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3°Ano
Segurança Portuária
Beira
2022
Feliciano Jorge Ricardo Machua
Docente:
Capangula Aquilasse Capangula
Beira
2022
I. Introdução
É neste contexto que desde tempos remotos, o mar em Moçambique vem servindo como
fonte de recursos e via de ligação com povos de outros quadrantes do globo. Antes do
século VII, comerciantes Suaíli - árabes, estabeleceram entrepostos comerciais na costa
de Moçambique para a troca de produtos no interior, com destaque para o ouro e
marfim, por tecidos, missangas e outros artigos. No final do século XV, os portugueses
estabeleceram-se nesta região, situada na sua rota do caminho marítimo para a Índia.
Inicialmente, os portugueses fixaram-se no litoral, onde construíram as fortalezas de
Sofala (1505) e Ilha de Moçambique (1507). A penetração para o interior viria a
verificar-se através dos contactos com o reino de Monomotapa na busca do ouro, assim
como através de conquistas militares apoiadas pelas actividades missionárias e de
comerciantes. Estas campanhas originaram o estabelecimento de “algumas feitorias
como a de Sena (1530), de Tete (1537), no rio Zambeze e a de Quelimane em 1544, na
costa do Oceano Índico ”. Esta acção foi uma estratégia para o domínio do acesso às
zonas produtoras do ouro e o controlo efectivo da rota entre estas e o Oceano.
O mar jogou ainda um papel de destaque no comércio de escravos, onde o tráfico era
feito através dos portos de Sofala, Quelimane, Angoche, Ilha de Moçambique e Ilha do
Ibo e mais tarde, através do porto da então, Lourenço Marques, actual Maputo, tendo
como destinos principais as ilhas Mascarenhas, Madagáscar, Zanzibar, o Golfo Pérsico,
o Brasil, e Cuba (dos Santos, 2005, p. 28).
No período que vai desde a Independência Nacional até 1992, ano em que se registou o
fim da guerra civil, a MGM passou por várias fazes de evolução que consistiram na
formação de quadros de vários níveis de comando, direcção e serviços de apoio, tanto
no estrangeiro, como no próprio país, no seu equipamento com material diverso para as
unidades e subunidades operacionais e de apoio, que incluía embarcações de transporte
de pessoal e lanchas de patrulha. Estas realizações dotaram a MGM das capacidades
mínimas necessárias para o cumprimento de tarefas de fiscalização e normalização das
actividades nas águas territoriais, incluindo a realização de operações militares em
zonas de difícil acesso por terra, como a região do delta do rio Zambeze, no Chinde e
em Luabo, onde as forças de Fuzileiros Navais desempenharam o papel principal nas
operações, a partir do desembarque por mar.
CC Comando e Controlo
DL Decreto Lei
MC Mercado Comum
Austral
SW Sudoeste
UA União Aduaneira
UM União Monetária
UNCLOS Convenção das Nações Unidas para a Lei do Mar
II. OBJECTIVOS
a) Objectivo Geral
Mensurar a marinha de guerra de Moçambique
b) Objectivos Específicos
1.3 Metodologia
Para melhor enquadrar este tema, o presente estudo assentará na análise da importância
estratégica do mar para Moçambique e na necessidade de edificação e manutenção de
uma marinha de guerra capaz de desempenhar eficazmente as tarefas que lhe cabem no
âmbito da defesa e segurança marítima do país, seguindo um percurso metodológico
baseado no método científico preconizado por Raymund Quivy e Luc Van
Campenhoudt, na obra “Manual de Investigação em ciências Sociais” (Quivy &
Gradiva, 1977, p. 37), seguindo em particular o método hipotético - dedutivo, apoiado
em pesquisa documental e entrevistas a entidades que, pela sua experiência relacionada
com a matéria em questão e pela função que desempenham, contribuíram para o
esclarecimento da problemática.
Para todos os efeitos, a problemática principal que se levanta em relação a este trabalho,
reside na relação entre o Poder Marítimo de Moçambique e o papel de uma Marinha de
Guerra com a dimensão de “Marinha de Defesa Ribeirinha” para um país que dispõe de
tão longa costa, com tantos recursos e localizado numa rota de comércio marítimo
internacional de grande importância, assim como as influências que esta marinha sofre
do Poder Marítimo nacional.
O Poder Marítimo tem sido, ao longo dos tempos um tema de abordagem e de debate
para muitos e grandes pensadores, o que nos dias de hoje nos oferece uma variedade de
conceitos que se interligam por serem um conjunto de factores relacionados com o uso
do mar em função dos recursos e do equipamento de que um Estado dispõe para se
impor perante outros Estados. O mesmo, pode ainda ser descrito como “a componente
do Poder Nacional que permite aos Estados o uso do Mar para a realização dos
objectivos Políticos”. Nas palavras do Almirante Caminha “O Poder
Marítimo é uma expressão do Poder Nacional resultante de uma série de condicionantes
geográficas, económicas, históricas e sociais que fazem com que determinadas Nações
se tornem mais capacitadas do que outras para se fazerem presentes nos mares”. (CMG
Santos, 1994, p. 18). segunda edição, o Poder Marítimo pode ser encarado com base em
duas vertentes. Como um input e como um output, onde os inputs seriam os mios da sua
execução, enquanto que os outputs, seriam os fins para os quais o poder marítimo
serve, ou seja:
a) O Poder Marítimo como um input, teria como inputs óbvios as Marinhas de Guerra,
Guardas Costeiras, a Marinha Mercante ou indústrias marítimas civis largamente
definidas, onde for relevante, ao contributo das forças terrestres e da força aérea.
b) O Poder Marítimo como um Output, por sua vez, preconiza que o Poder Marítimo
não está simplesmente relacionado com o que é necessário para usar o mar (apesar de
que se trata, obviamente de um pré-requisito). Ele é igualmente a capacidade de
influenciar o comportamento de outras pessoas ou coisas sobre o que eles fazem no
mar ou a partir do mar. Esta abordagem define o poder marítimo em termos das suas
consequências, os seus outputs e não os inputs, os fins e não os meios (Till, 2009, p.
21). O Poder Marítimo é, acima de tudo, acerca das capacidades baseadas no mar e
que determinam eventos, tanto no mar, como em terra.
Ora, o lado militar que materializa o Poder Marítimo é o Poder Naval que por sua vez
seria descrito como o conjunto de meios, com predomínio dos navais de que dispõe uma
nação para contribuir, pela coação, sobre a direcção do Estado, para a realização dos
objectivos marítimos e militares.
O mar cobre 70% da superfície da terra e mais de 2/3 da população mundial vive a menos
de 100 milhas do mar e mais de 150 dos 190 Estados membros das Nações Unidas são
Estados Costeiros. Desde 1970, estes Estados têm vindo a estender a sua jurisdição para o
espaço marítimo. Na maioria dos casos para mais de 200 milhas náuticas, estendendo
deste modo a sua plataforma continental acima referida. Grandes partes das actividades
marítimas humanas – a navegação, a pesca, a exploração do petróleo, etc. – desenrolam-
se dentro dessas 200 milhas de zona costeira. Isto significa que uma parte significativa
das actividades políticas e económicas do mundo decorrem numa faixa relativamente
estreita do mar, a contar desde a linha costeira, que em média não é mais larga que as 300
milhas. Esta faixa é normalmente referenciada como sendo o “litoral”, e é certamente
nessa área em que as operações do litoral serão conduzidas (BR-1806, 2004, p. 17).
Desta feita, o ambiente marítimo consiste numa combinação de terra e mar, e obviamente
o espaço aéreo e cósmico sobre ambos. Este ambiente consiste em sete dimensões de
relevância estratégico - militar: a económica, política, legal, militar, científica e
tecnológica, física e sociocultural. Estas dimensões, não estão alistadas em nenhuma
ordem de importância e nem devem ser vistas como se fossem distintas uma da outra. Ao
examinar cada uma das dimensões, entretanto, aspectos relacionados com as restantes seis
serão encontrados (BR-1806, 2004, p. 17).
a) Transportes
Economicamente, o tradicional uso do mar era como via para transportes. Os navios
continuam a representar 99,5% do comércio transoceânico cujo volume cresceu bastante
desde 1945 e continua a crescer. O comércio marítimo, de certeza continuará sendo o
principal meio para o transporte de matéria-prima e produtos acabados entre os países
produtores e consumidores (BR-1806, 2004, p. 18). No caso de Moçambique, grande
parte desse comércio consiste em produtos Agrícolas, Florestais (madeira), Carvão e
demais produtos minerais, produtos pesqueiros e outros, a maior parte do qual sendo
transportada tanto para a Ásia, Europa e para os EUA.
b) Pesca
O peixe constitui 25% do abastecimento mundial em proteínas. O grosso da captura
mundial é realizado em águas rasas da plataforma continental, dentro das 200 milhas da
zona económica exclusiva (ZEE). O controlo das pescas e a administração das reservas de
pescado é problemático, com a maior parte das nações pesqueiras a desdobrar as suas
frotas para águas territoriais de outros Estados (ZEE). Em alguns Países, a pesca
representa uma proporção substancial da actividade económica, sendo que para certos
Estados costeiros, a venda de licenças de pesca é a principal fonte de rendimento (BR-
1806, 2004, p. 19).
c) Hidrocarbonetos
d) Actividades Ilícitas
Ainda na dimensão económica, existem actividades ilícitas que podem pôr em causa a
segurança das regiões costeiras e criar ameaças aos interesses do país, tanto a nível
interno como externo. O tráfico de pessoas e narcóticos ilegais são talvez as maiores
ameaças criminais para a segurança de vários Estados costeiros a médio e longo prazo e a
pirataria de mar continua sendo uma ameaça em várias regiões do globo com tendências
evidentes de se estar a estender para a zona do Canal de Moçambique. Aqui enquadram-
se certos aspectos acima referenciados no âmbito das pescas.
Sobre a dimensão legal do ambiente marítimo, importa referir que Moçambique observa
as disposições do Direito Internacional sobre a matéria, sendo signatário da Convenção
das Nações Unidas para a Lei do Mar, de 1982 (1982 UNCLOS). O processo da
UNCLOS transformou o ambiente marítimo, o qual se tornou muito mais complexo do
ponto de vista legal, matéria que se revela de grande importância para o conhecimento da
componente militar do Poder Marítimo do país, tendo em conta esta complexidade no
concernente a perceção do que é e o que não é permitido nas diversas zonas jurisdicionais
e o que constitui elementos dos domínios marítimos do país. Os comandantes de forças
navais necessitam de ter um conhecimento sólido das restrições que lhes são impostas
sobre águas internas, mar territorial, zona contígua, zona económica exclusiva e da
plataforma continental reclamada pelo Estado, para poderem funcionar legalmente
durante a condução das suas actividades navais.
Reza a história que os mares vêm tendo uma dimensão militar a seu respeito há mais de
2500 anos. Este fato não muda e não apresenta tendências de o fazer, apesar de
tentativas marginais de desmilitarização dos oceanos. Existem mais de 150 Marinhas em
torno do globo, estendendo-se desde a única superpotência naval ainda existente por um
lado do espectro, para forças de policiamento costeiro mais pequenas e com escassez de
recursos, do mundo em desenvolvimento e Estados da antiga União Soviética por outro
lado. Entre estes dois extremos, existe uma grande variedade de perícias e habilidades
(BR-1806, 2004, p. 22). Marinhas de capacidade média, continuam a se desenvolver e a
aumentar em número, sendo as da Índia e do Japão bons exemplos de forças navais a
serem consolidadas. Esta dimensão é de grande importância quando se considera a luta
contra grupos de piratas de mar, cuja presença se faz sentir, cada vez com maior
intensidade na costa oriental de África, inclusive no Canal de Moçambique, onde
acabaram por capturar um navio pesqueiro da empresa moçambicana “PESCAMAR” em
Dezembro de 201010 (Sapa, 2011, p. 3).
A dimensão militar dos oceanos tem uma perspectiva tecnológica. As Marinhas são forças
armadas de equipamento intensivo e os navios modernos são plataformas sofisticadas de
armas, ligadas umas às outras em grupos de tarefa por sistemas de Comando e Controlo
(CC), igualmente sofisticados. Mas a tecnologia não é uma panaceia.
A Dimensão Sócio Cultural tem muito a ver com os maiores conflitos sócio culturais
dentro do sistema internacional. Ela constitui desse modo um factor de grande
importância estratégica militar. Algumas sociedades e culturas podem exercer uma
influência considerável no modo como o Estado define as suas políticas em relação ao
mar, influenciando de igual modo o poder naval até ao nível mais abaixo. As diferenças
sócio culturais são de igual modo, de consideração importante nas alianças militares com
outras nações (BR-1806, 2004, p. 25).
O Controlo do Mar é a condição em que alguém detém a liberdade de acção para o uso do
mar para os seus próprios intentos em áreas específicas e por períodos específicos de
tempo e onde for necessário para sonegar ou limitar o seu uso pelo inimigo (BR-1806,
2004, p. 41). É o Domínio do Mar numa área limitada e durante o tempo necessário para a
realização de uma operação (CMG Santos, 1994, p. 28).
A negação do mar é exercida quando uma força nega (proíbe) a uma outra a habilidade de
exercer o controlo de uma determinada área do mar mesmo sem esta querer, ou mesmo
sem ser capaz de a controlar ela mesma (BR-1806, 2004, p. 42).
Para falarmos do valor do mar para Moçambique importa abordar factores como a
localização do país e o seu posicionamento geoestratégico no contexto da região em que
se encontra e em relação aos seus vizinhos, as características que o mar apresenta e os
recursos que nele abundam. Posto isto poderemos, em breves palavras descrever como é
feita a gestão das actividades do mar em Moçambique.
O território moçambicano cobre uma superfície total de 801.590 km2, dos quais 784.090
km2 constituem terra firme e 17.500 km2 de águas interiores. A fronteira terrestre tem
uma extensão de 4.571 km e a linha de costa tem 2.770 km de comprimento.
(Wikipedia.org, 2012) A costa marítima de Moçambique apresenta-se, na maioria da sua
extensão, baixa e arenosa com baías, cabos e pontas. As maiores baías são as de Pemba,
Nacala, Sofala, Inhambane e Maputo. Em algumas zonas a costa apresenta-se pantanosa.
O delta e o vale do Zambeze é a região que domina o centro do território.
Ao longo da costa e no mar, existem praias, mangais, corais, algas e uma grande
variedade de vida marinha. O relevo da costa favorece a construção de infra-estruturas
portuárias, principalmente nas baías.
A Região da África Austral é banhada pelo Oceano Índico na sua costa oriental e pelo
Atlântico na costa ocidental e englobas países como a República da África do Sul, a
República do Botswana, o Reino do Lesoto, Madagáscar, Malawi, Maurícias,
Moçambique, Namíbia, Suazilândia, Zâmbia e Zimbabwe. Contudo, importa realçar que
alguns destes países não tem acesso direto ao mar, isto é, não são países costeiros e
situam-se no interior, como são os casos de Botswana, Lesoto, Malawi, Suazilândia,
Zâmbia e Zimbabwe, mas que dependem grandemente do mar para a importação e
exportação de mercadorias.
importa realçar que o mar tem, em Moçambique, uma importância sociológica e cultural
enorme, a qual está intrinsecamente ligada ao seguinte fator:A zona costeira de
Moçambique é a terceira mais extensa de África, com mais de 2700 km, entre os
paralelos 100 27´S (Rio Rovuma) e 260 52´S (Ponta do Ouro), nas fronteiras com a
República da Tanzânia (a norte) e com a República da África do Sul (a sul), abarcando
oito das onze Províncias do País (40 dos 128 Distritos). Das vinte e três cidades, doze são
costeiras. Cerca de 43% da população (do total de 19 milhões do censo de 2001), vivem
em zonas do litoral, ocupando cerca de 154 000 Km² (dos 799 380 Km² de área total de
terra firme) o que corresponde a 19% do território nacional. Estes dados indicam a
existência de uma grande apetência das regiões do litoral por parte da população
moçambicana, certamente devido à importância que o mar para a sua subsistência. Essa
proximidade ao mar tem um efeito importante no pensamento e nos hábitos dessas
pessoas, tornando-se assim um elemento que influencia a sua identidade social e cultural
o longo de todo o litoral de Moçambique (Langa, 2007, p. 02).
Sendo Moçambique, parte deste mundo globalizado a face à importância que o mar
adquiriu na economia actual que é igualmente globalizada, resulta que a sua estabilidade
depende largamente do ambiente marítimo e dos aspectos de segurança a ele associados.
Naturalmente, a criminalidade e o terrorismo transnacionais exploram as vulnerabilidades
decorrentes da fragmentação dos regime legais aplicáveis no mar.
Chegados a este ponto, importa mencionar que a gestão dos assuntos do mar em
Moçambique é feita por um Conselho Coordenador do Mar e Fronteiras dirigido pelo
Primeiro-ministro e congrega os ministérios da Defesa, Negócios Estrangeiros e
Cooperação, Transportes e Comunicações, Coordenação da Acção Ambiental, Interior,
Pescas, Recursos Minerais. Para o tratamento das questões técnicas inerentes ao processo
de gestão, dispõe-se de um grupo de trabalho constituído por especialistas da Marinha de
Guerra de Moçambique, do Instituto Nacional da Marinha, do Instituto Nacional de
Investigação Pesqueira, do Instituto Nacional do Petróleo, do Centro de Desenvolvimento
Sustentável, da Direcção Nacional de Gestão Ambiental e da Polícia Marítima, Lacustre e
Fluvial.
Para atingir tais objectivos, Moçambique necessita de possuir o poder naval necessário
para a consecução dos interesses nacionais. O Estado Costeiro pode e deve usar as
características de mobilidade, versatilidade, flexibilidade, adaptabilidade e acesso do
Poder Naval (Caninas, 2006, p. 67).
(Anon., 2009)
Neste capítulo, procuraremos caracterizar a marinha de Guerra de Moçambique, tendo em
conta o seu enquadramento no contexto geral das FADM, partindo do seu estado actual e
dos esforços que tem vindo a realizar para o seu crescimento, passando por uma
abordagem à nova Visão Estratégica de Defesa Nacional que culminou com a aprovação
de uma nova Estrutura Orgânica que aproxima as FADM e a MGM a uma dimensão que
lhes possibilite cumprir os seus desígnios com mais eficiência.
Com o fim da guerra civil em 1992 e a desmobilização de grande parte dos efectivos das
forças armadas, Moçambique debate-se com a falta de uma força naval capaz de exercer o
controlo marítimo eficaz, incluindo a fraca capacidade de vigilância da costa. Este factor
veio a ser agravado com a política de canalização da maior parte dos recursos financeiros
do país para os sectores sociais, como a educação, saúde e obras públicas, no âmbito da
reconstrução nacional no período pós guerra, medida que levou à diminuição do volume
de forças e da capacidade de prestação das FADM.
Devido a vários fatores que incluíam uma falta de vontade política para um investimento
em forças armadas, logo a seguir a um longo e devastador conflito, dos mais de trinta mil
homens previstos nos acordos, as FADM totalizaram apenas 17.228, sendo: 13.887 do
Exército, 1.653 da Força Aérea e 1.688 da Marinha.
Ao nível das infra-estruturas, a Marinha abarcou 04 Bases Navais (Maputo, Beira, Pemba
e Metangula), 04 Sub-bases Navais (Inhambane, Tete, Quelimane e Nacala). Quanto às
forças operacionais, a Marinha de Guerra de Moçambique desdobrou um Batalhão de
Fuzileiros, um Batalhão de Artilharia Costeira em formação e um número reduzido de
botes semi-rígidos com os quais faz o patrulhamento da costa, não sendo suficientes nem
adequados para abarcar a longa costa, assim como as águas territoriais.
Neste contexto, levou-se também em conta o facto de que os acordos firmados a nível
regional entre os Estados da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral
(SADC), com a finalidade de prevenção de conflitos, por si só, não são a garantia cabal
da paz e estabilidade do país pois, todo e qualquer acordo e entendimento, neste caso
ligado à soberania do Estado moçambicano, deve ser sustentado com a componente de
segurança e de defesa interna. Para isso, Moçambique necessita de possuir forças armadas
com uma Marinha de Guerra equipada à altura de dar resposta às actuais e futuras
ameaças pois, acima de tudo, qualquer mudança política a nível dos países da região e
membros da cooperação marítima da SADC, pode afectar as relações dos Estados e
culminar em conflito com proporções que podem levar tais Estados a recorrerem aos
poderes militares que cada um possui como forma de garantia e defesa da sua soberania.
Como se pode depreender, com base na análise desta nova Estrutura Orgânica, que
reflecte a marinha de guerra prevista no novo conceito estratégico militar de
Moçambique, acautelando a questão da defesa e segurança marítima por meio de
projecção do aumento do número de unidades militares, efectivos humanos e
equipamento, As autoridades moçambicanas deram um passo significativo em prol da
defesa da soberania e das actividades marítimas do país e estão já a empreender esforços
no sentido de materializar este documento.
III. Considerações finais
Tendo como base o facto de Moçambique ser um Estado Costeiro, possuidor de uma
costa marítima bastante longa, em cujas águas contém rotas marítimas usadas por
embarcações de várias origens e detém portos que servem de porta de entrada e de saída
para navios de transporte de mercadorias, não só para o país, mas também para outros
países da África Austral que não têm acesso ao mar, surgiu a importância de se analisar
“A Importância de uma Marinha de Guerra para Moçambique e as Prioridades para a
sua Edificação”, constituindo deste modo o tema deste trabalho que serviu de reflexão
sobre o mar e como ele influencia a vida em Moçambique, até que ponto essa influência
sugere ou não a existência de um poder Naval no país.
No capítulo da introdução, para além de descrever a metodologia que se iria seguir para
a realização deste trabalho, fiz também um breve enquadramento histórico que
demonstra que a importância do mar como fonte de recursos e via de comunicação com
outros povos, em Moçambique, remota a vários séculos, com o registo da ocorrência de
trocas comerciais com povos Suaíli-Árabes ainda antes do século VII.
Como forma de enquadrar, fiz uma abordagem de conceitos, que sendo na sua maioria
comuns para a maioria dos Estados Costeiros, abordei primeiro de uma forma geral e de
seguida falei de como eles se inserem no contexto particular de Moçambique. A
investigação ajudou-me bastante a interpretar conceitos importantes como o Poder
Marítimo e o poder Naval, onde compreendi que o Poder Marítimo é a componente do
Poder Nacional que permite aos Estados o uso do mar para a realização dos objectivos
Políticos e Económicos, ou seja, todas as forças e meios de que o Estado dispõe para
conseguir o Domínio do Mar, garantir o seu Uso e Negá-lo ao adversário, se necessário.
Em Moçambique, este Poder Marítimo resume-se às águas territoriais que o país detém
sob sua jurisdição ao longo do Canal de Moçambique, as infra-estruturas portuárias
nelas existentes, a Marinha Mercante e a Marinha de Guerra com os seus escassos
meios materiais e humanos.
Almirante Lopes, J. C. T. S., 2010. Portugal, Uma Nação Marítima. Lisboa: Marinha.
Anon., 1997. Lei da Defesa Nacional de Moçambique, Maputo: Imprensa Nacional de
Moçambique.
BR-1806, 2004. BR 1806 Brytish Maritime Doctrine. In: BR 1806 British Maritime
Doctrine.
CMG Santos, A. d. S., 1994. Estratégia Marítima e Estratégia Naval. Lisboa: IESM.