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CONTRIBUIÇÃO DO RIO GRANDE DO NORTE E DA

SUA POLÍCIA MILITAR NA GUERRA DO PARAGUAI

Lourival Cassimiro da Costa Júnior


2º SGT PMRN, Escritor, Instrutor (PMRN) e Sócio do IHGRN

Aos 185 anos, a Polícia Militar do Estado do Rio Grande do Norte é


consolidada como uma instituição formada por homens e mulheres abnegados
que são norteados em servir e proteger a sociedade, mesmo com o risco da
própria vida, conforme seu Juramento.
Ao longo da sua história, a Gloriosa PMRN passou por inúmeras
provações para manutenção da ordem pública, bem estar do seu povo e a
integridade/soberania do nosso amado país.
Vários foram os desafios enfrentados e vencidos, destaque para alguns
deles: a luta contra o Cangaço; Coluna Prestes; Revolução Constitucionalista
de 1932 e a Intentona Comunista.
Partindo deste princípio, caro leitor, há uma necessidade de rememorar
um dos acontecimentos mais marcantes da nossa história, ocorrido há quase
155 anos: a Guerra do Paraguai. Esta contou com a colaboração e o esforço
da PMRN e de alguns dos seus membros que hoje infelizmente são pouco
lembrados.
No dia 26 dezembro de 1864, ocorreu o aprisionamento no Rio Paraguai
do navio a vapor Marquês de Olinda e toda a sua tripulação que estava rumo à
Cuiabá. Dentre os presos destaca-se o Presidente da Província do Mato
Grosso, Frederico Carneiro de Campos. Este, que morreria em prisão
paraguaia por maus-tratos. Isto marcou o início da Guerra do Paraguai.
As tensões já existiam na bacia platina entre os países vizinhos e foi
agravado devido ao fato do Império do Brasil ter invadido o Uruguai durante
sua guerra civil e colaborado na vitória dos Colorados. Por outro lado, López,
era aliado dos Blancos, tomou uma atitude extraordinária e belicista contra a
soberania brasileira, enviou uma força de ocupação de mais de 7 700 homens
e tomaram a Província de Mato Grosso.
Em pouco tempo, os paraguaios marcharam rumo ao Uruguai para
socorrer seus aliados. Chegando próximo à cidade argentina de Corrientes,
pediram passagem para o General Bartolomé Mitre, presidente daquele país e
também aliado dos Colorados. Após negativa, López invade a cidade
supracitada e declara guerra a Argentina. No dia 1º de maio de 1865, Brasil,
Argentina e Colorados uruguaios, formam a Tríplice Aliança e declaram guerra
ao Paraguai.
Importante frisar, que o Paraguai tinha um exército numeroso, com cerca
de 80 mil homens (serviço militar obrigatório), que estavam bem preparados e
equipados, além do seu ditador ter uma visão imperialista para aquela região.
Por outro lado, o nosso exército se encontrava desprestigiado e
enfraquecido há décadas. As tropas de 1ª Linha não eram confiáveis aos olhos
dos Regentes. Ainda no mesmo período, em 1831, é criado a Guarda Nacional,
uma milícia para fazer frente a uma eventual ameaça e atender os interesses
das classes dominantes.
Para se ter uma ideia, a quantidade de militares do nosso Exército foi
reduzido a o número inadequado de 10 000 homens, para um país de
dimensões continentais como o nosso. Já à Armada (Marinha), não foi
desvalorizada.
Os primeiros momentos da guerra foram de vitórias e avanços do exército
inimigo, destaque para a ocupação da cidade de Uruguaiana. Diante deste fato,
o Imperador resolveu ir pessoalmente à guerra e levou junto o seu conselheiro
militar, o Marquês de Caxias. Lá, Caxias encontrou a tropa em estado
deplorável.
Diante da agressão sofrida à nossa soberania e ao nosso brio, houve um
clamor popular e um sentimento de união nacional para reconquistar nosso
território perdido, derrotar o inimigo e lavar nossa honra. Portanto, no dia 07 de
janeiro de 1865 é criado o Corpo de Voluntários da Pátria, que vislumbrava
elevar o moral dos seus súditos e incentivar o alistamento. O Imperador Dom
Pedro II foi o primeiro Voluntário da Pátria, em jargão militar, foi o ZERO UM.
O sentimento de brasilidade foi tanto, que abnegados patriotas de todas as
classes sociais espalhados pelo país uniram-se por este ideal. Cada um
contribuiu para o esforço de guerra de alguma forma. Dentre tantos, destacam-
se a figura de Ana Neri e muitos escravos que foram à luta e receberam sua
merecida alforria em troca.
Na Província do Rio Grande do Norte o amor e o civismo do nosso povo
não estavam aquém das demais. Éramos presididos por Olinto Meira e a
repercussão foi grande entre os potiguares. Dentre tantos incentivadores à
causa destacam-se: o Presidente Olinto Meira, o Conselheiro Luiz Gonzaga
Brito Guerra e o Padre Bartolomeu da Rocha Fagundes.
Várias personalidades potiguares contribuíram com o esforço de guerra,
destacamos alguns: Fócio Joaquim do Rêgo Barros (Comandante da PM) 30$;
Cadete José Getúlio Teixeira de Moura, que renunciou seus proventos;
Professor Joaquim Xavier da Cunha, 23$ (correspondia a um mês de salário),
dentre tantos que contribuíram com valores ou serviços para a causa. Toda
ajuda foi importantíssima!
Uma das figuras mais temerosas e detestadas do período foi o Sargento da
polícia (comissionado Alferes) Rolim Cavalcante de Albuquerque, o recrutador.
Alistou cidadãos voluntários ou na marra nas cidades do estado. O caso mais
emblemático foi à invasão, juntamente com seus homens, ao Teatro Santa
Cruz, em Natal, onde após o espetáculo, recrutou-os para a guerra.
O Rio Grande do Norte cedeu um total de 2 197 dos seus filhos para
lutarem na Guerra do Paraguai. Homens que pertenciam à 1ª Linha, Guarda
Nacional, Companhia de Polícia (nome da Polícia Militar na época), voluntários
civis e alistados à força.
No dia 09 de junho de 1865, 1º Corpo de Voluntários da Pátria (28º V. P.),
sob o comando do Tenente Coronel da Guarda Nacional José da Costa Vilar,
desfila pelas ruas de Natal rumo ao conflito. A cidade está em festa, para uma
justíssima despedida aos nossos heróis que foram embarcados no navio
Jaguaribe.
Durante os festejos, dois adolescentes chamaram atenção, o primeiro
estava vestido de índio (simbolizando o Brasil) era o Joaquim Açucena Soares
da Câmara, o futuro Professor Joaquim Lourival ou Professor Panqueca, filho
de Lourival Açucena. Joaquim Açucena, antes do final do conflito seria
convocado, já na condição de 2º Sargento para ir lutar na guerra. Não chegou
a seguir ao Paraguai por incapacidade física numa inspeção realizada no Rio
de Janeiro. O segundo era João da Fonseca Varela, com apenas 15 anos de
idade estava entre os militares que desfilavam para ir à guerra. Este seria o
futuro Comandante da PMRN.
Durante a viagem fizeram escala no Recife, e no Rio de Janeiro, onde
foram bem recebidos com toda pompa. No banquete oferecido para os Oficiais
e Cadetes houve muita empolgação devido a recente vitória na Batalha do
Riachuelo.
O próximo destino foi Santa Catarina, os bravos potiguares desprovidos de
materiais adequados, enfrentaram uma das maiores provações em solo
tupiniquim, o clima frio, condições sanitárias deploráveis e as doenças
(sarampo, pneumonia, bexiga e febre catarral). Dezenas de potiguares
adoeceram, chegando a vitimar alguns. Dentre os mortos por pneumonia
estavam Luiz Gonzaga e Urbano Égide, irmãos de Isabel Gondim.
Pouco depois, o 28º Corpo de Voluntários da Pátria formado por potiguares
foi desmembrado e introduzido ao 34º e 36º Corpos de Voluntários da Pátria do
Pará e Maranhão, respectivamente. O mesmo ocorreu com o 2º Corpo de
Voluntários da Pátria da Província do Rio Grande do Norte, que foi incorporada
ao 55º Corpo de Voluntários da Pátria do Piauí.
Imaginem caros leitores, um único Corpo de Voluntários da Pátria exclusivo
de potiguares, como ocorreu com algumas províncias? Nada que diminua o
brilhantismo dos nossos heróis!
Durante o conflito a Província do Rio Grande do Norte foi presidida por doze
presidentes que contribuíram de alguma forma para o esforço de guerra. Neste
período a Banda de Música da PMRN (fundada e consolidada em 1886) teve
sua fase embrionária e foi acionada em dois momentos: nascimento de um
membro da Família Imperial (o Príncipe Dom Augusto Leopoldo, em
06/12/1867) e em 1868, chegou a ser instrumentada pela aludida Banda, uma
marcha para o retorno dos heróis em solo potiguar (CÂMARA, 1951).
Em março de 1870, sob o comando do Marechal Conde d’Eu, nossas tropas
caçaram e mataram o ditador paraguaio Solano López, na Batalha de Cerro
Corá. Marcando a capitulação e o fim da Guerra do Paraguai. Era o término de
mais de cinco anos de lutas.
O retorno dos nossos heróis para o Rio Grande do Norte. Receberam
uma calorosa recepção de toda a sociedade potiguar. A Companhia de Polícia
(PMRN) e o Corpo prestaram honras. Uma efígie do Imperador foi erguida,
salva de 21 tiros de canhões da Fortaleza dos Reis Magos e fogos de artifício
riscavam o céu... Era o povo potiguar saudando o retorno dos bravos filhos que
voltavam com a cabeça erguida e o sentimento do dever cumprido. É
importante ressaltar o Hino Patriótico composto pelo 1º Cadete João Carlos
Carneiro de Albuquerque Gondim e as poesias da sua Irmã, professora Isabel
Gondim.
A Gloriosa Polícia Militar da então Província do Rio Grande do Norte
teve uma participação discreta na guerra, comparados com os militares de 1ª
Linha e com a Guarda Nacional, que tinham funções diferentes em suas
finalidades. Tal como nossos coirmãos em armas, nossos heróis abnegados
honraram o seu povo, sua província e o seu país. Hoje, têm seus nomes
relembrados e servirão como norte para os audazes guerreiros do presente.
Vejamos o nome de Alguns dos bravos guerreiros que lutaram na
Guerra do Paraguai e que serviram nas fileiras da Policial Militar (patente da
época), durante e após as hostilidades:
 Capitão da Guarda Nacional Fócio Joaquim do Rêgo Barros (Ex-
Comandante da PM entre 1861 a 1885);
 Alferes da Guarda Nacional João Fonseca Varela (Ex-Comandante de
1885 a 1889). Em 1919, através do decreto 3.958, foi promovido ao
posto de General de Brigada;

 Tenente da Guarda Nacional Joaquim José do Rêgo Barros (Ex-


Comandante de 1889 a 1891);

 Alferes do Exército José Getúlio Teixeira de Moura;

 Tenente Ponciano Bisneto Ferreira Souto;

 Alferes João Capistrano Pereira Pinto;

 Capitão Manoel Ramos de Oliveira;

 Soldado da Companhia de Polícia João Ferreira de Oliveira;

 Soldado da Companhia de Polícia Miguel Francisco da Silva;

 Soldado da Companhia de Polícia Manoel Antônio do Nascimento.

Destaque para alguns familiares de alguns membros que pertenceram a


PMRN:
 Capitão da Guarda Nacional Manoel Ferreira Nobre. Dentre várias
funções, foi: Escritor, Deputado Provincial e pesquisador. Filho do
primeiro Comandante da PMRN (1834 a 1835), Tenente do Exército
Manoel Ferreira Nobre;

 Alferes José Ferreira Nobre Pelinca, irmão do primeiro Comandante da


PMRN (1834 a 1835), Tenente do Exército Manoel Ferreira Nobre;

 Alferes Ulisses Olegário Lins Caldas (morto em combate). Irmão do TC


Manuel Lins Caldas Sobrinho (Ex-Comandante PM por três
oportunidades, a mais duradoura foi de 1895 a 1913);
 2º SGT João Perceval Lins Caldas (morto em combate). Irmão do TC
Manuel Lins Caldas Sobrinho (Ex-Comandante PM por três
oportunidades, a mais duradoura foi de 1895 a 1913);

Várias homenagens foram prestadas no estado que, aos poucos, acabaram


caindo no esquecimento do nosso povo de seu motivo/razão, por exemplo:
Duas cidades têm o nome de batalhas decisivas da Guerra do Paraguai,
Riachuelo e Cerro Corá. Em Natal, há o Bairro do Passo da Pátria e a Rua
Voluntários da Pátria, bem como homenagens individuais que dão nomes a
algumas ruas em várias cidades que homenageiam nossos heróis que
pegaram em armas.
A Guerra do Paraguai foi o maior confronto beligerante das América do Sul,
com mais centenas de milhares de mortos (combates, epidemias e fome), em
números não oficiais. O Paraguai foi devastado e com aproximadamente 300
mil mortos, graças ao intermédio brasileiro para não aumentar a influência da
Argentina, foi mantida a sua soberania. O Brasil perdeu mais de 50 mil
combatentes e o rombo ao erário superou 11 vezes o orçamento anual de
1864.
O Exército Brasileiro que antes do conflito estava desprestigiado saiu
fortalecido, assinalando o declínio da monarquia. No tocante a Guarda
Nacional, após a República entrou em derrocada, sendo extinta em 1922.
Uma das maiores lições, quiçá, a maior, que a Guerra do Paraguai trouxe
para o nosso país é manter sempre suas Forças Armadas fortalecidas, bem
equipadas e motivadas. Pois, é histórico o poder dissuasor em conservar o
inimigo distante e salvaguardar a nossa soberania no presente e no futuro,
para que jamais sejamos pegos novamente de surpresa.
REFERÊNCIAS:
Abril Cultural. Grandes Personagens da Nossa História. São Paulo/SP. Abril
Cultural Ltda. 1969.
Abril S/A Cultural. Saga: A Grande História do Brasil – Império: 1808-1870
(Volume 3). São Pulo/SP. Abril S/A Cultural, 1981.
https://brasilescola.uol.com.br/historiab/guerra-paraguai.htm
CÂMARA. Adauto Miranda Raposo. O Rio Grande do Norte na Guerra do
Paraguai. Natal/RN. Sebo Vermelho Edições, 2008 (Reedição – 1951)
DANTAS. Angelo Mário de Azevedo. Cronologia da Polícia Militar do Rio
Grande do Norte – 175 anos de história – 1834 a 2009 (Volume I). Natal/RN.
1ª Ed. Edição do autor. 2010
http://gibsonmachadocm.blogspot.com/2011/06/general-joao-varela.html
http://www.historiaegenealogia.com/2015/09/familias-ferreira-nobre-e-seabra-
de.html
https://pt.wikipedia.org/wiki/Voluntários_da_Pátria
WANDERLEY, Rômulo C.. História do Batalhão de Segurança. Natal/RN.
Edições Walter Pereira S/A. 1969.
Irmãos: Fócio Joaquim do Rêgo Barros e Joaquim José do Rêgo Barros
Imagem Acervo: Instituto Tavares de Lyra

João da Fonseca Varela


Imagem Acervo: Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte
Ponciano Bisneto Ferreira Souto
Imagem Acervo: Instituto Tavares de Lyra

José Getúlio Teixeira de Moura


Imagem Acervo: Instituto Tavares de Lyra

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