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CLUBE DE REVISTAS

WWW.AEROMAGAZINE.COM.BR

TECNOLOGIA
BRASIL · ANO 30 · Nº 349 · R$ 25,00 · € 4.00

PILOTAGEM E

60 ANOS
A TRAJETÓRIA DA
INTELIGÊNCIA
ARTIFICIAL

DASSAULT FALCON JET UPGRADE


DE PAINEL
ATUALIZE A AVIÔNICA
DE SEU AVIÃO

NEGÓCIOS
AGRISHOW
EBACE
HELI XP

SEGUNDA
GUERRA
OS AVIADORES DA FAB
QUE SE TORNARAM
PRISIONEIROS

CAÇA BRASILEIRO?
AS DÚVIDAS EM TORNO DA
TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA
DO PROGRAMA GRIPEN
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E D ITO R I A L CLUBE DE REVISTAS

TRANSFERÊNCIA
DE TECNOLOGIA
AERO MAGAZINE
BRASIL · ANO 30 · Nº 349 · 2023
A promessa de transferência de tecnologia se mostrou um argumento
decisivo na escolha do novo avião de combate da Força Aérea Brasileira no DIREÇÃO
Publisher
âmbito do Projeto F-X2. Segundo se divulgou, a participação da indústria Christian Burgos - christian@innereditora.com.br

nacional no desenvolvimento do F-39 Gripen E/F criaria condições para Diretora de Operações
Christiane Burgos - christiane@innereditora.com.br
que o país pudesse conceber seu próprio caça em um futuro próximo, além
REDAÇÃO
de participar da eventual criação de um modelo de quinta geração em REVISTA
Editor-chefe
parceria com a Suécia. A inauguração da linha de montagem do Gripen na Giuliano Agmont - giuliano@aeromagazine.com.br
unidade de Gavião Peixoto da Embraer, no interior de São Paulo, aponta DIGITAL
para esse caminho, mas ainda há dúvidas em relação ao que resultará, Editor
Edmundo Ubiratan - edmundo@aeromagazine.com.br
de fato, do vultuoso acordo firmado com a Saab. Ouvimos alguns dos Colaboradores
principais executivos da empresa sueca, assim como analistas de mercado Eduardo Teixeira Farah, Francisco Costa, Rodrigo Duarte
e Teomar Benito Ceretta
e fabricantes brasileiros, e detalhamos o que já existe de concreto no
ARTE
processo de transferência de tecnologia do Programa Gripen Brasileiro. Diretor de Arte
Ricardo Torquetto - ricardo@innereditora.com.br
Ainda nesta edição, preparamos uma reportagem especial sobre os 60
PUBLICIDADE / ADVERTISING
anos de uma das principais famílias de aviação de negócios do mundo, publicidade@innereditora.com.br
+55 (11) 3876-8200 – ramal 11
a francesa Dassault Falcon Jet, do Groupe Dassault, cuja história se
Representante Comercial Brasil e América Latina
confunde com o surgimento e a evolução do transporte aéreo executivo Teresa Rebelo – teresarebelo.inner@gmail.com

na Europa e nos Estados Unidos. Do primeiro voo do Falcon 20 em 1963 MARKETING


Coordenador
aos modelos que ainda não entraram no mercado, mostramos a trajetória Vinícius Araújo - vinicius@innereditora.com.br

da família que se tornou sinônimo de jatos intercontinentais de voos INTERNATIONAL SALES


Estados Unidos
privativos e tem forte presença no Brasil. Inner Publishing - sales@innerpublishing.net
Sem deixar a Europa, mostramos os destaques da principal feira de Marketing - marketing@innereditora.com.br

aviação de negócios no Velho Continente, a Ebace, que teve a estreia do FINANCEIRO


financeiro@innereditora.com.br
Gulfstream G800 e o lançamento do Cessna Ascend. No Brasil, tivemos CIRCULAÇÃO
outras duas feiras importantes, a Agrishow, que registrou um movimento R.Scola Marketing Editorial

intenso de aeronaves para Ribeirão Preto, e a Heli XP, dedicada ao ASSINATURAS


assinaturas@innereditora.com.br
mercado de helicópteros. +55 (11) 3876-8200

Para quem tem um avião, preparamos um artigo sobre a atualização ASSESSORIA JURÍDICA
Machado Rodante Advocacia
de painel, com dicas para quem quer adaptar soluções digitais no cockpit. www.machadorodante.com.br

A quantidade de aeronaves de pequeno porte com mais de 20 anos de FALE CONOSCO


info@innereditora.com.br | + 55 (11) 3876-8200
existência que permanecem na ativa se traduz em uma elevada demanda
IMPRESSÃO
por um upgrade na aviônica. Grass Indústria Gráfica

Para pilotos, temos duas publicações especiais. Uma trata da relação AERO Magazine é uma publicação
mensal da INNER Editora Ltda.
da inteligência artificial na carreira de tripulantes de aeronaves. A outra
fala das mudanças no mercado norte-americano. Os salários pagos por www.aeromagazine.com.br

companhias aéreas estão subindo nos Estados Unidos, uma oportunidade A Inner Editora não se responsabiliza por opiniões,
ideias e conceitos emitidos nos textos publicados e
para comandantes e copilotos brasileiros. assinados na revista AERO Magazine, por serem de
inteira responsabilidade de seu(s) autor(es).

Bom voo,

Giuliano Agmont e Christian Burgos


CLUBE DE REVISTAS

Nossa mais recente versão da família TBM de turbo-hélices


super-rápidos oferece todos os benefícios do poder digital. O
motor turbo-hélice controlado digitalmente do TBM 960 tira
o máximo proveito da tecnologia monoturboélice e voa com
alta eficiência e maior sustentabilidade. Na cabine Prestige,
os passageiros regulam a temperatura e a iluminação
ambiente com exatidão. Apresentando sistemas de
segurança excepcionais, como o TBM e-copilot® e o
dispositivo HomeSafe™ de pouso automático em caso
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28
SUMÁRIO

18

36

50 EBACE
18 AVIAÇÃO MILITAR
Europa sedia lançamento do
Saab e Embraer inauguram linha de
novo jato da Cessna
produção do Gripen no Brasil

28 MINHA AERONAVE 56 AGRISHOW

Atualize o painel do seu avião Agronegócio movimenta o


com aviônica digital mercado de aeronaves

36 INDÚSTRIA 60 HELI XP

Os 60 anos da Dassault Falcon Feira de helicópteros cresce


dedicados à aviação de negócios e se consolida em São Paulo
CLUBE DE REVISTAS
50

62 66

62 ARTIGO

A inteligência artificial e
o trabalho das tripulações
SEÇÕES
08 NA REDE

66 AVIAÇÃO REGULAR
14 C UR IOS IDAD ES
Empresas aéreas dos EUA
sobem salários de pilotos 82 A EROC LI CK

72 HISTÓRIA

Os aviadores brasileiros feitos


prisioneiros na Segunda Guerra
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O REI JÁ FOI AVIADOR
NA REDE

A tradição das principais casas reais sozinho deu a ele, e de fato a todos os
europeias prevê que os príncipes sirvam outros monarcas que já voaram, uma
às forças armadas. Com o então príncipe grande satisfação e provavelmente é
Charles, não foi diferente. Logo ao por isso que eles adoram voar”, disse Sir
atingir a maioridade, ele dedicou parte Richard Johns, um dos instrutores de
do seu tempo à vida militar, ingressando Charles. Após obter licença de piloto,
tanto na Real Força Aérea (RAF na em 1971, Charles ingressou na carreira
sigla em inglês) como na Marinha Real naval e se matriculou em um curso de
(Royal Navy). Seu primeiro contato seis semanas no Royal Naval College
militar ocorreu na RAF, onde ingressou Dartmouth. Durante o período de
enquanto estudava na universidade 1972 e 1973, serviu no destroier HMS fez carreira militar, da mesma forma que
de Cambridge, em 1970. Depois de Norfolk e nas fragatas da classe HMS os filhos do Rei Charles III, os príncipes
cursar aulas teóricas, passou a voar no Minerva, sendo designado para o HMS William e Harry, que seguiram a carreira
avião de treinamento primário Royal Júpiter um ano depois. Na Marinha Real, de piloto militar. O príncipe Harry atuou
Chipmunk, o mesmo usado na instrução obteve a licença de piloto de helicópteros como piloto de helicóptero em combates
de seu pai, o príncipe Philip. O avião foi no RNAS Yeovilton e posteriormente reais no Afeganistão. Em declaração
modificado, ganhando uma luz vermelha ingressou no 845 Naval Air Squadron, recente, o monarca afirmou que foi
no topo, em referência à sua versão real. passando a voar o Westland Wessex a responsável por diversos ataques contra
Na sequência, Charles passou a pilotar partir do porta-aviões HMS Hermes. membros do talibã. A rainha Elizabeth
o Basset CC1, onde registrou mais 90 Por fim, já em 1976, comandou por II, que morreu em 2022, após 70 anos de
horas de voo antes de ser transferido dez meses o navio caça-minas HMS reinado, também teve carreira militar. A
para o curso de treinamento completo Bronington. O interesse pela aviação vem mais longeva monarca do Reino Unido
de jato, voando os BAC Jet Provost. “Ele de pai para filho na família real britânica. foi motorista e mecânica de veículos
era dono de seu próprio destino. Voar O príncipe Philip também era piloto e durante a Segunda Guerra Mundial.

PF MODERNIZA
SEUS CARAVAN
Dois Cessna Grand Caravan 208B
da Polícia Federal passaram por um
processo de modernização (retrofit)
no centro de serviços da TAM Aviação
Executiva, no interior de São Paulo.
Fabricadas em 2001, as aeronaves
UM SÓ PILOTO passaram a ter a mesma tecnologia
SOB NOVA
dos modelos mais atuais, equipadas
Tim Clark, presidente da Emirates Airline, com o Sistema G1000 NXi, da Garmin. DIREÇÃO
disse a um canal de TV norte-americano que Foram instalados sistemas digitais
aviões comerciais voando com um só piloto são A Associação Brasileira
sensíveis ao toque (touchscreen), que
uma possibilidade à medida que a indústria da das Empresas Aéreas
deram as mesmas características e uma
aviação abraça a inteligência artificial. Ainda (Abear) mudou a
aparência muito próxima ao chamado
assim, o executivo acredita que a ideia poderá presidência após onze
painel digital, o glass cockpit, além de
levar algum tempo para se concretizar, mas não anos, com o executivo
várias outras atualizações tecnológicas.
é necessariamente o que os passageiros querem. Eduardo Sanovicz
Com isso, será possível efetuar ligações
Para ele, o setor deverá avaliar a diferença que a deixando o cargo de
telefônicas, mensagens de texto e
Inteligência Artificial poderá fazer nos negócios. presidente e assumindo
receber informações meteorológicas via
No início do ano, um relatorio da agência de a presidência
satélite. Além disso, os aviões receberam
aviação europeia (Easa) previu que os primeiros executiva do Conselho
um novo sistema de ar condicionado e
voos comerciais com apenas um piloto estariam Deliberativo da
pintura completa.  
descartados, ao menos, até 2030. Mas, os planos entidade, enquanto
podem sair do papel antes do previsto. O sinal verde Jurema Monteiro, atual
para as primeiras operações single-pilot na aviação diretora de relações
comercial pode acontecer em 2027, porém, de institucionais e que
forma limitada ao momento que a aeronave estiver atua na entidade desde
em altitude de cruzeiro. Nas fases críticas, como 2015, tornou-se a nova
a decolagem e o pouso, a presença de dois pilotos presidente.
seria mantida.

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CLUBE DE REVISTAS
NÚMEROS PRÉ-PANDEMIA
MAIS OFERTA... transportado 2,2 milhões. No segmento
A oferta de assentos em voos domésticos no Brasil medida por internacional, foram transportados 1,6
assentos-quilômetros ofertados (ASK) em março último superou em milhão de passageiros, o que representa
1% os níveis registrados em 2019, ano pré-crise sanitária, enquanto 79,8% do fluxo de 2019. Na comparação
na comparação com mesmo mês um ano antes, o crescimento foi com o mesmo período um ano antes, o
de 9,5%, segundo dados da Agência Nacional de Aviação Civil aumento foi de 53%. A procura (RPK)
(ANAC). A demanda medida por passageirosquilômetros pagos por voos para o exterior cresceu 44,5%
transportados (RPK) aumentou 8,8% em relação a março do na comparação anual, e representa 85,3%
ano passado. A taxa de ocupação média das aeronaves em voos do registrado antes da crise sanitária, enquanto
nacionais foi de 78,9%. Em março, foram transportados 7,4 milhões a capacidade (ASK) teve alta de 36,4%, resultando em uma taxa de
de passageiros, alta de 15,5% frente um ano antes. Os números aproveitamento de 83,5%. Já o transporte de carga aérea no país
representam 96% do fluxo de viajantes de março de 2019. Entre embarcou 38 mil toneladas, superando em 5,1% o volume registrado
as companhias aéreas, a Latam liderou o mercado com 35,6% de em março de 2019. No mercado internacional, foram movimentadas
participação e 2,6 milhões de pessoas transportadas, seguida pela Gol cerca de 70 mil toneladas, 14,8% a mais do que no mesmo período
com 32,9% e 2,4 milhões de passageiros, e Azul com 30,5%, tendo quatro anos antes.

...E MAIS PROCURA anos atrás, segundo dados divulgados pela Associação Internacional
A procura global por viagens aéreas medida em passageiros- de Transporte Aéreo (IATA, na sigla em inglês). Com a chegada da
quilômetro transportados (RPK) apresentou crescimento 52,4% no alta temporada de verão no Hemisfério Norte, as vendas de passagens
mês março em relação ao mesmo período de 2019, ano pré-crise continuarão apresentando forte crescimento, consolidando a
sanitária. Já a oferta medida em assentosquilômetros oferecidos retomada do setor. “O primeiro trimestre do ano terminou com forte
(ASK) aumentou 41,9% na demanda por viagens aéreas. Há meses, os mercados domésticos estão
comparação anual. A taxa de próximos dos níveis pré-pandemia. E nas viagens internacionais, dois
ocupação média nas aeronaves aspectos principais foram superados. Primeiro, a demanda aumentou
a nível mundial foi de 80,7%, 3,5 pontos percentuais em relação ao crescimento do mês anterior,
aumento de 5,9 pontos percentuais. atingindo 81,6% dos níveis pré-covid”, disse Willie Walsh, diretor geral
A crescente demanda por voos da IATA. O segmento cargueiro global registrou queda de 7,7% em
domésticos e internacionais atingiu março frente um ano antes. A capacidade cresceu 9,9%, resultando
88% dos níveis registrados quatro em uma taxa de aproveitamento nas aeronaves de 46,2%, queda de 8,8
pontos percentuais.

FRENTE PARLAMENTAR causadas pela pandemia na aviação e que


A Câmera dos Deputados criou uma Frente a frente parlamentar “vem em muito boa
Parlamentar em Defesa da Aviação Civil hora no contexto de recuperação no nosso
(FPAviação). A iniciativa, que será presidida setor aéreo”. A Anac tem trabalhado nos
pelo deputado federal Felipe Carreras (PSB/ últimos anos para desburocratizar o setor
PE), ocorre em um momento de retomada aéreo, em diversos segmentos, desde o
do transporte aéreo, após três anos dos transporte aéreo regular até a operação
impactos da crise sanitária e teve o apoio da privada, e deverá expor de maneira mais Nacional de Aviação Civil (SAC). Fechando
Associação Brasileira das Empresas Aéreas direta no debate público algumas das ações o evento, o deputado Felipe Carreas
(Abear), da Associação Brasileira da Aviação futuras. “Temos um setor que cresceu ressaltou que a FP visa incentivar o turismo,
Geral (Abag), da Associação Brasileira bastante nas duas décadas passadas, agora a criação de empregos e o investimento
das Empresas de Serviços Auxiliares ao está em período de recuperação, mas que na aviação regional e que o governo
Transporte Aéreo, Associação das Indústrias tem grandes chances de se universalizar deve ajudar. O parlamentar destacou as
Aeroespaciais do Brasil, Associação mais, trazendo mais passageiros para dificuldades atuais do setor aéreo, incluindo
Internacional de Transporte Aéreo (Iata) voarem”, disse Pereira. Além da Anac, a a alta do câmbio, e em especial a carga
e Associação Latino-Americana e do Secretária Nacional de Aviação Civil é outro tributária que impacta principalmente o
Caribe de Transporte Aéreo (Alta), entre órgão público que participará ativamente querosene de aviação. “Acredito que o Brasil
outras. A nova presidente da Abear, Jurema da FPAviação, ampliando o diálogo com a talvez seja o único país que tenha imposto
Monteiro, disse que todas as doze entidades sociedade civil e o setor aéreo. A secretária estatual sobre querosene de aviação”, disse
que apoiam a FPAviação “visam construir é a principal ponte política entre a agência e Carreas. “Felizmente temos na Câmara
de forma permanente com o parlamento seus regulados, com o governo federal, em diversos deputados que entendem o
uma agenda sustentável que aumente o especial a Presidência da República. “Temos Custo Brasil, a carga tributária, o preço do
número de passageiros, carga e destinos muito trabalho daqui em diante, mas tenho querosene de aviação e o peso do câmbio, os
atendidos”. O diretor-presidente da Anac, certeza que será uma empreitada de muito desafios que vocês [representantes do setor
Tiago Pereira, relembrou as complicações sucesso”, disse Juliano Noman, secretário aéreo] encaram”. 

MAGAZINE 3 4 9 | 9
NA REDE CLUBE DE REVISTAS

ENTRA O PIX... aproximação de cartões e smartphones.


A Gol Linhas Aéreas está permitindo que Mais eficiente, o sistema reduzirá o
seus clientes usem o pix como forma de tempo de compra de bilhetes e diminuirá
pagamento em quiosques e lojas físicas as filas nas lojas e quiosques da Gol,
em aeroportos do país. A novidade que já estão à disposição em 52 dos
faz parte da parceria firmada junto a 72 aeroportos brasileiros atendidos
plataforma de tecnologia disponibilizada pela transportadora. Com a inclusão pagamento é automaticamente registrado
pela empresa holandesa Ayden. A forma do método de pagamento via pix, a no back office da Gol, dispensando a
de pagamento inovadora e inédita está Gol continua a aprimorar o processo necessidade de registro manual, dando
alinhada a experiência do cliente e de digitalização da sua operação, com velocidade no fechamento de caixa e
impactam diretamente na perfomance mais eficiência e contínua melhora do no processo de conciliação. Há também
da companhia, com ganhos operacionais relacionamento com seus passageiros. melhorias na gestão dos terminais,
significativos. A plataforma oferecida Além da melhora nos estabelecimentos onde unidades de substituição podem
pela a Ayden permite também que físicos, a companhia implementou ser pedidas na mesma plataforma, com
os pagamentos sejam realizados por uma ferramenta na nuvem, onde todo poucos cliques.

..SAI BILHETE DE PAPEL Segundo a Emirates, a iniciativa reduzirá


significativamente o desperdício de papel e,
Desde maio, a Emirates passou a exigir que ao mesmo tempo, oferecerá uma experiência
a maioria dos passageiros que partem de de check-in digitalizada eficiente e rápida
Dubai usem apenas cartões de embarque para os passageiros que partem de DXB e
digitais. Aqueles que fizerem check-in reduz o risco de perda ou extravio de cartões
presencialmente recebem o documento de embarque. Alguns passageiros ainda
por e-mail ou por mensagem de texto, podem ter de imprimir cartões de embarque
enquanto os que optarem pelo check-in físicos ao viajarem com bebês, menores
on-line podem carregá-lo em plataformas desacompanhados, passageiros que precisam
digitais do Google, da Apple ou da própria de assistência especial, com voos em outras
companhia aérea. O recibo de bagagem companhias aéreas e todos os que tenham
despachada também é enviado por e-mail. como destino final os Estados Unidos.

DOIS MIL AVIÕES NOVO DORNIER


A Pilatus entregou o PC-12 de número 2.000, atingindo uma A Deutsche Aircraft assinou
importante marca menos de trinta anos após a certificação, e mantendo com a Private Wings uma
a liderança no segmento de monoturboélices de negócios. A aeronave Carta de Intenções para
de número 2000 foi recebida pela PlaneSense, um cliente de longa a venda de cinco aviões
data da família PC-12 e com sede nos Estados Unidos. A Pilatus regionais D328eco, que serão
realizou uma cerimônia especial em sua fábrica, em Stans, na Suíça, configurados com 40 assentos
para celebrar a conquista. Recentemente a família PC-12 atingiu a em classe única. A parceria foi
marca de 10 milhões de horas voadas, fato considerado um dos mais anunciada durante a cerimônia de
relevantes na história do fabricante suíço, que, desde meados dos inauguração da linha de montagem
anos 1990, passou a investir no segmento da aviação de negócios, em final do D328eco no aeroporto de Leipzig/Halle, na
complemento à sua gama de produtos especiais, como o então PC-6, Alemanha. Entre os destaques do novo avião estão os
um avião com capacidade de decolagem e pouso curto (STOL, na sigla motores Pratt & Whitney PW127XT-S, projetados para
em inglês) e a família de turbo-hélices de treinamento. Desde 1995, a operar em 100% SAF power-to-liquid (PtL), o que pode
PlaneSense se especializou em propriedade fracionada de aeronaves reduzir as emissões em até 95%. O D328eco é baseado
e opera atualmente com um total de 43 unidades do PC-12 e onze no clássico Dornier 328, produzido entre 1991 e 2000,
PC-24. O PC-12 mantém há quase quando teve 217 unidades fabricadas. A plataforma
três décadas boa aceitação entre básica foi alongada dois metros, tendo 23,3 metros
operadores dos Estados Unidos, de comprimento, o que tornou possível transportar
beneficiando-se da sua ampla dez passageiros a mais do que a versão original.
cabine, elevado desempenho e Uma das preocupações dos engenheiros foi manter a
baixos custos operacionais. O PC- célula robusta, capaz de operar em pistas curtas e não
12 NGX é a versão mais recente pavimentadas. O projeto recebeu ainda um cockpit
do modelo, apresentada em 2019, baseado na suíte Garmin Companion integrada.
durante a NBAA-BACE.

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CLUBE DE REVISTAS
NA REDE CLUBE DE REVISTAS

VOLTA DOS BALÕES


O início de maio último foi marcado pela
queda de balões nos aeroportos Santos Dumont
(SDU), no Rio de Janeiro, e de Viracopos
(VCP), em Campinas, no interior de São Paulo. O GIGANTE E O
Os casos aconteceram no início da manhã,
quase ao mesmo tempo. No Rio, o objeto HIPERSÔNICO
caiu próximo à cabeceira da pista (RWY) 20L, A Stratolaunch concluiu com
provocando o atraso do pouso de dois voos da Azul Linhas Aéreas, até que ele fosse sucesso o teste de lançamento
retirado do local. Em Viracopos, segundo a Agência Brasil, o aeroporto precisou ser do veículo de teste Talon-A
fechado por nove minutos, por volta das 8h (Brasília), por conta da queda de dois de sete (TA-0) a partir do Roc, o
balões que sobrevoavam o local. A Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear) gigantesco avião derivado de
já havia feito alertas sobre o perigo destes objetos para a aviação. A sua soltura é crime dois Boeing 747-400. O voo
previsto na Lei de Crimes Ambientais, de 1998. de teste do Talon foi o décimo
primeiro a partir do Roc e
a segunda vez que ele foi
realizado a partir da base da
O ÚLTIMO AIRBUS VOOS força espacial de Vandernberg,
COM LOGO DA TAM na Califórnia. A expectativa é
SUBORBITAIS realizar até meados de agosto
O A320-200 de matrícula PT- Um estudo o primeiro voo hipersônico do
MZY, o último do fabricante médico TA-1, quando o veículo será
europeu a ostentar a marca financiado pela capaz de superar a marca de
criada pela família Amaro, fez Autoridade de Mach 5 (aproximadamente
o seu último voo comercial do Aviação Civil do 6.174 km/h), abrindo
Recife (REC) para São Paulo Reino Unido (CAA) caminho para voos especiais
(GRU), encerrando um ciclo concluiu que voos suborbitais com de órbita baixa usando o
que começou há 25 anos, com passageiros serão possíveis no Roc como plataforma de
a entrega do seu primeiro futuro. Em viagens neste formato, lançamentos. O voo de
Airbus A330-200: o PT-MVA. um foguete de alta força g seria testes durou quatro horas
A expectativa é de que o A320 lançado a uma altitude de até 100 e oito minutos e permitiu
siga para o aeroporto regional quilômetros, onde a nave chegaria demonstrar que o sistema de
de Tupelo (TUP), nos Estados ao espaço, mas não teria velocidade lançamento Talon-A pode
Unidos, onde será desmontado. necessária para permanecer separar de forma limpa e
Ele fez o seu primeiro voo em 16 na órbita da Terra. Segundo segura a partir do pilone
de outubro de 2001 e foi entregue pesquisadores da King’s College instalado na asa central
à TAM em 21 de dezembro do London, com apoio da Royal Air do Roc. O teste também
mesmo ano, passando a operar Force (RAF), a maioria das pessoas confirmou a telemetria entre
pela Latam logo após a fusão com lidou bem com a experiência, os veículos e os meios de
a antiga LAN Chile. A pintura especialmente os mais velhos. Para comunicação da base de
com detalhes em vermelho e o estudo, 24 voluntários saudáveis, Vandenberg, garantindo que
branco ainda pode ser vista em com idades entre 32 e 80 anos, a coleta de dados ocorrerá
um dos Boeing 767-300ER (PT- foram colocados em uma centrífuga durante futuros testes de voo
MSO) que faz voos internacionais da RAF para recriar as forças g hipersônico. O objetivo da
pela companhia aérea. durante o lançamento e a descida de Stratolaunch é viabilizar o
voos suborbitais de aviões espaciais lançamento de cargas espaciais
e foguetes. Recentemente, a Virgin na órbita baixa com baixo
Galactic, a SpaceX e a Blue Origin custo e maior capacidade.
realizaram este tipo de viagem, que Além disso, o Roc poderá
custa mais de 650 mil dólares por se tornar uma plataforma
assento. Embora os voos ponto a de testes para futuros aviões
ponto sejam diferentes do turismo hipersônicos, que poderão
espacial experimental, a indústria voar grandes distâncias em
aeroespacial e os reguladores velocidades acima dos seis mil
do setor preveem que ambos os quilômetros por hora, voando
formatos estarão acessíveis até na órbita baixa, reduzindo
meados da década de 2030. assim o tempo de viagem, o
consumo de combustível e o
ruído gerado.

12 | MAGAZINE 3 4 9
CLUBE DE REVISTAS
CURIOSIDADES CLUBE DE REVISTAS

RETRATO
AÉREO
POR | EDMUNDO UBIRATAN

Desde o início, a aviação


utilizou a fotografia como uma
forma de autopromoção, além
de meio de comprovação de A American Airlines usou Nova York para promover seu Douglas DC-6
seus feitos. Um dos mais famo-
sos casos é o do 14-Bis. O voo
do avião projetado por Santos
Dumont tem como principais
argumentos de que realmente
aconteceu o fato de ter sido
realizado às vistas de centenas
de pessoas e a existência de ao
menos meia dúzia de imagens
do ocorrido. Ainda assim, o
Flyer, dos irmãos Wright, tam-
bém conta com uma icônica
fotografia do pioneiro voo. Os
fabricantes e as empresas aé-
reas logo perceberam o poder
de realizar ensaios aéreos com
seus aviões, em especial tendo
como pano de fundo locais
famosos, como Manhattan, Boeing C-17 Globemaster III em um espetacular cenário composto por mar, montanhas e neve
San Francisco, Paris, Rio de
Janeiro, entre tantos outros.
Ainda que ao longo dos anos a
publicidade tenha mudado, fo-
cando muito mais nos serviços
e no espaço a bordo em vez
do avião visto de fora, ainda
existem exemplos de voos
em locais icônicos, como em
Dubai ou Doha, promoven-
do a imagem não apenas da
companhia, mas também do
destino. Selecionamos algumas
imagens nas quais aviões e
localidades se tornaram parte
importante da divulgação.

A Boeing tem uma praça para seus aviões em Oshkosh, com uma bela vista aérea
14 | MAGAZINE 3 4 9
CLUBE DE REVISTAS

A Boeing sempre usou a geografia do estado de Washington para fotografar os


aviões, como o Monte Santa Helena e ao fundo o Monte Rainier

A Costa da Califórnia era cenário para a Douglas, mas não impediu a


Pan American de fotografar seu Boeing 377 na região

A Panair fez um ensaio em voo com seu Douglas DC-7 sobre o Rio de Janeiro

A TWA também fotografou o Constellation em Paris

A NASA fez um tour de despedida com o Ônibus Espacial e usou a


Os Lockheed Constellation da TWA foram parte do imaginario coletivo Golden Gate como cenário
de Nova York por vários anos
MAGAZINE 3 4 9 | 15
CLUBE DE REVISTAS

Paris tem severas restrições de voo, mas a computação ajuda a promover a


cidade e o Boeing 737 MAX 10
A ponte San Francisco-Oakland Bay foi também cenário para a
Pan American fotografar seu Boeing 377

A United Airlines também aproveitou a imponente Golden Gate para


promover San Francisco e seus voos com o Douglas DC-6

Clipper sobrevoa a Golden Gate ainda em construção


O vistoso DC-7 matrícula PP-PDL da Panair

Histórica foto do Boeing 314 da Pan American sobre a então Protótipo do Concorde sobrevoa os arredores da Torre Eiffel
recém-inaugurada Golden Gate, em San Francisco

16 | MAGAZINE 3 4 9
CLUBE DE REVISTAS

Honolulu no Havaí como pano de fundo perfeito para a Hawaiian


divulgar sua nova pintura

Sikorsky S-42 sobrevoa a construção da ponte San Francisco-Oakland Bay

O Mount Rushmore foi usado para fotografar o Air Force One

Protótipo do Boeing 747 e o Monte Rainier, em Washington

A Dassault usou as lendárias pirâmides do Egito durante campanha


de vendas do caça Rafale

O pouco conhecido Douglas DC-5 em voo publicitário sobre a Um Boeing 747 da Japan Airlines usa o Monte Fuji para promover o Japao
cidade de Nova York

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AV I AÇ ÃO M I L ITA R CLUBE DE REVISTAS

LINHA DE
MONTAGEM
NO BRASIL
Saab e Embraer inauguram as
instalações onde vão produzir
em conjunto os novos caças da
FAB e impulsionam o processo
de transferência de tecnologia da
Suécia para o Brasil no âmbito do
programa F-39 Gripen E/F
POR | G IU L I A NO AGMO NT, D E GAV I ÃO P E I XOTO
CLUBE DE REVISTAS
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O
programa de potencialmente, para outras nível de autonomia para que
transferência regiões”, disse o executivo os parceiros brasileiros desen-
de tecnologia durante o evento. Com parti- volvam novas funcionalidades
previsto no cipação discreta do presidente e implementem atualizações,
contrato de Luís Inácio Lula da Silva, que graças à transferência de tec-
compra dos novos aviões nem sequer discursou, o ceri- nologia e ao estabelecimento
de combate da Força Aérea monial teve a presença de um de ativos de desenvolvimento,
Brasileira cumpre um ciclo dos Gripen já operados pela teste e produção no país. A
estratégico com a inauguração FAB e aconteceu no mesmo prova mais importante disso
de uma linha de montagem dia em que mais duas unida- é a fábrica da Embraer em
exclusiva para os F-39 Gripen des do caça sueco chegaram Gavião Peixoto, com o Centro
nas instalações da Embraer à base aérea de Anápolis, em de Projetos e Desenvolvimento
em Gavião Peixoto, no interior Goiás, que passou a operar do Gripen (GDDN), o Centro
de São Paulo. Nas palavras uma frota de seis F-39. de Ensaios em Voo do Gripen
do presidente e CEO da Saab, De acordo com o vice- (GFTC) e, agora, a linha de
Micael Johansson, a empresa -presidente sênior e diretor de produção final. O local abriga
vai montar no local 15 das Marketing e Vendas da área de os estágios de desenvolvimento,
36 aeronaves adquiridas pela negócios Aeronautics da Saab, produção e testes da aeronave.
FAB. “Além da transferên- Mikael Franzén, o programa Também produzimos aeroes-
cia de tecnologia, o objetivo de transferência tecnológica truturas e temos capacidade de
também é produzir em Gavião dará à indústria aeroespacial manutenção em nossa fábrica
Peixoto quaisquer pedidos brasileira condições de pro- em São Bernardo do Campo”,
futuros de Gripen para o duzir um caça supersônico, se argumenta o executivo.
Brasil, bem como de outros assim o país desejar. “A criação Mikael Franzén acrescenta,
países. Queremos que o Brasil do programa de cooperação ainda, que, no Brasil, o Depar-
se torne um centro de expor- industrial teve como objetivo tamento de Ciência e Tecno-
tação para a América Latina e, proporcionar ao Brasil um logia Aeroespacial (DCTA),

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Nesse contexto, a Dassault


fechou contratos de seu prin-
cipal caça com Egito, Catar,
Índia e Emirados Árabes
enquanto o Lockheed Martin
ganhou um inédito protago-
nismo, como se viu na recente
criação de uma força aérea
comum de países nórdicos,
incluindo a Suécia, o que
reforçou o poder comercial
do F-35, já que a maioria dos
integrantes desse grupo opera
o caça norte-americano.
A Saab, apesar de ter
fechado contratos do Gripen
F-39 E apenas com a Suécia e
o Brasil, acredita na compe-
titividade de seu produto. “O
Gripen é uma plataforma de
combate extremamente capaz,
que incorpora tecnologias
órgão do Comando de TURBULÊNCIAS altamente avançadas e os ar-
Sem discurso, Aeronáutica, é um dos Apesar da euforia em torno mamentos mais recentes, além
presidente Lula beneficiários do Programa dos avanços do programa, de ser muito mais econômico
inaugurou a linha Gripen Brasileiro e partici- há previsão de turbulências do que qualquer outra aerona-
de montagem do pa de projetos de pesquisa no horizonte do Gripen. A ve para se adquirir e operar”,
Gripen na unidade tecnológica voltados para principal delas diz respeito defende Mikael Franzén. “As
de Gavião Peixtoto
da Embraer
o desenvolvimento futuro à queda de competitividade principais capacidades do
de caças de nova geração, do avião sueco no mercado Gripen incluem a fusão total
em áreas como projeto global, o que pode esvaziar os de sensores, que permite
conceitual, análise ope- planos de se usar a linha de uma consciência situacio-
racional, logística avan- montagem da Embraer para nal excepcional e um novo
çada de gerenciamento produzir unidades para outros sistema aviônico que garante
de frota, projeto de baixa clientes que não sejam a FAB. relevância do combate diaria-
observabilidade, projeto e O cenário de uma década mente, permitindo que novas
teste avançado de motores atrás, quando o Brasil optou tecnologias ou capacidades
a jato e processamento pelo Gripen no âmbito do sejam integradas na veloci-
crítico em tempo real. Projeto F-X2, mudou bas- dade da luz. Destaco também
Iniciado em 2015, esse tante. As escaladas de hosti- a integração das armas mais
programa de transferência lidades na Europa e na Ásia avançadas disponíveis, um
de tecnologia deve durar fizeram com que modelos poderoso sistema de guerra
10 anos no total, estima como o norte-americano F-35 eletrônica e uma capacidade
a Saab. Em maio 2023, e o francês Rafale se tornas- única de operar a partir de
aproximadamente 315 dos sem “apólices de seguro” para aeródromos disperso, pistas
350 profissionais brasi- seus operadores, que têm pre- de pouso remotas e bases
leiros que passaram pelo visto em contrato apoio das rodoviárias”.
treinamento já o haviam nações fabricantes em caso de Segundo o executivo, estão
completado. agressões. entre os potenciais clientes

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gia brasileira, a Embraer Defesa a empresa, que acrescenta: “A


e Segurança terá um papel deci- transferência de tecnologia pro-
sivo nesse processo. Segundo o porcionou à Embraer dominar
fabricante de São José dos Cam- conhecimentos importantes
pos, o programa Gripen tem para o desenvolvimento de
correspondências com o AMX, caças”.
que levou à modernização do A postura evasiva da
caça-bombardeiro ar-superfície Força Aérea Brasileira reforça
italiano A-1. “Em linhas gerais, essa desconfiança. A FAB se
ambos os programas de trans- mostrou esquiva em relação
ferência de tecnologia, cada um ao tema Gripen, não respon-
em sua época, têm importância dendo a perguntas sobre seu
para a Embraer aprimorar seus novo caça (pelo menos, até
conhecimentos e aplicá-los em o fechamento desta edição).
desenvolvimentos de novos Com a aposentadoria dos
produtos. Foi isso que ocor- modelos F-5 e AMX, a tran-
reu na década de 1980, com o sição da aviação de caça nas
desenvolvimento do AMX, e é próximas décadas não está
isso que está acontecendo com totalmente clara. Paralela-
os conhecimentos adquiridos mente, mesmo considerando
com o programa Gripen”, diz a o processo de transferência de
para o Gripen países como Embraer. tecnologia com participação
Colômbia, Peru, Áustria, Avanços à parte, há dúvidas brasileira no desenvolvimento
Índia e Filipinas. “Além disso, entre os especialistas de merca- dos novos Gripen, também
Brasil e Suécia já demostraram do sobre o real potencial de se pairam dúvidas se não teria
intenção de adquirir mais desenvolver um caça supersô- sido preferível optar mesmo
aeronaves Gripen E e Hungria nico nacional. Aparentemente, pelo Dassault Rafale, como
e Tailândia, que operam hoje não existe uma garantia de que chegou a anunciar precipita-
o Gripen C, são países que isso vá acontecer. A própria Em- damente o então presidente
podem renovar sua frota”, braer não faz promessas muito Lula. Hoje em dia, dizem
acrescenta Franzén. “Estamos ambiciosas. “Com alta capaci- alguns analistas, o Brasil corre
no estágio em que a Suécia e o dade industrial e tecnológica no o risco de fabricar um caça
Brasil estão recebendo o caça setor aeroespacial e um histórico praticamente sem mercado,
mais moderno do mercado de sucesso em desenvolvimento ao contrário do que acontece
atual, o Gripen E, que irá e modernização de aeronaves, a com o Rafale, cujas vendas
operar até pelo menos 2060. O Embraer tem corpo técnico de estão em alta, para diferentes
memorando de entendimento engenharia com condições de países. Além dos caças de sua
entre a Saab e a Embraer aju- desenvolver todos os sistemas categoria, os Gripen sofrem
dará a garantir que tenhamos embarcados em uma aeronave com a concorrência dos F-35,
as tecnologias para desenvol- de combate de última geração. sobretudo pelo suporte das
ver um avião de combate de Essa capacidade é fundamental nações fabricantes em caso de
quinta geração. Ou seja, caso a para absorver conhecimen- conflito envolvendo qualquer
Suécia ou o Brasil decidam de- tos específicos no âmbito da operador do caça norte-ame-
senvolver um caça no futuro, engenharia de desenvolvimento ricano. Por fim, a FAB não
as empresas poderão apoiar e ensaios em voo e produtivos, esclarece o que espera absor-
essas atividades”. colocando a Embraer em uma ver, de fato, nesse processo de
Se houver a intenção de de- condição industrial e tecnoló- transferência de tecnologia do
senvolver um caça com tecnolo- gica ainda mais favorável”, diz programa Gripen.

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QUEM FAZ O QUÊ?


As empresas que participam do processo
de transferência de tecnologia do Gripen

O Programa Gripen Bra- tores) e segredos industriais, em Gavião Peixoto que estão Linha de montagem
sileiro envolve as principais mas o processo vem garan- as principais instalações do de Gavião Peixoto
vai produzir 15 caças
empresas aeroespaciais do tindo avanços tecnológicos à Gripen no Brasil:
Gripen para a FAB
país, incluindo Embraer, AEL indústria brasileira. Listamos com previsão de
Sistemas, Atech, Akaer e Saab os principais participantes da • CENTRO DE PROJETOS entrega da primeira
do Brasil. Conta também com produção dos novos Gripen. E DESENVOLVIMENTO DO unidade em 2025
a participação dos institutos GRIPEN - GDDN
técnicos da Aeronáutica do EMBRAER É um centro de engenharia
DCTA de São José dos Cam- A Embraer Defesa e Seguran- considerado o hub de trans-
pos. As empresas evitam de ça tem um papel de liderança ferência de tecnologia do
falar de questões mais técnicas como parceira estratégica Gripen no Brasil e tem como
de contratos de transferência no Programa Gripen. Como principal missão o desenvol-
de tecnologia, como patentes parte do plano de transferên- vimento e testes de software e
de invenções, patentes de cia de tecnologia, a indústria hardware do Gripen no Brasil.
modelos de utilidades, dese- brasileira tem uma importante Dispõe de mais de 100 enge-
nhos industriais, programas atuação no desenvolvimento, nheiros, na sua grande maio-
de computador (softwares), ensaios em voo e agora na ria brasileiros, que executam
circuitos integrados (topogra- montagem final das aerona- os pacotes de trabalho relacio-
fia de produtos semicondu- ves. É na planta da Embraer nados ao desenvolvimento do

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Gripen E/F em áreas como sis- de avaliar o desempenho da (HUD), bem como do sistema
temas veiculares, engenharia aeronave no clima tropical. de enlace de dados (datalink).
aeronáutica, projeto de estru- Estão sendo testadas também As capacidades da AEL foram
turas, instalação e integração no país características únicas aprimoradas pelo programa
de sistemas, aviônica, interface das aeronaves brasileiras, de transferência de tecnologia
homem-máquina, integração como os armamentos esco- para desenvolver e produzir
de armamentos e comuni- lhidos pela FAB, sistemas e esses sistemas no Brasil. A
cações. Segundo a Saab, o sensores táticos e o sistema de empresa se tornou fornecedo-
GDDN nasceu com a missão comunicação Link BR2 – que ra global da Saab para equipar
de ser o eixo central para o fornece dados criptografados não apenas os caças brasilei-
desenvolvimento colaborativo e comunicação de voz entre as ros, mas também os suecos,
do caça do Brasil. Para isso, aeronaves. e as versões de fábrica para
garante a empresa, o ambiente outras nações. Além disso, a
está conectado de maneira • LINHA DE PRODUÇÃO DE AEL recebeu transferência de
segura à Saab na Suécia e aos MONTAGEM FINAL tecnologia em manutenção
parceiros industriais no Brasil, A nova linha de produção de aviônicos para o Gripen
assegurando transferência de ocupa um hangar dedicado brasileiro e outros clientes
tecnologia e desenvolvimento exclusivamente para essa potenciais.
eficientes, com segurança de atividade e será conduzida
dados e informações. O local por funcionários da Embraer ATECH
contempla simuladores neces- capacitados pela Saab em Empresa do Grupo Embraer,
sários para o desenvolvimento Linköping, na Suécia. No é um player relevante na área
dos caças no Brasil. total, 15 aeronaves Gripen E de simuladores e sistemas de
serão montadas no Brasil e controle de tráfego aéreo. No
• CENTRO DE ENSAIOS EM as primeiras unidades devem programa Gripen, participa do
VOO DO GRIPEN - GFTC deixar a linha de montagem desenvolvimento do simula-
Visa construir os procedi- em 2025. Além destes, no dor de voo (Mission Trainer),
mentos e a capacidade de futuro, tendo demanda, tam- sistemas de suporte em solo
testar novos recursos durante bém deverão ser montados para planejamento e debriefing
a trajetória do Gripen na os exemplares de possíveis de missões, produção de da-
Força Aérea Brasileira (FAB). novas encomendas da FAB e dos geo-referenciados e todo
Inaugurado em 2020 com a de compras feitas do Gripen E o pacote logístico relacionado.
chegada do primeiro Gripen por países da América Latina. A empresa foi capacitada para
ao Brasil, o centro conta com A nova linha de montagem fornecer serviços de manu-
uma estrutura para coletar abre portas para tornar o país tenção destes dispositivos ao
em tempo real as informações um centro de produção de longo da operação dos caças
de telemetria dos voos, de aeronaves de caça. Gripen na FAB.
maneira criptografada, para
que os dados sejam analisados AEL SISTEMAS AKAER
por pilotos, técnicos e enge- Trata-se da principal forne- Localizada em São José dos
nheiros brasileiros e suecos cedora dos displays de cabine Campos, a empresa teve um
envolvidos na campanha de táticos para Gripen, o Wide papel relevante no desenvol-
ensaios realizada pelo Brasil Area Display (WAD) ou vimento, projeto de instala-
e pela Suécia. As atividades display panorâmico, o Hel- ção, análise de engenharia e
no Brasil incluem testes de met-Mounted Display (HMD) industrialização da estrutura
sistemas de controle de voo ou display montado no do Gripen. Iniciou sua parti-
e sistemas climáticos, além capacete e o Head-up Display cipação no programa Gripen

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em 2009, mesmo antes da micos, a fuselagem traseira e uma solução de manutenção


seleção do programa F-X2. dianteira para do Gripen E, que econômica e um alto nível de
Com mais de 700 mil horas serão posteriormente montadas disponibilidade para os avan-
de engenharia e projeto no na linha de montagem final na çados sensores no Brasil.
Gripen, a Akaer reforçou sua Embraer. A fábrica faz parte da
relevância no mercado aero- cadeia de fornecimento global DCTA
espacial local e mundial. A da Saab e iniciou as operações O Departamento de Ciên-
Saab detém 40% do controle em junho de 2020. cia e Tecnologia Aeroespa-
acionário da Akaer. cial, órgão do Comando de
• LABORATÓRIO DE MANU- Aeronáutica, participa de
SAAB BRASIL TENÇÃO DE ELETRÔNICOS DE projetos de pesquisa tecnoló-
A filial brasileira recebeu ALTA COMPLEXIDADE gica voltados para o desen-
investimentos da Saab AB Localizado também na planta volvimento futuro de caças de
(matriz na Suécia) para em São Bernardo do Campo, nova geração, em áreas como
estabelecer duas empresas este é o único laboratório de projeto conceitual, análise
no país: manutenção de equipamentos operacional, logística avança-
táticos críticos do Gripen, da de gerenciamento de frota,
• FÁBRICA DE AEROESTRU- como o radar de varredura projeto de baixa observabili-
TURAS DO GRIPEN eletrônica (AESA) e a suíte de dade, projeto e teste avançado
Estabelecida em 2018, na guerra eletrônica do Gripen, de motores a jato e processa-
cidade de São Bernardo do instalado fora da Europa. mento crítico em tempo real.
Campo, é a primeira fábri- O local representa um forte O DCTA também tem papéis
ca de grandes conjuntos de comprometimento com a importantes na certificação do
aeroestruturas da Saab fora capacidade de suporte do Pro- Gripen (em conjunto com a
da Suécia. Nesta instalação, grama Gripen durante o ciclo autoridade sueca, a FLYGI) e
estão sendo produzidos o cone de vida da aeronave na Força testes de voo por meio de seus
de cauda, os freios aerodinâ- Aérea Brasileira, ao garantir institutos correspondentes.

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M I N H A A E R EO N AV E CLUBE DE REVISTAS
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UPGRADE
NO SEU PAINEL
As opções de aviônicos dedicados à aviação leve para quem
quer atualizar o cockpit de sua máquina
P OR | FRANCISCO AUGUSTO COSTA*, ESPECIAL PA RA AERO MAGAZINE

N
o longínquo ano dispositivos móveis), fez com
de 1999, o Cirrus que a adoção dos chamados
SR20 se tornou o glass cockpits em aeronaves da
primeiro mo- aviação geral se tornasse, nos
delo certificado dias atuais, não exceção, mas,
segundo os requisitos da regu- sim, regra.
lamentação norte-americana Nos últimos anos, inúme-
para aeronaves leves (FAR ros fabricantes de aviônicos
23) a ser equipado de série desenvolveram produtos
com uma tela multifuncional, capazes de disponibilizar –
ou Multi-Function Display não apenas para aeronaves
(MFD). Desde então, quase leves novas, mas também
um quarto de século depois, a na forma de retrofits para
expansão e o amplo emprego aeronaves certificadas ou até
dos satélites como meios pri- mesmo para aeronaves leves
mários de navegação, inclusive avançadas – recursos similares
na aviação leve, a evolução na aos empregados nas aeronaves
tecnologia de construção de comerciais e em grandes jatos
displays, a maior confiabilida- de negócios: as aeronaves leves
de dos componentes utili- passaram a ser equipadas com
zados na aviação leve como painéis em que instrumentos
um todo e a virtual criação analógicos cedem lugar a
e popularização de soluções displays que apresentam infor-
inexistentes até então, a preços mações em telas digitais, com
acessíveis (como aplicativos e mais diversidade, qualidade e
CLUBE DE REVISTAS
Figura 1:
Substituição da
configuração 6-pack
pelo Primary Flight
Display

de dados por satélite, permi-


tiu também que informações
meteorológicas e notificações
(Notam, por exemplo) passas-
sem a ser disponibilizados em
tempo real.
Levando em consideração a
dominância do glass cockpit em
aeronaves leves novas (destacan-
do-se nas aeronaves certificadas
as plataformas Avidyne Entegra
e Garmin 1000 e, no caso das
aeronaves Cirrus, a plataforma
Garmin Perspective, além de
inúmeros fabricantes menores
para aeronaves leves esportivas),
preparamos um levantamento
com as principais opções para
retrofit da aviônica em aeronaves
com painéis analógicos. Segun-
do a base de dados do Registro
Aeronáutico Brasileiro, em maio
de 2023, existiam no Brasil apro-
ximadamente 5.600 aeronaves
monomotoras e multimotoras
com Certificado de Aeronavega-
bilidade válido ou vencido havia
Figura 2: confiabilidade do que os equi- mais em auxílios-rádio, mas menos de um ano e fabricadas
O painel Avidyne pamentos mais antigos. em waypoints conveniente- em ano anterior a 2005. To-
Entegra apresenta No entanto, a revolução da mente baseados em posições mando como premissa que 20%
configuração PFD aviônica embarcada na aviação geográficas, popularizaram e dessas aeronaves sejam clássicas
mais MFD leve não parou apenas na for- cada vez mais tomam o lugar ou já com glass cockpit de fábrica,
ma de exibição aos pilotos das de antenas como balizadores o mercado potencial de upgrade
informações de parâmetros de de procedimento de voos de painéis no Brasil é de aproxi-
voo, navegação e motorização, por instrumentos (IFR). Para madamente 4.500 aeronaves.
ou seja, não se restringe apenas quem voa visual (VFR) exclu-
a uma questão de inserção e sivamente, existe o benefício UMA INFINIDADE DE OPÇÕES
exibição de informações em de se plotar referências visuais Considerando que o proprietário
displays. Grande parte dos com base em sua coordenada, concordou com o investimento
avanços das aeronaves leves facilitando o voo em áreas necessário para o retrofit, resta
está em sua capacidade e em desconhecidas. Além disso, as a ele navegar pela miríade de
sua precisão de navegação, bases de dados de GPS forne- opções disponíveis. Em uma
oriunda do amplo emprego cem também informações em forma simplificada, podemos di-
do sistema de posicionamen- tempo real de relevo e obstácu- vidir os upgrades disponíveis da
to global (GPS, na sigla em los, dando ao piloto da aviação seguinte forma: a mais comum
inglês) como meio primário de geral uma consciência situa- das modernizações é substituir a
navegação. Procedimentos de cional que parecia impensável configuração 6-pack por uma tela
saída, chegada e aproximação e até então. Mais recentemente, de voo primário (Primary Flight
mesmo aerovias baseadas não com a capacidade de recepção Display ou PFD).

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Como o próprio nome exibição entre as configura-


sugere, o PFD concentra, ções 6-pack e PFD.
em uma tela, as informações O MFD atende a diversos
primárias de voo: atitude, al- propósitos, mas, comumente,
titude, variação de altitude, ve- incorpora um moving map
locidade e navegação. Se asso- (que pode ou não exibir cartas
ciado a outros componentes, aeronáuticas), um seletor
o PFD pode exibir também de rádios de comunicação e
outras funcionalidades, como navegação e equipamentos de
diretor de voo (flight director) monitoramento do motor da
ou visão sintética, por exem- aeronave. A adoção conjunta
plo. Em geral, a instalação de de PFD e MFD recebe nomes
um PFD traz consigo outra distintos dos diferentes fabri-
vantagem, que é a substituição cantes, mas se traduz em um
de instrumentos giroscópi- único conceito: diminuição ou
cos (elétricos ou a vácuo) eliminação de equipamentos são informalmente chama-
por sistemas de referência de analógicos priorizando o em- dos de navigators assumem Figura 3:
O Navigator
atitude e direção (Attitude and prego de telas com muitas ca- algumas das funções do MFD.
AeroNav 900 da
Heading Reference Systems, pacidades. A maior parte das A figura 2 exibe um painel Bendix King oferece,
ou AHRS), mais confiáveis e aeronaves leves novas contem- Avidyne Entregra, glass cockpit inclusive, visão
cruciais para uma operação porâneas vem com essa con- que equipava as aeronaves sintética
segura em condições meteoro- figuração. Todas estas opções Cirrus antes da substituição
lógicas de voo por instrumen- (apenas PFD, apenas MFD ou pela aviônica Garmin 1000.
to (IMC). Outra modernização ambas) são disponibilizadas Há navigators dedicados a
comum é a instalação de um pelos principais fabricantes de exibir informações referentes
display multifunção, o MFD. A aviônicos. Contudo, há outras à navegação, ou ao desloca-
figura 1 exibe a diferença de opções populares: displays que mento da aeronave propria-

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Figura 5:
Modernização de um King Air
C-90 com o Garmin G600 TXI

wireless para diversas fun-


ções, como atualização do
data-base, além do uso de
aplicativos como o ForeFlight
modernos. As opções são, em tempo real. Complemen-
portanto, inúmeras. A se- tando a linha de boas opções,
guir apresentamos as opções posiciona-se o G3X Touch,
disponibilizadas pelos maiores que pode equipar tanto ae-
fabricantes. ronaves certificadas como as
light sport aircraft.
GARMIN
A linha básica da Garmin AVIDYNE
tem entrada com os pequenos A linha chefe da Avidyne é a
displays como o G5, que visa Vantage, que se destaca em
substituir o antigo 6-pack de sua versão completa pelo
monomotores a pistão e pode emprego de duas telas de 12
equipar também as light sport polegadas, com funcionali-
aircraft. Mais versátil e com dades como visão sintética e
mente dito. Estes dispositivos boa capacidade de integração interface por toque, além de
Figura 4: exibem, portanto, um moving com receptores rádio, GPS e integração com aplicativos
A curiosa map e outras informações piloto automático de outros para dispositivos móveis ca-
modernização de úteis para essa finalidade. Há fabricantes, encontra-se o GI pazes de facilitar tarefas como
painel com quatro navigators que também podem 275 que pode, inclusive, exer- atualizações de cartas e de
displays GI 275, outras bases de dados e inser-
fazer a sintonização de rádios cer a função de instrumento
com detalhe para
instrumentação de navegação e comunicação. de motor. Essas opções, mais ção de plano de voo. Evolução
de motor também Para ilustrar as opções disponí- simples do que a instalação de natural da linha Entegra, com
eletrônica veis, um proprietário que não um painel completo, podem fácil modernização a partir
disponha dos recursos para a opcionalmente ser comple- deste painel, a linha Vantage
instalação de um MFD pode mentadas por navigators com é também disponibilizada
instalar um navigator e, em um distintas capacidades, citando- para aeronaves mais antigas
segundo momento, um display -se, por exemplo, o GNX 375 mediante a atualização de
dedicado aos parâmetros de ou o GNC 355. vários outros componentes da
motor (Engine Instrument Para aqueles que dese- aeronave.
Display ou EID). jam um upgrade completo Alternativas mais acessí-
Por fim, deve estar claro da plataforma de aviônica, veis à linha Vantage, que não
que algumas das capacida- opções como o G500 TXi compõem um painel full glass
des destes instrumentos são (para monomotores a pistão) cockpit, mas que também am-
dependentes da recepção de e o G600 TXi (para bimotores pliam sobremaneira a precisão
informações oriundas de saté- a pistão e monoturboélices) e facilidade de navegação,
lites: neste ponto, não estamos estão disponíveis a valores a consciência situacional e
falando da capacidade de mais significativos. Com telas a segurança como um todo
navegar por GPS, mas, sim, touch screen, estes painéis estão o navigator IFD-5 e, com
de receber informações como permitem configurações menor capacidade, IFD-4. Es-
meteorologia (XM Weather) distintas, com uma ou mais sas opções são de uso intuitivo
ou tráfego (ADS-B in ou telas de dimensões de sete ou para o piloto que faz uso das
TCAS). Demais capacidades 10.6 polegadas. Se instalados ferramentas da Avidyne em
dependem da instalação de em conjunto com receptores dispositivos portáteis, ali-
outros componentes, como GTN 650 ou 750, há ainda a nhando capacidade a facilida-
pilotos automáticos mais vantagem de conectividade de de aplicação no dia a dia.

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BENDIX KING cer fácil interface com naviga- AeroNav também conta com
Assim como a Garmin, a tors de fabricantes concorren- interface por toque, capaci-
tradicional fabricante Bendix tes, como Garmin e Avidyne. dade de recepção de satélite
King também disponibiliza Ao instalar duas telas da linha e sintonização de rádios de
uma linha de entrada para AeroVue Touch, a aeronave comunicação e navegação.
pequenos monomotores cer- passa a contar com um glass
tificados (AeroVue Touch) ou cockpit completo, com PFD e OUTROS FABRICANTES
mesmo para as aeronaves le- MFD dedicados. A despeito da concorrência de
ves esportivas (xVue Touch). Assim como a Garmin, grandes players como Garmin,
Como o próprio nome diz, displays dedicados ao moni- Bendix King e Avidyne, outros
estes displays oferecem inter- toramento dos parâmetros do fabricantes têm se destacado na
face por toque, e suas telas de motor também são disponi- qualidade de produtos com a
10.1 polegadas podem exercer, bilizados pela Bendix King. atuação em nichos específicos.
simultaneamente, a função de Caso a opção seja pela insta- A Dynon Avionics, que tem na
PFD e de MFD, além de ofere- lação de navigators, a linha aviação desportiva e experi-

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Outro motivo a favor


destes upgrades tecnológicos
está na manutenção de valor
da aeronave em si. Hoje em
dia, por exemplo, é man-
datório que aeronaves que
voam na quase totalidade do
espaço aéreo norte-america-
no tenha capacidade ADS-B
out. Portanto, aeronaves que
não tenham essa capacidade
simplesmente não podem ser
utilizadas, sendo mandatória
a instalação de equipamentos
que suportem essa capacidade,
notadamente o transponder
modo S. Para o proprietário
de aeronaves mais antigas e
que voa com pouca frequên-
cia, considerando os valores
Figura 6:
A Dynon e a Aspen mental o seu principal nicho flight director, a visão sintéti- de aquisição e instalação dos
são fabricantes de mercado, oferecendo o ca, a exibição de informações equipamentos, o alto investi-
de aviônicos Skyview HDX em telas de sete meteorológicas, de relevo e mento em uma aviônica mais
especializados ou dez polegadas, recentemen- de outros tráfegos e a capa- moderna pode parecer não
em retrofit. A te passou a oferecer também cidade de voar perfis laterais fazer sentido. Todavia, alguns
figura mostra a essa linha para aeronaves leves e verticais baseados em GPS argumentos são importan-
modernização de
um Seneca com
certificadas. A Aspen Avio- com o mesmo nível de preci- tes, o primeiro deles sendo a
a instação de um nics, com sua linha Evolution, são que aeronaves comerciais segurança operacional: todas
Dynon Skyview também oferece uma gama de ou jatos de negócios. Além as funcionalidades que podem
(esquerda) e a produtos que atendem a diver- da consciência situacional, ser embutidas na aviônica
modernização de sos orçamentos. é notório que os procedi- contemporânea aumentam
um Skyhawk com Para o proprietário de mentos de aproximação IFR sobremaneira a consciência
a instalação de um aeronaves mais antigas e que baseados em GPS estão sendo situacional dos pilotos. Algu-
Aspen Evolution
2000
voa com pouca frequência, amplamente empregados em mas destas facilidades são o
considerando os valores de detrimento de procedimentos flight director, a visão sintética,
aquisição e instalação dos antigos como NDB e VOR, a exibição de informações
equipamentos, o alto investi- por diversos motivos: con- meteorológicas, de relevo e de
mento em uma aviônica mais fiabilidade, facilidade de nave- outros tráfegos e a capacidade
moderna pode parecer não gação, necessidade de não de voar perfis laterais e verti-
fazer sentido. Todavia, alguns depender somente de uma cais baseados em GPS com o
argumentos são importan- estação emissora, sendo su- mesmo nível de precisão que
tes, o primeiro deles sendo a portado por uma constelação aeronaves comerciais ou jatos
segurança operacional: todas de satélites. Não seria exagero executivos.
as funcionalidades que podem dizer que em um futuro bem Além da consciência situa-
ser embutidas na aviônica breve o voo IFR se resumirá, cional, é notório que os pro-
contemporânea aumentam em termos práticos, à navega- cedimentos de aproximação
sobremaneira a consciência ção por satélite complementa- IFR baseados em GPS estão
situacional dos pilotos. Algu- da por procedimentos-rádio sendo amplamente emprega-
mas destas facilidades são o de precisão (ILS). dos em detrimento de proce-

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dimentos antigos como NDB não podem ser utilizadas, sen- planejo fazer com minha
e VOR, por diversos motivos: do mandatória a instalação de aeronave?
confiabilidade, facilidade de equipamentos que suportem • Em relação aos custos
navegação, necessidade de não essa capacidade, notadamente de manutenção de uma
depender somente de uma o transponder modo S. aviônica antiga, quão caro
estação emissora, sendo su- As opções para o upgrade é o upgrade?
portado por uma constelação de aviônicos em aeronaves • Qual é o valor que esse
de satélites. Não seria exagero leves são inúmeras e atendem retrofit pode adicionar à
dizer que em um futuro bem também a orçamentos de pos- minha aeronave em uma
breve o voo IFR se resumirá, sibilidades diversas. Partindo negociação futura?
em termos práticos, à navega- da substituição dos instru-
ção por satélite complementa- mentos analógicos por digitais Uma reflexão honesta
da por procedimentos-rádio (mantendo o formato 6-pack) sobre esses aspectos permite
de precisão (ILS). Por fim, um e indo até os full glass cockpits concluir que a decisão sobre o
outro motivo a favor destes com aviônica integrada, um upgrade dos aviônicos de uma
upgrades tecnológicos está na proprietário de aeronave deve aeronave não se baseia na per-
manutenção de valor da aero- considerar, dentre outros, os gunta de se devo modernizar,
nave em si. Hoje em dia, por seguintes fatores: mas quando essa moderniza-
exemplo, é mandatório que ção deverá ser feita.
aeronaves que voam na quase • A aviônica que eu tenho
totalidade do espaço aéreo hoje, ou que eu pretendo * Francisco Augusto Costa é
norte-americano tenha capa- instalar, atende a prováveis piloto de A320 e mestre em
cidade ADS-B out. Portanto, novidade regulatórias? Transporte Aéreo e Aeropor-
aeronaves que não tenham • Qual é o impacto da obso- tos pelo Instituto Tecnológico
essa capacidade simplesmente lescência nas missões que de Aeronáutica.

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INDÚSTRIA CLUBE DE REVISTAS

SEIS DÉCADAS
DE VOOS
EXECUTIVOS
Dassault Falcon completa 60 anos de existência
com uma trajetória que se confunde com o surgimento
e a evolução do mercado de aviação de negócios
POR | EDMUNDO UBIRATAN
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A
Dassault Falcon
completa seis dé-
cadas de atuação
no competitivo
e tecnológico
mercado de aviões de negó-
cios. Quando a marca in-
gressou neste segmento, em
1963, com o Mystère-Falcon
20, o Ocidente assistia a uma
rápida evolução na demanda
por aeronaves privadas. Nos
Estados Unidos, havia quase
duas décadas que os aviões a
pistão de pequeno porte eram
um sucesso entre o público,
mas existia, na época, uma
nova necessidade para aten-
der ao crescente número de
executivos e personalidades,
sobretudo músicos de sucesso,
que necessitavam se deslocar
rapidamente entre diversos
pares de cidade. A Lockheed
havia lançado anos antes o
JetStar, e diversos fabricantes Serge Dassault,
miravam neste mercado, como apresentou o Bloch MB.81, PÓS-GUERRA Block MB 220 (no
a britânica de Haviland, a no- um elegante avião militar No pós-guerra, após reestrutu- alto), em 1936, e
vata Lear Jet, entre outros. A destinado ao uso como ambu- rar sua empresa e até mesmo a Flamant, em 1947
então Avions Marcel Dassault lância aérea. O pequeno avião vida pessoal, Marcel Dassault
estava focada em aeronaves já trazia inovações bastante focou seus esforços na tecno-
militares de alto desempenho, audaciosas, como um com- logia de propulsão a jato com
com destaque para os Mirage partimento para o transporte fins militares. Embora tenha
III e a família Étendard. de um paciente, um cockpit tido sucesso com seus modelos
O engenheiro e industrial aberto, com para-brisa aero- comerciais, sobretudo com o
francês, nascido Marcel Ferdi- dinâmico, um bom equilíbrio SE.161 Languedoc, desenhado
nand Bloch, que se envolveu dinâmico e assim por diante. por Dassault e produzido pela
com a aviação logo em seus O avião entrou em serviço em Sud-Est (SNCASE), que entre
primórdios, destacando-se 1935, tendo sido produzido 21 1945 e 1948 atingiu a marca
por sua visão não apenas de unidades, um marco expres- de cem aviões produzidos, a
engenharia, mas também de sivo para aqueles tempos, situação política da França
negócios. Em 1928, criou a ainda mais considerando ser favorecia o segmento militar.
Société des Avions Marcel um projeto destinado a uma Naquele período, a França ha-
Bloch, que dois anos depois missão inusual. via estabelecido uma política

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de Estado de independência ções ocidentais ampliavam disse Marcel Dassault, em Com tecnologias
tecnológica, aportando gran- cada vez mais sua presença uma de suas mais lendárias derivadas de aviões
des volumes de dinheiro em longe de suas matrizes, exigin- frases. Embora gosto seja algo militares, o elegante
soluções domésticas em uma do deslocamentos constantes pessoal, os aviões da Dassault Mystère 20 marcou
época já com dois
ampla área de desenvolvimen- de executivos. O mundo do eram já famosos por suas motores montados
to, inclusive na aviação. entretenimento assistia ao sur- linhas harmoniosas e projetos na porção traseira
O sucesso das famílias de gimento de lendários nomes equilibrados. O governo fran- da fuselagem
caças Mystère, Étendard e da música e do cinema, todos cês havia recém-solicitado um
Mirage III havia colocado a necessitando se deslocar pelo estudo para o desenvolvimen-
Avions Marcel Dassault entre mundo de forma rápida e nem to de uma aeronave de ligação
os mais renomados e respei- sempre atendida pelas empre- e treinamento com propulsão
tados fabricantes de aviões do sas aéreas. Ainda que gigantes a jato, que tivesse capacidade
mundo. Nos primeiros anos como a Pan American World entre 8 e 10 pessoas. Os enge-
da década de 1960, o mundo Airways e a Trans World nheiros da Dassault passaram
fervilhava em tecnologia e Airways (TWA) tivesse vastas a avaliar um projeto de um
crescimento, assim como nas malhas aéreas internacionais, monoplano de asa baixa, com
disputas ideológicas entre o complementadas por mais aerodinâmica baseada no
bloco soviético e o Ocidente. de uma dezena de empresas caça-bombardeiro transônico
Tinha sido dada a largada nacionais nos Estados Uni- Mystère IV.
à corrida espacial, os testes dos, além de nomes europeus
nucleares estavam crescen- como Air France, Lufthansa, TRÊS LENDAS E UM AVIÃO
do mensalmente, as tensões BOAC e BEA, o transporte Seguindo uma tendência entre
entre os dois blocos levavam aéreo ainda estava longe de pequenos jatos civis da época,
ao desenvolvimento de aviões ser popular ou oferecer vastas o avião seria equipado com
militares cada vez mais sofisti- opções de rotas e horários. dois motores montados na
cados. Do outro lado, na vida “Para uma aeronave voar parte traseira da fuselagem, o
cotidiana, grandes corpora- bem, ela deve ser bonita”, que permitia uma asa bastante

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o que facilitaria a integração. atendendo justamente à de-


Dassault estava ciente do manda crescente por viagens
crescimento das necessidades corporativas e privadas nos
de transporte aéreo na Europa Estados Unidos.
e, sobretudo, nos Estados Em um feliz acaso de inte-
Unidos, o segmento de jatos resses, a Dassault estudava um
de negócios despontava como modelo de negócios capaz de
um novo nicho de mercado inserir seu jato de negócios no
com potencial de sucesso. mercado, mas carecia de ex-
Assim, o projeto contemplou periência de vendas visto que
seu uso civil, sendo um jato estava focada no setor militar
de negócios capaz de aten- no qual existe outra dinâmica
der em especial o mercado de negociações. Do encontro
norte-americano, oferecendo de duas lendas da aviação,
alcance na ordem de três mil Dassault e Lindbergh, surgiu a
quilômetros. Surgia, assim, o proposta de a Pan Am ser não
Dassault-Breguet Mystère 20, apenas um cliente do novo
um elegante avião que poderia avião, mas também seu repre-
atender tanto à demanda mili- sentante nos Estados Unidos.
tar francesa como à da aviação Após visitar a linha de mon-
limpa em termos aerodinâ- de negócios. tagem final da Dassault, em
Jacqueline Auriol a
bordo do avião da micos e uma menor altura Coincidentemente, en- Mérignac, perto de Bordeaux,
Dassault, em 1965 em relação ao solo. Para isso, quanto Dassault avaliava o Lindbergh, teria telegrafado
foram escolhidos os propulso- movimento da indústria para para o CEO da Pan Am, Juan
res Pratt & Whitney JT12A-8, suprir o que viria ser chama- Trippe, com esta mensagem:
os mesmos usados no JetStar, do de aviação de negócios “Encontrei nosso pássaro”.
no Sabreliner e no treinador (business aviation), o lendário Logo, um acordo foi
militar naval T-2 Buckeye. aviador Charlers Lindbergh, celebrado e a Pan Am enco-
Embora o governo francês que havia cruzado sem escalas mendou quarenta unidades do
tivesse predileção por projetos o Atlântico Norte, em 1927, novo avião, com opção para
inteiramente locais, a escolha agora como executivo da outros 120, criando a Pan Am
do JT12A reduzia os custos e Pan Am, buscava um avião Business Jets e a Business Jets
os riscos, além de ser o pro- para permitir o ingresso no Sales Division, respectiva-
pulsor padrão do segmento, mercado de aviação executiva, mente operador e distribuidor

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do Mystère 20 nos Estados inspecionar o novo jato e, Além dos motores, incluí- Da experiência com
Unidos. O destino havia somente depois de o aviador ram no projeto original uma o Mystère 20 vieram
novos projetos e o
reunido três lendas da aviação deixar a linha de montagem envergadura um metro maior, nome que eternizou
em torno de um único projeto, final, é que equipe de voo uma fuselagem alongada em a família de jatos
Marcel Dassault, Charles Lin- preparou a aeronave para a 48 centímetros e trem de pou- de negócios da
dbergh e Juan Trippe. decolagem. so principal e do nariz com Dassault, com
Os motores Pratt & Whit- duas rodas. destaque para o
JATO CERTIFICADO ney JT12A-8 de 3.300 libras- Os pilotos de teste logo Falcon 20
Pouco depois das 17 horas -força (lbf) acabaram não reportaram as boas qualidades
do dia 4 de maio de 1963, os atendendo aos requisitos em de voo do avião, que se tornou
pilotos de teste René Bigand e voo, sendo logo substituídos famoso por ter uma pilotagem
Jean Dilliare decolaram com pelos General Electric CF700, dócil aliada ao elevado desem-
Mystère 20, de registro F- de 4.125 libras-força. Ainda penho e à boa manobrabili-
-WLKB, para um voo inau- que o protótipo tenha sido dade. Uma das características
gural de uma hora. Segundo exibido no Paris Air Show mais marcantes é que o Falcon
relatos da própria Dassault, de 1963 com a configuração 20 não contava com stick
o voo ocorreu no final do dia inicial, ao longo do programa pusher ou dispositivos anties-
por causa da visita de Charles de ensaios em voo, uma série tol, visto seu comportamento
Lindbergh, que apareceu para de melhorias foi adicionada. de estol previsível. Além disso,

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aviões sendo enviados sem


interior e com a fuselagem
pintada apenas com prime
verde para o aeroporto de
Burbank, na Califórnia, onde
seriam finalizados em uma
linha de acabamento norte-
-americana. A estratégia per-
mitiu ao fabricante oferecer
uma maior participação dos
clientes no processo de perso-
nalização dos aviões, evitando
que tivessem de se deslocar até
a França, além de reduzir os
custos gerais.
Em 1966, houve a primei-
ra mudança na estratégia de
marketing e vendas, com os
aviões entregues nos Estados
Unidos sendo rebatizados
como Fan Jet Falcon para, na
sequência, a família ser desig-
nada Falcon 20, nomenclatura
que mais tarde daria origem
à marca Dassault Falcon. No
ano seguinte, a excelente acei-
tação do avião no mercado
norte-americano levou a Pan
Am ampliar o pedido para
160 unidades. Já a Dassault
passou a receber uma série de
pedidos de variantes militares
ao redor do mundo, incluin-
do versão de transporte de
pessoa, patrulha marítima e
vigilância. Ao mesmo tempo,
Falcon 10 (acima) e os engenheiros optaram por seguinte, voando o primeiro o Falcon 20 passou a receber
o icônico Falcon 50, empregar um sistema de con- protótipo do Mystère 20, a uma série de melhorias, como
com a estátua da trole assistido hidraulicamen- aviadora francesa Jacqueli- possibilidade de operar em
Liberdade ao fundo te, mas conectado a comandos ne Auriol quebrou o então pistas de cascalho e upgrades
e superfícies por hastes metá- recorde mundial feminino de do motor – para o CF700-2D
licas, assim, em uma eventual velocidade, tendo cruzado a no Falcon 20D, em seguida,
falha hidráulica completa, o uma velocidade média de 859 para o CF700-2D-2, que tinha
avião poderia seguir voando quilômetros por hora em um maior potência e foi oferecido
sem maiores contratempos, a circuito de mil quilômetros. no Falcon 20E, para o Garrett
não ser pelo fato de os coman- ATF3-6-2C, também ofere-
dos estarem consideravelmen- MERCADO NORTE- cido no Falcon 20G, entre
te mais pesados. AMERICANO outros.
A certificação ocorreu em As entregas começaram na A maior mudança no
9 de junho de 1965 e, no dia sequência, com os primeiros conceito do Falcon 20 ocorreu

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CLUBE DE REVISTAS

quando o também lendário No início dos anos 1970, MODELO TRIMOTOR


Frederick W. Smith, consultou em paralelo, a Dassault lançou Em meados dos 1970, o trans- Marcel Dassault
a Dassault sobre a viabilidade o Falcon 10, uma versão de porte aéreo intercontinental em um Falcon 50,
de uma versão cargueira, que menor capacidade e voltada era uma realidade cada vez interior do Falcon
900, TV no Falcon
seria viabilizaria o conceito para o segmento de entrada na mais presente no mundo, com 50 e cockpit do 100,
de uma empresa multimoldal aviação de negócios. Embora aviões de grande porte como no sentido horário
de entregas expressas, que muitos considerem um deri- os Boeing 747, os McDonnell
planejava oferecer serviços de vado direto do Falcon 20, o Douglas DC-10 e o Lockheed
remessas porta a porta. A Fe- modelo é um projeto relativa- L1011 conectando o mundo
deral Express (FedEx) buscava mente do zero, contando com de forma jamais imaginada.
um avião de média capacidade uma nova fuselagem não cir- Na mesma proporção, cres-
para entregas de encomendas cular, asas inéditas e sistemas ciam os negócios ao redor do
expressas, que pudesse voar simplificados. Ainda assim, mundo, exigindo voos ponto
em aeroportos com o mínimo grande parte do conceito era a ponto entre continentes,
de infraestrutura de solo, boa oriundo do irmão mais velho. sem que houvesse sempre
capacidade de transporte e Um dos diferenciais do Falcon voos regulares em horários ou
elevado desempenho em voo. 10 foi contar com uma pro- destinos pretendidos.
A FedEx operou um total de dução baseada em terceiros, Usando os então inovado-
33 unidades do Falcon 20, em com parte da fuselagem sendo res projetos digitais, baseados
uma versão cargueira. Além construída pela Potez, as asas no desenho assistido por
disso, a Guarda Costeira dos pela CASA, já o nariz e cauda computador (CAD, na sigla
EUA também encomendou 41 pela IAM e a Latécoère sendo em inglês), a Dassault pas-
unidades do avião, designado responsável pelas portas, cone sou a trabalhar em um avião
como Hu-25 Guardian. de cauda, entre outros. de maior capacidade, com

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CLUBE DE REVISTAS

alcance intercontinental na similar ao Falcon 20, mas com projeto. A Dassault utilizou
ordem de 3.700 milhas náuti- melhor aproveitamento do o projeto básico do Falcon
cas, o que atendia aos voos do espaço interno, sistemas de 50, mas com uma fuselagem
Atlântico Norte, e capacidade navegação e aviônicos avança- maior, com capacidade para
na ordem de oito passageiros, dos, entre outros. até 19 passageiros e melhorias
dentro do que hoje é defini- O primeiro protótipo aerodinâmicas no desenho das
do como a categoria super voou no dia 7 de novembro asas, e motores AlliedSignal
midsize. de 1976, com a certifica- TFE731, de 4.750 libras-força
Assim, a Dassault passou ção francesa ocorrendo em cada. O alcance máximo era
a trabalhar no Falcon 50. O fevereiro de 1979, seguia da de quatro mil milhas náuti-
Família Falcon, projeto previa o uso de três norte-americana em março. cas e velocidade de cruzeiro
projeto de um motores. A solução ampliava O Falcon 50 se tornou um dos de Mach 0.85. Além disso, o
supersônico e o
programa CATIA a potência disponível, sem mais bem-sucedidos aviões avião contou com maior uso
exigir grandes propulsores, e da categoria, sendo utilizado de materiais compostos, como
permitia aos projetistas man- inclusive no transporte de fibra de carbono e kevlar.
ter a disposição dos motores chefes de Estado, como no Porém, a maior inovação
na cauda. Ainda que o Jetstar caso de França, Itália, Portu- foi a Dassault ter ampliado
tivesse quatro motores no gal, Espanha, Jordânia, Líbia, ainda mais o uso de compu-
cone de cauda, além de outros Marrocos, para citar alguns. tação no desenvolvimento do
aviões, a potência exigida Falcon 900. O aprendizado
tornaria inviável o uso dessa PROJETOS mais tarde levaria à criação da
solução, visto que o Falcon 50 COMPUTADORIZADOS plataforma comercial CATIA,
exigia motores mais pesados A boa aceitação do Falcon 50 acrônimo de Computer-Aided
do que os da geração anterior e o crescimento do mercado Three-dimensional Interacti-
e o consumo específico seria de aviação de negócios leva- ve Application, uma suíte de
maior. Foi escolhido o turbo- ram à primeira grande corrida softwares que agrega desenho
fan Honeywell TFE 731, que do segmento. Assim, em 1983, assistido por computador
oferecia potência entre 3.500 e a Dassault anunciou no Paris (CAD), manufatura auxilia-
4.740 libras-força, dependen- Air Show o desenvolvimen- da por computador (CAM),
do da série. O avião tinha asas to do Falcon 900, que seria engenharia auxiliada por com-
enflechadas supercríticas, uma rival direto do Gulfstream IV, putador (CAE), modelagem
seção transversal da fuselagem que estava em fase inicial de 3D e gerenciamento de ciclo

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de vida de produto (PLM). plataforma. tes no mundo tentavam agregar


Embora desenvolvido interna- Com a boa aceitação do o numeral em seus produtos, Em foto de 2001, o
mente pela Dassault em 1977, Falcon 900, a Dassault lançou o desde aviões até programas Falcon 2000 EX
apenas na década seguinte, o Falcon 2000, uma versão menor educativos. O Falcon 2000 era
CATIA se tornou padrão na voltada para voos de médio um substituto direto do Falcon
indústria aeroespacial. curso e com capacidade para 20, aposentado em 1991, após
O 777 foi o primeiro avião até 10 passageiros. O primeiro 512 unidades produzidas.
da Boeing basicamente todo voo ocorreu em março de 1993, Originalmente o Falcon
desenvolvido por meio da suíte quase trinta anos depois do Fal- 2000 era equipado com os
CATIA. Ainda que a Boeing con 20, mostrando a acertada motores CFE738-1-1B de
tenha empregado outros recur- escolha de investir na aviação 5.918 libras-força e a suíte de
sos de computação, o sistema de negócios. O Falcon 2000 tem aviônicos Collins Pro Line 4.
se mostrou tão eficiente que uma fuselagem 2,1 metros mais Ao longo dos últimos 30 anos,
os engenheiros optaram por curta do que a do Falcon 900, e o avião foi constantemente
desenvolver um avião comple- as asas receberam uma série de atualizado, com a versão atual,
tamente novo apenas no com- mudanças, como leading edge o Falcon 2000LXS podendo
putador, aposentado definiti- modificado e remoção dos slats. operar em pistas curtas de até
vamente as antigas pranchetas O nome Falcon 2000 era uma 1.425 metros (nível do mar,
com réguas, papel e lápis. Hoje, sugestiva evolução do Falcon ISA e peso máximo de decola-
o CATIA é onipresente em 900 e ainda uma estratégia de gem) e alcance de quatro mil
quase toda a indústria aeroes- marketing, que vislumbrava milhas náuticas. Os motores
pacial e, em 2014, a Dassault inovação na última década do atuais são os Pratt & Whitney
Systèmes, divisão de software século 20. Os anos 2000 per- PW308C de 7.000 libras-força
do Dassault Group, lançou o meavam o imaginário popular e a suíte de aviônicos é o EASy
3DEXPERIENCE, que ampliou como uma era altamente tecno- II, baseado no Honeywell
ainda mais as capacidades da lógica, assim, diversos fabrican- Primus Epic.

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em 1,1 metro, mas que ofere-


ce melhor espaço interno e o
alcance passou para 6.450 milhas
náuticas. Com o crescimento do
mercado de super midsize, que
passou a oferecer novos concor-
rentes, como o Embraer Legacy
600/650, e na sequência os Lega-
cy 500, a Dassault anunciou na
NBAA-BACE 2013 o Falcon 5X,
com capacidade para até 16 pas-
sageiros, alcance de 5.200 milhas
náuticas e velocidade máxima de
Mach 0.9. Um dos diferenciais
daquele projeto completamente
novo eram os motores Snecma
Silvercrest, que prometiam
considerável redução tanto no
consumo como nas emissões de
poluentes.
Contudo, uma série de
problemas de desenvolvimento
e projeto inviabilizaram o motor,
que levou ao cancelamento do
programa Falcon 5X. Ainda as-
sim, as boas qualidades do pro-
jeto, como sua ampla fuselagem
e janelas com melhor aprovei-
tamento da iluminação natural,
inclusive com uso de claraboia,
Grande sucesso GERAÇÃO X que permitiu reduzir o peso do levou ao lançamento do Falcon
da Dassault, o Após o Falcon 900, outro grande sistema ao mesmo tempo que 6X. Basicamente, uma evolução
trimotor Falcon 7X salto tecnológico da Dassault oferece grande confiabilidade e do antecessor, oferecendo algu-
incorporou muitas ocorreu no Paris Air Show de manobrabilidade. O Falcon 7X mas soluções que tinham sido
tecnologias novas
2001, quando foi lançado o Fal- tem uma fuselagem 2,4 metros sugeridas pelos próprios clientes
con 7X, que inaugurou a geração mais longa que o Falcon 900, do Falcon 5X. Entre as principais
X dos Falcon, e agregou uma assim como asas de perfil super- diferenças está a fuselagem com
série de inovações no projeto. crítico completamente novas, 25,68 metros de comprimento,
Embora tenha mantido a confi- que oferece uma melhorias na praticamente 40 centímetros
guração de três motores, o novo relação sustentação-arrasto de maior do que o antecessor e
avião ingressou no segmento de 10% quando comparado ao envergadura de 24,94 metros,
longo alcance, podendo voar por projeto das asas do Falcon 50 adicionando quatro centímetros
até 6.450 milhas náuticas, com compartilhada até então nos no total. O alcance passou para
velocidade máxima de Mach modelos anteriores. 5.500 milhas náuticas. O Falcon
0.90. O modelo foi o primeiro A altitude de cabine de 1.800 6X deverá começar a ser entre-
a estrear a suíte EASy de série metros também foi um destaque gue ainda este ano.
e ser equipado com controle quando o Falcon 7X fez seu Por fim, o mais recente
fly-by-wire. Aliás, a tecnologia primeiro voo em 5 de maio de avião da Dassault é o Falcon
de controle por fios foi inspirada 2005. Dez anos depois, voava o 10X, que amplia a disputa no
nas soluções do caça Rafale, Falcon 8X, uma versão alongada mercado de jatos de negócios

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Adriano Ramos Pinto


Porto Reserva
Edição Limitada
Adriano Ramos Pinto - Douro, Portugal

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de fuselagem larga e ultralongo


alcance. O modelo é uma respos-
ta aos recém-lançados Gulfstream
G700/G800 e Bombardier Global
8000. Contudo, cada fabricante
criou um conceito ligeiramente
diferente, mas todos atuando no
mesmo segmento, com alcance e
velocidades próximas. A Das-
sault criou o Falcon 10X dentro
do que chamou de ultrawide, ou
seja, uma fuselagem mais larga
do que a de seus rivais, com uma
seção transversal de 2,77 metros,
superior inclusive do que a dos
Embraer E-Jet. Um dos diferen-
ciais são os sistemas fly-by-wire
e controles digitais avançados
e derivados da última evolução DASSAULT FALCON NO BRASIL
do Rafale. Por exemplo, mesmo
Rodrigo Pesoa, vice-presidente de Vendas para América Latina,
sendo um bimotor, o Falcon 10X
conta com apenas um manete fala da trajetória da marca no país
de potência, o gerenciamento da • Qual a importância do Brasil para a •Após as crises de 2015 em diante, a
aceleração, inclusive em caso de Dassault Falcon e qual diferencial da demanda nacional por jatos de longo e
falha num dos motores, é feito de empresa no país? ultralongo alcance permanece?
forma automática pelos computa- Ha pelo menos 20 anos, o Brasil vem sendo Sim, permanece. Como sabemos, este
dores de voo. um dos mercados mais importantes para a mercado tem ciclos de altos e baixos, mas
Outro diferencial é na Dassault. Prova disso são os investimentos temos mantido excelente média de vendas
própria linha Dassault Falcon, constantes que temos feito aqui, nos últimos anos.
ao ser um bimotor, equipado principalmente no pós-venda, nosso grande
com o Rolls-Royce Pearl 10X, diferencial aqui. Somos o único fabricante •Como o cliente escolhe o avião, depois
rompendo com a tradição dos de aeronaves estrangeiro a ter um centro o processo de personalização, até a
trimotores iniciada no Falcon de serviços próprio no Brasil, localizado em entrega?
900. Atualmente, a Dassault Sorocaba. Após concretizar o negócio, nosso cliente
terá um time à sua disposição que o ajudará
Falcon entregou mais de 2.700
• Qual foi o primeiro Falcon vendido no em todo o processo de especificação da
aviões, que são operados tanto
Brasil? aeronave, tanto em relação a parte técnica
por empresários e industriais, Um Falcon 10, entregue em 1977. como em todos os detalhes do interior que
como personalidades, grandes podem ser inteiramente escolhidos pelo
corporações, governos e forças • Hoje, qual o principal modelo da futuro proprietário. Em geral, recebemos
armadas. E, segundo o atual Dassault no mercado brasileiro? o cliente em nosso escritório nos Estados
CEO da Dassault Aviation, Eric Os Falcon 2000LXS e o Falcon 8X são Unidos e lá ele terá uma equipe a sua
Trappier, o conceito de pensar grandes sucessos de venda no Brasil desde espera para, em nosso showroom, escolher
aviões, baseada na célebre frase há muitos anos. Temos também plena cada detalhe do interior da aeronave, bem
de Marcel Dassault, continua. convicção do sucesso que será o novo Falcon com a sua pintura.Nossas aeronaves são
“A fórmula não mudou. Cada 6X no Brasil, com a cabine mais larga entregues em Little Rock, Arkansas, onde
aeronave Dassault deve ter um dentre todas as aeronaves executivas. Não temos uma equipe especializada nesse
manuseio excelente, linhas bo- posso deixar de ressaltar o incrível Falcon processo, inclusive com larga
nitas e construção robusta. E, é 10X, cujas duas primeiras unidades foram experiência de entrega para clientes
claro, deve fornecer conforto de vendidas para clientes Brasileiros. brasileiros.
última geração”.

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VELHO CONTINENTE
Principal feira de aviação de negócios da Europa
tem lançamento de jato da Cessna e estreia de
modelos que prometem mexer com o mercado
P OR | EDMUNDO UBIRATAN
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A
European Bu- sempre em outubro. Por sua emitidas pelo número de
siness Aviation vez, nos Estados Unidos é a pessoas transportadas. Se a
Convention & concretização de uma série análise se resumir a quilos de
Exhibition é o de disposições feitas meses emissões por passageiros, de
principal evento antes na Suíça, algumas com fato, a defesa da aviação de
de aviação de negócios na passagem pelo Brasil. negócios é complexa, mas, se
Europa e, anualmente, serve olharmos o impacto global da
como um termômetro para PRESSÃO POR operação, desde voos ponto a
o setor no Velho Continente. MENOS EMISSÕES ponto, redução de necessida-
Tradicionalmente ocorrendo Seguindo uma tendência na de de uso de outros modais
no segundo trimestre do ano, aviação há vários anos, os pai- para completar uma viagem,
a Ebace aconteceu este ano néis profissionais reforçaram entre outros, as aeronaves da
entre os dias 23 e 25 de maio o destaque das novas tecno- aviação não são exatamente
último, como sempre, em logias de sustentabilidade e um problema, sendo parte
Genebra, na Suíça. Além de oportunidades de negócios da solução. Basta pensar
apresentar as novidades do neste segmento. Há pelo a quantidade de recursos
mercado, em especial em ser- menos dez anos que o setor poupados em uma operação
viços e ciclos de conferências, aéreo como um todo debate em locais remotos, que nem
a Ebace traz alguns destaques formas de reduzir as questões sequer contam com infraes-
que serão realidade em breve, de emissões de poluentes e, trutura rodoviária. Alguns
incluindo lançamentos de simultaneamente, encontrar voos atendem a operações em
novas aeronaves. É interessan- um caminho para redução locais que, se fossem depen-
te notar a simbiose do evento dos custos operacionais. Este der de qualquer transporte
suíço com as feiras coirmãs ano, a Ebace abordou solu- terrestre, ou mesmo maríti-
NBAA-BACE, que ocorre nos ções para voos sustentáveis, mo, dependeriam da cons-
Estados Unidos, e Labace, na um tema caro para a aviação trução de complexas redes
América Latina. Usualmente, de negócios, visto que existe de suporte e infraestrutura, o
a Ebace inicia o ciclo anual da uma campanha, sobretudo na que geraria uma quantidade
aviação de negócios, consoli- Europa, para limitar o uso de brutal de emissões, fora o
dando tendências e novidades aviões particulares. uso de recursos para atender
feitas no final do ano anterior A alegação é a grande a um limitado número de
na NBAA-BACE, que ocorre quantidade de poluentes operações.

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Ainda assim, o setor tem


trabalhado para uma redução
total de emissões, com objeti-
vo de neutralizar as emissões.
Entre os debates na aviação de
negócios, assim como na re-
gular, é a viabilidade do uso de
combustíveis renováveis, como
SAF, e hidrogênio. Ainda que
distante de uma solução con-
solidada, a aviação de negócios
mantém seu interesse em ser
parte da solução para toda uma
cadeia de transporte. Tanto
que é um dos segmentos com
maior número de inovações
nas últimas décadas, basta ver
a evolução dos jatos de negó- CESSNA ASCEND O Ascend terá alcance
cios entre 1970 e 1990, depois A Textron Aviation anunciou de 3.500 quilômetros (1.900
entre 1990 e 2010 e, agora, na no dia 22 de maio seu mais milhas náuticas), com quatro
última década. novo avião de negócios, o Ces- passageiros, alcançando até
“Na Ebace, vimos como a sna Citation Ascend, derivado 3.890 quilômetros. A velo-
aviação executiva está rein- da série 560XL. O lançamen- cidade de cruzeiro será de
ventando a própria tecnologia to ocorreu um dia antes da 441 nós com possibilidade de
de voo para assumir novas abertura da Ebace, mostrando subir direto para 45 mil pés.
missões, atender a novos a importância do evento e Um dos destaques são seus
clientes e conectar o mundo destacando a evolução de uma motores Pratt & Whitney
de forma sustentável”, disse das mais renomadas famílias Canada PW545D, equipados
Juergen Wiese, presidente da de jatos executivos do mundo. com Fadec, com menor con-
European Business Aviation O novo avião é uma evolução sumo de combustível, maior
Association. “Durante décadas, do Citation 560XL, que traz empuxo e tempo de operação.
nossa indústria foi pionei- um cockpit totalmente novo, Além disso, o avião terá de
ra em inovações para voar equipado com a suíte Garmin série autothrottle, o que reduz
não apenas mais longe, mas 5000, cabine de passageiros a carga de trabalho dos pilotos
também com mais eficiência com novos recursos e acaba- e melhora a eficiência do voo.
e, na Ebace, aceleramos nosso mento, assim como desempe- O recém-lançado Gulfs-
incrível ritmo de inovação”. nho aprimorado. A expectati- tream G800 fez sua estreia
E inovação não faltou na va da Textron é que o Citation intercontinental, voando entre
Ebace, que foi palco para o Ascend entre em serviço em os Estados Unidos e a Suíça,
lançamento do novo Cessna 2025. “Da família Citation, para participar justamente
Citation Ascend da Textron não há nenhum mais voado da Ebace 2023. O avião é o
Aviation, e marcou a estreia do que a série Citation 560XL. mais recente lançamento da
europeia do ACJ TwoTwenty, Com uma aeronave 560XL Gulfstream, unindo ultralon-
da Airbus Corporate Jets; do decolando ou pousando a go alcance com uma ampla
Challenger 3500, da Bombar- cada dois minutos em algum cabine de passageiros, para até
dier; do HondaJet Elite II, da lugar do mundo”, destacou dezenove ocupantes, sendo
Honda Aircraft, e do G800, da Ron Draper, presidente e CEO um derivado direto do tam-
Gulfstream. da Textron Aviation. bém recém-lançado G700.

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GULFSTREAM G800 recentes avanços em tecnologia conforto para o futuro dos


O G800 presente no evento da e inovação, o G800 adiciona o jatos muito leves”, destacou
Europa é o primeiro exemplar maior alcance ao nosso portfó- Hideto Yamasaki, presidente
de ensaios em voo, que segue lio de aeronaves”. e CEO da Honda Aircraft.
na campanha de certificação e Recentemente, a frota global
aproveitou a Ebace para iniciar HONDAJET ELITE II do HondaJet ultrapassou a
a campanha de viagens de lon- O HondaJet Elite II também marca de 170 mil horas de
go alcance, sendo abastecido fez sua primeira apresentação voo e atingiu 230 aeronaves
com uma mistura de com- na Ebace 2023, pouco mais de em serviço em todo o mundo.
bustível renovável de aviação seis meses após ser anunciado Na Europa, atualmente, estão
(SAF, na sigla em inglês) e na NBAA-BACE, em Orlando. em operação vinte exemplares
querosene. Há vários meses, O avião é uma evolução do do HondaJet, o que levou o
a Gulfstream tem adotado o HondaJet, incorporando uma fabricante dobrar o seu centro
abastecimento com mistura série de melhorias, como um de serviço autorizado no con-
de SAF em todos os seus voos alcance de até 1.547 milhas tinente e adicionar um centro
partindo da sede, em Savan- náuticas (2.865 quilômetros). de treinamento de voo em
nah, no estado norte-america- Ainda que não tenha realizado Farnborough, Reino Unido.
no da Geórgia. profundas mudanças no proje-
O G800 segue em sua cam- to, a Honda Aircraft melhorou FALCON 6X
panha de ensaios em voo, de- o interior, oferecendo uma A Dassault Falcon apresentou
monstrando com essa missão cabine redesenhada, mas sem no evento seu mais recente
intercontinental a evolução do mudar as principais caracterís- lançamento, o Falcon 6X,
programa de desenvolvimento, ticas de avião que se mantém que deverá iniciar as entre-
com o avião sendo certificado altamente competitivo. Desde gas nas próximas semanas,
dentro do cronograma. “Ao a sua certificação, o HondaJet assim como os bem-sucedidos
voar a aeronave de teste G800 se tornou um dos líderes da Falcon 8X e Falcon 2000LXS.
para a Ebace 2023, estamos categoria, disputando o mer- Além disso, o mockup em
demonstrando a maturidade cado de entrada na aviação de escala real do Falcon 10X
deste programa”, disse Mark negócios e oferecendo uma esteve presente. A Dassault
Burns, presidente da Gulfs- ampla cabine, aliado ao bom Falcon entrou na disputa no
tream. “O G800 apresenta uma desempenho e custos opera- segmento de jatos de cabine
combinação atraente de aerodi- cionais baixos. larga e ultralongo alcance com
nâmica de alta velocidade e “O HondaJet Elite II o Falcon 10X, que terá a maior
motores com baixo consumo continua nossa dedicação em cabine entre seus rivais, ainda
de combustível para diminuir superar as expectativas dos que capacidade e alcance seja
as emissões e economizar tem- clientes em todo o mundo basicamente igual, com 7.500
po de voo para nossos clientes. estabelecendo novos padrões milhas náuticas e velocidade
Equipado com nossos mais de desempenho, eficiência e máxima de Mach 0.925. O di-

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ferencial será sua cabine ultra leve mais vendido do mundo quilômetros, com 75 passagei-
larga, superando até mesmo por 11 anos consecutivos. ros a bordo. Além disso, foram
a seção transversal maior que confirmados os pedidos para um
dos Embraer E-Jet, que deu AIRBUS ACJ220 BBJ MAX 7, derivado do 737
origem inclusive ao já retirado Entre os grandes aviões corpo- MAX 7, e dois BBJ 787-8.
de linha Lineage 1000. rativos a Airbus fez a estreia do Mesmo não sendo palco
ACJ TwoTwenty, derivado di- de uma série de lançamentos,
EMBRAER retamente do A220, que conta a Ebace confirmou a evolução
A Embraer, que desde a com uma ampla cabine de 73 do setor nos últimos meses e se
NBAA-BACE 2018, não lança metros quadrados e seis zonas, mostrou disposta a colaborar
nenhum avião completamen- a maior do segmento, aliado com as novas tecnologias que
te novo, vem consolidando a alcance intercontinental. O estão em desenvolvimento,
a posição de seus Praetor, a modelo deverá ser um substi- sobretudo no quesito ambiental.
evolução do programa Legacy tuto natural dos primeiros ACJ “Observamos em primeira mão
450/500, assim como manten- A319, oferecendo capacidade e os combustíveis, sistemas de
do a liderança global com o alcance compatíveis, mas com propulsão e tecnologias que le-
Phenom 300. Para a Ebace, a grande redução de consumo. varão ao voo carbono zero. Fo-
Embraer levou justamente o mos inspirados pelos pioneiros
trio para Genebra, valendo-se BOEING BBJ 777-9 do nosso setor que defendem o
principalmente do anúncio A Boeing também garantiu na trabalho em equipe e a inclusão.
recente da gigante NetJets para Suíça a primeira venda do BBJ A EBACE nos mostrou tudo
até 250 unidades do Praetor 777-9, com um acordo para o que é possível hoje e como
500, que, somado ao contrato quatro aviões. Os 777-9 são, nossa visão compartilhada mol-
de serviços e suporte, tem valor atualmente, os maiores aviões de dará o amanhã”, disse Ed Bolen,
superior aos cinco bilhões de negócios do mercado, com mais presidente e CEO da National
dólares. Além disso, o Phenom de 340 metros quadrados de área Business Aviation Association
300, mantém o status de jato e alcance estimado em até 20.418 (NBAA).

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AG R I S H OW CLUBE DE REVISTAS

ASAS PARA
O CAMPO
Principal evento brasileiro voltado ao agronegócio atrai
fabricantes de diferentes mercados, que expuseram desde
aviões de negócios e helicópteros até monomotores agrícolas
TEXTO E FOTO S | RODRIGO DUARTE, DE RIBEIRÃO PRETO, ESPECIAL PARA AERO MAGAZINE
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A
que podem destruir plantações
cidade de Ri- já vivenciou de perto esse inteiras. Os fazendeiros fazem
beirão Preto se grandioso evento, mas, ainda largamente o uso de máquinas
torna a capital do assim, impressionam a quan- desenvolvidas exclusivamente
agronegócio bra- tidade e o volume financeiro para realizar a pulverização
sileiro ao sediar de negócios gerados durante agrícola. Nesse mercado, dis-
o Agrishow, um evento anual poucos dias. Também não putavam a atenção do público
que recebe produtores rurais é novidade a íntima relação na feira o Embraer Ipanema e
de todos os lugares do Brasil e existente entre o agronegócio o Air Tractor AT-520B, repre-
do mundo. O objetivo da feira e a aviação de negócios. sentado no país pela AgSur.
é expandir ainda mais um Além de aviões, helicópteros
pujante mercado que produz PIB BRASILEIRO também vêm ocupando seu es-
alimentos não apenas para A aviação certamente contri- paço no setor e o aumento de
o mercado nacional, mas, bui diretamente para o suces- seu uso no segmento torna o
também, e principalmente, so obtido por esse segmento, equipamento parte integrante
em alguns casos, para grande que gera mais de 30% do pro- no cenário agrícola brasileiro.
parte da população global. duto interno bruto brasileiro, A prova disso tudo foi o
Cada um dos setores que pois consegue fornecer aos movimento intenso de aero-
compõem esse ecossistema, seus usuários rápido desloca- naves no aeroporto de Ribei-
o chamado “agribusiness”, via- mento em grandes distâncias, rão Preto, administrado pela
jou até o interior de São Paulo partindo e chegando a locais Rede VOA, como também
na primeira semana de maio que não são atendidos pela o movimento no Helicentro
e garantiu uma ocupação de aviação comercial. Ribeirão Preto e no heliponto
100% da capacidade hoteleira Juntos, a aviação e o da própria Agrishow. Aviões e
da região, esgotada já com agronegócio se completam de helicópteros voaram de manei-
muitos meses de maneira indelével. Mais que o ra constante, quase sem cessar,
antecedência. transporte de pessoas puro e durante todos os dias.
Tamanho movimento simples, as aeronaves também É notório que existe um
não é novidade para quem operam no combate a pragas, grande gargalo para a chegada

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ao evento nos primeiros não preparadas, e também


horários de abertura da feira, apresentou produtos como a
causando filas com quilôme- GPU Enercraft e o mock-up
tros de extensão nas estra- do drone Wingcopter, além de
das que dão acesso ao local. peças para aviões agrícolas.
Algumas pessoas já fazem Um intenso volume de
valer das facilidades do uso de tráfego aéreo se formou na
helicópteros e chegam voando, região, que contou com o
literalmente passando por controle efetuado basicamente
cima de todo o tráfego ter- pela torre do aeroporto de
restre e economizando horas Ribeirão Preto e o profissio-
que seriam gastas no trânsito nalismo de todos os pilotos
parado. Afinal, o tempo é o envolvidos. Infelizmente, a
único ativo que não é passível nota negativa ficou para um
de reposição após perdido. trágico acidente de helicópte- clientes da aviação geral, eles
também abrigaram a Tam Movimento
Os expositores aeronáuti- ro, que vitimou dois pilotos.
de aeronaves
cos se dividiram em duas fren- Eles decolaram do evento para Aviação Executiva, que levou durante o
tes muito bem definidas. A São Carlos e não chegaram ao uma equipe de 16 pessoas e Agrishow
primeira ficou situada dentro seu destino em um fato triste e aeronaves demonstradoras dos cresceu em
do evento com aeronaves que isolado, que não teve qualquer modelos King Air, Citation relação a anos
pousaram na pista de terra de conexão com as operações da M2 e Bell 505. anteriores
550 metros de comprimento, Agrishow. No Helicentro Ribeirão Pre-
registrada na Agência Nacio- to (SSUE), localizado na zona
nal de Aviação Civil sob có- MAIS MOVIMENTO sul da cidade, houve momentos
digo SIHW e construída com Segundo informações da Rede de 100% de ocupação das posi-
o objetivo de apresentar aos VOA, administradora do ções de estacionamento, o que
compradores a performance e aeroporto de Ribeirão Preto, obrigou a espera de aeronaves
a vocação das aeronaves desti- as operações de 2023, quando tanto para pouso como também
nadas ao agribusiness. comparadas ao ano anterior, para decolagem. Segundo
No local, também foi es- apresentaram crescimento de informações da administração
truturada uma operação para 10,32% e uma curva ascen- do Helicentro, 75 helicópteros
helicópteros com terminal de dente que teve início em 2019, de fora da cidade utilizaram o
embarque, equipe de assis- ano imediatamente anterior à local, representando também
tência e pontos para pouso de pandemia de covid-19. um recorde de movimentação,
aeronaves, além de locais de O pátio geral de estaciona- assim como ocorrera no aero-
estacionamento e espera em mento ficou completamente porto da cidade.
solo. A segunda frente ficou si- lotado durante todos os dias Ao que parece, a conso-
tuada no aeroporto da cidade do evento, com aeronaves de lidação das operações aéreas
de Ribeirão Preto, sendo que diversos portes, desde mono- voltadas ao agronegócio vem
os fabricantes de aeronaves de motores a pistão até grandes acompanhando seu cresci-
maior porte recepcionaram jatos com capacidade de voo mento e impulsionam positi-
seus clientes para apresenta- internacional. Nos hangares, o vamente o mercado aeronáu-
ções dos modelos expostos e movimento foi intenso. O des- tico brasileiro. Assim como
até mesmo ofereceram voos de taque ficou para o hangar Fon- em outros segmentos, o uso
demonstração aos potenciais toura, com grande fluxo de adequado dessa ferramenta
operadores. Destaque para a chegadas e saídas de maneira de trabalho é vetor de desen-
Synerjet, que levou seu versátil ininterrupta coordenadas pela volvimento e coloca o Brasil
monoturboélice PC-12 NGX, competente Liliane Brunelli e no primeiro plano mundial
capaz de pousar em pistas seu time. Além de recepcionar também desse mercado.

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HELI XP CLUBE DE REVISTAS

PÚBLICO
RECORDE
Principal evento da América Latina
dedicado exclusivamente ao mercado
de helicópteros tem aumento no
número de visitantes, expositores
e voos de demonstração

A
quarta edição da
Heli XP reuniu
em São Paulo um
público recorde.
Sediado mais
uma vez no Helipark, centro
de manutenção e hangara-
gem de helicóptero localiza-
do na cidade de Carapicuíba,
o evento recebeu 5.600 pes-
soas ao longo de dois dias e
teve um crescimento de 80%
no movimento de aeronaves,
que decolaram e pousaram
358 vezes em dois dias,
contra 198 em 2022, segundo
os organizadores. A área de
exposição também cresceu,
recebendo 73 marcas e 18
aeronaves, com empresas
vindas de países como Esta-
dos Unidos, França, Canadá,
Austrália, Itália e Mônaco.
Os números consolidam o
Heli XP como o principal en-
contro dedicado ao mercado
de helicópteros da América
Latina. A próxima edição
está marcada para os dias 8 e
9 de maio de 2024.

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A R TI G O CLUBE DE REVISTAS

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A INTELIGÊNCIA
ARTIFICIAL E O
TRABALHO DOS
AERONAUTAS
Como a nova tecnologia promete interferir no dia a dia e
na carreira dos tripulantes de aeronaves responsáveis pelo
transporte aéreo de cargas e passageiros
P OR | EDUARDO TEIXEIRA FA RAH*, ESPECIAL PA RA AERO MAGAZINE

A
inteligência Com efeito, os algoritmos
artificial (IA) im- de IA permitem analisar da-
pactará de forma dos do voo, distância da rota,
significativa todas altitudes, trajetória, calcular
as atividades pro- com precisão o consumo
fissionais, inclusive o trabalho combustível, determinar o
dos aeronautas, cujo resultado tipo ideal de aeronave para de-
poderá ser tão positivo quanto terminada rota, fazer análise
negativo dependo de seu das condições climáticas e
uso dentro de limites quan- inúmeras informações rele-
titativos e qualitativos éticos vantes para o desenvolvimento
que resguardem a segurança mais sustentável e seguro do
aeronáutica. transporte aéreo.
Sem dúvida, o potencial
da IA na aviação é enorme, TRIPULANTES TÉCNICOS
podendo aumentar a capa- Desde os primórdios até hoje,
cidade de serviços e incre- a aviação sempre esteve no
mentar a mobilidade aérea bordo de ataque da tecnolo-
urbana, além de aprimorar gia e, devido aos constantes
a segurança de controle de avanços dos produtos aero-
tráfego aéreo, auxiliar na pro- náuticos, tanto embarcados
gramação de voos, possibilitar como de auxílios de solo,
a manutenção preventiva de houve significativa redução
aeronaves e outros benefícios dos chamados tripulantes
ainda não explorados. técnicos – radio-operadores,
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Por outro lado, com o para os pilotos que operem


aumento da capacidade de como segundo em comando
assentos das aeronaves, os (copiloto ou primeiro oficial)
O IMPACTO DA IA comissários tiveram sua nas suas aeronaves – como
demanda aumentada signi- ao menos 1.500 horas de voo,
SERÁ POSITIVO SE ficativamente, pois, além do treinamento em simuladores
tradicional serviço de bordo, de jato – “jet trainer” e outros
A INDÚSTRIA E O como verdadeiros “agentes pré-requisitos.
de segurança” precisam estar Em alguns países, há pro-
MERCADO INVESTIREM sempre atentos para eventuais jetos de lei que buscam per-
NO TREINAMENTO DE circunstâncias de emergência
e constantes cuidados com os
mitir a exploração de aerona-
ves de passageiros de médio
PILOTOS passageiros. e grande portes com apenas
um piloto, sob argumento de
SEGURANÇA DE VOO que há sistemas de automação
Essas digressões servem para suficientes e seguros à sua
comprovar que a tecnologia operação, mesmo em emer-
na aviação, na realidade, gências.
sempre contribuiu ao desen- Vale lembrar que trens e
volvimento e segurança do metrôs, apesar de utilizarem
navegadores, mecânicos ou transporte aéreo e, apesar de trilhos e serem extremamente
engenheiros de bordo e pilotos diminuir o número de tripu- automatizados, ainda mantêm
– e, ao contrário, aumento dos lantes técnicos originários, um operador para assegurar
tripulantes de cabine – comis- também melhorou as condi- eventuais panes nos sistemas
sários de bordo. ções e conforto no trabalho de controle. Com certeza,
Em relação aos primeiros, dos aeronautas. a utilização da IA na esfera
a tecnologia propiciou que o Todavia, com o advento aeronáutica poderá melhorar
engenheiro de bordo auxilias- da IA e a constante busca por o desenvolvimento de novas
se os pilotos a concentrarem incorporar dispositivos de au- aeronaves e facilitar a sua
sua atenção na navegação e tomação para, eventualmente, operação, porém, substituir
segurança sem se preocupar substituir o trabalho humano, o tripulante humano por um
com os demais sistemas, tais há incertezas sobre os impac- robô, por mais que possam
como: pressurização, hidráu- tos na segurança aeronáutica, ser previstas hipóteses “esta-
lico, elétricos e outros. Com o em especial, nas aeronaves de tísticas” de mal funcionamen-
surgimento de aviões sem en- transporte aéreo de passagei- to, dificilmente conseguirá
genheiro de bordo, mais mar- ros – regulares ou não. elidir a intuição e razão práti-
cadamente a partir do Boeing Tanto as empresas aéreas ca do tripulante humano nas
767 (aeronave de grande porte como os fabricantes de ae- circunstâncias emergenciais.
em voos de longa alcance), ronaves têm se esforçado em Inovações e descobrimen-
cujos primeiros protótipos desenvolver aeronaves que tos científicos demonstram
ainda previam a sua necessida- não necessitem de pilotos expressivos avanços e signi-
de, logo após os voos iniciais e, desta forma, reduzir de ficativas transformações nas
o fabricante transferiu a antiga forma significativa um dos profissões, todavia, com base
“penteadeira” ou painel de principais custos opera- na experiência da aviação
instrumentos do “flight” para cionais. Ademais, diversos “analógica” (ou de raiz, como
o painel superior – “overhead exploradores de transpor- alguns dizem) é imprescindí-
panel” – como ocorreu na tes aéreos têm defendido vel observar o impacto da IA
maioria dos novos projetos a dispensa de requisitos no trabalho aeronáutico com
aeronáuticos. mínimos de experiência certo grau de ceticismo.

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MELHORIAS POSSÍVEIS das condições de trabalho e me vaticínio do capitão Sully


Acreditar que a IA poderá segurança aeronáutica. Sullenberger: “Quando se trata
“mudar tudo” em pouquís- Retidas estas colocações, de treinamento de pilotos,
simo tempo e extinguir os impactos da IA no trabalho não há atalhos. Os pilotos
postos de trabalho, tanto de dos aeronautas será positivo se devem estar armados com o
tripulantes técnicos como de os exploradores e fabricantes conhecimento, a habilidade, a
cabine, afigura-se despropo- de aeronaves, ao mesmo tempo experiência e a capacidade de
sital. Entretanto, as inovações que buscam a sustentabilidade julgamento necessários para
trazidas pela IA precisam ambiental e a imprescindível manter seus passageiros e sua
ser compreendidas e assi- redução de custos, perceberem tripulações seguros”.
miladas o mais brevemente que o melhor investimento
possível para que sirva como é o permanente treinamento * Eduardo Teixeira Farah é
instrumento para a melhoria de seus tripulantes, confor- advogado e aviador

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AV I AÇ ÃO R EG U L A R CLUBE DE REVISTAS

MAIS DEMANDA POR


PILOTOS NOS EUA
Envelhecimento das tripulações na ativa, falta de interesse de jovens na
carreira e efeito rebote da pandemia criam uma situação inédita no mercado
norte-americano, incluindo polêmicas legislativas e aumento de salários
P OR | EDMUNDO UBIRATA N

U
m problema conhe- desse total, 11.372 pilotos foram sequência, o maior número
cido desde antes da contratados pelas doze princi- de pilotos, o transporte aéreo
pandemia começa pais companhias aéreas de janei- comercial dos EUA sempre se
a afetar a aviação ro a outubro. Além disso, outros notabilizou por baixos salários
regular dos Estados 9.500 tiraram suas licenças de dos tripulantes e condições
Unidos. Nos últimos meses, as piloto comercial. de trabalho pouco atraentes.
companhias aéreas norte-ameri- A Secretaria de Estatísticas Um enorme paradoxo para a
canas enfrentam cancelamentos Trabalhistas dos Estados Unidos nação com o maior número de
de voos em massa e se vêm (Bureau of Labor Statistics) mos- escolas de pilotagem e pilotos
impossibilitadas de adicionar trou que, em 2021, havia mais de civis do mundo, assim como
frequências ou rotas não por 135 mil pilotos profissionais em berço das maiores universida-
uma demanda baixa, problemas serviço naquele país, mas as esta- des e dos cursos de engenha-
na frota ou meteorologia adver- tísticas mostram que a demanda ria aeroespacial referências
sa, mas, sim, pela falta de pilotos. anual por novos profissionais mundiais.
Embora tenha se potencializado será de ao menos 18 mil pilotos Existem milhares de avia-
mais recentemente, a questão ao ano, em um movimento que dores, mas a imensa maioria
começou a dar sinais de que deverá se manter até meados tira o brevê apenas por hobby
seria um problema real e sério da próxima década, o que, caso ou para pilotar as próprias
em meados de 2019, quando confirmado, será ao menos duas aeronaves. Não por um acaso, a
as maiores empresas aéreas vezes e meia maior do que a aviação geral norte-americana
notaram a maior dificuldade de média histórica. conta com milhares de aviões, de
contratação de novos aviadores. experimentais a pequenos jatos
Para se ter uma ideia, em PARADOXO single-pilot, usados por profis-
julho de 2021, quando o mundo O movimento é exatamente o sionais liberais, executivos e pe-
ainda encarava os desafios da oposto do que ocorre há quase quenas organizações familiares
pandemia, em especial a incer- cinquenta anos nos Estados que dependem do avião como
teza de uma plena retomada das Unidos. Desde os anos 1970, ferramenta de negócios. Mesmo
viagens aéreas, as companhias o país assiste a um crescente com uma malha aérea regular
aéreas norte-americanas con- desinteresse de profissionais sem equivalentes no mundo, a
trataram mais de 5.500 pilotos. com a aviação, indo desde pujança econômica sempre foi
Segundo a Future & Active Pilot cargos administrativos, de suficiente para agregar mais a
Advisors, uma empresa de con- engenharia e até na ponta com necessidades de viagens aéreas
sultoria de carreira para pilotos, os pilotos. Na prática, embora diretas. No caminho oposto, a
foi a maior contratação desde os norte-americanos sejam indústria passava a contar com
1990. Já no ano passado, foram historicamente os líderes ab- baixo interesse de engenheiros
contratados mais de 13 mil solutos no mercado global de recém-formados, incluindo
pilotos e, segundo a Future and aviação, detendo a maior frota os graduados em engenharia
Active Pilot Advisors (FAPA), de aeronaves civis e, por con- aeronáutica, que passavam pelas

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somado à inflação em alta. A


oferta de emprego em baixa,
somada à quebra de grandes
empresas, levou os aviadores a
aceitarem propostas de emprego
pouco atraentes. Mais tarde,
o crescimento vertiginoso da
aviação, agregado à melhora no
cenário econômico, aumentou a
demanda por viagens aéreas, em
especial de baixo custo. Mais um
elo de pressão econômica surgiu:
as empresas tradicionais pas-
saram a competir com novatas
de baixo custo, que ganharam
força entre os anos 1970 e 1990.
Entre as soluções existentes,
após reduzir cada custo possível
na operação, foi a fusão entre
empresas, tentando evitar uma
canibalização do mercado entre
vagas do setor aeroespacial e fo- BAIXO CUSTO E FUSÕES muitas concorrentes.
cavam seus esforços nas grandes A aviação comercial foi Para se ter uma ideia, a
corporações de tecnologia, em fortemente impactada pela USAir absorveu a Pacific Sou-
especial as chamadas big techs, ou desregulamentação, que ofe- thwest Airlines (PSA) em 1988,
setor financeiro. receu maiores oportunidades e a Piedmont Airlines, no ano
Pilotos profissionais que de negócios para as empresas seguinte. Anos mais tarde, em
ingressavam na aviação regular, aéreas, sobretudo as de baixo dificuldades, cogitou uma fusão
normalmente, iniciavam suas custo, mas levou à falência com a United Airlines, mas, em
carreiras em empresas regionais, modelos empresariais estrutu- 2005, foi adquirida pela America
a maioria delas subcontratada rado em antigas regras e pen- West Airlines (aliás, por isso o
a majors, como são conhecidas samentos, como a Pan Am. callsing Cactus no famoso episó-
as grandes companhias aéreas. Companhias que pagavam dio do Rio Hudson), que optou
A aviação regional é fortemente grandes salários para pilotos, por manter o nome da rival, mais
regulada por demandas sindicais, além de oferecerem uma série conhecido e de maior valor. Com
em especial pelas famosas regras de benefícios, passaram a as várias fusões em andamento
de escopo, que restringem o tipo concorrer com novatas que naquele período, com a união
e o porte máximo dos aviões apostavam em um modelo da Northwest com a Delta e
operados. Um dos temores dos de baixo custo e tinham uma da United com a Continental,
sindicatos era a canibalização das nova ideia para cortar gastos foi natural que, em 2013, a US
rotas principais pelas empresas a cada ano, indo de retirada Airways e a American Airlines
regionais, que poderiam operar de uma azeitona por prato de combinassem suas operações. A
aviões de grande porte, com salada até a oferta de salários cada processo de fusão os pilotos
grande capacidade, mas ofere- cada vez menores. assistiam a uma redução nas con-
cendo salários menores do que o Vale contextualizar que esse dições de trabalho.
das majors. Contudo, a própria movimento começa em um
dinâmica do mercado de aviação período de declínio econômi- CONDIÇÕES PRECÁRIAS
comercial dos Estados Unidos co dos Estados Unidos, que Ficando apenas no exemplo da
gerou uma piora dos salários e sofreram com um crescimento US Airways, os pilotos passa-
condições de trabalho. baixo no início dos anos 1980, ram a não ter sequer refeição a

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CLUBE DE REVISTAS

A APOSENTADORIA E AS
DEMISSÕES NO AUGE DA
PANDEMIA LEVARAM A
bordo. A opção mais comum outro problema ficou evidente:
era durante as escalas um o elevado custo de formação,
UMA SITUAÇÃO INCOMUM
dos tripulantes comprar um
lanche no aeroporto, em geral,
estimado em 100 mil dólares e
o mínimo de 1.500 horas para
NOS EUA: FALTA DE
para viagem, para garantir ao obter um certificado de piloto PILOTOS PROFISSIONAIS
menos uma refeição até o final de linha aérea (ATP, na sigla em
da jornada. No caso das regio- inglês). O cenário perfeito para
nais, o problema era maior, o fechar o ciclo de desinteresse de
que ficou evidenciado no aci- novos profissionais.
dente da Colgan Air durante o A somatória de problemas
voo 3407, cujas investigações passou a afastar os pilotos da
mostraram que as condições carreira profissional, com os
dos pilotos chegavam próxi- apaixonados por aviação apenas DISTRIBUIÇÃO DE LUCROS
mo da insalubridade, além tirando licenças para voos priva- A aposentadoria e a demissão
do fato de que o comandante dos, sem qualquer interesse em em grande escala de pilotos no
tinha uma proficiência de voo seguir uma carreira. Os que se auge da pandemia levaram as
abaixo da média. aventuravam logo percebiam os companhias norte-americanas a
Se o problema já não fosse desafios, em especial financeiros assistirem pouco mais de três anos
grande o bastante, a aviação e de crescimento na carrei- depois um fenômeno incomum,
regular foi impactada pelos ra. Não era raro um aviador a falta de pilotos profissionais
cortes militares e o uso cada vez aposentar como copiloto de 737, disponíveis. Se em 2019 já havia
maior de aeronaves não tripu- sem jamais ter tido a chance a tendência de dificuldades na
ladas. As forças armadas dos de voar outro equipamento ou contratação, agora os recrutadores
Estados Unidos são historica- chegar a comandante. Também estão competindo agressivamen-
mente grandes fornecedoras de não era raro os que deixavam te pelos pilotos disponíveis e já
pilotos para a aviação comercial. os Estados Unidos para voar buscam soluções para enfrentar
Aviadores constantemente em outros países, sobretudo o problema. A principal dela, até
davam baixa no serviço militar no Oriente Médio ou na Ásia, mais óbvia, o aumento dos salá-
e migravam para as companhias onde, desde os anos 2000, as rios, seguida da criação de escolas
aéreas. Com menores investi- empresas oferecem melhores de pilotagem próprias ou parceria
mentos e uso de drones em larga salários, vantagens e perspec- com centros de formação, sem
escala, as academias militares tivas de carreira mais promis- contar na abertura de vagas para
também reduziram o número soras. Um aviador deixava estrangeiros.
de formados. Isso sem contar um A320 em uma empresa de A Delta Air Lines realizou
que os militares também vinham ultrabaixo custo, voando apenas uma agressiva distribuição de
assistindo a um menor interesse rotas secundárias nos Estados lucros entre seus funcionários,
de jovens pela carreira. Unidos, para assumir um A380 o que gerou uma resposta das
Alguns analistas apontam e poucos anos depois ser ele- rivais. Semanas depois, o CEO da
que, além da falta de profissionais vado para comandante. Assim, American Airline, Robert Isom,
para ingressar imediatamente, em março de 2020, seria pouco enviou uma mensagem aos pilotos
caso nada seja feito, os Estados provável que em um voo de afirmando o seguinte: “Deixe-
Unidos enfrentarão mais uma uma empresa norte-americana -me ser claro, a American está
pressão na demanda por contra- tivessem no comando um piloto preparada para igualar os salários
tações, já que mais da metade dos egípcio, uma piloto holandesa da Delta e fornecer aos pilotos da
pilotos atuais deverá se aposentar e um piloto alemão. Em 2023, American a mesma fórmula de
nos próximos 15 anos, quando essa foi a tripulação de um voo participação nos lucros que os pi-
atingir a idade de 65 anos, o má- entre Chicago e Tóquio operado lotos da Delta”. O aumento salarial
ximo permitido para voar profis- por uma das maiores empresas poderá chegar aos 21% apenas no
sionalmente no país. Neste caso, dos Estados Unidos. primeiro ano e, dependendo das

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CLUBE DE REVISTAS

AS EMPRESAS REGIONAIS
OBSERVAM SEUS PILOTOS
PEDINDO DEMISSÃO E
Flight Training Academy, em preocupação com a falta de
BUSCANDO MELHORES Indianápolis, seguindo o modelo pilotos, e agências federais e
da United. Já a Alaska Airlines consultorias mostrem essa ten-
OPORTUNIDADES NAS e a American Airlines criaram dência, a Airline Pilots Associa-
programas de financiamento e tion (ALPA), um dos maiores
GRANDES COMPANHIAS orientação de carreira. A ATP sindicatos de pilotos dos Estados
Flight School, uma das maiores Unidos, afirmou em relatório
escolas de pilotagem dos Estados intitulado “Desmascarando o
Unidos, tem atualmente acordos Mito da Escassez de Pilotos”, que
diversos de formação com 37 existem profissionais suficientes
empresas aéreas, por meio dos para atender à demanda atual
funções, o cumulativo pode se quais o aluno, após se formar, e futura. “Na última década,
aproximar de 40%. Para ter uma pode seguir como instrutor de os Estados Unidos produzi-
ideia, apenas no primeiro ano, voo e na sequência aplicar para ram pilotos certificados mais
alguns comandantes de A320 diversas companhias, atendendo que suficientes para atender às
e 737 podem ver seus ganhos os requisitos mínimos de cada demandas de contratação de
anuais próximos de 475 mil uma, e dentro da atual regra de companhias aéreas e compensar
dólares, enquanto comandantes 1.500 horas de voo. aposentadorias”, afirma a ALPA.
de widebodies podem receber até O relatório ainda questiona os
590 mil dólares. FALTA OU SOBRA PILOTOS? números oficiais e mesmo da
Em dezembro de 2021, a As empresas regionais, que Olive Wyman, dizendo que “na
United Airlines inaugurou a sempre foram fornecedoras verdade, existem atualmente
Aviate Academy, localizada de pilotos com experiência cerca de 1,5 piloto certificado
em Goodyear, no Arizona, para as grandes companhias, em relação à demanda”. Quem
tornando-se a primeira grande agora observam seus pilotos também afirma que não faltam
escola de voo pertencente a uma pedindo demissão e buscan- pilotos é a Allied Pilots Asso-
companhia aérea dos Estados do melhores oportunidades ciation (APA), sindicato que re-
Unidos. O movimento ocor- nas grandes companhias. Um presenta os pilotos da American
reu ainda durante a pandemia, diferencial atual, até uns anos Airlines. Em entrevista à CNBC,
quando ficou claro que a maioria atrás, os pilotos das regionais o CEO da organização, Dennis
dos pilotos aposentados não só eram contratados pelas ma- Tajer, afirmou que “os números
voltaria a voar e a oferta de jors afiliadas, ou seja, um pilo- dizem que há pilotos licenciados
novos aviadores estava abaixo to da American Express podia suficientes”.
do necessário. As rivais segui- ser elevado para a American A ALPA aponta que, em
ram um caminho similar, com Airlines, raramente um avia- vez de escassez, o que existe é
a formalização de parceria com dor da Delta Connection seria uma disputa entre executivos
escolas e universidades. Até mes- escolhido. Mas, atualmente, as que desejam usar uma eventual
mo a Frontier, uma das empresas vagas estão disponíveis para baixa oferta de profissionais para
de ultrabaixo custo com postura quem tiver interesse. aprovar mudanças nas regras
mais agressiva em questões de Um relatório da Olive de treinamento. “Portanto,
corte de gastos, fechou contra- Wyman, empresa de consul- embora não tenhamos escassez
tos com escolas para garantir toria de gestão, divulgado em de pilotos, temos uma escassez
um fluxo de novos pilotos nos agosto de 2021, mostrava que de executivos de companhias
próximos anos, o que também a América do Norte enfrentava aéreas dispostos a manter suas
foi feito pelas regionais Mesa um déficit de oito mil pilotos decisões de negócios em cortar o
Air Group, Envoy, SkyWest, profissionais, aproximadamente serviço aéreo e ser francos sobre
Republic e Cape Air. A Repu- 11% da força de trabalho. En- suas intenções de contornar as
blic Airways criou sua própria tretanto, mesmo que executivos regras de segurança e contratar
escola de voo, a Leadership in de grandes empresas reportem trabalhadores inexperientes por

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CLUBE DE REVISTAS

menos”, alega a ALPA. Entre


os argumentos é que a escassez
de pilotos é, na realidade, uma
justificativa para reduzir os
requisitos mínimos de contrata-
ção, aceitando aviadores menos
experientes, o que seria uma
estratégia para cortar gastos de
treinamento e obter profissionais
com menores custos. “Infeliz-
mente, algumas companhias
aéreas estão usando a alegação
fictícia de que há falta de pilotos fatores contribuintes distantes da de qualificação e experiência de
disponíveis para tentar enfraque- formação. treinamento de pilotos aspirantes
cer os padrões de treinamento A Europa tem como regra ao cargo de copiloto.
e segurança e desviar a atenção as mesmas 250 horas adotadas Ainda assim, os sindicatos
de suas decisões de negócios pelo Brasil, válida para qualquer mantêm uma posição firme de
voltadas para o lucro, cortando o piloto que pretenda ingressar defesa de seus interesses. No caso
serviço e contratando aviadores na aviação profissionalmente. da APA, Tajer, na entrevista à
inexperientes por menos”, diz a Tanto o caso brasileiro como o CNBC, afirmou que os aviadores
ALPA. europeu a regra de “1.500 horas” mais jovens buscam qualidade de
Um dos argumentos é é válida apenas para a obtenção vida, desejando menos voos e po-
que algumas empresas aéreas da licença de piloto de linha dendo ficar em casa à noite, como
querem enfraquecer ou mudar a aérea, o que não é pré-requsito é o modelo básico das empresas
chamada “regra das 1.500 horas”, para buscar empresa em uma regionais “e eles estão interessados
o nome popular da lei Airline empresa regular. A ALPA diz em continuar fazendo isso e criar
Safety and Federal Aviation que, desde a promulgação das suas famílias”, disse.
Administration Extension Act exigências de 1.500 horas, as Na outra ponta, alguns par-
of 2010, que impôs, em 2013, mortes causadas por acidentes lamentares dos Estados Unidos
piso mínimo de 1.500 horas envolvendo empresas do Part tentam mudar algumas regras,
de experiencia para pilotos 121 (equivalente ao RBAC 121) como a ampliação do limite de
que buscam seguir carreira na reduziram 99,8%. aposentadoria compulsória para
aviação comercial. O modelo é Ainda que o tom da as- 67 anos, ante os 65 anos em vigor.
similar ao que o Brasil adotou sociação muitas vezes siga o Por fim, também se discute a
até o início dos anos 2000, mas caminho do corporativismo, criação de bolsas de estudos,
logo foi rebaixado e, no auge defendendo os que já fazem similares às existentes para cursos
do crescimento econômico, parte do sistema, realmente de graduação, incluindo um mo-
em meados de 2010, algumas houve tentativas de mudança em delo em que o interessado obtém
empresas contratavam pilotos regras de treinamento baseado um empréstimo para custear sua
recém-formados, com apenas no argumento da falta de pilotos. formação e, ao começar a voar
as horas mínimas obtidas com a A Republic Airways teve seu profissionalmente, a empresa
licença de piloto comercial. Em- pedido de revisão dos requisitos aérea fará o reembolso dos valores
bora ainda não exista no Brasil de treinamento negados pela das prestações do empréstimo.
dados estatísticos que mostrem FAA, a agência de aviação civil Além dos estimados 100 mil
um maior risco na segurança dos Estados Unidos, enquanto dólares gastos na obtenção das
ou alta nos acidentes, sendo o a Skywest aguarda uma análi- licenças, o valor pode dobrar caso
último de grandes proporções se da proposta. Em ambos os combinado com a obtenção e um
em 2007, envolvendo profissio- casos as empresas solicitavam diploma de bacharel de aviação
nais experientes e uma série de isenção dos requisitos federais civil ou ciências aeronáuticas.

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H I S TÓ R I A CLUBE DE REVISTAS

PILOTOS
BRASILEIROS
CAPTURADOS NA
SEGUNDA GUERRA
O drama dos aviadores do Primeiro Grupo de Aviação
de Caça da FAB aprisionados pela coalizão liderada
pela Alemanha nazista ao sucumbirem à artilharia
antiaérea em território italiano
P O R | TEOMAR BENITO CERETTA, ESPECIAL PARA AERO MAGAZINE

N
o dia 18 de de- a unidade, o 1º Grupo de Caça o Primeiro Grupo de Caça
zembro de 1943, passaria a receber treinamento passaria a operar ao lado dos
o então presiden- em aviões de combate P-40. americanos na campanha do
te Getúlio Vargas Concluído o curso de caça Vale do Pó, ao norte da Itália,
assinou o decreto administrado por instrutores considerada a arrancada final
№ 6.123 e instituiu o Primeiro norte-americanos com expe- da primavera, que terminaria
Grupo de Aviação de Caça, riência de guerra, os pilotos definitivamente com o grande
uma unidade da Força Aérea brasileiros passariam a voar o conflito no dia 2 de maio de
Brasileira (FAB), com o obje- P-47, o famoso Thunderbolt, 1945. Para dimensionar o
tivo de enviar um esquadrão no qual fizeram adaptações cenário do campo de batalha
para lutar ao lado dos aliados numa base aérea americana onde os pilotos brasileiros
na Segunda Guerra Mundial. em Suffolk, Long Island, antes atuaram, Rui Moreira Lima,
Para comandar a unidade, a de seguir para a Europa. em seu livro Senta A Pua,
FAB nomeou o major-aviador O Primeiro Grupo de apresenta um curioso depoi-
gaúcho Nero Moura, no dia 27 Caça desembarcou no porto mento:
de dezembro de 1943. Imedia- de Livorno, na Itália, no dia 6 “Durante 14 horas do dia,
tamente, abriu-se o volunta- de outubro de 1944. Depois, os Thunderbolts voaram sobre
riado para reunir o pessoal seguiu para a pequena cidade as linhas inimigas, bombar-
que iria para a guerra. de Tarquínia onde se esta- deando, atirando com suas
Nero Moura formou um beleceu em uma base aérea mortíferas metralhadoras,
pequeno grupo constituído de norte-americana ao controle lançando foguetes nos pon-
32 militares, seus auxiliares di- operacional do 350th Fighter tos fortificados dos alemães.
retos, e embarcou com eles no Group. Não muito tempo após O resultado é que do outro
dia 3 de janeiro de 1944 para iniciar as operações, no dia lado ficava tudo em chamas,
Orlando, na Flórida, Estados 21 de novembro de 1944, a fosse em acampamentos, trens,
Unidos, para receber instru- unidade brasileira foi transfe- veículos de todos os tipos,
ções em uma escola de tática rida para a base sérea de San até mesmo motocicletas. Os
aérea. Mais tarde, o coman- Giusto, próxima da cidade de alemães tiveram que parar.
dante se deslocou com seus Pisa, onde permaneceu até o Perderam a capacidade de se
homens-chave para Aguadul- final da guerra. locomover durante o dia. A su-
ce, no Panamá, onde, reunida Foi a partir de Pisa que perioridade aérea era absoluta:

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CLUBE DE REVISTAS
CLUBE DE REVISTAS

RECOLHIDOS
PELOS ALEMÃES

os P-47 decolavam de 15 em A perda de três pilotos por PRIMEIRO TENENTE-


Aviadores do
Primeiro Grupo de 15 minutos para seus ataques. mês em média era preocu- AVIADOR ISMAEL
Aviação de Caça Quando voltavam, já as tri- pante. Dos 16 aviões abatidos, DA MOTTA PAES
em direção às suas pulações de terra os recebiam, oito aviadores perderam a Foi o primeiro aviador da
aeronaves para uma remuniciando para as novas vida em combate, cinco se Força Aérea Brasileira a cair
missão de guerra surtidas. A manutenção dos tornaram prisioneiros, três prisioneiro em poder dos
Esquadrões trabalhava conti- sobreviveram com a ajuda alemães e, ao final da guerra,
nuamente...” dos partisanos (judeus que o último a ser libertado de
fugiram dos guetos e forma- um campo de concentração.
MISSÕES DE GUERRA ram seus próprios grupos No dia 23 de dezembro de
O esforço operacional do de combate) e regressaram 1944, Motta Paes foi escalado
Primeiro Grupo de Aviação de a Pisa. Além dessas baixas, para compor uma das duas
Caça na guerra impressiona enquanto o grupo iniciava esquadrilhas que tiveram por
pelos números. Em suas 445 suas operações a partir de missão bombardear trechos da
missões executadas pelos 49 Tarquinia, naquela base a ferrovia próximo a Trento, ci-
pilotos durante os sete meses FAB perdeu um piloto em dade italiana encravada entre
de operação em território treinamento e dois em um as montanhas alpinas no vale
italiano, foram realizadas 2.546 trágico acidente que envolveu do Rio Ádige. Encerrada a
saídas ofensivas, em um total um avião Douglas C-47 e um missão, as esquadrilhas retor-
de 5.465 horas de voo, consi- P-47. Outros cinco aviadores naram fazendo um reconhe-
derando que foram lançadas foram afastados do voo por cimento armado, destruindo
mil toneladas de bombas sobre esgotamento físico ou doença alvos de oportunidade a partir
alvos inimigos (História Geral e retornaram ao Brasil. da cidade de Verona.
da Aeronáutica Brasileira, vol. As histórias individuais são Ao passarem sobre Isola
3 – INCAER 1991). No entan- extensas, o que não permite della Scala, as baterias antiaéreas
to, a ferocidade de inimigo neste exíguo espaço tratar cada mostraram o poder do “Flack”,
que fugia para o norte em uma delas na íntegra. Lamentá- o poderoso canhão de ataque
direção aos Alpes, constituído veis foram as perdas de vida em antiaéreo do exército alemão.
de veteranos e experientes combate por jovens aviadores, Em seu depoimento, assim Mo-
combatentes, não perdoava que, no dever do ofício, paga- tta Paes descreve a sua fatídica
os pilotos com a precisão de ram um alto preço para derrotar vigésima quarta missão, naquela
suas temíveis baterias antia- o inimigo e o restabelecer a paz, localidade:
éreas. Consequentemente, os depois de seis anos de carnifici- “No mergulho contra um
pilotos brasileiros pagaram um na e matança generalizada que trem composto por vagões-tanque
preço alto enquanto buscavam ceifou milhões de vidas huma- estacionado no pátio de mano-
se firmar na experiência em nas em todos os quadrantes do bras, iniciei o tiro e, no mesmo
combate. globo terrestre. momento, ouvi o barulho do

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CLUBE DE REVISTAS

impacto de projéteis da antiaérea que rondava nas proximidades. interrogação da Força Aérea
no meu avião. Tive a impressão De repente, viu-se diante de Alemã. Depois de passar por
de que os impactos tinham atingi- metralhadoras apontadas para nova revista, foi encarcerado
dos a fuselagem, atrás da nacele. ele, seguido de uma ordem: em uma solitária e lá permane-
Continuei fixando a pontaria na “Halt”. Naquele momento, a FAB ceu durante 15 dias. Enquanto
locomotiva que, soube após meu teve seu primeiro prisioneiro de esteve em Frankfurt, o aviador
regresso, explodiu. Recuperei-me guerra. foi interrogado sete vezes. No
do mergulho. A cabine encheu-se Recolhido por uma patru- dia 12 de janeiro de 1945, Motta
de fumaça. No alto da recupera- lha, tiraram-lhe a pistola 45 e, Paes sofreu nova transferên-
ção, o motor rateou e parou de na garupa de uma motocicleta, cia. Acomodado em um trem
estalo. Estava a pouco mais de foi levado a San Benedetto. Em de carga, depois de dois dias,
500 metros. Pensei imediatamen- seguida, o levaram a Mântova, desembarcou na cidade de West-
te num incêndio a bordo. Soltei onde foi revistado. Recolheram zlar, onde foi conduzido para
o canopy e desliguei o fone e o todos os seus pertences, inclusive um campo de prisioneiros da
microfone dispondo-me a saltar o dinheiro. Surpreso, ao final Luftwaffe. Uma semana havia se
de paraquedas” (Rui M. Lima, da revista, entregaram-lhe um passado, uma nova transferência
Senta a Pua, 1989, p. 130-131). recibo no valor total do dinhei- o levou para Stettin, na Prússia
No entanto, no momento ro confiscado. Ali mesmo foi Oriental, onde foi conduzido
em que Motta Paes ia abando- submetido a um interrogatório. para um Stalag Lfut, um campo
nar o avião, o motor do P-47 De Mântova foi conduzido a de concentração de prisioneiros
voltou a funcionar. Ele ainda Verona, grande parte do trajeto definitivos, ali permanecendo
tentou administrar o controle feito a pé, o que lhe causou sérios até o final da guerra.
do Thunderbolt para retornar ferimentos em seus pés. Naquela Conforme suas palavras,
a Pisa. Mas a sorte foi momen- cidade foi mais uma vez revista- “não há mal que dure para sem-
tânea. O motor passou a sofrer do, além de suportar três horas pre, um dia os russos bateram
um superaquecimento, a pressão em um novo interrogatório. Em às portas de Stettin. Com o
do óleo caiu a zero e o funciona- seguida, o levaram para a esta- constante avanço dos aliados do
mento áspero mostrava sinais de ção ferroviária, onde aguardou leste e sua aproximação diária,
que havia chegado o momento durante quatro horas, na noite antes de terminar o mês de abril,
de saltar de paraquedas. Para sua gelada, um trem que o levaria o Stalag Luft Nº 1 amanheceu
infelicidade, na trajetória em que a Frankfurt. Como era véspera sob o controle dos próprios pri-
voava, as baterias antiaéreas não de Natal, carcereiros serviram a sioneiros. A alegria foi grande,
davam trégua aos P-47. Os últi- Motta Paes e outros prisioneiros e a maioria dos companheiros
mos momentos foram insustá- uma sopa quente, antes da che- começou a se arrumar para
veis, e um golpe de misericórdia gada do trem à meia-noite. Ao partir”.
com a parada total do motor foi embarcar no trem, encontrou Porém, sob o comando dos
a sentença final. A 600 metros um grande grupo de prisionei- americanos, apenas no dia 13 de
de altura, finalmente Motta Paes ros, a maioria tripulantes de maio começou uma operação
abandonou sua “águia ferida” B-24, Liberators e B-17, Forta- de emergência para transportar
e se lançou de paraquedas no lezas Voadoras, procedentes da prisioneiros de Stettin para Rei-
meio das explosões. Romênia e da Bulgária. ms, na França, em bombardeiros
Apesar de se livrar do tiroteio O comboio que os transpor- B-17 - Fortalezas Voadoras.
durante a queda, sua aterragem tavam chegou a Frankfurt no Motta Paes seria transportado
em águas geladas em um canal dia 28 de dezembro, depois de no dia 14 de maio para Reims,
não foi nada agradável num dia rodar durante três dias no longo de onde pretendia retornar para
de inverno. O aviador livrou-se trajeto. Depois de desembarcar Pisa. No entanto, por questões
do paraquedas e empreendeu naquela estação, Motta Paes e de identidade, os americanos
uma caminhada para se afastar outros companheiros foram o levaram de C-47 para San
de uma unidade da Wehrmacht conduzidos a um campo de Valery, às margens do Canal da

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CLUBE DE REVISTAS

Mancha. Naquela localidade, na estrada Verona-Milão, onde foi conduzido de ônibus para
Motta Paes teve de intervir junto atacou um comboio de viaturas Verona, o que seria o início do
a um coronel americano para sob forte reação da antiaérea. deslocamento para um campo
que fosse encaminhado a Pisa Ao fazer uma nova varredura, de concentração na Alemanha.
para juntar-se, enfim, ao Primei- seu avião foi atingido por tiros No dia 2 de fevereiro de 1945,
ro Grupo de Aviação de Caça, a de canhão de 40 milímetros. A foi levado para Trento e, na
sua unidade aérea. asa direita do P-47 foi atingida, sequência, para a cidade de Bol-
quase arrancando o aileron. zano, mais ao norte. De Bolzano,
Um segundo impacto acertou levaram o aviador brasileiro
o motor. Naquele momento, para Frankfurt, onde chegaram
Assis tentou ganhar altura, com no dia 5 de fevereiro. Naquela
a esperança de retornar a Pisa. cidade, Assis passou por três
Um cheiro forte de combustível interrogatórios. Maltratado pelos
invadiu a nacele. Com altura su- guardas, teve confiscadas suas
ficiente para cruzar os Apeninos, calças forradas, que eram parte
o motor passou a funcionar aos integrante do seu uniforme. Para
trancos, quando parou de vez. completar seu pavor, um dia foi
Sem perder tempo, Assis abriu o encaminhado para o quartel da
canopy e saltou de paraquedas. Gestapo para ser interrogado
Recolhido pelos partisanos, foi por civis, segundo ele, um inter-
PRIMEIRO TENENTE- escondido na carcaça de um rogatório puramente político.
AVIADOR JOSINO MAIA DE Fiat, com o intuito de buscá-lo à Assis permaneceu durante
ASSIS noite, se desse tudo certo. 14 dias preso em uma cela no
Gaúcho de Bagé, Assis foi o Infelizmente, uma patrulha Centro de Interrogatório de
segundo aviador brasileiro a alemã, que estava próxima, Frankfurt. Com a aproxima-
cair prisioneiro dos alemães. prendeu Assis antes da chegada ção dos aliados, que já haviam
No dia 29 de janeiro de 1945, dos partisanos e o levaram para cruzado o rio Reno, os alemães
comandando a Esquadrilha um quartel-general na pequena providenciaram a transferência
Verde, acompanhado da Es- cidade de Ponte dell´Olio. Lá dos prisioneiros para o interior
quadrilha Vermelha, decolou foi revistado, confiscaram seu da Alemanha. No dia 18 de fe-
com a missão de destruir relógio e o submeteram a um vereiro, Assis foi levado de trem,
um depósito de combustível rápido interrogatório. Escoltado, com um grupo de 400 homens,
próximo da cidade de Pia- foi levado para Piacenza e aloja- para Nuremberg. Da estação
cenza. Notícias de última do em um quartel de Luftwaffe. ferroviária, marcharam até um
hora fizeram com que as duas Transferido novamente, acabou campo de triagem de prisionei-
esquadrilhas fossem enviadas levado para um pequeno povoa- ros. Depois de feita a triagem,
para um novo objetivo, após do localizado do lado norte do Assis embarcou novamente num
o bombardeio em Piacenza. rio Pó, onde foi interrogado em trem que o levou para o campo
Os oito P-47 deveriam atacar espanhol em um QG. No dia 30 de concentração, onde chegou
uma grande concentração de de janeiro de 1945, às 15 horas, no dia 21 de fevereiro de 1945.
viaturas na estrada às margens Assis foi embarcado em um Naquele imenso campo, segun-
do Lago de Como. caminhão com destino a Milão. do Assis, viviam em torno de
Missão cumprida em Piacen- Na capital da Lombardia, foi dez mil homens, e a população
za, Assis dirigiu a sua esqua- colocado em uma cela subterrâ- aumentava com as frequentes
drilha para o Lago de Como. nea da estação ferroviária, junto chegadas de novos prisioneiros.
Depois de vasculhar as estradas com prisioneiros italianos, onde Assis viveu até abril de 1945
que circundam o Lago sem sofreu ameaça de morte por um no campo de concentração de
nada encontrar, voou com seus oficial fascista exaltado. Nuremberg. Com a aproxima-
homens para uma varredura No dia 31 de janeiro, Assis ção das forças aliadas, por ques-

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CLUBE DE REVISTAS

tão de segurança, os prisioneiros cido. Uma bandeira americana No primeiro mergulho, o


foram transferidos o mais rápido havia sido hasteada na torre da avião de Brandini foi atingido
possível para Müsberg. Antes de igreja de Müsberg. Os tanques por um tiro de canhão que o
iniciar o deslocamento, no dia 3 do III Exército de Patton destruí- incendiou com o impacto de um
de abril, chegou uma nova leva ram a cerca de arame farpado do projétil. Com a nacele tomada
de prisioneiros. Para surpresa, campo, e os 50 mil prisioneiros pela fumaça, decidiu abandonar
o aviador Othon Correia Netto, estavam definitivamente livres. a aeronave antes que explodisse.
colega de Assis, acabava de inte- No dia 7 de maio de 1945, Assis Apesar de saltar de paraquedas,
grar o grupo. e seu companheiro do Primeiro um raro momento em que o
O deslocamento dos pri- Grupo de Caça, Correia Netto, piloto pode salvar a sua vida,
sioneiros de Nuremberg para deixaram Müsberg. Depois de surpresas desagradáveis podem
Müsberg foi feito a pé. A distân- passar pela França, no dia 14 de acontecer em meio ao tiroteio.
cia compreendia um trajeto de maio, os dois aviadores chega- Assim que Brandini executou o
180 quilômetros. Na caminhada, ram a Pisa para junto de sua salto de paraquedas foi atingido
Assis fraquejou. Acometido por unidade aérea. por um estilhaço de granada no
uma disenteria, subnutrido e lado esquerdo do crânio. Porém,
desidratado, suportando qua- antes de desmaiar, por puro ins-
renta graus de febre, teve que ser tinto, comandou a abertura do
carregado por dois companhei- paraquedas. Recolhido por uma
ros. Por fim, vários prisioneiros patrulha alemã, acomodado
fraquejaram naquela marcha e sobre uma cocheira, acordou do
tiveram que seguir o desloca- desmaio com vozes estranhas ao
mento, dessa vez embarcados seu lado. Devido à delicadeza de
em uma carroça que pertencia seus ferimentos, foi atendido por
a um civil. No dia 7 de abril, um enfermeiro que o tratou com
chegaram à cidadela de Beiln- um curativo provisório.
gries, onde ficou durante quatro Os alemães transportaram
dias para cuidados médicos. Brandini para a cidade de
No dia 11, partiu em caminhão PRIMEIRO TENENTE- Ferrara, onde foi levado para
da Cruz Vermelha que levava AVIADOR ROBERTO um posto de primeiros socorros.
prisioneiros em condições de BRANDINI Na noite daquele mesmo dia,
saúde precária até Müsberg, acomodado numa ambulân-
onde chegaram no dia 15 de No dia 10 de fevereiro de cia, conduziram-no para um
abril. No dia seguinte, Assis 1945, Brandini decolou como hospital na pequena cidade de
encontrou um patrício brasileiro número dois do líder da Todeschini, próximo de Pádova,
que fazia parte do grupo naquele Esquadrilha Amarela, na sua onde foi submetido a uma
campo de concentração. Era um 28ª missão de guerra, para trepanação de crânio, retirando
oficial da FEB, o paulista tenente bombardear um QG da Wehr- no momento um estilhaço de
Emílio Varoli, que caiu prisionei- macht em uma localidade a granada 88, que, escamoteado
ro no primeiro ataque a Monte leste de Ostiglia. Após a reali- por uma enfermeira, guardou
Castelo. Foi um alento para zação do ataque com sucesso, como uma lembrança para o
Assis encontrar aquele camarada sua esquadrilha baixou o nível resto de sua vida. Brandini ficou
com quem podia falar o mesmo do voo para atacar viaturas internado naquele hospital até os
idioma. alemãs. Aquela região, forma- finais de fevereiro, quando, antes
No dia 29 de abril, depois de da pelo triângulo das cidades de ser transferido para Verona,
viver três meses como prisionei- de Ostiglia, Ferrara e Bologna, foi submetido a um interroga-
ro de guerra, amanheceu um dia era temida pelos aviadores tório formal. Foi embarcado
glorioso para Assis. O campo de pela intensa concentração de em uma litorina para feridos
concentração estava desguarne- baterias antiaéreas. e levado para um hospital em

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Verona, onde chegou no dia 5 de fazer. com foguetes uma bateria de


de abril. Brandini lembra que no Com a aproximação dos 20 milímetros quando sentiu
dia 7 houve um forte bombar- aliados, no dia 25 de abril de um tranco violento. Um tiro
deio noturno sobre a cidade. Os 1945, os prisioneiros foram certeiro fez parar o motor,
prisioneiros foram levados às levados em caminhões ao norte que de imediato foi tomado
pressas para um abrigo antiaé- para o campo de concentração pelo fogo. Com a presença
reo no subterrâneo do hospital. de Brunwick, uma localidade de labaredas que chegavam
Com a destruição de enfermaria, que fazia parte dos alpes ítalo- até a nacele, teve de agir
foi transferido para um hospi- austríacos. No dia 3 de maio, rápido, livrando-se do avião
tal civil em Mântova, que na tanques americanos chegaram com um salto de paraquedas,
verdade era um hospital-prisão para libertar o aviador brasilei- vindo a pousar próximo
onde ficou internado até o dia ro. No dia 4 de maio, Brandini da cidade de Codroipo.
17 de abril, quando deu alta para empreendeu seu retorno a Pisa, Rápido, tentou livrar-se do
ser levado para um campo de porém, antes teve de permane- paraquedas. Ao ouvir vozes,
concentração na própria cidade. cer por dois dias em um campo acelerou o passo para se
No dia 20 de abril, Brandini de recuperação na cidade de esconder dentro de uma
foi transferido para a Base Aérea Florença. Depois desse pequeno velha caldeira. Infelizmente,
de Villafranca. Lá fez uma ten- descanso, deixou Florença para devido à presença de uma
tativa de fuga, porém, foi pego juntar-se aos companheiros na patrulha alemã que estava
serrando as grades da janela cidade da Torre Pendente. nas proximidades, não tardou
do quarto. No dia 24, deixou para que fosse rendido
Villafranca e retornou novamen- diante de um soldado que lhe
te para Verona, onde foi levado apontava uma carabina.
para um centro de interrogatório Na condição de prisioneiro
e triagem de prisioneiros da de guerra, Correia Netto foi re-
Luftwaffe. Naquele deslocamen- vistado e, de imediato, tomaram-
to, feito em uma carroça, vale a -lhe a sua pistola Colt 45. Retira-
pena destacar uma cena cômica ram dele todos os pertences de
aos modos Brandini. Um solda- fuga e o levaram para um QG,
do alemão que andava solitário onde foi interrogado. No outro
pela estrada pediu carona. Bran- dia, levaram-no para uma prisão
dini, que estava no comando da próxima de Udine. Depois de
carroça apinhada de prisionei- amargar maus momentos em
ros, autorizou o embarque. Para PRIMEIRO TENENTE- prisões e interrogatórios, no dia
facilitar o embarque em pleno AVIADOR OTHON CORREIA 31 de março, acompanhado de
movimento, o rapaz entregou NETTO dois guardas alemães, iniciaram
a arma ao Brandini. Grande No dia 26 de março de 1945, a viagem com destino a Nurem-
gozador, tinha de aprontar uma Correia Netto decolou no berg. Antes de embarcar para a
ao seu modo. Mandou parar comando das Esquadrilhas Alemanha, Correia Netto teve de
a carroça e, antes que alguém Azul e Vermelha com a fazer longas caminhadas, viajar
reagisse, apontou a arma aos missão de destruir a ponte de carroça, de caminhão, até
guardas. Apavorados com aquele de Casarsa. Atacaram o chegar a uma estação na Áustria,
gesto inesperado, todos largaram objetivo sob forte artilharia, onde embarcaria em um trem
suas armas e gritavam: Kamar- destruindo-o parcialmente. que o levaria para seu destino
de! Kamarade! Devolveu a arma Seu avião foi atingido quando na Alemanha. Ao passar por
entre gargalhadas e, depois disso, atacava uma bateria de Munique, Correia Netto ficou
a vigilância foi relaxada para antiaérea nas imediações do impressionado com a destruição
alívio dos guardas e prisioneiros. alvo. Correia Netto entrou generalizada pelo interior daque-
Coisas que só Brandini era capaz em um mergulho para atacar la região.

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Enfim, chegou a Nurem- população de 20 mil prisionei- guerra, Coelho foi escalado
berg no dia 3 de abril de 1945, ros. Ali, Assis e Correia Netto para fazer a segunda missão
onde foi acomodado em um permaneceram até o dia 29 de guerra naquele dia 22 de
quarto, tendo por companheiro de abril de 1945, quando o III abril. Vale ressalta que, duran-
dois aviadores americanos. De Exército do General Patton os te a campanha, seu avião foi
comum acordo, mantinham-se libertou. No entanto, os dois atingido 16 vezes, até que um
em silêncio. Era comum os brasileiros saíram definitiva- dia foi “premiado” com o ines-
alemães colocarem, em locais mente da Alemanha no dia perado. Coelho fez a segunda
discretos, microfones. Assim 10 de maio de 1945, quando decolagem às 14h30min em
ficaria fácil obter informações foram levados para Havre, na uma esquadrilha de quatro
dos prisioneiros para futuras França, onde ficaram mais aviões com o objetivo de
interrogações. Logo após o dois dias sob os cuidados dos atacar alvos de oportunidade,
meio-dia, entrou na prisão um americanos. Com o propó- aproveitando a confusão nas
interrogador e, em um bom sito de retornar a Pisa, os estradas com a retirada das
português, perguntou: “Quem americanos providenciaram tropas alemãs. A Esquadrilha
é o tenente Correia Neto?” Seu transporte para Paris, onde, Verde de Coelho fazia uma
interrogador nada mais era do enfim, Correia Netto e Assis faxina próxima da cidade de
que um suboficial religioso que embarcaram numa B-25 do Scandiano aniquilando viatu-
havia vivido no Brasil. Disse que Primeiro Grupo de Caça que ras alemãs de todos os tipos
estava cumprindo ordens. Este os transportou para a Itália. que fugiam desesperadas dos
mesmo suboficial, à serviço da ataques.
Alemanha, já havia interroga- Terminada a missão, a Es-
do anteriormente Motta Paes quadrilha Verde deveria se re-
e Assis. Dizia ter atuado como tirar do local para se deslocar
padre na Bahia. Daí seu excelen- para outro objetivo próximo
te português. de Reggio Emília. Mas, igno-
Na chegada, dentre os 10 rando o chamado do líder,
mil prisioneiros, Correia Netto Coelho decidiu fazer ainda
encontrou seu colega Assis, que um ataque a um caminhão
amargava havia mais de um mês solitário. Próximo de Sas-
aquele ambiente em Nuremberg. suolo, percebeu que, em um
Esquálido, maltratado pela fome bosque, dois tanques estavam
e pela precariedade sanitária do SEGUNDO TENENTE- se escondendo sob um toldo,
campo, o gaúcho Assis acabou AVIADOR MARCOS EDUARDO além de vários caminhões ca-
esquecendo o nome do colega. COELHO DE MAGALHÃES muflados. Coelho, que estava
“Tchê, como é seu nome mes- Esse aviador tem uma à vontade com a pouca reação
mo? Estou muito fraco e a me- história com “coloridos” da antiaérea, mergulhou di-
mória vai mal” – desculpou-se próprios, que difere dos reto sobre o alvo. Os alemães
Assis. Correia Netto soube pelo demais colegas caídos reagiram com uma intensa
colega que, com a aproximação em mãos da Wehrmacht. barragem de antiaérea de 20
dos aliados, os alemães iriam De prisioneiro de guerra, milímetros e, fatalmente, o
transferi-los para outro local. No passou a comandante de P-47 de Coelho foi atingido
dia 3 de abril de 1945, deixaram hospital. Tudo começou no papo com consequente
o campo de Nuremberg. Numa no dia 22 de abril de 1945, incêndio que tomou conta do
marcha organizada, depois de quando foi abatido pela avião. Aproveitando o excesso
percorrer 180 quilômetros, artilharia antiaérea inimiga, de velocidade, ganhou altura
os prisioneiros chegaram a já nos últimos dias de de segurança e saltou do avião
Müsberg em meados de abril guerra. tomado pelo fogo que, ao
num campo que sustentava uma Na sua 85ª missão de tocar o chão, explodiu.

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Infelizmente, Coelho onde foi atendido de imediato unidade médica americana


pousou sobre o telhado pelo comandante, o primeiro ocupou o hospital. Dos doze
de uma casa e, no choque, tenente-médico Dr. Lubben, prisioneiros feridos, Coelho
quebrou os dois tornozelos e que o atendeu muito bem. Na entregou ao novo comandante
as duas pernas. Uma patrulha falta de radiografia, aneste- apenas oito, pois quatro ha-
alemã o recolheu, e em um sia e gesso, Coelho suportou viam falecido. No dia primeiro
primeiro ato confiscaram heroicamente uma cirurgia, de maio, Coelho foi transfe-
seu Colt 45. Levaram Coelho pelo competente ortopedista rido de ambulância para um
para uma casa vizinha. Ali, Dr. Lubben. hospital americano de evacua-
deitado em uma maca, por Em Pisa, até o fim da guer- ção em Bolonha. De Bolonha,
pouco não foi executado ra, nada sabiam de Coelho. o comandante daquele hos-
por dois oficiais fascistas, Como ele havia ficado para pital comunicou ao Coronel
pensando que se tratava de trás durante a retirada em Nero Moura a presença do
um aviador italiano, já que Scandiano, ninguém soube Coelho que estava sob seus
falava bem o idioma. Qui- o que havia acontecido com cuidados. Providências foram
seram levá-lo, mas um cabo ele. Na manhã do dia 26 de tomadas para sua transferên-
alemão, de nome Anton abril de 1945, Dr. Lubben foi cia ao hospital brasileiro em
Schmidt, interferiu afastando ao encontro de Coelho para Pistoia. De lá, por último, foi
os dois oficiais. Escondido uma reunião. De acordo com levado para Livorno, onde foi
num caminhão, escoltado por seu depoimento, um momen- internado no Hospital Geral
soldados alemães, foi levado to grave, pois Dr. Lubben foi do V Exército Americano.
à noite para Reggio. se despedir do seu paciente. Aos interessados, para
Durante o deslocamento, Em uma despedida formal e bem conhecer em detalhes
Coelho se encontrou com respeitosa, falando em francês, a história individual de cada
um jovem de Joinville, que disse: prisioneiro aqui relatada,
havia sido enviado por seus “Tenente Coelho, vou recomenda-se ler o capítulo
pais para estudar na Ale- abandonar o hospital. Passo o VI, “Prisioneiros de Guerra”,
manha. Obrigado a fazer o comando, assuma o hospital. do livro Senta a Pua, de Rui
serviço militar, entrou para Tome minha pistola. Repre- Moreira Lima (editora Itatiaia
a Luftwaffe onde chegou ao senta o símbolo da força que Limitada – Instituto Históri-
posto de capitão, ainda em o senhor terá para proteger os co-Cultural da Aeronáutica,
1938. Em 1939, quando a homens que sou obrigado a 2ª Edição, 1989). Também
Alemanha invadiu a Polônia, deixar. São doze feridos graves. poderão conhecer a história
tentou voltar ao Brasil. Como Ficam com você três bravas da participação da FAB na
filho de alemão, foi obrigado enfermeiras, que se oferece- Segunda Guerra Mundial len-
a participar da guerra pela ram como voluntárias para do: Um Voo na História, Nero
pátria de seus pais. Depois essa missão. Que Deus tenha Moura, Fundação Getúlio
daquele primeiro encontro, pena dos meus homens e os Vargas Editora, 1996. Coleção
como Coelho não gravou seu proteja nos momentos difíceis. Aeronáutica. Série História
nome, perdeu contato com O comando do hospital é seu, Geral da Aeronáutica Brasi-
o catarinense e nunca mais tenente Coelho”. leira, Vol. 3, edição Instituto
soube dele. Após ler em alemão a Histórico-Cultural da Aero-
Coelho era um prisionei- ordem do dia, apertou as duas náutica, 1991. Opúsculo №
ro de guerra que perambula- mãos de Coelho e se retirou. A 55, A Participação de Força
va sem os devidos cuidados partir dali, o hospital passou Aérea Brasileira na II Guerra
diante da gravidade de suas a ser área livre com a chegada Mundial – INCAER, Rio de
fraturas. Então, conduzi- de partisanos para visitar o Janeiro, 2019. (Este opúsculo
ram-no para um hospital jovem diretor do hospital. Na pode ser acessado via internet
na cidade de Reggio Emília, madrugada seguinte, uma no site do INCAER).

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