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ANA CRHISTINA VANALI

ANDREA MAILA VOSS KOMINEK


CELSO FERNANDO CLARO DE OLIVEIRA
(organizadores)

1ª Edição
ANA CRHISTINA VANALI
ANDREA MAILA VOSS KOMINEK
CELSO FERNANDO CLARO DE OLIVEIRA
(organizadores)

OS NOMES DA PLACA:
A História e as histórias do monumento à
Colônia Afro-brasileira de Curitiba

CURITIBA
2021
EXPEDIENTE
SISTEMA FECOMÉRCIO SESC SENAC PR
Presidente: Darci Piana

SESC PR
Diretor Regional: Emerson Sextos
Diretora de Educação, Cultura e Ação Social: Maristela Massaro Carrara Bruneri

NÚCLEO DE COMUNICAÇÃO E MARKETING


Coordenador Geral: Cesar Luiz Gonçalves
Coordenador de Jornalismo: Ernani Buchmann
Assessora de Comunicação e Marketing do Sesc PR: Rosane Aparecida Ferreira Guarise
Revisão: Silvia Bocchese de Lima e Sônia Amaral
Projeto gráfico, capa e diagramação: Marcelo Simplicio

Impressão: Finaliza Editora e Indústria Gráfica Ltda - EPP.


Tiragem: 1500 exemplares.
“Há muitas histórias
Sobre meus avós
Que a História não faz
Questão de contar”
Carlos de Assumpção, “Meus avós” (2000)

Idoso anônimo. Curitiba, década de 1920


Fonte: acervo de Jorge Henrique Jacob

Esse trabalho homenageia a todos os negros e negras que construíram Curitiba.


Estamos às portas do centenário da abolição da escravatura
no Brasil, cem anos depois desse acontecimento pouca coisa
se alterou na situação de marginalização do negro e seus
descendentes no Brasil. É esta falsa abolição que permanece
como razão da luta para os negros e não negros, que possuam
consciência democrática e libertadora. A nossa luta é por
igualdade de oportunidades e valorização da cultura no
contexto histórico e estrutural do país.

Joaquim Luiz Cândido (APRONEGRO, 30/10/1987)

Levando-se em conta a condição atual do negro, à margem


do sistema, que lhe é imposta pelo duplo motivo de raça e de
pobreza, desta realidade é que nasce a necessidade urgente de
assegurar a própria existência do negro enquanto ser humano.
É tão relevante para o negro de hoje quanto para o de quatro
séculos atrás, no sentido de tratar de desfazer o efeito secular
da calúnia levantada contra o povo africano, e restaurar a sua
dignidade.

Joaquim Luiz Cândido (APRONEGRO, 03/05/1988)


PRESENÇA NEGRA DESDE A PRIMEIRA IMAGEM (Leo Fé)

Curitiba a cidade modelo


De cultura europeia
Ignorando que está em solo brasileiro
Construída pelas mãos escravas
De pele escura
Que não estão nas placas
Muito menos em molduras
Mas a Boca Negra não se cala
É a voz de um povo que resiste
Na capital embranquecida
Que finge que o negro não existe
Na primeira imagem da cidade
Datada em 1827
Debret pintou sua aquarela
Quem é a única pessoa que aparece
É o negro, é o negro sim senhor
Construindo a cidade que despreza seu valor

Jean-Baptiste Debret, cidade de Curitiba em 1827


PREFÁCIO
...... com orgulho, mas, sobretudo, com emoção.

O Movimento Negro Unificado (MNU) completou 40 anos de existência no ano de 2019. Enganam-se aqueles
que nos veem como instituição originária somente do contexto amplo dos anos de chumbo da ditadura militar, em
que a discriminação racial, a tortura e a morte se encontravam em confluência para o temor dos trabalhadores e das
trabalhadoras. O MNU deita as suas raízes em uma teia de acontecimentos históricos que vai muito, muito aquém do
período em que um conjunto de ativistas de várias organizações negras se reúne, em 1978, nas escadarias do teatro
municipal da cidade de São Paulo para lançar publicamente a nova face do movimento negro no Brasil.
A obra que tive a honra de conhecer ainda na fase de elaboração apresenta ao leitor mais do que o contato
com vivências alhures tatuadas em um passado aparentemente distante. Ela nos remete à reflexão sobre os elãs que
animam e tecem a nossa história social, com os significados e significantes da vida familiar nas comunidades e lares
da África, que não nos chegariam aos dias atuais não fossem as ressignificações produzidas desde a travessia do
Atlântico, como atestam Muniz Sodré, Paul Gilroy e outros pesquisadores e pesquisadoras.
Ao reconhecer aqui as memórias da gente preta que coadjuvou a construção da sociedade paranaense
a partir de meados do Século XIX, reconhecemos as nossas memórias vividas na consciência e na concretização
das nossas ações, ou “vividas por tabela”, como sugere o sociólogo austríaco Michael Pollak. As “breves narrativas
biográficas, parte das vidas dos(as) 68 homenageados(as)”, colhidas pelas autoras entre mulheres negras e homens
negros bem poderiam ser as do nosso pai, nossa mãe, dos nossos avôs, avós, bisavôs, bisavós... independentemente
do espaço geográfico definido ao sul do Brasil, ao sul da América. São fragmentos de histórias que, justapostos
conforme a conveniência de quem assume o seu protagonismo, potencializam a recriação autônoma da história
política, econômica e cultural da ocupação do Paraná. E, se assim nos determinássemos, essa possibilidade seria
replicada em todos os cantos por onde o desenvolvimento do Ocidente foi fomentado à custa do nosso sangue.
As homenageadas e homenageados neste livro, que marcarão as representações sobre a constituição da
história local, revelam trajetórias que se repetem por toda a diáspora afro-americana, traduzidas na perspectiva
de superação da violência física, psíquica e simbólica infringida pelo projeto europeu de dominação colonial
e escravista. Memórias individuais como a de Enedina Alves Marques, filha de empregada doméstica, primeira
engenheira negra do Paraná e do Brasil, certamente guardam similitudes com as nossas próprias memórias. Ou,
a partir delas, granjeia-se refletir sobre o intenso processo de resistência que caracteriza os povos que, mesmo
transformados e transformadas em cativos e cativas, foram fortes para reestruturar-se em novos experimentos de
base cultural e espiritual no contexto diaspórico.
O acervo fotográfico que guia a exploração dessas memórias e reflexões revela de barbeiros a militares de
alta patente, médicos, advogados, economistas, engenheiros (com destaque para os irmãos Rebouças), professores
da educação básica e do ensino superior... são imagens de profissionais liberais, de atletas, artistas de cinema,
televisão, teatro e música; poetas, servidores públicos de carreira, ativistas políticos, militantes do movimento negro
e de outros movimentos sociais, políticos de mandato, sacerdotes e sacerdotisas – como a Dona Jacyra, dedicada à
umbanda, ou como a Iyagunã Dalzira, autodidata cuja dissertação de mestrado discute os saberes do candomblé na
contemporaneidade.
Um dos aspectos que mais motiva a curiosidade do olhar sobre as memórias individuais e coletivas que dão
a base de sustentação de sonhos e conquistas desses paranaenses frente à infâmia do racismo, que ofuscou, mas
não impediu que prosperasse a presença negra naquele estado do Sul, é a capacidade de recriar e fortalecer os seus
laços familiares.
A despeito de uma vasta literatura, sobretudo, no campo da sociologia e da historiografia, que nos levou
a acreditar por muito tempo na inexistência de famílias negras durante o cativeiro, identifica-se na Colônia Afro-
Brasileira de Curitiba o peso da referência dos seus protagonistas aos valores herdados, por transmissão dos
antepassados e das antepassadas, de indignação e luta pela sobrevivência física, liberdade e ocupação dos espaços
sociais.
Essas lutas impulsionaram a criação de múltiplas formas de organização da resistência negra durante a
escravatura e no período pós-abolição (1888 – anos 1930), contra o mal impregnado no empreendimento colonial.
O mal que se expressava, de uma parte, na destruição de famílias no Continente Africano, pelas redes do tráfico
transatlântico instituídas para este fim, e de outra parte pelo exercício voluntário de crueldades imprimido pelas
famílias proprietárias de plantéis de escravos e escravas nas Américas, como descrito na obra de Gilberto Freyre,
entre outros autores.
Das formas de organização da resistência das famílias negras contra o mal fomentado pela mentalidade
colonial, despontam os canais políticos de comunicação à sociedade das suas dinâmicas próprias de vivência no
ambiente diaspórico. Assim surgem, na esteira das confrarias e das comunidades de terreiros, soerguidas ainda no
período escravocrata, a Casa do Engenho Velho, em Salvador, Bahia, e outras comunidades de Egbé pelo Brasil afora;
o movimento abolicionista; a imprensa negra e os clubes negros, em escopo nacional, de onde derivará a Frente
Negra Brasileira, perseguida e extinta na Era Vargas.
Mais próximo de nós estão os acontecimentos que levaram à criação das “novas” entidades negras que vêm
compor o movimento negro contemporâneo. O MNU, com as injunções políticas festejadas à época pela esquerda
concebida nos princípios da filosofia e teoria do materialismo dialético, impulsionará o surgimento de entidades
como o Grucon – Grupo União e Consciência Negra, aqui referido em depoimentos.
Em todas as experiências de resistência à ordem escravocrata e ao racismo, que atravessam dezenas de
gerações de mulheres negras e homens negros diasporizados, as “famílias negras”, como refere Oliveira (2016)
em Famílias Negras Centenárias: Memórias e Narrativas, foram decisivas para recompor o espaço de convivência
comunitária comum, onde se podia compartilhar em segurança os sonhos de se produzir uma vida livre, adjetivada
pelo cultivo da ternura, da coragem, da ousadia para o enfrentamento da violência colonial e do racismo. Parece-
me ser esta a essência contida nas falas dos personagens e dos interlocutores e interlocutoras de suas sagas,
recapituladas nas páginas que se seguem, com orgulho, mas, sobretudo, com emoção.
Deve-se considerar, enfim, que esse livro servirá de estímulo para a captura de outras tantas histórias que
devotem às gerações presentes e futuras as justas referências ao nosso passado de lutas, e não de subjugação. Uma
evidência de que o projeto eurocêntrico fracassou está aqui, na afirmação dos afro-paranaenses. Cabe-nos, então,
prosseguir no caminho que vimos trilhando, ampliando a nossa consciência até a vitória que exigem os nossos
antepassados: a restituição da ontologia afrocentrada, do nosso próprio ethos civilizatório, quiçá como anteparo a
esses tempos lúgubres que enclausuram a nossa esperança e ameaçam consumir o nosso futuro.

IÊDA LEAL 

Coordenadora Nacional do MNU


Coordenadora do Centro de Referência Negra Lélia Gonzales
Secretária de Combate ao Racismo da CNTE
Tesoureira do Sintego
Conselheira do Conselho Estadual de Educação – CEE/GO
Vice-presidenta da CUT – Goiás
Conselheira Nacional dos Direitos Humanos – CNDH
Goiânia, verão de 2019.

REFERÊNCIA

OLIVEIRA, Luís Claudio (2016). Famílias Negras Centenárias: memórias e narrativas. RJ: Editora Mar de Ideias.
PREFÁCIO
Colônia Afro-Brasileira de Curitiba é uma viagem no tempo, mas é também uma viagem de resgate a
nós mesmos, nossas heranças e riquezas. A capital paranaense, tradicionalmente associada à imagem de uma
cidade europeizada e branca, invisibilizou a contribuição negra na composição de sua população, assim como
embranqueceu importantes personalidades negras de sua história.
É importante frisar que esta ideia de cidade europeia e branca foi discursivamente construída. O
Brasil, assim como os países da América Latina, teve o discurso público dominado pelo pensamento racista
no século XIX. As ideias eram que a composição majoritariamente indígena e/ou negra seriam um empecilho
ao desenvolvimento. Por isto, o esforço e o investimento econômico em trazer imigrantes brancos, que teve
maior impacto na composição étnico-racial da população nos países que contavam com maiores recursos
para custear as viagens e a fixação de imigrantes europeus que fugiam da pobreza. Ao passo que países como
Argentina e Uruguai tiveram sua composição étnico-racial fortemente embranquecida, no Brasil o impacto foi
especialmente regional, nas Regiões Sudeste e Sul.
O Paraná, alçado à condição de província em 1853, e Curitiba, alçada então à capital, tinham a condição
do restante da região Sul de então. Cerca de metade da população paranaense era negra e, durante todo o século
XIX, a maioria era de negros e negras livres. Com o processo de imigração na segunda metade do século XIX e
início do XX o percentual diminui, mas nunca deixou de ser muito expressivo tanto no estado quanto na capital.
No entanto, a historiografia do século XX forjou a ideia de um Paraná e de uma Curitiba como europeus,
tornando invisível a presença negra. Felizmente, graças às lutas dos movimentos negros, e ao trabalho de
pesquisadores e pesquisadoras sobre as trajetórias de personalidades negras, atualmente é crescente o
interesse em resgatar histórias muitas vezes desconhecidas e ignoradas pela “história oficial”.
Neste contexto, apresentar trajetórias de vidas de personalidades negras em muito contribui para que
essas memórias sejam reconhecidas e valorizadas. O presente livro torna-se importante instrumento para
pensar as africanidades e suas contribuições para o estado do Paraná e, mais especificamente, para Curitiba.
Assim, este livro constitui importante instrumento de enfrentamento ao racismo estrutural no Brasil, uma
vez que conhecer essas raízes permite o exercício de “descolonização do olhar” e admissão das omissões da
“história oficial”.
O livro é composto por pequenas biografias de grandes personalidades negras. Trata-se do resultado
de um exercício de investigação realizado a muitas mãos. Exercício de reconstrução de trajetórias que ficaram
apagadas pelas marcas do tempo. São personalidades negras que, cada um a sua maneira e dentro de sua área
de atuação, lutaram contra o racismo, pela superação das desigualdades e construção de um futuro justo!
Cada um dos nomes do livro foi retirado da placa em homenagem ao centenário da abolição e que
atualmente está localizada na Praça Santos Andrade, em frente ao prédio histórico da Universidade Federal
do Paraná, local símbolo de luta, manifestações políticas e enfrentamento. Local apropriado para abrigar uma
placa com nomes que por si só representam luta, enfrentamento e resistência.
Que este livro e as histórias de vida que ele abriga sejam inspiração para que as novas gerações sigam
na luta, que a resistência se fortaleça, que a memória seja valorizada e que, enfim, caminhos novos em direção
a um futuro melhor sejam possíveis!
Boa leitura!

PAULO VINÍCIUS BAPTISTA DA SILVA


Pesquisador CNPQ
Superintendente da Sipad UFPR
(Superintendência de Inclusão, Políticas Afirmativas e Diversidade)
Professor do Programa de Pós-graduação em Educação da UFPR
Membro do Neab-UFPR
Curitiba, outono de 2019.
APRESENTAÇÃO
Quando os organizadores me pediram para escrever a apresentação de um livro que traz uma pequena
biografia de personalidades negras curitibanas que foram homenageadas por ocasião do centenário da abolição,
não passou por minha cabeça que me veria frente a um material tão rico sobre a trajetória do povo negro por
estas plagas curitibanas. Na verdade, o livro apresenta o embate coletivo e individual de vida e afirmação de
tantos homens e mulheres negras gritando: EU EXISTO, NÓS EXISTIMOS!
Tiveram uma vida dura, a de ter que matar um leão a cada dia. E viveram, lutaram, e muitos ainda vivem
e lutam, sob as condições mais adversas. Cada vida, cada relato é um testemunho do que disse Otávio Ianni
(1988, p. 37) em seu livro “As Metamorfoses do Escravo”:

O negro cidadão não é o negro escravo transformado em trabalhador livre.


O negro cidadão é apenas o negro que não é mais juridicamente escravo. Foi posto na condição
de trabalhador livre, mas nem é aceito plenamente ao lado de outros trabalhadores livres,
brancos, nem ainda se modificou substancialmente em seu ser social original. É o escravo que
ganhou a liberdade de não ter segurança; nem econômica, nem social, nem psíquica.

Essa era, e ainda é, a dura realidade dos descendentes da escravidão no Paraná. E quanto mais recuarmos
no tempo, veremos que mais se fazia presente esta situação.
Este livro é um manancial inesgotável de fatos e situações vividas pelo povo negro no Paraná. Aqui
encontram-se elementos inesgotáveis para pesquisas e redefinições de rumos e projetos de luta. Uns cavaram
com as mãos, com as unhas, com os dentes, a pau e à pedra, as saídas possíveis para uma nova condição, sozinhos
e isolados. Outros buscaram, na organização de seu grupo mais próximo, erguer barreiras de contenção do
racismo e erguer, ao mesmo tempo, torres de vigia de forma a ver mais longe o horizonte, e traçar o rumo da
jornada. Em ambas as alternativas, a força da sociedade escravocrata levantava todo tipo de barreira e exclusão.
Daí o valor inestimável do esforço de cada um dos apresentados neste livro. Em cada um, em cada uma, há
notáveis lições de luta, resistência e superação. O movimento negro organizado haverá de retirar deste livro
inspiração e ferramentas para consolidar um caminho de organização, resistência e triunfo da luta contra o
racismo e na educação das relações étnico-raciais em nosso estado.
Não poderia encerrar esta singela apresentação, sem transcrever as belas palavras de Joaquim Nabuco
(2012, p. 26), em seu livro memorável, O Abolicionismo, pois elas testemunham os exemplos de vida dos negros
e negras presentes neste livro.

Tudo o que significa luta do homem com a natureza, conquistas do solo para a habitação e
cultura, estradas e edifícios, canaviais e cafezais, a casa do senhor e a senzala dos escravos,
igrejas e escolas, alfândegas e correios, telégrafos e caminhos de ferro, academias e hospitais,
tudo, absolutamente tudo que existe no país, como resultado do trabalho manual, como
emprego do capital, como acumulação de riqueza, não passa de uma doação gratuita da raça
que trabalha à que faz trabalhar.
[...] a raça negra fundou, para outros, uma pátria que ela pode, com muito mais direito, chamar
sua.

Professor ROMEU GOMES DE MIRANDA


Bisneto de escravizados
Presidente da APP-Sindicato de 1996 a 2002
Presidente do Conselho Estadual de Educação de 2006 a 2011
Membro da direção da Acnap – Associação Cultural de Negritude e Ação Popular
Curitiba, verão de 2019.

REFERÊNCIAS

IANNI, Otávio [1962] (1988). As metamorfoses do escravo. 2ª edição. Curitiba: Editora da UFPR.
NABUCO, Joaquim [1883] (2012). O Abolicionismo. Petrópolis/RJ: Editora Vozes.
JUSTA HOMENAGEM
Em 1988, a Câmara Municipal de Curitiba, por ocasião das comemorações do centenário da Lei Áurea,
prestou homenagem a 68 personalidades curitibanas de ascendências africanas, aqui nascidas ou que adotaram
a cidade para viver.
Desde os primórdios da Vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais os afrodescendentes foram
determinantes para o desenvolvimento da cidade. Por exemplo, a construção da Estrada de Ferro Curitiba–
Paranaguá, empreitada que se deve ao talento e à ousadia dos irmãos André e Antonio Rebouças – imortalizados
na capital ao darem nome ao bairro Rebouças e à Rua Engenheiros Rebouças –, foi bem-sucedida graças à força
da mão de obra de centenas de brasileiros de sangue africano. Muitos ficaram por aqui, enriquecendo a genética
curitibana de forma indelével.
Além dos 68 homenageados em 1988, faço questão de ressaltar outros três nomes, de grande relevância
para a nossa cultura, a começar por João Pamphilo d’Assumpção, um símbolo de seriedade. Professor de Direito,
foi um dos fundadores da Universidade do Paraná, em 1912. Fundou e presidiu por 15 anos o Instituto dos
Advogados do Paraná e, em seguida, fundou e foi o primeiro presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Seção
do Paraná. Também presidiu o Centro de Letras do Paraná e foi um dos fundadores da Academia Paranaense
de Letras.
Além dele, destaco dois músicos de enorme talento. Palminor Rodrigues Ferreira, o Lápis, falecido em
1978, e o maestro Waltel Branco, Doutor Honoris Causa da UFPR, coautor do tema do filme A Pantera Cor de
Rosa, que nos deixou em 2018. São ícones da musicalidade curitibana.
Este livro traz, para leitura e consulta, a rica e extensa pesquisa realizada pelos Autores e sistematizada
pelos Organizadores, no qual vamos conhecer a saga vivida entre nós pelos descendentes dos povos africanos.
Uma obra primordial, que se insere nos objetivos prioritários de integração, igualdade e justiça social
preconizados pelo Sesc Paraná.

DARCI PIANA
Presidente do Sistema Fecomércio Sesc Senac Paraná
COMO SURGIU A IDEIA DESSE LIVRO

Em 2015, durante as comemorações do Dia da Consciência Negra, 20 de novembro, eu conheci o


projeto Linha Preta que foi concebido durante o II Congresso de Pesquisadores Negros da Região Sul, o Copene
Sul, organizado pelo Neab (Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros) da Universidade Federal do Paraná, realizado
em junho daquele mesmo ano na cidade de Curitiba. O trajeto, todo feito a pé, junto com um grupo de mais 20
pessoas, guiado por uma estudante do curso de Turismo da UFPR, realizado no centro da cidade, era uma opção
para quem quisesse conhecer mais sobre a presença negra e sua participação na formação de Curitiba. O roteiro
contemplava os principais pontos históricos da população negra em Curitiba. A última parada se deu na Praça
Santos Andrade, em frente ao monumento em comemoração ao centenário da abolição da escravidão no Brasil,
que homenageava 68 personalidades negras da Colônia Afro-brasileira de Curitiba.
Enquanto a guia explicava sobre o monumento, me aproximei para ler os nomes da placa. Ao final da
explicação questionei sobre quem eram aquelas pessoas. Alguns dos nomes eu tinha referência, mas a maioria
dos nomes não conhecia, eu queria saber o que fizeram de significativo para serem homenageados. Ela não
soube me responder e continuou sua fala respondendo às demais questões dos outros participantes do passeio.
Fiquei com aquela questão na minha mente, e antes da guia se despedir de todos nós, eu já havia decidido que
iria conhecer aquelas pessoas, assim que terminasse a minha tese de doutorado.
Passados dois anos, em 2017, iniciei os trabalhos de pesquisa. Convidei alguns pesquisadores e
apresentei a prosposta: escrever as narrativas biográficas dos homenageados na placa. Alguns aceitaram, outros
declinaram de imediato e outros ao longo do percurso. Com o trabalho se avolumando, precisei de ajuda e os
professores doutores Andrea e Celso se uniram a mim na organização do presente trabalho. Muitos desafios
foram colocados nesses mais de quatro anos de pesquisa, mas, ao mesmo tempo foram sentidas muitas alegrias
pelas descobertas.
Uma das histórias que me marcou durante o desenvolvimento do trabalho desse livro foi a confusão
que fiz com os Negros Pamphilo. No capítulo 5, vocês vão conhecer a vida do médico negro Antenor Pamphilo
dos Santos, que entre outras atividades importantes, assumiu como prefeito interino de Curitiba de 16 a 20
de julho de 1948, pois o prefeito Ney Leprevost tirou curta licença por motivos de enfermidade na família.
Nessa época, Pamphilo dos Santos era vereador e estava como presidente em exercício da Câmara Municipal de
Curitiba. Portanto, Curitiba já teve um prefeito negro!

Antenor Pamphilo dos Santos – prefeito interino de Curitiba de 16 a 20 de julho de 1948

Fonte: O Dia, 17/07/1948, p. 1 Fonte: O Dia, 21/07/1948, p. 1


O outro Negro Pamphilo é o advogado João Pamphilo Velloso D’Assumpção.

Pamphilo D’Assumpção. Década de 1920 Pamphilo D’Assumpção. Década de 1940

Fonte: Acervo Centro de Letras do Paraná


Foto de Ana Vanali

João Pamphilo Velloso D’Assumpção nasceu dia 7 de setembro de 1868 em Curitiba, estado do Paraná,
mais precisamente na famosa Rua das Flores.1 Foi o quinto filho de Manoel Euphrasio D’Assumpção e Germina
Velloso. O casal teve mais seis filhos: Paulo (1850), Hosanna (1857), Francisca (1864), João (1866), Josephina
(1870) e Maria Deolinda (1878)2. Filho de uma família envolvida em grandes projetos e de grandes feitos.
Seu pai foi organizador da polícia militar no Paraná nos tempos provinciais e das tropas que partiram
do Paraná para a Guerra do Paraguai (CARNEIRO, 1981). Seu irmão mais velho, Paulo Idelfonso D’Assumpção
foi desenhista, pintor e escultor. Fundador, em 1909, da Escola de Aprendizes e Artífices do Paraná, da qual foi
também o primeiro diretor (VASQUEZ, 2012). Escola que viria a se tornar, futuramente, a Escola Técnica do
Paraná, Centro Tecnológico do Paraná (Cefet) e atual Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR).
Sua irmã, Maria Deolinda D’Assumpção, foi professora e uma das fundadoras do primeiro jardim de
infância público de Curitiba (RIBEIRO; VIEIRA, 2018). Ela era pianista e com o irmão João Pamphilo à flauta
costumavam promover grandes e animados saraus (BRANTES, 2008).
Em 1885, Pamphilo iniciou os estudos na Faculdade de Direito de São Paulo, diplomando-se em 1889
na turma da qual também faziam parte o poeta Emiliano Pernetta e o jurista Otávio do Amaral. Após formar-se,
permaneceu na capital paulista, dedicando-se aos estudos e à profissão de advogado. Trabalhou no escritório
do Barão de Ramalho3, onde ficou até a morte deste em 1902 (BOIA, 2001). Em 1897, obteve o raro grau de
Doutor em Ciências Jurídicas e Sociais, na mesma faculdade em que se formara num concurso para catedrático

1. Disponível em http://curitibanaquelesidos.blogspot.com/2015/01/rua-xv-de-novembro-esquina-com-avenida.html
2. Disponível em https://www.myheritage.com.br/names/francisca_assumpcao. Acesso 18.setembro.2018. Diário da Tarde/PR,
28/11/1903, p. 3.
3. Conselheiro Joaquim Ignacio Ramalho (Barão de Ramalho) (1809-1902), foi jurista, professor, político, diretor da Faculdade de Direito da
Universidade de São Paulo, de 1891 e 1902, além de fundador do Instituto dos Advogados de São Paulo. Disponível em VASCONCELLOS,
Barão de. Archivo nobiliarchico brasileiro, Lausanne/Suíça: Imprimerie La Concorde, 1918.
substituto de um grupo de cadeiras referentes à área de Economia e Administração. Durante muito tempo, foi o
único bacharel doutor de São Paulo.
Em seu retorno a Curitiba, por volta de 1908, Pamphilo foi recebido como profissional de grande
prestígio, admiração e respeito. Montou seu escritório de advocacia, um dos mais procurados à época. Não se
dedicou apenas aos assuntos forenses, ampliando suas atividades: escrevia na impressa diária (A República,
Diário da Tarde e Comércio do Paraná) comentários sobre assuntos jurídicos, política, artes, entre outros
(BRANTES, 2008).
Dentre as contribuições que fez para a imprensa da época, uma curiosa crônica escrita por Pamphilo e
publicada em jornal local, intitulada “Como conheci a Rua XV de Novembro”, conta de modo poético, a história
de denominação “Rua das Flores” para a famosa Rua XV:

(...) Outra reconstituição é a da esquina onde funciona o Club do Comércio e a Bomboniére


Mimosa. Este canto pertencia à minha família. Era fechado por muros velhos, remendados
com tábuas. Havia ali uma roseira da variedade que vulgarmente se chama ‘Mariquinha’,
roseira que cobria todo o muro e de tal modo florescia que deu à rua o nome de Rua das
Flores” (DESTEFANI, 1992).

Na mesma crônica, Pamphilo exalta as belezas da cidade e deixa claro sua paixão por sua terra natal:

O que Curitiba precisa é que seus filhos a amem com ardor, queiram-na com entusiasmo. Que
percam o todo receio de passar por jeca pelo fato de enaltecerem seu berço. Convençam-se de
que a nossa capital é das cidades mais belas, mais adiantadas e mais progressistas do Brasil.
(DESTEFANI, 1992).

Desempenhou altos cargos de gestão em importantes sociedades de classe, sendo presidente da


Associação Comercial do Paraná por seis anos (1909–1913 e 1927–1931)4. Durante sua gestão reestruturou a
instituição, que ganhou um novo status (CARNEIRO, 1981). Também foi fundador de várias entidades culturais
como do Centro de Letras do Paraná, em 1912, do qual foi presidente por duas gestões (1918–1921 e 1922–
1934)5 e da Academia de Letras do Paraná, em 19226. Foi presidente da Sociedade Thalia (1927–1928)7 e
membro da Academia Paranaense de Letras, fundada em 19368.

4. Disponível em https://acpr.com.br/institucional/diretoria/. Acesso 23.novembro.2018.


5. Disponível em https://www.centrodeletrasdoparana.org.br/galeria-dos-presidentes. Acesso 23.novembro.2018.
6. Disponível em http://academiaparanaensedeletras.com.br/. Acesso 23.novembro.2018.
7. Disponível em http://thalia.com.br/o_clube/presidencia/. Acesso 23.novembro.2018.
8. Disponível em http://academiaparanaensedeletras.com.br/historia/. Acesso 18.setembro.2018.
João Pamphilo Velloso D’Assumpção – Curitiba, 1915

Inauguração da sede própria da Associação Comercial do Paraná.


Pamphilo D’Assumpção em destaque
Fonte: Acervo da Casa da Memória / Diretoria do Patrimônio Cultural / Fundação Cultural de Curitiba

João Pamphilo Velloso D’Assumpção – Rio de Janeiro, 1909

Lunch oferecido aos membros da Colônia Paranaense por Pamphilo de Assumpção, presidente da Associação Comercial do Paraná (em
destaque), por ocasião da data comemorativa da separação do Estado do Paraná do de São Paulo. No centro do grupo (de colete branco),
está o advogado e propagandista dos produtos do Paraná, Dr. Pamphilo de Assumpção, tendo a sua direita o deputado Correa Defreitas e
a sua esquerda Arinos Pimentel e o Dr. Paulo Telles. A mocidade acadêmica paranaense e os representantes da imprensa completam essa
fotografia tirada no Bar do Ipanema expressamente para a Revista Fon-Fon.
Fonte: Acervo da Casa da Memória / Diretoria do Patrimônio Cultural / Fundação Cultural de Curitiba

Catedrático da Universidade do Paraná desde 1913, participou da sua fundação sendo o orador9.

9. A República/PR, 20/12/1912, p. 2.
Ocupava a cátedra de Direito das Obrigações, além de ministrar as disciplinas de Filosofia do Direito, Economia
Política, Direito Administrativo e Direito Internacional Público. Era um “profissional respeitado entre seus pares
e um nome largamente conhecido pela comunidade política e intelectual de Curitiba” (GRUNER, 2009, p. 79). Foi
o paraninfo da primeira turma de bacharéis em Direito da Universidade do Paraná (PARANÁ, 1922).
Em 10 de junho de 1917 foi um dos fundadores do Instituto de Advogados do Paraná, sendo eleito
seu primeiro presidente10. Permaneceu no cargo por 15 anos, até o ano de 1932, passando a ser presidente
honorário do instituto. Foi responsável pela instalação da Seção Paranaense da Ordem dos Advogados do Brasil
(OAB), sendo seu presidente de 1932 a 193711: “João Pamphilo D’ Assumpção liderou os advogados paranaenses
para criar aqui a seção da Ordem dos Advogados do Brasil” (GLOMB, 2012). Foi ainda fundador da primeira
Faculdade de Direito do Paraná e do Centro de Letras do Paraná, junto com seu companheiro de faculdade
Emiliano Perneta em 1912.

Homenagem a Pamphilo D’Assumpção

Fonte: A Bomba, 10/08/1913, p. 26

Pamphilo D’Assumpção era maçom. Iniciou suas atividades na Sociedade Maçônica Loja Capitular
Piratininga de São Paulo. Muito provavelmente seu padrinho foi o Barão de Ramalho visto que a “22 de março

10. Disponível em http://iappr.org.br/site/1917-1932/. Acesso 18.setembro.2018.


11. Disponível em https://www.oabpr.org.br/. Acesso 18.setembro.2018.
de 1893, dia em que era empossada a administração da Grande Loja, tendo, como Grande Venerável, o Barão de
Ramalho e, como Grande Orador, João Pamphilo de Assumpção, ambos da Loja Piratininga” (CASTELLANI, 2000,
p. 81). Mudando-se para Curitiba, passou a fazer parte da Loja Fraternidade Paranaense do qual chegou a ser
grão-mestre12.

Grão-mestre Pamphilo D’Assumpção, sem data13

Seu primeiro casamento foi com Maria Carolina Sampaio, com quem teve as filhas Yraci, Aray e Jacy. Em
1919 faleceu sua primeira esposa e no ano seguinte, em 26 de outubro de 1920, casou em segundas núpcias
com a pintora Maria Amélia de Barros com quem teve duas filhas14 (BRANTES, 2008). Sebastião Paraná (1922)

12. Disponível em http://www.museumaconicoparanaense.com/MMPRaiz/LojaPRate1973/0555_Novo_Templo-1919.htm.


Acesso 23.novembro.2018.
13. Loja América – 0189. Oriente de São Paulo. Disponível em https://america.mvu.com.br/site/decreto-no--173-de-10-de-setembro-de-
1893/v-124DbrZG-2U-3/atr.aspx. Acesso 23.novembro.2018.
14. Maria Amélia de Assumpção (1883-1955) casou-se pela primeira vez com Joaquim Ignácio Silveira da Motta. Ficou viúva sete meses
depois. Dessa união nasceu Joaquim Ignácio Silveira da Motta Neto. Entre 1906-1910 passou uma temporada no Rio de Janeiro, onde
seu pai Bento Fernandes de Barros morava. Em 1910 retornou para Curitiba e começou a estudar pintura com Alfredo Andersen.
destaca que pode ter sido essa afinidade com as artes o que aproximou Pamphilo D’Assumpção de Maria Amélia.
Ele, além de crítico de arte, também produzia aquarelas e quadros que eram muito apreciados.

Figura 5 – Curitiba de outrora: esboço de Pamphilo D’Assumpção

Fonte: Ilustração Paranaense, Nº 2, Dezembro de 1927, p. 12-17

Pamphilo D’Assumpção foi consultor jurídico do estado do Paraná e escreveu várias obras na área de
Direito entre as quais destacam-se: Praxe Brasileira, Extradição perante o Direito Criminal Moderno, Habeas

Realizou exposições individuais em 1917 no Liceu de Artes e Ofícios/RJ e em 1921 e 1925 na Associação Comercial do Paraná. Foi
a primeira mulher do Paraná a expor, individualmente, no Rio de Janeiro. Disponível em http://www.artesnaweb.com.br/index.
php?pagina=home&abrir=arte&acervo=1214. Acesso 18.setembro.2018.
Pamphilo D’Assumpção também produziu algumas telas de aquarela, mas de sua produção artística, pouca coisa se encontra (BRANTES,
2008).
Corpus, Livro dos Direitos das Mulheres, Do Testamento, Do processo sumaríssimo e Crítica jurídica. Também
colaborou em diversas revistas de jurisprudência, tais como Gazeta dos Tribunais de São Paulo, São Paulo
Judiciário, Revista de Jurisprudência entre outras (GOMES, 1959).
Foi um destacado profissional liberal de formação jurídica, porém, nos últimos anos de vida, doente e
sem poder trabalhar, recebia uma ajuda mensal da OAB para complementar sua renda15. Faleceu em Curitiba no
dia 15 de janeiro de 1945 e seu corpo está sepultado no Cemitério Municipal São Francisco de Paula.
Em 1951 foi homenageado pela Câmara Municipal de Curitiba e uma das ruas da capital paranaense, no
bairro Rebouças, passou a ser denominada Rua Doutor Pamphilo D’Assumpção16.

Pamphilo D’Assumpção. Curitiba, 1929

Fonte: Ilustração Paranaense, Ano 3, Nº 12, Dezembro de 1929, p. 42

Há muitos questionamentos quanto à negritude de João Pamphilo Velloso D’Assumpção, também


conhecido como “Negro Pamphilo”. Silva e Reinehr (2016, p. 23-24) fazem a crítica de que o primeiro presidente

15. O Dia/PR, 19/01/1945, p. 5.


16. Lei Nº 366 de 8 de outubro de 1951. Disponível em https://www.cmc.pr.gov.br/wspl/sistema/BibLegislacaoForm.jsp. Acesso
15.maio.2019.
da OAB-PR “Dr. Pamphilo D’Assumpção, um dos fundadores da Academia Paranaense de Letras e um dos
elaboradores do primeiro estatuto da Universidade do Paraná fundada em 1912, foi um afrodescendente
embranquecido na história do Paraná”.
Invisibilidade e silenciamento têm marcado as contribuições das trajetórias de negros e de negras para
a constituição da história paranaense. Apesar do para eurocentrismo hegemônico e da falta de interesse da
elite dominante da cidade em querer demonstrar essa contribuição, há muitas histórias de afrodescendentes
que estão encobertas na cidade de Curitiba e que precisam ser reveladas. Precisamos relembrar a memória
desses elementos negros para demonstrar que a capital do Paraná, tal como conhecemos hoje, nasceu a partir
da influência de diversas culturas.

 A configuração da população, por exemplo, é marcada por influências de imigrantes italianos,


alemães, poloneses, ucranianos e asiáticos. Da mesma forma, e com a mesma expressão,
os escravos também influenciaram na cultura desta população, com tradições e costumes que
apresentam-se por toda a cidade. É possível observar os traços da cultura afrodescendente
nos padrões arquitetônicos e festas que procuram resgatar a história da chegada dos negros
na cidade. No entanto, toda a riqueza vinda dos afrodescendentes ainda não ganhou pleno
destaque na cidade. A influência do eurocentrismo acaba dando destaque para o conjunto de
elementos dos costumes europeus. (BUENO, 2018, on-line).

REFERÊNCIAS

BOIA, Wilson (2001). Pamphilo D’Assumpção (fundador). IN: Bibliografia da Academia Paranaense de Letras.
Curitiba: Posigraf, p. 51.
BRANTES, Carlos Alberto (2008). Dr. Pamphilo D’Assumpção: jurista e artista. BIHGP, Vol. LIX, p. 75-79.
BUENO, Fernanda (2018). Cultura afrodescendente aparece encoberta em Curitiba (22/05/2018). Disponível
em http://www.entreverbos.com.br/single-post/2018/05/22/Cultura-afrodescendente-aparece-encoberta-
em-Curitiba. Acesso 18.abril.2019.
CARNEIRO, David (1981). Perfil histórico da Associação Comercial do Paraná e galeria dos presidentes. Curitiba:
Reproset.
CASTELLANI, José (2000). Piratininga: história da loja maçônica tradição de São Paulo. SP: OESP.
DESTEFANI, Cid (1992). De uma velha crônica, a origem do nome Rua das Flores. In: Gazeta do Povo, 07/06/1992.
Disponível em http://curitibanaquelesidos.blogspot.com/2015/01/rua-xv-de-novembro-esquina-com-
avenida.html. Acesso 15.maio.2019.
GLOMB, José Lúcio (2012). Emoção e homenagens marcaram solenidade de 80 anos da OAB Paraná (1932-
2012). Disponível em https://www.oabpr.org.br/emocao-e-homenagens-marcam-solenidade-de-80-anos-da-
oab-parana/. Acesso 18.setembro.2018.
GOMES, Oscar Martins (1959). O professor Pamphilo D’Assumpção: perfil póstumo. In: Revista da Faculdade de
Direito. Curitiba: Universidade do Paraná/Papelaria Requião, Vol. 6/7, p. 379-383.
GRUNER, Clóvis (2009). Um nome, muitas palavras: Pamphilo de Assumpção e os discursos jurídicos na Curitiba
da Belle Époque. In: Revista Regional de História 14 (1), p. 76-104.
MENDES, Antonio Celso (2013). Um século de cultura: história do Centro de Letras do Paraná (1912-2012).
Curitiba: NMC/Estúdio Texto.
PARANÁ, Sebastião (1922). Galeria Paranaense: notas biográficas. Curitiba: [s.e].
RIBEIRO, Alexandra Ferreira Martins; VIEIRA, Alboni Marisa Dudeque. Pórcia: arquivos de vida, formação e
atuação. Curitiba: Editora Appris.
SILVA, Adegmar; REINEHR, Melissa (2016). Oralidades afroparanaenses: fragmentos da presenção negra na
história do Paraná. Curitiba: Editora Humaitá.
VASQUEZ, Ana Lúcia de L.P. (2012). O Salão Paranaense e o campo artístico de Curitiba. Curitiba: Tese de
Doutorado em Sociologia da UFPR. Disponível em http://www.humanas.ufpr.br/portal/pgsocio/files/2013/07/
TeseAnaVasquez.pdf. Acesso 18.setembro.2018.

FONTES

CANDIERO; MEL (2015). Alma das Ruas: uma crônica para a alma negra curitibana. Curitiba: Editora Humaitá.
GRUNER, Clóvis (2006). Em torno à “boa ciência”: debates jurídicos e a questão penitenciária na imprensa
curitibana. In: Revista Regional de História 8 (1), p. 67-94.
PLAISANT, Dicesar (1938). Panfilo de Assumpção. In: Visões panfletárias. Curitiba: Irmãos Guimarães, p. 195-
196.
VANALI, Ana Crhistina (2018). Negros Pamphilo: personalidades negras da sociedade curitibana do século XX.
In: COQUEIRO, Edna Aparecida et al (Orgs.). Caderno pedagógico: oralidades afroparanaenses. Curitiba: Editora
Humaita/SEED, 2018, p. 160-181.

Pamphilo D’Assumpção. Curitiba, sem data

Pamphilo D’Assumpção é o primeiro da esquerda para a direita


Fonte: Acervo de Paulo José da Costa/Antigamente em Curitiba
Pamphilo D’Assumpção. Curitiba, 1911

Pamphilo D’Assumpção (em destaque) durante visita dos membros do


3º Congresso Brasileiro de Geografia à Fábrica de Presunto de Percy Withers
Fonte: Acervo da Casa da Memória / Diretoria do Patrimônio Cultural / Fundação Cultural de Curitiba

Pamphilo D’Assumpção. Curitiba, 1925

Excursão do violinista Pery Machado. Pamphilo D’Assumpção está na última fila em destaque
Fonte: Acervo de Paulo José da Costa/Antigamente em Curitiba
QUADRO CRONOLÓGICO DE JOÃO PAMPHILO D’ASSUMPÇÃO

ANO EVENTO
1868 Nascimento em Curitiba, Paraná
1885-1889 Faculdade de Direito de São Paulo
1889 Concurso para professor na Faculdade de Direito de São Paulo
1889-1902 Trabalhou como advogado no escritório do Barão de Ramalho
1897 Doutorado em Direito
1908 Retorna para Curitiba
1909-1913 Presidente da Associação Comercial do Paraná
1912 Um dos fundadores do Centro de Letras do Paraná
1912 Um dos fundadores da Universidade do Paraná
1913 Professor catedrático do curso de Direito da Universidade do Paraná
1917 Um dos fundadores do Instituto de Advogados do Paraná
1917-1932 Presidente do Instituto de Advogados do Paraná
1918-1934 Presidente do Centro de Letras do Paraná
1920 Segundas núpcias com Maria Amélia de Barros
1922 Um dos fundadores da Academia de Letras do Paraná
1927-1931 Presidente da Associação Comercial do Paraná
1927-1928 Presidente Sociedade Thalia

Responsável pela instalação da Seção Paranaense da Ordem dos Advogados do Brasil


1932
(OAB)

1932-1937 Presidente da OAB – Seção Paraná


1936 Membro da Academia Paranaense de Letras
1945 Falecimento em Curitiba, Paraná

Fonte: todas as indicações das referências e das fontes


Elaboração da autora

Ana Crhistina Vanali


Curitiba, verão de 2020.
Sumário
I PARTE - A HISTÓRIA
COLÔNIA AFRO-BRASILEIRA DE CURITIBA NO CENTENÁRIO DA ABOLIÇÃO.................................................... 31
Ana Crhistina Vanali
Andrea Maila Voss Kominek
Celso Fernando Claro de Oliveira

II PARTE - AS HISTÓRIAS
1. ACIR FERNANDES (1926–2003).................................................................................................................................................................. 62
Ana Crhistina Vanali
2. ADELINO ALVES DA SILVA (1915–2018). ............................................................................................................................................ 69
Ana Crhistina Vanali
3. AMILTON AMBROSIO RIBEIRO (1939–2007). ............................................................................................................................... 75
Ana Crhistina Vanali
4. ANTENOR ALENCAR LIMA (1901- 1954)............................................................................................................................................ 81
Ana Crhistina Vanali
5. ANTENOR PAMPHILO DOS SANTOS (1895–1967).................................................................................................................... 85
Ana Crhistina Vanali
6. ANTÔNIO CALAZANS DOS SANTOS (1912–1998). ................................................................................................................ 100
Ana Crhistina Vanali
7. ANTÔNIO DIONÍSIO FILHO (1956–2015) . ..................................................................................................................................... 105
Dulcinéia Novaes
8. ANTÔNIO PINTO REBOUÇAS (1839–1874)................................................................................................................................... 114
Alessandro Cavassin Alves
9. ANTONIO SILVA DE PAULO............................................................................................................................................................................... 119
Ana Crhistina Vanali
10. AROLDO ANTONIO DE FARIAS (1922–2010) .......................................................................................................................... 127
Ana Crhistina Vanali
Gloria Estevinho Gomes
11. ARTHUR MIRANDA JUNIOR........................................................................................................................................................................ 132
Ana Crhistina Vanali
12. CÂNDIDO ALVES DE SOUZA (1933–2014). ................................................................................................................................. 136
Ana Crhistina Vanali
13. CLOVIS AZAURY DO NASCIMENTO (1932 – 2014).............................................................................................................. 141
Ivan Luiz Monteiro
Antonio Djalma Braga Junior
14. DALZIRA MARIA APARECIDA.................................................................................................................................................................... 145
Andrea Maila Voss Kominek
15. EDGARD ANTUNES DA SILVA (TATU) (1915–1985).......................................................................................................... 152
Adriane dos Santos Tavella Ferrari
Marcia Cristina dos Santos
16. ELIDIO ALVES TEODORO (1953–2012)......................................................................................................................................... 159
Ana Crhistina Vanali
17. ENEDINA ALVES MARQUES (1913–1981). .................................................................................................................................. 161
Ana Crhistina Vanali
18. EUCLIDES DA SILVA (1917–1994)...................................................................................................................................................... 170
Adriane dos Santos Tavella Ferrari
Ana Crhistina Vanali
19. HAROLDO FERREIRA DOS SANTOS (1912-1967)............................................................................................................... 174
Ana Crhistina Vanali
20. HASIEL DA SILVA PEREIRA FILHO........................................................................................................................................................ 187
Fernando Marcelino Pereira
21. HUGO JORGE BENTO (1928–2019). ................................................................................................................................................... 193
Ana Crhistina Vanali
22. IDELCIO LUIS DE OLIVEIRA......................................................................................................................................................................... 201
Ana Crhistina Vanali
23. ISAACK OTÁVIO DA SILVA (1940–2019)........................................................................................................................................ 209
Marcelo Bordin
24. JOÃO FERREIRA DOS SANTOS (1917–1996). ........................................................................................................................... 214
Ana Crhistina Vanali
25. JOÃO FREDERICO ALVES (1944–2013). ......................................................................................................................................... 233
Ana Crhistina Vanali
26. JOÃO PEREIRA DA SILVA................................................................................................................................................................................. 240
27. JORGE DE OLIVEIRA............................................................................................................................................................................................ 241
28. JOSÉ AUGUSTO GOMES ANICETO.......................................................................................................................................................... 242
Ana Crhistina Vanali
29. JOSÉ CARLOS MOURA DOS SANTOS (1926–2010)............................................................................................................. 246
Ana Crhistina Vanali
30. JOSÉ DIONÍSIO DA SILVA................................................................................................................................................................................. 249
31. JOSÉ FERREIRA DOS SANTOS (1915–1974).............................................................................................................................. 250
Ana Crhistina Vanali
32. JOSÉ MOREIRA DE ASSIS................................................................................................................................................................................ 268
Ana Crhistina Vanali
33. JOSÉ PEREIRA FILHO......................................................................................................................................................................................... 271
34. JOSÉ PINTO REBOUÇAS (1850?–1921). ......................................................................................................................................... 273
Alessandro Cavassin Alves
35. JOSÉ RAMOS. ............................................................................................................................................................................................................... 276
36. JOSÉ SALVADOR DE SOUZA.......................................................................................................................................................................... 277
37. JOSÉ SEVERINO SILVA FELINTO.............................................................................................................................................................. 278
Luciana Podlasek
Ana Crhistina Vanali
38. JURANDIR NUNES PEREIRA........................................................................................................................................................................ 298
Celso Fernando Claro de Oliveira
39. LUIZ FERNANDO MARQUES DA LUZ (1936–2014). ........................................................................................................... 303
Ana Crhistina Vanali
40. MABEL NUNES DA SILVA................................................................................................................................................................................. 307
Ana Crhistina Vanali
41. MANOEL NUNES DA SILVA FILHO (1921–2002). .................................................................................................................. 314
Ana Crhistina Vanali
42. MARIA APARECIDA DA SILVA(1937–1995). .............................................................................................................................. 321
Ana Crhistina Vanali
43. MARIA LÚCIA DE SOUZA. ............................................................................................................................................................................... 325
Ana Crhistina Vanali
44. MARIA MERCIS GOMES ANICETO. ........................................................................................................................................................ 330
Rosalice Carriel Benetti
45. MARIA NICOLAS (1899–1988)................................................................................................................................................................ 335
Ana Crhistina Vanali
46. MARILENE DA GRAÇA RIBAS (1947–2010)............................................................................................................................... 351
Ana Crhistina Vanali
47. MARINA ANDRADE DE SOUZA................................................................................................................................................................. 353
Marcus Roberto de Oliveira
48. MARINA PEREIRA.................................................................................................................................................................................................. 360
49. MÁRIO FERREIRA (1934–1990)............................................................................................................................................................ 361
Celso Fernando Claro de Oliveira
50. MARIO PINTO VASCONCELLOS................................................................................................................................................................ 368
Lucélia Mildemberger
51. NARCISO JÚLIO DOS REIS ASSUMPÇÃO (1948–2001).................................................................................................... 371
Celso Fernando Claro de Oliveira
52. NATALÍCIO SOARES.............................................................................................................................................................................................. 385
Adriane dos Santos Tavella Ferrari
Ana Crhistina Vanali
Marcia Cristina dos Santos
53. NELSON CARLOS DA LUZ................................................................................................................................................................................ 391
Ana Crhistina Vanali
54. ODELAIR RODRIGUES DA SILVA (1935–2003)....................................................................................................................... 406
Celso Fernando Claro de Oliveira
55. OLGA MARIA DOS SANTOS FERREIRA (1917–2004)....................................................................................................... 421
Celso Fernando Claro de Oliveira
56. ORLANDO DIAS DA SILVA (1918–2001)........................................................................................................................................ 430
Andrea Maila Voss Kominek
57. OSWALDO FERREIRA DOS SANTOS (1916–1990).............................................................................................................. 432
Ana Crhistina Vanali
58 . OZEIL MOURA DOS SANTOS ..................................................................................................................................................................... 445
Ana Crhistina Vanali
59. PAULO CHAVES DA SILVA. .............................................................................................................................................................................. 493
Ana Crhistina Vanali
60. PAULO LOPES SANTOS...................................................................................................................................................................................... 499
61. PEDRO ADÃO PEREIRA.................................................................................................................................................................................... 500
Ana Crhistina Vanali
62. RAIMUNDA FERREIRA DOS SANTOS (1904 – 2008)........................................................................................................ 505
Celso Fernando Claro de Oliveira
63. RAIMUNDO NONATO SIQUEIRA. ............................................................................................................................................................ 517
Rosalice Carriel Benetti
64. SERAPHINA JACIRA GONÇALVES (1920–1989)..................................................................................................................... 522
Andrea Maila Voss Kominek
65. SYDNEI LIMA SANTOS (1925–2001). .............................................................................................................................................. 526
Celso Fernando Claro de Oliveira
66. TEREZA ERMELINO DOS SANTOS......................................................................................................................................................... 534
Rosalice Carriel Benetti
67. VALDIR IZIDORO SILVEIRA.......................................................................................................................................................................... 540
Ana Crhistina Vanali
68. ZEILA MOURA DOS SANTOS (1920–1988)................................................................................................................................ 546
Ana Crhistina Vanali
SOBRE OS AUTORES...................................................................................................................................................................................................... 549
I PARTE

A HISTÓRIA
COLÔNIA AFRO-BRASILEIRA DE CURITIBA NO
CENTENÁRIO DA ABOLIÇÃO

Ana Crhistina Vanali


Andrea Maila Voss Kominek
Celso Fernando Claro de Oliveira

33
Placa comemorativa à Colônia Afro-Brasileira de Curitiba no centenário da abolição da escravidão

Praça Santos Andrade. Curitiba, 2017


Foto: Ana Vanali

Na Praça Santos Andrade, há um monumento em homenagem à “Colônia Afro-Brasileira de Curitiba”.


Foi instalado em maio de 1988, quando do primeiro centenário da abolição da escravidão no Brasil, ocorrida
oficialmente por meio da Lei Imperial Nº 3.3531 – também conhecida como a Lei Áurea –sancionada em 13 de
maio de 1888 pela Princesa Isabel (Anexo A). A “história tradicional” brasileira comumente tratou a Lei Áurea
como o ápice de um conjunto de leis que, desde a segunda metade do século XIX, vinham impactando de forma

1. Todas as leis aqui citadas estão disponíveis no site do Planalto (http://www.planalto.gov.br) ou do Senado (http://legis.senado.gov.br).

34
direta na manutenção do regime escravocrata no Brasil. A primeira mudança se deu com a Lei Nº 581 (Lei
Eusébio de Queirós), de 4 de setembro de 1850, que definiu medidas para extinguir o tráfico negreiro. Duas
décadas mais tarde, a Lei Nº 2.040 (Lei do Ventre Livre), de 28 de setembro de 1871, determinou a liberação
de todas as crianças nascidas de pais escravos. Posteriormente, a Lei Nº 3.270 (Lei Saraiva-Cotegipe ou Lei dos
Sexagenários), de 28 de setembro de 1885, determinou “a extinção gradual do elemento servil” na sociedade
brasileira por meio da libertação dos escravos com 60 anos de idade ou mais. Desse modo, podemos assinalar
que o processo de abolição da escravatura no Brasil foi gradual, lento e feito conforme os interesses das elites
políticas e econômicas da época.
O projeto de lei que extinguia a escravidão no Brasil foi apresentado à Câmara Geral (atual Câmara dos
Deputados), pelo então ministro da Agricultura, Rodrigo Augusto da Silva, em 8 de maio de 1888. Foi votado
e aprovado nos dias 9 e 10 de maio. Posteriormente, a Lei Áurea foi apresentada ao Senado Imperial pelo
ministro em 11 de maio. As sessões dos dias 11, 12 e 13 daquele mês promoveram debates sobre o documento.
Por fim, o texto foi votado e aprovado, em primeira votação, em 12 de maio. Na manhã do dia 13 de maio de
1888, a lei foi votada e aprovada em definitivo e, no mesmo dia, levada à sanção da princesa regente do Brasil –
Dona Isabel. Assim, no domingo de 13 de maio, dia comemorativo do nascimento de D. João VI, foi assinada por
sua bisneta Princesa Isabel e Rodrigo Augusto da Silva a lei que aboliu a escravatura no Brasil (ALONSO, 2015).
Por seu ato, Isabel passou a ser denominada pela historiografia oficial como “a redentora”. O Brasil foi o último
país independente do continente americano a abolir completamente a escravatura. O último país do mundo a
abolir oficialmente a escravidão foi a Mauritânia em 9 de novembro de 1981. Somente em 2007, a prática da
escravidão passou a ser considerada um crime nesse país situado no noroeste da África (MARTINS, 2018).
Devido ao seu caráter de oficialidade, o 13 de maio foi, por muitas décadas, uma data marcada por
comemorações e atividades cívicas, nas quais se destacavam homenagens à Princesa Isabel e aos abolicionistas
(DOMINGUES, 2011). Nesse sentido, é compreensível que a data tenha sido escolhida para a realização da
homenagem à colônia afro-curitibana. A homenagem da Praça Santos Andrade é composta por um bloco de
granito e uma placa de bronze de dimensões de 60 cm de largura por 99 cm de altura. Ela se destina a dar
visibilidade a diversos negros e negras que foram destaques em suas respectivas áreas, contribuindo para o
desenvolvimento do estado do Paraná. Entre os homenageados, estão juízes, desembargadores, advogados,
médicos, engenheiros, jornalistas, jogadores de futebol, professores, atrizes, atores, cartunistas, músicos,
militares, policiais, bombeiros, radialistas, contadores, funcionários públicos de diversos níveis, militantes
do movimento negro e de outros movimentos sociais, mães de santo, barbeiros, seminaristas, representantes
comerciais, linotipistas, vereadores, deputados, repórteres, delegados e agrônomos (Anexo E). Por intermédio
de suas histórias, as personalidades escolhidas para a homenagem demonstram a riqueza contributiva de cada
cidadã e cidadão como partícipe da construção plural da sociedade curitibana. Porém, não se encerra nesse
monumento a importância da etnia negra para a construção e crescimento desta importante cidade do país, a
mais negra das cidades do sul do Brasil2. A iniciativa da homenagem, que na placa aparece como sendo da âmara
dos Vereadores de Curitiba3, foi um trabalho conjunto entre o cônsul-geral honorário do Senegal em Curitiba,

2.Segundo a classificação do IBGE, negros, negras, pardos e pardas são 19,7% da população de Curitiba. Cerca de 28,5% dos paranaenses se
autodeclaram negros, negras, pardas ou pardos. Disponível em https://cidades.ibge.gov.br/painel/populacao. Acesso 31.dezembro.2017.
Consultar também Especial 20 de novembro. Dados confirmam desigualdade entre negros e brancos no Paraná. Brasil de Fato,
03/11/2017. Disponível em https://www.brasildefato.com.br/2017/11/03/dados-mostram-a-desigualdade-entre-negros-e-brancos-
no-parana/. Acesso 31.dezembro 2017.
3. O presidente da Câmara Municipal de Curitiba na época era Horácio Rodrigues Sobrinho. Nascido na cidade do Rio de Janeiro em
29/08/1938. Faleceu em Curitiba em 22/03/2009. Foi deputado estadual na Assembleia Legislativa do Paraná e vereador da capital
paranaense, em vários mandatos (1969-1972, 1983-1988 e 1989-1992). Foi o último vereador de Curitiba a desistir de nova candidatura,
em 1996, quando assumiu a vaga de suplente na Assembleia Legislativa, onde ficou por três anos. Sua última tentativa de participação

35
Ozeil Moura dos Santos4 e da ex-vereadora Marlene Zannin5 (Anexo B). Ao final da tarde do dia 26 de maio de
1988, o presidente da Câmara Municipal, Horácio Rodrigues Sobrinho, e o cônsul Ozeil descerraram a placa em
homenagem à etnia negra na Praça Santos Andrade, no centro da capital paranaense. Segundo o jornal Correio
de Notícias, de 27 de maio de 1988, a placa “contém nomes de 68 personagens da raça, ou descendentes étnicos
que residiram ou ainda residem em Curitiba. Desses, oito já são falecidos”6. Depois da inauguração, a Câmara
promoveu, no mesmo dia, outras homenagens no Palácio de Cristal (ginásio de esportes do Círculo Militar do
Paraná)7. Seis dos homenageados, que de acordo com suas atividades, tiveram maior destaque na vida social,
cultural e profissional, receberam uma placa de prata (SILVA, 2013).

Homenagem da CMC ao cônsul-geral do Senegal Ozeil Moura dos Santos

Curitiba, 26 de maio de 1988


Fonte: acervo Ozeil Moura dos Santos

política foi barrada pelo Tribunal Regional Eleitoral. Ele seria candidato a vice-prefeito pelo PTdoB em 2004, mas o registro foi cassado
pelo juiz eleitoral D’Artagnan Serpa Sá. Em 2007, Rodrigues foi nomeado assessor da presidência da Câmara de Curitiba, na gestão do
vereador João Cláudio Derosso. Ele é pai de Lauro Rodrigues, que em 2008 foi candidato à prefeitura de Curitiba. Era empresário, com
empreendimentos em várias áreas. Fonte: Morre o ex-vereador Horácio Rodrigues. Tribuna, 23/03/2009. Disponível em http://www.
tribunapr.com.br/noticias/politica/morre-o-ex-vereador-horacio-rodrigues/. Acesso 2.janeiro.2018. Ver também MARTINS, 2017.
4. Ver capítulo 58 – Ozeil Moura dos Santos.
5. Marlene Zannin, advogada, terceira mulher a ocupar uma vaga na Câmara Municipal de Curitiba. Nascida em 11/09/1955, em Urussanga
(SC), é filha de Angelo Zannin e Corina Maria Brognoli Zannin. Tem um filho, Rodolfo, e é casada com Pedro Paulo Rocha. Formada pela
Faculdade de Direito de Curitiba (atual UniCuritiba), é especialista em Direito Processual Civil. Foi vereadora de 1983 a 1988, sendo
a fundadora e presidente do Conselho Municipal da Condição Feminina de Curitiba, em 1985, e integrante do Conselho da Mulher do
Paraná, de 2001 a 2007. É de sua iniciativa a lei que reconheceu o 20 de novembro como Dia de Zumbi dos Palmares, da consciência e da
luta do povo negro (Lei Nº 7.186/1988 – Anexo C) (CMC, 2018).
6. Dos 68 homenageados 52 são homens e 16 mulheres. Em dezembro de 2019 eram 36 homenageados falecidos, 25 vivos e 7 não foram
localizados.
7. Homenagem à etnia negra. Correio de Notícias, 27/05/1988, p. 3.

36
Inauguração do monumento à Colônia Afro-brasileira de Curitiba

Curitiba, 26 de maio de 1988


Fonte: acervo Ozeil Moura dos Santos

A escolha da Praça Santos Andrade para a colocação da placa, segundo o cônsul-geral do Senegal Ozeil
(2017), ocorreu porque o negro, para ascender socialmente, tem de investir em dois caminhos: na educação e
na cultura. Essa praça abriga o Teatro Guaíra, símbolo da cultura, e o prédio histórico da Universidade Federal
do Paraná, símbolo da educação. No canto superior direito da placa, tem-se o desenho de uma cabeça com uma
pomba que, segundo Ozeil (2017), representa a importância de o negro tomar consciência da sua condição
para lutar por reconhecimento e encontrar seu devido lugar na sociedade. Essa é a logomarca do Centro de
Integração Social, Cultural, Comercial e Turístico Afro-Brasileiro, que expressa a mensagem “A SUA LIBERDADE
ESTÁ EM SUA CONSCIÊNCIA”8.

Detalhe da placa da Praça Santos Andrade

Foto: Ana Vanali

8. Disponível em http://www.grupomourasantos.com/centrointegracao/. Acesso 07.fevereiro.2018.

37
Bahls (2001, p.73) destaca que a inauguração do monumento foi acompanhada por uma série de
festejos:

A instalação da placa, entre dois marcos históricos da cidade, o Teatro Guaíra e a Universidade
Federal do Paraná, presta homenagem aos negros que contribuíram para o desenvolvimento
do estado, nos últimos cem anos, exercendo profissões como médico, engenheiros, juízes,
políticos, atrizes e jogadores de futebol.
A inauguração do monumento, cuja iniciativa coube ao Consulado de Senegal em Curitiba, e
teve a colaboração da Câmara Municipal, começou às 18 horas do dia 26 de maio, reunindo
milhares de pessoas na Praça Santos Andrade.
À noite, depois da cerimônia, na qual compareceram autoridades e demais representantes
da comunidade, houve uma grande festa no Círculo Militar do Paraná, quando foi realizada
a sessão solene da Câmara, que entregou uma placa de prata aos dirigentes do evento, com
os nomes de pessoas da comunidade negra, que se sobressaíram, na sociedade paranaense
naquele último ano. Em seguida, o Ballet Copélia encenou uma peça teatral, sobre as lutas e as
conquistas obtidas pelo negro no Paraná9.

A peça encenada pelo Ballet Coppélia como parte das atividades de inauguração do monumento à etnia
negra na Praça Santos Andrade foi o espetáculo “Raízes: nossa origem, nossa dança”, coreografado e dirigido
por Agnalda Trinkel10. Esse espetáculo foi encenado pela primeira vez no Teatro Guaíra, em 25 de novembro
de 1983, tendo três atos sobre a evolução da dança nas Américas. Além dos alunos do grupo de balé, o grupo
de capoeira do professor Kunta Kintê participou dessa apresentação de 1983. De acordo com a companhia, a
apresentação remetia a uma aula cultural no formato de dança e narração, que evidenciava a vinda dos negros
para a América e mostrava a evolução das danças do afro ao jazz e do samba, através da demonstração de
algumas danças afro-americanas do período da colonização11 (BALLET COPPELIA, 2009).
O espetáculo Raízes, encenado no dia 26 de maio de 1988 no Círculo Militar do Paraná, foi uma
versão reduzida do programa de 1983. O espetáculo original contava com mais de 150 participantes. O do
Círculo Militar contou com 80 participantes e foi encenado em três atos, nos quais foi destacada a atuação da
civilização africana no Brasil e demonstrado que “a dança afro-brasileira originou-se das cerimônias religiosas
sociais, de acontecimento da vida tribal das selvas africanas” (BALLET COPPELIA, 1988, p. 1). Foram lidos
e encenados trechos dos poemas “Navio Negreiro” e “Vozes d’África” de Castro Alves e de “A de Ó” do álbum
Missa do Quilombo de Milton Nascimento. Também foram encenados o banzo, o frevo, a umbigada ou semba,
a capoeira, o maculelê e o samba “movimento de continuidade, afirmação e resistência de valores culturais
negros” (BALLET COPPELIA, 1988, p. 2).

9. De acordo com as entrevistas realizadas com os homenageados ainda vivos e que participaram da inauguração da placa no dia 26 de
maio de 1988, havia muitas pessoas presentes, mas não acreditam que tenham sido milhares, talvez um pouco mais de uma centena,
pois nem todos os homenageados compareceram. Alguns nos relataram que desconheciam que seus nomes estão gravados nessa placa
e que foram homenageados e não possuem lembrança de terem sido convidados para o evento da inauguração. Outros apontam que
muitos homenageados foram acompanhados de seus familiares e que mesmo assim não atingiria a casa dos “milhares de participantes”.
Não foram localizadas, nos periódicos da época consultados, notícias que retratassem a inauguração do monumento, além do publicado
no Correio de Notícias de 27 de maio de 1988 referente à homenagem à etnia negra. Dos entrevistados, apenas Ozeil Moura dos Santos
contava com registros fotográficos daquele dia.
10. Disponível em http://balletcoppeliadobrasil.blogspot.com/2009/09/historia-da-escola-ballet-coppelia-do.html.
Acesso 28.dezembro.2018.
11. O espetáculo “Raízes” foi encenado em 1983, 1988 e 2013 conforme informação obtida na secretaria da escola Ballet Coppélia em
outubro de 2018. É um espetáculo bailado baseado no folk-dance americano (Dança. Correio de Notícias, 27/06/1984, p. 12).
Ballet Coppélia do Brasil  e Pulsação Cia de Dança apresentam “Raízes”. Disponível em http://www.teatroguaira.pr.gov.br/modules/
noticias/article.php?storyid=1109. http://www.emcartaz.net/danca/pulsar-cia-de-danca-e-ballet-coppelia-do-brasil/.
Acesso 28.dezembro.2018.

38
Cartaz espetáculo Raízes de 1988

Fonte: Ballet Coppélia/Agnalda Trinkel (2018)

39
Agnalda (ao centro) com dois dançarinos do espetáculo Raízes de 1988

Fonte: Ballet Coppélia/Agnalda Trinkel (2018)

Segundo Tortato (2001, p. 131), o marco em homenagem à comunidade afro-brasileira foi o décimo-
terceiro monumento implantado na Praça Santos Andrade, na data de 26 de maio de 1988. A obra é de autoria
e execução desconhecidas. A primeira placa, instalada em 1988, encontrava-se na área leste da praça, no
canteiro da esquina da Rua XV de Novembro com a Rua Conselheiro Laurindo, em frente ao Teatro Guaíra. A
primeira placa, todavia, foi furtada, de modo que num segundo monumento foi confeccionado e instalado em
uma localização diferente – desta vez, no canteiro da Rua XV de Novembro com a Rua João Negrão, em frente à
Universidade Federal do Paraná12.
Apesar das solenidades que marcaram sua inauguração, o Monumento à Colônia Afro-Brasileira de
Curitiba parece não ter encontrado espaço na paisagem da capital paranaense. Moraes e Souza (1999, p. 8),
em seu estudo sobre o preconceito em Curitiba, citam esse monumento à etnia negra que “descobriram” na
Praça Santos Andrade e concluem que ele reforça a tese da invisibilidade do negro na cidade, pois “a obra
que lembraria a população negra passa despercebida em meio à paisagem [...] além da inscrição ser de difícil
leitura”13. É diante da importância de se realizar um resgate histórico dos homenageados e também da trajetória
da colônia afro-paranaense que pensamos esse livro.

12. Não foram localizadas informações sobre esse furto. Em pesquisa aos arquivos da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMMA,
2017; PMC, 2001), realizada em outubro de 2018, foi encontrado apenas o registro do ano de 1988: Marco em homenagem à Comunidade
Afro-brasileira localizado a leste da praça, no canteiro da esquina da Rua XV de Novembro com a Rua Conselheiro Laurindo. A SMMA não
possui os registros atualizados com a nova localização do pedestal em granito e a placa em bronze em frente ao prédio histórico da UFPR.
Ressaltamos aqui que o registro que se encontra na SMMA apresenta a grafia incorreta de alguns nomes dos homenageados e que a nova
placa de bronze também possui divergências com relação a alguns registros da primeira. Todas essas estão devidamente relatadas nos
capítulos dedicados aos homenageados.
Muitos dos entrevistados lembram-se da localização original do monumento em frente ao Teatro Guaíra. Alguns demonstraram surpresa
ao apresentarmos a localização atual do monumento, pois consideravam que, depois do furto, ele não havia sido recolocado. Outros
relataram que o monumento original recebeu muitas depredações e atos de vandalismo, como uma vez em que jogaram um balde de
tinta vermelha sobre a placa de bronze. De acordo com um deles, o furto e a colocação do novo monumento teria ocorrido na segunda
gestão do prefeito Cássio Taniguchi, por volta do ano de 2006 (Anexo D). Infelizmente, em março de 2019, a segunda placa desapareceu
em decorrência da onda de furtos de materiais em bronze das praças de Curitiba. No dia 25 de abril do mesmo ano, ela foi recolocada pela
CMC, que conseguiu recuperá-la.
13. Em 1999, quando do estudo dos autores, a placa ainda estava em sua localização original em frente ao Teatro Guaíra.
Outro trabalho que também menciona a existência desse monumento em homenagem à etnia negra é Santana (2015, p. 23-24). Em
seu trabalho sobre o engenheiro Adelino Alves da Silva, ele destaca que em 1988, durante as comemorações prestadas ao primeiro
centenário da abolição da escravidão no país, o mesmo passou ”a fazer parte do memorial da abolição ao ter seu nome registrado na placa
da Praça Santos Andrade em homenagem às personalidades negras paranaenses que se destacaram no desenvolvimento do Estado”.

40
O presente trabalho apresenta, sob a forma de breves narrativas biográficas, parte das vidas dos 68
homenageados. Muitos dos nomes da placa foram personagens negros ocultados pela história tradicional,
mas que deixaram suas marcas na cidade de Curitiba, demonstrando a disputa entre as diferentes memórias
coletivas diante da necessidade de se posicionar frente a um passado “comum” inventado e legitimado através
do discurso oficial do Estado. Ao lermos sobre as vidas dessas personalidades negras, podemos questionar
as interpretações construídas no passado, para na atualidade podermos entender as discriminações culturais
presentes na sociedade: como determinadas memórias se tornaram hegemônicas na construção da narrativa
sobre a formação da sociedade paranaense? Que identidade paranaense é transmitida pela historiografia
tradicional? Qual o lugar do negro nas mesmas? Qual a contribuição do negro na construção desse passado
comum?
No que se refere à história dos negros no Paraná, a sua invisibilidade é reforçada pela narrativa
fragmentada, impossibilitando uma visão mais complexa e processual da presença africana no estado,
diferentemente da história dos brancos europeus que é marcada pela coesão e continuidade. Essa invisibilidade
faz com que os negros sejam desconectados do processo histórico mais amplo, sendo vistos como novos atores
sociais. Desse modo, omite-se que a luta do presente está associada com a história do povo negro na sociedade
brasileira. A construção de novos discursos não pode esquecer as marcas desse passado, com as quais se deve
dialogar para entendermos quem somos, e quem são os outros e, sobretudo, esses debates devem ajudar no
combate às desigualdades e às diferentes formas de discriminação racial ainda bastante presentes na sociedade
brasileira (VANALI, 2018).
Esta pesquisa tem como objetivo divulgar a trajetória dessas personalidades negras que desempenharam
papéis importantes na sociedade curitibana, especialmente no período que se estende da primeira metade
do século XX até o final da década de 1980. Todas essas personalidades, por meio de diferentes formas de
atuação, demonstram que a concepção de Curitiba como uma cidade onde “quase não há negros” é não somente
infundada, como serve para apagar as importantes contribuições legadas pela população afro-brasileira à capital
paranaense. É importante ressaltar que esse discurso tem como fonte o trabalho de Wilson Martins, intitulado
“Um Brasil Diferente”, publicado no ano de 1955, no qual o autor aponta o Paraná como sendo diferente do
restante do país, por ter sido formado “sem escravidão, sem negro, sem português e sem índio, dir-se-ia que
a sua definição humana não é brasileira” (MARTINS, 1989, p. 446)14. Assim, Curitiba teria sido fundada por
colônias de imigrantes europeus, sendo puramente branca, o que desemboca na narrativa da “cidade modelo”15
justamente por sua formação étnica. Nesse discurso, que ainda hoje encontramos reproduzido na mídia
local e nas propagandas institucionais, está implícito a ligação entre qualidade de vida e o predomínio dos
descendentes de europeus na formação da cidade. Tais representações alimentam ideias que estão pautadas
em noções racistas como se uma cidade só pudesse ter qualidade de vida se tivesse em sua formação étnica uma
predominância do elemento branco europeu; ou, se todo lugar onde este elemento branco fosse dominante
tornar-se-ia, necessariamente, desenvolvido. Esquece Wilson Martins que a presença africana no Paraná
ocorreu no século XVIII durante a busca pelo ouro. Com a decadência da mineração, os escravos africanos
foram transferidos para a agricultura e a agropecuária, sobretudo no planalto, nas fazendas dos Campos Gerais.
Mesmo após a proibição do tráfico negreiro, o Porto de Paranaguá estava entre os centros de contrabando de
escravos africanos para o Brasil.

14. Wilson Martins não se diz ligado ao Movimento Paranista, mas define a identidade paranaense como sendo naturalmente constituída
por fatores como clima e raça.
15. “cidade modelo” = excelente nível de vida e poucos problemas, sobretudo, os de infraestrutura.

41
Para além do viés racista, que contrapõe uma dualidade entre brancos (polo positivo) e negros (polo
negativo), esse discurso também é responsável por conferir invisibilidade à população negra de Curitiba16. O ideal
da “cidade-modelo”, comumente, esconde as condições de marginalização enfrentadas pelos afro-brasileiros na
capital paranaense, uma vez que esse setor da população muitas vezes sofre os piores indicadores sociais. O
problema da invisibilidade social dos negros é uma questão central no entendimento da sociedade brasileira.
Faz-se necessário desenvolver uma identidade que esteja aberta às diferenças e à pluralidade cultural, o que
não pode ocorrer sem que, ao menos, se reconheça a existência de diversos grupos étnicos e culturais que, em
dado momento, se misturam e realizam trocas culturais, e em outras situações, entram em conflito.
Apesar de a ideia de que a cidade é apenas branca-europeia ainda permanecer em grande parte do
imaginário e do senso comum dos curitibanos, outros trabalhos17 vêm tratando justamente da invisibilidade
social dos negros em Curitiba, mostrando que esse discurso foi construído com a ajuda da historiografia
tradicional18. A etnia negra é parte importante da população curitibana. Quase um quinto da população
de Curitiba se declara parda (16,9%) e 2,8% são pretos, conforme os dados do Censo de 2010 do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)19.
Santos (1977) desmistificou essa velha e consagrada ideia de um “Paraná louro e diferente”. Na verdade,
isso corresponde a um sonho de branqueamento das elites paranaenses, que escamoteia a importância do
sistema escravista na formação do território paranaense. A utilização do trabalho escravo no Paraná se enquadra
na estrutura característica da formação brasileira, na relação senhor e escravo presente em todos os setores
produtivos da economia do estado: mineração, agricultura, pecuária, artesanato, ofícios rurais e urbanos. A
sociedade paranaense foi constituída na primeira metade do século XIX, marcada pelo regime de trabalho
escravo, de modo que o elemento negro participou de forma efetiva na constituição da população paranaense.
Por outro lado, é importante destacar que os 68 nomes escolhidos para a homenagem de forma
alguma esgotam as personalidades negras que ajudaram a construir a cidade de Curitiba. A relevância dos
homenageados é incontestável, porém, destacamos aqui outros nomes ligados a algumas das primeiras
associações em defesa dos negros na cidade, tais como Benedito Marques dos Santos (ex-escravo e pedreiro,
que foi liderança importante na Sociedade Protetora dos Operários); João Baptista Gomes de Sá, popularmente
conhecido por João da Fausta (também ex-escravo atuante na Sociedade Operária Beneficente 13 de Maio e
ligado a diversos movimentos religiosos) e Vicente Moreira de Freitas (um dos fundadores da Sociedade 13
de Maio). No que diz respeito aos nomes mais recentes da militância, é possível destacar Paulo Borges, Jayme
Tadeu, Vera Paixão. Podemos adicionar à lista os literatos Laura Santos e Geraldo Magela Cardoso; enquanto no
teatro emerge a figura de Dirce Thomas. No campo esportivo, podemos destacar os jogadores Amauri Fernando
dos Santos Ferreira (considerado o primeiro jogador negro do Clube Atlético Paranaense), Máximo Francisco
dos Reis (Maçã) e João Maria Barbosa (Barbosinha). Na área musical, Palminor Rodrigues Ferreira (Lápis),
Waltel Branco e a atriz e cantora Evanira dos Santos. Ainda podemos incluir um dos fundadores da UFPR e da
seção da OAB/PR, o advogado João Pamphilo D’Assumpção. Ainda poderíamos incluir Percy dos Santos, Dario
Livino Torres, Joaquim Luiz Cândido, Sueli de Jesus Monteiro, Marilene dos Santos. Trata-se de uma lista de
valor inesgotável e impossível de ser contabilizada.

16. Os indígenas também são deixados de lado nessa narrativa da “fundação europeia da cidade”, apesar da origem semântica do nome da
cidade – Curitiba – ser de origem tupi e significar “muito pinhão”.
17. Consultar Ianni (1988) e Moraes; Souza (1999).
18. Aqui nos referimos, sobretudo, a Romário Martins (1995), Ruy Wachowicz (1988) e Cecília Westphalen (1969).
19. Disponível em http://censo2010.ibge.gov.br/. Acesso 13.maio.2018.

42
Temos que refletir sobre como nos relacionamos com a cidade de Curitiba, que imagem temos dela e
de seus habitantes, o que implica na formação da nossa própria identidade, ou pelo menos parte significativa
dela. O que é “ser paranaense”, “ser curitibano”? Um dos objetivos dos textos que compõem este trabalho é
fornecer aos leitores uma carga de conhecimento para refletir sobre novos e velhos discursos, sobretudo, acerca
das identidades paranaense e curitibana, multiplicando suas perspectivas, evitando o ideal único do “Paraná
Europeu”. Nossa História mistura diversos elementos e devemos desenvolver uma consciência mais crítica a
respeito desse processo a fim de não apenas compreender o passado, mas construir o presente como cidadãos
ativos, autônomos e pensantes.

O Centenário da Abolição da Escravidão na Câmara Municipal de Curitiba

Em 4 de maio de 1988, a Comissão de Educação, Cultura, Bem-Estar Social e Turismo20 da Câmara


Municipal de Curitiba dá parecer favorável ao anteprojeto de lei de autoria da então vereadora Marlene Zannin
(Processo Nº 73/88 e Projeto de Lei Nº 63/8821) que consagrava o dia 20 de novembro como o Dia de Zumbi dos
Palmares, da consciência e da luta do povo negro22. O objetivo desse projeto de lei era reconhecer a importância
dessa parcela significativa da população, contribuindo para a interação entre as diversas etnias que constituem
o povo curitibano. A comissão considerou o tema atual e que o reconhecimento da contribuição da etnia
negra à constituição da sociedade paranaense estava restrito apenas às pessoas com “extrema sensibilidade”.
Em sua defesa do anteprojeto, Zanin destacou que essa era uma oportunidade de a Câmara prestar serviços
homenageando a resistência e a luta do povo negro, bem como reconhecendo a sua contribuição na formação
e no desenvolvimento de Curitiba. Também assinalou que essa iniciativa era uma reivindicação antiga que já
existia na comunidade negra:

Os mais importantes movimentos de representação do povo negro no Brasil, aqueles que


estão sempre na linha de frente, lutando a dura luta diária dos negros em nosso país, gritando
contra as injustiças sociais, bradando contra os preconceitos, não têm dúvida em afirmar: as
comemorações desse chamado centenário da abolição da escravatura no Brasil são uma farsa.
São uma ofensa, um insulto à inteligência das pessoas conscientes. Uma balela, um golpe, que
não respeita seus cidadãos.
Os movimentos negros acreditam, firmemente, que passados 100 anos do histórico documento
assinado pela Princesa Isabel, os negros brasileiros, que são 44% da nossa população,
continuam vítimas de ódios, discriminações e violências de todos os tipos.
É fácil observar: há todo um discurso, até mesmo uma ideologia, com o objetivo de manter
uma ilusão. A falsa ilusão de que vivemos nós, brasileiros, num país de democracia racial,
onde “os homens e mulheres são iguais para a sociedade ou ainda são iguais perante a lei”.
Mentira! Decretos governamentais com objetivos publicitários. Leis que nunca são obedecidas.
Comemorações enganosas, pré-forma. Tudo isso ajuda a esculpir um quadro de hipocrisias,
com a intenção, apenas de iludir aos cidadãos, sobretudo, o povo negro.
Pois, na prática, o que se vê é precisamente o contrário. São preconceitos os mais absurdos,
às claras, ou de forma mais ou menos velada, sutil, que se expressam no bloqueio à ascensão
social, às profissões, à cultura e à vida em grupo. De fato, os negros são todos os dias agredidos,
impedidos de viver com dignidade, isolados.
Mais que isso: são ofendidos em escolas, restaurantes, serviços. São preteridos em concursos,

20. Composta pelos vereadores Marcos Isfer, Ubirajara Binhara, Ivanir Stival e Jorge Bernardi.
21. Ata da 5ª Reunião Ordinária do 2º Período Ordinário da 6ª Sessão Legislativa da 9ª Legislatura realizada em 10 de maio de 1988, p.
3361–3362.
22. Parecer 26/88, de 4 de maio de 1988. Original disponível na biblioteca da Câmara Municipal de Curitiba.
Agradecemos as informações fornecidas pela ex-vereadora Marlene Zannin em 5 de março de 2018.

43
desprezados até mesmo pelos livros didáticos. Todos os dias, aos milhares, os negros
continuam sendo impedidos de subir pelos elevadores sociais e convidados a entrar pelas
portas dos fundos. Olhados com soberba em restaurantes. Infelizmente, transformados
apenas na redução racista, feita pelas elites, de engraxates, favelados, jogadores de futebol,
trombadinhas, delinquentes.
Senhor Presidente. Senhores Vereadores.
Não há como negar: o racismo, no Brasil, é um fato alarmante. Uma verdade, verdade dura,
concreta, que se percebe a olho nu.
É então de se perguntar: que abolição é essa que o governo pretende comemorar no Brasil
agora dia 13 de maio?
Por que essa festa, com sabor de vitória na Copa do Mundo, com a alegria e o orgulho de quem
descobriu a cura do câncer ou milhões de poços de petróleo? Que escravatura é essa, que o
governo diz que se aboliu? Ora, aboliu-se o quê?
É até possível que, tecnicamente, aquela escravatura do instrumento de posse, que vinculava o
negro à propriedade de um senhor de engenho, tenha mesmo sido extinta. De fato, não existe,
hoje, aquela situação vergonhosa dos pescoços, braços e pernas presos às correntes. Parece
que terminaram, também aquelas noites intermináveis de dores, sofrimentos e lamentações,
de chibatadas e isolamento nos pelourinhos.
O povo negro é quem indica o caminho das pedras para a compreensão sobre o que houve no
Brasil depois de tal abolição da escravatura.
A escravatura se desenvolveu, agora, até uma outra dimensão: na rejeição pessoal, na
marginalização profissional. Na forma de segregação, do isolamento nunca dito, mas
praticado, surdo, mas eloquente.
Os dados são estarrecedores.
Veja-se, por exemplo, que apenas 5 entre 100 negros brasileiros têm ocupação de nível
superior. Desses que estão empregados em atividades técnicas ou especializadas por curso
universitário, as pesquisas mostram que a grande maioria recebe apenas 70% do que é pago
aos brancos.
Mais, de cada 100 negros que trabalham, 85 estão na agricultura, em tarefas não especializadas,
que exigem apenas força física.
Do total de desempregados no Brasil, segundo informação do IBGE, os negros significam 67%.
É chocante. É uma vergonha.
Mas não é de hoje – senhor Presidente, senhores Vereadores – que o povo negro vem resistindo,
com todas as suas forças, a essa absurda ideologia da superioridade dos brancos sobre os
negros, às intermináveis tentativas e tentativas cada vez mais violentas de aculturação e até
mesmo de extinção dos negros no Brasil.
Tal situação tem que mudar. Precisa mudar – urgentemente. Podemos inspirar-nos na
grandeza pessoal e política do grande Zumbi dos Palmares, o líder símbolo que, séculos
atrás, chefiou nos quilombos a revolta dos negros contra a violência das raças dominantes.
Zumbi dos Palmares deixou, a todos, nós lições perpétuas. Lições de inconformismo contra a
acomodação, contra a injustiça e contra a propaganda cruel e mentirosa das elites.
Ao passar dos anos, não apenas nossos irmãos negros, mas todos nós, brasileiros, pudemos
perceber, no grande personagem brasileiro, traços de humanismo que revelam um ser
superior, acima das origens, raças, cores e credos.
Até hoje, a data da morte de Zumbi dos Palmares – 20 de novembro de 1695 – é festejada
pelos negros como símbolo, um marco de sua resistência. Tal data, mesmo que ainda não
oficializada, é comemorada, há muitos anos, por todos os setores conscientes da nossa
sociedade, pelo que tem de manifestação política, luta e conscientização.
Tal data é um não – uma negativa firme e em altíssimo som, de todos nós, de se participar
dessa farsa estúpida e enganadora do centenário da abolição da escravatura ou de qualquer
celebração que pretenda dar conta da libertação do povo negro.
Cumpre-se, portanto, que a morte do grande Zumbi, líder negro e de todos os cidadãos
consequentes e conscientes, seja oficializada em lei.
É nesse sentido o meu projeto senhor Presidente, senhores Vereadores. Trata-se de marcar o
reconhecimento à luta dos negros do Brasil e de todo o mundo.
Líderes dos movimentos negros e importantes artistas e intelectuais de todo o Brasil enviaram
telegramas MM e cartas a esta vereadora congratulando-se com o projeto. Celebridades como
o grande Gilberto Gil, a presidenta do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher – Jaqueline
Pitanguy, o deputado Caó, a deputada federal Benedita da Silva, secretários de Estado e
secretários municipais do Paraná e de Curitiba, como René Dotti, Belmiro Castor, Carlos Marés.

44
Eles, os senhores e eu – todos nós – enfim, temos uma posição histórica a tomar, contra a
mistificação do fim da escravatura e contra os ódios e as violências desumanas que se
cometem contra nossos irmãos.
É, sobretudo, por isso que agora peço a aprovação a este projeto que é de todos. Trata-se de
manifestar publicamente que desprezamos essa odiosa forma de exploração que é o racismo.
Trata-se de dizermos um “não” ao racismo, para o qual não há lugar na sociedade que
projetamos para nós e nossos filhos. Uma sociedade a favor de todas as liberdades individuais
e a favor dos direitos, da democracia e da integração entre todos os homens e todas as
mulheres.

Obrigado (MARLENE ZANNIN, 10/05/198823)

A vereadora ressaltou que não se poderia relegar a data de 13 de Maio a um segundo plano sem deixar
registrada a solidariedade para com o povo negro e o esforço desse pelo reconhecimento de seus direitos no
país. Com o fim da sua fala, temos os apartes de outros vereadores com relação à proposta inicial apresentada
por Zanin:
– vereador João Gorski: colocou alguns “desafios” interessantes aos vereadores de Curitiba. Ele
perguntou quantos funcionários negros existiam nos gabinetes dos vereadores e quantos funcionários da
Câmara eram da cor preta. Ressaltou que ele tinha um funcionário negro em seu gabinete. Falou que existia
discriminação quando as pessoas iam solicitar empregos aos vereadores e que, embora não pudesse confirmar,
acreditava existir grande discriminação durante as realizações de concursos públicos. Considerava que o
projeto de lei da vereadora não seria aprovado24, pois os currículos das escolas já estavam definidos para se
fazer valer o segundo artigo proposto de promover na rede municipal de ensino eventos alusivos à data de 20
de novembro visando despertar a consciência coletiva sobre a situação do negro na sociedade brasileira25.
– vereador Francisco Derosso: parabenizou o vereador Gorski por ser o único a ter um funcionário
negro e lamentou que a “própria raça negra tenha discriminação entre eles”. E descreveu o “negro jabuticaba”
que era negro por fora e branco por dentro, “que é o caso dos ‘pelés’ da vida que procuram sempre se casar com
loiras discriminando a própria raça”26.
– vereador João Queiroz Maciel: pediu que constasse em ata da presente sessão os votos especiais de
regozijo e congratulações pelos centenários da abolição da escravatura no Brasil e da Sociedade Treze de Maio
de Curitiba27.
No dia 3 de junho de 1988, o então prefeito Roberto Requião sancionou a Lei Nº 7186, que consagrou
o dia 20 de novembro como o Dia de Zumbi dos Palmares, da consciência e da luta do povo negro. Assim, todo
dia 20 de novembro, a Câmara Municipal de Curitiba realizaria uma sessão especial e a prefeitura municipal
promoveria, na rede municipal de ensino, através da Fundação Cultural de Curitiba, eventos alusivos à data,
visando despertar a consciência coletiva sobre a “situação do negro em nossa sociedade”28.

23. Ata da 5ª Reunião Ordinária do 2º Período Ordinário da 6ª Sessão Legislativa da 9ª Legislatura realizada em 10 de maio de 1988, p.
3370.
24. O projeto foi aprovado se tornando a Lei Nº 7186/1988.
25. Ata da 5ª Reunião Ordinária do 2º Período Ordinário da 6ª Sessão Legislativa da 9ª Legislatura realizada em 10 de maio de 1988, p.
3370.
26. Ata da 5ª Reunião Ordinária do 2º Período Ordinário da 6ª Sessão Legislativa da 9ª Legislatura realizada em 10 de maio de 1988, p.
3370.
27. No dia seguinte, 11 de maio de 1988 o vereador João Maciel apresentou um projeto de Lei declarando de utilidade pública a Sociedade
Operária Treze de Maio. Ata da 6ª Reunião Ordinária do 2º Período Ordinário da 6ª Sessão Legislativa da 9ª Legislatura realizada em 11
de maio de 1988, p. 3456.
28. Lei Nº 7186/86 de 3 de junho de 1988. Publicado no Diário Oficial Nº 47 de 14/06/1988. Anexo C.

45
Paralelo ao trabalho da vereadora Marlene Zannin, o vereador Luiz Carlos Betenheuser apresentou
na Câmara Municipal de Curitiba um projeto de lei sugerindo a nomeação de um logradouro público, praça ou
parque da cidade de “Zumbi dos Palmares”. Sua justificativa era de que “a história do negro no Brasil e a própria
colonização nacional calcada nas etnias afro-brasileiras merecem um registro maior e oficial em Curitiba”29. Dia
4 de novembro de 1988, o então prefeito Roberto Requião inaugurou a Praça Zumbi dos Palmares, localizada
na Rua Lothário Boutin, 374, no bairro Pinheirinho. Para participar da escolha do logradouro e da solenidade
de inauguração, o vereador convidou o cônsul do Senegal, Ozeil Moura dos Santos30. Em 25 de maio de 1991,
o prefeito Jayme Lerner inaugurou o anfiteatro ao ar livre, que abriga o mural da artista plástica Maria Luiza
Taborda, cujo objetivo é representar artisticamente a história de lutas dos negros no Brasil31. Em 22 de maio de
2010, o prefeito Luciano Ducci inaugurou o Memorial Africano32, que é formado por 54 totens que representam
todos os países do Continente Africano. Cada totem apresenta a bandeira de um país africano, sua localização
dentro do continente e placas que marcam as visitas das autoridades desses países à cidade de Curitiba.  O
projeto é do arquiteto Fernando Canalli. A praça tem aproximadamente 21.600 metros quadrados. Além das
54 colunas, outras duas, amarelas, uma simbolizando a educação e a outra a cultura, com o dobro do tamanho
e diferenciadas das demais, completam o portal. Uma delas, da educação, é de aço perfurado com iluminação
internada. A outra, da cultura, é em argamassa com desenhos africanos em baixo relevo. Um mosaico de pedras
nas cores preto, branco e vermelho forma o mapa do Continente Africano, com o desenho dos países33.

Praça Zumbi dos Palmares em Curitiba Memorial Africano

As colunas amarelas representando a cultura e a educação


Anfiteatro e aos fundos mural de Maria Luiza Taborda As colunas vermelhas representando os países africanos
Fonte: http://www.pontosturisticoscuritiba.com.br/ No centro, o mosaico com o mapa da África
Fonte: Antonio More/Gazeta do Povo, 25/11/2016

29. No centenário da abolição vereadores lembram que o negro ainda é marginalizado. Correio de Notícias, 13/05/1988, p. 3.
30. Correio de Notícias, 13/05/1988, p. 3.
Ata da 5ª Reunião Ordinária do 2º Período Ordinário da 6ª Sessão Legislativa da 9ª Legislatura realizada em 10 de maio de 1988, p. 3367.
31. Correio de Notícias, 04/09/1990, 26/09/1990, 28/09/1990, todas na página 21. Correio de Notícias, 23/05/1991, p. 5.
32. Ozeil Moura dos Santos foi quem concebeu o portal e recebeu até o momento 30 embaixadores africanos que já colocaram suas placas
em seus respectivos totens (OZEIL, 2019).
33. ÁFRICA E BRASIL: dois continentes. Uma identidade cultural preciosa. Fôlder de divulgação do Consulado Geral Honorário da República
do Senegal para os estados do Paraná e Santa Catarina.

46
A última referência nos anais da Câmara Municipal de Curitiba com relação ao primeiro centenário
da abolição da escravatura é do dia 18 de maio de 198834. Trata-se de um requerimento do vereador Luiz
Carlos Betenheuser para que conste nos anais da Câmara o artigo intitulado “O espírito da senzala continua”,
publicado no jornal “O Estado do Paraná”, no dia 2 de maio daquele ano, de autoria de José de Paiva Neto. No
referido artigo, o autor assinala que a comemoração do centenário da abolição da escravatura seria marcada
por grandes festas, porém, questiona se havia o que realmente ser comemorado uma vez que mesmo após o
advento da república ainda não se viam cidadãos negros nos altos escalões do governo e quando isso acontecia
é como se fosse um favor, como se estivessem a dizer “olhem, não somos racistas!”, sendo que o próprio alarido
provocado quando isso acontece comprova a raridade do fato. “Será que não há negros competentes no Brasil?”,
questiona Paiva Neto. O jornalista aponta ainda que a escravidão continuou sob diversos aspectos, pois o
“espírito da senzala ainda permanece na alma dos brasileiros!” e isso ajuda na ineficácia da luta pela igualdade
de raças que proporcionaria estudo, educação, trabalho, moradia e alimentação a todos do Brasil.
Nos anais da Câmara Municipal de Curitiba, não há nenhuma referência à placa colocada na Praça
Santos Andrade em homenagem à Colônia Afro-brasileira de Curitiba. O que se tem, além dos registros acima já
relatados, é a manifestação dos vereadores, em geral, que no centenário da abolição da escravatura não havia
nada a ser comemorado, pois o negro ainda era marginalizado35.
O periódico Gazeta do Povo de 12 de maio de 198836 traz a notícia sobre o projeto de lei do deputado
federal pelo Rio de Janeiro Carlos Alberto Caó37, apresentado no dia anterior à Câmara dos Deputados,
considerando o racismo como crime inafiançável, prevendo a detenção, multa e outras penas como forma de
punição. No dia seguinte, 13 de maio de 1988, Dia do Centenário da Abolição da Escravidão no Brasil, o mesmo
periódico apresenta os números do IBGE da época referentes à população negra no Brasil (segundo o censo de
1980): a população negra representava 5,9% de um total de 120 milhões de brasileiros. A maior concentração
da população negra ocorria na Bahia com 1 milhão e 54 mil negros para uma população estadual de 9 milhões
e 455 mil habitantes, ou seja, 11,1% da população baiana era negra. O Rio de Janeiro era o segundo estado com
maior contingente de negros: 10,8%, o que representava 1.028.465 negros para uma população estadual de
11.291.631 habitantes. São Paulo aparecia com uma população total em torno de 25.042.000 habitantes e com
um contingente de 1.152.000 negros, ou seja, 4,6% da sua população. O estado com o menor percentual de
negros era o Amazonas com 1,75%, ou seja, 24.432 negros para uma população estadual em torno de 1 milhão
e 430 mil habitantes.

34. Ata da 9ª Reunião Ordinária do 2º Período Ordinário da 6ª Sessão Legislativa da 9ª Legislatura realizada em 18 de maio de 1988, p.
3587–3588.
35. Correio de Notícias, 13/05/1988, p. 3.
36. Crime de racismo pode se tornar inafiançável. Gazeta do Povo, 12/05/1988, p. 18.
37. Carlos Alberto Oliveira dos Santos (1941-2018), também conhecido como Caó, foi um advogado, jornalista e político brasileiro, militante
no movimento negro, conselheiro do Conselho Estadual de Direitos do Negro (Cedine) do Rio de Janeiro e membro da Associação
Brasileira de Imprensa (ABI), em cuja carreira se destacou a luta contra o racismo, tendo sido o autor da Lei Caó. Aprovada a Constituição,
em 1988, o deputado apresentou o projeto de lei 688, que deu origem à Lei 7.716/1989, que é a lei que define os crimes em razão de
preconceito e discriminação de raça ou cor. Esta lei regulamentou o que havia sido disposto na Constituição, ela tipificou o crime de
racismo, estabelecendo pena de prisão. Até então, o racismo era considerado pela legislação brasileira apenas uma contravenção penal.
A própria tipificação do racismo como contravenção também nasceu deste militante da causa negra: a Lei nº 7.437/1985 é conhecida
como “Lei Caó”, e é o embrião da legislação dos crimes de racismo (“inclui, entre as contravenções penais a prática de atos resultantes de
preconceito de raça, de cor, de sexo ou de estado civil, dando nova redação à Lei nº 1.390, de 3 de julho de 1951 – Lei Afonso Arinos.”). Fonte:
Lei CAÓ (Carlos Alberto de Oliveira Caó). Biblioteca Virtual de Direitos Humanos da USP. Disponível em http://www.direitoshumanos.
usp.br/index.php/Documentos-Hist%C3%B3ricos-Brasileiros/lei-cao-carlos-alberto-de-oliveira-cao.html. Acesso 28.dezembro.2018.

47
Mas a polêmica maior era em torno da questão se nesse dia 13 de maio de 1988 havia motivo para
comemorações ou era um convite à reflexão sobre a situação do negro na sociedade brasileira, visto ele sofrer
sérios problemas de preconceito e discriminação. A atriz Odelair Rodrigues, importante personalidade negra
da sociedade curitibana, declarou que, em cem anos, eram poucos os privilegiados que podiam falar pelo povo
negro e observou que a defesa desse povo deveria continuar “com maior esclarecimento de todas as partes e sem
enganos ou engodos”. Pedia posições mais firmes, honestas e humanas para superar a questão da cor e sugeria
que as leis se aperfeiçoassem tanto para negros, quanto para os brancos. Falou também das oportunidades: ela
não conhecia negros generais ou dirigentes de grandes complexos, e que os negros acabavam sendo destaque
somente no futebol e na carreira artística, “salvo as exceções” (GAZETA DO POVO, 13/05/1988, p. 13)38.
Na mesma data, o jornal Nicolau reuniu depoimentos de moradores da cidade a respeito do 13 de maio.
A professora Marli Teixeira Leite declarava que o centenário da Lei Áurea era o “centenário da mentira” visto
que:

Atualmente nós, os negros, tentamos nos livrar da chamada ideologia do embranquecimento


que bloqueou a vivência de nossas raízes, e estamos aí na luta, junto ao grupo (curitibano) de
União e Consciência Negra. Até a próxima abolição39.

Nessa mesma data, o comerciante Idalto José de Almeida levantava a bandeira do “diga não ao dia 13”:

A história oficial do Brasil sempre apresentou o dia 13 de maio de 1888 como o ponto final
da escravidão negra brasileira, procurando mostrar, de um lado a Lei Áurea como fruto de
abnegados jovens do movimento abolicionista e, de outro, como uma atitude benévola da
princesa Isabel. Relegaram, por sua vez, a um papel irrelevante a participação dos próprios
negros na desestruturação do regime escravista, através de suas lutas organizadas em
quilombos, rebeliões e insurreições urbanas.
O movimento abolicionista somente se manifesta organizado politicamente quando o sistema
escravagista entra em sua crise derradeira, no final do século XIX, enquanto que as revoltas
e organizações de resistências e lutas negras já se caracterizavam como fatos históricos tão
relevantes e importantes no século XVII, como é o caso do Quilombo de Palmares, que teve
uma população acima de 35 mil habitantes, resistindo por mais de cem anos aos ataques e
investidas dos escravagistas.
Ora, a Lei Áurea, com seu caráter jurídico, será nada mais que a expressão de interesses
políticos e econômicos da elite dominante da época, não fornecendo garantias e direitos
fundamentais de existência e cidadania à população negra. Desde essa “abolição”, foram sendo
criados, pela elite dominante, modelos e mecanismos discriminatórios, como a democracia
racial, ideologia do embranquecimento, marginalizando o negro a níveis econômicos, sociais,
culturais e existenciais40.

No dia 12 de maio de 1988, a comunidade negra de Curitiba realizou um protesto, em silêncio, pelo
centenário da abolição da escravatura, pois para essa comunidade o verdadeiro dia de comemoração é o 20
de Novembro, aniversário da morte de Zumbi. O protesto foi uma passeata na Rua das Flores (Rua XV de
Novembro), com cerca de cem pessoas, que terminou na Boca Maldita. As pessoas carregaram cartazes e faixas
com dizeres que procuravam despertar a consciência da população para a verdadeira situação do negro no

38. Centenário da abolição. Gazeta do Povo, 13/05/1988, p. 13 e 35.


39. O centenário da mentira. Nicolau, Ano I, Nº 11, p. 1.
40. Diga não ao dia 13. Nicolau, Ano I, Nº 11, p. 1.

48
Brasil. “SEM ANOS DE ABOLIÇÃO. CEM ANOS DE MENTIRA”, foi o lema da passeata, que questionou a identidade
cultural do negro, a sua busca pelo avanço político-social e o sistema capitalista onde todo trabalhador é
escravo. A vereadora Marlene Zannin também participou da passeata e, em entrevista ao jornal Correio de
Notícias, destacou a luta do Conselho da Condição Feminina contra o preconceito em relação à mulher negra41.
No dia 13 de maio de 1988, alguns vereadores de Curitiba se manifestaram na imprensa local sobre o
centenário da abolição. A maioria desses vereadores tinha uma visão de que um século depois foram constatadas
mudanças que possibilitaram a integração racial e a eliminação do preconceito de cor através de um convívio
baseado nos moldes do civismo. Porém, um vereador negro da época, Hasiel Pereira, destacou como um século
depois os negros ainda eram marginalizados e que não havia motivos para a comemoração da “libertação da
raça negra”:

O processo de marginalização do negro brasileiro passa pela política injusta de distribuição


de renda imposta ao país durante toda a sua história de colonização à nova república.
Apesar dos negros se constituírem na grande força produtiva e cultural do país, o que se
verifica é uma política falsa, discriminatória no momento de passar a limpo essa questão.
As leis elaboradas não respondem de forma satisfatória a este problema da marginalização
do negro, pois sem reformas sociais que objetivem a ampliação das melhorias de vida da
população este processo de marginalização continuará cada vez mais acelerado.
A discriminação racial embora proibida em termos legais continuará a empurrar a população
negra à marginalização. O cliché de que o negro só sabe fazer samba, carnaval, jogar futebol e
tomar cachaça tem que acabar. O poder dominante – e aqui não entra nenhum conflito racial,
mas político que se utiliza deste grande canteiro cultural e por final quem ainda acaba pagando
a conta são os pobres, onde a raça negra é a maioria. (HASIEL PEREIRA, 13/05/1988)42

O Centenário da Abolição da Escravidão na Assembleia Legislativa do Paraná

No dia 12 de maio de 1988, a Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) fez uma homenagem à comunidade
negra por suas diversas contribuições ao desenvolvimento nacional. A solenidade deve início às 9 horas, com
a abertura do deputado Antônio Anibelli, que em seu discurso falou da necessidade da conscientização sobre
a questão racial que deveria continuar a ser discutida no dia a dia. A deputada Amélia de Almeida Hruschka
lembrou que “sempre que abordamos a luta dos negros pela sua emancipação devemos recordar o heroísmo
da luta de Zumbi dos Palmares que conseguiu reunificar os negros da sua época para efetivar a luta por
libertação!”43 Também participaram da solenidade o Secretário Estadual da Cultura René Dotti, o cônsul-geral
do Senegal Ozeil Moura dos Santos, os deputados Caito Quintana e Rafael Greca, e a atriz Odelair Rodrigues, que
recebeu uma homenagem especial em nome da comunidade negra paranaense44.

41. No centenário da abolição vereadores lembram que o negro ainda é marginalizado. Correio de Notícias, 13/05/1988, p. 3.
A comunidade negra anunciada na matéria era integrada pelos Agentes da Pastoral Negra, Grupo União e Consciência e Grupo Pró-Negro
que não realizaram nenhuma atividade para o dia 13 de maio, mas que estavam organizando várias atividades para o dia 20 de novembro.
42. No centenário da abolição vereadores lembram que o negro ainda é marginalizado. Correio de Notícias, 13/05/1988, p. 3.
43. Anais da Alep de 12 de maio de 1988. 2ª Sessão Legislativa da 11ª Legislatura. Disponível em http://www.alep.pr.gov.br/atividade_
parlamentar/diarios_da_assembleia/1988/5. Acesso 2.janeiro.2018.
44. Negro. Correio de Notícias, 12/05/1988, p. 3.

49
Nos trabalhos da Alep desse dia, o deputado Algaci Túlio propôs o Projeto de Lei Nº 132/88, declarando
de utilidade pública a Sociedade Operária Beneficente Treze de Maio devido a sua luta pela causa negra45. Na
mesma sessão, o deputado Ezequias Losso propõe uma reflexão sobre o centenário da abolição da escravatura:

Inicialmente quero congratular-me com o presidente desta Casa, Deputado Antônio Martins Anibelli, pela
iniciativa do ato realizado nesta Casa pela manhã, em homenagem ao negro. As manifestações foram
significativas e os pronunciamentos abalizados e oportunos. Em sequência, permitam-me, dizer que, no
momento, a nação vive o clima de slogans e da fantasia que comemora um fato histórico como a abolição
da escravatura, é preciso que nos conscientizemos de que ainda caminhamos com passos incertos
nesta empreitada. Infelizmente, o ser humano da cor negra continua tão discriminado e espezinhado
quanto antes, tendo como único benefício desta suposta liberdade, a liberação das correntes que os
identificavam como escravos. Lamento, senhores, não poder desta tribuna, em data de hoje, colorir meu
pronunciamento com elogios e frases feitas que enalteçam o que já se fez neste país pelo negro, pois é
mínimo ainda o reconhecimento da igualdade entre cidadãos.
A existência de uma Lei Afonso Arinos neste país é a maior prova desta afirmação inicial. O branco não
precisa de qualquer lei para preservar os seus direitos neste país democrático. O negro a necessita
como forma de reparação à discriminação odiosa que observamos em todos os campos de trabalho e da
sobrevivência. Disfarçamos e mascaramos com uma conveniência até certo ponto, a presença do negro
na família e na sociedade, como se diante de nós estivesse um ser humano diferente, tão diferente e
não apenas na pigmentação. E nesta odiosa discriminação que observamos nos dias de hoje, sentimos a
revolta de uma parte de nossa gente que precisa sobrepujar em todos os sentidos o ser humano da raça
branca, sob pena de minimizar sua oportunidade no trabalho, na cultura, na sociedade e, principalmente
entre as famílias.
É odioso este comportamento, principalmente para nós, que nos dizemos cristãos, quando esquecemos
o princípio divino da igualdade entre os seres humanos criados à imagem e semelhança do Senhor. Não
se especificou na Mensagem Divina se esta imagem era branca ou negra. Não se discriminou a condição
do irmão que, infelizmente, o ser humano, por sua ignorância, continua plantando até os dias de hoje.
Como membro de um partido cuja filosofia neoliberal pretende a igualdade entre todos, e na condição de
representante do PL nesta Casa, quero parabenizar, nesta oportunidade, não só os negros, como também
os brancos que já entenderam esta igualdade. Com os brancos que não discriminam. Com os brancos que
não minimizam as qualidades do seu próximo. Apenas pela cor. Com os brancos que entendem em sua
profundidade a mensagem cristã do “amai-vos uns aos outros”. Senhores, não posso me sentir animado
com o estado das coisas existentes num país que se vangloria de não discriminar o negro, que aboliu a
escravatura, mas que continua a oferecer mínimas oportunidades por causa da cor da pele. Não posso
cumprimentar os cem anos de abolição da escravatura, pois apenas tiramos a corrente, mas continuamos
a manter a escravidão pessoal através da manifestação da inteligência.
Não posso me sentir realizado quando vejo irmãos marginalizados por causa da cor. Comemoramos o
que, com estes cem anos? O fim de um comércio de escravos? Mas e a infraestrutura que a raça negra
teria que obter para sentir-se gente como todos nós, foi-lhes proporcionada? A Lei Afonso Arinos não é a
identificação de que ainda se necessitam instrumentos especiais para garantir ao negro o mesmo direito
que o branco, sem discriminação? Não senhores. A abolição da escravatura não pode ser comemorada
com estes cem anos. Ela ainda está em pleno curso. Ela ainda caminha para o saneamento da ignorância
de quem, detendo o poder não, se conscientizou de que os direitos e deveres são iguais para todos,
independentemente da cor, e que não fique tal conceito apenas na ordem constitucional, mas na realidade
de um país como o nosso.
Não tenho motivo para euforia e nem para festejar. Não, enquanto continuar a discriminação à mãe negra,
cujo filho é o mesmo tesouro da mãe branca. Não enquanto a criança negra for olhada com desdém ou
menosprezo em certas escolas. Não, enquanto a jovem negra for considerada apta apenas para serviços
insignificantes, por causa da sua cor. Não, enquanto o cidadão negro for relegado, a segundo plano, nas
fábricas, escritórios, no serviço público. Não, enquanto houver necessidade de uma Lei Afonso Arinos
para assegurar o direito de se dizer gente como todos nós. Não, senhores deputados, não há motivo para
comemorarmos os cem anos da abolição da escravatura que ora registramos. Historicamente é uma data
que deve envergonhar a todos nós, pois mostra que, passado um século, ainda não tivemos a capacidade
de entender que somos iguais perante Deus, o Supremo Criador e que esta lição deveria ser o exemplo
para a conduta terrena. Muito obrigado! (EZEQUIAS LOSSO, 12/05/1988)46

45. Anais da Alep de 12 de maio de 1988. 2ª Sessão Legislativa da 11ª Legislatura, página 7. Disponível em http://www.alep.pr.gov.br/
atividade_parlamentar/diarios_da_assembleia/1988/5. Acesso 2.janeiro.2018.
46. Anais da Alep de 12 de maio de 1988. 2ª Sessão Legislativa da 11ª Legislatura, páginas 7–8. Disponível em http://www.alep.pr.gov.br/
atividade_parlamentar/diarios_da_assembleia/1988/5. Acesso 2.janeiro.2018.

50
O discurso do deputado Losso sobre o centenário da abolição serviu para a reflexão sobre a condição do
negro na sociedade brasileira. O negro estava inserido em uma estrutura social que continuava privilegiando o
branco, mesmo sendo um contingente numeroso no país, tinha dificuldade de acesso à formação educacional e
profissional, principalmente quanto a sua representatividade nos poderes de decisão na vida da nação, além da
omissão da contribuição negra na formação cultural brasileira.
A criação da Sociedade Treze de Maio, talvez a mais importante instituição histórica dos negros
curitibanos, nunca teve por objetivo fazer a discussão da situação dos negros locais e refletir sobre os discursos
de inclusão e manifestação afro-brasileira e quase não manteve contato com o movimento negro que enfrentava
o poder instituído. Seu objetivo, uma vez que a sociedade foi fundada por um grupo de negros recém-libertos,
era agregar os recentes ex-escravos e ajudá-los fornecendo auxílio médico, hospitalar e educativo. Não foi
uma instituição restrita apenas aos negros, mas possuía um caráter inter-racial e interclassista abrigando
vários movimentos trabalhistas, visto que a busca almejada não era apenas a liberdade, mas a criação de uma
consciência de cidadania. Assim, a Sociedade Treze de Maio, como a Sociedade Beneficente Operário foram
espaços de sociabilidades dos segmentos dos excluídos da sociedade curitibana, reunindo negros e não negros
(FONSECA; GALEB, 2017).
Se o papel da Sociedade Treze de Maio era inviabilizado, foram surgindo em Curitiba novos grupos que
visavam à inclusão social e à participação política e que deram uma nova cara ao movimento negro local. Esses
novos movimentos sociais procuravam recuperar a autoestima, atuar para a (re)inserção social do elemento
negro e valorizar as manifestações culturais de matriz africana na cidade. Assim, nas décadas de 1980 e de 1990,
surgiram grupos que acentuaram a problematização do negro no Paraná e denunciaram a sua invisibilidade.
Entre esses, destacamos: o Grucon (Grupo de União e Consciência Negra), a Acnap (Associação Cultural de
Negritude e Ação Popular), o Baluarte Negro, a Arte Negra, o Utamaduni, o Instituto Cultural e de Pesquisas Ilu
Ayê Odara e o Instituto Afro-brasileiro do Paraná.
Em meio a encontros e desencontros, o movimento negro no Paraná teve um grande avanço na
conquista de espaços e resistências conquistando lugares com novas maneiras de atuações e com projetos
de visibilidade e de inclusão, além do enfrentamento ao racismo. Os trabalhos dos ativistas do movimento
negro estão, sobretudo, voltados para a valorização da identidade étnico-racial da população negra na cidade
de Curitiba. Para Nilma Gomes (2003, p. 172), “a identidade negra é entendida, como uma construção social,
histórica, cultural e plural. Implica a construção do olhar de um grupo étnico-racial ou de sujeitos que pertencem
a um mesmo grupo étnico-racial sobre si mesmos, a partir da relação com o outro”. Ainda se continua como
pauta o tema de combate ao racismo antinegro, porém agora em uma escala mais ampla: além dos ativistas
do movimento negro se tem produção acadêmica na área das relações étnicos-raciais que muito contribui no
enfrentamento ao racismo.
Cabe destacar que a luta pela superação do racismo e das desigualdades dele provenientes é um
processo contínuo, de modo que a data do 13 de maio continua a dividir opiniões. Em 2003, um artigo do site
Universia ganhou projeção ao ressaltar que, passados 116 anos da assinatura da Lei Áurea, os negros ainda
continuavam

Vítimas de preconceito, excluídos dos melhores postos de trabalho, esquecidos pela história
oficial, os negros do Paraná começam a se organizar para lutar por seus direitos. Libertados
há exatos 116 anos da escravidão formal, eles lutam em ONGs e movimentos populares para
garantir que a sua liberdade se transforme em igualdade de direitos e em qualidade de vida.
Uma luta que parece longe de acabar.
Os negros se organizam há mais de duas décadas no estado. As áreas de atuação dos
movimentos são as mais variadas: educação, recuperação da autoestima, conscientização e

51
pesquisa. O objetivo de todos os grupos, no entanto, é o mesmo: fazer com que a abolição da
escravatura, considerada uma peça de ficção, seja finalmente uma realidade47.

132 anos depois da abolição negros, ainda lutam por igualdade

Mais recentemente, em 2018, a advogada Silvana Niemczewski, presidente da Comissão de Igualdade


Racial da OAB Paraná, assinalou:

A Lei Áurea, que aboliu oficialmente a escravidão no Brasil, foi assinada em 13 de maio de 1888.
O Brasil foi o último país livre do Ocidente a abolir totalmente a escravatura. Essa data é algo a
ser reelaborado, porque houve uma abolição formal, mas os negros continuaram excluídos do
processo social. A razão é o tratamento dispensado aos libertos e seus descendentes no país.
Naquele momento, faltou criar as condições para que a população negra pudesse ter um tipo
de inserção mais digna na sociedade.
De acordo com o sociólogo Florestan Fernandes (1920–1995), em sua obra “A integração do
negro na sociedade de classes” (1964), após o fim da escravidão, as classes dominantes não
contribuíram para a inserção dos ex-escravos nos novos formatos de trabalhos.
Verifica-se que após a abolição, a vida dos negros brasileiros continuou muito difícil. Tiveram,
agora livres, que se autoadaptar numa sociedade competitiva, buscar por seus próprios meios
as condições mínimas para sua subsistência e dignidade, seja de moradia, alimentação e
educação principalmente, num meio social onde tudo lhes era hostil e adverso.
O recém-criado Estado republicano brasileiro continuou relegando os negros(as), não se
preocupou em oferecer condições para que os libertos pudessem ser integrados como cidadãos
de pleno direito, notadamente no mercado de trabalho formal e assalariado. Prova disso foi
a preferência pela mão de obra dos imigrantes recém-chegados ao Brasil, que aumentou
muito na segunda metade do século XIX, resultando numa política de embranquecimento
social, produto dos preconceitos e estigmas que caiam sobre o povo negro, potencializados
por conceitos pseudocientíficos e filosóficos, intrínsecos de uma sociedade eminentemente
racista. (NIEMCZEWSKI, 2018, on line)

No Brasil, o negro continua sendo alvo de preconceitos e marginalidade. Sobreviveu à abolição


marginalizado pelo subemprego, desemprego, miséria, doença, analfabetismo, entre outros. A luta contra o
racismo é diária. O intuito do presente trabalho é contribuir para o reconhecimento da importância do negro na
formação da sociedade paranaense, sobretudo, a curitibana, em todos os aspectos da vida social. Esse material
poderá ser utilizado nas escolas, instituições de ensino e na sociedade em geral, com o intuito de reforçar a
história dos afro-descendentes e a luta pela igualdade racial, visto que infelizmente a discriminação racial ainda
predomina em diversas camadas da sociedade brasileira. O dia Abolição da Escravatura pode servir “como um
mecanismo de conscientização e educação para ajudar a erradicar completamente qualquer tipo de preconceito
racial, trabalhar temas relacionados à inclusão e ao direito dos vulneráveis, buscando efetivamente a igualdade
entre as raças” (NIEMCZEWSKI, 2018, on line).
O dia 13 de maio é tido pela comunidade negra como oportunidade para reflexão sobre a questão da
negritude. Embora seja a data que aboliu a escravidão no Brasil, ela não é significativa para o negro brasileiro
porque não correspondeu a um momento de verdadeira libertação. Essa data pode ser aproveitada para se
reavaliar criticamente este período de 132 anos durante os quais a situação do negro liberto muito pouco se
alterou em relação ao período escravagista.
Quem obtém no Brasil os melhores empregos? Quem se forma na universidade? As atividades liberais,
quem as exerce? Quem é eleito para o Senado e para a Câmara Federal? No Brasil ainda é muito baixa a

47. 116 anos depois da abolição negros ainda lutam por igualdade. Disponível em http://noticias.universia.com.br/destaque/
noticia/2004/05/13/509279/116-anos-depois-da-abolio-negros-ainda-lutam-igualdade.html. Acesso 28.dezembro.2018.

52
percentagem de participação dos negros nas representações executivas e legislativas, nas universidades, nas
profissões liberais e na maioria das atividades que proporcionam status. Para a consolidação da cidadania plena
do negro no Brasil, ainda é necessário se ampliar seu acesso às oportunidades que lhe permitam conquistar
todo tipo de riqueza: econômica, cultural, social e política. O negro brasileiro é vítima de uma deformação da
estrutura social brasileira, que vem de longe, historicamente, e superá-la é um desafio. Essa difícil tarefa está a
cargo dos movimentos de consciência negra, dos movimentos populares – a da luta pela dignificação do negro
brasileiro como cidadão.

Charge “A barbárie do silêncio” criticando os 103 anos da Lei Áurea

Charge de Jair Mendes


Fonte: Correio de Notícias, 01/09/1991, p. B–3

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Sugestões de leituras sobre os negros no Paraná

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aulas de língua inglesa? Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-graduação em Linguagem, Identidade e
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FERREIRA, Sérgio Luiz.  “Nós não somos de origem”: Populares de ascendência açoriana e africana numa
freguesia do Sul do Brasil (1780–1960). Florianópolis: Tese de Doutorado em História da Universidade Federal
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o processo de identificação e delimitação do território da comunidade negra Invernada Paiol de Telha (Paraná,
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SANCHES, Mario Antonio.  O negro em Curitiba: a invisibilidade cultural do visível. Curitiba: Mestrado em
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56
ANEXO A – Lei Áurea

Lei nº 3.353, de 13 de maio de 1888.

Declara extinta a escravidão no Brasil.

A princesa Imperial Regente em Nome de Sua Majestade o Imperador o Senhor D. Pedro II,
faz saber a todos os súditos do Império que a Assembleia Geral decretou e Ela sancionou a
Lei seguinte:

Art. 1º – É declarada extinta desde a data desta Lei a escravidão no Brasil.

Art. 2º – Revogam-se as disposições em contrário.

Manda, portanto, a todas as autoridades a quem o conhecimento e execução da referida Lei


pertencer, que a cumpram e façam cumprir e guardar tão inteiramente como nela se contém.

O Secretário de Estado dos Negócios d’Agricultura, Comércio e Obras Públicas e Interino


dos Negócios Estrangeiros, Públicas e Interino dos Negócios Estrangeiros, Bacharel Rodrigo
Augusto da Silva, do Conselho de Sua Majestade o Imperador, o faça imprimir, publicar e
correr.

Dada no Palácio do Rio de Janeiro em 13 de Maio de 1888, 67º da Independência e do Império.

PRINCESA IMPERIAL REGENTE

Rodrigo A. da Silva

57
ANEXO B – Transcrição da placa da Praça Santos Andrade

CÂMARA MUNICIPAL DE CURITIBA


A COLÔNIA AFRO-BRASILEIRA 100 ANOS

As homenagens dos vereadores de Curitiba, que unindo-se às comemorações do centenário da abolição, destacam
a participação dinâmica, una e altamente relevante do negro da comunidade. Com os nomes aqui gravados, que
representam os vários segmentos da etnia negra, perpetuamos nosso carinho à Colônia Afro-brasileira.

ACIR FERNANDES LUIZ FERNANDO MARQUES


ADELINO ALVES DA SILVA MALU NUNES DA SILVA
AMILTON AMBROSIO RIBEIRO MANUEL NUNES DA SILVA
ANTONIO DIONISIO FILHO MARIA APARECIDA DA SILVA
ANTONIO SILVA DE PAULO MARIA LUCIA DE SOUZA
ANTONIO CALAZANS MARIA MERCIS G. ANICETO
ARTUR MIRANDA JUNIOR MARIA NICOLAS
AROLDO ANTONIO DE FARIAS MARILENE DA GRAÇA RIBAS
CANDIDO ALVES DE SOUZA MARINA DE ANDRADE SOUZA
CLOVIS AZAURY DO NASCIMENTO MARINA PEREIRA
DALZIRA MARIA APARECIDA MÁRIO FERREIRA
ELIDIO ALVES TEODORO MARIO VASCONCELOS
EUCLIDES DA SILVA NARCISO J.R.ASSUMPÇÃO
HASIEL PEREIRA (vereador) NATALÍCIO SOARES
HUGO JORGE BENTO NELSON CARLOS DA LUZ
IDELCIO JOSÉ DE OLIVEIRA ODELAIR RODRIGUES
ISAAC OTÁVIO OLGA MARIA S. FERREIRA
JOÃO FERREIRA DOS SANTOS ORLANDO DIAS DA SILVA
JOÃO FREDERICO ALVES OSVALDO FERREIRA DOS SANTOS
JOÃO PEREIRA DA SILVA OZEIL MOURA DOS SANTOS (cônsul Senegal)
JORGE DE OLIVEIRA PAULO CHAVES DA SILVA
JOSÉ AUGUSTO G. ANICETO PAULO LOPES SANTOS
JOSÉ CARLOS M. DOS SANTOS PEDRO ADÃO PEREIRA
JOSÉ DIONÍSIO DA SILVA RAIMUNDA FERREIRA DOS SANTOS
JOSÉ MOREIRA DE ASSIS RAIMUNDO NONATO SIQUEIRA
JOSÉ PEREIRA FILHO SERAPHINA JACIRA GONÇALVES
JOSÉ RAMOS SIDNEY LIMA SANTOS (ex-vereador)
JOSÉ SALVADOR DE SOUZA TEREZA ERMELINO DE LEÃO
JOSÉ S. SILVA FELINTO (ex-vereador) VALDIR ISIDORO SILVEIRA
JURANDIR NUNES PEREIRA ZEILA MOURA DOS SANTOS

HOMENAGENS PÓSTUMAS
ANTENOR ALENCAR LIMA ENEDINA ALVES MARQUES
ANTENOR P.DOS SANTOS (ex-vereador) HAROLDO FERREIRA DOS SANTOS
ANTONIO PINTO REBOUÇAS JOSÉ FERREIRA DOS SANTOS
EDGAR ANTUNES SILVA (TATU) JOSÉ PINTO REBOUÇAS

Curitiba, 26 de maio de 1988

Horácio Rodrigues
Presidente da Nona Legislatura
LEI Nº 3.353, DE 13 DE MAIO DE 1888 conhecida como Lei Áurea

58
ANEXO C – Lei Nº 7186/1988

59
ANEXO D – Localização do monumento na Praça Santos Andrade

60
ANEXO E – Informações sobre os homenageados
HOMENAGEADO ÁREA DE ATUAÇÃO

ACIR FERNANDES (1926–2003) Cartunista, desenhista, tipógrafo, jogador de futebol.


ADELINO ALVES DA SILVA (1915–2018) Engenheiro, professor, funcionário público.
AMILTON AMBROSIO RIBEIRO (1939–2007) Engenheiro, funcionário público, fundador do Instituto Afro-Bra-
sileiro do Paraná.
ANTENOR ALENCAR LIMA (1901–1954) Militar do Exército, engenheiro, secretário estadual da Viação e
Obras Públicas.
ANTENOR PAMPHILO DOS SANTOS (1895–1967) Médico, professor, funcionário público, vereador, secretário
estadual da Saúde, presidente da Câmara dos Vereadores de
Curitiba, prefeito interino de Curitiba.
ANTONIO CALAZANS DOS SANTOS (1912–1998) Professor, funcionário público.
ANTONIO DIONISIO FILHO (1956–2015) Jogador de futebol, técnico de futebol, comentarista esportivo
ANTONIO PINTO REBOUÇAS (1839–1874) Engenheiro.
ANTONIO SILVA DE PAULO (1942) Radialista, advogado, funcionário público
AROLDO ANTONIO DE FARIAS (1922–2010) Advogado, funcionário público, militar do Exército, membro da
Força Expedicionária Brasileira (FEB).
ARTHUR MIRANDA JUNIOR (1945) Contador, funcionário público, jogador de futebol.
CANDIDO ALVES DE SOUZA (1933–2014) Militar do Corpo de Bombeiros, diretor do Departamento da
Guarda Municipal, subchefe da Casa Civil do Paraná, esgrimista.
CLOVIS AZAURY DO NASCIMENTO (1932–2014) Linotipista, técnico em artes gráficas.
DALZIRA MARIA APARECIDA (1941) Sacerdotisa, costureira, pesquisadora.
EDGARD ANTUNES SILVA (TATU) (1915–1985) Funcionário público, presidente da Sociedade Protetora dos
Operários, jogador de futebol, agitador cultural.
ELIDIO ALVES TEODORO (1953–2012) Corretor de imóveis.
ENEDINA ALVES MARQUES (1913–1981) Engenheira, professora.
EUCLIDES DA SILVA (1917–1994) Barbeiro, presidente da Sociedade 13 de Maio.
HAROLDO FERREIRA DOS SANTOS (1912–1967) Jogador e técnico de futebol.
HASIEL DA SILVA PEREIRA FILHO (1948) Vereador, taxista, militante político.
HUGO JORGE BENTO (1928–2019) Funcionário público (Empresa Brasileira de Correios e Telégra-
fos), jogador de futebol, assessor parlamentar.
IDELCIO LUIS DE OLIVEIRA (1964) Seminarista, representante comercial, coordenador dos Agentes
da Pastoral Negra.
ISAACK OTÁVIO DA SILVA (1940–2019) Militar da Polícia do Paraná, músico.
JOÃO FERREIRA DOS SANTOS (1917–1996) Jogador e técnico de futebol, funcionário da Rede Ferroviária.
JOÃO FREDERICO ALVES (1944–2013) Militar da Polícia do Paraná, professor.
JOÃO PEREIRA DA SILVA Não localizado.
JORGE DE OLIVEIRA Não localizado.
JOSÉ AUGUSTO GOMES ANICETO (1949) Desembargador, oficial da Polícia Militar.
JOSÉ CARLOS MOURA DOS SANTOS (1926–2010) Funcionário público, jogador de futebol.
JOSÉ DIONÍSIO DA SILVA Não localizado.
JOSÉ FERREIRA DOS SANTOS (1915–1974) Jogador de futebol, técnico de futebol, funcionário da Rede Fer-
roviária e da Receita Federal.
JOSÉ MOREIRA DE ASSIS (1947) Funcionário público, bancário.
JOSÉ PEREIRA FILHO (1950) Funcionário público.
JOSÉ PINTO REBOUÇAS (1850–1921) Engenheiro.
JOSÉ RAMOS Não localizado.

61
JOSÉ SALVADOR DE SOUZA Não localizado.
JOSÉ SEVERINO SILVA FELINTO (1952) Vereador, deputado federal, presidente de associação de classe,
militar da Marinha, enfermeiro.
JURANDIR NUNES PEREIRA (1956) Ambulante, sindicalista, representante comercial.
LUIZ FERNANDO MARQUES DA LUZ (1936–2014) Funcionário público, fundador da Cooperativa Habitacional do
Paraná, jogador de futebol.
MABEL NUNES DA SILVA (1959) Funcionária pública, militante política, assessora parlamentar.
MANUEL NUNES DA SILVA (1921–2002) Militar do Exército, combatente na Segunda Guerra Mundial.
MARIA APARECIDA DA SILVA (1937–1995) Sacertodisa.
MARIA LUCIA DE SOUZA (1960) Militante da causa racial.
MARIA MERCIS GOMES ANICETO (1947) Desembargadora, professora.
MARIA NICOLAS (1899–1988) Professora, escritora, pintora, historiadora.
MARILENE DA GRAÇA RIBAS (1947–2010) Não localizada.
MARINA ANDRADEDE SOUZA (1938) Ativista de causas sociais.
MARINA PEREIRA Não localizada.
MÁRIO FERREIRA (1934–1990) Jogador de futebol, funcionário público.
MARIO VASCONCELOS (1946) Funcionário público, modelo, publicitário, assessor parlamentar.
NARCISO JÚLIO DOS REIS ASSUMPÇÃO (1948–2001) Ator, escritor, jornalista.
NATALÍCIO SOARES (1949) Professor, escritor, pesquisador.
NELSON CARLOS DA LUZ (1947) Funcionário público, advogado.
ODELAIR RODRIGUES DA SILVA (1935–2003) Atriz, cantora, humorista, apresentadora de programa de rádio
e televisão.
OLGA MARIA DOS SANTOS FERREIRA (1917–2004) Professora.
ORLANDO DIAS DA SILVA (1918–2001) Funcionário público.
OSWALDO FERREIRA DOS SANTOS (1918–1990) Jogador de futebol, médico.
OZEIL MOURA DOS SANTOS (1941) Empresário, cônsul-geral honorário do Senegal, sociólogo, joga-
dor juvenil de futebol e administrador especialista em planeja-
mento urbano.
PAULO CHAVES DA SILVA (1949) Funcionário público, assessor parlamentar, procurador da Câ-
mara Municipal de Curitiba, presidente da Sociedade Protetora
dos Operários.
PAULO LOPES SANTOS Não localizado.
PEDRO ADÃO PEREIRA (1929) Jogador de futebol, funcionário público.
RAIMUNDA FERREIRA DOS SANTOS (1904–2008) Ativista de causas sociais, vice-presidente da Associação Brasi-
leira da Raça Negra (Asbran).
RAIMUNDO NONATO SIQUEIRA (1941) Delegado.
SERAPHINA JACIRA GONÇALVES (1920–1989) Sacerdotisa, professora, militante das causas sociais.
SYDNEI LIMA SANTOS (1925–2001) Militar do Exército, empresário, professor, vereador, dirigente
esportivo.
TEREZA ERMELINO DOS SANTOS (1940) Delegada, advogada.
VALDIR ISIDORO SILVEIRA (1943) Engenheiro agrônomo, fundador do Centro de Estudos Afro-Bra-
sileiros (Ceabro), um dos fundadores do Instituto Afro-Brasileiro
do Paraná.
ZEILA MOURA DOS SANTOS (1920–1988) Ativista das causas sociais.

Elaboração dos autores (2020)

62
II PARTE

AS HISTÓRIAS

63
1
ACIR FERNANDES
Nascimento: Curitiba/PR, 3 de abril de 1926
Falecimento: Curitiba/PR, agosto de 2003

Acir Fernandes em Curitiba no ano de 1976


Fonte: Diário Popular, 04/01/1976

62
ACIR FERNANDES

(1926–2003)

Ana Crhistina Vanali

Acir ou Acyr Fernandes, conhecido como Xixo, nasceu em Curitiba em 3 de abril de 19261. Casou-se com
Rosa, chamada Rosita, e tiveram dois filhos: Cleusa e Daniel2.
Xixo Fernandes é considerado o segundo caricaturista que surgiu em Curitiba. O primeiro teria sido
Alceu Chichorro (1896–1977). Durante sua carreira publicou seus trabalhos em diversos órgãos da imprensa
curitibana e atuou como decorador comercial, ilustrador de programas e comerciais da TV Paranaense/Canal 12.
Suas charges enfocaram os mais diversos assuntos, desde futebol, política, vida social e o cotidiano curitibano3.
Foi jogador do futebol amador de Curitiba, tendo passado pelos seguintes clubes: Palestra Itália de
Curitiba (1940)4, Coritiba (1946–1947)5, Britania Esporte Club6, Vila Hauer – onde atuou como zagueiro7 e Vila
Fani8.
Paralelo a sua carreira de jogador, em 1955 iniciou seus trabalhos como desenhista de humor,
produzindo charges esportivas para os jornais o Estado do Paraná e Tribuna do Paraná. Estudou desenho com o
professor Pedro Macedo, no Ginásio Paranaense e, posteriormente, especializou-se em charge política e social,
satirizando praticamente todos os políticos paranaenses, bem como nomes de relevo na sociedade curitibana
(ARAÚJO, 2012).
Para Newton Carneiro, Xixo tinha um grafismo seguro que fixava tanto as virtudes quanto as imperfeições
dos caricaturados.

... tornou-se caricaturista consagrado, prestando sua colaboração a todos os jornais locais.
Sobretudo apreciados os retratos que elaborou por volta de 1960, das principais figuras da
política e da sociedade curitibana, nas quais fixou com sutis traços críticos tanto as virtudes
quanto as imperfeições dos caricaturados, o que só os artistas consumados alcançam

(CARNEIRO, 1975, p. 60).

1. Disponível em https://www.folhadelondrina.com.br/folha-gente/ruy-barrozo-curitiba--275534.html. Acesso 23.janeiro.2018.


2. Aniversário Daniel Fernandes. Correio do Paraná, 17/05/1964, p. 3.
3. Xixo Fernandes, suas charges e caricaturas. Diário da Tarde, 19/12/1975, p. 2.
4. Coritiba e Palestra. Diário da Tarde, 23/12/1940, p. 5.
5. Atividades do Coritiba F.C. Diário da Tarde, 07/05/1946, p. 3.
Atividades do Coritiba F.C. Diário do Paraná, 10/04/1946, p. 8.
Pelo Coritiba F.C. Diário da Tarde, 19/03/1947, p. 3.
Futebol entre colégios. Diário do Paraná, 15/05/1947, p. 8.
6. Últimas da F.P.F. Diário da Tarde, 06/06/1952, p. 8.
7. Vitória do Vila Hauer caiu o Vila Fani: 3x1. Correio da Noite/PR, 15/06/1959, p. 7.
8. Em dramática partida Beca derrotou o Tingui. Correio da Noite/PR, 21/03/1960, p. 3.

63
Sicupira, jogador do Atlético Paranaense Secretário da Agricultura Reinhold Stephanes

Fonte: Diário da Tarde, 19/12/1975, p. 1 Fonte: Diário da Tarde, 12/06/1981, p. 3

Em 1958, trabalhava no Diário do Paraná como ilustrador e fez algumas charges. Sua fase mais produtiva
como chargista desenvolve-se em 1962, no Correio do Paraná, jornal que fazia acirrada oposição ao governo
de Ney Braga. Em 1964, com o golpe militar, a direção do Correio do Paraná entendeu-se com o situacionismo
político vigente. Nessa ocasião, Xixo começou a colaborar na Gazeta do Povo. Continuou desenhando para o
Correio do Paraná, sob o pseudônimo “Rocledan” (composição das iniciais dos nomes de sua esposa Rosa, sua
filha Cleusa e seu filho Daniel), até o encerramento do jornal (ARAÚJO, 2012, p. 885).

Charges assinadas como Rocledan

Correio do Paraná, 22/05/1965, p. 1 Correio do Paraná, 10/08/1965, p. 3

Em dezembro de 1975, realizou a exposição “As charges de Xixo”, no Hotel Caravelle, em Curitiba,
abordando temas e personalidades políticas, sociais e do mundo dos negócios, como a charge representando
Ney Braga que está sentado no penúltimo degrau de uma escada, onde cada degrau representa os cargos que ele

64
exerceu faltando o último que seria o de presidente da república. Outras personalidades do ramo empresarial
e político retratadas nessa exposição foram Emílio Gomes, Affonso Camargo Netto, Mattos Leão, Saul Raiz,
Maximo Kopp, Manoel e Max Rosenmann, Rodolpho Pantigi (da Shell), deputados e secretários do Estado9.

Charge de Ney Braga

Fonte: Acervo do Museu Paranaense

O governador da época, Jayme Canet Júnior, e a Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) estavam entre
os assuntos retratados por Xixo.

Jayme Canet Jr. e a Alep

Fonte: Gazeta do Povo, 19/12/1975

9. Caricaturas na “Xixoexpô”. Gazeta do Povo, 26/11/1975.


Xixo Fernandes no Caravelle. Diário Popular, 20/12/1975.
Xixo, o milagre do santo de casa. Gazeta do Povo, 19/12/1975.
Dino Almeida informa: Caricaturas na Xixoexpo. Diário Popular, 26/11/1975.

65
Trabalhou como ilustrador do Diário da Tarde (1ª página) e na Gazeta do Povo. Colaborou no jornal O
Estado desde a sua fundação, na Tribuna do Paraná, no Correio do Paraná e no Diário dos Campos, de Ponta
Grossa, além de atuar em revistas especializadas em assuntos econômicos10.
Xixo começou com a charge esportiva e se especializou nas charges políticas. Ele mostrava em
seus desenhos as atividades de personalidades ligadas à política, homens do governo, comércio, indústria,
profissionais liberais, não faltando a caricaturização dos diversos momentos do futebol profissional.

O Cartola (Atlético) e o Decano (Coritiba)

Fonte: Diário da Tarde, 11/07/1970, p. 1

Caricaturas diversas de Xixo

Fonte: Diário da Tarde, 30/10/1981, p. 3

10. FERNANDES, Acyr (Xixo, Rocledan). Disponível em http://www.artesnaweb.com.br/index.php?pagina=home&abrir=arte&acervo=1479.


Acesso 13.janeiro.2018.

66
Garrincha

Fonte: Correio do Paraná, 20/11/1964, p. 10

Dino Almeida, colunista social11, foi seu grande companheiro na realização de diversas exposições.
Em 1979, realizaram uma exposição sobre as “100 Mulheres” que se destacaram na sociedade, filantropia,
assistência social, profissões liberais, política e artes12. Depois, em setembro de 1981, foi a vez dos homens
“da linha de frente do Paraná” serem homenageados com a exposição “100 mais destacadas personalidades
masculinas do Paraná”13. Mais tarde, em 1985, realizaram a exposição “Colunáveis da city” em que diversos
casais da sociedade paranaense foram caricaturados por Xixo, entre eles, Rosita e Cecílio Rego da Silva, Helena
e Moysés Paciornik, Carmem e Itálo Conti Júnior, Arlete e José Richa14.
Em 1989, atuou como professor a distância, ensinando técnicas de desenho aos leitores da Gazetinha –

11. Dino Almeida (1937-2001) estreou na Gazeta do Povo em 21 de junho de 1964. O colunista era bastante conhecido na cidade e “se não
saía no Dino não tinha acontecido” (FERNANDES, 2011, p. 134).
12. Diário do Paraná, 25/11/1979, p. 17.
Na verdade, acabaram sendo caricaturadas 122 mulheres. Consultar relação em Dino Almeida informa: 100 mulheres notícia – coq
Habitasul. Diário da Tarde, 03/12/1979, p. 3.
13. Caricaturas, ano 26. Diário da Tarde, 09/10/1981, p. 3.
14. Correio de Notícias, 01/03/1985, p. 15.

67
carte infantil do jornal Gazeta do Povo15, através de um programa progressivo na transmissão de conhecimentos
técnicos na área do desenho, partindo das formas geométricas mais simples até chegar aos resultados
definitivos. Nesse mesmo ano, participou com outros autores, no Solar do Barão, da exposição “Antes charge do
que nunca”. Xixo era considerado um dos veteranos da charge no Paraná, pois publicava seus trabalhos desde a
década de 1950 dominando as demandas desse estilo de ilustração que exige um ritmo intenso de criação, uma
renovação diária, justamente por ser efêmero o seu efeito: só provoca a reflexão naquele momento16.
Xixo Fernandes “fez de tudo um pouco nessa vida: foi jogador de futebol, tipógrafo, desenhista mecânico
e de arquitetura e cartunista” (ARTE no Paraná II, 1980, p. 99). Faleceu em Curitiba no ano de 2003 aos 77 anos.

REFERÊNCIAS

ARAUJO, Adalice Maria de (2012). Dicionário das artes plásticas no Paraná: Síntese da História da Arte no
Paraná (da Pré-História até 1980). Volume 2: verbetes de D a K. Curitiba: edição do autor.
ARTE no Paraná II (1980). Desenhistas de humor. In: Revista Referência em Planejamento, nº 13, v. 3. Curitiba,
abril, p. 97–100.
CARNEIRO, Newton (1975). O Paraná e a Caricatura. Curitiba: Grafipar.
FERNANDES, José Carlos e REIS, Marcio Renato (2011). Todo dia nunca é igual: notícias que a vida contou em
90 anos de circulação da Gazeta do Povo. Curitiba: Gazeta do Povo.
Museu de Arte Contemporânea do Paraná. Arquivos do Setor de Pesquisa e Documentação. Curitiba/PR.

** Agradecemos ao jornalista Luiz Geraldo Mazza pela entrevista dada por telefone a Ana Crhistina Vanali dia
27 de outubro de 2017 em Curitiba. Mazza e Xixo trabalharam juntos.

15. AGORA, estudo de desenho. Gazeta do Povo, 04/03/1989. Gazetinha, p. 6.


16. Humor. As charges da cidade. Correio de Notícias, 30/03/1989, p. 11.

68
2
ADELINO ALVES DA SILVA
Nascimento: Ponta Grossa/PR, 16 de novembro de 1915
Falecimento: Curitiba/PR, 22 de maio de 2018

Adelino Alves da Silva. Curitiba, 2001


Fonte: acervo de Enéas Gomez

69
ADELINO ALVES DA SILVA

(1915–2018)
Ana Crhistina Vanali

Todo sacrifício que eu fiz compensou, não me queixo da vida,


pois no tempo da minha mocidade a raça negra não valia nada,
era só para carregar pedra e foi isso que me fizeram fazer!

(ADELINO, 2013b)

Adelino Alves da Silva nasceu em Ponta Grossa aos 16 de novembro de 1915. Filho de Lúcio Alves
da Silva e de Maria Villela Alves da Silva1. Foi o décimo dos doze filhos biológicos que os pais tiveram. O casal
também adotou mais três crianças, totalizando quinze filhos.
O pai de Adelino, Nhô Lúcio, era muito religioso e enérgico. Um dia perguntou ao filho o que ele queria
ser e Adelino respondeu: “Quero ser um grande homem!” (ADELINO, 2013a). Lembra que achava muito bonito
os policiais em seus uniformes, os funcionários do Banco do Brasil todos bem vestidos com terno e gravata e
pensava: “Quero ser um deles!” (ADELINO, 2013a).
Então foi à luta. Iniciou o curso primário em 1924 e o finalizou em 1929. Começou a trabalhar para
ajudar em casa quando estava com 14 anos e cursava o último ano do primário. Estudava pela manhã e
trabalhava à tarde. Foi lavador de automóveis, servente de pedreiro, pintor de residências, até que “apareceu
uma oportunidade de trabalho mais limpo, saudável e mais rentável, na fabricação de prateleiras e estrados
de madeiras (que chamavam caramanchão) para lojistas do centro da cidade de Ponta Grossa” (SILVA, 2013,
p. 22). Foi com os recursos desses trabalhos que Adelino conseguiu continuar os estudos, finalizando o curso
intermediário em 1931 e ingressando na Escola Normal de Ponta Grossa em 1932. Nesse período sempre se
questionava sobre o racismo que estava vivendo na pele e se perguntava “por que meus colegas de turma
que são brancos trabalham na mesma empresa no escritório e eu tenho que lavar os automóveis? Por quê?”
(ADELINO, 2013c).
Na Escola Normal de Ponta Grossa, teve aula com professores renomados da educação paranaense
como Helena Kolody e Erasmo Pilotto. Em 18 de dezembro de 1936, formou-se professor normalista aos 21
anos de idade2.

1. A ascendência genealógica de Adelino o remete a pessoas negras escravizadas. Consultar Silva (2011) e Santana (2015b).
2. O Estado/PR, 08/12/1936, p. 10.

70
Adelino no dia da formatura da Escola Normal]

Fonte: Silva, 2013, p. 25

Os colegas que haviam se formado antes como professores normalistas foram trabalhar no Norte Velho,
nos novos municípios que estavam surgindo com a frente de colonização, tais como Jacarezinho, Tomazina,
Siqueira Campos e Ribeirão Claro. Adelino estava se preparando para se juntar aos amigos, mas acabou não
saindo de Ponta Grossa. Ele havia emprestado uns livros de educação e instrução de uns colegas. Estudou esse
material, apresentou para seus antigos professores e passou a ser considerado um especialista em educação.
Adelino lembra que os professores da Escola Normal falavam para ele: “você está por dentro de tudo! Não
vamos perder você. Você conhece todas as técnicas modernas de educação! Então fiquei na minha terra natal
e cresci profissionalmente. Era um homem desse ‘tamanhozinho’ e fiquei um homem desse tamanhão sendo
necessário para a educação da minha terra!” (ADELINO, 2013a). Assim, começou sua carreira como professor
adjunto na Escola de Aplicação anexa à Escola Normal de Ponta Grossa no dia 14 de maio de 19373. Adelino,
além de ser professor do grupo escolar público, foi proprietário de uma escola particular que funcionou na sua
própria casa (SANTANA, 2015b, p. 21).
De 1937 a 1939, frequentou o curso de Farmácia em Ponta Grossa, mas esse não foi reconhecido pelo
Ministério da Educação e Adelino ficou sem esse diploma.
Em 1938, Adelino havia entrado para o Curso de Ginásio, finalizando-o no ano de 1940. Em seguida,
começou a frequentar o curso pré-acadêmico, preparatório para quem desejava fazer o curso de Engenharia
fora de Ponta Grossa, uma vez que o curso não era ofertado na cidade. Concluiu esse curso em 1942 e prestou o
exame vestibular da Faculdade de Engenharia da Universidade do Paraná.
Para cursar engenharia, mudou-se de Ponta Grossa para Curitiba em 1943. Veio transferido como
professor para o Grupo Escolar Prieto Martinez, no bairro Bom Retiro, e foi morar numa pensão. Concluiu o
curso na turma de 1947 aos 31 anos de idade (PUPPI, 1986, p. 154). Adelino (2013e) lembra como sofreu para
se formar engenheiro: o interventor Manoel Ribas havia congelado o salário dos professores e sua situação
financeira ficou bem comprometida. Na pensão em que morava, se ele não deixava avisado que iria se atrasar
e que era para “deixar um prato pronto” ele não comia. Os dias em que se atrasava por algum motivo de última
hora, seu almoço “era pão com banana, se não tinha banana era só pão com água, se não tinha pão era só banana
com água!”

3. O Estado/PR, 15/05/1937, p. 16.

71
Adelino no dia da formatura de Engenharia

Curitiba, 26/12/1947
Fonte: Silva, 2013, p. 31

Trabalhou como professor durante onze anos, de 1937 até 1948. Concluído o curso de Engenharia Civil
na Universidade do Paraná, ingressou no Departamento de Estradas e Rodagem do Estado do Paraná (DER/PR)
e encerrou a carreira no magistério4. Adelino (2013e) relata que sofreu racismo para entrar no DER/PR: após se
formar em engenharia começou a procurar um emprego na área. Foi até um dos seus professores da faculdade,
Benjamim Mourão, que na época era o Secretário de Viação e Obras Públicas, que o encaminhou, juntamente
com mais três colegas recém-formados, ao DER/PR que estava contratando engenheiros. Os três colegas, que
eram brancos, foram contratados de imediato. Adelino não. Em suas palavras, diz que preferiu “não criar caso”
e aguardou a troca do diretor do DER (ADELINO, 2013g). O novo diretor, Oswaldo Pacheco de Lacerda, mandou
chamar Adelino.
O DER/PR foi criado em 18 de dezembro de 1946 pelo interventor Manoel Ribas5. Adelino começou a
trabalhar na instituição em 1º de junho de 1948. Iniciou como engenheiro auxiliar, passou por diversos cargos
e chefias até chegar a diretor-geral interino em 1968. Adelino construiu uma longa e diversificada carreira no
DER, percorrendo todo o estado do Paraná. Aponta que a obra mais difícil que participou na vida de engenheiro
foi a elaboração do projeto, que até hoje não foi executado e que ele gostaria de ver realizado, da ponte ligando
Guaratuba a Matinhos. Entre 1957 e 1958, todo o trabalho de sondagem foi feito e até hoje “nada da ponte!”
(ADELINO, 2013b).
Em 11 de junho com 1960, casou-se com a professora Ivonete Santos Polycarpo. Tiveram três filhos:
Glória Maria (nutricionista), Adelino Junior (engenheiro eletricista) e Marionei (administrador de empresas).
Após se aposentar do serviço público em 7 de novembro de 1966, nas vésperas de completar 51
anos, passou a atuar no setor privado em empresas como a Construtora Martini, Empresa Gava e a Planepar.
Trabalhou também na Prefeitura de Guaratuba, assessorando os prefeitos do período de 1968 a 1973, ajudando
na fundação do Departamento de Obras, Viação e Serviços Públicos (SILVA, 2013).

4. Mesmo como engenheiro, ainda teve algumas experiências como professor: durante quatro anos deu aula de matemática no Ginásio
Estadual de Araucária no período noturno. Lecionou em escolas particulares que ministravam cursos noturnos preparatórios para a
admissão ao ginásio no centro de Curitiba e foi professor nos cursos de preparação de topógrafos e laboristas do DER/PR (SILVA, 2013,
p. 36).
5. Decreto-lei Nº 547 de 18 de dezembro de 1946 cria o Departamento de Estradas e Rodagem e dá outras providências. Diário Oficial do
Estado do Paraná Nº 811 de 28 de dezembro de 1946. Disponível em http://www.der.pr.gov.br/arquivos/File/DecretoLei.pdf. Acesso
23.fevereiro.2018.

72
Foi novamente requisitado para prestar serviços ao DER: de 1968 a 1970, ocupou o cargo de diretor-
geral da instituição durante o governo de Paulo Pimentel. Entre 25 de agosto de 1970 a 15 de março de 1971,
foi diretor administrativo-financeiro (FORTESKI, 2014, p. 198). Quando Haroldo Leon Perez assumiu o governo
do Paraná, em 1971, ele exonerou todos os nomeados por Paulo Pimentel.
Adelino voltou então a trabalhar na Empresa Gava. Ficou nessa companhia por quatro anos e retornou ao
DER/PR no final do governo de Emílio Gomes (1973–1975), permaneceu durante toda a gestão do governador
Jayme Canet (1975–1979), passando pelo governo de Ney Braga (1979–1982) saindo no início da gestão do
govenador José Richa em 1983 (ADELINO, 2013a).
Em 2014, Adelino recebeu o Troféu Paraná Engenharia do Instituto de Engenharia do Paraná em
reconhecimento ao trabalho desenvolvido ao longo de sua carreira profissional.

Engenheiro do ano de 2014: Adelino Alves da Silva

Fonte: IEP, 2014, p. 4

Adelino sempre esteve envolvido em atividades filantrópicas, participando ativamente de algumas


associações de assistência social, bem como de projetos das associações de classe da sua profissão (ADELINO,
2013g).
Foi o terceiro negro formado professor normalista pela Escola Normal de Ponta Grossa6. Está entre os
primeiros engenheiros negros formados pela Universidade do Paraná7. Adelino se identifica como o primeiro
engenheiro negro funcionário do DER/PR e ressalta que houve outros engenheiros negros no DER/PR, mas que
não chegaram ao cargo de diretor-geral (ADELINO, 2013b).
Para ele a “persistência e confiança juntas, permitiram-me seguir em frente, sempre sem estancar ou
esmorecer diante dos problemas enfrentados” (SILVA, 2013, p. 77).
Faleceu em Curitiba aos 102 anos de idade no dia 22 de maio de 2018. Foi sepultado no Cemitério do
Água Verde8.

6. Os dois primeiros professores negros normalistas de Ponta Grossa foram Antônio Alves Ramalho e Raul Vianna. Pela Universidade do
Paraná, Antônio se formou em medicina, Raul em direito e Adelino em engenharia (SILVA, 2013, p. 68).
7. Os outros engenheiros pretos seriam Otávio de Alencar Lima (1918), Nelson José da Rocha (1938), Enedina Alves Marques (1945),
Adelino Alves da Silva (1947). Os primeiros pardos formados em engenharia seriam Venevérito da Cunha (1942), José Januário Montes
(1944) e Fernando Mendes Filho (1948) (SILVA, 2013, p. 68).
8. Disponível em https://www.tribunapr.com.br/noticias/falecimentos/falecimentos-do-dia-22052018/. Acesso 14.janeiro.2018.

73
REFERÊNCIAS

ADELINO (2013a). A biografia do eng Adelino Alves da Silva M2U01741. Disponível em https://www.youtube.
com/watch?v=LaqChTEBiSI. Acesso 18.fevereiro.2018.
ADELINO (2013b). Engenheiro Adelino Alves da Silva – Depoimento. Disponível em https://www.youtube.
com/watch?v=LdK0F2LGgpc. Acesso 18.fevereiro.2018.
ADELINO (2013c). O racismo e o engenheiro Adelino Alves da Silva e sua vida profissional M2U01813. Disponível
em https://www.youtube.com/watch?v=osl3Oy4RN1o. Acesso 18.janeiro.2018.
ADELINO (2013d). Vícios e o trabalho do engenheiro Adelino Alves da Silva e o DER – lembrando as estradas do
PR. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=RxMKT1nHSaE. Acesso 18.janeiro.2018.

ADELINO (2013e). Eng. Adelino Alves da Silva e sua luta para ser admitido nos quadros do DER e noutros
lugares. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=3LeexF4ltdA. Acesso 18.janeiro.2018.
ADELINO (2013f). Quem luta vence – eng Adelino Alves da Silva M2U01746. Disponível em https://www.
youtube.com/watch?v=w3mh1-u1aqA. Acesso 18.fevereiro.2018.
ADELINO (2013g). Conversando com o eng Adelino Alves da Silva na reinauguração do bar do IEP M2U01737.
Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=XSo8Sn8hALg. Acesso 18.janeiro.2018.
CARNEIRO, Célia Maria B. T. (2009). Entrevista com Adelino Alves da Silva. In: Edifício Oswaldo Pacheco de
Lacerda: o prédio na história do DER–PR. Curitiba. Ed. DER, p. 181–182.
FORTESKI, Sivaldo (2014). A infraestrutura rodoviária no Paraná: instituições, redes, famílias e atores na gestão
do governo Jaime Lerner (1995–2002). Curitiba: Dissertação de Mestrado em Sociologia da UFPR.
IEP (2013). O Presidente e o nosso decano Adelino Alves da Silva M2U01806. Disponível em https://www.
youtube.com/watch?v=Mc16NPJ5Zwk. Acesso 13.janeiro.2018.
IEP (2014). IEP-News – Boletim do Instituto de Engenharia do Paraná, ano 41, Nº 682, janeiro.
PUPPI, Ildefonso Clemente (1986). Fatos e reminiscências da faculdade: retrospecto da Escola de Engenharia
da Universidade Federal do Paraná. Curitiba: Editora da UFPR.
SANTANA, Jorge (2015a). Adelino Alves da Silva: memórias da presença negra no Paraná. Curitiba: II
COPENE SUL. Disponível em https://proceedings.galoa.com.br/copene-sul/trabalhos/adelino-alves-da-silva-
memorias-da-presenca-negra-no-parana?lang=pt-br. Acesso 13.fevereiro.2018.
SANTANA, Jorge (2015b). ADELINO ALVES DA SILVA: presença negra paranaense em espaços legítimos de
poder. Curitiba: Monografia apresentada ao curso de Especialização em Educação das Relações Étnicas Raciais
da UFPR.
SILVA, Adelino Alves da (2013). Memória de um professor e engenheiro civil: vida, luta e trabalho. Autobiografia.
Curitiba: IEP.

74
3
AMILTON AMBROSIO
RIBEIRO
Nascimento: Curitiba/PR, 3 de abril de 1939
Falecimento: Curitiba/SC, 25 de julho de 2007

Amilton Ambrósio Ribeiro. Curitiba, década 1990


Fonte: Acervo Máximo Francisco dos Reis

75
AMILTON AMBROSIO RIBEIRO

(1939–2007)

Ana Crhistina Vanali

Amilton Ambrósio Ribeiro nasceu na Maternidade Victor Ferreira do Amaral, em Curitiba, no dia 3 de
abril de 1939. Filho de Eliete da Silva Aguiar1, empregada doméstica que criou seu único filho sozinha (MAÇÃ,
2018).
Em 1960, ao entrar para o curso de engenharia civil da Universidade Federal do Paraná, foi admitido no
Departamento de Estrada e Rodagem do Paraná (DER–PR), atuando como operário da Seção de Abastecimento.
No período de 19 a 27 de maio de 1962, participou dos XIII Jogos Universitários do Paraná2. Nesse ano, o curso
de Engenharia Civil foi tricampeão do campeonato geral3. Formou-se engenheiro civil na turma de 1964 (PUPPI,
1986).
Foi promovido à categoria de engenheiro no DER–PR em março de 1965, assumindo um posto no 13º
Distrito Rodoviário/Campo Mourão, permanecendo neste até fevereiro de 19664. Em 11 de fevereiro de 1966,
assumiu a chefia do 15º Distrito Rodoviário/Irati5, hoje o Escritório Regional Centro Sul. Um dos trabalhos
de destaque de Amilton frente a esse distrito rodoviário foi a manutenção das estradas que permitiam o
escoamento dos produtos agrícolas das colônias da região de Irati6. Foi presidente da comissão encarregada de
avaliar as áreas de terras e benfeitorias atingidas pelas faixas de domínio das rodovias dentro da jurisdição do
15º Distrito Rodoviário7. Também participou da comissão encarregada da medição e recebimento dos serviços
de revestimentos primário da Rodovia BR 14, trecho Irati–Rebouças–Rio Azul–Mallet, que estava a cargo da
empreiteira Construtora Sulbras Ltda.8
Sua vida social na cidade de Irati foi marcada por inúmeras atividades: em maio de 1968, ocupava o
posto de chefe de patrimônio do Clube Atlético União Olímpico de Irati9. Esteve presente, no dia 3 de dezembro
de 1971, na sede da Câmara Municipal, onde realizou-se a reunião de Fundação da Faculdade de Filosofia,
Ciências e Letras de Irati (IRATI, 2010) e, em 15 de julho de 1974, participou da inauguração do Kart Clube de
Irati10.

1. Nascida em 6 de agosto de 1920 e falecida


2. Protocolo Nº 7596/62 DER.
Presidente eufórico: FPDU. Última Hora, 06/04/1962, p. 10.
3. Jogos universitários. Diário do Paraná, 20/05/1962, p. 1.
XIII JUP: Engenharia é tricampeã (com justiça). Diário do Paraná, 27/05/1962, p. 11.
4. Decreto Nº 17.562/D.O Nº 22 de 27/03/1965. Autorização governamental Nº 3.253/65 DER.
5. Ofício/DER Nº 3.070/66.
6. Irati/Estradas. Diário do Paraná, 04/07/1973, p. 13.
7. Portaria/DER Nº 745 de 16/05/1966.
8. Portaria/DER Nº 1.296 de 17/08/1966.
9. Olímpico de Irati começou temporada de 68 com nova diretoria. Diário do Paraná, 20/01/1968, p. 11.
10. Mansur Kartista. Diário do Paraná, 20/01/1968, p. 11.

76
No mês de outubro de 1975, foi transferido para o 8º Distrito Rodoviário/Cascavel11 e, em março de
1977, removido para o 6º Distrito Rodoviário/Jacarezinho12. Em outubro de 1979, retorna para Curitiba com
função na Assessoria de Programação13. Aposentou-se em outubro de 198614. Já na capital paranaense, em junho
de 1980, abriu uma empresa de obras de urbanização que trabalhava com ruas, praças e calçadas. O escritório
funcionava na Rua XV de Novembro15.
Casou-se com Benedita Gonçalves16 em 29 de setembro de 1965. Tiveram dois filhos: Ademilton
(nascido em 1966) e Adelton (nascido em 1968).
Em 27 de abril de 1996, foi um dos fundadores do Instituto Afro-brasileiro do Paraná, uma entidade
sem fins lucrativos criada por alguns integrantes da Comunidade Afro-brasileira Paranaense, “com finalidade
de exercício da solidariedade entre os membros da comunidade de origem africana, e para atingir esse objetivo:
deverá no contexto histórico, cultural, social e econômico do país; promoção da conscientização a inserção
social; garantia de seus direitos; estimular e promover o aperfeiçoamento cultural da comunidade afro, com
acesso às informações e à educação; promover e apoiar realizações de estudos, pesquisas, trabalhos, publicações,
cursos e outros eventos culturais...” (Art.4º Estatuto). Amilton foi o diretor-geral da primeira gestão do instituto
(Anexo A) e, como tal, participou de eventos importantes que debatiam sobre a questão racial. Podemos citar
como exemplos sua presença no encontro racial que ocorreu na cidade de Cabo Frio, estado do Rio de Janeiro,
e as visitas realizadas a 12 embaixadas africanas em Brasília.

Momentos de Amilton com outros membros do Instituto Afro-brasileiro do Paraná

Amilton, primeiro à direita (Curitiba, 16/12/1996) Amilton, segundo à direita. Curitiba, sem data
Fonte: acervo de Máximo Francisco dos Reis (Maçã)

11. Portaria/DER Nº 1.009 de 16/10/1975.


12. Portaria/DER Nº 218 de 14/03/1977.
13. Portaria/DER Nº 524 de 03/10/1979.
14. Resolução Nº 10.429 de 31/10/1986.
15. Disponível em http://www.mapaempresas.com/endereco/cep/construcao/Rua-Xv-De-Novembro-297/80020922-construtora.
Acesso 26.dezembro.2018.
16. Benedita Gonçalves Ribeiro nasceu em 24 de dezembro de 1935 e faleceu em 7 de março de 2008. Fonte: Cemitério Jardim da Saudade/
Curitiba.

77
Visita às embaixadas africanas em Brasília

Momentos das visitas às embaixadas africanas em Brasília


Fonte: acervo de Máximo Francisco dos Reis (Maçã)

Encontro sobre a questão racial em Cabo Frio/RJ

Encontro racial que ocorreu na cidade de Cabo Frio/RJ


Da esquerda para a direita: Carmem Costa, sem identificação, Zezé Motta, Amilton Ambrósio Ribeiro, Antônio Pitanga, Máximo Francisco
dos Reis (Maçã), sem identificação
Fonte: acervo de Máximo Francisco dos Reis (Maçã)

Amilton faleceu em Curitiba aos 68 anos de idade no dia 25 de julho de 200717. Está sepultado no
Cemitério Parque Jardim da Saudade de Curitiba.

17. Disponível em http://www.bemparana.com.br/noticia/36995/mortos-em-25-de-julho. Acesso 29.janeiro.2018.

78
REFERÊNCIAS

Instituto Afro-brasileiro do Paraná. Disponível em https://www.facebook.com/Institutoafropr/. Acesso


25.janeiro.2018.
MAÇÃ (2018). Entrevista de Máximo Francisco dos Reis, o Maçã, concedida a Ana Crhistina Vanali em Curitiba
no dia 17 de maio de 2018.
IRATI (2010). A profissão do professor. Caminhos do Paraná: a Irati de todos nós (24/10/2010). Disponível
em http://radionajua.com.br/noticia/irati-de-todos-nos/materias/a-profissao-do-professor/5311/. Acesso
23.janeiro.2018.
PUPPI, Ildefonso Clemente (1986). Fatos e reminiscências da faculdade: retrospecto da Escola de Engenharia
da Universidade Federal do Paraná. Curitiba: Editora da UFPR.

* Agradecimento especial ao senhor Wilson Pereira Machado, coordenador do RH DER/PR pelo apoio dado à
pesquisa.

79
ANEXO A

Breve histórico

Aos 27 dias do mês de abril de 1996, às 9 horas da manhã, no Auditório do Fórum Cível da Comarca de
Curitiba, reuniu-se em Assembleia Geral um grupo de integrantes da Comunidade Afro-brasileira Paranaense com o
objetivo de constituir o Instituto Afro-brasileiro do Paraná.
Essa primeira sessão foi aberta pelo meritíssimo desembargador do Tribunal de Alçada Dr. José Augusto
Gomes Aniceto; na qualidade de presidente da Comissão Organizadora, o qual pronunciou sobre a necessidade da
Comunidade se organizar em busca da cidadania e do lugar merecido na história desse país, justificando a criação
dessa entidade. Outro fundador importante desse instituto foi o professor Paulo Rolando de Lima, arquiteto e
urbanista, o qual explanou sobre as finalidades dessa instituição e a necessidade de promover a solidariedade e
apoio aos negros em geral, e especialmente às crianças, estudantes e todas as pessoas que buscam reconhecimento
de seus direitos. Junto com esses dois companheiros citados; uniram-se à causa: o Sr. Walter Cezar dos Santos; após
aprovação do Estatuto foram votados para compor a diretoria: presidente: Sr. eng. agrônomo Valdir Isidoro Silveira,
vice-presidente Dr. José Augusto Gomes Aniceto; secretário geral: Walter Cezar dos Santos; 1a secretária: Mirian de
Freitas Santos; tesoureiro geral: Sidney Santos Martins; 1º tesoureiro: Paulo Rolando de Lima; diretor geral: eng.
Amilton Ambrósio Ribeiro; e o Conselho Deliberativo foi composto por: Divonzir Jose Borges; Jorge Modesto Pereira
da Silva e Máximo Francisco dos Reis; suplentes: João Natalino de Oliveira; Natanael Souza dos Santos e Dr. Nizan
Pereira de Almeida.
Nesse primeiro momento do Instituto, sua formação era de negros e negras; da comunidade afro-
paranaense nascidos ou não; mas que aqui estavam para construir suas vidas e história. Eram pessoas de diversas
áreas profissionais como: Direito; Medicina, Engenharia, Arquitetura, funcionários públicos, empresários, área
da Educação, Saúde e Segurança; mas o que os uniu foi a etnia e a vontade de reconstrução da autoestima dessa
população e desconstruir as estigmatizações negativas na sociedade. Afirmar a identidade racial como ponto positivo
na construção da nossa sociedade e dar visibilidade para nossa comunidade.
É importante salientar nesse breve histórico; que o Instituto Afro-brasileiro do Paraná é pessoa jurídica
sem fins lucrativos; “com finalidade de exercício da solidariedade entre os membros da comunidade de origem
africana, e para atingir esse objetivo: deverá buscar o reconhecimento e valorização da comunidade afro-brasileira
no contexto histórico, cultural, social e econômico do país; promoção da conscientização a inserção social; garantia
de seus direitos; estimular e promover o aperfeiçoamento cultural da comunidade afro, com acesso às informações
e à educação; promover e apoiar realizações de estudos, pesquisas, trabalhos, publicações, cursos e outros eventos
culturais...” (Art.4º Estatuto)
Para encerrar a atual direção, a Chapa Renovação e Empoderamento recebeu a incumbência de dar
continuidade ao trabalho dos antecessores; pautando suas ações na ética; compromisso com as questões da negritude
em nossa sociedade para continuar desenvolvendo a autoestima das nossas crianças e adolescentes e contribuir com
a cultura negra de forma geral, tendo por base os princípios fraternais da solidariedade.

Disponível em https://www.facebook.com/Institutoafropr/. Acesso 26.dezembro.2018.

80
4
ANTENOR ALENCAR LIMA
Nascimento: Curitiba/PR, 5 de setembro de 1901
Falecimento: Rio de Janeiro/RJ, 5 de outubro de 1954

Antenor Alencar Lima. Curitiba, 1948


Fonte: O Dia, 20/06/1948, p. 1

81
ANTENOR ALENCAR LIMA

(1901- 1954)

Ana Crhistina Vanali

Antenor Alencar Lima nasceu dia 5 de setembro de 1901 em Curitiba. Filho de Thereza Mercedes
de Lima e de Jeremias Freitas de Lima, funcionário dos Correios do Paraná1, que faleceu em um acidente
automobilístico quando retornava da Festa do Rocio em Paranaguá em 19292. Eram seus irmãos o engenheiro
civil Octávio Alencar de Lima, Raul Sylvio, Adherbal, Argemiro, Emília, Mercedes Branicia e Jacyra3.
Antenor foi aluno da Escola Normal de Curitiba, sempre aprovado plenamente e com distinção4. Entrou
no Exército em 6 de dezembro de 1917. Passou a Aspirante Oficial em 17 de janeiro de 1924; a 2º tenente em
28 de maio de 1924; a 1º tenente em 15 de julho de 19255; capitão em 28 maio de 1930; major em 3 de maio
de 1938; tenente-coronel em 25 de agosto de 1942; coronel em 25 de junho de 1946. Foi condecorado com a
Medalha Oficial da Ordem do Mérito Militar; Medalha Militar de Ouro; Medalha de Guerra; Medalha de Prata
Cinquentenário da República. Realizou os cursos de Formação de Oficiais de Engenharia, pelo Regulamento
de 1919; Aperfeiçoamento de Oficiais de Engenharia; Estado-maior (com Menção Honrosa) em 1930. Foi
promovido a general de divisão, quando de sua passagem para a Reserva em 1952. Na ativa, tinha o posto de
coronel da Arma de Engenharia6.
Em 1929, foi diretor do escritório técnico da construção da rodovia São João-Barracão, cujas obras
estavam a cargo do 5º Batalhão de Engenharia7. Dentro da área de engenharia do Exército, coronel Alencar
sempre foi destaque por sua rápida ascensão na carreira militar, pois ele “vinha conquistando no exército uma
posição invejável de destaque, digna por todos os títulos de registros, porque ela representa, numa marcha da
gradativa evolução, a vitória do próprio esforço, o justo prêmio de estudos interessantes” por ele realizados8.
Em 1943, o coronel Alencar foi nomeado subdiretor e, dois anos mais tarde, diretor interino de ensino
da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, com sede no Rio de Janeiro9. Essa escola, criada em 1905, é
um estabelecimento de ensino do Exército Brasileiro, cuja missão é preparar oficiais superiores para o exercício
de funções de Estado-Maior, comando, chefia, direção e de assessoramento, cooperando com os órgãos de
direção geral e setorial no desenvolvimento da doutrina para o preparo e o emprego da Força Terrestre.
De 10 de outubro de 1945 a 24 de setembro de 1947, o tenente-coronel Alencar foi o comandante da
unidade de engenharia do Batalhão Mauá, que tinha a missão de instrução militar e de construção. Essa unidade
fazia parte do 2º Batalhão Ferroviário da 5ª Região Militar, localizado em Rio Negro, no Paraná, e foi pioneira

1. O Estado do Paraná, 17/02/1925, p. 3. A República, 23/11/1929, p. 4.


2. A República, 22/11/1929, p. 12.
3. Correio do Paraná, 24/05/1932, p. 3.
4. A República, 22/11/1916, p. 1.
5. O Estado do Paraná, 05/11/1925, p. 7.
6. Conforme os assentamentos do general de divisão Antenor de Alencar Lima (Referência XXVII-25-597 A e B). Acervo do Arquivo do
Exército no Rio de Janeiro (AHEX). Agradecemos ao capitão Mauro da Seção de Pesquisa do AHEX pelo acesso às informações.
7. A República, 20/11/1929, p. 3.
8. O Dia/PR, 08/05/1938, p. 8.
9. O Dia/PR, 12/12/1943, p. 3. O Dia/PR, 17/03/1945, p. 8.

82
na construção de estradas do chamado Tronco Principal Sul10, como por exemplo a Estrada de Ferro Rio Negro–
Bento Gonçalves11 pela qual Antenor Alencar recebeu voto de louvor da Assembleia Constituinte de 1946 pelos
serviços prestados. Esse voto foi proposto pelo deputado Protógenes Vieira, do PSD de Santa Catarina12.

2º Batalhão Ferroviário de Rio Negro/PR, sem data

Fonte: Grupo Facebook Antigamente em Curitiba

Na primeira gestão do governador Moysés Lupion (1947–1951), o coronel Alencar assumiu a Secretaria
da Viação e Obras Públicas (SVOP). Isso foi em março de 1948, quando “ilustres militares foram convidados
para participar do governo devido a sua capacidade administrativa e por serem membros do Partido Social
Democrata (PSD)”13
Na SVOP, o coronel Alencar teve uma “árdua missão” frente ao programa extenso e importante de
grandes realizações no transporte, energia elétrica, saneamento, criação de novos municípios, entre outros. Ele
participou da construção de obras que marcaram o governo Lupion tais como o Colégio Estadual do Paraná, a
Casa do Estudante Universitário, a cidade balneária de Caiobá, o Reservatório da Vossoroca, a Usina Hidrelétrica
de Apucarana, a Usina Hidrelétrica Cachoeira-Capivari, o Pavilhão de doenças infectocontagiosas do Hospital da
Criança, a Estrada de Ferro Central do Paraná, a Estrada Praia de Leste–Matinhos, a Cadeia Pública de Matinhos,
a Casa Escolar da Colônia Maria Luiza, entre outras hidrelétricas, escolas, cadeias públicas, hospitais, rodovias,
ferrovias.
Como parte de suas atribuições, o coronel Alencar acompanhou o governador Lupion em excursões
oficiais pelo interior do estado para inspecionar as obras em andamento, lançar pedras fundamentais de novos
projetos e entregar as obras concluídas, “TUDO POR UM PARANÁ MELHOR!”14 Apesar de sua forte atuação
frente à SVOP, recebeu várias críticas com relação a sua gestão conforme veiculado nos jornais da época.

10. Diário do Paraná, 15/12/1963, p. 4.


11. Diário do Paraná, 13/01/1946, p. 2.
12. A Noite/RJ, 26/05/1947, p. 7.
13. Diário da Tarde, 04/03/1948, p. 1.
14. O Dia/PR, 05/03/1949, p. 8.

83
Anedota com o coronel Alencar

Fonte: Diário da Tarde, 27/10/1948, p. 1

Por motivos de saúde, deixou a SVOP em abril de 194915. Foi seu substituto o engenheiro civil Benjamim
de Andrada Mourão. Em 6 de janeiro de 1952, foi nomeado representante do Ministério da Guerra junto ao
Instituto Ferroviário de Pesquisas Técnico-econômicas16. Permaneceu nessa função até novembro daquele
mesmo ano, quando foi promovido a general da brigada e transferido para a Reserva Remunerada do Exército
Brasileiro17.
Faleceu na cidade do Rio de Janeiro em 5 de outubro de 1954 aos 53 anos18, deixando viúva a carioca
Esmeraldina Moura de Alencar Lima, falecida aos 86 anos em 198819.

15. O Dia/PR, 20/04/1949, p. 1.


16. Jornal do Commercio/RJ, 21/05/1952, p. 7.
17. O Jornal/RJ, 09/11/1952, p. 13.
18. O Dia/PR, 04/11/1954, p. 5.
19. Jornal do Brasil/RJ, 18/05/1988, p. 13.

84
5
ANTENOR PAMPHILO
DOS SANTOS
Nascimento: Salvador/BA, 1º de junho de 1895
Falecimento: Curitiba/PR, 9 de fevereiro de 1967

Antenor Pamphilo dos Santos. Curitiba, 1962


Fonte: Acervo da Faculdade de Medicina da UFPR
Foto: Ricardo Gullit

85
ANTENOR PAMPHILO DOS SANTOS

(1895–1967)

Ana Crhistina Vanali

Antenor Pamphilo dos Santos nasceu dia 1º de junho de 1895 em Salvador, estado da Bahia. Sua mãe
chamava-se Emília Pereira dos Santos. Na capital baiana, trabalhou como “mata mosquito”, ou seja, era agente
comunitário de saúde e de combate às endemias. Não se sabe quando chegou à capital paranaense, mas em 1917
era funcionário público do estado do Paraná, em Curitiba, trabalhando como auxiliar do serviço de vacinação
antitífica da Secretaria de Saúde Pública1. No ano de 1919, atuava como monitor de Física na Faculdade de
Medicina da Universidade do Paraná, iniciando sua carreira no magistério2.
Aos 26 anos, em 1921, formou-se em Farmácia pela Universidade do Paraná e em 1928 colou grau em
Medicina pela mesma instituição defendendo a tese “Teoria dos envenenamentos”. Foi o primeiro a receber o
prêmio Nilo Cairo da Universidade do Paraná composto por diploma e medalha concedidos ao formando em
medicina com a melhor nota (COSTA; LIMA, 1992). Durante sua trajetória acadêmica enquanto estudante foi
membro da União dos Acadêmicos de Medicina sendo seu 1º tesoureiro no ano de 19253.

Formatura em Medicina, 1928

Fonte: Correio do Paraná, 13/03/1933, p. 3

1. A República, 14/10/1920, p. 1. A República, 20/05/1922, p. 1.


2. Diário da Tarde, 05/06/1965, p. 8.
3. O Dia (PR), 18/10/1925, p. 5.

86
Medalha Prêmio Nilo Cairo – 1928

Acervo do Museu Paranaense

Em 1923, exercia o cargo de preparador de Medicina e de Farmácia. Em 1925, assumiu como professor
interino de Farmácia na Universidade do Paraná4, até prestar concurso em 1926 e assumir a cátedra de Química
Toxicológica e Bromotológica do curso de Farmácia da Universidade do Paraná. Com as teses sobre “Estrutura
dos corpos cristalizados” (escolhida pela banca) e “O hidrogênio atômico e molecular” (livre escolha), no ano de
1929, realizou concurso para a cátedra de Química Geral e Mineral da Faculdade de Medicina da Universidade do
Paraná. Em 1932, passou a lecionar Química Biológica. No ano de 1937, fez novo concurso, agora para a cadeira
de Fisiologia da Faculdade de Medicina da Universidade do Paraná, a qual ocupou até se aposentar em 1965,
após 46 anos de atuação no magistério (COSTA; LIMA, 1992). Atuou como membro do Conselho Universitário
da Universidade do Paraná de 1955 a 1961, recebendo o título de professor Emérito após sua aposentadoria,
afinal “o professor Antenor Panfilo dos Santos era nome demais conhecido em nosso meio científico”, anunciava
o jornal O Estado de 5 de fevereiro de 1937 (p. 2) (SOUZA, 2016)5.

Postal comemorativo da formatura da Turma de Farmácia de 1925

Antenor Pamphilo dos Santos é um dos professores homenageados


Acervo de Paulo José da Costa/Antigamente em Curitiba

4. O Dia (PR), 27/04/1928, p. 4.


5. O Diário do Paraná, 10/02/1967, p. 7.

87
Ato solene da federalização da Universidade do Paraná em 4 de dezembro de 1950

Antenor Pamphilo dos Santos em destaque no canto esquerdo


Acervo de Noel Samways/Antigamente em Curitiba

O doutor Pamphilo dos Santos foi eleito diretor da Faculdade de Medicina da Universidade do Paraná
(FMUP) por duas vezes, exercendo a função de 1956 a 1963 (COSTA; LIMA, 1992). Foi durante sua gestão
que o prédio do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná foi inaugurado, em 26 de março de
1960, momento no qual declarou “é uma obra, o Hospital de Clínicas de Curitiba, que vai, incontestavelmente,
solucionar uma das grandes dificuldades que tínhamos, que era a do ensino das clínicas” (ANTENOR PAMPHILO
DOS SANTOS, 26/03/1960)6. No ano de 1962, os estudantes de medicina fizeram uma greve para exigir o seu
afastamento da direção da FMUP, por ser considerado indiferente às demandas estudantis. A nova eleição para
a direção da FMUP estava próxima e os estudantes exigiam a retirada do nome de Pamphilo dos Santos da lista
tríplice, pois caso ele fosse escolhido mais uma vez passava a ocupar o cargo de forma vitalícia7.
Ele também foi membro da terceira diretoria da Associação de Professores da Universidade Federal do
Paraná (APUFPR) sendo seu vice-presidente de 1965 a 1966 (APUFPR, 2010).

Recepção do casal Lia e Clovis Machado para a inauguração do Hospital de Clínicas em 1961

Antenor Pamphilo dos Santos em destaque no lado direito


Acervo de Dado Lupion/Antigamente em Curitiba

6. Última Hora, 26/03/1960, p. 2.


7. Última Hora, 16/05/1962, p. 2.

88
Antes de ser professor da Universidade do Paraná, Pamphilo dos Santos havia lecionado Física e
Química no curso ginasial no Colégio Novo Atheneu8. Depois, mesmo sendo docente da Faculdade de Medicina,
atuava como membro da banca de exame de História Natural do Ginásio Paranaense9 e como professor no
curso preparatório do Gymnasio Brasileiro localizado na Praça Osório10. Também trabalhava como professor de
Química para o curso preparatório do exame vestibular de medicina do Colégio Iguassu, situado na Praça Rui
Barbosa11.
Realizava muitas conferências e palestras radiofônicas pela cidade de Curitiba, sempre tratando de
temas relacionados à saúde, como tuberculose, saúde da criança, lepra, febre tifoide, entre outros12. Participou
de muitos congressos a nível nacional, representando o Paraná, como na 1ª Conferência Nacional da Saúde,
realizada na capital federal de 10 a 15 de novembro de 1941. Agilizava campanhas de solidariedade para
angariar recursos para a construção de entidades como a Sociedade de Assistência aos Lázaros e defesa contra
a lepra de Curitiba, da qual veio a ser o conselheiro técnico13. Essa entidade foi fundada no Clube Curitibano no
dia 21 de maio de 1940, numa época em que se declarou guerra à lepra. Foi “brilhante para todos os títulos o
discurso do Dr. Antenor Panfilo dos Santos, pois, analisando conscienciosamente o problema da lepra em nosso
país, emitiu profundos conceitos e enalteceu a campanha de solidariedade iniciada pela esposa do interventor
Manoel Ribas” (CORREIO DO PARANÁ, 22/05/1940, p. 6).
Empenhava-se em outras ações coletivas, como a doação de um terreno da prefeitura de Curitiba para
a construção do biotério da Faculdade de Medicina14. Era membro da Legião Brasileira de Assistência (LBA)15.
Organizava e orientava cursos de educadores da saúde popular16. Também foi membro do Círculo de Estudos
Bandeirantes (FERRARINI, 2011). Em 1935, foi eleito um dos membros da Comissão de Disciplina da Associação
Médica do Paraná17 e em 1938 foi nomeado membro da Comissão de Apuração da Cruz Vermelha Brasileira no
Paraná, sendo eleito um dos membros do seu conselho diretor em 194118.
Em 1943, pediu licença como professor da Faculdade de Medicina da Universidade do Paraná para
exercer exclusivamente funções públicas. Pamphilo dos Santos exerceu cargos de alta relevância na vida política
e administrativa do Paraná. Em 1930, tornou-se o médico sanitarista da Diretoria Geral da Saúde do Paraná
sendo o chefe do Laboratório de Bromotologia e Análises Clínicas19. Durante o governo do interventor Manoel
Ribas, de 1932 a 1934, assumiu como interino a Diretoria Geral da Saúde Pública20. De 1939 a 1941, assumiu
como diretor-geral o Departamento de Saúde21. Ainda no governo de Manoel Ribas foi diretor-geral de Educação
no ano de 194422 (RODRIGUES, 2013; LIMA JUNIOR, 2009). Durante sua gestão nessa última função, promovia

8. Commercio do Paraná, 11/02/1925, p. 7. O Dia, (PR) 01/03/1925, p. 5.


9. A República, 22/11/1929, p. 5.
10. O Dia (PR), 23/03/1931, p. 2.
11. O Dia (PR), 08/10/1931, p. 4.
12. O Estado, 02/12/1936, p. 2. O Estado, 09/11/1937, p. 8. Diário do Paraná, 11/10/1946, p. 7.
13. O Dia (PR), 23/05/1941, p. 7.
14. Diário do Paraná, 23/12/1956, p. 8. Biotério é o viveiro em que se conservam animais em condições adequadas à utilização em
experimentos científicos ou produção de vacinas e soros.
15. O Dia (PR), 26/02/1949, p. 4.
16. O Dia (PR), 04/01/1947, p. 5.
17. Correio do Paraná, 29/08/1935, p. 2.
18. Correio do Paraná, 21/06/1941, p. 6.
19. A República, 22/04/1930, p. 3.
20. O Dia (PR), 04/02/1933, p. 1. Lei Nº 2703 de 29/04/1929.
21. O Dia (PR), 23/05/1941, p. 7. Decreto Nº 6155 de 12/01/1938.
22. O Dia (PR), 12/03/1944, p. 8. O Dia (PR), 22/06/1944, p. 3.

89
nas escolas palestras proferidas por médicos da Diretoria Geral da Saúde23. De “caráter íntegro, espírito culto e
empreendedor, dinâmico, o novo diretor de educação conta com inúmeras amizades entre nós, motivo porque
sua nomeação, que nos encheu de jubilo, foi bem recebida em todos os circuitos da capital”, anunciava o Diário
da Tarde de 1º de fevereiro de 1944 (p. 7). Uma das medidas de maior repercussão que tomou como Diretor
da Educação do Paraná foi a portaria de 1944 em que reduziu e fixou os preços das taxas de matrículas e
mensalidades dos cursos secundários. O curso primário já era gratuito, a partir de sua portaria, os alunos do 2º
ciclo do curso secundário tiveram “um decréscimo de 40% nas mensalidades, o que significa para os estudantes
uma economia de Cr$ 20,00 por mês, pois o pagamento importava em Cr$ 50,00 mensalmente. A pequena
economia de Cr$ 20,00 representa num ano a apreciável soma de Cr$ 240,00, fato de grande significação para
as bolsas mais humildes do meio estudantil” (O Dia/PR, 11/08/1944, p. 3).
Quando Manoel Ribas se encontrava muito doente, após deixar o hospital e ir para casa, Pamphilo dos
Santos, juntamente com os médicos Alô Guimarães e Augusto Ericksen Ribas não deixavam a cabeceira do ex-
interventor, que veio a falecer em 28 de janeiro de 194624.

Almoço oferecido pelo interventor Manoel Ribas a sua equipe de Governo – Palácio São Francisco

Antenor Pamphilo dos Santos em destaque no lado esquerdo superior. Curitiba, década 1940
Acervo de Luiz Eduardo Veiga Lopes/Antigamente em Curitiba

Foi membro do conselho fiscal da Associação de Assistência à Criança do Paraná (AACP) e seu
presidente de 1946 a 195625. Em 1948, era diretor da Divisão de Proteção Social do Departamento Estadual
da Criança (DEC) ao lado de Domício Costa e do diretor-geral Pio Taborda Veiga. O DEC foi criado em 1947
como órgão da Secretaria de Saúde e Assistência Social com a finalidade de estimular e orientar a organização
de estabelecimentos municipais e particulares destinados à proteção da maternidade e da infância, além
de realizar estudos relativos à situação em que se encontrava a maternidade, a infância e a adolescência no

23. O Dia (PR), 12/03/1944, p. 8.


24. O Dia (PR), 29/01/1946, p. 1.
25. Diário do Paraná, 04/07/1946, p. 2. O Dia (PR), 18/05/1952, p. 3.

90
Paraná26. Participou da organização da 2ª Jornada Brasileira de Puericultura e Pediatria, realizada em Curitiba
em outubro de 1948, e representou o Paraná na 3ª Jornada realizada em Salvador no ano seguinte27.
Pamphilo dos Santos foi eleito, por diversas vezes, orador da Associação Paranaense de Farmacêutico,
sendo a última atuação no biênio 1957–195828.
Foi vereador de Curitiba pelo Partido Social Democrático (PSD) por duas legislaturas: 1947–1950 (com
668 votos)29 e 1956–1959 (com 859 votos)30. No dia 15 de abril de 1948 foi eleito 1º vice-presidente da Câmara
Municipal de Curitiba (CMC). Estava como presidente em exercício da CMC quando assumiu como prefeito
interino de Curitiba dia 16 de julho de 1948, pois o prefeito Ney Leprevost tirou curta licença por motivos
de enfermidade na família (MARTINS, 2017)31. Como vereador, apresentava projetos para auxiliar o esporte
amador, redução da tributação, defesa da educação e da saúde para os desamparados, ampliação da rede de
saneamento básico e macadamização das ruas, melhor orientação para a coleta de lixo, melhoria no transporte,
entre outros. Apresentava e defendia projetos que não fossem “pó de arroz em cara suja!”, como ele mesmo
declarava32.
Em 1956, chegou a ser presidente de honra do Huracan São Vicente Clube, time amador da segunda
divisão do futebol paranaense com sede na Rua Itupava.

Campanha das eleições de 1947

Fonte: O Dia (PR), 04/11/1947, p. 2

26. A Divulgação, fevereiro-março, 1945, p. 33.


27. O Dia (PR), 12/10/1948, p. 8. O Dia (PR), 04/10/1949, p. 1.
28. Diário do Paraná, 09/01/1957, p. 8.
29. Resultados de eleições municipais – Curitiba – 16/11/1947. Disponível em http://www.tre-pr.jus.br/eleicoes/resultados/resultados-
de-eleicoes-municipais-tre-pr. Acesso 23.abril.2018.
30. Resultados de eleições municipais – Curitiba – 03/10/1955. Disponível em http://www.tre-pr.jus.br/eleicoes/resultados/resultados-
de-eleicoes-municipais-tre-pr. Acesso 23.abril.2018.
31. O Dia (PR), 17/06/1948, p. 1.
32. Paraná Esportivo, 31/10/1956, p. 7.
O Huracan São Vicente, da região Hugo Lange, tinha como um dos seus líderes o comerciante Antônio Izar, um apaixonado por futebol.
Um dos seus filhos, José Lopes Izar (Juca), é proprietário do estabelecimento comercial que um dia foi dirigido por seu pai na esquina
das ruas Atílio Bório e Dr. Goulin, tendo hoje em anexo o Espetinho do Xixo, altamente frequentado. IN: Comando Da Manhã/No Mundo
da Bola, por José Domingues Borges Teixeira, 07/05/2015.

91
Campanha das eleições de 1947

Fonte: O Dia (PR), 09/11/1947, p. 1

Antenor Pamphilo era filiado ao PSD. Em 1945, era membro da comissão consultiva sobre assistência
social do partido ao lado de Hildebrando de Araújo, Francisco Acioli Rodrigues da Costa Filho, Felipe Mussi
Filho, Alarico Vieira de Alencar e Ari Florencio Guimarães. No ano de 1953, era um dos membros do diretório
municipal do PSD em Curitiba33.

Campanha das eleições de 1951

Fonte: O Dia (PR), 18/07/1951, p. 8

33. O Dia (PR), 28/09/1945, p. 4. O Dia (PR), 30/06/1953, p. 4.

92
Em 1957, pediu licença da função de vereador e substituiu Vidal Vanhoni na Secretaria de Educação
e Cultura na segunda gestão de Moysés Lupion (1956–1961), de quem era apoiador convicto34. Trabalhou na
instalação de vários comitês pró-Moysés, em diferentes bairros de Curitiba, durante as eleições de 1955. Nessa
mesma época, era um dos membros efetivos do diretório regional do PSD.
Ainda em 1957, no dia 14 de setembro, fundou com outros médicos a Sociedade de Endocrinologia e
Nutrição do Paraná, que foi incorporada como Regional do Paraná à Sociedade Brasileira de Endocrinologia e
Metabologia em 11 de agosto de 195835.
O professor Pamphilo dos Santos foi “um ilustre homem público e político experimentado, militante
nas hostes do Partido Social Democrático há longos anos, onde granjeou grande círculo de amizades e posição
firmada”. Por esse motivo foi convidado, em 1958, pelo Diretório Municipal do PSD, para concorrer à prefeitura
da cidade de Curitiba, mas declinou do convite36.
Quando José Manoel Ribeiro dos Santos deixou a Secretaria de Saúde no ano de 1959, o Diretório
Municipal do PSD indicou o professor Pamphilo dos Santos para substituí-lo. Mas, ao mesmo tempo, o bloco
de deputados do Norte paranaense indicou o deputado Nelson Rosário para a mesma função. Após um curto
período de disputa, Pamphilo dos Santos acabou desistindo da corrida pelo cargo37.
Foi um homem público de reconhecido valor, uma das “altas personalidades da política paranaense”,
sendo homenageado ainda em vida. Foi nome de turma e paraninfo de diversas turmas dos cursos da área
de saúde da Universidade do Paraná38. No ano de 1957, uma escola em Iporã foi batizada com seu nome, a
Escola Estadual Doutor Antenor Pamphilo dos Santos39. Após a sua morte, um dos logradouros de Curitiba foi
denominado Rua Vereador Antenor Pamphilo dos Santos, no bairro Vista Alegre40.
Foi candidato pelo Partido Social Democrata (PSD) a deputado estadual nos anos de 1950, 1954 e 1958,
não sendo eleito em nenhum dos pleitos41. Durante o processo das eleições de 1958, diversos acadêmicos de
Medicina se movimentaram no sentido de ampliar as bases eleitorais do diretor da Faculdade de Medicina da
Universidade do Paraná42. Nesse ano, o governo fez uma campanha para os eleitores não votarem em branco.
Aproveitando a mensagem da campanha do governo e a candidatura do professor Pamphilo dos Santos para
deputado estadual, os alunos da Faculdade de Medicina penduraram uma faixa no pátio com os dizeres: “NÃO
VOTE EM BRANCO. VOTE NO PROFESSOR PAMPHILO!” fazendo alusão à cor da pele do professor, relembra um
de seus ex-alunos43. Outra referência que encontramos sobre a cor da pele de Pamphilo dos Santos é de outro
ex-aluno que assim o descreveu: “aproximou-se o professor Antenor Pamphilo dos Santos, homem alto, preto,
avental branco, engravatado e de óculos bifocais” (grifo da autora)44.
Em todas as eleições, o governo e os partidos políticos faziam campanhas para conscientizar a população
para não anular o voto e nem votar em branco, alegando que o voto era a maior arma do cidadão, que se ele

34. Diário do Paraná, 07/11/1957, p.3.


35. Disponível em https://www.endocrino.org.br/perfil-e-historia/. Acesso 21.abril. 2018.
36. Diário da Tarde, 30/05/1958, p. 1.
37. Correio da Noite, 04/09/1959, p. 2.
38. Diário da Tarde, 16/12/1948, p. 2. Diário da Tarde, 14/12/1949, p. 1.
39. A Tarde, 10/10/1957, p. 3
40. Projeto de Lei Nº 157/67 de iniciativa do vereador Arlindo Oliveira (22 de agosto de 1967).
41. A Tarde, 24/08/1950, p. 6. A Tarde, 07/10/1954, p. 1. A Tarde, 08/10/1958, p. 3.
42. Diário da Tarde, 21/05/1959, p. 1.
43. O ex-aluno não permitiu sua identificação.
44. Henrique Packter, ex-aluno. In: Três crônicas de natal de 2017 (23/12/2017). Disponível em http://www.clicatribuna.com/colunista/
henrique-packter/david-luiz-boianovsky-primeiro-pediatra-10911. Acesso 23.abril.2018.

93
não utilizasse seu voto estaria beneficiando candidatos do governo. Encontramos nas campanhas eleitorais
dos diferentes estados brasileiros candidatos que utilizaram o duplo sentido da frase “Não vote em branco”.
No pleito de 1954, na cidade de São Paulo, Adbias Nascimento utilizou-se dessa frase e os jornais da época
noticiavam que:

Se ele vai vencer não sabemos, mas que teve uma boa ideia teve, usando uma frase de duplo
sentido. Ninguém sabe se ele recomenda aos que iam votar em branco o seu nome ou se
deseja que os eleitores se manifestem por ele que é de cor.

(O CRUZEIRO/RJ, 22/05/1954, p. 59).

Abdias Nascimento em 1954

Fonte: O Cruzeiro/RJ, 22/05/1954, p. 59

Segundo Souza (2011), Pamphilo foi membro da União Homens de Cor (UHC), antiga organização do
movimento negro que tinha uma perspectiva de atuação social buscando a integração do negro na sociedade
através da sua educação e inserção no mercado de trabalho. A UHC no Paraná combatia o racismo, sobretudo,
através da atuação de homens negros com visibilidade social e política e teria funcionado de 1948 até a década
de 1960. Essa instituição foi fundada em 1943 por João Cabral Alves, em Porto Alegre, e declarava em seu
primeiro artigo do estatuto que sua finalidade era “elevar o nível econômico e intelectual das pessoas de cor em
todo território nacional, para torná-las aptas a ingressarem na vida social e administrativa do país, em todos os
setores de suas atividades” (DOMINGUES, 2007, p. 108).

94
Jornal da UHC-Curitiba

Fonte: União, 27/03/1948, p. 5

95
Foi candidato a 2º suplente do candidato a senador pelo PSD do Paraná, Flávio Guimarães, nas eleições
de 194645. Em 1960 foi o presidente de honra do Comité Médico Pró-Plínio Costa, que funcionava no Edifício
Asa, na Praça Osório. Esse comité apoiava Plínio Franco Ferreira da Costa para o governo do estado do Paraná46.
Assumiu, no ano de 1961, como secretário da saúde do governo de Moysés Lupion, no lugar de Nelson Rosário,
permanecendo até a posse de José Justino Filgueira Alves Pereira, secretário do governo Ney Braga (FGV-
CPDOC, on-line; Sesa, on-line).
Pamphilo dos Santos foi casado com Laura Sozzi e tiveram apenas um filho, Jayme Sozzi Pamphilo dos
Santos, formado em Direito, nascido em 19 de novembro de 1926 e falecido em 10 de maio de 196347. Moravam
na antiga Rua Conselheiro Barradas, nº 1386, atual Rua Carlos Cavalcanti.

Moradia de Pamphilo dos Santos

Fonte: Correio do Paraná, 12/05/1934, p. 3

Foi membro da banca do concurso que aprovou a primeira mulher docente do curso de Medicina
Veterinária da Universidade do Paraná – a professora Clotilde de Lourdes Branco – realizado em 196348.
Teve o nome cogitado para integrar a lista tríplice, que seria encaminhada para o presidente da
república, o Marechal Castelo Branco, para a validação do nome do reitor da Universidade do Paraná no ano
de 1964. Seu nome aparecia ao lado dos professores Brasil Pinheiro Machado e David Carneiro. Porém, quem
ocupou a reitoria, no lugar de Flávio Suplicy de Lacerda, foi o professor José Nicolau dos Santos49.
Quando Pamphilo dos Santos faleceu em 9 de fevereiro de 1967, aos 72 anos, a Reitoria da Universidade
Federal do Paraná decretou luto simbólico de três dias. A Prefeitura de Curitiba e a Secretaria Estadual de
Educação decretaram luto oficial de dois dias50 em reconhecimento a todo serviço prestado nas instituições pela
qual passou o “ilustre médico e talentoso professor que conservou um vasto círculo de amizades. Intelectual,
exerceu vários cargos públicos de alta relevância na vida política administrativa do Paraná, indo sempre de

45. O Dia (PR), 04/01/1947, p. 5. Diário do Paraná, 22/01/1947, p. 1.


46. Diário do Paraná, 01/10/1960, p. 4.
47. Diário do Paraná, 10/06/1959, p. 5. Diário do Paraná, 11/05/1963, p. 10.
48. Correio do Paraná, 28/09/1963, p. 4
49. Última Hora (PR), 22/04/1964, p. 3.
50. O Diário do Paraná, 10/02/1967, p. 7.

96
encontro aos anseios dos menos favorecidos pela sorte”51. A imprensa sempre o considerava como um “eminente
homem público, uma personalidade de destaque na ciência e na política do Estado”52 que “colaborou muito para
o progresso de Curitiba”53. Foi médico, professor, homem público e destacada figura da sociedade curitibana do
século XX. Está sepultado no Cemitério Municipal São Francisco de Paula.

Antenor Pamphilo dos Santos em 1962

Pamphilo dos Santos é o primeiro sentado da esquerda para a direita


Fonte: Divulgação Paranaense, Nº166, janeiro de 1962, p. 43

Professor Pamphilo dos Santos em 1960

Fonte: A Tarde, 26/03/1960, p. 2

51. O Dia (PR), 01/06/1951, p. 3.


52. Diário da Tarde, 02/04/1954, p. 6.
53. Diário da Tarde, 07/07/1950, p. 4.

97
Anúncio do consultório médico do Dr. Antenor P. dos Santos

Fonte: Ilustração Paranaense, Ano 3, Nº 12, dezembro de 1929, p. 42

* Agradecimento especial ao acadêmico Ricardo Gullit de Medicina da UFPR pela foto do professor Pamphilo
dos Santos.

98
REFERÊNCIAS

APUFPR (2010). APUFPR S.Sind – 50 anos de História. Fascículo 1, mês de Abril.


COSTA, Iseu Affonso da; LIMA, Eduardo Correa (1992). O ensino de medicina na Universidade Federal do
Paraná. Curitiba: Editora da UFPR.
DOMINGUES, Petrônio José (2007). Movimento Negro Brasileiro: alguns apontamentos históricos. In: Tempo,
Niterói, Vol. 23, p. 100–122.
FERRARINI, Sebastião (2011). Círculo de Estudos Bandeirantes: documentado. Curitiba: Editora Champangnat.
FGV-CPDOC. Verbete José Justino Filgueira Alves Pereira. Disponível em http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/
dicionarios/verbete-biografico/jose-justino-filgueiras-alves-pereira. Acesso 18.setembro.2018.
LIMA JUNIOR, José Alberto de Andrade de (2009). História da disciplina de Música e Canto Orfeônico em das
escolas secundárias públicas de Londrina (1946–1971). Londrina: Mestrado em Educação da UEL.
MARTINS, Walkiria Braum (2017). Levantamento das legislaturas e vereadores (1947–2020). Curitiba: CMC.
MÉDICOS DE 1936 (1962). 25º Aniversário de Formatura. In: Divulgação Paranaense. Nº 166, janeiro de 1962,
p. 43.
RODRIGUES, Jaqueline dos Santos (2013). Postos de Puericultura – fundação O Dia: educação das mães e saúde
dos filhos (Curitiba, 1940–1942). Curitiba: Mestrado em Educação da UFPR.
SESA (Escola de Saúde Pública). Relação dos ex-diretores do Centro Formador de Recursos Humanos Caetano
Munhoz da Rocha. Disponível em http://www.escoladesaude.pr.gov.br/arquivos/File/LISTA_DIRETORES_
ESPP_CFRH_2016_alterado.pdf. Acesso 18.setembro.2018.
SOUZA, Eliezer Felix de (2016). Flávio Suplicy de Lacerda: relações de poder no campo acadêmico/político
paranaense e o processo de federalização e modernização da Universidade do Paraná. Ponta Grossa: Doutorado
em Educação da UEPG.
SOUZA, Marcilene Garcia de (2011). A África está em nós: história e cultura afro-brasileira/africanidades
paranaenses. João Pessoa: Editora Grafset.
VANALI, Ana Crhistina (2018). Negros Pamphilo: personalidades negras da sociedade curitibana do século
XX. IN: COQUEIRO, Edna; REINEHR; Melissa; SILVA, Adegmar J. (orgs.). Caderno Pedagógico: oralidades
afroparanaenses. Curitiba: Editora Humaita/SEED–PR, p. 160–181.

99
6
ANTONIO CALAZANS
DOS SANTOS
Nascimento: Santa Maria/RS, 27 de agosto de 1912
Falecimento: Curitiba/PR, 3 de maio de 1998

Antônio Calazans dos Santos. Curitiba, 1958


Fonte: Acervo de Valmir de Oliveira

100
ANTÔNIO CALAZANS DOS SANTOS 1

(1912–1998)

Ana Crhistina Vanali

Antônio Calazans dos Santos, ou Nego Calazans (como era conhecido), nasceu em Santa Maria, estado
do Rio Grande do Sul, no dia 27 de agosto de 1912. Era o filho caçula de Euniversina e de João Calazans dos
Santos, que já tinham um casal de filhos. Perdeu os pais muito cedo: a mãe, quando tinha 3 anos e o pai aos cinco
anos. Após o falecimento do pai, os irmãos foram separados, indo cada um morar com um tio. Reencontrar-se-
iam muitos anos mais tarde, quando o professor Calazans, já casado e com filhos, retornou a sua cidade natal
para procurar os irmãos.
O professor Calazans chegou a Curitiba sozinho, no ano de 1930, aos 18 anos de idade, para prestar
o serviço militar. Decidiu ficar por aqui visto que em Santa Maria conseguiria somente empregos no setor
ferroviário ou na construção civil. As filhas, Célia e Heloísa (2018), relatam que o pai sofreu muito no início da
vida em Curitiba, pois estava sozinho, sem família, não tinha instrução e conseguia apenas serviços “pesados”,
como de pedreiro.
Um dos seus ex-alunos nos relatou que “ele nos contava que havia sido pedreiro e que tinha participado
da construção da segunda sede do Colégio Iguassu”, fato esse confirmado pelas filhas. Heloísa (2018) lembra
que o pai tinha uma cicatriz na orelha direita em decorrência de um ferimento ocasionado por uma colher de
pedreiro que um dos colegas lhe arremessou durante a realização desse trabalho. O Colégio Iguassu funcionava
na Praça Rui Barbosa e havia sido fundado em 1917 pela família Parodi. Funcionou até o ano de 1983 e, durante
sua existência, passaram por ele gerações de curitibanos, sendo um marco no ensino particular da capital
paranaense (MILLARCH, 1985).

Sede do Colégio Iguassu na década de 1920

Fonte: O Estado, 11/01/1924, p. 5

1. Na placa atual na Praça Santos Andrade está gravado ANTONIO CALAZANS, mas seu nome completo era ANTONIO CALAZANS DOS
SANTOS.

101
Ao retomar os estudos, o professor Calazans foi aluno no Colégio Iguassu. Posteriormente, fez
Faculdade de História na Universidade do Paraná, se formando em 1946. No ano seguinte, tornou-se professor
de História, Geografia e de Organização Social e Política Brasileira (OSPB) no mesmo colégio em que estudou e
onde havia trabalhado como pedreiro na construção da segunda sede. Trabalhou nesse colégio até se aposentar
como professor no início dos anos de 1970. Seus filhos estudaram na mesma instituição. Calazans também foi
professor no antigo Colégio Padre Júlio Saavedra, hoje Colégio Pio Lantéri, na vila São Paulo. Nesse colégio, os
filhos Heloísa e Diógenes foram seus alunos.
No ano de 1940, conheceu a jovem curitibana Alair Monte Carmelo2 que trabalhava na fábrica de balas
da Todeschini. Depois de cinco anos de namoro, casaram-se em 1945 e tiveram cinco filhos: Regina, nascida em
1946 (falecida em 2007); Célia, nascida em 1947; Heloísa, nascida em 1949; Diógenes, nascido em 1950; e o
pequeno Demóstenes, que faleceu ainda criança, aos três anos de idade.

Parte da família Calazans. Curitiba, 1970

Da direita para a esquerda: Professor Calazans, o filho Diógenes, a esposa Alair e a filha Heloísa
Acervo: Heloísa Calazans dos Santos

2. Filha de Almerinda Assumpção e Martiniano Monte Carmelo. Irmã de Darcilio, Ezilda, Sebastão e Juraci. Diário do Paraná, 03/12/1959,
p. 9.

102
Célia (2018) lembra que seu pai “trabalhava muito. Ele se dividia entre as aulas no colégio e seu trabalho
na parte administrativa na Secretaria de Obras Públicas”. Calazans entrou para o serviço público no início da
década de 1950 e se aposentou como servidor estadual no final da década de 19603.
Com relação à questão racial, as filhas Célia e Heloísa falam que ele não permitia ser discriminado,
que se acontecia alguma situação desagradável “ele já cortava, não deixava a conversa se estender”. Falava que
a maior herança que podia deixar para os filhos era a educação, por isso todos eles estudaram. O professor
Calazans prezava por se ter uma profissão prática, por isso as filhas estudaram corte e costura, enfermagem e
técnico em Contabilidade. Célia (2018) relata que começou a trabalhar aos 23 anos, após finalizar a Faculdade
de Letras. Antes o pai não deixou, queria dedicação total dos filhos aos estudos.
Célia e Heloísa (2018) destacam que a grande paixão do pai era dar aula: “lecionava com gosto, com
paixão mesmo!” Fato esse que se percebe na lembrança de alguns ex-alunos sobre o professor Calazans (BOVO,
2014):

“O professor Calazans ninguém esquece. Esse professor de História, moreno, hoje denominado
afro-descendente, com a careca bem lustrada!”

“Era enérgico e de coração enorme.”

“Aula rica em detalhes, mas sabia ser bravo. Colocava os alunos de castigo de joelhos em grãos
de milho de frente para a lousa.”

“Era enérgico: um dia se irritou com um engraçadinho da turma, o pegou pelo braço e deu um
rodopio o atirando no corredor.”

“Tinha um jeito carinhoso de expor e de ensinar. Suas aulas eram ricas em detalhes. Nas
provas respondia todas as questões e pedia que deixássemos apenas a folha da prova e a
caneta e daí pedia que iniciássemos as questões.”

“No primeiro dia de aula ele se apresentou: ‘sou o professor Antônio Calazans, mas vocês
podem me chamar de Nego Calazans. Porque o negro quando vai numa transportadora
procurar emprego e tem uma vaga de motorista e uma de carregador, mesmo o negro tendo
a carteira de habilitação ele vai ser escolhido para a vaga de carregador. O negro já nasce com
o pandeiro embaixo do braço’. Ele sempre fazia umas sátiras no primeiro dia de aula. Sempre
foi uma pessoa muito legal e respeitada. Ele sofreu muito na vida e conseguiu sobrepor seus
sofrimentos e se formar como professor e trabalhar no estado como funcionário público. Eu
também sou negro, então quando comecei a estudar no Colégio Iguassu ele me chamou e
falou: ‘Você é o único negro aqui, já sabe: tem que sempre tirar nota boa!’”

Outra característica que os ex-alunos destacam do professor Calazans era sua altivez e elegância ímpar.
As filhas lembram que o pai falava num tom baixo e sempre andava muito elegante e imponente, trajando terno
e gravata e com os sapatos brilhando. Ele mandava fazer os ternos e as calças estavam sempre frisadas como se
tivessem vindo do alfaiate no mesmo dia.

3. O Diário do Paraná, 20/01/1962, p. 7.

103
Professor Calazans aos 71 anos com os netos Junior e Felipe Professor Calazans com o neto Júnior

Acervo: Heloísa Calazans dos Santos Acervo: Heloísa Calazans dos Santos

Durante muitos anos, o professor Calazans fez parte do corpo de jurados do Tribunal de Júri em
Curitiba4. Faleceu aos 86 anos, no dia 3 de maio de 1998 em Curitiba, oito anos após ter sofrido um AVC que lhe
deixou sequelas. Está sepultado no Cemitério Vertical de Curitiba.

REFERÊNCIAS

BOVO, Flávio (2014). Memórias do Colégio Iguassu. Disponível em http://www.museudapessoa.net/pt/


conteudo/historia/memorias-do-colegio-iguassu-52773. Acesso 23.janeiro.2018.
CELIA (2018). Entrevista de Celia Calazans dos Santos, filha de Antonio Calazans dos Santos, concedida a Ana
Crhistina Vanali no dia 16 de maio de 2018 em Curitiba.
HELOISA (2018). Entrevista de Heloisa Calazans dos Santos, filha de Antonio Calazans dos Santos, concedida a
Ana Crhistina Vanali no dia 16 de maio de 2018 em Curitiba.
MILLARCH, Aramis (1985). Morte da memória de nosso ensino. In: Estado do Paraná, 13/03/1985, p. 14.

4. O Diário do Paraná, 10/08/1957, p. 9.

104
7
ANTÔNIO DIONÍSIO FILHO
Nascimento: Ribeirão Preto/SP, 14 de abril de 1956
Falecimento: Curitiba/PR, 16 de fevereiro de 2015

Antônio Dionísio Filho. Curitiba, 2014


Foto: Acervo RPC

105
ANTÔNIO DIONÍSIO FILHO

(1956–2015)

Dulcinéia Novaes

Dionga, o garoto de Bronze

Aquele menino franzino, de pele escura, retinta, filho do senhor Antônio, motorista de caminhão e
Arlinda, uma tranquila dona de casa, tinha um dom especial para o futebol.
No campinho de terra batida, perto de onde a família morava, em Ribeirão Preto, interior de São Paulo,
desde a mais tenra idade, o menino Dionísio demonstrava habilidade com a bola. Aos 13 anos de idade, já fazia
parte da equipe dente de leite da Portuguesinha de Ribeirão.
Habilidade e talento que se comprovaram mais tarde, depois que passou por alguns times pequenos do
interior paulista, como o Botafogo de Ribeirão.
Lateral esquerdo de destaque, jogou em grandes times, tais como Atlético Mineiro, onde foi campeão
invicto em 1976 e no Internacional de Porto Alegre.
Em 1977, quando ainda estava no Atlético de Minas, casou-se com a mineira Sueli de Jesus Monteiro.
Em 1978, ele já estava jogando no Inter, de Porto Alegre, quando foi emprestado para o Atlético Paranaense. E
no final do campeonato voltou para a capital gaúcha. No ano seguinte, assim que nasceu em Porto Alegre seu
primogênito Cristiano, Dionga regressa a Curitiba, contratado pelo Coritiba Futebol Clube.

Dionga, ao centro quando jogava no Coritiba, em 1980. Acompanhado de Freitas (à direita) e Amir (à esquerda)

Foto: Acervo Grupo Helênicos

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Dionga, primeiro em pé à direita no Coritiba, em 1980

Foto: Acervo Grupo Helênicos

Dionga, segundo em pé a partir da direita no Coritiba, em 1988

Foto: Acervo Grupo Helênicos

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Dionga defendendo o Coritiba em 1989 contra o Atlético Paranaense

Foto: Acervo Grupo Helênicos

Dionga passou também pelo antigo Clube Pinheiros. Na capital paranaense, em junho de 1985, nasceu
Bibiana Dionísio, segunda filha do casal.
Deixou os campos jogando pelo Cascavel no Oeste do estado. Mesmo quando parou de jogar, Antônio
Dionísio Filho, seguiu nos caminhos do futebol. Foi treinador de equipes de base do Paraná Clube (1996/1997),
auxiliar técnico (1998/1999) e também atuou como técnico interino da equipe principal. Foi ainda treinador do
Tuna Luso, de Belém do Pará, Comercial de Ribeirão Preto e do Francana, em Franca, entre outros.
Em setembro de 1999, nasceu seu filho caçula, Márcio Eduardo Monteiro Dionísio que, posteriormente,
viria a sonhar com a profissão do pai, escolhendo, inclusive, a mesma posição deste.
Mais tarde, Dionísio Filho levou toda a experiência profissional para a crônica esportiva – o que
representou uma tacada de mestre. Foi comentarista, durante pouco mais de uma década, da Rádio Banda B,
onde tinha ainda um programa de entretenimento, com músicas e entrevistas intitulado Sangue Bom. Também
foi comentarista freelancer da RPC, emissora afiliada da Rede Globo; integrou a equipe de comentaristas do
programa Show de Bola, da Rede Massa, e da TV Educativa (E-Paraná), além de atuar como colunista do jornal
Gazeta do Povo por, aproximadamente, cinco anos.
Teve ainda participação em três Copas do Mundo: Alemanha em 2006, África do Sul em 2010 e
Brasil em 2014. No período em que se preparava para ir à África do Sul, em 2010, Dionísio Filho declarou,
em entrevista concedida à jornalista Dulcinéia Novaes, para uma reportagem da Revista Afirmativa Plural, da
Afrobrás, São Paulo: “Eu tenho que ir mesmo, porque me considero um analista de futebol. Não estou nesta
profissão por acaso. Vivi todas as etapas dela. Não sou um teórico. Ir à Copa do Mundo na África é uma questão
de reconhecimento pelo trabalho realizado”1

1. NOVAES, Dulcinéia. Uma família unida contra o preconceito. In: Revista Afirmativa Plural, Ano 7, Nº 34, 2010, p. 58–61.

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Comprometido com a causa

Dionísio Filho, ou simplesmente Dionga, como ficou conhecido no meio esportivo, sempre foi um
ferrenho defensor da causa em prol da raça negra. Tanto que, por ocasião das comemorações do Primeiro
Centenário da Abolição, quando inauguraram o bloco de granito com a placa de bronze, na Praça Santos
Andrade, onde constavam os nomes de integrantes da Colônia Afro-Brasileira, entre eles, o de Dionísio, ele
ficou bastante impactado com a homenagem, a ponto de passar mal, tamanha a emoção que tomou conta dele,
conforme relata Sueli Monteiro, viúva de Dionga:

O Di se sentiu ao mesmo tempo valorizado. Considerou que foi um resgate que começava
a se manifestar, de uma causa da qual sempre foi defensor. Ele se sentiu realmente muito
orgulhoso. E foi também motivo de orgulho para toda a família, diz Sueli (2018).

Aquela primeira homenagem podia sim ser considerada o resultado de uma conquista que aos poucos
ia se consolidando, porque era gradual, lance a lance, como diriam os esportistas. Isso porque não foi nada fácil
para um negro chegar a uma sociedade notadamente branca, como a de Curitiba, sofrer aquele impacto inicial
e ir, gradativamente, sendo aceito.
Dionísio Filho via a discriminação racial, na capital paranaense, como uma coisa velada. E costumava
dizer: “Vamos lavar a cara! Vamos falar a verdade!” porque percebia que o preconceito existia, mas de uma
forma, cuidadosamente, camuflada.
Sueli (2018) conta que Dionísio sofreu muito preconceito:

Ele, Dionísio, percebia na atitude das pessoas. Sempre tinha e teve de provar tudo com a bola
de futebol à frente, senão não conquistava. O futebol abria horizontes. Foi o caminho que ele
encontrou para se impor, ser aceito. Depois, o conhecimento, a verdade, a formação de homem
de caráter. Infelizmente, em primeiro lugar, vinha o futebol para abrir portas, pois era um
tempo de silêncio cruel em que o preconceito racial não era passível de discussão. Era, “para
o bem de todos”, um tabu.

Essa tomada de consciência, do que era ser negro numa sociedade de prevalência branca, foi um
processo doloroso, que deixou marcas. Marcas que se eternizam, que o tempo não consegue diluir.

Racismo no meio esportivo

Por várias vezes, foi vítima de racismo no futebol, numa época em que não tinha como provar nada. Os
jogadores negros sempre foram muito estigmatizados, humilhados. Dionga contava que a crônica esportiva
duvidava de que eles eram xingados em campo. E dizia: “no meio esportivo, infelizmente, ainda há muito
preconceito. Espero que um dia isso acabe. Nem que seja pra geração dos meus tataranetos!”
Dionga, no entanto, de personalidade forte, nunca foi de levar desaforo para casa. E não media palavras
para impedir que falassem mal da raça negra. Ai de quem se atrevesse a falar mal de um negro na frente dele!
Era encrenca na certa! Ao mesmo tempo era considerado símbolo da alegria. Sorriso largo, gostava de dedilhar
um violão e cantar Jorge Benjor, de quem era fã incondicional.
Foi ídolo, mas também tinha as suas referências. Historicamente, foi justamente pelo esporte que os
negros começaram a se sobressair e a construir histórias de sucesso. Dionga usava o Rei Pelé como exemplo.

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Sueli (2018) lembra que ele costumava comentar que, “No caso específico do futebol, apesar de não ter levantado
explicitamente bandeiras contra o racismo, a figura de Pelé, a imagem que ele construiu, foi positiva, muito
importante, nesse sentido. Pelé servia de referência. Todo menino negro queria ser Pelé. E era uma forma de
identificação ser chamado de Pelezinho, se o menino fosse bom de bola. A projeção de Pelé elevava a autoestima
do negro”.

Encontro de craques. Com Pelé, ídolo

Foto: Acervo da família

É pertinente, no entanto, considerar que, se por um lado não levantou bandeira contra o racismo,
por outro lado, Pelé alertou para o problema da exclusão social, quando em 1969 solicitou que cuidassem
das crianças do Brasil, ao marcar o milésimo gol. Ora, era uma espécie de profecia. Na época, foi chamado de
demagogo. Não deram a menor importância por se tratar de um jogador de futebol, principalmente, negro. Sua
solicitação não surtiu efeito político, porque foi a voz de quem ainda não tinha autoridade para falar do assunto.
Ele pedia simplesmente para que cuidassem do futuro das criancinhas, porque via crianças nas ruas pedindo
esmolas. Mas tinha a visão, o discernimento da necessidade de dar educação àquelas crianças. “Não haverá
futuro se você não educar os jovens”, dizia Pelé. Aquelas criancinhas se tornaram adultos. Muitos morando nas
ruas, agindo em gangues ou assaltando. Hoje admitem que Pelé tinha razão. Tempo perdido.

Respeite minha gente!

No caso de Dionísio, a discriminação sofrida representou uma espécie de resistência. Uma desafiadora
resistência que se consolidou com a constituição de uma família negra. Um clã afro-descendente, unido contra
o racismo. Casado com uma professora universitária, que já conduzia arraigada essa consciência, ele procurou
criar os filhos com um padrão de educação acima da média, de primeira linha. Acreditava também que só por
meio da resistência, da conscientização é que haveria uma transformação.
Por isso sempre abraçou a causa e não admitia qualquer referência desrespeitosa aos afro-descendentes.
“Que ninguém ousasse desrespeitar a nobreza de sua condição de negro!”, dizia.

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A voz forte, de trovão, a fala enérgica impositiva, um certo tom agressivo. O microfone em punho fez
dele, maioria. Esse foi o caminho que possibilitou maior representatividade. Pelas ondas do rádio, Dionísio Filho
atingia uma Curitiba sem crachá, sem rótulos, milhares de ouvintes de todas as classes sociais, principalmente,
os mais humildes.
Pela imagem na televisão, milhares de telespectadores. Carisma não lhe faltava. Era popular!
Reconhecia, sobretudo, depois de muitos anos, o acolhimento, declarando seu amor por Curitiba. Dizia
que lhe faltavam adjetivos para expressar o quanto amava a cidade. “A cidade dele era Curitiba”, diz Sueli.
Era uma voz imponente, de combate contra qualquer tipo de discriminação contra o povo negro. Certa
vez, foi convidado para participar de um debate sobre racismo na Universidade Federal do Paraná cujo tema
era “Uma análise da cobertura midiática do Racismo no Futebol”. E lá, no cartaz, estava um resumo da trajetória
dele: Dionísio. Ex–jogador do Coritiba, Atlético Paranaense, Atlético Mineiro, Internacional, Pinheiros e cronista
esportivo.
O outro participante era o Tinga: Cruzeiro (MG), Internacional (RS), Botafogo (RJ), Grêmio (RS),
Borussia Dortmund (Alemanha), Sporting (Portugal) e Futebol japonês.
Dois afro-descendentes, expoentes do futebol, na berlinda. Hora de “rasgar o verbo”. Dionga tirou de
letra. Deixou bem claro que muitas vezes dão mais destaque ao jogador branco, em detrimento do jogador
negro. Abordou, magistralmente, segundo Sueli, a questão do preconceito racial no meio esportivo.
Nos tempos em que jogava nunca permitiu que a família fosse aos estádios, porque costumava dizer
que “se alguém, algum dia, ofendesse a família, ele pularia o alambrado pra resolver a questão de perto”. Esse era
o Dionga – força bruta.

Unidos contra o preconceito

E quais os sentimentos positivo e negativo que resumiriam a história de Antônio Dionísio Filho em
relação à luta contra o preconceito racial? Do ponto de vista negativo, as marcas deixadas pela discriminação,
que não se apagam jamais. Estas permanecem além da morte, garantia ele.
Sueli Monteiro, que durante 38 anos esteve casada com Dionísio Filho, sabe mais do que ninguém o
que ficou de positivo nessa jornada: o sentimento de realização, orgulho da trajetória profissional brilhante, de
ter transposto obstáculos, vencido barreiras e conquistado a autoafirmação. Além disso, a contribuição de uma
família que o representou: uma esposa professora doutora em Literatura, um filho advogado prestes a concluir
um doutorado, uma filha jornalista, um filho caçula, atleta, apaixonado por futebol e estudante de Educação
Física.

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Dionga com a família em 2010

Foto: Dulcinéia Novaes

Dionga ganhou esse apelido porque era chamado de o Garoto de Bronze. Faleceu no dia 16 de fevereiro
de 2015 aos 58 anos. Está sepultado no Cemitério Vertical de Curitiba.
Se fosse vivo Dionísio diria às novas gerações de jovens afro-descendentes:

“Cuide-se! A única garantia que o negro tem é ele mesmo! Não espere pelo outro, como forma
de complemento, porque esse retorno dificilmente vai existir.”

ANTÔNIO DIONÍSIO FILHO

Foto: Acervo da família

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Antônio Dionísio Filho nasceu em Ribeirão Preto em 14 de abril de 1956 (in memorian)
Pai: Antônio Dionísio (in memorian)
Mãe: Arlinda Marques Dionísio (in memorian)
Esposa: Sueli de Jesus Monteiro
Filhos: Cristiano Dionísio, Bibiana Dionísio e Márcio Eduardo Monteiro Dionísio

Aos sete anos começou a trabalhar para ajudar no orçamento familiar. Exerceu diversas funções, tais
como: auxiliar mecânico, auxiliar de pinturas automotivas, vendedor de pipoca e amendoim e ainda gandula.
Foi como gandula do Botafogo de Ribeirão Preto que ocorreu sua proximidade com o futebol, sacramentando
sua vocação esportiva.
A carreira como jogador de futebol iniciou na Portuguesinha de Ribeirão Preto e no São Paulinho de
Sertãozinho/SP, onde atuou na categoria de dente de leite.

1971–1972: atuou no juvenil do Botafogo de Ribeirão Preto.


1973–1975: Guarani de Campinas.
1976–1977: Clube Atlético Mineiro.
1977–1978: Clube Internacional.
Maio a dezembro de 1978: Clube Atlético Paranaense.
Dezembro 1978 a maio de 1979: Internacional e Coritiba (meia temporada em cada time).
Maio de 1979 a janeiro de 1981; Coritiba.
1981–1982: Clube Pinheiros.
Fevereiro a abril de 1982: Clube Atlético Paranaense.
Abril de 1982 a abril de 1983: Clube Pinheiros.
Abril de 1983 a março de 1984: Clube Operário/MT.
Março de 1984 a agosto de 1988: Clube Pinheiros. Foi convocado para a seleção olímpica.
1992: comentarista esportivo na Rádio Eldorado.
1993: comentarista esportivo na Rádio Atalaia.
1996: comentarista esportivo no Rádio Clube Paraná.
1996–1997: técnico de futebol da equipe júnior do Paraná Clube.
1999: técnico de futebol, da equipe profissional do Paraná Clube.
2001: comentarista esportivo na Rádio Banda B.
2002: vencedor do prêmio de melhor comentarista esportivo.
2003: recebeu o título de cidadão honorário de Curitiba2.

* Agradecemos a Flávio Henrique Soethe, historiador do Coritiba (Grupo Helênicos) pela concessão das fotos
utilizadas nesse capítulo.

2. Proposição Nº 006.00018.2003 da Câmara Municipal de Curitiba. Proposta do vereador José Aparecido Jotapê Alves.

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ANTÔNIO PINTO REBOUÇAS
Nascimento: Cachoeira/BA, 13 de junho de 1839
Falecimento: São Paulo/SP, 24 de maio de 1874

Antônio Pinto Rebouças


Fonte: Acervo Instituto Histórico e Geográfico do Paraná

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ANTÔNIO PINTO REBOUÇAS

(1839–1874)

Alessandro Cavassin Alves

Antônio foi membro da destacada família Pereira Pinto Rebouças, que tem como seu mais conhecido
membro o engenheiro e abolicionista André Pinto Rebouças, seu irmão. Foi uma família que fez parte da elite
intelectual brasileira no século XIX e que teve destacada atuação em terras paranaenses.
Os pais de Antônio eram Antônio Pereira Rebouças e Carolina Pinto Rebouças; residentes em Cachoeira,
na Bahia e depois de 1846, devido às atividades políticas do pai, mudaram-se para o Rio de Janeiro, capital
do então Império do Brasil. Ao todo eram oito irmãos, entre eles José Pinto Rebouças1. Antônio, o pai, foi
destacado advogado e político brasileiro, chegando a ser Conselheiro de D. Pedro II, que lhe rendeu o apelido
de Conselheiro Rebouças. O Antônio, pai, era o mais jovem dos nove filhos do alfaiate português Gaspar Pereira
Rebouças e da escrava liberta Rita Basília dos Santos (MATTOS & GRINBERG, 2004, p. 36).
Os irmãos Rebouças recebem e utilizam tanto o sobrenome Pereira do pai e avô, como também utilizam
o sobrenome Pinto da mãe Carolina, daí a grafia por vezes aparecer como Pereira Rebouças ou Pinto Rebouças.
André Pinto Rebouças e Antônio Pinto Rebouças, além de irmãos, foram companheiros fiéis: entraram
para a Escola Militar (embrião da Escola Politécnica do Rio de Janeiro) em 1854, formaram-se engenheiros em
1861, quando viajaram para a Europa. José Pinto Rebouças seguiu a mesma formação dos irmãos, anos mais
tarde, tornando-se engenheiro em 1874, na mesma escola. Consta que Antônio era também “tutor, orientador e
educador” de seu irmão José2, provavelmente quando trabalhava no Paraná.
Antônio e André, nesta viagem à Europa, financiada pelo pai, puderam então conhecer o que a
engenharia do período podia proporcionar de mais moderno, inclusive escrevendo relatórios sobre caminhos
de ferro e de portos de mar vistos. Regressaram ao Brasil no final de 1862 (TRINDADE, 2004, p. 52).
A vida acabou levando os jovens engenheiros a trabalharem na recém-criada Província do Paraná,
principalmente Antônio, cujas ideias e perspectivas do progresso mundial, do trabalho livre e por mérito, do
empreendedorismo, encontraram um local ideal para se concretizar dentro do imenso Brasil. Suas obras ainda
falam por si, enquanto pilares do crescimento de um dos estados promissores desse país.
Antônio Pinto Rebouças ou Antônio Pereira Rebouças Filho3, depois de voltar da Europa, apresentou
relatório dos seus estudos na Escola Militar. Foi designado, junto com o irmão André, para inspecionar as
fortificações do Sul do país, em Santos, Paranaguá e em Santa Catarina. Residiram em Desterro – atual cidade
de Florianópolis, em Santa Catarina – até serem nomeados para novas funções. Antônio foi designado, em julho
de 1864, engenheiro chefe da Estrada da Graciosa, obra que ligaria Antonina a Curitiba. Foi a partir desse ano
que Antônio passou a conhecer em detalhes a muralha da Serra do Mar, que separa o litoral da capital do Paraná
e a contribuir para o progresso dessa jovem província emancipada em 1853, viabilizando essa importante via.

1. Ver capítulo 34 desse livro – José Pinto Rebouças.


2. Jornal Getulino, Campinas, SP, 06/07/1924.
3. A biografia de Antônio Rebouças teve como referência o artigo da Revista do Instituto Polytechnico Brasileiro: Apontamentos para a
biographia do engenheiro Antônio Pereira Rebouças Filho. Escrito em 14/06/1874, por André Rebouças, seu irmão. E, também, das
inúmeras referências no jornal Dezenove de Dezembro de Curitiba, Paraná. O sobrenome de Antônio sempre aparece como “Pereira
Rebouças Filho” (para diferenciar do nome de seu pai), e não “Pinto Rebouças”, como foi homenageado.

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Durante as obras, residiu, entre Curitiba e o litoral paranaense. André, por sua vez, partiu para o Nordeste
brasileiro.
Em dezembro de 1864, inicia-se a guerra contra o Paraguai (1864–1870) e André atua nos combates
entre os anos de 1865 e 1866, mas Antônio foi impedido pelo Governo Imperial de se alistar e teve de continuar
com seus trabalhos como engenheiro na Estrada da Graciosa. Destacou-se nessa atividade, com inúmeras
notícias no jornal Dezenove de Dezembro, de Curitiba. Uma delas assinalou a grandiosa inauguração do trecho
de “estrada de rodagem”, no dia 21 de março de 1866. O feito foi bastante comemorado pelos paranaenses e
conferiu reconhecimento ao trabalho do jovem engenheiro Antônio Pereira Rebouças Filho4. Percebe-se, pela
leitura do Jornal Dezenove de Dezembro, que o engenheiro Rebouças trabalhava muito no cais do porto de
Antonina, tendo como referência o chefe político local, comendador Antônio Alves de Araújo (daí, provavelmente,
o projeto da futura estrada de ferro iniciar em Antonina e não em Paranaguá). Enfim, era responsável pela difícil
conservação da estrada, contrato de obras, construção de pontes, alargamentos, pagamento de funcionários e
empreiteiros etc. A Estrada da Graciosa foi fundamental para o desenvolvimento do Paraná.
Nesse período, Antônio foi nomeado, junto com a “elite paranaense” (vice-presidente da província Dr.
Agostinho Ermelino de Leão, comendador José Miró de Freitas, o médico Dr. Joaquim Dias da Rocha, o médico
José Cândido da Silva Murici, e Lucas Antônio Monteiro de Barros) para participar das comissões para as
exposições nacional e internacional de produtos paranaenses. Em uma dessas exposições, realizada em Paris,
recebeu menção honrosa por sua apresentação sobre as madeiras do Paraná, no ano de 1867 (madeiras da
Serra da Graciosa: Guaraparim vermelho, Massaranduba, Araribás branco, rosa, pequeno, amarelo, Angelim,
Jacarandá, entre outras)5.
Enfim, trabalhou intensamente por três anos na Estrada da Graciosa e, em abril de 1867, foi nomeado
secretário da missão especial brasileira nos Estados Unidos da Colômbia (atual Venezuela) para estudar as
repúblicas do Pacífico, onde permaneceu até abril de 1868. Naquele mesmo período, Antônio e André deixam
o exército brasileiro.
Em 14 de junho de 1868, Antônio retorna ao Paraná, agora nomeado engenheiro chefe da comissão de
exploração de outra obra essencial para o desenvolvimento da província: a estrada de Curitiba para o interior,
chamada de Estrada de Matto Grosso6, com o objetivo de ligar, desde o litoral paranaense, chegando ao Mato
Grosso e ao Paraguai (lembrando que a Guerra ainda estava em andamento, sendo essa estrada essencial para
se ter um novo caminho ao Paraguai). Em 1869, Antônio aparece nas listas de candidatos a deputado provincial
do Paraná (eleição de 07/09/1869), mas recebe poucos votos. Ficou dois anos à frente da coordenação da
comissão dessa estrada até setembro de 1870, quando pede exoneração7, por estar morando já no Rio de
Janeiro.
No Rio de Janeiro, Antônio contraiu matrimônio com a fluminense Mathilde Augusta de Mattos, em 19
de fevereiro de 1870, filha do advogado e político fluminense Antônio Veríssimo de Mattos. Tiveram dois filhos,
André Veríssimo Rebouças e Maria Carolina. Lembrando que seu irmão André Rebouças não casou. Nesse
ano, dirigiu as obras da doca da alfândega e os estudos e as obras provisórias para o abastecimento de água

4. Jornal Dezenove de Dezembro, Curitiba, 28/03/1866.


5. Jornal Dezenove de Dezembro, Curitiba, 18/04/1866: Exposição Provincial (1ª sessão).
Jornal Dezenove de Dezembro, Curitiba, 30/01/1867: Catálogo dos “diversos produtos da exposição provincial do Paraná” organizado
pelo Dr. José Cândido da Silva Murici.
6. Jornal Dezenove de Dezembro, Curitiba, 20/10/1869: Estrada a Matto Grosso. Comissão Rebouças.
Antônio Rebouças escreveu: “Relatório da Comissão Exploradora da Estrada do Matto-Grosso, pela Província do Paraná, passando por
Guarapuava e o Baixo Ivahy, por Antônio Pereira Rebouças Filho, engenheiro chefe da mesma comissão”.
7. Jornal Dezenove de Dezembro, Curitiba, 21/09/1870.

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da capital brasileira. Consta que, em Curitiba, também contribuiu para projetar os encanamentos de água no
centro da cidade, inclusive o chafariz na Praça Zacarias.
No início da década de 1870, os irmãos Rebouças organizaram a Companhia Florestal Paranaense,
gerindo a empresa entre 1871 e 1873, com sede em Borda do Campo, junto à Estrada da Graciosa, desempenhando
funções de engenheiros e empresários (TRINDADE, 2009).
Antônio Rebouças recebeu duas importantes concessões do Governo Imperial, tendo como referência
seus trabalhos no Paraná. A primeira foi a concessão da construção da estrada de ferro Antonina–Curitiba,
pelo Decreto nº 4.674, de 10 de janeiro de 1871, junto com os engenheiros Francisco Antônio Tourinho
e Maurício Schwartz, e na qual realizou os estudos definitivos, seu possível “traçado final”, entre os anos de
1871 e 1872, tendo, para isto, morado novamente no Paraná. Infelizmente, apenas em 1880 é que os trabalhos
foram iniciados, sendo inaugurada em 1885, sem mais a presença de Antônio Rebouças, por motivo de seu
falecimento em 1874, e com início da estrada de ferro não em Antonina, mas em Paranaguá. A outra concessão
foi pelos estudos de uma linha férrea de Curitiba a Miranda, no Mato Grosso e de uma linha de navegação nos
rios Ivahy, Ivinheima, Brilhante e Mondego, pelo Decreto nº 4.851, de 22/12/1871. Nessa última concessão,
estava envolvido seu sócio Irineu Evangelista de Sousa, o Barão de Mauá, entre outros. Enfim, num misto de
engenheiro e empresário, Antônio Rebouças estava autorizado a colocar o Paraná, definitivamente, nos “trilhos
do progresso”, e realizando seu sonho de ver um Brasil potente e desenvolvido.
Mas, talvez por não iniciarem de imediato as obras acima, acabou, em 25 de junho de 1873, indo
coordenar, junto à Companhia Paulista, a direção técnica da construção do caminho de ferro de Campinas a
Limeira e a de São João do Rio Claro, deixando assim o Paraná, depois de praticamente oito anos de serviços
prestados na província. Infelizmente, sondando e estudando a situação dessa ferrovia e da ponte de ferro do
Piracicaba, por febre tifoide, acabou falecendo muito jovem, com 34 anos, em São Paulo, no dia 24 de maio de
1874.
Antônio Pereira Rebouças Filho recebeu os seguintes títulos honoríficos: Hábito da Rosa, pelos serviços
militares prestados na província de Santa Catarina, por decreto de 20/04/1864; Hábito de Cristo, pelos seus
trabalhos na exposição brasileira, por decreto de 08/02/1868. E em 1878, o governo do Paraná funda uma
colônia para imigrantes com o seu nome, colônia Antônio Rebouças, à margem da Estrada de Mato Grosso, em
Campo Largo, Paraná.
Interessante lembrar que, em 1879, seu irmão André Rebouças foi inserido na lista de candidatos a
deputado provincial do Paraná, pelos chefes políticos liberais, Dr. Jesuíno Marcondes de Oliveira e Sá e seus
cunhados Antônio e Manoel Alves de Araújo, sendo eleito para a legislatura de 1880/81, mesmo não residindo
no Paraná. Acredita-se que o objetivo dos Liberais era convencer a Assembleia Legislativa do Paraná que a
obra da ferrovia deveria mesmo iniciar no porto de Antonina (como projetou Antônio Rebouças) e não em
Paranaguá, como queriam os chefes políticos do Partido Conservador, que eram as famílias Guimarães Correia,
de Paranaguá. Porém, devido a desentendimentos políticos, André abandona o cargo de deputado e não
comparece às sessões do ano de 1881, quando a obra da ferrovia já havia sido iniciada a partir de Paranaguá
(ALVES, 2015, p. 256–275)8.

8. Para entender as “brigas” que André Rebouças teve com a elite política e econômica paranaense, conferir, também, TRINDADE (2009).
André, ainda, escreveu muitos textos referentes ao Paraná.

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REFERÊNCIAS

ALVES, Alessandro Cavassin. (2015). A província do Paraná e sua Assembleia Legislativa (1853 a 1889). A força
política das famílias tradicionais. Curitiba: Máquina de Escrever.
Jornal Dezenove de Dezembro, Curitiba. Disponível em: http://memoria.bn.br/hdb/uf.aspx. Acesso em
15/01/2018.
JUCÁ, Joselice. (2001). André Rebouças. Reforma e utopia no contexto do Segundo Império: Quem possui a terra
possui o Homem. Rio de Janeiro: Odebrecht.
MATTOS, Hebe Maria & GRINBERG, Keila. (2004). Lapidário de si: Antônio Pereira Rebouças e a escrita de si. In:
GOMES, Ângela de Castro (org.). Escrita de si, escrita da história. Rio de Janeiro: Editora FGV.
MUSEU AFROPARANAENSE. Irmãos Rebouças. Primeiros engenheiros negros do Brasil. A saga dos engenheiros
Rebouças. Disponível em: https://museuafroparanaense.wordpress.com/2016/02/16/irmaos-rebolcas-
primeiros-engenheiros-negros-do-brasil/. Acesso em 15/02/2018.
NEGRÃO, Francisco. (1975). “Os Irmãos Rebouças”. In: Boletim do Instituto Histórico, Geográfico e Etnográfico
Paranaense. Vol. XXVI.
REBOUÇAS, Carlos de Souza. (1985). Engenheiro Antônio Pereira Rebouças Filho, biografia. In: Rede Ferroviária
Federal S. A. Curitiba: Edição Comemorativa do Centenário da Estrada de Ferro do Paraná, p.195–207.
REVISTA do Instituto Polytechnico Brasileiro, Rio de Janeiro, 1867 a 1906. Apontamentos para a biographia do
engenheiro Antônio Pereira Rebouças Filho. Disponível em: http://memoria.bn.br/. Acesso em 15/01/2018.
TRINDADE, Alexandro Dantas (2004). André Rebouças: da Engenharia Civil à Engenharia Social. Tese de
Doutorado. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Campinas, SP: Universidade Estadual de Campinas –
UNICAMP.
________. Os irmãos Rebouças e as perspectivas da imigração espontânea no Paraná (1865–1875) (2009). In:
4º Encontro Escravidão e Liberdade no Brasil Meridional. De 13 a 15 de maio de 2009. Curitiba. Disponível
em: http://www.escravidaoeliberdade.com.br/site/images/Textos4/alexandrodantastrindade.pdf. Acesso em
18/01/2017.

118
9
ANTONIO SILVA DE PAULO
Nascimento: Aguaí/SP, 26 de agosto de 1942

Antonio Silva de Paulo. 2014


Fonte: acervo pessoal

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ANTONIO SILVA DE PAULO

Ana Crhistina Vanali

Antonio Silva de Paulo nasceu na cidade de Aguaí, estado de São Paulo aos 26 de agosto de 1942. Foi
o caçula dos seis filhos que Joaquim Francisco de Paulo e Benedita Francisca e Silva tiveram: José, Marcílio,
Valdemar, Milton e Nair.
Joaquim e Benedita eram trabalhadores rurais. Vieram para o Norte do Paraná em 1948, quando
Antonio tinha seis anos de idade. Como moravam em uma fazenda, Antonio sempre estudou em escolas rurais
até o 3º ano. Iniciou os estudos na cidade de Cornélio Procópio, continuou na cidade de Cambará, para onde a
família se mudou. Qua