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Como sabemos, a revolta realizada pelos farrapos iniciou-se em 20 de

setembro de 1835 e se estendeu até final de fevereiro de 1845. O anúncio


da separação da província, no entanto, só aconteceu em setembro de 1836,
dando origem à República Rio-Grandense, também conhecida como
República de Piratini."

As causas que nos levaram ao conflito foram muitas, embora alguns


historiadores coloquem como a principal, a insatisfação da elite gaúcha com
a política fiscal do governo imperial":
- Imposto do charque
- Imposto do Légua do campo

Mas tínhamos outras insatisfações que também foram importantes e


decisivas

Insatisfação com a centralização do governo e a falta de autonomia


da província - escolha do governador da Província - Poder de mando.

Abandono da Provincia pelo governo imperial – Sem estradas,


pontes, escolas – Em 1835 a Provincia arrecadou 950 mil Réis e enviou
para a corte, a título de imposto a quantia de 800 mil Réis.

Circulação dos ideais federalistas e republicanos na região

Não vamos esquecer a inabilidade do Regente Feijó – Recebeu a pauta


de reivindicações e em vez de negociar – procurar costurar um acordo político
enviou tropas ao Rio Grande do Sul – Este ato precipitou o conflito bélico – A
guerra poderia ter sido evitada lá no nascedouro.

Sabemos também que no aspecto militar o Exército Farroupilha


desenvolveu uma estratégia clara de levar o Império a um conflito sem
vencedores e com isto desgastar politica e financeiramente o inimigo para
negociar uma paz em condições favoráveis.

Aproveitamos o terreno, os meios e impusemos um tipo de guerra


que conhecíamos bem – A guerra de movimento.

A guerra se arrastou por 10 anos, mais precisamente 3496 dias.

Tivemos 3270 mortos, entre federalistas e caramurus, quase metade de


cada lado.

Foram travadas 56 batalhas, destas poucas com grandes efetivos e


baixas expressivas. Na grande maioria dos confrontos os efetivos
empregados foram pequenos.
Vimos que nesta época houve uma expansão da maçonaria no Rio
Grande do Sul com o surgimento de muitas Lojas, algumas em atividade
até hoje. Mas vimos também que a guerra colocou irmãos em lado opostos.

Mas hoje gostaria mostrar este conflito por um outro viés e trazer um
personagem desta guerra para a nossa reflexão enquanto maçons.

Este personagem se chama Antônio Vicente da Fontoura e quem foi


Antônio Vicente da Fontoura.

Um próspero comerciante e político influente da região de Cachoeira


do Sul (nascido em Rio Pardo) – Maçom

Lembrar que: Cachoeira e a sua região, no início do século XIX era um


dos centros econômicos mais importantes do Rio Grande do Sul –
principalmente sua posição estratégica, pela produção de gado e
pelas relações comerciais com o Uruguai e pela ligação da bacia do
Jacuí com a Lagoa dos Patos. Era também um centro mais populoso
que Porto Alegre. Cachoeira tinha na época cerca de 10.500 habitantes
e Porto Alegre bem menos.

Vicente da Fontoura, embora desconhecido por muitos, teve um papel


fundamental na Revolução Farroupilha e a meu ver, deixa para nós
maçons um legado muito importante.

Iniciou sua vida politica em 1830 quando se elegeu vereador em


Cachoeira, logo em seguida foi nomeado Fiscal da Câmara Municipal. A
ascensão política de Vicente da Fontoura foi bastante dinâmica. Nomeado
Capitão da Guarda Nacional, foi reeleito para a Câmara Municipal,
nomeado Juiz de Paz e Juiz Ordinário.

A primeira incursão de destaque de Vicente da Fontoura a frente da


Revolução farroupilha teve como palco a sua terra natal Rio Pardo, quando
em 26 de setembro de 1835, a frente de 200 Guardas Nacionais ocupou a
Cidade para auxiliar os liberais da região.

Anos mais tarde, em 1838, na conquista pelos farroupilhas da vila


legalista de Rio Pardo Vicente da Fontoura, mais uma vez retorna a sua terra
natal, agora nomeado chefe da Polícia da cidade. A partir dai é afastado das
operações militares passa a desenvolver importantes serviços no campo
político. Em 1841 é nomeado chefe da missão diplomática da Republica
Rio-Grandense a Montevideo, ocasião onde habilmente selou a aliança
entre os farroupilhas e o líder uruguaio Fructuoso Rivera, de quem se
tornou amigo. A partir dai Vicente da Fontoura ganha prestígio e espaço,
chegando a ser nomeado Ministro da Economia neste mesmo ano, cargo que
renunciou um ano depois.

Ainda em 1841 foi eleita a assembleia constituinte e legislativa da


Republica Rio-Grandense que, devido às dificuldades impostas pela
guerra, só começou os seus trabalhos em 1842. Vicente da Fontoura foi um
dos deputados eleitos.

Neste momento político da Republica Rio-Grandense fica evidente a


divisão da elite farroupilha devido a divergências de ideias políticas –
formam-se dois grupos que diferenciavam pelo entendimento do
Federalismo:

Maioria: Bento Gonçalves, José Domingos de Almeida, Mariano de


Matos – propunham um projeto de um novo Estado, ou seja um Estado
soberano, independente e republicano – A República Rio-Grandense,
admitindo federarem-se ao Brasil desde que na condição de estado
independente e soberano

Minoria: De Davi Canabarro e liderado por Vivente da Fontoura –


Desejavam reformas políticas para uma maior autonomia da Província,
num sistema monárquico ou republicano, sem necessidade de separação
do Brasil – Este grupo assumiu o controle da Revolução já no seu final, a
partir de 1843, negociando a paz com o Império.

Em novembro de 1844 David Canabarro se reúne com Vicente da


Fontoura para dizer que o Presidente da República Rio-Grandense
desejava que ele fosse ao Rio de Janeiro com o intuito de dar seguimento
às negociações de Paz.

O conciliador Vicente da Fontoura entra em ação

No final de fevereiro de 1845, no acampamento Imperial de Carolina, na


localidade de Poncho Verde, atual município de Dom Pedrito, Imperialistas e
Republicanos se reúnem para debater as condições para estabelecer a paz.

No dia 25 de fevereiro 1845 foi apresentado por Vicente da Fontoura aos


líderes farroupilhas os termos do documento intitulado Convenção de Paz
entre o Brasil e os Republicano. e examinados pelos republicanos.

A verdade é que o documento já estava pronto, sem possibilidade de


alteração, pois foi fruto, de uma prévia negociação, inclusive o documento já
tinha a assinatura do Barão de Caxias, representante oficial do Governo
Imperial – O representante republicano que costurou este acordo na corte,
como disse, foi Vicente da Fontoura

Adendo:

Vejam bem: Convenção de Paz entre o Brasil e os Republicanos

Não é tratado Porque o Império não reconhecia a Republica


Riograndense.
Não é rendição Porque o Exército Farroupilha se negava a assinar uma
rendição.

Então:

Convenção de Paz entre o Brasil e os Republicanos


Paz de Ponche Verde

Fica de bom tamanho – Menos tratado de paz ou rendição.

Cabia agora a Vicente da Fontoura um desafio ainda maior do que a


negociação com os imperialistas na corte do Rio de Janeiro – Ele tinha que
convencer os lideres farroupilhas a assinarem este acordo para dar um fim

Toda capacidade de negociação, a habilidade política e principalmente


e o poder de conciliação de Vicente da Fontoura, mais do que nunca
estavam a prova e mais uma vez ele foi o algodão entre cristais e o tratado
foi efetivado.

Pela parte dos farroupilhas o tratado foi assinado pelo general David
Canabarro, comandante em chefe do exército republicano – não estava
presente o Presidente da República Riograndense da época Gomes Jardim
nem os principais os principais líderes, criadores e comandantes da
república riograndense – Bento Gonçalves já havia se afastado a algum tempo
por conta de uma enfermidade que o levaria a morte dois anos mais tarde.

O acordo de Paz tinha 12 clausulas – me permitam lê-las

Art. 1° - Fica nomeado Presidente da Província o indivíduo que for


indicado pelos republicanos.

Art. 2° - Pleno e inteiro esquecimento de todos os atos praticados pelos


republicanos durante a luta, sem ser, em nenhum caso, permitida a
instauração de processos contra eles, nem mesmo para reivindicação de
interesses privados.

Art. 3° - Dar-se-á pronta liberdade a todos os prisioneiros e serão estes,


às custas do Governo Imperial, transportados ao seio de suas famílias,
inclusive os que estejam como praça no Exército ou na Armada.

Art. 4° - Fica garantida a Dívida Pública, segundo o quadro que dela se


apresente, em um prazo preventório.

Art. 5° - Serão revalidados os atos civis das autoridades republicanas,


sempre que nestes se observem as leis vigentes.

Art. 6° - Serão revalidados os atos do Vigário Apostólico.

Art. 7° - Está garantida pelo Governo Imperial a liberdade dos escravos


que tenham servido nas fileiras republicanas, ou nelas existam.
Art. 8° - Os oficiais republicanos não serão constrangidos a serviço
militar algum; e quando, espontaneamente, queiram servir, serão
admitidos em seus postos.

Art. 9° - Os soldados republicanos ficam dispensados do recrutamento.

Art. 10° - Só os Generais deixam de ser admitidos em seus postos,


porém, em tudo mais, gozarão da imunidade concedida aos oficiais.

Art. 11° - O direito de propriedade é garantido em toda plenitude.

Art. 12° - Ficam perdoados os desertores do Exército Imperial.

A guerra como vimos colocou irmãos em lado opostos: Imperialistas e


farroupilhas.

Mesmo entre os irmãos farroupilhas existiam divergências

Assim é a vida, nós irmãos, podemos ter as nossas divergências,


podemos por vezes estarmos em lados opostos, podemos ter interesses
divergentes, mas isto não deixamos de ser maçons.

É este lado de conciliador de Vicente da Fontoura que gostaria de


deixar como reflexão, muito mais que a sua história e os seus feitos. O
maçom, que com maestria soube conviver com as divergências de uns e
de outros e teve a capacidade de construir o entendimento.

Busca do entendimento sempre – Importância da conciliação –


Respeito ao livre pensar dos demais

Nem sempre comungamos das mesmas ideias e dos mesmos ideais – mas
temos algo em comum – a Maçonaria – Nunca podemos esquecer que
somos irmãos, independente do lado que tivermos

Sirvam nossas façanhas de modelo a toda terra

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