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IDEALIZAÇÃO
Hélio Pinheiro de Andrade
AUTORES
Bento Alves Araújo Jayme Fleury Curado
Cristiano Leandro de Souza
Dina Queiroz
Eguimar Felício Chaveiro
Floriano Freitas Filho
Franz Scris Paiva
Goiana Vieira da Anunciação
Hélio Pinheiro de Andrade
Lena Castello Branco Ferreira de Freitas
Maria Luiza de Carvalho
Maria Lucia Rodrigues
Roseli Vieira Pires
Sonia Ferreira
Teresa Josefa
Wanderson Pereira Lima
Wilson Paiva
EDIÇÃO
Elton Rosa de Souza
FOTO DA CAPA
Hélio Pinheiro de Andrade
Trindade,
a capital da fé.
D
esde criança, sempre ouvi essa definição de Trindade, a capital da fé.
Trindade é uma cidade que desponta dentre várias outras no Brasil. Tan-
to por sua história de fé, devoção, romaria e características socioeconô-
micas. Não se pode negar que a característica marcante da cidade é a
religiosidade e fé na Santíssima Trindade.
Segundo registros históricos, em 1776, Trindade fazia parte do Distrito de Santa
Cruz, território que abrangia todo o Sul do Estado de Goiás. Em 1810, nesse distrito
surgiu o povoado de Campininha das Flores, hoje, Campinas, bairro de Goiânia.
Sabe-se que em 1830 os casais Constantino Xavier e Ana Rosa, vindos de Minas
Gerais, mudaram para uma região rural as margens do Córrego do Barro Preto, local,
onde Constatino, carpindo, encontrou o medalhão de barro, esculpido com a imagem
da Santíssima Trindade coroando a Virgem Maria. Nesse momento o casal decidiu re-
alizar encontros de fé em homenagem ao Divino Pai Eterno, atraindo pessoas de todos
os lados para as desobrigas e rezar o terço. Devia ser uma verdadeira quermesse, com
bolo, biscoitos de queijo e leite quente com canela e açúcar queimada.
Com o passar dos anos, as pequenas reuniões passaram a concentrar um número
muito grande de fieis, levando Constantino e Ana Rosa, a tomar a decisão de que o
medalhão não era só uma simples imagem de fé, e que deveria ficar exposta para os
devotos. Em 1848, construíram uma pequena igrejinha, simples, madeira, parede de
adobe e telhado feito com folhas de coqueiro, possibilitando aos fieis, acesso perma-
nente a imagem.
Constantino Xavier resolveu fazer uma réplica em tamanho maior da imagem es-
culpida no medalhão, contratando os serviços do artista Veiga Valle em Pirenópolis.
Veiga Valle confeccionou a réplica esculpida em madeira com detalhes em ouro.
Reza a lenda que Constantino deixou seu cavalo e o dinheiro que tinha com o
artista. Ato justo, em pagamento pelo belíssimo trabalho realizado. E voltou a pé para
Trindade, nascendo ai a incrível devoção de ir a pé para Trindade, como forma de pa-
gar uma promessa.
O crescente número de visitantes em romaria para visita da imagem na pequena
capelinha, fez com que a igreja católica, assumisse de forma mais efetiva a adminis-
tração das liturgias, doações e romarias. Vindo então, redentoristas da Alemanha em
1895, os quais, realizavam dezenas de casamentos, batizados e comunhões.
E ano após ano, a romaria só crescia, e junto com fieis, vinham mascates e vende-
dores ambulantes, levando a um crescimento da cidade tanto em residências quanto
em comércio.
Em 1901, em função de demandas de fazendeiros com a igreja, tentou-se realizar
essa festa de romaria em Campinas, no mês de agosto. Mas não deu certo. Retomando 5
Academia Trindadense de Letras, Ciências e Artes
as tradições originais, acontecendo as margens da antiga capelinha no final de junho,
início de julho.
Hoje, em 2020, a Academia Trindadense de Letras Ciências e Artes, comemora
30 anos de existência, a festa de Trindade acontece há 180 anos e a cidade de Trindade
completa 100 anos de emancipação. Fundada em 16 de julho de 1920, emancipada em
31 de agosto de 1920.
Histórias que se misturam. Uma cidade que cresce a cada dia, hoje pólo univer-
sitário, com várias instituições de ensino superior em diversas áreas, com empresas e
indústrias que geram empregos e renda pra cidade, localizada no coração do centro-o-
este, que compõem a região metropolitana da capital Goiânia.
Uma cidade com intenso turismo religioso, diversas igrejas que são verdadeiros
templos de fé e meditação, que vai da majestosa Basílica do Divino Pai Eterno (Igreja
Nova), Igreja Matriz (Igreja Velha) até a aconchegante Igrejinha dos Santos Reis.
Trindade é uma cidade boa pra se morar. Carrega traços de uma cidade do inte-
rior, com as comodidades e problemas da cidade grande. Berço cultural de incríveis
artistas tanto das artes literárias, como músicos, teatrólogos, escultores e vários outros,
que tem como suporte a Academia Trindadense de Letras Ciências e Artes, instituição
que guarda e mantém viva a histórias de nossa amada cidade.
Essa é uma singela e incrível produção visual literária de parte dos membros da
ATLECA, em comemoração ao aniversário de 100 anos de Trindade. Uma forma de
eternizar um pouquinho de nossas produções para as futuras gerações.
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APRESENTAÇÃO
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Memória telúrica do
centenário de Trindade
O
Bento Alves Araújo Jayme Fleury Curado
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Maria Clara
Antecedia o outono
Sucedia a primavera
Era verão
Segunda estação
Chovia... Era carnaval.
Anseios e devaneios
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Encontro
Dina Queiroz
Noite excelsa,
Plenilúnio,
Majestade exposta!
Saudade,
Sou metade.
Melancolia externada.
Minutos arrastam,
Devaneios,
Espera.
Arritmia: Olhos rutilantes,
Braços abertos,
Corpos aduzidos,
Laços atados!
Fragrância inebriante,
Colóquio esperado,
Ósculo prolongado...
Falanges imprimem digitais,
Calor, pele eriçada,
Êxtase!
Outra metade: Tudo.
Paraíso!
Pra que mais?
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Olhar
Dina Queiroz
Divido a presença
Para zerar a solidão
Cúmplice, o olhar
Denota existência
De um fluir
De conexões voláteis.
Se não te leio
Deixo de te sonhar
Escapas no viés
Do instante.
Assim, se te interpreto,
Venço o frio,
Faço da quietude
O calor.
Inquiro pelo sorriso
Inundado desta iris
De cerrado seco...
Contemplo o esboço
Da cantiga a nascer
Do sonho a vigiliar
E do barco a navegar.
Arrisco o equilíbrio...
Nada falta
Existe o agora!
Porque: O castanho dos teus olhos
Enrubesceu minha face.
Tuas falanges distais
Deram carmim
Aos meus lábios.
Com passos largos
Alcanço a seiva
Do teu sorriso.
Que todos os vendavais
Me levem ao tamborilar
Do teu coração
Que me chama.
E que eu vá...
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A PRIMEIRA VEZ NO CIRCO
M
Eguimar Felício Chaveiro
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A VIDA NOS LEVA
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POR QUE?
Dás-nos o bem,
o mal também;
o ódio, o amor,
a soberba, a humildade,
a mentira, a verdade,
alegrias, tanta dor!
Dás-nos, à fragilidade
do ser humano,
a frieza do desumano,
o ser justo ou injusto,
a fé, a incredulidade.
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Os Arcos de Napeiag
Q
uando foi que ouvimos falar de Napeiag? Todos conhecem um pouco sobre os
heróis, os vilões e as aventuras desse reino tão distante no tempo. Milhares de
anos se passaram, mas as histórias continuam nas memórias dos mais sábios,
dos curiosos e daqueles que sabem que um mundo de criaturas mágicas ainda existe,
e que não somos mais que repetições desses reinos passados. Por que, então, saber das
histórias de tempos tão idos, de reinos tão distantes e personagens tão misteriosos? É
porque, e aí está a sabedoria, ao saber dessas histórias, ampliamos a visão dos nossos
dias e melhoramos como seres humanos, ou como monhaus!
Quer saber o que é um monhau? Então basta mergulhar na leitura desta obra para
viajar junto com os seus personagens, descobrindo assim, que os seres mágicos tam-
bém existem. Eles levam a uma dimensão profunda da imaginação e da fantasia.
O livro começa a narrar os tempos em que Monhaus e Humanos viviam em paz,
há milhares de anos. Mas como nada dura para sempre, os conflitos vieram, também
vieram as guerras, as traições, mas também a valentia e a honradez de heróis, como
Sessilu, o Herói Nômaro, aquele que é proclamado como o mais forte, justo e honrado
cavaleiro que já andou sobre as terras de Napeiag. Feitos e conquistas essas que foram
fundamentais para o desenvolvimento dos reinos e para a convivência das várias espé-
cies.
Falando das “espécies”, por que não falar da misteriosa e mágica Mistera Natea, a
Princesa dos Monhaus? Ela sim, uma verdadeira heroína, um ser de beleza única, tam-
bém dotada de graça, gentileza e compaixão. Seria ela uma dama indefesa? Jamais. Pois
também é uma das criaturas mais poderosas e respeitadas que já habitou essas terras.
Sessilu e Mistera são os mocinhos que buscam a paz, mas há na vida deles as difi-
culdades, os problemas, a violência, a crueldade e a sordidez humana, representados
no grande vilão dessa obra, o Monstro Ruivo. Cruel, brutal, sanguinário e impiedoso,
estes são apenas alguns dos adjetivos dessa criatura misteriosa. Mas por que esse nome?
Ah... para tal, o leitor terá de desvendar e elucidar suas dúvidas e sua curiosidade por si
só, lendo página por página para descobrir.
A história é grande, pois o universo desse mundo também é grande. São gerações
e dimensões que se cristalizam em Arcos. Esta obra apresenta os feitos do Primeiro
Arco. Nesse, algumas histórias são contadas de cada um desses três personagens prin-
cipais. Conta-se da bravura e excelência em combate de Sessilu derrotando criminosos
e provando seu valor como um verdadeiro herói, ditos por muitos que foram feitos até
sobre-humanos ou até sobrenaturais. Sem deixar de falar, é claro, dos poderes de Mis-
tera, em uma de suas vidas passadas, sacrificando-se e salvando a vida de uma criança
para parar mais uma das incontáveis guerras entre Humanos e Monhaus. Sem seus
dons e benevolência ainda mais vidas seriam desperdiçadas, podendo até formar rios
de sangue, cantam os bardos.
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Para quem gosta do macabro, da tensão e, como alguém dirá, até do medo, há as fa-
çanhas vis e hediondas do Monstro Ruivo, que apenas confirmam muitos dos inúmeros
boatos a seu respeito, sobre sua fúria e maldade.
Afinal, Napeiag é um reino só de fúria e violência? Não, claro que não! Neste “Pri-
meiro Arco” – FANTASIA - o leitor pode conhecer um pouco dos líderes de vários
Impérios, dos Reinos, das Cidades Livres, das Religiões e das culturas de cada povo, se
imergindo completamente nesse universo e um pouco mais em suas tramas de poder.
Mas o clímax é o grande confronto entre o Herói Sessilu e o Monstro Ruivo. Que ba-
talha! Quanta habilidade! Quanta agonia! Quanto sacrifício! Mas quem morre? Quem
vence? Ó divindades, ó sábios... digam-nos! Por todos os Arcos desse universo perdido,
como essas lutas foram cantadas pelos poetas século a séculos! Até os bardos mágicos
de Tredaine, a gigantesca floresta repleta de criaturas mágicas, os Monhaus, não can-
sam de cantá-las.
Essa batalha foi terrível! Terrível! Pois não há lado vitorioso sem um lado derrota-
do... No final, qual será o destino dos Humanos? Qual será o destino dos Monhaus?
Essas perguntas se referem ao destino desse mundo.
Este Primeiro Arco termina quando todos os líderes de Reinos e Impérios se reú-
nem e se comprometem a... Ah não! Para saber, será preciso ler este livro e viajar para
Napeiag!
Após ler o Primeiro Arco, ouvimos falar de Napeiag. Conhecemos seus heróis e seus
feitos incríveis, seus vilões e algumas das suas atrocidades e crimes, além de aventuras
desse reino, agora, não tão distante no tempo.
Muitos anos antes dos feitos e acontecimentos descritos nas histórias e memórias
dos mais sábios, dos curiosos e daqueles que então descobriram que um mundo de
criaturas mágicas existe, foram vistos no Arco passado. Ou seria futuro?
Bem, descobriremos adiante.
Por que saber das histórias de tempos ainda mais tão idos, de reinos mais distantes
e personagens ainda misteriosos? É porque, e aí está novamente a sabedoria, desvenda-
remos segredos e muitos mistérios desses seres que traçam as histórias, ampliam nossa
visão dos nossos dias e nos melhoram como seres Humanos e como Monhaus!
Agora que já sabemos o que é um Monhau, basta mergulhar na leitura da segunda
parte desta obra para viajar junto com o passado de seus personagens. Eles novamente
levam a uma dimensão profunda da imaginação e da fantasia. O livro começa a narrar
os tempos em que Monhaus e Humanos viviam em paz. Como nada dura para sem-
pre, mais conflitos vieram, outras guerras, novas traições, mas também preservando
a valentia, a coragem, a força e a honradez de heróis como o exemplo que Sessilu, o
Herói Nômaro, mais uma vez deixou no arco passado, ou futuro. Exemplos como esse
continuam com a fundamental importância para o desenvolvimento dos reinos e para
a convivência dos Humanos e Monhaus. Falando dos Monhaus, também conta o pas-
sado da poderosa e igualmente mágica Mistera Natea, a Princesa dos Monhaus, que
apesar de sua atual inocência e até um pouco de ingenuidade, não deixa de ser o que é,
uma criatura tão poderosa quanto suas lendas, ou mais. 18
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A história é longa, pois o universo desse mundo também é vasto. São gerações e
dimensões que novamente se cristalizam em Arcos. Esta obra apresenta os aconteci-
mentos do Segundo Arco. Conta-se o passado dos personagens já conhecidos, elucida
incontáveis mistérios e faz o leitor duvidar de si mesmo e de seus julgamentos e valores.
Mas não desanimem. A bravura e excelência em combate de alguns personagens ainda
são vistos, assim como a maldade das espécies que andam sobre Napeiag, sem deixar de
falar novamente dos poderes de Mistera, em outras de suas vidas passadas, e infância.
Para aqueles que ainda gostam do macabro, da tensão e ainda do medo, há outras
façanhas vis e hediondas do vilão, ou seriam, agora, vilões? O leitor decidirá em sua
leitura...
Afinal, Napeiag já era um reino só de fúria e violência? Não, novamente, claro que
não! Neste “Segundo Arco” – ASCENSÃO- o leitor pode conhecer um pouco mais do
passado de personagens, reinos, cidades e até do próprio mundo. Mas o clímax, não é
apenas um e sim vários: grandes confrontos morais, batalhas físicas, vinganças, trai-
ções e até amores. Que batalhas! Que conflitos! Que emoção!
Muitos desses acontecimentos até os bardos e mágicos de Tredaine não os cantam,
pois muitos ninguém os conhecem ou foram encobertos e escondidos. Mas esses mis-
térios são terríveis! Terríveis! Qual as razões, entendimentos, motivos e causas de cada
personagem? O que os levou a tomar cada decisão? Qual será a participação dos Mo-
nhaus? Essas perguntas só podem ser respondidas pelo ler, compreender e sentir tantas
histórias.
Este Arco termina com a ascensão dos... Ah, novamente não! Para saber, também
será preciso ler mais este livro e novamente viajar para Napeiag!
Tudo possui um fim. Com essas narrativas fantásticas na terra de Napeiag não seria
diferente. Esse Terceiro Arco elucidará todos os mistérios e dúvidas gerados ao longo
dos Arcos antecessores. Também, apresentará novos personagens e novas tramas, mas
sem se esquecer dos antigos, apresentando ao leitor outras perspectivas, conflitos e, por
consequência, novas aventuras. Esse Terceiro Arco ainda se encontra em construção,
pois precisa ser cristalizado e esculpido da melhor forma que agrade quem o ler...Ao
leitor, peço que aguarde ansiosamente a conclusão dessa saga épica.
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Elza de Freitas
e a música em Trindade
O
Goiana Vieira da Anunciação
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Eu vi um Aleijado Andar
J
á faz parte da tradição popular, ouvir dizer que dentre vários milagres, o mais co-
mum é o aleijado andar...
Durante a festa de Trindade, minha namorada me chamou pra participar do 1º
dia da novena do Divino Pai Eterno na Basílica em Trindade. Aceitei o convite e disse
para que ela fosse antes de mim e aguardasse, pois eu iria atrasar, estaria em uma reu-
nião. Quando cheguei, já havia perdido a abertura e toda liturgia da missa, já estava no
finalmente... Contudo, tentei entrar para mostrar meu interesse em estar junto e fazer
parte do evento, mesmo que no final.
Estava lotado e nenhuma cara conhecida, romeiros de todos os lados do Brasil e
quem sabe do mundo. E na minha tentativa de entrar, despertei o ódio que existe no ser
humano, o mesmo do Brasil e do mundo. Pessoas que minutos atrás estavam rezando
e conversando com Deus, me olhavam com um olhar de condenação: “como esse cara
quer entrar aqui e agora?!”, “esse cara vai tomar o meu lugar” etc. Mas em resumo, le-
galmente o errado fui eu pelo atraso, moralmente, não sei.
Mas o “X” da questão esta por vir. Ainda era tempo de passar debaixo da “Fita do
Beijamento”. Centenas de pessoas nas filas. E quando fui me aproximando da imagem
do Divino Pai Eterno, conectado as duas fitas, azul e vermelha, percebi uma família
com uma moça cadeirante, logo ao meu lado. A moça toda retorcida e atrofiada. Seque-
las de uma doença, marcas de nascença ou outros fatores tempestivos da vida. Era uma
moça jovem, em cima de uma cadeira de rodas, corpo marcado pelas maledicências do
destino, atrofiada e suas funções motoras comprometidas. O mais “terrível” disso tudo,
a moça o tempo todo sorrindo!
A mais ou menos dez passos da “fita”, a moça puxou a roupa de sua mãe, com sua
mão enrijecida, dois dedos agarraram a blusa, e fez sinal de que queria ficar de pé. Sua
mãe, pacienciosa e mais uma vez - frente a toda “tragédia” – feliz! Ajudou a levantar
a moça que se apoiou no corrimão que separa as filas para beijar a fita. Em fim, lenta-
mente, passou por debaixo da fita. A moça andou.
Naquele momento, fiquei escorado na parede frente à imagem da Trindade, refletin-
do no que somos, no que tornamos. Estúpidos com quem nos dá a mão, covardes com
quem merece nossa gratidão, vaidosos com um poder que não existe. Tristes, mesmo
que tenhamos tudo que nos faça felizes, idiotas, injustos, hipócritas, surdos pra quem
necessita de nossos ouvidos, mudos pra quem precisa de nossas palavras, intolerantes,
invejosos, desonestos e sem bom senso.
O final da missa me valeu. O que eu precisava aprender nessa festa de Trindade, dos
nove dias de “curso rápido”, a primeira aula me graduou. Reclamar de tudo é burrice,
é ingratidão com a vida. Desencostei da parede e saí andando, e me dei conta de um
milagre que acontece comigo todos os dias: “o aleijado andou”.
Julho, 2013
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O Boi Coroa
B
oi Coroa, forte e de chifres grandes. O mais respeitado da boiada. Filho de linha-
gem importante da região. Seus pais, avós e tataravós puxaram o carro de boi
velho da velha fazenda. Ano passado o Boi Coroa foi linha de frente no velho
carro de boi a caminho pra Trindade.
Boi Coroa andou e puxou o velho carro de boi da fazenda até a Igreja Velha, aprovei-
tou pra levar sua boiada pro desfile de carro de boi no carreiródromo. Ô trem custoso
pro Boi.
Aô Boi Coroa que assustou com no desfile. Asfalto duro e quente, fogos, muita gente
e som alto. O Boi Coroa ano passado, assim como seus pais, avós e tataravós, cumpri-
ram a promessa do seu dono e manteve a tradição dos moradores da velha fazenda.
Mas o bicho é forte. Se não tiver exageros, a caminhada vira atividade física.
A passagem do Boi Coroa e sua junta, foi bonita. Valeu a pena o cansaço, o esforço,
o sol quente e a poeira vermelha.
Boi Coroa aguentou ferroadas, e em passos lentos e fortes, pisoteou a terra vermelha
e seca, fazendo poeira na estrada, no final do mês de junho. Nos pousos, o Boi Coroa
pastava e descansava, pra madrugar e seguir a estrada rumo ao Velha Igreja.
Esse ano o Boi Coroa ganhou folga. Ê se o Boi Coroa soubesse que quem deu as
férias, foi seu xará, microscópico, que em romaria parasitária, tem infernizado esse
mundão velho sem porteira.
Fica em casa Coroa. Ano que vem a canga, o ferrão e a roda que chia, te esperam. E
torcemos pra que venha em paz, sem maus tratos.
Julho, 2020.
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CIDADANIA TRINDADENSE
N
este21 de agosto de 2017, a Câmara Municipal de Trindade confere-nos
o título de Cidadãos Trindadenses, a mim e ao meu marido, Professor
Doutor Floriano Freitas Filho. Uma honra que muito nos enobrece e
que é acentuada pela companhia dos demais agraciados: a querida Ana
Braga Machado Gontijo, o Dr. José Francisco Vaz e o Secretário Tyrone
de Martino. Além da inesquecível confreira Maria Emídio Evangelista de Souza, home-
nageada “in memoriam”.
O título de cidadania tem significado especial. Nada há mais forte do que o sentido
de pertencimento, que em todos nós aflora à lembrança do lugar em que nascemos.
Mesmo pervagando por terras distantes, quando levados pelas imposições da vida e da
sorte vária, jamais esquecemos o local em que sorvemos o primeiro hausto da vida e
abrimos os olhos para a luz.
No ir e vir dos passos do destino, muitas vezes somos arrastados para terras distan-
tes, mas guardamos no recôndito da alma os sons, os cheiros, as vozes e os luares do
rincão natal. Compartilhar tal tesouro com adventícios é sempre um ato de generosi-
dade. É assim que vemos e sentimos a outorga da cidadania trindadense que ora nos
é feita pelo povo desta cidade hospitaleira, nas pessoas dos ilustres vereadores desta
Câmara, eleitos e ungidos segundo a liturgia da representação democrática.
De nossa parte, foram longos os caminhos e diversas as circunstâncias que nos trou-
xeram para cá, a mim e ao Floriano – vindo residir no município de Trindade em 1997,
ou seja, há exatos 20 anos.
Ele, paulistano; eu, piauiense - nós morávamos em Brasília, onde nos aposentamos
como professores, respectivamente da UnB e da UFG, à disposição dos Ministérios da
Educação e da Cultura. Sonhávamos em desfrutar da aposentadoria – após 40 anos
de trabalho – em um ambiente tranquilo, cercados de verde, rodeados de familiares e
amigos.
E assim aportamos à chácara Santa Cruz, com as bênçãos do Divino Pai Eterno,
de cuja majestosa Basílica estamos perto, creio mesmo que o bastante para ouvirmos
o magnífico carrilhão de 72 sinos que ali serão instalados, segundo o projeto ora em
execução.
Trindade nos abraçou com hospitalidade e simpatia. A história desse município é
sui generis, enlaçando-se com as origens da romaria do Divino Pai Eterno que, todos os
anos, faz fervilhar de fé e de energia a Rodovia dos Romeiros,passando à nossa porta.
Assim como se repete na encenação da Via Sacra realizada por artistas trindadenses.
Nos últimos anos, a visitação a Trindade como centro religioso tem aumentado, pas-
sando de celebração anual para semanal, sobretudo nos sábados e domingos. Pessoas
de todo o país e também do exterior percorrem o caminho da Romaria, nacionalmente
conhecido graças à divulgação focada nas graças e milagres alcançados na capital goia-
na da fé.
Com efeito: na medida em que se espraia e atrai mais e mais peregrinos, a Romaria
do Divino Pai Eterno como que se enraíza mais forte e mais autêntica no solo trinda- 24
Academia Trindadense de Letras, Ciências e Artes
dense. Cresce sua identificação com o homem sertanejo - o roceiro goiano –suas raízes,
seu linguajar, seus costumes, suas origens. Assim, a Festa do Divino adquire a feição
de celebração da vida rural, dos valores do homem do campo e das pequenas cidades,
da cultura dita caipira ou roceira, dos cidadãos e cidadãs que são o cerne da alma bra-
sileira.
Em que pese o fato de que a cidade cresce e se transforma em polo de ensino supe-
rior, ao valorizar e preservar o modo de ser goiano Trindade não perde – e não per-
derá, jamais – seu jeito peculiar. De que são exemplos:a romaria dos carros de bois, os
desfiles de muladeiros e tropeiros, as filas de romeiros que beijam o medalhão da San-
tíssima Trindade, os ex-votos oferecidos em pagamento de promessas, os caminhantes
que carregam cruzes de madeira às costas, os fieis andando ajoelhados sobre pedras, a
solidariedade prestada aos pobres e desassistidos, a alegria dos encontros familiares e
muito mais.
Ao recebermos o título de cidadão/cidadã trindadense, Floriano e eu nos sentimos
muito felizes por adentrarmos nesse universo mágico e acolhedor, cercados de confra-
des da Academia Trindadense de Letras Ciências e Artes, a quem expressamos nossa
gratidão. Em especial à Professora Iraci Borges, autora da proposta inicial encampada
pela Câmara Municipal – querida amiga Iraci, anjo que se mantém como sombra ben-
fazeja nesse momento de alegria, e a quem abraçamos com carinho. Assim como aos
demais amigos que, na mesma solenidade, recebem a Comenda Iraci Borges, pelos
bons serviços prestados a Trindade.
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Academia Trindadense de Letras, Ciências e Artes
Amor, paixão e loucura
A
(Camile Claudel, em Carta a Rodin, no ano de 1886)
relação de nós, mulheres, com o amor é, algumas vezes, tão intensa, que
nossa capacidade racional pode se anular. Outras vezes, quando os amo-
res viram rejeições, nos desorientamos, nos rasgamos, temos nosso peito
dilacerado. Existem alguns amores que se desfazem apenas de um lado
e continuam a existir no desejo e no imaginário do outro. O sentimento
transforma-se posteriormente em mágoa, desespero e solidão, levando a uma forte cri-
se depressiva.
Em face desse contexto, retomo, em minha abordagem,a figura de Camille Claudel
(1864-1943), famosa escultura francesa que viveu em um passado não muito distante
e que teve sua vida retratada em dois importantes filmes: Camille Claudel, de 1988, di-
rigido por Bruno Nuytten e baseado na biografia escrita pela sobrinha-neta da artista;
e Camille Claudel, 1915, de 2013, livremente inspirado na correspondência entre ela e
seu irmão, o poeta Paul Claudel (1868-1955), durante a internação dela em um mani-
cômio. Nesta perspectiva de enfoque, a trajetória de Camille serve para representar os
conflitos que muitas vezes são experimentados por minhas pacientes, alunas e amigas
– enfim, pessoas do meu convívio social mais íntimo e também profissional – , na me-
dida em que se trata de uma questão ainda presente na existência da maioria de nós.
Talentosa, ousada, verdadeiro ícone feminino ocidental, por ir além de tudo o que
seria convencional para a sua época, Camille teve sua vida marcada pelo enfrentamento
de um permanente confronto com sua família e seu meio social, a partir, sobretudo, de
uma transgressora ligação amorosa com o célebre escultor Auguste Rodin (1840-1917)
que durou cerca de quinze anos. Nesse período, ela sacrificou sua originalidade criado-
ra para se dedicar às obras de seu mestre e amante.Nessa relação com Rodin, Camille se
fez objeto para o outro, sem nenhuma restrição – como diria o psicanalista francês Jac-
ques Lacan – oferecendo seu corpo,sua alma e seu bem mais precioso: sua criatividade
artística.Sobre essa relação conflituosa com Rodin, seu pai sempre lhe advertia:“Filha,
você já existia antes de Rodin”. Já com a mãe, Camille teve uma relação marcada pela
censura e pela falta de afeto, ou seja, baseada no que Sigmund Freud definiu como “ca-
tástrofe” e que Lacan, mais tarde, designou como “devastação”. Com a dor da separação,
Camille passa a odiar Rodin, que agora será para ela a imagem do aproveitador que ob-
tém sucesso negando à mulher a chance de competir em um mercado exclusivamente
masculino. Nesse momento de perda, Camille mergulha em um universo sem volta.
Seu envolvimento com bebidas e uma vida sem cuidados com o corpo e com a própria
alimentação acabam por enfraquecer sua saúde. Passa a trabalhar de forma compulsiva
e, em alguns surtos, vem a destruir grande parte de sua criação.A internação acaba
acontecendo, por decisão de sua mãe e de seu irmão.A partir de então, anos de solidão
consumiram a sua vida, o que lhe trouxe ainda mais consciência de sua dura realidade
de abandono.A grande mulher e artista Camille Claudel definhou nesse isolamento até 26
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sua morte, mais de 15 anos após sua reclusão no hospício.
Na sociedade atual as mulheres como mesmo perfil psicológico de Camille, ou seja
com o dom da criatividade (seja ela artística ou de qualquer outra espécie), com inde-
pendência de pensamento e que extrapolam, por conseguinte,as expectativas sociais
mais convencionais, são ainda as que mais sofrem de dores da alma.Minha proposta é,
portanto, pensar, a partir de uma concepção contemporânea, como Camille, símbolo
da mulher que padece e perece por amar,se livraria da alienação imposta socialmente e
poderia ser tratada terapeuticamente, a partir de uma abordagem baseada nos estudos
da psicanalista brasileira Nilse da Silveira acerca do poder curativo da arte. Dentro
dessa proposta, pode-se promover uma consciência mais ampla, por parte da paciente,
acerca de seus conflitos e complexos, de modo a facilitar o enfrentamento da raiva e das
frustrações. Nesse sentido, a arte atua como uma aliada na liberação dos sentimentos
mais íntimos da mulher e no resgate de sua identidade.
Pensemos sobre quantas Camilles, Marias e Joanas não necessitam de um espaço
e de um tempo para exteriorizar sua dor, sublimando-a por meio de pinceis, da escri-
ta poética, dos instrumentos de bordado etc... Assim, a mesma arte que fez com que
Camille se mantivesse viva, permitindo que ela criasse formas de beleza a partir de
sua dor, pode ser direcionada terapeuticamente para sanar as dores mais profundas da
alma feminina, em um processo mediado pelo diálogo e pela troca afetiva.
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Academia Trindadense de Letras, Ciências e Artes
Cidade da fé e do amor
São muitos anos de romaria, nunca por tal momento o romeiro passou, ser obrigado
à ver a santa missa e o santo padre por um televisor
Seguimos com esperança, que tudo o Pai Eterno há de cerzir em cada casa e coração
a fé seja em louvor
Para nossa velha Trindade da fé e do amor um dia esperando de braços abertos o
romeiro então regressar
Que seja breve os males do mundo para então festejar os 100 anos da cidade do Pai
Eterno que hoje vive a chorar.
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Academia Trindadense de Letras, Ciências e Artes
Ser Trindadense
T
odo ano, aguardo com ansiedade o 1º dia da novena. Acordar de madru-
gada, e na marcha solene em que padres e outros clérigos desfilam carre-
gando a imagem venerável da Santíssima Trindade, seguida pelos fiéis, que
como eu, esperaram o ano inteiro para julho chegar. Esses fieis são daqui,
de longe e de qualquer lugar.
Desde criança, com a mesma alegria. Creio que quem nasceu aqui sabe desse festejo,
que meche com nossas emoções, abrindo nosso coração para lembranças tão especiais.
O som do foguetório e da chamada para a procissão, acelera o nosso coração.
Na procissão, vamos de mãos dadas com nossos pais e mães. Saindo a rezar o terço
da “igreja velha” (matriz), para a “Igreja Nova”, (Santuário Basílica). Como era maravi-
lhoso a família toda reunida celebrando mais um ano de vida e agradecendo ao pai por
estar ali. No altar, após o cortejo ser encontrado, todos nós então sorriamos, por não ter
onde sentar na igreja, com forma de cruz, sempre lotada de gente.
O tempo passa, vamos de mãos dadas com amigos e colegas, da matriz até a Igreja
Nova rezando felizes e logo ao lado, o papai estava. Quando na igreja chegava “vou ali
ver o sol nascer”. A missa da madrugada não deixava de ser sagrada, era só o jeito de ser
jovem naquela época, se encontrar atrás da gruta para juntos correr e deitar na grama,
que sol o já vinha vindo e não podíamos perder.
Tornamos-nos adultos. A vida se torna adulta e é preciso correr para outros mun-
dos. Faculdade, casamento, filhos... Nossos filhos agora vão rezar, vamos levá-los a
procissão como nossos pais nos levava. A tradição se repete. Um tempo, apartamos da
Trindade sem véu, mas jamais esquecemos que sendo de casa, nunca deixamos de ser
romeiros. E assim por um tempo estamos. Com muita fé e devoção um dia retornare-
mos.
Agora formada, filhos grandes, netas. Vamos todos à igreja rezar o terço na procis-
são da madrugada. Os foguetes, às 5: 15 da matina, nos acordam para mais um dia de
fé. Estamos felizes pela nova geração que aqui está para juntos celebrar o amor do Pai
Eterno por nós.
Na hora do foguetório, na porta da igreja, o coração fica pequeno, as lembranças do
passado e a música que toca me faz chorar. Todos os que outrora rezaram junto a mim,
papai, irmãos, madrinha; todos se foram, para perto do pai morar. Dói! A Trindade
tem na festa do Pai Eterno de tudo um pouco, alegrias e dor, e assim, é ambígua.
A festa de Trindade é sagrada e profana. Eu disse um dia, no meu primeiro tex-
to monográfico, trabalho que teve por essência a eficácia simbólica da romaria como
pesquisa. Profana porque vamos à novena de manhã e à noite vamos ao parque de
diversão, com os filhos, netos, sobrinhos e quem mais tiver na casa. Alugamos nossos
quartos, nossos quintais para o romeiro (chamamos de romeiro o fiel que vem de outra
cidade). O dinheiro do aluguel, na maioria das vezes, é para festá ( festá é sair cedo e
voltar só de noite comprando de tudo um pouco; roupa, panela, sapato etc)
O adulto, após esse passeio, toma uma cervejinha. Vai beber na barraca de palha
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Academia Trindadense de Letras, Ciências e Artes
(barraca feita com folha de buriti), na Avenida Manuel monteiro ou na praça da prefei-
tura, isso nos anos 80 e 90. Esse era o lugar onde tinha música sertaneja. E ficava bem
pertinho do parque e também da igreja, afinal Trindade é pequena, tem pouco mais de
100.000 habitantes nessa época.
Nos dias atuais, o profano ficou restrito em partes ao Carreiródramo (lugar onde é
feito o maior desfile de carros de boi da America latina). Lá, tem barraca de palha de
outros formatos, tem show ao vivo e muita coisa pra comer. E a Trindade sagrada é o
lugar, é a parte onde o morador e o romeiro vão, antes de ir para o profano.
Ser Trindadense é ser negro, branco, índio e cigano. Cigano sim! Temos uma po-
pulação expressiva de ciganos moradores na cidade do Pai Eterno. Povo fervoroso ao
Pai Eterno. Durante os festejos, alugam casas no centro da cidade pra ficar mais perto
da igreja. E no passado, pediam o terreno para a prefeitura para armar suas barracas e
tendas nos terrenos baldios e me encantava com tantas cores.
Ser Trindadense é isso, é receber quem vem e com quem vier, para juntos procla-
mar louvores à Santíssima Trindade (o pai o filho e o espírito santo). E cantar “amado
Jesus José, Ana e Maria, eu vos dou o meu coração e alma minha” “Sou romeiro que
caminha, sou devoto do senhor. Caminhando pra terra santa, velha Trindade da fé e do
amor” do nosso saudoso e querido Valtinho.
Quem nascido aqui foi, sempre volta, dizia meu pai seu Benedito (vulgo Cutunga-
vendedor de bilhete de loteria na rodoviária). E eu, (cutunguinha) digo! Quem nascido
aqui foi, sabe o que é ser Trindadense.
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TRINDADE DE MUITAS HISTÓRIAS
N
Roseli Vieira Pires
ossa Trindade e suas praças: a praça da igreja matriz e seu chafariz nas
cores azul e branca, a praça da prefeitura e seus canteiros de pedras
brancas circulares e pisos de lajotas vermelhas, onde, após a missa, os
casais sentavam para namorar, a praça do colégio Castelo Branco e o
bar que vendia os famosos picolés, artesanais, de coco queimado,a praça
da cadeia com suas flores coloridas, plantadas pelo Senhor Francisco Odorico Vieira
(“Seu”Zico), meu avô.
Trindade com seu mercado municipal, que abrigava, na rua Coronel Anacleto, a
feira de domingo, onde meu pai, “Seu” Joaquim, comprava óleo de soja e cereais a gra-
nel. A rua do supermercado Meia Ponte, onde, aos sábados, a cada cupom, a criança
ganhava um algodão doce branco, enorme, e que vinha no palito; e as compras eram
entregues em uma bicicleta cargueira, por um entregador que, mais tarde, tornou-se
um empresário de sucesso, em nossa cidade.
E a Estação Rodoviária com seu letreiro colorido, verde e vermelho, piscando, e seu
estacionamento de charretes, aguardando pelos frentes. Rodoviária que, até os dias atu-
ais, leva e traz o seu povo de cidades próximas e outras, longínquas. Quem nunca ouviu
um trindadense dizendo “vou lá em Goiânia” Lugar um dia considerado tão distante e,
hoje, a minutos daqui.
Trindade da grande gameleira do hospital Dona Josefa, que, por anos, resistiu ao
tempo. Do Colégio Estadual Divino Pai Eterno, onde, no meu primeiro dia de aula, via
um enorme pátio, no qual os alunos perfilavam e, cada professor, pegava na mão de
uma das crianças para levá-los para sala de aula; e quanto eu queria ser a primeira da
fila para segurar na mão da “tia Vilma”. Colégio que, na fase ginasial, tive professores
tão bons que se tornaram, inclusive, imortais em nossa academia (Dina e Kalil).
Colégio que, ainda hoje, tem em sua porta a máquina de sorvetes; faz aquele mágico,
delicioso, de minha infância. E quando eu, ansiosa, esperava pela saída da aula,com mi-
nhas preciosas moedas, para comprar o tão sonhado sorvete de “groselha” e, enquanto
ele era feito, eu observava a mão do vendedor girando e transformando o líquido ver-
melho (ki-suco) em um delicioso sorvete de colorido geladinho.
Trindade de seus desfiles cívicos de 7 de setembro que, por mais que eu tente narrar,
não consigo descrever o quão importante era tocar a corneta na fanfarra, carregar a
bandeira, representar as forças armadas, ou até mesmo o outono nas estações do ano,
e vários outros personagens da história, como a princesa Isabel ou os imigrantes ita-
lianos.
Trindade da tão esperada festa, quando, a cada ano,eu aguardava chegar o dia para
contar os carros de bois que passavam na frente da minha casa. E eu sabia quando esta
estava para acontecer, porque começava ler as placas nas portas das casas com os dize-
res: “aluga-se para a festa”. Festa em que meu pai me levava ao parque de diversões para
andar no carrossel e jogar argolas na barraca de refrigerantes. Festa linda de se ver o vai
e vem dos romeiros, pelas ruas da cidade. Povo quase sempre de aparência sofrida, mas
com uma forte expressão de fé.
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Academia Trindadense de Letras, Ciências e Artes
Trindade de pessoas ilustres que fazem parte de nossa história, com suas famí-
lias que formam nossa cidade. E com orgulho posso citar, de forma breve, a história
da família “Vieira”, com personagens como Dr. Ediberto Marcolino Vieira, que salvou
várias vidas no decorrer da sua, e de seu pai Vespasiano Vieira, um dos primeiros ve-
readores da cidade. E dentre tantos outros “Vieiras”, destaco ainda a senhora Valdivina
Vieira Pires, Dona Fia, servidora da prefeitura que fazia faxina na rodoviária, desde a
sua inauguração, em 1970.
Pessoa nobre, com valores únicos, e que acreditava em seu trabalho como algo
essencial para o bem coletivo; cuidou, por mais de 30 anos, da faxina daquele local.
Dona Fia, figura ilustre que pude ter a honra de chamar de MÃE. Pessoa ética e vence-
dora, quase folclórica em seu ambiente de trabalho. Sinto-me agradecida a Deus por ter
tido a graça de ter esta Senhora como a minha principal fonte de valores.
E, com certeza, nesta tão amada cidade, temos tantas outras histórias de pesso-
as nobres e ilustres, nas famílias trindadenses; cidade construída, principalmente, pela
história de seu povo.
A pequena Trindade, das minhas memórias, a atual, “quase grande” cidade,
que cresce a cada dia, mas que, em meu coração, é a cidade dos sonhos. Sou feliz, sou
trindadense de nascença e, acima de tudo, de coração.
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Na Igreja Velha de Trindade
D
Sonia Ferreira
Encontro-me com a pureza e a verdade de Dª. Patu. Convido-a para a casa da Gersi-
na, filha de Dª. Inácia. Dª. Inácia é proprietária da Pensão Central, uma das mais anti-
gas da cidade. Saímos do Largo, caminhamos pela Rua. Entramos pela casa a dentro, e
ficamos assentadas e proseando ali, na varanda da cozinha da Nenê e do Afonsinho do
caminhão. Ficamos contando e ouvindo histórias de amor e de fé, de vida, de compro-
misso, de perdão, histórias da Velha Igreja de Trindade, em Goiás.
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Academia Trindadense de Letras, Ciências e Artes
Padre Robson, o benfeitor, Prof.ª Iraci,
a madrinha de honra de Trindade cultural
Sonia Ferreira
Que caminho
é este,
que transforma cada
caminhante
em santuário de fé
e templo de Deus?
Que mãos
são estas,
que, postas
em ação de graças,
se abrem em flor,
semeiam devoção à Maria,
pedem bênçãos
ao Pai Eterno,
plantam alegria
no peito do Homem,
e colhem sorriso
E
da face do irmão?
ra uma vez um menino. Um menino, como outro qualquer: corria pelas cal-
çadas e observava o povo de Deus, indo e vindo de tantos lugares do mun-
do. Subia nas árvores, colhia frutos suculentos e saboreava os quintais de
Trindade/GO, onde nasceu. Vibrava com bolinhas de gude, gostava de uma
bola de futebol e brincava de “celebrar missa”; encantava-se com as maçãs
do amor, com o algodão doce, com os coloridos carrinhos de pipoca e com o toque dos
sinos, convidando o povo à oração. Era uma vez um menino parecido, porém com um
perfil diferente de outros meninos. Diante de uma mesa farta, fazia coro às vozes de
seus pais, Prof.es Elice e José, dando graças ao Criador pelo “pão nosso de cada dia”.
Na escola, tomava a frente de tudo, também agradecia aos mestres o conhecimento, os
valores e os caminhos que lhe apontavam recantos e encantos de outros mundos.
O menino cresceu. Seu nome, Robson de Oliveira. Como dizia Fábio de Melo, cres-
cer é deixar Deus crescer dentro de nós. Ele, terra fértil, regada pelas mãos da Família,
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Academia Trindadense de Letras, Ciências e Artes
da Escola e da Igreja, deixou o Divino Pai ocupar todos os seus espaços. Tornou-se
sacerdote. Redentorista, liderança expressiva em sua Congregação e no Estado de Goi-
ás, auto-determinado, incansável e de fé, aprendeu olhar e conquistar outros espaços,
construindo o Homem e o Mundo, no dizer de Michel Quoist. Semeando Deus em
todos os capítulos de sua história, divulgando a devoção pelo Pai Eterno no Brasil afo-
ra, hoje Padre Robson é o Superior Provincial dos Redentoristas de Goiás. Por isso, a
introdução da presente crônica, com um poema de meu livro Licores de Outros Quin-
tais, INDAGAÇÂO, dedicado, em 2001, aos admiráveis Padres Redentoristas de meu
Estado. Padre Robson, atualmente, com apenas 41 anos de idade, foi reitor do Santuá-
rio Basílica do Divino Pai Eterno por onze anos. Após exercer trabalhos na Pastoral Vo-
cacional e na formação de jovens para a vida religiosa no Seminário, foi para a Irlanda
e em seguida para Roma, onde fez mestrado em Teologia Moral, pela Universidade do
Vaticano.
Registra-se um Momento Histórico na vida cultural de Trindade: na Praça Dom
Antônio R. de Oliveira, a do Santuário da Basílica, numa singela, simpática e confor-
tável casa, com pé de ata e jabuticabeira em um quintal de varanda, propriedade da
Associação Filhos do Pai Eterno/AFIPE, de que Padre Robson é o presidente fundador
desde 2004, o dia 23 de janeiro de 2016 oficializou uma parceria, em forma de como-
dato, entre a AFIPE e a Academia Trindadense de Letras, Ciências e Artes/ATLECA;
o presidente passou as chaves da sede da AFIPE para o presidente da ATLECA, Dr
Wilson Alves de Paiva, sob os aplausos de nós, os fundadores, de benfeitores e mem-
bros, instalando-se, em frente ao Santuário Basílica de Trindade, direção altar campal,
oficialmente, a instituição cultural ATLECA, marco em seus 25 Anos de história, idea-
lizada pelo escritor Bento Fleury.
Por que tudo isso aconteceu? Porque era uma vez uma menina. Era uma vez uma
menina, simplesmente. Nascida, há nove décadas, 16/10/24, na Fazenda da Lage, Mu-
nicípio de Ipameri/GO, cheirando a laranjeira e a pequi, escutou o murmurar das ca-
choeiras, o canto dos galos, a sinfonia das cigarras e o apito do trem de ferro. Brincou
de roda, de pique - esconde, jogou baliza, pulou corda, deliciou-se com as brincadeiras
mais puras da criançada de seu tempo. Tomou leite no curral, com café e açúcar de
forma, escutou lindas e animadoras histórias de mãe, aprendeu os mais sublimes valo-
res de Família. Tornou-se forte, guerreira, questionadora, alegre, solidária, obstinada
e vencedora. Acordava com o sol, caminhava com os sonhos e realizações, e dormia
com Deus. Nunca andou sozinha. Descobriu uma força no alto e duas mãos estendidas,
ensinando-lhe a estrada do bem.
Aos 3 anos, mudou-se com seus pais, Abílio Borges e Ana Jacinta, para Urutaí/GO.
De sua mãe, herdou as habilidades artísticas de costureira, bordadeira e cantora. Nas-
ceu artesã. Desde cedo, seu divertimento preferido foi brincar de “escolinha”, onde o
personagem central sempre foi a “professora Iraci”. Nunca se apropriou dos dons que
Deus lhe dera; queria ensinar às amigas de infância tudo o que aprendera com os seus
semeadores. Foi Cruzada Eucarística; em sua juventude, atuou como Filha de Maria,
sempre com uma sede borbulhante de servir. Seus pais fizeram um enorme esforço
para encaminharem-na nos estudos: inicialmente, em Araguari/MG; posteriormen-
te, em Morrinhos/GO, onde realizou o Curso Normal, formação para o Magistério.
Sucessivamente, diversos Cursos de Aperfeiçoamento a enriqueceram. 36
Academia Trindadense de Letras, Ciências e Artes
Em Trindade, a partir 28/02/51, lecionou no Grupo Escolar Dom Prudêncio, pro-
movendo atividades diversificadas nas áreas esportivas e artísticas, quando realizou a
1ª Exposição de Artes e a organização da 1ª quadra de vôlei, em que participava como
atleta; organizou a Escola Treze de Maio; fundou aproximadamente oito Escolas urba-
nas e rurais, iniciando-se pelo Jardim da Infância Menino Jesus; idealizou a 1ª bandeira
do Município de Trindade/GO, em que foi vereadora. Na ação social cristã, foi volun-
tária da Vila São Cotolengo, onde desenvolveu atividades diferenciadas, destacando-se
a confecção do 1º enxoval desta instituição; foi catequista na Paróquia e na Escola Santa
Terezinha, por ela fundada em 16/01/58; trabalhou na Obra das Vocações Sacerdotais,
de que foi presidente. Na ação cultural, pertence ao Grupo de Cultura Popular João de
Barro, ao Centro de Cultura da Região Centro-Oeste/CECULCO e à Academia Trin-
dadense de Letras, Ciências e Artes/ATLECA, de que foi presidente, conquistando a
primeira sede para essa instituição.
A menina da Fazenda da Lage, Iraci Borges, carismático sorriso de paz, com seus 91
Anos, mãe de seis filhos adotivos, viu nascer e crescer o menino que se tornou o Supe-
rior Provincial dos Redentoristas em Goiás; que se tornou o divulgador da devoção ao
Pai Eterno no Brasil inteiro e em outros lugares do mundo; que se fez, em dimensão na-
cional, o incentivador do turismo religioso no Estado de Goiás; que atualmente sensi-
biliza os Filhos do Pai Eterno a conclamarem a visita do Papa Francisco à obra do novo
Santuário Basílica do Pai Eterno, em Trindade/GO, Capital da Fé do Estado de Goiás.
Padre Robson, o Superior Provincial Redentorista, cidadão de lutas e vitórias, aten-
deu aos clamores da professora Iraci e de 4500 representantes da comunidade, por ela
envolvidos; cedeu-lhes a casa de propriedade da AFIPE, como 2ª sede da ATLECA,
colocando os amigos das Letras, Ciências e Artes no colo do Pai, transformando-os em
Filhos do Pai Eterno. Profª Iraci Borges soube, como obreira das Vocações Sacerdotais,
transformar as lágrimas de saudade da ProfªEleci, admirável mãe de Pe Robson, em
chuva de ação de graças pelo carismático, solidário e realizador filho missionário.
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A VELHA CASA AMARELA
O
Sonia Ferreira
padre já havia dado a bênção final da Missa das 19 horas, na velha Ma-
triz de Trindade. As portas e as janelas vinho da velha Casa Amarela
estavam abertas. Bati palmas. Entrei. Costume salutar das cidades do
interior de Goiás.
- Oi, Sônia está?
- Não. A Dª Geralda é que tá aqui.
O menino de onze, neto do Dª Geralda, espichou-se na poltrona, acompanhando
com seus olhos brilhantes cada cena da novela daquele horário. E que cenas! Fiquei
ali, ao som da televisão ligada, encantada com o janelão, à minha frente; enorme, cor
vinho tinto. Venezianas com vidraças. As portas tinham como puxadores duas argolas,
enferrujadas de antigas.
Dª Geralda não aparecia. Gostei. Queria admirar cada pedacinho daquela sala, liga-
da à rua por um corredor comprido e aos quartos, por portas largas e altas. Uma ban-
queta caracterizava bem a sala antiga. Uma parede separava a sala da cozinha. Possuía
uma portinhola, por onde passavam os pratos, os talheres, as travessas de comida.
Naquela velha Casa Amarela, funcionou, durante muitos anos, a Pensão de Dª Nega.
Eu estava ali, por causa da Pensão. Continuei olhando o telhado, sustentado por pare-
des altas. Telhas coloniais, caibros, janelões com cortinas florais. Supunha que fosse
aquela casa a hospedaria que me acolheu um dia, acompanhada de meu pai, numa
inesquecível Festa do Divino.
Pensava nos 200 cruzeiros, dinheiro de uma bezerra, alinhavados por minha mãe
em meu bolso interno de flanela, para o Divino Pai Eterno. Lembrava do Beco dos
Aflitos, com a mão grudada na de meu pai e a outra, grudada em um palito com algo-
dão doce, tão doce como os meus devaneios. Atravessara o beco. Não era empurrada,
mas amassada. Meu pai, lá em cima, eu pequenina, cá em baixo, encantada com os
meus sonhos. Afinal, o algodão que, até então, conhecera era o lá da roça, lá da fazenda
Samambaia. Colhido em forma de capuchos, algodão em coco, destinado aos balaios,
próximos ao descaroçador. Depois das cardas, minha mãe, D.ª Leolina, o transformava
em lindas e fofas pastas, prontas pra virarem linha pro tear. Mas algodão doce?! _ Não.
Não acreditava no que estava vendo.
DªNeném, comparando a Festa de hoje com a Festa de ontem, houve alguma mu-
dança?
Meu Deus! Mudou muito, aqui nesta praça não tinha esses canteiros. O povo vinha e
montava aqui o Circo, tudo era pequeno. Agora, só o parque ocupa aquela área grande,
lá de cima: daqui, até a esquina desta rua com a Avenida Manoel Monteiro.
Antigamente, na época da Festa, os romeiros de tudo enquanto era banda, uns do
Norte, outros do Sul do Estado, gastavam muitos dias pra chegarem à Trindade. Vi-
nham de carro de bois, arranchavam nos quintais: quase todos os quintais viravam
rancharia.
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D. Nenê, num outro bate-papo, eu vou querer saber mais detalhes sobre as romarias.
Ehe!!. Eu também me lembro de coisas muito engraçadas, acontecidas ali no beco.
Quando eu era criança, meu irmão também era pequeno. O povo vinha exprimido e
empurrado, olhando pra cima, doido pra ver a torre da Igreja, a Roda Gigante, os brin-
quedos altos do Parque e a lona do Circo! Meu irmão botava umas pedras no caminho,
e corria. Outras vezes, botava uma gravata manchada, amarrada por um fio, e gritava:
óia a cobra!...
- Como é mesmo o seu nome?
- Meu nome é Sônia, como o de sua filha.
- Dª Sônia, a senhora pode imaginar o que acontecia?
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PARA VENCER
Teresa Josefa
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PARA AMAR
Teresa Josefa
Para amar
Precisa primeiro doar.
Doar-se sempre
Sem restrições ou condições.
Para amar
Temos que aprender a perdoar,
Perdoar-se sempre em primeiro lugar.
Para amar
Precisamos entender que:
Somos seres humanos e,
Como tais, somos falhos.
Para amar
Temos que saber refletir, questionar,
E com sabedoria, encontrar respostas
Para as nossas incertezas.
Para amar
Temos que aprender a lutar,
Correr atrás de sonhos,
Procurar a realização plena,
Na arte de amar.
Para amar
Basta entrar de coração limpo.
Ver oportunidades em um livre decorrer.
Para amar
Temos que ser sinceros,
Oferecer lealdade, esperança e liberdade.
Para amar
É preciso ler no olhar,
Compreender o que a outra parte tem a oferecer.
A entender que o amor, lê o coração do outro,
Buscando sempre nas entrelinhas...
A sabedoria do doar-se.
Para amar
È preciso saber partilhar: sonhos, realidades,
Conquistas e lágrimas.
Para amar
Basta você existir.
Ame-se.
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PERMISSÃO
Teresa Josefa
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UM ESTÍMULO A COMPREENSÃO
DE EDUCAÇÃO (FORMAL)
T
Wanderson Pereira Lima
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Poema
Wilson Paiva
Fazer um poema
Como se constrói um edifício
É difícil.
Fazer um poema
Como se formula
Um exercício de matemática
É matemática.
Fazer um poema
Como se ensina na escola
É ex-cola.
Um poema se faz
É com a engenharia do coração
É com o cálculo do espírito
É com as lições do sentimento.
Aliás…
Difícil?
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Poetar: Verbo Intransitivo
Wilson Paiva
Verbo novo:
Eu poeto, tu poetas
Ele poeta e ela também.
Nós poetamos?
Se vós poetais
Eles e elas poetarão.
Poetemos então
Se o mundo não passa de verbo
Numa eterna e prazerosa
Conjugação.
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CHÔRO
Wilson Paiva
Chóro
Porque o chóro é saudável
Para não dizer deplorável
Ao coração de quem ama
E reclama
Como ninguém.
Chóro
Porque o sentimento é forte
Talvez maior que a morte
Na voz de quem clama
E declama
Ao além.
Chóro
Na intensidade do verbo
Na força do garbo
E no sentido do tempo
Que a língua tem.
Então o chôro
Com acento circunflexo
Exprime melhor o desconexo
E ir reflexo momento
Que à alma vem.
E nu via do mundo
Couraça fraturada
Regras quebradas.
É assim que se porta
Aquele que chora
Por alguém.
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