Você está na página 1de 4

ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL 961

DISTRITO FEDERAL

RELATOR : MIN. ANDRÉ MENDONÇA


REQTE.(S) : PARTIDO SOCIALISTA BRASILEIRO - PSB
NACIONAL
ADV.(A/S) : LAURO RODRIGUES DE MORAES REGO JUNIOR
INTDO.(A/S) : PRESIDENTE DA REPÚBLICA
PROC.(A/S)(ES) : ADVOGADO-GERAL DA UNIÃO

DECISÃO

ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE
PRECEITO FUNDAMENTAL.
INFORMAÇÕES SOBRE VISITANTES DE
IMÓVEIS OFICIAIS DA PRESIDÊNCIA DA
REPÚBLICA: DECRETAÇÃO DE SIGILO.
ALEGADA VIOLAÇÃO A PRINCÍPIOS
CONSTITUCIONAIS. RITO DO ART. 12
DA LEI Nº 9.868, DE 1999: ADOÇÃO.

1. Trata-se de Arguição de Descumprimento de Preceito


Fundamental, com pedido de medida cautelar, proposta pelo Partido
Socialista Brasileiro — PSB, que, segundo descrição da agremiação
autora, tem por objeto “a declaração de inconstitucionalidade do sigilo que vem
sendo implantado pela Presidência da República, de maneira a revelar verdadeira
burla ao mandamento constitucional da publicidade dos atos da Administração
Pública”.

2. De acordo com o partido autor, “a implementação do sigilo de que se


trata nesta ADPF não encontra esteio junto à normatividade jurídico-
constitucional” (...) “por violar, o conteúdo material dos direitos e garantias
fundamentais, notadamente: (i) o princípio democrático (Art. 3º), (ii) o direito de
acesso à informação (Art. 5º, XXXIII), (iii) o princípio da publicidade dos atos
administrativos, ambos dispostos expressamente na CRFB/1988, bem como os
princípios implícitos da proporcionalidade, da vedação ao retrocesso, e a vedação à

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 47F0-585F-021B-1FDC e senha 6847-4216-8274-C5CD
ADPF 961 / DF
proteção deficiente; além de violar frontalmente a jurisprudência do Supremo
Tribunal Federal”.

3. Articula que “[o] cenário contra o qual exsurge a presente ADPF


demonstra uma robusta fragilidade quanto ao emprego do sigilo, de modo a
vilipendiar a determinação constitucional de sua ocorrência como instituto
relacionado à preservação da unidade material dos direitos e garantias
fundamentais, vedando a mobilização estratégica deste recurso como forma de
ocultar ou burlar o princípio geral de publicidade dos atos administrativos, bem
como do amplo acesso à informação”.

4. Entende preenchido o requisito da subsidiariedade, uma vez que


“o controle abstrato está ligado à preservação da unidade material do texto
constitucional, ou seja, em não sendo possível a impugnação via quaisquer outras
ações do controle concentrado, será a ADPF o veículo processual que colmatará
as lacunas e levará ao conhecimento da Corte Constitucional situação
juridicamente vexatória, como busca-se fazer no presente caso”.

5. Nessa linha de raciocínio, defende a inexistência de outro meio


mais eficaz para sanear a lesividade suscitada, dentro do controle
concentrado, a não ser esta ADPF.

6. Requer, por fim, “seja julgada totalmente procedente a presente


demanda para: (i) cassação de toda e qualquer imposição de sigilo que não esteja
em conformidade com o texto constitucional e, ainda, no sentido de determinar à
Presidência da República que (ii) se abstenha de mobilizar a norma excepcional de
sigilo para proteção estratégica eleitoreira, de campanha ou que não evidencie
qualquer interesse público quando da proteção e sigilo às visitas recebidas nas
instalações dos edifícios pertencentes à Presidência da República; (iii) solicitando,
ainda, que seja imediatamente dada publicidade ao requerimento de informações
solicitada pelo JORNAL O GLOBO e negada pela E. Presidência da República”.

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 47F0-585F-021B-1FDC e senha 6847-4216-8274-C5CD
ADPF 961 / DF
7. Em 18/04/2022, por intermédio da Petição STF nº 27.139/2022, o
arguente pugna pela distribuição do feito por prevenção à Ministra
Cármen Lúcia em razão da parcial coincidência do objeto desta ação e o
da ADPF nº 852/DF, na qual se impugna “ato do Exército Brasileiro, órgão do
Ministério da Defesa, que decretou sigilo de cem anos ao procedimento
administrativo disciplinar instaurado em face do general da ativa, Eduardo
Pazuello, por ter participado de ato político”.

8. De início, com esteio no art. 77-B do RISTF, verifico a regular


distribuição do feito, ante a distinção de objetos entre a presente arguição
e a ADPF nº 852/DF, não se tendo configurado, por tal razão, o fenômeno
do simultaneus processus, ou simultaneidade de ações de controle
concentrado.

9. Superado o ponto, destaco, inicialmente, a firme jurisprudência do


Supremo Tribunal Federal no sentido da aplicabilidade do rito do art. 12
da Lei nº 9.868, de 1999, ao procedimento das ações de arguição de
descumprimento de preceito fundamental. Transcrevo,
exemplificativamente, trecho de despacho proferido pelo e. Ministro
Marco Aurélio na ADPF nº 181/DF, in verbis:

“Tem-se admitido que algumas regras versadas na Lei nº


9.868, de 1999, a qual dispõe sobre o processo e julgamento da
ação direta de inconstitucionalidade e da ação declaratória de
constitucionalidade perante o Supremo Tribunal Federal, sejam
aplicadas analogicamente ao procedimento previsto para a
arguição de descumprimento fundamental. Na espécie, a
racionalidade e a organicidade próprias ao Direito direcionam
ao julgamento definitivo, no que se homenageia a economia
processual."

(ADPF nº 181/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 18/08/2020,


p. 20/08/2020).

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 47F0-585F-021B-1FDC e senha 6847-4216-8274-C5CD
ADPF 961 / DF

10. Aplicando esse entendimento, cito, ainda, os seguintes julgados:


ADPF nº 704/DF (Rel. Min. Edson Fachin, j. 25/08/2021, p. 27/08/2021);
ADPF nº 614-MC/DF (Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 30/09/2019, p.
02/10/2019); e ADPF nº 529-MC/ES (Rel. Min. Ministro Gilmar Mendes, j.
18/10/2018, p. 22/10/2018).

11. Dessa forma, diante do contexto normativo relativo à presente


ação, considero de todo conveniente que a análise judicial da controvérsia
venha a ser tomada em caráter definitivo.

12. Assim, entendo pertinente adotar o rito abreviado previsto no


art. 12 da Lei nº 9.868, de 1999.

13. Ante o exposto, notifique-se a autoridade requerida para que


preste informações no prazo de 10 (dez) dias.

14. Após, dê-se vista ao Advogado-Geral da União e ao Procurador-


Geral da República, para que cada qual se manifeste, sucessivamente, no
prazo de 5 (cinco) dias.

À Secretaria Judiciária para as devidas providências.

Publique-se.

Intime-se.

Brasília, 1º de junho de 2022.

Ministro ANDRÉ MENDONÇA


Relator

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 47F0-585F-021B-1FDC e senha 6847-4216-8274-C5CD

Você também pode gostar