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WANDERLEY NUNES**
Capitão de Mar e Guerra (Refo)
SUMÁRIO
Introdução
Influência da administração pública
Desenvolvimento regional
Exemplos no exterior
Bacias hidrográficas
Vantagens no uso das hidrovias
Integração multimodal
Gargalos
Conclusões
Sugestões
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Na disputa pelo uso dos modais de é o Tietê, que atravessa praticamente todo
transporte, as hidrovias estão espremidas o estado de São Paulo.
entre os poderosos lobbies dos setores Lembramos que, ao longo da hidrovia
automotivo, do óleo e gás e elétrico, sen- Tietê-Paraná, as eclusas foram cons-
do a navegação interior o elo mais frágil truídas simultaneamente às barragens
desta cadeia. A raiz do problema está na das usinas hidrelétricas, permitindo o
ausência de uma discussão mais apro- aproveitamento das águas para geração
fundada sobre o uso múltiplo das águas. de energia e viabilizando a navegação
Isso acarreta falta de confiança no amplo desde o terminal de Conchas, próximo à
sistema de transportes e falta de visão so- capital paulista, até o lago da Usina de
bre o modal hidroviário desempenhando Itaipu, no Paraná.
papel estratégico de peso que justifique Situada entre as regiões Sul, Sudeste
um plano de governo com equilíbrio na e Centro-Oeste, essa hidrovia permite a
matriz de transportes. navegação e, consequentemente, o trans-
Quanto aos investimentos financeiros porte de cargas e de passageiros ao longo
necessários para implantação e manu- dos rios Paraná e Tietê. Um sistema de
tenção dos modais de transporte, amplas eclusas viabiliza a passagem pelos des-
vantagens são oferecidas pelo modal níveis das muitas represas existentes nos
hidroviário. dois rios. A hidrovia possui uma extensão
de 2.400 km, sendo 1.600 km no Rio
Exemplo da hidrovia Tietê-Paraná Paraná e 800 km no Rio Tietê.
A hidrovia integra um grande sistema
Mesmo os rios potencialmente navegá- de transporte multimodal do corredor su-
veis, que exigem maiores custos de inves- deste de logística, e a entrada em operação
timento e manutenção, ainda representam dessa hidrovia impulsionou a implantação
uma fração dos gastos investidos em ou- de 23 polos industriais, 17 polos turísticos
tros modais de transporte. Podemos citar e 12 polos de distribuição, nos quais é
que o único rio que pode ser considerado gerada grande parte do Produto Interno
como hidrovia no País, por apresentar Bruto (PIB) brasileiro, conectando áreas
investimentos em estruturas navegáveis, de produção aos portos marítimos.
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e Três Irmãos. Todas têm 142 metros de manutenção das eclusas para as contas de
comprimento e 12 metros de largura, com energia dos consumidores.
profundidades entre três e quatro metros. O custo da construção de uma eclusa,
As outras eclusas estão localizadas no Rio durante as obras de construção de uma
Paraná: Jupiá e Porto Primavera. Estas duas UHE, corresponde a cerca de 7% do valor
têm 210 metros de comprimento, 17 metros total da obra. Porém, se a eclusa for cons-
de largura e quatro metros de profundidade. truída sozinha, o valor de sua obra corres-
Ao longo de toda a hidrovia estão ponde a cerca de 42% da obra da UHE.
localizados cerca de 30 terminais inter- Temos um total de 17 eclusas somente,
modais e estaleiros. Nos terminais, as sendo que oito estão sob a administração
cargas transportadas pela hidrovia são do DNIT. Somente no Rio Mississipi, nos
armazenadas até sua transferência para EUA, com 3.800 km de extensão, existem
outro modal, que pode ser rodoviário ou cerca de cinco vezes mais eclusas do que
ferroviário. Nos estaleiros, são realizadas no Brasil todo.
manutenções dos comboios. Atualmente
operam na hidrovia seis empresas para Concessões
transporte de cargas de médio/longo per-
curso. Mensalmente navegam em média O debate sobre a abertura das hidro-
200 comboios na Tietê-Paraná, movi- vias para a iniciativa privada, por conces-
mentando cerca de 300 mil toneladas de sões, ainda é bastante controverso no País
cargas/mês em plena safra. e divide opiniões.
A hidrovia Tietê-Paraná apresentou Atualmente, as demandas sociais e
nas últimas duas décadas um crescimento econômicas por infraestruturas exigem
no transporte de cargas, podendo ser um demasiadamente da capacidade da admi-
modelo para aplicação de infraestrutura nistração pública brasileira. A gestão de
de transporte hidroviário para o Brasil. riscos em Parcerias Público-Privada (PPP)
é crucial para o sucesso do empreendi-
Eclusas mento. Projetos de hidrovia sob esse tipo
de cooperação são ainda escassos, bem
As eclusas corrigem o desnível cau- como as pesquisas nessa área.
sado pela barragem das hidrelétricas, Sempre lembrando que privatização
permitindo a continuação da navegação e concessão são ações distintas, pois na
fluvial. Temos no País Usinas Hidroe- privatização existe a transferência da pro-
létricas (UHE) construídas sem eclusas, priedade e na concessão isso não ocorre.
e somente em 2015 foi sancionada a Lei O governo de São Paulo chegou a aventar
13.081, conhecida como Lei das Eclusas, possibilidade de privatizar a hidrovia
obrigando a construção de eclusas junto Tietê-Paraná, mas não foi encontrado no
a hidrelétricas em rios navegáveis de mundo nenhum modelo de privatização
potencial energético, sendo os custos do de hidrovias. Uma possível concessão
licenciamento ambiental e da construção de algumas vias navegáveis poderá ser
arcados pelo Ministério da Infraestrutura estudada no futuro. Porém os entraves
(Minfra) junto ao Ministério de Minas e existentes para as concessões são: os
Energia (MME). Nesse ponto, a nova lei poucos agentes privados envolvidos na
possui artigo específico proibindo o repas- navegação interior; as ações lentas do
se dos custos do serviço de operação e de governo; e as parcerias mais difíceis nas
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rizadas. A navegação fluvial é de grande desta forma, seu comércio exterior e com
importância para este porto, pois, por fretes mais baratos.
meio dela, se faz a ligação entre Manaus
e cidades do interior, com o propósito A primeira e última milha
não tão-somente de fazer o transporte de
cargas, mas também de pessoas. Um importante aspecto, na maioria dos
Outros portos, não menos importantes, casos para o transporte de cargas pelos
podem ser citados, como o de Aratu (BA), modais ferroviário e hidroviário, vem a
com características locais e de grande ser a utilização de caminhões nos trechos
porte, atendendo ao polo petroquímico iniciais e finais, desde as fazendas produ-
de Camaçari, e o Porto de Itaqui (MA), toras até o embarque nos portos, respec-
com movimentação de minério de ferro tivamente. Conhecida como “a primeira
em navios de grande calado, entre outros. e última milha” com utilização do modal
As características favoráveis do trans- rodoviário, comprova a eficiência na mul-
porte hidroviário somente se convertem timodalidade da logística de transporte em
em benefícios para transportadores, em- um país de grandes dimensões.
barcadores e para a economia do País se Modernos conceitos de transportes
houver uma cadeia logística integrada, de bens exigem soluções logísticas inte-
já que o modal hidroviário isoladamen- gradas de informação, de transporte e de
te não é capaz de acessar os pontos de armazenagem, com uma visão de redução
origem e destino final dos produtos ou de custos e de emissão de poluentes. Polos
de passageiros. de integração intermodal podem ser locais
O Brasil tem condições ideais para re- de desenvolvimento social e econômico
cuperar, a médio prazo, o uso de seus rios regional, promovendo novos empregos e
e canais para o transporte hidroviário de a utilização adequada do modal rodoviário
cargas em direção aos centros de consu- para distâncias menores.
mo do País, do Mercosul e, sobretudo, em Longos trechos de movimentação de
direção aos portos marítimos, ampliando, mercadorias devem ser realizados por
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transporte de car-
gas, amplas van-
tagens são identi-
ficadas em favor
das hidrovias, seja
pelos efeitos no
valor dos fretes
e no volume de
carga transpor-
tada, seja para o
meio ambiente e,
até mesmo, para
sua implantação e
gastos com a ma-
nutenção.
Os benefícios
para a economia
nacional, envol-
vendo produtores
Figura 9 – Vantagens nas questões ambientais e exportação, são
significativos no
importante, a geração de energia também caso de adoção das hidrovias em longas
é essencial para navegar e fazer o trans- distâncias, sem desconsiderar alternati-
porte a um custo barato com benefício a vas multimodais, devido ao menor frete
todos, e sem afetar negativamente o meio para o produtor.
ambiente. Os custos de implantação e de O transporte hidroviário contribui para
licenciamento ambiental são de respon- o desenvolvimento regional e melhora
sabilidade do Minfra, porém deve haver a competitividade e o custo Brasil. As
uma separação e independência dos apro- hidrovias no Brasil são diferentes entre
veitamentos dos recursos hídricos quanto si e com características próprias em cada
a custos, estudos, tarifas, construção, ope- região, devendo esse aspecto ser levado
ração e manutenção. Cursos de água não em consideração nos estudos.
navegáveis podem tornar-se trafegáveis Faltam vontade política e um pen-
com obras hidráulicas, mas sem ferir a samento estratégico nacional para uma
legislação ambiental vigente. integração regional efetiva, contendo
O licenciamento ambiental em hidrovias visão de médio e longo prazos, que não
apresenta peculiaridades que devem ser ade- são muito adotadas no País.
quadamente compreendidas dentro da ótica Mesmo com as restrições orçamentá-
das leis e da realidade, caso contrário corre- rias, observa-se que os investimentos no
-se o risco de tentar “licenciar a natureza”. setor hidroviário são os mais baixos em
relação aos demais modais no transporte
CONCLUSÕES de cargas.
Temos cerca de 60 mil km de rios
Na comparação entre os modais ro- navegáveis, mas só utilizamos um terço
doviário, ferroviário e hidroviário para o do nosso potencial. Percebe-se que nos
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uma nova matriz logística de transporte uma mudança na criação de uma nova
para o País, independentemente do go- matriz de transporte considerando a
verno em exercício, mas integrando as intermodalidade.
malhas e evitando grandes desproporcio- Vinculados à Comissão Interminis-
nalidades de prioridades entre os modais terial citada, estariam os Arranjos de
de transporte, conjugando uma macropo- Produção Locais (APL) que formariam os
lítica nacional para os transportes. clusters regionais, os quais englobariam
Aumentar o investimento em infraes- as Administrações das nove Regiões
trutura, por parte do Governo Federal, de Hidrográficas do País com participação
2% para 3% ou 4% do PIB contribuiria da iniciativa privada e apoio da Frenlogi.
para o desenvolvimento do setor de O esforço para a integração multimodal
transportes, já que os recursos alocados deve ser coletivo, tendo o poder público
atualmente são insuficientes. como normatizador e indutor do processo,
A criação de uma Comissão Intermi- e a iniciativa privada podendo contribuir
nisterial para Recursos das Hidrovias, na execução dos investimentos e traba-
com a participação de representantes lhando em consonância com os governos
dos Ministérios da Infraestrutura, Minas federal, estaduais e municipais.
e Energia, Economia, Defesa, Turismo, O momento atual é favorável para as
Agricultura, Desenvolvimento Regio- mudanças, pois estamos pensando no
nal e Meio Ambiente, poderá iniciar Brasil acima de tudo.
REFERÊNCIAS
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