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FORÇAS DE

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Defesa

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@fordefesa
/fordefesa

A Revista do Poder Naval, Poder Aéreo e Forças Terrestres


Número 5 • abr/mai/jun • 2012 • www.fordefesa.com.br • Preço: R$18,00

Embarcamos no
QQ
BPC Dixmude, o mais
novo multitarefa
da Marinha
Francesa

QQ 40 anos da O Brasil
QQ
construção precisa de um
das fragatas caça de 5ª
classe Niterói geração?

OS PRIMEIROS VBTP-MR GUARANI


EDITORIAL
O Grupo DCNS é um líder mundial em defesa
O Livro Branco
FORÇAS DE
naval, mas também um agente inovador no
setor de energia. Defesa
O sucesso do Grupo é construído sobre uma base e a Sociedade
O
excepcional de conhecimento e recursos industriais únicos. A revista do Poder Naval,

A DCNS projeta, constrói e mantém navios de combate de


Poder Aéreo ministro da Defesa, E
U

Celso Amorim, entregou


R
e Forças Terrestres O
2 S
0 AT
1 O
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superfície e submarinos, assim como sistemas integrados www.fordefesa.com.br


no dia 17 de julho ao FORÇAS DE

Defesa
Y

presidente do Senado, José


@fordefesa

e infraestruturas vinculadas. Ano 2 - Número 5 - 2012 /fordefesa

Periodicidade trimestral
Sarney, documentos com os Naval, Pod
er Aéreo e
Forças Terr
estres
• Preço: R$18
,00

Editor-Chefe e
principais projetos das Forças
do Poder fordefesa.com.br
A Revista • 2012 • www.
• abr/mai/jun
Número 5

Jornalista Responsável Q Embarcam


os no
Alexandre Galante Armadas a serem debatidos no o mais
BPC Dixmude, refa
alexgalante@fordefesa.com.br
Congresso Nacional. As versões novo multita a
da Marinh
Equipe Editorial preliminares do Livro Branco Francesa
Guillherme Poggio
poggio@fordefesa.com.br
de Defesa Nacional (LBDN) e as
Fernando “Nunão” atualizações da Política Nacional
De Martini de Defesa (PND) e da Estratégia
nunao@fordefesa.com.br
Sergio Santana Nacional de Defesa (END), após
ssantana@fordefesa.com.br análise pelo Senado Federal,
Administração seguirão para a Câmara dos Q O Brasil
e Publicidade Deputados. Q 40 anos da precisa de um
caça de 5ª
A entrega dos documentos está
Dinair Alves construção
dinairalves@fordefesa.com.br das fragatas i geração?
publicidade@fordefesa.com.br prevista em Lei Complementar classe Niteró
Colaboradores 136/2010, que trata das normas OS PRIMEIROS
VBTP-MR GUARANI

Franco Ferreira (S. Paulo - SP) gerais para a organização, o


Ícaro Gomes (Natal - RN)
Jean François Auran (França) preparo e o emprego das Forças
Milton Lima (Salvador - BA) Armadas. O texto diz que cabe determinados na Política de
Nicholle Murmel (Curitiba - PR)
ao Poder Executivo encaminhar Defesa. Ela define os setores
Rafael Cruz (Recife - PE)
Samuel Pysklyvicz (Goiânia - GO) o LBDN, a PND e a END cibernético, nuclear e espacial
para apreciação no Congresso como estratégicos e essenciais
Consultor Institucional
Romulo Federici Nacional, na primeira metade para a Defesa Nacional.
federici@rfederici.com.br da sessão legislativa ordinária Os três documentos são
Desenho Técnico e de quatro em quatro anos a importantes porque servirão
José da Silva (Santos - SP) partir de 2012. Esta é a primeira de parâmetro para que nossos
Impressão vez que as propostas são representantes políticos no
Smartprinter encaminhadas ao Congresso. Parlamento possam debater e
Unidade Comercial
O Livro Branco traz os tomar decisões sobre as questões
Tel.:(21)3172-7800
principais projetos das Forças da Defesa Nacional. Com a
Distribuição Nacional Armadas e um resumo dos formação da Frente Parlamentar
FC Comercial
e Distribuidora S/A objetivos da pasta. O documento de Defesa e a iniciativa de fazer
garante transparência à obrigatória a edição periódica
Produção Gráfica
informação sobre o setor, com do LBDN e sua apreciação
acompanhamento do orçamento pelo Legislativo, existe a
e do planejamento plurianual. esperança de que os planos
A PDN estabelece diretrizes de reequipamento das Forças
para o preparo e o emprego Armadas não serão mais tão
dos recursos nacionais, em prejudicados por falta de verbas.
O grupo DCNS desenvolve também soluções inovadoras no setor Endereço para correspondência:
É a primeira vez em sua
Av. Princesa Isabel 334 Bl3 406 caso de ameaças externas,
da engenharia civil nuclear ou da energia marinha renovável. Copacabana - CEP 22011-010 com o envolvimento dos História que o Brasil produz um
documento como o LBDN. Ele
Rio de Janeiro - RJ
55(21)3042-6365 setores militar e civil. Um dos
E-mail para assinaturas e principais propósitos da PND vem em boa hora porque coloca
exemplares das edições anteriores: é conscientizar a sociedade o tema Defesa ao alcance de
revista@fordefesa.com.br
brasileira de que a defesa todos os cidadãos brasileiros.
As opiniões dos articulistas não da nação é dever de todos os Com o debate constante em
DCNS do Brasil representam necessariamente a
opinião da revista. brasileiros e não apenas dos todas as esferas e a cobrança por
Rua Lauro Müller, 116 - sala 3102 militares. parte do eleitor, a Defesa do País
Botafogo - Rio de Janeiro - 22290-160 Nossa capa:
O BPC Dixmude da Marinha Francesa A END estabelece formas poderá, cada vez mais, fazer
fotografado por Alexandre Galante de alcançar os objetivos parte da agenda nacional.

www.dcnsgroup.com Forças de Defesa 3


ÍNDICE

10
As ARP
em ação
36 Três dias no
“professor”
Dixmude
100

14 72
O Brasil precisa A F40 aos Iveco Guarani
de um caça de quarenta 6X6: surgem os
quinta geração? primeiros

6 Opinião: Programa F-X


‘Nunca’ 32 Lançamento de míssil
Exocet com motor nacional 92 Eurosatory 2012: uma
perspectiva francesa
Naval pedigree
Romulo Federici comenta sobre a No dia 18 de abril de 2012 a corveta Nosso correspondente na França, Jean
novela dos caças para a Força Aérea Barroso da Marinha do Brasil disparou o François Auran, faz um balanço da maior
Brasileira que poderá ter seu desfecho primeiro míssil antinavio Exocet dotado de feira de veículos blindados na Europa, com
ainda este ano motor de fabricação brasileira muitas fotos
Com capacidade inigualável de operar em todo o Globo e nas
ERRATA
mais exigentes condições litorâneas ou oceânicas, os helicópteros
8 Segurança de voo:
‘Las Brujas’ 34 III Simpósio das Marinhas
da CPLP no Rio de Janeiro AgustaWestland ampliam e reforçam a Força Naval.
Verdadeiras plataformas Multimissão, “fazem a diferença”, à vista da
O especialista Franco Ferreira comenta Delegações das Marinhas dos Países de
os desdobramentos das investigações de Língua Portuguesa se reúnem no Rio e detecção, identificação e engajamento autônomos contra alvos de
acidentes aeronáuticos conhecem navios construídos no Brasil
superfície e submarinos, bem como do SAR e apoio humanitário.

No artigo “SAS-Special Air Service”


24 552a Ala de Controle
Aéreo da USAF 64 ‘Da ideia do Coelho’ aos
limites do ‘pulo do gato’
(páginas 76 a 79 da edição 4, jan/fev/mar-
2012), a atual organização em regimentos
do SAS, mostrada no final da primeira
LEADING THE FUTURE
Sérgio Santana conta a história desta Entrevista exclusiva com o vice-almirante
unidade da Força Aérea dos EUA, (Ref-EN) José Carlos Coelho de Sousa, coluna da página 77, está errada. A orga- agustawestland.com
nização correta é a que está na seção “or-
responsável por missões de Alerta Aéreo que teve participação decisiva no
ganização e armamento” da terceira colu-
Antecipado & Comando e Controle programa da classe “Niterói” na da página 79.

4 Forças de Defesa www.fordefesa.com.br


PODER AÉREO OPINIÃO
Alexandre Galante Pode ser que o governo queira evi- que os americanos não gostam de trans-
tar a tomada de uma decisão dessa ferir tecnologia, enquanto os franceses o
monta, carregada de tantos preceden- fariam mais facilmente, desde que seja
tes, nestes meses que precedem as para fechar negócio.
eleições municipais. O anúncio da Um dado novo é a preocupação do
compra poderia ser usado pela oposi- Governo com o crescimento do PIB,
ção para despejar uma torrente de crí- que anda rateando em função da crise
ticas ao projeto, tentando ganhar pon- mundial. Aí surgem argumentos para
tos e a própria eleição. A opinião o concorrente Gripen NG! É alegada-
pública é normalmente desinformada mente o mais barato, com o menor cus-
sobre Defesa e costuma “engolir”, com to por hora de voo. Ganhou mais brilho
facilidade, a tese de “desperdício de di- após a Suíça eleger a nova geração do
nheiro”. Pode não ser hora da presi- caça como vencedora de sua concorrên-
dente Dilma colocar em risco seus qua- cia. O Gripen, que na sua versão atual
se 80% de aprovação popular, um também participou dos conflitos na Lí-
poderoso “booster” para impulsionar bia, tem a vantagem de oferecer de-
candidatos aliados. senvolvimento complementado com
Além disso, a recente derrota do di- participação brasileira. O Brasil teria
reitista Nicolas Sarkozy, candidato à participação expressiva na sua fabri-
reeleição na França, pode ter colocado cação, agregando valor e, portanto, se

Programa FX - ‘nunca’
sua Força Aérea, abrindo seus céus ao em xeque a decantada “Aliança Estra- inserindo na política de preservação
ataque de qualquer teco-teco inamisto- tégica”, no todo ou em parte. Esta do PIB nacional. São condições nada
so. Ademais, as “conjunturas” invoca- aliança imaginada no governo Lula en- desprezíveis, sem esquecer o fato de
das pelos sucessivos governos nunca volvia também uma preferência pelo que o comandante da Aeronáutica, te-
impediram os gastos em diversos proje- Rafale – um caça de qualidades indis- nente-brigadeiro do ar Juniti Saito,
tos vultosos, com investimentos muito cutíveis e comprovadas em combate na em viagem à República Tcheca, foi fo-
QQ Romulo F. Federici Em março de 2003, a queda de um nhamos, com grandes chances para o superiores à compra de um número li- Líbia, mas que vinha “voando” pratica- tografado e deu entrevista numa base
rfederici@rfederici.com.br Mirage III logo após a decolagem da Rafale francês, segundo indisfarçável mitado de novos caças. Vale lembrar, mente sozinho na batalha do F-X2. Não local que opera a versão atual do Gri-
Base Aérea de Anápolis deu uma mos- predileção do governo, apesar de ou- também, que a aquisição das aeronaves se sabe o nível de prioridade do assunto pen, adquirida por “leasing”.

D
esde 1991, ainda no governo Fer- tra concreta da gravidade da situação tras opções que faziam pano de fundo. não implica em grandes desembolsos nos entendimentos da presidente Dil- Existe também alguma possibilida-
nando Collor, a Força Aérea Bra- da frota. Felizmente, o piloto conseguiu Infelizmente a iniciativa, mais imediatos, pois a venda deverá ser fi- ma com o novo presidente francês, de de que o governo estaria com tudo
sileira (FAB) começou a elaborar se ejetar, escapando sem ferimentos uma vez, não era “séria”: Lula foi “em- nanciada em cerca de 30 anos. François Hollande, socialista com enor- acertado junto ao Ministério da Defesa,
os requisitos do que viria a ser, anos de- graves, mas o incidente foi considerado purrando com a barriga” a decisão até mes problemas numa Europa falida. tranquilizando-o com a informação de
pois, o Programa F-X. O objetivo era re- constrangedor. Em vista da situação, usar do mesmo expediente de seu an- O problema sempre foi a política! O diabo, como sempre, está nas en- que a decisão está tomada para divulga-
equipar a frota de caças da FAB em aconteceu o inusitado: ao invés de se tecessor: jogou o problema do colo da E, ao que parece, continua sendo trelinhas, nos detalhes dos entendi- ção oficial no final do ano (devido a fato-
tempo hábil para compensar o final da apressar o andamento do F-X, o progra- presidente eleita Dilma Rousseff. O O que apavora a muitos é a possibi- mentos com os franceses: o preço do res que vimos acima). Mas não custa
vida útil das aeronaves disponíveis, que ma foi cancelado e adquiriu-se uma so- governo iniciado em janeiro de 2011 lidade de persistência histórica do de- Rafale tem sido um obstáculo, e um lembrar que os F-5 estão na fila para
se avizinhava. Começava uma penosa lução “tapa buraco”, na forma de uma ainda não revelou nenhuma evolução sinteresse da maior parte da classe po- anúncio recente de que sua linha de dar baixa mesmo após sua moderniza-
caminhada que se arrasta até hoje. dúzia de caças Mirage 2000C/B usados sobre o Programa F-X2, limitando-se a lítica, quanto aos assuntos de Defesa. produção poderia ser paralisada no ção, pois esta não conseguiu ocultar que
O governo Fernando Henrique fornecidos pela França. Estes foram dar algumas informações de que as Uma demonstração de pequenez de médio prazo foi explorado por seus de- a vida útil de sua estrutura está sendo
Cardoso nunca morreu de amores pe- comprados em 2005, o mesmo ano da coisas estavam andando. Mas conti- mentalidade deplorável e incompatível tratores. Também se argumentou que esticada demais. Já aconteceu de, inad-
los assuntos militares, mas resgatou o desativação dos Mirage III, mas só che- nua usando de justificativas pífias com o mundo de hoje. Querem que o a produção francesa não tem a cons- vertidamente, o caça ejetar a cobertura
Programa F-X diante de fatos inques- garam anos depois. Caças F-5 ainda para protelar essa decisão inadiável, Brasil assuma um protagonismo geopo- tância e o volume da americana. Mas a da cabine em voo, colocando em risco a
tionáveis: a obsolescência dos caças não modernizados tiveram que ser des- como a “conjuntura internacional ad- lítico indeclinável, compatível com seu seleção do Rafale pela Índia neste ano, vida de jovens e talentosos pilotos, que
Mirage III que então cuidavam da de- dobrados de outras bases para fazer a versa e a necessidade de se reiniciar o “status”, sem ter como participar se- agregando mais de uma centena de ca- cumprem a missão de dar um mínimo
fesa aérea do Planalto Central, além “defesa aérea” da nossa capital, algo programa em sua totalidade”, reava- quer de uma Força de Paz de modesto ças às perspectivas de produção, de defesa aérea a este país ingrato.
de igual processo que comprometia, no que fugia às suas características e limi- liando as prioridades para a seleção porte, com equipamentos decentes. abrandou algumas dessas críticas. Para concluir, existe a esperança
médio e longo prazo, os jatos F-5 ope- tações. Os Mirage 2000C/B, melhores sem privilegiar algum participante. Lembro-me de que John Lukacs, no seu Não podemos deixar de registrar um de que o recém-publicado Livro Branco
rados em outras áreas do território na- do que nada, já eram considerados ul- A esperança é de que a citação da livro “O duelo Churchill x Hitler” resga- momento de progressiva melhora e au- de Defesa Nacional leve a um maior
cional. Para estes últimos, foi iniciada trapassados à época. E hoje a sua vida “conjuntura internacional” seja, ape- tou uma frase do ditador nazista mais mento na interlocução do Brasil com os conhecimento e debate dos planos de
uma modernização. útil também se aproxima do fim. nas, um molho decorativo para tornar ou menos assim: “Enquanto os políticos Estados Unidos, o que tornaria conve- reequipamento propostos. É preciso
Mas o tempo deixou evidente que a mais aceitável, para leigos, a razão da Europa discutem nos Parlamentos, niente uma decisão não só após nossas haver um engajamento da sociedade
abertura do processo visava, apenas, Aliança Estratégica principal. Na pior das hipóteses, o moti- eu ligo o motor dos meus tanques”. eleições, mas também após as eleições para que se cobre dos políticos a reali-
apaziguar as justas demandas da Ainda no governo Lula, num mo- vo determinante pode ser uma patética Mas restam algumas réstias tê- presidenciais dos EUA. Parece que ain- zação do planejamento e as mudanças
FAB: o problema foi “empurrado com a mento de intenso namoro com a Fran- demonstração de desinteresse sobre o nues de luz piscando ao final do túnel, da respira, e agora sem a ajuda de apa- de rumo necessárias no futuro. q
barriga” até ser jogado no colo do seu ça para uma “Aliança Estratégica” de- tema Defesa ou, numa perspectiva oti- como veremos: relhos, o concorrente Super Hornet, um
sucessor, presidente Luiz Inácio Lula clamada em prosa e verso, foi lançado mista, a reavaliação do Programa como Recentemente, o governo pediu aos avião testado em vários conflitos e com-
da Silva. Este não se fez de rogado: em 2008 o Programa F-X2. Seu objeti- um todo e visando, por exemplo, ganhos concorrentes a prorrogação da valida- provadamente eficiente. A FAB operou
adiou o F-X sob o argumento pífio de vo, supostamente, era por fim à agonia paralelos com o processo – os “off-sets” de das propostas até 31 de dezembro. e opera caças americanos, que acumula-
que a prioridade era toda para o Pro- do Ministério da Defesa e da FAB em (compensações). O fato é que a “conjun- Havendo um prazo marcado para essa ram um histórico de confiabilidade e du-
grama Fome Zero, como se uma coisa relação à nossa Defesa Aérea. O gover- tura internacional” desde há muito é validade, pode-se sonhar um pouco, rabilidade. A manutenção de uma linha
tivesse a ver com a outra. Foi apenas no e o ministro da Defesa na ocasião, complexa e não existe perspectiva de pois um adiamento “sine die” é que se- dessa origem poderia simplificar a logís-
um pretexto vistoso para “jogar para Nelson Jobim, “juraram” que a inicia- que se torne rósea tão cedo. Se a conjun- ria fatal. Mas isso não elimina a possi- tica, além de garantir peças de reposi-
frente” algo que, também, não se que- tiva era “séria” e que o assunto seria tura for condição essencial para uma bilidade de novo pesadelo provocado ção por longo tempo. Só que, outra vez, o
ria decidir naquele momento. resolvido com celeridade - mas, conve- decisão, o Brasil pode se esquecer de por um novo embuste. diabo se mostra nos detalhes: alega-se

6 Forças de Defesa www.aereo.jor.br www.aereo.jor.br Forças de Defesa 7


SEGURANÇA DE VOO

‘Las brujas’ O poder de atrair


As perdas materiais podem ser reparadas; as humanas não serão jamais! o público de defesa.
Em dose tripla.
QQ Gustavo Adolfo Franco Ferreira Prevenção de Acidentes Aeronáuti-

Força Aérea Brasileira


gustavoadolfofrancoferreira@gmail.com cos), fez a investigação do acidente de
17 de julho de 2007 do Airbus A320 da

A
máxima é popular, mas parece TAM, em Congonhas. Coordenou a
ter um fundo de verdade. Dizem parte nacional da investigação do aci-
que “ela” aparece em agosto, dente do voo AF 447. De tudo que dis-
mês do cachorro louco. Não sei... “Ela” se o oficial-general de vasta experiên- FORÇAS DE
tem olhos em quase todos os painéis de
aeronaves. Uma das lâmpadas de avi-
so, normalmente a da pressão de com-
cia, ressalta a opinião de que “a
investigação de acidentes aeronáuti-
cos envolvendo aeronaves civis” (e,
Defesa
bustível, chama-se “olho-da-bruxa”. portanto, sob a égide da ICAO - Inter-
Ela está sempre “de olho”! national Civil Aviation Organization)
Yo no creo en brujas. Pero que las “deve ser realizada por outra organi-
hay, las hay! zação que não o CENIPA”. www.naval.com.br
Quem são “as bruxas?” Elas são um Ele está absolutamente certo! Está
caldeirão existente em cada um de nos procedimentos da ICAO que os ato-
www.aereo.jor.br
nós: nossas capacidades e nossas inca- res de um inquérito aeronáutico - isto www.forte.jor.br
pacidades, nossas fortalezas e nossas mesmo, inquérito - serão independen-
fraquezas, nossos estudos e nossas tes de todas as forças direta ou indire-
omissões no estudo, nossas atenções e tamente envolvidas em qualquer fase
nossas desatenções. Elas também es- tico. À noite, sem visibilidade externa, das operações aéreas. Ora, o CENIPA é
tão dentro das nossas aeronaves, nos na presença de forte turbulência, sem diretamente subordinado ao Comando
sistemas, nos comandos, nos sensores, indicações dos instrumentos, nada pu- da Força Aérea Brasileira. Não se deve
nas amplitudes de deflexão, nas som- deram os tripulantes: o computador esquecer, jamais, a adesão irrestrita
bras aerodinâmicas que umas partes central lhes negou o direito! Mais dos militares à hierarquia e à discipli-
lançam sobre outras, nas manuten- adiante, o relatório final descreve que na, complicadores no caso das investi-
ções. Mas não é só: as bruxas também os tripulantes não souberam quebrar o gações de acidentes aeronáuticos havi-
habitam os pátios, as pistas, os hanga- estol que estava instalado. Ora, façam- dos com aeronaves civis.
res, os escritórios dos Chefes de Ope- -me o favor! A culpa não é deles, é da Uma questão que se apresenta não
rações e dos Despachantes Operacio- instrução a que foram submetidos. Não pode ser esquecida: em agosto de 2009
nais de Voos. Elas vivem junto às identificaram uma situação de estol o Comando da Força Aérea recebeu a
forças meteorológicas. E, mais ainda, instalada simplesmente porque a aero- informação da criação da OBSERVO
as bruxas habitam o próprio corpo e nave não lhes dava as informações mí- (Organização Brasileira de Seguran-
mente de cada indivíduo que exerce al- nimas indispensáveis! A memória me ça de Voo). Esta se propunha a reali-
guma atividade aérea. Ah, ia esque- faz lembrar um acidente inicial do zar, e de fato vem realizando, a inves-
cendo, as bruxas também habitam os Airbus A320 em 1988, que varou a pis- tigação de acidentes aeronáuticos
programas de computador que atual- ta inteira vindo a colidir num bosque ao com aeronaves civis, sem o ônus da
mente dominam certas cabines de con- final. Aqui, como no AF 447, os tripu- subordinação hierárquica que afeta o
trole de aeronaves! lantes eram passageiros. CENIPA. A mesma informação foi
No solo las creo. Las hay! transmitida ao chefe da Secretaria de
Sobre o voo AF 447 Sobre a entrevista do major- Aviação Civil do Ministério da Defe-
Chegaram a uma conclusão final: brigadeiro aviador (R/R) Kersul sa, antecessora da atual Secretaria
culpa dos pilotos! Vilania! Dizem que os Recentemente, realizou-se em São da Aviação Civil da Presidência da Anuncie* nos sites “Forças de Defesa”. Eles não param de crescer,
tubos de Pitot congelaram. Isso é ver- Paulo uma reunião preparatória sobre República. Agora, vários anos depois,
dade. Os dados de tubos Pitot congela- o futuro do SIPAER (Sistema de In- o nobre oficial-general adota a mesma atraindo cada vez mais o público do setor: de militares a profissionais da
dos modificam todas as indicações que vestigação e Prevenção de Acidentes posição, que já lhe havia sido infor-
dependem da relação entre as pressões Aeronáuticos). Na véspera, o brigadei- mada pelo seu comandante. indústria, de jornalistas a formadores de opinião, de entusiastas de hoje a
dinâmica e estática, notadamente to- ro Kersul manifestou-se de público Urge a total independência dos in-
dos os instrumentos capazes de relacio- por meio do portal G1. Cabe relem- vestigadores de acidente aeronáuticos,
tomadores de decisão de amanhã.
nar a posição da aeronave com a massa brar de quem se trata: foi o oficial que para o estabelecimento das verdades
de ar que o envolve. Inseridos e proces- coordenou o resgate dos despojos pos- factuais de cada ocorrência. q
sados no computador central, este não síveis da colisão de 29 de setembro de
publicidade@fordefesa.com.br
soube codificá-los! Os dados exibidos 2006, sobre a Amazônia, entre um Gustavo Adolfo Franco Ferreira é 55(21)3042-6365
aos pilotos foram falsos. A iniciativa Boeing 737-800 da Gol e um Embraer tenente-coronel aviador reformado da
dos tripulantes em atuação não podia Legacy da ExcelAire. Na Direção do FAB. É especialista em Segurança de
ser outra: desligaram o piloto automá- CENIPA (Centro de Investigação e Voo. *Inserções individuais nos sites ou em pacotes incluindo a revista impressa.
8 Forças de Defesa www.aereo.jor.br www.naval.com.br Forças de Defesa 9
PODER AÉREO TECNOLOGIA
USAF Lockheed Martin
QQ Um F-35 do programa de
testes é visto em provas de
voo com cargas externas,
possibilidade admitida em
missões que não necessitem
da máxima furtividade
proporcionada pelas
baias internas

QQ O F-22 inaugurou a era dos


caças de quinta geração, mas
ainda enfrenta problemas
técnicos que afetam sua
operacionalidade. Reparar nos
tanques externos usados em
desdobramentos para bases
distantes

O Brasil precisa de um tumou chamar de “capacidade de so-


brevivência em combate” (ou “Aircraft
Combat Survivability” - ACS). Em um
ambiente militar, entende-se como ca-
te junto com o emprego do avião em
ações bélicas. Mas até o início da déca-
da de 1960, todas as medidas para au-
mentar a sobrevivência foram tomadas
Aircraft for Combat Survivability”. Este
estudo, que demonstrou como a tecnolo-
gia poderia aumentar a capacidade de
sobrevivência das aeronaves, tornou-se

caça de quinta geração?


pacidade de sobrevivência em comba- dentro de contextos de projetos indivi- a base para o que viria a ser a disciplina
te a habilidade de uma aeronave em duais, visando solucionar problemas de capacidade de sobrevivência para
permanecer na missão, frente aos de- intrínsecos desta ou daquela aeronave. projetos de aviões de combate.
safios impostos pelo inimigo no campo Não havia uma disciplina que tra- Mas o estudo foi além das palavras
de batalha. tasse da capacidade de sobrevivência e teorias. O grupo identificou as princi-
Para se determinar a ACS de uma em um aspecto mais amplo e generaliza- pais causas da grande maioria das
aeronave, existem dois atributos básicos do. E havia pelo menos duas razões para perdas e propôs mudanças nos caças
QQ Guilherme Poggio um novo processo de aquisição? Um quinta geração ainda nesta década. que devem ser considerados: um é a sus- isso: a abordagem de sistemas para pro- que surtiram efeito na sobrevivência
poggio@fordefesa.com.br processo que considerasse caças de Além dos EUA, a Rússia já possui cetibilidade e o outro a vulnerabilidade. jetos de aeronaves não tinha sido total- em ambiente hostil. O F-105, por
quinta geração? um caça de quinta geração em testes, Se uma determinada aeronave de com- mente desenvolvida e, além disso, não exemplo, recebeu um pacote de “retro-

J
á se passaram mais de quinze o PAK-FA. Espera-se que ele esteja bate não for capaz de evitar radares, existiam requerimentos específicos das fit” e as alterações no F-4 Phantom II
anos desde que o Estado-Maior O que é, afinal, a quinta geração? operacional em breve. Esse modelo mísseis, canhões antiaéreos, jatos inter- Forças Armadas para medir “capacida- foram incorporadas aos aviões que sa-
da Aeronáutica (EMAER) defi- Não há uma classificação universal também foi escolhido pela Índia, que ceptadores e quaisquer outros obstácu- de de sobrevivência”. íam da linha de montagem.
niu os requisitos operacionais do futuro sobre o que é um caça de quinta geração. participa do seu desenvolvimento vi- los impostos pela defesa antiaérea ini- A partir de 1962, os Estados Uni- Assim, tanto nos EUA como na Eu-
caça da FAB (Força Aérea Brasileira). Porém, a grande maioria dos especialis- sando uma versão local. A China con- miga, diz-se que ela é muito suscetível. dos começaram a se envolver direta- ropa, os projetos de caças do final da
De lá para cá, o programa de aquisição tas considera a existência de formas ex- tinental já fez voar protótipos do Por outro lado, a capacidade de absorver mente, do ponto de vista militar, no década de 1960 e início da década se-
de caças passou por duas etapas (F-X e ternas com propriedades furtivas como J-20, caça com características furti- danos em combate provocados pela ação Sudeste Asiático. Esse envolvimento guinte começaram a considerar a ca-
F-X2), avaliando, eliminando e selecio- característica essencial. A furtividade vas, e países como Japão, Coreia do inimiga definirá a sua vulnerabilidade. levou a um emprego maior de aerona- pacidade de sobrevivência em combate
nando diversas opções, sem que houves- (em inglês, “stealth”) ou baixa observa- Sul e Turquia possuem planos e pro- A suscetibilidade e a vulnerabilida- ves e, consequentemente, à sua exposi- como um atributo fundamental. Para-
se uma definição sobre o futuro vetor de bilidade é uma característica do projeto jetos de aviões de combate de quinta de de uma aeronave definirão a proba- ção aos riscos do campo de batalha. Os lelamente, foram definidas formas de
combate da FAB. Em junho passado, que incorpora, na célula, soluções que geração. bilidade de sua destruição (“killability” números eram alarmantes: até 1973, se medir a ACS e estabelecidos valores
ocorreu mais uma prorrogação (a quar- reduzem as assinaturas radar, térmica, Existe a possibilidade de que, em ou Pk). Quanto maior for a probabilida- foram perdidas cerca de 5.000 aerona- limites para a aceitação de “Pk” numa
ta) da decisão. Foi solicitado aos três visual, acústica e eletromagnética. menos de dez anos, cerca de vinte paí- de de sua destruição, menor será a ca- ves. Bem antes de se alcançar essa aeronave. Nos Estados Unidos, os pri-
consórcios finalistas que concorrem ao Atualmente, só nos Estados Uni- ses espalhados pelo mundo já tenham pacidade de sobrevivência em combate quantidade, chegou-se à conclusão de meiros projetos que se beneficiaram
programa F-X2 que estendessem, por dos os caças de quinta geração são em operação seus caças de quinta ge- e vice-versa. que algo precisava ser feito. deste estudo foram os que deram ori-
mais seis meses, as suas ofertas. uma realidade. O F-22 é uma aerona- ração, sendo que a maior parte deverá Em 1966, um grupo de jovens enge- gem ao caça F-15 Eagle e ao avião de
Muita coisa mudou ao longo desse ve operacional e, em poucos anos, o operar o F-35. Será que o Brasil tam- Histórico do desenvolvimento nheiros do Laboratório de Dinâmica de ataque A-10 Thunderbolt II.
largo período de tempo. Em função do F-35 completará sua fase de testes e bém precisa seguir este caminho? da capacidade de sobrevivência Voo da Base Aérea de Wright-Patterson
demorado processo de escolha e da se juntará a ele. Outros países da A preocupação em melhorar a capa- foi ao Sudeste Asiático, com o objetivo Os conceitos fundamentais
evolução das tecnologias aeronáuticas, OTAN que se aliaram ao programa A sobrevivência dos mais capazes cidade de sobrevivência de uma aero- de estudar as causas das perdas. Três de sobrevivência
cabe a seguinte questão: seria o caso JSF (“Joint Strike Fighter”, atual Mas a furtividade é apenas uma nave em combate não é exatamente anos depois, eles publicaram um artigo De modo geral, a ACS de uma aero-
de cancelar o atual F-X2 e partir para F-35) também receberão seus caças de das várias abordagens do que se cos- uma novidade. Ela nasceu praticamen- cujo título era “Design of Fighter nave pode ser aumentada ou melhora-

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PODER AÉREO TECNOLOGIA
Sukhoi
QQ O F/A-18 E/F Super Hornet incorporou
algumas características furtivas como as
tomadas de ar, mas as cargas externas
aumentam a assinatura radar. Daí o
desenvolvimento de “pods” furtivos de
armas e tanques conformais no
“International Road Map” do caça, vistos
no detalhe abaixo

Fotos: Boeing

QQ Além dos EUA, a Rússia já


possui um caça de quinta geração
em testes, o PAK-FA. Esse modelo
também foi escolhido pela Índia,
que participa do seu
desenvolvimento visando uma
versão local

da com um bom projeto, principalmen- quinta geração foram incorporados em caso de sucesso, que respeitou todos tenciais dos demais países da América
te um que não gere aumento de peso Redução da suscetibilidade Redução da vulnerabilidade projetos de células convencionais (não os prazos e manteve-se dentro do or- do Sul, e até mesmo de nações que es-
ou custo ou impacte a sua performan- furtivas), criando assim o que se con- çamento. Não só isso: a aeronave con- tão do outro lado do Atlântico Sul, os
ce. Exemplos de impactos negativos QQ Alerta de ameaças (RWR, MAWS, etc) QQ Redundância de componentes vencionou chamar de “geração 4+”. ta com uma boa capacidade de cresci- custos de aquisição e operação de um
podem ser a adição de elementos ex- Um bom exemplo dessa geração é mento que pode incorporar futuras caça de quinta geração para a Força
QQ Jamming QQ Posição de componentes
tras que degradem as características o F/A-18 E/F Super Hornet da Boeing. soluções que aumentem a sobrevivên- Aérea Brasileira não se justificam, ao
da aeronave ou o emprego da mesma QQ Furtividade QQ Supressão de danos passiva
O projeto final da aeronave emergiu cia em combate. menos no curto e médio prazo.
para uma missão (ou missões) para a QQ Consumíveis (flare, chaffs, etc) QQ Supressão de danos ativa no início da década de 1990, quando Vale lembrar que, além do Super E, caso o Brasil venha a partici-
qual não foi projetada. os Estados Unidos já haviam reunido Hornet, outros projetos de caças da par de uma operação multinacional
QQ Supressão de ameaças QQ Blindagem dos componentes
Existem 12 conceitos fundamen- grande experiência (o que inclui ope- “geração 4+” nasceram com preocupa- como foi a recente campanha aérea
tais para a melhoria da ACS, sendo QQ Armamento, tática, performance de QQ Eliminação ou substituição dos
rações reais de combate) com aerona- ções de elevação da capacidade de so- sobre a Líbia, patrocinada por uma
seis relacionados à redução da susceti- voo, treinamento da tripulação e componentes
proficiência ves furtivas. No entanto, a Boeing brevivência, seguindo vários dos cami- resolução da ONU (Organização das
bilidade e seis à redução da vulnerabi- optou por uma célula convencional nhos citados. Por exemplo, os Nações Unidas), outras potências
lidade. Estes conceitos fundamentais que incorporava soluções de aerona- chamados “eurocanards”: Dassault mundiais poderão fornecer as armas
podem ser vistos na tabela ao lado. ves furtivas. Como resultado, a seção Rafale, Eurofighter Typhoon e Saab e as aeronaves do “primeiro dia”.
Como apresentado na tabela, furti- estar distribuídos de forma que mini- (ambos devem ser transportados inter- reta radar foi reduzida significativa- Gripen, além do Sukhoi Su-35. Nessa hipotética situação, o Brasil
vidade é apenas um dos 12 conceitos mizem a assinatura, porém de manei- namente). Não que o armamento não mente (o valor é confidencial, mas participaria com as suas aeronaves
que aumentam a sobrevivência de ra que continuem capazes de desempe- possa ser carregado em pilones exter- muitos afirmam que ela foi reduzida Respondendo à pergunta do título de combate em missões secundárias,
uma aeronave no campo de batalha. nhar suas funções. Também devem ser nos, mas isso descaracteriza a furtivi- em uma ordem de magnitude em rela- Nos países que não possuem os re- compatíveis com a sua atual projeção
Para reduzir as assinaturas de uma consideradas técnicas de produção es- dade e não justifica o investimento, ção à série C/D). cursos necessários para obter uma ae- mundial e não menos dignas que as
aeronave, e consequentemente torná- peciais, onde os níveis de tolerância e embora deva ser levado em conta o em- Embora o Super Hornet não seja ronave furtiva, ou que estejam sujeitos demais missões.
-la furtiva, grandes investimentos são as formas complexas tornam o proces- prego preferencial de aviões furtivos um avião furtivo, ele reúne uma série a ameaças que não justifiquem tal in- E para encerrar, o que os três fina-
necessários. Uma aeronave furtiva, so de fabricação mais custoso. E, ao “no primeiro dia de ataque”, podendo a de atributos que elevam a sua capaci- vestimento, deve-se buscar um caça listas do programa F-X2 (Boeing F/A-
além de possuir um desenho que mui- longo da vida operacional da aeronave, furtividade ser “relaxada” depois que dade de sobrevivência, balanceando que possua elevada capacidade de so- 18 Super Hornet, Dassault Rafale e
tas vezes sacrifica ou degrada seu de- cuidados especiais na manutenção de- as ameaças foram suprimidas. muito bem flexibilidade operacional e brevivência em combate, balanceando Saab Gripen) oferecem em relação à
sempenho ou outros conceitos funda- mandam mais tempo e emprego de Por essas e outras razões, há em- custos de aquisição e operação. Após o outros conceitos fundamentais de re- capacidade de sobrevivência em com-
mentais, demanda mudanças que nem maior quantidade de mão-de-obra presas que resolveram buscar um cancelamento do programa A-12 dução da suscetibilidade e da vulnera- bate supera, em nossa opinião, aquilo
sempre saltam aos olhos. qualificada, resultando em índices de equilíbrio entre as medidas de aumen- Avenger II e o do futuro caça naval bilidade, largamente explorados pela que a FAB necessita regionalmente ou
Aeronaves furtivas necessitam de disponibilidade menores. to da ACS e o custo da aeronave, tanto furtivo, a Marinha dos EUA (USN) geração 4+. globalmente. Não há justificativa para
um sistema de controle de voo adequa- Operacionalmente, as aeronaves no desenvolvimento quanto na produ- optou por um projeto mais seguro e de Pensando nisso, o Brasil precisa de a adoção, no lugar de uma dessas op-
do a um projeto estaticamente instá- furtivas também possuem limitações ção e no ciclo de vida operacional. Di- menor risco. Hoje, o programa do Su- um caça de quinta geração? ções do F-X2, de uma aeronave furtiva
vel. Os sensores da aeronave devem quanto a combustível e carga de armas versos itens comuns às aeronaves de per Hornet é reconhecidamente um Considerando as capacidades po- pelo Brasil nos anos vindouros. q

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PODER AÉREO TECNOLOGIA

As ARP em ação
e celulares, consiste em cobrir uma sistema PERSEAS (Persistent Stare gitivos" durante uma operação, mas os
área onde se acredita que inimigo está Exploitation and Analysis System) co- controladores dos sensores podem per-
operando de forma constante. As uni- leta atividade em uma grande área der alvos que se movimentem muito
dades de reconhecimento, incluindo as para análise estatística, procurando rápido. Também há um limite de
ARP, procuram dados que indiquem por padrões. O US Army criou o pro- quantidade de alvos que podem ser co-
ações inimigas. Os sensores mantêm grama AURORA para reconhecimento bertos. Um sensor com abertura maior,
um pedaço do terreno sob vigilância automático de alvos para uso na ARP como o Gorgon Stare, evita este pro-
por um longo período, e boa parte das RQ-7 Shadow. O software identifica blema, mesmo que sejam vários "fugi-
análises é feita por computadores. Se itens de interesse e alerta os operado- tivos" em locais diferentes. Por usar o
Um panorama sobre Várias plataformas podem fazer ram-se o principal fator nas vitórias
um alvo ou padrão diferente é localiza- res para conferir o local, visualmente. mesmo canal de comunicação para to-
análise de padrão de vida. Aeronaves das tropas americanas no Afeganistão
do, a análise humana pode confirmá-lo, Outra melhoria foi nos sensores. A dos os operadores, o vídeo é atualizado
de vigilância norte-americanas basea- e no Iraque. Os meios usados para vi-
o uso de aeronaves das no Golfo Pérsico, como os E-3 gilância não são apenas as ARP, mas
indicando eventualmente a necessida- USAF (Força Aérea dos Estados Uni- bem menos do que o normal (por cobrir
de de um ataque com armas guiadas ou dos) desenvolveu o sistema Gorgon uma grande área) o que dá um efeito
AWACS, E-8 JSTARS, RC-135 Rivet também aeronaves comuns (pilota-
remotamente Joint e EP-3 Aries são usadas para de- das), sistemas de inteligência de co-
tropas. Estas últimas são usadas quan- Stare. O sistema consiste em um par de câmera lenta.
do se quer capturar tropas inimigas e de casulos multicâmeras levados pela Outro hardware de imagem de área
terminar o "padrão de vida" das forças municação (COMINT), redes de comu-
tripuladas, as novidades coletar documentos, ou quando há um ARP Reaper. Cada um pesa 250 kg, e é o Argus-IS (Autonomous Real-Time
iranianas, como suas baterias de SAM nicação para trocar dados, bancos de
risco grande de danos colaterais com o fontes indicam que contém nove câme- Ground Ubiquitous Surveillance
(mísseis superfície-ar), bases aéreas, dados e softwares para ajudar a anali-
uso de armas guiadas. ras, sendo cinco diurnas e quatro no- - Imaging System) da BAE Systems.
que estão aparecendo transmissões de comunicações e movi- sar as informações. As bases do
turnas (há uma fonte, porém, que cita Consiste num arranjo de câmeras ins-
mentação de embarcações. Mas a prin- US Army (Exército dos Estados Uni- Novos softwares e sensores para 12 câmeras). Os casulos permitem co- taladas em casulo de 230 kg, com defi-
nos teatros de cipal plataforma para buscar alvos dos) estão cobertas por balões cativos novas necessidades de vigilância brir toda uma cidade ao invés de ape- nição de imagem de 1,8 Giga pixels. A
ainda mais elusivos não é tripulada, com câmeras vigiando os arredores. Manter em alerta os operadores de
nas um quarteirão, num raio de 4 km. câmera pode cobrir uma área de 40km2
operações e algumas como veremos. No Afeganistão, o Talibã é um ini- sensores sempre foi difícil. Após 20
Existem outras opções, como usar to- voando a 3 mil metros de altitude, ou
migo disperso, elusivo e que se mistu- minutos olhando para uma tela de ví-
das as câmeras para olhar a mesma cobrir com altíssima resolução uma
Analisando padrões e procurando ra com a população em áreas urbanas deo ou de radar, o operador perde a
comparações inimigos no Iraque e no ou remotas, nas montanhas. Uma es- capacidade de concentração. A solução
área e produzir uma imagem tridi- área bem menor. Uma das funcionali-
mensional, ou duas câmeras cobrindo dades é indicar alvos móveis no campo
Afeganistão tratégia para lidar com este inimigo foi sempre foi muito café e supervisão. Vi-
necessárias o mesmo local com resolução diferente, de visão, o que seria uma tarefa bem
Os conflitos no Afeganistão e Iraque colocar as ARP voando acima de locais sando solucionar de forma mais efeti-
sendo uma para busca e outra para fo- demorada para um ser humano reali-
são outros locais onde esse tipo de aná- suspeitos, em busca de atividade ini- va este problema, o Departamento de
car e identificar objetos. O objetivo é zar manualmente, olhando vários víde-
QQ Fábio Morais Castro lise está sendo usado extensivamente. miga. Com a análise de padrão de vida, Defesa dos EUA criou softwares para
compensar a falta de ARP, evitando os gravados. Como funciona melhor em
fabiocastrobr@yahoo.com.br As principais plataformas destas ope- os operadores percebem detalhes análise de padrões em vídeo digital,
mandar várias dessas aeronaves para plataformas “paradas”, será instalado
www.sistemasdearmas.com.br rações são as ARP (Aeronaves Remota- como, por exemplo, onde os civis lavam que utilizam técnicas "pattern
cobrir o mesmo local. O US Army usa na ARP de asas rotativas MQ-18A
mente Pilotadas) ou RPA (Remotely a roupa e jogam lixo, além do padrão matching" (combinação de padrão)

A
um sistema similar chamado Constant Hummingbird, produzida pela Boeing,
ntes do início da operação Piloted Aircraft), também chamadas de de tráfego de veículos. Quando se per- para evitar o trabalho tedioso de mo-
Hawk, enquanto o USMC (Corpo de cuja autonomia estimada é de até 20
que matou Osama Bin La- VANT (Veículos Aéreos Não Tripula- cebe uma mudança no padrão, as tro- nitoramento. O software detecta movi-
Fuzileiros Navais dos Estados Unidos) horas. O US Army esperava operar três
den em maio de 2011, o co- dos). A duração desses conflitos fez o pas são informadas de que algo está mentos que precisam de atenção hu-
usa o Angel Fire. MQ-18A no Afeganistão em 2011, mas
mandante do Seal Team Six foi cha- uso das ARP crescer exponencialmen- para acontecer. Devido ao sucesso das mana e dá alertas e indicações. Dois
O Gorgon Stare já foi testado no uma caiu em 2010. O SOCOM (Special
mado para um “briefing” sobre uma te, resultando em melhorias de técni- operações, a demanda por vídeo em desses softwares são o VIRAT e o
Afeganistão e 10 conjuntos foram com- Operations Command) comprou 20
nova operação. Logo percebeu que se- cas, hardwares e softwares usados nas tempo real (RTV - Real Time PERSEAS. O VIRAT (Video and
prados pela USAF. No sistema, dois MQ-18 em 2009.
ria um alvo importante, ao ser infor- operações de análise de padrões de Video) aumentou muito, prin- Image Retrieval and Analysis
operadores ficam em um veículo O US Army está desenvolvendo um
mado de que havia um satélite vigian- vida, visando insurgentes que se mis- cipalmente após 2005. Tool) vigia pequenas áreas
Humvee controlando as câmeras, se- sistema mais simples chamado
do o local continuamente. O satélite turam à população civil. Esse cresci- O uso do RTV, além como um prédio ou ja-
parados dos operadores do Reaper que Triclops. Consiste em adicionar dois ca-
fazia operação de análise de padrão de mento do uso ficou patente quando, em da escuta de rádios nela, enquanto o
leva os casulos. Os dados de vídeo (e sulos com sensores nas asas da ARP
vida (“pattern-of-life analysis”), acom- março de 2011, a frota norte-america- outros) podem ser enviados para as MQ-1C Gray Eagle. O casulo foi testa-
panhando o padrão de atividade dos na de ARP atingiu um milhão de horas tropas em terra através de um console do na operação MUSIC em setembro de
alvos, no caso os moradores de uma de voo. Essa marca levou 14 anos para portátil ROVER. As ARP Reaper e 2011. Enquanto o sensor principal
casa. Um dado que levou à ação foi a ser alcançada, mas o próximo milhão Predator são sempre chamadas para Raytheon AN/AAS-53 Common
determinação da sombra de Osama deverá ser atingido em apenas dois acompanhar veículos ou sobrevoar Sensor Payload (CSP) era operado pela
Bin Ladden, que é a de um homem anos e meio. uma casa, de modo a alertar sobre "fu- estação de controle principal, os dois
alto, o que é raro entre os árabes. As operações de vigilância torna-
USAF

QQ MQ-9 Reaper taxiando,


armado com bombas
guiadas a laser e mísseis
Hellfire

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PODER AÉREO TECNOLOGIA
General Atomics
conceito está baseado na comparação bomba guiada. Os Reapers fazem volvimento de um míssil antirradia-
QQ A USAF comprou uma versão melhorada do Predator chamada de imagens tiradas do mesmo local em X-CAS (Extended time Close Air ção para equipar os MQ-1C Gray
Avenger ou Predator C, com propulsão a jato. A aeronave está em testes momentos diferentes. Se o software Support - apoio aéreo aproximado de Eagle, visando atacar as estações de
no Afeganistão. O Avenger tem um compartimento interno de armas com
nota alguma mudança, as imagens são longa duração) e Controle Aéreo Avan- controle de drones inimigos.
capacidade de levar uma bomba GBU-34 de 900 kg. A autonomia é de 20
horas e a velocidade máxima de 740 km/h. A US Navy também se estudadas mais de perto, levando à de- çado, mas sem poder autorizar o dispa-
interessou em usar o Avenger para substituir os EA-6B Prowler tecção de várias bombas e embosca- ro de armas, atuando mais como con- Patrulhas Aéreas de Combate
(aeronaves tripuladas de guerra eletrônica) em missões mais perigosas das. O programa diminuiu bastante os trole de tráfego aéreo. A USAF usa o conceito de CAP
ataques aos comboios. A arma mais usada pelas ARP nor- (Combat Air Patrol - patrulha aérea de
A Força-Tarefa ODIN (Observe, te-americanas é o míssil AGM-114P combate) para operar suas ARP. Cada
Detect, Identify, and Neutralize) foi Hellfire (P de Predator), adaptado CAP precisa de três a quatro Predator
um projeto de coleta de informações para disparar para baixo. O Hellfire ou Reaper para manter uma ARP ope-
que usava as ARP para encontrar ex- foi projetado para ataque supersônico rando de forma contínua no ar. En-
plosivos improvisados e o pessoal que de precisão a longa distância. É consi- quanto uma está em patrulha, as ou-
planta os explosivos. Faziam análise derado caro e causa muitos danos cola- tras estão em trânsito ou em
de padrão de vida com as APR em pa- terais em alguns alvos. Seu peso não é manutenção.
trulhas nas estradas. A FT Odin en- adequado para transporte em ARP As CAP têm cerca 200 tripulantes.
trou em operação em 2006 no Iraque e, menores. É por isso que outras armas A transmissão de dados por satélite
já em 2007, foi responsável pela morte estão sendo consideradas para uso em tem atraso de dois segundos entre a
Global Security de cerca de 3 mil insurgentes. As ações ARP, como a GBU-44/B Viper Strike entrada de dados pelo piloto e o retor-
casulos DAS-2 da Raytheon instalados QQ Imagem do da FT ODIN logo foram passadas para de 20kg guiada a laser e já usada no no na tela. Na maioria das missões o
nas asas eram operados por várias tro- software Angel o Afeganistão. MQ-5B Hunter, a Griffin de 20kg e o atraso não atrapalha, mas para pouso
pas em terra, equipadas com as esta- Fire usado pelo Entre as missões das ARP, a que Spike de 2,4kg desenvolvido pelo e decolagem é necessário controle local
ções portáteis OSRVT (One System USMC. O mais chama a atenção é a de ataque. Naval Air Warfare Center da US Navy com link direto, para respostas rápi-
software dá das. Assim, as CAP têm duas estações
Remote Video Terminal) ou com o mini- Os primeiros testes com armas guia- (Marinha dos Estados Unidos). Os Is-
indicação de
-GCS da AeroVironment usado pelas das no Predator foram em fevereiro de raelenses oferecem o Spike-ER de de controle (Ground Control System -
alvos móveis no
mini-ARP Raven e Puma. Um líder de vídeo e o 2001. O primeiro uso em combate foi 33kg para equipar os Hermes 450. GCS). Uma estação é usada pelo LRE
Pelotão pode controlar um casulo do operador pode em 4 de fevereiro de 2002 contra um Outra abordagem é ter a arma em - Launch and Recovery Element (ele-
Triclops, mas o operador da ARP pode focar a imagem comboio afegão. A primeira missão de terra e usar as ARP para detectar e mento de lançamento e recuperação) e
controlar os três ao mesmo tempo. Ope- para ver mais Apoio Aéreo Aproximado foi na Opera- designar os alvos. A empresa israe- outra pelo MCE - Mission Control
rando uma tela “touchscreen”, as tro- detalhes ção Anaconda, em 4 de março de 2002, lense Rafael testou sua mini-ARP Element (elemento de controle de mis-
pas podem detectar explosivos improvi- contra uma posição de metralhadora SkyLite B com uma unidade de mís- são) que fica nos EUA.
sados e ver indivíduos correndo do da Al Qaeda que outras aeronaves não seis Spike-LR com alcance de 8 km. O Os operadores da LRE às vezes
local, sem abandonar o acompanha- haviam destruído. SkyLite detectou os alvos e passou a atacam alvos ao redor da base quando
mento, pois a ARP MQ-1C agora tem Inicialmente, os ataques eram pou- posição para as tropas atacarem com a ARP está voltando com sobra de
vários sensores. Também foi testado o cos. Isso porque também eram poucas seus mísseis. Em 2008, a Georgia combustível e armas, mas eles não de-
seu controle pelo helicóptero AH-64 as ARP armadas em operação, além de usou 40 ARP israelenses contra a colam as ARP para responder a ata-
Block III, dando capacidade de visuali- não atuarem no Paquistão: apenas um Rússia, incluindo 18 mini-ARP ques. Os dois elementos estão sempre
zar os alvos também por cima. ataque em 2004 e 2005, três em 2006 e Skylark. Foram usadas para designar em contato por chat ou telefone. É co-
cinco em 2007. Já em 2008, foram 36 alvos para a artilharia com ótimos re- mum a entrada de especialistas na ca-
Missões de Ataque ataques com 317 mortes. Nos primeiros sultados, além de sistemas de coleta bine para reparar falhas durante a
As missões das ARP não se restrin- seis meses de 2009, os mísseis Hellfire de informações eletrônica (SIGINT). missão. Muitos são civis contratados,
gem a vigilância. Os operadores ficam foram disparados 31 vezes no Afeganis- Os russos não gostaram e tentaram mas a maioria é ex-militar.
15% do tempo apoiando tropas em con- tão e Paquistão, causando 365 mortes. comprar as mesmas ARP dos israe- Em 2010, a USAF queria manter
tato com o inimigo e 20% do tempo A capacidade de encontrar e atacar lí- lenses. Já o US Army estuda o desen- uma frota de 200 MQ-1B Predator e
apoiando tropas engajadas em opera- deres e pessoas-chave do Talibã e Al
ções e incursões, além de encontrar Qaeda tornou-se importante.

US Army
uma média de dois alvos por saída. Os Nas operações no Iraque de julho QQ Os casulos DAS-2 do
operadores das ARP têm oportunidade de 2005 a junho de 2006, os Predators Triclops ficam instalados
de atacar alvos de 0,5% a 3% das saí- te deixou o inimigo em desvantagem, aumentar a cobertura de ARP no local. da USAF participaram de 242 incur- nos cabides da ARP
das em média, dependendo da época e com os norte-americanos podendo ver A rapidez das ações serviu para sões. Também foram chamados para MQ-1C Gray Eagle
do local. o que ele faz, sem serem vistos. A visão baixar o moral do inimigo no Afeganis- apoiar 132 tropas em contato com o
As tropas em terra consideram as noturna e as armas de precisão foram tão. Os ataques são simulados em inimigo, dispararam 59 mísseis
ARP o meio mais importante no suces- uma combinação que facilitou o suces- computador, com o objetivo de que to- Hellfire, observaram 18.490 alvos e es-
so das operações, e essas aeronaves so nas ações. dos que participem das operações este- coltaram quatro comboios. Foram
mudaram a forma das tropas lutarem. Nas operações militares, pode-se jam bem treinados. A reação do Talibã 2.073 saídas com 33.833 horas de voo.
A experiência do US Army com ARP colocar meia dúzia de ARP no local, foi usar mais ataques suicidas e explo- Em 2007, foram 117 ataques e, em
mostrou que elas são muito úteis para mais o apoio dos sensores de helicópte- sivos improvisados. 2008, foram 132.
manter a consciência da situação, di- ros de ataque e mini-ARP. Todo o cam- Ainda falando sobre vigilância, A ARP MQ-9 Reaper foi projetada
minuir a carga dos soldados e a exposi- po de batalha fica coberto por sensores vale ressaltar que o aumento dos ata- para realizar missões de ataque e, por
ção ao fogo direto com o inimigo. Com de vídeo, e esta tática também é usada ques com explosivos improvisados le- isso mesmo, foi liberada para disparar
a “visão de pássaro” acima, os coman- para preparar o campo de batalha, vou a uma reação: proteger o tempo bombas guiadas GBU-12 Paveway II,
dantes podem mover as tropas mais com 2 ou 3 ARP para cobrir a área um todo os comboios que usam sempre o GBU-38 JDAM e GBU-49 Enhanced
rápido, confiantes de que não sofrerão dia antes da operação, como um vale mesmo trajeto. O Constant Hawk é Paveway II, além dos mísseis Hellfire.
emboscadas, e sempre certos de onde o ou vila. O inimigo não tem como se es- um programa do US Army para análi- Para aumentar a autonomia, normal-
inimigo está ou não. O vídeo persisten- conder e, se algo é detectado, pode-se se de imagens e padrões de busca. O mente os Reapers levam apenas uma

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PODER AÉREO TECNOLOGIA
USMC
MQ-9 Reaper em 15 esquadrões e três As ARP do US Army e do USMC uma demora de quatro minutos antes lizado próximo aos Postos de Coman-
alas (wings), chegando a 18 esqua- O Exército dos EUA opera com as de uma resposta a um ataque ser ini- do. O US Army favorece o trabalho
drões em 2011. Em breve, cerca de ARP táticas RQ-7A Shadow 200 e ciada. O RQ-7 Shadow 200 seria uma em equipe entre os operadores das
10% dos esquadrões de combate da RQ-5 Hunter. Ambas estão sendo com- forma de resposta rápida, voando aci- APR e as tropas. Já na USAF, as ARP
USAF serão de ARP. Cada esquadrão plementadas, e posteriormente serão ma do campo de batalha. Os fuzileiros operaram como uma unidade separa-
tem de 12 a 24 aeronaves com 400 a substituídas, pela ARP MQ-1C Gray também notaram que, em mais de 100 da. Em 2010, a USAF percebeu que os
500 tripulantes, sendo 2/3 operando Eagle, uma versão maior do Predator. episódios em que o RQ-7 Shadow 200 seus operadores de sensores precisam
em bases avançadas no exterior. A O MQ-1C foi escolhido em 2005 para o detectou insurgentes montando explo- ter um bom senso de táticas e empa-
USAF pretende manter um padrão de programa Extended-Range Multi- sivos improvisados, não foi possível tia com as tropas em terra. O treina-
12 aeronaves com 200 tripulantes em Purpose (ER/MP) e entrou em opera- responder a tempo. Se o Shadow esti- mento passou a dar mais senso tático
cada esquadrão de ARP. ção em 2009, após vencer o IAI Heron. vesse armado, poderia dar uma res- da situação abaixo. O operador tem
A quantidade de CAP operadas pela Em 2007, o US Army planejava posta imediata e diminuiria as baixas que pensar como os soldados, algo que
USAF era de seis em 2001, durante a uma força com 35 a 45 esquadrões de entre os fuzileiros. os operadores do US Amy e o USMC
invasão do Afeganistão. Caiu para cinco MQ-1C Gray Eagle, com 12 aeronaves Em 2010, os RQ-7 Shadow 200 pas- já fazem. O fato é que as habilidades
em 2004, depois aumentou para 12 em cada. Cada divisão do US Army terá saram a substituir parte dos helicópte- dos que operam ARP têm que ser dife-
2007. Aumentou para 39 em 2009, sen- um esquadrão para apoiar os coman- ros de reconhecimento OH-58 Kiowa rentes das habilidades dos pilotos de
do 31 de MQ-1 Predator, sete de MQ-9 dantes. Cada brigada terá um destaca- dos Batalhões de Aviação do US Army. aeronaves.
Reaper e uma de RQ-4 Global Hawk. mento de dois ou quatro MQ-1C, além Cada batalhão terá 29 aeronaves, sen-
Em 2003, a USAF planejava che- de outras ARP menores. do oito RQ-7 Shadow 200. Os Shadow As Mini-ARP em Ação
gar a 2010 com 24 CAP. No início de O US Army é proibido de ter aero- serão usados como esclarecedores no Apesar da capacidade do Predator
2011, eram 48 CAP de Predator e naves armadas, mas a lei não considera lugar dos helicópteros ou atuarão jun- e do Reaper, as ARP mais usadas no
Reaper e duas de Global Hawk. Em as aeronaves não tripuladas. Uma limi- tos com eles, assim, os Kiowa já estão Afeganistão e no Iraque são bem mais
2011, havia 70 MQ-9 Reaper operando tação inicial das ARP RQ-7 Shadow realizando menos missões de esclareci- simples. São as mini-ARP lançadas
na USAF e, antes da entrada em ope- 200 e RQ-5 Hunter era não terem capa- mento, sendo substituídos progressiva- manualmente como o Raven, Dragon
ração do MQ-X (cancelado), a intenção cidade de levar armas. Por outro lado, a mente pelos Shadow e Raven. Mesmo Eye e Desert Hawk. Enquanto a pro-
era obter mais 200 Reaper. O último ARP MQ-1C do US Army é equipada assim, existem situações onde um heli- dução de ARP como o Predator chega a
Predator foi entregue em março de com os mísseis Hellfire e Viper Striker, cóptero com dois pares de olhos é prefe- centenas de unidades, a produção de
2011. A partir de 2016 a USAF quer e também é desejada uma bomba guia- rível. A autonomia das ARP também foi uma mini-ARP como o Raven já che-
operar com 319 Reapers, substituindo da por GPS de 50kg. considerada, com um Shadow tendo o gou a 19 mil unidades.
todos os Predator, para ter capacidade Os RQ-7 Shadow 200 fazem apoio triplo da autonomia de um Kiowa. Ou- O primeiro a entrar em operação
de manter 64 CAP. às operações ofensivas como incursões, tra sinergia interessante é que os nas forças americanas foi o Desert
Os esquadrões de Reaper são uni- patrulhas em estradas atrás de explo- AH-64 Apache do US Army estão sendo Hawk, como resultado de um requeri-
dades de ataque, desempenhando to- sivos improvisados e observam locais equipados para ver as imagens dos sen- mento de 1999 da USAF, para prote-
das as fases dessa doutrina: encon- onde a atividade inimiga é esperada, e sores do RQ-7 Shadow 200. ção de bases aéreas. Mas essa mini-
trar, posicionar, acompanhar, também retransmitem comunicações. Enquanto a USAF usa as ARP -ARP foi logo usada em operações de
designar alvos, engajar e avaliar o Essa ARP voa baixo o suficiente para mais como aeronaves de reconheci- combate, com sucesso.
resultado das ações. Realizam mis- ser ouvida pelo inimigo, enquanto o mento estratégico, com os operadores O RQ-11A Raven é uma ARP de
sões de Apoio Aéreo Aproximado, In- MQ-1C Gray Eagle voa bem alto e será baseados nos EUA, no caso do 2 kg que iniciou suas operações em
terdição Aérea e Apoio às Operações praticamente invisível. O raio de ação US Army o esquadrão é todo deslocado 2006. Cada uma custa US$ 35 mil,
Especiais, além de realizarem mis- do Shadow 200 é de cerca de 100 km, para a frente de batalha, ficando loca- mas é comprada como um sistema com
sões de vigilância. com comunicação por linha de visada,
Enquanto o Predator é um "killer- QQ Na foto do alto, um fuzileiro naval norte-americano checa uma ARP Dragon Eye. para cobrir a área de interesse da bri-

US Army
-scout" (esclarecedor-matador), uma ae- Na foto de baixo, a imagem da câmera durante uma missão de vigilância em uma gada. A autonomia é de 6 horas, mas
ronave de vigilância com capacidade de cidade iraquiana as missões duram em média 4 horas. QQ A ARP RQ-7 Shadow 200
ataque, o Reaper é um "hunter-killer" O MQ-5A Hunter disparou o míssil é operada pelo US Army e
(matador-caçador), uma aeronave dedi- também depende da quantidade de ar- Os britânicos iniciaram o uso do Viper Strike pela primeira vez em pelo USMC
cada para ataque com capacidade de re- mas, pois diminui para 14 horas quan- Reaper em 2006, com duas aeronaves 2007. No ano seguinte, o US Army tes-
alizar vigilância. O Reaper está mais do carregado. Outra limitação é a quan- operando no Afeganistão o tempo todo. tou um designador laser leve no
para um F-16 e A-10 do que para o Pre- tidade de tripulantes disponíveis. Para Os britânicos já compraram 13 Reaper RQ7-B Shadow 200, com o objetivo de-
dator, podendo substituir os caças em melhorar a definição dos sensores, as e cinco estações de controle, operando signar alvos para os mísseis como o
algumas missões. A carga típica do Rea- aeronaves operam bem mais baixo, a em conjunto com a USAF desde 2007. Hellfire. O Shadow 200 só pode levar
per é de quatro Hellfire e duas bombas cerca de 15 mil pés, o que também dimi- Os Reapers britânicos voam armados um míssil Hellfire, o que já acarreta
guiadas, o que é bem menos do que le- nui a autonomia. Os sensores do Rea- desde 2008. Cada um custou US$ 18 uma diminuição da carga de combustí-
vam as aeronaves de combate, havendo per também são melhores que os do milhões, incluindo sensores e estação vel. Esta limitação foi um dos motivos
também limitações de peso e tipo. Tam- Predator, com a mesma qualidade de em terra. Um foi perdido por falha me- para a compra do MQ-1C.
bém não é possível usar as mesmas téc- sensores de caças como o Sniper XL e cânica. Os britânicos preferem usar Em 2011, o USMC aprovou o uso de
nicas e táticas de disparo dos caças, Litening. Para detecção de tropas, é ne- mísseis Hellfire nos ataques para evi- armas guiadas nos seus RQ-7 Shadow
como mergulhar para disparar o canhão cessário voar entre 10 e 15 mil pés. Sem tar danos colaterais, e consideram a 200. A aeronave será armada com uma
ou fazer passagens baixas. ameaças, descem até mais. Mesmo as- persistência do Reaper a sua maior bomba leve guiada a laser, visando di-
No Afeganistão, as missões do Rea- sim, já aconteceu dos operadores não vantagem, melhorando a segurança e minuir o risco de danos colaterais. Um
per duram em média 8 horas. Poucas conseguirem diferenciar fuzileiros na- a capacidade ofensiva das tropas britâ- dos objetivos é diminuir a carga das
missões precisam durar mais do que 24 vais de integrantes de forças irregula- nicas operando na região. Foi conside- tropas em terra, que seriam poupadas
horas e, por isso, a autonomia do Rea- res: dois deles foram atacados e mortos rado mais efetivo, em comparação a de levar morteiros. Os fuzileiros perce-
per é menor que a do Predator, ou 24 em abril de 2010 após os operadores do helicópteros Apache e caças Harrier beram que o inimigo estudou as táti-
horas contra 40 horas. A autonomia Reaper observarem disparos no local. (estes já desativados). cas do USMC, determinando que há
18 Forças de Defesa www.aereo.jor.br www.aereo.jor.br Forças de Defesa 19
PODER AÉREO TECNOLOGIA
O US Army estuda o desenvolvi- tende usar os Heron no combate a cri- câmera, que tem capacidade de giro de
US Army

QQ A ARP Raven tem mento de uma família de mini-ARP mes como tráfico de drogas e armas, 360 graus e é retrátil. As imagens indi-
autonomia de 80 minutos, para dar capacidade de "binóculos voa- contrabando e crimes ambientais. cam as coordenadas do alvo e podem ser
com raio de ação de 15 km dores" para as tropas, devido à experi- Em 26 de abril de 2011, a Força Aé- gravadas na estação de controle.
voando num padrão pré- ência com o Raven. Será lançado à rea Brasileira (FAB) colocou em opera- Por usar motor elétrico, o Carcará é
programado por GPS mão, com propulsão elétrica, e poderá ção na Base Aérea de Santa Maria o bem silencioso, praticamente inaudível
ser descartável. Deve pesar menos de 1º/12º GAv (Grupo de Aviação), Esqua- acima de 100 metros. A bateria pode ser
seis quilos e ter autonomia de 2 horas. drão Hórus, para operar com ARP. Ini- recarregada em um carro ou em toma-
Recentemente, o US Army comprou cialmente foi equipado com dois Hermes das comuns. Um sistema com três aero-
20 sistemas RQ-20A Puma, basicamen- 450 com capacidade de carga de 150 kg naves, estação de controle e meios de
te um irmão maior do Raven. O objetivo e autonomia de 15 horas, aeronave da apoio custa de R$ 200 mil a R$ 250 mil,
é equipar cada companhia de infanta- Elbit/AEL que venceu concorrência con- o que representa um terço do custo de
ria com um sistema Puma, com um to- tra BAE Systems, SAGEM e IAI. sistemas equivalentes estrangeiros.
tal de 18 por brigada, além dos Raven. O Hermes irá realizar missões de O CFN usa o Carcará em missões de
A portabilidade do Raven ainda é ne- busca, reconhecimento e Controle Aé- reconhecimento de itinerários e reco-
cessária, mas algumas situações exi- reo Avançado, operando junto com ou- nhecimento de ponto, o que diminui a
gem uma ARP mais capaz. Vale lem- tras aeronaves de reconhecimento da exposição dos fuzileiros na coleta de in-
brar que, no deserto plano do Iraque, o FAB como o R-99, R-35 e RA-1. A FAB formações. A Marinha do Brasil (MB)
Raven operava melhor do que no terre- já realizava testes com a aeronave des- também usa o Carcará para patrulha
no montanhoso do Afeganistão. A prin- de janeiro de 2011, e essa ARP já par- do litoral, evitando deslocamento de
cipal diferença do Puma é a câmera ticipou de vários exercícios e operações embarcações. A Santos Lab já vendeu
móvel, com zoom e com melhor defini- militares desde que entrou em opera- 40 unidades, sendo três para apoiar as
ção da imagem. Também é uma aero- ção. A FAB também planeja criar ou- missões da ONU (Organização das Na-
nave mais estável, por ter o triplo do tras unidades de ARP no Norte e Cen- ções Unidas) no Haiti, onde essa mini-
peso. Devido à melhor definição da ima- tro-Oeste do país. -ARP está em uso desde 2007.
gem, o Puma mostrou ser superior para Desde 2006, o Corpo de Fuzileiros A Santos Lab já está comerciali-
esclarecimento de rota, indo à frente, Navais (CFN) usa a mini-ARP Carca- zando o Carcará II, bem mais capaz.
procurando por emboscadas, detectan- rá, produzida pela Santos Lab. A aero- Com 2 metros de envergadura, auto-
do explosivos improvisados e varrendo nave é operada pelo PelVant (Pelotão nomia de 2 horas e peso de 4,3kg, é um
três ARP, duas estações de controle e O sensor pode ser uma câmera de de do treinamento do operador e do co- minas. O Puma pesa 5,9kg com raio de VANT) do Batalhão de Controle Aero- sistema que custa de R$ 500 mil a
peças sobressalentes, num total de vídeo colorida diurna ou uma câmera nhecimento do comandante sobre o seu ação de 15 km, atinge uma velocidade tático e Defesa Antiaérea do CFN. O R$ 600 mil, mas com opção de ser equi-
US$ 240 mil. O Raven é bem popular de baixa luminosidade noturna, além uso correto. O treinamento dura três máxima de 87 km/h e voa em cruzeiro Carcará tem asa em formato delta com pado com câmera infravermelha. O
entre as tropas, sendo usado para en- de um apontador laser. As câmeras semanas, e os operadores treinados de- entre 37 e 50 km/h. A altitude máxima 1,6m de envergadura e é propulsado teto de operação é de 3.500m, mas a
contrar e acompanhar o inimigo, e têm que ser trocadas para uso notur- vem voar pelo menos uma vez por sema- de operação é de 3.800 metros e a auto- por motor elétrico. A autonomia é de câmera tem melhor resolução voando
também para segurança perimetral e no, e o vídeo pode ser gravado, com na para manter suas capacidades. nomia é de 120 minutos. 60 a 95 minutos, com velocidade de a 300m acima do alvo. Três foram ven-
escolta de comboios. fotos e cenas podendo ser transmiti- Até 2010, mais de quatro mil cruzeiro de 40 km/h e máxima de 75 didos à ONU para apoiar as forças
As tropas preferem a capacidade das das para outras unidades ou para o Raven foram entregues com 900 ope- ARP no Brasil km/h. O Carcará é lançado manual- atuando no Haiti.
ARP maiores, mas como nem sempre centro de comando. O operador pode rando com as forças no Afeganistão e O uso de ARP deverá ser acelerado mente, e sua estação de controle pode Pelo menos 13 empresas nacionais
estão disponíveis, o Raven é usado em ordenar que a aeronave circule um lo- Iraque, realizando mais de 40 mil sa- com o programa Sistema Integrado controlar até quatro dessas mini-ARP estão trabalhando com o desenvolvi-
nível de companhia e pelotão para ver cal com a imagem trancada no terre- ídas. O USMC usava o RQ-14 Dragon de Monitoramento das Fronteiras ao mesmo tempo. Enquanto uma aero- mento de ARP para o mercado civil e
além da colina e construções, fazendo no abaixo. Existe a opção de pilota- Eye e mudou para o Raven B em (SISFRON) e pelo Sistema de Gerencia- nave realiza vigilância, outras podem militar. A Avibras está desenvolven-
reconhecimento aproximado e vigilân- gem remota manual, como no caso de 2007. A USAF usava o Desert Hawk mento da Amazônia Azul (SisGAAz), estar voltando ou indo na direção do do a ARP Falcão, de 800 kg. O objeti-
cia. O tempo de resposta é pequeno e perseguição de tropas inimigas. de 3 kg e também mudou para o Ra- orçados em cerca de R$ 11 bilhões e alvo. A navegação é feita por GPS, se- vo é designar alvos para as baterias
não precisa de muito apoio logístico. O Raven tem autonomia de 80 mi- ven. A Itália, Austrália, Espanha, Di- R$ 12 bilhões respectivamente. Os pla- guindo ordens pré-programadas, e o de lançadores de foguetes Astros, mas
As Forças de Operações Especiais nutos, com raio de ação de 15 km voan- namarca e vários outros países tam- nos são para concluir ambos os progra- piloto automático é israelense. o sistema poderá realizar operações
gostam de usar o Raven à noite, do num padrão pré-programado por bém usam o Raven, e os britânicos mas em 2019. Os meios estudados para O Carcará pode ser equipado com câ- de vigilância / reconhecimento, vigi-
apoiando suas incursões. Outra fun- GPS. Porém, quanto mais alto ele voa, também passaram do Desert Hawk o SISFRON e SisGAAz incluem o uso de mera diurna ou noturna, com zoom de lância marítima e reconhecimento ar-
ção é apoiar ataques aéreos, voando menor é a autonomia, pois ele necessita para o Raven. Em 2009, o SOCOM ARP nas missões de vigilância, além de 10 vezes. O operador pode clicar no alvo mado. A aeronave deve fazer o seu
antes e após a missão de ataque para de mais potência no ar rarefeito. A velo- comprou 179 sistemas e, em 2012, o satélites e aeronaves. e este é seguido automaticamente pela primeiro voo ainda em 2012, e terá
coletar informações, preparar a mis- cidade máxima é de 90 km/h, mas ge- US Army comprou mais 424 sistemas As Forças Armadas do Brasil já Santos Lab
são e depois avaliar os dados. Talibãs ralmente o voo é realizado entre 40 e 50 por US$ 70 milhões. têm experiência com o uso de ARP. Os
capturados costumam dizer que km/h, a uma altitude entre 150 e 300 O Raven B é o modelo mais novo, estudos iniciais das três forças indica-
odeiam as mini-ARP, pois ficou difícil metros acima do terreno. O Raven fun- disponível desde 2007. Entre as melho- ram a necessidade de uma mini-ARP
de se esconder ou fugir. ciona a bateria, sendo bem silencioso e rias estão o modo "fail safe", para voltar de 3 a 5 kg e alcance de até 5 km, uma
O Raven pode ser desmontado e le- praticamente invisível por ser muito ao local de onde foi lançado no caso de ARP tática de 800 kg com autonomia
vado em uma mochila. Depois de mon- pequeno. A estrutura é de kevlar po- perder o contato por rádio. Também re- de 15 a 20 horas, e uma ARP estratégi-
tado, pode ser lançado à mão. O desta- dendo realizar cerca de 200 pousos for- cebeu um “beacon” para facilitar seu ca de 1,5 tonelada com autonomia de
camento é composto por três operadores çados antes de alguma coisa quebrar. encontro, no caso de queda. Um novo mais de 20 horas.
com três Raven e dois sistemas de con- Alguns foram derrubados, mas a maio- data link digital com vídeo criptografa- A Polícia Federal pretende operar 14
trole. Para manter a operação constan- ria das perdas foi por falha no link de do permite operar 16 Raven no mesmo ARP Heron I, sendo que duas já foram
te estão sempre lançando, controlando comunicação ou software. local ao invés de apenas quatro. Desde recebidas em 2009 e todas devem ser
e recuperando os Raven, pois basta tro- Um simulador é usado para treinar 2012, o US Army iniciou o uso de uma entregues até 2014, operando a partir
car a bateria e lançar novamente. Cada novos operadores e para mostrar as câmera móvel e um designador laser, o de quatro bases. O contrato inicial foi de QQ A mini-ARP Carcará da Santos Lab QQ O Carcará II, com envergadura maior,
brigada norte-americana tem 35 siste- suas capacidades para os comandantes que aumentou o peso um pouco, mas R$ 51,23 milhões, sendo metade para o pode ser desmontada e levada em uma pode ser equipado com câmera
mas de mini-ARP. em terra. A efetividade do Raven depen- sem atrapalhar o desempenho. treinamento dos operadores. A PF pre- mochila, junto com a estação de controle infravermelho

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PODER AÉREO
autonomia de 15 horas, raio de ação tro rotores tipo "lift fan". Essa mini-ARP transmissão de dados, pode-se chegar Custos de Operação de ARP

Fábio Castro
de 1.500km e carga 150 kg, que pode- tem 1 metro de diâmetro, autonomia de a um gargalo: os satélites. e algumas comparações com
rá incluir sensores eletro-óticos, rada- 20 a 30 minutos, raio de operação de Um exemplo foi a falta de satélites aeronaves tripuladas
res e link por satélite. 1.500 metros e carrega até 200 gramas. de comunicação estacionários sobre o As ARP têm várias vantagens
Em setembro de 2011, a Embraer O custo varia de US$ 10 mil a US$ 30 Afeganistão e Iraque, que levou a quando comparadas a aeronaves tri-
juntou-se à Elbit/AEL para desenvol- mil cada. Por fim, a Xmobots produz o USAF a usar aeronaves tripuladas puladas. Os baixos custos de operação
ver a ARP de reconhecimento estraté- Apoena 1000 de 32 kg, com autonomia C-12 (versão militar do bimotor tur- e aquisição são frequentemente cita-
gico Harpia, com capacidade seme- de 8 horas, além do Apoena 3000, com boélice King Air) para realizar as mis- dos, embora possa não ser o caso das
lhante ao Heron e ao Predator. autonomia de 24 horas. sões de vigilância dos Predator. A ae- ARP maiores. Um Reaper custava
Outra empresa nacional envolvida ronave virou o MC-12W, equipado US$ 11,2 milhões em 2011, enquanto o
no desenvolvimento de ARP é a Flight A complexidade de sistemas ARP com os mesmos sensores das ARP, QQ O Falcão da Avibras foi
Predator custava US$ 4,5 milhões, en- mostrado durante a LAAD
Solutions, que produz a ARP tática e a questão dos satélites além de sensores de escuta eletrônica. quanto um caça a jato custa vários ve- 2011 no Rio de Janeiro
FS-01 Watchdog de 65 kg, a mini- A plataforma voadora não é o item No total, 37 MC-12W foram compra- zes esses valores. Mas o preço das ARP
-ARP FS-02 Avantvision de 5,5kg com mais crítico, pois um sistema de ARP dos pela USAF e os britânicos segui- fica maior considerando as estações de
propulsão elétrica e o FS-03 Starcop- tem quatro subsistemas principais, que ram com o Shadow R1. Cada MC-12W controle e meios de apoio. Em 2012, nifica que são necessários bem mais 2006, seis Predator caíram e todos
ter de 240 kg. O FS-01 é derivado de aumentam de complexidade conforme custa o dobro do Predator. uma CAP com quatro aeronaves e tripulantes, comparando com os caças. por problemas no motor.
um projeto da Universidade Federal aumentam o próprio porte das aerona- No Brasil, a falta de satélites de co- duas estações de controle custava Por outro lado, as ARP operadas por Perdas por fogo inimigo são raras.
de Minas Gerais de 2005. Com 4,7m ves e as suas capacidades planejadas: municação também pode ser um gar- US$ 120 milhões. satélite podem ter parte dos operado- A maioria se dá por falha mecânica, de
de envergadura, capacidade de carga QQ a aeronave em si galo na operação de ARP de reconheci- No caso de caças, o custo de operação res fora da frente de batalha e manter eletrônicos, software, interface inade-
de 25 kg, teto de operação de 20 mil QQ os sensores e armamentos mento estratégico. O custo do uso de é calculado pela hora de voo. No caso de tropas longe das bases custa caro, quada ou falha do operador – este últi-
pés, raio operacional de 70km e velo- QQ os equipamentos de comunicação e satélites também é um fator importan- ARP, é calculado para toda a CAP e principalmente fora do país. mo fator (erro humano), sendo consi-
cidade de cruzeiro de 190 km/h, tem transmissão de dados te a se considerar, pois uma conexão para a missão completa. O custo da hora Outro fator a ser considerado é a derado responsável por 80% das
preço estimado de US$ 200 mil (em QQ a estação terrestre, de onde a ope- de telefone por satélite custa, por mi- de voo do Reaper era de US$ 3.624 em vida útil das aeronaves. As ARP costu- quedas. E a falta de piloto na aeronave
2007). O Exército Brasileiro (EB) já ração é conduzida nuto, de 2 a 3 reais (média de 2 dóla- 2011 contra US$ 17.780,00 do A-10C e mam durar menos do que as aeronaves é considerada uma das causas para es-
comprou três FS-01 para avaliação, e No Brasil, a OrbiSat desenvolveu res). A taxa de transmissão é de cerca US$ 20.809,00 do F-16C, mas com a tripuladas e caem com mais frequência. ses erros, porque o operador não sente
contratou a Flight Solutions em 2011 um radar de abertura sintética (SAR) de 2,4 kbs. Para transmissão de vídeo, missão durando muito mais, o custo por Em 2010, a USAF perdia sete Predator as alterações na aeronave, ou compor-
para fornecer outros três FS-01, deno- operando na banda P e X, capaz de ver seriam necessários dezenas de canais missão pode se igualar. O custo de ma- para cada 100 mil horas de voo. É o do- tamentos e barulhos estranhos.
minados VT-15, para pesquisa e trei- entre as árvores. Foi testado no SAR- ou um custo de pelo menos 3.000 dóla- nutenção anual é de US$ 5,1 milhões bro da perda de caças, mas é a mesma Dados e comparações como essas
namento. O EB estuda ARP com raio VANT da empresa AGX, que pesa 140 res por hora para uma taxa de trans- para o Reaper ou US$ 20,4 milhões por razão de perda dos monomotores civis. servem para mostrar que o emprego de
de ação de 15 km (VT-15), 30 km kg, atinge velocidade de 200 km/h e missão de 256kpbs. CAP. Já o custo anual de manutenção De 500 Predator e Reaper construídos, ARP deve ser pensado dentro de um
(VT-30) e 70 km (VT-70). autonomia de 10 horas. Uma solução semelhante (guarda- do A-10C é de US$ 5,5 milhões, enquan- quase 100 já foram perdidos. As perdas conjunto de opções, que muitas vezes se
O FS-02 é operado por dois solda- O IAE/CTA desenvolveu o Acauã, das as devidas proporções) ao caso aci- to o do F-16C é de US$ 4,8 milhões. Os já chegaram a uma razão de 30 por 100 completam, mas às vezes podem se
dos, é lançado à mão e pode ser levado que virou o projeto Vant em 2005. Foi ma do MC-12W talvez já esteja em ope- custos das ARP incluem a operação das mil horas de voo para o Predator, en- mostrar redundantes. A ARP oferece
em mochilas. Com peso de 5,5 kg e usado para o desenvolvimento de um ração no Brasil: os A-29 Super Tucano estações de controle, satélites e unidade quanto o Reaper chegou a 15 por 100 várias vantagens sobre aviões tripula-
propulsão elétrica, também é usado sistema de navegação e controle e um são a plataforma ideal para realizar operando em base avançada. Um estudo mil horas de voo, em 2010. dos, como vimos, mas seu custo-benefí-
pelo EB, onde preencheu o requeri- sistema de pouso e decolagem automa- muitas das tarefas que se planeja para sobre o uso de balões cativos para vigi- Em 2009, a frota de Reaper perdeu cio também deve ser pensado em rela-
mento de um ARP de apoio ao comba- tizado. A tecnologia deverá ser usada as ARP de maior porte. Com o alto cus- lância cita o custo por hora de voo do 16,4 aeronaves no terceiro ano de ser- ção à sua efetividade e às desvantagens
te Categoria 1. O terceiro produto da no Falcão da Avibras. to de se operar ARP com satélites, os Predator como sendo de US$ 5 mil. viço, enquanto o Predador voa desde a frente às aeronaves convencionais.
Flight Solutions é o helicóptero não Assim, percebe-se que além das ae- tripulantes do A-29 podem ser os ope- O estudo "Big Miguel" comparou o década de 1990. A taxa de atrito vem Nos modelos de menor porte, as van-
tripulado FS-03 Starcopter, com ca- ronaves em si (como mostrado mais radores de um sistema que inclui sua uso das ARP com o de aeronaves le- melhorando com o tempo, pois os mo- tagens táticas são mais do que eviden-
pacidade de carga de 113 kg e raio de acima) há um desenvolvimento signifi- torreta FLIR, aliada a uma capacidade ves para vigilância de fronteira. Cita delos anteriores caíam muito mais. tes, preenchendo lacunas que aeronaves
ação de 250km. cativo em sensores e sistema de nave- de enviar imagens pré-selecionadas na o custo de voo por hora do Reaper em Na década de 1980, o RQ-2A Pionner tripuladas não têm condições de preen-
A Gyrofly produz o Gyro 500, de de- gação para ARP no Brasil. Mas quan- aeronave para uma estação em terra, US$ 3.600,00, do Hermes 450 em tinha 363 quedas por 100 mil horas, cher com o mesmo custo, efetividade,
colagem vertical. Pesa 1,5kg e tem qua- do se pensa em comunicação e por satélite, de forma a não se ocupar US$ 1.351,00 e a do Hunter de mas ainda assim foi muito útil na flexibilidade e portabilidade. Já para as
as bandas de transmissão por tempo US$ 923,00. O custo foi considerado o Guerra do Golfo de 1991. A razão de ARP de maior porte, há vantagens e
Flight Solutions
demasiado. dobro de uma aeronave convencional atrito do Predator era de 5% por ano desvantagens, que crescem conforme
A autonomia do A-29 é de 6 horas e e era bem menos efetivo nas missões, em 2009. Oito Predator caíram no aumentam também as necessidades de
a aeronave ainda tem a vantagem de quando comparado a um Cessna Iraque em 2007, e até aquele ano a todo o sistema de operação, o que traz
poder carregar uma grande variedade equipado com um FLIR. USAF já tinha perdido 53 de 139 Pre- custos nada desprezíveis. Em muitos
de armas, podendo realizar ataques Os operadores das ARP trabalham dators entregues. Cada um voa em casos, as aeronaves tripuladas continu-
com metralhadoras e foguetes, fazer em turnos de quatro horas, o que sig- média por mais de uma década. Em am a oferecer mais vantagens. q
passagens baixas, e outras missões de
ataque. Obviamente, não é um reco-
Gyrofly

Embraer
nhecedor armado de emprego estraté- QQ A ARP Harpia está sendo
gico, mas pode ser comparado favora- desenvolvida pela Embraer
com a Elbit/AEL
velmente com alguns modelos de ARP.
O A-29 também não tem restrição
do uso de espaço aéreo e é capaz de se
defender. Se atacados, os Predator e
Reaper não fazem nada por serem len-
QQ O FS-01 já está em
operação no Exército tos e não manobrarem bem. A estrutu-
Brasileiro ra suporta no máximo 2g e, se mano-
brarem rápido demais, podem perder QQ A Gyrofly pretende ver o seu Gyro 500
a comunicação por satélite, o que é sendo usado nas operações de segurança
uma causa de quedas já ocorridas. durante a Copa do Mundo de 2014

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PODER AÉREO COMANDO & CONTROLE
Escritório de Relações Públicas da 552ª Ala de Controle Aéreo, via William Richards USAF, via William Richards

QQ Placa à frente do Quartel-General QQ O “0004”, então alocado ao 965º Esquadrão, sobrevoa o seu lar.
da 552ª Ala de Controle Aéreo Na direção do seu “nariz” estão os hangares, e um pouco acima está
a rampa de voo, apelidada de “Bird Cage” (gaiola de pássaro). À
esquerda, o prédio do Quartel-General, situado acima dos tanques de
combustível. Acima do Sentry, está a cabeceira 17

William Richards
ros soviéticos sobrevoaram uma multi-

552ª Ala de Controle Aéreo da dão reunida para o tradicional Dia da


Aviação em Tushino, feito repetido em
maio do ano seguinte na Praça Verme-
QQ Placa do 552º Grupo
de Operações e seus
esquadrões subordinados

Força Aérea dos Estados Unidos lha. Agora, a União Soviética (URSS)
possuía uma aeronave com a capacida-
de dos bombardeiros “Superfortress”,
que haviam lançado bombas atômicas
sobre Hiroshima e Nagasaki. Isso
Conheça a unidade cuja história se quantidade de aeronaves AEW&C em apressou os EUA a criarem, entre
serviço, com 26 aviões do tipo: a 552ª 1948 e 1949, a rede emergencial de
Ala de Controle Aéreo (abreviada alerta “Lashup”, cuja porção aérea es-
confunde, desde a metade do século XX, 552nd ACW). tava integrada pelos PB-1W, variante
A ativação da unidade que hoje traz do bombardeiro B-17 equipada com ra-
com o próprio desenvolvimento das essa designação ocorreu em oito de ju- dar AN/APS-20, operada pela Mari-
lho de 1955, na Base de McClellan, na nha dos Estados Unidos.
missões de AEW&C na USAF Califórnia. Foi a expressão máxima da Em 29 de agosto de 1949, os sovié-
USAF no sentido de se antecipar às ticos explodiram sua primeira bomba
progressivas ameaças apresentadas atômica, a RDS-1. Porém, apesar do
QQ Sérgio Santana do e controle aerotransportado, pela Aviação de Longo Alcance soviéti- temor já despertado pelo potencial
ssantana@fordefesa.com.br classificadas pela sigla AEW&C. ca a partir de 1947. nuclear do Tu-4, foi somente em outu-
O conceito é considerado uma Essa ameaça concretizada em 1947

Q
bro de 1951 que uma aeronave do tipo
uase ninguém discorda que, ideia britânica, surgindo na Real For- resultou, ironicamente, dos pousos e lançou um dispositivo atômico, a bom- lançada por um bombardeiro a jato do L-1049 “Constellation” equipada com
na maior parte dos conflitos ça Aérea (RAF) durante a década de quedas de cinco bombardeiros Boeing ba RDS-3. Tu-16 “Badger”. Esses e outros fatos radares AN/APS-20B e AN/APS-95.
envolvendo aeronaves, os 1940. A partir daí, alguns aconteci- B-29 em território soviético, entre no- Lançada sobre Semipalatinsk, a contribuíram para a criação pela O trabalho dessas aeronaves no
vetores de caça e ataque costumam mentos importantes do final da Se- vembro de 1944 e julho de 1945. Estu- arma liberou 42 quilotons, potência USAF, naquele mesmo mês, do 4701º alerta antecipado era beneficiado por
atrair quase todas as atenções. Porém, gunda Guerra Mundial e dos anos do dando essas aeronaves, os soviéticos equivalente a 42 mil toneladas de TNT. Esquadrão de Alerta Antecipado e Con- um fato básico: as aeronaves soviéti-
a realidade mostra que o sucesso ou pós-guerra promoveram o desenvolvi- desenvolveram o bombardeiro Tupolev Mas isso não significa que os soviéticos trole Aerotransportado (AEW&C), se- cas somente podiam alcançar o territó-
fracasso de suas ações dependem, cada mento desse conceito nos Estados Tu-4, mais tarde codificado “Bull” pela estavam perdendo tempo: já no ano se- diado em McClellan. Em março do ano rio norte-americano a partir de bases
vez mais, de outra classe de platafor- Unidos. Não surpreende, então, que a OTAN. O alarme soou para os estrate- guinte, a RDS-3 entrou em produção seguinte, na mesma base, foi criado o temporárias no Ártico ou com reabas-
mas aéreas. São as aeronaves especia- Força Aérea dos EUA (USAF) tenha gistas norte-americanos quando, em seriada e, em outubro de 1953, foi tes- 4712º Esquadrão. Ambos voavam o tecimento aéreo, então ainda em de-
lizadas em missões de alerta antecipa- atualmente a unidade com maior 1947, três desses “novos” bombardei- tada a bomba RDS-4 de 28 quilotons, Lockheed RC-121D, versão do conheci- senvolvimento na URSS.

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PODER AÉREO COMANDO & CONTROLE
USAF USAF / Tech. Sgt. DeNoris A. Mickle

QQ O Centro de Relatório e Controle, QQ Um oficial de vigilância aérea a


elemento imprescindível às missões da bordo de um Sentry do 964º
552ª Ala de Controle Aéreo Esquadrão durante uma operação de
apoio ao combate em espaço aéreo
afegão, março de 2012

De Esquadrões a Alas, sempre a Base Aérea de Tainan (Taiwan) de cin- 1968, as aeronaves passaram a operar tenção e a um único destacamento, até Boeing E-3A Sentry “75-0557” aterris- setores da fronteira Estados Unidos-
postos para novas missões co aviões EC-121D e EC-121T, acom- no redesignado “1º Destacamento Ro- ser desativada em abril de 1976. sou em Tinker. A primeira missão -Canadá. No mesmo mês, foi inaugu-
Entre dezembro de 1954 e julho de panhados de mais de duzentos milita- tativo da 552ª Ala de Alerta Antecipa- Entretanto, em maio do mesmo ocorreu no dia 31 daquele mês, como rado um novo tipo de missão: detecção
1955, a frota de aeronaves AEW&C res da 552ª Ala sob o código de “Big do e Controle Aerotransportado”, que ano a 552ª foi reativada. Em julho, foi parte da 1ª edição quadrimestral do de aeronaves do narcotráfico voando
dos Estados Unidos cresceu: o 4701º Eye Task Force” (literalmente “Força- colecionou números significativos até novamente designada como Ala, ao exercício “Vigilant Overview ‘77”, cujo para o território norte-americano. Em
foi redesignado 960º Esquadrão e rece- -Tarefa Grande Olho”). Em 1967, ela sua saída do conflito, em agosto de mesmo tempo em que ressurgiam os objetivo era avaliar a prontidão da setembro daquele ano, a 552ª Ala pas-
beu a companhia dos novos 961º e 962º seria redenominada “Força Tarefa 1973: foram 4.713 missões, nas quais 963º e 966º Esquadrões, sendo respec- rede do NORAD (North American sou a comandar outra unidade, o 960º
Esquadrões. Juntos, foram agrupados Olho Colegial” e realocada em Uborn, controlou mais de 200 mil aeronaves e tivamente codificados “Blue Knights” Aerospace Defense Command - Co- Esquadrão “Viking Warriors” (“Guer-
na 551ª Ala de Alerta Antecipado e Tailândia. Enquanto isso, a 551ª Ala ajudou a recuperar 80 tripulantes. (“Cavaleiros Azuis”, com faixa preta mando de Defesa Aeroespacial Norte- reiros Vikings”, identificado pela faixa
Controle Aerotransportado baseada permanecia engajada na defesa do ter- na deriva) e “Ravens” (“Corvos”, iden- -Americano). Quatro meses depois, a branca no estabilizador vertical) e, no
em Otis, Massachussets. ritório continental norte-americano. A consolidação da 552ª Ala de tificado pela faixa azul). A “nova” uni- capacidade operacional da 552ª Ala foi mês seguinte, ressurgiu o 961º Esqua-
Em agosto de 1955, a 552ª Ala esta- No teatro de operações do Vietnã, a Alerta Antecipado e Controle dade foi realocada para a Base Aérea ampliada, com a reativação do 964º drão, “Eyes of the Pacific” (“Olhos do
va composta por outro trio de unida- 552ª Ala mostrou a que veio em 10 de Aerotransportado, com nova base de Tinker, no estado de Oklahoma. Esquadrão “Phoenix” (“Fênix”, distin- Pacífico”, com faixa laranja). Sobre
des, os 963º, 964º e 965º Esquadrões, julho de 1965, quando um EC-121D aérea e plataforma operacional. O nome do aeródromo homenageia guido pela faixa vermelha). Em janei- este último, vale acrescentar que, com
em McClellan. Ambas as alas integra- vetorou a tripulação de um caça F-4C Antes que o efetivo provisório da o major-general Clarence Tinker, pri- ro do ano seguinte, ressurgiu também sua transferência para Kadena em
vam a “Linha de Alerta Antecipado Phantom II na direção de um MiG-17, 552ª Ala retornasse para McClellan, meiro oficial de origem indígena a al- o 965º Esquadrão “Falcons” (“Falcões”, maio de 1980, passou a ostentar as le-
Distante”, que entre 1956 e 1965 foi que foi abatido. Assim, reverteu-se o em julho de 1974, toda a Ala passou a cançar tal patente no Exército dos ostentando a faixa amarela). Ainda em tras “ZZ”. Já os Esquadrões de Tinker
incumbida de detectar voos de bom- resultado do primeiro combate de três ser subordinada ao Comando de Defe- Estados Unidos, e que pereceu em ju- 1978, a 552ª Ala reiniciou a sua tradi- recebem as letras “OK”.
bardeiros soviéticos, em missões de 14 meses antes, que tinha sido em favor sa Aeroespacial. Outro fato importan- nho de 1942, quando liderava um ata- ção de movimentar-se para outras ba- Ainda em outubro de 1979, as aero-
ou mais horas, nas quais os caças in- dos norte-vietnamitas. O perfil das te ocorrido antes da volta do Vietnã foi que de bombardeiros B-24 a forças ses, quando o 963º Esquadrão ficou naves de Tinker voaram para a cidade
terceptadores eram direcionados con- surtidas incluía voos de 10 a 16 horas a desativação, em 1969, da 551ª Ala. japonesas estacionadas na Ilha de estacionado por algum tempo na Base saudita de Riad, para observar a guer-
tra aeronaves que penetrassem a Zona a apenas 15 metros das águas do Golfo Assim, a 552ª Ala tornou-se a única Wake. A base de Tinker, que ainda Aérea japonesa de Kadena e o 964º Es- ra civil entre o Iêmen do Sul e o Iêmen
de Identificação e Defesa Aérea. Vale de Tonkin, à velocidade de 370 km/h. unidade da USAF especializada em hoje é o “lar” da 552ª Ala, possui duas quadrão se deslocou para a Estação do Norte. Também voaram para a pe-
lembrar que, naquela época, os bom- Esse perfil visava escapar dos radares AEW&C, passando a ser encarregada pistas: a de cabeceiras 12/30 com ex- Aeronaval de Keflavik, na Islândia. nínsula coreana, buscando se antecipar
bardeiros soviéticos já podiam lançar de mísseis terra-ar e dos caças inimi- de voos ao longo da costa leste dos Es- tensão de 3.048 metros e largura de a possíveis movimentos hostis em de-
bombas de hidrogênio, conforme de- gos, sem que nem mesmo os navios tados Unidos até a Islândia. Ainda em 61metros, e a de cabeceiras 17/35, A ativação de novos esquadrões e corrência da morte do líder sul-coreano
monstrado em novembro de 1955 com aliados conhecessem suas frequências meados de 1974, a 552ª Ala foi elevada medindo 3.383 x 61 metros, com con- mais deslocamentos operacionais Park Chung Hee. Circunstância seme-
a detonação do artefato RDS-37 de 1,6 de rádio ou planos de voo. Os EC-121 ao status de Grupo e, em meio às dis- creto e asfalto/macadame revestindo Em janeiro de 1979, a 552ª Ala as- lhante forçou outra surtida do tipo, em
megatons (equivalente a 1,6 milhão de da 552ª Ala retransmitiam comunica- cussões acerca da escolha de uma nova a superfície de ambas. sumiu o estado de prontidão em apoio agosto de 1981, quando o presidente
toneladas de TNT). ções, conduziam ataques e reabasteci- base aérea, chegou a ficar restrita a O ano de 1977 foi marcado pela in- ao NORAD, com tripulações e aerona- egípcio Sadat foi assassinado.
Em abril de 1965, a escalada da mentos em voo, e também auxiliavam um Esquadrão Operacional (o 963º), trodução da 552ª Ala na era da propul- ves em alerta preparadas para voos O mês de julho de 1980 marcou a
Guerra do Vietnã forçou o envio para a no resgate de pilotos abatidos. Em um de treinamento, outro de manu- são a jato, quando em 23 de março o imediatos na direção de determinados ativação do 41º Esquadrão de Controle

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PODER AÉREO COMANDO & CONTROLE
USAF / Tech Sgt Michael R. Holzworth Coleção William Richards

QQ Oficial do 961º Esquadrão apresenta QQ Um dos E-3 do 965º Esquadrão


o E-3 para o comandante da Força Aérea espera o início de mais uma missão da
da Rússia, general Aleksandr Zelin, ‘Tempestade no Deserto’
durante o show aéreo de Cingapura,
fevereiro de 2012

Escritório de Relações Públicas da 552ª Ala de Controle Aéreo, via William Richards USAF
Eletrônico. Três meses depois, ocorreu Se a “Força de Ligação Europeia-
o início do mais demorado deslocamen- QQ Portão Principal da -Um” foi o emprego mais prolongado
to da 552ª Ala, quando a “Força de Li- Base Aérea de Tinker da 552ª Ala, as operações “Escudo do
gação Europeia-Um”, a princípio inte- Deserto” e “Tempestade no Deserto”
grada por um quarteto de E-3A e mais representaram o início da atuação da
de 200 militares, partiu de Tinker unidade em ambiente de combate in-
para Riad. Ao ser concluído em abril tenso. Essas operações, desencadea-
de 1989, esse rodízio de aeronaves e das pela invasão de forças iraquianas
tripulações acumulou seis mil surtidas ao Kuwait em agosto de 1990, dura-
distribuídas em 87 mil horas de voo. ram até 1º de março de 1991, contando
Durante o mês de dezembro de 1980, a com a participação de aeronaves E-3
mesma quantidade de meios da 552ª dos EUA e da Arábia Saudita. Os nú-
Ala decolou para a base alemã ociden- meros dos E-3 norte-americanos, sozi-
tal de Ramstein, integrando o exercí- nhos, representam a coordenação de
cio “Greek Sentry”, em conjunto com o 31.924 surtidas de ataque durante
sistema de defesa aérea da OTAN (Or- QQ Fachada do Quartel-General da 7.314 horas, muitas delas sobre terri-
ganização do Tratado do Atlântico 552ª Ala de Controle Aéreo tório kuwaitiano, contribuindo para o
Norte). Na mesma ocasião, informa- abate de 38 aeronaves iraquianas.
ções sobre uma possível invasão da Po- Ainda assim, o fim das hostilidades
lônia por forças do Pacto de Varsóvia Mas isso durou pouco tempo, e a uni- pela faixa verde quanto pelas letras parte fundamental na “Operação Cau- tir da Estação Aeronaval de Roosevelt não representou inexistência de confli-
(a contraparte da OTAN no bloco sovi- dade voltou a ser Ala em abril de 1985. “AK”, aplicadas na deriva, indicativas sa Justa”, que tinha como objetivo am- Roads, em Porto Rico. Outros desdo- to entre a 552ª Ala e as forças iraquia-
ético) provocaram o envio de mais qua- Nesse intervalo, foi recebido um Es- da Base de Elmendorf, no Alasca). pliar o combate ao narcotráfico e der- bramentos do tipo ocorreram na Base nas. Quando estas últimas atrapalha-
tro E-3A para a Europa. quadrão de Treinamento Tático e ini- rubar Manuel Noriega do governo Aérea de Howard, no Panamá (ação ram a assistência externa à população
Em 18 de maio de 1982, a força de ciada a operação do primeiro exemplar Sobre a América Latina e contra panamenho. Outro emprego similar descontinuada em 1999), na Base Aé- curda, foram iniciadas as operações
bombardeiros da URSS voltou a justi- do E-3B. Ainda em abril daquele ano, Saddam Hussein da unidade foi na “Operação Fúria Ur- rea de Eloy Elfaro, no Equador (acordo “Prestação de Conforto” e “Vigia do
ficar a existência de aeronaves de aler- foi ativada a 28ª Divisão Aérea, que as- Com o final da “Força de Ligação gente”, que tirou da Ilha de Granada o cancelado dez anos depois) e nos aero- Norte”, a partir de abril de 1991, con-
ta antecipado e controle, quando um sumiu controle não apenas sobre a Europeia-Um”, a 552ª Ala recebeu au- marxista Maurice Bishop, entre outu- portos de Hato e Reina Beatrix, nas tando com a participação da unidade.
E-3A Sentry vetorou caças F-15A na própria Ala, mas também sobre os 41º, torização superior para aumentar o bro e novembro de 1983. Antilhas Holandesas. Muitas dessas
interceptação a um Myasishchev M-4 960º e 961º Esquadrões. Por outro lado, seu envolvimento na “Guerra contra A partir de fevereiro de 1990, a missões foram realizadas em proveito Novas denominações, operações
“Bison”, próximo à Islândia. em 1º de julho de 1986 foi ativado o as Drogas”, passando a patrulhar o sul participação da 552ª Ala no combate da hoje extinta “Operation Coronet de combate e algumas tragédias
Já em outubro do ano seguinte, a 962º Esquadrão, “Eye of the Eagle” dos Estados Unidos em agosto de 1989. aos cartéis de drogas foi ampliada ain- Nighthawk”, embora ainda haja voos Ainda em 1991, a 552ª obteve a sua
552ª foi elevada à categoria de Divisão. (“Olho da Águia”, identificável tanto Quatro meses depois, a 552ª Ala foi da mais, inicialmente com voos a par- da 552ª Ala para esse fim. designação atual: 552ª Ala de Controle

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PODER AÉREO COMANDO & CONTROLE
William Richards

QQ Ainda que à distância, por


motivos de segurança, é possível ver
nessa imagem parte da frota de E-3
Sentry da USAF

Aéreo, 552nd ACW, na sigla em inglês. profunda revisão dos procedimentos preendeu a “Operação Águia Nobre”, Além disso, a 552ª Ala é a unidade ros Raivosos”), em Hill, Utah; o 603º Décima Primeira Força Aérea, opera
A unidade também saiu do comando operacionais e a condenação do capi- que passou a reforçar a vigilância aé- exigida quando o presidente dos EUA “Scorpions” (“Escorpiões”), em Aviano, outros dois em Elmendorf (Alasca).
da 28ª Divisão Aérea, extinta no ano tão James Wang como responsável. rea norte-americana. A partir do dia se desloca para conferências interna- Itália; e o 606º, “Inspectors of the Sempre que uma manutenção abran-
seguinte, para o Comando Aéreo Táti- Em setembro de 1995, uma das aero- 27 de setembro, essa resposta evoluiu cionais: meses atrás, durante a últi- Skies” (“Inspetores dos Céus”), em gente se torna necessária numa aero-
co. Em 1992, este último cedeu lugar naves do 962º Esquadrão (então sob o para a primeira surtida em território ma visita do presidente Barack Oba- Spangdahlem, Alemanha. O treina- nave, ela é enviada a Tinker, sendo
ao Comando de Combate Aéreo, ini- código-rádio “Yukla 27”) caiu após so- afegão, como parte da “Operação Li- ma ao nosso país, um dos seus Sentry mento de especialistas do CRC é con- substituída por outra.
cialmente com a Segunda Força Aérea frer, durante a decolagem, a ingestão berdade Duradoura”. Em outubro da- sobrevoou o espaço aéreo brasileiro. duzido pelo 607º Esquadrão, “Snakes” Atualmente, os Sentry da 552ª Ala
intermediando a subordinação, papel de um bando de gansos canadenses quele ano, a unidade recebeu o seu úl- Uma face pouco conhecida das (“Cobras”), baseado em Luke, Arizona. de Controle Aéreo estão recebendo
assumido pela Décima Segunda Força nos seus motores. O acidente resultou timo E-3C elevado ao padrão Bloco missões envolvendo os E-3 Sentry é a Uma interação similar acontece na aperfeiçoamentos na sua capacidade
Aérea em julho de 1993. na perda total da aeronave e na morte 30/35, o mais atualizado em serviço. utilização do Centro de Relatório e Força Aérea Brasileira, entre os Em- de comunicação em rede. A modifica-
Em julho de 1994, os 963º, 964º, dos seus 22 tripulantes, sendo o único Um ano depois, o comando inter- Controle (CRC), uma instalação ae- braer E-99 do 2º/6º “Esquadrão Guar- ção está sendo incorporada nas aero-
965º e 966º Esquadrões (este último de sinistro deste nível sofrido pela unida- mediário da unidade passou da Déci- rotransportável integrada pelos se- dião” e os radares do Grupo de Coman- naves dos Blocos 30/35 e integrará o
treinamento) foram renomeados Es- de até hoje. ma Segunda Força Aérea para a Oita- guintes equipamentos: o radar do e Controle. pacote de atualização da versão E-3G
quadrões de Controle Aéreo Aero- A década de 1990 não terminaria va Força Aérea. Com essa mesma AN/ATPS-75, capaz de detectar alvos Atualmente, a 552ª Ala de Controle (também conhecida como Bloco 40/45),
transportado. Alguns meses depois, a sem que os Sentry da 552ª Ala retor- cadeia de comando, a 552ª Ala juntou- a uma distância de 444km, o Módulo Aéreo, incorporada à Décima Segunda que será capaz de detectar alvos em
552nd ACW atuou nas operações “Ma- nassem às missões de combate, desta -se a outras unidades norte-america- de Operações AN/TYQ-23 e o Conjun- Força Aérea, é composta pelo 552º qualquer parte do planeta, ao conec-
nutenção de Democracia” e “Guerreiro vez na Europa: em abril de 1999, devi- nas para a “Operação Liberdade no to de Comunicações Destacável em Grupo de Operações (que administra tar-se com satélites Inmarsat, com en-
Vigilante”, uma para assegurar o go- do ao conflito em curso no então terri- Iraque”, na qual seus Sentry atuaram Teatro. os 960º, 963º, 964º, 965º e 966º Esqua- trada em serviço prevista para 2020.
verno do haitiano Jean-Bertrand Aris- tório iugoslavo, um trio de E-3 Sentry entre março e junho de 2003, acumula- O CRC, manejado por 350 especia- drões, além do Esquadrão de Treina- O E-3 será operacional na 552nd
tide e outra para evitar que forças de e 125 militares se deslocaram para a do um total de 313 missões. O mais listas, possibilita o gerenciamento de mento e o Esquadrão de Apoio a Ope- ACW até 2035, quando se espera que
Saddam Hussein ameaçassem o base aérea alemã de Geilenkirchen, recente deslocamento operacional da batalha e do espaço aéreo, alerta ante- rações); o 552º Grupo de Controle outras versões, Blocos 50/55 e 60/65,
Kuwait novamente. em proveito da “Operação Força Alia- 552nd ACW foi durante a “Operação cipado, controle de armas/alocação de Aéreo, responsável pelos CRC’s; e, fi- estarão desenvolvidas. Atualmente,
A primeira metade daquela década da”. Nos dois meses em que permane- Amanhecer da Odisséia”, que em 2011 forças (dentre outras funções) a partir nalmente, o 552º Grupo de Manuten- algumas das suas capacidades estão
também trouxe fatos desastrosos para ceram naquele teatro de operações, as derrubou o regime do ditador líbio de informações colhidas de sensores ção, com as unidades “Branca”, “Azul” sendo planejadas. q
a 552ª Ala: em abril de 1994, durante aeronaves da unidade executaram 47 Muammar Kadafi. Para as missões de aéreos, terrestres, marítimos e espa- e “Vermelha”, conforme a complexida-
a “Operação Vigia do Norte”, um dos missões. AEW&C naquele conflito, foi desloca- ciais, executando comunicações por sa- de estrutural dos trabalhos de manu- O Autor agradece profundamente ao
seus E-3 coordenou dois caças F-15 do o E-3B “77-0352” do 964º Esqua- télite, wireless e por cabo. tenção. pleno suporte e incentivo fornecidos
contra o que se pensava ser dois heli- Presença no Afeganistão, Iraque, drão. O Sentry e 40 militares da uni- O CRC está operacional em cinco Completando a organização, o tanto pelo capitão-aviador (Ref.)
cópteros iraquianos Mi-24 “Hind”. Po- Líbia e a formação atual da 552ª dade ficaram baseados em Trapani, na Esquadrões de Controle Aéreo: o 726º 961º Esquadrão, comandado pela 18ª William Richards, que pertenceu ao
rém, tratava-se de aeronaves UH-60 Ala de Controle Aéreo Sicília (Itália) atuando sob o código “Hardrock” (“Rocha Dura”), baseado Ala e Quinta Força Aérea, normal- efetivo da 552ª Ala de Controle Aéreo
“Blackhawk” do Exército dos EUA, Como resultado da sequência de “SHUCK 80”. Foram sete meses de em Mountain Home, Idaho; o 728º “De- mente opera três E-3 Sentry em Ka- entre 1984 e 1994, quanto pelo
cujo abate resultou na morte de 26 mi- ataques terroristas desencadeada em operação até a volta a Tinker, em no- mons” (“Demônios”), em Eglin, Flóri- dena (Japão), enquanto o 962º Es- Escritório de Relações Públicas da
litares. O incidente acarretou uma 11 de setembro de 2001, a 552ª Ala em- vembro. da; o 729º “Angry Warriors” (“Guerrei- quadrão, subordinado à 3ª Ala e à unidade objeto deste artigo.

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PODER NAVAL DESTAQUE
Fotos: Marinha do Brasil

Lançamento de míssil
QQ Na sequência de imagens, o disparo
do primeiro míssil antinavio Exocet
MM40 com motor de fabricação
brasileira no dia 18 de abril de 2012,
pela corveta Barroso (V34), também de

antinavio Exocet com


construção nacional

novo motor brasileiro

QQ Alexandre Galante Segundo o almirante, “quem pro- ticas do modelo original. O tempo de
alexgalante@fordefesa.com.br duz o motor foguete pode pensar em queima do “sustainer” (o motor que
desenvolver seus próprios mísseis”. leva o míssil até o alvo, depois da

N
o dia 3 de maio, no Rio de Ja- A MB solicitou à MBDA a coopera- queima do “booster”, que faz a primei-
neiro, foi realizada uma cole- ção para o projeto de uma nova propul- ra impulsão) chegou a 270 segundos.
tiva de imprensa pela Mari- são e esta escolheu como parceira bra- O motor original tem tempo de quei-
nha do Brasil, MBDA e Avibras. O sileira a Avibras, que já tinha vasta ma de 240 segundos.
evento contou com a presença de Patri- experiência na produção de foguetes. O míssil lançado pela corveta Bar-
ck de La Revelière, vice-presidente de Foi destacado que o novo motor não roso no dia 18 de abril foi disparado
vendas para a América Latina da é produto de engenharia reversa: ele contra um alvo no limite do alcance, a
MBDA, do vice-almirante (Ref) Ronaldo foi desenvolvido do zero seguindo as uma distância de 38 milhas (70km).
Fiuza de Castro, Gerente de Programa especificações fornecidas pela MBDA. Patrick de La Revelière salientou a
de mísseis superfície-superfície da Ma- É a primeira vez que a MBDA ajuda importância da Mectron no processo
rinha do Brasil (MB) e de Sami Youssef uma empresa estrangeira num projeto de validação do primeiro lançamento.
Hassuani, presidente da Avibras. desse tipo. A empresa forneceu o equipamento de
Durante a coletiva foi revelado Engenheiros da MBDA coopera- telemetria instalado no míssil que per-
que o primeiro míssil antinavio Exo- ram com os engenheiros da Avibras no mitiu a coleta dos parâmetros do mo-
cet MM40 com motor de fabricação projeto e fabricação do novo motor. tor durante o voo até o alvo.
brasileira foi disparado com sucesso Cerca de 300 engenheiros e técnicos da A Marinha do Brasil espera agora
no dia 18 de abril de 2012, pela corve- Avibras trabalharam durante 2 anos poder atender à demanda de clientes
ta Barroso (V34), também de constru- em tempo integral na sua produção e internacionais que utilizam centenas
ção nacional. certificação. de mísseis MM40 das primeiras ver-
Foram feitas apresentações pelos Foram feitas de 30 a 40 certifica- sões. Os mísseis AM39 lançados de he-
representantes da MB, MBDA e Avi- ções com o motor funcionando em ban- licópteros também terão seus motores
bras sobre o desenvolvimento do motor cada de testes e no dia 18 de abril foi substituídos e será feita a integração
nacional do míssil e a cooperação fran- feito o primeiro lançamento a partir de com os novos helicópteros EC725.
cesa no programa. um navio. A MBDA, por sua vez, tem grande
O vice-almirante Fiuza discorreu Os mísseis da MB deverão ser to- interesse em cooperar com o Brasil, de
sobre a decisão da Marinha de nacio- dos remotorizados até o final de 2013. olho nas futuras aquisições de mísseis
nalizar a propulsão dos mísseis Exocet Até lá, também será possível estabele- Exocet SM39 para os submarinos SBR
de seu inventário, cujos motores são cer a vida útil dos motores que estão e também de mísseis Aster para as fu-
perecíveis com o passar dos anos. Ao sendo testados pelo método de enve- turas fragatas do Prosuper. Segundo
mesmo tempo, a fabricante MBDA já lhecimento acelerado. Patrick de La Revelière, a cooperação
descontinuou a produção desses mís- Os resultados obtidos nos testes com a Avibras pode ser vista como
seis, pois produz versões mais moder- foram melhores do que o esperado, uma espécie de antecipação de com-
nas com outro tipo de propulsão. com o motor superando as caracterís- pensações, os chamados “off-sets”. q

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PODER NAVAL REPORTAGEM
Fotos: Alexandre Galante

III Simpósio das Marinhas QQ Na página anterior, membros das


delegações no passadiço da corveta
Barroso. Acima e abaixo, o passadiço
e a proa do Navio-Patrulha Macau

da CPLP no Rio de Janeiro


A
conteceu entre os dias 8 e 10 tra-almirante Lázaro Henrique Lopes vios, equipamentos e sistemas da
de maio o III Simpósio das Menete; da Marinha Portuguesa, al- Emgepron (Empresa Gerencial de Pro-
Marinhas da Comunidade mirante José Carlos Torrado Salda- jetos Navais) para as Marinhas da
dos Países de Língua Portuguesa nha Lopes; da Guarda Costeira de CPLP, mas por enquanto nada ainda
(CPLP) na Escola de Guerra Naval São Tomé e Príncipe, capitão-tenente tinha sido definido. A Emgepron contou
(EGN), no Rio de Janeiro. O III Simpó- Idalécio João; e do Componente Naval com um estande durante o Simpósio
sio das Marinhas da CPLP é o fórum da Força de Defesa de Timor-Leste, com amostras dos seus equipamentos e
mais importante entre as Marinhas e capitão de mar e guerra Donaciano do serviços.
Guardas Costeiras de língua portu- Rosário da Costa Gomes. No último dia do Simpósio, os inte-
guesa sobre assuntos ligados ao mar. O evento teve a duração de três grantes das delegações visitaram o Co-
Na cerimônia inaugural, que con- dias, e seu tema central foi: “Garantia mando de Operações Navais, onde co-
tou com representantes de Angola, da defesa e segurança marítimas, em nheceram o Centro de Comando do
Brasil, Cabo Verde, Moçambique, âmbito nacional, regional e global. A Teatro de Operações Marítimo
Portugal, São Tomé e Príncipe e Ti- cooperação entre as Marinhas para o (CCTOM). A visita se estendeu ao Co-
mor Leste, estiveram presentes o mi- monitoramento e o controle do tráfego mando do Controle Naval do Tráfego
nistro da Defesa do Brasil, Celso marítimo nas águas jurisdicionais dos Marítimo (ComCoNTraM), com a apre-
Amorim; o comandante da Marinha países”. Foram apresentadas pales- sentação dos sistemas usados pela Ma-
do Brasil, almirante de esquadra Ju- tras e discutidos assuntos visando a rinha do Brasil para o monitoramento
lio Soares de Moura Neto; da Mari- cooperação entre as Marinhas. de navios e embarcações pesqueiras.
nha de Guerra de Angola, almirante Em entrevista coletiva aos jornalis- Em seguida as delegações visitaram
Augusto da Silva Cunha; da Guarda tas presentes, o comandante Moura quatro navios construídos no Brasil: o
Costeira de Cabo Verde, tenente-coro- Neto, disse que a Marinha do Brasil es- aviso de patrulha Albacora, o navio-
nel António Duarte Monteiro; da Ma- tuda com o Governo formas de financia- -patrulha Grajaú, o navio-patrulha
rinha de Guerra de Moçambique, con- mento do BNDES para a venda de na- Macau e a corveta Barroso. q

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F40
PODER NAVAL HISTÓRIA

Há quarenta anos começava a


construção da classe Niterói,

aos quarenta um ponto de virada na história


da Marinha do Brasil

Christophe Joncour / Marine Nationale


QQ A fragata Niterói durante a
“Passex” com o BPC Dixmude
da Marinha Francesa, em junho
de 2012. Observar a ausência
do lançador de mísseis
antiaéreos Aspide, instalado na
popa no Programa MODFRAG,
retirado para manutenção

QQ Fernando “Nunão” De Martini projeção e comando (BPC) Dixmude, da nha, o aniversário da Batalha de Ria- mais próximas tiradas de outra aero- malmente fica bem visível à popa, a Southampton, Inglaterra, oito
   e Alexandre Galante Marinha Francesa, cujo convoo tínha- chuelo, data também coincidente ou nave francesa, naquele mesmo dia, Niterói estava mais parecida com sua de junho de 1972: no subúrbio de
nunao@fordefesa.com.br mos acabado de deixar após três dias muito próxima de outros acontecimen- “salvaram” essa nossa segunda mis- configuração original, planejada mais Woolston, na foz do rio Itchen, era ba-
alexgalante@fordefesa.com.br embarcados (narrativa e imagens que tos que vamos narrar aqui. são, para que pudéssemos estampar de quarenta anos antes, na qual um tida a quilha de um navio de uma nova
você pode conferir aqui nesta edição da Entre estes navios a fotografar, es- aqui esta bela imagem da fragata. discreto lançador de mísseis antissub- classe de fragatas, sob encomenda da

O
ceano Atlântico, treze de revista). Outra missão era fotografar os tava um que, apenas uma semana an- Mas, antes mesmo de recebermos essa marino Ikara mal aparecia. Uma Marinha do Brasil. Embora itens de
junho de 2012: naquela tar- navios da Marinha do Brasil que parti- tes, havia completado quarenta anos foto, já pudemos reparar em algo curiosa coincidência para quem pre- maior tempo de construção (“long lead
de, tínhamos duas missões cipavam da operação “Passex” junto do batimento de sua quilha: a fragata curioso nas nossas próprias imagens tendia ilustrar uma matéria histórica, time items”) já estivessem sendo pro-
em mente quando decolamos num heli- com o BPC francês e sua escolta, a fra- Niterói. Infelizmente, o tempo de voo captadas de longe: a fragata estava que vínhamos planejando e executan- duzidos desde o ano anterior, o bati-
cóptero Puma do Exército Francês, gata antissubmarino Georges Leygues. disponível para fotos não permitiu que sem o seu lançador de mísseis antiaé- do há meses, pesquisando em arquivos mento de quilha marcava, oficialmen-
rumo à Base Naval do Rio de Janeiro. Uma missão que realizávamos dois sobrevoássemos a Niterói, e só pude- reos Aspide, retirado para manuten- e entrevistando pessoas. Um trabalho te, a construção de um casco que nos
Uma era fotografar do alto o navio de dias depois da Data Magna da Mari- mos fotografá-la de longe. Imagens ção. Sem esse equipamento, que nor- que você confere agora. dois anos seguintes cresceria abrigado

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PODER NAVAL HISTÓRIA

Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha - DPHDM


QQ Seção da fragata
Niterói (F40),
fotografada em 27
de junho de 1972

QQ Niterói à direita e
Defensora à esquerda
em construção na
Vosper em 6 de
fevereiro de 1973.
Notar a carreira coberta

DPHDM

pela cobertura de um enorme prédio, riam forma os cascos de mais duas fra- do o espaço para as construções da Inde- USN, decorrentes da atuação no Brasil vos canhões, lançadores de torpedos, que os “classe M” (deslocando 1.350 to-
no estaleiro da Vosper Thornycroft. gatas da classe, com seus batimentos pendência e da União. de uma Missão Naval dos Estados Uni- radares, sonares e outros equipamen- neladas vazios) e, segundo o Programa
A cobertura dessa carreira, com es- de quilha também comemorando qua- Mas para entender esse programa, dos contratada em 1922, os planos fo- tos norte-americanos no Arsenal de Naval vigente, deveriam ter sido cons-
paço para construir duas fragatas ao renta anos em 2012: a Independência e precisamos voltar um pouco mais no ram adquiridos por um valor simbólico Philadelphia. E, em breve, escoltariam truídos na Inglaterra, paralelamente à
mesmo tempo, era a face mais visível a União. Ambas estavam assentadas tempo, para uma época em que as car- para construção no Brasil. E não eram navios transportando os diversos esca- construção dos “Marcílios” no Brasil.
de uma significativa modernização numa carreira descoberta que não via reiras do Arsenal estavam repletas de projetos obsoletos: em 1937, navios se- lões da FEB (Força Expedicionária Mas o início do conflito mundial encon-
pela qual passavam aquelas instala- construções de porte semelhante há cascos em construção dos contratorpe- melhantes e posteriormente classifica- Brasileira) rumo aos combates na Itá- trou-os ainda em fase de acabamento
ções britânicas, com o objetivo de cons- aproximadamente três décadas, quan- deiros rapidamente citados acima: a dos na grande família norte-americana lia. Mas não foi para a escolta de com- nos estaleiros ingleses e, conforme es-
truir de forma mais eficiente quatro do nada menos do que sete contratorpe- Segunda Guerra Mundial. de “1.500 toneladas” (que englobou vá- boios, na guerra antissubmarino que tipulado no contrato em caso de guer-
das seis fragatas encomendadas. Ao deiros foram construídos e lançados rias classes parecidas, com variações grassava no Atlântico Sul, que a aqui- ra, foram incorporados à Marinha
lado daquele casco que se tornaria a dali, entre 1937 e 1946, além de mais Voltando no tempo, para uma no armamento e maquinaria) ou “pré- sição desses navios foi pensada: con- Real britânica. Em contrapartida, a
fragata Niterói, outro começaria a ga- dois na carreira menor, ao lado. época de outras construções e -guerra”, lotavam as carreiras de cons- forme um Programa Naval do início da Inglaterra devolveu os valores pagos
nhar forma a partir de 14 de dezembro Mesmo sendo apenas dois navios, o preocupações trução dos EUA. Eram os preparativos década de 1930, eles deveriam ser líde- pelo Brasil e entregou os planos para
daquele ano, com o batimento da qui- desafio não era pequeno, pois as déca- Rio de Janeiro, 29 de novembro para um possível conflito com o Japão. res de flotilhas (“flotilla leaders”) de que pudessem ser construídos aqui.
lha de um navio que seria batizado de das de baixa atividade de construção de 1943: no então denominado Arse- As contrapartes brasileiras traziam os contratorpedeiros menores, visando Montou-se no Arsenal de Philadelphia
Defensora. Quanto mais cedo os cascos tinham cobrado seu preço em perda de nal de Marinha da Ilha das Cobras mesmos avanços que os “Mahan” intro- ações mais clássicas de ataques de tor- um escritório de projetos da Marinha
ficassem prontos para o lançamento, conhecimento. E, além disso, os méto- (AMIC), importantes cerimônias esta- duziram na construção de contratorpe- pedos contra uma linha de batalha ini- do Brasil, com engenheiros norte-ame-
mais rápido o espaço poderia ser ocu- dos construtivos haviam evoluído consi- vam sendo preparadas – as primeiras deiros nos Estados Unidos, como o lar- miga – no caso, a da Argentina. Dois ricanos e alguns brasileiros, para
pado por duas novas quilhas, a da deravelmente naquele intervalo. Po- do tipo desde que o Brasil entrara em go uso da solda elétrica, método que foi dos seis contratorpedeiros, que eles adaptar o casco inglês a equipamentos
Constituição e da Liberal. E mais cedo rém, o Arsenal já executava desde anos guerra contra os países do Eixo (Ale- introduzido no Brasil justamente com deveriam liderar, estavam prontos de fornecedores dos EUA, já que a In-
o estaleiro inglês poderia se dedicar a anteriores algumas obras de menor por- manha, Itália e Japão), em agosto do essas obras. para a cerimônia de lançamento na- glaterra não poderia fornecer itens
novas construções, após cumprir o con- te, como navios-patrulha fluviais e cos- ano anterior. No cais, três contratorpe- Naquela cerimônia de incorpora- quele mesmo dia. como turbinas e outros. Também vol-
trato que foi seu primeiro grande su- teiros, voltando a treinar sua mão-de- deiros da chamada “classe M” ou “Mar- ção, os três navios estavam provisoria- Na carreira maior (a número 1), de taremos a falar desse escritório.
cesso de vendas daquela década. -obra e engenheiros para recuperar o cílios”, cuja construção foi iniciada em mente equipados com canhões longos onde os três “Marcílios” foram lança- O então diretor do AMIC, almiran-
tempo perdido e atender às encomendas 1937, estavam embandeirados e pron- de 120mm (4,7 polegadas) retirados do dos entre 1940 e 1941, estavam em te Júlio Regis Bittencourt, escreveu
Rio de Janeiro, onze de junho de um novo Programa Naval, minucio- tos para incorporação à Marinha. encouraçado Minas Gerais em sua mo- construção os cascos de quatro contra- em suas memórias que teve grandes
de 1972: três dias após o acontecimen- samente planejado ao longo da década Eram navios desenvolvidos a partir da dernização. Serviam, pelo menos, para torpedeiros da “classe A”. E outros dificuldades para conseguir, junto aos
to em Woolston, duas quilhas eram ba- anterior. Vale lembrar que, naquela classe “Mahan” da Marinha dos EUA fazer pensar duas vezes algum coman- dois estavam prontos para o lança- órgãos do Governo Brasileiro, que os
tidas lado a lado na carreira grande do Data Magna de 11 de junho em que se (USN), projetada pela empresa Gibbs dante de submarino do Eixo que os mento na carreira menor (a número 2), valores devolvidos pelos britânicos pu-
Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro, batiam as quilhas das duas fragatas, & Cox, cujo nome vai aparecer nova- visse na rota que logo seguiriam para o Amazonas e o Araguaia, cerca de dessem ser empregados na aquisição
na Ilha das Cobras, à vista do centro da foram lançados os dois navios-patrulha mente nas próximas páginas. Como os Estados Unidos, já escoltando um três anos após o batimento de suas dos itens indispensáveis para sua
cidade mais famosa do Brasil. Lá toma- fluviais classe “Pedro Teixeira”, liberan- resultado das boas relações com a comboio. Chegando lá, receberiam no- quilhas. Eram ligeiramente menores construção, o que só ocorreu às véspe-

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PODER NAVAL Fotos: DPHDM
HISTÓRIA
QQ Mariz e Barros em alta velocidade
mostrando sua camuflagem de guerra e
o armamento principal instalado nos
EUA: lançador quádruplo de torpedos a
meia nau e quatro canhões
de 5 polegadas

sição do presidente Vargas, com a periência da guerra (como a introdu- Marinha do Rio de Janeiro (AMRJ, de-
consequente mudança do ministro da ção de um centro de informações de nominação conferida em 1948). Até o
Marinha, entre outros fatores, leva- combate – CIC), eram muito inferio- batimento de quilha das duas fragatas
ram ao abandono dessa e de outras res em capacidade do que os contra- em 1972, as instalações só iriam se de-
iniciativas. A própria finalização dos torpedeiros que outras marinhas in- dicar à sua função principal de reparo
“classe A” sofreu com a falta de ver- corporavam à mesma época. Afinal, e manutenção de navios, além de obras
bas: os dois lançados em 1943 só fo- eram atualizações de projetos da dé- de menor porte.
ram incorporados em 1949. Outros cada de 1930. Tudo isso, além da de- A classe “Fletcher” acabou chegan-
dois lançados em 1945 incorporaram- mora na prontificação e outros proble- do à Marinha do Brasil na passagem
-se à esquadra em 1949 e 1951 e os mas de operacionalidade dos da década de 1950 para a de 1960, na
ras de caducarem as propostas de fa- Para que novas construções continuas- QQ No alto, incorporação dos três dois últimos, lançados em 1946, só fo- “Amazonas”, considerados híbridos forma de quatro navios usados que vie-
bricantes norte-americanos para for- sem atendendo às necessidades de contratorpedeiros “classe M” (Marcílio ram incorporados em 1957 e 1960. inferiores aos bem conceituados “Mar- ram como parte de um acordo que en-
necimento dos “long lead time items”. reequipamento, ele concordou com a Dias, Mariz e Barros e Greenhalgh) em Embora estes últimos trouxessem al- cílios”, estigmatizaram a classe e a volvia a cessão de uma base em Fer-
Mas finalmente, após outras batalhas construção de novos contratorpedeiros 29 de novembro de 1943. Notar os guns sensores mais modernos (que própria reputação do Arsenal em nando de Noronha, para monitorar
do gênero vencidas, naquele dia 29 de de uma classe mais moderna. Assim, a canhões provisórios de 120 mm e
também foram instalados em moder- construir navios. lançamentos de foguetes em Cabo
a ausência de diretor de tiro sobre
novembro de 1943 o almirante assistia Marinha do Brasil entrou em entendi- o passadiço e de lançadores de torpedos nizações dos primeiros da classe) e Os “Fletcher” nunca ocuparam as Canaveral (Flórida). O acordo também
ao lançamento dos dois primeiros da- mentos com sua contraparte norte- entre as chaminés certas características advindas da ex- carreiras do já rebatizado Arsenal de incluía equipamentos para o navio-
quela classe de seis, que tanto se em- -americana para a construção da clas-
penhou em viabilizar para que as se “Fletcher” no AMIC. Três unidades
construções no Arsenal não parassem deveriam ser construídas, e a naciona-
após os “Marcílios”. lização gradual de itens (que foi peque- QQ Abaixo, lançamento do Acre e do QQ Na foto à direita, lançamento
Apa em 30 de maio de 1945, na do Amazonas e Araguaia em 29
Mas é possível que já olhasse para na nos “classe A” e “classe M”, embora
carreira grande (número 1) do AMIC de novembro de 1943, na
aqueles cascos com algumas preocupa- com algumas conquistas importantes carreira menor (número 2)
ções, que mais tarde foram se avolu- em tubulações, equipamentos elétricos
mando: conforme as carreiras se esva- e itens do casco e superestrutura) era
ziavam, não eram iniciadas novas um objetivo, produzindo-se aqui o que
construções para prosseguir com o fosse permitido pelas patentes de seus
Programa Naval da década anterior. fornecedores.
Carreiras que eram sucessivamente Esperava-se atingir até 80% de na-
ocupadas desde 11 de junho de 1936, cionalização nas turbinas da terceira
quando a quilha do monitor Parnaíba unidade, 90% na parte elétrica, assim
inaugurou um AMIC ainda em cons- como a fabricação local de canhões e tor-
trução, sendo seguida pelas quilhas de pedos (cujas fábricas estavam sendo im-
cinco pequenos navios-mineiros “clas- plantadas aqui, e que chegaram a pro-
se C” (outro foi construído no velho Ar- duzir algumas unidades para a “classe
senal no continente) e depois pelas dos A”, já depois da guerra). A Missão Na-
contratorpedeiros, chegando a com- val Americana conseguiu a autorização
portar sete obras simultâneas. para fornecimento de planos junto ao
Outra força motriz da execução des- Departamento de Estado dos EUA, e os
ses planos, além do almirante Regis, preparativos foram iniciados.
foi o então ministro da Marinha, almi- Mas o relaxamento das priorida-
rante Henrique Aristides Guilhem. des devido ao fim da guerra e à depo-

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PODER NAVAL HISTÓRIA
Marinha do Brasil
aeródromo ligeiro Minas Gerais, re- formariam cada comboio no caso de
cém-adquirido e em obras de recons- um conflito, a quantidade de comboios
trução na Europa. Outros navios da necessários e de escoltas para proteger
classe “Fletcher” se seguiram na déca- cada um deles, sucessivamente. A con-
da de 1960, começando a substituir QQ O núcleo da Esquadra Brasileira na clusão foi de que a Marinha precisava
precocemente os contratorpedeiros década de 1960 era formado por navios de uma frota de 30 fragatas para escol-
construídos aqui durante a guerra e usados cedidos pela Marinha dos EUA. ta antissubmarino, incluindo 2 navios
acostumando a Marinha a receber e Na foto, os contratorpedeiros Pará, de reserva. Embora a justificativa ób-
operar material usado dos Estados Paraíba, Paraná e Pernambuco da via e principal para essa frota fosse o
Unidos. A bem da verdade, esse “costu- classe “Fletcher”, escoltando o “front externo” da Guerra Fria, deve-
me” já tinha sido inaugurado na Se- cruzador Tamandaré, da classe -se lembrar que já se vivia à época o
“Brooklyn”
gunda Guerra, quando recebemos ca- Regime Militar, no qual a preocupação
ça-submarinos e contratorpedeiros de com o “front interno” era até maior.
escolta dos EUA, embora viessem com Como tarefa subsidiária, os planos
pouquíssimo tempo de uso. eram de que uma frota desse porte
Mas um novo Programa Naval es- também dissuadisse, ou evitasse con-
tava em gestação nos anos 60. E com cretamente, algum envio de ajuda ex-
ele começava, efetivamente, um cami- terna a movimentos guerrilheiros no
nho um tanto tortuoso que levou à Brasil. A hipótese era de que Cuba, ou
construção de duas modernas fragatas outros países alinhados ao Bloco Sovi-
no Brasil. ético, reforçassem guerrilheiros brasi-
leiros com armamento e pessoal envia-
A década de 1960 e o nascimento dos pelo mar.
da ideia das fragatas Em documentos da época, chegou-
Nos anos 60, a operação dos navios -se a apresentar planos de reforma de
recebidos dos Estados Unidos, aos alguns dos “Fletcher” recebidos usa-
quais também se somavam dois cruza- dos (entre os que estivessem em me-
dores transferidos no início da década lhores condições) para um padrão
anterior, trazia muito pouco valor do ASW semelhante ao que a Marinha
ponto de vista tático e estratégico. É dos EUA vinha implantando naquela
certo que ajudavam a manter certo década em seus contratorpedeiros da
equilíbrio da Marinha do Brasil com Segunda Guerra (programa FRAM),
as da Argentina e do Chile, que tam- com instalação de hangar e convoo en-
bém se equipavam com excedentes da tre outras melhorias extensas. Mas a
USN. Especificamente quanto aos cru- quantidade necessária de escoltas ex-
zadores, dotados de canhões de seis trapolava, e muito, as possibilidades
polegadas, a sua cessão pelos Estados da frota brasileira existente, como os
Unidos também visava manter o pres- próprios documentos da Marinha dei-
tígio dessas três marinhas, que esta- xam bem claro. Era necessário um
vam desativando seus velhos encoura- grande programa de construção de
çados. É possível que o objetivo navios mais modernos.
também fosse proporcionar a elas uma
capacidade mínima de se contrapo- Uma escolha polarizada:
rem, já no contexto da Guerra Fria, a propulsão combinada
eventuais incursões de cruzadores so- versus vapor
viéticos dotados de canhões do mesmo O ano de 1965 começou com um
calibre e que estavam entrando em novo Ministro da Marinha, o almirante
operação no início dos anos 50. de esquadra Paulo Bosísio, que apro-
Já os “Fletcher”, que traziam algu- vou as conclusões do grupo de trabalho
mas atualizações feitas pela USN para da EGN sobre a necessidade de novas
fazer frente aos submarinos do pós- fragatas, já aprovadas pelo EMA. Tam-
-guerra, também serviam para ades- bém começou a ser colocado em práti-
trar tripulações e desenvolver a dou- e dos Estados Unidos discutiam uma germinar no EMA (Estado-Maior da características operativas. Sul na Guerra Fria e o alinhamento ca o Plano Diretor da Marinha, um
trina ASW (guerra antissubmarino) ideia: reviver o cenário de construção Armada). Embora sem requisitos pre- Formou-se um grupo de trabalho brasileiro ao bloco ocidental liderado programa plurianual de investimentos
principalmente em conjunto com o já de navios de origem norte-americana cisos, o EMA iniciou em 1961 um pla- na EGN, dirigido pelo capitão de mar e pelos Estados Unidos, o estudo via nos e custeio, criado pelo almirante de es-
incorporado NAeL Minas Gerais. Mas no Brasil, como se viabilizou na déca- no para construir navios de escolta guerra Ibsen de Gusmão Câmara, que submarinos do Bloco Soviético as ame- quadra Sylvio Motta. No ano seguinte,
não eram navios no “estado da arte” da de 1930. A exemplo de países da aqui, então já chamados de fragatas. tomou como diretrizes as hipóteses de aças mais prováveis a esse tráfego ma- foi criada a “Comissão de Construção
na guerra naval e sua concepção aten- OTAN que construíam versões da clas- Dois anos depois, o CEMA (Chefe conflito adotadas pelo Governo Brasi- rítimo no caso de um conflito (conven- de Navios da Marinha do Brasil”, que
dia a especificações e necessidades se “Dealey” de contratorpedeiros de do Estado-Maior da Armada), almi- leiro. A partir delas, formulou-se um cional), e a proteção aos navios tinha como tarefa administrar as cons-
norte-americanas, e não brasileiras. escolta, a proposta era construir na- rante de esquadra José Luiz da Silva Estudo de Estado-Maior trazendo o mercantes enfatizou a arena ASW. truções dos novos navios, coordenando
No escritório brasileiro do Arsenal vios semelhantes no AMRJ, custeados Junior, encarregou a EGN (Escola de conceito de que a missão da Marinha Considerando volumes de tráfego todas as organizações da Marinha en-
de Philadelphia, que de centro de pro- pela ajuda militar norte-americana, o Guerra Naval) de fazer um estudo so- do Brasil era “proteger o tráfego marí- de importação e exportação, assim volvidas nos projetos. Como chefe de
jetos se tornara uma organização vol- chamado “Offshore Procurement”. A bre as necessidades e prioridades timo essencial à sobrevivência do como o porte bruto médio de carguei- Planejamento da Comissão, foi nomea-
tada à compra de equipamentos e so- proposta não vingou junto ao Governo para novos navios da Marinha, deter- País”, em caso de guerra. Consideran- ros e navios-tanque existentes, foi cal- do o então capitão de mar e guerra (en-
bressalentes, engenheiros brasileiros dos EUA, porém, a semente voltou a minando também que especificasse do o teatro de operações do Atlântico culado o número de embarcações que genheiro naval) José Carlos Coelho de

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PODER NAVAL HISTÓRIA
DPHDM
Armada, que se decidiu pela “Brons- Porém, outras mudanças impor-
tein” (apesar do ministro ser favorá- tantes não aparecem neste desenho,
vel à “Köln”). justamente as relacionadas a dois
equipamentos que os EUA não libera-
Ascensão e queda da “Bronstein” ram para os navios brasileiros. Ainda
brasileira está lá o lançador de foguetes antis-
Contratou-se o escritório de enge- submarino ASROC, logo à frente da
nharia naval Gibbs & Cox para proje- superestrutura. Outro equipamento
tar modificações necessárias no proje- não liberado foi o sonar SQS-26, então
to da “Bronstein”, transformando-a considerado o mais moderno do mun-
em um navio brasileiro. A Gibbs & Cox do, e que na “Bronstein” original (e em
foi indicada pela Missão Naval Ameri- classes subsequentes de contratorpe-
cana, e já era conhecida por projetos deiros de escolta) era instalado num
de praticamente todas as classes de enorme bulbo na proa. Evidentemen-
contratorpedeiros da Marinha dos te, a imagem do navio até a linha
EUA desde a classe “Mahan” – a mes- d’água não pode mostrar esse bulbo.
ma que servira de base, na década de Mas este preconizava a instalação de
1930, à nossa “classe M”. uma única âncora bem à proa, ao invés
A imagem ao lado, encontrada no do tradicional arranjo de duas nos bor-
Arquivo da Marinha em pasta relacio- dos (o bulbo era largo e âncoras nos
nada ao programa de fragatas, mos- bordos poderiam atingi-lo ao serem
tra o desenho de uma “Bronstein” as- baixadas). E a imagem mostra justa-
sinado pela Gibbs & Cox, já com mente a âncora única, representando
algumas características que a dife- então a presença dos dois equipamen-
renciam da versão norte-americana. tos que, em conjunto, representavam o
Ao invés de um drone antissubmarino grande diferencial operativo da
DASH, pode-se ver no convoo um heli- “Bronstein” original, o ASROC e o so-
cóptero semelhante aos Westland nar SQS-26.
Wasp que a Marinha começava a ope- Exatamente os principais equipa-
rar em meados da década de 1960. Na mentos a substituir no projeto da ver-
proa, ao invés de um reparo duplo de são brasileira, trabalho que a Gibbs &
QQ Concepção da Gibbs & Cox de canhões de 76mm (3 polegadas), está Cox ainda deveria fazer. Pode-se até
fragata baseada na classe uma torreta de canhão de 127mm (5 conjecturar que as vantagens da esco-
“Bronstein”. Notar o helicóptero polegadas), deixando o navio um pou- lha de um navio já existente, pré-requi-
Wasp no convoo e o canhão co mais parecido com o projeto se- sito da seleção, poderiam ser diluídas
de 5 polegadas à vante do
guinte de escoltas norte-americanas, com as mudanças necessárias no pró-
lançador de ASROC
a classe “Garcia”. prio casco, com a possível eliminação do

Reprodução
Sousa. No início daquela década, quan- Desde o início da análise de classes ras ainda a carvão. Quando já servia no tentes, além da desconfiança com novi-
do servia no escritório brasileiro do Ar- candidatas ao programa, houve uma Arsenal, no início da década de 1950, dades, podiam fornecer “munição” QQ USS Bronstein DE1037 docado
senal de Philadelphia, Coelho de Sousa polarização em relação ao sistema de frequentemente viu os problemas de para os dois grupos. em 1963, mostrando o enorme
já havia ajudado a lançar a ideia de se propulsão, ao passo que escolhas rela- manutenção das caldeiras da maquina- Essa polarização fica clara no fato bulbo do sonar SQS-26
voltar a construir navios para a Mari- cionadas a armamento não traziam ria compacta e de alta potência dos con- de que Vidigal e Coelho de Sousa, os
nha no Brasil. E agora a primeira tare- grandes preocupações. tratorpedeiros “de esquadra”, ao passo oficiais “líderes” de cada um dos “par-
fa dessa Comissão era justamente defi- Havia na Marinha do Brasil, à que os contratorpedeiros de escolta re- tidos” da propulsão dos novos navios,
nir que navios que deveriam ser época, um viés pela continuidade da cebidos no final da guerra, de propulsão foram exatamente os escolhidos para
construídos. propulsão a vapor, da qual eram par- diesel-elétrica, eram considerados mais avaliar no exterior, juntos, várias
Uma diretriz inicial do EMA dizia tidários os oficiais de máquinas, acos- fáceis de manter e mais confiáveis. classes cogitadas para o programa.
que a classe de fragata a ser adquirida tumados com o sistema. Um deles era Mas vale acrescentar que, já no fi- Entre as de propulsão combinada de
já deveria estar em serviço no país de o então capitão de fragata Armando nal dos anos 50, os contratorpedeiros motores diesel e turbinas a gás, des-
origem. O objetivo era evitar que a Amorim Ferreira Vidigal, que mais de escolta diesel-elétricos sofriam com tacavam-se a “Köln” alemã e a “Ha-
Marinha adquirisse navios novos, não tarde se sobressaiu como pensador de faltas de sobressalentes, avarias es- milton” norte-americana (esta última
testados, servindo de “cobaia”. Era estratégia naval. Mas havia também truturais e de eixos, segundo relatório de “cutters” de grande autonomia da
provavelmente um reflexo da imagem os oficiais partidários da propulsão do ministro da Marinha. O mesmo re- Guarda Costeira dos EUA). Das movi-
ruim deixada pela construção e opera- combinada, com motores diesel e tur- latório também evidencia deficiências das por turbinas a vapor, as concor-
ção dos contratorpedeiros “classe A”, binas a gás, então uma novidade. En- frequentes nas caldeiras e grupos des- rentes mais cotadas eram a “Leander”
já citados. tre eles, estava Coelho de Sousa, enge- tilatórios dos contratorpedeiros a va- inglesa e a “Bronstein” norte-ameri-
A Missão Naval Americana, que nheiro da Marinha cuja especialização por. A situação não melhoraria nos cana. Após receber um relatório dos
continuava atuante no Brasil, ficou era eletricidade, e que iniciou sua car- anos seguintes, como ficou evidenciado dois oficiais, em agosto de 1967 o en-
muito interessada no programa de reira no encouraçado São Paulo, na pelo estado precário da maquinaria de tão ministro Rademaker reuniu re-
construção das fragatas, procurando Segunda Guerra Mundial. diversos navios durante o episódio da presentantes de vários setores da Ma-
organizar apoio ao financiamento para No velho navio, vivenciou as dificul- “Guerra da Lagosta”, em 1963. rinha. Como uma votação resultou em
a construção no Brasil caso fosse esco- dades de operação dos geradores acio- No fim das contas, a operação e impasse, o ministro deixou a decisão
lhido um navio americano. nados por máquinas a vapor de caldei- desgaste da propulsão dos navios exis- final com o Chefe do Estado Maior da

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PODER NAVAL HISTÓRIA
USN USN

QQ Fragata britânica Tipo 21 HMS QQ Destróier alemão


Amazon (F169), fotografada em 1986 Schleswig-Holstein (D182) da
chegando a Pearl Harbor, Hawai, para o classe “Hamburg” durante o
exercício RIMPAC 86. A Tipo 21 serviu exercício Baltops 92, em junho
de base para a classe “Niterói” (Vosper de 1992. Esta classe de navios
Mk.10) serviu de base para a proposta
da Blohm und Voss

bulbo, além da necessidade de se inte- dor desses equipamentos. Porém, tal- (acima de 27 nós, contra 26). Além dis- rinha disponibilizara sozinha). Isso era sada, desde o início, para as necessi- comprovado no Arsenal. Mas, ainda
grar outros sistemas. Sem falar que, vez fossem navios pequenos demais so, a “Garcia” (somada à sua versão insuficiente para o programa e os juros dades brasileiras. Caiu a antiga exi- assim, a “Bronstein” tinha um legado
em relação ao resultado de mudanças e para as próprias necessidades da Ma- com capacidade de lançar mísseis an- foram considerados muito altos. Todos gência de que a escolha fosse limitada a deixar: foi com base no custo unitá-
adaptações, já havia a imagem negati- rinha dos EUA, pois a classe seguinte tiaéreos, a “Brooke”), teve 17 unidades esses fatores levaram à última decisão a classes já existentes e, após o cance- rio da classe, estimado em 25 milhões
va da “classe A”. desenhada para operar a dupla construídas contra apenas duas do ministro Rademaker, em agosto de lamento da “Bronstein”, esses estudos de dólares, que se chegou a um valor
Vale lembrar também que a SQS-26 / ASROC (além do DASH), era “Bronstein”. 1969, antes de sair do Ministério da preliminares acabaram gerando am- de US$ 250 milhões para a aquisição
“Bronstein” foi pensada como o menor consideravelmente maior. A nova clas- Voltando à imagem da versão “bra- Marinha para compor a Junta Militar biciosas especificações para uma fra- de um lote inicial de 10 navios. Quan-
navio de escolta possível que acomo- se “Garcia” tinha 125 metros de com- sileira” da página anterior, também é que assumiu após o presidente Costa e gata antissubmarino, que deveria ser do o novo Governo Médici autorizou a
dasse e operasse, de maneira eficiente, primento e 3.300 toneladas de desloca- digno de nota o indicativo “D40” do cas- Silva sofrer um derrame: ele cancelou a a mais moderna possível. O foco num contratação de um financiamento ex-
esses dois novos sistemas, assim como mento carregado contra 113 metros e co. Faz pensar sobre a origem do “F40” escolha da “Bronstein”. As multas con- novo projeto de navio, aparentemen- terno de até 250 milhões de dólares
um convoo e hangar para o DASH. 2.700 toneladas da “Bronstein”, além da futura fragata Niterói e no fato de tratuais das encomendas e serviços re- te, também eclipsou a ideia inicial de para esse fim, foi possível deslanchar
Pode-se dizer que foi desenhada ao re- de velocidade ligeiramente superior que, até o final da década de 1960, o alizados foram pagas “sem maior trau- simplesmente construir um navio o programa.
DPHDM
contratorpedeiro do Brasil com nume- ma”, como afirmou Coelho de Sousa. Reprodução
ração mais alta era o Santa Catarina Uma ironia do destino é que, 20
QQ Uma das primeiras
(D32), um “Fletcher” recebido usado. anos depois, o recebimento pelo Brasil QQ Concepção artística da
concepções artísticas da Somente em 1973, com a incorporação de quatro navios usados da classe classe “Niterói” já na
classe “Niterói” em do Espírito Santo (D38), da classe “Garcia” (para compensar atrasos em configuração final
configuração diferente “Allen M. Sumner” e também recebido novas construções de escoltas) acabou
da final usado, os indicativos dos contratorpe- introduzindo na Marinha a dupla
deiros se aproximariam do “D40”. SQS-26 / ASROC.
Ainda assim, a Marinha chegou a
encomendar os “long lead time items” Um novo processo de escolha, sem
para os primeiros navios, usando uma medo de ser “cobaia”
verba de 20 milhões de dólares disponi- Ainda na época em que a “Brons-
bilizada para o programa. Encomenda- tein” brasileira começava a fazer
ram-se caldeiras, turbinas e redutoras, água, Coelho de Sousa havia assumi-
e aguardava-se a disponibilização de do a presidência da Comisssão de
verbas do MAP, Offshore Procurement Construção de Navios da Marinha do
Program, ou de financiamento que via- Brasil, na qual já tinha sido chefe de
bilizasse a continuidade das encomen- Planejamento. Contando com a per-
das, por parte dos Estados Unidos. Mas missão do chefe do EMA (almirante
o máximo que a Missão Naval America- Adalberto Nunes, que logo substitui-
na conseguiu foi um financiamento com ria o almirante Rademaker no Minis-
um sindicato de bancos dos EUA, no tério da Marinha), oficiais da Comis-
valor de 20 milhões de dólares (coinci- são e do EMA passaram a estudar
dentemente, a mesma verba que a Ma- especificações para uma fragata pen-

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PODER NAVAL HISTÓRIA
DPHDM DPHDM
ro alemão não contava com o apoio de
seu governo para o financiamento da
exportação de armamentos, como era o
caso do ECGD britânico, e seus juros
eram os do mercado bancário, sem
comparação com os da proposta ingle-
sa. Oferecendo um pacote tecnicamen-
te superior e financeiramente mais
vantajoso, com juros mais baixos e
maior carência, a Vosper foi declarada
vencedora em abril de 1970.
Após meses em que se foi afunilan-
do a definição de equipamentos e de
outros pormenores, em setembro de
1970 foi assinado com a Vosper, em
Londres, o contrato de 100 milhões de
libras para a construção de seis fraga-
tas Mk10. Porém, as cifras depois che-
garam a 150 milhões de libras, devido
aos custos adicionais e à inflação nos
dois países, sendo que este último fa-
tor era objeto de cláusulas que deram
certo trabalho para definir. Mas o que DPHDM
não estava claramente definido eram
os custos adicionais para aquisição e QQ No alto,
integração de equipamentos desejados lançamento da
pela Marinha, e que não faziam parte Niterói. Ao lado,
da proposta original da Vosper. Estes a cerimônia de
ainda eram estimativas quando da as- incorporação do
sinatura dos contratos de financia- navio com a
mento e de construção, e a lista final bandeira inglesa
QQ Niterói à direita e ainda seria fechada. Os cálculos indi- sendo baixada. Na
abertura na popa
Defensora à esquerda cavam que as seis fragatas custariam aparece parte do
em construção na perto de 300 milhões de dólares, ou “peixe” do sonar
Vosper em 25 de US$ 50 milhões a mais do que o limite de profundidade
janeiro de 1974 já autorizado. Felizmente, a questão variável EDO700E
não foi difícil de solucionar: antes de

Foi preparada uma folha de especi- gás), ao invés das turbinas a vapor dos Marinha de 25 milhões de dólares por

Vosper Thornycroft
ficações para envio a estaleiros de na- navios originais. A suíte eletrônica se- navio. Isso era devido às especifica-
ções amigas, que deveriam responder ria italiana e holandesa e o financia- ções mais ambiciosas pretendidas
com propostas técnicas acompanhadas mento era apoiado pela Ferrostaal, pela Marinha nesta segunda seleção,
de cronogramas de construção, custos Otto Wolff e Klöckner-Humboldt. que acabou resultando em projetos
e financiamento. Não foi especificado A outra proposta era da inglesa mais capazes e mais caros do que o
para os concorrentes, porém, o teto es- Vosper Thornycroft, baseada numa ex- estimado para navios do porte de
timado de US$ 25 milhões por unida- trapolação da fragata Tipo 21, construí- uma “Bronstein”. Assim, ao invés de
de. Vários estaleiros apresentaram da sob as especificações da Marinha dez fragatas por US$ 25 milhões cada,
propostas, entre eles o Swan Hunter, a Real. A Vosper tinha tradição em proje- o limite de financiamento aprovado
Yarrow, a Vosper Thornycroft e Vi- tar navios para exportação e, dando se- pelo Governo Brasileiro, de 250 mi-
ckers Limited Shipbuilding Group quência às designações anteriores de lhões de dólares, seria suficiente para
(Reino Unido), Blohm und Voss e projetos para outras marinhas, nomeou apenas seis navios.
HDW (Alemanha), Cantieri Navali del o da Marinha do Brasil como Mk.10.
Tirreno e Reuniti (Itália), Verolme Como a alemã, a propulsão era CODOG. Mk.10, a proposta vencedora da
(Holanda) e DTCN (França). O financiamento era do banco SG Vosper Thornycroft
A disputa afunilou-se para as duas Warburg, com seguro de crédito do Foi contratada a Gibbs & Cox para
propostas que perseguiram mais fiel- ECGD (Export Credit Guarantee comparar as propostas apresentadas,
mente as ambiciosas especificações Department) do Governo Britânico, o assessorando a análise da Marinha.
para os novos navios: uma era da que proporcionava boas condições de fi- Essa decisão foi necessária devido ao
Blohm und Voss alemã, com um proje- nanciamento. A exigência para esse se- desfalque que se vivia, na época, no
to baseado nos contratorpedeiros clas- guro de crédito era de que 2/3 dos equi- quadro de oficiais engenheiros. A aná-
se “Hamburg” da marinha da Repúbli- pamentos do navio fossem ingleses. lise concluiu pela superioridade técni-
ca Federal da Alemanha, porém O custo unitário das fragatas, em ca do projeto da Vosper Thornycroft, QQ Fragata Constituição (de emprego geral) logo
consideravelmente modificado para ambas as propostas, chegava a apro- embora a proposta da Blohm und Voss após o lançamento na Inglaterra. À direita, uma
das fragatas antissubmarino em acabamento
receber propulsão CODOG (Combined ximadamente US$ 40 milhões, o que também fosse aceitável nos quesitos
Diesel or Gas – diesel ou turbina a ultrapassava a pretensão original da operacionais e técnicos. Mas o estalei-

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PODER NAVAL HISTÓRIA
Fotos: DPHDM

QQ Fragata União pronta


para o lançamento, na
carreira grande do AMRJ

QQ No alto, a fragata
Independência em
construção, em 19 de
junho de 74. Na foto
maior, o lançamento em
2 de setembro de
1974. Notar, à direita
a popa da União

assinar o contrato financeiro, o então me o contrato de financiamento. Po- se, foi decidido que duas das fragatas
ministro da Fazenda Delfim Netto au- rém, essa dependência de vendas a seriam construídas no Brasil pelo Ar-
torizou um limite de endividamento de clientes externos trazia um problema senal de Marinha do Rio de Janeiro.
US$ 300 milhões. paradoxal: a encomenda de seis na- Acrescentou-se ao contrato um item
Segundo Coelho de Sousa que tam- vios, para construção no seu estaleiro, em que a Vosper prestaria os serviços
bém estava em Londres para assinar o era grande demais. Isso deixaria suas de estaleiro líder (“lead yard services”),
contrato de construção, meia hora an- carreiras ocupadas por muito tempo, o que incluía fornecimento de planos
tes o ministro Delfim ainda encontrou podendo ser perdidas possíveis enco- (experiência que já tinha no forneci-
uma cláusula financeira inaceitável, o mendas de outros clientes. Por isso, a mento dos planos da Tipo 21 para cons-
que levou a uma correção imediata por empresa respondeu que só poderia trução na Yarrow), além de desenhos e
parte do ECGD. Mas essa importante construir quatro navios. a sequência de construção e montagem
surpresa de última hora foi quase um Era de se esperar que essa questão, de módulos, já que o estaleiro inglês
detalhe perto de outra que aconteceu talvez embaraçosa, não aparecesse em utilizava o método de produzir seções
três meses antes, quando a Vosper res- material institucional da Vosper refe- do casco e da superestrutura em ofici-
pondeu, de maneira inusitada, à co- rente a esse contrato, ao qual tivemos na, para depois serem soldadas a ou-
municação de que a encomenda de acesso na pesquisa para esta matéria. tras seções na carreira. Também in-
construção totalizaria seis fragatas. Nele, a construção de duas fragatas no cluía o treinamento de engenheiros,
Brasil é mostrada como um requeri- mestres e operários, remessas de ma-
A decisão de se construir duas mento dos brasileiros, de forma a obter teriais e equipamentos, além de acom-
fragatas no Brasil experiência para o Arsenal. Mas o tex- panhamento das montagens mais críti-
O estaleiro inglês praticamente vi- to em questão deixa claro o que mos- cas. Em outras palavras, esses serviços
via da exportação de navios de guerra, tramos logo na primeira página: cons- da Vosper para as duas fragatas no
tanto que essa experiência com clien- truir de forma mais eficiente e rápida Arsenal, compreendendo a instalação
tes externos garantiu certa flexibilida- era fundamental e, ainda assim, a dos diversos equipamentos, sistemas e
de em aceitar mudanças nas marcas construção dos quatro cascos (dois de armamentos, acabaram possibilitando
de equipamentos de sua proposta – cada vez), ocupou as carreiras inglesas a absorção de tecnologias relacionadas
desde que mantido o limite de 1/3 para por praticamente quatro anos. a esses trabalhos no Brasil. Isso traria
equipamentos não britânicos, confor- Numa rápida solução para o impas- consequências importantes no futuro.

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Foto: DPHDM

QQ Lançamento da União
(F45) no AMRJ em 14 de
março de 1975. A
Independência (F44)
aparece ao fundo

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PODER NAVAL HISTÓRIA
DPHDM
cala 1/10. Essas chapas formavam um

Vosper Thornycroft
QQ Fragatas Niterói e casco construído em aço, reforçado lon-
QQ Fragata União em Defensora em provas de mar gitudinalmente e no qual prevaleciam
acabamento no cais na Inglaterra os perfis do tipo “T”. Já a superestru-
do AMRJ tura era de alumínio naval soldado,
solução que visava economia de peso e
era aplicada em boa parte dos projetos
da época. A união de seções de alumí-
nio com as de aço era feita por rebites
tipo “huck”, técnica contemporânea
utilizada desde o final da década ante-
rior pelo Arsenal. Já a quantidade de
alumínio a soldar foi uma novidade
que demandou a ampliação da capaci-
dade de soldagem, com aquisição de
máquinas e qualificação de pessoal.

Alguns anos a mais, no


acabamento, para superar muitos
anos de defasagem tecnológica

DPHDM
QQ Incorporação da A fase de acabamento, integração
fragata Independência de sistemas e provas levou mais tempo
em 3 de setembro de para ser concluída no Arsenal em rela-
1979, no Rio de Janeiro ção aos prazos ingleses. Isso porque a
instalação e integração de uma geração
totalmente nova de equipamentos, sis-
temas e armas, trazia bem mais desa-
fios em aquisição de “know how” do que
a construção. Nesse aspecto, o salto exi-
gido do AMRJ foi bem maior, e essa
fase final levou aproximadamente cinco
anos nos navios construídos aqui, que
só foram incorporados em 3 de setem-
bro de 1979 (Independência) e 12 de se-
tembro de 1980 (União). Na Inglaterra,
onde as equipes da Vosper tinham ex-
periência bem maior e constantemente
renovada nessa área, o tempo médio foi
Mas, por enquanto, vamos tratar pendência (F44) e da União (F45), no Em 14 de dezembro de 1972, mais simultânea. Para isso, foram incorpo- estruturais rigorosas na construção da de dois anos. Assim, as duas primeiras
da construção dos cascos dessas seis Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro. uma quilha se somava às três batidas rados métodos novos, como o citado sis- estrutura e instalação de bases de equi- fragatas lançadas pelo estaleiro britâ-
fragatas, cujos nomes homenageariam Por parte dos ingleses, estavam em junho: era a Defensora (F41), que tema de montagem, na carreira, de se- pamentos, visando a menor geração de nico puderam ser incorporadas em 20
os navios da Esquadra Brasileira co- sendo postas à prova as estimativas de começava a ganhar forma ao lado da ções pré-fabricadas na oficina. Pode-se ruído em operações antissubmarino. de novembro de 1976 (Niterói) e 5 de
mandada pelo almirante inglês Lord custo de mão-de-obra e de materiais. Niterói, sob a nova cobertura da car- dizer que essa defasagem foi recupera- Foi necessário também um novo março de 1977 (Defensora). A incorpo-
Cochrane, contratado por D. Pedro I Para a Vosper, um erro nas estimati- reira de Woolston (Southampton). Se- da: o casco da Independência foi cons- sistema de contratação para empregar ração das suas sucessoras na carreira
para liderar as operações navais que vas poderia converter o sempre perse- lecionamos duas imagens para esta truído praticamente no mesmo prazo pessoal com experiência na indústria de Woolston deu-se em 1978, nos dias
garantiram a Independência do Bra- guido binômio produtividade / lucrati- matéria, no Arquivo da Marinha, onde médio das obras de Woolston: lançado naval, renascida na década anterior e 31 de março (Constituição) e 18 de no-
sil. Esse fato comemoraria 150 anos vidade em atrasos e prejuízos. E, se pode ver o andamento das obras dos em 2 de setembro de 1974, totalizou que crescia continuamente (em 1979, vembro (Liberal).
em 1972, quando também começaria a apesar das margens de segurança in- dois navios com praticamente um ano aproximadamente dois anos e três me- atingiria seu auge na construção de Pode-se dizer que a necessidade de
nascer, com “DNA” britânico, uma troduzidas, as estimativas que garan- de intervalo, em fevereiro de 1973 e ja- ses na carreira. Já o casco da União de- navios mercantes). O Governo autori- mais tempo para essa nova fase, no
classe composta pelas fragatas Nite- tiriam esse binômio indicavam o uso de neiro de 1974. Pouco depois, em 8 de morou um pouco mais, sendo lançado zou o novo sistema, que permitia pa- caso das fragatas construídas no Arse-
rói, Defensora, Constituição, Liberal, dois terços das horas / homem necessá- fevereiro de 1974, a Niterói era lança- em 14 de março de 1975. gar pessoal qualificado com salários nal, já era esperada e estava planeja-
Independência e União. rias para a construção de um destróier da para que, já no dia 13 do mês se- Para esse desempenho, contribuiu a compatíveis com os dos estaleiros pri- da. É o que indica um documento de
de defesa aérea Tipo 42, de desloca- guinte, a quilha da Constituição (F42) capacidade de absorção dos novos mé- vados. Documento da época em que as 1976 (época da fase de acabamento) de
Finalmente, o batimento das mento semelhante e considerado uma tomasse o seu lugar na carreira. A De- todos e técnicas, por meio de treina- duas fragatas estavam em fase de aca- autoria do então capitão de corveta
primeiras quilhas e a construção tarefa comparável à das Mk.10 – lem- fensora foi lançada praticamente um mento de pessoal na Inglaterra e tam- bamento fala em aproximadamente (EN) Armando de Senna Bittencourt
dos cascos, na Inglaterra e no brando que os Tipo 42 estavam sendo ano depois, em 27 de março de 1975, e bém no Brasil. Para o treinamento 500 operários, de várias especialida- (hoje almirante reformado e diretor do
Brasil construídos na mesma época na Ingla- a Liberal (F43) tomou seu lugar na local, houve a vinda de especialistas des, por navio. O custo dessa mão-de- Patrimônio Histórico e Documentação
Como mostramos logo no início, o terra. Anos depois, essas estimativas carreira em 2 de maio daquele ano. A ingleses que passavam longos períodos -obra equivalia ao do pessoal de enge- da Marinha), na época justamente o
mês de junho de 1972 foi marcado pelo provaram-se corretas, garantindo o su- construção de cada casco no estaleiro aqui. Foi criado, no Arsenal, um órgão nharia que trabalhava em supervisão, encarregado do Grupo de Planejamen-
início da construção de metade dos na- cesso comercial do contrato para a inglês, da batida de quilha ao lança- de planejamento da construção aten- controle de qualidade e outras ativida- to de Gerência de Construção Naval do
vios encomendados: o batimento da Vosper e, na visão da empresa, uma mento, levou em média dois anos. dendo a metas de médio e longo prazo e des técnicas e logísticas. AMRJ. O documento mostra um cro-
quilha da Niterói (F40) foi realizado boa entrega de valor pelo dinheiro in- E no Arsenal, como foram esses pra- antecipando os recursos necessários. As mudanças também incluíam nograma de construção em que já se
em 8 de junho de 1972, nas instalações vestido pelo Brasil. Segundo os ingle- zos? Era preciso recuperar um “atraso” Também foi criado um órgão de contro- novo maquinário. Foi o caso da máqui- previa a incorporação da Independên-
da Vosper em Woolston. Três dias de- ses, parte do sucesso é creditado tam- de quase 30 anos sem construir cascos le de qualidade, principalmente porque na automática de corte de chapas, a cia em 1979 e da União em 1980, e
pois eram batidas as quilhas da Inde- bém ao controle cuidadoso da Marinha. de navios daquele porte e de maneira deveriam ser observadas tolerâncias partir de desenhos de precisão na es- subentende-se que o ritmo menor se

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PODER NAVAL HISTÓRIA
Alexandre Galante USN

QQ Fragata União, versão QQ Fragata Constituição, versão de


antissubmarino, fotografada em emprego geral, fotografada em
1988, durante exercícios. Na popa 1996. É possível visualizar o
pode ser visto o lançador de mísseis segundo canhão de 4,5 polegadas
ASW Ikara, cuja antena diretora na popa, ao invés do lançador de
ficava dentro do radome que mísseis Ikara da versão
aparece sobre o passadiço antissubmarino

devia, ao menos em parte, ao aprendi- fornecimento de sobressalentes fazia para a definição conjunta da lista deta- posta da Vosper era um sistema muitas espécies, mas poucos exempla- -aeródromo da classe “Invincible”. A ou-
zado necessário nessa fase crítica. parte do contrato com a Vosper, mas já lhada e final. Para a Vosper, a relativa CODOG, como já foi citado, em que res de cada uma. Foram escolhidos en- tra turbina cogitada foi a LM 2500, que
O Arsenal estava recebendo a se buscava iniciar um processo de na- escassez de equipamentos britânicos motores diesel são usados para veloci- tão motores de uma família que deveria a USN pensava em instalar nos seus
“transferência de know how” (palavras cionalização para substituição e repa- adequados era um motivo de decepção, dade de cruzeiro, dando lugar a turbi- ser adquirida também para as locomoti- novos contratorpedeiros da classe
utilizadas no documento) da Vosper ro, envolvendo empresas civis para como foi revelado décadas depois, e al- nas a gás para velocidade máxima. vas da Vale do Rio Doce, a fim de gerar “Spruance”, e que oferecia um consumo
em tecnologias bem mais evoluídas e prestação de apoio. Era o caso dos re- guns fornecedores ingleses tinham pra- Vale lembrar que a Tipo 21, que escala e facilitar a manutenção no Bra- específico menor. A turbina selecionada
de fixação mais difícil. Naquele ano de presentantes nacionais de alguns ticamente o monopólio em seus setores. serviu de base para a Mk.10, usava sil. Mas, no fim das contas, a empresa foi a Olympus, o que foi justificado pelo
1976, a força de trabalho especializada equipamentos de suas matrizes euro- Mas, por outro lado, havia a exigência propulsão COGOG, com turbinas a gás não adquiriu os modelos escolhidos seu estágio mais avançado de desenvol-
estava se preparando para fazer liga- peias, como a Ferranti, Rolls Royce do de 2/3 de conteúdo britânico para ga- menos potentes para velocidade de para as fragatas: MTU 956 de 16 cilin- vimento, com riscos de integração me-
ções dos diversos equipamentos eletrô- Brasil e outras. Esse esforço também rantir as condições do financiamento. cruzeiro, um sistema menos complexo dros, com 3.940hp. Cada navio seria nores, mas também porque atendia à
nicos, testes, avaliações e diagnósticos acabou gerando frutos nas gerações Como veremos a seguir, em certos ca- para a trasição de máquinas do que o equipado com quatro motores (dois por “cota” exigida de conteúdo britânico.
de controles pneumáticos e hidráuli- seguintes de navios, mas isso já é as- sos essa exigência aparentemente fez CODOG, embora o consumo em cru- eixo, lado a lado), totalizando mais de
cos, além da integração de sistemas, sunto para outra matéria. Agora é a pender a balança para equipamentos zeiro fosse maior do que neste último. 15.000hp, e mais quatro da versão de 8 Sistema de combate
tarefas para as quais era necessário o vez de entender a seleção dos equipa- ingleses que, mesmo cumprindo as es- Na segunda metade da década de cilindros para a geração de eletricidade. Quanto ao sistema de combate,
envolvimento de várias outras direto- mentos que estavam sendo integrados. pecificações e oferecendo menor risco 1960, ainda estava sendo aperfeiçoa- Mesmo sem a encomenda da Vale, sensores e armamento, a Marinha fi-
rias da Marinha. Esperava-se, com o de integração (o que significava ofertas do o sistema que fazia a transição de só os motores das fragatas (para propul- nalmente tinha perdido o “complexo
conhecimento adquirido e aplicado na Hora de instalar os sistemas com preço mais firme e desempenho uma máquina (diesel, de relativa- são e geração) somavam 48 unidades: de cobaia” e selecionou vários equipa-
solução dos problemas técnicos e ad- e equipamentos escolhidos previsível), podiam não trazer alguma mente baixa rotação) para a outra bem mais do que muitos exemplares de mentos no chamado “estado da arte” (o
ministrativos do dia-a-dia, não só fina- É preciso voltar um pouco no tempo vantagem desejada em sistemas de ou- (turbina, de alta rotação), ou seja, de- “zoológico”, representando uma escala mais moderno disponível), embora
lizar as fragatas com o padrão de qua- para se entender a seleção dos equipa- tros fornecedores. sacoplar uma para acoplar outra às razoável. O uso de dois motores por eixo também buscasse um apropriado viés
lidade das “inglesas”, como também mentos. Desde a época em que se co- engrenagens ligadas ao eixo, com o permitia que essas máquinas operas- pelo “estado da arte comprovado” (o
fazer a preparação para a manutenção meçou a estudar especificações para Propulsão navio em movimento. Sistemas de sem nas suas faixas de melhor rendi- mais moderno já em uso). Material
das primeiras a serem incorporadas. uma nova fragata, alguns sistemas e Os estudos que levaram às especifi- embreagem usados até então eram mento. Em geral, os planos eram acio- institucional da Vosper, citando o pro-
Isso porque a Niterói já se encontrava marcas estavam na mente dos que fa- cações da nova fragata estabeleciam sujeitos a elevado desgaste, mas feliz- nar um em cada eixo para velocidade cesso de escolha duas décadas depois,
em provas de mar na Inglaterra. ziam esse trabalho. Na sua proposta uma autonomia suficiente para atra- mente havia uma nova solução para o econômica de patrulha a longas distân- destacou que “havia poucos equipa-
Vale lembrar que as Mk.10 incor- que respondia às especificações resul- vessar o Atlântico e chegar à África, problema da transição: a invenção in- cias, e dois por eixo para velocidade de mentos de projeto totalmente novo a
poravam uma filosofia de manutenção tantes desses estudos, a Vosper listou algo como 4.500 milhas marítimas, em glesa das embreagens autossincroni- cruzeiro. Para mais de 22 nós, aciona- bordo, se é que havia algum. Mas pra-
diferente da que era realizada na Ma- equipamentos buscando não só aten- velocidade de cruzeiro. Essa velocida- zadas SSS (“Self Synchronizing vam-se as turbinas, desacoplando-se os ticamente todos os principais itens re-
rinha do Brasil à época. Visando maior dê-las, como também manter controla- de seria de 18 nós, suficiente para fa- Shift”), que vinham sendo desenvolvi- motores diesel. presentavam um avanço significativo
disponibilidade e tripulações menores dos os riscos de desenvolvimento. Vá- zer zigue-zagues em cobertura a com- das e se tornaram uma tecnologia A Vosper ofereceu também a turbina sobre seus predecessores. Como resul-
e mais especializadas (aproximada- rios deles eram versões de outros já boios que avançassem a 12 nós. A mais madura bem a tempo de serem aeroderivada modelo Olympus 611, de tado, quando a primeira fragata foi en-
mente 200 tripulantes) e contando empregados nas Tipo 21. velocidade máxima mantida deveria incorporadas ao projeto da Mk.10. 28.000shp, adaptada do motor usado no tregue, era no mínimo tão avançada e
com vários sistemas automatizados, o Após a vitória da proposta da Vos- ficar entre 28 e 30 nós. Já um material Na seleção dos motores diesel, bus- jato supersônico Concorde. Essa turbina capaz quanto qualquer navio de guer-
projeto dava ênfase ao “reparo por per, esta e a Marinha estudaram a con- da Vosper fala em especificações ainda cou-se adquirir unidades que já existis- estava em fase final de testes  de aceita- ra de seu porte no mundo.”
substituição”, em que módulos defeitu- figuração final do navio. Com a assina- mais exigentes: 23 nós em cruzeiro e sem no parque nacional de locomotivas. ção pela Royal Navy para equipar tanto O sistema digital de processamento
osos são substituídos por sobressalen- tura do contrato, uma equipe foi 32 nós de velocidade máxima. Para Mas, nas palavras de Coelho de Sousa, as fragatas Tipo 21 que a Vosper proje- de dados táticos e direção de tiro refle-
tes para posterior reparo em terra. O mandada ao Brasil em janeiro de 1971, atender a essas especificações, a pro- esse parque era um “jardim zoológico”: tou, quanto destróieres Tipo 42 e navios- tia essas escolhas. A Vosper ofereceu o

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PODER NAVAL HISTÓRIA
Royal Australian Navy Historical Center Reprodução

QQ O míssil antiaéreo Seacat que


equipava as fragatas podia ser
QQ Lançador de lançado de dois reparos triplos sobre
míssil Ikara o hangar, iguais ao da foto. Era uma
preservado no Royal arma de defesa de ponto, com
Australian Navy velocidade de Mach 0.8 e alcance de
Historical Center, 5.000m. O Seacat era guiado por
Garden Island comando de linha de visada, via link
de rádio

QQ O CAAIS (Computer Assisted Action


Information System) era nucleado em
três computadores digitais Ferranti
FM1600B, os mais modernos na época.
Um computador estava a cargo do
processamento de dados táticos, outro
da direção das armas de vante e o
terceiro com a direção de tiro das
armas de ré

CAAIS (Computer Assisted Action Armamentos


QQ O Ikara era um míssil australiano
Information System) da Ferranti in- O canhão de médio calibre de duplo
que levava um torpedo
antissubmarino. Ele lançava o torpedo glesa, que também estava equipando emprego (antiaéreo e de superfície) es-
acústico a 10 milhas náuticas as fragatas Tipo 21, o que diminuía ao colhido, entre opções que incluíam ca-
(19 km) de distância, permitindo mínimo os riscos de desenvolvimento, nhões da Suécia, França e Estados
rápida reação contra submarinos apesar da variante ser mais avançada, Unidos, foi o inglês Vickers Mk.8 de Reprodução
QQ Para integrar o sistema de armas das fragatas foram
convencionais e nucleares sob capaz de lidar com muito mais arma- 4,5 polegadas (114,3mm). Como o cus- adquiridos 9 helicópteros Westland Lynx MK21, designados
quaisquer condições atmosféricas mento. Vale à pena fazer um parênte- to de canhões corresponde a uma par- SAH-11 Lynx, para cumprir missões de esclarecimento
sis sobre como era encarado pela Vos- cela significativa do armamento, o va- marítimo e guerra antissubmarino
per esse salto em armamento, em lor de sua aquisição também contribuiu
relação à Tipo 21. Os britânicos desta- para o conteúdo britânico de 2/3.
caram a insistência brasileira em que Foi especificado que as fragatas te-
os navios tivessem uma ótima capaci- riam um míssil portador de torpedos
dade antissubmarino, o que resultou antissubmarino. Descartado o ASROC
numa fragata de relativamente gran- norte-americano, não liberado ainda
de porte para a época, e praticamente na época da “Bronstein”, foi escolhido o
lotada de armamentos para a missão míssil australiano Ikara, considerado
(além de armas para outras missões, até superior ao ASROC, embora mais
como veremos). Questionado sobre complexo. O míssil também estava
essa insistência, um almirante brasi- sendo escolhido pela Marinha Real bri-
leiro teria respondido numa reunião: tânica, embora o sistema brasileiro
“Ouvimos diversos argumentos de (Branik - Brazilian Ikara) fosse mais
muitos homens bastante conhecedores leve e menos caro que o sistema inglês
do assunto, cada um explicando por- totalmente automatizado. Vale fazer
Marinha do Brasil QQ Fragata Liberal que essa ou aquela arma era a melhor. aqui uma nota curiosa: um desses sis- QQ O Centro de Reprodução
Operações de
lançando um míssil Não sabemos quais deles estão certos. temas pode ser considerado o único
antinavio Exocet Combate (COC)
Assim, decidimos ter todos!” “dano em combate” sofrido até o mo- das fragatas
MM38. O míssil
Também foram analisadas pro- mento por uma Mk.10. Isso porque um incorporava
equipava somente
as fragatas de postas de sistemas de combate da navio mercante a caminho do Brasil monitores de TV
emprego geral. Na Signaal holandesa, apoiada pela encontrou uma tempestade no Pacífico de circuito
década de 1990, Philips do Brasil, e da Elsag italiana, Sul, que varreu do convés alguns con- fechado, displays
todos os navios mas a escolha foi pelo CAAIS, nuclea- têineres. Um deles trazia um conjunto horizontais
foram equipados do em três computadores digitais Ikara completo, destinado ao AMRJ. Deccascan para o
com o míssil Ferranti FM1600B, os mais moder- Os contêineres boiaram durante al- radar AWS-2 e
MM40, mais nos na época. Um computador estava guns dias, mas acabaram sendo afun- consoles verticais
dos sistemas de
moderno e com a cargo do processamento de dados dados a tiros de canhão pela Marinha
maior alcance armas. As
táticos, outro da direção das armas da Nova Zelândia, por representarem fragatas podiam
de vante e o terceiro com a direção de perigo à navegação. passar dados
tiro das armas de ré. Quando a fraga- A capacidade ASW do navio tam- táticos para
ta Niterói chegou ao Brasil em 1977, bém contava com um helicóptero orgâ- outros navios
a Marinha foi a primeira instituição nico antissubmarino e dois lançadores equipados com
a operar um sistema de computação de torpedos Mk.32 para torpedos Mk.44 CAAIS via link de
em tempo real no País. (mais tarde o Mk.46). A aquisição do dados

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PODER NAVAL HISTÓRIA
QQ O novo e o velho: fragata Liberal ao fundo e o
USN cipado do desenvolvimento do já citado QQ Velocidade máxima: 30 nós (com tente no Brasil: a classe “Niterói” foi a
contratorpedeiro Mariz e Barros, da classe SQS-26. O sonar de casco 610E, que turbinas) primeira da Marinha a ser equipada
“Gearing” FRAM I, com algumas armas e sensores equipou as seis fragatas, e o de profun- QQ Velocidade máxima de cruzeiro: com computadores digitais táticos, tur-
da década de 1960 (não confundir com o navio didade variável 700E, que equipou 22 nós (com 4 motores diesel) binas a gás aeroderivadas, mísseis an-
homônimo mostrado na página 40). Quando as duas das quatro antissubmarino, eram QQ Velocidade econômica: 17 nós (com tinavio e mísseis antissubmarino, entre
fragatas entraram em serviço, o salto tecnológico novos projetos cujo desenvolvimento 2 motores diesel) outros avanços. As fragatas tinham um
foi significativo visou especialmente a Marinha do QQ Raio de ação: 5.300 milhas náuti- porte igual ou superior às que eram
Brasil. Estavam entre os sistemas cas a 17 nós operadas por outras marinhas, propor-
mais avançados a entrar na cota de 1/3 QQ Autonomia: 45 dias cionando espaço e reserva de estabili-
de equipamentos não britânicos. QQ Tripulação: 209 (sendo 22 oficiais) dade para uma quantidade e variedade
QQ Hangar e convoo à popa para opera- de armamentos modernos que chamou
Rio de Janeiro, doze de setem- ção de helicópteros do porte do Lynx. a atenção à época.
bro de 1980: nesse dia foi incorporada Essa nova geração de armamentos e
a última das seis fragatas, a União Um destaque à época da incorpora- sistemas de direção de tiro também
(F45), após passar pelas fases de provas ção da última fragata foi o acompanha- proporcionaram maior poder de comba-
de mar e de tiro. A partir daí, a Marinha mento da integração de seus sistemas te, redução de peso e tamanho, com
do Brasil passava a contar com seis fra- de armas por empresas e organizações mais confiabilidade. O uso de mísseis
gatas novas, construídas segundo suas brasileiras: a COBRA - Computadores antinavio, que não necessitavam de um
especificações e com características que e Sistemas Brasileiros S.A., a Enge- sistema de controle sofisticado e dis-
as colocavam entre as mais avançadas nharia de Sistemas de Controle e Auto- pendioso, era uma solução que dava aos
do mundo. Isso era um ponto de virada mação S.A. e a Subsecretaria de Ativi- navios de combate de superfície a capa-
em relação às décadas anteriores, mar- dades Estratégicas da Secretaria cidade de transportar um poder de fogo
cadas pelo recebimento de navios usa- Especial de Informática. O objetivo era que, no passado, exigiria um casco bem
helicóptero, em que foi escolhido o in- do “estado da arte”, apesar de compro- e S a banda. Era um equipamento que dos e não representativos do “estado da capacitá-las para futuras integrações e maior. O helicóptero também passou, a
glês Westland Lynx, era um processo vados operacionalmente. A ameaça aé- atendia às pretensões da Marinha por arte”. As características gerais desses manutenções desses sistemas. partir do emprego do Lynx na classe
separado e não entrava na “cota” de rea no final dos anos 60 (ao menos para um radar de busca combinada, ou seja, seis navios eram (armas e sistemas já Esse e outros processos de capacita- “Niterói”, a ser visto como um sistema
equipamentos britânicos das fragatas. a área de atuação esperada da Marinha que detectasse alvos na superfície e no foram mostrados): ção (como mostrado no capítulo sobre a de armas integrado, e não apenas uma
Ainda assim, contou com financiamen- do Brasil) não era tão aguda quanto ar. Foi analisado também o radar ho- QQ Comprimento x boca x calado (em fase de acabamento) são mais alguns aeronave embarcada.
to favorável garantido pelo ECGD. hoje, e mísseis antinavio, embora espe- landês LW03 da banda L (banda D atu- metros): 129,2 x 13,5 x 5,9 (com exemplos do salto tecnológico de déca- É claro, há defeitos também a res-
A suíte de armamentos ASW era cificados para as fragatas, só haviam al), que tinha uma antena mais leve, domo do sonar) das que a classe representou em rela- saltar, em boa parte derivados de ou-
complementada por um sistema sueco, feito uma aparição bem-sucedida (o mas a escolha pendeu para o radar da QQ Deslocamento: 3.800 t (carregada) ção ao material flutuante então exis- tros conceitos de projeto da época em
o BOROC, que lançava granadas antis- afundamento do contratorpedeiro isra- Plessey, o que também atendia à cota
submarino de 375mm propelidas a fo- elense Eilat em 1967 por um míssil rus- de equipamentos britânicos. Apesar de
guete. As granadas explodiam por con- so Styx). Assim, a Marinha decidiu a própria Vosper ter sugerido o AWS-2,
tato ou depois de atingida certa equipar as fragatas com um míssil an- o peso de sua antena era motivo de pre-
profundidade. O armamento, desenvol- tiaéreo de defesa de ponto, o britânico ocupação e tornou necessário adicionar
vido pela Bofors, estava em estudo para Seacat. Foi adotada a versão GWS-24, algum lastro extra aos navios, compen-
adoção pela Marinha Sueca e, mais tar- similar à usada nas fragatas Tipo 21, sando esse peso a mais instalado em
de, foi adotado por diversas marinhas. porém usando dois lançadores leves tri- posição elevada.
Ao longo do processo de definição plos, ao invés de um quádruplo. Foi aceita a proposta da Vosper que
dos armamentos, e apesar de todo o viés A decisão pelo Seacat foi influen- incluía dois radares de direção de tiro
antissubmarino dos estudos realizados ciada pelo fato de a Marinha já conhe- italianos RTN-10X da banda X (atual
desde a década de 1960, o almirantado cer seu uso, pois um exemplar da banda I), e que já eram integrados às
passou a se mostrar menos confortável versão GWS-20 equipava o contrator- Tipo 21. O radar de navegação escolhi-
com a obtenção de fragatas de emprego pedeiro Mariz e Barros, instalado em do foi o holandês ZW06 da Signaal,
exclusivamente ASW. O Estado Maior reforma que esse “classe M” recebeu que estava sendo nacionalizado pela
decidiu então que deveria haver uma em meados dos anos 60. Como arma- Philips do Brasil. Como o ZW06 tam-
versão com maior capacidade de comba- mento de tubo de defesa antiaérea, as bém equiparia os navios varredores da
te de superfície, que se tornou a de em- fragatas foram equipadas com dois ca- classe “Aratu”, buscava-se padroniza-
prego geral (EG). Duas das seis fraga- nhões Bofors de 40mm L70, um de ção e aumento da escala.
tas foram completadas como EG, e as cada lado do passadiço. Esses canhões No quesito sonar, há fontes que in-
duas grandes diferenças eram a substi- tinham acabado de ser adotados nos dicam que a Vosper propôs um modelo
tuição do lançador de Ikara na popa por navios varredores da classe “Aratu”, inglês da Marconi, que seria instalado
um segundo canhão Mk.8, e a instala- em construção na Alemanha. Os seis nas fragatas Type 21. Outras indicam
ção de mísseis antinavio à vante do “Aratu” faziam parte do mesmo Pro- que esse equipamento já era conside-
mastro do radar. O Exocet MM38, em grama Naval das fragatas, que tam- rado ultrapassado, havendo uma ofer-
fase final de desenvolvimento e aprova- bém incluía três submarinos classe ta da Plessey de seu novo sonar de cas-
ção pela Marinha Francesa, foi o míssil “Oberon” encomendados à Inglaterra e co MS32, com tecnologia de estado
escolhido, apesar da Oto Melara italia- algumas outras embarcações. sólido ao invés de válvulas. Porém, a
na ter tentado, sem sucesso, promover Plessey não oferecia um sonar de pro-
seu míssil Otomat. Radares e sonares fundidade variável, o que era uma es-
Quanto ao armamento antiaéreo, a A proposta da Vosper incorporava o pecificação da Marinha do Brasil. No
Marinha foi um pouco mais conserva- radar britânico Plessey AWS-2 da ban- fim das contas, foi selecionada uma
dora, buscando apenas sistemas de de- da S (como eram denominadas as ban- proposta da norte-americana EDO
fesa de ponto e menos representativos das E e F). AW significava Air Warning Corporation, empresa que havia parti-

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PODER NAVAL

Marinha do Brasil
QQ Fragata Niterói na configuração do MODFRAG (sem o
lançador de Aspide, retirado para manutenção) e a
corveta Barroso: a semelhança dos projetos fica evidente
nesta foto

que nasceram e que não são passíveis lhas das primeiras “Niterói” comple- Fontes consultadas:
de solução por modernizações. A supe- tam 40 anos. Deveriam, isto sim, já Não cabe, num artigo de revista não
restrutura em alumínio, que economiza estar com suas quilhas batidas e em acadêmica, a citação das dezenas de li-
peso acima da linha d’água (favorecen- plena construção. vros, artigos e documentos consultados
do a estabilidade e compensando o peso em arquivos pessoais e oficiais para sua
de armas e sensores), é menos resisten- Rio de Janeiro, vinte de dezem- execução, mas destacamos essas fontes
te a incêndios do que o aço, como foi bro de 2002: na carreira maior do abaixo, pela sua importância:
mostrado em navios britânicos afunda- AMRJ, era lançada a corveta Barroso,
dos na Guerra das Malvinas (1982) que a última escolta construída pelo Arse- QQ BITTENCOURT, Júlio Regis. Memó-
empregavam o mesmo conceito. Mais nal. No momento em que era termina- rias de um engenheiro naval: uma vida,
de 140km de cabos elétricos, espalha- do este texto, faltavam poucos meses uma história. Rio de Janeiro: Serviço
de Documentação da Marinha, 2005.
dos em cada navio, também não têm a para esse acontecimento completar 10
CÂMARA, Eduardo Gomes. A constru-
mesma resistência ao fogo do que os anos e, desde então, nenhuma outra
QQ
ção Naval militar brasileira no século
atuais, e trocá-los seria um pesadelo quilha de navio desse porte e emprego XX. Rio de Janeiro: edição do autor,
econômico e técnico. Há outros, mas em foi batida pela Marinha. 2011.
geral as qualidades do projeto e dos sis- É como se, numa jornada com vários QQ FRIEDMAN, Norman. U.S. Destroyers:
temas embarcados compensam por boa altos e baixos que se seguiu a outra jor- an illustrated design study. Annapolis:
margem os problemas. nada similar, da época da Segunda Naval Institute Press, 1982.
FRIEDMAN, Norman. British des-
O projeto das fragatas classe “Nite- Guerra Mundial, uma grande quilha
QQ
troyers & frigates: the second war and
rói” mostrou-se particularmente feliz, a tivesse sido batida em junho de 1972 e later. Yorkshire: Seaforth, 2006.
tal ponto que ainda hoje, 40 anos depois lançada definitivamente em dezembro QQ SOUSA, José Carlos Coelho de. Uma
do batimento das primeiras quilhas, de 2002. À parte o trabalho de acaba- história das fragatas: depoimento pes-
suas soluções de design e de hidrodinâ- mento e instalação de equipamentos e soal. Rio de Janeiro: Clube Naval Edi-
mica são referência para projetos atu- sistemas na Barroso, fase que se arras- tora, 2001.
Diretoria do Patrimônio Histórico e Do-
ais. O porte das fragatas, além de con- tou pelos anos seguintes (a incorpora-
QQ
cumentação da Marinha – DPHDM:
ferir boas características marinheiras, ção deu-se apenas em 2008), nada de documentos e fotos.
tornou mais fácil absorverem uma mo- relevante ocorreu na renovação dos na- QQ Entrevistas com os vice-almirantes (en-
dernização razoavelmente extensa na vios escolta da Marinha desde aquele genheiros navais) reformados: José
virada da década de 1990 para 2000, o lançamento, em 2002. Carlos Coelho de Sousa, Armando de
programa MODFRAG, que será alvo de Nesses trinta anos que separam Senna Bittencourt e Elcio de Sá Frei-
tas.
matéria em futura edição da revista. este último marco daquele iniciado pela
Jane’s Fighting Ships - vários números
Essa modernização conferiu uma primeira Mk.10, em 1972, houve cons-
QQ
QQ Revista Marítima Brasileira – diversos
capacidade de combate adequada aos truções e lançamentos, projetos e incor- números
novos cenários do início do século XXI, porações, entusiasmo e decepção, con-
bem diferentes daqueles vislumbrados quistas e derrotas, vitórias e retiradas Agradecimentos: para a realiza-
no final da década de 1960. Elas conti- para reorganizar e tentar lutar novas ção desta matéria e da entrevista a se-
nuam sendo a espinha dorsal da força batalhas. Sobre esse tempo, há muitas guir, foi fundamental o auxílio dos já
de escoltas da Marinha. O que preocu- questões a formular e respostas a pes- citados vice-almirantes Coelho de Sou-
pa, porém, é que o tempo é implacável quisar. Muito aconteceu e a parte ini- sa, Bittencourt e Freitas, além da ser-
e substitutas à altura não deveriam cial dessa história foi contada aqui. O vidora civil da DPHDM Marcia Pres-
estar apenas nos planos, neste ano de resto, você vai conhecer numa nova edi- tes Taft e do engenheiro naval Eduardo
2012 em que os batimentos das qui- ção da revista Forças de Defesa. Gomes Câmara. q

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PODER NAVAL ENTREVISTA


Fernando De Martini
Diretoria de Engenharia e no Escritó- ra como engenheiro atuante foi no Ar-
rio Técnico de Construção Naval em senal, todo o tempo. E, como enviado
QQ O almirante Coelho de Sousa ao lado da Philadelphia. Um navio de do Arsenal, houve esse meu período de
foto da fragata Niterói. Sua participação
Naquela tarde no Clube Naval, no guerra sério existe servir em Philadelphia. O escritório
foi decisiva no programa de aquisição
centro do Rio de Janeiro, o almirante brasileiro em Philadelphia era ligado
desta classe de navios
conversou sobre algumas dessas expe- para satisfazer ao Arsenal de Marinha e não à Direto-
riências e especialmente sobre o pro- ria de Engenharia.
grama das fragatas. Processo em que necessidades
esteve na “linha de frente” desde
quando foi chefe de Planejamento da
operativas de um n FD – Dessa época em Philadelphia,
o senhor cita em seu livro conversas
Comissão de Construção de Navios da país. E as situações com um engenheiro norte-americano,
Marinha do Brasil, à época da primei- Meyer Ziev, sobre a possibilidade da
ra seleção da “Bronstein”, depois como que caracterizam Marinha voltar a construir seus navios
presidente dessa Comissão, quando da a vida de um país no Brasil. Isso acabou virando um pro-
seleção definitiva da Mk.10 e, por fim, grama que o então comandante Noro-
presidente da Comissão Naval Brasi- são diferentes nha, no Estado-Maior da Armada,


leira na Europa, já na época da cons- chegou a dizer que era chamado de
trução das fragatas.
das situações “ideia do Coelho”. O Meyer Ziev, que
As memórias de Coelho de Sousa de outro. seria um “co-autor” dessa ideia, era ve-
sobre a concepção e aquisição da classe terano do escritório da Philadelphia,
“Niterói” estão em seu livro “Uma His- quando o senhor conversava com ele?
tória das Fragatas”, entre as mais im- quei. Mas eles realmente eram exce- Coelho de Sousa – Era. Tivemos
portantes obras consultadas para esta lentes navios, muito bons. Uma uma boa relação. Ele era muito inte-
matéria especial. Como outras boas tremenda de uma instalação de pro- ressado em assegurar a continuidade
fontes que pesquisamos, o livro tem o pulsão de alta potência, absolutamen- dos laços entre a Marinha Americana,
mérito de, além de trazer surpreen- te eficaz, ótimas acomodações, um pro- nesse lado técnico, e a Marinha Brasi-
dentes respostas, incentivar a elabora- jeto quase que perfeito. leira. A posição dele nasceu por causa
ção de novas perguntas. E foi a essas do acompanhamento dos planos que
perguntas que o almirante respondeu n FD – Sobre isso que o senhor falou, foram desenvolvidos no Arsenal de
durante várias horas daquela sexta- da necessidade de se construir navios Philadelphia para o “classe A”. Isso
-feira carnavalesca, levando a mais pensando em nossas necessidades, teve começo, teve meio, teve um fim.
perguntas, mais respostas, e ao difícil houve na década de 1960 um estudo Depois de terminada essa faina e,
trabalho que tivemos, depois, de sepa- que previa a necessidade de adquirir portanto, podendo dizer “olha, muito
rar o que caberia no espaço disponível 30 novos navios-escolta, com uma or- obrigado, fecha isso aí”, não foi isso
numa revista. Boa leitura! dem inicial de 10 navios. Desses dez que aconteceu: continuou a haver

Da ‘ideia do Coelho’ aos


primeiros, que na seleção inicial se- aquele enclave da Marinha Brasileira
n Forças de Defesa - No início de riam baseados na classe “Bronstein” no arsenal americano e então esse es-
seu livro “Uma História das Fraga- norte-americana, era previsto que se- critório participou de uma porção de
tas” o senhor faz uma crítica à utili- riam construídos no Brasil? atividades de colaboração dos ameri-
dade de navios recebidos usados, Coelho de Sousa - Ah, sim. canos. Quando, por exemplo, a Mari-

limites do ‘pulo do gato’ como foi o caso dos “Fletcher”, que ser-
viriam mais para que suas guarnições
fizessem dias de mar do que para nos-
sas necessidades reais. Poderia co-
n FD – No Arsenal de Marinha do Rio
de Janeiro?
Coelho de Sousa - Houve também
nha recebeu os contratorpedeiros clas-
se “Fletcher” Paraná e Pernambuco,
este último em Norfolk, o Meyer Ziev e
outro engenheiro participaram consi-
mentar mais sobre isso? um estaleiro americano que se interes- deravelmente na ligação entre o Per-
Vice-almirante José Carlos Coe- sou em entrar no cenário brasileiro, o nambuco e o Arsenal de Norfolk. Para

E
m 17 de fevereiro de 2012, lho de Sousa - Eu critico mesmo e Bath Iron Works. Eu acho que, na ser entregue à Marinha Brasileira, o
Conheça detalhes fundamentais do início uma sexta-feira em que os blo- sempre critiquei por várias razões, en- apresentação final da “Bronstein”, Pernambuco tinha que passar por um
cos de carnaval já estavam ar- tre elas essa que eu exponho no livro: houve representantes do Bath Iron reparo geral no Arsenal de Norfolk.
da história da classe ‘Niterói’, numa rebanhando foliões, o vice-almirante um navio de guerra sério existe para participando. Eu não tenho absoluta Então isso acarretou um empenho, e o
engenheiro naval (reformado) José satisfazer necessidades operativas de certeza sobre a construção no Arsenal Meyer Ziev estava lá. Ele, que já mor-
entrevista com o oficial que conduziu o Carlos Coelho de Sousa aceitou “vol- um país. Então, a gente deduz que um ou fora. É até possível que estivesse reu, foi muito, muito fiel à Marinha
tar no tempo” e falar de sua experiên- navio aqui tem tais características sendo admitida a ideia de fazer uns lá, Brasileira. Inclusive com aquela ideia
processo desde a concepção até a cia com o programa das fragatas clas- porque precisa da atuação em tais si- outros aqui. E havia aquela esperança que eu menciono no livro: “Ah, os ame-
se “Niterói”. tuações. E as situações que caracteri- vã de haver dinheiro de auxílio militar ricanos não estão dando dinheiro para
aquisição: o vice-almirante (Ref. EN) A carreira de Coelho de Sousa na zam a vida de um país são diferentes americano para a construção de navios fazer coisas para os aliados? Por que
Marinha começou em plena Segunda das situações de outro país. Em outras aqui. Porque a gente sempre tem a es- não fazem isso para construir navios
José Carlos Coelho de Sousa Guerra Mundial, quando serviu no palavras, o “Fletcher” era um destróier perança de poder utilizar os recursos no Brasil?”
velho encouraçado São Paulo, atraca- de combate. Era um excelente des- técnicos do Arsenal de um jeito decen-
do em Recife. Depois da guerra, o ofi- tróier para estar metido no meio de te e de fazer justiça ao fato desses re- n FD – Mas ele tinha meios de ajudar
cial formou-se engenheiro naval na guerra de gente grande, e isso não ti- cursos técnicos existirem. a fazer algumas coisas acontecerem?
Universidade de Michigan, servindo nha nada a ver com as necessidades da Coelho de Sousa – Ah, tinha. Ele era
então no Arsenal de Marinha do Rio Marinha. E, além disso, eu implicava n FD – O senhor é “cria” do Arsenal, muito considerado. Ele era um ameri-
de Janeiro, onde chegou a chefiar a com navios do tipo, basicamente, por- certo? cano empregado do Governo Brasilei-
Divisão de Oficinas, além de servir na que eram a vapor e eu sempre impli- Coelho de Sousa – É, a minha carrei- ro, mas trabalhando dentro de um ar-

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PODER NAVAL ENTREVISTA
Fotos: Fernando De Martini

QQ O almirante Coelho de
QQ O editor-chefe Alexandre
Sousa respondendo às
Galante com o almirante Coelho
perguntas do editor Fernando
de Sousa
De Martini

‘ Sobre a
construção de duas
fragatas no Arsenal,
a verdade histórica
é que a Vosper não
quis construir seis.
Foi uma decisão em
minutos. O dono da
Vosper disse que


não podia.

senal americano. E ele era muito Vosper não quis construir seis. Foi não querer construir seis. Se não fosse Coelho de Sousa – Também. O con- cou uma coisa de um modo muito inte- tecnologia no caso da construção do
acolhido pelos americanos, o pessoal uma decisão em minutos. O dono da essa recusa do John Rix não teria ha- trato de construção tinha um item ressante e original, uma coisa que é Arsenal, e até acho que a ideia, o ter-
do Arsenal. Conhecia todo mundo. Vosper disse que não podia. E ficamos vido construção no Brasil. Ponto final, “lead yard services”. “Lead yard” é o uma mania minha. Eu detesto essa mo, não era muito usado naquele tem-
nessa: “Então, como é que vai ser?” Aí simplesmente isso. estaleiro líder, nesse caso a Vosper. construção de palavras que é “transfe- po. Não havia esse vício de transferên-
n FD – Continuando nessa questão da outros representantes de estaleiros in- Eram serviços prestados pelo estaleiro rência de tecnologias.” Não existe isso. cia de tecnologia. Realmente não
construção no Brasil, que anos depois gleses se alvoroçaram. n FD – Nesse caso, daquele Programa líder para a construção no Brasil. Eu Ninguém transfere. É como a história apareceu essa terminologia.
evoluiu para uma oferta norte-ameri- Naval o Arsenal construiria apenas os não acompanhei isso porque eu não es- do “pulo do gato”, em que o gato estava
cana de se construir navios da classe n FD – Eles estavam na mesma reu- navios de patrulha fluvial, de patrulha tava mais no Arsenal, mas foi uma ensinando a onça a pular. A transfe- n FD – Mesmo porque não fazia parte
“Bronstein”, assunto que o senhor cita nião em que se acertava essa questão costeira, esses tipos menores de navios? mudança de rumo na vida do Arsenal, rência de tecnologia é um negócio que da própria ideia inicial receber tecno-
em seu livro: a Marinha, naquela pri- com a Vosper? Coelho de Sousa - Teria ficado nisso, sem dúvida, porque depois das fraga- esbarra no limite das coisas que são o logia, não é? Quando se começou a
meira seleção, não queria ser “cobaia” Coelho de Sousa - Quem estava na sem a menor dúvida. Viva o John Rix! tas vieram outros navios e veio uma pulo do gato. Não adianta. Mas acon- pensar em construir fragatas aqui, no
de um navio que não existisse, e por mesma reunião era um representante vida mais animada para os engenhei- teceu de um modo muito feliz no caso começo da década de 1960, a ideia
isso focou a escolha em classes já em brasileiro de um dos outros estaleiros n FD – O senhor acha que a constru- ros trabalhando lá. da construção das fragatas no Arsenal. não era simplesmente voltar a apro-
serviço lá fora, mas que poderiam ser ingleses. Ele se alvoroçou também. Mas ção das duas fragatas aqui melhorou o Acabou sendo transferência de tecno- veitar a capacidade de construção do
construídas no Brasil. E selecionou a a decisão de construir duas no Brasil foi nível técnico do Arsenal? n FD – Uma expressão que se usa logia (risos). Bem-sucedida, que pro- Arsenal?
“Bronstein”. Mas isso não vingou e de- tomada pelo telefone, rapidamente. Coelho de Sousa - Ah, sim! Eu nunca muito hoje, às vezes devidamente, às duziu efeito. Coelho de Sousa - Talvez até a gente
pois, numa nova seleção, chegou-se à parei pra pensar nisso, mas é até pos- vezes indevidamente, é “transferência achasse que não precisava receber
escolha da Mk.10, que tornou-se a clas- n FD – A construção de duas fragatas sível que esse “step function” técnico e de tecnologia”. No caso, aparentemente n FD – Mas era útil para o próprio essa tecnologia dos outros, porque a
se “Niterói”. Só que, aparentemente, o no Arsenal foi então uma solução ime- operativo que as fragatas representa- houve uma absorção de tecnologias e estaleiro inglês que se construísse no gente tinha as tecnologias suficientes,
foco já era outro: um navio novo, espe- diata pra resolver aquele problema es- ram para a Marinha, como um todo, de técnicas pelo Arsenal. Poderíamos Arsenal, ou em algum outro, não é? que davam para o gasto aqui. Eu estou
cificado no Brasil, mas que seria cons- pecífico, de que a Vosper não queria também seja o caso para o Arsenal. dizer então que, no custo embutido na Coelho de Sousa - É, porque ele rece- falando isso meio como brincadeira,
truído no exterior. Houve uma passa- ocupar por tanto tempo suas carreiras Uma porção de técnicas que o Arsenal compra das fragatas, acabamos rece- beu dinheiro pelo que foi feito na cons- mas no fim das contas é uma coisa sé-
gem. A construção no Arsenal estava de construção com seis navios? não conhecia e que a Vosper usava, bendo alguma coisa em troca, ainda trução no Arsenal de Marinha do Rio ria. A formação dos engenheiros da
ficando em segundo plano, na época da Coelho de Sousa - Foi. Foi um ata- como a construção modular, foram in- que tenha sido quase ao acaso, devido de Janeiro. A participação dele foi por Marinha, naquele tempo, era algo
escolha da Mk.10? que de “serendipidy.” (nota do editor: troduzidas. Era um modo de trabalhar à impossibilidade da Vosper construir serviços executados. Havia um deter- muito sério. Um grande número era
Coelho de Sousa - Estava. Infeliz- palavra inglesa com significado apro- da Vosper e que o Arsenal nunca tinha todas as seis? minado modo de proceder, dos enge- cria do MIT (Massachusetts Institute
mente estava. Você pinçou um detalhe ximado de “feliz coincidência”) A ideia ouvido falar antes. Coelho de Sousa - Se nós estivésse- nheiros que praticavam isso lá no es- of Technology), e o MIT é um negócio
que realmente passa despercebido. So- de usar o Arsenal não apareceu antes. mos competindo um com o outro, e fos- taleiro inglês, e eles vinham aqui muito sério em matéria de engenharia
bre a construção de duas fragatas no Foi exatamente uma solução imediata n FD – Isso foi possível porque vieram se uma competição do tipo esgrima, eu mostrar como é que se fazia. Eu nunca naval. Na faculdade de engenharia
Arsenal, a verdade histórica é que a esse episódio do John Rix, da Vosper, técnicos da Vosper para auxiliar? ia dizer “touché” pra você. Você cutu- tive a sensação de transferência de que é o MIT, tem engenharia naval, e

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PODER AÉREO ENTREVISTA

Fotos: Fernando De Martini


n FD – O navio que a Yarrow apre- n FD – Anotamos aqui algumas possí- tem mistério nenhum para se fazer
sentou era do mesmo porte da Tipo 21 veis. Não digo, exatamente, que foram aqui, e era feito. A coisa complicada
ou era menor? forçadas, mas havia opções que talvez estava na espoleta da granada. E saiu,
Coelho de Sousa - Era do mesmo por- fossem preferidas. Uma deles seria a fizeram lá, deu certo. Mas houve aque-
Eu detesto essa te da Tipo 21. turbina, que o senhor chegou a dizer le episódio: o diretor de Armamento da
que preferia a LM2500 devido ao con- Marinha na ocasião era o engenheiro
construção de n FD – Era basicamente a Tipo 21? sumo específico ser um pouco menor, Carlos Natividade, vice-almirante en-
palavras que é CS – Não. O negócio é o seguinte: a apesar de que a Olympus inglesa esta- genheiro naval. E ele, chefe da Direto-
ria de Armamento, colocou-se numa
Vosper também tinha um navio Tipo va mais avançada em seu desenvolvi-
transferência de 21, mas fez o Mk.10. A Yarrow tam- mento. E a turbina britânica acabou posição de neutralidade na hora de es-
bém tinha o Tipo 21 só que não tinha sendo a escolhida. E houve também a colher o canhão. Qualquer coisa lhe
tecnologias. mais nenhum, porque eles estavam escolha do canhão Mk.8 inglês de 4,5 servia. E, como convinha que essa
A transferência de certos do negócio: “O negócio é esse, polegadas, no lugar de sua preferência “qualquer coisa” fosse inglesa, porque,
vamos lá”. que era o canhão norte-americano de 5 afinal de contas, os canhões são uma
QQ Nas fotos das duas tecnologia é um polegadas. parte substancial da despesa de um
n FD – Ainda sobre os concorrentes Coelho de Sousa - É, esse foi um navio, houve a escolha do “quatro e
páginas o almirante
Coelho de Sousa examina
negócio que esbarra dessa segunda seleção: chegou-se a “destaque”. Eu estava torcendo pelo meio”. Eu não me meti na hora da es-
os planos da fragata no limite das mandar o pedido de propostas para al- canhão de 5 polegadas da FMC. Eu colha porque era coisa de natureza téc-
Tipo 21 que serviu de base gum estaleiro norte-americano? acho que menciono isso no livro. Na nica, específica e especializada.
coisas que são o


para o projeto da Coelho de Sousa - Não. ocasião da escolha do canhão, a Mari-
Vosper Mk.10
pulo do gato. n FD – Perguntamos isso porque, apa-
nha tinha acabado de concluir a enge-
nharia da espoleta da granada de 5
n FD – Os ingleses ofereceram um
“menu” de armas e equipamentos, já
rentemente, essa é uma grande diferen- polegadas para ser fabricada no Bra- com os itens que eles recomendavam
ça nas duas seleções. Na primeira, a sil. Foi um trabalho muito dedicado da pra gente? Algo como a Vosper dizer:
dentro da engenharia naval, tem o Coelho de Sousa - Houve um pouco e não sai daí... Mas vai sair agora. Ha- “Bronstein” era favorita, e não levou Diretoria de Artilharia e Armamento, “Olha, a gente já usa isso na fragata
curso 13A, que é engenharia de navio de “wishful thinking” (interpretação de via um cidadão anglo-brasileiro que por conta da questão do financiamento. e todo mundo estava muito satisfeito Tipo 21, a Marinha Real já usa. Não
de guerra. Só havia duas escolas no fatos como se gostaria que fossem, mas tinha uma empresa aqui e também ti- Já na segunda, não haveria nenhuma de ter conseguido isso. E, se tivesse seria interessante vocês usarem tam-
mundo, naquele tempo, de engenharia não como são na realidade): a gente nha muitos negócios com a Inglaterra. proposta de estaleiros dos Estados Uni- havido uma certa sensibilidade dentro bém?” Isso porque a classe “Niterói”
de navio de guerra. Uma era o MIT e a sabia que a despesa autorizada pelos E havia um chefão dentro dessa em- dos, mesmo com a Missão Naval Ame- da própria Marinha, o 5 polegadas se- acabou, por exemplo, usando o mesmo
outra uma escola de engenharia meio governantes era de 250 milhões de dó- presa que tinha sido oficial de Mari- ricana ainda atuante aqui. ria certamente o canhão das fragatas. radar de direção de tiro que a Tipo 21
isolada das coisas lá nos Estados Uni- lares e se previa construir 10, então nha durante um certo tempo, e era re- Coelho de Sousa - É engraçado. Ha- Uma coisa importante, quando a gente usava, o RTN-10X.
dos, que eu estou esquecendo o nome havia uma esperança de que o navio, a lacionado com um dos almirantes que via um pé atrás com os americanos, eu tem um canhão, é ter a própria possi- Coelho de Sousa - O italiano?
agora, e cujos fundadores estabelece- proposta que viesse, seria dentro de 25 cuidavam desse programa de navios. não sei exatamente se esse pé atrás bilidade de fabricar sua munição. O
ram que só ensinasse para america- milhões de dólares. Esses 25 milhões E aí, esse cidadão anglo-brasileiro cap- teve alguma causa. Os americanos não cartucho do tiro de 5 polegadas não n FD – Sim. O canhão também era o
nos. Então, essa gente que passou pelo representam um valor, vamos dizer, tou essa história e conseguiu um esta- foram consultados, apesar da existên-
MIT recebeu um alto nível de treina- estimado, e que me foi falado pelo leiro inglês para representar, para fa- cia do MAP (Military Assistance Pro-
mento profissional, e esse pessoal es- Matthew Forrest da Gibbs & Cox. zer ganhar, e sair um bruta de um gram - programa de assistência mili-
tava lá no Arsenal. Essa empresa tinha uma história de “negocião” para ele. Esse estaleiro foi a tar) e da Missão Naval Americana.
projetar navios do porte de destróier, e Yarrow. Ele escolheu bem, porque a Houve uma grande implicância do Al-
n FD – Aproveitando que trouxemos sabia tudo sobre navio desse porte. E, Yarrow é um estaleiro de primeira mirante Adalberto Nunes com os ame-
esses planos da Tipo 21 inglesa para o um dia, eu disse: “Olha, nós estamos classe para esse tipo de navio, sem dú- ricanos. E houve o fato do financia-
senhor ver: antes dessa segunda seleção querendo fazer um navio antissubma- vida. Até com mais tradição e mais mento oferecido pelos americanos não
afunilar entre as propostas da inglesa rino assim, assim e assim. Quanto é prestígio internacional do que a Vos- ser amplo, de ser bem inferior ao custo
Vosper e da Blohm & Voss alemã, ha- que você acha que se pode estimar o per. Então ele ficou sabendo dessa es- projetado.
via projetos de outros concorrentes ba- preço?” Foi ele quem disse 25 milhões timativa de preço do navio, 25 milhões,
seados na Tipo 21, que é uma predeces- de dólares. Então 25 milhões de dóla- e aconselhou a Yarrow: “Olha, eu sei n FD – Almirante, o senhor cita em
sora mais simples e mais barata da res dava para caber no orçamento de que é 25 milhões de dólares, não pode seu livro a exigência de 2/3 de conteú-
nossa Mk.10. O senhor cita no livro que 250, que foi o que a gente pediu. passar, senão não ganha”. E eles fize- do de equipamentos ingleses nas fra-
concorrentes ficaram, de alguma forma, ram, seguindo o conselho do represen- gatas. Isso era exigido para que a ofer-
sabendo de uma estimativa inicial da n FD – Baseado ainda no custo da tante deles no Brasil. Mas depois não ta de financiamento inglesa tivesse a
Marinha com valor de 25 milhões de “Bronstein”, algo assim? ganharam porque o navio deles, de 25 cobertura de um órgão do Governo
dólares para cada unidade, e tentaram Coelho de Sousa - Sim. Como a gen- milhões de dólares, não tinha tudo o Britânico, o ECGD, tornando esse fi-
oferecer um projeto baseado na Tipo te nunca tinha lidado com o assunto que a gente queria. Quando viu isso, a nanciamento bem mais acessível e via-
21. Isso lembrando que a ideia inicial antes, foi um tiro no escuro que basica- Yarrow mandou um diretor falar comi- bilizando a compra. O senhor então
era adquirir 10 navios dentro do valor mente não deu certo, porque a gente go, porque queriam uma oportunidade cita várias escolhas de armamento.
total estimado de 250 milhões, certo? queria construir dez, e só deu para de fazer nova proposta, e eu disse que Em algumas das escolhas, tivemos a
Porém, a impressão que passa é que, na construir seis. não. A informação daquele sujeito en- impressão de que, para não se exceder
época dessa segunda seleção, já havia terrou a coitada da Yarrow. Ele dava o limite de 1/3 de equipamentos de
por parte da Marinha uma determina- n FD – Mas houve estaleiros que man- uma pinta de que tinha informação, de origem não britânica, a balança pen-
ção de que a fragata fosse mais ambi- daram propostas que cabiam dentro que tinha inside... deu para um equipamento inglês. Em
ciosa, a ponto de provavelmente já se desses 25 milhões, não? Navios que se- algum momento o senhor sentiu que
saber que ultrapassaria os 25 milhões riam baseados na Tipo 21 inglesa? n FD – “Inside information”, não é? esse limite amarrava as escolhas?
por unidade. Esse custo possivelmente Coelho de Sousa – É. Isso que eu vou Coelho de Sousa – É... E ele tinha Coelho de Sousa - Eu estou tentando
mais alto não era visto como problema, dizer é algo que o lado esquerdo da mi- “inside information”, mas era incom- lembrar de alguma escolha que tenha
na época? nha cabeça conversa com o lado direito pleta. sido “forçada” pela regra do 1/3...

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PODER NAVAL ENTREVISTA


as coisas são menos rígidas, e nem por vel pedir transferência para a reserva
isso a qualidade é inferior. O inglês tem com 25 anos de serviço e, se a pessoa
QQ O almirante Coelho de Sousa
mais confiança, vamos dizer assim, na Assim, para se pegava uma beiradinha de guerra,
sua tradição de engenharia e de fabri- contava o tempo de guerra adicional.
e os editores Fernando De
Martini e Alexandre Galante
cação do que o americano. Isso era ver- mandar gente para Então esse colega meu, do MIT, um
dade no tempo em que eu lidei com in-
gleses, não sei se ainda é.
aprender no tempinho depois de chegar ao Brasil
pediu transferência para a reserva. Eu
exterior pela fui falar com ele, que tinha trabalhado
n FD – O senhor acha que o fim do no Arsenal antes de se tornar enge-
MAP foi prejudicial ao Brasil ou à Ma- Marinha, é preciso nheiro: “Mas nós estamos precisando
rinha do Brasil de alguma forma? Afi- ter umas garantias de você aqui, no Arsenal. Não vá em-
nal, a gente tinha aquela relação com a bora. Você, craque do MIT, olha só
Marinha Americana, com a Missão de que essa gente vá como é que a coisa está. A gente está
Naval Americana. O senhor acha que precisando de engenheiro” Aí eu ouvi:
isso foi prejudicial ou indiferente? Nós
restituir a “Não, Coelho. Eu vou trabalhar pelo
perdemos alguma coisa? Marinha. Pode Brasil, lá fora – e quando se diz lá fora
Coelho de Sousa - Não, eu acho que significa fora da Marinha – muito mais


não perdemos nada. Isso que estou di- haver modos legais do que eu faria ficando aqui.” Mentira.
zendo, em vez de ser uma opinião anti- O oficial de Marinha sempre ga-
-americana, é um enaltecimento da
de fazer isso nhou pela média ou menos do que a
eficiência deles, porque foram “mento- média do que se ganha fora, e então
res” tão competentes que sua direção ele queria ganhar dinheiro, e ganhou.
ficou desnecessária depois de um certo E tinha condição para ganhar porque
tempo. O rompimento, do jeito que brasileiro ir lá. No caso, falando da Ma- era inteligente, e fez um excelente cur-
aconteceu, foi meio precipitado, e não rinha Brasileira, precisa ser um oficial so, um negócio super prestigiado. En-
precisava ter acontecido. Mas não foi de marinha ou engenheiro brasileiro tão não estava nem aí. Esse tipo de
nenhuma catástrofe. que já deu umas “voltinhas” na profis- atitude existiu durante muito tempo
são. Quer dizer, não é um cara que aca- entre os engenheiros. Basta dizer que
n FD – Em comparação com o progra- bou de se formar na faculdade. Assim, eu fui promovido a almirante em agos-
ma das fragatas, onde mandamos en- eu acho que ir lá é mais eficaz do que to de 1967. Em janeiro, quando come-
genheiros brasileiros aprenderem com chamar os técnicos para cá. Porque um çou o ano, eu era o oitavo numa lista
ingleses, no programa seguinte, das cara que já deu umas voltinhas na pro- de oficiais por ordem de antiguidade,
corvetas, foram trazidos engenheiros fissão é alguém com os conhecimentos que é a ordem para ser promovido. Em
mesmo da Tipo 21, que também usava cidida após a escolha da oferta da e ingleses. Quais as características que alemães para assessorar os brasileiros necessários para a coisa. Conforme vo- agosto, eu fui promovido a almirante e
o Sea Cat. Os ingleses chegaram a ofe- Vosper, quando se fez as especifica- acha diferentes entre eles, em engenha- aqui. Há, evidentemente, a diferença cês falaram, é “absorção de tecnologia” só dei “carona” (nota do editor: dar ca-
recer o armamento dentro da proposta ções finais? ria e construção naval? de que no primeiro caso o projeto foi em vez de transferência. Eu acho isso rona é ser promovido antes de um ofi-
inicial? Coelho de Sousa - Eu não tenho cer- Coelho de Sousa - Uma coisa muito desenvolvido lá fora, pelos ingleses, en- mais eficaz. cial mais antigo) num que estava na
Coelho de Sousa - Ah, sim, já tinha. teza agora. Eu acho que estava sim, citada, de tempos em tempos, é a ques- quanto no segundo foi desenvolvido Eu estou falando da minha própria frente porque ele tinha feito um desa-
Item por item, já estava tudo declarado. porque nessa especificação da segunda tão dos planos. O americano, para fa- por brasileiros, aqui. Mas, ainda sim, experiência, numa espécie de argu- foro para o ministro Rademaker. Daí,
tentativa de seleção, estávamos eu e o zer um navio, produz quilômetros qua- qual dessas formas o senhor acha o ca- mentação em causa própria, porque na hora do conselho de promoção, ele
n FD – E o míssil australiano Ikara, Carlos Auto de Andrade, que eu cito no drados de planos, até desenho de minho mais lógico para conseguir ab- assim foi para mim e para gerações de foi cortado e eu fui promovido. Só um
como é que foi oferecido pelos ingleses livro. O Carlos Auto servia no Estado- fechadura ele usa. Ele precisa de tudo sorver tecnologia no Brasil? Mandar engenheiros da Marinha. Mas houve na minha frente, o que quer dizer que
na época? -Maior da Armada e, mais ou menos isso para construir um navio. E o in- gente para fora, para aprender com uma época em que isso não adiantava os outros seis foram embora.
Coelho de Sousa - A impressão que sem eu saber, tinha cultivado um en- glês usa menos papelada. Na constru- engenheiros de outros países, ou trazer nada, porque o cara ia para lá, fazia o A possibilidade de sair era muito
está na minha cabeça é que eles tole- tusiasmo em fazer uma coisa decente ção de um navio, o americano desenha engenheiros de fora para ensinar aqui? curso do MIT, voltava com o “anel de frouxa, as pessoas aproveitavam e a
raram a entrada do Ikara em cena. A nas fragatas. Então ele aproveitou a tudo e o cara que está construindo se- Coelho de Sousa - Há uma questão: castor”, e nessa época completar tempo Marinha não segurava o cara para ele
história do Ikara é essa: um oficial oportunidade do abandono da ideia da gue o desenho em todos os detalhes. Já vamos imaginar que não houve corve- de serviço e de reserva era uma sopa. O pagar o que tinha feito. Assim, para se
nosso que chegou a servir na Austrá- “Bronstein” para melhorar as fraga- num grupo de operários ingleses, há ta, não houve submarino, nada disso resultado é que muita gente chegava mandar gente para aprender no exte-
lia, o Ibsen, falou: “Olha, tem um mís- tas. E melhorar as fragatas significava um mestre que tem uma bruta experi- que veio depois na Marinha Brasileira. com anel de castor e, no dia seguinte, rior pela Marinha, é preciso ter umas
sil australiano que é melhor do que o botar uma porção de coisas que não ti- ência, que sabe como é que faz, e diz: Vamos imaginar que a Marinha esteja pedia transferência para a reserva. Ia garantias de que essa gente vá resti-
ASROC americano. Ele permite abor- nham sido cogitadas. “Faça assim, assim e assim”. E não resolvendo adquirir a competência de embora ganhar mais do que os ordena- tuir a Marinha. Pode haver modos le-
tar o ataque em voo, e faz isso e mais precisa de desenho nenhum. Isso é o construir navio de guerra. Uma possi- dos da Marinha. gais de fazer isso. Mas, enfim, a Mari-
aquilo...” Então decidimos especificar n FD – Mesmo porque a “Bronstein” que é alegado. bilidade é fazer uma concorrência, nha por muito tempo não fez, e tinha
o Ikara. Naquela ocasião, a Marinha não poderia vir com o ASROC, certo? Agora, uma coisa que afetou bastan- como a Marinha fez para as corvetas, n FD – Era difícil manter um corpo de que ter um jeito de segurar, por um
Inglesa estava resolvendo se queria o Coelho de Sousa - E também não te a minha carreira é que a estrutura que foi vencida pela alemã Marine engenheiros aqui no Brasil? tempo razoável. Existe a possibilidade
Ikara ou não. E ela passou um tempi- poderia vir com o SQS-26, que era a técnica da Marinha Americana é muito Technik. A concorrência era para tra- Coelho de Sousa - É. Isso foi uma da pessoa não aprender direito? De
nho pra resolver. Eu tenho a impres- mágica dos sonares. Então a gente baseada em especificações detalhadas e zer gente para projetar navio de guerra certa falta de vergonha na cara de bra- querer, na volta, aplicar no Brasil um
são, aqui na cabeça, de que a gente sentou e planejou: “Vamos botar isso, rigorosas. Eles têm “mil specs” (especi- aqui no Brasil, com a condição de man- sileiros. Mas eu acho que tem que negócio que funcionava lá mas não
especificou o Ikara antes da Marinha vamos botar aquilo”. E eu acho que o ficações militares) para tudo, e seguem dar a fina flor dos engenheiros de lá. mandar gente para fora e gente muito, funcionaria aqui? Existe o coeficiente
Inglesa ter especificado para seu uso. Ikara, quer dizer, um míssil portador isso. Para assegurar a qualidade, a con- Foi assim que a Marine Technik ga- muito, muito bem avaliada. Eu tinha de deslumbramento quando o cara vai
de torpedos, foi especificado naquela fiabilidade de tudo o que eles fazem, nhou. Isso é um jeito. Um outro jeito é um colega, que foi meu contemporâneo pro exterior. Mas, com tudo isso, eu
n FD – A solicitação de um míssil ocasião. tem que estar completamente amarra- mandar gente da Marinha para o lugar na Escola Naval, um sujeito muito in- acho uma coisa mais eficaz mandar
transportador de torpedo já estava no do a especificações, que existem para onde se quer aprender a fazer a coisa. teligente que estudou no MIT, que fez gente muito bem escolhida para não
pedido de propostas mandado para n FD – O senhor teve experiência em comandar a produção. O inglês usa me- Qual é o jeito mais eficaz? Eu tenho a lá o seu mestrado e, quando voltou, ti- fazer sacanagem com o patrocinador.
os estaleiros concorrentes? Ou foi de- trabalhar com engenheiros americanos nos especificações. Na Marinha Inglesa impressão de que o jeito mais eficaz é o nha tempo para ir embora. Era possí- Abre mais a cabeça da pessoa. q

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PODER NAVAL REPORTAGEM

Três dias a bordo do


‘professor’ Dixmude
Embarcamos no navio que está
ensinando a Marinha Francesa e seus
futuros oficiais a serem como ele:
multitarefa
Alexandre Galante

QQ Fernando “Nunão” De Martini essas saindo do lugar-comum, passan- navio-escola. Uma escola repleta de que a princípio não fazia parte de suas panhado da fragata Georges Leygues, que aprenderam, guarnecendo postos,
nunao@fordefesa.com.br do do discurso para o campo das ações ensinamentos multitarefa e que apor- atribuições, é só uma delas. E quando ao Brasil? A missão é de treinamento participando das mais diversas simu-
e das formas concretas. No caso, as tou no Brasil neste mês de junho. o assunto é aprendizado, a operação dos futuros oficiais da Marinha Fran- lações a bordo e também assistindo às

J
á faz algum tempo que pala- formas bojudas de um navio com 199 Os editores Alexandre Galante e dos navios dessa classe está fazendo cesa, realizada anualmente com os aulas, os alunos exercitam suas capa-
vras como multitarefa, multi- metros de comprimento, outros 32 de Fernando “Nunão” De Martini embar- até mesmo a alta oficialidade francesa alunos que estão se formando na Aca- cidades e são testados nos papéis de
propósito, multiplicador de boca e mais de 20.000 toneladas de caram por três dias no Dixmude descobrir possibilidades até então des- demia Naval, assim como é feito na liderança que exercerão em breve.
forças e “multirole” se tornaram ver- deslocamento. Trata-se do “professor” (L9015) e conheceram em detalhes a conhecidas. Marinha do Brasil (MB), que utiliza o Ao longo de várias décadas, essa
dadeiros mantras nos assuntos de de- Dixmude, o mais novo navio de proje- operação do navio e a multiplicidade navio-escola Brasil (U27) nessa tarefa. missão anual foi realizada pelo porta-
fesa, no mundo corporativo e até no ção e controle da Marinha Francesa de missões que ele pode realizar. Vale A ‘Mission Jeanne d’Arc 2012’ e a Em praticamente seis meses de mis- -helicópteros e navio-escola Jeanne
dia-a-dia das pessoas. Mas não é sem- que, neste primeiro semestre de 2012, dizer que o treinamento no mar dos fu- ‘Passex’ com a Marinha do Brasil são no mar, participando de operações, d’Arc, incorporado em 1964 para subs-
pre que podemos ver palavras como assumiu temporariamente a função de turos oficiais da Marinha Francesa, Mas o que trouxe o Dixmude, acom- vivenciando na prática toda a teoria tituir um cruzador da década de 1930,

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PODER NAVAL REPORTAGEM
Alexandre Galante navio encarregado de alojar a maior conjuntos. Mais à frente, vamos apre-
parte deles. sentar mais detalhes do que foi reali-
QQ O Dixmude fotografado por E, falando em alunos, um total de zado na “Passex”. Agora é hora de fa-
boreste dá uma ideia melhor da 144 faz parte da missão (sendo 21 mu- lar um pouco mais do navio.
altura do navio. Ao fundo, a fragata lheres). A maior parcela (94) vem da
Niterói turma de 2009 da Academia Naval Um navio multipropósito, numa
Francesa, somando-se a outros de es- marinha de múltiplas funções
pecialidades diversas (medicina mili- estratégicas, formando
tar, suprimento, além de alunos da tripulações multitarefa
tradicional Academia Militar de A França definiu cinco funções es-
“Saint-Cyr”), e 17 são oficiais de outros tratégicas para sua estratégia de segu-
países – um deles do Brasil. Ao longo rança, no seu Livro Branco de Defesa
da missão, todos os alunos terão se re- de 2008: conhecimento e antecipação,
vezado em treinamentos a bordo do prevenção, proteção, intervenção e dis-
Dixmude e da Georges Leygues, pois suasão. E essas funções se refletem no
em suas carreiras eles guarnecerão esforço francês para equipar e manter
tanto navios novos quanto os mais ve- uma marinha de “águas azuis”, levan-
lhos que ainda compõem mais da me- do em conta que, somando os territó-
tade da frota francesa. rios de além-mar, a França possui
O escopo da missão vai além da ins- nada menos que 7.000 km de costa, a
trução, atuando muitas vezes em regi- segunda área marítima do mundo,
ões “quentes”, como o Golfo Pérsico e o com 11 milhões de quilômetros qua-
“Chifre da África”, que inclui a contur- drados, além de fronteiras localizadas
bada costa da Somália. Também inclui em todos os oceanos do planeta. Isso
cooperação bilateral e diplomacia de forma um cenário muito diversificado
defesa. A “Passex” com a Marinha do de situações que impactam no cumpri-
Brasil teve esses dois últimos elemen- mento das funções estratégicas, e a ca-
tos presentes, assim como o adestra- pacidade multitarefa de navios e tri-
mento operacional como um grupo-ta- pulações torna-se fundamental para
refa anfíbio, complementando maximizar os custos de equipamentos
treinamentos anfíbios que os alunos e pessoal. Assim, era de se esperar que
vivenciaram logo no início da missão. novos navios franceses, projetados en-
A fase “brasileira” começou no iní- quanto a estratégia de segurança era
cio da manhã de 5 de junho, com a che- delineada, já mostrassem uma clara
gada do navio ao Rio de Janeiro e, após preocupação em poderem cumprir di-
a realização de ações da chamada di- versas funções. É o caso da classe
BPC Dixmude (L9015) plomacia de defesa, incluindo coletivas “Mistral”, do Dixmude.
de imprensa, entrou na fase de plane- A classe foi planejada para ter ca-
QQ Comprimento: 199 metros jamento e reconhecimento das áreas pacidade de operações anfíbias, trans-
QQ Boca: 32 metros de exercício. Ganhou impulso com a porte operacional, apoio de saúde e,
QQ Calado (médio): 6,2 metros saída do navio para a fase operacional, não menos importante, de comando
na manhã do dia 11, quando embarca- operacional. Esta quarta capacidade
Deslocamento (médio): 21.600 toneladas foi um acréscimo às três que já eram
QQ
mos no Dixmude para acompanhar as
QQ Alcance a 15 nós 11.000 milhas náuticas operações anfíbias e helitransporta- realizadas pelos navios de desembar-
QQ Velocidade máxima: 19 nós das. E terminou no final da tarde de 13 que doca classe “Foudre” da década de
de junho, após manobras e exercícios 1990, de menor porte. A característica

Fernando De Martini
que tinha o mesmo nome e finalidade terno que podia ser modificado confor- ção de 2012, foi decidido empregar né, com escala em Dakar, antes de re-
de instrução. O porta-helicópteros era me a situação (por exemplo, o hangar como navio-escola o Dixmude, comis- tornar à Europa.
um projeto novo, embora baseado no que abrigava quatro helicópteros mé- sionado no início deste ano como o ter- Acompanhando o Dixmude está a
casco dos cruzadores existentes da clas- dios podia dobrar de capacidade ao cus- ceiro BPC da classe “Mistral”. A mis- fragata antissubmarino Georges
se “De Grasse” (cuja construção foi in- to da área de alojamento dos alunos). são deixou o porto de Toulon em 5 de Leygues (D640 – indicativo referente a
terrompida pela Segunda Guerra Mun- Na década de 1990, já se pensava março e só deverá terminar no fim de destróier, embora seja empregado
dial e só completada na década de em novos projetos para substituir o julho, em Brest – estas são as duas num navio que a própria Marinha
1950). Incorporava um bom grau de navio. Mas nada foi concretizado e a principais bases da Marinha France- Francesa chama de “frégate”). A
flexibilidade para um navio dos anos aposentadoria do Jeanne d’Arc foi sa. A “Mission Jeanne d’Arc 2012” já Georges Leygues, incorporada em
60: na paz, era utilizado em instrução, adiada diversas vezes. Por fim, o na- passou pelo Mar Mediterrâneo, Mar 1979, é mais conhecida como líder de
podendo em caso de conflito ser empre- vio foi desativado em 2010, e as auto- Vermelho e Golfo Pérsico, pelo “Chifre uma classe de sete navios que forma a
gado como transporte de tropas, porta- ridades da Marinha Francesa decidi- da África” (escala em Djibouti) e sua espinha dorsal da força de escoltas
-helicópteros para operações de guerra ram que um dos novos navios de costa leste, contornando o Sul do Con- francesas. Trata-se de uma fragata ar-
antissubmarino ou para operações heli- projeção e comando (BPC) poderia tinente e fazendo escala na Cidade do mada e preparada para serviço ativo,
mas que desde 1999 é utilizada princi- QQ Passadiço superior
transportadas de grupos anfíbios. Isso assumir a tarefa. Cabo, antes de chegara à América do
ou Tijupá do Dixmude
graças ao grande convoo atrás de sua “Jeanne d’Arc” manteve-se como o Sul e aportar no Rio de Janeiro. A par- palmente para a missão de treinamen-
superestrutura e ao amplo espaço in- nome da missão anual e, para esta edi- te final inclui a região do Golfo da Gui- to, levando 36 alunos e escoltando o

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Fotos: Fernando De Martini
O oficial encarregado da escola a são cerca de 3 simulações diárias, e
bordo, comandante Knapp, informou sempre se está “pegando serviço”. É
que o treinamento em geral não mudou certo que a viagem dos guardas-mari-
muito desde a baixa do Jeanne d’Arc. A nha brasileiros tem uma significativa
grande diferença é que, como o Dixmude carga de aulas de treinamento opera-
não é um navio com missão principal de cional, mas tem também um viés mais
treinamento, como era o antigo porta- cultural, de experiência de vida em
-helicópteros, toda missão representa contato com outras culturas e países.
algo novo, ainda mais para um navio Já no caso francês, estar fora de
que acabou de entrar em serviço e cuja casa por bastante tempo num navio
tripulação também é nova. E, pelas pró- operacional já é considerado uma ex-
prias características do Dixmude, o trei- periência de vida, e o foco das visitas é
namento dos alunos passou a envolver voltado a missões operacionais, em
as operações anfíbias, para as quais se conjunto. Em resumo: pegando serviço
reservou os dois primeiros meses do cru- num navio de tripulação reduzida, as-
zeiro (março e abril) e, por exemplo, par- sistindo às aulas, participando de mis-
te da “Passex” com a MB. sões anfíbias e outras em conjunto com
Conversamos também nessa opor- marinhas de diversos países, pratican-
tunidade com o segundo-tenente Cel- do a fonia em inglês (padrão OTAN)
so, oficial da MB que realiza um inter- mas ouvindo e dando ordens em fran-
câmbio a bordo, no qual participa de cês, cada aluno exercita continuamen-
todas as atividades dos demais alunos te a capacidade de ser multitarefa.
– a única diferença é que, como já é um
oficial formado, suas notas nas avalia- A palavra do comandante: o
ções não têm resultado em sua carrei- ‘Dixmude’ representa uma cultura
ra no Brasil, embora Knapp ressaltas- em mudança
se que ele tem sido um aluno excelente. Conversamos com o oficial coman-
Sobre as avaliações, Celso lembrou dante do navio, “capitaine de vaisse-
que levam mais em conta as reações e au” (equivalente a capitão de mar e
QQ Passadiço de controle de aeronaves à ré da ilha guerra) Guillaume Goutay, que traz a QQ Passadiço: comandante Guillaume Goutay em seu posto
atitudes frente às situações impostas
do que as ações. experiência diversificada de ter servi-
mais visível da classe “Mistral” é o paço disponível na doca alagável foi O segundo-tenente destacou algu- do em navios mais antigos, da classe sentando um novo padrão para sua e emprego: a partir do zero, gasta-se
convoo corrido (com uma superestru- reduzido pela metade (as predecesso- mas diferenças em relação à ainda re- “Georges Leygues”, e comandado uma marinha. E um dos pontos principais apenas 10 minutos para alcançar a ve-
tura em “ilha” a boreste) de 5.200m2, ras levam até oito LCU) e a velocidade cente viagem feita no navio-escola das modernas fragatas classe “La- dessa mudança de cultura, segundo locidade máxima de 19 nós, que é atin-
com 6 pontos para pouso e decolagem máxima é de 19 nós, ao invés de 21. Brasil. No Dixmude não há simulado- fayette”, a Aconit.O comandante des- Goutay, é sua pequena tripulação: um gida com o navio completamente car-
de helicópteros, além de dois elevado- Em compensação, a capacidade de res utilizados especificamente para tacou que o Dixmude representa uma navio norte-americano de porte seme- regado. Nas provas, o Dixmude chegou
res de aeronaves conectando o convoo a hangarar helicópteros é quatro vezes treinamento dos alunos, como no nos- cultura em mudança na Marinha lhante necessita de três vezes mais tri- a atingir 19,7 nós, mas sua velocidade
um hangar de 1.800m2, que pode abri- maior, sem falar no convoo com três so U27. No navio francês, são utiliza- Francesa. Trata-se de um “navio ver- pulantes que os 177 do Dixmude. Por normal de operação é entre 10 e 15
gar até 16 helicópteros de médio porte. vezes mais pontos de decolagem e pou- dos os sistemas reais do navio, em si- de”, com procedimentos especiais para isso mesmo, cada membro tem que ser nós. O alcance a 15 nós é de 11.000 mi-
Possui também dois conveses com so. O maior espaço interno também se tuações simuladas continuamente: resíduos, sistema de produção de água multitarefa. “É um navio multipropó- lhas náuticas.
área total de 2.650m2 e capacidade de reflete em acomodações mais confortá- enquanto no navio-escola brasileiro por osmose e propulsão diesel-elétrica, sito com uma tripulação multipropósi- Goutay também citou que, recente-
levar até 110 veículos blindados ou 13 veis para tripulantes e soldados (há são realizadas 3 aulas de simulação a com melhor eficiência em relação às to”, disse Goutay. mente, outro navio da classe manteve-
carros de combate, e uma doca alagá- até uma academia de ginástica de cada cinco dias de viagem, no Dixmude emissões de gases poluentes, repre- Quanto a diferenças técnicas em -se em operação contínua no Mediter-
vel que pode abrigar até 4 embarcações 200m2) e, principalmente, num ponto- relação aos dois outros da classe, de- râneo por 65 dias, repleto de tropas e
de desembarque (LCU) de menor por- -chave: adaptabilidade. Como citado correntes da experiência operacional, equipamentos, com apenas um reabas-
te ou duas do tipo catamarã (LCAT) de acima, a classe “Mistral” tem capaci- o comandante citou apenas três: os vi- tecimento. Para o comandante, esse é
maior porte (ou combinação dos dois dade de comando operacional, e para dros do passadiço superior (tijupá) são um dos exemplos do que a Marinha
modelos, como foi o caso desta comis- isso foi reservada uma área modular maiores, há dois “bow thrusters” ao Francesa está aprendendo com essa
são). Também pode operar com duas de 850m2, com instalações “plug and invés de um, ampliando a manobrabi- classe, que traz consigo várias mudan-
LCAC, que são veículos de colchão de play” para 200 estações de trabalho. lidade em portos e a capacidade de ças de cultura.
ar (hovercraft), do mesmo porte das Mas ela não serve “só” para isso. manter o navio em posição estática
LCAT. As acomodações para tropa (em Para a missão “Jeanne d’Arc”, essa mesmo com fortes concorrentes marí- Conhecendo o ‘Dixmude’ de proa a
cabines para até 6 camas e banheiro área foi reconfigurada, abrigando sa- timas e ventos, além do fato dos três popa, de alto a baixo, e ao longo de
privativo) permitem transportar 450 las de aula – e as divisórias, mobiliário motores diesel que movem os gerado- três dias de embarque
soldados em missões de longa duração, e equipamentos instalados deverão ser res elétricos agora serem MAN ao in- Após toda essa explicação acima,
ou até 900, se necessário. Conforme a retirados na volta à França, para que o vés de Wärtsilä. que justifica o porquê de termos cha-
combinação de embarcações, é possível Dixmude fique disponível a outras Já quanto a mudanças na cultura mado o Dixmude de “professor” de
desdobrar todas as tropas e veículos missões operacionais, prevendo-se que operacional dessa classe de “navios uma nova Marinha Francesa multita-
transportados em menos de duas ho- outro BPC realize a viagem de instru- elétricos”, o comandante destacou não refa, é mais do que hora de você “em-
ras. Ainda falando em números, a clas- ção no ano que vem. Foi numa das sa- só a capacidade de manobra conferida barcar” com a gente para ver, em deta-
se também é dotada de um hospital las dessa área que assistimos a um pelos “pods” (“propulsion orientable lhes, os vários compartimentos que
com 750m2, onde cabem 69 leitos e “briefing” sobre a missão de treina- drives” - naceles orientáveis com moto- conhecemos do navio e “participar” co-
duas salas de cirurgia. mento. Ao mesmo tempo víamos ao QQ Posto de pilotagem res elétricos) e “bow thrusters” (em- nosco das missões que presenciamos
Mas nem todos os números são su- lado, através de uma porta envidraça- no passadiço purradores laterais), mas também a ao longo de três dias. Mas, ao invés de
periores aos da classe “Foudre”: o es- da, alguns alunos em aula. aceleração para um navio desse porte tratar primeiro de uma coisa (o inte-

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Fernando De Martini
Naval da MB e os diversos preparati- estão no ar, elas são presas ao teto. As
QQ Placa de localização da cabine vos no convoo do navio. janelas têm ampla visão para controlar
e plano de evacuação. Neste as operações aéreas e é nesse local que
desenho percebe-se o esquema Acompanhando as primeiras retirávamos os equipamentos obrigató-
geral da divisão interna do navio decolagens de helicópteros, no rios para trabalhar no convoo: capacete,
tijupá / passadiço superior protetores auriculares e coletes. O ofi-
Um nível abaixo, está o passadiço cial brasileiro a bordo vem cumprindo
superior ou tijupá, utilizado tanto pelos frequentemente quartos de serviço ali,
tripulantes que cumprem quartos de vi- assim como no Centro de Operações.
gia, quanto pela equipe de um almiran-
te que esteja no comando da missão. Ou Acompanhando a navegação rumo
mesmo por jornalistas, no nosso caso. à Baía de Sepetiba, no passadiço
No Dixmude, as janelas são maiores que No mesmo nível, só que na parte de
as de outros navios da classe, como já vante da ilha, está o passadiço (de onde
explicamos, e lá dentro percebe-se que o navio é navegado - fotos na página
essa mudança foi uma boa decisão: a vi- 77). Bastante amplo, apresenta tam-
são da navegação e das operações na bém as tradicionais projeções (asas)
parte anterior do convoo é excelente. Há que ultrapassam as laterais da ilha: a
duas cadeiras junto a telas repetidoras de bombordo oferece boa visão do con-
do radar de navegação, e há mostrado- voo abaixo, e a de boreste facilita bas-
res para dados como velocidade e vento. tante a visão desse bordo nas manobras
Várias vezes pudemos visitar essa área, de atracação. Chama a atenção o posto
nas pausas entre as atividades mais in- do piloto, com o reduzido timão e as te-
tensivas da missão. Há elevadores que las que mostram a posição dos “pods”
servem a ilha (exclusivos para oficiais e azimutais. Pode-se reparar também
subalternos), além das largas escadas nas outras telas com indicação dos ra-
que atendem a todos os conveses de dares de navegação. Contamos não
rior do navio) e depois de outra (as perca pelos corredores do Dixmude. Mas cima a baixo do navio. mais do que seis tripulantes em serviço
missões), propomos fazer tudo isso de os eventos principais, como as navega- e, na ocasião dessa nossa visita, o co-
uma só vez. Vamos visitar cada parte ções e operações, estão na sequência de No passadiço de controle de mandante Goutay estava em seu bem
do navio de uma forma que você já en- nossas experiências nesses três dias de aeronaves, recebendo equipamento aparelhado posto.
tenda o que estava acontecendo em embarque. Boa visita! para visitar o convoo
cada momento, em cada foto, seguindo À ré da ilha (foto na página 76), essa No convés 5, onde estão os
um caminho dado pela própria divisão No alto da ‘ilha’, deixando a Baía área controla toda a movimentação das refeitórios, bar dos oficiais,
interna do Dixmude. de Guanabara aeronaves no convoo, além de suas posi- hospital e camarote do comandante
Numa divisão marcada pelo final Antes de chegar a esta posição privi- ções nos hangares e elevadores – para Começamos nossa descida ao longo
da “ilha”, como você pode perceber na legiada para acompanhar a saída da isso, são utilizadas representações mag- do casco da metade anterior do navio,
imagem acima, o espaço interno da Baía de Guanabara, tivemos que ma- néticas dos helicópteros sobre uma a mais “humana”. O convés 5 é o se-
metade anterior de um BPC é basica- drugar para o embarque marcado para mesa metálica e, quando os originais gundo nível abaixo do convoo, e corres-
mente dedicado ao elemento humano: as seis da manhã de 11 de junho – exa- Alexandre Galante
alojamentos, refeitórios, hospital, área tamente a Data Magna da Marinha do
modular para comando e controle, Brasil – e recebemos instruções de nos-
além dos espaços operacionais da ilha. sos anfitriões franceses no refeitório
Da metade para a popa, ficam o han- (foto na página ao lado) enquanto tomá-
gar, elevadores de aeronaves, os dois vamos café da manhã. Às sete horas, o
conveses de veículos, a doca e o siste- navio deixou o cais onde atracam os na-
ma de propulsão. vios de cruzeiro no porto do Rio de Ja-
Vamos fazer um percurso mais ou neiro. Já fora da baía, um belo céu azul
menos em “U” pelo navio, saindo do alto ajudava a destacar tanto a paisagem
de sua ilha, por ela descendo até chegar carioca quanto os radares e antenas di-
ao casco e seus diversos corredores e versas posicionados na ilha do Dixmude.
compartimentos anteriores. Já nos con- Não é permitido ficar muito tempo
veses inferiores, partiremos em direção próximo aos radares, devido à incidên-
à popa, passando pela praça de máqui- cia de microondas, mas entre os mas-
nas e por um dos “braços” que envolvem tros há uma área livre com vista privi-
a doca, e que contém mais sistemas liga- legiada para ver todo o convoo (na foto
dos a energia e propulsão. Aproveitando da página de abertura, pode-se ver
que já estaremos ali, vamos sair pela claramente essa área da ilha). Nos
própria doca em uma missão anfíbia, mastros e próximo a eles, estão as an-
para depois, na volta, subirmos pelo tenas do sistema de comunicação por QQ O editor Fernando De Martini
hangar rumo ao convoo, de onde deixa- satélite com capacidade de 8 MBits/s, no tijupá do Dixmude observando
remos o navio ao final da missão. Alte- dois radares de navegação e um radar a orla de Copacabana na saída do
ramos apenas a ordem cronológica de tridimensional de busca aérea. Lá de Rio de Janeiro
um ou outro evento (como a visita à pra- cima, acompanhamos a aproximação QQ Nas fotos do alto e do meio, o bar dos oficiais com máquina de café. Na última
ça de máquinas) para que você não se de um UH-14 Super Puma da Aviação foto, o refeitório dos oficiais no convés 5

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Fotos: Fernando De Martini
ponde, na metade posterior, ao piso do conjuntas de helicópteros, com possi-
hangar das aeronaves (que tem dois bilidade de embarque dos jornalistas
QQ Camarote do conveses de altura). Várias vezes por numa das aeronaves. Mas, apesar das
comandante no dia estávamos por lá, pois nele ficam excelentes condições meteorológicas
convés 5 os refeitórios e o bastante frequentado do início da manhã, a chegada de uma
bar dos oficiais, ponto de encontro e de frente fria no meio do dia impediu
troca de experiências, num ambiente essa programação inicial. Mas ainda
mais acolhedor, com os militares fran- havia muitos compartimentos do na-
ceses e brasileiros a bordo – oficiais da vio para conhecer e aproveitar o tem-
MB estavam avaliando o navio nesta po disponível.
etapa da missão, além da equipe do
helicóptero brasileiro embarcado. No convés 3, o nosso alojamento
As imagens são do ambiente vazio. entre os corredores ‘mercantes’
Como se trata de um local de relaxa- do navio
mento, pede-se que não sejam fotogra- O convés 3, na parte anterior do
fados os seus frequentadores. Mas fa- navio, é praticamente um grande “dor- QQ Vista geral do Centro de
lamos de refeitórios, então você pode mitório” (correspondendo na parte Operações de Combate
estar curioso sobre a comida a bordo. É posterior à área superior da doca ala- (COC)
boa, embora jornalistas mais famintos gável), com dezenas e dezenas de cabi-
tenham reclamado das pequenas por- nes. Estávamos numa cabine destina-
ções “francesas” – mas nada que os da a ocupantes com patente de oficial,
onipresentes pães (baguetes) e man- com duas camas, três bons armários,
teigas de qualidade não resolvessem. cadeira e mesa com tomadas de ener-
Bem ao lado está o camarote do co- gia. Em toda essa área “humana” de
mandante. Duas alabardas “guardam” um BPC, ficam claros os padrões mer-
a porta e a placa dedicada aos nomes cantes do projeto, com grandes áreas
dos comandantes, com apenas uma li- livres. Se o chão tivesse carpete e os
nha preenchida, atesta a pouca idade revestimentos das paredes fossem
do navio. É no convés 5 que também se mais luxuosos, daria para confundir o
localizam alguns camarotes “VIP” e a ambiente com um navio de cruzeiro.
grande área do hospital, de 750m2. Por um lado, essa linha de projeto
diminui a compartimentação (embora
Descendo para o COC e a área a maior parte dessas áreas esteja bem
modular para comando, alta em relação à linha d’água) mas,
transformada em salas de aula, por outro lado, barateia os custos e
no convés 4 permite maior flexibilidade e modula-
A parte anterior do convés 4 (que ridade na ocupação dos espaços – por
na popa corresponde à área de estacio- exemplo, cada banheiro privativo é um
namento de veículos) tem metade de módulo completo. Os corredores são
sua área ocupada por alojamentos e a amplos e os “poços” das escadas, pro-
outra metade dividida em vários “bi- fundos. Mas os espaços são confortá-
rôs” (bureaus). O maior deles (bureau veis e as grandes áreas livres formam QQ Consoles do COC
1) é o grande espaço modular destina- pontos de reunião bastante funcionais
do a funções de comando e controle de e de grande capacidade. Isso ficou cla-
QQ Cabine para oficiais forças anfíbias / forças tarefas (que ro na manhã seguinte, quando uma

Alexandre Galante
no convés 3 nesta missão, como mostramos, foi dessas áreas, vazia na noite anterior, QQ Um dos imensos
corredores do Dixmude.
adaptado para salas de aula). Entre os estava repleta de fuzileiros navais
É fácil se perder no navio
diversos birôs menores, está o Centro brasileiros aguardando o momento de
de Operações de Combate, designado seguir para a doca, para onde pude-
no navio apenas como Centro de Ope- ram se deslocar rapidamente. Mas isso
rações (CO). Pudemos ver os consoles é um assunto para logo mais.
do sistema de combate instalado no
navio, o Senit 9-L11 (L16) que, como Conhecendo a geração de energia
indica a própria designação, comuni- e a propulsão do Dixmude, no
ca-se com os links 11 (mais antigo) e longo caminho da praça de
16 (mais novo) da OTAN. Vários con- máquinas até a popa
soles estavam desguarnecidos na oca- Hora de descer para além do con-
sião, mas são frequentemente ocupa- vés 1 e conhecer a praça de máquinas.
dos pelos alunos em simulações. Os ambientes silenciosos e onde se
E, falando em simulações, logo ao percebe a força do ar-condicionado fi-
lado tivemos um “briefing” sobre toda caram para cima. O coração do navio é
a “Passex” e os exercícios envolvidos. barulhento e mais quente, mesmo com
Para aquele primeiro dia (11), duran- apenas dois dos três motores diesel
te a navegação até a Baía de Sepeti- MAN de 12 cilindros em funcionamen-
ba, estavam programadas manobras to na praça de máquinas. Normalmen-

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REPORTAGEM
Fotos: Fernando De Martini
QQ Os três motores diesel MAN de 12 cilindros, te apenas dois motores são necessários
instalados lado a lado longitudinalmente, vistos para gerar a energia para a propulsão
de um bordo a outro. No compartimento ao e os sistemas, enquanto o terceiro fica
fundo, está um dos sistemas que acionam os liberado para sofrer qualquer manu-
estabilizadores laterais
tenção necessária. É até possível ope-
rar com apenas um, conforme a situa-
ção. Os três motores são conectados a
três grandes geradores elétricos, e a
potência combinada da propulsão die-
sel-elétrica é de 14MW. Nos dois bor-
dos da praça de máquinas, ao lado dos
motores diesel, estão os sistemas
Rolls-Royce que acionam os estabiliza-
dores laterais do navio.

Nos corredores ‘militares’, a


caminho do POD de boreste
A partir da praça de máquinas, se-
guimos por boreste em direção à popa,
contornando a doca. É onde temos a
sensação de estar num navio de guer-
ra, com compartimentos separados por
portas estanques (mantidas fechadas)
e corredores mais estreitos – afinal, es-
tamos abaixo da linha d’água. Para
abrir as portas, é preciso segurar con-
tinuamente uma alavanca: soltá-la ou
deixar a porta aberta aciona um alar-
me. O primeiro compartimento abriga
diversos transformadores e sistemas
de controle de energia.
Passamos por mais portas em um
corredor que literalmente “cheira a
tinta”, atestando a construção ainda
recente do Dixmude, e chegamos ao fi-
nal do braço boreste de popa. No piso
está fixado o “pod” (nacele que abriga o
propulsor elétrico) desse bordo. Pode-
-se ver o formato do casco nos bordos e,
alguns passos adiante, dá para tocar a
parte interna da chapa da popa. Bem
ao lado do “pod”, há um controle de
QQ No detalhe, o sistema de emergência, comandando apenas essa
controle de emergência do POD unidade (lembrando que entre este e o
de boreste, cuja instalação é outro bordo há a separação física da
vista abaixo doca). Na ocasião da visita, o mostra- QQ Ampla área de reunião repleta de fuzileiros navais na foto do alto, e vazia na foto
dor marcava apenas 0,2 nós, pois a de baixo, como costuma ficar na maior parte do tempo. Reparar nas largas escadas
propulsão era usada apenas para
manter o navio na mesma posição, trilhos amarelos de guindastes que le- bramos o cenário do exercício: num
dentro da Baía de Sepetiba. vam cargas pesadas diretamente para país estrangeiro vivendo uma crise
as embarcações docadas. Na rampa, institucional, é necessário resgatar e
Com embarcações e veículos se um dos três CLAnfs embarcados no na- evacuar cidadãos do nosso país, em
movimentando na doca, é hora do vio, já com fuzileiros no interior, mano- situação de reféns, usando helicópte-
desembarque anfíbio bra para dentro de uma LCU. O oficial ros. Enquanto isso, tropas desembar-
Já que estamos próximos à doca, va- francês que nos acompanha elogia a cadas na praia asseguram a situação
mos começar a subir os conveses e nos habilidade do motorista, após também em terra. Problemas nos equipamen-
transportar para a manhã do dia 12, descermos a rampa para a mesma tos são simulados para testar a rea-
quando começou a principal operação do LCU, junto com mais fuzileiros brasi- ção dos militares, assim como emer-
Dixmude na “Passex”, um exercício de leiros e militares franceses (fotos nas gências médicas e situações como
desembarque anfíbio. A frente fria pas- próximas páginas). estrangeiros querendo também ser
sou durante a madrugada e as condições evacuados.
meteorológicas estavam perfeitas. Na LCU francesa (ida) e o A pequena praia já está sinalizada
Uma porta lateral de carga, semi- desembarque na Marambaia por mergulhadores de combate que de-
-aberta, ajuda a dissipar a fumaça dos Deixando a doca e aproveitando as sembarcaram antes. No caminho, cru-
motores diesel. No alto, destacam-se os manobras para fotos do navio, relem- zamos com outra LCU, a LCAT e uma
QQ Acionamento de uma
82 Forças de Defesa
das portas estanques www.naval.com.br www.naval.com.br Forças de Defesa 83
PODER NAVAL REPORTAGEM
Fotos: Alexandre Galante
QQ CLAnfs do CFN
manobrando para embarcar
nas LCU

QQ LCU francesa se preparando para


receber um CLANF brasileiro

EDCG (embarcação de desembarque de meios próprios, chega à praia e logo alimentos para um dia inteiro de um antes de conseguir entrar, e uma sono- amplo espaço disponível para até 16 pamento padrão), antenas de contra-
carga geral) da MB (fotos nas próximas desaparece por entre as árvores para soldado em campo. ra colisão também deixou sua pequena helicópteros médios. Apenas cinco vie- medidas eletrônicas e pontos de
páginas). Os helicópteros Puma fran- cumprir sua parte na missão. A LCAT Voltamos na EDCG brasileira, a marca no mesmo lugar “inaugurado” ram da França com o Dixmude, o sufi- conexão de lançadores de chaff e fla-
ceses e o Super Puma brasileiro dei- também faz sua abicagem, destacan- Camboriú. Bem maior que a LCU pela nossa EDCG. Assim, o Dixmude ciente para os treinamentos da viagem res. Nos Gazelle, chamava a atenção
xam o convoo do Dixmude, escoltados do-se pelo seu grande porte. A “nossa” francesa, ela leva boa parte dos nossos ganhou duas singelas “lembranças” da de instrução: dois SA330B Puma (mé- os compartimentos de câmeras sobre a
pelos Gazelle de reconhecimento e ata- LCU, que havia deixado a área, volta fuzileiros navais. Na hora de entrar na Marambaia em sua popa, uma brasi- dio, de transporte) e dois SA342M cabine e os trilhos lançadores de fo-
que (mais à frente, falaremos dos heli- com o CLANF em pane. O CLANF que doca do Dixmude, uma forte corrente leira e outra francesa. Gazelle (de reconhecimento e ataque) guetes.
cópteros embarcados). No desembar- vimos chegar há pouco volta à praia, marítima prejudicava a manobra. Só do Exército Francês, além de um No hangar também foi abrigado o
que na praia, presenciamos uma pane entra na LCU de ré e conecta-se com o na segunda tentativa foi possível en- No hangar de helicópteros, em Alouette III da Aviação Naval France- UH-14 Super Puma N-7070 do Esqua-
no CLANF, que não pode deixar a outro, que dá a partida e ambos dei- trar, não sem antes deixar uma peque- meio à rotina diurna e noturna sa, que cumpre a função de “Pedro” drão HU-2 da Marinha do Brasil, des-
LCU. Simulação? Pane real? O que im- xam a praia rumo a seus objetivos em na marca de colisão na popa, a boreste, dos elevadores (guarda das operações aéreas, para re- tacando-se pelo seu maior porte e equi-
porta é resolver. É para isso que ser- terra. Enquanto isso, os helicópteros arrancando também algumas tábuas Na última manhã (dia 13) acompa- alização de salvamento em caso de aci- pamentos navais (como os flutuadores).
vem os exercícios. vêm e vão, fazendo o transporte dos re- protetoras da parte interna da doca. nhamos diversas decolagens, passa- dente). Presenciamos a operação constante,
féns para o navio. Missão cumprida. Já no navio, observamos da área da gens e pousos dos helicópteros embar- Entre os equipamentos de cada diurna e noturna, dos dois elevadores
Acompanhando as operações dos Na área do CADIM (Centro de Ades- doca a grande LCAT francesa sofrer os cados. Mas, para conhecê-los em Puma, vimos tanques de combustível (um à popa, outro a boreste, atrás da
CLAnfs e voltando à doca na tramento da Ilha da Marambaia) é mesmos contratempos, apesar de sua detalhe, o melhor lugar é o hangar, sobressalentes, contêineres de balsas ilha). À noite, o hangar é iluminado
EDCG brasileira hora de almoçar a ração de combate propulsão mais moderna, por “water- acima da doca e da área de estaciona- salva-vidas (como se trata de um heli- apenas por luzes vermelhas quando o
Outro CLANF, navegando por francesa, transportada em caixas com jets”. Foram mais de duas tentativas mento de veículos. As fotos mostram o cóptero do Exército, elas não são equi- elevador é baixado.
Fernando De Martini

QQ Helicóptero Puma
sendo recolhido ao
hangar pelo elevador
lateral

QQ CLANF do Corpo de
Fuzileiros Navais (CFN)
embarcando na LCU
francesa QQ Vista geral do
84 Forças de Defesa www.naval.com.br www.naval.com.br
hangar de aeronaves Forças de Defesa 85
PODER NAVAL REPORTAGEM
Alexandre Galante

QQ O Dixmude visto da LCU,


logo após deixarmos a doca

Fotos: Fernando De Martini


QQ Na foto do alto, EDCG
brasileira participando das
operações. Abaixo, chegada da LCU
francesa a praia na Marambaia

QQ Movimentação de LCUs e
helicópteros no desembarque

QQ Outro CLANF chega à praia

86 Forças de Defesa www.naval.com.br www.naval.com.br Forças de Defesa 87


REPORTAGEM
Fernando De Martini

QQ LCAT deixando a praia


Fernando De Martini

Alexandre Galante

QQ CLANF do CFN
deixa a LCU

Operações de helicópteros no Alexandre Galante


QQ A Georges Leygues sendo
convoo e postos de metralhadoras reabastecida pelo navio-tanque
e lançadores de mísseis Almirante Gastão Motta
Se você pegou seus equipamentos
de proteção no passadiço de controle de
aeronaves (já mostramos o caminho),
então pode subir conosco à última para-
da dessa visita ao Dixmude, o convoo. O
movimento das equipes do grupo aéreo
embarcado, com especialidades dife-
renciadas pelas cores de seus coletes e
uniformes, não para. Naquela manhã,
todos os helicópteros decolaram quase
juntos. Uma sequência que durou pou-
cos minutos graças aos seis pontos do QQ Na volta do BPC Dixmude,
convoo, com espaçamento que permite fotografamos o NDD Rio de Janeiro na
acionar rotores simultaneamente (fotos antevéspera de sua baixa do serviço ativo
nas próximas páginas). da Marinha do Brasil
Após observar todas as decolagens
numa posição próxima à ilha, segui-
mos para uma das estações de arma-
mentos de autodefesa, localizadas nos
quatro extremos do navio, em recortes
do convés de voo. Distribuídas entre as aeronaves, deixamos o navio para o ameaça submarina, exercícios de tiro Na aproximação da Base Naval do compete à Marinha do Brasil e ao Mi- te, há uma decisão complexa porém
estações, estão duas metralhadoras de traslado de volta ao Rio de Janeiro a antiaéreo, trânsito sob ameaça de su- Rio de Janeiro, a visão de um NDD nistério da Defesa. Mesmo porque, as- inescapável, esperando por uma mari-
20mm, quatro de 12,7mm e dois lança- bordo de um helicóptero Puma, com perfície, tiros de superfície com ar- sendo preparado para sua Mostra sim como a classe “Mistral”, há outros nha que, com a perspectiva de baixa de
dores SIMBAD para mísseis Mistral tempo de voo reservado também para mamento de tudo, e reabastecimento de Desarmamento projetos no mercado, desde navios de vários navios, tem “multiprioridades”
de defesa de ponto. Foi na posição uma “Photex” de todos os navios em- no mar sob ameaça aérea. Dois dias depois desta foto tirada convés corrido similares até outros urgentes a resolver. Mas também tem
dianteira de boreste que acompanha- pregados na “Passex”. Nosso voo permitiu fotografar o sobre a Base Naval, o navio de desem- mais próximos, em porte e capacidade, “multinecessidades” a cumprir.
mos a passagem em formação dos Vale lembrar que a comissão en- Dixmude e suas manobras por vários barque-doca Rio de Janeiro  (G31) se- ao nosso NDD restante. Mas uma coi-
Puma, Gazelle e Super Puma, com o volveu muito mais do que os desem- ângulos, assim como o reabasteci- ria desincorporado oficialmente. Ter sa é certa: pudemos mostrar aos nos- Agradecimentos
Allouette acompanhando de perto. barques a partir do Dixmude: desde o mento da Georges Leygues pelo G23 vivenciado poucos dias antes a rotina sos leitores uma das opções que tor- Agradecemos a Philippe Missoffe
dia anterior a Georges Leygues, em sob a escolta da F40 e F46, tudo com de um BPC moderno, multitarefa, cer- nam concreto, na forma de um navio, o da DCNS e especialmente à tenente
No Puma do Exército Francês, conjunto com as fragatas Niterói um belíssimo mar azul de fundo. O tamente nos levou à reflexão: seria um sentido de palavras como “multitare- (enseigne de 1re classe) Marine Monjar-
deixando o ‘Dixmude’ em meio às (F40) e Greenhalgh (F46) da MB, piloto realizou todas as manobras navio com as características do Dix- fa” ou “propósitos múltiplos”, estas úl- de e ao aspirante (aspirant) Pierre
manobras com a MB além do navio-tanque Almirante que solicitamos no “briefing”, propor- mude o substituto ideal para ele e seu timas constantes na definição de na- Gladieux da Marinha Francesa, que
Pontualmente às 15h do dia 13, Gastão Motta (G23), tiveram na pro- cionando bons posicionamentos para irmão Ceará (G30), ainda ativo? vios pretendidos em nossa Estratégia nos acompanharam com muita eficiên-
após um “briefing” com os pilotos das gramação manobras de trânsito sob as fotos. É uma resposta que certamente Nacional de Defesa (END). Pela fren- cia na missão. q

88 Forças de Defesa www.aereo.jor.br www.aereo.jor.br Forças de Defesa 89


PODER NAVAL REPORTAGEM
QQ Dois membros de equipes
diferentes do convoo no Dixmude
QQ Super Puma brasileiro
decolando enquanto dois Puma
franceses aguardam
Fotos: Alexandre Galante

QQ Super Puma do Esquadrão HU-2


operando no Dixmude

QQ À esquerda, um Alouette no elevador


lateral. Abaixo, um Gazelle levanta voo

Fernando De Martini
QQ Formação de helicópteros se
aproxima do Dixmude

90 Forças de Defesa www.naval.com.br


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www.naval.com.br Forças de
Forças de Defesa
Defesa 91
91
FORÇAS TERRESTRES EXPOSIÇÃO

Eurosatory 2012
Uma perspectiva francesa Fotos: Jean François Auran
QQ Jean François Auran
jfauran@hotmail.com
QQ Demonstração ao vivo

A
durante a exposição: UAV
exposição Eurosatory tem uma Infotron com soldados do
história que remonta a 1967, 2 o°RIMA
quando um primeiro salão foi
organizado pela Direção Geral de Ar-
mamento (DGA) francesa no campo
militar de Satory, próximo a Versail-
les. Desse primeiro evento participa-
ram trinta expositores, e o salão conti-
nuou a ser organizado por vários anos
sucessivos.
A edição de 1992 marcou um ponto
de virada, quando o salão se tornou
europeu e ganhou o nome “Eurosatory
- Exposição Europeia de Equipamento
de Defesa”. O evento mudou-se para o
Centro de Exposições de Bourget, mas
manteve a referência ao seu nasci-
mento em Satory. Em 1994, os Esta-
dos Unidos exibiram pela primeira vez
e, em 1996, o evento tornou-se total-
mente mundial, com a chegada das QQ UAV HoverEye EX
indústrias russas.
Refletindo a ampliação do alcance,
em 2000 o salão tornou-se “Exposição
Internacional da Defesa Terrestre e de
Defesa Aérea.” A edição de 2002 foi a
primeira a ser realizada no Parque de
Exposições Paris-Nord Villepinte.
Desde então, as edições seguintes in-
corporaram novas dimensões, ganhan-
do cada vez mais notoriedade.
Esta edição de 2012, a 23ª a ser re-
alizada, ocorreu entre 11 e 15 de ju-
nho, com a participação de 54 países e
com nada menos do que 1.430 exposi-
tores, sendo 407 franceses. Mais de
50.000 pessoas visitaram a exposição
deste ano.
Como novidades de 2012, destacam- QQ Ponte Modular de Assalto QQ Ambulância tática
-se temas como segurança do ciber- PTA MLC 80 - CNIM Oshkosh Defense M-ATV
espaço, com a organização do seu pri-
meiro fórum, assim como a chegada de
empresas expositoras de três novos pa-
íses, Paquistão, Chipre e Líbia, mos-
trando armas, veículos e muito mais.

Tendências
A exposição continua a crescer em
expositores e visitantes, mas sofre
com o difícil contexto da crise euro-
92 Forças de Defesa www.forte.jor.br www.forte.jor.br Forças de Defesa 93
FORÇAS TERRESTRES EXPOSIÇÃO
Fotos: Jean François Auran
peia. Do ponto de vista técnico, acen-
tua-se cada vez mais a presença de
QQ Leopard 2 A6M CAN
exposições de tecnologia de ponta, seja QQ MBT Oplot ucraniano
em qualidade ou em quantidade. Isso
fica claro nas mostras de blindados,
aeronaves remotamente pilotadas
(drones) e sistemas C4I (Comando,
Controle, Comunicações, Computado-
res e Inteligência).
Há vários anos, os conflitos do Ira-
que e do Afeganistão vêm influencian-
do os tipos de materiais de defesa ex-
postos. Entre os esforços de
investigação e desenvolvimento, há
um foco em sistemas defensivos, indi-
cando prioridades como a detecção de
dispositivos explosivos improvisados
e a proteção de helicópteros contra ar-
mas leves.
Como consequência direta do difí-
cil ambiente econômico, muitas em-
presas oferecem a renovação de equi-
pamentos já usados. Um exemplo é a
Rheinmetall Defesa, que desenvolve
evoluções do Leopard 2 e do IFV
QQ KMW Dingo 2 Marder. O grupo francês SOFEMA
oferece a modernização de veículos
Panhard antigos, além de carros de
combate.
Falando em carros de combate, tan-
to estes quanto os veículos de combate
de infantaria (IFV) e os veículos blin-
dados deverão continuar formando a
espinha dorsal das forças terrestres
Novidades francesas QQ Nas duas fotos, o Sherpa
modernas.
special forces 4x4
Foi pensando nisso que a Agência
Europeia de Defesa (EDA) contratou Ministério da Defesa
um consórcio de 17 empresas, com o O Ministério da Defesa francês
objetivo de realizar um estudo sobre as aproveitou o evento para revelar ino-
principais capacidades industriais que vações. A primeira foi o exoesqueleto
se deseja manter na área de armamen- Hercules, da empresa RB3D. Com pre-
to terrestre. Esse estudo sobre siste- visão de comercialização em 2014 e
mas futuros deverá desenvolver um aplicações civis e militares, ele permi-
“roteiro” (roadmap) e um “plano de im- te que uma pessoa suporte até 100 kg.
plementação” das capacidades indus- A segunda inovação apresentada
triais. Também deverá identificar os foi a câmera portátil Millicam 90, que
sistemas de inovação existentes e as usa ondas de rádio para visualizar
estratégias para manter e desenvolver através de paredes. Voltada à segu-
essas capacidades. rança de aeroportos, alfândegas e ou-
tros locais, a Millicam 90 é um projeto
Brasil da sociedade Technologies MC2, como
parte de um contrato de pesquisa e
VBTP-MR Guarani inovações exploratórias com a DGA.
O general James Mayer Sinclair, A terceira é da área médica: um
do Departamento de Ciência e Tecno- plasma liofilizado que pode ser recons-
logia do Exército Brasileiro, apresen- tituído em 3 minutos, gerando uma
tou o primeiro exemplar produzido, de economia de tempo de 20 minutos em
um total de dezesseis da fase de pré- relação ao plasma congelado - um tem-
-produção, da VBTP-MR Guarani po precioso que pode salvar vidas. O
(Viatura Blindada de Transporte de plasma é universal e pode ser usado
Pessoal - Média de Rodas). Também em caso de choque hemorrágico grave,
foi anunciada uma nova versão para ajudando a manter um ferido vivo até
as unidades de Cavalaria do Brasil. que possa ser levado a um hospital.

94 Forças de Defesa QQ Panhard Sphinx com torre www.forte.jor.br www.forte.jor.br Forças de Defesa 95
Lockheed Martin
FORÇAS TERRESTRES EXPOSIÇÃO
Fotos: Jean François Auran
Panhard / Renault Trucks Defense Rapidfire
QQ A mais recente
versão do VAB, o
Ultima, equipado com A Panhard General Defense apre- No campo da defesa antiaérea, a
Slate (sistema acústico sentou seu blindado Sphynx (Secret Thales revelou o Rapidfire, um novo
de localização de sniper) Project for High Intensity and New sistema combinado de canhão e mís-
conflicts ) com um modelo da torre seis. O Rapdifire integra um multisen-
Lockheed Martin CT40, equipada com sor optrônico estabilizado e um canhão
um novo canhão de 40mm. de 40mm desenvolvido pela CTAI.
Nenhum país ainda utiliza o ca-
nhão 40 CTA, que foi desenvolvido
pelo Reino Unido e a França de forma Helicópteros
separada, porém sob a coordenação da
empresa CTA Internacional, subsidiá-
A Eurocopter apresentou seu últi-
ria da BAE Systems e Nexter. Ainda
mo helicóptero de ataque, o EC-645T2.
sobre a Panhard, foi revelada uma ne-
Trata-se de uma versão militarizada
gociação em curso, visando fundi-la
do EC145, da classe 3,5 toneladas,
com a Renault Trucks Defense.
equipada com um computador de mis-
são e um sistema de observação eletro- QQ BMPT Terminator da Uralsk KB, construído inicialmente
-óptico composto de uma câmera infra- sobre o chassi de um T-72. No futuro, o chassi será do T-90
Nexter
vermelha e telêmetro laser. O
EC-645T2 tem uma grande capacida-
A Nexter expandiu a sua gama de de fogo com duas estações para mís-
QQ Iveco MPV/VTMM 4X4
QQ VAB MK3: VBCI (veículo blindado de combate de seis, foguetes e outras armas.
cooperação Renault infantaria) com o desenvolvimento de
Trucks Defense-Thales um kit para evacuação médica (CASE- Produtos de outros
VAC). O kit pode ser instalado em me- países
nos de 4 horas sobre qualquer VBCI e
permite a evacuação de quatro feridos.
Inclui duas macas e materiais de pri- Estados Unidos
meiros socorros.
O Pavilhão dos EUA foi um dos
O VAB Mark 3 maiores da Eurosatory 2012, com mais
de 90 empresas. As exposições incluí-
ram a nova ambulância tática Oshkosh
Mantendo a aparência de seus an- M-ATV, que foi demonstrada em ação
tecessores, o VAB Mark 3 é muito mais na parte externa.
impressionante. Afinal, essa viatura Soldados do JMRC (Joint Multi-
6x6 pesa 20 toneladas, contra 13 do national Readiness Center – centro de
VAB clássico (Véhicule de l’Avant Blin- preparação conjunta multinacional), do
dé ou veículo de vanguarda blindado). 2nd Cavalry Regiment e da 16th
Seu motor é um Renault de 320-400 Sustainment Brigade fizeram diversas
HP e a transmissão é automática. Ofe- demonstrações dos equipamentos em
rece proteção balística de nível 4 e sua exibição.
rampa traseira facilita o embarque e
QQ Demonstrador de
desembarque de sete soldados da in- Rússia QQ M1126 Stryker
Tecnologias XP2 da Nexter fantaria. Infantry Carrier Vehicle
Defence Quatorze empresas representaram
O VAB Ultima a indústria de armamentos da Rússia
nesta edição. Especialistas puderam
avaliar mais de 200 novos armamen-
A Renault Trucks Defense (RTD) tos e equipamentos militares russos.
apresentou a mais recente evolução do Um deles foi o caminhão blindado Ural
VAB em serviço no Exército Francês. para 12 passageiros, com alcance de
O veículo tem proteção ventral adicio- 1.800km e capacidade antiminas. Em
nal, bancos antiminas, proteções con- terrenos acidentados, ele chega a
tra RPGs (kit fabricado pela FlexFen- 50km/h.
ce Plasan) e torre com metralhadora Outros desenvolvimentos expostos
operada remotamente, conectada a um incluíram o carro de combate T-90S
detector de disparos. O fabricante modernizado, considerado um dos
anunciou que 32 exemplares dessas melhores do mercado mundial, e o ve-
viaturas deverão chegar ao Afeganis- ículo de apoio para blindados
tão em 2012. Terminator, que não tem equivalente

96 Forças de Defesa www.forte.jor.br www.forte.jor.br Forças de Defesa 97


FORÇAS TERRESTRES EXPOSIÇÃO
Fotos: Jean François Auran
no mundo. Outra estrela do salão foi o Polônia e Bélgica
sistema de mísseis antitanque QQ Protótipo do Panhard CRAB
(PTRK) Kornet-MS, baseado no veí-
culo blindado Tigr. A empresa polonesa Obrum criou
uma nova versão de sua versátil plata-
forma Anders. A versão exposta trazia a
Israel torre belga CMI (Cockerill Maintenance
& Ingénierie), equipada com um canhão
de 105mm. A arma pode disparar todas
Quantitativamente, a participação as munições desse calibre, além do pro-
de 53 empresas israelenses nesta edi- jétil guiado Falarik, da Ucrânia.
ção representou um recorde. Os desta-
ques das atividades israelenses em Conclusão
Defesa foram no campo da eletrônica,
proteção da força e defesa C-RAM Apesar do contexto econômico des-
(Counter Rocket, Artillery, and favorável, a edição 2012 da Eurosatory
Mortar - contra foguetes, artilharia e esteve repleta de novidades. A visita
morteiros). Nesta última área, a IAI aos expositores deixou claro também
está lançando uma variedade de siste- que a China e a Rússia estão se tor-
mas, incluindo o Rock Green, um siste- nando atores cada vez presentes no
QQ Panhard VBL 4x4 ma tático portátil e independente des- mercado de Defesa de elevado valor
tinado a interceptar essas ameaças do tecnológico.
campo de batalha. Outra forte impressão é de que esta
Outra solução apresentada no será a última edição com uma grande
evento foi o Black Granit. Trata-se de variedade de fabricantes europeus.
QQ Renault VAB com um sistema portátil e modular de ob- Isso porque está prevista uma nova
torre CPWS da CMI servação, para operações diurnas e no- onda de reestruturações, fusões e ab- QQ Panhard ERC 90 MK 2
Defense turnas, destinado a fornecer informa- sorções, como resposta à queda signifi-
ções às forças terrestres em cenários cativa de recursos destinados a pro-
difíceis. gramas militares. q

QQ Obuseiro autopropulsado
KMW PzH 2000 de 155 mm

QQ Porta-morteiro 120 mm Wiesel 2 da


empresa alemã MaK System GmbH
QQ Acmat APC Bastion Security 4x4

98 Forças de Defesa www.forte.jor.br www.forte.jor.br Forças de Defesa 99


FORÇAS TERRESTRES TECNOLOGIA

IVECO GUARANI 6X6 Ares Aeroespacial e Defesa

SURGEM OS
PRIMEIROS
QQ Expedito Carlos Stephani Bastos
defesa@ufjf.edu.br

O
s nossos primeiros veículos
Guarani 6x6 surgem no ano
em que se comemora o 91º
aniversário do emprego de blindados
no Brasil: foi em 1921 que o Exército
Brasileiro incorporou doze carros de
combate leves Renault FT-17 (adqui-
ridos na França em 1919 e recebidos
no Brasil em 1920), quando da criação
da Companhia de Carros de Assalto.
Os FT-17 eram frutos dos ensinamen-
tos da Primeira Guerra Mundial
(1914 - 1918), quando estes veículos
provaram que poderiam fazer a dife-
rença, principalmente na frente oci-
dental, acabando com o imobilismo e
dando proteção ao avanço da infanta-
ria. Daqueles doze blindados, seis
eram armados com canhão Puteaux
de 37mm e torre fundida Berliet, cin-
co com metralhadora Hothckiss 8mm
e torre octogonal rebitada Renault, e
um era TSF (Telegrafia Sem Fio), des-
provido de torre.
Nas décadas seguintes, emprega-
mos blindados de origem italiana,
norte-americana e alemã, além de
muitos exemplares nacionais produ- QQ VBTP-MR Guarani com a
zidos no ápice de nossa indústria, que torreta REMAX
se deu entre 1970 e 1990. Logo depois,
com o colapso dessa indústria, volta-
mos a importar blindados usados da
Europa e Estados Unidos - apesar de,
em alguns casos, haver projetos na-

100 Forças de Defesa www.forte.jor.br www.forte.jor.br Forças de Defesa 101


Arquivo UFJF/Defesa
Coleção do autor FORÇAS TERRESTRES TECNOLOGIA

DCT/Arquivo UFJF/Defesa
QQ Diagrama da
apresentação da Nova
Família de Blindados sobre
Rodas, mostrando a versão
8x8 inspirada no Centauro
Italiano, antes do mesmo
ser testado no país. O
documento ainda
apresentava a família 4x4

QQ Montagem da carcaça de um dos quatro veículos do lote piloto em novembro de


QQ Folder distribuído numa Exposição de equipamentos militares realizada na 2011. Esta imagem é representativa do que foi a montagem da carcaça do primeiro
ECEME, no Rio de Janeiro, em 2000. Um dos primeiros informes oficiais sobre o que protótipo, nos primeiros meses de 2010
era pretendido para a Nova Família de Blindados sobre Rodas, mencionando versões
4x4, 6x6 ou 8x8

DCT/Arquivo UFJF/Defesa
Foto do autor

QQ Apresentação do mock-up na escala 1:1 do futuro Guarani 6x6, no stand da Iveco QQ A carcaça totalmente montada, em agosto de 2010, podendo-se perceber a forma
Defence Brasil da LAAD 2009, no Rio de Janeiro do veículo

cionais superiores aos que vinham dessa iniciativa, com a apresentação ofi- em Brasília. Mas vale a pena voltar um Em diversos documentos emitidos pelo curi II, realizado pela Engesa na se- se tornou a Iveco Defence Brasil.
sendo adquiridos. cial do primeiro protótipo do EB/Iveco pouco mais no tempo para compreen- Exército, eram discutidas as versões gunda metade da década de 1980.
Mais uma vez estamos perseguin- VBTP-MR 6x6 Guarani (Viatura Blinda- der, em detalhes, todo o desenvolvimen- que integrariam uma família, em confi- Embora apenas um protótipo do Sucu- O primeiro protótipo e o veículo de
do o desenvolvimento de um blindado da de Transporte de Pessoal - Média de Ro- to que levou àquela apresentação oficial gurações 6x6 e 8x8, assim como a utili- ri II tenha sido construído, sem nunca testes de certificação de
nacional, sobre rodas, que possa pro- das). A apresentação foi realizada pela de abril de 2011, para depois avançar- zação de canhões de 90 e 105 mm e, passar por testes pelo Exército, o veí- blindagem
porcionar independência tecnológica Iveco Defence Brasil de Sete Lagoas, mos à situação neste início do segundo também, uma versão 4x4 leve. culo havia chamado a atenção devido A construção do primeiro protótipo
igual, ou superior, à que foi consegui- MG, na maior feira de defesa do conti- semestre de 2012. Testes realizados em 2001 com o às novidades apresentadas, como sus- foi iniciada em dezembro de 2009, oito
da com nossos dois melhores produ- nente sul-americano, a LAAD 2011. blindado italiano Centauro B-1, arma- pensão hidropneumática, canhão de meses após a apresentação do mock-up
tos do gênero desenvolvidos e produ- Ainda em 2011, foram iniciados os pri- A concepção de uma nova família de do com canhão de 105 mm, desperta- 105mm, peso na ordem de 18,5 tonela- em tamanho real, construído na Itália
zidos em escala industrial: o EE-9 meiros testes de homologação desse blindados sobre rodas ram em alguns setores do Exército a das e baixa pressão sobre o solo. e montado no Brasil, na LAAD-2009
Cascavel e o EE-11 Urutu, que ainda novo blindado, no CAEx (Centro de Ava- Os estudos de concepção do Guarani vontade de aprimorar o poder de fogo Os estudos para definição das ne- (em abril). A princípio, pensava-se em
se encontram em operação no Exérci- liações do Exército), no Rio de Janeiro. remontam ao final da década de 1990, nos projetos futuros de veículos blin- cessidades foram seguidos de algu- construir um protótipo e dezesseis pré-
to Brasileiro, bem como em diversos O Guarani também desfilou na parada ainda com o nome de NFBR (Nova Fa- dados sobre rodas. Havia também a mas licitações. A empresa vencedora -séries, que seriam devidamente testa-
países. cívica de sete de setembro de 2011, em mília de Blindados sobre Rodas), poste- lembrança de muitos que acompanha- do contrato de desenvolvimento foi a dos. Se aprovados, a produção em série
O ano de 2011 foi o grande marco comemoração ao dia da Independência, riormente apelidado de URUTU III. ram o desenvolvimento do EE-18 Su- Fiat, com sua subsidiária Iveco, que atenderia à demanda do Exército, que

102 Forças de Defesa www.forte.jor.br www.forte.jor.br Forças de Defesa 103


FORÇAS TERRESTRES TECNOLOGIA
Fotos: DCT/Arquivo UFJF/Defesa)

QQ Montagem das duas


QQ A carcaça em setembro de 2010, já
totalmente pintada em verde e com os longarinas do chassi
batoques de blindagem adicional
instalados

almeja a aquisição de mais de dois mil ventilador. Em dezembro de 2010, foi


veículos em diversas versões, ao longo iniciada a montagem do motor e do res-
de vinte a trinta anos. tante do interior do veículo, ficando o
A montagem da carcaça do protóti- mesmo pronto em março de 2011, bem
po, cujo aço de blindagem é alemão, a tempo da apresentação oficial na
prosseguiu pelos primeiros meses de LAAD, em abril.
2010. A conclusão desta primeira carca- Em maio de 2011, outro veículo foi
ça, já devidamente pintada com uma construído para ser danificado em tes-
tinta de proteção, se deu em agosto de tes de certificação de blindagem, reali-
2010. Em seguida, foram acrescentados zados no campo de provas da empresa
os batoques de blindagem adicional, e a TDW, na Alemanha, entre 17 e 20 de
pintura verde foi feita em setembro. Foi maio. O veículo foi submetido à explo-
dado início então à colagem do “spall- são de minas anticarro de seis quilo-
-liner” (manta protetora contra estilha- gramas de explosivo do tipo TNT (tri-
ços) em todo o seu interior, que recebeu nitrotolueno), sendo a primeira
a pintura verde claro em outubro. A se- colocada sob a roda mais próxima do
guir, começou a instalação de diversos motorista, e a segunda sob a roda mais
componentes, como a parte elétrica, tu- próxima do banco da guarnição.
bulações, longarinas do chassi, caixa de Os efeitos que as explosões teriam
transmissão, suspensão, motor de pro- na tripulação e guarnição da viatura
pulsão aquática com hélice de quatro foram medidos por meio de manequins
pás, caixa de câmbio e sistema de dire- padronizados (“dummies”), que simu-
ção. Em novembro, foram acrescenta- lam dimensões, proporções de peso e
dos os diferenciais, os bancos e sua es- articulações do corpo humano, de acor-
trutura interna, periscópios, suspensão do com requisitos estabelecidos em
QQ Interior com o spall-liner colado e pintado em verde claro, em outubro de 2010. e direção do segundo eixo, pedaleiras, normas internacionais. QQ Vista das longarinas do chassi, onde está fixada a suspensão, em novembro
Notar a caixa de transferência já montada no seu compartimento assim como o conjunto de radiador e Os manequins foram devidamente de 2010

104 Forças de Defesa www.forte.jor.br www.forte.jor.br Forças de Defesa 105


FORÇAS TERRESTRES TECNOLOGIA

QQ Detalhe das duas longarinas que


formam o chassi, onde se encontram
fixados os elementos da transmissão,
direção e suspensão

QQ Detalhes de cima para baixo:


diferencial traseiro, caixa de
transmissão e diferencial
dianteiro.

QQ Desenho mostrando, em azul, as


longarinas do chassi fixadas e, em amarelo, o
sistema de hélice para propulsão na água.
fardados e equipados com capacete e
Algumas vantagens do Guarani sobre o Urutu, que foram colete à prova de balas, conforme uma
levadas em conta durante a elaboração do projeto situação de combate mais realista Um projeto de características únicas, como o chassi,
possível. O teste evidenciou que a via-
QQ Maior proteção blindada (básica, NATO/STANAG-4569, além de asse- tura possui, em relação à ameaça de mas que também compartilha componentes
adicional, “spall-linner” e antimi-
nas);
gurar, em toda a viatura, proteção
contra artefatos inflamáveis do tipo
minas, elevada capacidade de prote-
ção à integridade física da guarnição
de outras linhas de produção
QQ Maior mobilidade tática; “coquetel Molotov”; embarcada. Vale ressaltar que esta É interessante ressaltar que o projeto do Guarani é um dianteiro e outro traseiro. Sobre este conjunto é colo-
QQ Motor diesel eletrônico, com baixa QQ Blindagem básica da carcaça e torre viatura foi fabricada apenas com a único no gênero para a Iveco Defence Vehicles, visto que cada a estrutura blindada do veículo, em forma de “V”,
emissão de poluentes, e caixa de (exceto o piso) que deverá oferecer não é derivado de qualquer outro veículo da família 8x8 capaz de resistir a minas de até 6 kg, conforme testes
blindagem e rodas, visando esses tes-
transmissão eletrônica; proteção à penetração de estilha- já desenvolvido pela empresa. Porém, ele utiliza diversos realizados na Alemanha.
Sistema eletro-eletrônico embarca- ços de granadas de artilharia de tes específicos.
componentes oriundos das linhas de produção do VBM Vale ressaltar que o motor “Cursor 9” e o conjunto de
QQ
do, “Onboard Diagnostics” e ABS; 155mm AE, com explosão a dez
QQ Maior relação peso/potência, o que metros da viatura, com 70% de con- Situação do programa em 2012 Freccia e VBR Centauro. Desta forma, tornou-se mais engrenagens dos diferenciais do primeiro e terceiro eixos
implicará maior capacidade de ven- fiabilidade; e perspectivas para o futuro uma opção italiana de veículos blindados sobre rodas, são oriundos dos adotados pelos caminhões da série
cer trincheira, degrau vertical, com QQ Condições para receber blindagem agora 6x6, sendo o único com capacidade anfíbia. Trakker, muito embora o motor seja de uma versão mili-
maior vão livre e menor raio de adicional que garanta nível de prote- No primeiro semestre de 2012, o Com a finalidade de atender às exigências do Exérci- tar. As primeiras centrais eletrônicas usadas no protóti-
giro; ção da viatura, na parte frontal, num que se tem de concreto são cinco veícu- to Brasileiro, e em função de custos (sempre o nosso po (e nas quatro viaturas do lote piloto) também são
QQ Suspensão independente hidro- arco mínimo de mais ou menos los (um protótipo e quatro do lote-pilo- grande problema), optou-se por incorporar neste projeto oriundas do Trakker, porém totalmente reprogramadas.
pneumática, com redutores de cubo 30º, contra impactos de munições to ou pré-série), todos construídos na o maior número possível de componentes que já existis- Com a adoção do novo MUX, estas centrais eletrônicas
de roda e juntas homocinéticas; de 25mm x 137 APDS-T, disparadas Itália e montados no Brasil. O aço da sem no mercado automotivo de caminhões, como forma serão removidas e deixarão de ser instaladas nos próxi-
QQ Visão noturna para o motorista, perpendicularmente à chapa e a blindagem é Thyssen Krupp, sendo de baratear custos e obter um veículo moderno para a mos veículos de série.
além de GPS e sistema de navega- uma distância de mil metros. Já na que três unidades estão equipadas nossa realidade. Diversas peças da suspensão vêm das linhas de pro-
ção inercial; parte lateral, as blindagens adicio- com a torreta automatizada israelense
Blindagem que garante proteção nais deverão garantir proteção con- Assim, foram utilizados elementos  mecânicos da série dução dos veículos Iveco VBM Freccia e VBR Centauro.
da fabricante Elbit, denominada UT-
QQ
básica para toda a viatura (exceto o tra impactos de 12,7mm Pf, a uma Trakker,  que é a linha de produção no Brasil para cami- Já o conjunto de caixa de transferência e o diferencial do
-30BR. A torreta é armada com canhão nhões civis comercializados pela Iveco Caminhões. Uma segundo eixo são específicos para a família Guarani. As
piso) contra impacto de projéteis distância de mil metros;
7.62 x 51 AP, disparados perpendi- QQ Blindagem adicional nos comparti- norte-americano de 30mm, que terá das diferenças em relação a outros veículos blindados, e longarinas e todos os semieixos também foram projeta-
cularmente à chapa e a uma distân- mentos do motorista e de comba- alguns de seus componentes fabrica- que ao mesmo tempo aproxima o Guarani de soluções em- dos exclusivamente para este veículo, e sua suspensão
cia de 30 metros; te, aumentando a capacidade de dos no Brasil. Isso está a cargo da AEL pregadas em caminhões, é o uso de um chassi. Esta esco- independente hidropneumática, em todas as rodas, dife-
QQ Blindagem básica do chassi e torre sobrevivência da guarnição e tropa Sistemas de Porto Alegre, RS, empre- lha não foi por razão comercial e nem mesmo por questão rencia o Guarani da versão Trakker padrão, que possui
(exceto o piso), oferecendo prote- embarcada, protegendo-as de esti- sa que pertence ao grupo Elbit. estrutural, segundo informações do grupo de desenvolvi- eixo rígido equipado com feixe de molas ou com cilindro
ção na parte frontal, num arco míni- lhaços que penetrem a blindagem Vale ressaltar que o grupo israe- mento do projeto do Guarani. O chassi afasta o fundo da pneumático.
mo de mais ou menos 30º, contra externa, decorrentes de impactos lense adquiriu duas empresas brasilei- viatura do solo, permitindo maior dispersão da energia Vale ressaltar mais uma vez que a blindagem do veí-
impactos de projéteis 12,7mm Pf, de munições 25 mm x 137 APDS-T, ras envolvidas com o programa,
disparados perpendicularmente à a distância de mil metros e grana- em explosões abaixo do veículo e maior nível de proteção culo oferece proteção contra munições 7,62x51mm perfu-
a Aeroeletrônica (AEL) e a Ares Aero- antiminas. É certo que a manufatura foi simplificada nes- rante e que, pra resistir acima disto, foi criado um kit de
chapa e a uma distância de 100 me- das de artilharia de 155mm AP com
espacial e Defesa, conforme publicado te conceito, mas este não foi o principal motivo. blindagem da família AMAP alemã. Trata-se de um
tros; explosão a dez metros da viatura,
QQ Nível de proteção contra minas (na com 80% de confiabilidade, e da no Diário Oficial da União de 31 de de- O chassi é formado por duas longarinas na base do “spall-liner” de nova geração, denominado IBD-AMAP-L
parte inferior, abaixo da tripulação), explosão de minas conforme nível zembro de 2010, no Extrato de dispen- veículo, e abriga toda a suspensão, os elementos de NanoTech C, considerado 15% mais resistente que os
que deverá ser do nível 2 da norma 3 da norma NATO-STANAG-4569. sa de licitação 4/2010, “cujo objeto é a transmissão com sua respectiva caixa e dois diferenciais, atuais.
contratação de aquisição futura

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FORÇAS TERRESTRES TECNOLOGIA
DCT/Arquivo UFJF/Defesa DCT/Arquivo UFJF/Defesa

QQ Dois dos quatro veículos do lote QQ Montagem final do protótipo


piloto em fase final de montagem. 01 na Iveco Defence de Sete
Notar o motor à esquerda, pronto Lagoas, MG
para ser acoplado ao veículo

DCT/Arquivo UFJF/Defesa)
DCT/Arquivo UFJF/Defesa)

de 216 (duzentos e dezesseis) sistemas é tema de outra matéria desta edição


de armas – canhão 30mm – UT-30BR, da revista). A princípio, o veículo apre-
para serem integrados às viaturas sentado receberia a torreta Allan Platt,
blindadas de transporte de pessoal, mas no final prevaleceu a decisão de
média de rodas (VBTP-MR) para aten- exibi-lo sem qualquer opção de torreta
der às necessidades de Organizações de armamento. Uma curiosidade é que,
Militares do Exército Brasileiro.” no folder distribuído na ocasião, não
Os três veículos que utilizam a tor- consta o nome Guarani, mas sim os di-
reta UT-30BR necessitam de flutuado- zeres VBTP Amphibius Armoured
res para manter a capacidade anfíbia. Vehicles 6x6 APC – Iveco Defence
Os flutuadores são aplicados nas late- Vehicles. A parte interna do folder exi-
rais da viatura, utilizando os mesmos be o símbolo do Exército Brasileiro,
dispositivos de fixação da blindagem acompanhado da inscrição “Chosen by”
adicional, e complementam a estabili- (Escolhido por).
dade em condições adversas. Nas de- Todos os demais componentes do
mais versões, não é necessário o uso veículo proveem do Grupo Iveco ou de
desse dispositivo. Dos outros dois veí- seus fornecedores, italianos ou não.
culos, um está com a torreta nacional Vale lembrar que, dos cinco veículos
REMAX (REparo de Metralhadora construídos, dois tiveram suas carca-
Automatizado X), desenvolvida pela ças soldadas na Itália, enquanto que
Ares e homologada pelo Exército. O outras três carcaças foram soldadas no
outro recebeu a torreta australiana Brasil. Além disso, todo o ferramental
Allan-Platt MR-550 Bi-metal Ring- desenvolvido para o Guarani é de pro-
mount + OHPK (OHPK significando priedade do Exército Brasileiro. Esse
proteção na parte superior). ferramental, juntamente com a docu-
Recentemente, um desses cinco veí- mentação técnica do processo de fabri-
culos foi a grande vedete do estande da cação e de apoio logístico, constituiu o
Iveco na Eurosatory 2012, em Paris, Pacote de Dados Técnicos da VBTP-
onde o Guarani de pré-produção foi ofi- -MR, que o Exército está recebendo.
cialmente apresentado e entregue ao O planejamento inicial acabou sen- QQ Vista da lateral esquerda, onde aparecem as escotilhas do motorista, do
QQ Detalhe da caverna do radiador na lateral direita do veículo Exército Brasileiro (a Eurosatory 2012 do mantido, apesar de informações de comandante e dos tripulantes

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FORÇAS TERRESTRES
DCT/Arquivo UFJF/Defesa
Arquivo UFJF/Defesa

QQ Demonstração efetuada na
Marambaia, no Rio de Janeiro,
com o protótipo 1 do Guarani
em 11 de Outubro de 2011
QQ Concepção
artística da
futura versão
Guarani VBR
com canhão
Mk8 de 90 mm
e torre CMI
LCTS.

Reprodução George Avramidis

DCT

QQ VBTP-MR Guarani, dotado de


flutuadores laterais, realizando
testes de navegabilidade no Rio de
Janeiro, em 3 de maio de 2012, nas
dependências do BEsEng (Batalhão
Escola de Engenharia do Exército) QQ Detalhe interno do folder distribuído pela Iveco na
Eurostary 2012, realizada em Paris entre 11 e 15 de junho
QQ Folder da torre LCTS com canhão Mk8 de 90 mm, de 2012. Notar na parte de cima, à direita, os dizeres
distribuído na Eurosatory 2002, em Paris “Chosen by” e o símbolo do Exército Brasileiro

110 Forças de Defesa www.forte.jor.br www.forte.jor.br Forças de Defesa 111


FORÇAS TERRESTRES
Fotos: DCT Belga, visando delinear como a torre, o
canhão e sua munição poderão ser pro-
duzidos no país. Entre as opções, estão
a montagem de um nova fábrica no
Brasil ou uma parceria com empresas
nacionais, estatais ou privadas. O cer-
to é que, após estes entendimentos,
não mais existirá a versão 8x8, que
previa uma torre com canhão de
105mm. Mas ainda há um debate so-
bre sua importância.
Em vista da situação mostrada aci-
ma, o que resta aos analistas do tema
é observar a concretização das novas
etapas, e assim compreender se real-
Ficha Técnica* mente estamos dando um passo im-
portante. A análise das próximas ações
QQ Comprimento: 6,91m permitirá antever se teremos ou não
QQ Largura: 2,70m outro momento de glória na produção
QQ Altura do teto: 2,34m de veículos blindados sobre rodas no QQ Manequins padronizados e devidamente equipados para uso no teste antiminas,
QQ Vão livre: 0,43m país. A participação de empresas bra- realizado na Alemanha em maio de 2011
QQ Raio de giro: 9m sileiras no fornecimento de componen-
QQ Pneus: 14.00 R20 tes desta família vai sinalizar o grau
QQ Peso vazio: 14,5 t de independência que teremos, neste
Peso total ainda com capacidade anfíbia: 18,3 t
setor, nos próximos trinta anos.
QQ
QQ Motor: Turbo Diesel Iveco Cursor 9 de 375 HP
QQ Transmissão e câmbio: ZF, seis marchas à frente Sem dúvida, trata-se de um traba-
e uma à ré. lho gigantesco, realizado por um grupo
QQ Velocidade máxima em estrada: 100 km/h de militares que teve a incumbência de
QQ Velocidade máxima na água: 9 km/h QQ Um dos quatro veículos do lote piloto levar adiante esta empreitada, mesmo
QQ Autonomia: 600 km a 70 km/h do VBTP-MR Guarani com a torreta Allan com todas as incertezas. Isso lembra em
QQ Suspensão: Independente com geometria McPherson Platt MR-550 Bi-metal Ringmount + muito aquele grupo pioneiro do final da
QQ Tripulação: 11 homens OHPK, já devidamente camuflada em década de 1960 que, de dentro do Exér-
*Dimensões do veículo, sem torre
conjunto com o veículo cito, conseguiu um sucesso até então
inexistente no país, quando quebrou o
tabu de que era impossível manutenir,
desenvolver e produzir seriadamente
que sofreu alteração: seriam quatro unidades com o Guarani poderão obe- chegou a participar de uma concorrên- blindados sobre rodas no Brasil.
protótipos e doze unidades de pré-sé- decer à mesma proporção. cia em Chipre, onde se previa a moder- Mas, mesmo ressaltando as gran-
rie, mas o que está prevalecendo é a Outras cinco viaturas estão na li- nização da torre EC-90. Os trabalhos des conquistas dos pioneiros de ontem,
construção de um protótipo e dezesseis nha de montagem da Iveco de Sete La- incluiriam alteração da torre para giro deve-se ter em conta que não são me-
unidades do lote piloto (também cha- goas, MG, lembrando que esta unida- elétrico e substituição do freio de boca nores os desafios dos que trabalham,
mado de pré-série) para serem incor- de de produção será oficialmente do canhão Mk3 de forma a disparar atualmente, numa nova geração de QQ Viatura Guarani pronta para os testes antiminas realizados na Alemanha em maio
porados ao lote inicial de trinta e oito inaugurada neste segundo semestre munição APDSFS (flecha), similar às blindados. Isso porque o grau de sofis- de 2011
veículos.* Assim, é atingido o total de de 2012. Existe a previsão de se cons- desenvolvidas pela Engequímica de ticação exigido hoje é muito maior,
cinquenta e quatro veículos, quantida- truir também mais três veículos equi- Juiz de Fora (nome da IMBEL FJF comparativamente, ao de 36 anos
de estabelecida inicialmente para pados com uma torre e canhão de 90 quando sob controle da Engesa). Che- atrás, quando os primeiros EE-9 Cas-

George Avramidis
compor o chamado Lote de Experimen- mm, que no caso será CMI Mk8/LCTS. gou-se a desenvolver protótipos e foi cavel de pré-série iniciaram seus tes-
tação Doutrinária do módulo do Bata- Vale lembrar que este conceito de produzido um lote piloto, com ganho de tes de campo, seguidos de perto pelos
lhão de Infantaria Mecanizado (BI- utilização do canhão hoje chamado de 25% em relação à sua configuração an- primeiros EE-11 Urutu. q
Mec) que os abrigará. Mk8, da CMI Defence Belga (antiga terior. Este sistema recebeu a designa-
Nesta nova unidade, ainda em es- Cockerill), foi analisado pela Engesa ção de SEGE-90. *NOTA DO EDITOR: após a
tudo, prevê-se a composição de dezes- no final da década de 1980 e início da É interessante registrar que uns conclusão e envio desta matéria pelo
seis veículos armados com a torreta seguinte. O conceito não foi adiante 2.000 canhões Cockerill Mk3 de 90mm autor, no final de junho foi
UT-30BR, trinta e quatro com a torre- em razão da falência da Engesa, em foram produzidos pela Engex, perten- anunciado o chamado “PAC
ta REMAX de fabricação nacional 1993. Alguns anos depois, a arma foi cente ao Grupo Engesa, localizada em Equipamentos” do Governo Federal,
(sendo dezesseis com metralhadoras novamente ofertada ao Brasil, quando Salvador, BA. O Arsenal de Guerra de que acrescenta 19 veículos Guarani
12,7mm, as chamadas “.50”, e dezoito sua torre foi apresentada oficialmente São Paulo – AGSP também chegou a aos 21 previstos para aquisição em
com metralhadoras MAG 7,62 mm). na edição 2002 da Eurosatory. A CMI produzir alguns exemplares, antes da 2012. Eventualmente, isso poderá
Os quatro restantes serão equipados Defence chegou a desenvolver estudos, criação desta empresa. O total produ- acelerar a conclusão do lote inicial
com a torreta manual Allan Platt MR- extra-oficialmente, para tentar adap- zido no Brasil foi muito superior à pro- citado no texto.
550, que pode receber três tipos de ar- tar a torre e o canhão ao nosso velho dução na Bélgica, onde surgiu esse ca-
mamento: uma metralhadora .50, uma conhecido EE-9 Cascavel, além de di- nhão.
metralhadora 7,62mm ou um lançador versos outros veículos. Voltando ao presente, já se encon- QQ O Guarani na Eurosatory 2012, em Paris, sendo apresentado e entregue ao Exército
de granadas de 40mm. No futuro, as A Columbus Ltda, empresa brasi- tram em andamento negociações entre Brasileiro. Notar a ausência de torreta e armamento, muito embora fosse cogitado que
aquisições destinadas a equipar novas leira criada após a falência da Engesa, o Exército Brasileiro e a CMI Defence o mesmo estaria com a torreta Allan Platt MR-550 Bi-metal Ringmount + OHPK

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FORÇAS TERRESTRES

NASCIDO PARA
VOAR

Livros ‘Blindados no Brasil’ 1 e 2 ‘Renault FT-17’


E m 2011, o pesquisador mineiro Ex-
pedito Carlos Stephani Bastos (co-
ordenador do portal UFJF/Defesa), em
brindo o período entre 1980 e 2011, a
nova publicação reúne fontes civis e
oficiais para recordar o apogeu e queda
O livro “Renault FT-17 – O Primeiro
Carro de Combate do Exército
Brasileiro” marca o lançamento da
parceria com a Taller Comunicação, da indústria nacional de defesa. O li- nova coleção Blindados no Brasil e já
lançou o primeiro livro resgatando a vro tem 280 páginas e mais de 400 está disponível no UFJF/Defesa.
história dos blindados utilizados pelas imagens, a maioria em cores. Em con- Com 56 páginas, o livro resgata os
Forças Armadas e de Segurança Públi- junto, os dois volumes formam a maior principais acontecimentos que envol-
ca brasileiras desde 1921 até 1979, com fonte de pesquisa editada até hoje so- veram a operação do primeiro carro de
248 páginas e mais de 300 imagens. bre o tema. combate do Exército Brasileiro, desde
Agora, após meses de trabalho, O preço é de R$68,50 para o volume 1921 até a sua desativação em1942.
chega às livrarias o segundo título. Co- 1 e R$88,50 para o volume 2. A pesquisa impressiona pela rique-
za de detalhes, com o resgate de mui-
‘Blindados no Haiti’ tos documentos da época e dezenas de NOME
PRÓS
GRIPEN NG
SUPERIOR CAPACIDADE
imagens históricas. Engloba desde as- ASSOCIADA A UM IMBATÍVEL
15x21cm, conta com capa colorida e pectos técnicos do projeto e construção CUSTO DE CICLO DE VIDA E REAL
dezenas de fotos e ilustrações, em co- do blindado na França até particulari-
TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA

res e originais em preto e branco, em dades sobre a sua aquisição e operação


CONTRAS NENHUM

impressão de ótima qualidade. no Brasil. Também foram mapeados


Com 108 páginas, e mais de 150 todos os exemplares atualmente pre-
imagens em cores, o livro resgata os servados no país. A TAREFA DE UM CAÇA é voar para Para o contribuinte brasileiro, isso é A indústria aeronáutica do Brasil se
principais modelos de veículos empre- Com o lançamento do primeiro nú- proteger os céus de uma nação. uma grande notícia. Para a Força Aérea tornará ainda mais auto-suficiente, con-
gados no Haiti por diversos países que mero da coleção Blindados no Brasil, o
formam a MINUSTAH, sob o comando Por isso, os baixos custos para a sua Brasileira significa dobrar a sua capaci- ferindo pleno apoio ao desenvolvimento
pesquisador pretende oferecer ao pú-
do Brasil. Nele são analisados todos os blico interessado pela história da tec- operação e manutenção são vitais para dade de treinamento e operação. de uma força aérea independente.
veículos blindados 4×4, 6×6, 8×8 e so- nologia militar nacional uma série de que sua força aérea possa voar o maior
bre lagartas que lá foram empregados O Brasil também se beneficiará de uma
estudos, mais aprofundados, sobre as número possível de horas.
no período de 2004 a 2011. nove décadas de emprego e desenvolvi- parceria industrial diferenciada, conce- Para saber mais, visite www.gripen.com.br
O autor esteve no Haiti em 2008, a mento de veículos militares em nosso Ao optar pelo Gripen NG, a Força bida para criar e sustentar crescimento
convite do Ministério da Defesa, e par- país. Aérea Brasileira terá a aeronave de caça industrial e econômico, conferindo
ticipou junto com o Corpo de Fuzileiros Em cada número, Expedito Carlos multiemprego mais avançada do mundo, acesso a todos os níveis da tecnologia
Navais da Marinha do Brasil de diver- Stephani Bastos realizará uma análise
sas patrulhas pelas ruas de Porto com uma imbatível disponibilidade, e desta aeronave de combate.
detalhada de um modelo de blindado
Príncipe. Visitou também diversas que marcou época nas forças armadas com um custo de ciclo de vida menor do

A nova obra “Blindados no Haiti


MINUSTAH – Uma experiência
real” marca o lançamento do primeiro
unidades de outros países que com-
põem a MINUSTAH, verificando o
aprendizado e experiência no emprego
brasileiras.
Esta é a terceira publicação com o
que a metade do de seus concorrentes.

selo da Taller Comunicação e a segun-


livro com o selo do UFJF/Defesa. Seu de blindados em área urbana, um ver- da produzida em parceria com o UFJF/
preço é de R$ 38,50. dadeiro laboratório para a Marinha e o Defesa. Seu preço é de R$ 33,00.
A nova publicação, em formato Exército Brasileiro. www.saabgroup.com
Os preços indicados são para compras diretas pelo portal UFJF/Defesa – www.ecsbdefesa.com.br. Para adquirir as obras,
basta enviar um e-mail para defesa@ufjf.edu.br.

114 Forças de Defesa www.forte.jor.br


TECNOLOGIA SOBERANIA
INDEPENDÊNCIA • DISSUASÃO • PERENIDADE

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