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SWORDFISH

OBSOLETO
E LETAL

EMAS
UMA NOVA
TECNOLOGIA
WWW.AEROMAGAZINE.COM.BR PARA ÁREAS
DE ESCAPE
BRASIL · ANO 26 · Nº 302 · R$ 18,00 · € 4.00

LE BOURGET
AS NOVIDADES DO
PARIS AIR SHOW

NO LIMITE
COMO FABRICANTES AGRO
TESTAM SEUS AVIÕES MUDANÇAS
DA AVIAÇÃO
NO CAMPO

SAÚDE E
SEGURANÇA
SEUS PILOTOS
E MECÂNICOS
SE CUIDAM?

MANUTENÇÃO

8 PARA
QUAL OFICINA TENDÊNCIAS
ESCOLHO? AVIAÇÃO
DE NEGÓCIOS

EXCLUSIVO

PRAETOR 600
ISSN 0104-6233

VOAMOS O NOVO JATO


SUPERMÉDIO DA EMBRAER
CLASSE INCOMPARÁVEL

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Comemorando 10 anos de suporte ao mercado brasileiro.
Orgulhoso de ser o único fabricante estrangeiro de jatos
executivos com um centro de serviços próprio no Brasil.
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Prepare-se para usufruir da cabine mais espaçosa, mais alta e mais larga da aviação executiva. O Falcon 6X possui um alcance de
5.500 nm (10.186 km) e velocidade máxima de mach 0,90. Ao estabelecer um padrão mais elevado e mais amplo, destaca-se por si só.
Apresentando o Falcon 6X: as 5.500 nm mais espaçosas e produtivas que você percorrerá.
E D ITO R I A L

NO LIMITE
DOS AVIÕES AERO MAGAZINE
BRASIL · ANO 26 · Nº 302 · 2019

A
DIREÇÃO
Publisher
Christian Burgos - christian@innereditora.com.br
informática mudou a maneira de a indústria testar os
Diretora de Operações
aviões que desenvolve. Hoje, a campanha completa de um Christiane Burgos - christiane@innereditora.com.br

programa aeronáutico gera mais de um teraflop de dados, REDAÇÃO


Editor-chefe
algo inimaginável há 50 anos, quando os ensaios eram conduzidos Giuliano Agmont - giuliano@aeromagazine.com.br

de forma quase totalmente analógica em projetos feitos de forma Repórter


Edmundo Ubiratan - edmundo@aeromagazine.com.br
manual. Para se ter uma ideia, um teraflop equivale a um trilhão de
Colaboradores
operações de ponto flutuante por segundo, ou seja, processa-se uma David Clark, Ernesto Klotzel, Felipe Milani, Jorge Barros,
Paulo Licati, Rodrigo Duarte, Santiago Oliver e Shailon Ian
quantidade estratosférica de informações durante duas a quatro mil
ARTE
horas de voos experimentais, que se somam a milhares de horas de Diretor de Arte
Ricardo Torquetto - ricardo@innereditora.com.br
testes no protótipo zero – o Iron Bird – e nos ensaios estáticos e de
Assistente de Arte
solo. Nesta edição, desvendemos esse fascinante mundo dos testes de Aldeniei Flávio Gomes Santos - arte@innereditora.com.br

aviões, em que engenheiros destroem asas e congelam aeronaves. Estagiário


Joshua Kerry - arte2@innereditora.com.br
Nossa capa deste mês também nasceu de um ensaio em voo, PUBLICIDADE / ADVERTISING
menos rigoroso do que o da indústria, evidentemente. Pilotamos o publicidade@innereditora.com.br
+55 (11) 3876-8200 – ramal 11
Praetor 600, que acaba de ser certificado, e damos nossas impressões Representante Comercial Brasil e América Latina
sobre o novo jato supermédio da Embraer. Derivado da família Teresa Rebelo – teresarebelo.inner@gmail.com

INTERNATIONAL SALES
Legacy, o avião incorpora novos tanques para voar mais longe e Estados Unidos
Inner Publishing - sales@innerpublishing.net
ostenta o que de melhor o fabricante brasileiro oferece em termos Marketing - marketing@innereditora.com.br

tecnológicos, com destaque para o sistema fly-by-wire. FINANCEIRO


financeiro@innereditora.com.br
O Praetor 600 foi um dos destaques da edição deste ano do Paris
PRODUÇÃO
Air Show, realizado a cada dois anos em Le Bourget, nos arredores da Baunilha Editorial

capital francesa. O maior salão aeronáutico do mundo teve número ASSINATURAS


assinaturas@innereditora.com.br
recorde de expositores. Mostramos aqui as principais novidades do +55 (11) 3876-8200
Distribuição Nacional pela Treelog S.A.
evento, com atenção especial ao A321 XLR, que, como adiantamos, Logística e Distribuição

promete abrir o caminho de jatos de corredor único para as rotas ASSESSORIA JURÍDICA
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internacionais de longo curso, incluindo transoceânicas. www.machadorodante.com.br

Ainda nesta edição, preparamos uma matéria mostrando a FALE CONOSCO


info@innereditora.com.br | + 55 (11) 3876-8200
importância de incrementos de segurança nas áreas de escape dos
IMPRESSÃO
aeroportos, sobretudo Congonhas, dicas para quem tem ou usa EGB - Editora Gráfica Bernardi

aviões e helicópteros, uma reportagem sobre os cuidados com a DISTRIBUIDOR EXCLUSIVO PARA O BRASIL
Total Publicações
saúde de profissionais da aviação e uma homenagem a um herói da AERO Magazine é uma publicação

Segunda Guerra, o Fairey Swordfish. mensal da INNER Editora Ltda.

www.aeromagazine.com.br

A Inner Editora não se responsabiliza por opiniões,


Bom voo, ideias e conceitos emitidos nos textos publicados e
assinados na revista AERO Magazine, por serem de inteira
responsabilidade de seu(s) autor(es).

Giuliano Agmont e Christian Burgos


TE sua rotina.
A AV IA
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SUMÁRIO 22

30 40

22 ENSAIO EM VOO 40 MINHA AERONAVE

Voamos o novo jato supermédio Que centro de


da Embraer, o Praetor 600 manutenção escolho?

30 AVIAÇÃO DE NEGÓCIOS 44 AVIAÇÃO GERAL

Empresários do agronegócio Os cuidados que profissionais da


mudam perfil de sua operação aviação tem de ter com a saúde

36 MERCADO 50 INDÚSTRIA

Oito tendências para quem usa Os testes realizados por


o transporte aéreo privativo fabricantes para certificar seus aviões
64

50

78

64 PARIS AIR SHOW

O salão de Le Bourget SEÇÕES


bate recorde de expositores
08 FIR ST C LASS

72 INFRAESTRUTURA
10 CURI OSIDADES

Tecnologias como o EMAS garantem


segurança para áreas de escape 12 AERO R ES PONDE

14 NA REDE

78 HISTÓRIA
82 AEROCLICK
Fairey Swordfish, o torpedeiro
obsoleto e letal da Segunda Guerra
FIRST CL A SS

LENTE C INE MATO GRÁFICA


A Leica revive um clássico de 1919
com a edição M 10-P ASC 100 voltada
para cineastas. Com visual retrô e visor
eletrônico e adaptador que permite
utilizar todas as lentes de cinema
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8 | MAGAZINE 3 02
PA RA C ELE B R AR
A caixa de champanhe da Rolls-
Royce expressa a extraordinária
habilidade artesanal do fabricante
inglês. A estrutura é feita de
alumínio usinado e fibra de
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HOME NAG EM AO RELOJOEIRO


A coleção Marine de Breguet homenageia
o trabalho do relojoeiro Abraham-Louis
Breguet no desenvolvimento da navegação
náutica. O relógio pode vir em versões de
ouro branco com mostrador azul, ouro rosa
com mostrador prateado ou titânio com
um mostrador cinza ardósia.
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MAGAZINE 3 02 | 9
CURIOSIDADES

ASCENSÃO E
QUEDA DA AVIANCA
Embora a história da Avianca comece em bia, o empresário passou a ampliar sua
1919, foi somente após uma série de fusões participação na aviação latino-americana
e aquisições que a marca chegou ao Brasil, ao longo dos anos 2000. A Avianca Brasil
em abril de 2010, rebatizando a então Oce- chegou a ser uma das empresas mais
anAir. Ambas as empresas pertenciam ao queridas pelos passageiros, mas encerrou
Synergy Group, uma holding fundada pelo suas atividades este ano, quando teve
empresário Germán Efromovich. Após caçada sua concessão pela Anac, após
assumir o controle da Avianca Colom- agonizar por vários meses.

POSSO PAGAR AVIÕES MK-28


COM KING AIR? COLORIDOS Depois de comprar um grande lote de
Após receber como Os Brasília da Fokker 100 que estavam sendo retirados
parte do pagamento OceanAir foram de serviço da American Airlines, o Synergy
de uma dívida dois pintados de azul claro, Group distribui parte do pedido para
King Air, Efromovich branco, vermelho, a empresa colombiana e brasileira. Na
passa a oferecer amarelo, rosa, laranja OceanAir, foram designados como MK-28,
voos na região de e cinza. Em 2003, para evitar associação com o Fokker 100,
Macaé e Campos chegam os três que carregava o peso de graves acidentes
dos Goyatacazes, primeiros Fokker 50, no país. Com os novos operadores do
atendendo ao setor que ganharam as cores F100, teve uma ficha de serviço exemplar,
petrolífero vermelho, bege e rosa. sem nenhum incidente grave

OCEANAIR LUANDA E CIDADE DO MÉXICO


Recebe autorização do Com o crescimento da economia, a
então DAC para operar OceanAir passa a voar para o exterior,
em parceria com a Rio Sul, trazendo seus primeiros dois Boeing 767 e
voando destino regionais um 757, iniciando voos para Angola
no Rio de Janeiro. A e México.
empresa é batizada de
OceanAir e recebe seus
primeiros Brasília

SALVA PELO
FOKKER 100
CRISE AÉREA A empresa retira de
Em 2006, o acidente serviço todos aviões,
com o voo 1907 exceto seus Fokker 100,
SALADA na Amazônia deu mantendo apenas oito em
NA FROTA início à mais grave serviço. Todas as rotas
CAFETEIROS INTEGRAÇÃO Com a absorção da
DA BRA crise da aviação internacionais e a maior
E AVIANCA BRA, a OceanAir parte da malha doméstica
Com o fim da Varig civil brasileira, que
Em 2004, Germán passa a contar com são canceladas. Ao longo
e o agravamento da coincidiu com o
Efromovich em Fokker 100, Fokker de 2008 e 2009, a empresa
crise entre empresas fim da Varig e foi
parceria com a 50, Brasília, Boeing retoma lentamente os voos
aéreas, a BRA encerra agravado com o
Federación Nacional de 737, 757 e 767 na e recoloca a frota de 14
suas operações, acidente do voo 3054
Cafeteros de Colombia frota jatos F100 em voo.
sendo absorvida pela em São Paulo no ano
comprou e reestruturou seguinte. A OceanAir
OceanAir.
a Avianca, que estava se vê diante de uma
em recuperação judicial grave crise.

10 | MAGAZINE 3 02
AVIANCA BRASIL
A OceanAir que tin
CRISE DE 2008 ha um nome confuso A330 PARADOS
A OceanAir estava
e pouco fácil de Por vários anos, a
em processo de
OS PRIMEIROS pronunciar para Avianca Brasil manteve
reestruturação
AIRBUS muitos, é formalmente NINGUÉM QUER? seus A330 estacionados
quando explodiu a
Em 2010, a OceanAir rebatizada como Avianca EU QUERO na Espanha, enquanto
crise internacional
recebe seus primeiros Brasil em abril de 2010. A Avianca Brasil foi uma aguardava uma
de 2008. Por
A320, que passam Todavia, apenas o nome das únicas operadoras melhora na economia
ter reduzido
a gradualmente a é compartilhado, sem do A318 no mundo. Os brasileira, pagando
drasticamente suas
substituir seus heroicos qualquer tipo de relação aviões oriundos da Lan taxas e prestações dos
operações antes
Fokker 100. comercial ou operacional Chile foram utilizados aviões.
da crise, a empresa
entre a empresa em rotas de baixa
consegue crescer
brasileira e colombiana. demanda, substituindo
durante a maior
recessão da história definitivamente o
recente do mundo. Fokker 100. O problema A320NEO
no projeto dos motores A Avianca Brasil foi
inviabilizou a operação uma das primeiras
de toda a frota de A318 empresas aéreas no
da empresa. mundo a receber
STAR ALLIANCE o A320neo com
A Avianca foi motores Leap-1A
NOVA MARCA formalmente integrada
E UNIFORMES a Star Alliance em 2015,
Em 2014, a Avianca substituindo a Tam no
mudou suas cores Brasil. Curiosamente,
e uniformes na todas as três empresas
Colômbia e no Brasil. que integraram a
aliança deixaram de
existir, com exceção da
Tam, as outras faliram. 2018, O
ÚLTIMO ANO
Ao invés de celebrar suas operações 24 DE
para os Estados Unidos, a Avianca MAIO
Brasil tentava manter as contas em DE 2019
dia. Com dívidas cada vez maiores, A Anac suspendeu as
a empresa manteve o plano de operações de todos os
renovação da frota e ampliou voos da Avianca
alguns destinos. O resultado final Brasil.
de 2018 e o pedido de recuperação
judicial mostrava que o próximo
ano poderia ser o último

RETOMADA DE AVIÕES
O ano mal começou e mais
proprietários dos aviões
da Avianca Brasil pediram
a retomada de seus bens.
Ainda que inicialmente tenha
conseguido evitar a retomada
em massa, a empresa dia a dia
foi perdendo suas aeronaves.
Em um processo que relembrava
VOOS CARGUEIROS o fim melancólico de Transbrasil,
Ainda no ano da Copa ÚLTIMA GRANDE CHANCE Vasp e Varig uma década antes.
no Brasil, a Avianca A chegada dos A330 permitiram
brasileira recebeu seus a Avianca finalmente conquistar o
dois primeiros A330F mundo. Os primeiros voos foram
destinados a voos para Miami e Nova York, mas havia
cargueiros de média e planos de iniciar operações para
longa distâncias. demais países

MAGAZINE 3 02 | 11
AERO RESPONDE

POSSO VOAR
RESFRIADO?
Avaliar seu estado de saúde é uma das primeiras
medidas para decidir decolar ou não

C
om a chegada do inverno, Muitos podem pensar que “é ape- Ainda temos de considerar
campanhas de vacinação nas um resfriado”, mas voar quando que a diferença de pressão at-
contra a gripe se tornam fre- se está doente nunca é uma condição mosférica a que estamos expostos
quentes no Brasil. A época mais fria do saudável ou segura, seja você um atua diretamente no corpo huma-
ano é propícia para deixar as pessoas passageiro ou principalmente um pi- no e, com o nariz entupido, tanto
com tosse, congestão nasal ou espirros loto. Se terá o comando da aeronave, piloto como passageiro estarão
severos, tanto de dia como à noite. Em você não será capaz de se concentrar sujeitos a dores lancinantes de
muitas regiões do país, o inverno é totalmente nas tarefas exigidas do ouvido, episódios de tontura e a
também a época do ano que apresenta voo em todas as suas etapas, especial- consequente perda de atenção aos
dias com condições meteorológicas mente se você não estiver dormindo o parâmetros e controles de voo.
muito favoráveis ao voo, por ser uma suficiente como resultado de sintomas Em suma, voar doente é um
estação predominantemente seca. Mas, desagradáveis de resfriado ou gripe. caso de aumento de risco ao voo
mesmo tentado observar das alturas Além disso, muitos medicamentos e compromete a sua segurança. É
um belo pôr do sol em uma tarde fria, para resfriados fazem com que você papel de cada piloto saber se está
melhor ficar em solo quando não esti- fique sonolento, o que seria tão preju- ou não apto fisicamente para a
ver se sentindo bem. dicial como voar alcoolizado. realização de um voo.
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NA REDE

O ABRE E FECHA DO
SANTOS DUMONT
A Infraero cancelou o cronograma de
obras no Santos Dumont e retirou a
Notam que manteria a pista principal
fechada para manutenção entre os
dias 12 de agosto e 11 de setembro.
A mudança ocorreu após a Anac
proibir a operação de aviões com
motor a reação na pista auxiliar do
aeroporto, exigindo uma série de
melhorias antes de autorizar o uso de
aeronaves a jato. A Infraero afirma
que deverá realizar as adequações
exigidas na pista auxiliar, o que deve
permitir a operações de aeronaves
tipo 3C, incluindo os Boeing 737-700,
BOMBARDIER FORA Airbus A318 e Embraer 190, conforme
homologação. O A319, dependendo
DA AVIAÇÃO REGULAR da configuração, pode ser incluído
como Tipo 3C. A Infraero preferiu
O fabricante japonês Mitsubishi os canadenses venderam sua não fechar completamente aeroporto,
anunciou a aquisição das participação no programa que movimenta 770 mil passageiros ao
atividades de manutenção, CSeries para a Airbus, que o mês. As obras serão reagendadas assim
suporte, atualização, marketing renomeou A220. Em seguida, que o processo de adequação da pista
e vendas das aeronaves da a Viking Air, que já havia auxiliar for concluído. A Associação
série CRJ da Bombardier, adquirido os aviões anfíbios Brasileira das Empresas Aéreas (Abear)
incluindo também atividades da Bombardier em 2016, se posicionou contra a mudança no
de rede de serviços e suporte assumiu o programa Q400, cronograma. Segundo a entidade, a
em Montreal e Toronto, no por US$ 300 milhões. decisão passou a gerar incertezas no
Canadá, e Bridgeport e Tucson, O negócio deve contribuir setor, que se programava para alteração
nos Estados Unidos. Além para o aprimoramento do de voos, com destino ao Galeão/Tom
disso, assumirá obrigações no atrasado programa SpaceJet da Jobim, e o uso de aeronaves menores
valor de aproximadamente Mitsubishi, além de encerrar no Santos Dumont, utilizando a pista
US$ 200 milhões. Pelo acordo, uma pendência judicial entre as auxiliar. Também alerta para o risco
a Bombardier manterá tanto a duas empresas. Em outubro de de fechar a pista em datas próximas a
produção dos CRJ em Mirabel, 2018, a Bombardier processou eventos importantes no Rio de Janeiro
Québec, como o fornecimento a Mitsubishi, acusando a ou períodos de maior intensidade de
de componentes e peças então rival japonesa de obter chuvas, comprometendo a operação na
sobressalentes, garantindo as ilegalmente documentos secretos já limitada pista auxiliar.
entregas da atual carteira de do programa CSeries, em
pedidos em nome da Mitsubishi, especial dados de certificação.
provavelmente até o segundo As aeronaves CRJ
semestre de 2020. protagonizaram um
Confirmada a transação, importante papel na história
a Bombardier deve se retirar da Bombardier, tornando-se
completamente do segmento um dos principais modelos
de transporte aéreo comercial destinados à aviação regional
regular, concentrando seus e conquistando grande parte
esforços na aviação de do cobiçado mercado dos
negócios. Em junho de 2018, Estados Unidos.

14 | MAGAZINE 3 02
TECNOLOGIAS
DEDICADAS PARA OS EVTOL
AVIÔNICA... ...CONTROLE
A Honeywell uniu DE VOO...
forças com a britânica
A EmbraerX, a divisão de
Vertical Aerospace,
inovação do fabricante
desenvolvedora de
brasileiro, divulgou
aeronaves elétricas com
um relatório de quase
capacidade de decolagem
50 páginas que prevê a
e pouso verticais
criação de um sistema de
(eVTOL), para enfrentar
gerenciamento de tráfego
o que chama de “desafios
aéreo urbano. De acordo
técnicos, regulatórios e
com o documento, a
comerciais do emergente
EmbraerX, em parceria
segmento de mobilidade
com Atech e Harris
aérea urbana”. Pelo
Corporation, sugere um
memorando de
sistema de gerenciamento
entendimento, a
aéreo específico para
...E TÁXI-AÉREO
Honeywell fornecerá
cidades, que deverá ser A Uber adicionou a Jaunt Air Mobility ao seu projeto de
os sistemas principais
executado por avançadas desenvolvimento de um veículo aéreo urbano. O conceito
para a futura aeronave
redes de informação, prevê a criação de uma plataforma autônoma capaz de
da Vertical Aerospace,
aliado a tecnologias de decolar e pousar na vertical, para uso como táxi voador
incluindo uma suíte
automação e inteligência em grandes cidades. Ao adquiriu os direitos do conceito da
dedicada de aviônicos,
artificial. Seria algo Carter Aviation Technologies, que já havia sido selecionada
equipamentos de
similar ao que ocorre pela Uber em 2017, como um dos seus parceiros originais de
navegação e um novo
na cidade de São Paulo veículos Elevate, a Jaunt se une ao time de parceiros da Uber
sistema fly-by-wire
com rotas especiais de para o desenvolvimento de veículos urbanos, que inclui a Bell,
compacto.
helicópteros. Aurora Flight Sciences, EmbraerX, Karem Aircraft e Pipistrel.

500 VAGAS
NO OFFSHORE DRONES
Na edição 301, na matéria sobre INTERDITAM
a HELI-XP, reproduzimos uma
fala do presidente da Abraphe
CHANGI
segundo a qual uma empresa As operações do
chinesa abriria no Brasil cerca de aeroporto de Changi,
500 novas vagas para pilotos de em Cingapura, foram
helicóptero offshore. Na verdade, temporariamente
a chinesa Union Offshore, interrompidas no fim
vencedora de licitação para de junho em função
projetos em unidades ancoradas de atividades não
da Petrobras, deverá estabelecer autorizadas de drones.
uma subsidiária em Macaé, onde No total, cerca de 15
pretende abrir 500 vagas de partidas e três chegadas
emprego na área de exploração foram atrasadas, e sete
de petróleo em atividades voos foram desviados. O
de perfuração, acomodação, uso irregular de drones
descomissionamento e produção, em áreas com intenso
segundo esclarece Marcelo tráfego de aeronaves
Távora, vice-presidente de pode comprometer a
Marketing e Projeto da empresa. segurança de voo.

MAGAZINE 3 02 | 15
EMBRAER DEIXARÁ SÃO JOSÉ
NA REDE

A Boeing Brasil Commercial serão montados lá, enquanto Avião elétrico


deve assumir a totalidade a montagem das estruturas Paralelamente, Embraer no segmento de motores e
da planta industrial de São do caça permanecerá em anunciou uma pareceria geradores elétricos, além
José dos Campos, atual sede Botucatu. A produção das com a WEG para o de ser uma das empresas
da Embraer, dedicando-se demais aeronaves de negócio desenvolvimento de brasileiras com maior
à produção dos E-Jets. A da Embraer continuará sendo aeronaves elétricas. A WEG número de patentes e
expectativa é que a montagem realizada em Melbourne, na é uma das líderes mundiais inovações registradas.
final dos Legacy 450/500 Florida, que é a principal
e Praetor 500/600 seja unidade fabril da Embraer
transferida para a unidade nos Estados Unidos. Sobre
de Gavião Peixoto, onde já o futuro da engenharia, hoje
são produzidos os Super compartilhada por todas
Tucano e os KC-390. Os as unidades, ainda pairam
futuros Gripen E/F também dúvidas.

SUPERSÔNICO IMPRESSO
Com o avanço de novas com impressão 3D para uso
tecnologias, em especial a final do XB-1 e, finalmente, do

3.000
impressão em 3D, a retomada dos Overture, um avião comercial
voos civis supersônicos pode estar que promete atingir Mach
mais perto. A Boom Supersonic, 2.2 (aproximadamente 2.716
que trabalha no desenvolvimento quilômetros por hora). A
daquele que deverá ser o primeiro expectativa é que o XB-1 seja
avião civil a romper a barreira lançado no fim deste ano e faça
do som desde o Concorde, um voo supersônico em 2020.
É o número de pedidos de caças que planeja construir partes de suas O Overture está em fase de
as grandes concorrências militares aeronaves em impressoras 3D. O desenvolvimento, com previsão
em andamento no mundo devem fabricante contratou a Stratasys de início das viagens comerciais
formalizar na década de 2020. para produção de peças feitas no final da próxima década.

CAÇA AMERICANO COM PINTURA RUSSA


A Força Aérea dos Estados russo. A pintura foi adotada em
Unidos revelou uma nova um F-16 Fighting Falcon, do 64th
camuflagem inspirada na pintura Aggressor Squadron, baseado
do caça russo Su-57. A cor cinza nos arredores de Las Vegas. A
de dois tons é “pixelizada” de camuflagem batizada de ghost
maneira similar ao mais recente (fantasma) foi escolhida em uma
padrão adotado pelo caça furtivo pesquisa conduzida no Facebook.

16 | MAGAZINE 3 02
PILOTOS RUSSOS
SOB SUSPEITA
NA REDE

O recente acidente com um


Superjet 100, que vitimou
41 pessoas após um pouso
de emergência em Moscou,
levou as autoridades russas
a abrirem uma investigação
contra a própria organização QUANDO O
de aviação civil do país. O
procurador-geral da Rússia, MAX VOLTA A VOAR?
Yury Chaika, em audiência Recentemente, a FAA afirmou, em nota, Elas alegam que, para retomada
no Parlamento, declarou que continua avaliando as modificações dos voos, será necessário um
que 550 pilotos tiveram suas no MCAS e nos procedimentos de planejamento antecipado. Além
licenças suspensas por falta de treinamento dos pilotos. “A FAA está disso, muitas temem que o 737 MAX
aptidão e habilidade, e outros seguindo um processo minucioso, sofra rejeição por parte do público,
160 certificados de voo foram não um cronograma prescrito, para que pode aumentar conforme o
anulados no país depois de devolver o Boeing 737 Max ao serviço processo de recertificação não se
inspeções do Ministério de passageiros”, afirma a agência em define. A FAA diz que está avaliando
Público. “A questão do nota. “A FAA vai levantar a ordem a modificação de software realizada
treinamento dedicado de de proibição da aeronave quando pela Boeing para o sistema MCAS
pilotos ainda continua sendo considerarmos que é seguro fazê-lo”. A e também os novos requisitos de
urgente”, alertou Chaika. Iata, que realizou a Cúpula Boeing 737, treinamento necessários. Além
em Montreal, no Canadá, demonstra disso, está trabalhando em
preocupação com os prazos. A entidade conjunto com às recomendações
reiterou a necessidade de atender a recebidas do Technical Advisory
requisitos adicionais de treinamento para Board (TAB), um painel de revisão
a tripulação do Boeing 737 MAX e deseja independente que está analisando
um esforço coordenado para colocar o todos os trabalhos com relação ao
modelo em operação novamente. Mas 737 MAX. Segundo apurou AERO,
a falta de um prazo para solução do o problema estaria na integração
problema é tratada com preocupação por atual entre o sistema de software e
algumas empresas aérea. o hardware do avião.

KLM 100 ANOS


JUMBO A KLM recebeu seu novo Boeing

SUBMARINO
787-10 ostentando a pintura
alusiva ao seu centenário. A
empresa, fundada em outubro de
1919, é atualmente a mais antiga
empresa aérea em operação no
mundo – desde 2003, como parte
da Air France. A aeronave, batizada
Oranje Bloesem (flor de laranjeira,
em holandês), remete às cores da
Casa de Oranje-Nassau, da família
real dos Países Baixos, que se
O Bahrein espera inaugurar em agosto e vernizes prejudiciais à natureza.
tornou a cor símbolo do país.
o maior parque subaquático do mundo, Localizado em Diyar al Muharraq, uma
com mais de 100 mil metros quadrados cidade composta de ilhas artificiais,
e tendo como estrela principal um o projeto foi batizado Dive Bahrain.
Boeing 747. Os idealizadores do projeto Para transportar o 747 até o local de
afundaram um Jumbo que servirá como “naufrágio”, as autoridades o levaram
recife artificial e ponto de mergulho. Por ancorado em boias especiais. No leito
questões ambientais, a aeronave teve marinho, a aeronave foi posicionada de
seus sistemas hidráulicos, de combustível forma a permitir o mergulho em 360
e elétricos removidos, com drenagem de graus, além de manter uma boa fonte de
fluídos e remoção de plásticos, borrachas iluminação natural interna.

18 | MAGAZINE 3 02
2005 EUROCOPTER EC130B4
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Aeronave no Brasil, 100% nacionalizada.


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• Motor: 1.652 horas desde novo.
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NA REDE

CERTIFICAÇÕES GULFSTREAM

PARA O G600... ...E PARA O G6


650ER
O novo Gulfstream G600 náuticas (10.180 quilômetros) A Gulfstream também obteve a certificação
recebeu os certificados de tipo e voando Mac 0,90. A velocidade da FAA para operações de steep approach
de produção da FAA, a agência máxima operacional é Mach do G650 e o G650ER, possibilitando a
de aviação civil dos EUA. A 0,925, similar à de seus operação dos modelos em aeroportos
expectativa é que as primeiras irmãos mais velhos, como o restritos. Com a nova certificação, os
entregas ocorram no próximo G650ER. O G600 possui três jatos poderão voar sem restrições para
semestre. A certificação ocorre zonas de cabine, que podem aeroportos com aproximação íngreme,
pouco mais de um ano após o ser configuradas em uma como é o caso do aeroporto London City,
G500, a versão de menor do infinidade de layouts, incluindo que possui uma pista curta e exige uma
G600, que foi homologado em suíte com cama. Por seu longo aproximação em ângulo mais pronunciado
20 de julho de 2018. O projeto alcance, o avião dispõe de uma de descida, por questões de redução de
cumpriu mais de cem mil horas área exclusiva de descanso para ruídos. A certificação também abre o
de ensaios em laboratório e tripulação, permitindo voos de acesso ao aeroporto de Lugano e outros
aproximadamente três mil longa duração. Outro destaque similares localizados na região montanhosa
e duzentas horas de voo. O é a baixa altitude de cabine e as da Suíça. A curta pista de Lugano, situada
G600 é um dos primeiros 14 amplas janelas panorâmicas. na foz de um vale, requer uma
aviões a dispor de cockpit com O cockpit é equipado com a aproximação extremamente
overhead sensível ao toque. Ele suíte Symmetry Flight Deck, íngreme.
tem alcance de 6.500 milhas com comandos touch screens.
náuticas (12 mil quilômetros)
com velocidade de cruzeiro de
Mach 0,85, ou alcance de
5.550 milhas

NOVO FAT ALBERT


Os Blue Angels, o tradicional time
acrobático da Marinha dos EUA,
deve receber um breve um novo
Fat Albert. O Comando Naval de
Sistemas Aéreos anunciou a aquisição
de um C-130J Super Hercules, que
substituirá o atual C-130T (BuNo
164763), em serviço desde 2002.

ENVELOPE
DENALI QUASE PRONTO DE VOO ABERTO
A Textron Aviation espera voar seu 1300 shp da GE Aviation e a hélice A suíça Kopter abriu o envelope
novo monoturboélice ainda este McCauley de 105 polegadas também de voo do helicóptero que
ano. O fabricante norte-americano já estão em fase final de testes para está desenvolvendo. O SH09
promete concluir em breve a equipar o novo avião. deve operar em altitudes de
montagem do primeiro protótipo do até 10.000 pés (3.000 metros)
Cessna Denali. O motor Catalyst de com velocidade máxima de
135 nós. Segundo a Kopter, a
previsão é obter a certificação
do SH09 na Easa em 2020,
com as primeiras entregas
ocorrendo logo em
seguida.

20 | MAGAZINE 3 02
TASTING

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REALIZAÇÃO: TAÇA OFICIAL:


E N S A I O E M VOO

UM BRAVO
LEGIONÁRIO
Com incrementos de comando e maior alcance do que
os Legacy, novo Praetor 600 da Embraer mostra em voo
por que entra na briga entre jatos médios e supermédios
POR | FEL IPE M IL A NI , D E S ÃO J OS É D OS CA M P OS
Novo jato da Embraer deriva do
Legacy 500, com a adição de dois
tanques ventrais, novos winglets
e benfeitorias no cockpit

A
Embraer está de olho cabine de comandos estão radar nessa condição de Mach 0.75.
em um dos mais com corte vertical, ADS-B In, que Acelerando para Mach 0.80,
pujantes segmentos fornece informações de direção com quatro passageiros e reserva
do mercado de avia- e altitude dos outros tráfegos NBAA, o avião é certificado para
ção de negócios, o à tripulação, tecnologia E2VS, voar 3.719 milhas náuticas.
dos jatos supermédios. Na última que combina visão sintética com Com uma bela asa, sem adição
NBAA, a equipe de estratégia do infravermelho, fornecendo uma de slats, e uso de tecnologia fly-by-
fabricante brasileiro nos explicou imagem mais realista do objeto -wire, o Praetor 600 realiza mis-
que, com o incremento de alcance externo através do HUD (Head Up sões non stop de São Paulo para
em relação à família Legacy, o Display), predição de windshear Miami e de Recife para Madri
recém-certificado Preator 600 se (10 segundos antes do evento), do mesmo modo que é capaz de
torna uma alternativa interessante além de CPDLC (datalink) e inter- operar em pistas restritas como as
nesse nicho pelo baixo custo ope- net banda KA de alta velocidade. de Angra dos Reis e Jacarepaguá,
racional, sobretudo para charters ambas no Rio de Janeiro.
que costumam voar com quatro SEM ESCALA
passageiros ou menos. Com quatro passageiros, regime ASSENTOS OPCIONAIS
O Praetor 600 deriva da de long range cruise LRC e reserva Caminho pela cabine de passagei-
plataforma do Legacy 500, com a NBAA de 200 milhas náuticas, ros do Praetor 600. Ela prima por
adição de dois tanques ventrais, o Praetor 600 obteve a certifica- conforto e sofisticação, podendo
novos winglets e benfeitorias no ção de 4.018 milhas náuticas de levar de oito a 12 passageiros,
cockpit. Entre as novidades na alcance com velocidade média customizada de acordo com a

24 | MAGAZINE 3 02
ser opcionalmente equipadas com
massageador. Destaque para o piso
de granito nas “áreas molhadas”, PRAETOR 600 VOA SEM
como galley e toaletes. Aliás, ponto
positivo para o toalete, que funcio-
ESCALAS DE SÃO PAULO
na a vácuo e é capaz de eliminar
odores, uma enorme vantagem
A MIAMI OU RECIFE A
principalmente em voos longos. MADRI E OPERA EM PISTAS
Já a galley, além de uma pia, tem
disponibilidade para dois tipos RESTRITAS COMO ANGRA
E JACAREPAGUÁ
de fornos, micro-ondas e elétrico,
facilitando o serviço de bordo.

PRESSURIZAÇÃO
preferência do cliente, em forma E BAGAGEIROS
de club seat ou um misto, utili- A pressurização também merece
zando divãs. A aeronave conta destaque. No teto máximo ope- nas persianas da janela. Através
com mais dois assentos opcionais racional de 45.000 pés, a altitude de um acesso embutido na lateral
e homologados: o do toalete e ou- interna da cabine fica em 5.800 da cabine, é possível encontrar
tro logo atrás do cockpit, do lado pés, resultando em menos fadiga entradas tipo USB, HDMI, VGA e
esquerdo da fuselagem, chamado tanto para a tripulação como para RCA. Só faltou uma entrada USB
“side facing seat”, um armário que os passageiros após um longo voo. Type-C, que, além de ser menor,
pode ser reversível em assento Ainda sobre a cabine de possibilita maior velocidade de
para um terceiro tripulante, passageiros, os painéis digitais transferência.
uma comissária ou mesmo um (tech panel) fazem parte do DNA Com capacidade para carregar
passageiro, não sendo uma forma da Embraer. Eles ficam localizados até 550 quilos de carga, os bagagei-
muito confortável de se viajar, acima de cada assento e são ca- ros do Praetor 600 são divididos
principalmente em voos longos, pazes de controlar os sistemas de em dois. O interno é semelhante
mas possível. luzes e entretenimento da cabine ao bagageiro de uma grande SUV,
O nível de ruído externo na por toque na tela. O mesmo vale com capacidade para 150 quilos
cabine é baixo. Com 1,83 metro de para a “máscara” que envolve as e dimensão de 35 pés cúbicos, e
altura e 2,08 metros de largura, o janelas da cabine de passageiro, pode ser acessado em qualquer fase
interior do avião conta com piso inovação que facilita o acesso e do voo – fica localizado na parte
plano e confortáveis poltronas que, reduz o custo, no caso de uma traseira da aeronave, após a porta
além de virarem camas, podem eventual manutenção corretiva do toalete. O bagageiro externo é

MAGAZINE 3 02 | 25
maior e pode transportar até 400 de área turbulenta. É até possível
quilos de carga, não é pressurizado pilotar o Praetor 600 como um
e seu aquecimento é opcional, tem avião convencional, desligando as
uma dimensão de 110 pés cúbicos. proteções, mas para quê?
Equipados com motores
FLY-BY-WIRE Honeywell-HTF7500E que
A tecnologia fly-by-wire da aero- produzem 7.528 libras de empuxo
nave tem um sistema de controle cada, decolando do nível do mar,
totalmente digital, está em sua na temperatura padrão ISA, essa
terceira geração e foi desenvolvi- máquina pede uma pista de 1.437
da pelos engenheiros da Embraer. metros em seu peso máximo de
Poderemos em voo constatar a decolagem, que é de 42.857 libras.
eficiência e a segurança durante Para subir ao nível 370, gasta ape-
as manobras do Praetor. Mesmo nas 13,3 minutos, nenhum avião
ainda sendo um “tabu” para nessa categoria consegue decolar e
muitos operadores, entusiastas pousar tão curto e subir tão rápido
e até pilotos, a tecnologia FBW como o Praetor 600.
surpreende em relação à segu-
rança de voo, em modo normal PARTIDA DOS MOTORES
de operação, ou seja, com as Em uma ensolarada tarde de
proteções ativadas. segunda-feira, decolaremos de
A aeronave fica prevenida São José dos Campos para o voo
contra estóis de alta e baixa veloci- de ensaio. Ao meu lado estão o
dades, assim como apresenta limi- comandante Salgado e, compon-
tações nos giros em torno do seu do a tripulação, o comandante
eixo longitudinal. Uma compen- Berto. Nosso peso de decolagem
Bagageiro externo sação feita pelos ailerons alivia a está em torno de 31.000 libras e
pode transportar até carga das pontas das asas no caso a quantidade de combustível é de
400 quilos de carga de uma manobra que produza 6.200 libras, aproximadamente
mais que 2 g e proporciona mais 40% da capacidade máxima, que
conforto durante uma travessia são 16.140 libras.

26 | MAGAZINE 3 02
DADOS DO VOO
DECOLAGEM
Embraer São José dos
Local de partida
Campos
Horário 16:30LCL
Informação ATIS Foxtrot
Teto e visibilidade Cavok
Temperatura 24 graus Celsius
Vento Calmo
Pressão atmosférica 1.016 hp
Pessoas a bordo 3
Fuel 6.200 libras
T.O. Weight 31.000 libras
A partida dos motores é muito 300 nós ou Mach 0.70 até atingir Flap de decolagem Flap 1
simples graças ao sistema full fadec: o nível 450, 21 minutos após V1 109 kias
mantenho o manete de potência em a decolagem, com um peso de
Vr 115 kias
idle e giro o botão para a posição 30.060 libras. Assim que atingi-
V2 123 kias
start. Por ser uma partida usando mos o nível, já estamos voando a
ar sangrado do APU e alternati- Mach 0.80, velocidade típica da VFS 141 kias
vamente uma LPU, a sequência é máquina, que pode chegar até o T.O. distance 3.549 ft
bem rápida, menos de 30 segundos. MMO de Mach 0.83. Subida SIKEM 1ª
Realizo as verificações pós partida A fim de buscar a máxima per-
utilizando o checklist eletrônico formance, iniciamos a descida para CRUZEIRO
“smart”, que, no caso de uma pane, o nível 330 e, ao atingi-lo, estamos Nível de cruzeiro FL 330
leva o piloto direto para a página com um peso de 29.460 libras, Velocidade em Mach 0.82
correta de diagnóstico. Iniciamos voando a Mach 0.82 e uma TAS de
TAS 485 kias
o táxi para a pista 15, o controle da 485 nós, a ISA era de +10.
roda de nariz é feito pelos próprios
pedais, que são dóceis e precisos. PAPERLESS E AUTOTHROTTLE POUSO
A aviônica é Rockwell Collins São José dos Campos
Aeroporto
SIDE STICK Pro Line Fusion, que permite ao SBSJ
O vento é calmo e a temperatura, piloto, por meio de um mouse, Pista 15
de 24 graus celsius. Inicio a corri- navegar pelas quatro telas inter- Temperatura 21 graus
da de decolagem. O interessante cambiáveis. Elas oferecem o re- Vento Calmo
de pilotar uma aeronave com side curso paperless que, dependendo Teto e visibilidade CAVOK
stick acontece na hora em que da categoria de registro, dispensa Procedimento ILS
o pilot not flying faz o callout da o uso de cartas de papel.
Landing Weight 28.000 libras
rotate: tiramos a mão do manete Equipada com autothrottle,
e a colocamos sobre a perna di- a aeronave exige menos carga de Vref 106 kias
reita. Bastam poucos metros para trabalho da tripulação, pois a avi- Vapp 110 kias
o Praetor 600 alçar voo. Começo ônica oferece muitos recursos e Vfs 134 kias
a subida com 250 nós e vamos redundâncias, inclusive o sistema Landing Distance 2.842 ft
com essa velocidade até cruzar o de combustível, que é inteligente
nível 200, depois aceleramos para e não necessita da interferência

MAGAZINE 3 02 | 27
CUSTOS DO
PRAETOR 600
PREÇO “FULL”EQUIPADA

US$ 22 milhões

CUSTO POR HORA DE VOO


PROTEÇÃO ATIVADA da configuração com flaps não são
US$ 2,5 mil Tentamos, mas, com o modo altas, característica de aeronaves
de proteção ativado, isso não é com alta performance. Seleciona-
possível, assim como uma rola- mos o flap para a posição full, que
gem completa em torno do eixo representa 37 graus e nossa Vref
longitudinal. Durante as curvas foi de 106 kias, surpreendente para
de grande inclinação, é possível uma aeronave do porte do Praetor
ver a precisão de comando. Uma 600 e com uma asa sem slats.
vez induzida a inclinação lateral, Durante a aproximação final,
é só soltar o side stick e a aeronave em razão da eficiência de coman-
permanece na mesma atitude. dos, torna-se fácil e agradável a
Simulamos um voo monomotor. aproximação manual e, graças à
O resultado é interessante. Em presença no conjunto do trem de
função do sistema FBW, quase pouso de freios em carbono, o
não requer a interferência do toque no solo é suave. Ao soltar
dos pilotos durante as transfe- piloto, para estabilizar a aeronave o side stick, o nariz da aeronave
rências entre tanques, quando no e há sobra de potência. abaixa-se majestosamente, até
modo automático (AUTO). Abandonamos a área de tocar o solo. Com a atuação auto-
Pilotar uma aeronave fly-by- manobras e prosseguimos para mática dos spoilers mais o uso dos
-wire com side stick torna o voo o circuito de tráfego, durante a reversores, torna-se praticamente
muito mais fácil. Além da precisão descida. Experimento usar o speed desnecessário o uso dos freios,
de comando nas manobras, brake. Eficiente e ajustável, não que são equipados com autobrake.
dispensa o uso do compensa- transfere muita vibração para a Enfim, livramos a pista e
dor, presente nas aeronaves com fuselagem e torna-se necessário, voltamos ao pátio da Embraer.
comando de voo convencional. dependendo do tipo de procedi- O Praetor 600 é um jato com
Descemos para o FL150 e, nesse mento e restrição, pois a aeronave excelente custo-benefício, pro-
nível, iniciamos uma sequência de é “lisa”. O procedimento indicado jetado para brigar em um nicho
manobras, incluindo tentativas de pelo controle foi o ILS T para a de mercado que os Legacy não
estol em velocidades alta e baixa. pista 15. As velocidades para início conseguiram.

28 | MAGAZINE 3 02
PRAETOR 600

Fabricante Embraer
Preço US$ 22 milhões
12 passageiros
Ocupantes
+ 2 pilotos
Bagageiro 145 m 3 / 550 kg
MOTORES
Honeywell
Modelo
HTF7500E VERSÃO MILITAR DO PRAETOR
Quantidade 2 Embraer lançou durante o Paris Air Show sua primeira aeronave
Empuxo 7.528 lbf após a venda da divisão comercial para a Boeing, o P600 AEW
DIMENSÕES EXTERNA P O R | EDMUNDO UBIRATAN

Comprimento 20,74 m É um avião de alerta antecipado e ameaças-radar, comando e controle,


Altura 6,41 m inteligência baseado na plataforma pacote de comunicação abrangente,
Envergadura 21,5 m do Praetor 600. Na prática, uma incluindo redes de dados e links via
versão compacta dos famosos E-99, satélite, além de um robusto sistema
DIMENSÕES INTERNA derivados dos EMB-145. O P600 de autoproteção (SPS) que realiza
Altura 1,83 m AEW está entre os menores aviões a detecção de ameaças potenciais,
Largura 2,08 m do tipo dentro da categoria AEW&C ativando quaisquer medidas de
Comprimento 8,37 m (Airborne Early Warning and Control). suporte eletrônico necessárias.
Embora seja baseado em uma O novo P600 AEW deverá
Volume 23,4 m 3 aeronave de negócios da categoria contar com uma solução de
PERFORMANCE supermédio, o modelo se beneficia comunicação abrangente, permitindo
Teto Operacional 45.000 ft dos avanços da eletrônica embarcada, a capacidade de enlace de dados,
Distância permitindo a instalação de uma comunicação por satélite para
1.438 m completa estação de controle a bordo operações além da linha de visada e
de decolagem*
e de um radar de múltiplo emprego, recurso de guerra centrada em rede
Distância
660 m este último montado em um casulo (NCW). A operação do sistema da
de pouso**
aerodinâmico sobre a fuselagem, Elta prevê três consoles, o que em
Velocidade de o que não deverá exigir grandes aeronaves maiores em geral costuma
450-485 ktas
Cruzeiro
mudanças de engenharia no projeto. contar com mais operadores. Mas
Alcance 4.018 nm O avião será produzido em a Embraer e a Elta afirmam que o
PESOS parceria com a israelense Elta novo modelo não será distante das
Vazio 24.659 lb Systems, que fornecerá um amplo capacidades de plataformas maiores.
sistema eletrônico de quarta Entre outros graças ao sistema de
Máximo de rampa 42.990 lb
geração, que inclui o radar de alerta comando e controle incorporar
Máximo de antecipado ELM-2096, além de inteligência artificial e aprendizado
42.858 lb
decolagem sensores de coleta de informações, de máquina, que ajuda a reduzir a
Combustível 16.138 lb vigilância e inteligência. A Embraer carga de trabalho e o número total
Carga útil 4.001 lb será responsável pela produção do de pessoas envolvidas no processo.
Carga útil avião, integração dos sistemas e Embora o valor final ainda
2.194 lb fornecimento dos recursos de terra não tenha sido definido, além de
com full fuel
e os sistemas de comunicação. O depender da configuração final
acordo de cooperação abrange um do cliente, a Embraer acredita em
*Os pilotos que já possuem habilitação do Legacy 450/500 compartilhamento de trabalho de uma aeronave com valor inferior a
estão dispensados de refazer o treinamento ou voltar ao 50:50. modelos baseados em aeronaves
simulador, sendo requerido apenas um self learning das O sensor primário do P600 maiores. O modelo civil, básico, do
diferenças, conforme relatório de avaliação operacional AEW é o radar AESA (Digital Active Praetor 600 tem valor de lista de
conjunta de Anac, FAA e Easa. Scanned Array) com capacidade de US$ 21 milhões. Também não foi
IFF integrada, mas o modelo pode ser estabelecido o alcance do P600
configurado com uma vasta gama de AEW, a versão civil tem alcance
sistemas de sensores de controle para máximo de 8.700 quilômetros, mas o
alerta antecipado, além de um radar maior peso do sistema embarcado e
AEW AESA Digital, IFF civil e militar, arrasto devem reduzir esse número,
pode receber sistemas ESM/ELINT todavia, a autonomia prevista não
com capacidade de recepção de será inferior às quatro horas

MAGAZINE 3 02 | 29
AV I AÇ ÃO D E N EG Ó C I O S

SEM CRISE
NO CAMPO
Favorecidos pelo câmbio, agricultores já adotam jatos e turbo-
hélices de alta performance no dia a dia de sua operação
P O R | E D M UN DO UB I RATA N
U
m Phenom 300 Enquanto alguns setores da nacional, na maior parte das vezes
decola de Congo- econômica amargam resultados operando em cidades sem voos
nhas nos primeiros ruins, experimentando crises e regulares. O mais irônico é que
slots da manhã, incertezas, o campo continua localidades como Sorriso estão
com destino a mantendo um voo de cruzeiro. entre as geradoras de maior rique-
Dourados, no Mato Grosso. Em 2019, a expectativa é crescer za do país, mas não são atendidas
Minutos depois, um Falcon 2000 2%, que, mesmo sendo muito por companhias aéreas. Mesmo
parte de Campo Grande com abaixo dos 13% de dois anos atrás, moradores locais poderiam se
destino a Barreiras, no oeste mantém o agronegócio como um beneficiar de voos regulares da
baiano. Em Cuiabá, um Citation dos pilares da economia brasileira. aviação regional, mas o modelo de
Sovereign é o número dois na desenvolvimento nacional deixou
taxiway, à frente de um King Air NOVOS CLIENTES esse papel para a aviação geral.
C90 alinhado para decolar para A importância do setor é tamanha Nesse contexto, de uns tempos
Sorriso, distante 420 quilômetros que os principais fabricantes de para cá, os onipresentes King Air e
da capital mato-grossense. O aeronaves do mundo passaram Seneca começam a dividir espaço
Phenom 300 mal deixa a termi- a investir na captação de novos com jatos transportando não so-
nal São Paulo e o Sovereign está clientes no campo. Se no imagi- mente os “reis” do gado, da soja ou
decolando para a capital paulista. nário popular avião para uso no da laranja, mas também produtores
A cena não é difícil de ser agronegócio são os monomotores de médio porte, empresários com
visualizada, afinal, o Brasil ainda ou bimotores a pistão das linhas negócios diretamente vinculados
detém a segunda maior frota de Cessna, Beechcraft e Piper, ou ao campo, entre outros. Um dos
aviação geral do mundo, atrás turbo-hélices como o King Air, na principais fabricantes de tratores
apenas dos Estados Unidos. O atualidade jatos de diversas catego- do país utiliza um Citation e um
que é revelador é o perfil dos rias bem como montoturboélices Phenom para transportar seus
passageiros. Esses voos reais não de alta performance se tornaram representares e técnicos especializa-
estavam transportando execu- uma realidade. dos pelo Brasil. Outro importante
tivos do mercado financeiro ou Com proporções continentais, fornecedores de implementos agrí-
de grandes redes varejistas, nem o Brasil sempre fez amplo uso de colas dispõem de um Pilatus PC-12
cantores famosos em turnê pelo aviões para viabilizar os negócios, e já cogita adquirir um PC-24
país, mas, sim, empresários do em especial no setor agrícola para poder chegar mais rápido em
agronegócio. disperso no enorme território maior número de localidades.
Citation M2

Para o empresário AVIÕES E COLHEITADEIRAS DÓLAR ALTO


rural, câmbio é Não é de se estranhar, portanto, Por várias décadas, o fazendei-
favorável, já que que, durante a principal feira de ro típico, aquele do imaginário
grande parte da agropecuária do país, a Agrishow, coletivo, com chapéu, cinto com
produção tem realizada em Ribeirão Preto, no fivela com estampa de um peão
cotação em dólar
interior paulista, diversos aviões de rodeio e botas, utilizava mono-
estejam expostos ao lado de motores a pistão para voar entre
enormes colheitadeiras, trato- fazendas e cidades próximas. O
res e outras máquinas. O grupo que é facilmente explicado, já
Textron, por exemplo, expôs um que, dos cerca de 2.630 aeródro-
Citation Latitude e um helicóptero mos públicos e privados listados
Bell 505. Já a Embraer levou um pela Anac, mais de 1.680 pos- típicas, aliados a menor custo
Legacy 500. Até anos atrás, eram suem pista de terra, cascalho ou de operação e manutenção
produtos que tinham como princi- grama. Sem contar diversas pistas e alta velocidade.
pais clientes executivos residentes não regulamentadas instaladas Enquanto isso, os jatos de
nas maiores capitais do Brasil, mas em centenas de fazendas. entrada como Citation M2 e a
que agora se voltam para o campo. Se para muitos a relação do família Phenom se tornaram uma
A aviação de negócios sempre cambio é um pesadelo, para o opção acessível com boa relação
atraiu os produtores rurais por empresário rural, pode ser um custo-benefício para quem neces-
sua flexibilidade em operar em momento de comemoração. Gran- sita se deslocar com rapidez entre
centenas de aeroportos do Brasil, de parte da produção é cotada em cidades do interior que contam
em especial em localidades sem dólar, em especial a soja e carnes com boas pistas e alguma infra-
voos regulares, mas recentemente diversas. Isso permitiu viabilizar a estrutura de solo. Já empresários
também por permitir melhor compra de aeronaves maiores. Há de empresas atreladas ao setor ou
aproveitamento das horas do vários anos, o King Air é o rei dos mesmo grandes produtores rurais
dia. Pode-se percorrer até dez turbo-hélices, que, embora pareça passaram a utilizar jatos de maior
cidades em uma mesma sema- um infame trocadilho, justifica-se capacidade para se deslocar entre
na, buscando parcerias, vendas, por sua excelente capacidade de o campo e as principais
compras e assim por diante. Ex- transporte atrelado à performance cidades do país.
traoficialmente se comenta que a em pistas curtas e não pavimenta-
Textron poderá comercializar 50 das. Mas, modelos como o PC-12 LONGO ALCANCE
aeronaves no Brasil, muitas delas e a família TBM avançaram nesse Além disso, grandes produtores de
vendidas para o agronegócio, que território, oferecendo performan- grão e frigoríficos nacionais com
hoje já representa quase metade ce e capacidade senão similar, forte presença no exterior, não
das vendas no país. adequada para diversas operações raro possuem em suas frotas jatos

32 | MAGAZINE 3 02
TBM 910

Falcon 2000
supermédios e intercontinentais,
como as famílias Challenger e
Global da Bombardier, os Dassault
Falcon e os Gulfstream, com
capacidade de voar sem escalas
para diversos destinos na Europa
ou Estados Unidos. Muitos desses
negócios têm sua base no campo,
mas ampliaram sua atuação em
setores como finanças, energia,
infraestrutura, entre outros. Isso
torna a aviação, em especial o uso
de grandes jatos, especialmente
importante para a integração na-
cional e dos diversos negócios.
“Hoje cedo decolamos de
Phenom 300
Bento Gonçalves para São Paulo e,
assim que o patrão concluir uma
reunião, embarca para Petrolina”,
comentou o comandante de um
Citation Sovereign, a serviço de
um importante produtor brasilei-
ro, demonstrando a importância PC-12
da aviação para o segmento.

MAGAZINE 3 02 | 33
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M E RC A D O

OITO TENDÊNCIAS
NA AVIAÇÃO PRIVATIVA
O que está acontecendo e o que vai acontecer no dinâmico universo
em torno de aeronaves utilizadas por táxis-aéreos e operadores particulares
PO R | DAVID CLARK , ESPECIAL PARA AERO

U
ma frase do filósofo He-
ráclito marcou sua obra:
“Ninguém entra duas
vezes em um mesmo rio,
pois, quando isso acon-
tece, já não se é o mesmo, assim como
as águas já são outras”. O mesmo pode
ser dito sobre a aviação de negócios. É
um mercado com constantes mudan-
ças, que, aliás, vêm acontecendo em
um ritmo cada vez mais rápido. Aqui
compilamos oito tendências deste di-
nâmico segmento do transporte aéreo
que já estão em curso ou chegarão em
breve ao Brasil.
Não são modismos passageiros ou
ideias extravagantes: essas tendências
vieram para ficar e crescerão com o
tempo. A lição importante é que a
aviação sempre foi e continuará sendo
sobre conectar pessoas e promover
relacionamentos humanos da maneira
mais segura e econômica possível.
O seu crescimento exige soluções
inovadoras e, enquanto continuamos
a marchar juntos ao longo do século
21, veremos a aviação se transforman-
do de maneiras que não poderíamos
imaginar. Então, aperte seus cintos de
segurança, vai ser um ótimo passeio!
1
MELHORES PRÁTICAS
Pessoas inteligentes aprendem com
os erros de outras pessoas. Após
mais de 60 anos de história da avia-
ção de negócios, geralmente descobrimos o
que funciona e o que não funciona. Tudo se
resume a um conjunto de melhores práticas
que estão sendo adotadas operacionalmen-
te por meio do IS-BAO e implementação
de SMS, bem como da Certified Aviation
Manager via NBAA. Na área de transações,
várias associações foram formadas com
o objetivo de compartilhar ferramentas
capazes de fomentar as melhores práticas e
proporcionar a operadores, compradores
e vendedores ótimas experiências, ado-
tando as melhores maneiras de fazer
as coisas.
2
USADO VERSUS NOVO
A tendência daqui para frente
parece ser em relação às aero-
naves usadas em comparação às
novas conforme modelos em uso se tor-

3
nam disponíveis com maior qualidade. PRÓXIMA FRONTEIRA:
Um estudo recente prevê que até 2023 A VELOCIDADE
haverá quatro vezes mais transações Enquanto se tornam tecno-
entre aeronaves usadas do que novas logicamente mais capazes, as
vendas, uma tendência definitiva em di- aeronaves ainda estão presas a veloci-
reção a aeronaves com cabines maiores, dades inferiores à do som – entre 80%
à medida que as empresas continuam e 90%. Estamos atingindo o limite
a crescer globalmente. As aeronaves de autonomia com aeronaves como
leves continuarão a ser populares, mas o o Dassault Falcon 8X, o Bombarider
tamanho e o alcance são cada vez mais Global 7500 e o Gulfstream G650,
importantes, daí a tendência em direção que voam entre 12 e 14 horas. A
a aeronaves maiores. velocidade é a próxima fronteira e os
fabricantes estão buscando capturar
esse espaço. O principal player atual-
mente é a Aerion, que promete uma
velocidade de cruzeiro entre Mach
1.2 e 1.4, tirando várias horas de uma

4
CONECTIVIDADE viagem de São Paulo à Europa ou do
Em um mundo Rio aos Estados Unidos. Indivíduos
cada vez mais com patrimônio líquido ultraelevado,
conectado, a corporações globais e governos estão
internet de alta velocidade interessados no amadurecimento do
não é mais opção e, sim, voo supersônico nos próximos 10 ou
necessidade. Executivos
ou familiares não podem
mais se dar ao luxo de
ficar fora de contato com
suas equipes por horas e
horas enquanto a tecnolo-
gia está lá. À medida que a
utilização aumenta, o cus-
to diminui e mais usuários
adotam a tecnologia.

5
CONSOLIDAÇÕES
Continuamos a ver a consolidação conforme as grandes
empresas buscam economias de escala. A Airbus comprou a
Bombardier Commercial Aircraft. Cessna e Beechcraft são
agora Textron. A divisão de aviação comercial da Embraer agora é
a Boeing Brasil. A Daher acaba de adquirir a Quest, fabricante do
Kodiak 100. O que vem depois? Vamos ver mais consolidações em
grande e pequena escalas.

38 | MAGAZINE 3 02
6
ESCASSEZ DE PESSOAL
A Boeing afirmou recentemente que, nos pró-
ximos 20 anos, serão necessários 804 mil novos

7
pilotos e 769 mil técnicos. Desse total de pilotos, EXPERIÊNCIA
54 mil serão necessários apenas na América Latina, mui- OU PROPRIEDADE
tos dos quais no Brasil. Embora isso ainda não seja um
Há 25 anos, o usuário tinha
problema no Brasil, em breve será no restante do mundo.
duas opções quando se
Agências governamentais, empresas privadas e associa-
tratava de aviação privativa:
ções industriais precisam trabalhar em conjunto para en-
fretamento ou propriedade de
contrar soluções para a próxima geração interessada em
uma aeronave inteira. Hoje
seguir carreiras na aviação. Nos Estados Unidos, alguns
existem dezenas de opções,
proprietários estão vendendo suas aeronaves porque não
mas o que está impulsionan-
conseguem encontrar tripulantes. Outros departamen-
do isso é o mais interessante.
tos de voo estão compartilhando tripulantes como uma
Chamo isso de “efeito
solução. Muitas pessoas simplesmente não querem lidar
Netflix”: costumávamos
com esse problema e, portanto, compram um tempo de
comprar dezenas ou cen-
compartilhamento ou bloqueio em uma frota de aerona-
tenas de VHS e DVD que
ves. Esse problema é um motor para a próxima tendência
assistíamos uma vez e depois
em nossa lista.
guardávamos em nossas
prateleiras. Agora assinamos a
um serviço, por uma pequena
taxa fixa mensal, e assistimos Essa mudança está impul-
a qualquer coisa, em qualquer sionando uma revolução na
lugar, a qualquer momento. aviação, levando à criação de
Queremos a experiência, não empresas baseadas em aplica-
a propriedade. O mesmo está tivos, propriedade fracionada,
acontecendo com a aviação timesharing e modelos de jet
privativa. As pessoas querem club. Tudo isso está aconte-
a experiência e a conveniên- cendo porque os gostos dos
cia, sem as dores de cabeça e clientes estão mudando e o
os desafios da propriedade. mercado está respondendo.

8
MOVIMENTO DISRUPTIVO
Outra tendência (ou revolu- tura de novos terminais para
ção) na aviação é o advento atender aos passageiros, os
das aeronaves eVTOL, capazes chamados skyports. A Rolls-
de pousar e decolar perfazen- Royce, a AT&T e até mesmo
do movimentos verticais. São as montadoras de automóveis
veículos totalmente elétricos estão investindo pesado nessa
com capacidade de voos tecnologia que transformará a
curtos, operando em diversos aviação de maneira sustentável
locais e voando sem piloto. e segura. Seja por empresas
Todas as grandes empresas de estabelecidas ou startups, a
aviação estão investindo nessa aposta é que esse segmento
novidade tecnológica, com continuará a crescer como
Embraer e Airbus à frente. A um método viável para levar
Uber tem uma divisão inteira as viagens aéreas às massas,
dedicada a levar esta solução reduzindo drasticamente
ao mercado, a Uber Elevate. os custos. Há várias outras
A Signature Flight Support, tendências que merecem des-
a maior cadeia mundial de taque, incluindo o advento dos *O consultor de aviação David Clark é diretor
FBO, com 220 participantes, biocombustíveis, a redução de administrativo do Integris Aviation Group
e especializado em vendas e aquisições de
acaba de se comprometer com emissões e a dependência aeronaves no Brasil, trabalhando com algumas
a construção da infraestru- de big data. das maiores empresas e pessoas físicas com
altíssimo patrimônio do país.

MAGAZINE 3 02 | 39
M I N H A A E RO N AV E
QUE OFICINA
ESCOLHO?
A IAM está chegando, e agora: realizo a manutenção no
centro do fabricante ou em outro local? Esse é um dilema
comum e recorrente entre os proprietários de aeronaves...
P O R | S H A I LON I A N , E S P ECI A L PA RA A E R O M AG AZ IN E

M
uitos proprietários adotam Também espera que o fluxo de peças seja
com seu avião a mesma facilitado e que a oficina tenha acesso aos
política que têm com seus desenhos da aeronave caso seja necessário um
carros. Se utilizam com o reparo maior. Normalmente, a infraestrutura
automóvel somente a con- da oficina de um fabricante também é maior,
cessionária, fazem o mesmo com a aeronave. pois a equipe de vendas usa a oficina como
Se têm um mecânico de confiança para os item de after sales em seu discurso comercial.
veículos da casa, encontram um para o avião Outra garantia que o proprietário tem é
e, a partir de então, este profissional fica res- a cobertura do seguro em caso de incidentes
ponsável pela máquina. Nada de errado com com a aeronave dentro do hangar durante a
ambas as opções, desde que a decisão seja manutenção, uma vez que, normalmente, as
racional. A aviação costuma punir severa- coberturas são mais que suficientes para qual-
mente decisões tomadas de forma intempes- quer eventualidade envolvendo uma aeronave
tiva ou carregadas de emoção. no hangar.

OS PROS OFICINA HOMOLOGADA


OFICINA DO FABRICANTE Uma oficina homologada de alto padrão não
Ao levar o avião para a oficina do fabrican- fica atrás de centros de manutenção de fabri-
te, o proprietário está “dobrando a aposta”, cantes. Em uma oficina de alto padrão – há
ou seja, ele está considerando que o fabri- várias no Brasil – as ferramentas, os manuais,
cante tem muito a perder com a queda do os mecânicos e a infraestrutura são compa-
avião, e terá mais ainda caso a queda seja tíveis com o que existe nas melhores oficinas
de um avião de sua marca, mantido em de manutenção oficiais. O mesmo se aplica
uma oficina dele. ao cuidado e à atenção dada a sua aeronave.
Além disso, o proprietário crê que os Além disso, em razão do volume de atendi-
mecânicos são treinados na própria fábrica, mentos, elas possuem acesso a peças e suporte
e que possuem suporte direto do fabricante. técnico similares aos de oficinas oficiais.
As oficinas de alto nível ofe- serviços realizados ali sejam gargalos na execução dos reparos.
recem serviços equivalentes aos mais caros do que os prati- As outras oficinas somente de-
centros montados por fabricantes cados em outras oficinas. Se vem ser consideradas se passarem
com uma política de preços um os benefícios que o fabrican- por uma avaliação básica técnica,
pouco mais flexível. Podem ser te oferece valem o prêmio uma lista simples de itens que
consideradas a melhor opção às pago pelo serviço, isso é uma devem ser verificados para evitar
oficinas dos fabricantes. Ou seja, questão que o operador e o problemas (leia o box). No caso de
vale a pena uma cotação antes da gestor de sua aeronave devem manutenção aeronáutica, o mais
tomada de decisão sobre o local responder, o que varia caso a caro nem sempre é o melhor, mas
onde fará a manutenção de seu caso, serviço a serviço. o muito mais barato quase sempre
equipamento. De novo, uma boa asses- é um problema.
As oficinas menores não soria técnica tanto do coman-
conseguem oferecer o mesmo pa- dante da aeronave como do CONCLUSÃO
drão de infraestrutura de oficinas mecânico pode fazer a diferen- O proprietário tem total liberda-
maiores ou oficinas do fabricante, ça, o que significa economizar de para encaminhar sua aeronave
mas normalmente possuem um alguns milhares de dólares em para qualquer oficina homologa-
mecânico – não raro o proprietário um serviço de manutenção. da, o importante é fazer isso de
–, que é a autoridade em determi- forma racional e, principalmente,
nado tipo de serviço ou aeronave DEMAIS OFICINAS acompanhar a manutenção desde
na região, muitas vezes subcon- As oficinas de alto nível seu planejamento até a pós-
tratado pelas oficinas maiores, e têm mais dificuldade para -execução.
não deixam de ser boa opção, se manter o treinamento dos A manutenção de aeronaves
tomados os devidos cuidados. seus mecânicos em dia. Além é um processo complexo e sujeito
disso, logística e infraestrutura a falhas, o bom planejamento e o
OS CONTRAS podem ser questões limitan- acompanhamento detalhado mi-
OFICINA DO FABRICANTE tes em relação ao centro de nimiza o risco e o retrabalho, não
As oficinas dos fabricantes manutenção do fabricante. só evitando gastos desnecessários
seguem uma rígida política de Antes de iniciar os trabalhos, e dores de cabeça futuras, mas,
preços ditada pela matriz, o que, é importante verificar esses principalmente, contribuindo para
invariavelmente, faz com que os itens para que não se tornem a segurança de sua operação.

42 | MAGAZINE 3 02
10 VERIFICAÇÕES BÁSICAS
Qualquer que seja sua escolha, veja alguns itens que você pode pedir ao
prestador de serviço para verificar antes de contratá-lo:

O Certificado de Homologação da Empresa


e sua Especificação Operativa com a
autorização para realizar os serviços que você
está contratando. Peça para eles indicarem
nos documentos onde está essa autorização;
Que cumpram um

1
protocolo com a cadeia A lista dos
de aprovação de mudança mecânicos e seus
de escopo e alteração de treinamentos;
orçamento (que existirá).

10 2
A lista dos

3
inspetores

9
Reuniões em designados
intervalos pela oficina;
regulares
(Semanais?
Quinzenais?) para
acompanhamento;

O seguro do

4
hangar e a
cobertura contra

8
acidentes com
aeronaves em
Um plano manutenção
de trabalho (acredite,
com a isso pode dar
evolução da problemas sérios),
inspeção;

5
verificando qual a
contrapartida da

7
oficina em caso de
acidente;

6
A listagem dos
Um plano de últimos serviços do
peças (uma vez tipo do seu que foram
definido o escopo realizados;
do trabalho), ou
seja, quando cada As não conformidades
peça vai estar levantadas pela Anac
disponível no na última vistoria e
estoque; o plano de ação da
oficina para resolver o
que foi levantado;

MAGAZINE 3 02 | 43
AV I AÇ ÃO G E R A L

44
|
MAGAZINE 3 02
VOO
SAUDÁVEL
Para além da licença médica, o cuidado com a
saúde tem um papel decisivo na proficiência
de quem trabalha com aviação, em particular
mecânicos e aeronavegantes
P OR | J OR G E F I LI P E A LM E I DA B A R ROS

A
proficiência de de um aeronavegante ou agente de
quem trabalha com manutenção.
aviação vai além
da competência. EXAMES E COMPENSAÇÕES
Manter-se atuali- Esse documento exige exames
zado, cumprindo treinamentos específicos aos que buscam obter
periódicos, é apenas parte do que o primeiro CMA ou sobem para
deve fazer um piloto ou um mecâ- uma classe superior. A ausência
nico. Profissionais que respondem de histórico de saúde para a clas-
pela segurança operacional do se pretendida pode exigir novos
transporte aéreo, público ou pri- dados nos prontuários médicos. É
vado, também precisam estar com o caso da radiografia panorâmica
a saúde em dia. Para isso, existem dos seios da face. Nela se obtém
as normas, mais especificamente as características da arcada dentá-
os Regulamentos Brasileiros da ria, que poderá ser utilizada para
Aviação Civil (RBAC). uma futura identificação de um
O RBAC 67 estabelece os tripulante acidentado. Também
parâmetros mínimos de saúde que ajuda a descobrir problemas mais
devem ser cumpridos por alguns graves, como desvios de septo ou
profissionais de aviação. Chama- sinusopatias. Outros exames do
dos “requisitos psicofísicos”, são primeiro CMA da classe buscam
descritos para orientar a emissão por doenças já existentes. Aos
de cinco diferentes classes dos candidatos a piloto é solicitado
Certificados Médicos Aeronáuti- um eletroencefalograma. A quali-
cos (CMA). As exigências seguem dade das ondas elétricas cerebrais
uma lógica crescente conforme o pode identificar males, como a
profissional se aproxima de ativi- epilepsia.
dades comerciais que envolvam Ao longo da vida, profissionais
passageiros em viagens regulares. de aviação terão de se submeter
Ao mesmo tempo que demons- a exames de rotina. A despeito
tram menor tolerância com aque- da idade que avança, trazendo
les que operam sob regras de voo limitações cognitivas, orgânicas
por instrumentos (IFR). Ou seja, e motoras, o candidato deverá
quanto mais responsabilidades, sempre atender aos tais requisitos
mais rigorosos serão os requisitos psicofísicos. Mesmo que o faça
em relação às condições de saúde com recursos de compensação. O

MAGAZINE 3 02 | 45
Tão logo esteja curado, ele pode
retornar ao examinador que o
reprovou e demonstrar já estar
em condições de aprovação.
Em outros casos, é possí-
vel não haver cura satisfatória,
mantendo-se permanentemente
a condição de “não apto”. Nesses
casos, o candidato pode recorrer
a uma junta da Anac para pleitear
o que acredita merecer. Caso não
concorde com o “não apto” de um
examinador, o candidato pode
abrir um recurso para solicitar um
reexame à Anac. Tem prazo de 30
dias da publicação do resultado do
exame de saúde pericial para isso.
A agência pode exigir teste médico
de voo para julgar o recurso.
Há histórias de sucesso de
recursos. Por exemplo, um ex-
-piloto da Esquadrilha da Fumaça,
acidentado numa ejeção, não
possuía mais a articulação dos
tornozelos, já que o impacto no
caso mais clássico é o exame de tros de mercúrio (mmHg) – sistó- solo lhe fraturou as duas pernas e o
visão. Se um indivíduo hiperme- lica e diastólica, respectivamente. fez perder massa óssea significativa.
trope dispensa óculos aos vinte e Esses requisitos nem sempre são Sua maior restrição era movimen-
poucos anos, mais tarde não con- conhecidos ou compreendidos por tar os pés para aplicar os freios em
seguirá contrair a musculatura do alguns candidatos. Em casos espo- aeronaves, cujos comandos ficam
globo ocular para levar o foco das rádicos, indivíduos com pressão no alto dos pedais do leme. Com
imagens à retina. Então precisará alta insistem que, não possuindo o apoio de ortopedistas, conseguiu
de lentes corretoras. Nesse caso, sintomas anormais, estariam em demonstrar que poderia aplicar
seu CMA sairá como “apto com perfeitas condições de pilotar os freios em aeronaves de duplo
restrições”. E constará no site da aeronaves. comando (com mais um piloto a
Anac, por exemplo: “Usar lentes bordo), utilizando os calcanhares
corretoras. Obrigatório portar par NÃO APTO rígidos.
de óculos reserva”. Se for considerado “não apto”, o Há ainda casos excepcionais,
Outras limitações poderão ser CMA inicial ou revalidação não em que pilotos paraplégicos nos
corrigidas ou reduzidas com o uso será emitido. Nesse caso, o candi- Estados Unidos obtiveram suas
de medicação. Taxas elevadas de dato precisará verificar o motivo licenças de pilotagem para voarem
colesterol, triglicérides ou glicose da não aptidão e tentar corrigi-lo. aeronaves adaptadas (leia mais
podem ser controladas, bem como A própria clínica ou o médico na edição 299 de AERO). Um
a pressão arterial. A ficha de his- credenciado podem orientá-lo fabricante brasileiro de aeronaves
tórico de saúde do candidato deve em como corrigir o mal. Há fato- LSA (Light Sport Aircraft) já expor-
mencionar as medicações que res de baixa complexidade, como tou para lá modelos adaptados à
utiliza e respectivas dosagens. A uma cárie profunda, uma gripe pilotagem apenas com as mãos. Há,
pressão arterial máxima em todas ou alguma limitação motora ainda, episódios de pilotos que, não
as classes é de 140 por 90 milíme- causada por pequenos acidentes. conseguindo revalidar o CMA para

46 | MAGAZINE 3 02
EMISSÃO DE CMA
10 DICAS
PARA CUIDAR
DA SAÚDE
Coma de tudo, mas em doses menores.
1 Coma várias vezes ao dia. Pouca
quantidade e com vegetais. Tome água 126 51
sempre. Não espere ficar com sede, médicos clínicas
que já indica desidratação. credenciadas

Faça exercícios, regularmente, pelo


2 menos 150 minutos por semana.

Durma bem. Os horários da carreira O Brasil dispõe de 126 médicos credenciados para emissão de CMA, nem todos aptos a
3 do aeronauta são diversos, então seja
disciplinado. Evite filmes de aventura, café
emitir licença de primeira classe. Eles atuam em 51 clínicas credenciadas. Para encontrar a
lista de clínicas credenciadas no site da Anac (anac.gov.br), vá para a seção “Assuntos” na
e refrigerante antes do sono. Apague as home e clique em “Setor Regulado”, depois “Profissionais da Aviação Civil”, “Processo de
luzes, ponha o pijama e construa um cenário Licenças e Habilitações” e, por fim, “CMA – Exame Médico”.
facilitador para o sono.

Valorize as pessoas que você ama,


4 familiares ou amigos. Vivê-los
intensamente é, talvez, a maior fonte de A VALIDADE DO CERTIFICADO MÉDICO
prazer que possamos ter. Ela varia conforme a classe, a categoria e a idade do profissional de aviação

Fuja do prazer fácil de álcool,


5 cigarro e outras drogas.
CLASSE

CATEGORIA IDADE
> 60 anos
VALIDADE
6 meses
Olhe de maneira propositiva para PC e PLA
6 os problemas. Mas procure ajuda
especializada com um médico e/ou psicólogo
Demais casos
< 40 anos
12 meses
60 meses
se perceber dificuldades de adaptação ao > 40 anos
estresse ou à depressão. PP IFR 24 meses
< 50 anos
Faça seu controle médico anualmente. > 50 anos 12 meses
7 Com bons hábitos, seu check-up será
simples. Se já possui uma doença crônica,
2ª < 40 anos 60 meses

trate-a regularmente. > 40 anos


PP, CMS, OEE e PBL 24 meses
< 50 anos
Faça as coisas de forma segura (como na
8 aviação) também em casa, no trânsito, no
lazer. Um acidente (sempre evitável) pode MCV
> 50 anos
Sem limite de idade
12 meses
12 meses
mudar sua vida. 4ª < 40 anos 60 meses
Tenha um hobby com o qual você se > 40 anos
9 encontre e se sinta realizado.
CPL ou CPR
< 50 anos
24 meses
Fonte: Anac

> 50 anos 12 meses


Sorria para a vida! Ela é breve, mas
10 intensa! Lembre-se de que a gestão
da sua saúde, da sua carreira e da
5ª Piloto Remoto Sem limite de idade 48 meses

sua felicidade é só sua. LEGENDA


Piloto de linha aérea (PLA), piloto comercial (PC) e piloto privado com habilitação IFR (PP-IFR).
Piloto privado (PP), comissário de voo (CMS), operador de equipamentos especiais (OEE), mecânico de voo
Fonte: Dr. Marco Cantero, membro da (MCV) e piloto de balão livre (PBL). Piloto de aeronave leve (CPL ou CPR) e piloto de planador (PPL).
Sociedade Brasileira de Medicina Aeroespacial Piloto remoto de VANT

MAGAZINE 3 02 | 47
a classe compatível com aviões ho- É importante lembrar que a físicos criam condições para
mologados, obtiveram o certificado manutenção da saúde do profis- o diabetes e a pressão alta. A
para aeronaves mais simples. sional de aviação não depende longa exposição ao sol, dentro
exclusivamente do sistema de e fora da cabine, pode catalisar
CMA SUSPENSO segurança de voo que lhe aplica processos de doenças da pele. E
Mesmo de posse de um CMA em exames. Depende, fundamental- os fatores de estresse intrínse-
vigor, o aeronavegante poderá mente, das atitudes saudáveis do cos à pilotagem ou às atividades
tê-lo suspenso em alguns casos. Se próprio indivíduo. Ironicamente, de pista tendem a desencadear
sofrer um acidente aeronáutico ou muitos, extremamente atentos à elevada irritabilidade.
incidente grave, terá de compro- manutenção de suas máquinas O profissional de aviação que
var que sua saúde não contribuiu voadoras, esquecem-se que elas goza de boa saúde deve permane-
para o acidente. Para isso, irá se serão operadas por humanos. cer atento aos fatores nocivos da
submeter à revalidação do seu profissão. Conhecer os requisitos
CMA. Mas, se cometer atos aéticos ROTINA INSALUBRE exigidos na RBAC 67 ajudará
graves, a Anac poderá cassar seu A rotina de viagens aéreas nem a entender os padrões que dele
CMA. Nesses casos, só lhe será sempre permite condições se espera. E agir na redução dos
permitido um novo exame após favoráveis à boa saúde. Sono fatores que podem prejudicá-lo é
seis meses de carência e em caráter irregular, alimentação impro- mais uma tarefa que esse profis-
“inicial” para a classe desejada. visada e falta de exercícios sional precisa desempenhar bem.

48 | MAGAZINE 3 02
de olho em
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detalhes do
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A S PROVAÇÕES
DE UM AVIÃO
Da destruição de asas ao congelamento
da aeronave, um programa passa por testes
impensáveis para quem vê as máquinas em
operação no dia a dia
POR | ED MUND O U B IRATA N
FOTOS | D IVU LG AÇ ÃO
Fotos Embraer (David Branco Filho)
A
certificação de aos engenheiros e autoridades de aeronave ou como opcional
uma aerona- aeronáuticas a possibilidade de para modernização ou desen-
ve moderna ir de forma certeira ao cerne do volvimento de tecnologia.
requer entre problema, buscando soluções Antes de ser entregue ao
duas a quatro mil em curto espaço de tempo e operador final, uma aeronave
horas de voos experimentais, de forma acertada, inclusive realiza uma extensa e com-
em média, que se somam a superando problemas que nem pleta bateria de testes, muitos
milhares de horas de testes no sequer haviam sido explorados conduzidos antes mesmo de o
protótipo zero (ou Iron Bird) anteriormente. primeiro protótipo ser construí-
e ensaios estáticos e de solo. A O teste de voo é um ramo do, enquanto outra infinidade de
campanha completa gera mais da engenharia aeronáutica validações continua sendo feita
de um teraflop de dados, algo aplicado durante a fase de de- anos após a primeira entrega. “É
inimaginável há 50 anos, quan- senvolvimento e maturidade de um processo bastante extenso
do os ensaios eram conduzidos aeronaves, motores ou veículos e acompanha toda a vida ope-
de forma quase totalmente espaciais, desenvolvendo e racional de um avião”, esclarece
analógica em projetos feitos de reunindo dados. De forma se- Felippe Fernandes Cosenza,
forma manual. Isso explica a cundária, sistemas em geral, de engenheiro de testes em voo
extrema segurança da aviação um winglet a complexas suítes da Embraer. “Por exemplo,
atual, que, mesmo em caso de de aviônicos, também podem na família E-Jet temos aviões
acidentes, como os que envol- ser submetidos a ensaios em voando para validar mudanças e
veram os Boeing 737 MAX, dá voo, seja para um modelo novo alterações na frota já em serviço”.
Túnel de vento

O PROCESSO que cumpra todos os requisitos de voo de uma aeronave. Até


Durante o projeto, os engenheiros legais para certificação de uma então, a base de conhecimento era
aeronáuticos buscam cumprir as carac- aeronave, que vai da capacidade de bastante reduzida e o voo ainda era
terísticas de voo propostas pelo setor de os pilotos operarem a máquina até uma ciência experimental, na base
desenvolvimento de produtos do fabrican- processos de construção e manu- da tentativa e erro. No pós-guerra,
te, atendendo às necessidades do mercado. tenção, passando por rígidos con- países como Estados Unidos, In-
Mas, além de cumprir tais parâmetros, os troles de segurança de voo, incluin- glaterra, França e União Soviética
engenheiros devem produzir um modelo do testes de túnel de vento. Mesmo dispunham de milhões de horas de
aeronaves não homologadas, como estudos acumuladas, o que permi-
os LSA (Light Sport Aircraft), são tiu projetar uma aeronave com boa
UM DOS ÚNICOS DO MUNDO submetidas a uma série de ensaios, dose de certeza de como seria seu
Subordinado ao DCTA, o IPEV é referência a maioria buscando certificar que comportamento em voo.
mundial em pesquisas e ensaios em voo as qualidades de voo planejadas Tudo mudou quando se pensou
Poucos países possuem cursos e escolas de ensino foram atendidas. em quebrar a barreira do som.
dedicadas a ensaios em voo. O Brasil faz parte do A etapa mais conhecida dos en- Não havia sequer dados de como
seleto grupo com o Instituo de Pesquisas e Ensaios em saios é justamente a fase de voo. Os se comportavam as asas nessa
Voo (IPEV), da Força Aérea. O IPEV, embora tenha fabricantes fazem questão de com- condição de voo. Não por um acaso
apenas 12 anos, é subordinado direto ao Departamento partilhar esse momento com o pú- a chamada Era de Ouro, que se
de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), sendo blico, inclusive com a presença de estende até meados dos anos 1960,
herdeiro das antigas escolas de ensaio em voo da FAB. convidados. Além disso, centenas matou tantos pilotos de provas. Foi
A mudança de nome ocorreu apenas por reorganização de fotos em voo durante essa fase ainda o período que a indústria
estrutural do Comando da Aeronáutica, com o IPEV são disponibilizadas pelas equipes aeronáutica assistiu ao desenvolvi-
mantendo o foco em realizar ensaios em voo, pesquisa de comunicação. Nos primórdios mento de um sem-fim de modelos
aplicada e formação de pessoal especializado. O da aviação, antes da Segunda Guer- de veículos aéreo experimentais,
instituto brasileiro é reconhecido como um dos mais
ra, o voo era a fase mais importan- muitos eram tão conceituais que
completos pela Society of Experimental Test Pilots,
te, pois ali seriam obtidos todos os fica até difícil classificá-los como
dos Estados Unidos.
dados referentes às características aviões ou helicópteros.

52 | MAGAZINE 3 02
Iron Bird Gulfstream

PROTÓTIPO ZERO de mudanças com centenas de a validar um ou mais sistemas.


Até os anos 1980, o desenvolvi- aviões já entregues. Mas a diferen- Olhando de fora, é uma estrutura
mento de uma aeronave exigia ça é que atualmente a engenharia metálica cheia de tubos, painéis
a construção de uma série de conta com bancos de provas que e cabos, muitos idênticos aos que
protótipos, destinados às mais conseguem simular com precisão serão instalados no avião. Um
variadas funções, uns para testes absoluta milhares de parâmetros observador atento pode deduzir se
estáticos de sistemas, outros para antes mesmo de a primeira peça tratar de uma plataforma destina-
validação de projeto e assim por destinada ao protótipo 1 ser corta- da a ensaios aeronáuticos ao notar
diante. Na fase de voo, diversos da. Muitos chamam esse banco de a presença de um trem de pouso,
problemas eram encontrados nos provas de protótipo zero, outros de atuadores, flaps, cockpit, entre
primeiros protótipos, exigindo Iron Bird. outros itens.
a construção de exemplares pré- O Iron Bird é uma enorme O uso desse banco de provas
-série, que deveriam aglutinar estrutura física que reúne os permite aos fabricantes testar
as soluções encontradas na fase sistemas de uma aeronave, incluin- com elevada precisão o compor-
anterior. Só depois se iniciava a do toda a parafernália elétrica, tamento de cada um dos siste-
produção em série. Ainda assim, hidráulica, eletrônica, de aviônicos mas, incluindo até a temperatura
muitas vezes as aeronaves já e até mesmo entretenimento de que determinado dispositivo po-
entregues a clientes passavam a cabine. Na prática, o Iron Bird é derá atingir em uso real. O Iron
sofrer mudanças para solucionar um laboratório físico que simula Bird trabalha em conjunto com
problemas encontrados durante a e testa praticamente a totalidade complexas simulações matemá-
operação. dos sistemas de uma aeronave. ticas, realizadas em computador,
Isso até acontece hoje em dia, Em geral, ele é montado em um que avaliam simultaneamente
como foi o caso do Boeing 787 espaço dedicado, podendo conter todos os parâmetros esperados
Dreamliner, que sofreu uma série vários andares, cada um destinado dos sistemas.

MAGAZINE 3 02 | 53
SIMULAÇÃO mudanças que envolveriam o Hoje, os pilotos podem co-
Durante o desenvolvimento do desmonte de grande parte da nhecer a fundo as características
A350 XWB, enquanto realizavam estrutura do avião. de voo de um avião antes mesmo
ensaios no Iron Bird, os enge- Outro caso que mostra a do primeiro voo. Os parâmetros
nheiros da Airbus notaram uma importância do Iron Bird foi a simulados por computadores
falha na atuação das tampas do mudança de um dos botões do são validados em simulação com
trem de pouso principal. Após painel do piloto automático do pilotos, em uma cabine idênti-
alguns ajustes na pressão da linha E-Jet E2. Os pilotos de ensaio, ca a esperada ser instalada no
hidráulica, foi possível corrigir que passam dezenas de horas no avião real, o que pode mudar são
o problema. O fato de o sistema cockpit instalado no Iron Bird, detalhes, como um botão do piloto
estar montado numa plataforma notaram que a posição do botão automático. Além disso, quando
de testes permitiu aos técnicos dificultava a visualização por parte atua em um sistema, por exemplo
realizar de forma simples os do comandante. Bastou no projeto movendo o manche para a esquer-
ajustes. Caso a pane tivesse sido final realocar o botão, o que ocor- da, o Iron Bird todo pode realizar
verificada na aeronave já constru- reu antes do primeiro avião ser tal função, comandando as linhas
ída, seriam necessárias diversas concluído. hidráulicas e elétricas até o aileron.

Teste virtual em cabine

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Asas do 787 suspensas
acima do limite

TESTES ESTÁTICOS Durante os ensaios, as asas do si como pelos destroços arremes-


Enquanto engenheiros e pilotos 787 Dreamliner – projetadas para sados. Tudo com uso de sensores
validam dados no Iron Bird, outra flexionar durante a decolagem e especiais, alguns tão pequenos
equipe testa a estrutura do futuro pouso – foram erguidas uma vez quanto a cabeça de um alfinete,
avião em um enorme laboratório. e meia sua capacidade para pos- que monitoram milhares de dados
Seções completas, como fusela- teriormente serem torcidas para em tempo real.
gem e asas, são montadas em um baixo, e novamente suspensas. Com a ampliação do uso de
hangar para serem submetidas a Conforme as asas cumprem materiais compostos, novos testes
testes acima dos limites de proje- ciclos simulando níveis extremos tiveram de ser criados, todos
to. A Embraer possui um banco de uso, muito superiores ao im- levando ao extremo os poten-
de provas destinado a ensaios posto por qualquer turbulência em ciais danos. Batidas com energia
estáticos em Eugenio de Melo, voo, outros sistemas são testados acumulada em pequenas áreas,
próximo à sua sede em São José simultaneamente. Um parafuso algumas com apenas um centí-
dos Campos, no interior de São específico está em uma cabine metro quadrado, são ocasionadas
Paulo. Ali diversos aviões estão sofrendo um estresse que jamais enquanto o componente segue
sendo testados, como o E195-E2. será alcançado em uma operação seus testes padrão. Ao final,
Durante os ensaios estáticos, de rotina. Tudo é repetido à exaus- uma bateria de ensaios verifica
toda a estrutura será posta à prova. tão. A porta principal está sendo a evolução do dano ao material,
Por normas das agências regulado- aberta, fechada, travada, pressu- como a propagação de fissuras
ras, componentes como as asas são rizada, em ciclos constantes. Os em fibras de carbono ou materiais
levados a limites 150% superiores pneus são submetidos a estouros compostos. Ligas metálicas são
ao máximo estipulado em projeto, reais e o compartimento do trem submetidas em outro laboratório
devendo suportar as enormes car- de pouso tem de suportar os danos à corrosão, ao mesmo tempo que
gas sem apresentar qualquer dano. causados tanto pela explosão em seu uso é elevado ao limite.

MAGAZINE 3 02 | 55
Beluga erguido e teste
de fuselagem (no detalhe)

DESTRUIÇÃO
Nesse processo, espera-se que todos
componentes se rompam após mi-
lhares de ciclos. A quebra das asas BelugaXL, por suas características limpa e exclusiva, sem nenhum
é um momento muito aguardado especiais, exigiu 72 testes extras sistema interno”, explica Arnaud
entre os engenheiros aeronáuti- em solo, para desenvolvimento e Puyo, aircraft configuration leader
cos que cuidam desse ensaio. “É certificação. Um desses ensaios do programa BelugaXL.
a cultura humana da destruição, envolveu colocar o avião em “pitch Os primeiros ensaios com o
gostamos de ver as coisas zero” e depois no “pitch nine”, avião real são no solo, verificando
explodindo e quebrando”, brinca levantando o nariz da aeronave diversos parâmetros, dos mais bá-
o engenheiro aposentado Leonard em 3,5 metros para determinar o sicos, como pressão dos pneus du-
Mahler, que trabalhou em diversos centro de gravidade do peso vazio. rante o táxi, até ensaios complexos
projetos militares e espaciais nos Também foram realizados no como de RTO (rejected take-off).
Estados Unidos. “A quebra da asa, Beluga testes de carga padrão e O ensaio de RTO é considerado
e de outros componentes, ocorre horizontal, seguidos de avaliações um dos mais extremos, pois nele o
exatamente no momento calculado separadas envolvendo a barbata- avião irá abortar a decolagem no
pelos engenheiros, por isso a come- na dorsal e a parte traseira verti- MTOW (maximum takeoff wei-
moração. É a prova de que os dados cal. Por se tratar de um exemplar ght), tendo de parar na pista sem
estavam corretos. Não por acaso de série, já que o protótipo um o auxílio dos reversores e muitas
os engenheiros se reúnem no dia e seria em seguida utilizado como vezes com freios propositalmente
horário previstos para acompanhar aeronave de transporte da Airbus, desgastados. Após parar na pista, o
o evento”, revela. o fabricante optou por realizar avião deve permanecer na mesma
Enquanto os dados estáticos todos ensaios no exemplar final, posição por cinco minutos, para
estão sendo coletados, o primeiro o que normalmente seria feito em depois se deslocar até o pátio. O
protótipo está sendo finalizado. Na uma célula estática, que jamais objetivo é validar não apenas a ca-
indústria atual, os dados são quase voaria. “É incomum para nós pacidade do avião de parar dentro
totalmente precisos do comporta- realizar testes como a calibração do espaço previsto, mas, também,
mento esperado. Ainda assim, di- usando o método de análise de do fabricante certificar-se de que
versos ensaios adicionais podem ser elementos finitos generalizados os freios manterão a temperatura
realizados com um protótipo antes em uma aeronave que voará, sob controle, assim como a pressão
mesmo da primeira decolagem. O normalmente usamos uma célula dos pneus terá de ficar estável

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FOGO E ÁGUA -lançados pneus radiais NZG, da teste em solo bastante crítico
Em fevereiro de 2002, durante Michelin ocasionou a quebra de é o water ingestion test. Nele a
um teste de RTO conduzido por vários cubos de rodas produzidas aeronave cruza uma área alagada
um A340-600, os engenheiros pela Goodrich. As rodas rompe- da pista em diferentes velocida-
da Airbus foram surpreendidos ram antes mesmo de os fusíveis des e com distintos regimes de
por um evento catastrófico. O dos pneus atuarem. potência dos motores. O objetivo
sistema de freios pegou fogo. O Os detritos dos pneus e as é conhecer o comportamento
ensaio ocorria no centro de testes rodas danificaram as portas do do avião em uma pista enchar-
de Istres, na França, e a Airbus compartimento do trem de pou- cada, ao mesmo tempo em que
seguia os regulamentos prescri- so e algumas áreas da fuselagem, se verifica se a água lançada não
tos. Após abortarem a decolagem mas não atingiram os tanques comprometerá o funcionamento
no MTOW e parar na distância de combustível. A distância de dos motores. Recentemente, um
estipulada, o A340-600 aguardava parada, no entanto, estava dentro dos protótipos do E195-E2 con-
os cinco minutos para voltar a dos requisitos de desempenho cluiu o teste sem apresentar mau
se movimentar. Nesse momen- planejados. O ensaio levou aos funcionamento dos motores ou
to, houve um incêndio no port fabricantes envolvidos no teste a APU, que não ingeriam quanti-
main bogey do material rodante reavaliarem as margens de resis- dades perigosas de água ou lama
produzido pela Messier Dowty e tência e a blindagem térmica dos durante o taxiamento, decolagem
o aumento da pressão nos recém- discos de freios e pneus.Outro e pouso.

Teste de ingestão de água

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Cabine reúne computadores
especiais, monitores e
gravadores, além de cabos
e instrumentos

EQUIPAMENTOS aeronave. Basicamente, as equipes voo, em geral é necessário realizar


ESPECIAIS de ensaio em voo verificam o medições dos deslocamentos dos
O primeiro voo é sempre cerca- comportamento dos controles de controles de voo, taxas angulares,
do de comemorações, ainda que voo e analisam a resposta aerodinâ- acelerações verticais lineares, entre
costume ser bastante tranquilo. Ele mica obtida. Esses procedimentos outros. Demais instrumentos a
é realizado para se verificar apenas são baseados em testes de circuito bordo são tanques de lastro, que
as características de voo da aero- aberto. O sistema de controle de são abastecidos com água e podem
nave. Em geral, a primeira etapa voo executa uma entrada predeter- gerar descolamentos no centro de
do ensaio passa a reunir dados de minada de comando enquanto a gravidade.
performance, características da ae- resposta da aeronave é observada e Os parâmetros normais de
ronave, entre outros. As avaliações mensurada. Essa identificação dos instrumentação em uma aerona-
das características de voo envol- sistemas é um procedimento que ve de testes incluiu sensores de
vem dois processos básicos. Um é permite aos engenheiros obterem pressão atmosférica (estática) e
qualitativo. Dentro de um circuito modelos dinâmicos a partir da res- temperatura; pressão dinâmica e
fechado de manobras (pilot-in-the- posta da aeronave durante os testes temperatura, aferidos em várias
-loop), o piloto efetivamente atua em voo. Durante a fase de ensaios partes da fuselagem; atitude de
nos comandos para cumprir deter- em solo e em voo, a aeronave rece- aeronave, ângulo de ataque e
minado protocolo de voo, efetuan- be um interior especial. A cabine ângulo de rolamento; acelerações
do uma manobra e verificando a é preenchida por instrumentos em todos seis graus de liberda-
reação da aeronave de acordo com dedicados, chamados de FTI (Flight de, medidos por acelerômetros
as suas características aerodinâ- Test Instrumentation), que reúnem instalados em diferentes posições
micas – espera-se uma resposta de computadores especiais, monitores, na aeronave; cargas estruturais
acordo com tais dados. A equipe gravadores, sensores e um sem- nas asas e na fuselagem, incluindo
de ensaios observa a resposta da -fim de cabos e instrumentos. Os vários níveis de vibração; níveis
aeronave e determina os parâme- requisitos para a aquisição de dados de ruído (interno e externo);
tros comparando as características e os parâmetros necessários estão temperatura interna; parâmetros
real e desejada naquela situação. diretamente relacionados à fina- de desempenho do motor como
Há também uma avaliação lidade do ensaio e como os dados pressão e temperatura em vários
quantitativa, que analisa as caracte- serão analisados posteriormente. estágios, empuxo, taxa de queima
rísticas de estabilidade e controle da Para verificação das qualidades de de combustível e assim por diante.

58 | MAGAZINE 3 02
BAIXA VELOCIDADE
E VOO MONOMOTOR série de situações, com o avião Mais um ensaio bastante
Durante a fase de voo, as equipes saindo do chão no limite mínimo difícil envolve decolar com um
levam a aeronave ao extremo de de suas condições de voo. motor inoperante em diversas
sua capacidade, condição distante Essencialmente o avião “roda” situações, muitas delas próxi-
da esperada em uma opera- em uma velocidade inferior à mas à situação crítica de voo.
ção normal, mesmo diante de esperada, exigindo um pronuncia- Em 2011, durante um voo de
circunstâncias realmente críticas. do ângulo de ataque, o que força rotina na fase de certificação,
Um dos momentos mais delica- a parte traseira da fuselagem a um jato GVI estolou e bateu
dos dos testes no solo é o velocity arrastar na pista. Evidentemente, o com a asa no solo, vitimando
minimum unstick test, que valida a fabricante instala um reforço que todos seus ocupantes. O avião
velocidade mínima de decolagem. amortece o impacto, permitindo estava realizando justamente
Os vídeos do ensaio são bastante a correta avaliação sem compro- um voo de one-engine-inopera-
populares ao mostrar o avião meter estruturalmente o avião. O tive (OEI) quando a asa direita
arrastando a cauda durante vários maior risco é decolar muito pró- produziu um momento de ro-
metros antes de deixar o solo. O ximo à velocidade de estol, sem lagem inesperado a baixa altura
teste busca certificar qual a menor margens para erro ou correções e a tripulação não foi capaz de
velocidade necessária em uma caso algo saia do previsto. responder a tempo.

Decolagem de teste do Dreamliner

MAGAZINE 3 02 | 59
Imagem da Nasa “retrata”
assinatura sonora

ESTOL E RUÍDO como voo ou decolagem mo- zem quase um retrato do som”,
O estol representa um dos nomotor fazem do ensaio uma compara Alexandre Figueiredo,
ensaios que mais atenção exige manobra já crítica e pior, com diretor de ensaios em voo da
da tripulação. A manobra não pouca margem para erros. Embraer.
pode ser realizada a grande Ainda que pouco lembrados Realmente, os dados apre-
altitude, embora esteja dentro por pilotos e entusiastas, exis- sentados exibem visualmente
de um nível de voo bastante tem ensaios bastante curiosos e detalhes impressionantes do som
seguro. A impossibilidade de importantes, como a verificação se propagando. De forma simi-
voo a grande altitude se dá pela da assinatura sonora da aero- lar, a Nasa realizou recentemente
densidade do ar, que não per- nave. Uma série de microfones a primeira fotografia, inclusive a
mite se obter dados seguros na especiais e instrumentos de cores, das ondas de choque em
maior parte dos ensaios. O estol medição permitem aos enge- voo supersônico utilizando dois
faz a aeronave perder altitude, o nheiros analisar o nível de ruído T-38 Talon. Esse, aliás, foi um
que, em caso de uma pane real, em diversas fases do voo e em dos ensaios mais importantes
pode tornar a situação bastante várias áreas de um aeroporto e conduzidos pela agência espacial
complicada. Além disso, testes seu entorno. “Os softwares fa- nos últimos meses.

60 | MAGAZINE 3 02
Os melhores vinhos das melhores
importadoras em um clube único:
Mistral, World Wine, Winebrands, Qualimpor, Adega
Alentejana, Portus, Grand Cru,
Vinci entre outras.

Sempre vinhos pontuados por Robert Parker, ADEGA,


Wine Spectator ou Descorchados.

a c e s s e : w w w. c l u b e a d e g a . c o m . b r
Boeing 747: congelado,
depois aquecido

ENSAIOS
DE MOTORES
Além das aeronaves, propulsores
também são submetidos ensaios em
voo por razões de viabilidade técnica,
os motores são instalados em aviões
convertidos como bancadas de testes
para serem testados em voo. Por
exemplo, a GE Aviation utiliza um
Boeing 747-400 (anteriormente um
747-100) para verificar seus motores, FRIO E CALOR
que podiam ser instalados no lugar de úmidos, como a Amazônia, e outros
um dos motores originais do 747, onde Igualmente curioso é o congelamen- altos e quentes, como a Cidade do
a bordo os equipamentos do Flight Test to da aeronave, que é levada para México ou extremamente altos,
Instrumentation monitoram e colhem regiões com clima frio, sempre com como La Paz, na Bolívia.
dados diversos para certificação do temperaturas abaixo de 10 graus Embora as aeronaves disponham
motor.Em geral, pequenas equipes célsius negativos. O teste verifica o de um complexo FTI a bordo, parte
voam a bordo, enquanto parte dos comportamento de todos os sistemas ou mesmo a totalidade dos dados
dados são enviados por rádio ao solo. da aeronave após a exposição por colhidos em voo podem ser envia-
Alguns bancos de provas, como o 757 longos períodos a baixas tempera- dos a equipes de solo via datalink.
da Honeywell, podem realizar centenas turas. Na ausência de uma tempe- “Temos um veículo, o Scooby-Doo
de ensaios, como de motor (montado ratura ideal, algumas aeronaves são [em alusão ao Mystery Machine], que
na fuselagem), sistema de navegação, literalmente congeladas em hangares nos acompanha em diversos testes”,
entretenimento
especiais onde a temperatura interna diz Fábio Costa, gerente de ensaio de
de bordo, de frios,
pode superar os 50 graus célsius sistemas da Embraer. Em geral, os
entre outros.
negativos. De forma oposta, as fabricantes contam com veículos e
aeronaves também são submetidas a aeronaves de suporte que recebem e
calor intenso, operando em regiões obtém dados de telemetria, funda-
desérticas, locais muito quentes e mentais para validação do ensaio.

62 | MAGAZINE 3 02
MAIOR SAL ÃO
PA R I S A I R S H OW

DE TODOS OS TEMPOS
Mais antigo evento aeroespacial do mundo, Le Bourget bateu
recorde de expositores em 2019 e não só manteve acirrada a
disputa entre os principais fabricantes como apontou novas
perspectivas para o transporte aéreo
POR | ED M U ND O U BIRATAN E S A NTI AGO OL IVE R

C
om 110 anos de da capital francesa, ultrapassou a
história, a 53ª marca de 2.450 empresas, um re-
edição se tornou a corde. Além da tradicional dispu-
maior de todos os ta entre os principais fabricantes
tempos do Paris de aeronaves do mundo, tanto no
Air Show, o mais antigo evento mercado civil como no militar, o
aeroespacial do mundo. A quan- salão deste ano destacou tendên-
tidade de expositores no aeropor- cias tecnológicas e sacramentou
to de Le Bourget, nos arredores muitos negócios.
AIRBUS
A321XLR
O grande lançamento do Paris Air
Show foi o A321XLR, com alcance
intercontinental, voando até 4.700
milhas náuticas (8.700 quilômetros),
o que representa 15% a mais do que BOMBARDIER GLOBAL 7500
o A321LR, o que o torna o avião de CRJ Durante o Pairs Air Show, a
fuselagem estreita de maior alcance do A Bombardier se despediu da Bombardier teve oportunidade
mundo. Neste ano, a Airbus obteve 383 aviação comercial durante Le de apresentar o Global 7500
encomendas de jatos, sendo 249 con- Bourget. Por US$ 550 mi- para potenciais concorrências
tratos apenas do A321XRL. Apesar de lhões, a Mitsubishi adquiriu o governamentais, em especial
iniciar sua despedida após ter o fim de programa CRJ da Bombardier, países que necessitam de um
sua produção confirmada pela Airbus, assumindo ainda obrigações modelo de grande capacidade
a British Airways poderá adicionar até no valor de aproximadamente e custos operacionais e de
seis aeronaves A380 usadas à sua frota. US$ 200 milhões. aquisição acessíveis.

66 | MAGAZINE 3 02
BOEING
737 MAX VIVO 787
A gigante europeia IAG (Internatio- O Dreamliner se tornou o foco de boas dita que o lançamento do A321XRL e os
nal Airlines Group), que controla a notícias da Boeing, obtendo uma série problemas no 737 MAX possam forçar
British Airways e a Iberia, assinou de novos contratos ao longo do ano, a Boeing a rever seus planos e lançar o
uma carta de intenções para até 200 com destaque para o contrato para 30 substituto da família 737. O novo avião
aviões da família 737 MAX. O acor- aeronaves formalizado pela Korean Air. poderá ser o tão aguardado 797.
do, caso seja formalizado, é avaliado
em mais de US$ 24 bilhões. NMA 7107?
Contrariando as expectativas, a Boeing Uma das curiosidades do setor diz
777X não divulgou nenhum progresso do respeito à designação dos aviões da
A expectativa era que o 777-9 voasse programa NMA (New Midsize Air- Boeing após o 797. Fontes na empresa
antes da abertura do Paris Air Show, plane), que prevê desenvolvimento de não descartam a continuidade da se-
mas um problema encontrado nos uma família de aeronaves para subs- quência, com um futuro 7107, 7117.
ensaios em solo com o motor pos- tituir os 757 e 767. Assim como seus A série 7X7 foi criada na década de
tergou a data do primeiro voo. Já a antecessores, o NMA deve contar com 1950 pela Boeing como sua marca na
família atual do triplo sete vem ainda um modelo de dois corredores e outro aviação comercial e nada indica pla-
obtendo novos acordos. A Qatar de corredor único. A previsão é que o nos para alterar a sequência, contudo,
assinou um contrato para mais cinco primeiro modelo a ser lançado seja o de dependendo da reação do mercado,
777F e a China Airlines pretende adi- fuselagem larga, substituindo, assim, os uma mudança radical poderá ser
cionar seis cargueiros à sua frota. veteranos 767. Porém, o mercado acre- vista nos próximos lançamentos.

MAGAZINE 3 02 | 67
DAHER
KODIAK
A também francesa Daher anun-
ciou a aquisição planejada da Quest
Aircraft, fabricante do monotur-
boélice de asa alta Kodiak 100,
ampliando assim sua gama de pro-
dutos, hoje focada na família TBM.
A Daher espera reforçar sua pre-
sença na aviação geral, onde possui
DASSAULT o mais veloz monotubroélice do
FAMÍLIA FALCON X mercado, as séries TBM 910 e TBM
O estante da Dassault apre- ampliar seu contrato para o 940. Com mais de 270 aeronaves
sentou um mock-up da cabine avião. Além disso, a Força Aérea em serviço, o Kodiak 100 é um
do 6X ao mesmo tempo que da Índia (IAF) deve receber seu turbo-hélice para dez passageiros
destacava o progresso do proje- primeiro Rafale, fabricado na e capacidade de operar em pistas
to. Além disso, seus principais França, em setembro. curtas e não preparadas. A venda
modelos, como o 7X, 900LX, da Quest para a Daher ocorre
2000LXS e o 8X, estiveram pre- CAÇA FURTIVO apenas quatro anos após a compa-
sentes em todo o evento. Ainda no estande da anfitriã nhia ser negociada com a japonesa
Dassault, destaque para futuros Setouchi Holdings. A empresa com
RAFALE aviões não tripulados, veículos sede em Hiroshima, Japão, era um
Após sofrer uma série de der- espaciais e o que poderia ser um distribuidor autorizado do Kodiak
rotas na última década, o caça demonstrador para o NGF (Next no país asiático. A Quest Aircraft
multimissão Rafale se tornou Generation Fighter) sob o Future possui sede em Sandpoint, Idaho,
um vencedor no Oriente Médio. Combat Air System (FCAS), o nos Estados Unidos, onde a Daher
O Qatar recebeu seus primeiros futuro caça francês de quinta ge- pretende manter a produção da ae-
cinco caças de uma encomenda ração desenvolvido pela Dassault ronave e ampliar sua base de oferta
de 36 unidades e o Egito negocia em parceria com a Airbus. na América do Norte.

68 | MAGAZINE 3 02
LOCKHEED MARTIN
F-35
Se alguma vez um programa superou
confortavelmente o número de outras
aeronaves este é o F-35. Contudo, o
projeto continua sendo um pesadelo
para todos seus operadores. Seus custos
operacionais, de aquisição e desenvol-
vimento se tornaram os mais altos de
EMBRAER GULFSTREAM toda a história da aviação militar. A
E-JETS G500 Lockheed trabalha para mitigar tais
A Embraer, assim como sua eter- A Gulfstream também aproveitou problemas ao mesmo tempo que o
na rival Bombardier, também o Paris Air Show para demonstrar Pentágono quer baixar o valor de cada
teve sua despedida da aviação seus modelos para o público gover- unidade recebida. Em paralelo, a Casa
comercial durante Le Bourget. namental. A família Gulfstream é Branca complica a entrega dos primei-
A produção e comercialização amplamente utilizada por autoridades ros aviões para a Turquia, que recente-
dos atuais E-Jets são agora de de todo o mundo como aeronave mente entrou em conflito político com
responsabilidade da Boeing oficial, inclusive nos Estados Unidos, os Estados Unidos.
Brasil Commercial. onde presta suporte a secretários de
Estado e autoridades do alto escalão. HERCULES
PRAETOR MILITAR A Qatar Airways expôs um Gul- O C-130J vem também sofrendo em
Honrando seu nome que faz fstream G500, operado pela Qatar suas vendas globais, mas a Lokcheed
referência à guarda dos impera- Executive, a divisão de fretamento de revelou uma nova proposta para uma
dores da Roma antiga, o Pra- jatos privados da companhia árabe. versão de patrulha marítima, batizada
etor 600 se tornou uma nova O modelo é oferecido a passageiros de Sea Hercules. A intenção é desenvol-
plataforma de alerta aéreo. que necessitam maximizar seu tempo ver um kit roll-on/roll-off, um dispo-
O modelo é o primeiro avião e voar para destinos não necessaria- sitivo de carga de patrulha marítima
lançado pela Embraer após a mente atendidos pela aviação regular. que pode ser integrado à plataforma
venda de sua divisão comercial A companhia oferece o G500 como existente com o mínimo de interferên-
[leia mais na página 22] uma primeira classe privativa. cias na estrutura da aeronave.

MAGAZINE 3 02 | 69
SAAB
T-X
A sueca Saab anunciou a escolha
da Collins Aerospace Systems
para fornecer os sistemas de gera-
ção de energia e de controle para
a aeronave de treinamento T-X da
Força Aérea dos Estados Unidos.

TURKISH AEROSPACE
TF-X/MMU
Parceira do programa JSF, que deu
MITSUBISHI origem ao F-35, a Turquia trabalha
SPACEJET no desenvolvimento do seu próprio
A Mitsubishi rebatizou seu a Mitsubishi espera finalmente caça de quinta geração, o TF-X/
programa MRJ como SpaceJet e concluir o projeto do MRJ90, MMU que deverá ser um avião
passou a trabalhar na readequa- a versão de maior capacidade equipado com sistemas e sensores
ção do projeto para atender às e que deve disputar mercado desenvolvidos no país. O modelo
scope clauses norte-americanas. com os E190 E2 e A220-100. O deverá substituir os atuais F-16 e
O anterior MRJ70, agora desig- programa SpaceJet está mais de promete ter capacidades similares
nado M100, deverá reduzir seu uma década atrasado e ainda ao F-35. A Turquia deverá se tor-
peso máximo para 86.000 libras, não definiu uma data para a nar, assim, o quarto país do mundo
limite das regras da aviação re- primeira entrega. É possível que a ter capacidade para produzir esse
gional dos Estados Unidos para a estreia do fabricante japonês tipo de aeronave, estando à frente
aeronaves de até 76 assentos. O na aviação comercial ocorra dos projetos em andamento no Ja-
modelo deverá ser certificado através do recém-adquirido pão, Coreia, Irã e Índia. O primeiro
em meados de 2023, antes disso, programa CRJ. voo está previsto para 2025.

70 | MAGAZINE 3 02
TENDÊNCIAS
LONGO ALCANCE BATERIAS MODULARES capacidade para até nove passageiros
O lançamento do A321XRL confirmou O calcanhar de Aquiles continua sendo e alcance de 1.000 quilômetros com
o interesse do mercado de aviação a limitação das baterias de íons de lítio. uma única carga. Mesmo sendo con-
regular por aeronaves de corredor Antes das baterias líquidas de elevada ceitual, a startup obteve seu primeiro
único e alcance intercontinental. Com capacidade, os projetos atuais preveem cliente, a norte-americana Cape Air,
menor área frontal do que os modelos um conceito mais palpável no curto que pretende ser pioneira na eletrifi-
de duplo corredor e boa capacidade prazo: baterias modulares. As aerona- cação da aviação regular.
de transporte, as aeronaves de fusela- ves terão o conjunto de baterias troca-
gem estreita se tornam o modelo ideal do em poucos minutos a cada pouso, ECOPULSE
para rotas de longa distância e média como um reabastecimento convencio- A Airbus (EADSF) também pretende
demanda. O A321XRL poderá permitir nal, substituindo unidades com pouca testar uma aeronave híbrida até 2022
a abertura de mais de uma centena de carga por outras recém-abastecidas. e anunciou uma colaboração com
rotas ponto a ponto, voando especial- as empresas aeroespaciais europeias
mente entre destinos secundários. EVTOL Daher e Safran. O projeto, batizado de
O foco em aeronaves com propulsão EcoPulse, prevê que a Daher cuidará
AVIAÇÃO HIBRIDA elétrica reflete uma corrida para desen- da instalação de componentes e siste-
Os aviões remotorizados, incluindo volver táxis voadores urbanos e aviões mas, enquanto a Safran fará o sistema
as séries neo da Airbus, 737 MAX e totalmente elétricos de maior alcance. de propulsão e a Airbus vai desenvol-
777X da Boeing e E-Jet E2 da Embraer, Segundo a consultoria Roland Berger, ver o projeto da aeronave, incluindo o
são inegavelmente sucessos de venda. o número de aeronaves elétricas em de- design aerodinâmico e a questão das
Contudo, as turbinas a gás chegaram a senvolvimento aumentou em cerca de baterias. O avião funcionará em um
seu limite de desenvolvimento. O futuro 50% no ano passado, chegando a marca sistema de propulsão híbrido distribu-
pode estar em motores híbridos, simi- de 170. O número pode aumentar para ído, que inclui um turbogerador que
lares ao conceito adotado na indústria 200 até o final de 2019. A maior parte alimenta motores elétricos e hélices.
automotiva. Diversas startups competem dos projetos está ligada ao desenvolvi-
agora com os gigantes da indústria para mento de uma aeronave urbana autô- FUSÃO
mostrar a tecnologia que é mais eficiente noma, que permitirá a massificação do UTX E RAYTHEON
e melhor para o meio ambiente do que os transporte aéreo em grandes cidades. A United Technologies (UTX)
projetos tradicionais. A expectativa é que anunciou planos de se fundir com a
na próxima década o mercado receba os ALICE empresa de defesa Raytheon (RTN).
primeiros motores a reação híbridos, que A israelense Eviation Aircraft apre- E também apresentou um projeto
devem contar com unidades elétricas de sentou no salão de Paris seu conceito elétrico híbrido que deverá estar
elevada potência e confiança. Alice, uma aeronave 100% elétrica com operacional até 2022.

MAGAZINE 3 02 | 71
INFR AESTRUTUR A
MAIS SEGURANÇA
NA ÁREA DE ESCAPE
Autoridades aeronáuticas recomendam que aeroportos brasileiros
adotem medidas de proteção contra saída de fim de pista,
com destaque para métodos como o EMAS
P O R | PAULO L I CATI * , E S PEC IA L PARA AE RO M AG AZI N E
A
pós a interrupção O RESA causar danos estruturais ou lesões
de uma decolagem Para minimizar tais riscos, a Inter- aos seus ocupantes. Essa área tam-
ou durante um national Civil Aviation Organiza- bém deve oferecer acessibilidade
pouso, as aeronaves tion (Icao) incorporou o conceito para equipamentos de emergência,
podem ocasional- de área de segurança de fim de como ambulâncias e caminhões
mente ultrapassar os limites da pista (área de escape), conhecido dos bombeiros em caso de resgate.
pista, por vezes, com resultados como Runway End Safety Area Com essas exigências, muitas
dramáticos. Uma saída de fim de (RESA), que são designadas em pistas, particularmente aquelas
pista (overrun) ocorre quando um código, de acordo com os com- construídas antes da adoção dos
avião cruza seus limites. Dados primentos das respectivas pistas. padrões da RESA, encontram-se
estatísticos da Federal Aviation Estes códigos de referência do em desacordo, devido a obstáculos
Administration (FAA) indicam aeródromo são determinados pelo naturais, desenvolvimento local
que 90% das ocorrências regista- Anexo 14 da Icao (2016a, p. 1-13). e/ou restrições ambientais, que
das de overrun aconteceram com O requisito atual para pistas tornam impraticável a implementa-
velocidades de até 70 nós, tendo com códigos 3 e 4 impõe uma ção da RESA. A Icao e as agências
as aeronaves se imobilizado em RESA que se estenda pelo menos reguladoras reconhecem essas difi-
uma distância de até 300 metros. 90 metros além da faixa de pista de culdades e podem aceitar métodos
De acordo com dados de acidentes 60 metros. A Icao recomenda 240 alternativos, desde que possam ter
divulgados pela Airbus, as saídas metros de uma área simétrica ao um nível de segurança equivalente
de pistas registadas entre 1998 e prolongamento do eixo da pista de ou melhor ao método normal.
2017 representam 35% das perdas pouso e decolagem. Para as pistas
de casco, tendo 14% dos acidentes de códigos 1 e 2, que operam por CONCRETO ESPUMOSO
provocado fatalidades. instrumentos, também se aplica o O método alternativo mais utili-
mínimo de 90 metros. Essa área zado hoje é o Engineered Materials
é utilizada primordialmente para Arresting System (EMAS). São
reduzir os riscos de danos em sistemas de parada de aeronaves
aeronaves que realizem o toque compostos por materiais de enge-
antes da cabeceira (undershoot) ou nharia com alto poder de absorção
GRUPO
TAMANHO BÁSICO DE PISTA a ultrapassem acidentalmente no de energia. Na prática, o EMAS
DINÂMICO
fim da pista de pouso e decolagem se deforma de modo confiável e
Inferior a 800 metros 1 (overrun). previsível ao suportar o peso de
De 800 a 1.200 metros inclusive 2 Para atender aos padrões, a um avião. Esse sistema deve ter a
De 1.200 a 1.800 metros inclusive 3 RESA deve ser capaz, sob condi- capacidade de parar uma aeronave
Fonte: Icao

ções de pista seca, de suportar a com uma velocidade de saída


Superior a 1.800 metros 4
saída ocasional de aeronaves sem de pista de até 70 nós. Prefe-

74 | MAGAZINE 3 02
240m 240m
(Recomendado) (Recomendado)

90m 90m
Faixa de pista

Fonte: Icao Anexo 14 (2016, ATT A-15)


Duas vezes a Pista Duas vezes a
largura da pista largura da pista

Faixa de pista

60m 60m

rencialmente, o EMAS precisa Entende-se por aeronave crítica


ser de fácil e rápida instalação e a que demanda os maiores requi- RECOMENDAÇÕES
manutenção e com duração de sitos em termos de configuração Por meio de um briefing leaflet
aproximadamente 20 anos. de suas características físicas e emitido em 09 de novembro de 2017,
O EMAS é feito de concreto operacionais, inclusive cargas ad- a Federação Internacional das Associações de Pilotos
celular espumoso e instalado na missíveis, configuração dos trens de Linha Aérea, a Ifalpa, esclareceu que não provê
RESA. As pesquisas e o desenvol- de pousos, pressão de contato procedimentos aos operadores, mas deixa como guia
vimento desse tipo de material dos pneus, centro de gravidade e algumas recomendações de como proceder em caso de
saída de pista com o EMAS instalado.
ocorreram com testes laborato- velocidade da aeronave.
Antes de decolar ou pousar, os pilotos devem estar
riais e em escala real. O programa Em fevereiro de 1984, houve
cientes da presença do EMAS. Para determinar se a pista que
de testes utilizou um trem de um overrun com DC10-30 da irão utilizar está equipada com o sistema de parada, devem
pouso de aeronave montado em empresa SAS na pista 04 R do rever tanto a carta do aeródromo como outras informações
um veículo especial, simulando aeroporto JFK de Nova York, resul- disponibilizadas pelas autoridades aeronáuticas.
mesmos peso e velocidade de uma tando em lesões a pessoas e danos Durante a fase de decolagem ou pouso, se um piloto
aeronave durante a saída de pista. consideráveis na aeronave. No mes- julgar que a aeronave sairá do final da pista e entrará no
Os dados coletados na unidade de mo ano, a FAA e a Força Aérea dos EMAS, as seguintes orientações devem ser seguidas:
teste foram utilizados para validar Estados Unidos (Usaf) já conside-
uma modelagem computacional ravam viabilizar o desenvolvimento
de alto desempenho e, posterior- do sistema de parada. Hoje existem 1. Continue adesaceleração
mente, utilizada para simular vá- mais de 100 pistas equipadas com Independentemente da velocidade da aeronave ao sair
rios cenários. Ocorreram também EMAS em cerca de 70 aeroportos da pista, continue seguindo os procedimentos de reject
testes com aeronaves. de todo mundo, sendo que a sua takeoff, ou de pouso, utilizando os procedimentos de
grande maioria se localiza nos frenagem máxima descritos no manual de voo.
AERONAVE CRÍTICA Estados Unidos e na Europa. No
Para instalação do EMAS, é Brasil, nenhum aeroporto conta 2. Mantenha a linha central da pista
preciso se considerar vários parâ- com esse método de parada. Não virar para a esquerda ou direita do EMAS,
metros da frota de aeronaves que continuar em frente irá maximizar a capacidade de parar.
opera no aeródromo (flight-mix), Paulo Licati é comandante A qualidade da desaceleração será melhor dentro dos
especialmente a aeronave crítica. de Boeing 737 limites do EMAS.

3. Mantenha a desaceleração da aeronave


O detentor é um sistema passivo, então esta
é a única ação requerida pelo piloto.

4. Após a parada da aeronave


Não tente taxiar ou mover a aeronave,
a aeronave precisará ser rebocada.

5. Evacuação
Siga os procedimentos do seu operador
ao tomar qualquer decisão de evacuação.

MAGAZINE 3 02 | 75
O CASO DE CONGONHAS
Com mais de um acidente em que aviões ultrapassaram o limite de sua pista, o maior aeroporto
da cidade de São Paulo é o primeiro candidato do Brasil a receber o EMAS

Já tem mais de uma década que o Centro PT-MBK Os dois tripulantes e o passageiro sofreram
Nacional de Investigação e Prevenção de No dia seguinte, 17 de julho de 2007, a lesões leves.Em 2013, o Cenipa emitiu várias
Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) emitiu aeronave modelo Airbus A320, de matrícula recomendações, uma delas para a Anac, com
recomendações para instalação do EMAS PT-MBK, decolou de Porto Alegre com o seguinte teor: “Atuar junto ao operador de
nos aeroportos atendidos por aeronaves de destino ao aeroporto de Congonhas. Havia aeródromo de Congonhas (SBSP) para que
transporte regular de passageiros, em especial um total de 187 pessoas a bordo, sendo seis seja efetivado o projeto e construção de áreas
Congonhas, em São Paulo. Pelo menos três tripulantes ativos e 181 passageiros. No de segurança nos finais das pistas (RESA -
acidentes contribuíram para essa decisão. momento do pouso em Congonhas, a pista Runway End Safety Area), considerando as
estava molhada e escorregadia. A tripulação diversas tecnologias já existentes e aplicadas
PT-MFK observou que os ground spoilers não haviam em outros aeródromos ao redor do mundo
No dia 16 de julho de 2007, a aeronave PT-MFK defletidos e a aeronave, que não desacelerava (por exemplo, o EMAS - Engineered Material
decolou com 25 pessoas a bordo, procedente de como o previsto, passou a perder a reta para Arresting System) e, também, tendo em vista
Araçatuba (SBAU) para Bauru-Arealva (SJTC). esquerda, vindo a sair da pista lateralmente e as características peculiares e de importância
Com SJTC fechado por condições meteorológicas a cruzar a avenida Washington Luís, colidindo econômica e social desse aeródromo para a
desfavoráveis, o voo alternou para o aeroporto de com um edifício. Não houve sobreviventes e a aviação civil brasileira”.
Congonhas (SBSP). A torre São Paulo autorizou aeronave ficou totalmente destruída.
o pouso da aeronave na pista 17R, em cuja Diante dessa tragédia, o Cenipa emitiu a Anac
superfície havia água, devido à chuva leve que caía. seguinte recomendação para a Anac: “Avaliar Neste ano de 2019, a diretoria colegiada
Imediatamente após o toque do trem de nariz, a implantação de áreas de segurança de da Anac aprovou a abertura da audiência
a aeronave começou a deslizar para a esquerda, fim de pista (RESA), conforme previsto no pública (nº 6/2019), destinada à avaliação
saindo pela lateral da pista. Todos 21 passageiros e RBAC 154/2009, nos aeródromos incluídos de proposta de emenda ao Regulamento
quatro tripulantes saíram ilesos. A aeronave sofreu nos critérios estabelecidos pelo RBAC 139, Brasileiro da Aviação Civil (RBAC) nº
deformações estruturais na fuselagem e danos comunicando à Icao as eventuais diferenças 154, intitulado “Projeto de Aeródromos”.
graves no trem de pouso. encontradas no Brasil em relação a normas A alteração do RBAC foi movida pela
Após analisar o acidente, o Cenipa emitiu e práticas recomendadas pelo anexo 14 da possibilidade de se flexibilizar requisitos
duas recomendações para a Anac. Em uma convenção sobre aviação civil internacional”. mandatórios relacionados aos elementos
determinou instalação do EMAS nos aeroportos de pátio, complexo aeroportuário e área de
que atendem aeronaves de transporte aéreo PT-PAC segurança de fim de pista (RESA), que pode
regular de passageiros em que a RESA não é Pouco mais de um ano depois, em 03 de ser alcançado por meio da instalação de
igual ou superior a 90 metros, priorizando os setembro de 2008, durante a corrida de um sistema de desaceleração, com base nas
aeroportos com maior número de movimentos e decolagem, ao ouvir um ruído anormal no especificações do projeto do sistema.
menores pistas. motor, o comandante de um King Air C-90 Como as recomendações do Cenipa para
Na segunda, recomendou um levantamento decidiu abortar a decolagem. Apesar da instalação do EMAS já têm mais de dez anos, é
nos aeroportos que a Infraero administra, utilização do freio na máxima amplitude, o possível que as ações com a atual diretoria da Anac
com vistas à implantação do EMAS, quer nas turbo-hélice ultrapassou os limites da pista, andem com maior rapidez após o processo de
cabeceiras das pistas, quer em outras áreas colidindo contra uma mureta de proteção. reformulação do RBC 154. Mas, diante do imbróglio
sensíveis, com atenção especial ao aeroporto de A aeronave parou no talude lateral do político relacionado à Infraero, difícil saber o
Congonhas (SBSP). perímetro do aeroporto e teve danos graves. desfecho dessa demanda.

76 | MAGAZINE 3 02
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B A N C A D I G I TA L D O M U N D O
H I S TÓ R I A
FAIREY
SWORDFISH
UM TORPEDEIRO ANACRÔNICO
,
Considerado obsoleto antes mesmo do início da Segunda
Guerra Mundial, o antiquado biplano britânico altamente
vulnerável e de baixa velocidade foi o avião mais letal para
as forças navais alemãs e italianas
P O R | E R N E STO KLOTZ E L
F OTOS | R OYAL N AV Y

E
m 26 de maio de 1941,
o couraçado Bismarck,
orgulho da marinha de
guerra alemã, dirigia-
-se à costa de França
após afundar o cruzador britâni-
co Hood em apenas seis minutos,
a procura da cobertura aérea que
garantiria sua segurança, contan-
do ainda com a noite iminente. No
porta-aviões HMS Ark Royal, 15
torpedeiros Fairey Swordfish eram
a única esperança de interceptar
a imponente nave alemã, embora
as péssimas condições de tempo
conspirassem contra o sucesso da
missão. Uma vez avistado entre
a camada de nuvens, o Bismarck
– ainda visível no final do dia –
tratou de se defender. Bastaram
dois torpedos para decretar sua
relativa imobilidade, pois um
deles, mesmo de raspão, emperrou
o leme, convertendo o que seria
mais um instrumento da propa-
ganda nazista em presa fácil da
frota britânica, com “a faca nos
dentes” para responder ao afunda-
mento do Hood.
Para os Swordfish, era mais
uma de centenas de missões
bem-sucedidas de um avião que
desafiava a imaginação quanto à
sua aparente inadequação para a
guerra aeronaval do século 20. To-
dos os 15 torpedeiros retornaram
série de funções bélicas com sem armamentos e 90 milhas por
exceção apenas de sua operação hora equipado a tornava vulne-
como avião de caça. O Swordfish, rável aos novos caças alemães,
quando não transportava um embora seu poder de manobras
torpedo de 1.610 libras, podia ser nas mãos de pilotos excepcionais
equipado com minas antinavio, fazia do avião um alvo difícil. Isso
bombas, dispositivos pirotécni- justamente por sua lentidão em
cos e cargas de profundidade. As voo, aliado a seu poder acrobático,
últimas versões com a asa inferior que chegava a provocar choques
reforçada também podiam lançar contra o mar ou o solo durante
à base sem maiores problemas, foguetes. Além de missões navais, perseguições a que não faltavam
uma vez relevados os inúmeros o Swordfish combateu blindados algumas colisões aéreas alemãs.
orifícios de projeteis alemães em na África do Norte e ainda podia O poder de manobras era
seus frágeis revestimentos de tela.  ser lançado por catapulta, quando básico, pois os armamentos defen-
configurado com flutuadores, de sivos eram muito primitivos: uma
PRÓS E CONTRAS navios de guerra e mercantes. metralhadora Vickers, calibre .303
Em 1940, a era do biplano já fazia Extremamente confiável e (7.7 milímetros) que disparava
parte do passado. O Swordfish po- altamente manobrável, operava através do disco da hélice e uma
dia ser considerado uma relíquia em porta-aviões em espaços muito móvel Lewis de igual calibre para
aérea, com sua baixa velocidade, curtos, graças à sua baixíssima ve- o artilheiro à ré. Um piloto bem-
cabine aberta para três tripulan- locidade de estol (menos de 50 mi- -humorado classificou o “poder
tes, trem de pouso fixo e revesti- lhas por hora) e a grande sustenta- de fogo” de seu Swordfish como
mento em tela sobre uma estrutu- ção proporcionada pelas duas asas. estando “um estágio acima do
ra metálica. De fato, a aeronave já Seu motor Bristol Pegasus, de 690 arco e flecha”.
era considerada obsoleta quando cavalos de potência (versão inicial)
o primeiro protótipo deixou as também era de fácil manutenção. OPERAÇÕES DE RISCO
salas de montagem da Fairey Claro que o torpedeiro multi- Inicialmente, a missão primária
Aviation, em 1933. missão tinha seus pontos fracos. do Swordfish era o lançamento de
Mas, devido às pressões Era apertado para os três tripu- torpedos contra navios, até hoje
econômicas do período entre- lantes que, expostos ao tempo, uma das mais arriscadas missões
guerras, o futuro avião deveria, sofriam com os rigores do inverno aeronavais. A aeronave precisa
além das missões de lançamento do Atlântico Norte. Sua velocidade alinhar sua proa com o alvo sem
de torpedos, preencher uma máxima de 130 milhas por hora poder desviar do fogo concentra-

80 | MAGAZINE 3 02
do embarcado e à baixa altura,
desviar no último momento de
uma colisão. A doutrina para o
avião começava com uma aproxi-
mação a 1.500 metros, mergulho
para apenas cinco metros e meio
sobre a água para soltar o torpedo
que tinha o alcance máximo de
1.400 metros a 74 quilômetros
por hora e 3.200 metros a 50
quilômetros por hora.
O torpedo “voava” 61 metros
antes de fazer contato com a água
e necessitava de outros 270 metros
para estabilizar na profundidade
desejada e se armar. A distância
ideal para a liberação do torpedo era
de 910 metros – caso o Swordfish • Swordfish I – primeira série de nalmente a “relíquia” aeronáutica foi
sobrevivesse! A tripulação básica produção. retirada de atividade, quase um mi-
era composta por piloto, observador lhão de toneladas alemãs e italianas
e artilheiro (mais tarde também • Swordfish I – versão equipada estavam fora de combate. Nenhum
radio-operador). Em determinadas com flutuadores para navios avião aliado ultrapassou o “velho,
missões, o terceiro tripulante era com catapultas. utrapassado e vulnerável” torpedeiro
substituído por um tanque auxiliar fabricado pela Fairey Aviation.
de combustível para maior alcance • Swordfish II – versão com asas
e autonomia. O Swordfish também inferiores em metal para monta-
foi utilizado para bombardeio em gem de foguetes.
mergulho e missões secretas de “in- SWORDFISH
serção e extração” de agentes em • Swordfish III – versão com
Fabricante Fairey Aviation
território inimigo. radar centimétrico lançado em
1943. Tripulação 2/3
QUATRO VERSÕES 1 motor radial
Propulsão
A Fairey Aviation já tinha • Swordfish IV – último da série, Bristol Pegasus
tradição naval quando iniciou a com cabine fechada para os Potência 750 hp
fabricação do protótipo do Swor- tripulantes, especial para a Real
dfish, que voou pela primeira Força Aérea do Canadá. Velocidade 222 km/h
vez em 17 de abril de 1934 e foi Teto de
3.261 m
“aposentado” em 21 de maio de As versões com radar – mon- Serviço
1945, sendo fabricado em série tado no trem de pouso – inviabi- Alcance 1.658 km
no período 1936-1944. O número lizavam o uso de torpedos, uma
Peso Vazio 2.132 kg
total fabricado pela Fairey e pela troca considerada muito oportuna
subcontratada Blackburn foi de no combate a submarinos, pois era Peso Máx.
3.402 kg
2.391 aeronaves. Seus principais substituído por bombas, cargas de Decolagem
operadores foram a Marinha profundidade e foguetes. Envergadura 13,92 m
Real e Real Força Aérea (Grã- Durante um período de
Área alar 56,4 m 2
-Bretanha), Real Força Aérea nove meses, a frota total de
do Canadá e Marinha Real da Swordfish afundou ou danificou Comprimento 11,22 m
Holanda. As versões, a partir do seriamente uma média de 50 mil Altura 3,76 m
protótipo: toneladas mensais. Quando fi-

MAGAZINE 3 02 | 81
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