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A Revista do Poder Naval, Poder Aéreo e Forças Terrestres


Ano 3 • Número 9 • 2013 • www.fordefesa.com.br • Preço: R$18,00

QQ ESPECIAL AMX!
Da concepção
à modernização

QQ Cruzex Flight M24 do Uruguai:


QQ
2013 os últimos ‘Chaffee’

NAVIOS DA MARINHA CHINESA NO BRASIL


EDITORIAL
FORÇAS DE

Defesa Geopolítica
A revista do Poder Naval,
Poder Aéreo
no Atlântico Sul
N
e Forças Terrestres
a X Conferência do Forte
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de Copacabana sobre
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FORÇAS DE

Defesa
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FORÇAS DE DEFE
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Ano 3 - Número 9 - 2013
Segurança Internacional,
@fordefesa

/fordefesa

Quarto Trimestre
realizada no final de novembro

SA
restres

de 2013 no Rio de Janeiro,


Forças Ter
er Aéreo e
Editor-Chefe e A Revista

do Poder
Número 9
Naval, Pod
• 2013 •
www.fordefesa.c
om.br • Preço
: R$18,00

Jornalista Responsável
3

foram discutidos vários temas,


Ano

X!
Alexandre Galante Q ESPECIAL AMção
alexgalante@fordefesa.com.br dentre os quais a segurança no Da concep
o
Atlântico Sul. à modernizaçã

Ano 3 • Núme
Equipe Editorial
Guillherme Poggio Um dos principais assuntos foi
o narcotráfico na Costa Ocidental

ro 9 • 2013 •
poggio@fordefesa.com.br
Fernando “Nunão” De Martini da África, que também é afetada

www.fordefesa.c
nunao@fordefesa.com.br pelo contrabando de armas, pira-
Administração e Publicidade taria e outras questões, mais pre-

om.br
Dinair Alves
dinairalves@fordefesa.com.br
cisamente no Golfo da Guiné. Os
recentes conflitos no Mali e na re-
Colaboradores
Franco Ferreira (S. Paulo - SP)
gião central daquele continente
Ícaro Gomes (Natal - RN) estão relacionados a esses proble- Q M24 do Ur
uguai:
Cruzex Flight haffee’

Aeronaval Comu
Jean François Auran (França) mas, que levam a Europa a temer
Q
os últimos ‘C
2013
Milton Lima (Salvador - BA) que essas ameaças afetem seus

nicação
A NO BRASIL
Nicholle Murmel (Curitiba - PR) RINHA CHINES
Rafael Cruz (Recife - PE) interesses e territórios. NAVIOS DA MA

Samuel Pysklyvicz (Goiânia - GO) Por esse motivo a OTAN, Or-


Sergio Santana (Aracaju-SE) ganização do Tratado do Atlântico
Valter Andrade (Recife-PE)
Norte, se coloca à disposição da atrair interesses de potências
Consultores ONU, Organização das Nações mundiais, principalmente sobre
Romulo Federici Unidas, para intervir naquela re- as áreas de produção petrolífera,
federici@rfederici.com.br gião e onde mais for necessário. que correspondem às áreas onde a
Cel. Sergio Augusto Zilio Por outro lado, o Brasil, que in- pirataria causa cada vez mais
sergiozilio@fordefesa.com.br centivou a criação em 1986 da prejuízos.
Expedito Carlos Stephani Bastos ZOPACAS (Zona de Paz e Coope- A OTAN já demonstrou capaci-
defesa@ufjf.edu.br ração do Atlântico Sul que envol- dade e vontade de operar na Áfri-
Desenho Técnico ve 24 países dessa área do oceano) ca e, para que isso se torne ainda
José da Silva (Santos - SP) não vê com bons olhos a possível mais comum, é apenas uma ques-
Impressão
atuação da OTAN nessa zona. tão de tempo.
Smartprinter Enquanto o Brasil procura Já o Governo brasileiro parece
Tel.:(21)3597-3123 ampliar sua influência na África, não ter a disposição política de
com emprego de diplomacia e do operar meios navais naquelas re-
Distribuição
Nacional chamado “softpower”, estabele- giões, ou de pelo menos mostrar,
cendo mecanismos de cooperação com atitudes, uma percepção cla-
Produção Gráfica e expandindo as relações comer- ra a respeito da urgência do tema.
ciais, EUA, Europa e China em- Apesar de ter ajudado a criar a
pregam também o “hardpower”, Marinha da Namíbia, onde man-
enviando forças navais, terres- tém uma missão de assessoria, e de
tres e aéreas para mostrar ban- mostrar bandeira visitando países
Endereço para correspondência: deira, combater a pirataria e o africanos com navios-patrulha e,
terrorismo. eventualmente, com navios de es-
DCNS Sea the Future Rua Dr. Albuquerque Lins 107,
Bloco A, 72 - CEP 01230-001
Santa Cecília - São Paulo - SP
Tel.: (11) 3926-7401
Existe a percepção de que os
europeus e norte-americanos que-
colta (aproveitando para promover
a venda de navios para esses paí-
DCNS está convencida de que o Mar é o futuro do planeta. O Grupo cria soluções de alta tecnologia E-mail de contato: rem uma sinalização mais clara ses), o Brasil deveria pensar seria-
revista@fordefesa.com.br do Brasil: se o país se tornará mente em ter uma presença militar
para proteger e valorizá-lo de forma sustentável. A Empresa DCNS, de alta tecnologia e de mais assertivo na defesa de seus naval mais efetiva e constante na
design dragon rouge - photo : DCNS

As opiniões dos articulistas não


envergadura internacional, responde às necessidades dos seus clientes devido ao seu know-how representam necessariamente a interesses no Atlântico Sul ou se Costa Ocidental da África, se qui-
excepcional e aos seus meios industriais únicos. O Grupo concebe, constroi e mantém em serviço opinião da revista. permanecerá operando apenas na ser preservar seus interesses estra-
submarinos e navios de superfície. Igualmente, presta serviços para estaleiros e bases navais. Por Nossa capa: base do “softpower”. tégicos no Atlântico Sul. Afinal, a
O primeiro jato A-1M da FAB durante Pouco a pouco, a Costa Ociden- ZOPACAS já tem quase três déca-
fim, a DCNS propõe um vasto leque de soluções em energia nuclear civil e para energias marinhas o exercício Cruzex Flight 2013. tal da África está se tornando das e a tão citada “Amazônia Azul”
renováveis. Foto: Andre Benschop
uma região “quente” e voltando a tem vizinhos a Leste.

www.dcnsgroup.com Forças de Defesa 3


ÍNDICE 52 108 M24 do
Uruguai:
os últimos GSG-9: a pronta-resposta
‘Chaffee’ alemã ao terrorismo

18 102
AMX: da concepção
CRUZEX FLIGHT 2013 à modernização

6 A viagem do adido e os
motores dos F-5 8 Qual será a guerra do
futuro? 14 Entrevista com o deputado
Nelson Pellegrino 94 Patrulha Naval:
exercendo a soberania - 2
Franco Ferreira conta a incrível Romulo Federici fala sobre as guerras Saiba como pensa o presidente da Segunda parte do artigo em que Ícaro
história inédita da aquisição, em 1974, do século XX e XXI e suas motivações, Comissão de Relações Exteriores Luiz Gomes analisa as tarefas da
de um lote de motores J85 para os analisando como o Brasil deve se e Defesa Nacional da Câmara dos Marinha do Brasil na vigilância marítima
F-5 comprados novos pela FAB preparar para esses conflitos Deputados - CREDN e na presença nas águas jurisdicionais

O Dragão no
Atlântico Sul
86
Navios de guerra chineses navegam pelo Estreito
de Magalhães e realizam exercício com navios da
Marinha do Brasil pela primeira vez

Alexandre Galante
4 4 Forças
Forças
de de
Defesa
Defesa www.aereo.jor.br www.aereo.jor.br Forças
Forças
de de
Defesa
Defesa 5 5
HISTÓRIAS DA AVIAÇÃO PODER AÉREO

A viagem do adido
www.456fis.org
ma de novo o gringo!” Eram 9 horas
da manhã em Washington. Nega-
ceei com o fabricante; afinal de con-
tas eu ainda tinha 3 horas para

e os motores dos F-5


transmitir a resposta! “- Quanto vai
custar a substituição dos motores se
nós não comprarmos hoje; e quando
vocês entregam o novo lote?” Pelo
Reprodução
menos o dobro no preço; para come-
çar a entregar em 20 meses (depois
que os aviões já estariam prontos);
QQ O primeiro F-5E da
foi a resposta dolorida, mas espera-
FAB, 4820, ainda nos
EUA, em 1975 da! “O meu governo confirma a aqui-
sição” – chutei; o telex vai antes do
meio-dia!
Liguei para todos os hotéis onde o
adido disse que pernoitaria. Não es-
tava em nenhum deles. Liguei para a
CABW4, e fui atendido por um tenen-
te-coronel de quem eu não gostava
muito. De fato, eu não gostava nada QQ O turbojato General Electric J85 em corte seccional sem o pós-queimador
dele! “– Isto é problema do Escritório,
Franco, não é problema da CABW.” Franco, você ligou para toda a FAB, (o artigo é parte do futuro livro “Ven-
Logo depois, chamou-me Mário Accá- menino! O que houve?” Eu contei... turas, Aventuras e Desventuras” )
cio Alves Baptista: “Franco – Liga Tudo, incluindo a ausência do adido,
para o Brasil!” a omissão da CABW e minha inicia- Notas:
Comecei pela DIRMA5 – todos em tiva de aceitar – “moto próprio” – a 1 - Case – Sub-divisão contratual que trata-
reunião; passei para o COMGAP6 - to- aquisição... Tentei explicar os meus va de um conjunto específico de itens, de um
dos em reunião; telefonei ao gabinete motivos... a demora, o novo preço, a mesmo fabricante
do ministro, o brigadeiro Joelmir destinação dos motores se nós não 2 - “...há alguém que quer falar contigo; por
Campos de Araripe Macedo – nin- comprássemos. O brigadeiro me dis- favor espere um pouco...”
guém disponível – todos em reunião! se que tinham recentemente acaba- 3 - J85-GE-21A, o motor dos F-5E
Eu copiei um telex do Gentil e en- do uma reunião de 6 brigadeiros e 4 - CABW – Comissão Aeronáutica Brasilei-
treguei na seção de comunicações da mais de 10 coronéis sobre o assun- ra em Washington
embaixada: “– Só dispara quando eu to... E QUERIAM OS MOTORES. 5 – Diretoria de Material
der a luz verde!” Então fiquei roendo A linha de pensamento fora idên- 6 – Comando-Geral de Apoio
as unhas. tica. Só o “timing” no Brasil é que es- 7 - “Então, capitão, qual é a resposta de seu
XX Gustavo Adolfo Franco Ferreira aquisição de 48 motores destinados a tentei dar de “João-sem-braço” e em- Cinco minutos antes do meio-dia, o tava defasado. Alívio. O Gabinete do país, agora ou em 2 anos?”
gferreira@fordefesa.com.br equipar os últimos 20 aviões e com- purrar a resposta para 7 de janeiro – telefone tocou, de novo. “– So, captain Ministro confirmaria minha aceita- 8 - “Eu vou colocá-lo em espera, por favor
por uma reserva de oito motores de data em que os responsáveis esta- Franco, what is your country’s posi- ção. “– Vai para casa, Franco!” foi a aguenta um pouquinho.”

N
as festas natalinas de 1974, o substituição. Fim do parêntese. riam no escritório. Não funcionou! tion: right now or within two years?7” última ordem que me deu! 9 - “Veja sua máquina de telex.”
adido aeronáutico viajou a tu- Os cases dos F-5 eram – normal- Seguiu-se o seguinte diálogo: “– I’m going to put you on hold for Eu tinha ficado agarrado na bro-
rismo, lá mesmo nos Estados mente – gerenciados pelo funcionário “– Captain Franco, there is someo- a second and will be right back… cha, e me tiraram a escada! Cheguei Gustavo Adolfo Franco Ferreira
Unidos, onde eu servia. Ali pelo dia Gentil, experiente burocrata. O case ne here who wants to talk to you. Hold Hold on, please8.” Liguei para a seção em casa cedo, naquele dia, vésperas é tenente-coronel aviador reformado
14 de dezembro, chamou-me para dos últimos motores estava previsto on, please.2” E ele passou o telefone de comunicações: “- Dispara o telex!” do Natal de 1974. Tive uma disente- da FAB. É especialista em
instruções. Não eram difíceis. Essen- para ter um andamento com a apro- para o seu acompanhante, um dos as- Voltei ao americano: “- See your telex ria incontrolável por quatro dias! Segurança de Voo
cialmente, era o seguinte: entravam vação por parte do Governo Brasilei- sistentes do adido aeronáutico do Irã, machine.9”
todos – menos eu – em férias! Até o ro no dia 22 ou 23 de dezembro ao cuja embaixada ficava defronte à nos- Eu tinha comprado para o governo
motorista! O adido aeronáutico ini- meio-dia (hora de Washington). O sa na mesma Avenida Massachussets, brasileiro 48 motores de F-5E a um ERRATA
ciou suas férias no dia 15, o “staff” no Governo Brasileiro deveria informar e que era meu habitual colega de al- preço unitário maior do que
dia 20 e voltariam todos após 6 de se aceitava – ou não – as condições moço no restaurante Roy Rogers exis- U$S 100.000,00! Já não tinha mais
janeiro. contratuais inscritas no case. tente na Avenida Wisconsin, já dentro unha para roer, de fato, não tinha
Parêntese: o Escritório do Adido Outro parêntese: naqueles tempos de Georgetown. mais unha nenhuma!
Aeronáutico gerenciava os negócios estava em vigência uma realidade há Eu não me lembro mais o nome do Telefonei para casa e informei à
referentes à aquisição dos caças F-5 muito desaparecida – as palavras persa, mas perguntei a ele que san- Sandra que estivesse preparada para
da Força Aérea Brasileira (FAB). O enunciadas tinham valor! Fim do pa- duíche eu comia, em qual restaurante uma deserção, caso o governo não
contrato (003/COMAM-73) era dividi- rêntese. e com qual salada. Confirmado: era quisesse os motores. Fala-se de uma
do em 38 “cases1”. Cada um destes Na data mal-azada, cedo, muito ele, era o meu conhecido! choradeira, em casa.
cases era independente de todos os cedo, tocou o telefone. Era da General “– Franco, se vocês não levarem Cerca de 1 hora da tarde (3 horas
outros. Impunha-se certa coordena- Electric, fabricante dos motores... este lote de -213, eu vou levar para da tarde em Brasília), o telefone to-
ção logística, de maneira a prover Um senhor Smith qualquer. Falava nós! O Smith aqui já confirmou.” cou de novo. Era o brigadeiro Vespa-
cada item no exato momento em que do case dos motores e insistia na res- Um enrosco de mais de 5 milhões de siano, Chefe do Gabinete do Minis- QQ No artigo “Sobre o tiro aéreo” na página 6 da edição número 8, o gráfico
era necessário. Um destes cases foi a posta brasileira até o meio-dia. Eu dólares! Respondi: “- Por favor, cha- tro. “– Que está acontecendo, mostrado está incompleto. O gráfico correto é este aqui apresentado.

6 Forças de Defesa www.fordefesa.com.br www.fordefesa.com.br Forças de Defesa 7


OPINIÃO GEOPOLÍTICA
DoD/Air Force Master Sgt. Adam M. Stump
XX Romulo F. Federici regional, não evoluísse para um con-
rfederici@rfederici.com.br flito global. Nenhum dos dois lados
ganhou: precisaram se conformar

O
mundo assiste hoje a um rear- com um armistício que, simplesmen-
ranjo das forças geopolíticas, te, manteve o “status” anterior. Pura
com menor protagonismo dos perda de vidas, equipamentos e mui-
Estados Unidos, após lições duríssi- to dinheiro. Estava caracterizado o
mas aprendidas nos campos militar fim do envolvimento completo das
e econômico-financeiro e a emergên- grandes potências com todo o seu po-
cia e/ou ressurgimento de potências tencial bélico.
que tendem a equilibrar o jogo de in-
fluências. Vietnã
A bipolaridade dos tempos da Para nos centrarmos apenas em
Guerra Fria, que havia sido enterra- guerras mais marcantes, que regis-
da com o desmoronamento da União trem pontos de inflexão importantes,
Soviética em março de 1992, ressurge passemos à Guerra do Vietnã, um
sob a forma de uma “tripolaridade” já longo conflito ocorrido no contexto da
construída com a gradativa ressur- Guerra Fria, iniciado em 1959 e que
reição da Rússia e com a emergência só terminou em 1974.
relâmpago da China, construída em O Vietnã, depois da derrota das
pouco tempo. forças coloniais francesas, foi dividido
Numa visão bastante simplificada, entre uma parte norte de orientação
as potências médias da Europa Oci- QQ Soldados do Pelotão pró-comunista, sob a liderança de Ho
de Fronteira Ipiranga, do Chi Minh, e uma parte sul, que se
dental, como sempre, estão agrupadas
Exército Brasileiro
na OTAN (Organização do Tratado do tornou uma ditadura militar capita-
Atlântico Norte), que, aliás, recebeu lista, aliada dos Estados Unidos. Em
novos hóspedes da Europa Centro- 1959, os guerrilheiros comunistas
-Oriental e, consequentemente, estão Viet Congs deram início a atos de

Qual será a
sob as asas norte-americanas. A Rús- hostilidade, deflagrando uma guerra,
sia está recuperando a influência que inicialmente protagonizada entre o
sempre teve em repúblicas vizinhas e Vietnã do Norte e o Vietnã do Sul. De
interage cada vez mais com a Índia, um lado os soviéticos, com participa-

guerra do
entre outros países a quem presta as- ção chinesa, e de outro os americanos,
sistência militar. A China vai se espa- apoiavam indiretamente suas áreas
lhando graças à força de sua economia de influência.
e às forças militares crescentes, tendo Em 1964, com o Vietnã do Sul indo

futuro?
chegado ao Paquistão, onde vende avi- mal nos combates, os Estados Unidos
ões com cessão de tecnologia e outros decidiram entrar mais fortemente no
itens bélicos. Está aumentando sua in- conflito e, certamente visando encer-
fluência em nações que, na Guerra rar rapidamente a guerra, despeja-
Fria, compunham o chamado Terceiro ram no Teatro de Operações um enor-
Mundo, com destaque para os países me contingente de soldados,
africanos. armamentos, aeronaves, porta-aviões
As nações que, como o Brasil, es- Foi um conflito onde a guerrilha, viar o fim da luta despejando duas O pior é que a arma atômica dei- exércitos e a valorizar a guerrilha e nas imediações, um número gigantes-
tão fora desses “clusters” econômico- apoiada e abastecida pelos aliados, não bombas atômicas no Japão, sobre as xou em poucas décadas de ser privilé- as pequenas unidades de combate. co de helicópteros, sofisticada logística
-militares, acabam meio perdidas na teve papel decisivo, apenas coadjuvan- cidades de Hiroshima e Nagasaki. gio americano e soviético, passando a A Guerra da Coreia começou com e tudo o mais que se fizesse necessá-
hora de definir suas ameaças poten- te. Na França, a chamada “Resistên- Estes ataques somaram mais algu- fazer parte do arsenal de vários paí- escaramuças entre a Coreia do Norte rio. Cerca de 2.300.000 homens servi-
ciais e, a partir delas, nortear suas cia” foi formada no início por grupos mas dezenas de milhares de mortes ses. Hoje possuem estoques de armas e a Coreia do Sul, ao longo na frontei- ram no Vietnã de 1961 a 1974.
respectivas políticas de defesa. judeus e comunistas, justamente os de civis ao conflito e o encerraram. nucleares os Estados Unidos, Rússia ra negociada em 1945. A situação se Só que, quando a guerra vai para
Por isso, é interessante recordar- mais procurados e perseguidos pelos A partir daí, estava iniciado o ciclo (principal herdeira do arsenal sovié- transformou em guerra aberta quan- o chão em ambiente conhecido na pal-
mos as profundas mudanças ocorri- nazistas. Somente no final da guerra o do Terror Atômico, inaugurando a tico) , Grã-Bretanha, França, China, do as forças norte-coreanas invadi- ma da mão pelos defensores, tende a
das nos conflitos depois da Segunda movimento, focado em sabotagens e percepção de que grandes exércitos Índia, Paquistão e Israel, até onde se ram seu vizinho ao sul em 25 de ju- igualar as possibilidades dos dois la-
Guerra Mundial. atentados, conseguiu incorporar mais podiam ser substituídos por um sim- sabe. nho de 1950. Os Estados Unidos dos, reduzindo a defasagem gerada
adeptos. Na Itália, os “partisans” eram ples dedo apertando o botão que orde- intervieram em favor do sul, vestindo pela maior disponibilidade de armas
Os principais conflitos do Século XX formados por inconformados e decep- nasse a decolagem de bombardeiros e As guerras limitadas a capa da ONU (Organização das Na- e equipamentos mais sofisticados.
A Segunda Guerra Mundial pare- cionados com o fascismo e com a degra- disparasse mísseis balísticos inter- A bipolaridade das potências atô- ções Unidas), mas tiveram de enfren- O palco do combates era a selva
ce ter sido o último conflito bélico de dação incontida da estrutura do Esta- continentais, carregando ogivas atô- micas durante a Guerra Fria (1945- tar não só a Coreia do Norte, mas a tropical e chuvosa onde os guerrilhei-
gigantescas e planetárias proporções, do, o que era exacerbado pela derrota micas. A diferença é que, neste caso, 1992) gerou uma era de guerras limi- União Soviética e a China, que passa- ros estavam ambientados e eram ca-
com o envolvimento de todas as po- cada vez mais iminente das forças do não haveria vitoriosos, pois seria ine- tadas e tuteladas, durante muito ram a apoiar os norte-coreanos. pazes de suportar as condições extre-
tências da época, diversos países, mi- chamado “Eixo”. vitável a destruição da vida no plane- tempo, principalmente pelos ameri- A guerra ainda teve característi- mamente sofridas. Não havia
lhões de pessoas e sistemas logísticos Foi um conflito convencional com ta por ataques mútuos das duas canos, de um lado, e soviéticos de ou- cas de conflito convencional, porém já infraestrutura significativa e a precá-
ciclópicos, difíceis de serem imagina- um desfecho não convencional, quan- maiores potências nucleares, Estados tro. Foram conflitos que começaram a limitado e tutelado, pois os dois lados ria trilha Ho Chi Minh era o principal
dos hoje em dia. do os Estados Unidos decidiram abre- Unidos e União Soviética. relativizar a validade de grandes cuidaram para que a guerra, então caminho de transporte de armas, mu-

8 Forças de Defesa www.fordefesa.com.br www.fordefesa.com.br Forças de Defesa 9


OPINIÃO REPORTAGEM
OPINIÃO

FORÇAS DE

Defesa
nições e víveres dos comunistas, fre-

www.army.mil
quentemente nas costas dos próprios
guerrilheiros vietcongs. Mesmo sendo
intensamente bombardeadas, até
mesmo com o famigerado desfolhante
tóxico “Agente Laranja”, esta e outras
www.naval.com.br
trilhas nunca deixaram de funcionar.
Os americanos tentaram, inutil-
www.aereo.jor.br
mente, sobrepujar a eficiência da www.forte.jor.br
guerrilha com armas e recursos
abundantes mas, quando a guerra
foi para o chão, com o homem a ho-
mem prevalecendo e o “Front Inter-
no” nos EUA cada vez mais implacá- QQ Soldados dos EUA no Afeganistão: mesmo bem armados, equipados, treinados e
Na internet e no papel,
vel com as baixas americanas e as
visões de atrocidades na guerra, a
derrota se impôs. Diante de enormes
bem nutridos, os norte-americanos e seus aliados enfrentam as históricas
dificuldades frente aos guerrilheiros afegãos o poder de atrair o público
perdas humanas e gastos astronômi- Os russos chegaram com um con- março de 2003, liderando uma “coali-
cos, a opinião pública norte-america-
na não só deixou de apoiar o gover-
tingente de vulto, 250.000 homens,
fortemente armados e com muitos
zão” em que tinha, como principal
aliado de sempre, a Grã-Bretanha. A
de defesa
no, mas também passou a blindados, artilharia, helicópteros e justificativa era a suposta posse de ar-
manifestar-se contra a guerra, incor- aviões, enfrentando uma guerrilha mas de destruição em massa pelo regi-
porando-se a um movimento mun- aguerrida que, mesmo extremamente me de Saddam Hussein, dentro do
dial de condenação que já estava em inferior em armamento, conhecia contexto de Guerra ao Terror, que foi a
andamento. muito bem o terreno e era veterana resposta americana aos ataques da Al
Depois de aceitar um acordo cons- de outros conflitos. Qaeda às Torres Gêmeas de Nova
trangedor em Paris, os americanos Em 1986, os mujahidin começa- York, em 11 de setembro de 2001.
tiveram que bater em retirada, de ram a receber dos americanos mís- Depois de uma fraca resistência
forma atabalhoada, em 1975, selando seis “MANPADS” terra-ar FIM-92 local, num embate convencional com
a vitória total do Vietnã do Norte. Stinger, o que prejudicou e muito a o que havia restado do Exército Ira-
Balanço Final macabro: operação dos meios aéreos soviéticos. quiano, Bagdá caiu em 9 de Abril,
QQ Estados Unidos: Cerca de 60.000 A guerra durou de 25 de dezembro após severamente bombardeada.
mortos e mais de 300.000 feridos. de 1979 a 15 de maio de 1988 e termi- Em 1˚ de maio o presidente dos
QQ Vietnã do Sul: Quase 200.000 nou com uma retirada patética das EUA, George W. Bush (filho de Geor-
mortos. forças da URSS, concluída no início ge H. W, Bush, da guerra anterior),
QQ Vietnã do Norte e Vietcong: Quase de 1989. Os soviéticos gastaram uma declarou o fim das hostilidades. As
1.000.000 de mortos no total. fortuna que não podiam, num mo- convencionais, é claro, porque se se-
Estima-se que 2.000.000 de civis mento em que a URSS começava a se guiram anos de lutas subterrâneas,
vietnamitas morreram no conflito. deteriorar. violência indiscriminada, torturas e Agora também em versão digital no
Em suma, uma superpotência ten- Nesta guerra morreram 1 milhão todas as atrocidades que caracteri-
tou impor uma guerra convencional,
aplicativo O Jornaleiro!
de afegãos e outros 5 milhões refugia- zam uma guerra assimétrica.
usando meios abundantes e sofistica- ram-se nos países vizinhos. Do outro As supostas armas de destruição
dos, mas sucumbiu diante de guerri- lado, 52 mil soldados soviéticos foram em massa nunca foram encontradas, Anuncie na revista “Forças de
lheiros que conseguiram fazer preva- mortos e 500.000 feridos. assim como a invasão do Iraque nun- Defesa” e nos blogs Poder Naval,
lecer uma guerra assimétrica, com o Em suma, mais uma vez uma su- ca teve aprovação do Conselho de Se-
apoio de armas fornecidas (com perpotência tentou impor uma guer- gurança da ONU. Um ano após a ocu- Poder Aéreo e Forças Terrestres. Eles
transporte precário, porém eficaz) ra convencional usando meios abun- pação, Bush mudou o pretexto da
por adversários da superpotência.
não param de crescer, atraindo cada
dantes e sofisticados, mas sucumbiu invasão para a promoção da “demo-
diante de guerrilheiros menos arma- cracia e da paz”. vez mais o público do setor: de
Russos no Afeganistão dos, que conseguiram fazer prevale- Em 2006, o ex-aliado dos EUA,
Outro conflito emblemático, nessa cer uma guerra assimétrica, e tam- Saddan Hussein, é enforcado pelo
militares a profissionais da indústria,
mesma linha, foi a invasão soviética do bém com apoio de armamentos novo regime do Iraque sob o protesto de jornalistas a formadores de
Afeganistão, um conflito que durou fornecidos por um adversário da su- da Anistia Internacional. A resistên-
nove anos entre tropas da URSS que perpotência. cia de forças guerrilheiras iraquianas
opinião, de entusiastas de hoje a
apoiavam o governo marxista local e contrárias ao invasor e ao governo tomadores de decisão de amanhã.
rebeldes conhecidos como “mujahidin”, Iraque por ele colocado no poder tornou-se
que procuravam derrubar o regime No caso do Iraque, assistimos a uma rotina no país, cada vez mais in-
implantado pelos invasores. uma outra realidade da reação assi- tensa e violenta e que dura até hoje.
Por seu lado, os Estados Unidos, métrica. Os Estados Unidos, força ocupante,
aliados ao Paquistão e a outros países Depois da Guerra do Golfo de 1991, exauridos por guerras outras e pelos publicidade@fordefesa.com.br
muçulmanos, apoiavam os rebeldes. desencadeada como reação da invasão embates urbanos incessantes, nova- revista@fordefesa.com.br
Entre os grupos apoiados, estava o de do Kuwait pelo Iraque, os Estados mente se retiram, agora de forma
Osama Bin Laden. Unidos voltaram a intervir em 20 de gradual, deixando o caos para trás. 55(11) 3926-7401
10 Forças de Defesa www.fordefesa.com.br www.aereo.jor.br Forças de Defesa 11
OPINIÃO GEOPOLÍTICA
Alexandre Galante
Os dados são conflitantes, mas fa- mens e com poucos armamentos de
la-se num saldo de 1.200.000 mortos ponta, é falsa. Em primeiro lugar, a
por “causas violentas” e mais de disponibilidade de homens em ar-
150.000 civis mortos. mas dobra, considerando os reservis-
tas convocáveis de imediato. Ade-
Americanos no Afeganistão mais, em casos de extrema
A guerra dos americanos no Afe- necessidade, o Brasil contaria com
ganistão, iniciada em outubro de mais de 400.000 policiais militares,
2001, teve como pretexto, como disse- já afeitos a enfrentamentos, além de
mos, o ataque da organização terro- número equivalente de vigilantes
rista Al Qaeda de 11 de setembro da- que, pelo menos, sabem manusear
quele ano. Seguiu a mesma cartilha armas portáteis e teriam adaptação
da aventura soviética no próprio Afe- relativamente rápida em determina-
ganistão. Os Estados Unidos e alia- dos tipos de ações.
dos da OTAN tinham como objetivo Isto resultaria, em lapso razoável,
destruir a Al Qaeda, tirar do poder o na disponibilidade de perto de 1 mi-
regime Talibã que a apoiava e captu- lhão de meio de homens mobilizáveis.
rar seu líder Osama Bin Laden. Bem Apesar de não representar obstáculo
armados, bem equipados, bem treina- intransponível para a vitória inicial
dos e bem nutridos, os americanos e de uma grande potência, já represen-
seus aliados enfrentam as históricas taria um custo alto, tanto financeiro
dificuldades frente à forças afegãs. como em perdas. Além disso, segundo
Ao longo de toda uma década, os a mesma fonte, o Brasil é riquíssimo
QQ Tropa do Corpo de
embates foram violentos, num país em locais de ocultação de guerrilhei-
Fuzileiros Navais da
com relevo montanhoso e com um go- ros da resistência, pois, além de flo-
Marinha do Brasil
verno fraco e corrupto, imposto pelos restas úmidas em grandes extensões,
aliados após deporem os talibãs, e tem florestas de concreto em grandes
com muito pouco apoio popular. A cidades.
tentativa de formar forças afegãs de pos, governos e tendências, em vários ência mundial vem demonstrando. aeronaves e helicópteros em número natos e tudo o mais que infernizará a Tudo isso, combinado a um terri-
defesa segue o mesmo rumo do que se pontos do planeta, despertos para os O Brasil, por exemplo, caso faça muito maior e tecnologia muito mais vida dos ocupantes. O combatente tório imenso e a uma resistência mi-
viu no Vietnã e Iraque: forças pouco problemas de defesa. Apesar de con- um ajuste responsável nos seus re- moderna, neutralizando a força aérea ocupante ou o colaboracionista nun- nimamente organizada, tornaria pra-
confiáveis, com baixo nível de compe- tingenciamentos desencadeados por cursos de defesa, o mais brevemente do país atacado e seus núcleos de de- ca saberá se o carro que passa, a bar- ticamente inviável uma longa
tência e eficiência e sujeitas à divi- crises diversas, há países que conti- possível, teria condições de dissuadir fesa antiaérea mais sofisticados, que raquinha do ambulante ou a mulher ocupação do País, mesmo por forças
sões religiosas e tribais. nuam considerando a defesa um item qualquer ataque por parte de agres- eventualmente tenham sobrado da “grávida”, que cruza com ele, na cal- combinadas. Uma resistência ope-
A economia do país não consegue se fundamental para sobrevivência no sores regionais e até potências mé- primeira onda de ataque. çada, explodirá e o levará junto. rando em áreas urbanas e florestas
estabilizar e os níveis de produção de curto, médio e longo prazo. E não es- dias, além de desencorajar aventuras Aviões, em altitudes que evitam Ademais, a guerra assimétrica, não precisaria de muito mais do que
drogas ilegais aumentam, juntamente tamos falando de grandes potências, de grandes potências, conforme estas seu engajamento por defesas antiaé- normalmente, tem resultados parale- armas portáteis, “manpads” terra-
com a atividade dos talibãs – estes, re- mas sim de países como Vietnã, Bul- se convencessem de uma relação des- reas de menor capacidade, destroem los, provocando: -ar, lança-rojões e explosivos.
movidos do poder, estão recuperando gária, Romênia, Malásia, Indonésia, favorável de custo-benefício de uma o que resta dos recursos bélicos do QQ um aumento descontrolado, exa- Portanto, os projetos de defesa,
suas forças. Os ataques da guerrilha Nigéria e muitos outros. Até mesmo agressão. Porém, caso um conflito re- inimigo, tais como blindados, artilha- cerbado e incessante das despesas segundo a mesma fonte, devem pre-
são sistemáticos, violentos e incontro- um país sofrido como Angola está almente ocorresse com uma das po- ria, transportes e navios. com a ocupação; ver investimentos em forças conven-
láveis. Mais uma vez exauridos, os Es- considerando a expansão de uma in- tência mundiais, o País não resistiria Com a ocupação, os vencedores ar- QQ um desequilíbrio e uma exaustão cionais como o Exército, a Marinha e
tados Unidos começaram sua retirada, dústria de defesa própria. a um conflito regular e convencional. ranjam sempre quem se disponha a psicológica das forças ocupantes e a Força Aérea, pois seria o suficiente
anunciada em 22 de junho de 2011 pelo O Brasil vem atuando como uma Já num confronto entre forças formar um “novo governo”, que sem- daqueles que a suportam; para dissuadir ou enfrentar a maio-
presidente Barack Obama. As últimas exceção, delirando numa alienação ir- profundamente díspares, a história pre será tutelado, débil e impopular. QQ uma insegurança generalizada ria absoluta das ameaças projetadas
tropas americanas e da OTAN deixa- responsável quanto à sua defesa. As tem um enredo pronto. Resta ao atacado, como revelam os que atinge a todos, inviabilizando e mesmo mais remotas. E, além dis-
rão o Afeganistão em 2014. deploráveis condições de nossas defe- exemplos, dispersar suas forças e or- padrões normais de vida; so, o preparo de combatentes aptos à
A guerra no Afeganistão, entre sas cibernéticas, por exemplo, ficaram Guerras Assimétricas ganizar uma boa resistência assimé- QQ a condenação da ocupação pela resistência irregular fecharia as por-
outras mazelas, gerou a triste noto- expostas no recente caso de denúncia Os exemplos anteriores mostram trica em padrões guerrilheiros. opinião pública mundial, mais dia tas aos perigos potenciais gerados
riedade da Prisão de Guantánamo, de espionagem da NSA – National Se- que os conflitos entre uma potência Estes recursos, nos dias de hoje, menos dia. por potência militarmente muito su-
em Cuba, para onde são levados, curity Agency – norte-americana. preponderante e um inimigo inferior têm feito recuar grandes potências Por outro lado, geram crescente periores.
mantidos e torturados prisioneiros Por um lado, é fundamental consi- começam com a destruição de sistemas atacantes, que já não se dispõem solidariedade à “resistência”. O nú- Essa será a guerra do futuro.
sem julgamento e sem previsão de sa- derar que, hoje em dia, a disponibili- de comando/controle e infraestrutura mais a entrar em novas aventuras, mero de vítimas entre os ocupantes e
ída. Números disponíveis falam na dade de forças convencionais bem es- em geral, utilizando armas como mís- como no caso da Síria, ou pesam bem os gastos com a guerra tendem a fa-
morte de mais de 2.000 soldados ame- truturadas, bem equipadas e bem seis de cruzeiro. as consequências estratégicas de per- zer com que a opinião pública dos
ricanos, além de quase 15.000 civis treinadas são essenciais à afirmação Sem defesa apropriada, o país der influência em seus “quintais”, seus próprios países exija o fim do
afegãos mortos, isto sem contar o de protagonismo internacional e, atacado fica “cego”, sem poder reagir. como a França na Líbia e no Mali, conflito.
grande número de vítimas não cadas- principalmente, para a função de dis- Começa a faltar energia, víveres, para realmente entrar nesse tipo de
tradas e espalhadas pelo país. suasão. É a velha história de ter para água potável, pontes, rodovias e ou- combate. O Brasil nesse contexto
não usar. tros meios de deslocamento de tropas Sabe-se que, muitas vezes, pode Já foi dito por um oficial america-
Os exemplos pra a organização dos Por outro lado, podemos acreditar e de sobrevivência civil. haver pela frente anos de embates no que a ideia de fragilidade do Bra-
sistemas de defesa que tudo se exaure no primeiro emba- Numa segunda onda, a potência sangrentos, muita sabotagem, fre- sil, por ter Forças Amadas dispondo
Hoje vemos países de todos os ti- te do tipo convencional, como a experi- atacante domina o espaço aéreo com quentes ataques relâmpago, assassi- de aproximadamente 300.000 ho-

12 Forças de Defesa www.fordefesa.com.br www.fordefesa.com.br Forças de Defesa 13


POLÍTICA ENTREVISTA

‘O Brasil não pode almejar ‘A necessidade de


dos projetos estratégicos. O presiden- máximo, protegeriam igual número de
te Lula teve grande sensibilidade localidades, ou seja, quase nada. Fi-
com o tema e o setor experimentou, reposição e nalmente, a terceira camada seria

Forças Armadas como


na sua gestão, um avanço contunden- composta por armamentos de tubo,
te. A sociedade brasileira, junto com
atualização das dos quais dispomos de canhões antiaé-
políticos e governantes, está mudan- nossas aeronaves reos de idade avançada e de unidades
do este pensamento para uma com- móveis alemãs compradas de segunda

instrumento de intimidação’ preensão maior sobre o papel da De-


fesa Nacional. Na última década,
vimos transformações concretas nes-
de Defesa é sem
dúvida urgente,
mão há pouco, além de mísseis de cur-
to alcance, de lançadores apoiados nos
ombros dos soldados. Em suma, somos
Divulgação se sentido. embora não haja praticamente indefesos a qualquer
Romulo F. Federici, consultor É claro que os recursos ainda es- ataque aéreo por parte de esquadri-
tão distantes dos ideais, mas os pas- razão para lhas modernas que mesmo vizinhos
da revista Forças de Defesa, sos necessários para atingirmos os alarmismo’ nossos já dispõem. V.Excia. não acha
valores necessários têm sido dados. isto constrangedor?
entrevistou o deputado Nelson Não podemos esquecer que o Minis- Deputado Pellegrino – Como afir-
Pellegrino (PT – BA), tério da Defesa ainda é um adoles- mei anteriormente, o Brasil exerce
cente, mas já conta com uma estru- uma influência positiva na região, in-
presidente da Comissão de tura definida e sólida. Além disso, a n FD – Enquanto o programa de re- clusive na área da Defesa. Foi o Bra-
Indústria de Defesa também tem aparelhamento dos caças da FAB se sil quem propôs a criação do Conselho
Relações Exteriores e Defesa participado do debate, dos projetos e arrasta desde o governo Fernando de Defesa Sul-Americano, no âmbito
Nacional da Câmara dos das decisões, seja no âmbito do Exe- Henrique Cardoso, quando se chama- da Unasul. Não temos inimigos exter-
cutivo, seja no âmbito do Legislativo. va F-X, e experimenta no atual gover- nos. Por outro lado, estamos fortale-
Deputados - CREDN E o Brasil também tem liderado o no, já com o F-X2, um misto de idas e cendo a nossa consciência em relação
movimento em prol de uma identida- vindas com silêncio e desinformação, à importância de mantermos uma es-
de sul-americana de Defesa, gerando constata-se que até mesmo outros paí- trutura de Defesa capaz de dissuadir
n Forças de Defesa – Prezado depu- confiança e fortalecendo a integração ses sul-americanos, incluindo a Ar- quaisquer ameaças. Entendo que o
tado Nelson Pellegrino, poderia fazer regional. gentina, que vive momentos dificíli- Brasil deve caminhar em direção ao
um resumo da sua carreira política? mos, estão tomando providências fortalecimento da sua Defesa tendo
Deputado Pellegrino – Nasci em n FD – V. Exa. não acha que o Bra- para modernizarem suas forças aére- em conta as novas ameaças como o
Salvador em 1960 e me formei em Di- sil, com uma das grandes economias as. O senhor acha que estamos cami- narcotráfico, o terrorismo e os crimes
reito pela UFBA. Filiei-me ao PT em do mundo, um subcontinente com 200 nhando para o desfecho dessa autên- conexos e isso deve ser combatido
1980, fui deputado estadual por dois milhões de habitantes, esteja pratica- tica novela em tempo minimamente com uma força adestrada, treinada e
mandatos e, desde 1999, estou na Câ- mente sem Defesa Aérea por contar razoável? equipada, além de muita cooperação.
mara como deputado federal. com caças com quase 40 anos de ida- Deputado Pellegrino – Acredito
Como advogado, assessorei sindi- de e, apesar de reformas, sem perfor- que sim, até porque não são apenas n FD – As fragatas brasileiras, espi-
catos de trabalhadores e movimentos mance suficiente para, sequer, enfren- os caças Mirage 2000 que saem de nha dorsal da Esquadra, estão fazen-
populares de associações de bairros. tar forças aéreas sul-americanas de operação no dia 31 de dezembro, mas do aniversário de 40 anos do batimen-
Em 2009 e 2010, assumi a Secretaria países muito menos expressivos? também o contrato de manutenção to de suas quilhas. Convivemos com
de Justiça do Estado da Bahia e a co- Deputado Pellegrino – A necessi- destas aeronaves se encerrará e não navios atracados esperando manuten-
-coordenadoria do Programa Nacio- dade de reposição e atualização das será renovado. O Governo está ciente ções que não terminam, alguns sendo
nal de Segurança Pública com Cida- nossas aeronaves de Defesa é sem da urgência e importância do tema. canibalizados para que outros funcio-
dania (Pronasci), na Bahia. dúvida urgente, embora não haja ra- Além disso, cabe assinalar que o Bra- nem precariamente, ao lado de navios
Na área dos Direitos Humanos, Deputado Pellegrino – O papel da n FD – Apesar de contar com pessoal zão para alarmismo, tendo em vista sil não pretende modernizar suas que já deveriam ter dado baixa há
exerci por sete anos a Presidência Comissão de Relações Exteriores e de do mais alto nível, apesar de reitera- o posicionamento global e regional Forças Armadas para alimentar uma muito tempo. Como o senhor vê a ques-
desta Comissão na Assembleia Legis- Defesa Nacional da Câmara dos De- dos discursos de autoridades e políti- do Brasil. A Defesa Aérea cobra ur- corrida armamentista na região, pelo tão do envelhecimento em bloco dos
lativa da Bahia e, por um ano, na Câ- putados fortaleceu-se enormemente cos, e mesmo considerando-se alguma gência em termos de definições, no contrário. Trata-se de uma estratégia navios de guerra brasileiros e qual é o
mara Federal. Assumi a Presidência nos últimos dez anos, assim como a modesta melhoria na última década, que contam com nosso decidido defensiva, de preservação da nossa programa de sua substituição?
da CREDN neste ano por indicação participação dos parlamentares nos nossas Forças Armadas convivem, his- apoio. Recentemente, o comandante soberania e das nossas riquezas como Deputado Pellegrino – O progra-
do meu partido. debates acerca da Defesa Nacional. toricamente, com um quadro constran- da Aeronáutica, brigadeiro Juniti o Pré-Sal. ma de reaparelhamento da Marinha
Este não é mais um tema exclusivo gedor de penúria. Parece que existe Saito, nos revelou em audiência pú- do Brasil, previsto para o período
n FD – V.Excia. exerce a Presidência dos militares ou restrito às Forças dinheiro para tudo, menos para prote- blica que a presidenta Dilma deverá n FD – Bem sabemos que os aviões de 2008 – 2014, estava orçado em R$ 5,8
da Comissão de Relações Exteriores e Armadas. ger o País. Existe alguma chance de decidir sobre o FX-2 até o final deste superioridade aérea constituem a ca- bilhões sem os custos adicionais. É
Defesa Nacional da Câmara dos De- Nosso maior desafio é, sem dúvida termos, em prazo razoável, uma estru- ano. Além disso, explicou-nos a res- mada principal da Defesa Aérea de preocupante que os recursos não te-
putados num momento em que se ten- alguma, assegurar que os recursos tura militar à altura da representação peito das medidas já adotadas para um país para se antepor a ameaças de nham sido comprometidos dentro dos
ta romper com uma indiferença do destinados às Forças Armadas sejam internacional do Brasil hoje em dia? impedir que o espaço aéreo brasilei- alta altitude. Não temos aviões que se padrões ideais. Mas a Marinha expe-
País em relação à sua Defesa, algo liberados para que os respectivos pro- Deputado Pellegrino – Como você ro fique desguarnecido. Estamos destacam por essa capacidade, mas rimenta uma transformação impor-
prioritário no mundo de hoje, em que jetos estratégicos possam seguir nor- mesmo assinala, na última década ti- confiantes e temos conversado tam- caças leves projetados há mais de 40 tante na parceria com a França para
exemplos recentes recomendam pru- malmente os cronogramas previa- vemos uma melhora significativa em bém com as empresas finalistas do anos. A segunda camada, com alcance o programa de submarinos. Além dis-
dência, prioridade e responsabilidade mente definidos. É importante tudo aquilo que envolve a Defesa, programa. Embora a decisão seja da de média altitude, seria composta por so, a construção do núcleo do Poder
em relação ao tema. Como pretende destacar ainda que estes projetos desde a reorganização do Ministério presidenta, é fundamental que os mísseis antiaéreos dos quais não dis- Naval, que consiste em seis progra-
responder aos desafios de seu cargo guardam relação direta com o desen- da Defesa, das Forças Armadas, e até congressistas conheçam as opções e pomos ainda. Fala-se em 3 baterias mas, tem como propósito expandir e
neste momento? volvimento industrial brasileiro. o fortalecimento dos orçamentos e contribuam com esta decisão. russas de relativa capacidade que, no modernizar a força. Eu destacaria

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POLÍTICA ENTREVISTA
Leonardo Prado
ainda a importância específica do tinha absoluta carência de recursos questões, a tendência é que o Gover- por muitas desigualdades e carências
Programa de Obtenção de Meios de antissubmarino. O senhor não acha no atente mais para o assunto. de infraestrutura que precisam ser
Superfície (PROSUPER) que contem- que podemos correr risco semelhante? equacionadas com urgência.
pla cinco navios-patrulha de 2.000t, Deputado Pellegrino – São situa- n FD – Hoje a sociedade brasileira
um navio de apoio logístico e cinco ções completamente distintas. O está mais envolvida nas questões de n FD – Praticamente todos os anos o
fragatas de 6.000t, construídas num Brasil não tem um conflito no seu Defesa e muitos discutem a estratégia orçamento da Defesa sofre contingen-
estaleiro local. horizonte e trabalha com afinco para e o reequipamento das Forças Arma- ciamentos (e este ano não foi diferente).
consolidar esta região como uma re- das, em fóruns e sites especializados As Forças Armadas têm sua operacio-
n FD – As unidades que vêm sendo gião livre de tensões e embates béli- na Internet. Como o senhor vê esse nalidade afetada com a falta de recur-
incorporadas à Marinha são navios- cos. Por outro lado, devemos traba- maior envolvimento de civis, princi- sos e as compras de novos equipamen-
-patrulha de 2.000 toneladas, 500 lhar para que as nossas Forças palmente dos políticos, nas questões tos militares ficam prejudicadas. O
toneladas, ou menores. Fora isso, o disponham dos recursos necessários de Defesa? que os parlamentares podem fazer
projeto mais comentado, mas ainda para o cumprimento do seu papel Deputado Pellegrino – Há uma para minimizar os efeitos dos contin-
embrionário, seria de cerca de 4 cor- constitucional, independentemente mudança de cultura completa. Os te- genciamentos, dos quais um dos mais
vetas. Portanto, por ora, estamos nos de haver ou não ameaças concretas. mas da Defesa foram inseridos na dramáticos foi o recente incêndio que
ocupando de formar uma guarda A capacidade de dissuasão é nosso agenda do desenvolvimento do País. destruiu a base brasileira na Antárti-
costeira, e não de recompor uma ma- maior patrimônio. Também é impor- As Forças Armadas hoje são percebi- da, erguida há mais de 30 anos?
rinha de guerra, pois quase todas es- tante destacar o Programa de De- das sem preconceitos. Percebe-se Deputado Pellegrino – Já estamos
sas unidades não podem ser conside- senvolvimento de Submarinos também que elas podem contribuir buscando, junto à equipe econômica
radas belonaves. Mesmo os (PROSUB), em fase de implementa- para a geração de empregos, para o do Governo, a liberação dos recursos
submarinos terão características de- ção, que irá colocar o Brasil no sele- avanço científico e tecnológico, contri- contingenciados. Além disso, as For-
fensivas. Não acha V. Excia. que um to grupo das nações que têm acesso buindo para o crescimento econômico ças Armadas e os deputados traba-
país dependente do mar como o Bra- ao submarino nuclear, ao lado dos do País. É um caminho sem volta. A lham em conjunto para incluir no
sil, uma das maiores economias do Estados Unidos, China, França, In- Defesa Nacional já é um tema de do- PAC os projetos estratégicos milita-
mundo, que tem como objetivo de ser ‘É preocupante que os recursos não glaterra e Rússia. mínio público e cada vez mais pesso- res. Isso implica protegê-los de cortes
um protagonista geopolítico, necessi- as estarão estudando, pesquisando e e contingenciamentos. Já consegui-
ta de uma marinha com um mínimo tenham sido comprometidos dentro dos n FD – Considerando o vertiginoso investindo no assunto. mos inserir alguns e estamos traba-
de capacidade de projeção? É bom aumento da população mundial, pro- lhando para que outros possam ser
lembrar que, para o envio de fraga-
padrões ideais’ jeta-se uma carência explosiva de ali- n FD – O Ministério da Defesa tem inseridos.
tas para as missões no Líbano, foi mentos em, no máximo, 40 anos, com uma das maiores fatias do Orçamen-
necessário que nossa Marinha fizesse um agravamento progressivo e peri- to da União, mas a maior parte dos n FD – Neste momento a Comissão de
grandes sacrifícios para deixá-las Além de não sofrermos as ameaças Foz do Amazonas. O objetivo desta goso até lá. A água doce deverá ser o recursos é para pagar pessoal (ativos Relações Exteriores e Defesa Nacional
em condições de cumprirem suas que eles sofrem, também não atuamos futura Segunda Esquadra é proteger item mais crítico nas próximas déca- e inativos) e despesas de custeio, so- da Câmara dos Deputados é vista por
missões. na cena internacional da forma como a chamada “porta de entrada” da das e nós temos uma das maiores re- brando muito pouco para investimen- muitos brasileiros como um dos mais
Deputado Pellegrino – A nossa atuam os Estados Unidos. O Brasil Amazônia. servas do mundo. A exaustão dos re- tos em novos equipamentos. Como o importantes núcleos de discussão, es-
Marinha tem contribuído para a pro- não pode almejar Forças Armadas cursos hídricos, os limites das usinas senhor vê a solução dessa questão em tudos, propostas e pressão em favor de
jeção internacional do Brasil e, mes- como instrumento de intimidação. O n FD – O que está sendo feito, politi- termoelétricas, o potencial limitado longo prazo? chegarmos a níveis aceitáveis de Defe-
mo com todas as dificuldades, tem Programa de Obtenção de Navios-Ae- camente, para que ela realmente saia das usinas eólicas, biomassa e solar, Deputado Pellegrino – O desafio sa. Portanto, para terminar, qual a
realizado a sua missão. A presença ródromos prevê a construção de duas do papel e exista de fato? levará o mundo para as usinas de que se apresenta para o Brasil, consi- mensagem que V. Exa. deixa não só
na Força Tarefa Marítima no Líbano unidades de uma nova classe de porta- Deputado Pellegrino – Como afir- energia atômica. E nós temos uma derando todos os aspectos inseridos para aos militares como ao povo brasi-
é uma demonstração contundente -aviões, com deslocamento aproxima- mei anteriormente, o meio político das maiores reservas de urânio do neste contexto, é atingirmos pelo me- leiro que vê seu país praticamente in-
desta força e desta presença. Além do de 50 mil toneladas, uma para não decide, mas influencia, e o que mundo. Isso se repete nos minerais es- nos 1,5% do PIB em investimentos defeso nos dias de hoje, assistindo a
disso, nestas missões os nossos mili- substituir o NAe São Paulo e outra temos feito é apoiar politicamente es- tratégicos como ferro, nióbio, bauxita, para a Defesa. Isso nos deixaria pró- promessas sempre frustradas de ree-
tares têm condições de mostrar o alto para a futura Segunda Esquadra. tes projetos junto ao Governo. E te- estanho e muitos outros. Consideran- ximos dos demais parceiros do quipamento das Forças Armadas, a
nível em que se encontram em termos mos colocado para o Governo que re- do que hoje, depois dos conflitos no BRICS. Creio que caminhamos nesta ponto de nos transformarmos num gi-
de treinamento e capacidades. n FD – Qual a sua opinião sobre a cursos nas Forças Armadas não Iraque, Afeganistão e Líbia, o mundo direção, mas não podemos ignorar gante absolutamente irrelevante em
criação da Segunda Esquadra no podem ser vistos como gastos, mas dito desenvolvido resolveu apelar que o Brasil ainda é um país marcado termos militares?
n FD – Nos Estados Unidos, costu- Nordeste? como investimento. O que você coloca para o “direito de ingerência”, a qual- Deputado Pellegrino – No âmbito
ma-se dizer que o presidente, ao ser Deputado Pellegrino – Acredito na pesquisa, por exemplo, vai rever- quer pretexto, para obter o que preci- da CREDN, trabalhamos para apro-
informado de algum problema inter- que esta decisão irá fortalecer ainda ter em equipamentos para as Forças sa. V. Exa. pode discorrer sobre a es- ximar ainda mais a opinião pública e
nacional, faz a seguinte pergunta an- mais a presença nacional da Mari- e maior independência para o País. tratégia brasileira para proteger esse ‘Temos colocado a sociedade civil dos dois temas de
tes de qualquer outra: “onde está o nha. É uma decisão que contempla Estamos trabalhando para aumentar enorme e tentador patrimônio? Essa mérito, as Relações Exteriores e a De-
nosso porta-aviões mais próximo?” aspectos estratégicos de altíssimo va- a capacidade de monitoramento, vigi- realidade já foi percebida pela área para o Governo que fesa. Nossas sessões ordinárias e au-
Qual a sua opinião sobre a posse de lor. É mais um passo para atualizar lância, segurança e defesa, incremen- governamental e política? recursos nas diências públicas são transmitidas ao
um ou dois porta-aviões pela Mari- as nossas Forças Armadas em rela- tando o poder dissuasório nacional. Deputado Pellegrino – O Governo vivo pela TV Câmara e pela Internet.
nha do Brasil? ção às ameaças e à realidade que se tem consciência em relação a este ce- Forças Armadas Disponibilizamos redes sociais e ca-
Deputado Pellegrino – Trata-se de impõe. Não podemos esquecer que a n FD – No ano passado, a Guerra nário e as Forças Armadas ainda nais de diálogo que devem ser utiliza-
um equipamento que emprestará à Estratégia Nacional de Defesa apon- das Malvinas fez 30 anos. Durante mais. Os programas estratégicos das não podem ser dos pela população para a sugestão
Marinha muito mais mobilidade e au- tou duas regiões do Atlântico Sul
como prioritárias. A primeira é a fai-
aquele conflito, ficou demonstrado Forças cumprem com esse objetivo, vistos como gastos, de temas, debates, alternativas, re-
mentará exponencialmente sua capa- que apenas um submarino inglês mo- de negar o uso do mar territorial, do clamações, opiniões. Essa relação é
cidade de resposta. No entanto, não xa que vai de Santos (SP) a Vitória derno, ao afundar um cruzador ar- espaço aéreo e da violação territorial. mas como fundamental para o fortalecimento
(ES), onde se localizam as maiores gentino, mandou de volta para o por- Com o envolvimento da sociedade e a do nosso trabalho e da nossa demo-
podemos comparar as realidades do
Brasil com as dos Estados Unidos. bacias petrolíferas; e a segunda, a to toda a Esquadra Argentina, que ampliação dos debates acerca destas
investimento’ cracia como um todo.

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PODER AÉREO REPORTAGEM

CRUZEX
FLIGHT 2013 QQFoto feita durante o “media flight” da
CRUZEX 2013, num C-130 Hércules da
FAB. Aparecem na imagem, da esquerda
para a direita, um F-16 MLU do Chile,
Mirage F-2000C, A-1M e F-5EM do
Brasil e um F-16A da Venezuela.

Novidades e destaques do maior


exercício aéreo militar da América do Sul
Andre Benschop

XX Ícaro Luiz Gomes e Valter Andrade lar para a guerra? Então manete à Há uma ênfase em alguns tipos de táticas de combate (leia-se combate entre os esquadrões, gerando resulta- te exercício realizado nos EUA, o Red
frente e boa leitura! missão para maximizar o treinamen- BVR, além do alcance visual, e C², Co- dos melhores. Naquela edição ainda Flag 08-03, em que participaram seus

O
exercício Cruzex, realizado pela to e a integração entre os diferentes mando e Controle). Dificuldades com a dominava um perfil mais C². caças há pouco modernizados, os
Força Aérea Brasileira (FAB) e O que é Cruzex? participantes, como, por exemplo: meteorologia e com o tráfego aéreo Na terceira edição, em Anápolis F-5M. Os conhecimentos adquiridos
com forças aéreas convidadas da Cruzex é um exercício conjunto Busca e Salvamento de Combate também roubaram um pouco o brilho (2006), a FAB era uma instituição no Red Flag foram postos em prática
América do Sul e de outros países, de- multinacional, que tem por objetivo o (C-SAR), Operações Especiais, Inter- do exercício, mas naquela época a FAB consideravelmente diferente (em já em outubro, em Natal, traduzindo-
finitivamente entrou na agenda dos treinamento de uma coalização mul- dição, Defesa Aérea e Escolta. era uma força que iniciava um amplo meios, treinamento e pessoal). Foi -se principalmente na forma de atua-
grandes exercícios internacionais. tinacional em táticas de combate aé- processo de modernização. Assim, os quando a Força Vermelha, composta ção de uma unidade Agressora (Força
Nesta matéria especial, vamos mos- reo e ataque ao solo, enfrentando Histórico do exercício ensinamentos colhidos foram pronta- por meios da FAB, infligiu considerá- Vermelha). Naquela edição, não mais
trar o porquê disso, com foco nesta ameaças de baixo nível, em combates Idealizado como Exercício Cruzei- mente passados aos programas de veis danos à Força Azul (Coalizão) foram divulgados os dados sobre aba-
edição “CRUZEX FLIGHT 2013”, simulados, usando um cenário gené- ro do Sul pelo tenente-brigadeiro Gil- aquisição e modernização de meios. conseguindo alguns abates simulados tes ou sobre quem venceu a simula-
numa reportagem que aborda os com- rico de referência. O exercício estru- berto Burnier, após a participação do Em 2004 foi realizada a segunda importantes. Mas, como o caráter ção. A não divulgação de resultados,
bates BVR, pacotes de ataque, além tura-se dentro dos procedimentos de Brasil como observador, em 2000, do edição, em Natal, quando a FAB já prosseguia focado em C², as Forças de porém, não impediu que algumas in-
de novidades como as operações espe- operação da OTAN (Organização do exercício Odax realizado na França, a havia amadurecido quanto ao am- Coalização “venceram” a simulação. formações chegassem aos jornalistas
ciais e muito mais. A edição deste ano Tratado do Atlântico Norte), e por primeira edição do Cruzex foi realiza- biente de planejamento. Algumas tá- A quarta edição, de 2008, foi reali- que cobriram o exercício.
esteve bem próxima do que seria uma isso todos os participantes operam da em 2002 em Canoas. Naquela oca- ticas, que visavam se contrapor a zada em Natal. Na ocasião, a FAB A partir da edição 2008, uma dura
guerra convencional, à luz dos mais numa mesma linguagem (inglês) e sião, ficou marcante o “gap” brasileiro equipamentos mais modernos, já ha- trazia ensinamentos positivos de seu realidade começou a bater forte na
recentes conflitos. Pronto para deco- padrão de procedimentos. diante de modernos equipamentos e viam sido estudadas e disseminadas sucesso na participação em um recen- porta: os altos custos de um exercício

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PODER AÉREO REPORTAGEM
Valter Andrade

QQ Impressionante visão do centro


nervoso do exercício CRUZEX 2013, na
Base Aérea de Natal. O pátio repleto de
aeronaves dos mais diversos tipos e
forças aéreas, partindo em pacotes
operacionais distintos

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Valter Andrade Valter Andrade

BRASIL

QQ Os F-5EM: estas aeronaves modernizadas


QQ Mirage 2000 C e B (F-2000 na FAB), no ainda mostram boas capacidades operacionais,
último grande exercício desses caças de alto mas estão longe de preencher plenamente as
desempenho, que atuaram essencialmente em necessidades do futuro da FAB
missões de defesa aérea nesta edição

desse tipo. A delegação argentina, por trouxe os seus caças Rafale, concor- mente pilotadas. Foram simulados até O Cruzex Flight 2013 ocorreu entre tado federal Felipe Maia, e membros da Força Aérea Francesa, participan-
exemplo, não mais compareceu com rentes do programa F-X2 da FAB. A mesmo ataques de armas químicas e os dias 4 e 15 de novembro. No primei- da reserva da FAB. Entre esses dias, te assídua de outras edições (e, de
aeronaves. Na FAB, por seu lado, as maior presença de observadores mili- nucleares. Contando com 13 países ro dia, o maior destaque foi o “Mass muitos voos e muitas missões, das certa forma, responsável por “chacoa-
restrições orçamentárias resultantes tares de outras forças aéreas abri- participantes, sem falar nos observa- Briefing” para os participantes. Já no quais falaremos mais à frente. lhar” os combates aéreos, primeiro
de sucessivos contingenciamentos, lhantou o maior exercício do gênero na dores, o exercício Cruzex C² 2012 teve dia seguinte, 5 de novembro, foi reali- Oito países participaram do exer- com seus caças Mirage e depois com o
além do envelhecimento conjuntural América Latina. Cabe ressaltar, ain- o maior número de países. A Marinha zado o “Media Day”, com uma coletiva cício: Brasil (anfitrião), Canadá, Chi- Rafale). O brigadeiro Jordão explicou
da frota (apesar das modernizações da, que foi a primeira participação da do Brasil se fez presente com um espe- de imprensa da Direção do Exercício e le, Colômbia, Equador, Estados Uni- que várias cartas-convite são envia-
em curso) começaram a cobrar seus Marinha do Brasil com aeronaves, no cialista do esquadrão HA-1. dos co-diretores, Infelizmente, o “brie- dos, Uruguai e Venezuela. Mais uma das a diversas forças aéreas, sendo
preços. Isso repercutiria em mudan- caso, UH-14 (Super Puma). fing” a ser realizado pelo vice-diretor vez, a Argentina cancelou sua parti- que a francesa foi umas dessas convi-
ças no formato, mais à frente. Já a sexta edição, novamente em Destaques, presenças e ausências do exercício, coronel João Bosco Lúcio cipação “na última hora”, e alguns dadas, porém resolveu declinar do
A quinta edição, em Natal (2010), Natal (2012), foi inteiramente no for- Como a sistemática passou a ser a da Silva Felix, não ocorreu devido ao meios de imprensa chegaram a espe- convite. Foi a primeira vez que Força
foi foco de ampla cobertura pelo site mato de Comando e Controle (C²). Ou realização intercalada de exercícios cronograma já estar com o tempo es- cular que a ausência havia azedado Aérea Francesa, considerada uma
Poder Aéreo e um dos impulsos para seja: nada de aeronaves. Nessa edição focados inteiramente em C² e outros tourado. Ainda na tarde de 5 de no- as relações entre a FAB e a FAA das fundadoras do Cruzex, não parti-
a pubicação do primeiro número da re- o Poder Aéreo também esteve pre- com presença de aeronaves, chegou a vembro ocorreu o “Media Flight”, onde (Fuerza Aérea Argentina). Apesar cipou do exercício.
vista Forças de Defesa, no início do sente e conseguiu junto à direção do vez do Cruzex Flight 2013. Pelo que a grande nebulosidade atrapalhou um dessas especulações, esse atrito foi Não só de ausências se fez esta
ano seguinte. Em edições anteriores, a exercício, na pessoa do brigadeiro Egi- já foi exposto, o Cruzex é considerado pouco a qualidade das imagens, embo- negado tanto pelo diretor do exercí- edição: o Canadá, a Colômbia e o
Força Aérea Francesa havia se desta- to, as respostas para diversas ques- um dos maiores exercícios do gênero ra em alguns momentos tenha permiti- cio, brigadeiro-do-ar Mario Luís da Equador debutaram no exercício
cado como convidada de fora da Amé- tões referentes a esse novo formato. A no mundo e o maior da América Lati- do que bons fotógrafos conseguissem o Silva Jordão, durante a coletiva de com aeronaves, e a Venezuela voltou
rica do Sul, com seus caças Mirage ausência de aeronaves não impediu a na. Como não poderia deixar de ser, “clique” ideal. Outros destaques foram, imprensa do Media Day, quanto em a trazer as suas, e o fez com seus
2000 C e, especialmente, os Mirage continuidade do treinamento, pelo desde 2010, a equipe da revista For- em 9 de novembro, o Portões Abertos algumas conversas nos corredores F-16A, que comemoram 30 anos de
2000-5, mostrando grande efetividade contrário: a nova sistemática adotada ças de Defesa já se articulava para da Base Aérea de Natal, que contou da Base Aérea de Natal com pessoas- incorporação neste ano. A última
nos combates aéreos. Mas, naquela permitiu que novos elementos fossem participar da edição FLIGHT e reali- com a exposição de algumas das aero- -chave do exercício. A ausência foi participação da Venezuela com aero-
edição de 2010, a Força Aérea dos Es- introduzidos, aumentando significati- zar uma cobertura ainda melhor. Foi naves participantes e público de cerca compreendida pela FAB, sendo pon- naves foi em 2008. Em 2010, partici-
tados Unidos (USAF) passou a atuar vamente a complexidade do exercício. por isso que, em 2012, fizemos ques- de 30 mil pessoas, além do dia 13, o to pacífico, porém, que a presença pou apenas como observadora e, em
com aeronaves F-16. O Chile também O componente aeroespacial esteve tão de cobrir a edição C² na Base Aé- chamado “VIP Day”, onde o comandan- traria ganhos para o exercício e a co- 2012, veio para a edição C².
trouxe seus caças F-16 Block 50, a ver- presente de forma especial com a in- rea de Natal, sendo um dos poucos te da Aeronáutica e a alta-cúpula da operação entre as forças aéreas par- Por sua vez, Canadá, Colômbia e
são mais nova adquirida pelo país. Por clusão simulada de uma constelação meios de imprensa especializada a FAB estiveram presentes, assim como ticipantes. Equador já haviam participado ante-
seu lado, a França não fez por menos e de satélites e de aeronaves remota- cobrir o exercício nessa modalidade. autoridades convidadas, como o depu- Outra ausência que foi sentida foi riormente como observadores ou na

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Andre Benschop Valter Andrade

QQ Fotojornalistas de todo o
mundo registravam em
detalhes cada decolagem,
ESTADOS pouso e movimentação das
UNIDOS forças participantes

edição C², de 2012. O Canadá trouxe Esquadrões Jambock e Pif-Paf, que concentradas nas Bases Aéreas de Na-
seus quadrimotores de transporte formam uma única unidade); jatos de tal e Recife. A poluição sonora e danos
CC-130J Hercules, modelo que debu- ataque e reconhecimento A-1M, A-1 e secundários da onda de choque que
tou no exercício (embora tenha sido RA-1 do 1º/16º GAv (Esquadrão poderiam ser ocasionados por um
apresentado aos céus brasileiros no Adelphi), do 3º/10º GAv (Esquadrão “boom sônico” foram evitados (ou ao
aniversário de 60 anos da Esquadri- Centauro) e do 1º/10º GAv, (Esqua- menos amenizados) pela restrição de
lha da Fumaça em 2012). A Colômbia drão Poker); turboélices de ataque voo supersônico acima de 20 mil pés.
trouxe jatos A-37 Dragonfly e seu re- A-29 do 3º/3ºGAv (Esquadrão Flecha), Outra diferença dessa edição foi o
abastecedor aéreo KC-767 Júpiter. helicópteros H-60 do 7º/8º GAv (Es- foco nas operações especiais. Pessoal
Este último também foi um debutan- quadrão Harpia) e do 5º/8º GAv (Es- do Esquadrão Aeroterrestre de Salva-
te no exercício, valendo acrescentar quadrão Pantera); AH-2 do 2º/8º GAv mento “PARASAR”, do Regimento de
que se trata de um modelo parecido (Esquadrão Poti), H-1H do 1º/8ºGrupo Infantaria Ligeira Canadense “Prince-
com o que foi selecionado pela FAB, de Aviação (Esquadrão Falcão), H-34 sa Patrícia”, 3º Batalhão do Regimento
no programa KC-X2 para substituir do 3º/8º GAv (Esquadrão Puma), avi- Real Canadense e PJs da USAF (mili-
os KC-137 recentemente aposentados ões de transporte e reabastecimento tares especializados em Busca e Salva-
(e cuja falta foi sentida nesta edição) em voo (REVO) C-130 e KC-130 do mento, inclusive em territorio hostil)
O Equador trouxe seus turboélices 1º GTT (1º Grupo de Transporte de realizaram infiltração aérea. Também
A-29 Super Tucano. Já a Força Aérea Tropa, Esquadrões Coral e Cascavel) foi realizado treinamento de C-SAR
do Chile (FACh) e a Força Aérea dos e do 1º/1ºGT (1º/1º Grupo de Trans- (Busca e Salvamento de Combate), si-
EUA / Guarda Aérea Nacional porte, Esquadrão Gordo), aviões de mulando o resgate de um piloto aliado
(USAF-ANG) trouxeram equipamen- transporte e de busca e salvamento abatido e seu subsequente resgate. A
tos semelhantes: F-16 e KC-135 (sen- C-105 / SC-105 do 1º/9ºGAv (Esqua- importância de treinar C-SAR é evi-
do que os caças chilenos, ao invés dos drão Arara) e do 2º/10º GAv (Esqua- dente: a perda de pessoal numa cam-
F-16 Block 50, mais modernos, desta drão Pelicano), além dos aviões de panha real afeta negativamente a mo-
vez eram exemplares F-16 MLU). A alerta aéreo antecipado e controle tivação de um grupo e, caso haja a
Força Aérea Uruguaia trouxe jatos E-99 (AEW&C) do 2º/6º GAv (Esqua- captura por força opositora, coloca em
A-37 e turboélices IA-57 Pucará. drão Guardião). risco o andamento da campanha num
A Força Aérea Brasileira atuou horizonte de até 48 horas, sendo tam-
com diversas aeronaves: caças F-2000 Principais novidades desta edição bém um elemento negativo quanto ao
QQ F-16C Block 40 Fighting Falcon da do 1º Grupo de Defesa Aérea (1º GDA, Houve significativas diferenças na apoio político e social da campanha,
USAF-ANG District of Columbia (Guarda Esquadrão Jaguar); F-5EM/FM do edição 2013 em relação às anteriores. nos contextos interno e internacional.
Aérea Nacional de Colúmbia, da Força 1º/4º Grupo de Aviação (1º/4ºGAv, Es- Devido a aspectos ambientais de polui- Uma missão que recebeu um foco
Aérea dos EUA), que tem entre suas quadrão Pacau), 1º/14º Grupo de ção sonora, a Base Aérea de Fortaleza especial foi a de Guia Aéreo Avançado
atribuições a defesa da capital Aviação (Esquadrão Pampa) e do 1º não foi mais sede das “Forças Oposito- (FAC - Forward Air Controller), onde
Washington Grupo de Aviação de Caça (1º GAvCa, ras” e, assim, as atividades ficaram elementos infiltrados em território

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Fotos: Valter Andrade

BRASIL

QQ Os AH-2 Sabre (Mi-35M) da FAB


foram empregados essencialmente em
missões de escolta aos H-60 Black
Hawk (também da FAB), que
infiltravam e exfiltravam as forças
especiais em suas missões em terra

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PODER AÉREO

BRASIL

QQ No centro de controle do exercício um


grande mapa mostrava em tempo real
onde cada aeronave se encontrava e quais
tinham sido abatidas
QQ É bastante visível a diferença entre um C-130H da FAB e um CC-130J da
RCAF. Além das dimensões, a motorização do modelo utilizado pelos canadenses
proporciona manobras bem mais bruscas, sendo o modelo J utilizado para
missões de lançamento de tropas nesta edição hostil se utilizam de comunicações e tados nesta edição, tendo em vista a mo ocorresse dentro da chamada “no-
posições privilegiadas no terreno para limitação de apenas quatro aerona- -escape zone”, ou seja, com 100% de
coordenar ataques aéreos. Apesar des- ves por zona, nessa modalidade, e os probabilidade de acerto.
Fotos: Valter Andrade sa missão já ser executada desde a Se- riscos da desorientação espacial. As Ao realizar o tiro, o piloto devia
gunda Guerra Mundial, o cenário atu- aeronaves de AEW&C e REVO não cantar o máximo de parâmetros pos-
al evoluiu significativamente, não só podiam ser engajadas como alvos, de- síveis para a validação imediata. Por
devido ao desempenho das aeronaves, vendo ser respeitadas as separações exemplo:
como pelas tecnologias de comunica- verticais e horizontais apropriadas.
ção e de marcação/iluminação de alvos, As aeronaves podiam ser abatidas BLUE 01: “BLUE 01, FOX 1 KILL BE 270°/35mn/25.000 ft
assim como pelo desenvolvimento de de quatro formas: FOX-1 (míssil de TRACK 130°”
CANADÁ armamentos mais precisos e com me- orientação por radar, do tipo semi-
nor possibilidade de gerar os chama- -ativo), FOX-2 (míssil de orientação Caso o tiro estivesse dentro dos
dos “efeitos colaterais”. Hoje em dia, os por infravermelho - IR), FOX-3 (Mís- parâmetros a resposta seria:
Guias Aéreos Avançados utilizam rá- sil de orientação por radar ativo) e
dios digitais criptografados com salto FOX-4 (impacto contra o solo, simula- RED 01: “RED COPY KILL”, e a aeronave-alvo
de frequência e alcance além da linha do). O FOX-2 era validado se, após o deveria dirigir-se para o “dead man
de visada para as comunicações, e de- tiro, não houvesse o lançamento de point” (ponto do homem morto), onde
signadores laser compactos e leves, flare (contramedidas para mísseis poderia haver o “respawn” (volta da
para iluminar/designar os alvos. IR). Caso isso ocorresse, o tiro deve- aeronave aos combates da simulação).
ria ser tentado 5 segundos depois. As
A hora e a vez dos combates aéreos confirmações de FOX-1 e FOX-3 tive- Caso contrário:
A regra número um nos combates ram peculiaridades relativas ao uso
simulados do exercício é a segurança. do chaff (contramedidas para mísseis RED 01: “RED FOX 1 MISS”, e o combate po-
Para isso, as Regras de Engajamento orientados por radar), ângulo entre deria continuar ou, então, os contro-
são bem rígidas e devem ser cumpri- as aeronaves e distância do disparo. ladores do COpM3 (Centro de Opera-
das à risca por todos os pilotos. O des- O FOX-3 possuía parâmetros especí- ções Militares do 3º Centro Integrado
cumprimento de qualquer uma das ficos para sua validação como: distân- de Defesa Aérea e Controle do Tráfe-
regras pode acarretar desde uma re- cia até o alvo (Lima > 70% do alcance go Aéreo) e dos jatos E-99 da FAB in-
preensão verbal até a exclusão do pi- máximo, Medium < 70% do alcance dicariam novas posições para as aero-
loto do exercício. Entre as regras, es- máximo e > 40% do alcance máximo, naves, em caso de necessidade.
tava a proibição de combates usando e Sierra < 40% do alcance máximo), A edição 2013 mudou radicalmente
canhões e a restrição de combater ângulo entre aeronaves (Lima < 30º, a forma de se realizar a validação dos
sempre acima dos 10 mil pés. Comba- Medium < 60º e Sierra < 90º), altitude tiros. As aeronaves passaram a ser
tes dentro do alcance visual (a menos e proa. As forças “opositoras” só po- acompanhadas por GPS (sistema de po-
de cinco milhas náuticas) foram evi- diam “cantar” um tiro quando o mes- sicionamento por satélite), permitindo

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Fotos: Valter Andrade

BRASIL

QQ Os grandes “game changers” da FAB e observadores mais previlegiados do


exercício, controlando áreas vitais, foram sem dúvida alguma os E-99, aeronaves de
AEW&C produzidas pela Embraer. Nesta edição, estavam baseados em Recife, de
onde eram lançados em missões individuais, no começo do dia e no início da tarde,
de forma a não deixar o espaço aéreo sem cobertura

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Andre Benschop Andre Benschop

CHILE VENEZUELA

QQ F-16 MLU da Força Aérea do Chile em mais QQ F-16A do esquadrão venezuelano “Dragones”,
uma decolagem. Os chilenos atuavam em que foi uma atração para os fotógrafos com sua
muitas missões de apoio aéreo aproximado pintura comemorativa de 30 anos de operação

que todos os parâmetros fossem trans- cimento por sonda e cesta. Já há justamente a IAI que realizou a con- vida útil e com apenas dois exemplares A edição 2013 também se desta- palmente, as responsabilidades bra-
mitidos e retransmitidos entre as esta- alguns anos, a FAB lançou um pro- versão da aeronave colombiana a par- em dotação, no papel. Vale lembrar cou por trazer à cena o uso do GPS sileiras em operações cada vez mais
ções-radar e de comunicação espalha- grama de substituição dos KC-137, tir de um Boeing 767. que os KC-130 e C-130 tem programa- como mais uma ferramenta para espalhadas pelo mundo, como no Hai-
das pelo terreno. As informações eram diante da avançada idade das aero- As missões de REVO no exercício das suas substituições na FAB, com aperfeiçoar a sistemática de valida- ti e no Líbano, que demandam trans-
concentradas nas telas do COpM3, dos naves (apesar do relativamente baixo foram voadas a partir da Base Aérea início daqui a alguns anos, pelo KC- ção dos tiros, trazendo o processo porte frequente de grande número de
E-99 e do C² do exercício, onde militares número de ciclos) que acarretava de Recife e operavam em áreas especí- 390 da Embraer, cujo protótipo deverá para tempo quase real. militares e material, por longas dis-
especialistas nas referidas aeronaves e uma descontinuidade logística de um ficas de voo, denominadas DRINK. voar em 2014. Ainda assim, a necessi- Um outro ponto positivo que teve tâncias.
nos armamentos simulados compara- meio que há décadas não era mais Nessas áreas, as aeronaves orbitavam dade da Força Aérea Brasileira dispor menor visibilidade, mas foi digno de Quanto à Aviação de Caça, o fato
vam os gráficos de desempenho dos ar- produzido, acarretando uma desfavo- à espera dos caças que chegavam para de um avião de transporte e reabaste- nota, foi o uso em larga escala de dos caças Mirage 2000 da FAB parti-
mamentos e dos aviões com os dados rável relação custo-benefício e dificul- o reabastecimento, sendo que, devido cimento em voo de categoria mais es- viaturas utilitárias do Exército Bra- ciparem pela última vez do exercício,
recebidos. A partir dessa comparação, dades para manter os aviões voando. às diferentes performances das aero- tratégica do que tática, para cobrir a sileiro. Diversos caminhões VW pois tiveram suas baixas marcadas
realizam a validação ou não do tiro. A isso, somou-se um recente acidente naves participantes e à variedade de lacuna deixada pela baixa dos KC-137, Worker, Agrale Marruá e outras para o final de dezembro, também
Todos os dados eram gravados e ali- no Haiti, felizmente sem vítimas, missões, diferentes também eram os continua a se impor. viaturas leves foram utilizadas para preocupa: afinal, há anos o programa
mentavam um software que, por sua mas que condenou um dos exempla- perfis de REVO. O KC-767 colombiano deslocamentos dentro da Base Aé- F-X2 se arrasta sem chegar a uma de-
vez, gerava uma animação apresentada res que ainda voavam, apressando a reabasteceu aeronaves brasileiras (es- Principais ganhos da nova edição rea de Natal, incluindo a área ope- cisão do Governo sobre seus substitu-
durante o “debrifing”, permitindo assim aposentadoria do modelo na FAB. pecialmente as de alto desempenho) e Na visão deste autor, um dos prin- racional, que possui diversas restri- tos que, em poucos anos, também de-
a análise macro (a chamada “god’s eye O programa de seleção de um novo colombianas, sendo que um quadrimo- cipais ganhos da atual edição do exer- ções de tráfego ditadas pela verão tomar o lugar dos jatos F-5M.
view”) e micro da missão executada. avião de transporte e reabastecimento tor turboélice KC-130 da FAB realizou cício Cruzex foi o novo sistema de segurança de voo. Caso uma decisão tivesse sido to-
em voo da mesma categoria, conhecido reabastecimento de aeronaves brasi- “Shot Validation” implementado. mada anos atrás, talvez neste exercí-
Vai um querosene aí, chefe? como KC-X2, chegou a seu termo em leiras, colombianas e uruguaias. Por Nas edições anteriores, o disparo Mas nem tudo são flores cio Cruzex ou no próximo tivéssemos
Nesta edição, a estreia do KC-767 março de 2013, com a escolha da pro- sua vez, os jatos KC-135 dos Estados (simulado) de um míssil era “canta- A limitação da FAB em realizar a estreia de um novo caça da FAB.
Jupiter da Força Aérea Colombiana posta da empresa israelense IAI, ba- Unidos e do Chile, dotados de sistema do” via rádio, onde todos os parâme- missões de REVO, por contar com Porém, está claro que isso só poderá
chamou bastante a atenção, não só seada na aquisição de aeronaves “Flying Boom” ou de lança (diferente tros possíveis deviam ser informa- apenas um KC-130 disponível, ficou acontecer, quando muito, em alguma
dos jornalistas mas, principalmente, Boeing 767-300ER usadas para con- do equipamento de sonda e cesta, co- dos. A partir daí, seguindo tabelas bastante evidente nesta edição do edição do final da década.
da FAB. Recentemente, a Força Aé- versão. A aeronave deverá ser capaz nhecido como “Probe and Drogue”) re- de probabilidade de acerto, o disparo exercício Cruzex. Pudemos perceber O envelhecimento conjuntural
rea Brasileira viu-se obrigada a apo- de realizar múltiplas missões, como abasteceram de modo permutado os era validado ou não. No entanto, as que o KC-767 colombiano “carregou o dos meios da FAB está sempre ba-
sentar seus jatos KC-137 antes da transporte de longa distância, reabas- caças F-16 de seus países, que só são aeronaves que eram os alvos dos dis- piano” no exercício, junto com o nosso tendo à porta, ao mesmo tempo em
chegada de um sucessor. Os KC-137, tecimento em voo, evacuação aeromé- compatíveis com esse sistema. Ainda paros (simulados) não permaneciam KC-130, para o reabastecimento de que a espera passiva de decisões po-
operados num total de quatro unida- dica, entre outras, com melhor desem- que o KC-130 da FAB seja capaz de re- “estáticas”, pois realizavam mano- aeronaves com sistema de sonda e liticas não tem sido benéfica, dado
des, eram antigos Boeing 707 adqui- penho, capacidade e segurança do que alizar o REVO das aeronaves de alto bras evasivas ou lançamento de cha- cesta. que os relatórios técnicos dos proces-
ridos usados da Varig para conversão o proporcionado pelos velhos KC-137. desempenho, os envelopes de voo dife- ff/flare. Assim, saíam dos parâme- Essa limitação da FAB torna-se sos de seleção, realizados pela FAB,
em aeronaves de transporte e de rea- E aqui está a razão do KC-767 Jupiter rentes diminuem as margens de segu- tros de acerto vigentes nas edições ainda mais preocupante quando leva- acabam apenas acumulando poeira
bastecimento em voo (REVO), quan- da Colômbia ter chamado a atenção rança, sem falar que também se trata anteriores e esses tiros não eram va- mos em consideração as distâncias nas mesas de quem deveria decidir
do receberam o sistema de reabaste- da FAB nesta edição do exercício: foi de um avião já próximo do final de sua lidados. continentais do nosso país e, princi- com menos vagar.

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Andre Benschop QQA FACh atuou com os F-16 MLU comprados dos excedentes da Fotos: Valter Andrade
Força Aérea Real Holandesa, que já havia realizado uma extensa
modernização dos caças

CHILE

QQ O KC-135 da FACh foi um vetor muito importante nas missões dos chilenos.
Diferentemente do KC-135 da USAF que participou do exercício, e que é equipado
com motores CFM mais econômicos, a versão adquirida pelo Chile nos estoques
norte-americanos ainda utiliza a motorização antiga. No detalhe abaixo, a lança do
sistema “Flying Boom”, compatível com os caças F-16

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Andre Benschop

COLÔMBIA

QQ Formação de
A-37B Dragonfly
colombianos após
serem reabastecidos
pelo KC-767 Jupiter
da sua força aérea

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QQ A Força Aérea da Colômbia teve uma


importante contribuição com seus A-37B
Dragonfly e suas experientes tripulações,
muitas delas veteranas de missões de
combate contra as FARC (Forças Armadas
Revolucionárias da Colômbia) e
COLÔMBIA
narcotraficantes

Fotos: Valter Andrade

QQ O grande destaque das aeronaves


reabastecedoras foi o KC-767
Jupiter da FAC, que realmente
impressionou. A simpatia e
profissionalismo de seus
tripulantes ajudou muito
nossa cobertura das
missões de REVO

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Andre Benschop

EQUADOR

QQ Outra grata supresa foi a


presença dos A-29 Super Tucano da
Força Aérea Equatoriana (FAE).
Segundo os equatorianos, o
exercício representa uma grande
oportunidade de intercâmbio. Os
A-29 da FAE chamaram bastante a
atenção pelo seu padrão de
camuflagem digital

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Fotos: Valter Andrade

ESTADOS
UNIDOS

QQ A USAF contribuiu de forma ímpar com sua larga experiência,


a despeito dos F-16C Fighting Falcon e do único KC-135R
Stratotanker serem da Guarda Aérea Nacional, cujos pilotos
são, em sua maioria, reservistas. Isso não diminuiu em nada sua
qualidade, pois é bem comum a USAF lançar unidades da Guarda
Aérea em missões de combate pelo globo

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Fotos: Valter Andrade

URUGUAI

QQ A Força Aérea Uruguaia (FAU) é outra veterana de exercícios Cruzex.


Participou de missões de apoio aéreo aproximado com seus A-37B Dragonfly
e IA-63 Pucará

Ícaro Luiz Gomes

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Fotos: Valter Andrade

VENEZUELA

QQ Em sua terceira participação em Cruzex, a Força Aérea Venezuelana, QQ Outras aeronaves da Venezuela que estavam presentes, mas de forma discreta,
atualmente AMBV - Aviación Militar Bolivariana, participou com seus F-16A eram os transportes Shaanxi Y-8 de fabricação chinesa, dos quais há uma previsão
Fighting Falcon, especialmente em missões ar-ar e ar-solo de compra de doze exemplares, em substituição aos C-130 Hercules. Esses
turboélices quadrimotores foram responsáveis pela movimentação de equipamento
e material dos venezuelanos

Andre Benschop

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PODER AÉREO ESPECIAL
Fotos: Valter Andrade
aproveitamos para compartilhar com
os leitores. Muito da narrativa certa-
mente trará, aos pilotos operacionais
de hoje, lembranças dos inúmeros de-
safios vencidos na carreira. Por outro
lado, servirá como uma perspectiva
desses desafios para os jovens inte-
ressados em seguir a carreira de pilo-
to militar e, quem sabe um dia, parti-
cipar de operações e exercícios
internacionais como o Cruzex.
Filho de um pastor luterano brasi-
leiro com uma animadora de coro
americana, o capitão Eric Willrich,
hoje piloto de jatos quadrimotores de
transporte C-17, nasceu no Brasil e
tem irmãos canadenses. O interesse
por aviação começou aos 2 anos de
idade, no Aeroporto JFK (Nova Ior-
que), numa viagem com a família,
onde o som de um Boeing 747 lhe cau-
sou uma mistura de medo e euforia.
QQ Um CC-130J
Nascido em Pelotas-RS, foi com a fa-
Hercules da RCAF
mília morar em Minneapolis (EUA) partindo para mais
aos 8 anos e aos 10 mudou-se para o uma missão no
Uruguai, bem perto da fronteira com exercício Cruzex
o Brasil, mantendo sempre contato 2013. Os canadenses
com a cultura brasileira: “Assistia compartilharam
Rede Globo e Silvio Santos. Minhas importantes

A estreia da Aviação de
revistas em quadrinhos eram da Tur- conhecimentos no
ma da Mônica e meus amigos eram lançamento de tropas
brasileiros”, disse Willrich. Enquanto especiais
morava na fronteira Uruguai/Brasil,

Transporte da Força Aérea estudava numa escola uruguaia e se


preparava para estudar na PUC-RS,
que possuía um programa junto à
rém, ao me lembrar do Vomitron pus
as náuseas para dentro e meu corpo
Após a queda do presidente do
Haiti e da intervenção dos franceses e

Real Canadense na Cruzex, VARIG para formação de pilotos. aprendeu a não vomitar em voo.” americanos, o Canadá ficou a cargo
Willrich prossegue a narrativa: da Força Internacional que passou o
A luta para ser aviador e os desafios “Depois iniciei o curso no Tutor (jato mandato para a MINUSTAH (sigla
de treinamento canadense), onde o em francês para a missão das Nações

nas palavras de um piloto


do início da carreira
Quando tinha 17 anos, seu pai fa- índice de corte também fica em cerca Unidas para a estabilização do Hai-
leceu e a família se mudou para o Ca- de 50%. Aqueles que são cortados ti), e Eric estava lá: “Como eu era o
nadá. Eric tentou ser aviador, mas acabam reaproveitados em outras único que falava português, espa-
não havia vagas no centro de recruta- funções, como navegadores, por nhol, inglês e francês, acabei ficando
mento e acabou seguindo para a Re- exemplo. Eu queria muito entrar com a responsabilidade de fazer a li-
Conversamos com um oficial XX Valter Sousa Andrade
serva de Mergulhadores. Mas não para a Aviação de Transporte, mas gação entre os brasileiros, argenti-

D
urante o Cruzex Flight 2013, desistiu e, 3 anos depois, após insistir como o Canadá havia feito uma gran- nos, chilenos e uruguaios, que esta-
canadense que fala quatro línguas conversamos com o capitão Eric semanalmente, conseguiu a vaga na de compra de helicópteros na época,
todos da minha turma foram para as
vam chegando, com as forças
canadenses que estavam saindo.” Ele
e nasceu no Brasil, sobre esse e Willrich da Força Aérea Real
Canadense (RCAF), piloto de C-17
aviação. Não foi fácil, e a perspectiva
de um treinamento de três semanas asas rotativas. Bem, eu sempre quis lembrou ainda da chegada dos jatos
ser piloto e voar. A vida me deu os li- KC-137 da FAB a Porto Príncipe:
outros assuntos de sua carreira Globemaster III que fez parte da de-
legação do Canadá. O oficial de 38
no “Vomitron”, para dessensibiliza-
ção do organismo numa centrífuga, mões, então fiz uma limonada.” Sobre “Quando os 707 de vocês chegavam
o voo em asas rotativas, o capitão ao Haiti, era um barulho ensurdece-
e trajetória pessoal bastante anos tem raízes no Brasil e contou-
-nos sobre sua trajetória na aviação e
assombrou seus primeiros voos, num
curso de 30 horas de voo em que cerca completou, rindo: “É o voo mais diver- dor. Quem estava dormindo acordava
tido do mundo!” imediatamente nas barracas.”
peculiares: Asas Rotativas, também sobre a operação de aviões
de transporte na RCAF, que fez a sua
de 50% dos alunos desistem ou são
desligados. O oficial relembra: “No “Fui para Quebec, onde passei 5
Instrução de Voo, exibições no estreia no exercício Cruzex com uma
aeronave CC-130J. A conversa, que
primeiro voo eu vomitei, o que é até
normal. No segundo, vomitei de novo,
anos, e lá aprendi francês.” Um detalhe
que Willrich frisou foi que voar em in-
Mudando de aviação
Depois dessas experiências, o ca-
‘Snowbirds’, Aviação de Transporte, seria focada na participação canaden-
se no exercício, acabou trazendo mui-
então meu instrutor me chamou e
conversou comigo que, se no terceiro
glês é diferente de voar em francês.
Nessa mesma época, se casou. Atuou
pitão Willrich tentou mudar para a
Aviação de Transporte: “Para você
operações na Bósnia e Haiti, além to mais detalhes de uma trajetória
pessoal e profissional, tão rica e pecu-
eu vomitasse, iria para o Vomitron.
No terceiro voo, durante algumas
no conflito da Bósnia, onde ficou 6 me-
ses. “Vi muita coisa na Bósnia que,
sair de uma aviação para outra, das
duas uma: ou você é muito ruim,
de voos no C-17 Globemaster liar para um capitão-aviador, que manobras surgiram as náuseas. Po- uau... Coisas que são ruins de ver!” eles não te querem e te põem pra

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PODER AÉREO ESPECIAL
Força Aérea Real Canadense
C-17 é tão manobrável que chega a da RCAF desdobrada para o exercí- cício poderá ser repetida outras ve-
QQ Um CC-177 Globemaster III, ser violento!” cio, o capitão Willrich fez parte da co- zes e , quem sabe, com outros meios.”
com as cores da RCAF. A Recentemente, a FAB aposentou mitiva canadense devido à conjunção A RCAF participou com dois avi-
aeronave, que atualmente é seus quadrimotores a jato KC-137, de sua experiência em Aviação de ões CC-130J e mais de 40 membros
pilotada pelo capitão Eric Willrich aeronaves que eram utilizadas no Transporte e em exercícios interna- da 8ª Esquadra de Trenton, da 3ª Es-
no Canadá, é vista embarcando transporte de longo alcance e em mis- cionais, com o fato de falar as línguas quadra de Bagotville e da 1ª Divisão
um helicóptero CH-146 Griffon sões de reabastecimento em voo de todos os países participantes desta Aérea do Canadá, bem como do Cen-
(REVO). Perguntado sobre o que po- edição. Esse fator não pode ser mini- tro de Instrução Superior em Guerra
deria dizer das duas aeronaves, Eric mizado pois, perguntado sobre a im- Terrestre do Exército Canadense, do
disse que “não há como comparar o pressão pessoal da participação cana- regimento de Infantaria Ligeira Ca-
707 com o C-17.” dense no exercício Cruzex, a fala do nadense Princesa Patrícia (PPCLI,
Sobre o pouso do C-17, o piloto expli- capitão poderia ser resumida a uma sigla em inglês) e do 3º Batalhão do
cou uma das peculiaridades do avião: palavra: “cooperação”. Real Regimento Canadense (3 RCR,
“O C-17 possui uma singularidade du- Eric destacou esse ponto com bas- sigla em inglês).
rante o pouso. Em vez de diminuir a tante ênfase: “O exercício Cruzex é a
potência, nós aumentamos. O sistema oportunidade ideal para as forças aé-
de flaps desenvolvido pela NASA reas de todo o Continente Americano AGRADECIMENTOS:
(Agência Espacial dos EUA) permite cooperarem. Principalmente em rela- Canadá: capitão Christopher Daniel
que, pelo tamanho, formato e estrutura ção aos exercícios mais bem equipa- (relações públicas); capitão-aviador
dos flaps em conjunto com o empuxo dos e experientes, como Red Flag ou Eric Willrich (piloto de CC-177)
dos motores, seja criada uma espécie de Maple Flag, que já têm mais de 40 Colômbia: general do ar Guillermo
colchão de ar que amortiza a descida da edições, temos muito o que comparti- Léon Léon (comandante da Força Aé-
aeronave. Essa característica permite lhar, buscando reinventar formas de rea); coronel aviador Carlos Silva (pi-
pousos muito suaves e em menores ex- fazer as coisas. Pessoalmente, vejo loto de KC-767 Jupiter)
tensões de pista, além fazer do C-17 que o Brasil está dando um enorme Brasil: brigadeiro Marcelo Kanitz
uma excelente aeronave de se voar”. passo na direção certa.” Damasceno, coronel aviador Max
Sobre um possível retorno numa Luiz da Silva Barreto e major aviador
As impressões sobre o exercício futura edição, o oficial disse: “Eu Luis Felipe (Cecomsaer); tenente
CRUZEX FLIGHT 2013 gostaria muito, mas a decisão não aviadora Juliana (SCS 1º/6º GAv) e
Apesar de não ser atualmente pi- está em minhas mãos. Acredito que coronel aviador R1 Fernando da
loto de CC-130J, que foi a aeronave a experiência de participar do exer- Cunha Machado Costa (Recife-PE)

fora, ou você é muito bom e seus Demonstração da Força Aérea Real em como o povo brasileiro gosta de
chefes te apoiam, fazendo tudo o
que podem para te ajudar.” Rindo, o
Canadense (equivalente à Esquadri-
lha da Fumaça da FAB, mas que voa
aviacão! A aviação ajudou a ligar Ca-
nadá e Brasil.” Leia a revista Forças de Defesa no tablet,
oficial complementa: “Eu prefiro
acreditar que estou na segunda op-
ção...” Nesse meio-tempo, durante
jatos treinadores Tutor). “Passei 3
anos fazendo alguns dos melhores
voos da minha vida.”
A experiência de voar o C-17
Globemaster III
no smartphone ou na web. APLICATIVO GRÁTIS
dois anos, foi instrutor no turboélice Questionado sobre o porquê de se- Enfim na Aviação de Transporte, A maior banca digital de jornais e revistas do Brasil.
de treinamento T-6 Texan II, e res- rem os melhores voos, ele disse muito o piloto prosseguiu na carreira até
salta as qualidades do Canadá como orgulhoso, no seu português da fron- chegar ao maior avião militar em
um polo de formação de pilotos da teira com o Uruguai: “Por uma estrela operação no Canadá, o C-17 Globe-
OTAN: “Nosso espaço aéreo é do ta- no olhar de pelo menos um ‘piá’, faz master III (CC-177 na denominação
manho da Europa. Temos diversos tudo valer a pena!” Nessa fase, a Es- canadense) Nas palavras do capitão
dias do ano propícios para instrução quadrilha da Fumaça (EDA – Esqua- Eric Willrich: “O C-17 é uma aerona-
e uma grande história de formação drão de Demonstração Aérea) foi ao ve incrível! Só de combustivel são
de pilotos europeus, principalmente Canadá durante uma turnê interna- 245.000 libras que são consumidas
ingleses, desde a Segunda Guerra cional. Muito emocionado, o capitão em 12 horas de voo, e de carga pode-
Mundial. lembra-se de um “voo de saco” (como -se transportar até 180.000 libras”. O
Ainda sobre a instrução de voo, passageiro) que ele fez num turboélice Canadá recebeu seus primeiros C-17
Eric explicou que no Canadá as aero- T-27 Tucano da Fumaça, no qual fo- em 2011 e, segundo Eric, “a aeronave
naves de instrução são planejadas ram levadas as bandeiras brasileira e é grande como um caminhão de 18 ro-
para voos de cerca de uma hora e canadense: “Participar daquele voo, e das, mas é manobrável como um fus-
meia, e não muito mais. “A cabeça de ver a cooperação de ambos os países e quinha.”
um aluno é como um balde, mas é um aviadores, foi muito especial para A manobrabilidade do C-17 é
balde que enche muito rápido. Esta- mim.” exemplificada em uma situacao de
tisticamente está provado que voos Falando no EDA, Eric estava na treinamento que vivenciou: “Numa
de instrução têm um bom aproveita- delegação canadense que participou configuração bem leve, meu instrutor
Baixe as edições através
mento em cerca de um hora. Depois com um CC-130J (além de jatos e eu pousamos a aeronave e, em se- do aplicativo O Jornaleiro
dessa uma hora, o balde derrama.” CF-188 Hornet) da celebração dos 60 guida, decolamos numa pista de e experimente
Após os 2 anos de instrutor, o pilo- anos da Esquadrilha da Fumaça, no 3.500 pés. Não demos ré nem nada,
to foi para os “Snowbirds”, a Equipe de ano passado: “Fiquei impressionado pousamos e decolamos em seguida. O
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51
PODER AÉREO ESPECIAL
Andre Benschop

QQ Dois jatos, um deles A-1A e o outro


A-1M da FAB aproximando-se para
pouso na Base Aérea de Natal durante
o exercício Cruzex Flight 2013. O avião
na parte inferior da foto é o primeiro
A-1M (modernizado) de produção
entregue à FAB pela Embraer.
Comparando os dois aviões, podemos
observar no A-1M a presença de duas
pequenas carenagens elípticas com as
antenas do sistema PAWS-2 (detector
de aproximação de mísseis) da Elisra,
nas partes dianteira e traseira da
fuselagem. Também próximo à antena
XX Guilherme Poggio
do PAWS-2 na traseira, vê-se os
poggio@fordefesa.com.br casulos internos dispensadores de chaff

S
e flare instalados. A presença do radar
ão três letras e um enorme signifi- SCP-01 é notada pelo radome (de cor
cado para a indústria aeronáutica preta) de maior tamanho, sem
brasileira. O programa AMX era, modificação no comprimento do jato
naquele já longínquo início da década
de 1980, o maior desafio que a
Embraer – Empresa Brasileira de Ae-
ronáutica S.A. – teve até então em suas
Programa
mãos. Com pouco mais de dez anos des-
de a fundação e sem um único projeto
de jato militar em seu currículo (o mais
próximo disso era a experiência de fa-
bricar sob licença o treinador MB.326
italiano) a empresa brasileira entrou
para o consórcio binacional AMX para
participar da produção de um avança-
do jato de ataque. Ao lado de duas em-
presas italianas de longa experiência
da concepção à modernização
no ramo aeronáutico, o programa deu
origem a uma das melhores aeronaves
de ataque do início da década de 1990.
Porém, quando o AMX começou a ser
produzido, o mundo já não era mais o
mesmo e as necessidades militares dos
países haviam mudado.
Ainda assim, isso não evitou que a
aeronave demonstrasse as suas capaci-
dades em operações simuladas ou em
combates reais. Nos céus do Kosovo, da
Líbia e do Afeganistão, nos exercícios
sobre o deserto dos Estados Unidos, ou
cruzando o Brasil de ponta a ponta, o
AMX tem demonstrado o seu valor.
Exatamente por este motivo, tanto a
Força Aérea Italiana, onde o AMX é co-
nhecido como “Ghibli”, quanto a Força
Aérea Brasileira (FAB), que o denomi-
na A-1, resolveram dar nova vida a es-
ses jatos de ataque. Na Itália, foi entre-
gue em 2012 o último AMX do
programa de modernização italiano e,
em 2013, a FAB recebeu seus primei-

52 Forças de Defesa www.naval.com.br


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PODER AÉREO ESPECIAL
US DoD
Fiat G.91 nas missões CAS, além de vimento de certos sistemas. Mesmo as- de 112 jatos contratados em 1970 (nú-
uma nova aeronave para missões BAI. sim, era desejável uma parceria com mero mais tarde ampliado para 166).
outro país como forma de garantir um Não era um caça, mas além de servir
A solução italiana número maior de encomendas e redu- como último passo no treinamento de
e o nascimento do AMX zir os custos. A busca por parceiros no caçadores destinados a aviões de alto
A partir de 1973, a empresa estatal programa do novo caça tático italiano desempenho, tinha capacidade de ata-
italiana Aeritalia, uma das consorcia- não parecia fácil. Os países membros que ao solo e deveria compor a segunda
das do programa Panavia, passou a da OTAN não demonstraram interesse linha dos verdadeiros caças que esta-
avaliar alternativas para a substitui- no projeto ou já tinham suas próprias vam sendo adquiridos. Em 1972, che-
ção do G.91. Os estudos, designados alternativas. Era necessário buscar gava ao Brasil o primeiro de 16 inter-
3-1x, baseavam-se em modificações do um parceiro fora da aliança militar. ceptadores Dassault Mirage IIIEBR/
próprio G.91. Em junho de 1977, o Conversas com os suecos da Saab DBR, contratados dois anos antes. A
Estado-Maior da AMI divulgou os re- ocorreram entre 1977 e 1978. A Saab seguir, em 1973, a FAB selecionou o
quisitos básicos do que ficou conhecido tinha uma proposta denominada F-5E como seu caça de interdição e su-
como programa CBR.80 (Caccia Bom- B3LA, um projeto de avião biposto e perioridade aérea, num total de 36 uni-
QQ Um Panavia Tornado IDS da AMI (Aeronautica bardiere Ricognitore per gli anni 80 – monomotor para substituir não só o dades (acrescidas de seis da versão de
Militare Italiana). A Itália necessitava de uma caça-bombardeiro e de reconhecimen- jato de treinamento Saab-105 (Sk 60 treinamento então disponível, o F-5B).
aeronave mais simples para missões de ataque to dos anos 80). Basicamente, na Força Aérea da Suécia), mas tam- Ou seja, em cerca de quatro anos a
menos complexas tratava-se de um jato de pequeno por- bém para executar missões típicas de FAB firmou contratos para a aquisição
te que pudesse atuar em missões de um avião de ataque. de nada menos do que 170 jatos, sendo
reconhecimento, interdição aérea do A proposta do caça sueco tinha 58 supersônicos.
ros exemplares do avião totalmente lhor conforto da tripulação, que recebe- gado em missões táticas de BAI campo de batalha e apoio aéreo apro- muito em comum com o projeto italia- Por outro lado, aquela mesma épo-
modernizado e revitalizado para mais rá menos solavancos, impactando para (Battlefield Air Interdiction – interdi- ximado. Além disso, a aeronave deve- no. As semelhanças entre os projetos ca assistiu à degradação do equipa-
vinte anos de atividades, agora sob a melhorar o desempenho de suas tare- ção aérea do campo de batalha), volta- ria ter capacidade secundária para ficam evidentes quando se comparam mento de bombardeio e ataque da
denominação A-1M. Mas antes de dis- fas. Também em baixa altitude os mo- da a alvos terrestres logo atrás das li- missões antinavio, de guerra eletrôni- as concepções artísticas dos dois avi- FAB. Resolvida a “questão da caça”, o
corrermos sobre os programas de mo- tores queimam mais combustível, redu- nhas inimigas, embora este tipo de ca e de treinamento avançado. ões. No entanto, mudanças políticas na então Ministério da Aeronáutica pas-
dernização, é fundamental conhecer a zindo o alcance da aeronave, e esse missão não exigisse uma aeronave tão A partir dos requisitos, a Aeritalia Suécia no final de 1978 acabaram por sou a se preocupar em reformular e
concepção do programa e o seu desen- consumo era algo muito importante a complexa e de grande raio de ação, passou a trabalhar no modelo 3-2x/1x e cancelar o programa B3LA. Mesmo as- modernizar suas aeronaves de ataque,
volvimento. ser considerado. Por último, a mano- como era o Tornado. Missões CAS seus derivados. Na mesma época, a sim, a busca por um parceiro não esta- reconhecimento e interdição. Estas
brabilidade em baixa altitude é sinôni- (Close Air Support – apoio aéreo apro- empresa italiana Aeronautica Macchi va encerrada. eram funções executadas pelos B-26
Penetração a baixa altitude mo de sobrevivência, seja para desviar ximado) também não exigiam um jato (Aermacchi) desenvolvia seus próprios Invader (renomeados A-26 a partir de
Desde o final da década de 1950 os de acidentes geográficos ou para esca- com o seu desempenho. estudos para um jato de ataque leve, O programa A-X da FAB 1970) operados pelo 1º/5º Grupo de
estrategistas do Bloco Ocidental acre- par de defesas antiaéreas. As forças aéreas dos três países do conhecido como MB.340, quando foi A aviação de caça da Força Aérea Aviação (Natal/RN) e pelo 1º/10º Grupo
ditavam que a melhor forma das aero- programa Panavia Tornado possuíam convidada a formar uma parceria com Brasileira passou por uma verdadeira de Aviação (Cumbica/SP), sendo que,
naves de ataque da OTAN (Organiza- Missões AI, BAI, CAS filosofias semelhantes em relação às a Aeritalia no desenvolvimento do fu- revolução no início da década de 1970. neste último, também executava mis-
ção do Tratado do Atlântico Norte) e a chegada do Tornado missões AI, mas divergiam sobre as turo CBR.80. Em abril de 1978, as Em 1971 o primeiro AT-26 Xavante sões de reconhecimento. A substituição
penetrarem em território hostil era O melhor exemplo de projeto de jato BAI e CAS. Reino Unido e Itália defen- duas empresas assinaram um acordo (versão brasileira do treinador italiano desses bimotores a pistão, projetados
em voos a baixa altitude. Nessa linha para penetração a baixa altitude, con- diam a adoção de outro jato para estas de cooperação para o desenvolvimento Aermacchi MB.326G) montado pela na Segunda Guerra Mundial, já era
de pensamento, a tática contribuiria cebido ainda na década de 1960, era o duas missões. No entanto, desde a conjunto do projeto do futuro jato de Embraer fazia o seu voo inaugural, necessária devido à obsolescência e se
muito para compensar a superiorida- Tornado, do consórcio industrial euro- apresentação dos estudos da america- ataque italiano, baseado no 3-20/13 da abrindo o caminho para um lote inicial tornou urgente após a descoberta de
de numérica que as forças do Pacto de peu Panavia. Faziam parte do consór- na Northrop sobre o caça P-530 Cobra Aeritalia. A junção das iniciais de Aeri- Saab
Varsóvia (liderado pela União Soviéti- cio Reino Unido, Alemanha, Holanda e (posteriormente YF-17), os alemães talia e Macchi, somadas à letra “X” que
ca) em breve deveriam adquirir no Te- Itália. A Holanda desligou-se ainda em convenceram-se de que não havia a ne- simbolizava o projeto (ou aeronave ex-
atro Europeu. Voando baixo e rápido, 1969 e os outros três parceiros resolve- cessidade de uma aeronave específica perimental), passaram a designar o
os caças-bombardeiros poderiam pe- ram cancelar o modelo monoposto, de- para missões BAI, concluindo que na programa, que não mais seria chama-
netrar nas defesas inimigas e atacar signado Panavia 100. Restou então o Luftwaffe este papel seria assumido, do de CBR.80, e sim de AMX.
alvos táticos e estratégicos. biposto de ataque ao solo e penetração em parte, pelo próprio Tornado. Já o O projeto detalhado deveria estar
Porém, o “avião ideal” para este a baixa altitude, o Panavia 200, poste- Alpha Jet, para os alemães, poderia completo em 1979 e o protótipo voaria
perfil de missão ainda não existia e riormente batizado de Tornado. O pro- atuar como aeronave CAS. no final de 1982. Previa-se a aquisição
muitos países empregavam adapta- grama Panavia Tornado tomou corpo Para o Reino Unido, o jato franco- de 180 unidades, com a primeira en-
ções de caças interceptadores. Esta no início da década de 1970, sendo que -britânico SEPECAT Jaguar poderia trega em1985 e a última em 1991. O
opção se mostrou estar longe do acei- o primeiro protótipo ficou pronto no se- executar perfeitamente as missões desenvolvimento do programa como
tável, pois voar baixo e rápido exigia gundo semestre de 1973. BAI, ficando o Harrier encarregado um todo ocorreria num curto período
projetos específicos. O projeto do Tornado visava mis- das missões CAS. Embora a aborda- de tempo e deveria ter custos bastante
Primeiramente, a densidade do ar a sões de AI (Air Interdiction – interdi- gem conceitual de ataque tático da Itá- baixos. Desde o início, o conceito “de-
baixa altitude aumenta os esforços im- ção aérea em profundidade), tanto de lia fosse próxima da visão britânica, sign-to-cost basis” foi adotado e o custo
postos à estrutura do avião, para a qual caráter tático quanto estratégico, con- para os italianos o Jaguar não era o unitário estimado para cada aeronave
é necessário um projeto mais robusto. A tra alvos terrestres de elevado valor avião correto para BAI. Nem tão pouco seria de 2,1 milhões de libras esterli-
sensibilidade à turbulência próxima do situados bem dentro do território ini- era interesse da Força Aérea Italiana nas ou algo próximo de quatro milhões
solo requer um desenho de asa cuja ra- migo (“deep strike”), incluindo o que (Aeronautica Militare Italiana - AMI) de dólares (valores de 1978).
zão de aspecto (relação entre a corda muitos autores definem como CAO operar o Harrier. Os italianos necessi- Parte da tecnologia desenvolvida QQ Concepção artística do B3LA, jato de treinamento e ataque projetado pela
média e a envergadura) seja a mais bai- (Counter Air Operations). tavam de outro tipo de aeronave para para o Tornado seria empregada no Saab, que possuía semelhanças com o AMX. Uma parceria entre a Itália e a Suécia
xa possível. Isso contribui para um me- O jato também poderia ser empre- substituir no médio prazo os seus jatos novo jato, economizando no desenvol- foi cogitada, mas a Suécia desistiu do B3LA em 1978

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PODER AÉREO ESPECIAL
Força Aérea Brasileira
rachaduras nas longarinas das asas de
boa parte da frota, em 1972.
O problema foi parcialmente con-
tornado com a entrega de jatos AT-26
Xavante para determinadas unida-
des. Por exemplo, em 1976 o 1º/10º
GAv trocou o Invader pelo Xavante,
sendo transferido para a Base Aérea
de Santa Maria no final de 1978. Tam-
bém em Santa Maria, foi criado na-
quele mesmo ano o 3º/10º GAv, respon-
sável por missões de interdição, apoio
aéreo aproximado, ataque ao solo e EMB-330, diferindo deste pelo enfle- de oficiais da FAB e especialistas da ção do Brasil no programa AMX. As
ataque marítimo, compensando de chamento das asas e dos estabilizado- Embraer esteve no Reino Unido para conversas foram retomadas no início
certa forma a desativação temporária res horizontais. Porém, como o EMB- avaliar a possibilidade de empregar a de 1980, já com o propósito de se esta-
do 1º/5º GAV, que operou o Invader até 330, o AX-I também não atendeu às plataforma do jato British Aerospace belecer as bases para um acordo de
1973 (no final da década, foi reativado exigências da FAB. (BAe) Hawk como a aeronave A-X. Os cooperação industrial.
para realizar instrução em multimoto- A etapa seguinte foi buscar coope- britânicos concordaram em modificar o Em março de 1980, a notícia veio a
res, equipado com C-95 Bandeirante). ração com a proprietária do projeto ori- avião para atingir as exigências da público. As autoridades aeronáuticas
O Xavante não era mais do que um ginal do MB.326, a Aermacchi, o que FAB, mas não estavam dispostos a di- brasileiras anunciaram a decisão de
jato de treinamento avançado capaz gerou, em fevereiro de 1976, um proje- vidir o trabalho de projeto com os brasi- participar do programa AMX com a as-
QQ Os primeiros estudos da Embraer para atender ao programa A-X da FAB
de executar missões de ataque leve e to completamente diferente dos ante- leiros. No máximo, poderia haver uma sinatura da declaração de princípios
tinham como base o EMB-326 Xavante, primeiro jato militar montado em série no
Brasil sob licença da Aermacchi reconhecimento – tanto que, além de riores, denominado pela Embraer de negociação para produção licenciada. na qual se reconhecia a conveniência
esquadrões com longa tradição de trei- AX (às vezes referido como E/MB.340), recíproca das partes em realizarem o
namento como o 1º/4º GAV, deveria e detalhado no documento EP-AX/065, A formação do consórcio projeto em conjunto. Durante a Feira
inicialmente operar nos então deno- daquele mês. Praticamente as únicas com os italianos Aeroespacial de Farnborough (na In-
minados EMRA (Esquadrão Misto de coisas que se conservaram foram os ca- A Aermacchi, que apoiava a glaterra) daquele ano, as três empre-
Reconhecimento e Ataque). A FAB nhões DEFA de 30mm. O motor plane- Embraer nos estudos para o programa sas anunciaram a assinatura do acordo
precisava de uma aeronave realmente jado passou a ser um turbofan (propu- A-X da FAB e também colaborava com de cooperação industrial (documento
dedicada a missões de ataque e com nha-se o M-45H da Snecma/Rolls a Aeritalia no projeto AMX da Força provisório), sendo que os detalhes téc-
bom alcance e carga de bombas, como Royce) e as asas, enflechadas, passa- Aérea Italiana, observou as semelhan- nicos e econômicos, bem como a partici-
o Invader havia sido no passado, po- ram à parte superior da fuselagem. ças de ambos e sugeriu o início das pação de cada empresa no projeto, se-
rém adaptada às exigências do campo Com cauda em “T”, em vários aspectos conversações entre os dois países. riam estudados posteriormente.
de batalha do futuro que se projetava. o projeto lembrava o Saab 105. Após a reunião que o grupo de Mas nem tudo eram flores. O rela-
Assim surgiu o programa A-X, que O AX foi revisado em maio de 1977, brasileiros teve com os representan- cionamento com a estatal Aeritalia, ao
buscava um avião de ataque capaz de recebendo melhorias e detalhes adicio- tes da BAe em Londres, a equipe se- contrário da Aermacchi, foi tumultua-
executar missões de interdição do cam- nais. O resultado final foi a publicação guiu para Roma, onde começaram as do desde o início. Durante as negocia-
po de batalha, reconhecimento e ata- PT-AX/107, emitida em maio de 1977 e discussões sobre a possível participa- ções ficou clara a hostilidade dos italia-
que marítimo. A ideia era buscar uma submetida à apreciação do Ministério
aeronave que, em desempenho, ficasse da Aeronáutica. Tratava-se de um pro-
entre o F-5 e o Xavante. Nesse sentido, jeto bastante detalhado. Até mesmo a
o Estado-Maior da Aeronáutica consul- divisão de trabalho entre a Aermacchi
tou a Embraer sobre a possibilidade de e a Embraer estava definida: a empre-
desenvolver um modelo monoposto do sa brasileira responderia por 1/3 do
Xavante, com o propósito de elevar o programa e dos custos, sendo respon-
envelope de emprego operacional da sável pelas seções das asas, empena-
aeronave. Em resposta, a Embraer gem e testes de fadiga da estrutura,
apresentou o seu projeto EMB-330 em enquanto a Aermacchi responderia pe-
setembro de 1974. Além de se parecer los outros 2/3 e produziria a fuselagem,
muito com o Xavante, o EMB-330 tam- os sistemas de bordo, além de realizar
bém guardava semelhanças com o os testes estáticos e com armamentos.
MB.326K, o monoposto do MB.326 ori- Quatro protótipos seriam construídos
ginal, concebido antes mesmo que o (dois em cada país) a partir de 1978. O
Brasil assinasse o contrato de produ- A-X (denominação da FAB, com hífen)
ção local do biposto. No entanto, o pro- aguardava apenas a “luz verde” do Mi-
jeto não atendia aos requisitos básicos nistério da Aeronáutica, mas não ha-
do Ministério da Aeronáutica (MAer), via recursos para bancar o seu desen-
que buscava um avião mais sofisticado. volvimento, o que congelou o programa
A Embraer continuou a estudar o até o final de 1979, quando o brigadeiro
assunto e a ideia evoluiu para o AX-I Délio Jardim de Mattos assumiu o Mi-
(denominação interna), surgido em nistério da Aeronáutica.
agosto de 1975. O avião ainda guarda- Antes que as conversações fossem QQ Divisão de trabalho das três empresas

va muitas das características do retomadas com os italianos, um grupo do programa AMX

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PODER AÉREO ESPECIAL
Coleção G. Poggio plano horizontal. Portanto, definiu-se O AMX em detalhes nariz se fecha novamente depois que a
que a melhor faixa seria aquela do voo A estrutura da fuselagem foi quase perna é estendida, evitando a entrada
subsônico de alta velocidade. toda projetada em alumínio aeronáu- de objetos estranhos levantados pelo
Quanto ao alcance da aeronave, os tico, com pequenas partes em aço. O pneu. O trem de pouso principal aloja-
requisitos iniciais da Aeronautica Mili- emprego de materiais compostos foi -se na parte inferior da fuselagem e
tare Italiana falavam em raio de ação feito onde havia possibilidades, de for- recolhe para a frente.
de 335km com uma carga externa de ma a reduzir ao máximo o peso da ae- O avião foi concebido para utilizar
1.360kg em regime “lo-lo-lo” (voo baixo ronave e conferir durabilidade e resis- pistas semipreparadas de compri-
durante toda a missão). Para os italia- tência. Os painéis de acesso, parte da mento relativamente curto e com
nos, estes valores estavam de acordo estrutura da cauda, spoilers, ailerons pouca infraestrutura. Para maior
com o seu cenário, europeu. Em função e duto de ar do motor foram feitos com controle em baixas velocidades (fun-
das “distâncias continentais” do Brasil, RPF (Reinforced Plactic Fibre – fibra damental para o pouso curto), as asas
no cenário de emprego da América do plástica reforçada). possuem slats em todo o bordo de ata-
Sul, a FAB necessitava de um raio de As tomadas de ar do motor foram que e os flaps são grandes e de fenda
ação maior, num perfil de missão dife- posicionadas na parte mais alta da fu- dupla. As asas também foram posicio-
renciado, do tipo “hi-lo-hi” (perna de selagem, na raiz das asas, reduzindo a nadas no alto da fuselagem, para
ida e volta em altitude de cruzeiro e chance de FOD (Foreign Object Dama- maior distância em relação ao solo no
penetração e ataque a baixa altitude), ge – dano por objeto externo) por inges- táxi, pouso e decolagem, o que permi-
permitindo economia de combustível tão. O posicionamento otimizava voos te cargas externas de maior volume
na maior parte do voo. Os requisitos de alta velocidade subsônica. nas estações alares.
iniciais falavam de raio operacional de O trem de pouso é do tipo triciclo,
aproximadamente 900km, com tan- com uma roda em cada perna. O trem A escolha de um propulsor confiável
ques de combustível externos. do nariz recolhe para trás e pode ser Inicialmente, os estudos para a de-
Não bastava, porém, somente voar direcionado (uma característica im- finição de um propulsor a jato abran-
rápido e muito baixo dentro de territó- portante em aeródromos desprovidos giam vários candidatos. Motores nor-
rio hostil. Era necessário garantir a de apoio de solo). A porta do trem do te-americanos foram descartados, pois
QQ Concepção artística do sobrevivência da aeronave, e este era
AMX feita pelo artista plástico um dos itens principais das especifica-
José Maria Ramis Melquiz no ções. Buscou-se então dar redundân-
início da década de 1980
cia para os sistemas principais, o que
é exemplificado pelo sistema de con-
trole de voo. Este associa atuação me-
cânica e assistida por computador
(“fly-by-wire”), uma novidade na épo-
ca. O rolamento (movimento ao longo
nos da Aeritalia, que era gerenciadora
do programa, com relação aos brasilei-
(“cabides de armas”) e tanques exter-
nos de combustível.
to das asas. Por esse motivo o Panavia
Tornado, que possui um perfil de mis-
do eixo longitudinal) da aeronave é A logomarca e a COPAC
controlado pelos spoilers (atuação elé-

O
ros da Embraer. No final, o documento Em 1983 o projeto estava orçado são semelhante ao do AMX, foi projeta- trica) e ailerons (atuação hidráulica e consórcio ítalo-brasileiro
provisório não era favorável ao Brasil, em 600 milhões de dólares. Apenas do com asas de geometria variável, manual). Já a arfagem (movimento ao procurava por uma logo-
e muito ainda deveria ser feito para para efeito comparativo, a Embraer pois estas se adaptam ao melhor de- longo do eixo transversal), é controla- marca que representasse
que esse quadro mudasse. gastou no desenvolvimento do sempenho em qualquer regime de voo. da pelos estabilizadores horizontais não somente o programa das três
O acordo governamental entre os EMB-120 Brasília, sozinha, 200 mi- As asas de geometria variável fo- (elétricos) e seus pequenos profundo- empresas, mas também a união de
dois países foi finalmente assinado em lhões de dólares. Por diversas razões, ram até cogitadas no início do progra- res (hidráulicos e manuais). Geral- esforços promovida pelos dois pa-
27 de março de1981, praticamente um os custos do programa AMX foram su- ma AMX (antes da Embraer entrar no mente, ambos os sistemas atuam de íses. Após alguns estudos iniciais,
ano após a decisão brasileira de parti- bindo e, por volta de 1987, o Ministé- consórcio), mas deixadas de lado por- forma conjunta, mas também podem e antes que o primeiro protótipo
cipar do programa. De um total de 266 rio da Aeronáutica já havia desembol- que não combinavam com a proposta atuar de forma isolada dentro de de- voasse, foi definido um desenho.
exemplares a serem construídos, a sado perto de US$ 1,8 bilhão. de um avião de baixo peso, custo redu- terminados envelopes de voo, redun- O arranjo geral é composto por
Itália receberia 187 caças e o Brasil zido e pouca complexidade. Assim, dância que traz maior segurança. Até três flechas de mesmo tamanho e
outros 79. As companhias italianas se- Definindo o projeto do AMX buscou-se um projeto de asa com ra- mesmo a perda de ambos os sistemas que simbolizam as três empresas
riam responsáveis por 70,3% (sendo binacional zão de aspecto que melhor atendesse hidráulicos permite ao avião a capaci- do consórcio. Já as quatro cores
46,7% para a Aeritalia e 23,6% para a O AMX nasceu com uma função es- ao regime de voo subsônico de alta ve- dade “flight home” (retorno à base) adotadas remetem à união dos
Aermacchi) do programa, ficando a pecífica: executar ataque à superfície locidade em baixa altitude. pelo uso do controle manual. O siste- dois países, pois fazem parte das
Embraer com 29,7%, valor este pro- com penetração a baixa altitude. Por Voar rápido era importante, mas ma fly-by-wire possui dois canais se- bandeiras da Itália e do Brasil. ca do programa AMX. Mesmo
porcional ao percentual de encomen- esse motivo, a aeronave foi “pensada” não em regime supersônico. Para este, parados (redundância, mais uma vez) Com a formação do consórcio após o encerramento do consór-
das da FAB. Haveria três linhas de desde o começo para executar esta ta- seria necessário o uso de pós-combus- e, quando os spoilers são acionados binacional, o Ministério da Aero- cio, a Aeronáutica manteve a
montagem (uma em casa empresa), refa da melhor forma possível e por um tão, que por sua vez aumentava o con- como freios aerodinâmicos, o fly-by- náutica criou em 1981 a Comissão COPAC como órgão gestor de
mas os componentes seriam de fabri- custo relativamente baixo. Dentre as sumo de combustível, reduzindo o al- -wire atua automaticamente nos esta- Coordenadora do Programa Aero- programas de aquisição de aero-
cação exclusiva de cada uma delas (as- várias missões de ataque ao solo, a in- cance. Existiam outras desvantagens bilizadores horizontais. nave de Combate (COPAC) com o naves. Atualmente, dentre as di-
sim como o gerenciamento dos subcon- terdição aérea do campo de batalha por em voar supersônico em altitudes bai- Outros itens como o alerta radar propósito de estabelecer as dire- versas atribuições da COPAC,
tratados). Coube à Embraer projetar e penetração a baixa altitude, em alta xas, relacionadas ao raio de curva (que (RWR – Radar Warning Reciever) e trizes para o gerenciamento de está o gerenciamento do progra-
fabricar asas, tomadas de ar do motor, velocidade subsônica, exige caracterís- aumenta conforme a velocidade), pois dispersores de chaff e flare aumenta- tão complexo projeto. O símbolo ma de modernização do próprio
estabilizadores horizontais (somente ticas singulares. Um dos principais a penetração a baixa altitude sobre o riam a capacidade de sobrevivência do da COPAC incorporou a logomar- AMX / A-1.
para os protótipos), pilones subalares itens neste aspecto é o desenvolvimen- terreno exige constantes manobras no avião em território hostil.

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PODER AÉREO ESPECIAL
Coleção Mário Vinagre temia-se que os Estados Unidos pu- QQ Configuração inicial Reprodução
dessem embargar a venda para deter- do painel do AMX itaiano
minados clientes externos, indepen-
dentemente do fato dos EUA ser país
amigo da Itália e do Brasil. A Itália
teve uma experiência deste tipo, quan-
do não pôde vender aviões de trans-
porte G222 (que utilizavam motores
norte-americanos GE T-64) para a Lí-
bia, país com o qual os Estados Unidos
tinham restrições. O mais cotado para
o AMX era o europeu RB.199, utiliza-
do pelo Tornado e produzido com par-
ticipação da Itália. Apesar de ser mo-
derno, carecia de empuxo sem
pós-combustor e sua confiabilidade
ainda não tinha sido comprovada.
O Spey da Rolls Royce era um pouco
maior e mais pesado, porém, tinha po-
tência adequada sem uso de pós-com-
bustão, baixo custo, confiabilidade com-
provada e consumo específico próximo
ao do RB.199. Sua assinatura térmica
era pequena, embora produzisse assi-
natura visual (fumaça) tanto quanto
outros motores de sua época. O Spey foi
selecionado no final de 1978, na época
em que a associação com os suecos foi
descartada. Com a definição do Spey, a
ser produzido sob licença (ver mais à
frente a divisão da produção) na Itália,
o AMX cresceu um pouco em tamanho e
peso. Os estudos de integração avião/
motor ficaram prontos em junho de
1980, quando o AMX já assumia seu de-
senho final. A produção na Itália bene-
ficiaria especialmente o setor de moto-
res aeronáuticos da Alfa Romeo, uma
vez que a produção do J79 para o F-104
Starfighter estava se encerrando e a
participação no programa do RB.199 início, a filosofia do projeto visava faci- grado digitalmente. Na época (1981) o
para o Tornado era restrita a 20%. lidade e rapidez para substituição de padrão MIL-1553B ainda era novida-
Visando a operação em aeródro- aviônicos e sistemas de bordo, do tipo de (foi definido em 1973), equipando
mos afastados e de pouca estrutura, o LRU (Line Replaceable Unit), permi- somente caças americanos como F-16,
AMX foi desenhado para receber uma tindo resolver panes em minutos, au- F-20 e F-18. Nem mesmo o Tornado
unidade de potência auxiliar (APU) mentando assim a disponibilidade da tinha algo parecido. A Aeritalia desen-
para dar partida no motor sem recur- aeronave. Era exatamente nos aviôni- volveu a arquitetura do sistema,
sos extras em solo. A Fiat Aviazione já cos (além do canhão, também discuti- acompanhada de perto pela Embraer.
havia desenvolvido a APU Agro, desti- do mais à frente) que residia a princi- Com esse barramento de comuni-
nada ao programa ACA (Agile Combat pal diferença entre o modelo básico cação, as informações dos diversos avi-
Aircraft). Foi aceita pelo consórcio a italiano e o brasileiro. Enquanto o ônicos são transmitidas para dois
proposta de uma variante dessa APU, AMX da Aeronautica Militare possuía computadores responsáveis pelo siste-
a Fiat Agro FA 150, para instalação diversos equipamentos padrão OTAN, ma de navegação, que conta com um
na parte inferior da fuselagem, atrás a FAB selecionou equipamentos de equipamento inercial e um de ataque.
do trem de pouso principal direito. navegação típicos da aviação civil bra- Todas estas informações podem ser
sileira, como ILS e ADF. disponibilizadas para o piloto no HUD
QQ Desenho em corte e Aviônicos e espaço para crescimento A integração dos aviônicos da cabi- (Head-Up Display – visor ao nível dos
três vistas do AMX na Para um avião do seu porte, o AMX ne foi projetada desde o início para ser olhos) e no HHD (Head-Down Display
versão brasileira, foi concebido para oferecer considerá- digital, utilizando um barramento de – tela no painel), e o auxílio do compu-
equipada com canhões vel espaço interno para aviônicos, o comunicação baseado no MIL-1553B tador permite ao piloto executar ata-
DEFA de 30mm
que foi muito útil durante os futuros da USAF (Força Aérea dos EUA). O ques precisos à distância, bastando
programas de modernização (discuti- AMX foi um dos primeiros jatos mili- colocar o alvo na mira projetada pelo
dos mais adiante). Também desde o tares do mundo a ter um sistema inte- HUD, utilizando os modos de ataque

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PODER AÉREO
Reprodução

QQ Configurações Coleção Mário Vinagre


do armamento
orgânico das
versões brasileira
(esquerda), com
dois canhões DEFA
de 30mm, e
italiana (direita),
com um canhão
Vulcan de 20mm

CCIP/CCRP (Continously Calculated o computador de bordo, que calcula os AMX podia executar sua própria defesa
Impact Point/Continously Calculated parâmetros de lançamento. A versão da com o canhão (ou canhões, conforme a
Release Point – ponto de impacto con- FAB deveria receber um radar de con- versão) e/ou com um par de mísseis de
tinuamente calculado/ponto de lança- cepção nacional, porém este só foi viabi- curto alcance guiados por infraverme-
mento continuamente calculado). lizado na atual modernização (e por lho. Os mísseis também poderiam ser
Para atuar no cenário europeu, o isso é um assunto tratado à frente). empregados em ataques de oportunida-
AMX teria que sobreviver num am- de a outras aeronaves em voo, como avi-
biente dominado pela guerra eletrôni- Armamento variado ões de transporte e helicópteros.
ca. Por esse motivo e, mais uma vez, O projeto inicial do AMX previa, Os mísseis mais cotados eram da fa-
para garantir a sobrevivência da aero- como armamento interno, somente um mília AIM-9 Sidewinder. A FAB utili-
nave, ela foi equipada com uma suíte canhão tipo gatling GE M61A1 de zava o modelo “B”, mais antigo, e a Itá-
de ECM (Electronic Counter Measures 20mm com 350 projeteis. Havia restri- lia possuía o “H”. Como o consórcio
– contramedidas eletrônicas) bastante ções para a venda dessa arma para paí- dominava o código-fonte, qualquer ou-
moderna para a época. Foram escolhi- ses não pertencentes à OTAN ou alia- tro míssil compatível poderia ser inte- QQ Primeiro protótipo italiano do
dos “não preferenciais”, como era o caso AMX, MM X594, fotografado no
dos dois sistemas desenvolvidos pela grado no futuro, o que se planejava fa-
solo nas instalações da Aeritalia, em
Elettronica S.p.A. da Itália, o interferi- do Brasil. Mas é importante ressaltar zer, no Brasil, com o MAA-1 Piranha. Turim, antes de seu primeiro voo
dor (“jammer”) ELT/553 e o receptor de que, desde a época do projeto EMB-330, Mesmo sendo um jato de ataque de
alerta-radar ELT/156(X). a FAB havia optado por canhões fran- dimensões modestas, a capacidade de
A Itália adotou o radar FIAR ceses da chamada família DEFA 550 (o transportar cargas externas é bastante
Pointer, uma modificação do equipa- modelo 552 equipava os caças Mirage respeitável, com um máximo de (embora os jatos AMX do 13º Gruppo bém integrou bombas guiadas a laser qualificação do sistema de armas se-
mento israelense Elta EL/M-2001B IIIE da FAB). O DEFA 554, adotado 3.800kg distribuídos por cinco cabides treinassem a missão sem o emprego de do tipo GBU (inicialmente apontadas riam conduzidos nas instalações da
construído sob licença pela FIAR italia- pelo AMX brasileiro, emprega o mesmo (dois sob cada asa e um suporte central armas), mas a FAB sempre indicou por outros caças e posteriormente por Aeritalia na Base Aérea de Decimo-
na. Trata-se de um radar de telemetria cartucho de modelos anteriores sob a fuselagem, além dos trilhos nas que o ataque a alvos no mar era uma casulos Thales CLPD, integrados du- mannu (ilha da Sardenha, no Medi-
de banda I/J bastante compacto e leve (30x113B, cuja velocidade de boca é de pontas das asas). Os suportes internos das tarefas dos seus AMX, ainda que rante a modernização italiana). terrâneo) e a medição dos parâmetros
(50kg) que fornece apenas o alcance do 700m/s), mas incorporou melhorias no das asas foram projetados para um esses mísseis não fossem adquiridos. da trajetória dos armamentos ocorre-
alvo, sendo que, no modo ar-ar, a detec- sistema de carregamento das câmaras, máximo de 907kg e os externos para Em função do barramento digital e O programa de ensaios ria no campo de testes Salto di Quirra.
ção é visual. O sistema adquire e ras- elevando a cadência de 1.300tpm (tiros até 454kg. Na estação da fuselagem, do domínio do código-fonte pelo con- e o primeiro protótipo O programa de ensaios era estimado
treia automaticamente quaisquer alvos por minuto) para 1.800tpm, com opção pode-se adaptar um cabide duplo (lado sórcio, qualquer armamento inteli- Todo o programa de ensaios de voo em 1.400 horas de voo, e esperava-se
que aparecerem no HUD, cabendo ao para uma cadência de 1.100tpm (mais a lado) capaz de transportar até 907kg. gente padrão OTAN pode ser integra- foi desenvolvido e coordenado por uma sua conclusão até o final de 1987.
piloto selecionar os de interesse. O indicada para alvos terrestres). O AMX italiano chegou a fazer tes- do ao AMX. A Força Aérea Italiana equipe única, que trabalharia com seis Em 12 de fevereiro de 1984, o pri-
modo ar-solo é bastante parecido, com Como o avião era projetado para tes com mísseis antinavio Exocet fran- optou bem cedo pela integração de protótipos e três locais de testes (Ca- meiro protótipo do AMX (A01/MM
aquisição automática e informações ataque, deu-se pouca importância ao ceses. Porém, na Itália, missões anti- bombas guiadas com kits israelenses selle e Venegono, na Itália, e São José X594) deixou as instalações da Aerita-
apresentadas no HUD repassadas para armamento ar-ar. Mesmo assim, o navio eram atribuições do Tornado da Elbit Opher. Posteriormente, tam- dos Campos / SP, no Brasil). Testes de lia, em Turim. O voo inaugural estava

62 Forças de Defesa www.aereo.jor.br www.aereo.jor.br Forças de Defesa 63


ESPECIAL
Reprodução
Coleção Mário Vinagre
voar, sendo utilizado para o desenvol-
vimento de aviônicos e testes com ar-
mamentos.

Os protótipos brasileiros
A montagem do primeiro protótipo
brasileiro começou em 1984, logo após
o envio de três conjuntos de asas e to-
madas de ar fabricadas pela Embraer
para os protótipos italianos. Em no-
vembro daquele ano, a Embraer rece-
beu a fuselagem da Itália e, no início de
1985, preparava-se para instalar os
primeiros sistemas de bordo e integrar
as asas. O tempo era curto, pois a em-
QQ Protótipo A11 produzido pela Aeritalia. Este avião substituiu o primeiro
presa pretendia apresentar o “seu”
exemplar perdido no programa de ensaios
AMX na semana da asa daquele ano. O
motor Spey foi integrado à fuselagem
em agosto e, depois disso, foram feitos
ajustes eletrônicos finais no protótipo.
Designado YA-1 (na FAB o indicati-
vo “X” é usado para aeronave de ensaio
QQ Primeiro protótipo brasileiro, YA-1, matrícula e o indicativo “Y” para aeronave protóti-
FAB 4200, no hangar de pintura da Embraer po) e ostentando a matrícula FAB 4200,
o primeiro protótipo brasileiro do AMX
e quarto do consórcio fez o seu voo inau-
gural às 15h47 de 16 de outubro de
programado para 2 de maio, mas foi dores estrangeiros no aeródromo de Ca- taxa de RPM, o que levou a Rolls Royce 1985. O voo não apresentou problemas
mudado para o dia 15, que amanheceu selle e, após realizar o primeiro toque a executar algumas modificações no e o avião foi preparado para a sua apre- como mencionado) italianos. Boa par- segundo protótipo brasileiro (FAB
nublado e chuvoso, com nuvens carre- na pista e acelerar para ganhar altitu- Spey. Como o segundo protótipo do sentação oficial, programada para seis te dos ensaios brasileiros diziam res- 4201) ficou pronto, embora só tenha vo-
gadas e teto baixo. Isso não impediu de, o motor perdeu potência muito pró- AMX só voaria no final do ano, o con- dias depois. E assim, no dia 22 de outu- peito às diferenças que o modelo na- ado em 16 de dezembro.
que Manlio Quarantelli, piloto-chefe ximo do solo. O piloto ainda tentou exe- sórcio não pôde expor o jato na Feira bro de 1985, o primeiro protótipo brasi- cional possuía em relação ao italiano
de testes da Aeritalia, realizasse o pri- cutar um pouso forçado numa área Aeroespacial de Farnborough de 1984, leiro do AMX foi oficialmente apresen- – dentre elas, os sistemas de radiona- Programa Industrial Complementar:
meiro voo de ensaios do AMX. Duran- rural próxima ao aeródromo, mas aca- ficando em desvantagem em relação ao tado às autoridades, delegações vegação, de reconhecimento fotográfi- desenvolvimento, nacionalização e
te 48 minutos foram executadas ma- bou ejetando-se no solo e seu assento Hawk monoposto, que estava lá. estrangeiras e imprensa de todo o mun- co e os armamentos. transferência de tecnologia
nobras de verificação dos parâmetros Martin-Baker bateu na copa das árvo- Apesar do acidente, o programa se- do. O presidente da República, José Como vimos, a suíte de radionave- Para o apoio do projeto AMX no
básicos de comportamento em baixas res. Quarantelli não resistiu aos feri- guiu em frente. O segundo protótipo Sarney, afirmou em seu discurso que gação escolhida para o AMX nacional Brasil, o Ministério da Aeronáutica e a
velocidades, capacidade de manobra a mentos, falecendo dias depois. A aero- deixou o hangar da Aermacchi em 5 de aquele era “um momento histórico para baseava-se em equipamentos comu- Embraer lançaram em 1983 o PIC –
baixa altitude e calibração dos instru- nave incendiou-se, ficando destruída. agosto de 1984 e rolou pela pista pela o Brasil”, pois demonstrava “a nossa ca- mente empregados no Brasil como Programa Industrial Complementar,
mentos de bordo. Poucos meses após o fato, o então primeira vez no dia 27. Pilotado por pacidade de dominar tecnologias de ADF, VOR/ILS e DME. Já o modelo que buscava capacitar certo número de
No dia 1º de junho daquele ano, presidente da Embraer, Ozires Silva, Egídio Nappi, piloto-chefe da Aeritalia, ponta, especialmente (um avião) tão italiano utilizava TACAN (Tactical Air empresas nacionais na fabricação de
aquele protótipo realizou seu quinto e afirmou em entrevista que uma falha o A02/MM X595 decolou pela primeira sofisticado como o AMX”. Navegation System). Quanto ao arma- peças e componentes para o jato. O Mi-
último voo, também com Quarantelli num dos componentes do motor foi a vez às 12h28 (hora italiana) de 19 de Quando o primeiro protótipo do mento, entre maio e junho de 1986 o nistério da Aeronáutica investiu 50 mi-
no comando. O AMX decolou por volta causa principal da queda da aeronave. novembro, realizando uma série de AMX brasileiro decolou, muitos dos primeiro protótipo brasileiro realizou lhões de dólares (valores da época) no
das 10h da manhã, mas voou por ape- A pane foi causada, porém, pela redu- manobras sobre o aeródromo por cerca ensaios em voo da aeronave já haviam ensaios com canhões e bombas de que- programa, visando a nacionalização de
nas um minuto e meio. O avião fazia ção de admissão de ar (causada pelo de 70 minutos. No ano seguinte foi a sido conduzidos pelos quatro protóti- da livre na ilha de Alcatrazes, litoral do um terço do valor da aeronave. Essa
algumas demonstrações para observa- ângulo de ataque) associada à baixa vez do terceiro protótipo (MM X596) pos (um deles perdido em acidente, estado de São Paulo. Ainda em junho, o capacitação viria com a transferência

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PODER AÉREO
Coleção Mário Vinagre

QQ O engenheiro
Nigel (esquerda),
representante da
Rolls Royce para
o Programa
AMX, explica
detalhes do
QQ A Embraer produziu e testou três motor Spey
modelos do AMX na escala 1:6 no Mk 807 a
túnel de vento do CTA. Na imagem, Mário Vinagre,
um desses modelos sendo submetido assessor de QQTécnico da Embraer
a ensaio de escoamento aerodinâmico imprensa da prepara motor Spey
com tufos de lã Embraer Mk 807 para instalação no
primeiro protótipo brasileiro
do AMX

QQ O presidente da República, José Sarney,


QQ Engenheiros e técnicos da batiza o AMX sob os olhares do governador do
QQ Montagem do primeiro Embraer preparam o YA-1 4200
protótipo brasileiro do Estado de São Paulo, Franco Montoro, do
para um voo de ensaio representante do Governo Italiano, deputado
AMX, em uma área
separada por tapumes, no Bartolo Ciccardini, e do ministro da
hangar F-60 da Embraer Aeronáutica, Octávio Júlio Moreira Lima

QQ Entrega à FAB do primeiro AMX


brasileiro de série, A-1 5500, QQ Linha de montagem do AMX
durante cerimônia realizada na na Embraer
Base Aérea de Santa Cruz, RJ

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Coleção Mário Vinagre
ESPECIAL
QQ Piloto de provas da Embraer

Coleção Mário Vinagre


Gilberto Schittini conduz o
primeiro protótipo brasileiro do
AMX (YA-1 4200) sobre o litoral
norte de São Paulo

QQ “Roll-out” do AMX nas instalações da Embraer em São José dos Campos, SP. Compareceram autoridades civis e militares
do Brasil e da Itália, além de jornalistas da imprensa nacional e internacional

de tecnologia dos fornecedores estran- ção de 417 componentes do Spey, in- senvolveu os pneus da versão brasileira
geiros para as indústrias nacionais. As cluindo o sistema de injeção de e também participaram do programa
empresas selecionadas teriam acompa- combustível, tubos especiais para o AMX a Engetrônica (pertencente ao Reprodução
nhamento técnico da Embraer (geren- sistema de combustível, carcaça inter- grupo Engesa) e a ABC Sistemas. ram oito voos de teste, sete deles com
ciadora do programa no Brasil) para mediária do compressor, carcaça da A Pirelli fabricou os tanques de o KC-130 (um deles noturno) e um
assegurar entregas nos prazos estipu- caixa de engrenagens e sistema anti- combustível internos do AMX brasilei- com o KC-137. Ao todo, foram feitos 90
lados e dentro das especificações. gelo. As instalações da MRR em São ro, com tecnologia fornecida pela sua acoplamentos, embora apenas oito
O licenciamento para o consórcio Bernardo do Campo (estado de São matriz italiana. Por falar nisso, há com real transferência de combustí-
fabricar o motor Spey envolveu 80% Paulo) foram ampliadas e um novo uma diferença entre a capacidade in- vel. Os testes foram importantes para
de seus componentes, com os restan- prédio com 1.800m2 de área foi cons- terna dos tanques de fuselagem das resolver pequenas interferências que
tes 20% fornecidos diretamente pela truído somente para dar respaldo ao aeronaves brasileiras e das italianas apareceram junto ao tubo de pitot.
Rolls Royce da Inglaterra. Do montan- programa AMX e seu motor Spey. A (os tanques internos das asas são O reabastecimento deveria ser
te licenciado, coube ao Brasil a produ- expectativa era de contratar até uma iguais), devido às necessidades dife- completado em não mais do que qua-
ção de 30% dos componentes do motor centena de novos empregados. rentes de raio de combate explicadas tro minutos, com a transferência de
para todas as aeronaves do programa. Quanto aos equipamentos e compo- na página 59. Com isso, a capacidade quatro mil quilos de combustível. As
Isto representava a produção de mais nentes eletrônicos do AMX, boa parte interna total de combustível (soma dos altitudes variaram de 4.000 a 30.000
de 900 itens. Os demais itens, que re- ficou a cargo da empresa gaúcha Aeroe- tanques de fuselagem com os das asas) pés, em velocidades variáveis, com o
presentavam a maior parte, seriam letrônica Indústria de Componentes do monoposto brasileiro é de 3.510 li- AMX aproximando-se a uma velocida-
produzidos na Itália pela Fiat Alfa- Aviônicos Ltda. Criada em 1981 pelo tros, comparados aos 3.275 litros do de 3 a 5 nós mais rápida do que a aero-
-Romeo, e cada país teria sua própria grupo Aeromot, a Aeroeletrônica coope- italiano, enquanto que no biposto da nave abastecedora até a sonda aco- QQ Ensaio de reabastecimento em voo com o segundo protótipo brasileiro do AMX
linha de montagem final. rava com a Embraer em projetos como FAB esse valor é de 2.654 litros, frente plar-se na válvula da cesta. Para o Coleção Mário Vinagre
A produção dos componentes bra- o EMB-312 Tucano e o EMB-120 Brasí- aos 2.624 litros do biposto da AMI. REVO noturno, havia a necessidade
sileiros coube à Celma (Companhia lia. A partir de 1981, o grupo investiu de iluminação frontal até uma distân-
Eletro-Mecânica). Sediada em Petró- 12 milhões de dólares (valores de 1983) Programa de reabastecimento cia de 50 pés, em ângulo de 20º.
polis (RJ), a empresa nasceu nas mãos na ampliação e na capacitação para em voo
da Panair e passou para o Ministério atender à Embraer, especialmente o Mesmo com o alcance considerável O começo da produção, os lotes,
da Aeronáutica em 1964. Quando re- projeto AMX. A Aeroeletrônica produ- da aeronave, a FAB sempre desejou os cortes e o biposto
cebeu a responsabilidade de nacionali- ziu e desenvolveu quatro componentes que o AMX tivesse uma sonda de rea- Em 1987, Brasil e Itália fixaram
zar componentes do Spey, seus dois próprios e nacionalizou outros nove. bastecimento em voo (REVO). Tendo oficialmente os critérios para a produ-
acionistas principais eram o Ministé- Entre outras empresas instaladas como base a sonda do caça F-5, que in- ção seriada do AMX, num memorando
rio da Aeronáutica, com 87% do capi- no país e que produziram (com transfe- troduziu essa capacidade na FAB, a assinado pelos chefes do Estado-Maior
tal e o grupo norte-americano United rência de tecnologia) ou desenvolveram Embraer passou a projetar e desenvol- da Aeronáutica dos dois países, major-
Technologies, com 12%. componentes para o AMX estava a Ele- ver esse equipamento para o AMX, que -brigadeiro do ar Lélio Viana Lobo e
A MRR – Motores Rolls Royce – bra Eletrônica S.A., responsável pelos foi instalado no segundo protótipo. brigadeiro Luciano Meloni. Todos os 79
subsidiária da Rolls Royce no Brasil e ADC (air data computer – computador O sistema foi testado em voo em caças da FAB seriam montados na
instalada no país desde 1958, foi sub- de dados de voo) e unidades de controle 1989 com o auxílio da FAB, que forne- Embraer em São José dos Campos. Já
contratada pela Celma para a fabrica- do flap/slat. A Goodyear do Brasil de- ceu as aeronaves reabastecedoras. Fo- na Itália, a Aeritalia montaria 125 QQ Primeiro voo do primeiro AMX biposto fabricado pela Embraer (A-1B, FAB 5650)

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PODER AÉREO ESPECIAL
somente 192 foram efetivamente pro-
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duzidas, 136 para a Itália e 56 para o
Brasil, fora os protótipos. Consideran- QQ O piloto de Provas chefe
do o tempo em que a linha de produção da Embraer, Luiz Fernando
ficou aberta (entre o início da monta- Cabral, tendo ao fundo o
gem do primeiro exemplar e a conclu- primeiro protótipo brasileiro
são do último AMX), a Embraer produ- do AMX (YA-1, FAB 4200)
ziu uma média ligeiramente superior a
quatro aeronaves por ano para a FAB.
Ainda antes da oficialização dos nú-
meros iniciais de produção, o consórcio
já vinha estudando o biposto do AMX.
Inicialmente, acreditava-se que a
adaptação dos novos pilotos poderia ser
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feita somente com simuladores. Com o


tempo, as duas forças aéreas entende-
ram que o risco era demasiado e decidi-
QQ O primeiro AMX de série destinado à FAB (A-1 FAB 5500) em ram projetar a versão de conversão
voo de produção antes da entrega ao cliente. A aeronave foi
operacional, de duplo comando.
entregue sem a sonda de reabastecimento, colocada
posteriormente A Embraer divulgou estes estudos
em 1986 e o desenvolvimento ocorreu
no ano seguinte, sendo que a Força Aé-
exemplares em Turim, deixando as ou- rea Italiana encomendaria 51 unida-
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tras 62 unidades para a Aermacchi des e a FAB outros 15 exemplares.
montar em Varese. O custo total de to- Para evitar problemas orçamentários,
das estas aeronaves foi avaliado em 4,5 o número de bipostos da FAB faria par-
bilhões de dólares (valores de 1987). te da encomenda total de 79 exempla-
Todas os 266 exemplares de produ- res (antes dos cortes – veja números
ção seriam fabricados em lotes e cada finais dos bipostos no quadro da página
um desses lotes dependia de autoriza- 74). O primeiro biposto foi apresentado
ção prévia dos governos. O primeiro na Itália, nas instalações da Aeritalia
lote era pequeno, composto por apenas em Caselle, em 25 de janeiro de 1990.
30 aeronaves e poderia até mesmo ser Três aeronaves para ensaios foram
chamado de pré-série. Pouco tempo construídas inicialmente, duas na Itá-
depois, em 1988, o segundo lote foi au- lia e uma no Brasil (todas incorporadas
torizado, trazendo alterações em al- pelas respectivas forças aéreas). O bi-
guns dos componentes dos aviões em posto manteve as dimensões básicas do
Um nome para o avião relação ao predecessor. monoposto, mas a cabina ampliada au-
No entanto, a lamentável situação mentou em 331kg o peso vazio opera-

Q
uando o primeiro protótipo fez seu voo inaugural na Itália, em 15
macroeconômica do Brasil naquela cional. O espaço para o segundo assento
de maio de 1984, funcionários do departamento de relações pú-
época foi determinante para que as en- forçou a retirada da seção frontal do O homem certo na hora certa
blicas do consórcio binacional passaram a chamá-lo de “Centau-

P
comendas não se realizassem como tanque de combustível da fuselagem. iloto de caça da FAB, engenheiro aeronáutico formado pelo ITA
ro”. O nome agradou aos italianos, que tinham uma longa lista de op-
planejado. Houve um lapso de tempo (Instituto Tecnológico da Aeronáutica), piloto de provas formado
ções, incluindo Dardo, Ariete e Saetta.
de quase quatro anos até que o terceiro A entrada em operação na Itália pela ARPS (Aerospace Research Pilot School) da USAF, sem falar
No entanto, o nome não agradou técnicos brasileiros, pois a figura da
lote fosse autorizado. Esse período foi O primeiro AMX de produção em mais de oito mil horas de voo num sem número de aeronaves. Com
mitologia grega não tinha a menor correspondência com o país do outro
extremamente danoso para o progra- (MM.7091) foi recebido pela Força Aé- este magnífico currículo, Luiz Fernando Cabral era o homem certo para
lado do Atlântico – apesar de haver um esquadrão na FAB com esse
ma sob vários aspectos, incluindo as rea Italiana em abril de 1989. Este e levar aos céus o primeiro protótipo brasileiro do AMX.
nome, o 3º/10º GAv, equipado com o AT-26 Um setor da Força Aérea
linhas de produção e montagem que outros dos primeiros exemplares, an- Em 1977, Cabral deu baixa da FAB no posto de tenente-coronel e foi
Brasileira desejava algo ligado ao Brasil e relacionado ao projeto anterior,
ficaram ociosas (a Embraer tinha capa- tes de seguirem para um esquadrão de contratado como piloto de provas chefe da Seção de Ensaios em Voo da
o Xavante, e surgiu a ideia de chamá-lo de “Tamoyo”. Esse nome, po-
cidade para produzir com tranquilida- linha de frente daquela força, foram Embraer. Era uma época de consolidação e expansão da empresa, com
rém, já fora adotado pela Bernardini para seu carro de combate MB-3,
de cinco conjuntos de asas e tomadas enviados para uma unidade de en- o desenvolvimento de vários aviões, incluindo o EMB-120 Brasília, o
apresentado oficialmente no Dia da Infantaria de 1984. Ironicamente,
de ar por mês). Apenas como exemplo, saios em voo (Reparto Sperimentale di EMB-121 Xingu e o EMB-312 Tucano.
uma das três unidades da FAB que acabou equipada com o AMX foi
em 1995 somente um AMX foi entre- Volo - RSV) e para uma recém-criada Antes de voar o primeiro protótipo brasileiro, Cabral seguiu para a
justamente o 3º/10º GAv, “Esquadrão Centauro”.
gue à FAB. No entanto, outros aspec- seção de adestramento e padroniza- Itália a fim de familiarizar-se com o jato. Foram feitos dois voos com os
O AMX continuou sem um nome comum e, com o tempo, cada força
tos afetaram o programa, como a falta ção, a SAS-AMX (Sezione Addestra- protótipos italianos, o primeiro deles em sete de junho de 1985.
aérea batizou-o do seu modo. No Brasil ele foi designado A-1 “Falcão”
de clientes externos (ver tópico mais mento e Standardizzazione AMX), Cabral deixou a área de projetos de aviões em desenvolvimento (e,
(o biposto foi denominado A-1B) e na Itália manteve-se AMX (AMX-T
adiante) e a reorientação do papel mili- onde pilotos de G.91 eram convertidos consequentemente, o programa AMX) em meados de 1987, sendo subs-
para o biposto), embora ganhasse o apelido de “Ghibli”. Em 2013, os
tar da Itália na Europa, seguidos de para o novo avião. tituído pelo tenente-coronel da reserva Gilberto Schittini. Quando major,
aviões ganharam novas designações. Com o processo de modernização
cortes nos orçamentos de defesa. O 103º Gruppo (baseado em Istra- Schittini servia no CTA (Centro Técnico Aeroespacial, também em São
em andamento no Brasil, os jatos foram reclassificados como A-1M. A
No final, ambos os países reduzi- na) tornou-se a primeira unidade de José dos Campos) e foi devidamente introduzido ao AMX ainda em
Itália, revendo a nomenclatura de todas as suas aeronaves em 2013,
ram o número total de aeronaves de AMX operacional da Aeronautica Mili- 1985, pelo próprio Cabral.
passou a designar o AMX como A-11 (e TA-11 para o biposto).
produção, com o cancelamento do quar- tare. Depois, vieram o 132º Gruppo e o
to lote: das 266 inicialmente previstas, 28º Gruppo (inicialmente baseados em

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PODER AÉREO ESPECIAL
USAF
ram a ser divulgados informes sobre o
uso desses jatos (mantidos por reveza-
mento de todas as unidades italianas
de AMX) em missões CAS no Afega-
nistão, com emprego de bombas guia-
das a laser Lizard, de 500 libras.
Em 2011, os AMX da Força Aérea
Italiana foram chamados para um
novo conflito, com jatos do 32º Stormo
voando sobre a Líbia na Operação
“Unified Protector” em missões de
bombardeio e de reconhecimento, uti-
lizando os sensores de altíssima reso-
lução do sistema “Reccelite”. Entre 22
de jullho e 31 de outubro daquele ano,
os jatos cumpriram aproximadamente
500 horas de voo em combate.

A entrada em operação no Brasil


A introdução do AMX na FAB, sob
as designações A-1A (monoposto) e
QQ Os AMX italianos atuaram pela primeira vez em missões de combate em 1999 sobre a antiga Iugoslávia, na região do
A-1B (biposto), trouxe muitas novida-
Kosovo. Participaram também de missões de reconhecimento e CAS sobre o Afeganistão (2009-2012) e na Líbia, em 2011
des no campo operacional, impacto
que já era sentido dentro da cabine.
Verona-Villafranca e posteriormente (ver detalhes mais à frente) originando zamento entre os esquadrões. As mis-
Foi a primeira aeronave da FAB com
transferidos para Istrana), equipados três esquadrões equipados com o mono- sões esperadas eram de apoio aéreo
conceito HOTAS (Hands on Throttle
até então com a versão de reconheci- posto e um de treinamento e conversão aproximado, controle e reconhecimen-
and Stick – mãos na manete e no
mento do Starfighter (RF-104G). A operacional, que voa o biposto. to aéreo, com coordenação por jatos
manche) e com projeção de informa-
quarta unidade italiana a receber o E-3 AWACS da OTAN, mas não houve
ções de voo e de alvos no HUD. Entre
AMX foi o 14º Gruppo (baseado em Ri- O AMX italiano em combate acionamentos.
outras novidades, estavam o HDD, o
volto) e a quinta (e última) foi o 13º Quando a Guerra do Golfo começou, Em 1999, os AMX italianos foram
alerta radar, dispersores de chaff e
Gruppo, a partir de novembro de 1994. no início de 1991, a Força Aérea Italia- convocados mais uma vez para atuar
flare, cálculos computacionais para
Em julho de 1995, a SAS-AMX deu lu- na enviou um destacamento de AMX do sobre a antiga Iugoslávia, agora sobre
ataque ao solo (CCIP/CCRP) e os con-
gar a uma unidade de conversão opera- 132º Gruppo para a Turquia (que faz a região do Kosovo, participando efeti-
troles fly-by-wire.
cional específica, o 101º Gruppo de fronteira com o norte do Iraque), mas as vamente da Operação “Allied Force”.
Para assimilar todas estas mudan-
Amendola. Mesmo assim, os outros es- aeronaves não participaram do conflito. Os jatos lançaram bombas de emprego
ças foi criado um novo esquadrão, cuja
quadrões possuíam um ou dois exem- A Itália foi para o combate com os jatos geral com kit israelense Orpher (guia-
missão inicial era implantar o A-1
plares bipostos cada um. Tornado, e tanto os seus quanto os do do por infravermelho) e obtiveram su-
operacionalmente na força e, poste-
Ainda naquela segunda metade da Reino Unido foram duramente castiga- cesso considerável nas missões.
riormente, transmitir os conhecimen- O momento longamente aguarda- Assim, o primeiro A-1 da Força Aérea
década de 1990, a Força Aérea Italiana dos pelas defesas antiaéreas durante as A partir de 7 de novembro de 2009,
tos para as demais unidades que o em- do finalmente ocorreu em 1989. No dia foi designado “FAB 5500”.
começou a reduzir o número de AMX missões de ataque com penetração à quatro jatos AMX italianos passaram
pregariam. Assim nasceu na Base 17 de outubro daquele ano era realiza- O Nu-1º/16º GAv finalmente tor-
operacionais, devido a cortes no orça- baixa altitude, justamente a especiali- a participar de surtidas sobre o Afega-
Aérea de Santa Cruz (RJ), em feverei- da na BASC a cerimônia oficial de re- nou-se esquadrão em 7 de novembro de
mento. O 28º Gruppo foi dissolvido em dade das aeronaves. nistão, inicialmente em missões de re-
ro de 1988, o Nu-A1, núcleo da primei- cebimento do primeiro A-1 operacio- 1990, recebendo o nome de “Esquadrão
1997 e o 14º Gruppo em 2002, colocando Durante a Operação “Deny Flight” conhecimento com o pod “Reccelite” e
ra unidade aérea para emprego da nal da FAB. Os jatos de ataque A-1 Adelphi” (o nome deriva de uma marca
em estoque perto de meia centena de sobre a Bósnia, em 1995 (época dos armados apenas com canhões, devido
aeronave. Em novembro daquele ano, receberam matrículas que se iniciam de cigarros regularmente consumida
aviões. A reestruturação das unidades conflitos resultantes da separação da às regras de engajamento. Em 2012,
o Nu-A1 foi substituído pelo Núcleo do com o milhar “5” que, historicamente, pelo pessoal do 1º Grupo de Aviação de
prosseguiu em 2012, quando foi conclu- antiga Iugoslávia), os AMX italianos um ano após a integração do pod “Li-
Primeiro Esquadrão do Décimo Sexto era empregado pelas aeronaves de Caça, durante a Segunda Guerra Mun-
ída a modernização dos AMX italianos foram colocados em alerta, com reve- tening” de aquisição de alvos, passa-
Grupo de Aviação (Nu-1º/16º GAv). bombardeio como o B-25 e o B-26/A-26. dial). Em 1994, o esquadrão já tinha

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PODER AÉREO

US DoD
Porém, entre aqueles estudos e o
início da produção do AMX, o mundo
passou por uma grande e inesperada
mudança geopolítica. Subitamente, a
queda do Muro de Berlim e a dissolu-
ção da União Soviética puseram fim à
Guerra Fria, o que reduziu em muito a
necessidade de jatos de ataque. Orça-
mentos de defesa foram reduzidos e
muitas nações cortaram aeronaves do
inventário, inundando o mercado com
caças usados, ainda relativamente no-
vos, por valores baixos.
Por seu lado, o AMX não era mais o
avião de baixo custo de aquisição que
seus projetistas imaginaram. Seu pre-
ço no final do século XX rivalizava com
o de jatos mais poderosos e com novas
capacidades multimissão, como o F-16.
maturidade suficiente para participar Santa Maria tiveram uma adaptação com o A-1 foi o 1º/10º GAv “Esquadrão A parte brasileira do consórcio tam-
de um exercício internacional de res- mais simples e rápida à aeronave. Um Poker”. Além de missões de ataque, bém não contava, na época, com meca-
peito, que foi a Operação Tigre I, reali- ano após o recebimento do primeiro interdição e apoio aéreo, o esquadrão nismos eficientes de financiamento de
zada na ilha de Porto Rico. Na baga- A-1, o Centauro já era declarado um tem como missão principal o reconhe- exportações militares. A soma destes
gem, os aviões trouxeram dois abates esquadrão operacional no novo jato. cimento tático. Durante anos, a unida- fatores atrapalhava bastante a possibi-
simulados e muita precisão nas mis- Embora o reabastecimento em voo não de utilizou dois sistemas para coleta lidade de exportar o AMX. Mesmo as-
sões de ataque ao solo. Quatro anos fosse exatamente uma novidade para de dados: o Pallet III e o casulo Gespi, sim, interesse houve, e muito.
depois, seis jatos A-1 seguiram para o os esquadrões de Santa Maria (o único mas o esquadrão deverá receber mo- Ainda em 1985, quando o programa
deserto de Nevada (EUA) para o exer- Xavante da FAB dotado de sonda de dernos casulos (pods) de reconheci- estava no início da fase de ensaios, cir-
cício multinacional “Red Flag” e tive- reabastecimento pertencia ao 1º/10º mento após o programa de moderniza- cularam notícias na imprensa brasilei-
ram um excelente desempenho. GAv), o A-1 permitiu que as missões ção da aeronave (detalhado adiante). ra sobre o interesse do Chile em com-
Enquanto o Adelphi se adestrava desse tipo fossem mais corriqueiras. As prar o AMX. Naquela época, o Chile
para o “Red Flag”, mais ao sul do Bra- missões de longa duração começaram Do otimismo com o mercado externo sofria um embargo de armas que difi-
sil a Base Aérea de Santa Maria (RS) em 2000 e, três anos depois, o esqua- à quase venda para a Venezuela cultava manter seu aparato militar,
se preparava para operar com o novo drão já estava devidamente apto a exe- Ainda no início da década de 1980, especialmente seus F-5E, cujos sobres-
avião. Em janeiro de 1998, os dois pri- cutar a mais longa das missões até en- época em que a chamada “Guerra Fria” salentes tiveram fornecimento cortado.
meiros A-1 do “Esquadrão Centauro” tão. Em agosto de 2003, dois A-1 voltava a esquentar, estudos do consór- Ao mesmo tempo, o país precisava
(3º/10º GAv) pousavam em Santa Ma- partiram de Santa Maria e foram até a cio AMX apontavam para um mercado substituir seus velhos jatos Hunter de
ria, seguidos pouco mais de um ano fronteira norte do Brasil com a Guiana capaz de absorver até dois mil jatos de ataque ao solo. No início de 1986, foi
depois pelos A-1 / RA-1 (designação Francesa, finalmente pousando em ataque. A maior parte desse mercado noticiado que uma negociação envolve-
para missões de reconhecimento) do Natal. Ao todo foram dez horas, cinco era de atuais operadores de A-4 ria a venda de caças AMX e treinado-
“Esquadrão Poker” (1º/10º GAv). A de- minutos e onze segundos de voo, um Skyhawk, A-7 Corsair II, Fiat G.91 e res turboélice EMB-312 Tucano ao
cisão de equipar os dois esquadrões no recorde nacional para a Aviação de aviões de ataque semelhantes, sem re- Chile e a compra, pelo Brasil, de trei-
Sul veio ainda em 1993 e as unidades Caça. Três meses depois, quatro jatos cursos para comprar caças de nova ge- nadores primários T-35 Píllan da
acabaram recebendo jatos A-1 do se- do esquadrão destruiriam uma pista ração ou que preferiam jatos mais sim- ENAER para substituir os T-25 Uni-
gundo e do terceiro lotes de produção. de pouso clandestina próxima à fron- ples, para missões secundárias. versal da Academia da Força Aérea QQ A-1 da FAB em exposição no Chile durante a FIDAE 1990. Várias aeronaves
Graças ao apoio e à experiência pré- teira com a Colômbia. Esperava-se que o AMX pudesse con- (AFA). Porém, não se ouviu mais co- podem ser vistas na linha de voo: F-15 Eagle, F-5E Tiger II, FGA-71 Hunter, A-37B
via do 1º/16º GAv, as duas unidades de O último esquadrão a ser equipado quistar perto de 25% desse mercado. mentários a respeito. Dragonfly e Mirage 50

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Imagem cedida gentilmente pelo Centro Histórico Embraer


QQ Um elemento de jatos A-1 do
1º/16º GAv sobrevoa a Baía de Ilha
Grande rumo à Base Aérea de Santa
Cruz-RJ. Cada aeronave carrega uma
carga bélica de oito bombas Mk.82.
O autor da foto é o tenente-coronel
César Bombonato, que comandava o
1º/16º GAv quando o seu avião
desapareceu no litoral do Rio de Janeiro
em 24 de julho de 1998

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AMX naval: mito ou desejo real?

E
m maio de 1982, respondendo a perguntas de ções era o motor, por ser derivado do Spey MK 101 que
jornalistas sobre o reaparelhamento das Forças equipava os Buccaneer da Marinha Real britânica, de
Armadas, o então ministro da Marinha, almirante operação embarcada.
de esquadra Maximiano da Fonseca, defendeu a produ- Se a navalização do AMX foi avaliada como viável a
ção de aviões no Brasil e disse que o AMX deveria “ser princípio, também era necessário avaliar se a aeronave
adaptado, no futuro, para operar em porta-aviões”. resultante seria compatível com o porta-aviões Minas
De fato, naquela época havia estudos conduzidos Gerais. Partiu-se da premissa de que o A-4 Skyhawk era
pela Marinha do Brasil (MB) em conjunto com a FAB compatível com o navio (lembrando que, naquela época,
para dotar o navio-aeródromo Minas Gerais (A 11) de a Marinha ainda não havia testado a operação embarca-
aeronaves de ataque e defesa. Os estudos ganharam da com jatos A-4 no Minas Gerais, mas deve-se lembrar
força após as análises dos combates ocorridos entre a que a Armada Argentina operava o A-4 em um navio da
Argentina e o Reino Unido pela disputa das ilhas Mal- mesma classe, o 25 de Mayo). A partir dessa premissa,
vinas / Falklands. foram comparadas as dimensões do A-4 com as do
Em maio de 1983 o ministro Maximiano admitiu que AMX, concluindo-se que este seria compatível.
havia estudos para a aquisição de alguns jatos de ataque O programa de desenvolvimento, incluindo reproje-
McDonnell Douglas A-4 Skyhawk, o que foi confirmado to, fabricação de dois protótipos e campanha de en-
pelo ministro da Aeronáutica, tenente-brigadeiro Délio saios em voo (com testes de mar a partir do porta-
Jardim de Mattos. A ideia era criar um esquadrão na -aviões) era estimado em 56 meses e o custo dessa
QQ A-1 da FAB demonstra FAB, pois somente a Força Aérea era autorizada a operar fase, sem considerar a etapa de produção, seria de
sua capacidade de carga aeronaves de asas fixas, com 8 a 12 desses jatos (Maxi- aproximadamente US$ 128 milhões.
bélica miano chegou a citar um total de 14 aviões, incluindo Porém, tanto a aquisição dos A-4 pela FAB quanto o
dois bipostos, a serem adquiridos de Israel por 60 mi- desenvolvimento do AMX naval nunca ocorreram. A ver-
lhões de dólares, recondicionados e modernizados). A ba para adquirir o A-4 não foi liberada e, nos anos se-
ideia era empregar o A-4 como solução “tampão” até guintes, as condições financeiras só pioraram, afetando
que a versão “navalizada” do AMX ficasse pronta. o programa do próprio AMX “convencional”, o que invia-
A grande ofensiva comercial do Luciano Bertolo, confirmou uma venda Levou cerca de dez anos para o in- A Embraer efetivamente estudou o assunto na dé- bilizava qualquer gasto adicional. Na etapa de industria-
consórcio AMX para promover inter- de 30 a 40 jatos AMX à Tailândia. Em teresse ressurgir com mais força. Na cada de 1980, chegando à conclusão de que a navali- lização, a cadência de produção foi afetada, cortaram-se
nacionalmente a aeronave ocorreu em fevereiro do ano seguinte, o contrato foi estrutura de treinamento de pilotos zação do AMX era possível, mas modificações básicas encomendas e postergou-se o desenvolvimento de sis-
1986, quando foram publicados diver- cancelado por falta de recursos. da FAV, oficiais que concluíam a ins- seriam necessárias. As mais importantes estavam rela- temas da aeronave (como o radar nacional). Já na déca-
sos anúncios na imprensa especializa- Em 1997, a Força Aérea das Filipi- trução no Tucano e eram selecionados cionadas às exigências específicas de operações em- da de 1990, até mesmo o programa de modernização
da mundial, realçando as qualidades nas iniciou um grande programa de para a aviação de combate seguiam barcadas, como o lançamento por catapulta e sua re- dos velhos P-16 (bimotores a pistão empregados no Mi-
do jato. Também houve intensa parti- modernização de sua frota, que incluía para novas etapas em jatos de origem cuperação (pouso a bordo). nas Gerais) foi cancelado por falta de recursos, deixando
cipação do AMX na Feira Aeroespacial a aquisição de um esquadrão de aviões norte-americana, os Rockwell T-2D Havia grande preocupação quanto à reformulação o navio sem aviões por vários anos.
de Farnborough daquele ano. E, um de ataque. Foi noticiado que, entre os Buckeye e os VF/NF-5 A e B (estes do trem de pouso. A velocidade Coleção Mário Vinagre
pouco antes de Farnborough, o minis- concorrentes, estavam o BAe Hawk e o comprados do Canadá e da Holanda). vertical esperada para um pouso a
tro-chefe do Estado-Maior das Forças AMX. A crise financeira asiática de Os T-2D já acumulavam 25 anos de bordo (23ft/s ou 7m/s) representa-
Armadas, almirante José Maria do 1997 acertou em cheio a economia das operação e necessitavam de substitui- va quase o dobro do dimensionado
Amaral, revelou que o Iraque estava Filipinas e muitos dos programas ção em breve. Já os VF/NF-5, apesar para o trem de pouso original do
interessado em diversos armamentos anunciados não decolaram. Nem o de uma modernização recente, tam- AMX (12ft/s ou 3,66m/s). Possivel-
brasileiros, incluindo o AMX. AMX nem o Hawk foram escolhidos. bém precisariam ser substituídos mente, uma segunda roda seria ne-
Naquele ano, outro cliente em po- O AMX também foi sondado por mais à frente. Os estudos para adqui- cessária no trem do nariz para per-
tencial que demonstrou interesse foi a Malásia, Brunei, Índia, Turquia, Gré- rir novos jatos começaram em 1997, mitir o aumento no curso do
Argentina. Porém, o fato do propulsor cia, Egito, África do Sul, México, focados em três concorrentes: BAe amortecedor, obrigando a um re-
ser de origem britânica levou a conver- Equador, Peru e Venezuela. Esta últi- Hawk, Aero L-159 e AMX-T. desenho da fuselagem dianteira,
sações com representantes do Governo ma está entre as sondagens mais re- As avaliações foram feitas em 1998 com o afastamento de longarinas
Britânico, que não abriram mão da centes e que mais chegaram perto de e, em outubro de 1999 (o ano de desa- até o limite do espaço ocupado pe-
manutenção do embargo militar à Ar- um contrato efetivo. tivação dos T-2D), a FAV divulgou o los canhões. Já o reprojeto do trem
gentina, em vigor desde a Guerra das O interesse da Venezuela pelo AMX resultado: o AMX-T era o vencedor. de pouso principal merecia estu-
Falklands/Malvinas. O consórcio pas- era antigo. Na primeira metade da dé- Em 18 de dezembro, a Embraer anun- dos mais aprofundados diante da
sou a estudar modificações necessárias cada de 1980, o país encomendou 30 ciou a assinatura do contrato de 12 complexidade do assunto (não ha-
para equipar o AMX com uma alterna- turboélices EMB-312 Tucano com a jatos AMX-T para a FAV. via muito espaço na fuselagem
tiva de motor, com o americano GE Embraer. Na cerimônia de entrega dos Esperava-se que a montagem das para uma perna mais robusta, com
F404 (em versão sem pós-combustor) primeiros exemplares, em julho de aeronaves para a Venezuela ocorresse um amortecedor de maior curso).
entre os mais cotados. Entanto, qual- 1986, o brigadeiro Justo Evaristo em conjunto com a produção de um Em função das cargas mais seve-
quer adaptação demandaria custos e Saavedra, da Força Aérea Venezuela- quarto lote para a FAB. Até o ano de ras impostas à versão naval, se-
não havia quem os bancasse. na (FAV), informou havia “grande in- 2000, a Força Aérea já havia recebido riam necessários novos cálculos e
Durante a Feira de Le Bourget teresse em avaliar o AMX”, que “preen- 55 aviões e os 24 restantes (totalizando eventuais reforços ou alterações
(França) de 1991, o responsável pelo cheria uma lacuna no sistema de defe- as 79 aeronaves previstas no acordo estruturais. A menor das preocupa-
setor de relações públicas da Embraer, sa venezuelano”. original de produção) do quarto lote

78 Forças de Defesa www.aereo.jor.br www.aereo.jor.br Forças de Defesa 79


PODER AÉREO ESPECIAL
M. Kozhura entregas começaram em 2006 e con- A-1 começou em 2003, com a contrata- O painel é completamente remode-
cluídas em 2012. ção da Embraer como empresa princi- lado e os antigos instrumentos analó-
pal e gerenciadora do programa. Hou- gicos são substituídos por três mostra-
Modernização à brasileira ve demora para efetivar o contrato, dores multifuncionais semelhantes
Quando o programa de moderniza- levando a uma renegociação em 2008. aos empregados pelo F-5M e o A-29.
ção tomou forma, a FAB contava com Mesmo assim, em 30 de maio de 2007 São duas telas de 6x8 polegadas e uma
53 A-1 em seu inventário, sendo dez pousava nas instalações da Embraer de 5x5 polegadas, além do UFCP (Up-
bipostos e quarenta e três monopostos em Gavião Peixoto (SP) o primeiro -Front Control Panel – painel superior
(posteriormente, um monoposto foi A-1A para testes e avaliações, a aero- frontal de controle) logo abaixo do
perdido em acidente, no final de 2012). nave FAB 5530, do segundo lote. Pos- HUD, igualmente trocado. Os equipa-
Esperava-se que a FAB modernizasse teriormente, outra aeronave do mes- mentos de comunicação e navegação
todos os seus A-1, assim como havia mo lote (FAB 5526) se juntou ao também estão em processo de moder-
ocorrido no programa do F-5BR. programa de testes. nização. Todos estes novos elementos
Porém, para a surpresa de muitos, Em 19 de junho de 2012, ocorreu o da cabine são compatíveis com NVG
a FAB informou que modernizaria so- primeiro voo de um A-1M (FAB 5526), de terceira geração. Além disso, os pi-
mente 43 células. A verdade é que, ao dando início à campanha de ensaios lotos de A-1M passam a contar com
QQ Primeiro protótipo do A-1M nas instalações
longo da história do A-1 no Brasil, a em voo. O primeiro exemplar de pro- HMD (Helmet Mounted Display – vi-
da Embraer em Gavião Peixoto FAB nunca pôde dispor de todos os dução do A-1M (FAB 5520) foi entre- sor montado no capacete) como seus
seus exemplares, mesmo descontan- gue à FAB em três de setembro de colegas de F-5M.
do-se uma porcentagem que se reveza- 2013, e essa aeronave estreou num Além das mudanças internas na ca-
as limitações orçamentárias não per- va nas revisões nível parque no exercício multinacional, o Cruzex bine, os A-1M da FAB estão incorpo-
mitiram a entrada em operação com PAMA-GL (Parque de Material Aero- Flight 2013, em novembro. rando novos sensores e substituindo os
toda a sua potencialidade. O progra- náutico do Galeão, principal apoiador antigos. Neste último caso está o RWR,
ma de modernização era o melhor ca- dos jatos A-1). Por diversas razões, A nova aviônica que foi atualizado e melhorado. Tam-
minho para transformar o A-1 no um número variável de aeronaves, Além de uma revitalização estru- bém foi decidido incorporar um moder-
avião de ataque que seus idealizado- que em certos momentos superou tural, com a incorporação de itens que no sistema de alerta de aproximação
res imaginaram. uma dezena de exemplares, perma- buscam o aumento da vida em fadiga de mísseis PAWS-2 da Elisra, integra-
O problema é que a abordagem bra- necia indisponível, preservado na para mais 20 anos de operações, o do ao sistema de dispensadores de
sileira quanto à modernização e atuali- Base Aérea de Santa Cruz. grande destaque do processo de mo- chaff e flare, que teve a capacidade au-
zação do avião era diferente da italia- O programa de modernização do dernização do A-1 é a nova aviônica. mentada.
na. Em 2002, a Itália já havia definido
o substituto do AMX, o F-35. Naquela

Força Aérea Brasileira


época, previa-se que o novo caça entra-
ria em operação por volta de 2015-
2018. Portanto, a Força Aérea Italiana
definiu um programa de atualização
para manter o AMX em atividade até o
dependiam de uma autorização poste- que não estavam disponíveis na época final da segunda década deste século.
rior. Esse lote permitiria formar um de congelamento do projeto. Essa ne- A FAB, porém, pretendia executar
esquadrão em Campo Grande ou mes- cessidade ficou mais evidente após a uma modernização mais ampla, visan-
mo no Nordeste do País. No entanto, participação de AMX italianos em do manter o A-1 em operação pelo me-
nem o quarto lote da FAB foi autoriza- operações nos Bálcãs, em 1999. nos até 2030. Além disso, era intenção
do nem a encomenda venezuelana se O objetivo italiano era dotar o adotar o máximo possível de aviônicos
efetivou, com este último fracasso de avião de uma verdadeira capacidade já selecionados para os programas
exportação creditado, conforme algu- todo tempo, numa modernização que ALX (aeronave leve de ataque, que le-
mas fontes, a embargos de componen- priorizaria o sistema de navegação e a vou ao turboélice A-29 Super Tucano) e
tes de origem americana (problema incorporação de artefatos guiados por F-5BR (programa de modernização
surgido após a tomada do poder na Ve- sinal de satélite, além de painel com- que originou os caças F-5EM / FM).
nezuela por Hugo Chávez, em 1999). patível com óculos de visão noturna Com necessidades tão diferentes,
Cerca de dez anos depois, a Venezuela (NVG - Night Vision Goggles). Deseja- não foi possível executar um progra-
encomendou 18 jatos treinadores va-se também instalar um sistema de ma ítalo-brasileiro de modernização
Hongdu K-8W chineses, aposentando enlace de dados (data link) e substi- e atualização. Mais simples e mais
os derradeiros VF/NF-5 em 2011. tuir a tela multifunção monocromáti- urgente, a modernização italiana
ca da cabina (o HDD) por uma colorida saiu na frente. Conhecido pela sigla
As necessidades de modernizar com função mapa digital. ACOL (Aggiornamento delle Capaci-
o AMX, na Itália e no Brasil Padronizar os três lotes também tà Operative e Logistiche – melhoria
Ainda durante a produção do ter- era um desejo da FAB, pois no início da capacidade operativa e logística),
ceiro lote de AMX, a Força Aérea Ita- deste século essa divisão representa- o programa italiano envolveu 52 ae-
liana passou a discutir a possibilidade va um pesadelo logístico e operacio- ronaves (42 monopostos e 10 bipos-
de modernizar o avião. A ideia inicial nal, principalmente em relação às tos) e foi avaliado em US$ 390 mi-
era padronizar os aviões dos três lotes aeronaves do primeiro lote. Além dis- lhões, em valores de 2005, mesmo
conforme a configuração do lote mais so, por mais que o A-1 tenha permiti- ano em que o primeiro protótipo do QQArranjo final do painel do A-1M com duas telas multifunção coloridas de 6x8 pol. e uma central de 5x5 pol. Abaixo do novo
recente e adicionar novas tecnologias do um salto tecnológico para a FAB, AMX ACOL voou, em setembro. As HUD está o UFCP - Up-Front Control Panel

80 Forças de Defesa www.aereo.jor.br www.aereo.jor.br Forças de Defesa 81


A. Galante
fície (telemetria, busca ar-mar e

Força Aérea Brasileira


mapeamento do terreno), e capacida-
de ar-ar limitada.
Com mais de 20 anos de desenvol-
vimento, o radar teve que ser atuali-
zado ao longo do tempo, mas a divisão
de tarefas se manteve. À empresa na-
cional coube o desenvolvimento da
antena, servomecanismo, receptor/
excitador/processamento analógico,
painel de controle e estrutura mecâ-
nica, enquanto a italiana ficou res-
ponsável pelo transmissor e processa-
mento digital do sinal. Um dos
maiores trabalhos da Mectron foi o
reprojeto do servomecanismo da an-
tena, o que acabou melhorando a per-
formance do radar e elevando seu ín-
dice de nacionalização. A instalação
do radar implicou na colocação de um
radome maior, porém sem alteração
no comprimento da aeronave.
QQ Modelo do radar SCP-01 instalado no A-1M, exibido durante a LAAD 2011 no
estande da Mectron Manutenção do motor, revolução dos
armamentos
A motorização do AMX sempre foi
Outro importante sensor incorpo- (homenagem ao general romano Pu- objeto de controvérsias. Houve estu-
rado pelo A-1M é o sistema de navega- blius Cornelius Scipio), ao contrário dos para a substituição do Spey pelo QQ Primeiro A-1M entregue
ção por infravermelho (NAV-FLIR). do AMX italiano, que recebeu um ra- F404, como vimos, e até mesmo pelo à FAB pela Embraer
Ao contrário de muitas aeronaves que dar relativamente simples, do qual EJ200 do Eurofighter. No entanto, a
necessitam transportar tal equipa- já tratamos. A história do desenvol- FAB está satisfeita com o motor, con-
mento em um casulo externo, o A-1M vimento do SCP-01 começou em siderado robusto e confiável, e suas
incorporou o aparelho na parte supe- 1987, quando a empresa brasileira ações quanto ao assunto visam garan-
rior do nariz do avião. As informações Tecnasa Eletrônica Profissional tir uma linha de suprimentos suficien-
podem ser projetadas no HUD. S.A., em associação com a italiana te para manter o Spey em operação Além de novos armamentos, o Conclusão: foi um bom negócio? ram integrar mais sistemas e armas),
Um elemento crucial da moderni- SMA-Segnalamento Marittimo ed por mais 20 anos. A-1M poderá empregar diversos ca- Estima-se que o custo total do pro- a Força Aérea também aprendeu a ge-
zação do A-1, do ponto de vista opera- Aereo, foi contratada pelo Ministério Se o motor não mudou, o mesmo sulos como o de interferência eletro- grama AMX tenha atingido cerca de renciar um programa complexo, fruto
cional, é incorporação de um OBOGS da Aeronáutica para esse fim. não pode ser dito do sistema de armas. magnética Skyshield da israelense US$ 2,5 bilhões só para o Brasil. É de um acordo binacional. Foi graças ao
(On Board Oxygen Generating Durante a década de 1990, o pro- Mesmo antes do início da moderniza- Rafael, capaz de tranformar o avião praticamente certo que, se a FAB op- AMX que a FAB reviu todo o procedi-
System – sistema autônomo de gera- grama se arrastou por falta de ver- ção do A-1, a FAB já vinha avaliando numa verdadeira plataforma de tasse pela aquisição de um jato de mento de aquisição de novas aerona-
ção de oxigênio). Este substitui as bas e o projeto foi transferido para a incorporar novas armas, principalmen- guerra eletrônica. Associado ao mís- ataque ou caça “de prateleira” no ex- ves, identificando exatamente o que
tradicionais esferas pressurizadas Tectelcom Aeroespacial, que tam- te as “inteligentes”. Nos últimos anos, sil MAR-1, o Skyshield permitiria terior (veja quadro que compara com quer e como quer. A condução do pro-
que contém oxigênio no estado líqui- bém não conseguiu concluí-lo. Dian- foram ensaiados diversos novos arma- atuar em missões de supressão de os custos “fly-away” do F-16 na pági- grama ALX / A-29 foi um exemplo do
do, transportadas no interior da fuse- te disso, a FAB passou o gerencia- mentos para o A-1, como a bomba guia- defesas antiaéreas (SEAD - Suppres- na 80), gastaria uma quantia muito aprendizado obtido com o AMX, assim
lagem dianteira, para fornecê-lo no mento para a Galileo Avionica S.p.A. da a laser Lizard II (um novo lote de sion of Enemy Air Defenses). Caso menor ou conseguiria comprar mais como o processo de seleção técnica do
estado gasoso ao piloto, em altas alti- (posteriormente SELEX Galileo e 120 kits foi adquirido pela FAB recen- todos esses sistemas e armamentos aeronaves. Mas a grande pergunta F-X2, apesar deste ainda aguardar
tudes. No entanto, as esferas são ca- atual SELEX ES), que está no pro- temente) associada ao casulo designa- sejam integrados, o A-1 modernizado que deve ser feita é: sem o programa uma definição política.
pazes de prover apenas algumas ho- grama desde o início, e firmou con- dor Litening, bombas de emprego geral se transformará, sem sombra de dú- AMX, o Brasil teria a terceira maior Ainda sobre a questão operacio-
ras de oxigênio, afetando as missões trato com a brasileira Mectron, em com kit nacional de guiagem por satéli- vida, na aeronave da Força Aérea indústria aeronáutica do planeta? nal, quando os A-1 deixaram a linha
de longa duração de caráter estraté- 2000. A campanha de ensaios em voo te SMKB 82 (ver matéria exclusiva na com maior diversidade de armas no Foi graças ao programa AMX que a de produção da Embraer na década
gico (para economizar oxigênio o caça com o protótipo B1 do radar, iniciada revista Forças de Defesa nº7) e o mís- atual inventário. Embraer adquiriu conhecimentos nas de 1990 eles eram aeronaves incom-
deve voar parte do tempo em baixas em 2002, durou três anos. Ao final, sil antirradiação nacional MAR-1. O programa de entrega do A-1M áreas de integração de sistemas com pletas e mais simples que os seus si-
altitudes, onde o consumo de combus- após algumas modificações, o protó- Após a modernização, o A-1 da para FAB estava definido, até o início emprego de barramentos digitais, do- milares italianos. Com a moderniza-
tível é maior), além de representarem tipo B3 foi homologado. FAB poderá empregar não só estas de 2013, da seguinte maneira: ainda mínio de códigos-fonte, controles fly- ção, a FAB finalmente terá o avião de
mais um item de logística complica- O SCP-01 é um radar multimodo armas, como também mísseis ar-su- em 2013 seriam recebidas oito aero- -by-wire, trens de pouso e outras tec- ataque com as capacidades que sem-
da. Com o OBOGS, o A-1M elimina compacto que emprega diferentes for- perfície (ASM Air-to Surface Missile) naves (o que não parece atingível), nologias fundamentais. A empresa pre desejou, incorporando também os
essa limitação operacional. mas de onda (pulsos e frequência de integrados ao radar SCP-01. Caso seguidas de mais dez no ano seguin- também aprendeu a trabalhar em avanços de todos esses anos. Os A-1M
repetição de pulsos – PRF), padrões seja do interesse da FAB, o A-1M po- te. Vinte e dois seriam entregues em consórcios internacionais, dividir ta- que hoje estão saindo das instalações
Finalmente, o radar de busca da antena e algoritmos de derá integrar e operar mísseis anti- 2015 e 2016, onze em cada ano. As refas, custos e negociar participações. de Gavião Peixoto viraram o jogo e,
Desde a sua concepção, o AMX processamento. A função principal é navio como o Harpoon (que também últimas três unidades ficariam para Além do salto operacional que a agora, quem deve morrer de inveja
brasileiro foi projetado para receber a detecção, rastreio e medidas de ân- foi cogitado para o P-3AM) ou mesmo 2017. Além dos 43 A-1M, a FAB tam- FAB deu com a introdução do A-1 (e são os pilotos italianos de AMX. Pelo
um radar multímodo de procedência gulos, distâncias e velocidades de al- o Penguin, recentemente incorporado bém receberá três simuladores de voo que só não foi maior devido às restri- menos enquanto não chega a hora de
nacional denominado SCP-01 Scipio vos, com ênfase nos modos ar-super- pela Marinha do Brasil. modernizados. ções orçamentárias que não permiti- pilotarem o F-35.

82 Forças de Defesa www.naval.com.br www.naval.com.br Forças de Defesa 83


PODER AÉREO
Fotos: Valter Andrade

QQ A partir do sentido horário: A-1M decolando para mais uma missão


durante o exercício Cruzex Flight 2013; piloto do 1º/16º GAv posa
diante da nova designação da aeronave pintada na deriva; nova bolacha
do A-1 modernizado; os A-1M ganharam um novo radome em função do
radar; destaque da antena do sistema PAWS-2 nas seções dianteira e
traseira da fuselagem

84 Forças de Defesa www.aereo.jor.br www.aereo.jor.br Forças de Defesa 85


PODER NAVAL REPORTAGEM

O Dragão no
Atlântico Sul
Navios de guerra chineses navegam pelo Estreito de
Magalhães e realizam exercício com navios da Marinha
do Brasil pela primeira vez

QQ Na foto, o contratorpedeiro Lanzhou


(DDG-170), a fragata Constituição
(F42) e a fragata Liuzhou (FFG-573)
Alexandre Galante

realizando manobras táticas ao largo do


Rio de Janeiro

XX Alexandre Galante alizando exercícios com a Armada cado na fragata Liuzhou (FFG-573). O
alexgalante@fordefesa.com.br Chilena em 10 de outubro. Curiosa- outro navio da força-tarefa era o con-
mente, os navios chineses chegaram tratorpedeiro Lanzhou (DDG-170).

A
Marinha do Brasil (MB) e a Mari- ao Rio de Janeiro na mesma semana A força-tarefa brasileira, coman-
nha do Exército Popular de Liber- em que foi anunciada a participação dada pelo contra-almirante Paulo Ce-
tação da China (MEPL ou PLA de empresas daquele país na prospec- sar Mendes Biasoli, comandante da
Navy em inglês) realizaram uma inédi- ção do pré-sal. Após a escala e os exer- 2ª Divisão da Esquadra, foi composta
ta operação naval conjunta. A operação cícios no Brasil, os navios chineses se- pela fragata Constituição (F42) e pelo
no mar ocorreu em 26 de outubro, ao guiram para outra escala na navio-patrulha oceânico (NPaOc)
largo do Rio de Janeiro, e contou com a Argentina. Apa (P121).
participação de dois navios de guerra A força-tarefa chinesa foi comanda- No dia 26 de outubro, às 7h da
chineses e dois navios da MB. da pelo contra-almirante Li Xiaoyai, manhã, um grupo de jornalistas espe-
Antes da chegada ao Brasil, os na- vice-chefe do Estado-Maior da Frota do cializados embarcou no Apa, que em
vios chineses passaram pelo Chile, re- Mar Sul da MEPL, que estava embar- seguida suspendeu da Base Naval do

86 Forças de Defesa www.naval.com.br www.naval.com.br Forças de Defesa 87


PODER NAVAL REPORTAGEM
Rio de Janeiro, na Ilha de Mocanguê, O site do Ministério da Defesa da cas em formatura, dando a impressão A fragata Type 054A seis HQ-16 ou Shtil VL (SA-N-12 VLS) bre o hangar. O navio também é equi-
em Niterói, permitindo que o grupo China chegou a informar, porém, que de que operavam juntos há muito A Liuzhou é uma fragata Type e dois CIWS (Close-in Weapon System pado com 8 mísseis antinavio e de
fizesse a cobertura fotográfica do o ataque simulado ocorreu e que as tempo. Foi realizada também a faina 054A de emprego geral, evolução da - sistema de defesa aproximada) Type ataque terrestre C-805.
exercício. aeronaves teriam sido “abatidas” pe- de “light-line”, na qual os navios na- Type 054 (codinome OTAN Jiangkai 730 com canhões de 30mm, similares As grandes placas retangulares na
los navios chineses. Para sorte dos vegam bem próximos um do outro, II) que entrou em serviço em 2002 na ao Goalkeeper. Os mísseis antiaéreos superestrutura encobrem as antenas
Manobras táticas e ‘cross-deck’ fotógrafos que estavam a bordo do em duplas, e um cabo é passado entre China. O navio desloca cerca de são alojados num sistema vertical de do radar Type 348, do tipo “phased ar-
O NPaOc Apa foi o primeiro navio Apa, o tempo melhorou um pouco em eles para transferência de carga leve. 3.600t (4.000t carregado), e incorpora lançamento (VLS – Vertical Launching ray”. Esta classe é a primeira da PLA
a sair da barra, deixando a Baía de alguns momentos, o que permitiu a Nessa operação, os navios trocaram algumas características de furtivida- System ) de 32 células sobre o convés de Navy a possuir capacidade verdadeira
Guanabara para enfrentar condições realização das fotos desta matéria. presentes. de: casco liso sem reentrâncias e com proa. O canhão principal, também ins- de defesa antiaérea da frota, de longo
de mar bem mais severas do que a Nas operações de “cross-deck” materiais que absorvem as ondas de talado à proa, é de 76mm. A propulsão alcance. A propulsão do Lanzhou é
maioria dos jornalistas estava acos- (operação de aeronave em convoo de radar. O navio é comparável à classe é CODAD (Combined Diesel And Die- CODOG (Combined Diesel Or Gas –
tumada (e fazendo este autor relem- navio de outra marinha), um helicóp- “La Fayette” francesa. sel – motores diesel combinados), com 4 motores diesel ou turbinas), consis-
brar situações de seu tempo de Mari- tero Esquilo da Marinha do Brasil Como armamento principal, a fra- motores SEMT Pielstick Type 16 PA6 tindo de duas turbinas a gás ucrania-
nha), sendo seguido pela fragata pousou a bordo do contratorpedeiro gata é equipada com dois lançadores STC produzidos sob licença na China. nas DA80/DN80 de 32.600hp cada
Constituição. Os navios chineses zar- Lanzhou. O helicóptero Harbin Z-9C quádruplos de mísseis antinavio C-803 A classe deverá somar 24 navios, para as velocidades de pico e dois mo-
param algum tempo depois para o en- lançado pelo Liuzhou voou sobre a (similar ao Harpoon americano). O ar- sendo que em 2013 um total de 15 já tores diesel Shaanxi (na verdade
contro histórico entre navios de guer- formatura gravando vídeos e fotos. mamento antiaéreo é composto de mís- estava operando, com outros dois em MTU 20V956TB92 fabricados sob li-
ra chineses e brasileiros, em pleno Os navios brasileiros e chineses acabamento e três em construção. cença) para velocidades de cruzeiro.
Atlântico Sul. realizaram diversas manobras táti- A classe somava 6 navios em 2013,
No exercício, o Apa fez o papel de O contratorpedeiro Type 052C com mais quatro do modelo D aperfei-
unidade de maior valor (HVU – High O Lanzhou (DDG-170) é um con- çoado em construção, e com previsão
Value Unit), sendo escoltado pelos tratorpedeiro / destróier de defesa aé- de mais 4 unidades.
navios chineses e pela fragata Consti- rea Type 052C (conhecido como “Ae- Tanto a fragata quanto o destróier
tuição. O planejamento inicial previa gis chinês”), de 7.000 toneladas de são equipados com dois lançadores
o ataque simulado contra os navios deslocamento. No sistema de armas, triplos de torpedos antissubmarino
por jatos AF-1 Skyhawk e por heli- há um canhão principal de 100mm, de 324mm YU-7.
cóptero MH-16 Sea Hawk, da MB. além dos mísseis antiaéreos HQ-9 de
Infelizmente, as aeronaves não pude- defesa de área (versão naval do S-300 Agradecimentos: ao Centro de
ram ser vistas pelos jornalistas, pois russo) e dois CIWS Type 730 de Comunicação Social da Marinha
as condições meteorológicas estive- 30mm, com uma unidade instalada (CCSM) e à tripulação do NPaOc Apa
ram ruins em boa parte do exercício. no segundo convés, à proa, e outra so- pela atenção e apoio durante a cober-
tura desse histórico exercício.
Alexandre Galante

QQ A fragata Liuzhou vista pela proa. O canhão principal é de 76mm e logo à vante
dele existem dois lançadores sêxtuplos de foguetes antissubmarino Type 87, de
240mm. O radar de busca aérea é um Type 382 (busca combinada 3D) e há
também oito radares de direção de tiro para os mísseis antiaéreos HHQ-16 (VLS),
mísseis antinavio C802 e para o canhão principal; dois dos radares estão
montados nos reparos dos canhões de 30mm (CIWS)

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PODER NAVAL ESPECIAL
Fotos: Alexandre Galante

QQ À direita, a fragata Liuzhou, vista pela popa. Acima, os


armamentos em destaque: mísseis antinavio C-803 (similares
ao Harpoon americano) e dois CIWS Type 730 de 30mm,
parecidos com o Goalkeeper holandês. A aeronave é a Harbin
Zhi-9 (Z-9C,) versão naval do AS 365N Dauphin II fabricado
sob licença. Os lançadores VLS de 32 células na proa são
para mísseis antiaéreos HQ-16 ou Shtil VL (SA-N-12 VLS)

90 Forças de Defesa www.naval.com.br www.naval.com.br Forças de Defesa 91


PODER NAVAL REPORTAGEM
Fotos: Alexandre Galante

QQ Nas fotos desta página, as linhas elegantes


do destróier de defesa aérea Lanzhou (DDG-170),
Type 052C (o “Aegis chinês”), de 7.000
toneladas de deslocamento. Além dos mísseis
HQ-9 de defesa de área (versão naval do S-300
russo), a defesa antiaérea do navio conta com
dois CIWS Type 730, que ficam no segundo
convés na proa e sobre o hangar. As grandes
placas retangulares na superestrutura encobrem
as antenas do radar “phased array” Type 348

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PODER NAVAL VIGILÂNCIA
Divulgação QQ NPaOc Amazonas, líder de sua NPa permite uma gradação no uso da escoltas e em outros tipos de navios. do tubo (para 40mm/L70). Apesar de
classe na Marinha do Brasil força, evitando a repetição de casos Suas metralhadoras derivam de um derivarem de um canhão antiaéreo,
de enganos ocorridos no passado re- projeto originado na Alemanha no en- foram adaptados como canhões na-
cente por algumas marinhas. Isso tre guerras, que também foi produzido vais também para emprego de super-
porque esses meios formam um gran- na Suíça e vendido à Inglaterra, com fície, e são utilizados em diferentes
de leque de medidas dissuasórias an- função antiaérea, e aperfeiçoado ao versões em diversas marinhas e vá-
teriores a um tiro de aviso e ao tiro longo dos anos. Sua munição é de pro- rias classes de navios.
direto com armamento letal contra dução nacional, dos tipos explosiva, A versão mais moderna é automati-
um Contato de Interesse, que são as traçante, incendiária e de treinamen- zada, diferentemente das utilizadas
duas últimas modalidades previstas to. Na atualidade, é utilizado como ar- nos NPa brasileiros, semi-automatiza-
em lei. Esses equipamentos necessi- mamento secundário nas funções an- das. Os ganhos em precisão, ergono-
tam de relativamente pouco volume e tissuperfície e antiaérea. mia e segurança de um reparo automa-
espaço, possuem aplicação dual, per- As metralhadoras de 12,7mm ou tizado sobre um semi-automatizado
mitem uma doutrina de gradação de 0.50 pol. são as antigas e confiáveis são enormes, apesar da manutenção
força e sua manutenção é geralmente “ponto cinquenta”. Apesar de vistas necessitar de uma maior especializa-
simples. São adequados a quase todos como “anêmicas” pelo senso comum, ção. Atualmente, sensores optrônicos
os cenários desde os tempos de paz, especialmente quando comparados a permitem a designação a custos mais
em missões de intervenção sob o calibres maiores utilizados por meios baratos do que dos radares diretores.
mandato de organismos internacio- navais, são bastante funcionais contra Além disso, esses sensores aumentam
nais e nos conflitos armados. alvos com nenhuma ou pouca blinda- a consciência situacional em cenários
gem, de superficie ou aéreos, e empre- de denso tráfego e condições atmosféri-
Armas de diferentes calibres gadas em diversos meios de marinhas cas adversas (como chuva e névoa) e,
Os canhões utilizados pelos NPa de todo o mundo. Atualmente, há ver- por fim, permitem a operação segura
são o seu principal armamento, po- sões em reparos automatizados, embo- no período noturno. Tais sensores po-

Patrulha Naval: exercendo dendo ser de operação manual, semi-


-automatizada ou automatizada. As
metralhadoras, pelos seus calibres e
ra os usados pela Marinha do Brasil
sejam manuais.
Para dissuadir um Contato de In-
dem estar diretamente acoplados ao
canhão ou em outra posição.
Outro calibre de canhão utilizado

a soberania - parte 2
cadência de fogo, apresentam-se par- teresse quanto à sua integridade ma- em nossos NPa, no caso, NPaOc da
ticularmente coercitivas ao pessoal terial e, se necessário, efetivar uma classe “Amazonas”, é o de 30mm. In-
dos Contatos de Interesse, mas pos- parada de máquinas “coercitiva”, os troduzido com a compra de oportuni-
suem pouca efetividade material. canhões são necessários, assim como, dade da referida classe, o canhão MSI
Os principais calibres de metralha- em casos extremos e não esperados DS 30M - Mk.44 é de operação auto-
doras utilizados pela Marinha do Bra- em tempos de paz, a destruição do matizada ou manual, utiliza munição
XX Ícaro Luiz Gomes ameaça/ações hostis à autoridade cêndios, e também como “argumento” sil são: 25mm, 20mm e 0.50pol. As me- contato. de 30mm explosiva, incendiária, tra-
joker@fordefesa.com.br marítima. O uso dissuasivo é aquele de autoridade de modo indireto ou tralhadoras de 25mm são operadas nos Os principais canhões utilizados çante e de treinamento. Possui uma
que produz a inibição da reação hostil direto. Também podemos relacionar navios-patrulha oceânicos (NPaOc) da nos atuais NPa da Marinha do Brasil versão de 40mm que poderia padroni-

N
a primeira parte deste artigo, ou ameaçadora à fiscalização da auto- os emissores sonoros de alta potência, classe “Amazonas”. Seus reparos MSI são originários de um projeto da épo- zar o calibre com o de outros canhões
publicada na edição 8 da revista ridade marítima. O uso coercitivo é que a longas distâncias funcionam DS 25M - M242 são considerados entre ca da Segunda Guerra Mundial volta- já utilizados pela Marinha. Essa so-
Forças de Defesa, apresenta- aquele no qual a reação do contato de como alto falantes e, a distâncias pró- os mais modernos da Marinha, contan- do para a Defesa Antiaérea, o Bofors lução poderia trazer ganhos relativos
mos os conceitos de Patrulha Naval interesse é evadir-se ou infligir danos ximas, como fonte sonora de alta in- do com designação de tiro por alça op- 40mm/L60. Com o tempo, o sistema a padronização de munição, embora a
(PATNAV) aplicados à Marinha do à autoridade marítima. Esta deverá tensidade (acima de 85 decibéis) para trônica do navio ou manual. Os repa- evoluiu junto aos avanços da automa- relação custo x benefício dessa troca
Brasil (MB), o nosso Mar Territorial e utilizar os meios disponíveis para for- dissuasão. Há também, embora sob ros de 20mm são em sua maioria do ção e de acordo com as ameaças, tam- seja discutível, pois os ganhos em al-
a chamada “Amazônia Azul”, as fases çar a parada do contato (na termino- análise e sofrendo críticas, o uso de tipo GAM-BO1, utilizados em NPas, bém com aumento no comprimento cance ou poder de fogo seriam su-
e meios empregados, além da comple- logia da PATNAV, Contato de Inte- sistemas de feixes luminosos/laser. O
mentaridade entre navios de maior e resse) em atitude hostil ou, em casos emprego do feixe laser é alvo de um
ícaro Luiz Gomes

de menor porte. Nesta segunda parte, extremos de desobediência e agres- dos protocolos de Genebra, no caso de
trataremos de outros aspectos da PA- são, a destruição do mesmo. Com uso unicamente para provocar ce-
TNAV, como sistemas de armas em- base nisso, metralhadoras e canhões gueira permanente, o que vem sendo
pregados, a doutrina da Ação de Visi- de pequeno/médio calibres são ele- bastante criticado. O emprego do fei-
ta e Inspeção, meios orgânicos como mentos dissuasivos do navio-patru- xe luminoso na PATNAV seria como
aeronaves (tripuladas ou não) e lan- lha (NPa) e, em uso, coercitivos o su- ferramenta de efeito psicológico, ser-
chas. Por fim, abordaremos as neces- ficiente na maioria das hipóteses de vindo também para ofuscar tempora-
sidades de modernização contínua da emprego, que incluem navios diver- riamente a visão de tripulante(s) do
PATNAV e de se obter mais navios sos em atividades ilícitas e até navios Contato de Interesse. Em algumas
para esta missão na MB. de guerra beligerantes de classe e ar- marinhas ou guardas costeiras, os
mamentos similares. navios são dotados de “aríetes” /espo-
Sistemas de Armas Outros meios menos letais ou de rões para manobras de abalroamen-
Pelo fato da PATNAV ter como ob- letalidade controlada podem ser utili- to. No entanto, devido ao risco desse
jetivos a implementação e o cumpri- zados para a dissuasão/coerção, sen- tipo de manobra infligir danos à pró-
mento de legislações, por vezes se faz do que alguns deles têm duplo uso. pria embarcação de patrulha, seu uso
necessário o uso do poder dissuasivo Entre esses meios, encontram-se ca- é visto por alguns com cautela.
e/ou coercitivo. Este deve ser propor- nhões d’água, adequados ao emprego O uso de meios de letalidade con- QQ Os principais canhões dos atuais NPa da MB são originários de uma arma da Segunda Guerra Mundial voltada à defesa
cional e gradual, conforme o nível de para controle de manchas de óleo, in- trolada ou não letais por parte do antiaérea, o Bofors 40mm/L60. Com o tempo, o sistema evoluiu para o modelo 40mm/L70. O desenho das torretas varia

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PODER NAVAL

QQ Perfil do NPa de 2O0t da


classe “Grajaú” da Marinha do
Brasil

Desenho: José da Silva - shipbuildingbr@gmail.com

plantados pelo custo de manutenção guindo essa lógica, como as classes às capacidades instaladas nos atuais
de um armamento mais pesado que o “Guepard”, “Tiger”, “Saar” etc, porém, navios-patrulha brasileiros ou nos
previsto. deve-se ressaltar que o principal em- que se encontram em construção
Em operações muito limitadas, os prego dessas classes não se configura (classe “Macaé”). A limitação do hori-
NPa podem ser utilizados no apoio exatamente nas operações de Patrulha zonte-radar de seus sensores, dada
de fogo naval. Um exemplo foi a to- Naval na paz, e sim em hipóteses de pela combinação da curvatura do pla-
mada das Ilhas Geórgia do Sul pela conflito. neta com o tamanho máximo de mas-
Argentina em 1982, onde se utilizou Com a consolidação da ameaça aé- tros e pesos elevados de antenas de
os canhões de 40mm e 20mm para rea (helicópteros com armamento radar em navios de pequeno porte,
esse apoio. Esse tipo de emprego por ASuW – guerra de superfície) e a mi- faz com que seja necessária a coorde-
NPa é muito limitado e indica-se niaturização, os mísseis antiaéreos nação com meios aéreos (Força Aérea
para meios com canhões de calibres (MSA) passaram a fazer parte dos Brasileira) ou aeronavais (Comando
a partir de 76mm, normalmente pre- sistemas de armas de classes de NPa, da Força Aeronaval) para que os al-
sentes em NPaOc (navios-patrulha inicialmente derivando de sistemas vos sejam adquiridos / iluminados.
oceânicos) e navios de escolta, como terrestres leves, exemplo do SA-8/SA- Nessa coordenação, faz-se necessário
fragatas e corvetas. Há canhões na- N-4 ou SA-7/SA-N-5. Poucos anos de- que haja um link de comunicação di-
vais modernos que fazem uso de mu- pois, surgiram sistemas dedicados a reta, segura e em duas vias, entre os
nições guiadas que permitem a reali- plataformas navais de pouca tonela- meios aéreos / aeronavais e o NPa-
zação do apoio de fogo desejado a gem, como o BARAK I israelense. Al- -MSS. Outro fator limitador é a ade-
distâncias maiores, com redução de guns MSA atuais preveem o uso dual, quação dos paióis existentes nas di-
danos colaterais. ou seja, também poderiam engajar versas Estações e Bases Navais,
Outro sistema de armas que pode- alvos na superfície. Um exemplo é o voltadas a operação de meios distri-
ria ser utilizado pelos NPa seria o mís- RAM, desenvolvido por Estados Uni- tais, para o armazenamento, supri-
sil. O emprego de mísseis por meios de dos e Alemanha. mento e manutenção de MSS/MSA.
Patrulha Naval pode seguir duas ver- Ainda que os MSS/MSA sejam ar- Ainda que haja tais limitações no
tentes: mísseis superfície-superfície mas eficazes e dissuasórias até para uso de mísseis pelos NPa da MB, es-
(MSS) e superfície-ar (MSA). O uso de unidades de maior tonelagem, como pecialmente na atualidade, já que
mísseis por navios do porte de NPa re- fragatas e contratorpedeiros, trata-se nenhum dos navios-patrulha possui
monta à década de 1960, e um dado de sistemas de armas complexos e essas armas instaladas, a doutrina
histórico representativo é o afunda- que não condizem com as hipóteses abrange seu uso em operações bas-
mento do contratorpedeiro Eliat israe- de emprego das patrulhas efetuadas tante específicas. Tais operações se-
lense por mísseis SS-N-2 Stynx lança- cotidianamente pela Marinha do Bra- riam as de defesa territorial / defesa
dos por embarcações egípcias da classe sil. A instalação dos mísseis e dos lan- externa e defesa de portos, atuando
“Komar”. Na década de 1980, houve çadores afeta a estabilidade dos NPa, junto ao tráfego mercante e no perío-
uma profusão de embarcações que pri- especialmente quando o emprego é no do noturno com o apoio da aviação
mavam por ser dotadas de MSS, com mar aberto, assim como ocupam es- em terra. Assim, as limitações ante-
pouca tonelagem e a alta velocidade. O paço e peso que normalmente seriam riormente expostas seriam diminuí-
uso de NPa equipados com MSS pode usados para combustível e víveres, das e os ganhos dissuasórios seriam
ser visto, naquela época, como uma re- conferindo maior autonomia, funda- aumentados, permitindo repelir pos-
edição da ”Jeune École” do Almirante mental para missões de PATNAV no síveis ataques perpetrados por for-
Aube, do final do Século XIX (que advo- nosso cenário. ças opositoras que se aproximem da
gava pelo uso de frotas de pequenos Sistemas de MSS/MSA necessi- costa/portos, numa clara atividade
torpedeiros contra os grandes encoura- tam de capacidades eletroeletrônicas de negação de uso do mar em cená-
çados). Diversos projetos surgiram se- e de refrigeração que não se adequam rios específicos.

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PODER NAVAL VIGILÂNCIA

Ação de Visita e Inspeção: QQ NPa Macaé, de 500t. Alexandre Galante Vehicles (UUV) e Unmanned Surface
o diferencial e a razão de ser Observar os botes semi-rígidos Vehicles (USV), respectivamente veí-
da PATNAV
na popa usados para busca e culos submarinos não-tripulados e
salvamento e transporte de veículos de superfície não-tripulados.
A PATNAV se efetiva não apenas Grupo de Visita e Inspeção (GVI)
pela presença de um NPa realizando o A atividade do UUV seria na guerra
e Guarnição de Presa (GP)
esclarecimento de uma determinada de minas e o USV atuaria no esclare-
área marítima mas, principalmente, cimento, identificação e ASuW.
pela capacidade efetiva de fiscalizar e As Lanchas de Abordagem / Inter-
fazer valer as legislações brasileiras e ceptação são fundamentais para a AVI,
internacionais no mar sob nossa res- haja vista a necessidade de transpor-
ponsabilidade. Essa fiscalização é con- tar rapidamente o GVI/GP ao contato
duzida pela Ação de Visita e Inspeção de interesse. O meio com a melhor re-
(AVI). As ações que compõem a AVI lação de custo x beneficio é o RHIB.
estão previstas no Direito Internacio- Trata-se de botes infláveis de casco rí-
nal como ferramentas para averiguar gido (a sigla RHIB significa Rigid Hull
e corroborar a passagem inocente e o Inflatable Boat) que dispõem de um
cumprimento das legislações nacio- potente grupo propulsor e equipamen-
nais e internacionais que regulam o tos de navegação adequados, produzin-
uso dos mares, por exemplo: explora- do um meio robusto e de alta velocida-
ção de recursos vivos, recursos mine- de. Essas características são
rais, transporte de cargas e pessoas. É mandatárias, dado que são embarca-
a AVI que diferencia a PATNAV da ções de múltiplo uso. Entre as atribui-
Inspeção Naval, da qual tratamos bre- ções dos RHIB estão: a salvatagem de
vemente na primeira parte deste arti- pessoas e material à deriva, desembar-
go, na edição passada da revista. A A composição e a dimensão do GVI pecíficos a esse cenário. A progressão Patrulha Naval, como lanchas de nha do Brasil, como meio de Patrulha que de Forças Especiais, além de, prin-
AVI é a razão de ser da PATNAV. e da GP estão condicionados à classe de do GVI durante a AVI baseia-se na abordagem e os helicópteros embar- Naval capaz de operar helicópteros, é cipalmente, desembarque, abordagem
A Marinha do Brasil define a AVI NPa da qual se originam. As diferentes Doutrina de Combate em Ambiente cados. Esses elementos, agindo em a nova classe “Amazonas”, de 2.000 to- e extração do GVI/GP. A última tarefa
como sendo aquela de caráter militar classes de NPa presentes na MB (vide Fechado (Close Quarter Combat/ conjunto com os navios-patrulha na neladas, dotada de convoo (que, além é a que mais interessa ao presente tex-
realizada rotineiramente desde os parte 1 do artigo) permitem diferentes CQC), onde os elementos fazem o des- PATNAV, aumentam exponencial- de abordada na primeira parte deste to. A faina (termo naval para tarefa)
tempos de paz, respaldada no Direito arranjos quanto ao pessoal e ao mate- locamento, varredura e inspeção de mente a eficácia e a efetividade desta. artigo, na edição passada, foi objeto de em questão já poderia ter sido aborda-
Internacional, Legislações Nacionais, rial a ser empregado numa AVI. Tam- forma contínua, fluída e em apoio O vetor aéreo, no caso os helicópte- matéria específica e detalhada na re- da anteriormente, mas por escolha
Normas e Doutrinas reconhecidas bém estão condicionados ao nível de mútuo. Essa doutrina permite a se- ros, permite que seja adicionada uma vista Forças de Defesa número 6). deste autor isso é feito agora.
pelo país. A AVI objetiva primeira- ameaça que o Contato de Interesse gurança da equipe frente a possíveis nova dimensão na condução da missão Os cenários futuros vislumbram o A abordagem com o uso de RHIB
mente exercer a soberania do Brasil apresenta ou poderá apresentar, além ameaças, além de uma busca siste- de PATNAV. A associação da rápida uso de Aeronaves Remotamente Pilo- acontece após o Contato de Interesse
pelo controle dos espaços marítimos de outros condicionantes doutrinários mática por irregularidades e uma mobilidade e flexibilidade do vetor aé- tadas (ARP) embarcadas, atuando parar máquinas. Nesse momento, o
sob sua jurisdição (Amazônia Azul) ou táticos. O GVI pode ainda ser com- ação rápida, clara e objetiva. reo com um maior alcance dos eventu- principalmente no esclarecimento, RHIB é posto na água, seja pelos tur-
ou em proveito daqueles do interesse posto por servidores de outros órgãos O uso de armamento não-letal ais sensores aeroembarcados, faz com identificação e ASuW. As capacida- cos ou por uma rampa traseira do NPa
nacional em manobras de crises/con- federais e/ou estaduais quando assim pelo GVI/GP encontra-se em estudo. que o mesmo seja o meio ideal na fase des de operação por longos períodos e dedicada a essa função, que vem se
flitos armados, colaborar com a re- for demandado, haja vista as qualifica- Para este autor, o uso do spray de pi- de esclarecimento e identificação. Ou o baixo custo são especialmente atra- tornando mais comum em novos pro-
pressão de ilícitos transnacionais e ções técnicas dos mesmos em proveito menta, armamento elétrico e grana- seja, os helicópteros embarcados per- tivos às marinhas de orçamentos li- jetos, embora os meios de PATNAV da
colaborar com os serviços de preser- da fiscalização e implementação das das de luz e som seriam exemplos de mitem realizar o esclarecimento em mitados, reservando o emprego de MB não contém com essa facilidade.
vação dos mares e seu uso. Ela pode legislações vigentes. Fuzileiros Navais ferramentas consoantes com os prin- uma área maior que o NPa efetuaria helicópteros embarcados para navios No caso de descida pelos turcos, geral-
ser exercida por qualquer navio da e Mergulhadores de Combate também cípios da proporcionalidade e de gra- no mesmo espaço de tempo e a identi- de escolta e outros meios de maior mente o GVI embarca com o meio já
MB, desde que seguidas as normas poderão formar o GVI/GP. dação do uso da força. ficação dos contatos com maior preci- porte, nos quais se incluem também na água. O RHIB se desloca até as
próprias da atividade que definem Os militares devem contar com ar- Caso a embarcação tenha infringi- são e a maiores distâncias. os navios-patrulha oceânicos, como proximidades do contato, iniciando a
seu emprego e dimensionamento. mamento portátil (principalmente do alguma lei brasileira, a mesma Os helicópteros embarcados tam- mostramos há pouco (sendo que todos abordagem, e, nessa fase, o RHIB com
A AVI é normalmente efetivada pistolas) próprio da MB, e o emprego pode ser apresada pelo Grupo de Pre- bém podem agir como extensões do esses meios maiores, por sua vez, o GVI deve realizar algumas mano-
pelo Grupo de Visita e Inspeção (GVI) das armas obedecerá à regra de auto- sa (GP). Se for observado que a embar- sistema de armas, atuando na desig- também podem empregar ARP). De- bras no entorno do contato, visando
que pode ser reforçado pela Guarni- defesa às reações da tripulação do cação não possui os requisitos míni- nação de alvos para os armamentos vido às reduzidas dimensões da maio- demonstrar força, além destas prove-
ção de Presa (GP). O GVI é um grupo Contato de Interesse que exponham mos de segurança para navegação, ela embarcados, como MSS, ou configura- ria dos navios-patrulha, essas ARP rem maior segurança ao GVI, que as-
composto por militares previamente os membros do GVI a grave lesão cor- deve ser escoltada até o porto mais dos para ASuW (com metralhadoras, tendem a ser plataformas de asas ro- sim pode avaliar taticamente o em-
designados pelo comandante do navio poral ou à morte. Devem portar capa- próximo. Caso seja constatado um fla- foguetes e mísseis ar-superfície). As- tativas (como o Camcopter S-100), de barque/infiltração que ocorrerá em
e que estão doutrinária, mental e fisi- cete balístico, colete balístico, joelhei- grante delito de algum membro da tri- sim, realizariam fogos coordenados configuração semelhante à dos atuais seguida. Ato contínuo, o RHIB aproxi-
camente adestrados e preparados ras, cotoveleiras, luvas, cordas e pulação, os executores da PATNAV com NPa sobre o contato hostil. Du- helicópteros embarcados, porém de ma-se do costado avaliado como de
para, numa única ação, efetuarem a andainas. Se necessário, a GP, no poderão se comportar como polícia ju- rante a abordagem do contato, o heli- menor porte. Alguns projetos dão menor risco ao GVI e mais efetivo
AVI. Se necessário, eles deverão navio-patrulha ou meio orgânico, po- diciária, efetuando a prisão dos infra- cóptero pode atuar como plataforma conta de plataformas de asa fixa reco- para se tomar o controle do contato.
apresar o Contato de Interesse, assu- derá se utilizar do armamento de pre- tores e encaminhando-os posterior- de desembarque do GVI, plataforma lhidas por redes ou içadas pelos tur- Com o RHIB junto ao costado, o
mindo o controle da embarcação, de cisão ou de apoio de fogo para garan- mente às autoridades responsáveis ao de apoio de fogo e como plataforma de cos após um pouso na água (como o GVI embarca/infiltra-se utilizando
seus tripulantes e passageiros. A GP tir a segurança e a progressão do chegar ao porto mais próximo. extração. Porém, o uso de helicóptero Boeing ScanEagle). uma escada quebra-peito com gancho
é um grupo de militares destinado a GVI. O GVI/GP também poderá atu- como meio orgânico de um navio-pa- O futuro aponta para o uso de ou- na ponta para fixação, permitindo
reforçar o GVI, quando os riscos à se- ar no período noturno. Nesse caso, os Meios orgânicos dos navios-patrulha trulha pressupõe que este seja de por- tras soluções robóticas a serem incor- uma ação segura. Após o embarque/
gurança ou sua capacitação técnica militares utilizam NVG/OVN (óculos A legislação cita que meios orgânicos te adequado a receber um convoo e poradas aos meios orgânicos dos NPa. infiltração do GVI, o RHIB deve reali-
assim demandarem o emprego. de visão noturna) e procedimentos es- dos NPa poderiam ser utilizados na eventual hangar. Exemplo na Mari- Seriam os Unmanned Underwater zar outro conjunto de manobras no

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PODER NAVAL
entorno, visando o acompanhamento
das ações do GVI e a prestação do
apoio necessário. Com o fim da AVI
realizada pelo GVI, e caso nenhuma
irregularidade ou crime sejam cons-
tados, o RHIB realiza o desembarque/

Marinha do Brasil
exfiltração do GVI, dirigindo-se de
volta ao NPa para ser recolhido. Caso
haja apresamento, o RHIB pode pro-
ver o transporte da GP do NPa ao na-
vio apresado, ou apenas ser recolhido
pelo NPa.

Conclusão
O presente texto buscou demons-
trar, ainda que brevemente, a grande
complexidade da atividade de PAT-
NAV e a sua importância para o Bra-
sil e para a Marinha. Diante do ex-
posto, é possível afirmar que a
COMUNICAÇÃO SATELITAL
PATNAV é uma atividade tipicamen-
te militar.
A necessidade de meios como o
DE MÁXIMA CONFIABILIDADE
navio-patrulha oceânico (NPaOc) é
urgente, ao passo que a atual dotação
de apenas três unidades recentemen-
PARA AS FORÇAS ARMADAS
te adquiridas por oportunidade (clas-
se “Amazonas”) é aquém das deman- Através de constante esforço inovador e de A Indra conta com as tecnologias e capacidades de
das da missão. De fato, a atual estreito contato com o usuário final, a Indra engenharia necessárias para a implementação de
dotação de navios-patrulha de menor
proporciona todos os elementos necessários sistemas de comunicação via satélite destinados
porte também é aquém da necessá-
ria, sendo que o acréscimo de duas para a elaboração de redes seguras, confiáveis a atender plenamente às necessidades de
unidades de 500 toneladas (classe e potentes, que permitam a troca de informação comunicação das Forças Armadas.
“Macaé”) em anos recentes, havendo QQ Nas fotos acima, o treinamento de GVI/GP da Marinha do Brasil com a Guarda em forma de voz, imagem, vídeo, dados e fax,
mais três em construção, contribui Costeira de Cabo Verde
para amenizar, mas não solucionar,
em qualquer ponto de cobertura dos satélites
essa carência. A aquisição por “lea- NPaOc, haveria um impacto menor dos GVI/GP, em conjunto com arma- utilizados.
sing” de 20 NPa classe “Macaé” pre- em outras características dos navios, mento não-letal, é importante adequar
tendida pela MB, cuja construção se- como a autonomia, em comparação a habitabilidade dos referidos meios,
ria custeada pelo arrendador, com esse impacto em navios de menor haja vista o decréscimo da efetividade
deslocamento. Para este autor, dois laboral ocasionada por stress relacio-
TERMINAIS MÓVEIS TERMINAIS TERRESTRES TERMINAIS MARÍTIMOS
eventualmente poderá se tornar um
divisor de águas na aquisição de ma- lançadores de MSS da categoria do nado às condições ambientais de habi- • Bandas Ka, X & Ku para Ambientes • Bandas Ka, X & Ku • Sistemas de multibanda (X/Ku e X/Ka)
terial e poderia responder de forma MM-40 Exocet (categoria esta que tação. Esses pontos deveriam passar Móveis • Estações Fixas • Terminais SATCOM Banda X e Ku
efetiva à necessidade de meios, com conta hoje com um projeto nacional por estudos mais aprofundados.
em desenvolvimento) e um reparo du- Um último ponto a ser levantado
• Satcom On the Move (SOTM) • Fly-Away tático para Submarinos
mais rapidez.
A contínua modernização da plo de MSA do tipo Simbad (mísseis seria o das atuais Estações Navais e • Satcom On the Pause (SOTP) • Alta Capacidade e Links Múltiplos • Terminais de Antena Single/ Dual
PATNAV é uma necessidade, assim Mistral) seria a configuração ideal Bases Navais que são sedes de Gru- • Todas as redes IP-DAMA • Interfaces Multiusuário • Portadora simples ou multiportadora
como a atualização dos meios em im- para um NPaOc em eventual situa- pamento de Patrulha Naval – no
plantação e dos projetos em constru- ção de conflito em que uma ameaça caso, os Distritos Navais. É impres- Integralmente Automatizadas • Operações Multibanda • Comunicações Seguras EoIP
ção ou modernização, para que ope- aérea como helicóptero esteja entre cindível verificar como podem prestar • Antenas Estabilizadas nos Três Eixos
rem com meios robóticos e meios as possibilidades, ou mesmo uma be- apoio aos meios oceânicos e ao cresci- • Rádio Definido por Software (SDR)
aéreos (tripulados ou não), o que au- lonave de porte semelhante. mento da força de NPa com suas atu-
mentaria a eficácia do controle de A constante atualização da doutri- ais infraestruturas, e adequá-las • Modem com roteador de IP
nossas Águas Jurisdicionais. Dotá- na de GVI/GP é uma meta a ser sem- para tanto. Porém, isso já é um as-
-los com as capacidades para opera- pre perseguida, dado que a atividade sunto para um futuro estudo.
ção de sistemas de armas modernos, de AVI é a que realmente caracteriza a
tais como emissor sonoro de alta po- PATNAV. Atenta a essa questão, a NOTA: reiteramos os agradecimentos
tência e reparos automatizados, seria Marinha do Brasil realiza intercâm- especiais já conferidos na primeira A Indra colabora desde 2006 com o Sistema de
desejável. E, no caso dos meios oceâ- bios anuais com marinhas amigas e parte do artigo ao capitão de corveta Comunicação Militar por Satélite (SISCOMIS),
nicos com provisões para instalação envia militares para a realização de Giovani Correa e ao capitão-tenente fornecendo sistemas terminais táticos e móveis
de MSS e/ou MAS, o recebimento des- cursos no exterior. Para dotar os NPa e Matias Nunes, assim como a seus co- para as Forças Armadas Brasileiras contatobrasil@indracompany.com
tes seria uma vantagem estratégica, NPaOc com adequadas instalações mandados, pela atenção dispensada indracompany.com
sendo que, devido ao maior porte dos para militares dedicados à atividade para a elaboração deste trabalho.

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FORÇAS TERRESTRES FORÇAS ESPECIAIS

GSG-9,
pelo Governo Israelense. Um outro é grenschutz” era operacionalmente di- e ameaçava explodir a aeronave.
considerado como ainda vivo. Todo o vidida em quatro divisões, cada uma Aquela foi apenas a primeira parte
episódio, incluindo os seus desdobra- com dois grupos (“Gruppen”). de uma nervosa viagem que incluiu se-
mentos, foi objeto de vários livros e quencialmente Damasco (Síria), Bag-
filmes, o mais recente deles o pre- Batismo de fogo dá (Iraque) e Cidade do Kuwait
miado “Munique”, de 2005. Em 13 de outubro de 1977, logo (Kuwait), cidades nas quais o pouso da

a pronta-resposta
após a decolagem de Palma de Mallor- aeronave, batizada “Landshut” em ho-
Nasce o GSG-9 ca, Espanha, para Frankfurt, Alema- menagem a uma localidade na Bavá-
Com a divulgação mundial do fra- nha, um Boeing 737-230C da Lufthan- ria, foi negado. O Boeing finalmente
casso da missão, o Governo Alemão sa com 86 passageiros e cinco aterrissou no Bahrain, de onde partiu

alemã ao terrorismo
apressou-se em estabelecer uma for- tripulantes foi tomado de sequestro para Dubai (Emirados Árabes Unidos),
ça antiterrorismo, a fim de evitar a por quatro militantes palestinos do lá pousando na manhã do dia 14. Em
repetição de tragédias em situações auto-intitulado “Comando Mártir Ha- Dubai, o avião permaneceu por três
semelhantes – vale lembrar que ou- lime”. Os sequestradores, que incluí- dias, tempo suficiente para que uma
Juergen Schwarz
tra ação terrorista aconteceu meros am duas jovens, queriam levar a aero- equipe do GSG-9 chegasse aos Emira-
XX Sérgio Santana 21 dias depois do massacre, como nave a Larnaca, no Chipre, mas foram dos e cogitasse uma retomada do avião
mostramos acima. convencidos a pousar em Roma para em conjunto com o SAS (regimento bri-

A
partir desta edição, a revista O oficial escolhido para criar a força reabastecimento, de onde partiram na tânico de forças especiais que prestou
Forças de Defesa inicia uma antiterrorista foi o tenente-coronel tarde daquele dia. O grupo queria a assessoria nas opções de resgate, mas
seção periódica sobre Forças Es- Ulrich Wegener da Polícia de Fronteira libertação de prisioneiros da “Facção não se envolveu diretamente na opera-
peciais, visando preencher uma lacu- (Bundesgrenzschutz), que durante a do Exército Vermelho” (organização ção). Um exercício para a operação foi
na sobre um assunto de interesse crise atuou ao lado do ministro do Inte- comunista alemã, também conhecida iniciado e o “Landshut” decolou para
permanente dos leitores. rior da Alemanha, Hans-Dietrich Gens- como “Gangue Baader-Meinhof”, devi- Aden, no Iêmen, onde executou um
Como daqui a poucos meses o Bra- cher. Antes mesmo de receber a ordem, do ao nome de dois dos seus fundado- pouso de emergência em uma faixa de
sil sediará um grande evento esporti- Wegener já analisava a criação de um res), de dois palestinos. Também exi- areia, porque a pista principal estava
vo – a Copa do Mundo de 2014 – não grupo para esse tipo de emprego. gia a quantia de 15 milhões de dólares bloqueada pelas autoridades do país.
há grupo de elite mais indicado para Em entrevista para o livro “Um dia Reprodução
inaugurar esta seção do que o alemão em setembro: a história completa do
GSG-9, forjado por trágicos aconteci- massacre das Olímpiadas de Munique
mentos durante a Olímpiada de Mu- de 1972 e a operação de vingança isra-
nique em 1972. elense ‘Ira de Deus’” (One Day in Sep-
tember: The Full Story of the 1972 Mu-
O ‘Massacre de Munique’ nich Olympics Massacre and the
Para compreender o surgimento QQ Comandos do GSG-9 desembarcam de helicópteros em Bonn, durante as Israeli Revenge Operation “Wrath of
do GSG-9, é necessário descrever bre- celebrações dos quarenta anos da tropa, em setembro de 2012 God”), escrito por Simon Reeve e publi-
vemente a sequência de ações inicia- cado em 2005, Wegener opinou que a
da com o ataque terrorista do grupo contudo, foi armada a primeira tenta- cionados na base e armados com sim- operação foi uma sequência de erros,
palestino “Setembro Negro” contra tiva de retomar os reféns, quando um ples fuzis HK G3, a arma longa incluindo o de ser diretamente geren-
atletas israelenses, alojados na Vila contingente policial federal tentou padrão do Exército Alemão. ciada pela mais alta autoridade alemã
Olímpica de Munique. surpreender os terroristas por um Quando o líder dos terroristas di- na ocasião, Genscher, quando este de-
Na madrugada de quatro de se- dos lados do alojamento. Porém, ce- rigiu-se ao Boeing, verificou que o via ser o último degrau na negociação,
tembro de 1972, oito membros daque- nas das ações desses policiais acaba- mesmo estava vazio, e por isso gritou o que permitiria ganhar tempo e des-
la organização terrorista lograram ram sendo involuntariamente mos- para os demais que se tratava de uma gastar os sequestradores.
penetrar no alojamento da delegação tradas pela TV, que acompanhava emboscada. Desencadeou-se um tiro- Assim, Wegener tratou de selecio-
israelense. Para isso, estavam disfar- todo o acontecimento, e foram vistas teio, que resultou na morte de um dos nar seus melhores homens, iniciando
çados como corredores, porém arma- pelos palestinos, que ordenaram a re- policiais envolvidos, de cinco dos pa- um processo de avaliação dos elemen-
dos com fuzis, pistolas e granadas. O tirada imediata do contingente sob a lestinos terroristas e de todos os re- tos necessários a um grupo especializa-
primeiro obstáculo vencido foi a resis- ameaça de morte de dois dos reféns. féns. Destes, alguns foram mortos do no combate ao terrorismo, o que in-
tência de alguns membros da delega- A aeronave que levaria os terro- por disparos dos terroristas, enquan- cluiu a avalição dos métodos utilizados
ção, despertados por ruídos dos terro- ristas e seus reféns para o Cairo, um to outros morreram quando ainda por tais organizações (como o seques-
ristas forçando a entrada nas Boeing 727, deveria partir da Base amarrados em um dos helicópteros, tro de aviões, cuja retomada foi treina-
acomodações. Seguiram-se disparos Aérea da OTAN (Organização do Tra- que explodiu devido a uma granada da exaustivamente por dois anos em
que resultaram em dois israelenses tado do Atlântico Norte) em Fürsten- arremessada por um dos palestinos. quase todo tipo de aeronave), além de
mortos e na apreensão de outros nove feldbruck, onde todos chegaram a Os remanescentes dos terroristas treinamentos conjuntos com o já des-
como reféns, que deveriam ser troca- bordo de dois helicópteros Bell UH-1. foram aprisionados, mas tiveram crito SAS britânico (ver Forças de
dos por 236 terroristas palestinos, No Boeing havia, inicialmente, poli- que ser soltos por exigência de outro Defesa número 4) e o Sayeret Mat’kal,
alemães e de outras nacionalidades, ciais vestidos como tripulantes, po- grupo terrorista que sequestrou um do Exército Israelense.
então presos. O prazo inicial para a rém estes resolveram abandonar o voo da Lufthansa, no final de outu- A nova tropa, designada “Grens-
troca era até nove horas daquela ma- jato antes que os helicópteros chegas- bro daquele ano. Acabaram sendo chutzgruppe-9”, grupo 9 de polícia de
nhã, prazo que mudou repetidas ve- sem, sem comunicar essa saída ao co- recebidos na Líbia como heróis. En- fronteira, ou simplesmente GSG-9,
zes, até que os terroristas concorda- mando da operação e nem aos cinco tretanto, nos anos seguintes, dois foi oficialmente apresentada em abril
ram em voar para a capital egípcia, policiais comuns, que foram encarre- deles foram “justiçados” pela “Ope- de 1973. A designação devia-se ao QQ As imagens mostram as consequências da desastrosa tentativa de resgate dos
Cairo, na noite do dia 5. Antes disso, gados de servir como “snipers” posi- ração Ira de Deus” desencadeada fato de que, na época, a “Bundes- reféns do “Massacre de Munique” em 1972

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FORÇAS TERRESTRES FORÇAS ESPECIAIS
Divulgação Divulgação
O pouso naquelas condições levou a res do “Comando Mártir Halime” fi-
suspeitas de avarias na aeronave, o cou escondida em um dos toaletes. A
que permitiu que seu comandante, troca de tiros resultou em ferimentos
Jürgen Schumann, saísse sob o pretex- leves num dos passageiros e num dos
to de examinar o Boeing. Horas depois, militares da equipe, e toda a operação
quando enfim retornou para o jato, foi finalizada em apenas cinco minu-
Schumann foi executado na frente dos tos, pouco depois das duas horas da
passageiros sob a acusação de estar madrugada do dia 18.
tramando para um resgate. O copiloto Foi a primeira das mais de 1.500
do “Landshut” foi obrigado a decolar missões do GSG-9, nas quais se admite
imediatamente na tarde do dia 17, que seis membros foram “perdidos em
rumo a Mogadíscio, na Somália. ação” até o momento, dois deles no Ira-
Sem que os terroristas desconfias- que, em 2004, quando o grupo ainda
sem, uma força de retomada compos- era encarregado de proteger embaixa-
ta por 30 homens do GSG-9 deslocou- das alemãs espalhadas pelo mundo.
-se para o mesmo local, lá chegando A ordem para ativação do GSG-9
ao cair da noite daquele dia, enquan- vem do Ministério Federal do Interior
to o prazo para a libertação dos pri- e, embora o grupo seja uma unidade
sioneiros se aproximava: este havia policial alemã, seu espectro de atuação
sido “concordado” para o começo da- QQ Frações do GSG-9 demonstrando suas habilidades de deslocamento em vias QQ Equipe do GSG-9 posa em frente a um helicóptero Super Puma da Polícia inclui a União Europeia e mesmo terri-
quela madrugada, mas na verdade aquáticas Federal alemã tórios além desse espaço geográfico,
era um blefe para ganhar tempo. como o de países pertencentes às Na-
Pouco antes do horário previsto para O continente africano não era um um ano antes envolveu comandos de “Fóierzauber”, truque do fogo, numa cada uma das entradas de emergên- ções Unidas. Também fazem parte das
a retomada por parte do GSG-9, três território desconhecido pelo então co- Israel no resgate de passageiros isra- provável alusão ao clarão provocado cia sobre as asas. Anunciando em ale- funções da unidade as consultorias a
dos terroristas foram atraídos para a ronel Ulrich Wegener, pois como par- elenses detidos em um voo da Air pela luz repentina das granadas de mão quem eram e ordenando que os organizações policiais no mundo intei-
cabine de pilotagem do Boeing por to- te do aprendizado para fazer do GSG- France, tomado por palestinos e esta- efeito moral detonadas na hora da re- passageiros se jogassem no chão, os ro, sendo que o Comando de Operações
chas acesas na pista, numa tentativa 9, uma unidade apta a retomar cionado em Uganda. tomada) foi executada por três equi- integrantes do GSG-9 eliminaram Táticas do Departamento de Polícia
de se minimizar a possibilidade de aeronaves, Wegener tomou parte da A operação de resgate, denomina- pes: uma delas entrou por uma das imediatamente dois terroristas e feri- Federal do Brasil já absorveu boa par-
vítimas inocentes. “Operation Thunderbolt” (Raio), que da “Feuerzauber” (pronunciada portas dianteiras e as demais por ram outro, enquanto uma das mulhe- te dos ensinamentos do GSG-9.

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Wikipédia
Organização e Armamento
O GSG-9 hoje possui seções de
pessoal, de apoio, de treinamento,
além de três unidades especiais ope-
racionais, subdivididas em pelotões
de liderança e forças-tarefas espe-
ciais como o menor elemento tático,
compostos por um atirador de preci-
são, um mergulhador e um paraque-
dista. No total, o efetivo é estimado
em 450 homens, baseados em Sankt
Augustin, Colônia, onde também está
a base da aviação da Polícia Federal
alemã, à qual o grupo está atualmen-
te subordinado.
O armamento do “Grenzschuts-
gruppe-9” é quase integralmente
composto por armas alemãs, com al-
gumas poucas exceções (nesses casos,
com origem marcada entre parênte-
sis na relação abaixo):
Pistolas Glock 17 (Áustria), Heck-
ler & Koch HK USP, ambas em 9mm;
submetralhadoras HK MP5 e MP7,
também em 9mm; fuzis de assalto
HK G36, G36K, G36C e SIG 551
(Suíça), todos em 5.56mm; metralha-
dora de apoio HK 21 em 7.62mm; fu-
zis de precisão HK PSG-1 em 7.62mm
e PGM Précision 338 (França), e 338
Lapua Magnum.
Uma característica curiosa sobre
o GSG-9 é que seus membros usam
relógios exclusivamente projetados
para satisfazer suas necessidades
operacionais: são os modelos Sinn UX QQ Quatro membros do GSG-9 desembarcam de um helicóptero UH-1 em
GSG 9/EZM 2B, confeccionados em treinamento, utilizando a técnica de “fast rope”
aço submarino para profundidades
até 12.000 metros (!), amplitude de ta profissional!) e 100 metros em até da Marinha Alemã), de paraquedis-
operação entre -20 graus e +60 graus 13.4 segundos. O candidato também mo nas modalidades HAHO (High
centígrados. Em seus mostradores, o precisa alcançar 2,4 metros no salto Altitude/High Openning, salto em
ar é substituído por um óleo que pro- em distância e executar pelo menos grande altitude com abertura do pa-
porciona visibilidade em qualquer sete flexões carregando um peso mí- raquedas em elevada altura) e
ângulo e profundidade. nimo de 50 kg, além de correr numa HALO (High Altitude/Low Open-
pista de obstáculos. Já a aptidão ning, salto em grande altitude com
Admissão e Treinamento mental avalia o nível intelectual, a abertura do paraquedas em baixa
Apenas policiais federais podem capacidade de concentração e a facili- altura). Assim, podem atuar como
se inscrever para a admissão no dade de trabalho em equipe. Há tam- “snipers”, mergulhadores, especia-
GSG-9. Os requisitos incluem ficha bém avaliação no manuseio de armas. listas em invasão aerotransportada,
de serviço isenta de penalidades, 32 É dito que esta fase elimina até em explosivos e em monitoramento
anos de idade máxima e ausência de 15% dos candidatos. de comunicações.
quaisquer problemas físicos, incluin- Os aprovados ingressam num Ao fim do período de treinamento,
do alterações na visão, verificados curso de treinamento com duração que costuma eliminar cerca de 80%
em perícia médica. As inscrições de dez meses, dos quais quatro cor- dos candidatos inicialmente inscri-
ocorrem duas vezes por ano, em maio respondem à formação básica. Esta tos, o especialista recebe a insígnia
e setembro. inclui tiro, treinamento tático-opera- da unidade e está pronto para as
Se aprovado, o candidato passa cional, falsificação de documentos e ações, sobre as quais jura solenemen-
por um período de avaliação de três abordagem de vários tipos de veícu- te manter segredo. Um bônus de 400
dias, durante os quais são testadas a los. A outra parte do curso é destina- Euros (aproximadamente R$ 1.200) é
suas aptidões física e mental. No pri- da ao adestramento de penetração adicionado ao soldo do novato.
meiro caso, é exigido que ele corra em trens, aviões e navios. Para tan- Atualmente, o GSG-9 está incluí-
5.000 metros em, no máximo, 23 mi- to, recebem instruções de mergulho do na “elite da elite” das organizações
nutos (resultado esperado de um atle- (com os mergulhadores de combate policiais especiais antiterror.

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FORÇAS TERRESTRES CARROS DE COMBATE
Santiago Rivas

M24 uruguaios
Os últimos
‘Chaffee’

QQ Os carros de combate M24


Chaffee serviram ao Exército
Uruguaio por 56 anos

XX Santiago Rivas recebidos em 25 de novembro de EUA um programa de ajuda militar


O Exército Uruguaio é o último dos operadores do 1944, durante a Segunda Guerra para modernizar suas forças arma-

A
pesar de ser um pequeno país, o Mundial: um lote de 40 carros de das. As negociações resultaram na
venerável carro de combate leve M24 Chaffee, que está Uruguai sempre manteve uma combate leves M-3A1 Stuart, que compra de material novo e o Exército
força modesta, mas interessan- equiparam o Regimiento de Caballe- Uruguaio (Ejército Nacional Uru-
deixando o serviço operacional para dar lugar aos M41 te, de veículos blindados e carros de ría N°4 de Montevidéu e, mais tarde, guayo) adquiriu, entre outros itens,
combate, fornecidos principalmente o Regimiento N° 2 em Durazno. um lote de 17 carros de combate leves
doados pelo Brasil pelos Estados Unidos e pela Europa Sete anos após a guerra, em 1952, M24 Chaffee para aumentar o poder
Oriental. Os primeiros carros foram o Uruguai assinou com o governo dos de suas unidades blindadas. Vale di-

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Santiago Rivas

Os carros receberam uma nova Eles foram chamados localmente


pintura, eliminando a “nose art”, e de VCI M-1 (Vehículos de Combate
voltaram para o esquema antigo, de Infantería Modelo 1).
com o brasão nas laterais e números Com eles, a compania foi organi-
em amarelo. Na parte de trás, fica- zada com apenas duas Secciones de
ram o nome da unidade (BN. I. Fusileros Blindadas e a Sección Ar-
BLDO. 13) e o número do veículo mas Antitanque com quatro veícu-
(E.3001 a 3017). Em 1995, essas los, os mísseis Milan e canhões sem
marcas foram removidas e os carros recuo de 106 milímetros. O BVP-1
receberam uma nova camuflagem está armado com um canhão de 73
em verde, marrom e verde muito es- milímetros, uma metralhadora
curo. 7.62x54mm e um lançador de mís- PROTECTS YOUR MISSION
Os M24s são tripulados por um seis Sagger. O último Condor, nú-
comandante, um atirador, um car- mero E-4029, foi retirado de serviço
QQ O tamanho reduzido do M24 Chaffee fica patente nessa foto de perfil regador e um motorista, e podem em 29 de junho de 1998.
levar um quinto membro da tripula-
zer que o M-3A1 Stuart, com seu bulentos anos de atividades dos ção para ajudar o motorista. As operações atuais e a chegada
fraco canhão de 37 milímetros, não guerrilheiros tupamaros, entre do M41
era poderoso o suficiente, enquanto 1968 e 1973. Novos veículos blindados Hoje, o batalhão está organiza-
o Chaffee era equipado com um ca- Durante seus primeiros anos de chegam ao batalhão do com a Compañía de Tanques, a
nhão de 75 milímetros M-6. Outras serviço, os carros foram pintados Enquanto isso, em 1972 a Com- Compañía de Fusileros Blindada,
armas do Chaffee eram uma metra- com camuflagem em tons diferentes pañía de Fusileros foi criada para a Compañía Comando y Servicios e
lhadora de 12,7 milímetros e duas de verde, com a inscrição BN I 13 CA organizar as unidades de infantaria o Centro de Instrucción de Perros
metralhadoras de 7,62 milímetros. nos lados da torre, abaixo do brasão do batalhão e, mais tarde, também de Trabajo Militar del Ejército,
Os carros foram retirados de esto- do Uruguai, e na parte da frente, foi criada a Compañía Comando y que treina os cães usados pelo
ques deixados pelo Exército dos juntamente com números nas late- Servicios, para comandar o bata- Exército Uruguaio. A unidade de-
EUA (U.S. Army) na Coreia e eram rais da torre, de 1 a 17. Mais tarde, lhão e apoiar as outras duas compa- pende da Brigada de Infantería N º
veteranos daquela guerra, embora os carros Chaffee receberam a sua nhias. A Compañía de Fusileros re- 5 enquanto ainda está com sede
tenham sido fabricados durante a identificação dentro da unidade no cebeu em 29 agosto de 1981 um lote em Montevidéu, pois está de mu-
Segunda Guerra Mundial. lugar do brasão, além de números de 17 veículos anfíbios 4x4 blinda- dança para Durazno, no centro do
Os M24 foram entregues ao Uru- maiores na torre. Em 1982, o carro dos Radpanzer Thyssen Henschel país, num processo em andamento
guai em 30 de setembro 1957, se- número 17 recebeu uma camuflagem TM-170 Condor, para transporte de neste ano.
guindo para o Batallón de Infante- experimental em verde oliva, mar- tropas, e tornou-se a Compañía de Os carros de combate leves M24
ría N º 13, em Montevidéu, que em rom claro, marrom escuro e preto. A Fusileros Blindada “Cobra”, organi- Chaffee mantêm as armas origi-
12 de julho de 1958 tornou-se o Ba- partir de então, todos receberam zada com uma seção de comando nais, que são o canhão de 75 milí-
tallón de Infantería Blindado Nº 13, uma “nose art” nos lados da torre. com dois veículos, três seções de fu- metros e as três metralhadoras.
organizando a Compañía de Tan- zileiros blindadas (Secciones de Fu- Atualmente, os veículos estão dan-
ques com três seções de cinco carros Modernização dos carros Chaffee sileros Blindadas) com quatro veí- do mostras de sua idade, apesar de
cada e o comando com dois carros. na década de 1980 culos cada, e uma seção de armas, todo o cuidado do pessoal da unida-
Eles foram recebidos juntamente Também em 1982, a empresa ar- com dois Condor. Também faziam de, que mantém a maioria dos car-
com um veículo de recuperação gentina Tensa (Talleres Electrome- parte o Grupo Morteros (com mor- ros em condições de atingir sua ve-
KMW M74, que foi designado para o Regi- cánicos Norte, Sociedad Anónima) teiros de 81 mm) e o Grupo Antitan- locidade máxima de 56 km/h em
miento de Caballería Nº 4 (mais tar- desenvolveu uma modernização do que (com três lançadores antitan- estradas e 48 km/h em pista de ter-
ESTÁ NO de Regimiento de Caballería Meca- M24 e ofereceu o modelo para os que Milan). Um veículo extra foi ra. Vale lembrar também que, em
nizado). uruguaios, modificando um dos veí-
BRASIL Os carros de combate leves Cha- culos. Porém, o projeto não foi bem
mantido em reserva.
As primeiras equipes formadas
2004, as armas de todos os M24 fo-
ram totalmente reformuladas para
ffee foram mostrados ao público sucedido e os outros exemplares não localmente foram preparadas em prolongar a sua vida.
pela primeira vez no desfile militar foram modificados. De qualquer for- 1982, incluindo a navegação do Em 2005, a unidade desenvolveu
de 5 de abril de 1958, e os primeiros ma, a idade dos veículos mostrou Rio da Prata. Cada veículo tinha o Sistema de Entrenamiento de Tri-
meses de operação foram dedicados que precisavam ser modernizados, um motorista, um operador de rá- pulaciones de Tanques de Infante-
para treinar as equipes e organizar especialmente quanto à motoriza- KMW do Brasil –
dio e um operador da metralhado- ría (SETTI), que é um simulador de
a unidade. Um ano depois, os carros ção, e por isso, entre 1983 e 1987 ra 12,7 milímetros. Os blindados cabine do M24 e do BVP-1 para trei- orgulho de ser seu
fizeram o primeiro exercício com uma empresa brasileira foi contra- também podiam transportar cinco nar os tripulantes na operação do parceiro local
tiro real, usando o armamento prin- tada para trocar os motores Cadillac soldados. modelo, com a possibilidade de si-
cipal. Alguns anos mais tarde, o car- 44T24 por modelos diesel Saab
Competência alemã
Esses veículos começaram a ser mular combate contra unidades ini-
ro número 16, usado pelo segundo Scania DN-11. Estes, juntamente substituídos a partir de 1996 por 15 migas. para sistemas terres-
comandante da unidade, foi equipa- com uma nova caixa de velocidades BVP-1, a versão de fabricação tche- Depois que o Brasil ofereceu ao tres agora totalmente
do com uma lâmina projetada e e transmissão, aumentaram o de- ca do veículo blindado anfíbio russo Uruguai um lote de carros M41, o estabelecida no Brasil
construída pelo alférez Otto Gos- sempenho dos carros, mas a caixa sobre lagartas BMP-1. Em 12 de se- Exército Uruguaio decidiu substituir – para uma longa e
sweiler, da unidade. A finalidade do de velocidades tinha muitos proble- tembro do mesmo ano, pela Ordem os M24 ao longo de 2013. Um M41 do
equipamento visava principalmente mas. Com o novo motor, a parte tra- do Batalhão N012/996, os dez pri- Regimiento de Caballería Blindado duradoura parceria
operações urbanas, algo que foi pen- seira dos veículos teve de ser com- meiros foram recebidos, seguidos N° 2 foi entregue à unidade para
sado como possível durante os tur- pletamente modificada. pelos demais até o final de 1997. treinamento durante 2012. | www.kmweg.com |
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FORÇAS TERRESTRES CARROS DE COMBATE
QQ Vários detalhes do M24 Chaffee Fotos: Santiago Rivas
nas fotos desta página, como a traseira
remodelada devido à remotorização e a
metralhadora frontal

QQ Os BVP-1, versão de fabricação


tcheca do veículo blindado anfíbio russo
sobre lagartas BMP-1. Abaixo, soldados
portando o fuzil alemão HK G36

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BIBLIOTECA
Reprodução
1942: o Brasil e sua guerra quase desconhecida
– João Barone
Mais conhecido como baterista do grupo “Paralamas do Sucesso”, João Barone
também vem se notabilizando em temas relacionados à Segunda Guerra Mundial.
Filho de um dos mais de 25 mil pracinhas que lutaram na Itália, o autor dirige sua
pesquisa pelo passado do pai e do Brasil para unir dados, curiosidades e histórias
emocionantes, analisando a participação brasileira no conflito.
Barone ressalta que, embora a maior parte da população brasileira desconheça
que seu país tenha combatido na Segunda Guerra Mundial, existe uma extensa
bibliografia disponível sobre o assunto, com livros escritos por ex-combatentes,
militares, enfermeiras, civis, correspondentes de guerra e historiadores.
Mesmo não tendo formação em História, Barone faz um bom trabalho ao re-
lembrar os fatos que levaram o Brasil a entrar na guerra, como o dramático torpe-
deamento de navios mercantes em águas territoriais nacionais por submarinos
alemães e italianos, com grande perda de vidas.
Entre os fatos curiosos descritos no livro, está o relato sobre o primeiro ata-
que de um submarino do Eixo em nossas águas territoriais. Apesar da suposta
proximidade entre Getúlio Vargas e o ditador Benito Mussolini, o navio Coman-
dante Lyra foi atacado pelo submarino italiano Barbarigo, comandado pelo capi-
tão Enzo Grossi, um brasileiro nascido em São Paulo. O episódio é mais uma
prova de que países não têm amigos, têm interesses. Editora Nova Fronteira,
2013, 283 páginas.

A Segunda Guerra Fria


– Moniz Bandeira
Com base em variadas fontes de informação, o renomado cientista político Mo-
niz Bandeira analisa os acontecimentos que, desde a dissolução do Bloco Socialista
e a desintegração da União Soviética, abalaram os países da Eurásia e ainda con-
vulsionam o Oriente Médio e a África do Norte.
Em “A Segunda Guerra Fria”, o autor defende a tese de que os Estados Unidos
continuam a implementar a estratégia da “full spectrum dominance” (dominação
de espectro total) contra a presença da Rússia e da China naquelas regiões. Impor-
tante contribuição da obra de Moniz Bandeira é a revelação documentada de que
as revoltas da chamada “Primavera Árabe” não foram nem espontâneas e, muito
menos ainda, democráticas, mas que nelas houve participação fundamental dos
Estados Unidos.
Moniz Bandeira aprofunda, desdobra e atualiza as questões apresentadas em
outro livro de sua autoria: Formação do Império Americano, da guerra contra a
Espanha à guerra no Iraque, lançado em 2005. O autor também analisa a situação
do Brasil na conjuntura internacional, fala sobre o surgimento de possíveis obstá-
culos para a formação de um bloco sul-americano e faz alertas, como a necessidade
Treinando para o Sucesso Operacional
do País ter competência militar para se defender e dissuadir. Editora Civilização
Brasileira, 2013, 714 páginas.

Fundamentos para o Estudo da Estratégia Nacional


Operações exigentes requerem soluções de treinamento exigentes.
– Darc Costa A AgustaWestland provê soluções de instrução integrada de alta
Para quem gosta de geopolítica e se preocupa com o futuro do Brasil, este livro
é obrigatório. A obra resultou da experiência do professor Darc Costa como coorde- qualidade e ótimo custo para seus operadores de helicópteros em
nador do Centro de Estudos Estratégicos da Escola Superior de Guerra (ESG). todo o mundo. Juntos, o melhor em treinamento leva ao melhor em
O livro se divide em três partes, apresentando um conjunto de formulações que
fundamenta a estruturação de uma Estratégia Nacional para o País. Seus precei- desempenho.
tos são apresentados na forma de uma trilogia: Aspectos de Civilização, Aspectos
de Nação e Aspectos de Inserção, que busca criar os elementos básicos para estru- AW119Ke, o Helicóptero de Instrução por excelência !
turar a discussão e o estudo sobre a Estratégia Nacional do Brasil.
Em Aspectos da Civilização, o autor analisa a história das ideias que construí-
ram o Ocidente. Evolui, em Aspectos da Nação, para apresentar sobre que pilares LEADING THE FUTURE
se construiu o Brasil, e aprofunda, em Aspectos de Inserção, o tema da Estratégia
Nacional.
Assuntos como a matriz energética no Brasil, integração sul-americana, segu-
rança e defesa nacionais, além do destino da Amazônia, aparecem relacionados às agustawestland.com
questões e desafios do cenário geopolítico mundial. Editora Paz e Terra, 2009, 568
páginas.

114 Forças de Defesa www.forte.jor.br


Nossa tecnologia é brasileira e inovadora.
Já nosso objetivo é simples: sua proteção.
A Embraer Defesa & Segurança nasceu com a missão de proteger pessoas, territórios e patrimônios.
Nossas soluções em defesa estão presentes na terra, no mar e no ar. Mas o que isso significa para você?
Significa a garantia da sua liberdade de ir e vir, de uma vida sem violência e de um mundo melhor para viver.
Porque, por mais complexo que seja nosso trabalho, o resultado é simples: seu bem-estar e segurança.

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