Você está na página 1de 120

o

Ano XLV N 63 2010


Comando da Força Submarinos

MÉRI TO

NA L
VA

TUPI

TAPAJÓ TAMOIO

TIMBIRA FELINTO PERRY

TIKUNA

Foto: CC Braga Martins

“Usque Ad Sub Acquam Nauta Sum”


Editorial

“Essa gente dos ‘F. F’ vive unida por um desejo único. O mesmo espírito de
sacrifício dá-lhe o feitio místico de umas mãos postas deante de altar comum.
Sentem todos pela vibração do mesmo fio, ao qual se prendem como campânulas
sincronizadas, os cérebros e os corações”. As palavras deitadas em prosa por
Gastão Penalva no livro “A Vida nos F.F” expressam o essencial do espírito
submarinista a bordo da jovem flotilha de submersíveis do Brasil, nos idos de
1920. Essa “gente dos F.F” eram os homens que tripulavam os submarinos da
classe Foca – navios destinados às patrulhas costeiras, veículos revestidos de
aço, e preenchidos pela coragem e abnegação de seus tripulantes. Não sem
motivo os “Foca” são eternizados no distintivo que nós, submarinistas,
carregamos no peito. Passados 95 anos após a criação da nossa querida Flotilha,
em 17 de julho de 1914, a memória destes pioneiros nos inspira a ingressar em
novo tempo, igualmente desafiador.
Longo caminhar nos trouxe até aqui, nossa Força contou em suas fileiras
com unidades de diferentes classes e origens – FOCA (Itália), TANGO (Itália),
FLEET-TYPE, GUPPY II, GUPPY III (Estados Unidos), OBERON (Grã-Bretanha)
e IKL-209 (Alemanha). Diferentes navios – um mesmo espírito. Diversas vitórias têm pontuado o nosso passado
recente, demonstrando que é indelével nosso estigma; as longas e bem sucedidas patrulhas realizadas no Atlântico
Norte e no mar do Caribe, nas operações “Deployment”; a consolidação da capacidade nacional de salvamento de
submarinos; a modernização dos classe “Tupi”, pontuada com o lançamento bem sucedido do primeiro torpedo
Mk48, pelo Submarino Tikuna; as iniciativas de intercâmbio de pessoal e conhecimento com as Marinha Amigas,
comunidade técnico-científica e com o parque industrial, especialmente promovida durante o primeiro Ciclo de Palestras
Logístico Operativo da Força de Submarinos. Por trás dessas vitórias estão os homens e mulheres, civis e militares,
que, incansáveis, se dedicam às atividades de submarino, mergulho, mergulho de combate e medicina hiperbárica,
sem falar daqueles que nos dão suporte no seio da instituição e da sociedade civil.
Como tributo aos valores, princípios e ideais que compartilhamos, foram iniciados também neste profícuo
2009 duas empreitadas importantes: O projeto “Memória da Força de Submarinos” que registrará a história oral da
nossa força contada pelas gerações de brasileiros que singraram os mares submersos e a reedição do livro “A Vida
nos F.F”, relato de valor inestimável sobre os primeiros passos destes quase 100 anos de história.
Desta forma, a alma submarina se revigora com o município de Itaguaí no estado do Rio de Janeiro experimentado
os ares de “La Spezia”, localidade berço dos submarinos da classe “Foca” abrigando as instalações destinadas à
construção e apoio ao submarino nuclear nacional, sonho acalentado pela MB desde a década de 70, e de mais
quatro dos imprescindíveis e valiosos submarinos convencionais. Todos projetados e construídos “a quatro mãos”,
a partir da cooperação estratégica franco-brasileira, acordo que ganhou contornos definitivos este ano.
Termino estas palavras com um convite singelo ao leitor – bem vindo a bordo – junte-se a “essa gente que vive
unida por único desejo”. Experimente o “feitio místico” daqueles que são marinheiros até debaixo d água.
“NOSSO ORGULHO MERGULHA FUNDO”

BENTO COSTA LIMA LEITE DE ALBUQUERQUE JUNIOR


Contra-Almirante
Comandante

O Periscópio . 2010 1
Nesta Edição

O Periscópio
O Periscópio
Ano XLV . N o 63 . 2010 . ISSN 1806-5643
Revista anual da Força de Submarinos http:// www.ciama.mar.mil.br
editada pelo Centro de Instrução e
Adestramento Almirante Áttila
Monteiro Aché. SUMÁRIO
Correspondência:
Ilha de Mocanguê Grande, s/n - Niterói Aula Inaugural do CASO 2009 ............................................... 3
Rio de Janeiro - CEP 24040-400
secom@ciama.mar.mil.br História
Versão Eletrônica: A Guerra vista do Submarino que afundou o “Belgrano” ............ 22
www.ciama.mar.mil.br A Tartaruga ataca a Águia ............................................................. 80
www.mar.mil.br/revistas
Grossadmiral Karl Dönitz: “O Pai dos U-boots” .......................... 92
BENTO COSTA LIMA LEITE DE
ALBUQUERQUE JUNIOR Submarinos
Contra-Almirante
A necessidade de Submarinos para o Brasil – A opção
Comandante da Força de Submarinos
“Scorpene” .................................................................................... 18
RICARDO ACHILLES DE FARIA MELLO Como obter alguma coisa ... Até Submarinos!
Capitão-de-Mar-e-Guerra (Para Submarinistas “Expertos”) ................................................. 26
Comandante do Centro de Instrução e
“Não ser detectado!” ‘ ................................................................... 32
Adestramento Almirante Áttila
Monteiro Aché Emprego de AIS por submarinos ................................................ 42
Como se determina a aptidão para comandar
FREDERICK WANDERSON VARELLA
um Submarino? ........................................................................... 52
Capitão-Tenente
Editor Colisão com submarinos. Por que ocorrem? ............................. 58
Um dia a bordo do SAS Queen Modjadji I ................................... 68
ARTE FINAL E PRODUÇÃO GRÁFICA
Lucia Moreira P-8 Poseidon – O novo guerreiro alado da “US Navy” ................ 72
(luciahmoreira@yahoo.com) Qualidade no Mar ......................................................................... 82
REVISÃO: O uso de Sonobóias na Guerra Anti-submarina ......................... 86
Vitor Paiva O Navio de Socorro Submarino “Felinto Perry” ......................... 102

As opiniões e fatos descritos nos artigos


A utilização de Sensores Acústicos para a localização da
são de inteira responsabilidade de seus Caixa-preta do avião acidentado no mar no vôo AF 447 ........... 108
autores e podem não coincidir com a
opinião dos editores desta revista. Eventos da Força de Submarinos
DISTRIBUIÇÃO GRATUITA 95 anos da Força de Submarinos ............................................... 10
Comissões Unitas L - Gold e Deployment Sub-09 .................... 14
SARSUB ....................................................................................... 16

Outras especialidades
Estudo do Stress Oxidativo em Submarinistas ........................... 40
Mergulhadores na Guerra de Minas ............................................ 46
Gases Inertes - Aplicações e Implicações no Mergulho ............. 63
Fuzis Bullpup e o futuro do armamento individual ...................... 75
Destacamento de abordagem no mar do Caribe ....................... 88
Oração do Mergulhador de Combate .......................................... 91
Mergulho em águas contaminadas ............................................ 98

E mais
Capa:
Foto selecionada na categoria Biblioteca da Força de Submarinos ............................................. 30
“Fato Inusitado”, no concurso Crescendo ..................................................................................... 112
relativo ao aniversário da Esqua- Cursos oferecidos pelo CIAMA ..................................................... 115
dra. Autor: 1T Sá
Teste seus conhecimentos .......................................................... 116

2 O Periscópio . 2010
CASO 2009
Aula Inaugural
Almirante-de-Esquadra Fernando
Eduardo Studart Wiemer
Comandante-em-Chefe da Esquadra

PALAVRAS INICIAIS

Q
ue sejam minhas primeiras coisa mais simples, achei que seria
palavras um agradecimento válido tentar apresentar aos alunos
ao Comandante da Força de uma retrospectiva dos submarinos na
Submarinos, Contra-Almirante Bento Marinha do Brasil; sua evolução
Costa Lima Leite de Albuquerque técnica e operativa, procurando, ao
Junior, pelo convite que me fez para longo da narrativa, dar uma idéia do
proferir a Aula Inaugural aos Oficiais que são essas máquinas formidáveis
Alunos do Curso de Aperfeiçoamento e em qual estado da arte se
de Submarinos para Oficiais - 2009. encontravam; como são os intrépidos
A oportunidade de voltar a esta casa, marinheiros que as conduzem - o
o nosso CIAMA, onde passei muitos submarinista - com todas as suas
anos de minha vida como submarinista tradições, buscando finalizar com uma
exercendo a honrosa função de rápida abordagem sobre o desafiador
Instrutor - inclusive como Encarregado momento atual, onde a recém Almirante Wiemer

da Escola de Submarinos - é razão aprovada Estratégia Nacional de


Defesa estabelece como prioridade a Marinha. Nessa ocasião, foi dado início
de muita satisfação. A alegria é ainda
obtenção de submarinos, graças à sua à aquisição dos 3 submersíveis da
maior pela possibilidade de um novo
inegável capacidade de negar o uso classe “F” (FOCA), os F1, F3 e F5,
contato direto com estes jovens
do mar ao inimigo. construídos nos estaleiros da Fiat –
oficiais, meus aspirantes nos anos de
Saint Giorgio, em La Spezia, Itália.
2003 e 2004, quando tive o privilégio
O SUBMARINO NA MARINHA DO O submersível F1 - o primeiro da
de Comandar nossa querida Escola
BRASIL classe - teve sua quilha batida em 23
Naval. A ocasião leva-me, ainda, de
A história do submarino na de março de 1912. Foi entregue às
volta ao passado, aos idos de 1973,
Marinha do Brasil já vai completar 95 autoridades brasileiras em 11 de
quando, nesta mesma Ilha, em
anos. Nessa retrospectiva, traçarei dezembro de 1913 e atracou ao porto
situação semelhante, me apresentei
sempre um paralelo entre cada do Rio de Janeiro em 4 de julho de
para cursar, trazendo-me à memória
recebimento de novo submarino e sua 1914. Nesse mesmo período, ocorreu
momentos, recordações e emoções
correspondente operação, ressaltando a incorporação do Tender CEARÁ,
que me são muito caras e saudosas.
as inovações e avanços que esses com a função de apoiar os
O convite me entusiasmou e, de
novos meios trouxeram para a nossa submersíveis na execução de reparos,
imediato, passei a imaginar o que
Força de Submarinos. manutenção e apoio logístico. Esse
abordar durante esta aula inaugural.
Em 30 de dezembro de 1911, com tipo de navio é de grande utilidade no
Achei que seria interessante colocar-
a nomeação do então Capitão-de- caso de operação em áreas muito
me de novo na posição dos senhores
Corveta Felinto Perry para o cargo de afastadas do porto sede, pois permite
e imaginar o que eu gostaria de ouvir,
Chefe da Subcomissão Naval na diminuir o tempo de trânsito em
e foi o que fiz. Um turbilhão de
Europa, praticamente teve início a benefício de maior permanência numa
possibilidades passou pela minha
carreira de submarinista na nossa patrulha.
cabeça. Então, procurando tornar a

O Periscópio . 2010 3
Os classe F não permaneciam aspiração dos compressores de alta
longos períodos mergulhados, e pressão eram de bronze maciço, como
realizavam ataques, na superfície, exemplo.
utilizando canhões. A imersão era Em 25 de outubro de 1972, atracou
“Nós,
realizada com o auxílio do no porto do Rio de Janeiro o primeiro
submarinistas,
deslocamento da tripulação para a submarino da classe GUPPY, o RIO nos orgulhamos
seção de vante, a fim de obter ponta GRANDE DO SUL, trazendo para o de fazer algo
(inclinação do casco) para a imersão. Brasil novas tecnologias, tais como que poucas
No preparo para a imersão, um item sensores e baterias de grande pessoas no
importante era a desmobilização da capacidade, além do sistema de mundo tem a
cozinha, que funcionava na parte esnorquel, conferindo à essa classe a capacidade de
externa do submarino, que era alagada. maior novidade tática da Força de operar, com
Eram tempos pitorescos de “patescas Submarinos de então. Esse sistema, segurança, em
e marambaias”! que permite a condução de carga de cotas profundas”
Em 18 de julho de 1929, foi baterias, carga de ar e renovação de ar
incorporado à nossa Esquadra o SE ambiente sem a necessidade de vir à
HUMAYTÁ. Caracterizava-se por ser superfície, proporcionou substancial
um submarino mineiro de grande porte, aumento na capacidade dos
que realizou as primeiras operações de submarinos permanecerem
minagem no Brasil. A partir de 1938, mergulhados durante as operações.
começaram a ser recebidos os 3 O submarino RIO GRANDE DO operativo de emprego do meio. Os
submarinos da classe “PERLA”, TUPY, SUL ficou conhecido como “O pioneiro”, submarinos HUMAITÁ, TONELERO e
TYMBIRA e TAMOYO que, apesar de por ter sido o primeiro submarino a RIACHUELO trouxeram também uma
maiores que o da classe F, possuíam realizar esnorquel na Marinha do Brasil. nova visão em relação à necessidade
limitações operacionais muito Seguiram-se outros submarinos da das Comissões de Inspeção e
semelhantes. classe: GUANABARA, BAHIA, RIO Assessoria de Adestramento (CIASA),
A incorporação dos Submarinos DE JANEIRO, CEARÁ, GOIÁS e bem como os conceitos referentes ao
HUMAITÁ, RIACHUELO, RIO AMAZONAS, esses dois últimos Sistema de Manutenção Planejada
GRANDE DO SUL e BAHIA, da classe classificados como GUPPY III. Ainda (SMP) que passamos a observar
FLEET TYPE, à nossa Esquadra, veio vivíamos tempos “românticos”, varrendo fielmente. Diversos de nossos oficiais
a partir de 18 de janeiro de 1957, os alvos e entrando à barra com submarinistas, em especial da Escola
iniciando-se assim a fase de utilização vassouras nos periscópios. de Submarinos, realizaram cursos e
dos submarinos de origem americana, Até então, tínhamos pouco estágios na “Royal Navy”, assimilando
e a partir de quando abandonamos a conhecimento a respeito dos conhecimentos avançados em
linha italiana. procedimentos operativos do emprego relação à doutrina e ao modo de
Esses meios realizaram no AMRJ de submarinos. As marinhas, que operação dos mesmos. Passamos
um serviço de grande envergadura. forneciam os meios, nos transmitiam a “pensar operativamente”!
Envolveram os seus espardeques tão somente conhecimentos sobre Em 1989, foi incorporado o
originais em velas típicas de como navegar com a plataforma, lançar submarino TUPI, construído no
submarinos que conhecemos nos dias torpedos e como conduzir fainas de Estaleiro HDW, na Alemanha, primeiro
atuais, melhorando o desempenho emergência. da classe, e que nos dias de hoje conta
hidrodinâmico da classe. Por terem Com o recebimento dos com os submarinos TAMOIO, TIMBIRA
sidos construídos para emprego na submarinos da classe “HUMAITÁ”, a E e o TAPAJÓ, construídos no Brasil.
segunda guerra mundial, eram partir de 1973, de origem inglesa Com essa classe ocorreu um grande
extremamente confiáveis e robustos. (“OBERON”), veio também a salto tecnológico. Mesmo nos dias de
Seus tubos de torpedo e as redes de transferência do conhecimento hoje, ainda são significativamente

4 O Periscópio . 2010
O regresso da comissão após o cumprimento da Missão

eficazes, apesar da obsolescência de tenacidade, determinação, ousadia, atenção a tudo, estar sempre atento à
alguns de seus sistemas e sensores. renúncia, espírito combativo e detalhes e circunstancias, à qualquer
Dentro dessa realidade, a execução solidariedade que se traduzem em coisa que altere seu estado (ruído, odor,
dos reparos de “meia vida”, a fim de disciplina consciente, permeada por aspecto) nos ambientes interno e
substituir os equipamentos que se uma intimidade sadia, fruto de um externo. Sem informações precisas e
encontram obsoletos, é uma das cordial e fraterno relacionamento, em completas, estamos sempre a associar
prioridades do Comando da Marinha. que predomina a amizade no seu e a relacionar eventos para inferir e
Em 2005, foi incorporado o quarto sentido mais amplo”. prever situações, procurando antecipar
submarino construído no AMRJ, o Pelas palavras desse ilustre Chefe possibilidades e soluções.
TIKUNA, em verdade uma nova Naval, podemos perceber o nível de Nós, submarinistas, temos orgulho
classe, incorporando uma série de engajamento exigido do submarinista, de fazer algo que poucas pessoas no
aperfeiçoamentos e modernizações onde seu compromisso profissional mundo tem a capacidade de fazer,
em relação aos submarinos da classe com a competência e precisão na operar com segurança, em cotas
“TUPI”. Continuamos a “pensar execução de suas tarefas, emoldurado profundas.
operativamente”, mas agora dispondo por um espírito de equipe Temos satisfação ao afirmar, sem
de “submarino atualizado necessariamente profundo, se envolvem medo de errar, que:
tecnologicamente”, capaz de impor e condicionam o lado emocional e · A bordo, cada um conhece o
respeito! comportamental desse guerreiro do submarino, seu trabalho e domina sua
mar, comprometido com a prontidão incumbência;
O SUBMARINISTA operativa e com a contínua atualização · Podemos confiar no homem ao
Lembrando de um estimado e de seus conhecimentos. nosso lado, pois ele é um profissional
renomado submarinista, o Almirante Outra característica importante no igual ou melhor que nós mesmos;
José Luiz Feio Obino: “além do submarinista, também fruto do · Quando guarnecemos P”ostos
aprimoramento profissional, que traduz ambiente em que vive e da forma como de Combate”, todos sabemos como
legítimo orgulho do submarinista, opera o meio – oculta e proceder;
avultam outros atributos dele exigidos: silenciosamente – é escutar com · No meio de uma emergência,

O Periscópio . 2010 5
todos reagimos da melhor forma e, sem separados por várias gerações, “A prioridade é assegurar os meios
receios, executamos os procedimentos cantam juntos. Os olhos de todos para negar o uso do mar a qualquer
preconizados, exaustivamente brilham e lágrimas escorrem pelas concentração de forças inimigas que
treinados em exercícios. se aproxime do Brasil por via
Segundo o Almirante marítima. A negação do uso
Arlindo Vianna Filho, outro do mar ao inimigo é a que
reconhecido Chefe Naval, organiza, antes de atendidos
“efetivamente, ser submarinista quaisquer outros objetivos
é mais que ter uma profissão de estratégicos, a estratégia de
elevado nível de especialização; defesa marítima do Brasil.
é todo um estilo de vida”. Essa prioridade tem
implicações para a
NOSSAS TRADIÇÕES reconfiguração das forças
Segundo pesquisa do navais. Para assegurar o
Almirante Ruy Barcelos objetivo de negação do uso do
Capetty, nossa fama de “Recentemente, foram assinados acordos mar, o Brasil contará com
cantores de Mocanguê nasceu entre os governos Brasileiro e Francês força naval submarina de
em 1914, com a chegada dos para a construção no Brasil de envergadura, composta de
primeiros submarinos, os submarinos convencionais, bem como do submarinos convencionais e
submersíveis F1, F3 e F5, que primeiro com propulsão nuclear, o que de submarinos de propulsão
trouxeram o costume italiano
constitui na maior prioridade do Programa nuclear. O Brasil manterá e
de levantar um brinde cantado desenvolverá sua capacidade
de Reaparelhamento da Marinha.”
aos belos amigos. de projetar e de fabricar tanto
Desta forma, o nosso submarinos de propulsão
“Vamos todos” é quase sinônimo de faces, relembrando boas aventuras e convencional como de propulsão
ser submarinista. Todas as vezes que ótimos ataques. Esta canção deriva nuclear. Armará os submarinos,
queremos saudar ou homenagear do hino da guerra civil nos EUA. convencionais e nucleares, com
alguém, um Oficial puxa o tradicional Para freqüentar as profundezas mísseis e desenvolverá capacitações
brinde que é cantado por todos os dos oceanos, os submarinistas para projetá-los e fabricá-los. Cuidará
submarinistas e mergulhadores prestam sua homenagem a Netuno, de ganhar autonomia nas tecnologias
presentes. deus do mar, das ilhas e das praias. cibernéticas que guiem os submarinos
Outra tradição que nos Assim, tradicionalmente e logo na e seus sistemas de armas e que lhes
acompanha é a canção da então primeira imersão, é realizada a possibilitem atuar em rede com as
Flotilha de Submarinos, cantada todos cerimônia de batismo, para que outras forças navais, terrestres e
os anos na confraternização de recebam autorização de Sua aéreas”.
aniversário da Força de Submarinos, Majestade, Rex Netuno, para Por fim, ressalta que “a Marinha
dia 17 de julho, por todos os freqüentar seus domínios. acelerará o trabalho de instalação de
submarinistas e mergulhadores Finalmente, o lema da Força de suas bases de submarinos,
presentes. Sua letra, em forma de Submarinos, “Usque ad Sub Aquam convencionais e de propulsão nuclear”.
sátira, é uma provocação aos nossos Nauta Sum”, ou seja, “Somos Desde a década de 1970, levando
companheiros, marinheiros não Marinheiros até debaixo d’agua”. em conta a vastidão do Atlântico Sul,
submarinistas, que são tratados, natural teatro de nossas operações
todos, como alvos para nossos O MOMENTO ATUAL navais, e a magnitude de nossos
valentes submarinos. É um momento Da Estratégia Nacional de Defesa interesses no mar, a Marinha do Brasil
especial e emocionante ver antigos e extraímos a hierarquia dos objetivos constatou que, no que tangia os
novos submarinistas que, apesar de estratégicos para a Marinha do Brasil. submarinos, a posse de convencionais

6 O Periscópio . 2010
não era o bastante. Para o mais vendido no mundo. Foram, assim, termos de tecnologia e controle de
cumprimento de sua missão construídos quatro submarinos no qualidade, superam de muito aqueles
constitucional de defender a soberania, Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro, de um convencional. Assim, o caminho
integridade territorial e interesses colocando o Brasil no limitado rol dos natural para o Brasil seria, da mesma
marítimos do País, tornavam-se mister países construtores desses engenhos. forma, o de desenvolver sucessivos
dispor, também, de submarinos As principais pendências, no que protótipos até que se chegasse a um
nucleares em seu inventário de meios. tange à capacitação do país para projeto razoável para abrigar uma planta
Aqueles, em face de suas construir um submarino nuclear, nuclear. Como não se dispõe do tempo
peculiaridades, para emprego considerando já alcançada a meta do nem dos recursos necessários para
preponderante em áreas litorâneas, em combustível nuclear, incluem: tanto, a solução delineada, no intuito
zonas de patrulha limitadas. Estes, a) O término da construção e a de – com segurança – saltar etapas,
graças à excepcional mobilidade, para operação experimental do reator nuclear foi a de buscar parcerias estratégicas
a garantia da defesa avançada da e da respectiva planta de propulsão. com países detentores de tais
fronteira marítima. Com o compromisso do presente tecnologias e que estivessem dispostos
Recentemente, foram assinados governo de apontar recursos, sua a transferi-las.
acordos entre os governos Brasileiro e operação está prevista para 2013; No momento, apenas dois países
Francês para a construção no Brasil b) Não obstante ter logrado êxito desenvolvem e produzem,
de submarinos convencionais, bem na construção de submarinos no simultaneamente, ambos os tipos de
como do primeiro com propulsão AMRJ, falta à Marinha a capacidade submarinos, o que limitou o campo de
nuclear, o que constitui na maior para desenvolver projetos de abordagem, respectivamente, à Rússia
prioridade do Programa de submarinos. O caminho seguido pelas e à França.
Reaparelhamento da Marinha. potências que fabricam submarinos A Rússia desenvolveu sua
Como os senhores têm nucleares foi o de, a partir do pleno tecnologia nuclear e possui um projeto
conhecimento, desde os anos 70 a MB domínio do projeto de convencionais, de submarino convencional, o AMUR
conduz, nas dependências de seu evoluírem, por etapas, para um 1650, mas apresenta alguns óbices:
Centro Tecnológico da Marinha em São submarino nuclear, cujos requisitos, em não possui nenhum cliente no mundo
Paulo (CTMSP) , um programa de
desenvolvimento de tecnologia nuclear,
visando o domínio do ciclo do
combustível nuclear, e que logrou êxito
em 1982, com a divulgação do
enriquecimento do urânio com
tecnologia própria. Por outro lado, o
desenvolvimento de um protótipo de
reator nuclear, capaz de gerar energia
para fazer funcionar a planta de
propulsão de um submarino nuclear,
ainda está sendo implementado, com
término e operação prevista para 2013.
Paralelamente, para capacitar-se
a construir submarinos, a Marinha, na
mesma época, cuidou de adquirir, da
Alemanha, a transferência de tecnologia
de construção de submarinos,
empregando, para tanto, o projeto do
submarino IKL-209, à época o modelo Cota Profunda

O Periscópio . 2010 7
vista sua forma de casco clássica
daquele tipo de submarinos, com
hidrodinâmica apropriada para elevados
desempenhos em velocidade e
manobra.
Além das peculiaridades de
projeto, o “SCORPÈNE” tem a
vantagem de empregar os mesmos
sistemas (sensores, armamento,
sistemas de combate e de controle da
plataforma) existentes nos
submarinos nucleares franceses.
Assim, considerando a
necessidade brasileira de abreviar
processos e queimar etapas sem
SNA Rubis jamais comprometer sua segurança, a
escolha do projeto SCORPÈNE para
ocidental, nessa área; seu projeto de exclusivamente ao Brasil. É servir de base ao desenvolvimento do
submarino convencional ainda não exatamente o que interessa à Marinha. projeto do nosso submarino nuclear
encontrou, pelo o que se conhece, O processo de escolha da classe resulta de aprofundados estudos e
algum comprador; o apoio logístico SCORPÈNE foi longo, exaustivo e amadurecido processo de tomada de
enfrenta dificuldades; e o que a criterioso, e envolveu reuniões, visitas decisão. No entender da Marinha, essa
desqualifica, definitivamente, é não a países possuidores de submarinos escolha constitui a opção de menor
estar disposta a transferir tecnologia. nucleares e de submarinos desse tipo, risco para o êxito da empreitada, de
Só se interessa por vender além de análises de diversos relatórios resto, um acalentado sonho da Força
submarinos, o que está muito longe e intensas negociações. Naval há trinta anos. Os submarinos
das pretensões brasileiras. Algumas características do projeto serão construídos no Brasil. Nesse
A França, por outro lado, que do Submarino SCORPÈNE merecem caso, o modelo do submarino classe
também desenvolveu sua própria especial destaque. Diferentemente do SCORPÈNE será adaptado por nossos
tecnologia, emprega métodos e usual, apesar de tratar-se de um Engenheiros Navais. O índice de
processos típicos do Ocidente, de mais submarino convencional, seu projeto nacionalização será bastante elevado.
fácil absorção por nossos engenheiros não constitui evolução de uma classe O acordo com a França, país que
e técnicos, além de ser uma convencional anterior. Pelo contrário, possui grande experiência no assunto
fornecedora tradicional de material de seu casco hidrodinâmico é derivado do e tecnologia bastante moderna, visa
defesa para o mundo ocidental. No submarino nuclear RUBIS, porém mais abreviar as etapas da parte não nuclear,
momento, exporta submarinos compacto. Essa classe de submarinos com a transferência de tecnologias de
convencionais SCORPÈNE para países tem seis unidades em operação na projeto e construção. Existe, também,
como Chile, Índia e a Malásia. Acima Marinha francesa. Além disso, um grande interesse da Marinha em
de tudo, a França está disposta a – emprega tecnologias usadas nos conseguir que empresas francesas
contratualmente – transferir tecnologia submarinos nucleares daquele país, transfiram à fabricantes nacionais a
de projeto de submarinos, inclusive como o sistema de combate capacidade de fabricação de
cooperando no projeto do nuclear SUBTICS. Em decorrência, entre as importantes equipamentos, que
brasileiro, excluídos o projeto e a vantagens que apresenta, seu projeto possuem requisitos de desempenho
construção do próprio reator e seus destaca-se por facilitar uma rápida bastante rigorosos, exigidos para a
controles, que caberiam transição para o de um nuclear, haja operação em condições extremamente

8 O Periscópio . 2010
severas como é o caso de submarinos. PALAVRAS FINAIS
Sobre esse assunto foi criada, no A chegada de jovens oficiais para Se alcançarem sucesso, serão
dia 26 de setembro, último passado, a o CASO representa a sempre partícipes de nosso crescimento
Coordenadoria-Geral do Programa de esperada e necessária renovação. natural, em momento relevante de
Desenvolvimento de Submarino com Os senhores chegaram aqui reconfiguração das forças navais,
Propulsão Nuclear (COGESN), dentro como voluntários, decididos a servir à dentro da perspectiva de contarmos
da estrutura organizacional da Diretoria- Marinha por meio da arma submarina. com uma Força de Submarinos de
Geral do Material da Marinha. Essa As motivações e valores que os real envergadura.
Coordenadoria tem as atribuições de impeliram a esta decisão, certamente, Quem sabe neste auditório, entre
gerenciar o projeto e a construção do foram dignas e nobres. os senhores, não está um futuro
estaleiro dedicado aos submarinos e de Eu os parabenizo pela inteligente Comandante de nosso primeiro
sua base; de gerenciar o projeto de opção e os estimulo a se dedicarem submarino nuclear?
construção do submarino com propulsão com muito entusiasmo ao curso que Sejam muito bem
nuclear; e de gerenciar o projeto de ora iniciam, buscando atingir o preparo vindos ao mundo d’aqueles
detalhamento do submarino conven- profissional necessário a bem conduzir que são marinheiros até
cional a ser adquirido pela Marinha. essa máquina fantástica que é o debaixo d’água.
submarino.

Submarino Tikuna

O Periscópio . 2010 9
No período de 13 a 17 de julho de
2009 foi realizado o “Ciclo de
Palestras Logístico Operativo da
Força de Submarinos”, tendo
como propósito primaz de
proporcionar a comunidade de
Submarinistas, Mergulhadores,
Mergulhadores de Combate e
Médicos Hiperbáricos uma visão
sobre o atual estado da arte de
suas atividades profissionais
correlacionadas e as “expertises”
e prospectivas futuras.

Ciclo de Palestras Logístico-Operativo

Para tal, o Ciclo de Palestras contou


com as Comitivas da U.S NAVY e das
Marinhas do Peru, Chile, Colômbia e
Equador, assim como com a presença
de Ex-Comandantes da Força de
Submarinos.

10 O Periscópio . 2010
Contando com o apoio do CAAML e do CIAMA foram realizadas as seguintes palestras:

O Periscópio . 2010 11
As novidades em platéia. O caráter do Ciclo de
desenvolvimento de sistemas, trazidas Palestras foi proativo, disseminando
pelos fabricantes, fizeram com que os e debatendo experiências, avanços
Submarinistas se atualizassem no tecnológicos na atividade de
almejado estado da Arte. Novidades submarinos e suas influências nos
como o Sistema IDAS, de lançamento campos logístico e operativo.
de mísseis por Submarinos IKL 209,
bem como o desenvolvimento do
Sistema Calisto de comunicação pela
GABLER puderam ser debatidos
livremente entre palestrantes de
Palestra do Comandante da Força de
Submarinos do Peru – Contra-Almirante participantes.
Carlos Alberto Zarate Cárceres O nível de nacionalização
tecnológico apresentado por empresas
como SKM, ATRASORB, BASF do
O nível de palestras e o Brasil, Atech Tecnologias Criticas,
planejamento das mesmas, tendo DATA POOL, LOGSUB e as suas
inclusive a tradução simultânea de possibilidades de incremento nesta
Inglês / Espanhol e Português,
possibilitaram, tanto aos palestrantes
como aos participantes, interagirem
perfeitamente. As capacidades de
Socorro e Salvamento de Submarinos,
demonstradas pelo Comandante do
Navio de Socorro e Salvamento “Felinto
Perry” – CF RALPH, engrandeceram o
hodierno e continuo trabalho conjunto
formando uma mentalidade entre os
Submarinistas, Mergulhadores e
Médicos Hiperbáricos.

transferência de tecnologia para a As seguintes empresas


manutenção dos Submarinos da compuseram o corpo expositivo
deste evento:
Classe Tupi como em
Odebrecht, Eletronuclear, Atech
empreendimentos futuros, foram Tecnologias Criticas, Saturnia,
Palestra da “James Fisher Submarine MTU, BASF do Brasil Tintas
apresentados. Navais, Data Pool, Raytheon
Rescue and Serviçe” trouxe a baila
novidades e capacitações da firma, Todas as Empresas nacionais e Anschuetz, HDW-MFI, Carl Zeiss
Optronics, HDW – IDAS, Noske
servindo também para interação e o estrangeiras em muito contribuíram Kaeser, James Fisher Defense,
perfeito entendimento do serviço ABEL/MARLOG, Gabler, Logsub/
para o sucesso do evento que teve uma
humanitário de resgate de tripulações de Survey, Atrasorb, BFA/DSG, JP
Submarinos. intensa participação com uma seleta Sauer & Sohn e SKM.

12 O Periscópio . 2010
O Periscópio . 2010 13
Comissões Unitas L - Gold e Deployment Sub-09

Exercício de VERTREP com aeronave SH-60B da Marinha dos Estados Unidos.


(Fotografia cortesia do esquadrão HSL-42 “Proud Warriors”).

N
o período de 01 de março a 23 adestramento em operações conjuntas
de agosto, o Submarino com a Marinha dos Estados Unidos
Tikuna participou das da América (EUA) e demais Marinhas
Comissões UNITAS L-GOLD e amigas, tendo navegado 13.904 milhas
Perifoto de uma aeronave P-3C
DEPLOYMENT SUB-09, com o náuticas, feito 113,5 dias de mar e
ORION em patrulha ASWEX
(guerra anti-submarina) durante a propósito de aprimorar o seu nível de operado 2504 horas em imersão.
comissão DEPLOYMENT SUB-09.

14 O
O Periscópio
Periscópio .. 2010
2010
Visitou os portos de Salvador (BA), de Instrução e Adestramento dessa FATS (Fire Arms Training Simulator –
Fortaleza (CE), San Juan (Porto Rico), Base, foram realizados adestramentos Tiro com Armamento Portátil em
Mayport e Port Canaveral (Flórida – de SPAN (Shipboard Piloting and Simulador), e de manuseio de Torpedos
EUA) e Kings Bay (Geórgia – EUA). Navigation – Navegação e MK-48.
Na quinquagésima edição da Acompanhamento de Contatos), Em sua segunda operação desta
UNITAS, a Marinha do Brasil (MB) foi FIREFIGHTING (Damage Control Fire envergadura, tendo sido a primeira a
representada pelo Submarino Tikuna e Fighting Trainer – CAV-CBINC), ATTACK DEPLOYMENT 2007, a tripulação do
pela Fragata Constituição, tendo o CTR (Attack Center – Equipe de S. Tikuna evidenciou o grau de
submarino participado dos exercícios Ataque), DC WET TRAINER (Damage aprestamento e a capacidade operativa
CASEX, ASWEX, SUB X SUB e Control Wet Trainer – CAV- e logística da Força de Submarinos e
PHASE SCENARIO, em conjunto com Alagamento), VESUB (Virtual da MB, ao longo da Comissão de maior
as Marinhas dos EUA, México, Environment for Submarine Ship duração já realizada por um submarino
Canadá, Alemanha, Colômbia, Chile e Handling Training – Navegação Virtual brasileiro.
Peru, totalizando 26 meios navais de para Oficial de Serviço do Passadiço),
17 diferentes classes.
Sequencialmente, o S. Tikuna
engajou na Comissão DEPLOYMENT,
realizada com a Marinha dos EUA,
tendo realizado exercícios do tipo
ASWEX (guerra anti-submarina), SUB
X SUB e BATTLE PROBLEM
(Problema de Batalha); e operado com
um navio aeródromo da classe Nimitz,
um submarino nuclear de ataque da
classe Los Angeles, aeronaves de
patrulha e esclarecimento (P-3C e SH-
60B), navios de escolta das classes
Ticonderoga/Arleigh Burke e com um
navio-tanque da classe Henry J. Kaiser.
Em 10 de junho o submarino
realizou um “Vertical Replishment”
(VERTREP) com o esquadrão HSL-42
(“Proud Warriors”), tendo sido a
primeira operação deste tipo envolvendo
um submarino brasileiro e uma
aeronave estrangeira, com a efetiva
transferência de material.
O submarino Tikuna atracou na
Base de Submarinos Nucleares de
Kings Bay, na Geórgia, onde a
tripulação pôde travar contato com os
recursos, facilidades logísticas e
procedimentos inerentes a uma base
de submarinos nucleares. Nessa base, Perifoto do Navio-Tanque USNS LARAMIE, corpo principal no exercício
no “Trident Training Facilities”, o Centro de Problema de Batalha durante a comissão DEPLOYMENT SUB-09.

O
O Periscópio
Periscópio .. 2010
2010 15
SARSUB

N
este ano de 2009 ressalte-se, também, o desenvolvimento e aprimoramento da capacidade de
socorro a submarinos sinistrados, com a realização de operações SAR-SUB, ocorridas tanto em
águas interiores, como em mar aberto, em condições adversas, empregando a técnica de mergulho
saturado até 70 metros de profundidade e o escape individual de tripulantes dos submarinos.
No período de 1 a 28 de maio de 2009 foi realizada uma operação com o S. Tamoio, na área adjacente
à cidade de Salvador-BA, distante, portanto, da área de exercícios no estado do Rio de Janeiro. Além
disso, houve a participação da Força de Submarinos em fóruns internacionais com destacada atuação.

16 O Periscópio . 2010
O Periscópio . 2010 17
Vice-Almirante (Ref) José Luiz Feio Obino
Ex-Comandante da Força de Submarinos

A Necessidade de Submarinos
para o Brasil
A Opção “Scorpene”
Vice-Almirante(REF) José Luiz Feio Obino

N
os dias de hoje, o melhor capacitados para a montagem e união
projeto comercial testado de das seções do casco do submarino. O
submarino convencional, no mesmo pode ser dito para a construção
mercado, é o do submarino francês do submarino com propulsão nuclear.
Scorpene. Trata-se de um projeto O projeto francês é o que mais se
modular, altamente avançado e flexível, aproxima das características do projeto
que pode ser construído no Brasil e SMB 10, da Marinha, e agrega, em
empregado em águas costeiras ou seu desenho e em seus equipamentos,
áreas oceânicas. A NUCLEP, Indústria o que existe de mais avançado e
de Equipamentos Nucleares, que moderno em tecnologia de projeto e
detém a tecnologia de construção de de construção de submarinos
estruturas circulares com alto nível de nucleares. O mesmo não pode ser dito
precisão no Brasil, está preparada sobre seu concorrente alemão que,
para construir as seções do casco apesar de sua alta tecnologia, nunca
resistente do mencionado submarino projetou ou construiu submarinos
francês. O AMRJ, Arsenal de Marinha nucleares. Ademais, seus submarinos
do Rio de Janeiro, ou uma empresa foram projetados para águas costeiras
brasileira associada à DCNS, estão e mares fechados.

18 O
O Periscópio
Periscópio .. 2010
2010
Não podemos esquecer que o sistema de Fuel Cell, seria a mutilação dos submarinos. Em 28 anos,
projeto dos submarinos da classe Tupi do projeto e ofereceria um submarino nacionalizamos apenas as baterias,
é a “jumborização” dos pequenos inferior, operacionalmente, ao ficando a Marinha refém da
submarinos alemães IKL205/206, de submarino Tikuna, que é diferente e importação da quase totalidade da
450tons, do Professor Gabler, que estão superior aos da classe Tupi. logística dos demais sobressalentes,
sendo substituídos, no presente, pelos Quando falamos sobre os projetos materiais e equipamentos, cujos preços
submarinos IKL212, com cerca de Scorpene e IKL214, não podemos são cada vez mais proibitivos, sem
1.500 tons. esquecer do projeto comercial russo qualquer explicação para os aumentos
A Marinha do Brasil e o país Amur, conhecido em 2004 quando da abusivos. Alegar falta de escala para
buscam o domínio da tecnologia de visita de oficiais brasileiros à Rússia. justificar a não nacionalização parece
projeto, de construção e de Apenas o primeiro e o último são um engano; a própria França é um
manutenção de submarinos avançados, operacionais. Ainda que a Marinha exemplo. Aonde está a escala em
o que só poderá ser alcançado com tenha uma parceria de cerca de 30 anos construir apenas quatro submarinos
os franceses, americanos, russos, com os alemães, para o Brasil a melhor estratégicos e seis submarinos de
ingleses e chineses. O concorrente opção sempre foi o projeto francês. ataque nucleares? A questão está em
alemão, ainda que disponha de alta Pois, será que essa longa parceria querer independência. É lógico que
tecnologia de projeto, construção e foi boa? Em alguns pontos acredito que essa independência tem um preço.
manutenção de submarinos - como sim, mas em outros não. Vejamos: França, Inglaterra, Russia, China e
no sucesso do projeto IKL 209, apesar • Permitiu começar a construção India sabem bem disso.
do fracasso do projeto IKL214 - carece (montagem de kit) de submarinos no Acreditamos que, com o projeto
do principal: capacitação em país, segundo um projeto importado, francês, teremos a oportunidade de
submarinos de propulsão nuclear. que os alemães não acreditavam ser recuperar os anos perdidos no campo
Seus projetos atuais, o IKL 212 - possível construí-lo sem a sua ajuda; da logística, ainda mais se
exclusivo para a sua Marinha e para a • Possibilitou a nacionalização da considerarmos que o sucesso de
Marinha Italiana - e o IKL 214, para mão de obra na construção de vendas do projeto comercial alemão
exportação, são bastante diferentes. submarinos, que não poderá ser IKL 209 (submarinos da classe Tupi),
Seus projetos de concepção foram perdida, sob pena de comprometer de mais de 40 anos, hoje em dia é
desenvolvidos em torno da propulsão todo o esforço brasileiro na consecução questionado - pelo custo elevado de sua
convencional independente do ar (AIP), de seu projeto maior, a construção de manutenção, pelos longos prazos de
adequada ao emprego dos submarinos seu submarino de propulsão nuclear. entrega de peças de fabricação
próximo de suas bases, como é o caso Já nos falta hoje, no AMRJ, as descontinuada da disponibilidade para
deles, dos italianos, turcos, gregos, sul mesmas condições de construção pronta entrega de materiais e
coreanos e outros, diferentemente do dos Tupi/Tikuna, por força da evasão equipamentos, e pelos preços abusivos
nosso, que requer submarinos para de recursos humanos especializados, de fornecimento. Tal situação leva a
emprego ao longo de uma costa de decorrente do esgarçamento do uma baixa disponibilidade operacional
4000 km e áreas oceânicas programa de construção de de tais submarinos no mundo. Por
adjacentes. submarinos (o adiamento do início da serem também submarinos costeiros,
Até hoje, o primeiro da classe do construção do Tikuna, a falta de o seu emprego em áreas oceânicas ou
projeto IKL 214, para exportação, não dinheiro orçamentário para sua feitura, muito afastadas de suas bases sacrifica
foi aceito pela Marinha da Grécia, por os 11 anos de construção, o o material, em especial os grupos
problemas de não conformidade com cancelamento da construção do irmão motores-geradores, diante do longo
as especificações de contrato. Tapuia, e a falta de perspectiva de trânsito para as áreas de exercício ou
Ademais, tal projeto não atendia as novas construções); de patrulha. Esse problema não ocorre
orientações da Marinha, que não • Faltou capacidade de no cenário europeu ou semelhante, para
desejava o sistema AIP, já que o nacionalização de peças para motores, o qual foram projetados, por serem as
submarino fora concebido em torno de equipamentos e sistemas, suas áreas de operações muito
tal propulsão. Sua construção, sem o prejudicando seriamente a manutenção próximas de suas bases de apoio.

O
O Periscópio
Periscópio .. 2010
2010 19
mesmos. Não claramente que a montagem de
será com a submarinos da classe Tupi no AMRJ
transferência de não fora suficiente para dominarmos a
tecnologia alemã tecnologia de projeto de submarinos,
que chegaremos bem como a construção de módulos
ao nosso objetivo de casco, como os de proa e de
maior. A Marinha popa. As orientações demandavam
e o governo se propostas das empresas de construção
decidiram por de submarino, sem AIP, de
uma proposta transferência de tecnologia de projeto
que atende o e de construção para o CPN ( Centro
médio e longo de Projeto de Navios) e o AMRJ,
prazo, isto é, a respectivamente, além da homologação
Submarino Scorpene
construção de do AMRJ como construtor do
submarinos convencionais que visualize submarino a ser adquirido, e do
O Chile, país com grande o futuro, mirando o projeto e a fornecimento de equipamentos para o
influência militar germânica, tomou construção do submarino de propulsão estaleiro construtor. Um novo projeto
uma decisão drástica e corajosa ao nuclear. Este é o verdadeiro submarino exige JIG, ferramentas especiais
sair da linha alemã para a linha francesa com AIP, diferentemente das Fuel Cell, específicas, não havendo como
de submarinos oceânicos da classe geradoras de alta dependência aproveitar às do projeto da classe Tupi/
Scorpene, sem o módulo de casco de comercial. Tikuna, mesmo que para um novo
AIP, cujo projeto não foi concebido em Hoje, as melhores parcerias à projeto alemão, como o IKL 214. O
torno de tal sistema. A opção chilena serem feitas para vencer tal desafio ferramental de uso geral, no entanto,
pelo projeto francês, também se deu seriam com os chineses, russos, ou poderá ser empregado na construção
devido ao baixíssimo nível de ruído franceses. Uma possível parceria com de qualquer projeto a ser escolhido.
irradiado (plataforma muito silenciosa), os indianos, que estão construindo O projeto Scorpene é, em outras
ao maior transporte de armamento, à seis submarinos convencionais palavras, um modelo convencional
maior facilidade e rapidez de Scorpene depois de terem reduzido do novo projeto francês para
recarregamento dos tubos de torpedo experimentado a construção de quatro o submarino nuclear Barracuda. O
e mísseis e à maior profundidade de submarinos IKL 209, não deverá ser Scorpene traz em seu bojo muito do
operação do submarino. Os chilenos descartada, já que o país lançou desenho de casco do submarino
estão muito satisfeitos com os seus recentemente o seu primeiro submarino estratégico Le Trionfant, assim como
novos submarinos, ao contrário dos com propulsão nuclear. inúmeros equipamentos de controle de
gregos, com o seu Submarino A decisão do Governo Federal plataforma, empregados nos
Papanikolis, projeto IKL 214, que nunca para a construção de submarinos submarinos de propulsão nuclear, e
foi recebido pela sua Marinha, assim significará para a Marinha uma sensores no estado atual da arte,
como os coreanos, que parecem não decisão para os próximos 30 anos. Os integrados ao sistema de combate de
estar muito satisfeitos com o projeto primeiros 30 anos estão se acabando última geração SUBTICS, compatível
alemão. sem que tenham ocorrido ganhos com o emprego dos torpedos IF21,
Ainda que o problema brasileiro positivos realmente significativos para Black Shark, franco-italiano, Mk 48,
seja ligeiramente diferente do chileno, a Marinha e para o Brasil. As americano, e SUT, alemão, e com os
pois o Chile não tem a construção de orientações da Marinha para a HDW mísseis submarino-superfície Exocet,
submarinos em seu território como uma e a ARMARIS, no início de 2005, SSM 39.
premissa, o Brasil tem como objetivo para a apresentação de propostas,
estratégico o domínio completo da construção, manutenção de O VA (REF) Obino comandou a Força de
tecnologia de projeto e de construção submarinos e fornecimento de Submarinos.
de submarinos, e a manutenção dos equipamentos e torpedos mostraram

20 O
O Periscópio
Periscópio .. 2010
2010
O Periscópio . 2010 21
A Guerra Vista do
Submarino que
Afundou o “Belgrano”
DAVIS LEIGH - Do “Observer” - Folha de São Paulo,
em 02/12/84. Colaboração do Exmº. Sr. Vice-
Almirante João Geraldo Matta de Araújo.

HMS Conqueror

U
m ex-oficial britânico que Há aí alguns pontos do maior posição política bastante embaraçosa.
estava a bordo do submarino interesse: não só as experiências do O oficial conhece o conteúdo do livro
“Conqueror”, quando este autor são politicamente embaraçosas de dados desaparecido - o que se
afundou o cruzador argentino “General para a Grã-Bretanha, como este deixou evidencia a partir de seu diário. Mesmo
Belgrano”, a 2 de maio de 1982, a Marinha e a jurisdição dos tribunais que seja localizado, o Ministério da
concordou em prestar um depoimento britânicos. Defesa não tem sequer a autoridade
exclusivo ao “Observer”, com a garantia Desde seu desligamento da para mantê-lo em silêncio.
de que seu nome seja mantido em sigilo. Marinha Britânica, em 1982, o ex-oficial A atuação do submarino nuclear
Ele fez importantes revelações sobre a passou a dirigir uma empresa nas “Conqueror” tem sido alvo de forte
guerra das Malvinas e, sobretudo, sobre Antilhas. controvérsias desde que atacou e
o afundamento do “Belgrano”, que Nos últimos dez dias, foi afundou o “Belgrano”, quando este se
provocou a morte de mais de trezentos constituída uma comissão de inquérito encontrava fora da zona de exclusão
marinheiros argentinos. para investigar o desaparecimento do decretada pela Grã-Bretanha em torno
O oficial é o autor de um diário que livro de registros (6 volumes) da sala das Malvinas. O diário a seguir trata-
acompanha passo a passo o desenrolar de controle do submarino. E anteontem se de um documento notável, que revela
da guerra. O texto (abaixo) mostra com a Scotland Yard recebeu do governo a o medo e a intensa excitação vividos
extraordinária clareza a mistura de incumbência de descobrir o paradeiro pela tripulação a medida que se
emoções experimentadas pela dos diários, que cobrem o período que aproximava o ataque.
tripulação ao seguir as ordens de o “Conqueror” esteve no Atlântico Sul.
afundar o cruzador. Não se sabe se este oficial teria algo a 29 DE ABRIL
O diário deixa entrever um homem dizer que possa contribuir para a Já percorremos mais de quatorze
corajoso, bem humorado e leal a seus elucidação do mistério. Tudo leva a crer mil quilômetros. Hoje, passamos
companheiros. Mas também revela o que sim, pois ele chegou a recolher rapidamente para as nossas novas
homem perturbado - a exemplo de outro cópias de ordens e dados de navegação áreas em torno das Malvinas e da Terra
oficial da Guerra das Malvinas, o antes de escrever seu diário. do Fogo. As condições estão
falecido tenente David Tinker pela forma Enquanto os parlamentares têm relativamente calmas no alto - pela
como foi conduzida a guerra. sido mantidos na ignorância a respeito primeira vez, desde que chegamos. As
O Ministério da Defesa da Grã- das descobertas da comissão de comunicações são um problema
Bretanha conhece há pelo menos três inquérito, um pequeno grupo liderado terrível, e esta manhã conseguimos
meses a identidade do autor. Breves pelo almirante William Lang, chefe da falar com a Nova Zelândia, que está
extratos do diário aparecem no livro “The segurança naval, tem interrogado os mais perto do que a Grã-Bretanha.
Sinking of the Belgrano” (“O amigos do ex-oficial a respeito de seu Até que estamos sobrevivendo
Afundamento do Belgrano”) publicado paradeiro. apesar de termos que enfrentar defeito
este ano, mas o Ministério não tomou Com tudo isso, o Ministro da após defeito. O barco está claramente
quaisquer providências a respeito. Defesa Michael Heseltine fica numa precisando de uma revi são geral.

22 O Periscópio . 2010
Faz um frio horrível a bordo, e todos distância de cerca de 10 km em sua disparamos três torpedos Tipo 8 contra
tem que usar casacos muito grossos. trajetória para o oeste, esperando que o “Belgrano”. A atmosfera era
os relatórios do nosso serviço de absolutamente tensa, uma tensão que
30 DE ABRIL informações sejam acurados e que eles aumentava a cada segundo. Ao fim de
Passamos para uma área onde a realmente tomem a direção norte e 43 segundos após o primeiro disparo,
única ameaça é o antiqüíssimo entrem em nossa zona. ouvimos a primeira explosão, seguida
cruzador Belgrano, uma relíquia da Ainda nenhuma noticia do porta- de outras duas. Os três haviam
Segunda Guerra Mundial, sem sonar aviões. Deve estar ainda flutuando. acertado o alvo. A cabine de controle
ou equipamento anti-submarino. Além Antes de dormir, um clima de muita virou um pandemônio. Trinta pessoas
disso, há dois destróieres igualmente excitação, pois acreditamos que gritando e aplaudindo.
decrépitos, e um petroleiro. Contudo, entraremos em ação durante a noite O capitão, no periscópio de
ainda não sabemos onde se encontram disparando uns dois torpedos tipo 24. ataque, gritava ordens sem parar. Todos
os dois modernos submarinos estavam histéricos, pulando e gritando.
alemães 209, a diesel. 2 DE MAIO Só depois de dois ou três minutos é
Acabamos de entrar na área agora Bem, eles não são nada bobos - que a coisa se acalmou um pouco.
à tarde - estamos a cerca de 300 km a passaram a noite percorrendo uma linha Voltamos a descer. Depois de uns
sudeste das Malvinas e 180 km a leste paralela à zona de exclusão, mantendo- 20 minutos sentimos um forte baque:
da Terra do Fogo. O tempo hoje está se sempre a cerca de 30 km ao sul de um disparo abaixo da superfície. Todos
inacreditavelmente bom - céu seu limite. Que frustração. Estão ficamos paralisados de medo, mas o
descoberto, muito calmo, sol e navegando a 13 nós e quase não estão mestre deu ordens de preparar o contra-
visibilidade excelentes. É capaz que acionando o radar. Espero que não ataque, e tomamos providências para
seja esta a calmaria que precede a estejam indo para a Geórgia do Sul. a fuga, indo a todo vapor para uma
tempestade. Não recebemos nenhuma notícia de profundidade de (ilegível) pés.
À noite, recebemos uma fora nessas últimas 24 horas, e O silêncio era total em todo o barco
mensagem de que o governo de Sua continuamos sobrevivendo, apesar de - de repente não tinha mais a menor
Majestade decidiu “usar mais forças todos os nossos problemas... graça o que estávamos fazendo. É que
militares” e autorizou a “destruição” do Parece que meu regime está havíamos mudado de posição: de
porta-aviões 25 de Maio. Na realidade dando resultado, finalmente. atacantes passávamos a atacados.
encontra-se na área do “Splendid”. Esta tarde, soube o que era o Durante uma hora, nos deslocamos a
Estamos conseguindo transmitir. medo. Às 1.400 horas recebemos um toda velocidade. Tinha as palmas das
Ainda não há nenhum sinal do inimigo, sinal autorizando-nos a afundar o mãos encharcadas. Teria sido possível
embora tenhamos captado alguns cruzador “Belgrano”, apesar de ele não ouvir o cair de um alfinete. A tensão era
sinais bem fracos à tarde, a uma estar dentro de nossa zona. Já faz mais quase insuportável. Diminuímos então
profundidade de periscópio de 1600 de 25 horas que o estamos seguindo e a velocidade para entrarmos na zona
(pés?) para mais. mantendo dentro da zona de observação de observação do periscópio de 27 km
do periscópio. de onde havíamos sido atacados.
1º DE MAIO Após segui-lo por algum tempo Depois de cinco minutos, outro baque
Os sinais que captamos antes começamos, às 1500
eram do grupo de superfície argentino, horas, a preparar o
e chegamos a cerca de 4 km de ataque. A tensão na
distância deles pela manhã. Há um cabine de controle
cruzador, o “Belgrano”, dois destróieres aumentava sem parar.
e um petroleiro - pegamos esses navios Mergulhamos fundo e
bem no meio de um reabastecimento nos afastamos de seu
no mar. Nessas circunstâncias teria bombordo, ficando a
sido um alvo esplêndido, mas cerca de 4 km de
infelizmente eles estavam ao sul da distância. Constatamos
zona de exclusão. que estava flanqueado
Passamos a maior parte do dia por dois destróieres.
seguindo-os discretamente a uma Às 1600 horas
ARA General Belgrano

O Periscópio . 2010 23
forte, possivelmente um novo disparo. Tomamos um copo de vinho na sala Nossa tarefa agora continua sendo
Isso quando começávamos apenas a dos oficiais, e passamos a noite o patrulhamento antinavios, estamos
relaxar, pensando que estávamos a discutindo o que aconteceu. voltando em direção oeste a 12 nós.
salvo. Isso nos fez voltar à realidade. Acredito que a maioria ainda não Por duas vezes ouvimos destróieres,
De novo manobramos para a compreendeu o que se passou - a buscando e dando disparos ocasionais.
evasão, e silêncio completo em todo o maioria ainda está, como eu, num Talvez estivessem procurando
barco. Acho que estávamos todos estado de euforia. No entanto todos sobreviventes. Foi, em resumo, um dia
morrendo de medo - não estávamos muito longo...
captando nenhum sinal dos destróieres Acho que a maioria de nós quer
no sonar. Então, como é que nos haviam voltar para casa. Nunca pensamos
encontrado a 27 km do “datum” (local quando viemos para debaixo d‘água, que
da ação). Será que eles (os argentinos) tudo isso fosse acontecer. Agora, acho
tinham um avião Neptune, que lançara que estamos totalmente bestificados -
bóias de escuta Jezebel. as pequenas coisas da vida parecem
De repente, parecia que estávamos agora relativamente sem importância, à
sendo perseguidos. Senti-me medida em que a perspectiva da morte
completamente apavorado, trêmulo, vai se tornando real. O único consolo,
suado e com náusea. Pensei no que suponho, é que o fim será rápido e frio.
acabávamos de fazer, nos homens que Ainda não sabemos onde estão os
tínhamos matado. Embora talvez não submarinos S209.
tenhamos afundado o cruzador, o
capitão viu faíscas e chamas alaranjadas 3 DE MAIO
quando nossos torpedos o acertaram... Começa a semana número cinco.
Morrendo de medo, mas Há muita gente terrivelmente nervosa
determinados, continuamos, rezando na tripulação, incluindo eu próprio.
para que os destróieres não estivessem Conqueror regressando após o
Dormi muito mal. Sonhei com bombas
mais ao nosso encalço. Depois de uma afundamento do Belgrano e explosões o tempo todo. Continuo
hora, e finalmente diminuímos a sobressaltado ao menor ruído, e minha
velocidade a cerca de 40 km do cabeça lateja sem parar.
“datum”. Para nosso alívio, não tivemos riem nervosamente, detalhando muito O tempo todo, parece que
mais sinal dos argentinos, e pudemos a questão dos “certos” e “errados” estamos esperando pela próxima
subir para uma profundidade dentro do lembrando a tensão e as sensações explosão. Estamos rezando para que
âmbito do periscópio, para daquelas horas. não seja um torpedo. Estou esperando
transmitirmos então um relatório do que Fui para a cama às 2130, meu ouvir a cabine de som gritar “torpedo,
havia acontecido. coração batendo forte. Qualquer torpedo, torpedo”, ou dizer que há um
Enquanto escrevo, continuo barulhinho causava um sobressalto - destróier a pouca distância. Enquanto
completamente estarrecido. Mal posso minhas orelhas tornaram-se sensíveis estávamos observando pelo periscópio,
acreditar no que fizemos. É tarde ao menor ruído. O mesmo se passava fomos incomodados por um avião
demais para voltarmos atrás e pedirmos com a maioria. Neptune, que nos forçou, em alguns
desculpas. Pergunto-me quantos Quando informamos o QG de momentos a submergir. Tomamos o
morreram. Mais que isso, pergunto-me Northwood do que havíamos feito, rumo oeste e a 2 mil (pés?)
qual será a reação. Os rapazes recebemos um sinal dizendo que “o começamos a voltar para o local de
enfrentaram a coisa muito bem. Uns governo de Sua Majestade autoriza a ataque, o objetivo sendo agora tentar
dois deram todas as demonstrações destruição de todos os navios de guerra afundar os destróieres – “Bouchard” e
de pavor. O resto de nós conseguiu argentinos”. O capitão concluiu a “Bueno”.
guardar seu pavor para si. mensagem com uma citação de Oscar A novidade de hoje é que o
Às 1915 horas (hora local) - saí da Wilde: “Brandy is for heroes” (a citação Belgrano continua flutuando, mas à
cabine de controle, depois de seis completa é “O vinho do porto é bebida deriva, sem o leme. Aparentemente,
horas e meia de concentração total, para cavalheiros, o conhaque é para os dois de nossos torpedos explodiram ao
física e mentalmente exausto. heróis”). atingi-lo, o terceiro errou o alvo, acertou

24 O Periscópio . 2010
o “Bouchard” mas não explodiu. Teria
sido uma façanha conseguir afundar os
dois de uma vez.
Esta noite conseguimos captar o
noticiário noturno da BBC, no qual
afirmou que um submarino
desconhecido atacara o segundo maior
navio de guerra argentino, fora da zona
de exclusão. Os argentinos
aparentemente negaram que tivessem
sofrido danos sérios (é claro que
negariam).

4 DE MAIO
Chegamos ao “datum” na noite
passada e, depois de buscas
intensivas, não encontramos nenhum
sinal nem do Belgrano nem dos
destróieres.
Parece, portanto, que o cruzador
finalmente afundou... Mais ou menos
às 4h00, conseguimos contato com a
superfície... Ao nascer do sol, subimos
à superfície para darmos uma olhada e
descobrirmos que se tratava de um
navio hospital, respaldado por um dos
destróieres.
Logo depois, recebemos um sinal
dizendo que havíamos de fato afundado
o “Belgrano”. Havia mil homens a bordo,
mas ninguém nos disse se havia
sobreviventes - o que, diga-se de
passagem, acho extremamente
improvável. Não fomos autorizados a 5 DE MAIO
atacar o navio hospital, nem o destróier, A primeira novidade do dia não é confirmado que houve mais de
pois este estava ajudando na busca de nada boa. Em primeiro lugar, o oitocentos sobreviventes do Belgrano,
sobreviventes. Assim, rumamos em “Sheffield” foi de fato atingido por um incluindo seu comandante. Assim,
alta velocidade em direção ao norte. Exocet. Aparentemente ainda está suponho que duzentos tenham
Mais tarde, naquele mesmo dia, flutuando, a 70 km ao sul das Malvinas. afundado com ele.
recebemos más notícias (do ataque do A outra má notícia para nós é que Será que isso faz com que alguém
Exocet ao HMS “Sheffield”)... Achamos estamos com um vazamento num dos se sinta melhor, saber que matou
que um dos destróieres pode estar a geradores de vapor. menos gente? Podemos mesmo
caminho, para acabar de liquidar com o Isso poderia ser desastroso - acreditar que não foi tão ruim assim se
“Sheffield”, de modo que estamos indo suicida - se tentarmos manobras de apenas duzentos morreram ao invés de
para lá para interceptá-lo e afundá-lo. fuga após um ataque. Jesus Cristo. mil? Será que os números tornam o
Fala-se muito em “quando Espero que nossos políticos tomem efeito menos terrível. Não é esta minha
voltarmos para casa”, mas ainda juízo e tomem providências para acabar opinião.
estamos muito nervosos e um pouco logo com isso.
fora da realidade. Estranho que não
6 DE MAIO O VA (REF) Matta (In Memorian)
tenha-mos tido nenhum informe por comandou a Força de Submarinos.
muito tempo. A última novidade é que foi

O Periscópio . 2010 25
Como Obter Alguma Coisa ...
Até Submarinos!
(Para Submarinistas “Expertos”)
Vice-Almirante (REF) Ruy Capetti

T
udo o que pretendemos obter, imposições que estabelecermos. No caso do nosso exemplo,
fruto de uma necessidade, Como agora já estamos cogitando um para um navio atender ao requisito de
vamos obtê-lo para usar, objeto físico, esses requisitos são “prontidão operativa”, temos que
satisfazendo àquela necessidade, e referidos como “Requisitos considerar os requisitos de
teremos que mantê-lo. Quer dizer que Operacionais”. confiabilidade e de manutenciabilidade,
as funções operar e manter estão O “par casado” do cumprimento da que irão compor o requisito de
indissoluvelmente associadas. missão (ou dos “Requisitos apoiabilidade, ou seja, facilidade de
Normalmente, quando obtemos Operacionais”), ou missões, é o prover, com sucesso, apoio de
um objeto qualquer é, pois, para “Conceito de Manutenção”, segundo o manutenção (ações decorrentes do
atender a um determinado propósito, qual nos propomos a manter o objeto requisito manutenciabilidade) e apoio
por um determinado horizonte temporal. da obtenção, cumprindo sua finalidade. logístico (instalações físicas,
Afinal, nada é perfeito, nem eterno. Afinal, como já mencionamos linhas equipamentos de testes, ferramentas
O ponto de partida do processo de atrás, nada é perfeito. especiais, etc).
obtenção é conceptual, segundo O que desejamos, no caso de Alguns desses requisitos são
requisitos apontados pelo utilizador, complexos sistemas navais de defesa, referidos às funções, ou “funcionais”
muitas vezes referidos, principalmente por exemplo (um navio), é a obtenção (velocidade, deslocamento, profundidade
no meio militar, como “Requisitos de de um sistema de defesa com elevado de imersão, etc...); outros são
Estado Maior”. São requisitos referidos valor militar (capaz de cumprir com denominados de “requisitos não-
às funções a serem desenvolvidas (de eficiência as funções militares funcionais”, e dizem respeito à
um meio terrestre de combate, por desejadas), traduzido, entre outras adeqüabilidade do sistema. Exemplos
exemplo, como mover, atirar, se características, como um sistema desses últimos, referidos à apoiabilidade,
comunicar ou, em um meio naval de altamente confiável e disponível (como se referem às seguintes áreas:
combate, navegar, detectar, atirar, se decorrência da facilidade de manter, ou “confiabilidade”, “manutenciabilidade”,
comunicar, etc...) isto é, funções a manutenciabilidade), a maior parte do “operabilidade”, “segurança individual”,
serem transformadas, do conceitual tempo e em quaisquer instantes que “segurança física das instalações”,
para um produto (sistema ou serviço) dele precisarmos. Em termos mais “padrões de engenharia”, “meio ambiente”
tangível. Dos exemplos citados, para o técnicos, desejamos do nosso e “apoio logístico”. De um modo geral,
primeiro caso podemos selecionar um sistema, disponibilidade operacional ou, tais requisitos podem decorrer de
tanque, e para o segundo exemplo, um como também é conhecida, prontidão exigência do utilizador, de disciplinas
navio). operativa. técnicas ou de exigências do próprio meio
Seja para produzir algo físico A escolha correta dos requisitos, ambiente em que se irá operar o navio.
(hardware), seja para prestar um linhas atrás mencionados Uma vez estabelecidos,
serviço, essas transformações de genericamente, é que irá garantir o quaisquer desvios desses requisitos
funções visam ao cumprimento do que atendimento da necessidade do necessitam fortes justificativas para
conhecemos como “missão”. Estas utilizador. Escolher requisitos, mais do serem feitos. É importante frisar que a
serão executadas segundo que mera aventura, requer bastante identificação o mais cedo possível
determinados perfis, frutos das conhecimento e profissionalismo. desses requisitos evitará custosas

26 O Periscópio . 2010
alterações do objeto sendo obtido, no
futuro, além de contribuir positivamente
para as análises de compromisso que
conduzam a uma solução custo-eficaz
do objeto selecionado.
Esses requisitos são tão
importantes que devem ser declarados,
no início do processo de obtenção,
ainda no estágio conceitual, com o
mesmo estado, ou mesmos atributos
que receberem as funções do sistema.

Para definir tudo isto, em termos


de valores de fácil compreensão para
todos, temos que usar conceitos que
sejam igualmente compreensíveis por
todos. É quando surgem, em nosso
auxílio, os “parâmetros” - valores
constantes ou variáveis, que em Vamos transformar todo este necessidade de nenhuma manutenção.
questões específicas servem para encadeamento de idéias em um caso Desejamos, apenas, mas isto é
quantificar o que se quer alcançar. real, para exemplificar os parâmetros inalcançável e, nas circunstâncias, já sei
A disponibilidade, a aplicáveis. que ela terá que sofrer alguma
confiabilidade e a manutenciabilidade Digamos que definimos como manutenção e, periodicamente, serviços
serão os primeiros parâmetros a serem necessidade de uma pequena empresa (lavagem, troca de óleo, e outros, que
estabelecidos (quantitativamente) de produção e distribuição de pizzas, são igualmente considerados como
quando dos estudos para identificar o o transporte de seu produto. Uma manutenções programadas). Digamos
sistema (ou equipamento) que irá alternativa exeqüível é a aquisição (o que se aceite que em cada um mês (ou
resolver a necessidade identificada. A mesmo que obtenção) de um cada 10.000 quilômetros percorridos,
apoiabilidade será decorrência deles, automóvel para transporte de carga. Aí como é usual) o carro pare por 2 dias,
levantada por meio do que conhece está definida a missão, ou missões, para as manutenções que forem
como “Análise de Apoiabilidade”.(no para o veículo (a distribuição de pizzas). programadas. Está claro que haverá
campo de atuação do Apoio Logístico Os requisitos que este veículo deverá casos fortuitos de manutenção, como
Integrado) . atender serão seus “requisitos o caso de furo em pneus, uma sujeira
A afirmativa do parágrafo anterior operacionais” (são, por exemplo, que que engasgue o motor, quando se terá
pode induzir a idéia de que os a caminhonete deverá ter a carroceria que parar, imediatamente, o veículo para
Requisitos de Estado Maior (declaração fechada, capacidade de transporte de manutenção, nesta manutenção não
do órgão de assessoramento do que x pizzas, mantendo-as aquecidas por programada, ou corretiva. O tempo total
se deseja obter, em termos ainda y horas, peso máximo de mil duzentos de indisponibilidade será de 3 dias, em
funcionais. Como documento, a quilos, raio de ação de z quilômetros, cada 30, ou 10.000 quilômetros
redação deve se limitar a não mais que consumo de combustível w, velocidade percorridos, em média, neste período.
três ou quatro folhas de papel A4) seja tal, etc...). Estas serão algumas de Aí está, então, definido o “ciclo básico”
o de estabelecer, logo de início, a suas características de desempenho de funcionamento do veículo (em dias,
disponibilidade de cem por cento. Ou desejadas. 27-3)
seja, operar 365 dias por ano! O que é Desejamos, outrossim, que esta Logo, fazemos a escolha do
muito difícil, se não impossível, como caminhonete funcione sempre, sem veículo por meio de um benchmarking
procuraremos mostrar em seguida. solução de continuidade, e sem (escolha de um veículo de carga, entre

O Periscópio . 2010 27
os vários existentes no mercado, que
apresentam as melhores
características que nos convenha).
(NOTA - se não existisse nada que
atendesse aos requisitos que
estabeleci, como por exemplo,
voar, para se safar de
congestionamentos, teríamos que
desenvolver um projeto desde o
início, mas felizmente este não é o
caso). É muito mais econômico partir
do que já existe, e procurar assim
selecionar a melhor solução, até porque
estaria dentro da faixa de competição
no mercado que freqüentamos.
Quantificamos, então, o
primeiro parâmetro: Disponibilidade, de
90%. Neste caso, desejamos ter o
veículo disponível, ou pronto, quando
dele necessitarmos, para fazer tudo o
que foi previsto, nas condições
satisfatórias de funcionamento, 90
vezes em cada 100. Ou seja,
estabelecemos a disponibilidade de no
mínimo 90% para o veículo. Durante
sua vida, em cada 100 vezes de
solicitação, ficaremos frustrados 10,
pois alguma coisa o impedirá de sair,
mas aceitamos tal circunstância.
Digamos que foi escolhido um
fabricante, por exemplo a Fiat, pois o
preço estava dentro do orçamento do
utilizador. Se quiser melhor
disponibilidade, podemos escolher
uma outra marca, talvez a Mercedes,
mas o preço fugiria ao orçamento. Por
isso, 90% está bom.
Mas por que esta mudança de
fabricante pode melhorar a
disponibilidade? Porque tal conceito é
dependente de dois outros parâmetros,
que devemos fixar, em caso de projeto,
para alcançar o valor desejado, ou no
caso de compra, para limitar os
aspectos de custo e de manutenção:
são eles a Confiabilidade e a
Manutenciabilidade.

28 O Periscópio . 2010
Quanto maior a confiabilidade, confiabilidade, a confiabilidade de 100%, palavras, o tempo todo a projetando
maior será a disponibilidade. Vamos conseqüentemente não atingiremos com vistas à apoiabilidade. Esta
entender: se a confiabilidade for 100%, disponibilidade de 100%, o que já postura é um dos principais objetivos
a coisa não quebra, e a disponibilidade podíamos, intuitivamente, prever. do chamado Apoio Logístico Integrado
será maximizada. Nem precisamos Passemos a considerar o (ALI), sendo alcançado por uma
pensar em manutenciabilidade, porque parâmetro manutenciabilidade, ou seja, permanente atitude analítica, por meio
nada vai falhar e não precisaremos de a facilidade de reter ou restaurar o do processo denominado Análise De
manutenção. Mas, como preciso ainda sistema em funcionamento. Quanto Apoio Logístico (hoje, referida como
de pequenas paradas para serviços, maior a manutenciabilidade análise de apoiabilidade, sendo fácil
mesmo assim não terei a estabelecida (tudo tem seu preço, é perceber a razão).
disponibilidade absoluta de 100%. claro), melhor estarei contribuindo para Esta análise se desenvolve
Talvez 99,95%! a disponibilidade da nossa viatura de sobre elementos perfeitamente
Falando mais tecnicamente, carga. Entenderam? definidos no projeto, os denominados
para termos a confiabilidade em 100% Estes dois parâmetros reunidos, elementos do ALI, que são:
(a confiabilidade do hardware, pois conformam o parâmetro que costuma “planejamento da manutenção”;
existe também a confiabilidade referida ser denominado de Apoiabilidade. “pessoal e força de trabalho”; “apoio de
á missão, como por exemplo a missão Em outras palavras, ao falar de abastecimento”; “equipamentos de
deixar de ser cumprida porque o apoiabilidade, estarei me referindo apoio e testes”; “treinamento e
motorista perdeu a chave da ignição. principalmente à confiabilidade (referida dispositivos de treinamento”;
Mas não estamos tratando disso, ao sistema de apoio logístico e “documentação técnica”; “recursos
agora), sendo o modelo de sobressalentes) e à computacionais”; “acondicionamento”,
confiabilidade que costumamos usar manutenciabilidade. “manuseio”, “armazenagem” e
uma função exponencial (porque assim Para atender a esses “transporte”; “instalações físicas”;
o escolhemos.), a relação do tempo de parâmetros, teremos que despender “confiabilidade” e “manutenciabilidade”.
funcionamento t, para tempo entre dinheiro. Se, por um lado, queremos No caso da nossa caminhonete
falhas MTBF (t/MTBF) deve ser zero, que nossa caminhonete atenda as suas de carga, felizmente alguns desses
e isto só pode ocorrer se o tempo de missões com o máximo de elementos já foram considerado por
funcionamento for zero, ou o MTBF for desempenho, estaremos tratando da quem desenvolveu o projeto.
infinito. Estes são limites. Portanto, sua eficácia, por outro lado, para tê-la Há, igualmente, algumas
podemos dizer que, se usamos o naquele estado, incorreremos em posturas de manutenção que nos
modelo exponencial em função dos custos. A relação entre o custo total e permitem otimizar a disponibilidade,
parâmetros t e MTBF, a confiabilidade a eficácia obtida, por nossas escolhas, entre elas a Manutenção Centrada na
tende para 100%, se o tempo de é conhecida como relação custo- Confiabilidade; a Manutenção Produtiva
operação tender para zero, ou o MTBF benefício (ou custo-eficácia). Como não Total, a Manutenção Preditiva, etc.,
tender para infinito. Portanto, não somos perdulários, queremos que esta mas estes são outros tópicos.
poderemos ter confiabilidade de 100%, relação seja a melhor possível, ou seja, Até um submarino é assim obtido.
pelo modelo que estamos usando. nossa caminhonete terá custo mínimo, Veja a figura, que indica os parâmetros
Como curiosidade, se a função de em sua operação e manutenção, a serem considerados, e seus inter-
distribuição de probabilidade for a enquanto que dela obteremos o maior relacionamentos.
exponencial, quando o tempo de benefício. Legal, não? Pode-se perceber que não se
operação do sistema for igual ao MTBF, Claro que, se estivéssemos altera o ciclo básico, sem deteriorar
a confiabilidade será 37%. Procure projetando a caminhonete desde o alguns dos parâmetros que foram
verificar. início (aquela voadora, lembram?) inicialmente estabelecidos.
Mas, continuando, se não estaríamos o tempo todo influindo no
podemos ter, em função do modelo que projeto, para obtermos o maior benefício O VA (REF) Capetti comandou o CIAMA.
adotamos para representar a ao menor custo. Estaria, em outras

O Periscópio . 2010 29
Biblioteca da Força de Submarinos

A Biblioteca Mello Marques possui em seu acervo cerca de 4.000 volumes


Horário de funcionamento:
entre livros, periódicos, folhetos, manuais e multimídias e oferece as
2.ª a 6.ª das 08h às 18h.
seguintes facilidades aos seus usuários:

Endereço:
· Sala de Pesquisa Informatizada composta de 4 computadores
Centro de Instrução e
com acesso à Internet;
Adestramento Alte. Áttila Monteiro
· Empréstimo local e domiciliar;
Aché
· Participação na Rede BIM (Bibliotecas Integradas da Marinha),
Ilha de Mocanguê, s/n.º -
que através do Sistema Pergamum permite a busca de títulos nas
Mocanguê – Niterói/RJ
bibliotecas da MB;
· Empréstimo entre bibliotecas; e
Contato:
· Empréstimos a navios em comissão.
Tel.: 2189-1376, ramal 241
Retelma: 8116-1376, ramal 241
As doações de livros e periódicos relacionados às atividades de
e-mail:
Submarinos, Mergulho, Mergulho de Combate e Medicina Hiperbárica
fernanda.goncalves@ciama.mar.mil.br
serão bem aceitas para compor o acervo.

30 Acervo online
O Periscópio . 2010(Intranet): http://www.sdm.mb/pergamum/biblioteca/index.php
Alguns títulos recomendados do nosso acervo:

ANTIER, Jean Jacques. Les sous-mariniers. Paris: J. Grancher,


1976.
BAGNASCO, Erminio. Submarines of World War Two. Annapois:
United States Naval Institute, 1977.
BEACH, Edward L. Submarine! New York: William Heinemann, 1953.
BEAVER, Paul. Nuclear powered submarines. London: Arms and
Armour Press, c1986.
BENTLEY, John. The thresher disaster: the most tragic dive in
submarine history. New York: Doubleday, 1975.
BLAIR, Clay. The atomic submarine and Admiral Rickover. New
York: H. Holt, c1954.
______. L’extraordinaire histoire du Nautilus: premier sous-marin
atomique. Paris: Amiot, Dumont, 1954.
BURGESS, Robert F. Ships beneath the sea: a history of submarine
and submersible. London: Robert Hale, 1976.
COMPTON-HALL, Richard. Submarine versus submarine: the
tactics and technology of underwater confrontation. New York: Orion,
1988.
______. Submarines and the war at the sea: 1914-18. London:
Macmillan, 1991.
DAVIS, Robert H. Deep diving and submarine operations: a
manual for deep sea divers and compressed air workers. 7th ed. MUYLAERT, Roberto. Alarm! São Paulo: Globo, c2007.
London: Saint Catherine, 1955. OFFLEY, Edward. Scorpion down: sunk by the Soviets, buried by
DE RISIO, Carlo. Quota periscopio: (cento anni di sommergibili the Pentagon: the untold story of the USS Scorpion. New York: Basic
italiani). Roma: Stampa, 1990. Books, c2007.
FLAMIGNI, Antonio; TURRINI, Alessandro; MARCON, Tullio. PASQUELOT, Maurice. Troupes de choc Les sous-marins de la
Sommergibili italiani: cento anni di vita tra storia e leggenda. France libre: 1939-1945. Paris: Presses de la Cite, 1981.
Roma: Rivista Marittima, 1990. POCOCK, Rowland F. Nuclear ship propulsion. London: Ian Allan,
GABLER, Ulrich. Projeto de submarinos. Rio de Janeiro: AMRJ, 1970.
1991. PRESTON, Antony. Submarines: the history and evolution of
______. Submarine design. Koblenz: Bernard & Graefe Verlag, underwater fighting vessels. London: Octopus, 1975.
1998. ______. Submarinos. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1983.
______. U-bootbau. [S.l.]: Wehr&Wissen, c1978. RANDALL, David (Ed.); CALDWELL, Harry H. (Ed.); JOHNSON, Arne
GARRETT, Richard. Submarines. London: Weidenfeld and Nicolson, C. (Ed.). United States submarines. Annandale: Naval Submarine
1977. League, 2002.
HILL, J. Richard. Anti-submarine warfare. 2nd ed. Annapolis: Naval ROCKWELL, Theodore. The rickover effect: the inside story of how
Institute Press, 1989. Adm. New York: John Wiley & Sons, 1992.
HUMBLE, Richard. Submarines: the illustrated history. [S.l.]: RUSH, C. W.; GIMPEL, H. J.; CHAMBLISS, W. C. The complete
Connoisseur, 1981. book of submarines. Cleveland: The world, c1958.
POLLINA, Paolo M. (Comp.); COCCHIA, Aldo (Comp.). I SCHRATZ, Paul R. Submarine commander: a story of World War
sommergibili italiani: 1895-1962. Roma: [s.n.], 1963. II and Korea. New York ; Boston: Ballantine Books, 1968.
KORMILITSIN, Yury Nikolaevich; KHALIZEV, Oleg Anatolievich. SHOWELL, Jak P. Mallmann. U-boats under the swastika: an
Theory of submarine design. Great Britain: [s.n.], 2001. introduction to german submarines: 1935-1947. London: Ian Allan,
1973.
KUENNE, Robert E. The attack submarine: a study in strategy. New
Haven: Yale University, 1965. SOUZA, Marco Polo Áureo Cerqueira de. Nossos submarinos:
sinopse histórica. Rio de Janeiro: Serviço de Documentação Geral
LIPSCOMB, F. W. The british submarine. 2nd ed. rev. Greenwich: da Marinha, 1986.
Conway Maritime, 1975.
STERN, Robert Cecil. U-boats of World War Two. London: Arms &
MARRIOTT, John. Submarine: the capital ship of today. London: Ian Armour Press, 1988.
Allan, 1986.
SUBMARINE: trim and drain systems. [S.l. : s.n.], 1945.
MARS, Alastair. British submarines at war: 1939-1945. Estados
Unidos: Naval Institute Press, 1971. THE SUBMARINE in the United States Navy. Washington: [s.n.], 1960.
MASON, David. U-boat: the secret menace. New York: Ballantine TALL, J. J. Submarinos y vehículos sumergibles. Espanha: Libsa,
Books, c1968. c2004.
MILLER, D. M. O. Submarinos nucleares e com mísseis UNGERER, Guenter Henrique. Submarinos na Marinha do Brasil:
estratégicos. São Paulo: Nova Cultural, c1986. um estudo em estratégia. [Rio de Janeiro]: Comando da Força de
Submarinos (Brasil), 1976.
MILLER, David. Modern submarine warfare. London: Salamander
Book, c1987. WESTWOOD, David. The type VII u-boat. London: Conway
Maritime, 1984.
MOORE, John E. (Ed.) Jane’s pocket book of submarine
development. London: Macdonald & Jane’s, 1976. WHITESTONE, Nicholas. The submarine: the ultimate weapon.
London: Davis-Poynter, 1973.

O Periscópio . 2010 31
“Não ser detectado!”
Capitão de Mar-e-Guerra (RM-1) Kleber Pessek

INTRODUÇÃO

A
utilização da acústica no meio
submarino - sua
especialização do ramo da
ciência acústica e avanço tecnológico
- apareceu devido as duas últimas
Guerras Mundiais.1 Neste contexto, a
arma submarina teve seu maior
incremento no campo político
estratégico. O Almirante Doenitz
identificou que as linhas de
comuncação marítima do Imperio
Inglês, como ponto decisivo de
Clausewitz. “O ponto decisivo na guerra
contra a Inglaterra consiste em atacar
sua marinha mercante no Atlântico.” (Submarino do tipoXXI)
O corte das linhas de comunicação
marítima sempre se configurou, desde
os primórdios, como ponto decisivo de (COMSUBPAC), Vice-Almirante A nova ordem mundial se dividiu
qualquer crise ou guerra. A utilização de Charles Lockwood afirmou que “os em dois blocos, colocando os antigos
submarinos já tinha feito seu papel na submarinos da U.S NAVY tinham aliados (EUA e URSS) como virtuais
Primeira Guerra Mundial. Sir Winston afundado mais de 4000 navios oponentes, sendo a arma submarina e
Churchil compreendeu que “somente a japoneses, totalizando mais de 10.000 seus avanços tecnológicos meio para
derrota dos submarinos (...) é o prelúdio de toneladas, incluindo 8 porta-aviões, disputa marítima estratégica. O
para todas as operações agressivas um encouraçado e 20 cruzadores – e submarino projetado por Helmuth
efetivas”. Enquanto houve possibilidade milhares de marinheiros em navios Walter, alemão do tipo XXI, que iniciou
de ações de submarinos por parte da mercantes”.22 See Blair sua participação na Guerra nos meados
Alemanha, as linhas de comunicação e Após a Segunda Guerra, a de 1944, constitui-se expólio de Guerra
os meios navais poderiam sofrer grandes importância estratégica da arma para as diversas marinhas3, sendo
reveses. AAlemanha acabou perdendo submarina foi finalmente reconhecida, exaustivamente estudado por ambos os
a guerra, porém a arma submarina como podemos constatar pelas lados para desenvolvimento de novos
passou a ser compreendida como arma palavras do Almirante Chester Nimitiz: projetos. Esse projeto foi considerado
estratégica no concerto das Nações. - “Battleships are the ships of base para os submarinos de ataque
O modelo de campanha yesterday, aircraft carries are the ships da US Navy e da Marinha Soviética.
submarina alemã, mesmo tendo sido of today, but the submarines are going Para tornar o submarino mais
condenado publicamente pelos to be the ships tomorrow”. (Os discreto, o passo inicial foi desenvolver
americanos, foi amplamente utilizado encouraçados são os navios de ontem, um submarino totalmente
no Pacífico pela US NAVY. De 1943 à os navios aerodromos são os navios independente da atmosfera. Para tal,
1945, o Comandante da Força de de hoje e os submarinos serão os foram projetados submarinos à
Submarinos Americana no Pacifico navios do amanhã) propulsão nuclear. Bem como a

32 O Periscópio . 2010
necessidade de entender e A tarefa primaz do submarino era Stan Zimmerman.). E assim, a guerra
operacinalizar os principais aspectos destruir os meios de superfície, fossem fria foi realizadas continuamente pelas
do caminho do som no mar, para tornar estes simples mercantes ou um navio Forças de submarinos da US Navy e
o submarino não detectável, ou seja: o de guerra de alto valor tático da Marinha Sovietica e seus aliados.
entendimento por completo do espectro estratégico. Porêm, hodiernamente, o Falar da Guerra Fria parece coisa
do sonoro, não apenas das camadas submarino atua principalmente como do século passado. Porêm, até hoje
próximas a superfície, como em arma antissubmarina, face ao os submarinos vêm desempenhado
camadas mais profundas. desenvolvimento de submarinos importante tarefa estratégica junto às
A utilização de armas nucleares lançadores de mísseis balísticos nações. Como exemplo tivemos, na
como fator estratégico de deterrência (SSBM), bem como lançadores de Guerra das Malvinas/Falklands, o
inciou em 1960, com a política dos mísseis de cruzeiro (SSGN) sendo ultimo afundamento de um navio de
Estados Unidos propalada por Robert parte da triade nuclear. guerra por submarino, com o
McNamara, introduzindo o conceito de Para se manter no alto da “cadeia afundamento do ARA General Belgrano
destruição assegurada do inimigo, no alimentar” no mar, tornou-se necessário pelo submarino HMS Conqueror. O fato
qual se uma nação tivesse de um o desenvolvimento de um complexo interessante é que este foi realizado
quarto à um terço de sua população sistema de sonares. Afinal, as táticas com torpedos convencionais MK-8, de
destruída por artefatos nucleares, os desenvovidas por submarinos para corrida reta, desenvolvidos na II Guerra
dois terços restantes iriam ter sua “caçar submarinos” podem ser Mundial, sendo que o Submarino Ara
capacidade belica e industrial resumidas pela frase “You can`t hit San Luis tentou afundar o corpo
demolida. Para a destruição da URSS, what you can see, but what you can`t principal do Grupo de Tarefa inglês, o
por exemplo – 400 cabeças de combate see can hit you” ( Submarine HMS Invencible, com torpedos SUT,
de 2 megatons Technology for the 21st Century – by não obtendo sucesso. A existência de

O Periscópio . 2010 33
Submarinos de propulsão nuclear na Primeira Guerra Mundial, para (somente no caminho de ida)
propalada Zona de Exclusão Total e até detecção, classificação e ataque à AG = ID = índice de
fora dela, em Patrulha, fez com que a alvos de superfície. A utilização de direcionalidade = ganho do sonar;
Armada Argentina não pudesse exercer sonares no modo passivo, por forças AG = 10 log (S/N array sona) / S/
o Controle de Área Marítima em torno inimgas - sejam estes operados por N 1 hidrofone ) – função do tipo de
do Arquipélago. Talvez, se na ocasião a submarinos, por sonoboias ou meios hidrofone e do tipo de desenho do
Argentina possuísse, na sua Força de de superfície - faz com que projetistas conjunto de hidrofones sonar
Submarinos, maior quantidade de meios navais levem em conta, no PFOM = figura de mérito para
submarinos - mesmo este sendo desenvolvimento de submarinos, a sonares passivos.
convencional - a sorte lhe podeira sorrir. redução do nível de ruído irradiado
A Força de Submarinos no Brasil (NRI), ou seja, cada vez mais A distância de detecção sonar
tem quase cem anos, e o Brasil silencioso, bem como submarinos que passiva está diretamente relacionada
necessita de efetiva proteção dos possam ser posicionados em grandes com o nível de ruído irradiado por um
interesses políticos e economicos do profundidades, onde não podem ser alvo submerso (NRI) Sound Level (SL).
Brasil na sua Zona Economica Exclusiva, detectados.4 O Professor Eugene Miasnikov
principalmente suas reservas de A equação da física que explica a descreve em seu artigo Can Russian
Petróleo e Gás. Para tal, torna-se importância do silêncio a bordo dos Stratégic Submarine Survave at Sea?-
necessária a construção de submarinos submarinos é a “Equação do sonar em The Fundamental Limits of Passive
convencionais e de propulsão nuclear. modo passivo”. Nesta equação, temos Acoustics:
Os submarinos de propulsão nuclear abaixo sua explicação detalhada: - “São raros dados acústicos de
devem ser capazes de grande SL - RF - (DR - ID) = TL= PL submarinos disponíveis que podem ser
mobilidade, permanencia, e alta Onde: encontrados na literatura aberta”. (R. J
capacidade e multiplicidade de SL = Sound Level - nível de ruído Urick – Principles of Underwater Sound
armamentos, bem como buscar a irradiado do alvo em função da – Mc Graw –Hill – 1983 – pp 346/345)
discrição acústica e ser capaz de freqüência; Porém, os dados publicados indicam
detectar outros submarinos, tal qual RF = ruído de fundo; que, em freqüências baixas, nos
outros navios de guerra à longa distância. DR = diferencial de submarinos existentes na II Guerra
reconhecimento em função da Mundial, este nível oscilava estava entre
SILENCIOSO E MORTAL probabilidade de detecção; 120 e 140 dB, à velocidades de 6 à 10
A equação sonar para sonares no PL – Propagation Loss - perda de nós, conforme a figura abaixo:
modo passivo é utilizada desde a propagação em função da freqüência Submarinos ruidosos podem ser

design number SL discrete frequencies SL, 1kHz Submarine speed


in 5-200 Hz spectrum (dB/Hz relative to
(dB relative to 1 Pa at 1m) 1Pa at 1m)
AV-611 (Zulu V) 130-135 110-115 2 economical speed
629 (Golf) 130-135 110-115 2 economical speed
658 (Hotel) 140-145 120-125 4
667 A (Yankee) 135-140 115-120 4
667 B (Delta I) 130-135 110-115 4
667 BD (Delta II) 130-135 110-115 4
667 BDR (Delta III) 125-130 105-110 4
941 (Typhoon) 125 105 4-8
667 (Delta IV) 120 100 4-8
(BDRM)
for comparison:
971 (Akula) 110 90 4-8

34 O Periscópio . 2010
projetos a serem desenvolvidos. O
Professor Eugene Miasnikov explana
em seu artigo que, em cada novo
projeto, os engenherios navais
buscavam diminuir 10 dB. Bem como
que, se tivermos ambos submarinos
em situação de patrulha silenciosa, os
submarinos à propulsão nuclear têm
um maior nível de ruido irradiado, de
cerca de 10 dB.6
Podemos concluir que, cada vez
mais silenciosa e mortal, a “caçada”
realizada por submarinos contra
submarinos se manteve durante toda a
guerra fria, e até hoje permanece, afinal,
“You can`t hit what you can see, But
what you can`t see can hit you” .

Não ser detectado pelos alvos


tradicionais
facilmente detectados em oceanos Secretario da Marinha, John Dalton: “O A equação sonora em seu modo
profundos à longa distância. Na melhor Akula modificado é, em certas ativo se baseia no princípio do eco,
condição sonar, o ruído gerado por um condições, mais silencioso que nossos tendo iniciado seu desenvolvimento a
submarino pode ser detectado a melhores submarinos, o classe 688, partir do inicio da Primeira Guerra
milhares de milhas, devido à existência modernizado.” (classe Los Angeles Mundial. Inicialmente utilizada para
de dutos profundos de som e de zona modernizado)5 sonares ativos na detecção de alvos
de convergência, conforme a figura a A constante comparação entre dos submersos, essa equação sonora, é
seguir: níveis de ruído de submarinos é fator bem utilizada taticamente no
A distância de detecção de um fundamental no projeto e construção posicionamento do submarino frente
submarino ruidoso alcança valores de destes, sendo normal a comparação aos meios de superficie e sonoboias
centenas de quilômetros. No entre submarinos em operação e novos ativas, e nos Helicopteros que tenham
interessante artigo de Miasnikov,
também é divulgado, de maneira
inédita, os níveis de ruídos irradiados
de varios submarinos da atual marinha
russa.
A US Navy Ships também publicou
recentemente o artigo (FAS – Military
Analysis Network –– html: file:/Run
Silent,Run Deep – Navy Ships.mht). No
gráfico abaixo, podemos vislumbrar a
corrida para silêncio empreendida pelas
Marinhas rivais (US Navy e Marinha
Russa). Provavelmente, a divulgação
desses artigos se preste a manter o
desenvolvimento de projetos e a
construção de submarinos de ambos
os lados.
O aparecimento do Akula
modificado em 1993 foi comentado pelo
O Periscópio . 2010 35
capacidade de operar transdutores em 3) Lóbulos nas marcações de 20 º
ativo, bem como torpedos no modo a partir de proa e de popa, aumentando
ativo. em 1 ou 2 dB acima do nível geral,
A guerra antissubmarina provavelmente causado por reflexões
convencional desenvovida por meios de internas nos tanque da estrutura do
superfície se baseia, principalmente, na submarino. Estes lóbulos não
equação sonar no modo Ativo. aparecem em submarinos de propulsão
Para operação em ativo, o modelo nuclear, por este não possuir tanques
de desempenho é: de lastro e tanques de óleo fora do
2PL= SL + TS + (ID - DR) - BW casco resistente. (US Navy)7
Onde: estanques, como apêndices do casco 4) Uma forma circular em outros
PL = TL = Perda de propagação resistente; aspectos, devido a uma multiplicidade
na freqüência determinada (ida e volta); d) Comprimento de onda do som de espalhamento em torno da
SL = Nível da fonte na freqüência incidente; complexa estrutura de um submarino
designada. O nível da fonte ativa não e) Ângulo de incidência do som; e seus apêndices existente no casco.
pode ser classificado como ruído, tendo Desta forma, o aspecto acústico
em vista que, normalmente, possui que contribui para discrição acústica Para minorar as condições de
apenas uma freqüência central; sempre deve ser fator primaz no reflexão sonar diminuindo-se o Target
TS = Target Strenghts - desenvolvimento de projetos de Strength, podemos ainda considerar o
Intensidade do alvo; é a razão entre as submarinos. O Target Strenghts, elencado na tabela abaixo, retirada do
intensidades do sinal incidente e portanto, é função do diâmetro do livro Principles of underwater sound (3.º
refletido por uma superfície; casco e do tipo de desenho de casco, edição - Robert J.Urick - Página 320).
TS = 10 log Ir / If conforme demonstrado no Physics of
Ir = intensidade de retorno à 1 sound in the sea –Department of the table 9.2 Method of Target
metro; Navy Headquarters Naval Material Strength Reduction
If = intencidade da incidencia do Command – Washington D.C. - 20360 Redução para baixas freqüência - s
sinal sonoro; -1969, pela formula de Fresmel. Tal Wavelength Large – Low frequencies
DR = diferencial de equação também é demonstrada no
reconhecimento, em função da Volume Reduction – reduzir o volume
capítulo 23, em função do aspecto do
probabilidade de detecção; do alvo submarino
alvo e do ângulo de incidência (altitude
AG= ID = índice de direcionalidade; angle), devendo-se considerar a Redução para altas freqüências -
BW = correção para largura de possibilidade de que o casco do Wavelength Small – High frequencies
banda submarino tenha tratamento acústico. Body shaping – desenho do alvo
AFOM = Figura de Mérito para A variação do Target Strength, de Anechoic coatings – existem varios
sonares no modo ativo. acordo com o aspecto do alvo, é tipos de revestimento anecoico que
A importância da redução do TS, descrita em Principles of Sound Water, podem ser colados ou mesmo
seja na esfera tática ou de por Robert J.Urick, nas páginas 309 à aderidos ao casco por pintura, a fim
desenvolvimento industrial do projeto, 310. O modelo tipo Borboleta abaixo é de reduzir o seu retorno acústico,
seja na forma de reduzir o retorno do considerado como padrão para os sendo que os principais tipos de
sinal, é essencial à sobrevivência do submarinos, tendo as seguintes tratamento estão descritos abaixo:
submarino para sonares em ativo. São características:
- Viscous absorbers –revestimento
considerados os seguintes fatores 1) Aspecto tipo Asa pelo traves,
absorvedor de ondas sonoras do tipo
determinantes do Target Strength: atingindo o valor de 25 dB, devido à alta
viscoso, que atenuam a onda sonora
a) Forma do alvo; reflexão obtida pelo través;
ao chegar da mesma no casco do
b) Tamanho do alvo; 2) Baixa reflexão no aspecto proa
submarino, e pelo processo de
c) Situação de compartimentos e popa, devido ao desenho do casco;
conversão de calor a onda retorna

36 O Periscópio . 2010
atenuada a partir mesmo. Materiais A redução do Target Strength não A operacionalidade de sonares
com metais e borrachas são um deve ser encarada como um novidade rebocados em patrulhas, para
exemplo deste tipo de revestimento. afinal, “durante a Segunda Guerra detecção de submarinos e alvos de
- Gradual-transition coatings – Mundial, a Marinha Alemã realizou superfície, depende não só do perfil de
graduação de revestimento pesquisas e desenvolvimento de velocidade do som no mar e suas
acústico, transição gradual revestimento, que atenuava as condicionantes geográficas da área,
revestimento constituído por emissões de sonares e reduzia a como também do ganho sonar (AG)11,
cunhas ou cones com seus pontos intensidade do sinal, reduzindo o Target tendo os seguintes fatores:
apontados na direção ao som Strengths. Foi desenvolvido pelo 1) A relação dos sinais recebidos
incidente. projetista alemão Alberich uma camada por dois hidrofones também é
de 4 mm de borracha, que atenuava as adicionada à fase do sinal, bem como
- Cancellation coatings - O
emissões sonoras de 10 kHz - 18 kHz a distância entre os hidrofones. O
cancelamento do sinal sonoro é
em cerca de 15%, dependendo da principio da correlação é utilizado por
obtido por meio de revestimento de
profundidade do submarino”8 sonares do tipo PRS e AN-BQG-6
camadas alternadas de material que
Atualmente, os tratamentos são (presentes nos submarinos da classe
acústico que tenham grandes e
bem melhores, sendo utlizadas por Tupi e nos submarinos da classe
pequenas perdas de reflexão
marinhas mais avançadas, como foi Seawolf, respectivamente) sendo que
sonoras refletindo as fases do sinal
publicado que “para as freqüências do a distância mínima entre duas placas
sonoras com ângulos opostos, de
Sonar AN-BQQ-5, a atenuação varia de hidrofones deve ser a metade do
modo que nenhum som é devolvido
entre 25% a 50%”9. O tratamento não comprimento de onda da freqüência a
a partir do alvo. Infelizmente, o
apenas diminui o TS como reduz o nível ser monitorada.
cancelamento ocorrer apenas na
de ruído irradiado, como publicado na Por isso, quando o tamanho de um
incidência normal, e há pouco ou
impressa (“HMS Superb negou sua conjunto de hidrofones é restrito à ser
nenhum efeito em outras direções.
detecção durante todo exercício de comparável com o comprimento, ou
- Quarter-wave layer – Tendo se Submarinos vs Submarino (SubSub), menos, de onda do sinal recebido
um revestimento de 1 / 4 do com dois submarinos classe (como no caso de um conjunto fixo de
comprimento de onda da freqüência do Sturgeon”).10 sonar de submarino), a matriz ganho
sonar emissor de espessura igual à será fortemente limitada.
impedância acústica (pc) sendo à ALCANCE SONAR A figura demonstra o sistema de
média geométrica entre os materiais A previsão de alcance sonar está hidrofones existente no AN-BQQ-5
em ambos os lados, como, por diretamente relacionada com a (sonar do submarino classe Los
exemplo, da água e do aço freqüência, as condições sonoras Angeles), para a freqüência de 30 Hz,
teoricamente com tal ajuste de existentes na área de operação e os sendo então a principal restrição o
condições obtém-se a camada perfeita tipos de sonares existentes em tamanho do conjunto de hidrofones. Tal
que é um jogo entre Impedância os dois submarinos. qual nos tipos demonstrados, o ganho
materiais, e assim os sons refletidos. Em relação a alcances sonares e do conjunto de hidrofones rebocados
- Active canacellation – as ameaças hodiernas, no
cancelamento ativo das freqüências que tange os submarinos
recebida,s onde a recepção de som nucleares, - sejam de
é acompanhada no alvo e é gerado construção americana ou
um sinal idêntico defasado de 180 º russa -, verifica-se que o NRI
na fase, para ele por uma pequena (Sound level) é mais altos
fonte sonora. Essa técnica tem sido nas freqüências de 60 Hz e
utilizada para a redução das reflexões 50 Hz, respectivamente. (
em um tubo de transdutor E.V Miasnikov, The Future of
calibrações, bem como utilizada por Russia´s Strategic Nuclear
despistadores lançados por Forces Discussions and
submarinos. Arguments)

O Periscópio . 2010 37
hidrofones deve observar a distância entre os dois
receptores, no qual o coeficiente de correlação do sinal
recebido é igual a 0,6.
Conforme ilustra a figura abaixo, podemos verificar
que os sensores fixos de casco são ineficientes para
detecção, a longa distância, de freqüências abaixo de
300 Hz. Atualmente, um submarino que não consiga
detectar outro submarino a longa distância – e,
conseqüentemente, em freqüências baixas - será
ineficaz para detecção de suas principais ameaças.
O desenvolvimento de plataformas sonares
buscando maior ganho nas freqüências abaixo de 300
Hz explora a curva de ruídos observada nos principais
ambientes marinhos por Knudsen, pois quem tem
sonares com menor ganho, para freqüência abaixo de
300 Hz, tem sua capacidade de detecção sonar
bastante comprometida com os ruídos ambientais
existentes. Considerando os dados de detecção de
submarinos, podemos concluir que as distâncias de
detecção apresentadas nas tabelas obtidas no artigo
de Miasnikov demonstram que a utilização do Sonar
towed array aumenta em muito a detecção de
submarinos, conforme o demonstrado na respectiva
tabela (3)
Apesar da detecção do TA em águas rasas ficar
não será superior à 12 dB. deteriorada, observa-se, ainda, uma distância de
Como pode ser facilmente visto, o sonar fixo é ineficiente detecção sonar maior que em um submarino que não
em freqüências abaixo de 300 Hz, onde estão os fortes e principais o possua, demonstradas nas tabelas a seguir (4 e 5).
tonais existentes em submarinos. Esta é a razão pela qual os Pode-se mensurar em minutos a diferença de ser
sonares rebocados towed array são utilizados. Somente sonares ou não ser detectado, pois quem primeiro for detectado
desse tipo permitem que um submarino possa detectar outro a e classificado, certamente, em guerra, será destruido.
longa distância. “The only safety lies in stealth” (Submarine Technology
2) A segunda restrição sobre a matriz ganho se deve ao for the 21th Century, by Stam Zimmerman).
fato de que o comprimento de um conjunto de hidrofones As marinhas mais modernas e operativas utilizam
aumenta, sendo que o sinal recebido nas duas extremidades o towed array, conforme podemos visulizar a saida
do arranjo de hidrofones podem se observar à perda da desse sensor nos seguintes submarinos:
correlação. Para que o principio da coerência na detecção do
MARINHA RUSSA
som seja respeitado, o projeto de construção do arranjo de
SSBM TYPHON
SSN AKULA
MARINHA AMERICANA
SSBM SSGN CLASSE “OHIO”

O Submarino dotado de towed array


(rebocado) tem acrescida sua capacidade
para realizar guerra anti-submarina (ASW)
e guerra anti-superfície (ASUW).

38 O Periscópio . 2010
Sua capacidade de engajamento é apenas em águas acústicamente SSGN CLASSE “OHIO”
reforçada devido à possibilidade de rasas, ou seremos detectados a maior
detecção a longa distância e, distancia, clasificados e finalmente
conseqüentemente, à classificação de atacados. Sem a ocultação,
contatos, bem superior a submarinos perderemos a iniciativa das ações,
que não disponham deste equipamento. passando de “caçador” à “caça”.
O submarino de propulsão nuclear Tendo em vista a situação
com towed array (SSN/TA), com sua geográfica do litoral brasileiro - com
inerente característica de mobilidade, grande parte de sua Zona Economica
tem capacidade de patrulhar áreas com exclusiva dentro da plataforma
maiores dimensões, detectando, continental - e as recentes descobertas
classificando e acompnhando contatos petrolíferas, pode-se dizer que a nação 1
Robert J. Urick – Principles of Underwater
por logos períodos de tempo. deve empreender significativos esforços Sound.
2
See Blair – Silent Victory vol -2 pp 851-52
Os submarinos convencionais políticos, economicos e tecnológicos 3
The United States received U-2513 and U-
também podem ser dotados com towed para que o Poder Naval no pais possua 3008, which were commissioned into the
array, enquanto possuam a mesma submarinos de propulsão nuclear e United States Navy. U-3017 was
commissioned into the Royal Navy as HMS
capacidade de detecção acústica do convencionais - silenciosos e letais. N41, and U-2518 became French submarine
SSN (TA), e ainda assim, Desta forma, o Poder Naval poderá atuar Roland Morillot. U-3515, U-2529, U-3035, and
U-3041 were commissioned into the Soviet
permanecerão limitados pela menor de forma dissuasória para interesses Navy as B 27, B 28, B 29, and B 30
mobilidade. A capacidade de economicos exógenos. Afinal, a respectively. German Type XXI submarine
From Wikipedia, the free encyclopedia
acompanhamento de contatos é operação de submarinos define quem 4
Run Silent, Run Deep – FAS – Military
prejudicada também pela sua menor vence as guerras e se impôe nas crises, Analysis Network – US Navy Ships – html:
mobilidade, se comparada a mesmo antes destas surgirem no file:/Run Silent,Run Deep – Navy Ships.mht
5
- Navy Secretary John Dalton .......” the
submarinos de propulsão nuclear. Este horizonte. “The infantry captured, but improved Akula, that is, under many
é p fator principal que limita o tamanho submarines decided who would win.” - conditions, quieter than our best submarines,
the improved 688 class.” – he told a
da Zona de Patrulha dos submarinos (Submarine Technology for the 21st congressional breakfast. – Submarine
convencionais Century – by Stan Zimmerman). Technology for the 21 st Century- by Stan
Zimmerman.
6
SSBN Typhon “In our calculations we made the assumption
CONCLUSÃO that within a “quiet” mode the difference in
Conforme demonstramos, as noise level between strategic nuclear
submarines and diesel submarines, which
táticas de submarinos estão were developed at the same time, is 10 dB”.
diretamente ligadas às duas equações (Can Russian Strategic Submarine Survive at
Sea? The Fundamental Limits of Passive
de sonares passivos e ativos. Para não Acustics, by Eugene Miasnikov)
sermos detectaveis, devemos ser 7
Atualmente, na tendencia de construção e
silenciosos e reduzir ao máximo o projeto de submarinos convencias ou de
propulsão nuclear, os tanques de lastro se
Target Strenght. Para detectarmos localizam na proa e popa do submarino, e
outro submarino, devemos possuir um os tanques de nafta (oleo diesel) são internos.
8
SSN Akula “Submarine Technology for the 21st Century
complexo sistema sonar, com ampla – Chapter 6 - Silence Makes Perfect” by Stan
capacidade de detecção e classificação Zimmerman”
9
sonar. “Submarine Technology for the 21st Century
– Chapter 6 - Silence Makes Perfect” by Stan
Para que um sistema sonar opere Zimmerman”
nas freqüências de 0,1 à 300 Hz, torna- 10
“Jane´s Defense Weekly em 20,fev,88
11
se necessário um complexo sistema AG = ID = índice de direcionalidade =
ganho do sonar;
com sonares esfericos, conformal array
AG = 10 log (S/N array sona) / S/N 1 hidrofone
e towed array (TA), uma vez que, abaixo ) – função do tipo de hidrofone e do tipo de
de 300 Hz, o ganho dos sonares de desenho do conjunto de hidrofones sonar

casco é proximo a zero. Tal fato faz


com que, sem o towed array, mesmo O CMG (RM-1) Pessek é Instrutor de
Emprego Operativo no CIAMA
que muito silenciosos, patrulhemos

O Periscópio . 2010 39
Estudo do Stress Oxidativo em Submarinistas

Capitão-de-Corveta (Md)
Fátima Teresinha L. Vieira

INTRODUÇÃO

R
adicais livres são moléculas
formadas naturalmente no
organismo humano,
resultantes de processos metabólicos
que ocorrem na transformação dos
Foto: Campos Neto
nutrientes absorvidos dos alimentos
em energia. Têm a capacidade de OBJETIVO 3.3 nmol/ml antes do início da viagem
modificar a maioria das moléculas Avaliar o stress oxidativo em e de 2.0 a 4.9 nmol/ml após o término
biológicas, podendo alterar o submarinistas, através da dosagem do da mesma, sendo que houve aumento
funcionamento das células. dialdeído malônico sangüíneo, um significativo em 25% dos indivíduos
As células do corpo humano aldeído de cadeia curta, produto da estudados, o que pode corroborar a
possuem enzimas protetoras que peroxidação lipídica. teoria de que um longo período de
reparam 99% dos danos causados exposição à atmosfera do submarino
pelos radicais livres, mas o efeito METODOLOGIA
altera a bioquímica celular. Porém, faz-
Foram avaliados oito
cumulativo da exposição aos mesmos se necessário um aprofundamento do
submarinistas com variação de idade
pode levar a lesões celulares estudo no sentido de avaliar o impacto
entre 28 e 36 anos, que viajaram por
irreversíveis ou até mesmo a mutações, dos achados descritos, uma vez que
um período de cinco meses.
favorecendo o desenvolvimento de a população estudada foi em número
Todos os indivíduos, após
doenças (câncer, doença de reduzido e não foram avaliados outros
assinarem o termo de consentimento
Parkinson, mal de Alzheimer, por fatores concomitantes que também
livre e esclarecido, responderam um
exemplo), o enfraquecimento do podem ter contribuído para o aumento
questionário relativo a patologias
sistema imunológico e o do malonaldeído.
existentes ou pregressas, hábitos
envelhecimento precoce. A esse
alimentares, atividade física,
desequilíbrio celular provocado pelo
tabagismo e alcoolismo. REFERÊNCIAS:
excesso de radicais livres chamamos
Os níveis de radicais livres foram 1. BOVERIS, A.; CHANCE, B. The
stress oxidativo. mitochondrial generation of hydrogen
avaliados pela quantificação do peroxide. General properties and effects of
Além dos processos metabólicos, hyperbaric oxygen. Biochem. J. 134:707-716
malonaldeído, através da coleta de
há causas externas para a formação (1973).
amostras sangüíneas antes do 2. CEDERBAUM, A. I. Alcohol, oxidative
de radicais livres em excesso, a saber:
submarino suspender e logo após sua stress and cell injury. Free Radical Biology
poluição ambiental, tabagismo, and Medicine. 31:12:1524-1526. (2001).
atracação.
alcoolismo, grande consumo de 3. Free radicals in biology and medicine. Oxford
University Press Inc. Nova York. 3. ed., 1999
gorduras saturadas, raios solares UV,
CONCLUSÕES
etc. Quanto maior a exposição, maior
A concentração sangüínea A CC (Md) Fátima é Encarregada da Divisão de
a quantidade de radicais livres Medicina Hiperbárica no CIAMA.
do malonaldeído variou de 2.3 a
formados.

40 O Periscópio . 2010
O Periscópio . 2010 41
Emprego de AIS por submarinos
Primeiro-Tenente Gustavo Marne Gonçalves

INTRODUÇÃO

A
segurança de um Figura nº 01
submarino, seja na paz ou
na guerra, está
intimamente ligada à
disponibilidade do maior número
possível de sensores. Seus
empregos variam de acordo com o
quadro tático, cabendo ao
Comandante avaliar a relação entre
segurança e discrição.
A compilação do quadro tático
de forma rápida, eficaz e discreta é
essencial para que o Comandante
possa tomar decisões seguras em
frações de segundos. Para isto,
toda a tripulação deve empenhar- Esquema de troca de informações pelo AIS. Ressalta-se que os navios de guerra
não são obrigados a transmitir suas informações.
se incansavelmente e explorar toda
a capacidade dos diversos
equipamentos, para obter o maior Sua capacidade é de reportar até 4.500 contatos por minuto, atualizados a
cada 2 segundos. As seguintes informações são disponibilizadas:
número de fragmentos de
informações, com a finalidade de A) Proa;
B) Rumo;
assessorar o Comandante com Os dados listados de A
C) Velocidade; até F têm aplicação direta na
segurança e precisão.
D) Rate de guinada; segurança do submarino,
Neste artigo, será abordado pois são elementos
E) Latitude e longitude;
como o Sistema de Identificação fundamentais para a análise
F) Classificação; de movimento do alvo (AMA).
Automática (AIS) pode ser G) Número de registro na Aqueles listados de G até N
empregado como sensor a bordo Organização Marítima podem ser utilizados para
de nossos submarinos. Internacional (IMO); classificação de contatos,
H) Nome da embarcação; utlizando-se um banco de
dados com informações
I) Indicativo rádio internacional
AUTOMATIC IDENTIFICATION (IRIN);
atualizadas do Controle
SYSTEM: HISTÓRICO E Naval do Tráfego Marítimo e
J) Classificação; dados de inteligência.
UTILIZAÇÃO
K) Porto de origem; O sistema permite ainda
O Universal Shipborne a comunicação entre navios,
L) Porto de destino;
Automatic Identification System através de transmissão de
M) Tipo de Carga; e mensagens escritas, do tipo
(AIS) é capaz de prover N) Outras informações. “e-mail”.
automaticamente informações de
um navio para outro e para estações
de controle do tráfego marítimo. A

42 O Periscópio . 2010
Organização Marítima Internacional uma faixa de frequência pré- submarinos desde fevereiro de 2006,
(IMO) adotou o sistema como determinada (12.5 KHz). Os demais com o objetivo de obter, em tempo real,
obrigatório para a Salvaguarda da Vida navios e estações que se encontram uma visão geral da situação na
Humana no Mar, em 06 de dezembro dentro do alcance de transmissão3 superfície.
de 2000, através de uma emenda da recebem o pacote de dados, sendo As utilidades do sistema foram
Convenção SOLAS-74, que entrou em este processado em um computador. rapidamente comprovadas pelo
vigor a partir de julho de 2002. Em seguida, os dados são Comandante do USS ANNAPOLIS,
A instalação é regra em apresentados ao operador através de Don Neubert, ao operar o recém-
embarcações com tonelagem bruta de um display. A integração com sistemas instalado AIS em uma missão no
300 toneladas ou mais, quando de cartas eletrônicas e com radares é Mediterrâneo. Ele afirma que pôde
envolvidos em viagens internacionais, feito sem maiores dificuldades, e é correlacionar as informações com os
e em embarcações com tonelagem realidade na maioria das plataformas. demais sensores de bordo, para ter
bruta de 500 toneladas ou mais, certeza do quadro tático 6. A antena
quando operando em águas costeiras. do equipamento está instalada no
Os navios de guerra não são obrigados periscópio 2 do referido submarino, e
a possuir o equipamento e, caso o custo aproximado de sua instalação
possuam, podem desabilitar seu modo foi de US$ 9.000,00. Segundo Katie
de transmissão. Eberling, porta-voz da Intermediate
No Brasil, cabe ao Comando do Maintenance Facilities, empresa
Controle Naval do Tráfego Marítimo responsável pela instalação dos
(COMCONTRAM),a compilação das primeiros sistemas, este valor caiu pela
informações, que são recebidas nas Display do AIS Furuno FA-150, metade a medida que procedimentos
estações instaladas ao longo da costa, instalado em diversos meios da MB. para instalação foram revisados.
junto a Organizações Militares (OM), Em 2008, a Marinha dos Estados
Figura nº 02
aos faróis e a diversos auxílios à Unidos iniciou testes com um
navegação. Estas estações Ressalta-se que o AIS pode periscópio panorâmico, capaz de
transmitem as informações recebidas operar como um sensor passivo prover imagem em 360º. Em suas
para o Centro do Controle Naval do quando instalados em navios de especificações, está prevista a
Tráfego Marítimo, através de enlace de guerra, pois estes inibem a integração das imagens obtidas com
dados. Os navios da MB, que transmissão de dados. as informações do AIS. Os
possuem o equipamento instalado, Para atender aos requisitos de submarinos da classe 210, operados
compilam as informações obtidas transmissão contínua de informação, pela Marinha da Noruega, também
durante suas operações no mar e as os diversos modelos possuem GPS prevêem a utilização do AIS integrado
enviam rotineiramente para o Centro embutido, podendo servir de backup ao seu sistema de combate.
de Controle, servindo de plataformas para os sistemas já existentes a Além das aplicações táticas
avançadas. bordo. supracitadas, o equipamento AIS
incrementa a segurança da
FUNCIONAMENTO APLICAÇÃO DO AIS EM navegação, tanto na cota periscópica
SUBMARINOS como na superfície, principalmente em
O sistema AIS é concebido para situações de baixa visibilidade, nos
que haja troca de informações Devido a possibilidade de pontos focais e nas entradas de portos.
automática entre as estações através operação em passivo, a instalação do A possibilidade de troca de
da transmissão de um pacote de AIS a bordo de submarinos já é mensagens também pode ser
dados digital via rádio, em VHF. realidade em diversas Marinhas. considerada como recurso de
Um navio transmite A Marinha dos Estados Unidos comunicação em emergência, em
“continuamente” suas informações em possui AIS instalados em seus tempo de paz.

O Periscópio . 2010 43
submarinos. Por ser um sistema de
alerta em tempo real, as informações
podem ser apresentadas em Cartas
Eletrônicas (o SAETE, por exemplo,
já é preparado para receber as
informações do AIS), nos displays de
radares que possuam o sistema ARPA
e até mesmo em uma mesa de
plotagem digitalizada.
Apesar das especificações que
deverão ser observadas para
implantação em um submarino, deve-
se ressaltar que a disponibilidade de
sobressalentes, continuidade de
produção e menores custos
caracterizarão cada vez mais o AIS,
devido à sua obrigatoriedade e ampla
aplicação em diversos serviços da
comunidade marítima.
A operação deste sistema em
diversos navios da MB também é um
fator facilitador. No entanto, é
importante frisar que o emprego do AIS
pelos submarinos não deve ser
Operação do AIS a bordo do USS NEVADA (SSBN-733). O sistema é integrado a um
radar comercial com capacidade ARPA (Automatic Radar Plotting Aids). O radar considerado como fonte de
SCANTER-MIL 24X do S. TIKUNA, possui esta capacidade. informações em primeira instância para
o COMCONTRAM, pois isto
comprometeria a sua capacidade de
UMA OPÇÃO PARA OS permanecer submersa. No USS ocultação.
SUBMARINOS DA MARINHA DO ANNAPOLIS, a antena utilizada já
BRASIL existia no periscópio. CONCLUSÃO
A operação do sistema por Na concepção de um projeto AIS Conhecer o AIS e analisar a sua
tradicionais e conceituadas Marinhas para submarinos, devemos considerar possibilidade de emprego em prol de
comprova-nos, portanto, sua utilidade a possibilidade de se utilizar nossos submarinos expressa o
e viabilidade técnica. A parte técnica instalações pré-existentes. No compromisso que devemos ter com a
do Projeto AIS, na MB, vem sendo entanto, esta opção pode restringir o Força de Submarinos e com a Marinha
conduzida pela Diretoria de emprego do equipamento, pois o do Brasil, de buscar continuamente a
Comunicações e Tecnologia da arranjo deve ser feito de modo a não excelência, através de soluções
Informação da Marinha (DCTIM). No aumentar a taxa de indiscrição. Salvo criativas e que se comprovem
entanto, apesar do know-how deste melhor juízo, a instalação de uma eficientes e viáveis. Tal busca exige
Órgão de Direção Técnica (ODT), as antena exclusiva para o AIS deve ser que observemos, com olhar crítico, as
peculiaridades do submarino implicam feita em um dos periscópios ou no novidades e tendências tecnológicas
na análise de alguns fatores sob a mastro do esnórquel. que surgem diuturnamente, dentro e
ótica de um submarinista. A vasta capacidade de integração fora de nossa área de atuação.
O primeiro ponto a ser analisado do AIS deve ser bem explorada,
é acerca da antena de recepção. Ela principalmente nos processos de O 1T Marne pertence à tripulação do
deve ser estanque, apropriada para modernização e construção dos S.Tamoio

44 O Periscópio . 2010
O Periscópio . 2010 45
Mergulhadores na Guerra de Minas
Capitão-de-Corveta Marcus Vinicius de Castro Loureiro

N
os dias atuais, nas marinhas
com melhor preparo para a
Guerra de Minas (GM),
(Estados Unidos da América do Norte,
Bélgica, França, Austrália, Inglaterra,
Canadá e etc.), equipes especiais são
responsáveis pela desativação de
artefatos explosivos. Estas equipes
são compostas por mergulhadores,
chamados de “Explosive Ordnance
Disposal” (EOD), que possuem
treinamento diferenciado em técnicas
e táticas advindas das melhores
escolas: de mergulho, de meios de
detecção e de explosivos, sejam elas
militares ou civis. Operam em conjunto
com os meios de superfície e aéreos
da GM e são organizados e equipados
para apoio às operações de Minagem
e, principalmente, Contramedidas de
Minagem (CMM).
Uma equipe do EOD embarcada
amplia a capacidade do comandante
em uma missão da GM. Ela está
habilitada a localizar positivamente
“contatos1”, classificá-los, recolhê-los,
neutralizá-los ou destruí-los, podendo
vir a ser utilizados para a realização
de pesquisas em uma área minada,
de dimensões limitadas, e que
apresente fatores como profundidade
e visibilidade da água, favoráveis,
tendo-se o conhecimento que tal
pesquisa raramente resultará na
detecção e localização de todas as
minas.
Para realizar suas missões de
CMM, uma equipe do EOD dispõe de
um inventário de ferramentas e
equipamentos especiais e dentre elas
destacam-se:

46 O Periscópio . 2010
a) Ferramentas não magnéticas; segurança e os procedimentos características de Doutrina ofensiva, é
b) Cargas explosivas; operacionais específicos desenvolvidos, o recolhimento de minas para análise e
c) Equipamentos de mergulho não sempre objetivam o aumento da margem desta forma permitir a aquisição de
magnéticos; de segurança para a atividade destes informações críticas para o
d) Sonares portáteis; mergulhadores. planejamento das CMM (tipos de
e) Magnetômetros; e minas, táticas e técnicas empregadas
f) Embarcações de apoio. AS OPERAÇÕES COM OS EOD pelo inimigo e, até mesmo, as
As operações com o EOD são plataformas lançadoras). No entanto, na
Em virtude da proliferação de
diferenciadas e exigirão sempre maioria dos casos são empregados em:
explosivos pelo mundo e do grande
excelentes condições de comunicação
avanço tecnológico empregado nas a) CCMM (Contra-Contramedidas de
para sua coordenação. São Minagem);
minas na última década, alguns países
inerentemente perigosas, muitas
mantêm, através de uma Divisão de b) Apoio aos navios caça minas (quando
vezes indo de encontro a artefatos/
Tecnologia, um contínuo programa de o número de minas é elevado, quando o
minas muito sensíveis e/ou condições caça minas não dispõem da capacidade
desenvolvimento de novos equipamentos
ambientais desfavoráveis. Portanto, adequada ou quando a neutralização
e técnicas para os seus mergulhadores.
seu emprego só deverá ser pelo caça minas não puder ser efetuada
Esta iniciativa permite que as equipes
considerado no caso de “outras em virtude da proximidade com
do EOD disponham do “estado da arte” equipamentos ou instalações); e
opções2” não estarem disponíveis.
em procedimentos e aparelhamento
Sua função primária, em apoio às c) Neutralização ou destruição de
voltados para a GM. Estes equipamentos
operações de CMM, em países com Minas Derivantes.
especializados, as precauções de

O Periscópio . 2010 47
Especiais (DOE) do Centro de
A navegação com alto grau de
Instrução e Adestramento Almirante
precisão é outra exigência das
Áttila Monteiro Aché (CIAMA). Passou
operações com os EOD. Para isso,
à responsabilidade da Escola de
equipes da área de hidrografia, como
Mergulho e retornou, posteriormente,
as “Area Search Detachment3” (ASDs
ao DOE, responsável até então pelo
Norte-Americanas), operam em Varreduras de Influência, curso.
conjunto com os EOD e as forças de no Brasil chamadas de Baseando-se no Manual de
CMM, mantendo uma biblioteca de Varreduras de Desativação de Artefatos Explosivos
cartas dos portos e cartas específicas Exploração, deverão ser (CIAMA-206), o curso, que tem a
para estas operações. conduzidas antes do duração de três meses, atende, com
Quando disponíveis, os Navios emprego dos EOD para algumas restrições, às exigências
Varredores devem ser empregados em
eliminar minas que atuais da MB. Esse curso, na área de
apoio aos EOD. Varreduras de
porventura estejam cargas explosivas, habilita nossos
Influência, no Brasil chamadas de
ajustadas contra os mergulhadores a:
Varreduras de Exploração, deverão ser a) neutralizar uma espoleta;
conduzidas antes do emprego dos
mergulhadores.
b) provocar “alta ordem” que é, em
EOD para eliminar minas que síntese, colocar uma carga explosiva
porventura estejam ajustadas contra para arrastar o artefato (técnica que
os mergulhadores. Além disso, as somente é possível caso estejamos
Varreduras de Influência deverão ser em área segura/afastada); e
conduzidas periodicamente, ao menos c) provocar “baixa ordem” que consiste
uma vez por dia, durante toda a em quebrar ou incendiar a carga
explosiva por meio do controle da onda
operação, para varrer minas com
de choque da carga explosiva DAE
retardadores de armar. (chamadas cargas direcionais).
Entretanto, em face da demanda
ANALOGIA: OS
MERGULHADORES BRASILEIROS oriunda do Submarino Nuclear e outros
NA GUERRA DE MINAS meios que serão adjudicados a MB
No Brasil, o curso especial de em futuro próximo (Navios Caça-
Desativação de Artefatos Explosivos Minas, Veículos Remotamente
(DAE) para mergulhadores da Marinha Operados, novos Varredores e etc.), o
do Brasil (MB), foi criado em 1999 e curso carecerá de reaparelhamento e
inicialmente ministrado pela Escola de aperfeiçoamento dos procedimentos e
Operações Especiais do técnicas no ambiente marinho,
Departamento de Operações principalmente as relacionadas a

48 O Periscópio . 2010
aproximação às modernas minas de com os navios varredores, é
influência, que representam o perigo quase que uma exigência
mais significante para os das CMM. Sendo assim, seu
mergulhadores. desenvolvimento é uma
Atualmente, a equipe do DAE necessidade.
encontra-se com limitações de O caminho está no
equipamentos e também material, aprimoramento da formação
restringindo algumas de suas do nosso pessoal, incluindo
atividades. Está subordinada ao cursos no exterior, e no
Grupamento de Mergulhadores de incremento de operações na
Combate (GRUMEC) e concentrada no MB que proporcionem uma
Rio de Janeiro. É composta de um maior aproximação entre os
Oficial e seis Praças, possuindo um mergulhadores o os nossos
destacamento básico para o meios de CMM. Concederia
cumprimento de suas missões: ao EOD o contato com
a) Um (1) Oficial - Oficial de novas tecnologias, a
Segurança; e expertise para a aquisição
b) Dois (2) Praças - O Encarregado de equipamentos e um
do Fogo e o Ajudante. melhor desempenho na
execução de missões,
CONCLUSÃO atendendo aos requisitos de
Percebe-se que os EOD, quando segurança que lhes são
embarcados, proporcionam grande inerentes. Adicionalmente,
versatilidade às operações de GM. Nas permitiria vislumbrar e
ações de CMM, em marinhas corrigir, com a devida
estrangeiras, são considerados vitais, antecipação, os óbices para a Surface Mine Countermeasures Operations
(C), NWP 3-15.11 (NWP 27-2) (Rev. A), Naval
indispensáveis e grandes integração com os “futuros meios”, Doctrine Command, Norfolk, VA, 1987.
multiplicadores de força para os além de contribuir para o
Comandantes envolvidos neste tipo de desenvolvimento de novos Notas:
1
operação. Possíveis Minas que posteriormente
procedimentos e táticas. poderão ser identificadas como minas,
No Brasil, nossas características torpedos, cargas de profundidade e outros
artefatos convencionais, nucleares, químicos
doutrinárias e estratégicas mais ou biológicos.
defensivas, não devem inibir a nossa REFERÊNCIAS
2
Dispositivos de CMM orgânicos aos navios
preparação para os diversos e possíveis e aeronaves envolvidos na operação. Em
_______. United Nations Mine Action
ordem de prioridade as minas devem ser
cenários de uma campanha de minagem Service (UNMAS). IMAS 09-30: International
detectadas e localizadas pelos seguintes
Mine Action Standard. New York, 2001.
e CMM. A legislação mundial vigente meios/equipamentos: Sonares de bordo e/
BRASIL. Centro de Instrução e Adestramento ou equipamentos orgânicos, Sonares
exige que tenhamos condições de limpar Almirante Áttila Monteiro Aché. Manual de rebocados por aeronave e o EOD.
Desativação de Artefatos Explosivos. Rio de 3
o nosso próprio campo minado depois Area Search Detachment - Destacamento
Janeiro, 2006.
de Pesquisa de Área. É composto de pessoal
de cessada a razão da existência do EUA. Department of Defense. Interservice habilitado a operar um sistema de pesquisa
Responsibilities for Explosive Ordnance compreendendo um sonar “Side Scan”
mesmo. Este fato, por si só, já nos Disposal. Washington, DC, 1992. rebocado, um sistema preciso de navegação
remete a necessidade de elevado EUA. Department of Defense. Multiservice e um sistema de gravação, que pode detectar
preparo e capacitação para a GM. Tactics, Techniques, and Procedures (MTTP) objetos sob a água para uma posterior
Manual. Washington, DC, 2001. investigação.
Na MB, apreciações apontam EUA. NTTP 3-02.5. Multiservice Procedures
para a importância que, na ausência for Explosive Ordnance Disposal in a Joint
Environment. 2005. Disponível em:
de navios Caça-Minas (quadro atual), <www.globalsecurity.org/ military/library/ O CC Castro Loureiro serve no Comando
os mergulhadores do DAE possuem policy/ army/fm/4-30-16/eod.pdf >. Acesso do 2o Distrito Naval.
em: 07 jun. 2009.
para a GM. Seu emprego, em conjunto

O Periscópio . 2010 49
50 O Periscópio . 2010
O Periscópio . 2010 51
Como se Determina a Aptidão para
Comandar um Submarino?
Capitão-de-Corveta Fernando de Luca Marques de Oliveira

COMO SE DETERMINA A
APTIDÃO PARA COMANDAR UM
SUBMARINO?

I
nicio este manifesto esclarecendo
que as palavras que se seguem não
têm a pretensão e não representam,
necessariamente, o entendimento que
o Comando da Força de Submarinos
faz sobre o Estágio de Qualificação
para Futuros Comandantes de
Submarinos (EQFCOS).
É, S.M.J, uma apreciação
adaptada e baseada em entendimentos
de outros autores que concorrem para
juízo de valor similar.

INTRODUÇÃO
Algumas Marinhas ocidentais,
como a dos Estados Unidos da
América, Grã-Bretanha, Holanda e
Noruega, entre outras, de testada
proficiência bélica e reconhecidos
atributos profissionais, conduzem
cursos para comandantes de
submarinos que possuem critérios de
avaliações muito similares entre si,
guardadas as peculiaridades
doutrinárias e as “educações
operativas” de cada país. FUNDAMENTAÇÃO faria pensar que técnicas que nos
Em que pese essas diferenças, A necessidade operativa de manter permitem manter-nos seguros a curtas
cursos do tipo Perisher¹ possuem uma um submarino na cota periscópica a distâncias dos alvos são
metodologia basilar que se traduz em curta distância de um alvo nasceu com desnecessárias.
submeter o aluno à um esforço as características dos torpedos de No entanto, a experiência tem
psicossomático, exigindo o completo corrida reta, armas que destruíram a mostrado que o domínio destas
domínio das técnicas periscópicas, maior quantidade de unidades navais técnicas, em tempo de paz, assegura-
cálculos mentais dinâmicos e apurados, da História. nos a operar dentro de padrões
além de avaliações constantes e Atualmente, esta exigência não adequados de segurança. Isso,
recorrentes de cenários táticos mais se apresenta, fruto do avanço contudo, não nos faz desmerecer
complexos e demandantes. tecnológico dos torpedos, o que nos situações táticas que nos impõem a

52 O Periscópio . 2010
necessidade de permanecer na cota Decisões intuitivas são tomadas experiência profissional e doses
periscópica, como por exemplo, após se detectar sinais e padrões que moderadas de audácia aos outros
durante as operações secundárias emergem de situações complexas. modelos mentais, os quais
(Obtenção de Inteligência ou Minagem), Então, escolhe-se uma linha de ação submetemos a novas simulações.
ou quando as condições da (LA), que provavelmente será bem Esse é o motivo por que oficiais com
propagação do som sejam adversas na sucedida. A LA é adotada com base pobres “bibliotecas de modelos
cota de segurança e exista a na experiência adquirida ao longo de mentais” (pouca experiência operativa)
necessidade tática de permanecer uma vida operativa, onde a pessoa têm dificuldade em obter sucesso em
explorando os sensores disponíveis à acessa sua "biblioteca" de respostas cursos desse tipo.
cota periscópica. (modelos mentais). Com esse primeiro É importante ressaltar que
Além disso, o correto emprego parágrafo, já temos a explicação para decisões intuitivas são tomadas
dessas técnicas, associado à sua a necessidade de se realizar essas rapidamente, em comparação com as
aplicação sob uma forte demanda avaliações apenas para oficiais decisões analíticas, e decidir não é
psicológica a que são submetidos os experientes, pois sem uma vivência comparar opções. Se a primeira LA
oficiais-alunos dos cursos de prévia de requisitos situacionais e um escolhida é simulada e funciona, ele a
comandantes de submarinos ao redor histórico de dados e padrões executa.
do globo, é uma ferramenta de “carregados” nos seus subconscientes, O conhecimento intuitivo de
avaliação excepcional e no meu seria impossível resgatar os modelos tomada de decisões ainda não atingiu
entendimento, indispensável para a mentais a que nos referimos. seu completo entendimento, mas
nossa atividade. Após a escolha da LA, o oficial possui diversas aplicações nos mais
realiza simulações mentais de distintos cenários táticos. Um
ASPECTOS COGNITIVOS aceitabilidade, exeqüibilidade e Comandante pode reconhecer os
O curso de comando de adequabilidade, e as submete aos padrões emergentes de um cruzamento
submarino não é um curso de tática modelos mentais presentes em seu de situações (“Um contato com bearing
avançado, ou um grande exercício de subconsciente. Se a resposta for bem rate zero e ângulo de proa bombordo
reciclagem operativa, nem tampouco, sucedida, ele adota e verifica como 60º vai colidir comigo se nada for feito.")
um grande “trote”, como muitos ainda, essa LA afetará a situação ou cenário Em seguida, ele executa suas
de maneira jocosa ou ressentida, demandado. Caso as simulações simulações mentais com base nos seus
insistem em propagar. mentais não concorram para cenários "modelos mentais", os quais
É, entre outras definições, um bem sucedidos, fazemos ajustes no desenvolveu ou adquiriu ao longo de sua
teste de postura, segurança, higidez processo decisório, aditando-se experiência (“Eu devo guinar para boreste
física, agilidade mental, otimização de
prioridades, liderança, conhecimento
profissional, agressividade, audácia,
desejo pela excelência e uma ganância,
sadia e inconteste, pelo tão almejado
comando de um submarino no mar.
O foco do curso é avaliar se os
futuros comandantes de submarinos
são capazes de tomar decisões
acertadas ou o mais próximo do que
representaria isso.
Em que pese a complexidade do
assunto e a minha inaptidão técnica
para detalhar a infinidade de aspectos
relacionados com esses enigmáticos
mecanismos cerebrais, vou me ater a
dois tipos de processos decisórios:
analítico e intuitivo.

O Periscópio . 2010 53
agora”). Se a projeção resulta em um Comandantes astutos podem baseadas em conhecimentos técnicos
cenário satisfatório ("Eu vou cruzar seu processar uma grande quantidade de e experiência. Os seus instintos são,
PMA à 2.000 jardas e ele vai passar com informações, confiam em suas na verdade, um afinado instrumento de
segurança por bombordo"), ele executa intuições, reconhecem padrões e têm reconhecimento de padrões. “Sentem"
sua decisão. Se a projeção não tem boa consciência situacional. São que as coisas estão erradas com base
um final feliz (“Eu vou colidir!"), ele capazes de avaliar, em uma “neblina em pistas muito sutis.
escolhe uma outra opção a considerar de informações”, o que é importante e Comandantes agressivos
(“Eu deveria reduzir máquinas e esperar manter o foco no que realmente é procuram por decisões ricas em
o contato passar seguro pela proa”). valioso, assim como podem reconhecer oportunidades. Necessitam ser
Notem que até mesmo neste simples padrões emergentes de palpites desafiados. São ambiciosos e
exemplo podemos convergir para, pelo importantes. Isto se aplica as situações entusiastas.
menos, duas LA que são excludentes concretas e abstratas: Estão treinados a extraírem o
entre si, mas, nem por isso, contrárias. - “O contato indica um ângulo de máximo de cada situação e não se
As duas linhas de ação podem parecer proa fino, a relação sinal-ruído é boa e contentam em serem demandados.
melhores ou piores, dependendo de eu posso ouvi-lo no telefone-submarino São extremamente pró-ativos e, desta
como afetarão o contexto situacional que (UT). Este contato está fechando!” feita, sua habilidade de reconhecimento
sua resposta gerar. - “Não há ninguém disseminando de padrões e sua “biblioteca de
informações claras. O Oficial-de- modelos mentais” crescem em taxas
ASPECTOS RELACIONADOS COM Periscópio (OP) não concorda com as mais elevadas que oficiais de
O SUCESSO soluções do Sistema de Direção de conformação passiva;
Face ao exposto, podemos Tiro. O operador da PAC pede que OP Em situações críticas eles
identificar alguns elementos de sucesso faça outras observações. O operador “querem a bola!”; querem liderar
quando nos referimos aos alunos dos sonar está redesignando todos os tomando decisões, aprendendo e
cursos de comandantes de contatos para a PAC e o Sistema de avançando. Tudo isto é aplicado no
submarinos: Direção de Tiro. Esse quarto-de-serviço desenvolvimento pessoal e na liderança;
não possui o quadro tático claro. Este entusiasmo é “infeccioso”, e
Necessita de uma esse espírito se espalha para toda sua
intervenção direta minha!” tripulação;
Comandantes Percebe-se ainda que alguns
capazes têm uma rica oficiais que “sofrem” com o curso, por
“biblioteca de modelos vezes, tiveram "ricas" histórias de
mentais”. carreiras. Bons Comandantes e
Possuem agilidade interessantes operações. A nossa
mental para, rapidamente, conclusão é que eles “sofrem” porque
convergirem em respostas não puderam aproveitar essas
coerentes; oportunidades, pois simplesmente elas
Os seus processos não se apresentaram. As coisas
de simulação mental são correram relativamente bem e sob boa
robustos, antecipando a liderança, e assim, foi possível evitar
complexidade do cenário as oportunidades de tomada de
sem simplificar decisões. Estes oficiais têm pouca
importantes aspectos do experiência real e, por conseguinte, não
problema; foram adaptados para o comando.
Os seus modelos Comandantes coerentes têm
mentais e, honestidade de propósito sobre si
consequentemente, as mesmos em relação à avaliação da
Submarino indo para a Patrulha suas decisões, são situação. Exercitam uma dinâmica

54 O Periscópio . 2010
recorrente e autopunitiva, procurando oportunidades, ao mesmo tempo em possam compreender o que vão esperar
incrementar suas soluções analíticas. que se orgulham de ser o mais ou como deverão se rearranjar para
Eles são naturais "assessores" e agressivo dos caçadores de boas futuros eventos;
"aprendizes". observações. Eles querem melhorar; Seus briefings são para sua
São extremamente honestos, São entusiastas por colaboração equipe, e não entre os seus
reconhecendo suas próprias limitações dentro e fora de suas vidas subordinados;
e capacidades; profissionais. Procuram compartilhar as Esta capacidade de se comunicar,
São capazes de se autocriticar. melhores práticas e alcançar sinergias combinada com a consciência
Esta capacidade é fundada em uma de esforços. Vão além do situacional, honestidade e
sólida imagem própria e uma forte compromisso. Uma vez que a melhor autoconfiança, dão forma a presença
confiança de que podem superar solução é encontrada, ela é de comando.
qualquer situação, uma vez que rapidamente compilada e assim Comandantes agressivos
enfrentam a verdade procurando realimentam o processo, com o intuito possuem endurance e perseverança
resolver os óbices e não transferi-los. de eliminar as más práticas e formalizar São sabedores de que as mais
Eles são seguros e confiantes, mas não as boas; importantes mudanças exigem
arrogantes; Incidem sobre o desempenho atual enormes investimentos pessoais de
Possuem plena consciência das de cada indivíduo, deixando de lado as tempo e energia, e podem levar meses
limitações do processo. Informações personalizações. ou anos;
incompletas, incertezas, percepção Bons Comandantes têm forte Bons Comandantes sabem que
aguçada de diferenças, fraquezas e presença de comando. um plano só é completo se
competências pessoais de sua equipe; São capazes de transmitir reconhecermos que pode tudo ocorrer
Estão sempre à procura de vivências e percepções às suas errado.
incrementos ou soluções ricas em equipes, de maneira que seus times

O Periscópio . 2010 55
CONCLUSÃO tempo pré-estabelecido para sua
Afinal, qual a principal consecução, pois o objetivo não é que
razão de cursos, do tipo o oficial receba mais uma, dentre muitas,
Perisher, para futuros “reciclagens” de operações principais/
comandantes de secundárias. Nem, tampouco, consiga
submarinos? “se manter na cota periscópica com
Para responder esse segurança” ou a combinação de ambos
questionamento, teríamos (os subprodutos a que me referi), mas
que redefinir a forma de sim, para que a banca examinadora², e
Submarino na cota periscópica
como, naturalmente, tão somente essa Instituição, possa
compreendemos avaliações distinguir e/ou mensurar, daquele grupo
que costumamos designar de oficiais, quais deles tem o talento
ASPECTOS RELACIONADOS COM como cursos. E, a partir daí, poderemos inato (como o de pintar, escrever ou
A INAPTIDÃO entender que cursos de comandantes compor) para comandar um submarino
Fica patente a inaptidão de alguns de submarinos baseados na em cenários táticos complexos.
oficias que “sofrem” no curso de metodologia Perisher são, no meu É importante esse entendimento
comando de submarino, pois entendimento e S.M.J, uma grande por parte dos oficiais-alunos (os
demonstram um padrão claro de ferramenta de avaliação, que gera “perecíveis”, como jocosamente os
características. Elas incluem os subprodutos interessantes, os quais se anglo-saxões se referem), pois neste
seguintes: confundem, por vezes, com o objetivo tipo de avaliação, parte-se da premissa
Não conseguem discriminar o real em questão. de que todos já possuem conhecimento
caminho mais seguro ou uma solução O que desejo explicitar é que suficiente para comandar um submarino
otimizada quando expostos a cenários esse tipo de avaliação existe para (por isso foram indicados). Contudo,
complexos. Eles aparentam estar distinguir e/ou mensurar uma pode ser que alguns não possuam o
sobrecarregados; capacidade. Logo, existem três talento inato a que faço alusão no
São intolerantes com incertezas e componentes fundamentais que se parágrafo anterior.
incapazes de agir sem toda a complementam e se sobrepõem: Por fim, penso convictamente que
informação. Costumam ser bons em - Desenvolvimento pessoal do aluno “um bom Comandante de submarino é
decisões analíticas, pois buscam a todo e sua capacidade de gerir os seus aquele que conhece todas as regras,
custo a "certeza" como metodologia. recursos humanos; para poder avaliar o melhor momento de
Estes oficiais tendem a olhar para - Experiência profissional adquirida quebrá-las, se julgar necessário”. São
checklists mesmo nas situações em ao longo de anos; homens que tomam suas decisões no
que estes checks não cobrem todas as - Uma capacidade intrínseca de limite entre o seguro e o imprudente, o
possibilidades; reagir (“biblioteca de modelos audaz e o irresponsável, não importando
São reticentes em aplicar mentais”), dentro de uma lógica a ameaça ou a situação tática no
experiências passadas às novas instantânea, gerando assim soluções momento de decidir.
situações, pois possuem ineptos analíticas o mais próximo possível do Por esse motivo, a condução de
mecanismos de reconhecimento de que seria uma solução “ótima”, advindo ataques por submarinos é “metade arte,
padrões, pois não conseguem ver as de soluções intuitivas, as quais podem metade técnica”. Nenhuma decisão
semelhanças com situações anteriores ou não serem perturbadas por uma estará equivocada a luz da doutrina. Ela
e têm uma pequena "biblioteca de demanda psicológica, quando o oficial estará errada sim, se comprometer a
modelos mentais”; é inserido nem um contexto virtual de segurança ou a tarefa do submarino.
Tendem a agir sozinhos quando um estágio nesses moldes. Ou pior, “Neste cenário, não existe preto ou
desafiados a produzir respostas. na possibilidade de uma exposição real branco. precisamos aprender a trabalhar
Colaboração é antinatural para esses à um cenário de combate. no cinza.”
oficiais. Por esse motivo, cursos que
O CC De Luca é Imediato do Submarino
utilizam essas técnicas possuem um
Tupi.

56 O Periscópio . 2010
O Periscópio . 2010 57
Colisão com submarinos. Por que ocorrem?
Dois submarinos nucleares,
um francês e outro britânico,
“entraram em contacto
brevemente” em imersão em
fevereiro de 2009, sem pôr em
risco a segurança, anunciou o
ministério francês da Defesa. O
jornal britânico The Sun revelou
que os dois submarinos com
propulsão nuclear colidiram no
oceano Atlântico.
De acordo com o jornal, o HMS
Vanguard britânico e Triomphant
francês ficaram ambos
danificados na sequência do
acidente mas não se verificaram
avarias nas áreas nucleares das
HMS “ Vanguard”
embarcações.O submarino
britânico foi rebocado para
Capitão-Tenente Frederick Wanderson Varella
Faslane, na Escócia, para
reparos.

D
Os submarinos, que esde o ano de 2000 e as condições ambientais sejam
transportavam um total de 250 houve 20 acidentes/ favoráveis. Caso contrário, a distância
marinheiros, estavam ambos incidentes de maior de detecção do sonar de submarinos
submersos e em missões relevância, envolvendo 22 contra alvos silenciosos é tão pequena
separadas, quando colidiram a submarinos, dos quais 9 eram que o submarino só pode encontrar
três ou quatro de fevereiro, americanos, 5 russos, 4 um alvo quando da iminência de uma
assegurou o diário. britânicos, 1 chinês, 1 colisão.
O ministério britânico da Defesa canadense, 1 australiano e 1 Para qualquer submarino de
recusou fazer qualquer francês. De todos esses guerra, a discrição é sempre da maior
comentário sobre operações eventos, oito tiveram importância. A detecção antecipada por
submarinas, mas um porta-voz desdobramentos após colisões. um adversário pode fazer a diferença
assegurou poder “confirmar que Um sonar operando em entre a vitória e a derrota em um “sub-
a capacidade de dissuasão um modo passivo fornece o único on-dogfight sub”, e entre destruição e
britânica não foi afetada em meio para observar o ambiente capacidade de sobrevivência durante
nenhum momento e que a externo em torno do uma operação de guerra. A melhor
segurança nuclear não foi posta submarino submerso, em cotas maneira de segurar uma vantagem
em perigo. profundas, quando este opera decisiva na furtividade é praticá-la
O HMS Vanguard é um dos secretamente. O submarino, em constantemente.
quatro submarinos nucleares da imersão, pode “ver” alvos ao redor, Em submarinos nucleares
Marinha britânica.” (Extraído do como os navios de superfície ou americanos, o alarme de colisão e o
“Jornal de Noticias, 19 de submarinos, desde que estes alarme de alagamento são idênticos,
fevereiro de 2009). objetivos gerem bastante ruído, pois o principal risco de uma colisão

58 O Periscópio . 2009
sinal e modelos de propagação
acústica no oceano, que visam à
melhoria no processo de classificação
e localização de alvos sonar, tais como
a implementação de sonares de casco
“Flank Arrays (FAS)”, sonares
rebocados “Towed Arrays (TAS)”,
sonares de detecção de emissões
modernos e evolução nos
revestimentos absorvedores de ondas
acústicas, a não previsão de diversos
fatores, não cartesianos, inserem os
submarinos num campo de incertezas,
ocorrendo, por diversas vezes, os
“breves contatos” com outros
submarinos e também com contatos
de superfície ou corpos submersos.

S. “Le Triomphant”

é jorrar água para dentro do cilindro


Nota 2:
resistente (o casco de pressão), a partir
“É incrivelmente difícil detectar um submarino moderno com sonar e nós
de uma tubulação rompida ou - muito trabalhamos duro com os nossos próprios submarinos, assim como os
pior - um corte no casco. A tripulação nossos aliados, para torná-los os mais silenciosos possível para que não
espera nunca ouvir esse alarme, exceto sejam detectáveis.” (Relato de uma fonte da Marinha Real ao Jornal “Times”).
durante treinamentos – “é
ensurdecedor, nervo-dissonante, e
instantaneamente desperta
instintos primitivos de lutar para
sobreviver”. Cada submarinista
espera também que, se o alarme
não vier com antecedência, pelo
menos que venha a tempo para
todos se prepararem para o
impacto.
As novas tecnologias, que
têm permitido a concepção de
submarinos mais silenciosos,
dificultam a detecção por parte
de sistemas individuais sonar no
modo passivo, que é o caso de
outra plataforma submarina!
A despeito do
desenvolvimento de sensores,
técnicas de processamento de

O Periscópio . 2009 59
Nota 3:
“Meu grande temor quando em
patrulha era colisão. Você está em
uma posição defensiva e a sua
principal intenção é de navegar sem
ser detectado; manter constante
comunicação, isto é, escutar mas
não transmitir, o que poderia dar sua
localização; e manter seus sistemas
de armas em prontidão.
Falhas mecânicas não causam
temor, pois somos treinados para
contorná-las e nossas naves são
atualmente magníficas. Lógico que
temos o que chamamos de
“character-builders” —no caso de
algo sair errado — mas temos ações Ressalte-se que as interferências num fator de risco crescente, em
de segurança e sistemas de reserva. acústicas (ruídos) no ambiente condições próprias, de uma colisão
Mas, em caso de colisão, não há
marinho, que interferem na resolução iminente.
alternativas.
Quando nós estávamos em da detecção sonar, podem advir de
exercícios submarino x submarino diversas fontes, tais como de origem A GUERRA FRIA SUBMARINA
cada nave tinha seu próprio espaço biológica (baleias, golfinhos, Quando a Guerra Fria
e também havia uma separação crustáceos, etc), de operações supostamente terminou em 1991, a
lateral. petrolíferas, tráfego de embarcações Força de Submarinos americana era
O mar não é homogêneo — e você composta por 61.000 marinheiros, 34
e de origem ambiental (estado do mar,
enfrenta muitos efeitos estranhos.
sísmicos, arrebentação e chuvas). submarinos armados com mísseis
Quando navegamos (submersos)
acima de 23 nós (+40km/h), se o Em face desses aspectos, a balísticos (SSBN) e 89 submarinos de
outro submarino navegando a sua grande vantagem tática dos ataque (SSN). “Os EUA e a União
frente faz movimento, todo este submarinos, fruto de sua característica Soviética tinham lutado uma grande,
ruído é encoberto e não ouvimos principal, a ocultação, não declarada e às vezes violenta Guerra
nada. Fria sob o mar”, escreveram Chris Drew
paradoxalmente, poderá se constituir
Há mecanismos para definir a
distância, baseado nos dados de
navegação, e você mantém a
distância entre você e o outro
assegurando que você nunca colidirá
com ninguém. Entretanto, se o outro
submarino está navegando na
mesma profundidade e você não
pode escutá-lo, há um risco óbvio.
A ação mais perigosa é levar o
submarino para a profundidade de
periscópio.
Há sempre a milionésima
possibilidade de que alguém esteja
exatamente onde você irá surgir.”
Depoimento do Comandante Jeff Tall-
Royal Navy - Comandou os
submarinos nucleares HMS Churchill
e HMS Repulse.

USS Scorpion afundado

60 O Periscópio . 2009
Em julho de 1970, o submarino
de ataque USS Tautog estava
“sombreando” um SSBN soviético no
norte do Pacífico, quando o
comandante russo, desconfiado,
ordenou uma volta completa para
conferir se estava sendo seguido por
um submarino americano. “De repente
o Ivan estava vindo e gritando em nossa
direção”, recorda um tripulante do
Tautog. Os propulsores do barco
soviético golpearam o submarino
americano na altura da vela. As 4.800
USS Tautog
toneladas do Tautog resistiram ao
impacto, mas o submarino russo não
e Michael Millenson no Chicago teve a mesma sorte. A colisão
Tribune. Filmes como “A Caçada ao provavelmente rompeu o selamento do
Outubro Vermelho” (The Hunt for Red propulsor e a água do mar invadiu os
October), trouxeram um pouco daquela compartimentos. Os operadores de
guerra para a casa dos americanos, que sonar do Tautog puderam ouvir os
não desconfiavam dos acontecimentos horríveis sons do submarino russo
que estavam se desenrolando nas rompendo-se e afundando.
USS Baton Rouge
profundezas dos mares. Mais colisões submarinas: em
No auge da Guerra Fria, as nações, asseguravam a aniquilação 1986, o USS Augusta, um submarino
aproximadamente cinco a dez mútua em caso de guerra total, os de ataque, bateu num submarino
submarinos nucleares estavam sendo Serviços de Inteligência eram de nuclear soviético no Atlântico Norte,
encomendados, por ano, a cada um suprema importância. Averiguar as enquanto testava um sistema de sonar
dos quatro estaleiros soviéticos características e capacidades dos novo. Em 1992, o USS Baton Rouge,
(Sevmash em Severodvinsk, Verfi submarinos de cada país tornou-se colidiu ao norte da Groelândia com
Admiralteyskiye em São Petersburgo, crucial para a segurança nacional. outro submarino russo.
Sormovo Krasnoie em Nizhniy Como resultado das investidas dos De fato, as colisões entre os
Novgorod, e Amurskiy Zavod em submarinos russos no Atlântico Norte submarinos russos e americanos
Komsomolsk-na -Amure). e dos americanos nas águas geladas decresceram verticalmente após o fim
Era “a luta pela dominação do do litoral soviético, a fim de se obter da Guerra Fria. Os mais recentes
mundo submarino – a Guerra Fria informações de manobras táticas e aconteceram em 1992 e 1993, em
submarina – uma guerra dentro de uma capacidades operacionais do oposição a uma dúzia de colisões
guerra que poderia muito bem antagonista, estão os diversos desde meados da década de 1960.
representar o teatro de operações mais “encontros”, alguns com Considere-se que a taxa de
significante de todos” – escreveu conseqüências maiores. implantação de submarinos russos
Thomas S. Queima, em “A Guerra Rumores persistem que o USS diminuiu drasticamente, o que reduz
Secreta pelas Profundezas dos Scorpion, perdido perto dos Açores em a chance de colisão. Por outro lado,
Oceanos” (Secret War for the Ocean maio de 1968, foi para o fundo depois submarinos russos tornaram-se
Depths) onde “a última arma da Marinha” de perseguir e colidir com um menos ruidosos, e este fato tem um
era o submarino, o “Rei dos Mares”. submarino soviético, que poderia ter efeito adverso sobre os fatores que
Uma vez que os SSBNs de ambas seguido a embarcação americana. levam a colisões submersas.

O Periscópio . 2009 61
pequenos danos relatados. que resulta em ruptura de sistemas e
possivelmente das ogivas nucleares
USS GREENEVILLE dos mísseis, de modo que os
Em 9 de fevereiro de 2001, por materiais nucleares, altamente
volta de 1330 Hs, o submarino Nuclear radioativos (armas nucleares e
de Ataque “GREENEVILLE “ colidiu combustível nuclear nos reatores)
com o Navio de treinamento e pesca serão liberados e distribuídos ao meio
japonês “EHIME MARU”, a cerca de 9 ambiente. Além disso, a perda
USS Philadelfia
milhas da costa sul de Oahu, Hawai, irreparável de pessoal e do submarino.
2 CASOS DE COLISÃO EUA, em uma manobra em alta Operando em suas águas jurisdi-
ENVOLVENDO SUBMARINOS velocidade, causando o afundamento cionais, em tempos de paz, os
do navio e a perda de 9 tripulantes, submarinos utilizam áreas próprias
USS PHILADELPHIA incluindo 4 estudantes. para navegação e exercícios militares,
O submarino nuclear USS Foi apurado posteriormente que nas quais não é permitida a presença
Philadelphia (SSN 690), classe Los houve uma série de erros de de outros submarinos, no mesmo
Angeles, colidiu com o M / V Yaso procedimentos de segurança, período. A exceção se dá quando
Aysén, um navio mercante turco. A possivelmente negligenciados pela submarinos treinam operações
colisão ocorreu por volta das 2 da presença de uma comitiva de visitantes específicas submarino versus
manhã de 5 de setembro de 2005, a a bordo do submarino norte-americano. submarino (“Sub X Sub”), e onde se
cerca de 30 milhas da costa do
encerram regras rígidas de separação
Bahrain, próximo à Arábia Saudita. Foi CONCLUSÃO
vertical e horizontal de posição.
relatado inicialmente danos menores As circunstâncias das colisões
É interessante notar que os
em ambos os navios, com razoáveis sugerem que, pelo menos em
submarinos são solidamente
condições de navegabilidade. algumas condições ambientais,
construídos. O USS “San Francisco”
É a segunda vez que o modernos submarinos são quase
chocou-se com uma montanha
Philadelphia se envolve em uma impossíveis de serem detectados por
submarina, em alta velocidade, em
colisão. Em 29 de setembro de 1977 métodos acústicos passivos, ainda
2005 e sobreviveu aos danos sofridos.
em Danbury, Connecticut, O que por forças altamente capazes
“E, finalmente, má sorte. Mesmo
Philadelphia e o submarino USS ASW ou outros submarinos igualmente
que dois submarinos, encontrando-se
“Archerfish” (SSN 678) colidiram popa silenciosos e desenvolvidos.
na mesma área de operação, ainda é
com popa, em velocidades lentas, na O “modus-operandi” da maioria
considerado má sorte acabar no
Base de submarinos Groton, com dos submarinos, particularmente de
mesmo lugar, na mesma profundidade
submarinos de mísseis
e correr para a posição exata do outro,
balísticos, é a operar
naquele instante!”
secretamente e
proceder o mais
FONTES:
silencioso possível, de
-Livro de Acústica Submarina da Escuela
acordo com o esforço de Submarinos de la Marina de Guerra del
técnico de reduzir o Peru
-Site “lostsubs”
ruído próprio,
-Site “Poder Naval”
particularmente das - Site “Wikipedia”
máquinas. -Site “DSCA”
O perigo de colisão -Site “globalsecurity”
com submarinos -Revista “Jane’s Navy International”

nucleares é uma O CT Frederick é instrutor de Armamento


explosão convencional e Sensores no CIAMA.

USS San Francisco após o acidente

62 O Periscópio . 2009
Gases Inertes - Aplicações
e Implicações no Mergulho
Capitão-de-Corveta Paulo Antonio Santos Siqueira

O
corpo humano necessita de inertes foram estudados para emprego composição diferente da atmosfera) e
oxigênio para manter a vida. no mergulho, para serem usados com TRIMIX (hélio, nitrogênio e
Ao entrarmos no meio substituindo o nitrogênio ou oxigênio). Ele é obtido através da
líquido, necessitamos recebê-lo por juntamente com ele. Serão destilação do ar. O processo retira o
meio de equipamento autônomo ou da apresentadas as aplicações e ar da atmosfera, que é então filtrado,
superfície. A atmosfera terrestre é implicações do nitrogênio, hidrogênio comprimido e resfriado. O ar purificado
composta por cerca de 21% de e dos gases nobres no mergulho. passa então por uma coluna através
oxigênio, 78% de nitrogênio e 1% de da qual são separados nitrogênio,
outros gases. NITROGÊNIO oxigênio e argônio, no estado líquido.
Normalmente, empregamos ar O nitrogênio é um gás incolor, O nitrogênio quando inalado sob
comprimido no mergulho. Porém, o inodoro e insípido. Não é inflamável pressão (pressão parcial a partir de 2,4
nitrogênio, que é um gás inerte, produz nem combustível. É o gás inerte mais ATA), produz um efeito narcótico
um efeito indesejado no corpo humano empregado na atividade de mergulho, (anestésico), traduzido por um
a partir de determinada profundidade, pois está presente nos mergulhos com conjunto de sinais e sintomas bastante
limitando assim o seu emprego. A ar comprimido, com misturas NITROX similares à intoxicação causada pelo
palavra inerte é um adjetivo, que vem (mistura nitrogênio/oxigênio em álcool (embriaguez alcoólica), sendo
do latim inerte, e quer dizer que tem
inércia, sem ação, aquele que não é
facilmente modificado por ação
química. Quando falamos em gás
inerte no mergulho, nos referimos a um
gás que não produz reação química
no nosso organismo.
Ao respirarmos oxigênio puro na
superfície estaremos sofrendo uma
intoxicação pulmonar1 pelo oxigênio.
Ao respirarmos oxigênio puro em um
mergulho, estaremos sujeitos, além da
intoxicação pulmonar, à intoxicação
neurológica2 pelo oxigênio a partir dos
6 metros. Por este mesmo motivo, ao
respirarmos ar comprimido ou outra
mistura gasosa, ficaremos limitados
a pressão parcial3 do oxigênio de 1,6
ATA4, o que nos dará uma profundidade
limite para o mergulho. Outros gases

O Periscópio . 2009 63
mergulhador chega à Entretanto, o uso do hidrogênio em
Símbolo Nome Fator profundidade na qual operações de mergulho é associado
a p r e s e n t a com o engenheiro sueco Arne
He Hélio 0,23
susceptibilidade. Os Zetterstrom, que fez testes utilizando
Ne Neônio 0,28 sintomas cessam uma mistura NITROX (4% de oxigênio
H2 Hidrogênio 0,55 imediatamente com a e 96% de nitrogênio) como transicão
redução da profundidade para uma mistura HIDROX (4% de
N2 Nitrogênio 1 (pressão parcial), sem oxigênio) aos 30 metros. Com esta
Ar Argônio 2,33 sintomas residuais técnica, ele realizou mergulhos de até
(“ressaca”). 110 metros, quando as alterações na
Kr Criptônio 7,14
A narcose (tabela 1) é voz juntamente com excitação dos
Xe Xenônio 25,64 observável, utilizando-se ar mergulhadores tornaram as
comprimido, na faixa de 30 comunicações impossíveis, obrigando
TABELA 1 - FATORES NARCÓTICOS DOS GASES a 50 m de profundidade, o uso de sinais telegráficos.
dependendo da Em 1983, a empresa francesa
por isso também chamada susceptibilidade individual. COMEX realizou uma série de
“embriaguez das profundezas”. É um O limite de mergulho adotado pela mergulhos para investigar o potencial
gás bastante solúvel em gorduras e, Marinha utilizando-se ar comprimido narcótico do hidrogênio. Os
sob pressão, se dissolve na é de 57 metros. mergulhadores não conseguiram
membrana citoplasmática dos diferenciar a mistura HELIOX (hélio e
neurônios, interferindo na transferência HIDROGÊNIO oxigênio) da mistura HIDROX.
de impulsos nervosos, de natureza O hidrogênio é um gás incolor, Mergulhos de até 300 metros
elétrica, entre neurônios. Este efeito inodoro, inflamável e atóxico sob mostraram que o efeito narcótico do
parece estar relacionado com o alto temperatura e pressão atmosféricas. hidrogênio tende a ser mais
peso molecular do nitrogênio (28), É o elemento mais abundante no psicotrópico (como LSD). Este estudo
sendo menos observado quando se universo, e o gás mais leve, pesando mostrou que o hidrogênio não deve ser
emprega o hélio (peso molecular igual aproximadamente um quinze avos do empregado em mergulhos mais
a 7). peso do ar. É produzido fundos que 150 metros.
A narcose é um fenômeno biofísico industrialmente, por eletrólise da água O uso mais adequado do
relacionado à todos os gases ou reação de vapor de hidrogênio seria seu emprego
metabolicamente inertes no organismo hidrocarbonetos. juntamente com hélio e oxigênio, em
humano; está ligada à pressão parcial O hidrogênio é um gás desejável uma mistura chamada HIDRELIOX. As
do gás e à sua afinidade lipídica. para mergulho por ser o mais leve pesquisas com hidrogênio mostraram
Baixas temperaturas ambientais elemento conhecido, o que significa a redução da síndrome neurológica
atuam como potencializadoras deste menor densidade e menor resistência das altas pressões (SNAP5) quando
efeito. Os sintomas da narcose são respiratória sob pressão. O maior utilizando hidrogênio juntamente com
euforia, sensação exagerada de bem- problema da mistura HIDROX o hélio. A COMEX tem as marcas dos
estar, sensação de leveza na cabeça, (hidrogênio e oxigênio) é o potencial mergulhos mais fundos, tanto em
dormência periférica, reflexos explosivo desta mistura, quando com águas abertas, no projeto chamado
diminuídos, prejuízo no julgamento e mais de 5% de oxigênio. HYDRA 8, realizado em 1988, com a
tomada de decisões, perda da Os primeiros registros do uso do marca de 520 metros, quanto em
memória, progressiva depressão hidrogênio como mistura respirável foi câmara, no projeto chamado HYDRA
sensorial, alucinações, inconsciência em 1789, quando Lavoisier (o pai da 10, realizado em 1992, com a marca
e coma. Esta sintomatologia se química moderna) e Sequin de 701 metros. Em ambos foi utilizada
instala rapidamente, assim que o expuseram porcos a mistura HIDROX. a mistura HIDRELIOX.

64 O Periscópio . 2009
GASES NOBRES Em 1919, Elihu Thompson, um de hélio e oxigênio é denominada
Um gás nobre é um membro da professor, engenheiro eletrônico e HELIOX. Os principais efeitos
família dos gases nobres da Tabela inventor, especulou que a narcose negativos do uso do hélio são a
Periódica. O termo “gás nobre” vem causada pelo nitrogênio poderia ser sensação de frio sofrida pelos
do fato que, do ponto de vista humano, evitada se o oxigênio fosse misturado mergulhadores - pelo gás hélio ser
nobre é aquele que geralmente evita com algum outro gás que não o excelente condutor térmico - e a
as pessoas comuns. Do mesmo oxigênio. Ele sugeriu que o hélio seria mudança na voz, que dificulta a
modo, a característica destes gases um gás adequado para ser usado no comunicação com o controle de
é de não combinarem com os demais mergulho profundo. Naquele tempo, o superfície e entre os próprios
elementos. Estes gases têm uma preço do metro cúbico do hélio era de mergulhadores.
baixa reatividade e são também Atualmente, a mistura HELIOX é
conhecidos por gases inertes (apesar amplamente utilizada nos mergulhos
de não serem inertes porque já foi de saturação em todo o mundo, sendo
comprovado que alguns podem empregada em até 350 metros. No
participar de reações químicas). De um mergulho autônomo, visando reduzir o
modo geral, os gases nobres tem uma efeito narcótico do nitrogênio e efetuar
relativa dificuldade de combinação com mergulhos mais profundos, o hélio é
outros átomos porque são pouco acrescentado na mistura NITROX,
reativos. sendo esta mistura chamada de
Os gases nobres formam uma TRIMIX (hélio, oxigênio e nitrogênio).
série química. Tais elementos, do Tal técnica tem seu emprego máximo
grupo 18 (grupo 0 ou 8A nas tabelas previsto em 90 metros, porém, tem
mais antigas), são especificamente sido testada e aprimorada pelo por
são hélio, neônio, argônio, criptônio, mergulhadores em cavernas, que tem
xenônio, radônio e ununóctio. o recorde estabelecido de 318,25
metros (ano de 2005).
HÉLIO
O hélio - do grego hélios, ou “sol” NEÔNIO
- é um gás monoatômico, incolor, O neônio - do grego néos, ou
inodoro e insípido. Não é combustível “novo” - é um gás inodoro, insípido e
nem explosivo. Este gás apresenta um mais de US$ 2.500,00, e esta incolor, e se encontra usualmente na
nível muito baixo de solubilidade na sugestão era economicamente forma de gás monoatômico. Isolado
água. Depois do hidrogênio, é o inviável. No entanto, durante a primeira em uma ampola, produz um arco
elemento mais leve, pesando cerca de guerra mundial, com a descoberta de vermelho se excitado por uma corrente
um sétimo do peso do ar atmosférico. hélio em poços de gás natural no elétrica. É o segundo gás nobre mais
É o segundo elemento químico em Texas, os preços caíram para poucos leve. A atmosfera terrestre contém
abundância no universo, atrás somente centavos de dólar por metro cúbico 15,4 ppm (partes por milhão) de neônio,
do hidrogênio, mas na atmosfera Pouco tempo depois, começaram as que é obtido em escala industrial pela
terrestre encontram-se apenas traços, experiências com o hélio no mergulho. destilação fracionada do ar. O
provenientes da desintegração de . Desde então o hélio passou a processo se baseia no resfriamento do
alguns elementos. Em alguns ser gradativamente testado e ar, e na destilação do líquido criogênico
depósitos de gás natural é encontrado empregado nos mergulhos profundos, resultante.
em quantidade suficiente para a sua principalmente devido à ausência do Esse gás é menos absorvido
exploração. efeito da narcose. A mistura composta pelos tecidos do corpo do que o hélio

O Periscópio . 2009 65
O argônio é muito pouco usado e
testado como componente de mistura
gasosa para mergulho, mas bastante
utilizado, quando puro, para inflar a
roupa seca7, devido a sua pequena
condutividade térmica, e por seu preço
relativamente baixo.

XENÔNIO
O xenônio - do grego xénos, ou
“estranho” - é um gás monoatômico,
inodoro, insípido e incolor. Isolado em
uma ampola, produz um arco azul, se
excitado por uma corrente elétrica.
Encontram-se traços de xenônio na
atmosfera terrestre, aparecendo em
uma parte por vinte milhões. Esse
ou o nitrogênio, devido a sua maior solúvel em água. Dentro do grupo dos elemento é obtido comercialmente por
densidade. Ainda que comparado com gases raros, o argônio é o mais extração dos resíduos do ar líquido.
o hélio, trata-se de um elemento muito comumente encontrado. Está presente Embora pudesse ser utilizado para
caro. É um gás inerte, que parece não na atmosfera em uma concentração de mergulho juntamente com o oxigênio
provocar narcose em mergulhos atá 0,934% (volume), ao nível da superfície (XENONOX), trata-se de um gás
360 metros, além de não causar terrestre. O ar é a única fonte muito narcótico (25 vezes mais que o
distorção na voz como o hélio ou conhecida para a extração de argônio nitrogênio), além de anestésico. Tem
hidrogênio. A sua maior limitação para puro e, por esta razão, sua produção baixa condutividade térmica e poderia
emprego no mergulho é que, por ter se realiza pela destilação em uma ser empregado para inflar a roupa seca,
maior densidade, leva mais tempo planta de separação de gases do ar. mas oferece um custo bastante
para sair dos tecidos, requerendo É um gás muito narcótico (muito elevado.
maior tempo de descompressão. Por mais que o nitrogênio) e também muito CRIPTÔNIO
esta razão, o Neônio é empregado em denso, levando a dificuldade na O criptônio - do grego krípton, ou
mergulhos de curta duração, em respiração em grandes profundidades, “oculto” - é um gás inodoro, incolor e
profundidades até 180 metros. sem causar distorções na voz. insípido. Raro na atmosfera terrestre,
Normalmente é utilizado com oxigênio, Teoricamente, o argônio poderia ser aparece na ordem de 1 ppm. É
formando a mistura chamada NEOX, utilizado com o oxigênio (ARGOX) ou encontrado entre os gases vulcánicos
ou com o TRIMIX, formando o com oxigênio e nitrogênio e águas termais, e em diversos
NEOQUAD. (ARGONOX), como gás de minerais em quantidades muito
descompressão 6 , entre as pequenas. Pode-se extrai-lo do ar por
ARGÔNIO profundidades de 15 e 9 metros, para destilação fracionada. É um dos
O argônio - do grego árgon, ou
reduzir a absorção de gás inerte nos produtos da fissão nuclear do urânio.
“inativo” - é um gás monoatômico,
tecidos. Estas misturas não são A mistura entre criptônio e
atóxico, incolor, inodoro e insípido. O oxigênio (CRIPTONOX) causa
adequadas para maiores
argônio é aproximadamente 1.4 vezes tonturas, além de ter um custo muito
profundidades, pelo seu grande efeito
mais pesado que o ar, e é levemente elevado.
narcótico.

66 O Periscópio . 2009
RADÔNIO 1. Intoxicação pulmonar – efeito causado pela exposição ao oxigênio (pressão
O radônio - do latim radonium, ou parcial superior a 0,5 ATA), que se manifesta como um tipo de edema pulmonar,
evoluindo desde queimação torácica e tosse irritativa à franca insuficiência
“derivado do rádio” - é incolor, inodoro respiratória.
e insípido. Produto do decaimento
2. Intoxicação neurológica – efeito causado pela exposição ao oxigênio (pressão
radioativo do urânio-238, da parcial superior a 1,6 ATA), caracterizado por sintomas neurológicos como alterações
na visão e audição, náuseas, tremores, irritabilidade, tonturas e convulsões.
desintegração do rádio, o radônio é um
elemento altamente radioativo, assim 3. Pressão Parcial – é a parte da pressão total, exercida por apenas um gás, em uma
mescla de vários gases. Todas as pressões parciais juntas formam a pressão total. A
como do tório. Por suas pressão parcial de um gás é a pressão total multiplicada pela fração (porcentagem)
propriedadades térmicas, poderia seria daquele gás.

empregado para inflar a roupa seca, 4. ATA – Atmosfera absoluta – unidade de medida de pressão que é resultante da
porém é radioativo e por isso soma da pressão manométrica com a pressão atmosférica nominal (1 atm). No
mergulho, a pressão ambiente em qualquer profundidade resulta do peso do ar que
inadequado para uso no mergulho. está acima da superfície da água onde se está mergulhando mais o peso da coluna de
água acima de onde está posicionado o observador.

OUTROS GASES 5. SNAP - afecção que acomete mergulhadores em atmosfera de mistura HELIOX, a
partir de 180 metros de profundidade. Está relacionado à velocidade da compressão,
O Ununóctio (do latim “um, um, com o aparecimento de sintomas que promovem basicamente alterações da
oito”) é o nome provisório do elemento psicomotricidade.
químico superpesado sintético de 6. Descompressão – procedimento destinado a liberar o excesso de gás inerte
número atômico 118, descoberto em dissolvido nos tecidos do corpo em um mergulho, de modo a evitar as doenças
descompressivas.
1999. Seu símbolo químico provisório
é Uuo. Ocupa o grupo 18 da tabela 7. Roupa seca – roupa utilizada no mergulho, destinada a isolar o corpo do mergulhador
do meio líquido. Devido ao aumento da pressão com o aumento da profundidade e
periódica, juntamente com os gases consequente redução do volume gasoso no interior da roupa, se faz necessária a
injeção de gás para recompletar este espaço.
nobres. Pela posição na tabela, a
previsão é de que apresente
propriedades químicas similares ao
radônio. Provavelmente será o
vantagens e desvantagens em
segundo elemento gasoso radioativo,
suas aplicações no mergulho. Os
e o primeiro gás com
gases inertes mais utilizados no
semicondutividade. Por ser radioativo,
mergulho são o nitrogênio e o hélio,
não terá aplicação no mergulho.
como gases respiráveis (NITROX,
O metano (CH4) é relativamente
TRIMIX e HELIOX), e o argônio,
inerte e leve, porém um pouco
como gás utilizado nas roupas
narcótico e explosivo como o
secas. O hélio é a melhor alternativa
hidrogênio.
no presente para que grandes
O óxido nítrico (N2O), conhecido
profundidades sejam atingidas. As
como gás do riso, também foi testado
fontes de hélio são finitas e vêm
para utilização na roupa seca, porém
diminuindo ao longo dos anos. Desta
é perigoso por ser altamente narcótico
forma, estudos em busca de
se inalado.
soluções que façam de outros gases
substitutos viáveis devem
CONCLUSÃO
prosseguir, para que possamos
Teoricamente, todos os gases
mergulhar com segurança e cada
inertes poderiam ser utilizados no
vez mais fundo.
mergulho. Mas, como vimos, alguns
deles não são viáveis de forma alguma.
O CC Siqueira é Encarregado da Escola de Mergulho do CIAMA
A maioria dos gases citados possuem

O Periscópio . 2009 67
Um Dia a Bordo do
Capitão-Tenente Márcio Claudio
Bomfin Oliveira

A
aprendizagem na carreira durante a comissão Ibsamar I. No
naval é constante, e entanto, isto não ocorreu, em razão
enriquecida com os do mesmo encontrar-se em período de
intercâmbios que realizamos com manutenção. Na semana seguinte, o
outros países, proporcionando submarino participaria da comissão
experiências fascinantes e repletas de Atlasur VII, ocasião em que vislumbrei
ensinamentos. Em abril de 2008, tive a oportunidade de embarcar.
a oportunidade de realizar um desses Entretanto, o Charlotte Maxeke, após
intercâmbios, a bordo de um o exercício com as unidades de
submarino Sul africano, durante as superfície, iria participar de uma
comissões Ibsamar I (Brasil, Índia e patrulha ao sul do continente africano,
África do Sul) e Atlasur VII (Brasil, o que não permitiu mais uma vez o
África do Sul, Argentina e Uruguai). meu intercâmbio, frustrando minha
Por meio de um consórcio expectativa de embarcar neste
(German Submarino Consortium), a moderno meio.
Marinha da África do Sul adquiriu três Diante destes acontecimentos, o
submarinos IKL 209/1400 mod I, por adido naval na África do Sul intercedeu
670 milhões de euros, com intuito de junto ao Comandante da Fleet Force
substituir a antiga classe Daphne, já Preparation. Ele entendeu o esforço
obsoleta e transferida para reserva. O feito pela Marinha do Brasil para
primeiro submarino, o SAS Manthatisi realizar o intercâmbio, e disponibilizou
(S101), foi entregue em 2006, e o o meu embarque no SAS Queen
segundo, o SAS Charlotte Maxeke Modjadji I, que realizava sua primeira
(S102), em 2007, o qual estava comissão desde o comissionamento,
designado para participar das na Alemanha, onde fora construído.
comissões Ibsamar I e Atlasur VII. O A possibilidade de embarcar em
terceiro e último submarino, o SAS um submarino recém construído, e
Queen Modjadji I (S103) estava sendo participar de sua primeira atracação,
recebido na Alemanha, com previsão na Base Naval de Simon’s Town, me
de chegada em Maio de 2008, período deixou bastante entusiasmado. A partir com muita fidalguia por toda tripulação,
que coincidia com a estadia do GT daquele momento, esqueci as especialmente pelo Comandante, que
brasileiro, formado pelas Fragatas decepções anteriormente ocorridas e me apresentou todo o submarino,
Independência e Defensora, na base dediquei-me a esta nova oportunidade. dando ênfase ao sonar ISUS 90-45,
naval de Simon’s Town. O embarque ocorreu em uma da ATLAS, e ao mastro optrônico (não
O acertado durante as reuniões cidade ao norte de Simon’s Town penetrante), da CARL ZEISS.
de planejamento era o meu embarque (Saldanha), onde o submarino A tripulação e o Comandante
no submarino Charlotte Maxeke, encontrava-se fundeado. Fui recebido estavam na Alemanha desde janeiro

68 O Periscópio . 2009
SAS Queen Modjadji I

de 2008, para o recebimento do meio.


A motivação a bordo estava elevada, e
havia uma contagiante alegria pelo
retorno ao porto sede, após cinco
meses de intensos trabalhos.
Destaca-se que um terço da tripulação
havia participado do recebimento dos
outros dois submarinos, o que de certa

O Periscópio . 2009 69
forma acelerou a qualificação e, aumentou sua capacidade de que ocorreu com a presença do
conseqüentemente, a prontificação do detecção, por operar em baixa Ministro e Secretário de Defesa, do
Queen Modjadji I. freqüência (0,2 KHZ a 2.4 KHZ), sendo Comandante da Marinha, de
Apesar de permanecer a bordo de grande auxílio nos exercícios de autoridades civis, da imprensa local,
apenas um dia, pude trocar trânsito com oposição submarina. O de familiares da Tripulação e de
experiências com outros oficiais, e submarino possui, dentro da livre descendentes da Modjadji I, Rainha
observar distintos procedimentos e circulação, dois compartimentos sul-africana no século XVII, que deu
atitudes a bordo, como por exemplo, (Pressure Proof Storage), com a nome ao navio.
a existência de uma praça do sexo finalidade de condicionar Após a atracação, a tripulação e
feminino, fazendo parte da tripulação. equipamentos de forças especiais, o Comandante formaram em frente ao
Os submarinos sul-africanos são como botes, motores de popa e palanque existente, onde discursaram
tripulados por sete oficiais, sendo armamentos o Comandante da Marinha e o Ministro
técnicas as funções de Comandante, A Base Naval de Simon’s Town da Defesa, com diversas
Imediato e CHEMAQ, não está capacitada para realizar a manifestações de patriotismo por parte
guarnecendo o serviço em viagem. O manutenção e a modernização em dos presentes.
CHEOPE e mais dois oficias se submarinos e navios. Possui um Foi uma brilhante cerimônia, que
revezam na função de oficial de dique-seco de 240 m de comprimento finalizou esta honrosa oportunidade
periscópio, em turnos de 4 à 5 horas. e 23 m de largura, além de oficinas de que tive de participar e contribuir para
A tripulação do recebimento (delivery eletricidade, eletrônica e mecânica, o estreitamento dos laços entre os
crew), foi composta por 45 militares, equipadas para todo o tipo de reparo. dois países, além de verificar a
mais o comandante. A Base possui ainda um syncrolift com importância dos intercâmbios
No que se refere à parte operativa, capacidade de carga de até 2000 realizados por nossos oficiais.
o flank array sonar (FAS), localizado toneladas. Havia grande expectativa
O CT Márcio Oliveira pertence à
em ambos os bordos nas obras vivas, para a atracação e recepção do navio, tripulação do Submarino Tapajó

70 O Periscópio . 2009
O Periscópio . 2009 71
P-8 Poseidon – O Novo Guerreiro

Capitão-Tenente Mauricio Leite de


Pontes

INTRODUÇÃO

A
Aeronave militar Boeing P-8
Poseidon está sendo
construída pela Boeing’s
Integrated Defense Systems division,
a partir do projeto da aeronave 737-
800 e será utilizada como Aeronave
Marítima Multi-missão (Multimission
Maritime Aircraft - MMA). O projeto foi
desenvolvido para atender à Marinha
dos Estados Unidos, e possuirá
capacidade de executar ações de
guerra anti-submarina, interdição
marítima e emprego em inteligência
eletrônica (ELINT). Além disso, esta
aeronave pode utilizar os seguintes
armamentos: torpedos, cargas de
profundidades, Mísseis Anti-Navio
Harpoon, e capacidade de lançar e
monitorar Sonobóias. A aeronave
também deverá operar em conjunto
com Veículos Aéreos Não-tripulados,
realizando a vigilância de Área
Marítima.
Emprego Anti-submarino (ASW) eAnti-Superfície (ASuW)
O P-8 Poseidon está sendo
Fabricante Boeing Integrated Defense Systems
construído para substituir as atuais
Primeiro voo 25 de abril de 2009
aeronaves anti-submarino (ASW)
operacionalização Previsto para 2012
Lockheed P-3 Orion, que está em
Primeiros usuários Estados Unidos da América e Índia
serviço na Marinha dos Estados
Desenvolvido a partir do Boeing 737
Unidos (US Navy) desde 1961. Nos
meados da década de 80, a US Navy

72 O Periscópio . 2009
Alado da “US Navy”
A AERONAVE
Versões do P8- Poseidon em desenvolvimento
P-8A – Versão para a “US Navy”.
P-8I – Versão de exportação para a Marinha Indiana.

CARACTERÍSTICAS GERAIS DO P8- POSEIDON


Propulsão: 02 turbinas CFM56-7
comprimento 39,47 metros
Altura: 1,83 metros
Peso máximo
para decolagem: 85.139 Kilogramas
Velocidade: 490 nós
Raio de ação: 1.200 MN, com 4 horas em patrulha
teto: 41.000 pés (12.496 metros)
tripulação: Total de 9 (2 pilotos)

Em 1989, foi realizado um produção Norte-americanos para


contrato com a empresa Lockheed cumprir o contrato, caso vencesse a
Martin, para desenvolver e construir concorrência.
duas aeronaves protótipos que seria Em 14 de junho de 2004, a Boeing
designada como P-7. Este projeto foi venceu a concorrência. Seu
cancelado em 1990, devido a um planejamento é de que as aeronaves
acréscimo de custos de U$ 300 estejam totalmente operacionais até
milhões pela Lockheed Martin para a 2013. As seguinte empresas serão
construção dos protótipos. sub contratadas para este projeto pela
A Boeing e a Lockheed Martin Boeing: Raytheon, Northrop
fizeram parte de nova concorrência Grumman, Spirit AeroSystems, GE
para a substituição dos P-3 em 2000. Aviation Systems, Marshall
A Lockheed apresentou o Orion 21, Aerospace, CFMI, BAE Systems, e
uma versão modernizada do P-3, Marotta. A U.S. Navy encomendou
enquanto a Boeing apresentou uma cinco unidades do P-8 em 8 de julho
proposta centrada na sua aeronave de 2004. O primeiro vôo desta aeronave
iniciou alguns estudos para a futura 737-800ERX . A BAE Systems ocorreu em 25 de abril de 2009.
substituição das aeronaves P-3, que ofereceu também uma versão do Nos Estados Unidos, o P-8
vinham reduzindo sua capacidade de Nimrod MRA4, a aeronave marítima Poseidon será complementado por um
operação, devido ao desgaste material. usada pelo reino Unido. Entretanto, sistema de veículos aéreos não
As especificações da Marinha eram posteriormente, a BAE retirou-se da tripulados (VANT), nas operações de
para substituir estes aviões, de forma competição, em outubro de 2002, vigilância marítima. O sistema está
a reduzir o custo operacional e de reconhecendo a realidade política, que programado para entrar em serviço em
manutenção. dificultaria o encontro de parceiros de 2010 com cerca de 40 VANT.

O Periscópio . 2009 73
providenciar a operacionalização do Indiana, que será o primeiro comprador
sistema de sensores infravermelhos, o internacional. Acredita-se que outros
Sistema MAGE (medida de apoio à países que usam o P-3, ou aeronaves
guerra eletrônica), bem como o sistema similares de patrulha marítima,
de data link. Já a Raytheon fornecerá venham a utilizar estas aeronaves
uma versão modernizada do Radar de também no futuro. A Itália e a Australia
busca marítima APS-137, Sistema de são dois prováveis países que podem
Contra-medidas eletrônica, o vir a adquirir o P-8 Poseidon.
revolucionário GPS anti-bloqueio (Anti- Portanto, o cenário da guerra anti-
Em meados de 2008, o Naval Air Jam), IFF, sistema de autoproteção por submarina receberá mais uma
Systems Command (NAVAIR) eliminou despistamento rebocado, além de aeronave de asa fixa, que será
a exigência para que o P-8A fosse modernos equipamentos de integrada nos próximos anos,
equipado com detector de anomalia comunicações satélites. aumentando assim ainda mais o nível
magnética (MAD), a fim de reduzir o de tecnologia empregada nessa
peso da aeronave em 1.600 kg, CONCLUSÃO disputa entre os guerreiros alados e
melhorando seu desempenho, e Atualmente, a Intenção da os silenciosos submarinos, que
aumentando sua autonomia. O P-8I Marinha americana é de comprar buscam na sua ocultação manter o
destinado à Marinha indiana vai cerca de 108 P-8A, após os testes de principal fator de força para o sucesso
continuar mantendo o MAD instalado. aceitação. Em Janeiro de 2009, a de sua caçada.
A Northrop Grumman’s Electronic Boeing foi selecionada para construir
O CT Leite serve no Comando da Força
Systems será a responsável por 8 Aeronaves P-8I para a Marinha de Submarinos

74 O Periscópio . 2009
Fuzis Bullpup
e o Futuro do
Armamento
Individual
Aspirante Guilherme Ferreira Murmel Uali

A
incessante busca por
armamento individual cada CONFIGURAÇÃO BÁSICA HISTÓRICO DO
vez mais leve, eficiente e A palavra-chave da configuração DESENVOLVIMENTO
versátil, teve como um de seus bullpup é compacta, no intuito de Durante o início do século XX,
maiores expoentes o surgimento reduzir o peso e o comprimento do época de fuzis clássicos como o
deste interessante design. armamento, sem, contudo, reduzir o Mauser M-98, o M-1 GARANT e o
Acompanhando os novos requisitos de comprimento do cano e, STG-44 - cujo design impressiona até
mobilidade e versatilidade do emprego conseqüentemente, a velocidade hoje - , a Inglaterra já dava os primeiros
exacerbado de forças terrestres, inicial e poder de parada do projétil. O passos no desenvolvimento de
principalmente com o fim da guerra fria conjunto empunhadura-gatilho foi Bullpup, apesar da histórica aversão
e o advento do mundo multipolar, os levado à frente da culatra e do dos estadunidenses à essa
fuzis Bullpup extrapolam os ditos fuzis carregador, com a coronha substituída configuração, que irá manifestar-se
de assalto, encontrando aplicação em por uma soleira atrás da caixa da posteriormente.
sub-metralhadoras (como a FN P-90), culatra. Tal configuração trás o Já em 1902, o engenheiro inglês
fuzis de precisão (Sniper) e inclusive mecanismo de disparo e provisões J.B Thorneycroft apresentou um fuzil
metralhadoras e lança-granadas. Tais para miras e dispositivos óticos para Bullpup de ação manual no ferrolho
sistemas de armas, que, além dos perto do rosto do atirador, alcançando (sistema-padrão na época), chegando
próprios fuzis Bullpup, compreende assim um menor comprimento total do a ser avaliado pelo Small Arms
diversos periféricos (lunetas, miras- armamento. Devido à ausência de Commitee. Contudo, o interesse se
laser, lanternas) são padronizados coronha, as miras normalmente são esvaiu já em 1903.
para trilhos Picatinny (STANAG 1913), montadas numa posição elevada e No início de 1944, começaram os
e fazem parte de diferentes programas empunhaduras extras podem ser trabalhos em um novo fuzil sniper de
de “modernização do soldado”, instaladas no guarda-mão para melhor configuração Bullpup, o SREM-1
visando assim elevar as capacidades, manuseio do fuzil. O uso de materiais (Sniper Rifle Experimental Model 1).
trazendo, em nível individual ou de compostos (fibras e plásticos) no Seu desenho apresentava um ferrolho
pequenas frações, o combatente invólucro, inclusive com carregadores que movia-se num curso inclinado 12
terrestre ao ambiente de informações translúcidos, que permitem um melhor graus para baixo em relação ao cano,
em tempo real e guerra centrada em controle da munição restante, contribui com a própria empunhadura
redes ( Network Centered Warfare) ainda mais para a redução do peso.

O Periscópio . 2009 75
funcionando como alavanca de manejo
do ferrolho. Esse projeto foi
abandonado em 1945, quando a
prioridade do desenvolvimento de fuzis
passou para as armas alimentadas por
carregadores.
Fuzil Enfield EM-2, precursor da atual
Tais empreitadas iniciais geração de Bullpups. Nota-se que a tecla
culminaram, em 1952, com o projeto de liberação do carregador é semelhante à
do FN FAL
inglês Enfield EM-2 que, contudo, foi
O FAMAS, cujo desenvolvimento remota
desfavorecido nas provas em das experiências da FN no campo de
Aberdeen, por ocasião da seleção de Bullpups. Acima está a versão A1, um
um novo fuzil para os países da OTAN. modelo intermediário até a entrada de
serviço do FAMAS G2. Nota-se o
Algum interesse pelo design carregador exclusivo de 25 tiros. Abaixo,
conseguiu cruzar o canal da mancha, a versão G2, compatível com carregadores
padrão M-16, que possui um guarda-mato
e na Bélgica, sede da FN Herstral de maiores dimensões.
(fabricante original do FAL), um
engenheiro francês da empresa
produziu um protótipo de carabina
Bullpup, mas a iniciativa logo foi se um dos mais famosos e difundidos BULLPUP
cancelada pelo diretor-geral da FN, fuzis Bullpup. Visualmente, é logo perceptível as
talvez em favor do próprio FAL, que já O Brasil também tomou parte reduzidas dimensões de um Bullpup
se mostrava um produto promissor. nesse desenvolvimento, durante os em relação à um congênere
Curiosamente, em 1949, durante o anos de 1978 a 1983, com o projeto convencional. Um Steyr AUG, por
desenvolvimento do FAL, uma versão do LAPA FA-3, apresentando exemplo, é cerca de 30 cm mais curto
Bullpup deste foi proposta, inovações como o design Bullpup e que um M-16A2, ora em uso pelo corpo
conservando o mesmo mecanismo de um sistema de ação dupla de disparo, de fuzileiros navais. O extenso uso de
operação, mas como todas as armas semelhante ao das modernas pistolas. fibras e plásticos nos invólucro,
de mesma configuração da época, seu reservando a fabricação em aço
projeto não foi adiante. CARACTERÍSTICAS DOS FUZIS estampado/usinado à certos
Assim, engenheiros franceses
assimilariam as tecnologias envolvidas
e produziriam seu próprio fuzil Bullpup,
o FAMAS (Fusil automatique,
manufacture d’armes de St Etienne),
que entrou em serviço em 1979 e é,
atualmente, a arma-padrão das forças
terrestres francesas.
Do mesmo modo, a firma
austríaca Steyr, usando um sistema
de ferrolho rotativo - configuração O Steyr AUG, primeiro fuzil Bullpup a entrar em
serviço no ocidente, em 1977. Esta é a versão
herdada do EM-2 - e algumas A1, sem trilhos Picatinny e com luneta fixa de
inovações, como o uso de materiais 1,5x.. Nota-se o corpo da arma, de material
compostos, colocou em serviço o AUG composto, bem como o carregados
translúcido, para melhor controle da munição.
(Armee Universal Gewehr, fuzil Ao lado, a versão HAR, metralhadora leve, e
universal do exército) em 1977, que, abaixo a mais nova versão A3, que incorpora
guarda-mão e trilhos Picatinny.
denominado localmente de STG-77
(Sturmgewehr, fuzil de assalto), tornou-

76 O Periscópio . 2009
componentes do mecanismo de Contudo, tais sistemas de
disparo, proporciona uma considerável armas não são bem aceitos por
redução de peso, permitindo a adição vários operadores, com exemplo
de uma gama maior de periféricos significativo das forças armadas dos
para um peso total compatível com um EUA. Figuram entre as alegadas
modelo convencional. desvantagens do design Bullpup a
Outras importantes proximidade do rosto do atirador à
características apresentadas por essa caixa da culatra e o excessivo ruído
configuração são o equilíbrio e o ao qual este estaria exposto, além
balanceamento do peso ao redor da do risco potencial de algum tipo de
empunhadura. Tais características acidente de tiro que posso vir a ferir
permitem uma melhor precisão de tiro, o atirador em área tão exposta. As
principalmente em relação àqueles maiores razões contra a adoção
que figuram como versões de coronha desses fuzis, contudo, são a O L-85/SA-80 ( ao lado) é a arma-padrão
retrátil de fuzis convencionais, como possível dificuldade de manuseio por dos tropas terrestre britânicas. Em sua
versão A1, destinada às tropas de 1ª linha,
o próprio Para-FAL, onde a parte do operador, o comprimento é dotada de luneta SUSAT de 4x. Sua
concentração de peso não balanceado reduzido do guarda-mão, a ausência versão A2, contudo, possui miras
pela leve coronha rebatível é facilmente de coronha e a montagem elevada mecânicas comuns e trilhos padronizados.
Acima, a carabina L-22, que equipa as
visualizada. Outro avanço inaugurado das miras devido à sua proximidade guarnições do Royal Armoured Corps.
por esses armamentos, apesar de com o rosto, levaria à uma maior Notar a luneta SUSAT e a empunhadura
extra fixada num trilho Picatinny.
ainda não estar presente em todos os exposição do atirador quando em
modelos existentes, é a possibilidade posição coberta. Assim, o atirador
de operação ambidestra, baseada na teria que expor uma silhueta maior
inversão da janela de ejeção com para efetuar disparos, o que seria Combat, na terminologia
relativa facilidade. Um caso extremo particularmente relevante num cenário estadunidense).
é o do FN F2000, onde a ejeção é para de combate urbano (Close Quarter De tal forma, as Forças Armadas
frente, longe do rosto do operador. norte-americanas planejam substituir
Em geral, os fuzis Bullpup uma miríade de armas individuais por
possuem concepção moderna, dois modelos de fuzis, ambos de
principalmente no tocante à ergonomia configuração convencional: o FN
de empunhaduras, guarda-mão, SCAR (Special Capability Assault
conjunto de miras e apoio para o rosto. Rifle) MK-16 e MK-17, para suas
A possibilidade de customização forças especiais, e o ainda não
mediante a instalação de vários trilhos adotado XM-8 para as tropas
Picatinny, conexões padronizadas para regulares. O FN SCAR, ao contrário
uma miríade de periféricos, de miras e do outro, possui um mecanismo de
lanternas à lançadores de granadas e disparo totalmente novo, semelhante
módulos não-letais, leva a ao da FN MINIMI. Esse fuzil oferece
modularidade à um novo estágio, de O FN F2000 apresenta um moderno três configurações de cano e dois
conceito, aliando todas as características
tal modo que um mesmo mecanismo calibres, o 5,56x45mm e o
de um fuzil Bullpup com especial atenção
de disparo pode dar origem a toda uma à ergonomia, inclusive com operação 7.62X51mm, com provisões também
família de armas, de carabinas e sub- ambidestra - assegurada com a ejeção
do cartucho para frente, por uma janela
para o 7.62x39mm russo, que podem
metralhadoras (PDW, Personal localizada próximo a boca do cano. ser configurados em poucos minutos
Defense Weapons) para proteção Notam-se os vários periféricos com o mínimo de ferramentas. Já o
dedicados, bem como o trilho Picatinny
individual, até armas coletivas, como XM-8, mais convencional, de calibre
acima da alavanca de manejo.
metralhadoras. único (5.56x45mm), também possui

O Periscópio . 2009 77
versões com vários comprimentos de O intervalo
cano, desde carabina até metralhadora temporal entre as
com cano mais resistente, bipé e primeiras iniciativas
alimentada por cinta. no campo dos fuzis
Outra forte alternativa aos Bullpup até a
Bullpups materializa-se no HK G-36. entrada em serviço
Assimilando a tecnologia do ferrolho dos precursores
rotativo e seu aperfeiçoamento, desta nova classe, O FN SCAR, que dotará as forças especiais dos EUA, apesar
desenvolveu-se este interessante fuzil em meados dos de possuir design convencional, oferece várias
características únicas, dentre as quais a possibilidade de
que, em um design convencional, anos de 1970, pode
trocar-se o calibre da arma para emprego diverso. No corpo
reúne todas as tecnologias de ponta ser atribuído, além do texto, o SCAR-L (light), no calibre 5.56x45mm, e abauxo o
presentes nos seus congêneres de questões SCAR-H (heavy), no calibre 7.62x51mm, bem como sua
versão sniper/designated marksman
Bullpups. De carabinas destinadas à políticas e
forças especiais ou fuzis de precisão econômicas e do
e metralhadoras, bem como provisões lobby em torno da família M-16/M-4
para vários periféricos através de trilhos praticado pelos EUA, às dificuldades,
Picatiny. As excelentes características em termos industriais, de integrar
do G-36 - considerado por algumas partes metálicas dos mecanismos de
fontes como o melhor fuzil do mundo - disparo e outros itens com
são corroboradas pela sua adoção componentes de materiais
como base para o programa do fuzil compostos, como invólucros, guarda- O XM-8, parte do programa OICW
Increment 1 surgiu da divisão do
XM-8 - que substituiria inclusive a mão, soleira e empunhadura. Tal SABR XM-29 em arma cinética (fuzil)
família M-16 nas tropas regulares dos dificuldade ia de encontro à premissa e lança-granadas. O programa
EUA - e para o mal fadado XM-29 dessas armas de redução de peso. Os passou por uma revisão, com novos
concorrentes competindo para a
SABR, que seria a base do programa processos industriais necessitaram de substituição da família M-16/M-4
Land Warrior. Contudo, o projeto foi tempo para produzir componentes que nas forças armadas estadunidenses.
cancelado. conferissem a precisão e durabilidade
Assim o G-36 figura como uma comparável com as armas de
opção avançada e confiável de um fuzil construção convencional, com extenso
de design convencional, indo ao uso de componentes metálicos. Além colocou modelos em serviço.
encontro dos requisitos dos EUA e, disso, a busca pelo aperfeiçoamento Contudo, percebe-se que muitos
consequentemente, podendo acessar de mecanismos de operação, desses fabricantes não abandonaram
mercados influenciados por estes. notadamente o ferrolho rotativo de 7 os fuzis convencionais, que
ressaltos do M-16/AR-15, para permanecem bastante populares.
BULLPUPS E CONVENCIONAIS adaptar-se a esse novo design, Porém, o mercado de defesa
AO REDOR DO MUNDO também criou uma demora na estadunidense e seu histórico
prontificação dos programas de fuzis desinteresse na adoção desse tipo de
Bullpup. Um exemplo disso é o modelo, aliado ao seu extenso
FAMAS, que utiliza um sistema de mercado civil e militar e sua profunda
blowback retardado (Delayed influencia no mercado mundial de
Blowback), derivado da metralhadora equipamentos militares e na produção
AA52. de doutrinas por parte de outras forças
É inegável que os fuzis Bullpup armadas - seja por sua pujante
estão se difundindo ao redor do mundo, indústria bélica, seja por seus
e a maioria dos grandes fabricantes já programas de financiamento e vendas

78 O Periscópio . 2009
militares - ainda são uma forte
alternativa para a adoção de armas
Bullpup.

CONCLUSÃO
A evolução do armamento
individual teve várias expressões:
desde famílias de armas com
diferentes empregos, baseadas num
mesmo layout de mecanismo de
disparo, passando por fuzis com
O XM-29 SABR, que seria parte do programa Land Warrior, congregava um
configurações intercambiáveis de cano fuzil derivado do HK G-36, um lançador de granadas de 25mm com munição
e calibre, pela variedade de periféricos inteligente, computador de tiro e lunetas especiais. Ao lado, o XM-25, que,
como o XM-8, deriva do SABR. Nota-se o layout Bullpup em um lançador de
para trilhos padronizados – que
granadas, bem como a operação ambidestra.
permitem vasta customização do
armamento para diferentes operadores
– até chegar aos fuzis de configuração
Bullpup, que aliam as modernas
características anteriormente citadas
em armas de comprimento e peso
relativamente menores, além de uma
natural evolução na robustez e
confiabilidade. Apesar da relutância
dos estados unidos em sua adoção e O SAR-21, desenvolvido para as forças O CR-21, produzido pela Vektor - divisão
de um longo processo de armadas de Singapura. Esta versão da DENEL - é baseado no fuzil
inicial possui mira de 1,5x, com backup convencional israelence Galil, produzido
desenvolvimento por que passaram,
convencional acima desta, não sob licença na África do Sul. Com uma
desde as tentativas iniciais até a possuindo provisões para operação interessante solução de ergonomia, o CR-
maturação nos anos 70 e 80, estes ambidestra. A versão RIS (Rail Interface 21 não possui trilhos Picatinny, mas pode
System) possui trilhos acima e abaixo receber um lança-granadas. Sua mira é
fuzis estarão em breve equipando do guarda-mão, permitindo a integração sem magnificação de 1x, do tipo “ponto
forças especiais, tropas regulares, de vários periféricos, como lunetas e vermelho” (red dot). Contudo, não possui
lança-granadas. operação ambidestra.
guarnições de blindados, helicópteros
e forças policiais ao redor do mundo,
assinalando assim um novo rumo para
o armamento individual.

O Asp Murmel é
aluno da Escola
Naval

A família de armas Tavor, produzidas pela IWI israelense, são um ótimo exemplo do avanço atingido pelos fuzis
bulppup. Pode-se observar várias versões baseadas no mesmo design, bem como a expressiva redução do
comprimento total das armas. Recentemente, durante a feira LAAD, foi anunciada uma parceria com Taurus, para
o produção sob licença da família Tavor no Brasil.

O Periscópio . 2009 79
localizadas na parte superior do
submarino eram a única forma de se
olhar por onde navegava. Tais
escotilhas eram também a fonte de luz
natural do submarino. A princípio
Bushnell pensou em utilizar uma vela
no interior do submarino para enxergar
a sua agulha magnética durante a
noite ou submerso, porém verificou que
a quantidade de oxigênio seria ainda
mais limitada, então ele solicitou a

A Tartaruga ataca a Águia ajuda do seu amigo Benjamin Franklin,


que habilmente teve a idéia de utilizar
fungos bioluminescentes para fornecer
Primeiro-Tenente André Tominaga Mussato
a iluminação necessária.
Para eliminar a flutuabilidade

O
primeiro ataque submarino la próximo do inimigo sem que fosse positiva da embarcação, Bushnell
da história aconteceu em 6 notado, Bushnell pensou então na acrescentou 408,2 kg de lastro de
de setembro de 1776, utilização de um submarino, o qual ele chumbo, que podia soltar-se em caso
quando o “Turtle” dos Patriotas construiu em uma ilha do rio de urgência. Além disso, havia um
americanos, atacou o navio inglês Connecticut no mais absoluto sigilo. pequeno depósito interno de água de
“Eagle”, no porto de Nova York. Vale a pena lembrar que Bushnell não lastro regulável. A válvula do depósito
Este episódio vale a pena ser foi o “inventor” do submarino uma vez era acionada através de um pedal para
recordado, pois o criador do “Turtle”, que a idéia de um navio que pudesse deixar a água entrar e para esvaziar
David Bushnell, estabeleceu muitos navegar abaixo d`água já era haviam duas bombas de pé feitas de
dos princípios de ataque que iriam ser conhecida desde 1580 quando um latão. Para mover-se na horizontal e na
as bases para outros submarinos inglês dono de uma pousada e cientista vertical, o Turtle era equipado com dois
pioneiros que viriam a seguir. nas horas vagas, William Bourne, hélices movidos à mão, e para movê-lo
Tudo começou em 1775 quando descreveu os princípios para a em linha reta (ou para fazer curvas)
o jovem e brilhante cientista americano construção de um “submarino”. havia uma cana do leme. Em águas
recém graduado em Yale, David Acabado, Bushnell chamou-o de calmas o Turtle podia atingir até 3 nós.
Bushnell, começou a experimentar um Turtle devido a sua forma de ovo de O modo de ataque do Turtle
modo de fazer explodir a pólvora ponta cabeça, que quando flutuando consistia em aproximar-se da região
debaixo d‘água. Seus trabalhos deram era semelhante a uma tartaruga na onde se encontrava o inimigo rebocado
como resultado a invenção da mina superfície. Tinha aproximadamente 1,8 por um bote, então ele era solto e
submarina (a qual na época ele m. de altura e 1,3 m. de largura e era submergia somente até certo ponto
chamou de torpedo), acionada por um feito com pranchas de carvalho muito onde o operador pudesse avistar o navio
mecanismo de relojoaria. Na época bem encaixadas e rodeado por junções inimigo pelas escotilhas de vidro e
Bushnell estava empenhado em ganhar de ferro, possuía também uma viga assim percorria mais algumas centenas
dinheiro aproveitando-se da guerra de dentro do casco que servia como de metros. Depois de alinhado ao
Independência Norte Americana, assento e reforço da armação. O objetivo e traçado o rumo a tomar
assim converteu seu invento em uma espaço era justo para um só homem deixava entrar mais água de lastro para
arma de guerra para ser utilizada e continha ar suficiente para 40 que ele submergisse completamente.
contra a frota britânica. minutos submerso e poderia ser Uma vez abaixo do objetivo, o peso do
Para que a sua mina de 68 kg renovado através de tubos apenas Turtle era alijado até que ele
pudesse ser utilizada era necessário quando o Turtle vinha à superfície. encostasse no casco inimigo. Então
um veículo que fosse capaz de deixá- Seis pequenas escotilhas de vidro era necessário girar uma broca que

80 O Periscópio . 2009
passava por um tubo de metal havia calculado bem a forte maré
localizado na parte superior do e demorou muito até chegar
submarino até que esta entrasse no abaixo do alvo. Lee ainda não era
casco de madeira do barco inimigo. familiarizado com o submarino e
Uma vez bem presa, essa broca (que não conseguia deixar o Turtle
era unida a mina por uma corda) era estável. A luz dada pelos fungos
solta do interior do Turtle deixando o parecia ser suficiente durante a
“submarinista” livre para escapar antes noite, nos testes, porém na hora
da explosão. A mina flutuava próxima a da missão fez se menor do que
linha d`água do barco inimigo e era o esperado, pois o submarino,
acionada por meio de uma espoleta esfriado pela água do mar,
controlada por um mecanismo de diminuiu a taxa metabólica
relojoaria e a explosão que causava sua desses organismos que eram
carga de 68 kg podia fazer um buraco dependentes da temperatura.
bastante grande para inundar o barco Após muito custo começou
inimigo e fazer com que afundasse. a acionar a manivela da broca,
Como se pode imaginar, dado o mas logo em seguida,
esforço físico para acionar as hélices infelizmente, se deu conta de que
de manivela, mover as válvulas, havia se posicionado justamente
utilizando minas flutuantes, agora mais
governar a embarcação e colocar afinal abaixo de uma junção de ferro que
modernas, também desenvolvidas por
a broca no barco, era necessário um prendia o timão do Eagle, e não
Bushnell em uma tentativa de destruir
homem extraordinariamente forte para conseguiu perfurar com a broca. A esta
a fragata britânica HMS Cerberus,
desempenhar a missão. Bushnell não altura devido ao demorado tempo para
ancorado na Baía Niantic. A explosão
era capaz de fazê-lo, então teve que chegar ao barco, Lee encontrava-se
matou vários marinheiros, mas não
recrutar o Sargento do exército Ezra esgotado e quase sem ar, Assim a
conseguiu afundar o navio.
Lee, de 27 anos, que acabava de voltar única opção que lhe sobrou foi escapar.
Lee participou ainda das batalhas
da arriscada missão de lançar um Já era de dia e um dos botes que
de Trenton, Brandywine, e Monmouth,
barco carregado de materiais patrulhavam ao redor da frota britânica
sendo transferido mais tarde para o
combustíveis e inflamáveis contra avistou a estranha embarcação e se
serviço secreto/forças especiais.
navios da frota britânica que lançou a persegui-la. Lee submergiu
Depois desses eventos Lee recebeu
bloqueavam o porto de Nova York. mais uma vez e soltou a mina, que
várias condecorações de Washington.
Pouco depois da derrota do explodiu logo em seguida, deixando
Já quanto ao submarino Turtle apenas
General Washington pelas mãos de assombrados os marinheiros que o
o que se sabe é que ele finalmente foi
lorde Howe durante a batalha de Long perseguiam. Lee fracassou
afundado pelos ingleses em Fort Lee,
Island, os Patriotas necessitavam taticamente, pois não conseguiu
New Jersey. Anos depois em uma carta
fazer algo para revidar e amenizar suas afundar o Eagle, mas conseguiu,
de Bushnell para Thomas Jefferson, foi
perdas, então decidiram atacar o navio apesar de tudo, dar um grande golpe
reportado que Bushnell conseguiu
capitania Eagle de lorde Howe, que se estratégico, pois dispersou a frota
recuperar o Turtle, porém mais tarde
encontrava ancorado ao largo da ilha britânica debilitando o seu bloqueio.
ele mesmo acabou destruindo-o.
que é hoje chamada de Governors Lee e o Turtle saíram intactos e
Island, localizada no vértice sul de algum tempo depois foi feita mais uma Referências:
Manhattan, lugar onde o rio Hudson e tentativa similar de destruir uma fragata · Submarinos y vehículos sumergibles,
Jeffrey Tall, Editora Libsa;
o canal de East River fundem-se e britânica que se encontrava do lado
· Navy Times Book of Submarines: A Political,
criam uma região de águas turbulentas oposto de Bloomingdale, Nova York, Social and Military History, Captain Brayton
e forte maré. porém foi descoberto antes de chegar Harris, USN (Retired), Ed. Berkley Hardcover;
· Site: www. wikipedia. org.
Amparado pela escuridão, Lee ao objetivo, e também conseguiu fugir.
chegou próximo ao seu objetivo e No ano seguinte em 1777, Lee e o O 1T Mussato serve no Comando da
submergiu, mas descobriu que não Turtle fizeram mais um ataque Força de Submarinos

O Periscópio . 2009 81
Qualidade no Mar
Traduzido pelo CC (QC-SB) LAURI RUI RAMOS
da revista - “The Civilized Man” - Fevereiro/1984.

A revista “THE CIVILIZED MAN”, na sua edição de janeiro de 1984 publicou uma série de artigos que
destacavam aquilo que representa realmente qualidade em cada campo de atuação profissional. No mar
eles identificaram tais atributos na pessoa do Comandante de Submarino.

O COMANDANTE DE SUBMARINO três anos, após ter servido como Oficial para o comando destes caçadores é
Subalterno em um grande submarino uma das coisas consideradas mais

Q
uase duzentos anos atrás, lançador de mísseis balísticos. atraentes na marinha.
John Paul Jones disse ao Os classe 688 são projetados para “Uma das coisas que sempre me
Congresso dos Estados caçar e destruir outros submarinos e tocou é a independência de ação dos
Unidos: navios de superfície, evitando a detecção Comandantes de Nelson. Na força de
“Eu não desejo ter ligação com pelos sonares inimigos até o momento submarinos, têm-se esta mesma filosofia
nenhum navio que não navegue rápido; exato do ataque, com torpedos ou de operação, ou seja, o Comandante
pois eu pretendo ser ofensivo”. mísseis Harpoon. Eles não carregam tem liberdade para operar com seu navio.
Navegando fundo, abaixo da nenhuma arma nuclear. No entanto, Eu gosto da idéia de ser responsável
superfície do Mediterrâneo, o USS possuem sistemas de armas, sonar e por meu próprio destino e meu próprio
“Baton Rouge” estava efetuando propulsão dentro do atual estado da arte sucesso. Nós consideramos que somos
patrulha no último outono em apoio a e são os mais velozes, embora sejam a elite da marinha. Dizemos isto pelo
sexta frota americana no Líbano. O usados alguns subterfúgios quando se que representa o avanço da arma
Comandante, Capitão-de-Fragata fala sobre sua real velocidade. A revista submarina”.
Joseph P. Crociata, não irá dizer se teve “Janes Fighting Ships” resguarda-se Avaliando-se pontos obtidos em
algum contato com navios que indicando velocidade “superior a 30 nós”, testes de eficiência da marinha,
constituíssem presas naturais de seu o que pode significar tão rápido quando Crociata é um dos melhores da elite
submarino, no entanto, caso isto tenha 45 ou 50 nós. de Comandantes, de 688. Mas, como
acontecido, é provável que o outro Os detalhes sobre velocidade e a o Almirante Nimitz, Crociata tinha
submarino não tenha sabido que o tecnologia usada para torná-los originalmente pretendido ir para West
“Baton Rouge” estava lá. silenciosos são sigilosos. Admite-se Point e consequentemente para o
Mais veloz do que John Paul Jones que os vinte e seis 688 caçam exército; de forma alguma para a
poderia ter imaginado, os submarinos solitariamente, permanecendo marinha. No entanto, Nimitz foi para
de ataque da classe 688, são submersos por um mês ou mais ou, Annapolis e Crociata acabou na Notre
extremamente silenciosos e se necessário, até que os suprimentos Dame e posteriormente na Escola de
consequentemente de difícil detecção, permitam. Treinamento de Oficiais da Reserva da
o que reforça o agressivo lema de um A solitária e silenciosa patrulha dos Marinha. No seu primeiro cruzeiro,
de seus esquadrões: “Veloz, submarinos de ataque é uma boa razão quando estudante a bordo do Navio
Silencioso e Mortal”. para comandá-los. De acordo com o Aeródromo “Intrepid”, ele foi voluntário
“Nos orgulhamos das habilidades Comandante Crociata, um estudioso de para passar alguns dias a bordo de um
de não ser detectado e poder infligir história que conhece com familiaridade submarino. Seu primeiro contato quase
grande dano a qualquer um que as carreiras e estratégias de se transformou no último, já que
encontrarmos”, diz o CF Crociata, que marinheiros desde Lord Nelson (RN) durante a transferência por helicóptero
comandou o “Baton Rouge” por quase até o Almirante Nimitz, a designação para o convés do submarino quase que

82 O Periscópio . 2009
alguns tripulantes foram para a água “São entrevistas individuais as uma unidade do 8º Esquadrão de 688,
em função dos fortes ventos e mar. quais não representam aceitação baseado em Norfolk, Virginia.
“Uma vez que pisei os pés no submarino imediata. Somente um em cinco “Eu assumi o Comando quando
eu não quis mais deixá-lo”, observa o candidatos é selecionado”. tinha 36 anos. Eu considero isto (o
Comandante Crociata. “Comparado Após ter sido “passado em revista” Baton Rouge) um grande combatente
com o Porta-Aviões, ele me pareceu pelo ríspido e impertinente Rickover e e me sinto feliz por isto”, diz Crociata.
uma organização mais coesa. Existia submetido ao rigoroso treinamento “Os submarinos de ataque rápido
mais camaradagem. Eu gostei técnico, requerido para servir como constituem a primeira força de combate
daquilo”. Após ter concluído seu curso Oficial a bordo de um submarino que nós temos agora no serviço
superior em Notre Dame, como nuclear, Crociata embarcou em 1968 submarino. Esta é a ambição de todos,
engenheiro elétrico, em 1966 e ter sido no USS “Thomas Edison”, um e nós tentamos cultivá-la. É:
admitido na marinha como Guarda- submarino de esquadra lançador de tremendamente mais atraente
Marinha, ele foi chamado perante o mísseis balísticos (FBM), como Oficial comandar um submarino de ataque
Almirante Hyman Rickover, pai do de Armamento Estratégico. Sua rápido do que um lançador de mísseis
submarino nuclear. Rickover assim comissão seguinte foi como Chefe de estratégicos. É um navio de combate,
como seu sucessor Almirante Kinnard Máquinas a bordo do USS “Patrick comparado com um hotel”.
R. McKee continua fazendo, entrevista Henry” (FBM), onde foi agraciado com “Oficiais que já comandaram dizem
pessoalmente, todos os Oficiais a Medalha do Mérito Naval. Ele tornou- que tal função representa o momento
voluntários, para o serviço em se, então Imediato do USS “New York maior de suas carreiras e que nada mais
submarinos. Tal procedimento é City” um submarino de ataque da classe será tão recompensador a partir daquele
sabidamente fora do comum dentro do 688 que estava em fase de pré- momento; e quando você está aqui
militarismo. comissionamento, e recebeu outra descobre porque isto é verdade. Trata-
“Mas esta é a maneira de Medalha do Mérito Naval. Há quase três se de urna tremenda responsabilidade,
relacionarmos a elite”, diz o anos atrás, ele foi nomeado mas por outro lado está presente a
Comandante Crociata. Comandante do USS “Baton Rouge”, consciência de cumpri-la da melhor

O Periscópio . 2009 83
maneira possível”. Na gasto conhecendo seus três filhos e entrega de suprimentos vitais pelos
praça d`armas do dando atenção a esposa que ele nossos aliados. Tal fato exige que
“Baton Rouge” os conheceu quando cursava na escola de tenhamos a melhor marinha do mundo”.
taifeiros vestem submarinos em New London, Os vinte e seis (26) submarinos da
jaquetas vermelhas e Connecticut. Quando está no mar ela, classe 688 em serviço estão
comportam-se tão a exemplo das esposas dos outros distribuídos por esquadrões nas bases
formalmente quanto os garçons de um comandantes de submarinos, procura de Norfolk, New London e Pearl Harbor.
fino restaurante. No entanto, logo na auxiliar a resolver qualquer problema que Em breve mais um esquadrão estará
saída deste pequeno compartimento venha a ocorrer com as famílias dos estacionado em San Diego; além disso
estão os camarotes de oficiais oficiais e guarnição do “Baton Rouge”. outros 688 continuam sendo
(Compartimento de 1,98m x 1,98m) com Embora Crociata pudesse, construídos.
três beliches fixados a uma antepara, provavelmente, transferir facilmente Os Comandantes desta classe de
estando o primeiro ao nível do piso. seus conhecimentos técnicos e SSN passam a maior parte do tempo
Embora o interior do navio seja habilidades gerenciais para um se adestrando para um evento que
bem iluminado e impecavelmente limpo, emprego civil com melhor salário, sem esperam nunca venham acontecer.
não existe nenhum espaço que não o “stress” da vida no mar e as largas Anualmente cada submarino é
seja aproveitado. Doze Oficiais e uma separações da família, ele aparenta submetido a inspeções onde são
guarnição de 115 homens (todos encontrar grande satisfação na criadas situações que obrigam os
voluntários e rigorosamente treinados), exatidão e disciplina da vida militar. navios a operarem em condições
assim como toneladas de sofisticados “Eu penso que não conseguiria simuladas de guerra as quais incluem
equipamentos mecânicos e trabalhar na vida privada. Quando o lançamento de torpedos em raias
eletrônicos, abarrotam um cilindro de determino para que alguma coisa seja apropriadas para lançamento.
metal de apenas 360 pés de feita, eu espero que ela seja cumprida “Nós sabemos que estamos
comprimento por 33 pés de boca. Do dentro dos padrões desejados. Nosso prontos para atacar”, diz Crociata. “Não
lado de fora da Câmara do trabalho tem características especiais. existe dúvida para mim de que se
Comandante, por exemplo, o piso é Não existe espaço para erros”. tivéssemos que nos fazer ao mar e
removível permitindo acesso ao Primeiro na sua família a ter uma operar contra o inimigo, cumpriríamos
alojamento de torpedos. carreira militar, ele admite que tudo que nossa missão”.
A ausência de espaço, e a é relacionado com dever, honra e nação O “Baton Rouge” e outros 688
misteriosa calma abaixo da superfície têm um grande sentido para ele. Ao operam sob as mesmas regras de
do mar onde não existem indicações mesmo tempo, faz grandes reservas engajamento no mar previstas para os
de dia ou noite, ondas ou ventos, faz àqueles que imaginam um país sem SSBNs, com exceção de que estes
com que concordemos facilmente com forças armadas. últimos precisam de permissão para
a afirmativa dos submarinistas de que “Historicamente parece ser lançar seu armamento nuclear. Crociata
“é necessário um tipo especial de ingênuo pensar que não precisamos não precisa de tal permissão para
pessoa para servir a bordo destes dos militares. É muito popular dizer que defender-se. “Eu não conheço nenhuma
temidos navios pretos”. se deseja um mundo pacífico. O único norma da marinha que vá contra o direito
“Temos um contato muito limitado momento que chegamos próximo de autodefesa”. “Se me encontrar em
com o mundo exterior (em um desse ideal foi o da “Pax Romana”. alguma situação onde alguém me
submarino não se troca Mas, naquela época, o que se via era ataca, eu certamente manobraria para
correspondências ou toca-se tantos uma nação ditando suas próprias destruí-lo”.
portos como nos navios de superfície) regras para o resto do mundo e isto Finalmente, diz o Comandante
e operamos por longos períodos parece não ser uma solução sorrindo: “Eu não gostaria de terminar
submersos”, diz Crociata. satisfatória”, diz o Comandante. minha carreira como Nelson, que
No mar, um terço da tripulação está “Nós somos cercados por água. sangrou até morrer a bordo de seu navio
de serviço enquanto outro terço se Como eles, nós descobrimos que capitânia enquanto sua esquadra
adestra e o restante dorme. Em terra necessitamos de uma grande e forte destruía os franceses em Trafalgar”.
aproximadamente seis (6) meses por marinha. Precisamos controlar os mares
ano, o maior tempo do Comandante é de forma a garantir o recebimento e OBS.: Os grifos são do tradutor.

84 O Periscópio . 2009
O Periscópio . 2009 85
O Uso de Sonobóias na
Guerra Anti-submarina
Capitão-Tenente Mauricio Leite de Pontes

A
s sonobóias são sensores apenas recebendo sinais
utilizados na Guerra Anti- de fontes de ruído nas
Submarina (ASW), capazes suas proximidades
de detectar, localizar, identificar e (Modo de operação
acompanhar contatos submersos, passivo). Os sinais
além de poderem ser empregadas recebidos são
para determinar condições ambientais transmitidos para uma
de uma determinada área ou permitir unidade de
a comunicação com submarinos acompanhamento na
amigos. área (normalmente uma aeronave submarino mergulhado em uma
De acordo com seu princípio de ASW de asa fixa ou rotativa), através determinada área de operação.
funcionamento, as sonobóias utilizam de ondas de rádio. A unidade de As sonobóias ativas utilizam
baterias, acionadas quando em acompanhamento, ao receber estes transdutores que transmitem pulsos
contato com a água salgada, que, a sinais, realizará o processamento do na água, a fim de obter ecos de
partir de sua ativação, podem tanto sinal para a análise, a classificação contatos submarinos. Estes ecos, ao
emitir um sinal acústico para permitir do alvo ou gravação para reprodução serem recebidos, são amplificados e
a detecção de alvos (Modo de e análise futura. Existem tipos de transmitidos, via ondas de rádio VHF,
operação ativo), bem como operar sonobóias especializadas que para as aeronaves controladoras, que
permitem a detecção processarão este sinal, obtendo dados
da presença de de marcação e distância e,
campos elétricos, dependendo da quantidade de bóias
anomalias de campo utilizadas, dados de velocidade e rumo
magnético (MAD) ou também.
emissão de luz por Quando se busca a detecção de
o r g a n i s m o s submarinos hostis, normalmente a
microscópicos tática empregada será mais vantajosa
(bioluminescência) se forem utilizadas sonobóias
que venham a ser passivas, de forma a não alertar o
geradas pela inimigo sobre a presença da aeronave
passagem de um ASW na área. Porém, as sonobóias

86 O Periscópio . 2009
ativas são utilizadas para localizar medir com precisão o ruído ambiente. f. Sonóboia DLC (Data Link
alvos com rapidez e precisão, em Com essa sonobóia, é possível obter Communications) - Permite
um fixo de posição de um contato comunicação de forma limitada (uma
condições ambientais extremas,
com poucas unidades (Por exemplo, via) da sonobóia para um submarino
quando se tem a suspeita (DATUM) a sonobóia AN/SSQ-57B da US amigo. A bóia é codificada pela
da presença de um submarino Navy).. tripulação antes do voo.
inimigo.
As sonobóias podem ser d. Sonobóias DICASS (Directional g. Sonobóia ADAR (Air Deployable
classificadas por dimensões (tipo A, Command Activated Sonobuoy Active Receiver) – É uma sonobóia
B, C, etc...) e tipos de emprego (ativa, System) – Possibilita a obtenção de com receptor de dados acústicos,
passiva e medições). O lançamento marcação, distância e doppler de utilizando a tecnologia beamformin,
das sonobóias é realizado por uma contatos, utilizando sonar ativo. As com capacidade de detectar sinais
sonobóias DICASS são normalmente acústicos de unidades e, após isso,
aeronave ASW, através de tubos
utilizadas em um padrão múltiplo de emitir sinais para detectar o contato
padrão, pneumaticamente, por queda busca, porém, com uma unidade, é que esteja presente na área, obtendo
livre ou dispositivo de lançamento possível obter todos os dados para o dados de distancia, marcação e
próprio da aeronave (Cartridge ataque a um contato submarino. Doppler de alvos submarinos
Actuated Device - CAD) e, quando são
lançadas, utilizam-se pára-quedas e. Sonobóias VLAD (Vertical Line h. Sistema EER (Extended Echo
para suavizar e dar estabilidade Array Directional Frequency Ranging ) e Sistema IEER
durante a descida. As sonobóias Analysis and Recording) – Foi (Improved Extended Echo Ranging)
também podem ser lançados desenvolvida para detectar contatos – São os mais modernos sistemas
de interesse em uma área com utilizados no momento para confrontar
manualmente, por tripulantes das
elevado nível de ruído ambiente. O ameaças de submarinos, tanto em
aeronaves. aumento da capacidade de detecção águas rasas, quanto em águas
foi atingido devido ao uso da profundas. Este sistema combina as
TIPOS DE SONOBÓIAS MAIS tecnologia de formação de feixe principais vantagens dos sistemas
UTILIZADOS: beamforming, também utilizada em anteriores, bem como melhor
sonares de casco. Esta tecnologia processamento de sinais detectados.
a. Sonobóias batitermográfica (BT) permite uma melhor discriminação do A diferença entre o processamento dos
– realiza a medição do gradiente sinal de interesse, além de atenuar a sistemas EER e IEER permite que se
térmico recepção de ruídos indesejados. Com utilize uma menor quantidade de bóias
essas sonobóias, é possível realizar do tipo IEER para vigilância de
b. Sonobóias DIFAR (Directional busca, detecção, classificação e determinada área de operação.
Frequency Analysis and Recording) acompanhamento de contatos
submarinos. O CT Leite serve no Comando da Força
– Possibilita a marcação magnética de Submarinos
de um contato de interesse, permitindo
seu acompanhamento. São utilizadas
para busca, detecção e classificação.
Com essa sonobóia é possível obter
um fixo de posição de um contato com
poucas unidades (Por exemplo, a
sonobóia DIFAR - AN/SSQ-53 da US
Navy).

c. Sonobóias LOFAR (Low


Frequency Analysis and Recording)
– Possibilita a monitoragem de
assinatura acústica passivamente, de
forma omnidireccional de contatos.
Esta sonobóia pode ser calibrada para

O Periscópio . 2009 87
Destacamento de Abordagem no mar do Caribe
Capitão-de-Corveta Elígio Guimarães de Moura

Como Comandante do

E
ram três horas da manhã como de costume, passei pelo COC Destacamento MEC, embarcado
quando fui acordado pelo AR (Centro de Operações de Combate), numa Fragata Classe Niterói, tinha
de serviço, com a mensagem à procura do oficial Avaliador para me claramente definido as ações a serem
de que o Comandante do navio queria inteirar previamente sobre o assunto tomadas para manter nossos
me ver. Antes de subir ao passadiço, que seria tratado, e sobre a situação treinamentos e qualificações após
tática do exercício em geral. tanto tempo a bordo, de forma a poder
Logo que cheguei ao cumprir nossas tarefas como
“combate”, fui surpreendido Destacamento de Abordagem*, caso
pela seguinte frase: “Vocês houvesse necessidade. Para isto,
estão prontos para serem treinávamos diuturnamente. Na
empregados?”, ao que meu verdade, nunca estivemos tão
silêncio e um gesto com as preparados.
mãos abertas foram o Ao encontrar com o Comandante
suficiente para responder que do navio, no passadiço, me veio a
sim. E não somente naquele certeza: iríamos abordar, pelo emprego
momento, mas desde nosso da força, um navio estrangeiro que se
suspender do Rio de Janeiro, recusava a colaborar, e que não
dois meses antes. acatava a ordem de parar para ser

88 O Periscópio . 2009
inspecionado, pois, supostamente,
poderia conter carga ilícita. A bordo
sabíamos que havia 15 pessoas,
incluindo militares SEALs da Marinha
Norte Americana, e que avaliariam
nossas ações neste exercício
simulado.
As ordens não poderiam ser mais
claras: “Parem o navio e tomem as
medidas necessárias para que o meu
GVI/GP possa embarcar com
segurança!”. Dirigi-me, então, direto ao
convôo, que ainda ostentava a luz
encarnada sob a escuridão matinal e
o tempo chuvoso. Para minha
surpresa, lá já estava a minha equipe
pronta. Armada e equipada.
Mal cheguei, e meu Supervisor já
vinha em minha direção, informando
que todos estavam prontos e
inspecionados, e, como que por novamente à porta da aeronave e me
instinto, já iniciando a minha própria posicionei, com um dos joelhos no
inspeção. chão e com a outra perna dobrada, e
Os pilotos já corriam seu check- com cada uma das mãos apoiadas
list pré-voo, enquanto eu instalava todo numa extremidade da porta, para que
o aparato para nossa infiltração por eu pudesse me curvar para fora e
Fast Rope (método em que acompanhar a aproximação ao alvo.
deslizamos da aeronave até o solo por O mar passava rápido por sob a
meio de um cabo de suspenso na aeronave, e tão perto que parecia que
mesma). Realizado o briefing, poderia tocá-lo se quisesse. A chuva Oito segundos após a saída do
embarcamos na aeronave. fina batia em meu rosto e já molhava primeiro homem eu chegava ao chão,
Rapidamente avistamos o alvo. alguns de nós, que estávamos mais e já ordenava que a equipe começasse
Era um navio de pequeno porte, com perto da porta. a progressão me seguindo. O convés
superestrutura na proa e com a popa Lembro-me ainda do som do rotor estava vazio, e estranhamente havia
livre. A aeronave fez duas passagens mudando quando o piloto fez o flair. ali algumas fezes de cachorro – algo
altas ao redor dele e, estando na porta, Nesse momento, parecia que tudo preocupante para nós. Nos dirigimos
não identifiquei nenhum vigia ou estava em câmera lenta. Sobre o direto à única porta de acesso aos
sentinela nos conveses externos. ponto! Ok do fiel... lancei o cabo, olhei conveses internos. Ao chegar perto
Sugeri ao piloto fazer a entrada pela para o primeiro homem à porta - que dela me posicionei, para esperar todos
alheta de boreste, e o local do fast me fitava diretamente nos olhos e já estarem prontos e entrar. De repente,
rope seria na popa. em posição para se lançar da a porta se abre e um indivíduo sem
Uma última curva e o fiel da aeronave. Então dei a ordem: “Já!”, e camisa, comendo uma maçã sai,
aeronave sinalizou que estávamos na numa rate impressionante, todos como que para verificar algo. Foi a
“final para o lançamento”. Sinalizei a desapareciam pelo assoalho da deixa. Já era! Tínhamos que agir com
todos para retirarem os cintos de aeronave em direção ao chão. Fui o os MeCs, que já estavam em posição.
segurança e se prepararem. Fui último a descer. O MeC em frente a ele não vacilou

O Periscópio . 2009 89
um segundo, e só me lembro da maçã lo, perguntamos se ele falava espanhol dentre as tropas de Operações
voando junto com seu dono para ou inglês. Ao que sinalizou um não Especiais que participavam do
dentro do navio. O resto foi muito com a cabeça e começou a não exercício.
rápido. Entramos como uma cooperar... grande erro! O resultado foi Esta foi apenas uma de muitas
avalanche, alguns tripulantes pulavam a seguinte frase, em um espanhol bem ações, que são pouco conhecidas ou
tentando pegar suas armas - que claro de se entender: “Por Dios, calma divulgadas, realizadas por este
estavam sobre uma mesa pequena, ao hombres!”, e foi deixado no mesmo pequeno, porém seleto grupo de
lado de um fogão onde preparavam lugar, mas sem possibilidades de nos militares. Homens, pais de família, que
seu café da manhã - mas logo eram oferecer perigo. possuem em comum a audácia, a
interceptados por pés, mãos e corpos Após encontrarmos e coragem, a inteligência, a
dos MeCs em seu caminho, impedindo desarmarmos uma porta armadilhada, perseverança, o profissionalismo e,
o acesso à suas armas. chegamos ao passadiço, onde nos sobretudo, o amor à pátria e à Marinha
Imediatamente identificamos deparamos com os últimos suspeitos, do Brasil. E que, usando de rapidez e
alguns americanos com coletes que foram devidamente presos com o violência nas ações, estão sempre
amarelos, sinal de que eram mesmo rigor dos outros. prontos, em qualquer dia e em qualquer
avaliadores do exercício. Outros, que Imediatamente, um MeC assumiu lugar, para cumprir sua missão.
ainda dormiam, não tiveram tanta o timão do navio. Foi feita uma “Fortuna Audaces Sequitur !” (“A
rapidez para colocar seus coletes, e recontagem e declarado o navio sob sorte acompanha os audazes”)
foram tratados com a mesma nosso controle, e seguro para receber
O CC Elígio é Chefe do Departamento de
severidade do resto da tripulação. O o GVI/GP. Operações do Grupamento de
inesperado foi o latido enfurecido de Findo o exercício, fomos extraídos Mergulhadores de Combate

um Pit Bull, que estava a bordo e não de aeronave por pick-up, e retornamos *Destacamento de Abordagem é o nome dado
parecia nada amistoso. Porém, para ao navio de origem, com um Bravo Zulu ao Destacamento de Mergulhadores de
Combate embarcados em navios da Esquadra,
nossa sorte, ele estava enjaulado. dos SEALs Norte-americanos que com a tarefa de agir como a precursora ao GVI/
Todos presos. Contagem... avaliavam a ação, e com o título, GP quando o navio a ser abordado/inspecionado
oferece alto risco de oposição, ou quando o
Faltam três! informal, de termos sido a equipe que Comandante do navio estiver em dúvida com
relação à segurança de seus militares do GVI/
Algemamos e revistamos os agiu com mais rapidez e eficiência GP, no cumprimento de suas funções.
prisioneiros e nos preparamos para
encontrar os que faltavam. Subimos
mais um convés, à procura do
passadiço. No caminho, alguns
quartos. De repente, outra surpresa:
todas as luzes se apagam.
Emboscada?
...Que venha! Quase que
instantaneamente, acionamos nossos
óculos de visão noturna e esperamos
por alguns segundos. Nada.
Prosseguimos e, logo no primeiro
quarto, um homem dormindo....
Presa fácil ou armadilha?
Permitimos-nos certo tempo
observando, a fim de detectarmos
armadilhas ou emboscadas. Entramos
e, enquanto começávamos a algemá-

90 O Periscópio . 2009
Oração do Mergulhador de Combate
Permita, meu Deus
Que nesta noite não haja lua
Mas sim tormenta, caos e trevas
Que a chuva e o mar nos tomem em seus braços e nos protejam

Permita, meu Deus


Que o medo me torne forte
E corrompa os fracos
Pois seu sangue logo será derramado

Permita, meu Deus


Que todos aqueles
Que um dia ousaram forjar
Os tubarões de metal no peito
Perpetuem a honra e a lealdade
Daqueles que são quase perfeitos
E dos que um dia virão a ser

Permita, meu Deus


Que sempre retorne à minha pátria
Com a vitória em meus braços
Pois se um dia ela precisar
A qualquer hora e em qualquer lugar
A morte surgirá das profundezas do mar
Na forma de um mergulhador de combate!

“Fortuna Audaces Sequitur”

Esta é a oração oficial dos Mergulhadores de Combate. Atualmente encontra-se gravada, em


azulejo, no local de formatura dos alunos MeC, conhecido como “Coliseu”, no Centro de Instrução
Almirante Átila Monteiro Ache - CIAMA

Autor: Capitão-de-Corveta Elígio Guimarães de Moura

O Periscópio . 2009 91
Grossadmiral Karl Dönitz:
“O Pai dos U-boots”
Capitão-Tenente Júlio Isaque da Silva

INTRODUÇÃO

N
o dia 08 de Setembro de 1939,
quando a Grã-Bretanha
declarou guerra à Alemanha,
o submarino alemão U-30 torpedeou o
navio SS Athenia, no Atlântico Norte. de servir com distinção no U-39, Dönitz um barco torpedeiro, Dönitz foi para a
128 homens morreram - 28 deles recebeu o comando do UC-25, no início Superintendência de Minas e Torpedos.
americanos. Essas foram as primeiras de 1918. Relatos da época exaltam sua Em setembro de 1934, assumiu o
baixas na campanha mais longa da grande capacidade militar, energia, comando do cruzador Emden, onde os
Segunda-Guerra Mundial, a Batalha do boas maneiras, diligência, entusiasmo, futuros oficiais recebiam instrução
Atlântico. O controle das rotas popularidade e tato para lidar com durante uma viagem pelo mundo. Em
marítimas do Atlântico entre a Grã- oficiais e com a tripulação. No final de julho de 1935, em Wilhelmshaven, o
Bretanha e a América do Norte estava 1918, Dönitz comandava o UB-68. Generaladmiral (Almirante-de-
em jogo. Seria um conflito de coragem Durante um ataque a um comboio Esquadra) Erich Raeder, então
e um teste de tecnologias rivais e, britânico, em outubro, Dönitz foi forçado Comandante-em-Chefe da Marinha
acima de tudo, uma luta contra o cruel a afundar seu submarino e render-se. alemã, deu ordens à Dönitz para que
Oceano Atlântico. Ele então ficou obcecado com essa iniciasse a reconstrução da Frota
Mais do que qualquer outro líder, perda e, já no cativeiro, começou a Alemã de Submarinos.
Karl Dönitz sintetiza a Batalha do formular técnicas e táticas que dariam
Atlântico. Nascido em Berlim, em 1881, vida à Segunda Batalha do Atlântico, RENASCIMENTO DA ARMA
Dönitz ingressou na Marinha Imperial na Segunda Guerra Mundial. SUBMARINA ALEMÃ
como cadete, em abril de 1910, Em 1o de outubro de 1935, Dönitz
formando-se oficial em 1913. Quando PERÍODO ENTRE GUERRAS foi promovido a Kapitän zur See
estourou a Primeira Guerra, Dönitz era Karl Dönitz foi libertado, após o (Capitão-de-Mar-e-Guerra) e, em 1o de
Oficial de Comunicações do cruzador armistício de 1918, e retornou à janeiro de 1936, se tornou o Führer der
Breslau que, à época, operava no Mar Alemanha em 1919, sendo logo Unterseeboote (FdU) (Líder dos
Mediterrâneo. Em 1916, foi indicado recomissionado na Marinha alemã. Submarinos). A Alemanha possuía
para o serviço de submarinos e, depois Após dois anos como comandante de então apenas três pequenos

92 O Periscópio . 2009
submarinos (U-7 , U-8 e U-9). Tal título
PREPARANDO-SE PARA A ameaça aérea, foram recebendo mais
foi mudado em 19 de setembro de 1939 GUERRA armamentos antiaéreos de 20 e 37
para Befehlshaber der Unterseeboote Dönitz acreditava que, numa mm, sendo, em alguns casos,
(BdU) (Comandante dos Submarinos), guerra futura contra a Grã-Bretanha o eliminado o canhão de convés.
pouco antes de Dönitz ser promovido a papel dos submarinos seria o mesmo
Konteradmiral (oficial general de uma da Primeira Guerra, ou seja, bloquear Especificações
estrela, sem correspondência com a o comércio marítimo inimigo. Para isso,
MB). Nessa função, ele se tornou, e estimou que seriam necessários no Quantidade Completada: 8 IXA, 14
assim permaneceu até o fim da guerra, mínimo 300 submarinos, e convenceu IXB, 54 IXC, 87 IXC/40 e 30 IXD (dados
o “Pai dos U-boots” e desenvolveu com o Almirante Raeder a incluir no para IXC/40);
sucesso novas táticas para os Programa de Reaparelhamento da Comprimento: 76,8 m (total);
submarinos. Todas as grandes ações Marinha (Plano “Z”) essa meta. Todavia, Boca (largura): 6,9 m;
dos submarinos - especialmente as Calado: 4,7 m;
batalhas contra os comboios - foram
Deslocamento: 1.120 ton. (superfície)
lideradas por ele. Dönitz sempre fez e 1.232 ton. (submerso);
questão de se manter próximo dos Propulsão: Motores diesel, 4.400 hp
seus comandantes e suas tripulações. (superfície) ou elétricos, 1.000 hp
(submerso);
SUBMARINO TIPO VII Velocidade Máxima: 19 nós
Primeira classe de sucesso da (superfície) e 7,3 nós (submerso);
Alemanha, construída em 4 versões Autonomia: 22.150 Km a 10 nós
principais (tipo A, B, C e C/41), com (superfície) e 100 Km a 4 nós
crescentes aperfeiçoamentos. Foi o (submerso);
cavalo de batalha da força de U-Bootes Profundidade Máxima: 230 m;
alemã, onde fizeram fama “ases” como Armamento de Tubo: Canhão de 105
Schepke, Prien e Kretschemer, entre mm/L45 (110 granadas);
a Alemanha invadiu a Polônia em 1º de
outros. Torpedos: 6 tubos de 533 mm (4 na
setembro de 1939, e Inglaterra e França
proa e 2 na popa), com 6 recargas
declararam guerra à Alemanha, dando internas e 10 externas (total 22
Especificações: início à Segunda Guerra Mundial. No torpedos); e
Comprimento: 67,1 m (total) e 50,5 lugar dos 300 submarinos idealizados
m (linha d’água); Tripulação: 48-56 oficiais e
por Dönitz, apenas 57 estavam à sua marinheiros.
Boca (Largura): 6,2 m;
disposição.
Altura e Calado: 9,6 m e 4,74 m
(calado);
Deslocamento: 769 ton. (superfície) e SUBMARINO TIPO IX
871 ton. (submerso); Principal submarino oceânico de
Propulsão: Superfície: motores diesel, longo alcance da Kriegsmarine, o tipo
2 eixos (3.200 hp) e submerso: motores
IX era similar ao tipo VII, porém maior,
elétricos (750 hp);
para permitir operações longe do porto
Velocidade Máxima: 17,7 nós
sede. Sucessivos aperfeiçoamentos
(superfície) e 7,6 nós (submerso);
levaram ao desenvolvimento de 5
Profundidade Máxima: 220 m;
versões (IXA, IXB, IXC, IXC/40 e IXD).
Armamento Principal: 1 canhão de
Foram os principais submarinos Obs: Durante a Segunda Guerra Mundial, os
88 mm/45 cal.; militares que possuíam a Cruz de Ferro de
utilizados nos ataques no Atlântico, 1ª ou 2ª Classe da Primeira Guerra, e fizeram
Torpedos e Minas: 14 torpedos (4
conseguindo inúmeros sucessos. Com juz às referidas condecorações, receberam
tubos à vante e 1 à ré) e 26 minas; e o Brasão da Alemanha Nazista com a
Tripulação: 44-52. o passar da guerra e o aumento da inscrição 1939, que era posicionada em cima
da Cruz de Ferro de 1ª Classe, ou na fita, no
caso da Cruz de Ferro de 2ª Classe.

O Periscópio . 2009 93
A CONDUÇÃO DA GUERRA suas forças para esses locais. Quando serviço de submarinos. Sua lealdade
Depois da queda da França, em os submarinos aumentaram, Dönitz para com a Alemanha e o seu Führer o
1940, Dönitz transferiu seu Quartel- introduziu as “alcatéias de lobos”. mantiveram firme na luta até o amargo
General para a Bretanha, a fim de estar Em 31 de Janeiro de 1943, um dia fim. Nos últimos dias da guerra, após
mais próximo do fronte. Dönitz estava após ter sido promovido à Grossadmiral o suicídio de Adolf Hitler, Karl Dönitz
sempre disponível para receber as (Grande Almirante), Karl Dönitz foi se tornou o último Führer da Alemanha
tripulações, que voltavam a fazer o nomeado Oberbefehlshaber der Nazista, governando o país durante vinte
trabalho de relações públicas. Isso era Kriegsmarine (ObdM) (Comandante- dias até 23 de maio de 1945, quando
parte de sua campanha para manter o em-Chefe da Marinha alemã) e foi preso pelos aliados.
povo alemão informado sobre os êxitos substituiu o Grossadmiral Erich Raeder.
dos submarinos e, assim, assegurar Apesar da promoção, Dönitz continuou SUBMARINO TIPO XXI
recursos para continuar a expandir sua exercendo a função de Chefe da Arma Projeto revolucionário, o Tipo XXI
força. Isso nem sempre era fácil. Submarina. Sob o seu comando, as incorporava refinamentos como a
Dönitz sempre estave em conflito alcatéias levaram terror e destruição às otimização do formato para maior
com o maior inimigo da Marinha alemã, rotas marítimas aliadas. velocidade em imersão, baterias mais
Hermann Göring, chefe da Luftwaffe Mesmo assim, Dönitz era realista. potentes para maior autonomia, sonares
(Força Aérea alemã). No desenrolar da Ele sabia que para vencer a Batalha do passivos e ativos avançados e um
guerra, Dönitz aperfeiçoou Atlântico, seus submarinos deveriam sistema de recarga rápido dos
constantemente seu conceito de afundar navios mercantes aliados em torpedos, além de uma melhor
operações, de modo a refletir nas um ritmo mais rápido do que pudessem habitabilidade. Um programa de
mudanças estratégicas que ocorriam. ser substituídos. Quando, em meados produção em massa foi iniciado, porém
À medida em que um número maior de de 1943, percebeu que estava perdendo não foi suficiente para mudar o destino
submarinos estava à mão, ele a batalha, Dönitz não desistiu, e insistiu da guerra, apesar de ser um adversário
identificava áreas vulneráveis nas rotas para que uma quantidade maior de perigoso, devido à enorme superioridade
dos comboios aliados, e direcionava recursos fosse direcionada para o material aliada.

Obs: O Distintivo de guerra em


submarinos foi instituído em outubro
de 1939, e geralmente era concedido
após a segunda patrulha.
A Cruz de Cavaleiros da Ordem da
Cruz de Ferro era a mais alta
condecoração da Alemanha Nazista,
e possuía quatro graus:
1. Cruz de Cavaleiros da Ordem da
Cruz de Ferro;
2. Cruz de Cavaleiros da Ordem da
Cruz de Ferro com Folhas de Carvalho;
3. Cruz de Cavaleiros da Ordem da
Cruz de Ferro com Folhas de Carvalho
e Espadas;
4. Cruz de Cavaleiros da Ordem da
Cruz de Ferro com Folhas de Carvalho,
Espadas e Diamantes.

94 O Periscópio . 2009
Especificações: úteis ao submarino ou à Alemanha. Os de defesa foi o Comandante-em-Chefe
Quantidade Completada: 118 comandantes de u-boots deveriam ser, da Frota Americana do Pacífico,
barcos;
em sua expressão, “rígidos”. Almirante Chester Nimitz. Nimitz
Comprimento: 76,70 (total); “Lembrem-se”, ele disse, “que em seus contou ao tribunal que os submarinos
Boca (largura): 8 m; ataques com bombardeios sobre as americanos do Pacífico tinham
Calado: 6,32 m; cidades alemães, o inimigo não tinha praticamente as mesmas ordens que
Deslocamento: 1.621 ton. (superfície) Dönitz havia expedido. Apesar disso,
e 1.819 ton. (submerso); Karl Dönitz foi condenado a dez anos
Propulsão: Motores diesel, 4.000 hp de prisão.
(superfície) ou elétricos, 4.400 hp
(submerso);
CONCLUSÃO
Velocidade Máxima: 15,6 nós Sob a Alemanha Nazista de Adolf
(superfície) e 17,2 nós (submerso);
Hitler, o Almirante Karl Dönitz teve a
Autonomia: 28.700 Km a 10 nós
oportunidade de reconstruir a Força de
(superfície) e 630 Km a 5 nós
(submerso); Submarinos alemã, e não apenas isso.
Ao seu comando, os submarinos
Profundidade Máxima: Cerca de 280
m; realizaram feitos gloriosos, que
Armamento AAe: 4 canhões de 20 ou devolveram à Marinha alemã o orgulho
30 mm; que havia sido ferido após a derrota da
Torpedos e Minas: 6 tubos de 533 mm Primeira Guerra (calcula-se que 2.828
ou 12 minas; navios mercantes aliados e neutros
Quantidade de Torpedos: 23; e foram afundados, quase quinze milhões
Tripulação: 57-60 oficiais e de toneladas, e a Marinha Real perdeu
marinheiros. 175 navios de guerra tentando proteger
o tráfego mercante).
“Ao seu comando, os
O PÓS GUERRA Mas o preço foi alto. Dos 830
submarinos realizaram
Foi com relutância que os aliados submarinos que participaram da
feitos gloriosos, que
julgaram Karl Dönitz criminoso de campanha, 784 foram perdidos. Dos
devolveram à Marinha quase 41.000 homens que neles
guerra. A Batalha do Atlântico fora
travada, na maior parte do tempo, dentro
alemã o orgulho que havia operaram, quase 26.000 morreram.
das regras da guerra e de brechas sido ferido após a derrota Dönitz perdeu seus dois filhos, em
dessas regras, por ambos os lados. da Primeira Guerra...” ações contra o inimigo durante a
Entretanto, o afundamento do navio de guerra. O mais novo, Peter Dönitz, foi
passageiros Lacônia, em setembro de consideração por mulheres ou morto a bordo do submarino U-954,
1942, motivou Dönitz a mudar as regras crianças”. quando o mesmo foi afundado no
de ajuda aos sobreviventes. Os U- Tal postura era uma clara violação Atlântico Norte, com todos os
boots não seriam colocados em risco. do protocolo de Londres, de 1936, e tripulantes a bordo, em 19 de maio de
O Lacônia estava carregando levou Dönitz a ser culpado de crimes 1943. O filho mais velho, Klaus, no dia
prisioneiros de guerra italianos, e de guerra. Em Nuremberg, a acusação do seu 24o aniversário, em 13 de maio
alguns submarinos foram atacados por apontou que, na prática, isso significou, de 1944, morreu durante um ataque à
aeronaves aliadas enquanto tentavam uma ordem para matar os sobreviventes. costa Inglesa, a bordo do barco S-141
ajudar os sobreviventes. Depois disso, Dönitz argumentou que pensar primeiro (Klaus foi voluntário para participar do
Dönitz ordenou a seus comandantes a na segurança do submarino era a ataque, uma vez que havia sido
não prestar assistência e não recolher principal responsabilidade do oficial no dispensado do serviço militar desde a
sobreviventes, exceto quando fossem comando. Uma de suas testemunhas morte de seu irmão mais novo, Peter).

O Periscópio . 2009 95
de Cavaleiros, para prestarem sua última
homenagem ao “Pai dos U-boots”.
Juntos, eles lutaram como leões e foram
cúmplices no mais terrível de todos os
crimes de guerra: a derrota.

FONTES:
MASON, David. História Ilustrada da II Guerra
Mundial: Submarinos alemães - A arma oculta.
Editora Renes, 1975;
HUMBLE, Richard. História Ilustrada da II
Guerra Mundial: A Marinha alemã - A esquadra
Após ter sido libertado, em 1o de cardíaco, em 24 de dezembro de 1980, de alto mar. Editora Renes, 1974.

outubro de 1956, Dönitz foi morar em em Aumühle. Os oficiais da


VÍDEOS:
uma pequena vila, próxima à Bundesmarine (A Marinha alemã do pós Coleção Battlefield: Guerra contra os u-boats.
Hamburgo. Foi onde escreveu dois guerra) foram proibidos de comparecer Abril Coleções;
livros, e trabalhou para limpar a imagem uniformizados ao seu funeral, em seis Coleção Battlefield: Batalha do Atlântico. Abril
Coleções;
histórica dos U-boots. Pelos seus de janeiro de 1981. O governo alemão National Geographic: U-boats: Terror na
incontáveis serviços prestados à pátria, da época se lembrou apenas do costa;
foi-lhe dada uma pensão passado político de Dönitz, associado Coleção Grandes Guerras da BBC: Heróis da
II Guerra Mundial.
correspondente ao posto de Capitão- ao III Reich Nazista, mas se esqueceu
de-Mar-e-Guerra, pois o governo da do passado militar do último oficial http://en.wikipedia.org/wiki/Kriegsmarine
então Alemanha Ocidental julgou que alemão a galgar a patente de Grande http://uboat.net/
as demais promoções eram fruto do Almirante. Entretanto, vieram milhares
regime nazista de Hitler. de velhos camaradas, incluindo algumas O CT Júlio Silva pertence à tripulação
Dönitz faleceu de um ataque centenas de condecorados com a Cruz do S. Timbira

96 O Periscópio . 2009
O Periscópio . 2009 97
Mergulho Em Águas Contaminadas
Quando efetuamos um mergulho, normalmente não sabemos se a água possui algum tipo
de contaminante. Muitas vezes até temos consciência da presença de algum contaminante,
mas não sabemos o tipo e a que riscos estamos sujeitos. Isso se deve ao pouco contato
que temos com o assunto, e significa que temos muito a aprender.
A primeira coisa a saber são as potenciais vias de exposição aos contaminantes.
Podemos contaminar o sistema respiratório através da inalação, o sistema digestivo
através da ingestão, a pele e mucosas por absorção, e o sistema circulatório por
impregnação de micropartúculas de água contaminada em um ferimento.

Capitão-de-Corveta Paulo Antonio Santos Siqueira

TIPOS DE CONTAMINANTES comercialmente no mundo. Estes

O
s contaminantes podem ser produtos variam amplamente em
divididos em três grupos disponibilidade, solubilidade,
principais: biológicos, toxicidade e permeabilidade. Os
químicos e radiológicos. Os biológicos contaminantes químicos tem como
dividem-se em patogênicos - agentes fontes primárias vazamentos
infecciosos, que causam doenças em industriais, esgotos urbanos e
homens, animais ou plantas, incluindo industriais, navios comerciais, lixo e
bactérias, vírus e parasitas, também resíduos químicos provenientes da
chamados de germes - e toxinas - agricultura. Espera-se que todo corpo
de água no mundo possua um certo Mergulho em estação de tratamento de
substâncias venenosas, produzidas
esgoto
por microorganismos, plantas ou grau de contaminação. Normalmente,
alguns animais, exercendo seus pouca ou nenhuma informação está ou tanques danificados, por exemplo,
efeitos letais ou incapacitantes disponível para os casos de podem resultar na impregnação do
interferindo com determinadas funcões intoxicação aguda ou crônica, equipamento ou ainda dificultar a
de células e tecidos. Os sintomas relacionada ao mergulho, por esses movimentação do mergulhador.
mais comuns associados à infecção produtos. Os riscos dos produtos Produtos tóxicos ou combustíveis
por agentes patogênicos são gripe ou químicos são proporcionais ao tempo voláteis derramados podem, no
resfriado, apresentando através de de exposição e à sua concentração mínimo, irritar a pele ou ainda corroer
vômitos, diarréia, pneumonia, ou na água. o equipamento (partes de borracha e
lesões cutâneas. Alguns agentes Alguns cuidados específicos derivados de petróleo).
patogênicos e toxinas atacam o devem ser tomados pelos Mergulhadores podem ser
sistema nervoso central, podendo mergulhadores, baseados nas chamados à atender uma emergência
causar sintomas como dor de cabeça, características dos contaminantes em que a área esteja contaminada por
paralisia, convulsões ou coma. presentes. Mergulhos para correção fonte radioativa, ou realizar inspeção,
Estima-se que mais de 5.000.000 ou inspeção em vazamentos de reparo ou manutenção nas piscinas de
de produtos químicos sejam utilizados petróleo de tubulações subaquáticas resfriamento de combustíveis

98 O Periscópio . 2009
radioativos de usinas nucleares.
Nestes casos, os mergulhadores
devem usar um dosímetro
termoluminescente ou equipamento
similar, e ser informado da localização
exata da fonte de radiação.
Todos os contaminantes tendem
a se concentrar mais nos sedimentos
do fundo do que na coluna d’água,
Analisador portátil de
tornando os trabalhos subaquáticos Analisador portátil de
contaminantes químicos
contaminantes biológicos
que envolvem movimentação de
sedimentos mais sensíveis que os
demais.
Os contaminantes que podemos
encontrar com mais frequência são os
evitar ou minimizar o contato com meio
biológicos e químicos, sendo
líquido. O equipamento autônomo
importante a sua identificação para
comum é inadequado pelos seguintes
que os procedimentos de
motivos:
descontaminação adequados sejam
· A única forma de limpar a
empregados. Existem no mercado condensação da máscara é alagando-
alguns analisadores portáteis, a, o que exporia as mucosas dos Máscara full-face EXO-26
capazes de identificar um grupo de olhos e nariz;
contaminantes, permitindo à equipe de · A válvula reguladora, pela sua micropartículas pela válvula de
mergulho fazer uma avaliação exaustão, não impede a inalação de exaustão. Os capacetes mais
preliminar no local do mergulho. gotas microscópicas contaminadas, modernos já possuem válvulas de
permitindo a passagem direta de exaustão duplas, triplas e até
contaminantes para os pulmões e para quádruplas, visando isolar
EQUIPAMENTOS ADEQUADOS
a corrente sanguínea;
O fundamental num mergulho em completamente o mergulhador de
· A roupa molhada (neoprene) não
águas contaminadas é a utilização de qualquer partícula de água. De todo
deve ser utilizada em águas poluídas
equipamentos adequados, de forma a pois, além de permitir o contato direto modo, recomenda-se que o capacete
da água com a pele, pode agir como seja utilizado em leve fluxo direto, para
uma esponja, absorvendo mais assim dificultar o retorno ou a entrada
contaminantes e colocando-os em de água.
contato com a pele. A roupa a ser empregada para este
As máscaras full-face protegem tipo de mergulho é a roupa seca,
os olhos, nariz e boca, mas permitem
a exposição da cabeça e pescoço à
água. Por possuírem pressão positiva, Capacete KM-57
reduzem a possibilidade de contato com válvula
quádrupla
com a água, mas não resolvem
totalmente o problema de ingestão de
gotas microscópicas admitidas pela
válvula de retenção da exaustão.
Um capacete de mergulho comum
permite algum contato da água com o
pescoço, assim como a passagem de

Contaminaçao por petróleo

O Periscópio . 2009 99
preferencialmente de peça única, com
capuz e luva integrados, que
minimizam a possibilidade de entrada
de água. Uma roupa seca de borracha
vulcanizada oferece excelente proteção
para a maioria dos contaminantes
químicos e biológicos. O ideal é que a
roupa seca possua integração com o
capacete, isolando completamente o
mergulhador da água.
Uma roupa seca desenvolvida pela
agência norte-americana NOAA
(National Oceanic and Atmospheric
Administration) chamada de suit under
suit (roupa sob roupa) oferece máxima
proteção ao mergulhador. Esta roupa
possui dupla camada, e consiste em
uma roupa seca de borracha fina com Procedimento de descontaminação
botas acopladas. Uma segunda roupa
mais larga, de borracha vulcanizada externa, garantindo proteção caso ele procedimentos pós-mergulho. Após um
com um selo de pescoço para o se rasge. mergulho em águas contaminadas, é
capacete, une as duas roupas. Água Portanto, na técnica de mergulho essencial a descontaminação, para
na temperatura desejada circula no autônomo - em que o suprimento de evitar riscos aos mergulhadores ou ao
espaço entre as roupas, que possuem gás é levado pelo mergulhador em pessoal que manuseia os equimentos.
válvulas de exaustão, mantendo uma ampolas de alta pressão -, a roupa O primeiro passo da descontaminação
pressão ligeiramente maior que a seca e a máscara full-face constituem é lavar o mergulhador com um spray
o equipamento mínimo a ser de alta pressão, para remover qualquer
empregado. Porém, a técnica resíduo aderido. Em seguida, deve ser
de mergulho dependente - em empregado um surfactante ou solvente
que o suprimento de gás é adequado ao contaminante - ou solução
enviado para o mergulhador por desinfetante, no caso de contaminantes
meio de mangueiras, também patogênicos. Finalmente, o
chamadas de umbilicais - é a mergulhador deve ser lavado novamente
mais adequada para emprego com água a fim de remover o
em águas contaminadas. Esta descontaminante.
técnica permite a comunicação Algumas áreas necessitam de
do mergulhador com a atenção especial, como zippers,
superfície, além de oferecer um junções das luvas e do capacete. Na
suprimento de gás praticamente descontaminação, o ideal é que a
ilimitado, eliminando algumas lavagem seja feita de cima para baixo,
preocupações do mergulhador. tendo o cuidado de não tocar o
mergulhador com o esguicho, a fim de
PROCEDIMENTOS PÓS- não contaminar o equipamento. O
MERGULHO pessoal que efetua a
Quase tão importante descontaminação deve estar bem
quanto a proteção do protegido para não se contaminar. Deve
Equipamento mínimo adequado mergulhador, são os haver cuidado com os resíduos destas

100 O Periscópio . 2009


lavagens para que não venham a avaliação desses riscos. Essa modernos nesta área, o mais
causar novas contaminações. avaliação deve ser minuciosa, e os importante é a familiarização com o
riscos, os mínimos possíveis. A tema e com os perigos envolvidos, para
AVALIAÇÃO DO RISCO segurança da operação deve estar que estes possam ser corretamente
OPERACIONAL sempre em primeiro lugar.
Antes de se efetuar um mergulho avaliados e minimizados.
em águas contaminadas, é essencial CONCLUSÃO Fontes de consulta:
que sejam conhecidos os Os riscos de se mergulhar em (1 ) Guidance For Diving in Contaminated
contaminantes envolvidos, de modo a águas contaminadas são muitos, e a Waters – US Navy – 2004
se poder planejar o mergulho e o (2 ) Mergulho em Ambiente de Alto Risco -
informação sobre os procedimentos é Presença de Contaminantes Químicos e/ou
método de descontaminação. Devem fundamental para que as todas as Biológicos- Monografia do Cap PM LUIZ
CEZAR FREIRE (SP ) - 2009
ser analisados os fatores ambientais, precauções sejam tomadas. Esse (3) Protection of divers in waters that are
os tipos de contaminantes, o material assunto é pouco trabalhado na contaminated with chemicals or pathogens -
necessário e o disponível para o Undersea Biomedical Research. Vol. 18, No.
atividade de mergulho, até porque são 3- J. E. AMSON - 1991
mergulho, assim como os riscos pouco frequentes os mergulhos em
envolvidos e a descontaminação ambientes com alto risco de O CC Siqueira é Encarregado da Escola
necessária. Com todos os dados contaminação. Ainda que não se de Mergulho do CIAMA
disponíveis, finalmente se faz a disponha dos equipamentos mais

O Periscópio . 2009 101


O Navio de
Socorro
Submarino
“Felinto Perry”
CARACTERÍSTICAS GERAIS
INTRODUÇÃO - Autonomia de 77 dias;

O
Navio de Socorro Submarino - Deslocamento de 4.107 t;
Felinto Perry é o meio, na - Velocidade máxima de 14 nós;
Marinha do Brasil, que - Comprimento de 77,8 m;
dispõe de todos os recursos - Boca de 17,5 m; e
necessários para ser utilizado em uma - Calado de 5,2 m.
faina de socorro a um submarino
sinistrado. O Navio é composto por três
departamentos: Operações, Máquinas Mek. Verkstedt, em Tjorvag, Noruega, incorporado em 28 de dezembro de
e Socorro e Salvamento. Cada um como M/S Wildrake para a empresa 1988. Naquela ocasião, assumiu o
destes departamentos é responsável norueguesa Andres Wilhelmsen & comando o Capitão-de-Mar-e-Guerra
por uma parte dos equipamentos que Co., de Oslo sendo lançado ao mar Chrysógeno Rocha de Oliveira.
unidos possibilitam que o Brasil faça em julho de 1979. Em outubro de 1986,
parte de um grupo seleto de países foi vendido para empresa DEPARTAMENTO DE OPERAÇÕES
que possuem a capacidade de resgate dinamarquesa Rederiet H. H. O Departamento de Operações do
submarino. Faddersbjll A/S, recebendo o nome de Navio de Socorro Submarino FELINTO
DSV M/S Holger Dane. Foi adquirido PERRY, dispõe de equipamentos
HISTÓRICO pela MB para substituir o NSS Gastão modernos que possibilitam tanto a
O Navio de Salvamento de Moutinho - K 10, em novembro de execução das Operações de Mergulho
Submarinos Felinto Perry - K11, ex- 1988, junto a Rederiet H. H. Faddersbjll bem como o monitoramento de todos
Holger Dane, ex-Wildrake, é o A/S, onde era usado como Navio de os eventos que a constituem. A
primeiro navio da Marinha do Brasil a Salvamento em campos de petróleo precisão das informações
ostentar esse nome em homenagem no Mar do Norte. Foi submetido à disponibilizadas pelos sistemas que os
ao Almirante Felinto Perry, um dos Mostra de Armamento em 19 de gerenciam é de fundamental
grandes responsáveis pela criação de outubro de 1988, em Esbjerg, importância para a segurança na
nossa Flotilha de Submarinos. O navio Dinamarca. Chegou ao Rio de Janeiro execução de uma Operação complexa
foi construído pelo estaleiro Smedvik em 10 de dezembro de 1988 e foi como a SARSUB.

102 O Periscópio . 2009


Além dos equipamentos de VHF, (VSOR) que é usado no coordenadas são estabelecidas pelo
UHF e HF essenciais aos sistemas acompanhamento de toda a Operação Operador. Consiste de um sistema de
de comunicações dos navios, o NSS de Mergulho, pois é dotado de câmera retroalimentação e controle, que corrige
FELINTO PERRY possui também um que transmite imagens tanto para a o “erro” causado por ações externas
equipamento de fonia submarina (UT- Estação de Comando e Controle, (vento e correntes) produzindo o efeito
2000) com o alcance de 16.000 jardas. localizada no Passadiço, bem como desejado, que é a estabilização da
Os conveses do Navio possuem a outras estações envolvidas nas plataforma, em termos posicionamento
03 guindastes para manobras de peso, operações de mergulho. O VSOR tem geográfico. Dois subsistemas são
um em especial é considerado capacidade de realizar excursão até necessários para possibilitar a
essencial para as Operações de 300m de profundidade. capacidade de manter-se em posição
Mergulho, o BIG CRANE que é um O Sistema de Posicionamento com precisão de 1 metro: os
guindaste com capacidade de 30 Dinâmico (SPD) é considerado a controladores e os atuadores. Os
toneladas e sua principal finalidade é principal ferramenta para realização de controladores recebem as informações
servir como retém dos sistemas de uma operação de resgate submarino. dos sensores que processam seus
içamento dos dois sinos de mergulho, Concebido por tecnologia norueguesa, sinais e os envia para os atuadores.
além da capacidade de resgatar este sistema é responsável por Os atuadores determinarão a potência
objetos do fundo mar até 300m. controlar todos os propulsores e lemes necessária a ser aplicada pelos
O Navio também possui um do navio a fim de estabilizar o seu componentes do sistema de governo e
veículo submarino de operação remota posicionamento em um ponto cujas propulsão do navio.

O Periscópio . 2009 103


TRANSF 1
QUADRO ELÉTRICO PRINCIPAL DE TRANSF 2 TRANSFORMADOR
440V QUADRO 440V MERGULHO
TRANSF 3
QUADRO ELÉTRICO PRINCIPAL DE QUADRO 440V CONTROLE DA
TRANSF 4
220V SATURAÇÃO
CAIXA ENERGIA DE TERRA
BOW THUSTER 1 DGE MERGULHO
GERADOR 3
BOW THUSTER 2 QUADRO 220V MERGULHO
GERADOR 4
STERN THUSTER 1 TRANSFORMADOR
GERADOR 2
STERN THUSTER 2 QUADRO 440V
GERADOR 1
MEP BB DGE PORTO
QUADRO 220V MERGULHO
MEP BE

104 O Periscópio . 2009


O Periscópio . 2009 105
Para a informação da posição DEPARTAMENTO DE MÁQUINAS DEPARTAMENTO DE
geográfica e para efetuar, Para atender as exigências do SALVAMENTO
constantemente, as correções no sistema de governo e propulsão, o O Complexo Hiperbárico do NSS
posicionamento, o navio utiliza as navio conta com uma planta diesel- Felinto Perry foi projetado para realizar
informações vindas dos seus dois elétrica composta por quatro geradores saturação até 300 metros de coluna
DGPS e também de outro importante elétrico principais (GEP), que operam d’água (31 ATA). Constitui-se de duas
sistema chamado HiPAP (High em paralelo com um sistema de câmaras de vida, uma câmara de
Precision Acoustic Positioning). balanceamento e sincronismo de transferência, um sino de mergulho e
O HiPAP compila o quadro tático carga automatizado gerando 8000 kW, a câmara da baleeira de resgate
de uma Operação de Resgate que alimentam o quadro elétrico da hiperbárica.
Submarino. O sistema emite pulsos propulsão de 600V e o quadro elétrico As câmaras de vida são dividas
acústicos, por uma haste que é arriada da força auxiliar de 440V. em Principal, com capacidade para até
da parte inferior do casco do navio, que Para a geração de energia no caso 08 mergulhadores, Secundária, com
interrogam os transponders colocados de uma emergência, o navio possui um capacidade para até 04 mergulhadores
em qualquer ponto fixo ou móvel que diesel-gerador para as atividades de e Intermediária, dispondo de
esteja mergulhado no mar. A resposta mergulho e também tem a capacidade equipamentos para as necessidades
destes transponders permite que o de suprir a iluminação e circuitos fisiológicas e banho dos
sistema reproduza em tempo real a vitais. mergulhadores, além de ser
localização, em relação ao navio, bem Apresentamos abaixo um empregada para a realização da
como a profundidade onde se encontra diagrama de bloco ilustrativo do transferência de mergulhadores para
qualquer contato que se deseja manter sistema de geração de energia do o sino de mergulho.
o acompanhamento. O alcance de navio: Todas as câmaras possuem
detecção do HiPAP é de três mil O Sistema de Governo do navio é sistemas de controle ambiental para
metros, abrangendo 360º do navio. composto por dois motores elétricos manutenção da atmosfera interna
Ações como posicionar o navio em principais (MEP) acoplados cada um dentro dos padrões estabelecidos,
relação ao Submarino sinistrado, a uma engrenagem redutora e as sendo eles: temperatura entre 26°C e
acompanhar e orientar a excursão do mesmas acopladas às linhas de eixo, 32°C, umidade entre 50% e 70% e
mergulhador ou até mesmo auxiliar a 4 motores transversais (thrusters), porcentagem de CO2 abaixo de 0,5%.
descida do Sino de Resgate sendo 2 avante e 2 a ré, 2 hélices de O sistema é composto por: unidades
Submarino em direção a escotilha de passo controlado (HPC) e 2 lemes que de controle ambiental, compostas por
salvamento, são conduzidas com trabalham de forma independentes Os 04 Control Master Unit (CMU) e 03
segurança através da análise das thrusters são fundamentais para que Habitat Conditioning Unit (HCU);
informações apresentadas neste o navio possa estabilizar a plataforma equipamentos para absorção do
sistema. e auxiliam nas aproximações dióxido de carbono - scrubber;
A Estação de Comando e precisas, já que fazem os esforços equipamentos para aquecimento da
Controle é localizada no passadiço a transversais. Os HPC facilitam as atmosfera da câmara e do sino de
ré e composta de equipamentos rádio, manobras, devido ao seu curto intervalo mergulho - heater, sistema de
o controle do SPD e do Hí-PaP, de tempo de resposta. Os dois lemes analisadores de oxigênio, dióxido de
monitores de imagem do VSOR, do têm a capacidade de operar: em carbono e hélio, máscaras para
Sino de Mergulho, do SRS e do automático, sincronizados ou respiração individual - Built in Breathing
capacete do mergulhador, e enfim independentes (lemes controlados System (BIBS) e suprimento de
concentra todas as informações separadamente), sendo este último, o oxigênio puro.
necessárias para as decisões nas modo utilizado quando o navio está em As operações de mergulho são
operações de mergulho e resgate. posicionamento dinâmico. realizadas a partir do Sino de Mergulho.
O sino é um vaso de pressão esférico

106 O Periscópio . 2009


com capacidade para até 03 Os mergulhos são controlados de CONSIDERAÇÕES FINAIS
mergulhadores e tendo como limite de dentro do compartimento CONSINO, A atual capacitação da Marinha
operação a profundidade de 300 metros. no qual os mergulhadores, dentro ou do Brasil, em resgate de submarinos,
O Sino está interligado ao sistema de fora do sino de mergulho, são foi alcançada ao longo de um
câmaras/superfície por mangueiras e constantemente monitorados, por processo, iniciado com a chegada do
cabos elétricos, que unidos formam o sistemas de vídeo, comunicação e de navio. Com o emprego dos recursos
umbilical, com capacidade de controle da atmosfera e do gás de existentes a bordo, procedimentos e
fornecimento de gases para respiração respiração. técnicas desenvolvidas pelo pessoal
e pressurização, recuperação de gás, Os gases empregados na da MB, e com a centralização de todo
água de aquecimento, energia, vídeo e saturação e mergulhos são este conhecimento adquirido na
comunicações. armazenados e confeccionados na Seção de Salvamento do Comando da
Em caso de qualquer emergência sala de gases, onde existem 156 Força de Submarinos, a operação de
a bordo, como: incêndio em áreas cilindros de alta pressão com volume Salvamento de um submarino
adjacentes às câmaras ou iminência interno de 500 litros, e pressão de sinistrado é uma realidade, fato que
de afundamento do navio, o sistema trabalho de 200bar, os quais podem nos coloca no grupo de marinhas com
de saturação é provido de uma ser armazenar hélio puro, mistura disponibilidade a atender a qualquer
baleeira de resgate hiperbárica, a qual HELIOX e ar-comprimido. incidente com submarino sinistrado
possui uma câmara hiperbárica no O navio é dotado de um Sino de nas costas do Brasil.
interior para onde são transferidos os Resgate Submarino (SRS) capaz de O nosso maior legado é permitir
mergulhadores saturados. realizar o resgate de tripulantes de um as tripulações de nossos submarinos
Todo o controle da saturação é submarino sinistrado até a que tenham em mente o lema do Navio
realizado de dentro do compartimento profundidade de 300 metros. O SRS de Socorro Submarino Felinto Perry:
CONSAT, de onde é possível monitorar foi projetado e construído com “MERGULHE TRANQUILO
e controlar a profundidade de todas as tecnologia nacional e vem sendo ESTAMOS ATENTOS”
câmaras, níveis de oxigênio e dióxido largamente empregado em exercícios
Artigo elaborado pelos Oficiais do
de carbono, dentre outros gases, a com resgate real de tripulantes dos NSS Felinto Perry.
umidade e temperatura. submarinos brasileiros.

O Periscópio . 2009 107


A Utilização de Sensores Acústicos para a
Localização da Caixa-preta
do Avião Acidentado no
Mar no Vôo AF 447
Capitão-Tenente Mauricio Leite de Pontes

INTRODUÇÃO Navios Mercantes em

E
m 31 de maio de 2009, uma trânsito na área SAR, para
aeronave da AIR FRANCE - a realização de buscas a
voo 447, que partiu do Rio de sobreviventes, corpos e
Janeiro com destino a Paris caiu no destroços da aeronave.
mar com 216 passageiros e 12 No dia 10 de junho de
tripulantes a bordo. Nesta ocasião, foi 2009, foram iniciadas as
iniciado o evento SAR SNE 003/09, operações de busca para
com a participação de Navios da localização do gravador de
Marinha do Brasil e da Marinha comunicações da
Nacional da França, além de aeronave, também
aeronaves militares destes países e conhecida como “Caixa-

108 O Periscópio . 2009


preta”, o que permitiria saber qual a ponto de queda da aeronave e na deriva “Pinger” do localizador beacon da
causa do acidente. Nesta busca foram local. “caixa-preta” do AF 447.
empregados somente meios da Este navio possui 6600 toneladas Além disso, dois rebocadores de
França que foram: o Submarino de deslocamento, 107 metros de alto mar foram contratados pelo
Nuclear de Ataque “Emeraude”,o Navio comprimento, 20 metros de boca, Governo da França, para utilizarem
de Pesquisa “Pourquoi Pas” e os propulsão diesel-elétrica com sistemas de busca passiva da Marinha
Rebocadores de Alto-Mar “Fairmount posicionamento dinâmico, velocidade dos Estados Unidos”(US Navy).
Expedition” e “Fairmount Glacier”, mantida de até 14,5 nós e autonomia Os Sistemas TPL-30 (3.000
contratados pelo governo francês. de 64 dias, podendo utilizar os metros de cabo de reboque) e TPL-40
A Caixa-preta usada no Avião seguintes recursos nas buscas: (10.000 metros de cabo de reboque)
possui um localizador acústico hidrofone rebocado onidirecional, sonar foram transportados por via aérea para
submarino (beacon) do tipo Dukane de casco multifeixe com capacidade a cidade de Natal e instalados nos
DK120, que ao entrar em contato com de mapeamento do fundo do mar até rebocadores que se encontravam
a água salgada é ativado emitindo um 6000 metros, ROV Victor 6000, mini- atracados no porto desta cidade. Os
sinal sonoro (pinger) na freqüência de submarino Nautile e marcadores sistemas utilizam os seguintes
37.5 kHz (± 1 kHz) em um nível acústicos doppler capazes de medir componentes: hidrofones rebocados,
acústico de 160.5 dB,largura de pulso a corrente em profundidades de até container de processamento de sinais,
10 ms, repetição de 0.9 pulse / s, 1000 metros e marcadores de fundo cabos de reboques e gerador de
podendo operar até a profundidade submarino para a verificação das energia independente para o sistema,
máxima de imersão de 6096 m com camadas superiores dos sedimentos permitindo aos rebocadores se
uma autonomia de 30 dias. marinhos no fundo do mar. deslocarem a uma velocidade de
O Submarino Nuclear de Ataque cerca de 3 nós durante a faina de
DESENVOLVIMENTO DAS AÇÕES “Emeraude” realizou buscas utilizando reboque.
O órgão francês responsável seu sistema sonar, variando a cota de A utilização de sonobóias
pelas investigações de acidentes operação de modo a tentar obter o passivas na busca à “caixa-preta” do
aeronáuticos com aeronaves civis é
o “Bureau d’Enquêtes et d’Analyses
pour la Sécurité de l’Aviation Civile”
(BEA).
O navio de pesquisa “Pourquoi
Pas” foi construído para atender ao
instituto oceanográfico IFREMER
(“Institut français de recherche pour
l’exploitation de la mer”) e para
atender à Marinha Nacional da
França. Este Navio normalmente é
usado 150 dias por ano pela Marinha
e 180 dias por ano pelo IFREMER,
em missões de hidrografia,
geociência, oceonografia e pesquisas
biológicas. Por ocasião das buscas
à “caixa preta” do AF 447, foi utilizado
como o controlador das buscas,
orientando o posicionamento dos
demais meios na varredura de áreas
baseadas no cálculo do provável

O Periscópio . 2009 109


AF 447, lançadas por
aeronaves Anti-
submarino, também
seria possível e foi
cogitada. A viabilidade
técnica de investigação
do “pinger” utilizando
sonobóias do tipo
SSQ-53F foi
desconsiderada,
devido ao curto tempo
disponível para
preparação das bóias,
seu transporte e
lançamento, bem
como, não se ter a
certeza de grande probabilidade de correntes marítimas, que gerou a CONCLUSÃO
sucesso na detecção, devido a deriva necessidade de realizar a previsão do Apesar de haver registros de
presente na área. ponto provável de queda da aeronave resgates de “caixas-pretas” com
Durante as operações de busca, e da deriva local. sucesso em outras ocasiões, como por
os meios empregados chegaram a ter Durante a utilização do mini- exemplo, o acidente ocorrido no dia 3
contatos com sinais de características submarino, o mesmo mergulhou até de janeiro de 2004 com um Boeing 737-
semelhantes ao do “pinger”, porém, a profundidade 3.300 m sobre a 300 da Flash Airlines em frente a costa
posteriormente não foram confirmadas, posição de uma das detecções de “Sharm el-Sheik” no Egito, onde a
sendo considerado como falsas suspeitas e foi observado o relevo BEA, coordenou as buscas com
detecções. submarino com uma batimetria muito desfecho positivo, as variáveis
Foram realizados diversos ensaios acidentada e a presença de muitas encontradas nesta operação foram mais
utilizando um “beacon” semelhante ao falésias com dezenas de metros. desafiadoras, devido às distancias
da “caixa-preta” do AF 447, que foi A intensa presença de vida envolvidas entre a área de busca e as
ativado pela BEA no mesmo dia do marinha na área, produzindo ruídos bases de apoio em terra, gerando a
acidente, a fim de se obter medições biológicos, dificultou a detecção dos necessidade de apoio logístico móvel,
referentes às condições de propagação meios envolvidos, principalmente, à a profundidade da área de busca (1420
na área, cálculo do alcance dos noite devido a camada biológica m na costa do Egito e 3500 m no Oceano
sensores utilizados nas buscas para (Deep scattering layer) que é uma Atlântico) e as próprias condições do
este sinal, bem como validar os sinais migração diária que ocorre nesta área, mar e tempo presentes na área.
que foram detectados. os chamados “fundo falso”, que sobe Apesar de todo o esforço das
em direção à superfície cada noite, e unidades envolvidas na busca, a
DIFICULDADES OBSERVADAS mergulha de novo na manhã seguinte. operação não teve o desfecho esperado
As características da área de Este fundo falso é formado pelos e a caixa-preta do AF 447 foi silenciada
operação dificultaram a condução das inúmeros organismos marinhos que na imensidão do Oceano Atlântico,
buscas, principalmente, considerando migram para cima e para baixo como guardando consigo as verdadeiras
as condições meteorológicas na área, uma camada entre a superfície e a causas do acidente que ficará apenas
a profundidade local de 2500 a 3500 profundidade de aproximadamente contado por suposições dos
metros, além da presença de fortes 1.500 pés. especialistas aeronáuticos.

O CT Leite serve no Comando da Força


de Submarinos

110 O Periscópio . 2009


O Periscópio . 2009 111
Crescendo
Publicado na revista “Proceedings”, dezembro de 1990.
Autor: C. Alte. Dave Oliver Jr. (USN)
Tradução: Alte. Esq João Afonso Prado Maia de Faria

S
ou agora velho o suficiente retransmitir a orientação, e temperamentos? Quando eles
para que, frequentemente, transformar os desejos do chefe necessitam de um “empurrão”?
jovens oficiais me em ações mais específicas nas Quando é hora de criticar? Quando
perguntem o que deveriam fazer suas respectivas divisões. é hora de interromper o trabalho,
em seu primeiro navio. Grandes grupos não podem mesmo que o serviço ainda não
Principalmente se este for um facilmente questionar conselhos esteja feito? Quando é mais
submarino. Querem saber como confusos, lembrar ao chefe acerca conveniente “virar” a noite? Essas
dar partida às suas carreiras, com de circunstâncias ou um decisões necessitam de
um bom início. Me recordo de ter compromisso que ele esteja julgamento. O julgamento melhora
pensado sobre a mesma coisa. com a experiência. E a experiência
Não tinha certeza se devia “Além disso, jovens vem com o que é comumente
cumprimentar primeiro a bandeira oficiais necessitam de chamado de “tempo nas casas”
e depois o oficial de serviço. um rápido começo na (time in the chair, no original).
Pensava: “Se eu chegar a bordo, parte mais importante É preciso agarrar cada
eles irão me dar uma missão de sua educação - oportunidade para se obter “tempo
impossível. Eu terei que dizer a aprender como liderar nas casas”. Sei que isso parece
uma pessoa, mais velha que meu inacreditável para um novo oficial
pessoas. Não é o
pai, o que ela deverá fazer. Ele em torno dos vinte e dois anos de
mesmo que dominar a
estava fazendo o seu serviço antes idade, mas temos um tempo bem
técnica de ler um
de eu nascer. O que acontecerá limitado para obter a experiência
se ele rir? Quando estiver dando
plano, engaxetar uma
que será necessária nas posições
as ordens, como saberei se eles válvula de vapor ou
superiores. A vida militar é um jogo
não estão debochando de mim cortar uma série de
de pessoas jovens. Se você estiver
pelas costas? Porque, neste anéis de em submarinos, quando tiver 45
mundo, a Marinha é organizada arrastamento.” anos já vai estar muito velho para
desta maneira - com oficiais recém se fazer ao mar. E não irá durar,
formados encarregados de em funções de terra, por muito
esquecendo. Eles não podem
pessoas?”. mais tempo. Somente almirantes
conversar, com facilidade, sobre
A Marinha é organizada dessa podem ficar mais de 30 anos na
coordenação entre incumbências.
maneira porque funciona. Não é Marinha. Vinte ou trinta anos pode
Além disso, jovens oficiais
eficiente que todas as parecer para sempre quando se é
necessitam de um rápido começo
comunicações e o exercício da
Foto: CT Frederick Wanderson Varella

na parte mais importante de sua jovem, mas, na minha idade, pode


liderança sejam providos se verificar que era um espaço de
educação - aprender como liderar
diretamente pelos oficiais mais tempo insuficiente para caber tudo
pessoas. Não é o mesmo que
antigos, para todos os o que necessitou.
dominar a técnica de ler um plano,
subordinados. É muito mais eficaz O oficial que irá competir mais
engaxetar uma válvula de vapor ou
que o mais experiente fale para um tarde em sua carreira, na seleção
cortar uma série de anéis de
grupo relativamente pequeno de das melhores e mais desafiantes
arrastamento. A parte difícil em se
gerentes de nível intermediário - funções, tem que obter educação
tornar um líder é aprender como
seus oficiais, neste caso - e então, no nível de pós-graduação,
obter o melhor de seu pessoal.
ter cada um desses oficiais para experiências em diferentes partes
Como você sente e avalia seus

112 O
O Periscópio
Periscópio .. 2009
2009
do mundo, funções em terra pessoal. Que você se torne, Uma segunda boa prática é
assim como embarcadas, e rapidamente, um bom guarda de observar a regra do “menor
experiência em estados-maiores. trânsito na estrada de duas mãos conforto”. Pode-se seguir fielmente
Ele tem um tempo muito limitado da liderança. Seus chefes essa regra, ouvindo sempre e
para aprender a trabalhar com esperam que você explique ao seu cuidadosamente a sua mente. Ela
pessoas. O jovem oficial não pode pessoal o que o comando exige é uma calculadora muito capaz.
se dar ao luxo de perder mesmo que você reflita, de forma confiável, Muito antes de você começar a,
que um dia de experiência quando às preocupações de seu pessoal conscientemente, avaliar um
a oportunidade está disponível. de volta ao nível apropriado. problema, sua mente já computou
Este é o motivo para se colocar, Representar o seu grupo não o conforto relativo das diferentes
imediatamente, um jovem oficial requer grande quantidade de linhas de ação possíveis. Se você
numa posição de liderança com experiência especial. Necessita- estiver sentado em seu camarote,
uma divisão de marinheiros. se, na realidade, de uma grande trabalhando num relatório
Você, o jovem oficial, ficará quantidade de esforço. Exige que atrasado, e alguém o chama para
surpreso de como tão ocupados lhe dizer que acharam o problema
todos são; muito ocupados para com o vazamento de vapor - um
“Qualquer que seja a
prestar atenção em você. Embora eixo empenado -, sua mente já
sua função - seja a sua
muito daqueles que trabalham para completou sua análise, antes
primeira OM ou a
você não sejam radicalmente mesmo que você desligue o
diferentes em idade ou capacidade
décima -, você começa telefone. Sua mente pesou as
de seus colegas de bancos por cuidar inicialmente alternativas: é mais confortável
escolares, existe uma diferença de seu pessoal. É uma continuar sentado no seu
importante. Eles não estão boa prática fazê-Io, camarote, com sua xícara de café,
entediados com a escola, parados começando por seu e completar o relatório atrasado de
em grupos fumando e contando primeiro posto.” forma que o Imediato não reclame
piadas, mudando de um pé para mais e você possa dormir um
outro, esperando por um novo e pouco? Ou é mais confortável
inexperiente, oficial. Eles estão, ao você aceite responsabilidade levantar de sua cadeira, caminhar
invés disso, trabalhando a cada morais por fazer o suficiente e o e olhar a válvula?
minuto. A bordo de um submarino, que é certo para o seu pessoal. É Existe somente uma maneira
existe sempre mais trabalho do que necessário fazer isso tudo por eles. de você poder descobrir como um
existem pares de mãos disponíveis. Acompanhar o que eles precisam eixo empenado se parece, ou
Sua chegada irá, em grande para se candidatar a programas como ele afeta o engaxetamento
parte, ocorrer de forma especiais, e lutar para que tenham e a sobreposta. Existe somente
despercebida. As pessoas são o reconhecimento especial a que uma maneira de você ser capaz
curiosas acerca de um novo oficial, fazem jus. É preciso também cumprimentar, quando realmente
mas estão mais interessadas em aceitar a tarefa desagradável de conta e é mais efetivo, o
o que o oficial pode fazer para dizer a eles quando os seus maquinista cansado que
tornar suas vidas mais fáceis. esforços não são adequados. desmontou a válvula e descobriu
Ninguém espera que você se torne Qualquer que seja a sua função - o problema que os outros
imediatamente o proeminente seja a sua primeira OM ou a ignoraram.
perito técnico. Entretanto, seus décima -, você começa por cuidar Então, enquanto se está lá,
subordinados e seus supervisores inicialmente de seu pessoal. É uma segurando o eixo com suas mãos,
esperam que você comece boa prática fazê-Io, começando por alguém chama do porão para lhe
imediatamente a cuidar de seu seu primeiro posto. . informar que acharam problemas

O
O Periscópio
Periscópio .. 2009
2009 113
com as guias dos mancais. O avarias comum a este tipo de O Almirante Rickover
supervisor olha por cima da reparo. Irá compreender o quão entendeu esse princípio
papelada que está consultando, e difícil alguns reparos podem ser. excepcionalmente bem. Quando
diz à voz invisível para tentar Terá um sentimento melhor de a Westinghouse estava
“acamá-Ias”. como os equipamentos devem ser construindo o componente do
Você tem três opções. Elas projetados e arranjados. reator do Nautilus (SSN-571), ele,
são, em ordem de conforto: Essa experiência pessoal é pessoalmente, se posicionou em
Ignore a voz, você poderá ver importante, pois irá durar para o cada válvula e peça de
quem “mancou”, e em que “cama”, resto de sua vida. Pelo fato do seu equipamento a fim de assegurar
no jornal de amanhã, ou: tempo ser limitado, durante os que existia espaço suficiente para
Peça ao supervisor para colocar seus primeiros anos iniciais você executar a manutenção que seria
de lado a papelada e lhe explicar o não será seletivo. Deve se requerida. Uma excelente idéia,
processo de reparo para você, ou: consumir todos os tipos de dados mas eu sempre reclamo dele por
Deite de costas, deslize sob brutos. Isto é bom. Entretanto, o não imaginar que existiria um
a bomba junto ao porão sujo, bata ritmo cedo diminui. Você se torna número limitado de homens numa
duas vezes com a cabeça numa mais seletivo sobre a informação tripulação média, que teriam
válvula, queime seu braço logo que irá aceitar, e começa a tomar 1,53m e 45 kg!
acima do ombro numa canalização decisões sobre como classificará Sua viagem para olhar a haste
de vapor, e veja exatamente o que e listará as informações em sua empenada da válvula também serve
o homem está fazendo com o mente. a outro propósito: as pessoas
martelo. Essas decisões de verem que você está realmente
Se você ignorar a voz, nunca indexação são essenciais para interessado em seu trabalho. As
será um chefe. Você pode ser uma ajudá-Io a aplicar experiência pessoas que trabalham com você
boa pessoa, e ter boa aparência antigas às novas situações. Mas, irão sempre falar por suas costas,
quando de uniforme, mas assim que você começar a e você não vai impedir isso. Eles
certamente não é um líder. Ache indexar e avaliar informações, sua não irão parar. Pessoas são
um emprego em outro lugar, que perspectiva estará modificada e interessadas em pessoas, e falam
use suas outras qualidades. Se limitada. Você não está mais sobre outras pessoas. Aquela noite
pedir ao supervisor para que lhe aceitando a mesma quantidade eles irão falar sobre o quanto que
explique o que disse, você pode de novas informações, como fazia você se importa.
se tornar um oficial. Se você deitar quando acreditava que tudo era Sempre selecione como sua
no porão, ira provavelmente importante e relativo. O jovem opção o item de menor pontuação
arruinar o seu uniforme. oficial que conscientemente tenta no índice de conforto de sua mente,
Mas o porão é o único lugar experimentar quantos desafios e sua mente não irá deixar você na
que alargará significativamente o profissionais for possível, estará mão. Ela é confiavelmente
seu conhecimento. É o único local armazenando amostras que preguiçosa. Lembre-se: ser um
para aprender a liderar. O porão poderá avaliar posteriormente. bom oficial subalterno é
de um submarino é sempre um Vinte anos depois daquela simplesmente uma matéria de se
lugar desconfortável. Está noite em que deitou no porão e, levantar de sua cadeira ou cama,
normalmente sujo, e sempre pela primeira vez, contemplou a ir até a incumbência, e então se
congestionado. Se você se diverte relação entre o espaço disponível abaixar e sujar. Aprender a
e está confortavelmente em pé em e a qualidade da manutenção, você conduzir uma divisão é pensado
qualquer lugar específico, este poderá se basear naquela durante o sono.
local provavelmente deve receber experiência para tomar decisões
um aviso de que é uma área de sobre o espaçamento de
baixo aprendizado. No porão, você maquinaria no projeto de um novo O AE Prado Maia é do Estado-Maior do
Ministério da Defesa
irá entender melhor a alta reite de submarino.

114 O
O Periscópio
Periscópio .. 2009
2009
Cursos ministrados pelo CIAMA

SUBMARINOS
• Curso de Aperfeiçoamento de MERGULHO
Submarinos para Oficiais • C-AP-MG
• C-SUBESPEC-SB • C-ESPc-MG-PR
• EQFCOS • C-ESP-EK-OF
• C-EXP-PSOPS • C-EXP-CORSOL
• C-EXP-OSOF • C-EXP-FOTOSUB
• C-EXP-FOTO OF/PR • C-EXP-MAUT
• C-EXP-SEN • C-EXP-MARDEP
• EQ-MANTUPI • C-EXP-NATSALV-A
• C-EXP-ATSON-SUB • C-EXP-ASM
• EQ-MAN-KAFS • C-EXP-MAUT-POL
• EQ-MAN-CSU-83 • E-EXP-DEMO
• EQDATABUS • C-ESP- MG-SAT
• EQ-MAN-DR 4000U • C-ESP-SUPMG-PROF-MAS
• EQ-AMN-PMB/PCM

MEDICINA SUBMARINA MERGULHO DE COMBATE


• C-ESP-MEDSEK • CAMECO
• C-ESP-EFMEDHB • C-ESP-DAE
• C-EXP-EMSB • C-ESP-MEC
• C-EXP-EMED-MG • ADMEC
• C-EXP-MEDSAT • C-EXP-MAUT-GAS

O Periscópio . 2009 115


SOLUÇÃO:

116 O Periscópio . 2009


O CMG (REF) Jaccoud foi instrutor de Identificação de Alvos no CIAMA.
CIAMA

MÉRI TO

NA L
VA
Foto: Mário R. V. Carneiro/Segurança & Defesa

Você também pode gostar