires, elefantes,
tipo musaranho, venceram a concorrência porcos, camelos, cavalos etc.
com outros grupos e os ocuparam. Durante A maioria dos grandes herbívoros mo-
o Paleoceno (60 milhões de anos atrás), dernos deve ter se diferenciado a partir dos
rapidamente, desses primeiros insetívoros “ungulados primitivos”, animais que corre-
evoluíram as várias ordens bem-sucedidas ram pelas pradarias do fim do Cretáceo (80
de mamíferos, inclusive o ancestral primata. milhões de anos). Porém, à medida que dos
No Eoceno (45 milhões de anos, aproxima- insetívoros se diferenciavam espécies de
damente), as linhas principais da evolução herbívoros volumosos, surgiram os carní-
dos mamíferos já estavam estabelecidas. voros primitivos, os creodontes. Foi a partir
Poucos dos insetívoros originais sobrevi- dos creodontes que emergiram os felinos, as
veram, mas todas as grandes dinastias de hienas, os canídeos, os ursos e mais algumas
mamíferos, da baleia ao rato, descendem famílias de caçadores. Desenvolveram-se
destes modestos ancestrais. também os carnívoros marinhos: focas e
Os primeiros placentários – os insetí- leões marinhos que, em vez de caçar outros
voros – eram, à sua maneira, carnívoros: mamíferos ou aves, caçam peixes.
comiam insetos, pequenos bichos e ovos. É preciso considerar, no entanto, que
Nada mais normal, portanto, que, iniciado outros carnívoros placentários não estão
o declínio dos répteis, o primeiro grupo a incluídos na ordem dos carnívoros. São
evoluir dos insetívoros para ocupar o “vá- agrupados, junto com as baleias e os delfins,
na ordem dos cetáceos, como é o caso da
orca, um temível caçador marinho. São
também excluídos da ordem dos carnívoros
os morcegos, os desdentados e macacos que
comem carne.
A primeira invasão dos mares pelos
vertebrados foi a dos teleósteos surgidos
nos rios, no Devoniano, os actinopterígeos.
Durante o Mesozóico, grupos de répteis
também invadiram os mares, adquirindo
Figura 5 – Um musaranho do sudeste da Ásia. formas hidrodinâmicas: os plesiossauros e
O ancestral primata era provavelmente um os ictiossauros. No Cenozóico, foi a vez dos
animal pequeno, noturno, que vivia em árvores
alimentando-se de insetos, assim como fazem hoje
mamíferos. Desaparecidos os répteis, sur-
os musaranhos giram os cetáceos, sirenídeos e pinipédios.
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DA ORIGEM DA VIDA AO HOMEM – Parte I
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DA ORIGEM DA VIDA AO HOMEM – Parte I
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DA ORIGEM DA VIDA AO HOMEM – Parte I
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DA ORIGEM DA VIDA AO HOMEM – Parte I
Outra especificação primitiva também nos lêmures, os olhos, que nos outros ma-
desenvolvida foi a localização do polegar míferos se situam dos dois lados da cabeça,
na mão. Ao que parece, esta é também tendem a se situar frontalmente. No társio,
uma velha herança dos antigos insetívo- os olhos, além de enormes, são completa-
ros, em que o polegar devia ser um tanto mente frontais, assim como no lóris.
divergente dos outros dedos. Alguns tipos A posição frontal dos olhos marca uma
de macacos perderam esse traço ao longo situação muito importante: a visão estere-
do tempo, mas a maioria das espécies oscópica. Na visão estereoscópica, a área
conservou um polegar funcional e bem percebida por um olho recobre parcialmen-
desenvolvido. A única perda apreciável, a te a área de visão do outro, sobrepondo
partir dos macacos superiores, foi a cauda, as imagens, o que não acontece com os
que, em algumas espécies, como nos maca- animais cujos olhos estão situados um de
cos sul-americanos, constituiu, na verdade, cada lado da cabeça. Na natureza, porém,
uma “quinta mão”, responsável por uma o processo não é exclusivo dos primatas.
boa parte de suas excelentes performances As aves de rapina também o usam, pois
arborícolas (figura 10). dependem de uma visão estereoscópica,
Os primeiros insetí- em três dimensões, para
voros não deviam co- calcular com precisão
mer só insetos. Prova- a distância da presa em
velmente, procuravam suas caçadas aéreas.
também ovos, raízes, Entretanto, nenhu-
tubérculos e sementes. ma dessas caracterís-
Os primatas, para os ticas, por si só, pode
quais as folhas das explicar o extraordi-
árvores representavam nário sucesso final dos
uma parcela significa- primatas. A explicação
tiva da alimentação, Figura 10 – Macaco-aranha das Américas deve ser procurada no
mantiveram-se, de conjunto delas e na
fato, onívoros, o que deve ter tido alguma ação que esse conjunto de possibilidades
influência sobre sua evolução em direção teve sobre a evolução do sistema nervoso.
aos hominídeos, mas, certamente, não Mãos, olhos, flexibilidade dos membros e
tanto quanto o desenvolvimento dos olhos, capacidade de adaptação a qualquer dieta
possibilitando o surgimento de uma visão só tiveram valor porque serviram de opor-
em três dimensões e em cores, um efeito tunidade para o alto desenvolvimento de
direto da vida arborícola e entre folhagens. um cérebro, incentivado, inclusive, pela
A maioria dos mamíferos tem, como vida social dos primatas. Portanto, a área
órgão principal dos sentidos, o olfato. A do cérebro inervada pelos olhos é enorme.
maioria das espécies arborícolas, entretanto Da mesma forma, os espaços reservados à
(e não só as de mamíferos), enxerga bem, mão e à língua são muito maiores do que as
o que não é de se estranhar. Para saltar de áreas reservadas ao resto da pele.
galho em galho e avaliar a distância em Do que foi dito, se poderá deduzir, com
que se encontra uma presa ou um adversá- grandes possibilidades de acerto, que o
rio, em um ambiente predominantemente cérebro dos primatas tenha evoluído sob a
verde, é preciso ter olhos de características influência desses órgãos. O fato dos ante-
especiais, e ali o olfato de nada serve. Já passados dos homens poderem agarrar os
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DA ORIGEM DA VIDA AO HOMEM – Parte I
objetos com uma mão sensível e levá-los para o estudo das origens humanas; dos
para perto dos olhos para uma observação driopitecos (dryopithecus) – macacos da
cuidadosa deve ter feito com que a natu- floresta –, que surgiram 8 milhões de anos
reza viesse selecionar aqueles que podiam mais tarde do que o Aegyptopithecus,
fazê-lo melhor que os outros, isto é, aqueles originaram-se o grupo dos pongídeos, os
cujas áreas cerebrais ligadas a esses órgãos chipanzés e gorilas e, provavelmente, o
estivessem mais desenvolvidas. grupo dos afropitecos.
Um outro grupo, os ramapitecos, que ha-
Os antropoides via sido considerado como o dos primeiros
hominídeos, verificou-se mais tarde que, na
Os antropoides se dividem em dois realidade, era integrado pelos ancestrais ou
grupos monofiléticos: os macacos do Novo parentes próximos dos orangotangos, os
Mundo, conhecidos como platirrinos, da quais estão relacionados mais longinqua-
América tropical (desde o México até o sul mente com os humanos do que os chipanzés
do Chile e da Argentina); e os primatas do e os gorilas.
Velho Mundo, também conhecidos como O primeiro fóssil denominado “Rama-
catarrinos, da Ásia e da África (e ainda com pithecus” foi encontrado por G.E. Lewis
uma presença na Europa). ao norte da Índia, em 1934. Desde então,
Os macacos de cauda sul-americanos, outros espécimes foram desenterrados em
os platirrinos, têm o “nariz chato”: suas outros lugares. Mas todos esses fósseis
narinas são bem separadas e se abrem estavam muito incompletos. Apesar disso,
mais para o lado do que para baixo ou os ramapitecos foram geralmente aceitos
para a frente. Já os macacos da Ásia e da como os primeiros representantes da fa-
África são os “narigudos”, ou catarrinos, mília humana, que devia ter vivido entre
por contraposição aos platirrinos. Entre os 15 a 20 milhões de anos atrás. As coisas
catarrinos se situam os grandes macacos, poderiam ter continuado assim se não
“quase humanos”, os verdadeiros símios, fosse a descoberta de um novo fóssil, em
que não possuem caudas. 1980, nas montanhas do Paquistão, pelo
Em busca das origens humanas, o fóssil paleontólogo David Pilbeam, da Univer-
encontrado na depressão de Fayum, ponta sidade de Harvard. Ele desenterrou uma
leste do Saara Egípcio, denominado Ae- criatura semelhante ao Ramapitecos, que
gyptopithecus, com idade de cerca de 28 foi chamada de “Sivapithecus Indicus” e
milhões de anos, aparece, talvez, como que estava mais completa do que qualquer
primeiro dos primatas hominoides, o an- outra e mostrava, com bastante clareza, ser
cestral comum que partilhamos com os inteiramente semelhante ao orangotango.
antropoides vivos. Provavelmente, seria Por outro lado, conforme comprovou
também o ancestral comum dos três gran- pesquisa realizada por cerca de 30 insti-
des grupos de macacos primitivos, que se tuições de todo o mundo e publicada pela
destacavam logo no início do Mioceno (20 revista Nature, o orangotango veio juntar-se
milhões de anos): os pliopitecos, os oreo- ao grupo de animais com sequenciamento
pitecos e os driopitecos (proconsules). Dos de genoma completo, o qual é 96% idêntico
pliopitecos deve ter desviado o grupo dos ao do homem. De acordo com o divulgado,
hilobatídeos, onde se encontram o gibão os orangotangos conservaram seu material
e similares; os oreopitecos não deixaram genético praticamente estável nos últimos 15
descendência viva e não são importantes milhões de anos. A semelhança entre esses
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DA ORIGEM DA VIDA AO HOMEM – Parte I
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DA ORIGEM DA VIDA AO HOMEM – Parte I
APÊNDICE I
Nas condições primitivas do planeta, sem o oxigênio atmosférico produzido pelas plantas,
mas com a presença de metano e amoníaco, as substâncias químicas elementares que formariam as
moléculas da vida, isto é, as moléculas de proteínas, apareceram espontaneamente. Essas condições
foram repetidas em laboratório, obtendo-se a formação de moléculas de açúcares sob a ação dos raios
ultravioleta provenientes do Sol; de aminoácidos (que são macromoléculas que constroem as prote-
ínas) com descargas elétricas, como os raios que atingem a Terra; e de ácidos graxos (que formam
gorduras) com o calor, possivelmente das fontes termais dos fundos oceânicos. Pode-se então imaginar
os oceanos primitivos tornando-se uma “sopa” dessas moléculas: como não havia seres vivos para
comê-las, nem oxigênio para decompô-las (pela oxidação – reação química frequentemente provocada
pelo oxigênio), sua concentração só poderia crescer.
Porém uma maior concentração dessas moléculas naturalmente aumentaria as probabilidades
de encontro entre elas e de combinação em cadeia. A energia necessária a essas sínteses poderia ser
atribuída às altas pressões existentes nos fundos marinhos. Assim, o problema da síntese das grandes
moléculas apresenta dois aspectos interdependentes e mais complexos: o primeiro é o aparecimento,
entre um infinito número de probabilidades, somente das moléculas que se conheciam e que poderiam
interagir; o segundo é o modo pelo qual essas moléculas deixaram de ser uma “sopa” e adquiriram
individualidade celular – o que ocorreu quando, em sua integração, conseguiram se organizar em
unidades metabólicas e autorreprodutoras. E, em processo de metabolismo primário, passaram a usar
as outras como alimento, numa espécie de canibalismo11.
Os primeiros seres vivos, monocelulares e muito simples, mal apareceram e já começaram a
obter sua energia da ruptura das moléculas da “sopa” à sua volta, o que deve ter ocorrido no momento
em que foram capazes de absorver e expulsar substâncias, como em um protometabolismo; esgotadas
estas, passaram a usar as dos outros seres vivos. E se nesta fase já não tivessem aparecido seres capazes
de explorar a forma comum de energia da superfície do planeta, que é a luz solar, o período inicial do
“canibalismo” poderia ter acabado com a vida, apenas iniciada. Assim, o primeiro problema – porque
vingaram apenas certos tipos de macromoléculas, que são as moléculas que formam as proteínas –
resolve-se no seguinte: porque apareceram os indivíduos que eliminaram aqueles incapazes de formar
sistemas autorreprodutores12. Mas, como apareceram as primeiras protocélulas, isto é, aquelas com as
primeiras substâncias de macromoléculas não dissolvidas no ambiente, mas agrupadas numa unidade
constante e autorreprodutora?
As moléculas orgânicas que se formaram, sob a influência da energia térmica, química ou
mesmo solar, são insolúveis em água e, nela colocadas, ou decantam (não se misturam) ou formam
coloides (microscópicas agregações de moléculas em gotículas suspensas, no meio líquido). Mas há
11 Isto nos leva à primeira constatação: os heterótrofos – isto é, os seres vivos que comem outros seres vivos
(como os animais e os fungos) – apareceram antes dos autótrofos – aqueles que sintetizam seu próprio ali-
mento (como os vegetais que utilizam a luz e as bactérias que usam energia química do enxofre e do ferro,
elementos existentes no núcleo terrestre).
12 É oportuno observar que, desde o seu começo molecular, a história da vida é a história da seleção natural, até
que o homem pôde aboli-la dentro de sua própria espécie, com o uso de sua inteligência.
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DA ORIGEM DA VIDA AO HOMEM – Parte I
um tipo especial de coloides orgânicos, isto é, de partículas compostas de moléculas orgânicas que se
reúnem – as micelas – rigidamente orientadas e isoladas do meio ambiente por uma película superficial
de moléculas d’água, difícil de romper devido à afinidade elétrica com o meio. Esta é a aquisição de
uma verdadeira “individualidade”: são os chamados coacervatos. Portanto, muitos desses tipos espe-
ciais de coloides orgânicos – os coacervatos – podem ter aparecido na “sopa” oceânica, em que, em
um processo de seleção natural, só as gotas que fossem capazes de absorver outras ou “devorá-las”
devem ter sobrevivido. Pode-se até imaginar uma dessas gotas de coacervato absorvendo substâncias
da “sopa” exterior ou mesmo outras gotas por coalescência – reunião de partículas de uma suspensão
coloidal – englobando substância, ao mesmo tempo que, dentro dela, outras substâncias se decom-
põem e são expelidas, como se fosse um modelo de fisiologia primária. Mas, além disso, para que a
vida fosse considerada, seria necessário que, entre essas partículas que se alimentavam e cresciam,
aparecessem aquelas capazes de se autorreproduzir, isto é, de partir-se em duas ou muitas partículas
iguais, com todos os seus componentes. Essas ganharam a partida evolutiva, enquanto as outras iam
se reproduzindo caoticamente e se extinguiam. E, nessa época, devia ter aparecido a fotossíntese,
que possibilitou a oxigenação da atmosfera e dos oceanos e a criação, na estratosfera, da camada de
ozônio.
A individualidade constituiu-se, portanto, formando-se películas organizadas em torno
de grandes gotas de coloides orgânicos – os coacervatos. Entretanto, para que a individualidade se
mantivesse e a estrutura não fosse decomposta, foi necessário, de um lado, romper moléculas e, de
outro, fabricar novas moléculas iguais. Para isso, apareceu a “memória química”, o livro que, dentro
das células, tem escrito o que deve ser feito para a reprodução de seres iguais. Este órgão químico é
representado pelas moléculas do ADN (ácido desoxirribonucleico) que deve ter se formado bem cedo
na função de “memória da espécie”13.
A vida14 não é algo fácil de se definir. Uma de suas características gerais reside na compo-
sição química de todos os seres vivos: macromoléculas de compostos de carbono e moléculas como
proteínas, ácidos nucleicos, carboidratos e lipídios, que consistem em inúmeros átomos em diversas
combinações. Como regra geral, essas moléculas orgânicas podem ser divididas em moléculas fun-
cionais, que executam funções vitais, e moléculas de informação (ADN), que carregam o código
genético. É muito provável que o passo decisivo em direção ao desenvolvimento da vida resulte na
interação bem-sucedida desses dois tipos de moléculas. A cooperação dos blocos de vida em unidades
cada vez maiores e mais complexas, como a organização celular dos seres vivos, representa, talvez,
a característica mais significativa da vida.
E tudo isso começou há cerca de 3,8 bilhões de anos, na “sopa” dos oceanos primitivos...
13 O ADN – ácido desoxirribonucleico – (DNA, na sigla em ingês) teve um precursor mais simples, o ARN – ácido
ribonucleico – (RNA, na sigla em inglês), que é uma molécula que se autorrefaz e que pode ter se formado
espontaneamente a partir de seus próprios componentes, incluindo o ácido fosfórico e a ribose (um açúcar).
O modo exato como o ARN e outras substâncias se reuniram, para criar os precursores das células vivas,
continua a ser um mistério (certamente, é a partícula de Deus da Biologia).
14 Qualquer ser vivo deve poder: metabolizar (realizar processos químicos que envolvam produção de energia e
eliminação de resíduos); crescer e se desenvolver; responder a estímulos, como a luz e o calor; reproduzir-se;
possuir membranas celulares (para isolá-las do ambiente e permitir o fluxo seletivo de substâncias para dentro
e para fora da célula); ter a habilidade de aproveitar ou produzir energia; e possuir material genético para
permitir sua reprodução.
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DA ORIGEM DA VIDA AO HOMEM – Parte I
GLOSSÁRIO
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DA ORIGEM DA VIDA AO HOMEM – Parte I
Fotossíntese – Nas plantas verdes, em presença da luz, reação bioquímica que, a partir das moléculas
minerais simples (CO2, H2O etc.), produz moléculas orgânicas glucídicas de pouca massa molar.
Algumas dessas moléculas são polimerizadas em glucídios de massa molar elevada (amido);
outras se transformam em lipídios e outras, enfim, unem-se a moléculas azotadas. O fenômeno
é caracterizado pela absorção de carbono e liberação de oxigênio.
Gene – Segmento do ADN responsável pela síntese de uma proteína, enzimática ou não, e, por
consequência, de um caráter hereditário. Unidade genética que condiciona a transmissão e a
manifestação de caracteres hereditários.
Heterótrofos – Diz-se dos seres vivos que se alimentam de substâncias orgânicas, como a maioria dos
animais: carnívoros, herbívoros, onívoros ou comensalismo, saprofitismo, parasitismo ou simbiose.
Hominídeos – Família de mamíferos primatas antropomorfos, da superfamília dos hominóides, for-
mada pelo homem atual e pelas espécies fósseis mais próximas, consideradas como ancestrais
da espécie humana.
Hominoides – Superfamília de primatas superiores desprovidos de caudas e de bolsas faciais.
Icthiostega eigeli – Anfíbio fóssil, cujo gênero típico lembra os peixes crossopterígeos, pelo formato
do crânio e pela presença de nadadeira caudal. Os membros, com cinco dedos, derivados das
nadadeiras, e as costelas fortes indicam a conquista do meio terrestre.
Ictiossauro – Ordem dos répteis fósseis, carnívoros, de grande porte (1 a 10 metros de comprimen-
to), da Era Secundária; assemelhavam-se aos tubarões, golfinhos, espadartes; eram adaptados
à vida pelágica: crânio alongado, focinho em forma de bico com até 200 dentes (acredita-se
que eram vivíparos).
Medusa (água-viva) – Denominação dada aos celenterados marinhos da classe dos cifozoários, de
corpo mole, semelhante à gelatina, transparente. Muitos desses animais apresentam células
urticantes que causam queimaduras dolorosas.
Molécula – Partícula formada de átomos que representa, para um corpo ou substância pura constituída
por ela, a menor porção de matéria que pode existir no estado livre.
Monofilético – Diz-se dos grupos zoológicos ou botânicos derivados de uma única espécie ancestral.
Mosassauro – Lagartos de grande porte, serpentiformes, marinhos, do Período Getáceo da Europa
e da América.
Mutação – Modificação brusca e definitiva de um ou mais genes, que acarreta o suprimento, em
linhagem animal ou vegetal, de indivíduos com novas características que irão ser transmitidas
a seus descendentes.
Notocorda – Suporte axial, celular, elástico, formado ventralmente e paralelo ao tubo nervoso no
embrião inicial de todos os cordados; com o desenvolvimento, é substituído por vértebras.
Oreopiteco – Primata de grande porte, fóssil, da Era Terciária, do qual um esqueleto completo foi
descoberto em Baccinello, na Toscana, Itália. Esse hominoide foi classificado primeiro entre as
formas ancestrais da linhagem humana. Certas características, tais como adaptação dos membros
superiores para a braquiação, o afastam, contudo, de nossos ancestrais.
Pelicossauro – Répteis fósseis bastante comuns nas camadas do Carbonífero e do Permiano Superior;
constituem o primeiro degrau que se conhece no caminho que leva aos mamíferos. Os pelicossauros,
cujo crânio apresentava características que permitiam relacioná-los com os futuros mamíferos,
eram os principais e mais agressivos carnívoros do Carbonífero. Suas patas ainda emergiam
lateralmente do corpo, impedindo a posição ereta. Ainda assim, é entre os pelicossauros que se
devem procurar os primeiros antepassados dos mamíferos e dos primatas que levam ao homem.
Plesiossauro – Gênero de grandes répteis marinhos fósseis da Era Secundária, adaptados à vida
aquática. Mediam de 3 a 5 metros.
Pinipédios – Ordem de mamíferos marinhos carnívoros, como as otárias, morsas e focas.
Platirrinos – Macacos da América, com narinas muito separadas e cauda preênsil (bugio,
macaco-aranha, macaco-prego) ou de cauda não preênsil (saqui, tamarin). Caracterizam-se
também por possuírem 36 dentes. Ocorrem nas Américas.
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DA ORIGEM DA VIDA AO HOMEM – Parte I
Pliopiteco – Grupo de macacos primitivos que se destacava no início do Mioceno, do qual deve ter
derivado o grupo dos Hilobactídeos.
Pongídeos – Família de mamíferos primatas, sem cauda. São macacos antropoides, como o gibão
(Hylobates), o siamang (Symphalangus), o gorila (Gorita) e o chipanzé (Pan). Apesar de apa-
rentados com a espécie humana, os pongídeos dela se distinguem por numerosas características:
capacidade craniana relativamente pequena; focinho prognata; dentes poderosos; ausência de
queixo; occipital importante; braços muito longos; mãos com quatro dedos longos e polegar
curto, pouco oponível, o que favorece a braquiação; pé preênsil, graças a um grande artelho
oponível, propício para trepar. A pelagem é bem desenvolvida, e o crescimento rápido. O
orangotango (Pongo Pygmaeus) também pertence à família dos Pangídeos.
Procariotas – Diz-se do organismo cujo núcleo celular não possui membrana nuclear e está mesclado
ao citoplasma.
Pteridófitas – Grupo de plantas criptógamas vasculares que se reproduzem sem flores nem sementes,
como as avencas, os fetos, as samambaias etc.
Ramapiteco – Fóssil de primata superior que viveu no fim do Período Mioceno, considerado por
muito tempo um ancestral do homem, mas que se verificou ser um ancestral ou parente próximo
do orangotango.
Sarcopterígio – Peixe ósseo que, no Devoniano, deu origem aos anfíbios.
Sirenídeos – Ordem de mamíferos herbívoros de hábitos aquáticos, marinhos ou fluviais. São o
manati, o dugongo e o peixe-boi.
Tecodontes – Ordem de répteis fósseis, do período Permiano ao Triássico, semelhantes aos crocodilos,
considerados como prováveis ancestrais dos dinossauros e aves.
Terapsídeos – Ordem de répteis fósseis do período Permiano ao Triássico, cuja evolução anuncia os
primeiros mamíferos.
Vírus – Microorganismo visível ao microscópio comum e agente de várias infecções nos homens,
animais e vegetais. Os vírus se desenvolvem unicamente no interior das células vivas. A prova
de sua existência foi observada em 1898, com os trabalhos de Löfler e Paul Frosch (1860-1928)
sobre a febre aftosa. Considerados os mais simples dos seres vivos, os vírus são compostos por
uma só cadeia de ácido nucleico, que tanto pode ser ADN (DNA) como ARN, envolvida por
uma espécie de casca (cápsula) proteica, proveniente das células parasitadas pelos vírus. Assim,
o vírus só pode viver parasitando uma célula, que se torna a sua hospedeira.
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CANAL DO PANAMÁ*
* Título original do artigo: “O canal do Panamá: uma das obras de maior impacto geopolítico da história foi
viabilizada pela pesquisa militar”.
** Comandou o Navio-Patrulha Pirajá, a Corveta Bahiana, o Colégio Naval, o Primeiro Esquadrão de Corvetas
e como almirante, a 2a Divisão da Esquadra. Foi subchefe de Operações do Comando de Operações Navais,
Assistente do Comando da Escola Superior de Guerra (ESG) e diretor do Curso de Altos Estudos de Política
e Estratégia da ESG.
CANAL DO PANAMÁ
Neste artigo focaremos, especificamen- na paz. É muito comum que as baixas entre
te, uma revolução científica propiciada pelo os combatentes sejam majoritariamente
que hoje denominaríamos PD&I – Pes- decorrentes de eventos fora do combate,
quisa, Desenvolvimento e Inovação – no como doenças e acidentes. Para ficarmos
âmbito militar, a qual se mostrou vital para em alguns poucos exemplos, na Primeira
a prontificação do Canal. Guerra Mundial, a divisão naval brasileira
Para o leigo, pode ser difícil identificar enviada para o norte da África viu-se in-
a amplitude do spin-off (arraste) propiciado capacitada pela gripe espanhola, em 1918.
pela PD&I do segmento Defesa (incluindo Noventa por cento dos cerca de 1.500 ofi-
o setor aeroespacial, em função do forte ciais e marinheiros foram acometidos pela
vínculo existente), que atua em múltiplas doença, que matou 125 tripulantes. Foram
frentes: do processo de desenvolvimento registrados 131 casos de malária entre os
do radar nasceu o forno de micro-ondas; a fuzileiros navais norte-americanos que par-
tecnologia de conservação de alimentos, em ticiparam de uma operação de assistência
boa parte, é decorrente das necessidades humanitária na Somália, entre dezembro
logísticas da guerra e da pesquisa espacial; de 1992 e abril de 1993. É intuitivo que os
da propulsão nuclear de navios surgiu a procedimentos, equipamentos e produtos
geração de energia desenvolvidos para a
elétrica pelas usinas “medicina de guerra”
nucleares; mecanis- O Canal provocou migrem rapidamente
mos de gestão e de para a “medicina de
planejamento como o reordenamento do tráfego emergência”. Assim,
Program Evaluation marítimo e o incremento no não é surpresa que mi-
and Review Techni- fluxo de cargas, ao mesmo litares promovam pes-
que (Pert) nasceram quisas neste campo.
de projetos comple- tempo em que reduziu os Mas voltemos ao
xos nesse meio; dali custos e o tempo de viagem Canal do Panamá 1 ,
surgiu a internet e o obra que promoveu
GPS; as exigências de um dos maiores im-
projeto provocaram miniaturização de com- pactos na história da humanidade em
ponentes; ....; até mesmo itens de vestuário, diversos aspectos: político, social,
como o velcro e o fecho éclair, devem o seu econômico e militar. Segundo os norte-
aperfeiçoamento às necessidades do setor. -americanos, a sua inauguração, em 1914,
Mas colocar o segmento na vanguarda marcou o início do American Century. O
médico-sanitária pode parecer demasiado. Canal provocou reordenamento do tráfe-
Ocorre que a guerra é um evento cruel, go marítimo e o incremento no fluxo de
mas, ironicamente, também promotora cargas, ao mesmo tempo em que reduziu
de desenvolvimento, na medida em que os custos e o tempo de viagem, visto que
o homem, em proveito da sobrevivência, os navios que trafegavam entre o Oceano
empenha-se em suplantar o seu adversá- Pacífico e o Atlântico não mais precisa-
rio. As conquistas científico-tecnológicas vam contornar a América do Sul, como
obtidas terminam por serem aproveitadas então ocorria.
1 A referência básica para este histórico é Parker, Matthew. Panama Fever: the epic story of the building of the
Panama Canal. New York: First Anchor Books Edition, 2009.
112 RMB1oT/2015
CANAL DO PANAMÁ
2 Lesseps vendera um sonho, que drenou os recursos dos ricos e as economias dos pobres, mediante a venda de
ações, fomentada pela promessa de ganho fácil.
3 A complexidade e a irregularidade do perfil geológico são decorrentes das alterações propiciadas pela atividade
sísmica. Frequentemente as escavações deparavam-se com intrusões de rocha não detectadas nas sondagens
prévias.
4 O advogado norte-americano William Nelson Cromwell e o engenheiro francês Phiplippe Bunau-Varilla foram
hábeis lobistas. A retomada da construção no Panamá, em vez de recomeçá-lo na Nicarágua, é resultado de
seus esforços. No caso, não no Istmo do Panamá, Colômbia, mas em um novo país – o Panamá –, controla-
do pelos EUA. A independência do Panamá foi uma pouco ética manobra, que envolveu pressão militar e
suborno e tem esses dois personagens como atores relevantes.
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CANAL DO PANAMÁ
5 Laveran também descobriu o protozoário causador da tripanossomíase africana, ou doença do sono. Laveran
e Ross foram laureados com o Prêmio Nobel de Medicina em 1907 e 1902, respectivamente, por suas des-
cobertas científicas.
114 RMB1oT/2015
CANAL DO PANAMÁ
6 KENNEDY, Paul. The rise and the fall of the great powers. New York: Randon House, Inc., 1987.
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O CONFLITO É INEVITÁVEL?*
SUMÁRIO
Introdução
Conflito e relação social
Duas concepções sobre a sociedade
Sociedade e conflito
Sociologia do século XIX
Enfoque contemporâneo
Sociologia do conflito
Intencionalidade do conflito
Crítica e análise dos conceitos
Conclusão
* Trabalho apresentado na disciplina “O Conflito e seus Reflexos na Sociedade dos Homens” do Programa de
Pós-Graduação em Estudos Marítimos da Escola de Guerra Naval (PPGEM/EGN) – Rio de Janeiro, 25 de
setembro de 2014.
** Especialista em Relações Internacionais, professor aposentado do Centro de Produção da Universidade do
Estado do Rio de Janeiro (Cepuerj), colaborador permanente do Centro de Estudos Político-Estratégicos da
Escola de Guerra Naval (Cepe/EGN) e colaborador assíduo da RMB.
O CONFLITO É INEVITÁVEL?
1 BARBOSA, Flávia; DE LUCA, Isabel. Dilma diz que Brasil repudia ataques aéreos na Síria. O Globo, Rio de
Janeiro, 23 set. 2014 (edição eletrônica). Disponível em <http://oglobo.globo.com/mundo/dilma-diz-que-
-brasil-repudia-ataques-aereos-na-siria-14021457>. Acesso em 24 set. 2014.
2 Ibidem.
3 FREUND, Julien. Sociología Del Conflicto. Madrid: Ediciones Ejército, 1995, p. 19-53 et seq.
4 Ibidem, p. 20-21.
5 Apud. Ibidem, p. 22.
6 Ibidem, p. 22-24.
RMB1oT/2015 117
O CONFLITO É INEVITÁVEL?
por natureza, e a outra que a sociedade é A sociedade civil nasce para pôr fim aos
uma obra artificial do homem7. conflitos em seu interior. A argumentação
A primeira concepção é mais antiga, das teorias do contrato social é procurar
e sua primeira elaboração sistemática é suprimir tal possibilidade de conflito. Para
atribuída a Aristóteles. O homem que vive Hobbes, o cidadão é livre se o Estado é
fora da sociedade será um ser monstruoso livre, governado por um soberano que
ou um deus. A sociedade e a natureza não represente a razão. Rousseau argumenta
são a mesma coisa, embora o homem viva em favor da unanimidade e da submissão
naturalmente em sociedade. A segunda é à “vontade geral”. A validade do pacto so-
mais recente e foi elaborada sistematica- cial limita-se ao âmbito de uma sociedade
mente por Hobbes no século XVII. Este determinada11.
autor define a sociedade como o Leviatã, Julien Freund questiona se seria possí-
um ser artificial que vel proscrever o con-
também representa o flito, uma vez que a
Estado. A concepção Para as teorias da busca da unanimidade
de Hobbes deu origem naturalidade da vida conduz em geral a um
às teorias do contrato despotismo totalitário.
social8.
social, os conflitos não É preciso considerar
As teorias basea- são necessariamente ainda o conflito revolu-
das no contrato social calamidades, mas são cionário. Sob o pretexto
vislumbravam um de eliminar conflitos,
“estado de natureza” inerentes à sociedade... as teorias contratuais
anterior à formação Seria inútil querer extirpá- suscitam outros. Tais
das sociedades. Para teorias cobrem apenas
Hobbes, este corres-
los da coletividade os conflitos internos à
pondia ao conflito sociedade civil, e seu
permanente, ou à “guerra de todos contra desenvolvimento foi contemporâneo da
todos”. Para Rousseau, seria um estado consolidação dos Estados modernos, entre
primordial de felicidade e liberdade, que os séculos XVII e XVIII12.
teria degenerado num estado de guerra . 9
7 Ibidem, p. 25.
8 Ibidem, p. 25-26.
9 Ibidem, p. 27.
10 Ibidem, p. 29.
11 Ibidem, p. 29.
12 Ibidem, p. 30-32.
118 RMB1oT/2015
O CONFLITO É INEVITÁVEL?
Portanto, seria inútil querer extirpá-los da sociedade, mas pensava-se que o progresso
coletividade. Heráclito considerava que o poderia eliminar os conflitos. A ideia de
conflito desempenhava um papel regulador. que a escassez do passado seria superada
Para Aristóteles, a sociedade existe por na- pela sociedade industrial, rumo a uma era
tureza, excluindo a ideia de contrato social. de paz, estava no centro do pensamento
Para ele, a unidade não poderia resultar de liberal clássico, que também influenciou
uma “aliança” dos cidadãos, e uma unidade o pensamento socialista de esquerda. A
levada ao extremo seria perniciosa para busca de unanimidade levou às ideologias
a cidade. Rechaça, portanto, a lógica da totalitárias do século XX. As tendências
unanimidade13. reformistas ou revolucionárias nutriam-se
Aristóteles diverge profundamente do mesmo ideal liberal, de que o progresso
dos teóricos do contrato, que pretendem permitirá livrar a sociedade dos conflitos e
eliminar os conflitos pela submissão aos devolvê-la a uma inocência natural. A pri-
pactos. Aos olhos de Aristóteles, o conflito meira corrente, que inclui Herbert Spencer,
nasce da necessidade Auguste Comte e Saint
dos pactos e perdurará Simon, acreditava que
enquanto perdurarem A maior parte dos autores o mundo estava a ponto
estes14. O pluralismo do século XIX acreditava de passar da idade mi-
da vida social dá mar- litarista à idade indus-
gem a uma pluralidade que a humanidade evoluiria trial e comercial, ou da
de tipos de conflitos: para um regime de paz, idade dos conflitos à da
a) A violência é paz. A segunda, da qual
imanente às socieda-
sob a influência benéfica do Karl Marx é a figura
des e não pode ser comércio e o progresso da proeminente, defendia
suprimida totalmente. indústria que a humanidade en-
b) Pode surgir dis- frentaria o conflito de-
córdia entre os cida- cisivo e a luta final para
dãos sobre o regime que consideram o mais eliminar as contradições e antagonismos,
apropriado. numa sociedade renovada pela economia16.
c) O conflito pode surgir dentro de um Saint Simon acreditava que era possível
mesmo regime, a respeito de sua aplicação. regenerar a humanidade e livrá-la do con-
d) Existem motivos psicológicos para a flito, fazendo-a progredir rumo à filantropia
discórdia, tais como inveja e ciúme. universal. Já Marx postulava que o conflito
e) Existem os conflitos sociais, que resultava de uma má organização da socie-
opõem os ricos e os pobres15. dade, estando imbuído da ideia de buscar
a unanimidade no comunismo17. A maior
SOCIOLOGIA DO SÉCULO XIX parte dos autores do século XIX acreditava
que a humanidade evoluiria para um regime
No final do século XIX, segundo de paz, sob a influência benéfica do comér-
Freund, admitia-se ser natural viver em cio e o progresso da indústria. Na futura
13 Ibidem, p. 32-33.
14 Ibidem, p. 34.
15 Ibidem, p. 34-37.
16 Ibidem, p. 37-38.
17 Ibidem, p. 39-43.
RMB1oT/2015 119
O CONFLITO É INEVITÁVEL?
sociedade da abundância que se anunciava, das filosofias sociais, que pensam utopica-
o conflito perderia a razão de ser18. mente numa sociedade futura e pretendem
aplicar processos supostamente científicos
ENFOQUE CONTEMPORÂNEO das sociedades reais numa sociedade ideal
que jamais existiu. Construir uma socieda-
No início do século XX, autores como de perfeita não é missão da sociologia, a
Max Weber, Simmel, Pareto e Durkheim menos que esta se transforme em doutrina
começaram a abandonar o “sonho esca- política. Os conflitos não nascem apenas
tológico” da paz como fim último para das condições materiais da vida social,
ocupar-se das relações sociais. O conflito mas também das esperanças e dos enfoques
aparece então como elemento inerente às ideais que se deseja realizar21.
sociedades, o qual pode ser um fator des-
trutivo, mas que também pode levá-las à SOCIOLOGIA DO CONFLITO
expansão, desde que este seja integrado e
controlado. O conflito pode contribuir para A análise do conflito tornou-se objeto
a unidade do grupo, desempenhando um de pesquisa da sociologia contemporânea.
papel de regulador das ações recíprocas. O termo “polemologia” foi cunhado por
Freund pondera que não podemos excluir Gaston Bouthoul em 1945 para designar
totalmente os conflitos, uma vez que os os estudos científicos sobre os fenôme-
membros de uma coletividade jamais estão nos da guerra e da paz, independente de
totalmente de acordo sobre suas respectivas qualquer ideologia ou opinião política
aspirações e sobre os fins a realizar19. (pacifista ou de outro tipo) e sem limitar-
Os autores contemporâneos acima não -se apenas às relações internacionais ou ao
só mudaram nossa concepção de conflito, aspecto jurídico. Nos países anglo-saxões,
retomando implicitamente a filosofia de desenvolveu-se a disciplina denominada
Heráclito e Aristóteles, mas também mu- Peace Research, cujo enfoque diverge
daram nossa concepção da sociologia. É metodologicamente e dá prioridade ao es-
determinante para a compreensão socio- tudo da paz. Os especialistas desta última
lógica das sociedades saber se é preciso consideram a guerra como uma desgraça e
considerar o conflito como inerente às costumam resvalar para a utopia22.
relações sociais e ver nele um elemento Adotando uma metodologia mais de
regulador e um fator de desenvolvimento, acordo com o espírito científico, Bouthoul
ou considerá-lo um elemento nocivo que repetia sem cessar: “Se queres a paz,
é preciso eliminar20. prepara-te para a guerra”.23 Considerava
A sociologia considera as sociedades fácil condenar a guerra, sem submeter os
conhecidas empiricamente, que existem fenômenos da paz e da guerra a uma análise
ou que já existiram historicamente. Todas crítica. Concentrou as pesquisas sobre o
estas sociedades têm ou tiveram conflitos. conhecimento mais preciso da guerra. A
Tal reconhecimento é distinto da proposta paz não é concebida como situação isolada,
18 Ibidem, p. 43-44.
19 Ibidem, p. 44-45.
20 Ibidem, p. 48.
21 Ibidem, p. 49.
22 Ibidem, p. 49-50.
23 Apud. Ibidem, p. 51.
120 RMB1oT/2015
O CONFLITO É INEVITÁVEL?
mas como uma relação social, no contexto conflito não é absolutamente unívoca. Por
de outras relações humanas. O pluralismo tal razão, Julien Freund propõe a seguinte
causal levou à multiplicação das vias de definição para este termo:
estudo, incluindo a análise conceitual e O conflito consiste num enfrentamento
morfológica, a pesquisa histórica, o méto- por choque intencional entre dois seres
do estatístico e a comparação. Este estudo ou grupos da mesma espécie, que ma-
incorporou contribuições de disciplinas nifestam uns em relação aos outros uma
como psicologia, sociologia, tecnologia, intenção hostil, em geral a propósito de
biologia, economia e demografia. Elabo- um direito, e que, para manter, afirmar
rou novos métodos, como os “barômetros ou reestabelecer o direito, procuram
polemológicos” e a cronística. Finalmente, quebrar a resistência do outro, even-
reconsiderou noções fundamentais, como a tualmente pelo recurso à violência,
mentalidade de agressividade coletiva, os que pode, conforme o caso, tender ao
festivais e o pacifismo24. aniquilamento físico do outro27.
Bouthoul constatou que os fins da guerra
são os mesmos da paz, e que o pacifismo Para que esta definição se torne explíci-
pode ser um fator polemológico. Como o ta, é necessário clarificar suas implicações
holandês Rölling, observa que as reivindica- e levar em conta que: 1) o enfrentamento
ções de justiça são uma das principais fontes e o choque são voluntários; 2) os anta-
da guerra. Concebeu a polemologia como a gonistas devem ser da mesma espécie ou
ciência do conflito em geral, não apenas a congêneres; 3) a intencionalidade implica
ciência da guerra e da paz, mas de qualquer uma vontade hostil e uma intenção de
conflito, seja este político, econômico, reli- prejudicar o “inimigo”; 4) o objeto de um
gioso, social ou de outro tipo. A polemologia conflito é geralmente o direito, inclusive
é a sociologia do conflito e não deve ser à reivindicação de justiça; 5) o conflito
confundida com a sociologia política25. procura quebrar a resistência do outro; e
6) o risco de enfrentamento está associado
INTENCIONALIDADE DO à relação de forças28.
CONFLITO Há necessidade de distinguir entre o
combate, que é próprio dos conflitos arma-
Mas, afinal, o que é conflito? Este pode dos, e outros tipos de luta, tais como a “luta
incluir tanto a guerra como a revolução, de classes” enfatizada pelos marxistas. A
passando pela luta, pelo combate e a luta é uma forma indeterminada de conflito,
batalha ou simplesmente pela querela, a por vezes feroz e sem limites29. O combate
disputa, o desacordo ou a rivalidade. Além é um tipo de conflito submetido a regras, a
disso, inclui também a crise, a tensão e o fim de evitar que degenere numa luta sem
antagonismo, no nível internacional assim qualquer limite. O Estado moderno é carac-
como nos níveis internos da sociedade civil terizado pelo monopólio do uso legítimo
e das relações interpessoais26. A noção de da violência pelos poderes públicos, mas
24 Ibidem, p. 51.
25 Ibidem, p. 51-53.
26 Ibidem, p. 57.
27 Ibidem, p. 60.
28 Ibidem, p. 61-62.
29 Ibidem, p. 62-66.
RMB1oT/2015 121
O CONFLITO É INEVITÁVEL?
no âmbito das relações internacionais não com a definição de Freund35. Embora nem
existe tal monopólio30. No âmbito interno este autor nem os pensadores adeptos da
do Estado, instituições como a polícia e os teoria da naturalidade da vida social por
tribunais, assim como os sindicatos e os ele citados usem especificamente o termo
partidos políticos, desempenham papéis de “inevitável” em relação ao conflito, este é
integração e regulação social do conflito31. considerado como uma característica da
sociedade (ou, pelo menos, de todas as
CRÍTICA E ANÁLISE DOS sociedades conhecidas até hoje). Como
CONCEITOS não existe sociedade perfeita, e o conflito
não pode ser eliminado ou extirpado das
Max Weber, Julien Freund e outros so- sociedades reais, podemos afirmar que este
ciólogos contemporâneos recuperam ideias é inevitável?
filosóficas formuladas na Antiguidade por Nas ciências sociais, deve-se tomar
Aristóteles sobre a naturalidade da vida extremo cuidado com afirmativas (ou
social, quando afirmam que o conflito é negativas) não qualificadas, assim como
inerente às sociedades humanas, podendo com expressões como “sempre”, “nunca”,
eclodir em qualquer relação social. “Ine- “todos” ou “nenhum”. A afirmação de
rente” (que existe como característica de que “o conflito é inevitável” não é uma
alguém ou algo) não é sinônimo de “inevi- constatação científica. Ainda que não se
tável” (que não se pode evitar ou impedir).32 tenha notícia sobre a existência de nenhuma
Freund também afirma que o conflito é sociedade onde não haja nenhum tipo de
“imanente” a toda sociedade. Este termo conflito, talvez no futuro sejam descobertos
tem duas acepções registradas: 1) “que vestígios arqueológicos de tal sociedade.
está inseparavelmente contido na natureza Quem sabe uma sociedade alienígena em
de um ser, de uma experiência ou de um outro planeta, por mais absurdo que isso
conceito; inerente”; e 2) “permanente, possa parecer hoje?
constante”.33 Portanto, os termos “inerente” Apesar disso, podemos admitir que seria
e “imanente” são sinônimos, mas nenhum extremamente difícil suprimir definitiva-
dos dois é sinônimo de “inevitável”. mente o conflito de qualquer sociedade.
Quanto ao termo “conflito”, o dicionário Tal impraticabilidade nos leva à conclusão
admite três acepções: 1) “ato, estado ou de que os esforços devem se concentrar nas
efeito de divergirem muito ou se oporem melhores maneiras de prevenir o conflito ou,
duas ou mais coisas ou pessoas”; 2) “p. ext. não sendo isso possível, resolvê-lo da me-
choque, enfrentamento”; e 3) “discussão lhor forma disponível36. A violência é parte
acalorada; desavença”.34 Nenhuma destas da vida humana desde a pré-história37, e de-
acepções (literalmente) entra em conflito vemos aprender a administrá-la e limitá-la.
30 Ibidem, p. 66-69.
31 Ibidem, p. 108-109.
32 HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles. Míni HOUAISS – Dicionário da Língua Portuguesa, 2a Ed.
revista e aumentada. Rio de Janeiro: Objetiva, 2004, p. 414.
33 Ibidem, p. 399.
34 Ibidem, p. 179.
35 FREUND. Op. cit., p. 60.
36 Ibidem, p. 24.
37 KAPA, Raphael. Violência é parte da vida humana há pelo menos 13 mil anos. O Globo, Rio de Janeiro, 15
jul. 2014 (Ciência).
122 RMB1oT/2015
O CONFLITO É INEVITÁVEL?
No âmbito interno das sociedades e dos cionismo e colapso financeiro, que prepara-
Estados, existem instâncias reguladoras ram a cena para a ascensão de Hitler (1933),
encarregadas de moderar os vários tipos de a Segunda Guerra Mundial (1939-45) e a
conflito e canalizá-los para modalidades não Guerra Fria (depois de 1945)39. A busca por
destrutivas de enfrentamento. Isso inclui tanto mecanismos institucionais ideais, que tornem
a polícia e os tribunais como os sindicatos e a guerra impossível e extirpem o conflito do
partidos políticos, e até mesmo as agremia- âmbito das relações interestatais, não parece
ções esportivas dedicadas a atividades com- uma proposta prática. O esforço de prevenção
petitivas. Já no campo das relações internacio- ou resolução dos conflitos armados, portanto,
nais (assim como nas apresenta-se como uma
rebeliões e guerras ci- questão a ser examinada
vis), ocorre geralmente O conflito deve ser visto e abordada caso a caso.
o conflito armado, que
corresponde à guerra38.
como uma relação social. CONCLUSÃO
O sistema interna- Nasce das diferentes
cional de Estados so- escolhas que fazem os O conflito deve ser
beranos assemelha-se visto como uma relação
ao “estado de natureza” participantes. Não pode ser social, que ocorre em
descrito por Hobbes, por reduzido a um tipo único, é presença de outros da
inexistir uma instância
superior que detenha
inerente às sociedades e não mesma espécie. Nasce
das diferentes escolhas
o monopólio do uso pode ser definitivamente que fazem os participan-
legítimo da força. Nas suprimido, cabendo tes, podendo eclodir em
relações entre Estados, qualquer relação social.
a crença na inevitabili- descobrir os melhores Não pode ser reduzi-
dade do conflito pode meios para preveni-lo ou do a um tipo único, é
transformar-se numa inerente às sociedades
“profecia autorrealiza-
solucioná-lo e não pode ser defini-
da”. Da Guerra do Pelo- tivamente suprimido,
poneso (século V a.C.) à Primeira Guerra Mun- cabendo descobrir os melhores meios para
dial (1914-18), a história é rica em exemplos. preveni-lo ou solucioná-lo. Há duas concep-
Em 1914, os beligerantes acreditavam que ções sobre a natureza da sociedade: uma diz
os meios militares poderiam resolver os pro- que o homem é um ser social por natureza
blemas sociais e políticos da Europa Central. (Aristóteles) e a outra que a sociedade é uma
Com isso, não se esforçaram para prevenir obra artificial do homem (Hobbes). As teo-
o conflito nem procuraram resolvê-lo. A rias baseadas no contrato social vislumbram
Primeira Guerra Mundial terminou com a um “estado da natureza” anterior à formação
queda de quatro impérios: o Alemão, o Russo, das sociedades, mas diferem quanto às suas
o Turco e o Austro-Húngaro. Além de causar características. Para Hobbes, correspondia
milhões de mortes, a guerra deixou um legado ao conflito permanente; para Rousseau, a
de revolução, bancarrota de Estados, prote- um estado de felicidade e liberdade.
RMB1oT/2015 123
O CONFLITO É INEVITÁVEL?
A noção de contrato não se aplica às re- A análise dos conflitos em geral tornou-se o
lações entre Estados, os quais encontram-se objeto de pesquisa da sociologia do conflito,
em “estado de natureza”. A sociedade civil ou polemologia (termo cunhado por Gaston
nasce para pôr fim aos conflitos em seu inte- Bouthoul em 1945). A disciplina denominada
rior. As teorias contratuais procuram supri- Peace Research, desenvolvida nos países
mir tal possibilidade de conflitos. Contudo, anglo-saxões, dá prioridade ao estudo da paz e
a busca da unanimidade conduz em geral a diverge metodologicamente da polemologia.
um despotismo totalitário. Sob o pretexto de A definição de conflito apresentada por
eliminar conflitos, tais teorias suscitam ou- Julien Freund explicita suas características:
tros. Para as teorias da naturalidade da vida o enfrentamento intencional e voluntário, a
social (Heráclito e Aristóteles), os conflitos natureza intraespecífica, a vontade hostil, o
são inerentes à sociedade. Deve-se procurar direito como sendo o objeto mais frequente,
preveni-los ou resolvê-los, mas seria inútil a busca em quebrar a resistência do adver-
procurar extirpá-los. Para Heráclito, o con- sário e o risco de enfrentamento associado
flito desempenhava um papel regulador. Aos à relação de forças40. A abrangência desta
olhos de Aristóteles, o conflito perdurará definição aplica-se a todas as modalidades
enquanto durarem os de conflito interno ou
pactos, e o pluralismo externo. O combate é
social dá margem a O próprio poder pode, por um conflito submetido
uma pluralidade de si só, ser uma potencial a regras, a fim de evitar
tipos de conflitos. fonte de conflito. A busca que este degenere numa
No final do século luta sem tréguas e sem
XIX, acreditava-se que pelo poder no âmbito limites. No âmbito das
o progresso poderia eli- de uma sociedade pode relações internacionais,
minar os conflitos. Tal não existe o monopólio
ideia estava no cerne gerar revolta dos menos do uso legítimo da força
do pensamento liberal aquinhoados contra os por um Estado.
clássico e influenciou poderosos As definições para
também o pensamento “inerente”, “imanente” e
de esquerda. A busca “inevitável” no dicioná-
da unanimidade resultou nas ideologias tota- rio mostram que os dois primeiros são sinô-
litárias do século XX. No início deste século, nimos, mas que nenhum deles é sinônimo de
porém, Max Weber e outros autores come- “inevitável”. A definição para “conflito”, por
çaram a abandonar o sonho da paz como fim sua vez, é compatível com a apresentada por
último, para ocupar-se das relações sociais. Freund. Ainda que não exista sociedade per-
O conflito aparece então como elemento feita e que o conflito não possa ser eliminado
inerente às sociedades, podendo contribuir das sociedades reais, considerá-lo inevitável
para a unidade do grupo pelo desempenho não seria uma afirmação científica. Mesmo
de um papel regulador. assim, seria extremamente difícil suprimir
A sociologia ocupa-se das sociedades co- totalmente o conflito de qualquer sociedade.
nhecidas, que existem ou já existiram. Todas Tal constatação só aumenta a importância
estas têm ou tiveram conflitos. Construir uma da prevenção ou da resolução dos conflitos,
sociedade perfeita não é missão da sociologia. empregando os meios disponíveis para isso.
124 RMB1oT/2015
O CONFLITO É INEVITÁVEL?
No âmbito das relações internacionais, O próprio poder pode, por si só, ser
em que inexiste o monopólio do uso legítimo uma potencial fonte de conflito. A busca
da força, a crença na inevitabilidade do con- pelo poder no âmbito de uma sociedade
flito pode produzir uma “profecia autorrea- pode gerar revolta dos menos aquinhoados
lizada”. Ao longo da História, isso ocorreu, contra os poderosos. No âmbito das rela-
por exemplo, com a Guerra do Peloponeso ções internacionais, a busca de um Estado
e a Primeira Guerra Mundial. A busca por por aumentar seu próprio poder pode dar
mecanismos que tornem a guerra impossível margem a um “dilema de segurança” nos
não é uma proposta prática. A prevenção demais Estados – os quais, por se sentirem
ou resolução dos conflitos armados é uma ameaçados, também procurarão aumentar
questão a ser examinada caso a caso. o seu.
BIBLIOGRAFIA
A – Citada:
BARBOSA, Flávia; DE LUCA, Isabel. “Dilma diz que Brasil repudia ataques aéreos na Síria”. O
Globo, Rio de Janeiro, 23 set. 2014 (edição eletrônica). Disponível em <http://oglobo.globo.
com/mundo/dilma-diz-que-brasil-repudia-ataques-aereos-na-siria-14021457>. Acesso em 24
set. 2014.
FREUND, Julien. Sociología Del Conflicto. Madrid: Ediciones Ejército, 1995.
HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles. Mini HOUAISS – Dicionário da Língua Portuguesa,
2a Ed. revista e aumentada. Rio de Janeiro: Objetiva, 2004, p. 414.
KAPA, Raphael. “Violência é parte da vida humana há pelo menos 13 mil anos”. O Globo, Rio de
Janeiro, 15 jul. 2014 (Ciência).
SACHS, Jeffrey D. The Waste of War. Project Syndicate – The World’s Opinion Page, New York,
21 Jul. 2014. Disponível em <http://www.project-syndicate.org/print/jeffrey-d-sachs-on-
-why-global-instability-today-does-not-have-to-end-as-badly-as-it-did-in-1914>. Acesso em
24 set. 2014.
B – Complementar:
RMB1oT/2015 125
NOVO ESTUDO DE UM ESCOLTA PARA A MARINHA
DO BRASIL
RENÉ VOGT*
Engenheiro
SUMÁRIO
Introdução
Breve histórico do projeto e da construção naval militar no Brasil
Necessidade de projetar e construir
Navios-Escolta para a MB
Composição da força de escoltas
A classe principal de escoltas: fragata ou destróier
Missões, requisitos de operação e capacidades desejadas
Conceito de manutenção, disponibilidade e confiabilidade
Custos
Navios de referência
Dimensionamento do navio
Tripulação, arranjos gerais, armamento, eletrônica e sensores
Estimativa de potência, propulsão, geração de energia elétrica e autonomia
Distribuição de pesos, centros e estabilidade
Conclusão
Índice de siglas, símbolos e abreviações
Apêndice: Riscos e margens de projeto
* Segundo-Tenente (RM2), engenheiro civil, empresário e membro da Sociedade Amigos da Marinha de São Paulo
(Soamar-SP). Colaborador assíduo da RMB.
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NOVO ESTUDO DE UM ESCOLTA PARA A MARINHA DO BRASIL
Argus, dois navios-patrulha fluviais classe no Brasil em toda a nossa história republi-
Raposo Tavares e três classe Amapá. Tam- cana. Foram quatro protótipos iguais. Ini-
bém construiu seis navios de patrulha da cialmente esperava-se obter doze corvetas,
classe Piratini, com projeto e equipamentos mas restrições orçamentárias reduziram-nas
americanos. Mencionamos aqui apenas a a somente quatro navios.
construção naval militar, sem mencionar Dada a urgência por novos meios ope-
navios civis ou reparos e conversões reali- rativos, não foi possível construir inicial-
zadas no período. mente apenas a primeira corveta da classe,
A partir do início da década de obviamente um protótipo, e durante pelo
1970, houve um novo impulso com a menos dois anos proceder intensamente à
obtenção das fragatas classe Niterói da sua avaliação de engenharia e operacional,
Vosper-Thornycroft, que construiu quatro identificando deficiências a sanar e aperfei-
navios da classe na Inglaterra e forneceu o çoamentos a serem introduzidos nas que
projeto de construção e os sistemas, equipa- a seguir se construíssem. A experiência
mentos e materiais para construir as outras obtida só pôde ser aplicada numa classe
duas, Independência seguinte, a Barroso.
e União, no AMRJ, A Corveta Barroso
cobrindo o período de As corvetas Inhaúma é o único navio de sua
1972 a 1980. Contu-
do, o projeto e autoria
foram os primeiros navios classe. Seu projeto e
sua construção divi-
intelectual continuava de combate projetados diram-se entre a DEN
sendo de propriedade e construídos no Brasil e o AMRJ, tal como
inglesa. na classe Inhaúma,
Utilizando as linhas em toda a nossa história estendendo-se entre
do casco das fragatas republicana 1994 e 2009, devido
inglesas, foi projeta- aos notórios percalços
do pela Diretoria de econômicos do País.
Engenharia Naval (DEN) o Navio-Escola Citemos, ainda, o projeto e a construção
Brasil. Coube ao AMRJ o projeto de do Navio-Tanque Gastão Motta entre 1989
detalhamento e a construção. Projeto e e 1991 pela Ishibrás. Foram construídos tam-
construção ocorreram entre 1974 e 1983. bém navios-hospital fluviais e avisos de ins-
Com os requisitos operacionais das trução. Mais recentemente, concluíram-se o
corvetas classe Inhaúma promulgados projeto e a construção de avisos hidrográficos
em 1978, a DEN realizou a concepção, o fluviais, e está em andamento a construção
projeto preliminar e o projeto de contrato dos seis primeiros navios de patrulha classe
dessa classe de navios. O AMRJ executou Macaé, com previsão para 27 unidades, mas
o projeto de detalhamento e construiu duas de projeto francês.
das corvetas. A duas outras foram cons- O programa de obtenção dos submarinos
truídas pelo estaleiro Verolme, mas com o IKL-1400 começou em 1982 com a assina-
AMRJ atuando como estaleiro líder, isto é, tura dos contratos com o estaleiro alemão.
fornecendo todos os planos e especificações O primeiro da classe Tupi foi construído em
de construção. A última corveta Inhaúma Kiel, na HDW e os demais três no AMRJ,
foi concluída em 1994. no período de 1986 até 1999. Na sequên-
As corvetas Inhaúma foram os primeiros cia foi construído um exemplar da classe
navios de combate projetados e construídos Tikuna, evoluído da classe IKL-1400. Aqui
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é preciso ressaltar que sempre todos os sis- E, ainda assim, com alguns longos
temas, equipamentos e materiais, inclusive intervalos de inanição, que tiveram como
o aço, vieram da Alemanha. Aliás, o mesmo consequência a inconstância de preservação
sucedeu com os navios da classe Niterói das equipes de projeto, sem a evolução gra-
construídos no AMRJ. dual de tecnologia nacional. A duras penas,
Paralelamente, a DEN trabalhou no o pessoal do AMRJ envolvido nos trabalhos
projeto do submarino SNAC-1 (Sub- de manutenção de navios foi mantido, e
marino Nacional Convencional) do ainda assim não da maneira ideal.
início de 1986 até o final de 1988. Podemos dizer que o período em que
Infelizmente, a penúria financeira e a os engenheiros brasileiros realmente foram
falta de vontade política acabaram por treinados e trabalharam para criar, modifi-
dissolver as equipes car, adaptar e absorver
técnico-operativas- tecnologia moderna foi
-gerenciais altamente O período em que os aproximadamente entre
especializadas, sem engenheiros foram 1974 e 1990 – apenas
que se conseguisse 16 anos em 114 anos,
iniciar a construção de treinados e trabalharam período que estamos
um único submarino para criar, modificar, considerando. E todo
genuinamente nacio- este trabalho foi literal-
nal. Não fosse esta
adaptar e absorver mente perdido com a
triste realidade, hoje tecnologia moderna foi descontinuação dos pro-
seguramente teríamos aproximadamente entre jetos e dissolução das
a experiência necessá- equipes de engenheiros.
ria para projetar navios 1974 e 1990 – apenas 16 Como consequência
de superfície e subma- em 114 anos; trabalho direta, agora que foi
rinos no Brasil.
No Centro de Pro-
literalmente perdido com a decidida a construção
de cinco novas corve-
jeto de Navios (CPN), descontinuação dos projetos tas evoluídas da classe
o autor teve a opor- e dissolução das equipes Barroso, os estudos de
tunidade de constatar exequibilidade foram
que há um bom núme- feitos pelo CPN, mas
ro de projetos nacionais muito interessantes todas as demais fases do projeto tiveram
e que não tiveram a oportunidade de se que ser contratadas com um escritório de
tornar realidade. projetos estrangeiro, a Vard, em Niterói,
Por que este breve arrazoado? Em 114 parte do grupo Fincantieri.
anos, desde o ano de 1900, contabilizamos,
grosso modo, a construção, no Brasil, de cerca NECESSIDADE DE PROJETAR E
de 45 navios militares. Destes, aproximada- CONSTRUIR
mente 27 foram projetados no AMRJ e na
DEN, sendo os demais construídos com base Sabemos que os países adiantados ven-
em projetos estrangeiros ou derivados destes. dem “pacotes” de projetos para montagem
Esta conta resulta numa média de construção em estaleiros de clientes mundo afora.
de 0,38 navios/ano no total, e se considerar- Abrem mão da construção, mas detêm
mos apenas os navios projetados no Brasil, a tecnologia de projeto, sua propriedade
a média construída cai para 0,24 navios/ano. intelectual, o fornecimento de sistemas,
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Nas Marinhas poderosas, em que as Mas não deveria ser o único tipo de
classes de navios são mais numerosas, não escolta da Esquadra. A distribuição das
raro ocorrem interrupções a certa altura missões deve contar com a possibilidade de
para a reavaliação do projeto, ou mesmo a dispor-se de pelo menos dois tamanhos de
interrupção da classe, com a criação de uma navios de linha: uma fragata maior e uma
outra diretamente derivada da primeira. corveta menor, além dos OPVs (Off-shore
Essa constante aplicação de conhecimen- Patrol Vessel). Esta composição precisa
tos adquiridos em anos seguidos de projeto, considerar os custos de obtenção e de ci-
construção, avaliação, operação, manuten- clos de vida de cada classe, a otimização
ção, reavaliação e modernização também econômica e operacional de cada tipo de
demanda e desenvolve constantemente os missão e a disponibilidade.
produtos e os serviços na base industrial de Na composição da Esquadra, um meio
defesa. Sem demanda não pode haver base menor seria adequado, e o autor sugere a
industrial de defesa. E sem base industrial de leitura do trabalho publicado na RMB 2o
defesa não pode haver um poder naval forte trimestre/2013. Uma corveta denominada de
e com a necessária credibilidade. CV-3000, com 3.000 tons de deslocamento
O Brasil não pre- poderia ser adequada.
cisa ter a ambição de Na realidade, este meio
querer se ombrear com já seria o limite entre
as Marinhas gigantes-
É necessário ter uma corveta e uma fra-
cas, como a Marinha uma Marinha de gata leve e tem o porte
dos EUA (USN). Mas tamanho adequado e da antiga classe F-21
é necessário ter uma Amazon da RN, que
Marinha de tamanho tecnologicamente avançada demonstrou seu valor
adequado e tecnologi- para angariar o respeito na Guerra das Malvinas,
camente avançada para
angariar o respeito dos
dos aliados mais poderosos combatendo nos mares
antárticos durante o in-
aliados mais poderosos. verno austral.
Provavelmente não
NAVIOS-ESCOLTA PARA A MB conseguiremos construir 30 escoltas do
porte da F-6000M2. Achamos que seria
Composição da força de escoltas razoável considerar, por exemplo, uma pro-
porção de 40% ou 12 escoltas F-6000M2 e
O Plano de Articulação e Equipamento da 18 corvetas do tipo CV-3000 para a com-
Marinha do Brasil (Paemb) preconiza gene- posição dos 30 escoltas para a Esquadra,
ricamente 30 escoltas com deslocamento de como preconizado no Paemb.
cerca de 6.000 toneladas. Entretanto, temos
que avaliar os conceitos de manutebilidade A classe principal de escoltas: fragata
e, consequentemente, a disponibilidade dos ou destróier?
meios para verificar qual será o maior número
possível de navios disponíveis a qualquer Em cada Marinha notamos tendências
instante. O escolta aqui proposto deveria ser variadas na classificação dos seus meios
considerado o cavalo de batalha da esquadra, navais em corvetas, fragatas ou destróieres.
assim como é o DDG-51 na USN, considera- Geralmente esta classificação vem associa-
do como o “workhorse of the fleet”. da ao deslocamento dos navios. Embora a
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F-6000M2 aqui proposta tenha um porte vios, em ação conjunta com seus próprios
maior e mais próximo de um destróier, helicópteros embarcados, e também com
vamos preferir, por ora, manter a nossa tra- aqueles embarcados em outros navios,
dição desde a década de 1970 e chamá-la de além dos MPA (Maritime Patrol Aircraft)
fragata. Mas esta classificação, no momento, baseados em terra e de longo alcance, farão
é irrelevante. a varredura de grandes áreas marítimas para
detectar e engajar submarinos inimigos.
Missões, requisitos de operação e Os de versão ASuW, embora otimizados
capacidades desejadas para ações de superfície, também não poderão
prescindir de bons radares e pelo menos um
Uma nova classe de escoltas preconi- sonar de casco para sua proteção e consecu-
zada pelo Paemb precisa satisfazer a uma ção de objetivos. A classe ASuW poderá,
multiplicidade de missões que é impossível ainda, embarcar comandos ou mergulhadores
de ser racionalmente realizada por um de combate para missões de infiltração. São
único tipo de navio. Equipar um navio navios de emprego geral, mas com forte perfil
com todos os elementos necessários para de apoio a operações anfíbias.
a consecução de todas as tarefas ficaria Fica evidente que cada tipo deve ser pre-
caríssimo e resultaria num grande desper- ferencialmente empregado para sua missão
dício de capacidade operativa. Resultaria principal, mas, durante operações em seus
também num menor número de navios que vários níveis de intensidade, dificilmente
poderiam ser obtidos, operados e mantidos um navio não será confrontado com tarefas
com recursos realisticamente disponíveis, que não sejam as suas específicas. Todos
historicamente escassos. precisam se proteger contra torpedos, mís-
seis antinavio, bombas, ameaças assimétri-
Missões cas etc. Portanto, uma das tarefas iniciais da
engenharia é avaliar o tipo de configuração
Atualmente, as Marinhas classificam básica ou denominador comum a todos
seus navios, segundo suas principais os meios navais de uma mesma classe, e
missões, em AAeW (Anti-Air Warfare), depois definir os esquipamentos e sistemas
ASW (Anti-Submarine Warfare) e ASuW dedicados às várias missões distintas de
(Anti-Surface Warfare). Todos os navios alguns navios em função das missões a
de uma mesma classe precisam e devem ter eles atribuíveis.
sistemas de combate, armas e propulsão co- Lembremos que a Marinha do Brasil
muns para uniformizar o projeto, a compra, está organizando um sistema de defesa
a construção, a manutenção, a operação e o abrangente denominado SisGAAz. Não faz
treinamento em todos os aspectos. parte do escopo do presente trabalho entrar
Mas dependendo da principal missão em seus detalhes, mas há um requisito
a ser atribuída a cada navio, haverá obri- denominado de OODA (Observar, Orien-
gatoriamente um diferencial de sensores e tar, Decidir, Agir). O sistema providencia
armamentos específicos, como, por exem- uma noção de tudo o que ocorre em nossa
plo, radares e mísseis dedicados às missões área de influência (awareness), controle e
AAeW para defesa de área de forças-tarefa. responsabilidade, mas, se constatada uma
Ou deverão ter sonares de casco maiores irregularidade que demande uma ação
ou rebocados, no caso de missões ASW, corretiva, será preciso dispor dos vetores
itens muito caros e sofisticados. Estes na- necessários à consecussão desta ação.
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Na opinião do autor, seriam basicamente que elas cheguem perto demais e onde
três os níveis de ação: em profundidade ou inimigo menos espera. Assim, os meios
mar aberto, que necessita de um escolta pode-
a serem obtidos pela Marinha do Brasil
roso de grande autonomia; um escolta menor precisam ter um porte adequado para
(corveta) para ações militares mais próximaspoder permanecer períodos mais pro-
da costa e escolta de comboios em situações longados no mar e carregar mais arma-
de crise de alta intensidade; e um terceiro mentos, esta aliás uma deficiência das
nível, composto de OPVs para proteção de Marinhas da Otan criticada por Norman
plataformas petrolíferas, navegação em geralFriedman – Ref. 19, professor do Naval
e operações SAR (Search And Rescue). War College.
Os principais requisitos para o novo
As missões principais da F-6000M2 escolta da MB poderiam ser resumidos em
seriam as seguintes: três tópicos: capacidade militar, autonomia
a) na versão AAeW, prover melhor e sustentabilidade. O primeiro é determi-
proteção de área a uma força-tarefa ou nado pelo perfil de missões do navio. O
força-anfíbia próxima a um litoral; segundo, a capacidade de cobrir grandes
b) na versão ASW, prover a máxima pro- distâncias e poder permanecer no mar o
teção a uma força-tarefa maior número de dias
ou da costa brasileira na possível, sem reabaste-
guerra antissubmarino; A defesa eficaz se dá cimento. Finalmente, a
c) na versão ASuW, sustentabilidade seria
prover a proteção da longe da costa, muitos o tempo que o navio é
costa brasileira, segu- equivocadamente capaz de permanecer
rança da navegação,
proteção dos interes-
confundem a Marinha com em ação de combate
num teatro de opera-
ses nacionais, apoio a uma guarda-costeira ções sem ressuprimento
operações anfíbias e e sem redução sensível
emprego geral, como, de capacidade dos seus
por exemplo, consecução de missões es- sistemas principais – Ref. 18.
pecíficas no âmbito de ação do SisGAAz.
Principais requisitos operacionais:
Requisitos de operação – capacidade de percorrer a costa bra-
sileira, ida e volta, à velocidade de 15 nós
Quanto aos requisitos de operação, o sem qualquer ressuprimento;
autor se baseou em algumas suposições – capacidade de ir à costa africana e
que parecem óbvias face às características voltar à velocidade de 15 nós sem qualquer
de nossa longa costa e da área marítima sob ressuprimento;
nossa responsabilidade e daquela que deve – autonomia mínima de combustível e
ser submetida à nossa influência. A defesa mantimentos de 30 dias;
da nossa área marítima de influência não – disponibilidade mínima de 130 dias
deve ser limitada à costa, o que faz com de mar/ano e outros 130 dias/ano em con-
que muitos equivocadamente confundam dições de suspender;
a Marinha com uma guarda-costeira. – calado máximo para docagem: 6,00 m
A defesa eficaz se dá longe da cos- na quilha + 0,96 m (20% de 4,80 m) ou +
ta, deve-se engajar as ameaças antes 1,50 m do domo do sonar.
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Assim sendo, vamos estimar aqui o top risco de nunca serem necessárias. Citando
level requirement relativo ao “Conceito de um exemplo, o Arsenal de Wilhelmshafen
Operações”, baseados em exemplos reais mantém um estoque de 72 mil itens, com
como, por exemplo, o da classe F-124 cerca de 132 mil movimentações por ano,
Sachsen, que contratualmente preconiza totalizando 3 mil toneladas e, em 2013,
130 dias de mar por ano. Mas quanto aos foram despachadas 7.500 encomendas para
demais dias do ano, podemos estimar ou- todos os lugares do globo (Fonte: Marine
tros 130 dias de disponibilidade e o saldo Forum 1-2/2015 p. 31).
de 165 dias, destinados à manutenção e a O projeto das instalações internas do
treinamentos. navio é fundamental para obter-se uma
A eficácia dos procedimentos preco- grande funcionalidade ou praticidade na
nizados e implantados resultará na dispo- manutenção. Detalhes simples, como prover
nibilidade e na confiabilidade dos meios espaço para que o giro de uma chave de boca
navais, com reflexos diretos nos custos de possa desapertar uma porca sem restrições,
ciclo de vida dos navios. Quanto maior o ou complicados, como as vias de acesso
número médio de navios operacionais ou para retirar e baixar componentes maiores da
disponíveis, melhor terá sido o resultado propulsão (por exemplo, módulos da turbina
da manutenção. a gás) e uma infinidade de outros detalhes a
Os serviços precisam também ser clas- serem contemplados ainda na “prancheta”.
sificados antecipadamente pelo nível de Existem itens de manutenção que
importância, identificando-se onde serão permitem ao navio suspender sem proble-
executados: a bordo, no estaleiro e docado, mas; outros idem, mas com restrições; e,
atracado no cais do estaleiro, arsenal ou finalmente, itens que indisponibilizam o
base e, finalmente, serviços necessariamen- navio de suspender. As causas podem ser
te executados pelos fornecedores nas diver- de natureza programada ou emergencial.
sas situações aqui enumeradas. Importante, Haverá sempre uma disputa de tempo entre
também, serão a organização e a delegação o pessoal operativo e o da manutenção. Os
das responsabilidades pela manutenção em primeiros terão os dias de mar programados
geral, bem como o estabelecimento de uma e os imprevistos. A manutenção terá seus
política geral de reparos com definição de períodos de atividades programados e os
critérios do tipo “reparar ou trocar”. serviços serão emergenciais.
Disponibilidade tempestiva de sobres- Mas todo este planejamento da manu-
salentes, fornecimento e transporte rápido tenção preventiva e programada para o
de sobressalentes e insumos, disponibili- ciclo de vida do navio deve contemplar o
dade presencial e proativa dos fabricantes número contratual mínimo de dias de mar/
fornecedores e sua integração com os ano, dias na base mas pronto para suspender
quadros de manutenção da Marinha são e os períodos anuais e plurianuais de ma-
condições indispensáveis para se obter um nutenção. Quanto melhor for a manutenção
bom resultado. preventiva, menores serão as incidências
Estoques de peças de todos os tipos de imprevistos, mas não são inevitáveis.
devem ser feitos de forma racional para
atender minimamente às manutenções Grosso modo, os serviços de manuten-
programadas. Mas existem emergências, ção podem ser classificados em três níveis:
e algumas peças precisarão ser estocadas a) Manutenção a bordo: Pode ser feita
por períodos maiores, mesmo correndo o em viagem ou com o navio atracado na
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mísseis, material seco em geral; centros de o custo de operação anual de cada navio da
abastecimento e navios de apoio logístico. classe DDG-51 girando em torno de US$
c) manutenção & logística industrial 42,4 milhões, resultando em US$ 1.486
– peças, manutenção em geral, moderni- milhões para 35 anos de vida, ou 48% do
zações, reformas de meia-vida, arsenais, custo de ciclo de vida. Somados os custos de
estaleiros e indústria, contratos de manu- construção e operação, temos um total de US$
tenção de fornecedores. 3.042 milhões, que representa 97% do total.
Os restantes 3%, iguais a US$ 94 milhões,
CUSTO DE CICLO correspondem ao custo de projeto.
DE VIDA
Os dados apresentados mostram clara-
CUSTO DE CUSTO
mente que o custo para manter e constante-
CUSTO DE PROJETO
CONSTRUÇÃO 47% OPERACIONAL 50% 3% mente aperfeiçoar uma equipe de projetos
é muito baixo: apenas 3% do custo de ciclo
PESSOAL & LOG. MANUTENÇÃO & LOGÍSTICA
SUPRIMENTO 15%
de vida de cada navio. Esse custo é indis-
APOIO 35% LOG. IND. 50%
pensável para ascendermos teconlogica-
PLATAFORMA & SISTEMAS & mente. Sem ele, será impossível construir
PROPULSÃO 65% ARMAS 35% e manter um poder naval forte, enraizado
Acima ilustramos a distribuição dos cus- em nosso país. Portanto, é imperativo que
tos de ciclo de vida de um escolta segundo a Marinha do Brasil mantenha uma equipe
um estudo elaborado pela Thyssen-Krupp de projeto em constante evolução.
Marine Systems: Uma equipe de projetos permanente e
O custo de projeto evolutiva é o núcleo da
inteligência tecnológi-
preconizado no orga- Uma equipe de projetos ca de uma Marinha de
nograma da Thyssen
& Krupp acima é igual permanente e evolutiva é Guerra. Ela é que per-
àquele do Congressio- o núcleo da inteligência mite indutor
à Marinha ser um
inteligente da
nal Budget Office para
a classe DDG-51. De-
tecnológica que permite base industrial de defesa
monstra, pois, ser um à Marinha ser um nacional e um cliente
esclarecido de provedo-
percentual bem coeren- indutor inteligente da res internacionais. Essa
te. No caso da classe
DDG-51, 3% do custo base industrial de defesa função é intransferível à
iniciativa privada, que só
de uma unidade repre- nacional e um cliente poderá desenvolver-se
sentam cerca de US$
94 milhões como custo
esclarecido de provedores com um fluxo suficiente
de projeto. Mas a classe internacionais e constante de encomen-
já está em produção há das, tendo que eliminar
30 anos e 60 navios já quaisquer custos não
foram construídos, ou dois por ano – Ref. 24. relacionados com lucros a curto prazo.
Segundo dados do Congressional Budget Obviamente que os custos comparados
Office (USA) do FY-2010, naquele exercício entre a USN e a MB são diferentes, mas o
fiscal, o custo de construção de cada navio da que importa aqui é a proporção preconizada
classe DDG-51 série Flight II-A, deveria ser pelo Congressional Budget Office (CBO).
de cerca de US$ 1,484 bilhões, ou 49% do Admitamos que os nossos custos de pessoal
seu respectivo custo de ciclo de vida, com sejam inferiores aos da USN e que o regime
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Países: D, Alemanha; E, Espanha; F, França; I, Itália; NL, Holanda; UK, Inglaterra; USA, Estados Unidos da América.
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foram definidos e calculados pelo autor, tam- calcular suas características principais para
bém por comparação com meios similares. Os satisfazer aos nossos requisitos hipotéticos.
demais valores foram calculados com base em Relacionamos, à guisa de comparação
fórmulas que constam da literatura relacionada com nossos cálculos da F-6000M2, os
no final deste trabalho. Os cálculos tiveram valores obtidos de um navio real como a
por obejtivo chegar a um navio similar aos das classe DDG-51, e da literatura extraímos
classes DDG-51, Daring, Horizon e F-125 e valores clássicos preconizados por autores
TABELA No 2: DIMENSÕES E COEFICIENTES CALCULADOS PARA O ESCOLTA F-6000M2
Valores Consagrados na
F-6000 M2 DDG-51 (Flight I & II)
Literatura Ostensiva
LOA (m) 155,00 154,0
LWL (m) 144,00 142,0
BWL (m) 18,00 18,0
T (m) 6,00 6,30
D (m) 11,90 12,7
Froude Number (v max) (28 nós) 0,383 (30 nós) 0,413
Vol. Froude Number 1,06 1,14 1,2 “Ref. 28”
SLR (28 nós) 1,200 1,295
Cb 0,49 0,505 < 0,50 p/ Fn = 0,383
Desloc (m3) 7.620 8.132
Desloc (tons) c/reservas 7.810 8.335
LWL / BWL 8,0 7,9 8,00 - 9,50 “Ref. 28”
BWL / D 1,513 1,417 1,50 - 1,55 “Ref. 28”
BWL / T 3,00 2,86 2,8 – 3,2 “Ref. 28”
T/D 0,504 0,496 0,46 “Ref. 28”
LWL / D 12,10 11,18 13,3 “Ref. 28”
Am (m2) 86,40 107,2
Cm 0,80 0,8275 0,75 < Cm < 0,80 Ref. 28
Cp 0,6125 0,6122 0,55 < Cp < 0,60
Awp (m2) 1.952 2.020
Cwp 0,7626 0,7910 0,76 “Ref. 12”
As (m2) 2.766 3.032 2.800 “Ref. 12”
KB (m) 3,48 3,42
BMT (m) 5,53 5,45
KM (m) 9,01 8,87
KG (m) 7,02 7,21
GM (m) 1,99 1,66 Classe F-124 = 1,36 (*)
T (roll) segundos 10,3 11,13 Classe F-124 = 11,4 (*)
LCB (em % Lwl) - 2,26 + 1,83 - 1,80 “Ref. 12”
- 2,30 “Ref. 28”
(*): Dados reais obtidos pelo autor.
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embrionários são bem semelhantes ao que Lean Manning, em que muitos comandantes
preconiza a literatura e a um exemplo real. não se sentem tranquilos com tripulações
Isto nos faz acreditar que as premissas assu- consideradas subdimensionadas. No outro
midas no dimensionamento da F-6000M2 extremo, uma tripulação mais numerosa
estão corretas. diminui o conforto e a autonomia do navio
no quesito mantimentos.
TRIPULAÇÃO, ARRANJOS Não sabemos explicar a razão desta
GERAIS, ARMAMENTO, diferença do número de tripulantes entre
ELETRÔNICA E SENSORES os navios europeus e os americanos. Con-
sideramos para a F-6000M2 uma tripulação
Tripulação de 230 homens, por semelhança com os
europeus. Mas se aumentássemos para 300
Na tabela n o 1, observamos que a homens, ainda haveria espaço suficiente
média de tripulantes se situa em torno de para prover o conforto necessário, mas a
235 militares, constituindo uma exceção autonomia de mantimentos seria reduzida
as classes Fremm e F-125 com números de 40 para 30 dias, salvo se alterarmos a
menores e as classes DDG-51 e DDG-79 distribuição do peso útil. Mas este detalhe
em diante, com tripulações bem mais precisaria ser elaborado pelo pessoal do
robustas. No caso da DDG-51, temos setor operativo.
22 oficiais e 315 subalternos e, na classe
DDG-79 Oscar Austin, 32 oficiais e 348 Arranjos gerais
subalternos, total 380 homens e mulheres,
sendo destes 18 militares do Grupo Aéreo O escolta F-6000M2 tem a forma clássica
Embarcado (GAE). moderna de outros navios da mesma classe.
O número de tripulantes vai depender das Os costados são inclinados para prover ca-
missões do navio e da tecnologia embarcada, racterísticas stealth. A ré temos um amplo
ou seja, do nível de automação adotado. Mas convoo de 600 m2 e, dois níveis acima, um
existem fainas de operação, manutenção e convés corrido até a superestrutura do pas-
CAV (Controle de Avarias) que demandam sadiço. A vante do mesmo, temos os silos de
braços humanos. Na US Navy, tem havido lançamento verticais e o weather deck onde
muitas críticas em relação à política do fica instalado o canhão principal.
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NOVO ESTUDO DE UM ESCOLTA PARA A MARINHA DO BRASIL
primeiro a surgir, sendo um bom exemplo mo dos 20 nós. Mas, no caso dos motores
a classe Niterói com dois trens indepen- diesel modernos, montados em sistemas
dentes. Mas ainda hoje é empregado com duplos de amortecimento de vibração e
dois trens de propulsão independentes, enclausurados para diminuir o ruído irra-
com as classes LCF da Holanda e F100 diado, os níveis de ruído e vibração são
da Espanha como exemplos. Um exemplo também baixos.
com cross connect gear seriam as nossas Avaliando todos os prós e os contras,
corvetas classe Inhaúma. a opção do autor recaiu sobre o sistema
O sistema mais moderno é o Codag Codag – Ref. 13 e 17.
(Combination Diesel And Gas), que Em função da potência necessária para
aciona os dois eixos simultanemanete e atingir 28 nós – Ref. 14, foi possível adotar
permite uma distribuição mais racional exatamente o mesmo conjunto utilizado na
da energia de acionamento entre as diver- F-124: dois motores MTU20V1163 e uma
sas máquinas propulsoras, normalmente turbina G&E LM2500. As vantagens de
dois motores diesel e uma turbina a gás. adotar-se uma solução existente, testada
Os exemplos atuais são as classes F124 e aprovada dispensam comentários: bai-
Sachsen da Alemanha e Fridtjof Nansen xíssimo risco e usufruto das experiências
da Noruega e o Large Cutter Bertholf da acumuladas com as mesmas máquinas
USCG. nestes dez anos de operação dos três navios
Existe ainda o sistema Codelag (Com- da classe, tanto pela Marinha alemã como
bination Diesel Electric And Gas), cujos pelos fabricantes do redutor, a Renk, e dos
exemplos são as fragatas da classe F-23 motores diesel, a MTU.
Duke da Royal Navy e, mais recentemente, Entretanto, a diferença no caso da
as classes Fremm franco-italianas e F-125 F-6000M2 ficaria por conta da troca da
Baden-Württemberg da Alemanha. turbina: a G&E LM2500 de 23MW da
Num estudo feito pelo autor, concluiu-se classe F-124 seria substituída por uma
que, em termos de confiabilidade, os sistemas turbina R&R WR-21 de 25 MW, com
Codog e Codag praticamente se equivalem. tecnologia de intercooler e regenerador,
Entretanto, o sistema Codag é mais leve e que resulta numa economia de 27% de
menos volumoso do que o Codog e permite combustível em relação à turbina pura.
uma distribuição mais equilibrada das potên- No caso da geração elétrica, comparan-
cias das máquinas propulsoras. do com os dois modelos de referência para
Comparando o sistema Codag com o este estudo, a classe F-124 Sachsen e a clas-
sistema Codelag para um escolta desta se DDG-51 Arleigh Burke, fazendo-se uma
classe, o Codelag é 200 toneladas mais média ponderada, concluímos ser razoável
pesado do que o Codag, peso este que iria admitir para este escolta uma planta gera-
em detrimento da carga útil. Além disso, dora com potência total equivalente a 6,56
o Codelag é bem mais caro. E, ainda, um MW com quatro grupos diesel-geradores
argumento em favor do Codag: a eficiência MTU12V4000 G81 de 1,64 MW cada.
na transmissão mecânica da energia dos Sugerimos a leitura da Ref. 21, cuja
motores aos hélices é maior. tecnologia aplicada à F-6000M2 poderá
Um argumento de indiscutível vantagem aumentar sua autonomia em cerca de 13%.
do Codelag é a baixíssima vibração e o Na tabela no 3 listamos os principais
nível de ruído durante a propulsão elétrica, tópicos relacionados a propulsão, geração
que, no caso da classe F-125, chega próxi- e autonomia:
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TABELA No 3: AUTONOMIA
F-6000 M2 DDG-51
Velocidade máxima (nós) 28 30+
Potência instalada (MW) 39,8 78,8
Raio de ação (15 nós) 11.640 n.m. n.d.
Raio de ação (18 nós) 9.035 n.m. / 502 horas n.d.
Raio de ação (20 nós) n.d. 8.150 n.m. / 408 horas
Tripulação 230 380
Autonomia mantimentos 40 dias n.d.
RAIO DE AÇÃO
VELOC POTÊNCIA MODO
Milhas Náuticas/dias de mar
Kts / m/seg kW CODAG CODELAG CODAG CODELAG
15 / 7,72 4.493,1 1 x diesel 1 x e-motor 12.608 / 35 9.780 / 27
9.832 / 27 7.750 / 22
8.057 / 22 6.410 / 18
18 / 9,26 7.845,8 1 x diesel 2 x e-motores 9.853 / 23 7.570 / 17
8.323 / 19 6.480 / 15
7.204 / 17 5.650 / 13
22/11,32 14.871,2 2 x diesel 1 x GT 6.959 / 13 5.310 / 10
6.290 / 12 4.840 / 9
5.739 / 11 4.440 / 8
24/12,35 19.736,8 1 x GT 1 x GT 4.553 / 8 3.800 / 6
4.281 / 7 3.570 / 6
4.039 / 7 3.370 / 5
28/14,40 37.337,6 1 x GT 1 x GT 3.424 / 5 2.860 / 4
2 x diesel 2 x e-motores 3.289 / 5 2.740 / 3
3.164 / 4 2.640 / 3
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país. Mas sendo muito rico, além da situ- O Brasil precisa implantar com maior rapi-
ação geográfica privilegiada, precisa dar dez o seu tão necessário poder marítimo, cujos
mais atenção à sua defesa. O mar para componentes são: portos, Marinha Mercante,
o Brasil é vital, e há inúmeros trabalhos estaleiros, base industrial fornecedora, bases
versando sobre o assunto. Precisamos navais e Esquadra, que precisam ser desen-
acordar e nos precaver contra interesses volvidos no País com engenharia nacional,
alheios, que nunca respeitam os nossos. com ou sem ajuda estrangeira. Mas a nossa
Com já dizia o chanceler da Prússia Esquadra precisa ter os meios minimamente
Otto von Bismarck, no século XIX, necessários para exercer suas atribuições cons-
“não há amizade entre nações, apenas titucionais. E os escoltas novos estão fazendo
interesses”. (ou farão em breve) muita falta. Muita mesmo.
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DADOS DO NAVIO
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NOVO ESTUDO DE UM ESCOLTA PARA A MARINHA DO BRASIL
REFERÊNCIAS
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Cost and Performance in Naval Combatant Design”, US Naval Construction and Engineering
Program, Massachussets Institute of Technology.
2) BROWN, A.J. Capt USN Ret. & DEYBACH, Frédéric Lt. DCN. “Towards a Rational Intact Sta-
bility Criteria for Naval Ships”.
3) COMSTOCK, John P. “Principles of Naval Architecture” The SNAME.
4) CONVÊNIO MB-USP. Livro Comemorativo do Evento do 50o Aniversário deste Convênio.
5) DEYBACH, Frédéric. “Intact Stability Criteria for Navla Ships”, FEV/1977, tese de mestrado do
MIT.
6) FREITAS, Elcio de Sá, VA-EN RM-1. A Busca de Grandeza: Marinha, Tecnologia, Desenvolvi-
mento e Defesa. Editora Serviço de Documentação da Marinha – Rio de Janeiro – 2014.
7) GRIGOROPOULOS, Gregory J., School of Naval Architecture and Marine Engineering, National
Technical University of Athens. “On The Seakeeping Operability of Naval Ships”.
8) HLAVIN, Justin. “Hydrostatic and Hydrondynamic Analisys of a Modified DDG-51 Destroyer”,
The Naval Postgraduate School, Monterey, California.
9) LAVERGHETTA, Thomas & BROWN, Alan. “Ship Dynamics of Naval Ship Design”, Naval
Engineers Journal, Vol. 111 no 2, pg. 307-324, Maio/1999.
10) LACKENBY, H. On the systematic geometrical variation of ship forms, R.I.N.A., British Ship-
building Research Association, pages 289 to 316.
11) LOMBARDI, Ben & RUDD, David. “The Type 45 DARING-Class Destroyer”, DRDC (Defence
Research and Development Canada) – CORA (Centre for Operational Research and Analysis),
Ottawa, Canada.
12) MNVDET : www.mnvdet.com. Coletânea de Manuais de Projeto de Meios Navais.
13) NAFO IV/2004 pg. 68 – Merck, Karl-Heinz. “Naval Marine Gear Systems”.
14) NAFO III/2005 pg. 51 – Bricknell, David J. “The Combining Force”.
15) NAFO V/2005 pg. 73 – Annati, Massimo, Adm Ret. “Medium and Large Caliber Guns Compared”.
16) NAFO VI/2006 pg. 66 – Annati, Massimo, Adm. Ret. “Air Defence Guns”.
17) NAFO V/2007 pg. 90 – Philips, Malcolm. “An Agony of Choice, Propulsion Systems for Modern
Warships”.
18) NAFO II/2008 pg. 66 – Eule, Klaus. “Water Treatment and Waste Management for Enduring
Operations”.
19) NAFO IV/2009 pg. 18 – Vego, Dr. Milan. “Defining Priorities at Sea : Mobility, Versatility,and
Survivability”.
20) NAFO I/2012 pg. 8 – Friedman, Norman. “Running out of Ammunition?”.
21) NAFO iv/2014 pg. 36 . Maxeiner, Dr. Eric. “Advanced CO2 Exhaust Heat Recovery for Energy
Efficient Ships”.
22) NAVSEA. “Manual for the Salvage Engineer”, U.S. Navy Ship Salvage Manual S0300-A8-
HBK-010, Code 55W.
23) PAGE, Jonathan, Lt. Engineer USN. “Flexibility in Early Stage Design of UD Navy Ships: An
Analysis of Options”, B.S.Systems Engineering, US Naval Academy 2002.
152 RMB1oT/2015
NOVO ESTUDO DE UM ESCOLTA PARA A MARINHA DO BRASIL
24) TERZIBASCHITSCH, Stefan. “Die AEGIS- Zerstörer Klassen DDG-51” (Os destróiers AEGIS
classe DDG-51).
25) TUPPER, Eric. Introduction to Naval Architecture, Fourth Edition.
26) VOGT, René. “Estudo e Proposta de um Navio de Escolta para a Marinha do Brasil”, RMB
2oT/2011 pag. 69.
27) VOGT, René. “Corvetas Sucessoras da Barroso”, RMB 2oT/2013 pag. 108.
28) WATSON, D.G.M. “Practical Ship Design”.
RMB1oT/2015 153
ATAQUE DOS MERGULHADORES DA MARINHA
ITALIANA CONTRA NAVIOS BRITÂNICOS
EM ALEXANDRIA*
SUMÁRIO
2. Iniciada em 1917, constitui o período de conflitos promovidos pela classe operária, que se sentia explorada pelo
governo autocrático e opressor do Czar Nicolau II.
3. ZAHAR, Cristina; FONSECA, Ana (Ed.) “A Bota Fascista”. Segunda Guerra Mundial: 60 anos. A ofensiva
do nazismo. v. 1, São Paulo: Abril, 2005, pp. 40-42.
4. SOUTO MAIOR, Armando. História Geral. São Paulo: Editora Nacional, 1976, pp. 400-402.
5. ZAHAR; FONSECA, op. cit., pp. 42-43.
6. JORDAN, David; WIEST, Andrew. “Alemanha versus Inglaterra”. Atlas da Segunda Guerra Mundial. v. 1,
São Paulo: Escala, 2008, p. 63.
7. ZAHAR; FONSECA, op. cit., p. 45.
8. Termo alemão usado em referência à “guerra relâmpago”, tática operacional que empregava forças móveis em
ações ofensivas utilizando o efeito surpresa e a velocidade a fim de impedir que o inimigo tivesse condições
de organizar-se defensivamente.
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ATAQUE DOS MERGULHADORES DA MARINHA ITALIANA CONTRA NAVIOS BRITÂNICOS EM ALEXANDRIA
alemã invadiu a França, fazendo parecer, (Regia Marina) estudavam uma possibi-
aos olhos de Mussolini, que iria dominar a lidade de atacar a frota austro-húngara
Europa rapidamente. Pressentindo que as localizada no porto de Pula (Croácia), uma
possessões coloniais da França e do Reino vez que os navios lá atracados estavam
Unido na África estariam fragilizadas, e que
muito bem protegidos por um intrincado
caso não tomasse uma decisão rápida e defi-conjunto de redes de contenção submarina
nitiva a Alemanha acabaria por herdar essese minas subaquáticas. Em 1915, a primeira
espólios, o Duce entrou em guerra contra experiência de assédio ao porto utilizando
os Aliados no dia 10 de junho de 1940.9 uma embarcação a motor adaptada com
lagartas foi frustrada.12
PIONEIRISMO ITALIANO Um lapso de três anos ocorreria até que
EM AÇÕES SUBMARINAS uma nova tentativa seria levada a cabo,
CONDUZIDAS POR empregando o mecanismo idealizado pelo
MERGULHADORES DE COMBATE Tenente Raffaele Rossetti. Esse dispositivo,
denominado Mignatta (Sanguessuga), foi
A Itália tem uma longa tradição de em- adaptado a partir da estrutura de um torpe-
pregar mergulhadores do de ar comprimido,
em suas campanhas dando-lhe a capacidade
militares navais. Du- A Itália tem uma longa de transportar dois mer-
rante o Império Ro- tradição de empregar gulhadores montados
mano, os Urinatores10 sobre seu corpo alon-
realizavam ataques de mergulhadores em suas gado. Na noite de 1o de
surpresa, destruíam campanhas militares navais novembro de 1918, na
obstáculos defensivos iminência da declara-
submersos, secciona- ção de um armistício,
vam cabos de âncoras, danificavam cascos o Mignatta e sua tripulação, composta
de embarcações, transmitiam ordens dos por Raffaele Rossetti e Raffaele Paolucci,
comandantes e transportavam víveres para penetraram as defesas do porto de Pula
cidades costeiras sitiadas, entre outras em imersão parcial13. Fixas em sua ex-
ações subaquáticas. 11
tremidade anterior, o torpedo modificado
Na primeira metade do século XX, após transportava duas minas explosivas, cada
um intervalo de vários séculos, as inova- uma delas carregada com 170 kg de TNT.
ções tecnológicas introduzidas por ocasião Após terem se aproximado lentamente das
da Revolução Industrial permitiriam que embarcações, os mergulhadores submergi-
os militares italianos considerassem o ram a uma profundidade de quatro metros,
emprego de mergulhadores em operações utilizando um potente imã magnético para
de combate. Durante a Primeira Guerra acoplar um dos artefatos no casco de um
Mundial, oficiais da Marinha Real Italiana encouraçado, o SMS Viribus Unitis (classe
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ATAQUE DOS MERGULHADORES DA MARINHA ITALIANA CONTRA NAVIOS BRITÂNICOS EM ALEXANDRIA
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ATAQUE DOS MERGULHADORES DA MARINHA ITALIANA CONTRA NAVIOS BRITÂNICOS EM ALEXANDRIA
SLC (Maiale)
Comprimento 7,30 m (com ogiva)
Diâmetro 53 cm
Peso 1.200 kg (com ogiva)
Velocidade 4,5 nós
Motor Elétrico de 2.7 HP
Autonomia 16 km
Capacidade de Submersão 30 m
Armamento Ogiva explosiva (TNT) de 300 kg
Tripulação 2
Tabela 1: Especificações Técnicas do SLC (Fonte: JORGENSEN, 2005b, adaptado pelo autor)
desenvolvimento desta nova tecnologia lecer bases navais nos portos de Gibraltar
estimulou a criação da Primeira Flotilha de e Alexandria, passando a controlar as rotas
Meios de Assalto (Prima Flottiglia Mezzi de comunicação entre esses dois pontos,
d’Assalto [1a Flottiglia MAS]) em 1939, uma vez que ocupava as extremidades
com o intuito de promover operações de ocidental e oriental do Mar Mediterrâneo.23
sabotagem e assalto Diante desse cenário
anfíbio empregando adverso, era imperioso
Mergulhadores de Mussolini tinha plena para a Itália restabele-
Combate (MECs). cer a liberdade de sua
Abrimos um pa- consciência do despreparo navegação comercial
rêntese para destacar humano e material de no Mediterrâneo. As-
uma importante faceta suas Forças Armadas sim, inferiorizada mi-
da estratégia de en- litarmente em relação à
frentamento adotada inferiorizadas em relação Real Marinha Britânica
pela Regia Marina nas à Real Marinha Britânica. (Royal Navy), coube à
operações realizadas Regia Marina a tarefa
no Mar Mediterrâneo. Coube à Regia Marina a de planejar operações
Quando decretou guer- tarefa de planejar operações navais de natureza as-
ra à Inglaterra e à Fran- navais de natureza simétrica contra ambos
ça, uma vez que os os portos sob autorida-
Estados Unidos (EUA) assimétrica contra portos de britânica.
ingressariam oficial- sob autoridade britânica No contexto dos
mente no conflito ape- conflitos envolvendo
nas em dezembro de adversários estatais,
1941, Mussolini tinha plena consciência como nos embates travados ao longo da
do despreparo humano e material de suas Segunda Guerra Mundial, a modalidade de
Forças Armadas.22 Em 1940, a esquadra bri- guerra assimétrica pode ser definida como
tânica havia suplantado a italiana ao estabe- qualquer ação realizada de forma criativa e
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ATAQUE DOS MERGULHADORES DA MARINHA ITALIANA CONTRA NAVIOS BRITÂNICOS EM ALEXANDRIA
inesperada por um ator dotado de poder de 1940, exercer efetivamente esse domínio
combate inferior em relação ao seu adversá- era algo que os britânicos não conse-
rio.24 Partindo desta premissa, os estrategis- guiriam até 1942, quando os Aliados
tas italianos colocaram os SLCs à prova dois intensificaram a luta terrestre contra
meses após a entrada da Itália na Segunda as tropas do Afrika Korps no Norte da
Guerra, com um ataque engendrado contra África e sua força naval cortou as linhas
a esquadra britânica posicionada no porto de comunicação que abasteciam os efeti-
de Alexandria (Egito). Idealizada para ser vos alemães entre a Itália e o continente
levada a cabo entre os dias 25 e 26 de agosto africano. 28 Para uma exata compreensão
de 1940, essa missão foi frustrada em virtude dos momentos distintos experimentados
da prévia detecção e do posterior afunda- pela Royal Navy entre 1940 (quando
mento do Submarino Iride, embarcação que a esquadra britânica do Mediterrâneo
transportava os três Maiale destacados para passa a controlar os portos de Gibraltar
a operação em questão. No mês seguinte, e Alexandria) e 1942 (quando os britâni-
dois ataques, realizados simultaneamente cos impedem as rotas de abastecimento
contra os portos de Gibraltar e Alexandria, ítalo-germânicas na porção central desse
redundaram em novo fracasso.25 mar), é necessário estabelecer a diferen-
Em março de 1941, como forma de en- ça entre os conceitos de “obter o domínio
godo para levar os britânicos a pensar que do mar” e “exercer o domínio do mar”.
existiam diversas tropas com propósito si- O domínio do mar é obtido quando um
milar, a unidade de MECs da Regia Marina dos atores é capaz de enfrentar o maior
foi reorganizada e rebatizada com o nome poder de combate do inimigo em uma
Décima Flotilha de Meios de Assalto (10a determinada área, fazendo prevalecer
Flottiglia MAS).26 Operando com sua nova sua superioridade naval. Por sua vez, um
denominação, os Aurigas, tripulando SLCs, desses atores exerce o domínio do mar
experimentariam seu primeiro êxito na valendo-se dessa superioridade para ga-
manhã de 19 de setembro de 1941, quando, rantir a mobilidade de suas embarcações
após penetrarem o intrincado sistema de- e restringir a liberdade de movimento
fensivo que guarnecia o porto de Gibraltar, dos navios adversários.29
afundaram três navios de bandeira britânica Em dezembro de 1941, a Royal Navy
(os petroleiros Denbydale e Fiona Shell, encontrava-se em sérias dificuldades no
além do cargueiro Durham).27 Mediterrâneo, uma vez que suas em-
barcações de guerra estavam expostas à
OPERAÇÃO DE SABOTAGEM NO ameaça submarina dos U-boats alemães,
PORTO DE ALEXANDRIA desdobrados do Atlântico para prover a
segurança dos comboios que abasteciam
Embora a Royal Navy detivesse o as tropas germânicas no Norte da Áfri-
domínio do Mar Mediterrâneo desde ca. Contudo, a presença dos poderosos
24. BREEN, Michael; GELTZER, Joshua A. “Estratégias Assimétricas como a opção dos mais fortes”. Military
Review. Fort Leavenworth, KS, Jan/Fev 2012, pp. 51-52.
25. WALDRON; GLEESON, op. cit., pp. 10-11.
26. JORGENSEN, Sven Erik. The First Frogmen 2. X-Ray Magazine. Copenhagen, no 9, 2005b. Disponível em:
<http://www.xray-mag.com/content/first-frogmen-part-2>. Acesso em: 10 ago. 2013, p. 89.
27. SCHOFIELD; CARISELLA, op. cit., pp. 109-116.
28. BRODIE, op. cit., p. 112.
29. Idem, p. 90.
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ATAQUE DOS MERGULHADORES DA MARINHA ITALIANA CONTRA NAVIOS BRITÂNICOS EM ALEXANDRIA
30. HERNÁNDEZ, Jesús. Operações Secretas da Segunda Guerra Mundial: conspirações, agentes secretos,
contra-espionagem, golpes e sabotagem. São Paulo: Madras, 2012, pp. 262-263.
31. WALDRON; GLEESON, op. cit., pp. 15-17.
32. Este nome-código foi escolhido por ser esta a terceira tentativa de invasão do porto de Alexandria engendrada
pela 10a Flottiglia MAS.
33. Este equipamento era constituído pelo traje impermeável Belloni (criação do Capitão de Corveta Agnelo Belloni).
34. BARBIERI, Carlo. Alessandria 1941. Lega Navale. Roma, ano CXV, no 5-6, mai/jun 2012, p. 28.
35. Acrônimo italiano usado em referência ao corpo técnico de Armas Navais (Armi Navale) da Regia Marina.
36. Sigla italiana empregada em referência ao corpo de Engenheiros Navais (Genio Navale) da Regia Marina.
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ATAQUE DOS MERGULHADORES DA MARINHA ITALIANA CONTRA NAVIOS BRITÂNICOS EM ALEXANDRIA
Fotografia 1: Submarino Scirè, em primeiro plano, com os compartimentos cilíndricos estanques para o transporte
de SLCs dispostos no convés (Fonte: SCHOFIELD; CARISELLA, 2005, p. 32)
tripulação dos SLCs, que lá havia chegado ciais que restringiam o acesso a um estreito
por via aérea.37 corredor que conduzia ao porto egípcio.
O submarino deixou a Grécia no dia 14 Evitando serem detectados, os Aurigas se
de dezembro, alcançando a área de opera- aproximaram da rede metálica que matinha
ção no anoitecer do dia 18 (18h40), quando a passagem para o porto fechada. Impos-
avistou o Farol de Ras-el-Tin, localizado na sibilitados de empregar o potente alicate
entrada do porto de Alexandria. Duas horas que transportavam para lidar com situa-
depois, oculto pela escuridão da noite, o ções dessa ordem, uma vez que o barulho
Scirè emergiu o suficiente para fazer flutuar provocado por tal ação poderia chamar a
os SLCs, retirados de seus compartimentos atenção das sentinelas que tripulavam as
pelos MECs, que instantes depois iniciaram lanchas-patrulha, os MECs tiveram que
o lento e cauteloso trajeto em direção ao seu aguardar a aproximação de um conjunto
objetivo, navegando próximo da costa.38 de navios, que, ao ingressarem no porto
Seguindo seu curso cautelosamente em pela abertura temporária da rede metálica,
meia imersão para facilitar a identificação permitiram que os SLCs também a pene-
de pontos de referência, os Maiale e suas trassem furtivamente.39
respectivas tripulações tentavam evitar o Navegando cautelosamente junto ao
intrincado sistema defensivo da instalação cais, cada uma das tripulações, após iden-
portuária, formado por uma providencial tificar o alvo que lhe era atinente, passou
combinação de barreiras naturais e artifi- a operar por conta própria, realizando
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ATAQUE DOS MERGULHADORES DA MARINHA ITALIANA CONTRA NAVIOS BRITÂNICOS EM ALEXANDRIA
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ATAQUE DOS MERGULHADORES DA MARINHA ITALIANA CONTRA NAVIOS BRITÂNICOS EM ALEXANDRIA
Figura 2: Concepção artística do procedimento de instalação da ogiva do Maiale sob o casco de uma
embarcação inimiga (Fonte: Disponível em: <http://www.militaryart. com/mall/more.php?ProdID=24514>.
Acesso em: 14 mai. 2014)
cerca de oito horas – de atividade na água, De extremo esforço, ele acionou o detonador da
La Penne perdeu a governabilidade do torpe- carga explosiva e nadou para a boia de amar-
do, que acabou chocando-se com o casco do ração do navio, onde, para sua surpresa, se
HMS Valiant e desceu deparou com Bianchi.44
para o fundo lamacento, A exemplo de seus
onde um dos cabos da A exemplo de seus companheiros dos
rede protetora se enros- companheiros dos SLCs SLCs nos 222 e 223,
cou no hélice do SLC,
provocando uma pane
nos 222 e 223, capturados capturados na costa
egípcia em seu proce-
que o fez parar repenti- em seu procedimento de dimento de evasão, De
namente. Abandonando evasão, De La Penne e La Penne e Bianchi
sua sela, Bianchi nadou foram detidos e in-
até a popa do SLC para Bianchi foram detidos terrogados pelo Capi-
desobstruir o hélice e, e interrogados pelo tão Charles Morgan,
após fazê-lo, viu-se for- comandante do HMS
çado a nadar para uma
comandante do Valiant. Sem respon-
das boias de amarração HMS Valiant. der a nenhum dos ques-
do encouraçado devi- De La Penne resolveu tionamentos do oficial
do a uma falha em seu britânico, ambos foram
sistema de respiração.43 alertar sobre a iminência da feitos prisioneiros nos
Incapaz de reativar o explosão, que ocorreria nos conveses inferiores do
Maiale e sem outra al- navio. Eles permanece-
ternativa viável, De La
minutos seguintes ram ali por duas horas
Penne levou cerca de 40 e meia, até que De La
minutos para arrastar o torpedo e colocá-lo na Penne resolveu quebrar o silêncio, envian-
posição mais próxima entre o solo marinho e do uma mensagem para o Capitão Morgan
o casco do Valiant. Em seguida, exaurido pelo alertando-o sobre a iminência da explosão,
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ATAQUE DOS MERGULHADORES DA MARINHA ITALIANA CONTRA NAVIOS BRITÂNICOS EM ALEXANDRIA
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ATAQUE DOS MERGULHADORES DA MARINHA ITALIANA CONTRA NAVIOS BRITÂNICOS EM ALEXANDRIA
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ATAQUE DOS MERGULHADORES DA MARINHA ITALIANA CONTRA NAVIOS BRITÂNICOS EM ALEXANDRIA
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As Reais Ameaças Nucleares na Atualidade
SUMÁRIO
Introdução
MIRVs asiáticos
Armas nucleares táticas do Paquistão
Evolução na precisão e velocidade dos mísseis
Modernização militar da China
Abolição das Armas Nucleares
Conclusões
tas Soviéticas (EUA-URSS), sem dúvida a Por outro lado, a comunidade não gover-
ameaça mais provável e mais perigosa. Esse namental dos estudos estratégicos nucleares
equilíbrio foi mantido com base na doutrina foi sendo eclipsada pela comunidade da não
da Mutual Assured Destruction3 (MAD), ou proliferação e controle de armas7, que se es-
seja, na manutenção de um status quo no qual força para tentar abolir as bombas nucleares,
nenhuma das duas superpotências poderia mas que muito pouco foca na busca pela mi-
vencer uma guerra nuclear, pois se a guerra nimização do perigo representado por aquelas
fosse iniciada por uma delas ambas acabariam bombas existentes nos arsenais nucleares dos
destruídas. O desenvolvimento de sistemas EUA, Rússia, França, Grã-Bretanha, China,
antimísseis balísticos (ABM4) e a Iniciativa Índia, Paquistão e Israel representam.
de Defesa Estratégica (SDI5) foram grandes Sem nenhuma dúvida, essas atividades
ameaças a esse equilíbrio. Os ABM foram são importantes e necessárias. No entanto,
objeto de tratado específico limitando seu uso,6 eles criaram um vácuo, na medida em que
e a SDI é muitas vezes apontada como uma muito pouco se discutem (e muito menos se
das principais causas da minimizam) as ameaças
queda da URSS. nucleares reais que o
Desde o colapso Desde o colapso da URSS, mundo de hoje enfren-
da URSS, entretanto, ta. Infelizmente, essas
as armas nucleares
as armas nucleares ameaças, tão discutidas
continuam sendo uma continuam sendo uma das durante a Guerra Fria,
das principais preo- principais preocupações não desapareceram com
cupações geopolíticas a queda do Muro de Ber-
mundiais. No entanto, geopolíticas mundiais lim. Com a esperança de
o debate internacional provocar esse necessário
decorrente não é focado nos países que debate, vamos tentar identificar as ameaças
possuem arsenais nucleares operacionais nucleares reais que se acredita serem as mais
(EUA, Rússia, China, França, Grã-Bre- perigosas e sobre as quais pouco se discute.
tanha, Índia, Paquistão, Israel). A grande
visibilidade da política externa dos “cinco MIRVs asiáticos
grandes”, membros do Conselho de Segu-
rança da Organização das Nações Unidas Como já discutido em artigo anterior8,
(ONU), está nas hipotéticas armas nuclea- a ameaça nuclear mais perigosa que o
res operacionais que estados classificados mundo enfrenta atualmente é a perspec-
como “rogue” (Coreia do Norte, Irã, Iraque, tiva de China e Índia obterem Multiple
Síria, Líbia, entre outros), bem como gru- independently targetable reentry vehicles
pos terroristas, não têm (com sucesso até (MIRV). Os MIRVs9 permitem aos mísseis
agora, exceto no caso da Coreia do Norte). balísticos transportarem múltiplas ogivas
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As Reais Ameaças Nucleares na Atualidade
nucleares, cada uma sendo destinada a um Assim, é absolutamente crucial que a Rús-
alvo diferente. sia mantenha uma grande vantagem sobre
Durante a Guerra Fria, a introdução a China no domínio nuclear. Um arsenal
de mísseis MIRV desestabilizou muito o nuclear chinês em rápida expansão com-
equilíbrio nuclear EUA-URSS, tornando prometeria muito isso. No futuro poderá
os arsenais nucleares mais suscetíveis de ocorrer que os mísseis MIRV da China
serem destruídos por um primeiro ataque invalidem todos os esforços de controle
de surpresa inimigo, ou seja, criou a pos- de armas dos EUA e da Rússia ao longo
sibilidade de um dos lados ganhar a guerra de décadas.
nuclear. Para compensar este risco, EUA e
URSS construíram mais armas nucleares Armas Nucleares Táticas do
e as dispersaram por um maior número Paquistão
de locais.
Isto seria especialmente problemático Ao contrário do que aparenta numa pri-
caso o mesmo se repetisse agora para Índia meira vista, o Paquistão não adquiriu armas
e China, que têm mantido arsenais nuclea- nucleares para combater o arsenal da Índia,
res extremamente pequenos em relação aos mas para “compensar” sua inferioridade
mantidos pelos EUA e URSS/Rússia. O em termos de poder militar convencional.
impacto mais imediato Aliás, essa foi a mesma
da China e da Índia motivação de Israel.
obterem MIRVs será As armas nucleares táticas Na verdade, a de-
a expansão de seus seriam mais suscetíveis cisão paquistanesa de
respectivos arsenais buscar armas nucleares
nucleares. O impacto, a roubos por qualquer foi feita em uma reu-
entretanto, não será um dos inúmeros grupos nião, em janeiro 1972,
limitado somente aos em Multan, no sul de
dois países. Por um
terroristas Punjab, Paquistão. No
lado, um arsenal nu- mês anterior, o poder
clear indiano, em rápida expansão, deixará militar do Paquistão tinha sido gravemente
o Paquistão temeroso de que seu arsenal humilhado em sua guerra com a Índia10, o
possa ser destruído em um primeiro ataque. que resultou no então Paquistão Oriental
É provável que, em resposta, o Paquistão tornar-se o atual Estado independente de
expanda seu próprio arsenal tão rapida- Bangladesh. Esta perda de quase metade
mente quanto possível e busque também do seu território fez o Paquistão aumentar
obter seus próprios MIRVs (talvez com a ainda mais sua inferioridade em termos de
ajuda da China). população (de 5:1 para 10:1 em favor da
Da mesma forma, a Rússia depende cada Índia) e potencial econômico. Essa guerra
vez mais de seu massivo arsenal nuclear de 1971 também destruiu a crença predo-
para “compensar” uma relativa perda de minante no Paquistão de que seu poder
poder militar convencional. Como a moder- militar seria qualitativamente superior às
nização militar da China continua, Moscou forças armadas indianas e reforçou a ideia
vai se tornar ainda mais dependente de suas de que a Índia buscava desmantelar e ab-
armas nucleares para dissuadir os chineses. sorver o país.
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As Reais Ameaças Nucleares na Atualidade
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As Reais Ameaças Nucleares na Atualidade
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As Reais Ameaças Nucleares na Atualidade
tem o mesmo efeito sobre a letalidade como de poder explosivo reduzido, este número
fazer uma ogiva oito vezes mais potente20. cairia para menos de 700 vítimas.
Dito de outra forma, fazer um míssil duas Simultaneamente ao aumento da precisão,
vezes mais preciso exigiria apenas um oi- um grande desenvolvimento tecnológico vem
tavo do poder explosivo de sua cabeça de ocorrendo também na velocidade. Os mísseis
combate para manter a mesma letalidade. de cruzeiro modernos24 podem atingir veloci-
Além disso, as consequências radiológicas dades não só supersônicas como hipersônicas
são proporcionais ao poder explosivo da (mais de cinco vezes a velocidade do som).
arma e decaem de acordo com o quadrado Por exemplo, o míssil BrahMos-II25, em de-
da distância do ponto da explosão , o que
21
senvolvimento pela Índia e pela Rússia, pode
minimiza os impactos colaterais. atingir a velocidade de Mach 7 (8.575 km/h).
Conclui-se, portanto, que, com a evolução A China26 e os EUA27 também desenvolvem
da precisão, as bombas nucleares podem mísseis hipersônicos.
se tornar uma arma de guerra passível de Sistemas como o Prompt Global Strike, em
emprego numa situa- desenvolvimento pelos
ção de conflito grave EUA, que poderia lançar
ou guerra. Essa evolu- A modernização militar um ataque com mísseis
ção permitiria destruir da China é uma ameaça de precisão que atingi-
instalações nucleares riam seus alvos em até
protegidas de um ini- nuclear e vai forçar a uma hora, podem inviabi-
migo com armas de Rússia a se tornar cada lizar a ação dos sistemas
baixo poder explosivo, vez mais dependente de de alerta antecipado das
reduzindo assim em demais potências nucle-
muito as consequências suas armas nucleares – ares, impedindo-as de
radiológicas e os da- provavelmente a Índia responder a um ataque,
nos colaterais. De fato, devido aos curtíssimos
usando um modelo de também tempos envolvidos.
computador do Pen- O desenvolvimento
tágono22, especialistas de mísseis hipersônicos
estimam que um ataque nuclear americano de grande precisão aumenta em muito a
contra silos de mísseis balísticos (ICBM23) da probabilidade de sucesso de uma potência
China usando armas de alto poder explosivo nuclear destruir totalmente o arsenal de outra
detonadas no solo poderia matar entre 3 e 4 sem que essa tenha como responder a tal ata-
milhões de pessoas. Usando armas precisas que de surpresa. Isso comprometeria de forma
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As Reais Ameaças Nucleares na Atualidade
irreversível a estratégia MAD e a doutrina de doras tem sido a força motriz por trás da
não primeiro uso, amplificando enormemente decisão de muitos Estados obterem armas
a ameaça de uma guerra nuclear. Passaria a nucleares. Por exemplo, a França tomou
vigorar a síndrome use them or lose them. a decisão de construir armas nucleares
poucos dias depois que a OTAN decidiu
Modernização militar da rearmar a Alemanha Ocidental. Tendo
China em conta que os seus inimigos árabes
eram muito maiores e mais povoados do
A modernização militar da China28 é uma que Israel, e inclinados à destruição deste
ameaça nuclear mais do que hipotética. No último, David Ben-Gurion considerou as
mínimo ela vai forçar a Rússia a se tornar armas nucleares essenciais no início da
cada vez mais depen- existência do Estado ju-
dente de suas armas deu. Como mencionado
nucleares. É provável Enquanto as armas acima, essa lógica foi
que isto seja verdadeiro aplicada pelos líderes
para a Índia também.
nucleares parecem paquistaneses também.
Mesmo os EUA po- ainda ter muito futuro, Não é impensável,
dem se encontrar num particularmente na Ásia, então, que países como
futuro não tão distante Japão, Vietnã, Taiwan e
também numa situação a comunidade da não Coreia do Sul ainda irão
em que deva mais uma proliferação e controle sentir a necessidade de
vez recorrer às armas adquirir armas nucleares
nucleares para deter
de armas trabalha para compensar a supe-
um inimigo conven- incansavelmente para rioridade convencional
cional superior em um impedi-lo da China, especialmente
teatro de operações quando se consideram as
distante29, como foi no disputas territoriais que
caso do pós-Segunda Guerra Mundial. Beijing mantém com a maioria deles. Além
Como sua superioridade convencional disso, a Coreia do Sul, Taiwan e, especial-
crescendo e seus interesses se expandindo, mente, o Japão têm programas nucleares
a modernização militar da China vai servir avançados que fariam com que fosse rela-
como um poderoso motivador para os seus tivamente fácil e barato construir a bomba.
vizinhos construírem suas próprias forças
nucleares. Se os EUA não forem capazes de Abolição das Armas
exercer uma efetiva estratégia de contenção Nucleares
da China, como fez com a URSS, o Japão
seria dos primeiros a questionar sua política Enquanto as armas nucleares parecem
de não possuir armas nucleares30. ainda ter muito futuro, particularmente na
Na verdade, a necessidade de dissuadir Ásia, a comunidade da não proliferação e
ameaças militares convencionais esmaga- controle de armas trabalha incansavelmente
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As Reais Ameaças Nucleares na Atualidade
para impedi-lo. De fato, desde o 11 de Se- cleares anteriores fariam uma rápida corrida
tembro, a causa Global Zero31 tem expan- armamentista para reconstruir suas forças
dido muito suas fileiras e ganhou apoio de nucleares no mais curto espaço de tempo.
líderes políticos importantes, como o Presi- O resultado não seria apenas uma
dente Obama (Declaração de Praga, 200932). volta ao mundo com armas nucleares que
Infelizmente, essa causa, por mais nobre que habitamos. Em vez disso, alguns países
seja, é perigosa. Graças à sua capacidade de reconstruiriam suas armas nucleares mais
impedir conflitos entre as grandes potências, rapidamente do que outros e nenhum deles
a única coisa pior do que as armas nucleares poderia ter certeza do progresso que seus
seria, paradoxalmente, um mundo sem elas. rivais teriam feito. Os “vencedores” nesta
Considere-se uma estimativa conserva- renovada corrida armamentista nuclear
dora de vítimas mortais da Segunda Guerra teriam, então, todo o incentivo para o em-
Mundial de 60 milhões de pessoas, ou cerca prego imediato de suas novas capacidades
de 3% da população mundial na época. nucleares contra os seus adversários, num
Numa terceira guerra mundial não nuclear esforço para acabar rapidamente com o
igualmente letal, portanto, seria esperada a conflito, eliminando as capacidades nu-
morte de pelo menos 210 milhões de pesso- cleares dos oponentes, ou simplesmente
as. Entretanto, a sofisticação das armas con- por medo de que outros o façam antes,
vencionais modernas lançando um ataque
e a urbanização muito debilitante sobre seu ar-
maior fariam com que A era atômica tornou senal nuclear pequeno e
essa hipotética terceira suicida uma guerra entre as vulnerável. Não haveria
guerra mundial não destruição mutuamente
nuclear fosse muito
potências nucleares assegurada em tal am-
mais letal do que a Se- biente, prevalecendo a
gunda Guerra Mundial, apesar dos avanços síndrome “use them or lose them”.
na medicina reduzirem parcialmente essa
letalidade. Conclusões
Isso por si só seria uma tragédia sem
precedentes na história da humanidade. O A era atômica tornou suicida uma guerra
maior perigo, no entanto, é que tal conflito entre as potências nucleares. Ela criou o ris-
não permaneceria convencional por muito co de que um confronto convencional entre
tempo33. As propostas de desarmamento potências nucleares poderia levar a uma es-
nuclear global existentes não oferecem ne- calada catastrófica e, assim, permitiu evitar
nhum mecanismo concebível para garantir uma terceira guerra mundial. No entanto,
que tal guerra permanecesse não nuclear. Na a era atômica não eliminou – longe disso
verdade, o senso comum sugere que ime- – a tendência inerente da humanidade em
diatamente após o início das hostilidades, competir pela supremacia. Os Estados não
se não mesmo no período de preparação podem confiar em intenções e, portanto,
para a guerra em si, todas as potências nu- avaliam as capacidades dos seus adversá-
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As Reais Ameaças Nucleares na Atualidade
rios. Nenhum Estado pode ter exata certeza das armas nucleares, passados 70 anos dos
sobre as capacidades de seus concorrentes bombardeios de Hiroshima e Nagasaki.
e, logo, devem se preparar para os piores Entretanto, a questão estratégica que se
cenários e “pensar o impensável”. coloca é a mesma colocada magistralmente
Toda a humanidade espera que as amea- por Sun-Tzu em A Arte da Guerra: “Você
ças nucleares na atualidade nunca se confi- pode imaginar o que eu faria se eu pudesse
gurem na volta do efetivo emprego militar fazer tudo o que eu posso?”
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ALUNOS ESTRANGEIROS nA ESCOLA NAVAL*
SUMÁRIO
Introdução
Imigração e identidade: alguns conceitos
Os acordos bilaterais de cooperação educacional e cultural
O programa de estudantes-convênio de graduação
Apoio técnico no âmbito da defesa
Percursos e trajetórias: o olhar na formação do aluno estrangeiro em IES militar
Estágio de nivelamento ou qualificação
Os sujeitos do estudo
Resultados e análise dos instrumentos de coleta de dados
Análise dos instrumentos de coleta de dados dos professores
Análise do relatório da disciplina de Língua Portuguesa
Análise da entrevista com um dos professores de Língua Portuguesa
Análise dos questionários dos alunos estrangeiros – estagiários
Considerações finais
* Publicado na Revista de Villegagnon, 2013, com o título “Alunos estrangeiros em IES militar: espaços escolares
formais e não formais no aprendizado de Língua Portuguesa”.
1 Mestre em Educação pela Universidade Estácio de Sá (Unesa). Instrutor de Metodologia da Pesquisa da Escola
Naval.
2 Doutoranda em Estudos da Linguagem na Universidade Federal Fluminense (UFF). Instrutora de português da
Escola Naval.
ALUNOS ESTRANGEIROS nA ESCOLA NAVAL
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ALUNOS ESTRANGEIROS nA ESCOLA NAVAL
Este estudo é de cunho qualitativo, com estudo, é encarado como uma contribuição
pesquisa documental exploratória inicial, para o desenvolvimento dos seus países,
e contou com os dados obtidos sobre os e o diploma superior, principalmente se
aspirantes da Escola Naval que cursam o obtido no exterior, “é para muitos jovens
Estágio de Qualificação para Adaptação africanos símbolo de distinção e de pos-
Acadêmica de Alunos Estrangeiros. É sibilidade de ascensão social” (MUNGOI,
também apresentada uma breve análise dos 2006, p. 13).
dados coletados: uma entrevista com a pro- No que tange à especificidade do caso
fessora de Língua Portuguesa e a avaliação aqui sob investigação, pode-se asseverar
didática da disciplina utilizada em espaços que a imigração ocorre de forma provocada
não escolares de conhecimento relacionada e temporária, envolvendo quase sempre
a atividades fora do chão da escola. acordos de cooperação entre Estados so-
O artigo está dividido em quatro seções beranos de origem e de destino, ou mesmo
principais. A primeira trata dos principais entre instituições de ensino superior, não
conceitos relacionados à imigração e à iden- podendo, portanto, ser enquadrada basica-
tidade. A seção seguinte aborda os acordos mente como uma mera relação econômica
bilaterais de cooperação entre Estados no ou política.
campo educacional e da educação superior. Se falamos em imigrante, torna-se
A terceira parte trata especificamente dos necessário também pensarmos teorica-
percursos e trajetórias dos estrangeiros na mente o termo “estrangeiro”, que indica,
EN. Por último, é apresentada a análise dos em conformidade com Subuhana (2005,
instrumentos de coleta: o relatório do pro- p. 11), “uma pessoa adulta, pertencente a
fessor, a entrevista e parte do questionário nossa época e civilização, que trata de ser
submetido aos alunos integrantes da turma definitivamente acostumada, ou ao menos
de 2013 do Estágio de Nivelamento. tolerada, pelo grupo ao qual se aproxima”.
Já Silva e Morais (2012), citando Simmel
IMIGRAÇÃO E IDENTIDADE: (1983), caracterizam o estrangeiro pelo tipo
ALGUNS CONCEITOS de sociabilidade desenvolvida com o grupo
com o qual ele interage e afirmam ser essa
Como exposto por Subuhana (2005, relação marcada pelo reconhecimento da
p. 13), retomando Sayad (1998), a imigra- distância observada entre agentes sociais
ção consiste no deslocamento de popula- fisicamente próximos.
ções por todas as formas de espaços social- Subuhana (2005) nos lembra que ne-
mente constituídos e qualificados, sendo nhuma identidade é tão rígida, sólida e
um “fato social completo”. O imigrante cristalizada que não possa ser questiona-
seria, então, de acordo com esse autor, um da. A cultura do país escolhido irá causar
cidadão estrangeiro que tem residência fixa impactos importantes na identidade de um
em outro país que não o seu de origem. imigrante. Seus valores, suas caracterís-
Durham (1978 apud MUNGOI, 2006, ticas, suas crenças (sua identidade) serão
p. 13) argumenta que nenhuma imigração constantemente chocadas pelo capital cul-
“deve ser compreendida como um deslo- tural estrangeiro. A partir desse confronto,
camento meramente geográfico, visto que ele poderá “escolher” adotar ou repudiar
as migrações representam uma movimen- um hábito cultural ao qual foi exposto,
tação no universo social”. O caráter do e essa “escolha” inferirá marcas em sua
deslocamento transnacional, no caso em identidade.
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ALUNOS ESTRANGEIROS nA ESCOLA NAVAL
estagiário que obtiver parecer “satisfatório” pelos sistemas de ensino” (BRASIL, 1996,
em todas as disciplinas do currículo, poden- não paginado). No caso da Marinha, tais
do ser matriculado no ano seguinte no curso normas podem ser encontradas na Lei no
de graduação regular da EN, conforme 12.704, de 8 de agosto de 2012.
previsto nas normas internas que trata dos Atualmente, a Escola Naval conta com um
Cursos de Graduação desta IES. quantitativo aproximado de 800 aspirantes.
Existe um currículo preestabelecido a Deste total, vinte e três jovens são estrangei-
ser desenvolvido pelos professores para ros, com idade média de 20 anos, naturais
cada uma das disciplinas e que tem, em de Angola, Bolívia, Líbano, Moçambique,
sua maioria, a prova escrita como metodo- Namíbia, Nigéria, Senegal e Venezuela.
logia avaliativa. Caso o estagiário obtenha Este trabalho está pautado a partir dos
parecer “não satisfatório”, será convidado, dados obtidos sobre os jovens estrangeiros
após parecer favorável emitido pelo go- integrantes do Estágio de Nivelamento no
verno de seu país, a renovar sua matrícula ano de 2013. Neste ano, temos oito novos
no ano posterior. Existe a possibilidade de Estagiários, distribuídos pelos seguintes
a duração do estágio Estados nacionais: Lí-
ser abreviada quando bano – quatro alunos;
for identificado que A Escola Naval conta com Namíbia – dois alunos;
o aluno apresenta o cerca de 800 aspirantes. Nigéria – um aluno; e
domínio dos conhe- Senegal – um aluno. Es-
cimentos necessários 23 desses jovens são ses jovens tiveram uma
para o acompanha- naturais de Angola, Bolívia, imigração diferenciada,
mento do ciclo escolar. visto que estão repre-
Atualmente, o cur-
Líbano, Moçambique, sentando, antes de mais
rículo em vigor para a Namíbia, Nigéria, Senegal e nada, os seus países em
disciplina de Língua Venezuela uma formação superior
Portuguesa é acres- especial, a militar, e, por
centado de atividades características próprias,
outras que demandam o aprendizado fora inerentes à caserna, como aquartelamento ou
da sala de aula, como visitas a pontos turís- internato. Eles necessitam de uma atenção a
ticos e a instituições de reconhecido valor, mais por parte de todos da instituição, desde
como a Academia Brasileira de Letras, a os professores, do Serviço de Orientação
Biblioteca Nacional, museus e salas de Educacional e Pedagógica (Soep) até a ad-
concerto; ida a restaurantes; observação de ministração de sua alimentação, pois alguns
produtos comercializados em feiras livres, são muçulmanos e, por exemplo, não podem
mercados populares e centros comerciais. fazer o consumo de carne de porco (comum
na alimentação do brasileiro).
OS SUJEITOS DO ESTUDO
RESULTADOS E ANÁLISE DOS
A nossa lei maior da educação, a Lei de INSTRUMENTOS DE COLETA DE
Diretrizes e Bases da Educação Nacional DADOS
(LDB), no 9.394/96, apregoa, em seu art.
no 83, que “o ensino militar é regulado em Na busca pelo alcance do maior número
lei específica, admitida a equivalência de de informações sobre a turma integrante
estudos, de acordo com as normas fixadas deste ano, foi realizada uma entrevista in-
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formal e aberta com um dos professores de para comunicar-se com eles (conforme as
português, além da leitura do seu relatório modernas técnicas de ensino de línguas
de acompanhamento. A partir dos dados ob- estrangeiras).
tidos tanto na entrevista quanto no relatório, – Utilização de Material Complementar:
foi possível abrilhantar algumas conclusões a partir da terceira semana, introduz, em
de ações que poderão ser desenvolvidas nos caráter incipiente, a leitura de jornais de
próximos estágios. Outra fonte de coleta de grande circulação no país (O Estado de São
dados foi o questionário de Perfil Social, Paulo, Folha de São Paulo e O Globo) e
Psicológico e Acadêmico, elaborado pelo de revistas (Superinteressante, Scientific
Soep da instituição, que foi aplicado aos America-Brasil). Segundo a docente, sua
sujeitos da pesquisa. intenção é despertar o interesse dos jovens
a partir de informações veiculadas por meio
ANÁLISE DOS INSTRUMENTOS de anúncios, de artigos sobre esportes e
DE COLETA DE DADOS DOS notícias sobre acontecimentos atuais, em
PROFESSORES âmbito nacional e internacional, novidades
no campo das ciências etc.
Em primeiro lugar, será analisado o – Utilização de livro didático: é utili-
relatório elaborado pelos professores de zado o livro Bem-Vindo! (Maria H. O. de
português para estrangeiros e, em seguida, Ponce, et. al).
a entrevista com um dos docentes da disci- Nesses mesmos meios instrucionais e a
plina (são dois no total). O tratamento dos partir das próprias informações solicitadas
dados informados nesses instrumentos de aos alunos, colhe-se material linguístico
coleta será focado no ambiente formal do compatível com o grau de desenvolvimento
ensino, a sala de aula, e principalmente em do grupo para estudo de vocabulário e de
outras práticas do ensino-aprendizagem em estruturas linguísticas, conforme plano de
ambientes não formais. curso previamente estipulado.
A docente foi estimulada, pela Coordena-
Análise do relatório ção de Português da instituição, a tecer uma
da disciplina de língua avaliação subjetiva sobre o grupo de alunos
portuguesa estrangeiros recebidos em 2013. Em seu re-
latório, ela ressalta as seguintes observações:
Um dos docentes de português acom- – Características pessoais e comporta-
panha os alunos estrangeiros desde 2009. mentais dos alunos: os alunos, de modo
Periodicamente, esta professora produz um geral, demonstram boa educação, disci-
relatório sobre as suas atividades junto aos plina, responsabilidade e disposição para
aspirantes estrangeiros e tece comentários o aprendizado. Embora abertos a todos
sobre o desenvolvimento dos mesmos no os ensinamentos, na maioria dos casos
que tange ao aprendizado de Língua Por- são pessoas reservadas e observadoras. O
tuguesa. Em seus relatórios, ela refere-se trabalho de orientação empreendido pelos
a alguns dos métodos adotados no ensino dois professores de Língua Portuguesa vem
para estrangeiros: resultando em visível entrosamento entre o
– Utilização de aulas dinâmicas: desde grupo, com a manifestação clara de mútuo
o primeiro momento de contato com os respeito e colaboração durante as aulas e até
alunos, a docente busca estimular a expres- em outros espaços da escola, onde fazem
são oral. Portanto, faz uso do português atividade física, por exemplo.
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5 O relatório que ora analisamos foi redigido pela professora de Língua Portuguesa no início do ano letivo de 2013.
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o que equivaleria ao nosso Ensino Médio, seu desempenho como aluno, inclusive
fato que poderá acarretar uma necessidade acarretando desmotivação e cancelamen-
maior de relembrar conteúdos, em especial to dos seus estudos. O ensino de Língua
aqueles que estão previstos no programa do Portuguesa é fundamental ao ano de
nosso Ensino Médio, em virtude não só do nivelamento, em especial quando ele é
tempo de término dos seus estudos e das tecnicamente direcionado para facilitar
diferenças de conteúdos programáticos, a apresentação de hábitos culturais, nos
mas, principalmente, da preparação para quais estes jovens ficarão inseridos por
o Ensino Superior no Brasil, mais especi- mais de cinco anos.
ficamente na EN, instituição que tem, em Fundamentamos que a capacidade de
seu “DNA acadêmico”, um caminhar pelas expressão e compreensão da nossa língua é
ciências exatas, com forte conteúdo das instrumento de integração. A matemática é,
disciplinas de Cálculo e Física. provavelmente, a linguagem comum entre
Foi perguntado aos estagiários em quais os alunos estrangeiros, que diferem quanto
disciplinas acadêmicas esperavam ter maior a etnias e a conhecimentos linguísticos.
e menor dificuldade. Para esta pergunta, Faz-se, porém, necessário compreender,
não foram apresentadas opções de respos- por meio de nivelamento, as diferenças
ta. Podemos verificar que a disciplina de curriculares entre os países de origem de
português causa uma maior apreensão nos nossos alunos estrangeiros e o que é exigido
alunos estrangeiros; não poderia ser dife- como pré-requisito para cursar a EN.
rente, pois todos os integrantes da Turma Foi verificado que eles sentem e re-
de Nivelamento de 2013 não têm como conhecem a dificuldade da barreira do
idioma oficial de seus países o português. idioma, principalmente quando deverão
Os libaneses e o senegalês falam o francês, ser expostos no curso acadêmico superior
já os namibianos e o nigeriano têm o inglês regular. Como são jovens em formação,
como língua oficial. não deverá haver uma separação da sua
A maior preocupação sentida pelos alu- cultura natal, mas com certeza a identidade
nos estrangeiros foi com o início do curso social que está sendo criada, no primeiro
e o fato de serem obrigados a aprenderem momento entre estrangeiros estudantes
a Língua Portuguesa, um prerrequisito e posteriormente entre estes e a maioria
para serem matriculados na turma de 1o de aspirantes brasileiros, acarretará uma
ano da EN. Há comentários interessantes reconstrução, a princípio, positiva das re-
da percepção de dois estagiários a respeito lações sociais estabelecidas entre o grupo
dos aspirantes, os quais, sob sua ótica, maior de alunos.
“são muito dedicados e têm muito medo de Saber uma língua é adquirir competên-
repetir” e são respeitados, o que, em suas cias linguísticas para se expressar adequa-
palavras, é “muito importante”. damente em qualquer situação. Saber uma
língua implica conhecer a cultura que por
CONSIDERAÇÕES FINAIS meio dela se revela, entender o “espírito”
do povo ou dos povos que a aprenderam
O Estágio de Nivelamento se torna im- como língua materna. Saber uma língua
portante quando os imigrantes temporários é conseguir argumentar, responder criati-
chegam para um curso acadêmico sem a vamente a uma pergunta, apresentar um
base do idioma numa qualidade desejada, projeto, uma resenha ou o resultado de
o que poderá prejudicar sobremaneira o uma pesquisa.
RMB1oT/2015 187
ALUNOS ESTRANGEIROS nA ESCOLA NAVAL
Para concluir, abaixo é transcrito o pen- mos contribuir para que eles, já agora,
samento que a referida professora entrevis- incluam entre suas aspirações a de
tada, também sujeito deste estudo, julga de promover a educação integral de seus
importância para continuar desenvolvendo cidadãos e assim alavancar a econo-
a disciplina de Língua Portuguesa para es- mia dos respectivos países, parece-nos
ses jovens estrangeiros que procuram sua importante criarmos as condições para
formação plena em IES militar no Brasil: que em cada um expanda uma consci-
Se queremos formar homens capazes de ência disposta a perceber, apreciar e
conviver com outros povos, se deseja- respeitar outras culturas.
BIBLIOGRAFIA
BRASIL. Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação na-
cional. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, no 248, 23 dez. 1996.
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mar. 2013. Disponível em: <www.planalto.gov.br/cccivil_03/_Ato2011-2014/2013/Decreto/
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MÉSZÁROS, I. A Educação para além do capital. 2. ed. Tradução Isa Tavares. São Paulo: Boitempo,
2008. (Mundo do Trabalho).
188 RMB1oT/2015
ALUNOS ESTRANGEIROS nA ESCOLA NAVAL
RMB1oT/2015 189
MITIGAÇÃO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS DE NAVIOS
DA MARINHA DO BRASIL – Estudo de caso do Aviso de
Instrução Aspirante Nascimento
SUMÁRIO
Introdução
Metodologia
Conceitos fundamentais
Legislações a serem atendidas
Arcabouço básico – Meios flutuantes existentes
na Marinha do Brasil
Necessidade da busca por navios não poluentes
Classificação das emissões poluentes
Rede de Precedência
Estudo de caso relativo aos aspectos ambientais do Aviso de Instrução
Aspirante Nascimento e seus desdobramentos
Padrão adotado para produção de Águas Servidas
Distribuição da tripulação
Alternativas para instalação do sistema de tratamento
Seleção da unidade eletrocatalítica
Impactos da instalação
Análise comparativa
Descrição do sistema de separação de água e óleo
Dimensionamento do separador de água e óleo
Pré-seleção do separador
Separador de óleo para cozinha
Compactador de lixo
Soluções propostas e recomendações decorrentes do estudo
Solução adotada pela Marinha do Brasil
Quanto ao tratamento de esgoto sanitário
Quanto à separação de água e óleo
Conclusão
RMB1oT/2015 191
MITIGAÇÃO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS DE NAVIOS DA MARINHA DO BRASIL
– Estudo de caso do Aviso de Instrução Aspirante Nascimento
192 RMB1oT/2015
MITIGAÇÃO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS DE NAVIOS DA MARINHA DO BRASIL
– Estudo de caso do Aviso de Instrução Aspirante Nascimento
Conama
Parâmetro (Regul. 20/86: águas Marpol (Anexo IV)
classe 3)
Coliformes fecais /100 ml 4.000/100ml 250/100ml1
Sólidos em suspensão não especificado 100mg/l2
DBO5 10 mg/l 50 mg/l
PH entre 6,0 e 9,0 não especificado
Turbidez 100 UNT não especificado
Materiais sedimentáveis 1ml/l não especificado
Deve ser ausente de água, de acordo com o Conama reg, 20/86, para águas classe 3:
– materiais flutuantes, inclusive espumas não naturais
– óleos e graxas
– substâncias que formem depósitos objetáveis; e
– substâncias que comuniquem gosto e odor.
Trata- Trata-
Tripulação mento Tripulação mento
Método Método
Navios da MB Qtde estimada / UTAS(1) Navios da MB Qtde estimada / UTAS(1)
utilizado utilizado
navio SAO(2) navio SAO(2)
CHT(3) CHT(3)
A12 São Paulo G30 Ceará
1 3.000 Não –
2 350 Não CHT(3)
Navio Navio de
Aeródromo Desembarque-
Doca
S30 Tupi
U27 Brasil
5 32 Sim(2) CHT(3) Eletrolítico(1)/
1 450 Sim(1) (2) Placas
Submarinos Oleofílicas(2)
Navio-Escola
F40 Niterói
F46
Sim(1)
6 220 Eletrolítico(1) Greenhalgh
Não(2)
Fragata (classe
Niterói) Biológico(1)/
3 280 Sim(1) (2)
Centrífugo(2)
G28 Mattoso
Fragata
Maia
(classe
Greenhalgh)
250/ 150 e Não(1)/
3 CHT(3) U20 Cisne
150 Sim(2)
Navio de Branco Físico-
Desembarque 1 120 Sim(1) (2) químico(1)/
Carro de Centrífugo(2)
Combate Navio-Veleiro
RMB1oT/2015 193
MITIGAÇÃO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS DE NAVIOS DA MARINHA DO BRASIL
– Estudo de caso do Aviso de Instrução Aspirante Nascimento
Trata- Trata-
Tripulação mento Tripulação mento
Método Método
Navios da MB Qtde estimada / UTAS(1) Navios da MB Qtde estimada / UTAS(1)
utilizado utilizado
navio SAO(2) navio SAO(2)
CHT(3) CHT(3)
K11 Felinto P40 Grajaú
Perry
Eletrolítico(1)/
Físico-
12 40 Sim(1) (2) Placas
1 100 Sim(1) (2) químico(1)/
oleofílicas(2)
Centrífugo(2)
Navio de Navio-Patrulha
Socorro (classe Grajaú)
Submarino
R21 Tritão
V30 Inhauma
Eletrolítico /
(1)
Monitor
2 60 Não –
Navio-Patrulha P10 Piratini
Fluvial (classe
Pedro
Teixeira)
6 15 Não –
P30 Roraima
Navio-Patrulha
(Classe
Piratini)
3 40 Não –
Navio-Patrulha U19 Carlos
Fluvial (classe Chagas
Roraima)
G17 Potengi
5 50 Não –
Navio de
Navio de 1 20 Não –
Assistência
Apoio
Hospitalar
Logístico
Fluvial G15
Paraguassu
M15 Aratu
1 43 Não –
6 40 Não –
Navio-
Navio-
Varredor
Transporte
(classe Aratu)
Fluvial
194 RMB1oT/2015
MITIGAÇÃO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS DE NAVIOS DA MARINHA DO BRASIL
– Estudo de caso do Aviso de Instrução Aspirante Nascimento
Trata- Trata-
Tripulação mento Tripulação mento
Método Método
Navios da MB Qtde estimada / UTAS(1) Navios da MB Qtde estimada / UTAS(1)
utilizado utilizado
navio SAO(2) navio SAO(2)
CHT(3) CHT(3)
P60 Bracuí H21 Sirius
1 150 Não –
4 30 Não –
Navio
Navio-Patrulha Hidrográfico
(classe Bracuí)
H35 Amorim
U29 Piraim do Valle
3 30 Não –
1 17 Não –
Navio
Aviso- Hidroceano-
Transporte gráfico
Fluvial
H18
V15 Imperial Comandante
Marinheiro Varela
5 25 Não –
2 60 Não –
1 65 Não –
Avisos de
Instrução 3 12 Não –
Navio de (Aspirante
Apoio Nascimento,
Oceanográfico Guarda-
Marinha
H40 Antares
Jansen e
Guarda-
Marinha Brito)
1 50 Não –
RMB1oT/2015 195
MITIGAÇÃO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS DE NAVIOS DA MARINHA DO BRASIL
– Estudo de caso do Aviso de Instrução Aspirante Nascimento
Necessidade da busca por navios não como as mais adequadas para crises
poluentes políticas e conflitos, onde haja necessi-
dade de projeção de influência a longas
Poluição é o efeito causado por distâncias. Entretanto, esses atributos
emissões de substâncias que possam não são, por si só, ilimitados. Os navios
alterar permanentemente ou tempora- da força naval ainda permanecem pre-
riamente as características específicas cisando, para exercer suas tarefas, de:
do meio ambiente onde são lançadas. cruzar águas territoriais de outros países
No processo poluente, distinguem-se para se deslocar rapidamente aos locais
três elementos básicos: a fonte (ou onde devem operar; visitar portos para
contaminante), a ação de contaminação abastecerem-se de gêneros combustí-
e a poluição propriamente dita (que é o veis e lubrificantes e, possivelmente,
efeito causado pela contaminação). As de armamento e munições; e estacionar
fontes podem variar de resíduos de ma- em águas internacionais, sem sofrer
terial orgânico, sujeito a degradação por constrangimentos legais.
digestão aeróbia e anaeróbia, a metais Um dos óbices que se deslocam no
pesados e resíduos radioativos, capa- momento para as tarefas citadas são as
zes de permanecer no meio ambiente legislações ambientais, tanto de caráter
por períodos bastante longos. Podem local quanto de caráter internacional. Nas
incluir também emissões não mássicas, últimas três décadas, essas legislações
ou seja, em forma de energia, tais como tornaram-se continuamente mais rígidas.
a térmica e a acústica. Os processos de Em alguns casos, como no estado da
contaminação podem ser naturais, in- Califórnia, nos EUA, beiraram, de for-
tencionais ou inadvertidos (acidentais) ma inflexível, o limite tecnológico. Em
e, do ponto de vista temporal, eventuais, nível internacional, as legislações foram
repetitivos ou contínuos. A poluição, ficando gradativamente mais rígidas,
ou seja, os efeitos da contaminação têm diminuindo o trauma causado. No plano
consequências bastante diversas, mas em militar, as legislações internacionais
sua maioria comprometem a perenidade tendem a estabelecer exceções para os na-
dos ecossistemas existentes no meio vios de guerra, que não são acompanha-
ambiente. Em particular, a poluição dos, em muitos casos, pelas legislações
marítima é definida por R. B. CLARK locais. Desta forma, para garantir-se uma
(2001) como sendo “a introdução pelo ampla liberdade de locomoção e estacio-
homem no meio ambiente marinho, de namento, as Marinhas de guerra devem
forma direta ou indireta, de substâncias perseguir a adequação de seus navios a
ou energia que resultem em: perigos à essas legislações.
saúde do ser humano; esgotamento das
atividades ligadas ao meio ambiente Classificação das emissões poluentes
marinho, incluindo a pesca; prejuízo à
qualidade no uso da água do mar; e redu- Muitas classificações são possíveis
ção das atividades que possam conduzir para emissões de poluentes, mas duas
conforto e conveniência”. guardam maior valor prático: a referente
Diante dos intrínsecos atributos de ao tipo de composição da emissão e a
mobilidade e permanência, as forças relativa ao serviço que originou essa
navais são tradicionalmente julgadas emissão.
196 RMB1oT/2015
MITIGAÇÃO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS DE NAVIOS DA MARINHA DO BRASIL
– Estudo de caso do Aviso de Instrução Aspirante Nascimento
RMB1oT/2015 197
MITIGAÇÃO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS DE NAVIOS DA MARINHA DO BRASIL
– Estudo de caso do Aviso de Instrução Aspirante Nascimento
198 RMB1oT/2015
MITIGAÇÃO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS DE NAVIOS DA MARINHA DO BRASIL
– Estudo de caso do Aviso de Instrução Aspirante Nascimento
prepará-los para operarem com os diversos As águas servidas podem ser descarre-
sistemas existentes a bordo, como: Navega- gadas diretamente ao mar, em emergência
ção, Incêndio, Controle de Avarias, Controle ou por meio de tomadas de transferência,
de Poluição, Sistemas Elétricos etc. para facilidades no porto.
O navio dispõe, atualmente, de um Não foi possível obter planos do siste-
sistema CHT (Coleta, Armazenagem e ma de bordo devido a problemas de ordem
Transferência), constituído por um tanque militar. Segundo dados da tripulação do
com volume de aproximadamente 0,82m3, Aspirante Nascimento, o único plano
localizado no compartimento dos tanques acessível do sistema existente é o diagra-
no fundo do navio (sewage tank), conforme ma fixado no quadro de CAV (Controle
apresentados nas figuras 2 e 3. de Avarias).
RMB1oT/2015 199
MITIGAÇÃO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS DE NAVIOS DA MARINHA DO BRASIL
– Estudo de caso do Aviso de Instrução Aspirante Nascimento
200 RMB1oT/2015
MITIGAÇÃO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS DE NAVIOS DA MARINHA DO BRASIL
– Estudo de caso do Aviso de Instrução Aspirante Nascimento
No entanto, os valores deste perfil de produ- águas negras, cinzentas e de cozinha). Esse
ção devem ser majorados em 15%, para atingir valor é definido no Regulamento 7 do Anexo
o valor total de 230 l/homem.dia (incluindo IV da Convenção IMO/Helsinki (quadro 4):
UNIDADE: LITROS/HOMEM.DIA
SISTEMA CONVENCIONAL SISTEMA A VÁCUO
ÁGUAS NEGRAS 70 25
ÁGUAS NEGRAS E CINZENTAS 230 185
Quadro 4 – Extrato da Convenção IMO/HELSINKI de Consumo de Água a Bordo
RMB1oT/2015 201
MITIGAÇÃO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS DE NAVIOS DA MARINHA DO BRASIL
– Estudo de caso do Aviso de Instrução Aspirante Nascimento
Distribuição da tripulação
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– Estudo de caso do Aviso de Instrução Aspirante Nascimento
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– Estudo de caso do Aviso de Instrução Aspirante Nascimento
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– Estudo de caso do Aviso de Instrução Aspirante Nascimento
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MITIGAÇÃO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS DE NAVIOS DA MARINHA DO BRASIL
– Estudo de caso do Aviso de Instrução Aspirante Nascimento
Com isso, a rede de precedência apresen- Todos os sistemas listados acima aten-
tada no quadro 3 torna-se imprescindível dem ao contido na Marpol. Por outro lado,
para a tomada de decisões. No caso espe- o Conama, por ser mais restritivo e não
cífico estudado, para avisos de instrução permitir o lançamento de esgoto não tra-
classe Aspirante Nascimento é exequível; tado, impossibilita o uso de CHT a bordo.
entretanto, existem problemas a serem Os outros sistemas podem ser utilizados,
transpostos com relação ao arranjo dos desde que seja garantido o efluente dentro
equipamentos no navio. dos parâmetros definidos no regulamento.
Cabe ressaltar que a manutenção do sis-
tema CHT a bordo dos avisos de instrução Quanto à separação de água e óleo
classe Aspirante Nascimento só deve ser
efetiva como controle de poluição se forem O derramamento de óleo é um sério
previstos sistemas de tratamento nos portos problema que a Marinha tem resolvido
e nas bases ou meios de transferência dos com a instalação de SAO coalescedores nos
dejetos armazenados para estações públicas navios. O resultado tem sido satisfatório,
de tratamento de esgoto. com a integração do porto para recepção
Recomenda-se monitoramento frequen- do óleo segregado. Para navios de pequeno
te quanto ao desempenho de unidades de porte, conforme previsto na Marpol, temos
tratamento já instaladas a bordo dos navios, adotado a construção de tanques de arma-
no que concerne à operacionalidade, custos zenamento para receberem a água oleosa
de operação e manutenção, rejeitos obtidos, do porões, que é transferida posteriormente
eficiências e eficácias, que venham a aten- para o porto, sem tratamento.
der às necessidades ambientais, dentro dos
custos e padrões aceitáveis. Conclusão
208 RMB1oT/2015
MITIGAÇÃO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS DE NAVIOS DA MARINHA DO BRASIL
– Estudo de caso do Aviso de Instrução Aspirante Nascimento
Referências
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831-AVIN-01-801-01 – General Arrangement – “Trainning Ship”.
Visita Técnica ao U10 Aspirante Nascimento, em 15/1/2014.
RMB1oT/2015 209
ARP-E: Uma nova realidade na
Marinha do Brasil*
SUMÁRIO
a consolidação dos requisitos para sua uma excelente opção em uso embarcado.
aquisição, tendo a Diretoria de Aeronáutica No tocante à segurança de aviação, o seu
da Marinha (DAerM) capitaneado todo o emprego em missões de esclarecimento em
processo desde o início do planejamento substituição às aeronaves convencionais
até a execução, a fim de definir o sistema teria como principal vantagem a eliminação
de ARP-E que poderá ser utilizado pelos do risco à vida dos pilotos, cuja formação
meios navais da MB no futuro. é bastante onerosa e cujas perdas trazem
Devido à sinergia proporcionada pelos impactos negativos na sociedade e no moral
aspectos de inovação tecnológica, desen- dos tripulantes a bordo.
volvimento de sistemas, novos conceitos Outra vantagem da ARP-E em relação às
operacionais e adaptação organizacional, atuais aeronaves orgânicas é a sua capaci-
a implantação desse equipamento a bordo dade de permanecer prolongados períodos
dos navios da MB poderá representar uma em voo. As características tecnológicas
quebra de paradigma, tornando-se uma desse equipamento, principalmente quanto
importante fonte de a autonomia, versati-
dados para identifica- lidade de emprego e
ção de alvos não cola- A ARP-E eleva de forma custo em relação ao bi-
borativos em missões
de patrulha. Esse novo
significativa a capacidade nômio navio-aeronave,
têm despertado a aten-
meio pode aumentar de comando e controle da ção para a possibilida-
a eficácia dessa ati- patrulha naval de desse equipamento
vidade devido a sua complementar os atuais
maior capacidade de meios aeronavais.
permanência e velocidade em missões de A utilização da ARP-E é também
esclarecimento. Dessa forma, a ARP-E vantajosa por proporcionar, em média,
eleva de forma significativa a capacidade um baixo custo de aquisição e de manu-
de comando e controle para os navios, tenção, comparando-o com os elevados
aumentando sobremaneira a consciência custos necessários dos diversos modelos
situacional marítima para a patrulha naval. de aeronaves que equipam os esquadrões
aeronavais da atualidade. Outro custo indi-
Vantagens do Uso da ARP-E reto relacionado é da formação de pilotos,
basicamente em função da necessidade de
Em comparação com as aeronaves manutenção das aeronaves e do combustí-
pilotadas, a utilização da ARP-E possui vel empregado. Futuramente, respaldada
algumas vantagens que a coloca como por legislação pertinente, a formação espe-
RMB1oT/2015 211
ARP-E: Uma nova realidade na Marinha do Brasil
212 RMB1oT/2015
Transporte de carga geral por cabotagem:
Utilização dos portos do Rio de Janeiro
SUMÁRIO
Introdução
Metodologia de pesquisa
Referencial teórico
Navegação de cabotagem
Definições
Tipos de cargas
A legislação brasileira
Programa de Aceleração do Crescimento (PAC-Portos)
Ressurgimento da cabotagem no Brasil
Armadores nacionais
Portos no Estado do RJ
Conclusões e perspectivas
A utilização do transporte de cabotagem pela Marinha do Brasil**
* Chefe da Divisão de Importação do Depósito Naval do Rio de Janeiro. Mestrando em Logística na Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).
** Ver Noticiário Marítimo, p. 307.
Transporte de carga geral por cabotagem: Utilização dos portos do Rio de Janeiro
vocação natural para o tráfego de cargas. vam o tema proposto para auxiliar a pesquisa
No entanto, esse tipo de transporte é ainda nas bases de dados escolhidas. Em seguida,
pouco explorado. realizou-se uma revisão manual dos resumos
O transporte e a manutenção de estoque, selecionados e, por fim, os melhores textos
em regra, são as atividades logísticas de foram lidos em sua íntegra.
maior custo para as empresas. A experi- Poucos artigos já exploraram o tema, o
ência demonstra que cada um deles pode que dificultou a revisão sistemática sobre o
representar entre metade e dois terços dos assunto. Desta forma, o trabalho priorizou
custos logísticos totais (BALLOU, 2006, os dados disponíveis em fontes oficiais,
p. 32). Deste modo, o estudo dos possíveis sem, no entanto, abandonar a base de dados
modais a serem utilizados no transporte acadêmica, a fim de não limitar as conclu-
de cargas torna-se fundamental para uma sões à leitura de apenas alguns artigos.
empresa que objetiva a redução de seus
custos logísticos e, por conseguinte, uma Referencial teórico
maior eficiência em suas atividades.
O objetivo deste trabalho é analisar o Navegação de cabotagem
crescimento da cabotagem no País a partir
de 2007, ano em que foi criada a Secretaria Definições
Especial de Portos (Lei no 11.518, de 5 de
setembro de 2007), ligada diretamente à De acordo com o inciso IX, do artigo
Presidência da República, demonstrando 2o, da Lei no 9.432/97, “navegação de ca-
o reconhecimento do governo federal à botagem é aquela realizada entre portos ou
necessidade de tratar os assuntos portuários pontos do território brasileiro, utilizando a
no mais alto nível governamental e sua via marítima ou esta e as vias navegáveis
possível utilização para o transporte de interiores”.
carga geral tendo como origem ou destino A palavra cabotagem é originária do
os portos no Estado do Rio de Janeiro. termo caboter, que, em francês, significa
“navegação entre cabos e portos do mesmo
Metodologia de pesquisa país” (OLIVEIRA, 2000, p. 163).
No Brasil, a navegação de cabotagem
A metodologia adotada na elaboração apresenta um elevado potencial para mo-
deste artigo foi o estudo qualitativo com vimentação de contêineres, devido à sua
base em revisão bibliográfica sistemática de extensa costa litorânea e pelo fato de cerca
literatura especializada. Os artigos (papers) de 80% do Produto Interno Bruto (PIB)
e textos estudados foram encontrados em brasileiro estar concentrado a uma distância
livros-textos e periódicos científicos nacio- de até 400 km do litoral (CEL/COPPEAD,
nais e internacionais disponíveis em bases 2006 apud SOUZA, 2007).
de dados, como o Portal de Periódicos da Além disso, segundo dados da Agên-
Capes-CNPQ, Elsevier e Scielo, entre ou- cia Nacional de Transportes Aquaviários
tras bibliotecas eletrônicas de universidades (Antaq), a cabotagem brasileira possui um
brasileiras e estrangeiras de referência. enorme potencial, já que temos uma costa
Foram identificadas como palavras-chave com 7.367 km de extensão, 80% da popu-
ou expressões, para as buscas, “cabotagem”, lação brasileira vive até 200 km da costa e
“cabotagem no Brasil”, “transporte maríti- há uma grande concentração industrial ao
mo” e “portos no Brasil”, que caracteriza- longo do litoral brasileiro.
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Transporte de carga geral por cabotagem: Utilização dos portos do Rio de Janeiro
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Transporte de carga geral por cabotagem: Utilização dos portos do Rio de Janeiro
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Transporte de carga geral por cabotagem: Utilização dos portos do Rio de Janeiro
Referências bibliográficas
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_______, (2007). Lei 11.518, DE 5 DE SETEMBRO DE 2007. Dispõe sobre a criação da Secretaria
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SOUZA, Marianna Campos Pereira (2007) Análise da satisfação dos clientes de serviços de cabotagem
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222 RMB1oT/2015
É POSSÍVEL AVALIAR A EFETIVIDADE DO
TREINAMENTO EM Crew Resource Management?*
SUMÁRIO
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É POSSÍVEL AVALIAR A EFETIVIDADE DO TREINAMENTO EM Crew Resource Management?
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É POSSÍVEL AVALIAR A EFETIVIDADE DO TREINAMENTO EM Crew Resource Management?
REFERÊNCIAS
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Arejamento de Colchões: O que a ciência nos diz?
SUMÁRIO
Introdução
Doenças alérgicas
O controle de ácaros e fungos nos colchões
Conclusões
A vida embarca-
da exige do ma-
rinheiro um intenso
A vida embarcada exige
do marinheiro um intenso
prolongados, os am-
bientes com espaços
reduzidos, as jornadas
preparo técnico, físico preparo técnico, físico e de serviço e repouso
e psicológico para con- nem sempre muito
viver em condições psicológico para conviver bem delimitadas e
extremas de habitabi- em condições extremas de as atividades de alta
lidade. É sabido que o complexidade física e
confinamento a que a
habitabilidade intelectual, exercidas
tripulação é submetida sob condições meteo-
* N.R.: Farmacêutico, bioquímico especialista em Análises Clínicas pela Escola de Saúde do Hospital Naval
Marcílio Dias. Mestre em Farmacologia/Neurociências pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Serve
no Navio-Aeródromo São Paulo.
Arejamento de Colchões: O que a ciência nos diz?
rológicas variáveis, são fatores estressores muito bem estabelecida a associação entre
que devem ser considerados (TONIOLO, alérgenos ambientais, asma brônquica,
2014). rinite alérgica e outras doenças alérgicas
Atualmente, há uma preocupação (REIS, 1998; VISITSUNTHORN E COLS,
grande das autoridades marítimas em de- 2010; ABIDIN E MING; 2012). A pre-
terminar normas que estabeleçam padrões sença de ácaros, principalmente na poeira
mínimos para os alojamentos dos tripulan- domiciliar, está envolvida na iniciação e no
tes dos navios. desenvolvimento de doenças alérgicas. As
A manutenção desse ambiente tão principais espécies de ácaros encontradas
complexo em boas condições higiênico- na poeira domiciliar e envolvidas em do-
-sanitárias faz parte de um conjunto de enças respiratórias são Dermatophagoides
ações que visam promover a qualidade de pteronyssinus e Dermatophagoides farinae.
vida da tripulação. Os constituintes dos fungos são o segundo
A NR 30 – Segurança e Saúde no Tra- alérgeno em frequência, seguidos por an-
balho Aquaviário, no seu item 30.7.13, de- tígenos provenientes de baratas.
termina que os colchões utilizados devam Esses alérgenos são encontrados em
ter, no mínimo, densidade 26 e espessura de colchões, carpetes, tapetes, cadeiras, sofás,
10 cm, e ser mantidos colchas, travesseiros
em perfeito estado de etc. A despeito das vá-
higiene e conservação. A incidência de doenças rias localizações, a mais
Uma das medidas alérgicas tem aumentado alta concentração de
utilizadas com intuito alérgenos é encontrada
de garantir essa norma enormemente em todo o nos colchões (VISIT-
e diminuir a ocorrên- mundo SUNTHORN E COLS,
cia de processos alér- 2010). Estudos indicam
gicos nos tripulantes que a concentração ne-
é a chamada “faina de arejamento de cessária para induzir sintomas alérgicos
colchões”. Nessa tarefa, os tripulantes do fique próxima de 10 µg de poeira com
navio retiram os colchões de seus aloja- alérgenos do grupo 1 (relacionado às fezes
mentos e os levam até o convés, de forma dos ácaros).
que sofram ação da luz solar por horas. A cama tem sido o local de maior expo-
Apesar de aparentemente simples, essa é sição a esses alérgenos, já que um terço de
uma tarefa extremamente complexa para nossa vida estaremos em contato direto com
ser conduzida num navio de grande porte, ela. Os níveis de alérgenos no ar ambiente
como um navio-aeródromo, por exemplo. são consideravelmente menores dos que os
Apesar de muito tradicional no meio naval, encontrados nas camas e, por conseguinte,
será que essa atividade é realmente efetiva nos colchões. Há, ainda, uma forte corre-
no controle de ácaros e fungos? É essa lação entre a cama e os níveis de ácaros
pergunta que norteará este artigo. domésticos como marcadores de severidade
da asma, reforçando a necessidade de cui-
Doenças Alérgicas dados de higiene nesse ambiente.
Estima-se, por exemplo, que a cama
A incidência de doenças alérgicas (tam- de um casal contenha cerca de 2 milhões
bém chamadas atópicas) tem aumentado de ácaros e 60 milhões de bolotas fecais.
enormemente em todo o mundo. Já está Essas bolotas fecais ressecam, sobem no
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Arejamento de Colchões: O que a ciência nos diz?
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Arejamento de Colchões: O que a ciência nos diz?
months
coconut fiber kapok sponger svnthetic fiber
Regressão linear da população de alérgenos.
Coconut: Algodão; Kapok: sumaúma; sponge: poliuretano; synthetic: sintética
Adaptado de VISI TSUNTHORN E COLS, 2010
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Arejamento de Colchões: O que a ciência nos diz?
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Arejamento de Colchões: O que a ciência nos diz?
Bibliografia
ABIDIN, S. Z.; MING, H. T. “Effect of a commercial air ionizer on dust mites Dermatophagoides
pteronyssinus and Dermatophagoides farinae (Acari: Pyroglyphidae) in the laboratory”. Asian
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Estadual Paulista.
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TONIOLO, J. F. M. Uma análise das normas brasileiras de habitabilidade e segurança para os alo-
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Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo para a obtenção do título de mestre
em Arquitetura e Urbanismo.
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WU, F.; TAKARO, T. K. “Childhood asthma and environmental interventions”. Environmental health
perspectives, v. 115, no 6, p. 971-5, jun. 2007.
232 RMB1oT/2015
ARTIGOS AVULSOS
Número de páginas: 14
Identificação: AV 060/15 – RMB 1o/2015
CIR: <pSICoSSoCIAL>; Psicologia; Psicanálise;
O artigo tem como propósito debruçar-se sobre pontos de contato entre desejo,
sonho e inconsciente na teoria psicanalítica fundada pelo médico neurologista austríaco
Sigmund Freud (1856/1939). O texto é dividido em três partes. Na primeira, expõe-se uma
breve etimologia do termo Wunsch, palavra alemã, língua nativa de Freud. Na segunda,
apresenta-se como esse importante termo opera na psicanálise. Por fim, na última parte,
cita-se o sonho emblemático de Freud denominado “Sonho de Irma”, que foi analisado pelo
próprio Freud – e também pelo seu célebre leitor Jacques Lacan – com o intuito de ratificar
a afirmação de que “o sonho é a realização de um desejo inconsciente”.
CARTAS DOS LEITORES
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CARTAS DOS LEITORES
236 RMB1oT/2015
CARTAS DOS LEITORES
Exército americano, por heroísmo extraor- Conheci o nosso herói já no ocaso de sua
dinário em ação, distinção máxima somente vida. Era um bravo. Foram muitos sábados
concedida a este combatente brasileiro...” e domingos de intermináveis conversas.
O destino, que no passado não permitira Jamais o Major Apollo admitiu o seu hero-
ao jovem Apollo a realização do sonho de ísmo. Pessoa simples, culta e educada, era,
ingressar na carreira militar pela Escola do sobretudo, um gentleman. Absorvi, voraz
Realengo, ainda haveria de, novamente, e intensamente, cada relato de suas ações
pregar-lhe outra peça. na guerra. O Exército
A tão sonhada car- era realmente a sua
reira, que finalmente Seus pés não resistiram paixão. E a Pátria, o seu
lhe chegara não pela bem maior. Ficamos
via da Escola Militar,
ao esforço do combate amigos, o que me enche
mas pelo CPOR e pela e ao congelamento nas de orgulho e gratidão.
própria guerra, como trincheiras da Itália. A nação, na tristeza
também, e principal- daquele 21 de janeiro
mente, por sua bravura O Exército era realmente a de 1999, perdeu um
e eficácia no cumpri- sua paixão. E a Pátria, o seu filho exemplar. E o
mento do dever, seria Exército viu partir um
interrompida precoce-
bem maior de seus grandes guer-
mente. Seus pés planos reiros. A filha Nádia
não resistiram ao esforço do combate e ao comunicou-me o falecimento do pai pela
congelamento nas trincheiras da Itália. O manhã, bem cedo. Desloquei-me rapida-
Capitão Apollo, em 12 de dezembro de mente para a sede do Conselho Nacional de
1957, aos 39 anos, depois de 20 anos no Oficiais da Reserva, no quartel do CPOR/
Exército, foi julgado inapto para o serviço RJ, de onde fiz os contatos relativos ao
ativo e reformado no posto de major. passamento do Major Apollo. Enviei um
necrológio aos jornais,
avisei ao Centro de Co-
municação Social do
Exército (CeComSEx),
aos comandantes do
Regimento Sampaio e
do Batalhão de Guar-
das – onde ele servira
no após guerra –, bem
como à Embaixada
dos Estados Unidos,
já que era ele detentor
de duas condecorações
americanas. Informei
também à Comunicação
Social da Presidência
da República e aos go-
vernos estadual e muni-
cipal do Rio de Janeiro.
RMB1oT/2015 237
CARTAS DOS LEITORES
* Presidente do Sistema CNOR, historiador e membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil e da
Academia Brasileira de Defesa. É diretor de Cultura e Civismo da Associação Nacional dos Veteranos da
FEB e vice-presidente do Conselho Deliberativo da entidade.
238 RMB1oT/2015
necrológio
A RMB expressa o pesar às famílias pelo falecimento dos seguintes colaboradores e assinantes:
AE (FN) Coaraciara Brício Godinho 22/09/1932 † 23/12/2014
CA José Pardellas 19/03/1925 † 01/10/2014
CA Sergio Roberto Castro Oliveira Queiroz 05/12/1931 † 18/09/2014
CMG Alex Hennig Bastos 21/06/1929 † 19/01/2015
CMG Maurício Coutinho Ferreira Gomes 02/03/1936 † 10/02/2015
CMG Mário Moutinho de Carvalho 22/01/1937 † 16/01/2015
CMG Paulo Roberto Barbosa 05/03/1948 † 20/10/2014
Almirante coaraciara
Conheci o Almirante de Esquadra (FN) confirmar a impressão que tivera oito
Coaraciara Brício Godinho quando, em 1978, anos antes. Estive na função de AjOrd
ainda um jovem tenente, apresentei-me para e, posteriormente, de assistente, até o
servir no Batalhão de Infantaria de Fuzileiros início de 1990, quando embarquei para
Navais, Batalhão Paissandu, Organização a América Central com a finalidade de
Militar esta comandada pelo então Capitão de exercer a função de observador militar
Mar e Guerra (FN) Coaraciara. junto à Organização das Nações Unidas.
Em que pese o curto período de convi- Os quatro anos de convivência diária com
vência, apenas seis meses, pois o oficial o comandante-geral trouxeram-me muitos
passou o comando logo depois, percebi ensinamentos e me possibilitaram acres-
que estava diante de um militar de breves centar as qualidades que já conhecia a
palavras e risos, comedido e com inúmeras outras, como: autenticidade, senso de
outras qualidades profissionais e pessoais justiça e, principalmente, dedicação
nas quais me espelharia no decorrer de integral e amor incondicional para com
minha carreira. a Marinha do Brasil. Além disso, tive
Sem muito contato pessoal devido a o privilégio de assistir a várias realiza-
sua saída do Batalhão Paissandu, acom- ções importantes para o CFN, fruto do
panhei de longe a carreira do meu antigo seu preparo profissional, tais como: a
comandante nas funções de chefe do negociação para aquisição do Navia de
Estado-Maior do Comando da Divisão Desembarque-Doca Ceará, tarefa que o
Anfíbia (DivAnf) e, já como almirante, a de então ministro da Marinha, Almirante
comandante da DivAnf e a de comandante Saboia, incumbiu-o de realizar junto
da Força de Fuzileiros da Esquadra (FFE), ao comandante do Corpo de Fuzileiros
o mais alto cargo operativo do Corpo de Navais americano a criação do Curso de
Fuzileiros Navais (CFN). Aperfeiçoamento de Oficiais; a cerimônia
Foi com entusiasmo que, em novembro militar alusiva aos 180 anos do CFN,
de 1986, recebi o convite do Almirante com a presença do então Presidente da
Coaraciara para ser seu ajudante de ordens República, a qual, por sua magnitude e
(AjOrd) quando o mesmo assumiu o mais originalidade, considero um ponto de in-
alto cargo da carreira, o de comandante- flexão nas cerimônias militares no CFN;
-geral do Corpo de Fuzileiros Navais. a aquisição e o recebimento dos primeiros
O estreito relacionamento profissional, Carros Lagarta Anfíbio (CLAnf) que,
e até mesmo pessoal, entre um almirante indubitavelmente, colocaram a Força de
e seu ajudante de ordens possibilitou-me Fuzileiros da Esquadra em novo pata-
240 RMB1oT/2015
NECROLÓGIO
mar; e muitas outras. Porém gostaria de Acredito, pensei comigo, que a cons-
destacar uma que considero especial: a ciência do dever bem cumprido e a pos-
confecção e publicação do CGCFN-01 – sibilidade de poder usufruir com mais
Fundamentos das Operações Terrestres. intensidade e despreocupação do convívio
Como seu assistente, fui testemunha do familiar e dos amigos foram os fatores
importante trabalho levado a cabo pelo principais dessa transformação.
então comandante-geral quando, de pró- Afastado do convívio da caserna e usu-
prio punho, e em meio às diversas respon- fruindo agora do relacionamento exclusi-
sabilidades inerentes ao cargo, elaborou, vamente pessoal, pude conhecer um outro
nos seus poucos momentos de descanso, lado do caro chefe. Com o passar do tempo
a versão original do citado Manual, sen- e, principalmente, com a chegada dos netos,
do este o precursor dos manuais da série o relacionamento, antes estritamente pro-
CGCFN e, por que não dizer, o embrião fissional, passou a ser familiar e ainda mais
do nosso Centro de Desenvolvimento agradável. Tive a oportunidade de, com
Doutrinário do Corpo de Fuzileiros Navais minha família, desfrutar de excelentes mo-
(CDDCFN), Organização Militar impor- mentos com o Almirante Coaraciara e seus
tantíssima para a FFE. Tal desprendimento familiares, momentos estes que forjaram
e dedicação até hoje me motivam. uma sólida amizade que, mesmo com seu
Quando regressei da missão na América passamento, perdurará por muito tempo.
Central, encontrei o antigo chefe já na re- A exemplo disso, seu neto, o jovem Luiz
serva, uma vez que passara o Comando do Felipe, veio almoçar comigo no Comando
CFN para o Almirante de Esquadra (FN) da FFE e conversamos longo tempo sobre
Luiz Carlos da Silva Cantídio em novembro o saudoso almirante, amigo e avô.
de 1990. Percebi, já no primeiro contato,
que o almirante estava com semblante mais Washington Gomes da Luz Filho
tranquilo, sereno e bem mais falante. Vice-Almirante (FN)
RMB1oT/2015 241
NECROLÓGIO
em 31/8/1976 e a contra-almirante em
31/7/1983. Foi transferido para a Reserva
Remunerada em 21/3/1987.
Em sua carreira exerceu três comandos:
Contratorpedeiro Maranhão, Primeiro Es-
quadrão de Contratorpedeiros e Força de
Contratorpedeiros.
Comissões: Navio-Escola Almirante
Saldanha, Navio-Escola Duque de Caxias,
Navio-Hidrográfico Camocim, Comando da
Força de Contratorpedeiros, Navio-Tender
Belmonte, Contratorpedeiro Amazonas, Es-
cola de Aprendizes-Marinheiros de Pernam-
buco, Comando da Força da Patrulha Costeira
do Nordeste, Base Naval de Natal, Escola
Naval, Estador-Maior da Armada, Comando
da Força de Minagem e Varredura, Comissão
Naval Brasileira em Washington, Diretoria
SERGIO ROBERTO CASTRO de Portos e Costas, Comando do Quarto
OLIVEIRA QUEIROZ Distrito Naval, Comando do Primeiro Distrito
Contra-Almirante Naval, Comando do Terceiro Distrito Naval,
Adido Naval no Chile, Comando-em-Chefe
Nascido em São Paulo, filho de Luiz da Esquadra, Secretaria-Geral da Marinha,
de Oliveira e de Rosalia Beatriz Gomes de Estado-Maior da Armada, Instituto de Proces-
Castro Queiroz. samento de Dados e Informática da Marinha
Promoções: a segundo-tenente em e Comando da Força de Contratorpedeiros.
10/1/1956; a primeiro-tenente em 10/7/1957; Em reconhecimento aos seus serviços,
a capitão-tenente em 10/7/1959; a capitão de recebeu as seguintes medalhas e condeco-
corveta em 27/3/1964; a capitão de fragata rações: Ordem do Mérito da Defesa – Grau
em 16/5/1969; a capitão de mar e guerra de comendador; Ordem do Mérito Naval
242 RMB1oT/2015
NECROLÓGIO
QUEIROZ
Nos vinte anos que passei na Revista seus Pesadelo e Azul e Vermelho. Este bem
Marítima Brasileira, tive o enorme prazer que merecia ir para o cinema ou televisão.
de almoçar na praça-d’armas dos Almi- Então a saúde de Queiroz começou a não
rantes, no 22o andar do Edifício Barão de cooperar com a sua vida e, assim, ele deixou
Ladário, Rio de Janeiro. a Procuradoria e o convívio do 22o andar.
O ambiente era ótimo: alegre, respeito- Tinha por ele uma amizade que me fazia
so, amigo e sem “segredos”, pois a maioria muito bem, mas, por outro lado, fazia-me
era contemporânea de Escola Naval. sofrer ver seu estado de saúde.
A conversa era de almirantes preocupa- As raízes de Queiroz eram paulistas e,
dos com os problemas de suas áreas, mas por isso, quando teve que deixar a Procura-
também havia dias em que a conversa era doria mudou de pouso e foi morar em São
de tenentes, leve e divertida. Paulo. Por este motivo, Queiroz entrou na
E foi neste ambiente fantástico que co- minha lista de pessoas que eu quero muito
nheci verdadeiramente Queiroz, e nele con- bem e a quem admiro e que fazem parte da
vivemos longos anos. Queiroz era uma figura minha sistemática do Relatório Natalino.
marcante. Atrás de sua aparência senhorial Plageando o Colégio Interamericano de
(pelo menos para mim, que não o conhecia Defesa, nesta sistemática, por ocasião do
antes) era uma pessoa alegre, amistosa e culta. Natal, envio cartas em que conto o que se
Com o tempo, nasceu uma amizade muito passou comigo e com os meus no ano que
agradável, e eu, além disso, tinha uma admira- está findando e me delicio com as respostas
ção muito grande pela sua inteligência, capaz e comentários.
de nos presentear com dois livros editados: E, então, nossos papos evoluíram do
Pesadelo no Mar e Azul e Vermelho no céu do período anual para frequentes, com troca
Caribe. Ambos de leitura fácil e interessantís- de emails, com sua esposa, D. Maria Santa,
sima, cheios de situações de grande suspense, o que funcionou, a princípio, como instru-
prendendo a atenção do leitor. mento de ligação com Queiroz. Hoje, eu e
Gostei mais do Azul e Vermelho, que ela mantemos troca frequente de emails, o
conta as aventuras de um diplomata brasi- que me faz sentir que Queiroz ainda está
leiro, um verdadeiro “mocinho” dos filmes vivo entre nós, seus amigos.
de Holywood, um verdadeiro 007 nacional, Minhas eternas saudades.
que não perdia em nada para o 007 inglês.
Pela aparência do Queiroz, jamais pode- Luiz Edmundo Brígido Bittencourt
ria supor que ele tivesse jeito para escrever Vice-Almirante (Refo)
ALMIRANTE QUEIROZ
O Almirante Queiroz era um homem bom humor que, aliado à sua competência
muito inteligente. Tinha uma persona- e à sua liderança, esta exercida de forma
lidade marcante, pois possuía um sadio sempre educada e discreta, o fazia res-
RMB1oT/2015 243
NECROLÓGIO
peitado e, sobretudo, admirado por seus Meu pedido foi atendido, pois, alguns
subordinados. anos após, fui nomeado comandante do CT
Tive o prazer de passar a conhecê-lo Sergipe, tendo o CMG Queiroz como co-
mais de perto quando, ainda capitão de mandante do 1o EsqdCT. Em quase um ano
fragata, exercia seu comando do Contra- sob seu comando, tornei-me ainda mais seu
torpedeiro (CT) Maranhão. Nessa época, admirador e amigo. Ele era um comandante
eu era o mais antigo dos então imediatos de Esquadrão que não interferia nos assuntos
de contratorpedeiros. Fui designado pelo internos do navio, deixando seu Capitão de
comandante do 1o Esquadrão de Contra- Bandeira (que tive a honra de ser durante a
torpedeiros (1oEsqdCT) para ser o encar- maior parte de seu comando) inteiramente à
regado de um Inquérito Policial Militar vontade. Nas inúmeras comissões que fize-
(IPM) a bordo do CT Maranhão. Passei a mos juntos, sempre exerceu sua liderança de
conviver diariamente com o CF Queiroz, forma plena, transmitindo seus exemplos de
colocando-o sempre a par do desenvolvi- correção moral, competência e inteligência
mento do IPM, e pude começar a sentir o em todos os momentos, sendo sua presença
quanto ele sabia o que fazia e como lide- a bordo sempre prazerosa. Foi, assim, um
rava seus comandados. Pude, ainda, me excelente chefe, e foi um privilégio tê-lo
valer de seus conhecimentos, pois o então como comandante de meu Esquadrão.
Comandante Queiroz sempre foi um expert Sua promoção a contra-almirante não se
em Informações. constituiu em surpresa, pois seus predica-
Passado um ano, fui cursar o Curso de dos o encaminhavam direta e naturalmente
Comando e Estado-Maior (C-CEM) na ao Almirantado.
Escola de Guerra Naval (EGN), ao final Não mais servimos juntos. Todavia, a
do qual fui designado para continuar na amizade construída durante a carreira se
EGN como instrutor. Para minha felici- solidificou, e algumas vezes tivemos o
dade, fui para a Área de Jogos de Guerra, prazer de nos visitarmos mutuamente.
cujo encarregado era o Capitão de Mar e Senti profundamente seu falecimento.
Guerra (CMG) Queiroz. Pude então, sendo Todavia, tenho a certeza de que seu exem-
seu assessor imediato, conhecê-lo melhor, plo como pessoa humana e como oficial de
constatando sua inteligência, sua perspicá- Marinha frutificou, e ele deve ser lembrado
cia e, sobremaneira, sua liderança no trato com carinho e admiração por todos aqueles
sempre educado e bem-humorado com seus que tiveram o privilégio e a honra de terem
subordinados. Aprendi muito com ele e, sido seus subordinados. Que Deus o tenha
quando de seu desembarque da EGN, a fim acolhido e o envolvido em Sua intensa luz!
de exercer a Chefia do Estado-Maior do 3o
Distrito Naval, desejei ter a oportunidade Egberto Baptista Sperling
de servir novamente sob suas ordens. Capitão de Mar e Guerra (Refo)
244 RMB1oT/2015
O LADO PITORESCO DA VIDA NAVAL
* Extraído do livro A Marinha Pitoresca, de Helio Leoncio Martins, Decio de Oliveira Guimarães e Augusto
Cesar da Silveira Carvalhêdo.
O LADO PITORESCO DA VIDA NAVAL
GINGILIM
Gergelim – bolo, farinha ou paçoca Mas e o nome?
em que entra semente de gergelim (ver: As discussões começavam e ameaçavam
gingerlim e zirzelim). Aurélio Buarque se prolongar indefinidamente quando um
de Holanda Ferreira, Novo Dicionário da dos membros daquela diretoria, cearense,
Língua Portuguesa, 1975. lembrou-se de um nome de sua infância,
Perdoe-me o mestre Aurélio, mas em o nome de uma deliciosa paçoca que ele
seu completo, ou quase completo, dicioná- conhecia como gingilim.
rio falta uma variante de gergelim, muito E esse foi, afinal, o nome escolhido
usada no Ceará e com um significado muito para o mascote que até hoje, por meio de
especial para nós na Marinha desde 1951, seus sucessores, traz a sorte aos alunos do
quando chegou ao Colégio Naval sua pri- colégio quando das competições esportivas.
meira turma. Decidiu-se também que, para motivar
Instalados em Angra, começou a orga- e interessar a turma, o assunto ficaria em
nização comunitária dos alunos. Fundou-se segredo e uma campanha seria desfechada
um grêmio, escolheu-se o nome da revista, anunciando a chegada do Gingilim, sem, no
organizaram-se as equipes esportivas, foi entanto, divulgar do que se tratava.
eleita a primeira diretoria do grêmio. E os quadros-negros das salas de aula
Numa das reuniões iniciais, decidimos passaram a aparecer com os dizeres “Gin-
que a escolha de um mascote era mandató- gilim vem aí”, o que, pela repetição, acabou
ria, para que os bons fluidos se espargissem por despertar curiosidade da turma. Identi-
sobre nossas equipes quando de confrontos ficados os “gizadores”1 como membros da
externos. diretoria do grêmio, quase todos entre os
O consenso de que o mascote – a exem- mais antigos da turma, começaram eles a
plo do Brekelé, da Escola Naval – deveria ser assediados.
ser um pato branco foi logo obtido. A ele “Gingilim são os uniformes que vão
se chegou rapidamente. chegar?”2, perguntavam uns.
246 RMB1oT/2015
O LADO PITORESCO DA VIDA NAVAL
RMB1oT/2015 247
DOAÇÕES À DPHDM
SETEMBRO A DEZEMBRO DE 2014
DEPARTAMENTO DE BIBLIOTECA DA MARINHA
DOADORES
ALEMANHA
Naval Forces International Forum for Maritime Power – no 35 (periódico – 2014)
La Armada em el Conflicto de Paquisha – livro/2014
ARGENTINA
Mercosul un Atlas Cultural, Social y Economico – livro – 1997
Crucero Escuela la Argentina – folheto
AUSTRÁLIA
Australian Submarine Corporation – folheto
Collins the Logistic Solution – livro
Naval Forces – International Forum for Maritime Power – periódico
Collins the Logistic Solution – periódico
DOAÇÕES E PERIÓDICOS RECEBIDoS
BÉLGICA
Lisbolo na Bisu – livro – 2010
COREIA
International Journal of Intangible Heritage – v. 4 – periódico
ESPANHA
Revista de História Naval – v. 32, no 127
Las Operaciones Anfíbias – livro
La Actividad Naval Militar Influencia em su Entorno – livro – 1991
El Crucero em la Armada Española – livro – 1993
La Sanidad Naval Española Historia y Evolución – livro – 1995
ESTADOS UNIDOS
Scientific American – v. 281, no 3, set. (periódico/1999); v. 286, no 1, jan. (periódico/2002);
v. 286, no 3, fev. (periódico/2002); v. 14, no 3 special edition (periódico/2004);
v. 290, no 3 mar (periódico/2004); v. 291, no 4, out. (periódico/2004); v. 292,
no 2 fev. (periódico/2005); v. 292, no 6 jun. (periódico/2005); v. 293, no 2, ago.
(periódico/2005); v. 294, no 2, fev. (periódico/2006); v. 3081, no 4, out. (periódi-
co/2009); v. 10, no 2 (periódico); v. 310, no 1, jan. (periódico/2014); v. 311, no 2,
ago. (periódico/2014)
Contents – livro
Warships for the World – livro/1994
ANalytical Mechanics for Engineers – livro/1958
New Analytic Geometry – livro
Applied Hydro and Aeromechanics – livro/1934
Dictionary of Military and Naval Quotations – livro
Home of the Commandants – Marine Barracks, Washington, DC – livro
Archaeology – may/jun – periódico/1998
Discovering Archaeology – mar/abr. (periódico/2000)
Archaeology – may/jun – periódico/2002)
Problems e Answers in Navigation e Piloting – livro/1978
Yacht Design Detils – livro/1989
Chris Craft for 1950 – folheto
Materials Handling Equipment – livro
FRANÇA
Sciense Illustrée – v. 12, no 127, abr. (periódico/2000)
La Revue Maritime – no 488 – periódico/2009
Sciences et Avenir – abr. periódico/2004
Noveauu Traité Elementaire de Perspective a L’usage des Artites – livro/1823
HOLANDA
Revista Europea de Estutios Latinoaericanos y del Caribe – no 97, out./2014
RMB1oT/2015 249
DOAÇÕES E PERIÓDICOS RECEBIDoS
INGLATERRA
Surikov – livro
Ministry of Defence Government Contracts – livro/1992
Modern Combat Ships 4 – Type 22 – livro/1986
The International Psycho-Analytical Library – no 6, livro/1967
The Shipmanagers Register – livro/1996
The Standard Steamship Owners Protection and Indemnity Association (bermuda)
Limited 1987-1988 – livro
PORTUGAL
Breves Memórias do Espaço e do Tempo – livro/2010
Revista de Marinha – v. 78, no 983, jan./fev. 2015
BRASIL
Oficial de Quarto – livro/2014
Anuário Estatístico da Marinha – no 38 (periódico/2010); no 39 (periódico/2011); no 40
(periódico/2012); no 41 (periódico/2013);
O Rio Pelo Alto 1930-1940 – livro/2014
CNT – Transporte Atual – v. 20, no 230, nov./2014 (periódico)
Marinha em Revista – v. 3, no 7, abr. (periódico/2012)
SIPM – v. 1, no 1, 2014 (periódico/2014)
Descobrimentos Diário de Notícias 2a Edição – periódico/1992
Revista do Exército Brasileiro – no 136, Especial (periódico/1999)
CAT Revista Militar de Ciência e Tecnologia – v. 13, 4o trimeste (periódico/1996); v.
23, 4o trimeste (periódico/1996)
Revista da Escola de Guerra Naval – no 13, jun. (periódico/2009)
História Viva Grandes Temas – Edição Especial no 14 (periódico); no 15 (periódico)
Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – no 26 (periódico/1997)
PROLIM – Programa Olímpico da Marinha – no 2, nov. (periódico/2014)
Âncora Social – v. 7, no 7, dez. (periódico/2014)
Marquês de Tamandaré, Patrono da Marinha (seu perfil histórico) – livro/1982
Atlas dos Monumentos Históricos e Artísticos do Brasil – livro/1975
13o Curso de Engenharia de Segurança no Trabalho – livro
Relíquias Navais do Brasil – livro/1983
Icomam Rio 2008 – livro/2008
Microsoft Outlook 97 – Sem Mistério a maneira mais rápida e fácil de encontrar res-
postas – livro
Brasil: 60 anos de operações de paz – livro/2009
Brazil: 60 years of peacekeeping operations – livro/2011
Visão de um espectador – prefácios e apresentações – livro/2006
Biologia Celular – O fenômeno da vida a vida celular – livro/1980
Programação e controle da Produção – livro
Navios e de como eles singraram os sete mares – livro/1936
General Zenóbio da Costa e sua ação na Revolução Constitucional de São Paulo
1932 – Segunda Guerra Mundial – FEB e Polícia do Exército na Guerra e no
Pós-Guerra – livro/1999
250 RMB1oT/2015
DOAÇÕES E PERIÓDICOS RECEBIDoS
RMB1oT/2015 251
DOAÇÕES E PERIÓDICOS RECEBIDoS
252 RMB1oT/2015
DOAÇÕES E PERIÓDICOS RECEBIDoS
RMB1oT/2015 253
ACONTECEU HÁ 100 ANOS
ALMIRANTE MAURITY
(RMB, jan/1915, p. 1.165-1.179)
OS ACONTECIMENTOS NAVAES
Trechos de Relatorio*
(De 18 de Novembro a 25 de Novembro)
(RMB, jan/1915, p. 1.187-1.203)
RMB1oT/2015 255
ACONTECEU HÁ CEM ANOS
256 RMB1oT/2015
ACONTECEU HÁ CEM ANOS
RMB1oT/2015 257
ACONTECEU HÁ CEM ANOS
258 RMB1oT/2015
ACONTECEU HÁ CEM ANOS
RMB1oT/2015 259
ACONTECEU HÁ CEM ANOS
260 RMB1oT/2015
ACONTECEU HÁ CEM ANOS
RMB1oT/2015 261
ACONTECEU HÁ CEM ANOS
OS ACONTECIMENTOS NAVAES
Trechos de Relatorio – De 1º a 6 de janeiro de 1915
(RMB, mar/1915, p. 1.577-1.590)
Capitão-Tenente Alvaro Porto
262 RMB1oT/2015
ACONTECEU HÁ CEM ANOS
RMB1oT/2015 263
ACONTECEU HÁ CEM ANOS
NAVIO DESTRUIDO
RESULTADO
Invincible – Atirando c/8 canhs. de 12” – apenas um homem morto
Indomitable – “ “ “ “ “ – nada soffreu.
Gneisenau – Atirando c/6 canhs. de 8”.2 – destruido.
Scharnhorst – “ “ “ “ “ – destruido.
264 RMB1oT/2015
ACONTECEU HÁ CEM ANOS
REVISTA DE REVISTAS
RMB1oT/2015 265
ACONTECEU HÁ CEM ANOS
266 RMB1oT/2015
ACONTECEU HÁ CEM ANOS
RMB1oT/2015 267
ACONTECEU HÁ CEM ANOS
268 RMB1oT/2015
ACONTECEU HÁ CEM ANOS
RMB1oT/2015 269
ACONTECEU HÁ CEM ANOS
NOTICIARIO MARITIMO
270 RMB1oT/2015
ACONTECEU HÁ CEM ANOS
Fonte: http://rio-curioso.blogspot.com.br/2007/07/ponte-da-ilha-das-cobras.html
N.R.: A ponte pênsil Almirante Alexandrino de Alencar unia, ao continente, a Ilha das Cobras, onde ficavam
o Hospital Central da Marinha, o Batalhão Naval e outros estabelecimentos navais. Foi inaugurada em 1915, e
levava o nome do ministro da Marinha que a mandara construir. Possuía um transportador volante que percorria
seus 288m de comprimento conduzindo cargas, e até 400 pessoas em pé.
Com a transferência do Arsenal de Marinha para a ilha e a construção de um novo Depósito Naval, a ponte
pênsil já não atendia às necessidades, razão por que foi necessário substituí-la, em 1930, pela ponte Arnaldo
Luz que permanece em serviço até os dias de hoje.
Na foto, pode-se ver as duas pontes, lado a lado.
RMB1oT/2015 271
ACONTECEU HÁ CEM ANOS
272 RMB1oT/2015
REVISTA DE REVISTAS
SUMÁRIO
(Matérias relacionadas conforme classificação para o Índice Remissivo)
ÁREAS
AMÉRICA DO SUL
América do Sul: situação das Forças Armadas (274)
ARTES MILITARES
ESTRATÉGIA
Aumentando o domínio submarino (274)
Uma estratégia marítima para a União Europeia (275)
ATIVIDADES MARINHEIRAS
BUSCA E SALVAMENTO
Um guia de Busca e Salvamento (SAR) para oficiais sênior (278)
FORÇAS ARMADAS
MARINHA DA ITÁLIA
A Marinha italiana - hoje e amanhã (279)
MARINHA DE ANGOLA
Angola adquire navios patrulha no Brasil (280)
MARINHA DE PORTUGAL
Portugal, o Mar e a sua Marinha (281)
REVISTA DE REVISTAS
274 RMB1oT/2015
REVISTA DE REVISTAS
A Rivista Marítima, uma equivalente da rítima Europeia. O assunto foi trazido à tona
nossa Revista Marítima Brasileira, trouxe graças à vice-ministra do Exterior da Itália,
uma contribuição do Contra-Almirante Mi- Marta Dassù, ao apresentar esta necessidade
chele Cosentino, colaborador daquela revista na reunião do Conselho Europeu, realizada de
desde 1987 e autor de vários livros sobre 19 a 20 de dezembro de 2013 em Bruxelas.
estratégia marítima, para o debate sobre a O propósito do artigo do almirante é
formulação da Estratégia de Segurança Ma- apontar um caminho para esta formulação,
* Graduou-se pela Accademia Navale italiana em 1978. É formado em Engenharia Naval e Mecânica pela
Universitá di Napoli. Serviu embarcado em unidades de superfícies e submarinas. Colaborador da Rivista
Marittima desde 1987.
** Resenha elaborada pelo Capitão de Mar e Guerra Carlos Alexandre Rezende de Sant’Anna, encarregado do
Setor de Relações Internacionais e Direito da Escola de Guerra Naval.
RMB1oT/2015 275
REVISTA DE REVISTAS
destacando o que deveria ser a diretriz de xiliar alguns estados africanos a desenvolver
desenvolvimento desta estratégia, os obstá- suas Marinhas –, além das ações da agência
culos a serem superados e os instrumentos Frontex, criada em 2004 e responsável pelo
para a superação. gerenciamento das fronteiras terrestres e
Na primeira parte, o Almirante Cosenti- marítimas da UE. Também se relacionam
no insere a segurança marítima como uma as outras formas de cooperação marítima
dimensão específica da política de seguran- que contam com a participação italiana, tais
ça e defesa comum aos estados europeus, como a Euromarfor, força marítima europeia
por meio de um caminho em paralelo à não permanente composta por França, Itália,
tutela da Organização Portugal e Espanha; a
do Tratado do Atlân- European Amphibious
tico Norte (Otan). Initiative; e a European
Ressalta-se que uma Carrier Group Interope-
dificuldade a ser su- rability Initiative, estas
perada foi a criação duas últimas visando
de uma estrutura de aumentar a interoperabi-
comando sem que lidade entre as Marinhas
ocorresse uma du- participantes.
plicação e redundân- O Almirante Cosen-
cia com elementos já tino compreende que
existentes, bem como esta estratégia maríti-
a preservação da au- ma não deve se limitar
tonomia diante do às Marinhas europeias,
aliado estadunidense. em especial à italiana,
Outras dificuldades e, portanto, deve levar
identificadas seriam em conta outras orga-
a complexidade do nizações e agências
cenário existente e a que atuam no mar, sem
necessidade de se es- limitar a atuação destas
tabelecer um sistema Marinhas aos espaços
militar tecnologicamente avançado. marítimos europeus. Por fim, ele destaca as
Para o autor, todos esses obstáculos sur- lições aprendidas nas operações realizadas
gem quando se compara a estrutura da Otan e nos últimos dez anos pelas Marinhas e
as coalizões ad hoc promovidas pelos Estados guardas costeiras, bem como as agências
Unidos da América com a inexistência de um marítimas dos estados da UE. Operações
“exército” europeu permanente constituído. como a Active Endeavour, a Unified Pro-
Vale apontar que o autor não se posiciona tector, o patrulhamento ao largo da costa
contra ou a favor da criação desse Exército; sírio-libanesa, as operações antipirataria
só considera ser difícil sua implementação no Oceano Índico e a Mare Nostrum são
em razão da crise econômica atual. fontes desse aprendizado.
A segunda parte do artigo aborda as opera- A terceira parte do artigo se dedica à
ções de caráter naval de que a União Europeia identificação dos riscos e das ameaças à
(UE) está participando – a Operação Atalanta, Segurança Marítima para a UE. Sem contar
contra a pirataria na costa somaliana, e a Eu- com a pirataria, alvo da Operação Atlanta,
cap Nestor, sob a égide da Otan, que visa au- ele assinala três ameaças e dois desafios.
276 RMB1oT/2015
REVISTA DE REVISTAS
RMB1oT/2015 277
REVISTA DE REVISTAS
“Os riscos em Busca e Salvamento - Conheça seu time: O líder deve co-
(SAR, de search and rescue, em inglês) nhecer os componentes de sua equipe e se
são grandes, e líderes designados para fazer conhecido por eles. Visitas frequentes
encabeçar essas missões devem usar sua fortalecem esse relacionamento e poderão
experiência e treinamento e adotar postura pagar dividendos em momentos de tensão
para aprendizagem.” em que “o pessoal de serviço o acorde na
Por meio dessa afirmativa, que encabe- madrugada para dirigir um caso complexo”.
ça este artigo, os autores definem o tema - A realidade: “Antes de você se sentir
abordado, buscando apresentar observações verdadeiramente pronto para liderar um
e conselhos àqueles que podem, um dia, se caso SAR, um se apresentará a você. Todo
ver envolvidos em chefiar missões SAR caso SAR exige resposta.” Os autores
nas quais material e vidas humanas estarão recomendam atitude proativa e que nunca
em perigo. se hesite em lançar os meios necessários.
Assim, analisam a complexidade da Ficar engajado no caso, buscando fazer as
atividade, a possível falta de experiência perguntas adequadas com foco no objetivo
dos líderes envolvidos, o sistema SAR e nos possíveis danos são alguns dos con-
Internacional, as possibilidades de carreira selhos úteis apresentados.
que levam o oficial a assumir o cargo de - Pensamento crítico: Deve-se buscar
coordenador SAR e apresentam dez con- postura estratégica, com algum afastamento
selhos para obtenção
de eficiência:
- Pesquise: Os
autores defendem a
necessidade de que
se pesquise e estude
casos de Busca e Sal-
vamento passados, o
que pode incluir fil-
mes, documentários,
seriados e noticiários.
Por meio deles, afir-
mam, pode-se identi-
ficar detalhes e acer-
tos e erros de casos
passados que podem Centro de Comando do 1o Distrito da Guarda-Costeira dos EUA, em Boston,
durante o esforço SAR referente ao veleiro Cheeki Rafiki, a mais de mil milhas da
até mudar doutrinas. costa do país
* O CF Carroll é chefe de reação e exerce o cargo de coordenador de missão SAR; o Tenente Hieb é o chefe do
centro de comando e o SO Woodhead é oficial de serviço e coordenador de missões SAR, todos no US Coast
Guard Sector Boston.
278 RMB1oT/2015
REVISTA DE REVISTAS
da tática minuto a minuto da ação. “De- do acidente e buscar-se evitar que outros
senvolva a capacidade de observar o caso ocorram no futuro.
a partir de múltiplas perspectivas.” Filtre e - Grupo de pares: Por meio de um grupo
desafie cada teoria prevalente usando a sua de colegas, pode-se debater lições aprendi-
experiência, confie em seus instintos para das, doutrinas em vigor e aconselhar-se um
questionar ações em andamento, enfim, ao outro durante casos importantes.
adote pensamento crítico a todo o momento - Ensine: Contribuir dedicando tempo
– é a recomendação dos autores. e ensinamentos para a formação de coor-
- Comunicações (em três partes): Os denadores SAR futuros é o conselho final.
articulistas abordam diferentemente as co- Os autores finalizam asseverando que a
municações – com as unidades SAR, com complexidade e o dinamismo das missões de
a mídia em geral (Relações Públicas) e com Busca e Salvamento permitiram apresentar
as famílias dos envolvidos no caso. Impor- apenas um panorama abrangente da ativida-
tantes e úteis observações são apresentadas. de no artigo que elaboraram e recomendam
- Segurança marítima: É o complemento que cada um adapte essa visão à sua própria
do caso SAR. Deve ser identificada a causa ao assumir a função de coordenador SAR.
RMB1oT/2015 279
REVISTA DE REVISTAS
Segundo o artigo, os ministros da Defesa Os navios serão da classe Macaé, com 55,6
de Brasil e Angola, Celso Amorim e José m de comprimento, 9,3 de boca e calado médio
Lourenço, respectivamente, assinaram em de 2,5 m, deslocando cerca de 500 toneladas.
setembro passado, em Brasília, memorando A propulsão será feita por dois motores diesel
de entendimento que prevê a construção MTU, proporcionando velocidade máxima de
e fornecimento de sete navios-patrulha a 21 nós e raio de ação de 2.500 milhas náuticas.
Angola, no âmbito do Programa de Desen- Segundo a matéria, o armamento previsto
volvimento do Poder Naval – Pronaval – do constará de um canhão de 40 mm e de duas
país africano. peças de 20 mm e os navios serão tripulados
A coordenação do projeto será da por cinco oficiais e 30 praças.
Empresa Gerencial de Projetos Navais O artigo informa, ainda, que a Marinha
(Emgepron) e serão construídas quatro do Brasil apoiará logisticamente o projeto,
unidades no Brasil e quatro em An- formando e treinando as guarnições dos
gola, em estaleiro a ser construído em futuros navios, bem como o pessoal do
Cuanza-Sul. estaleiro que será construído.
280 RMB1oT/2015
REVISTA DE REVISTAS
RMB1oT/2015 281
NOTICIÁRIO MARÍTIMO
SUMÁRIO
(Matérias relacionadas conforme classificação para o Índice Remissivo)
ADMINISTRAÇÃO
BATISMO
Batismo, Mostra de Armamento e Transferência do NHoFlu Rio Branco (285)
COMEMORAÇÃO
70 anos da Tomada de Monte Castello (288)
Adidância de Defesa e Naval do Brasil em Portugal comemora centenário (288)
Almirante Leoncio completa centenário (289)
MB realiza Parada Naval em comemoração aos 450 anos do Rio de Janeiro (291)
CONTROLE DE QUALIDADE
Laboratório clínico do AMRJ recebe avaliação excelente (292)
MENÇÃO HONROSA
Oficial-aluno do Curso de Aperfeiçoamento de Aviação para Oficiais recebe citação
por mérito excepcional (292)
POSSE
Assunção de cargos por almirantes (293)
Passagem de cargo de Comemch (293)
NOTICIÁRIO MARÍTIMO
PRÊMIO
BNVC recebe Prêmio Qualidade Brasil 2014 (297)
Navio de Socorro do Ano (297)
Prêmio Eficiência (297)
Troféus Dulcineca, Operativos e Positicon (298)
Vencedor do Prêmio Álvaro Alberto participa de Aciso no NAsH Carlos Chagas (298)
SOLENIDADE
Encerramento das atividades culturais de 2014 da DPHDM (299)
VISITAÇÃO
Navios da MB recebem visitantes em Paranaguá (306)
APOIO
ABASTECIMENTO
Transporte de cargas do SAbM por meio de cabotagem (307)
BASE NAVAL
Submarino Timbira é o primeiro a atracar na nova base naval em Itaguaí (307)
CONSTRUÇÃO NAVAL
Recebimento e transferência para o Setor de Ensino da Lancha de Emprego Geral
Média Rigel (308)
ÁREAS
ANTÁRTICA
CAMR restabelece Farolete Comandante Ferraz (308)
CONGRESSOS
EXPOSIÇÃO
Exposição “O Brasil e a Minustah: 10 anos em missão de paz no Haiti” (310)
SEMINÁRIO
I Seminário Internacional de Intendência (310)
EDUCAÇÃO
ENSINO PROFISSIONAL MARÍTIMO
MB forma primeiros marinheiros fluviais indígenas na Amazonas (311)
ESCOLA DE GUERRA NAVAL
Parceria acadêmica Brasil/França na área de recursos minerais marinhos (311)
ESPORTE
Recordista mundial de natação é incorporada à MB (312)
Resultados esportivos (312)
RMB1oT/2015 283
NOTICIÁRIO MARÍTIMO
FORÇAS ARMADAS
AVIAÇÃO NAVAL
Airbus Helicopters realiza ensaios para futura aeronave operacional da MB (313)
CORVETA
Corvetas classe Tamandaré receberão sistema mísseis Sea Ceptor (313)
SUBMARINO NUCLEAR
Amazul contrata Mectron para projeto do Sistema de Gerenciamento da Plataforma
IPMS (314)
PODER MARÍTIMO
APRESAMENTO
Embarcação pesqueira apresada é notificada pela DelSSebastião (314)
MARINHA MERCANTE
Operação inédita no porto de Santos (315)
ORGANIZAÇÃO
DHN assume a presidência do Programa Internacional de Boias para o Atlântico Sul (315)
DPC assume a Secretaria-Geral da Rocram (316)
PESCA
Instituto de Pesca lança site (317)
SEGURANÇA DA NAVEGAÇÃO
CAMR ativa sinal de auxílio à navegação na Ponte Rio-Niterói (318)
PSICOSSOCIAL
LANÇAMENTO DE LIVRO
Lançada a 9a edição da Revista de Villegagnon (319)
SISTEMAS
SISTEMA DE COMUNICAÇÕES
Casnav contribui para desenvolver módulo de segurança do projeto RDS (320)
284 RMB1oT/2015
NOTICIÁRIO MARÍTIMO
RMB1oT/2015 285
NOTICIÁRIO MARÍTIMO
286 RMB1oT/2015
NOTICIÁRIO MARÍTIMO
RMB1oT/2015 287
NOTICIÁRIO MARÍTIMO
288 RMB1oT/2015
NOTICIÁRIO MARÍTIMO
RMB1oT/2015 289
NOTICIÁRIO MARÍTIMO
Lembro, com afeto de menina, da sua chegar. De comprar uma casa de pescador
história de como roubou o coração da nossa na época que só se chegava lá de barco.
avó, voltando no fim da guerra um capitão- Eu ouvia essa história e te imaginava
tentente fardado, galã, finalmente conquis- navegante, meio de camisa listrada, calças
tando a loirinha da ‘beleza do diabo’ – isso rasgadas e sandália havaiana, chegando
você mesmo nos contou, aqui neste clube, de canoa, descendo na praia e avistando
anos atrás, na celebração dos 50 anos de a casinha, como naqueles filmes de ilha
casados. Lembro, sem muito gosto, do meu deserta. Sei que não deve ter sido assim,
primeiro coração partido, e você rindo e me mas esse é o impacto das suas histórias.
dizendo que a juventude era linda. Não pare- Você nos teletransporta.
cia nada linda naquele A sua segunda fa-
momento. mília é a Marinha,
Lembro das histó- e dela quase nunca
rias que você já contou tivemos ciúmes. Só
da nossa história, de um pouco, mas sabe-
você me buscando na mos que seu coração
escola em Londres e eu é grande, e cabem
te estranhando, de você ambos. Afinal, ela
conhecendo meu pai, quase nos ganha em
e dos outros primos. quantidade de histó-
Do Erick, o bebê de rias. Ela certamente
um milhão de dólares. empata em quantida-
Do Breninho, o me- de de homenagens.
nino que negociava Da Ângela, ouvi-
botões no colégio. Da mos intermináveis
Daniella, a moça mais elogios, do Centro
linda do pedaço. Sobre de Documentação,
mim, a inglesinha que do Clube Naval, de
cantava Xuxa. Dos outros lugares, uma li-
seus filhos, que você gação quase religiosa.
ama tanto e que te lou- E, afinal de contas,
vam, literalmente. Dos a Marinha é um filho
seus sobrinhos, que Almirante Leoncio com sua neta Gabriela (esq.) e a presente, não podemos
você trata como filhos filha Vitória Davies reclamar. Estamos
também. E hoje você com eles aqui hoje!
conta de filhos, netos, bisnetos, sobrinhos, Adoramos ir às cerimônias, aos lançamentos
sobrinhos-netos, para quem puder ouvir. de livros, sermos reconhecidos e elogiados
Uma das histórias que você mais conta, por sermos da ‘família do Almirante’. Se
marinheiro querido, é da casa de Mam- você se orgulha em contar que, hoje em dia,
bucaba. Nossa casa de praia, sonho de almoça com colegas 40 anos mais novos,
família, que foi seu sonho e sua conquista. imagina nós. Nisso também, você chegou
Não bastava Angra dos Reis. Você queria onde quase ninguém consegue.
mais longe. E nos conta de navegar a Costa Temos o prazer de ter um avô que saiu
Verde toda por dois anos, até encontrar a esta semana no blog da Lu Lacerda. Que
praia perfeita. Onde ninguém conseguia sabe sobre os 149 caracteres do Twitter.
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do a integridade física da
tripulação, do equipamento
e das pessoas e instalações
que se encontravam em solo.
De acordo com a citação
concedida, a “grandeza do
ato praticado enalteceu a
elevada vocação operativa
dos ‘Homens do Mar, no Ar’
junto à Marinha do Brasil, à
FAB e ao próprio Brasil”. Comandante da Força Aeronaval, Contra-Almirante Carlos Alberto Matias,
(Fonte: www.mar.mil.br) discursa em cerimônia de homenagem ao Primeiro-Tenente Aquino
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PRÊMIO EFICIÊNCIA
Foram entregues em 5 de março últi- Foram os seguintes os agraciados em
mo, a bordo do Navio de Desembarque de cada comando: Comando da Força de
Carros de Combate Almirante Sabóia, por Superfície e Comando do 2o Esquadrão de
ocasião da cerimônia alusiva ao aniversário Escolta – Fragata Greenhalgh; Comando
do Comando da Força de Superfície, os do 1 o Esquadrão de Escolta – Fragata
certificados concedidos aos navios vence- União; e Comando do 1o Esquadrão de
dores do Prêmio Eficiência 2014. O Prêmio, Apoio – NDCC Almirante Sabóia.
criado em 4 de janeiro de 2013 por aquele Os navios outorgados com o Prêmio Efi-
Comando, tem como propósito homena- ciência, além de receberem um certificado,
gear anualmente os navios que mais se podem ostentar o símbolo “E” pintado na cor
destacarem nos níveis de aprestamento e de branca nas asas do passadiço, até a cerimônia
comprometimento com a sua prontificação de entrega deste prêmio no ano seguinte.
para o combate. (Fonte: Bono no 147, de 4/3/2015)
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Carlos Arthur da Silva Moura ingressou George Cals de Oliveira deixou, no iní-
na Escola Naval em 1931. Quatro anos cio dos anos 30, uma vida confortável na
depois era promovido a segundo-tenente. cidade de Fortaleza, onde seu pai, Cézar
Especializado em Armamento, embarcou Cals, era prefeito, para ingressar na Ma-
em inúmeros navios da Esquadra. Contudo, rinha. Em 1935, atingia o primeiro posto
na Segunda Guerra Mundial, cursou Enge- do oficialato, segundo-tenente, servindo
nharia de Armamentos na Escola Técnica do no Encouraçado São Paulo e no Cruzador
Exército. Findo o conflito, serviu no Arsenal Bahia. Como capitão-tenente, concluiu,
de Marinha do Rio de Janeiro, na Fábrica de em 1944, o curso de Engenharia de Ar-
Artilharia da Marinha e junto à Embaixada mamentos na Escola Técnica do Exército,
do Brasil nos Estados Unidos. Em 1961, na Praia Vermelha, atual Instituto Militar
representou a Marinha no Conselho Nacio- de Engenharia. Ingressando no Corpo de
nal de Petróleo e, como capitão de mar e Engenheiros Navais, exerceu diversas
guerra, foi o assessor da Marinha na Escola funções no Arsenal de Marinha do Rio
Superior de Guerra. Retornou ao Arsenal de de Janeiro, servindo também na Comissão
Marinha como chefe do Departamento de Naval Brasileira em Washington, nos
Planejamento, o qual ajudou a reestruturar. Estados Unidos, e na Escola Superior de
Promovido a contra-almirante em 14 de Guerra. Foi diretor da Fábrica de Artilha-
janeiro de 1964, assumiu a Subdiretoria de ria da Marinha e do Instituto de Pesquisas
Engenharia Civil, atual Diretoria de Obras da Marinha, este de 24 de junho de 1964
Civis da Marinha. Naquele cargo, que ocu- a 16 de junho de 1966, quando pediu sua
pou até sua transferência para a Reserva, transferência para a Reserva. Contudo,
em 11 de março de 1965, empenhou-se nas continuou a exercer sua atividade profis-
obras de construção da Base Aérea-Naval sional como engenheiro na empresa Light
de São Pedro da Aldeia. Serviços de Eletricidade.
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Os avisos de instrução são navios utiliza- futuros oficiais, contribuindo para comple-
dos pela Marinha do Brasil para adestramen- mentar a formação marinheira dos aspirantes.
tos de navegação e de manobras táticas dos (Fonte: www.mar.mil.br)
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CAMR RESTABELECE
FAROLETE COMANDANTE FERRAZ
Com o propósito de recuperar o Faro- Moraes Rego (CAMR) embarcou, em 6 de
lete Comandante Ferraz, uma equipe do outubro último, em pleno verão antártico,
Centro de Sinalização Náutica Almirante no Navio de Apoio Oceanográfico Ary
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RESULTADOS ESPORTIVOS
OPEN CISM SWIMMING AND PA- e 4x200 m livre) e 3oSG André Daudt (4x100 m
RASWIMMING Medley, 4x100 m livre e 4x200 m livre);
Competição de natação realizada pelo – Medalhas de Prata: 3 oSG Juliana
Conselho Internacional do Esporte Militar Marin (100 m peito, 200 m peito e 4x100
(Cism) de 2 a 6 de fevereiro último, na m Medley), 3oSG Dandara Mendes (50 m
cidade de Fontainebleau, na França. Os livre, 100 m borboleta e 4x100 m Medley),
atletas da Marinha do Brasil obtiveram os 3oSG Roberta Albino (50 m borboleta, 50 m
seguintes resultados: costas e 4x100 m Medley), 3oSG Guilherme
– Medalhas de Ouro: 3oSG Juliana Marin Roth (100 m livre) e 3oSG André Daudt
(50 m peito, 100 m Medley e 4x100 m livre), (50 m livre);
3oSG Dandara Mendes (4x100 m Medley), – Medalhas de Bronze: 3oSG Dandara
3oSG Roberta Albino (50 m livre, 100 m li- Mendes (50 m borboleta e 100 m livre) e
vre e 4x100 m livre), 3oSG Guilherme Roth 3oSG Guilherme Roth (50 m borboleta e
(50 m costas, 4x100 m Medley, 4x100 m livre 50 m livre).
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Delegações de Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Cuba, Equador, México, Panamá, Paraguai, Peru,
Uruguai e Venezuela compareceram ao evento
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