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Duna é um livro 110% político, e a força dele está justamente nisso.

Tanto quanto
fala do império que comanda tudo e todos quanto na disposição das Casas, nas
disputas silenciosas e na trama de traição e derrubada que movem os inimigos dos
Atreides contra eles. Também tem a questão com os fremen - o povo que vive em
Arrakis há muito tempo e se tornou parte do deserto, sobrevivendo em meio a ele
como mais ninguém consegue - e as lendas a respeito do Escolhido deles.

Eu gostei demais do desenvolvimento e diálogos e estratégias políticas que


apareceram no decorrer da história. Frank Herbert constrói um sistema complexo e
corrupto e perigoso, com os poucos ainda honrados sofrendo por isso. Não sei se é o
caso, mas o Martin parece ter puxado um pouquinho de influência da disputa Atreides
x Harkonnen para as casas de Westeros. Eu me senti lendo a derrocada dos Stark
quando os Lannister resolveram armar para cima deles.

- Você fala da lenda e busca respostas. Cuidado com as respostas que quer
encontrar.

O esquema e a tensão que permeiam a história principal porque a gente sabe que os
Harkonnen estão planejando um golpe, que querem matar o duque Leto (pai de Paul) e
tomar o poder através da força, desestruturando todo o sistema recente que estava
sendo construído em Arrakis. Mas tem a questão da profecia, e sempre parece que
tudo que acontece está empurrando a trama para que ela aconteça.

A profecia em si aparece de diferentes formas através da história, e importa para


ela o tempo todo. Tem um misticismo por trás da figura do Escolhido e eu gostei
demais de como o autor desenvolveu essa parte; você sabe que está ali e que é real,
mas não sabe exatamente como vai surgir.

Paul é nosso protagonista, ainda que o livro dê visão para dezenas de outros
personagens. O rapaz é o herdeiro da Casa Atreides, um filho honrado e dedicado que
vê sua vida virar de cabeça para baixo com a chegada em Arrakis - e tudo que
decorre a partir daí.

Eu não gostei do Paul, preciso dizer isso de cara. Não me senti conectada a ele,
aos seus esforços e sacrifícios; em alguns momentos, ele soava abrupto e invencível
demais para o meu gosto, e olha que eu sou uma grande fã dos Escolhidos na ficção.
Toda a questão do "por que ele é o Escolhido?" foi bem mística e instigante, mas
faltou alguma coisa na personalidade dele para me conquistar e ter minha empatia.

O que não foi o caso da Lady Jéssica, sua mãe. Que personagem feminina mais
complexa e interessante! Do começo ao fim, ela passa por provações e momentos
tensos e reviravoltas inesperadas e mantém a postura impecável e o coração firme.
(ela entra para a minha lista de "personagem feminina tão bem escrita que nem
parece ter sido criada por um homem cis dos anos 70").

A Chani, parte dos fremen que vai aparecer lá pela metade da história, mas que tem
muita ligação com o Paul e com o futuro da história, também entra pra essa
contagem.

- Poder e medo. Os instrumentos da arte de governar.

As relações familiares são muito importantes no decorrer da história. Tanto de Paul


com seu pai e com a família Atreides num geral, quanto com a mãe e com personagens
que vão surgir com o passar do tempo e das tretas.

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