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ISSN 2358-4394 - V.

39 - 20
ISSN 2358-4394 - V.39 - 2021

O CORPO DE FUZILEIROS
NAVAIS DO AMANHÃ

2021 • O ANFÍBIO 1
SUMÁRIO
Editorial - Nossa Capa ......................................................................................................................................................................02
Nossa Casa: A Fortaleza de São José da Ilha das Cobras ................................................................................................04
A Carta - Memória de Nossos Fuzileiros.....................................................................................................................................10
O Fuzileiro Naval do Amanhã ........................................................................................................................................................14
Texto Editorial Introdutório sobre Melhorias na Higidez, Mulher no CFN e Novo Itinerário Formativo..........14
Mulheres no CFN ...............................................................................................................................................................................20
Melhoria na Higidez do Combatente ........................................................................................................................................26
Itinerário Formativo ..........................................................................................................................................................................36
PROADSUMUS ....................................................................................................................................................................................44
O Combatente 4.0 - Preparando o Futuro do CFN..............................................................................................................62

O ANFÍBIO • ISSN 2358-4394 • V.39 • 2021

Esta tradicional publicação constitui-se em Comandante-Geral do Corpo de Fuzileiros Navais


um importante instrumento de divulgação da Almirante de Esquadra (FN)
doutrina e da história do Corpo de Fuzileiros Jorge Armando Nery Soares
Navais (CFN).
Sua origem está ligada à revista “O Naval”, Editor Responsável
editada em setembro de 1939, que circulou Capitão de Mar e Guerra (FN)
até 1943. Em março de 1954, surgia o primeiro Henrique de Castro Pinto Homem
jornal dos Fuzileiros Navais, “O Anfíbio”, Aristone Leal Moura
publicado até 1977.
Aproveitando esta última denominação, Projeto Gráfico e Editoração
a partir de 1961, iniciou-se a edição da Primeiro-Tenente (RM2-T)
Revista dos Fuzileiros Navais, “O Anfíbio”, em Mariana Viégas Soares
circulação até hoje. Destina-se a divulgar
a doutrina anfíbia e o moderno emprego Colaboração
de Forças de Fuzileiros Navais, difundir a Capitão Tenente (T)
história e tradições do CFN e constituir-se em Fernanda Araujo de Castro
foro para debate de ideias que estimulem o Segundo-Sargento (FN-IF)
aperfeiçoamento técnico-profissional. Thiago de Lima da Rosa
Terceiro-Sargento (FN-IF)
Jaime Vicente da Silva Junior
Cabo (CL)
Ingrid da Silva Camelo
Associação Cultural e Histórica do Corpo de Fuzileiros Navais (ACHCFN)
Endereço: Avenida Almirante Barroso, n.º 63, 17º andar, Edifício Cidade do Rio de Janeiro, Centro – RJ - CEP: 20031-002

As opiniões emitidas nos artigos deste periódico são de inteira responsabilidade de seus autores, não refletindo, necessariamente, o pensamento ou
atitude do Comando-Geral do Corpo de Fuzileiros Navais, a não ser que assim esteja expressamente declarado.Todos os trabalhos aqui publicados são de
caráter gratuito. É permitida a reprodução total ou parcial das matérias. Solicita-se a citação da fonte e a remessa de um exemplar da publicação.

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EDI TORI A L
A Marinha do Brasil e o Corpo de militares convidados, uma linha do tem-
Fuzileiros Navais (CFN) vivenciam, na po, contemplando desde o momento pre-
atualidade, um período de avanços sig- sente vivenciado pelo Corpo de Fuzileiros
nificativos. As profundas e aceleradas Navais (CFN), passando pelo CFN do ama-
transformações pelas quais o mundo está nhã e, por fim, levantando perspectivas
passando convida-nos a uma constante para o CFN do futuro, aquele que agre-
reinvenção e adaptação aos padrões que gará a incorporação de tecnologias ainda
a nova realidade nos exige. indisponíveis nos dias de hoje, tais como
Estamos, cada vez mais, engajados inteligência artificial, tecnologia da infor-
no uso e aprimoramento da tecnologia, mação, nanotecnologia, processadores
de modo a otimizar o trabalho de nossos quânticos, armas a laser, dentre outras.
militares e, com isso, entregar resultados No contexto do enfoque doutrinário
cada vez mais consistentes na defesa de desta edição, abordaremos, dentre ou-
nossa Pátria. tros temas, aspectos sobre o itinerário
Vislumbrar o futuro, no entanto, exige formativo dos combatentes; a melhoria
que olhemos para o passado, consideran- na higidez do combatente; a atuação das
do nossa capacidade de transformação, mulheres no CFN; o PROADSUMUS, além
sem perder o foco na solidez dos nossos de trazer um vislumbre sobre o comba-
princípios e no legado construído ao lon- tente 4.0, aquele que representa o futuro
go dos anos. do CFN.
Deste modo, a 39ª edição de O Anfíbio Boa leitura!
traça, por meio de artigos escritos por ADSUMUS!

NOSSA CAPA
“O Corpo de Fuzileiros Navais do tos. No que concerne ao Corpo de Fuzi-
Amanhã” é o tema da 39ª edição do pe- leiros Navais (CFN), podemos destacar
riódico “O Anfíbio”, que aborda, por meio os meios e instalações aprimorados com
de diversos artigos escritos por militares o PROADSUMUS, em toda a sua extensão
convidados, os iminentes movimentos de temporal, até o ano 2040.
evolução institucional ou aqueles que es- O militar da capa, trajando o novo Ca-
tão em implementação. muflado Multipropósito, com um Carro La-
No âmbito da Marinha do Brasil, fa- garta Anfíbio ao fundo, representa o ama-
zem parte de seu amanhã os submarinos nhã do CFN com o nosso maior patrimônio,
da classe Riachuelo, as fragatas classe que são os nossos militares, em melhores
Tamandaré, o Sistema de Gerenciamento condições de cumprir suas demandas, por-
da Amazônia Azul, dentre outros proje- tando equipamentos de última geração.

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Nossa Casa: A Fortaleza de
São José da Ilha das Cobras
CMG (FN) ADAUTO BUNHEIRÃO

“A Fortaleza de São José pertence ao Corpo


de Fuzileiros Navais desde 1809.”

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D
Sá, resolveu remodelar a fortaleza (Revista “O mo, que não hesitava em devotar-se por inteiro. Na década de 1990, foi inaugurado, pelo en-
Anfíbio” - nº 26 • Ano XXVII • 2008). A Pátria reverenciará sempre aquele que, com tão Comandante-Geral do Corpo de Fuzileiros
esde o início da colonização do Bra- A Fortaleza de São José na Ilha das Cobras o coração e a ação, mostrou aos brasileiros a Navais, o Almirante de Esquadra (FN) COARA-
sil, a defesa mostrou-se necessária. O Tratado foi reformada por Duguay-Trauin, em 1711, e re- nobreza do dever militar e marcou a história da CIARA BRICIO GODINHO, um monumento ao
de Tordesilhas beneficiou somente Portugal e modelada e ampliada em 1736, durante a gestão Fortaleza de São José. gorro de fita, o qual passou a dar nome à Praça
a Coroa de Castela – um dos reinos que viria a de Gomes Freire de Andrada. Com a vinda da fa- existente em frente ao prédio do então Coman-
compor a Espanha – sobre as terras “descober- mília real e da corte portuguesa ao Brasil, veio do de Apoio, hoje sede do Comando do Pessoal
tas e por descobrir”. Inglaterra, França e Países também a Brigada Real da Marinha que, com a de Fuzileiros Navais, na Fortaleza de São José
Baixos contestaram, tendo feito ataques com bem-sucedida invasão à Caiena (seu batismo de da Ilha das Cobras.
corsários ou invasões. As primeiras edificações fogo) foi aquartelada em 1809 na Fortaleza de
foram defensivas, resultado também da heran- São José (Revista “O Eterno Batalhão Naval”). No
Curiosidade:
ça medieval portuguesa sobre a defesa de suas ano de 1893, em virtude da Revolta da Armada,
cidades. Foram construídas feitorias, entrepos- a Fortaleza de São José da Ilha das Cobras foi Na Praça Gorro de Fita, foram plan-
tos comerciais com finalidade de apoiar na ex- praticamente destruída pela artilharia governis- tadas pelo Almirante de Esquadra
tração de pau-brasil, para demarcar a ocupação ta, pois a Ilha havia se tornado o quartel-general (Refº-FN) Valdir Bastos Ponte duas
do território, mas eram construções precárias. dos revoltosos. O reflexo do conflito são visíveis Bouganvilles, uma vermelha e outra
No Rio de Janeiro, que lidou com as invasões até hoje, nas muralhas da Fortaleza. amarela, que representam as cores do
francesas, houve o início da construção de for- Em virtude desse conflito, houve necessi- Corpo de Fuzileiros Navais (CFN).
talezas. O registro mais antigo de que se tem dade de ser realizada a obra de construção da Olavo Bilac lendo pela primeira vez sua
notícia sobre a Ilha das Cobras data de 6 de se- estrada que dá acesso ao alto da ilha, que leva “Oração à Bandeira” no pátbio do Batalhão
tembro de 1565 – é uma Carta de Sesmaria, pela o nome do Capitão-Tenente Amphilóquio Reis, o Naval, em 19 de novembro de 1915, por Álvaro
responsável por este processo. Martins (Óleo sobre tela)
qual Estácio de Sá confere a posse da então
denominada Ilha da Madeira a um certo Pedro Outra personalidade histórica da Fortaleza
Rodrigues que, assim, terá sido o seu primeiro De São José foi PAULA, a Baiana. Quando não
proprietário. Com o passar do tempo, sabe-se vendia suas iguarias, lavava roupas na “Cova da
que João Guterres Valeiro tornou-se titular da Onça”, iniciando a tradição que continua, ho-
Ilha, aqui instalando uma olaria. Endividado, diernamente, onde funciona a Seção de Lavan-
perdeu sua posse na hasta pública da Praça dos deria. Paula, a Baiana, veio a falecer em 20 de
Ausentes. Foi do arrematante que os Benediti- abril de 1935.
nos compraram a ilha por $ 15300 réis. No final da década de 1990, o Pátio Almirante
Quando os holandeses invadiram a cidade Maximiano recebeu uma revitalização. Essa ini-
de Salvador, o Governador do Rio de Janeiro, ciativa e contribuição histórica para o Corpo de
Martim de Sá, filho de Salvador Correia de Sá, Fuzileiros Navais foi idealizada pelo Comandan-
concluiu que era necessário, preventivamen- te do Batalhão Naval, o então Capitão de Mar e
te, fortificar a ilha, valorizando sua privilegiada Ao prosseguir o roteiro histórico da Fortale- Guerra (FN) PAULO CÉSAR STINGELIM GUIMA-
localização estratégica. A construção foi esta- za, cabe ressaltar que no ano de 1915, dia 19 de RÃES, e a arquitetura do pátio foi projetada pela
belecida na parte alta da ilha, ainda de forma novembro, Olavo Bilac pronunciou, pela primeira Dra. Eliana Bermudez.
rudimentar. Sua pedra fundamental, com as vez, sua famosa “Oração à Bandeira” no pátio do Nosso Pátio, que no passado recebeu a pre-
inscrições “Martin de Sá – 1624”, seria encon- Batalhão Naval, um marco na história do Corpo sença de ilustres personalidades, ainda hoje
trada em 1904, quando se demoliu a antiga mu- de Fuzileiros Navais. O autor da letra do Hino à é utilizado para as mais diversas cerimônias,
ralha da primitiva fortaleza. Em 1638, Salvador Bandeira, orador fecundo, era, acima de tudo, um eventos e atividades fins do CFN
Correia de Sá e Benevides, filho de Martim de patriota consciente, um combatente pelo civis-

Curiosidade:
O  Tamandaré  foi uma canhoneira blindada construída para a  Armada Imperial Brasi-
leira  durante a  Guerra do Paraguai  em meados da década de 1860. Ela atacou as fortifica-
ções e bombardeou posições paraguaias bloqueando o acesso aos rios Paraná  e  Paraguai.
Na época do Encouraçado Tamandaré, o Batalhão Naval ficou conhecido como “O
Encouraçado de Pedra” e, por derivação, a Fortaleza de São José, como “Pedreira”.

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Referências
No dia 12 de junho de 2006, após a cerimônia
interna ocorrida na Fortaleza de São José alusiva Curiosidade:
à Batalha Naval do Riachuelo, o Comandante-
-Geral do Corpo de Fuzileiros Navais, Almirante
de Esquadra (FN) Marcelo Gaya Cardoso Tosta,
Com o apoio de um carro do Corpo
de Bombeiros Militar do Estado do Rio
de Janeiro e por ordem do Almirante
Bibliográficas
inaugurou o Monumento em Homenagem aos
Fuzileiros Navais Mortos em Combate, época de Esquadra (Refº-FN) Valdir Bastos Material da Revista “ O Eterno Batalhão Naval”
em que o comandante do Batalhão Naval era o Ponte, foi instalada, em 1995, no alto da BRASILIANA FOTOGRÁFICA. A Revolta da Arma-
Capitão de Mar e Guerra (FN) PAULO MARTINO Companhia de Polícia do Batalhão Na- da. Disponível em: <http://brasilianafotografica.
ZUCCARO. val a imagem de São José. No elevador bn.br/?p=2375>. Acesso em: 11 set. 2017.
Com o passar dos anos, o CFN vai avançando do carro dos Bombeiros subiram o AE
e a Fortaleza de São José vai firmando cada vez (Refº-FN) Ponte, o VA(FN) Sérgio Trei- BIELINSKI, Alba Carneiro. Fortaleza de São José
mais seu nome na história do Brasil e da Mari- da Ilha das Cobras da Cidade de São Sebastião
tler e o CMG (Capelão Naval) Navarro,
nha do Brasil. Para manter as tradições e trazer do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Serviço de Do-
que benzeu a imagem na sua atual po-
melhorias à Fortaleza, o então Capitão de Mar e cumentação da Marinha, 2002.
sição. Desde então, a estatueta per-
Guerra (FN) PAULO MARTINO ZUCCARO, no ano manece iluminada e voltada para toda CORPO DE FUZILEIROS NAVAIS. Comandantes
de 2007, realiza um processo de reformulação a FSJ, trazendo proteção ao Corpo de do Corpo de Fuzileiros Navais: Dados Biográfi-
de sua iluminação e recuperação da fachada. A Fuzileiros Navais. cos. Rio de Janeiro, 1961.
reformulação contou com a participação volun-
______. O Anfíbio: Revista do Corpo de Fuzileiros
tária de sua esposa, a arquiteta Sra. Gisele Vivia-
Navais. Edição Especial. Rio de Janeiro, 1958.
ne Casemiro Zuccaro, que se dedicou a estudar
fotos e pinturas do passado, dimensionar frisos, ______. O Anfíbio: Revista do Corpo de Fuzileiros
arabescos, balaústres e pesquisar em lojas no Navais. Edição Especial. Rio de Janeiro, 1981.
Centro do Rio de Janeiro artesãos que pudessem ______. O Anfíbio: Revista do Corpo de Fuzileiros
produzir tais peças, de modo que a recuperação Navais. 200 Anos: 1808-2008. Edição Especial.
Monumento em Homenagem aos Fuzileiros
da fachada a tornasse o mais próxima possível Rio de Janeiro, 2008.
Navais Mortos em Combate
de seu estilo arquitetônico original.
______. O Anfíbio: Revista do Corpo de Fuzileiros
Navais. Rio de Janeiro, 2014.
A incrível história da bougainvíllea | Jardim Bo-
tânico (recife.pe.gov.br)
bouganvilles amarelas - Pesquisa Google
Imagem de São José
Wagner-Santos-Nunes.pdf (uezo.rj.gov.br)
Google Acadêmico
Curiosidade: Curiosidades do Catolicismo (diocesedeparnai-
ba.org.br)
Nos túneis subterrâneos da Fortale-
za de São José, onde no passado escoa- Ponte, Valdir Bastos - Acervo Arquivístico da
va ouro e prata, atualmente funciona o Marinha do Brasil
museu do Corpo de Fuzileiros Navais. ILHA DAS COBRAS: SUAS CONSTRUÇÕES E POSI-
CIONAMENTO ESTRATÉGICO | Duarte | PESQUISA
O Corpo de Fuzileiros Navais encontra-se & EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA (universo.edu.br)
ocupando, com honra, competência, determina-
ção e profissionalismo, a Fortaleza de São José
da Ilha das Cobras desde 1809, como reconheci-
mento da sua participação na tomada de Caiena.
Desde então, sob a guarda do pavilhão nacional
hasteado no seu mastro histórico, os Fuzilei-
ros Navais reconhecem a Fortaleza de São José
Reformulação da iluminação e recuperação da fachada da Fortaleza de São José como a sua eterna casa.

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A CARTA
término deste, em agosto daquele ano. Nesse que de Brigada (GDB), pois assim se organizava
mesmo mês, eu e Santos Barbosa nos volunta- a Força na ocasião. Na situação fictícia do exer-
riamos para o CesComAnf 87/1 e, junto com San- cício, coube ao Pelotão de Petrecho a guarda
CMG (RM1-FN) RICARDO WAGNER DE CASTILHO SÁ tos Pereira, logramos êxito nos diversos testes dos reféns, cuja posse impediria o desembar-
físicos e exames de saúde. que da Força, por se tratar, conforme a situação
Encerramos o ano de 1986 com a esperada da Operação, de grandes dignitários de um país

N
Operação Dragão. Naquele ano, a Força Tare- aliado ao país que nos atacava. Dessa forma,
fa Anfíbia realizou uma tradicional Operação fiquei ocupando posições na sede da Comis-
aquele feriado de finados de 1980, jo- Anfíbia no litoral da Bahia, em Porto Seguro. O são Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira
vens alunos do Colégio Naval se voluntariaram Grupamento de Fuzileiros Navais de Salvador, (CEPLAC), situada a meio caminho entre Porto
para passar aqueles memoráveis dias no Bata- Comandado pelo então CF (FN) Vitorazo, com- Seguro e Eunápolis.
lhão de Operações Especiais de Fuzileiros Na- pôs o figurativo inimigo, recebendo, para tal, re- No dia 04 de dezembro, a Operação Dragão
vais, o Batalhão Tonelero, para conhecerem um forço da Força de Fuzileiros da Esquadra, como transcorria como planejado. O helicóptero do fi-
pouco de suas atividades. a 3ª CiaFuzNav do Btl Humaitá, cujo Pelotão de gurativo inimigo passou por cima de minha po-
Estávamos cursando o terceiro ano e já Petrechos era comandado por mim, e um Des- sição com o Santos Pereira sentado à porta da
“boiava” no horizonte a silhueta da majestosa tacamento de Operações Especiais, comandado aeronave. Ele, ao me avistar no solo, acenou de
Villegagnon, nossa Escola querida. Na ocasião, pelo então CT (FN) G.Barros e mais dois Oficiais, maneira vigorosa. Tínhamos acertado uma cele-
sabia no fundo de minha alma que escolheria o um deles o jovem Guerreiro de Selva, 2º Tenente bração para o seu aniversário de 25 anos, que se-
Corpo de Fuzileiros Navais, certeza essa que tra- (FN) Santos Pereira. ria alguns dias depois, mais precisamente no dia
zia no coração havia dois anos. Esse sentimento Dessa forma, o destino nos unia mais uma 09 de dezembro. O que eu não sabia, porém, é que
não era um privilégio meu, pois outros colegas vez. Passamos um mês na região de Porto Se- aquele seria meu último contato com ele e que
também acalentavam esta certeza, em parti- guro, preparando as Posições Defensivas e seu aceno, na verdade, seria um gesto de adeus.
cular dois amigos: o Santos Pereira e o Santos aprofundando as linhas de defesa, onde o Co- Um acidente, no transcurso dessa ação, lhe tirou
Barbosa. Com esses dois, tive a oportunidade de mandante Vitorazo julgava ser o local escolhi- a vida. O Ten Santos Pereira deixou o plano físico
fortalecer os laços de amizade, após os bancos do pela Força atacante, por englobar os Objeti- para juntar-se às fileiras do Arcanjo Miguel.
escolares, na lide diária dos Batalhões. igual semelhança àqueles que habitam os pín- vos da Força de Desembarque. Vez por outra, o A Operação Dragão foi encerrada antes do
A visita ao Btl Tonelero se revestia de um caros do Olimpo. destacamento de Operações Especiais passava previsto. Assim, retornamos aos nossos Bata-
significado especial, pois seria uma espécie de Como em todo feriado de finados, a chuva, por nossas posições em sobrevoo de reconhe- lhões para o encerramento do ano. Não havia
confirmação da nossa escolha pelo CFN e da como previsto na instrução de bivaque, veio nos cimento, com o helicóptero da Força Aeronaval, o recesso administrativo de final de ano, mas
forte aspiração de sermos integrantes, em anos lavar a alma. Na manhã do dia seguinte, para que também compunha o nosso figurativo. sempre se celebrava esse período com uma
vindouros, do seleto grupo dos Operadores Es- aproveitamento de nossas fardas molhadas, fo- Próximo ao Dia-D, possível data do Assalto grande festa para toda a tripulação.
peciais do Corpo de Fuzileiros Navais. A chega- mos para o Tanque Tático, onde “deitamos e ro- Anfíbio, assumimos as posições, aguardando o Após o falecimento do Santos Pereira, me
da ao Batalhão Tonelero se deu no final da tarde lamos” no Tonelero. Tivemos instruções de con- desembarque dos Grupamentos de Desembar- aproximei ainda mais de seus pais, Nélson e
do dia 31 de outubro, uma sexta feira. O Cmte do duta de patrulha, escalada militar no Carapuçu,
Batalhão à época, o então CF (FN) Montenegro, armamento, diferença entre acantonar e bivacar,
aguardava-nos com seus Oficiais no prédio do preparação de caça e, quando percebemos, já es-
Comando e nos deu boas-vindas de forma pe- távamos no ônibus de volta para o Colégio Naval,
culiar e impactante. Guarnecemos o solo ten- no domingo, saudosos de nossos banhos frios.
tando alterar o movimento de translação da Aquele evento marcou nossas vidas. Eu, San-
Terra, empurrando-a várias vezes. Quando as tos Pereira e Santos Barbosa estávamos certos
tentativas se mostraram infrutíferas por parte de que tentaríamos fazer parte daquele lendário
dos alunos, ele gentilmente nos apresentou aos grupo de Comandos Anfíbios.
seus Oficiais recém-formados no Curso Espe- Tempos depois, estávamos vivendo o ano de
cial de Comandos Anfíbios (CesComAnf-80/1), 1986. Éramos jovens 2º Tenentes FN, servindo na
Tenentes Honório, Ribeiro Afonso e Ivson. Esses Divisão Anfíbia – eu e Santos Pereira no 2º BtlInf
Oficiais, de forma fraterna, didática e fidalga, (Humaitá) e Santos Barbosa no 1ºBtlInf (Ria-
nos apresentaram, no decorrer dos três dias, às chuelo) – para cumprir o ciclo de adestramento
diversas instruções programadas, a começar e depois buscar nosso ideal, o Batalhão Tone-
por uma noite de bivaque no Marapicu. Como lero. No primeiro semestre, Santos Pereira fora
tudo tinha uma razão e um porquê, os Oficiais selecionado para cursar, no Centro de Instrução
tinham em mente que deveríamos ser ungidos de Guerra na Selva, o curso de Guerra na Selva,
pelos deuses que habitam aquelas alturas, de sendo transferido para o Batalhão Tonelero ao

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Luíza. Carlinhos, forma carinhosa como cha- medida que ela ia narrando os acontecimentos,
mavam o Santos Pereira, iria ser homenageado minha mente não estava mais presente, como
no Batalhão Tonelero, comandado pelo então se descortinasse todas as atividades que de-
CF (FN) Tosta. Dona Luíza me convidou para a senvolvemos naqueles dias memoráveis. No
cerimônia. Não foi difícil receber a autorização entanto, as cores que foram pintadas por ele,
de meu Comandante, o então CMG (FN) Roberto na carta para sua mãe, eram matizadas por um
Miranda, para comparecer ao Batalhão Tonele- entusiasmo, uma admiração e, sobretudo, uma
ro, mesmo sendo dia da festa de final de ano do paixão descoberta, que sabia que o tempo dos
Batalhão Humaitá. anos passados havia transformado em amor.
A cerimônia foi impecável! Os pais do Car- Quando voltei de minhas lembranças, constatei
linhos descerraram a Placa que passaria a no- que toda a tropa formada estava vibrando, numa
mear a alameda principal do Batalhão Tonelero, energia de emoção, ao identificar, naquela mãe
Alameda Ten (FN) Santos Pereira. Após esse que lia a carta do filho amado, tamanha sereni-
ato, nos deslocamos para o prédio principal, em dade e fortaleza.
frente ao qual a Tropa estava formada. Uma ce- Não havia militar presente, quer em forma-
rimônia singela. O Cmte Tosta passou às mãos tura, quer na assistência, que não estivesse
de Dona Luíza o Certificado de Comandos An- chorando. Ela terminou a carta com as últimas
fíbios post-mortem e a Caveira de metal, en- palavras escritas por ele: “quero ser um Coman-
quanto seu Nélson não se continha em lágri- dos Anfíbios e servir no Batalhão Tonelero. Caso
mas. Ao término de suas palavras, o Cmte Tosta um dia venha morrer no cumprimento do dever,
pergunta para Dona Luíza se ela deseja falar. Ela morrerei pleno do dever cumprido”.
responde que sim, se aproxima do microfone e Nossa turma tem cinco Comandos Anfí-
retira da bolsa um papel dobrado. Tratava-se de bios: Santos Pereira (86 post-mortem) Santos
uma carta, que recebera do filho em 1980, rela- Barbosa, Castilho (87/1), Eder Sampaio (88/1) e
tando sua experiência no Batalhão Tonelero. À Sousa (91/1).

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Introdução
dos conflitos de gerações anteriores, o objetivo
agora não é apenas derrotar o inimigo militar-

A
mente, mas sim buscar demovê-lo de sua von-
tade de combater, explorando suas fraquezas
psicológicas através de uma guerra de baixa
constante evolução dos conflitos intensidade e de longa duração.
armados vem, gradativamente ao longo da Essa contínua evolução de cenário se cons-
história, elevando o nível de exigências que titui em fator determinante para que o Corpo
o combatente deve atender para assegurar a de Fuzileiros Navais (CFN) aprimore constan-
sua sobrevivência no Campo de Batalha. Neste temente a formação e a capacitação de seus
sentido, os conflitos armados de “4ª Geração”1 militares, a fim de proporcionar melhores con-
constituem um grande desafio para o soldado dições para que enfrentem os novos desafios
de hoje, pois tais conflitos são geralmente en- que irão compor o Teatro de Operações do futu-
tendidos como formas evoluídas de insurreição ro. Para tanto, o CFN vem desenvolvendo uma
que utilizam todas as redes disponíveis, sejam série de ações, das quais podemos destacar: a
elas políticas, econômicas, sociais ou militares, atualização do itinerário formativo para Oficiais
para convencer os decisores inimigos de que os e Praças, o aprimoramento da capacitação físi-
seus objetivos estratégicos são inalcançáveis ca de seus militares e uma maior exploração
ou demasiados custosos, quando comparados das qualidades da mulher na constituição de
com os benefícios percebidos (Hammes, 1994). suas fileiras.
Dessa forma, depreende-se que, ao contrário

O Fuzileiro Naval do Amanhã -


Texto Editorial Introdutório sobre
Melhorias na Higidez, Mulher no
CFN e Novo Itinerário Formativo Figura 1 – Instrução do CIASC para alunos do C-Ap-GAnfE
1- Tipo de conflito caracterizado por um retorno “pós-moderno” às formas descentralizadas de guerra, permeando as linhas entre guerra e política,
combatentes e civis, devido à perda dos Estados-nação de seu monopólio das forças de combate, retornando aos modos de conflito comuns em tempos
CMG (FN) MARCIO ROSETTI pré-modernos.

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Higidez Física
A pesar de toda evolução tecnológica
dos armamentos e meios empregados em um
ções de pronto emprego. Nesse sentido, o CFN
vem desenvolvendo diversas ações através do
conflito armado na atualidade, o bom condi- Centro de Educação Física Almirante Adalber-
cionamento físico continua sendo um fator de to Nunes (CEFAN), dentre elas o Programa de
grande relevância para o sucesso do comba- Orientação e Apoio ao TFM nas OM, denomina-
tente no campo de batalha. Dentro dessa óti- do PROA-TFM, o qual objetiva difundir o conhe-
ca, o CFN vem aprimorando e intensificando o cimento necessário para a condução da prática
Treinamento Físico Militar (TFM) em suas Or- de TFM promovendo a atualização de conheci-
ganizações Militares (OM) para que seus Fuzi- mentos e o treinamento de práticas inovadoras
leiros Navais alcancem os níveis adequados de e atuais.
condicionamento e se mantenham em condi-

Figura 2 – Instrução do CIASC para alunos do C-Ap-GAnfE

Itinerário Formativo

O s itinerários formativos do CFN vi-


sam balizar a formação e capacitação de seus
bra. Dessa forma, todo militar, seja Oficial ou
Praça, ao ingressar no CFN, possui uma planifi-
militares, como um grande roteiro de cursos de cação completa de sua carreira para que o mi-
carreira que explora a verticalização do ensino, litar alcance a totalidade do conhecimento ne-
a fim de proporcionar um aprimoramento téc- cessário, compatível para o exercício de função
nico e profissional de forma progressiva e con- atinente ao seu posto ou graduação. Portanto, o
tinuada, priorizando os três eixos estruturantes itinerário formativo constitui uma das mais im-
de nossa doutrina de emprego: as Operações portantes ferramentas que o CFN dispõe para
Anfíbias (OpAnf), o emprego de Grupamentos manter seus militares capacitados a enfrenta-
Operativos de Fuzileiros Navais (GptOpFuzNav) rem os desafios que lhe serão impostos no Tea-
e a exploração do princípio da Guerra de Mano- tro de Operações do futuro.
Figura 3 – Treinamento Funcional sob supervisão do CEFAN (1ºBtlOpRib)

16 O ANFÍBIO • 2021 2021 • O ANFÍBIO 17


Mulheres no CFN Conclusão Referências
Bibliográficas
A presença feminina nas fileiras do já serviram em Grupamentos Operativos de
P ortanto, o presente artigo visou pro-
porcionar uma ideia geral de como se imagina Hammes, Thomas X. “The Evolution of War: The
CFN constitui um aspecto que tem passado Fuzileiros Navais durante a Missão da ONU no que deverá ser o perfil do Combatente Anfíbio Fourth Generation”, Marine Corps Gazette, Vol.
por uma enorme transformação desde a últi- Haiti (GptOpFuzNav-Haiti), representando o que comporá as fileiras do “Corpo de Fuzilei- 78, N.º 9, September 1994.
ma década, pois, inicialmente, só se admitiam nosso país em uma Missão de Paz. Além dis- ros Navais do Amanhã”, através da exploração BRASIL, Corpo de Fuzileiros Navais. CGCFN-108
Praças musicistas para serem empregadas so, em um futuro próximo, teremos também de alguns aspectos relevantes constituídos - Normas Sobre Treinamento Físico Militar e
em nossas bandas de música e em trabalhos Soldados Fuzileiros Navais (SD-FN) do sexo pela planificação da formação e capacita- Testes de Avaliação Física na Marinha do Brasil.
administrativos em nossas OM. Atualmente, já feminino servindo em nossas OM do CFN. Tais ção técnico profissional, pelo incremento do 1ª Revisão. 2021.
temos Oficiais do Quadro Auxiliar de Fuzileiros mudanças vêm proporcionando um enorme condicionamento físico e por fim, através de
uma maior presença da mulher nos efetivos BRASIL. Marinha do Brasil. DGPM-101 –Normas
Navais (AFN) que estão servindo em nossas incremento na capacidade de adaptação de
de nossa corporação. para o Sistema de Ensino Naval (SEN). 8ª Revi-
Unidades Operativas da Força de Fuzileiros da nossa Força a prováveis cenários futuros de
são. 2018a.
Esquadra (FFE). Temos, inclusive, Oficiais que emprego.
MONTEIRO, Alvaro Augusto Dias. A Próxima Sin-
gradura. Revista O ANFÍBIO. Rio de Janeiro, nº 28.
Ano XXIX. 2010. EDIÇÃO EXTRA.
NICHOLS, Giselli Christina Leal. Guerra Naval do
futuro: estudo de cenários prospectivos na era
pós-humana. / Giselli Christina Leal Nichols. Rio
de Janeiro, 2019.
TEIXEIRA, Esley Rodrigues de Jesus. Poder Anfí-
bio. Rio de Janeiro, Revista Marítima Brasileira, v.
141, n. 01/03, p. 163-185, jan./mar. 2021.
William S. Lind.”Victoria: A Novel of 4th Genera-
tion Warfare”. Castalia House Publishing. Retrie-
ved May 4, 2015.

Figura 4 – Participação das mulheres em Missão de Paz compondo o efetivo do GptOpFuzNav-Haiti

18 O ANFÍBIO • 2021 2021 • O ANFÍBIO 19


Mulheres no Corpo de Fuzileiros Inserção
de trabalhos em terra (ORICHIO, SANTOS, FILHO,
LOURENÇO, 2012). Dessa maneira, a participação
feminina tornou-se uma opção para a MB. No en-

Navais tanto, a legislação vigente naquela década não


permitia o ingresso de mulheres nas Forças Ar- feminina no
CT (AFN) DÉBORA FERREIRA DE FREITAS SABINO
madas. Nesse contexto, emergiu a necessidade
da criação de uma Lei que pudesse atender esta
demanda e autorizar a entrada das mulheres na
CFN e seus
Força. Assim, a Lei 6807 de 1980 foi aprovada, per-
mitindo a abertura de concurso público para as aspectos
voluntárias que aceitassem esse desafio. Ade-
mais, a Lei criou o Corpo Auxiliar Feminino da Re- relevantes
N
serva (CAFRM) e quebrou paradigmas, auxiliando
no processo de abertura em um ambiente antes
predominantemente masculino. É importante
destacar que 75% das militares formadas na pri- ão temos dúvidas ao afirmar que
meira turma passaram a trabalhar diretamente existem diferenças entre as características fí-
no HNMD (ALMEIDA, 2008). sicas das mulheres e dos homens; porém, não
Após algumas modificações na Legislação, podemos deixar que tais diferenças tornem-se
foi possível que as mulheres tivessem acessos barreiras na busca pela igualdade, pois temos
a todos os Corpos da MB. Dessa forma, a partici- ultrapassado duros exercícios e alcançado lu-
pação feminina teve um incremento significativo gares outrora de domínio masculino. Dessa
em seu efetivo, mesmo que de uma maneira gra- forma, é importante destacar aqui o caminho
dual, no decorrer dos anos. As primeiras militares percorrido pelas mulheres no CFN e ainda os
da MB abriram portas para que mais mulheres aspectos e ganhos relacionados a essa inser-
sonhassem com essa excelente oportunidade. ção feminina.

Introdução A trajetória
D esde o ingresso pioneiro da primeira
turma de militares do sexo feminino na Marinha
das mulheres
na Marinha do
do Brasil (MB), na década de 1980, as mulheres
vêm ganhando espaço em diversos setores da
Força Naval. Neste contexto, este artigo tem
Brasil
I
como objetivo apresentar inicialmente a traje-
tória percorrida pela mulher, com o foco na MB
e, mais especificamente, no Corpo de Fuzileiros
Navais (CFN), e também a perspectiva futura em nicialmente, devemos entender como se
virtude da ampliação da participação feminina deu o ingresso das mulheres na MB. Partindo do
neste setor, incluindo o incentivo internacional pressuposto que na década de 1980 o país passa-
realizado pela Organização das Nações Unidas va por uma mudança social, incluindo o aumento
(ONU) por meio da sua Resolução 1325/2000. da participação feminina no mercado de trabalho
de uma maneira geral, a MB procurava, naquela
época, mão de obra especializada para atender
a demanda do setor administrativo e, principal-
mente, na área da Saúde, devido à inauguração
do Complexo Naval de Saúde (área do atual Hos-
pital Naval Marcílio Dias) devido à necessidade
de suprir a Instituição com recursos humanos
para as Organizações Militares para realização Figura 1 – Na função de músico executante na Banda do CPesFN

20 O ANFÍBIO • 2021 2021 • O ANFÍBIO 21


que agora poderiam optar por qualquer um dos às atividades de risco e às altas funções de co-
Corpos disponíveis, e foi de maneira pioneira que mando e de decisão. (ANDRADA; PERES, 2012)
a Aspirante Helena Monteiro se tornou a primei- Dentro dessas atividades, destacam-se aqui as
ra mulher do CFN oriunda da Escola Naval no tarefas relacionadas ao combate, cujas capaci-
ano de 2021. dades femininas, conforme muitos estudiosos
Ademais, torna-se importante relatar o me- observam, são limitadoras. No entanto, posso
morando do Comandante da Marinha de 2017, o testemunhar que, por meio de um bom preparo
qual versa sobre a inserção das mulheres no se- físico, as mulheres podem alcançar excelentes
tor operativo e sobre as adaptações que deverão resultados quando submetidas aos treinamen-
ser realizadas para que haja um ingresso maior tos de combate exigidos.
de mulheres nesta área específica. Em decor- Por se tratar de um curso que visava a ha-
rência da necessidade da abertura para as mu- bilitar o Oficial Fuzileiro Naval a comandar um
lheres em todos os setores, com o incentivo da Pelotão de Infantaria, o então Curso de Espe-
Organização das Nações Unidas para que mais cialização em Guerra Anfíbia buscava forjar os
mulheres participem de Missões de Paz, tornou- combatentes por meio de várias situações de
-se necessário um trabalho visando ao aumento combate, com o foco no esforço físico. Ade-
significativo de mulheres inseridas nas tropas mais, é necessário também fazer com que o
do CFN, isto é, dentro das Unidades Operativas combatente realize todos os treinamentos com
como combatentes. o equipamento completo para o embate. Dessa
A participação feminina em diversos setores maneira, precisei me adaptar ao peso de mais
oferece a oportunidade para que as mulheres de vinte quilos da mochila, acrescido do peso do
possam demonstrar sua capacidade de deci- equipamento. Como resultado, obtive uma boa
são, autonomia e comando. No entanto, ainda colocação no curso e ainda consegui demons-
Figura 2 – Corrida do CFN em 2015 durante o Curso de Formação de Oficiais existem alguns desafios a serem enfrentados, trar que basta estar preparado para realizar as
principalmente para que tenham pleno acesso atividades de combate, pois as mulheres con-
Desde a formação da primeira turma de mu- realizar o concurso para o Quadro de Oficiais
lheres na MB, é perceptível o avanço da parti- Auxiliares do CFN. Em 2015, fui aprovada para
cipação feminina na Força Naval. Nesse con- realizar o Curso de Formação de Oficiais, tor-
texto se deu o ingresso da primeira turma de nando-se essa a primeira turma de Oficial Fu-
mulheres, no ano de 2001, no CFN, por meio do zileiro Naval do sexo feminino. Essa aprovação
concurso de Sargentos Músicos. Torna-se im- permitiria que mulheres chegassem à função
portante ressaltar que a MB foi a primeira Força de Comandantes de Pelotão de Infantaria, o que
a admitir mulheres em seu quadro de Sargentos realmente aconteceu em 2016, após a realização
Músicos das Forças Armadas Brasileiras. A tur- do Curso de Especialização em Guerra Anfíbia.
ma composta por oito sargentos foi considerada As mulheres agora estavam inseridas de uma
um marco e permitiu que outras mulheres tives- maneira mais intensa no CFN, demonstrando,
sem a experiência de passar pelos treinamentos assim, que a MB incentiva a participação femi-
específicos para a formação dos Sargentos do nina. Dessa maneira, espaços importantes são
CFN. Por meio desse mesmo concurso, eu fui ocupados por mulheres, reafirmando que basta
admitida na MB no ano de 2004, o que me pro- demonstrar as suas habilidades para estarem
porcionou a oportunidade de conhecer o CFN em qualquer lugar que elas almejem.
e participar dos exercícios práticos exigidos ao A participação feminina no CFN foi incremen-
Sargento Fuzileiro Naval. Desde então, percebi tada por meio da Lei 12704/2017, a qual anulou a
que a formação estava cada vez mais equaliza- restrição de sexos, acrescentando assim a par-
da, principalmente no que tange ao tratamento ticipação feminina nos três Corpos ao adentrar
entre homens e mulheres dentro do ambiente na Escola Naval, a Instituição de Ensino Superior
militar naval. Naquele momento, ainda existiam mais antiga do Brasil. A Lei 12704/2012 permitiu
os olhares desconfiados, mas no decorrer do o acesso das mulheres naquela Instituição de
curso, pôde-se demonstrar que não era por ser- Ensino, que inicialmente só ingressavam para
mos mulheres que teríamos algum tratamento compor o Corpo de Intendentes da MB. A Lei
diferenciado. 13451/2017 anulou essa restrição, acrescentando
Ao decorrer da minha carreira, tive algumas assim a participação feminina nos três Corpos.
experiências e oportunidades, dentre elas a de Nesse contexto, deu-se o ingresso de mulheres Figura 3 – Ação CIMIC em conjunto com militares do sexo feminino das Filipinas (MINUSTAH)

22 O ANFÍBIO • 2021 2021 • O ANFÍBIO 23


Referências
com a efetiva implementação da Resolução.
Com o treinamento adequado, mais mulheres
poderão realizar funções específicas, atenden-
do assim a demanda de estender a participação
feminina em todos os níveis e esferas dos pro- Bibliográficas
cessos de prevenção, gestão e construção da
paz. (COSTA, 2018)
ANDRADA, S. A. de; PEREZ, H. M. Mulheres a Bor-
do: 30 anos da mulher militar na Marinha do Bra-
sil. Rio de Janeiro – Hmperes e Associados, 2012.
ALMEIDA, Mariza Ribas d’Ávila de. Característi-
cas do processo decisório sobre o ingresso da
mulher militar na Marinha do Brasil. Rio de Ja-
neiro, 2008
Conclusão BRASIL, Constituição Federal de 1988
BUTLER, A Construção da militar mulher e sua

A
condição de agência na MINUSTHA. São Paulo,
2021.
inserção feminina no CFN contri- COSTA, Major Ivana Mara Ferreira. A presença de
buiu para a transformação do ambiente dentro mulheres militares na MINUSTAH: contexto, ex-
das Organizações Militares e proporcionou um pectativas e repercussões. Doutrina Militar Ter-
novo ponto de vista. No entanto, ainda existe a restre em revista. Jan-Mar/2018
necessidade de dar continuidade ao trabalho já CSNU, Conselho de Segurança das Nações Uni-
Figura 4 – Como Oficial de Assuntos Civis - 25º Contingente do GptOpFuzNav no Haiti em 2017
realizado, visando à conscientização das tropas das, Resolução 1325/2000 de 31 de outubro de
para a inserção das mulheres em todos os níveis, 2000. Disponível em: https://undocs.org
seguem atingir os níveis exigidos para servir no militar. Em razão disso, a Força deverá realizar principalmente no que tange à inserção de mili-
setor operativo. as devidas adaptações para atingir, até 2030, tares do sexo feminino nas Unidades Operativas DANTAS, Stela da Rocha de Medeiros. Mulheres
Após a conclusão do Curso de Especialização 27% de suas tripulações de mulheres, conside- em um futuro próximo. O objetivo é desfazer a vi- e Forças Armadas: uma análise da participação
em Guerra Anfíbia fui designada para participar rado um percentual adequado. são que se tem das mulheres de acordo com os feminina nas Forças Armadas Brasileira. João
do 25º Contingente do GptOpFuzNav no Haiti, no Apesar da Resolução 1325/2000 das Nações estereótipos de fraqueza física e a sua vocação Pessoa, 2018.
qual exerci a função de Oficial de Assuntos Civis Unidas não ter uma ligação direta com a inser- maternal como uma limitação na carreira militar. ORICHIO, Ana Paula; SANTOS, Tânia Cristina; FI-
e de Comunicação Social. Adquiri experiência ção das mulheres na MB e no setor operativo, o (DANTAS, 2018) Logo, este artigo buscou traçar LHO, Antônio J. de; LOURENÇO, Lúcia H.S.C. Mu-
vivenciando na prática com as ações de bus- clamor internacional da participação feminina um esclarecimento sobre a participação femini- lheres para a Marinha do Brasil: Recrutamento e
ca de informações, que futuramente serviriam em todos os setores e a necessidade do envio na na MB e especificamente no CFN, destacando Seleção das primeiras oficiais enfermeiras.
em proveito das missões realizadas na Área de de mulheres militares para as Missões de Paz a relevância dessa abertura e também como foi
Operações do GptOpFuzNav. Naquele momento, sob a égide da ONU culminou na necessidade de ZUCATTO, Giovana. Implementação e desafios à
importante essa ampliação no tocante à questão
observei a grande importância da participação preparar mulheres para as funções de combate Agenda Paz Mulheres e Segurança na América
de integração dentro da Força Naval.
feminina nas Operações de Paz, facilitando a e também para realizar ações relativas à pacifi- do Sul, Horizontes do Sul. 2020
aproximação com a população local, o que, por cação. Ao reconhecer mulheres como agentes
conseguinte, facilitou o processo de manuten- tanto nos conflitos armados, tanto na paz, o do-
ção da paz. cumento prevê ações efetivas sobre perspec-
Para direcionar o ingresso das mulheres, tiva de gênero e reforça a inclusão mandatória
especificamente no setor operativo, a Portaria de mulheres nos componentes militares nas
244/2020 do Comandante da MB foi elaborada Missões da ONU. (ZUCATTO, 2020) Inseridas nes-
para estabelecer as diretrizes para aperfeiçoar se contexto, a MB realiza ações para incentivar
a incorporação e a integração da mulher nos mulheres para participar nas Operações de Paz
meios operativos. A Portaria enfatiza que as em vigor, destacando-se o Estágio de Operações
ações para essa integração sejam fundamen- de Paz para Mulheres, o qual é realizado no Cen-
tadas no princípio de igualdade e não discrimi- tro de Instrução Almirante Sylvio de Camargo e
nação por conta do sexo, respeitando também a também incentiva o ingresso como combaten-
dignidade pessoal e dentro do trabalho de todo tes para que estejam habilitadas a contribuir

24 O ANFÍBIO • 2021 2021 • O ANFÍBIO 25


Introdução
D esde a antiguidade, os melhores guer-
reiros eram os que possuíam os melhores condi-
cionamentos físicos, pois tinham que combater
com suas armaduras e armas, com muito peso
e pouca mobilidade. Os dias de hoje não são di-
ferentes, e as melhores tropas são as que pos-
suem programas de treinamentos desenvolvi-
dos, guiados e cobrados na prática, afinal, como
antigamente, os implementos adaptados ao
corpo do combatente em média aumentam em
15kg o peso do militar sem mochila. Nesse sen-
tido, faz-se necessária a busca e a manutenção
de um bom condicionamento físico para que se
possa efetivamente combater.
Higidez física é o ato de estar em perfei-
to estado de saúde, e alcançar esse primoroso
estado, que é um dos pilares para a condição
de pronto emprego, não é fácil e também não
é de graça. Lembramos então do velho bordão:
“sem dor, sem ganho”. Naturalmente serão gas-
tas muitas energias para tal, porém o ganho em
saúde, qualidade de vida e o pronto emprego
operacional suplantam as dificuldades.
Melhoria na Higidez No século atual, uma nova doença avança
discretamente sobre a população mundial: o se-

do Combatente dentarismo, fruto de um novo estilo de vida da


sociedade na qual a comodidade supera qual-
quer atividade física que se apresente. Hoje vá-
CF (FN) MARCELO CHRISTINO FERREIRA rios aparelhos são elétricos para que o consumi-
dor não realize esforço nos deslocamentos.
CC (FN) EDUARDO HENRIQUE CARDOSO KUWAHARA Passaremos algumas informações que auxi-
CT (T) PEDRO MOREIRA TOURINHO liam na obtenção e na manutenção da higidez
física. Para organizar esse amplo conjunto de
informações, vamos distribuir o conteúdo nos
seguintes tópicos: sedentarismo e seus riscos;
treinamento físico; a importância do TFM no
contexto operativo; e os benefícios da prática de
exercícios físicos.

26 O ANFÍBIO • 2021 2021 • O ANFÍBIO 27


Sedentarismo e Treinamento
dia a dia, como subir a escada de casa ou cami- • colesterol fora dos padrões;
nhar do trabalho para o ponto de ônibus. • Acidente Vascular Cerebral (AVC);
Ainda de acordo com a OMS, 1 em cada 4 • diabetes tipo 2;

seus riscos adultos e 4 em cada 5 adolescentes no mundo


não praticam atividade física dentro do volume
• certos tipos de câncer, como câncer de
cólon, mama e uterino; e físico
O O
esperado (a recomendação é de que adultos fa- • aumento do risco de desenvolver de-
çam de 150 a 300 minutos de atividade aeróbica pressão e ansiedade.
moderada a vigorosa por semana). Justamente Para combater o sedentarismo, é importan-
sedentarismo é considerado uma por isso, a instituição fez um recente alerta so- te tomar algumas medidas, como ir ao médico, termo “treinar” é frequentemente
das piores doenças do século e está associado bre o risco de uma nova pandemia de problemas para que seja feito um check-up geral a fim de utilizado de modo a abranger um vasto leque de
ao comportamento cotidiano e estilo de vida de saúde decorrentes do sedentarismo aumen- identificar a presença de alguma doença e indi- atividades que servem geralmente para preparar
moderna, com longas horas de trabalho, fazendo tado a partir de 2020. car se a pessoa pode ou não praticar determina- alguém para alguma coisa. Treinar por exemplo
com que as pessoas não dediquem tempo para Para que tenhamos um exemplo, os sedentá- das atividades físicas além do volume e inten- corrida foi descrito como uma atuação organi-
atividades esportivas, e as facilidades da tecno- rios chegam a ter um índice de mortalidade três sidade; e procurar um profissional de educação zada que visa a prestar apoio a um indivíduo ou
logia como, por exemplo, controle remoto e es- vezes superior ao de fumantes e também po- física para orientar a atividade de maneira que o grupo de pessoas com o fim de ajudá-los no seu
cadas rolantes. dem ter sua expectativa de vida reduzida. Dessa indivíduo possa aproveitar os seus benefícios de desenvolvimento e aperfeiçoamento. Treinar en-
A Organização Mundial da Saúde (OMS) con- forma, podemos observar que os números não maneira segura. volve instrução, ensino e preparação física, e não
sidera sedentários os indivíduos que não gas- são favoráveis para estas pessoas, que estão ex- Além disso, é importante que a pessoa adote se trata somente de ajudar as pessoas a aprende-
tam pelo menos 2200 quilocalorias (kcal) em postas a diversos riscos, que são, dentre outros: hábitos alimentares mais saudáveis, evitando o rem as habilidades desportivas, mas sim a melho-
qualquer tipo de atividade física ao longo de • obesidade; consumo de alimentos industrializados, refrige- rarem o seu condicionamento físico e o seu nível
uma semana, não necessariamente atividades • doenças cardíacas, incluindo doença ar- rantes e alimentos ricos em açúcar, pois assim competitivo. É também reconhecer, compreen-
em academia ou numa partida de futebol. Nes- terial coronariana e ataque cardíaco; é possível garantir os benefícios dos exercícios. der e dar resposta a outras necessidades físicas.
sa contagem, podem-se considerar os gastos do • pressão alta;
Figura 2 – Treinamento Fisico

Figura 1 – Sedentarismo no Mundo

28 O ANFÍBIO • 2021 2021 • O ANFÍBIO 29


A importância
constatá-la por meio da História. Um exemplo
foi a Batalha de Waterloo, travada entre fran-
ceses, ao comando de Napoleão Bonaparte, e

da higidez física ingleses, ao comando do Duque de Wellington,


na qual este último se sagrou vencedor. Uma

no contexto importante observação do Duque de Wellington


foi que os franceses não foram derrotados so-
mente por um melhor comando, táticos ou pa-
operativo triotismo superior por parte dos ingleses, como
também pela frieza, determinação e procura

U
pela excelência, atributos enaltecidos nas prá-
ticas de jogos e das atividades físicas que eram
uma importante atividade do gentleman inglês,
m dos objetivos da prática regular do que ora encontravam-se em Waterloo coman-
treinamento físico é a obtenção da higidez físi- dando as tropas vitoriosas.
ca dos militares, especialmente para atuarem Ainda sobre o contexto histórico, progra-
Figura 3 – Treinamento em
no contexto operativo, estando em permanente mas de treinamento físicos foram orientados
navio
prontidão para operar a qualquer momento e em para a necessidade física do período específi-
Essas necessidades são numerosas e ocupam iniciais após a sua interrupção. todas as condições climáticas e ambientais, sen- co de cada guerra, e o seu sucesso dependeu
grande parte da vida dos indivíduos, como, por Esse retorno ocorre na mesma velocidade do o seu desleixo fator grave para o cumprimento da quantidade de tempo que foi disponibiliza-
exemplo, as necessidades emocionais e sociais. da aquisição, ou seja, aquilo que se ganhou rapi- da missão institucional das Forças Armadas. do para preparar fisicamente os combatentes
É um processo em longo prazo que é pro- damente é perdido também, ao passo que aqui- Poucos militares são fisicamente aptos para para as condições das batalhas. Muitas vezes,
gressivo e considera as necessidades e as ca- sições realizadas lentamente, em um período os árduos deveres que os aguardam em com- as mortes nos momentos iniciais foram atri-
pacidades individuais da pessoa. O processo prolongado, são mantidas com mais facilidade e bate e as comodidades da civilização moderna, buídas à incapacidade dos combatentes de re-
pode ser planeado e programado porque segue desaparecem com mais lentidão. aliadas às dificuldades de se obter um ótimo sistir fisicamente aos rigores do combate em
determinados princípios do treino. Para elabo- Essa definição de Barbanti remete ao pen- condicionamento, tornam a higidez física ainda terreno acidentado e em condições climáticas
rar um programa de treinamento, dentre todos samento de que, nas fases iniciais de trabalho, mais importante. desfavoráveis. Com uma preparação adequada,
os princípios do treino, três são de fundamental principalmente com novos alunos, a base deve A despeito da importância da higidez física os combatentes sempre suportaram melhor os
importância: ser construída lentamente e com uma grande para a eficiência militar em combate, podemos testes da batalha.
• Princípio da Adaptação; diversidade de gestos motores, incluindo ativi-
• Princípio da Reversibilidade; e dades coordenativas, posturais etc.
• Princípio da Especificidade. Outro princípio importante relacionado ao
Podemos praticar a atividade física em va- processo de treinamento é o chamado princípio
riados locais, como quadras, campos, ruas e da especificidade. Sobre ele, Dantas afirma que:
compartimentos; basta saber adaptar o tipo de
atividade para o local a ser praticado. Nos dias o princípio da especificidade é aquele que impõe,
como ponto essencial, que o treinamento deve
atuais, a falta de um local ideal não serve como
ser montado sobre os requisitos específicos da
desculpa para a falta ou ausência de atividade performance desportiva, em termos de qualida-
física. Existem variados materiais para auxi- de física interveniente, sistema energético pre-
liar no desenvolvimento da prática, como cone, ponderante, segmento corporal e coordenações
corda, cabo de vassoura, bola dentre outros. Até psicomotoras utilizados (DANTAS, 1995).
mesmo o próprio peso corporal pode ser utiliza-
do para o desenvolvimento da prática da ativi- De acordo com esse princípio, o treinamen-
dade física. to deve se desenvolver principalmente sobre os
O princípio da reversibilidade guarda a se- sistemas do organismo que predominam na ati-
guinte ideia: “o que não se usa, perde-se”. Se- vidade realizada pelo atleta, ou seja, nos espor-
gundo Barbanti (2010), esse princípio assegura tes de resistência, a capacidade aeróbia é a que
que as alterações corporais obtidas com o trei- prevalece em aproximadamente 90% do tempo,
namento físico sejam de natureza transitória. enquanto os 10% restantes pertencem aos ou-
Assim, as mudanças funcionais, morfológicas tros sistemas. Em outras palavras: o conteúdo
e de desempenho das capacidades físicas ad- específico da carga de treino produz adaptações
quiridas com o treinamento retornam aos níveis específicas. Figura 4 – Batalha de Waterloo

30 O ANFÍBIO • 2021 2021 • O ANFÍBIO 31


Benefícios
Durante a Segunda Guerra Mundial, foi in- ter uma ênfase maior apenas no período de isso, as lições dispendiosas das experiências
troduzida a primeira doutrina de condiciona- guerra. Devido a essa filosofia, a prontidão físi- militares ao longo de um período de anos e o
mento físico justificada cientificamente. À ca acabou sendo relegada para uma importân- curso de várias guerras levaram a um crescen-
medida que a guerra progrediu, esse programa
mostrou-se efetivo no condicionamento físico
cia secundária, o que resultou em uma redução
séria da eficácia do combate, refletindo-se na
te interesse no condicionamento físico do mi-
litar. Já não se pode dar ao luxo de enfatizar a da prática de
de milhões de militares para o combate através
do aperfeiçoamento da sua higidez física.
Após a Segunda Guerra, seguiu-se um perío-
Guerra da Coreia. As ações pouco sucedidas
dos fuzileiros navais americanos nessa guerra,
junto com o alistamento de militares da reser-
higidez física durante o tempo de guerra e de
não enfatizá-la durante o tempo de paz. É evi-
dente que, apesar do aumento da tecnologia
exercícios
do de consolidação da doutrina da preparação
física e alguns líderes deixaram de enfatizar o
va sem a devida preparação física, mostraram
dramaticamente essa falha em reconhecer as
das armas modernas, a higidez física mantém
um lugar primordial na vida de cada militar. físicos:
O
treinamento físico por achar que este deveria exigências físicas extremas do combate. Com
Figura 5 – Preparação em tempos de paz

conhecimento acerca dos benefícios


que uma vida mais ativa pode gerar está há al-
gum tempo disponível para toda a sociedade. De
acordo com Oliveira e colaboradores, a literatura
evidencia que a prática de atividade física rela-
cionada à saúde está registrada na era das civi-
lizações egípcia, macedônica, grega e romana,
com contribuições de médicos como Hipócrates,
Heródicus e Galeno. Contudo, muitos indivíduos
ainda negligenciam a prática de exercícios físi-
cos, forma planejada da atividade física. Tal com-
portamento impede, infelizmente, o aproveita-
mento dos inúmeros benefícios potenciais.
Fato importante nos dias atuais é que, mais
do que conhecer o benefício de uma rotina de
exercícios regulares, a sociedade vem destinan-
do mais espaço para a discussão deste assunto
quando o tema é a promoção da saúde e a pre-
venção de doenças. Sendo assim, há que se lis-
tar os principais motivos/benefícios do exercício
físico regular.
Segundo o Colégio Americano de Medicina do
Esporte, a prática de exercícios físicos é inversa-
mente proporcional ao risco de morte prematu-
ra por diversas enfermidades, especialmente as
doenças cardiovasculares.
Estudos também demonstram que o exer-
cício é um importante aliado no controle da
pressão arterial. As diversas adaptações hemo-
dinâmicas induzidas por ele influenciam direta-
mente o sistema cardiovascular, e a diminuição
da pressão arterial em repouso se constitui em
um importante marcador da saúde. Este fenô-
meno pode inclusive auxiliar pacientes hiper-
tensos a reduzir a dosagem de farmacológicos,
substituindo-os por atividade física.
Quanto ao controle de peso, o metabolismo
da gordura corporal induzido pelo exercício per-
mite um menor acúmulo dessa substância no
organismo, especialmente a perigosa gordura
32 O ANFÍBIO • 2021 2021 • O ANFÍBIO 33
Referências
intra-abdominal. Além disso, um outro benefí- ou indiretamente, das qualidades físicas adqui- Virginia, 1988.
cio é o aumento do chamado colesterol bom, o ridas no treinamento físico. A melhoria da apti- Keegan, John. A face da batalha. Rio de Janeiro.
HDL. Já no metabolismo da glicose, o exercício dão física contribui para o aumento significativo Biblioteca do Exército Editora. 2000.
pode reduzir a sua concentração sanguínea,
combatendo assim o desenvolvimento de uma
da prontidão dos militares para o combate. Além
disso, é importante ressaltar que indivíduos ap- Bibliográficas Carlos A. da Silva, Walter C. de Lima. Efeito Be-
néfico do Exercício Físico no Controle Metabóli-
possível diabetes tipo 2. tos fisicamente possuem elevados níveis de au- co do Diabetes Mellitus Tipo 2 à Curto Prazo. Arq
Estudos também relacionam o exercício a toconfiança e motivação. Ou seja, militares bem Diretrizes do American College of Sport’s Me-
dicine para Testes de Esforço e Prescrição do Bras Endocrinol Metab 46 (5)-2002.
uma redução dos níveis de ansiedade e estres- preparados fisicamente têm mais condições de
Exercício Físico – 10ª Ed. - 2018 World Health Organization. (2020). WHO guideli-
se. Em uma profissão como a dos militares, suportar o estresse extremo do combate.
Nazaré Oliveira, Eliany, Aguiar, Rômulo Carlos nes on phisical activity and sedentary behaviour.
onde os indivíduos podem se encontrar em si- Assim, ao melhorarmos nosso condiciona-
de, Oliveira de Almeida, Maria Tereza, Cordeiro World Health Organization. https://apps.who.int/
tuações de risco ou com o afastamento prolon- mento físico, além de todos os benefícios ante- iris/handle/10665/336656.
gado da família, esse efeito na saúde mental riormente mencionados, estaremos cumprindo o Eloia, Sara, Queiroz Lira, Tâmia. Benefícios da
possui grande relevância. Art. 28 do item VI do Estatuto dos Militares e a Atividade Física para Saúde Mental. Saúde Co- Harald Müller, Wolfgang Ritzdort. Guia IAAF do
letiva. 2011, 8(50), 126-130. ISSN: 1806-3365. Dis- Ensino de Atletismo Corre! Salta! Lança! Asso-
Também é necessário evidenciar os bene- Política de Educação Física e Desportos da Ma-
ponivel em: https://www.redalyc.org/articulo. ciacion Internacional of Athletics Federations.
fícios do condicionamento físico, que ocorrem rinha do Brasil (MB), alinhada com a visão de fu- oa?id=84217984006 2002.
acompanhados dos marcadores de saúde e são turo do Setor CGCFN, que visa a contribuir para
igualmente importantes, na medida em que a atuação e o emprego operacional da MB como M Rondon, PC Brum. Exercício físico como trata- Dantas, Estélio H. M. A Prática da Preparação Fí-
são fundamentais para a funcionalidade no dia uma Instituição Militar por excelência, com com- mento não farmacológico da hipertensão arte- sica. 3ª edição. Rio de Janeiro: Shape, 1995.
rial- Rev Bras Hipertens, 2003
a dia. Um programa estruturado de exercícios ponentes muito bem preparados física e mental- Valdir J. Barbanti. Treinamento de força com
físicos proporciona uma melhor condição car- mente para suportar as agruras do combate. Estados Unidos. Marine Corps. MCRP 8-10B.4: bola: estabilidade total e exercícios com medici-
diorrespiratória, por meio do aumento da efi- Marine physical readiness training for combat. ne ball. 2ª Edição. Barueri(SP). Manole, 2010.
Figura 6 – Militares bem preparados
ciência da musculatura cardíaca e do consumo
de oxigênio. No desenvolvimento muscular, há
aumento de força, potência, resistência muscu-
lar localizada, agilidade etc., todas capacidades
fundamentais na profissão militar, por exemplo.
Sabendo-se os principais benefícios do exer-
cício físico, é de suma importância mencionar
que eles são percebidos com a prática regular, e
não esporádica. Dessa forma, a dose mínima re-
comendada pelo Colégio Americano de Medicina
do Esporte é de 150 minutos semanais de ativida-
des moderadas, divididas em 5 dias, ou 75 minu-
tos de atividades vigorosas divididas em 3 dias.

Conclusão
Após as singelas orientações acima, pode-
mos nos certificar de que os exercícios físicos
modulam o Sistema Nervoso Central, aumen-
tando nossa capacidade de fazer novas cone-
xões (plasticidade neural), inibindo impulsos,
contribuindo com criatividade, empatia, regula-
ção emocional, além de aumentar indicadores
de inteligência e de planejamento.
Dessa forma, a condição física do militar é
essencial para a manutenção da saúde, a efi-
ciência do seu desempenho profissional e da
funcionalidade em combate. A tomada de deci-
são diante de imprevistos e a segurança da pró-
pria vida dependem, em muitas situações, direta

34 O ANFÍBIO • 2021 2021 • O ANFÍBIO 35


Itinerário Formativo no
Corpo de Fuzileiros Navais
CF (FN) ÁLVARO TADEU RIBEIRO
CC (FN) THIAGO ANDRÉ XIMENES ALMEIDA

36 O ANFÍBIO • 2021 2021 • O ANFÍBIO 37


Introdução Itinerário
F ruto da evolução humana, surgem ne-
cessidades diversas, algumas das quais resul-
formativo
no Corpo de
tam em problemas contemporâneos que exigem
algum tipo de solução, seja ela tecnológica – que
envolve o desenvolvimento de ferramentas – ou
Fuzileiros
mesmo de reorganização do pensamento. Para
que se possa dar respostas adequadas e oportu-
nas a tais problemas, é necessário que haja pes-
Navais
soas devidamente capacitadas, de forma consis-
tente e adaptável. Oficiais
Itinerário
formativo O Oficial do CFN pode ser oriundo da

P
Escola Naval (EN) ou do Curso de Formação de
Oficiais (CFO). Entretanto, todos têm a carreira
pautada pelos mesmos cursos de carreira, e se-
ara a Marinha do Brasil, vocaciona- guem o mesmo itinerário formativo, o qual, de Figura 2 – Itinerário Formativo Oficiais CFN
da para a formação de homens e mulheres que forma similar às Praças, pode ser aprimorado
atuarão para garantir a nobre missão de defen- com a realização dos Cursos Complementares co, sendo esse último executado para aprofun- Há, ainda, para o Oficial do CFN, a possibili-
der a Pátria, a expressão “itinerário formativo” (BRASIL, 2019c). Quando o militar é nomeado ao dar os estudos em áreas de interesse para a For- dade de conduzir a sua carreira por meio de uma
representa a formação básica de ensino que é posto de 2º Tenente, o primeiro curso do itine- ça Naval. O módulo operativo do C-ApA-CFN SP vertente mais acadêmica, através da realização
proposta para cada militar desde o seu ingresso rário formativo do Oficial é o Curso de Aperfei- foca, principalmente, nos conhecimentos dou- de cursos de Pós-Graduação. Atualmente, além
na Força até a sua última capacitação de carreira çoamento de Guerra Anfíbia e Expedicionária trinários para o exercício operativo de cargos e dos Cursos de Qualificação Técnica Especial
realizada, seja como Oficial ou Praça. Essa for- (C-Ap-GAnfE), que visa atualizar e ampliar os funções em Estados-Maiores de Unidade (Nível (C-QTE), existe a possibilidade de realizar Mes-
mação básica, em virtude das transformações conhecimentos de todos os Oficiais Fuzileiros Batalhão) e Grupamentos Operativos de Fuzilei- trado Profissional, de forma a aprofundar os
e evoluções necessárias no sistema de ensino Navais para o exercício das funções de caráter ros Navais (GptOpFuzNav) até o nível de Unidade conhecimentos adquiridos no C-ApA-CFN SP, a
e dentro de uma trilha de aprendizagem (BRA- operativo até o nível de Subunidade (BRASIL, Anfíbia (UAnf), e tem ênfase no caráter expedi- partir do Programa de Pós-Graduação em Estu-
SIL, 2018b), poderá ser suplementada, de modo 2019b). Após o C-Ap-GanfE, uma pequena parce- cionário das Forças de Fuzileiros Navais, visando
a atender às necessidades e aos interesses da la dos Tenentes conta ainda com a possibilidade adequar a capacitação à velocidade da evolução
Administração Naval, sendo efetivada por meio de optar pela Aviação Naval, por meio da reali- da doutrina militar no nível tático de condução
de cursos especiais e expeditos, resultando des- zação do Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais da guerra. O módulo acadêmico, por outro lado,
ta forma no incremento do itinerário formativo Aviadores (CAAVO). é conduzido segundo três linhas de pesquisa:
(AGUIAR; DOPCKE; MENDONÇA, 2018). Em seguida, é realizado o Curso de Aperfeiçoa- Estratégia e Relações Internacionais; Gestão de
mento Avançado de Oficiais do Corpo de Fuzileiros Sistemas Complexos; e Desempenho do Com-
Navais Semipresencial (C-ApA-CFN SP), destina- batente. Ainda como Capitão-Tenente, o Oficial
do ao aprimoramento operativo nos assuntos afe- FN realiza o Curso de Estado-Maior para Oficiais
tos ao seguimento do estado da arte em termos Intermediários (C-EMOI), proposto a preparar os
de planejamento militar e aprimoramento cien- militares dessa faixa de antiguidade para o de-
tífico nas áreas de interesse da Administração sempenho de comissões de caráter operativo e
Naval (BRASIL, 2019a). É realizado no último ano administrativo com ênfase no Planejamento de
do posto de 1º Tenente, em sua fase a distância, e Operações Navais (BRASIL, 2021b), com foco em
no primeiro ano de Capitão-Tenente, em sua fase trabalho de Estado-Maior. Figura 3 – C-Ap-GAnfE realizando Exercícios no
presencial. O curso possui também uma exten- Terreno (ET)
são no nível de pós-graduação, e é implementado
Figura 1 – C-Ap-GAnfE em adestramento com
em dois módulos: um operativo e outro acadêmi-
CLAnf

38 O ANFÍBIO • 2021 2021 • O ANFÍBIO 39


dos Marítimos (PPGEM), do Centro de Estudos fíbios e o aprestamento inicial para a assunção
Políticos-Estratégicos (CEPE-MB), na EGN; e do das funções inerentes às graduações inaugurais
Programa de Pós-Graduação em Desempenho da carreira (BRASIL, 2021d). Como requisito para
Humano Operacional, da Universidade da Força galgar uma nova graduação na carreira, é neces-
Aérea (UNIFA), no CEFAN. sário para o soldado (SD) Fuzileiro Naval (FN)
O Curso de Estado-Maior para Oficiais Su- realizar o Curso de Especialização (C-Espc), que
periores (C-EMOS) e o Curso Superior (C-Sup), tem a finalidade de habilitar os militares, aprova-
ademais, são realizados pelo Oficial já no posto dos em processo seletivo interno, para o cumpri-
de Capitão de Corveta e ampliam o seu conheci- mento de tarefas operativas e profissionais nas
mento operativo e administrativo, objetivando o quais seja necessária a aplicação de conheci-
exercício em funções de Estado-Maior e Asses- mentos e técnicas específicas de combate anfí-
soria de alto nível, com destaque nas doutrinas bio. Observe-se que, ao realizar a seleção para a
e estruturas operativas e administrativas da MB Especialização, o SD preenche uma lista de op-
(BRASIL, 2021c). O Curso de Política e Estraté- ções referentes às especialidades nas quais tem
gia Marítimas (C-PEM), realizado pelo Oficial no interesse em se capacitar, que são, atualmente,
posto de Capitão de Mar e Guerra, é destinado à as seguintes: Infantaria, Comunicações Navais,
qualificação do Oficial e visando ao exercício de Artilharia, Eletrônica, Engenharia, Enfermagem,
cargos da Alta Administração Naval, represen- Aviônica, Estruturas e Metalurgia de Aviação,
tando o último curso do itinerário formativo do Motores de Aviação, Manobras e Equipagem de
Oficial do CFN. Aviação, Motores e Máquinas, Corneta e Tambor,
Blindados e Escrita e Fazenda (BRASIL, 2012).
Após concluir com aproveitamento o C-Espc, o
Praças SD é considerado uma praça especializada; as-
sim, será elevado à graduação de Cabo Fuzileiro
Figura 5 – Instrução de medidas práticas de Embarque e Desembarque em Viatura Blindada realizado
pelo Curso de Especialização - 2021
A Praça do CFN tem a sua porta de entrada Naval e terá o seu itinerário formativo apoiado
para a MB ao realizar o Curso de Formação de na especialidade conquistada. O Curso Espe- e uma gama maior de disciplinas . Ressalte-se, Adicionalmente, a fim de incrementar o co-
Soldados Fuzileiros Navais (C-FSD-FN) após cial de Habilitação para Promoção a Sargento ainda, o Curso de Formação de Sargento Músi- nhecimento alcançado nos cursos de carreira
aprovação em processo seletivo de admissão, (C-Esp-HabSG), por sua vez, visa a preparar os co (C-FSG-MU) — com currículo similar ao do das Praças do CFN, são realizados Cursos Com-
dentro das vagas disponíveis. O referido curso Cabos do CFN para o exercício das funções pecu- C-Esp-HabSG, realizado com candidatos oriun- plementares, destinados ao preparo das Praças
de Formação tem como finalidade a preparação liares aos graus hierárquicos iniciais da gradua- dos do meio civil, após aprovação em concurso para o exercício de atividades que requerem co-
militar-naval básica dos novos combatentes an- ção de Sargento, e possui conteúdo mais denso público e prévio conhecimento de instrumento nhecimentos técnico-profissionais não aborda-
musical de interesse para o CFN. A seguir, têm- dos ou adquiridos de forma superficial nos cur-
-se os Cursos de Aperfeiçoamento (C-Ap), que sos de carreira. São considerados como cursos
objetivam de um modo geral atualizar e ampliar complementares os Cursos de Qualificação Téc-
o conhecimento das praças especialistas para nica Especial (C-QTE); Cursos Especiais (C-Esp),
a execução das tarefas técnico-profissionais, e exceto os Cursos Especiais de Habilitação para
são realizados por todos os Sargentos no pri- Promoção; Cursos Expeditos (C-Exp); e os Cur-
meiro ano da graduação, conforme podemos sos Extraordinários (C-Ext). Os cursos supracita-
observar no Plano de Carreira de Praças Fuzi- dos têm suas peculiaridades e podem ser reali-
leiros Navais. Já o Curso Especial de Habilitação zados pelas Praças do CFN, a depender das suas
para Promoção a Suboficial (C-Esp-HabSO) tem especialidades, graduação e da necessidade da
como função avivar a formação militar-naval capacitação para a MB. Por fim, fruto da neces-
dos 1° Sargentos Fuzileiros Navais e permite sidade contínua de aperfeiçoamento, existe ain-
prepará-los para o exercício da liderança nas da estudo em andamento quanto à possibilidade
próximas funções assumidas. O último curso, de criação do Curso de Aperfeiçoamento Avan-
realizado pelas Praças que se destacam entre çado para Praças do CFN (C-ApA-CFN), que será
os seus pares, é o Curso de Assessoria em Es- realizado para capacitar as Praças visando su-
tado-Maior para Suboficiais Fuzileiros Navais prir lacunas de conhecimento identificadas nas
(C-ASEMSO-FN), que é destinado a habilitar os várias Organizações Militares da MB.
referidos militares para o exercício das funções
definidas no escopo da nomenclatura do Curso
Figura 4 – Itinerário Formativo Praças CFN (BRASIL, 2021a).

40 O ANFÍBIO • 2021 2021 • O ANFÍBIO 41


Considerações
_______. Diretoria de Ensino da Marinha. Currí-
culo [do] Curso de Aperfeiçoamento de Guerra
Anfíbia e Expedicionária (C-Ap-GAnfE). Rio de
Finais Janeiro: DEnsM, 2019b.

O
_______. Diretoria de Ensino da Marinha. Currí-
culo [do] Curso de Assessoria em Estado-Maior
para Suboficiais Fuzileiros Navais (C-ASEMSO-
s itinerários formativos do Corpo de -FN). Rio de Janeiro: DEnsM, 2021a.
Fuzileiros Navais podem ser compreendidos
_______. Diretoria de Ensino da Marinha. Currí-
como um roteiro de capacitação voltado para
culo [do] Curso de Estado-Maior para Oficiais
a formação continuada e segura dos militares
Intermediários (C-EMOI). Rio de Janeiro: DEnsM,
combatentes. Em outros termos, é a descrição
2021b.
de percursos formativos que um militar poderá
cursar, possibilitando sua qualificação para fins _______. Diretoria de Ensino da Marinha. Currí-
de prosseguimento de estudos ou inserção no culo [do] Curso de Estado-Maior para Oficiais
mundo do trabalho e exercício profissional. Superiores (C-EMOS). Rio de Janeiro: DEnsM,
De certo, os itinerários devem ser organiza- 2021c.
dos de forma intencional e sistemática, estru- _______. Diretoria de Ensino da Marinha. Currí-
turando ofertas educacionais que possibilitem culo [do] Curso de Formação de Soldados Fuzi-
ao militar uma trajetória de formação coesa e leiros Navais (C-FSD-FN). Rio de Janeiro: DEnsM,
contínua, capaz de orientar o aprofundamento 2021d.
de aprendizagens e o desenvolvimento de ha-
bilidades que assegurem o enfrentamento das ________. Plano de Carreira de Oficiais da Mari-
inúmeras problemáticas contemporâneas. Des- nha (PCOM). 9ª Revisão. Comandante da Mari-
ta forma, o itinerário formativo mostra-se como nha, Brasília-DF. 2019c.
uma ferramenta, que, se bem utilizada, pode _______. Plano de Carreira de Praças da Marinha
contribuir para a excelência na qualificação e no (PCPM). 1ª Revisão. Comandante da Marinha,
desenvolvimento de competências no CFN. Brasília-DF. 2012.
BRASIL. Ministério da Educação. Portaria nº

Referências 1.432, de 28 de dezembro de 2018. Estabelece


os referenciais para elaboração dos itinerários

Bibliográficas
formativos conforme preveem as Diretrizes
Nacionais do Ensino Médio. Brasília-DF. 2018b.
Disponível em: <https://www.in.gov.br/mate-
BRASIL. Marinha do Brasil. Diretoria-Geral do ria/-/asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/
Pessoal da Marinha. DGPM-101 - Normas para o id/70268199> Acesso em: 14 jul. 2021.
Sistema de Ensino Naval (SEN) -. 8ª Revisão. Rio MENDONÇA, Luiza de S. F.; AGUIAR, Natália M.
de Janeiro: DGPM, 2018a. C. B.; DOPCKE, Rosa Neira. Sistema de Ensino
_______. Diretoria de Ensino da Marinha. Currícu- Naval: uma experiência na prática do ensino por
lo [do] Curso de Aperfeiçoamento Avançado de competências. Rio de Janeiro, Revista Marítima
Oficiais do Corpo de Fuzileiros Navais (C-ApA-C- Brasileira (RMB) , v.10, n. 30, p. 638-660, set./dez.
FN). Rio de Janeiro: DEnsM, 2019a. 2018.

42 O ANFÍBIO • 2021 2021 • O ANFÍBIO 43


PROADSUMUS:
Em tal contexto, deve-se considerar que a
análise de cenários prospectivos indica ser cada
vez mais fundamental a existência de forças

Criação e de pronto emprego, com permanente prontidão


operacional e capacidade de projeção de poder

Propósitos nas áreas de interesse estratégico do País, para


atender a uma extensa gama de demandas ope-

O
racionais. Nesse diapasão, o CFN de hoje já pos-
sui inegável valor estratégico, fruto das capaci-
dades e características desenvolvidas ao longo
Poder Naval, parte integrante e indis- de sua história. Uma força estratégica deve pos-
sociável do Poder Nacional, deve estar em con- suir estruturas flexíveis e versáteis, ser dotada
dições de aproveitar as oportunidades de apli- de grande mobilidade estratégica e ter capaci-
cação da Diplomacia Naval e de atuar na defesa dade de pronta resposta em situações nas quais
da soberania, do patrimônio e dos interesses na- a rapidez e a oportunidade constituam fatores
cionais. A partir de sua Identidade Estratégica e preponderantes para seu emprego, dentro ou
seus Objetivos Navais, e estabelecidas as res- fora do território nacional.
pectivas Estratégias Navais e Ações Estratégi- Nesse sentido, os Grupamentos Operativos
cas Navais (AEN) necessárias para alcançá-los, de Fuzileiros Navais (GptOpFuzNav), por se tra-
advém a necessidade da MB de desenvolver um tarem de forças anfíbias, expedicionárias e le-
conjunto de capacidades para constituir-se em ves, necessitam de sistemas de combate com
uma Força moderna, aprestada e motivada, com- alta confiabilidade, atendendo a estritos requi-
posta por meios, pessoal e material compatíveis sitos operacionais e preferencialmente já testa-
PROADSUMUS 2021-2040: com os desafios identificados ao longo do seu
processo de planejamento estratégico. Assim,
dos por outras Forças Armadas.
A sistemática dos programas estratégicos

Perspectivas para o Poder de conforme o Plano Estratégico da Marinha (PEM


2040), a MB organiza as suas necessidades em
está alinhada às melhores práticas de gover-
nança e gestão de recursos públicos, contri-

Combate do CFN
Programas Estratégicos. buindo para a eficiência do investimento es-

CMG (FN) LEONEL MARIANO DA SILVA JÚNIOR


CMG (FN) JOSÉ MAURO LOURENÇO JUNIOR
CF (FN) TELMO MOREIRA LEITE JÚNIOR

Figura 1 – Fuzileiros Navais realizam Movimento Navio-para-Terra a bordo de Carros Lagarta Anfíbios

44 O ANFÍBIO • 2021 O ANFÍBIO • 2021 45


tatal e o desenvolvimento da área de Defesa. deveu à existência de muitas similaridades en- Sendo assim, em fevereiro de 2020, foi de- riormente por aqueles Conselhos, passaram a
Nesse sentido, sete programas estratégicos da tre os materiais no escopo dos então PROBANF, cidida, pelo Comandante da Marinha (CM), a ser submetas do PROADSUMUS.
MB foram concebidos. Um deles é o Programa PRORIB e PROGPTFN, bem como à necessidade unificação do PROBANF, PRORIB e PROGPTFN Nesse contexto, considerando que o PEM
de Construção do Núcleo do Poder Naval, que de se priorizar, à luz das necessidades operati- no novo Subprograma de Meios de Fuzileiros 2040 traçou metas para a Marinha alcançar até
inclui subprogramas e projetos relacionados à vas e das restrições orçamentárias, a obtenção Navais, cujo acrônimo PROADSUMUS, idealiza- o citado ano, o PROADSUMUS foi então planeja-
obtenção de meios, como o Programa de Sub- de meios para manutenção e/ou incorporação do pelo Almirante de Esquadra Ilques Barbosa do para, no período de 2021 a 2040, restabelecer e
marinos (PROSUB), o Programa de Obtenção das de novas capacidades ao CFN, em um horizonte Junior, então Comandante da Marinha, home- ampliar capacidades da Brigada Anfíbia, nuclea-
Fragatas Classe Tamandaré (PFCT), o Progra- temporal de longo prazo. nageia o lema dos fuzileiros navais. Com isso, o da na Força de Fuzileiros da Esquadra (FFE), bem
ma de Obtenção de Meios Hidroceanográficos Em que pese as obtenções de meios realiza- PROADSUMUS permitiu à MB posicionar, no rol como dos Batalhões de Operações Ribeirinhas
(PROHIDRO) e os subprogramas relacionados à das na última década – como novos Carros La- de seus programas estratégicos, o incremento e e Grupamentos de Fuzileiros Navais. Isso possi-
manutenção e à consolidação do poder de com- garta Anfíbios (CLAnf), Sistema Integrado de Co- a manutenção do poder de combate do CFN no bilitará, assim, alinhar as viaturas e sistemas de
bate do CFN, visando a aumentar a capacidade mando e Controle para a MB (SIC2MB), Sistemas mesmo nível, por exemplo, dos citados PROSUB armas e de comando e controle do CFN ao esta-
operacional da MB para o atendimento de sua de Lançadores Múltiplos de Foguetes ASTROS e e PFCT, no âmbito da Construção do Núcleo do do da arte do material militar, dentro das dispo-
missão constitucional. Até o início de 2020, fa- Sistemas de Aeronaves Remotamente Pilotadas Poder Naval. Em setembro de 2020, por ocasião nibilidades orçamentárias. A partir de 2041, man-
ziam parte deste Programa três Subprogramas (SARP) FT-100 HORUS, além de viaturas, equipa- do lançamento do novo PEM 2040, ratificou-se tendo seu caráter de Subprograma Estratégico,
atinentes ao CFN para consolidação da Brigada mentos e equipagens diversas – terem prestado esse novo posicionamento, com a inclusão no o PROADSUMUS terá seu planejamento voltado
Anfíbia do Rio de Janeiro (PROBANF), dos Bata- inestimável contribuição para a manutenção do Plano da AEN FORÇA NAVAL – 7: “Garantir o po- para a manutenção das capacidades do CFN no
lhões de Operações Ribeirinhas (PRORIB) e dos poder de combate do CFN e de seu caráter naval, der de combate necessário para o emprego do nível alcançado, além de ampliá-las conforme
Grupamentos de Fuzileiros Navais Distritais anfíbio e expedicionário por excelência, cons- Poder Naval por meio da aquisição de material necessário, de acordo com a evolução da tecno-
(PROGPTFN). tatou-se que tiveram caráter “episódico”, não para atendimento da Dotação do Corpo de Fuzi- logia militar. O subprograma contempla, ainda,
No entanto, mesmo com a existência desses inseridos em um conjunto de metas. Dessa for- leiros Navais (PROADSUMUS)”. projetos de criação de unidades e de construção,
Subprogramas, foi verificada pela Alta Adminis- ma, mostrou-se conveniente uma unificação do Ao final de 2020, essa reestruturação foi re- ampliação e modernização de instalações.
tração Naval, no início de 2020, a necessidade de planejamento, para que a destinação de recur- fletida também na Gestão Estratégica da MB, Este artigo irá apresentar as perspectivas do
uma abordagem única, sistêmica e com planeja- sos para a obtenção de novos meios de fuzileiros com o PROADSUMUS passando a ser conside- PROADSUMUS no que tange à evolução do poder
mento de longo prazo para os meios operativos navais contasse com prioridades estabelecidas rado, em reuniões do Conselho do Plano Diretor de combate do CFN, a partir da constante análi-
de todas as unidades do CFN. Tal conclusão se mediante criteriosa análise. ou do Conselho Financeiro e Administrativo da se efetuada pelo Comando-Geral do CFN, abran-
Marinha, uma única Meta Prioritária da Marinha gendo a atualização do inventário de material a
(MPM) do tipo programa, gerenciada pelo CGCFN. ser empregado pelos diversos GptOpFuzNav, bem
As diversas metas financeiras, relacionadas aos como reestruturações, adequações ou constru-
meios de fuzileiros navais ou às instalações das ções julgadas convenientes para as Organiza-
unidades operativas do CFN, já aprovadas ante- ções Militares operativas do CFN.

Figura 2 – Novos CLAnf no Batalhão de Viaturas Figura 3 – Representação das capacidades do


Anfíbias SIC2MB

Figura 4 – Viatura Lançadora Múltipla Universal Figura 5 – SARP FT-100 HORUS


ASTROS
46 O ANFÍBIO • 2021 2021 • O ANFÍBIO 47
Perspectivas para o Material do CFN • Viaturas Pesadas UNIMOG
Em 24 de novembro de 2020, formalizou-se
a compra, junto à Daimler Truck AG alemã, de
Metas Previstas noventa caminhões UNIMOG 5000, veículos “no
estado da arte” militar e apropriados a opera-

C
ções em qualquer terreno, sendo especialmente
indicados para as operações anfíbias. Os lotes
om a abordagem sistêmica e de substituir meios prioritários, com vida útil a se anuais, incluindo veículos de transporte não es-
planejamento a longo prazo visualizada para encerrar nesse período. Em todos os contratos, pecializado, Munck, cisternas de água e combus-
o PROADSUMUS, ocorreu, no início de 2020, a o CMatFN sempre buscará atender aos precei- tível, frigoríficas e basculantes, serão recebidos
alocação inicial de recursos ao Subprograma, tos da melhor Gestão de Ciclo de Vida dos no- de 2021 a 2027. Dessa forma, serão substituídas
permitindo ao Comando do Material de Fuzi- vos meios, para garantir-lhes a sustentação da as atuais viaturas UNIMOG 2000, que estão no
leiros Navais (CMatFN) delinear as necessi- capacidade operacional ao longo de suas vidas acervo da Força de Fuzileiros da Esquadra (FFE)
dades e firmar os contratos necessários para úteis. Para tanto, serão previstos cursos para desde 2000. Figura 7 – Viatura UNIMOG 5000
a obtenção dos meios visualizados, sempre a operação e manutenção dos meios, sobres-
com os indispensáveis apoios do Setor Opera- salentes, ferramentais, instalações ou outros
tivo e dos Comandos do Pessoal de Fuzileiros
Navais e do Desenvolvimento Doutrinário do
itens de infraestrutura necessários.
Com os recursos ora alocados ao PROADSUMUS,
• Sistemas de Armas Leves (SAL)
CFN, no âmbito do Setor CGCFN. Desta forma, há uma diversa gama de equipagens e equipamen-
alguns contratos já se concretizaram ou es- tos cuja obtenção está encaminhada para manu- O CMatFN negocia a obtenção de diversos arma, equipamentos de aquisição de alvos (óp-
tão em fase final de negociação. Além disso, tenção do acervo operativo do CFN, em plena SAL, compostos de fuzis de assalto e de preci- ticos e optrônicos), acessórios (ex.: punho, ban-
já existem submetas do PROADSUMUS com condição de emprego. A seguir, serão listados são, metralhadoras, morteiros e armas anticar- doleira, bipé, trilhos etc.) e a variedade de mu-
recursos aprovados a médio/longo prazo, para os itens de maior vulto já previstos: ro (mísseis e lança-rojões), a fim de manter a nições que podem ser utilizadas. Entre os SAL
prontidão e capacidade expedicionária do CFN. cuja obtenção foi planejada no PROADSUMUS,
Os SAL são constituídos pela integração da destacam-se:
• Viaturas Blindadas Leves Sobre
a) Morteiros Médios de 81 mm e Leves de 60 mm
Rodas 4x4
Estão sendo prospectadas soluções, no mer-
Em 05 de outubro de 2020, foi celebrado, junto mento sendo entregue às Forças Armadas dos cado nacional e exterior, de sistemas que pos-
ao Governo dos EUA, um contrato para a obten- EUA, e que incorpora elevados ganhos tecnoló- suam a capacidade de emprego das munições
ção, por Foreign Military Sale (FMS), de um sis- gicos, para atender às demandas operativas da com alcance estendido, viabilizando o enga-
tema composto por doze Viaturas Blindadas Le- atualidade. A obtenção desses meios garante jamento de alvos em alcances maiores que os
ves Sobre Rodas 4x4 Joint Light Tactical Vehicle um elevado grau de versatilidade e flexibilidade atualmente no acervo do CFN. Entre os novos
(JLTV), fabricadas na Oshkosh Defense daquele ao CFN, ampliando sua prontidão operacional e recursos desses sistemas, pode-se citar a previ-
país, com entregas previstas entre 2022 e 2026. O sua capacidade de projeção de poder em áreas são de emprego de computador balístico portá-
aumento das ações realizadas pelos GptOpFuzNav de interesse estratégico nacional, particular- til em cada peça e de novos recursos optrônicos
em ambiente urbano, em Operações Anfíbias, de mente em operações em áreas urbanas. para o engajamento de alvos em condições de
Garantia da Lei e da Ordem ou de Paz, e a neces- visibilidade reduzida.
sidade de que disponham de proteção blindada
indicaram a necessidade de obtenção de uma
classe de viaturas sobre rodas que fossem blin-
dadas, porém mais leves e menores que as do
tipo Piranha, já disponíveis no CFN desde a dé-
cada de 2000. A estação de armamento dessas
viaturas possui sistema de giro elétrico, mecâni-
co e suporte multifuncional para metralhadoras
Calibre 7,62 mm, .50 e 40 mm (MK19). Figuras 8 e 9 – Morteiros Médios de 81 mm e
A Viatura Blindada Leve JLTV é um projeto Figura 6 – Viatura Leve Blindada Sobre Leve de 60 mm
de última geração na tecnologia militar, no mo- Rodas JLTV

48 O ANFÍBIO • 2021 2021 • O ANFÍBIO 49


b) Metralhadoras Pesadas de 12,7mm, Médias de • Material de Operações Especiais (OpEsp)
7,62mm e Leves de 5,56mm Visando prover os diversos destacamentos em ambientes confinados sob condições de
de OpEsp do CFN de material que proporcione baixa luminosidade e às atividades de salto livre
A previsão desta obtenção visa atualizar e a manutenção de sua máxima eficiência, estão operacional noturno em Zonas de Lançamento
potencializar o poder de combate das unidades previstos: não balizadas.
de infantaria, viabilizando a utilização de novas • Materiais de paraquedismo, compostos de • Equipamentos de Mergulho por Circuito Fe-
metralhadoras cujos acessórios e optrônicos paraquedas para Salto Livre Operacional (indi- chado, expandindo a capacidade de infiltração
possibilitarão um significativo incremento na vidual e salto duplo), paraquedas de transporte submersa dos destacamentos de OpEsp.
capacidade de identificação, engajamento e so- de carga autônomos e paraquedas para lança- • Equipagens operativas com características
lução de alvos em condições de visibilidade re- mento de cargas, consoles de oxigênio e mate- específicas para operações especiais, tais como
duzida. rial para auxílio à navegação, que possibilitarão coletes táticos, porta-carregadores, mochi-
o incremento de capacidades relacionadas à in- las, coldres, dentre outros, que proporcionarão
filtração e ao ressuprimento de destacamentos maior eficiência aos destacamentos.
de operações especiais.
• Fuzis de Precisão semiautomáticos e mul-
ticalibres, que otimizarão as capacidades de
neutralização de pessoal e material pelo tiro de
precisão a longa distância.
• Embarcações de desembarque pneumáti-
cas e motores de popa, bem como acessórios,
que permitirão às embarcações seu lançamento
Figuras 10, 11 e 12 – Metralhadora Pesada de a partir de helicópteros e o seu homizio submer-
12,7mm, Média de 7,62mm e Leve de 5,56mm sas; tal material permitirá a manutenção das ca-
pacidades anfíbias dos destacamentos de ope-
rações especiais, relacionadas principalmente
c) Sistemas de Defesa Anticarro às infiltrações “além do horizonte” no ambiente
operacional aquático, aumentando assim as ca-
Esta aquisição permitirá a atualização da De- pacidades de desencadear operações especiais
a partir dos meios navais. Figuras 15 e 16 – Fuzis de Precisão de 12,7mm e
fesa Anticarro (DAC), nível Batalhão, com a ob- 7,62mm
tenção de um novo sistema de mísseis anticarro • Óculos de visão noturna com tecnologia de
e recompor o acervo para a DAC nível Compa- fósforo branco, que incorporarão novas capaci-
nhia, com a obtenção de um SAL baseado em dades aos destacamentos OpEsp, principalmen-
um Canhão Sem Recuo de 84 mm, que permitirá te aquelas relacionadas às ações de combate
a utilização de dez diferentes tipos de munições,
com emprego contra blindados, posições fortifi-
cadas, antipessoal e munições fumígenas. Estes
novos SAL incorporam, ainda, capacidades de
emprego em ambientes de visibilidade reduzida.

Figuras 13 e 14 – Míssil Anticarro e Canhão


Sem Recuo de 84 mm Figuras 17 – Paraquedas Autônomo, guiado por GPS

50 O ANFÍBIO • 2021 2021 • O ANFÍBIO 51


• Viaturas Leves não Blindadas • Bateria de Artilharia Antiaérea de Média Altura
Está previsto, para a segunda metade des- Diferentemente dos itens acima menciona-
ta década, o início da substituição da presente dos, este processo de obtenção vem sendo con-
frota de viaturas operativas leves não blindadas duzido pelo MD, de forma conjunta, a fim de do-
do CFN, atualmente composta de viaturas Land tar o Sistema de Defesa Aeroespacial Brasileiro
Rover Defender e Agrale Marruá. O CMatFN de capacidade de defesa antiaérea de média al-
realiza estudos para possibilitar a seleção do tura / médio alcance, a partir de bases em terra.
modelo que melhor se adéque às necessidades Em dezembro de 2020, foram aprovados,
operativas, inclusive verificando a conveniência após o concurso das três Forças, os Requisitos
de manter o emprego de viaturas com cobertu- Operacionais Conjuntos (ROC), que preveem um
ra de lona ou de adotar viaturas com cobertura Figura 18 – Viatura Operativa Leve não Blindada, alcance mínimo de 40 km (sendo desejável que
de cabine rígida, que aparentemente são ten- com cobertura de cabine rígida (modelo o sistema possibilite ampliação futura até 80
dência mundial. somente ilustrativo) km). De forma relevante para o CFN, o sistema
deverá ser capaz de compor Forças de Desem-
barque em operações anfíbias.
Para 2021, está programada a elaboração dos
• CLAnf Transporte de Pessoal (TP) e Socorro (SOC) Requisitos Logísticos, Técnicos e Industriais,
que subsidiarão o processo de seleção do ma-
Em 2018 e 2019, o CFN recebeu 23 novos cebimento de dois CLAnf TP e de um CLAnf SOC terial, sendo esperada a incorporação de uma
CLAnf de uma nova geração (a 3ª no CFN), de- também da geração RAM/RS, que se agregarão bateria ao acervo da MB.
nominada Reliability, Availability, Maintainability aos já disponíveis no CFN.
/ Rebuild-to-Standard (RAM/RS), por meio de
contrato de FMS junto ao United States Marine
Corps (USMC).
Essas viaturas constituem-se em importan-
tes meios de projeção de poder sobre terra, que Figuras 20, 21 e 22 – Sistemas de Artilharia
materializam o caráter anfíbio do CFN, conferin- Antiaérea de Média Altura
do aos GptOpFuzNav mobilidade com proteção
blindada do mar para terra e vice-versa, sendo
propícias para a abordagem de costas hostil-
mente ocupadas, inclusive em áreas ribeirinhas,
além de propiciarem velocidade na continuação
das ações em terra. Em 2023, está previsto o re- Figura 19 – CLAnf SOC

• Motocicletas Qualquer Terreno (QT)


Foi autorizada pelo CGCFN a inclusão em Essas viaturas serão empregadas em tarefas
dotação de Motocicletas QT para a Companhia de segurança da Área de Retaguarda, escol-
de Polícia da FFE, com obtenção inicial pelo tas de comboios militares e outros serviços de
CMatFN de duas unidades no ano de 2021, po- polícia em operações anfíbias ou terrestres de
dendo haver novas aquisições proximamente. caráter naval.

52 O ANFÍBIO • 2021 2021 • O ANFÍBIO 53


Metas Visualizadas • Sistema de Abertura de Brechas (“Mine
Clearance Line Charge – MICLIC”)
O Setor CGCFN, por meio do CMatFN e da
Comissão Permanente para Estudo do Reapare-
já obtidos na aquisição inicial do SIC2MB, o em-
prego de Aeronaves Remotamente Pilotadas e
Diante da demanda da engenharia de comba-
te do CFN por equipamentos de abertura de pas-
sagens em obstáculos, particularmente campos
como os do atual inventário do CFN, ou em rebo-
que próprio (que provê a flexibilidade para empre-
go associado a outras viaturas).
lhamento do CFN, conduz estudos que delineiam sistemas de mísseis de cruzeiro.
e áreas minadas, que conferissem em combate, a Esse sistema, atualmente em uso pelo USMC,
o reaparelhamento de sistemas prioritários, Tais estudos serão priorizados pelo CGCFN,
essa atividade, maior rapidez e segurança do que possibilita, pelo lançamento de foguetes trans-
como baterias de obuseiros, carros de comba- à luz das expectativas orçamentárias, no que
o método manual, mantendo assim a impulsão portando cargas explosivas lineares, a abertura
te, mísseis superfície- ar para baixa altura, radar tange ao tempo de vida útil dos meios em uso
dos deslocamentos blindados ou motorizados, de brechas para viaturas, com noventa metros
de controle aerotático e meios de transposição a serem substituídos e à evolução tecnológica
visualiza-se a obtenção do sistema MICLIC, que de comprimento, em apenas cinco minutos.
de cursos d´água, itens de elevada importância das formas de condução dos conflitos, e, me-
tem a possibilidade de ser instalado em CLAnf,
para a manutenção do caráter anfíbio e expedi- diante aprovação do Almirantado, poderão con-
cionário dos GptOpFuzNav. Além disso, estuda- verter-se em submetas do PROADSUMUS, com
-se a obtenção de equipamentos adicionais aos cronogramas de desembolsos próprios.

• Baterias de Obuseiros
A fim de manter a artilharia de campanha do
CFN sendo capaz de aplicar seus fogos, com ra-
pidez e precisão, em uma larga faixa do terreno,
garantindo, assim, o apoio de fogo contínuo e
cerrado aos GptOpFuzNav, estuda-se a obten-
ção de novas Baterias de Obuseiros. O inventário Figuras 25, 26 e 27 –
atual do CFN conta com Baterias de Obuseiros Sistema MICLIC para
com calibre de 105mm e 155mm. Com a evolução abertura de brechas pelo
tecnológica dos sistemas de armas, estuda-se a método explosivo
conveniência da manutenção dos dois calibres
ou a propriedade da padronização em um único
tipo de obuseiro, como o de 155mm abaixo apre-
Figura 23 – Obuseiro 155mm sentado, utilizado nas Forças Armadas dos EUA.

• Carros de Combate (CC)


Os CC podem conferir aos GptOpFuzNav con- canhões de alma lisa de calibre 120 mm ou su-
siderável ampliação em seu poder de fogo, par- periores, que atendam aos requisitos de embar- • Mísseis Superfície-Ar (MSA) de Baixa Altura
ticularmente nas manobras ofensivas, propor- que e desembarque dos meios navais.
cionando uma capacidade de ação de choque A fim de que os GptOpFuzNav mantenham
no binômio com as tropas de infantaria, que se condições apropriadas para a sua defesa an-
aproveitam também de sua proteção blindada e tiaérea, bem como contribuam para a defesa an-
mobilidade. Contribuem também para a Defesa tiaérea de pontos sensíveis da MB, estuda-se a
Anticarro (DAC) dos GptOpFuzNav. renovação futura dos sistemas de MSA de baixa
Nas Operações Anfíbias, os CC devem ser altura, do inventário do CFN.
lançados e recolhidos dos Navios Anfíbios por
meio das Embarcações de Desembarque (ED).
Para que tenham condições de prover o adequa-
do apoio à projeção de poder sobre terra e con-
tribuir apropriadamente com a DAC, os CC que Figura 28 – Míssil Superfície-Ar
venham a integrar o inventário do CFN deverão
ser CC universais (Main Battle Tanks - MBT) de Figura 24 – Carro de Combate Universal (MBT)

54 O ANFÍBIO • 2021 2021 • O ANFÍBIO 55


• Meios de Transposição de Cursos d´Água • Radar de Controle Aerotático
A fim de permitir o apropriado apoio à mobili- Estuda-se a obtenção de um sistema radar
dade dos GptOpFuzNav, na transposição de rios capaz de efetuar o controle aerotático em pro-
e outros cursos d´água que sejam obstáculos veito dos GptOpFuzNav, possibilitando, inclusive,
aos diversos meios do inventário do CFN, estu- o desdobramento de aeronaves em terra duran-
da-se a obtenção de equipamentos como porta- te uma operação anfíbia e permitindo o alerta
das ou pontes anfíbias, com capacidade compa- antecipado para as peças de artilharia antiaérea
tível com a evolução do acervo operativo. desdobradas no terreno.

Figura 31 – Radar de Controle Aerotático


Figura 29 – Meio de transposição de curso d´água

• SIC2MB • SARP
Adquirido em março de 2017 pelo CFN junto comando e controle. Está prevista para 2021 a Em 2020, os ensinamentos advindos do con- maneira similar aos Esquadrões de Helicópteros
à empresa Elbit Systems de Israel, este Sistema entrega de viaturas pesadas UNIMOG 5000, que flito entre a Armênia e o Azerbaijão, na região de de Emprego Geral. No âmbito da defesa antiaé-
constitui-se de quatro Módulos: Gerenciamen- receberão equipamentos do Sistema. Prevê-se Nagorno-Karabakh, ressaltaram a atual impor- rea contra ARP, deverão ainda ser aprofundados
to do Campo de Batalha, Comunicações, Dire- ainda, para breve, a prontificação do Centro de tância do emprego de Aeronaves Remotamente os estudos quanto ao emprego da guerra eletrô-
ção de Tiro de Artilharia e Guerra Eletrônica. Treinamento no CIASC. Pilotadas (ARP), tanto para missões de reconhe- nica nessa atividade.
Os equipamentos vêm sendo entregues desde Além dos equipamentos adquiridos no con- cimento como para ataque. À luz de exemplos
2018, quando começaram a ocorrer a capacita- trato acima citado, o CMatFN conduz estudos como a evolução doutrinária no USMC, que levou
ção de pessoal e os testes de campo. O ano de para que, futuramente, da mesma forma dos ao emprego de ARP em apoio aos diversos níveis
2020 marcou o término da preparação das via- sistemas prioritários mencionados no item an- de comando, de Grupos de Combate às Forças
turas, do atual acervo, que receberão os equi- terior, seja encaminhada à administração naval de Desembarque, esse assunto gerará segura-
pamentos veiculares, incluindo-se no contrato uma proposta de aprimoramento e ampliação mente estudos quanto ao possível planejamen-
a revitalização ou militarização de 28 viaturas do escopo do SIC2MB, em prol do desenvolvi- to no âmbito do PROADSUMUS. Tais estudos de-
leves, além da instalação da infraestrutura nes- mento completo das capacidades anfíbias e ex- verão ser integrados com a nova capacidade que
sas e nas viaturas blindadas especializadas de pedicionárias do CFN. a MB adquiriu em 2020, com a aquisição do SARP
ScanEagle (categoria 2 – esclarecimento), que,
podendo operar a partir de bordo ou terra, com-
porá novo Esquadrão da Força Aeronaval, cujas
tarefas incluirão o apoio aos GptOpFuzNav, de
Figura 32 – DARP ScanEagle

Figura 33 – DARP empregado pelo USMC para Figura 34 – MADIS (“Marine Air Defense Integrated
pequenas frações System”) – Sistema em desenvolvimento pelo
USMC que visa combinar artilharia antiaérea
Figura 30 – Diagrama esquemático do SIC2MB com medidas de ataque eletrônico

56 O ANFÍBIO • 2021 2021 • O ANFÍBIO 57


• Míssil Tático de Cruzeiro (MTC-300) Reestruturação Organizacional e
Em 2020, o CFN aprofundou o acompanha-
mento do MTC-300, em desenvolvimento pela de Instalações das Unidades do
CFN
indústria nacional AVIBRAS. O MTC-300 é uma
nova munição em estágio final de pesquisa e de-

N
senvolvimento, com o propósito de ser lançado a
partir da plataforma do Sistema ASTROS em uso
pelo CFN e Exército Brasileiro, concebido para
levar 200 kg de carga bélica convencional a uma o âmbito do PROADSUMUS, algumas tanto no campo de delineamento de áreas e ins-
distância de até 300 km, realizando bombardeio Unidades Operativas do CFN mereceram, nos úl- talações como quanto à necessidade de pessoal
de área. Sendo um míssil, e por conseguinte cor- timos anos, atenção especial no tocante às suas para tanto.
rigindo sua trajetória rumo ao alvo previamente necessidades de alterações organizacionais ou Quanto a instalações de OM operativas do
estabelecido, poderá, aos moldes de experimen- de adequação e construção de instalações, à luz CFN, continuam ainda os trabalhos para cons-
tos já conduzidos por outros países, ser lançado da constante evolução doutrinária e tecnológica, trução das novas instalações do BtlDefNBQR-
a partir de viaturas posicionadas nos conveses bem como das oportunidades de melhoria veri- -ARAMAR, com previsão de ocupação pela OM
abertos de navios anfíbios, conferindo ao Poder ficadas com o passar das operações e adestra- ao final de 2024, bem como o planejamento para
Naval brasileiro nova capacidade de projeção Figura 35 – Simulação do lançamento do MTC- mentos realizados. A seguir, serão apresentados futura ativação do BtlDefNBQR-ITAGUAÍ, previs-
de poder sobre terra, com as forças navais a 300 de uma viatura do Sistema ASTROS aspectos relevantes desse contexto. ta para 2029. Tais OM não são abrangidas pelo
grande distância do litoral. Em versões futuras, Ressalta-se que, além das Organizações PROADSUMUS, e sim pelo Programa Nuclear da
a AVIBRAS intenciona que o míssil atinja alvos Militares (OM) abaixo mencionadas, seguem os Marinha (PNM) e PROSUB, respectivamente, por
móveis, como navios. estudos atinentes à futura ativação do Grupa- estarem inseridas no escopo desses programas.
O sucesso do MTC-300 colocará o Brasil no mento de Fuzileiros Navais de Santos (GptFNS),
seleto grupo de países detentores da capacida-
de de desenvolvimento de mísseis de cruzeiro,
elevando ainda mais seu poder dissuasório no
entorno estratégico nacional. A inclusão deste
meio no PROADSUMUS atenderia também ao Novas Instalações do Batalhão de
PEM 2040, no tocante à AEN FORÇA NAVAL – 10,
ao apoiar o desenvolvimento, pela Base Indus-
trial e Tecnológica de Defesa nacional, de um
Comando e Controle (BtlCmdoCt)

E
projeto com alto conteúdo tecnológico e de Figura 36 – Viatura HIMARS do USMC realizando
aquisição restrita no exterior. lançamento de foguete a partir de bordo
m decorrência da aquisição do SIC2MB, tacionamento do acervo ampliado de viaturas, o
que contempla grande acervo de equipamentos alojamento da tripulação e os trabalhos do Es-
e viaturas de comunicações, comando e controle tado-Maior do Batalhão e de suas companhias
e guerra eletrônica, cuja guarda e manutenção operativas.
cabe ao BtlCmdoCt, e em decorrência, também, A liberação das instalações do atual aquar-
da previsão de ativação de uma Companhia de telamento da Unidade possibilitará, ainda, a am-
Guerra Eletrônica e uma Companhia de Inteli- pliação da área ocupada pelo Centro de Instru-
gência, foi decidido, em 2019, que seriam cons- ção Almirante Sylvio de Camargo, OM onde será
truídas novas instalações no Complexo Naval instalado um centro de treinamento do SIC2MB.
da Ilha do Governador (CNIG). Tais instalações As atividades preparatórias à construção já se
irão contemplar as necessidades específicas de iniciaram e a previsão de prontificação das ins-
armazenamento dos novos equipamentos, o es- talações é para 2028.

Figura 37 – Linha de produção do MTC-300

58 O ANFÍBIO • 2021 2021 • O ANFÍBIO 59


Adequação do Batalhão de Viaturas Criação do Batalhão de Defesa Nuclear,
Anfíbias (BtlVtrAnf) Biológica, Química e Radiológica

À
(BtlDefNBQR), subordinado ao Comando da
luz da aquisição de CLAnf da 3ª ge-
ração, previamente mencionada neste artigo, foi
trutura, necessários para a operação da nova 2ª
Companhia de Carros Lagarta Anfíbios, com os
Tropa de Reforço (ComTrRef)

O
decidido, em 2020, realizar a adequação de ins- 23 CLAnf recentemente recebidos. As atividades
talações do Batalhão de Viaturas Anfíbias, bem preparatórias à construção também já se inicia-
como a obtenção de simuladores, equipamen- ram e a previsão de prontificação dessas instala-
Setor CGCFN vem estudando a or- envolvidas. Tais mudanças tiveram os seguintes
tos para manutenção e outros itens de infraes- ções é para 2024.
ganização das OM do CFN envolvidas na ativi- aspectos motivadores:
dade de DefNBQR. Já no III Simpósio do CFN, • o incremento da demanda de atuação da
em 2015, foi identificada a necessidade de uma MB nos setores nuclear e biológico, através da

Transferência de Subordinação e de reorganização futura. Até 2020, a FFE contava


com uma Companhia de DefNBQR, pertencente
atuação na segurança de grandes eventos, o de-
senvolvimento do segmento nuclear no país, es-
ao Batalhão de Engenharia de Fuzileiros Navais pecialmente na Força Naval, e as recentes ações
Sede do Batalhão de Combate Aéreo (BtlEngFuzNav). Após consolidação dos estu-
dos, foi decidido pela reorganização das OM da
desenvolvidas em decorrência da Covid-19;
• a necessidade de maior interação e repre-
(BtlCmbAe) FFE subordinadas ao ComTrRef, com a criação
do BtlDefNBQR, a partir da Companhia oriunda
sentatividade junto a setores da MB e extra-MB
no segmento de DefNBQR; e

E
do BtlEngFuzNav, e extinção da Companhia de • a identificação natural da CiaApDbq com a
Apoio ao Desembarque (CiaApDbq) como OM, missão do BtlEngFuzNav (tarefas afetas à mobi-
que passa a ser subunidade do BtlEngFuzNav. lidade e uso comum de equipamentos de enge-
m decorrência do III Simpósio do CFN Estudos já delinearam a área a ser ocupada Com isso, o BtlDefNBQR passou a ocupar, em nharia), retornando a uma organização já adota-
em 2015, o CGCFN conduziu estudos visando pro- pelo BtlCmbAe no CAeNSPA, bem como o cro- 2021, o aquartelamento da antiga CiaApDbq, da no passado e de eficácia comprovada.
por melhorias para contribuir para a ampliação nograma físico-financeiro de tal transferência, sem acréscimo de cargos no somatório das OM
das capacidades operacionais do Componen- estando apenas no aguardo da futura alocação
te de Combate Aéreo dos GptOpFuzNav. Dessa de recursos para a formalização do planejamen-
forma, foi decidido, em 2020, alterar o nome do
então Batalhão de Controle Aerotático e Defe-
to e mudança.
Conclusão
C
sa Antiaérea para Batalhão de Combate Aéreo
(BtlCmbAe); alterar o Comando da Unidade,
que passou para o posto de CMG (FN); alterar
sua subordinação, passando a ser diretamente omo grande resultado positivo do ano de material para incrementar ou manter o poder
subordinada ao ComFFE, além da decisão de de 2020, a MB elevou, no âmbito do Programa de combate do CFN.
transferir a OM para o Complexo Aeronaval de de Construção do Núcleo do Poder Naval, o in- O desafio que se apresenta na administração
São Pedro da Aldeia (CAeNSPA). cremento e a manutenção do poder de combate do PROADSUMUS, de agora em diante, é articu-
A decisão pela transferência de sede para do CFN, por meio do PROADSUMUS, ao patamar lar a gestão de curto prazo, normalmente com
o local onde está a Força Aeronaval visa pos- estratégico de subprogramas como o PFCT e o alterações no planejamento decorrentes de im-
sibilitar maior integração entre os meios que PROSUB. O PROADSUMUS passou a constar, no previsíveis mudanças nas prioridades orçamen-
compõem a Defesa Aeroespacial Ativa (Meios âmbito estratégico, como uma AEN específica tárias, ao planejamento de médio e longo prazo,
Aéreos e de Defesa Antiaérea) da MB, otimizar no PEM 2040 e, no âmbito orçamentário, como em que são necessários criteriosos estudos que
o adestramento do BtlCmbAe (principalmente MPM do tipo programa. embasem a busca das aprovações para os de-
na operação de SARP e no controle aerotático) No ano citado, o CFN logrou estruturar o sembolsos julgados prioritários ao CFN. Dessa
e realizar rápidos deslocamentos das baterias PROADSUMUS, inseri-lo na doutrina em vigor da forma, os GptOpFuzNav poderão manter-se em
antiaéreas, por aeronave de transporte, quando MB, delinear prioridades, realizar o seu planeja- plenas condições de responder às demandas
necessário o emprego tempestivo na defesa de Figura 38 – Em amarelo, área no CAeNSPA mento inicial até 2040 e adequá-lo às demandas que o Estado brasileiro lhes apresentar, provan-
estruturas estratégicas. destinada ao BtlCmbAe da Gestão Estratégica da Força quanto à previ- do sempre seu caráter naval, anfíbio e expedi-
são e execução orçamentária, coletando, em pa- cionário por excelência.
ralelo, informações sobre novas possibilidades

60 O ANFÍBIO • 2021 2021 • O ANFÍBIO 61


O Combatente 4.0
Preparando o Futuro do CFN
VA (FN) RENATO RANGEL FERREIRA
CMG (FN) CELIO LITWAK NASCIMENTO
CMG (RM1-T) NEWTON JOSÉ FERRO
“Se eu vi mais longe, foi por estar de pé sobre ombros de gigantes.”
(Isaac Newton)

62 O ANFÍBIO • 2021 2021 • O ANFÍBIO 63


Introdução CT&I na MB e no
Biológica, Química, Radiológica e Artefatos Ex- referentes a sistemas de impressão 3D, energia
plosivos (DefNBQRe). anfíbia expedicionária (solar e fóssil), redução

P
Essas Áreas Temáticas abrangem toda a da carga do combatente, material balístico, uni-

CFN gama de interesses em CT&I do CFN. Cabe aqui


o registro de que todo o esforço de Pesquisa e
formes operacionais, ração operacional e mobi-
lidade anfíbia.

A
reparar a Força Naval para a incerteza Desenvolvimento (P&D) para os combatentes Na Automação, consideram-se as linhas de
que os diversos cenários prospectivos indicam é anfíbios deve ter claramente definida a meta de pesquisa pertinentes a sistemas autônomos,
um exercício perene de inteligência e prospec- se multiplicar o poder de combate dos Grupa- aéreos e navais, enquanto na Letalidade e Fo-
ção tecnológicas que visam a identificar conti- Estratégia de Ciência, Tecnologia e mentos Operativos de Fuzileiros Navais (GptOp- gos Expedicionários, os mísseis antissuperfície
nuamente as necessidades de modernização, Inovação (CT&I) da Marinha do Brasil, estabelece FuzNav) a serem projetados sobre terra para a (terrestres e marítimos), negação de espaço aé-
ou substituição dos meios e equipamentos que sete Áreas Temáticas (AT) de CT&I, seus objeti- execução de operações e ações de guerra naval, reo a drones, neutralização de minas terrestres
compõem seu acervo material. vos e subáreas e linhas de pesquisa, definindo o atividades de emprego limitado da força e be- e artefatos explosivos improvisados, além de
Nesse sentido, o presente artigo pretende termo AT como os conjuntos de temas de inte- nignas. Apenas para efeito de organização dos armas de energia.
apresentar o “Combatente 4.0”. Este projeto, ao resse que possuam características comuns do esforços internos ao CFN, essa gama de interes- Para facilitar a integração de seus esforços
mesmo tempo, integra e apoia-se no Sistema ponto de vista de sua aplicação pelos Setores ses pode ser agrupada nos seguintes campos: de CT&I com o SCTMB, o CFN estruturou-se
de Ciência e Tecnologia da Marinha do Brasil Operativos e do Material, quais sejam: Sistemas - Comando e Controle; com duas Organizações Militares que compõem
(SCTMB), capitaneado pela Diretoria Geral de de Comando, Controle, Comunicações, Compu- - Logística Anfíbia e Expedicionária; o SCTMB como Instituições de Ciência e Tec-
Desenvolvimento Nuclear e Tecnológico da Ma- tação, Inteligência, Vigilância e Reconhecimento - Automação; nologia (ICT): o Centro Tecnológico do Corpo de
rinha (DGDNTM), que é um dos gigantes cujos (C4ISR); Defesa e Segurança Cibernéticas; Meio - Letalidade e Fogos Expedicionários; Fuzileiros Navais (CTecCFN), que coordenará os
ombros permitirão o Corpo de Fuzileiros Navais Ambiente Operacional; Nuclear e Energia; Plata- - Desempenho do Combatente; e esforços de P&D do CFN, sob a orientação téc-
(CFN) enxergar mais longe e reduzir seus hiatos formas Navais, Aeronavais e de Fuzileiros Navais; - DefNBQRe. nica do Centro Tecnológico da Marinha no Rio de
tecnológicos. Desempenho do Combatente; e Defesa Nuclear, O campo de Comando e Controle abrange Janeiro (CTMRJ); e o Centro de Educação Física
tanto as linhas de pesquisa relativas a um siste- Almirante Adalberto Nunes (CEFAN), voltado
ma C4ISR anfíbio e expedicionário, passando por para a AT de Desempenho do Combatente.
rádio definido por software (RDS); inteligência O CFN dispõe também de alguns laboratórios
artificial empregada nos campos da inteligên- criados para atender a demandas específicas.
cia; recursos humanos e logística; simulação O mais antigo deles, o Centro de Simulação do
e adestramento; e processos decisórios e de Corpo de Fuzileiros Navais (CSimCFN), teve ori-
aprendizagem acelerados. gem no Centro de Jogos Didáticos (CJD) do Cen-
O campo de Logística Anfíbia e Expedicio- tro de Instrução Almirante Sylvio de Camargo
nária está relacionado às linhas de pesquisa (CIASC), ainda em 1990, e por meio do qual de-

Figura 1 – Combatente do Futuro Figura 2– Dispositivo de pontaria digital - Predador

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senvolve instrumentos de simulação construti- O projeto inclui a integração de dados de
va que buscam acelerar as atividades de ensino sensores presentes na vestimenta e nos equi-
e adestramento. Outro laboratório, pertencente pamentos do combatente e a integração e o
ao Centro de Defesa Nuclear, Biológica, Química compartilhamento desses dados transmitidos
e Radiológica da MB, tem seu foco voltado para em tempo real, permitindo um acompanhamen-
a AT de mesmo nome. to positivo e oportuno da cena de ação por parte
dos escalões de comando. Além das imagens

O Combatente captadas pelas câmeras acopladas nos capace-


tes dos combatentes, outros sensores de moni-

4.0
toramento de dados biométricos presentes em
sua vestimenta também serão compartilhados

O
com a central de Comando e Controle, para que
sejam analisadas em tempo real as suas con-
dições fisiológicas, oferecendo uma avaliação
principal projeto a integrar O Com- individualizada e oportuna (on-the-fly) do de-
batente 4.0, constituindo sua espinha dorsal, é o sempenho operacional em relação ao estado de
“Combatente do Futuro”, cuja primeira fase já se saúde e capacidade de atuação.
encontra em andamento. Seu objetivo geral é de- A ICT/CEFAN participará no desenvolvimen-
senvolver um sistema capaz de monitorar con- to do algoritmo de “stress coletivo”, que será um
dições operativas dos combatentes, de forma a dos produtos entregáveis nessa primeira fase
acompanhar o desempenho deles durante uma do projeto, enquanto a ICT/CTecCFN assessora-
determinada missão, por meio do incremento da rá o IPqM na coordenação das demandas e das
consciência situacional do cenário operativo. entregas durante a condução o projeto como
Fomentado pela Financiadora de Estudos um todo.
e Projetos (FINEP) e sob a responsabilidade O CSimCFN também poderá contribuir para
do Instituto de Pesquisas da Marinha (IPqM), o o desenvolvimento do projeto. Visualiza-se que,
projeto “Combatente do Futuro”, em sua fase 1, nas fases subsequentes do projeto, sua capaci- Figura 4 – Consciência situacional

Perspectivas
será o componente terrestre do Sistema de Ge- dade de virtualizar a Área de Operações na qual encontram em fase de concepção, tais como o
renciamento da Amazônia Azul (SisGAAz), que já o combate anfíbio se desenvolve poderá ser útil “Robô Expedicionário” e o “dispositivo de ponta-
funciona no Sistema de Consciência Situacional na integração do Sistema de Jogos Didáticos ria digital – Predador”. Muitos desses projetos, ao

A
Unificada (SCUA), sendo baseado na plataforma (SJD) com os ambientes de gestão do Comando se integrarem ao Combatente do Futuro estarão,
HIDRA, presente em diversos produtos e siste- e Controle compatíveis com o SisGAAz. também, sendo integrados ao SisGAAz.
mas tecnológicos desenvolvidos pelo IPqM.
perspectiva em torno do “Combaten-
te 4.0” é a de que o mesmo seja um integrador de
projetos de CT&I, de modo a abrigar grande parte
Conclusão
O
das demandas do CFN. O efeito desejado dessa
integração é concentrar esforços e fazer com as
iniciativas interajam entre si desde sua concep-
ção, e que o somatório desses projetos possa, ao “Combatente 4.0” é o projeto do CFN
final, incrementar o poder de combate e fortale- para a Marinha do Futuro. Ao apoiar-se na estru-
cer a consciência situacional dos GptOpFuzNav. tura do Sistema de Ciência e Tecnologia da MB,
Esses projetos devem, ainda, explorar tecno- garante unidade de esforços, otimização de re-
logias disruptivas, em parceria com a Academia cursos e integração com os demais projetos de
e Indústria, contando com a participação das interesse da Marinha.
ICT-MB que sejam líderes das áreas a serem Dessa forma, complementará o Programa Es-
desenvolvidas, de forma a contribuir para a re- tratégico do CFN, o PROADSUMUS, contribuindo
dução da dependência tecnológica externa de para consolidar e ampliar suas capacidades ope-
Produtos de Defesa (PRODE), e contribuir para rativas, garantindo-lhe atuar como a Força Naval
o desenvolvimento da Base Industrial de Defesa de caráter anfíbio e expedicionário por excelên-
(BID). cia, contribuindo para a consecução de todas
Como exemplo atual desta integração, ci- as Tarefas Básicas do Poder Naval e, em última
Figura 3 – Robô expedicionário
tam-se os atuais projetos de pesquisa que se análise, protegendo a imensa Amazônia Azul.

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