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Poder Judiciário do Estado de Sergipe

3ª Vara Cível de Aracaju

Nº Processo 201910300985 - Número Único: 0038194-35.2019.8.25.0001


Autor: MINISTERIO PUBLICO DO ESTADO DE SERGIPE
Réu: MARIA DO CARMO DO NASCIMENTO ALVES E OUTROS

Movimento: Julgamento >> Com Resolução do Mérito >> Procedência

SENTENÇA

Processo n.º: 201910300985

Requerente: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SERGIPE

Requeridos: ESPÓLIO DE JOÃO ALVES FILHO e ANTONIO CARLOS VALADARES

I. RELATÓRIO

Trata-se de Ação Civil Pública com pedido liminar proposta pelo Ministério Público do
Estado de Sergipe em face do Estado de Sergipe, Antônio Carlos Valadares e João Alves Filho, aduzindo
os motivos fáticos e argumentações jurídicas que seguem:

O autor narra que instaurou Inquérito Civil – PROEJ nº 17.19.01.0014, para apurar o fato de
que o Estado de Sergipe continua pagando subsídio mensal aos ex-governadores Albano do Prado
Pimentel Franco, Antônio Carlos Valadares e João Alves Filho, bem como à viúva do ex-governador
Marcelo Deda Chagas, Eliane Aquino Custodio, violando, assim, a decisão do Supremo Tribunal Federal
emitida na ADI nº 4544/SE, em que fora declarada, por unanimidade, a inconstitucionalidade do art. 263
da Constituição do Estado de Sergipe.

Relata que, ao tomar conhecimento da continuidade dos pagamentos, encaminhou ofícios à


Secretaria de Estado da Administração, tendo esta, por meio do Ofício nº 412/2019/SEAD, informado
que, após a mencionada decisão, suspendeu os pagamentos das pensões de Albano do Prado Pimentel
Franco, Antônio Carlos Valadares e João Alves Filho, tendo havido recurso de tal ato, resultando na
manutenção da suspensão apenas do ex-governador Albano do Prado Pimental Franco.

Assinado eletronicamente por LUIS GUSTAVO SERRAVALLE ALMEIDA, Juiz(a) de 3ª Vara Cível de Aracaju,
em 19/01/2022 às 11:26:20, conforme art. 1º, III, "b", da Lei 11.419/2006.
Conferência em www.tjse.jus.br/portal/servicos/judiciais/autenticacao-de-documentos. Número de Consulta: 2022000085501-34. fl: 1/13
Conta que em relação aos outros dois, a orientação da Procuradoria-Geral do Estado foi pelo
retorno aos pagamentos, uma vez que os benefícios foram adquiridos com base no art. 155 da
Constituição Estadual de 1967, ou seja, anterior à atual. Lado outro, informou que o pagamento feito à
Eliane Aquino Custodio se dá com fundamento na Lei nº 7.746/2013.

Discorre que o STF julgou inconstitucional o art. 263 da Constituição Estadual, na ADI nº
4544/SE, com efeitos ex tunc, de modo que aos benefícios concedidos não mais subsiste embasamento de
ordem legal e/ou constitucional, sobretudo diante da Constituição Federal de 1988 e a ruptura com o
cenário jurídico anterior.

Adiante, no que tange à alegação dos requeridos de que teriam contribuído para a previdência
estadual, aduz que não se trata de benefício previdenciário, mas sim pensão especial, e que, caso tenha
havido o desconto em favor do Órgão Previdenciário, este deverá fazer o devido levantamento do período
de contribuição, para que o interessado possa utilizá-lo da forma que entender conveniente.

Ante os alegados vícios de legalidade e inconstitucionalidade, pleiteia a concessão de tutela de


urgência para que seja determinada a suspensão dos pagamentos das pensões especiais, com a fixação de
multa diária. Requer, ainda, a citação dos requeridos e que, ao fim, seja a ação procedente para declarar
nulos os atos administrativos que concederam os pagamentos das pensões especiais.

A inicial veio acompanhada dos documentos de págs. 19/206.

Intimados para se manifestarem acerca do pedido liminar, o requerido Antônio Carlos


Valadares, em petição de págs. 225/241, alega decadência e prescrição com espeque na Lei nº 9.784/99 e
Lei Complementar Estadual nº 33, já que o benefício monta do ano de 1991, portanto pago há 28 anos.
Diz que o prazo para a propositura da ação civil pública também é de cinco anos, de modo que a ação não
mais poderia subsistir.

Lado outro, afirma que o benefício é pago com base na Constituição Estadual de 1967, na
redação posta pela Emenda Constitucional nº11 de 1979, e que, em que pese o mandato do requerido
tenha se encerrado já na vigência da atual Constituição, o direito fora adquirido em 15 de setembro de
1987, de modo que tal direito previdenciário deverá persistir.

Advoga que também contribuiu para o regime de previdência, de modo que, como qualquer
outro contribuinte, tem direito a aposentadoria.

Sobre a liminar em específico, afirma que se trata de verba de natureza alimentar e que
inexiste a alegada urgência, sobretudo porque se trata de pensão paga desde 1991. Diante disso, refuta o
deferimento do pleito de urgência.

Assinado eletronicamente por LUIS GUSTAVO SERRAVALLE ALMEIDA, Juiz(a) de 3ª Vara Cível de Aracaju,
em 19/01/2022 às 11:26:20, conforme art. 1º, III, "b", da Lei 11.419/2006.
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Juntou procuração de pág. 242.

O Espólio de João Alves Filho manifestou-se, em petição de págs. 270/281, aduzindo, de


igual forma ao outro pleiteado, que a pensão fora concedida com base na Constituição Estadual de 1967,
com redação dada pela EC nº 11/1979, sendo concedida em 1987, de modo que a decisão proferida na
ADI nº 4544 não lhe pode alcançar. Em relação aos requisitos para o deferimento do pleito liminar, aduz
se tratar de verba alimentar. Requer o não acolhimento da tutela de urgência.

Juntou procuração e documentos de págs. 282/325.

Manifestação do Ministério Público de págs. 341/348 ratificando o pedido inicial.

Em decisão disponibilizada no DJe em 17/02/2020, este Juízo concedeu a antecipação de


tutela, determinando-se a suspensão dos atos administrativos que concederam pensão especial aos
requeridos João Alves Filho e Antônio Carlos Valadares, com a determinação consequente de suspensão
imediata dos pagamentos. Na oportunidade, foi analisada no sentido de a rejeitar a preliminar de
decadência e prescrição alegada pelo demandado Antônio Carlos Valadares em sua manifestação prévia.

Contestação oferecida pelo demandado Antônio Carlos Valadares, em 10/03/2020, arguindo,


preliminarmente, a ocorrência de prescrição e decadência, porque o Parquet questiona ato administrativo
que reconheceu a continuidade do direito ao pagamento dos benefícios, o qual não poderia sequer ser
objeto de questionamento na esfera da própria Administração porque decorreu mais de 05 (cinco) anos do
início de seu pagamento, na forma do art. 54 da Lei nº 9.784/99. No mérito, argumentou que declarada
inconstitucional a norma do art. 263 da vigente Constituição Estadual, remanesce no direito à percepção
da pensão com esteio na redação da Constituição Federal de 1967, dada pela EC 11/79, no particular
intocada pelo julgamento mencionado.

Contestação oferecida pelo requerido João Alves Filho, em 13/03/2020, arguindo,


preliminarmente, a ausência de interesse de agir, por entender que a pensão vitalícia concedida possui
como fundamento o art. 155 da Constituição Estadual de Sergipe de 1967, o qual não foi e tampouco
poderia ser (por ser pretérito à Constituição de 1988) objeto da ADI nº 4544 e que passou a integrar o
patrimônio jurídico do requerido como direito adquirido por ser benefício disciplinado pela lei em vigor à
época do requerimento administrativo (26/05/87). No mérito, sustentou o caráter alimentar da pensão
especial, afirmando ser firme a jurisprudência no sentido de que os proventos salariais possuem natureza
alimentar e não podem admitir interrupção.

O Estado de Sergipe não apresentou contestação, conforme certidão em 27/05/2020.

Réplica às contestações, em 02/07/2020.

Assinado eletronicamente por LUIS GUSTAVO SERRAVALLE ALMEIDA, Juiz(a) de 3ª Vara Cível de Aracaju,
em 19/01/2022 às 11:26:20, conforme art. 1º, III, "b", da Lei 11.419/2006.
Conferência em www.tjse.jus.br/portal/servicos/judiciais/autenticacao-de-documentos. Número de Consulta: 2022000085501-34. fl: 3/13
Intimado para se manifestar sobre a produção de outras provas, o requerido Antônio Carlos
Valadares, em 13/07/2020, pugnou que fosse requerido ao SERGIPEPREVIDÊNCIA a juntada de
documentos que informem as contribuições realizadas na época em que foi Governador de Sergipe e as
demais eventuais contribuições anteriores e posteriores a isso.

Intimado para se manifestar sobre a produção de outras provas, o requerido João Alves Filho,
em 14/07/2020, requereu a expedição de ofícios à Secretaria de Estado da Administração (SEAD), à
Secretaria de Estado do Planejamento Orçamento e Gestão (SEPLAG), ao Sergipe Previdência (IPES
previdência) e à Procuradoria do Estado de Sergipe (PGE) para que os aludidos órgãos apresentem o
inteiro teor do processo administrativo que concedeu a pensão especial e vitalícia ao Réu, ora
peticionante, bem como forneçam o histórico de contribuição previdenciária e/ou salários de contribuição
do Ex-Governador João Alves Filho.

Em 07/08/2020, o Ministério Público requereu o julgamento antecipado do pedido, na forma


do art. 355, I, CPC.

Em 28/08/2021, decisão saneadora afastando as preliminares suscitadas, delimitando os


pontos controvertidos e determinando a expedição de ofício ao SERGIPEPREVIDÊNCIA.

Em 10/12/2020, petição informando o falecimento de JOÃO ALVES FILHO.

Em 29/06/2021, após manifestação do Ministério Público, decisão deferindo o cadastramento


do ESPÓLIO DE JOÃO ALVES FILHO, a ser representado por MARIA DO CARMO
NASCIMENTO ALVES.

É o relatório.

II.FUNDAMENTAÇÃO.

Trata-se de AÇÃO CIVIL PÚBLICA em que o Ministério Público visa a declaração de


nulidade de ato administrativo que manteve a concessão de pensões especiais para os ex-governadores
JOÃO ALVES FILHO e ANTONIO CARLOS VALADARES.

De início, insta salientar que a decisão proferida em sede liminar fora minuciosa e trabalhou
com todos os argumentos levantados nos autos, pelo que mantenho o posicionamento ali transcrito.

Assinado eletronicamente por LUIS GUSTAVO SERRAVALLE ALMEIDA, Juiz(a) de 3ª Vara Cível de Aracaju,
em 19/01/2022 às 11:26:20, conforme art. 1º, III, "b", da Lei 11.419/2006.
Conferência em www.tjse.jus.br/portal/servicos/judiciais/autenticacao-de-documentos. Número de Consulta: 2022000085501-34. fl: 4/13
A questão passa em saber se o julgamento proferido na ADI 4544/SE atinge ou não as
pensões especiais dos requeridos, uma vez que adquiridas, segundo defendem, com base na Constituição
Estadual de 1967, com redação dada pela Emenda Constitucional nº 11/1979.

O julgamento na mencionada ADIN assim restou ementado:

“EMENTA: DIREITO CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. AÇÃO


DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. PENSÃO VITALÍCIA PARA
EX-GOVERNADORES DO ESTADO DE SERGIPE (ART. 263 DA
CONSTITUIÇÃO ESTADUAL). DESEQUIPARAÇÃO SEM FUNDAMENTO
CONSTITUCIONALMENTE LEGÍTIMO. VIOLAÇÃO AOS PRINCÍPIOS DA
IGUALDADE, REPUBLICANO E DEMOCRÁTICO.
INCONSTITUCIONALIDADE. PRECEDENTES. 1. O benefício instituído pela
norma impugnada – subsídio mensal e vitalício para ex-governadores, igual aos
vencimentos do cargo de Desembargador do Tribunal de Justiça – é pago sem
qualquer justificativa constitucionalmente legítima, representando inequívoca
violação aos princípios da igualdade, republicano e democrático, consoante firme
jurisprudência desta Corte. Precedentes: ADI-MC 4.552, Rel. Min. Cármen Lúcia;
ADI 3.853, Rel. Min. Cármen Lúcia; SS 3.242, Rel. Min. Ellen Gracie; RE 252.352,
Rel. Min. Sepúlveda Pertence; ADI 1.461, Rel. Min. Maurício Corrêa. 2. A
continuidade do pagamento inconstitucional desse subsídio mensal e vitalício a
ex-detentor de cargo eletivo traduz-se também em grave lesão à economia pública, já
que não há qualquer contraprestação de serviço público por parte do beneficiado. 3.
Ação direta de inconstitucionalidade cujo pedido se julga procedente.”

As pensões especiais concedidas a ex-governadores foram objetos de diversas Ações Diretas


de Inconstitucionalidades pelo País, sendo entendimento pacífico no STF o acolhimento e consequente
declaração de inconstitucionalidade. Recentemente, reafirmou seu entendimento, conforme de vê da ADI
nº 4.555:

“Ação direta de inconstitucionalidade. Artigo 11 do Ato das Disposições


Constitucionais Transitórias da Constituição do Estado do Piauí. “Subsídio” mensal
e vitalício a ex-governador que tenha exercido o cargo em caráter permanente.
Precedentes do Supremo Tribunal Federal. Ação direta julgada procedente. 1. O
Supremo Tribunal Federal definiu interpretação jurídica, na formação de
precedentes, no sentido de que a instituição de prestação pecuniária mensal e
vitalícia a ex-governadores, designada como “subsídio”, corresponde a concessão de
benesse que não se compatibiliza com a Constituição Federal (notadamente com o
princípio republicano e o princípio da igualdade, consectário deste), por configurar
tratamento diferenciado e privilegiado sem fundamento jurídico razoável, em favor
de quem não exerce função pública nem presta qualquer serviço à administração. 2.
Precedentes judiciais: ADI nº 4.544, Rel. Roberto Barroso, Tribunal Pleno, DJe de
13/06/2018, ADI nº 3.418, Rel. Min. Dias Toffoli, Tribunal Pleno, DJe de 20/09/2018,
ADI nº 4.601, Rel. Min. Luiz Fux, Tribunal Pleno, DJe de 25/10/2018, ADI nº 4.169,
Rel. Min. Luiz Fux, Tribunal Pleno, DJe de 25/10/2018, ADI nº 4.552-MC, Rel. Min.
Cármen Lúcia, Tribunal Pleno, DJe de 9/6/15; ADI nº 3.853, Rel. Min. Cármen
Lúcia, Tribunal Pleno, DJe de 26/10/07, ADI nº 1.461, Rel. Min. Maurício Corrêa,

Assinado eletronicamente por LUIS GUSTAVO SERRAVALLE ALMEIDA, Juiz(a) de 3ª Vara Cível de Aracaju,
em 19/01/2022 às 11:26:20, conforme art. 1º, III, "b", da Lei 11.419/2006.
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Tribunal Pleno, DJe de 22/08/1997. 3. Ação julgada procedente para declarar a
inconstitucionalidade do art. 11 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias
da Constituição do Estado do Piauí. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes
autos, acordam os Ministros do Supremo Tribunal Federal em julgar procedente o
pedido formulado na ação direta para declarar a inconstitucionalidade do art. 11 do
Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição do Estado do
Piauí, nos termos do voto da Relatora e por unanimidade de votos, em sessão
plenária presidida pelo Ministro Dias Toffoli, na conformidade da ata do
julgamento. Não participou, justificadamente, deste julgamento, o Ministro Gilmar
Mendes. Ausentes, justificadamente, os Ministros Celso de Mello e Cármen Lúcia.
Brasília, 14 de agosto de 2019. Ministra Rosa Weber Relatora”

No caso sob análise, verifico que o requerido Antônio Carlos Valadares foi governador do
Estado de Sergipe entre 15 de março de 1987 a 15 de março de 1991, de maneira que, conforme aduz,
exerceu o cargo em caráter permanente, por prazo não inferior a seis meses, sob a égide da Constituição
Estadual de 1967. Já o requerido João Alves Filho teria exercido seu mandato inteiramente enquanto em
vigor a Constituição passada, tendo seu direito garantido após parecer da Procuradoria do Estado nº
195/87, de 05/06/1987. Diante disso, ambos sustentam que possuem direito adquirido ao pagamento da
pensão e que a decisão de inconstitucionalidade do art. 263 da Constituição Estadual não pode lhes
alcançar.

Pois bem, cediço que, como regra, a declaração de inconstitucionalidade possui efeitos ex tunc
e erga omnes, ressalvado efeito diverso proferido pelo Supremo Tribunal Federal (art. 27 e 28 da Lei nº
9.8.68/1999). Desta forma, o julgamento na ADI 4544/SE seguiu a regra, na medida em que não houve
modulação dos efeitos, de maneira que o art. 263 da CE deixou de existir desde o seu nascedouro, ou seja,
teve sua inconstitucionalidade declarada retroativamente.

Ressalto que tal dispositivo constitucional é repetição idêntica ao art. 155 da Emenda
Constitucional Estadual nº 11/1979, in verbis:

“Art. 155. Cessada a investidura no Cargo de Governador do Estado, quem o tiver


exercido em caráter permanente e por prazo não inferior a seis meses fará jus, a
título de representação a um subsídio mensal e vitalício igual aos vencimentos do
cargo de Desembargador do Tribunal de Justiça.”

Ora, sendo de idêntica redação ao art. 263, que fora declarado inconstitucional pelo STF,
deve-se entender que houve também a declaração de não recepção do art. 155 da antiga CE. Trata-se,
aqui, de analisar se tal norma pré-constitucional fora recepcionada pela atual Constituição Federal,
controle que ora se faz de forma difusa.

Antes, é imprescindível dizer que a doutrina e jurisprudência são assentes acerca da


possibilidade de se analisar de ofício a constitucionalidade ou não de determinada norma. Neste sentido, o
Min. Luis Roberto Barroso leciona:

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“(...) E, por fim, também o juiz ou tribunal, de ofício, quando tenham as partes
silenciado a respeito. Na instância ordinária, tanto em primeiro como em segundo
grau de jurisdição, pode o órgão judicial suscitar a inconstitucionalidade de norma
aplicável às hipóteses, não se operando a respeito, a preclusão. (…)” (O Controle de
Constitucionalidade no Direito Brasileiro. 3ª Edição. Ed. Saraiva. Pág. 82)

Mais adiante, em nota de rodapé, escreve:

“2. STF, RTJ, 95:202, 1981, RE 86,161-GO, rel. Min. Soares Munoz. No controle
incidental, a decretação de inconstitucionalidade, sempre que necessária para o
julgamento da causa, deve ser feita de ofício pelo juiz. Aplica-se aqui a regra geral
de que as questões de direito – de que é exemplo, evidentemente, saber se uma
norma é constitucional ou não – sempre podem ser conhecidas por iniciativa oficial,
independentemente de terem sido suscitadas pelos interessados. (...)”

O professor Dirley da Cunha Júnior ensina da mesma forma:

“Podem provocar a jurisdição constitucional em sede de controle difuso-incidental


de constitucionalidade todos aqueles que integram, de qualquer forma, a relação
processual assim como o órgão do Ministério Público, quando oficie no feito.
Também pode reconhecê-la o juiz ou tribunal, de ofício, nas causas submetidas à sua
apreciação”. (Controle de Constitucionalidade. Teoria e Prática. 3ª Edição. Editora
JusPodium)”

A jurisprudência segue no mesmo sentido.

Penal. Processo Penal. Roubo. Arma branca. Revogação do artigo 157, § 2.º, I do
Código Penal. Inconstitucionalidade por vício de formalidade do artigo 4.º da Lei n.º
13.654/2018. Publicação de texto do projeto de lei aprovado pela Comissão de
Constituição, Justiça e Cidadania do Senado Federal sem a previsão de revogação da
norma. Violação ao artigo 58, § 2.º, I da Constituição Federal. Incidente suscitado.
Acolhimento. Cláusula de reserva de plenário. Remessa ao tribunal pleno. I - O
acolhimento pelo órgão fracionário deste tribunal acerca da arguição de
inconstitucionalidade suscitada de ofício por esta relatoria, recomenda remessa da
matéria ao tribunal pleno a fim de deliberar acerca do levantado incidente.
Inteligência dos artigos 948 e 949, II do Código de Processo Civil c/c os artigos 478 e
479 do Regimento Interno deste Tribunal. Embargos sobrestados até final
julgamento pelo Tribunal Pleno acerca do acolhido Incidente de
Inconstitucionalidade do artigo 4.º da Lei n.º 13.654/2018 que revogou o Inciso I,do §
2.º, do artigo 157 do Código Penal. Unanimidade.(TJ-MA - ED:

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00012933420158100031 MA 0259172019, Relator: ANTONIO FERNANDO BAYMA
ARAUJO, Data de Julgamento: 17/09/2019, PRIMEIRA CÂMARA CRIMINAL, Data de
Publicação: 27/09/2019 00:00:00)

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO ORDINÁRIA. FUNDO PROTEGE. LEI ESTADUAL


N. 11.651/91. INCONSTITUCIONALIDADE. ARGUIÇÃO INCIDENTAL
SUSCITADA DE OFÍCIO. 1. Considerando que a arguição de inconstitucionalidade
do § 5º, do art. 27, da lei estadual n. 11.651/91, bem como de seu anexo VII, com as
redações que lhe foram dadas pelas leis estaduais n. 15.505/05, 15.921/06 e 19.925/17,
o qual instituiu a cobrança do percentual de 2% (dois por cento) sobre o valor do
ICMS, referente ao fundo PROTEGE, pode influir no julgamento de mérito da
presente ação, acolhe-se o respectivo incidente, submetendo-o ao Egrégio Órgão
Especial deste Tribunal de Justiça, por força da cláusula de reserva de plenário
prevista no art. 97 da CF/88, na súmula vinculante n. 10/STF e nos arts. 948 e 949 do
CPC/15. 2. INCIDENTE DE ARGUIÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE
ADMITIDO. QUESTÃO SUBMETIDA AO PLENÁRIO DA CORTE ESPECIAL.
(TJ-GO - Apelação (CPC): 04564378920158090051, Relator: GUILHERME
GUTEMBERG ISAC PINTO, Data de Julgamento: 09/08/2019, 5ª Câmara Cível, Data de
Publicação: DJ de 09/08/2019)

Apesar de trazermos à baila o entendimento de análise sobre a constitucionalidade da norma


de ofício em controle difuso, o caso em tela, em verdade, enseja a observação sobre a revogação ou não
do art. 155 da CE/1967 frente a atual CF/88. Isto porque, conforme já decidido pelo STF, quando do
julgamento da ADI 02, e reiteradamente firmado em outros julgados, não se há falar em controle de
constitucionalidade de norma pré-constitucional, mas sim de sua recepção ou não pela Constituição
Federal de 1988.

CONSTITUIÇÃO. LEI ANTERIOR QUE A CONTRARIE. REVOGAÇÃO.


INCONSTITUCIONALIDADE SUPERVENIENTE. IMPOSSIBILIDADE. 1. A lei
ou é constitucional ou não é lei. Lei inconstitucional é uma contradição em si. A lei é
constitucional quando fiel à Constituição; inconstitucional na medida em que a
desrespeita, dispondo sobre o que lhe era vedado. O vício da inconstitucionalidade é
congênito à lei e há de ser apurado em face da Constituição vigente ao tempo de sua
elaboração. Lei anterior não pode ser inconstitucional em relação à Constituição
superveniente; nem o legislador poderia infringir Constituição futura. A
Constituição sobrevinda não torna inconstitucionais leis anteriores com ela
conflitantes: revoga-as. Pelo fato de ser superior, a Constituição não deixa de
produzir efeitos revogatórios. Seria ilógico que a lei fundamental, por ser suprema,
não revogasse, ao ser promulgada, leis ordinárias. A lei maior valeria menos que a
lei ordinária. 2. Reafirmação da antiga jurisprudência do STF, mais que
cinqüentenária. 3. Ação direta de que se não conhece por impossibilidade jurídica do
pedido. (STF - ADI: 2 DF, Relator: Min. PAULO BROSSARD, Data de Julgamento:
06/02/1992, Tribunal Pleno, Data de Publicação: DJ 21-11-1997 PP-60585 EMENT
VOL-01892-01 PP-00001)

Sendo de conteúdo idêntico ao art. 263 da CE, que fora declarado inconstitucional, pelos
mesmos fundamentos expostos pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento da ADI 4.544, penso que o
art. 155 da CE/1967, com redação dada pela Emenda nº 11/79, não foi recepcionado por ferir de morte

Assinado eletronicamente por LUIS GUSTAVO SERRAVALLE ALMEIDA, Juiz(a) de 3ª Vara Cível de Aracaju,
em 19/01/2022 às 11:26:20, conforme art. 1º, III, "b", da Lei 11.419/2006.
Conferência em www.tjse.jus.br/portal/servicos/judiciais/autenticacao-de-documentos. Número de Consulta: 2022000085501-34. fl: 8/13
princípios constitucionais basilares como a isonomia, republicano e moralidade administrativa. Em
tempos hodiernos não mais se justifica a percepção de tais pagamentos.

Em caso semelhante, quando do julgamento da ADIN 4.601, in verbis:

EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE.DIREITO


CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. ARTIGO 1º DA LEI 4.586/1983.
DIREITO PRÉ-CONSTITUCIONAL. IMPOSSIBILIDADE DE EXAME EM SEDE
DE AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ARTIGO 1º, PARTE
FINAL, DA EMENDA CONSTITUCIONAL 22/2003 DO ESTADO DO MATO
GROSSO. MANUTENÇÃO DO PAGAMENTO DE PENSÃO VITALÍCIA A
EX-GOVERNADORES, EX-VICE-GOVERNADORES E SUBSTITUTOS
CONSTITUCIONAIS QUE PERCEBIAM O BENEFÍCIO À ÉPOCA DE SUA
EXTINÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. VIOLAÇÃO DOS PRINCÍPIOS
FEDERATIVO, REPUBLICANO, DA IMPESSOALIDADE E DA MORALIDADE
ADMINISTRATIVA. DIREITO ADQUIRIDO A REGIME JURÍDICO.
INEXISTÊNCIA. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE
PARCIALMENTE CONHECIDA E, NESSA PARTE, JULGADO PROCEDENTE
O PEDIDO. 1. O artigo 1º da Emenda Constitucional 22/2003 do Estado do Mato
Grosso, ao prever que deve ser “respeitado o disposto no art. 5º, XXXVI, da
Constituição Federal”, permitiu a continuidade do pagamento de subsídio mensal e
vitalício a ex-governadores, ex-vice-governadores e substitutos que percebiam o
benefício à época de sua extinção. 2. O direito adquirido é inoponível à Constituição
quando nela se encontra interditado, posto eclipsado em alegado regime jurídico
imutável, mormente quando o regime jurídico que se pretende ver preservado não
encontra guarida na Constituição Federal. 3. A manutenção do pagamento de
prestação pecuniária mensal e vitalícia a ex-governadores extrapola o poder
constituinte derivado, violando o princípio federativo, além de não se compatibilizar
com os princípios da impessoalidade e da moralidade administrativa. 4. O princípio
republicano apresenta conteúdo contrário à prática do patrimonialismo na relação
entre os agentes do Estado e a coisa pública, o que se verifica no caso sub examine. 5.
O princípio da igualdade veda a instituição de tratamento privilegiado sem motivo
razoável, tal qual o estabelecido em proveito de quem não mais exerce função
pública ou presta qualquer serviço à Administração Pública. Precedentes: ADI
4.552-MC, Rel. Min. Cármen Lúcia, Plenário, DJe de 9/6/2015; ADI 3853, Rel. Min.
Cármen Lúcia, Plenário, DJe de 26/10/2007; e ADI 3.418, Rel. Min. Dias Toffoli,
Plenário, julgamento em 20/09/2018. 6. O artigo 1º da Lei 4.586/1983 do Estado do
Mato Grosso é direito pré-constitucional, insuscetível de figurar como objeto de ação
direta de inconstitucionalidade. Precedentes: ADI 2, Rel. Min. Paulo Brossard,
Plenário, DJ de 21/11/1997; ADI 74, Rel. Min. Celso de Mello, Plenário, DJ de
25/9/1992; e ADI 129, Rel. Min. Carlos Velloso, Plenário, DJ de 4/9/1992. 7. Ação
direta parcialmente conhecida, para, nessa parte, julgar procedente o pedido, para
dar interpretação conforme a Constituição Federal ao artigo 1º, parte final, da
Emenda Constitucional 22/2003 do Estado do Mato Grosso e declarar que o trecho
“respeitado o disposto no art. 5º, XXXVI, da Constituição Federal” não autoriza a
continuidade do pagamento de pensão mensal e vitalícia aos ex-governadores,
ex-vicegovernadores e substitutos constitucionais.

Assinado eletronicamente por LUIS GUSTAVO SERRAVALLE ALMEIDA, Juiz(a) de 3ª Vara Cível de Aracaju,
em 19/01/2022 às 11:26:20, conforme art. 1º, III, "b", da Lei 11.419/2006.
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No caso em debate, os requeridos advogam que teriam direito adquirido à pensão, já que
implementaram as condições necessárias a tanto sob o manto da Carta anterior. Ocorre que, como visto, o
art. 155 da CE/1967, com a redação dada pela Emenda nº 11/79, não fora recepcionado, de modo que não
se há falar em direito adquirido a regime jurídico, ainda mais quando violador de norma constitucional.

Outrossim, observe-se trecho do Acórdão proferido nos autos do Agravo de Instrumento nº


202000705517, no qual este Tribunal de Justiça já teve oportunidade para discutir a questão debatida nos
presentes autos:

“Apesar do parecer ora mencionado não ter sido aprovado pela Procuradoria Geral
do Estado, coaduno do entendimento apresentado pela ilustre procuradora Dra.
Tatiana Arruda, a qual conclui no sentido de que, com a entrada em vigor da
Constituição Federal de 1988, o pagamento de pensão especial a ex-governadores
restou absolutamente erradicada no mundo jurídico.
Importante ressaltar que o artigo 155 da Constituição Estadual do Estado de Sergipe
de 1967 possui idêntica redação ao artigo 263 da Constituição Estadual do Estado de
Sergipe de 1989. Vejamos:
“Art. 155. Cessada a investidura no Cargo de Governador do Estado, quem o tiver
exercido em caráter permanente e por prazo não inferior a seis meses fará jus, a
título de representação, a um subsídio mensal e vitalício igual aos vencimentos do
cargo de Desembargador do Tribunal de Justiça.”
“Art. 263. Cessada a investidura no cargo de Governador do Estado, quem o tiver
exercido em caráter permanente e por prazo não inferior a seis meses fará jus, a
título de representação, a um subsídio mensal e vitalício igual aos vencimentos do
cargo de Desembargador do Tribunal de Justiça.”
Segundo entendimento do STF, “O vício da inconstitucionalidade é congênito à lei e
há de ser apurado em face da Constituição vigente ao tempo de sua elaboração. Lei
anterior não pode ser inconstitucional em relação à Constituição superveniente; nem
o legislador poderia infringir Constituição futura. A Constituição sobrevinda não
torna inconstitucionais leis anteriores com ela conflitantes: revoga-as. Pelo fato de
ser superior, a Constituição não deixa de produzir efeitos revogatórios. Seria ilógico
que a lei fundamental, por ser suprema, não revogasse, ao ser promulgada, leis
ordinárias. A lei maior valeria menos que a lei ordinária. 2. Reafirmação da antiga
jurisprudência do STF, mais que cinqüentenária.” (STF - ADI: 2 DF, Relator: Min.
PAULO BROSSARD, Data de Julgamento: 06/02/1992, Tribunal Pleno, Data de
Publicação: DJ 21-11-1997 PP-60585 EMENT VOL-01892-01 PP-00001)
Com efeito, nos termos dos fundamentos supra mencionados, tendo em vista que o
artigo 155 da Constituição Estadual do Estado de Sergipe de 1967 possui idêntica
redação ao artigo 263 da Constituição Estadual de 1989, não há como se considerar
que este permaneça vigente no mundo jurídico.
No mais, em que pese não tenha sido tema de insurgência no presente agravo de
instrumento, observo que na decisão ora combatida o magistrado de 1º Grau analisa
minuciosamente argumento apresentado na ação civil pública no sentido de que os
requeridos fazem jus à pensão especial por ter contribuído para a previdência
estadual no período em que exerciam o cargo de governador.
Conforme ressaltado pelo douto julgador a quo, a pensão especial concedida aos
ex-governadores não se trata de benefício previdenciário. Conforme o nosso
ordenamento jurídico, os benefícios previdenciários devem ser pagos a servidores
efetivos, o que não é o caso dos autos.
Assim, caso tenha havido o desconto em favor do órgão previdenciário enquanto o
agravante exercia o cargo de governador do Estado, deverá ser feito o devido

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levantamento do período de contribuição, para utilização, caso queira o agravante,
em outro benefício previdenciário, se direito tiver, não havendo que se falar em
direito adquirido à recebimento da pensão especial em questão.”

Insta salientar, diversamente do que aduzem os pleiteados, que a verba em debate não possui
natureza jurídica previdenciária, conforme bem já assentou o STF, quando do julgamento da ADI nº
3.853, segundo abaixo vemos:

EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. EMENDA


CONSTITUCIONAL N. 35, DE 20 DE DEZEMBRO DE 2006, DA
CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL. ACRÉSCIMO DO
ART. 29-A, CAPUT e §§ 1º, 2º E 3º, DO ATO DAS DISPOSIÇÕES
CONSTITUCIONAIS GERAIS E TRANSITÓRIAS DA CONSTITUIÇÃO
SUL-MATO-GROSSENSE. INSTITUIÇÃO DE SUBSÍDIO MENSAL E
VITALÍCIO AOS EX-GOVERNADORES DAQUELE ESTADO, DE NATUREZA
IDÊNTICA AO PERCEBIDO PELO ATUAL CHEFE DO PODER EXECUTIVO
ESTADUAL. GARANTIA DE PENSÃO AO CÔNJUGE SUPÉRSTITE, NA
METADE DO VALOR PERCEBIDO EM VIDA PELO TITULAR. 1. Segundo a
nova redação acrescentada ao Ato das Disposições Constitucionais Gerais e
Transitórias da Constituição de Mato Grosso do Sul, introduzida pela Emenda
Constitucional n. 35/2006, os ex-Governadores sul-mato-grossenses que exerceram
mandato integral, em ‘caráter permanente’, receberiam subsídio mensal e vitalício,
igual ao percebido pelo Governador do Estado. Previsão de que esse benefício seria
transferido ao cônjuge supérstite, reduzido à metade do valor devido ao titular.2. No
vigente ordenamento republicano e democrático brasileiro, os cargos políticos de
chefia do Poder Executivo não são exercidos nem ocupados ‘em caráter
permanente’, por serem os mandatos temporários e seus ocupantes, transitórios. 3.
Conquanto a norma faça menção ao termo ‘benefício’, não se tem configurado esse
instituto de direito administrativo e previdenciário, que requer atual e presente
desempenho de cargo público. 4. Afronta o equilíbrio federativo e os princípios da
igualdade, da impessoalidade, da moralidade pública e da responsabilidade dos
gastos públicos (arts. 1º, 5º, caput, 25, § 1º, 37, caput e inc. XIII, 169, § 1º, inc. I e II,
e 195, § 5º, da Constituição da República). 5. Precedentes. 6. Ação direta de
inconstitucionalidade julgada procedente para declarar a inconstitucionalidade do
art. 29-A e seus parágrafos do Ato das Disposições Constitucionais Gerais e
Transitórias da Constituição do Estado de Mato Grosso do Sul.

No julgamento desta ADI, a Min. Relatora, Carmém Lúcia, após discorrer acerca dos
institutos do subsídio, benefício, vantagem, provento e pensão, assim manifestou-se:

“ O pagamento definido como devido a ex-governador sul-matogrossense não


configura qualquer daqueles institutos.

“O que sob o rótulo normativo se apelidou subsídio, subsídio não é. No direito, como
se sabe, o nome não transforma a realidade sob a qual ele se encobre. Também não
se tem ali uma pensão de graça, como insiste em afirmar a Assembleia Legislativa

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sul-matogrossense, porque pensão, no sistema jurídico vigente, não se confunde com
graça, somente podendo ocorrer nos casos e condições legalmente previsto.

O de que ali se cuida é de um pagamento estadual singular, instituído como uma


graça com recursos públicos, conforme anotado pela Assembleia Legislativa, para
ex-governador que atenda às exigências afirmadas nos §§ 1º a 3º do art. 29-A,
introduzido na Constituição do Estado pela Emenda Constitucional nº 35/2006.
Trata-se de uma regalia, dádiva, uma recompensa vitalícia, um proveito pecuniário
de natureza permanente, instituído não como um benefício, mas como uma benesse
ou um favor conferido a quem tenha se desinvestido do cargo de Governador do
Estado, após ter desempenhado o mandato completo. (grifo nosso)

(…)

Na espécie vertente, reitere-se, o que se tem é um favor pecuniário vitalício,


instituído para aquele que deixou de ser agente político estadual pelo exaurimento
do mandato Governador do Estado.”

Com efeito, não se pode falar em benefício de ordem previdenciária, como desejam os
acionados. Ora, tendo sido recolhidas contribuições sobre o indigitado “pagamento estadual singular”,
cabe a estes moverem as medidas cabíveis seja para eventual devolução, seja para computação de prazo
para, ai sim, serem aposentados como outros cidadãos o fazem.

Tão pouco cabe a argumentação acerca do caráter alimentar da verba e a consequente


impossibilidade de sua interrupção, haja vista ser uma parcela sem qualquer previsão legal e/ou
constitucional, sendo incoerente a sua concessão enquanto milhares de brasileiros não possuem renda
mínima para se manter.

Desta forma, pela ruptura do ordenamento jurídico ante a nova Constituição Federal e a não
recepção do art. 155 da CE/1967, com a redação dada pela Emenda nº 11/79, desaparece do mundo
jurídico o dispositivo que fundamentou as impugnadas pensões.

III - DISPOSITIVO

Sendo assim, pelas razões expostas, JULGO PROCEDENTES os pedidos autorais,


confirmando a medida liminar, para declarar nulo os atos administrativos de concessão de pensões
especiais aos ex-governadores ANTÔNIO CARLOS VALADARES e JOÃO ALVES FILHO
(falecido), devendo ser suspenso o pagamento das referidas pensões.

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em 19/01/2022 às 11:26:20, conforme art. 1º, III, "b", da Lei 11.419/2006.
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Diante da sucumbência dos requeridos, condeno-os ao pagamento dos honorários advocatícios
no valor de R$ 1.100,00 (um mil e cem reais), nos termos do artigo 85 do CPC, rateado em partes iguais
entre os demandados.

Custas na forma da Lei.

Documento assinado eletronicamente por LUIS GUSTAVO SERRAVALLE


ALMEIDA, Juiz(a) de 3ª Vara Cível de Aracaju, em 19/01/2022, às 11:26:20,
conforme art. 1º, III, "b", da Lei 11.419/2006.

A conferência da autenticidade do documento está disponível no endereço eletrônico


www.tjse.jus.br/portal/servicos/judiciais/autenticacao-de-documentos, mediante
preenchimento do número de consulta pública 2022000085501-34.

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