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INQUÉRITO 4.

923 DISTRITO FEDERAL

RELATOR : MIN. ALEXANDRE DE MORAES


AUTOR(A/S)(ES) : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA
INVEST.(A/S) : IBANEIS ROCHA BARROS JÚNIOR
ADV.(A/S) : CLEBER LOPES DE OLIVEIRA E OUTRO(A/S)
INVEST.(A/S) : ANDERSON GUSTAVO TORRES
ADV.(A/S) : RODRIGO HENRIQUE ROCA PIRES E OUTRO(A/S)
INVEST.(A/S) : FERNANDO DE SOUSA OLIVEIRA
ADV.(A/S) : DANILO DAVID RIBEIRO E OUTRO(A/S)
INVEST.(A/S) : FÁBIO AUGUSTO VIEIRA
ADV.(A/S) : JOAO PAULO DE OLIVEIRA BOAVENTURA E
OUTRO(A/S)
AUT. POL. : DELEGADO DE POLÍCIA FEDERAL

DECISÃO

Em decisão datada de 11/1/2023, proferida nos autos do Inq.


4.879/DF e posteriormente remetida a este Inq. 4.923/DF, foi determinada,
entre outras medidas, a expedição de ofício à empresa TELEGRAM para
que, no prazo de 2 (duas) horas, procedesse ao bloqueio dos
canais/perfis/contas abaixo discriminados, sob pena de multa diária de R$
100.000,00 (cem mil reais), com o fornecimento de seus dados cadastrais a
esta SUPREMA CORTE e a integral preservação de seu conteúdo:

TELEGRAM
t.me/patriotasb
https://t.me/nikolasferreira
https://t.me/monarktalks
https://t.me/monarkk
https://t.me/profepaulamarisa

O Telegram Messenger InC. informou (a) o cumprimento parcial da


decisão quanto ao bloqueio dos canais https://t.me/monarktalks
https://t.me/monarkke https://t.me/profepaulamarisa; e (b) o canal
http://tme/patriotasb já se encontrava bloqueado quando do recebimento

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 55D5-5590-7BBA-9A02 e senha 6DE7-C075-2A2A-5B2E
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da decisão, em razão de decisão anterior do TRIBUNAL SUPERIOR


ELEITORAL.
Não obstante, o Telegram Messenger Inc. não efetuou o bloqueio
do canal https://t.me/nikolasferreira, e requer seja reconsiderada a
decisão proferida para que sejam especificados os conteúdos ilícitos
(URLs específicos das publicações) para que então sejam pontualmente
bloqueados.
É o relatório. DECIDO.
Nos termos do art. 317, § 4º, do Regimento Interno do SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL, o agravo regimental não terá efeito suspensivo,
de modo que não há qualquer justificativa para o parcial
descumprimento da decisão judicial proferida nestes autos.
A rede social Telegram, ao não cumprir a determinação judicial,
questiona, de forma direta, a autoridade da decisão judicial tomada no
âmbito de inquérito penal, entendendo-se no direito de avaliar sua
legalidade e a obrigatoriedade de cumprimento.
Como qualquer entidade privada que exerça sua atividade
econômica no território nacional, a rede social Telegram deve respeitar e
cumprir, de forma efetiva, comandos diretos emitidos pelo Poder
Judiciário relativos a fatos ocorridos ou com seus efeitos perenes dentro
do território nacional; cabendo-lhe, se entender necessário, demonstrar
seu inconformismo mediante os recursos permitidos pela legislação
brasileira.
A liberdade de expressão é consagrada constitucionalmente e
balizada pelo binômio LIBERDADE E RESPONSABILIDADE, ou seja, o
exercício desse direito não pode ser utilizado como verdadeiro escudo
protetivo para a prática de atividades ilícitas. Não se confunde
LIBERDADE DE EXPRESSÃO com IMPUNIDADE PARA AGRESSÃO.
Dessa maneira, uma vez desvirtuado criminosamente o exercício da
liberdade de expressão, a Constituição Federal e a legislação autorizam
medidas repressivas civis e penais, tanto de natureza cautelar quanto
definitivas.
A presente medida não configura qualquer censura prévia, vedada

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constitucionalmente mesmo porque não há qualquer proibição dos


investigados em manifestarem-se em redes sociais ou fora delas, como
vários continuam fazendo, não raras vezes repetindo as mesmas condutas
criminosas, mas pretende, com natureza cautelar, fazer cessar lesão ou
ameaça de lesão a direito (art. 5º, XXXV, CF) já praticadas pelos
investigados, visando interromper a divulgação de discursos com
conteúdo de ódio, subversão da ordem e incentivo à quebra da
normalidade institucional e democrática, concretizados por meio da
divulgação de notícias e fatos falsos e fraudulentos.
Os bloqueios das contas de redes sociais determinados nestes autos,
portanto, se fundam na necessidade de fazer cessar a continuidade da
divulgação de manifestações criminosas, que, em concreto, materializam
as infrações penais apuradas neste inquérito e, que continuam a ter seus
efeitos ilícitos dentro do território nacional, inclusive pela utilização de
subterfúgios permitidos pela rede social Telegram.
O descumprimento doloso pelos provedores implicados indica, de
forma objetiva, a concordância com a continuidade do cometimento dos
crimes em apuração, e a negativa ao atendimento da ordem judicial
verdadeira colaboração indireta para a continuidade da atividade
criminosa, por meio de mecanismo fraudulento.
Ressalte-se, como já relatado, que o bloqueio dos canais/perfis/contas
indicados deveria ocorrer no prazo de 2 (duas) horas, sob pena de multa
diária de R$ 100.000,00 (cem mil reais), com o fornecimento de seus dados
cadastrais a esta SUPREMA CORTE e a integral preservação de seu
conteúdo.
No caso dos autos, o ofício judicial foi recebido pelo Telegram no dia
13/1/2023, como constou expressamente da petição da própria empresa de
mídia social, de modo que, entre o recebimento da ordem judicial e a
presente data, transcorreram 12 (doze) dias, sendo exigível sanção
pecuniária valor de R$ 1.200.000,00 (um milhão e duzentos mil reais) em
desfavor da empresa Telegram Messenger Inc.
Diante do exposto, APLICO A MULTA, no valor de R$ 1.200.000,00
(um milhão e duzentos mil reais), em desfavor de TELEGRAM

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MESSENGER INC.,
Intime-se o TELEGRAM MESSENGER INC. pelo canal eletrônico
oficialmente por ele disponibilizado (content.referral-c1@telegram.org),
bem como por meio de intimação pessoal do seu representante oficial no
Brasil, Alan Campos Elias Thomas (OAB/SP 315.686) , para efetivar o
pagamento da multa fixada, no prazo de 5 (cinco) dias a contar da
intimação da presente decisão, decorrente do não cumprimento da ordem
judicial em sua integralidade.
Intime-se a Procuradoria Geral da República.
Publique-se.
Servirá esta decisão de mandado.
Brasília, 25 de janeiro de 2023.

Ministro ALEXANDRE DE MORAES


Relator
Documento assinado digitalmente

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