Você está na página 1de 88

CLUBE DE REVISTAS

FRENTE
PARLAMENTAR
AVIAÇÃO EM PAUTA
NO CONGRESSO

WWW.AEROMAGAZINE.COM.BR
BRASIL · ANO 30 · Nº 351 · R$ 25,00 · € 4.00
INCURSÃO
DE PISTA
AS MEDIDAS
PARA PREVENI-LA

LABACE 2023
OS DESTAQUES APOSENTADORIA
DICAS PRECIOSAS PARA
DA FEIRA EM AVIADORES
CONGONHAS

DOS JATOS
AOS ULTRALEVES
ESCOLHA A SUA
AERONAVE ENTRE
11 CATEGORIAS

DESAFIO
UM OLHAR PARA
O FUTURO DA
AVIAÇÃO GERAL

AVIAÇÃO
DE NEGÓCIOS
UM PANORAMA DA FROTA BRASILEIRA
E AS HORAS DE VOO POR SEGMENTO
CLUBE DE REVISTAS
CLUBE DE REVISTAS
CLUBE DE REVISTAS

Leasing
Bradesco.
Transformar seus
objetivos em
realizações é nossa
prioridade.
Fale com seu gerente.

Entre nós,
|gNT|RdorZdRZrgÑ
CLUBE DE REVISTAS

rSPZvgsw`RZvgEEorg|EOKgÑgeRFNZc rEPRsNgÓ“‘‘‘ޏ—”–‘‘. òci rEPRsNgӏ—–“—’—’. ò RŠNZTeNZEwPZvZ|EgwPREcEӏ—–‘‘˜˜"w|ZPgrZEӏ—–‘–‘˜˜’’


E D ITO R I A L CLUBE DE REVISTAS

HÁ 150 ANOS
Quando Alberto Santos Dumont nasceu, há exatos 150 anos, na cidade de
Palmira, no interior de Minas Gerais, os únicos objetos voadores criados pela
humanidade dependiam de balões de ar quente para deixar o solo. No terceiro
quarto do século 19, apesar das revolucionárias invenções apresentadas até
AERO MAGAZINE
então, da locomotiva a vapor ao telefone, ninguém imaginava o que estava BRASIL · ANO 30 · Nº 351 · 2023

por vir. A decolagem do brasileiro a bordo do 14-bis, em pleno Campo de


DIREÇÃO
Jogos de Bagatelle, em Paris, assombrou o mundo e criou as condições para o Publisher
Christian Burgos - christian@innereditora.com.br
surgimento de um novo meio de transporte, o avião.
Diretora de Operações
Um século após o nascimento de Santos Dumont, em 1973, a igualmente Christiane Burgos - christiane@innereditora.com.br

brasileira Embraer entregava o primeiro Bandeirante, um visionário modelo, REDAÇÃO


REVISTA
que continua sendo um dos mais utilizados no território nacional passados Editor-chefe
Giuliano Agmont - giuliano@aeromagazine.com.br
cinquenta anos. Apesar do passado promissor, o presente do país onde nasceu
DIGITAL
um dos mais notáveis personagens de todos os tempos e que hoje abriga o Editor
Edmundo Ubiratan - edmundo@aeromagazine.com.br
terceiro maior fabricante de aviões do mundo deixa a desejar. Sim, o Brasil
Colaboradores
parece desperdiçar como poucos as oportunidades que tem de fazer valer sua Alessandro Azzi Laender, David Clark,
vocação aeronáutica. Georges Ferreira, Francisco Costa, Raul Marinho e
Respicio A. Espirito Santo Jr.
Um país continental com inúmeras regiões remotas poderia ter um ARTE
transporte aéreo muito mais pujante, a começar por sua infraestrutura Diretor de Arte
Ricardo Torquetto - ricardo@innereditora.com.br
aeroportuária. Com rios, lagos, represas e praias, inexistem aeródromos PUBLICIDADE / ADVERTISING
estruturados para nossa tímida hidroaviação. Além disso, há uma quase publicidade@innereditora.com.br
+55 (11) 3876-8200 – ramal 11
completa falta de intermodalidade nos insuficientes aeroportos terrestres,
Representante Comercial Brasil e América Latina
que poderiam estar mais bem integrados a redes de transporte rodoviário, Teresa Rebelo – teresarebelo.inner@gmail.com

ferroviário e metroviário. MARKETING


Coordenador
A aviação privada, inaugurada por Santos Dumont com sua obra-prima, Vinícius Araújo - vinicius@innereditora.com.br

o Demoiselle, continua sendo vista no Brasil como uma atividade superficial, INTERNATIONAL SALES
Estados Unidos
assim como o transporte aéreo regional e sub-regional, tão bem servido pelo Inner Publishing - sales@innerpublishing.net
Marketing - marketing@innereditora.com.br
Bandeirante no passado, nunca conseguiu se viabilizar de forma sustentável. Os
FINANCEIRO
diversos extratos do mosaico que compõe a indústria aeroespacial têm no país financeiro@innereditora.com.br

um terreno fértil para prosperar, mas nem sempre é isso o que acontece. CIRCULAÇÃO
R.Scola Marketing Editorial
Assim como acontece com o agronegócio, a aviação poderia ser um dos
ASSINATURAS
pilares econômicos do país. Ter um avião e viajar com ele não precisaria ser assinaturas@innereditora.com.br
+55 (11) 3876-8200
uma realidade para poucos. Poderíamos ter mais fabricantes de aeronaves
ASSESSORIA JURÍDICA
nas diferentes categorias da aviação, além de pistas e oficinas devidamente Machado Rodante Advocacia
www.machadorodante.com.br
homologadas em cada canto do país, sem precisar exportar boa parte de
FALE CONOSCO
nossos engenheiros, mecânicos e pilotos. Deslocar-se pelo país poderia ser info@innereditora.com.br | + 55 (11) 3876-8200
mais rápido, prático e seguro, favorecendo não só os negócios e o turismo, IMPRESSÃO
mas, também, o transporte de carga. Poderíamos ter mais centros de formação Grass Indústria Gráfica

AERO Magazine é uma publicação


de especialistas em diferentes áreas, a exemplo do Instituto Tecnológico de mensal da INNER Editora Ltda.
Aeronáutica, o ITA, em São José dos Campos, pertencente ao Departamento de
www.aeromagazine.com.br
Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA) da Força Aérea Brasileira (FAB).
A Inner Editora não se responsabiliza por opiniões,
Nesta edição dedicada à aviação geral, principalmente por ocasião da ideias e conceitos emitidos nos textos publicados e
assinados na revista AERO Magazine, por serem de
Labace 2023, esses temas permeiam boa parte das matérias da revista, que inteira responsabilidade de seu(s) autor(es).

também aborda os demais desafios da aviação civil. Que essas reflexões nos
guiem para um futuro melhor.

Bom voo,

Giuliano Agmont e Christian Burgos


CLUBE DE REVISTAS
EXP ER IÊN CIA ,
EL EVADA .

Vam os em barc ar em u m a jo rn a da extrao rd in á ri a.


CLIQUE AQUI PARA DESCOBRIR MAIS
CLUBE DE REVISTAS
44
SUMÁRIO

16

30

16 ESPECIAL 44 ARTIGO

Um panorama da frota e das horas Um olhar sobre o futuro da


voadas do transporte aéreo de aviação geral e os desafios
pequeno porte no Brasil de governos e operadores

30 LABACE 2023 54 MINHA AERONAVE

As máquinas da maior feira Na hora da compra de um


de aviação de negócios da avião ou helicóptero, escolha
América Latina o seu entre 11 categorias
CLUBE DE REVISTAS
54

62

74

62 SEGURANÇA

Medidas para prevenir casos de


incursão de pista
SEÇÕES
10 NA REDE

66 AVIAÇÃO CIVIL
82 A EROC LI CK
Congresso cria Frente
Parlamentar de Aviação

74 CARREIRA

Perguntas e respostas sobre a


aposentadoria especial de aviadores
NA REDE CLUBE DE REVISTAS

PASSAGENS A
200 REAIS
O programa Voa Brasil do governo
federal promete oferecer passagens
aéreas a 200 reai por trecho. A
medida visa beneficiar pessoas que
EMIRATES ADERE AO FRETAMENTO não voaram nos últimos 12 meses.
Em entrevista exclusiva aos canais
A Emirates lançou um serviço de fretamento regional sob demanda, marcando digitais de AERO Magazine, o
a entrada da companhia aérea no mercado de aviação de negócios. Um Embraer ministro de Portos e Aeroportos,
Phenom 100 (A6-DWA) estará disponível para transportar passageiros de Dubai Márcio França, afirmou que o projeto
(DWC) para qualquer um dos países integrantes do Conselho de Cooperação do pretende ampliar gradualmente o
Golfo (CCG), do qual os Emirados Árabes fazem parte, juntamente com Omã, acesso de mais pessoas no transporte
Arábia Saudita, Qatar, Bahrein e Kuwait. Os passageiros serão transportados aéreo, com perspectivas de atingir ao
por motoristas particulares até o aeroporto e terão tratamento exclusivo desde a menos 30% da população brasileira.
chegada até o embarque. Dependendo do destino, o serviço será estendido após De acordo com o ministro, as
o desembarque. Cada voo poderá transportar até quatro passageiros. Cada um companhias aéreas Azul, Gol e Latam
deles pode despachar uma mala de até 15 quilos, além de uma bagagem de mão. participarão do Voa Brasil. França
afirma que o programa não utilizará
recursos públicos, mas “apenas os
assentos vazios das empresas”.
Na primeira fase do projeto,
os bilhetes serão liberados apenas
para aposentados e pensionistas
e, eventualmente, para servidores
públicos. Cada pessoa poderá
comprar quatro trechos por vez. O
Voa Brasil oferecerá os bilhetes mais
baratos durante a baixa temporada,
entre fevereiro a junho e de agosto
a novembro, quando a procura por
viagens aéreas no país recua 21%.
O governo lançará um site e um
aplicativo digital do programa onde
será possível verificar os trechos
disponíveis. O acesso do Voa Brasil
será feito por meio do CPF, para
CINQUENTENÁRIO DO BANDEIRANTE verificar se a pessoa viajou utilizando
O primeiro voo comercial de um mais de 30 países, sendo que cerca o transporte aéreo nos últimos
avião da Embraer completou 50 anos de um quinto delas está em operação 12 meses. Após a verificação, os
no último mês de julho. Na ocasião, até hoje. Atualmente, a Embraer interessados serão direcionados paras
um EMB-110C Bandeirante, com está presente no mercado comercial os canais de venda das companhias
capacidade para até 18 passageiros, com sete modelos da família E-Jet, aéreas, que terão um espaço dedicado
começou a transportar passageiros em duas gerações E1 e E2, ambos ao projeto, permitindo a seleção dos
pela hoje extinta Transbrasil. A presentes no Brasil na frota da voos disponíveis.
aeronave de matrícula PT-TBA havia Azul Linhas Aéreas. Além disso, o “É bem possível que tenhamos
sido entregue quatro meses antes fabricante ainda atua na aviação de uma grande procura de passagens, o
pelo fabricante e voou durante três negócios com as famílias Phenom que vai permitir que os voos saiam
anos na companhia aérea. De 1968 a e Praetor, e na aviação militar com lotados. Ao permitir que os voos
1990, quase 500 unidades do modelo os A-29 Super Tucano e C-390 saiam lotados, você tem condição de
foram produzidas para clientes em Millennium. ter mais voos e aí você preenche com
os aeroportos regionais», comenta
Márcio França.

10 | MAGAZINE 3 5 1
CLUBE DE REVISTAS

9É$21'(1(1+80-$72(;(&87,92)2,$17(6
2SULPHLURMDWRVXSHUYHUViWLOGRPXQGROHYDQWDYRR3DUHGHID]HUPHQRVHDOFDQFHRLQHVSHUDGR
$XPHQWHDHÀFLrQFLDGHVHXGHSDUWDPHQWRGHYRRRSHUDQGRRMDWRPDLVYHUViWLOGRPHUFDGR
9HMDRTXHRGHVHPSHQKRHPSLVWDFXUWDDSRUWDGHFDUJDHDJUDQGHFDELQHPRGXODUGR3&SRGHP
ID]HUSRUYRFr2EWHQKDPDLVGRVHXMDWRDRSLORWDUR3&²HQWUHHPFRQWDWRMi

SLODWXVDLUFUDIWFRP

0DLVLQIRUPDo}HV
ZZZV\QHUMHWFRP V\QHUMHW
NA REDE CLUBE DE REVISTAS

UM F-5 VIRA
MONUMENTO
Um F-5 foi instalado na cidade realizando 71 missões com o P-47
de Jataí, no interior do estado de Thunderbolt. Mesmo em sua curta
Goiás, como parte das homenagens carreira como piloto de combate,
ao veterano da Segunda Guerra foi condecorado com a medalha
Diomar Menezes. O monumento Cruz de Sangue, concedida aos
foi instalado no último dia 10 militares e civis que tenham servido
DRONES REGULAMENTADOS
de julho, na praça que prestas as à FAB, desempenhado missões de O Departamento de Controle do
referências ao piloto brasileiro que combate e tenham sido feridos em Espaço Aéreo, o Decea, atualizou um
combateu pela FAB na Itália, contra combate. Apenas treze aviadores documento que regulamenta os voos
as forças do eixo. A solenidade brasileiros receberam a honraria, de drones no país, tornando o processo
reuniu autoridades civis, militares, todos relacionadas à Campanha mais fácil e célere. Segundo o órgão da
familiares de Menezes, assim como da Itália. Em 30 de abril de 1945, FAB, a nova legislação também flexibiliza
cidadãos de Jataí. O caça foi um sua penúltima missão, Menezes foi o acesso das aeronaves não tripuladas
presente da Força Aérea Brasileira ferido por um estilhaço da aeronave a regiões próximas de aeroportos,
à cidade do piloto brasileiro inimiga na mão esquerda e, em 21 mantendo os níveis de segurança
Diomar Menezes, do Primeiro de maio de 1945, foi promovido operacional, e cria novos perfis de voos,
Grupo de Caça, que voou na a tenente. A conversão de aviões como o de operação aeroagrícola, para
Segunda Guerra Mundial militares desativados como atender a demandas do mercado e dos
monumento não é rara pilotos. “As solicitações de voos de
no Brasil e no mundo. A drones crescem 40% por ano no Brasil.
FAB, Marinha do Brasil e O Decea sai na frente, sendo um dos
Exército Brasileiro, assim primeiros países do mundo a adaptar
como algumas polícias a legislação às atuais necessidades do
militares, já tornaram setor e aprimorando seus sistemas e
monumentos aeronaves serviços”, disse o tenente-brigadeiro do ar
como o Mirage III (F- Alcides Teixeira Barbacovi, diretor-geral
103), AT-26, AMX (A- do Decea. No site do Decea, há mais
1), F-5, AF-1 Skyhawk, informações sobre a regulamentação para
Esquilo, entre outros. a operação das aeronaves no país.

AVIÕES TREINADORES
A escola de aviação norte-americana ATP Flight School
fechou com a Textron Aviation a compra de 40 aviões
Cessna Skyhawk. As entregas estão programadas para
acontecer a partir de 2025. Com o pedido adicional, a
ATP Flight School adicionará novos aviões à sua frota,
composta atualmente por mais de 200 aviões Cessna
Skyhawks, que integram o programa de piloto de carreira
aérea fornecido pela escola de voo. Somado os aviões
do novo acordo, a empresa possui 95 Skyhawks em sua
carteira de pedidos. A última encomenda foi formalizada
em outubro de 2022 junto a Textron, com as entregas
sendo realizadas a partir do terceiro trimestre de 2023.
A ATP possui 82 centros de treinamento distribuídos
em todo o território dos Estados Unidos. A empresa
pretende formar cerca de 20 mil novo pilotos de linha
aérea até meado de 2030.

12 | MAGAZINE 3 5 1
CLUBE DE REVISTAS

Não jogue dinheiro fora.


A PAG revisará o trem de pouso que você acha que não tem reparo.

Há uma boa chance do trem de pouso que você considera BER ainda ter muita vida.
Nossos técnicos certificados irão desmontar e reconstruir esses atuadores hidráulicos,
macacos hidráulicos, ganchos de carga, pistões e eixos, que de outra forma se tornariam
sucata. Isso economiza dinheiro e coloca seus clientes de volta ao voo mais rapidamente.

EFIX Aviation, uma empresa PAG.


Para saber mais ligue 55 12 3905-1008 ou acesse en.efixaviation.com.br
NA REDE CLUBE DE REVISTAS

SHOW AÉREO RUSSO


CANCELADO
A edição de 2023 do maior show aéreo da
Rússia, o Moscow Air Show (MAKS), que
acontece a cada dois anos, foi cancelada. A
previsão era que este ano o evento ocorresse
entre os dias 25 e 30 de julho último, no
aeroporto Zhukovsky, nos arredores de
Moscou. No comunicado oficial não foram
fornecidos muitos detalhes do motivo
do cancelamento, mas foi mencionada “a
prioridade de segurança”. Todavia, também
foi dito que o show aéreo russo acontecerá
em 2024 e 2025, mas as datas específicas ainda não foram
divulgadas. “Esta é a decisão que foi tomada. Em primeiro Tradicionalmente, o evento ocorria em agosto, mas seria
lugar, é uma questão de segurança”, disse à Interfax, Magomed antecipado em algumas semanas este ano. Desde fevereiro de
Tolboyev, presidente honorário do MAKS. O MAKS é um 2022, com a invasão russa ao território da Ucrânia, as empresas
palco para a apresentação das novidades do setor aeroespacial russas passaram a sofrer pesadas sanções do Ocidente, ao
da Rússia. Na última edição, por exemplo, foi revelado mesmo tempo que as reações ucranianas se tornaram mais
o SU-75 Checkmate, o futuro caça de quinta geração russo. violentas e atingindo até mesmo Moscou.

TAP PRIVATIZADA?
As diretrizes do processo
de privatização da TAP Air
Portugal devem ser estabelecidas
pelo governo português ainda
no terceiro trimestre deste
ano. Em entrevista à agência de
notícias Bloomberg, Fernando
Medida, ministro das Finanças
de Portugal, afirmou que o
governo vai publicar um decreto
estabelecendo as regras para
a venda do controle acionário
da TAP. O governo português
manterá uma posição acionária
estratégica na companhia aérea.
Uma das exigências de Portugal
será a manutenção do centro de
conexões (hub), em Lisboa. A
TAP transportou 7,58 milhões
de passageiros no primeiro
semestre de 2023, alta de 30%
em relação ao mesmo período
do ano passado, mas 4% quando
comparado a 2019, ano pré-crise
sanitária.

14 | MAGAZINE 3 5 1
CLUBE DE REVISTAS
E S PEC I A L CLUBE DE REVISTAS

UM PANORAMA
DA AVIAÇÃO
DE NEGÓCIOS
O que mudou no mercado de transporte aéreo
privativo em termos de frota de aeronaves e
horas de voo por categoria
P O R | RAUL MARINHO*, ESPECIAL
PARA AERO MAGAZINE
CLUBE DE REVISTAS

A
pós o renasci-
mento da aviação
de negócios
ocorrido no
período da pan-
demia entre 2020 e 2021, os
números do biênio 2022-2023
continuam mostrando, em
linhas gerais, resultados muito
bons. Os novos usuários da
modalidade, que migraram
do transporte aéreo coletivo
(linha aérea) para o individual
(aviação privada e táxi-aéreo)
devido às necessidades que
a emergência sanitária lhes
impuseram, ao que parece,
gostaram da mudança e per-
manecem utilizando a aviação
de negócios para seus desloca-
mentos.
Alternativas regulatórias,
como a formalização dos
programas de compartilha-
mento pela nova redação do
RBAC 91, que incorporou
regulamentação análoga à
da agência de aviação norte-
americana, a FAA, e a pos-
sibilidade de os táxis-aéreos
comercializarem assentos
individuais, também tiveram
seu peso neste renascimento.
O fato é que, mesmo com
a escalada dos preços das
aeronaves no mundo todo,
gerando situações inusitadas
como a existência de modelos
usados custando mais do que
o valor de tabela de um novo,
a demanda continua maior do
que a oferta no mercado da
aviação de negócios.
De acordo com os dados
disponibilizados pelo Regis-
tro Aeronáutico Brasileiro da
Agência Nacional de Aviação
Civil (RAB-Anac) relativos a
maio de 2023, o Brasil possui

MAGAZINE 3 5 1 | 17
CLUBE DE REVISTAS

9.696 aviões e helicópteros importante do que a relativa ao vido ao chumbo presente em


civis operacionais certificados tamanho da frota, revela outras sua composição) e de logística
nos diversos segmentos da nuances ainda mais significa- ineficiente. Para se ter uma
aviação de negócios: táxi-aé- tivas – como, por exemplo, a ideia, toda a AvGas do país é
reo (incluindo a operação de que o táxi-aéreo, setor que distribuída por caminhões a
sub-regional), serviços aéreos vinha tropeçando havia anos, partir de Cubatão, no litoral
especializados, aviação agríco- voltou a crescer. paulista, inclusive a consumi-
la, instrução de voo e aviação Por outro lado, a boa fase da pelas aeronaves baseadas
privada. Em fevereiro de 2020, também não é indiscrimina- na Amazônia, o que explica a
às vésperas da decretação do da. Há setores da aviação de razão de seu preço ser tão ele-
estado de emergência sanitária, negócios que não se recupera- vado e sua disponibilidade tão
a aviação de negócios contava ram, como é o caso da aviação limitada em algumas localida-
com 9.098 aeronaves segundo de instrução – sendo que a des. A seguir, vamos esmiuçar
os mesmos critérios, mas o instrução de asa rotativa se todos estes aspectos da aviação
crescimento geral de meros encontra em situação crítica. de negócios de 2023, forman-
7% no período não revela o A frota brasileira de aeronaves do uma imagem detalhada do
principal: nossa frota aumen- a pistão também tem apre- segmento.
tou justamente nos segmentos sentado desempenho me-
mais sofisticados, de maior díocre, tanto em quantidade AVIÕES A REAÇÃO (JATOS)
valor unitário – aviões a reação, de aeronaves como de horas Em maio último, rom-
turbo-hélices e helicópteros voadas. Na raiz do problema pemos a barreira das oito
turboeixo. Além disso, o au- está a gasolina de aviação centenas de jatos da aviação
mento na quantidade de horas (AvGas), combustível caro, de negócios, chegando a 811
voadas, uma informação mais ambientalmente nocivo (de- unidades operacionais – um

18 | MAGAZINE 3 5 1
CLUBE DE REVISTAS

TABELA 1
OS CINCO JATOS COM MAIS
HORAS DE VOO EM 2022 NO BRASIL
Fabricante e modelo Horas de voo
ano, um crescimento de 41%.
Nossos turbo-hélices voaram E55P – Embraer Phenom 300 13,4 mil
368 mil horas em 2022, mas boa E50P – Embraer Phenom 100 13,3 mil
parte desses voos ocorreu no C525 – Cessna 525 CitationJet/CJ1 10,8 mil
segmento da aviação agrícola,
BE40 – Beech/Hawker 400/400XP 7,9 mil
responsável por 36% do total
voado pela aviação de negócios LJ45 – Bombardier/Learjet 45 6,2 mil
com turbo-hélices. As aerona-
ves da Air Tractor dominam o
segmento onde a Ayres/Thrush é
TABELA 2
a única marca concorrente. Veja
OS CINCO TURBO-HÉLICES COM MAIS HORAS DE
as tabelas 2 e 3.
VOO EM 2022 NA AVIAÇÃO AGRÍCOLA DO BRASIL
Interessante notar que 32%
das horas voadas com o Cessna Fabricante e modelo Horas de voo
208 ocorreram em operações AT5T – Air Tractor AT-502/503/504 91,4 mil
da aviação sub-regional, como
AT3T – Air Tractor AT-302/400/402 32,5 mil
a operada pela Azul Conecta.
Outra informação curiosa SS2T – Ayres Turbo Thrush 14,0 mil
é quanto ao fato de o Ban- AT8T – Air Tractor AT-802 4,6 mil
deirante ainda estar entre as AT6T – Air Tractor AT-602 3,6 mil
cinco aeronaves mais voadas
no segmento, mesmo tendo
sua fabricação encerrada há TABELA 3
mais de 30 anos – o que é um OS CINCO AVIÕES TURBO-HÉLICES COM MAIS
indício da falta de opções de HORAS DE VOO NO BRASIL EM 2022
recorde absoluto. O cresci- aviões entre 10 e 19 assentos
mento neste segmento durante para passageiros no Brasil. Nas Horas de voo
Fabricante e modelo
a pandemia foi espantoso: atividades de transporte de (sem agrícola)
27% (tínhamos 639 jatos em pessoas e cargas, foi impres- C208 – Cessna 208
78,1 mil
fevereiro de 2020)! Os jatos sionante o crescimento na Caravan/Grand Caravan
privados voaram 95,2 mil ho- utilização dos aviões turboélice BE9L – Beechcraft/Hawker/Raytheon
ras em 2022 enquanto os jatos privados e de táxi aéreo após 48,4 mil
King Air A/B/C/D/E 90
de táxi-aéreo contabilizaram a pandemia, como mostra a
BE20 – Beechcraft/Hawker/Raytheon
25,7 mil horas de voo – em tabela 4. Para se ter uma ideia 26,2 mil
Super King Air 200/250
ambos os casos, os maiores do que isso representa, toda
números da série histórica a aviação regular operada de P46T – Piper
13,0 mil
disponibilizada pela Anac, que acordo com o RBAC 121, com Malibu/Meridian M500/600
se iniciou em 2010. Os cinco aviões turbo-hélice de grande E110- Embraer Bandeirante 9,9 mil
jatos com mais horas de voo porte (aviões da família ATR
em 2022 foram os modelos da Azul e VoePax), voou 119
discriminados na tabela 1. mil horas em 2019 e 107 mil
horas em 2022. TABELA 4
AVIÕES TURBO-HÉLICES HORAS VOADAS DE TURBO-HÉLICES NO BRASIL
Mais impressionante ainda foi o AERONAVES A PISTÃO
Segmento 2019 2022 Crescimento
desempenho da frota dos aviões Em fevereiro de 2020, tí-
turbo-hélices da aviação de negó- nhamos 5.927 aviões e 367 Privado 143,0 mil 185,7 mil 30%
cios, que passaram das 1.172 uni- helicópteros certificados a Táxi-aéreo 148,8 mil 200,8 mil 35%
dades em fevereiro de 2020 para pistão operacionais (total de
1.656 aeronaves em maio deste 6.294 unidades). Já em maio

MAGAZINE 3 5 1 | 19
CLUBE DE REVISTAS
TABELA 5
HORAS VOADAS DE AERONAVES
A PISTÃO POR SEGMENTO NO BRASIL
Segmento Categoria 2013 2022 Variação
Agrícola AvGas 144,0 mil 170,5 mil +18,4%
Agrícola Etanol 52,9 mil 68,5 mil +29,5%
Instrução Avião 280,1 mil 195,7 mil -30,1%
Instrução Helicóptero 48,6 mil 10,2 mil -79,0%
Outros Avião 425,7 mil 365,1 mil -14,2% de 2023 nossa frota atingiu,
Outros Helicóptero 73,4 mil 34,2 mil -53,4% respectivamente, 5.843 e 246
unidades (6.089 aeronaves no
total) – um decréscimo de 1,5%
TABELA 6 na quantidade de aviões, de 33%
AVIÕES A PISTÃO COM MAIS HORAS DE VOO na de helicópteros e de 3,3% no
NO BRASIL EM 2022 (TODAS AS OPERAÇÕES) cômputo geral.
Em termos de horas
Fabricante e modelo Horas de voo voadas, as aeronaves movidas
IPAN – Embraer EMB-200/201/202 191,5 mil a AvGas vêm diminuindo
Ipanema (AvGas e etanol) consistentemente sua utilização
C152 – Cessna 152 79,0 mil há muitos anos: em 2013, foram
972,7 mil horas voadas e, em
PA34 – Piper/Embraer Seneca (I a V) 83,0 mil
2022, foram somente 775,7 mil
SR22 – Cirrus SR-22 (todas as versões) 40,4 mil – 20,2% a menos; enquanto em
BE58 – Beechcraft/Hawker/Raytheon 33,9 mil relação aos aviões que utilizam
Baron 58/G58 etanol, todos da aviação agríco-
la, ocorreu o oposto. Segmen-
R44 – Robinson R-44 32,6 mil
tando as aeronaves a pistão (sem
C172 – Cessna 172 Skyhawk 31,8 mil considerar os pouquíssimos
exemplares com motores ciclo
Diesel que utilizam querosene),
TABELA 7 o resultado impressiona, como
COMPARATIVO ENTRE HORAS VOADAS mostra a tabela 5.
COM HELICÓPTEROS A TURBINA Excluindo as aeronaves
Segmento 2014 2019 2022
agrícolas a pistão, a redução Com a sensível diminuição da
das horas voadas pela frota de demanda por instrução de asa
Polícias e demais operadores 41,1 mil 41,0 mil 42,2 mil aeronaves movidas a AvGas foi rotativa, a utilização dos heli-
governamentais extremamente significativa: saí- cópteros de instrução a pistão
Táxi-aéreo offshore 105,9 mil 65,5 mil 81,6 mil mos de 828 mil horas para 605 caiu bastante, contribuindo
Táxi-aéreo comum 29,1 mil 18,4 mil 28,2 mil mil, uma redução de 27%. Mas para esse quadro.
o que mais chama a atenção na A tabela 6 mostra a lista dos
Privado 87,9 mil 66,2 mil 78,8 mil tabela é o decréscimo nas horas principais modelos de aero-
Serviços Aéreos 12,4 mil 15,2 mil 16,8 mil de voo da aviação de instrução, naves a pistão (cinco aviões de
Especializados (SAE) em especial aquelas realizadas transporte de passageiros e carga
pelas escolas de asa rotativa, e o avião agrícola e o helicóptero
e dos helicópteros a pistão de mais utilizados em 2022).
TABELA 8 uma maneira geral.
HELICÓPTEROS A TURBINA COM Nos segmentos de trans- HELICÓPTEROS A TURBINA
MAIS HORAS VOADAS NO BRASIL EM 2022 porte de passageiros, a substi- A frota de helicópteros a tur-
tuição paulatina dos helicóp- bina chegou a 1.140 unidades
Fabricante e modelo Horas de voo
teros Robinson 44 (a pistão) em maio de 2023, crescendo
AS50 – Aerospatiale/Airbus/Eurocopter/ pelos Robinson 66 (a turbina) 15% desde fevereiro de 2020,
67,6 mil
Helibrás AS-350 Ecureuil/Esquilo explica este fenômeno; e a quando tínhamos 991 equi-
A139 – AgustaWestland/Leonardo AW-139 38,7 mil crise vivida pela operação off- pamentos. Neste segmento há
S92 – Sikorsky S-92 (todas as versões) 24,7 mil shore (óleo e gás), que resultou uma forte influência da opera-
na interrupção da contratação ção de táxi-aéreo offshore, que
R66 – Robinson R-66 19,3 mil de pilotos por diversos anos, em 2022 representou 32,7%
S76 – Sikorsky S-76 (todas as versões) 16,5 mil complementa a explicação. do total de horas voadas com

20 | MAGAZINE 3 5 1
CLUBE DE REVISTAS

helicópteros a turbina, sendo todos os demais segmentos a atenção. De cada 100 horas
que a representatividade no têm participação significativa voadas com este equipamento,
táxi-aéreo com helicópteros nas operações do segmento. 44 são realizadas em opera-
chegou a 74,3% das horas de Na tabela 7, uma compara- ções governamentais, 26 são
voo – ou seja: na asa rotativa, ção entre 2014, o melhor ano com voos privados, 17 são
de cada quatro horas fretadas, para os helicópteros a turbina, de fretamentos (táxi-aéreo),
três foram relativas à operação 2019, o último ano pré-pande- 12 se referem à prestação de
offshore. mia, e o ano de 2022. serviços especializados e uma
Embora também tenha As operações privadas e de é de voo de instrução. Já com
crescido no período de pan- táxi-aéreo comum de asa rota- os modelos A139, S92 e S76
demia em termos de horas tiva com helicópteros a turbina acontece o oposto: a quase
voadas, o segmento continua cresceram, respectivamente, totalidade das horas voadas
bastante distante de 2014, o 53,3% e 19,0%, na pandemia, ocorre na operação offshore.
melhor ano para os helicópte- ao passo que o táxi-aéreo off-
ros a turbina da série histórica shore aumentou suas operações TÁXI-AÉREO
da Anac, iniciada em 2011. À em 24,5% – todos números Em fevereiro de 2019, logo
exceção da aviação agrícola, bastante expressivos. Já os antes do início da pande-
extremamente subutilizada equipamentos com mais horas mia, o táxi-aéreo brasileiro
no Brasil (voa-se cerca de 200 voadas no segmento em 2022 contabilizava 596 aeronaves
horas por ano com helicóp- estão na tabela 8. operacionais, caindo para 571
teros a turbina pulverizando O AS50, helicóptero a em outubro daquele ano. A
plantações), e a instrução de turbina mais utilizado no partir de então, o segmento
voo, majoritariamente realiza- Brasil, é um equipamento com começou uma escalada até as
da com helicópteros a pistão, uma flexibilidade que chama atuais 637 aeronaves (dados

MAGAZINE 3 5 1 | 21
CLUBE DE REVISTAS

de maio/2023), assim distribu- 2014). Mas o recorde de 2021 tradas 116 mil horas de voo
ídas, conforme a tabela 9. durou pouco: no ano passa- com helicópteros de táxi-aé-
O período da pandemia foi do, o segmento voou 290 mil reo, mais que as 105 mil de
tão positivo para o táxi-aéreo horas, além de também ter 2021 e 47% a mais do que
que, já em 2020, o ano mais batido os recordes históricos antes da pandemia: em 2019,
complicado para a aviação no de horas de voo nas operações foram somente 79 mil horas
mundo, o segmento voou 10% com jatos e turbo-hélices. de voo. Para chegar ao recorde
a mais do que em 2019 – 220 O ano de 2022 foi bom da série histórica, porém, seria
mil contra 200 mil horas de para o táxi-aéreo de asa preciso superar a marca de
voo. Em 2021, o táxi-aéreo rotativa também – o melhor, 139 mil horas de voo, atingida
nacional bateu o recorde da desde 2017 –, mas ficou longe em 2014.
série histórica da Anac, com de ser um recorde: voou-se Com a aviação a pistão, os
270 mil horas (os recordes bem mais com helicópteros números se comportaram de
anteriores foram de 260 mil fretados no período de 2011 a maneira um pouco estranha
horas de voo em 2012, 2013 e 2016. Em 2022, foram regis- no segmento de táxi-aéreo.

22 | MAGAZINE 3 5 1
CLUBE DE REVISTAS
TABELA 9
AERONAVES UTILIZADAS NO BRASIL POR TÁXIS-AÉREOS

4%
14%

637
39%
18%
Aeronaves

25%

Helicóptero/Turbina Turbo-hélice Pistão Jato Helicóptero/Pistão

e táxis-aéreos, a expectativa que haja motorização híbri-


é otimista para o segmento, da ou a hidrogênio para tais
embora não se espere taxas de aeronaves.
crescimento tão espetaculares A propósito, uma das
quanto aquelas verificadas no principais ameaças à aviação
período de pandemia e em de negócios atualmente é o
2022 para as aeronaves a jato e fato de nossas aeronaves terem
turbo-hélices/turboeixo. A fro- uma imagem muito negativa
ta que utiliza AvGas, por outro em termos de sustentabi-
lado, deve prosseguir em seu lidade – mesmo que, em
declínio, e a tendência é que termos de pegada de carbono
os novos aviões de pequeno propriamente dita, nossa
porte sejam, em sua maioria, contribuição seja desprezível.
dotados de motores com ciclo As aeronaves do segmento
Diesel que utilizam querosene. contribuem com somente
No longo prazo, os aviões dessa 2% das emissões da aviação,
categoria devem ser elétri- sendo que esta é responsável
Voou-se menos em 2022 do cos, motorização que já está por 2% das emissões globais,
que em 2021 – 41,3 mil horas sendo utilizada na aviação de ou seja, nossas emissões de
contra 41,8 mil horas, respec- instrução de Estados Unidos, CO2 representam 2% de 2%
tivamente. Foi bem mais do Europa e Austrália; e tão logo (0,04%) do total emitido. Mas
que em 2019, quando se voou as baterias tenham tecnologia isso parece não ser relevante
somente 35 mil horas, mas para permitir autonomia para parte da opinião públi-
bem abaixo dos anos de 2011 maior, é bastante provável que ca, para quem o que importa
a 2014, com destaque para também ocorra a eletrificação mesmo é que “os muito ricos”
2013, quando o fretamento de da frota de aviões de pequeno (como os usuários da aviação
aeronaves a pistão atingiu 48 porte para transporte de pas- de negócios são identifica-
mil horas de voo. sageiros e carga. Para os aviões dos) “não demonstram ter
maiores, os combustíveis sus- consciência ambiental ao se
PERSPECTIVAS tentáveis (SAF) deverão estar deslocarem em seus jatinhos
No transporte de passageiros e disponíveis no médio prazo e, particulares”. Esse movimento
cargas via aeronaves privadas no longo prazo, a expectativa é já ganhou corpo na Europa,

MAGAZINE 3 5 1 | 23
CLUBE DE REVISTAS

com manifestações cada vez é importante pontuar que os essa nova categoria poderá
mais frequentes em aeropor- fatores tributário e ambiental catapultar a aviação de negó-
tos com operações de aerona- têm potencial para reverter as cios para um novo patamar
ves privadas, como aconteceu boas expectativas para o setor no segmento de transporte de
recentemente em Schiphol, de 2024 em diante. passageiros. Ainda é muito
em Amsterdam (Países Por outro lado, o texto da cedo para qualquer prognós-
Baixos), com manifestantes reforma tributária também tico, mas este é o fato mais
invadindo o pátio da aviação trouxe menção ao incentivo à importante para a aviação
geral e depredando aeronaves. aviação regional brasileira, o desde o início das operações
Nos EUA, já está começando a que pode ser um fator muito com aviões a jato.
acontecer o mesmo e não deve importante para a aviação
tardar para essa “onda antija- de negócios nacional. É INSTRUÇÃO DE VOO
tinhos” chegar ao Brasil. justamente a aviação regional Apesar de não haver ne-
Outra grave ameaça à avia- realizada com aeronaves de até nhum sinal de que o governo
ção privada brasileira está na 19 assentos que necessita de federal volte a subsidiar a for-
reforma tributária atualmente apoio governamental para ser mação de pilotos no Brasil – o
em curso, que deverá trazer economicamente sustentável. que seria o único fator com
um novo imposto, o IPVA so- Ou seja: é a aviação de ne- potencial para virar o jogo da
bre propriedade de aeronaves. gócios, com suas operações instrução aeronáutica no país
Mas há coisa pior no horizon- realizadas de acordo com o –, a instrução de asa fixa teve
te: pode ser que a alíquota de RBAC 135 para o transporte algum alívio com a autoriza-
ICMS para partes e peças de remunerado de passageiros ção, por parte da Anac, de que
aeronaves, que hoje é de 4%, e carga com aeronaves de até a instrução prática de voo pu-
chegue a 18% com o novo 19 assentos, que deverá ser a desse ocorrer com aeronaves
IVA, o que deve encarecer a responsável pelo renascimento leves esportivas (ALE). Estes
manutenção aeronáutica para da aviação regional no Brasil. equipamentos são muito mais
todos os segmentos da aviação. Finalmente, há a enorme baratos para se operar, graças
Ainda não é o momento de expectativa quanto às aero- a seus motores menores, que
sofrermos antecipadamente, naves elétricas de decolagem consomem bem menos com-
há muito mais dúvidas do que e pouso vertical, os e-VTOL. bustível e têm manutenção
certezas sobre como ficará a Apesar das dúvidas que muito menos onerosa, além
tributação do setor ainda, mas recaem sobre sua viabilidade, de custo de aquisição bem

24 | MAGAZINE 3 5 1
CLUBE DE REVISTAS
CLUBE DE REVISTAS

um momento disruptivo em
termos de tecnologia, com
os velhos motores a AvGas
se tornando econômica e
ambientalmente inviáveis, ao
mesmo tempo que uma nova
categoria de aeronaves surge
no horizonte. O volume de
recursos investido em motori-
zação elétrica para aeronaves
convencionais e em combustí-
veis e motores ambientalmen-
te mais eficientes é muito alto,
e muita coisa pode mudar na
aviação, com consequências
pouco previsíveis.
No Brasil, país em que a
economia é fortemente in-
menor do que o das aeronaves a empregabilidade inicial fluenciada pela política, o fu-
de instrução certificadas. Por dos pilotos recém-formados. turo da aviação de negócios é
enquanto, somente uma escola Sem perspectiva de encontrar mais incerto ainda. Conforme
de aviação – a Safe, sediada trabalho, os possíveis alunos analisado anteriormente, a
em São José dos Campos, no das escolas de aviação de asa reforma tributária pode ter
interior de São Paulo – usa tal rotativa desapareceram, daí a efeitos positivos e negativos
equipamento, mas não deve retração de 80% nas horas voa- sobre o segmento, sendo
tardar para que outras escolas das em instrução para piloto de difícil antecipar qual irá pre-
venham a aderir aos ALE. helicóptero. Agora, a aviação valecer. Não sabemos ainda
Já na asa rotativa, o que offshore está se reerguendo qual será a diretriz do governo
realmente importa é o de- e, embora ainda não tenha para a aviação nos próximos
sempenho da operação com chegado aos níveis de 2014, já anos, mas no momento temos
helicópteros offshore, que é está muito melhor do que em o Plano Aeroviário Nacional
tradicionalmente o maior anos recentes. Portanto, não (PAN) em consulta pública
contratante de pilotos de seria surpresa se este segmento e, em breve, devemos ter
helicóptero. Quando contra- voltasse a aumentar suas horas definições sobre qual será a
tam pilotos, as empresas de voadas já em 2023. política pública para a aviação
táxi-aéreo offshore recrutam os como um todo e para o nosso
profissionais mais experientes CONCLUSÃO segmento em particular. Mas,
que atuam nas operações de Embora a aviação de negó- independentemente disso, é
táxi-aéreo comum, transporte cios mundial deva diminuir o preciso reconhecer que o atual
aéreo privado, serviços aéreos ritmo de crescimento verifi- cenário da aviação de negó-
especializados e instrução de cado no período 2020-2022, cios do Brasil é positivo e não
voo. Ao ir para a operação é bastante provável que o há indícios de que a boa fase
offshore, esses profissionais segmento consiga pelo menos irá terminar em curto e médio
abrem vagas para os pilotos manter o novo patamar de prazos. Oxalá não haja surpre-
menos experientes, até chegar atividades nos próximos anos, sas ruins pela frente!
aos recém-formados. possivelmente com algum
Com a crise no setor de pe- crescimento ainda. Para o * O piloto Raul Marinho é
tróleo ocorrida em anos ante- longo prazo, entretanto, é consultor aeronáutico e gerente
riores, essa engrenagem parou bem mais complicado arriscar técnico da Associação Brasilei-
de rodar, dificultando muito um prognóstico. Estamos em ra de Aviação Geral (Abag)

26 | MAGAZINE 3 5 1
CLUBE DE REVISTAS
CLUBE DE REVISTAS

O cartão de crédito
para quem ama vinho

Baixe o app disponível nas lojas e


garanta já o seu cartão BRB ADEGA
CLUBE DE REVISTAS

Peça o seu e aproveite


seus benefícios exclusivos

3ULRULGDGHGHFRPSUDHƁODH[FOXVLYD
em eventos do mundo do vinho

Acesso às salas VIP no Brasil e no exterior

Isenção de rolha Mastercard*

Concierge exclusivo por e-mail e WhatsApp


para a compra de vinhos

Desconto exclusivo no marketplace ADEGA Online

Pontos em dobro nas compras nos sites


ADEGA Online e Clube ADEGA

Anuidade grátis no primeiro ano**

E MUITO MAIS…

*Benefício válido para uma garrafa por mesa e mediante


consumo de um prato principal.

**Anuidade grátis apenas no primeiro ano após a contratação


L A B AC E 202 3 CLUBE DE REVISTAS
CLUBE DE REVISTAS

AS PRINCIPAIS
MÁQUINAS
EXECUTIVAS
Maior feira de aviação de negócios
da América Latina mantém a clima de
otimismo no mercado
P O R | EDMUNDO UBIRATAN
CLUBE DE REVISTAS
CLUBE DE REVISTAS
CLUBE DE REVISTAS

A
pandemia qua- mento nos últimos três anos e para aeronaves de negócios.
se paralisou o diversos novos modelos foram Ainda assim, a retomada da
transporte aéreo lançados, sobretudo no seg- atividade econômica, após os
regular, mas, por mento de cabine larga e longo sustos iniciais da guerra da
outro lado, deu um ou ultralongo alcance. A Labace Ucrânia, e a estabilidade política
forte impulso para a aviação de 2023 impulsiona os bons resul- brasileira, animam fabricantes
negócios. O ano de 2023 se con- tados de 2022, mas o mercado que continuam de olho no
solida como o de uma retomada enfrenta alguns dilemas, como pujante setor executivo do país.
da vida normal e a estabilização a reforma tributária, que avalia Apesar de importantes ausên-
das demandas na economia. A a expansão da cobrança do cias, a Labace coloca a aviação
aviação de negócios experimen- Imposto sobre Propriedades de de negócio e suas novidades em
tou um considerável cresci- Veículos Automotores (IPVA) evidência.

32 | MAGAZINE 3 5 1
CLUBE DE REVISTAS
DAHER
Após assumir a TBM e absorver a Quest, a Daher se consolidou como
um dos grandes fabricantes de turbo-hélices leves e realizou dois grandes
lançamentos em 2022, com o TBM 960 e o Kodiak 900.

TBM 960
Desde que assumiu a linha
TBM, a Daher promoveu uma
série de aperfeiçoamentos nas
famílias de monoturboélices
pessoais, com atualizações
constantes. O mais recente
lançamento, o TBM 960, agrega
controle eletrônico do motor
PT6E-666XT, que amplia a
proteção do envelope operacio-
nal, assim como autothrottle e o
sistema de pouso de emergência
autônomo Home Safe, que ao
toque de um botão conduz o
avião em segurança para o aero-
porto mais próximo. Além dis-
so, a suíte de aviônicos Garmin
G3000 traz controle sensível ao
toque e integra o radar meteo-
rológico GWX 8000.

KODIAK 900
Lançado no Airventure
2022, que ocorre em
Oshkosh, o Kodiak 900
é uma versão de maior
capacidade e com uma série
de aperfeiçoamentos em
relação ao Kodiak 100. Além
de manter a capacidade
de operar em pistas muito
curtas, com pouca ou
nenhuma infraestrutura de
solo, mas com a fuselagem
alongada e com capacidade
para até oito passageiros
e dois tripulantes. A
fuselagem ainda ganhou um
bagageiro externo ventral
aerodinâmico e integrado
a estrutura, melhorando
o desempenho em voo e
aumentando a capacidade
de carga, que pode chegar
aos 3.629 quilos.

MAGAZINE 3 5 1 | 33
CLUBE DE REVISTAS
EMBRAER
Embraer se consolidou como líder entre os jatos de negócios leves e segue de olho nos
segmentos médio e supermédio, onde revisou seu conceito e em 2018 lançou os Praetor
como uma evolução, dentro da realidade do mercado, dos Legacy 450 e Legacy 500.

PHENOM 300
Líder há mais de
uma década entre
os jatos leves, o
Phenom 300 foi um
divisor de águas,
oferecendo uma
série de tecnologias
e comodidades
existentes apenas
em aviões maiores,
incluindo um lava-
tório completo. Ao
longo dos últimos
anos, a Embraer
promoveu diversas
melhorias, como
o novo interior
inspirado nas solu-
ções presentes nos
Praetor.

PRAETOR 500 E 600


Após amargar vendas
modestas com os Legacy
450 e Legacy 500, sobre-
tudo pelo alcance restrito
e algumas limitações ope-
racionais, a Embraer, em
outubro de 2018, lançou
o Praetor 500 e o Praetor
600, com uma série de me-
lhorias, incluindo maior
alcance e interior remode-
lado. Criados para dis-
putar o rentável mercado
de jatos médios e super-
médios, o Praetor se vale
de uma série de recursos
exclusivos, como sistema
de controle full fly-by-wire,
inédito na categoria.

34 | MAGAZINE 3 5 1
CLUBE DE REVISTAS
DASSAULT FALCON
O Brasil segue como um dos países mais importantes para o fabricante francês, tendo
em vista que as duas primeiras vendas globais do Falcon 10X foram para clientes
brasileiros.

FALCON 10X
O mais novo projeto da Dassault Falcon passageiros bastante ampla, o alcance
é uma resposta ao segmento de cabine será de 7.500 milhas náuticas (13.890
larga e ultralongo alcance, o único quilômetros), ligeiramente inferior aos
que até então não atendia plenamente, modelos de maior alcance das rivais, mas
ainda que o Falcon 8X tenha alcance ainda suficiente para voar sem escalas de
intercontinental. Ao lançar o Falcon Nova York até Hong Kong ou de Paris
10X a Dassault buscou um projeto até Santiago. O Falcon 10X ainda terá o
completamente novo, incluindo a mais novo flight deck da Dassault, incluindo
larga cabine existente em um jato de o controle de voo digital, com apenas
negócios, com 2,77 de largura, superando um manete de potência, com tecnologia
até mesmo a seção transversal do E-Jet. derivada do caça Rafale, assim como uma
Embora disponha de uma cabine de evolução da aclamada suíte EASy.

MAGAZINE 3 5 1 | 35
CLUBE DE REVISTAS

FALCON 6X
Lançado em 2018, o Falcon 6X é uma máximo de 5.500 milhas náuticas (10.200
evolução do que deveria ter sido o quilômetros), um adicional de 300 milhas
programa Falcon 5X, que ganhou uma em relação ao antecessor. A expectativa
cabine maior, assim como foi motorizado da Dassault é certificar o Falcon 6X ainda
com os propulsores Pratt & Whitney em 2023, permitindo assim iniciar as
PW812D, além de ter um alcance entregas dos primeiros aviões.

36 | MAGAZINE 3 5 1
CLUBE DE REVISTAS

FALCON 7X E 8X
O Falcon 7X fez seu primeiro
voo em 2005, tornando-se um
dos projetos mais ambiciosos
da Dassault Falcon no início
dos anos 2000, agregando uma
série de novas tecnologias,
muitas oriundas da aviação
militar, dando ao avião maior
performance e capacidade.
Com uma cabine larga e
alcance intercontinental,
o Falcon 7X pode voar de
São Paulo até Paris, com
diferencial de operar em pistas
curtas ou limitadas. Dez anos
depois, voou o Falcon 8X, uma
versão alongada, com também
maior alcance, podendo voar
distancias máximas de até
6.450 milhas náuticas (11.945
quilômetros).

FALCON 2000LXS
A mais recente evolução
do supermédio Falcon
2000 adicionou uma série
de melhorias, muitas
criadas para seus irmãos
maiores, mantendo o
modelo competitivo em
um dos segmentos mais
acirrados da aviação de
negócios. Anunciado em
outubro de 2012, na NBAA-
BACE, em Orlando, nos
Estados Unidos, o Falcon
2000 LXS tem capacidade
para voar por até 4.150
milhas náuticas (7.686
quilômetros) e conta com
ampla cabine, para até
seis passageiros em voos
de longa distancia. Assim
como os modelos maiores, o
Falcon 2000LXS é equipado
com a suíte EASY, baseada
no Honeywell Primus Epic.

MAGAZINE 3 5 1 | 37
CLUBE DE REVISTAS
GULFSTREAM
O tradicional fabricante norte-americano mira o mercado de aviões
de cabine larga e longo ou ultralongo alcance na América Latina.

G700 E G800
Recentemente, o Brasil recebeu a visita do G700, bine, conta com duas opções de suíte, incluindo
o mais novo avião de cabine larga e ultralongo a chamada Grand Suite, com cama mais espaçosa
alcance da Gulfstream. O modelo, que é uma e chuveiro.
evolução do bem-sucedido G650ER, agrega uma Já o G800, lançado em outubro de 2021, na vés-
série de tecnologias oriundas dos projetos G500 pera da NBAA-BACE, apresenta uma fuselagem
e G600, como um flight deck com nova aviônica, ligeiramente menor, com quatro zonas de cabine,
incluindo o Symmetry Flight Deck, telas sensí- mas alcance de até 8.000 milhas náuticas (14.800
veis ao toque e uma cabine de passageiros mais quilômetros), sendo ideal para usuários que ne-
ampla e com uma série de melhorias de design e cessitam de viagens ultralongas entre continen-
conforto. Além de oferecer até cinco zonas de ca- tes, em especial entre as Américas e Ásia.

38 | MAGAZINE 3 5 1
CLUBE DE REVISTAS

G400, G500 E G600


A dupla G500 e G600 foi apresentada simultanea- em outubro de 2021. O agora trio oferece capacida-
mente em outubro de 2014, sendo um projeto clean de entre 12 e 19 passageiros, com alcance variando
sheet, que previa uma série de melhorias em todos entre 4.200 milhas náuticas (7.778 quilômetros) e
os aspectos dos aviões da Gulfstream. Oficialmente 6,500 milhas náuticas (12.038 quilômetros). Entre
parte da família GVII, a nova série ainda agregou os destaques estão as inovações em todo o projeto,
um novo membro de menor capacidade, o G400, muitas das quais agregadas aos G700 e G800.

MAGAZINE 3 5 1 | 39
CLUBE DE REVISTAS
HONDA AIRCRAFT
Gigante japonesa entrou na aviação nos anos 2000 e, após um longo período
de maturação, o HondaJet se tornou o avião mais vendido da sua categoria.

HONDAJET ELITE II
Ele fez sua primeira apresen-
tação na EBACE 2023, que
aconteceu em Genebra, em
maio deste ano. O jato de
negócios leve foi anunciado
no ano passado nos Estados
Unidos, sendo uma evolução
do HondaJet, incluindo maior
alcance, de até 1.547 milhas
náuticas (2.865 quilômetros).
A família HondaJet se tornou
líder entre os jatos de entrada,
oferecendo uma ampla cabine,
com uma série de inovações,
como o amplo espaço interno
obtido graças ao bom projeto
de design. Além disso, o avião
se destaca por soluções aerodi-
nâmicas únicas, que inclui os
motores sobre as asas.

HONDAJET 2600 CONCEPT


O novo HondaJet 2600 Concept foi
anunciado pela Honda Aircraft em
outubro de 2021, na NBAA-BA-
CE, e promete disputar o mercado
dos jatos leves, em especial com a
família Phenom 300, da Embraer,
que há vários anos lideram o
mercado. A Honda Aircraft espera
que o novo avião possa repetir
o sucesso do HondaJet, que em
suas diversas variantes se tornou
o principal modelo da categoria
de jatos de negócios de entrada. O
avião terá alcance de 2.600 milhas
náuticas (4.800 quilômetros), tendo
sido desenvolvido para permitir
voos continentais, e maior espaço
interno do que seus rivais diretos.
De acordo com a Honda Aircraft,
embora seja um modelo novo,
haverá elevada comunalidade com
os atuais HondaJet Elite.

40 | MAGAZINE 3 5 1
CLUBE DE REVISTAS
PILATUS
A suíça Pilatus deu um importante passo ao ingressar no mercado de
jatos leves, já tendo consolidado seu espaço entre os monoturboélices.

PC-12NGX
O monoturboélice PC-12
foi desenvolvido pela Pilatus
em meados dos anos 1990 e
logo se tornou um sucesso de
vendas e mostrou sua vocação
de ser um avião para operar
em pistas curtas, mas com
desempenho em voo próximo
de jatos de entrada. Sua mais
recente versão, o PC-12NGX,
lançado em outubro de 2019,
na NBAA-BACE, integra auto-
throttle ao primeiro sistema de
controle eletrônico de hélice e
motor de canal duplo. Outra
mudança foi no propulsor, que
passou a ser o PT6E-67XP.
O interior incorporou um
novo design criado pela alemã
BMW, que tem uma divisão
dedicada apenas ao setor aero-
náutico.

PC-24
Um jato leve que oferece
grande flexibilidade ope-
racional, sendo o primeiro
avião a jato da Pilatus, que
trouxe para o projeto diversas
características de sucesso no
PC-12, como a ampla porta
de carga traseira, o que torna
possível em alguns minutos
transformar o interior execu-
tivo em cargueiro, ou ainda
converter para uso como
ambulância aérea. Além dis-
so, o PC-24 tem capacidade
de operar em pistas de terra,
cascalho ou grama. Seu inte-
rior conta com um sofistica-
do acabamento e projeto que
alia conforto e flexibilidade,
que inclui até mesmo uma
galley modular, permitindo
intercâmbio com o armário
montado na seção dianteira,

MAGAZINE 3 5 1 | 41
CLUBE DE REVISTAS
TEXTRON
O Grupo Textron acaba de completar 100 anos, embora sua relação com a aviação seja mais
recente, tendo começado em 1960. Com origem na indústria têxtil, o conglomerado controla
as marcas Cessna, Beechcraft, Bell e Lycoming, além de atuar em diversos negócios.

CITATION M2 GEN2
O Citation M2 Gen2
agrega diversas melho-
rias ao jato de entrada
da Cessna, como espaço
para as pernas, nova ilu-
minação e materiais mais
agradáveis ao toque. Uma
das melhorias, solicitada
por diversos usuários do
Citation M2, foi a adição
de novas portas USB-A
em todos os assentos da
cabine e portas USB-C
na área dos assentos club,
assim como recursos de
carregamento sem fio.
Houve ainda melhorias
na ergonomia também
para os pilotos.

CITATION ASCEND
Anunciado em maio
último, na véspera da
EBACE, o Citation Ascend
é herdeiro da veterana
série 560XL e agrega uma
série de inovações existen-
tes nos grandes jatos da
Textron. O novo avião é
uma evolução do Citation
560XL e traz um cockpit
totalmente novo, cabine de
passageiros com novos re-
cursos e acabamento apri-
morado. O modelo terá a
suíte de aviônicos Garmin
G5000, com telas de 14
polegadas, autothrottle e
será impulsionado pelos
motores Pratt & Whitney
Canada PW545D.

42 | MAGAZINE 3 5 1
CLUBE DE REVISTAS

CITATION LATITUDE
E LONGITUDE
Os dois modelos foram a
resposta da Cessna à mudança
no segmento de jatos médios e
supermédios, respectivamente.
O Latitude foi anunciado em
2011 e oferecia um projeto
completamente novo, com
capacidade para voar por até
2.700 milhas náuticas (5.000
quilômetros), com nove
passageiros e com um inte-
rior bastante espaçoso e com
materiais sofisticados a bordo.
O Longitude foi anunciado um
ano depois, como para dispu-
tar o mercado super médio,
mas usando basicamente todos
os sistemas do irmão menor,
oferecendo assim alcance de
3.500 milhas náuticas (6.480
quilômetros) e capacidade
para doze passageiros.

CARAVAN E
GRAND CARAVAN
Considerados verda-
deiros jipes aéreos, a
família Caravan é con-
siderada uma das mais
bem-sucedidas da histó-
ria da aviação geral e
conta com um invejável
histórico de segurança.
Criado para atender ao
mercado de carga aérea
expressa, o Caravan
logo se mostrou flexível
o bastante para atender
toda e qualquer missão
que fosse oferecida,
desde o transporte de
passageiros em voos
regulares na chamada
aviação sub-regional,
até missões de combate
armado, passando por
táxi-aéreo, avião execu-
tivo e cargueiro puro.

MAGAZINE 3 5 1 | 43
A R TI G O CLUBE DE REVISTAS

UM OLHAR PARA
A AVIAÇÃO GERAL
Propostas para o
desenvolvimento e a
expansão do transporte
aéreo brasileiro de pequeno
porte, incluindo operadores
privados, táxis-aéreos e
empresas sub-regionais e
regionais
POR | RESPICIO A. ESPIRITO SANTO JR.*,
ESPECIAL PARA AERO MAGAZINE
CLUBE DE REVISTAS

P
or sermos um país
continental, com
mais de 200 milhões
de habitantes, em
desenvolvimento
e com inúmeras limitações
e necessidades logísticas regio-
nais (tanto inter-regionais
como intrarregionais, ou seja,
entre regiões e dentro de uma
mesma região), o Brasil de-
pende de uma aviação pujante.
Parece óbvio, certo? Mas não é
tanto assim... porque, se fosse,
os diversos governos federais
das três ou quatro últimas
décadas já teriam debatido,
elaborado e executados políti-
cas específicas para facilitar e
multiplicar o desenvolvimento
e a expansão do transporte
aéreo brasileiro.
Aliás, dois segmentos do
setor deveriam ter atenção
mais que especial: a aviação
geral/de negócios e a aviação
regional/sub-regional. Ambas
são, de forma inequívoca,
atividades de transporte que
atuam como grandes multipli-
cadores de integração nacio-
nal e de contribuição social
e econômica, uma vez que
podem atender a localidades
operacional e economicamen-
te inviáveis para as empresas
aéreas regulares de médio e
grande portes, quer brasilei-
ras ou estrangeiras. Como
se não bastasse, funcionam
como berço para formação de
pessoal altamente qualificado
para as empresas aéreas de
médio e grande portes que o
país também tanto necessita.
Neste artigo, vamos apontar
alguns dos itens que o Brasil
precisa debater e algumas das
ações que precisamos imple-

MAGAZINE 3 5 1 | 45
CLUBE DE REVISTAS

mentar para efetiva e verda- pois focaremos nela mais à das mais diversas especiali-
Além de interligarem dades, de enfermos e órgãos
o interior do país,
deiramente decolarmos, como frente, em separado. Então,
país, nestes dois segmentos. esta é uma forma simplista para transplante, assim como
aeronaves privadas,
corporativas e de táxis- de ver, mas fiquemos com ela parlamentares, ocupantes
aéreos formam pilotos AVIAÇÃO GERAL E para facilitar e por questão de de cargos do executivo e do
e mecânicos para a DE NEGÓCIOS espaço. judiciário, seus assessores,
aviação regular Para trabalharmos sobre um Cabe ressaltar que esse além de servidores diversos
conceito comum e simpli- é o segmento do transporte das três esferas de governo.
ficado, quando estivermos aéreo que mais possibilita e Não raras vezes, é o meio
empregando aqui o termo mais contribui com a integra- mais seguro, eficiente, eficaz
“aviação geral e de negócios”, ção nacional e regional, quer e efetivo para se chegar/
pensemos na aviação privada, no Brasil ou qualquer lugar sair de uma localidade com
nas frotas corporativas e nos do mundo. Esse segmento limitações de elevada monta
táxis-aéreos (bem como nas confere segurança, rapidez e (ou, literalmente, inacessível,
atividades de apoio a cada um eficiência no deslocamento de ainda que de forma tempo-
desses, em especial oficinas empresários, funcionários de rária) ao serviço por barcos,
de manutenção). Deixemos todas as hierarquias empre- veículos terrestres ou mesmo
a infraestrutura de lado aqui, sariais, profissionais liberais por caminhada.

46 | MAGAZINE 3 5 1
CLUBE DE REVISTAS

gência, cabem políticas espe-


cíficas para o seu desenvolvi-
mento. O que podemos fazer
para auxiliar este segmento?
Quatro itens para reflexão:

1. Zerar totalmente os
impostos de importação para
aeronaves até 19 assentos para
aviação privada, frotas corpo-
rativas e táxis-aéreos, novas ou
usadas, a pistão, turbo-hélice
ou híbrido/elétricas (sim, os
jatos não estão contemplados);

2. Idem para peças e equi-


pamentos novos ou usados;

3. Instituir teto de 3% para


o ICMS estadual aplicado a
combustíveis, lubrificantes etc.
para aeronaves registradas
neste segmento;

4. Conceder carência de
dois anos de Imposto de Renda
para Pessoa Jurídica para em-
presas de táxi-aéreo e oficinas
de manutenção (dedicadas ao
segmento de aviação geral e de
negócios) que estejam em total
Ora, a aviação geral e de aspas! – permitem uma ope- conformidade com as leis e os
negócios não possui meios ração com preços menores e regramentos em vigor.
para oferecer um modelo mais atrativos se comparados
low-cost/low-fare (em especial aos praticados pelas demais No mundo digital e
low-fare, que é o verdadeira- empresas do segmento. Permi- hiperconectado como o de
mente mais difícil!) tal como tam mais um rápido parênte- hoje, há ferramentas e siste-
uma Southwest, Ryanair e sis: sou entusiasta e apoio to- mas (baseados em blockchain,
Easyjet oferecem. Aqui preci- talmente modelos de negócio inteligência artificial, corre-
samos abrir um parêntesis: não inovadores, disruptivos, que lações, além de outros) que
possuem meios se operarem desafiam o status quo; desde ou já estão disponíveis ou
de forma legal, dentro da lei que respeitem 100% leis e re- podem ser desenvolvidos para
e dos regramentos existentes; gramentos em vigor e que não ser empregados pelo governo
fazemos este destaque porque haja dúvidas e necessidades de federal e os governos estaduais
existem “modelos de negócio” “interpretações” ou “brechas” no sentido de coibir/punir
– com aspas mesmo – aplica- para se manterem de pé. abusos e fraudes sobre os
dos por algumas organizações, Neste sentido e por reali- itens acima, assim como para
nos quais “interpretações zarem atividade essencial de verificar exatamente se esta
jurídicas” e “brechas” – mais transporte, integração e emer- aeronave está registrada neste

MAGAZINE 3 5 1 | 47
CLUBE DE REVISTAS

ou naquele tipo de atividade maioria não existe mais, tendo dades produtivas industriais
O Brasil carece de etc. Lembrando que sistemas desaparecido pelos próprios e do agronegócio; basta ver a
empresas genuinamente
regionais, que não
de verificação antifraude meios (falência por má gestão, importância do segmento da
dependam de rotas de altamente sofisticados já são por consequência de políticas aviação regional dedicada em
elevada densidade empregados no país por ban- cambiais ou choques eco- países como Estados Unidos,
cos brasileiros, administrado- nômicos, por complicações Canadá, Austrália, China,
ras de cartões de crédito e pela financeiras após acidentes, no território dinamarquês
própria Receita Federal. Em consolidação com a empresa da Groenlândia e nos países
outras palavras: tem como ser “mãe” etc.), por aquisição de escandinavos), urge ao Brasil
feito e não é nenhum “bicho- outra empresa aérea (exemplo dedicar toda atenção e todos
-de-sete-cabeças”. da TRIP adquirida pela Azul) os esforços possíveis para que
Alguns podem argumentar ou por ter tido sua autoriza- tenhamos políticas específi-
que, aproveitando as reduções ção/concessão de funciona- cas para o desenvolvimento
de custos aqui listadas, deter- mento cassada pela autoridade crescente e sadio deste seg-
minados grupos ou indivíduos aeronáutica. Hoje em dia, mento. Para isso, apresenta-
poderão levar vantagem sobre contamos nos dedos de uma mos aqui mais seis itens para
a grande maioria dos atuantes mão quantas empresas aéreas reflexão:
no segmento. Novamente, genuinamente regionais temos
há formas de se atenuar esta no país e sobram muitos 1. A exemplo do segmento de
suposta (ou real) vantagem. dedos. Para um país com as aviação geral e de negócios,
De toda forma, é importante dimensões do Brasil, repleto zerar totalmente os impostos
ressaltar que não há política de complexidades e necessida- de importação para aeronaves
de desenvolvimento perfeita des logísticas para integração de 19 a 50 assentos a serem
e que outros mecanismos de e desenvolvimento socioeco- registradas para emprego em
controle e restrição podem ser nômico, esse fato é algo que empresas aéreas genuinamente
incorporados aos itens aqui beira o absurdo. regionais, sendo estas aerona-
propostos. Neste sentido e sabendo ves novas ou usadas, a pistão,
do inequívoco papel da avia- turbo-hélice ou híbrido/elétri-
AVIAÇÃO REGIONAL ção regional para o desenvol- cas (novamente os jatos não
O Brasil já contou com vimento de um país (ainda estão contemplados aqui);
empresas aéreas genuina- mais um continental, com
mente regionais por décadas. espalhamento significativo de 2. Idem para peças e equipa-
Lastimavelmente, a extensa núcleos populacionais e uni- mentos novos ou usados;

48 | MAGAZINE 3 5 1
CLUBE DE REVISTAS

Adriano Ramos Pinto


Porto Reserva
Edição Limitada
Adriano Ramos Pinto - Douro, Portugal

8PɞHGL§£RKLVW³ULFɞHP
KRPHQDJHPDRFHQWHQ¡ULRGɞ
SULPHLUɞWUDYHVVLɞD©UHɞGR
$WO¢QWLFR

$SURYHLWHHJDUDQWɞHVWH
YLQKRGRSRUWRDJRUɞPHVPR
FRP10% OFF
352,%,'23$5$0(125(6'(̫̲$126

Cupom: SEJABEMVINDO*

ZZZ$GHJD2QOLQHFRPEU

FXSRPY¡OLGRDSHQDVSDUɞɞSULPHLUɞFRPSUɞQRPDUNHWSODFH$'(*$2QOLQH
CLUBE DE REVISTAS

tas de ação, mais estas acabam


engessadas e menos alcance e
aplicabilidade terão.

INFRAESTRUTURA
AEROPORTUÁRIA
Os aeroportos regionais e
os chamados aeroparques e
condomínios aeronáuticos
3. Instituir teto de 5% para o Novamente, alguns argu- também são elos para
Aviação sub-regional
já se mostrou viável Imposto sobre Circulação de mentarão sobre a dificuldade esta integração e para o
em diferentes rotas do Mercadorias e Prestação de Ser- ou complexidade de coibir e desenvolvimento do país
território brasileiro viços (ICMS) estadual aplicado punir abusos e fraudes. Como como um todo. Por questão de
a combustíveis, lubrificantes já vimos, esse argumento cai espaço, neste texto daremos
etc. para aeronaves registradas por terra com ferramentas importância destacada ao
e operadas por empresas aéreas e sistemas fundamentados primeiro, os aeroportos
genuinamente regionais; em tecnologias e conceitos regionais. No Brasil, um país
ultramodernos e que tenham eminentemente “rodoviarista”,
4. Instituir um programa fede- bases no que já está em uso o planejamento aeroportuário
ral de formação/qualificação de rotineiro pelo setor financeiro careceu sempre de uma
pilotos e mecânicos (algo como e pela Receita Federal. Outro interface com os meios de
“Mais Pilotos”, “Mais Mecâni- argumento pode ser o de não transporte de superfície.
cos” ou outra denominação que mais existir uma classificação, O leitor conhece quantos
o governo federal acredite de uma definição clara e inequí- aeroportos aqui no Brasil
boa sonoridade), onde algu- voca do que seja uma empresa que possuem uma rodoviária
mas centenas de pilotos seriam aérea regional. Ora, isso é para ônibus intermunicipais/
contemplados com bolsas para facilmente resolvido, uma interestaduais integrada ao
transicionar de piloto comer- vez que existem definições terminal de passageiros? Ora,
cial (PC) para pilotos de linha clássicas em vigor nos Estados quanto menor a integração,
aérea (PLA), assim como me- Unidos e em outros países, menor a cobertura da aviação
cânicos, para expandirem suas assim como se pode resgatar regional, menor conectividade
qualificações; as definições que emprega- e menos potencial ela tem!
mos aqui no Brasil mesmo Afinal, o segmento regional
5. Conceder carência de dois tempos atrás, atualizando-as é um excelente indutor,
anos de Imposto de Renda e adequando-as ao momento catalisador e multiplicador
(IRPJ) para empresas aéreas presente e um tempo futuro socioeconômico (em qualquer
genuinamente regionais que previamente definido. país que seja, ressalte-se).
estejam em total conformidade Observe o leitor que, nos Se é assim, onde está o
com as leis e os regramentos em dois segmentos anteriores, foi planejamento integrado dos
vigor e que operarem exclusiva- empregado o termo “aerona- meios de transporte terrestre
mente nas Regiões Norte, Nor- ve”, sem distinção de ser asa de médio e longo cursos, tão
deste e Centro-Oeste do país; fixa, asa rotativa, eVTOL, com importantes e comuns no
piloto a bordo, remotamente Brasil, com o planejamento
6. Idem para oficinas de pilotada, autônoma e assim da aviação brasileira (aqui até
manutenção sediadas nas três por diante. Isso porque, quan- incluindo a aviação de grande
regiões citadas e com contratos to mais se rotular, quanto mais porte, os aeroportos de grande
firmados com empresas aéreas se particularizar as políticas de porte)? O fato é que temos um
genuinamente regionais. desenvolvimento e as propos- abismo entre o meio rodoviá-

50 | MAGAZINE 3 5 1
CLUBE DE REVISTAS
CLUBE DE REVISTAS

renda), dinamizará as econo-


mias local, estadual, regional
e nacional, irá gerar muito
mais conectividade para a
sociedade, propiciará mais
oportunidades de negócios
para os aeroportos e para os
prestadores de serviços aéreos
(e aqui ampliaremos as bases
de demanda de passageiros e
cargas da aviação regional, da
aviação doméstica de grande
porte e até mesmo dos voos
internacionais!) e, por fim,
Governos deveriam se rio e o aéreo quando se fala de dos terminais citados no item todas estas atividades, sendo
esforçar para garantir planejamento e visão de um anterior; mais pujantes, irão compensar
que aeroportos tenham sistema de transportes. Está e repor a arrecadação de tribu-
rodoviárias e terminais mais do que na hora de isso 3. Elaborar, publicar e aplicar tos que foram reduzidos ou
ferroviários integrados acabar! Neste sentido, apresen- arcabouço legal para obrigar zerados em alguns dos itens
tamos três itens para reflexão: aeroportos, de todos os portes propostos ao longo do texto.
(mas em especial os regionais), Este autor sabe que os itens
1. Criar incentivos fiscais a elaborarem estudos de impac- aqui levantados são apenas
(nas três esferas de governo) tos socioeconômicos das suas uma pequena parte da ponta
para aeroportos regionais que áreas de influência, periodica- do iceberg para o necessário e
instalem terminais de ônibus mente, a fim de fazer com que verdadeiro desenvolvimento
intermunicipais e interesta- os aeroportos se aproximem da aviação brasileira nos seus
duais, ainda que de pequeno social, cultural e economica- segmentos geral/de negó-
porte (duas ou três posições de mente de todos os segmentos cios e regional. Em paralelo,
parada, embarque e desem- da sociedade que os circunda e é fundamental reconhecer
barque dos ônibus), mediante vice-versa. que o caminho é plenamente
planejamento em conjunto com factível, em todos os aspec-
as secretarias de Transporte Como vimos anteriormen- tos. Talvez seja um raro caso
dos municípios da região geo- te, os argumentos das fraudes de haver muito mais pontos
gráfica imediata (RGI) na qual e abusos cai por terra com a positivos do que neutros ou
o aeroporto está localizado aplicação e o oversight inin- negativos. É um extenso rol
(para definição de RGI e para terrupto de mecanismos de de ganha-ganha de todas as
detalhamentos sobre todas as controle dos mais avançados partes, em especial da socie-
RGI existentes em cada estado, e eficientes já em uso comum. dade, do cidadão brasileiro
vide site do IBGE); Importante observar que os – dos mais humildes aos mais
três itens apontados aqui vêm abastados – que sustenta(m),
2. Criar incentivos fiscais (nas reduzir de forma significativa com seus esforços, seu traba-
três esferas de governo) para o abismo atualmente exis- lho e seus impostos, tudo que
empresas de ônibus intermu- tente, na extensa maioria do vimos aqui.
nicipais e interestaduais que, país, entre o planejamento
mediante autorização do órgão de transportes terrestres e o * Respicio A. Espirito Santo
concessor e regulador compe- planejamento do transporte Jr. é professor de transporte
tente, proponha e opere rotas aéreo. Essa tão necessária aéreo na Escola Politécnica da
que passem a servir os aeropor- integração criará empregos Universidade Federal do Rio de
tos, dinamizando a utilização (e com isso melhor distribuir Janeiro

52 | MAGAZINE 3 5 1
CLUBE DE REVISTAS

A PRINCIPAL REVISTA DE AVIAÇÃO DO BRASIL


NOTÍCIAS | CURIOSIDADES | COBERTURA DE EVENTOS
LIVES | ENSAIOS EM VOO

INSCREVA-SE NO CANAL
DO YOUTUBE

www.aeromagazine.com.br @aeromagazine aeromagazine

aeromagazine Aero Magazine


CLUBE DE REVISTAS

DOS ULTRALEVES
M I N H A A E RO N AV E

AOS JATOS
Na hora da compra, escolha entre as 11 diferentes
categorias de aviões e helicópteros do mercado
PO R | DAVID CLARK*, ESPECIAL PARA AERO MAGAZINE
CLUBE DE REVISTAS

A
s aero-
naves
desem-
penham
um papel
fundamental no
transporte moderno,
oferecendo velocidade
e conveniência inigua-
láveis. A indústria da
aviação oferece uma
gama diversificada de
categorias de aero-
naves para atender a
várias necessidades,
dependendo do orça-
mento e do desejo de
conforto. Este artigo
tem como objetivo
fornecer uma análise
aprofundada de dife-
rentes categorias de
aeronaves, incluindo
aeronaves leves espor-
tivas, monomotores a
pistão, multimotores
a pistão, helicópteros
monomotores, heli-
cópteros multimoto-
res, aviões monomo-
tores turbo-hélice de
asa fixa, turbo-hélices
multimotores de
asa fixa, jatos leves, 1. AERONAVES LEVES ESPORTIVAS
jatos médios, jatos As ALE (ou LSA, na sigla em inglês) gens pessoais para locais próximos
supermédios e jatos de são aeronaves leves de dois lugares ou apenas para voar em sua área
longo alcance. Além projetadas para fins recreativos. local. Existem muitos modelos, mas
disso, exploraremos as Essas aeronaves têm certas limi- dois favoritos nos Estados Unidos
razões pelas quais cor- tações, como peso bruto máximo são o Icon A5 e o Vans RV12. No
porações e empresas e restrições de velocidade, mas Brasil, existem opções nacionais,
familiares são atraídos oferecem acessibilidade e facilidade como os anfíbios Seamax e Super
por esses modelos de operação. Os pilotos podem estar Petrel e os terrestres Aeroálcool e
específicos. interessados em uma ALE para via- Montaer MC-01.

MAGAZINE 3 5 1 | 55
CLUBE DE REVISTAS

2. MONOMOTOR A PISTÃO naves são relativamente baratas de se operar e manter,


Aviões monomotores a pistão são amplamente utili- tornando-as uma opção atraente para empresas que
zadas para transporte pessoal, treinamento de voo e buscam soluções de transporte econômicas. Exemplos
operações comerciais de pequena escala. Essas aero- comuns incluem o Cessna 182 e o Piper Matrix.

3. PISTÃO
MULTIMOTOR
As aeronaves a pistão mul-
timotor são conhecidas por
seu maior desempenho e
redundância. Eles oferecem
maior segurança e podem
cobrir distâncias maiores,
tornando-os adequados
para viagens regionais de
negócios e operações de
carga. Empresas e pilotos-
proprietários podem optar
por aeronaves multimotor a
pistão quanto maior capaci-
dade de carga útil e medidas
adicionais de segurança
forem desejadas. Os mo-
delos populares incluem o
bem-sucedido Beech Baron
G58 e o Diamond DA-62.

56 | MAGAZINE 3 5 1
CLUBE DE REVISTAS
4. HELICÓPTERO
MONOMOTOR
Helicópteros mo-
nomotores são
aeronaves versáteis
que se destacam em
recursos de decola-
gem e pouso vertical
(VTOL). Eles são
comumente usados
para passeios aéreos,
serviços médicos
de emergência e
aplicação da lei. As
empresas podem
investir em helicóp-
teros monomotores
para transporte
rápido e eficiente
em áreas urbanas ou
locais remotos com
infraestrutura limita-
da. Alguns modelos
muito populares são
o Agusta A109 e o
Eurocopter EC130.

5. HELICÓPTEROS
MULTIMOTORES
Helicópteros multimotores
fornecem maior potência,
estabilidade e capacidade de
carga em comparação com
seus equivalentes monomo-
tores. Essas aeronaves são
frequentemente utilizadas
para operações offshore, mis-
sões de busca e salvamento e
transporte VIP corporativo.
As empresas podem escolher
helicópteros multimotores
para atender às suas neces-
sidades específicas, como
acessar plataformas remotas
de petróleo ou transportar
grupos maiores de executi-
vos. Modelos excepcionais
incluem o Airbus H145, o
Sikorsky S76D e Leonardo
AW169.

MAGAZINE 3 5 1 | 57
CLUBE DE REVISTAS
6. MONOMOTOR
TURBO-HÉLICE DE
ASA FIXA
Aeronave monoturboé-
lice de asa fixa combina
a eficiência dos motores
a turbina com a versa-
tilidade dos designs de
asa fixa. Eles oferecem
excelentes recursos de
decolagens e pousos
curtos (STOL) e podem
operar em pistas meno-
res. As empresas podem
preferir turbo-hélices
monomotores devido
aos custos operacionais
econômicos e
para acessar locais
remotos, ou realizar
viagens regionais de
negócios de 400 a 600
quilômetros de alcance.
As melhores aeronaves
nesta categoria são
o Pilatus PC12NG,
TBM940, Cessna
Caravan, Piper M600 e
Daher Kodiak.

7. MULTIMOTOR
TURBO-HÉLICE
DE ASA FIXA
Aeronave multimotor turbo-
-hélice oferece maior potên-
cia, alcance e capacidade de
carga útil. Essas aeronaves
são frequentemente usadas
para operações regionais e de
carga, bem como serviços de
ambulância aérea. Executivos
interessados em conectividade
regional ou operações especiali-
zadas podem optar por tur-
boélices multimotores devido à
economia, alcance e velocidade.
O rei dos céus é, obviamente,
a série Beechcraft King Air
(-90 a -350i), mas existem
outros modelos, como o Cessna
SkyCourier ou o Twin Otter,
recentemente desenvolvidos.

58 | MAGAZINE 3 5 1
CLUBE DE REVISTAS
8. JATOS LEVES
Os jatos leves são aviões a
reação executivos compactos
que oferecem maior velocidade,
alcance e conforto em compa-
ração com aeronaves turbo-
-hélice. Eles podem conectar
com eficiência pares de cidades
dentro de uma região, tornan-
do-os adequados para viagens
executivas e viagens de negócios
urgentes. Normalmente, essas
aeronaves funcionam melhor
em viagens entre 600-1.000
quilômetros de alcance e po-
dem navegar acima do clima,
em níveis de voo superiores. As
empresas geralmente escolhem
jatos leves por sua capacidade
de acessar aeroportos menores
e manter os custos operacio-
nais baixos. Grandes opções
nesta categoria incluem a série
CJ1-CJ4, juntamente com o
HondaJet, o Pilatus PC24 e as
séries Phenom 100 e 300.

9. JATOS
DE MÉDIO PORTE
Jatos de médio porte atingem
um balanço entre alcance, velo-
cidade e espaço na cabine. Eles
podem acomodar um número
maior de passageiros e oferecer
maior capacidade de bagagem.
Os jatos de médio porte são
ideais para viagens de média
distância na faixa de 1.500 a
2.500 quilômetros e podem
alcançar destinos que podem
não ter conexões diretas de
companhias aéreas comerciais.
Corporações e famílias com
alto patrimônio líquido podem
preferir jatos de médio porte
pelo conforto, alcance e flexibi-
lidade de uma aeronave maior.
Os modelos populares incluem
as séries Citation Sovereign e
Gulfstream G200.

MAGAZINE 3 5 1 | 59
CLUBE DE REVISTAS

CONCLUSÃO
As categorias de aerona-
ves atendem a uma ampla
gama de necessidades de
transporte, desde voos
recreativos até viagens
executivas de alto nível.
Corporações e empresas
10. JATOS SUPERMÉDIOS vos corporativos e empresas familia- familiares possuem re-
Os jatos supermédios oferecem res que procuram opções de viagens quisitos diversos, que in-
alcance, velocidade e espaço de de longo alcance sem a necessidade fluenciam na escolha dos
cabine ainda maiores do que os jatos de aeronaves maiores e mais caras modelos de aeronaves.
médios. Eles são adequados para geralmente escolhem jatos super- Quer se trate de viagens
viagens intercontinentais e podem médios. Estes incluem os modelos regionais econômicas,
conectar os principais centros de Gulfstream G280, Embraer Praetor recursos de decolagem
negócios de forma eficiente. Executi- 600 e Falcon 2000. vertical, maior capacidade
de carga útil ou conforto
luxuoso de longo alcance,
o setor de aviação privada
oferece uma variedade
de categorias de aerona-
ves para atender a essas
necessidades.
Com mais de 200 mode-
los para escolher, é impor-
tante se cercar de uma
equipe experiente ao seu
lado para ajudar a selecio-
nar e adquirir a melhor
aeronave que se encaixe
na sua missão, orçamento
e prazo. Ao selecionar
cuidadosamente o tipo
de aeronave apropriado,
as empresas e famílias de
alto patrimônio líquido
podem melhorar sua
eficiência, conectividade,
11. JATOS DE LONGO ALCANCE conforto do passageiro
Os jatos executivos de longo negócios e garantindo o máximo e experiência geral de
alcance são a epítome do luxo e conforto aos passageiros. Corpo- viagem comprando a
do desempenho. Eles oferecem rações e escritórios familiares que aeronave certa que atenda
capacidades de alcance tran- buscam o auge das viagens aéreas ao seu perfil de missão
soceânico estendido, cabines privadas geralmente adquirem hoje e pelos próximos três
espaçosas e comodidades excep- jatos executivos de longo alcance. a cinco anos.
cionais. Essas aeronaves podem Essas aeronaves top de linha in-
voar sem escalas por continentes cluem as séries Gulfstream G650, * David Clark é diretor
e oceanos, tornando-as ideais G700 e G800, bem como Falcon administrativo Integris
para viagens internacionais de 7X/8X e 10X. Consultoria em Aviação

60 | MAGAZINE 3 5 1
CLUBE DE REVISTAS

Aquisições Vendas Consultoria

David Clark
CEO/Broker

david@integrisaviation.com
+1.952.261.5945
S EG U R A N Ç A CLUBE DE REVISTAS

PERIGO REAL
E IMINENTE
As medidas para reduzir o risco de acidentes e
incidentes determinados por incursões de pista
P O R | FRANCISCO AUGUSTO COSTA*, ESPECIAL PARA AERO MAGAZINE
CLUBE DE REVISTAS

F
evereiro de 2022. similares com desfechos trági- absoluto de eventos, sejam
Durante aproxima- cos durante operações notur- eles acidentes ou incidentes.
ção em São Paulo, nas, em condições meteoroló- As HRC estão nominalmen-
um Boeing 737- gicas de voo por instrumentos te citadas no Documento
MAX 8 se prepara (IMC) ou em aeroportos que 10004 da ICAO, o Global
para o flare. As boas condições não contam com equipamen- Aviation Safety Plan 2023-
meteorológicas colaboram tos de segurança que colabo- 2025 (GASP), fazendo valer o
com a visibilidade e a tripula- ram com os controladores de principal objetivo de seguran-
ção, já vigilante em relação à tráfego aéreo nos principais ça operacional da entidade. O
movimentação de uma aero- terminais do mundo. próprio GASP identifica vá-
nave saindo do pátio 12 do ae- rios fatores contribuintes para
roporto internacional de Gua- O QUE É a ocorrência desses eventos,
rulhos, não é surpreendida ao INCURSÃO DE PISTA? incluindo design do aeroporto,
receber da torre uma instru- As ocorrências em aeródro- carga de trabalho de pilotos e
ção de arremetida, pronta- mo envolvendo a presença controladores e uso de fraseo-
mente cumprida. Um Learjet incorreta de aeronave, veículo logia fora de padrão. Somam-
ultrapassa as marcas demar- ou pessoa na área protegida -se a estes outros já citados,
cadoras do ponto de espera de uma superfície designa- como operações noturnas,
e avança perigosamente em da para pouso e decolagem sob baixa visibilidade ou com
direção à pista sul, exatamente de aeronaves são definidas, infraestrutura aeroportuária
na zona de toque da cabecei- segundo o RBAC 153, como deficiente.
ra 10R, a mais utilizada para “incursão de pista”. Entende-
pousos no principal aeroporto -se como presença incorreta o O CENÁRIO BRASILEIRO
brasileiro. Menos de um mês posicionamento ou movimen- Uma consulta às estatísticas
depois, um A320neo também to inseguro ou indesejável de do Sistema de Investigação
recebe ordem de arremetida aeronave, veículo ou pessoa
exatamente no mesmo local, na área protegida. Área pro-
desta vez, em função da perda tegida, por sua vez, é a área Figura 1
de separação com um Ban- que compreende a pista de Em vermelho, duas ocorrências em
deirante, que havia pousado pouso e decolagem, a stopway, Guarulhos vistas no Aerodrome Data Chart
antes do Airbus, e que ainda o comprimento da faixa de
não havia livrado a pista via pista, a área de segurança
taxiway Tango. de fim de pista (Resa) e, se
A figura 1 exibe parcial- existente, a zona desimpedida
mente a aerodrome chart (clearway).
de Guarulhos e mostra a A incursão de pista, em
proximidade local das duas conjunto com outras qua-
ocorrências. Mas não foram tro categorias de acidentes
somente as proximidades local aeronáuticos, foi definida
e temporal que marcaram os pela Organização de Aviação
dois eventos: o fato de terem Civil Internacional (ICAO,
ocorrido em período diurno, na sigla em inglês) como uma
em boas condições meteoro- das cinco high-risk categories
lógicas e com alta consciência (HRC), que se caracterizam
situacional dos pilotos – e, por um destes marcadores a
principalmente, dos contro- seguir, ou uma combinação
ladores – colaborou para o deles: alto número absoluto de
desfecho seguro de ambos. fatalidades, alto número de fa-
A história é rica em eventos talidades por evento e número

MAGAZINE 3 5 1 | 63
CLUBE DE REVISTAS

e Prevenção de Acidentes pouso ou decolagem em pista aeronave da Latam, iniciava-


Aeronáuticos, o Painel Sipaer, diferente da autorizada pelo -se um exercício das equipes
que fornece um panorama controle de tráfego aéreo de bombeiros do aeroporto de
da segurança operacional da (ATC), em aeroportos com Lima. Praticamente sem notar
aviação brasileira nos últimos duas pistas, ultrapassagem a aceleração do avião na pista,
dez anos, exibe 46 eventos não autorizada da barra de o primeiro de um conjunto de
de incursão em pista, sendo paradas ou, ainda, autoriza- três caminhões da equipe de
alguns registros em dupli- ção de pouso ou decolagem socorristas de resgate colidiu
cidade (quando envolvem para uma aeronave enquanto com asa e motor direitos do
duas aeronaves). Uma breve outra ocupava a pista em uso. Airbus, que, no momento da
comparação com os 1.696 A suspeita de subnotificação incursão em pista, já havia
eventos registrados em 2022 é reforçada, por exemplo, ultrapassado a velocidade de
e com os mais de 600 even- pela ausência de relatos de 120 nós. Apesar da ausência
tos registrados apenas até incursões relacionadas a veí- de feridos graves no avião,
maio de 2023 pela agência de culos, uma subcategoria de dois bombeiros perderam a
aviação civil norte-americana runway incursion que voltou vida e um ficou gravemente
(FAA) levanta uma suspeita a chamar a atenção após as ferido como resultado da
de subnotificação dos eventos fortes cenas da colisão do colisão.
no Brasil. Ainda assim, os 46 Airbus CC-BHB com um Cabe destacar que, a des-
eventos registrados no país caminhão de bombeiros no peito do exercício da equipe
demonstram uma tendência: final de 2022. de socorro ter sido autorizado
dos sete acidentes registrados, e coordenado previamente
cinco foram relacionados O EVENTO DE LIMA com a administração aero-
à presença de pessoas nas Na tarde de 18 de novembro portuária, essa autorização
proximidades da pista de de 2022, um A320neo da La- não inclui, de forma implícita,
pouso, sempre em localidades tam Peru iniciou a decolagem a autorização para entrada e
com pouca infraestrutura, de Lima, cumprindo o voo uso indiscriminado da área
notadamente em aeroportos 2213, que se destinava a Julia- protegida, que deve sempre
não controlados. ca, cidade distante 850 qui- ser precedida da autorização
Os registros de incidentes lômetros a sudeste da capital pelo controle de tráfego aéreo.
e incidentes graves remanes- peruana. Simultaneamente à Neste aspecto, é importante
centes envolvem fatos como autorização de decolagem da enfatizar exatamente este pon-

64 | MAGAZINE 3 5 1
CLUBE DE REVISTAS

to: entre os principais fatores


contribuintes para eventos de
incursão em pista no mundo
está a entrada na pista, seja
por aeronaves, pessoas ou
equipamentos, sem a devida
autorização ATC ou, onde é
aplicável, sem a devida coor-
denação do serviço de tráfego
aéreo (ATS).

PREVENÇÃO
Sabendo que os eventos de
incursão de pista são um risco
real, conhecendo a gravidade
dos eventos, sobretudo aque-
les que envolvem colisão entre
aeronaves, e tendo identifica-
do os fatores contribuintes, é
necessário conhecer as medi-
das de mitigação para pre-
venção de novas ocorrências.
Essas medidas não pretendem
ser exaustivas, ou seja, às
medidas apresentadas a seguir
se somam outras identificadas
por organizações, operadores
e reguladores que militam na
segurança operacional. TRAGÉDIA
Sob a ótica da administra- mente na internet). Outros EM TENERIFE
ção aeroportuária, algumas atores como controle de O pior acidente da história da
das medidas mitigatórias pos- tráfego aéreo, operadores e aviação ocorreu após um evento de
síveis são o redesign nas áreas reguladores também exercem incursão de pista
críticas (quando possível), re- papel fundamental na preven-
forço nas sinalizações de solo, ção desse tipo de evento e de-
O acidente do aeroporto de
instalação de radar de solo e les se espera uma contribuição
Tenerife de 1977 permanece como o pior desastre
treinamento de operadores de significativa para que a ICAO
da história da aviação comercial, com 583
equipamentos de solo. atinja seu ousado objetivo de- fatalidades. Na ocasião, dois Boeing 747 foram
Sob a ótica das tripula- lineado no GASP 2023-2025: totalmente destruídos quando um 747-200 da KLM,
ções, boas medidas incluem o atingir, no ano de 2030, um que havia iniciado a decolagem sem a autorização
briefing prévio da operação de zero absoluto de fatalidades na da torre de controle, colidiu com um 747-100 na
táxi, a atenção às instruções aviação comercial. PanAm, no aeroporto de Los Rodeos. Resultado de
ATC e às comunicações rádio um evento de incursão em pista, o pior acidente da
em geral e o conhecimento * Francisco Augusto Costa é aviação mundial é nominalmente citado pela ICAO
das sinalizações aeroportuá- piloto de A320 e mestre em no seu Plano Global de Segurança como motivação
rias e de outros recursos de Transporte Aéreo e Aeroportos para a vigilância constante contra os eventos de
treinamento (há vários bons pelo Instituto Tecnológico de runway incursion.
materiais acessíveis gratuita- Aeronáutica.

MAGAZINE 3 5 1 | 65
AV I AÇ ÃO C I V I L CLUBE DE REVISTAS

FRENTE
PARLAMENTAR
As oportunidades em torno do grupo criado
no Congresso Nacional para aprimorar a regulação
do transporte aéreo brasileiro
POR | GEORGES FERREIRA*, ESPECIAL PARA AERO MAGAZINE
CLUBE DE REVISTAS

A
aviação, em pou- partamento de Aviação Civil
co mais de cem (DAC) em 1941, este defini-
anos de atividade, tivamente substituído pela
conseguiu mais Agência Nacional de Aviação
do que diminuir Civil, a Anac, em 2006.
a distância entre os povos. Ao momento, a Força Aé-
De seu início, quando pare- rea Brasileira segue com o en-
cia uma mera curiosidade, cargo de regular e fiscalizar o
passando à condição de um controle do espaço aéreo (lado
instrumento vencedor de ar) por meio do Departa-
guerras, a aviação se conver- mento de Controle do Espaço
teu em uma ferramenta que Aéreo (Decea), com a Anac,
uniu a humanidade, levando- responsável por normatizar e
-a a cooperar continuamente supervisionar a atividade de
na produção de normas e aviação civil no Brasil (lado
regras padronizadas que, terra), tanto em seus aspectos
desde então, vêm garantindo econômicos como no que diz
sua viabilidade econômica e respeito à segurança técnica
a segurança de suas opera- do setor, tudo em observân-
ções, sem deixar de respeitar cia ao Código Brasileiro de
a soberania dos estados, Aeronáutica (Lei Federal nº
estabelecendo o que hoje ficou 7.565 de 1986). Traduzindo, a
conhecido como o sistema da sociedade civil está com a res-
Organização da Aviação Civil ponsabilidade de definir quais
Internacional, OACI, cujas serão as regras a serem apli-
origens remontam à Conven- cadas em um setor que hoje
ção de Chicago sobre Trans- corresponde à segunda maior
porte Aéreo Internacional, aviação regular da América
nascida em plena Segunda Latina (perdendo apenas para
Guerra Mundial (1944). o México) e à segunda maior
O Brasil, que é um mem- aviação não regular do mun-
bro fundador da OACI e do, estando essa representada
componente de seu Grupo 1 pela aviação geral.
(que o habilita, entre outras
coisas, a certificar produtos A FRENTE
aeronáuticos) desde sua fun- O marco regulador da ativi-
dação, sempre participou de dade aérea no Brasil segue
forma ativa em seus trabalhos, sendo o Código Brasileiro
o que o faz um protagonista de Aeronáutica de 1986 que,
da aviação internacional e apesar das recentes alterações
um exemplo a ser observado. (advindas da Medida Provi-
Por óbvio que a sistemática sória 1.089/2021, que resultou
na produção de suas normas na Lei 14.368/2022), segue
internas, seguiria o mesmo com sua atualização esperan-
padrão, sendo que sua aplica- do para ser deliberada pelo
ção e fiscalização permaneceu, plenário do Senado Federal
por mais de setenta anos, ao (PL 258/2016). Contudo, ade-
encargo de sua força aérea, a mais das questões legislativas
FAB, que criou o então De- específicas, diversas leis são de

MAGAZINE 3 5 1 | 67
CLUBE DE REVISTAS

interesse do setor aéreo, como


está sendo o caso do Projeto
de Emenda Constitucional nº
45 de 2019 (PEC 45/2019),
que trata do novo arcabouço
fiscal, que ora foi aprovado
pela Câmara dos Deputados.
Nesse sentido, recente-
mente, houve a aprovação
da Medida Provisória nº
1147/2022, que, desde o início
de 2023, zerou as alíquotas de
PIS e Cofins sobre as receitas
do transporte regular de pas-
sageiros, cujos efeitos ainda
estão sendo mesurados pelo
setor aéreo. A aviação possui
uma carga tributária acima da
média nacional, já que tam-
bém precisa somar em suas
despesas as incidências dos
tributos estaduais e munici-
pais, ademais da carga regula-
tória, cujas exigências afetam
seus custos operacionais, que
se assoberbam com taxas
e tarifas cobradas a diário
(praticamente por operação).
Também deve ser mencio-
nado que a precificação de
seus insumos se dá em moeda
norte-americana (dólar),
que dependem de complexas
medidas aduaneiras e alfande- Cargas e de Passageiros, com- estruturantes que impactem o
gárias para sua importação e/ posta por representantes das principal pleito do setor, que é
ou nacionalização. empresas de linhas aéreas, a diminuição de custos.
Diante de tal cenário, táxis-aéreos, aviação geral, A FPAviação será presidida
que se acrescenta questões aeroagrícolas, administrado- pelo deputado federal Felipe
ambientais, trabalhistas e ras de aeroportos e presta- Carreras, do PSB de Per-
outras, acompanhar cotidiana- doras de serviços auxiliares nambuco, contando em sua
mente tudo o que se passa não ao transporte aéreo (Esatas), composição com os deputados
apenas em nível regulatório contando com o apoio de federais Newton Cardoso
(Anac e Decea), mas especial- 12 entidades de classe da (MDB/MG), Sidney Leyte
mente em nível legislativo, aviação, estruturaram a cria- (PSD/AM) e a deputada fede-
fez-se prioridade às entidades ção da Frente Parlamentar ral Helena Lima (MDB-RR).
representativas do setor aéreo em Defesa da Aviação Civil
que, por meio da Confedera- (FPAviação), cujos objetivos AVIAÇÃO PÓS PANDEMIA
ção Nacional dos Transportes, serão, entre outros, acompa- Após amargar uma queda de
CNT, e da criação de sua nhar as discussões da refor- 95% do movimento no auge
Seção V, Transporte Aéreo de ma tributária e de políticas da pandemia da covid-19

68 | MAGAZINE 3 5 1
CLUBE DE REVISTAS

(em 2020) e um aumento de (como é o caso das empresas res, usuários e consumidores
121% no valor do querosene auxiliares do transporte aéreo, do sistema, além da aviação
para aviação a partir de 2019, as Esatas), trabalhadores (com agrícola (essencial ao agrone-
no ano de 2022, a aviação mão de obra especializada) e gócio), do aerodesporto, do
regular brasileira transportou pelo setor de turismo. sistema de ensino (centros de
97,9 milhões de passageiros, Mas há mais, pois a in- instruções, faculdades e cursos
1,4 milhão de toneladas de dústria da aviação abrange a técnicos), aeródromos (públi-
carga em 2.276 decolagens fabricação de aeronaves (com cos e privados), aeroportos,
diárias. Segundo a Associação o Brasil sediando o terceira drones e assim por diante.
Brasileira de Empresas Aéreas maior fabricante de aviões do Adicionalmente às deman-
(Abear), a aviação contribui planeta e linhas de montagens das já ativas, a aviação em
com 3,1% da produção econô- tanto de helicópteros como breve ofertará novas opções de
mica do Brasil, no que tange de aviões de pequeno porte), mobilidade para cargas e pas-
a aviação regular, incluindo o a aviação geral (táxis-aéreos sageiros, na forma de drones e
que é produzido diretamente e operadores particulares), o veículos voadores autônomos,
pelas empresas aéreas, pela ca- setor de manutenção, logísti- que logo operarão dentro
deia de suprimento e suporte ca, atendimento aos operado- e fora das cidades, além da

MAGAZINE 3 5 1 | 69
CLUBE DE REVISTAS

opção do turismo espacial e sem perder de vista a seguran- COM A PALAVRA,


do transporte suborbital de ça, pedra fundamental para a OS SETORES
objetos e pessoas. aviação. A Seção V da Confederação
As possibilidades para o de- Esses serão apenas alguns Nacional dos Transportes
senvolvimento dos modais aé- dos desafios a serem enfren- (Transporte Aéreo de Cargas
reos, sejam os atuais ou futuros, tados pela FPAviação, que e de Passageiros) abriga
exigirão uma ampla e constante deverá lidar não apenas com importantes representantes
ginástica legislativa, cuja impor- novos projetos, mas, também, do setor do transporte aéreo
tância da participação do setor com as mais de 300 preposi- nacional. São segmentos
regulado será fundamental. ções legislativas envolvendo a que contribuíram signifi-
Atualizar os marcos regulatórios aviação, na forma de Proje- cativamente para a criação
e/ou permitir a autorregulação tos de Decretos Legislativos, da Frente Parlamentar da
em suas atividades (como já Projetos de Leis, Proposições Aviação, tendo recebido,
vêm desenvolvendo as Esatas), de Lei Complementar etc., ademais, o apoio de 12
pode ser um caminho a permi- ora em andamento apenas na entidades representativas da
tir a diminuição da burocracia, Câmara dos Deputados. aviação, sendo estas:

70 | MAGAZINE 3 5 1
CLUBE DE REVISTAS

Transporte Aéreo (Alta) comuns a toda a aviação, e,


• Confederação Nacional de no caso do setor aeroagrícola,
Transporte (CNT) sua inclusão em programas de
• Junta dos Representantes fomento à agricultura. Thiago
das Companhias Aéreas Silva destaca a interlocução
Internacionais do Brasil com os membros do setor no
(Jurcaib) debate e busca das demandas,
• Sindicato Nacional da que conta ainda com a par-
Aviação Agrícola (Sindag) ticipação dos associados do
• Sindicato Nacional das Sindag e outras entidades de
Empresas Aeroviarias (Snea) classe, e do time de consulto-
• Sindicato Nacional das res das áreas de legislação. Ele
Empresas de Taxi-Aéreo também que, no comparativo
(Sneta) com a aviação agrícola em
outros países, o tema no Brasil
Para a presidente da Seção precisa ganhar amplitude e
V (também presidente da multiplicar sua abrangência,
Abaer), Jurema Monteiro, a pois seu potencial ainda care-
FPAviação pode atuar como ce da devida atenção para uma
uma facilitadora de informa- política de Estado que entenda
ções para que o parlamentar o quanto o setor, em suas vá-
possa entender a realidade rias nuances, pode contribuir
do setor e tomar decisões. A com o dia a dia da sociedade.
Abear aponta como uma de Flávio Pires, da Associação
suas prioridades a atuação Brasileira de Aviação Geral,
junto à reforma tributária, Abag, e diretor da Seção V
o envolvimento e aprofun- da CNT, espera o apoio às
damento das discussões de questões tributárias, como
temas envolvendo fazenda, é o caso da MP 45/2019,
indústria e comércio, turismo, especialmente ao que se refere
transportes, infraestrutu- à incidência do IPVA sobre
ra, energia, meio ambiente, aeronaves, destacando a im-
relações internacionais, portância do enquadramento
• Associação Brasileira das consumidor, desenvolvimento da aviação regional dentro
Empresas Aéreas (Abear) regional, trabalho e emprego, dos regimes favorecidos, o
• Aeroportos do Brasil (ABR) além da apreciação do con- PL 2166/2022, que isenta do
• Associação Brasileira da junto legal que vise garantir à Imposto de Renda da Pessoa
Aviação Geral (Abag) aviação o interesse público, a Física (IRPF) os valores do
• Associação Brasileira das competitividade da indústria Auxílio Brasil, do Auxílio Gás
Empresas de Serviços e o alinhamento às melhores e dos auxílios recebidos por
Auxiliares ao Transporte práticas mundiais. transportadores autônomos de
Aéreo (Abesata) Para Thiago Magalhães cargas e taxistas, o combate ao
• Associação das Indústrias Silva, diretor da Seção V e transporte aéreo clandestino
Aeroespaciais do Brasil ex-presidente do Sindicato de passageiros (TACA), além
(AIAB) Nacional das Empresas Aeroa- da defesa de tudo que seja
• Associação Internacional de grícolas (Sindag), as matérias afeto à aviação geral, sendo
Transporte Aéreo (Iata) mais urgentes se referem à importante o desenvolvimento
• Associação Latino- tributação de importação e de um estudo que considere o
Americana e do Caribe de de combustível, como temas impacto das novas tributações

MAGAZINE 3 5 1 | 71
CLUBE DE REVISTAS

a um setor que é muito mais dos modais do transporte, na diferenciada na MP 45/2019,


plural do que a aviação regular inclusão dos setores aéreos o que deverá encampar os
e que depende de uma série dentro de sua estrutura, o táxis-aéreos, além da isenção
de benefícios, especialmente, que deu uma grande sinergia do IPVA aos serviços aéreos
para a importação de peças e para a criação da FPAviação, públicos.
insumos. destacando o apoio dado pelo Ricardo Aparecido Miguel,
Fábio Rogério, diretor da presidente da confederação, diretor da Seção V da CNT e
Seção V da CNT e presidente Vander Francisco Costa, para presidente da Associação Bra-
da ABR Aeroportos do Bra- o sucesso desse projeto. Santos sileira das Empresas de Servi-
sil, entidade que defende os também refere que especial ços Auxiliares ao Transporte
interesses das empresas as- atenção deve ser dada à refor- Aéreo, Abesata, remete que
sociadas que administram os ma tributária, além de outras as Esatas atuaram ativamente
sítios aeroportuários federais pautas a serem tratadas, como para a criação da FBAviação e
concessionados à iniciativa é o caso da situação da pre- que ademais das preocupações
privada, apoia a FPAvia- cificação dos combustíveis e volvidas às questões tributárias
ção, uma vez que permitirá que a FBAviação deve estabe- (que são prioritárias), ressalta
levar de maneira qualificada lecer uma interlocução entre ser importante que, quando
demandas e a discussão de os operadores aéreos com a for solucionado algum cami-
projetos com o parlamen- Agência Nacional de Aviação nho para os operadores aéreos,
to brasileiro, fazendo com Civil, a Secretaria de Portos e é necessário fazer com que as
que as casas parlamentares Aeroportos e outras correlatas Esatas não recebam qualquer
contemplem a visão do setor ao setor, sempre se valendo tratamento desigual, pois, em
privado e a potencialidade de de opiniões técnicas e em certos casos, estas concorrem
sua contribuição na constru- observância às demandas dos com alguns operadores aéreos
ção legislativa. A ABR e suas táxis-aéreos, que podem ser e, às vezes, com os próprios
associadas representam 93% encaminhadas à FBAviação administradores aeroportuá-
dos passageiros transporta- por meio do Sneta. Por fim, rios. Assim, há que se assegu-
dos no Brasil e 99% da carga Scheffer considera importante rar que os benefícios de uns
aérea. criar uma agenda parlamen- devem se refletir para todos,
Gilberto Scheffer dos tar positiva com a Anac, com bem como eventual ônus.
Santos, diretor da Seção V da vistas a atender à eventuais
CNT e do Sindicato Nacional demandas da agência em nível O PRESIDENTE DA
das Empresas de Táxis Aéreos parlamentar e comemora o FPAVIAÇÃO
(Sneta), ressalta a importân- fato de a aviação regional O deputado federal Felipe
cia da CNT, como liderança ter sido incluída na alíquota Carreiras já foi secretário de

72 | MAGAZINE 3 5 1
CLUBE DE REVISTAS

Os melhores vinhos
Turismo e Lazer da Prefeitura veículo. A reforma estabelece das melhores importadoras
de Pernambuco e está em seu novas hipóteses de incidência em um único clube
terceiro no Congresso Nacio- em aeronaves, com exceção às
nal. Para o parlamentar, “o aeronaves agrícolas e de ope-
setor aéreo representa parte rador certificado para prestar
importante para o desenvol- serviços aéreos a terceiros, o Sempre vinhos pontuados por
vimento de dois elementos que inclui os equipamentos
utilizados pelos operadores
Robert Parker, Wine Spectator,
essenciais, o fortalecimento do
turismo, que é uma indústria aéreos regulares ou não. Essas Descorchados ou ADEGA
de rápido e forte crescimento medidas estão sendo aquila-
econômico e com grande ge- tadas pelos diversos ramos da
ração de emprego, e o fortale- aviação, que serão impactados
cimento logístico e interioriza- de diversas formas.
ção do país, que efetivamente Mas não apenas de im-
pode reduzir o custo Brasil”. postos e taxas vive a aviação,
Foi o autor do PL apesar dos custos que tanto
676/20220 que alterou a MP representa em suas operações.
1147/2022, que zerou as alí- Importante para a consoli-
quotas de PIS e COFINS para dação da FBAviação, será a
o setor aéreo, e apresentou o inclusão e a receptividade
PL 3.221/2023 que permite aos diversos players do setor
a utilização dos recursos do dentro da agenda parlamentar.
FNAC como garantia em ope- Aqueles, precisam, por sua
rações de crédito para presta- vez, enxergar as oportunida-
dores de serviços aéreos, que des que ora se abrem e esta-
ora é apreciado com o regime rem preparados a participar.
de urgência e que contou com A interlocução entre os
o apoio de 415 deputados. operadores aéreos e os órgãos
reguladores e fiscalizadores
DESAFIOS da aviação civil, incluindo-se
O texto da PEC 45/2019 aqui a Anac e o Decea, or-
incluiu, na votação ocorrida questrado, quando requisita-
na Câmara dos Deputados, a do, por uma frente parlamen-
aviação regional (cuja concei- tar dedicada, poderá ser um
tuação será objeto de futuros marco divisor com benefícios
debates) dentro do regime para todos, pois sendo o setor
de alíquota diferenciada, que privado que, de fato, faz a
serão reduzidas para 40% da aviação acontecer, suas ideias
padrão, sendo que o texto e práticas poderão melhor am-
ainda passará pela apreciação parar e nortear as decisões do
do Senado Federal. futuro da aviação no Brasil.
Por outro lado, quanto ao
Imposto sobre Propriedade de * Georges Ferreira, mestrando
Veículos Automotores (IPVA), em Ciências Aeroespaciais Faça parte:
que é um imposto estadual, foi pela Universidade da Força
aprovado a aplicação de alíquo- Aérea, UNIFA, é professor e
tas diferenciadas em função advogado especializado em
do tipo, do valor, da utilização Direito Aeronáutico Nacional e
e do impacto ambiental do Internacional.
www.ClubeAdega.com.br
CARREIR A CLUBE DE REVISTAS

APOSENTADORIA
ESPECIAL:
10 PERGUNTAS E
RESPOSTAS
As dúvidas em torno do Seguro Público
Previdenciário obrigatório para o aeronauta
PO R | ALESSANDRO LAENDER*, ESPECIAL PARA AERO MAGAZINE
CLUBE DE REVISTAS

O
Brasil conta com “Art. 4º. A aposentadoria mantida a aposentadoria es-
uma grande do aeronauta será: pecial prevista no Decreto-Lei
seguradora pú- 158/67, sobreveio outra mo-
blica destinada a) por invalidez à razão de dalidade de aposentadoria que
às pessoas que 1/30 (um trinta avos) por ano tutelava o aeronauta, denomi-
exercem atividade remunerada, de serviço, com o mínimo de nada, aposentadoria especial.
a qual tem natureza previden- 70% (setenta por cento) de Essa nova modalidade de
ciária, denominada Instituto salário de benefício, satisfeito cobertura previdenciária foi
Nacional de Seguro Social. Esta o período de carência de 12 prevista no Decreto 53.831/64
autarquia pública é destinada a (doze) meses consecutivos de e no Decreto 83.080/79, os
realizar a substituição da renda contribuições. quais passaram a regular
mensal quando os trabalhado- b) ordinária, com mais as aposentadorias especiais
res sofrem algum infortúnio de 25 (vinte e cinco) anos de previstas na Lei 3.807/60, as
na vida. Trata-se de um seguro serviço e desde que haja o quais decorriam de atividades
de vida que está diretamente segurado completado 45 (qua- laborais expostas a agentes
ligado à atividade remunerada, renta e cinco) anos de idade, insalubres, periculosos ou pe-
de modo que na condição tanto com remuneração equivalente nosos. Esses decretos criaram
de empresário como de autôno- a tantas trigésimas quintas duas classificações para carac-
mo e empregado teremos a partes do salário, até 35 (trinta terização das aposentadorias
vinculação obrigatória com e cinco), quantos forem os especiais: por agentes nocivos
esta seguradora. Ademais, esta anos de serviço.” e ocupações profissionais.
seguradora também permite Na caracterização das apo-
que ocorra uma vinculação Conforme se depreende do sentadorias especiais previstas
facultativa, destinada às pessoas texto legal acima, há 65 anos, nos Decretos 53.831/64 e
que não exercem atividade o legislador buscou realizar 83.080/79, o aeronauta passou
remunerada. A abordagem uma regulação diferenciada a ter estes enquadramentos:
neste artigo se destina exclusi- aos aeronautas. Isso porque,
vamente à classe dos aeronau- diferentemente de outras A) Por Ocupação
tas, ou seja, aos profissionais profissões, o aeronauta está Profissional: Transporte
habilitados pelo Ministério da exposto a diversos agentes no- Aéreo (cód. 2.4.1, a que
Aeronáutica, que desenvolvem civos. Contudo, no curso des- se refere o quadro do art.
atividade remunerada a bordo ses 65 anos de regulamentação 2º, do Decreto 53.831/64;
de uma aeronave. A pretensão específica, muitas mudanças e cód. 2.4.3, do Decreto
é realizar uma pequena síntese legislativas foram realizadas, 83.080/79).
da aposentadoria especial sendo certo que, nos últimos
dos aeronautas, em razão da 30 anos, muitas coberturas fo- B) Por Agentes Nocivos:
exposição a agentes e condi- ram retiradas, assim como se Pressão Atmosférica
ções nocivas à saúde durante o criaram critérios mais restriti- (cód. 1.1.7, a que se refere
trabalho. vos para o gozo delas. o quadro do art. 2º, do
Tecnicamente falando, o Decreto 53.831/64; 1.1.6
AS MUDANÇAS Decreto–Lei nº 158/67 entrou do Decreto 83.080/79);
DA LEI NO TEMPO em vigor em razão da uni- Ruído (cód. 1.1.6, a que se
A necessidade de uma análise ficação dos Sistemas e Leis refere o quadro do art. 2º,
específica nasce das peculiari- Previdenciárias operadas pela do Decreto 53.831/64, cód.
dades dessa atividade profis- Lei nº 3.807/60, denominada 1.1.5, do Decreto 83.080/79,
sional, a qual teve sua primei- Lei Orgânica da Previdência porém o ruído necessitava
ra regulação realizada pela Lei Social, porém revogou poucos ser comprovado por laudo);
3.501/58, que em seu art. 4º, dispositivos da Lei 3.501/58. Radiação, cód. 1.1.4, a que
assim dispunha: Posteriormente, embora se refere o quadro do art. 2º,

MAGAZINE 3 5 1 | 75
CLUBE DE REVISTAS

do Decreto 53.831/64, cód. enquadramento por atividade seu art. 202, inc. II (redação
1.1.3, do Decreto 83.080/79; profissional, bastando apenas original), a saber:
Arsênico (cód. 1.2.1, a que a comprovação do registro
se refere o quadro do art. em Carteira de Trabalho ou “Art. 202. É assegurada
2º, do Decreto 53.831/64); e na Caderneta de Registro aposentadoria, nos termos da
Hidrocarbonetos e outros de Horas de Voo (CIV). lei, calculando-se o benefício
compostos de Carbono Inclusive, era possível que o sobre a média dos trinta e seis
(cód. 1.2.10, do Decreto aeronauta comprovasse sua últimos salários de contribui-
83.080/79). atividade especial por meio ção, corrigidos monetariamen-
da classificação por agentes te mês a mês, e comprovada
Posteriormente, sobre- nocivos, caso em que era a regularidade dos reajustes
veio interpretação judicial do necessário juntar aos autos dos salários de contribuição de
extinto Tribunal Federal de um formulário preenchido modo a preservar seus valores
Recursos, o qual passou a re- pela empresa chamado SB-40 reais e obedecidas as seguintes
conhecer por meio de Súmula ou DSS-8030, os quais foram condições:
198, a especialidade decor- substituídos pelo PPP (Perfil
rente da PERICULOSIDADE, Profissiográfico Previden- ...
gerada pelo risco de explosão ciário), o qual é utilizado até
do abastecimento, o qual hoje. II – após trinta e cinco anos de
precisava ser comprovado por A Constituição Federal de trabalho, ao homem, e, após
prova pericial. 1988 previa expressamente trinta, à mulher, ou tempo
Assim, os aeronautas se sobre a possibilidade de con- inferior, se sujeitos a traba-
aposentavam sem qualquer cessão de aposentadoria com lho sob condições especiais,
dificuldade em razão do critérios diferenciados, em que prejudiquem a saúde ou

76 | MAGAZINE 3 5 1
CLUBE DE REVISTAS

a integridade física, defini- perante o Instituto Nacional do que houvesse uma compro-
das em lei.” Seguro Social–INSS, do tempo vação contumaz da exposição
de trabalho permanente, não ao agente nocivo por meio do
Em razão da Constituição de ocasional nem intermitente, PPP fornecido pela empresa
1988, sobreveio a Lei 8.213/91, em condições especiais que pre- ou pelo Laudo Técnico de
a qual vigora até a presente judiquem a saúde ou a integri- Condições Ambientais do
data. Essa legislação, entretanto, dade física, durante o período Trabalho (LTCAT).
sofreu algumas alterações restri- mínimo fixado (redação dada No caso da aviação co-
tivas, dentre elas, a Lei 9.032/95, pela Lei nº 9.032, de 1995). mercial, tanto de linha aérea,
a qual alterou o disposto no art. como de negócios e agrícola,
57 da Lei 8.213/91, onde o legis- § 4º O período em que o o entendimento do Minis-
lador estabeleceu critérios mais trabalhador integrante tério do Trabalho e INSS é
rígidos para o reconhecimento de categoria profissional que profissões relacionadas
da atividade especial, exigindo enquadrada neste artigo diretamente a essas áreas
a comprovação da exposição, a permanecer licenciado do possuem uma exposição de
saber: emprego, para exercer cargo natureza leve a agentes noci-
de administração ou de vos. Na aviação comercial, a
“Art. 57. A aposentadoria representação sindical, será exposição decorre do excesso
especial será devida, uma vez contado para aposentadoria de ruído e risco de explosão,
cumprida a carência exigida especial. decorrentes do abastecimen-
nesta Lei, ao segurado que tiver to. Porém, para aeronaves
trabalhado sujeito a condições § 4º O segurado deverá pressurizadas, acrescentamos
especiais que prejudiquem a comprovar, além do tempo de os riscos gerados pela varia-
saúde ou a integridade física, trabalho, exposição aos agentes ção da pressão atmosférica,
durante 15 (quinze), 20 (vinte) nocivos químicos, físicos, bioló- da baixa oxigenação e da
ou 25 (vinte e cinco) anos, gicos ou associação de agentes radiação solar. Ao passo que,
conforme dispuser a lei. prejudiciais à saúde ou à na aviação agrícola, o risco
integridade física, pelo período decorre do contato com agro-
... equivalente ao exigido para a tóxicos e pesticidas pulveri-
concessão do benefício. zados, dos riscos decorrentes
§ 3º O tempo de serviço do abastecimento e dos locais
exercido alternadamente COMPROVAÇÃO em que é prestado o trabalho,
em atividade comum e em DA ATIVIDADE se é uma região montanhosa
atividade profissional sob Conforme se depreende do ou com fiação de alta tensão,
condições especiais que texto legal, houve profundas em razão do tipo de voo que é
sejam ou venham a ser mudanças na legislação a executado.
consideradas prejudiciais partir da Lei 9.032/95, pois Ocorre que a maior parte
à saúde ou à integridade o aeronauta passou a ter de das empresas fornece infor-
física será somado, após a comprovar sua exposição mações incompletas no PPP
respectiva conversão, segun- constante ao agente nocivo, ou no LTCAT, pois a maior
do critérios de equivalência ou seja, foi excluído o enqua- parte das empresas se limita
estabelecidos pelo Ministério dramento da atividade espe- a informar sobre os níveis de
do Trabalho e da Previdên- cial por presunção decorrente emissão de ruídos, omitindo
cia Social, para efeito de da categoria profissional. Em informações importantes
qualquer benefício. razão disso, o aeronauta pas- decorrentes da: exposição ao
sou a sofrer severos proble- risco de explosão nos abaste-
3º A concessão da aposenta- mas para a comprovação da cimentos, exposição à radia-
doria especial dependerá de atividade especial. Isso por- ção solar, baixa oxigenação
comprovação pelo segurado, que, o INSS passou a exigir das aeronaves pressurizadas,

MAGAZINE 3 5 1 | 77
CLUBE DE REVISTAS

barotraumas e exposição à “I) É constitucional a veda- a aposentadoria especial e a


variação de pressão atmos- ção de continuidade da percep- atividade profissional. Aliás,
férica. ção de aposentadoria especial com isso, muitos aeronautas
A produção de laudos se o beneficiário permanece conseguirão caracterizar uma
comprobatórios é complexa e laborando em atividade espe- condição de direito adquirido,
cara, o que gera grande difi- cial ou a ela retorna, seja essa antes da reforma, ou a inclu-
culdade para que o aeronauta atividade especial aquela que en- são em uma regra de transi-
consiga produzir ao formalizar sejou a aposentação precoce ou ção, após a reforma da Lei.
seu requerimento administra- não. II) Nas hipóteses em que o Saliente-se que, após a
tivo junto ao INSS. Contudo, segurado solicitar a aposentado- Emenda Constitucional nº 103,
na esfera judicial, já houve a ria e continuar a exercer o labor de 12 de novembro de 2019,
realização de diversas perícias especial, a data de início do os meios para comprovação de
técnicas que objetivaram a benefício será a data de entrada atividade especial se manti-
comprovação da exposição aos do requerimento, remontando a veram os mesmos. Entretan-
agentes nocivos, gerando êxito esse marco, inclusive, os efeitos to, novas regras e cálculos
a vários aeronautas. financeiros. Efetivada, contudo, passaram a ser usados. Assim,
Vale destacar que os pro- seja na via administrativa, seja aqueles segurados que têm
fissionais autônomos também na judicial a implantação do direito adquirido à aposenta-
podem contar tempo especial, benefício, uma vez verificado o doria especial antes da reforma
porém precisam contratar um retorno ao labor nocivo ou sua não precisam ter idade mínima
engenheiro de segurança do continuidade, cessará o paga- e não sofrem a aplicação do
trabalho ou médico do traba- mento do benefício previdenciá- fator previdenciário.
lho para elaboração de laudo rio em questão.” Porém, para aqueles
técnico (PPP e LTCAT). Isso Contudo, muitas vezes, o aeronautas que começaram
porque essa documentação aeronauta tem tempo especial a trabalhar antes da reforma
está expressamente previs- e tempo comum, de modo que de 12 de novembro de 2019 e
ta em lei e deve instruir o é possível realizar uma espécie atualmente buscam a conces-
processo administrativo para de fusão dessas modalidades são de aposentadoria especial,
poder haver o reconhecimento de aposentadoria. Nesses ca- a legislação criou uma regra
da atividade especial. sos, é possível realizar a con- de transição, segundo a qual a
A legislação prevê que versão do tempo de atividade soma entre a idade e o tempo
o direito à aposentadoria especial para tempo comum de atividade especial deve
especial do aeronauta só até 12 de novembro de 2019, atingir 86 pontos. Por outro
será possível aos 25 anos de situação esta que a lei prevê lado, para aqueles aeronautas
contribuição, em atividades um aumento no tempo de que iniciaram a carreira após
com exposição comprovada. contribuição de 20% se mu- a Emenda Constitucional
Entretanto, após ser concedi- lher e 40% se homem. Inclu- 103/2019, lamentavelmente
da a aposentadoria especial, sive, caso o aeronauta queira será necessário contar com
há outro impeditivo imposto se aposentar por tempo de idade mínima de 60 anos e
pela legislação que precisa contribuição poderá converter com 25 anos de atividade
ser enfrentado, qual seja, a todo o tempo de atividade es- especial como aeronauta.
impossibilidade de perma- pecial em comum, observado Outro aspecto a ser des-
necer exercendo a atividade o limite até 12 de novembro tacado é, justamente, o fator
especial (prevista no art. de 2019, caso em que poderá previdenciário aplicado após
57,§ 8º, da Lei 8.213/91), permanecer desenvolvendo a a Emenda Constitucional
sob pena de suspensão do atividade, pois não incidirá a 103/2019, o qual afeta direta-
benefício, conforme decidiu vedação prevista no art. 57, § mente o cálculo do benefício
o STF, quando analisou o 8º da Lei 8.213/91 (Tema 709/ a ser concedido ao segurado,
Tema 709: STF), da concomitância entre pois normalmente funciona

78 | MAGAZINE 3 5 1
CLUBE DE REVISTAS

como um redutor do valor


da aposentadoria. Impor-
tante destacar que, desde 23
de junho de 2023, está em
julgamento no STF, a ADIN
(Ação Direta de Inconstitucio-
nalidade) n.º 6309, a qual visa
afastar a aplicação da idade
mínima aos benefícios de
aposentadoria especial.
Ademais, também está em
trâmite o projeto de lei n.º 245
de 2019, cujo objetivo é rea-
lizar alterações na concessão
da aposentadoria especial. Po-
rém, como se trata de projeto
de lei existem muitas emendas
fazendo com que seja neces-
sário aguardar o texto final, a
fim de saber o que vai virar lei
para os profissionais expostos
às atividades nocivas à saúde.

AS DÚVIDAS MAIS COMUNS


Portanto, percebemos que as
alterações legislativas afetam
sobremaneira as aposentado-
rias especiais, notadamente
após a entrada em vigor da Lei
9.032/95, quando o aeronauta terão de aguardar o preenchi- da data do requerimento
passou a sofrer uma grande mento do requisito idade. administrativo, sendo
dificuldade para efetivar o seu Os questionamentos possível optar pela regra
direito à aposentadoria espe- gerados por aeronautas para anterior à 2019 ou a regra
cial ou mesmo a conversão obterem a aposentadoria são posterior.
do tempo especial em comum variados, mas selecionamos os
para a concessão da aposen- principais, a saber: 2) Caso eu tenha direito
tadoria por tempo de contri- adquirido a aposenta-
buição. E, a partir da Emenda 1) Caso eu tenha direito doria e pare de contri-
nº 103/2019, restou claro que adquirido a aposentadoria buir, posso perder esse
os critérios para a concessão especial na regra anterior direito?
da aposentadoria especial se à Emenda Constitucional Resposta: O direito adquiri-
tornaram ainda mais restri- 103/2019, perco esse direi- do não pode ser afetado
tivos. Dessa forma, muitos to com a nova lei? pelos fatos supervenien-
aeronautas que ingressarem Resposta: O direito adquiri- tes ao preenchimento dos
na atividade após a nova do não pode ser afetado requisitos. Ou seja, uma
legislação correm o risco de pela nova lei. Contudo, é vez que a parte preen-
permanecerem desenvolvendo importante salientar que cher os requisitos para a
a atividade por mais tempo o aeronauta só passa a concessão da aposenta-
do que os usuais 25 anos, pois receber o benefício a partir doria, esse direito poderá

MAGAZINE 3 5 1 | 79
CLUBE DE REVISTAS

ser exercido a qualquer 4) Caso tenha desenvolvido 5) Caso eu tenha direito à


momento. Porém, os efei- a atividade aérea em outro aposentadoria especial e
tos, como já dissemos, só país, posso utilizar esse aposentadoria por tempo
passa a ser gerado a partir tempo para me aposentar de contribuição, qual a
do momento em que ele for no INSS? mais vantajosa?
exercido. Resposta: Sim. Mas não em Resposta: Em determinados
todos os casos. Isso por- casos, será mais vantajosa
3) Caso eu tenha tempo que, o tempo de trabalho a aposentadoria especial,
de atividade no serviço desenvolvido fora do Brasil porém, o aeronauta ficará
público, posso utilizar esse poderá ser computado caso impedido de desenvolver
tempo para me aposentar o aeronauta tenha iniciado a atividade. Caso tenha di-
no INSS? o contrato no Brasil e tenha reito à aposentadoria antes
Resposta: O tempo trabalhado sido transferido para uma da Emenda Constitucional
no serviço público pode ser base no exterior, mas a 103/2019, o aeronauta
utilizado para aposentar no serviço do mesmo empre- poderá converter todo o
INSS. Para transportar esse gador. Também poderá tempo de atividade espe-
tempo do serviço público ser computado no INSS, o cial e aposentar por tempo
para o INSS é necessário tempo de trabalho desen- de contribuição, caso em
que o aeronauta solicite volvido e contratado no ex- que poderá preencher os
uma Certidão de Tempo de terior, quando o país onde requisitos para a modali-
Contribuição no RH do lo- o aeronauta foi contratado dade da aposentadoria por
cal em que trabalhava, a fim tiver acordo internacional pontos (soma da idade e
de transportar esse tempo com o Brasil. Salientamos do tempo de contribuição),
para o INSS. Nesse sentido, ainda que algumas decisões sem a aplicação do fator
percebemos que é muito judiciais já determinaram previdenciário, ou poderá
comum que aeronauta te- ao INSS que computasse o aposentar por tempo de
nha iniciado sua carreira na trabalho do aeronauta no contribuição com a aplica-
Aeronáutica, depois tenha exterior como especial, sem ção do fator previdenciário,
pedido baixa. Nesses casos acordo internacional. Neste caso em que a incidência
o aeronauta pode pedir sentido, os casos: AC nº deste poderá ser vantajosa,
junto à FAB, a Certidão de 507674-42.2023.404.7112/ caso o aeronauta tenha bas-
Tempo de Contribuição RS e AC 5000520- tante tempo de contribui-
para averbar junto ao INSS. 75.2010.4.04.7112/RS. ção e idade mais avançada.

80 | MAGAZINE 3 5 1
CLUBE DE REVISTAS

Relevante destacar que no 7) Quando o INSS concede a Resposta: Quando o segurado


caso de aposentadoria por aposentadoria especial ou é empresário ou autônomo,
tempo de contribuição não por tempo de contribui- ele pode realizar o recolhi-
incide o impedimento da ção, o que acontece? mento retroativo, desde que
continuidade da ativida- Resposta: O INSS expede a comprove o exercício da
de concomitante com a Carta de Concessão de Apo- atividade remunerada, pois
percepção da aposentado- sentadoria, onde constam neste caso ele será contri-
ria. Por outro lado, caso o os critérios utilizados para a buinte obrigatório. O valor
aeronauta só tenha direito concessão da aposentadoria, do recolhimento aplicado
a aposentadoria após a bem como a Certidão para pelo INSS é calculado a
Emenda Constitucional nº saque do FGTS e do PIS. partir da média contributi-
103/2019, normalmente, va do segurado, acrescido
é mais vantajosa a conver- 8) Quando o INSS concede a de juros e multa. Por outro
são do tempo especial em Aposentadoria Especial, o lado, quando é empregado
comum para a concessão que acontece? e a empresa não recolheu, o
da aposentadoria com a Resposta: Quando o aeronauta aeronauta deverá compro-
aplicação de alguma das saca o primeiro benefício var através de sua Carteira
regras de transição, do que de aposentadoria especial, a de Trabalho e de seus con-
a aposentadoria especial. empresa pode realizar a res- tracheques de pagamento,
Portanto, cada caso deve ser cisão de contrato de traba- qual o valor do seu salário
analisado individualmente, lho por justa causa, eis que para que o INSS saiba qual
a fim de que sejam obser- o aeronauta fica impedido o valor que corresponde
vadas as opções e restrições de desempenhar a ativida- ao recolhimento. Porém, a
que cada modalidade de de. Porém, na prática, isso obrigação do recolhimento
aposentadoria pode gerar não ocorre com frequência. é da empresa, por isso o
para o aeronauta. empregado não necessita
9) Quando o INSS concede realizar o recolhimento. Por
6) Caso eu fique e tenha a aposentadoria, posso fim, quando o segurado é
direito adquirido e fique desistir do benefício? facultativo, ele não poderá
sem contribuir, o que pode Resposta: Quando o INSS realizar o recolhimento
acontecer? concede a aposentadoria, o retroativo.
Resposta: Quando o aeronauta segurado pode desistir do
reúne os requisitos neces- benefício caso não tenha * Administrador de empre-
sários para a concessão da sacado o pagamento e caso sas e bacharel em Direito,
aposentadoria ele passa não tenha realizado o saque Alessandro Azzi Laender é
a ter o direito adquirido. do FGTS ou PIS. membro-fundador da comis-
Porém, caso fique sem são de Direito Aeronáutico
contribuir (por período que 10) O aeronauta autôno- da OAB-MG, coordenador
varia de seis meses a três mo ou empresário que da pós-graduação em Direito
3 anos, conforme o caso) deixou algum período de Aeronáutico do Centro de
após atingir esse direito ad- contribuir pode realizar Estudos em Direito e Negó-
quirido e perca a qualidade contribuição retroativa? E cios (Cedin) e organizador
de segurado da previdên- quando ele é empregado dos livros Direito Aeronáu-
cia, ele não poderá acessar também pode realizar o tico Volumes I e II, coautor
alguns tipos de benefícios recolhimento retroativo? de Direito Aeronáutico para
como o de auxílio-doença E quando o segurado é Tripulantes e Direito Securi-
por exemplo. facultativo? tário na Aviação.

MAGAZINE 3 5 1 | 81
CLUBE DE REVISTAS
CLICK

Pioneiro jato de ultralongo alcance Gulfstream G650ER


Imagem: Divulgação

82 | MAGAZINE 3 5 1
CLUBE DE REVISTAS

FAÇA UM TESTE
DE VOO DOS PRINCIPAIS NEGÓCIOS
DE PESQUISA EM AVIAÇÃO EXECUTIVA
DO MUNDO.
Uma assinatura JETNET fornecerá uma pesquisa original, extensa
e contínua sobre aeronaves, turboélices, pistões e helicópteros.
Nossos produtos e serviços são adaptados às suas necessidades,
fornecendo resultados relevantes diariamente. Quando você sabe
mais, e sabe disso antes, estará sempre à frente da concorrência.

Se você está pronto para dar o próximo passo, estamos aqui para
ajudar sua empresa a crescer. Solicite uma demonstração hoje
mesmo em.

CONHEÇA MAIS.

O Líder Mundial em Inteligência do Mercado de Aviação


800.553.8638 +1.315.797.4420 +41 (0) 43.243.7056 jetnet.com
CLUBE DE REVISTAS

Nossa mais recente versão da família TBM de turbo-hélices


super-rápidos oferece todos os benefícios do poder digital. O
motor turbo-hélice controlado digitalmente do TBM 960 tira
o máximo proveito da tecnologia monoturboélice e voa com
alta eficiência e maior sustentabilidade. Na cabine Prestige,
os passageiros regulam a temperatura e a iluminação
ambiente com exatidão. Apresentando sistemas de
segurança excepcionais, como o TBM e-copilot® e o
dispositivo HomeSafe™ de pouso automático em caso
de emergência, o TBM 960 é a quintessência da TBM.

SEGURANÇA E EFICIÊNCIA
SÃO NOSSAS PRIORIDADES
Visite-nos em tbm.aero
ou fale com um especialista Daher TBM:
TBM (Américas) +1 954 993-8477,
TBM (Internacional) +33 6 07 38 05 07

Você também pode gostar