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O UNIVERSO DARK DE FÃ PARA FÃ
Um dos filmes mais celebrados da temporada de premiações desse ano tem uma profunda
conexão com um clássico de terror — por mais que esse não seja o gênero do longa. Pobres
Criaturas é sucesso de crítica e desponta com onze indicações ao Oscar®, isso depois de ter
abocanhado os prêmios de Melhor Atriz de Comédia ou Musical para Emma Stone e Melhor
Filme nos mesmos gêneros no Globo de Ouro.
Ainda assim, um sentimento sufocante de se sentir presa em uma armadilha motiva Bella a
viajar com um advogado pouco confiável chamado Duncan Wedderburn (Mark Ruffalo).
Juntos, eles cruzam um reino além daquilo que conhecemos, onde Bella confronta diversos
conceitos e preconceitos de sua época. Resumidamente, é uma jornada de autodescoberta com
nossa protagonista buscando as respostas que poderiam libertá-la.
Se isso lhe parece uma releitura feminina de Frankenstein, é porque a obra de Alasdair Gray,
publicada originalmente em 1992, é uma versão moderna e bem inteligente do clássico. Por
mais que Lanthimos e o roteirista Tony McNamara afirmem que não tenham se inspirado
muito em Frankenstein, é evidente que a história deve muito à obra de Mary Shelley.
Nesse contexto, o livro de Gray surge como uma resposta audaciosa à história de Shelley.
Enquanto Frankenstein aborda as consequências da busca irresponsável do ser humano pelo
progresso científico, Pobres Criaturas segue por outro caminho, dando contornos de humor
ácido, crítica social e elementos fantásticos ao clássico.
Enquanto a Criatura de Mary Shelley é um amálgama de partes do corpo distintas, Bella Baxter
pode até aparentar uma integridade física, mas ela é também uma colcha de retalhos, unindo
uma mulher adulta e uma criança. Apesar dessas diferenças, ambos são fruto de um
experimento científico decorrente de um criador ambicioso, com aspirações quase divinas, e
que pouco se importam com a adequação de suas criaturas no mundo em que vivem.
A própria jornada de Bella estabelece um paralelo tanto com Mary Shelley como com sua mãe,
uma notória ativista feminista e autora do livro Reivindicação dos Direitos das Mulheres. A
liberação sexual de Bella serve como uma boa referência a ambas autoras, que mantiveram
relacionamentos fora do casamento, o que desafiava as convenções de suas épocas.
Um dos exemplos mais gritantes dessa influência feminista em Pobres Criaturas está nos
paralelos entre Bella e Safie, uma personagem menor de Frankenstein inspirada em
Wollstonecraft. Na obra de Mary Shelley, Safie é uma mulher cristã que foge da opressão
patriarcal na Turquia. É através de Safie que a Criatura recebe alguma educação. A jornada da
personagem e o desejo de aprendizado refletem na jornada de Bella.
A busca pelo conhecimento, por entender o seu lugar no mundo e pela própria liberdade é algo
que une tanto Mary Wollstonecraft, como Mary Shelley e agora a personagem Bella Baxter.
Pobres Criaturas não é apenas uma releitura de Frankenstein, é uma homenagem às suas
criadoras. No fim das contas, somos todas criaturas. Somos todas criadoras.
Sobre DarkSide
Eles bem que tentaram nos vender um mundo perfeito. Não é nossa culpa se enxergamos as marcas
de sangue embaixo do tapete. Na verdade, essa é a nossa maldição. Somos íntimos das sombras.
Sentimos o frio que habita os corações humanos. Conhecemos o medo de perto, por vezes, até rimos
dele. Dentro de nós, é sempre meia-noite. É inútil resistir. Faça um pacto com quem reconhece a
beleza d’ O terror. O terror. Você é um dos nossos.
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