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ComForS

O Periscópio
Ano LXXI - Nº 71 - 2020

Operações de O recebimento A variação da


resgate e salvamento de materiais do pressão ambiental na
da marinha turca PROSUB na França fisiologia humana
Pág. 20 Pág. 84 Pág. 96 1
O Periscópio
EDITORIAL
CARTA DO EDITOR

2 O Periscópio
CARTA DO EDITOR
ComForS

Caro leitor, é com grande satisfação e - O trabalho deverá ser original;


orgulho que apresentamos a edição nº 71 da - O autor deverá encaminhar o trabalho
Revista “O Periscópio” com as atividades da com o seu nome, posto/graduação, OM em
Força de Submarinos. que serve e contatos de e-mail e telefônicos;
O Centro de Instrução e Adestramento - Os trabalhos deverão ser enviados
Almirante Áttila Monteiro Aché (CIAMA) eletronicamente, utilizando processador de
é responsável pela produção da revista desde texto “Writer”, configurados em folha tipo
sua primeira edição em 1962. Nosso objetivo A4, em espaçamento simples, fonte “Times
é divulgar as atividades desenvolvidas no New Roman”, tamanho 12, e com o máximo
ano anterior pela Força de Submarinos nas de seis (6) páginas de texto (contadas ainda
áreas de Submarino, Mergulho, Mergulho de sem figuras);
Combate, Medicina Submarina e Psicologia - Os artigos deverão ter imagens que
de Submarino e disseminar os conhecimentos ilustrem e enriqueçam os assuntos, anexadas
obtidos em intercâmbios, cursos e estágios no ou inseridas no próprio texto. Contudo, é
exterior pelos militares. importante ressaltar que as fotos deverão vir
Este periódico é registrado na Biblioteca em arquivos separados na resolução abaixo
Nacional sob o número de ISSN 1806- indicada, evitando, assim, problemas durante
5643, com periodicidade anual, gratuita e a diagramação;
nos formatos impresso e digital. Os anos - As fotos, gráficos ou ilustrações deverão
anteriores também estão disponíveis em meio ter a resolução mínima 300 DPIs nos formatos
digital na página do CIAMA. “JPG” ou “TIFF”, a fim de permitirem a sua
Aproveitamos a oportunidade para publicação;
agradecer aos colaboradores e autores que - A inclusão do trabalho na revista implica
dedicaram o seu tempo para tornar esta edição na cessão ao CIAMA e, consequentemente
possível. Esperamos manter esta parceria nos à Marinha do Brasil, de todos os direitos
próximos anos! de utilização dos textos e imagens enviados,
Se você deseja ser um autor da revista para divulgação das atividades da instituição,
divulgando uma experiência ou descoberta inclusive em sítios da Internet; e
sobre as atividades de Submarino, Mergulho, - Poderão enviar artigos os militares da
Mergulho de Combate, Medicina Submarina, MB e de outras Forças, da ativa e veteranos,
Psicologia de Submarino ou outro tema de oficiais de Marinhas amigas e de Forças
caráter científico-militar, envie seu artigo e Armadas estrangeiras, além de funcionários
fotos para adriana.carvalho@marinha.mil.br civis da MB e leitores da sociedade civil.
ou nosso endereço Ilha de Mocanguê Grande
S/N - Ponta D´areia - Niterói-RJ CEP.: Contato no expediente da revista adriana.
24.040-300. Seu trabalho será analisado pelo carvalho@marinha.mil.br
Conselho Editorial e, ao ser aprovado, estará
na próxima edição. USQUE AD SUB ACQUAM NAUTA
O regulamento do concurso é divulgado SUM!
em Boletim de Ordens e Notícias – Especial
da Diretoria de Comunicações e Tecnologia Adriana Carvalho dos Santos
da Informação da Marinha, e consiste Primeiro-Tenente (RM2-T)
basicamente nas seguintes regras: Editora-chefe

O Periscópio 1
EDITORIAL
CARTA DO EDITOR

2 O Periscópio
ComForS

Caro leitor,

A revista “O Periscópio” teve sempre por


objetivo discutir temas relacionados à atividade
abaixo d’água. Ao longo de mais de 70 anos
de existência, tornou-se um repositório de
conhecimentos, registrando, na linha do tempo
da Força de Submarinos, sua evolução centenária.
Esse desenvolvimento é identificado sob
vários vieses, entre eles o operacional, o logístico,
o humano e o nuclear. Mas chama cada vez mais
atenção o crescente viés acadêmico dos artigos,
que evidencia a maturidade da publicação, lhe
garantindo robustez e credibilidade como fonte
de informação.
A Força de Submarinos passa por momento Tropa especial, para quem a tecnologia empresta
histórico, começando a receber os primeiros significativo ganho operacional, é sempre
produtos do PROSUB: a Base de Submarinos da motivo de atenção num mundo de conflitos
Ilha da Madeira, no meio de 2020; e o Submarino em ambiente difuso. Os MEC discutem sua
Riachuelo meses mais adiante. O Navio de realidade, lhe levando a um ambiente muito
Socorro de Submarino Guillobel, incorporado interessante pela proximidade com o cotidiano.
em maio, também faz parte desse contexto, A medicina hiperbárica segue apresentando
mostrando maior versatilidade quando pronto como o homem é afetado fisiologicamente pela
também para operar em águas geladas. pressão atmosférica, e como pode usá-la em
Os artigos lhe mostrarão justamente a seu favor. Essa área permeia todos os ramos
efervescência de Mocanguê Grande! Revelarão da operação submarina. Como a medicina, a
o desenvolvimento do PROSUB, no momento psicologia vem expandindo suas atividades.
em que discutem processos técnicos, logísticos Mergulhando conosco, vem descobrindo
e de Gestão do Conhecimento, inegavelmente, como melhor somar à atividade da Força de
darão exemplo do avanço da tecnologia nuclear Submarinos, mas, principalmente, como nos
produzida no âmbito do Programa Nuclear da melhor preparar para os desafios do futuro.
Marinha. Vivemos uma realidade fascinante, que causa
Nossos submarinistas, envoltos nessa constante curiosidade. Envolta nas brumas
sensação de evolução, mergulham no mundo de Julio Verne, é atividade muito técnica,
para investigar como deveremos seguir rumo ao que demanda sacrifício e ousadia. Essa é a
futuro. Aqui também trazem à superfície os temas revista dos submarinistas, aqueles que operam
que julgaram relevantes à discussão, basicamente abaixo da superfície do mar, não interessa de
ligados à evolução de nossas doutrinas. O que maneira. São todos forjados no aço de
mergulho sempre foi tema da revista, muito Mocanguê Grande. Aproveite a leitura e venha
porque possui gama diversa de técnicas. A mergulhar com os Homens de Aço!
chegada do Guillobel pressuriza a discussão do
resgate de submarinos, que passará por evolução
pelas novas características e capacidades do novo
navio de socorro da Marinha. Thadeu Marcos Orosco Coelho Lobo
O Grupamento de Mergulhadores de Contra-Almirante
Combate nada sempre na onda tecnológica. Comandante da Força de Submarinos

O Periscópio 3
O Periscópio. – Ano 1, n.1 (1949) – . – Niterói, RJ : Comando da Força
de Submarinos, 1949- .
v. : il. ; 28 cm.

Anual.
ISSN 1806-5643
Editada pelo Centro de Instrução e Adestramento Almirante Áttila
Monteiro Aché.

1. Marinha. 2. Submarino. 3. Mergulho. 4. Operações especiais. 5.


Medicina submarina. 6. Psicologia de submarino. I. Comando da Força de
Submarinos. II. Centro de Instrução e Adestramento Almirante Áttila
Monteiro Aché.

CDD - 623.8257

Elaborado por Adriana Carvalho dos Santos - CRB7/6114

4 O Periscópio
O Periscópio Nosso pessoal, nossa força.
SUMÁRIO
Ano LXXI - Nº 71 - 2020 ISSN 1806-5643

O PERISCÓPIO
Revista Anual da Força de Submarinos, editada pelo Centro de Instrução
e Adestramento Almirante Áttila Monteiro Aché (CIAMA)
Ilha de Mocanguê Grande, s/n – Niterói/RJ – CEP 20.040-300
adriana.carvalho@marinha.mil.br OPERATIVO
VERSÃO ELETRÔNICA Vapor e radiação: ponderações no emprego do controle de
https://www.marinha.mil.br/ciama/sites/files/upload/periscopio_2020.pdf avarias para a segurança do submarino nuclear brasileiro ..................... 06
As opiniões, os fatos e as fotografias/imagens descritos nos artigos são de Curso de coordenador de forças de resgate .......................................... 12
inteira responsabilidade de seus autores e podem não coincidir com a opinião Operações de resgate e salvamento da marinha turca, um
do Comando da Força de Submarinos.
enfoque na intervenção ........................................................................ 20
DISTRIBUIÇÃO GRATUITA A atividade DAE no exercício de contramedidas de minagem da
Espanha – ESP MINEX 2019 ............................................................. 26
Nossa Capa: NSS Guillobel do dia da Incorporação à Marinha do Brasil e A esperança em meio às profundezas dos mares: o
Submarino Riachuelo durante teste na Base da Ilha da Madeira. desenvolvimento do escape e resgate submarino ................................... 38
ComForS
A importância da logística em apoio às operações especiais nas
O Periscópio atividades do GRUMEC ..................................................................... 46
Ano LXXI - Nº 71 - 2020

A evolução da arte operacional do GRUMEC a partir de


variáveis ambientais: desafios e oportunidades ..................................... 50
A Força Oceânica Estratégica (FOST) francesa .................................. 56
Curso de comandantes de submarinos na marinha da França
(COURCO-2019) ............................................................................... 60
Curso de comandante de submarino no Chile (CCOS 2019) .............. 70

CIÊNCIA E TECNOLOGIA
Operações de O recebimento A variação da
resgate e salvamento de materiais do pressão ambiental na
da marinha turca PROSUB na França fisiologia humana
Pág. 20 Pág. 84 Pág. 96 1
O Periscópio

Indicador via rádio de posicionamento de emergência submarina


Thadeu Marcos Orosco Coelho Lobo (SEPIRB) uma útil baliza na delicada missão de busca e
Contra-Almirante salvamento submarino (SARSUB) ....................................................... 74
Comandante da Força de Submarinos
Aspectos básicos do projeto de cascos para submarinos ....................... 78
Luis Antonio de Menezes Cerutti O recebimento de materiais do PROSUB na França:
Capitão de Mar e Guerra
Comandante do CIAMA
um processo de transmissão de tecnologia e conhecimento .................. 84
O efeito lloyd-mirror e suas aplicações ................................................ 90
COORDENAÇÃO
Adriana Carvalho dos Santos A variação da pressão ambiental na fisiologia humana ......................... 96
Primeiro-Tenente (RM2-T)
Fundamentos de proteção radiológica para condução de
COLABORAÇÃO submarinos nucleares ......................................................................... 104
Capitão de Fragata Carlos Alberto Leite Machado
Análise de componentes independentes (ICA) e sua aplicação
Capitão de Fragata Luis Carlos Alves Junior
Capitão de Corveta (Md)Gabriel Prucoli Benevenut em uma situação prática ..................................................................... 110
Capitão de Corveta Felipe Borges Castello Branco O porquê de um submarino de propulsão nuclear?
Capitão de Corveta Danth Gusmão Soares Pereira
Capitão-Tenente Everton Silva Barbosa
Lições sobre as Malvinas ................................................................... 116
Capitão-Tenente Davi Pita Vieira
Capitão-Tenente Luiz Henrique Tavares da Rocha Filippo
Capitão-Tenente Thiago Andrade Costa ARTIGO PREMIADO
Capitão-Tenente (QC-IM) Carla Barboza Vieira
Capitão-Tenente Mauro Sergio Sousa da Silva
Psicologia de submarino: ferramenta de adaptação a partir da
Capitão-Tenente (AA) Emilson João Dorbação Gonçalves interface relacional dos fatores humanos ........................................... 122
Primeiro-Tenente (RM2-S) Kelly Faria Simões
Primeiro-Tenente (RM2-T) Amanda Moraes Silva Chaves
Primeiro-Tenente (RM2-T) Edwaldo Costa ARTIGOS DIVERSOS
Primeiro-Tenente (RM2-T) Carine Ocko Pieroni
Primeiro-Tenente (RM2-T) Mariana Castro da Cunha Lições para o Brasil quanto ao emprego de submarinos na
Primeiro-Tenente (IM) Luís Roberto Plácido Semana Batalha de Midway ............................................................................ 128
Primeiro-Tenente (RM2-T) Ana Paula Rodrigues Perlamagna
Primeiro-Tenente (RM2-T) Liliane dos Santos Trindade Dettogni Tripulação do SN-BR: enfoque psicológico no
Suboficial PL Warley Fagundes dos Santos acompanhamento e desenvolvimento destes militares ........................ 134
Cabo PL Saulo Fernandes Campos Vieira
A importância das comunicações para os meios submarinos:
REVISÃO ORTOGRÁFICA E GRAMATICAL passado, presente e perspectivas tecnológicas ..................................... 140
AR Textos

DIAGRAMAÇÃO PERISCOPADAS
Diagraf Comunicação
Atividades do Comando da Força de Submarinos 2020 .................... 144
IMPRESSÃO
Imprint 2001 Gráfica e Editora Ltda
“Artigos Diversos”, estão publicados artigos relevantes de forma regular, tem procurado ser um veículo de
para o debate profissional e acadêmico dentro das suas informação valioso para quem aqui navega.
OPERATIVO
respectivas áreas de atuação, como a Aula Inaugural Desta forma, é com orgulho que convido você,
do Curso Aperfeiçoamento de Submarinos para leitor, a mergulhar nas páginas desta edição, onde
Oficiais (Turma1/2019), a Aula Inaugural do Curso de poderá constatar a nossa tradição de abordar assuntos
Aperfeiçoamento de Mergulhador de Combate para de relevante interesse operativo, dando ênfase às
Oficiais e Curso Especial de Mergulhador de Combate, tarefas desempenhadas pelos nossos submarinistas,
os cuidados durante uma evacuação aeromédica de mergulhadores e mergulhadores de combate e aos
VAPOR E RADIAÇÃO: PONDERAÇÕES NO EMPREGO
uma vítima de doença descompressiva, proposta de temas técnico-profissionais dos médicos hiperbáricos
treinamento de Gerenciamento de Risco na Segurança e psicólogos submarinos, ambos fundamentais à
DO CONTROLE DE AVARIAS PARA A SEGURANÇA DO
do Sistema de Saúde, Gestão do Conhecimento no manutenção da nossa soberania na Amazônia Azul.
SUBMARINO NUCLEAR BRASILEIRO
âmbito do Programa Nuclear da Marinha, expectativas
e perspectivas da segurança operacional de submarinos Boa imersão!

Periscópio 3

Suboficial-ET-SB Marcos Rodrigues da Silva

RESUMO envolvam. Esses fatores exercem aspectos relevantes


Inéditos elementos estarão presentes a bordo do no emprego do controle de avarias e na segurança do
Submarino de Propulsão Nuclear Brasileiro, quais submarino. Esse panorama deve estimular um trabalho
sejam, o vapor e a radiação. Tais componentes são de coesão entre as Organizações responsáveis pela
inerentes a esse tipo de propulsão e merecem pon- instrução, adestramento e formação dos envolvidos
derações sobre algumas problemáticas que devem no controle e operação dessa fantástica belonave.
ser conhecidas e analisadas por toda a tripulação. Em virtude da importância dessas ponderações, esse
Esses agentes de riscos exercerão grandes efeitos na autor recorre aos aprendizados adquiridos na vivência
condução do controle de avarias a bordo. O assunto operacional, aos seus estudos na Instituição e, ainda,
é vasto e complexo, por esse motivo o artigo limita- a pesquisas em publicações ostensivas. Considerando
-se a apresentar as principais características desses também que a temática é ampla e complexa, o artigo
elementos e como eles influenciam na Doutrina do expõe um texto sucinto e de linguagem simples para
Controle de Avarias e Operação do SN-BR. Moti- uma melhor compreensão.
vado pela importância dessas reflexões e sem a pre-
tensão de esgotar a temática, o artigo utiliza uma 2 CONHECENDO A INSTALAÇÃO PROPUL-
linguagem simples para a melhor compreensão dos SORA NUCLEAR DO SN-BR
caros leitores. O reator do Submarino Nuclear deverá ser seme-
lhante ao que está sendo desenvolvido para o Labo-
1 INTRODUÇÃO ratório de Geração Nucleoelétrica (LABGENE). O
O vapor e a radiação serão verdadeiros “pagãos” laboratório é um protótipo de propulsão nuclear para
a bordo. A dupla mergulhará pela primeira vez submarino em terra que visa replicar a Instalação Pro-
em uma belonave da nossa Força de Submarinos pulsora Nuclear (IPN) do futuro SN-BR. Seu objetivo
(ForSub), a saber, o Submarino Nuclear Brasileiro é a realização de testes de todas as situações de ope-
(SN-BR). O calor produzido no reator será utilizado rações cabíveis para a IPN, de forma a validar o seu
para produzir o vapor que fluirá pelas turbinas de projeto. Sendo assim, o SN-BR deverá possuir um
propulsão. A radiação será oriunda do material Reator do tipo PWR (reatores de água pressurizada,
radioativo que constitui o combustível desse reator. na sigla em inglês), sob um projeto de segurança das
Além disso, algumas das peculiaridades do submarino mais utilizadas e consolidadas internacionalmente. A
(Sb) podem contribuir para a intensificação da IPN será estruturada basicamente em três principais
severidade de um acidente que envolva liberações Blocos: 40, 30 e 20.
de produtos radioativos ou de vapor vivo. É preciso 1. Bloco 40: é um compartimento estanque que servirá
salientar que todos os embarcados deverão ser de contenção para todo o material radiativo do sub-
adestrados e instruídos sobre como lidar com esses marino. Ele será composto pelo Circuito Primário,
novos componentes e com os possíveis eventos que os onde ocorre o ciclo geração / refrigeração nuclear.

6 O Periscópio
ComForS

* Primário: circuito fechado de água pressurizada A Propulsão Naval deverá dispor dos principais
onde ocorre a geração do calor principal. Consti- Sistemas de Proteção:
tuído pelo vaso do reator contendo as varetas de 1. Sistema de Desligamento Rápido do Reator
combustível, onde ocorre a fissão dos átomos de (SCRAM). Sistema que insere rapidamente e
urânio, gerando calor e transferindo para o refri- de uma só vez todas as barras absorvedoras de
gerante; Bombas de Circulação Principal (BCP), nêutrons no núcleo, fazendo cessarem as fissões.
Pressurizador (PZ) e o Gerador de Vapor (GV), É usado em condições de operação normal e de
onde se realiza uma troca de calor entre as águas emergência.
deste circuito e a do circuito secundário que são 2. Sistema de Resfriamento de Emergência (SRE).
independentes entre si, produzindo o vapor prin- Possui basicamente duas funções: realizar a remo-
cipal para as turbinas. ção de calor de decaimento1 e reposição de água
2. Bloco 30: previsto para não ser estanque, abrigará o do reator nas duas condições de operação do rea-
Circuito secundário. tor. Deverá, ainda, possuir a condição de realizar o
* Circuito Secundário: é ciclo de conversão vapor / resfriamento no modo circulação natural. Assim, a
geração elétrica. Nesse ciclo, o vapor gerado no água do Primário que resfria o reator circula natu-
GV é utilizado para realizar trabalho nos Turbo- ralmente por diferença de densidade, sem a neces-
geradores, gerando energia elétrica para alimentar sidade da BCP.
o Motor Elétrico Principal (MEP) e Sistemas Au- 3. Sistema de Injeção de Boro (SIB). Sistema que provê
xiliares do Sb. O vapor, depois de mover a turbina, uma solução de ácido bórico para ser injetada dire-
passa pelo Condensador, que é refrigerado pela água tamente no refrigerante do reator com o objetivo
do mar através de um circuito independente. de realizar seu desligamento. Deverá ser utilizado
3. Bloco 20: comportará o MEP. Diferentemente do somente em caso de extrema necessidade; quando o
protótipo, o SN-BR não prevê possuir o Freio dina- SCRAM falhar.
mométrico. Este é usado no protótipo para simular
a resistência do mar, fornecendo torque ao Motor. 1 Calor proveniente da desintegração radioativa dos produtos de
(Figura 1). fissão presentes no combustível nuclear.

Figura 1: Equipamentos Principais LABGENE.

O Periscópio 7
OPERATIVO

4. Barreiras de Contenção: São sucessivas barreiras fí- será invisível a olho nu e capaz de causar queimaduras
sicas que servem de contenção segura da radioativi- extensas e profundas em uma pessoa que porventura
dade produzida na fissão nuclear. estiver no compartimento afetado. Semelhantemente,
Cabe ainda destacar que o reator está sendo proje- poderá acontecer se a tubulação por onde flui o refri-
tado para possuir uma importante e exigida segurança gerante do reator sofrer uma ruptura. Ainda que esteja
intrínseca do ponto de vista de operação e controle. no estado líquido, o fato de estar com sua temperatura
Essa autopreservação é dada por uma propriedade de- muito acima da sua saturação o transformará em vapor
nominada coeficiente de reatividade negativo, que, em superaquecido também. (Figura 3).
caso de um superaquecimento, diminui o número de
fissões, auxiliando no seu desligamento.

3 O VAPOR E SEUS RISCOS NO SUBMARINO


O primeiro elemento, embora já tenha sido muito
empregado nas turbinas dos navios da Esquadra, flui-
rá em meio a um ambiente hermeticamente fechado,
criando um potencial de severidade às consequências
de um eventual vazamento. Sua utilização na Mari- Figura 3: TLV.
nha do Brasil (MB) sempre exigiu cuidados na ma-
nipulação e, por mais experiência que tivessem seus A fim de ilustrar esse potencial de risco, recorre-se
marinheiros, infelizmente, ocorreram sinistros que ao artigo “Acidentes com Submarinos” publicado
causaram lamentáveis baixas. O vapor será provenien- nesta revista. A obra descreve, entre outros casos, um
te da troca térmica entre os refrigerantes do circuito acidente ocorrido com o submarino nuclear francês,
Primário e Secundário, realizada no GV, que fornecerá S-604 Émeraude, em março de 1994. O S-604 passa-
o vapor saturado com aproximadamente cem por cen- va por um alagamento, então o comando deu a ordem
to de título2 para as turbinas de propulsão e auxiliar. de retornar à superfície imediatamente usando toda
(Figura 2). a potência do reator. Durante a subida, a admissão
de água para o resfriamento do condensador princi-
pal precisou ser fechada. Isso fez com que a pressão
no condensador aumentasse a tal ponto, de atingir
o valor de ruptura do seu disco de sobre pressão, li-
berando vapor saturado para o compartimento de
máquinas. Esse fato levou à morte dez militares que
estavam no compartimento, incluindo o próprio co-
mandante (LOBO, 2014, p. 109).

4 A RADIAÇÃO E SEUS RISCOS NO


SUBMARINO
Figura 2: Submarinos com propulsão nuclear. A descoberta da reatividade emitida por certos
materiais levou ao desenvolvimento de inúmeras apli-
O potencial de risco deve-se ao fato de que a li- cações benéficas para a sociedade em todo o mundo,
beração do vapor à alta pressão, para um ambiente de tais como geração de energia elétrica, tratamento e
pressão muito menor, como o ambiente interno do diagnósticos médicos, entre outros. Em contraparti-
submarino, é transformada instantaneamente em va- da, descobriu-se que também poderia causar efeitos
por superaquecido. Em caso de uma pequena ruptura, biológicos potencialmente danosos. Os efeitos depen-
dem do nível de exposição ou dose recebida, podendo
2 Seu valor varia entre 0 e 100 % e representa a qualidade ou secura
do vapor, ou seja, o inverso da umidade.

8 O Periscópio
ComForS

ser estocástico3 ou determinístico4. Em termos do tem- ocupacionalmente expostos (IOE)6 o entendimento


po de manifestação podem ser imediatos ou tardios. dos fundamentos da Proteção Radiológica (PR) an-
No SN-Br, o material radioativo estará confinado nas tes de embarcarem. Esse conhecimento é usado na
pastilhas de combustível do reator e protegido por prevenção e execução das atividades afetas à radiação.
sucessivas barreiras como revestimento metálico da Eles deverão estar preparados para eventos radiológi-
própria vareta de combustível, refrigerante, contenção cos indesejáveis. Necessitarão de meios para mitigar
e anteparas. As mesmas visam confinar o material e a extensão das exposições devido às movimentações
barrar ou atenuar as principais emissões, como alfa de fontes ou fainas de descontaminação eventuais.
(α), beta (β), gama (γ), nêutrons (n). A proteção contra Precisarão de detectores de radiação, dosímetros,
os perigos radiológicos será efetiva se forem tomadas ferramentas especiais e equipamentos de proteção
medidas que garantam a integridade das contenções individual (EPI) contra radiação. (Figura 4). Quan-
e que os níveis de doses recebidas pela tripulação sejam to ao trato desses conhecimentos, caberá ao Centro
mantidos tão reduzidos quanto razoavelmente exequíveis de Instrução e Adestramento de Aramar (CIANA)
e abaixo dos limites estabelecidos. prover a formação dos Operadores do LABGENE,
do IPN e a instrução desses futuros tripulantes do
5 O CONTROLE DE AVARIAS SN-BR nos assuntos pertinentes à Proteção Radio-
Conforme descrito no Manual do Controle de lógica. (SILVA, 2014, p. 39).
Avarias em Submarinos, a atividade deve ser conside-
rada como assunto de responsabilidade comum a todos
de bordo. O seu propósito principal é a manutenção do
máximo poder combatente. A bordo existe um grupo
designado Reparo de CAv, constituído de praças esco-
lhidas para auxiliarem o Encarregado do CAV na rea-
lização de fainas e reparos de emergência. Esse grupo
é responsável pelas ações de enfrentamento da Bata-
lha Interna5 no submarino. Vencer a batalha interna é
um fator fundamental para a sobrevivência do navio.
Portanto, o tratamento correto dos novos elementos
inseridos em um ambiente estritamente peculiar im-
põe grandes esforços para a atualização das orientações
para o CAv. Tais orientações deverão conduzir os mi-
litares a enfrentarem, adequadamente, as já conhecidas
e as novas situações de perigo e assim manterem o po-
der combatente e a operatividade do seu submarino. A
presença das fontes radioativas exigirá dos indivíduos

3 São efeitos em que a probabilidade de ocorrência é proporcional à


dose de radiação recebida, sem a existência de limiar (TAUHATA,
L. et al., 2013).
4 São produzidos por doses elevadas, acima do limiar, onde a severi-
dade ou gravidade do dano aumenta com a dose aplicada. (TAUHA-
TA, L. et al., 2013).
Figura 4: Equipamentos de proteção individual (EPI).
5 Conjunto de ações que visam assegurar, após ocorrência de ava-
rias causadas ou não pelo inimigo, a manutenção e/ou o restabeleci-
mento da integridade da unidade, sua capacidade “combatente e por
conseguinte, o cumprimento da missão. Compreende as atividades
de combate às fainas de emergência, tais como incêndio, alagamen- 6 Todo indivíduo sujeito a exposição ocupacional, ou seja, em de-
to, socorro etc. (CAAML-1201). corrência do seu trabalho ou treinamento.

O Periscópio 9
OPERATIVO

6 SEGURANÇA DO IPN E DO SUBMARINO – versas manobras do Sb, ou seja, no plano horizontal e


NAVEGAR E COMBATER vertical. O caráter combatente exerce as características
Evidentemente que a segurança da “operação mais complexas ao projeto do núcleo do reator, tendo
nuclear” é interdependente da segurança da embarca- em vista as necessidades de resistir às intempéries das
ção propriamente dita, de forma que a perda do con- condições táticas e estratégicas. As grandes mudanças
trole do reator poderá trazer graves consequências à de velocidade demandam rápidas variações de potên-
operação do Sb. Neste sentido, um incêndio ou ala- cia. Consequentemente, levaria o comandante a exigir
gamento poderá colocar em risco o controle da IPN, o máximo da sua IPN.
evidenciando a importância do Controle de Avarias
na segurança do submarino de forma geral. Essa ca- 7 A IMPORTÂNCIA DOS CENTROS DE
racterização de reciprocidade ou interdependência de INSTRUÇÃO E ADESTRAMENTO
segurança é chamada de segurança “submarino – reator” Devido aos novos elementos de risco, necessários
(GUIMARÃES, 1997, p. 197-208). Por isso, uma vez para o funcionamento da IPN, faz-se mister que os
dado o alarme, as equipes de intervenção devem che- militares atuantes na sua operação dominem os fun-
gar ao local imediatamente para extinguir o fogo ou damentos da neutrônica e termo-hidráulica para uma
estancar um alagamento. A Doutrina Operativa deverá operação consciente e segura. Da mesma forma, pre-
fornecer instruções que assegurem em qualquer condi- cisam compreender os inúmeros e complexos sistemas
ção da IPN que a reação em cadeia possa ser cessada e de automação de controle e proteção dessa platafor-
controlada e que o calor residual 7 possa ser seguramen- ma tecnológica. Sendo assim, o Centro de Instrução
te removido. e Adestramento Almirante Áttila Monteiro Aché
Extrapolando esses comentários, pode-se conside- (CIAMA) – subordinado ao ComForS –, e o CIA-
rar os possíveis cenários: NA , subordinado ao Centro de Industrial de Aramar
Cenário 1: um princípio de alagamento no Sb pode (CINA), localizado em Iperó (SP), deverão concatenar
forçar o comandante a ordenar a superfície em emer- a atualização das diretrizes pertinentes às Doutrinas
gência. A eficiência no combate à avaria pela equipe de de Operação, Segurança e de Controle, de forma que
reparo determinará essa demanda. Caso contrário, será abordem os aspectos relevantes do comportamento
necessário cumprir os procedimentos de subida com dos novos componentes da energia propulsora, bem
extrema rapidez, prejudicando a observação do quadro como os aspectos de projeto construtivo e de seus sis-
tático na superfície. Com isso o Sb ficaria vulnerável à temas e do Sb. Ressalta-se também a importância do
colisão, o que traria riscos à integridade do IPN. acompanhamento sistemático da higidez psicológica
Cenário 2: a ocorrência de um acidente de ruptura dos militares envolvidos pelo Corpo de psicólogos de
da tubulação do Primário com grande perda de refrige- submarinos.
rante, conhecida por “Loss of Coolant Agent” (LOCA).
Esse evento causaria o desligamento do reator e o 8 CONCLUSÃO
esgotamento do seu vaso para a contenção, análogo Pode-se concluir que não se trata de um artigo
a um alagamento em submarinos. Com isso, a ener- com abordagem alarmista. Como pôde ser visto, a
gia do Sb ficaria totalmente dependente dos sistemas IPN é segura no ponto de vista de projeto. Revela-se
alternativos, como geradores diesel-elétrico e bateria tão-somente uma proposta de reflexão. Para isso, de-
(que possuem tempos limitados de fornecimento). Um monstra-se como as propriedades nocivas pertinentes
efeito de superfície livre neste compartimento poderia aos componentes advindos da Propulsão Nuclear e às
interferir na estabilidade do navio, comprometendo o características dicotômicas do SN-BR inovam os ce-
andamento das operações e da navegação. nários de condução operativa e do controle de avarias
Como pode ser visto, seu comportamento como a bordo. A agressividade do vapor ficou evidenciada
navio impõe à Instalação Propulsora suportar as di- pelo acidente com o Émeraude, exemplificado ante-
7 Mesmo após o desligamento do reator, o núcleo continua gerando
riormente. Sobre o material radioativo, foram ressal-
calor devido ao calor de decaimento. tados os riscos à exposição e necessidade de aquisição

10 O Periscópio
ComForS

de EPIs e dispositivos apropriados para o caso de seu REFERÊNCIAS


manuseio e monitoração por parte do reparo de Cav. GUIMARÃES, L. D. Introdução às instalações pro-
Estes necessitarão de treinamento, pois sua manipula- pulsoras nucleares navais: conceitos básicos e particu-
ção exige perícia. laridades. Revista Marítima Brasileira, v. 117, n. 07/09,
Os Cenários 1 e 2 demonstraram como as caracte- outubro/dezembro, p. 197-208.
rísticas navais e militares do SN-BR podem impor ao
comandante exigir o máximo da sua instalação propul- LOBO, Thadeu M. O. C. Acidentes com Submarinos.
sora, mesmo que isso possa levar a graves consequên- O Periscópio (2014, n. 67, p. 109).
cias ao reator ou ao submarino.
Todas essas situações podem trazer novidades às SILVA, M. R. (2014). A Importância do CIANA para
atuais filosofias operacionais e de controle da platafor- a Segurança das Instalações Nucleares do Poder Naval.
ma. Considera-se que essa atualização deverá abordar o O Periscópio (2014, n. 67, p. 39).
caráter dual como um sistema, ajustando e sintetizando
os aspectos relevantes da sua segurança física e tática. TAUHATA, L. et al. Radioproteção e dosimetria: fun-
Afinal, a despeito dessas considerações, não serão damentos. 9. rev. Rio de Janeiro: IRD/CNEN, 2013.
os projetistas que operarão o reator sob os diversos ris-
cos, ainda que remotos, provenientes dos aspectos de
navegabilidade e de Vetor combatente do Sb. Por esse
motivo, o artigo pondera sobre a importância de se
possuir uma tripulação bem instruída nos fundamen-
tos comportamentais de todos os elementos que cons-
tituem essa nova tecnologia embarcada. Entende-se
que a melhor estratégia contra fainas de emergência
é a prevenção. Conhecer as peculiaridades do navio e
realizar adestramentos análogos com situações realís-
ticas contribuirá para a preservação global do SN-BR.
Isso denota a relevância de se incutir na personalidade
da Organização e nos militares do processo um con-
junto de características, pensamentos e atitudes que os
levem a priorizar ao máximo os aspectos de segurança
em todas as suas ações, os quais refletem nos seus pro-
cedimentos rotineiros. Isso deverá implicar no desen-
volvimento de uma força-tarefa entre o ComForS e o
CINA, representados pelos seus Centros de Instrução.
Destaca-se, quanto a isso, que a história centená-
ria da Força de Submarinos mostra que as operações
com suas belonaves são substancialmente seguras e pa-
tentes, conferindo-lhes a credibilidade de que com o
SN-BR também será assim.
Portanto, a sociedade brasileira pode confiar que
a MB continuará preparando seus marinheiros para
operarem com conhecimento e segurança seus navios
e submarinos e, se convocada para “erguer a clava
forte”, será capaz de empregar sua força e expertise
com a convicção de que regressará ao seu porto seguro
gozando do sentimento de missão cumprida.

O Periscópio 11
Turma1/2019), a Aula Inaugural do Curso de poderá constatar a nossa tradição de abordar assuntos
amento de Mergulhador
OPERATIVO de Combate para de relevante interesse operativo, dando ênfase às
Curso Especial de Mergulhador de Combate, tarefas desempenhadas pelos nossos submarinistas,
dos durante uma evacuação aeromédica de mergulhadores e mergulhadores de combate e aos
ma de doença descompressiva, proposta de temas técnico-profissionais dos médicos hiperbáricos
nto de Gerenciamento de Risco na Segurança e psicólogos submarinos, ambos fundamentais à
ma de Saúde, Gestão do Conhecimento no manutenção da nossa soberania na Amazônia Azul.
CURSO DE COORDENADOR DE FORÇAS DE RESGATE
o Programa Nuclear da Marinha, expectativas
tivas da segurança operacional de submarinos Boa imersão!

Periscópio 3
Capitão de Fragata Marcos Paulo Beal

1 INTRODUÇÃO rinha norte-americana (US NAVY) que figurou como


O International Submarine Escape and Rescue coordenador nas buscas ao ARA “San Juan”.
Liaison Office (ISMERLO) da Organização do Tra- De modo geral, na primeira semana de curso foram
tado do Atlântico Norte (OTAN) coordena, anual- ministradas aulas teóricas e, na segunda, foram realiza-
mente, o Submarine Escape and Rescue Working Group dos planejamentos no formato de Grupos de Trabalho
(SMERWG), reunindo delegações de países que ope- (GT). Os exercícios tratavam de cenários simulados de
ram submarinos que possuam alguma capacidade de acidentes com submarinos, e os GTs tinham de plane-
apoiar ou de, efetivamente, realizar uma operação de jar e apresentar a solução em plenária (Figura. 2). Cada
socorro a um submarino sinistrado. Este Grupo de aluno fez uma apresentação e respondeu pelas funções
Trabalho busca padronizar procedimentos de modo de “Coordenador de Força de Resgate”.
a promover maior interoperabilidade, troca de conhe- Apesar de o curso ter sido conduzido pela RAN,
cimentos técnicos e o estreitamento de laços entre as toda a base doutrinária utilizada foi da OTAN. Hou-
Marinhas. ve abordagem aprofundada durante o curso e todos os
Em virtude do acidente com o Submarino Argen- alunos estrangeiros participantes são considerados es-
tino ARA “San Juan” em novembro de 2017 e de suas pecialistas em suas marinhas. Adicionalmente, as ins-
respectivas lições aprendidas, o SMERWG de 2018 truções administrativas do curso exigiam conhecimen-
estabeleceu como ação a empreender a criação de um tos prévios das doutrinas afins (ATP 57C 3aRevisão,
curso especificamente voltado para a coordenação de ANEP/MNEP-85, ANEP/MNEP-86) e habilitação
uma força multinacional em uma operação de resga- na operação do website de coordenação do ISMER-
te submarino. A Royal Australian Navy (RAN) foi a LO, que é de caráter reservado. O acidente com o
precursora e, por sua vez, convidou militares dos países Submarino ARA “San Juan” foi a primeira experiên-
participantes da OTAN e dos países que são conside- cia real de aplicação dessa doutrina, e a dificuldade de
rados observadores permanentes, como o Brasil. coordenar uma Força com diversos atores foi uma das
O Coordinator Rescue Forces Course (CRF Course) principais lições aprendidas.
foi realizado na Base da RAN, HMAS “Stirling”, em No que tange aos aspectos comerciais, as atividades
Garden Island, na região da Austrália Ocidental, de 11 de resgate submarino são desenvolvidas em vários mo-
a 22 de março de 2019, e teve em sua primeira turma delos gerenciais, em que a propriedade, a operação e a
a participação de 17 oficiais-alunos dos seguintes pa- manutenção, por vezes, estão a cargo do poder público
íses: Alemanha, Austrália, Brasil, Canadá, Chile, Es- ou de uma empresa privada. Por conseguinte, repre-
tados Unidos, Índia, Indonésia, Itália, Malásia, Peru, sentantes das empresas, que operam em parcerias com
Suécia, Turquia e Vietnã (Figura 1). Cabe destacar a as Marinhas, se fizeram presentes durante o curso para
presença, na condição de aluno, de um oficial da ma- esclarecimentos técnicos e debates de cunho logístico.

12 O Periscópio
ComForS

Figura 1: Primeira Turma do CRF Course.

Figura 2: Apresentação de planejamento.

O Periscópio 13
OPERATIVO

2 ARA “SAN JUAN” Em 16 de novembro de 2018, um ano após o si-


As dificuldades encontradas para a coordenação da nistro, o submarino argentino ARA “San Juan” foi
operação foram as grandes motivações para a criação do encontrado pela Empresa marítima privada “Ocean
CRF Course. Desta forma, é necessário destacar alguns Infinity”, a 940 metros de profundidade, na latitude
pontos sobre tal sinistro, conforme relatos no SMERWG 45°56’59’’S e longitude 059°46’22’’W. O submarino
de 2018: lentidão no tempo de reação das autoridades; o sinistrado (Distressed Submarine – DISSUB) se en-
grande fluxo de informações desencontradas; diversidade contra a 12MN da anomalia sísmica relatada pelo
de idiomas; falta de habilidade do operador no aciona- Comprehensive Nuclear-Test-Ban Treaty Organization
mento formal no website do ISMERLO; inúmeras di- (CTBTO), por ocasião do acidente, e cerca de 324MN
ficuldades logísticas no Porto de Comodoro Rivadavia a leste da cidade argentina Comodoro Rivadavia. O
(desembaraço alfandegário e imigração); falta de estru- porta-voz da Armada Argentina, Comandante En-
tura voltada para a questão ambiental; dificuldade em rique Balbi, em uma coletiva de imprensa, divulgou
identificar os Navios-Mães (Mother Ships – MOSHIP), imagens (Figura 3) que mostram o casco resistente
a exemplo do NSS Felinto Perry, ou mesmo de fretar implodido, com a seção de proa, vela e hélices espa-
“Navios de Oportunidade” (Vessels of Opportunity – lhadas em uma área de 8.000 m2. Essas informações
VOO) disponíveis para as fainas de intervenção e res- foram utilizadas como ferramentas instrucionais para
gate; ausência de equipamentos de emergência essenciais debates de questões operacionais e logísticas, na parte
no submarino; e grande quantidade de fake news. teórica do curso.

Figura 3: Submarino ARA San Juan sinistrado.

14 O Periscópio
ComForS

3 WEBSITE DE COORDENAÇÃO GLOBAL Na área de conteúdo ostensivo é possível visuali-


Logo após a sua criação em 2003, o ISMERLO zar os sistemas existentes e algumas informações sobre
percebeu a necessidade de criar um site que, inicialmen- as estruturas organizacionais das Marinhas. Na área
te, possibilitasse a interação entre as Marinhas por meio de acesso reservado está todo o arcabouço doutriná-
dos seus respectivos representantes, para assuntos ati- rio da OTAN e das Marinhas participantes, inclusive
nentes ao escape e ao resgate de submarinos sinistrados. da MB. Neste campo existem opções para consultar:
Esta página da internet conteria, apenas, dados ostensi- Data Sheets de submarinos; os status atualizados dos
vos, algumas informações relativas aos MOSHIP e aos sistemas de intervenção e resgate; um banco de dados
sistemas de intervenção e resgate existentes. Entretanto, dos MOSHIP e VOO disponíveis, com suas respec-
ao longo do tempo e após alguns SMERWG realizados, tivas posições; capacidades e limitações dos portos e
o referido site passou por um relevante processo evoluti- aeroportos; informações meteorológicas; e o Deploy-
vo e, atualmente, é a plataforma de coordenação global ment Calculator, um importante recurso de auxílio
de qualquer sinistro que venha a ocorrer com os subma- ao planejamento. Esta calculadora é empregada para
rinos das Marinhas participantes desta comunidade. No integrar os tempos (de reação, contratação de VOO,
caso do ARA “San Juan”, o recurso de chat do site foi a embarque, translado, desembarque etc.). Portanto, uma
principal ferramenta de Comando e Controle (C2) e o grande ferramenta para o coordenador de uma Força
principal canal de comunicação da operação (Figura 4). de Resgate.

Figura 4: Chat do website do ISMERLO.

4 CRF COURSE o acionamento otimizado dos sistemas de intervenção e


Doutrinariamente, a partir do momento em que é de resgate disponíveis no mundo em caso de sinistro. A
acionado um alerta de submarino desaparecido (SUB- partir daí, uma equação com inúmeras variáveis é criada:
MISS) ou sinistrado (SUBSUNK), uma operação de tempo de reação ao acionamento, tempo de embarque/
resgate chamada SUBSAR é iniciada e se desenvolve desembarque dos sistemas de intervenção e resgate, tem-
nas seguintes fases: Mobilização de Meios; Buscas; po de trânsito e tempo para a primeira intervenção. O
Intervenção Submarina empregando mergulhado- oficial-aluno aprende a encontrar a solução desta equa-
res saturados ou ROV de intervenção (iROV), para ção, que é chamada de Time to First Rescue (TTFR) ou
estabilização das condições internas do submarino; Tempo para o Primeiro Resgate (Figura 5). Portanto, o
Resgate Submarino por meio de um Sino de Res- CRF Course capacita oficiais, especialistas em Resgate
gate (Submarine Rescue Chamber - SRC) ou de um Submarino, no aprimoramento do enlace com as doutri-
minissubmarino de resgate (Submarine Rescue Vehicle nas do ISMERLO, a fim de possibilitar o correto acio-
- SRV), com a retirada de pessoal; e Desmobilização. namento, a eficiente Coordenação das Forças de Resgate
O referido curso busca padronizar procedimentos para e minimizar o tempo para o primeiro resgate.

O Periscópio 15
OPERATIVO

Figura 5: Variáreis de Tempo para o TTFR.

5 Time to First Rescue (TTFR) de Oportunidade (VOO) mais próximos e, ao final,


Em caso de acidente, uma das primeiras ações do o sistema apresentará o TTFR. A Figura 6 apre-
oficial designado como Coordenador de Forças de senta um exemplo, onde foi inserido um DATUM
Resgate será o emprego do Deployment Calculator, a nas proximidades do Rio de Janeiro e foram escolhi-
fim de encontrar, de modo estimado, o Tempo para dos os sistemas de intervenção e resgate da OTAN
o Primeiro Resgate (TTFR). Ao abrir a calculadora (NATO Submarine Rescue System – NSRS) e o VOO
é necessário inserir a posição do DATUM (latitude “Sea Stoat”. O Deployment Calculator informa um
e longitude). Em seguida surgirão na tela as opções tempo de 91,6 horas para o primeiro resgate, o que
dos sistemas de busca, intervenção, resgate e de des- vai além do limite doutrinário estabelecido, que é
compressão, com seus respectivos status. Ao serem de 72 horas. Neste caso, seriam necessárias novas
selecionados os sistemas, serão fornecidas as combi- simulações utilizando sistemas de outros países ou
nações de portos e aeroportos, bem como os Navios outros VOO.

16 O Periscópio
ComForS

Figura 6: Cálculo do TTFR.

6 COORDENAÇÃO O Coordenador das Forças de Resgate (CRF)


O “The Submarine Search and Rescue Manual” é designado pela Autoridade de Busca e Resgate
(ATP/MTP 57C Rev3) estabelece que a estrutura (SSRA) e é responsável por coordenar e controlar o
organizacional das operações multinacionais volta- recolhimento de escapistas e o resgate da tripulação
das para o escape e para o resgate de um DISSUB é do DISSUB, bem como conduzir as ações dos: OSC,
a seguinte: Autoridade Nacional (National Authori- NRC e REC. Em uma operação SUBSAR, o OSC
ty - NA); Autoridade de Busca e Resgate (Submarine será o comandante da primeira unidade que chegar ao
Search and Rescue Authority - SSRA); Autoridade local do DATUM, independentemente da antiguida-
de Alerta (Alerting Authority - AA); Autoridade de; os NRC são oficiais estrangeiros, especialistas em
de Apoio (Support Authority - SA); Coordenador resgate submarino, a serem enviados pelas Marinhas
das Forças de Resgate (Coordinator Rescue Forces em apoio; e os REC são os comandantes que tenham
- CRF); Comandante na Cena de Ação (On Scene sistemas de intervenção (iROV) e/ou resgate (SRC ou
Commander - OSC); Coordenador de Resgate Na- SRV) a bordo de suas respectivas unidades. Todas as
cional (National Rescue Coordinator – NRC); e Co- unidades, inclusive as estrangeiras, deverão se repor-
mandante do Elemento de Resgate (Rescue Element tar ao CRF. As relações de comando são apresentadas
Commander – REC). conforme a Figura 7.

Figura 7: Relações de Comando na SUBSAR.

O Periscópio 17
OPERATIVO

7 CONCLUSÃO tema de socorro ainda é o correto cumprimento das


A partir da criação do CRF Course, o ISMERLO Manutenções Planejadas.
passa a ter em seu banco de dados o registro de to- A operação SUBSAR é essencialmente multina-
dos os oficiais que concluíram com sucesso o referido cional e de grande complexidade (Figura 8). Devido
curso e que podem ser acionados, mediante solicitação à especificidade do tema e das terminologias técnicas
formal, a participarem em qualquer operação SUB- próprias, o CRF Course promove a padronização dos
SAR que venha a ocorrer no mundo. procedimentos, divulga a doutrina a ser adotada e es-
As lições aprendidas, por ocasião do acidente com treita os laços entre as Marinhas. Nos casos de acidentes
o ARA “San Juan”, possibilitaram debates agregado- com submarinos, o tempo é o maior inimigo, e vidas só
res e mostraram que, apesar da existência de diversos serão salvas se houver pronta resposta das Nações. Para
meios de busca, intervenção e resgate, o principal sis- tal, faz-se necessária uma efetiva COORDENAÇÃO.

Figura 8: Complexidade da Operação SUBSAR.

18 O Periscópio
ComForS

O Periscópio 19
s áreas de atuação, como a Aula Inaugural Desta forma, é com orgulho que convido você,
o Aperfeiçoamento de Submarinos para leitor, a mergulhar nas páginas desta edição, onde
Turma1/2019), OPERATIVO
a Aula Inaugural do Curso de poderá constatar a nossa tradição de abordar assuntos
amento de Mergulhador de Combate para de relevante interesse operativo, dando ênfase às
Curso Especial de Mergulhador de Combate, tarefas desempenhadas pelos nossos submarinistas,
dos durante uma evacuação aeromédica de mergulhadores e mergulhadores de combate e aos
ma de doença descompressiva, proposta de temas técnico-profissionais dos médicos hiperbáricos
nto de Gerenciamento de Risco na Segurança e psicólogos submarinos, ambos fundamentais à
OPERAÇÕES DE RESGATE E SALVAMENTO DA
ma de Saúde, Gestão do Conhecimento no manutenção da nossa soberania na Amazônia Azul.
MARINHA TURCA, UM ENFOQUE NA INTERVENÇÃO
o Programa Nuclear da Marinha, expectativas
tivas da segurança operacional de submarinos Boa imersão!

Periscópio 3
Capitão de Fragata Albino Manoel Borges Santos

1 INTRODUÇÃO representante do International Submarine Escape and


O resgate e salvamento de submarinos é um Rescue Liasion Office (ISMERLO), que ministrou pa-
tema que desponta na atualidade entre as marinhas lestra buscando estimular as Marinhas que possuem a
que operam submarinos. O trágico acidente do ARA capacidade de resgate a manterem o status dos meios
“San Juan”, no final de 2017, e o dramático incêndio navais atualizados na webpage da referida Organiza-
a bordo do submarino russo AS-12 LOSHARIK, ção, realçando as suas limitações, no que diz respeito
em junho de 2019, que resultou em 14 mortes, à disponibilidade dos meios de resgate. O palestrante,
fizeram com que outros fatores passassem a ganhar por oportuno, teceu comentários sobre o acidente com
notoriedade, destacando-se a opinião pública nacional o ARA “San Juan”, ressaltando a importância do trato
e internacional, que passou a considerar as Operações com a imprensa local e internacional. O NSS Felin-
SUBSAR (Submarine Search and Rescue) como uma to Perry foi mencionado durante a explanação por ter
ação humanitária prioritária, induzindo uma boa sido um dos primeiros navios a atender ao pedido da
parte das marinhas a refletir sobre as capacidades Marinha Argentina.
de seus meios voltados para o resgate e salvamento No exercício foi alocado um navio-mãe de mer-
e, principalmente, no componente de Comando e gulho – Mother Ship, dois navios auxiliares de mergu-
Controle de suas doutrinas. lho, três submarinos convencionais, uma fragata, dois
O presente artigo tem como propósito apresentar navios patrulhas, duas aeronaves (C-130 e AS-532
as técnicas e capacidades empregadas pela Marinha COUGAR) e o SPAG TEAM (Submarine Parachute
Turca nas atividades de socorro e resgate a tripulações Assistance Group), envolvendo quase setecentos milita-
de submarinos sinistrados (DISSUB). Respeitando o res das Marinhas Turca, Estadunidense e Grega.
programa anual de intercâmbios, a Marinha do Brasil Há de se ressaltar que um evento SUBSAR é com-
se fez presente no KURTARAN-19, exercício conjun- posto das seguintes fases:
to de caráter anual conduzido pela Turquia, que visa 1 – Mobilização;
avaliar as doutrinas e treinar os procedimentos afetos 2 – Busca e localização;
às Operações SUBSAR. 3 – Intervenção;
O elevado prestígio da Marinha Turca entre as ma- 4 – Resgate dos tripulantes; e
rinhas com capacidade de realizar Operações SUBSAR 5 – Desmobilização.
reflete-se na expressiva quantidade de meios voltados a
esta atividade, à experiência acumulada nos exercícios O Intercâmbio transcorreu embarcado no TCG
internos anuais e na periódica participação nos exercí- ALEMDAR, Mother Ship (MOSHIP) (Figura 1),
cios da OTAN, da série MONARCH, voltados para de onde foram coordenados os exercícios de busca a
as atividades de socorro e salvamento. submarino desaparecido, pelos Sonares de Casco de
O evento foi realizado no mês de maio de 2019, Varredura Lateral (SEARCHEX); saída de tripulantes
nas proximidades da Base Naval de Aksaz, Marmá- do submarino pela técnica do escape individual
ris, Turquia. O exercício contou com a presença de 34 (ESCAPEX); renovação do ar ambiente de bordo pela
Observadores Internacionais de dezoito países e um passagem de ar comprimido do MOSHIP (VENTEX);

20 O Periscópio
ComForS

passagem de medicamentos para o submarino pelo uso voltados para esta valência, com vultosos dispositivos
de contêineres estanques (PODEX); apoio a náufragos para a passagem de ar de alta pressão (Figura 3),
na superfície com o emprego do Submarine Parachute capaz de suprir o DISSUB com ar comprimido até
Assistance Group – SPAG (SPAGEX); e resgate da 600m, pelo Remotely Operated Vehicle – ROV(Figura
tripulação de submarino sinistrado pelo Submarine 4); a 300 m, pelo Atmospheric Diving System – ADS
Rescue Chamber – SRC (RESCUEX). (Figura 5), este operado por poucas marinhas devido
ao elevado custo de manutenção; e a 90 m, com a
conexão realizada por mergulhador. Todos os navios
possuem um sistema de ar comprimido fixo, composto
por compressores de ar de alta pressão e umbilical com
dupla derivação que se conecta a tomadas distintas de
ar, in-let e out-let. Por ser a maior e mais complexa
plataforma de apoio às atividades de mergulho, o ROV
e o ADS ficam, rotineiramente, embarcados no TCG
ALEMDAR.

Figura 1: TCGALEMDAR-Mother Ship (MOSHIP).

Para tal fim, a Marinha Turca conta com um sis-


tema modular capaz de ser operado no TCG ALE-
MDAR e nos dois navios auxiliares de mergulho,
o TCG IŞIN e TCG AKIN (Figura 2), todos com
capacidade de prestar apoio à Fase de Busca, devi-
do a serem providos de Sonar de Casco de Varredura
Lateral.

Figura 3: Sistema de ar de alta pressão.

Figura 2: TCG IŞIN e TCG AKIN.

Com o intuito de aumentar a autonomia do


tempo de espera até o efetivo resgate dos tripulantes,
a Intervenção é a fase de maior relevância para as Figura 4: Conexão realizada pelo Remotely
operações SUBSAR Turcas. Esta notória importância Operated Vehicle – ROV.
fica nítida ao observar os conveses dos três meios

O Periscópio 21
OPERATIVO

Figura 5: Conexão realizada pelo Atmospheric


Diving System – ADS.

Ainda na Fase da Intervenção, a marinha turca


conta com o SPAG, que é uma equipe de mergulhado-
res capaz de ser lançada de aeronaves de asas rotativas
ou fixas, de forma a estabelecer as primeiras comunica-
ções com o submarino, via telefonia submarina portátil
UWT (UnderWater Telephone), e prestar os primeiros
socorros aos náufragos, num eventual escape de sub-
marinista pelos Trajes de Escape.
Visando um claro entendimento dos meios e ca-
pacidades observados durante o intercâmbio, será des-
crita uma sequência de tópicos sobre os equipamentos
existentes a bordo e suas respectivas cotas de operação
em eventos SUBSAR.

2 SISTEMA RÍGIDO ARTICULADO - ADS


(ATMOSPHERIC DIVING SYSTEM)
Figura 6: Atmospheric Diving System (ADS).
Consiste em um traje capaz de operar até a pro-
fundidade de 300 m, sendo conectado à superfície por
3 SINO DE RESGATE SUBMARINO - SRC
um umbilical responsável por prover energia elétrica
(SUBMARINE RESCUE CHAMBER) TRANS-
para o ADS e sinais de vídeo e sonar para o MOSHIP.
PORTÁVEL, MODELO MC-CANN
O ADS (Figura 6) mantém o operador à pressão de 1
Inspirado na clássica concepção de resgate da
atm por um período de até seis horas, este traje é am-
USN, o MC-CANN (Figura 7) teve a sua eficácia
plamente empregado na Fase de Intervenção, podendo
comprovada pela primeira vez em 1939, durante o
ser utilizado para auxiliar na conexão do Sino de Res-
resgate do USS Squalus. A partir desta data, outras
gate Submarino - SRC(Submarine Rescue Chamber)
marinhas passaram a operar o mesmo tipo de sino, o
à escotilha do submarino, realizar a passagem do POD
que perdura até os dias atuais. O SRC turco é capaz
e conectar as mangueiras de ventilação. Contudo, o seu
de apoiar as tripulações de submarino sinistrado até
emprego fica limitado pela presença de correntes aci-
a profundidade de 120 m. Operado internamente por
ma de dois nós.
dois mergulhadores, possui um limite de resgate para
quatro militares, por acoplamento, dois resgatados a
menos quando comparado ao sino do NSS Felinto

22 O Periscópio
ComForS

Perry. Adicionalmente, outras limitações são: o seu Nota-se que, embora sejam meios modernos e com
acoplamento, que só será exequível se o submarino notória tecnologia embarcada, nenhuma das três pla-
estiver com uma inclinação máxima de dez graus, e taformas dispõe de câmaras hiperbáricas fixas capazes
sua incapacidade de alterar a pressão interna no sino, a de realizar a transferência dos resgatados sob pressão,
qual é mantida a 1atm. Transfer Under Pressure (TUP), usadas para tratamento
hiperbárico aos tripulantes, caso a pressão interna no
DISSUB seja superior a 1 atm.

Figura 8: Estrado do MARDEP.

Figura 7: Sino de Resgate Submarino MC-CANN.

4 SISTEMA DE MERGULHO PARA


INTERVENÇÃO
As três plataformas possuem na sua parte exter-
na um estrado para mergulho de intervenção limi-
tado a 57 metros de profundidade pela técnica do
Mergulho a Ar Dependente (MARDEP) (Figura 8)
e, na parte interna, uma câmara de superfície para
a realização de tratamentos hiperbáricos. O TCG
ALEMDAR é o único com a capacidade de realizar
intervenção a 90 metros graças ao emprego de mis-
turas gasosas de hélio com oxigênio (HELIOX) em
sino aberto (Figura 9). Figura 9: Sino Aberto do TCG ALEMDAR.

O Periscópio 23
OPERATIVO

5 VEÍCULO DE OPERAÇÃO REMOTA - ROV


(REMOTELY OPERATED VEHICLE)
O veículo de intervenção e observação com sonar
ativo embarcado no TCG ALEMDAR é capaz de re-
alizar a passagem de POD e conectar as mangueiras
de ventilação ao DISSUB até a profundidade de 600
m (Figura 10). O TCG AKIN e ASIN possuem um
ROV de observação – similar ao NSS Felinto Perry
– que pode ser utilizado até 300 m para investigação,
filmagem e fotografia (Figura 11).

Figura 11: ROV de Observação.

6 SONAR DE BUSCA LATERAL


A demora na localização de um submarino sinis-
trado impacta diretamente na garantia da sobrevi-
vência dos tripulantes. Deste modo, a Fase de Bus-
ca e Localização deve ser a mais expedita possível.
Como forma de reduzir este tempo, os três Navios
de Resgate são dotados de modernos equipamentos
da fabricante alemã ELAK-NAUTIK, modelo L-3
Figura 10: ROVde intervenção. (Figura 12), capazes de executar uma varredura late-
ral de 200 m para cada bordo com excelente definição
de imagem.

24 O Periscópio
ComForS

A instalação de equipamento desta valência no 7 CONCLUSÃO


novo NSS GUILLOBEL aufere ao meio uma capa- Embora possua um moderno Sistema de Posicio-
cidade não só para realizar a localização de DISSUB, namento Dinâmico (SPD), o TCG ALEMDAR abar-
como também na busca de outros materiais de interes- ca a capacidade de realizar o Fundeio a Quatro Pontos,
se à Marinha do Brasil, evitando assim o deslocamento caso haja uma eventual falta das referências eletrôni-
de outros meios navais para tal tarefa. cas. No entanto, este tipo de fundeio é recomendável
somente em último caso, em virtude da demora e im-
precisão do posicionamento sobre o submarino.
Há de notar que uma das grandes vantagens da
Marinha Turca para uma rápida resposta a um aci-
dente está no posicionamento dos três meios no seu
entorno estratégico – capazes de receber o sistema
modular. No entanto, há marinhas em que, dada a sua
área de atuação, o pré-posicionamento de meios pró-
prios ficaria inviável do ponto de vista geoestratégico,
como ocorre com a US NAVY, que por meio da sua
unidade operativa especializada em socorro e resgate,
a Underwater Rescue Command (URC), recorre-se ao
apoio de navios de oportunidade para viabilizar as suas
Operações SUBSAR.
Assim, como um dos pontos de maior relevância
observados no intercâmbio, destaca-se a importância do
SPAG TEAM como ferramenta de apoio emergencial
aos submarinistas, principalmente aos náufragos de um
submarino sinistrado. O uso do SPAG TEAM pela
Turquia entra no planejamento das Operações SUB-
SAR como elemento decisivo para o sucesso da missão.
Essa técnica de auxílio antecipado é uma nova tendên-
cia em diversas Marinhas e, salvo maior juízo, seria sa-
lutar para a Marinha do Brasil iniciar um estudo para
avaliar a viabilidade da criação de um SPAG TEAM,
considerando-se a proximidade da Base Aérea Naval de
São Pedro da Aldeia à Base Almirante Castro e Silva e
Figura 12: Sonar de Busca Lateral. à Base de Submarinos da Ilha da Madeira.
Por fim, da experiência obtida, conclui-se que o
grande diferencial da Marinha Turca está na grande
flexibilidade de seus meios e implementos em realizar
a passagem de Ar de Alta Pressão na Intervenção, o
que corrobora diretamente para o aumento do tempo
de sobrevivência/espera até o efetivo resgate, quer seja
por recursos próprios, empregando o SRC,ou apoiada
pela OTAN, empregando o Deep Submergence Rescue
Vehicle (DSRV).

O Periscópio 25
“Artigos Diversos”, estão publicados artigos relevantes de forma regular, tem procurado ser um veículo de
para o debate profissional e acadêmico dentro das suas informação valioso para quem aqui navega.
OPERATIVO respectivas áreas de atuação, como a Aula Inaugural Desta forma, é com orgulho que convido você,
do Curso Aperfeiçoamento de Submarinos para leitor, a mergulhar nas páginas desta edição, onde
Oficiais (Turma1/2019), a Aula Inaugural do Curso de poderá constatar a nossa tradição de abordar assuntos
Aperfeiçoamento de Mergulhador de Combate para de relevante interesse operativo, dando ênfase às
Oficiais e Curso Especial de Mergulhador de Combate, tarefas desempenhadas pelos nossos submarinistas,
os cuidados durante uma evacuação aeromédica de mergulhadores e mergulhadores de combate e aos
A ATIVIDADE DAE NO EXERCÍCIO DE
uma vítima de doença descompressiva, proposta de temas técnico-profissionais dos médicos hiperbáricos
CONTRAMEDIDAS DE MINAGEM DA ESPANHA – ESP
treinamento de Gerenciamento de Risco na Segurança e psicólogos submarinos, ambos fundamentais à
do Sistema de Saúde, Gestão do Conhecimento no manutenção da nossa soberania na Amazônia Azul.
MINEX 2019
âmbito do Programa Nuclear da Marinha, expectativas
e perspectivas da segurança operacional de submarinos Boa imersão!

Periscópio 3

Capitão-Tenente Diego Santiago da Conceição

1 INTRODUÇÃO
O ESP MINEX é um exercício anual de Mina-
gem e Contramedidas de Minagem (CMM) condu-
zido pela Espanha, no Mar Mediterrâneo, no entorno
das Ilhas Baleares, aberto aos países parceiros e, em
2019, a Marinha do Brasil (MB) foi convidada como
observadora. O Exercício é destinado a treinar as uni-
dades participantes e o Comando e Controle no pla-
nejamento e execução das contramedidas de minagem
em águas costeiras e entrada de portos, incluindo ope-
rações em águas rasas (SW – Shallow Waters) e águas
muito rasas (VSW – Very Shallow Waters), a fim de Figura 2: Área total do exercício.
permitir o Movimento Navio Terra (MNT), com pos-
síveis ameaças assimétrica média e convencional baixa. O principal objetivo do exercício é promover a
cooperação e o entendimento mútuo entre os países
participantes. Executar a detecção de minas, progre-
dir nas Técnicas, Táticas e Procedimentos (TTP) de
utilização dos AUV (Autonomous Underwater Vehicle
– Veículo Submerso Autônomo), treinar os Grupos
de Desativação de Artefatos Explosivos (GDAE) em
operações de contramedidas de minagem no porto, em
águas rasas (SW) e em águas muito rasas (VSW).

Figura 1: Bandeira dos países.

Figura 3: Área do exercício.

26 O Periscópio
ComForS

Além dos Mergulhadores de Combate (MEC), os


mergulhadores (EK-Of/MG-Pr) que fazem o Cur-
so Expedito de Desativação de Artefatos Explosivos
(C-EspDAE – A) também podem compor o GDAE
do GRUMEC. Já a desativação e a destruição de ar-
tefatos explosivos que não envolvem operações sub-
marinas, habilitação obtida através do (C-EspDAE
– B), são conduzidas pelo Batalhão de Engenharia
de Fuzileiros Navais (BtlEngFuzNav).

Figura 4: Envolvidos no exercício.

2 QUEM SÃO OS DESATIVADORES NA MB


A MB dispõe de militares habilitados a desativar
ou destruir artefatos explosivos submersos, ainda ativos
e que porventura sejam encontrados. Esses militares
compõem o Grupo de Desativação de Artefatos Ex-
plosivos (GDAE) do Grupamento de Mergulhadores
de Combate (GRUMEC), especializado em localizar
a ameaça, identificar, avaliar os riscos e destruí-la no
local onde foi encontrada.
Figura 7: Brasão BtlEngFuzNav.

3 FATORES GERADORES
Fruto das ameaças do mundo atual, como o aten-
tado com artefatos explosivos ao destroyer USS Cole,
da Marinha dos Estados Unidos, em 12 de outubro de
2000, enquanto estava reabastecendo no porto de Áden,
no Iêmen, no qual 17 marinheiros morreram e cerca de
39 ficaram feridos, o GDAE do GRUMEC tem re-
cebido diversas demandas correlatas à busca de UIED
(Underwater Improvised Explosive Device – Dispositivos
Figura 5: Brasão DAE. Explosivos Improvisados Submersos) em portos, em
águas rasas (SW) e em águas muito rasas (VSW).

Figura 8: USS COLE.

Figura 6: Brasão GRUMEC.

O Periscópio 27
OPERATIVO

4 ATIVIDADES DAE NA ATUALIDADE Em grandes eventos, como ocorreu nas Olimpíadas


Navios de guerra estrangeiros em visita aos por- de 2016, o GDAE do GRUMEC realizou mergulhos
tos do Brasil frequentemente têm solicitado a busca, para busca de UIED, no píer do Boulevard Olímpico,
identificação e desativação de UIED que porventura em frente ao Primeiro Distrito Naval.
possam estar posicionados em pontos flutuantes, sub-
mersos nos portos ou em cascos de outras embarcações
ao redor do local de atracação. Pois o USS Cole, mes-
mo equipado com avançado sistema de radares, com
armamentos projetados para suportar ataques aéreos
e de mísseis, não tinha proteção contra esse tipo de
ataque com artefatos improvisados.

Figura 11: Olimpíadas.

Em janeiro de 2019, na assunção do atual Coman-


dante da Marinha (CM), que ocorreu no Clube Naval
de Brasília (CNB), a equipe de segurança do Presiden-
te da República (PresRep) planejou o deslocamento
dele pelo Lago Paranoá, suspendendo com ele do Píer
do Palácio da Alvorada e atracando no Píer do CNB.
Para garantir que tanto o píer do Palácio como o do
Clube não possuíam UIED e que o PresRep entra-
ria e sairia da Cerimônia em segurança, o GDAE do
Figura 9: USS WASP. GRUMEC foi acionado e, na manhã que antecedeu
a cerimônia, mergulhou nos dois píeres, inspecionou
todos os pilares, superfícies submersas e deu o pronto
da área, em segurança, para a Equipe de Segurança da
Presidência.

Figura 12: Palácio da Alvorada.

Figura 10: USS RAMAGE

28 O Periscópio
ComForS

Dentro do princípio da prontidão, podemos, além dos ensaios repetitivos como uma rotina, inserir o enten-
dimento mútuo com outros países através de intercâmbios, visando à eliminação de barreiras ao cumprimento da
missão, aprimorar a simplicidade do planejamento, aperfeiçoar as TTP e incrementar reações rápidas em face de
situações diversas.

Figura 13: Abertura ESP MINEX-19 Hangar.

Figura 14: Minas.

O Periscópio 29
OPERATIVO

5 CINEMÁTICA DO INTERCÂMBIO
O exercício ESP MINEX-19 impressionou pelo caráter realístico e pela forma sinérgica com que conseguiu
empregar todos os Grupos-Tarefas (GT). Além do treinamento de colocação de minas usando diferentes tipos de
plataformas (aeronaves, navios e submarinos), os navios caça-minas se dividiam em quadrantes para realizarem as
buscas de possíveis minas ou artefatos improvisados.

Figura 15: Meios empregados.

Figura 16: ANVs.

30 O Periscópio
ComForS

Em águas rasas e muito rasas imperou o uso dos AUV (Autonomous Underwater Vehicle – Veículo Submerso
Autônomo), ROV (Remotely Operated Vehicle – Veículo Operado Remotamente) e dos mergulhadores Desativa-
dores de Artefatos Explosivos (DAE). Dentro de todo esse contexto, tinham ainda os meios aéreos e submarinos
amigos e inimigos de cada GT; nesse ínterim, ocorriam também as ameaças assimétricas de nível médio, conven-
cional de nível baixo e ainda a simulação de acidentes de mergulho para a operação das câmaras hiperbáricas com
os médicos e enfermeiros hiperbáricos.

Figura 17: Ameaça assimétrica.

Para o planejamento da desativação com mergulhadores DAE, levaram-se em consideração fatores como: local/
área, condições ambientais, profundidade do mergulho, tempo para execução, tipo de artefato mais e menos prová-
vel, e, dependendo do grau de necessidade da desativação (urgente ou de reconhecimento dos mecanismos de um
artefato inimigo), elaboravam-se pelo menos duas alternativas de desativação; com os dados iniciais do dispositivo,
determinavam-se também as distâncias mínimas de segurança e a zona de exclusão e as contingências para cada
tipo de desativação.

Figura 18: Planejamento 1.

O Periscópio 31
OPERATIVO

Figura 19: Planejamento 2.

Todos utilizavam equipa-


mentos de mergulho não mag-
néticos e a profundidade máxima
dos mergulhos durante o exercí-
cio foi de 50 metros. A maioria
dos planejamentos de desativa-
ção utilizava o método de alta
ordem (quando ocorre a detona-
ção normal do explosivo, sem a
diminuição de força) e as cargas
colocadas para a destruição dos
artefatos eram posicionadas no
local com auxílio do ROV. Em
um dos planejamentos foi simu-
lado o uso de um MineSniper,
um tipo de ROV que possui luz,
câmera, sonar e compartimento
para a colocação de carga explo-
siva e, quando encontra o alvo,
realiza um ataque kamikaze.

Figura 20: Mergulhos de busca .

32 O Periscópio
ComForS

Figura 21: MineSniper.

O método de desativação por baixa ordem (quando apenas parte do explosivo detona no momento da reação
química, fragmentando-se o restante) só é realizado quando efetivamente não existe a possibilidade de afastar o
artefato de áreas habitadas, de cabos submarinos, de oleodutos ou de portos, ainda assim, antes de executarem a
desativação, isolam totalmente a área, cortam os cabos submarinos, bloqueiam os oleodutos, paralisam a plataforma
e cobrem a mina com mantas ou cases (tipos de caixas) especiais para o amortecimento da onda de choque.
É notório que, com o avanço da tecnologia, com o aumento da inteligência artificial e das suas capacidades de
carregamento, os AUV e os ROV diminuíram em muito a exposição dos mergulhadores DAE aos riscos da ativi-
dade de desativação e à fadiga física durante as buscas submersas.

Figura 22: AUV e ROV.

Contudo, observou-se também, principalmente em águas muito rasas, onde as condições do mar, características
específicas do oceano na área de busca, tipo de fundo, espécies de algas, cor da água, entre outros, reduzem bastante
a capacidade desses equipamentos, ocasionando uma avaliação menos precisa pelo operador.
Dessa forma, dependendo de cada situação, o envio do mergulhador DAE, até o local onde se encontra o arte-
fato, para que se possa realizar uma identificação positiva do dispositivo, ainda se faz necessário.
Ou seja, o uso mais frequente dos mergulhadores era no reconhecimento a curta distância, a fim de obter
dados que auxiliassem na identificação positiva do artefato encontrado. Essa identificação positiva era alcançada
utilizando-se os dados obtidos no reconhecimento aproximado e comparando-os com os já existentes nos bancos
de dados utilizados pelos países.

O Periscópio 33
OPERATIVO

6 CONCLUSÃO
Após o período de observação do ESP MINEX-19, verificou-se que os nossos métodos utilizados para o pla-
nejamento e execução da desativação de artefatos explosivos são muito semelhantes. Contudo, notou-se também
a brevidade com que precisamos abranger a prontidão, provendo os meios utilizados atualmente para as operações
de contramedidas de minagem. Por exemplo, a aquisição de navios modernos com cascos de fibra de vidro, com
equipamentos inteligentes de detecção e manuseio de artefatos explosivos e com câmaras hiperbáricas.

Figura 23: Sonar portátil DNS 300.

Figura 24: Transponders e Pingers.

34 O Periscópio
ComForS

Vale ressaltar ainda que, além dos navios modernos, AUV e ROV utilizados pela grande maioria dos países,
outros equipamentos, tais como sonares portáteis, transponders, pingers e detectores anfíbios (equipamentos estes
que auxiliam os mergulhadores DAE na detecção dos artefatos submersos de forma portátil), Lift Bags para sus-
pender e afastar artefatos de grandes dimensões e, por fim, explosores RFI (Remote Firing Initiator – Iniciador de
fogo a distância) resistentes à água que permitem o acionamento dos dispositivos de desativação a distância e em
segurança são essenciais para a manutenção da atividade DAE no estado da arte e em condições de operar ombro
a ombro com os países parceiros.

Figura 25: Lift Bag e RFI.

O Periscópio 35
OPERATIVO

O Comandante da Força de Contramedidas de Minagem espanhola, CMG Raphael Arcos, na Cerimônia de


encerramento do Exercício, externou o desejo de que a Marinha do Brasil prossiga, lado a lado, participando dos
próximos ESP MINEX, não só como observadora, mas também com uma Equipe de Mergulhadores DAE e,
quando possível, com navios também.

Figura 26: Observadores.

Identificar! Neutralizar! Desativar!


FORTUNA!!!

36 O Periscópio
ComForS

O Periscópio 37
Diversos”, estão publicados artigos relevantes de forma regular, tem procurado ser um veículo de
bate profissional e acadêmico dentro das suas informação valioso para quem aqui navega.
OPERATIVO
s áreas de atuação, como a Aula Inaugural Desta forma, é com orgulho que convido você,
o Aperfeiçoamento de Submarinos para leitor, a mergulhar nas páginas desta edição, onde
Turma1/2019), a Aula Inaugural do Curso de poderá constatar a nossa tradição de abordar assuntos
amento de Mergulhador de Combate para de relevante interesse operativo, dando ênfase às
Curso Especial de Mergulhador de Combate, tarefas desempenhadas pelos nossos submarinistas,
dos durante uma evacuação aeromédica de mergulhadores e mergulhadores de combate e aos
A ESPERANÇA EM MEIO ÀS PROFUNDEZAS DOS MARES:
ma de doença descompressiva, proposta de temas técnico-profissionais dos médicos hiperbáricos
O DESENVOLVIMENTO DO ESCAPE E RESGATE
nto de Gerenciamento de Risco na Segurança e psicólogos submarinos, ambos fundamentais à
ma de Saúde, Gestão do Conhecimento no manutenção da nossa soberania na Amazônia Azul.
SUBMARINO
o Programa Nuclear da Marinha, expectativas
tivas da segurança operacional de submarinos Boa imersão!

Periscópio 3
Capitão-Tenente Thiago Delorenzi dos Santos

A evolução da capacidade submarina, em diver- em 1851, com o afundamento do submarino alemão,


sas marinhas pelo mundo, trouxe consigo a indagação o Der Brandtaucher, a 20 metros no porto de Kiel. O
sobre como agir no momento em que um submari- comandante Wilhen Bauer e dois de seus tripulan-
no acidentado encontre-se incapacitado de retornar à tes escaparam realizando um alagamento controlado,
superfície. Diante deste cenário, a história do escape equalizando as pressões externa e interna, permitindo
e resgate submarino é tão vasta quanto a história do a abertura da escotilha para a fuga.
próprio submarino. Inicialmente, os sistemas de escape tiveram como
Aos tripulantes de um submarino sinistrado (Dis- base os aparelhos respiratórios utilizados por minerado-
tressed submarine-DISSUB) cabem duas alternativas: res de carvão, constituídos de um cartucho de cal sodada
realizar o escape do submarino, chegando à superfície para absorção de dióxido de carbono, buscando filtrar o
sem assistência de elementos externos ou esperar pelo ar respirado. O primeiro equipamento desenvolvido foi
resgate por terceiros. o Hall-reess-Davis, em 1907, na Inglaterra. Era consti-
Nos primórdios, em caso de acidente, a prática tuído de um capacete rígido que utilizava peróxido de
adotada pelo DISSUB era o escape submarino. O pri- sódio para filtrar o dióxido de carbono, porém, por ser
meiro escape a ser testemunhado e relatado ocorreu volumoso, tornou-se inviável e foi abandonado.

Figura 1: Hall-reess-Davi.

38 O Periscópio
ComForS

Em 1911, na Alemanha, surgiu o pulmão Dräger,


equipamento projetado com uma espécie de um pul-
mão externo, traqueias flexíveis, um pequeno cilindro de
oxigênio e uma lata de cal sodada, o qual foi emprega-
do no escape do submarino U3 neste mesmo ano. Em
1927, a Marinha Americana (USN) passou a utilizar o
Momsen Lung, com consumo de oxigênio menor que o
Dräger, e sua aplicabilidade estendeu-se até o ano de
1957. Já a Marinha Real Britânica (RN), em 1929, ado-
tou o Aparelho de Escape Submarino Davis (DSEA).

Figura 3: Steinke Hood.

A grande problemática do escape estava no fato


Figura 2: “Dräger Gegenlunge” (à esquerda), “Momsen de o escapista estar desprovido de qualquer proteção
Lung” (ao centro) e “Davis Submerged Escape Apparatus”
após sua chegada à superfície. Evento percebido em
(à direita).
1950, no afundamento do HMS Truculent, pois, dos
72 tripulantes que chegaram à superfície, somente
Esses sistemas de escape submarino perduraram até 15 sobreviveram, os demais foram levados pela maré.
1946, quando a RN realizou uma pesquisa sobre esca- Outra evidência ocorreu no desastre do submarino
pes submarinos. Desta apuração foi constatado que não K-278 (Kosmsomlets), em 1989, uma vez que, dos 34
havia distinção no quantitativo de sobreviventes entre tripulantes do submarino soviético que atingiram a su-
os utilizadores do DSEA e aqueles que o fizeram sem perfície, todos morreram por hipotermia, insuficiência
auxílio. Como consequência, na época, o DSEA foi cardíaca ou afogamento.
substituído pela técnica de “subida livre”. A “subida li- Na década de 1990, as Marinhas que opera-
vre” consiste na emersão de um membro da tripulação vam submarinos substituíram seus sistemas de fuga
com ar nos pulmões, devendo exalá-lo a uma velocidade pelo sistema britânico Submarine Escape Immersion
controlada. Além disso, para auxiliar no escape, o sub- Ensemble (SEIE) ou versões locais desse projeto.
marinista poderia usar um colete salva-vidas. Usando ar aprisionado, semelhante ao Steinke Hood,
Já no ano de 1962, o equipamento Steinke Hood o SEIE cobre o usuário de maneira completa e for-
foi implementado pela Marinha dos Estados Unidos. nece uma relativa proteção térmica. Outrossim, o
Este dispositivo consiste em um colete salva-vidas in- traje ocupa pouco espaço a bordo, permite um es-
flável com um capuz que envolve completamente a ca- cape a 185 metros, possui dispositivo luminoso e
beça do usuário, prendendo uma bolha de ar respirável um bote salva-vidas adaptado que pode unir-se ao
no seu interior. Durante a Guerra Fria foi empregado demais botes.
nos submarinos da USN.

O Periscópio 39
OPERATIVO

dias de ar. Como exemplo de frustração, há o caso do


submarino americano S-4, pois, em 1927, ventos fortes
impediram o início do resgate no período adequado.
Assim, com as dificuldades envolvidas, a operação de
salvamento e socorro foi abandonada. A operação, em
sua retomada, passou a ser apenas de salvamento, vi-
sando reflutuar o meio, uma vez que seus tripulantes já
estavam sem vida.
Outras operações de salvamento foram realizadas,
tendo como destaque, na América do Sul, a reflutuação
do submarino Santa Fé, da Armada Argentina, afun-
dado a 60 pés no porto de Grytriken, Geórgia do Sul.
Em 1989, houve a reflutuação do Submarino Pacocha,
Figura 4: Submarine Escape Immersion Ensemble (SEIE) da Marinha do Peru, a 137 pés na Baía de Callao, Peru,
MK11. na qual foram realizados cerca de 2.301 mergulhos por
103 mergulhadores. Já em 2000 foi a reflutuação do
O projeto mais recente de sistema de escape é a submarino Toneleiro, afundado a 45 pés no Cais do
HABETaS (HDW, Amits, Bfa Escape Technology Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro, Brasil. O even-
advanced SPES), que permite o escape a uma profun- to do submarino Toneleiro foi um signo para o resgate
didade significativamente maior, cerca de 250 metros. submarino na Marinha do Brasil, pois trouxe consigo
Em maio de 2012, foram realizados ensaios ESCA- uma nova perspectiva na forma de pensar e agir sobre
PEX em mar aberto no HNLMS Zeeleeuw, nas águas o assunto.
norueguesas. Atualmente está sendo adaptado para os O drama da tentativa de resgate do submarino
submarinos de diversas marinhas. americano S-4 trouxe uma grande pressão sobre o
Os equipamentos de escape não cerceiam a ne- assunto. Os frutos deste episódio foram os estudos e
cessidade de atendimento lépido aos escapistas. Para projetos que culminaram no desenvolvimento do sino
tanto, a Marinha Britânica criou Submarine Parachute de resgate.
Assistance Group (SPAG). É uma equipe de rápida im- Após sua reflutuação, o S-4 retornou ao serviço ati-
plantação no local do acidente por meio de aeronave, vo em outubro de 1928 e, posteriormente, foi utiliza-
composta tipicamente por 10 militares, equipada com do como um navio para teste de resgate e salvamento
botes, comida, água, suprimentos médicos, entre ou- submarino. Charler Momsen fez-se ao mar a bordo
tros, cujo objetivo é fornecer assistência emergencial deste submarino no intuito de realizar experimentos
aos tripulantes em fuga do DISSUB até a chegada dos práticos e treinamentos com as câmaras de resgate,
meios Navais que realizarão o recolhimento destes. ajudando a desenvolver equipamentos e técnicas.
Em se tratando de resgate, na década de 1920, al- Os primeiros sinos de resgate foram projetados pelo
gumas marinhas, em particular a USN, iniciaram ope- Departamento de Construção e Reparo do Departa-
rações do tipo salvamento e socorro, com a reflutuação mento da Marinha Americana, em 1928, com auxílio
dos Submarinos sinistrados. Entretanto, essas opera- de Momsen. O tenente-comandante Allan McCann foi
ções só ocorriam em condições ideais, tais como baixa encarregado das revisões no sino de mergulho. De julho
profundidade, proximidade de portos com recursos de 1929 a julho de 1931, McCann foi designado para a
e meteorologia favorável, o que raramente acontecia Divisão de Manutenção, Departamento de Construção
na prática. Ademais, outros fatores levantados foram e Reparo, onde desenvolveu a câmara de resgate sub-
o desconhecimento do dano sofrido pelo submarino, marina, concluindo-a no final de 1930 e a introduzindo
tornando-se perigoso este tipo de operação, e o tempo como Câmara de Resgate McCann.
necessário para desempenhá-la, visto que a tripulação A mentalidade do resgate submarino transmutou-se
do submarino sinistrado teria, no máximo, apenas três radicalmente em 1939 com o naufrágio do USS

40 O Periscópio
ComForS

Squalus. Durante testes em alto-mar, uma falha em


um dos seus equipamentos resultou na sua inundação
parcial e, posteriormente, no seu afundamento a 240
pés, matando 26 dos 59 tripulantes. Como Squalus
estava realizando operações em companhia do USS
Sculpin, o DISSUB foi localizado com rapidez.
O navio de resgate submarino USS Falcon (ASR-
2) chegou ao local cerca de vinte e quatro horas após
o ocorrido, com Momsen, especialista em resgate sub-
marino, que empregou a recém-desenvolvida Câmara
de Resgate McCann. A câmara, similar a um grande
sino de aço, é arriada do navio até a escotilha de fuga
do submarino. Uma vez conectada, era possível reduzir
a pressão do ar e abrir a escotilha, permitindo que os
submarinistas ingressassem no sino. Desta forma, os
33 tripulantes sobreviventes foram resgatados em qua-
tro acoplamentos. O Sistema de Câmaras de Resgate
McCann (submarine recue chamber - SRC) permanece
em serviço na atualidade.

Figura 6: SRC McCann atual.

A doutrina do resgate submarino avançou ain-


da mais nos anos de 1960, após a perda de dois sub-
marinos nucleares americanos, US Ships Thresher e
Scorpion. Como consequência, sobreveio a criação do
SubSafeProgram e, através dele, em 1970, foi iniciali-
zada a fabricação de dois submersíveis de socorro, os
Deep Submerged Rescue Vehicle (DSRV), nomeados de
Avalon e o Mystic. Esses minissubmarinos tripulados
se acoplavam na escotilha do DISSUB e podiam, cada
um deles, transportar 24 pessoas por vez.

Figura 5: Câmara de resgate McCann em 1939.

O Periscópio 41
OPERATIVO

Um novo ponto de inflexão no resgate submarino


foi o sinistro ocorrido com o submarino russo Kur-
sk, em agosto de 2000, colocando mais uma vez em
foco esse tipo de operação. Como consequência dis-
so, efetuou-se a formação do International Submarine
Escape and Rescue Liaison Office – (ISMERLO), uma
Organização internacional de coordenação e troca de
informações sobre busca e salvamento de submarinos.
Sua criação, em 2004, pela OTAN e Submarine Escape
and Rescue Working Group (SMERWG), tem como fim
endossar procedimentos com padrões internacionais
Figura 7: Deep Submerged Rescue Vehicle (DSRV) Mystic. (Standard Agreement – STANAG) para criar e operar
sistemas de escape e resgate submarino (Submarine
O sistema era aerotransportável e, com isso, envia- Escape and Rescue - SMER), promover a prevenção de
do ao porto mais próximo do DISSUB. Em seguida, acidentes e responder de forma ágil à ocorrência de um
era transportado até a proximidade do submarino si- acidente submarino.
nistrado por meio de um submarino-mãe americano Sua atribuição é de suma importância, uma vez que
ou aliado. Operá-lo a partir de um submarino-mãe existem mais de 40 países operando submarinos, res-
significa que as condições do mar têm menor probabi- saltando também o fato de que a Organização é parte
lidade de afetar as operações de resgate. essencial nos exercícios de resgate submarino mundial.
A exemplo da Marinha Americana, outras mari- Por meio de seu site (https://www.ismerlo.org), uma
nhas desenvolveram seus próprios sistemas de resgate nação com um DISSUB pode observar quais meios
portáteis. Em 1978, a Marinha Real passou a utilizar estão disponíveis e que países são capazes de atender.
o veículo de resgate submarino LR-5(SRV), o qual é O resgate submarino encontra-se em constante
similar ao DSRV, que, no entanto, utilizava de um na- aprimoramento. O LR-5 foi substituído pelo Sistema
vio de oportunidade como navio-mãe. Além disso, in- de Resgate Submarino da OTAN (NSRS), desenvol-
corporou a capacidade de tratamento hiperbárico, pois vido em conjunto pela Grã-Bretanha, França e No-
passou a permitir a pressurização interna, realizando ruega. A USN desenvolveu o sistema de mergulho e
em sequência o acoplamento ao sistema de transferên- recompressão de resgate submarino (Submarine Rescue
cia sob pressão (transfer under pressure – TUP), para Diving Recompression System – SRDRS) – FALCON,
realização do tratamento necessário. substituindo os seus DSRV. Os dois sistemas são pare-
cidos e realizam as operações de resgate em três fases:
reconhecimento, resgate e descompressão da tripula-
ção. A fase de reconhecimento envolve um veículo de
operação remota (VOR) para localizar o DISSUB e
registrar dados antes que o minissubmarino o resgate.
A última etapa, a descompressão da tripulação, envolve
uma câmara de Transferência Sob Pressão, que permi-
te que os resgatados sejam transferidos do veículo de
resgate para uma câmara de descompressão, evitando a
ocorrência de doenças descompressivas.

Figura 8: LR5 (SRV).

42 O Periscópio
ComForS

Figura 9: Sistema de Resgate Submarino da OTAN Figuras 11: Atmospheric Diving Suit (ADS), veículo de
(NSRS) operação remota (VOR).

Cabe ressaltar também que hoje há diversas ma-


rinhas com capacitação no resgate submarino, como
Japão, Cingapura, China, Rússia, Coreia do Sul, Aus-
trália, dentre outras, cujos meios estão disponíveis para
consulta no site supracitado da ISMERLO.

Figura 12: NSS GUILLOBEL.

A Marinha do Brasil (MB) recentemente adqui-


riu o NSS Guillobel (K-120), com capacidade de re-
alizar mergulho profundo, fato este de fundamental
Figura 10: SRDRS FALCON. importância, uma vez que, por possuir somente um
Incluídos nesses meios disponíveis, além dos siste- VOR de observação, o mergulhador é o único ins-
mas já citados, existem três sistemas que complemen- trumento de intervenção durante o resgate subma-
tam as operações de resgate: o Atmospheric Diving Suit rino, sendo responsável pelas ações supracitadas no
(ADS), que consiste em uma espécie de submersível parágrafo anterior. Em paralelo, a MB está envidan-
articulado para uma pessoa, dos mesmos moldes de do esforços para modernizar seu sistema de resgate
uma armadura, com articulações que propiciam movi- submarino, composto por um sistema de lançamento
mento enquanto mantêm uma pressão interna de uma (launch and recovery system – LARS) e um sino de res-
atmosfera, os VOR e o Sistema de Mergulho Satura- gate de fabricação nacional com capacidade de resga-
do. Os seus empregos podem ocorrer de diversas ações, te a 300 metros e inclinação máxima de 45 graus para
tais como conectar mangueiras para passagem de ar, acoplamento.
inserir PODs e até mesmo auxiliando no acoplamento
dos sistemas de resgate.

O Periscópio 43
OPERATIVO

Por conseguinte, será retomada a capacidade ope- REFERÊNCIAS


rativa de realizar operações SARSUB e manter-se ACK from the depths: a century of submarine rescue.
inserido no seleto grupo de países habilitados a con- Naval Technology. 26 mar. 2018. Disponível em: <ht-
duzir e efetuar o regate de uma tripulação de um tps://www.naval-technology.com/features/back-depths-
DISSUB. -century-submarine-rescue/>. Acesso em: 19 abr. 2020.

BRYANT, Charles W. How deep-sea rescue works.


Disponível em: <https://adventure.howstuffworks.
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Acesso em: 21 abr. 2020.

44 O Periscópio
ComForS

O Periscópio 45
para o debate profissional e acadêmico dentro das suas informação valioso para quem aqui navega.
respectivas áreas de atuação, como a Aula Inaugural Desta forma, é com orgulho que convido você,
OPERATIVO do Curso Aperfeiçoamento de Submarinos para leitor, a mergulhar nas páginas desta edição, onde
Oficiais (Turma1/2019), a Aula Inaugural do Curso de poderá constatar a nossa tradição de abordar assuntos
Aperfeiçoamento de Mergulhador de Combate para de relevante interesse operativo, dando ênfase às
Oficiais e Curso Especial de Mergulhador de Combate, tarefas desempenhadas pelos nossos submarinistas,
os cuidados durante uma evacuação aeromédica de mergulhadores e mergulhadores de combate e aos
uma vítima de doença descompressiva, proposta de temas técnico-profissionais dos médicos hiperbáricos
A IMPORTÂNCIA DA LOGÍSTICA EM APOIO ÀS
treinamento de Gerenciamento de Risco na Segurança e psicólogos submarinos, ambos fundamentais à
OPERAÇÕES ESPECIAIS NAS ATIVIDADES DO GRUMEC
do Sistema de Saúde, Gestão do Conhecimento no manutenção da nossa soberania na Amazônia Azul.
âmbito do Programa Nuclear da Marinha, expectativas
e perspectivas da segurança operacional de submarinos Boa imersão!

Periscópio 3
Capitão de Corveta Felipe Fonseca Mesquita Spranger

1 INTRODUÇÃO A importância da logística está em fornecer as bases


Este artigo tem o objetivo de citar a importância para o planejamento estratégico, seja de uma Força Ar-
da atividade logística e a maneira que ela se desenvol- mada ou até mesmo de uma empresa. Esse fator repre-
ve no dia a dia do Grupamento de Mergulhadores de senta um grande diferencial para permanecer forte em
Combate (GRUMEC). Ao longo da história, o apoio combate e competitivo. Um bom planejamento logís-
logístico mostrou-se peça fundamental nas operações tico é crucial para que se sobressaia frente ao inimigo.
militares, garantindo a mobilidade e o poder de fogo Analisando a história militar, observamos que
da Força Naval e da Força Terrestre, por meio do apoio todas as batalhas ocorridas no último século foram
cerrado e contínuo nas atividades de manutenção, su- decididas pela inviabilização da logística do inimigo
primento, transporte especializado e evacuação. O ter- e, por conseguinte, do enfraquecimento das forças
mo “logística” tem origem na guerra. Criada pelo Barão opositoras, quando o fogo e o movimento entram em
Jomini1, a palavra remete ao conjunto de atividades re- ação para reprimir um inimigo desprovido de recursos
lacionadas à provisão necessária para a batalha. E isso essenciais. Foi assim na II Guerra Mundial, em que
incluía recursos humanos, materiais e também serviços. os Aliados empreenderam uma campanha de intensos
bombardeios às bases industriais nazistas, e estes, por
sua vez, lançaram uma campanha submarina de gran-
des proporções contra o vital suprimento que trafegava
pelo Atlântico, dos Estados Unidos até o Reino Unido.
Como outro exemplo, temos ainda a Guerra das Mal-
vinas, que se iniciou com um bloqueio naval ao supri-
mento vindo do continente, tentando impedir o envio
de reforços ou suprimentos, pois, se este objetivo fosse
atingido, o moral argentino cairia consideravelmente e
o mesmo aconteceria com a sua eficiência em combate,
à medida que se esgotassem o aprovisionamento.

2 A LOGÍSTICA MILITAR
Figura 1: A logística na Segunda Guerra Mundial. Logística Militar é o conjunto de atividades rela-
tivas à previsão e à provisão dos recursos e dos ser-
viços necessários à execução das missões das Forças
Armadas, de acordo com a Doutrina de Logística
1 Antoine-Henri Jomini, Barão Jomini, foi o principal teórico mili-
Militar do Ministério da Defesa. Cabe a ela prover
tar da primeira metade do século XIX, tendo participado das cam- às forças em operação todos os serviços de que es-
panhas napoleônicas. Escreveu Sumário da arte da guerra em 1836, tas necessitem para se manterem em ação contínua e
em que dividiu a arte da guerra em seis partes: a política da guerra,
estratégia, grande tática, logística, engenharia e tática de detalhes. sempre operacionais.

46 O Periscópio
ComForS

Pela sua destacada e importante atuação na solução so, a permanência e a saída de Equipes de Operações
de complexos problemas de apoio às forças militares, a Especiais (EqOpEsp) de território hostil, sustentar a
Logística adquiriu posição de destaque no quadro das capacidade de duração das ações, ampliando a sobrevi-
operações, passando a ser considerada como um dos vência dessas equipes em ambientes hostis e permitir
fundamentos da arte da guerra. a restauração da eficiência e do poder combatente dos
operadores, após a execução de uma determinada ação.
3 LOGÍSTICA NO CAMPO DAS OPERAÇÕES Este apoio pode ser prestado por tropas conven-
ESPECIAIS (OPESP) cionais e/ou de OpEsp organizadas para este fim. É
De acordo com a Doutrina Militar Naval, as realizado de maneira flexível, devendo se adequar às
OpEsp são aquelas realizadas por pessoal adequado, exigências e peculiaridades de cada operação/missão.
rigorosamente selecionado e intensivamente adestra- Não deve ser baseado em estruturas excessivamente
do, empregando métodos, táticas, técnicas, procedi- rígidas e precisa se adaptar à natureza das OpEsp.
mentos e equipamentos não convencionais, visando à
consecução de objetivos dos níveis político, estratégico,
operacional e tático. Normalmente, são operações de
duração limitada, em função do reduzido efetivo em-
pregado e da dificuldade de ressuprimento. Podem ser
conduzidas tanto em tempo de paz como em períodos
de crise ou conflito armado; em situações de norma-
lidade ou não normalidade institucional; de forma os-
tensiva, sigilosa ou coberta; em áreas negadas, hostis
ou politicamente sensíveis; independentemente ou
em coordenação com operações realizadas por forças
convencionais; em proveito de comandos de nível es-
tratégico, operacional ou tático. O sigilo, a rapidez, a
surpresa e a agressividade das ações são as caracterís-
ticas essenciais para o sucesso desse tipo de operação.
Diante disso, e levando em consideração o vasto te-
atro de operações em que podem ser empregados os
elementos de operações especiais (ElmOpEsp), faz-se
necessário e indispensável um apoio logístico eficiente,
para que estes possam pensar e dedicar-se inteiramen- Figura 2: Infiltração por fast rope.
te ao combate frente ao inimigo. Devido à relevância
no combate e em diversos adestramentos e missões ao No tocante ao preparo e ao pronto emprego, o
longo do ano e de que as equipes operativas partici- Apoio ao Combate e o Apoio de Serviços de Com-
pam, o GRUMEC viu a necessidade de se aperfeiçoar bate, representados pelo Departamento de Logística,
organizacionalmente no que tange à logística. Desta contribuem para a manutenção das equipes operati-
forma foi criado um Departamento de Logística vol- vas constantemente aptas para serem empregadas nos
tado para o Apoio ao Combate e Apoio de Serviços diferentes ambientes operacionais do território nacio-
de Combate, cuja missão é prestar apoio logístico às nal e no exterior. Essa contribuição é prestada através:
equipes operativas, prestar-lhes apoio de Comando e do transporte terrestre de pessoal e material, empre-
Controle e apoiar a infiltração e a exfiltração. gados nos inúmeros adestramentos anuais, mediante
O apoio às OpEsp compreende uma sé- o auxílio às instruções de técnicas de mergulho e de
rie de atividades que são desenvolvidas em prol dos infiltração subaquática; do auxílio em adestramentos
ElmOpEsp, com o propósito de aumentar o poder de salto livre e salto semiautomático; da dobragem e
combatente das unidades de OpEsp, auxiliar o ingres- da preparação dos paraquedas para o lançamento de

O Periscópio 47
OPERATIVO

pessoal e material, feitas pelas equipes DoMPSA2; da


condução de embarcações pneumáticas e lanchas rápi-
das para abordagens de navios mercantes em apoio ao
Destacamento de Abordagem, entre outras formas de
suporte à instrução e ao adestramento das EqOpEsp
do GRUMEC.

Figura 4: Lançamento de lancha por aeronave.

4 PERSPECTIVAS DE FUTURO
Visando incrementar e melhorar cada vez mais o
apoio logístico às EqOpEsp, atualmente o GRUMEC
estuda a viabilidade de lançar a Lancha Hurricane de
paraquedas sobre o mar, a partir da aeronave Embraer
Figura 3: Escalada de um Contato de Interesse. KC-3903, que terminou sua fase de certificação recen-
temente. A Embraer já tem contrato com a Força Aé-
Este apoio e o aparato logístico se mostraram rea Brasileira (FAB) para fornecer 28 aviões KC-390
eficientes e vêm sendo aperfeiçoados ao longo dos nos próximos anos.
anos, a exemplo do ocorrido nos eventos: Operação Em missões de apoio às ações do Grupo Espe-
de Segurança (OpSeg) dos Jogos Mundiais Militares cial de Retomada e Resgate (GERR-MEC) ao lon-
(2011), OpSeg da Conferência das Nações Unidas go da costa brasileira, nos cumprimentos de tarefas
sobre Desenvolvimento Sustentável (RIO+20), em de retomada de navios e plataformas de petróleo, o
2012, OpSeg da Jornada Mundial da Juventude (vi- GRUMEC conta com o apoio de submarinos, navios
sita do Papa Francisco ao Brasil), em 2013, OpSeg de superfície e helicópteros para realizar o seu des-
da Copa das Confederações, em 2013, OpSeg da locamento, todavia, esses meios não permitem uma
Copa do Mundo FIFA-BRASIL, em 2014, OpSeg chegada tão rápida ao local, principalmente quando o
dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio/2016, entre objetivo está localizado distante de terra e por vezes a
outros. O apoio do Departamento de Administração, dezenas de milhas da costa dentro das águas jurisdi-
atual Departamento de Logística do GRUMEC, cionais brasileiras e da capacidade de autonomia das
contribuiu sobremaneira no cumprimento e sucesso aeronaves navais, quando decolando de terra. Por isso,
das tarefas realizadas pelas EqOpEsp, permitindo o emprego de outros meios, coordenando ações com
ainda manter o elevado prestígio da Marinha junto à outras Forças, faz-se necessário, diminuindo, assim, o
sociedade. tempo de reação a uma eventual ameaça.

2 Dobragem, Manutenção de Paraquedas e Suprimento pelo Ar. 3 O Embraer KC-390 é uma aeronave para transporte tático/logísti-
Equipes de especialistas que são aptos para realizar a dobragem de co e reabastecimento em voo desenvolvido e fabricado pela Embraer
todos os tipos de paraquedas, executar a manutenção de materiais Defesa e Segurança. A aeronave estabelece um novo padrão para o
aeroterrestres e realizar o lançamento de suprimentos de aeronaves transporte militar médio, visando atender os requisitos operacionais
militares. da FAB, em substituição ao C-130 Hércules.

48 O Periscópio
ComForS

5 CONCLUSÃO REFERÊNCIAS
Por todos esses aspectos, a logística tem um pa- BRASIL. Marinha do Brasil. DOUTRINA DE
pel fundamental nas tarefas desenvolvidas pelo GRU- LOGÍSTICA MILITAR - MD42-M-02.
MEC e, desta maneira, é imprescindível que todos os
envolvidos de maneira direta e indireta, assim como o _______. Marinha do Brasil. EMA 305 – DOUTRI-
administrador logístico, seja em qualquer nível em que NA MILITAR NAVAL (DMN).
atuar, procurem se antecipar às necessidades que pode-
rão surgir, de forma que as equipes operativas possam CREVELD, Martin van. Supplying War: Logistics
guarnecer em um tempo mínimo quando acionadas e from Wallentstein to Patton. Cambridge: Cambridge
sejam capazes de cumprir suas missões. Universitypress, 2004, p. 96-127.

HUSTON, James Alvin. Outpostsandallies: U.S. Ar-


mylogistics in thecoldwar, 1945-1953. Pennsylvania:
Susquehannauniversitypress.

KANE, Thomas M. Military Logistics and Strategic


Performance. Routledge.

http://operacoesmilitaresguia.blogspot.com.
br/2012/09/logistica-militar
Figura 5: Destacamento de Abordagem.

Figura 6: Equipe mergulhada do GERR-MEC.

O Periscópio 49
“Artigos Diversos”, estão publicados artigos relevantes de forma regular, tem procurado ser um veículo de
para o debate profissional e acadêmico dentro das suas informação valioso para quem aqui navega.
OPERATIVO respectivas áreas de atuação, como a Aula Inaugural Desta forma, é com orgulho que convido você,
do Curso Aperfeiçoamento de Submarinos para leitor, a mergulhar nas páginas desta edição, onde
Oficiais (Turma1/2019), a Aula Inaugural do Curso de poderá constatar a nossa tradição de abordar assuntos
Aperfeiçoamento de Mergulhador de Combate para de relevante interesse operativo, dando ênfase às
Oficiais e Curso Especial de Mergulhador de Combate, tarefas desempenhadas pelos nossos submarinistas,
os cuidados durante uma evacuação aeromédica de mergulhadores e mergulhadores de combate e aos
A EVOLUÇÃO DA ARTE OPERACIONAL DO GRUMEC
uma vítima de doença descompressiva, proposta de temas técnico-profissionais dos médicos hiperbáricos
A PARTIR DE VARIÁVEIS AMBIENTAIS: DESAFIOS E
treinamento de Gerenciamento de Risco na Segurança e psicólogos submarinos, ambos fundamentais à
do Sistema de Saúde, Gestão do Conhecimento no manutenção da nossa soberania na Amazônia Azul.
OPORTUNIDADES
âmbito do Programa Nuclear da Marinha, expectativas
e perspectivas da segurança operacional de submarinos Boa imersão!

Periscópio 3

Capitão de Fragata Felipe Otavio Melo Jácome Gurgel

1 INTRODUÇÃO da e Resgate, de Paz, de Socorro e Salvamento e tam-


bém podem ser utilizados na desativação de artefatos
[...] SEAL1 teams, more than any other special explosivos.
warfare unit, depend on environmental informa- Segundo Till (2009), o litoral é a arena natural
tion to obtain a tactical advantage in the field. para operações marítimas pós-modernas, região onde
Consequently, oceanographic and meteorologi-
a maior parte das ameaças está localizada. Nela pode-
cal information can be as important to a SEAL
mos encontrar o terrorismo, o narcotráfico, a pirataria,
team as any single piece of equipment in its arse-
a busca por recursos naturais (petróleo) e ictiológicos,
nal. Kenneth H. Brink (EUA, 1997)2.
desastres ambientais, problemas relacionados à imigra-
Há na Marinha do Brasil (MB) o Grupamento de ção, entre outros. São normalmente conflitos regionais
Mergulhadores de Combate (GRUMEC), um grupo e de baixa intensidade.
de elite que realiza Operações Especiais (OpEsp) em- É notória a extrema importância das OpEsp para a
pregando métodos, táticas, técnicas, procedimentos e MB e para o Brasil no atual cenário. Diante dessas no-
equipamentos não convencionais, visando à consecu- vas ameaças, híbridas e assimétricas, foi criado o Co-
ção de objetivos dos níveis político, estratégico, opera- mando Naval de Operações Especiais (CoNavOpEsp)
cional e tático. para, entre outras tarefas, planejar e coordenar a parti-
De acordo com a Doutrina Militar Naval, as cipação da MB nas operações, adestramentos e exercí-
OpEsp podem ser conduzidas tanto em tempo de paz cios conjuntos e combinados de OpEsp.
Contudo, as operações do GRUMEC se revestem
quanto em períodos de crise ou conflito armado; em
de particularidades e complexidades extras, como a
situações de normalidade ou não normalidade insti-
atuação em ambiente de risco elevado (a partir do am-
tucional; de forma ostensiva, sigilosa ou coberta; em
biente marítimo ou em águas interiores), que sofrem
áreas negadas, hostis ou politicamente sensíveis em
grande influência da natureza. O aperfeiçoamento da
proveito de comandos de diversos níveis. O sigilo, a
Arte Operacional3 nos planejamentos desse Grupa-
rapidez, a surpresa e a agressividade são as condições
mento contribuiria para uma melhor concepção do
essenciais para o sucesso desse tipo de operação.
Adicionalmente, podem ser empregados em Ope- emprego de suas equipes.
ração de Evacuação de Não Combatentes, de Retoma- São inúmeros os casos na história em que um
planejamento adequado, ou deficiente, definiram o
resultado de diversas missões. Em Tarawa (1943), a
1 SEAL (Sea, Air and Land) - Forças Especiais da Marinha dos EUA.
não observância das questões batimétricas geraram a
2 “[...] as equipes SEAL, mais do que qualquer outra unidade de ope-
rações especiais, dependem de informações ambientais para obter
uma vantagem tática no campo de batalha. Consequentemente, os 3 “A Arte Operacional tem como propósito a melhor concepção do
dados oceanográficos e meteorológicos podem ser tão importantes emprego de meios militares e não militares no teatro de operações.”
para uma equipe SEAL, quanto qualquer peça de seu arsenal.” (To- Doutrina de Operações Conjuntas. (MD30-M-01) – 1° Volume.
das as traduções são do autor). 2011. Ministério da Defesa.

50 O Periscópio
ComForS

perda de milhares de vidas. Por outro lado, Normandia - Correntes e marés


(1944), Okinawa (1945) e Inchon (1950) foram reco- As correntes e marés afetam muitos aspectos nas
nhecimentos hidrográficos exemplares. Na Operação missões do GRUMEC. Desde decisões sobre o mo-
“Thunderhead”, Vietnã (1972), e em Granada (1983), mento adequado para iniciar uma atividade, o instante
a não observância das condições meteoceanográficas ideal para uma infiltração e/ou extração de uma equi-
levaram militares a óbito. Na Operação “Tempestade pe, além de decisões sobre onde e como conduzir de-
do Deserto”, Kuwait (1990), o reconhecimento foi rea- terminadas operações.
lizado com fins de despistamento obtendo com grande Geralmente, o objetivo final dessas ações culmina
êxito o efeito desejado. em sítios industriais ou militares localizados ao longo
Portanto, o objetivo deste artigo é apresentar aos to- de um estuário ou rio, envolvendo trânsito significa-
madores de decisão, profissionais da área e leitores que tivo de navios e embarcações. Correntes adversas ou
a melhor compreensão desses complexos fenômenos inesperadas podem afetar gravemente a duração de
litorâneos e fluviais por meio da aquisição de dados am- uma missão, podendo esgotar o suprimento de ar ou
bientais com o uso de equipamentos e sensores, em con- combustível. Outrossim, alguns padrões de corrente
sonância com ferramentas computacionais integradoras, podem trazer vantagens táticas significativas.
propiciaria um conjunto de conhecimentos fundamen-
tais na avaliação da viabilidade, da segurança e dos riscos - Ondas e a zona de arrebentação
implicados em cada missão. Essas relevantes informa- As ondas e a zona de arrebentação também in-
ções poderiam ser parte complementar do processo de fluenciam as operações de reconhecimento ou levanta-
planejamento nas operações do GRUMEC e promover mento de praia, as rotas de entrada e saída e os limites
uma considerável melhoria na sua Arte Operacional. operacionais dos combatentes e dos meios por eles uti-
lizados (e.g. botes infláveis). Cabe salientar que cada
2 INFLUÊNCIA DAS VARIÁVEIS AMBIENTAIS praia é um domínio ambientalmente distinto, com di-
NAS OPERAÇÕES DO GRUMEC nâmicas, por vezes, altamente complexas.

“Conheça o inimigo e a si mesmo e você obterá - Batimetria


a vitória sem qualquer perigo; conheça o terreno Implica na navegação litorânea, em portos, hidrovias,
e as condições da natureza, e você será sempre canais, rios, estuários e lagos. onde podem ser encontra-
vitorioso.” Sun Tzu (544-496 a.C.)4.
dos obstáculos naturais ou antrópicos. Também afetam
as operações que ocorrem na zona costeira entre profun-
Embora o ambiente tenha um papel importante
didades de dezenas de metros e a praia, na infiltração/
em qualquer operação militar, as missões conduzidas
extração e nas operações de reconhecimento, onde são
pelo GRUMEC são extremamente sensíveis ao meio
requeridas coleta de dados sobre batimetria, gradiente
ambiente. A Environmental Information for naval
de praia, obstáculos submersos e tipo de fundo.
warfare5 (EUA, 2003) cita que cerca de 75% das ope-
Convém salientar que as profundidades na plata-
rações realizadas pelo SEAL são gravemente afetadas
forma costeira não variam muito. Já na zona de arre-
por condições meteoceanográficos inadequadas.
bentação as mudanças da batimetria, fruto do trans-
Com base na publicação Oceanography and naval
porte de sedimentos, podem ser suficientes para afetar
special Warfare: Opportunities and challenges6 (EUA,
diretamente uma missão, como a formação dos bancos
1997), citaremos, abaixo, as principais variáveis am-
de areia ou, de forma indireta, alterando substancial-
bientais que podem afetar as OpEsp no ambiente ma-
mente os padrões de corrente ou de onda no local.
rítimo ou em águas interiores.
Outro ponto importante, é que a batimetria tem
4 Ministério da Defesa. Doutrina de Meteorologia e Oceanografia de função primordial nos processos de predição nos mo-
Defesa – MD32-M-03. 2. ed. 2017. delos hidrodinâmicos para os campos de ondas e cor-
5 “Informações Ambientais para a Guerra Naval.” rentes sobre topografia complexa das regiões costeiras
6 “Oceanografia e Operações Especiais: Oportunidades e Desafios.” e estuarinas.

O Periscópio 51
OPERATIVO

- Visibilidade da água dade da água e a flutuabilidade devido à alteração da


A visibilidade da água no local de atuação do salinidade da água.
MEC é um parâmetro que merece atenção. Embo- A precisa compreensão dessas variáveis ambientais
ra a detecção em águas mais claras seja uma grande pode contribuir no planejamento das OpEsp ofere-
preocupação, as operações mergulhadas em condições cendo vantagens táticas aos militares do GRUMEC e
muito turvas podem ser negativamente impactadas. O ajudando a garantir o sucesso de uma missão.
melhor entendimento e previsibilidade da circulação
de marés em estuários e baía e sua influência nos níveis 3 DADOS AMBIENTAIS EM APOIO ÀS
de turbidez contribuem no planejamento das missões. OPERAÇÕES DO GRUMEC
Muitos dados ambientais necessários para o pla-
- Bioluminescência nejamento das OpEsp podem ser solicitados ao Cen-
Como o sigilo é uma condição essencial para as tro de Hidrografia da Marinha (CHM), organização
OpEsp, a bioluminescência é um fator ambiental que militar responsável pelo Banco Nacional de Dados
pode tornar o MEC vulnerável. A inserção clandestina Oceanográficos (BNDO). Caso não haja informa-
de pessoal em ambientes hostis exige completa discri- ções adequadas para determinada localidade, ou caso
ção. As águas costeiras são, na maioria das vezes, ricas os mesmos disponíveis estejam desatualizados, faz-se
em nutrientes e organismos bioluminescentes devido a necessária a investigação no sítio de interesse.
afloramentos sazonais e/ou descargas terrestres (como Nesse sentido, o sensoriamento remoto é uma ex-
escoamento de águas pluviais). celente opção, pois não há risco de detecção e a cole-
ta de dados pode começar bem antes das operações.
- Temperatura da água Desenvolver uma capacidade confiável de veículos não
A temperatura da água pode ter efeitos diretos nas tripulados (Figura 1) é outra opção válida, especial-
OpEsp, já que baixas temperaturas da água podem mente para áreas sensíveis em que não há dados de
prejudicar o desempenho do mergulhador e levar à hi- batimetria e outras informações ambientais relevantes
potermia caso não esteja devidamente equipado. como ondas e correntes. Para levantamentos conduzi-
dos para fins administrativos, existe um leque diverso
- Campos de ventos de equipamentos meteoceanográficos comercialmente
Podem influenciar na infiltração por meio de para- disponíveis.
quedas, na navegação e no deslocamento de militares
com meios de pequeno porte (bote inflável, caiaque
etc.) e na geração de ondas. São importantes para a
caracterização dos padrões reinantes na área de inte-
resse assim como fazem parte dos dados de entrada em
modelos hidrodinâmicos.

- Precipitação
O ambiente ribeirinho é altamente dinâmico devi-
do à precipitação em uma grande área geográfica, sen-
do o escoamento concentrado em um canal relativa-
mente estreito. As chuvas que ocorrem bem no interior Figura 1: Veículos não tripulados.
podem ter efeitos importantes na bacia hidrográfica a
jusante, como inundações e correntes mais intensas Os elementos do GRUMEC poderiam fazer rele-
que as previstas em um curto período de tempo, que vantes observações ambientais em escalas espaciais e
podem colocar em risco a missão ou a própria vida da temporais adequadas para parametrizar as condições
equipe. Costumam aumentar a fadiga e o desconforto de contorno e iniciais para modelos de alta resolução
do combatente. Em estuários, podem afetar a visibili- com poucos equipamentos meteoceanográficos que

52 O Periscópio
ComForS

devem ser pequenos e facilmente implantáveis. As


informações adquiridas poderiam ser compiladas em
curto prazo, colaborando na compreensão dos proces-
sos litorâneos em determinada área de interesse.
É importante salientar que as necessidades de co-
nhecimentos ambientais do GRUMEC podem ser as
mesmas, indispensáveis, para outras operações, como
as Operações Anfíbias e de grande valia para a hidro-
grafia da MB.

4 O USO DE MODELOS
Uma visão dinâmica dos fenômenos existentes
nesses complexos corpos d’águas naturais pode ser Figura 3: Exemplo de comparação entre os resultados
derivados de modelos numéricos e medição de campo.
obtida, de uma forma simplificada, por meio de mo- Apresenta-se uma correlação aceitável para dados de elevação
delos numéricos. Havendo uma correlação entre os do nível do mar. Neste caso foi utilizado um marégrafo para
resultados obtidos por essas simulações e as medi- medição do nível do mar e o Software SisBaHiA desenvolvido
na COPPE/UFRJ como modelo. (GURGEL, 2016).
ções de campo, valida-se o mesmo que já pode ser
empregado, em determinada região de interesse, na
Essas tecnologias estão disponíveis nas universida-
previsão dos processos dinâmicos do mar e de rios
des, instituições de pesquisa e no mercado. Podemos
(Figuras 2 e 3).
citar modelos hidrodinâmicos capazes de descrever
apropriadamente a circulação hidrodinâmica forne-
cendo dados de correntes. Os modelos digitais do ter-
reno, que devem estar aptos a importar mapas e linhas
de contorno de terra e de água, gerar e editar malhas
de discretização (ROSMAM, 2020).
Os modelos de geração de ondas permitem cal-
cular, ao longo do tempo, parâmetros como: alturas
significativas e médias quadráticas, períodos de pico,
velocidades orbitais, entre outros. Os modelos de pro-
pagação de ondas explicitam os efeitos de refração, di-
fração, dissipação e arrebentação (idem).
Os modelos já são utilizados em outras Marinhas
Figura 2: Exemplo de comparação entre os resultados para variados tipos de operações. A Marinha dos EUA
derivados de modelos numéricos e medição de campo. utiliza o modelos do Naval Meteorology and Oceanography
Apresenta-se uma correlação aceitável dos valores de Command 7 (METOC), conforme apresentado na Figura
corrente. Neste caso foi utilizado um Acoustic Doppler
Current Profiler (ADCP) para medição das correntes e o 4, a Marinha Nacional Francesa emprega o Système Dé-
Software SisBaHiA desenvolvido na COPPE/UFRJ como ployable d’Hydrographique Militaire (SDHM)8 – Figura 5,
modelo. (GURGEL, 2016). e as Forças de Defesa da Nova Zelândia optaram pelo
SurfZoneView (Figura 6). Modelo este também adotado
O suporte meteorológico/oceanográfico deve ser pelo Ministério da Defesa do Reino Unido9.
dado por especialistas em um local com ferramentas
computacionais (softwares) e sistemas de comuni- 7 “Comando Naval de Meteorologia e Oceanografia.”
cação capazes de receber dados e produzir conheci- 8 “Sistema de Implementação de Hidrografia Militar.”
mentos de interesse para as OpEsp em curto espaço 9 Disponível em: <https://www.metocean.co.nz/news/2018/2/28/
de tempo. uk-ministry-of-defence-adopts-surfzoneview>. Acesso em: 6 de
mai. 2020.

O Periscópio 53
OPERATIVO

A implementação do uso de modelos não requer


investimentos iniciais elevados, necessitando apenas
de computadores com razoável capacidade de proces-
samento, aquisição de softwares e pessoal especializado
para elaboração de análises e mapas.
Portanto, a modelagem com capacidade previsiva
apresenta-se como uma ferramenta relevante para
os tomadores de decisão nas OpEsp (Figuras 7 e 8)
e, também, em outras Operações Navais, como nas
OpAnf e Operações Ribeirinhas (Figura 9), além de
Figura 4: Exemplo de modelo utilizado na Marinha dos ter sido já experimentada e aprovada em outras Mari-
EUA (EUA, 2010). O METOC Model Viewer (MMV) da
Naval Oceanographic Office (NAVOCEANO) é usado para nhas e com baixo custo de implantação.
exibição de um arquivo com corrente de maré, camadas
climatológicas e imagens georretificadas. Os limites
ambientais das plataformas dos Grupos de Operações
Especiais da Marinha dos EUA também podem ser
plotados em um menu para uma rápida identificação de
áreas de oportunidade ou de risco.

Figura 7: Exemplo de mapa gerado por modelo apresentando


resultados da intensidade e direção das correntes em situação
com ventos de NE com intensidade de cerca de 6 m/s no
litoral do município de Arraial do Cabo (RJ). A figura acima
apresenta um cenário onde as intensidades de correntes são
pouco intensas (GURGEL, 2016). Apresenta, basicamente,
informações semelhantes ao modelo da NAVOCEANO e
demais modelos supracitados (figura 4, 5 e 6).
Figura 5: Exemplo de modelo utilizado pela
Marinha Nacional da França, Système Déployable
d’Hydrographique Militaire (SDHM).

Figura 8: Diferentemente da figura 7, o cenário aqui


apresenta ventos predominantes de SW com intensidade
semelhante. Contudo, a influência nas correntes é relevante,
Figura 6: Exemplo de modelo adotado pela Forças de tornando o ambiente inadequado para operações com
Defesas Neozelandezas, SurfZoneView (SZV). mergulhadores (GURGEL, 2016).

54 O Periscópio
ComForS

REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Defesa. Doutrina de opera-
ções conjuntas. (MD30-M-01) – 1° Volume. 2011.

______. Marinha do Brasil. Estado-Maior da Arma-


da. EMA-305 - Doutrina militar naval. 2017.

EUA. National Research Council 1997. Oceano-


graphy and naval special warfare: opportunities and
challenges. Washington, DC: The National Acade-
mies Press.

______. National Academy of Engineering and Natio-


Figura 9: Exemplo de possibilidade de aplicação em nal Research Council. 2003. Environmental informa-
Operações Ribeirinhas. ROSMAN (2020). tion for naval warfare. Washington, DC: The National
Academies Press. Doi: 10.17226/10626. Disponível em:
5 CONCLUSÕES < https://www.nap.edu >. Acesso em: 20 jun. 2018.
Em conclusão às ideias expostas e analisadas, ressal-
ta-se a sensibilidade das operações dos Mergulhadores ______. Naval Research Laboratory. Littoral Envi-
de Combate a diversos parâmetros ambientais, os quais ronmental Sensing Architecture (LESA) Report—the
podem influenciar diretamente o desenvolvimento de current state of sensing capability for naval special
suas ações. Diante dessa constatação, o uso de mode- warfare METOC support. 2010. 33p.
los constitui importante ferramenta integradora que vai
culminar com a facilitação da compreensão das dinâmi- GURGEL, F. O. M. J. Aplicações de modelagem hidro-
cas litorâneas e fluviais, trazendo vantagens táticas, com dinâmica para ações de resposta a incidentes de polui-
possibilidade de estimar o potencial de risco associado ção por derrame de óleo: estudo de caso da Enseada dos
em cada ação do GRUMEC, melhorando a consciência Anjos em Arraial do Cabo-RJ. 167p. Dissertação (Mes-
situacional da área de atuação, possibilitando um ganho trado em Engenharia Urbana e Ambiental) – Pontifícia
operacional e reduzindo o nível de incertezas das OpEsp. Universidade Católica do Rio de Janeiro, RJ, 2016.
Como todos os projetos, estudos e propostas, de-
paramo-nos com obstáculos. E, neste caso, o maior ROSMAN, Paulo César Colonna. Sistema base de
e mais significativo para implementação dessa ferra- hidrodinâmica ambiental – referência técnica. Pro-
menta é a aquisição de dados. Contudo, medida sim- grama de Engenharia Oceânica da COPPE, Univer-
ples pode minimizar e até superar essa dificuldade, sidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, RJ.
pois uma quantidade significativa dessas informações Disponível em: <http://www.sisbahia.coppe.ufrj.br/
pode ser solicitada ao CHM/BNDO. SisBAHIA_RefTec_V10a.pdf>. Acesso em: 6 mai.
Os modelos aqui citados já são amplamente utili- 2020.
zados em Marinhas amigas, possuindo custo de imple-
mentação baixo, e necessitam de pessoal especializado TILL, Geoffrey. Seapower: a guide for the twenty-
para sua operacionalização. -first century. 2. ed. Londres: Frank Cass Publishers,
Por último, a evolução da Arte Operacional do GRU- 2009.
MEC pode ser incrementada com a incorporação de
ferramentas tecnológicas como a modelagem, como ca-
pacidade previsiva, que poderia ser um requisito para a
elaboração dos planejamentos, contribuindo para a obten-
ção dos efeitos desejados e redução dos riscos implicados.

O Periscópio 55
do Curso Aperfeiçoamento de Submarinos para leitor, a mergulhar nas páginas desta edição, onde
Oficiais (Turma1/2019), a Aula Inaugural do Curso de poderá constatar a nossa tradição de abordar assuntos
OPERATIVO
Aperfeiçoamento de Mergulhador de Combate para de relevante interesse operativo, dando ênfase às
Oficiais e Curso Especial de Mergulhador de Combate, tarefas desempenhadas pelos nossos submarinistas,
os cuidados durante uma evacuação aeromédica de mergulhadores e mergulhadores de combate e aos
uma vítima de doença descompressiva, proposta de temas técnico-profissionais dos médicos hiperbáricos
treinamento de Gerenciamento de Risco na Segurança e psicólogos submarinos, ambos fundamentais à
do Sistema de Saúde, Gestão do Conhecimento no manutenção da nossa soberania na Amazônia Azul.
A FORÇA OCEÂNICA ESTRATÉGICA (FOST) FRANCESA
âmbito do Programa Nuclear da Marinha, expectativas
e perspectivas da segurança operacional de submarinos Boa imersão!

Periscópio 3
Capitão-Tenente Rômulo dos Santos da Costa

A dissuasão constitui a garantia máxima contra qual- Le Triomphant, Le Téméraire e Le Vigilant, enco-
quer ataque aos interesses vitais, independentemente da mendados respectivamente em 1997, 1999 e 2004,
sua origem ou forma. A presença permanente de um possuem equipamentos de última geração e melhor
SNLE-Submarinos Nucleares Balísticos Franceses em desempenho furtivo acústico. No mar, o SSBN é uma
patrulha, ou dois, se necessário, garante sempre a possibi- base estratégica totalmente autônoma, não rastreável
lidade de executar um ataque nuclear que seria ordenado em toda a sua patrulha. Indetectáveis, inicialmente
pelo Presidente da República a qualquer momento. equipados com 16 mísseis M45, cada um carregando
Para manter a disponibilidade, são tripulados por várias ogivas nucleares, a patrulha dos 4 SNLE con-
duas equipes identificadas por cores: azul e vermelho, siste em revezar-se para garantir a permanência no
compreendendo 110 marinheiros cada. Enquanto os mar e contribuir para a dissuasão nuclear. Agrupados
SSBNs alternam os períodos de patrulha e manuten- dentro da Força Oceânica Estratégica (FOST), que é
ção, suas equipes sucessivas seguem um ciclo de pe- composta por cerca de 2.850 funcionários e é um dos
ríodos de treinamento em simuladores, manutenção componentes das forças nucleares estratégicas (SAN)
do navio, patrulha de nove a dez semanas e algumas francesas, que detêm a maioria dos armamentos nucle-
semanas de licença em terra. ares daquele país. O Le Terrible, último navio da clas-
Quatro SSBNs operam a partir da base “Ile se que foi comissionado em 2010, foi equipado com
Longue”, localizada em uma península a oeste da cos- a capacidade de 16 mísseis estratégicos M51 desde
ta francesa: um SSBN L’Inflexible da classe M4 e três sua construção. Os outros três SSBNs originalmente
SSBNs de nova gera-ção: Le Triomphant, Le Téméraire implantaram mísseis M45 e foram atualizados para o
e Le Vigilant. novo míssil M51 pela DCNS (agora Naval Group).

Figura 1: Planta do SSBN Classe Le Triomphant.

56 O Periscópio
ComForS

Dados técnicos:
• Comprimento: 138 metros.
• Largura: 12,5 metros.
• Peso: 14.200 toneladas.
• Imersão máxima: 300 metros.
• Motorização: 1 reator nuclear, 1 unidade redutora de
turbo de 30,5 MW.
• Tripulação: 2 tripulações de 110 marinheiros (16
oficiais e 94 praças).
• Armamento estratégico: 16 mísseis estratégicos
M45/M51.
• Equipamento de autodefesa: tubos de torpedo de 4 x Figura 2.3: Brasão Le Vigilant.
533 mm para torpedos F17 e para mísseis antinavio
SM-39 EXOCET.
• Equipamento: 1 radar, 1 sonar multifuncional, 1 sonar
rebocado de baixa frequência, 1 sistema de transmissão
por satélite, 1 sistema de combate SET ou SYCOBS.

Figura 2.4: Brasão Le Terrible.

A estrutura do FOST inclui em Brest, cidade fran-


cesa localizada na região da Breta-nha, três entidades
Figura 2.1: Brasão Le Triomphant que contribuem para o suporte operacional:
- O Esquadrão Submarino de Mísseis Balísticos a
Energia Nuclear (ESNLE), respon-sável pela prepara-
ção dos navios e suas tripulações.
- A base operacional em “Ile Longue”, onde os na-
vios são mantidos e os mísseis, con-dicionados.
- O centro de preparação das equipes de força
submarina, responsável pela instrução e treinamento.
A Marinha Francesa possui também seis SSNs, os
quais foram atualizados para o atual padrão Améthys-
te – com a proa e o casco redesenhados, melhorando
o fluxo hidrodinâmico e garantindo uma performance
mais silenciosa. Seu potencial militar foi consideravel-
Figura 2.2: Brasão Le Téméraire mente aprimorado, particularmente no que diz respei-
to à detecção submarina, comunicações e dis-crição
acústica. Seguindo a velocidade e a regularidade do
avanço tecnológico, são capazes de implantações de
longa distância e longa duração, missões de coleta de

O Periscópio 57
OPERATIVO

informações e intervenções contra navios de superfície. da Marinha (PNM), sob a responsabilidade do


O papel deles é crucial para proteger um grupo-tarefa Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo
contra ameaças submarinas. Os submarinos de ataque (CTMSP), atribuindo maior eficiência de gestão
para alavancar os projetos em andamento e agre-
também contribuem de maneira fundamental para a
gando maior visibilidade junto aos demais atores
dissuasão. Eles participam diretamente da proteção e
de Ciência, Tecnologia e Inovação do País.
segurança dos SSBNs durante suas implantações, bem
como no treinamento tático. O passo citado reproduz afirmação do
Eles são projetados para navegar duzentos e vinte Diretor-Geral de Desenvolvimento Nuclear e Tecno-
dias por ano, cada SSN é tripulado por duas equipes de lógico da Marinha do Brasil, Almirante de Esquadra
cerca de setenta homens, similar aos SSBN. Marcos Sampaio Olsen, em entre-vista ao site Petro-
Este componente, também colocado sob a autori- notícias, em abril deste ano.
dade da FOST, está localizado em Toulon, dentro do O primeiro submarino de propulsão nuclear bra-
esquadrão submarino de ataque nuclear (ESNA) para sileiro (SN-BR) empregará muitos sistemas e tecno-
benefício das instalações da escola de navegação sub- logias empregados nos S-BR da classe “Riachuelo”,
marina (ENSM), contribuindo para a instrução dos por isso a construção dos submarinos convencionais é
militares e o treinamento das tripulações. importante para dar experiência e escala de produ-ção
A Força Oceânica Estratégica (FOST) francesa de equipamentos que serão comuns aos dois tipos de
demonstra inequivocamente o know-how da Mari- submarinos. Muitos dos sistemas e equipamentos dos
nha Francesa em relação à operação de submarinos S-BR e SN-BR estão sendo nacionalizados e produ-
nucleares. zidos por empresas bra-sileiras. Sem dúvida, a indús-
O acordo de parceria estratégica, realizado entre o tria nacional, a sociedade se beneficiará diretamente ao
Brasil e a França em 2008 para a cooperação de longo participar de todos esses empreendimentos, gerando
prazo na área de defesa, incluiu o desenvolvimento emprego, renda e desenvolvimento no Brasil, além de
e construção de submarinos Scorpene modificados ser uma potência na América latina com capacidade de
(S-BR), a construção de uma base de submarinos e produzir, operar e possivelmente exportar submarinos.
de um estaleiro moderno. Mesmo com relativo atraso
do primeiro S-BR, muitos avanços estão ocorrendo
estruturalmente na organização e gerenciamento da
administração naval por conta do desenvolvimento
do Programa de Desenvolvimento de Submarinos.
O acordo garantiu o desenvolvimento da parte não
nuclear do projeto submarino nuclear brasileiro, par-
cerias industriais, transferência de tecnologia e for-
mação de pessoal.

O ano de 2019 deu continuidade a avanços ex-


pressivos no âmbito do Setor de Ciência, Tecno-
logia e Inovação da Marinha, especialmente em Figura 3: SSBN Classe Le Triomphant.
razão de sua recente reestruturação. Esse proces-
so promoveu a centralização do gerenciamento
das atividades clássicas de Pesquisa & Desen-
volvimento (P&D) das Instituições Científicas,
Tecnológicas e de Inovação (ICT), que passaram
à subordinação do Centro Tecnológico da Ma-
rinha no Rio de Janeiro (CTMRJ); bem como
incorporou o Programa de Desenvolvimento de
Submarinos (PROSUB) e o Programa Nuclear

58 O Periscópio
ComForS

REFERÊNCIAS
MINISTÈRE des Armées. Disponível em: <https://
www.defense.gouv.fr/marine/equipements/sous-ma-
rins/sous-marins-nucleaires-lanceurs-d-engins/les-
-sous-marins-nucleaires-lanceurs-d-engins/>. Acesso
em 22 jul. 2020.

PETRONOTÍCIAS. Disponível em: <https://petro-


noticias.com.br/marinha-detalha-os-proximos-pas-
sos-prosub-submarino/>. Acesso em 22 jul. 2020.

O Periscópio 59
para o debate profissional e acadêmico dentro das suas informação valioso para quem aqui navega.
respectivas áreas de atuação, como a Aula Inaugural Desta forma, é com orgulho que convido você,
OPERATIVO
do Curso Aperfeiçoamento de Submarinos para leitor, a mergulhar nas páginas desta edição, onde
Oficiais (Turma1/2019), a Aula Inaugural do Curso de poderá constatar a nossa tradição de abordar assuntos
Aperfeiçoamento de Mergulhador de Combate para de relevante interesse operativo, dando ênfase às
Oficiais e Curso Especial de Mergulhador de Combate, tarefas desempenhadas pelos nossos submarinistas,
os cuidados durante uma evacuação aeromédica de mergulhadores e mergulhadores de combate e aos
uma vítima de doença descompressiva, proposta de temas técnico-profissionais dos médicos hiperbáricos
CURSO DE COMANDANTES DE SUBMARINOS NA
treinamento de Gerenciamento de Risco na Segurança e psicólogos submarinos, ambos fundamentais à
do Sistema de Saúde, Gestão do Conhecimento no manutenção da nossa soberania na Amazônia Azul.
MARINHA DA FRANÇA (COURCO-2019)
âmbito do Programa Nuclear da Marinha, expectativas
e perspectivas da segurança operacional de submarinos Boa imersão!

Periscópio 3

Capitão de Corveta Felipe Fampa Negreiros Lima

1 INTRODUÇÃO 2 DE VOLTA À ESQUADRILHA


O processo de formação de um comandante de Uma das coisas que pude constatar após mais de
submarino é longo e demandante. Diz-se que o co- 13 anos convivendo com submarinistas, de várias ma-
mandante começa a ser forjado no Curso de Aper- rinhas, é que a camaradagem presente entre nós trans-
feiçoamento de Submarinos para Oficiais (CASO), cende fronteiras. Talvez porque enfrentemos os mes-
ainda como um jovem tenente. O percurso do futuro mos riscos e sabemos que nossas vidas estão nas mãos
comandante inclui períodos a bordo, cursos e ades- dos nossos companheiros ou talvez porque comparti-
tramentos diversos na Escola de Submarinos e em lhamos a certeza de que devemos cuidar bem dos nos-
outras instituições de ensino da Marinha do Brasil sos “barcos” para que eles nos tragam com segurança à
(MB) e funções em terra. Porém, mesmo com a expe- superfície. Independentemente do motivo, pude com-
riência e a dedicação de anos de serviço, o oficial que provar minhas impressões ao ser novamente recebido
deseja concorrer ao comando de uma das armas mais com fidalguia, camaradagem e respeito ao regressar,
fascinantes e complexas que existe deverá passar pelo em 2019, para mais um curso na Esquadrilha de Sub-
Estágio de Qualificação para Futuros Comandantes marinos Nucleares de Ataque (ESNA) da Marinha da
(EQFCOS). França.
Diversas marinhas que operam submarinos re- Localizada na agradável cidade de Toulon, banha-
alizam um curso ou estágio semelhante para com- da pelo mar Mediterrâneo, a ESNA faz parte do gran-
provar que os oficiais candidatos estão aptos para de complexo naval do Sul da França e é diretamente
o comando no mar. Buscamos, sempre que possí- subordinada ao ALFOST - Comandante da Força de
vel, realizar intercâmbios com as marinhas amigas Submarinos da França. Atualmente, a Esquadrilha
para aprimorar nossas técnicas e doutrina e trocar conta com cinco submarinos de propulsão nuclear de
experiências. No histórico da Força de Submarinos ataque da classe Rubis e aguarda a chegada do mais
há oficiais que cursaram no Reino Unido, Holanda, novo submarino da classe Suffren (projeto Barracuda).
Chile e Alemanha. Antes de escrever sobre o COURCO, sinto-me
Seguindo a busca por novos intercâmbios, a Ma- compelido a situar os leitores sobre os eventos que
rinha Nacional da França (MNF) ofereceu uma vaga antecederam o curso. Após o início do Programa de
para um oficial brasileiro participar do seu Curso de Desenvolvimento de Submarinos da Marinha do Bra-
Comandantes de Submarinos em 2017 e 2019. Esta sil (PROSUB), a Marinha da França ofereceu alguns
abertura se deu em um momento oportuno, uma intercâmbios na área de submarinos. Dentre os pro-
vez que o nosso país projeta o seu submarino a pro- gramas propostos, havia uma vaga para a realização de
pulsão nuclear. Tais oportunidades foram extrema- cursos e embarques em Submarinos Nucleares de Ata-
mente valiosas para podermos observar a operação que da classe Rubis. Assim, após passar por um pro-
desse tipo com uma marinha que o emprega desde cesso seletivo, tive a oportunidade de servir na ESNA
a década de 1960. nos anos de 2012 e 2013, quando fiz três diferentes

60 O Periscópio
ComForS

cursos: Curso Elementar de Submarinos para Ofi-

Arquivo pessoal
ciais (COFISMA); Curso de Oficial de Águas (Cours
Maître de Central); e Curso Superior de Submarinos
para Oficiais. Além dos referidos cursos, embarquei
em Submarinos Nucleares de Ataque (SNA), com o
objetivo de qualificar os sistemas e serviços de bordo,
totalizando um pouco mais de 1.300 horas de imersão.
Ao final do intercâmbio estava qualificado para o ser-
viço de Oficial de Águas e de Oficial de Periscópio em
SNA da classe Rubis.
Ter a oportunidade de qualificar um submarino
de propulsão nuclear foi uma experiência única, prin-
cipalmente por se tratar de uma arma complexa e de
grande valor militar.

Figura 2: SNA Casabianca no Canal de Suez.

A condução dos submarinos na MNF segue o es-


quema de duas tripulações completas por navio, in-
clusive Comandante. Enquanto uma tripulação está
operando em um ciclo entre períodos de manutenção,
Figura1: Exemplo de Embarque em Submarino Por Heli- a outra fica treinando em simuladores, preparando a
cóptero. Crédito: Marine Nationale. próxima missão, gozando férias e realizando cursos
e adestramentos. Os embarques e desembarques de
Ao longo do período que passei na MNF, par- tripulantes ocorrem antes dos períodos de adestra-
ticipei de algumas comissões e eventos marcantes: mento, garantindo os requisitos mínimos das equipes
embarque por helicóptero em submarino no Ocea- antes de fazerem ao mar. Como o período de afasta-
no Índico (Figura 1); trânsito mergulhado pelo Mar mento de bordo, entre missões, é de cerca de 4 meses,
Vermelho e passagem pelo Canal de Suez (Figura 2); a cada nova missão são realizadas inspeções de se-
participação do exercício multinacional SPONTEX gurança e operativas para verificar o grau de apres-
da OTAN no Atlântico Norte; trânsito em imersão tamento e adestramento do meio e seus tripulantes.
pelo Estreito de Gibraltar; lançamento de torpedos Este esquema é seguido pelos SNA e pelos Submari-
de exercício; e exercícios submarino versus submarino nos Lançadores de Mísseis Balísticos (SNLE na sigla
(SUB X SUB). em francês). Atualmente, a Marinha da França está
expandindo este tipo de condução para as Fragatas
Multimissão (FREMM), a fim de aproveitar ao má-
ximo a disponibilidade dos meios, sem impor uma
fadiga excessiva na tripulação.

O Periscópio 61
OPERATIVO

3 ESTAGIÁRIOS

Marine Nationale
A gestão do pessoal da força de submarinos fran-
cesa acompanha o desempenho operativo de cada
oficial submarinista desde o início de sua carreira a
bordo. Este acompanhamento é realizado pela Divi-
são de Treinamento da ESNA. O oficial encarregado
do treinamento tem um dossiê que contém todas as
avaliações de cada oficial desde o início de sua carrei-
ra como submarinista. Quando a força de submarinos
indica um oficial para fazer o curso de comandantes,
já tem uma boa noção de que o referido candidato a
comando tem o nível mínimo de conhecimento e de
capacidade de condução do submarino exigido para Figura 3: Estagiários e Teacher do COURCO 2019.
ser comandante. O curso é a avaliação final, em que
o candidato será submetido ao estresse e ao cansaço, 4 PREPARAÇÃO
num ambiente de operações complexas, e deverá to- Após a confirmação da participação no curso, que
mar decisões coerentes, analisando os riscos, ouvindo ocorreu no mês de março de 2019, iniciei uma pre-
sua tripulação e não comprometendo a segurança do paração ainda no Brasil. Para tal, realizei treinamen-
submarino, sem perder a agressividade necessária ao tos nos simuladores táticos dos SB-R no Centro de
comandante de um submarino. Instrução e Adestramento Almirante Áttila Monteiro
Um dos pré-requisitos obrigatórios para um ofi- Aché (CIAMA) em Itaguaí-RJ. O sistema de comba-
cial comandar um SNA é ter sido comandante de te e disposição dos equipamentos no compartimento
um navio de superfície de 3a ou 4a classe. A MNF do comando do SB-R se assemelha aos encontrados
considera essencial a experiência de um comando no nos SNA da classe Rubis. Para me auxiliar com a fra-
mar antes de comandar um submarino. Além deste seologia e procedimentos da doutrina francesa, contei
requisito, há todo um percurso mínimo a bordo de com a inestimável ajuda do Premier Maître Sébastien
submarinos para que o oficial chegue ao comando Bugli, experiente submarinista francês que serviu na
de um submarino. Normalmente, após comandar um Marinha do Brasil durante 4 anos, e do Encarregado
SNA, o oficial será imediato e depois comandante de do Grupo de Recebimento do Submarino Riachuelo,
um SNLE (Submarino Lançador de Mísseis Balís- CF Vale, e seus oficiais (Figura 4).
ticos), e esses submarinos ficam baseados em Brest,
norte da França.
Arquivo Pessoal
Os estagiários do COURCO têm geralmente ida-
des que variam de 35 a 38 anos e, logo após o curso, os
oficiais aprovados assumem o comando de um SNA.
No curso de 2019 havia cinco estagiários franceses e
um brasileiro (Figura 3). Além de brasileiros, há his-
tórico de estagiários espanhóis que participaram do
curso de comandantes da Marinha da França em anos
anteriores.

Figura 4: Preparação nos Simuladores Táticos das SB-R no


CIAMA-Itaguaí (da esquerda para a direita: PM Bugli, CC
Schaffer (S-40), CC Fampa, CF Vale (S-40) e CC Antunes
Lima (S-40).

62 O Periscópio
ComForS

5 ADAPTAÇÃO PRÉ-COURCO Os objetivos principais do período de adaptação,


A apresentação na Esquadrilha de Submarinos Nu- definidos pelo Oficial de Treinamento (Teacher - res-
cleares de Ataque (ESNA) ocorreu no dia 23 de abril, ponsável pelo CORUCO), foram os seguintes:
quando fui recebido pelo Comandante da ESNA, o
Capitaine de Vaisseau Cyril de Jaurias. Após receber as • familiarização com o periscópio de ataque;
boas-vindas, fui encaminhado ao prédio de apoio dos • domínio dos procedimentos da doutrina francesa;
submarinos (SNA Casabianca), que seria meu local de • exploração dos sonares, principalmente o sonar de
trabalho e estudo. De acordo com a programação mon- frequência extremamente baixa (sonar rebocado);
tada pelos franceses, foram dedicadas duas semanas para • domínio da doutrina de gestão do comando na cota
minha adaptação sem a presença dos outros estagiários periscópica (GECO IP); e
do COURCO. Durante este período recebi a documen- • exercer a função de imediato em Postos de Comba-
tação atualizada, onde constavam alguns procedimentos, te. Este ponto era importante, pois, durante o cur-
fraseologia e parâmetros de segurança, principalmente so, os alunos também iriam revezar como imediatos
na condução do submarino na cota periscópica e navega- de serviço.
ção em águas rasas. Todas as seções nos simuladores fo-
ram acompanhadas por um oficial de periscópio e praças 6 O CURSO
do SNA Casabianca Bleu (tripulação azul do submarino), No dia 6 de maio, pela manhã, houve a abertu-
que operavam os consoles e mesas de plotagem. Além ra do Curso de Comandantes pelo Comandante da
disso, o próprio comandante do submarino comparecia Esquadrilha de Submarinos Nucleares de Ataque.
em alguns exercícios para realizar uma avaliação. Foram Para minha grata surpresa, dos cinco oficiais alu-
realizados os seguintes exercícios em simuladores: nos franceses, eu tive a oportunidade de embarcar
com três deles por ocasião do meu intercâmbio de
• CASEX A5 – Ataque à força naval na cota peris- 2012/2013. Tal fato facilitou muito a minha integra-
cópica – utilização da técnica PERISHER (técnica ção com os estagiários. Nesta ocasião, o Oficial de
periscópica da Marinha Britânica, difundida em vá- Treinamento apresentou uma breve exposição sobre
rias forças de submarinos pelo mundo, incluindo a o curso, objetivos e quesitos de avaliação, a saber:
brasileira), adaptada à MNF. capacidade de assegurar a segurança do submarino;
• CASEX A6 – Ataque à força naval em um cenário capacidade de resistir ao estresse; liderança; aptidão
complexo com múltiplas ameaças. de preparar e adestrar a tripulação; senso tático; ca-
• CASEX S7 (SUB x SUB) – Detecção, manobra pacidade de reconfiguração (resiliência); capacidade
anticolisão e acompanhamento de Submarino Nu- de escutar e autoexaminar suas decisões; domínio/
clear de Ataque (SSN), utilizando prioritariamente conhecimento da plataforma; coragem moral e pro-
a antena sonar rebocada e antenas de flanco (flank bidade; e endurance.
array), utilizando todos os recursos de baixa frequ- O COURCO é dividido em três partes: Fase de
ência, incluindo identificação positiva SONAR pela Terra, Fase de Operações Antissubmarinos e Fase de
sua assinatura acústica dos alvos. Operações Costeiras e Antissuperfície.
• Navegação em águas rasas com corte de pool de er-
ros1 por sondagens e linhas de posição. 6.1 Fase de Terra
Os cursos de comandantes da Marinha do Brasil,
1 O pool de erros é um círculo de incerteza da posição do submarino que do Chile e da Holanda têm uma fase de terra mais
cresce ao longo do tempo, ou seja, o lugar geométrico dos pontos de pos-
síveis posições em que o submarino pode estar. Quanto mais tempo sem extensa, mais de 4 semanas, do que o curso francês,
uma referência externa de navegação, maior é este círculo. Em operações que tem pouco menos de duas semanas. Conside-
próximas de terra, quanto maior este círculo, mais limitado o submarino
fica de se aproximar de perigos à navegação com segurança. A fim de se
ro que esta abordagem ocorra por conta das diversas
evitar a exposição do submarino necessária para calcular uma nova posi- avaliações operativas prévias a que os oficiais france-
ção GPS ou visual, utilizam-se técnicas para reduzir o tamanho deste cír-
culo de incerteza através de sondagens e outras referências de navegação
ses são submetidos ao longo de suas carreiras como
mais discretas, mantendo uma baixa taxa de indiscrição do submarino. submarinistas.

O Periscópio 63
OPERATIVO

A fase de terra do COURCO 2019 ocorreu no pe- • Segurança do submarino na cota periscópica (CP)
ríodo de 6 a 17 de maio, nas dependências da École e a relação de compromisso entre a discrição obti-
de Navigation Sous-Marine et des Bâtiments à Porpul- da com a exposição intermitente do periscópio e a
sion Nucléaire (ENSM-BPN), também localizada em segurança do submarino em relação aos contatos de
Toulon, onde se encontram os simuladores táticos e superfície. Foram analisados dois casos de colisões
de navegação. A título de curiosidade, a ENSM tam- entre submarinos e mercantes na CP: SNA Rubis e
bém abriga os simuladores do controle da propulsão NM Lyra e HMS Ambush e um mercante nas proxi-
e o treinador de imersão, onde realizei os cursos de midades de Gibraltar.
formação em 2012 e 2013. Anexo ao prédio da ENSM • A ameaça crescente do submarino convencional.
foi construída uma nova edificação para abrigar os si- Nesta apresentação, que foi realizada por mim, tra-
muladores da nova classe de submarinos de ataque da tou-se da expansão dos submarinos convencionais
MNF. Esta fase do curso contemplou sessões nos si- pelo mundo, principalmente na Ásia e no Mediter-
muladores e palestras sobre diversos temas relaciona- râneo e das evoluções destes tipos de submarinos.
dos aos submarinos. Algumas palestras são proferidas • Segurança nas operações em águas rasas. Apresenta-
pelos próprios alunos e outras pelo oficial de treina- ção exclusiva para os oficiais franceses.
mento encarregado do curso (Entraineur 1 – ENT1). • Dissuasão na Força de Submarinos. Apresentação
Os exercícios realizados foram: CASEX A5 (ata- exclusiva para os oficiais franceses.
que à Força Naval na Cota Periscópica); CASEX A6 • Operações antissubmarino. Apresentação exclusiva
(ataque à Força Naval); Retorno à Cota Periscópica para os oficiais franceses.
em condições de saturação de contatos de forma ex-
pedita, utilizando apenas o SONAR; e CASEX S7 6.2 Fase de Operações Antissubmarinos
(detecção, manobra anticolisão e ataque a submarinos). Finda a fase de terra, iniciou-se a fase de operações
Nos simuladores eram utilizados, como figurati- antissubmarino (A/S) do curso, com duração de 1 se-
vos inimigos (FIGIN), navios da Marinha Nacional mana de mar, entre os dias 19 e 24 de maio. Esta parte
da França, da Marinha do Reino Unido e da Marinha do curso foi particularmente desafiadora, ao menos
dos Estados Unidos da América. Com relação aos sub- para mim, pois foi onde encontrei mais diferenças en-
marinos, foi utilizado um submarino com caracterís- tre os procedimentos da MB e da MNF. Apesar de ter
ticas similares à classe Rubis, porém com frequências participado de diversos exercícios SUB X SUB, seria a
conspícuas diferentes das reais. Os simuladores são primeira vez que teria de, a partir de um submarino a
bem fiéis no que diz respeito ao processamento das propulsão nuclear, detectar e seguir outro submarino,
informações acústicas e de guerra eletrônica, gerando também de propulsão nuclear, por uma semana contí-
um cenário muito próximo à realidade, no que tange nua, ainda mais com o apoio de meios aéreos A/S. De
às distâncias de detecção e contra detecção, níveis de uma forma geral, a cinemática do exercício era seguir
perigo e emprego do armamento. Com relação a este um submarino inimigo que deixaria seu porto-base e
último item, o submarino contava com uma dotação, faria operações em nossas águas. Conforme os even-
definida pelo oficial aluno, de torpedos F17 e mísseis tos iam se desenrolando, regras de engajamento eram
submarino/superfície Exocet SM39. acionadas até a autorização para atacar o alvo “inimi-
Seguindo o retorno de experiências, dentro da filo- go”. Além disso, era necessário reportar os dados de
sofia da gestão de conhecimentos, foram proferidas pa- inteligência operacional obtidos para o comando em
lestras sobre acidentes e outros assuntos relacionados a terra, a fim de manter o quadro tático atualizado.
submarinos. Os seguintes temas foram abordados: Os meios envolvidos nesta fase foram o SNA Perle
• Manobra do SNA no porto e navegação na superfície, (Figura 5), onde estavam embarcados os oficiais alunos
quando foram abordados aspectos e especificidades de e o oficial de treinamento, um avião de patrulha A/S
manobra dos submarinos da classe Rubis, sobretudo tipo Atlantique 2 Standard 6 (Figura 6), um helicóptero
quando estão transportando a antena do sonar reboca- A/S NH-90 (Figura 7), sendo as duas aeronaves da for-
do, que pode chegar a até 1.500 jardas de comprimento. ça amiga e controladas pelo SNA Perle. O SNA Saphir

64 O Periscópio
ComForS

participou como FIGIN, ou seja, o alvo que deveria ser tida através de separação por camadas verticais de
seguido. A área de exercícios era compreendida entre a imersão dos meios;
costa sul da França e a costa da Ilha da Córsega. c) CASEX S28: Acompanhamento do submarino ini-
migo enquanto ele está na superfície, nos períodos

Marine Nationale
noturno e diurno. O SNA Perle permanecia na cota
periscópica para detectar o SNA inimigo saindo da
base e cumprindo os procedimentos de imersão ou
vindo à superfície e entrando no porto.

6.3 Fase de Operações Costeiras e Antissuperfície


Depois de concluídos os desafios da etapa antissub-
marino, passamos para as operações antissuperfície e
operações costeiras. Esta fase teve duração de duas se-
manas de mar, de 26 de maio a 7 de junho, durante as
Figura 5: SNA Perle. quais foram realizados diversos exercícios e problemas
de batalha. A área de operações (Mapa 1) se estendia de
Marine Nationale

Toulon à fronteira marítima com Mônaco, no litoral Sul


da França, até o litoral oeste da ilha da Córsega. Mesmo
com dimensões consideráveis, em virtude da mobilida-
de do submarino à propulsão nuclear, toda a área foi
utilizada ao longo dos dias de exercícios. Todo litoral,
compreendido nas duas extremidades da área, foi co-
berto por missões de tarefas secundárias, como perifoto,
perivídeo ou guerra eletrônica.
Os exercícios ocorriam 24 horas por dia, sem in-
tervalos, alternando os oficiais-alunos nas funções de
Figura 6: Aeronave A/S Atlantique 2. Comandante, Imediato e Oficial de Navegação. As de-
mais funções eram executadas pela tripulação do navio.
Foram realizados os seguintes exercícios operativos: Toda a rotina do submarino era decidida pelos alunos
a) CASEX S76: Cada oficial aluno exerceu o papel de com o aval do Comandante, que comandava por veto.
comandante do submarino por períodos de 20 a 22 Os oficiais e praças de bordo eram muito exigidos,
horas. A missão do submarino era detectar, classi- uma vez que as escalas de serviço eram de um por um,
ficar e acompanhar o SNA inimigo nos tempos de com quartos de seis horas3, durante toda a comissão.
crise e atacá-lo nos tempos de guerra. Os alunos Os meios envolvidos nesta fase foram o SNA Perle
tinham de coordenar a apoio aéreo das aeronaves (Figura 5), Fragata Multimissão (FREM) Languedoc
que estavam à disposição para detectar e classifi- (Figura F8) com um helicóptero orgânico NH-90 A/S
car o SNA Saphir. Através de enlace de dados, o (Figura 07); Fragata Antiaérea (FA) Jean Bart (Figura
submarino recebia todas as informações táticas das 9); Aviso Commandant Ducuing (Figura 10); VN Rebel
aeronaves. - HVU4 (Figura 11); PATMAR Atlantique 2 Std 6 (Fi-
b) LANCEX: Lançamento de 3 torpedos de exercício gura 6); e PATMAR P8 Poseidon dos EUA (Figura 12).
contra o SNA Saphir, que tinha liberdade em rumo
e velocidade para realizar manobras evasivas, sem o 3 Nesta escala de serviço, a metade da tripulação está de serviço en-
quanto a outra metade está descansando, comendo, realizando ma-
emprego de despistadores2. A segurança era man-
nutenção em equipamentos ou preparando os próximos exercícios.
O revezamento ocorre a cada 6 horas.
2 Dispositivos projetados para despistar os torpedos lançados contra
os submarinos, gerando ruídos ou ecos falsos, aumentando as chan- 4 HVU (High Value Unit) - Unidade de Maior Valor é o alvo prin-
ces de evasão do meio. cipal do submarino.

O Periscópio 65
OPERATIVO

Marine Nationale

Marine Nationale
Figura 11: VN Rebel (HVU).

Figura 7: Aeronave A/S NH-90.

U.S. Navy
Marine Nationale

Figura 12: Aeronave A/S P8 Poseidon.


Figura 8: Fragata Multimissão FREMM.

Marine Nationale
Marine Nationale

Figura 9: Fragata Antiaérea FA Jean Bart.

Figura 13: CF Julien Fieschi (comandante do SNA Perle);


CC Julien Le Blanc (estagiário COURCO) CC Patrick
Jean-Claude Coquaud

Chumeil (estagiário COURCO); CV Jaurias (comandante


da ESNA); CC Aymeric Schaffer (estagiário COURCO);
CC François Garreau (estagiário COURCO); CC Julien
Moullard (estagiário COURCO); CC Fampa (estagiário
COURCO) e VA Morio de l’Isle (ALFOST).

Figura 10: Aviso Commandant Ducuing.

66 O Periscópio
ComForS

Exercícios operativos realizados: Durante esta fase, o ALFOST, o Vice-Amiral Ber-


a) CASEX A8: Ataque à Força Naval em trânsito en- nard-Antoine Morio de l’Isle (Figura 13), embarcou
tre dois portos fictícios. no SNA Perle por dois dias para acompanhar alguns
b) CASEX A6 LANCEX: Ataque à Força Naval em exercícios. Durante seu período a bordo, o comandante
trânsito sob ameaça submarina com lançamento da força de submarinos da França pôde avaliar pesso-
de torpedo F17 de exercício no HVU. Dois alunos almente o desempenho dos oficiais-alunos e conversar
franceses lançaram um torpedo cada. Desta forma, com o oficial encarregado do curso sobre a atuação de
todos os alunos franceses fizeram um lançamento cada aluno.
de torpedo de exercício durante o curso. No dia da atracação do submarino de volta a Tou-
c) OPSCO-ISR5 com oposição: Reconhecimento de lon, o oficial de treinamento chama, individualmente,
objetivos de costa e de contatos de oportunidade os oficiais-alunos para uma debriefing. É neste mo-
com oposição de navios de superfície em patrulha mento que toda a carreira do oficial submarinista será
costeira. Cada estagiário ficou responsável de uma definida e ele saberá se poderá ou não ser comandante
área da costa Mediterrânea da França (Cap Ferrat, de um submarino. No curso de 2019, um dos oficias
Nice, Cannes, Antibes, Cap Bennat e Île du Levant). da Marinha da França não foi considerado apto para o
A aproximação foi realizada na cota de segurança comando, não podendo mais servir a bordo de subma-
(CS de 55 metros), navegando com corte de pool de rinos, e os demais oficiais lograram êxito.
erros pelas linhas isobatimétricas e com velocidades
que variavam de 5 a 16 nós. As fotos e os vídeos dos 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
objetivos eram realizados a cerca de 1.500 a 2.000 Poder operar no seio de uma marinha como a da
jardas de costa. As operações eram realizadas de dia França é uma grande oportunidade de aprendizado
e de noite, em áreas de grande movimentação de e crescimento profissional. Ao participar do curso de
embarcações de recreio (veleiros, lanchas e iates) e comandantes, podemos ter contato com o nível mais
próximas às rotas de ferryboats e navios de cruzeiro. alto de exercícios operativos, onde são empregados os
Os navios de superfície da Força Naval se reveza- melhore meios disponíveis. Por ocasião dos exercícios
vam nas zonas de patrulha próximas aos objetivos pude notar que a FREMM é um navio extraordiná-
com a missão de detectar o submarino. rio na guerra A/S, pois seus sensores, como sonar de
d) CASEX C4/C13: Exercícios complexos de detec- profundidade variável e sonar rebocado, somado a sua
ção, classificação, acompanhamento e ataque ao aeronave orgânica, têm uma excelente performance.
HVU em águas profundas e águas rasas com perí- Além disso, ela tem a capacidade de operar integrada
odos de crise e de guerra, além de missões de ISR com os demais meios A/S e com as aeronaves de pa-
de costa com forte oposição A/S (navios de super- trulha marítima e suas sonoboias. Para se contrapor a
fície e aeronaves). Como já frisado anteriormente, essas ameaças, o submarino de propulsão nuclear deve
a área de exercício era toda a zona marítima entre usar toda a sua capacidade de sensores e velocidade
a costa Mediterrânea da França e da Ilha da Cór- para poder realizar a análise do movimento dos alvos
sega. Os navios tinham de transitar entre portos da a grandes distâncias, a fim de poder se aproximar pelo
costa francesa e da costa corsa e a missão do sub- setor mais seguro e não ser detectado pelos meios ini-
marino era de registrar as atividades costeiras e de migos. Além disso, o míssil Exocet SM39, por conta de
porto do HVU, transmitir as informações obtidas seu alcance e sua velocidade, aumenta as chances do
ao COMINSUP e acompanhá-lo no trânsito para submarino de atacar com sucesso uma força naval e sua
atacá-lo em águas profundas e depois realizar novo unidade de maior valor.
ataque no porto de chegada. Outra constatação importante é a capacidade do
binômio submarino/aeronave para as operações antis-
submarino. A mobilidade do submarino de propulsão
5 ISR ou ISTAR são siglas em inglês para as missões de Inteligência /
nuclear juntamente com as características das aerona-
Vigilância / Busca e Acompanhamento de Alvos / Reconhecimento. ves impõe um duro golpe aos submarinos adversários,

O Periscópio 67
OPERATIVO

desequilibrando a balança de forças. A utilização, si-

Arquivo Pessoal
multânea, de sensores passivos e ativos e a interliga-
ção dos sensores do submarino com os das aeronaves
aumenta o volume de detecção sobremaneira, colocan-
do o submarino inimigo na defensiva. Os cursos de
comandantes de submarinos têm características em
comum, independentemente do país onde são reali-
zados. Os futuros comandantes irão ser submetidos à
fatiga física e mental para enfrentar situações comple-
xas, onde terão de decidir rapidamente e sem colocar
a segurança do submarino e da tripulação em risco. O
cansaço e o estresse são inimigos sempre presentes nas
operações em submarinos e um dos objetivos do curso
é justamente verificar como os futuros comandantes
conseguem gerenciar esses problemas. O comandante
de submarino deve ser capaz de se preservar para po-
der decidir nos momentos de tensão, quando o quadro
tático estiver sobrecarregado e exigir toda a sua capa-
cidade de raciocínio e sua experiência. Saber delegar, Figura 14: CC Fampa e CC le Blanc em frente ao
confiar nos seus oficiais e praças, sobretudo no seu SNA Perle atracado na Base Naval de Toulon.
imediato, conhecendo suas limitações e seus pontos
fortes, são requisitos-chaves para o sucesso de um bom
comandante (Figura 14).

Mapa 1: Área de Operações entre a França continental e a Ilha de Córsega.

68 O Periscópio
ComForS

O Periscópio 69
para o debate profissional e acadêmico dentro das suas informação valioso para quem aqui navega.
respectivas áreas de atuação, como a Aula Inaugural Desta forma, é com orgulho que convido você,
OPERATIVO
do Curso Aperfeiçoamento de Submarinos para leitor, a mergulhar nas páginas desta edição, onde
Oficiais (Turma1/2019), a Aula Inaugural do Curso de poderá constatar a nossa tradição de abordar assuntos
Aperfeiçoamento de Mergulhador de Combate para de relevante interesse operativo, dando ênfase às
Oficiais e Curso Especial de Mergulhador de Combate, tarefas desempenhadas pelos nossos submarinistas,
os cuidados durante uma evacuação aeromédica de mergulhadores e mergulhadores de combate e aos
uma vítima de doença descompressiva, proposta de temas técnico-profissionais dos médicos hiperbáricos
CURSO DE COMANDANTE DE SUBMARINO NO CHILE
treinamento de Gerenciamento de Risco na Segurança e psicólogos submarinos, ambos fundamentais à
do Sistema de Saúde, Gestão do Conhecimento no manutenção da nossa soberania na Amazônia Azul.
(CCOS 2019)
âmbito do Programa Nuclear da Marinha, expectativas
e perspectivas da segurança operacional de submarinos Boa imersão!

Periscópio 3

Capitão de Corveta Marcelo Petrato Gevaerd

1 INTRODUÇÃO três semanas na sala de ataque, de 30 de setembro a


Durante o final do primeiro semestre de 2019, 18 de outubro, uma semana no mar a bordo do Sub-
tive o privilégio de ser selecionado para ser aluno marino “O’Higgins” (classe Scorpène), de 20 a 27 de
do Curso de Comandante de Submarino (CCOS) outubro, e duas semanas no mar a bordo do submarino
da Armada do Chile. Este curso é ministrado pelo “Simpson”, de 18 a 28 de novembro.
Subcentro de Entrenamiento de la Armada en Tal-
cahuano (SUBCENTARMTALC) nas dependên- 2 ETAPA DE SEGURANÇA
cias da Escuela de Submarinos y Armas A/S Almirante Durante as três primeiras semanas de prática con-
Allard, localizada na cidade de Talcahuano, Região de duzidas na sala de ataque, foram realizados exercícios
Bio-Bio, dentro da Segunda Zona Naval. O CCOS de segurança tipo Go Deep Exercise (GODEX) com
2019 foi dividido em dois períodos denominados aplicação gradativa de dificuldade, a partir de um
Etapa de Segurança e Etapa Tática, com uma dura- contato.
ção prevista de dez semanas no total. Ressalta-se a mudança realizada nesta fase do cur-
so em relação aos tipos de corridas realizadas pelos
alunos, assemelhando-se às corridas do Netherlands
Submarine Command Course (NLSMCC). O núme-
ro de contatos aumentaria progressivamente e junto
à variação do grau de comportamento dos contatos,
chegando a um total de dezoito corridas. Nessa fase,
no simulador, foram utilizados todos os tipos de navios
existentes na Armada do Chile.
Em geral, as corridas iniciavam com os contatos a
distâncias não superiores a oito mil jardas, desenvol-
vendo velocidades entre oito e trinta e cinco nós e se
aproximando do submarino por quaisquer um dos se-
Figura 1: Teacher e oficiais do CCOS 2019. tores do círculo de segurança. Esse conjunto de medi-
das possibilitava que o aluno desenvolvesse uma cor-
A primeira etapa realizou-se entre os dias 26 de rida com tempo suficiente para realizar as primeiras
agosto e 27 de setembro de 2019. As três primeiras se- observações e, a partir de então, planificar sua corrida
manas foram conduzidas na sala de ataque, um simu- da forma como se apresentava, de maneira randômica,
lador de operações de submarinos. A última semana sem previsibilidade. Ao final de cada exercício, uma re-
desta primeira etapa foi realizada no mar a bordo do constituição do cenário era apresentada em telão com o
Submarino “Simpson” (IKL-209). uso de um projetor de multimídia instalado na própria
A segunda etapa foi realizada entre os dias 30 de sala de ataque e o instrutor conduzia a crítica ao aluno
setembro e 28 de novembro de 2019, compreendendo conforme avançava a escala de tempo na reconstituição.

70 O Periscópio
ComForS

Nesse ano, foi dada uma grande ênfase à parte de


operações noturnas, o que acarretou no treinamento e
avaliações de corridas tipo GODEX em período no-
turno com um e dois contatos.
Ao término das corridas tipo GODEX, foram re-
alizadas corridas de orientação espacial em que con-
tatos se aproximavam e o aluno tinha de manobrar
o submarino para a área mais segura sem sair de um
círculo delimitado previamente. Tais contatos, após
se afastarem de uma distância de cinco mil jardas,
guinavam novamente para uma nova aproximação.
O objetivo era que o aluno se mantivesse na cota pe-
riscópica em segurança durante um período de vinte
Figura 2: Foto tirada durante uma corrida GODEX a
minutos. bordo do SS “Simpson”.
Em seguida, foram realizadas corridas de navega-
ção costeira, diurna e noturna. O submarino navegava A fase de mar desta etapa foi realizada após o trans-
seguindo uma derrota estabelecida, realizando uma lado para a cidade de Valparaíso e o embarque no SS
navegação observada e com liberdade para guinar o “Simpson” na última semana de setembro. Os alunos
submarino a fim de se afastar de contatos próximos. embarcavam pela manhã e eram avaliados nas corridas
Nesta fase, observou-se uma grande quantidade de tipo GODEX de forma gradativa. Nos dois primeiros
contatos com o objetivo de saturar a compilação do dias foram realizadas corridas noturnas com um pos-
quadro tático de superfície e avaliar as manobras do terior reconhecimento dos pontos de navegação notur-
oficial em avaliação com relação à segurança e sua no, visando uma adaptação para a etapa tática.
orientação espacial.
Por último, foram realizadas corridas de compilação 3 FASE TÁTICA
de quadro tático com o submarino submerso visando Em 30 de setembro foram iniciados, na sala de
ao procedimento operativo de retorno à cota periscó- ataque, os exercícios de ataque a navios componentes
pica. O oficial de periscópio realizava a compilação do de forças navais em movimento e de esclarecimento.
quadro tático preparando o submarino para retornar à Durante esta fase, os alunos receberam missões de ata-
cota periscópica dando o “pronto” ao imediato, o qual que a forças navais em trânsito, no interior de zonas
avaliava tal procedimento como um oficial de seguran- de patrulha preestabelecidas, com o intuito de verificar
ça. Após, o imediato dava o “pronto” ao Comandante o o desempenho de cada um dos alunos em posicionar
qual ratificava/retificava a compilação do quadro tático corretamente seu submarino numa região dotada de
e executava o procedimento de retorno. múltiplas ameaças (de superfície e aéreas) contan-
Nestes exercícios, um aluno exercendo as funções do com inventário de armamento reduzido, e efetu-
de oficial de periscópio/imediato realizava a com- ar ataques com base nos requisitos estabelecidos pela
pilação dos contatos e guinava o submarino para o característica das missões impostas pelo instrutor por
melhor rumo para o retorno à cota periscópica. Em ocasião do início dos exercícios.
seguida, era avaliado pelo instrutor e, após esta ava- Eram realizados briefings pré-exercícios. O primei-
liação, este realizava alterações das soluções de alguns ro briefing de cada aluno era uma apresentação comple-
contatos no sistema de combate e chamava o aluno ta, abrangendo os aspectos estratégicos e táticos para a
que se encontrava na função de comandante para que operação. A partir do segundo briefing, o foco era vol-
este avaliasse a compilação do cenário e realizasse o tado estritamente para a parte tática, sendo a apresen-
procedimento operativo. Ressalta-se novamente a sa- tação realizada para a equipe de ataque que faria parte
turação do quadro tático em relação ao número de daquele exercício de uma forma expedita e simplificada.
contatos. Neste ponto, ressalta-se que as equipes de ataque do si-

O Periscópio 71
OPERATIVO

mulador eram compostas por militares dos submarinos,


as quais se revezavam durante a realização do curso.
Em 20 de outubro de 2019, os alunos foram
apresentados ao submarino da classe Scorpène, SS
“O’Higgins”, para o início da fase de mar. Durante as
três semanas seguintes estavam programados exercí-
cios de operações de submarinos realizando ataque a
unidades de combate em trânsito e atracadas, reconhe-
cimento fotográfico, de vídeo e eletrônico de navios e
pontos de interesse, operações de minagem e de trân-
sito sob a presença de múltiplas ameaças. Todavia, em
decorrência da convulsão social apresentada naquele
período no país, o Comandante de Operações Navais Figura 4: Perifoto de uma Fragata Tipo 23
chileno determinou que todos os meios navais regres- componente da força naval inimiga.
sassem às suas bases em decorrência do Estado de
Exceção decretado pelo Presidente do Chile. Assim,
o regresso para o porto de Talcahuano foi realizado
em alta velocidade realizando operações secundárias
de oportunidade ou ataques ao tráfego mercante, sem
oposição, como forma de treinamento para os alunos
do curso embarcados.

Figura 5: Levantamento de dados de inteligência dos navios


atracados na Base Naval de Valparaíso no período noturno.

Figura 3: Operação de Esclarecimento de um


navio mercante a bordo do SS “O’Higgins”.

Figura 6: Perifoto do Farol de Punta Àngeles,


Região de Valparaíso.

72 O Periscópio
ComForS

Foi realizada uma pausa operacional do curso de 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS


28 de outubro a 17 de novembro, reiniciando a fase Destaco o alto profissionalismo de todos os oficiais
de mar da Etapa Tática no dia 18 de novembro, sus- e praças da Armada do Chile, que, mesmo diante de
pendendo de Talcahuano no submarino “Simpson” uma situação de conturbação social, afetando o dia a dia
para a realização dos exercícios previamente progra- de todos os seus familiares, mantiveram seu esmero e
mados, com grande foco no período noturno, e ter- dedicação em prol de um curso de elevada importância.
minando com a atracação em Valparaíso no dia 28 de O curso chileno tem uma abordagem semelhante
novembro. ao curso brasileiro, sendo uma excelente oportunidade
Ressaltam-se ainda as manobras de atracação e para estreitarmos os laços de amizade com essa Mari-
desatracação que eram realizadas pelos oficiais-alunos, nha Amiga, além da oportunidade de praticar a nossa
com a supervisão do comandante do submarino e sem doutrina de operação de submarinos em um subma-
auxílio de rebocadores, além do serviço de “Coman- rino da classe Scorpène, o qual operaremos em breve.
dante de Serviço”, em que um aluno guarnecia a fun- Sinto-me lisonjeado de ter tido esta oportunidade
ção de comandante do submarino, tomando todas as de realizar o Curso de Comandante de Submarinos
decisões de posicionamento e deslocamento do meio (CCOS) da Armada do Chile e torno público o meu
entre as operações dos demais alunos, assim como o agradecimento àqueles que de alguma forma contri-
planejamento do esnórquel. buíram para que eu pudesse lograr êxito nesse desafio.

O Periscópio 73
e Simuladores do CIAMA, no Complexo Naval de patrocinadores, militares e civis, que proporcionaram
CIÊNCIA E
Itaguaí. Ao término desta trajetória de leitura, na seção a concretização desta edição de “O Periscópio” que,
“Artigos Diversos”, estão publicados artigos relevantes de forma regular, tem procurado ser um veículo de
TECNOLOGIA
para o debate profissional e acadêmico dentro das suas informação valioso para quem aqui navega.
respectivas áreas de atuação, como a Aula Inaugural Desta forma, é com orgulho que convido você,
do Curso Aperfeiçoamento de Submarinos para leitor, a mergulhar nas páginas desta edição, onde
Oficiais (Turma1/2019), a Aula Inaugural do Curso de poderá constatar a nossa tradição de abordar assuntos
Aperfeiçoamento de Mergulhador de Combate para
INDICADOR VIA RÁDIO DE POSICIONAMENTO
Oficiais e Curso Especial de Mergulhador de Combate,
de relevante interesse operativo, dando ênfase às
tarefas desempenhadas pelos nossos submarinistas,
DE EMERGÊNCIA SUBMARINA (SEPIRB): UMA
os cuidados durante uma evacuação aeromédica de mergulhadores e mergulhadores de combate e aos
uma vítima de doença descompressiva, proposta de temas técnico-profissionais dos médicos hiperbáricos
ÚTIL BALIZA NA DELICADA MISSÃO DE BUSCA E
treinamento de Gerenciamento de Risco na Segurança e psicólogos submarinos, ambos fundamentais à
SALVAMENTO SUBMARINO (SARSUB)
do Sistema de Saúde, Gestão do Conhecimento no
âmbito do Programa Nuclear da Marinha, expectativas
manutenção da nossa soberania na Amazônia Azul.

e perspectivas da segurança operacional de submarinos Boa imersão!

Periscópio 3

Suboficial-OS Rodrigo da Silva Lima

1 INTRODUÇÃO
A indicação de que um submarino está em perigo
pode vir de uma variedade de fontes, desde navios mer-
cantes observando um incidente desagradável, passando
por navios de guerra que operam com o submarino, até Figura 1: SEPIRB.
a Autoridade de Controle Operativo de Submarinos
(ACOSUB), percebendo que o submarino falhou na Já o Sistema Global de Segurança Marítima
emissão de relatos conforme a descrição em suas ordens, (GMDSS) é um conjunto de procedimentos de se-
ou de qualquer unidade que receba sinais de socorro do gurança, tipos de equipamento e protocolos de comu-
submarino. O SEPIRB é um dispositivo de sinalização nicação acordados internacionalmente, usados para
usado para localizar um submarino em perigo. É arma- aumentar a segurança e facilitar o resgate de navios
zenado a bordo e, no momento da emergência, é lança- e aeronaves em perigo. Para requisitos operacionais, o
do. O submarino pode estar na superfície ou submerso GMDSS dividiu o mundo em quatro subáreas:
no momento do lançamento. Ele transmite uma sequ-
ência de dados, como as coordenadas da posição, o tem- - Área A1: dentro do alcance das estações costei-
po, identificação e nacionalidade da unidade submarina ras VHF em terra (cerca de 20 Mn). Equipa-
sinistrada para a rede de satélites COSPAS-SARSAT. mentos VHF e SEPIRB, receptor MSI.
- Área A2: dentro do alcance das estações cos-
2 ENTENDENDO O PROGRAMA teiras MF em terra (excluindo áreas A1) (até
COSPAS-SARSAT E O SISTEMA GMDSS cerca de 150 Mn). Equipamentos VHF, MF e
O Programa Internacional COSPAS-SARSAT SEPIRB, receptor MSI.
(COSPAS: Sistema Espacial para Busca de Navios - Área A3: dentro da área de cobertura dos saté-
em Perigo; SARSAT: Busca e Salvamento por Ras- lites de comunicação INMARSAT (excluindo
treamento Auxiliado por Satélite), é uma iniciativa de áreas A1 e A2 - aproximadamente entre as lati-
busca e salvamento auxiliada por satélite. Ele é organi- tudes 70º norte e 70º sul). Equipamentos VHF,
zado como uma cooperativa humanitária, sem fins lu- MF, HF, satélite e SEPIRB, receptor MSI.
crativos, intergovernamental, composto por 45 nações - Área A4: compreende as demais áreas marítimas
e agências. Dedicado à detecção e localização de radio- fora de A1, A2, A3 (as regiões polares). Equi-
frequências ativadas por pessoas, aeronaves ou embar- pamentos VHF, MF, HF e SEPIRB, receptor
cações em perigo e ao encaminhamento dessas infor- MSI.
mações de alerta às autoridades de busca e salvamento
(SAR), que podem tomar medidas para o resgate.

74 O Periscópio
ComForS

Figura 2: Satélites COSPAS-SARSAT.

3 O SEPIRB: CARACTERÍSTICAS E
FUNCIONAMENTO
O Indicador via Rádio de Posicionamento de
Emergência Submarina (SEPIRB) é um (GMDSS)
aprovado para uso em submarinos. O SEPIRB é fei-
to em alumínio com um diâmetro de 3 polegadas,
com um comprimento total de 41,285 polegadas e
um peso máximo de 8,2 libras, tendo uma flutuabi-
lidade positiva de 20,7%. Ele é ativado depois que
a guia de lançamento é dobrada para trás. Uma vez
na superfície, ele começa imediatamente a obter uma
correção GPS e a transmitir uma mensagem digital
de 406,025 MHz, sendo captada pelos satélites da
rede COSPAS-SARSAT, em órbita a cerca de 1.000
km, contendo sua posição GPS inicial (valor-padrão Figura 3: SEPIRB.
até que a correção GPS seja obtida), tempo decor-
rido desde a sua ativação e a identificação exclusiva 4 CONCLUSÃO
da unidade submarina. Seis horas após a ativação, o Os submarinos dependem de métodos confiá-
SEPIRB começará a transmissão de um sinal de re- veis de comunicação do status ao Comando da Frota.
torno de 121,5 MHz para ajudar na sua localização. No caso de um desastre, como vidas e ativos estão em
A operação continua até a desativação ou o fim da risco, é imperativo ter um método de backup para trans-
vida útil da bateria (48 horas). O SEPIRB não é fixo mitir um sinal de socorro. Os SEPIRBs fornecem essa
ao casco do submarino, sendo uma grande vantagem função. Uma vez lançados, esses sinalizadores flutuam
em comparação com a boia transmissora de emergên- para a superfície do oceano e transmitem status e po-
cia. Por exemplo, no caso de um submarino operando sição ao sistema de satélite COSPAS-SARSAT, que
em uma isobática de 1.000 metros que venha a sofrer passa as informações para as equipes de busca e resgate.
um sinistro, a boia transmissora de emergência ficaria A filosofia geral das operações de busca e salvamento
impossibilitada de ser utilizada em função da profun- submarinas (SARSUB) é fornecer um nível razoável de
didade onde o submarino estava operando (tendo um segurança para as situações mais prováveis de acidentes
comprimento de cabo de aço de 900 metros fixo ao submarinos e algumas, para as menos prováveis, usando
submarino), mas o SEPIRB não, pois pode ser lança- os elementos que são considerados os mais adequados
do normalmente. em resposta ao incidente em todo o mundo.

O Periscópio 75
CIÊNCIA E
TECNOLOGIA

REFERÊNCIAS
ATP/MTP-57. The submarine search and rescue ma-
nual. Edition C version 2, nov. 2015.

ICA 64-2. Sinais de alerta do sistema. COSPAS-


-SARSAT.

SAUNDERS, Stephen, Commodore RN. IHS Jane’s


fighting ships. Edition 2014-2015.

SSN 774. Class guard book, disabled submarine survi-


val guide AFT escape trunk.
(LOGISTICS ESCAPE TRUNK).

SSN 774. Class guard book, disabled submarine survi-


val guide FWD escape trunk
(LOCKOUT TRUNK).

T-1630 SEPIRB. Submarine Emergency Position Indi-


cating Radio Beacon. Disponível em: www.ultra-os.com

76 O Periscópio
ComForS

O Periscópio 77
para o debate profissional e acadêmico dentro das suas informação valioso para quem aqui navega.
respectivas áreas de atuação, como a Aula Inaugural Desta forma, é com orgulho que convido você,
CIÊNCIA E
do Curso Aperfeiçoamento de Submarinos para leitor, a mergulhar nas páginas desta edição, onde
TECNOLOGIA
Oficiais (Turma1/2019), a Aula Inaugural do Curso de poderá constatar a nossa tradição de abordar assuntos
Aperfeiçoamento de Mergulhador de Combate para de relevante interesse operativo, dando ênfase às
Oficiais e Curso Especial de Mergulhador de Combate, tarefas desempenhadas pelos nossos submarinistas,
os cuidados durante uma evacuação aeromédica de mergulhadores e mergulhadores de combate e aos
uma vítima de doença descompressiva, proposta de temas técnico-profissionais dos médicos hiperbáricos
ASPECTOS BÁSICOS DO PROJETO DE CASCOS
treinamento de Gerenciamento de Risco na Segurança e psicólogos submarinos, ambos fundamentais à
do Sistema de Saúde, Gestão do Conhecimento no manutenção da nossa soberania na Amazônia Azul.
PARA SUBMARINOS
âmbito do Programa Nuclear da Marinha, expectativas
e perspectivas da segurança operacional de submarinos Boa imersão!

Periscópio 3

Capitão-Tenente Marcos Roberto Superbi Albergaria

1 INTRODUÇÃO eles sejam interligados, distintas. Isso porque os cascos


De uma forma geral, os submarinos são formados cumprem funções diferentes e são submetidos a cargas
por um casco resistente (interior) e um casco não resis- de projeto desiguais, sendo o casco resistente tratado
tente (exterior). O casco resistente deve suportar a pres- com prioridade.
são hidrostática e dispor de volume interno para abrigar A forma comum do casco resistente é a de um ci-
os diversos sistemas. O casco não resistente abriga as lindro reforçado por cavernas circulares, fechado nos
áreas de livre alagamento e é projetado para prover ao extremos por calotas hemisféricas, torisféricas ou elíp-
submarino um melhor desempenho hidrodinâmico. ticas. Alguns projetos apresentam seções de transição
Existem diversos trabalhos científicos sobre a cônicas. Nessas seções de transição, é comum a presen-
construção de cascos para submarinos, porém uma ça de anéis externos de ligação. Além disso, pode haver
pequena parcela deles aborda os aspectos básicos do tanques internos resistentes e anteparas estanques.
projeto. A maior parte conceitual do projeto é feita de As técnicas de construção de cascos para subma-
forma confidencial e, portanto, não é tornada pública. rinos só atingiram o estado da arte no final dos anos
Dentre todas as variáveis do projeto, é importante que 1990. Com o passar dos anos, os engenheiros perce-
o operador entenda quais são os requisitos, do ponto beram a importância da resistência, da propulsão e da
de vista hidrodinâmico, que o casco do submarino deve assinatura acústica para os submarinos.
satisfazer, pois isso facilitará o entendimento de como A previsão da performance hidrodinâmica dos
o submarino se comporta no mar. submarinos, assim como para os navios de superfície,
pode ser dividida nas seguintes áreas gerais:
– resistência apresentada pelo casco e propulsão;
– capacidade de suportar condições severas de mar; e
– manobrabilidade.

Figura 1: Casco resistente e casco não resistente.

2 VISÃO GERAL
As condições do projeto estrutural para o casco
resistente e para o casco não resistente são, embora Figura 2: Elementos estruturais do casco.

78 O Periscópio
ComForS

3 DIRETRIZES GERAIS PARA PROJETO DE torna obrigatória a consideração dos aspectos pro-
CASCOS PARA SUBMARINOS pulsivos e do segundo componente de resistência, a
Um dos aspectos mais importantes para um navio, resistência de forma.
neste caso para um submarino, é a velocidade que pode
ser alcançada a partir de uma dada potência desenvol- 3.2 Resistência de Forma (ou de Pressão Viscosa)
vida por suas máquinas. A potência necessária deve Devido à viscosidade da água, seu fluxo em torno
ser a mais baixa possível, isto é, a resistência do casco, do submarino cria um gradiente de pressão não nulo.
incluindo apêndices e superfícies de controle (lemes e Esse gradiente origina uma componente de resistência
hidroplanos), deve ser minimizada e a eficiência pro- que se opõe ao movimento da embarcação.
pulsiva, maximizada. Esta última só pode ser alcançada O formato do submarino induz um fluxo local com
pelo casamento adequado do casco e do propulsor. A velocidades algumas vezes mais altas e outras vezes in-
otimização da resistência e da eficiência propulsiva é feriores à velocidade média, ao longo do casco. Dessa
essencial, pois influencia diretamente nas velocidades forma, a média das tensões de cisalhamento é maior.
de cruzeiro e máxima que o meio poderá desenvolver. Além disso, as perdas de energia na camada-limite, nos
Na fase inicial do projeto, é preciso considerar, an- vórtices e nos pontos de separação de fluxo impedem
tes de tudo, as condições e os requisitos de operação o aumento da pressão de estagnação no corpo de popa,
do meio. Durante a maior parte do seu emprego, os como previsto na teoria dos fluidos ideais. Nessa teo-
submarinos modernos operam abaixo da superfície da ria, um corpo profundamente submerso não apresenta
água, exigindo que eles sejam projetados, principal- resistência (paradoxo de D’Alembert).
mente, para um bom desempenho quando mergulha- Na verdade, a resistência de forma está relaciona-
do. Como não há superfície livre em cota profunda, da à razão de finura (L/D: L – comprimento; e D –
não ocorre a formação de ondas e, portanto, a resistên- diâmetro) do submarino e pode ser minimizada com
cia das ondas não é levada em consideração. Quando seções transversais que variam lentamente ao longo do
esnorqueando, a velocidades baixas ou moderadas, a corpo, o que levou os projetistas a concluírem que um
resistência das ondas também acaba sendo insignifi- casco em forma de “agulha” nos daria uma baixa resis-
cante. É comum se decompor a resistência do casco de tência de forma.
um submarino submerso em duas componentes: resis- Ocorre, entretanto, que as soluções para a diminui-
tência friccional e resistência de forma. ção da resistência de atrito e da resistência de forma
são conflitantes. À medida que se alonga e afina o cas-
3.1 Resistência Friccional co (redução da forma), ocorre um incremento em sua
Essa resistência é da ordem de 60% a 70% da área molhada (aumento do atrito). Assim, soluções de
resistência total do casco. Ela ocorre devido ao ci- compromisso são buscadas.
salhamento viscoso da água que flui sobre ele. Está
essencialmente relacionada à área da superfície ex- 3.3 Resistência de Ondas
posta à água e às velocidades sobre o casco. Dessa Um navio navegando na superfície (ou um sub-
forma, para redução desse tipo de resistência, é dese- marino navegando próximo a ela) cria um sistema de
jável diminuir-se a superfície molhada, para uma de- ondas que contribui para a resistência total. No caso de
terminada velocidade. Além disso, é desejável reduzir um submarino em cota profunda, conforme mencio-
a rugosidade da superfície e evitar descontinuidades nado anteriormente, essa resistência não é levada em
geométricas pronunciadas. Busca-se, também, um consideração.
carenamento adequado e a redução de aberturas no
casco ao mínimo necessário. 3.4 Considerações Básicas do Projeto
Para um dado volume, um casco esférico apresen- Na verdade, o objetivo é projetar a potência pro-
ta a menor superfície e, portanto, uma menor resis- pulsora onde o fluxo muda sua direção. Uma distribui-
tência friccional. No entanto, também se faz neces- ção esquemática do coeficiente de pressão não dimen-
sária a otimização dos requisitos de energia, o que sional de um submarino é mostrada na Figura 3.

O Periscópio 79
CIÊNCIA E
TECNOLOGIA

3.4.2.1 Razão de finura (L/D)


A razão L/D exerce grande influência na resistên-
cia dos submarinos, uma vez que a superfície molha-
da depende muito dela para um determinado volume.
Testes com modelos mostram que, com a razão L/D
decrescente, a resistência friccional diminui linear-
mente, mas a resistência da forma aumenta mais ra-
pidamente.

3.4.2.2 Coeficiente Prismático (Cp)


O coeficiente prismático exerce uma influência
significativa na resistência. A mudança na resistência é
devido à mudança no arrasto residual, pois a superfície
molhada quase não é afetada. O arrasto residual, rela-
tivamente alto, é causado pelo maior diâmetro e pela
rápida mudança de inclinação no corpo de popa, que
produz gradientes de pressão adversos e, consequen-
temente, o aumento da separação do fluxo na região.
Quando operando próximo à superfície, a resistência
corresponde à de cota profunda. Assim, um casco com
Figura 3: Coeficiente de pressão não dimensional.
uma boa forma hidrodinâmica dificilmente aumentará
a resistência na faixa de velocidades utilizadas durante o
Apesar de o projeto do casco ser sempre uma tarefa
esnórquel. Contudo, neste caso, deve-se ter um cuidado
criativa que envolve muitas restrições e compromissos,
especial com relação à resistência gerada pela vela, pois a
é útil conhecer os seguintes fundamentos:
resistência total pode ser aumentada em até 18%.
Um CP maior e, consequentemente, um L/D mais
3.4.1 Fluxo Laminar favorável, sem aumento substancial da resistência, po-
A resistência pode ser substancialmente reduzida dem ser alcançados por meio da inserção de um corpo
se a camada-limite for mantida laminar ao longo da paralelo ao projeto (alongamento do casco). Um corpo
maior parte do casco. No final da década de 1960, os paralelo intermediário (entre o corpo de proa e o corpo
americanos realizaram testes com modelos que suge- de popa) é desejável para aspectos de fabricação e repa-
riram reduções de arrasto em até 65%. Por um bom ro, pois uma forma de casco curvada exigiria um berço
tempo, acreditava-se que os projetos de fluxo laminar especial para docar o submarino.
poderiam desencadear uma revolução no projeto de
submarinos. Porém, foi descoberto que o fluxo com- 3.4.2.3 Corpo de Proa
pletamente laminar era impossível de ser conseguido Proas mais finas favorecem a baixa resistência e o
devido às inúmeras impurezas presentes na água do baixo nível de ruído. Na literatura atual, não há con-
mar e, portanto, as formas convencionais de casco con- senso sobre a importância da forma da proa. Alguns
tinuaram a vigorar. autores afirmam que o formato da proa faz uma dife-
rença substancial na resistência do casco e outros afir-
3.4.2 Influência de Alguns Parâmetros do Casco mam que uma proa projetada visando evitar a separa-
Testes sistemáticos de modelos com L/D seme- ção do fluxo contribuirá muito pouco para a resistência
lhantes aos dos submarinos foram realizados em 1950. total do casco.
As compensações dos modelos foram derivadas de um Na prática, o que se percebe nas medições em cas-
polinômio de grau 6. A investigação variou os seguin- cos em forma de gota é que há um pequeno aumento
tes parâmetros: na resistência com o aumento do raio da proa, isto é,

80 O Periscópio
ComForS

construindo uma proa mais volumosa. Cabe ressaltar No caso dos submarinos, diferentemente dos na-
que as otimizações são limitadas por outras restrições vios de superfície, as características de manobrabilida-
de projeto, principalmente pelo número necessário de de podem ser consideradas como objetivos secundários
tubos de torpedo e pelo formato e posição dos sen- do projeto. Um grande facilitador é que os requisitos
sores, os quais podem aumentar, significativamente, a de baixa resistência e baixo ruído hidrodinâmico não
resistência do submarino, caso não estejam adequada- são conflitantes. Um formato hidrodinâmico de baixa
mente integrados à proa. resistência também atenderá às características de baixa
emissão de ruídos.
3.4.2.4 Corpo de Popa A redução da reflexão SONAR através da forma
Sua forma não pode ser considerada isoladamen- do casco depende menos da resistência. Afirmações
te do hélice, pois este modifica, consideravelmente, práticas e claras sobre esse assunto ainda não são pos-
o fluxo sobre o corpo de popa. Para um submarino, síveis na literatura atual. O melhor que há, nos dias de
a aceleração do fluxo, devido ao funcionamento do hoje, são algumas diretrizes básicas: superfícies e linhas
hélice, impede a separação para grandes ângulos do côncavas devem ser evitadas, ou seja, a superfície ex-
cone de ré, em relação ao corpo paralelo. Um corpo de terna do casco e dos apêndices deve ser convexa, em
popa mais espesso é desejável por requisitos de espa- relação ao escoamento. A convexidade do casco e da
ço e distribuição de peso. Isso também contribui para vela são críticas neste ponto.
uma menor resistência de atrito, pois apresentará uma A força do contato no SONAR inimigo aumenta
menor superfície molhada e uma melhor razão L/D. com o tamanho do nosso submarino. Um dado im-
Um cone de ré em formato de parábola atende a esses portante é que o aumento do comprimento do casco
requisitos e proporciona um maior espaço para o com- será mais relevante à força do contato SONAR do
partimento de máquinas. que o aumento do seu diâmetro. Ulrich Gabler, que
foi um engenheiro de construção naval alemão, espe-
3.4.2.5 Apêndices e Aberturas do Casco cializado no projeto e desenvolvimento de submari-
Deve-se ter atenção para garantir uma curvatura nos a diesel, desenvolveu uma fórmula simplificada
suave do casco na direção das linhas de fluxo, bem que demonstra que a reflexão SONAR é proporcio-
como evitar apêndices o máximo possível. nal ao quadrado do comprimento (L²) do submarino
Alguns apêndices (cabrestantes, cabeços, buzinas detectado. De acordo com os seus estudos, um sub-
etc.) são absolutamente necessários, porém deverão ser marino compacto e curto é preferível, quando olha-
bem hidrodinâmicos, removíveis ou projetados para mos por este ponto de vista.
serem rebatidos e nivelados à superfície do casco.
Certas aberturas (suspiros dos tanques de lastro, 3.4.2.7 Vela
livre alagamento, alojamento de sensores etc.) não Diante de todos os requisitos hidrodinâmicos do
podem ser evitadas. Essas devem possuir o menor ta- casco, a existência da vela é totalmente indesejável. No
manho possível, uma vez que aumentam a resistência entanto, todos os projetos exigem um apêndice grande
de atrito do casco. Em suma, apêndices, aberturas e a e carenado acima do casco para abrigar o passadiço e
rugosidade da superfície do casco devem ser minimi- os mastros.
zados durante o projeto, pois podem contribuir nega- Do ponto de vista hidrodinâmico, a vela deve ser
tivamente para a resistência e cancelar os benefícios de tão fina quanto possível para minimizar a resistência
uma operação mais silenciosa do submarino. e a assinatura acústica do submarino. Do ponto de
vista prático, há uma limitação de quão estreita ela
3.4.2.6 Aspectos de Ruído e Reflexão SONAR pode ser.
Embora a eficiência propulsiva e a resistência se- Um dos aspectos de projeto da vela diz respeito
jam os principais focos do projeto de cascos para sub- ao que acontece quando o submarino sai de uma cota
marinos, a baixa reflexão SONAR e o ruído, também, profunda (no máximo 3 a 4 diâmetros abaixo da super-
são características a serem consideradas. fície e em velocidade moderada) e se aproxima da su-

O Periscópio 81
CIÊNCIA E
TECNOLOGIA

perfície. O padrão de pressão ao redor do casco come- 4 CONCLUSÃO


çará a criar ondas na superfície do mar antes mesmo de O casco de um submarino possui dois componentes
qualquer parte do submarino emergir. Naturalmente, principais, o casco resistente e o casco não resistente.
quando operando na cota periscópica, a vela está mais O casco não resistente é o casco externo, não estanque,
próxima da superfície e as ondas geradas por ela po- que fornece ao submarino um formato hidrodinâmico
dem interferir positivamente ou negativamente com as mais eficiente. O casco resistente é o casco interno de
ondas geradas pelo casco. um submarino, o qual mantém a integridade estrutural
Além da otimização do escoamento através do com a diferença entre pressão externa e interna, quan-
casco, a redução da detecção SONAR tem um gran- do mergulhado. O projeto desses dois cascos é distinto,
de impacto na geometria da vela. Com esse objetivo, mas juntos devem satisfazer a diversos requisitos e re-
alguns projetos visam inclinar a superfície da vela lações de compromisso entre eles.
para ré e integrá-la o máximo possível ao casco. Isso Submarinos modernos são geralmente em forma de
diminui a formação de vórtices e reduz a detecção “charuto”. Esse formato já era observado em submarinos
SONAR do meio pelo inimigo. A curvatura da parte muito mais antigos. Ele possui a vantagem de reduzir,
de vante da vela (bordo de ataque) pode ser otimi- significativamente, o arrasto hidrodinâmico de um sub-
zada para reduzir a pressão de interferência, elimi- marino mergulhado, à custa de menor manobrabilidade e
nando uma fonte potencial de perturbação hidrodi- menor capacidade de suportar condições severas de mar,
nâmica. quando na superfície. Vale ressaltar que esse formato au-
menta o arrasto quando o meio não está mergulhado.

Figura 4: Projeto de uma vela menos saliente.

82 O Periscópio
ComForS

REFERÊNCIAS
BURCHER, Roy; RYDILL, Louis. Concepts in
submarine design. Melbourne:Cambridge University
Press, 1994.

GABLER, Ulrick. Submarine design. 4. ed. Munich:


Bernard & Graefe Verlag, 2000.

PEREIRA, Michel Enrique. Modelo de otimização


multiobjetivo aplicado ao projeto de concepção de
submarinos convencionais. São Paulo: Dissertação
apresentada à Escola Politécnica da USP para obten-
ção do título de Mestre em Engenharia, 2016.

SUBMARINE hull. Wikipédia. Disponível em: ht-


tps://en.wikipedia.org/wiki/Submarine_hull. Acesso
em: 20 jul. 2020.

O Periscópio 83
“Artigos Diversos”, estão publicados artigos relevantes de forma regular, tem procurado ser um veículo de
para o debate profissional e acadêmico dentro das suas informação valioso para quem aqui navega.
CIÊNCIA E
respectivas áreas de atuação, como a Aula Inaugural Desta forma, é com orgulho que convido você,
TECNOLOGIA
do Curso Aperfeiçoamento de Submarinos para leitor, a mergulhar nas páginas desta edição, onde
Oficiais (Turma1/2019), a Aula Inaugural do Curso de poderá constatar a nossa tradição de abordar assuntos
Aperfeiçoamento de Mergulhador de Combate para de relevante interesse operativo, dando ênfase às
Oficiais e Curso Especial de Mergulhador de Combate, tarefas desempenhadas pelos nossos submarinistas,
os cuidados durante uma evacuação aeromédica de mergulhadores e mergulhadores de combate e aos
O RECEBIMENTO DE MATERIAIS DO PROSUB
uma vítima de doença descompressiva, proposta de temas técnico-profissionais dos médicos hiperbáricos
NA FRANÇA: UM PROCESSO DE TRANSMISSÃO DE
treinamento de Gerenciamento de Risco na Segurança
do Sistema de Saúde, Gestão do Conhecimento no
e psicólogos submarinos, ambos fundamentais à
manutenção da nossa soberania na Amazônia Azul.
TECNOLOGIA E CONHECIMENTO
âmbito do Programa Nuclear da Marinha, expectativas
e perspectivas da segurança operacional de submarinos Boa imersão!

Periscópio 3

Contra-Almirante André Martins de Carvalho


Capitão de Corveta (EN) Heitor Herculano de Barros

1 INTRODUÇÃO de forma que essa experiência possa ser absorvida e


transmitida para toda a Marinha do Brasil (MB). Para
A decisão do Governo Brasileiro de projetar e isto, inicialmente, serão relatados os procedimentos
construir um submarino de propulsão nuclear está so- adotados pela Marinha Nacional Francesa (MNF)
lidamente amparada por argumentos geopolíticos. A para a aquisição e recebimento de seus meios navais. A
fim de atingir esse “Objetivo Final” foi iniciada, em seguir, será apresentado o processo utilizado pela MB
dezembro de 2008, uma parceria estratégica entre Bra- para o recebimento de itens e equipamentos utiliza-
sil e França, que foi materializada através de diversos dos na construção dos S-BR. Por fim serão destacados
acordos desde o nível político até o nível técnico e que, alguns aspectos relevantes no processo brasileiro que
reunidos e executados, criaram o Programa de Desen- contribuem para que a MB adquira a capacitação para
volvimento de Submarinos, o PROSUB [1]. o atingimento do objetivo final: o projeto, a constru-
Como etapas intermediárias no âmbito do PRO- ção, a operação e a manutenção do Submarino Nuclear
SUB, indissociáveis para o sucesso, foram definidas as Brasileiro, o SN-BR.
construções de uma Base Naval, um Estaleiro de Cons-
trução, um Estaleiro de Manutenção, uma Unidade de 2 MODELO DE RECEBIMENTO E
Fabricação de Estruturas Metálicas (UFEM) e uma ACEITAÇÃO PARA MARINHA FRANCESA
Unidade de Fabricação de Estruturas Resistentes, pro- O processo de aquisição de novos meios navais para
piciando a criação de uma sólida infraestrutura industrial a MNF é executado pela Direção Geral do Armamento
devidamente qualificada para a construção e manutenção (Direction générale de l’armement - DGA). A DGA foi
de submarinos, e de quatro submarinos convencionais. criada pelo então Chefe de Estado francês General
O presente artigo tem o intuito de relatar o pro- Charles de Gaulle, em 1961, com a missão de equipar
cesso que a Coordenadoria Geral de Desenvolvimento as forças armadas francesas e preparar os futuros siste-
de Submarino com Propulsão Nuclear (COGESN) mas de defesa. A criação da DGA unificou os antigos
aplica no recebimento de itens e equipamentos des- corpos de engenharia militar das diversas forças: navais,
tinados à construção dos quatro Submarinos Conven- marítimos, de artilharia, de fabricação de armamento,
cionais Brasileiros (S-BR) perante à empresa francesa de telecomunicações, de armas explosivas e de aero-
Naval Group (NG), autoridade do projeto1 dos S-BR, náutica. O órgão está presente em 18 centros regionais
na França e possui um efetivo de 9.700 funcionários,
1 Autoridade de projeto: contratualmente significa a entidade res- dos quais 61% são engenheiros e profissionais de nível
ponsável e com autoridade decisória quanto à execução, autorização
superior. Em 2018, a DGA foi o maior comprador do
de execução por uma subcontratada, alteração, verificação, auditoria
e aprovação dos trabalhos e documentos de projetos a serem efetu- Estado francês, atingindo o valor de 12,5 bilhões de
ados para cada objeto do Contrato e dos Documentos Contratuais; euros em pedidos à indústria e 765 milhões de euros
trata-se da entidade responsável tecnicamente pelo projeto. Para o
SN-BR, a autoridade de projeto será a MB. em investimentos em pesquisas e inovação [2].

84 O Periscópio
ComForS

O processo de aquisição se inicia a partir dos re- 3 MODELO DE RECEBIMENTO E


quisitos operacionais apresentados pela MNF para a ACEITAÇÃO PARA A MARINHA DO BRASIL
DGA, que verifica as tecnologias disponíveis na in- No âmbito dos contratos do PROSUB, o contra-
dústria nacional e europeia gerando um projeto bási- to 1A trata da obtenção do material importado para os
co fundamentado nos requisitos técnicos do projeto e S-BR, sendo as especificidades tratadas entre a CO-
realiza a abertura de concorrência para contratação de GESN e a empresa francesa NG. Dentro da estrutura
um fornecedor para o meio. da COGESN, o contrato 1A é de responsabilidade da
Uma vez que um fornecedor é selecionado, os en- Gerência do Empreendimento Modular de Obtenção
genheiros e técnicos da DGA são responsáveis por de Submarinos (GEM-20). O fiscal de contrato e seus
todas as atividades relacionadas à Garantia da Quali- assessores, subordinados ao GEM-20, atuam direta-
dade, desde os Testes de Aceitação de Fábrica, fiscali- mente na gestão administrativa do contrato, no controle
zação da construção dos meios, inspeções rotineiras do do cumprimento dos marcos contratuais2 e na discussão
andamento da obra até os testes de cais e de mar. de eventuais divergências contratuais entre as partes.
A MNF, por sua vez, não exerce nenhuma ati- O processo de recebimento de materiais para
vidade de fiscalização ou inspeção do meio duran- construção do S-BR está detalhado no Contrato 1A
te o período de construção. A partir do início do do PROSUB na cláusula 21, denominada “Direito de
comissionamento dos equipamentos a bordo é que Inspeção pela MARINHA” [3].
militares da MNF começam a participar dos di- A fim de atender à demanda contratual foi cons-
versos testes, visando à qualificação da tripulação tituída uma Comissão de Fiscalização (CF) para atu-
designada para o meio. A aceitação final do meio ar na França composta de até onze representantes da
ocorre pela MNF após finalizados todos os testes MB. A CF tem como funções:
de performance operacional, a fim de verificar os • inspecionar a fabricação do Pacote de Material para
requisitos enviados para a DGA antes do desenvol- o S-BR e do Pacote Logístico dos S-BR;
vimento do projeto. • participar dos Testes de Aceitação de Fábrica e Tes-
O envolvimento da DGA na construção é voltado tes do Construtor na Fábrica, fiscalizando e apresen-
para Garantia da Qualidade. O baixo envolvimento da tando parecer sobre a aprovação ou desaprovação;
DGA e da MNF durante o processo de construção
2 Marcos contratuais: contratualmente significa o conjunto de pres-
se deve ao fato de a aquisição estar focada apenas na tações a serem integralmente cumpridas pela NG, sujeitas aos Cer-
obtenção do produto final e não existir transferência tificados de Aceitação pela MARINHA, na forma estabelecida no
Plano de Aceitação de Marcos, até as datas estabelecidas no Crono-
de tecnologia envolvida. grama de Pagamento e das Garantias.

Figura 1: Processo simplificado de responsabilidades durante aquisição de meios pela MNF.

O Periscópio 85
CIÊNCIA E
TECNOLOGIA

• acompanhar e fiscalizar o progresso da fabricação, Após a análise da documentação técnica, não exis-
testes, embalagem e embarque do Pacote de Mate- tindo discrepância, o lote é sinalizado como “apto para
rial S-BR e do Pacote Logístico dos S-BR; e inspeção”. Caso contrário, a empresa é notificada da
• a aceitação inicial dos materiais, ainda em solo fran- existência de pendência documental e providenciará
cês, por meio da assinatura do Termo de Recebi- sua correção para nova verificação.
mento e Aceitação Provisório (TRAP), quando do Durante a inspeção técnica, diversos aspectos são
embarque marítimo ou aéreo dos materiais. avaliados, tais quais: aspecto visual do material, quanti-
A Comissão de Fiscalização, subordinada ao Es- dades, número de série consistente com os certificados
critório Técnico do Programa de Desenvolvimento e evidências apresentadas, dimensões em concordância
de Submarinos na França3 (ET-PROSUB), exerce com os planos, data de validade, data de aferição, veri-
suas atividades nas dependências da unidade da em- ficação funcional etc.
presa NG na cidade de Cherbourg, a cerca de 350 A inspeção é realizada por um membro da CF
km de Paris. designado formalmente por meio de correspondên-
A CF envia seus representantes para participar dos cia, um engenheiro com formação relacionada ao
Testes de Aceitação de Fábrica dos equipamentos de item inspecionado, em conjunto com um inspetor da
maior importância listados no contrato (MCPs, bate- empresa NG. Este fica responsável por fornecer es-
rias, bombas, sonares, válvulas de escape etc.). Estes clarecimentos sobre inconsistências encontradas nos
testes são realizados nas instalações da empresa NG e itens em inspeção e, dependendo do caso, acrescentar
de seus fornecedores localizados na França e em diver- novos documentos e evidências que tragam maiores
sos países da Europa. informações sobre o material. Quaisquer documentos
A inspeção do Pacote de Material S-BR e do Pa- adicionais e as observações levantadas pelos inspeto-
cote Logístico dos S-BR ocorre por lotes, que consis- res brasileiros serão incluídos na documentação téc-
tem numa quantidade determinada de material divi- nica que compõe o lote.
dido por especificidades (cabos, tubos, equipamentos, No caso de alguma discrepância ter sido veri-
acessórios, sensores etc.). O processo é iniciado com o ficada durante a inspeção, é preenchido um docu-
envio dos documentos técnicos do lote para análise da mento denominado TOC (TableofClarif ication), em
CF. Os documentos técnicos que são entregues pela que as anomalias e desacordos verificados são re-
NG antes de a inspeção ser programada são: gistrados e discutidos tecnicamente entre os inspe-
• especificação técnica para aquisição e fabricação; tores brasileiros e os especialistas da empresa NG.
• lista de materiais; Estas discussões técnicas podem envolver reuniões
• planos e manuais definitivos; com profissionais de diversos níveis dentro da em-
• protocolo e relatórios de testes de desempenho e presa e da MB. Contudo, o lote só é reapresentado
aceitação; para nova inspeção após as partes chegarem a um
• especificação de embalamento, manuseio, transporte consenso em relação aos documentos técnicos com-
e armazenagem. probatórios e/ou justificativas adicionais de desvios
• relatórios técnicos de tratamento de desvios durante encontrados ou até mesmo ocorrendo a reprovação
o processo de fabricação; e do material.
• certificados de qualidade de matérias-primas utili- Caso não exista nenhuma discrepância nos itens
zadas e evidências técnicas. e na documentação técnica correspondente, os itens
são embalados em caixas de madeira de acordo com as
especificações de embalamento, manuseio, transpor-
te e armazenagem. Alguns itens possuem exigências
3 O ET-PROSUB é um elemento organizacional da MB, com estru-
tura administrativa subordinada à COGESN, com sede em Houilles
adicionais, como embalamento a vácuo, inclusão de
a cerca de 12 km de Paris, que tem por missão gerenciar a execução material absorvedor de umidade e sensores de choque,
das atividades relacionadas ao PROSUB, a fim de contribuir para a
obtenção dos objetos previstos nos contratos comerciais do PRO-
de inclinação e de temperatura. Representantes brasi-
SUB assinados pela MB. leiros participam em todas as etapas.

86 O Periscópio
ComForS

Figura 2: Fluxograma do processo de análise de documentação técnica e inspeção.

Os itens aprovados após a inspeção aguardam a e disponibilizados para auditorias externas dos ór-
entrega formal pela NG ao ET-PROSUB de toda gãos de controle.
documentação utilizada durante a análise e inspeção O Departamento de Abastecimento do ET-PRO-
da CF. SUB recebe uma fatura e a listagem de itens dos lotes
O Departamento Técnico do ET-PROSUB ve- verificando se as informações constantes são consis-
rifica a conformidade de todos os documentos téc- tentes e se os documentos necessários ao processo de
nicos apresentados inicialmente à CF e, caso não importação foram corretamente anexados. Caso não
haja discrepância, é alocado um número ao Termo haja nenhuma discrepância, o processo de importação
de Recebimento e Aceitação Provisório (TRAP) re- do lote é iniciado utilizando o Sistema de Informações
ferente ao lote. Posteriormente, cópias destes docu- Gerenciais do Abastecimento (SINGRA). O processo
mentos são enviadas ao Brasil para serem utilizadas de importação dentro da MB é tratado diretamente en-
pelas equipes durante a montagem dos equipamen- tre o ET-PROSUB e o Centro de Distribuição e Ope-
tos a bordo dos navios e para serem encaminhadas rações Aduaneiras da Marinha (CDAM), e qualquer
para as Diretorias Especializadas. Os originais dos pendência ou exigência especial inerente ao processo
TRAP são enviados ao Brasil para serem arquivados será encaminhada para correção por parte da NG.

Figura 3: Processos desenvolvidos no ET-PROSUB para embarque do material para o Brasil.

O Periscópio 87
CIÊNCIA E
TECNOLOGIA

O lote é liberado para embarque, etapa denomi- O processo de recebimento de materiais utiliza-
nada de emissão do Green Light4, pelo Departamento do pela MB no âmbito do PROSUB é extremamen-
de Abastecimento apenas após a aprovação do pro- te mais complexo e minucioso que o executado pela
cesso por parte do CDAM e da confirmação pelo MNF em suas aquisições. Esse fato ocorre devido a
Departamento Técnico do ET-PROSUB de que a envolver transferência de tecnologia e a almejar a ob-
documentação técnicafoi corretamente entregue e o tenção de conhecimento.
TRAP foi numerado. O trabalho exercido pela Comissão de Fiscalização
Apenas após o embarque no porto de partida da do Contrato 1A do PROSUB e pelo ET-PROSUB
França, o lote é considerado provisoriamente aceito e possibilita o recebimento de material e de sua docu-
o TRAP é assinado pelo Chefe da Comissão de Fis- mentação técnica trazendo importantes informações,
calização da Marinha na França. como: métodos de fabricação, características das ma-
A aceitação final, de responsabilidade do Fiscal do térias-primas utilizadas, fornecedores etc. Além disso,
Contrato, será realizada de forma definitiva apenas possibilita o acesso de engenheiros brasileiros a empre-
após a instalação do material no submarino em cons- sas de avançada tecnologia de defesa em toda a Europa.
trução, sua total prontificação e entrega definitiva à As informações e experiências adquiridas serão funda-
Marinha do Brasil, o que ocorrerá ao final do período mentais na busca do objetivo final, que é construir o
de garantia de cada um dos S-BR. SN-BR.
Uma vez que o PROSUB envolve um vasto pro-
grama de Transferência de Tecnologia, as atividades da REFERÊNCIAS
CF e do ET-PROSUB são de fundamental importân- CONTRATO de Compra e Venda de Material Im-
cia para que este processo ocorra de forma satisfatória e portado S-BR Nº 40000/2009-005/00.
não se limite a uma verificação de garantia da qualidade.
DGA – Direction générale de l’armement. Ministè-
4 CONCLUSÃO redesArmées. Disponível em <https://www.defense.
O PROSUB proporcionará mais que um submari- gouv.fr/dga>. Acesso em: 18 fev. 2020.
no nuclear. A transferência de tecnologia, a nacionali-
zação de itens e a capacitação de pessoal, justamente o PROSUB – Programa de desenvolvimento de subma-
tripé do PROSUB, contribuirão para alavancar o País rinos. Ministério da Defesa. Marinha. Disponível em
para uma posição de destaque na geopolítica interna- <https://www.marinha.mil.br/prosub>. Acesso em: 4
cional. Todas as fases deste complexo processo são im- fev. 2020.
portantes e as experiências de outras nações demons-
tram que falhas ou falta de importância atribuídas em
etapas menores do processo impedem a obtenção dos
resultados almejados.

4 A emissão do Green Light pelo ET-PROSUB é a indicação de que:


1 - os itens recebidos estão de acordo com as especificações téc-
nicas apresentadas pela Autoridade de Projeto, neste caso, do
S-BR, o próprio NG;
2 - toda documentação técnica foi recebida pela MB; e
3 - as exigências em relação ao processo de exportação e importa-
ção dos órgãos franceses e brasileiros, respectivamente, foram
cumpridas.

88 O Periscópio
ComForS

O Periscópio 89
do Curso Aperfeiçoamento de Submarinos para leitor, a mergulhar nas páginas desta edição, onde
Oficiais (Turma1/2019),
CIÊNCIA E a Aula Inaugural do Curso de poderá constatar a nossa tradição de abordar assuntos
Aperfeiçoamento de Mergulhador de Combate para de relevante interesse operativo, dando ênfase às
TECNOLOGIA
Oficiais e Curso Especial de Mergulhador de Combate, tarefas desempenhadas pelos nossos submarinistas,
os cuidados durante uma evacuação aeromédica de mergulhadores e mergulhadores de combate e aos
uma vítima de doença descompressiva, proposta de temas técnico-profissionais dos médicos hiperbáricos
treinamento de Gerenciamento de Risco na Segurança e psicólogos submarinos, ambos fundamentais à
do Sistema de Saúde, Gestão do Conhecimento no manutenção da nossa soberania na Amazônia Azul.
O EFEITO LLOYD-MIRROR E SUAS APLICAÇÕES
âmbito do Programa Nuclear da Marinha, expectativas
e perspectivas da segurança operacional de submarinos Boa imersão!

Periscópio 3

Capitão de Corveta Diego Felipe Gimenez de Andrade

1 INTRODUÇÃO silenciosos, discretos e eficientes. O principal sensor


Este artigo não poderia se iniciar de outra manei- utilizado pelos submarinistas e também contra os sub-
ra melhor que com a seguinte citação obtida de [5]: marinistas é o Sonar (Sound Navigation and Ranging),
que utiliza a propagação de ondas sonoras em proveito
[...] em silêncio e furtivamente, mas, mais im- da detecção, análise de movimento do alvo (AMA) e
portante ainda, em segredo, os submarinos de
ataque realizaram até duas mil missões de es- da classificação de contatos. Um fenômeno físico e na-
pionagem enquanto monitoravam submarinos tural que pode contribuir para a detecção passiva de
soviéticos. O mais crucial era rastrear os “boo- submarinos (aquela que depende somente da energia
mers”, submarinos soviéticos maiores do que
sonora irradiada pelo alvo) é o Efeito Lloyd-Mirror,
os campos de futebol que carregavam até vinte
mísseis balísticos. Esses mísseis poderiam lan- que será apresentado a seguir.
çar até dez ogivas nucleares cada, e um único
míssil poderia criar uma tempestade de fogo 2 EFEITO LLOYD-MIRROR
maior que o poder combinado de todas as bom-
bas lançadas na Segunda Guerra Mundial. O O efeito Lloyd-Mirror, batizado com esse nome
fato de esses arsenais serem portáteis e ocultos em homenagem ao matemático Humphrey Lloyd
no mar os tornou muito menos vulneráveis e (1800-1881), foi amplamente estudado com o ob-
muito mais perigosos do que as bombas proje-
tadas para serem lançadas a partir de aviões ou
jetivo de avaliar as potencialidades do seu empre-
de pontos fixos em terra. go em proveito da acústica submarina pelo Comitê
Nacional de Pesquisa e Defesa norte-americano
Não é necessário ser um expert em história para (NRDC), como apresentado em [1]. Basicamente,
conhecer a fama dos submarinos. O povo brasileiro esse efeito consiste em um padrão de interferência
experimentou, em um passado não muito distante, a acústica criado por uma fonte pontual colocada per-
capacidade de emprego desses meios navais. Além de to de uma suave e perfeitamente refletora superfície
ser um operador dessas fascinantes máquinas, o Brasil do mar[2].
também sofreu baixas devido ao emprego dos mesmos Enquanto a fonte sonora (um alvo) se aproxima
por nações inimigas durante as duas grandes guerras do receptor do sinal (um hidrofone de fundo, sono-
mundiais[7]. Cabe ressaltar que, ao longo da Segun- boia ou um submarino), as frequências geradas pelo
da Guerra Mundial, um total de trinta e cinco navios alvo sofrem sucessivas interferências construtivas e
brasileiros foi afundado por submarinos alemães e ita- destrutivas que podem ser observadas através de um
lianos. Desse total, trinta e três eram navios mercan- espectrograma. Na Figura1, gerada em proveito de
tes[7]. O total de mortos no mar superou as baixas so- [3], podemos observar essas interferências constru-
fridas pela Força Expedicionária Brasileira na Itália[7]. tivas (regiões mais iluminadas) e destrutivas (regiões
Diante do exposto, não é difícil perceber a dificulda- mais escuras) para várias frequências produzidas pelo
de de se detectar esses meios navais que, obviamente, ruído de banda larga gerado pela cavitação do hélice
graças ao avanço tecnológico, se tornam cada vez mais de um alvo.

90 O Periscópio
ComForS

𝑅𝑅1 = �(𝑟𝑟 2 + (𝑧𝑧 − 𝑧𝑧𝑠𝑠 )2 ) e 𝑅𝑅2 = �(𝑟𝑟 2 + (𝑧𝑧 + 𝑧𝑧𝑠𝑠 )2 )

O sinal de Omenossinal denamenos equação na equação


(1) é necessário (1) é necessário para satisfazer para a condição de f
na superfície (pressure satisfazerrelease a condição surface,
de fronteirap = 0)na [2]superfície
que acarreta (pressure na inversão de fase
refletido na superfície.release surface, p = 0) [2] que acarreta na inversão depode ser obtida em
Uma explicação matemática mais detalhada
níveis da fonte são normalizados para dar amplitude unitária a 1 m de distância da fon
fase do sinal refletido na superfície. Uma explicação
A equação (1) representa um padrão de interferência bastante complexo, par
pode-se derivarmatemática uma expressão mais detalhada simplificada podeassumindo
ser obtida em que[3]. a Osdistância R da orig
níveis da fonte são normalizados
muito maior que a profundidade da fonte 𝑧𝑧𝑠𝑠 ; denotando o ângulo de declinação para dar amplitude
𝑅𝑅1 = �(𝑟𝑟 2que,
encontramos + (𝑧𝑧
para
unitária a𝑠𝑠 )12m
− 𝑧𝑧R>> ) 𝑧𝑧ede 𝑠𝑠 ,𝑅𝑅as2 = �(𝑟𝑟da
distâncias
distância 2 + (𝑧𝑧 + 𝑧𝑧 )2 )
R1 e R2𝑠𝑠 podem ser aproximadas por[2]:
fonte. (2)
A equação (1) representa um padrão de interfe-
O sinal de menos na equação (1) 𝑅𝑅1é≈ necessário
R - 𝑧𝑧𝑠𝑠 *senθ para e satisfazer
𝑅𝑅 ≈ R + a𝑧𝑧𝑠𝑠condição *senθ de fronteira
rência bastante complexo, para o qual2 pode-se derivar
na superfície (pressure release surface, p = 0) [2] que acarreta na inversão de fase do sinal
refletido na superfície. 𝑅𝑅1=
Uma
Considerandouma �(𝑟𝑟 expressão
explicação2 + (𝑧𝑧 − simplificada
também 𝑠𝑠 ) )ase distâncias
𝑧𝑧que
matemática 2
2 =
𝑅𝑅mais assumindo
�(𝑟𝑟
detalhada 2
que+aparecemque
(𝑧𝑧 + a𝑧𝑧𝑠𝑠distân-
pode 2)
)sernosobtida em [3]. Os d
denominadores
Figura 1: Exemplo de interferências níveis da fonte
devidas aoos são normalizados
Efeito
termos podem cia ser R da paraorigem
substituídas sejasimplesmente
dar amplitude muitounitária maior pela que
a 1 am profundidade
de distância
distância da fonte.
inclinada R, sabendo-s
Lloyd-Mirror. O Ponto de maior aproximação (PMA)
Aamplitudes
equação O sinal de
(1)decaemda menos
representafonte na; denotando
zum
lentamente equação
padrão com de (1)alcance
éângulo
necessário
interferência
o e de para satisfazer
bastante
substituindo
declinação complexo,
as
por duas
θ,a condição
para o qual
exponenciais de fronp
s
entre a fonte sonora e o hidrofone está pode-se próximona superfície
do
derivar ponto
função uma (pressure
expressão
trigonométrica release
simplificada
com surface,
base na p = 0) de
assumindo
Equação [2]que quea acarreta
Euler, distância
podemos nachegar
R inversão
da origem
à de fase
fórmula seja do
simp
100, onde as estrias ficam na direção
encontramos que, para R>> zs, as distâncias R1 e R2
muitohorizontal.
refletido
maior[2]:quenaasuperfície.
profundidade Umada explicação
fonte 𝑧𝑧𝑠𝑠 ;matemática denotandomais o ângulodetalhada de pode ser obtida
declinação por em θ, [3
encontramos níveisque,da fonte
para R>>sãopodemnormalizados ser aproximadas
𝑧𝑧𝑠𝑠 , as distâncias 𝑅𝑅1 =para �(𝑟𝑟R1 dar2+ por[2]:
e amplitude
R2 − 𝑧𝑧𝑠𝑠 )2unitária
(𝑧𝑧 podem 𝑅𝑅2 a= 1 �(𝑟𝑟
)sere aproximadas m de2 distância
+ (𝑧𝑧 + 𝑧𝑧𝑠𝑠da
por[2]: )2 )fonte.
A geometria característica desse efeito pode ser ob- A equação (1) representa um padrão
2 de
|𝑝𝑝|=2 𝑅𝑅 |sin(𝑘𝑘𝑧𝑧𝑠𝑠 𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠)| interferência bastante complexo, para o
pode-se derivar uma 𝑅𝑅expressão O sinal 𝑅𝑅 =
de �(𝑟𝑟
simplificada
menos + na(𝑧𝑧 −
equação𝑧𝑧
assumindo) 2 ) e 𝑅𝑅 = �(𝑟𝑟 2 + (𝑧𝑧 + 𝑧𝑧 )2 )
(1) éque
necessárioa distância
para R da
satisfazer origem
(3)a c
1 ≈ R - 𝑧𝑧𝑠𝑠 *senθ e 𝑅𝑅2 ≈ R + 𝑧𝑧𝑠𝑠 *senθ (3)
1 𝑠𝑠 2 𝑠𝑠
servada na Figura 2, onde S indica a posição da fon-
muito maior que a profundidade
na superfície (pressure da release
fonte 𝑧𝑧𝑠𝑠surface, ; denotando p = 0)o [2] ângulo de declinação
que acarreta na invers p
te a uma profundidade zs, abaixo da superfície do mar
encontramos Em[2],
que, o autor
para R>> O apresentou
sinal , asde distâncias
𝑧𝑧𝑠𝑠distâncias menos as fórmulas
na equação
R1 e R2 e seus (1)
podem évalores
necessário simplificados,
ser aproximadas para satisfazer
por[2]: masa oc
Considerando refletido
também na
que
Considerandosuperfície.
as Uma
também que explicação
aparecem
que matemática
as distâncias nos denominadores mais detalhada
de ambospode s
(z = 0). Para um campo pontual os qualquer
termos
resoluções
P(r,
podem z), emser
matemáticas
na superfície
níveis
substituídas da fonte
necessárias
(pressure
são normalizados
simplesmente
para se
release
pela
chegar
surface,
para dar
distância = 0) que
àpfórmula
amplitude
inclinada [2] R,
apa-
apresentada
que acarreta
unitária
sabendo-se a1m
acima. Tod
nadeinvers
que asdistâ
Figura 1: Exemplo de interferências devidas ao Efeito Lloyd-Mirror. O resoluções
Ponto de maior matemáticas
recem na
aproximação
refletido nosequação foram
denominadores
(PMA)
superfície. -apresentadas
Uma de ambos
explicação em≈os R[3], + 𝑧𝑧onde
termos
matemática podem também
mais detalhadaforampode exp
umae região
entre a fonte sonora de águas
o hidrofone profundas
está próximo (desconsiderando
do ponto amplitudes
100, onde as refle-
decaem
estrias lentamente
ficam na direção A
com
horizontal. 1 ≈ R(1)
𝑅𝑅alcance 𝑠𝑠 *senθ
𝑧𝑧erepresenta
substituindo e 𝑅𝑅 um2 padrão
as duas *senθ
𝑠𝑠de interferência
exponenciais por uma cos
bastante
considerações sobre
níveis
ser da os errossão
fonte
substituídas devidosnormalizados
simplesmente às simplificações.
para
pela dar amplitude
distância inclinada unitária a 1 m de distâ
xões no fundo), existem apenas dois função trigonométrica
caminhos de ener- pode-se
com basederivar na Equação uma de expressão
Euler, podemos simplificada chegarassumindo que a distância
à fórmula simplificada
A superfícietambém refletora
A equação doas (1)mar é vista que
representa gerando
um padrão umdepadrão direcional
interferência com desu
A geometria característica
gia possíveis desse efeito
conectando a fontepode [2]: ser observada
ao receptor: ovalores
Considerando
caminho na de muito
Figura R, sabendo-se
maior
2, ondesonoras que que
S indicamáximasquea a asdistâncias
amplitudes
profundidade da aparecem
decaemfonte lentamente
𝑧𝑧 𝑠𝑠 ; nos denominadores
denotando obastante
ângulo co
am
de
os termos podem pressões
pode-se
ser derivar
substituídas uma expressão
simplesmente e mínimas
simplificada
pela distância devidas assumindo
inclinada às sucessivas
que
R, a
sabendo-se interf
distância q
posição da fontediretoa umaSP profundidade encontramos
com alcance que, e para
substituindoR>> 𝑧𝑧 ,asas distâncias
duas R1
exponenciais e R2 podem
por ser aproxima
e o caminho zs, abaixopela
refletido da superfície
superfície do mar (z e=destrutivas
construtivas
SAP.
amplitudes decaem
0). Para umdadas
muitolentamente
maior que
campo
2 com apor[2]:
profundidade
alcance
𝑠𝑠
e da fonte 𝑧𝑧𝑠𝑠as
substituindo ; denotando
duas o ângulopor
exponenciais de
pontual qualquer P(r, z), em uma região de águas profundas (desconsiderando uma função reflexões
|𝑝𝑝|= 𝑅𝑅trigonométrica no
|sin(𝑘𝑘𝑧𝑧𝑠𝑠 𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠)|com base na Equação de (4)
Assumindo uma reflexão especular na superfície função do encontramos
trigonométrica com que, na
base para R>> 𝑧𝑧𝑅𝑅
Equação ,1as
𝑠𝑠de Rdistâncias
≈Euler, - 𝑧𝑧podemos R1 e 𝑅𝑅R2 podem + 𝑧𝑧𝑠𝑠ser aproxima
fundo), existem apenas dois caminhos de energia possíveis conectando a fonte
2 aopodemos
receptor: (2𝑚𝑚−1)𝜋𝜋o 𝑠𝑠 *senθ e chegar 2 ≈ Rà fórmula *senθ simplif 𝜋𝜋
mar, Euler, chegar à fórmula
se ti- = 𝑅𝑅 para 𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠 = 2𝑘𝑘𝑧𝑧𝑠𝑠 onde m = 1,2…, ou seja, múltiplos ímpares de 2
como|𝑝𝑝|max
[2]: simplificada [2]:
caminho direto SP e oocaminho
caminhorefletido
refletidopela
podesuperfície
ser tratado SAP.
Em[2], o autor apresentou as fórmulas e seus valores simplificados,
vesse sido geradoespecular
a partir danafonte imaginária S’. o caminho Considerando também𝑅𝑅que 1 ≈ Ras - distâncias
𝑧𝑧𝑠𝑠 *senθ e que Rmas
𝑅𝑅2 ≈aparecem+ 𝑧𝑧omitiu
𝑠𝑠 *senθ
nos denom
as
Assumindo uma reflexão superfície
resoluções do matemáticas
mar, refletido
necessárias podeseserchegar
para 2 à fórmula apresentada acima. Todas essas
=os0 para
termos podem ser substituídas simplesmente seja, pela distância inclinada
(4) de 2R
(𝑚𝑚−1)𝜋𝜋 𝜋𝜋
tratado como se tivesse sido gerado a partir da fonte imaginária
resoluções S'.
|𝑝𝑝|min
matemáticas foram 𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠 = |𝑝𝑝|=
apresentadas
Considerando onde
também
|sin(𝑘𝑘𝑧𝑧
𝑅𝑅 emm [3], =que 𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠)|
𝑠𝑠1,2,3… onde
as alcance outambém
distâncias nosforammúltiplos paresdenom
explicitadas
amplitudes decaem 𝑘𝑘𝑧𝑧𝑠𝑠 lentamente com e que aparecem
substituindo asnos duas exp
considerações sobre os os erros
termosdevidos podem às simplificações.
ser substituídas simplesmente pela distância
Em[2], função
o autor trigonométrica
apresentou
Em[2], oéautor com
asapresentou
fórmulas base na easEquação
seus
fórmulas valoresdee Euler, podemosinclinada
simplificados, chegar
mas omit àR f
A superfície Narefletora
Figura 3do
amplitudes decaem
[2]:
mar
podemos vista
observar gerando
lentamente a clássica um
com padrão
imagem
alcance doe seus
direcional padrãova-
substituindocom sucessivos
de interferências
as duas exp
valores resoluções Efeitomatemáticas
deaopressões sonoras necessárias
máximas
lorestrigonométrica
Lloyd-Mirror.
função simplificados,
Observe e para mínimas
mas
comoomitiu
que semáximo
chegar
base devidas
àdefórmula
naasEquação
resoluções às de
pressão apresentada
sucessivas
matemá-
corresponde
Euler, podemos
acima.
interferências
ao dobro Todas
chegardo àf
construtivas resoluções
e matemáticas
destrutivas
uma única [2]: dadas
fonte foram
por[2]: apresentadas em [3], onde também foram explici
ticas (interferência
necessárias paraconstrutiva), se chegar à fórmula 2enquanto o mínimo de pressão
apresenta-
considerações sobre os erros devidos às simplificações. |𝑝𝑝|= 𝑅𝑅 |sin(𝑘𝑘𝑧𝑧𝑠𝑠 𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠)|
(interferência destrutiva)[2].
da refletora
acima. O essas número M de feixes de Lloyd é finito e também p
2A superfície (2𝑚𝑚−1)𝜋𝜋Todas do mar é resoluções
vista gerando matemáticas
um padrão foram
direcional
de 2 com (5) suces
𝜋𝜋
= 𝑅𝑅 para 𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠
|𝑝𝑝|max determinado como = apresentado onde mem = [2]1,2…, e [3] ou|𝑝𝑝|= seja, 2 múltiplos
|sin (𝑘𝑘𝑧𝑧 ímpares
𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠)|
valores de pressões Em[2], apresentadas
sonoras
2𝑘𝑘𝑧𝑧 𝑠𝑠 em
o máximas [3], onde
autor apresentou também
e mínimas foram explicitadas
devidas e àsseus
as𝑅𝑅 fórmulas 𝑠𝑠 sucessivas interferê
valores simplifica
construtivas e destrutivas considerações
resoluções dadas
matemáticas por[2]:
sobre osnecessárias erros devidos para às sesimplificações.
chegar à fórmula𝜋𝜋 apresentada
(𝑚𝑚−1)𝜋𝜋
|𝑝𝑝|min = 0 para 𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠 = A
resoluções Em[2], onde o mautor
matemáticas
superfície =
refletora apresentou
1,2,3… foramou
do seja,
mar asénos fórmulas
apresentadas
vista múltiplos
gerando e seus
em [3],valores
pares
um onde simplifica
de (6)
também
2resoluções 𝑘𝑘𝑧𝑧𝑠𝑠 (2𝑚𝑚−1)𝜋𝜋 necessárias para se chegar à fórmula2 apresentada
Figura 2: Esquema básico do efeito Lloyd-Mirror, |𝑝𝑝|max = 𝑅𝑅considerações
para 𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠 matemáticas
= sobre os erros
onde m devidos
= 1,2…, às ousimplificações.
seja, múltiplos ímpares de
𝜋𝜋
padrão direcional
resoluções 2𝑘𝑘𝑧𝑧𝑠𝑠 com foram
matemáticas sucessivos valores de pressões
apresentadas em [3], onde também2
adaptado de [2]. Na Figura 3 podemos A superfície
observar a clássica refletora imagem do mar é vista de
do padrão gerando um padrão
interferências devidas direcio
sonoras
considerações máximas sobre e mínimas
os erros devidosdevidas às às sucessivas
simplificações. in-
ao Efeito Lloyd-Mirror.valores Observedeque pressões
o máximo
(𝑚𝑚−1)𝜋𝜋 sonoras de pressão máximas corresponde e mínimas ao dobro devidas
do valor às suces
de
𝜋𝜋
Figura 2: Esquema básico do efeito Lloyd-Mirror, |𝑝𝑝|min = 0 para
adaptado A superfície
deterferências
𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠
construtivas
[2]. construtivas
= e destrutivas onderefletoramdadas dopor[2]:
e= destrutivas
1,2,3… marou é dadas
vista
seja, nos gerando
por[2]: múltiplosum padrão
pares dedirecio
uma única fonte
Assim, o campo total em P(r, z) pode ser escrito valores de pressões (interferência construtiva),
𝑘𝑘𝑧𝑧 𝑠𝑠 enquanto o mínimo de pressão é zero2
sonoras máximas e mínimas devidas às suces
(interferência destrutiva)[2]. O número M de feixes de Lloyd é finito e também pode ser
Assim, osimplesmente
campo total comoem P(r, a soma
z) pode de contribuições
ser escrito devidas
determinado como
a construtivas
simplesmente
Na apresentado
Figura como
3|𝑝𝑝|max
podemosema=[2]
esomadestrutivas
2
[3]de𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠
observar
epara a dadas por[2]:
(2𝑚𝑚−1)𝜋𝜋
clássica
= 2𝑘𝑘𝑧𝑧 imagem onde mdo= padrão 1,2…, ou de seja,
interferências
múltiplosde ím
contribuições devidasduas fontes
a duaspontuais [2]:
fontes pontuais [2]: ao Efeito Lloyd-Mirror. Observe
𝑅𝑅
que o máximo de
𝑠𝑠
pressão corresponde ao dobro do val
2 (2𝑚𝑚−1)𝜋𝜋
uma única fonteou seja, múltiplos
|𝑝𝑝|max
(interferência = 𝑅𝑅 paraconstrutiva), ímpares de π/2enquanto
𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠 =(𝑚𝑚−1)𝜋𝜋 2𝑘𝑘𝑧𝑧𝑠𝑠
onde m =o 1,2…, (5) ou seja,
mínimo de múltiplos
pressão éím
𝑒𝑒 𝑖𝑖𝑖𝑖𝑖𝑖1
𝑝𝑝(𝑟𝑟, 𝑧𝑧) = 𝑅𝑅1 − 𝑅𝑅2
𝑒𝑒 𝑖𝑖𝑖𝑖𝑖𝑖2
(interferência(1) |𝑝𝑝|min
destrutiva)[2]. = 0 para
O número𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠
(1) = M de
𝑘𝑘𝑧𝑧𝑠𝑠
onde
feixes m
de = 1,2,3…
Lloyd é ou seja,
finito e nos
também múltiplospod
determinado como apresentado em [2] e [3](𝑚𝑚−1)𝜋𝜋
|𝑝𝑝|min = 0 para 𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠 = 𝑘𝑘𝑧𝑧 onde m = 1,2,3… ou seja, nos múltiplos
Onde k = 2π/λ é o número Onde kde= ondas
2π/λ éacústico
o número e osdevalores
ondas acústico
de 𝑅𝑅1 e 𝑅𝑅e2os podem ser obtidos Na Figura por:3 podemos observar 𝑠𝑠 a clássica imagem do padrão de in
valores de R_1e R_2 podem ser obtidos por: ao ouEfeito seja,Lloyd-Mirror.
nos múltiplos Observe pares de π/2 que o máximo de(6) pressão corresponde a
uma única Na Figura fonte3 (interferência
podemos observar a clássica imagem
construtiva), enquantodoopadrão mínimo de ind
ao Efeito Lloyd-Mirror.
(interferência destrutiva)[2]. Observe O número que o máximo M de feixes de pressão de Lloydcorrespondeé finitoa
uma
determinado única como fonte apresentado (interferência em [2] construtiva),
O Periscópio
e [3] enquanto91 o mínimo d
(interferência destrutiva)[2]. O número M de feixes de Lloyd é finito
determinado como apresentado em [2] e [3]
esperado[6]. Uma vez que o efeito Lloyd-Mirror consiste justamente na interferência en
ondas sonoras que percorrem um caminho direto entre a𝑅𝑅′(𝑠𝑠) fonte= sonora e o receptor e as qu
2
𝑅𝑅(𝑠𝑠)𝑒𝑒 −0,5𝜏𝜏
CIÊNCIA E refletidas na superfície antes de chegar ao receptor, torna-se necessário estudar o efeito
TECNOLOGIA rugosidade do estado
ondedoR'(θ)
mar épode acarretar
o novo nesse processo.
coeficiente Uma reduzido
de reflexão, fórmula muito
devidoeficie
à
confiável para descrever a refletividade
aleatoriamente em uma
rugosa[2], e τ é fronteira rugosa
o parâmetro é a equaçãodedeRayleigh
de rugosidade Rayleigh
2
𝑅𝑅′(𝑠𝑠) = 𝑅𝑅(𝑠𝑠)𝑒𝑒 −0,5𝜏𝜏 𝜏𝜏 = 2𝑘𝑘𝑘𝑘𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠

Na Figura 3 podemos observar a clássica


onde R'(θ)ima- é o novo
Onde
𝜋𝜋
Onde coeficiente
𝑘𝑘 = 2 éé o de reflexão,
número
o número de onda,
de onda, reduzido devido das
σσé éa amplitude
a amplitude à das
dispersão
ondas dana supe
inte
𝜆𝜆
gem do padrão de interferências devidas aleatoriamente
ao Efeito rugosa[2], e τ é o
root-mean-square(RMS)parâmetro e de
θ érugosidade
o “grazing
ondas da superfície do mar em valor root-mean-square de Rayleigh
angle” definido
(complemento como[2]:
do ângu
Lloyd-Mirror. Observe que o máximo de pressão cor- (RMS) e θ é o “grazing angle” (complemento do ângu-
responde ao dobro do valor de uma única fonte (inter- Observe que o𝜏𝜏 =coeficiente
2𝑘𝑘𝑘𝑘𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠 de reflexão para uma superfície perf
lo de incidência)[2].
função dos processos de condensação e rarefação que acarretam na in
ferência construtiva), enquanto o mínimo de pressão
Onde 𝑘𝑘 = 2é é o número
𝜋𝜋
Observede que oσ coeficiente
onda, é a amplitude de anteriormente
reflexão
das ondaspara uma
da superfície
𝜆𝜆 refletida na superfície, como já comentadodo(pressure
mar em
zero (interferência destrutiva)[2]. O número M de fei- superfície
root-mean-square(RMS)
modo e θperfeitamente
que aé Equação
o “grazing lisa ser
angle”
7 pode é -1 em função
(complemento
reescrita dos pro- de incidência)[
do ângulo
como[2]:
xes de Lloyd é finito e também pode ser determinado cessos de condensação e rarefação que acarretam na
como apresentado em [2] e [3] Observe que o coeficiente de reflexão para uma
𝑅𝑅′(𝑠𝑠)
inversão de fase da onda refletida na superfície, como superfície
= −𝑒𝑒 −0,5𝜏𝜏2 perfeitamente lisa é -

função dos processos de condensação e rarefação que acarretam na inversão de fase da


já anteriormente comentado (pressure release condition),
refletida na superfície, como já anteriormente comentado (pressure release condition
modo que a Equação de modo
7 podeque serareescrita
Equaçãocomo[2]:
7 pode ser reescrita como[2]:

𝑅𝑅′(𝑠𝑠) = −𝑒𝑒 −0,5𝜏𝜏


2
(9)

Figura 3: Exemplo obtido de [2] representando uma fonte


a 25 m de profundidade emitindo uma frequência de
150 Hz com λ = 10 m, velocidade do som C =1500 m/s,
profundidade do receptor 200 m. Os círculos vermelhos
assinalam os instantes de ocorrência dos “mínimos” e
permitem observar os feixes de Lloyd.

À medida que a superfície do mar se torna rugosa de-


vido principalmente ao vento, o som refletido na super-
fície será espalhado em todas as direções[4] acarretando
em uma redistribuição da energia incidente em raios, não
Figura 3: Exemplo obtido de [2] representando uma fonte a 25 m de profundidade emitindo uma Figura 4: Gráfico
frequência de elaborado em MATLAB, fornecendo
50 Hz com λ = 10 m, correspondendo
velocidade do somao caminho
C =1500 m/s,refletido
profundidade esperado[6].
do receptorUma200 m. Os círculos vermelhos
o coeficiente de atenuação que deve ser multiplicado ao
assinalam os vez
instantes
que deo ocorrência dos “mínimos”
efeito Lloyd-Mirror e permitem
consiste observar os
justamente nafeixes de termo
Lloyd. referente ao sinal refletido na superfície (segundo
Figura 3: Exemplo obtido de [2] representando uma fonte a 25 m de profundidade emitindo uma
interferência entre termo da Equação
frequência de 1), produzido durante a pesquisa que
150 HzÀcommedida
λ = 10 que a superfície
m, velocidade do somdoCasmar
ondas
=1500
sonoras
sem/s,
torna que percorrem
rugosa
profundidade devido um
principalmente
do receptor aodeu
200 m. Os círculos vento,
vermelhos
origemo à dissertação apresentada em [3].
om refletido na os
assinalam caminho
instantesdireto
superfície deserá entre ados
espalhado
ocorrência fonte sonora
em
“mínimos” todasee opermitem
receptor e as que
as direções[4]
observar osacarretando
feixes de Lloyd.em uma
edistribuição da energia incidente
são refletidas em raios,
na superfície antesnão correspondendo
de chegar ao receptor,ao caminho Naao refletido
Figura 4 obtemos os coeficientes a serem mul-
À medida
sperado[6]. Uma vezqueque a superfície
o efeito do mar se torna
Lloyd-Mirror rugosa
consiste devido principalmente
justamente na interferência vento,
entre as o
torna-se necessário estudar o efeito que a rugosidade do tiplicados ao segundo termo da Equação 1 para três
som sonoras
ndas refletidoquena percorrem
superfícieum será espalhado
caminho diretoementretodas as direções[4]
a fonte acarretando
sonora e o receptor em são
e as que uma
redistribuição estado
da energia do mar pode acarretar nesse processo. Uma fórmu-
efletidas na superfície antes incidente
de chegar em raios, não
ao receptor, correspondendo
torna-se ao caminho
necessário estudar o efeitorefletido
diferentes frequências
que a em função do estado do mar.
esperado[6].
ugosidade do Uma lavez
estado muito
doque eficiente
mar pode eacarretar
o efeito confiável nesse
para descrever
Lloyd-Mirror consiste
processo. ajustamente
refletividade
Uma fórmulana interferência
muito
Observe entre
eficiente
que eas
maiores frequências apresentam menores
ondas sonoras
onfiável queempercorrem
para descrever uma um caminho
fronteira
a refletividaderugosa direto
eméuma
a equação entre
fronteira deaRayleigh[2]:
fonte sonora
rugosa e o receptor
é a equação de e as que são
Rayleigh[2]:
coeficientes para um mesmo estado do mar, ou seja,
refletidas na superfície antes de chegar ao receptor, torna-se necessário estudar o efeito que a
rugosidade do estado do mar pode 𝑅𝑅′(𝑠𝑠) acarretar nesse−0,5𝜏𝜏processo. Uma fórmula quanto maior
muito eficiente a frequência, mais agressiva é a atenua-
(7) e
2
= 𝑅𝑅(𝑠𝑠)𝑒𝑒 (7)
confiável para descrever a refletividade em uma fronteira rugosa é a equação ção em função de um estado do mar mais severo.
de Rayleigh[2]:
nde R'(θ) é o novoondecoeficiente
R’(θ) é o novo coeficientereduzido
de reflexão, de reflexão, reduzido
devido à dispersão na interface
definido como[2]: (7)
−0,5𝜏𝜏2
leatoriamente rugosa[2], 𝑅𝑅′(𝑠𝑠) de
= 𝑅𝑅(𝑠𝑠)𝑒𝑒
devido eàτdispersão
é o parâmetro
na rugosidade
interface de Rayleigh
aleatoriamente rugo-
sa[2], e τ é o parâmetro de rugosidade de Rayleigh
onde R'(θ) é o novo coeficiente de 𝜏𝜏 =reflexão,
2𝑘𝑘𝑘𝑘𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠 reduzido devido à dispersão na interface
(8)
definidoecomo[2]:
aleatoriamente rugosa[2], τ é o parâmetro de rugosidade de Rayleigh definido como[2]:
Onde 𝑘𝑘 = 2 𝜋𝜋𝜆𝜆 é o número de onda, σ é a amplitude das ondas da superfície do mar em valor
oot-mean-square(RMS) e θ é o “grazing𝜏𝜏 angle”= 2𝑘𝑘𝑘𝑘𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠 (8) de incidência)[2]. (8)
(complemento do ângulo
𝜋𝜋
OndeObserve
𝑘𝑘 = 2 é o número de onda, σ é a amplitude das ondas da superfície do mar em valor
𝜆𝜆 que o coeficiente de reflexão para uma superfície perfeitamente lisa é -1 em
root-mean-square(RMS)
92 de
unção dos processos e θ é o “grazing
O Periscópio
condensação angle” (complemento
e rarefação que acarretamdo
naângulo de de
inversão incidência)[2].
fase da onda
efletida na superfície, como já anteriormente comentado (pressure release condition), de
modo queObserve que7opode
a Equação coeficiente de reflexão
ser reescrita para uma superfície perfeitamente lisa é -1 em
como[2]:
função dos processos de condensação e rarefação que acarretam na inversão de fase da onda
ComForS

noboias lançadas por aeronaves, contribuindo para a


defesa da esquadra; outra possibilidade seria a utili-
zação em hidrofones de fundo, de modo que podem
ser empregados para o monitoramento da costa; por
fim, esse fenômeno pode ser adotado em sistemas de
combate empregados por submarinos, em que os sis-
temas podem ser utilizados como uma ferramenta de
auxílio em caso de um eventual combate contra um
submarino inimigo.
Partindo-se do princípio que os tons discretos ge-
rados por equipamentos empregados a bordo de sub-
marinos serão submetidos ao efeito Lloyd-Mirror, o
padrão de interferências pode ser aproveitado como
Figura 5: Representação gráfica do resultado de uma simu- instrumento de determinação dos parâmetros da
lação criada durante a dissertação apresentada em [3], com
objetivo de analisar o efeito do estado do mar em um tom AMA para uma solução de tiro que pode fornecer uma
discreto submetido ao Efeito Lloyd-Mirror; nota-se que as solução passiva que permita obter a distância ao alvo,
posições dos “mínimos” não se alteram. seu rumo, velocidade e profundidade, como apresenta-
do em [3]. Durante a pesquisa realizada em [3] foram
Na Figura 5, em preto temos uma frequência de utilizados dois programas que apresentaram resultados
400 Hz submetida ao efeito Lloyd-Mirror consideran- bastante promissores. O primeiro programa simula os
do uma superfície perfeitamente lisa e livre de perdas. intervalos de tempo entre as ocorrências de “mínimos”
Em azul, a mesma frequência considerando a perda no de sinal em função de vinte valores de cada um dos
caminho refletido na superfície em função do espalha- seguintes parâmetros: ângulo de proa, velocidade re-
mento devido ao estado do mar. Esse gráfico também lativa, distância e profundidade do alvo, gerando ao
foi gerado em proveito de [3]. O resultado é coerente todo cento e sessenta mil possibilidades (204) que se
com o apresentado no artigo [1], publicado na revista esperam obter para um determinado sinal e, para cada
Acoustics Today, em que o autor comenta que o efeito uma dessas possibilidades, eram gerados trinta inter-
do estado do mar “achata” o sinal submetido ao efeito valos de tempo entre os “mínimos”. Em seguida, um
Lloyd-Mirror, preenchendo os “nulos” e reduzindo os outro programa fornece a solução da AMA através da
picos. Além disso, observe que as posições dos “míni- comparação entre os intervalos reais, medidos em um
mos” não se alteram. sinal real e aqueles gerados pelo programa de simula-
ção. Ainda em [3] foram feitos testes que permitiram
3 CONCLUSÃO observar que, mesmo que haja erros na determinação
O Efeito Lloyd-Mirror é um fenômeno que ocorre dos “mínimos” ou que a detecção ocorra na presença de
naturalmente para todas as frequências e que depende ruídos, uma solução será fornecida e a margem de erro
basicamente da profundidade da fonte sonora, profun- observada nesses casos parece ser aceitável diante da
didade do receptor do sinal, da velocidade do som na capacidade do armamento a ser empregado. Cabe res-
água, da frequência que está sendo analisada e da dis- saltar que a determinação passiva da profundidade de
tância entre a fonte sonora e o receptor do sinal. Uma um submarino consiste em uma inovação para a Mari-
vez que o alvo esteja emitindo ruídos de banda larga nha do Brasil e que poderia maximizar a probabilidade
ou estreita, e que esse fenômeno seja detectado, uma de sucesso do armamento em um eventual combate
solução para a AMA poderá ser obtida. contra um submarino inimigo.
No caso específico da utilização desse efeito como Outro aspecto importante a ser considerado é que
uma ferramenta auxiliar para a detecção de subma- a análise dos “máximos” de sinal, embora seja menos
rinos, podem ser apresentadas aqui ao menos três precisa, pode garantir uma relação sinal-ruído sufi-
formas possíveis de emprego: primeiramente em so- ciente para detecção nos casos em que, a princípio, o

O Periscópio 93
CIÊNCIA E
TECNOLOGIA

alvo ainda não havia sido detectado, seja devido a um


maior ruído ambiente ou a um excelente isolamento
acústico. Por fim, cabe ressaltar que o tempo necessário
para obter uma solução é função da frequência do tom
discreto, uma vez que maiores frequências fornecerão
mais “mínimos” e “máximos” em um mesmo intervalo
de tempo.

REFERÊNCIAS
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effects. Boston, Revista Acoustics Today v. 5, Acous-
tical Society of America, 2009. 14-19.

JENSEN, F. B., KUPERMAN, W. A., PORTER, M.


B. et al. Computational ocean acoustics. 2 ed. New
York, Springer, 2011, 17-20 e 51-52.

GIMENEZ, D. F. Determinação de Parâmetros de


Alvos submarinos a partir de interferências devidas ao
Efeito Lloyd-Mirror, Dissertação de Mestrado, Rio de
Janeiro, UFRJ, 2020. 27-81.

ETTER, P. C. Underwater acoustic modelings, Lon-


don, Chapman e Hall, 1996, 48-50.

SONTAG, S., DREW, C. Blind man’s bluff. The un-


told story of american submarine espionagem, New
York, Public Affairs, 1998, XII e XIII

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sign and performance of sonar. 2ed. West Sussex, Uni-
ted Kingdom, Wiley, 2010. 101-107

BITTENCOURT, A. S., ALMEIDA, F. E., et al. In-


trodução à história marítima brasileira. Rio de Janeiro,
Serviço de Documentação da Marinha, 2006. 142

94 O Periscópio
ComForS

O Periscópio 95
cadêmico dentro das suas informação valioso para quem aqui navega.
como a Aula Inaugural Desta forma, é com orgulho que convido você,
CIÊNCIA
o de Submarinos para E leitor, a mergulhar nas páginas desta edição, onde
TECNOLOGIA
ula Inaugural do Curso de poderá constatar a nossa tradição de abordar assuntos
hador de Combate para de relevante interesse operativo, dando ênfase às
Mergulhador de Combate, tarefas desempenhadas pelos nossos submarinistas,
vacuação aeromédica de mergulhadores e mergulhadores de combate e aos
compressiva, proposta de temas técnico-profissionais dos médicos hiperbáricos
A VARIAÇÃO DA PRESSÃO AMBIENTAL
to de Risco na Segurança e psicólogos submarinos, ambos fundamentais à
ão do Conhecimento no manutenção da nossa soberania na Amazônia Azul.
da Marinha, expectativas NA FISIOLOGIA HUMANA
peracional de submarinos Boa imersão!

Periscópio 3

Capitão de Fragata (Md) Alvaro Antonio Cardoso Bastos

1 INTRODUÇÃO Por outro lado, incidentes no mar ou no subsolo


A maioria dos seres humanos é fisiologicamente também podem resultar na respiração prolongada de
adaptada para viver e trabalhar ao nível do mar, onde a gases hiperbáricos. Por exemplo, submarinistas res-
pressão ambiente é de aproximadamente 1 atmosfera pirando uma atmosfera hiperbárica enquanto aguar-
absoluta (ata)1. No entanto, experimentamos um con- dam socorro, dentro de um submarino sinistrado.
tínuo de pressão atmosférica (PAtm) que varia desde o Embora os acidentes com submarinos raramente
próximo ao vácuo, durante a atividade extraveicular no ocorram, o naufrágio do submarino russo Kursk, no
espaço, permitido por um macacão de pressão absoluta mar de Barents em agosto de 2000, a 109 metros de
(com uma pressão interna equivalente a 9.200 metros, profundidade (11,8 ata), com perda de todos os 117
0,29 ata), passando pelo cume do Monte Everest a membros da tripulação, é um lembrete sombrio da
8.800 metros, onde a PAtm é de 0,31 ata, até profun- importância de se preparar para essas emergências.
didades oceânicas de 700 metros, onde a pressão abso- Além disso, a necessidade de se prever cenários se-
luta equivale a 71 ata. melhantes em terra, nos quais os homens estão presos
Essas situações são os extremos de pressão do nos- sob pressão aumentada, foi demonstrada em julho de
so habitat que apenas relativamente poucos indivídu- 2002, quando nove mineiros no Condado de Somer-
os altamente treinados já ocuparam. Pessoal militar e set, Pensilvânia, ficaram presos por 77 horas dentro
alguns poucos seres humanos, no entanto, frequente- de uma mina cheia d’água.
mente encontram níveis de PAtm maior que 1 ata em De qualquer forma, o conhecimento da fisiologia
seus ambientes normais de trabalho. do corpo humano quanto a essas mudanças ambientais
Como exemplos de ambientes hiperbáricos mode- é essencial para o desenvolvimento de novos equipa-
rados (< 5 ata) citam-se os seguintes: pacientes e pro- mentos de suporte, técnicas de socorro e salvamento
fissionais de saúde submetidos à terapia com oxigênio inovadoras e ações de prevenção a acidentes nas mais
hiperbárico (OHB); mergulho com aparelho de respi- diversas situações pressóricas. Portanto, o objetivo do
ração autônoma para fins recreativos, profissionais e de presente artigo é apontar as principais alterações fisio-
combate; mergulhos simulados a seco e na água para lógicas que os organismos sofrem nas diversas varia-
pesquisa hiperbárica e treinamento de mergulho; e ati- ções de pressão ambiental, principalmente relaciona-
vidades em ambiente subterrâneo pressurizado. dos a composição e à tolerância aos gases respirados.

1 Cumpre dizer que ata é a PB ao nível do mar, equivalente a 760 2 PRESSÃO ATMOSFÉRICA
Torr, ao passo que atm é definido como pressão da câmara menos
pressão ambiente; assim, ao nível do mar (1 ata), 2 ata dentro de A importância da pressão atmosférica (PAtm)
uma câmara de pressão são 1 atm, 3 ata é equivalente a 2 atm e como estímulo fisiológico foi descrita pela primeira
assim por diante. A pressão ambiente aumenta 1 ata a cada 33 pés
de profundidade. Portanto, 1 ata = 0 fsw, 2 ata = 33 fsw, 3 ata = 66
vez em 1878 por Paul Bert, em seu histórico compên-
fsw etc. A unidade SI para pressão é o quilo-Pascal (kPa), onde dio La PressionBarométrique: recherches de physiologie-
1 ata = 101,3 kPa. Outros equivalentes de pressão comumente
usados para 1 ata incluem 14,7 psi, 0,101 mega-Pascal (MPa) e
expérimentale. Nele, é identificada a relação fisiológica
1,013 bar. entre PAtm e a porcentagem de gás na mistura gasosa,

96 O Periscópio
ComForS

hoje fundamental para entendermos o comportamen- neurotoxicidade) dos efeitos potenciais da compressão
to dos organismos em ambiente hiperbárico. hidrostática ou gasosa.
Em resumo, ele dizia que os gases benignos ou Segundo, a maioria dos estudos que separaram os
nocivos (oxigênio, ácido carbônico etc.) agem so- efeitos da pressão hiperbárica per se dos efeitos nar-
bre os seres vivos apenas de acordo com a pressão cóticos de espécies específicas de gases, e seus vários
na atmosfera circundante, pressão esta que é medida produtos de reação (por exemplo, ERO e ERN, íons
multiplicando-se a porcentagem do gás pela PAtm; o H), usou níveis suprafisiológicos extraordinariamente
aumento de um desses fatores pode ser compensado altos de pressão acima de 100 e 200 ata (muitos desses
pela diminuição do outro. estudos foram revisados e são discutidos na literatura).
Embora a maioria dos problemas médicos encon- A nível hipobárico, a maior população permanente
trados na medicina hiperbárica e na medicina de mer- de seres humanos registrada vive na Cordilheira dos
gulho seja atribuída ao aumento da pressão parcial de Andes, no norte do Chile, na aldeia de Quilcha, a 5.300
gás durante a descida (pressão absoluta em crescimento) metros acima do nível do mar (PAtm 0,51 ata). Todos
ou à diminuição da pressão parcial de gás durante a su- os dias, os trabalhadores que vivem em Quilcha sobem
bida (pressão absoluta em redução), sempre existe a pos- mais 450 metros montanha acima para trabalhar nas
sibilidade de a mudança na PAtm, isoladamente, ter um minas de enxofre a 5.700 metros (PAtm = 0,48 ata).
efeito no ser humano a nível orgânico, tecidual e celular. Esses habitantes da alta altitude, no entanto, se adap-
Por exemplo, a Lei de Boyle prevê que aumentar taram bem ao seu ambiente hipobárico e hipóxico,
ou diminuir a força aplicada à pressão contra a superfí- principalmente devido a maior produção de hemácias,
cie do corpo diminuirá ou aumentará, respectivamen- incremento acentuado da frequência respiratória e do
te, o volume de gases contidos nos pulmões, estômago volume corrente pulmonar, redução da massa muscular
e outras cavidades aéreas. Por outro lado, alterações na e incremento da frequência cardíaca e do débito cardí-
PAtm também influirão na densidade dos gases que aco em repouso e em exercício submáximos.
respiramos e, portanto, na resistência das vias aéreas No entanto, para a maioria das outras pessoas, a
durante a ventilação. única forma de sujeitar-se a uma pressão hipobárica
A nível celular, a pressurização da superfície do ainda maior, por períodos curtos, é por meios artifi-
corpo provavelmente produzirá compressão diferen- ciais, usando equipamentos artificiais para superar a
cial dos vários componentes finos, estruturais e não falta de oxigênio em grandes altitudes. Por exemplo, o
fluidos das células, incluindo a membrana celular, o Monte Everest atinge uma altitude de 8.848 m, onde
citoesqueleto e as proteínas ligadas à membrana, alte- a PAtm é de 0,3 ata. Embora alguns aventureiros e
rando assim várias funções celulares. fisiologistas tenham alcançado seu cume sem oxigê-
Em alguns casos, os efeitos fisiológicos da pressão nio, a maioria dos alpinistas que lá chegam precisa de
hiperbárica em si são bem conhecidos, como no caso oxigênio suplementar para atender às demandas meta-
da Síndrome Neurológica de Alta Pressão (SNAP), bólicas da escalada.
que ocorre em mergulhos profundos além de 10 a 15 Da mesma forma, durante a Segunda Guerra
ata. Em outros casos, os efeitos fisiológicos da PAtm, Mundial, antes do uso costumeiro de aeronaves pres-
em si, são menos conhecidos ou ainda precisam ser es- surizadas, 28 aviadores ascenderam a altitudes entre
tudados e descritos. 20.000 e 35.000 pés (6.090-10.600 m), números sem
Primeiro, muitos pesquisadores não buscaram precedentes para a guerra. Sem oxigênio respiratório
aprimorar os controles necessários para distinguir en- suplementar, o tempo de consciência útil a 26.000 pés
tre os efeitos potenciais da PAtm hiperbárica per se e foi de apenas 4 a 6 minutos; a 30.000 pés diminuiu
os efeitos narcóticos do gás usado para pressurizar o para apenas 1 a 2 minutos; e a 38.000 pés foram ne-
sistema. Em outras palavras, é necessário diferenciar o cessários apenas 30 segundos ou menos antes que o
efeito do nitrogênio hiperbárico (narcose por gás iner- aviador sucumbisse à hipóxia hipobárica.
te), oxigênio hiperbárico (estresse oxidativo) e retenção Ao contrário dos residentes chilenos de Quilcha,
de dióxido de carbono (acidose respiratória e, por fim, que vivem permanentemente em altitude extrema,

O Periscópio 97
CIÊNCIA E
TECNOLOGIA

sem o benefício de máscaras de oxigênio e roupas de civis e pacientes se veem rotineiramente em condições
pressão, esses ambientes hipobáricos adversos só po- hiperbáricas durante suas práticas diárias de trabalho
dem ser penetrados e tolerados por curtos períodos, ou recreação.
com proteção contra os efeitos deletérios das forças Por exemplo, o equipamento de mergulho moder-
aplicadas pela baixa pressão (doença descompressi- no de hoje e as misturas de gases respiratórios per-
va), baixa taxa de oxigênio (hipóxia) e frio extremo mitem que os humanos permaneçam a grandes pro-
(hipotermia). fundidades, especialmente quando é tomado cuidado
Por outro lado, as pressões hiperbáricas superiores para evitar os problemas fisiológicos da respiração do
a 1 ata não ocorrem naturalmente; isto é, os seres hu- ar hiperbárico e do ar enriquecido com oxigênio, que
manos não vivem normalmente em condições hiper- inclui narcose pelo nitrogênio e toxicidade pelo oxigê-
báricas. No entanto, profissionais de saúde, militares, nio (Figura 1).

Figura 1: Pressões hiperbáricas fisiologicamente toleráveis encontradas pelos humanos respirando ar e várias misturas de
gases hiperbáricos (esquerda), os problemas neurológicos que podem resultar (no meio) e o estímulo proposto que afeta a
função neuronal (direita). Os ambientes hiperbáricos são encontrados em oxigenoterapia hiperbárica (OHB), trabalho com
ar comprimido (por exemplo, túnel subterrâneo), medicina de mergulho e acidentes submarinos com deficiência. Ao respirar
uma variedade de misturas de gases (nitrox, heliox, hidreliox), para evitar os efeitos narcóticos e tóxicos de N2 e O2, bem
como os efeitos diretos da compressão hidrostática no sistema nervoso central, os humanos são capazes de habitar hiperbári-
cos ambientes que variam de mais de 1 a aproximadamente 70 atmosferas de pressão absoluta (ata). Em pressões hiperbáricas
extremas (~ 100 ata), a pressão se torna uma ferramenta que pode ser usada para perturbar os sistemas biológicos (in vitro),
alterando as conformações proteicas, a fluidez da membrana e a configuração do citoesqueleto. Os seres humanos e a maioria
dos mamíferos, no entanto, nunca ocuparam essa faixa extrema de pressão ambiente. HPNS, síndrome nervosa de alta pressão;
PCO2, pressão parcial de CO2; PN2, pressão parcial de N2; PO2, pressão parcial de O2; ERO, espécies reativas de oxigênio;
SCUBA, aparelho respiratório subaquático autônomo. (Reproduzido de DEAN, JB; MULKEY, DK; GARCIA, III AJ. et al.
Sensibilidade neuronal à hiperóxia, hipercapnia e gases inertes a pressões hiperbáricas. J ApplPhysiol, v. 95, n. 883–909, 2003.)

98 O Periscópio
ComForS

Os efeitos da compressão hidrostática podem ser re- latórios, os níveis capilar e venoso podem variar am-
produzidos no tratamento e na pesquisa em câmaras hi- plamente, especialmente a pressões de oxigênio altas
perbáricas, usando-se um gás como oxigênio, ar ou hélio o suficiente para fornecer necessidades metabólicas do
como meio de compressão. Nos dois últimos casos, o oxi- oxigênio dissolvido fisicamente com pouca ou nenhu-
gênio é fornecido através da mistura de gases respirató- ma redução de oxi-hemoglobina.
rios administrada à pessoa ou paciente em paralelo com a Gerschman e colaboradores foram os primeiros a
mistura de gases usada para comprimir a câmara. Como propor que o aumento das concentrações de Espécies
foi utilizado para levar um mergulhador até 701 m, ex- Reativas do Oxigênio (ERO) durante a exposição à
posto a uma pressão hidrostática de aproximadamente hiperóxia fornecia uma base bioquímica para a toxici-
70 ata. No entanto, pressões menos severas são a norma dade do oxigênio. O efeito adverso é iniciado quando
para muitas pessoas submetidas à OHB, que geralmente o oxigênio é reduzido em um elétron para formar o
atingem um máximo de aproximadamente 3 ata. radical superóxido e/ou em dois elétrons para formar o
peróxido de hidrogênio (H2O2). O ânion superóxido
3 OXIGÊNIO HIPERBÁRICO é um subproduto do metabolismo celular, e sua taxa
As aplicações terapêuticas da oxigenação hiper- de formação é acelerada pelo aumento das pressões
bárica, como muitos outros agentes e procedimentos, de oxigênio. O superóxido é produzido nos locais de
têm um potencial intrínseco na produção de efeitos ubiquinona e de nicotinamida adenina dinucleotídeo
adversos leves a graves. Quando a oxigenoterapia hi- reduzida na cadeia de transporte de elétrons. Fontes
perbárica (OHB) é usada adequadamente, no entanto, adicionais são o retículo endoplasmático e os micros-
efeitos adversos sérios são raros, e os que ocorrem são somos. Outras espécies tóxicas que podem ser geradas
quase sempre reversíveis. A existência de mecanis- por reações com o superóxido incluem radicais hidro-
mos potentes de defesa antioxidante e de processos peróxido e hidroxila, além do oxigênio singleto.
de reparo fornece uma vantagem favorável na relação É geralmente aceito que a geração secundária de
risco-benefício, retardando o desenvolvimento da in- intermediários mais reativos, em vez das interações di-
toxicação por oxigênio e acelerando a recuperação de retas com superóxido e peróxido de hidrogênio, seja
seus efeitos subclínicos. Estudos projetados para de- responsável pela maior parte dos danos oxidantes aos
terminar os limites humanos de tolerância ao oxigênio componentes celulares e membranas que ocorrem du-
para aplicações terapêuticas de hiperóxia devem neces- rante a exposição a hiperóxia.
sariamente usar condições de exposição que produzem As interações dos ERO com as membranas plasmá-
efeitos tóxicos mensuráveis em voluntários humanos. ticas podem produzir muitos tipos de danos com várias
É importante reconhecer que as exposições terapêuti- consequências funcionais. As ações das enzimas ligadas
cas raramente se aproximam desses limites. à membrana podem produzir radicais tóxicos adicionais
Durante a exposição a qualquer nível de hiperó- e outros produtos biologicamente ativos. Os danos dos
xia, a sequência e a gravidade dos efeitos adversos em ERO nas membranas podem ocorrer como peroxidação
diferentes órgãos e tecidos são determinadas por in- lipídica, oxidação de aminoácidos, cisão de cadeias de
terações entre as suscetibilidades relativas dos tecidos proteínas e várias reações de reticulação entre lipídios e
e a pressão parcial de oxigênio no local a que estão proteínas. A peroxidação de ácidos graxos insaturados
expostos. Em cada local, a tensão do oxigênio depen- na membrana, a oxidação estrutural de proteínas e a ina-
de, por sua vez, do equilíbrio existente entre fatores tivação de enzimas ligadas à membrana podem causar
como a pressão parcial arterial de oxigênio (PaO2), a perda de funções secretoras e outras funções impor-
densidade capilar, fluxo sanguíneo e taxa metabólica tantes, aumentando a permeabilidade da membrana e
tecidual. Como esses fatores são diversos em todo o reduzindo os gradientes de íons transmissores.
corpo, órgãos e tecidos específicos são expostos a uma Apesar desse aspecto tóxico, os ERO também são
variedade de PaO2 durante a respiração com oxigênio importantes mecanismos de defesa e sinalização inter-
a qualquer pressão ambiental. Embora se espere que os celular, principalmente em neutrófilos durante infec-
níveis PaO2 sejam uniformes em todos os leitos circu- ções bacterianas.

O Periscópio 99
CIÊNCIA E
TECNOLOGIA

4 GASES INERTES
Quando os seres humanos são expostos a uma pressão absoluta superior a 3 ata, apresentam sinais e sintomas
recapitulados na Figura 2. Quando os animais são expostos a misturas de ar comprimido, apresentam sinais e sin-
tomas narcóticos a pressões superiores a 8 a 10 ata.

Figura 2: Principais alterações relacionadas à narcose por nitrogênio e suas características físico-químicas.

Os gases nobres causam sinais e sintomas semelhantes, mas variam em sua potência (para revisão, consulte
Bennett e Rostain 2003). Das inúmeras tentativas feitas para correlacionar a potência narcótica do hélio, neon,
argônio, criptônio e xenônio às propriedades físicas, parece que a correlação mais satisfatória seja proporcionada
pela solubilidade lipídica.
Três gases são mais narcóticos que o nitrogênio: o xenônio é um anestésico à pressão atmosférica; o criptônio
causa tontura; e o argônio tem uma potência narcótica aproximadamente do dobro do nitrogênio. Três outros gases
são menos narcóticos que o nitrogênio: o hidrogênio é entre duas a três vezes menos narcótico que o nitrogênio; o
neônio é pelo menos três vezes menos narcótico que o nitrogênio; e o hélio é o menos narcótico.
Baseado na solubilidade lipídica, o efeito narcótico do hélio deve ocorrer próximo dos 400 m. Entretanto, o
efeito de pressão reversa neutraliza essa fraca potência narcótica, e sintomas que ocorrem a partir de 100 m são
diferentes daqueles observados em narcose; eles são chamados Síndrome Neurológica das Altas Pressões – SNAP.
A SNAP inclui sintomas e alterações eletrofisiológicas (Figura 3).

100 O Periscópio
ComForS

Figura 3: Principais alterações relacionadas à narcose por hélio hiperbárico.

Vários estudos indicam que a taxa e a velocidade de compressão têm um papel importante na intensidade
desses sintomas, mas outros parâmetros, como a pressão parcial dos gases inertes ou a pressão per se, estão im-
plicados na ocorrência de diversos sintomas. Todos esses estudos parecem indicar que não há narcose por hélio.
Contudo, a partir de resultados recentes obtidos durante mergulhos experimentais com gases narcóticos adi-
cionados ao hélio sob grande pressão, mudanças de humor ou alucinações sensoriais foram relatadas em alguns
casos de mergulhos com hélio-oxigênio (Heliox) para profundidades superiores a 400 m; poderia ser um efeito
narcótico do hélio em vez de um efeito de pressão.

O Periscópio 101
CIÊNCIA E
TECNOLOGIA

5 PERSPECTIVA CLARK, J. M. Oxygen toxicity. In: NEUMAN, T.


A evidência acumulada indica que os efeitos da pres- S.; THOM, S. R. (Ed.). Physiology and medicine of
são absoluta podem ocorrer centralmente, afetando o hyperbaric oxygen therapy. Philadelphia, PA: Saun-
controle neural da regulação autonômica no órgão-alvo. ders, 2008, p. 62-527.
Exemplos até o momento indicam que níveis modera-
dos de pressão hiperbárica em si afetam a difusão de CLARK, J. M.; LAMBERTSEN, C. J. Pulmonary
gases pulmonares e a resistência das vias aéreas, fluxo oxygen toxicity: a review. Pharmacol Rev. v. 2, n. 23,
sanguíneo tecidual local, liberação de neurotransmis- 1971, p. 37-133.
sores, mecanismos homeostáticos (reabsorção renal de
água) e condutâncias iônicas e sinalização elétrica (neu- COMEX. 36 years of deep diving and submarine te-
rônios). Esses achados são encorajadores e justificam chniques development. Marseille, 2004, p.26.
a necessidade de pesquisas adicionais sobre os efeitos
da pressão hiperbárica no corpo, tecidos e células, para CULLEN, S.C.; GROSS, E. G. The anesthetic pro-
apreciar completamente as consequências fisiológicas da perties of xenon in animals and human beings, with
exposição às pressões usadas na medicina hiperbárica. additional observations on krypton. Science. n. 113,
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High Pressure Nervous Syndrome and Trimix. In: Dr 8, p. 1–9, jul. 2017.

O Periscópio 103
respectivas áreas de atuação, como a Aula Inaugural Desta forma, é com orgulho que convido você,
CIÊNCIA E
do Curso Aperfeiçoamento de Submarinos para leitor, a mergulhar nas páginas desta edição, onde
TECNOLOGIA
Oficiais (Turma1/2019), a Aula Inaugural do Curso de poderá constatar a nossa tradição de abordar assuntos
Aperfeiçoamento de Mergulhador de Combate para de relevante interesse operativo, dando ênfase às
Oficiais e Curso Especial de Mergulhador de Combate, tarefas desempenhadas pelos nossos submarinistas,
os cuidados durante uma evacuação aeromédica de mergulhadores e mergulhadores de combate e aos
uma vítima de doença descompressiva, proposta de temas técnico-profissionais dos médicos hiperbáricos
FUNDAMENTOS DE PROTEÇÃO RADIOLÓGICA PARA
treinamento de Gerenciamento de Risco na Segurança e psicólogos submarinos, ambos fundamentais à
do Sistema de Saúde, Gestão do Conhecimento no manutenção da nossa soberania na Amazônia Azul.
CONDUÇÃO DE SUBMARINOS NUCLEARES
âmbito do Programa Nuclear da Marinha, expectativas
e perspectivas da segurança operacional de submarinos Boa imersão!

Periscópio 3

Capitão de Corveta Roberto Gazola Ortiz


Capitão de Corveta Luciano Ondir Freire
Dr. Gian Maria A. A. Sordi*
Dr. Delvonei A. Andrade*
Dra. Linda V. E. Caldas*

* Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares, Comissão Nacional de Energia Nuclear, São Paulo (IPEN/CNEN/SP)

1 INTRODUÇÃO Proteção Radiológica. Este artigo tem por objetivo


A Proteção Radiológica nada mais é do que uma fornecer os fundamentos da proteção radiológica que
série de medidas que têm por finalidade proteger o ser serão de interesse dos futuros tripulantes do Subma-
humano e seus descendentes contra os efeitos indese- rino Nuclear Brasileiro (SN-BR) com o intuito de
jados oriundos da radiação ionizante (CNEN, 2014). esclarecer e criar uma mentalidade de segurança que
Ao fornecer proteção ao ser humano, significa também deverá ser desenvolvida de forma a consolidar não só
proteger todo o seu meio ambiente, uma vez que de- a construção e o ciclo de manutenção, mas também a
verá estar protegida toda a sua fonte de alimentação, operação em segurança destas embarcações, futuro da
tanto sólida como líquida, incluindo, portanto, a fau- Força de Submarinos do nosso país.
na, a flora, bem como os sistemas aquífero e atmos-
férico. A radiação, por sua vez, representa energia em 2 EFEITOS BIOLÓGICOS DAS RADIAÇÕES
movimento, podendo ser feita por uma partícula ou Os malefícios oriundos da radiação podem ser
onda eletromagnética, tanto no espaço (meio material) descritos pelos efeitos biológicos das radiações e po-
como no vácuo. As radiações podem ser classificadas dem ser divididos em reações do tecido e estocásticos.
como ionizantes e não ionizantes, quando se levam em Os efeitos das reações do tecido, também chamados
consideração os efeitos gerados. A diferença entre elas agudos, são aqueles que possuem um limiar de dose
está no fato de que a radiação ionizante é aquela que absorvida necessário para sua ocorrência, e a gravida-
tem energia suficiente para ionizar um átomo ou uma de aumenta com o aumento da dose; como exemplo,
molécula, ou seja, torná-la eletricamente carregada tem-se o eritema, a descamação seca, a necrose etc. Os
(SAPRA LANDAUER, 2000). Para efeito de estudo efeitos estocásticos, também conhecidos por tardios
em Proteção Radiológica, somente é levada em con- graves, por sua vez, não possuem um limiar de dose
sideração a radiação ionizante; sendo assim, todas as para ocorrerem, e sua gravidade independe da dose re-
vezes que for citado o termo radiação, neste trabalho, cebida; o câncer é um exemplo de um efeito biológico
trata-se da radiação ionizante. estocástico.
Os submarinos com propulsão nuclear são em-
barcações navais dotadas de um reator de potência,
do tipo PWR (Power Water Reator), cujos produtos
diretos da fissão são os nêutrons, as radiações beta e
gama (TAVARES, 2019). Essas radiações necessitam
de medidas protetivas que são o fruto do estudo da

104 O Periscópio
ComForS

nalmente Exposto (IOE) sempre inferior ao limiar de


dose referente a cada efeito biológico que se quer evi-
tar. O grande problema está nos efeitos estocásticos,
pois, por não possuírem um limiar de dose, fica muito
complicado evitá-los; a única alternativa possível é re-
duzir a dose ao máximo, com o intuito de minimizar a
probabilidade da sua ocorrência.
Outro ponto que vale a pena ser levado em con-
sideração, apesar de manter dividida a comunidade
científica ( JOLLY; MEYER, 2009), é a Hormesis.
Como se pode ver na Figura 1, a curva preta ponti-
lhada no gráfico, para doses absorvidas inferiores a
0,1 Gy, em vez de um aumento da probabilidade de
ocorrência de um efeito deletério, essa pequena dose
Figura 1: Incidência de efeitos tardios graves em função da o evita. Sendo assim, considerando os estudos reali-
dose absorvida (UNIPRORAD, 2015). zados a favor da Hormesis ( JAWOROWSKI, 2010),
pequenas doses (abaixo de 0,1 Gy = 100 mGy) po-
Como se pode observar na Figura 1 (UNIPRO- dem ser consideradas benéficas e evitam a ocorrência
RAD, 2015), são apresentadas três curvas: uma ver- de efeitos estocásticos.
melha, quadrática, que representa a relação entre a
probabilidade de incidência de efeitos tardios graves 3 A RADIAÇÃO DE FUNDO/NATURAL
(estocásticos) e a dose absorvida, normalmente utiliza- Todas as pessoas estão expostas à radiação ioni-
da somente para doses absorvidas superiores a 1 Gray zante, em virtude da radiação de fundo ou natural,
(1 J/kg); uma verde, linear, representando efeitos es- que nada mais é do que a radiação recebida pelo ser
tocásticos, utilizada para comparação entre valores de humano proveniente de elementos naturais, como: ra-
doses absorvidas inferiores a 1 Gy e uma preta para diação cósmica, terrestre, radônio etc. Segundo Okuno
exemplificar o efeito Hormesis. Conforme já infor- (2018), a dose efetiva anual proveniente da radiação
mado, os efeitos determinísticos são simples de serem natural é, em média, de 2,42 mSv [ J/kg], como se pode
evitados; basta manter a dose do Indivíduo Ocupacio- ver na Tabela 1.

Tabela 1: Doses Efetivas Anuais do Público devido à radiação proveniente de fontes naturais (OKUNO, 2018)

Dose efetiva anual (mSv)


Fontes naturais de exposição Forma de exposição Média Intervalo típico
Radiação cósmica Exposição externa 0,39 0,3-1,0
Radiação terrestre externa Exposição externa 0,48 0,3-1,0
Radônio (inalação do ar) Exposição interna 1,26 0,2-10,0
Ingestão de água e alimento Exposição interna 0,29 0,2-1,0
Total 2,42 1,0-13,0

O Periscópio 105
CIÊNCIA E
TECNOLOGIA

A radiação de fundo é diferente de lugar para lugar; em algumas regiões, essa radiação possui intensidade ele-
vada, como a Praia de Cumuruxatiba, no extremo sul do estado da Bahia (BA), onde o valor médio da taxa de dose
efetiva anual é de 17,72 mSv/a (VASCONCELOS, 2010), bem próximo à média anual estabelecida pela Comissão
Nacional de Energia Nuclear (CNEN) para um IOE, que é de 20 mSv (CNEN, 2014). Os estudos conduzidos
pela United Nations Environment Programme (UNEP, 2016) mostram a influência da radiação, levando em con-
sideração somente a altitude no cálculo da dose efetiva: vide Figura 2.

Figura 2: Doses anuais para radiação cósmica (com base na suposição de exposição nesses locais por um ano) (UNEP, 2016).

4 EXPOSIÇÃO OCUPACIONAL trazer benefícios tangíveis ou intangíveis para ele ou


Para o Serviço de Proteção Radiológica de uma para a sociedade, que seja superior à dose recebida para
instituição, somente tem interesse a dose recebida pelo o desenvolvimento desta prática.
IOE durante o desempenho de sua função. Sendo as-
sim, não é levada em consideração a radiação natural, • Otimização
nem outras fontes às quais o IOE porventura poderá As doses recebidas pelo IOE devem ser tão baixas
ter sido exposto fora do seu local de trabalho, como quanto racionalmente exequíveis. Esse termo é conhe-
nas doses recebidas para tratamentos de saúde ou de cido como ALARA, do inglês As Low As Reasonably
radiodiagnóstico. Achievable. Para que esse princípio seja aceito, deverá
ser realizado um estudo com o levantamento das Op-
5 PRINCÍPIOS DA PROTEÇÃO RADIOLÓ- ções de Proteção em que o Tomador de decisão deve-
GICA rá aplicar técnicas previstas na Publicação 55 (ICRP,
Com o intuito de evitar os efeitos biológicos ao 1989) da Comissão Internacional de Proteção Radio-
IOE, levando em conta exclusivamente a exposição lógica, a fim de verificar a melhor opção de segurança.
ocupacional, a Proteção Radiológica possui alguns Essa análise deverá ser encaminhada à CNEN para
princípios que norteiam a atividade nuclear (TAUHA- aprovação ou solicitação de um novo estudo.
TA et al., 2013):
• Monitoramento
• Justificativa da prática Basicamente, o monitoramento é dividido em Mo-
A atividade que envolve radiação deverá ser jus- nitoramento Individual e Monitoramento do Local
tificada, ou seja, a dose recebida por um IOE deverá de Trabalho. O Monitoramento do Local de Traba-

106 O Periscópio
ComForS

lho consiste em medidas realizadas por detectores no Esses limites deverão ser controlados por setor pró-
ambiente de trabalho, que sejam capazes de detectar a prio de radioproteção e seu cumprimento será de res-
radiação externa, a contaminação de superfície e a con- ponsabilidade do tomador de decisão (CNEN, 2014).
taminação do ar, quando aplicável. Ela tem um caráter
preventivo, pois a dose pode ser avaliada sem a presença 7 PROBLEMAS DE PROTEÇÃO RADIOLÓ-
do trabalhador e, portanto, podem ser tomadas medidas GICA ATINENTES AOS SUBMARINOS
protecionistas antes de as doses serem recebidas. Enquanto nas instalações radiativas e nuclea-
O Monitoramento Individual, por sua vez, tem o res, via de regra, o espaço não é problema e, portan-
caráter confirmatório. É realizado por equipamento a to, pode-se facilmente separar o ambiente radiativo
ser portado pelo IOE ou por medições de materiais pre- daquele não radiativo, definido pelo limite anual do
sentes em seu corpo, bem como a interpretação destas público, e assim estabelecer rotas diferentes para o
medições. Devem compreender a exposição externa, a pessoal e o material radioativo, não é o caso do sub-
contaminação de pele e roupa, e a exposição interna. marino, que é limitado pelo interior de um tubo de
A Dosimetria Pessoal é um exemplo de Monitora- aço, o casco resistente.
mento Individual, e vale a pena ressaltar que precisará Por questões de equilíbrio do próprio submarino
computar a dose recebida pelo IOE somente durante dentro da água, deve-se obrigatoriamente centralizar o
o desempenho de sua função; sendo assim, o equipa- reator, com toda a sua blindagem possível, pelo espaço
mento deverá ser mantido no local de trabalho em área restrito de que dispõe. Portanto, alguns tripulantes de-
livre de radiações. verão passar muito próximo a ele para poder percorrer
as dependências que se encontram à ré do submarino.
6 LIMITAÇÃO DE DOSE INDIVIDUAL Deste modo, há locais de dose elevada, em que o tem-
As medições realizadas pelos dois tipos de moni- po de permanência deve ser controlado.
toramentos deverão possibilitar a medição da dose de Outro problema importantíssimo é o tempo de
forma a garantir o acompanhamento para que não ul- trabalho em presença de radiação: enquanto para as
trapasse os valores da Tabela 2, bem como os valores instalações radiativas e nucleares são consideradas
obtidos por meio do procedimento de Otimização. 2.000 h/ano, em um submarino, para o mesmo limite
Vale a pena ressaltar que os Limites de Doses anual, deve-se considerar 8.766 h/ano, o que se obriga
Anuais deverão ser compreendidos, no nosso país, en- a abaixar muito mais as doses.
tre os meses de janeiro e dezembro de cada ano e que o Evidentemente, as menores doses encontram-se
valor de 20 mSv de dose efetiva de corpo inteiro e dose nas extremidades do casco resistente, mas deve-se
equivalente do cristalino são médias aritméticas de lembrar que grande parte deste espaço não só pode ser
100 mSv em cinco anos, não excedendo em nenhum ocupado pelo pessoal, mas também pelos tanques, pai-
dos anos o limite de 50 mSv. óis, gabinetes eletrônicos, armamentos etc.

Tabela 2: Limites de Doses Anuais (CNEN, 2014)

Limites de Doses Anuais


Grandeza Órgão Indivíduo ocupacionalmente Indivíduo do público
exposto
Dose efetiva Corpo inteiro 20 mSv 1 mSv
Cristalino 20 mSv 15 mSv
Dose equivalente Pele 500 mSv 50 mSv
Mãos e pés 500 mSv ---

O Periscópio 107
CIÊNCIA E
TECNOLOGIA

8 CONCLUSÕES vel em: <https://books.google.com.br/books?hl=pt-


Após uma análise breve dos conceitos, pode-se -BR&lr=&id=dRFaDwAAQBAJ&oi= fnd&
concluir que: pg=P T6&dq=o+que+é+r adiaç ão+de+fundo&
• A média estabelecida como limite anual de dose efeti- ots=i8r6L ok-SR&sig=BLtoi6z18cA-BK9DH
va de corpo inteiro estabelecida pelo órgão regulador vRP0c_J7so#v=onepage&q=radiação%20de%20
(CNEN) em IOE, em muitos casos, é bem próxima à fundo&f=false>. Acesso em: 28 mar. 2020.
radiação natural em determinados lugares do planeta.
• Todos os tripulantes do Submarino Nuclear Brasi- SAPRA LANDAUER. Radiação: sua descober-
leiro (SN-BR) deverão ser considerados IOE. ta, classificações e aplicações. SA. São Carlos, 2000.
• É necessária a capacitação prévia dos militares que Disponível em:<https://www.sapralandauer.com.
formarão o Serviço de Radioproteção do SN-BR. br/protecao-radiologica-saiba-sobre-osprincipais-
• O SN-BR necessitará de instalações de apoio, em -aspectos-normas-e-tecnologias-empregadas/o-que-
área livre de radiação, com o intuito de depositar os -e-radiacao-nocoes-basicas-deprotecao-radiologica>.
instrumentos de dosimetria pessoal. Acesso em: 28 mar. 2020.
• Membros do setor operativo deverão acompanhar o
processo de otimização da planta nuclear embarcada TAUHATA, L.; SALATI, I.; PRINZIO, R. D.;
do SN-BR em virtude de serem a parte interessada PRINZIO, A. R. D. Radioproteção e Dosimetria:
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OKUNO, E. Radiação: Efeitos, riscos e benefí- -8CUPWM/1/tese_final.pdf>. Acesso em: 6 abr. 2020.
cios. Oficina de Textos: São Paulo, 2018. Disponí- proveniente de fontes naturais (OKUNO, 2018)

108 O Periscópio
ComForS

O Periscópio 109
respectivas áreas de atuação, como a Aula Inaugural Desta forma, é com orgulho que convido você,
CIÊNCIA E
do Curso Aperfeiçoamento de Submarinos para leitor, a mergulhar nas páginas desta edição, onde
Oficiais (Turma1/2019),
TECNOLOGIA a Aula Inaugural do Curso de poderá constatar a nossa tradição de abordar assuntos
Aperfeiçoamento de Mergulhador de Combate para de relevante interesse operativo, dando ênfase às
Oficiais e Curso Especial de Mergulhador de Combate, tarefas desempenhadas pelos nossos submarinistas,
os cuidados durante uma evacuação aeromédica de mergulhadores e mergulhadores de combate e aos
uma vítima de doença descompressiva, proposta de temas técnico-profissionais dos médicos hiperbáricos
ANÁLISE DE COMPONENTES INDEPENDENTES (ICA) E
treinamento de Gerenciamento de Risco na Segurança e psicólogos submarinos, ambos fundamentais à
do Sistema de Saúde, Gestão do Conhecimento no manutenção da nossa soberania na Amazônia Azul.
SUA APLICAÇÃO EM UMA SITUAÇÃO PRÁTICA
âmbito do Programa Nuclear da Marinha, expectativas
e perspectivas da segurança operacional de submarinos Boa imersão!

Periscópio 3

Capitão de Corveta Leonardo Cesar Cassiles de Souza

1 INTRODUÇÃO 2 APLICAÇÃO DA TÉCNICA


Em diversos problemas de processamento de sinais Consideramos, para este trabalho, um conjunto de
é desejável encontrar uma transformação dos dados de dados, fornecido pelo IPqM. Os dados foram coletados
modo que sua estrutura seja mais acessível. Na grande utilizando um arranjo cilíndrico de hidrofones (CHA)
maioria dos casos, não existem muitas informações a com 32 staves, sendo cada stave com três hidrofones
respeito dos dados e, portanto, o aprendizado deve ser em série, conforme mostrado na Figura 1.
efetuado de forma cega.
Quando o meio de propagação e os sinais originais
ANÁLISE DE COMPONENTES INDEPENDENTES (ICA) E SUA APLICAÇÃO EM
são desconhecidos e apenas os sinais recebidos são me-
UMA SITUAÇÃO PRÁTICA
didos, assumimos que o conjunto de sinais medidos é
Capitão de Corveta Leonardo Cesar Cassiles de Souza
formado por uma combinação linear de fontes desses
1 INTRODUÇÃO sinais. O objetivo do método é recuperar essas fontes
Em diversos problemas de processamento de sinais é desejável encontrar uma
ANÁLISE DE
transformação utilizando,
dos COMPONENTES paraque
dados de modo isso,suasomente
INDEPENDENTES os sinais
estrutura seja (ICA)
mais medidos.
E SUANa
acessível. APLICAÇÃO EMdos
grande maioria
UMA SITUAÇÃO
casos, não existem muitas informações a respeito dosPRÁTICA
dados e, portanto, o aprendizado deve ser
Em [2] define-se que a combinação linear das
efetuado de forma cega.
Quandofontes
o meio de é propagação
provocadae ospor Capitão
uma
sinais de matriz
Corveta
originais sãoLeonardo Cesar eCassiles
de mistura.
desconhecidos apenas de
Para os Souza
sinais
recebidos são medidos, assumimos que o conjunto de sinais medidos é formado por uma
1 INTRODUÇÃO
combinação melhor
linear entendimento,
de fontes desses sinais. O segue umdoexemplo
objetivo método é na formaessas fontes
recuperar
Em para
utilizando, diversos problemas
isso, somente de medidos.
os sinais processamento de sinais é desejável encontrar uma
transformação matricial, sendo A a matriz de mistura, x os sinais me-maioria dos
Em [2] dos dados de
define-se quemodo que sua estrutura
a combinação sejafontes
linear das mais acessível.
é provocadaNa por
grande
uma matriz de
casos, não didosentendimento,
existem
mistura. Para melhor e s as fontes
muitas informações de um
a
segue sinais:
respeito dos dados e, portanto, o aprendizado
exemplo na forma matricial, sendo A a matriz deve ser
de
efetuado xdeosforma
mistura, sinaiscega.
medidos e s as fontes de sinais: Figura 1: CHA com 32 staves e 96 hidrofones,
Quando o meio de propagação e os sinais originais são desconhecidos e apenas os sinais
recebidos são medidos, 𝑎𝑎 𝑎𝑎 𝑥𝑥
assumimos que o1 conjunto 𝑎𝑎 𝑎𝑎
de 𝑠𝑠
12 sinais 1 medidos é formado por uma
utilizado pelo IPqM.
A = [ 11 𝑎𝑎12 ]desses sinais.
combinação linear de𝑎𝑎21fontes
[𝑥𝑥 ] = [𝑎𝑎
11
]X[ ] x = As
22 21 𝑎𝑎22 do 𝑠𝑠método
2 O objetivo 2 é recuperar essas fontes
utilizando, para isso, somente os sinais medidos.
Logo,
Em [2]conseguimos
define-se que uma modelo
combinaçãoinverso paradas
linear chegarmos às fontes por
fontes é provocada pormeio
uma dos de Esses dados se referem ao monitoramento do ce-
sinais
matriz
medidos.
mistura. Para seja, Logo,
Ou melhor conseguimos
a entendimento,
combinação linear
seguedosum umsinaismodelo
exemplo medidos
na forma inverso
é provocada para
matricial, porche-
sendouma
A a matriz
matriz de
separação
mistura, x e,
os desta forma, chegamos às
s as fontesfontes. Chamamos a matriz de separação nário
de W, sendo W do tráfego marítimo próximo à Escola Naval.
garmos
sinais medidosàs efontes por demeio
sinais:dos sinais medidos. Ou seja,
= A-1 e N o número de fontes.
aA combinação
= [𝑎𝑎11 𝑎𝑎12 ] linear[𝑥𝑥1dos
𝑎𝑎 𝑎𝑎 𝑥𝑥 sinais
𝑎𝑎11 𝑎𝑎12medidos
] = [𝑎𝑎
𝑠𝑠1
]X[𝑠𝑠 ]
é provocada
x = As
22 s = Wx 2 21si =𝑎𝑎22
∑𝑁𝑁
por uma matriz de separação e, desta forma, chegamos 𝑗𝑗=1 𝑗𝑗 𝑥𝑥𝑗𝑗 )
(𝑤𝑤
21 2

Logo, conseguimos
àsproposto um modelo inverso
fontes.pela
Chamamos para chegarmos
a matriz às fontes
deIndependentes,
separação de por sen-
W, meio dos sinais
O desafio Análise de Componentes ou ICA, é encontrar, por
medidos. Ou seja, a combinação linear dos sinais medidos é provocada por uma matriz de
meio de algoritmos matemáticos que envolvem Estatística, a matriz de separação, por meio da
do
separação e, desta W =
forma, A -1
e
chegamosN o
às número de
fontes. Chamamosfontes.
a matriz de separação de W, sendo W
qual-1é possível descobrir as fontes dos sinais originais [1] e [2].
= A e N o número de fontes.
2 APLICAÇÃO DA TÉCNICA
s = Wx um conjunto
Consideramos, para este trabalho, si =de∑dados,
𝑁𝑁
𝑗𝑗=1(𝑤𝑤𝑗𝑗 𝑥𝑥𝑗𝑗 )
fornecido pelo IPqM. Os dados
foram coletados utilizando um arranjo cilíndrico de hidrofones (CHA) com 32 staves, sendo cada
O desafio proposto pela Análise de Componentes Independentes,
stave com três hidrofones em série, conforme mostrado na Figura 1. ou ICA, é encontrar, por
meio de algoritmos O desafio proposto
matemáticos que envolvem pela Análisea matriz
Estatística, de Componentes
de separação, por meio da
qual é possível descobrir as fontes dos sinais originais [1] e [2].
Independentes, ou ICA, é encontrar, por meio de algo-
2 APLICAÇÃO DA TÉCNICA
ritmos matemáticos que envolvem Estatística, a matriz
Consideramos, para este trabalho, um conjunto de dados, fornecido pelo IPqM. Os dados
foram coletadosde separação,
utilizando por cilíndrico
um arranjo meio dadequal é possível
hidrofones (CHA) descobrir assendo cadaFigura 2: Fotografia no momento da gravação dos dados
com 32 staves,
stave com três hidrofones em série, conforme mostrado na Figura 1.
fontes dos sinais originais [1] e [2]. com 3 contatos a serem analisados.

110 O Figura
Periscópio
1: CHA com 32 staves e 96 hidrofones, utilizado pelo IPqM.
ComForS

Para comprovar a eficiência da técnica, compara-


mos a análise espectral do sinal após ser processado
pelo algoritmo FastICA [1] e [2] com a análise espec-
tral do sinal após a aplicação da técnica de estimação da
direção de chegada, conhecida como “Atraso e Soma”
[4]. Esta é uma técnica de conformação de sinais am-
plamente conhecida e difundida no meio científico
[1]. Por meio dela, identificamos a região de interesse
através de um gráfico Marcação x Tempo, apresentado
na Figura 3. Nesta Figura, o eixo horizontal representa
a marcação, em graus, e o eixo vertical representa o
tempo, em segundos. A energia em cada marcação tem
uma representação em escala de cores. Quanto maior
for a tonalidade amarela, maior será a probabilidade de Figura 4: Análise espectral do sinal na marcação 150º.
um alvo estar presente naquela marcação. Com isto,
é possível fazer uma observação visual da variação da Na Figura 4, observamos três tons característicos
direção do contato. de eixo constante em 620 Hz, 875 Hz e 1187 Hz. As
frequências mais elevadas, 1187 e 620 Hz, podem estar re-
lacionadas aos contatos que permanecem próximos à mar-
cação 150º durante todo o período de aquisição dos dados.

Figura 3: Gráfico Marcação x Tempo do conjunto de dados.

Na Figura 3, identificamos duas marcações de


interesse para as análises. A marcação 150º, que re-
presenta a região onde ocorre maior permanência das
embarcações e um provável cruzamento entre as mes-
mas, e a marcação 065º, que representa a região onde
um dos contatos se isola. Sua análise é importante para
Figura 5: Análises LOFAR e DEMON do sinal
tentar estimar frequências e rotações desse contato. na marcação 150º.
Realizamos, então, as análises espectral, LOFAR
(Low Frequency Analysis Recording) e DEMON Por meio da análise DEMON, na Figura 5, é pos-
(Detection Envelope Modulation On Noise) [5] do sível identificar três rotações que se destacam: 150, 600
sinal obtido no conjunto de dados, nas marcações 150º e 1150 RPM, caracterizando os três possíveis contatos
e 065º. apresentados na Figura 2.

O Periscópio 111
CIÊNCIA E
TECNOLOGIA

Na Figura 7, apenas a rotação de 1150 RPM per-


manece com elevada amplitude do sinal. As outras
duas rotações ainda permanecem características, con-
tudo um pouco mais atenuadas. Esse fato indica que
a rotação de 1150 RPM provavelmente se refere ao
contato que se isolou na marcação 065º.
Em seguida, aplicamos o algoritmo FastICA nos
sinais medidos no intuito de separar as fontes gerado-
ras dos sinais. Consideramos os sinais medidos para
compor a matriz de mistura como sinais conformados
nas marcações 140º, 150º e 160º, a partir do conjunto
de dados fornecido pelo IpqM.

Figura 6: Análise espectral do sinal na marcação 065º.

Na Figura 6, observamos os mesmos três tons ca-


racterísticos. Porém, há uma variação de intensidade
da densidade espectral. Na marcação 065º, a frequên-
cia de 875 Hz passa a ter maior densidade espectral. Figura 8: Esquema didático da aplicação
do algoritmo FastICA.
Esse fato indica que essa frequência pode estar rela-
cionada com o contato que se isolou nesta marcação.
Após separarmos as fontes, realizamos a análise
espectral juntamente com as análises LOFAR e DE-
MON. O resultado é, então, comparado com a análise
anterior, comprovando a eficiência da técnica de sepa-
ração cega.

Figura 9: Análise espectral da fonte s1.

Por meio da Figura 9, percebemos que a frequên-


cia de 620 Hz se destacou sobre as demais, demons-
Figura 7: Análises LOFAR e DEMON do sinal
na marcação 065º. trando que o algoritmo FastICA foi eficiente na se-
paração cega.

112 O Periscópio
ComForS

Figura 10: Análises LOFAR e DEMON da fonte s1. Figura 12: Análises LOFAR e DEMON da fonte s2.

Na análise DEMON, apresentada na Figura 10, Na análise DEMON da segunda componente


também ficou evidente a melhora na identificação da independente, apresentada na Figura 12, percebemos
fonte de sinal. A rotação de 150 RPM foi destacada e claramente o destaque da rotação de 1150 RPM. Isso
as demais foram atenuadas. demonstra que o algoritmo FastICA atenuou as inter-
ferências e separou a fonte de maneira eficiente.

Figura 11: Análise espectral da fonte s2.


Figura 13: Análise espectral da fonte s3.
Após a separação cega, a análise espectral da se-
gunda componente independente, apresentada na A Figura 13 apresentou a análise espectral da
Figura 11, evidenciou a frequência de 875 Hz, além terceira componente independente, destacando a
de outras frequências mais altas, proporcionando uma frequência de 1187 Hz. Neste caso, a aplicação do
melhor relação sinal/ruído. algoritmo FastICA também foi bem-sucedida, melho-
rando a relação sinal/ruído.

O Periscópio 113
CIÊNCIA E
TECNOLOGIA

para a aplicação do algoritmo FastICA, definimos


uma matriz de mistura com três sinais conformados
na região de interesse. Como resultado da separação
cega, obtivemos três componentes independentes do
sinal, que correspondem às três fontes especificadas no
ambiente de gravação dos sinais. A partir da separa-
ção dos contatos, todas as análises foram melhoradas,
comprovando a eficiência do algoritmo.
Futuros trabalhos poderão ser realizados usando
outros algoritmos de separação cega de fontes com o
objetivo de comparar com o algoritmo FastICA que
foi implementado neste trabalho.

REFERÊNCIAS
DE MOURA, Natanael Nunes. Detecção e classifi-
cação de sinais de sonar passivo usando métodos de
separação cega de fontes. 2013. Tese de Doutorado.
Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Figura 14: Análises LOFAR e DEMON da fonte s3. HYVÄRINEN, Aapo; KARHUNEN, Juha; OJA,
Erkki. Independent component analysis. John Wiley
Na análise DEMON da terceira componente in- & Sons, 2004.
dependente, apresentada na Figura 14, ficou evidente
que a rotação de 1150 RPM ficou mais destacada que JOHNSON, D. H., DUDGEON, D. E. Array signal
as demais. Esse fato demonstra que o algoritmo Fas- processing: Concepts and Techniques. Prentice Hall
tICA também separou essa fonte de maneira eficiente. Signal Processing Series, 1993.

3 CONCLUSÃO LIU, Wei; WEISS, Stephan. Wideband beamforming:


A Análise de Componentes Independentes (ICA) concepts and techniques. John Wiley & Sons, 2010.
tem se mostrado uma técnica muito eficiente para a
separação cega de sinais. Sua utilização se reveste de NIELSEN, R. O. Sonar signal procesing. Artech
importância pelo fato de que todos os sinais recebidos House Inc, Nortwood, 1991.
pelos diversos sistemas de sonares estão suscetíveis a
interferências das mais variadas fontes acústicas e do
ruído ambiente, dificultando a classificação e identifi-
cação dos alvos. Com isso, torna-se imperiosa a busca
da recuperação das fontes de sinais de interesse.
Neste trabalho, foi utilizada a ICA, especificamen-
te o algoritmo FastICA, para a realização da separação
das fontes, a partir do sinal misturado fornecido pelo
IPqM.
Os resultados obtidos após a aplicação da técnica
tiveram um bom desempenho para os dados do con-
junto. Como foi fornecida uma fotografia do momen-
to da aquisição dos dados, verificou-se a existência de
um tráfego de, pelo menos, três contatos. Portanto,

114 O Periscópio
ComForS

O Periscópio 115
respectivas áreas de atuação, como a Aula Inaugural Desta forma, é com orgulho que convido você,
CIÊNCIA E
do Curso Aperfeiçoamento de Submarinos para leitor, a mergulhar nas páginas desta edição, onde
Oficiais (Turma1/2019),
TECNOLOGIA a Aula Inaugural do Curso de poderá constatar a nossa tradição de abordar assuntos
Aperfeiçoamento de Mergulhador de Combate para de relevante interesse operativo, dando ênfase às
Oficiais e Curso Especial de Mergulhador de Combate, tarefas desempenhadas pelos nossos submarinistas,
os cuidados durante uma evacuação aeromédica de mergulhadores e mergulhadores de combate e aos
uma vítima de doença descompressiva, proposta de temas técnico-profissionais dos médicos hiperbáricos
O PORQUÊ DE UM SUBMARINO DE PROPULSÃO
treinamento de Gerenciamento de Risco na Segurança e psicólogos submarinos, ambos fundamentais à
do Sistema de Saúde, Gestão do Conhecimento no manutenção da nossa soberania na Amazônia Azul.
NUCLEAR? LIÇÕES SOBRE AS MALVINAS
âmbito do Programa Nuclear da Marinha, expectativas
e perspectivas da segurança operacional de submarinos Boa imersão!

Periscópio 3

Capitão de Mar e Guerra Nilson Augustus Gonçalves de Souza

Neste ano se completam 38 anos do conflito desse combustível e construir o protótipo do reator
naval mais recente ocorrido no Atlântico sul. As para um submarino. Pouquíssimos países no mundo
causas que levaram dois países de realidades distin- são habilitados a construir seus próprios submarinos
tas à guerra já foram por muitas vezes abordadas e e mais reduzido é o número daqueles que os fazem
por isso mesmo conhecidas ao longo deste tempo. movidos a propulsão nuclear. China, EUA, França,
Porém, ensinamentos valiosos e ainda atuais podem Rússia e Inglaterra são os atores desse seletíssimo
ser retirados desse exemplo, pois alguns aspectos se grupo. O Nautilus foi o primeiro. Lançado ao mar
assemelham aos momentos em que vivemos e mes- em 1954 pelos americanos; em 17 de janeiro de
mo os vindouros. No dia 5 de setembro de 2008, 1955, em sua primeira viagem, transmitiu a mensa-
foi ativada a Coordenadoria-Geral do programa gem histórica: underway on nuclear power. Foi desco-
de Desenvolvimento de Submarino com Propulsão missionado em 3 de março de 1980. O planejamento
Nuclear (COGESN). Grande marco para a nossa dava conta que o nosso Nautilus seria lançado em
Marinha, coroa o trabalho conduzido há trinta anos dois anos; contudo, devido aos ajustes no cronogra-
do Programa Nuclear cuja meta era dominar o ciclo ma, o seu lançamento está programado para 2031.

Figura 1: O submarino Nautilus ficou na ativa por 25 anos.

116 O Periscópio
ComForS

Mas a resposta à pergunta do título demanda um lançadores de mísseis balísticos (POLARIS), seis sub-
caminho até certo ponto extenso para que possa ser marinos nucleares da classe Swiftsure, dois da classe
melhor compreendido. Dados indicam que 90% do co- Valiant e três da classe Churchill, 13 submarinos con-
mércio mundial utiliza-se do mar. No caso brasileiro, tal vencionais (de patrulha) da classe Oberon e mais dois
participação chega a cerca de 95%. Com toda a costa da classe Porpoise – totalizando trinta, dentre nucle-
exclusivamente voltada para o Atlântico, sendo majori- ares e convencionais. Participaram das operações nas
tariamente o sul desse oceano, é de se registrar quanta Malvinas os submarinos HMS Conqueror e HMS
preocupação a Marinha tem em defendê-lo. A proposta Courageous (classe Churchill), HMS Spartan e HMS
encaminhada à ONU para que tenhamos reconhecido Splendid (classe Swiftsure) e HMS Valiant (classe de
nosso pleito para a delimitação da nossa Zona Econô- mesmo nome), todos de propulsão nuclear, além do
mica Exclusiva (ZEE) e, consequentemente, todos os HMS Onyx (classe Oberon), único convencional inglês
direitos que sobre ela nos reservam, diz respeito a uma na região.
área de aproximadamente 4,5 milhões de quilômetros Já o inventário da força de submarinos argentina
quadrados, o que equivale à metade do nosso tama- era bem mais modesto: somente quatro submarinos
nho terrestre, e que foi muito bem denominada como convencionais, sendo que dois de idade bastante avan-
Amazônia Azul. Tema recorrente nos últimos anos, o çada, de quase quarenta anos: as ARA Santa Fé (S-21)
PRESAL, dentre outras coisas, se apresenta como uma e Santiago Del estero (S-22), ambas da classe Guppy,
reserva de petróleo de dimensões ainda desconhecidas, comissionadas em 1951 e compradas aos americanos
mas que já se apresenta ser a mais significativa das últi- em 1971, e mais dois tipo 1200: ARA Salta (S-31) e
mas décadas; nos coloca no cenário internacional como ARA San Luis (S-32), construídas em Kiel, comissio-
possível exportador desse importantíssimo insumo nadas em 1974. Havia ainda um contrato para aqui-
energético; reforçou internamente em nossa sociedade sição de mais seis novos submarinos tipo 1700 em an-
de maneira bastante positiva o papel para que nós, bra- damento na Alemanha dos quais somente dois foram
sileiros, tenhamos o direito de explorá-lo, mas, também, comissionados, ARA Santa Cruz (S41) e ARA San
o dever de negar tal ensejo a quem não nos interesse. Juan (S42), em 1984/85.
O submarino é uma arma de guerra excepcional. Os de classe Guppy, por razões óbvias, operavam
Sua capacidade de ocultação, somada à problemática sob terríveis restrições. A ARA Santa Fé participou do
detecção submarina, torna-o um verdadeiro preda- início das hostilidades transportando um grupamen-
dor que se aproveita do melhor momento para atacar to de mergulhadores de combate que desembarcou e
usando como camuflagem o meio em que se deslo- tomou Port Stanley nas primeiras horas do dia 2 de
ca. Adicione a tudo isso uma autonomia virtualmente abril. Era o início da operação “Rosário”. A Primeira
ilimitada, obviamente restrita pela endurance dos seus Ministra britânica Margareth Thatcher declarou ime-
tripulantes, com tal velocidade que o permite atacar diatamente que as Ilhas seriam retomadas e para isso
nos 360º qualquer força no mar e, assim, teremos à anunciou a formação de uma Força-Tarefa. Foi o início
nossa disposição o poder dissuasório de nos impor da operação denominada “Corporate”. O conselho de
conforme nossos interesses, porém, respaldados por Segurança da ONU emitiu a resolução Nº 502 que de-
nossa vocação pacifista e favorável sempre à resolução terminava o cessar das hostilidades, retirada imediata
de contenciosos pelas vias diplomáticas. das forças argentinas e clamava ambos os governos às
Com relação ao balanço de forças entre os envol- vias diplomáticas segundo a Carta das Nações Unidas.
vidos no conflito das Malvinas, nota-se ser cenário Sem dúvida, uma vitória política inglesa.
extremamente desfavorável para os argentinos; mas o Fragilizada por inúmeras avarias que se sucederam
foco desta análise é o correto uso pelos ingleses das a partir do desembarque nas Ilhas, a ARA Santa Fé re-
suas forças navais, com destaque para os seus submari- gressou para o Arsenal Naval de Mar Del Plata e, após
nos de propulsão nuclear. um breve período de reparos emergenciais, suspendeu,
O inventário da força de submarinos inglesa contava no dia 16 de abril, rumo às ilhas Geórgias do Sul. Ape-
com: quatro submarinos nucleares da classe Resolution sar dos trabalhos no arsenal, seu comandante viu-se

O Periscópio 117
CIÊNCIA E
TECNOLOGIA

na difícil situação de ter que fazer a navegação na su- julho não o permitiu.A ARA Santiago Del estero foi en-
perfície devido a dificuldades em recarregar as bate- viada e camuflada em Baía Blanca para que os ingleses
rias, além de ter discutíveis condições de lançar seus não soubessem de sua indisponibilidade.
torpedos eficazmente. No dia 25 de abril, o S-21, na O afundamento em 3 de maio do Cruzador ARA
superfície, foi atingido por bombas de profundidade General Belgrano pelo Submarino Nuclear HMS
lançadas por uma aeronave da Fragata HMS Antrim e Conqueror, por dois torpedos MK-8, após 27 horas de
em sequência por metralhadoras de aeronaves Lynx e acompanhamento e cuja decisão partiu diretamente da
por míssil de um helicóptero Wasp. A breve e previsível Chefe de Governo inglês, gerou consequências mar-
participação da ARA Santa Fé se encerrou. cantes no conflito:
• deu credibilidade ao bloqueio (Zona de exclusão de
200 milhas de raio em torno das Falklands) que im-
puseram a partir de 12 de abril; e
• tornou patente a determinação pela retomada das Ilhas.

As Ilhas Malvinas ficam a cerca de 400 milhas


da costa leste argentina. Suas águas caracterizam-se
por grandes quantidades de vida marinha, inclusive
baleias, camadas térmicas não bem definidas e fundo
muito irregular, fatores que combinados representam
um cenário difícil para os operadores sonar na Guerra
Antissubmarino (GAS).
Figura 2: A ARA Santa Fé após sofrer os engajamentos.
Podem ser vistos os buracos na sua vela.

A ARA Salta encontrava-se em manutenção, sem


data para término. A ARA San Luis, cujo comandan-
te fora surpreendido pelas notícias das ações desen-
cadeadas no dia 2 de abril, encontrava-se em situação
duvidosa de adestramento, com tripulação nova, e de
aprestamento apenas razoável, pois eram necessários
serviços de docagem para limpeza de incrustações e ou-
tros reparos que foram cumpridos em Puerto Belgrano
em regime de urgência. Somente a partir do dia 11 de
abril pôde-se contar com o S-32, que, apesar dos repa-
ros efetuados, apresentava sensível restrição no sistema Figura 3: Ilhas Malvinas.
de direção de tiro (SDT), avariado logo no suspender,
fato que permitia o lançamento dos torpedos apenas A incapacidade dos argentinos em reparar ou
em manual e colocava grande variável de incerteza em mesmo minimamente operar o Santa Fé, bem como
qualquer engajamento a ser realizado. Segundo relatos o SDT do San Luis, impediu que a ameaça que eles
do seu Comandante, foram feitos dois lançamentos poderiam representar fosse de fato aproveitada. O
com torpedos antinavio, SST-4, (que teriam sido con- grande temor inglês quanto aos submarinos argenti-
tra o HMS Invencible) e um antissubmarino, MK- 37, nos não foi concretizado. Apesar da provável primeira
mal-sucedidos em quarenta dias de patrulha. O S-32 avaliação de que os parcos meios submarinos argen-
retornou, no dia 19 de maio, a Puerto Belgrano, a fim de tinos não atingiram grau de avaliação nos combates,
efetuar reparos no SDT de modo a regressar ao com- deve-se lembrar que os armamentos antissubmarinos
bate, porém, o acordo de cessar-fogo firmado em 14 de das escoltas ingleses quase foram levados ao esgota-

118 O Periscópio
ComForS

mento e que suas aeronaves ASW foram as que mais Os ingleses decretaram bloqueio naval no dia 7
horas de vôo tiveram durante toda a guerra. a vigorar a partir do dia 12 de abril, respaldado pela
A Argentina estava em pleno momento de reapa- arma submarina, principalmente após o afundamen-
relhamento, que propunha dispor o país de meios mais to do General Belgrano, que resultou na contenção das
modernos, tendo sido contratadas várias encomendas forças navais argentinas em suas bases e, consequen-
ao exterior. Além disso, navios argentinos pouco an- temente, de apoio logístico às tropas estacionadas nas
tes haviam sofrido avaliação pelos próprios ingleses. Ilhas. Restaram-lhes uma débil ponte aérea valendo-se
Melhores informações não poderiam ter sido forneci- do aeroporto situado em Port Stanley. Num conflito
das ao adversário. O material de guerra utilizado pela eminentemente marítimo, a capacidade de se utilizar
Argentina era, em grande maioria, do exterior. Seus o mar, ou negá-lo, permanece como absoluta verdade e
principais fornecedores eram: EUA, França, Alema- que não pode ser relegada a plano secundário.
nha, Áustria, Israel e a própria Inglaterra. Os aviões Muitas outras conclusões podem ser elencadas, mas
Skyhawk, Mirage e Super Etandard, os helicópteros vou limitar às que julgo serem cruciais para o nosso
Lynx e Puma, os submarinos IKL e Guppy, os sistemas momento: este conflito evidenciou que o avanço da
de mísseis Shafrir, Roland, Sea Dart e Exxocet, as Fra- sofisticação tecnológica impõe um nível cada vez mais
gatas tipo 42 e MEKO, bem como praticamente to- alto de profissionalização dos militares que operarão
dos os itens do arsenal argentino, tiveram seu fluxo de tais equipamentos. O submarino nuclear se reveste de
apoio logístico abruptamente cortado por suas origens. um emaranhado de recursos tecnológicos que levarão
Já os ingleses puderam contar com os seus sistemas inicialmente seus construtores e posteriormente seus
de armas desenvolvidos em suas próprias indústrias; operadores a um sem-fim de tarefas preparatórias e de
do apoio efetivo dos seus aliados da OTAN, como a adestramento. Torná-lo tão silencioso quanto possível;
ajuda quase irrestrita americana que permitiu o uso da dotado de torpedos antinavio e antissubmarino (e por
Base da Ilha da Ascensão, a meio caminho do TO; de que não com mísseis antissuperfície?), requererá efi-
informações por satélites das Ilhas e das bases argenti- ciente e plenamente nacional sistema de combate de
nas; e dos mísseis ar-ar AIM-9L Sidewinder. Os fran- forma que a necessidade do engajamento se proces-
ceses colocaram à sua disposição caças Super Etandard sará com a acurácia esperada e devida; com recursos
e Mirage III para auxiliar o desenvolvimento pelos pi- de comunicações por satélite, uma vez que a comu-
lotos da RAF de táticas de combate mais eficazes das nicação por HF vai expô-lo de forma desnecessária e
suas aeronaves Harrier e Sea Harrier. com imenso prejuízo à sua maior qualidade. Isso tudo
Porém, de todos os ensinamentos que podemos ex- partindo da premissa que 100% de seus sobressalen-
trair, o maior de todos foi quanto à presunção de que tes serão facilmente obteníveis no mercado nacional
os ingleses, por estarem num momento de redução de de modo que não venhamos a sofrer com interrupções
meios navais, para se adequarem às ações conduzidas intempestivas dos fabricantes em momentos delicados.
pela OTAN, não responderiam como sempre foi mar- Isto exigirá que se inclua como parte da própria arma a
cante na sua história. Pensaram os argentinos com as sua estrutura de apoio, instalações de manutenção, pes-
intenções do inimigo e não com suas possibilidades. O soal qualificado, suprimentos e da documentação téc-
poder marítimo inglês demonstrado nesta ocasião foi nica. Demanda também que se faça frequente emprego
exemplar, tendo a sua parcela militar, o Poder Naval, das armas para verificação, pois a constatação da defici-
demonstrado grande flexibilidade. ência no momento do combate é, normalmente, tardia.
As forças navais inglesas suspenderam de suas bases E sem esquecer de uma adequada Base de Sub-
apenas 72 horas após a invasão para 8 mil milhas de marinos Nucleares com as devidas facilidades que este
travessia; as modificações efetuadas nos navios mobi- mosaico de fainas requer ser concentrada num local
lizados da Marinha Mercante em estaleiros britânicos próprio e imune a interferências estranhas de qualquer
nos primeiros momentos que se seguiram à invasão para natureza.
que pudessem operar com aeronaves e realizar reabaste-
cimentos no mar são dignas do registro histórico. Lembrai-vos da Guerra.

O Periscópio 119
CIÊNCIA E
TECNOLOGIA

Nota do Autor: Esse artigo foi publicado em 2010,


na RMB, quando o autor era Capitão de Corveta e,
por isso, sofreu os ajustes necessários em função das
atualizações das informações disponíveis à época.

REFERÊNCIAS
DUARTE, Paulo de Oliveira (Gen.). Conflito das
Malvinas. Rio de Janeiro: Bibliex, 1986. 372p.

FALKLANDS War. Disponível em: <http://www.


falklandswar.org.uk/chron.htm>. Acesso em: 26 abr.
2009.

______. Disponível em: <http://www.falklandswar.


org.uk/ships.htm>. Acesso em: 26 abr. 2009.

______.Disponível em: <http://www.falklands.info/


history/resolution502.html>. Acesso em: 26 abr. 2009.

______.Disponível em: <http://www.royalnavy.mod.


uk/history/battles/falklands-conflict/>. Acesso em: 26
abr. 2009.

MINISTÉRIO DA MARINHA. Escola de Guerra


Naval. Simpósio (1982). As grandes lições da Guerra
das Malvinas. [S.l.:s.n], 1982.

VIDIGAL, Armando Amorim Ferreira (V Alte).


Conflito no Atlântico Sul. [S.l.:s.n, s.d], p. 136-[137].

120 O Periscópio
ComForS

O Periscópio 121
“Artigos Diversos”, estão publicados artigos relevantes de forma regular, tem procu
para o debate profissional e acadêmico dentro das suas informação valioso para quem
Artigos Diversos respectivas áreas de atuação, como a Aula Inaugural Desta forma, é com org
do Curso Aperfeiçoamento de Submarinos para leitor, a mergulhar nas pág
Oficiais
Artigo(Turma1/2019),
Premiado a Aula Inaugural do Curso de poderá constatar a nossa trad
Aperfeiçoamento de Mergulhador de Combate para de relevante interesse oper
Oficiais e Curso Especial de Mergulhador de Combate, tarefas desempenhadas pelo
os cuidados durante uma evacuação aeromédica de mergulhadores e mergulhad
PSICOLOGIA DE SUBMARINO: FERRAMENTA DE uma vítima de doença descompressiva, proposta de temas técnico-profissionais d
treinamento de Gerenciamento de Risco na Segurança e psicólogos submarinos,
ADAPTAÇÃO A PARTIR DA INTERFACE RELACIONAL do Sistema de Saúde, Gestão do Conhecimento no manutenção da nossa soberan
DOS FATORES HUMANOS âmbito do Programa Nuclear da Marinha, expectativas
e perspectivas da segurança operacional de submarinos Boa imersão!

Capitão de Corveta (T) Kelly Cristina Martins Fernandes

1 INTRODUÇÃO de Ergonomia data de 1857, feita por um cientista


O objetivo deste artigo é reunir alguns conceitos polonês chamado Wojciech Jarstembowski, qual seja:
importantes que possam abordar a importância da Ergonomia, como uma ciência do trabalho, requer que
Psicologia de Submarino e sua relação com o campo entendamos a atividade humana em termos de esfor-
do Fator Humano no âmbito do trabalho em subma- ço, pensamento, relacionamento e dedicação ( JARS-
rinos. Inicialmente apresentaremos um breve históri- TEMBOWSKI, 1857 apud VIDAL, 1999, p. 8)
co dos estudos de Fator Humano e sua relação com Muitos estudos foram desenvolvidos no campo
o adequado funcionamento dos sistemas complexos. do aprimoramento da relação do homem com o tra-
Em seguida, abordaremos a Psicologia de Submarino balho, passando pelo Taylorismo no final do século
como ciência aplicada e algumas contribuições possí- XIX e Fordismo por volta de 1917, além dos os es-
veis, considerando as especificidades do trabalho do tudos de Hawthorne de 1924 a 1930 e a inclusão da
submarinista sob a ótica dos Fatores Humanos com Psicologia na seleção de militares, de modo a facilitar
foco na interface da interação humana. sua adaptação às tarefas de combate. Foi a Primeira
Guerra Mundial que deu impulso e grande incenti-
2 O FATOR HUMANO vo a esses estudos, uma vez que se precisava otimizar
Para falar de Fator Humano, é preciso traçar um a atuação humana nas fábricas, nas indústrias e nos
panorama, ainda que breve, sobre o histórico dos estu- fronts de batalha.
dos nessa área. Importante ressaltar que, neste artigo, A Segunda Grande Guerra é também um mar-
assim como nos principais referenciais teóricos con- co nos estudos de Fator Humano, uma vez que fica
sultados, os termos Fator Humano e Ergonomia são evidente que a sofisticação dos equipamentos estava
utilizados como sinônimos, apesar de reconhecermos ultrapassando a capacidade humana para operá-los
as diferenças de enfoque em cada conceito. com a máxima efetividade (HAWKINS, 1993). Vidal
Os estudos de Fator Humano (ou Ergonomia) (1999) concorda, afirmando que a incompatibilidade
buscam compreender como se dá a interface do ho- entre o projeto das máquinas e dispositivos e os aspec-
mem com seu trabalho, incluindo todas as suas ca- tos mecânico-fisiológicos do ser humano se agravou
racterísticas físicas, ambientais, simbólicas e de re- com o aperfeiçoamento técnico dos motores.
lacionamento humano. Além disso, buscam, a partir Impulsionados pela II Guerra, esses estudos bus-
dessa compreensão, propiciar um melhor encontro cavam compreender e melhorar a adaptação de solda-
do indivíduo com sua atividade, da forma mais ade- dos ao projeto das máquinas e dispositivos bélicos em
quada possível, buscando eficiência e segurança do pleno uso. As máquinas estavam muito desenvolvi-
sistema. das, impulsionadas pelo período entre as guerras. No
Segundo Vidal (1999), os primeiros estudos sobre entanto, o homem continuava com suas habilidades
as relações entre o homem e o trabalho se perdem na e restrições. Vidal (1999, p. 9) ilustra bem essa dis-
origem dos tempos. No entanto, a primeira definição paridade:

122 O Periscópio
ComForS

Os aviões, por exemplo, passaram a voar mais Uma forma importante para compreendermos os
alto e mais rápido. Os pilotos, porém, sofriam Fatores Humanos são os modelos conceituais, como o
da falta de oxigênio nas grandes altitudes, perda modelo Heinrich (1931), o Reason (1990) e o SHELL
de consciência nas rápidas variações de altitude
(1972 e 87). Sendo este último destaque no presente
exigidas pelas manobras aéreas, e vários outros
artigo. Criado por Edwards em 1972 e adaptado por
“defeitos” no sub-sistema fisiológico. Os pro-
jetistas não consideraram o funcionamento do Hawkins em 1984 e 1987, utiliza blocos como forma
organismo em diversas altitudes e submetidos de representar os diversos elementos que compõem os
a acelerações importantes! Como conseqüência, Fatores Humanos e enfatiza o fazer humano em in-
muitos aviões se perderam. A perda do material teração com os demais componentes do sistema Ho-
bélico era importante, vultosa e por si só justi- mem-Máquina-Ambiente, como nos explica Moreira,
ficaria esforços. No entanto, dado que o treina- (2001). Propõe ainda que o funcionamento do sistema
mento de um piloto levava dois a quatro anos,
depende de um encaixe harmonioso entre os blocos
a perda de um piloto treinado se constituía em
que o compõem. O Liveware representa o homem, que
perda irreversível na duração da guerra.
é o elemento central e interage com todos os outros
Nessa época foram formados tanto na Inglaterra elementos do sistema, por isso será mais amplamen-
como nos EUA grupos interdisciplinares, agora com te abordado no decorrer do artigo. O Hardware está
a participação de psicólogos somados aos engenhei- relacionado aos equipamentos, máquinas, motores,
ros e médicos (os primeiros a se dedicar ao assun- sendo o mais estudado após a II Guerra, e se refere
to) cujo trabalho era adaptar os veículos militares, aos ajustes ao corpo humano, codificação e localiza-
aviões e demais equipamentos militares às caracte- ção apropriados e características antropométricas. O
rísticas físicas e psicofisiológicas dos soldados, prin- Software se refere ao suporte lógico, manuais, proce-
cipalmente em situações de emergência de pânico. dimentos, normas, enfim, a toda a simbologia por trás
Tinham como objetivo “elevar a eficácia combativa, do trabalho a ser realizado. O ambiente se refere ao
a segurança e o conforto dos soldados, marinheiros ambiente físico onde o trabalho acontece, refere-se à
e aviadores” (VIDAL, 1999, p. 10). Os conhecimen- temperatura, ruídos, luminosidade, conforto, infraes-
tos produzidos nessa época viriam a ser direcionados trutura de apoio, manutenção, tudo aquilo pertencente
para a indústria civil. ao ambiente externo que pode interferir na atividade.
Aqui podemos perceber um sinal da importância Os dois fatores mais importantes para nossa refle-
que começa a ser dada ao elemento humano naquelas xão são os dois blocos que representam os elementos
circunstâncias, quando se começa a pensar na adapta- humanos e sua interação. Como bem elucida Moreira
ção do trabalho às necessidades humanas, ao contrário (2001), o bloco central Liveware representa o ser hu-
do paradigma vigente até então. mano, considerado o componente mais crítico e fle-
Outro aspecto importante a salientar é a conceitu- xível do sistema, sendo passível de variações no seu
ação do Fator Humano, de modo a alinhar conceitos e desempenho e estando sujeito a limitações. Aqui são
facilitar nossa apropriação desse campo teórico, como considerados os aspectos individuais, ou seja, aqueles
apresenta o DOC 9683 da ICAO: que pertencem ao funcionamento pessoal, sejam eles
fisiológicos ou psicológicos. Neste bloco estão repre-
Uma definição de Fatores Humanos, proposta sentadas as informações referentes às funções cogni-
pelo professor Edwards declara que ‘está rela- tivas como percepção, atenção, memória, personali-
cionada a otimizar a relação entre pessoas e suas dade, motivação, tolerância ao estresse, tratamento
atividades pela aplicação sistemática das Ciên-
da informação, experiência, carga de trabalho, estado
cias humanas integradas com a estrutura dos sis-
emocional, atitude, planejamento, conhecimentos e
temas de engenharia’. Seus objetivos podem ser
entendidos como a efetividade do sistema, que
instrução. Muito interessa à reflexão aqui proposta
inclui segurança e eficiência, e o bem-estar dos o encontro Liveware-Liveware, ou seja, o relaciona-
indivíduos. (EDWARDS, 1985, apud ICAO, mento entre as pessoas e impacto disso para o bom
1998, p. 1-1-2, tradução nossa). desempenho do sistema. Essa interface abarca o rela-

O Periscópio 123
Artigos Diversos

cionamento entre o indivíduo e as outras pessoas no ruídos e odores intensos) e psicológico (pouca privaci-
ambiente de trabalho, ou seja, as interações com os dade, contato constante e contínuo com os outros mili-
superiores, os pares e os subordinados. Nesta interfa- tares, falta de contato com a família durante o período
ce estão elencados os aspectos referentes à comunica- no mar e o risco inerente à atividade) ganham impor-
ção, trabalho em equipe, relações interpessoais, lide- tância habilidades interpessoais, que passam a ter um
rança, cooperação, divisão de tarefas e até problemas papel fundamental para a Segurança Operacional.
financeiros e familiares. De que forma pode a Psicologia de Submarino
contribuir para a melhor adaptação da interface rela-
3 A PSICOLOGIA DE SUBMARINO cional dos Fatores Humanos?
Como ciência, a Psicologia se interessa pelo estu- Uma das práticas Organizacionais muito tra-
do do comportamento humano e os processos mentais dicionalmente utilizadas por Psicólogos é chamada
pela aplicação de processos científicos (GOODWIN, Treinamento e Desenvolvimento de Pessoas. Essa
2005, p. 44). Quando visa estudar e aplicar conheci- prática tem como base a aprendizagem, que significa
mentos, estamos falando da Psicologia aplicada. Di- mudança no comportamento através da incorporação
versos campos da Psicologia aplicada têm encontrado de novos hábitos, atitudes, conhecimentos e destre-
espaço e importância nos últimos anos, como é o caso zas (CHIAVENATO, 2004, p. 339). O aspecto mais
da Psicologia Organizacional, que tem como obje- importante dessa prática é a possibilidade de mudan-
to de estudo o comportamento humano no trabalho. ça, através de aprendizagem, de atitudes e compor-
Esses conhecimentos, quando aplicados ao trabalho tamento, o que permite mudança perante o trabalho
em submarino e direcionados para a segurança des- e das interações com os pares ou superiores. Robbins
sas atividades, chama-se Psicologia de Submarino. A (2005) define as atitudes como afirmações avaliado-
sua contribuição se dá no auxílio à otimização do fazer ras – favoráveis ou desfavoráveis – em relação a ob-
humano, considerando o submarinista e suas relações jetos, pessoas ou eventos. São relacionadas a valores,
com o ambiente do submarino, sua operação e de que no entanto, menos estáveis, logo, mais suscetíveis a
forma os aspectos psicológicos e psicossociais atuam mudança e são orientadoras do comportamento. Um
sobre o desempenho, contribuindo para a segurança treinamento pode, por exemplo, ser orientado a mu-
das atividades. dar uma atitude reativa para uma atitude proativa, e
A Psicologia de Submarino surge a partir do reco- essa mudança pode ser perceptível pelos novos com-
nhecimento pela Alta Administração Naval da impor- portamentos produzidos.
tância da adaptação psicofísica dos militares subma- Uma grande variedade de assuntos pode ser objeto
rinistas ao trabalho, com vistas ao futuro Submarino de treinamento, sendo o de maior relevância para nossa
de propulsão nuclear Brasileiro SN-BR. Trata-se do reflexão relacionado à habilidade interpessoal. Definida
campo de trabalho do Psicólogo que tem por objeti- por Robbins (2005) como a habilidade de interagir efi-
vo estudar o comportamento humano no trabalho em cazmente com os pares e superiores, pode ser dividida
submarino, visando à prevenção de acidentes. São do em tópicos a serem aprendidos, como ouvir, comunicar
interesse do Psicólogo de Submarino os fenômenos ideias de forma clara e ser um membro mais eficaz na
psicológicos relacionados à atividade do submarinista, equipe. Outros temas podem ainda ser incluídos num
desde as funções cognitivas e emocionais, suas relações processo de Treinamento e Desenvolvimento, como li-
com os pares e com a Organização. A atuação do Psi- derança, trabalho de grupo, equipes, solução de proble-
cólogo nesse contexto visa a aprimorar a interação do mas, gestão emocional ou habilidades sociais.
submarinista com os aspectos do seu trabalho, poden-
Treinamento é a experiência aprendida que con-
do intervir para a manutenção do bem-estar, da saúde
duz a uma mudança relativamente permanente
e da segurança nas operações. em um indivíduo e que melhora sua capacidade
Em função das especificidades do trabalho do sub- de desempenhar um cargo. O treinamento pode
marinista, com exigências do ponto físico (como espaço envolver uma mudança de habilidades, conheci-
restrito, iluminação e ventilação artificiais, presença de mento, atitudes ou comportamento. Isso signifi-

124 O Periscópio
ComForS

ca mudar aquilo que os empregados conhecem, Resource Management), sendo esta uma importante
como eles trabalham, suas atitudes perante seu ferramenta para desenvolvimento de habilidades de
trabalho ou suas interações com os colegas ou interação no grupo ao mesmo tempo em que, en-
chefia. (DECENZO, 1996 apud CHIAVENA-
quanto Filosofia Operacional, fortalece a mentalida-
TO, 2004, p. 339).
de de segurança.
Do ponto de vista dos Condicionantes Psicoló-
Apesar de aparecerem juntos e estarem intima-
gicos Organizacionais, ou seja, aqueles que dizem
mente relacionados, Treinamento e Desenvolvimen-
respeito à Organização, as atividades educativas so-
to têm significados diferentes. Enquanto o Treina-
bre Fator Humano, como aulas, instruções, palestras,
mento é orientado para o presente, focalizando o
etc., contribuem para o fortalecimento da Cultura de
cargo atual, o Desenvolvimento é mais abrangente,
Segurança, que por sua vez é orientadora do compor-
inclui o primeiro e tem uma perspectiva de futu-
tamento. Além disso, os treinamentos de habilidades
ro, ou seja, focaliza cargos a serem ocupados futu-
interpessoais podem impactar a Organização, como o
ramente na organização. Um aspecto fundamental
Clima Organizacional, que interfere diretamente no
do Desenvolvimento é que ele pode incluir o de-
bem-estar dos indivíduos.
senvolvimento pessoal, que está relacionado com os
processos mais profundos de formação da persona-
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
lidade e da melhoria da capacidade de compreender
Como foi visto do decorrer do artigo, a Psicologia
e interpretar o conhecimento.
de Submarino se insere na ótica dos Fatores Huma-
Desenvolvimento é o conjunto de experiências nos de forma contundente, contribuindo para inte-
organizadas de aprendizagem (intencionais e pro- ração adequada entre o elemento central do sistema
positais) proporcionadas pela organização, dentro a máquina, o ambiente e os outros humanos que o
de um específico período de tempo, para oferecer compõem. Considerando que o ser humano está nas
a oportunidade de melhoria do desempenho e/ou
duas pontas dessa interação, é natural que as duas
desenvolvimento humano. […] Desenvolvimento
áreas encontrem uma convergência: o Fator Huma-
pessoal: são as experiências não necessariamente
relacionadas como cargo atual, mas que propor-
no na busca pelo bom funcionamento do sistema e
cionam oportunidades para desenvolvimento e a Psicologia pelo bom desempenho e interação entre
crescimento profissional. (NADLER, 1990 apud os indivíduos.
CHIAVENATO, 2004, p. 371). A Psicologia de Submarino pode contribuir dire-
tamente para o incremento da Segurança Operacional
Do ponto de vista dos Condicionantes Individu- e para a otimização do desempenho através de trei-
ais, o Psicólogo de submarino pode atuar como fa- namentos comportamentais individuais ou coletivos,
cilitador da resolução de conflitos intrapessoais (in- atuar na prevenção primária de problemas psicosso-
ternos) no âmbito da prevenção primária, trabalhar ciais e, através da educação sobre assuntos relacionados
na elaboração de treinamentos que desenvolvam o ao Fator Humano, fortalecer a Cultura de Segurança e
autoconhecimento, gerenciamento do Estresse, ha- a atividade Operativa do Submarino.
bilidades cognitivas (visando melhor adaptação ao Importante ressaltar que este artigo não tem a pre-
trabalho), e, ainda, de atitudes de valorização da Se- tensão de esgotar as possibilidades de contribuição da
gurança Operacional, visando ao fortalecimento da Psicologia de Submarino, mas sim elucidar algumas
Cultura de Segurança. delas e promover a reflexão. Além disso, destaca-se a
Do ponto de vista dos Condicionantes Psicosso- necessidade de se realizar estudos e pesquisas, num es-
ciais, o Psicólogo pode contribuir com atividades de paço de construção entre os Psicólogos de Submarino
Treinamento que objetivem desenvolver habilidades e os Submarinistas, a partir de um vínculo de confiança
interpessoais, dinâmicas de grupo, Liderança, Co- e escuta daquele que, sim, é o conhecedor de suas ha-
municação e Tomada de Decisão. Temas que tam- bilidades, motivações, necessidades e desafios no exer-
bém são objeto do treinamento SRM (Submarine cício da atividade.

O Periscópio 125
Artigos Diversos

REFERÊNCIAS
CHIAVENATO, Idalberto. Gestão de pessoas: e o
novo papel dos recursos humanos nas organizações.
Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.

GOODWIN, C. James. A History of Modern Psycho-


logy. São Paulo: Cultrix, 2005.

HAWKINS, Frank H. Human Factors in flight. Al-


dershot: Ashgate, 1993.

MOREIRA, Silvia. Fatores Humanos e Modelos con-


ceituais, In: RIBEIRO, Selma. Voos da psicologia no
Brasil: estudos e práticas na aviação. Organizado por
Maria da Conceição Pereira e Selma Leal de Oliveira
Ribeiro – Rio de Janeiro: DAC: NulCAF, 2011.

ROBBINS, Stephen. Comportamento organizacional.


São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005.

VIDAL, Mauro Cesar. Introdução à ergonomia. CE-


SERG, Instituto de Ergonomia da UFRJ, 1999.

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DOC 9683, first edition, Montreal:1998. Disponível
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DOC-9683.pdf >. Acesso em: 19 mai. 2020.

126 O Periscópio
ComForS

O Periscópio 127
respectivas áreas de atuação, como a Aula Inaugural Desta forma, é com orgulho que convido você,
do Curso Aperfeiçoamento de Submarinos para leitor, a mergulhar nas páginas desta edição, onde
Artigos Diversos
Oficiais (Turma1/2019), a Aula Inaugural do Curso de poderá constatar a nossa tradição de abordar assuntos
Aperfeiçoamento de Mergulhador de Combate para de relevante interesse operativo, dando ênfase às
Oficiais e Curso Especial de Mergulhador de Combate, tarefas desempenhadas pelos nossos submarinistas,
os cuidados durante uma evacuação aeromédica de mergulhadores e mergulhadores de combate e aos
uma vítima de doença descompressiva, proposta de temas técnico-profissionais dos médicos hiperbáricos
LIÇÕES PARA O BRASIL QUANTO AO EMPREGO DE
treinamento de Gerenciamento de Risco na Segurança e psicólogos submarinos, ambos fundamentais à
do Sistema de Saúde, Gestão do Conhecimento no manutenção da nossa soberania na Amazônia Azul.
SUBMARINOS NA BATALHA DE MIDWAY
âmbito do Programa Nuclear da Marinha, expectativas
e perspectivas da segurança operacional de submarinos Boa imersão!

Periscópio 3

Capitão de Fragata Caio Germano Cardoso

1 INTRODUÇÃO cisiva que pudesse influenciar o desenvolvimento das


O emprego de submarinos estadunidenses no Pa- operações navais na região. Nesta Batalha foram em-
cífico durante a Segunda Guerra Mundial consistiu pregados pelos japoneses qautro navios-aeródromos,
em uma história repleta de sucessos, porém pouco co- oitenta e três navios de superfície, vinte e um subma-
nhecida. Apesar de ter recebido menor atenção e, con- rinos e dezenas de navios auxiliares no ataque quase
sequentemente, fama no imaginário militar e popular simultâneo a Midway e às Ilhas Aleutas. Pelos Estados
do que as ações dos submarinos alemães, as operações Unidos participaram três navios-aeródromos, quarenta
estadunidenses tiveram a capacidade de estrangular a e três cruzadores e contratorpedeiros e dezoito subma-
economia japonesa, contribuindo sensivelmente com o rinos, também divididos nas duas áreas de operações
esforço da guerra. Além disso, ao contrário do ocorrido (TILLMAN, 2003).
com os aliados, os japoneses apresentaram uma grande Treze desses submarinos foram empregados em
dificuldade de fazer frente a essa ameaça, não conse- círculos de 200 e 250 milhas em zonas de patrulha em
guindo virar a guerra antissubmarino a seu favor. áreas a norte e a oeste de Midway, área esperada de
Dentro desse contexto, um dos aspectos menos co- aproximação indicada pelos dados criptoanalisados da
nhecidos das operações de submarinos foi o seu em- Estação “Hypo”. Os demais foram divididos na ativi-
prego durante a Batalha de Midway. Esse evento, que dade de apoio em um círculo de 800 milhas a noro-
representou o ponto de inflexão na Guerra do Pací- este de Oahu, sendo que os últimos s serem prontifi-
fico, é sistematicamente lembrado como uma grande cados foram posicionados a 100 milhas daquela ilha
Batalha Aeronaval que acabou permitindo a retomada havaiana (NIMITZ, 1942). É importante notar que
da iniciativa pelas forças aliadas. Esse relativo desco- o Almirante Chester A. Nimitz, Comandante da Es-
nhecimento é resultado de uma atuação discreta dos quadra do Pacífico, comenta em seu relatório pós-ação
submarinos, apesar da quantidade de meios emprega- que “todos os submarinos que puderam alcançar a área
dos. Tal fato foi decorrente de um planejamento que Oahu-Midway foram empregados, tendo sido aceitá-
inviabilizou a exploração de todo o potencial da arma vel a interrupção de suas patrulhas ofensivas”.
submarina naquele combate, o que pode nos fornecer Entretanto, observa-se que a participação dos sub-
lições interessantes para a Marinha do Brasil nos dias marinos foi pequena, apesar das forças empregadas.
de hoje. Ela se resumiu a um ataque com três torpedos pelo
Submarino USS “Nautilus” às 13h59, horário local,
2 O USO DE SUBMARINOS NA BATALHA NA- contra o Navio-Aeródromo “Soryu”, que já havia rece-
VAL DE MIDWAY bido duros ataques aéreos e encontrava-se em chamas
A Batalha de Midway interrompeu uma se- (a fumaça decorrente dos primeiros ataques foi avista-
quência de seis meses de consecutivas vitórias japone- da pelo submarino às 07h10, horário local, permitin-
sas no Pacífico. A partir de dados de criptoanálise obti- do o início da sua aproximação). Mesmo esse ataque
dos pela Estação “Hypo”, foi possível antever o ataque foi incapaz de afundar o navio japonês, que acabou
japonês às Ilhas Midway e preparar uma batalha de- naufragando como resultado de novos ataques aére-

128 O Periscópio
ComForS

os subsequentes. Já o submarino USS “Grouper” não cionamento de navios japoneses a partir do dia 2 de
conseguiu realizar ataques em decorrência das medidas junho, tendo a maior parte da batalha ocorrido apenas
antissubmarino adotadas pelos japoneses (NIMITZ, em 4 de junho. As táticas utilizadas na época previam
1942). Além disso, eles contribuíram para causar uma o emprego de altas velocidades para os submarinos
colisão entre os cruzadores japoneses, “Mikuma” e na superfície para permitir o seu posicionamento em
“Mogami”, após o submarino ter sido avistado na su- sucessivos ataques. Mesmo considerando a proibição
perfície, e enviaram um relatório de avistamento que de trânsito na superfície diurno vigente na batalha,
levou o Almirante Raymond Spruance a interromper visando evitar o alerta sobre a preparação das forças
a perseguição aos navios japoneses que fugiam. Em sua americanas, apenas o trânsito noturno na superfície em
análise do emprego dos submarinos na batalha, Clay altas velocidades poderia ter contribuído com maior
Blair Jr. (1975) afirmou que “as atividades realizadas protagonismo.
pelos submarinos do Estados Unidos na Batalha de Mesmo considerando que não era desejável com-
Midway foram de confusão e erro”. prometer o sigilo da preparação dos Estados Unidos
Esse resultado contrasta com o que foi realizado para a batalha, após as operações aeronavais, os sub-
pelos submarinos estadunidenses durante as operações marinos ainda poderiam ter sido empregados ofensi-
no Pacífico. A despeito de comporem menos de 2% vamente com a utilização dos dados disponíveis e suas
dos navios militares empregados naquele Teatro de altas velocidades na superfície. Ao contrário disso, suas
Operações, eles foram responsáveis por afundar 30% Zonas de Patrulha foram gradualmente aproximadas
dos navios de guerra e 55% dos navios mercantes japo- de Midway, encerrando a possibilidade de um dano
neses (CONVERSE, 2019). muito superior a outras parcelas das forças japonesas,
Ao analisar as causas de tal desempenho, podem além dos seus navios-aeródromos.
ser observadas duas lições importantes. Um dos pro-
blemas já é largamente conhecido e é sistematica- 3 O EMPREGO DESSAS LIÇÕES PARA O
mente mencionado quando analisadas as operações BRASIL
de submarinos naquele Teatro de Operações, trata-se Scharnhorst (1804), estrategista e um dos mestres
do baixo desempenho dos torpedos no início do con- e mentores de Clausewitz (BELLINGER, 2019), de-
flito. Isso viria a ser corrigido, permitindo a melhora fendeu de maneira incisiva o estudo de eventos his-
do desempenho dessa fabulosa arma de combate (SY- tóricos na preparação dos oficiais para o combate. De
MONDS, 2003), não sendo de análise mais detalhada maneira análoga, outro renomado estrategista, Corbett
neste artigo. (1911), foi um passo além ao definir que esse estudo
A segunda questão está relacionada com o concei- contribuiria não só com a elaboração de planos, mas
to operacional vislumbrado para os submarinos para também com a sua compreensão pelos comandantes
aquela batalha. Em primeiro lugar, o espalhamento subordinados que executarão essas ações.
dos submarinos por uma grande área permitiu que os Nesse momento em que o Brasil, por meio do
mesmos atuassem em suas zonas de patrulha como seu Programa de Submarinos, trabalha na construção
fontes de dados da possível aproximação dos japoneses. do primeiro submarino nuclear brasileiro (Figura 1)
Porém, prejudicou sensivelmente a capacidade de co- (BRASIL, 2019), algumas dessas lições de Midway
ordenação dos ataques, empregando as táticas vigentes serão úteis para o país. É preciso considerar que o
de matilha, que teriam contribuído com a missão de submarino nuclear traz uma nova dimensão para as
causar o máximo dano às forças inimigas. Esse pro- modernas operações de submarinos ao incorporar al-
blema foi agravado por uma estrutura de Comando e tas velocidades à conhecida furtividade do meio. Esse
Controle deficiente que não previu o tráfego de infor- fato implicará uma nova forma de pensar pelos nossos
mações do esclarecimento aéreo em tempo oportuno submarinistas a fim de permitir o pleno emprego de
para os submarinos (HUNICUTT, 1997). tão versátil capacidade.
Esses fatos são relevantes, especialmente se con-
siderarmos que há relatos de informações de posi-

O Periscópio 129
Artigos Diversos

Figura 1: Submarino SN (BR).

E é nesse ponto em que uma das lições do em- Desta feita, a partir das lições de Midway pode-se
prego de submarinos em Midway poderá contribuir inferir a importância do emprego de uma estrutura
com a Marinha do Brasil. Uma análise operacional do de comando e controle adequada e ágil e que possa
espaço marítimo de Midway indica a ausência de um incorporar todos os recursos de patrulha e esclareci-
ponto focal no qual o emprego de submarinos possa mento, permitindo o eficiente posicionamento do sub-
ser maximizado. De maneira análoga, a costa do Brasil marino nuclear. Afinal de contas, as altas velocidades
não apresenta geograficamente muitos pontos focais serão mais úteis se tivermos a clara noção para onde
que facilitem o posicionamento dos submarinos, o que deveremos mandar o meio. De menor utilidade será a
amplifica a importância das altas velocidades providas existência de altas velocidades se não for possível posi-
pelos submarinos nucleares. cionar dinamicamente as zonas de patrulha de forma

130 O Periscópio
ComForS

que permitam maximizar a ameaça submarina. Não do a ameaça submarina onipresente. Isso traria uma
considerar o emprego das velocidades disponíveis pelo maior flexibilidade e maximizaria o emprego dessa
nível operacional de comando restringirá o seu uso fabulosa arma, ampliando o sucesso que esse grande
apenas pelos comandantes de submarino no nível táti- projeto e a nobre História de nossa Força de Sub-
co para posicionar-se dentro de sua zona de patrulha, marinos merecem.
diminuindo enormemente a flexibilidade dessa nobre
arma no combate naval. REFERÊNCIAS
Vislumbra-se que o caminho para minimizar o ris- BELLINGER, Vanya Eftimova. Introducing #Schar-
co de tais lições não serem empregadas seria continuar nhorst: The vision of an enlightened soldier “On Ex-
o desenvolvimento de Sistema de Gerenciamento da perience and Theory”. 2019. Disponível em: <https://
Amazônia Azul (SisGAAz) (BRASIL, 2018) e ga- thestrategybridge.org/the-bridge/2019/4/1/introdu-
rantir seu pleno emprego em apoio às operações de cing-scharnhorst-the-vision-of-an-enlightened-soldier-
submarinos. Esse sistema deve incorporar uma série -on-experience-and-theory>. Acesso em: 2 mai. 2019.
de informações de diversas fontes para permitir apri-
morar o processo decisório do nível operacional, con- BLAIR JR., Clay. Silent victory: The U.S. submarine
tribuindo para maximizar o emprego dos submarinos war against Japan. Philadelphia: Lippincott, 1975.
nucleares. Ele poderia contribuir enormemente com BRASIL. Marinha apresenta projeto-piloto do Sis-
essa complexa missão da Autoridade de Controle de tema de Gerenciamento da Amazônia Azul para o
Submarinos de posicionar os submarinos de maneira Ministro da Segurança Pública. 2018. Disponível em:
eficiente, maximizando seu emprego. <https://www.marinha.mil.br/noticias/marinha-apre-
senta-projeto-piloto-do-sistema-de-gerenciamento-
4 CONCLUSÃO -da-amazonia-azul-para-o>. Acesso em: 14 mai. 2020.
O emprego de submarinos na Batalha de Midway
nos deu importantes indicações sobre a importância BRASIL. Submarino nuclear. São Paulo: Marinha do
de uma estrutura de Comando e Controle para ma- Brasil. 2019. Disponível em: <https://www.marinha.
ximizar o emprego de submarinos. Informações me- mil.br/ctmsp/submarino-nuclear>. Acesso em: 14 mai.
lhores e mais oportunas ou ágeis poderiam, naquela 2020.
ocasião, ter flexibilizado o posicionamento dos sub-
marinos, empregando altas velocidades no período CONVERSE, Blake. Then and now: Midway and sub-
noturno. Este fato poderia ter trazido um protago- marine force. [S.l.]: United States Navy, 2019. Dispo-
nismo maior dos submarinos, a exemplo do que eles nível em: <https://navylive.dodlive.mil/2019/10/29/
viriam a fazer nas operações subsequentes naquele then-and-now-midway-and-submarine-force/>.
Teatro de Operações. Acesso em: 14 mai. 2020.
Nesse momento, no qual a Marinha do Brasil
trabalha para incorporar o seu primeiro submarino CORBETT, Julian S. Principles of maritime strategy.
nuclear, que trará como grande diferencial a capaci- Nova York: Longmans, Green and Co., 1911.
dade de navegar submerso a maiores velocidades, tal
lição parece ser válida novamente. A disponibilidade HUNICUTT, Thomas G. The operational failure
de uma estrutura de Comando e Controle ágil e que of U.S. submarines at the Battle of Midway and im-
incorpore várias fontes de informação permitiria plications for today. Newport: Naval War College,
empregar essas maiores velocidades não só no nível 1997. 31 p. Disponível em: <https://apps.dtic.mil/
tático, como também no nível operacional. Ou seja, dtic/tr/fulltext/u2/a311656.pdf>. Acesso em: 14
ela permitiria não só o melhor posicionamento final mai. 2020.
para o ataque, mas criaria a flexibilidade de que a
Autoridade de Controle de Submarinos reposicio- NIMITZ, Chester A. Battle of Midway action report.
nasse dinamicamente as Zonas de Patrulha, tornan- Hawaii: United States Navy, 1942. Disponível em: <ht-

O Periscópio 131
Artigos Diversos

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Midway-CinCPac.html>. Acesso em: 14 mai. 2020.

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York: Naval Historical Foundation, 2003, p. 420-421.

132 O Periscópio
ComForS

O Periscópio 133
“Artigos Diversos”, estão publicados artigos relevantes de forma regular, tem procu
para o debate profissional e acadêmico dentro das suas informação valioso para quem
Artigos Diversos respectivas áreas de atuação, como a Aula Inaugural Desta forma, é com org
do Curso Aperfeiçoamento de Submarinos para leitor, a mergulhar nas pág
Oficiais (Turma1/2019), a Aula Inaugural do Curso de poderá constatar a nossa trad
Aperfeiçoamento de Mergulhador de Combate para de relevante interesse oper
Oficiais e Curso Especial de Mergulhador de Combate, tarefas desempenhadas pelo
os cuidados durante uma evacuação aeromédica de mergulhadores e mergulhad
TRIPULAÇÃO DO SN-BR: ENFOQUE PSICOLÓGICO NO uma vítima de doença descompressiva, proposta de temas técnico-profissionais d
treinamento de Gerenciamento de Risco na Segurança e psicólogos submarinos,
ACOMPANHAMENTO E DESENVOLVIMENTO DESTES do Sistema de Saúde, Gestão do Conhecimento no manutenção da nossa soberan
MILITARES âmbito do Programa Nuclear da Marinha, expectativas
e perspectivas da segurança operacional de submarinos Boa imersão!

Empregado AMAZUL Stephanie Rodrigues Pavão

1 INTRODUÇÃO algo relacionado à psicologia na área nuclear, é possível


O desenvolvimento e construção do submarino de encontrar um curso voltado a psicólogos da Força para
propulsão nuclear pela Marinha do Brasil é um mar- instruções do exercício da função na área submarina
co no avanço tecnológico brasileiro e vislumbra, den- convencional, e nele se contempla uma matéria em
tro de toda a sua complexidade, a soberania nacional, Energia Nuclear, de cunho introdutório.
patrulhando longas extensões oceânicas sob uma au- O CIANA (Centro de Instrução e Adestramen-
tonomia ilimitada. O submarino por si só já denota to Nuclear de ARAMAR), em São Paulo, é o centro
uma rotina e uma realidade de missão particular para responsável pelo treinamento dos operadores do reator
a tripulação, área estudada pela Psicologia de Subma- nuclear através do simulador do LABGENE, que re-
rino. Em se tratando do SN-BR, a preocupação com a produz as atividades da planta nuclear. Internacional-
saúde mental e indicadores de performance dos tripu- mente, o U.S. Naval Submarine Medical Research La-
lantes acentua-se. Somada à vivência do confinamen- boratory, por exemplo, abarca pesquisas relacionadas a
to no mesmo espaço por longos períodos, a execução submarinos americanos de todas as classes. A pesquisa
da atividade nuclear, observando todas as normas de das interações humanas neste ambiente começou em
segurança exigidas, complexidade e gerenciamento de 1959, com Benjamin Weybrew, psicólogo que estudou
riscos, demonstra uma necessidade ímpar de atenção o estresse na tripulação de submarinos nucleares. Na
ao fator humano alocado. Este artigo tratará de justifi- Rússia, o OBNINSK Institute for Nuclear Power En-
car a necessidade de criação de um núcleo especializa- gineering (OINPE) realizou pesquisas em segurança
do para este desenvolvimento e acompanhamento dos e padrões para admissões de operadores nucleares,
tripulantes no SN-BR e de elencar elementos impor- inclusive seguindo os critérios indicados pela AIEA
tantes para a execução deste trabalho. (Agência Internacional de Energia Atômica). Gor-
dienko, pesquisadora deste instituto, em seu artigo
2 PANORAMA ATUAL “Psychological Aspect of Safety Culture and Motiva-
Atualmente, a Marinha do Brasil dispõe de dois tion”, compara os níveis de motivação e “atitude”, con-
principais dispositivos para treinamento de pessoal ceito moderno para garantir a segurança nas plantas
relacionado aos submarinos convencionais e à área nu- nucleares, entre os operadores dos reatores das plantas
clear: o CIAMA (Centro de Instrução e Adestramen- nucleares e dos operadores de reatores em submarinos
to Almirante Áttila Monteiro Aché), subordinado ao nucleares. “Não há outra indústria em que os altos ní-
ComForS (Comando da Força de Submarinos), e o veis de profissionalismo sejam tão requisitados como
CIANA (Centro de Instrução e Adestramento Nu- na indústria nuclear”, diz Gordienko (2002, p. 01), e
clear de ARAMAR), subordinado ao CINA (Centro a isto implica uma alta gestão de riscos e de estresse
Industrial de ARAMAR). O CIAMA, no Rio de Ja- para esses trabalhadores. Ainda, para a pesquisadora,
neiro, dispõe de opções de cursos e treinamentos re- o profissionalismo pode ser considerado um sistema
lacionados aos submarinos convencionais. Buscando que consiste em dois subsistemas interdependentes e

134 O Periscópio
ComForS

inter-relacionados, isto é, o profissionalismo de uma


pessoa e o profissionalismo referente a uma atividade.
Para além das habilidades profissionais como alta per-
formance e competência, as qualidades relacionadas à
motivação e aos valores pessoais são de relevada im-
portância, refletindo no amadurecimento profissional
e consequentemente afetando a segurança e a preven-
ção de acidentes.
A cultura de segurança depende, em grande parte,
da maturidade da motivação individual, sendo repre-
sentada pela preparação psicológica dos trabalhado-
res para as operações apropriadas, mas a cultura e a
estrutura organizacional em que esses estão alocados
também exercem grande influência. A AIEA (Agência
Internacional de Energia Atômica) oferece um vasto
acervo de publicações relacionadas ao recrutamento,
seleção, noções de segurança e acompanhamento de
pessoal designado ao trabalho em plantas nucleares.
Na publicação NS-G-2.8, “Recruitment, Qualifi-
cation and Training of Personnel for Nuclear Power
Plants”, por exemplo, no item 2.15, indica-se que o
conhecimento, experiência, habilidade de resolver pro-
blemas, estabilidade emocional, motivação, iniciativa,
Figura 1: Centros de Treinamento e BSIM.
atitude questionadora, postura rigorosa e prudente,
habilidades de comunicação e aprendizado devem ser
levadas em consideração na seleção de candidatos a de fatores humanos na área nuclear voltadas aos sub-
trabalhar em uma usina nuclear. Na mesma publica- marinos dos EUA e Rússia largaram na frente, tendo
ção, no item 2.20, indica-se a necessidade de um re- em vista o comissionamento destes submarinos desde
crutamento inicial ser concluído em tempo suficiente a década de 1950 e observando as interações influen-
antes do comissionamento de uma fábrica para que tes no bem-estar e produtividade dos servidores que
seu pessoal ganhe experiência no projeto e construção foram se apresentando. No Brasil, a pesquisa na área é
e receba treinamento e acompanhamento apropriado bem restrita, em psicologia aplicada aos submarinos e
propiciando sucesso em suas atividades. Ao participar à área nuclear, estando as publicações disponíveis, pou-
das atividades de projeto e construção, o pessoal adqui- cas nacionais, indicadas nas referências deste artigo.
re uma melhor compreensão das intenções do projeto,
o que implica na noção de motivação, das suposições 3 DISCUSSÃO
nas quais os critérios de segurança são baseados e das Weybrew, em sua obra The ABC’s of stress: a sub-
características técnicas da planta. Portanto, um trei- marine psychologist’s perspective (1992), traz o con-
namento capaz de antever e preparar os tripulantes e ceito de estresse, amplamente difundido a partir da dé-
operadores a qualquer intemperança é essencial para a cada de 1940 através do médico Hans Selye, aplicado
segurança e bem-estar daqueles que naquele ambiente à sua experiência no U.S. Naval Submarine Medical
se situarão. Neste sentido, podemos inferir a impor- Research Laboratory entre 1952 e 1979. Foram qua-
tância do CIANA no processo de treinamento dos se trinta anos de pesquisa em psicologia aplicada aos
operadores do LABGENE e o quanto isso influen- submarinistas nucleares. Os anos 1950 foram marca-
ciará também na segurança da estação futuramente. dos pela ampliação do conceito de estresse, que atingiu
No contexto internacional, pesquisas psicológicas e a área da medicina, psicologia, sociologia e principal-

O Periscópio 135
Artigos Diversos

mente as relações organizacionais e de trabalho. Para escassez, podemos fazer um comparativo da realidade
Selye (1952), o estresse seria um esforço de adaptação dos submarinistas de longas expedições através do tra-
do organismo para lidar com situações que afetam seu balho realizado pelo Human Research Program (HRP)
equilíbrio interno. Sua teoria teve inspiração no tra- da NASA, com os astronautas. O HRP é dedicado à
balho de Walter Cannon (1935), um fisiologista que descoberta dos melhores métodos e tecnologias para
inaugurou o conceito de homeostase dos seres vivos, ou apoiar a segurança e produtividade humana em viagens
seja, a tendência na busca do estado de equilíbrio fisio- espaciais. O centro permite a exploração espacial, re-
lógico do organismo, e, também, o conceito de resposta duzindo os riscos à saúde e ao desempenho dos astro-
de luta-ou-fuga que é a preparação do organismo para nautas, usando instalações de pesquisa terrestres como
lutar ou fugir quando confrontado com uma situação a International Space Station e ambientes analógicos.
de ameaça. Para Selye, a exposição a extensas e prolon- Este centro apoia pesquisas científicas inovadoras fi-
gadas situações de estresse ocasionariam uma exaustão nanciando mais de 300 bolsas de pesquisa para uni-
no sistema, provocando doenças físicas e também psi- versidades, hospitais e centros da NASA, para mais de
cológicas. Portanto, Weybrew navega por entre estes 200 pesquisadores em mais de 30 estados. O diretor
saberes para o atendimento e acompanhamento dos do centro, Ph.D William Paloski, recebeu em 2018 o
submarinistas nucleares americanos. Em sua obra tam- prêmio Robert M. Yerkes da American Psychological
bém se encontram testes psicométricos desenvolvidos Association (APA), que reconhece significantes contri-
especialmente para a área, como testes de personalida- buições à psicologia militar realizadas por um não psi-
de, o que inclui respostas à frustração, tendências de cólogo. O prêmio de Paloski reconheceu seu trabalho
liderança, entre tantos outros. Importante colocar que no HNP e possibilitou a promoção da psicologia como
o trabalho do autor abriu portas para uma nova visão uma ciência de relevância para promoção do bem-estar
dentro do assunto e que, muito embora muitos testes na sociedade. A visão de Paloski ajudou a estabelecer
ou estudos possam estar hoje defasados, nos possibili- o valor do suporte psicológico para a saúde tanto na
tam vislumbrar novos horizontes e novos refinamen- Terra, como no espaço (VONDEAK; ABADIE, 2018,
tos atinentes ao tema. No artigo “Psychiatric aspects p. 05). “O isolamento e o confinamento são como estar
of Adaptation to long submarine missions” (1979), por sozinho em um espaço apertado”, diz Paloski, “e esse
exemplo, Weybrew faz uma comparação dos trans- sentimento fica pior à medida que o tempo passa. É um
tornos psiquiátricos e níveis de estresse apresentados risco ocupacional similar a trabalhar em um submari-
entre os submarinistas convencionais e os que serviam no. Quanto mais tempo o indivíduo passa neste tipo
nos submarinos nucleares. Dados demonstraram que a de ambiente, existe um potencial para mais e maiores
incidência de transtornos nos submarinos convencio- problemas”. Ele diz que astronautas como Scott Kelly
nais foi baixa (19,9%), ao passo que nos submarinos que passaram um ano no espaço sentem falta das pes-
nucleares foi bem alta (60,2%). Dentro dos espectros soas que lhe são mais próximas e também sentem falta
apresentados na pesquisa, com maior incidência esta- de casa num sentido mais sensorial, como o cheiro da
vam as neuroses em primeiro lugar, depois o transtor- grama, a visão de um dia ensolarado, a sensação dos
no de personalidade, distúrbio situacional transitório pés no chão. Quando estas experiências lhes são tira-
(DSM I), hoje conhecido como transtornos de adap- das, isso impacta na motivação pessoal. E, sob extensos
tação (DSM V), psicoses e transtornos psicofisiológi- períodos, pode afetar na habilidade de tomar decisões,
cos, hoje conhecidos como psicossomáticos. O mesmo interferindo em momentos de risco, por exemplo. No
estudo demonstrou que, do período de 1962 a 1969, caso dos astronautas, os pesquisadores estão preocupa-
a incidência de neuroses aumentou significativamente. dos com o fato de que a gravidade e a radiação altera-
E os sintomas mais incidentes foram a ansiedade, pro- das, combinadas com o isolamento e o confinamento,
blemas interpessoais, depressão, insônia, baixo desem- possam representar dificuldades psicológicas reais, le-
penho, claustrofobia e ideações suicidas, nesta ordem. vando a mais riscos para a tripulação no espaço.
Saindo um pouco da pesquisa em psicologia apli- Preocupação esta que se estende ao submarino nu-
cada a submarinos nucleares, tendo em vista até sua clear, tendo em vista a privação de luz solar, restrição de

136 O Periscópio
ComForS

contato com o mundo externo, fatores de estresse rela- motivação, julgamento e tomada de decisão, consciên-
cionados às operações nucleares de alto risco, nutrição, cia e responsabilidade de suas ações, habilidades de co-
privação de sono, entre outros fatores importantes que municação e de liderança. Os astronautas trabalhando
dialogam diretamente no bem-estar dos tripulantes e atualmente na NASA são notificados com dois anos
consequentemente, na segurança da estação. “[...] Ca- de antecedência a uma missão. Isso denota a preocupa-
racterizar e mitigar os riscos impostos por fatores psi- ção em preparar o indivíduo em toda forma para o que
cológicos a indivíduos envolvidos em operações expe- enfrentará. A primeira avaliação é a mental, que acon-
dicionárias em ambientes extremos e de alta demanda, tece em intervalos regulares antes do lançamento, o úl-
bem como àqueles que estão sofrendo isolamento ou timo encontro acontece 60 dias antes do lançamento.
confinamento por longos períodos, nos permite apoiar E também há um treinamento para identificar e lidar
viagens espaciais humanas seguras e produtivas”, diz com sintomas de transtornos psicológicos em outros
Paloski (VONDEAK; ABADIE, 2018, p.04). Gary membros da tripulação que podem se apresentar. No
Beven, psiquiatra da NASA, explica que, durante as espaço, Beven ou seus colegas fazem videoconferências
missões Salyut 6 (1977-1982) e Salyut 7 (1982-1991) com cada astronauta a cada duas semanas para discutir
de estações espaciais, astronautas soviéticos começa- sobre o sono, a condição da equipe, a boa resposta à car-
ram a sentir sinais de estresse psicológico, mais preci- ga de trabalho ou sobrecarga, sua relação pessoal com
samente problemas físicos com causas psicológicas, ou a equipe, preocupações com a família e qualquer outro
psicossomáticos, durante a missão (PATEL, 2016, p. assunto que for pertinente. Os problemas psicológicos
02). Até “recentemente” a NASA não estava interes- mais comuns no espaço não são tão diferentes do que
sada em missões de longa duração, então não achavam é encontrado em ambientes de alto estresse na Terra,
necessária a presença de psicólogos ou psiquiatras além e incluem: dificuldade de dormir, irritabilidade, altera-
da avaliação realizada na admissão dos candidatos. Isso ções de humor, desânimo e nervosismo ou ansiedade
mudou em meados dos anos 1990 quando os EUA e a aumentados. A comparação com a atividade espacial
Rússia estabeleceram o Shuttle-Mir Program, que per- no contexto deste artigo é interessante por um motivo
mite à NASA aprender sobre a experiência russa sobre especial: a quantidade de horas em missão. O tempo
habitações de longa duração. “A vida a bordo da estação decorrido longe do contato com o mundo externo e
Mir era muito difícil”, diz Beven, “alguns dos astronau- o quanto isso pode ser prejudicial para os tripulantes
tas (americanos) admitiram que eles sentiam que não de uma espaçonave ou de um submarino nuclear de
estavam psicologicamente preparados para este tipo de autonomia ilimitada são dados importantes para in-
missão” (PATEL, 2016, p. 05). Alguns se saíram bem, vestigação. Daí a necessidade de um olhar diferenciado
como Shannon Lucid (que ficou nove meses no ano da realidade dos submarinistas convencionais daqueles
de 1996 na estação Mir), mas outros publicamente que servirão no submarino nuclear.
afirmaram sobre a dificuldade de viver em uma espa-
çonave por meses. Parte dos sintomas apresentados, 4 AÇÕES E APLICAÇÕES FUTURAS
como ansiedade e depressão, para Beven, decorriam Para o cumprimento do objetivo ora apresentado,
do isolamento, da dificuldade de comunicação com os ou seja, a criação de um núcleo especializado para esta
pares na estação e a falta de atividades de lazer na Mir. demanda, primeiramente, deve ser realizada uma re-
Não é difícil fazer uma comparação com a realidade visão da bibliografia já existente. Esta proverá bases
dos submarinistas nucleares e de sua rotina exaustiva a para início do planejamento estratégico de treinamen-
níveis mentais. Beven coloca que o processo de seleção to e acompanhamento específico para a área nuclear
dos astronautas é provavelmente o mais importante em na Marinha do Brasil. Ferramentas de avaliação psi-
critérios mentais para viagens espaciais. O psiquiatra cológica, o que inclui testes psicológicos, dinâmicas
e sua equipe indicaram algumas competências que se de grupo, entrevistas, análises observacionais, testes
adequavam a este perfil: habilidade de trabalhar sob situacionais e anamneses, também serão instrumen-
condições estressantes, habilidades de convivência e tos imprescindíveis nessa construção. A realização da
trabalho em grupo, controle de suas emoções e humor, avaliação psicológica na área da saúde é indispensável

O Periscópio 137
Artigos Diversos

quando pensamos em medidas “curativas” ou preven- da tecnologia nuclear, normas de segurança e todo o
tivas, pois a partir dessa técnica é possível que o pro- conhecimento que abrange este universo. Entendendo
fissional tenha mais clareza sobre diagnósticos, méto- o ser humano como biopsicossocial, o olhar para o in-
dos de tratamento ou de prevenção de determinadas divíduo em todo o contexto que se insere é inevitável
patologias (CUSTÓDIO, 2002). Através da utilização para que sejam feitas as análises a partir de todos os fa-
destes instrumentos, teremos material quantitativo e tores influentes em seu bem-estar. Para isso indicam-se
qualitativo para produção de conhecimento e defini- estudos ligados à segurança nuclear, disponibilizados
ção de um método de supervisão que trará os resulta- pelos órgãos reguladores (AIEA, CNEN, ABACC). É
dos esperados a longo prazo. Observando, portanto, a importante a busca de formação com o que há de mais
autonomia do submarino nuclear, diferentemente do novo na área, contribuindo para o desenvolvimento do
submarino convencional, faz-se evidente a necessidade conhecimento e aplicações no Núcleo.
de um acompanhamento contínuo dos seus tripulan-
tes, desde sua admissão, que deve ser específica, até o 5 CONCLUSÃO
momento de desembarque e após este, a fim de manter Tendo em vista a especificidade da tarefa e os ris-
o militar em plenas condições de atividade e vida nor- cos relacionados a esta, é importante que haja uma
mais após a expedição. O desenvolvimento preventivo adaptação às necessidades da tripulação do SN-BR e
e planejado deste setor viabilizará uma maior prepara- à maneira como os indicadores de performance serão
ção daqueles que irão servir no SN-BR e aos profissio- computados. Considerando a alta probabilidade de
nais que farão este acompanhamento quando o embar- erro humano em sistemas complexos como o setor nu-
que efetivamente acontecer. Isso diminuirá as chances clear e em submarinos, a criação do núcleo visa mitigar
do acometimento de transtornos psicológicos e riscos os riscos, protegendo a tripulação e contribuindo na
de acidentes de operação, evitando também a baixa de prevenção de acidentes. As chances de eventos serem
servidores especializados, o que implica grande perda à atribuídos a erro humano em instalações nucleares são
Força. Será importante também realizar treinamentos de 80% (DOE-HDBK-1028, 2009), enquanto ape-
à tripulação para reconhecer em seus pares sintomas e nas 20% têm suas causas por falhas de equipamento.
comportamentos que possam denotar algum tipo de Isto posto, faz-se mister o investimento em pesquisa
transtorno. O relacionamento do grupo é de extrema na área e aplicação do conhecimento psicológico e de
valia para a manutenção da saúde mental dos tripulan- análise de desempenho neste tipo de instalação. Desta
tes durante a expedição. Os profissionais designados maneira, será possível a construção de uma base ainda
ao trabalho com esta tripulação devem ter essencial- mais sólida de procedimentos de segurança que res-
mente conhecimento entre intermediário e avançado guardem a tripulação e a embarcação do SN-BR.

Figura 2: Eventos e erros humanos.

138 O Periscópio
ComForS

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PATEL, Neel V. Space psychology 101: How NASA tric Aspects of Adaptation to Long Submarine Mis-
keeps its astronauts sane, 06 ago. 2016. Disponível em: sions. Naval Submarine Research Laboratory, 02 jul.
https://inverse.com/article/19326-space-psychology- 1979. Disponível em: <http://archive.rubicon-founda-
-nasa-astronauts-mental-health-mars. Acesso em: 14 tion.org/xmlui/handle/123456789/3428>. Acesso em:
ago. 2019. 13 ago. 2019.

O Periscópio 139
“Artigos Diversos”, estão publicados artigos relevantes de forma regular, tem procurado ser um veículo de
para o debate profissional e acadêmico dentro das suas informação valioso para quem aqui navega.
Artigos Diversos
respectivas áreas de atuação, como a Aula Inaugural Desta forma, é com orgulho que convido você,
do Curso Aperfeiçoamento de Submarinos para leitor, a mergulhar nas páginas desta edição, onde
Oficiais (Turma1/2019), a Aula Inaugural do Curso de poderá constatar a nossa tradição de abordar assuntos
Aperfeiçoamento de Mergulhador de Combate para de relevante interesse operativo, dando ênfase às
Oficiais e Curso Especial de Mergulhador de Combate, tarefas desempenhadas pelos nossos submarinistas,
os cuidados durante uma evacuação aeromédica de mergulhadores e mergulhadores de combate e aos
A IMPORTÂNCIA DAS COMUNICAÇÕES PARA OS MEIOS
uma vítima de doença descompressiva, proposta de temas técnico-profissionais dos médicos hiperbáricos
SUBMARINOS: PASSADO, PRESENTE E PERSPECTIVAS
treinamento de Gerenciamento de Risco na Segurança e psicólogos submarinos, ambos fundamentais à
do Sistema de Saúde, Gestão do Conhecimento no manutenção da nossa soberania na Amazônia Azul.
TECNOLÓGICAS
âmbito do Programa Nuclear da Marinha, expectativas
e perspectivas da segurança operacional de submarinos Boa imersão!

Periscópio 3

Capitão de Corveta (EN) Anderson Silva Soares

1 INTRODUÇÃO ocorre em virtude da necessidade de estabelecer co-


É inegável a importância do mar para a sobera- municação com um dado meio devido à alteração da
nia e o desenvolvimento nacional. De acordo com o ordem de batalha ou qualquer anormalidade obser-
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), vada. Para um submarino estabelecer comunicação,
70% da população brasileira vivem na faixa situada até ele precisa estar em uma profundidade que permita
200 km do litoral. Cerca de 95% do nosso comércio içar o periscópio, e isso é necessário porque as on-
exterior ocorrem por via marítima e 93% da produ- das eletromagnéticas têm baixa penetração nas faixas
ção do nosso petróleo vêm do oceano. Além disso, o usuais de comunicações via rádio, situação esta que
Brasil controla um território marítimo de 3,6 milhões o expõe a ser detectado pelos mais diversos tipos de
de km2, denominado de Zona Econômica Exclusiva sistemas, tais como: radares, equipamentos de medi-
(ZEE), o que corresponde a 40% do território brasilei- das de apoio à guerra eletrônica (MAGE), sensores
ro. Nesse espaço territorial, o país monitora e orienta o óticos, radares imageadores etc.
tráfego de embarcações, além de ter o direito exclusivo De forma a contornar os riscos de exposição men-
de pesquisa e exploração comercial dos seus recursos cionados, diversos sistemas de comunicação têm sido
existentes. Isso mostra a importância do mar para o desenvolvidos e aperfeiçoados ao longo do tempo no
Brasil, bem com a necessidade de modernos meios intuito de evitar que o submarino venha à cota peris-
para defesa dessa vasta fonte de recursos econômicos, cópica para se comunicar ou receber instruções. Este
naturais e humanos. artigo apresenta uma evolução cronológica dos mé-
Para proteger esse patrimônio e garantir a sobe- todos utilizados, desde a possibilidade do uso de fre-
rania brasileira no mar, a Marinha do Brasil tem in- quências extremamente baixas, passando pelo uso de
vestido na expansão de sua força naval. Parte desse dispositivos ópticos, até as modernas soluções que têm
investimento está voltada para o Programa de Desen- sido apresentadas na atualidade.
volvimento de Submarinos (Prosub). O submarino é
o meio que, dentre todos, apresenta a melhor relação 2 PROJETO SANGUINE E COMUNICAÇÕES
custo/benefício. Sua vantagem determinante resulta NAS FAIXAS INFERIORES DE FREQUÊNCIA
da capacidade de ocultação, o que, em termos bélicos, O Projeto Sanguine foi um dos primeiros pro-
significa surpresa, um dos grandes fatores de força em jetos voltados para comunicação com submarinos
qualquer confronto. É por causa dessa superioridade, submersos. O Projeto tinha como objetivo transmitir
resultante da capacidade de ocultação, que o submari- mensagens codificadas na faixa de ELF para os sub-
no se tornou uma arma eficaz para dissuasão e defesa. marinos americanos e britânicos. Ondas eletromag-
Todavia, quando em operação, existem determi- néticas nas faixas de frequência entre 30 a 300 Hz
nadas situações em que um submarino é exposto a (faixa conhecida por ELF, do inglês Extremely Low
determinados riscos, inclusive, com a possibilidade Frequency) podem penetrar no oceano a profundida-
de ser localizado e neutralizado. Situação desse tipo des de centenas de metros, permitindo que os sinais

140 O Periscópio
ComForS

sejam enviados aos submarinos em suas profundida- 2.1 Atualidade: sistemas acústicos e dispositivos ópticos
des operacionais, todavia são necessárias antenas com Face à dificuldade de propagação de ondas eletro-
dimensões da ordem de quilômetros e transmissores magnéticas no mar, aliada à baixa eficiência para trans-
com elevada potência. O Projeto Sanguine entrou em missão de dados, novas soluções foram adotadas. Den-
operação em 1989 e consistia em uma antena com tre tais medidas, está incluso o emprego de sistemas
comprimento de 145 milhas operando na frequên- acústicos, tais como hidrofones e dispositivos ópticos
cia de 76 Hz. Originalmente, as antenas deveriam ser para comunicação submarina.
enterradas 6 pés abaixo do solo, por uma questão de Existem várias maneiras de se comunicar por dis-
condutividade do terreno, mas por razões econômicas positivos acústicos, e a mais comum é por intermédio
não foi possível. Após a instalação, observou-se que de hidrofones. Nesse modelo, ondas acústicas são utili-
levava muito tempo para enviar uma mensagem, em zadas em vez de ondas eletromagnéticas. A comunica-
torno de uma hora e meia para transmissão de um ção por hidrofones tem baixa taxas de dados, da ordem
único bit. Devido à ineficiência do sistema, aliada aos de kilobits por segundo, entretanto possui grande al-
custos de operação e manutenção, o projeto foi en- cance. Em abril de 2017, o Centro de Pesquisa e Expe-
cerrado em 1998. rimentação Marítima da OTAN anunciou a aprovação
Após constatada a ineficiência da faixa ELF para do protocolo JANUS. Este é um padrão aberto para
comunicações submarinas, foram consideradas frequ- transmitir informações digitais submarinas que se uti-
ências mais elevadas. Dessa forma, as faixas de 300 liza de frequências entre 900 Hz a 60 kHz para cobrir
a 3000 Hz (faixa conhecida por VLF, do inglês Very distâncias de até 17 milhas.
Low Frequency) e de 3 até 30 kHz (faixa conhecida Outro método de comunicação que merece atenção
por LF, do inglês Low Frequency) passaram a ser con- está relacionado ao uso de instrumentos ópticos. Nesse
sideradas. Nessa faixa de frequência, a onda eletro- modelo, informações são transmitidas de um ponto ao
magnética consegue penetrar até 40 metros na água. outro por intermédio de feixes de luz. Geralmente, são
Todavia, a velocidade de transmissão de dados ainda utilizados diodos emissores de luz (LEDs) e dispositivos
é reduzida, da ordem de 300 bits por segundo, sen- a laser, pois possuem menor atenuação e fornecem uma
do possível, apenas, o envio de pequenas mensagens taxa de transmissão de dados de dezenas de Mbps. Toda-
de texto. Ainda existem em operação algumas esta- via, o alcance destes dispositivos está limitado a algumas
ções VLF/LF de alta potência localizadas ao redor dezenas de metros, face à dispersão do sinal. A Figura 2
do mundo. A Figura 1 apresenta o posicionamento apresenta um comparativo com os principais métodos de
destas estações. transmissão de informações utilizadas na atualidade.

Figura 1: Posicionamento das estações de comunicações Figura 2: Comparativo com os principais meios
submarinas em VLF/LF ao redor do mundo. de comunicação da atualidade.

O Periscópio 141
Artigos Diversos

3 PERSPECTIVAS TECNOLÓGICAS
Como apresentado nos itens anteriores, ondas
acústicas, eletromagnéticas e sensores ópticos são apli-
cáveis à comunicação com meios submarinos, toda-
via todos apresentam problemas práticos específicos,
seja com relação ao seu alcance ou à reduzida taxa de
transmissão de informações. Devido aos problemas
mencionados, em 2018, pesquisadores do Instituto de
Tecnologia de Massachusetts (Massachusetts Institute
of Technology – MIT) desenvolveram um novo meio
de comunicação denominado de TARF (do inglês
technology translational acoustic-RF communication).
Seu princípio de funcionamento baseia-se na con-
versão do sinal acústico em eletromagnético e vice-versa.
Um sinal acústico emitido por um transdutor se pro- Figura 3: Exemplo de comunicação entre elementos
mediante a utilização da tecnologia TARF.
paga no mar como uma onda de pressão. Quando essa
onda de pressão atinge a superfície da água, causa uma
perturbação ou deslocamento da superfície devido a 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
sua natureza mecânica. Para captar essas variações, um Este trabalho apresentou uma evolução cronológi-
sensor de radiofrequência é posicionado. O processo de ca dos principais métodos utilizados para comunicação
comunicação consiste em três fases: submarina, desde a possibilidade do uso de frequências
extremamente baixas, passando pelo uso de dispositi-
I. Transmissor: um submarino envia uma informação vos ópticos, até as modernas soluções que têm sido
usando um transdutor acústico padrão, por exemplo apresentadas na atualidade.
um hidrofone. O transmissor utiliza sinais nas frequ- Os submarinos tornaram-se uma arma eficaz para
ências de 100 a 200 Hz, faixa de frequência que nor- dissuasão e defesa, tendo como principal vantagem a ca-
malmente é usada para comunicações por submari- pacidade de ocultação, sendo este um dos grandes fatores
nos devido à sua baixa atenuação e longo alcance. de força em qualquer confronto. É por causa dessa supe-
II. Canal: o sinal acústico viaja como uma onda de rioridade, resultante da capacidade de ocultação, que ne-
pressão. Quando essa onda atinge a superfície, cau- cessitam de meios eficazes de comunicação para cumprir
sa um deslocamento proporcional a sua magnitude. sua missão com sigilo e discrição sem revelar sua posição.
Essas pequenas vibrações correspondem aos bits
transmitidos. REFERÊNCIAS
III. Receptor: acima da superfície, um receptor alta- ALTGELT, C. A. The world’s largest “radio” station.
mente sensível lê esses distúrbios minuciosos e de- Disponível em: <https://pages.hep.wisc.edu/~prepost/
codifica o sinal enviado. O sistema transmite um ELF.pdf>. Acesso em: 18 mai. 2020.
sinal de banda larga na frequência de 60 GHz e NETO, J. S. M. Submarino nuclear brasileiro: a pala-
modulação em frequência para comunicação com vra do Comandante da MB. Disponível em: <https://
demais elementos acima da superfície d’água. www.naval.com.br/blog/2009/04/10/submarino-nu-
clear-brasileiro-a-palavra-do-comandante-da-mb/>.
Submarinos poderiam se utilizar da tecnologia Acesso em: 19 mai. 2020.
TARF para se comunicar com demais elementos aci-
ma d’água, podendo ser estações de rádio terrenas, ae- TONOLINI, F., ADIB, F. Networking across boun-
ronaves ou satélites sem a necessidade de comprome- daries: enabling wireless communication through
ter sua segurança. A Figura 3 apresenta o esquema de the water-air interface.SIGCOMM ’18, 20-25 Ago.,
comunicação TARF. 2018, Budapest, Hungary.

142 O Periscópio
ComForS

O Periscópio 143
PERISCOPADAS

Atividades do Comando da Força


de Submarinos 2020

Passagens de Comando 2020

17 de janeiro de 2020: Centro de Instrução e Adestramento Almirante Áttila Monteiro Aché

Passa o Comando: Capitão de Mar e Guerra Hélio Moreira Branco Junior


Assume o Comando: Capitão de Mar e Guerra Luiz Antonio de Menezes Cerutti

144 O Periscópio
ComForS

31 de janeiro de 2020: Grupamento de Mergulhadores de Combate

Passa o Comando: Capitão de Mar e Guerra Michael Vinicius Aguiar


Assume o Comando: Capitão de Fragata Eligio Guimarães de Moura

20 de fevereiro de 2020: Base Almirante Castro e Silva

Passa o Comando: Capitão de Mar e Guerra Manoel Luiz Pavão Barroso


Assume o Comando: Capitão de Mar e Guerra Maurício do Nascimento Pinto

O Periscópio 145
PERISCOPADAS

28 de fevereiro de 2020: Passagem de Comado do NSS Felinto Perry

Passa o Comando: Capitão de Mar e Guerra Michael Bilac Barbosa de Oliveira


Assume o Comando: Capitão de Fragata Marcos Paulo Beal

08 de outubro de 2020: Passagem de Comando do Submarino Tupi

Passa o Comando: Capitão de Fragata Marcello Silveira de Andrade Carlos


Assume o Comando: Capitão de Fragata Mauricio Leite de Pontes

146 O Periscópio
ComForS

12 de maio de 2020: Incorporação do NSS Guillobel à Marinha do Brasil

Esquerda: Almirante de Esquadra Celso Luiz Nazareth,


Centro: Almirante de Esquadra Augusto Vieira da Cunha de Menezes, Diretoria-Geral do Material da Marinha
Direita: Almirante de Esquadra Alipio Jorge Rodrigues da Silva, Comandante de Operações Navais

Comandante e Tripulação

Capitão de Fragata Albino Manoel Borges Santos Suboficial Audeirton Carneiro de Sousa
Capitão de Corveta Eduardo Fagundes Costa Suboficial Wanderson Rodrigues dos Reis
Capitão de Corveta Gustavo Borges de Lemos Suboficial Marcio Henrique Soares de Aguiar
Capitão de Corveta Fagner Guedes de Castro Suboficial José Emílio da Silva Gomes
Capitão-Tenente André Popescu Braço Primeiro-Sargento Jairo Lourenço da Costa
Capitão-Tenente Bruno Pacelli Carvalho da Cunha Primeiro-Sargento Flavio Rogerio Oliveira dos Santos
Capitão-Tenente Átila Novaes Cardozo Primeiro-Sargento Bruno Sérgio Monteiro Dobrões
Capitão-Tenente Fabricio Rocha e Souza Primeiro-Sargento Demilson Braulio Cavalcante Pedrosa
Capitão-Tenente Fábio Ferreira de Almeida Segundo-Sargento Bruno Vidal Ferreira
Capitão-Tenente Mário José Pereira Júnior Segundo-Sargento Leandro Soares Teixeira
Capitão-Tenente Kayo Cuevas de Azevedo Soares Torres Segundo-Sargento Diego Pereira Amorim
Capitão-Tenente Diego Rodrigo de Castro Santos Segundo-Sargento Moisés Rocha da Silva
Capitão-Tenente Leonardo Oldani Felix Segundo-Sargento Anderson Souza da Silva
Capitão-Tenente Fabricio Pereira Francisco Segundo-Sargento Roberto da Silva Stael
Primeiro-Tenente Lucas Aguiar Amaral Klier Teixeira Segundo-Sargento Robson Leandro Xavier dos Santos
Primeiro-Tenente Vitor Rodrigues Matoso Segundo-Sargento Paulo Roberto dos Santos
Segundo-Tenente Antonio dos Santos Martins Neto Segundo-Sargento Gessé da Conceição David
Segundo-Tenente Luiz Guilherme Oliveira Tosta Montez Segundo-Sargento Anderson de Oliveira Ferreira
Suboficial Rodrigo Marinho de Menezes Segundo-Sargento Yuri Moises Vasconcelos Silva
Suboficial Raphael Monteiro de Oliveira Terceiro-Sargento Rodolpho de Carvalho Cruz
Suboficial Wagner Gama Junior Terceiro-Sargento Ivan Calixto do Nascimento

O Periscópio 147
PERISCOPADAS

Terceiro-Sargento Deividy da Costa Ribeiro Cabo Diogo Carvalho Santiago


Terceiro-Sargento Leandro Meireles de Lima Cabo Fernando Moreira Maia Junior
Terceiro-Sargento Romilson Cardoso Lima da Silva Cabo Philipp Mathaus Cutrim dos Santos
Terceiro-Sargento Luís Klaus de Castro Reis Cabo Lucas Garcia de Almeida Alves
Terceiro-Sargento Ramon Campista dos Santos Cabo Bruno Fernandes Furtado
Terceiro-Sargento Wallace de Souza Cabo Leandro dos Santos Rosa
Terceiro-Sargento Francisco Vieira Liberato Cabo Francisco Edinael Carvalho Machado
Terceiro-Sargento Robson Conceição da Silva Porto Cabo José Lucas Menezes dos Santos
Terceiro-Sargento Rafael dos Santos Candido Cabo Matheus Soares de Oliveira
Terceiro-Sargento Vinícius Fraga da Costa Cabo Guilherme da Silva Peçanha
Terceiro-Sargento Paulo Roberto da Silva Ramos Cabo Gabriel Alves de Araujo
Terceiro-Sargento Jean Moura de Souza Cabo Marcus Vinícius Soares Teixeira Braga
Terceiro-Sargento Johnny Wallace de Messias Faria Cabo Victor Couto Capua
Terceiro-Sargento Michael Morais Balduino dos Santos Cabo Rodrigo Pedreira Santiago
Terceiro-Sargento Felipe Pintor de Rezende Cabo Wallace Nascimento Gomes de Farias
Terceiro-Sargento Vitor Andrade Gomes Cabo Lucas da Silva Amorim
Terceiro-Sargento Hélder Xavier Simões Cabo Jônata Vilhena Souza Lima da Silva
Terceiro-Sargento Bruno Freire da Silva Janoca Cabo Renan Oliveira da Silva
Terceiro-Sargento Sanderson Rocha da Silva Cabo Leandro Vinicius Samary de Proença
Terceiro-Sargento Alexsandro José Fernandes Cabo Rhuan Magalhães de Paula
Terceiro-Sargento Jeferson Félix Sena Sérgio Marinheiro Emanoel Gomes Vieira do Nascimento
Terceiro-Sargento Uanderson Lourenço de Sousa Marinheiro Fernando da Silva Gonçalves
Cabo Jefferson Jorge de Oliveira Vieira Marinheiro Matheus Vitor da Conceição Cerqueira
Cabo Sérgio Rubens dos Santos Bôto Marinheiro Yuri Miguel de Almeida
Cabo Carlos Henrique Gonçalves de Oliveira Marinheiro Daniel da Silva Barreto
Cabo Rafael Vieira Fernandes Marinheiro André Santos da Silva
Cabo Ian de Souza Lopes Marinheiro Gabriel Henrique de Campos Oliveira
Cabo Rafael Pereira Santana Pretico Marinheiro Daniel Pereira de Souza
Cabo Luiz Flávio Guimarães Barboza Marinheiro Leonardo Augusto Loureiro dos Santos
Cabo Marlon Carvalho da Silva Marinheiro Hilton Rodrigo dos Santos Costa
Cabo Lucas Gomes Dantas Marinheiro Johny de Andrade de Carvalho
Cabo Matheus Lucas de Souza Luiz Marinheiro Lucas Vinicios dos Santos Silva
Cabo Patrick Gomes dos Santos Marinheiro Lucas Pontes Chuab
Cabo Yuri Rodrigo Cruz da Costa Marinheiro Paulo Roberto da Fonseca e Silva Junior
Cabo Cainã Portela Soares Marinheiro Thiago Souza de Albuquerque
Cabo Miguel de Oliveira Terra Marinheiro Gabriel Fernandes Baldner Pereira
Cabo Luiz Eduardo Tavares Gregorio Marinheiro Lucas Pereira Gomes

148 O Periscópio
ComForS

17 de julho de 2020: ativação da Base da Ilha da Madeira

Da esquerda para a direita:


Capitão de Mar e Guerra Fernando de Luca Marques de Oliveira, Comandante da Base da Ilha da Madeira
Almirante de Esquadra Claudio Henrique Mello de Almeida, Comandante em Chefe da Esquadra
Almirante de Esquadra Alipio Jorge Rodrigues da Silva, Comandante de Operações Navais
Almirante de Esquadra Bento Costa Lima Leite de Albuquerque Junior, Ministro de Minas e Energias
Almirante de Esquadra Ilques Barbosa Junior, Comandante da Marinha
Almirante de Esquadra Claudio Portugal de Viveiros, Chefe do Estado-Maior da Armada
Almirante de Esquadra Marcos Sampaio Olsen, Diretor-Geral de Desenvolvimento Nuclear e Tecnológico da Marinha
Contra-Almirante Thadeu Marcos Orosco Coelho Lobo, Comandante da Força de Submarinos

Comandante e Tripulação

Capitão de Mar e Guerra Fernando de Luca Marques de Oliveira Primeiro-Tenente André Luiz dos Santos Regis
Capitão de Fragata Ademir Belarmino de Souza Primeiro-Tenente Leandro Amado Sohr Cardoso
Capitão de Fragata Marcos Cipitelli Primeiro-Tenente Carlos Alberto Moura de Araujo
Capitão de Corveta Fábio Henrique Pereira da Costa Primeiro-Tenente Darle Delli David Alcantara
Capitão de Corveta Thiago Ferreira dos Santos Guarda-Marinha Lucas Vargas Fabbri
Capitão de Corveta Raimundo Souza Silveira Filho Suboficial Cláudio Pereira Guerra
Capitão de Corveta Fabiana Batista Justino Suboficial Marcos Paulo Brito Domingos
Capitão-Tenente Rodrigo Teixeira Martins Suboficial Josiel Marcos Roberto
Capitão-Tenente David Monteiro Silva Suboficial Marcelo Costa Leite
Capitão-Tenente Alberto Marques de Hollanda Junior Suboficial Sebastião da Silva Guedes Neto
Capitão-Tenente Silvio Rone Pena de Sá Suboficial Raniery Sousa de Oliveira
Capitão-Tenente Jefferson Pontes Guimarães Suboficial Alexandre Campanha
Capitão-Tenente Flavio Coelho de Faria Suboficial Georgeson de Azevedo Pereira Nery
Capitão-Tenente Mário Sérgio Madeira da Silva Suboficial Ítalo Amando da Costa Justino
Primeiro-Tenente Bruno Raphael de Castro Martins Suboficial Marcio da Costa
Primeiro-Tenente Telviana Domingues da Silva Suboficial Jean Leonardo Pinto de Souza

O Periscópio 149
PERISCOPADAS

Suboficial Robson Luiz Costa da Silva Terceiro-Sargento Alex Francelino Correia da Silva
Suboficial Leandro de Souza Mattos Terceiro-Sargento Thiago Gomes Pacheco
Suboficial Levy Elias Ribeiro Terceiro-Sargento Leonardo Ferreira de Oliveira
Suboficial Michel Arcanjo de Oliveira Terceiro-Sargento Anna Paula da Silva Campanha
Primeiro-Sargento Humberto Artur Maranhão Amado Terceiro-Sargento Gabriel Lima D’urso
Primeiro-Sargento Rodrigo Santos da Cunha Terceiro-Sargento Karen Velasquez da Paz
Primeiro-Sargento Jailson dos Santos Brito Terceiro-Sargento Thalita Cardoso Teixeira
Primeiro-Sargento Leonardo Ramos Terceiro-Sargento William da Silva Lima
Primeiro-Sargento Victor de Azevedo Cardozo Terceiro-Sargento Jonathan Lourenço Rodrigues de Oliveira
Primeiro-Sargento Carlos Renato Costa Lemos Terceiro-Sargento Mariana Oliveira Santos
Primeiro-Sargento Cicero de Amorim Gomes Terceiro-Sargento Leonardo Huguenin Marques
Primeiro-Sargento André Luiz Leopoldino do Carmo da Silva Terceiro-Sargento Roberta Larissa Rosa de Oliveira Arnaldo
Primeiro-Sargento Wellington Ferreira Moreira Terceiro-Sargento Monalisa Duarte Mentor Serva
Primeiro-Sargento Leandro Siqueira Terceiro-Sargento Thiago Souza da Silva Elias
Primeiro-Sargento Paulo Ricardo da Costa Oliveira Terceiro-Sargento Weslei Felipe do Nascimento
Primeiro-Sargento Marcelo Fernando Alvarenga Cardoso Terceiro-Sargento Douglas Juan Cabral Santos Veronezi
Primeiro-Sargento Jorge Luis de Farias Silva Terceiro-Sargento Miriam Souza da Rocha Veronezi
Primeiro-Sargento Willians Santos do Nascimento Terceiro-Sargento Rosaria Ribeiro Gomes dos Santos
Segundo-Sargento Leonardo Pereira Santos de Lima Terceiro-Sargento Juliana Silva Ferreira
Segundo-Sargento Esdras Augusto Santiago Guimarães Terceiro-Sargento Joana Angélica Rêgo de Assunção
Segundo-Sargento Givaldo Almeida Gusmão Terceiro-Sargento Diany Cunha Vieira Barbosa
Segundo-Sargento Rodrigo Rocha Holz Cabo Adriano Silva de Lima
Segundo-Sargento Marcos Cavalcante de Souza Cabo Bruno de Oliveira Santos
Segundo-Sargento João Dayvid da Silva Lira Cabo Igor Ferreira Silva
Segundo-Sargento Cleber Ramos Gonçalves Cabo Diego Christian de Oliveira Rocha
Segundo-Sargento Almiro José Vial Neto Cabo Valdeir Félix da Motta e Silva
Segundo-Sargento Rodrigo da Silva Cabo Waalen Odilon Nunes Dias
Segundo-Sargento Edson Estefani Santos de Oliveira Cabo Luis Felipe Alves dos Santos
Segundo-Sargento Wesley Ignacio Gonçalves de Almeida Cabo Ruan dos Santos Azevedo do Val
Segundo-Sargento Eduardo Crescencio da Costa Cabo Bruno da Silva Tardivo
Segundo-Sargento Augusto Miranda da Costa Cabo Lucas Leonardo
Segundo-Sargento Matheus Barbosa de Oliveira Coutinho Cabo Silvio Santos da Silva
Segundo-Sargento Mauricio de Almeida Damas Cabo Marcos Saraiva Inacio Junior
Segundo-Sargento Thiago Pereira de Souza Cabo Marco Vinicius Pontes Fraga
Segundo-Sargento Jean Dos Santos do Nascimento Cabo Rafael Dias da Glória
Segundo-Sargento Elder da Silva Cabo Ronald Jefferson Moreira da Costa
Segundo-Sargento Alan Gomes Machado Cabo Leandro Aires da Silva
Segundo-Sargento Gustavo Augusto da Costa Cabo Arthur Silva Conceição
Segundo-Sargento Clayton Barbosa Pessanha Cabo Yan Roberto de Souza Barcellos
Segundo-Sargento Eros Henrique Fernandes Anselmo Cabo Elton Ferreira Braga Ramos
Segundo-Sargento Jefferson Geminiano da Hora Souza Cabo José Eduardo Gomes da Silva
Segundo-Sargento Marcos Sampaio Nesme Cabo Anderson dos Anjos Ramos
Segundo-Sargento Cláudio de Souza Cabo Thalles de Carvalho Camillo
Segundo-Sargento Valcir Santos da Silva Cabo Lucas Simas Marinho
Segundo-Sargento Carlos Amauri Coutinho da Silva Junior Cabo Eduardo Verçosa Lages
Segundo-Sargento Vitor Coelho Mendes da Silva Cabo Victor de Andrade Costa
Segundo-Sargento Eder Gomes de Souza de Araujo Cabo Nicolas Passos Trindade de Santana
Segundo-Sargento Jefferson Eduardo Amaral Paes Cabo Gabriel Pereira Barbosa
Segundo-Sargento Mariana dos Santos Costa Cabo Juliana Coelho Alves
Segundo-Sargento Queli Oliveira e Silva Cabo Adriana Stefanny Nascimento Bezerra
Segundo-Sargento Mario Henrique Lemos Torres Cabo Fabiano do Nascimento Celestino
Terceiro-Sargento Luiz Carlos Barbosa dos Santos Cabo Eliziane Alves de Azevedo Santos
Terceiro-Sargento Renan Silva Mendes dos Santos Cabo Ruan Santos Vilas Boas Souza
Terceiro-Sargento Giovanni Barros Soares Marinheiro Francisco Eduardo das Chagas Silva

150 O Periscópio
ComForS

Relação dos Agraciados com o Diploma de Submarinista Honorário

Senhor Aldo Malavasi Filho Capitão de Mar e Guerra (RM1-EN) Carlos Alexandre
Senhor André Portalis, Presidente da ICN Orosco Coelho Lobo
Senhor Arígio André de Sousa Júnior Capitão de Mar e Guerra (RM1) Carlos Alberto de Abreu Madeira
Senhor Eric Berthelot Coronel (DGA) Erwan Berni
Senhor Haroldo Barroso Junior Capitão de Fragata (EN) Sergio Augusto Alves Fernandes
Senhor Jefferson Neves Pereira Capitão de Fragata (EN) Rafael Barros Dutra
Senhor Jeróme Brocq Capitão de Fragata (EN) Ali Kamel Issmael Junior
Senhor José Augusto Leal Capitão de Fragata (EN) Cristiani Perrini Bodart
Senhor Leandro Carvalho de Oliveira Capitão de Fragata (EN) Roberto Cruxen Daemon D’ Oliveira
Senhor Laercio Antonio Vinhas Capitão de Fragata (MNF) Julian Droit
Senhor Marcelo Paz Saraiva Câmara Capitão de Corveta (EN) Marco André Talarico
Senhor Marcio Magalhães de Andrade Silva Capitão de Corveta(CN) Gelcimar Antônio de Carvalho
Senhor Ricardo Fraga Guterres Captão-Tenente (CD) Camila Garcia Loureiro
Senhor Tob Rodrigues de Albuquerque Captão-Tenente (CD) Kenia Virginia Aquino Arrais Leite
Senhora Anne Bianchi Captão-Tenente (EN) Cizenando Morello Bonfá
Senhora Cristina Gonçalves Peroni Captão-Tenente (IM) Amanda de Carvalho Andrade Pereira
Senhora Diles Maria Luvison Kuhn Captão-Tenente (IM) Carla Barboza Vieira
Senhora Hellen Figurelli Captão-Tenente (IM) Eduardo dos Santos Silva Abdias
Senhora Marcela Corrêa Rabelo Captão-Tenente (EN) Julio Cesar Medeiros dos Anjos Ramos
Senhora Raissa Grillo Menegon Captão-Tenente (EN) Thiago de Castro Turino
Senhora Stephanie Rodrigues Pavão 1ºTenente (AA)Ailton Belchior Santos de Jesus
Senhora Valentina Domiciano 1ºTenente (QC-IM) Sabrina Caldeira Fernandes da Silva
Contra-Almirante Humberto Giovanni Canfora Mies 1ºTenente (RM2-T)Manuella Ferreira Garcia Borges
Contra-Almirante (MD) Oscar Artur de Oliveira Passos Suboficial-ES Fabio do Amaral Cruz
Contra-Almirante Paulo Renato Rohwer Santos Suboficial-AR Claudio Luiz Pereira Gonçalves
Contra-Almirante Marcio Tadeu Francisco das Neves Suboficial-MS Jeferson Marques Gomes da Silva
Contra-Almirante (IM) Artur Olavo Ferreira Suboficial-MC Audeirton Carneiro de Sousa
Contra-Almirante José Gentile Suboficial-AM George Henrique Batista Bezerra
Contra-Almirante Sergio Renato Berna Salgueirinho Suboficial-FN-CN William Carlos da Silva
Contra-Almirante Rogerio da Rocha Carneiro Bastos Suboficial (RM1-PL) Melquisedec Silva Moura
Contra-Almirante Ricardo Sales de Oliveira Suboficial (RM1-ET) João Carlos Alves de Moura
Contra-Almirante (EN) Marcio Ximenes Virgínio da Silva Suboficial (RM1-EL) Antônio Gabriel dos Santos Filho
Contra-Almirante Marcelo Menezes Cardoso Suboficial (RM1-PL) Robson Moreira de Oliveira
Brigadeiro do Ar Flávio Luiz de Oliveira Primeiro-Sargento-MT Carlos Ednaldo dos Santos
Capitão de Mar e Guerra José Carlos Cavalcanti Sales Primeiro-Sargento-MA Samuel de Souza Maia
Capitão de Mar e Guerra Antonio Braz de Souza Segundo-Sargento-EO Renan da Silva Paulino
Capitão de Mar e Guerra (T) Sara de Campos Pereira Corrêa Segundo-Sargento-MS José Paulino de Oliveira Junior
Capitão de Mar e Guerra (EN) Fábio Brescia Miracca Segundo-Sargento-SI Fabiano de Araujo Oliveira
Capitão de Mar e Guerra (EN) Paulo Henrique da Rocha Segundo-Sargento-FN-MO Leonardo Kaiser Sá Nunes
Capitão de Mar e Guerra (RM1) Armando de Moura Ferraz Segundo-Sargento-ES Starli Daniel Leão Caldas
Capitão de Mar e Guerra (RM1) José Joaquim Borges Ribeiro Segundo-Sargento-ES Marcelo da Silva Diogo
de Andrada Segundo-Sargento-ES Bruno Cesar Serêjo Esteves
Capitão de Mar e Guerra (RM1) Rodrigo de Souza Obino Terceiro-Sargento-AR Tiago de Sousa Vitalina
Capitão de Mar e Guerra (RM1-EN) Teilor Maciel Kopavnick Terceiro-Sargento-AD Eduardo Arriscado de Faria
Capitão de Mar e Guerra (RM1-EN) Ricardo Koji Yamamoto Cabo-MS Lauro Gomes da Silva Neto
Capitão de Mar e Guerra (RM1-EN) Herval Crohmal Cabo-ES Claudio Sanches Lima Mota

O Periscópio 151
PERISCOPADAS

Relação dos Militares Agraciados com Diploma de Horas de Imersão,

Horas de Mergulho, e Atividade de Mergulho de Combate em 2020

Horas de Imersão

4000 Horas

2°SG-AM Carlos Eduardo Rodrigues Gonçalves

Horas de Mergulho

1000 Horas

SO-MG-MEC Allan Machado Campos


SO-MG Wanderson Rodrigues dos Reis

200 Horas

3° SG-MG Vinícius Fraga da Costa


3° SG-MG Jean Moura de Souza

152 O Periscópio
ComForS

O Periscópio
Ano LXXI - Nº 71 - 2020

Operações de O recebimento A variação da


resgate e salvamento de materiais do pressão ambiental na
da marinha turca PROSUB na França fisiologia humana
Pág. 20 Pág. 84 Pág. 96 1
O Periscópio
EDITORIAL
CARTA DO EDITOR

2 O Periscópio
ComForS

O Periscópio 3
Artigos Diversos

Usque Ad Sub Acquam Nauta Sum

Marinheiros até debaixo d’água

4 O Periscópio

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