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História

O Império do Brasil (1822-1889)

Teoria

O processo de independência do Brasil


A independência do Brasil ocorreu na conjuntura da Revolução Liberal do Porto, deflagrada em Portugal, em
1820. Com as exigências das Cortes Constituintes de 1820 pelo retorno da Família Real e pela recolonização
do Brasil, D. João VI, pressionado, decidiu retornar à Lisboa, mas deixou na capital seu filho, o príncipe herdeiro
Pedro de Alcântara.

Asim, durante este período entre 1820 e 1822, as relações entre Brasil e Portugal se estremeceram cada vez
mais com os diversos decretos ordenados pelas Cortes portuguesas que limitavam a autonomia das
províncias brasileiras, o poder do Príncipe Regente e de seus ministros.

Visto isso, dois grupos políticos se mostravam insatisfeitos com as novas imposições
portuguesas e foram fundamentais para a articulação da independência do Brasil,
sendo eles: o grupo dos liberais, organizados sobretudo no Partido Brasileiro (na
época não existiam partidos políticos, logo, era apenas um grupo com ideias próximas
e formado por brasileiros) e liderados pelo jornalista do Rio de Janeiro Joaquim
Gonçalves Ledo e, por outro lado, os Bonifácios, liderados por José Bonifácio de
Andrada, em São Paulo.

Em 1821, um dos momentos mais sensíveis do processo, as Cortes portuguesas passaram a insistir cada vez
mais no retorno do príncipe a Portugal, com a instalação no Brasil uma junta governativa. Nessa conjuntura,
políticos, grandes latifundiários e jornalistas que apoiavam a permanência de D. Pedro e estavam insatisfeitos
com as ordens portuguesas, passaram a se encontrar no chamado Clube da Resistência, organizado pelo
mineiro José Joaquim da Rocha, que ajudou a reunir 8 mil assinaturas em um documento entregue a D. Pedro,
pedindo sua permanência no Brasil.

Assim, desafiando as Cortes portuguesas e os soldados do general português Jorge Avillez, que estavam no
Rio de Janeiro, D. Pedro, no dia 9 de janeiro de 1822, supostamente declarou: "Como é para o bem de todos e
para a felicidade geral da nação, estou pronto: Diga ao povo que eu vou ficar". Este ficou conhecido como o Dia
do Fico, e marcou o processo de independência do Brasil ao contrariar as exigências das Cortes portuguesas.

Apesar de D. Pedro ter logo em seguida nomeado José Bonifácio como Ministro do Reino e dos Negócios
Estrangeiros, mostrando a forte aproximação entre os dois, o futuro imperador, por outro lado, não deixou de
ouvir as forças liberais e Joaquim Gonçalves Ledo, que sugeriam a criação de uma Assembleia Constituinte
e a eleição para os nomes que a comporiam. Assim, D. Pedro, ainda em 1822, além de decretar o Cumpra-se,
em maio (ordenando que as exigências portuguesas só teriam validade se aprovadas pelo Príncipe Regente),
convocou, em junho, as eleições para a Constituinte.

Visto isso, nota-se que as medidas decretadas por D. Pedro e a movimentação de seus
apoiadores tornavam o Brasil cada vez mais distante de Portugal e com a conquista da
autonomia desejada por uma grande parcela da elite agrária, comercial e política brasileira.
Ainda nesse contexto, outra grande influência de destaque para a emancipação, que também
apoiou D. Pedro na decisão do Dia do Fico, foi sua esposa, Leopoldina de Habsburgo.

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A princesa, que se tornara regente durante a viagem de D. Pedro em agosto para a província de São Paulo,
recebeu novos decretos portugueses, que suspendiam a Assembleia Constituinte, exigia o retorno imediato
de D. Pedro a Portugal e declarava os ministros brasileiros como traidores. Visto isso, D. Leopoldina se reuniu
com os ministros e assinou, ainda em 1822, a Declaração de Independência do Brasil de Portugal.

A carta foi entregue para D. Pedro no dia 7 de setembro, enquanto ainda estava em São Paulo. Neste momento,
o então Príncipe Regente teria tomado conhecimento das novas exigências portuguesas, da declaração
elaborada por D. Leopoldina e José Bonifácio e, supostamente, teria organizado seus soldados declarando a
emancipação brasileira de Portugal com o famoso grito da independência. Ao retornar à capital, D. Pedro foi
coroado no Campo de Santana no dia 12 de outubro de 1822, sendo aclamado Imperador Constitucional e
Defensor Perpétuo do Brasil.

Vale destacar que, apesar da declaração, a independência não foi conquistada de forma tão pacífica, visto
que os soldados portugueses se encontravam presentes no Brasil e não aceitaram a emancipação, assim
como, focos de resistência em algumas províncias ainda apoiavam as cortes portuguesas. Deste modo, com
um exército organizado com mercenários e soldados estrangeiros e com apoio da Inglaterra, os grupos que
ainda resistiam nas províncias do Maranhão, Bahia, Pará e Piauí foram rapidamente derrotados.

Por fim, naturalmente, não bastava solucionar os desentendimentos provinciais. Para que o Brasil tivesse
condições de estabelecer um Estado autônomo e soberano, era fundamental que outras importantes nações
reconhecessem a sua independência. Em 1824, buscando cumprir sua política de aproximação com as outras
nações americanas, os Estados Unidos da América reconheceram a independência do Brasil.

Restava, portanto, as negociações diplomáticas entre Brasil e Portugal para que a antiga metrópole
reconhecesse, enfim, a independência. Os diálogos foram mediados pela Inglaterra, que apoiou a causa
brasileira e ajudou a costurar o Tratado de Paz, Amizade e Aliança. Através deste acordo, o Brasil assumiu o
pagamento de uma indenização de dois milhões de libras esterlinas para Portugal (na prática, a dívida lusa
com a Inglaterra foi transferida para o Brasil) e, enfim, Portugal reconheceu a emancipação da antiga colônia
americana.

O Primeiro Reinado

A Assembleia Constituinte de 1823


Após a declaração de independência, em 1822, D. Pedro I ainda precisou lidar com a resistência portuguesa,
com os defensores da colonização e até mesmo com as camadas liberais que também visavam a
emancipação de províncias. Para combater essas atividades e construir um sentimento de unidade nacional,
era necessário, para o imperador, criar um Estado forte e uma Constituição que garantisse os interesses da
elite.

Assim, a formação do recente Estado brasileiro atravessou o século XIX com a criação de
instituições, forças militares e novas leis. No caso constitucional, em 1823, 90 deputados de
14 províncias foram eleitos para escreverem as novas leis. Logo, seriam responsáveis pela
elaboração da primeira Constituição Brasileira.

Antes de compreendermos esse processo e conhecermos os resultados da Constituinte, vale destacar que,
apesar da independência, pouco havia mudado na estrutura brasileira. Logo, após 1822, a sociedade da antiga
colônia ainda mantinha a escravidão, o poder político da aristocracia e a concentração de grandes latifúndios
nas mãos de poucos.

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Tendo em vista essas permanências na política, vale notar que os 90 deputados faziam parte dessa elite e,
em sua maioria, apoiavam a ideia de uma monarquia constitucional. Entretanto, o resultado dessa Assembleia
foi a elaboração, em 1823, de um projeto de constituição, por Antônio Carlos de Andrada, que limitava os
poderes do Imperador.

Na chamada “Constituição da Mandioca”, destacava-se a soberania do poder legislativo sobre o executivo e


sobre as Forças Armadas. Esse projeto recebeu esse nome porque, na questão eleitoral, um cidadão, para
votar ou se candidatar, deveria comprovar renda segundo um critério de posse de terras, escravizados e uma
quantidade mínima de alqueires de plantação de mandioca. O voto, portanto, seria censitário, eliminando a
maior parte da população, sobretudo os portugueses comerciantes.

O projeto, entretanto, desagradou D. Pedro I, que não desejava ver seus poderes reduzidos pelo legislativo.
Logo, no dia 12 de novembro de 1823, o imperador dissolveu à força a Assembleia, no evento que ficou
conhecido como a “noite da agonia”. Dentre os muitos deputados presos e exilados nesse dia, encontravam-
se, inclusive, os irmãos José Bonifácio e Antônio Carlos de Andrada.

A Constituição de 1824
Com a Assembleia dissolvida, D. Pedro I organizou um novo quadro de políticos, o Conselho de Estado, para
elaborar a nova Constituição. Assim, no dia 25 de março de 1824, a nova Constituição foi finalmente
outorgada.

Quanto ao imperador, agora, não haveria mais a limitação do legislativo. Foi criado, inclusive, um quarto poder,
conhecido como o poder moderador. De uso exclusivo do imperador, o poder moderador estaria acima dos
outros três, sendo um mecanismo que regularia e interviria nas decisões tomadas pelo executivo, legislativo
ou judiciário. Por mais que a monarquia se mostrasse constitucionalista, o absolutismo ainda influenciava
muito a formação e o reinado de D. Pedro I.

Com o poder moderador, o imperador poderia nomear ministros e presidentes de províncias,


dissolver a Assembleia, controlar as forças armadas e, como visto, interferir nas decisões
dos outros poderes. Além disso, o imperador também garantiu constitucionalmente a
imputabilidade penal.

Essa Constituição também estabeleceu a monarquia hereditária, o voto indireto e censitário (exclusivo para
homens cidadãos maiores de 25 anos e com renda mínima anual comprovada) e mandatos de 4 anos para
os deputados eleitos. Na questão da cidadania, mais uma vez valorizava-se a figura masculina. Seriam
considerados cidadãos todos os homens livres nascidos no Brasil ou naturalizados. Esses cidadãos foram
classificados, assim, em três grupos:

• Cidadãos passivos – aqueles que não conseguiam alcançar a renda necessária para ter direitos políticos;
• Cidadãos ativos votantes – aqueles que atingiam a renda mínima para votar;
• Cidadãos ativos eleitores elegíveis – aqueles que atingiam a renda mínima para se candidatar nas
eleições.

Ainda sobre a questão política e administrativa, a Constituição garantia a composição da Assembleia Geral
dividida entre a câmara dos deputados e o senado. Enquanto a primeira possuía membros temporários, eleitos
indiretamente, o segundo contava com cargos vitalícios indicados pelo Imperador.

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O monarca também indicaria membros vitalícios para outra parte do governo, que seria o chamado Conselho
de Estado. Seus 10 membros teriam a função de aconselhar o imperador na tomada das principais decisões
que envolviam os interesses do Estado brasileiro.

No campo religioso, o Estado, com a Constituição de 1824, adotaria o Catolicismo como sua religião oficial.
Através do chamado regime de padroado, a Igreja estaria, assim, subordinada ao controle do Estado.
Enquanto o imperador poderia nomear membros eclesiásticos e interferir em decisões da Igreja, o clero, por
outro lado, receberia apoio oficial do Estado, com a construção de igrejas e privilégios. Em 1824, os cultos de
outras religiões também foram permitidos no Brasil, mas limitados aos espaços domésticos.

Guerras e revoltas no Primeiro Reinado


Em 1824, eclodiu a Confederação do Equador, que se expandiu pelas províncias de Pernambuco, Paraíba, Rio
Grande do Norte e Ceará, profundamente insatisfeitas com as políticas centralizadoras do imperador, com a
nomeação de Francisco Paes Barreto como presidente da província de Pernambuco (que já havia eleito seu
presidente) e com a Constituição de 1824.

O movimento sofreu influência dos pensamentos iluministas que chegavam da Europa e das próprias
revoluções liberais de 1820, que ocorriam no velho continente; logo, os revoltosos brasileiros defendiam a
emancipação das províncias do Nordeste, a criação de uma Constituição liberal, a Abolição da Escravidão
(uma parcela do movimento) e a criação de uma república.

Dessa forma, a revolta liderada por Frei Caneca e por Manoel de Carvalho Paes de Andrade foi composta pela
classe média urbana e pelos fazendeiros locais, mas com o desenrolar dos eventos, ganhou apoio popular.
No entanto, apesar da força e da rápida expansão, logo foi contida por D. Pedro I, sendo seus apoiadores
punidos com morte, sobretudo Frei Caneca, o mártir da revolta.

Além dos problemas no Nordeste com a Confederação do Equador, D. Pedro I também foi pressionado na
região Sul do país, com a Guerra da Cisplatina. Entre 1825 e 1828, Brasil e Argentina lutaram pela posse de
uma região que gerava conflitos desde o período colonial, entre Espanha e Portugal, que era a chamada
Província de Cisplatina.

Apesar da região ter sido inicialmente fundada por colonos portugueses, em 1680, como Colônia do
Sacramento, e conquistada por D. João VI, em 1816, o território, era de posse da Espanha desde 1777; logo,
os habitantes locais se identificavam muito mais com a cultura espanhola do que com as identidades luso-
brasileiras que se construíam no Brasil.

Assim, liderados por João Antônio Lavalleja e com apoio da Argentina, um movimento de independência da
Cisplatina se iniciou contra o império brasileiro, atraindo as tropas de D. Pedro I para a região e iniciando uma
guerra extremamente danosa para o Brasil. Os conflitos cessaram apenas em 1828, com a assinatura de um
tratado de paz entre Brasil e Argentina, mediado pela Inglaterra, que garantia a criação e a autonomia da
República Oriental do Uruguai.

Por fim, o imperador brasileiro assistiu a sua primeira derrota militar como chefe de Estado e ampliou ainda
mais o desgaste de sua imagem com a população brasileira, que, além de criticar seu perfil autoritário e as
altas taxas cobradas pela guerra, agora questionava, inclusive, sua liderança.

A crise e a abdicação de D. Pedro I


Tendo em vista o cenário de revolta e guerra destacado, somado ainda à crescente crise econômica, com o
declínio da economia açucareira e a falência do Banco do Brasil (1829), a imagem de D. Pedro I se desgastava

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rapidamente logo nos primeiros anos de império. Se não bastassem os problemas políticos e econômicos, o
Imperador ainda precisava lidar com suas questões familiares e pessoais, com a oposição na imprensa e com
as constantes críticas ao seu autoritarismo.

Assim, um dos momentos de maior instabilidade desse período teve início com a morte de D. João VI, em
1826, em Portugal, que abriu uma crise sucessória no país, visto que D. Pedro I, que se considerava o herdeiro
direto, mas, decidindo permanecer no Brasil, deixou o trono para sua filha, D. Maria da Glória. A posse da jovem
princesa gerou um crescente conflito em Portugal, conhecido como a Crise de Sucessão ao Trono, pois o
irmão de D. Pedro I, D. Miguel, reivindicava seu direito como sucessor e, a partir de 1828, passou a contar com
o apoio das Cortes portuguesas.

Essa crise gerou, em Portugal, uma guerra civil que afetou diretamente os cofres brasileiros, com gastos para
a mobilização de tropas, armas e viagens. Apesar da guerra instalada ter fim apenas em 1834, com a
mediação de França e Inglaterra, que apoiaram D. Maria da Glória como rainha, a imagem de D. Pedro I, no
Brasil, voltou a se desgastar pela crise gerada.

Para tornar as coisas ainda mais delicadas, nessa mesma época, os conflitos entre D. Pedro I e a imprensa
não cessavam, e, em novembro de 1830, ganharam um capítulo à parte, quando o jornalista Libero Badaró,
um dos maiores críticos do monarca e grande defensor da liberdade, foi assassinado, gerando desconfianças
em relação a D. Pedro I.

A morte de Badaró e a recente aproximação do imperador ao chamado


“Partido Português” tornou o clima de viagem de D. Pedro I à província de
Minas Gerais ainda mais tenso, sendo recebido com frieza. No retorno da
viagem, o imperador foi recebido por seus partidários portugueses com uma
festa no Palácio; no entanto, os brasileiros insatisfeitos iniciaram protestos
violentos e chegaram a arremessar garrafas contra D. Pedro I, no evento que
ficou conhecido como a “Noite da Garrafadas”, o estopim da crise política do
império.

Enfim, antes de abdicar, D. Pedro I ainda tentaria realizar manobras para


fortalecer seu poder, formando um ministério liberal, mas que logo foi
dissolvido, para dar lugar a nomes de tendências absolutistas. As manobras
não foram bem aceitas, a população foi para as ruas, militares passaram a
pressionar o imperador e, no dia 7 de abril de 1831, D. Pedro I abdicou do trono brasileiro, partindo para a
Europa e deixando o Império para seu filho, Pedro de Alcântara, com apenas 5 anos.

O período regencial
A abdicação de D. Pedro I, em 1831, foi motivada por um cenário político e econômico conturbado no Brasil.
O país, que dava seus primeiros passos na formação de um Estado independente, já nascera com uma
exorbitante dívida internacional e com o conflito interno de diferentes grupos políticos. As divergências nos
projetos nacionais pós-independência foram contornadas pelo Imperador, sobretudo através de seu
autoritarismo.

Entretanto, com a abdicação de D. Pedro I, os diversos partidos e grupos políticos que idealizavam um Estado
brasileiro passaram a atuar para concretizar suas ideias. Essa fase, apesar de grande experimentação e muita
instabilidade, foi fundamental para a formação da base do Estado brasileiro, e ficou conhecida como o período
regencial.

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Assim, o período regencial ficou marcado pelas possibilidades políticas de superar os obstáculos colocados
pela independência. Logo, alguns grupos assumiram a administração no período e realizaram uma alternância
no poder entre indivíduos e correntes políticas atuantes da época. Essas mudanças destacaram, assim, as
seguintes fases:

1. Regência Trina Provisória (1831) – Nicolau Pereira de Campos Vergueiro, José Joaquim Carneiro de
Campos e Francisco de Lima e Silva foram eleitos para escolherem os regentes permanentes;
2. Regência Trina Permanente (1831-1835) – Francisco Lima e Silva, João Bráulio Muniz e José da Costa
Carvalho;
3. Regência Una de Feijó (1835-1837) – Padre Diogo Antônio Feijó;
4. Regência Una de Araújo Lima (1837-1840) – Araújo Lima.

Visto isso, nesse período, com a ausência da figura forte de um imperador e com a influência das tendências
políticas na formação do Estado, as correntes políticas passaram a se consolidar. Assim, percebemos a
atuação de três grupos políticos principais:

• Liberais exaltados: defensores do federalismo, ou seja, de conceder mais autonomia às províncias.


Podiam ser monarquistas ou republicanos. Um representante influente dos exaltados era Cipriano
Barata.

• Liberais moderados: conhecidos como chimangos, eram monarquistas e sustentavam a coroação de D.


Pedro II. No entanto, defendiam a restrição dos poderes imperiais. Um representante influente dos
moderados era Padre Diogo Antônio Feijó.

• Restauradores: chamados de caramurus, defendiam o retorno de D. Pedro I para o trono brasileiro. Esse
grupo enfraqueceu após a morte de D. Pedro I, em 1834. Um representante influente dos restauradores
era José Bonifácio.

Durante a Regência Trina, ocorreu a aprovação do Código de Processo Criminal (1832), que ampliou os
poderes dos juízes de paz. Outra importante medida foi a criação da Guarda Nacional, em 1831, que
possibilitou aos cidadãos formar um corpo armado para conter os excessos governamentais e as rebeliões
que pudessem acontecer. Além disso, houve a aprovação do Ato Adicional, em 1834, que pode ser
considerado uma vitória dos liberais exaltados, uma vez que promoveu uma série de emendas na Constituição
de 1824 e garantiu maior autonomia para as províncias brasileiras.

Alguns historiadores afirmam que o Ato Adicional de 1834 iniciou uma breve experiência republicana no Brasil
monárquico. Esse Ato visava conciliar os interesses de liberais e moderados, principalmente na questão da
centralização do poder. Assim, foi aprovada a criação das Assembleias Legislativas Provinciais, a
formalização do Rio de Janeiro como Município Neutro, sendo um território independente da província do Rio
de Janeiro, e a suspensão do poder moderador e do Conselho de Estado.

Por fim, apesar das vitórias dos grupos liberais durante o período regencial, o regresso conservador marcou
os últimos anos dessa fase. A regência de Araújo Lima formou o Ministério das Capacidades, que contou
com a participação de uma elite do sudeste que desejava retomar a centralização política e a estabilidade
nacional. Para garantir esses interesses e combater o crescente número de revoltas pelo país, no dia 12 de
maio de 1840 foi aprovada a Lei Interpretativa do Ato Adicional. Essa lei anulou o poder legislativo das
Assembleias, retomando a influência do Poder Central do Império sobre as províncias.

Ainda nesse ano, os conservadores também resgataram o Conselho de Estado e o Colégio do Processo
Criminal. Todas essas reformas visavam a busca da estabilidade através da autoridade. No entanto, o uso da
violência não impediu o nascimento de novas revoltas, e muitas, como a Farroupilha, continuaram a resistir
mesmo após o fim do período regencial.

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O fim do período regencial


A descentralização do poder formou um cenário ideal para que diversas rebeliões e revoltas separatistas se
espalhassem no Brasil durante a regência. Eventos como a Cabanagem, a Sabinada, a Balaiada, a Farroupilha
e a Revolta dos Malês colocaram em dúvida a soberania do Estado, a integridade nacional e a hegemonia das
elites. Assim, na visão do Estado, era necessária a construção de um sentimento nacional que unisse as
províncias, visto que a Guarda Nacional poderia não oprimir os desejos separatistas. Um dos primeiros passos
para a construção desse sentimento, portanto, foi a criação, em 1838, do Instituto Histórico Geográfico e
Brasileiro.

O chamado IHGB teria o objetivo de reunir intelectuais que pudessem coletar documentos e informações
sobre o Brasil e, assim, publicar textos sobre a história e a geografia do recente país. Essa empreitada, como
visto, visava “dar um rosto” ao Estado brasileiro e gerar um sentimento de nação, através da construção de
um passado único para todos os brasileiros. Dessa forma, o IHGB realizou, inclusive, um concurso para
premiar autores que elaborassem a “melhor forma” de escrever a História do Brasil, sendo Carl Von Martius o
vencedor. Em 1854, o Historiador Francisco Adolfo de Varnhagen, seguindo o modelo do IHGB e contando
com novas fontes, escreveu a “História Geral do Brasil”, construindo, enfim, um passado para essa nação.

Nessa perspectiva de construção da nação, a regência de Araújo Lima ainda foi responsável pela ampliação
do ensino público, com a criação do Colégio Pedro II, e pela criação do Arquivo Público do Império. Este, enfim,
teria a responsabilidade de guardar e organizar toda a documentação pública do Império, e passou a servir,
dessa forma, como um rico espaço para fontes históricas. As tentativas de construir uma identidade através
de instituições públicas e de um “passado brasileiro” receberam também o apoio da antiga elite agrária. Se
anteriormente esses grupos defendiam uma descentralização do poder, com maior autonomia das províncias,
as revoltas regenciais revelaram a necessidade do apoio do Estado para manter seus poderes regionais.
Assim, muitos desses líderes locais passaram a apoiar cada vez mais a centralização do poder, para evitar
novos levantes. Essa elite agrária conquistou o controle do Estado e garantiu a manutenção de seus privilégios
e da estrutura social vigente. Esse poder expandiu-se também ao longo do Segundo Reinado.

O Segundo Reinado

A ascensão de D. Pedro II ao poder marca o fim do Período Regencial (1831 – 1840), que foi protagonizado
por uma série de revoltas e por uma descentralização política que preocupava as elites brasileiras, que temiam
uma possível separação territorial. Pedrinho, conhecido popularmente como D. Pedro II, assumiu o trono com
apenas 14 anos de idade, após uma armação política entre membros da elite liberal, liderados por Antônio
Carlos de Andrada e com apoio de parte da imprensa. Assim, em 1840, o Golpe da Maioridade levou o jovem
imperador ao poder, ao antecipar sua maioridade em um clima de intensa instabilidade política.

O Segundo Reinado é historicamente dividido em três fases;

• Consolidação (1840 – 1850): etapa em que D. Pedro II assume o poder, solucionando as disputas entre
os partidos políticos e resolvendo os conflitos armados.

• Apogeu (1850 -1870): fase em que o projeto político do Segundo Reinado se encontra consolidado, com
relativa estabilidade política e econômica.

• Declínio (1870 – 1889): período em que as contradições políticas atingem a figura do imperador, fazendo
com que seu governo passasse a ser questionado, principalmente depois da Guerra do Paraguai.
O processo de establização do Estado imperial brasileiro ocorreu, principalmente, durante o período de
consolidação, em que uma nova forma de governo passou a vigorar, sem deixar, no entanto, de privilegiar a
elite dominante e manter o status quo.

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1840 – 1850: resoluções de conflitos


Quando assume o poder em 1840, D. Pedro II passa por uma fase de transição, marcada por conflitos que
demonstram o descontentamento da população com a política brasileira. Durante essa década, o imperador
possuía a missão de pacificar o país, mantendo a unidade em torno da centralização do poder e da resolução
das disputas políticas entre os partidos políticos, comandados pela elite dominante no período, mas para isso
foi necessário resolver o clima de revoltas.

A Balaiada foi uma revolta de cunho popular que se iniciou durante o período regencial e durou até o início do
Segundo Reinado (1838 -1841), no Maranhão, com o intuito de reivindicar melhores condições de vida, devido
à intensa pobreza na qual a população vivia e à forte autoridade da elite local. A instituição das “Leis do
prefeito” – em que o governador da província poderia nomear os prefeitos – foi feita em um clima de tensão

entre as elites e a população, levando à eclosão do levante popular. Sem uma liderança principal, o movimento
se expande por várias frentes e chega a dominar algumas vilas; entretanto, a revolta perde força quando o
líder Manoel dos Anjos morre e o comandante Duque de Caxias assume o comando das tropas militares do
império. Ao assumir o poder, habilmente, D. Pedro II resolve concedeu a anistia para os revoltosos que se
rendessem, fazendo com que boa parte dos balaios se entregasse, facilitando a derrota daqueles que
restaram.

A Guerra dos Farrapos foi um conflito separatista, de caráter republicano e liberal, que ocorreu entre os anos
1835 e 1845, na província do Rio Grande do Sul. Insatisfeitos com a cobrança de impostos, considerada
excessiva, sobre o charque produzido por eles, enquanto o produto estrangeiro sofria uma taxação menor,
entre outras coisas, os revoltosos se rebelaram contra o governo, criando a República Rio-grandense.
Expandindo-se para outras províncias, o movimento foi um dos mais longos da história do Brasil independente,
contando com líderes que se tornaram famosos, como Giuseppe Garibaldi, Bento Gonçalves e David
Canabarro. O conflito só chegou ao fim durante o governo de D. Pedro II, com a assinatura do Tratado de
Poncho Verde entre o governo e os farrapos, com os últimos garantindo um conjunto de termos favoráveis.

A Revolução Praieira é considerada por alguns historiadores como o último grande conflito enfrentado pelo
Imperador antes do período de estabilidade política e de apogeu do Segundo Reinado. Ocorrida em
Pernambuco, entre os anos 1848 e 1850, a revolução de caráter liberal contava com a participação das
camadas populares que se ressentiam das consequências da crise econômica vivida pela província,
proveniente da decadência da produção do açúcar, além das injustiças sociais, como a concentração de terras
e o monopólio dos comerciantes portugueses. A troca do presidente da província foi o estopim para a eclosão
da revolta, e, em 1849, é lançado o “Manifesto do Mundo”, em que se defendiam ideais, como liberdade de
expressão, voto livre e a extinção do poder moderador. Fortemente reprimida pelas forças imperiais, os
participantes das classes dominantes foram anistiados, enquanto os líderes das camadas populares foram
presos, fuzilados ou obrigados a participar do alistamento.

Parlamentarismo às avessas

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Para conseguir governar, D. Pedro II precisou implementar uma política de conciliação entre os partidos
políticos que dividiam a elite dominante, possibilitando a consolidação do projeto político imperial de
centralização do poder nas mãos da figura imperial e a manutenção do poder nas mãos da elite oligárquica.
Conhecido como Parlamentarismo às avessas, o sistema era construído de forma inversa àquele que existia
na Inglaterra, uma vez que o imperador era quem de fato tinha o poder em suas mãos.

Presente na Constituição de 1824, a existência do Poder Moderador concedia a D. Pedro II a possibilidade de


intervir nas outras instâncias de poder, transformando assim o imperador em um protagonista político, e não
meramente um telespectador, como ocorre no caso inglês. Responsável por mediar os conflitos existentes
entre os partidos, ele encontra na nova estrutura uma forma de manter a alternância do poder entre eles, que
eram:

• Partido Conservador: eram apelidados de Saquaremas e defendiam um governo forte e centralizado.


• Partido Liberal: eram apelidados de Luzias e defendiam a descentralização e a autonomia provincial.
O Presidente do Conselho de Ministros era escolhido diretamente pelo imperador, enquanto cabia a ele a
função de escolher o gabinete ministerial que passava pela aprovação das Câmaras dos Deputados. Caso
não fosse aprovado, D. Pedro II podia simplesmente demitir o novo gabinete ou dissolver a câmara e convocar
novas eleições. O Segundo Reinado foi marcado pela alternância desses partidos nos gabinetes, que
possuíam uma alta rotatividade, devido à possibilidade de intervenção direta do imperador, de acordo com
seus próprios interesses.

O Ministério da Conciliação de 1853 era composto tanto por liberais quanto por conservadores, e inaugura a
estabilidade política que é característica do período em que o Segundo Reinado atingiu o seu apogeu (1850
– 1870). Apesar da divisão e das diferenças de pensamento, na prática, esses partidos não apresentavam
grandes divergências ideológicas e eram marcados por uma série de interesses em comum.

Produção cafeeira
Dando continuidade à ordem socioeconômica do período colonial, o Brasil se firmou enquanto uma oligarquia
agroexportadora e escravista, que a partir da segunda metade do século XIX, ganhou novos contornos com
a decadência cada vez maior da produção da cana de açúcar e o aumento do valor de outros produtos, como
o cacau e a borracha. Contudo, o gênero que despontou e se tornou a base econômica do Segundo Reinado
foi o café, que com seu alto valor dinamizou a economia brasileira do período.

Pega a visão: uma das causas da decadência da produção do açúcar no Brasil foi a produção do açúcar de
beterraba na Europa, o que, em certa medida, prejudicou a economia do Nordeste.

A cafeicultura, de forma similar ao que aconteceu durante o Período Colonial, forneceu


uma base sólida para o domínio econômico dos grandes proprietários rurais. O plantio
de café se iniciou nas regiões vizinhas ao Rio de Janeiro, como no Vale do Paraíba, e a
importância inicial da região popularizou a frase “o Brasil é o vale”. O café também
proporcionou o surgimento de uma nova elite composta pelos “barões do café”. Para
muitos historiadores, a sociedade cafeeira que surge no Vale do Paraíba estava ligada
a um estilo de vida baseado na ideia de nobreza que vinha da Europa. Além disso, havia
uma mentalidade nobiliárquica e mais conservadora, o que fez com que ao longo do tempo não houvesse
tanto investimento em novas técnicas e maquinários para melhorar a produção na região.

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Assim, apesar da riqueza gerada, a cultura do café utilizava técnicas rudimentares o que causou um acelerado
esgotamento do solo no local. Gradativamente ocorreu o declínio da produção cafeeira no Vale do Paraíba,
mas ela entrou em expansão no Oeste Paulista, região onde o solo de terra roxa era extremamente fértil para
o plantio de café.

A região rapidamente despontou como o grande produtor de café, com uma elite que tinha um pensamento
mais “modernizante” e dinâmico com relação ao investimento na melhoria da produção. Vale ressaltar que os
investimentos dos cafeicultores paulistas não pararam apenas na melhoria da plantação do café, mais para
a frente veremos que eles também investiram em indústrias durante o surto industrial que ocorreu no Brasil
imperial. Muitos pesquisadores associam a esses paulistas uma visão mais empresarial do negócio, o que
teria possibilitado a aplicação de novas tecnologias e a defesa do emprego do trabalho assalariado. Mas se
liga, porque isso não quer dizer que esses cafeicultores não utilizavam mão de obra escrava, muito pelo
contrário!

Um dos fatores que impulsionaram a interiorização da produção cafeeira foi a implantação de ferrovias na
região, o que facilitava o deslocamento populacional e o escoamento do produto. Em um contexto mundial
de expansão da Segunda Revolução Industrial, a implantação dessas ferrovias, em substituição às viagens
feitas no lombo de mula, representou o momento de crescimento econômico do país. Ela não era apenas um
meio de transporte, as estradas de ferro se transformaram em um símbolo de modernidade e progresso.

As transformações econômicas, políticas e culturais provenientes do sucesso econômico do novo gênero


agrícola reafirmaram a mudança do eixo econômico do Nordeste para o Sudeste. A cidade de São Paulo foi
se tornando, gradualmente, o polo econômico de maior importância do país.

Questão da mão de obra


Toda essa demanda da produção cafeeira gerou um problema com a forma de organização do trabalho, uma
vez que, em 1850, a Lei Eusébio de Queirós proibiu o tráfico negreiro fazendo com que a quantidade de
escravizados disponíveis fossem menor e cada vez mais caro. Assim, o tráfico interestadual se tornou uma
das soluções encontradas para suprir a demanda de mão de obra, onde o Nordeste passou a suprir algumas
regiões produtoras com os escravos que já não eram tão necessários devido a decadência do comércio e da
produção do açúcar.

A partir da abolição do tráfico, outra solução para a questão foi o emprego da mão de obra livre e assalariada
que ocorreu, em grande medida, no Oeste Paulista, que se firmou enquanto a grande região produtora após a
década de 1850. A diminuição de fornecimento de escravos levou os latifundiários a buscarem
novas formas de trabalho, recorrendo assim à imigração. O primeiro estímulo à entrada de
imigrantes se deu através do sistema de parceria. O sistema consistia no pagamento – por
parte dos cafeicultores - das despesas do deslocamento das famílias para o Brasil pelo
fazendeiro, além de seus primeiros custos ao desembarcar no país. Em troca, o imigrante e
sua família ficavam obrigados a entregar parte do que produziam na fazenda ao proprietário,
além de fornecer pagamento pelas dívidas com a migração. Diante da mentalidade
escravocrata dos cafeicultores, o sistema logo causou os primeiros conflitos com os
imigrantes, já que a sobre-exploração levou ao que podemos chamar de “escravidão por
dívidas”.

Para garantir que os imigrantes viessem trabalhar nas fazendas de café, em 1850, também foi aprovada a Lei
de Terras. Seu objetivo era dificultar o acesso à terra por parte da população pobre, imigrante e ex-escravizada,
uma vez que determinou que a posse da terra só se daria através da compra. A medida tinha a intenção de
coibir a proliferação de pequenos lotes de terras que poderiam ser ocupados por esses estrangeiros que
acabavam de chegar. Os altos preços de compra e a dificuldade na regularização garantiam aos latifundiários

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História

a manutenção do domínio territorial e socioeconômico. Conservavam-se assim, as raízes da exploração da


classe dominante no Brasil, através do latifúndio e da reprodução de sua desigualdade social.

Pega a visão: não podemos esquecer de contextualizar o rolê, então temos que lembrar que um dos motivos
para grande migração de europeus para a América foram os conflitos de unificação que estavam rolando lá
na Europa, especialmente na Alemanha e na Itália.

Diante desse cenário, o Estado brasileiro passou a implementar o sistema de “imigração subvencionada”, ou
seja, com o novo sistema o Estado Imperial destinou verbas para o deslocamento dos imigrantes, fornecendo
o pagamento das passagens, bem como o alojamento e o trabalho inicial na lavoura. Vale ressaltar que esse
processo foi impulsionado pelo descontentamento dos Estados europeus com o tratamento dispensado aos
seus nacionais, alguns locais chegaram a barrar a captação de trabalhadores pelos agentes brasileiros.

O incentivo à vinda dos europeus encontrava apoio na ideia racista de que era preciso “branquear” a população
brasileira, formada majoritariamente por negros. Portanto, o incentivo à entrada de estrangeiros para o
trabalho nas lavouras também cumpriu um papel social e político muito importante para a construção da
história contemporânea do Brasil. Através do ideal de embranquecimento da população brasileira as elites
dominantes desejavam apagar/diminuir os traços e rastros deixados pela enorme população negra dentro do
país ao longo de mais de 300 anos de escravidão.

A Era Mauá
Ainda no âmbito econômico, em 1844, foi aprovada a Tarifa Alves Branco. Na prática, a medida protecionista
estabelecia a taxação em 30% de produtos estrangeiros que entrassem no Brasil (o dobro dos 15%
estabelecidos anteriormente). Caso o Brasil produzisse similares, essa taxa seria ainda maior, chegando em
até 60%. O seu principal objetivo equilibrar a balança comercial brasileira e aumentar a arrecadação por parte
do Estado Imperial. A tarifa, no entanto, acabou operando como um incentivo aos surtos industriais ocorridos
durante o Segundo Reinado.

A Tarifa Alves Branco colocou fim aos tratados desiguais com a Inglaterra, uma vez que ela não poderia
exportar produtos com taxas mais baixas para o país. Visando aumentar a arrecadação do Império, a medida
de D. Pedro II acabou por facilitar a implantação de manufaturas, principalmente têxtil, para atender as
demandas internas devido ao encarecimento dos produtos importados.

Assim, a reunião de fatores favoráveis – à abolição do tráfico, a tarifa Alves Branco e a ascensão do café –
estimularam empreendimentos urbanos. Nessa conjuntura fundaram-se 62 empreendimentos industriais, 14
bancos, 20 companhias de navegação, 3 de transportes urbanos e 8 estradas de ferro. Foi nesse momento
que surgiu a figura do Barão de Mauá, empresário que fez importantes
investimentos em infraestrutura, como a criação de estaleiros e fundições,
companhias de linhas telegráficas, ferrovias, iluminação a gás, transporte
urbano etc. A maioria de seus investimentos concentraram-se na década
de 1850, impulsionados pelos efeitos da tarifa Alves Branco. A
modernização verificada nesse período, no entanto, foi pouco capaz de
colocar a escravidão em xeque. Embora o tráfico tenha sido abolido, ela
permaneceu uma realidade dentro do território, convivendo com a adoção
da mão de obra de imigrantes.

Todo o investimento em industrialização criou uma camada social ligada às atividades urbanas,
principalmente no Rio de Janeiro que se mantinha firme e forte como o centro político do país. É importante
ressaltar que a industrialização vem acompanhada da palavra “surto” porque foi algo esporádico e que não
teve uma longa duração, tanto por pressão interna quanto por pressão externa. A industrialização brasileira
nesse momento não teve continuidade dos investimentos externos e o Brasil acabou por se manter

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História

dependente dos países europeus. Lembra que falamos lá em cima que ele continuava agroexportador? Pois
então!

Movimento Abolicionista
Apesar do Brasil ser construído, desde o período colonial, como uma sociedade
estruturada na escravidão, isso não significa que ela, de fato, tenha sido
completamente naturalizada. É importante destacar que em todos os séculos de
escravidão negra, a resistência e a oposição nunca deixaram de existir. Seja
inicialmente pela atividade quilombola, pelas lutas individuais ou por interesses
econômicos, sempre houve resistência.

Contudo, apenas no século XIX que a mobilização de atores internacionais e do


movimento abolicionista conseguiram, enfim, conquistar as primeiras leis que limitavam a escravidão. A
transferência da Família Real ao Brasil, por exemplo, já havia ocorrido através de acordos com os ingleses
para o fim da escravidão na colônia. Seja pelos interesses econômicos, em um contexto de Revolução
Industrial, ou pelos apelos humanistas de alguns políticos e intelectuais, a Inglaterra fez forte pressão pelo
fim da escravidão.

Em 1826, o Tratado Anglo-Brasileiro chegou a assegurar que medidas contra a escravidão seriam tomadas
pelo Brasil até 1830, no entanto, apenas em 1831 que a Lei Feijó foi aprovada, decretando o “fim” do tráfico
negreiro. Apesar do decreto, o tráfico continuou acontecendo e a entrada de africanos no Brasil não parou
pelos próximos anos, o que rendeu o termo “lei para inglês ver”.

Diante da falta de medidas mais incisivas do Brasil no combate a escravidão e da aprovação da Tarifa Alves
Branco (1844), a Inglaterra decretou a Lei Bill Aberdeen (1845), tentando estabelecer o fim do tráfico de
africanos escravizados. A lei anunciava que qualquer navio que fosse capturado no Oceano Atlântico com
escravizados seria detido e julgado pelas leis inglesas.

É importante ainda destacar que, apesar da importante pressão inglesa, a atuação de brasileiros, sobretudo
negros foi fundamental. Após a Guerra do Paraguai houve um nítido crescimento da Campanha Abolicionista,
que passou a receber apoio de mais políticos, intelectuais e militares, tendo grande destaque para indivíduos
como João Nabuco, José do Patrocínio, Luís Gama e Castro Alves. As propagandas abolicionistas circulavam
por diversos setores da sociedade, como teatros, salões, quartéis e assembleias, mas, foi principalmente
através da imprensa que o movimento cresceu.

Sendo assim, de um lado, a participação dos escravizados na guerra fortaleceu o abolicionismo, enquanto de
outro, a conjuntura externa – com o fortalecimento do capitalismo industrial – também foi favorável à abolição
da escravidão. Logo, ao longo da segunda metade do século XIX, o governo aprovou três importantes leis
abolicionistas:

• Lei Eusébio de Queirós (1850): sob forte pressão britânica, a lei foi aprovada e decretou o fim do tráfico
de africanos escravizados para o Brasil. No entanto, o tráfico intercontinental foi mantido por mais alguns
anos, sendo realizado por rotas alternativas. Em 1854, o governo ainda decretou a Lei Nabuco Araújo,
estabelecendo punições a quem acobertasse o tráfico de escravizados.

• Lei do Ventre Livre (1871): declarava livre os nascidos de mãe escravizada a partir da data de assinatura
da lei. Na prática, a lei mantinha os filhos das escravizadas sob tutela do senhor até atingirem 8 anos de
idade. Após isso, os senhores poderiam entregar o menor ao governo, com direito a uma indenização, ou
utilizar seus serviços até os 21 anos.

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História

• Lei dos Sexagenários (1885): declarava livres os escravizados com mais de 65 anos. Na prática, teve
alcance reduzido já que a expectativa de vida do cativo era muito pequena e pouquíssimos chegavam a
esta idade.
Essas leis permitiram que os escravocratas ganhassem tempo e adiassem a abolição definitiva. Por outro
lado, tiveram o importante papel de tornar a justiça uma nova arena de luta pela liberdade e impulsionaram a
campanha abolicionista.

Vale destacar ainda que, apesar do avanço abolicionista, no final do império a aprovação de algumas leis
passaram a limitar cada vez mais alguns direitos civis, sobretudo aos mais pobres e aos recém-libertos. Em
1850, por exemplo, foi decretada a Lei de Terras (no mesmo ano da aprovação da Lei Eusébio de Queirós),
que tratou de restringir a posse de terras no Brasil. Essa lei, portanto, privilegiou os antigos latifundiários e
dificultou que imigrantes, indivíduos pobres e até mesmo os recém libertos adquirissem alguma propriedade.

É importante destacar que existiam diferentes projetos de abolição, alguns, inclusive, propunham uma
reforma agraria e a distribuição de pequenos lotes para os libertos. Outra proposta seria a indenização por
parte do Estado brasileiro a população recém liberta. Mas o projeto vencedor foi o da libertação sem nenhum
tipo de indenização ou projeto de inclusão social.

Uma estratégia de limitação semelhante ocorreu também em 1881, ano que a chamada Lei Saraiva foi
aprovada. Apesar de manter o caráter censitário do voto estabelecido pela
Constituição de 1824, a nova lei acrescentou a proibição do voto dos
analfabetos. Assim, a quantidade de votantes no Brasil cai de mais de um
milhão para apenas 145 mil, visto que grande parte da população era
considerada analfabeta.

Assim, podemos perceber que o movimento abolicionista contou com


nomes importantes como Luiz Gama, Jose Carlos do Patrocínio, André
Rebouças, Maria Firmina dos Reis, Adelina, Chico do Aracati, entre tantos
outros. Salientar que todos esses abolicionistas citados eram negros é
essencial para entender que o movimento de resistência ocorreu em
grande medida por parte da população negra, liberta ou escravizada, que
lutava ativamente contra a subjugação dos seus semelhantes e pelo
reconhecimento da humanidade desses corpos explorados por mais de
300 anos.

Política Externa
Questão Christie (1862 - 1865)
A relação cada vez mais desgastada com a Inglaterra devido à pressão pelo fim da escravidão juntamente
com a relativa diminuição da dependência brasileira, que passava a comercializar com outros países
industrializados, levou a uma questão diplomática entre os dois países. Além disso, a promulgação da Bill
Aberdeen (1845) também acabou contribuindo para que o clima amistoso entre Brasil e Inglaterra fosse
abalado.

O naufrágio do navio inglês Prince of Wales e o posterior saqueamento no Rio Grande do Sul, fez com que o
diplomata William Dougal Christie exija uma reparação monetária do governo brasileiro, entretanto o
descontentamento com o representante britânico já estava alto, uma vez que ele havia acobertado um pouco
antes a morte de um alfandegário por dois marinheiros ingleses. Para piorar a situação, durante a discussão
sobre a indenização do navio naufragado, alguns marinheiros ingleses causaram uma confusão no Rio de
Janeiro, sendo detidos por policiais brasileiros. O diplomata exigiu que os ingleses fossem soltos, que os
oficiais fossem demitidos e um pedido oficial de desculpas por parte do governo brasileiro. Insatisfeito com

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História

as exigências do governo britânico, D. Pedro II se recusa a cumprir as exigências e rompe as relações com o
Império britânico, que ameaçava fechar a Baía de Guanabara.

Entretanto, buscando resolver de forma pacífica seus conflitos com a potência industrial e marítima, o
Imperador brasileiro buscou ajuda para mediar o conflito com o rei da Bélgica, Leopoldo II. O rei belga deu
ganho de causa para o Brasil, que pagou a indenização pelo navio naufragado e recebeu, posteriormente, um
pedido de desculpas do governo britânico pelos abusos cometidos pelo seu embaixador.

Vale ressaltar que, recentemente, a historiografia oficial sobre a questão acabou sendo revista por alguns
autores e foi encontrado um outro elemento em comum para a crise, a escravidão. Desde a década de 1840,
Inglaterra e Brasil já estavam com a relação abalada por conta das discussões em torno do fim do tráfico
negreiro. Um dos grandes impasses que teria contribuído para o desentendimento diplomático entre os países
era a exigência de libertação de africanos livres que haviam entrado de forma ilegal no país após a lei de 1831.
Assim, aproveitando do desentendimento com relação ao navio e a prisão dos marujos ingleses, Christie teria
aproveitado para pressionar o governo brasileiro pelo fim da escravidão.

Havia na Inglaterra um movimento abolicionista ligado a religião, que, supostamente, influenciava na luta
inglesa em prol da libertação dos escravizados aqui no Brasil e para alguns autores essa era a grande causa
do interesse inglês no fim da escravidão. Além disso, eles apontam também, que a Guerra de Secessão, nos
Estados Unidos, e o consequente fim da escravidão teriam sido fatores que impulsionaram a luta inglesa pelo
fim da escravidão aqui na América.

Guerra do Prata (Oribe e Rosas)


A partir de 1850, a situação política do país estava sobre controle e assim D. Pedro II resolve voltar sua atenção
para as regiões vizinhas abraçando uma postura expansionista sobre a Bacia do Prata. Seus interesses na
região passavam pela preocupação com a possibilidade de unificação dos Estados que faziam fronteira com
o Brasil e o controle da navegação nos rios da Bacia do Prata. Sua postura agressiva e militarista levou a
alguns conflitos na região que tiveram impactos importantes na política e na economia do país.

Quando o presidente argentino Juan Manuel de Rosas e o ministro uruguaio Manuel Oribe decidem fazer uma
aliança política, o Brasil resolveu combater as pretensões políticas e econômicas de ambos os países na
região. D. Pedro II ordenou a ocupação de ambos os territórios, depondo seus governos e substituindo por
políticos do seu interesse.

Entretanto, as disputas internas entre os partidos Blanco e Colorado, juntamente com a interferência gaúcha
na região, mantiveram o clima de instabilidade na Bacia do Prata. Em 1864, o Uruguai, que era comandado
por Bernardo Berro do partido Blanco, foi novamente invadido pelo governo brasileiro que substituiu o líder do
país pelo representante principal do partido oposto, o Colorado. Essa intervenção marcou a afirmação do
país enquanto uma potência na região do Prata, que já vinha sendo palco de conflitos desde o período colonial.
Em resposta a política intervencionista do império, o presidente Solano López, do Paraguai, cortou relações
com o Estado Brasileiro.

Guerra do Paraguai (1864 – 1870)


Em um momento onde o sentimento nacionalista está cada vez mais sendo explorado pelo Imperador, a
Guerra do Paraguai foi deflagrada utilizando como justificativa a defesa dos interesses nacionais.

A Guerra do Paraguai pode ser considerada um divisor de águas na história do Segundo Reinado, marcando
o início de um processo de fragilização do império e de questionamentos à política de D. Pedro II. Ocorrida de
1864 a 1870, a Guerra opôs Brasil, Uruguai e Argentina (chamados de Tríplice Aliança) contra o Paraguai e

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História

pode ser compreendida a partir das disputas no entorno da Região do Prata, que existiam desde o período
colonial. As tensões se acentuaram com a ampliação da atividade comercial na região, uma vez que era pelo
Rio da Prata que os navios argentinos, uruguaios e paraguaios alcançavam o Oceano Atlântico, escoando sua
produção.

A ampliação das tensões ocorreu após a oposição brasileira ao ditador uruguaio


Aguirre, apoiado pelo presidente paraguaio Solano López. As tropas brasileiras
atacaram o Uruguai, fato que contribuiu para a deposição de Aguirre e a chegada
de Venâncio Flores ao poder. Em reação, o Paraguai aprisionou o navio brasileiro
Marquês de Olinda, fazendo com que os dois países rompessem relações
diplomáticas e tivessem início as primeiras hostilidades militares.

Inicialmente, houve o avanço das tropas paraguaias, que invadiram a província do Mato Grosso, no Brasil, e a
Província de Corrientes, na Argentina, para chegar ao Uruguai e conseguir acesso ao mar. A partir daí que se
formou a Tríplice Aliança, permitindo que Brasil, Argentina e Uruguai unissem forças contra o Paraguai. Após
a invasão, o exército brasileiro reagiu, avançando para o território paraguaio.

Um confronto extremamente importante para os rumos da guerra aconteceu em junho de 1865: a Batalha
Naval de Riachuelo. Nessa batalha, a Marinha brasileira alcançou uma vitória importantíssima, destruiu parte
considerável da frota naval paraguaia e garantiu o controle das águas platinas para a Tríplice Aliança, isolando
o Paraguai e impedindo-o de receber recursos essenciais para a continuidade da guerra.

Durante muito tempo, as causas da Guerra do Paraguai foram interpretadas não apenas como uma reação às
medidas autoritárias de Solano López, mas também como repulsa ao modelo de desenvolvimento autônomo
do Paraguai, que contrariava interesses capitalistas dos ingleses, que preferiam países fornecedores de
matéria prima e consumidores de seus produtos industrializados.

Essa interpretação supunha que a Inglaterra teria favorecido a Tríplice Aliança contra o Paraguai e lucrado
com a Guerra. No entanto, estudos mais recentes consideram incorreto atribuir a guerra aos interesses da
Inglaterra e culpá-la pelo conflito. As novas interpretações enfatizam as motivações geopolíticas específicas
dos países envolvidos no conflito. No caso do Brasil, uma das motivações era conseguir a livre navegação do
rio Paraguai, garantindo maior comunicação entre o Mato Grosso e outras províncias. As novas fontes
demonstram, além disso, que a Inglaterra forneceu empréstimos e armamentos a ambos os lados que se
opunham no conflito. A derrota paraguaia na Guerra trouxe desastrosos efeitos para a sua economia, além
das enormes perdas humanas. Alguns historiadores estimam que a população paraguaia tinha em torno de
450 mil habitantes, dos quais cerca de 70% morreram na Guerra.

Consequências internas para o Brasil


No Brasil, o conflito produziu efeitos que contribuíram para a crise do Segundo Reinado. Entre eles, podemos
destacar:
• Aumento da dívida externa brasileira: a economia do país foi fortemente abalada em razão dos gastos
com a guerra. Logo, o Brasil passou a depender ainda mais de empréstimos ingleses, aumentando o
endividamento externo.

• Fortalecimento do exército enquanto instituição: depois da guerra, o exército, fortalecido, passou a


desempenhar papel político, demonstrando simpatia pela causa republicana e posicionando-se contra a
escravidão. Isso se explica, em certa medida, porque a maior parte das tropas brasileiras era composta
por escravizados e homens livres pobres.

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História

Vale lembrar que uma das grandes questões da Guerra foi o problema do recrutamento no Brasil. Enquanto a
guerra se estendia, o alistamento era cada vez mais difícil. Fugas, confrontos locais, brigas políticas,
casamentos forjados e muitos outros problemas passaram a ser enfrentados pelos que buscavam soldados
pelo país.

Com isso, em outubro de 1866, D. Pedro II enviou ao Conselho de Estado a proposta de, caso prosseguisse a
guerra, “lançar mão da alforria de escravos para aumentar o número de soldados do Exército”. Apesar da
polêmica, ela foi aprovada e o decreto nº 3.725 concedeu liberdade gratuita aos escravos da nação que
pudessem servir na guerra. Na prática, a determinação abriu espaço para que os senhores vendessem seus
escravos para o governo com a finalidade de irem para a guerra.

A vitória brasileira cobrou um alto preço ao apontar os antagonismos presentes no império brasileiro, que
concedia alforria ao escravizado que iriam pra guerra, mas mantinha suas famílias na condição de
escravizados. Certamente, para os militares essa contradição ficou cada vez mais aparente, uma vez que eles
saíram vitoriosos da guerra, mas não podiam participar ativamente do jogo político. D. Pedro II saiu vitorioso
da guerra, mas entrou em uma sinuca de bico política

Republicanismo
O republicanismo no Brasil foi influenciado pelas ideias positivistas e cresceu em um ambiente de
instabilidade política do Segundo Reinado, que passou a perder prestígio com as suas bases de apoio – o
Exército, a Igreja Católica e a Elite agrária – que cada vez mais associavam o regime monárquico a um
sinônimo de retrocesso. Portanto, a modernização almejada estava ligada diretamente à instalação do
republicanismo, garantindo a ordem (Exército) e o fim da corrupção pela qual a monarquia brasileira estava
marcada.
O Exército foi um dos principais expoentes do movimento republicano, principalmente, após o fim da Guerra
do Paraguai, que evidenciou as divergências existentes entre o governo e os militares. O Oeste paulista, zona
de produção cafeeira, também despontou como um relevante centro da luta a favor da proclamação da
República, uma vez que era a área mais dinâmica e economicamente desenvolvida do Império, mas não
encontrava representatividade na política. Através da Convenção de Itu, os paulistas declararam seu apoio ao
movimento republicano, que cada vez mais ganhava aliados de peso.
Além disso, a interferência do imperador em assuntos da Igreja Católica não agradava aos religiosos. Ao
imperador, por exemplo, era facultado o direito ao padroado (prerrogativa de preencher os cargos
eclesiásticos mais importantes) e ao beneplácito (aprovação das ordens e bulas papais para que fossem
cumpridas, ou não, em território nacional). A insatisfação do clero católico brasileiro ampliou o apoio da Igreja
a proclamação da República.
A partir de 1870, o movimento republicano toma contorno mais bem definido
com a publicação na imprensa de um manifesto por parte de liberais radicais
que haviam abandonado o partido; logo em seguida, é fundado o Partido
Republicano (1873), que se expandiu para outros estados, com a criação de
partidos regionais. Assim, o Exército e os cafeicultores paulistas se aliam às
classes médias urbanas, que desejavam uma modernização, e aos
conservadores, que estavam descontentes com a abolição da escravidão,
enfraquecendo o poder de D. Pedro II.

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História

Exercícios

1. (UERJ-2020-Adaptada)

Na comemoração dos cem anos da independência do Brasil, em 1922, foram mobilizados tanto
aspectos relativos aos acontecimentos do ano de 1822 quanto aqueles associados à conjuntura da
época, como exemplificam o texto e a moeda. Apresente uma característica do processo de
emancipação política do Brasil em 1822 que justifique a presença da imagem de D. Pedro I na moeda
comemorativa.

2. (UFU MG/2012) A fatalidade das revoluções é que sem os exaltados não é possível fazê-las e com eles
é impossível governar. Cada revolução subentende uma luta posterior e aliança de um dos aliados,
quase sempre os exaltados, com os vencidos. A irritação dos exaltados [trouxe] a agitação federalista
extrema, o perigo separatista, que durante a Regência [ameaçou] o país de norte a sul, a anarquização
das províncias. [...] durante este prazo, que é o da madureza de uma geração, se o governo do país
tivesse funcionado de modo satisfatório – bastava não produzir abalos insuportáveis –, a
desnecessidade do elemento dinástico teria ficado amplamente demonstrada.
NABUCO, Joaquim. Um Estadista do Império: Nabuco de Araújo, sua vida, suas opiniões, sua época. 2ed. São Paulo: Editora
Nacional, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1936, p.21.

Na obra Um Estadista do Império, escrita entre os anos de 1893 e 1894, Joaquim Nabuco faz uma
análise da história do Brasil Imperial. O trecho acima remete ao período regencial (1831-1840) do país.
Com base no texto e em seus conhecimentos, faça o que se pede.
a) Explique como Joaquim Nabuco interpretou o período regencial no Brasil.
b) O período da Regência é citado por diversos autores, incluindo Nabuco, como o de uma experiência
republicana federalista. Aponte duas razões pelas quais a Regência no Brasil ganhou essa
interpretação.

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História

3. (UEM PR/2012) Sobre as revoltas ocorridas no período imperial da história do Brasil, assinale o que for
correto.
(01) A Cabanagem foi uma importante revolta que envolveu toda a região amazônica e se estendeu
aos territórios da Guiana Francesa.
(02) A Sabinada foi uma revolta que ocorreu no Estado de Mato Grosso, entre 1850 e 1869, e se
estendeu por todo o Centro-Oeste do Brasil.
(04) A Guerra dos Farrapos ou Revolução Farroupilha se originou no Rio Grande do Sul e se estendeu
a territórios que fazem parte do atual Estado de Santa Catarina.
(08) Mesmo com o grande número de revoltas que chegaram a ameaçar a unidade do País, foi durante
o período regencial que se consolidou o Estado Nacional.
(16) A Balaiada foi uma revolta das elites maranhenses contra o poder imperial. Iniciou-se no
Maranhão e teve adesão das elites regionais dos atuais estados do Piauí e do Ceará.
Soma: ( )

4. (UERJ/2012)

O poder moderador de nova invenção maquiavélica é a chave mestra da opressão da nação brasileira
e o garrote mais forte da liberdade dos povos. É princípio conhecido pelas Luzes do presente século
que a soberania reside na nação essencialmente, logo é sem questão que a mesma nação ou pessoa
da comissão é quem deve esboçar a sua constituição, purificá-la das imperfeições e afinal estatuí-la.
Frei Joaquim do Amor Divino Caneca Crítica da constituição outorgada, 1824. Adaptado de JUNQUEIRA, Celina (org). Ensaios
políticos. Rio de Janeiro: Documentário, 1976.

A Confederação do Equador, ocorrida em 1824, apresentou propostas alternativas à organização do


Império do Brasil, sendo, porém, reprimidas pelo governo de Pedro I.
Explicite o motivo central para a eclosão da Confederação do Equador e cite duas de suas propostas
para a organização do poder de Estado.

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História

5. (Unicamp 2009) O progresso econômico no Brasil da segunda metade do século XIX acarretou
profundo desequilíbrio entre poder econômico e poder político. Na década de 1880, o sistema político
concebido a partir de 1822 parecia pouco satisfatório aos setores novos. O Partido Republicano
recrutou adeptos nesses grupos sociais insatisfeitos.
(Adaptado de Emília Viotti da Costa, Da monarquia à república: momentos decisivos. São Paulo: Editorial Grijalbo, 1977, p.
15-16.)
a) Dê duas características do sistema político brasileiro concebido em 1822.
b) Quais as transformações ocorridas no Brasil da segunda metade do século XIX que levaram ao
desequilíbrio entre poder econômico e poder político?

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História

Gabarito

1. Uma das características:


• D. Pedro como protagonista do “grito de independência ou morte”, no sete de setembro de 1822;
• D. Pedro como aliado do Partido Brasileiro na formalização do rompimento com as Cortes de Lisboa;
• D. Pedro como liderança que aclamou e negociou a independência.

2.
a) O candidato deverá identificar no texto de Joaquim Nabuco uma crítica ao período regencial no
Brasil, caracterizado como uma época de “agitação federalista extrema”, de “anarquização das
províncias”, trazendo uma ameaça de fragmentação política do país.

b) O candidato deverá argumentar que o período regencial foi chamado de “uma experiência
republicana federalista”, a partir da ocorrência da ausência de um rei soberano no comando da
Nação, ficando o governo sob responsabilidade dos regentes, que teriam enfraquecido o poder
centralizado no país. A criação das Guardas Nacionais, que atuavam principalmente nos municípios,
paróquias e curatos, servindo de instrumento político armado para as elites locais, também deve ser
mencionada, assim como a criação do Ato Adicional de 1834, visto comumente como o grande
marco das medidas descentralizadoras do período regencial. Deve, também, mencionar a criação
do Código Criminal (1830) e do Processo Criminal (1832), que determinavam júris populares
escolhidos localmente, bem como deixavam aos poderes locais a escolha dos membros do
judiciário.

3. 04 + 08 = 12
A 01 e a 02 estão incorretas, pois a cabanagem ocorreu no Pará, e a Sabinada, na Bahia. A 16 está
incorreta, visto que a balaiada foi uma revolta popular, e não de elite.

4. A imposição de texto constitucional, em 1824, que previa quatro poderes de Estado, sendo um deles o
Poder Moderador, exclusivo do Imperador. 4 Duas das propostas:
• fim do Poder Moderador
• defesa de três poderes de Estado
• maior autonomia decisória para os governos provinciais
• criação de confederação republicana entre províncias do norte
• defesa da soberania nacional em detrimento da soberania monárquica

5.
a) Modelo Monárquico / Centralização política / Poder Moderador / Voto censitário.
b) Formação de uma classe média urbana / ascensão da produção cafeeira (especialmente no Oeste
Paulista) / crescimento do trabalho livre / declínio da escravidão / surto industrial.

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