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QUAL A RELAÇÃO ENTRE POBRES
CRIATURAS E FRANKENSTEIN?
Longa de Yorgos Lanthimos tem fortes inspirações na obra de Mary
Shelley
31/01/2024

Um dos filmes mais celebrados da temporada de premiações desse ano tem uma profunda
conexão com um clássico de terror — por mais que esse não seja o gênero do longa. Pobres
Criaturas é sucesso de crítica e desponta com onze indicações ao Oscar®, isso depois de ter
abocanhado os prêmios de Melhor Atriz de Comédia ou Musical para Emma Stone e Melhor
Filme nos mesmos gêneros no Globo de Ouro.

LEIA TAMBÉM: 40 ESTREIAS DE FILMES DE TERROR EM 2024 PARA FICAR DE OLHO

O diretor da produção, Yorgos Lanthimos, é um conhecido dos entusiastas da sétima arte e se


destacou recentemente no Oscar® com o filme A Favorita. Porém, o cineasta é mais lembrado
por seus filmes desconfortáveis e enervantes, que têm sua marca bem característica, como O
darksidebooks
Lagosta e O Sacrifício do Cervo Sagrado. Agora ele chegou com uma história nova, mas ao Livros de fã para fã ❤️💀❤️Uma
mesmo tempo velha conhecida dos DarkSiders. comunidade apaixonada pelo melhor da
literatura dark mundial. Terror, True
Crime, Fantasia, HQ e Suspense.

Sobre o que é o filme Pobres Criaturas?


Adaptado do romance de Alasdair Gray, o longa conta a história de Bella Baxter (Emma Stone),
uma criatura vitoriana um tanto curiosa e com um passado fora do comum. Apesar de
aparentar ser uma mulher adulta, Bella é uma “mulher-criança”, produto de um experimento
em que o seu criador e figura paterna, Dr. Godwin Baxter (Willem Dafoe), reanimou seu
cadáver e substituiu seu cérebro com o do feto que ela estava gestando na época. Há até um
trocadilho inteligente em que o apelido do doutor é “God”, “deus” em inglês.

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O experimento do Dr. Godwin faz de Bella tanto mãe quanto filha, embora ao mesmo tempo
não seja nenhuma das duas. Tomada pela confusão, ela lida com sua identidade e o mundo
desconcertante à sua volta. Guiada pelo Dr. Godwin, Bella embarca em uma jornada perigosa
para recuperar seu conhecimento perdido sobre a complexidade da vida.

Ainda assim, um sentimento sufocante de se sentir presa em uma armadilha motiva Bella a
viajar com um advogado pouco confiável chamado Duncan Wedderburn (Mark Ruffalo).
Juntos, eles cruzam um reino além daquilo que conhecemos, onde Bella confronta diversos
conceitos e preconceitos de sua época. Resumidamente, é uma jornada de autodescoberta com
nossa protagonista buscando as respostas que poderiam libertá-la.

LEIA TAMBÉM: FRANKENSTEIN NA CULTURA POP

Se isso lhe parece uma releitura feminina de Frankenstein, é porque a obra de Alasdair Gray,
publicada originalmente em 1992, é uma versão moderna e bem inteligente do clássico. Por
mais que Lanthimos e o roteirista Tony McNamara afirmem que não tenham se inspirado
muito em Frankenstein, é evidente que a história deve muito à obra de Mary Shelley.

Conexões entre Pobres Criaturas e Frankenstein


Poucas histórias resistem tão bem ao teste do tempo como o romance imortal de Mary Shelley.
Uma obra-prima do terror gótico, Frankenstein tem deixado sua marca na literatura e na
cultura pop como um todo eternizando os personagens do cientista que quer criar vida e sua
criatura, simplesmente lançada no mundo como algo monstruoso.

Nesse contexto, o livro de Gray surge como uma resposta audaciosa à história de Shelley.
Enquanto Frankenstein aborda as consequências da busca irresponsável do ser humano pelo
progresso científico, Pobres Criaturas segue por outro caminho, dando contornos de humor
ácido, crítica social e elementos fantásticos ao clássico.

Levando em consideração que Bella embarca em sua jornada de autoconhecimento, lidando


com conceitos como identidade e liberdade, é como se Gray expandisse Frankenstein além da
história original. A obra explora temas como desigualdade social, feminismo e memória,
enquanto inclui eventos históricos à sua narrativa.
Os dois autores possuem um fascínio pelos limites da existência humana. Porém, enquanto a
trama de Mary Shelley está repleta de romantismo sinistro, a escrita de Gray assume uma voz
bem distinta e característica dos escoceses, acrescentando sagacidade, sátira e um toque de
absurdo à história.

A estrutura narrativa de Pobres Criaturas é apresentada por meio de narradores não


confiáveis, o que nos leva a questionar o que é real e o que é apenas um ponto de vista de quem
está contando a história naquele momento. Uma camada extra de intriga é acrescentada com
sucesso, jogando o público em um labirinto de vozes e meias-verdades.

Enquanto a Criatura de Mary Shelley é um amálgama de partes do corpo distintas, Bella Baxter
pode até aparentar uma integridade física, mas ela é também uma colcha de retalhos, unindo
uma mulher adulta e uma criança. Apesar dessas diferenças, ambos são fruto de um
experimento científico decorrente de um criador ambicioso, com aspirações quase divinas, e
que pouco se importam com a adequação de suas criaturas no mundo em que vivem.

As jornadas de ambos também diferem. Enquanto a Criatura de Victor Frankenstein está em


uma missão de conexão e vingança, Bella acaba embarcando em uma experiência de
autodescoberta e busca por liberdade. Ambos, no entanto, são dignos da simpatia do público,
levando-o a questionar a natureza da humanidade, a ética das experimentações científicas e
os limites da empatia.

Uma visão feminista de ambas as obras


Para a pesquisadora Anne K. Mellor, autora da biografia Mary Shelley: Her Life, Her Fiction,
Her Monsters [Mary Shelley: Sua vida, sua ficção, seus monstros], a história de origem e a
essência de Bella seguem o legado feminista da autora de Frankenstein. Para ela, o clássico se
refere basicamente ao poder e como ele nos induz ao erro: “Victor Frankenstein está tentando
tomar para si a habilidade de criar vida por conta própria, tirando-a da Mãe Natureza e das
mulheres. O que resulta em um exemplo do que acontece quando uma mulher é apagada, o que
o patriarcado, na prática, tenta fazer”, defendeu à revista TIME.
As referências em Pobres Criaturas vão além da obra de Mary Shelley, estendendo-se à sua
biografia. Godwin Baxter, por exemplo, é uma referência ao pai da autora, William Godwin,
que parcialmente inspirou o personagem de Victor Frankenstein. Shelley teve uma relação
conturbada com o pai: por mais que ele tivesse assumido a educação da filha após a morte da
mãe, Mary Wollstonecraft, a dinâmica mudou após seu segundo casamento. Quando ela fugiu
e se casou com o poeta Percy Shelley, foi deserdada pelo pai. Essa relação de rejeição e anseio
pela figura paterna é reproduzida por ela na dinâmica entre a Criatura e o cientista que a criou.
Mais detalhes sobre as biografias de mãe e filha estão no livro Mulheres Extraordinárias: As
Criadoras e a Criatura.

A própria jornada de Bella estabelece um paralelo tanto com Mary Shelley como com sua mãe,
uma notória ativista feminista e autora do livro Reivindicação dos Direitos das Mulheres. A
liberação sexual de Bella serve como uma boa referência a ambas autoras, que mantiveram
relacionamentos fora do casamento, o que desafiava as convenções de suas épocas.

Um dos exemplos mais gritantes dessa influência feminista em Pobres Criaturas está nos
paralelos entre Bella e Safie, uma personagem menor de Frankenstein inspirada em
Wollstonecraft. Na obra de Mary Shelley, Safie é uma mulher cristã que foge da opressão
patriarcal na Turquia. É através de Safie que a Criatura recebe alguma educação. A jornada da
personagem e o desejo de aprendizado refletem na jornada de Bella.

A busca pelo conhecimento, por entender o seu lugar no mundo e pela própria liberdade é algo
que une tanto Mary Wollstonecraft, como Mary Shelley e agora a personagem Bella Baxter.
Pobres Criaturas não é apenas uma releitura de Frankenstein, é uma homenagem às suas
criadoras. No fim das contas, somos todas criaturas. Somos todas criadoras.

LEIA TAMBÉM: ESCRITORA, FILÓSOFA E FEMINISTA: QUEM FOI MARY WOLLSTONECRAFT

Sobre DarkSide

Eles bem que tentaram nos vender um mundo perfeito. Não é nossa culpa se enxergamos as marcas
de sangue embaixo do tapete. Na verdade, essa é a nossa maldição. Somos íntimos das sombras.
Sentimos o frio que habita os corações humanos. Conhecemos o medo de perto, por vezes, até rimos
dele. Dentro de nós, é sempre meia-noite. É inútil resistir. Faça um pacto com quem reconhece a
beleza d’ O terror. O terror. Você é um dos nossos.

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