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A Fúria vermelha, Pierce Brown - Um mundo de cores crueis

Os entusiastas da ficção fantástica anseiam por mais sagas extraordinárias, aquelas que
seguram o leitor por horas a fio, obras que trazem lágrimas de satisfação e emoções tão
fortes que criamos fandoms, fantasias, e até testes malucos online(Quem nunca fez o teste
“Descubra sua casa de Hogwarts!”) para sentir que somos parte daquele universo. São
histórias como essas que nos fazem acreditar nem que seja por apenas um momento que
fadas, elfos, hobbits e bruxos existem.

Todos os anos, muitos livros são publicados dentro desta categoria, mas sejamos honestos,
nem todas as obras lançadas do gênero merecem nossa atenção. A realidade é que o uso
contínuo da jornada do heroi como uma fórmula certeira, um modelo pré produzido, sem a
construção necessária para conectar emocionalmente os leitores com os personagens, tem
desgastado bastante os amantes desse estilo literário.

Pierce Brown, no entanto, usa o arquétipo com habilidade, no primeiro livro da trilogia Red
rising, Fúria vermelha, o autor deu aos fãs aquela centelha de esperança que precisávamos
para não desistir desse gênero literário. Ao longo da narrativa, utiliza tropos familiares,
como o do “Herói relutante”, “Transformação(corporal/mental)” e “Anti - heroi”, mas a história
não se torna previsível, cada papel é executado com aptidão, distanciando do uso
superficial que muitos escritores acabam implementando com essas dinâmicas.

O universo de Red rising surpreende também pela mistura da ficção científica com a
fantástica e o resultado é uma sociedade distópica bem estruturada. Como a maioria, é
marcada pela crueldade, desigualdade, sofrimento e pela falta de liberdade. Em todas as
narrativas fantásticas, os seus eventos introdutórios se entrelaçam para alcançar um ponto
de ebulição, o ato que definirá os próximos acontecimentos da história, e Fúria vermelha
não é diferente, o protagonista conhece a perda e é a partir dela que ele começará sua luta
contra uma sociedade impiedosa.

Darrow, o personagem principal desta trama, é um heroi moralmente cinza, inicialmente é


retratado como alguém estagnado, dominado pelos ideais que cresceu escutando, porém,
em uma noite ele tem suas crenças questionadas e isso o abala irreversivelmente. Em um
mundo dividido em castas, onde as cores determinam o destino de cada indivíduo, Darrow
representa os Vermelhos - os oprimidos, os escravizados. Assim como em "Admirável
Mundo Novo", de Huxley, seu lugar na sociedade é predestinado, moldado por uma
combinação cruel de engenharia genética, manipulação social e uma violência
institucionalizada. Esses três pilares mantêm o povo inerte e uma sociedade favorável para
os ouros, a casta que está no topo da pirâmide do universo criado por Pierce Brown. O
vermelho(Darrow), após se juntar aos insurgentes é escolhido para uma missão, ele deve
se tornar o pivô de uma revolução e destruir o sistema por dentro.

Os primeiros capítulos são lentos, o autor aposta em uma introdução bem detalhada. O livro
não é pequeno, são quase 700 páginas e para os leitores acostumados com histórias mais
curtas e com um início já movimentado, irão sofrer nas primeiras 150 folhas, mas para
quem já é familiarizado com livros maiores como os de George R.R Martin ou Patrick
Rothfuss, a construção vagarosa não será um obstáculo. Ao passar pelo apresentação
consideravelmente longa, do meio para o fim, o livro engata e as cenas descritas de ação
são muito bem vindas. Pierce trabalha bem ao equilibrar as doses de ação com a
apresentação do universo de Red risings e os conflitos éticos do personagem principal, que
se tornam mais presentes à medida que ele se vê obrigado a matar, manipular e
inevitavelmente se igualar ao seu inimigo.

Ler a Fúria vermelha é uma experiência nostálgica e única ao mesmo tempo. O livro
desperta sensações semelhantes a tantas obras ilustres como Harry Potter, Duna, A
Fundação, Mistborn mas também é singular em seu mundo colorido, estratificado e
extraplanetário. Com o passar das páginas torcemos pela revolução, pela vingança e
também compreendemos os dilemas do personagem principal, o autor nos dá algo para
amar e odiar, os entraves de Darrow se tornam os nossos e isso é apenas um dos motivos
pelo qual valeu a pena cada segundo gasto na leitura de Fúria vermelha.

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