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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SERGIPE

7ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DOS DIREITOS DO CIDADÃO, ESPECIALIZADA NA DEFESA DO


PATRIMÔNIO PÚBLICO, DA PREVIDÊNCIA PÚBLICA E DA ORDEM TRIBUTÁRIA

Inquérito Civil nº 81.22.01.0108

DESPACHO

Observo que a Subprocuradoria-Geral de Justiça fixou a atribuição desta


Promotoria de Justiça para atuar no presente feito.

Consoante já exaustivamente relatado, a 1ª Promotoria de Justiça dos


Direitos do Cidadão de Aracaju, ora suscitada, promoveu o declínio de atribuição da Notícia
de Fato nº 17.22.01.0094, em razão de possível vinculação dos autos com a ACP nº
20171180027 e com o Inquérito Civil nº 81.19.01.0073.

Extrai-se que a Notícia de Fato nº 17.22.01.0094 foi autuada naquela


unidade ministerial a partir da representação protocolada por Jefferson da Silva Costa, sobre
possível fraude praticada pelas empresas Reviver - Administração Prisional Privada LTDA e
Excelência Serviços Diversos Ltda ME, com o escopo de celebrar contrato de terceirização
com a Secretaria de Estado da Justiça - SEJUC.

O manifestante calcou sua representação com base no Acórdão exarado


pelo Tribunal de Justiça do Estado de Sergipe, ao julgar a Apelação relativa ao Processo nº
202200705462. Naquele feito, o Tribunal de Justiça prolatou o seguinte:

“Com efeito, o que mais causa estranheza é o fato de que em 15/03/2017


(fl. 188 dos autos materializados), último dia para oferecimento de lances
pelos interessados, a empresa Reviver Administração Prisional Privada
Ltda ofereceu sua proposta de preço no valor de R$ 8.995.107,59 (oito
milhões, novecentos e noventa e cinco mil, cento e sete reais e cinquenta e
nove centavos) às 15h01min43s, o mesmo preço do ato de dispensa, e que
uma segunda empresa concorrente, a Excelência Serviços Diversos Ltda
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ME, fez sua proposta às 16h15min29s, isto é, pouco mais de uma hora
depois do primeiro lance e há poucos minutos da conclusão do certame,
pelo valor de R$ 8.995.107,60 (oito milhões, novecentos e noventa e cinco
mil, cento e sete reais e sessenta centavos), ou seja, esta última concorrente
ofertou lance um centavo superior àquele primeiro, sendo este um forte
indicativo de que houve sim fraude ao ato de dispensa licitatória, com a
finalidade de beneficiar a empresa vencedora mediante ato de simulação
de disputa.

Não fosse isso o bastante, muito embora esteja com sua situação cadastral
ativa no site da Receita Federal, onde consta o mesmo endereço declinado
na inicial da ação civil pública
(http://servicos.receita.fazenda.gov.br/Servicos/cnpjreva/C
npjreva_Comprovante.asp), a empresa Excelência Serviços Diversos Ltda-
ME não foi localizada para fins de citação pessoal, sendo então citada por
edital pelo juízo de origem, a quem foi nomeado curador especial, que
apresentou defesa por negativa geral.

Para agravar ainda mais a situação, tanto o Estado de Sergipe como a


empresa vencedora da contratação emergencial, a Reviver Administração
Prisional Privada Ltda, não se manifestaram em suas defesas sobre o
argumento da ação civil pública de descumprimento da exigência de ampla
pesquisa de preços por ocasião do chamamento público, o que me faz crer
que as empresas então concorrentes praticaram simulação para forjar a
existência de uma disputa a justificar o resultado da dispensa de licitação.

Aliás, é prova suficiente disso o fato de a pessoa jurídica Excelência


Serviços Diversos Ltda ME possuir um capital social de apenas R$
40.000,00 (quarenta mil reais), sendo este insuficiente se comparado com o
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valor milionário da dispensa nº 170/2017, no importe, repito, de R$


8.995.107,59 (oito milhões novecentos e noventa e cinco mil cento e sete
reais e cinquenta e nove centavos). (Apelação Cível 202200705462, Rel.
Desembargadora IOLANDA SANTOS GUIMARÃES, 1ª CÂMARA CÍVEL
DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SERGIPE, julgado em 29/08/2022, Dje
5891, pág. 25).

Considerando as constatações declinadas no referido acórdão, entendo que


os fatos reportados se encontram relacionados à possível prática de ilícitos penais previstos
no Capítulo II-B, especialmente o artigo 337-F, do Código Penal, atinentes aos crimes em
licitações e contratos administrativos, do Código Penal.
Por essa razão, determino a adoção das seguintes providências:

a) requisição de instauração de inquérito policial ao Departamento de


Crimes contra a Ordem Tributária e Administração Pública, com
encaminhamento de cópia da decisão acima referenciada, nos termos
do art. 2º, V, da Resolução nº 181/2017 de 07 de agosto de 2017 do
Conselho Nacional do Ministério Público, bem como do art. 2º, inciso
V, alíneas “a”, “b”, “c”, “d” e “e”, da Resolução n. 12/2019, CPJ,
objetivando:
1. A identificação da materialidade do tipo penal do art. 337-F,
do Código Penal;
2. A identificação da autoria do mencionado tipo penal.
b) Com a confirmação da instauração do respectivo IP, conclusos.

Aracaju/SE, 25 de setembro de 2023.


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RICARDO Assinado de forma


digital por RICARDO
Ricardo Machado Oliveira MACHADO MACHADO

Promotor de Justiça OLIVEIRA:7788 OLIVEIRA:77885988520


Dados: 2023.09.25
5988520 13:59:08 -03'00'

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