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Out/Nov/Dez - 2019 Nº 262 - Ano 46

Edição Especial - 2021 - Ano 48


ARTE: Subdivisão de Publicidade e Propaganda / CECOMSAER
Plano de voo
Edição Especial - nº 267 - Ano 48
Janeiro - 2021

Sargento Johnson Barros / Agência Força Aérea

Acervo Força Aérea


PALAVRAS DO COMANDANTE
Oito décadas servindo ao Brasil
Comandante da Aeronáutica comemora
os 80 anos de existência da FAB.
“Trata-se de uma data extremamente
simbólica”, destaca

DÉCADA DE 1940
Quando tudo começou

8
O início de uma estratégia visionária, que
culminou com uma longa trajetória de
progresso da Aviação no País

EXPEDIENTE
Chefe do CECOMSAER: Diagramação:
Brigadeiro do Ar Adolfo Aleixo da Silva Junior Sargento SDE Polyana Rithielly

Vice-Chefe do CECOMSAER: Revisão Ortográfica e Gramatical:


Publicação oficial da Força Aérea Brasileira, a Coronel Aviador Ricardo Feijó Pinheiro Sargento SST Rogerio Braga Bandeira
revista Aerovisão é produzida pela Agência
Força Aérea, do Centro de Comunicação Chefe da Divisão de Comunicação Integrada: Estão autorizadas transcrições integrais ou parciais
Social da Aeronáutica (CECOMSAER). Coronel Aviador João Gustavo Lage Germano das matérias, desde que mencionada a fonte.

Esplanada dos Ministérios, Bloco M, 7º Andar Chefe da Subdivisão de Produção e Divulgação: Distribuição Gratuita
CEP: 70045-900 - Brasília - DF Tenente-Coronel Aviador Claudio Mariano Acesse a edição eletrônica:
Tiragem: 18 mil exemplares. Rodrigues Santana www.fab.mil.br/publicacao/listagemAerovisao
Impressão: Edigráfica.
Período: Edição Especial Edição:
2021 - Ano 48 Tenente Jornalista Jonathan Jayme
(MTB - 2481)
Tenente Jornalista Flávia Rocha
Contato: redacao@fab.mil.br (DRT - 1354)

Reportagens:
Jornalistas do CECOMSAER

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Veja a edição digital

Divulgação:DCTA
DÉCADA DE 1960
Novos ares
Comando da Aeronáutica é transferido
para a nova capital federal. E surge o
Bandeirante, avião que impulsonou a
indústria aeronáutica nacional

22

Acervo Força Aérea


16
Divulgação: ITA

DÉCADA DE 1950
Brasil ganha uma “máquina”de cérebros
Década é marcada por inovações e pelo desenvolvimento
42 DÉCADA DE 1990
Inovação e Desenvolvimento tecnológico
Anos de 1990 foram marcados pelo progresso
das engenharias das mulheres na carreira e a transposição de
Ministério para comando da Aeronáutica

30 DÉCADA DE 1970
O surgimento do CENIPA
Investigação de acidentes aeronáuticos
50 DÉCADA DE 2000
Solidariedade
Época destaca-se pela participação da FAB
no Brasil passa por uma grande mudança em grandes operações de resgates e ajuda
filosófica humanitária no Brasil e no mundo

36 DÉCADA DE 1980
Foguete no espaço
O nascimento do que seria chamado de janela brasileira
56 DÉCADA DE 2010
Atuação em grandes eventos
Visita do Papa, Copa do Mundo e Jogos Olím-
para o espaço: o Centro de Lançamento de Alcântara picos: com participação da FAB, Brasil passa no
(CLA) é criado no Maranhão teste de garantia da segurança

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Palavras do Comandante

OITO DÉCADAS SERVINDO AO BRASIL


A Força Aérea Brasileira alcança, aéreo e integrar o território nacional, administrativa são ações essenciais
em 2021, um marco expressivo: 80 com vistas à defesa da Pátria”. para nos mantermos à altura daquilo
anos de existência. Trata-se de uma A Força Aérea Brasileira tem, portan- que o Brasil precisa e merece. Em
data extremamente simbólica, que to, papel fundamental para a manutenção um país de dimensões continentais
traz em sua essência o registro da da soberania do Brasil e, isto posto, busca como o nosso, a atenção precisa estar
criação do então Ministério da Ae- ser uma Instituição mais operacional e sempre voltada para a vigilância de
ronáutica e vai além disso, fazendo- mais moderna a cada dia. Chegamos a nossas fronteiras, nossos recursos
-nos recordar do legado de nossos oito décadas com um nível de maturida- naturais e, principalmente, para a
pioneiros. Os homens e mulheres de suficiente e necessário para compreen- presença do Estado em cada rin-
que integraram nossa recém-criada der a importância da constante renovação cão. Desta maneira, continuaremos
Instituição enfrentaram e superaram e primarmos pelo aperfeiçoamento de alinhados com a nossa constante
grandes desafios, mostrando que ne- militares e equipagens. Justamente por busca pela evolução e pela melhor
nhum obstáculo seria intransponível. isso, passamos por grandes transforma- Instituição que podemos ter para
Em uma Organização ainda ções nos últimos anos. bem servir ao nosso País.
em desenvolvimento e já engaja- Pensamos muito no futuro e nas Cada integrante da Força Aérea
da na Segunda Guerra Mundial, ações que devemos adotar para que Brasileira, de ontem e de hoje, pode
nossos antecessores precisaram a Instituição se mantenha preparada se orgulhar com a certeza de que
demonstrar um grande senso de para Controlar, Defender e Integrar os nossa missão vem sendo cumprida
prontidão, inovação e adaptação, 22 milhões de km² sob nossa responsa- com excelência e assim continuará
além de rapidamente aprenderem bilidade. Para tanto, estamos sempre sendo pelas próximas décadas. Ao
a trabalhar em equipe, entendendo focados na busca pela eficiência e pelo alcançarmos 80 anos, olhamos para
a importância de cada membro para fortalecimento dos nossos princípios o passado com admiração pelo sóli-
o êxito das missões. e valores pétreos, como a disciplina, do caminho construído por nossos
Esse é o espírito da nossa Força, a hierarquia, o profissionalismo, a antecessores, assim como à frente,
composta por integrantes aguerri- integridade, o comprometimento e o com as mais positivas perspectivas
dos e absolutamente dedicados ao patriotismo, sempre precedidos de para a nossa jornada rumo ao futuro.
cumprimento da nobre missão que ética, honestidade e idoneidade.
foi sendo delineada ao longo da Adquirir aeronaves, incorporar Tenente-Brigadeiro do Ar
história e que hoje é assim resumi- novas tecnologias, implantar sistemas Antonio Carlos Moretti Bermudez
da: “Manter a soberania do espaço mais modernos e buscar a eficiência Comandante da Aeronáutica

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Aerovisão
Edição Especial/2021
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Sargento Johnson Barros / Agência Força Aérea
DÉCADA DE 1940

O COMEÇO DE TUDO

Logo após a criação do


Ministério da Aeronáutica, foi
construída uma Base Aérea
em Natal (RN)

H
á 80 anos começava uma es- meço de tudo: 20 de janeiro de 1941,
Acervo Força Aérea

tratégia visionária, vislum- quando foi criado o Ministério da Ae-


brando uma história para o ronáutica, transferindo militares, ser-
Brasil com uma longa trajetória, cami- vidores civis, aviões e instalações dos
nhos recheados de desafios e crença Ministérios da Marinha, do Exército
de um futuro promissor. O objetivo e da Aviação e Obras Públicas para a
principal estava em impulsionar a Aeronáutica, com a denominação de
Aviação Civil e Militar no País. O co- Forças Aéreas Nacionais.

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Ato da passagem de
Ministério, em janeiro de 1941,
com Joaquim Pedro Salgado
Filho, primeiro Ministro da
Aeronáutica, e sua comitiva

Acervo Força Aérea


Acervo Força Aérea

Criação do Ministério da Aeronáutica


Acervo Força Aérea

O Presidente Getúlio Vargas sancionou, em 20 de janei-


ro de 1941, o decreto-lei nº 2.961, que criava o Ministério
da Aeronáutica, estabelecendo condições para o desenvol-
vimento da Força Aérea Brasileira (FAB). Joaquim Pedro
Salgado Filho foi o primeiro Ministro da Aeronáutica, que
reunia a aviação civil, a infraestrutura, a indústria nacional
do setor, as escolas de formação e o seu braço-armado.
Assim, a FAB foi criada a partir das aviações da Marinha
do Brasil e do Exército Brasileiro, e que recebeu essa deno-
minação em maio de 1941. A ele coube a tarefa de edificar
o alicerce do poder aéreo brasileiro.
A ideia de um ministério específico para o setor não era
uma novidade. As discussões no Brasil começaram no final
dos anos 20 e ganharam força na década seguinte, com o
lançamento de uma campanha para a criação do Ministério
do Ar, sob a influência de países como a França. Pelo mun-
do, a aviação avançava como promissor e revolucionário
meio de transporte, além de estratégica ferramenta para a
defesa das nações. Mas, no Brasil, faltavam pilotos, aero-
naves, pistas, equipamentos, mão de obra especializada,
normas de segurança, indústrias para o setor e pesados
investimentos. Por isso, era preciso recomeçar e repensar
o modelo que levaria o País ao seu futuro.

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DÉCADA DE 1940

Expansão da Aviação Militar


Aeronaves das Aviações do
Exército Brasileiro e da Marinha
do Brasil, no Campo dos Afonsos
(RJ), foram integradas a recém-
criada Força Aérea

Para a efetiva atuação por parte aeroclubes e o governo para a expansão da costa e treinamento de Aviado-
do Ministério da Aeronáutica, de do setor no País, arrecadando recursos res, além de ter criado sua primeira
modo a proporcionar a expan- financeiros, materiais para construção Unidade de Caça; aeroportos, com
são da Aviação Militar no Brasil, de aviões e doações de aeronaves. pistas asfaltadas, foram construídos;
criou-se a Diretoria de Rotas. A Ainda com a visão de expansão, o e pilotos formados.
missão estava em promover o de- Ministério da Aeronáutica refundou “O Brasil está empenhado em
senvolvimento da infraestrutura e as escolas de formação, de pilotos e de grandes preparativos para tornar-se
da segurança da navegação aérea. especialistas; criou normas para evitar a uma potência aérea independente.
Assim, uma série de ações foram competição predatória entre as empre- Deixei uma frota de cerca 1.500 aviões
planejadas e realizadas, como a sas aéreas; inaugurou novas fábricas e militares em condições de uso, cerca
chegada de 100 aviões Fairchild escolas civis; diversas concessões foram de 3.000 pilotos treinados, 15 Bases
PT-19, um biplace monoplano de fornecidas para a exploração do trans- Aéreas instaladas, 580 aeroportos
asa baixa, para a instrução primária porte aéreo no País; as linhas aéreas funcionando no País e a maioria deles,
de pilotos brasileiros; a fábrica de ultrapassaram as fronteiras, chegando cerca de 70%, com pistas asfaltadas”,
aviões de Lagoa Santa (MG), en- aos países vizinhos, aos Estados Unidos disse o ministro Salgado Filho, ao dei-
trou em funcionamento e produziu e à Europa; a Força Aérea recebeu aero- xar o cargo, no final de 1945, de acordo
aeronaves T-6; a Campanha Nacio- naves para preparação de seus pilotos, com o livro Salgado Filho, Primeiro
nal de Aviação reuniu empresários, particularmente para o patrulhamento Ministro da Aeronáutica do Brasil.

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Correio Aéreo Nacional:
escola prática dos
pilotos militares

Acervo Força Aérea


O emprego do avião no transporte
de malas postais teve início logo após
o fim da I Guerra Mundial (1914-1918),
quando as primeiras empresas aéreas
surgiram na Europa. No Brasil, o Correio
Aéreo Militar era realizado pelo Exérci-
to e pela Marinha, e foi transformado
no Correio Aéreo Nacional (CAN).
O primeiro voo do CAN, conforme o
livro Asas da Solidariedade: História e
histórias do Correio Aéreo Nacional, de
Cosme Degenar Drumond, foi feito do
Rio de Janeiro a São Paulo, inaugurando
a linha pioneira entre duas capitais –
justamente as mais importantes do País
–, ainda perto do Litoral.
O malote do Correio chegou ao
Campo dos Afonsos, no dia 12 de junho
de 1931. Continha duas cartas apenas.
O voo, que teve mais de cinco horas de
duração, foi realizado pelos Tenentes
Casimiro Montenegro e Nelson Freire
Lavenère-Wanderley. Este, um ano após
seu falecimento, em 1986, tornou-se
Patrono do Correio Aéreo Nacional.
“Inexistiam outros meios de comu-
nicação. Foi sem dúvida, a escola prática
de todos os pilotos militares brasileiros,
do verdadeiro civismo. Graças a este
serviço era possível manter contato com
regiões isoladas e distantes, onde não
existia nem telégrafo, nem estradas de
ferro, nem telefonia. No Correio Aéreo
Militar estava o celeiro dos melhores pi-
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lotos que o Brasil conheceu”, afirmou o


então ministro da Aeronáutica, Joaquim
Pedro Salgado Filho.

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DÉCADA DE 1940

Força Aérea Brasileira e suas


Organizações Militares
Foi em 1946, a partir do decreto-lei nº
9.889, que estabeleceu a Lei de Organização
da Força Aérea Brasileira em tempo de paz,
que organizou e definiu missões, atribuições
e subordinações dos seus diversos Órgãos e
Unidades.
Conforme relata o livro História Geral da
Aeronáutica Brasileira, do Instituto Histórico-
-Cultural da Aeronáutica (INCAER), de 2005,
surgiu, também, a Organização Territorial, di- Acervo Força Aérea

vididas em Zonas Aéreas (Z.Ae.), responsável


pela defesa aérea, mobilização e recrutamento
de pessoal, necessidades de instrução, do su-
primento de material e de sua manutenção.
Elas estavam localizadas em Belém, em Recife,
no Rio de Janeiro, em São Paulo e em Porto
Alegre, cada uma com suas Bases Aéreas, Uni-
dades e Serviços e Órgãos.
Acervo Força Aérea
Acervo Força Aérea
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Vista aérea do Campo dos


Afonsos na década de 40

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Escolas de formação
Com o potencial crescimento da Força Aérea Bra-
sileira, como a chegada e produção de aeronaves, foi
necessário preocupar-se com a formação dos pilotos,
que se tornariam principais agentes da Instituição, no
cumprimento da missão. A Escola de Aeronáutica dos
Afonso passou a formar pilotos, assim como a Escola
Técnica de Aviação de São Paulo. Para suprir a deman-
da por pessoal qualificado, foram criadas a Escola de
Aeronáutica e a Escola de Especialistas de Aeronáutica,
a partir da Escola de Aviação Militar e da Escola de
Aviação Naval, até então, pertencentes ao Exército e à
Marinha, respectivamente.
Ainda na década de 40, a Aeronáutica deu os primei-
ros passos para a criação de um núcleo de referência em
ensino, pesquisa e formação de mão de obra qualificada
para a aviação, o atual Departamento de Ciência e Tec-
nologia Aeroespacial (DCTA) e o Instituto Tecnológico
de Aeronáutica (ITA), em São José dos Campos (SP).
Foi em 1945, que Casimiro Montenegro Filho fez uma
apresentação a um grupo de Oficiais do Estado-Maior
da Aeronáutica, no local que seria o futuro campus
do ITA. Ao longo de 70 anos, o ITA formou 70 turmas,
totalizando quase 6.500 engenheiros.
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DÉCADA DE 1940

Participação do Brasil na II
Guerra Mundial
O engajamento militar brasileiro
na Segunda Guerra Mundial
foi o ápice de um processo
de evolução do panorama
político-estratégico, nacional e
internacional

De 1939 até o início de 1941, quando foi Em 28 de janeiro de 1942, o Brasil a Primeira Esquadrilha de Ligação e
criado o Ministério da Aeronáutica, a hipó- rompeu as relações diplomáticas com Observação (1º ELO).
tese de emprego em Teatro de Operações os países do Eixo, marcando o apoio aos Conforme o livro História Geral
Extracontinental era improvável, já que a aliados. Assim, a Aviação de Patrulha da Aeronáutica Brasileira, de 1991, o
posição do Brasil era de estrita neutralidade. entrou no conflito para defender os engajamento militar brasileiro na Se-
A possibilidade de participação no Teatro navios brasileiros dos submarinos ini- gunda Guerra Mundial foi o ápice de
de Operações evoluiu rapidamente diante migos. A declaração formal de guerra um processo de evolução do panorama
da entrada dos Estados Unidos na batalha do Brasil aos governos da Alemanha e político-estratégico, nacional e interna-
– e a presença da FAB naquele contexto foi da Itália aconteceria em 22 de agosto. cional, que levou o País, no interregno
acelerada como parte integrante da estra- Diante do desafio imposto, o Alto- de três anos, de uma postura de estrita
tégia de crescimento da Força. A expansão -Comando da FAB definiu o nível e o neutralidade no início do conflito ao
dos recursos humanos foi a primeira ação tipo de sua participação no Teatro de estado de franca beligerância em 31 de
relacionada a essa determinação de evoluir Operações (TO), em defesa dos ideais agosto de 1942. Com a participação, e
a Força. As repercussões aconteceram em de liberdade. Com isso, em 18 de de- atuação, na II Guerra Mundial, a recém-
cadeia: melhorias nas áreas de logística – zembro de 1943 foi criado o Primeiro -criada Força Aérea Brasileira, enquanto
suprimento e manutenção, equipamentos Grupo de Aviação de Caça (1º GAVCA) se estruturava, já havia sido envolvida e
e treinamentos. e, em 20 de julho de 1944, foi ativada forjada na batalha.

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Aeronaves da década de 1940
O acervo da Força Aérea Brasileira, 1947, 220 foram produzidos na Fábrica
quando de sua criação, foi constituído do Galeão, dentro do esforço de guerra
pelo material que equipava o Corpo e pelo crescimento da aviação no País.
de Aviação da Marinha e a Arma de Na mesma década, a fábrica de aviões
Aeronáutica do Exército. Somente com de Lagoa Santa (MG) entrou em fun-
a entrada do Brasil na II Guerra Mun- cionamento e produziu aeronaves T-6.
dial, em 1942, o País passou a receber, De 1942 a 1949, a Companhia de Aero-
dos Estados Unidos, aviões modernos náutica Paulista produziu 777 aviões
e eficientes. O livro Aviação Militar “Paulistinhas”, um monoplano de asa
Brasileira – 1916-1984, de Francisco C. alta, que serviu à formação inicial de
Pereira Netto, relata que a Diretoria de pilotagem em aeroclubes ao longo da
Material do Ministério da Aeronáutica Segunda Guerra. Alguns chegaram a
estabeleceu que todas as aeronaves ser exportados. Logo nos dois primei-
passassem a ter matrícula de quatro ros anos de existência, o Ministério da
dígitos – letras acompanhadas de Aeronáutica adquiriu 500 aviões de
números – que até hoje está em vigor. treinamento e os distribuiu para 400
De 1942 a 1943, mais de 100 aviões cidades em todo País. Ao longo de 1943,
Fairchild PT-19, um biplace monoplano a Força Aérea recebeu aeronaves para
de asa baixa foram trazidos em voo preparação de seus pilotos, particular-
dos Estados Unidos para a instrução mente para o patrulhamento da costa
primária de pilotos brasileiros. Até e treinamento de Aviadores.
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Acervo Força Aérea

Acervo EDA

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DÉCADA DE 1950

Brasil ganha uma “máquina” de cérebros


1950: Década é marcada
p o r i n o va ç õ e s e p e l o
desenvolvimento das
engenharias

F
oi no início da década de 1950
que São José dos Campos, no
Vale do Paraíba (SP), deixou
de ser apenas uma estância climáti-
ca para tratamento de pessoas com
tuberculose no Estado para seguir a
vocação de pólo de desenvolvimento
nacional. A transformação da cidade
de 30 mil habitantes começou com
a construção do Centro Técnico de
Aeronáutica (CTA), erguido para
abrigar dois institutos científicos: um
para o ensino superior, o Instituto
Tecnológico de Aeronáutica (ITA),
e outro para pesquisa e desenvolvi-
mento nas áreas de aviação militar e
comercial, o Instituto de Pesquisas e
Desenvolvimento (IPD).
Criado em 1950 com o objetivo de
formar engenheiros de excelência e
desenvolver tecnologia aeronáutica
de ponta, o ITA foi idealizado pelo
Marechal do Ar Casimiro Montene-
gro Filho (1904-2000), pioneiro do
Correio Aéreo Nacional. Os primei-
ros grandes projetos desenvolvidos
Criado em 1950 com o objetivo de
por professores, ex-alunos e alunos formar engenheiros de excelência e
do ITA, em laboratórios do então desenvolver tecnologia aeronáutica
IPD, foram o Projeto Convertiplano de ponta, o ITA foi idealizado pelo
Marechal do Ar Casimiro Montene-
(aeronave híbrida de decolagem ver-
gro Filho (1904-2000), pioneiro do
tical, que contém características tanto Correio Aéreo Nacional
de aviões quanto de helicópteros),
idealizado em 1952, e o Projeto Beija- criação, o ITA se transformou numa
-Flor (helicóptero de rotor rígido com Instituição de excelência na área da
capacidade para duas pessoas). O BF educação e um centro de referência
1 Beija-Flor fez o primeiro voo em no ensino de Engenharia no Brasil,
1958, simbolizando um importante contribuindo com o desenvolvimen-
estágio da engenharia aeronáutica to de pesquisas nas mais diversas
brasileira. Comemorava-se, afinal, áreas: telecomunicações, informática,
o primeiro helicóptero projetado e infraestrutura aeroportuária, auto-
construído no Brasil. mação bancária, transporte aéreo e
Ao longo dos 70 anos de sua indústria automobilística.

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Acervo ITA

Acervo ITA

Aerovisão
Edição Especial/2021
Acervo Força Aérea
Acervo ITA

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DÉCADA DE 1950

Equipe da COMARA pavimentando pista,


contribuindo com a missão de projetar,
construir e recuperar aeroportos em
regiões inóspitas e de difícil acesso na
Amazônia Legal. Ao lado, pista construída
pela COMARA em Surucucu (RO)

Sargento Bruno Batista / Agência Força Aérea


COMARA: a construtora de pistas de
pouso na Amazônia Legal
Comissão projeta, constrói e recupera aeroportos em regiões
inóspitas e de difícil acesso na região amazônica
Criada em 1956, a Comissão de reforçadas e dimensionadas de
Aeroportos da Região Amazônica acordo com padrões internacionais.
(COMARA) surgiu pelo espírito Hoje, a COMARA – subordi-
visionário do então Brigadeiro nada ao Comando-Geral de Apoio
Eduardo Gomes, ao compreender (COMGAP) – tem sua sede em
a necessidade de integrar a Amazô- Belém (PA) e dispõe da atuação
nia às demais regiões do Brasil por de 470 integrantes (Oficiais, Gra-
meio do Correio Aéreo Nacional duados, Praças e Civis), entre eles
(CAN). Inicialmente, a missão da engenheiros de infraestrutura,
COMARA era construir, ampliar e engenheiros civis, arquitetos, me-
pavimentar 56 pistas nas principais cânicos, agrimensores, eletricistas,
cidades da região, suficiente para a administradores, além de operado-
segurança da aviação. A partir de res de equipamentos, marinheiros
1980, as pistas foram ampliadas, e topógrafos.

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FUMAÇA... JÁ! De acrobacias à comunicação social da FAB
Às 8h da manhã do dia 14 de maio inaugural com as aeronaves North ção social responsável por difundir
de 1952, nascia a Esquadrilha da Fu- American T-6, executando manobras a imagem institucional da FAB em
maça, quando quatro pilotos fizeram de precisão como “Loopings” e “Toun- âmbito nacional e internacional.
a primeira demonstração aérea sobre a neaux”. Posteriormente, os aviadores Com sede na Academia da For-
Escola de Aeronáutica no Campo dos passaram a voar com três aeronaves e, ça Aérea (AFA), em Pirassununga
Afonsos, no Rio de Janeiro, durante finalmente, com quatro. (SP), a Esquadrilha é composta,
uma cerimônia em que delegações Diante do elevado número de geralmente, por 13 pilotos. Além de
estrangeiras visitavam o local. Com pedidos de demonstração, dava-se, aviadores, possui oficiais de outras
o passar dos anos, as acrobacias rea- então, o início da função de Comuni- áreas, como Manutenção de Aerona-
lizadas com o intuito de incentivar os cação Social da Esquadrilha, aumen- ves, Comunicação Social e Medicina,
Cadetes a confiarem em suas aptidões tando cada vez mais o número de além de graduados especialistas,
e treinar os futuros aviadores militares cidades que passavam a conhecer a chamados de “Anjos da Guarda”,
concretizam-se como instrumento de FAB por seu intermédio. E, em 1982, responsáveis pela manutenção das
difusão da política de Comunicação era criado o Esquadrão de Demons- aeronaves, e praças, que auxiliam
Social do Comando da Aeronáutica. tração Aérea (EDA). nas mais diversas atividades do Es-
Oficializada naquele dia, a Esqua- Com o intuito de expandir a noto- quadrão. Atualmente, o EDA realiza
drilha da Fumaça, como é popular- riedade da Força Aérea Brasileira, o as demonstrações aéreas com sete
mente conhecida, fez sua apresentação EDA é um instrumento de comunica- aeronaves A-29 Super Tucano.

Acervo Pessoal
Sargento Bruno Batista / Agência Força Aérea

Acervo Pessoal - Rob Poyton


Acervo MUSAL

Com sede na Academia da Força Aérea


(AFA), em Pirassununga (SP), a Esquadrilha é
composta, geralmente, por 13 pilotos

Aerovisão Edição Especial/2021 19


DÉCADA DE 1950

Acervo MUSAL
Gloster Meteor: o primeiro
avião a jato do Brasil Gloster Meteor em exposição
no Museu Aeroespacial
(MUSAL), no Campo dos
Na década de 1950, o Brasil troca dos antigos caças P-47 Thunder- Afonsos, no Rio de Janeiro
trocou com a Inglaterra 15 mil tone- bolt e Curtiss P-40 pelo jato de combate
ladas de algodão por 60 aviões que, bimotor britânico.
após a montagem, na Fábrica do Ga- A partir da experiência da Força
leão, no Rio de Janeiro, equiparam Aérea, as companhias aéreas no Brasil
a Força Aérea Brasileira até 1974. também foram impulsionadas. Para Desse modo, a aquisição do Gloster Me-
Tratava-se de jatos que mudaram a operar jatos, a FAB teve de montar uma teor revolucionou não apenas a aviação
história da aviação militar no País. logística de combustíveis e lubrificantes, militar, mas também a civil.
Incorporado à Força Aérea Bra- isso porque os motores eram movidos Por ser o principal avião de caça da
sileira (FAB) em 1953, o Gloster a querosene de aviação, inexistente no FAB até 1970, os Glosters se transfor-
Meteor foi o primeiro avião a jato País à época. Apesar de ser mais seguro, maram em sinônimo de aeronave de
do Brasil. Com ele, a FAB ingressou o combustível importado requeria cui- ataque e foram empregados em missões
na “Era das Turbinas”. Começava a dados no armazenamento e manuseio. de ataque ao solo.

20 Edição Especial/2021 Aerovisão


“Invaders”
A Força Aérea Brasileira adquiriu seus
primeiros “Invaders” (DOUGLAS A-26B)
em 1957, sendo, até 1975, o maior operador
desses aviões depois das forças armadas
dos Estados Unidos e da França. Avião
com capacidade para três tripulantes,
destinado a missões de bombardeio e
ataque ao solo, o DOUGLAS A-26B voou
pela primeira vez em 1942, sendo consi-
derado o melhor bombardeiro bimotor
dos Estados Unidos durante a Segunda
Guerra Mundial.

CESSNA 305C (L-19E)


O CESSNA 305C é um avião com capa-
cidade para dois tripulantes, destinado a
missões de observação, ligação, controle
aéreo de tiro e controle aéreo avançado. A
Força Aérea Brasileira passou a receber
esses aviões dos Estados Unidos a partir
de 1957 através do “PAM” (Programa de
Assistência Militar) e os operou até 1980.

Albatross
O Albatross (GRUMMAN G-64) é um
avião anfíbio destinado a missões de busca e
salvamento, sendo capaz de operar na água,
na terra, na neve e no gelo. No Brasil, foram
Acervo MUSAL

utilizados pela Força Aérea Brasileira em


missões de busca e salvamento de 1958 a 1980.

Soldado Wilhan Campos / Agência Força Aérea

Aerovisão Edição Especial/2021 21


DÉCADA DE 1960

A primeira sede do Comando da Aeronáutica


e a mudança para Brasília (DF)
O local da primeira sede
do Ministério da Aeronáutica,
atual Comando da Aeronáutica,
situava-se no Rio de Janeiro (RJ).
No entanto, com a transferência
da capital federal do Rio de Janei-
ro (RJ) para Brasília (DF), em 21
de abril de 1960, o Comando da
Aeronáutica ganhou nova sede.
Em 1959, uma comissão foi
designada para coordenar as
providências para a transferên-
cia e a instalação dos órgãos
de cúpula da Aeronáutica. E,
em 1960, seguiu para Brasília o
pessoal destinado ao Gabinete
do Ministro da Aeronáutica,
iniciando-se, então, as atividades
na nova capital federal.
Entretanto, a relação da FAB
com a capital federal iniciou em
1956, quando o então Presidente
Juscelino Kubitschek pousou no
aeroporto Vera Cruz, próximo
ao Eixo Monumental, a bordo
Acervo Força Aérea

de um avião Douglas DC-3 da


FAB para conhecer as terras onde
seria erguida a nova capital da
República. Pilotos da FAB realizaram
Quando a cidade ainda era demonstrações aéreas
um canteiro de obras, aerona- na inauguração da capital
federal
ves da Força Aérea ajudavam
a trazer o material necessário
para a concretização do projeto
Na foto ao lado, aeonaves da
de Lúcio Costa e do arquiteto FAB utilizadas para o transporte
Oscar Niemeyer. Naquela fase, de autoridades, recursos
a participação do Correio Aéreo humanos para a construção da
nova capital
Nacional (CAN) foi fundamental.
Com o emprego de aviões da
FAB, foi possível minimizar os máquinas e apoio humano para
1.200 quilômetros de distância o pontapé inicial na constru-
entre o Rio de Janeiro e Brasília ção da nova capital brasileira,
Acervo Força Aérea

para o translado de insumos de inclusive o prédio onde sedia


construção. Os aviões do CAN o Comando da Aeronáutica
traziam toneladas de materiais, atualmente.

22 Edição Especial/2021 Aerovisão


Acervo Força Aérea
Edifício onde era sediado
Acervo MUSAL

o então Ministério da
Aeronáutica no Rio de
Janeiro (RJ)

C-47 Douglas atuou no


transporte de autoridades
para conhecer as terras
onde seria a nova capital

Aerovisão Edição Especial/2021 23


Acervo EMBRAER
DÉCADA DE 1960

O primeiro protótipo
do Bandeirante, então
denominado de IPD-
6504, realizou o voo de
teste inaugural em 22 de
outubro de 1968, com
a presença da equipe
técnica do projeto
Acervo EMBRAER

Sargento Johnson Barros / Agência Força Aérea

24 Edição Especial/2021 Aerovisão


C-95 Bandeirante
Em 26 de outubro de 1968, centenas de convidados
testemunharam o voo da aeronave que partiu da pista
- na época não pavimentada - de São José dos Campos,
interior de São Paulo. O primeiro protótipo do Bandei-
rante, então denominado de IPD-6504, realizou o voo de
teste inaugural em 22 de outubro de 1968, com a presença
da equipe técnica do projeto. O avião, pintado nas cores

Bruno Noro Vargas


da FAB, deixou o hangar X10, do Centro Técnico Aeroes-
pacial (CTA), para decolar às 7h07 e retornou para pouso
50 minutos depois, sob o comando do Major Aviador
José Mariotto Ferreira e do Engenheiro de Voo Michel
Cury. Digno de seu nome, o avião Bandeirante liderou
o desenvolvimento da aviação regional e impulsionou
a indústria aeronáutica brasileira, com o início de uma
história de sucesso que permitiu transformar ciência e
tecnologia em engenharia e capacidade industrial, hoje
reconhecidas em todos os continentes nos quais voam os
aviões fabricados pela Embraer.

O avião Bandeirante liderou o desenvolvimento


da aviação regional e impulsionou a indústria
Acervo 6º ETA

aeronáutica brasileira, com o início de uma


história de sucesso

Cabo Andre Feitosa / Agência Força Aérea

Aerovisão Edição Especial/2021 25


DÉCADA DE 1960

Acervo Força Aérea


C-130 Hércules: o avião produzido por Desde o seu voo inaugural, mais de
2.500 exemplares foram produzidos
para cerca de 70 operadores militares,
mais tempo na história em versões de transporte tático, busca
e salvamento, reabastecimento em voo
O C-130 Hércules é o avião produzi- para cerca de 70 operadores militares, e muitas outras
do por mais tempo na história do Brasil, em versões de transporte tático, busca e
de acordo com o Museu Aeroespacial, salvamento, reabastecimento em voo e
subordinado ao Instituto Histórico-Cul- muitas outras.
tural da Aeronáutica. As três primeiras Segundo o jornalista aeronáutico juntos com os F-5 são as aeronaves
aeronaves chegaram ao País em 1964, Jackson Flores Jr. (1959-2013), no livro com mais tempo de serviço na For-
seguidas de mais duas que chegaram Aeronaves Militares Brasileiras (1916- ça Aérea Brasileira. Para atender os
em 1965. O C-130-E foi incorporado ao 2015), o C-130 Hércules colocou a novos requisitos operacionais da
Primeiro Esquadrão do Primeiro Grupo aviação de transporte em outro patamar FAB, a previsão é de que os Hér-
de Transporte (1º/1º GT), da Base Aérea quanto ao emprego tático. “Podemos cules da FAB sejam substituídos
do Galeão, a partir de 18 de fevereiro de dividir a história da FAB, nesse quesito, pelo Embraer KC-390 Millennium,
1965. Desde o seu voo inaugural, mais em antes e depois do C-130”, sintetizou. maior avião militar desenvolvido e
de 2.500 exemplares foram produzidos Com 54 anos de serviço, os C-130 produzido no hemisfério sul.

26 Edição Especial/2021 Aerovisão


Zonas Aéreas, Bases Aéreas e Unidades Aéreas
Em atendimento à determinação ranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Santa Catarina e Rio Grande do Sul; e
federal de modernização da gestão Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, - 6ª Zona Aérea: Distrito Federal,
e para a organização da estrutura Sergipe e Bahia; e o Território Federal Estado de Goiás, e a porção do Tri-
básica do Ministério da Aeronáutica, de Fernando de Noronha; ângulo Mineiro limitada a leste pelos
em 1963, o Decreto nº 53.077 estabe- - 3ª Zona Aérea: Estados da Gua- Municípios de Araguari, Indianópolis,
leceu a divisão do território nacional nabara, Rio de Janeiro, Espírito Santo Nova Ponte e Uberaba;
em seis Zonas Aéreas, conforme as e Minas Gerais, menos a porção do O mesmo decreto distribuiu os
seguintes jurisdições: Triângulo Mineiro limitada a leste pelos Comandos das Zonas Aéreas nas se-
- 1ª Zona Aérea: Estado do Pará, municípios de Araguari, Indianópolis, guintes cidades: 1ª Zona Aérea, Belém
Amazonas e Acre; a parte do Estado de Nova Ponte e Uberaba, inclusive; (PA); 2ª Zona Aérea, Recife (PE); 3ª
Mato Grosso correspondente ao Muni- - 4ª Zona Aérea: Estados de São Pau- Zona Aérea, Rio de Janeiro (RJ); 4ª Zona
cípio de Aripunã; e os Territórios Fede- lo e Mato Grosso, menos o Município Aérea, São Paulo (SP); 5ª Zona Aérea,
rais do Amapá, Roraima e Rondônia; de Aripunã; Porto Alegre (RS); e 6ª Zona Aérea,
- 2ª Zona Aérea: Estado do Ma- - 5ª Zona Aérea: Estados do Paraná, Brasília (DF).

Acervo Força Aérea


Início do Programa Espacial

Com a criação do Centro Técnico programa de envolvimento do Brasil em deu origem ao Instituto de Atividades
Aeroespacial (CTA), nos anos de 1950, pesquisas espaciais. O GOCNAE instalou- Espaciais (IAE), no CTA. O Instituto
começou no País um novo pensamento -se no CTA e iniciou suas atividades com ficaria responsável pelos projetos de
para o desenvolvimento dos programas equipamentos cedidos pela Agência Espa- pesquisa e desenvolvimento de fogue-
aeroespaciais. Em 1960, o Presidente Jânio cial Americana (NASA) e pesquisadores tes, cabendo ao Centro de Lançamento
Quadros criou uma comissão para dar militares e civis do Ministério da Aero- da Barreira do Inferno (CLBI) a parte
os primeiros passos para a elaboração náutica. Em dezembro de 1965, ocorreu operacional de lançamento de vários
de um programa nacional de exploração o primeiro lançamento em solo brasileiro. foguetes estrangeiros e os nacionais,
espacial. O resultado foi a formação, em Era um foguete de sondagem de fabrica- como SONDA I, II, III e IV. Apesar de
agosto do ano seguinte, do Grupo de Or- ção norte-americana – o Nike Apache. o Brasil não ter conseguido o efetivo
ganização da Comissão Nacional de Ati- Em 1966, começou o Projeto EXAMENT lançamento operacional de foguete
vidades Espaciais (GOCNAE), com sede para estudos da atmosfera em altitudes de na década de 60, o SONDA I foi a
em São José dos Campos, subordinado ao 30 a 60 km. No final da década, o Grupo grande escola do Programa Espacial
Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq), Executivo e de Trabalho e Estudos de Pro- Brasileiro, por meio do qual a FAB deu
com o propósito de sugerir a política e o jetos Espaciais (GETEPE) foi desativado e os primeiros passos nessa área.

Aerovisão Edição Especial/2021 27


28 Edição Especial/2021 Aerovisão
Aerovisão Edição Especial/2021 29
Sargento Bruno Batista / Agência Força Aérea
DÉCADA DE 1970
A criação do Centro de
Investigação e Prevenção de
Acidentes Aeronáuticos (CENI-
PA) foi em novembro de 1971,
inaugurando um novo propósito
da investigação de acidentes
aeronáuticos no País

CENIPA é criado em 1971 implantando


novo foco na prevenção de acidentes
Uma grande mudança filosófica em procedimentos distintos para a
na investigação de acidentes punição dos responsáveis.
aeronáuticos no Brasil. Ao invés de Aperfeiçoando-se constantemente
buscar culpados, foco na prevenção. ao longo de sua trajetória, o CENIPA

Acervo Força Aérea


No lugar de julgar, o alvo é emitir implementou vários serviços, que o
alertas, produzindo “recomendações transformaram em uma Instituição
de segurança de voo”. Foi assim de ponta. Por exemplo, em 2018,
que se deu a criação do Centro o Sistema de Aviação Brasileiro
de Investigação e Prevenção de foi submetido a uma auditoria
Acidentes Aeronáuticos (CENIPA) da Organização de Aviação Civil
em novembro de 1971, inaugurando Internacional (OACI). Ao final da
um novo propósito da investigação de verificação, o CENIPA atingiu 94% de
acidentes aeronáuticos no País. conformidade, o que o colocou junto
AUnidade é ligada ao Comandante ao órgão com o melhor desempenho
da Aeronáutica e coordena, até os mundial, a EASA (European Aviation
Acervo Força Aérea

dias atuais, a prevenção; enquanto Safety Agency), à frente de países como


isso, as polícias, o Ministério Alemanha, Austrália, Canadá, China,
Público e o Judiciário trabalham Estados Unidos, França, Índia e Itália.

30 Edição Especial/2021 Aerovisão


Aerovisão
Edição Especial/2021
Acervo Força Aérea Acervo Força Aérea

31
DÉCADA DE 1970
A implantação do Sistema Integrado de Controle do
Tráfego Aéreo e a Era dos Supersônicos
A década de 1970 marca o início
de uma nova fase para a Força Aérea
Brasileira. Chegava a vez dos supersô-
nicos. Pouco antes, em 1969, após uma
série de estudos, o Ministério da Aero-
náutica concebeu o Sistema Integrado
de Controle do Espaço Aéreo, um pro-
jeto ambicioso e estratégico que previa
a utilização conjunta de equipamentos
de detecção, de telecomunicações e
de apoio às atividades de defesa e de
controle de tráfego aéreo.
Acervo Musal

Enquanto a estrutura de detecção


nascia, com uma complexa rede de
radares e equipamentos espalhados
MIRAGE M-2000, que foi
pelo País, o Ministério da Aeronáutica desativado pela FAB em 2013
buscava, no exterior, o que havia de
mais eficiente em caças supersônicos.
Assim, nos anos 1970, a FAB começava
a operar a sua unidade aérea de inter-
ceptação: o Primeiro Grupo de Defesa
Aérea (1º GDA), equipado com caças
F-103 Mirage III. Na mesma década,
chegaram ao Brasil os caças F-5 e, sob
licença, a Embraer passou a produzir
seu primeiro jato: o AT-26 Xavante.
Também no início dos anos 1970,
o Ministério da Aeronáutica imple-
mentou no País o conceito de Centro
Integrado de Defesa Aérea e Controle
de Tráfego Aéreo (CINDACTA), uma
inovação mundial, pois previa um sis-
tema único controlando as operações
civis e militares. Uma rede de radares
e centros de controles espalhados
geograficamente que forneciam, em
tempo real, o posicionamento de todas
as aeronaves voando no território na-
cional. O primeiro a sair do papel foi
o CINDACTA I; sediado em Brasília,
entrou em operação em 1976. Poste-
riormente, foram implementados os
CINDACTA II (Curitiba), III (Recife)
e o IV (Manaus).

32 Edição Especial/2021 Aerovisão


Tenente-Coronel Parreiras / FAB

Recebidos pela FAB na década


de 70, os F-5 passaram por
um processo de modernização
que incluiu a troca do radar,
dos sistemas de bordo e dos
armamentos

Aerovisão Edição Especial/2021 33


DÉCADA DE 1970

Xavante: o primeiro avião de caça


a jato fabricado no Brasil
A Força Aérea Brasileira operou de 1971 a 2010 o
“Xavante” – primeiro avião de caça a jato fabricado
no Brasil – em missões de ataque a alvos aéreos e de
superfície. O exemplar da foto (matrícula FAB 4462) foi
o primeiro produzido pela EMBRAER e fez seu primeiro
voo em 3 de setembro de 1971, tendo pertencido a vários
Esquadrões da FAB. Produzidos sob licença da companhia
italiana “Aermacchi” pela África do Sul, Austrália e Brasil,
esses aviões combateram em vários conflitos.

34 Edição Especial/2021 Aerovisão


Sargento Johnson Barros / Agência Força Aérea
Acervo Força Aérea
Bandeirulha
O Bandeirante Patrulha (EMBRAER
111) é um avião destinado a operações
antissubmarino e missões de reconhe-
cimento marítimo. O primeiro EMB
111 produzido em série fez seu voo
inaugural em agosto de 1977. Em 11 de
abril de 1978, foi realizada a primeira en-
trega de três unidades (de um total de 12
aeronaves da primeira encomenda) para
o 1º Esquadrão do 7º Grupo de Aviação,
localizado em Salvador (BA). No total,
foram fabricadas 22 aeronaves (12 P-95A
e 10 P-95B) para a Força Aérea Brasileira.

Xingu - Embraer EMB-121


A Força Aérea Brasileira operou
seis aeronaves VU-9 “Xingu”, de 1978
a 2010, em missões de transporte de
autoridades, sendo que, em 1983,
foram modificadas para o padrão
“Xingu II”. Um avião turbo-hélice
com capacidade para 2 tripulantes e
9 passageiros, destinado ao transporte
regional. Voou pela primeira vez em
10 de outubro de 1976. A Embraer
produziu 106 unidades até 1987, das
quais 51 foram exportadas.
Acervo Força Aérea
Acervo Força Aérea

Aerovisão Edição Especial/2021 35


DÉCADA DE 1980

Brasil abre sua janela para o espaço


Executar as atividades de lança- propulsores, depósitos de combustí-
mento e rastreio de engenhos aeroes- veis, pista de pouso e toda a infraestru-
paciais e de coleta e processamento de tura necessária para apoiar os militares
dados de suas cargas úteis, bem como e civis que trabalhariam ali.
a execução de testes e experimentos de Foi ativado em 1° de março de
interesse do Comando da Aeronáutica 1983 o Núcleo do CLA. Finalmente,
relacionados com a Política Nacional em dezembro de 1989, a Operação
de Desenvolvimento das Atividades Pioneira efetivamente inaugurou o
Espaciais (PNDAE). Com essa missão, CLA. Quinze foguetes SBAT-70 e dois
nasceu, na década de 1980, o que seria SBAT-152 foram lançados para os
chamado de janela brasileira para o primeiros testes. Dois meses depois,
espaço, o Centro de Lançamento de seria a vez de um foguete Sonda-2,
Alcântara (CLA), no Maranhão. em uma sequência de operações que
Com uma localização geográfica teriam como destaque o lançamento de
privilegiada, situado no pequeno mu- 83 foguetes em parceria com a NASA
nicípio maranhense, separado por 10 em 1994, do VS-30 e dos testes com o
quilômetros de faixa de mar da ilha Veículo Lançador de Satélites (VLS).
de São Luís, o CLA foi criado pelo Mi- Na constante busca de ser reconhe-
nistério da Aeronáutica para assumir cido em nível nacional e internacional
a responsabilidade de ser a principal como um Centro de excelência nas ati-
base da então Missão Espacial Com- vidades relacionadas com lançamento
pleta Brasileira (MECB). e rastreio de engenhos aeroespaciais, o
Localizado a pouco mais de dois CLA se prepara para o futuro. O local
graus da linha do Equador, o CLA se passará a ser denominado de Centro
destaca por possibilitar lançamentos Espacial de Alcântara (CEA) e entrará
de foguetes com menor consumo de no mercado global de lançamentos de
combustível, ou com maior capacidade cargas ao espaço, gerando recursos
de carga. Isso é, se um foguete for lan- substanciais para o desenvolvimento lo-
çado no CLA, o artefato poderá levar cal, regional e para o Programa Espacial
satélites até 31% mais pesados que Brasileiro (leia mais na década de 2010).
outro semelhante que saiu de bases de
outros países. Fonte: Revista Aerovisão – Edição
Foi por esse motivo, e ainda pelo histórica 70 anos
clima favorável, facilidade logística e
estabilidade geológica, que, em 1982,
foi criado o Grupo para Implantação
do Centro de Lançamento de Alcân-
tara (GICLA). Transformar o litoral
maranhense em uma moderna base
do programa espacial significou in- Em 1982, foi criado o Grupo
para Implantação do Centro
vestimentos em equipamentos como de Lançamento de Alcântara
plataformas de lançamento, radares (GICLA), que destaca-se por
de acompanhamento, sistemas de possibilitar lançamentos de
foguetes com menor consumo
telemetria, centrais de meteorologia, de combustível, ou com maior
edifícios para preparo de satélites e capacidade de carga

36 Edição Especial/2021 Aerovisão


Sargento Rezende / Agência Força Aérea

Aerovisão
Edição Especial/2021
37
Sargento Bruno Batista / Agência Força Aérea
Acervo Força Aérea
DÉCADA DE 1980

Mulheres passam a integrar as fileiras


da Força Aérea Brasileira
O ingresso das mulheres na Força 1981, do Corpo Feminino da Reserva da específico, teste psicotécnico, teste de
Aérea Brasileira (FAB), como parte do Aeronáutica (CFRA). Surgiram, então, aptidão física e inspeção de saúde.
efetivo, ocorreu a partir dos anos 1980. o Quadro Feminino de Oficiais (QFO) As candidatas aprovadas pas-
Na ocasião, viu-se a necessidade de e o Quadro Feminino de Graduadas savam por um estágio de adapta-
ampliar o contingente e, por isso, fo- (QFG). A primeira turma de mulheres ção à vida militar que durava, no
ram realizados estudos para a inclusão ingressou na FAB em 1982. O recru- máximo, seis meses. Concluída
da mulher como militar na Força. As tamento era feito regionalmente, por essa etapa, as militares escolhiam a
pesquisas culminaram na criação, por meio de concurso público, com as se- Organização Militar que desejavam
meio da Lei nº 6.924, de 29 de junho de guintes etapas: prova de conhecimento servir de acordo com a ordem de

38 Edição Especial/2021 Aerovisão


classificação. O preconizado Instrução de Graduados da Aero-
na legislação do CFRA era que náutica (CIGAR), e o das Oficiais,
essas mulheres serviriam à FAB no Centro de Instrução Especializa-
por oito anos, permanecendo da da Aeronáutica (CIEAR), no Rio
na ativa de acordo com as ne- de Janeiro (RJ). Porém, em setem-
cessidades da Força. bro de 1983, foi criado o Centro de
Para receber o Corpo Femi- Instrução e Adaptação da Aeronáu-
nino, as Escolas da FAB tiveram tica (CIAAR), que concentrava os
que se adaptar. Era necessário dois cursos do CFRA. Esse Centro
preparar alojamentos, ranchos, possuía toda a estrutura necessá-
organizar a equipe de instru- ria para receber essas mulheres e
ção, entre outras providências. adaptá-las à vida militar.
A princípio, o curso das Gra-
duadas era realizado em Belo Fonte: Elas por Elas – A mulher
Horizonte (MG), no Centro de militar na FAB

Com a formação da primeira turma


Acervo Força Aérea

de mulheres na FAB, elas passaram


a ocupar mais espaço em diversas
organizações da Força

Acervo Força Aérea

Aerovisão Edição Especial/2021 39


DÉCADA DE 1980
Aeronaves T-27 Tucano e A-1 marcaram
a década de 1980
O dia 19 de agosto de 1980 foi
marcante para a história da FAB. Na-
quela data, foi apresentado o YT-27. O
protótipo do treinador tinha desenho
avançado para a época e várias caracte-
rísticas inovadoras que acabaram por se
tornar padrão mundial para aeronaves
de treinamento. O avião, por exemplo,
foi o primeiro do gênero a vir equipado
com assentos ejetáveis. Além disso, os
dois tripulantes não sentavam na clás-
sica posição “lado-a-lado”, e sim em
“tandem”, como nas mais avançadas
aeronaves de caça.
Em 1981, em um concurso realizado
com os cadetes da Academia da Força
Aérea (AFA), a nova aeronave foi batizada
de Tucano. Foi ali, em Pirassununga (SP),
no dia 29 de setembro de 1983, que os pri-
meiros T-27 da FAB foram recebidos para
voarem com as cores do Esquadrão de
Demonstração Aérea (EDA), a conhecida
“Esquadrilha da Fumaça”. A AFA também
recebeu o Tucano para a função de instru-
ção intermediária, após a aposentadoria
dos jatos T-37.
T-27 Tucano durante cerimônia de
Além das características inovadoras, recebimento, no dia 29 de setembro
o Tucano também se revelou estável e de 1983, na Academia da Força
manobrável em baixas velocidades. Essas Aérea, em Pirassununga (SP)
características, além do baixo custo de
operação se comparado a outros trei-
nadores, logo garantiram as primeiras
encomendas internacionais.
Além de cumprir o papel de trei-
nador, o Tucano também possui sob as
asas quatro pontos duros para receber
cargas externas, como bombas e casu-
los de metralhadoras, e, assim, poder
voar missões de treinamento armado,
apoio aéreo, ataque ao solo e defesa do
espaço aéreo. Essa capacidade, aliada
ao envelope de voo mais lento que as
aeronaves de caça a jato, deu ao avião
o destaque em missões como o combate
ao narcotráfico, uma vantagem a mais
para os países que lutam contra os voos
ilegais de aeronaves de pequeno porte.

40 Edição Especial/2021 Aerovisão


Projeto AMX

Acervo Força Aérea


Inicialmente chamado de AMX, a matrícula FAB 4200. Em 16 de
o A-1 foi projetado pela Embraer dezembro do ano seguinte, o YA-1
em parceria com as empresas ita- 4201 também fez o primeiro voo. Em
lianas Aermacchi e Aeritalia. Em 17 de outubro de 1990, a Força Aérea
27 de março de 1981, os governos Brasileira recebeu seu primeiro A-1.
do Brasil e da Itália assinaram um Ao todo, foram 56 unidades dividi-
acordo para estudar os requisitos das em três lotes.
da aeronave, e, quatro meses de- Criado para missões de ataque, o
pois, as três empresas recebiam o AMX se destacou pelo raio de alcance,
contrato de desenvolvimento. robustez e confiabilidade nos sistemas
O programa contaria com a eletrônicos. Entre os principais recur-
construção de seis protótipos, dois sos tecnológicos estão os sistemas de
deles no Brasil. A Embraer ficou mira computadorizada (CCIP) e o
responsável pelo projeto e produção alerta de emissões de radar (RWR),
das asas, profundores, tomadas de que avisa o piloto quando o A-1 é
ar, pilones, trens de pouso, tanques “iluminado” pelos inimigos. A cabine
de combustível, equipamentos do caça também segue o conceito HO-
para missões de reconhecimento e TAS, em que o piloto pode controlar
instalação dos canhões DEFA, de toda a aeronave com comandos nas
30mm, que seriam utilizados na pontas dos dedos. O HUD também
versão brasileira. permite visualizar todas as informa-
Em 15 de maio de 1984, o pri- ções da missão sem precisar retirar os
meiro protótipo voou na Itália. Em olhos da arena de combate.
16 de outubro de 1985, o primeiro
AMX produzido no Brasil, desig- Fonte: Revista Aerovisão –
nado YA-1, decolou às 15h47 com Edição histórica 70 anos

Acervo Força Aérea


Acervo AFA

Aerovisão Edição Especial/2021 41


Sargento Johnson Barros / Agência Força Aérea
DÉCADA DE 1990

SIVAM - Os olhos do Brasil


sobre a Amazônia
A imensidão da floresta ama- O SIVAM começou a sair do pa-
zônica brasileira precisava de um pel em 1997. O consórcio concluiu a
olhar diferenciado. Sobrevoar fase dos projetos de edificação e de
a Amazônia, até os anos 90, era levantamentos de campo em 1998,
um grande desafio. Enfrentar quando o software de integração
variações meteorológicas, difi- do sistema, o X-4000, desenvolvido
culdade para localizar pistas de pela indústria nacional, entrou em
pouso alternativas em situações funcionamento. Todos os equipa-
de emergência e pilotar sem o mentos importados, como radares,
apoio de comunicação e radares, aparelhos de telecomunicações e
como acontece na travessia do aeronaves de sensoriamento remo-
Atlântico e de regiões desérticas to, chegaram ao Brasil até 1999. A
do mundo, não era nada fácil. Esse implantação e o funcionamento do
era o contexto das rotas aéreas que SIVAM tiveram início em 2002, com
cortavam o território nacional. a inauguração do Centro Regional
Por outro lado, o isolamento de Vigilância de Manaus, depois de
da floresta também representa- quatro anos de obra de infraestrutu-
va um problema para diversas ra e implantação dos radares.
instituições brasileiras diante de
um cenário de atividades ilícitas, Surgimento do mais importante
projeto governamental para a
como desmatamento, queimadas, região: o Sistema de Vigilância da
biopirataria e tráfico de dro- Amazônia (SIVAM)
gas, dentre outras. A integração
completa do território brasileiro
parecia um sonho distante até o
surgimento do mais importante
projeto governamental para a
região: o Sistema de Vigilância
da Amazônia (SIVAM).
O Projeto SIVAM foi apresen-
tado pela primeira vez na Confe-
rência das Nações Unidas sobre o
Meio Ambiente e Desenvolvimen-
to, a ECO-92, no Rio de Janeiro (RJ).
A iniciativa coube à Secretaria de
Assuntos Estratégicos, que apre-
sentou uma exposição de motivos
em parceria com os Ministérios da
Justiça e da Aeronáutica – três per-
sonagens da administração pública
bastante influenciados pelo estado
precário de vigilância e de presença
oficial na Amazônia.

42 Edição Especial/2021 Aerovisão


Sargento Johnson Barros / Agência Força Aérea

Aerovisão
Edição Especial/2021
Sargento Johnson Barros / Agência Força Aérea

43
Sargento Johnson Barros / Agência Força Aérea
DÉCADA DE 1990
Asas que vigiam
O planejamento para colocar o acordo para a produção de aviões
projeto SIVAM em funcionamento, que pudessem fazer a vigilância do
necessitava de uma série de provi- espaço aéreo com radares transpor-
dências, entre as quais a criação de táveis para a Força Aérea Brasileira:
uma rede de 25 sítios radares em os modelos EMB-145-AS, os E-99,
solo, que resultaram em quase 100% para vigilância aérea, e os EMB-145-
de cobertura radar da região, e a RS, os R-99, para o sensoriamento
aquisição de vetores aéreos que pu- remoto. As aeronaves são equipadas
deram prover superioridade aérea, com modernos equipamentos, como
sensoriamento remoto e alerta aéreo o radar PS-890 Erieye, capaz de de-
antecipado. Foi o passo inicial para tectar aviões voando à baixa altura,
criar as bases para o surgimento dos e sensores de última geração, como
vetores. radar de abertura sintética SAR, que
Em 1997, a EMBRAER assinou fornece imagens em tempo real.

Acervo Força Aérea


Sargento Johnson Barros / Agência Força Aérea

44 Edição Especial/2021 Aerovisão


Cobertura radar em todo País
Ter acesso por meio aéreo pela civis e militares. Uma rede de radares e
imensidão verde da Amazônia antes centros de controles espalhados geogra-
da implantação do SIVAM era comple- ficamente, que forneciam, em tempo real,
xo. O transporte aéreo na região Norte o posicionamento de todas as aeronaves
acontecia com recursos limitados de voando no território nacional.
comunicação, com o suporte da carta de Nesse período, o Brasil deu o salto
navegação e identificação visual, com a tecnológico do Sistema de Controle do
possibilidade de enfrentar mudanças de Espaço Aéreo Brasileiro (SISCEAB). No
meteorologia e de dificuldade para che- início da década de 90, grande parte do
gar a pistas alternativas, caso houvesse espaço aéreo nacional estava coberto pe-
Cabo Vinicius Santos / Agência Força Aérea

alguma emergência. los CINDACTA I (Brasília), II (Curitiba) e


As ações iniciadas na década de 70 III (Recife). Por meio do SIVAM, começa-
implementaram no país o conceito de ram as ações para que todo o país tivesse
Centro Integrado de Defesa Aérea e cobertura radar. O último CINDACTA,
Controle de Tráfego Aéreo (CINDACTA), de número 4, entrou em funcionamento
uma inovação mundial, pois previa um em 2006, com sede em Manaus, fechando
sistema único controlando as operações a cobertura radar no País.

Aerovisão Edição Especial/2021 45


DÉCADA DE 1990
Em 1996, ingressaram as
Ascensão da carreira feminina na FAB primeiras Cadetes Intenden-
tes na AFA, que atingiram o
Em 1995, o então Ministro da Tecnológico de Aeronáutica (ITA), posto de Tenente-Coronel em
Aeronáutica, Tenente-Brigadeiro do pois contemplou o primeiro concur- agosto de 2017
Ar Mauro José Miranda Gandra, deu so aberto às mulheres. De um total
início aos trâmites para que as mu- de 3.800 inscritos, que disputavam
lheres pudessem, pela primeira vez, as 120 vagas disponíveis, 530 eram
ser Cadetes da Academia da Força candidatas. O ITA já formou 160
Aérea (AFA). Em 1996, ingressaram mulheres nesses 20 anos, tendo uma
as primeiras Cadetes Intendentes média de 8 graduadas por ano.
na AFA, que atingiram o posto de Já na Escola de Especialistas de
Tenente-Coronel em agosto de 2017. Aeronáutica (EEAR), em Guaratin-
Elas poderão chegar até o posto de guetá (SP), que abrange os ensinos
Major-Brigadeiro, maior patente de nível médio e técnico, as mulheres
desse quadro. ingressaram em 1998. Dependendo
O ano de 1996 também foi con- da especialidade escolhida, elas
siderado um marco para o Instituto podem alcançar o posto de Coronel.

Acervo Força Aérea

Acervo Academia da Força Aérea

46 Edição Especial/2021 Aerovisão


Transposição para Comando da Aeronáutica
Em 1995, o então Estado-Maior Élcio Álvares foi nomeado Minis- Aérea Brasileira, com a aquisição
das Forças Armadas (EMFA), por tro Extraordinário da Defesa e seria e a modernização de aeronaves,
determinação presidencial, iniciou o responsável pela implantação do a incorporação de tecnologias e
estudos preliminares para a criação Ministério da Defesa, o que ocor- a implantação de sistemas que
do Ministério da Defesa. Em 1997, reu oficialmente seis meses depois, modificaram a forma de entender
foi criado um Grupo de Trabalho em 10 de junho de 1999. Com o ato e de aplicar o Poder Aeroespacial.
Interministerial (GTI), responsável de criação do Ministério, também O resultado desse período foi um
pela implementação da diretriz pre- se extinguiram os Ministérios da perceptível ganho na capacidade de
sidencial que contemplava a criação Marinha, do Exército e da Aero- interoperabilidade de nossas Forças,
e a implantação do MD e a extinção náutica, bem como o Estado-Maior comprovada em exercícios militares
dos ministérios militares então das Forças Armadas. O Ministério e operações reais, tais como a Missão
existentes. A mudança adequava o da Aeronáutica deu então lugar ao das Nações Unidas para a Estabili-
Brasil ao panorama internacional, Comando da Aeronáutica. zação do Haiti (MINUSTAH) e as
pois, em tantos outros países, a Nos anos que se seguiram, operações Ágata, destinadas a coibir
estrutura das Forças Armadas era com a melhora da situação econô- o narcotráfico, contrabando e tantos
unificada em uma instituição civil. mica do Brasil, houve também a outros crimes transfronteiriços em
Em janeiro de 1999, o Senador melhoria da capacidade da Força território nacional.

O Ministério da Aeronáutica

Soldado Wilhan Campos / Agência Força Aérea


deu então lugar ao Comando
da Aeronáutica
Acervo Academia da Força Aérea
Acervo Academia da Força Aérea

Aerovisão Edição Especial/2021 47


48 Edição Especial/2021 Aerovisão
Aerovisão
AerovisãoEdição
Out/Nov/Dez/2020
Especial/2021 49
Sargento Johnson Barros / Agência Força Aérea
DÉCADA DE 2000

Preparação para uma Força Aérea


mais forte
O investimento na preparação Na primeira edição, em 2002, par-
de pessoal e equipagens foi um dos ticiparam Brasil, Argentina e França,
grandes destaques da Força Aérea e na última, em 2018, 13 países, in-
Brasileira na década de 2000. Entre cluindo o Brasil, com cerca de 2000
os exercícios operacionais que sur- militares e 100 aeronaves brasileiras e
giram na década está o Exercício estrangeiras. Os cenários preparados
Cruzeiro do Sul (CRUZEX), o maior para o treinamento envolvem guerra
de combate aéreo da América Latina. convencional e não-convencional. No
Essa atividade promovida pela Força cenário de guerra convencional, são
Aérea Brasileira (FAB) permite que os realizados os chamados “COMAO”,
tripulantes treinem o combate aéreo sigla em inglês para Composite Air
em operações combinadas, ou seja, Operations, em que um “pacote” com
diferentes nações atuando em cená- cerca de 40 a 50 aeronaves decolam
rios de conflito de maneira integrada em sequência para, em tempo e
e cooperativa, promovendo a troca de espaço limitados, realizar missões
experiências entre os integrantes das com objetivos comuns ou comple-
forças aéreas participantes. mentares.
Acervo Pessoal

Foi a partir de 2003 que as


primeiras mulheres ingres-
saram no quadro de Oficiais
Aviadores, um fato inédito
para a aviação militar do País

50 Edição Especial/2021 Aerovisão


A atividade promovida pela
FAB permite que os tripulan-
tes treinem o combate aéreo
em operações combinadas
com diferentes nações

Mulheres no céu
A Academia da Força Aérea candidatas enfrentaram provas
(AFA), em Pirassununga (SP), teóricas, além de testes físico,
ficou ainda mais diversa a partir psicológico e de saúde.
de 2003, quando as primeiras mu- Na caminhada do curso, na
lheres ingressaram no Quadro de Academia da Força Aérea, pas-
Oficiais Aviadores, um fato inédito saram pelo salto de emergência
para a aviação militar do País. com paraquedas, por exercícios
No concurso, houve mais de 150 de campanha e pela instrução
candidatas para cada vaga, e, ao teórica e prática do voo, além da
final, 13 novas integrantes da FAB instrução acadêmica oferecida
se formaram. Hoje, as pioneiras já pela AFA. As militares integram,
ocupam o posto de Major. atualmente, todas as Aviações
Para ingressarem na AFA, as na FAB.

Aerovisão Edição Especial/2021 51


DÉCADA DE 2000

Sargento Johnson Barros / Agência Força Aérea


Solidariedade pelas asas da FAB
Os anos 2000 foram marcados por desapareceu em uma área igualmente
grandes tragédias no mundo. No ter- hostil: o Oceano Atlântico. A bordo do voo
ritório nacional ou no exterior, a Força 447, 228 pessoas, e novamente nenhum
Aérea Brasileira participou de grandes sobrevivente encontrado. Na ação, mais
operações de resgate e ajuda humanitá- de 1.500 horas de voo e a atuação direta
ria, amenizando o sofrimento de milhares de mais de mil profissionais da FAB e da
de pessoas para as quais o Brasil enviou Marinha do Brasil. Ficou conhecida como
socorro e apoio. a maior operação de busca e resgate da
No período, ocorreram operações mi- América Latina, tendo em vista as imen-
litares em locais onde houve terremotos, sas dificuldades de atuar numa área que
aeronaves acidentadas e cidades foram seria praticamente a metade da distância
alagadas, mobilizando homens, mulhe- até a África. A aeronave desapareceu no
res e aeronaves da FAB. dia 31 de maio de 2009. Depois que os
Em 2006, a missão era encontrar uma corpos foram encontrados, foi realizada,
aeronave desaparecida na Amazônia. também, uma complexa operação de
Montou-se, até então, a maior operação transporte, do mar para o navio, daí até
de busca e resgate da Força Aérea Bra- Fernando de Noronha, e do Arquipélago
sileira. Os militares envolvidos na ação até o continente.
descobriram, horas mais tarde, que não Em 2006, quando eclodiu a guerra
havia sobreviventes entre as 154 pessoas entre Líbano e Israel, aeronaves militares
a bordo do voo 1907. O acidente ocorreu e civis, mobilizadas pelo Ministério da
no dia 29 de setembro e os destroços fo- Defesa, estabeleceram uma verdadeira
ram encontrados no dia seguinte. Calor ponte-aérea entre o Brasil e a Turquia,
intenso, mata fechada, um grande raio de destino final dos comboios terrestres
ação, insetos, isolamento, cansaço, e mais organizados pelo Ministério das Rela-
de mil horas de voo – o equivalente a 41 ções Exteriores do Brasil. Mais de 1.800
dias e meio no ar de modo ininterrupto brasileiros foram resgatados. No segundo
– , com 15 aeronaves para auxiliar nas dia do cessar-fogo, uma aeronave C-130
buscas. Ninguém ficou para trás. Hércules pousou em Beirute carregado
Três anos mais tarde, outra aeronave com ajuda humanitária.
Sargento Johnson Barros / Agência Força Aérea

52 Edição Especial/2021 Aerovisão


Elder Delgado
Acima, imagem de ação da FAB
em 2006, quando 15 aeronaves
auxiliaram nas buscas das vítimas
do voo 1907. Na foto ao lado, em
2009, a missão de busca e resgate
do voo 447

Aerovisão Edição Especial/2021 53


DÉCADA DE 2000

Enchentes
No Brasil, cheias em diversas regi- ocasião, os militares a bordo
ões mobilizaram a FAB para o trans- dos helicópteros voltaram a
porte de alimentos e remédios, resgate resgatar pessoas de telhados
de vítimas e socorro aos doentes. A de casas ou de cima de árvores.
operação mais difícil foi em cidades Um Hospital de Campanha foi
de Santa Catarina, em 2008. Foram instalado na cidade de Barreiros
cumpridas mais de 500 missões com (PE) e superou seis mil atendi-
helicópteros e aviões, particularmente mentos.
na região do Vale do Itajaí, uma das Em 2007, a Força Aérea já
áreas mais afetadas pelas cheias. Além havia atuado na Bolívia, em
da atuação das Unidades Aéreas, a uma das maiores enchentes
equipe do Hospital de Campanha da daquele país. Ao longo de mais
Aeronáutica atendeu mais de três mil de dois meses de operação,
pessoas. Em 2009 e 2010, a FAB voltou a FAB e o Exército Brasileiro
a atuar de forma decisiva para dimi- transportaram mais de cem
nuir os impactos de enchentes, dessa toneladas de alimentos e me-
vez na Região Nordeste – Maranhão, dicamentos. Duas mil pessoas
Piauí, Alagoas e Pernambuco. Na foram resgatadas.

Acervo Força Aérea

54 Edição Especial/2021 Aerovisão


Militares da FAB
em operação real
de transporte de
alimentos e remédios,
resgate de vítimas e

Sargento Francisco Carlos Perfoll / BAFL


socorro aos doentes

Terremotos
Em 2008, a FAB foi encarre-
gada de transportar alimentos e
remédios para a cidade de Pisco,
no Peru, fato que fez a diferença
em um local devastado com mais
de 500 mortos. Outras cidades
próximas também foram vítimas
da catástrofe. Foi um ano, na his-
tória moderna, que mais sofreu
com tremores de terra como o de
2010. Particularmente por causa da
Cabo Silva Lopes / Agência Força Aérea

tragédia no Haiti. Estima-se que


foram mais de 300 mil mortos. A
solidariedade mundial se encon-
trou naquele país.
O Brasil chegou até lá pelas
asas da FAB, que realizou uma
ponte aérea de transporte de vários
gêneros. O que pode ser contabili-
zado é que a Força Aérea Brasileira
transportou mais de 1.300 tonela-
das de carga e 2.329 passageiros
em apoio à Operação. O Hospital
de Campanha (HCAMP) totalizou
9.718 atendimentos clínicos e 218
cirurgias em Porto Príncipe. No
mesmo ano, a FAB partiu com dois
helicópteros H-60L Black Hawk
para o Chile. O País também foi
vítima de terremoto, e os militares
atuaram no transporte de alimen-
tos e no resgate de vítimas.

Aerovisão Edição Especial/2021 55


DÉCADA DE 2010

Atuação da FAB nos grandes eventos


Desde o anúncio de que o Brasil rece-
beria grandes eventos, o País se preparou
e passou no teste de garantia da segurança
na Jornada Mundial da Juventude, quan-
do recebeu a visita do Papa, e na Copa
do Mundo. Essa sequência culminou no
maior de todos eles: os Jogos Olímpicos e
Paralímpicos Rio 2016. Com 28.500 atletas
e comissões técnicas, o Rio de Janeiro
também recebeu um público de cerca de
nove milhões de espectadores de mais de
200 países.
Uma das principais preocupações era
que a competição tivesse um ambiente
seguro. A Força Aérea fez a sua parte.
Dentro do âmbito da defesa, militares
trabalharam, 24 horas por dia, por ar e
por terra, para garantir a manutenção da
soberania do espaço aéreo brasileiro. Caso
ocorressem emergências que envolvessem
contaminações, havia hospitais especiali-
zados, aeronaves equipadas e tripulações
preparadas para transportar e alocar
vítimas de ameaças químicas, biológicas,
radiológicas e nucleares.
Além do mais, ganhou destaque na
década a participação de militares da
Força Aérea nos Jogos Olímpicos. Com
as conquistas de ouro, prata e bronze dos
Sargentos da FAB Thiago Braz (salto com
vara), Arthur Zanetti (ginástica artística)
e Arthur Nory (bronze na ginástica artís-
tica), respectivamente, os atletas militares
somaram 13 medalhas nos Jogos Olímpi-
cos Rio 2016.
Os grandes eventos serviram tam-
bém para mostrar que o País é grande.
Turistas, delegações e Chefes de Estado
de todo o mundo chegaram ao Brasil
pelo ar e o nosso tráfego aéreo precisou
se adaptar para dar fluidez ao aumento
considerável do fluxo de aeronaves. Para
isso, um esquema especial foi montado,
com controladores de tráfego aéreo tra-
balhando incessantemente em modernos
equipamentos de monitoramento.

56 Edição Especial/2021 Aerovisão


Sargento Johnson Barros / Agência Força Aérea
Durante as Olimpíadas do Rio, militares da FAB trabalharam 24 horas por dia
para garantir a manutença da soberania do espaço aéreo brasileiro

Divulgação: Comitê Olímpico Brasileiro


Tenente Enilton Kirchhof / Agência Força Aérea

A Força Aérea Brasileira


mostrou sua atuação em Sargento Thiago Braz, Campão Olímpico no Salto com Vara em
expressivos eventos, como 2016 nos Jogos Olímpicos Rio 2016
na visita do Papa

Aerovisão Edição Especial/2021 57


DÉCADA DE 2010
Rede de Radares
Em continuidade ao processo de a Estação Radar de Corumbá, em
modernização da rede de radares Corumbá (MS), em 2020. A entrada
de vigilância do Sistema de Con- em serviço dos novos equipamentos
trole do Espaço Aéreo Brasileiro buscou potencializar a identificação
(SISCEAB) e com o objetivo de de aeronaves voando a baixa altura
aprimorar o controle dos tráfegos na região de fronteira, trazendo be-
que voam na região de fronteira do nefícios operacionais, tanto para o
Brasil com o Paraguai e a Bolívia, controle civil de aeronaves, quanto
a Força Aérea Brasileira (FAB), por para a defesa aérea, aumentando a
meio da Comissão de Implantação capacidade de detecção de tráfegos
do Sistema de Controle do Espaço não autorizados ou de emprego ilíci-
Aéreo (CISCEA), e a Omnisys, to, colaborando, decisivamente, para
assinaram, no final de 2018, um o sucesso das ações de policiamento
contrato para o fornecimento de do espaço aéreo. Portanto, além de
três radares para as localidades auxiliar no controle do espaço aéreo,
de Porto Murtinho, Ponta Porã e a nova estação passou a proporcio-
Corumbá, no Mato Grosso do Sul. nar a ampliação da vigilância aérea,
O primeiro a ser inaugurado foi com foco no centro-oeste brasileiro.

Soldado A. Soares / Agência Força Aérea

58 Edição Especial/2021 Aerovisão


Reestruturação da Força Aérea
Estudos, otimização de recursos e apontou para a necessidade de resgatar
novos conceitos são as palavras-chave a referência e a representatividade do
do processo que pretende levar a Força COMAER no nível regional, além da se-
Aérea Brasileira a um novo patamar até paração efetiva das atividades operacio-
completar seus 100 anos, em 2041. Por nais e administrativas das Organizações
isso, a necessidade de atualizar conceitos da FAB. Foram mantidos os principais
de Comando e Controle para operações objetivos da Reestruturação estabeleci-
aéreas e terrestres, mediante a reestru- dos em 2016 de garantir a perenidade e
turação funcional e introdução de novas evolução da FAB, em um processo de
doutrinas de emprego dos seus meios. melhoria contínua; e aumentar a efeti-
Reforçado por suas intrínsecas ca- vidade dos recursos empregados.
racterísticas, como a pronta-resposta, A DCA 19-5/2020 manteve as premis-
Sargento Bruno Batista / Agência Força Aérea

a velocidade, a penetração, o alcance, sas originais estabelecidas: economici-


a mobilidade e a flexibilidade, muitos dade, concentração de atividades afins,
dos antigos conceitos necessitaram ser definição de processos, padronização
revistos, como forma de adequá-los às de trabalhos e foco na atividade fim da
reais peculiaridades do cenário vigente Força (Preparo e Emprego). O trabalho
da Força Aérea Brasileira (FAB). reconhece, também, o legado daqueles
Diante disso, a FAB desencadeou que iniciaram o processo, importante e
uma série de ações entre 2016 e 2018 necessário, de Reestruturação e destaca
de Reestruturação. E, posteriormente, a coragem e a determinação de seus
em 2020, iniciou o Aprimoramento da idealizadores. Ao passo que o Comando
A FAB desencadeou uma Reestruturação do Comando da Ae- da Aeronáutica realiza os ajustes e as
série de ações entre 2016 e
2018 de Reestruturação. E, ronáutica (COMAER) – Projeto Piloto adequações necessárias, que decorrem
posteriormente, em 2020, (DCA 19-5/2020), que teve como base em novas condutas, acreditamos que os
iniciou o Aprimoramento da um estudo realizado pelo Estado-Maior nossos sucessores farão o mesmo, sempre
Reestruturação do Comando
da Aeronáutica (EMAER). O estudo buscando o aprimoramento.
da Aeronáutica (COMAER)

Cabo Andre Feitosa / Agência Força Aérea

Aerovisão Edição Especial/2021 59


Equipe que levou ajuda humanitária
DÉCADA DE 2010 aos atingidos pelo Ciclone Idai, na
cidade de Beira, em Moçambique,
Missões humanitárias em 2019.

Ajuda humanitária, ações cívi- de São Paulo (BASP) com destino


co-sociais, transporte de pessoas e ao Líbano em cumprimento à mis-
suprimentos, transporte de órgãos são de Assistência Humanitária à
e de urnas eleitorais, evacuações República Libanesa, sendo o VC-2
aeromédicas e apoio às vítimas e o KC-390 Millennium, que reali-
de desastres naturais nas diversas zou pela primeira vez uma missão
regiões do Brasil são algumas ativi- internacional tripulado apenas
dades que integram o País e fazem por militares da FAB. O avião
parte da missão da Força Aérea Bra- multimissão transportou cerca de
sileira (FAB). Entretanto, este apoio seis toneladas de medicamentos,
não se restringe apenas ao território alimentos e equipamentos de saúde
nacional. Em 2020, duas aeronaves para o atendimento emergencial às
da FAB decolaram da Base Aérea famílias afetadas por um incêndio.
Aeronaves VC-2 (à esquerda) e KC-390
decolaram da Base Aérea de São Paulo
(BASP) com destino ao Líbano, onde des-
carregaram cargas doadas, realizaram as
Suboficial Manfrim / Ministério da Defesa

tratativas do Governo Brasileiro na ajuda


ao País e retornaram ao Brasil

Suboficial Manfrim / Ministério da Defesa

60 Edição Especial/2021 Aerovisão


Cabo Andre Feitosa / Agência Força Aérea
Também em 2020, duas aeronaves transportaram mais de 20 toneladas
da FAB realizaram o repatriamento de suprimentos e equipamentos, além
de brasileiros que estavam isolados de 40 militares da Força Nacional e do
em Wuhan, China, devido ao surto do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais.
novo Coronavírus. As ações da FAB Em 2017, a aeronave C-130 Hércu-
abrangeram o transporte, bem como a les também cumpriu missões em apoio
recepção e o acolhimento das pessoas às vítimas das enchentes no Peru.
repatriadas. Posteriormente, a FAB re- Foram transportados para a cidade
alizou a repatriação de brasileiros que de Piura, localizada no norte do País,
estavam no Peru. brigadistas, botes infláveis, caiaques
Em 2019, outras duas aeronaves e medicamentos. Também em 2017,
levaram ajuda aos atingidos pelo a Força Aérea enviou militares para
Cabo Vinicius Santos / Agência Força Aérea

Ciclone Idai, na cidade de Beira, em a Missão das Nações Unidas para


Moçambique. Dois C-130 Hércules Estabilização no Haiti (MINUSTAH).

KC-390 Millennium pousando em


Beirute, para onde transportou seis
toneladas de material para ajuda ao
Líbano, em 2020

Aerovisão Edição Especial/2021 61


DÉCADA DE 2010
Dimensão 22 (Controlar, Defender, Integrar)
A primeira versão do conceito Dimensão 22
foi criada em 2013 como um referencial para o bi-
nômio “controle e defesa” e apoiado pelo slogan
“Quem controla e defende, protege”, utilizando
o verbo proteger de forma a fazer a necessária
associação como as “Asas que protegem o País”.
O motivo foi realçar a atuação da FAB no
País, cuja geopolítica é reconhecida mundial-
mente. O Brasil é o 5° maior país do planeta, com
8.515.767,049 km2 de área. Estes mais de 8,5 mi-
lhões de km2 representam a metade da América
do Sul. Tem, ainda, mais de 23 mil quilômetros
de fronteiras, terrestres e marítimas, mas quando
falamos de Força Aérea, isso é só o começo.
A abrangência de atuação da Força Aérea
foi muito além dos ares, atingindo o espaço
com o lançamento do Satélite Geoestacionário
de Defesa e Comunicações (SGDC) em 2017.
Além da ampliação no setor aeroespacial com o
Projeto Estratégico de Satélites Espaciais (PESE)
fazendo a transição de uma Força Aérea para
uma Força Aeroespacial.
Além disso, a FAB passou por uma das
maiores reestruturações organizacionais de sua
história com a publicação, em 2016, da - Con-
cepção Estratégica - Força Aérea 100, que trouxe
também uma mudança na missão-síntese da
FAB com a inserção da integração do território
brasileiro em seu escopo.
Diante deste contexto, no ano de 2017 foi
relançado o conceito da Dimensão 22 para
divulgar ao público interno e à sociedade
brasileira o cenário positivo, presente e futuro,
da Instituição. Foi então realizada uma atua-
lização conceitual da proposta de 2013, com o
cuidado de manter o propósito para o qual o
conceito foi criado: o público geral, incluindo
o não especializado em assuntos aeroespaciais.
A forma e o conteúdo do conceito foram
adaptados para a realidade atual da FAB. Hou-
ve então a incorporação do verbo INTEGRAR,
juntando-se ao CONTROLAR e ao DEFENDER,
resumindo em três verbos de ação a missão-
-síntese da FAB, trazendo várias ideias-força de
integração do País tais como: transporte aéreo
logístico, transporte de órgãos e tecidos, ações
cívico-sociais, ações humanitárias, transporte
de urnas eleitorais e construção de pistas.

62 Edição Especial/2021 Aerovisão


Aerovisão Edição Especial/2021 63
DÉCADA DE 2010
As aeronaves do futuro
A FAB recebeu em 2019, a primeira O Comandante da Aeronáutica,
unidade do gigante brasileiro, o KC- Tenente-Brigadeiro do Ar Antonio
390. O avião, resultado da parceira entre Carlos Moretti Bermudez, desta-
FAB e Embraer, firma-se como um novo cou a importância do avião. “Ele
padrão de aeronave para o emprego representa um marco na excelência
militar no cenário mundial. de processos da FAB e, certamente,
O maior avião militar desenvolvido impulsionará a Base Industrial de
e fabricado no Hemisfério Sul, tem Defesa no Brasil”, ressaltou.
capacidade de realizar missões de trans- No mesmo ano a FAB recebeu a se-
porte aéreo logístico, reabastecimento gunda unidade do vetor multimissão,
em voo (REVO), evacuação aeromédica, assim intitulado KC-390 Millennium.
busca e salvamento, ajuda humanitária Já a terceira e a quarta unidade foram
e combate a incêndio, dentre outras. incorporadas à FAB em 2020.
Sargento Bruno Batista / Agência Força Aérea

64 Edição Especial/2021 Aerovisão


Em 2006, concretiza-se o Programa ensaios, que teve início em agosto de
FX-2, que prevê a aquisição das aero- 2019, na Suécia. Após a preparação
naves de caça Gripen NG da empresa para o voo, realizada no aeroporto de
sueca SAAB. As atividades conjuntas Navegantes, o multimissão, decolou, no
iniciaram em 2014 com a assinatura do dia 24, de Navegantes (SC) para Gavião
contrato para o desenvolvimento e pro- Peixoto (SP). A aeronave ficará alocada
dução das aeronaves Gripen E/F para no Centro de Ensaios em Voo do Gri-
a FAB, incluindo sistemas embarcados, pen (GFTC, do inglês Gripen Flight Test
suporte e equipamentos. As plataformas Center), uma estrutura construída para
são desenvolvidas e produzidas com a a transferência de tecnologia, suporte e
participação de técnicos e engenheiros atualizações no ciclo de vida da plata-
brasileiros. Essa integração faz parte da forma na FAB. O objetivo é que o GFTC
transferência tecnológica e visa a propor- possa apoiar, nas áreas de engenharia,
cionar o conhecimento necessário para a trabalhos de ensaios e testes, integra-
continuidade das atividades no Brasil. ção e modernizações, além de atuar
Em setembro de 2020, a primeira ae- no desenvolvimento de softwares de
ronave multimissão F-39E Gripen tocou evoluções do projeto.
o solo brasileiro. Transportada em um na- O Ministro da Defesa, Fernando
Sargento Johnson Barros / Agência Força Aérea

vio, de Norrköping, na Suécia, a aeronave Azevedo e Silva, destacou a importância


desembarcou no Porto de Navegantes, do compartilhamento de experiências
em Santa Catarina (SC), local onde foi por meio da cooperação entre Brasil e
feita a preparação para o primeiro voo Suécia. “O Gripen aumenta a capacidade
em espaço aéreo brasileiro. operacional da Força Aérea Brasileira e
Este F-39E Gripen é uma unidade impulsiona uma parceria que fomenta a
de testes equipada com instrumentos pesquisa e o desenvolvimento industrial
para a continuidade da campanha de dos dois países”, declarou o Ministro.

A primeira aeronave
multimissão F-39E Gripen
tocou o solo brasileiro, em
setembro de 2020

Sargento Bianca Viol / Agência Força Aérea

O maior avião militar desen-


volvido e fabricado no Hemis-
fério Sul, tem capacidade de
realizar múltiplas missões

Aerovisão Edição Especial/2021 65


Sargento Johnson Barros / Agência Força Aérea
DÉCADA DE 2010

O Poder Aeroespacial
O Brasil e a Força Aérea Brasilei- satélite, está o Comando de Operações lançadores não militares, compondo
ra deram mais um passo histórico: Aeroespaciais (COMAE), por intermé- os meios disponíveis do Centro Es-
o primeiro Satélite Geoestacionário dio do seu Centro de Operações Espa- pacial de Alcântara (CEA), que já se
Brasileiro de Defesa e Comunicações ciais (COPE), uma estrutura localizada apresenta como um dos principais do
Estratégicas (SGDC), foi lançado ao em Brasília (DF) e ativada pela FAB, Hemisfério Sul.
espaço no dia 4 de maio de 2017. em 23 de junho de 2020. Construído Em fevereiro de 2020, após apro-
A partir daí, o país passou a contar para servir como centro de controle vação pelo Congresso Nacional, foi
com um programa capaz de fornecer do SGDC e com a possibilidade de promulgado o decreto legislativo que
conexão de Internet banda larga de controlar diversos satélites geoestacio- oficializou o Acordo de Salvaguardas
alta velocidade em 100% do território nários e de baixa órbita, as instalações Tecnológicas (AST) entre os governos
nacional, beneficiando a comunicação do COPE foram projetadas com alto brasileiro e norte-americano. O AST
no setor de Defesa e para a sociedade nível de segurança e disponibilidade assegura a proteção de tecnologias
de modo geral. de rede, tornando-se referência pela norte-americanas utilizadas em com-
Desenvolvido pela empresa fran- complexidade e modernidade. ponentes embarcados em foguetes e
cesa Thales Alenia Space, que assinou Provendo serviços com aplicação satélites, não bélicos, que serão lança-
um contrato com a Visiona (uma join- civil e militar e atuando com plena dos do CEA.
tventure formada pela Embraer e pela confiabilidade, o COPE tem capacida- A exploração de operações de
estatal Telebras), o SGDC tem uso dual, de de operação continuada nos mais lançadores não militares empregando
ou seja, civil e militar. De um lado, diversos cenários. O COPE é fruto da o CEA é um novo passo e será funda-
utilizando a banda Ka, que possibilita linha diretiva do Programa Estratégico mental para o desenvolvimento do Pro-
acesso à conexão de banda larga em de Sistemas Espaciais (PESE). grama Espacial Brasileiro e a inserção
todos os locais do País. De outro, a A Força Aérea Brasileira tem sido do País no mercado espacial global. De
partir da banda X, é possível tramitar uma das protagonistas do Setor Espa- acordo com o Ministério da Ciência e
informações afetas às áreas de defesa cial no País. Conhecido como a Janela Tecnologia, atualmente, o mercado es-
e governamental. Brasileira para o Espaço, o Centro de pacial como um todo movimenta cerca
Com o SGDC, a FAB entra definiti- Lançamento de Alcântara (CLA), no de US$ 360 bilhões por ano. A expecta-
vamente na era do espaço. Cabe à Ins- Maranhão, pode tornar-se ainda mais tiva é de que o Brasil possa atrair, pelo
tituição a responsabilidade por operar relevante com seus bens e serviços menos, uma pequena parte do volume
e monitorar o SGDC. No controle do sendo empregados em operações com de negócios deste mercado bilionário.

66 Edição Especial/2021 Aerovisão


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Seu sorriso garantido
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Rede credenciada com mais de 28 mil profissionais
em todo o país

Quem pode: militares e pensionistas das Forças


Armadas e, como dependentes, seus familiares¹

1 Obedecido o grau de parentesco estabelecido pelo plano


Sujeito a alteração sem aviso prévio
Consulte as normas e condições vigentes

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Aerovisão Edição Especial/2021 67

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