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TRANSPORTE AQUAVIÁRIO
Em razão de sua privilegiada geografia, em especial das características da costa e das bacias
hidrográficas, o transporte aquaviário é uma boa opção para o escoamento da produção
nacional58. Apesar das características desejáveis para o crescimento do modal, este responde
por apenas 15,7% do volume de cargas transportado59, indicando grande potencial para o
desenvolvimento da atividade, que poderia ser ainda mais explorada para o escoamento da
produção e para o transporte de passageiros.
• navegação marítima: navegação em águas oceânicas, que pode ser dividida entre navegação
de longo curso, realizada entre países, e navegação de cabotagem, realizada entre portos ou
pontos navegáveis do território nacional, combinando vias marítimas e hidrovias navegáveis em
seu percurso.
Uma das maiores vantagens desta modalidade está na capacidade de se transportar grandes
volumes de produtos por longas distâncias a um preço reduzido. Isso ocorre pois, ao se aumentar
o volume transportado, dilui-se o custo final do frete por quilômetro percorrido. O custo médio
de transporte via cabotagem, por exemplo, pode ser até cinco vezes menor do que o custo para
se realizar o transporte de um mesmo volume de mercadorias por meio do modal rodoviário60.
Além disso, do ponto de vista energético, gasta-se menos combustível e, portanto, emite-se
menor quantidade de poluentes no ar, reduzindo seu impacto ambiental. Outra vantagem diz
respeito a maior vida útil da infraestrutura, dos equipamentos e dos veículos, evitando
interrupções do serviço e prejuízos aos proprietários das mercadorias. Por fim, o transporte
aquaviário também apresenta um índice inferior de acidentes e avarias, sendo uma forma de
transporte segura, eficiente e custo-efetiva.
Todas essas vantagens têm como contraponto a menor velocidade de deslocamento, a reduzida
disponibilidade e frequência das viagens e a menor capilaridade para a entrega de produtos,
uma vez que suas rotas se encontram limitadas pelas características geográficas das regiões,
necessitando de transbordo para outra modalidade para que as mercadorias cheguem ao seu
destino final.
Esse crescimento durante a pandemia ilustra como o modal pode ser mais integrado à matriz
brasileira de transportes, aumentando sua participação. De acordo com o Plano Nacional de
Logística (PNL 2035), se efetivadas todas as iniciativas em curso, o cenário mais transformador
do Plano credita ao modal a participação de 19,3% na matriz nacional de transporte ao final do
período de referência62, um aumento de 3,6 pontos percentuais.
Quanto ao perfil das cargas movimentadas nos portos nacionais em 2021, nos segmentos de
longo curso e de navegação interior predomina a movimentação de granéis sólidos (72,1% e
61,4%, respectivamente). Já para a cabotagem, o destaque está nos granéis líquidos e gasosos
(67,3%). De modo geral, os produtos movimentados apresentam nível de sofisticação mais baixo,
prezando por transportar maior volume de mercadorias de menor valor agregado. Nota-se que
esse perfil é uma representação da produção e do comércio brasileiro, em que produtos
primários são os principais itens.
INFRAESTRUTURA AQUAVIÁRIA
As principais dificuldades que o modal aquaviário tem enfrentado nos últimos anos estão
relacionadas com a precária infraestrutura, a dificuldade de implantação de medidas
desburocratizantes, a baixa oferta de embarcações, os altos custos com praticagem e tripulação
e as poucas alternativas de financiamento. A resolução desses problemas exige esforços de
planejamento, de mobilização de recursos, de realização de obras (em especial de construção,
expansão e manutenção de infraestrutura portuária) e de gerenciamento e transparência.
• necessidade de criação de novos acessos aos portos e melhoria dos existentes em vias
terrestres;
• construção de eclusas; e
Deve-se ter especial atenção para as medidas relacionadas à profundidade dos rios e da região
portuária. A constante manutenção dessa profundidade e a realização de dragagens de
aprofundamento são essenciais para que a infraestrutura aquaviária brasileira seja capaz de
receber embarcações com a plenitude da capacidade de carga (embarcações totalmente
carregadas, e não com a capacidade de carga reduzida devido à limitação de profundidade),
escoando a produção nacional de maneira eficiente, bem como de receber embarcações de
grande porte que venham ao Brasil.
Para tanto, a CNT defende ser essencial que a iniciativa privada se torne cada vez mais presente
na infraestrutura aquaviária, de modo que os investimentos necessários para a ampliação de
toda essa rede possam ocorrer por meio do aumento de arrendamentos portuários e
autorização de instalação de Terminais de Uso Privado (TUPs). Assim, é fundamental a
continuidade dos projetos do PPI que tenham esse fim. A título de exemplo, somente TUPs, entre
2013 e 2020, foram contratados pelo menos R$ 54,2 bilhões64 em investimentos privados, valor
muito superior ao montante total autorizado entre 2001 e 2020 pelo governo federal em todo o
modal (R$ 24,5 bilhões). Dessa forma, percebe-se uma carência de investimentos para a
melhoria dos serviços oferecidos nos portos nacionais que não deverá ser atendida pelo poder
público em virtude da escassez de recursos orçamentários.
No entanto, é necessário também que haja uma recomposição do investimento público, posto
que esses ativos ainda são geridos pelo governo. Em 2021, o governo federal investiu, por meio
da administração direta do Ministério da Infraestrutura e do DNIT, cerca de R$ 539,3 milhões,
sendo a maioria (98,9%) relativa a Restos a Pagar65, ou seja, praticamente toda a despesa
efetivada não teve sua origem naquele ano. Além disso, quando comparado ao ano de 2011,
nota-se queda de 61,8% no recurso efetivamente investido no modal, que era de R$ 1,41 bilhão.
Quanto ao orçamento destinado à Companhia das Docas, a queda foi ainda maior, de 86,6% no
mesmo período, passando de R$ 541,2 milhões para R$ 72,4 milhões.
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58 O Brasil possui uma extensa costa navegável, onde estão localizados 37 portos organizados,
além de uma rede hidroviária com aproximadamente 63 mil km de rios que poderiam ser
utilizados para fins comerciais. De acordo com a publicação da CNT Aspectos Gerais da
Navegação Interior no Brasil, dos 63 mil km que poderiam ser utilizados na navegação
hidroviária, cerca de dois terços não são, restando 19,5 mil km (30,9%) da malha para o uso
comercial.
61 cnt.org.br/painel-cnt-transporte-aquaviario.