A Casa de Candomblé de Angola Tumba Nzo Jimona dia Nzambi agradece a todas
as manifestações de apoio e solidariedade de todas as entidades civis, governamentais,
pessoas de todas as tradições religiosas e simpatizantes em face das invasões aos territórios sagrados das Comunidades Afrotradicionais de Águas Lindas de Goiás e região. As forças policiais adentraram em nosso território sem permissão ou mandado, quebraram portas, menosprezaram e profanaram nossos espaços de culto e trataram nosso sacerdote com truculência, inclusive acessando seu celular e computador pessoal para análise, tudo isso sob a mira de armas e a acusação de estar acobertando uma pessoa criminosa. Nossa tradição não compactua com ações delituosas de nenhum tipo, especialmente com aquelas que atentam deliberadamente contra a vida, e seria para nós motivo de contradição com os nossos valores e vergonha para os nossos pares acobertar crimes ou pessoas que os cometeram. Sobretudo porque, apesar de gozarmos da liberdade religiosa assegurada pela Constituição, temos consciência de que fazemos parte do tecido social, e devemos, por consequência, submetermo-nos ao pacto normativo-legal em vigência na nossa sociedade. E como parte efetiva da sociedade, a Tumba Nzo Jimona dia Nzambi, por meio de sua mantenedora, a Associação Vida Inteira - AVI, trabalha junto à comunidade na qual está inserida desenvolvendo trabalhos assistenciais e educacionais, além de auxiliar as pessoas da região a acessar serviços essenciais que, na maioria das vezes, são negligenciados pelo Estado, que é quem deveria garanti-los. Antes mesmo de o poeta John Donne escrever que “nenhum homem é uma ilha, completa em si mesma; todo homem é um pedaço do continente, uma parte da terra firme”, afirmando com isso a humanidade que nos envolve a todos, a África já transmitia ao mundo o princípio UBUNTU: “Eu sou porque nós somos”. E é este princípio que rege o nosso pertencimento social de diversidade na unidade. Contudo, esse pertencimento tem sido conquistado com luta e resistência, tal qual os nossos ancestrais fizeram ao longo de 500 anos. E nós, povos afrotradicionais, não faremos diferente; continuaremos resistindo e lutando, até que o conjunto da sociedade nos veja, embora diversos, como iguais. Iguais em deveres e iguais em direitos, porque as nossas existências fazem sentido como qualquer outra. Por tudo isso, não somos contra a captura e a prisão de nenhuma pessoa criminosa. Pelo contrário, ajudaremos as forças policiais naquilo em que formos capazes de ajudar, inclusive disponibilizando o nosso território para qualquer instituição, estatal ou não, e confiaremos no trabalho da polícia e da justiça, desde que sejam levados a efeito o respeito aos princípios constitucionais e ao regramento legal que norteiam o nosso país. E também, em união com as outras casas afrotradicionais que tiveram os seus territórios violados, somaremos nossas vozes e seguiremos lutando pelos nossos direitos e garantias legais, porque a nossa luta é a luta de todos: um Brasil JUSTO, IGUALITÁRIO e DEMOCRÁTICO.
NZAMBI BEKA KIDIDI
(Deus traga a paz) TUMBA NZO JIMONA DIA NZAMBI A casa dos filhos de Deus