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O61
Operações de paz de caráter naval : ameaças e desafios para a paz no mar / [Organizado por]
Contra-Almirante (FN) Renato Rangel Ferreira, Capitão de Corveta (FN) Alexandre de Menezes
Villarmosa. – Rio de Janeiro : Centro de Instrução Almirante Sylvio de Camargo, 2020.
Recurso digital.
Formato PDF.
ISBN 978-65-990227-0-8
1. Nações Unidas – forças de paz. 2. Centro de Instrução Almirante Sylvio de Camargo. I. Ferrei-
ra, Renato Rangel. II. Villarmosa, Alexandre de Menezes. III. Título
CDD
355.357
Operações de Paz de Caráter Naval: ameaças e desafios para a paz no mar
Apresentação
Contra-Almirante (FN)
RENATO RANGEL FERREIRA
Prefácio
Embaixador
Rubens Barbosa
• 8 •
Operações de Paz de Caráter Naval: ameaças e desafios para a paz no mar
Por outro lado, o governo dos EUA decidiu designar o Brasil como
“aliado prioritário extra-OTAN”, elevando a parceria estratégica com os
Estados Unidos a um novo patamar de confiança e cooperação. Esse sta-
tus é conferido a um número restrito de países, considerados de interesse
estratégico para os EUA, e os torna elegíveis para maiores oportunida-
des de intercâmbio e assistência militar, compra de material de defesa,
treinamentos conjuntos e participação em projetos. Embora não tenha
uma relação direta com a OTAN, o novo status do Brasil recomendaria o
acompanhamento do que está ocorrendo na Organização.
• 9 •
Operações de Paz de Caráter Naval: ameaças e desafios para a paz no mar
Sumário
Introdução 13
Parte I 17
Capítulo 1 – Atuação da Organização Marítima Internacional (IMO) na área 19
e proteção marítima
Gisela Vieira
Parte II 43
Capítulo 5 – Da segurança para a manutenção da paz: desafios logísticos 45
para operações marítimas
Capitão de Mar e Guerra (Marinha) Boniface Konan
Conclusão 111
Almirante de Esquadra (Fuzileiro Naval) Alexandre José Barreto de Mattos
Comandante-Geral do Corpo de Fuzileiros Navais
Autores 113
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Operações de Paz de Caráter Naval: ameaças e desafios para a paz no mar
Introdução
Comandante da Marinha
ALMIRANTE DE ESQUADRA ILQUES BARBOSA JUNIOR
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se os artigos e transcrições das apresentações de especialistas nacionais e
estrangeiros nos temas em pauta, com oficiais generais ligados à ONU e
chefes de organizações congêneres palestrantes no seminário.
Na primeira parte, o livro irá explorar o impacto das Ameaças Assimétri-
cas à paz e à segurança no mar. Serão apresentados os resultados dos de-
bates sobre temas como a necessidade de ampliação da consciência situ-
acional marítima para a rápida identificação dessas ameaças, que podem
tanto estar relacionadas a aspectos climáticos e seus efeitos no mar, quando
à ação humana ou estatal, como o tráfico de drogas, pirataria, terrorismo e
crimes ambientais, semelhante ao ocorrido no nordeste brasileiro em 2019.
Em particular, referente a este lamentável episódio, durante o período do
seminário ainda estávamos investigando as causas do surgimento de óleo
em nossas águas e combatendo os efeitos desta agressão sem precedentes,
tanto pela sua extensão como pelo impacto ambiental e socioeconômico.
Esse conjunto de ameaças revela a importância do fortalecimento da co-
operação e da construção de soluções comuns a serem implementadas.
A segunda parte abordará os desafios de manter a paz no mar, apon-
tando as vantagens aditadas às missões de paz pelo aporte das caracte-
rísticas intrínsecas de Poder Naval, como mobilidade, permanência, versa-
tilidade e flexibilidade. Por outro lado, serão compartilhadas experiências
colhidas decorrentes do grande esforço logístico, assim como das pecu-
liaridades operacionais impostas pela tarefa de manter um meio naval
operando distante de sua base, em uma missão real, de longa duração e
com a participação de meios de diferentes países.
A última parte do livro tratará das demandas específicas para o ensino
e o adestramento às forças e meios navais, aeronavais e de fuzileiros na-
vais empregados em operações de paz de caráter naval, as quais reque-
rem uma gama de capacidades e competências que divergem daquelas
empregadas nas missões de paz em terra. As diferenças do ambiente ope-
racional marítimo, as tecnologias presentes nos meios navais e também
as distintas interações entre o operador de paz naval e os indivíduos que
possam integrar diferentes grupos, como forças adversas, civis sob prote-
ção do mandato e nacionais do país anfitrião da missão, impõem conside-
rações especiais que serão aqui debatidas.
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Operações de Paz de Caráter Naval: ameaças e desafios para a paz no mar
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Parte I
CAPÍTULO 1 – Atuação da Organização Marítima Internacional
(IMO) na área de proteção marítima
RICHARD MORRIS
CONTRA-ALMIRANTE (FN)
ROGÉRIO RAMOS LAGE
Capítulo 1
Atuação da Organização Marítima
Internacional (Imo) na área de
proteção marítima
Gisela Vieira
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bilidade dos estados membros. O papel de aplicação das normativas e
regulamentos fica a cargo dos estados membros da Organização. Com
relação ao avanço das medidas na IMO, tudo se inicia com a necessida-
de de revisar o instrumento existente, ou face a algum incidente ou avan-
ço tecnológico. A partir de um desses três eventos, um Estado membro
ou organização desenvolvem uma proposta para os respectivos comitês,
que, dependendo do tema, discutem a proposta, concordam, discordam,
chegam a uma minuta de texto e a minuta de texto é adotada pelo res-
pectivo comitê ou pelo Conselho e/ou Assembleia.
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Operações de Paz de Caráter Naval: ameaças e desafios para a paz no mar
tipifica uma série de crimes e também estabelece uma base jurídica para
julgar ou extraditar os criminosos. Em 2005, houve uma necessidade de
revisar o texto de 1988, pois constataram-se uma série de lacunas jurídi-
cas. A convenção de 2005 não só tipifica mais crimes, mas ela também
traz uma série de medidas para efetivar o cumprimento das suas disposi-
ções, como a previsão de abordagem de navios além do mar territorial.
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relativos aos navios autônomos. Em junho deste ano, foram adotada as
primeiras diretrizes interinas para a fase de testes.
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Operações de Paz de Caráter Naval: ameaças e desafios para a paz no mar
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Capítulo 2
Tecnologia, peacekeeping e combate às
ameaças assimétricas: oportunidades e
desafios em contextos complexos e instáveis
Ricardo Oliveira dos Santos1
Introdução
Gostaria de agradecer à Marinha do Brasil, por meio do Comando-
Geral do Corpo de Fuzileiros Navais (CGCFN) e do Centro de Operações
de Paz de Caráter Naval (COpPazNav), e à Organização das Nações Uni-
das (ONU) pelo honroso convite para participar do Seminário Internacio-
nal de Operações de Paz de Caráter Naval, realizado nas dependências
do Centro de Instrução Almirante Sylvio de Camargo (CIASC). O primei-
ro painel deste evento, “Ameaças assimétricas no ambiente marítimo no
peacekeeping”, é uma excelente oportunidade para a troca de ideias, ex-
periências e boas práticas, bem como para a proposição de soluções aos
principais desafios enfrentados pelas Operações de Paz da ONU.
1
Coordenador Adjunto da Graduação (2017 - ) e Professor do Quadro Complementar
(2015 - ) do Instituto de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica do Rio
de Janeiro (IRI/PUC-Rio). Foi Professor Substituto do Departamento de Ciência Política da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (DCP/UFRJ) entre 2014-2016. Doutor em Econo-
mia Política Internacional pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (PEPI/UFRJ). Possui
graduação e mestrado em Relações Internacionais pela Pontifícia Universidade Católica
do Rio de Janeiro (IRI/PUC-Rio). Foi Professor Visitante do Instituto Multinacional de Estu-
dos Americanos da New York University (2019) e Visiting Research Fellow do Departamento
de Ciência Política da Brown University (2012).
2
SANTOS, Ricardo Oliveira dos. Extraindo lições a partir de velhos problemas: superando
os desafios humanitários para além da MINUSTAH. In: BRAGA, Carlos Chaga & FERREI-
RA, Adler Cardoso (Orgs.). 13 anos do Brasil na MINUSTAH: lições aprendidas e novas
perspectivas. Rio de Janeiro: Centro de Instrução Almirante Sylvio de Camargo, Escola de
Operações de Paz de Caráter Naval. 2019. pp. 157-164.
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Operações de Paz de Caráter Naval: ameaças e desafios para a paz no mar
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dos com as causas da paz e segurança internacional: Estados-membros,
organizações intergovernamentais e não governamentais, e atores da
sociedade civil (Ibidem). Para efeitos de delimitação, é digno de nota
destacar a abordagem introduzida pelo New Horizon conhecida como
capability-driven approach, que busca “melhorar a performance da ma-
nutenção da paz no terreno, vinculando tarefas e padrões operacionais
claros a programas de capacitação e treinamento, equipamentos e ne-
cessidades de suporte e, conforme o caso, incentivos para a realização
de tarefas obrigatórias”3 (ibid., p. 6, tradução própria). Desde então, di-
versos esforços foram conduzidos no sentido de alcançar este paradigma
em prol do incremento das capacidades militares, policiais e civis4 – prin-
cipalmente do ponto de vista tecnológico.
No contexto da sexagésima sétima sessão, a Assembleia Geral das
Nações Unidas, em dezembro de 2013, adotou a resolução 67/301, em
resposta ao trabalho de revisão compreensiva desenvolvido pelo Comitê
Especial das Nações Unidas sobre Manutenção da Paz5 (A/RES/67/301,
3
“seeks to improve the performance of peacekeeping on the ground by linking clear opera-
tional tasks and standards with capacity-building and training programmes, equipment and
support needs, and, as appropriate, incentives to deliver mandated tasks”.
4
No mesmo ano de publicação do New Horizon, o Secretário-Geral das Nações Unidas
publicou um relatório Peacebuilding in the Immediate Aftermath of Conflict ressaltando a
importância e centralidade dos civis no processo de reconstrução de sociedades afetadas
por conflitos armados (Karlsurd, 2017, p. 286). No ano seguinte, Ban Ki-moon iniciou uma
reforma de incremento da capacidade civil das Nações Unidas estabelecendo um Grupo
Sênior de Aconselhamento Independente, liderado pelo Subsecretário-Geral Jean Marie
Guéhemo (Ibidem). O objetivo deste Grupo era tornar mais efetiva a presença civil em pro-
cessos formais e informais de peacebuilding (Ibid.).
5
O referido Comitê, mandatado para conduzir uma revisão compreensiva de todas as ques-
tões relacionadas às Operações de Manutenção de Paz das Nações Unidas, apresenta re-
latórios anuais à Assembleia Geral das Nações Unidas apontando as diretrizes necessárias
de reforma (Dorn, 2011, p. 225). Desde o final da década de 1980, o Comitê já discorria
acerca da necessidade de explorar caminhos legais, políticos, econômicos, e éticos necessá-
rios para o emprego de mecanismos tecnológicos nas atividades de paz e segurança interna-
cional (ver as resoluções: A/44/301, 1989; A/45/330, 1990; A/46/254, 1991; A/47/253,
1992) (Ibidem). Após os três grandes fracassos da organização durante a década de 1990,
na virada do século, o Comitê, em diferentes ocasiões, destacou a urgência do uso amplo e
sistêmico de alta tecnologia nas Operações de Paz, tanto no terreno como no escritório (ver
as resoluções: A/55/1024, 2001; A/59/19/Rev.1, 2005; A/60/19, 2006; A/61/19, 2007;
A/62/19, 2008; A/63/19, 2009; A/64/19, 2010) (Ibid.).
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Operações de Paz de Caráter Naval: ameaças e desafios para a paz no mar
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“supports a wide range of tasks in United Nations peacekeeping operations beyond those
undertaken by the military and police, encompassing, for example, information and com-
munications units, medical support and analysis and reporting functions”
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No ano seguinte7, num momento em que várias questões legais, ope-
racionais, técnicas e financeiras dos VANTs estavam sendo consideradas,
o Painel de Experts em Tecnologia e Inovação das Operações de Ma-
nutenção de Paz das Nações Unidas, convocado pelo próprio Secretá-
rio-Geral, publica o relatório Performance Peacekeeping ressaltando a
urgência de adaptação dos peacekeepers à nova revolução tecnológica
global (United Nations, 2014, p.3). De acordo com o documento, as
tecnologias e inovações possibilitam, em linhas gerais, o aumento da se-
gurança e proteção dos peacekeepers, o revigoramento da capacidade
de resposta e a condução de mandatos de forma mais efetiva (Ibidem).
Presidido por Jane Holl Lute8, o Painel considera que o emprego de no-
vas tecnologias fortalece a conscientização relativa à situação no terre-
no, produzindo melhoria na proteção dos riscos aos quais os civis são
expostos continuadamente; potencializa a capacidade de antecipação
dos ataques cometidos por elementos hostis, detendo, assim, violações
aos direitos humanos – principalmente de grupos vulneráveis (crianças e
mulheres); e a classificação e organização visual de informações, tornan-
do-as mais seguras e fornecendo caminhos mais estáveis para o processo
de tomada de decisão nos diferentes níveis (Ibid.).
7
Ainda em 2014, a Divisão de Tecnologia de Comunicação e Informação do então Depar-
tamento de Suporte no Campo (DFS – acrônimo em inglês), estabeleceu o Partnership for
Technology in Peacekeeping com o objetivo de expor as Nações Unidas às mais recentes
abordagens de inovação e tecnologia que potencialmente podem fortalecer as Operações
de Paz da Organização (Deparment of Operational Support, 2019). Desde a sua criação,
simpósios internacionais são organizados como forma de facilitar a contribuição de tecno-
logia por parte dos Estados membros da organização (ibidem).
8
Jane Holl Lute foi Secretária Adjunta do Departamento de Segurança Nacional dos Esta-
dos Unidos (2009-2013), Assistente do Secretário-Geral das Nações Unidas no Escritório
de Suporte à Construção da Paz e no Setor de Suporte à Missão do DPKO (Center for
International Security and Cooperation, 2019). Além disso, exerceu diversos cargos na
iniciativa privada na área de cyber segurança e drones (Ibidem).
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Operações de Paz de Caráter Naval: ameaças e desafios para a paz no mar
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Com o aumento da rede de construtores da paz, os mecanismos para a transformação
dos conflitos tendem a ser ampliados, gerando uma possibilidade de sucesso para as
missões. No contexto em que o estado da guerra se torna cada vez mais informatizado,
as Nações Unidas estão sendo pressionadas a atuar de forma cada vez mais integrada
às plataformas digitais para se conectar mais com as pessoas, fortalecendo abordagens
locais e sustentáveis para a paz (Karlsrud, 2017, p. 273-275).
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Barreiras e desafios ao emprego de tecnologias nas Operações de Paz
das Nações Unidas
Além da expressiva contribuição de tropas a partir da década de
1990, Estados do Sul Global10, vêm engajando-se ativamente nos deba-
tes relacionados à prática e doutrina das Operações de Paz das Nações
Unidas (Abiola et al., 2017, p. 172). Inserindo-se nas reflexões acerca
de novas tendências deste instrumento multilateral para a gestão e re-
solução de conflitos, os TCCs apresentam algumas ressalvas sobre o
emprego de novas tecnologias, principalmente no que concerne o acesso
à informação coletada pelos VANTs, o prejuízo à soberania dos Estados,
o tipo de treinamento específico para operar determinados aparelhos, e,
não exaustivamente, as implicações financeiras sobre o orçamento do
Departamento de Operações de Paz (Abiola et al., 2017, p. 172).
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Operações de Paz de Caráter Naval: ameaças e desafios para a paz no mar
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Para detalhes sobre a participação do Brasil nas Operações de Paz das Nações Unidas e
a relação com o uso da força, ver: HAMMAN, Eduarda. A Força de Uma Trajetória: O Bra-
sil e as operações de paz da ONU (1948-2015). Rio de Janeiro: Instituto Igarapé. 2015.
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Outra questão que merece atenção diz respeito à interação entre os
atores humanitários e os peacekeepers no ciberespaço. Em 2013, diante
da crescente utilização de VANTs por parte das organizações não governa-
mentais, o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos
Humanitários (OCHA – acrônimo em inglês) recomenda o desenvolvimento
de um referencial legal e regulatório, priorizando transparência e
engajamento permanente com a comunidade local, evitando assim
qualquer tipo de associação militarizada com o emprego desta tecnologia
(Office for the Coordination of Humanitarian Affairs, 2013). Um ano de-
pois, em outro Ocassional Policy Paper, o OCHA recomenda que a coleta
de informações siga princípios transparentes, e que códigos de conduta
e procedimentos sejam implementados para a utilização ética de dados,
possibilitando, desta maneira, a criação de um espaço tecnológico que
não prejudique os princípios do humanitarismo (Ibidem, 2014). Há uma
preocupação em curso de que o aumento de tecnologia, principalmente
daquelas voltadas para monitoramento, vigilância e observação, possam
produzir um intercâmbio de informações sensíveis, priorizando assim o
componente militar em detrimento do humanitário.
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Operações de Paz de Caráter Naval: ameaças e desafios para a paz no mar
Conclusão
Na seção em que discorre sobre tecnologia e inovação, o Painel In-
dependente de Alto Nível sobre as Operações de Paz das Nações Unidas
considera que:
“(...) a tecnologia deve ser uma agenda chave de reforma para o futuro, e
o Secretário-Geral deve assegurar que as novas tecnologias introduzidas
devem ter o enfoque do campo, sejam confiáveis e efetivas do ponto
de vista dos custos, garantindo que a sua introdução seja motivada por
necessidades práticas dos usuários no terreno (...)”13 (United Nations,
2015, p. 83, tradução própria).
13
“That technology be a key reform agenda for the future, and that the Secretariat should
ensure that new technologies introduced are field-focused, reliable and cost effective and
that their introduction be driven by practical needs of end users on the ground”.
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Referências
ABDERNUR, Adriana Erthal. UN Peacekeeping in a Multipolar World Order: Norms,
Role Expectations, and Leadership. In: CONING, Cedric de & PETER, Mateja (Eds.). United Nations
Peace Operations in a Changing Global Order. Cham: Palgrave Macmillan. pp. 45-65.
ABIOLA, Seun et al. The large contributors and UN peacekeeping doctrine. In: CONING, Cedric
de et al. (Eds.). UN Peacekeeping Doctrine in a New Era: Adapting to Stabilisation, Protection and
New Threats. London and New York: Routledge. 2017. pp.152-186.
DORN, A. Walter. Keeping watch: Monitoring, technology and innovation in UN peace operations.
Tokyo, New York and Paris: United Nations University Press. 2011.
KARLSRUD, John. The UN At War: Peace Operations in a New Era. New York: Palgrave Macmillan.
2018.
UNITED NATIONS. Performance Peacekeeping. Final Report of the Expert Panel on Technology and
Innovation in UN Peacekeeping. New York: United Nations. 2014.
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Operações de Paz de Caráter Naval: ameaças e desafios para a paz no mar
UNITED NATIONS HUMAN RIGHTS OFFICE OF THE HIGH COMMISSIONER. Study on the use
of private military and security companies (PMSCs) by the United Nations. Disponível em: <https://
www.ohchr.org/EN/Issues/Mercenaries/WGMercenaries/Pages/StudyOnPMSC.aspx>.Acesso em:
20 de nov. de 2019.
THE CENTER FOR INTERNATIONAL SECURITY AND COOPERATION. Jane Holl Lute Profile. Dis-
ponível em: <https://cisac.fsi.stanford.edu/people/jane_holl%20lute>. Acesso em: 29 de nov.
de 2019.
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Capítulo 3
Ameaças assimétricas no ambiente
marítimo e manutenção da paz: soluções
para promover a segurança nacional no
contexto marítimo que contribuem para a
estabilidade nacional, regional e global
Richard Morris
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Operações de Paz de Caráter Naval: ameaças e desafios para a paz no mar
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complicado, no qual o Reino Unido é um dos principais atores, utilizando
alavancas diplomáticas, militares e policiais para impulsionar a coope-
ração internacional e desenvolver sua capacidade. Em janeiro de 2019,
o Departamento de Transportes do Reino Unido publicou o MARITIME
20503, uma estratégia de longo prazo para o setor marítimo do Reino
Unido, voltada para a ambição de se tornar uma nação marítima líder
mundial, possibilitada por uma segurança marítima eficaz (consulte o
Capítulo 11) através do gerenciamento ativo de riscos e oportunidades,
dentro e a partir do domínio marítimo.
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Operações de Paz de Caráter Naval: ameaças e desafios para a paz no mar
Capítulo 4
Ameaças assimétricas no
ambiente marítimo
Contra-Almirante (FN)
Rogério Ramos Lage
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informacional e com a guerra cibernética, desencadeando ações carac-
terizadas como crimes ambientais, terrorismo ou pirataria, com a finali-
dade de provocar medo, incerteza e dúvida.
Dois casos podem ser apresentados como alerta para esse tipo de
ameaça. O primeiro foi o ataque cibernético realizado com o vírus
NotPetya na empresa MAERSK, em 2017, que causou sérios problemas
no processamento de pedidos. As “políticas” e “administração de TI há-
bil” estabelecidas falharam em impedir o ataque e suas consequências.
Outro caso importante é caracterizado pelas várias ocorrências de inter-
ferência significativa no GPS relatadas por embarcações e aeronaves que
operam no Mar Mediterrâneo Oriental e no Oceano Pacífico.
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Operações de Paz de Caráter Naval: ameaças e desafios para a paz no mar
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Embora a solução militar sempre esteja presente, é fundamental que
haja a cooperação entre entidades para criar uma governança resiliente,
capaz e com credibilidade.
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Parte II
CAPÍTULO 5 – Da segurança para a manutenção da paz:
desafios logísticos para operações marítimas
TENENTE-GENERAL
CARLOS H. LOITEY
CONTRA-ALMIRANTE
EDUARDO AUGUSTO WIELAND
Capítulo 5
Da segurança para a manutenção
da paz: desafios logísticos para
operações marítimas
Capitão de Mar e Guerra (Marinha)
Boniface Konan
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um navio-tanque ancorado no Togo. Esses eventos, resolvidos com
sucesso pela intervenção das marinhas da Guiné Equatorial e de Togo,
no entanto, não devem ocultar os outros oito ataques a reféns e vítimas
que ocorreram entre novembro de 2018 e abril de 2019 e que deram ao
Golfo da Guiné a reputação de área marítima perigosa. Tanto a pesca
ilegal, que também persiste na Zona Econômica Exclusiva dos países
costeiros, quanto o tráfico de drogas, armas e seres humanos contribuem
para sufocar as economias nacionais. Essas ameaças transfronteiriças
confirmam, portanto, a necessidade de resposta regional dos Estados
do Golfo da Guiné. A análise atual aponta para uma economia criminal
real que pode fornecer combustível para o terrorismo atuante na região.
A YAMS
Em junho de 2013, após duas resoluções da ONU (de 2018 e de
2039), tomadas em 2011 e 2012, uma Cúpula de Chefes de Estado
e de Governo da CEDEAO, da CEEAC e da Comissão do Golfo da
Guiné (CGG) foi realizada em Yaoundé, Camarões. Seu objetivo
foi buscar uma sinergia de ações e uma resposta abrangente a esses
desafios de segurança no domínio marítimo regional. Desse ápice, surgiu
o Memorando de Entendimento e o Código de Conduta de Yaoundé
para Segurança e Proteção Marítima. Essa construção, endógena às
três instituições regionais fundadoras, não exclui e nem incentiva a
cooperação bilateral e multilateral.
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Operações de Paz de Caráter Naval: ameaças e desafios para a paz no mar
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utilizam os meios marítimos e evitará a sobretaxa estatística prejudicial à
imagem das instalações portuárias da região.
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Operações de Paz de Caráter Naval: ameaças e desafios para a paz no mar
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• A disposição da União Africana e das Comunidades Econômicas
Regionais (CER) de criar forças de prontidão para operações de
manutenção da paz, de acordo com o princípio da subsidiariedade.
A União Africana está tentando capitalizar as realizações da
segurança marítima das CER.
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Operações de Paz de Caráter Naval: ameaças e desafios para a paz no mar
Capítulo 6
Logística marítima nas operações de
manutenção da paz: superando os desafios
de manter a paz no mar
Tenente-General
Carlos H. Loitey
Fatos e números
A ONU possui 13 operações de manutenção da paz ocorrendo no
momento, nas quais emprega um contingente aproximado de 77.000
militares, 10.000 policiais e 18.000 civis de bandeira internacional e
local. Para tal, utiliza um orçamento de US$ 6,8 bilhões (para o período
de julho de 2019 a junho de 2020), que representa menos de 0,5% dos
gastos militares globais. O número de países que contribuem para essas
operações chega a 121. Isso representa um esforço significativo em al-
gumas das regiões mais conturbadas do mundo, onde os civis precisam,
desesperadamente, de ajuda.
Apesar das muitas deficiências e desafios nas operações de manuten-
ção da paz da ONU, estamos focados em soluções e melhorias. Traba-
lhando em conjunto com os Estados-Membros e outros parceiros, pode-
mos alcançar esse objetivo.
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fundador da ONU, o país não se esquivou do envolvimento na solução de
crises. Militares, policiais e civis de todos os estados do Brasil trabalharam
como pacificadores e embaixadores em muitos países diferentes, levando
a bandeira brasileira para os mais diversos cantos do mundo. Desde 1948
até agora, a nação tem contribuído com tropas em 6 missões de Manu-
tenção da Paz, e com componentes de Estado-Maior (Staff Officers) e ob-
servadores militares em 41 missões – um histórico impressionante do qual
pode se orgulhar. Atualmente, contribui com 291 militares em 9 missões,
incluindo 9 mulheres. A maior contribuição ocorre na FTM-UNIFIL.
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Operações de Paz de Caráter Naval: ameaças e desafios para a paz no mar
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internacionais e impõem uma ameaça direta aos civis. O número de
pessoas deslocadas em algumas missões chega a milhões. Na ausência
de progresso político e controle do Estado, a dependência da ferramenta
militar para proteger os civis está em alta.
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Operações de Paz de Caráter Naval: ameaças e desafios para a paz no mar
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para os estados emergentes. Se for incumbida, ainda pode fornecer as-
sistência humanitária e ajuda em caso de desastre.
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Operações de Paz de Caráter Naval: ameaças e desafios para a paz no mar
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Alemanha, Grécia, Indonésia, Itália, Holanda, Noruega, Espanha, Sué-
cia e Turquia. Atualmente, a FTM-UNIFIL é composta por unidades navais
de Bangladesh (um navio), Brasil (um navio – navio-capitânea e um heli-
cóptero), Alemanha (um navio), Grécia (um navio), Indonésia (um navio
e um helicóptero) e Turquia (um navio).
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Operações de Paz de Caráter Naval: ameaças e desafios para a paz no mar
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Gênero
Voltando à manutenção da paz em termos mais gerais, é necessário
salientar a importância das mulheres mantenedoras da paz. Precisamos
de mais mulheres para serem treinadas e disponibilizadas para serem
empregadas, tanto em terra como no mar. Não se trata de uma questão
de politicamente correto, pois experiências prévias demonstram que o
emprego de mulheres em todos os níveis da manutenção da paz reforça
a nossa capacidade de planejar e conduzir essas operações. Foram esta-
belecidas metas para a inclusão de mulheres pacificadoras e a ONU está
fazendo bons progressos em relação a esses objetivos, embora o desafio
não deva ser subestimado, porque existe a dependência dos países con-
tribuintes de tropas apoiando plenamente essas iniciativas. Como uma
ideia aproximada de onde estamos em todas as 13 missões de paz em
termos de mulheres militares:
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Operações de Paz de Caráter Naval: ameaças e desafios para a paz no mar
Compromissos e recursos
Para se adaptar a conflitos mais complexos e de alto risco, as nossas
missões de manutenção da paz devem se tornar mais móveis e proativas.
Em termos de Geração de Forças, as Nações Unidas verificaram recente-
mente unidades militares em modo de espera que podem ser acionadas
em menos de 60 dias no Sistema de Prontidão para a Capacidade de
Manutenção da Paz (PCRS). O PCRS é o ponto de entrada única para
os Estados-Membros se comprometerem com a Manutenção de Paz da
ONU, e o mecanismo através do qual o Secretariado da ONU fará a sua
seleção para os destacamentos. O PCRS inclui todas as capacidades,
incluindo exigências navais.
Conclusão
Os desafios em operações de manutenção da paz da ONU são pro-
fundos tanto em terra como no mar. A ampla gama de tarefas atribuídas
a estas operações expandiu-se significativamente em resposta às mu-
danças nos padrões de conflito e ameaças emergentes. À medida em
que a natureza e o domínio do conflito armado se expandem, as opera-
ções marítimas também devem ser adicionadas a toda gama de opções
militares da ONU. O ambiente marítimo é estrategicamente importante
para fazer cumprir acordos, proteger fronteiras e reabastecer as forças
de manutenção da paz. As operações marítimas também podem reforçar
significativamente a segurança do processo de paz e proporcionar segu-
rança aos parceiros humanitários e de desenvolvimento. A presença de
uma capacidade marítima consistente proporciona às altas lideranças
da ONU a flexibilidade operacional e opções eficazes para enfrentar os
desafios da manutenção da paz.
• 61 •
Capítulo 7
Brasil na Força-Tarefa Marítima da UNIFIL:
transformando desafios logísticos em
oportunidades político-diplomáticas
Danilo Marcondes de
Souza Neto1
Introdução
O objetivo desta contribuição é analisar como os desafios logísticos
associados ao envolvimento brasileiro na Força-Tarefa Marítima da Força
de Emergência das Nações Unidas no Líbano (FTM-UNIFIL) se traduzem
em oportunidades político-diplomáticas para o Brasil. Longe de poder
discutir de maneira ampla o envolvimento do Brasil na UNIFIL, abordado
em outra contribuição (Silva, Braga e Marcondes, 2017), o presente capí-
tulo se concentra nas considerações apresentadas acima, argumentando
que elementos podem ser considerados à primeira vista como desafios
logísticos, devido à sua complexidade e especificidade, podem se tradu-
zir em ganhos para a política externa e de defesa do Brasil. Tais ganhos
decorrem principalmente do aspecto singular da FTM-UNIFIL dentro do
âmbito das operações de paz autorizadas pelo Conselho de Segurança
das Nações Unidas, em especial o seu componente naval, o que fornece
ao Brasil uma oportunidade sem precedentes de envolvimento em inicia-
tiva multilateral de caráter inovador no campo da manutenção da paz e
da segurança internacional.
• 62 •
Operações de Paz de Caráter Naval: ameaças e desafios para a paz no mar
• 63 •
guai. O perfil dos componentes da UNIFIL se diferencia bastante, por
exemplo, da MINUSTAH, importante contribuição da história recente do
envolvimento brasileiro em missões de paz.
Tendo as considerações anteriores em mente, o envolvimento brasilei-
ro na FTM da UNIFIL, a partir de 2011, pode ser entendido como ocor-
rendo devido a uma percepção, por parte da comunidade internacional,
de que o Brasil seria um Estado que poderia trazer uma contribuição
positiva e inovadora a uma missão marcada por mais de três décadas
de duração, e que precisou adaptar o seu mandato a fim de incluir uma
Força-Tarefa Marítima, a partir do conflito entre Israel e Líbano de 2006.
A participação do Brasil, primeiramente com a designação de um ofi-
cial-general da Marinha do Brasil para exercer o comando da FTM e, em
segundo momento, com a designação de um navio brasileiro para atuar
na FTM, reflete as credenciais internacionais do país, estando estas relacio-
nadas principalmente ao seu histórico do envolvimento em missões de paz,
sua valorização do Direito Internacional e da diplomacia e também a sua
percepção como um ator sem interesses geopolíticos imediatos no cenário
do Oriente Médio. Tais elementos permitiram uma aceitação positiva a res-
peito da participação brasileira entre as diferentes partes envolvidas com
a missão, tanto por parte dos demais contribuintes quanto pelos países
da região. Esse último elemento foi reforçado pelas autoridades da ONU
quando em conversa com representantes brasileiros em Nova Iorque3.
As circunstâncias relacionadas ao início do envolvimento brasileiro na
FTM-UNIFIL merecem destaque. Em julho de 2010, representante do MRE
em visita à UNIFIL ouviu do Force Commander da missão que uma con-
tribuição brasileira para a missão “seria muito bem-vinda.”4 Em agosto
de 2010, o Escritório de Assuntos Militares do Departamento se reuniu
com representantes da Missão de Operações de Paz das Nações Unidas
(DPKO) Brasil em Nova Iorque informando da necessidade de oficiais, tro-
pas e equipamentos para a UNIFIL, inclusive indicando a vacância de pos-
3
Ver: Mensagem 547 do Ministério das Relações Exteriores para o Gerente da Divisão de
Relações Internacionais do Ministério da Defesa, data: 10/08/2010.
4
Ver: Mensagem 547 do Ministério das Relações Exteriores para o Gerente da Divisão de
Relações Internacionais do Ministério da Defesa, data: 10/08/2010.
• 64 •
Operações de Paz de Caráter Naval: ameaças e desafios para a paz no mar
5
Ver: Telegrama 365 da embaixada do Brasil em Beirute para a Secretaria de Estado das
Relações Exteriores, data: 22/08/2011.
6
Ver: Telegrama 544 da embaixada do Brasil em Beirute para a Secretaria de Estado das
Relações Exteriores, data: 29/11/2011.
7
Em novembro de 2011, o então Vice-Presidente da República, Michel Temer, descendente
de libaneses, visitou o Líbano, participando de cerimônia de comemoração da indepen-
dência do país. Conforme destacou relato da embaixada brasileira em Beirute: “pela
primeira vez na história, uma autoridade estrangeira foi convidada a juntar-se, na tribuna
de honra”. Ver: Telegrama 547 da embaixada do Brasil em Beirute para a Secretaria de
Estado das Relações Exteriores, data: 29/11/2011.
8
Ver: Telegrama 501 da embaixada do Brasil em Beirute para a Secretaria de Estado das
Relações Exteriores, data: 18/11/2019. O início da participação brasileira na FTM contou
também com a presença do Comandante de Operações Navais da Marinha do Brasil.
Ver: Telegrama 509 da embaixada do Brasil em Beirute para a Secretaria de Estado das
Relações Exteriores, data: 24/11/2011.
9
Ver: Telegrama 365 da embaixada do Brasil em Beirute para a Secretaria de Estado das
Relações Exteriores, data: 22/08/2011.
• 65 •
A interação com os países contribuintes da FTM
A participação na FTM da UNIFIL permite ao Brasil uma oportunidade
de interação sem precedentes com os Estados-membros da OTAN, que
também são contribuintes para a missão, tanto em relação à atuação
conjunta na FTM, como é o caso da Alemanha, Grécia e Turquia, que
dispõe de meios navais desdobrados na FTM, quanto nas oportunidades
relacionadas ao apoio logístico associado à manutenção da participação
do navio brasileiro na FTM.
O segundo tipo de interação decorre do fato de que a distância geo-
gráfica e o tempo de deslocamento entre o território brasileiro e a área
de atuação da FTM requerem a necessidade de escalas ao longo do
trajeto entre o território brasileiro e a área de atuação na FTM. O navio
brasileiro designado para participar na FTM costuma realizar escalas em
diferentes portos da região do Mediterrâneo e, nesse aspecto, merece
destaque a interação que foi desenvolvida com a Turquia. Por exemplo, a
escala operacional no porto turco de Mersin envolveu também “apoio lo-
gístico e ao suprimento de combustíveis ao navio e à aeronave embarca-
da”10. Em algumas ocasiões, os navios brasileiros também transportaram
em suas escalas na Turquia, o comandante da FTM-UNIFIL, permitindo
que ele pudesse interagir com autoridades turcas.11 Representantes diplo-
máticos brasileiros na Turquia reconheceram o uso do porto de Mersin
como contribuindo para o “aprofundamento do intercâmbio entre as Ma-
rinhas dos dois países”12.
Além da interação com os Estados-membros da OTAN, a participa-
ção na FTM também permitiu um aumento da interação do Brasil, em
especial da Marinha do Brasil com Estados que não seriam identifica-
dos como parceiros imediatos, principalmente por estarem localizados
em contextos geográficos de grande distância do território nacional
10
Ver: Telegrama 109 de embaixada do Brasil em Ancara para a Secretaria de Estado das
Relações Exteriores de 23/01/2012.
11
Ver: Telegrama 596 de embaixada do Brasil em Ancara para a Secretaria de Estado das
Relações Exteriores, data: 14/06/2012.
12
Ver: Telegrama 951 da embaixada do Brasil em Ancara para a Secretaria de Estado das
Relações Exteriores, data: 03/10/2011.
• 66 •
Operações de Paz de Caráter Naval: ameaças e desafios para a paz no mar
• 67 •
cais responsáveis, normalmente os ministérios das relações exteriores, a
autorização necessária. Essas autorizações são mais complexas do que
apenas a possibilidade de visita e atracação no porto. Por exemplo, soli-
citação realizada em 2012 ao Ministério das Relações Exteriores italiano
incluiu “autorização para passagem pelo mar territorial italiano e permis-
são para utilização de equipamentos de comunicações”16. Em algumas
ocasiões, a coordenação entre o MRE e o MD também foi necessária
para atividades além das relacionadas à passagem do navio brasileiro.
Por exemplo, em 2013, a Adidância da Aeronáutica na embaixada do
Brasil em Roma contactou o Ministério das Relações Exteriores italiano
para “solicitar autorização de sobrevoo e pouso, em território italiano,
para aeronave da Força Aérea Brasileira, em missão de transporte de
pessoal e material no âmbito da UNIFIL.”17
• 68 •
Operações de Paz de Caráter Naval: ameaças e desafios para a paz no mar
Por fim, deve ser lembrado que além da interação doméstica entre
o MRE e o MD, a interação no terreno também é importante. Nesse
sentido, no âmbito da embaixada brasileira em Beirute, foi estabelecida
uma equipe responsável pelo acompanhamento de temas relacionados à
UNIFIL, de forma a também apoiar a participação brasileira na FTM21. A
embaixada também sugeriu, já em 2011, a possibilidade de criação de
uma adidância militar em Beirute, pedido que foi atendido em 201322.
Conclusão
A participação do Brasil na FTM da UNIFIL consolidou uma trajetória
consistente de contribuições do país para as missões de paz da ONU, em
especial no aspecto da liderança exercida, tomando como referência a
responsabilidade de fornecer a nau capitânia e também o comandante
da FTM. O envolvimento brasileiro em missões de paz e a continuida-
de desse envolvimento precisam ser considerados à luz dos objetivos de
política externa e de defesa do país no curto, médio e longo prazo. A
candidatura a uma vaga de membro não permanente do Conselho de
Segurança da ONU para o período de 2022-2023 coloca o Brasil em
grande evidência em termos das suas contribuições em prol da manuten-
ção da paz e da segurança internacional, reforçando a importância do
Brasil como país contribuinte para as missões de paz da ONU23. Cabe
também ressaltar a relevância da incorporação das lições aprendidas
decorrentes da participação na FTM para outras áreas de atuação de
interesse do Brasil, como a região do Golfo da Guiné.
20
Ver: Telegrama 970 de embaixada do Brasil em Ancara para a Secretaria de Estado das
Relações Exteriores de: 09/10/2012.
21
Ver: Telegrama 501 da embaixada do Brasil em Beirute para a Secretaria de Estado das
Relações Exteriores, data: 18/11/2011.
22
Ver: Telegrama 384 da embaixada do Brasil em Beirute para a Secretaria de Estado das
Relações Exteriores, data: 06/09/2011.
23
Dentre os elementos que também levaram a uma maior aproximação entre Brasil e
Líbano no campo diplomático, merece destaque a coincidência enquanto membros não
permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas entre 2010 e 2011.
• 69 •
Referências
Breda dos Santos, Norma. Dez anos no Deserto: a Participação Brasileira na Primeira Missão de
Paz das Nações Unidas. In: Dupas, Gilberto; Vigevani, Tullo (orgs.). Israel-Palestina: a Construção
da Paz vista de uma Perspectiva Global. São Paulo: Editora UNESP, 2002, p. 263-285.
Fontoura, Paulo Roberto Campos Tarisse da. O Brasil e as Operações de Manutenção da Paz das
Nações Unidas. Brasília: FUNAG, 2005.
Silva, Antonio Ruy de Almeida; Braga, Carlos Chagas Vianna; Marcondes, Danilo. The Brazilian
participation in UNIFIL: raising Brazil’s profile in international peace and security in the Middle
East? Revista Brasileira de Política Internacional, v. 60, n. 2, 2017, p. 1-19.
• 70 •
Operações de Paz de Caráter Naval: ameaças e desafios para a paz no mar
Capítulo 8
Desafios e Oportunidades em uma
Operação de Paz de Caráter Naval –
a FTM UNIFIL
Contra-Almirante
Eduardo Augusto Wieland
Contextualização
A distribuição geográfica aproximada das treze missões de manu-
tenção da paz existentes atualmente no mundo é de sete no continente
africano, uma no continente europeu e as outras cinco no continente
asiático. O continente africano é onde ocorre a maior quantidade das
missões (53%), e o maior número de pessoas trabalhando em missões
de manutenção de paz (86%), porém o espaço geográfico onde existe a
maior concentração de missões é o Oriente Médio, com quatro delas em
um raio de apenas 350 km. Dessas quatro missões no Oriente Médio, a
UNIFIL é a maior, com uma força de trabalho de 11.075 pessoas. Essa
força está distribuída em 10.039 tropas, 206 do Estado-Maior e 830 ci-
vis e, dos 10.039 militares na UNIFIL, 780 são da Força-Tarefa Marítima,
o que representa cerca de 8% da UNIFIL.
• 71 •
Desafios
Os desafios aqui apresentados foram elencados pelo alto escalão da
missão em recente visita de delegação VIP. Eles são inerentes à missão
como um todo.
Restrição financeira
Tais restrições obrigam a UNIFIL a implementar rearranjos e a reduzir de
tamanho a cada ano. A cada momento, a UNIFIL, e mais especificamente
a FTM, precisa demonstrar eficiência na aplicação dos recursos e resultado
nas tarefas realizadas, o que tem significado mais criatividade, maior foco
no cliente e melhor aproveitamento e planejamento das ações.
• 72 •
Operações de Paz de Caráter Naval: ameaças e desafios para a paz no mar
Proteção de civis
No mar, não estamos em contato direto com a população civil. Even-
tualmente, temos que travar contato para um resgate ou assistência hu-
manitária a uma embarcação sinistrada.
• 73 •
A cultura terrestre da ONU
De uma maneira geral, a ONU não conhece as possibilidades e limi-
tações do emprego do poder naval até mesmo pelos números apresenta-
dos na introdução dessa exposição. Portanto, a tendência da FTM é ser
esquecida em exercícios e eventos da própria missão.
Oportunidades
O conhecimento adquirido e as competências são transformadas em
documentos. O manual de operações de paz de uma Força-Tarefa Ma-
rítima é um grande exemplo, uma grande meta atingida em 2015 e um
passo inicial para o estabelecimento de uma doutrina naval multinacional
da ONU. Além disso, o conhecimento acumulado ao longo desses nove
anos no comando da missão permitiu que instruções, memorandos e guias
fossem produzidos e tornados verdadeiros repositórios de experiências e
conhecimentos. Assim, o Brasil deixa sua marca no comando da missão.
A interoperabilidade
O inglês é a língua comum, e essa é a única facilidade entre os in-
tegrantes da FTM, já que existe uma diversidade de origem de procedi-
mentos: o que é OTAN e o que não é OTAN, equipamentos modernos e
antiquados, e as tradições mais variadas possíveis. A Força ainda opera
em claro, sem sigilo, pois estamos construindo os procedimentos ope-
rativos da ONU. Além de tudo, procuramos respeitar datas religiosas,
culturas individuais de cada país e até mesmo conviver com contendas
• 74 •
Operações de Paz de Caráter Naval: ameaças e desafios para a paz no mar
• 75 •
Quadro 1.1
Quadro 1.2
• 76 •
Operações de Paz de Caráter Naval: ameaças e desafios para a paz no mar
• 77 •
Quadro 1.3
Quadro 1.4
• 78 •
Operações de Paz de Caráter Naval: ameaças e desafios para a paz no mar
Conclusão
A FTM-UNIFIL é uma componente de uma missão de manutenção de
paz de caráter naval, inserida pela missão de manutenção de paz. Todo
conhecimento obtido precisa ser retido e disseminado e esse conhecimen-
to pode ser distribuído em diversas esferas. Os navios da FTM precisam
de adestramento a nível individual para estarem prontos para executar
a abordagem, prover a autodefesa, prover o quadro tático de superfície
aéreo e todas as demais tarefas inerentes à rotina de bordo. Além disso,
a FTM precisa cumprir as normas da ONU para a Força-Tarefa maríti-
ma, as diretivas de procedimentos operacionais da missão, UNIFIL, e
as diretivas dos documentos do comandante da Força-Tarefa marítima.
A UNIFIL e, é claro, a FTM, cumprem as normas da ONU e do DPO para
as questões de manutenção de paz.
Quadro 1.5
• 79 •
• 80 •
Parte III
CAPÍTULO 9 – Operações de paz de caráter naval: treinando
com foco no futuro
VICE-ALMIRANTE
JOSÉ AUGUSTO VIEIRA DA CUNHA DE MENEZES
CONTRA-ALMIRANTE
NARCISO FASTUDO JUNIOR
VICE-ALMIRANTE (FN)
PAULO MARTINO ZUCCARO
GENERAL DE DIVISÃO
ROLEMBERG FERREIRA DA CUNHA
Capítulo 9
Operações de paz de caráter naval:
treinando com foco no futuro
Contra-Almirante (FN)
Carlos Chagas Vianna Braga
• 83 •
preendentemente, houve o uso da força na operação de paz robusta
integrada. Essa questão foi uma surpresa, pois não estava no cabedal de
conhecimento do Exército Brasileiro e nem da Marinha do Brasil. Apesar
da rápida adaptação do Brasil, observa-se que as experiências anteriores
têm uma importância muito grande no treinamento das Forças.
• 84 •
Operações de Paz de Caráter Naval: ameaças e desafios para a paz no mar
Compreensão da doutrina
• 85 •
das Nações Unidas para direitos do mar e outras legislações. Muitas
vezes, existe um desconhecimento grande sobre essa Convenção, o que
causa dúvidas sobre a tomada de ações necessárias.
É importante mencionar também o manual feito em 2015 que esta-
belece um arcabouço doutrinário da ONU para essas operações, assim
como a Carta das Nações Unidas, que baliza todo o emprego das opera-
ções de paz. Na época da sua criação, preservar as gerações futuras da
guerra não tinha a intenção de trazer nenhum paraíso, mas exatamente
livrar a humanidade do inferno. Por isso, muitas vezes existe uma frus-
tração durante as operações de paz devido às coisas não acontecerem
exatamente como gostaríamos, mas o espírito é exatamente este: não de
elevar o país, mas de evitar o inferno.
Nas operações robustas, passou-se da imparcialidade para o con-
sentimento, ou seja, a não usar a força exceto em autodefesa. Algumas
missões mais ambiciosas e mais políticas em termos de mudanças de
comportamento e multinacionais chegam ao consentimento e ao não
uso da força, exceto em autodefesa e na defesa do mandato. É uma
realidade: no Haiti, apesar de algumas resistências iniciais ocorridas
em relação a isso, que posteriormente foram superadas, a missão foi
realizada com muito sucesso.
Há várias semelhanças entre operações de guerra e operações de paz
no nível tático. Atualmente, já se tem inteligência sendo utilizada nas mis-
sões de paz. Enquanto antigamente falar em inimigo em operação de paz
era algo impensável, hoje isso é questão de inteligência. Alguns temas
atuais a respeito são: o uso de inteligência; a influência do terrorismo; o
ambiente operacional de risco e o aumento da participação das mulheres
que integrarão o Corpo da Armada e dos Fuzileiros Navais. Há uma série
de possibilidades importantes para a participação feminina, e a Marinha
do Brasil está trabalhando ativamente para isso.
Considerações de doutrina
Nas operações de paz de caráter naval, têm-se uma visão muito clara
da inter-relação entre a guerra no mar e a guerra em terra, o que fica mui-
• 86 •
Operações de Paz de Caráter Naval: ameaças e desafios para a paz no mar
Considerações finais
As operações de paz contemporâneas têm semelhanças táticas e logís-
ticas com as operações de guerra. Elas também permitem uma experiência
real de emprego para a tropa, contribuem para o preparo das Forças Arma-
das, marcam a presença brasileira no cenário internacional e trazem novos
desafios, tanto nos cenários marítimos como em operações mais robustas.
O Brasil já é hoje uma referência em operações de paz: temos o CCOPAB
(Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil) e o COpPazNav (Centro
de Operações de Paz de Caráter Naval). Os dois livros publicados recen-
temente, frutos da atuação desses Centros, com certeza representam como
os conhecimentos gerados estão sendo armazenados.
Tudo isso são fatores de muita força para o nosso Brasil e, para pensar
no futuro, o ensino tem uma importância fundamental. As lições aprendi-
das fornecem uma base importante, porém não deve balizar tão somente
o treinamento. Ao se pensar nos desafios futuros, é importante desenvol-
ver o pensamento reflexivo: o líder deve ser treinado para ter capacidade
de decidir e de se adaptar às mudanças inesperadas.
• 87 •
Capítulo 10
A preparação da
Marinha do Brasil para a UNIFIL
Vice-Almirante
José Augusto Vieira da Cunha de Menezes
• 88 •
Operações de Paz de Caráter Naval: ameaças e desafios para a paz no mar
• 89 •
Capítulo 11
Treinando e ensinando a paz no mar
na perspectiva do Diretor do Centro
Interregional de Coordenação (CIC)
Contra-Almirante
Narciso Fastudo Junior
Histórico
O continente africano, nas suas costas oeste e sul, não tem histórico
de conflitos marítimos envolvendo suas nações, porém desde os anos
90 vem aumentando a incidência do que chamamos de novas ameaças
(pirataria, tráfico de drogas, tráfico de pessoas, pesca ilegal, crimes am-
bientais). Nesse contexto, aliado aos conflitos fronteiriços, atores inter-
nacionais, desfalecimento do Governo de Kadaff na Líbia, crises internas
dos países do continente por questões sejam raciais, sejam religiosas,
acabam por contribuir de certa forma para o recrudescimento da vio-
lência na região, amplificando as ameaças agora existentes no entorno
marítimo da região.
1
Países membros: Benin, Burkina Faso, Cabo Verde, Costa do Marfim, Gâmbia, Gana,
Guiné, Guiné-Bissau, Libéria, Mali, Níger, Nigéria, Senegal, Serra Leoa, Togo.
2
Países membros: Burundi, Camarões, República Centro-Africana, Chade, Congo, Guiné
Equatorial, Gabão, Ruanda, São Tomé e Príncipe, República Democrática do Congo e Angola.
3
Países membros: Angola, Congo, República Democrática do Congo, Camarões, Gabão,
Guiné Equatorial, Nigéria e São Tomé e Príncipe.
• 90 •
Operações de Paz de Caráter Naval: ameaças e desafios para a paz no mar
• 91 •
segurança da União Africana, representada pelas Comunidades Econô-
micas Regionais.
• 92 •
Operações de Paz de Caráter Naval: ameaças e desafios para a paz no mar
• 93 •
Histórico e estrutura do Código de Yaoundé
O CIC deve garantir uma resposta coletiva da região a todas as ame-
aças surgidas nas águas do Golfo da Guiné para assegurar que exista
desenvolvimento da economia azul de todos seus Estados membros. Tra-
balhando diretamente com os centros CRESMAC/CRESMAO e com pon-
tos focais fornecidos pelos Estados Membros, bem como com os comitês
de segurança marítima, que incluem as componentes civis e militares
desses Estados, e em estreita colaboração com os seus parceiros interna-
cionais e com a indústria marítima, pode assim fazer a coordenação dos
programas destinados a evitar e mesmo neutralizar os atos ilícitos. Como
resultado, pode obter uma transportação marítima segura sem proble-
mas de proteção em todos os portos e linhas de navegação costeira do
Golfo da Guiné.
• 94 •
Operações de Paz de Caráter Naval: ameaças e desafios para a paz no mar
As expectativas do CIC
• Capacitação;
• 95 •
Conclusão
O mar junta as nações, por isso devemos apoiar a liberdade da
navegação marítima. Porém, como o mar é essencial para todos, pas-
samos a ter alguns problemas comuns, que precisam ser resolvidos de
forma pacífica, com aprendizagem e criação de centros de manutenção
de paz. Nesse campo, nossos parceiros continuam a competir, mas nós
precisamos apenas de cooperação. Por outro lado, o marinheiro nunca
se sente sozinho no mar, porque este está cheio de vida. Então, o mar
não deve ser militarizado, mas sim possuir uma defesa coletiva de um
mar aberto apenas com estrito respeito pela Convenção das Nações
Unidas sobre o Direito do Mar a ser promulgado pelos centros de ma-
nutenção da paz.
• 96 •
Operações de Paz de Caráter Naval: ameaças e desafios para a paz no mar
Capítulo 12
Operações de paz de caráter naval:
treinando e ensinando a paz no mar
Vice-Almirante (FN)
Paulo Martino Zuccaro
Introdução
A Marinha do Brasil tem participado intensamente em operações de
paz sob a égide de organismos internacionais nas quais houve a pre-
sença de contingentes brasileiros. Mais recentemente, essa participação
assumiu uma nova dimensão, ao engajar-se em operações de paz de ca-
ráter naval, mediante o compromisso assumido pelo país perante a Força
Interina das Nações Unidas do Líbano, a UNIFIL, mais especificamente
em seu componente naval, Força-Tarefa Marítima (FTM). Atualmente, o
Brasil tem o privilégio de contribuir para essa nobre missão com o Co-
mandante da FTM, uma parcela ponderável de seu Estado-Maior e com
o navio capitânia da Força.
O atendimento a esse relevante compromisso perpassa todos os se-
tores da Marinha, cada qual aportando recursos humanos, materiais e
financeiros para sua materialização. Contudo, é possível destacar duas
Forças e uma Organização Militar, que, atuando de forma sinérgica e
harmoniosa, terminam por incumbir-se da maior parte das tarefas e res-
ponsabilidades relacionadas a essa participação: a Esquadra, a Força de
Fuzileiros da Esquadra (FFE) e o Centro de Instrução Almirante Sylvio de
Camargo (CIASC).
Naturalmente, cabe à Esquadra Brasileira a parcela mais vultosa des-
ses encargos, a começar pelo aprestamento dos navios que, em siste-
ma de rodízio, são designados para exercerem o papel de Capitânia da
FTM. Esse vasto assunto será abordado neste Seminário pelo Coman-
dante-em-Chefe da Esquadra. Desta forma, este autor pretende focar as
atribuições do CIASC e da FFE.
• 97 •
O Centro de Operações de Paz de Caráter Naval do CIASC
O CIASC é considerado um órgão de ensino em nível de excelência
da Marinha, por onde passam todos os Fuzileiros Navais pelo menos
uma vez em suas carreiras, sejam oficiais ou praças graduadas. Dentro
do CIASC, o setor incumbido da atividade em tela é o Centro de Ope-
rações de Paz de Caráter Naval (COpPazNav), onde são conduzidos os
estágios de preparação para as missões de paz de interesse da Marinha,
bem como cursos e estágios de capacitação para missões individuais.
Portanto, aqueles militares que se incorporam às diversas missões de paz
em caráter individual, em sua maioria como observadores militares ou
especialistas, também passam pelo CIASC para obter os conhecimentos
necessários a seu adequado desempenho.
Dentre as diversas atribuições do COpPazNav, cumpre destacar a
acumulação e a disseminação dos ensinamentos colhidos na UNIFIL e
em exercícios ou operações também voltadas para a segurança maríti-
ma. A propósito, é oportuno afirmar que, independente da participação
da Marinha em operações de paz de caráter naval, o COpPazNav do
CIASC preserva a tarefa paralela, igualmente importante, de contribuir
para o desenvolvimento de competências e capacidades no campo da
segurança marítima como um todo, extrapolando o escopo das opera-
ções de paz. Exemplos disso são os adestramentos de grupos de visita
e inspeção e grupos de presa (GVI/GP), assim como adestramentos de
combate à pirataria e ao terrorismo no mar.
• 98 •
Operações de Paz de Caráter Naval: ameaças e desafios para a paz no mar
• 99 •
ocorrido sob os auspícios da ONU, tendo o CIASC adquirido papel de
destaque nesse aspecto.
• 100 •
Operações de Paz de Caráter Naval: ameaças e desafios para a paz no mar
• 101 •
do adestramento, é testada a Força de Emprego Rápido (FER) da FFE,
que justamente corresponde a um Grupamento de Fuzileiros Navais de
nível Unidade Anfíbia (UAnf).
O coroamento do eixo central de adestramento da FFE se dá por meio
da Operação DRAGÃO, um exercício anfíbio em que praticamos nossa
capacidade de projeção de poder sobre terra utilizando o máximo de
nossas capacidades de combate. Em termos ideais, esse exercício deve
ser realizado no nível Brigada Anfíbia (BAnf). No ano de 2019, a Ope-
ração DRAGÃO foi cancelada para que a Esquadra e a FFE pudessem
realizar a Operação AMAZÔNIA AZUL – MAR LIMPO É VIDA! Foi uma
das principais atividades realizadas pela Marinha em resposta ao terrível
desastre ambiental que se abateu sobre parcela ponderável do litoral
brasileiro, contaminado por um grave derramamento de óleo.
Deste modo, configura-se um ciclo de adestramento contínuo, ano
após ano, onde sempre teremos tropas aprestadas para as operações an-
fíbias em condição de emprego imediato, mas também para outras possí-
veis aplicações do Poder Naval, particularmente as operações ribeirinhas
e as de paz. Esse alto nível de prontidão operativa pode ser crucial não
apenas para a participação em operações de paz já constituídas e estabi-
lizadas, mas também para que se componham forças interinas de rápido
desdobramento para atuação em áreas conflagradas, interrompendo con-
flitos e crises humanitárias, proporcionando à ONU algum tempo para a
organização de uma operação de manutenção da paz propriamente dita.
Neste caso, a Marinha pode oferecer a FER da FFE, que, como já
visto, consiste em uma UAnf, nucleada em um Batalhão de Infantaria
de Fuzileiros Navais. No início de 2004, ano em que foi estabelecida a
MINUSTAH, a FFE realizou um exercício de acionamento da FER, que foi
denominado Operação ALBATROZ, justamente usando como tema uma
possível participação em uma força interina tal como acima descrito.
Ocorre que, aproximadamente à mesma época, precedendo o estabele-
cimento da MINUSTAH, foi enviada ao Haiti a Multinational Interim Force
- Haiti (MIF-H), que promoveu uma pacificação precária das partes em
conflito, até que a ONU lograsse iniciar a referida missão de paz, que
contou desde o início com a marcante liderança do Brasil. A MIF-H era
• 102 •
Operações de Paz de Caráter Naval: ameaças e desafios para a paz no mar
• 103 •
e contou com a participação de: Angola, Brasil, Cabo Verde, Moçambi-
que, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste.
Conclusão
Sumarizando o presente artigo, cabe-nos ressaltar conclusivamente os
principais aspectos oferecidos ao leitor em seu conteúdo. Primeiramen-
te, é nítida a elevada importância que a Marinha do Brasil atribui a seu
aprestamento para engajar-se em operações de paz, seja por meio de
tropas, de navios ou mesmo de observadores e especialistas em missões
individuais. Até porque continua sendo uma das possibilidades de apli-
cação do Poder Naval com as mais altas probabilidades de ocorrência.
ADSUMUS!
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Operações de Paz de Caráter Naval: ameaças e desafios para a paz no mar
Capítulo 13
O papel do Ministério da
Defesa nas operações de paz
General de Divisão
Rolemberg Ferreira da Cunha
• 105 •
Pelos ordenamentos jurídicos com que trabalhamos, observa-se que a
nossa Constituição traz os princípios que regem as relações internacionais.
Há também a lei que dispõe sobre o envio das Forças Armadas ao exterior,
assim como a política e a Estratégia de Defesa Nacional, bem como o
Livro Branco da Defesa, que conforma o arcabouço jurídico da questão
em pauta. É um princípio base prepararmos tudo o que diz respeito à
missão de paz.
Nessa feita, vale destacar que existe uma lei que complementa a
Lei Complementar 97/1999: a Lei Complementar 136/2010, que traz
consigo no seu inciso II, artigo 15, o papel exercido pelo Ministro da
Defesa “(...) para fim de adestramento, em operações conjuntas, ou por
ocasião da participação brasileira em operações de paz”. Essa lei serve
para dar respaldo jurídico ao trabalho do Ministério da Defesa.
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Operações de Paz de Caráter Naval: ameaças e desafios para a paz no mar
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feito a várias mãos e não é algo provido pelo Ministério da Defesa, mas
oriundo de várias reuniões feitas com todas as forças, para que nele sejam
apresentadas todas as ações numa ordem cronológica, com designação
de participantes e responsabilidades. Tal documento amarra toda a fase
desde o planejamento do preparo até a repatriação.
Vale ressaltar que a Força realiza um pacote misto, por assim dizer,
porque nele há tanto a parte de emprego específico da força quanto a
parte do que rege a ONU. Um militar pode ser qualificado em Centros
de Treinamento, como o Centro de Treinamento em Brasília, mas pode
ser qualificado num Centro de Treinamento no Exterior, desde que o curso
seja credenciado e homologado pela ONU. Esse militar tem o treinamento
convencional da tropa e o específico para a missão. A Força deve buscar
certificação da ONU para seus cursos e estágios, pois seu reconhecimento
é importante para que o Ministério da Defesa emita o certificado da tropa
operacional, tanto para contingente quanto para as missões individuais,
justamente para proteger as normas ao longo do texto citadas.
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Operações de Paz de Caráter Naval: ameaças e desafios para a paz no mar
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Referências
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado
Federal, 1988.
BRASIL. Lei nº 97, de 09 de junho de 1999. Dispõe sobre normas gerais para organização,
preparo e emprego das Forças Armadas. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
leis/lcp/lcp97.htm
BRASIL. Lei nº 136, de 25 de agosto de 2010. Altera a Lei Complementar nº 97, de 09 de junho
de 1999, que “dispõe sobre normas gerais para organização, preparo e emprego das Forças
Armadas”, para criar o Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas e disciplinar as atribuições
do Ministro de Estado da Defesa. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/
Lcp136.htm
BRASIL. Decreto 373, de 25 de setembro de 2013. Estratégia Nacional de Defesa. Brasília, DF:
Ministério da Defesa, 2013. Disponível em: http://www.defesanet.com.br
BRASIL. Decreto 373, de 25 de setembro de 2013. Livro Branco de Defesa Nacional. Brasília, DF:
Ministério da Defesa, 2013. Disponível em: http://www.defesanet.com.br
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Operações de Paz de Caráter Naval: ameaças e desafios para a paz no mar
Conclusão
Almirante de Esquadra (Fuzileiro Naval)
Alexandre José Barreto de Mattos
Comandante-Geral do Corpo de Fuzileiros Navais
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Esta e outras vivências foram compartilhadas ao longo do dia de
exposições, encontrando-se relatadas nesta obra, com a participação
de especialistas brasileiros e estrangeiros, os quais integraram os três
painéis que trouxeram diferentes contribuições e pontos de vista acer-
ca do tema discutido. Estou certo de que o público presente naquela
ocasião teve a oportunidade de se beneficiar com as análises acerca
das ameaças à paz presentes no ambiente marítimo, das diferentes ma-
neiras de identifica-las e combatê-las, bem como da importância de se
perpetuar entre as Marinhas amigas o conhecimento decorrente de tais
experiências. A disseminação dos aprendizados obtidos é fundamental
para o constante aperfeiçoamento das missões realizadas e das tropas
empregadas nesse tipo de operação.
Adsumus!
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Operações de Paz de Caráter Naval: ameaças e desafios para a paz no mar
Autores
Contra-Almirante (FN)
RENATO RANGEL FERREIRA
Comandante do Centro de Instrução Almirante Sylvio de Camargo
Embaixador
RUBENS ANTÔNIO BARBOSA
Presidente da Associação Brasileira da Indústria de Trigo e Presidente e fundador do
Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (IRICE)
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Almirante de Esquadra
ILQUES BARBOSA JUNIOR
Comandante da Marinha
Contra-Almirante (FN)
ROGÉRIO RAMOS LAGE
Comandante Naval de Operações Especiais
GISELA VIEIRA
Representante da Organização Marítima Internacional (IMO)
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Operações de Paz de Caráter Naval: ameaças e desafios para a paz no mar
RICHARD MORRIS
Gerente de Programa MDA, Maritime Domain Awareness and Trade – Gulf of Guinea
Section (MDAT-GoG), Royal Navy, Reino Unido
General de Divisão
CARLOS HUMBERTO LOITEY
(Ejército de la Republica Oriental del Uruguay), UN Military Advisor
• 115 •
Junta Interamericana de Defesa em Washington DC e Chefe de Missão
das Forças Armadas e de Defesa do Uruguai. Possui vasta experiência
em Operações de Paz das Nações Unidas, já tendo servido em cinco
missões: UNIIMOG, UNTAC, UNAMIR, MONUSCO e MINURCAT. O
Coronel Loitey graduou-se na Academia Militar do Uruguai como Te-
nente de Infantaria, em 1977. Em 1993, realizou o curso de Comando e
Estado-Maior na Escola do Estado-Maior do Uruguai, cursando, poste-
riormente, a Escola de Guerra das Forças Armadas.
Contra-Almirante
EDUARDO AUGUSTO WIELAND
Comandante da Maritime Task Force da Força Interina das Nações Unidas no Líbano
(FTM-UNIFIL)
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Operações de Paz de Caráter Naval: ameaças e desafios para a paz no mar
Vice-Almirante (FN)
PAULO MARTINO ZUCCARO
Comandante da Força de Fuzileiros da Esquadra
Vice-Almirante
JOSÉ AUGUSTO VIEIRA DA CUNHA DE MENEZES
Comandante em Chefe da Esquadra
• 117 •
o Curso de Política e Estratégia Marítimas na Escola Superior de Guerra
(ESG) e o Curso Superior de Política e Estratégia na Escola Superior de
Guerra de Brasília, entre outros.
General de Divisão
ROLEMBERG FERREIRA DA CUNHA
Subchefe de Operações de Paz, Ministério da Defesa
Contra-Almirante
NARCISO FASTUDO JUNIOR
Director of the Interregional Coordination Center (CIC) for the execution of the regional
strategy on maritime safety and security in the Gulf of Guinea
• 118 •
Operações de Paz de Caráter Naval: ameaças e desafios para a paz no mar
Vice-Almirante (FN)
CARLOS CHAGAS VIANNA BRAGA
Assessor Especial Militar do Ministro de Estado da Defesa
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SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE
31 DE OUTUBRO
“...debate de ideias,
compartilhamento de experiências,
soluções para problemas
enfrentados por missões de paz em
um cenário marítimo.”
Seminário Internacional de
Operações de Paz de Caráter Naval
31 de outubro de 2019
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Operações de Paz de Caráter Naval: ameaças e desafios para a paz no mar
Lista de
Siglas e Abreviaturas
SIGLA/ABR. CORRESPONDENTE
A4P Do inglês, Action for Peacekeeping (Ação pela Manutenção da Paz)
Do inglês, State Action Sea (Estratégias Nacionais para a Ação Estatal
AEM
no Mar)
APSA Arquitetura Africana de Paz e Segurança
BAnf Brigada Anfíbia
CASEVAC Evacuações Casuais
CAv Controle de Avarias
CCOPAB Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil
CeDA Centro para a Defesa do Atlântico
CEDEAO Comunidades Econômicas Regionais da África Ocidental
CEEAC Comunidades Econômicas dos Estados da África Central
CER Comunidades Econômicas Regionais
CGG Comissão do Golfo da Guiné
CIASC Centro de Instrução Almirante Sylvio de Camargo
Centro de Coordenação Inter-regional para a execução da estratégia
CIC
regional de segurança marítima no Golfo da Guiné
CNUDUM Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar
COpPazNav Centro de Operações de Paz de Caráter Naval
CPLP Comunidade dos Países de Língua Portuguesa
CRESM Centro Regional de Segurança Marítima
CRESMAC Centro Regional de Segurança Marítima da África Central
CRESMAO Centro Regional de Segurança Marítima da África Ocidental
CWC Do inglês, Composite Warfare Commander
Do inglês, Department of Field Support (Departamento de Suporte no
DFS
Campo)
continua...
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continuação
SIGLA/ABR. CORRESPONDENTE
Do inglês, Department of Peacekeeping Operations (Departamento de
DPKO
Operações de Paz da ONU)
Do inglês, Economic Community of Central African States
ECCAS
(Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental)
EIMS Estratégia Marítima Integrada
FER Força de Emprego Rápido
Força-Tarefa Marítima da Força Interina das
FTM-UNIFIL
Nações Unidas do Líbano
GRAA Grupo de Reação a Ameaças Assimétricas
GVI/GP Grupos de Visita e Inspeção/Guarnição de Presa
ICC Do inglês, International Criminal Court (Tribunal Penal Internacional)
Do inglês, Improvised Explosive Device
IED
(Dispositivo Explosivo Improvisado)
Do inglês, International Maritime Bureau
IMB
(Escritório Marítimo Internacional)
Do inglês, International Maritime Organization
IMO
(Organização Marítima Internacional)
IRICE Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior
LAF Do inglês, Lebanese Armed Forces (Forças Armadas Libanesas)
Do inglês, Lebanese Armed Forces Headquarters
LAF-HQ
(Alto Comando das Forças Armadas Libanesas )
LOA Do inglês, Letter of Assist (Carta de Assistência)
MD Ministério da Defesa
Do inglês, Maritime Domain Awareness
MDA
(Conscientização sobre o Domínio Marítimo)
MEDEVAC Evacuações Médicas
Do francês, Mission des Nations Unies pour la Stabilisation en Haïti
MINUSTAH
(Missão das Nações Unidas para Estabilização do Haiti)
Do inglês, Maritime Interdiction Operation
MIO
(Operação de Interdição Marítima)
Do inglês, Maritime Multinational Coordinating Centre
MMCC
(Centro Multinacional de Coordenação Marítima)
continua...
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Operações de Paz de Caráter Naval: ameaças e desafios para a paz no mar
continuação
SIGLA/ABR. CORRESPONDENTE
UA União Africana
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ameaças e desafios para a paz no mar
Centro de Operações de Paz de Caráter Naval
REALIZAÇÃO:
ORGANIZAÇÃO: