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TECNOLOGIA
BRASIL · ANO 30 · Nº 349 · R$ 25,00 · € 4.00
PILOTAGEM E
60 ANOS
A TRAJETÓRIA DA
INTELIGÊNCIA
ARTIFICIAL
NEGÓCIOS
AGRISHOW
EBACE
HELI XP
SEGUNDA
GUERRA
OS AVIADORES DA FAB
QUE SE TORNARAM
PRISIONEIROS
CAÇA BRASILEIRO?
AS DÚVIDAS EM TORNO DA
TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA
DO PROGRAMA GRIPEN
CLUBE DE REVISTAS
O cartão de crédito
para quem ama vinho
3ULRULGDGHGHFRPSUDHƁODH[FOXVLYD
em eventos do mundo do vinho
E MUITO MAIS…
TRANSFERÊNCIA
DE TECNOLOGIA
AERO MAGAZINE
BRASIL · ANO 30 · Nº 349 · 2023
A promessa de transferência de tecnologia se mostrou um argumento
decisivo na escolha do novo avião de combate da Força Aérea Brasileira no DIREÇÃO
Publisher
âmbito do Projeto F-X2. Segundo se divulgou, a participação da indústria Christian Burgos - christian@innereditora.com.br
nacional no desenvolvimento do F-39 Gripen E/F criaria condições para Diretora de Operações
Christiane Burgos - christiane@innereditora.com.br
que o país pudesse conceber seu próprio caça em um futuro próximo, além
REDAÇÃO
de participar da eventual criação de um modelo de quinta geração em REVISTA
Editor-chefe
parceria com a Suécia. A inauguração da linha de montagem do Gripen na Giuliano Agmont - giuliano@aeromagazine.com.br
unidade de Gavião Peixoto da Embraer, no interior de São Paulo, aponta DIGITAL
para esse caminho, mas ainda há dúvidas em relação ao que resultará, Editor
Edmundo Ubiratan - edmundo@aeromagazine.com.br
de fato, do vultuoso acordo firmado com a Saab. Ouvimos alguns dos Colaboradores
principais executivos da empresa sueca, assim como analistas de mercado Eduardo Teixeira Farah, Francisco Costa, Rodrigo Duarte
e Teomar Benito Ceretta
e fabricantes brasileiros, e detalhamos o que já existe de concreto no
ARTE
processo de transferência de tecnologia do Programa Gripen Brasileiro. Diretor de Arte
Ricardo Torquetto - ricardo@innereditora.com.br
Ainda nesta edição, preparamos uma reportagem especial sobre os 60
PUBLICIDADE / ADVERTISING
anos de uma das principais famílias de aviação de negócios do mundo, publicidade@innereditora.com.br
+55 (11) 3876-8200 – ramal 11
a francesa Dassault Falcon Jet, do Groupe Dassault, cuja história se
Representante Comercial Brasil e América Latina
confunde com o surgimento e a evolução do transporte aéreo executivo Teresa Rebelo – teresarebelo.inner@gmail.com
Para quem tem um avião, preparamos um artigo sobre a atualização ASSESSORIA JURÍDICA
Machado Rodante Advocacia
de painel, com dicas para quem quer adaptar soluções digitais no cockpit. www.machadorodante.com.br
Para pilotos, temos duas publicações especiais. Uma trata da relação AERO Magazine é uma publicação
mensal da INNER Editora Ltda.
da inteligência artificial na carreira de tripulantes de aeronaves. A outra
fala das mudanças no mercado norte-americano. Os salários pagos por www.aeromagazine.com.br
companhias aéreas estão subindo nos Estados Unidos, uma oportunidade A Inner Editora não se responsabiliza por opiniões,
ideias e conceitos emitidos nos textos publicados e
para comandantes e copilotos brasileiros. assinados na revista AERO Magazine, por serem de
inteira responsabilidade de seu(s) autor(es).
Bom voo,
SEGURANÇA E EFICIÊNCIA
SÃO NOSSAS PRIORIDADES
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CLUBE DE REVISTAS
28
SUMÁRIO
18
36
50 EBACE
18 AVIAÇÃO MILITAR
Europa sedia lançamento do
Saab e Embraer inauguram linha de
novo jato da Cessna
produção do Gripen no Brasil
36 INDÚSTRIA 60 HELI XP
62 66
62 ARTIGO
A inteligência artificial e
o trabalho das tripulações
SEÇÕES
08 NA REDE
66 AVIAÇÃO REGULAR
14 C UR IOS IDAD ES
Empresas aéreas dos EUA
sobem salários de pilotos 82 A EROC LI CK
72 HISTÓRIA
A tradição das principais casas reais sozinho deu a ele, e de fato a todos os
europeias prevê que os príncipes sirvam outros monarcas que já voaram, uma
às forças armadas. Com o então príncipe grande satisfação e provavelmente é
Charles, não foi diferente. Logo ao por isso que eles adoram voar”, disse Sir
atingir a maioridade, ele dedicou parte Richard Johns, um dos instrutores de
do seu tempo à vida militar, ingressando Charles. Após obter licença de piloto,
tanto na Real Força Aérea (RAF na em 1971, Charles ingressou na carreira
sigla em inglês) como na Marinha Real naval e se matriculou em um curso de
(Royal Navy). Seu primeiro contato seis semanas no Royal Naval College
militar ocorreu na RAF, onde ingressou Dartmouth. Durante o período de
enquanto estudava na universidade 1972 e 1973, serviu no destroier HMS fez carreira militar, da mesma forma que
de Cambridge, em 1970. Depois de Norfolk e nas fragatas da classe HMS os filhos do Rei Charles III, os príncipes
cursar aulas teóricas, passou a voar no Minerva, sendo designado para o HMS William e Harry, que seguiram a carreira
avião de treinamento primário Royal Júpiter um ano depois. Na Marinha Real, de piloto militar. O príncipe Harry atuou
Chipmunk, o mesmo usado na instrução obteve a licença de piloto de helicópteros como piloto de helicóptero em combates
de seu pai, o príncipe Philip. O avião foi no RNAS Yeovilton e posteriormente reais no Afeganistão. Em declaração
modificado, ganhando uma luz vermelha ingressou no 845 Naval Air Squadron, recente, o monarca afirmou que foi
no topo, em referência à sua versão real. passando a voar o Westland Wessex a responsável por diversos ataques contra
Na sequência, Charles passou a pilotar partir do porta-aviões HMS Hermes. membros do talibã. A rainha Elizabeth
o Basset CC1, onde registrou mais 90 Por fim, já em 1976, comandou por II, que morreu em 2022, após 70 anos de
horas de voo antes de ser transferido dez meses o navio caça-minas HMS reinado, também teve carreira militar. A
para o curso de treinamento completo Bronington. O interesse pela aviação vem mais longeva monarca do Reino Unido
de jato, voando os BAC Jet Provost. “Ele de pai para filho na família real britânica. foi motorista e mecânica de veículos
era dono de seu próprio destino. Voar O príncipe Philip também era piloto e durante a Segunda Guerra Mundial.
PF MODERNIZA
SEUS CARAVAN
Dois Cessna Grand Caravan 208B
da Polícia Federal passaram por um
processo de modernização (retrofit)
no centro de serviços da TAM Aviação
Executiva, no interior de São Paulo.
Fabricadas em 2001, as aeronaves
UM SÓ PILOTO passaram a ter a mesma tecnologia
SOB NOVA
dos modelos mais atuais, equipadas
Tim Clark, presidente da Emirates Airline, com o Sistema G1000 NXi, da Garmin. DIREÇÃO
disse a um canal de TV norte-americano que Foram instalados sistemas digitais
aviões comerciais voando com um só piloto são A Associação Brasileira
sensíveis ao toque (touchscreen), que
uma possibilidade à medida que a indústria da das Empresas Aéreas
deram as mesmas características e uma
aviação abraça a inteligência artificial. Ainda (Abear) mudou a
aparência muito próxima ao chamado
assim, o executivo acredita que a ideia poderá presidência após onze
painel digital, o glass cockpit, além de
levar algum tempo para se concretizar, mas não anos, com o executivo
várias outras atualizações tecnológicas.
é necessariamente o que os passageiros querem. Eduardo Sanovicz
Com isso, será possível efetuar ligações
Para ele, o setor deverá avaliar a diferença que a deixando o cargo de
telefônicas, mensagens de texto e
Inteligência Artificial poderá fazer nos negócios. presidente e assumindo
receber informações meteorológicas via
No início do ano, um relatorio da agência de a presidência
satélite. Além disso, os aviões receberam
aviação europeia (Easa) previu que os primeiros executiva do Conselho
um novo sistema de ar condicionado e
voos comerciais com apenas um piloto estariam Deliberativo da
pintura completa.
descartados, ao menos, até 2030. Mas, os planos entidade, enquanto
podem sair do papel antes do previsto. O sinal verde Jurema Monteiro, atual
para as primeiras operações single-pilot na aviação diretora de relações
comercial pode acontecer em 2027, porém, de institucionais e que
forma limitada ao momento que a aeronave estiver atua na entidade desde
em altitude de cruzeiro. Nas fases críticas, como 2015, tornou-se a nova
a decolagem e o pouso, a presença de dois pilotos presidente.
seria mantida.
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CLUBE DE REVISTAS
NÚMEROS PRÉ-PANDEMIA
MAIS OFERTA... transportado 2,2 milhões. No segmento
A oferta de assentos em voos domésticos no Brasil medida por internacional, foram transportados 1,6
assentos-quilômetros ofertados (ASK) em março último superou em milhão de passageiros, o que representa
1% os níveis registrados em 2019, ano pré-crise sanitária, enquanto 79,8% do fluxo de 2019. Na comparação
na comparação com mesmo mês um ano antes, o crescimento foi com o mesmo período um ano antes, o
de 9,5%, segundo dados da Agência Nacional de Aviação Civil aumento foi de 53%. A procura (RPK)
(ANAC). A demanda medida por passageirosquilômetros pagos por voos para o exterior cresceu 44,5%
transportados (RPK) aumentou 8,8% em relação a março do na comparação anual, e representa 85,3%
ano passado. A taxa de ocupação média das aeronaves em voos do registrado antes da crise sanitária, enquanto
nacionais foi de 78,9%. Em março, foram transportados 7,4 milhões a capacidade (ASK) teve alta de 36,4%, resultando em uma taxa de
de passageiros, alta de 15,5% frente um ano antes. Os números aproveitamento de 83,5%. Já o transporte de carga aérea no país
representam 96% do fluxo de viajantes de março de 2019. Entre embarcou 38 mil toneladas, superando em 5,1% o volume registrado
as companhias aéreas, a Latam liderou o mercado com 35,6% de em março de 2019. No mercado internacional, foram movimentadas
participação e 2,6 milhões de pessoas transportadas, seguida pela Gol cerca de 70 mil toneladas, 14,8% a mais do que no mesmo período
com 32,9% e 2,4 milhões de passageiros, e Azul com 30,5%, tendo quatro anos antes.
...E MAIS PROCURA anos atrás, segundo dados divulgados pela Associação Internacional
A procura global por viagens aéreas medida em passageiros- de Transporte Aéreo (IATA, na sigla em inglês). Com a chegada da
quilômetro transportados (RPK) apresentou crescimento 52,4% no alta temporada de verão no Hemisfério Norte, as vendas de passagens
mês março em relação ao mesmo período de 2019, ano pré-crise continuarão apresentando forte crescimento, consolidando a
sanitária. Já a oferta medida em assentosquilômetros oferecidos retomada do setor. “O primeiro trimestre do ano terminou com forte
(ASK) aumentou 41,9% na demanda por viagens aéreas. Há meses, os mercados domésticos estão
comparação anual. A taxa de próximos dos níveis pré-pandemia. E nas viagens internacionais, dois
ocupação média nas aeronaves aspectos principais foram superados. Primeiro, a demanda aumentou
a nível mundial foi de 80,7%, 3,5 pontos percentuais em relação ao crescimento do mês anterior,
aumento de 5,9 pontos percentuais. atingindo 81,6% dos níveis pré-covid”, disse Willie Walsh, diretor geral
A crescente demanda por voos da IATA. O segmento cargueiro global registrou queda de 7,7% em
domésticos e internacionais atingiu março frente um ano antes. A capacidade cresceu 9,9%, resultando
88% dos níveis registrados quatro em uma taxa de aproveitamento nas aeronaves de 46,2%, queda de 8,8
pontos percentuais.
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NA REDE CLUBE DE REVISTAS
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CLUBE DE REVISTAS
NA REDE CLUBE DE REVISTAS
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CLUBE DE REVISTAS
CURIOSIDADES CLUBE DE REVISTAS
RETRATO
AÉREO
POR | EDMUNDO UBIRATAN
A Boeing tem uma praça para seus aviões em Oshkosh, com uma bela vista aérea
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A Panair fez um ensaio em voo com seu Douglas DC-7 sobre o Rio de Janeiro
Histórica foto do Boeing 314 da Pan American sobre a então Protótipo do Concorde sobrevoa os arredores da Torre Eiffel
recém-inaugurada Golden Gate, em San Francisco
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CLUBE DE REVISTAS
O pouco conhecido Douglas DC-5 em voo publicitário sobre a Um Boeing 747 da Japan Airlines usa o Monte Fuji para promover o Japao
cidade de Nova York
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AV I AÇ ÃO M I L ITA R CLUBE DE REVISTAS
LINHA DE
MONTAGEM
NO BRASIL
Saab e Embraer inauguram as
instalações onde vão produzir
em conjunto os novos caças da
FAB e impulsionam o processo
de transferência de tecnologia da
Suécia para o Brasil no âmbito do
programa F-39 Gripen E/F
POR | G IU L I A NO AGMO NT, D E GAV I ÃO P E I XOTO
CLUBE DE REVISTAS
CLUBE DE REVISTAS
O
programa de potencialmente, para outras nível de autonomia para que
transferência regiões”, disse o executivo os parceiros brasileiros desen-
de tecnologia durante o evento. Com parti- volvam novas funcionalidades
previsto no cipação discreta do presidente e implementem atualizações,
contrato de Luís Inácio Lula da Silva, que graças à transferência de tec-
compra dos novos aviões nem sequer discursou, o ceri- nologia e ao estabelecimento
de combate da Força Aérea monial teve a presença de um de ativos de desenvolvimento,
Brasileira cumpre um ciclo dos Gripen já operados pela teste e produção no país. A
estratégico com a inauguração FAB e aconteceu no mesmo prova mais importante disso
de uma linha de montagem dia em que mais duas unida- é a fábrica da Embraer em
exclusiva para os F-39 Gripen des do caça sueco chegaram Gavião Peixoto, com o Centro
nas instalações da Embraer à base aérea de Anápolis, em de Projetos e Desenvolvimento
em Gavião Peixoto, no interior Goiás, que passou a operar do Gripen (GDDN), o Centro
de São Paulo. Nas palavras uma frota de seis F-39. de Ensaios em Voo do Gripen
do presidente e CEO da Saab, De acordo com o vice- (GFTC) e, agora, a linha de
Micael Johansson, a empresa -presidente sênior e diretor de produção final. O local abriga
vai montar no local 15 das Marketing e Vendas da área de os estágios de desenvolvimento,
36 aeronaves adquiridas pela negócios Aeronautics da Saab, produção e testes da aeronave.
FAB. “Além da transferên- Mikael Franzén, o programa Também produzimos aeroes-
cia de tecnologia, o objetivo de transferência tecnológica truturas e temos capacidade de
também é produzir em Gavião dará à indústria aeroespacial manutenção em nossa fábrica
Peixoto quaisquer pedidos brasileira condições de pro- em São Bernardo do Campo”,
futuros de Gripen para o duzir um caça supersônico, se argumenta o executivo.
Brasil, bem como de outros assim o país desejar. “A criação Mikael Franzén acrescenta,
países. Queremos que o Brasil do programa de cooperação ainda, que, no Brasil, o Depar-
se torne um centro de expor- industrial teve como objetivo tamento de Ciência e Tecno-
tação para a América Latina e, proporcionar ao Brasil um logia Aeroespacial (DCTA),
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O Programa Gripen Bra- tores) e segredos industriais, em Gavião Peixoto que estão Linha de montagem
sileiro envolve as principais mas o processo vem garan- as principais instalações do de Gavião Peixoto
vai produzir 15 caças
empresas aeroespaciais do tindo avanços tecnológicos à Gripen no Brasil:
Gripen para a FAB
país, incluindo Embraer, AEL indústria brasileira. Listamos com previsão de
Sistemas, Atech, Akaer e Saab os principais participantes da • CENTRO DE PROJETOS entrega da primeira
do Brasil. Conta também com produção dos novos Gripen. E DESENVOLVIMENTO DO unidade em 2025
a participação dos institutos GRIPEN - GDDN
técnicos da Aeronáutica do EMBRAER É um centro de engenharia
DCTA de São José dos Cam- A Embraer Defesa e Seguran- considerado o hub de trans-
pos. As empresas evitam de ça tem um papel de liderança ferência de tecnologia do
falar de questões mais técnicas como parceira estratégica Gripen no Brasil e tem como
de contratos de transferência no Programa Gripen. Como principal missão o desenvol-
de tecnologia, como patentes parte do plano de transferên- vimento e testes de software e
de invenções, patentes de cia de tecnologia, a indústria hardware do Gripen no Brasil.
modelos de utilidades, dese- brasileira tem uma importante Dispõe de mais de 100 enge-
nhos industriais, programas atuação no desenvolvimento, nheiros, na sua grande maio-
de computador (softwares), ensaios em voo e agora na ria brasileiros, que executam
circuitos integrados (topogra- montagem final das aerona- os pacotes de trabalho relacio-
fia de produtos semicondu- ves. É na planta da Embraer nados ao desenvolvimento do
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Gripen E/F em áreas como sis- de avaliar o desempenho da (HUD), bem como do sistema
temas veiculares, engenharia aeronave no clima tropical. de enlace de dados (datalink).
aeronáutica, projeto de estru- Estão sendo testadas também As capacidades da AEL foram
turas, instalação e integração no país características únicas aprimoradas pelo programa
de sistemas, aviônica, interface das aeronaves brasileiras, de transferência de tecnologia
homem-máquina, integração como os armamentos esco- para desenvolver e produzir
de armamentos e comuni- lhidos pela FAB, sistemas e esses sistemas no Brasil. A
cações. Segundo a Saab, o sensores táticos e o sistema de empresa se tornou fornecedo-
GDDN nasceu com a missão comunicação Link BR2 – que ra global da Saab para equipar
de ser o eixo central para o fornece dados criptografados não apenas os caças brasilei-
desenvolvimento colaborativo e comunicação de voz entre as ros, mas também os suecos,
do caça do Brasil. Para isso, aeronaves. e as versões de fábrica para
garante a empresa, o ambiente outras nações. Além disso, a
está conectado de maneira • LINHA DE PRODUÇÃO DE AEL recebeu transferência de
segura à Saab na Suécia e aos MONTAGEM FINAL tecnologia em manutenção
parceiros industriais no Brasil, A nova linha de produção de aviônicos para o Gripen
assegurando transferência de ocupa um hangar dedicado brasileiro e outros clientes
tecnologia e desenvolvimento exclusivamente para essa potenciais.
eficientes, com segurança de atividade e será conduzida
dados e informações. O local por funcionários da Embraer ATECH
contempla simuladores neces- capacitados pela Saab em Empresa do Grupo Embraer,
sários para o desenvolvimento Linköping, na Suécia. No é um player relevante na área
dos caças no Brasil. total, 15 aeronaves Gripen E de simuladores e sistemas de
serão montadas no Brasil e controle de tráfego aéreo. No
• CENTRO DE ENSAIOS EM as primeiras unidades devem programa Gripen, participa do
VOO DO GRIPEN - GFTC deixar a linha de montagem desenvolvimento do simula-
Visa construir os procedi- em 2025. Além destes, no dor de voo (Mission Trainer),
mentos e a capacidade de futuro, tendo demanda, tam- sistemas de suporte em solo
testar novos recursos durante bém deverão ser montados para planejamento e debriefing
a trajetória do Gripen na os exemplares de possíveis de missões, produção de da-
Força Aérea Brasileira (FAB). novas encomendas da FAB e dos geo-referenciados e todo
Inaugurado em 2020 com a de compras feitas do Gripen E o pacote logístico relacionado.
chegada do primeiro Gripen por países da América Latina. A empresa foi capacitada para
ao Brasil, o centro conta com A nova linha de montagem fornecer serviços de manu-
uma estrutura para coletar abre portas para tornar o país tenção destes dispositivos ao
em tempo real as informações um centro de produção de longo da operação dos caças
de telemetria dos voos, de aeronaves de caça. Gripen na FAB.
maneira criptografada, para
que os dados sejam analisados AEL SISTEMAS AKAER
por pilotos, técnicos e enge- Trata-se da principal forne- Localizada em São José dos
nheiros brasileiros e suecos cedora dos displays de cabine Campos, a empresa teve um
envolvidos na campanha de táticos para Gripen, o Wide papel relevante no desenvol-
ensaios realizada pelo Brasil Area Display (WAD) ou vimento, projeto de instala-
e pela Suécia. As atividades display panorâmico, o Hel- ção, análise de engenharia e
no Brasil incluem testes de met-Mounted Display (HMD) industrialização da estrutura
sistemas de controle de voo ou display montado no do Gripen. Iniciou sua parti-
e sistemas climáticos, além capacete e o Head-up Display cipação no programa Gripen
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CLUBE DE REVISTAS
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M I N H A A E R EO N AV E CLUBE DE REVISTAS
CLUBE DE REVISTAS
UPGRADE
NO SEU PAINEL
As opções de aviônicos dedicados à aviação leve para quem
quer atualizar o cockpit de sua máquina
P OR | FRANCISCO AUGUSTO COSTA*, ESPECIAL PA RA AERO MAGAZINE
N
o longínquo ano dispositivos móveis), fez com
de 1999, o Cirrus que a adoção dos chamados
SR20 se tornou o glass cockpits em aeronaves da
primeiro mo- aviação geral se tornasse, nos
delo certificado dias atuais, não exceção, mas,
segundo os requisitos da regu- sim, regra.
lamentação norte-americana Nos últimos anos, inúme-
para aeronaves leves (FAR ros fabricantes de aviônicos
23) a ser equipado de série desenvolveram produtos
com uma tela multifuncional, capazes de disponibilizar –
ou Multi-Function Display não apenas para aeronaves
(MFD). Desde então, quase leves novas, mas também
um quarto de século depois, a na forma de retrofits para
expansão e o amplo emprego aeronaves certificadas ou até
dos satélites como meios pri- mesmo para aeronaves leves
mários de navegação, inclusive avançadas – recursos similares
na aviação leve, a evolução na aos empregados nas aeronaves
tecnologia de construção de comerciais e em grandes jatos
displays, a maior confiabilida- de negócios: as aeronaves leves
de dos componentes utili- passaram a ser equipadas com
zados na aviação leve como painéis em que instrumentos
um todo e a virtual criação analógicos cedem lugar a
e popularização de soluções displays que apresentam infor-
inexistentes até então, a preços mações em telas digitais, com
acessíveis (como aplicativos e mais diversidade, qualidade e
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Figura 1:
Substituição da
configuração 6-pack
pelo Primary Flight
Display
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CLUBE DE REVISTAS
Figura 5:
Modernização de um King Air
C-90 com o Garmin G600 TXI
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BENDIX KING cer fácil interface com naviga- AeroNav também conta com
Assim como a Garmin, a tors de fabricantes concorren- interface por toque, capaci-
tradicional fabricante Bendix tes, como Garmin e Avidyne. dade de recepção de satélite
King também disponibiliza Ao instalar duas telas da linha e sintonização de rádios de
uma linha de entrada para AeroVue Touch, a aeronave comunicação e navegação.
pequenos monomotores cer- passa a contar com um glass
tificados (AeroVue Touch) ou cockpit completo, com PFD e OUTROS FABRICANTES
mesmo para as aeronaves le- MFD dedicados. A despeito da concorrência de
ves esportivas (xVue Touch). Assim como a Garmin, grandes players como Garmin,
Como o próprio nome diz, displays dedicados ao moni- Bendix King e Avidyne, outros
estes displays oferecem inter- toramento dos parâmetros do fabricantes têm se destacado na
face por toque, e suas telas de motor também são disponi- qualidade de produtos com a
10.1 polegadas podem exercer, bilizados pela Bendix King. atuação em nichos específicos.
simultaneamente, a função de Caso a opção seja pela insta- A Dynon Avionics, que tem na
PFD e de MFD, além de ofere- lação de navigators, a linha aviação desportiva e experi-
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CLUBE DE REVISTAS
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CLUBE DE REVISTAS
dimentos antigos como NDB não podem ser utilizadas, sen- planejo fazer com minha
e VOR, por diversos motivos: do mandatória a instalação de aeronave?
confiabilidade, facilidade de equipamentos que suportem • Em relação aos custos
navegação, necessidade de não essa capacidade, notadamente de manutenção de uma
depender somente de uma o transponder modo S. aviônica antiga, quão caro
estação emissora, sendo su- As opções para o upgrade é o upgrade?
portado por uma constelação de aviônicos em aeronaves • Qual é o valor que esse
de satélites. Não seria exagero leves são inúmeras e atendem retrofit pode adicionar à
dizer que em um futuro bem também a orçamentos de pos- minha aeronave em uma
breve o voo IFR se resumirá, sibilidades diversas. Partindo negociação futura?
em termos práticos, à navega- da substituição dos instru-
ção por satélite complementa- mentos analógicos por digitais Uma reflexão honesta
da por procedimentos-rádio (mantendo o formato 6-pack) sobre esses aspectos permite
de precisão (ILS). Por fim, um e indo até os full glass cockpits concluir que a decisão sobre o
outro motivo a favor destes com aviônica integrada, um upgrade dos aviônicos de uma
upgrades tecnológicos está na proprietário de aeronave deve aeronave não se baseia na per-
manutenção de valor da aero- considerar, dentre outros, os gunta de se devo modernizar,
nave em si. Hoje em dia, por seguintes fatores: mas quando essa moderniza-
exemplo, é mandatório que ção deverá ser feita.
aeronaves que voam na quase • A aviônica que eu tenho
totalidade do espaço aéreo hoje, ou que eu pretendo * Francisco Augusto Costa é
norte-americano tenha capa- instalar, atende a prováveis piloto de A320 e mestre em
cidade ADS-B out. Portanto, novidade regulatórias? Transporte Aéreo e Aeropor-
aeronaves que não tenham • Qual é o impacto da obso- tos pelo Instituto Tecnológico
essa capacidade simplesmente lescência nas missões que de Aeronáutica.
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INDÚSTRIA CLUBE DE REVISTAS
SEIS DÉCADAS
DE VOOS
EXECUTIVOS
Dassault Falcon completa 60 anos de existência
com uma trajetória que se confunde com o surgimento
e a evolução do mercado de aviação de negócios
POR | EDMUNDO UBIRATAN
CLUBE DE REVISTAS
CLUBE DE REVISTAS
A
Dassault Falcon
completa seis dé-
cadas de atuação
no competitivo
e tecnológico
mercado de aviões de negó-
cios. Quando a marca in-
gressou neste segmento, em
1963, com o Mystère-Falcon
20, o Ocidente assistia a uma
rápida evolução na demanda
por aeronaves privadas. Nos
Estados Unidos, havia quase
duas décadas que os aviões a
pistão de pequeno porte eram
um sucesso entre o público,
mas existia, na época, uma
nova necessidade para aten-
der ao crescente número de
executivos e personalidades,
sobretudo músicos de sucesso,
que necessitavam se deslocar
rapidamente entre diversos
pares de cidade. A Lockheed
havia lançado anos antes o
JetStar, e diversos fabricantes Serge Dassault,
miravam neste mercado, como apresentou o Bloch MB.81, PÓS-GUERRA Block MB 220 (no
a britânica de Haviland, a no- um elegante avião militar No pós-guerra, após reestrutu- alto), em 1936, e
vata Lear Jet, entre outros. A destinado ao uso como ambu- rar sua empresa e até mesmo a Flamant, em 1947
então Avions Marcel Dassault lância aérea. O pequeno avião vida pessoal, Marcel Dassault
estava focada em aeronaves já trazia inovações bastante focou seus esforços na tecno-
militares de alto desempenho, audaciosas, como um com- logia de propulsão a jato com
com destaque para os Mirage partimento para o transporte fins militares. Embora tenha
III e a família Étendard. de um paciente, um cockpit tido sucesso com seus modelos
O engenheiro e industrial aberto, com para-brisa aero- comerciais, sobretudo com o
francês, nascido Marcel Ferdi- dinâmico, um bom equilíbrio SE.161 Languedoc, desenhado
nand Bloch, que se envolveu dinâmico e assim por diante. por Dassault e produzido pela
com a aviação logo em seus O avião entrou em serviço em Sud-Est (SNCASE), que entre
primórdios, destacando-se 1935, tendo sido produzido 21 1945 e 1948 atingiu a marca
por sua visão não apenas de unidades, um marco expres- de cem aviões produzidos, a
engenharia, mas também de sivo para aqueles tempos, situação política da França
negócios. Em 1928, criou a ainda mais considerando ser favorecia o segmento militar.
Société des Avions Marcel um projeto destinado a uma Naquele período, a França ha-
Bloch, que dois anos depois missão inusual. via estabelecido uma política
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de Estado de independência ções ocidentais ampliavam disse Marcel Dassault, em Com tecnologias
tecnológica, aportando gran- cada vez mais sua presença uma de suas mais lendárias derivadas de aviões
des volumes de dinheiro em longe de suas matrizes, exigin- frases. Embora gosto seja algo militares, o elegante
soluções domésticas em uma do deslocamentos constantes pessoal, os aviões da Dassault Mystère 20 marcou
época já com dois
ampla área de desenvolvimen- de executivos. O mundo do eram já famosos por suas motores montados
to, inclusive na aviação. entretenimento assistia ao sur- linhas harmoniosas e projetos na porção traseira
O sucesso das famílias de gimento de lendários nomes equilibrados. O governo fran- da fuselagem
caças Mystère, Étendard e da música e do cinema, todos cês havia recém-solicitado um
Mirage III havia colocado a necessitando se deslocar pelo estudo para o desenvolvimen-
Avions Marcel Dassault entre mundo de forma rápida e nem to de uma aeronave de ligação
os mais renomados e respei- sempre atendida pelas empre- e treinamento com propulsão
tados fabricantes de aviões do sas aéreas. Ainda que gigantes a jato, que tivesse capacidade
mundo. Nos primeiros anos como a Pan American World entre 8 e 10 pessoas. Os enge-
da década de 1960, o mundo Airways e a Trans World nheiros da Dassault passaram
fervilhava em tecnologia e Airways (TWA) tivesse vastas a avaliar um projeto de um
crescimento, assim como nas malhas aéreas internacionais, monoplano de asa baixa, com
disputas ideológicas entre o complementadas por mais aerodinâmica baseada no
bloco soviético e o Ocidente. de uma dezena de empresas caça-bombardeiro transônico
Tinha sido dada a largada nacionais nos Estados Uni- Mystère IV.
à corrida espacial, os testes dos, além de nomes europeus
nucleares estavam crescen- como Air France, Lufthansa, TRÊS LENDAS E UM AVIÃO
do mensalmente, as tensões BOAC e BEA, o transporte Seguindo uma tendência entre
entre os dois blocos levavam aéreo ainda estava longe de pequenos jatos civis da época,
ao desenvolvimento de aviões ser popular ou oferecer vastas o avião seria equipado com
militares cada vez mais sofisti- opções de rotas e horários. dois motores montados na
cados. Do outro lado, na vida “Para uma aeronave voar parte traseira da fuselagem, o
cotidiana, grandes corpora- bem, ela deve ser bonita”, que permitia uma asa bastante
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do Mystère 20 nos Estados inspecionar o novo jato e, Além dos motores, incluí- Da experiência com
Unidos. O destino havia somente depois de o aviador ram no projeto original uma o Mystère 20 vieram
novos projetos e o
reunido três lendas da aviação deixar a linha de montagem envergadura um metro maior, nome que eternizou
em torno de um único projeto, final, é que equipe de voo uma fuselagem alongada em a família de jatos
Marcel Dassault, Charles Lin- preparou a aeronave para a 48 centímetros e trem de pou- de negócios da
dbergh e Juan Trippe. decolagem. so principal e do nariz com Dassault, com
Os motores Pratt & Whit- duas rodas. destaque para o
JATO CERTIFICADO ney JT12A-8 de 3.300 libras- Os pilotos de teste logo Falcon 20
Pouco depois das 17 horas -força (lbf) acabaram não reportaram as boas qualidades
do dia 4 de maio de 1963, os atendendo aos requisitos em de voo do avião, que se tornou
pilotos de teste René Bigand e voo, sendo logo substituídos famoso por ter uma pilotagem
Jean Dilliare decolaram com pelos General Electric CF700, dócil aliada ao elevado desem-
Mystère 20, de registro F- de 4.125 libras-força. Ainda penho e à boa manobrabili-
-WLKB, para um voo inau- que o protótipo tenha sido dade. Uma das características
gural de uma hora. Segundo exibido no Paris Air Show mais marcantes é que o Falcon
relatos da própria Dassault, de 1963 com a configuração 20 não contava com stick
o voo ocorreu no final do dia inicial, ao longo do programa pusher ou dispositivos anties-
por causa da visita de Charles de ensaios em voo, uma série tol, visto seu comportamento
Lindbergh, que apareceu para de melhorias foi adicionada. de estol previsível. Além disso,
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alcance intercontinental na similar ao Falcon 20, mas com projeto. A Dassault utilizou
ordem de 3.700 milhas náuti- melhor aproveitamento do o projeto básico do Falcon
cas, o que atendia aos voos do espaço interno, sistemas de 50, mas com uma fuselagem
Atlântico Norte, e capacidade navegação e aviônicos avança- maior, com capacidade para
na ordem de oito passageiros, dos, entre outros. até 19 passageiros e melhorias
dentro do que hoje é defini- O primeiro protótipo aerodinâmicas no desenho das
do como a categoria super voou no dia 7 de novembro asas, e motores AlliedSignal
midsize. de 1976, com a certifica- TFE731, de 4.750 libras-força
Assim, a Dassault passou ção francesa ocorrendo em cada. O alcance máximo era
a trabalhar no Falcon 50. O fevereiro de 1979, seguia da de quatro mil milhas náuti-
Família Falcon, projeto previa o uso de três norte-americana em março. cas e velocidade de cruzeiro
projeto de um motores. A solução ampliava O Falcon 50 se tornou um dos de Mach 0.85. Além disso, o
supersônico e o
programa CATIA a potência disponível, sem mais bem-sucedidos aviões avião contou com maior uso
exigir grandes propulsores, e da categoria, sendo utilizado de materiais compostos, como
permitia aos projetistas man- inclusive no transporte de fibra de carbono e kevlar.
ter a disposição dos motores chefes de Estado, como no Porém, a maior inovação
na cauda. Ainda que o Jetstar caso de França, Itália, Portu- foi a Dassault ter ampliado
tivesse quatro motores no gal, Espanha, Jordânia, Líbia, ainda mais o uso de compu-
cone de cauda, além de outros Marrocos, para citar alguns. tação no desenvolvimento do
aviões, a potência exigida Falcon 900. O aprendizado
tornaria inviável o uso dessa PROJETOS mais tarde levaria à criação da
solução, visto que o Falcon 50 COMPUTADORIZADOS plataforma comercial CATIA,
exigia motores mais pesados A boa aceitação do Falcon 50 acrônimo de Computer-Aided
do que os da geração anterior e o crescimento do mercado Three-dimensional Interacti-
e o consumo específico seria de aviação de negócios leva- ve Application, uma suíte de
maior. Foi escolhido o turbo- ram à primeira grande corrida softwares que agrega desenho
fan Honeywell TFE 731, que do segmento. Assim, em 1983, assistido por computador
oferecia potência entre 3.500 e a Dassault anunciou no Paris (CAD), manufatura auxilia-
4.740 libras-força, dependen- Air Show o desenvolvimen- da por computador (CAM),
do da série. O avião tinha asas to do Falcon 900, que seria engenharia auxiliada por com-
enflechadas supercríticas, uma rival direto do Gulfstream IV, putador (CAE), modelagem
seção transversal da fuselagem que estava em fase inicial de 3D e gerenciamento de ciclo
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NOVIDADES NO
E B AC E
VELHO CONTINENTE
Principal feira de aviação de negócios da Europa
tem lançamento de jato da Cessna e estreia de
modelos que prometem mexer com o mercado
P OR | EDMUNDO UBIRATAN
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A
European Bu- sempre em outubro. Por sua emitidas pelo número de
siness Aviation vez, nos Estados Unidos é a pessoas transportadas. Se a
Convention & concretização de uma série análise se resumir a quilos de
Exhibition é o de disposições feitas meses emissões por passageiros, de
principal evento antes na Suíça, algumas com fato, a defesa da aviação de
de aviação de negócios na passagem pelo Brasil. negócios é complexa, mas, se
Europa e, anualmente, serve olharmos o impacto global da
como um termômetro para PRESSÃO POR operação, desde voos ponto a
o setor no Velho Continente. MENOS EMISSÕES ponto, redução de necessida-
Tradicionalmente ocorrendo Seguindo uma tendência na de de uso de outros modais
no segundo trimestre do ano, aviação há vários anos, os pai- para completar uma viagem,
a Ebace aconteceu este ano néis profissionais reforçaram entre outros, as aeronaves da
entre os dias 23 e 25 de maio o destaque das novas tecno- aviação não são exatamente
último, como sempre, em logias de sustentabilidade e um problema, sendo parte
Genebra, na Suíça. Além de oportunidades de negócios da solução. Basta pensar
apresentar as novidades do neste segmento. Há pelo a quantidade de recursos
mercado, em especial em ser- menos dez anos que o setor poupados em uma operação
viços e ciclos de conferências, aéreo como um todo debate em locais remotos, que nem
a Ebace traz alguns destaques formas de reduzir as questões sequer contam com infraes-
que serão realidade em breve, de emissões de poluentes e, trutura rodoviária. Alguns
incluindo lançamentos de simultaneamente, encontrar voos atendem a operações em
novas aeronaves. É interessan- um caminho para redução locais que, se fossem depen-
te notar a simbiose do evento dos custos operacionais. Este der de qualquer transporte
suíço com as feiras coirmãs ano, a Ebace abordou solu- terrestre, ou mesmo maríti-
NBAA-BACE, que ocorre nos ções para voos sustentáveis, mo, dependeriam da cons-
Estados Unidos, e Labace, na um tema caro para a aviação trução de complexas redes
América Latina. Usualmente, de negócios, visto que existe de suporte e infraestrutura, o
a Ebace inicia o ciclo anual da uma campanha, sobretudo na que geraria uma quantidade
aviação de negócios, consoli- Europa, para limitar o uso de brutal de emissões, fora o
dando tendências e novidades aviões particulares. uso de recursos para atender
feitas no final do ano anterior A alegação é a grande a um limitado número de
na NBAA-BACE, que ocorre quantidade de poluentes operações.
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ferencial será sua cabine ultra leve mais vendido do mundo quilômetros, com 75 passagei-
larga, superando até mesmo por 11 anos consecutivos. ros a bordo. Além disso, foram
a seção transversal maior que confirmados os pedidos para um
dos Embraer E-Jet, que deu AIRBUS ACJ220 BBJ MAX 7, derivado do 737
origem inclusive ao já retirado Entre os grandes aviões corpo- MAX 7, e dois BBJ 787-8.
de linha Lineage 1000. rativos a Airbus fez a estreia do Mesmo não sendo palco
ACJ TwoTwenty, derivado di- de uma série de lançamentos,
EMBRAER retamente do A220, que conta a Ebace confirmou a evolução
A Embraer, que desde a com uma ampla cabine de 73 do setor nos últimos meses e se
NBAA-BACE 2018, não lança metros quadrados e seis zonas, mostrou disposta a colaborar
nenhum avião completamen- a maior do segmento, aliado com as novas tecnologias que
te novo, vem consolidando a alcance intercontinental. O estão em desenvolvimento,
a posição de seus Praetor, a modelo deverá ser um substi- sobretudo no quesito ambiental.
evolução do programa Legacy tuto natural dos primeiros ACJ “Observamos em primeira mão
450/500, assim como manten- A319, oferecendo capacidade e os combustíveis, sistemas de
do a liderança global com o alcance compatíveis, mas com propulsão e tecnologias que le-
Phenom 300. Para a Ebace, a grande redução de consumo. varão ao voo carbono zero. Fo-
Embraer levou justamente o mos inspirados pelos pioneiros
trio para Genebra, valendo-se BOEING BBJ 777-9 do nosso setor que defendem o
principalmente do anúncio A Boeing também garantiu na trabalho em equipe e a inclusão.
recente da gigante NetJets para Suíça a primeira venda do BBJ A EBACE nos mostrou tudo
até 250 unidades do Praetor 777-9, com um acordo para o que é possível hoje e como
500, que, somado ao contrato quatro aviões. Os 777-9 são, nossa visão compartilhada mol-
de serviços e suporte, tem valor atualmente, os maiores aviões de dará o amanhã”, disse Ed Bolen,
superior aos cinco bilhões de negócios do mercado, com mais presidente e CEO da National
dólares. Além disso, o Phenom de 340 metros quadrados de área Business Aviation Association
300, mantém o status de jato e alcance estimado em até 20.418 (NBAA).
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AG R I S H OW CLUBE DE REVISTAS
ASAS PARA
O CAMPO
Principal evento brasileiro voltado ao agronegócio atrai
fabricantes de diferentes mercados, que expuseram desde
aviões de negócios e helicópteros até monomotores agrícolas
TEXTO E FOTO S | RODRIGO DUARTE, DE RIBEIRÃO PRETO, ESPECIAL PARA AERO MAGAZINE
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A
que podem destruir plantações
cidade de Ri- já vivenciou de perto esse inteiras. Os fazendeiros fazem
beirão Preto se grandioso evento, mas, ainda largamente o uso de máquinas
torna a capital do assim, impressionam a quan- desenvolvidas exclusivamente
agronegócio bra- tidade e o volume financeiro para realizar a pulverização
sileiro ao sediar de negócios gerados durante agrícola. Nesse mercado, dis-
o Agrishow, um evento anual poucos dias. Também não putavam a atenção do público
que recebe produtores rurais é novidade a íntima relação na feira o Embraer Ipanema e
de todos os lugares do Brasil e existente entre o agronegócio o Air Tractor AT-520B, repre-
do mundo. O objetivo da feira e a aviação de negócios. sentado no país pela AgSur.
é expandir ainda mais um Além de aviões, helicópteros
pujante mercado que produz PIB BRASILEIRO também vêm ocupando seu es-
alimentos não apenas para A aviação certamente contri- paço no setor e o aumento de
o mercado nacional, mas, bui diretamente para o suces- seu uso no segmento torna o
também, e principalmente, so obtido por esse segmento, equipamento parte integrante
em alguns casos, para grande que gera mais de 30% do pro- no cenário agrícola brasileiro.
parte da população global. duto interno bruto brasileiro, A prova disso tudo foi o
Cada um dos setores que pois consegue fornecer aos movimento intenso de aero-
compõem esse ecossistema, seus usuários rápido desloca- naves no aeroporto de Ribei-
o chamado “agribusiness”, via- mento em grandes distâncias, rão Preto, administrado pela
jou até o interior de São Paulo partindo e chegando a locais Rede VOA, como também
na primeira semana de maio que não são atendidos pela o movimento no Helicentro
e garantiu uma ocupação de aviação comercial. Ribeirão Preto e no heliponto
100% da capacidade hoteleira Juntos, a aviação e o da própria Agrishow. Aviões e
da região, esgotada já com agronegócio se completam de helicópteros voaram de manei-
muitos meses de maneira indelével. Mais que o ra constante, quase sem cessar,
antecedência. transporte de pessoas puro e durante todos os dias.
Tamanho movimento simples, as aeronaves também É notório que existe um
não é novidade para quem operam no combate a pragas, grande gargalo para a chegada
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HELI XP CLUBE DE REVISTAS
PÚBLICO
RECORDE
Principal evento da América Latina
dedicado exclusivamente ao mercado
de helicópteros tem aumento no
número de visitantes, expositores
e voos de demonstração
A
quarta edição da
Heli XP reuniu
em São Paulo um
público recorde.
Sediado mais
uma vez no Helipark, centro
de manutenção e hangara-
gem de helicóptero localiza-
do na cidade de Carapicuíba,
o evento recebeu 5.600 pes-
soas ao longo de dois dias e
teve um crescimento de 80%
no movimento de aeronaves,
que decolaram e pousaram
358 vezes em dois dias,
contra 198 em 2022, segundo
os organizadores. A área de
exposição também cresceu,
recebendo 73 marcas e 18
aeronaves, com empresas
vindas de países como Esta-
dos Unidos, França, Canadá,
Austrália, Itália e Mônaco.
Os números consolidam o
Heli XP como o principal en-
contro dedicado ao mercado
de helicópteros da América
Latina. A próxima edição
está marcada para os dias 8 e
9 de maio de 2024.
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A R TI G O CLUBE DE REVISTAS
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A INTELIGÊNCIA
ARTIFICIAL E O
TRABALHO DOS
AERONAUTAS
Como a nova tecnologia promete interferir no dia a dia e
na carreira dos tripulantes de aeronaves responsáveis pelo
transporte aéreo de cargas e passageiros
P OR | EDUARDO TEIXEIRA FA RAH*, ESPECIAL PA RA AERO MAGAZINE
A
inteligência Com efeito, os algoritmos
artificial (IA) im- de IA permitem analisar da-
pactará de forma dos do voo, distância da rota,
significativa todas altitudes, trajetória, calcular
as atividades pro- com precisão o consumo
fissionais, inclusive o trabalho combustível, determinar o
dos aeronautas, cujo resultado tipo ideal de aeronave para de-
poderá ser tão positivo quanto terminada rota, fazer análise
negativo dependo de seu das condições climáticas e
uso dentro de limites quan- inúmeras informações rele-
titativos e qualitativos éticos vantes para o desenvolvimento
que resguardem a segurança mais sustentável e seguro do
aeronáutica. transporte aéreo.
Sem dúvida, o potencial
da IA na aviação é enorme, TRIPULANTES TÉCNICOS
podendo aumentar a capa- Desde os primórdios até hoje,
cidade de serviços e incre- a aviação sempre esteve no
mentar a mobilidade aérea bordo de ataque da tecnolo-
urbana, além de aprimorar gia e, devido aos constantes
a segurança de controle de avanços dos produtos aero-
tráfego aéreo, auxiliar na pro- náuticos, tanto embarcados
gramação de voos, possibilitar como de auxílios de solo,
a manutenção preventiva de houve significativa redução
aeronaves e outros benefícios dos chamados tripulantes
ainda não explorados. técnicos – radio-operadores,
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AV I AÇ ÃO R EG U L A R CLUBE DE REVISTAS
U
m problema conhe- desse total, 11.372 pilotos foram sequência, o maior número
cido desde antes da contratados pelas doze princi- de pilotos, o transporte aéreo
pandemia começa pais companhias aéreas de janei- comercial dos EUA sempre se
a afetar a aviação ro a outubro. Além disso, outros notabilizou por baixos salários
regular dos Estados 9.500 tiraram suas licenças de dos tripulantes e condições
Unidos. Nos últimos meses, as piloto comercial. de trabalho pouco atraentes.
companhias aéreas norte-ameri- A Secretaria de Estatísticas Um enorme paradoxo para a
canas enfrentam cancelamentos Trabalhistas dos Estados Unidos nação com o maior número de
de voos em massa e se vêm (Bureau of Labor Statistics) mos- escolas de pilotagem e pilotos
impossibilitadas de adicionar trou que, em 2021, havia mais de civis do mundo, assim como
frequências ou rotas não por 135 mil pilotos profissionais em berço das maiores universida-
uma demanda baixa, problemas serviço naquele país, mas as esta- des e dos cursos de engenha-
na frota ou meteorologia adver- tísticas mostram que a demanda ria aeroespacial referências
sa, mas, sim, pela falta de pilotos. anual por novos profissionais mundiais.
Embora tenha se potencializado será de ao menos 18 mil pilotos Existem milhares de avia-
mais recentemente, a questão ao ano, em um movimento que dores, mas a imensa maioria
começou a dar sinais de que deverá se manter até meados tira o brevê apenas por hobby
seria um problema real e sério da próxima década, o que, caso ou para pilotar as próprias
em meados de 2019, quando confirmado, será ao menos duas aeronaves. Não por um acaso, a
as maiores empresas aéreas vezes e meia maior do que a aviação geral norte-americana
notaram a maior dificuldade de média histórica. conta com milhares de aviões, de
contratação de novos aviadores. experimentais a pequenos jatos
Para se ter uma ideia, em PARADOXO single-pilot, usados por profis-
julho de 2021, quando o mundo O movimento é exatamente o sionais liberais, executivos e pe-
ainda encarava os desafios da oposto do que ocorre há quase quenas organizações familiares
pandemia, em especial a incer- cinquenta anos nos Estados que dependem do avião como
teza de uma plena retomada das Unidos. Desde os anos 1970, ferramenta de negócios. Mesmo
viagens aéreas, as companhias o país assiste a um crescente com uma malha aérea regular
aéreas norte-americanas con- desinteresse de profissionais sem equivalentes no mundo, a
trataram mais de 5.500 pilotos. com a aviação, indo desde pujança econômica sempre foi
Segundo a Future & Active Pilot cargos administrativos, de suficiente para agregar mais a
Advisors, uma empresa de con- engenharia e até na ponta com necessidades de viagens aéreas
sultoria de carreira para pilotos, os pilotos. Na prática, embora diretas. No caminho oposto, a
foi a maior contratação desde os norte-americanos sejam indústria passava a contar com
1990. Já no ano passado, foram historicamente os líderes ab- baixo interesse de engenheiros
contratados mais de 13 mil solutos no mercado global de recém-formados, incluindo
pilotos e, segundo a Future and aviação, detendo a maior frota os graduados em engenharia
Active Pilot Advisors (FAPA), de aeronaves civis e, por con- aeronáutica, que passavam pelas
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A APOSENTADORIA E AS
DEMISSÕES NO AUGE DA
PANDEMIA LEVARAM A
bordo. A opção mais comum outro problema ficou evidente:
era durante as escalas um o elevado custo de formação,
UMA SITUAÇÃO INCOMUM
dos tripulantes comprar um
lanche no aeroporto, em geral,
estimado em 100 mil dólares e
o mínimo de 1.500 horas para
NOS EUA: FALTA DE
para viagem, para garantir ao obter um certificado de piloto PILOTOS PROFISSIONAIS
menos uma refeição até o final de linha aérea (ATP, na sigla em
da jornada. No caso das regio- inglês). O cenário perfeito para
nais, o problema era maior, o fechar o ciclo de desinteresse de
que ficou evidenciado no aci- novos profissionais.
dente da Colgan Air durante o A somatória de problemas
voo 3407, cujas investigações passou a afastar os pilotos da
mostraram que as condições carreira profissional, com os
dos pilotos chegavam próxi- apaixonados por aviação apenas DISTRIBUIÇÃO DE LUCROS
mo da insalubridade, além tirando licenças para voos priva- A aposentadoria e a demissão
do fato de que o comandante dos, sem qualquer interesse em em grande escala de pilotos no
tinha uma proficiência de voo seguir uma carreira. Os que se auge da pandemia levaram as
abaixo da média. aventuravam logo percebiam os companhias norte-americanas a
Se o problema já não fosse desafios, em especial financeiros assistirem pouco mais de três anos
grande o bastante, a aviação e de crescimento na carrei- depois um fenômeno incomum,
regular foi impactada pelos ra. Não era raro um aviador a falta de pilotos profissionais
cortes militares e o uso cada vez aposentar como copiloto de 737, disponíveis. Se em 2019 já havia
maior de aeronaves não tripu- sem jamais ter tido a chance a tendência de dificuldades na
ladas. As forças armadas dos de voar outro equipamento ou contratação, agora os recrutadores
Estados Unidos são historica- chegar a comandante. Também estão competindo agressivamen-
mente grandes fornecedoras de não era raro os que deixavam te pelos pilotos disponíveis e já
pilotos para a aviação comercial. os Estados Unidos para voar buscam soluções para enfrentar
Aviadores constantemente em outros países, sobretudo o problema. A principal dela, até
davam baixa no serviço militar no Oriente Médio ou na Ásia, mais óbvia, o aumento dos salá-
e migravam para as companhias onde, desde os anos 2000, as rios, seguida da criação de escolas
aéreas. Com menores investi- empresas oferecem melhores de pilotagem próprias ou parceria
mentos e uso de drones em larga salários, vantagens e perspec- com centros de formação, sem
escala, as academias militares tivas de carreira mais promis- contar na abertura de vagas para
também reduziram o número soras. Um aviador deixava estrangeiros.
de formados. Isso sem contar um A320 em uma empresa de A Delta Air Lines realizou
que os militares também vinham ultrabaixo custo, voando apenas uma agressiva distribuição de
assistindo a um menor interesse rotas secundárias nos Estados lucros entre seus funcionários,
de jovens pela carreira. Unidos, para assumir um A380 o que gerou uma resposta das
Alguns analistas apontam e poucos anos depois ser ele- rivais. Semanas depois, o CEO da
que, além da falta de profissionais vado para comandante. Assim, American Airline, Robert Isom,
para ingressar imediatamente, em março de 2020, seria pouco enviou uma mensagem aos pilotos
caso nada seja feito, os Estados provável que em um voo de afirmando o seguinte: “Deixe-
Unidos enfrentarão mais uma uma empresa norte-americana -me ser claro, a American está
pressão na demanda por contra- tivessem no comando um piloto preparada para igualar os salários
tações, já que mais da metade dos egípcio, uma piloto holandesa da Delta e fornecer aos pilotos da
pilotos atuais deverá se aposentar e um piloto alemão. Em 2023, American a mesma fórmula de
nos próximos 15 anos, quando essa foi a tripulação de um voo participação nos lucros que os pi-
atingir a idade de 65 anos, o má- entre Chicago e Tóquio operado lotos da Delta”. O aumento salarial
ximo permitido para voar profis- por uma das maiores empresas poderá chegar aos 21% apenas no
sionalmente no país. Neste caso, dos Estados Unidos. primeiro ano e, dependendo das
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AS EMPRESAS REGIONAIS
OBSERVAM SEUS PILOTOS
PEDINDO DEMISSÃO E
Flight Training Academy, em preocupação com a falta de
BUSCANDO MELHORES Indianápolis, seguindo o modelo pilotos, e agências federais e
da United. Já a Alaska Airlines consultorias mostrem essa ten-
OPORTUNIDADES NAS e a American Airlines criaram dência, a Airline Pilots Associa-
programas de financiamento e tion (ALPA), um dos maiores
GRANDES COMPANHIAS orientação de carreira. A ATP sindicatos de pilotos dos Estados
Flight School, uma das maiores Unidos, afirmou em relatório
escolas de pilotagem dos Estados intitulado “Desmascarando o
Unidos, tem atualmente acordos Mito da Escassez de Pilotos”, que
diversos de formação com 37 existem profissionais suficientes
empresas aéreas, por meio dos para atender à demanda atual
funções, o cumulativo pode se quais o aluno, após se formar, e futura. “Na última década,
aproximar de 40%. Para ter uma pode seguir como instrutor de os Estados Unidos produzi-
ideia, apenas no primeiro ano, voo e na sequência aplicar para ram pilotos certificados mais
alguns comandantes de A320 diversas companhias, atendendo que suficientes para atender às
e 737 podem ver seus ganhos os requisitos mínimos de cada demandas de contratação de
anuais próximos de 475 mil uma, e dentro da atual regra de companhias aéreas e compensar
dólares, enquanto comandantes 1.500 horas de voo. aposentadorias”, afirma a ALPA.
de widebodies podem receber até O relatório ainda questiona os
590 mil dólares. FALTA OU SOBRA PILOTOS? números oficiais e mesmo da
Em dezembro de 2021, a As empresas regionais, que Olive Wyman, dizendo que “na
United Airlines inaugurou a sempre foram fornecedoras verdade, existem atualmente
Aviate Academy, localizada de pilotos com experiência cerca de 1,5 piloto certificado
em Goodyear, no Arizona, para as grandes companhias, em relação à demanda”. Quem
tornando-se a primeira grande agora observam seus pilotos também afirma que não faltam
escola de voo pertencente a uma pedindo demissão e buscan- pilotos é a Allied Pilots Asso-
companhia aérea dos Estados do melhores oportunidades ciation (APA), sindicato que re-
Unidos. O movimento ocor- nas grandes companhias. Um presenta os pilotos da American
reu ainda durante a pandemia, diferencial atual, até uns anos Airlines. Em entrevista à CNBC,
quando ficou claro que a maioria atrás, os pilotos das regionais o CEO da organização, Dennis
dos pilotos aposentados não só eram contratados pelas ma- Tajer, afirmou que “os números
voltaria a voar e a oferta de jors afiliadas, ou seja, um pilo- dizem que há pilotos licenciados
novos aviadores estava abaixo to da American Express podia suficientes”.
do necessário. As rivais segui- ser elevado para a American A ALPA aponta que, em
ram um caminho similar, com Airlines, raramente um avia- vez de escassez, o que existe é
a formalização de parceria com dor da Delta Connection seria uma disputa entre executivos
escolas e universidades. Até mes- escolhido. Mas, atualmente, as que desejam usar uma eventual
mo a Frontier, uma das empresas vagas estão disponíveis para baixa oferta de profissionais para
de ultrabaixo custo com postura quem tiver interesse. aprovar mudanças nas regras
mais agressiva em questões de Um relatório da Olive de treinamento. “Portanto,
corte de gastos, fechou contra- Wyman, empresa de consul- embora não tenhamos escassez
tos com escolas para garantir toria de gestão, divulgado em de pilotos, temos uma escassez
um fluxo de novos pilotos nos agosto de 2021, mostrava que de executivos de companhias
próximos anos, o que também a América do Norte enfrentava aéreas dispostos a manter suas
foi feito pelas regionais Mesa um déficit de oito mil pilotos decisões de negócios em cortar o
Air Group, Envoy, SkyWest, profissionais, aproximadamente serviço aéreo e ser francos sobre
Republic e Cape Air. A Repu- 11% da força de trabalho. En- suas intenções de contornar as
blic Airways criou sua própria tretanto, mesmo que executivos regras de segurança e contratar
escola de voo, a Leadership in de grandes empresas reportem trabalhadores inexperientes por
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H I S TÓ R I A CLUBE DE REVISTAS
PILOTOS
BRASILEIROS
CAPTURADOS NA
SEGUNDA GUERRA
O drama dos aviadores do Primeiro Grupo de Aviação
de Caça da FAB aprisionados pela coalizão liderada
pela Alemanha nazista ao sucumbirem à artilharia
antiaérea em território italiano
P O R | TEOMAR BENITO CERETTA, ESPECIAL PARA AERO MAGAZINE
N
o dia 18 de de- a unidade, o 1º Grupo de Caça o Primeiro Grupo de Caça
zembro de 1943, passaria a receber treinamento passaria a operar ao lado dos
o então presiden- em aviões de combate P-40. americanos na campanha do
te Getúlio Vargas Concluído o curso de caça Vale do Pó, ao norte da Itália,
assinou o decreto administrado por instrutores considerada a arrancada final
№ 6.123 e instituiu o Primeiro norte-americanos com expe- da primavera, que terminaria
Grupo de Aviação de Caça, riência de guerra, os pilotos definitivamente com o grande
uma unidade da Força Aérea brasileiros passariam a voar o conflito no dia 2 de maio de
Brasileira (FAB), com o obje- P-47, o famoso Thunderbolt, 1945. Para dimensionar o
tivo de enviar um esquadrão no qual fizeram adaptações cenário do campo de batalha
para lutar ao lado dos aliados numa base aérea americana onde os pilotos brasileiros
na Segunda Guerra Mundial. em Suffolk, Long Island, antes atuaram, Rui Moreira Lima,
Para comandar a unidade, a de seguir para a Europa. em seu livro Senta A Pua,
FAB nomeou o major-aviador O Primeiro Grupo de apresenta um curioso depoi-
gaúcho Nero Moura, no dia 27 Caça desembarcou no porto mento:
de dezembro de 1943. Imedia- de Livorno, na Itália, no dia 6 “Durante 14 horas do dia,
tamente, abriu-se o volunta- de outubro de 1944. Depois, os Thunderbolts voaram sobre
riado para reunir o pessoal seguiu para a pequena cidade as linhas inimigas, bombar-
que iria para a guerra. de Tarquínia onde se esta- deando, atirando com suas
Nero Moura formou um beleceu em uma base aérea mortíferas metralhadoras,
pequeno grupo constituído de norte-americana ao controle lançando foguetes nos pon-
32 militares, seus auxiliares di- operacional do 350th Fighter tos fortificados dos alemães.
retos, e embarcou com eles no Group. Não muito tempo após O resultado é que do outro
dia 3 de janeiro de 1944 para iniciar as operações, no dia lado ficava tudo em chamas,
Orlando, na Flórida, Estados 21 de novembro de 1944, a fosse em acampamentos, trens,
Unidos, para receber instru- unidade brasileira foi transfe- veículos de todos os tipos,
ções em uma escola de tática rida para a base sérea de San até mesmo motocicletas. Os
aérea. Mais tarde, o coman- Giusto, próxima da cidade de alemães tiveram que parar.
dante se deslocou com seus Pisa, onde permaneceu até o Perderam a capacidade de se
homens-chave para Aguadul- final da guerra. locomover durante o dia. A su-
ce, no Panamá, onde, reunida Foi a partir de Pisa que perioridade aérea era absoluta:
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RECOLHIDOS
PELOS ALEMÃES
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impacto de projéteis da antiaérea que rondava nas proximidades. interrogação da Força Aérea
no meu avião. Tive a impressão De repente, viu-se diante de Alemã. Depois de passar por
de que os impactos tinham atingi- metralhadoras apontadas para nova revista, foi encarcerado
dos a fuselagem, atrás da nacele. ele, seguido de uma ordem: em uma solitária e lá permane-
Continuei fixando a pontaria na “Halt”. Naquele momento, a FAB ceu durante 15 dias. Enquanto
locomotiva que, soube após meu teve seu primeiro prisioneiro de esteve em Frankfurt, o aviador
regresso, explodiu. Recuperei-me guerra. foi interrogado sete vezes. No
do mergulho. A cabine encheu-se Recolhido por uma patru- dia 12 de janeiro de 1945, Motta
de fumaça. No alto da recupera- lha, tiraram-lhe a pistola 45 e, Paes sofreu nova transferên-
ção, o motor rateou e parou de na garupa de uma motocicleta, cia. Acomodado em um trem
estalo. Estava a pouco mais de foi levado a San Benedetto. Em de carga, depois de dois dias,
500 metros. Pensei imediatamen- seguida, o levaram a Mântova, desembarcou na cidade de West-
te num incêndio a bordo. Soltei onde foi revistado. Recolheram zlar, onde foi conduzido para
o canopy e desliguei o fone e o todos os seus pertences, inclusive um campo de prisioneiros da
microfone dispondo-me a saltar o dinheiro. Surpreso, ao final Luftwaffe. Uma semana havia se
de paraquedas” (Rui M. Lima, da revista, entregaram-lhe um passado, uma nova transferência
Senta a Pua, 1989, p. 130-131). recibo no valor total do dinhei- o levou para Stettin, na Prússia
No entanto, no momento ro confiscado. Ali mesmo foi Oriental, onde foi conduzido
em que Motta Paes ia abando- submetido a um interrogatório. para um Stalag Lfut, um campo
nar o avião, o motor do P-47 De Mântova foi conduzido a de concentração de prisioneiros
voltou a funcionar. Ele ainda Verona, grande parte do trajeto definitivos, ali permanecendo
tentou administrar o controle feito a pé, o que lhe causou sérios até o final da guerra.
do Thunderbolt para retornar ferimentos em seus pés. Naquela Conforme suas palavras,
a Pisa. Mas a sorte foi momen- cidade foi mais uma vez revista- “não há mal que dure para sem-
tânea. O motor passou a sofrer do, além de suportar três horas pre, um dia os russos bateram
um superaquecimento, a pressão em um novo interrogatório. Em às portas de Stettin. Com o
do óleo caiu a zero e o funciona- seguida, o levaram para a esta- constante avanço dos aliados do
mento áspero mostrava sinais de ção ferroviária, onde aguardou leste e sua aproximação diária,
que havia chegado o momento durante quatro horas, na noite antes de terminar o mês de abril,
de saltar de paraquedas. Para sua gelada, um trem que o levaria o Stalag Luft Nº 1 amanheceu
infelicidade, na trajetória em que a Frankfurt. Como era véspera sob o controle dos próprios pri-
voava, as baterias antiaéreas não de Natal, carcereiros serviram a sioneiros. A alegria foi grande,
davam trégua aos P-47. Os últi- Motta Paes e outros prisioneiros e a maioria dos companheiros
mos momentos foram insustá- uma sopa quente, antes da che- começou a se arrumar para
veis, e um golpe de misericórdia gada do trem à meia-noite. Ao partir”.
com a parada total do motor foi embarcar no trem, encontrou Porém, sob o comando dos
a sentença final. A 600 metros um grande grupo de prisionei- americanos, apenas no dia 13 de
de altura, finalmente Motta Paes ros, a maioria tripulantes de maio começou uma operação
abandonou sua “águia ferida” B-24, Liberators e B-17, Forta- de emergência para transportar
e se lançou de paraquedas no lezas Voadoras, procedentes da prisioneiros de Stettin para Rei-
meio das explosões. Romênia e da Bulgária. ms, na França, em bombardeiros
Apesar de se livrar do tiroteio O comboio que os transpor- B-17 - Fortalezas Voadoras.
durante a queda, sua aterragem tavam chegou a Frankfurt no Motta Paes seria transportado
em águas geladas em um canal dia 28 de dezembro, depois de no dia 14 de maio para Reims,
não foi nada agradável num dia rodar durante três dias no longo de onde pretendia retornar para
de inverno. O aviador livrou-se trajeto. Depois de desembarcar Pisa. No entanto, por questões
do paraquedas e empreendeu naquela estação, Motta Paes e de identidade, os americanos
uma caminhada para se afastar outros companheiros foram o levaram de C-47 para San
de uma unidade da Wehrmacht conduzidos a um campo de Valery, às margens do Canal da
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Mancha. Naquela localidade, na estrada Verona-Milão, onde foi conduzido de ônibus para
Motta Paes teve de intervir junto atacou um comboio de viaturas Verona, o que seria o início do
a um coronel americano para sob forte reação da antiaérea. deslocamento para um campo
que fosse encaminhado a Pisa Ao fazer uma nova varredura, de concentração na Alemanha.
para juntar-se, enfim, ao Primei- seu avião foi atingido por tiros No dia 2 de fevereiro de 1945,
ro Grupo de Aviação de Caça, a de canhão de 40 milímetros. A foi levado para Trento e, na
sua unidade aérea. asa direita do P-47 foi atingida, sequência, para a cidade de Bol-
quase arrancando o aileron. zano, mais ao norte. De Bolzano,
Um segundo impacto acertou levaram o aviador brasileiro
o motor. Naquele momento, para Frankfurt, onde chegaram
Assis tentou ganhar altura, com no dia 5 de fevereiro. Naquela
a esperança de retornar a Pisa. cidade, Assis passou por três
Um cheiro forte de combustível interrogatórios. Maltratado pelos
invadiu a nacele. Com altura su- guardas, teve confiscadas suas
ficiente para cruzar os Apeninos, calças forradas, que eram parte
o motor passou a funcionar aos integrante do seu uniforme. Para
trancos, quando parou de vez. completar seu pavor, um dia foi
Sem perder tempo, Assis abriu o encaminhado para o quartel da
canopy e saltou de paraquedas. Gestapo para ser interrogado
Recolhido pelos partisanos, foi por civis, segundo ele, um inter-
PRIMEIRO TENENTE- escondido na carcaça de um rogatório puramente político.
AVIADOR JOSINO MAIA DE Fiat, com o intuito de buscá-lo à Assis permaneceu durante
ASSIS noite, se desse tudo certo. 14 dias preso em uma cela no
Gaúcho de Bagé, Assis foi o Infelizmente, uma patrulha Centro de Interrogatório de
segundo aviador brasileiro a alemã, que estava próxima, Frankfurt. Com a aproxima-
cair prisioneiro dos alemães. prendeu Assis antes da chegada ção dos aliados, que já haviam
No dia 29 de janeiro de 1945, dos partisanos e o levaram para cruzado o rio Reno, os alemães
comandando a Esquadrilha um quartel-general na pequena providenciaram a transferência
Verde, acompanhado da Es- cidade de Ponte dell´Olio. Lá dos prisioneiros para o interior
quadrilha Vermelha, decolou foi revistado, confiscaram seu da Alemanha. No dia 18 de fe-
com a missão de destruir relógio e o submeteram a um vereiro, Assis foi levado de trem,
um depósito de combustível rápido interrogatório. Escoltado, com um grupo de 400 homens,
próximo da cidade de Pia- foi levado para Piacenza e aloja- para Nuremberg. Da estação
cenza. Notícias de última do em um quartel de Luftwaffe. ferroviária, marcharam até um
hora fizeram com que as duas Transferido novamente, acabou campo de triagem de prisionei-
esquadrilhas fossem enviadas levado para um pequeno povoa- ros. Depois de feita a triagem,
para um novo objetivo, após do localizado do lado norte do Assis embarcou novamente num
o bombardeio em Piacenza. rio Pó, onde foi interrogado em trem que o levou para o campo
Os oito P-47 deveriam atacar espanhol em um QG. No dia 30 de concentração, onde chegou
uma grande concentração de de janeiro de 1945, às 15 horas, no dia 21 de fevereiro de 1945.
viaturas na estrada às margens Assis foi embarcado em um Naquele imenso campo, segun-
do Lago de Como. caminhão com destino a Milão. do Assis, viviam em torno de
Missão cumprida em Piacen- Na capital da Lombardia, foi dez mil homens, e a população
za, Assis dirigiu a sua esqua- colocado em uma cela subterrâ- aumentava com as frequentes
drilha para o Lago de Como. nea da estação ferroviária, junto chegadas de novos prisioneiros.
Depois de vasculhar as estradas com prisioneiros italianos, onde Assis viveu até abril de 1945
que circundam o Lago sem sofreu ameaça de morte por um no campo de concentração de
nada encontrar, voou com seus oficial fascista exaltado. Nuremberg. Com a aproxima-
homens para uma varredura No dia 31 de janeiro, Assis ção das forças aliadas, por ques-
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Enfim, chegou a Nurem- população de 20 mil prisionei- guerra, Coelho foi escalado
berg no dia 3 de abril de 1945, ros. Ali, Assis e Correia Netto para fazer a segunda missão
onde foi acomodado em um permaneceram até o dia 29 de guerra naquele dia 22 de
quarto, tendo por companheiro de abril de 1945, quando o III abril. Vale ressalta que, duran-
dois aviadores americanos. De Exército do General Patton os te a campanha, seu avião foi
comum acordo, mantinham-se libertou. No entanto, os dois atingido 16 vezes, até que um
em silêncio. Era comum os brasileiros saíram definitiva- dia foi “premiado” com o ines-
alemães colocarem, em locais mente da Alemanha no dia perado. Coelho fez a segunda
discretos, microfones. Assim 10 de maio de 1945, quando decolagem às 14h30min em
ficaria fácil obter informações foram levados para Havre, na uma esquadrilha de quatro
dos prisioneiros para futuras França, onde ficaram mais aviões com o objetivo de
interrogações. Logo após o dois dias sob os cuidados dos atacar alvos de oportunidade,
meio-dia, entrou na prisão um americanos. Com o propó- aproveitando a confusão nas
interrogador e, em um bom sito de retornar a Pisa, os estradas com a retirada das
português, perguntou: “Quem americanos providenciaram tropas alemãs. A Esquadrilha
é o tenente Correia Neto?” Seu transporte para Paris, onde, Verde de Coelho fazia uma
interrogador nada mais era do enfim, Correia Netto e Assis faxina próxima da cidade de
que um suboficial religioso que embarcaram numa B-25 do Scandiano aniquilando viatu-
havia vivido no Brasil. Disse que Primeiro Grupo de Caça que ras alemãs de todos os tipos
estava cumprindo ordens. Este os transportou para a Itália. que fugiam desesperadas dos
mesmo suboficial, à serviço da ataques.
Alemanha, já havia interroga- Terminada a missão, a Es-
do anteriormente Motta Paes quadrilha Verde deveria se re-
e Assis. Dizia ter atuado como tirar do local para se deslocar
padre na Bahia. Daí seu excelen- para outro objetivo próximo
te português. de Reggio Emília. Mas, igno-
Na chegada, dentre os 10 rando o chamado do líder,
mil prisioneiros, Correia Netto Coelho decidiu fazer ainda
encontrou seu colega Assis, que um ataque a um caminhão
amargava havia mais de um mês solitário. Próximo de Sas-
aquele ambiente em Nuremberg. suolo, percebeu que, em um
Esquálido, maltratado pela fome bosque, dois tanques estavam
e pela precariedade sanitária do SEGUNDO TENENTE- se escondendo sob um toldo,
campo, o gaúcho Assis acabou AVIADOR MARCOS EDUARDO além de vários caminhões ca-
esquecendo o nome do colega. COELHO DE MAGALHÃES muflados. Coelho, que estava
“Tchê, como é seu nome mes- Esse aviador tem uma à vontade com a pouca reação
mo? Estou muito fraco e a me- história com “coloridos” da antiaérea, mergulhou di-
mória vai mal” – desculpou-se próprios, que difere dos reto sobre o alvo. Os alemães
Assis. Correia Netto soube pelo demais colegas caídos reagiram com uma intensa
colega que, com a aproximação em mãos da Wehrmacht. barragem de antiaérea de 20
dos aliados, os alemães iriam De prisioneiro de guerra, milímetros e, fatalmente, o
transferi-los para outro local. No passou a comandante de P-47 de Coelho foi atingido
dia 3 de abril de 1945, deixaram hospital. Tudo começou no papo com consequente
o campo de Nuremberg. Numa no dia 22 de abril de 1945, incêndio que tomou conta do
marcha organizada, depois de quando foi abatido pela avião. Aproveitando o excesso
percorrer 180 quilômetros, artilharia antiaérea inimiga, de velocidade, ganhou altura
os prisioneiros chegaram a já nos últimos dias de de segurança e saltou do avião
Müsberg em meados de abril guerra. tomado pelo fogo que, ao
num campo que sustentava uma Na sua 85ª missão de tocar o chão, explodiu.
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